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7 HISTÓRIA

7º ano

HISTÓRIA

Marco César Pellegrini Adriana Machado Dias Keila Grinberg


■■ Professor graduado em ■■ Professora graduada em ■■ Professora graduada em
História pela História pela Universidade História pela Universidade
Universidade Estadual de Estadual de Londrina (UEL). Federal Fluminense (UFF).
Londrina (UEL). ■■ Especialista em História ■■ Doutora em História Social
■■ Editor de livros na área Social e Ensino de História pela Universidade Federal
de ensino de História. pela Universidade Estadual Fluminense (UFF).
■■ Professor de História em de Londrina (UEL). ■■ Professora do
escolas da rede ■■ Professora de História em Departamento de História
particular de ensino. escolas da rede particular da Universidade Federal
de ensino. do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO).

MANUAL DO
PROFESSOR
2a. edição - São Paulo - 2012
Vontade de Saber História, 7o ano
Copyright © Adriana Machado Dias, Keila Grinberg e Marco César Pellegrini, 2012
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
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Editora
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Bárbara Borges
Fernando Cardoso Guimarães
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Arte
Projeto gráfico
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Bruno Sampaio e Laís Garbelini (desenvolvimento)
Ilustrações
André L. Silva/Art Capri/N. Akira/Paula Diazzi
Cartografia
E. Cavalcante
Capa
Marcela Pialarissi
Fotos da capa
IrÞne Alastruey/Glow Images (Guerreiro Terracota)
Sandro Botticelli. 1483. Têmpera sobre tela. Galeria
dos Ofícios, Florença (Detalhe da tela O Nascimento de Vênus)
Wallace Kirkland/Time Life Pictures/Getty Images
(Mohandas K. Gandhi) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Heini Schneebeli/The Bridgeman Art Library/Keystone (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
(Escultura Iorubá)
Pellegrini, Marco César
Fancy/Veer/Corbis/Glow Images (Menino)
Vontade de saber história, 7o ano / Marco César
Iconografia Pellegrini, Adriana Machado Dias, Keila Grinberg.
Supervisão -- 2. ed. -- São Paulo : FTD, 2012.

Célia Rosa
Bibliografia.
Pesquisa
ISBN 978-85-322-8104-3 (aluno)
Alaíde França (coord.) e Cristina Mota ISBN 978-85-322-8105-0 (professor)
Editoração eletrônica
Diagramação 1. História (Ensino fundamental) I. Dias,
Adriana Machado. II. Grinberg, Keila. III. Título.
Daniela Cordeiro de Oliveira
Tratamento de imagens
José Vitor Costa
12-03244 CDD-372.89
Gerente executivo do parque gráfico
Reginaldo Soares Damasceno Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Para você, o que é História? Algumas pessoas pensam
que História é o estudo do passado. Outras, porém, afirmam
que ela serve para entender melhor o presente. Nós acredita-
mos que História é tudo isso e muito mais!
O estudo da História nos ajuda a perceber as ligações exis-
tentes entre o passado e o presente. A escrita, a música, o ci-
nema, as construções magníficas, os aviões, os foguetes...
Tudo aquilo de que dispomos hoje, desde os produtos fabrica-
dos com tecnologia avançada até a liberdade de expressão,
devemos às pessoas que trabalharam e lutaram, enfim, que vive-
ram antes de nós. A História nos permite conhecer o cotidiano
dessas pessoas e perceber como a ação delas foi importante
para construir o mundo como ele é hoje.
A História nos auxilia a conhecer os grupos que formam as
sociedades, os conflitos que ocorrem entre eles e os motivos de
tais conflitos. Ela nos ajuda a tomar consciência da importância
de nossa atuação política e a desenvolver um olhar mais crítico
sobre o mundo. Assim, nos tornamos mais capazes de analisar
desde uma afirmação feita por um colega até uma notícia veicu-
lada pela televisão.
Ao estudarmos História, percebemos a importância do res-
peito à diversidade cultural e ao direito de cada um ser o que é,
e entendemos como esse respeito é indispensável para o exer-
cício da cidadania e para construirmos um mundo melhor.
Bem-vindo ao fascinante estudo da História!

Os autores.
Cubo Images/
SuperStock/
Glow Images
SUMÁRIO
1
Capítulo

Estudar História é... 8


Por que estudar História?.......................... 10 ■■ Sociedade
■■ O que é História? ■■ Cultura
■ ■ Para que serve a História? ■ ■ Trabalho

■ ■ Política
O tempo e a História.................................. 11
■ ■ Economia
■■ O que é o tempo?
■■ O tempo histórico Explorando o tema.................................... 16
■ ■ A representação do tempo histórico na linha do
■■ A diversidade das fontes históricas
tempo
■ ■ A simultaneidade e as durações do tempo Analisando uma fonte histórica................. 18
histórico
Atividades................................................ 20
Conceitos importantes para os estudos
históricos................................................ 13

2 A formação da
Capítulo

Europa Medieval 24 Os reinos germânicos................................ 31


O que é a Idade Média?............................. 26 O Império Romano do Oriente.................... 32
■■ O Império Bizantino
■■ Mil anos de história
■■ A capital do Império Bizantino
Períodos da Idade Média........................... 27 ■ ■ A herança romana

O declínio do Império Romano................... 28 ■ ■ A mistura cultural e religiosa

■■ O Estado romano ■ ■ A produção de seda

■■ Motivos da crise ■ ■ O governo de Justiniano

■ ■ A divisão do Império Romano ■ ■ O Corpo do Direito Civil

■ ■ Roma é conquistada ■ ■ A arte bizantina

Os povos germânicos................................ 30 Explorando o tema.................................... 36


■■ As atividades do dia a dia ■■ Constantinopla
■■ A organização social
■ ■ As crenças religiosas
Atividades................................................. 38

3 A época medieval na Europa 42


Capítulo

A formação do Império Carolíngio.............. 44 ■■ Problemas internos


■■ Reinos de curta duração Transformações na Europa feudal.............. 53
■ ■ O Reino Franco
■■ O crescimento da população
■ ■ O Império Carolíngio
■■ Outras inovações técnicas
■ ■ Condes, marqueses e duques
As Cruzadas.............................................. 54
Os feudos.................................................. 46 ■■ Os motivos das Cruzadas
■■ Combinação de tradições romanas e germânicas ■■ As Cruzadas não atingem seus objetivos
■ ■ Características do feudalismo
■ ■ As consequências das Cruzadas

A sociedade feudal.................................... 47 As cidades medievais................................ 55


■■ A nobreza
■ ■ O clero
■■ O crescimento do comércio e das cidades
■ ■ Os camponeses
■■ As corporações de ofício
■ ■ Burgos e burgueses

Explorando o tema.................................... 48 ■ ■ Cambistas e banqueiros

■■ Os castelos medievais As primeiras universidades....................... 57


A economia feudal..................................... 50 ■■ O surgimento
■■ Um feudo medieval ■■ A organização
■ ■ A função social e a importância cultural
O poder da Igreja Católica......................... 52
■■ Poder espiritual e material Atividades................................................. 58
4 A expansão do Islã 62
Capítulo

O nascimento do Islã................................. 64 ■■ O legado técnico e cultural


■■ Os povos do deserto O islamismo.............................................. 68
■ ■ O início da pregação de Maomé

■ ■ A formação do mundo islâmico


■■ A peregrinação à Meca

A expansão dos domínios islâmicos........... 66 Explorando o tema....................................70


■■ As conquistas territoriais ■■ A cultura islâmica
■ ■ A conquista da península Ibérica

■ ■ A presença muçulmana na península Ibérica


Atividades................................................. 72

5
A América antes da
Capítulo

chegada dos europeus 76 ■■ A importância da religião


■■ O poder militar dos astecas
Os povos da América................................. 78 ■ ■ O comércio
■■ Uma diversidade de povos
■■ Algumas civilizações importantes da América Os incas.................................................... 84
Os conquistadores incas
Os maias................................................... 80
■■

■■ O domínio inca
■■ Os povos de Yucatán
■ ■ A organização social
■■ As cidades-estado
■ ■ As grandes obras dos incas

A cultura maia........................................... 81
Os primeiros habitantes do Brasil.............. 86
■■ A escrita
■ ■ O sistema de numeração
■■ A diversidade cultural dos povos indígenas
■ ■ O calendário
Explorando o tema.................................... 88
Os astecas................................................. 82 ■■ Os povos indígenas no Brasil atual
■■ Um povo guerreiro Atividades................................................. 90

6 Reinos e impérios africanos 94


Capítulo

O continente africano................................ 96 O Império Songai..................................... 102


■■ Os povos africanos ■■ Os songais
■ ■ Uma sucessão de reinos e impérios Os Reinos iorubás.................................... 103
O oni e os obás
O Reino de Gana........................................ 98
■■

■■ A arte em Ifé
■■ A importância dos súditos ■ ■ O Reino do Benin

O islamismo na África................................ 99 ■ ■ A arte do Benin

■■ A difusão do islamismo O Reino do Congo.................................... 105


■■ A escravidão islâmica ■■ O mani Congo
O Império Mali......................................... 100 Explorando o tema.................................. 106
■■ Uma mistura de povos ■■ A metalurgia nas sociedades africanas
■■ A importância do comércio
Atividades............................................... 108

7 A Europa moderna:
Capítulo

o Renascimento 112 O humanismo.......................................... 116


■■ Os humanistas
A Itália renascentista............................... 114 ■■ A valorização da Antiguidade clássica
■■ Aspectos políticos ■■ A valorização do ser humano
■ ■ O mecenato

■ ■ O que é Renascimento? O Renascimento científico....................... 117


■ ■ Períodos do renascimento italiano ■■ Um período de transformações
A arte renascentista................................ 118 ■■ As atividades de lazer
■■ A arte e a ciência ■■ As cidades de Veneza e Florença
■■ A escultura O Renascimento em outras regiões
■■ A música e a literatura da Europa............................................. 124
■■ A pintura ■■ Flandres
■■ A técnica da perspectiva ■■ França
■ ■ Inglaterra
Explorando o tema.................................. 120
■ ■ Espanha
■■ Leonardo da Vinci: Um gênio renascentista
■ ■ Portugal

O cotidiano nas cidades italianas............ 122 ■ ■ Alemanha

■■ Do campo para a cidade


Atividades.............................................. 126
■■ A educação nas cidades italianas

8 A Europa moderna:
Capítulo

as Grandes Navegações 130 O caminho marítimo para as Índias......... 135


■■ A procura pelo caminho marítimo
Medo e aventura nos mares.................... 132 ■■ O cabo da Boa Esperança
■■ O que foram as Grandes Navegações? ■ ■ A chegada à América
■■ As rotas das navegações ■ ■ O Tratado de Tordesilhas

A formação dos Estados modernos.......... 133 ■ ■ A chegada às Índias

■■ O desenvolvimento comercial e urbano ■ ■ A chegada ao Brasil

■■ Mais poder ao rei


As cobiçadas especiarias........................ 134 Explorando o tema.................................. 138
■■ O comércio de especiarias
■■ O cotidiano em alto-mar
Atividades............................................... 140

9 A Europa moderna: reformas


Capítulo

religiosas e Absolutismo 144


Explorando o tema.................................. 150
A Europa nos séculos XVI e XVII............... 146 ■■ A Inquisição
■■ O contexto histórico
■ ■ A situação da Igreja Católica A formação dos Estados absolutistas...... 152
■ ■ Os séculos XVI e XVII na Europa ■■ Os efeitos das reformas religiosas
A Reforma............................................... 148
■■ O mercantilismo
■ ■ Os Estados absolutistas europeus
■■ Martinho Lutero
■ ■ O Absolutismo francês
■■ As teses de Lutero
■ ■ Outros movimentos reformistas A prensa de Gutenberg............................ 154
A Contrarreforma..................................... 149
■■ Imprimindo um livro
■■ A reação católica Atividades............................................... 156
■■ A Inquisição

10
Capítulo

A colonização na América
espanhola 160 A conquista do Império Inca.................... 166
■■ A chegada de Pizarro
O choque entre dois mundos................... 162 ■■ A execução de Atahualpa
■■ Conquista e destruição
■■ A América entre os séculos XV e XVII A administração das colônias.................. 167
■■ A colonização espanhola
A conquista do Império Asteca................. 164 ■■ Os vice-reinos
A chegada de Cortez
A organização da economia..................... 168
■■

■■ A prisão de Montezuma ■■ A mineração


■■ A tomada da capital asteca ■■ O trabalho nas colônias espanholas
A sociedade colonial................................ 169 Explorando o tema..................................172
■■ Os grupos sociais ■■ Os indígenas na América Latina atual
A mineração em Potosí............................ 170
Atividades............................................... 174
■■ Extraindo a prata

11 A colonização na América
Capítulo

portuguesa 178 ■■ Na África


■■ Nos navios
A chegada dos europeus......................... 180
■ ■ Nos mercados
■■ Os primeiros contatos
■■ Os indígenas O engenho de açúcar............................... 188
■ ■ Primeiras décadas de colonização ■■ O trabalho no engenho
As primeiras formas de exploração.......... 182 A produção do açúcar.............................. 190
■■ As feitorias ■■ Fazendo um engenho funcionar
■ ■ O pau-brasil

■ ■ O escambo
A presença holandesa............................. 191
A colonização.......................................... 183
■■ A situação política
■■ As invasões no Nordeste
■■ A presença de outros europeus
■ ■ O governo de Nassau
■■ As capitanias hereditárias
■ ■ A mão de obra indígena
Explorando o tema.................................. 192
■ ■ O Governo-geral

■ ■ A presença dos jesuítas


■■ A resistência africana

A mão de obra africana........................... 185 Atividades............................................... 194


■■ A longa trajetória

12 A expansão das fronteiras


Capítulo

da Colônia portuguesa 198


Um período de crise................................ 200 As consequências da mineração.............. 207
■■ A situação de Portugal com o fim da União Ibérica ■■ A formação de vilas e cidades
■■ Retomando o controle da Colônia ■■ A delimitação das fronteiras
■ ■ Linha do tempo

■ ■ As companhias de comércio Explorando o tema.................................. 208


■ ■ A expulsão dos holandeses ■■ A arte barroca no Brasil
■ ■ O açúcar das Antilhas

A busca por novas riquezas..................... 202 Novas ideias e revoluções pelo mundo.... 210
■■ A procura por minerais preciosos ■■ O Iluminismo
■■ As bandeiras de prospecção ■■ A Revolução Americana
■ ■ A ampliação dos domínios portugueses ■ ■ A Revolução Francesa

A mineração............................................ 203 A Conjuração Mineira.............................. 211


■■ A grande migração ■■ Os planos dos revoltosos
■ ■ O controle de Portugal ■■ Quem foi Tiradentes?
■ ■ O contrabando
A Conjuração Baiana................................ 213
A mina de ouro........................................ 204 ■■ Dificuldades da população de Salvador
■■ A extração do ouro ■■ Reivindicações da população
O abastecimento das minas..................... 206 ■ ■ Denúncias e prisões

■■ Os tropeiros
■■ Os monçoeiros
Atividades............................................... 214

Ampliando seus conhecimentos............. 218


Referências bibliográficas...................... 222
1
capítulo

Estudar História é...


Veja nas Orientações para o professor alguns comentários e explicações
sobre os recursos apresentados no capítulo.

Vittore Carpaccio – Milagre da relíquia da Cruz na ponte Rialto. 1494. Galeria da Academia, Veneza. Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images

A Nessa pintura, feita pelo pintor italiano Vittore Carpaccio em 1494, vemos a movimentação de gôndolas
no Grande Canal de Veneza.

8
Jose Fuste Raga/Corbis/Latinstock
B Fotografia do Grande Canal de Veneza, tirada em 2010.

Conversando sobre o assunto Aproveite a seção


Conversando sobre
As fontes históricas fornecem elementos para estudarmos as ações o assunto para ativar
humanas no tempo e espaço. Assim, elas são essenciais para a compreen­ o conhecimento
prévio dos alunos e
são das transformações e das permanências que se verificam nos lugares estimular seu
e no modo de vida das pessoas. interesse pelos
assuntos que serão
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os desenvolvidos no
colegas sobre as questões a seguir. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
■ ■ O que elas representam? Elas podem ser consideradas documentos entre os alunos de
históricos? maneira que todos
participem
■ ■ Quanto tempo se passou entre a época de produção da fonte A e da expressando suas
fonte B? Identifique algumas transformações que ocorreram nesse opiniões e
respeitando as dos
lugar de uma época para outra. É possível identificar alguns elementos colegas.
que permaneceram?
■ ■ Por que, no decorrer do tempo, algumas coisas se transformam e

outras permanecem inalteradas?


Talvez você não tenha respostas para essas perguntas, mas procure
refletir sobre elas enquanto estuda os assuntos deste capítulo.

9
Por que estudar História?
O conhecimento histórico nos permite entender melhor o passado
e agir para transformar o presente.

O que é História?
História é a ciência que estuda as ações dos seres humanos no tempo e
no espaço. Esse estudo procura conhecer as transformações que acontecem
ao longo do tempo nas sociedades e também os aspectos que, mesmo com
o passar do tempo, permanecem semelhantes.

Para que serve a História?


A História contribui para a compreensão das socie­

Em A Cigarra. 26/07/1917. Arquivo do Estado de São Paulo, São Paulo. Foto: Neoimagem
dades: suas transformações e permanências, além das
semelhanças e das diferenças que existem entre elas.
A História também procura entender as relações que
os seres humanos estabelecem entre si em diferentes
épocas. Ela nos auxilia a conhecer o passado e, assim,
compreender melhor o presente. Desse modo, nos
tornamos mais capazes de agir para transformar a
sociedade.
Por meio do estudo de História, podemos analisar
os acontecimentos e perceber a ação transformadora
das pessoas em sua cidade, estado ou país. É a partir
do estudo de História que aprendemos como as pessoas
que viveram em outras épocas e lugares agiam para
transformar seu dia a dia.
Conhecendo melhor o nosso passado histórico, po­
demos per­c eber com mais clareza qual é o nosso Passeata de grevistas, na cidade de São Paulo,
papel na transformação da sociedade em que vivemos em 1917. A greve é um importante recurso
e a importância da nossa luta por um mundo melhor e utilizado pelos trabalhadores na luta por melhores
mais justo. condições de vida.

Ricardo Siqueira
Autor desconhecido. Coleção particular

Os estudos históricos nos permitem afirmar que as coisas nem sempre foram do jeito que são e, também, que elas não
permanecerão iguais para sempre. Pela análise de fotografias, por exemplo, podemos observar as transformações que
ocorrem ao longo do tempo e também aquilo que permaneceu semelhante. Esse é o caso das fotografias acima, que retratam
a praça José de Alencar, no Rio de Janeiro, em dois momentos: no início e no final do século XX.

10
O tempo e a História

capítulo 1
O tempo é essencial para o estudo da História.

Photodisc/Getty Images
O que é o tempo?

Estudar História é...


Nós podemos perceber e medir o tempo de várias maneiras. Existe o
tempo da natureza, que não depende da vontade humana. Esse tempo
pode ser percebido, por exemplo, pelo envelhecimento das pessoas.
Diferentemente do tempo da natureza, o tempo cronológico é medido. Esse O relógio é um dos
instrumentos
tempo obedece às regras humanas e, por isso, é um produto cultural, podendo
utilizados para
variar de uma sociedade para outra. O tempo cronológico pode ser dividido em medir a passagem
diferentes unidades de medida: segundo, minuto, hora, dia, mês, ano etc. do tempo.

O tempo histórico
As transformações sociais não ocorrem sempre no mesmo ritmo: há mu-

Sergio Gaudenti/Kipa/Corbis/Latinstock
danças que ocorrem depressa e outras que demoram mais tempo para
acontecer. O tempo histórico permite que o historiador analise essas trans-
formações e também as permanências, isto é, aquilo que parece não mudar.
Para facilitar o entendimento das transformações e permanências sociais,
o historiador francês Fernand Braudel propôs três diferentes durações do
tempo histórico. Leia o texto a seguir.
[...] De acordo com o autor, o estudo dos fenômenos históricos inclui três níveis: o
tempo dos acontecimentos, de breve duração; o tempo das conjunturas, um período
médio de 10, 20 ou 50 anos no qual um determinado conjunto de acontecimentos se pro- A obra do
longa; e o tempo da longa duração, que abrange séculos e se caracteriza pela estabilidade. historiador Fernand
Braudel (1902-
Para tornar sua teoria mais clara, Braudel compara o tempo histórico às águas do -1985) contribuiu
oceano. O tempo dos acontecimentos é breve e móvel como a água que fica na superfície, para a renovação
agitada pelo vento e pela chuva. O tempo das conjunturas é a camada que fica logo abai- dos estudos
xo, onde as águas são mais calmas e servem de apoio para a água da superfície. Por fim, históricos. Fotografia
o tempo da longa duração é representado pelo fundo do oceano, onde as águas são pra- tirada em 1984.
ticamente imóveis e sustentam as outras duas camadas. Como o oceano, o tempo é um
só, mas inclui camadas temporais da mesma forma que o oceano inclui camadas de água.
Nos dois casos, as camadas são sobrepostas e simultâneas.
Caio César Boschi. Por que estudar história? São Paulo: Ática, 2007. p. 42.

Permanências e rupturas
As diferentes durações do tempo histórico, quando comparadas umas com as outras,
permitem ao historiador perceber as permanências e as rupturas que ocorrem nos
processos históricos.
Os fatos que se transformam lentamente no decorrer de séculos parecem não se alterar
e, por isso, podem ser considerados permanências. A escravidão, que durante cerca de
350 anos foi a principal forma de trabalho no Brasil, é um exemplo de permanência. Já
as rupturas representam as mudanças bruscas que
Juca Martins/
Olhar Imagem

ocorrem no processo histórico. Geralmente são


acontecimentos breves, como uma revolução, uma
catástrofe natural ou a assinatura de uma lei, que
causam transformações repentinas em uma sociedade.

O golpe militar de 1964 é um exemplo de ruptura no processo


histórico brasileiro: no dia 1o de abril, os militares tomaram o
poder e implantaram uma ditadura no Brasil, que durou cerca
de 20 anos. Essa fotografia retrata militares reprimindo uma
manifestação de estudantes em São Paulo, em 1977.

11
A representação do tempo histórico na linha do tempo
As diferentes durações do tempo histórico podem ser representadas em
uma mesma linha do tempo. Na linha do tempo a seguir, por exemplo, estão
representados fatos de curta, média e longa durações relacionados à his­
tória do Brasil. Observe.

1530 a 1888 1840 a 1889


Escravidão Governo de D. Pedro II
O sistema escravista, em que O segundo imperador do Brasil
havia a exploração do trabalho governou o país durante quase
escravo de africanos e indígenas, 50 anos.
durou cerca de 350 anos no Brasil.

1500 1550 1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900

Morte de Zumbi Conjuração


Zumbi, o líder do quilombo dos Baiana Lei Euzébio de
Palmares, morreu em 1695 lutando Em 1798, artesãos, Queiroz
contra as tropas destinadas pelo soldados e ex-escravos Aprovada no dia 4 de setembro
governo para destruir o quilombo. se rebelaram contra os de 1850, proibiu o tráfico de
altos impostos cobrados escravos da África para o Brasil.
pelo governo e a situação
de miséria em Salvador. Assinatura da Lei
Áurea
Lei assinada no dia 13 de
A simultaneidade e as durações do tempo histórico maio de 1888 pela princesa
Isabel, filha de D. Pedro II.
Essa lei aboliu oficialmente a
É importante reconhecer na linha do tempo apresentada que, em escravidão no Brasil.
uma mesma sociedade, ocorrem fatos diversos com durações dife­
rentes. Além disso, existem fatos que acontecem simultaneamente,
ou seja, ao mesmo tempo.
Observe que uma parte do período da escravidão ocorreu ao mesmo
tempo que o governo de D. Pedro II, ou seja, esses são fatos simultâneos.
No entanto, eles possuem durações diferentes: o governo de D. Pedro II é
um fato de média duração; já a escravidão é um fato de longa duração.
Outro fato simultâneo ao governo de D. Pedro II é a assinatura da Lei
Áurea. Esse, no entanto, é um exemplo de fato de curta duração.
Johann Moritz Rugendas – Mercado de escravos. Séc. XIX.
Litogravura. Coleção particular

Litogravura do século XIX, feita


pelo artista alemão Johann
Moritz Rugendas (1802-1858),
que representa um mercado
de escravos no Brasil.
As últimas décadas do reinado
de D. Pedro II foram
simultâneas à crise do regime
escravista no Brasil.

12
Conceitos importantes para os

capítulo 1
estudos históricos Greenpeace
Organização
Existem alguns conceitos indispensáveis para o desenvolvimento independente

Estudar História é...


dos estudos históricos. que, desde a
década de 1970,
luta contra crimes
Sociedade ambientais.
Atuando em mais
Os historiadores estudam as permanências e as transformações que de 40 países, o
ocorrem nas sociedades humanas ao longo do tempo. Por isso, o conceito Greenpeace
de sociedade é fundamental para os estudos históricos. conta com a
colaboração de
Quando falamos em sociedade, estamos nos referindo a um conjunto de
cerca de três
pessoas que convivem em um determinado espaço, que seguem as mesmas milhões de
regras e que compartilham valores, costumes, língua etc. Esse conceito pessoas.
engloba também as relações que os indivíduos de uma sociedade estabe­
Valores conjun­
lecem entre si. to de princípios
A sociedade é formada por grupos sociais, como a família, a escola, o culturais que
sindicato etc. Esses grupos sociais integram o indivíduo à sociedade ao permeia uma
mesmo tempo em que influenciam na formação de seus valores e de sua determinada
sociedade.
visão de mundo.
Fotos: Acervo pessoal Charles Chiba

Em uma sociedade, existem


diversos grupos sociais. Uma
mesma pessoa pode fazer
parte de vários grupos sociais.
Charles, por exemplo, participa
de diferentes grupos sociais.
Além de conviver com sua
família, ele passa boa parte do
dia com os colegas do
escritório onde trabalha. Uma
vez por semana, ele atua
como professor voluntário em
uma escola e convive com
seus alunos. Nos momentos
de folga, ele ainda participa de
outro grupo social, formado
pelos músicos de sua banda.
Jeremy Sutton-Hibbert/AFP/Getty Images

A sociedade e seus conflitos


As relações estabelecidas entre os grupos de uma mesma sociedade
muitas vezes são conflituosas. Os conflitos sociais podem ser
percebidos, por exemplo, nas relações entre patrões e empregados.
Enquanto os patrões buscam o aumento de seus próprios lucros,
geralmente por meio de uma maior exploração do trabalho dos
empregados, estes, por sua vez, têm interesses muitas vezes opostos:
aumento dos salários, redução da carga horária, melhoria das condições
de trabalho etc. Assim, a divergência entre os interesses desses grupos
pode gerar conflitos sociais.

Outro exemplo de conflito social é o que ocorre entre os membros do grupo


social do Greenpeace, que são contrários à caça de baleias, e os membros
do grupo social dos caçadores de baleia. Nessa fotografia, ativistas do
Greenpeace (na embarcação pequena) entram em confronto com um navio
baleeiro japonês, em protesto contra a caça de baleias, no ano de 2006.

13
Cultura
Dizemos que os indivíduos de um grupo possuem uma Transmissão cultural
mesma cultura quando compartilham ideias semelhantes
Além da família, da escola, do nosso
ou quando possuem um modo parecido de agir e de grupo de amizades etc., a transmissão
sentir as coisas do mundo. A arte, a língua, as técnicas, cultural pode ser feita por outros meios,
os costumes e as leis de um país são exemplos de ex­ como a televisão, o computador, o rádio,
pressões de uma cultura. Porém, mesmo no interior de os jornais. Através desses meios de
uma sociedade existem diferenças que indicam a varie­ comunicação, podemos inclusive ter
dade da produção cultural de cada grupo que compõe contato com culturas de outras sociedades
e ser influenciados por elas.
essa sociedade.
A cultura é transmitida de geração em geração por meio dos grupos so­
ciais a que estamos ligados. Geralmente é a família que nos transmite os
primeiros valores culturais, depois a escola, em seguida nossos círculos de
amizade, trabalho e assim por diante. Desse modo, a cultura é adquirida
por meio de um processo de construção e transmissão social.
Luiz Cláudio Marigo/Opção Brasil Imagens

Luiz Cláudio Marigo/Opção Brasil Imagens


O modo de vestir das pessoas é um exemplo de diversidade cultural dentro de uma mesma sociedade.
Todas as pessoas que nasceram no Brasil são brasileiras, porém, em cada região do país, as maneiras de se vestir variam
bastante. Nas fotografias acima, percebemos a diferença entre os trajes tradicionais de um gaúcho do Rio Grande do Sul
e de um vaqueiro do Sertão Nordestino, ambos pertencentes à sociedade brasileira.

Trabalho
O trabalho é a ação produtiva do ser humano, que transforma a natureza
para atender às suas próprias necessidades. Todos os bens de que dispo­
mos são frutos do trabalho, desde uma música até um par de sapatos.
O trabalho assume formas diferentes de acordo com as características e
as necessidades das diversas sociedades, porém, de qualquer maneira, ele
é fundamental para o desenvolvimento humano.
Podemos dizer que o trabalho também é uma
Marcelo Spatafora/Pulsar

produção cultural, pois é determinado pelos pa­


drões culturais que envolvem, por exemplo, as
técnicas que uma determinada sociedade dispõe
ou aquilo que seus membros consideram mais
importante produzir.

Se você olhar ao seu redor, vai perceber que a maioria dos


elementos que fazem parte de sua vida é resultado do
trabalho humano. Essa fotografia, tirada no ano de 2007,
retrata o trabalho de um metalúrgico em uma indústria.

14
Política

capítulo 1
A política pode ser entendida como a ação de organizar e de administrar
uma sociedade, ou seja, é a capacidade humana de estabelecer um gover­ Democracia
no. Na atualidade, a atividade política geralmente é realizada com base em sistema de
uma Constituição, que é um conjunto de leis que definem os principais governo caracte­

Estudar História é...


direitos e deveres das pessoas de uma sociedade e garantem o funciona­ rizado pela efetiva
participação da
mento das instituições de um país. Os países onde a Constituição é res­
população.
peitada e a população pode participar das decisões políticas são países
democráticos.

Nas sociedades
Delfim Martins/Pulsar

democráticas, a
população tem o direito
de votar para escolher
seus governantes.
Por meio do voto
consciente, a população
de um país democrático
pode escolher políticos
comprometidos com a
promoção de mudanças
fundamentais para a
sociedade. Fotografia
tirada em 2005.

Economia
A economia é a maneira como a sociedade se organiza para produzir os
bens que atendem às necessidades humanas. A economia envolve o ge­
renciamento de diversos fatores que influenciam na produção dos bens, tais
como a utilização da terra, as formas de trabalho, as tecnologias disponíveis,
a comercialização dos bens produzidos, a distribuição da riqueza, os preços
das mercadorias, entre outros.
Sergio Ranalli/SambaPhoto

Tasso Marcelo/Agência Estado

Plantação de soja no estado do Paraná. Essa atividade Fábrica de automóveis localizada na cidade de Resende,
econômica é realizada na área rural em diversas regiões estado do Rio de Janeiro. As fábricas geralmente
do Brasil. Fotografia tirada em 2006. desenvolvem suas atividades econômicas no espaço urbano.
Fotografia tirada em 2006.

15
Explorando o tema
A diversidade das fontes históricas
Fonte histórica é tudo aquilo que pode nos fornecer informações sobre o passado. Dessa
forma, os vestígios das ações humanas no tempo e no espaço contribuem para a construção
do conhecimento histórico.
Para construir o conhecimento histórico, é necessário levar em consideração vários aspec-
tos, por exemplo, qual é o tipo da fonte analisada, quando ela foi produzida, quem a produziu
e com qual finalidade ela foi produzida. As fontes históricas podem ser escritas, orais, visuais
e materiais.

Declaração da Independência dos Estados Unidos da América. 1776. Biblioteca do Congresso,


Washington. Foto: Mary Evans Picture Library/Easypix
A renovação das fontes históricas
Até o início do século XX, apenas os documentos escritos
e oficiais eram considerados fontes confiáveis. Por isso,
para a realização de suas pesquisas, os historiadores teriam
que se dirigir aos arquivos públicos ou privados, onde os
documentos considerados mais importantes se encontra-
vam preservados.
No entanto, a partir da década de 1930, o conceito de
fonte começou a ser questionado pelos historiadores.
Abriram-se novas possibilidades de pesquisa, e as fontes
históricas foram diversificadas. Assim, pinturas, textos lite-
rários e objetos de uso cotidiano, por exemplo, passaram
a ser considerados importantes fontes para a produção do
conhecimento histórico.

As fontes escritas
Entre as fontes históricas escritas, podemos citar: cartas,
biografias, livros, textos literários e documentos jurídicos,
como leis e decretos. Romances e poesias, mesmo se tra-
Fac-símile da Declaração de
tando de obras de ficção, também podem fornecer impor- Independência dos Estados Unidos da
tantes informações sobre a época em que foram produzidos. América, que é um bom exemplo de
fonte histórica escrita.
As fontes orais
Photos 12/Alamy/Other Images

Os relatos orais constituem outro tipo


de fonte pri­v ilegiada para se estudar a
história. A palavra falada é muito im-
portante para a transmissão da tradição
e dos conhecimentos em diversas
sociedades.
Com base na memória do entrevis-
tado, o historiador constrói sua fonte,
a entrevista. Ele também pode utilizar
relatos orais coletados por outros pes-
quisadores.

Pesquisadores realizando
entrevista com um idoso.

16
capítulo 1
As fontes visuais

1479. Xilogravura. Coleção particular. Foto: The Granger


Collection/New York/Other Images
É cada vez maior a relevância das ima-

Estudar História é...


gens como fontes históricas. Pinturas, gra-
vuras, filmes, fotografias, caricaturas, entre
outras, podem fornecer importantes infor-
ma ções sobre o passado. Não devemos
nos esquecer, no entanto, que as fontes
visuais não são retratos da realidade, mas
sim representações dela.

As fontes materiais
Vestígios históricos como roupas, cons-
Essa gravura, produzida no século XV,
truções, esculturas, móveis, instrumentos
representa o trabalho de ferreiros. É possível
de trabalho, brinquedos etc., são conside- observar na imagem diversos instrumentos
rados fontes materiais. A análise desse tipo utilizados para este ofício, assim como as
de fonte pode fornecer várias informações técnicas empregadas naquela época.
sobre o modo de vida no passado.

A cultura imaterial
Essas fotografias mostram Nos últimos anos, uma importante fonte de pesquisa
Photodisc/
Getty Images

objetos antigos que podem tem despertado interesse entre os historiadores, a


ser considerados fontes chamada cultura imaterial. Da cultura imaterial de uma
materiais: um telefone, um sociedade fazem parte, por exemplo, as tradições, os
ferro de passar roupa e mitos e as manifestações culturais e artísticas.
uma máquina de escrever. Por ser constantemente recriada e transmitida de
geração em geração, a cultura imaterial não pode ser
preservada em arquivos ou museus. No entanto, o
registro e a utilização de fontes imateriais contribuem
para uma melhor compreensão da identidade cultural
de um grupo ou comunidade.
No Brasil, manifestações culturais como o samba, o
frevo, a capoeira e o bumba -meu- boi, por exemplo, são
consideradas patrimônios da cultura imaterial.
André L. Silva/
ASC Imagens

Em 2005, a tradição
de produção e
venda de comidas
baianas em
Photodisc/Getty Images

tabuleiros também
foi considerada
patrimônio imaterial.
Essa fotografia
retrata uma baiana
e seu tabuleiro de
Fabio Colombini

comidas feitas com


azeite de dendê.

17
Analisando uma fonte histórica
É por meio da análise das fontes históricas que os historiadores interpretam
os fatos do passado.

Os elementos de uma fonte


A gravura a seguir é um exemplo de fonte histórica. Ela é intitulada A
Planta da restituição da Bahia e foi feita por João Teixeira Albernaz I, no ano
de 1631.

Título
O título fornece
uma ideia geral
do que está
representado na
imagem.

Cores
São importantes
para indicar
aspectos como
o relevo, as
depressões, a
praia, e também
para destacar
elementos
menores.

Nomes
O tamanho das
letras dos
nomes dos
lugares
representados
na imagem
geralmente
indica a
importância que
o autor deseja
dar ao local
nomeado.

Escala
A escala nos
fornece a
dimensão real
do lugar
representado na
imagem.

18
Essa imagem representa a batalha que portugueses e espanhóis travaram

capítulo 1
contra os holandeses para expulsá­los de Salvador, em 1625. Nessa gra­
vura, além da batalha, o autor representou vários elementos que faziam
parte da cidade de Salvador naquela época.
Observe alguns elementos que podem ser analisados nessa fonte histórica.

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Legenda
A legenda é muito importante na análise dessa fonte.
Ela fornece informações que auxiliam na compreensão
dos vários elementos que compõem a gravura.

João Teixeira Albernaz I – Planta da Restituição da Bahia. c. 1625.


Mapoteca do Itamaraty/Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro

Bandeiras
As bandeiras dos navios indicam
quais Estados estavam envolvidos no
acontecimento representado na
imagem. Nela, há navios de Portugal,
Espanha e Holanda.

Navios, canhões e fortalezas


São elementos de grande destaque
na imagem. Assim, podemos concluir
que a intenção do autor foi dar
ênfase ao conflito, ao acontecimento,
e não apenas representar a
paisagem.

Rosa dos ventos


Indica a direção dos pontos cardeais
e facilita a localização geográfica dos
lugares representados.

19
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Explique com suas palavras o que é His­tória. de diferentes grupos sociais. E você, de
quais grupos sociais par­t icipa?
2 Elabore um texto explicando por que é im­
portante estudar História. 9 Cite exemplos de conflitos que podem ocor­
rer entre grupos sociais com inte­resses
3 Por que o tempo é essencial para o estudo
divergentes.
da História?
10 Qual a im­­por­t ância do trabalho para a so­
4 Dê exemplos de acontecimentos de curta,
ciedade?
média e longa duração.
11 Quais as principais características da polí­
5 Explique com suas palavras o que são as
tica em uma sociedade democrática?
permanências históricas.
12 Explique de que forma fatores como a uti­
6 Explique o que é uma ruptura histórica.
lização da terra, formas de trabalho e
Cite um exemplo.
tecnologias disponíveis influenciam na
7 Como o historiador Fernand Braudel com­ economia de uma região ou país.
parou o tempo ao oceano? Explique essa
comparação com suas palavras. 13 O que são fontes históricas? Por que elas
são importantes para os estudos da his­
8 Na página 13, você viu que Charles par­ticipa tória?

Expandindo o conteúdo
14 O tempo é essencial para os estudos históricos, porém, ele deve ser considerado em suas
variáveis durações, de acordo com o assunto estudado. O texto a seguir aborda esse tema.
Leia-o.

Os ritmos da duração [do tempo] possibilitam identificar a velocidade com que as mudanças ocor-
rem. Assim, podem ser identificados três tempos: o tempo do acontecimento breve, o da conjuntura e
o da estrutura.
O tempo do acontecimento breve é aquele que representa a duração de um fato de dimensão breve,
correspondendo a um momento preciso, marcado por uma data. Pode ser, no caso, um nascimento, a
assinatura de um acordo, uma greve, a independência política de um país, a exposição de uma coleção
artística, a fundação de uma cidade, o início ou o fim de uma guerra.
O tempo da conjuntura é aquele que se prolonga e pode ser apreendido durante uma vida, como o
período de uma crise econômica, a duração de uma guerra, a permanência de um regime político, o
desenrolar de um movimento cultural, os efeitos de uma epidemia ou a validade de uma lei.
O tempo da estrutura é aquele que parece imutável, pois as mudanças que ocorrem na sua extensão
são quase imperceptíveis nas vivências contemporâneas das pessoas. É a duração de um regime de
trabalho, como a escravidão, de hábitos religiosos e de mentalidades que perduram, o uso de moedas
nos sistemas de trocas ou as convivências sociais em organizações como as cidades.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. p. 38.

a ) Cite exemplos de acontecimentos de curta, de média e de longa duração.


b ) No exemplo da Independência do Brasil, qual é o fato de curta duração? E os fatos de
média e longa duração, quais são?

20
capítulo 1
15 Ao analisar uma fonte, os historiadores devem tomar alguns cuidados. Uma pintura, por
exemplo, se produzida para comemorar algum fato, geralmente procura passar uma imagem
gloriosa do acontecimento histórico representado, não correspondendo necessariamente
ao fato tal qual ele aconteceu. Esse é o caso do quadro Independência ou Morte, feito

Estudar História é...


pelo artista paraibano Pedro Américo, em 1886, que procura privilegiar os aspectos glorio­
sos do momento em que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil.
Observe-o.

Pedro Américo – Independência ou Morte. 1888. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo
A
B C

Agora, reescreva em seu caderno as frases abaixo, associando cada uma delas a um
dos elementos indicados por letras na tela. Veja o exemplo: E - O riacho do Ipiranga não
deveria aparecer na tela, pois se localizava a dezenas de metros de distância do local
onde D. Pedro proclamou a independência.

■■ O riacho do Ipiranga não deveria aparecer na tela, pois se localizava a dezenas de metros
de distância do local onde D. Pedro proclamou a independência.
■■ A casa representada no lado direito da tela não existia naquela época. Essa casa, usada
como pousada por viajantes, só foi construída em 1850.
■■ Para viagens longas e cheias de obstáculos, como era o caso da que foi feita por
D. Pedro, o cavalo não era o meio de locomoção mais adequado. Em trajetos como esse,
era mais comum o uso de mulas, animais mais fortes e resistentes.
■■ Não há certeza que D. Pedro tenha erguido uma espada no momento em que proclamou
a independência. Alguns artistas representam D. Pedro segurando uma carta ou um chi­
cote em sua mão. No entanto, não há documentos históricos que indiquem que ele segu­
rava algum objeto naquele momento.
■■ A comitiva de D. Pedro usa roupas de veludo e os soldados estão vestidos com a farda
da guarda de honra. É mais provável que tanto a comitiva quanto os soldados usassem
roupas mais simples e confortáveis, mais apropriadas para quem percorre um trajeto
longo e difícil.

21
16 A fotografia também é utilizada pelos historiadores como fonte histórica. Entretanto, assim
como uma pintura, a fotografia privilegia o ponto de vista do autor e não revela outros as­
pectos importantes de um acontecimento. Observe a tirinha abaixo, que tem como persona­
gens o menino Calvin e o tigre Haroldo. Ela demonstra como a fotografia pode retratar ape­
nas um aspecto do fato e excluir outros detalhes que podem modificar ou interferir na inter­
pretação do acontecimento.
© 1992 Watterson/Dist. by Atlantic
Syndication/Universal Press Syndicate

Bill Watterson - Calvin & Hobbes

a ) Descreva cada um dos quadrinhos da tirinha.


b ) Qual a parte do quarto que Calvin pede para Haroldo fotografar? Por quê?
c ) Se Calvin mostrar a alguém a fotografia que ele tirou, o que essa pessoa vai pensar sobre
a arrumação do quarto dele?
d ) A partir da análise da tirinha, qual é sua opinião sobre os cuidados que o historiador
deve tomar ao utilizar uma fotografia como fonte histórica?

Discutindo a história
17 Quando um pesquisador se propõe a estudar um determinado fenômeno histórico, deve pri­
meiramente escolher suas fontes de pesquisa. Deve também lembrar que as fontes são
produzidas em certos momentos e por determinadas pessoas, por isso elas podem apresen­
tar diferentes versões de um mesmo acontecimento. Ao terminar seu trabalho, o historiador
apresenta seu ponto de vista sobre o fenômeno estudado. Esse ponto de vista pode afirmar
ou negar um conhecimento histórico produzido por outro estudioso sobre o mesmo assunto.
Os textos apresentados a seguir mostram opiniões diferentes sobre um mesmo assunto.
Leia-os.

A A antropofagia foi o ritual indígena que mais atraiu a atenção dos europeus. Provavelmente surgido na
época de guerras, esse ritual estava muito longe da selvageria. Era antes uma homenagem à coragem do
adversário batido em combate. [...]
A vida do prisioneiro não era difícil. Ofereciam-lhe uma mulher, que lhe garantia a alimentação e com
quem dividia a rede. Embora proibido de deixar a aldeia, podia andar por onde quisesse e conversar com
todos. Muitas vezes, nascia um filho de seu relacionamento com a mulher que lhe fora destinada. A esta,
na hora do sacrifício, cabiam várias providências, como preparar as vasilhas e as bebidas do evento. En-
quanto isso, os homens tratavam de espalhar a notícia, convidando membros de outras [aldeias].
A cerimônia podia durar vários dias. No primeiro, o prisioneiro recebia uma corda de algodão espe-
cial e era conduzido ao terreiro, onde lhe pintavam todo o corpo. No segundo e no terceiro dias
realizavam-se danças em torno da grande figura. No quarto, ele era levado logo cedo para um banho, e só
então começava o sacrifício propriamente dito. Sua coragem era testada durante todo o tempo, e espera-
va-se que demonstrasse altivez para merecer morte tão importante.

22
No quinto dia consumava-se o sacrifício. Pela manhã a mulher se despedia e ia chorar em sua [caba-

capítulo 1
na]. Toda a preparação ritual, as danças e os cantos chegavam ao fim. Armado de borduna, um guerreiro
valente o abatia; se caía de costas, era sinal de que o matador iria morrer; de bruços, que a [aldeia] teria
grande futuro. Então seus restos eram levados para o lado de uma fogueira. Algumas partes do corpo
eram comidas cruas; outras, mais nobres, eram moqueadas ou assadas.

Estudar História é...


Jorge Caldeira e outros. Viagem pela história do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 17.

B A acusação de que os [indígenas] brasileiros comiam carne humana era obviamente o argumento
supremo em favor da conversão [ao cristianismo] — ou, na verdade, de qualquer ato praticado contra
eles. [...] Colombo foi o primeiro a falar dos canibais antilhanos, apesar de nunca ter visto pessoalmente
aquilo que relatava. Nas Cartas Jesuíticas há inúmeras referências à antropofagia, mas nenhum testemu-
nho pessoal [...]. Os jesuítas [...] falam de canibalismo como se os [indígenas] não fizessem outra coisa e
se alimentassem rotineiramente de carne humana.
O antropólogo americano W. Arens, em seu livro The Man-Eating Myth [O Mito do Canibal], procura
comprovar a tese de que a antropofagia nunca existiu de fato, sendo antes um preconceito sempre atribuí­
do ao Outro: o canibal é invariavelmente o inimigo [...].
Com base em exaustivo estudo de boa parte das fontes existentes, Arens chega à conclusão de que
todos os registros carecem de confiabilidade científica por não resultarem da observação direta: algumas
descrições chegam a minúcias, mas nunca há nelas o testemunho do autor de que presenciou o que relata.
[...]
No que diz respeito ao Brasil, Arens examina apenas o livro do aventureiro alemão Hans Staden, um
relato sensacional que muito deve ter impressionado o público europeu seiscentista. [...] [Porém], o valor
etnográfico [da obra] é sem dúvida limitado, especialmente porque o autor, não sabendo falar tupi, mes-
mo assim reproduz longas conversações dos nativos [...].
Quanto aos jesuítas, não parece provável que tenham participado dos rituais, apesar de afirmarem
terem visto “vestígios”. Arens poderia aqui argumentar que de fato se “vê” tudo aquilo que se quer ver. [...]
Se é que a antropofagia de fato existiu, não me parece possível estabelecer com certeza o modo como era
praticada, nem qual teria sido seu sentido, a partir de observações meramente exteriores. [...]
Roberto Gambini. Espelho Índio: a formação da alma brasileira. São Paulo: Axis Mundi; Terceiro Nome, 2000. p. 111-2; 116.

a) Qual é o ponto de vista defendido no texto A?


b ) Qual é o ponto de vista defendido no texto B?
c ) Converse com os colegas e, em grupo, elaborem um texto com a opinião de vocês sobre
o assunto apresentado. Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a
proposta da seção Refletindo sobre o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações,
é importante que o professor seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na
aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A História estuda as ações dos seres humanos no tempo e no espaço.
■■ O estudo da História nos permite entender que as sociedades humanas se transformam
no decorrer do tempo.
■■ A sociedade, a cultura, o trabalho, a política e a economia são importantes conceitos
para os estudos históricos.
■■ Tudo o que é produzido pelo ser humano pode ser utilizado como fonte histórica.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi­
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

23
2
A formação da
capítulo

Europa medieval
Séc. III. Museu Nacional Romano, Roma. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

Veja nas Orientações


para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Alto relevo, datado


do século III,
representando uma
batalha entre
romanos e
germânicos. Nessa
época, os povos
germânicos já
pressionavam as
fronteiras ocidentais
do Império Romano,
ameaçando invadi-lo.
François Chauveau. Séc. XVII. Gravura. Coleção particular. Foto: Photo Ann Ronan/Heritage Images/Scala, Florence/Glow Images

B Essa imagem representa a


invasão da cidade de Roma
pelos guerreiros de Alarico,
rei dos visigodos, um povo
germânico. (Gravura produzida
no século XVII.)

24
Dorothy Burrows - Mapa de Constantinopla. c. 1420. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: EE Image Library/Heritage Images/Glow Images

C Imagem que representa a


cidade de Constantinopla,
construída no século IV
para se tornar a nova
capital do Império Romano.
Mesmo com a divisão do
império em duas partes e a
posterior desintegração de
sua porção ocidental, com
a queda de Roma,
Constantinopla manteve-se
como a capital do Império
Romano do Oriente, ou
Império Bizantino.
(Gravura produzida por
volta de 1420.)

Conversando sobre o assunto Aproveite a seção


Conversando sobre
Neste capítulo, estudaremos alguns aspectos que marcaram o processo o assunto para ativar
de formação da sociedade medieval europeia. No século IV, o Império o conhecimento
prévio dos alunos e
Romano estava dividido e em crise. A formação da Europa medie­val está estimular seu
diretamente relacionada com o enfraquecimento e a desintegração de interesse pelos
assuntos que serão
parte desse império. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■ ■ Descreva a fonte A. Você sabe quem foram os povos germânicos?
participem
Por que romanos e germânicos guerrearam? expressando suas
opiniões e
■ ■ A partir da análise da fonte B, quais elementos indicam a fragilidade respeitando as dos
colegas.
do Império Romano?
■ ■ Descreva a fonte C. Por que a capital do Império Romano foi trans-

ferida para Constantinopla, no Oriente?


■ ■ Quais relações podem ser estabelecidas entre as fontes A, B e C?

Talvez você não tenha resposta para essas perguntas, mas pense nelas
enquanto lê este capítulo.

25
O que é a Idade Média?
Durante muito tempo chamada de “Idade das Trevas”, a Idade Média hoje é
considerada pelos historiadores como o período que deu origem ao mundo
ocidental.

Mil anos de história


A Idade Média é um período histórico que tem início com a queda do
Mundo
Império Romano do Ocidente. Esse período abrange cerca de mil anos, ocidental
entre os séculos V e XV. Até poucas décadas atrás, a Idade Média era tam- também chamado
bém conhecida como “Idade das Trevas”, porque esse teria sido um perío- de Ocidente, se
do de muita pobreza, intolerância religiosa e obscurantismo. Atualmente, caracteriza por
porém, o termo “Idade das Trevas” não é mais utilizado pelos historiadores, ser uma região de
grande influência
pois, apesar dos problemas enfrentados pelas pessoas que viveram naque- cultural europeia.
la época, a Idade Média foi um período de importantes realizações e de
Obscurantismo
grandes transformações.
política ou
Ao longo desses mil anos, foram formadas várias das atuais Nações da religião contrária
Europa; muitas das línguas faladas atualmente também surgiram na Idade à propagação de
conhecimentos
Média. Nesse período, a Igreja Católica tornou-se a mais importante insti-
científicos entre
tuição religiosa do Ocidente. Além disso, foi no final da Idade Média que o as camadas
capitalismo, sistema econômico adotado na maioria dos países da atuali- populares.
dade, começou a se fortalecer. Por isso, vários historiadores consideram
que a Idade Média foi o período em que nasceu o mundo ocidental.

Adam Woolfitt/Corbis/Latinstock

Fotografia recente da cidade medieval de Carcassone, na França. Por ser uma Nação que se formou na Idade Média,
a França possui muitas construções medievais.

26
Períodos da Idade Média

capítulo 2
Observe, na linha do tempo a seguir, como os principais períodos da
Idade Média são estabelecidos pelos historiadores.

A formação da Europa medieval


Do século V ao século X Do século XI ao século XV
Alta Idade Média Baixa Idade Média
Nesse período, povos germânicos Nesse período, o sistema feudal entrou em crise,
invadiram o Império Romano e houve uma revitalização das cidades e do
e formaram diversos reinos. O comércio. Foi na Baixa Idade Média que surgiu
cristianismo se fortaleceu durante a Alta a burguesia e que foram formadas as primeiras
Idade Média, e nesse período ocorreu a monarquias centralizadas na Europa. No final desse
lenta consolidação do sistema feudal. período, teve início a expansão marítima europeia.

400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500

476 711 1000 1453


Os hérulos invadem Os árabes Fim das invasões na Europa Ocidental Os turco-otomanos
a cidade de Roma muçulmanos invadem e início de um período de crescimento conquistam
e depõem o a península Ibérica. populacional e desenvolvimento do a cidade de
imperador romano. comércio e das cidades. Constantinopla,
capital do Império
732 Romano do Oriente.
Carlos Martel derrota 793
os árabes na batalha Os vikings iniciam uma série
de Poitiers, detendo de ataques a mosteiros e
seu avanço na Europa. povoamentos da Inglaterra e, Dogma conjunto de
depois, da Europa continental. regras, doutrinas, preceitos,
geralmente religiosos.

História em construção Visões historiográficas sobre a Idade Média


O conceito de “Idade Média” passou por várias transformações ao longo dos séculos.
Esse conceito foi criado na época do Renascimento (século XVI) por pensadores e artistas,
conhecidos como humanistas, que atribuíam grande valor à cultura clássica. Para os humanis­
tas, a Idade Média teria sido um período marcado pela ignorância e religiosidade excessiva.
No século XVIII, o desprezo pela Idade Média atingiu seu ápice com as críticas dos pen-
sadores iluministas. Por valorizarem o pensamento racional, eles criticavam o dogmatismo
religioso, a influência da Igreja e o grande poder dos reis.
Já no século XIX, houve mudanças na interpretação do período medieval. Os adeptos do
Romantismo se opuseram ao racionalismo dos iluministas e passaram a valorizar a Idade
Média. Os românticos davam grande valor aos sonhos, à paixão e à fé, e exaltavam o heroísmo
dos cavaleiros medievais.
Somente no século XX, os historiadores procuraram analisar o período medieval de modo
mais ponderado, buscando conhecer como viviam os homens e as mulheres, e como estavam
estruturadas as sociedades medievais. Esses historiadores procuraram, assim, compreender,
entre outras coisas, quais foram as contribuições da Idade Média para a formação do mun-
do contemporâneo.

27
O declínio do Império Romano
A diminuição do número de escravos, a crise econômica e as invasões germânicas
levaram à fragmentação do Império Romano.

O Estado romano
O início da Idade Média está relacionado ao de-

Séc. II. Mosaico. Museu do Louvre, Paris. Foto:


Ann Ronan Picture Library/HIP/TopFoto/Keystone
clínio do Império Romano, um dos maiores e mais
importantes impérios da Antiguidade.
Na época em que atingiu sua máxima extensão,
por volta do ano 100, o Império Romano abrangia
aproximadamente metade da Europa, o Norte da
África e parte do Oriente Médio. Toda essa região
ficava submetida ao Estado romano. O governo era
forte e controlava todas as regiões do império,
centralizando o poder e estabelecendo uma unida-
de política. A arrecadação de impostos garantia a
manutenção de um poderoso exército, que prote-
gia as fronteiras e mantinha a ordem social.
As cidades do Império Romano eram interligadas
por estradas. O Estado garantia a segurança de Durante o período de expansão do império, os
quem trafegava nelas, o que estimulou o comércio romanos impuseram seu domínio sobre diversos
povos, cobrando pesados tributos e escravizando
entre as várias regiões do império. As atividades grande número de pessoas, entre elas, os derrotados
urbanas tinham grande importância econômica, e nas guerras de conquista. A imagem acima é um
as cidades eram mantidas principalmente pelo mosaico romano produzido no século II, que representa
excedente agrícola produzido por escravos. escravos trabalhando na colônia romana de Cartago.

Motivos da crise
Depois de atingir o apogeu, no entanto, o Império Romano começou

Flavius Stilicho. c. 400. Díptico em marfim. Basílica de São João Batista, Monza.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
a atravessar um longo período de crise. Foram vários os motivos que
geraram essa crise. Conheça os principais deles.

Crise do escravismo
Desde que o Império Romano interrompeu sua expansão e deixou de promover guerras de
conquistas, por volta do ano 100, o número de escravos caiu consideravelmente. Como o
escravismo era um dos pilares da riqueza romana, a falta de escravos gerou uma grave crise
econômica.

Ruralização da economia
Frente à crise pela qual passava o império, houve um enfraquecimento de atividades como a
produção artesanal e o comércio. Assim, milhares de trabalhadores ficaram desempregados e
começaram a deixar as cidades para viver sob a proteção de grandes proprietários de terras.
Desse modo, a área rural começou a se tornar mais importante que a área urbana.

Ocupação germânica
A crise econômica fez com que o Estado romano deixasse de arrecadar os impostos Essa imagem retrata
necessários para sua manutenção. Para proteger as fronteiras, os governantes romanos fizeram Stilicho, guerreiro
acordos com os líderes dos povos germânicos que já ocupavam regiões do Norte da Europa, germânico que se
dentro dos limites do império. O Estado romano cedia territórios aos germânicos que, em troca, tornou comandante do
tinham que guardar as fronteiras e evitar que outros povos invadissem essas regiões. Além exército romano.
disso, eles começaram a ser incorporados ao exército romano. Desse modo, as tropas romanas Relevo produzido por
passaram a contar com um número cada vez maior de germânicos, inclusive nos postos de
volta do ano 400.
comando.

28
A divisão do Império Romano

capítulo 2
Diante das dificuldades cada vez maiores para manter e
As “invasões bárbaras”
administrar o império, os governantes romanos tentaram de
Os romanos chamavam de “bárbaros”
várias formas controlar a crise. No ano de 395, o então impe-
todos aqueles que não compartilha-
rador Teodósio dividiu o império em duas partes: o Império

A formação da Europa medieval


vam sua cultura e que não falavam
Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. sua língua, o latim. Esse era o caso
Enquanto isso, povos germânicos, que desde o início do dos povos germânicos. Por isso, as
invasões germânicas ao Império
século III pressionavam as fronteiras do Norte da Euro pa, Romano também ficaram conhecidas
intensificaram a ocupação, invadindo diversas regiões do como “invasões bárbaras”.
império.

As invasões germânicas
E. Cavalcante

O L

40° N

0 290 km
0° Império Romano do Ocidente
Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann. Atlas Historique. Paris: Perrin, 1992. Império Romano do Oriente

Roma é conquistada
No século V, a cidade de Roma foi conquistada por um grupo de invasores
germânicos que, lide rados por Odoacro, saquearam a cidade e depuseram
Rômulo Augústulo, o então imperador romano. A conquista de Roma signi-
ficou a quebra da unidade política do Império Roma-
Séc. XIX. Coleção particular.
Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock

no do Ocidente e possibilitou o surgimento de vários


reinos germânicos que, com o passar do tempo,
foram se constituindo em paí ses europeus.

Ilustração que representa Rômulo Augústulo, imperador romano,


submetendo-se ao poder de Odoacro, líder dos hérulos, povo
germânico que invadiu a cidade de Roma no ano de 476.

29
Os povos germânicos
Apesar de serem diferentes entre si, os povos germânicos apresentavam
semelhanças em suas formas de organização econômica, política e social.

As atividades do dia a dia


Os germânicos praticavam a agricultura, plantando coletivamente produ-
tos como trigo, cevada e centeio. Também criavam rebanhos de bois, por-
cos e carneiros. Quando as pastagens se esgotavam, geralmente eles se
des­locavam para um novo lugar. Para complementar sua alimentação, eles
prati­c avam a caça e a pesca. Também praticavam o comércio, trocando
pro­d u­t os co­m o madeira e peles por armas, tecidos, ouro e prata.

A organização social
As sociedades germânicas eram patriarcais, e as decisões mais importan-
tes eram tomadas pelo chefe de cada grupo familiar. A união de várias famílias
dava origem a um clã ou comunidade. Os germânicos eram muito indepen-
dentes e autônomos, o que dificultava a formação de um Estado com poder
centralizado. Em épocas de guerras, no entanto, eles escolhiam um chefe,
que tinha poder sobre o comitatus , que era o grupo de guerreiros armados.
Os guerreiros que faziam parte do comitatus juravam fidelidade ao chefe,
prometendo ficar sempre a seu serviço. O chefe, por sua vez, jurava sempre
defender seus comandados.

Séc. VII. Museu de Arte, Berna. Foto: The


Bridgeman Art Library/Keystone
Entre os povos germânicos não havia leis escritas.
Suas leis, baseadas em seus costumes, eram transmitidas
oralmente. Por isso o direito dos germânicos é chamado
de consuetudinário.

A guerra era uma atividade de grande importância para os povos


germânicos. Os guerreiros eram muito valorizados e, além disso,
a guerra era uma forma de obter riquezas, pois os germânicos
geralmente praticavam pilhagens. Ao lado, imagem de guerreiro
germânico em seu cavalo, em escudo do final do século VII.

As crenças religiosas Séc. XIX. Coleção particular. Foto: Christel Gerstenberg/Corbis/Latinstock

Os povos germânicos acreditavam em vários deuses,


principalmente Odin, deus da guerra e da magia. Também
acreditavam na existência de um paraíso, chamado Valhala,
para onde os guerreiros, ao morrer, seriam conduzidos
por jovens mulheres chamadas Valquírias. Além disso,
tinham cultos animistas, ou seja, de adoração às forças
da natureza.

Gravura do século XIX que representa


Odin sentado em seu trono.

Patriarcal sociedade em que o pai ou o homem


mais velho tem poder e autoridade sobre os demais.
Pilhagem saque, roubo.

30
Os reinos germânicos

capítulo 2
Os povos germânicos formaram vários reinos em regiões que antes faziam
parte do Império Romano. Esses reinos apresentavam uma mistura de ele-
mentos herdados do mundo romano e do mundo germânico. Por essa razão,

A formação da Europa medieval


também ficaram conhecidos como reinos romano-germânicos.
Observe o mapa.

Os reinos germânicos no início do século VI


E. Cavalcante

Pictos N
Mar O L
Irlandeses do Jutos
Norte Daneses
S

Bretões
Anglo-
-Saxões
Frísios Saxões
OCEANO
ATLÂNTICO
Bretões Turíngios
Reino dos Francos Eslavos
Bávaros
Alamanos Lombardos
Reino dos Hunos
Reino dos
Burgúndios Ostrogodos
Suevos Gépidas
Bascos Mar
Negro

Reino dos Visigodos 40° N

Império Romano do Oriente

Reino dos
Vândalos
Berberes

Mar Mediterrâneo

0 230 km


Fonte: JOTISCHKY, Andrew; HULL, Caroline. The Penguin Historical Atlas of the Medieval World. Londres: Penguin Books, 2005.

Enquanto isso... A difusão do cristianismo

Na época de formação dos primeiros reinos germânicos, houve uma grande difusão do
cristianismo. Essa religião tinha como base as pregações de Jesus Cristo, que viveu na Pa-
lestina, uma região dominada pelo Império Romano desde 64 a.C. O cristianismo tinha como
princípio o desapego aos bens materiais e o amor ao próximo, e conquistou muitos segui-
dores em várias regiões do império. No entanto, os cristãos foram duramente perseguidos,
pois recusavam-se a adorar os deuses romanos.
Apesar das perseguições, o cristianismo não parou de crescer. No ano de 313, o impera-
dor Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos e, em 391, o imperador Teodósio
tornou o cristianismo a religião oficial romana. Após a queda do Império Romano do Ociden-
te, a Igreja Católica tornou-se uma instituição poderosa e teve um papel de destaque na
sociedade medieval.

31
O Império Romano do Oriente
Após a divisão, a parte ocidental e a parte oriental do Império Romano tiveram
desenvolvimentos muito distintos.

O Império Bizantino
Enquanto no Império Romano do Ocidente acontecia uma grande fragmen-
tação territorial e a formação dos reinos germânicos, no Império Romano do
Oriente, também conhecido como Império Bizantino, desenvolvia-se um
comércio cada vez mais forte que impulsionava o crescimento das cidades.
Além de Constantinopla, a capital do império, havia outras importantes
cidades, como Antióquia, Alexandria e Niceia. Nessas cidades, além de uma
população numerosa, existiam grandes construções, como igrejas, teatros,
circos, banhos públicos e hipódromos.

Ao lado, gravura
Lokman. 1558. Museu do Palácio de Topkapi, Istambul. Foto: Dost Yayinlari/The Bridgeman Art Library/Keystone

datada do século XVII


representando a
cidade de
Constantinopla.

A gravura abaixo,
produzida no século
XV, representa um
homem com uma
remessa de canela.
Esse produto gerava
grandes lucros para
A capital do Império Bizantino os bizantinos.
Mercador de canela. Séc. XV. Biblioteca Estense, Modena.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

Constantinopla era uma das maiores e mais populosas cidades


de sua época. Ficava localizada na divisa entre a Europa e a Ásia,
em uma região por onde passava grande parte das rotas de comércio
marítimo e terrestre. Por isso, Constantinopla cumpria um impor-
tante papel nas trocas comerciais entre a Europa e o Oriente.
Os mercadores bizantinos percorriam os cami­n hos marítimos
utilizando pequenas e grandes em­b arcações. Por terra, os caminhos
eram percorridos com camelos, cavalos ou burros.
Os principais produtos trazidos do Oriente eram arroz, canela,
porcelanas, pedras preciosas e sedas. Já do Ocidente eram levados
chumbo, prata, vinhos, azeites e frutas secas.

32
A herança romana

capítulo 2
Os bizantinos consideravam-se os únicos herdeiros do Império Romano,
uma vez que, no Ocidente, o encontro entre romanos e germânicos havia
transformado demais a antiga cultura. Os bizantinos chamavam a si próprios
de romanos e deram o nome de România à sua terra.

A formação da Europa medieval


Fortunino Matania – Hipódromo de Constantinopla. Séc. XX. Coleção particular.
Foto: Look and Learn/ The Bridgeman Art Library/Keystone

Essa gravura representa O cisma da


um imperador bizantino Igreja
assistindo a um No início do
espetáculo no século XI, as
hipódromo. Nesse local diferenças entre o
eram realizados cristianismo do
combates de gladiadores, Ocidente e o do
lutas entre animais, Oriente provoca-
corridas de cavalos e ram uma divisão
apresentações circenses. na cristandade.
A presença de Essa divisão ficou
hipódromos no Império conhecida como
Bizantino foi uma das Grande Cisma
heranças de Roma. do Oriente. A
partir de então, a
igreja ocidental
A mistura cultural e religiosa passou a ser
chamada de
Além da forte influência romana, a cultura bizantina foi influenciada por Igreja Católica
outras culturas e religiões, entre elas a grega, a cristã e as orientais, como Apostólica
a persa e a chinesa. Os bizantinos herdaram dos romanos a forma de or- Romana, liderada
pelo papa. A
ganização das cidades, com construções semelhantes à da antiga capital. igreja bizantina,
Dos gregos, herdaram o idioma, adotado oficialmente no século VI. As por sua vez, foi
culturas orientais influenciaram os bizantinos, por exemplo, no gosto pela chamada de
seda e pela decoração. Dos cristãos, eles incorporaram a religião, dando a Igreja Ortodoxa,
ela características próprias: a igreja bizantina foi denominada Igreja Orto- liderada pelo
patriarca.
doxa e passou a ser dirigida pelo patriarca de Constantinopla.

A produção de seda
Uma das mais importantes influências da cul­
tura oriental em Bizâncio foi a produção da
seda. Os bizantinos tiveram acesso às técnicas
da produção da seda chinesa quando, enviados Autor desconhecido - Caçada ao leão, a cavalo. Séc. VIII. Museus dos Tecidos, Lion

pelo imperador, monges bizantinos estiveram


na China. Eles observaram as etapas de produ-
ção da seda e levaram para Constantinopla se-
mentes de amoreira e casulos do bicho-da-seda.
A partir de então, as oficinas imperiais passaram
a produzir seda de alta qualidade e a exportá-la
para a Europa Ocidental.

Bizâncio nome utilizado


para se referir à cidade de
Ao lado, seda
Constantinopla e, também,
bizantina produzida
ao Império Bizantino.
no século VIII.

33
O governo de Justiniano

André Durenceau. 1962. Litografia colorida. Coleção de


Imagens da National Geographic, Washington.
Foto: National Geographic/Glow Images
Justiniano foi um dos mais impor-
tantes imperadores bizantinos. Ele
governou o império entre 527 e 565
e, durante esse período, seus exér-
citos reconquistaram alguns territó-
rios do antigo Império Romano, como
o Nordeste da África e a península
Itálica.
O imperador, além disso, ordenou
a construção de grandes obras, como
igrejas, palácios, pontes, estradas,
aquedutos e hospitais. Uma das
Cúpula estrutu-
maiores obras foi a catedral de Santa
ra superior
Sofia. Construída em Constantinopla arredondada de
naquela época, tem uma das maiores alguns edifícios.
cúpulas do mundo e seu interior é Mosaico obra
decorado com mosaicos dourados. de arte feita com
Atualmente, a catedral de Santa Sofia Essa ilustração representa Justiniano e sua cascalhos ou
é também um museu, localizado na esposa Teodora durante uma assembleia no cacos de vidro
cidade de Istambul (antiga Constan- colados uns ao
palácio imperial. A imperatriz Teodora teve
lado dos outros.
tinopla), na Turquia. uma participação bastante ativa no governo
de Justiniano.

O Corpo do Direito Civil


Durante o governo de Justiniano, juristas e estudiosos do direito realiza-
ram uma compilação de leis conhecida como Corpo do Direito Civil ( Corpus
Juris Civilis ). Essa compilação incluía, principalmente, as antigas leis roma-
nas, além de algumas leis elaboradas durante seu governo.
O Corpo do Direito Civil serviu de base para grande parte dos códigos de
leis utilizados atualmente em muitos países, inclusive no Brasil.

O sujeito na história Teodora

c. 547. Mosaico. Igreja de São Vital, Ravena


Teodora era filha de um guardador de animais do hipódromo
de Constantinopla. Quando seu pai morreu, ela e suas irmãs
foram trabalhar como artistas de circo e atrizes de teatro. Algum
tempo depois, viajou para a África, passando pelo Egito e An-
tióquia. Ao retornar para Constantinopla, conheceu Justiniano,
futuro imperador bizantino. Justiniano se apaixonou por Teo-
dora e, para conseguir se casar com ela, alterou a lei que
proibia o casamento entre imperadores e pessoas das camadas
populares.
Como imperatriz, Teodora foi bastante ativa. Ajudou na defi-
nição de estratégias de governo de Justiniano, participou da
compilação de leis, ordenou a construção de hospitais e ajudou
no tratamento de doentes.

Teodora, representada em mosaico da


igreja de São Vital, em Ravena, na Itália.

34
A arte bizantina

capítulo 2
A forte religiosidade no Império Bizantino refletiu-se nas manifestações
artísticas. Pinturas, mosaicos, iluminuras, afrescos, esculturas, literatura
e arquitetura eram expressões artísticas que exaltavam principalmente
acontecimentos bíblicos, a vida dos santos, a importância da fé. Além do

A formação da Europa medieval


aspecto religioso, a arte bizantina valorizava a figura do imperador, apre-
sentando-o como um mediador entre Deus e o ser humano.
Assim como os demais aspectos da cultura bizantina, a arte também
apresentava características romanas, gregas, orientais e cristãs.
Países como Rússia, Bulgária, Ucrânia e Hungria receberam grande in-
fluência cultural do Império Bizantino. O alfabeto utilizado nesses países,
por exemplo, mantém grande

Davi compondo os Salmos. c. 960. Biblioteca Nacional, Paris


Iluminura
semelhança com o alfabeto gre- ilustração
go, utilizado no Império Bizantino. decorativa que
Além disso, a religião predomi- acompanha um
nante nesses países é o cristia- texto. Na Idade
nismo ortodoxo. Média, a iluminu-
ra tinha a função
A influência bizantina também de transmitir às
pode ser notada na arquitetura pessoas diferen-
e no planejamento urbano des- tes ensinamentos
por meio de
ses países.
imagens.
Jihad dever de
todo muçulmano
em defender o
Islã, seja por
Além da influência cristã, nessa iluminura meio da pregação
bizantina do século X pode-se observar a religiosa, do com-
portamento
influência grega. Davi, um personagem
pessoal ou da
bíblico, e as demais figuras foram
luta armada.
representados utilizando trajes gregos.

Enquanto isso... na península Arábica

Durante o reinado de Justino II (520-578), sucessor do imperador Justiniano, na região da


península Arábica nasceu Maomé (570-632), que posteriormente se tornaria o profeta fun-
dador da religião muçulmana, também conhecida como islamismo.
Após estabelecer o núcleo inicial da comunidade muçulmana
1911. Litografia colorida. Em “Le Petit Journal”. Foto: Giraudon/
The Bridgeman Art Library/Keystone
na cidade de Medina e conquistar a cidade sagrada de Meca,
Maomé e seus seguidores iniciaram a jihad, conquistando terri­
tórios e convertendo seus habitantes. Quando o profeta morreu,
quase toda a península Arábica já era muçulmana.
Os sucessores do profeta (califas), aproveitaram-se da debili-
dade dos impérios persa e bizantino, que travaram várias guerras
entre si, para expandir os domínios muçulmanos. Assim, nos dois
séculos seguintes, os muçulmanos dominaram o Oriente Médio
e o Norte da África. No período de sua máxima expansão, no
século IX, o Império Islâmico chegou a englobar a península Ibé-
rica e partes da Ásia Central e da Índia.

Essa imagem representa um muçulmano incitando seus companheiros a


se engajarem na jihad. (Litografia produzida no início no século XX.)

35
Explorando o tema
Constantinopla O hipódromo era o local onde se
A capital do Império Bizantino, que chegou a realizavam jogos públicos, corridas,
ter cerca de um milhão de habitantes, era a maior espetáculos, comemorações de vitórias
cidade do mundo medieval. Em Constantinopla, militares e até mesmo execução de
criminosos. O hipódromo media 430
viviam pessoas de diferentes lugares, como gre- metros de comprimento e 160 metros
gos, romanos, árabes, genoveses e venezianos. de largura, e podia abrigar até
Além desses moradores, viajantes de outras re- 100 mil pessoas.
giões se dirigiam à Constantinopla para vender e
comprar diversas mercadorias, movimentando os
mercados e as ruas da cidade.

Séc. VI. Mosaico. Museu dos Mosaicos do Grande


Palácio, Istambul. Foto: Ancient Art and Architecture
Collection Ltd./The Bridgeman Art Library/Keystone
f080_7VSH_g14_FTD_nv
Constantinopla tinha 20 quilômetros de mura-
lhas e 50 portões fortificados. Esse sistema de
defesa permitiu à cidade manter-se por mais de
mil anos após a queda do Império Romano do
Ocidente. Ao longo de sua história, essa cidade
resistiu a 22 sítios.
Conheça a seguir algumas das principais cons-
truções da cidade de Constantinopla.

Cisterna reservatório de água; poço. O palácio imperial era a residência


Sitiar cercar um determinado local do imperador. Ele era composto por
com tropas a fim de atacá-lo e um conjunto de edifícios
dominá-lo. extremamente luxuosos, com jardins,
terraços, fontes, tanques, igrejas,
piscinas, calabouços, além de
dependências para os criados e
guardas do palácio. Nesse palácio
haviam vários mosaicos que
retratavam cenas do cotidiano.

36
capítulo 2
O Fórum de Constantino era um A rua principal da cidade, O porto natural
local de reunião de negociantes, Mesê (rua do meio), se conhecido como Corno
mercadores e advogados. Atraía estendia da muralha oeste de Ouro era um dos

A formação da Europa medieval


uma multidão de pessoas que se até o palácio imperial. Como maiores do período
reuniam para conversar e ouvir era a maior rua, era nela que medieval. De um lado a
discursos ou assistir às ocorriam os cortejos outro da entrada do
comemorações em honra militares e as Corno de Ouro era
ao imperador. procissões religiosas. estendida uma grande
corrente, que impedia a
entrada de embarcações
inimigas.

Essa ilustração é uma


representação artística
feita com base em
estudos históricos.
Baseado em Philip
Sherrard. Bizâncio. Rio
de Janeiro: José

Art Capri
Olympio, 1970.
Ismail Sadik Oguz/Gallo
Images/Getty Images

Yann Artnus-Bertrand/
Corbis/Latinstock

A água era canalizada nas


colinas próximas e
armazenadas em cisternas,
para ser distribuída A catedral de Santa Sofia foi
gratuitamente nas construída durante o governo do
praças públicas. imperador Justiniano e ficou pronta
no ano de 537. Essa igreja causava
admiração pelo seu tamanho,
iluminação e decoração, e foi o
principal centro religioso do mundo
cristão ortodoxo. Cubo Images/SuperStock/Glow Images

37
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais fatos marcam o início e o final da 10 Produza um texto sobre os povos ger­m â­
Idade Média? nicos, abordando os seguintes as­pec­tos:
■■ como viviam;
2 Por que a Idade Média também foi con­
■■ como obtinham seus alimentos;
siderada a “Idade das Trevas”? Por que
atualmente os historiadores não conside­ ■■ como estava organizada sua sociedade;
ram esse termo adequado? ■■ como eram suas leis;
■■ como eram suas crenças religiosas.
3 Por que diversos historiadores afirmam que
a Idade Média foi o período em que nas­ 11 Cite o nome de alguns reinos germânicos
ceu o mundo ocidental? formados no território que fazia parte do
Império Romano do Ocidente.
4 Cite algumas características da Alta Idade
Média. Caracterize, também, a Baixa Ida­ 12 Qual foi a origem do cristianismo? Como
de Média. essa religião se difundiu?

5 Descreva com suas palavras algumas 13 Explique como se desenvolveram algumas


carac­te­rísticas do Império Romano na cidades do Império Bizantino.
época de seu apogeu.
14 Por que Constantinopla era uma cidade
6 Explique algumas das causas da crise importante durante a Idade Média?
que provocou o declínio do Império Ro­
15 Quais meios de transporte eram utilizados
ma­n o.
pelos mercadores de Constantinopla?
7 Qual era o nome e a capital de cada uma 16 Explique, com suas palavras, por que os
das duas partes em que foi dividido o bizantinos consideravam-se os únicos
Império Romano? herdeiros do Império Romano.
8 Cite alguns dos povos ger­mâ­nicos que in­ 17 Aponte as principais características da
vadiram o Império Romano a partir do arte bi­z antina.
século III.
18 Cite alguns países da atualidade que rece­
9 Por que os povos germânicos eram cha­ beram maior influência da cultura bi­
mados de “bárbaros” pelos romanos? zantina. Quais aspectos da cultura desses
países demonstram essa influência?

Expandindo o conteúdo
19 Leia o texto a seguir.

Desde 527 vivia em Constantinopla um soberano extremamente poderoso, que gostava


de luxo e era muito ambicioso. Seu nome era Justiniano. Sua ambição era ampliar seu po-
der retomando o antigo Império Romano do Ocidente. Em sua corte havia todo o fausto
do Oriente. Ele e sua mulher, Teodora, ex-bailarina de circo, vestiam roupas confecciona-
das de tecidos pesados de seda bordados com pedras preciosas e colares de ouro e pérolas
que tilintavam a cada gesto que faziam.
Em Constantinopla, o imperador Justiniano tinha mandado construir uma igreja
gigantesca, com uma cúpula imponente, Hagia Sophia (mais conhecida como Santa

38
capítulo 2
Sofia). Ele tinha mais uma grande ambição: recuperar a grandeza perdida da velha
Roma. Ordenou que fossem recenseados todos os inúmeros textos das leis editadas
pela antiga Roma e também as observações que os eruditos e juristas de renome
tinham feito sobre eles. Todos esses escritos foram reunidos no grande livro jurídico

A formação da Europa medieval


do direito romano, cujo nome em latim é Corpus Juris Civilis Justiniani. Ainda hoje,
todos os que desejam fazer carreira jurídica são obrigados a lê-lo, pois muitas leis
atuais fazem referência a ele.
Ernst H. Gombrich. Breve história do mundo. Trad. Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 134-5.

a ) Em que século Justiniano governou?


b ) Qual o nome da cidade em que viveu Justiniano? Ela era capital de qual império?
c ) De acordo com o texto, o que Justiniano ordenou que fosse feito para “recuperar a gran-
deza perdida da velha Roma”?
d ) Explique o que é o Corpus Juris Civilis Justiniani e por que ele é importante até hoje.

20 Observe o mapa e responda às questões a seguir.

Rotas comerciais na Idade Média


E. Cavalcante

Novgorod O L
Riga
S
Dantzig
Hamburgo
Bruges Kiev ÁSIA
EURO PA
Viena Budapeste Tana
OCEANO Mar
ATLÂNTICO Gênova Veneza Kaffa de Aral 45° N
Marselha Mar Negro Mar Bucara
Nápoles Salônica Cáspio
Trebizonda
Constantinopla
Valência Tebas
Córdoba Messina Khotan
Túnis Antióquia
Septum C r et a
Ch ip r e Alepo
Fez
Mar Mediterrâneo Bagdá Peshawar
Damasco
Jerusalém
Alexandria Basra
Cairo
Jotabe G
ol Ormuz
fo

rs Daibul
ic
o
Ma
rV

ÁFRICA
erm

Zhaia Caliana
elh

Adulis Golfo de
o

Mar da Arábia Bengala


MALABAR
0 630 km
Jaffna

ouro madeira especiarias 45° L OCEANO ÍNDICO

prata seda azeite Fonte: SHERRARD, Philip. Bizâncio. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970.
ferro tecido cereais
chumbo sal peixe
pedras preciosas vinho escravos

a ) Cite três mercadorias originárias da Ásia.


b ) Cite três produtos originários da Europa.
c ) Quais eram os mares e oceanos navegados por comerciantes medievais?

39
d ) Escreva o nome de algumas cidades ligadas pelas rotas comerciais.
e ) Qual era a importância de Constantinopla para o comércio medieval?

21 O texto a seguir explica como aconteceu a ocupação do território romano pelos povos ger­
mânicos, a partir do século IV. Leia­o.

Os greco-romanos chamavam de bárbaros os povos estranhos a sua cultura e a


seu mundo. Dentre eles, os mais próximos eram os germanos, divididos em duas
grandes famílias: a gótica (visigodos, ostrogodos, hérulos) e a teutônica (francos,
anglos, vândalos, lombardos). Localizados nas fronteiras [ao norte] do mundo ro-
mano, os germanos mantinham [...] contatos esporádicos [com os habitantes do
império]. No século IV, com a crise [romana], muitas tribos germânicas foram in-
corporadas ao exército [imperial] para policiar as fronteiras [...]. No momento de
recuo demográfico da população romana e de sua crescente cristianização, dimi-
nuiu a procura pela carreira militar, o que propiciou [o aumento da presença de
germanos no] exército [...].
A posterior ocupação dos territórios romanos pelos germanos foi, assim,
apenas o resultado de uma evolução que os tornara a força viva do império.
Portanto, por cerca de dois séculos houve uma penetração pacífica e apenas na
primeira metade do século V aconteceram as verdadeiras invasões germânicas.
Estas, na realidade, foram precipitadas pela pressão de um povo oriental, os
hunos, que levaram os germanos em fuga a entrarem maciçamente em território
romano.
Colocavam-se, desta forma, frente a frente duas civilizações que ao longo dos
séculos seguintes iriam se fundindo para formar a Europa, a romana e a germânica.
[...]
Apesar de representarem apenas 5% da população total do Império Romano, em
poucos anos os germanos ocuparam pontos [estratégicos] do império. A cidade de
Roma foi conquistada em 476 e o último imperador, deposto. Quebrava-se a unida-
de política anterior. Surgiram vários reinos germânicos, ponto de partida dos futuros
países europeus. Começava a Idade Média.
Hilário Franco Júnior; Ruy de Oliveira Andrade Filho. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 1993. p. 16.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Séc. VII. Museu Britânico, Londres.

Capacete de guerreiro
germânico feito no
século VII.

40
a ) Para os greco-romanos, quem eram os “bárbaros”?

capítulo 2
b) Escreva no caderno os nomes de alguns povos germânicos.
c ) De acordo com o texto, quais foram os fatores que, no século IV, motivaram a incorpo­
ração dos germanos ao exército romano?

A formação da Europa medieval


d ) O que precipitou as invasões germânicas propriamente ditas?
e ) Quais foram as consequências das invasões germânicas no Império Romano?

Trabalho em grupo
22 A ocupação de territórios romanos pelos povos germânicos, comumente chamada de “inva­
sões bárbaras”, é considerada por muitos estudiosos como um grande deslocamento po­
pulacional. Também chamados de migrações, os deslocamentos populacionais ocorreram
nas mais diversas épocas e regiões, devido a diversos fatores como guerras, crescimento
populacional ou alterações climáticas.
Nos dias atuais, o deslocamento de pessoas é algo bastante comum. Existem as migrações
internas, caracterizadas pelo deslocamento populacional dentro de um mesmo país, e as
migrações externas, quando os habitantes de um país se mudam para outras regiões do
planeta. Geralmente, as migrações são provocadas por questões econômicas, políticas,
militares, ambientais ou sociais.
Realize com os colegas uma pesquisa sobre as migrações internacionais atuais. Veja o roteiro.
a ) Façam um levantamento das principais correntes migratórias atuais e escolham uma
delas para pesquisar.
b ) Pesquisem informações em livros, revistas, internet etc. Procurem descobrir:
■■ quais os principais motivos que impulsionam essa migração;
■■ quais as atividades exercidas pelos migrantes;
■■ como é o cotidiano dos migrantes no país de destino;
■■ se os migrantes costumam retornar ao país de origem;
■■ se esses migrantes sofrem preconceitos no país receptor.
c ) Depois, elaborem um texto coletivo contendo as informações pesquisadas. Finalmente,
produzam um cartaz com os resultados da pesquisa.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
Refletindo sobre o capítulo
Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A Idade Média é um período histórico situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna.
■■ Após o seu apogeu, o Império Romano passou por um longo processo de crise e declínio.
■■ Vários reinos germânicos foram formados nas regiões antes ocupadas pelo Império Ro-
mano do Ocidente.
■■ Durante a formação do Europa medieval, o cristianismo se difundiu, atingindo quase
todas as regiões do continente.
■■ Império Bizantino, com capital em Constantinopla, é o nome pelo qual ficou conhecido
o Império Romano do Oriente.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

41
3
A época medieval
capítulo

na Europa
A Iluminura do livro As
Irmãos Limbourg - Setembro. Museu Condé, Chantilly. Foto: The Granger Collection, NYC/Other Images

Veja nas
Riquíssimas Horas do Orientações
para o
Duque de Berry, professor
produzida no começo alguns
do século XV. Nessa comentários e
iluminura, que se explicações
sobre os
refere ao mês de recursos
setembro, vemos os apresentados
camponeses no capítulo.
realizando a vindima,
ou colheita da uva,
que está sendo
transportada para o
castelo, ao fundo.

B Abaixo, iluminura
produzida no século
XIV, que representa
um grupo de nobres
cavaleiros sendo
abençoados por
religiosos ao partirem
para uma guerra.
Rei Luís IX participando da Sétima Cruzada em 1248. Séc. XIV.
Museu Britânico, Londres. Foto: HIP/TopFoto/Keystone

42
Essa iluminura representa C

Iluminura. Séc. XV. Biblioteca de Arsenal, Paris


um mercado medieval onde
eram comercializados
diversos produtos.
Rabanus Maurus - Cambista. Séc. IX. Abadia do Monte Cassino,
Itália. Foto: Leemage/Universal Images Group/Getty Images

D Essa imagem produzida


no século X representa
um cambista medieval.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
A Idade Média foi um período histórico que durou mais de mil anos. conhecimento prévio
dos alunos e estimular
Até pouco tempo atrás, esse período foi considerado como sinônimo de seu interesse pelos
decadência material e cultural. No entanto, como estudaremos neste assuntos que serão
desenvolvidos no
capítulo, a época medieval teve grande importância para a formação da capítulo. Faça a
Europa e do próprio mundo moderno. mediação do diálogo
entre os alunos de
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os maneira que todos
Conversando
colegas sobresobre o assunto
as questões a seguir. participem
expressando suas
■ ■ Quem são as pessoas representadas nas fontes A e B? É possível opiniões e
Você já deve ter se perguntado por que ocorrem guerras? Por que respeitando as dos
muitas identificar
pessoas a não
quaistêm
grupos
comidasociais essasou
suficiente pessoas
moradiapertenciam?
adequada? Como colegas.
viveram
■ ■ Qual nossos antepassados?
era a função Como
do castelo surgiram tantos
representado países
na fonte A? com cos-
Podemos
tumes tão diferentes?
estabelecer Neste
relações capítulo,
entre você
as fontes A evai
B?conhecer
Quais? melhor o traba-
lho■■ do historiador,
Descreva profissional
as fontes C e D.que se dedica
Quais ao estudo
elementos indicamdasque
ações huma-
a fonte C
nas representa
em determinados tempo e espaço. Observe as imagens a seguir.
um mercado medieval? Você consegue identificar alguns
■ ■ O que elas representam?
dos produtos que eram comercializados?
■ ■■ O queatividade
é possível
■ Qual eraperceber
realizadasobre os modosrepresentado
pelo cambista de vida das pessoas re-
na fonte D?
tratadas
Essa nas fontes
atividade A e C?
era importante na Idade Média? Por quê?
■ ■ Qual é a relação da fonte B com os estudos históricos?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

43
A formação do Império Carolíngio
Os reinos germânicos tiveram curta duração. Um deles, no entanto,
tornou-se poderoso e teve grande influência na Europa medieval.

Reinos de curta duração


Os povos germânicos formaram vários

Séc. XIV. Biblioteca de São Marcos, Veneza. Foto: The Art Archive/Corbis/Latinstock
reinos nas regiões onde antes existia o Im-
pério Romano do Ocidente. Entre esses
reinos havia o dos visigodos, o dos anglo-
-saxões, o dos vândalos e o dos francos.
Uma das principais características desses
reinos era a combinação de tradições roma-
nas e germânicas.
Os germânicos se diferenciavam dos ro-
manos quanto à organização do Estado: não
tinham leis es­c ritas nem instituições políticas,
como o Se­n ado ou a Assembleia. Assim, o
poder e o próprio reino eram compreendidos
como propriedades do rei. Nesses reinos, as
relações entre o rei e os sú­d itos baseavam­-
-se nos laços de honra e de fideli­d ade.
A iluminura acima
representa uma
O Reino Franco cerimônia em que
Entre os reinos germânicos, houve um que se tornou muito poderoso: o um súdito jura
Reino Franco. Esse reino, localizado na Gália, conseguiu uma maior esta- fidelidade ao rei.
bilidade principalmente devido às relações estabelecidas com a Igreja Ca-
tólica que, naquela época, passava por um período de fortalecimento.
Clóvis, considerado o primeiro grande rei franco,

Biblioteca Municipal, Castres. Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images


depois de unificar os francos sob seu co­m ando, em
496, con­v erteu-se ao cristianismo. Essa aliança com a
Igreja Ca­tólica aumentou o poder do rei Clóvis e per-
mitiu a expansão do reino, pois a Igreja apoiava o proje­
to franco de unificar o território da Gália e de converter
seus habitantes ao cristianismo. O poder do rei foi
fortalecido pela prática da doa­­ção de parte das terras
conquistadas para a Igreja e para os chefes militares.

Iluminura que representa o batizado do rei Clóvis. Ao converter-se


ao cristianismo, Clóvis estabeleceu uma aliança com a Igreja
Católica, aumentando o poder do Reino Franco.

Depois da morte de Clóvis, no entanto, o Reino Franco passou por um perío­


Gália região da
do de divisões entre os herdeiros do trono e se enfraqueceu. Nessa época, o
Europa onde
governo começou a ser exercido de fato pelos chamados majordomus (“mor- atualmente se
domos do palácio”). O mais conhecido dos majordomus foi Carlos Martel, encontra a França
que deteve o avanço dos árabes na Europa, vencendo a batalha de Poitiers, e parte da
em 732. Mais tarde, em 751, o majordomus Pepino, o Breve, obteve o apoio Bélgica.
do papa e afastou o então rei Childerico III, tornando-se o novo rei dos
francos e iniciando a dinastia carolíngia.

44
O Império Carolíngio

capítulo 3
O mais importante rei da dinastia carolíngia foi Carlos Magno. Esse rei O Vaticano
cristão conquistou vários reinos germânicos e converteu-os ao cristianismo.
O atual território
As vitórias de Carlos Magno e a conversão dos povos conquistados ao do Estado do
cristianismo deram-lhe grande prestígio junto à Igreja.

A época medieval na Europa


Vaticano, onde se
A constituição de um poderoso império cristão interessava à Igreja Cató- localiza a sede da
Igreja Católica, é
lica, pois favoreceria a expansão do catolicismo. Assim, na noite de Natal apenas uma
do ano 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador. Desse pequena parte do
modo, desde a queda do Império Romano do Ocidente, pela primeira vez território que foi
formava uma unidade política na Europa Ocidental. doado ao papa por
Pepino, pai de
Carlos Magno, por
O Império Carolíngio em 814 volta de 754.

E. Cavalcante
Mar Báltico

Corel Stock Photo


N
Abroditas
O L
OCEANO Veleti
S
ATLÂNTICO Sorábios
BRETANHA
Boêmios
Morávios
IMPÉRIO CAROLÍNGIO

REINO DAS Ávaros


ASTÚRIAS
Croatas

40° N
Córsega

DUCADO DE
BENEVENTO
Mar Mediterrâneo

0 200 km Império Carolíngio em sua máxima extensão



Vista do
Povos vassalos
Fonte: BLACK, Jeremy. (Ed.). World History Atlas.
Vaticano na
Territórios doados à Igreja Católica atualidade.
Londres: Dorling Kindersley, 2005.

Condes, marqueses e duques


Apesar de ser católico, Carlos Magno preservou vários costumes germâ-
nicos, como as leis de tradição oral e a doação de parte das terras con-
quistadas aos chefes militares.
Para administrar o império, Carlos Magno dividiu-o em cerca de 200
condados, e entregou a administração de cada condado a um conde, que
era auxiliado por um bispo. As regiões de fronteira, chamadas de marcas,
eram administradas pelos marqueses, e os territórios próximos às fronteiras,
chamados ducados, eram administrados pelos duques. Esses funcionários
reais acabaram constituindo a base da nobreza na Europa.
Após a morte de Carlos Magno, em 814, o império foi dividido entre seus
três filhos. Com a divisão, houve um enfraquecimento do poder dos reis e
um fortalecimento do poder dos nobres. Além disso, a partir do século X,
houve uma nova onda de invasões: árabes, húngaros e vikings vindos de
diferentes regiões causaram grande devastação na Europa, enfraquecendo
ainda mais o poder dos reis.

45
Os feudos
A descentralização política que acompanhou o declínio do Império Carolíngio
contribuiu para a consolidação do feudalismo.

Combinação de tradições romanas e germânicas


A sociedade feudal foi formada a partir da combinação de tradições ro-
manas e de tradições germânicas. O colonato, por exemplo, de origem
romana, consistia na obrigação dos trabalhadores rurais em entregar parte
de sua produção e de trabalhar alguns dias da semana nas terras do senhor,
isto é, do proprietário das terras.
O juramento de fidelidade que os nobres feudais prestavam entre si, por sua
vez, era uma tradição germânica. Essa tradição teve origem no comitatus ,
grupos de guerreiros armados formados pelos germânicos em épocas de
guerra. Abaixo, senhor
feudal dando
Características do feudalismo ordens a seus
servos.
O feudalismo começou a se formar na época do declínio

1496. Em Books of St. Albans, Westminster Museu


Nacional do Patrimônio Cultural Prussiano, Berlim
do Império Romano. Com as invasões dos povos germânicos,
houve uma redução no comércio e nas atividades urbanas.
Além disso, os frequentes ataques dos germânicos obrigaram
grande parte da população urbana a se refugiar no campo,
buscando abrigo junto aos proprietários rurais. Esse proces-
so, chamado de ruralização da economia, foi muito impor-
tante para a formação da sociedade feudal, que tinha a
agricultura como base da economia. Praticamente tudo o
que era produzido destinava-se apenas ao consumo dos
habitantes do feudo, e não ao comércio.
Quando se formaram os reinos germâ-
Suseranos e vassalos
nicos, a partir do século V, tornaram-se
A sociedade feudal era dominada por grandes proprietários
frequentes as alianças entre reis e nobres: de terras que detinham enormes poderes econômicos e
o rei doa­v a um feudo a um nobre e pro- políticos. Esses proprietários estabeleciam laços de suserania
metia protegê-lo em tempos de guerra. e de vassalagem. O vassalo era um nobre que se vinculava a
O nobre, por sua vez, jurava obedecer ao outro nobre mais poderoso,
O senhor e seu vassalo. Séc. XII. Arquivo da Coroa de Aragão,
Barcelona. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

esperando receber proteção


rei e guerrear a seu lado. O nobre que e terras. O suserano,
recebia um feudo tornava-se um senhor doador dos benefícios,
feudal, e detinha grande poder sobre as contava com a fidelidade
e a prestação de algumas
pessoas que viviam em suas terras.
obrigações por parte de
Conforme os senhores feudais aumen- seu vassalo, principalmente
ajuda militar em tempo de
tavam o tama­n ho de suas propriedades
guerra.
e reuniam um maior número de servos a
seu serviço, eles foram ficando cada vez
mais poderosos. Esse processo resultou
Cerimônia em que um
no enfraquecimento dos reis e possibili- vassalo presta juramento
tou que os nobres adquirissem maior de fidelidade ao
independência para administrar e cuidar suserano. Iluminura do
dos seus feudos. século XII.

46
A sociedade feudal

Séc. XII. Biblioteca Britânica, Londres. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

capítulo 3
Havia três grupos sociais na época do feudalismo: nobreza, clero e
camponeses.

A época medieval na Europa


A nobreza
A nobreza era formada por reis, condes, marqueses e duques,
que se dedicavam principalmente à guerra e à defesa de seus ter-
ritórios. Os nobres formavam o grupo mais poderoso da sociedade
feudal. Eram eles que possuíam a maioria dos feudos e que ofereciam
proteção aos camponeses que moravam e trabalhavam em seus
domínios. Em troca, esses senhores feudais exigiam fidelidade e
uma série de obrigações dos camponeses.
Nessa iluminura do
O clero século XII, estão
representados
O clero era formado por religiosos da Igreja Católica, como bispos, cardeais, membros dos dois
padres e monges. Esse grupo era dividido em dois: o alto clero e o baixo cle­ grupos mais
ro. A maioria dos religiosos do alto clero tinha origem nobre. Esses religiosos poderosos da
possuíam muitas terras e, como em geral eram os únicos letrados, cuidavam sociedade feudal: a
da administração dos reinos e dos feudos. nobreza e o clero.
Os membros do baixo clero, por sua vez, não tinham origem nobre, e
Gleba porção de
eram os encarregados de prestar atendimento espiritual e auxílio material terras do feudo
às pessoas pobres e necessitadas das paróquias onde atuavam. destinado à
plantação de
Os camponeses produtos agrícolas.

O grupo dos camponeses era formado basicamente pelos

c. 1520. Xilogravura. Coleção particular. Foto:


The Granger Collection, NYC/Other Images
servos da gleba. Eles podiam usar algumas terras do feudo e,
em troca, deviam trabalhar para o senhor e permanecer nesse
feudo, assim como seus filhos e netos, por toda a vida.
Além dos servos, o grupo dos camponeses era compos-
to pelos vilões. Os vilões eram descendentes de antigos
romanos, proprietários de pequenos lotes de terra, que ti-
veram que ceder essas terras a senhores feudais em troca
de proteção. Por causa de sua origem, os vilões eram cam-
poneses livres, e não estavam presos à terra como os demais Gravura que representa servos medievais
servos. Porém, tanto os servos como os vilões deviam ao realizando atividades agrícolas.
senhor feudal uma série de obrigações.

História em construção A “criação” das três ordens


A divisão da sociedade feudal em três ordens, cada uma com suas funções específicas, era
justificada por um modelo ideológico criado pelos pensadores da Igreja. De acordo com esse
modelo, desde que o mundo foi criado por Deus, foram distribuídas tarefas diferentes para
cada grupo humano. Uns deviam orar pela salvação de todos (os oratores ), outros deviam
lutar para proteger o povo (os bellatores ) e os demais deviam trabalhar para sustentar a todos
(os laboratores ). Apesar de existir uma clara hierarquia entre as três ordens, acreditava-se que
elas eram dependentes entre si, o que contribuía para o bom funcionamento da sociedade.
Historiadores contemporâneos, no entanto, defendem que esse modelo ideológico procurava
legitimar a desigualdade social que havia entre as ordens, já que as diferentes condições sociais
eram entendidas como uma vontade divina. Além disso, esse esquema contribuía para justificar
a posição de domínio da Igreja, colocando-a acima do restante da sociedade.

47
Explorando o tema
Os castelos medievais
Os castelos medievais, além de moradias, funcionavam como fortalezas militares para ga-
rantir a defesa contra os ataques de invasores. Os castelos tinham muralhas de pedra muito
altas e torres ainda maiores que as muralhas. Nessas torres, ficavam os arqueiros vigilantes,
sempre atentos para a chegada de possíveis inimigos.

O inimigo ataca o castelo

Paul Maeyaert/The Bridgeman Art Library/Keystone


Graças ao seu sistema defensivo, era
muito difícil invadir um castelo. Em um
ataque, geralmente os inimigos cerca-
vam o castelo e tentavam subir os muros
por escadas móveis, mas antes que
atingissem o topo, podiam ser derruba-
dos. Os invasores dispunham também
de catapultas, engenhos que lançavam
pedras e objetos em chamas por cima
das muralhas. Para conseguir conquistar
um castelo, geralmente os atacantes ti- Em volta de alguns castelos cavava-se um fosso, que era
nham que manter o cerco durante meses, preenchido de água. A intenção era dificultar a entrada de
impedindo o fornecimento de água e de inimigos em seu interior. Fotografia atual do castelo do conde
de Flandres, construído por volta de 1180.
alimentos até que os defensores se ren-
dessem.

Biblioteca Civica, Padua, Italia. Foto: The Bridgeman


Art Library International/Keystone
O cavaleiro
Os cavaleiros eram guerreiros a serviço do senhor feudal e ao mesmo
tempo guardiões dos castelos. Nas batalhas campais, eles podiam lutar
montados a cavalo ou a pé. Para se proteger vestiam uma armadura mui-
to pesada. Suas armas podiam ser de ataque e de defesa, entre elas
estavam uma longa lança, a espada de dois gumes e um escudo de metal.
Na gravura ao lado, produzida no século XV, vemos um cavaleiro montado vestindo sua
armadura. Os cavaleiros eram nobres que percorriam grandes distâncias montados em
seus cavalos. Eles tinham o dever de proteger o feudo de ataques inimigos e
frequentemente viajavam a lugares distantes em busca de aventuras.

O dia a dia no castelo


Nico Stengert/Imagebroker/Alamy/Other Images

O senhor feudal e sua família ocupavam


como resi dência os melhores quartos do cas-
telo. Além da família do senhor e dos cavalei-
ros, o castelo abriga va seus criados e alguns
camponeses mais próximos. Várias atividades
eram realizadas no pátio interno do castelo,
incluindo desde trabalhos de artesãos, até
treinamentos e torneios dos cavaleiros.
Como havia necessidade de preparar os alimentos para todos
os moradores do castelo, geralmente a cozinha era bastante
espaçosa. Fotografia atual retratando a cozinha de um castelo
localizado na Turíngia, Alemanha.

48
capítulo 3
Os castelos na atualidade

A época medieval na Europa


Com a invenção do canhão, os castelos perderam sua função defensiva, pois as suas mu-
ralhas não resistiam aos bombardeios. Assim, os castelos passaram a servir, cada vez mais,
como luxuosos palácios. Grande parte dos castelos construídos durante a Idade Média ainda
existem nos dias de hoje. De alguns sobraram apenas ruínas, mas vários foram restaura dos e
transformados em hotéis e pontos turísticos, ou passaram a abrigar instituições públicas, como
parlamentos e museus.

Projeto Guédelon: construindo um castelo medieval


Na região de Borgonha, na França, está em andamento um projeto que prevê a construção
de um castelo com características medievais: o castelo de Guédelon.
Além de reproduzir a arquitetura de um castelo do século XIII, a ideia do projeto é utilizar as
mesmas técnicas, materiais, ferramentas e até mesmo as roupas que eram utilizadas pelos
construtores medievais.
De acordo com os responsáveis pelo projeto,

Jacky Naegelen/Reuters/Latinstock
Guédelon não envolve somente interesses turís-
ticos, mas também conhecimentos históricos,
técnicos, científicos e educativos.

Fotografia tirada em 2005, retratando um trabalhador


realizando tarefas com a utilização de ferramentas
medievais, no projeto Guédelon.

Photononstop/SuperStock/Glow Images

Essa fotografia, tirada recentemente,


retrata o andamento das obras do
castelo de Guédelon. A construção
começou em 1997 e seu término
está previsto para 2025.

49
A economia feudal
O feudo era uma unidade produtora autossuficiente. Quase tudo o que seus
moradores necessitavam era produzido no próprio feudo.

Dízimo
Um feudo medieval pagamento
Em um feudo eram praticados vários tipos de artesanato e também al- obrigatório
que os fiéis
gumas atividades comerciais. No entanto, a principal atividade econômica faziam à
era a agricultura. Igreja.

Nos feudos havia pequenas


igrejas que geralmente ficavam
localizadas próximas às aldeias.
Nessas igrejas eram realizadas
missas e outras cerimônias
religiosas. Era nelas, também, que
os camponeses faziam o
pagamento do dízimo.

Servos e escravos
A maior parte do trabalho
nos feudos era realizada
pelos servos. No período
medieval, a servidão não
eliminou a escravidão, mas
contribuiu para limitá-la.
O servo, diferentemente do
escravo, não podia ser
vendido, pois estava ligado As atividades de artesanato
à terra e, por isso, também eram executadas por
não podia ser expulso do profissionais como ferreiros,
feudo. Além disso, pelo fato tecelões e sapateiros. Esses
de o servo não ser uma artesãos também trabalhavam
propriedade do senhor nos campos em épocas de
feudal, ele não podia ser colheita ou em outras épocas de
Art Capri

castigado fisicamente. muito trabalho.

Os mansos servis eram as


terras em que os servos podiam
As casas dos servos ficavam cultivar. Entre os produtos
agrupadas em aldeias, localizadas cultivados estavam o trigo, a uva,
perto de um lago ou de uma fonte a ervilha, a aveia e a cevada. Os
de água. Essas casas eram servos, no entanto, tinham a
simples cabanas de madeira, com obrigação de entregar metade de
telhados de palha, chão de terra sua produção ao senhor. Essa
batida e mobiliário rústico. obrigação chamava-se talha.

50
O manso senhorial era a terra O castelo era a residência do

capítulo 3
de uso exclusivo do senhor. senhor feudal e de seus familiares,
Porém, eram os servos que criados e cavaleiros. Durante
trabalhavam nele para cultivar os ataques inimigos, os moradores do
produtos agrícolas. Esse trabalho feudo se refugiavam no castelo.
era geralmente feito durante três

A época medieval na Europa


dias por semana e recebia o
nome de corveia.

Os camponeses
geralmente trocavam
produtos entre si,
praticando um pequeno
comércio. Os feudos
maiores podiam reunir
várias aldeias, sendo
comum que os aldeãos
se reunissem próximo ao
castelo para trocar seus
produtos.

A atividade pecuária era muito importante na


economia do feudo. Criavam-se animais como
bois, carneiros e porcos. Os servos cuidavam
desses animais que, em sua maioria, pertenciam
ao senhor.

As terras comunais, ou
Para utilizar equipamentos, campos abertos, eram
como fornos e moinhos, os áreas que podiam ser
servos pagavam ao senhor utilizadas por todos os
impostos chamados moradores do feudo. Essas
banalidades. áreas geralmente eram
formadas por matas e
bosques, de onde se
retirava a lenha para o fogo
e a madeira para as
construções e também
onde se caçava.

Essa ilustração é uma representação artística


feita com base em estudos históricos.

51
O poder da Igreja Católica
No decorrer da Idade Média, a Igreja Católica consolidou o seu poder e

Matteo di Giovanni di Bartolo – São Nicolau de Bari. Séc XV. Museu Lindenau, Altenburg.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
tornou-se a instituição mais influente da Europa.

Poder espiritual e material


Vários fatores permitiram à Igreja Católica consolidar seu poder
na Europa medieval. As alianças estabelecidas entre a Igreja e os
reis germânicos resultaram na conversão de grande parte da po-
pulação da Europa ao cristianismo. Com o aumento do número de
cristãos, aumentou também a influência da Igreja: um grande nú-
mero de pessoas seguia os ensinamentos cristãos e submetia-se
às suas regras. Isso contribuiu para fortalecer a identidade cultural
cristã na Europa medieval.
Por outro lado, com o crescimento do número de fiéis, aumen-
taram também as doações de terra e de dinheiro que a Igreja re-
cebia. Desse modo, a Igreja Católica acabou se tornando a maior
proprietária de terras na Europa, numa época em que a terra era a
principal fonte de riquezas. Com mais riqueza e poder, a Igreja As vestes luxuosas de
também exercia grande influência política. Por meio de alianças um membro do alto
com reis e nobres, adquiria cada vez mais poder e aumentava o clero podem ser
número de fiéis. observadas nessa
pintura, produzida no
Problemas internos século XV.

O enriquecimento da Igreja acabou criando problemas internos. Diversos


membros do alto clero passaram a levar uma vida de luxo e riqueza, afas- Canonizar
considerar uma
tando-se das questões religiosas. Muitos cristãos, no en­­tanto, não concor-
pessoa santa
davam com essa vida de luxo e acreditavam que a Igreja deveria retornar após a sua morte.
às suas origens.
Padroeiro santo
Alguns desses religiosos criaram, então, as ordens monásticas, como a escolhido por um
dos beneditinos, a dos franciscanos e a dos dominicanos. Essas ordens, grupo de pessoas
de modo geral, defendiam que os católicos deveriam viver de maneira sim- para ser seu
protetor.
ples, rezando, estudando, trabalhando e ajudando os pobres e necessitados.

O sujeito na história São Francisco de Assis


Maestro di S. Francesco – São Francisco. 1272. Galeria Nacional de
Umbria, Perugia. Foto: Arte & Immagini srl/Corbis/Latinstock
Nascido na cidade italiana de Assis, em 1182, Giovanni di Bernardone
era filho de um rico comerciante. Sem interesse em assumir os negócios
do pai, ele renunciou à herança e passou a viver de esmolas, dedicando-
-se à religiosidade e praticando a caridade. Francisco de Assis, nome que
ele adotou, queria provar que era possível viver na pobreza e na humilda-
de que, segundo ele, seriam valores originais do cristianismo.
Em decorrência das pregações de Francisco de Assis, a partir de 1210
surgiram as ordens franciscanas. Sua influência se espalhou rapidamente
pelo mundo. Em 1228, apenas dois anos após sua morte, ele foi canoni­
zado. Atualmente, as ordens franciscanas estão presentes em vários
países e São Francisco de Assis é cultuado no mundo todo como santo
protetor dos animais e padroeiro dos ecologistas.

São Francisco de Assis, em iluminura do século XIV.

52
Transformações na Europa feudal

capítulo 3
Por volta do ano 1000, começaram a ocorrer diversas A rotação trienal de culturas
transformações na Europa feudal. Na Antiguidade, as áreas agrícolas
geralmente eram divididas em dois

A época medieval na Europa


O crescimento da população campos: um era cultivado e outro perma-
necia em repouso para recuperar sua
A passagem da Alta Idade Média para a Baixa Idade fertilidade. Com a rotação trienal de
Média foi marcada por uma série de mudanças na Euro- culturas, as áreas agrícolas foram dividi-
pa. Após a onda de invasões estrangeiras, entre os sé- das em três campos: enquanto dois eram
culos VIII e X, teve início um período de paz e de maior cultivados, apenas um permanecia em
repouso. Isso permitiu um grande aumen-
estabilidade. to nas áreas cultivadas, promovendo uma
Nessa nova situação, houve um crescimento da po- maior oferta de alimentos.
pulação e, principalmente a partir do ano 1000, come-

Ilustrações: Acervo da editora


çaram a ocorrer diversas transformações sociais, eco-
nômicas e culturais. O crescimento da população foi
possibilitado por mudanças nos métodos de produção,
como a rotação trienal de culturas, que aumentaram a
oferta de alimentos.

Outras inovações técnicas


Além da rotação trienal de culturas, houve várias inovações técnicas que
contribuíram para o aumento na oferta de alimentos. Veja a seguir algumas
dessas inovações.
■ ■ O arado romano, que penetrava superficialmente o solo, foi substituído

pela charrua, um arado munido de uma lâmina de metal que podia re-
volver mais profundamente o solo, possibilitando o aumento da produ-
ção agrícola.
■ ■ A substituição do boi pelo cavalo para puxar o arado. O uso do cavalo,
Cavalo atrelado
mais forte e rápido que o boi, tornou mais ágil o trabalho de arar os com garrote.
campos de cultivo.
■ ■ A melhoria no sistema de atrelagem dos animais. Isso foi possível com Ilustrações: Paula Diazzi

a substituição do garrote, que ficava atrelado ao pescoço do animal,


pela colhera de espáduas, que concentrava a força de tração no peito
do animal, aumentando sua eficiência.
■ ■ Difusão dos moinhos movidos pela água ou pelo vento. Com a utilização
Cavalo atrelado
desses moinhos, houve um aumento na oferta de farinhas de cereais, com colhera de
melhorando a qualidade da alimentação. espáduas.

Transformação na espiritualidade medieval


Além das mudanças sociais e econômicas, nessa época também ocorreram várias
transformações culturais. A espiritualidade foi se modificando e, a partir do século XII,
as pessoas passaram a ter maior consciência de sua religiosidade, deixando de apenas
reproduzir o comportamento religioso ensinado pela Igreja.
Essa mudança se refletiu também na arquitetura das igrejas, com a predominância do
estilo gótico sobre o estilo românico.
Ilustrações: André L. Silva

As igrejas românicas As igrejas góticas


possuem paredes largas possuem torres altas
e grossas, com poucas e várias janelas
janelas. Geralmente essas decoradas com
igrejas apresentam motivos vidros coloridos e
camponeses, com estátuas desenhados,
e pinturas de animais. denominados vitrais.

53
As Cruzadas
No final do século XI, os cristãos da Europa organizaram expedições militares para
reconquistar dos turcos a “Terra Santa”.
A “Terra Santa”
Os motivos das Cruzadas “Terra Santa” é o
nome dado à
O motivo alegado pelo papa Urbano II para convocar a Primeira Cruzada, Palestina, e, mais
em 1095, era expulsar os turcos que haviam conquistado a Palestina e difi- especificamente,
cultado as peregrinações dos cristãos aos lugares onde Jesus Cristo viveu. à cidade de
Jerusalém,
Porém, além das questões religiosas, outros fatores impulsionaram as localizada no
Cruzadas: a população havia aumentado e não existiam oportunidades de atual Estado de
Israel. Essa região
trabalho para todos. Assim, enviar essas pessoas para combater no Orien-
recebe esse nome
te em nome da fé cristã era também uma maneira de resolver os problemas pois acredita-se
populacionais da Europa. que foi lá que
Jesus Cristo
Havia também muitos nobres que não possuíam terras, pois as heranças viveu. Além dos
costumavam ser transmitidas somente aos filhos mais velhos. Muitos des- cristãos, a cidade
ses nobres sem terra acreditavam que poderiam viver aventuras e conquis- de Jerusalém é
tar riquezas no Oriente e, por isso, apoiaram as Cruzadas. Os comerciantes sagrada para
judeus e muçul-
europeus, por sua vez, apoiaram os cruzados, pois tinham interesse em
manos.
estabelecer novas relações comerciais com o Oriente.

As Cruzadas não atingem seus objetivos

Séc. XIII. Biblioteca Real, Haia


Foram realizadas, ao todo, oito Cruzadas. A pri-
meira delas partiu da Europa em 1096 e chegou a
conquistar a cidade de Jerusalém, em 1099. Esse
domínio, porém, durou poucos anos.
As outras Cruzadas não tiveram grande êxito
pela falta de planejamento, por desentendimentos
entre seus líderes, entre outros motivos. Na Quar-
ta Cruzada, por exemplo, os líderes acabaram
mudando os planos iniciais e promoveram um
ataque e um saque à Constantinopla, que era uma
cidade cristã.

As consequências das Cruzadas


Apesar de não terem atingido seus objetivos, as
Cruzadas tiveram consequên cias marcantes na
sociedade feudal europeia. Elas contribuíram, por
exemplo, para intensificar as atividades comerciais
na Europa. Os europeus passaram a consumir
vários produtos orientais, principalmente as espe­
ciarias, como cravo, canela, gengibre e pimenta-
-do-reino.
Essa iluminura, do
Além disso, a navegação no mar Mediterrâneo, que era controlada pelos século XIII, representa
árabes, passou a ser realizada também por mercadores europeus. Com o Jerusalém e o
aumento do comércio, as cidades europeias cresceram e muitos comer- ataque da Primeira
ciantes europeus enriqueceram. Todos esses fatores contribuíram para Cruzada a essa
enfraquecer o poder dos nobres e desestruturar o sistema feudal. cidade.

54
As cidades medievais

capítulo 3
Com o crescimento populacional houve também uma revitalização no Uma cidade
comércio e um aumento no número de pessoas que viviam nas cidades. medieval

A época medieval na Europa


O crescimento do comércio e das cidades Ao encontrar esse ícone, acesse o
Objeto Educacional Digital
disponível no DVD-ROM.
A partir do século XI, à medida que as guerras e os con-

Séc. XV. Iluminura. Biblioteca Bodleiana, Oxford


flitos diminuíam em toda Europa, teve início um período de
prosperidade que se estendeu até o século XIV. Esse perío-
do foi marcado pelo crescimento populacional, pelo aumento
da produção agrícola e pelo crescimento do número de mo-
radores das cidades. A produção artesanal dessas cida des
cresceu, com muitos artesãos produzindo tecidos de lã,
ferramentas, joias, sapatos e objetos de madeira.
O aumento da produção agrícola e a grande produção ar-
tesanal possibilitaram um revigoramento das atividades co-
merciais. O excedente agrícola e os produtos artesanais eram,
então, comercializados entre os feudos e também com povos
de outros continentes. Barco medieval sendo carregado com
mercadorias em um porto da Holanda.

As corporações de ofício

Paul Lacroix. Séc. XIX. Coleção particular. Foto:


The Bridgeman Art Library/Keystone
Nas cidades, havia diversas corporações de ofício,
também chama das de guildas, que eram associações de
artesãos que exerciam a mesma profissão. Existiam, en-
tre outras, as corporações de pintores, de ferreiros e de
carpinteiros. Esses pro fi s sio nais se agrupavam em cor-
porações para defender seus interesses, como os preços
de compra e venda ou a padronização da qualidade de
seus pro dutos.
Além disso, essas associações tinham funções religiosas,
uma vez que organizavam a construção de capelas e escolas
primárias nos locais onde atuavam. Essas corporações de ofí-
cio inauguraram uma nova forma de organização de trabalho.
Os membros das corporações de ofício eram considerados cidadãos livres. Corporação de
Es se fator contribuiu para o aumento da população urbana, pois, naquela ofício formada por
época, era cada vez maior o número de servos que abandonavam os feudos artesãos que
e se di ri giam para as cidades em busca de trabalho e de melhores condições fabricavam agulhas
de vida. Aqueles que moravam nas cidades por alguns anos tornavam-se de costura.
pessoas li vres.

Burgos e burgueses A carta de franquia


Com o crescimento do comércio e das cidades, os co- A carta de franquia era um documento
merciantes foram se tornando muito numerosos. Eles que garantia a autonomia das cidades em
habitavam e exerciam suas atividades dentro dos burgos, relação aos senhores feudais. Esse
documento podia ser adquirido por meio
e, por isso, eram chamados de burgueses.
da compra, mas, em muitos casos, era
Inicialmente, os burgueses ocupavam uma posição social conquistado por meio de lutas armadas.
intermediária. Porém, em razão do grande desenvolvimen-
to das atividades urbanas durante a Baixa Idade Média, eles Burgo cidade cercada por muros, que
tiveram condições de prosperar e enriquecer, passando a se formava junto às muralhas de um
ocupar uma posição importante na sociedade medieval. castelo ou de uma cidade mais antiga.

55
Cambistas e banqueiros A usura
A Igreja Católica
Ao longo das rotas comerciais, geralmente formavam-se feiras e merca-
condenava a
dos. Neles, comerciantes e mercadores se encontravam periodicamente usura, isto é, os
para oferecer suas mercadorias. Esses mercados e feiras possibilitavam a empréstimos a
circulação de muitos produtos de várias regiões e também promoviam um juros praticados
intenso intercâmbio cultural. pelos banqueiros.
Para os católicos,
Nas feiras, os mercadores se deparavam com uma diversidade de moedas emprestar
vindas de lugares diferentes. Para resolver esse problema, surgiram os dinheiro a juros
cambistas. Eles facilitavam as negociações trocando as moedas conforme significava, na
a necessidade dos comerciantes. Como pagamento pelo serviço prestado, verdade, vender o
tempo. Esses
os cambistas ficavam com uma parte das moedas trocadas.
religiosos acredi-
À medida que surgiam novas necessidades, os banqueiros passaram a tavam que o
oferecer também serviços de depósitos: o comerciante depositava seu di- tempo pertencia a
Deus e, por isso,
nheiro no banco e podia resgatá-lo a qualquer momento, evitando os riscos
não poderia ser
de carregar altas quantias de dinheiro em suas viagens de negócios. Além vendido.
disso, os banqueiros passaram a emprestar dinheiro cobrando juros.
Séc. XV. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock

Juro valor
cobrado de quem
toma dinheiro
emprestado. Os
juros variam de
acordo com a
quantia e com o
tempo de duração
do empréstimo.

Casal de banqueiros
recebendo depósito
de moedas feito por
comerciantes.
Iluminura produzida
no século XV.
Josse Lieferinxe. 1497-99. Museu de Arte Walters, Baltimore. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

A Peste Negra
Em meados do século XIV, a Europa foi atingida por uma
epidemia de peste bubônica. Conhecida como Peste
Negra, essa doença espalhou-se a partir da Ásia Central
e chegou ao Ocidente trazida pelos navios comerciais.
Transmitida pelas pulgas dos ratos, a doença se alastrou
rapidamente, devido à superpopulação e à falta de
higiene das cidades. A quantidade de mortos era tanta
que em algumas cidades os corpos eram removidos em
carroças e sepultados em valas comuns.
Essa situação foi agravada por uma série de conflitos
envolvendo a França e a Inglaterra, que ficaram conheci-
dos como Guerra dos Cem Anos. Esses conflitos causa-
ram grande destruição dos campos cultiváveis, levando
populações inteiras à fome, além de contribuir para a
disseminação da peste nas aldeias. No auge da epidemia,
em aproximadamente seis anos, a peste dizimou cerca de
um quarto de toda a população europeia.

Imagem que representa vítimas da peste bubônica.

56
As primeiras universidades

capítulo 3
As universidades promoveram grandes transformações na área da educação
e no pensamento medieval. Por isso, o século XIII é chamado de “século das Iluminura que
universidades”. representa uma

A época medieval na Europa


sala de aula da
Universidade de
O surgimento Paris.
Durante grande parte da Idade Média, a Igreja Católica exerceu um

Biblioteca Nacional, Paris


rígido controle sobre as instituições de ensino. Por meio da educação,
o clero formava intelectuais submetidos à doutrina cristã, aumentando
a influência da Igreja e consolidando seu poder sobre a sociedade.
A partir do século XIII, no entanto, estudantes e professores come-
çaram a se organizar em corporações para defender seus interesses.
Surgiram, assim, as primeiras universidades europeias, como as de
Bolonha, Paris, Oxford e Cambridge. Nessas universidades, mesmo
sem abandonar as referências religiosas, houve uma renovação do
ensino. Passaram a predominar os estudos filosóficos e buscava-se
explicar os fenômenos naturais e sociais com base na razão.
Várias universidades tiveram que enfrentar a resistência da Igreja
Católica, que pretendia manter o controle sobre o ensino. Ao longo de
seu desenvolvimento, no entanto, as universidades conseguiram pre-
servar boa parte de sua autonomia, e acabaram se tornando instituições
laicas e independentes.

A organização
Cada universidade tinha seu próprio modo de organização, mas geral- Jurista especia-
mente havia três níveis na hierarquia: reitor, mestres e estudantes. lista em leis.
As aulas eram ministradas em latim, língua oficial da Igreja, e baseavam- Laico aquilo
-se na leitura e comentários de textos clássicos, como os de Aristóteles, que não pertence
Cícero e Ptolomeu. Em seguida, havia debates entre mestres e estudantes. ao clero.
Esses textos variavam conforme a época, local de ensino e o curso esco- Reitor diretor
lhido pelo aluno, que podia ser de artes, direito, medicina ou teologia. de universidade.

A função social e a importância cultural


Ao longo do século XIII, as universidades se tornaram mais numerosas e
sua influência aumentou em toda a Europa. Na Baixa Idade Média, com o
crescimento das cidades e o desenvolvimento do comércio, as universidades
cumpriram um importante papel na formação de uma
1363. Museu Atger da Universidade de Montpellier, Montpellier.
Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

elite intelectual. As universidades formaram médicos,


juristas, secretários letrados e muitos outros intelectuais.
Além disso, as universidades abriram caminhos
para novos métodos de ensino e para uma maior li-
berdade intelectual, que influenciaram a filosofia e a
ciência moderna e romperam com o conservadorismo
religioso dominante na época medieval.

No século XIII, os livros se tornaram instrumentos de transmissão de


saber nas universidades, e passaram a ser lidos e copiados para estudo
e questionamento. Ao lado, gravura de um livro, datado do século XIV,
que era lido por estudantes de medicina.

57
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais aspectos diferenciavam os ger­m â­ 10 Quem foi São Francisco de Assis? Que
nicos dos romanos? ideias ele defendia?

2 Escreva um pequeno texto sobre o Rei­n o 11 Que povos invadiram a Europa a partir do
Franco. Procure, em seu texto, contem­ século X?
plar os seguintes aspectos:
12 Explique com suas palavras o que era a
■■ localização do Reino; rotação trienal de culturas.
■■ primeiro rei franco;
13 Cite exemplos de inovações técnicas que
■■ relação dos reis com a Igreja Católica; possibilitaram mudanças nos métodos de
■■ o governo dos majordomus. produção, por volta do ano 1000. Es­c olha
uma dessas inovações e escreva sobre
3 Produza um pequeno texto utilizando as ela.
palavras do qua­d ro.
14 Que motivos impulsionaram as Cruzadas?
francos cristianismo Quais foram as suas consequências?
imperador Igreja 15 O que eram as corporações de ofício?
papa Carlos Magno 16 Explique com suas palavras qual era o con­
texto histórico que possibilitou o sur­
4 O que aconteceu com o Império Carolíngio
gimento dos cambistas.
após a morte de Carlos Magno?
17 O que eram os burgos? Explique qual a
5 Quais os elementos romanos e os ele­men­tos
relação existente entre os burgos e os
germânicos que contribuíram para a for­
burgueses.
mação da sociedade feudal?
18 Sobre a Peste Negra, responda:
6 Cite as prin­cipais características do feuda­
lismo. a ) Quando aconteceu?

7 Cite os três grupos sociais da época do b ) Como chegou à Europa?


feudalismo e descreva cada um deles. c ) Como era transmitida?
8 Explique com suas palavras o papel da d ) Qual foi a consequência da Peste Ne­gra
Igreja no período feudal. para a população europeia?

9 O que eram as ordens monásticas e o que 19 Qual foi a importância das universidades a
elas propunham? partir do século XIII?

Expandindo o conteúdo
20 Analise a tabela a seguir.

1 o ano 2 o ano 3 o ano


Trigo Feijão Repouso
Feijão Repouso Trigo
Repouso Trigo Feijão

a ) Qual aspecto da economia feudal a tabela acima está representando?


b ) Cite algumas das consequências da introdução desse método para a sociedade feudal.

58
21 Veja a imagem a seguir. Ela representa um feudo na Baixa Idade Média.

capítulo 3
Irmãos Limbourg - Março (detalhe). Séc. XV. Iluminura. Museu Condé, Chantilly. Foto:The Bridgeman Art Library/Getty Images
F

A época medieval na Europa


E

D
C

a ) Identifique no quadro as descrições de alguns elementos destacados na imagem. Em


seguida, reescreva essas descrições no caderno, associando cada uma delas à letra
correspondente na imagem. Veja o exemplo: A – Na rotação trienal, enquanto um cam-
po ficava em repouso, os outros dois eram cultivados.

■■ Na rotação trienal, enquanto um campo ficava em repouso, os outros dois eram


cultivados.
■■ O centro político do feudo era o castelo.
■■ Ao redor do castelo eram construídas grossas muralhas.
■■ O período de repouso era quando o campo ficava em descanso para recuperar
a fertilidade do solo.
■■ Os servos eram responsáveis pela limpeza e preparação do terreno.
■■ Uma importante inovação técnica foi a charrua, um arado munido de uma lâmina
de metal, que podia revolver mais profundamente o solo, aumentando a produção
agrícola.

b ) Agora, produza um texto com base na imagem apresentada. Nele, descreva os elemen-
tos da paisagem e as pessoas que foram representadas. Procure incluir no texto alguns
aspectos do cotidiano dos moradores de um feudo. Depois de pronto, troque seu texto
com o de um colega e verifiquem as semelhanças e as diferenças entre eles.

59
22 As fotografias a seguir retratam duas igrejas medievais que apresentam características ar­
quitetônicas diferentes. Observe-as.

A Catedral de Pisa, na
Atlantide Phototravel/Corbis/Latinstock

Corel Stock Photo


Itália, foi construída
durante os séculos XI e XII.

A Catedral de Chartres,
na França, foi construída
durante o século XII.

a ) Descreva cada uma das igrejas apresentadas.


b ) Qual é o nome do estilo arquitetônico de cada uma delas?
c ) Quais são as diferenças que existem entre as duas catedrais?

23 No início da Idade Média, muitas cidades da Europa Ocidental entraram em declínio e a po­
pulação se dirigiu ao campo em busca da proteção dos grandes proprietários de terras.
Porém, algumas cidades europeias continuaram se desenvolvendo nessa época, como
Veneza e Gênova, na atual Itália. Elas são exemplos de cidades medievais importantes
para o comércio entre diferentes regiões. Leia o texto.

[...] As duas maiores cidades comerciantes italianas, Veneza e Gênova, [eram] parti­cu­larmente desfa-
vorecidas para as atividades agrárias. O estreito contato que elas mantinham com civilizações comerciais
como a bizantina e a muçulmana certamente reforçou [essa] tendência. Por fim, não se pode esquecer que
a tradição comercial e urbana italiana vinha da Antiguidade, e sempre foi lá mais forte do que no resto da
Europa católica.
Veneza, talvez a maior cidade ocidental, há muito tempo mantinha intensas relações comerciais com o
Oriente. Desde o século VIII levava trigo, vinho, madeira, sal e peixe defumado para Bizâncio, obtendo em
troca especiarias, seda e outros manufaturados. Desde o século IX, os venezianos comerciavam também
com os muçulmanos do Egito, fornecendo-lhes mercadorias escassas naquela região (ferro, madeira, escravos)
em troca de especiarias e ouro. [...]
Gênova, a maior rival veneziana, conquistara em princípios do século XI a hegemonia mercantil no Me-
diterrâneo ocidental derrotando os muçulmanos e se apossando das ilhas de Elba, Sardenha e Córsega.
Assim, para ela os interesses comerciais e o combate ao infiel eram a mesma coisa, o que facilmente a iden-
tificou com as Cruzadas. Mas seu apoio aos cruzados (transporte, provisões, empréstimos) estava sempre
condicionado ao recebimento de privilégios comerciais nas cidades conquistadas por eles. Foi assim que os
genoveses puderam formar um vasto e rico império colonial — arrancado dos bizantinos e muçulmanos
— abrangendo Chipre, as principais ilhas do Egeu e territórios do Mar Negro.
Hilário Franco Júnior. As Cruzadas: Guerra Santa entre Ocidente e Oriente. São Paulo: Moderna, 1999. p. 13-5. (Polêmica).

a ) O que favoreceu o desenvolvimento da atividade mercantil em Veneza e Gênova?


b ) Quais produtos os venezianos vendiam no Oriente? E quais os produtos eram comprados
por eles em Bizâncio e no Egito?
c) Explique o acordo feito entre genoveses e cruzados.

60
capítulo 3
Passado e presente
24 Leia o texto a seguir sobre hábitos e costumes medievais que ainda hoje fazem parte do
nosso cotidiano.

A época medieval na Europa


[...] Nosso cotidiano está impregnado de hábitos, costumes e objetos que vêm de muito mais longe do
que se pode imaginar. [...]
Pensemos num dia comum de uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais:
ela põe sua roupa de baixo [...], veste calças compridas [...], passa um cinto fechado com fivela [...]. A seguir,
põe uma camisa e faz um gesto simples, automático, tocando pequenos objetos que também relembram a
Idade Média, quando foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ela põe os óculos (criados em
torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua aparência num espelho de vidro (concepção do
século XIII). Por fim, antes de sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de
fins do século XIV) para ver como está o tempo. [...]
Sentindo fome, a pessoa levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando o gesto inau-
gurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um mecanismo para medir o
passar do tempo, independentemente da época do ano e das condições climáticas. Sendo hora do almoço,
a pessoa vai para casa ou para o restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! [...] Da mes-
ma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada por volta de 1285) e garfo (século XI,
de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa passa no banco, que, como atividade laica, nasceu
na Idade Média. Depois, para autenticar documentos, dirige-se ao cartório, instituição que desde a Alta
Idade Média preservava a memória de certos atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em
que pouca gente sabia escrever.
Hilário Franco Júnior. Somos todos da Idade Média. Revista da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Sabin, ano 3, n. 30, mar. 2008. p. 58-60.

a) Cite exemplos de objetos que foram inventados durante a Idade Média e que permanecem
em nosso cotidiano.
b ) Além de objetos, muitos costumes do período medieval permanecem em nosso cotidia­
no. Cite alguns deles.
c ) Escreva um pequeno texto sobre a importância das invenções do passado que estão
presentes em seu dia a dia.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A sociedade feudal foi formada a partir da combinação de tradições romanas e germâ-
nicas.
■■ Na Idade Média, a Igreja Católica tornou-se a instituição mais poderosa da Europa.
■■ A sociedade feudal era essencialmente rural e a agricultura era a principal atividade
econômica.
■■ Nobreza, clero e camponeses formavam os três principais grupos sociais na época
medieval.
■■ Na Baixa Idade Média, as cidades entraram em uma fase de crescimento e desenvol-
vimento, desestruturando o sistema feudal.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi-
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

61
4
capítulo

A expansão do Islã
Veja nas Orientações
Athar Akrom/Art Directors & TRIP/Alamy/Other Images

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Fiéis muçulmanos
realizando orações em
Meca, na Arábia Saudita.
A fotografia, tirada no ano
de 2007, destaca a Caaba,
edifício que guarda a Pedra
Negra, objeto sagrado para
o Islã.
Ulpiano Checa Sanz - Cavalaria muçulmana. c. 1880-1916. Coleção particular. Foto: Fine Art Photographic Library/Corbis/Latinstock

B A pintura ao lado,
representa um exército de
cavaleiros muçulmanos
partindo para um combate,
durante a expansão dos
domínios islâmicos. (Pintura
produzida no século XX).

62
C Essa ilustração mostra Aladim fazendo seus pedidos ao gênio
Angus McBride – Aladim dando ordens ao Gênio. Séc XX. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
da lâmpada. A história de Aladim se encontra em uma
tradicional obra literária árabe chamada As mil e uma noites.

Processo de destilação. Séc. XVIII. Biblioteca Britânica, Londres. Foto: British Library Board/The Bridgeman Art Library/Keystone
É possível identificar influências árabes em diversas D
áreas, por exemplo, na culinária, na arte e na
arquitetura. A ilustração ao lado representa um
alambique, uma invenção árabe.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
O islamismo, ou Islã, é uma religião monoteísta que teve origem na o conhecimento
prévio dos alunos e
península Arábica. Essa religião é baseada nos ensinamentos do profeta estimular seu
Maomé, e seus seguidores são conhecidos como muçulmanos. No sé- interesse pelos
assuntos que serão
culo VII, os povos árabes se unificaram em torno da fé islâmica, dando desenvolvidos no
início à expansão de seus domínios para outras regiões, como o norte da capítulo. Faça a
África e a península Ibérica. mediação do diálogo
entre os alunos de
Neste capítulo, vamos conhecer melhor o islamismo e entender como maneira que todos
participem
ele influenciou a cultura Ocidental. expressando suas
Observe as imagens destas páginas e converse com os colegas sobre opiniões e
respeitando as dos
as questões a seguir. colegas.
■■ A edificação em destaque na fonte A está localizada na cidade de
Meca. Qual a importância dessa cidade para os muçulmanos? Por
que ela atrai tantos seguidores do Islã?
■ ■ Descreva a fonte B. É possível identificar elementos ligados à expan-

são muçulmana nessa fonte? Quais?


■ ■ A fonte C representa personagens da história de Aladim. Você conhe-

ce alguma outra história da obra As mil e uma noites ? Qual?


■ ■ Você conhece o objeto ilustrado na fonte D? Sabe para que ele é

utilizado?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

63
O nascimento do Islã
O islamismo foi fundado no século VII por Maomé, um comerciante que habitava
a península Arábica. Atualmente, é a religião que mais cresce em número de
seguidores.

Os povos do deserto
A península Arábica era desértica, porém possuía vários oásis. Os árabes
Caravana grupo
nômades que habitavam essa península eram conhecidos como beduínos. de comerciantes
Eles aproveitavam os oásis para cultivar plantas como trigo, lentilha, cebo- que, por motivo
la, alho e legumes. Praticavam o pastoreio, criando cabritos, carneiros e, de segurança,
também, camelos, que eram seu principal meio de transporte. viajam juntos.

Os beduínos deslocavam-se com frequên­ Oásis lugar


Alan King. Coleção particular. Foto: Alan King engraving/Alamy/Other Images

arborizado e com
cia entre os vários oásis. Eles também pra- água, localizado
ticavam o comércio e, com suas caravanas, em regiões
percorriam longas distâncias levando e tra- desérticas.
zendo mercadorias dos mais diversos luga- Peregrino
res. pessoa que viaja
Os beduínos eram politeístas e seus vá- por longas
distâncias.
rios deuses eram representados por ídolos
que ficavam guardados em um templo na
cidade de Meca. Essa cida­d e era um impor-
tante centro religioso e atraía peregrinos de
todas as partes da península.

A imagem ao lado retrata um jovem beduíno


conduzindo um camelo em um deserto, na
península Arábica.

O início da pregação de Maomé


Maomé, o fundador do islamismo, nasceu em Meca,

Em Siyar-i-Nabi. Séc. XVI. Museu Topkapi, Istambul


no ano de 570. Quando ainda era criança, ficou órfão
e foi viver com seu avô no deserto, onde conviveu
com os beduínos. Ainda jovem, começou a se dedicar
ao comércio e, poucos anos depois, já tinha suas
próprias caravanas.
Aos 25 anos, casou-se com uma viúva rica chama-
da Cadija e passou a administrar os negócios de sua
mulher. Em suas viagens, manteve contato com co-
munidades de judeus e de cristãos. Acredita-se que
o monoteísmo desses grupos tenha influenciado o
pensamento de Maomé.
De acordo com a tradição islâmica, no ano de 610,
enquanto Maomé meditava em uma caverna, o anjo
Gabriel lhe teria aparecido. Nessa aparição, o anjo teria
trazido a ele uma mensagem: “ Há um só Deus, Alá,
Maomé recebendo a revelação do anjo Gabriel.
e um só profeta, Maomé ”. Contando com o apoio de Note que Maomé aparece com um véu
sua família, Maomé passou a pregar sua crença em cobrindo seu rosto, pois, de acordo com os
um Deus único, chamado Alá. Nascia, assim, o Islã, costumes islâmicos, a face do profeta não
religião também conhecida como islamismo. pode ser representada.

64
A formação do mundo islâmico

capítulo 4
Veja, na linha do tempo a seguir, os principais momentos da história do
islamismo desde seu surgimento, no século VII, até o século XIII.

A expansão do Islã
610 a 661 661 a 750 750 a 1258
Início da expansão Dinastia Omíada Dinastia Abássida
islâmica Durante o governo dos Período de paz interna que perdura até
Nesse período, sob o omíadas, acontecem aproximadamente o ano de 900 e fica
governo de Maomé e várias guerras civis conhecido como a época de ouro dos
de seus sucessores, os que dificultam a união muçulmanos. Nesse período ocorre um
árabes conquistam toda a do Islã. Esse período grande desenvolvimento cultural, com
península Arábica, parte da de disputas internas destaque para as artes, a literatura e
Pérsia e da Mesopotâmia, é marcado pela cisão a ciência. Os xiitas se fortalecem em
além do Egito e da Líbia. entre sunitas e xiitas. países como a Tunísia e o Egito.

600 650 700 750 800 850 900 950 1000 1050 1100 1150 1200 1250 1300

711
610 Os muçulmanos dominam 1037
Maomé começa a a península Ibérica. Os reinos de Navarra, Castela e 1258
divulgar o islamismo. Aragão, apoiados pela Igreja Católica, Hulagu, neto do
conseguem expulsar os muçulmanos imperador mongol Gengis
622 do Norte da península Ibérica. Khan, invade Bagdá e
Maomé migra de Meca para 630 executa o último califa
Iatrib. Esse episódio é conhecido Grande parte da península 645 abássida, Al Musta’sim.
como Hégira, que marca o início Arábica é unificada sob O califa Utman aprova
do calendário muçulmano. o domínio político e e dá início à difusão do
religioso de Maomé. texto sagrado, o Alcorão.

A expansão muçulmana

E. Cavalcante
OCEANO
EUROPA ÁSIA
ATLÂNTICO 45° N
Mar
Mar Negro Cáspio
Península
Ibérica KHAREZM CAXEMIRA
Armênia
Córdoba TRANSOXÂNIA
Merv PUNDJAB
Kairawan Cabul
Mar Mediterrâneo Damasco Karbala Ispahan
Trípoli
MAGREBE
Jerusalém
Fustat Basra
(Cairo)
Deserto do Saara HIJAZ
EGITO
Medina SIND
ÁFRICA OMÃ
Meca
Península
Arábica
N
IÊMEN Mar Árabe
Época de Maomé (622-632) O L
0 675 km
Primeiros califas (632-661) S
45° L
Dinastia omíada (661-750) DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004.

Quem é árabe? Quem é muçulmano?


Os árabes são um povo originário da península Arábica. Foi nessa região que surgiu a
religião muçulmana, e grande parte dos árabes, mas não todos, tornou-se seguidora da
fé islâmica. Por outro lado, muitas pessoas não árabes foram convertidas ao islamismo,
como os persas e indonésios, por exemplo. Desse modo, nem todos os árabes são
muçulmanos e nem todos os muçulmanos são árabes.

65
A expansão dos domínios islâmicos
Em menos de duzentos anos, os muçulmanos construíram um grandioso império.

As conquistas territoriais
A partir do século VII, os povos árabes se unificaram em

Biblioteca Nacional, Paris. Foto: Mary Evans/AISA Media/Other Images


torno de uma mesma fé e passaram a compartilhar os mes-
mos ideais. De acordo com os ensinamentos de Maomé,
todo fiel deveria assumir um compromisso com Alá e se
comprometer com a causa islâmica. Foi então que sur­g iu a
jihad. A jihad é o dever de todo muçulmano em defender o
Islã, seja por meio da pregação religiosa, do comportamento
pessoal ou da luta armada. Esse foi um princípio importante
que impulsionou a expansão islâmica.
A unificação em torno da fé propiciou também a unidade
política com a centralização do poder nas mãos do califa,
nome dado aos sucessores de Maomé. Com o poder cen-
tralizado e exércitos bem organizados, os muçulmanos
puderam expandir seus domínios, controlando rotas comer-
ciais e cobrando tributos dos povos conquistados.
Desse modo, em menos de 100 anos, os muçulmanos
dominaram uma vasta região, que se esten­dia desde a penín-
sula Ibérica até a Índia, englobando também o norte da
África, o Oriente Médio e partes da Ásia Central.

A pintura ao lado representa soldados muçulmanos sendo guiados por


Maomé e pelos “quatro grandes” califas que o sucederam: Abu Bakr, Umar,
Utman e Ali. Ao representar esses personagens juntos, a imagem reforça a
importância da união dos muçulmanos para difundir o islamismo.

A conquista da península Ibérica


Em 711, o general muçulmano Tarik ibn Ziyad atravessou a estreita pas-
Liberdade
sagem de mar que separa o Norte da África e o Sul da península Ibérica.
religiosa
Tarik cruzou o estreito à frente de um exército de berberes islamizados,
Durante o governo
atacou o reino dos visigodos, expulsando-os para o norte da península, e
dos muçulmanos,
se estabeleceu na região. Por cerca de oito séculos a partir dessa data, a os cristãos e os
península Ibérica foi habitada por muçulmanos e, também, por cristãos e judeus que viviam
judeus, e foi governada de acordo com as leis do Islã. na península não
eram obrigados a
O estreito que separa a
Séc. XX. Litografia colorida. Coleção particular.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

se converter ao
África da Europa recebeu islamismo, porém,
o nome de Gibraltar em para continuar
homenagem ao general praticando sua
Tarik. Em árabe, Jibral religião, eles
significa monte, portanto, deviam pagar um
Jibral Tarik quer dizer imposto ao líder
“monte de Tarik”. Nessa muçulmano.
imagem, vemos uma
representação do general
Tarik orientando seus
soldados durante a Berbere povo
invasão muçulmana na nômade que vive
península Ibérica. no Norte da África
(Gravura do século XX). e em regiões do
deserto do Saara.

66
A presença muçulmana na península Ibérica

capítulo 4
Nos oito séculos em que permaneceram na península Ibérica, os muçul-
Etnia grupo de
manos deram importantes contribuições culturais para os povos que viviam
indivíduos que
nessa região. compartilham as

A expansão do Islã
Os muçulmanos chamavam a península Ibérica de Al-Andalus. A socie- mesmas caracte-
dade de Al-Andalus englobava uma diversidade de culturas: governantes rísticas sociocul-
turais, como a
árabes, guerreiros berberes convertidos ao islamismo, judeus, cristãos e
língua, a religião,
escravos de diversas etnias. Todos esses grupos transmitiram um rico le- os costumes,
gado cultural às gerações seguintes. e os modos de
sentir, de pensar
e de agir.
O legado técnico e cultural
A presença dos muçulmanos na península Ibérica influenciou e enriqueceu
a cultura daquela região. As pesquisas científicas e a literatura, por exemplo,
foram incentivadas pelos estudiosos árabes. Naquela época, El-Hakam II,
um líder muçulmano, reuniu quatrocentos mil livros e ordenou a construção
de uma biblioteca para guardar essas obras. Filósofos e médicos muçul-
manos que viviam na península ficaram conhecidos no Ocidente pela im-
portância de suas pesquisas.

Ilian Iliev/Lebrecht Music & Arts/Corbis/Latinstock


A influência da arquitetura islâmica foi marcante nessa
época. Mesquitas e palácios foram construídos em várias
cidades ibéricas, como a Grande Mesquita, em Córdoba,
e o Palácio de Alhambra, em Granada.
Os muçulmanos também influenciaram a agricultura
ibérica. Antes de conquistarem a península, os islamitas
haviam aprimorado as técnicas de irrigação e de culti-
vo que haviam aprendido com outros povos. Então, ao
se estabelecerem na região, transmitiram aos agricul-
tores cristãos seus conhecimentos.
A cultura ibérica foi influenciada em muitos outros as-
pectos pelos muçulmanos. Palavras de origem árabe foram
incorporadas ao vocabulário espanhol e português e co-
midas típicas passaram a fazer parte do cardápio ibérico.

O rico legado cultural deixado pelos árabes após oito séculos de


permanência na península Ibérica também atingiu o campo da arte. O
flamenco, gênero musical que atualmente é um dos símbolos da
cultura espanhola, tem grande influência árabe.
Ao lado, fotografia recente de uma bailarina dançando flamenco.
Essa dança tem o ritmo marcado por castanholas, palmas e sapateado.

Enquanto isso... no Sacro Império Romano-Germânico

No século X, época do auge da dominação muçulmana na península Ibérica, estava sen-


do formado um novo império na Europa: o Sacro Império Romano-Germânico. A origem
desse império está ligada à fundação do Reino Germânico, em 911, na região onde hoje
fica localizada a Alemanha.
Em 933, o rei Oto I iniciou um processo de centralização política e de conquistas militares
que expandiram o território do reino. Oto oferecia proteção à Igreja Católica e recebia apoio
político do papa. Em 962, Oto foi coroado como imperador pelo papa João XII. Essa coroação
deu origem ao Sacro Império Romano-Germânico, que se estabeleceu então como a maior
força política e militar da Europa.

67
O islamismo
Meca é um lugar sagrado para os muçulmanos, pois é onde se localiza a Caaba,
um importante símbolo do Islã.

A peregrinação à Meca
Todos os anos a cidade de Meca recebe fiéis para o Hajj , a peregrinação,
que acontece no último mês do calendário muçulmano. Atualmente, cerca
de dois milhões de muçulmanos de várias partes do mundo dirigem-se
todos os anos à Grande Mesquita de Meca para cumprir esse dever religioso.
Observe a fotografia a seguir, tirada em 2007.
Nabil Mounzer/epa/Corbis/Latinstock

Próximos à Grande
Mesquita existem vários
hotéis, desde os mais caros
até os mais baratos, para
hospedar os peregrinos.
Alguns peregrinos ficam ao
Princípios do islamismo ar livre ou alojados em
O livro sagrado do Islã é o Alcorão, também tendas e barracas.
chamado de Corão. Os muçulmanos acreditam que
ele contém as palavras de Alá, reveladas ao profeta
Maomé pelo anjo Gabriel. Além do Alcorão, os
muçulmanos dão grande importância ao Hadith,
um conjunto de normas de conduta. Essas normas
são baseadas em palavras e atitudes exemplares de
Maomé que devem ser seguidas pelos muçulmanos.
Um muçulmano deve seguir os Cinco Pilares do
Islã , que são os principais deveres dessa religião.
1o) Shahada: ou testemunho, é a primeira prece
que o muçulmano aprende. Pronunciada em voz
alta, representa a declaração de fé do fiel ao
islamismo.
2o) Salat: são as orações que devem ser feitas por
todos os muçulmanos adultos cinco vezes todos os
dias (pela manhã, ao meio-dia, à tarde, ao pôr do
sol e à noite). Deve-se rezar com a cabeça voltada
para Meca.
3 o) Zakat: contribuição financeira paga pelos fiéis
para fins de caridade, usada principalmente para
ajudar as pessoas necessitadas.
4 o) Sawn: é o jejum feito durante o dia no mês do
Ramadã, quando se comemora a revelação da
palavra de Alá ao profeta Maomé.
5 o) Hajj: é a peregrinação à Meca que deve ser feita
por todo muçulmano pelo menos uma vez na vida,
desde que possua condições físicas e financeiras.

68
A sucessão do profeta

capítulo 4
Maomé não indicou quem seria seu sucessor e, por isso, após sua morte, teve início uma acirrada
disputa entre duas correntes, que tinham visões diferentes sobre como deveria ser feita a sucessão.
A primeira corrente, formada pelos xiitas, defendia que somente os descendentes de Maomé
poderiam ser seus sucessores. Já a segunda corrente, formada pelos sunitas, afirmava que

A expansão do Islã
qualquer fiel poderia ser o sucessor, desde que aceito pela comunidade. Essa segunda corrente foi
vitoriosa, porém os xiitas passaram a contestar a autoridade dos governantes sunitas. Muitos dos
conflitos que ocorrem entre os muçulmanos na atualidade têm origem nessa divisão do islamismo

O Haram Sagrado é o espaço no interior


da mesquita que é utilizado para a
circulação dos fiéis. Atualmente possui A Caaba, palavra que em árabe significa
capacidade para receber cerca de 300 mil “Casa de Deus”, é um edifício cúbico de
peregrinos ao mesmo tempo. aproximadamente 15 metros de altura.
Segundo a tradição religiosa, a Caaba foi
construída por Ibrahim (Abraão) e seu
filho Ismael, em obediência a uma ordem
de Alá. É na Caaba que fica a Pedra
Negra, chamada Hajjar-al-Aswad, objeto
sagrado do Islã.

A Kiswa é o tecido preto


que cobre a Caaba.
Bordada com inscrições
em ouro, a Kiswa é feita
pela mesma família há
várias gerações e é
trocada todo ano no
período do Hajj.

Lembranças da
peregrinação
Em Meca, os
peregrinos podem
comprar
lembranças de
O Tawaf é o percurso feito em volta sua viagem,
da Caaba. Depois de entrar na desde garrafas
mesquita, o peregrino dirige-se à com água da
Pedra Negra, beija-a e então dá sete fonte Zenzem até
voltas em sentido anti-horário, pedaços da
recitando orações. Kiswa , o pano
que cobre a
Caaba .

69
Explorando o tema
A cultura islâmica
Os muçulmanos preservaram muitos conhecimentos de povos da

Séc. XIV. Museu Marítimo Nacional,


Greenwich. Foto: Werner Forman
Archive/TopFoto/Keystone
Antiguidade e, também, dos povos conquistados por eles.

As ciências
Os sábios muçulmanos davam grande valor ao conhecimento. Eles
resgataram obras filosóficas, literárias, científicas e técnicas dos
antigos gregos e traduziram-nas para o árabe, preservando esses
O astrolábio é um
conhecimentos antigos. Também recuperaram conhecimentos chi-
instrumento de navegação
neses, persas e indianos, aprimoraram esses saberes e os difundiram que, por meio da medição
por todo o Ocidente. da posição dos astros,
Os muçulmanos procuravam preservar e desenvolver os conheci- auxiliava a identificar a
mentos adquiridos com os povos que eles conquistavam. Por isso, localização de uma
eles foram culturalmente influenciados tanto por africanos quanto embarcação em alto-mar.
por asiáticos e europeus. Ele foi provavelmente
inventado pelos antigos
Os conhecimentos difundidos pelos muçulmanos contribuíram gregos, porém, foram os
para o desenvolvimento das ciências modernas, desempenhando muçulmanos que
um papel importante nas áreas de medicina, química, biologia, físi- aprimoraram e difundiram
ca, matemática, astronomia, arquitetura, história, filosofia e música. esse instrumento na Europa.

Os algarismos
Os algarismos de 0 a 9 usados hoje pela maioria

Paula Diazzi
Índico
dos povos para representar os números e realizar
os cálculos matemáticos derivam de algarismos
criados pelos antigos indianos. Arábico
Quando os muçulmanos entraram em contato com
a cultura indiana, na época da expansão islâmica, Espanhol
eles conheceram esses algarismos e difundiram seu
uso pela Europa, África e Ásia. Italiano
O próprio termo “algarismo” é derivado do nome
de Al-Khowarizmi, sábio muçulmano que es creveu
uma importante obra sobre a utilização dos algaris- Tabela comparativa entre os
mos indo-arábicos, como ficaram conhecidos. números índicos, arábicos,
espanhóis e italianos.
A arquitetura
Nas regiões conquistadas, os muçulmanos construíram grandes obras,
como mesquitas, palácios e fortalezas, utilizando os conhecimentos
adquiridos no contato com outros povos, como os persas, os
egípcios, os chineses e os ibéricos.
A arquitetura islâmica se caracteriza pela grandiosidade
dos edifícios, com pátios e jardins, e pela presença de muitos
objetos decorativos, como vitrais, azulejos e tapetes, entre
outros.

Fotografia recente que retrata o Domo da Rocha, mesquita


islâmica construída em Jerusalém no final do século VII.

70
capítulo 4
Frances Brundage. Séc. XIX. Coleção particular. Foto: Blue Lantern Studio/Corbis/Latinstock

A literatura
A literatura era muito valorizada pelos muçulma-

A expansão do Islã
nos, que escreveram obras de grande beleza e
importância. A obra literária em idioma árabe mais
difundida pelo mundo chama-se As mil e uma
noites . Nela foram reunidas histórias criadas por
diferentes pessoas ao longo de muitos anos, e que
são narradas por uma jovem princesa chamada
Sherazade. As histórias de As mil e uma noites
mais famosas são “Aladim e a Lâmpada Maravi-
lhosa”, “Ali Babá e os Quarenta Ladrões” e “As
Sete Viagens de Simbad, o Marujo”.

O sujeito na história Avicena


Avicena (em árabe Ibn Sina) foi um médico e
filósofo muçulmano que viveu entre os anos de
980 e 1037. Ele estudou filosofia, direito, geo-
metria, aritmética, lógica e física, e escreveu
importantes obras, que reúnem grande parte
Esse desenho, feito pela dos conhecimentos científicos e filosóficos da
ilustradora norte-americana época.
Frances Brundage (1854-1937)
no final do século XIX, representa Seus estudos sobre medicina inovaram na
a princesa Sherazade contando forma de tratar as doenças. Avicena acreditava
histórias ao sultão. que o bem-estar das pessoas doentes era fun-
damental para curá-las. Por essa razão, ele
geralmente recomendava aos seus pacientes
escutar música e observar belas paisagens.
Seus textos sobre medicina foram utilizados
pelos médicos europeus até o século XVII.

Autor desconhecido. Coleção particular. Foto: Everett Collection Inc./Keystone

Ilustração produzida no século XX que representa


Avicena realizando seus estudos.
Corel Stock
Photo

71
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.

Exercícios de compreensão
1 Sobre os beduínos, responda. 8 Sobre o islamismo, responda.
a ) Quem eram? a ) Quando surgiu essa religião?
b ) Onde moravam? b ) O que é o Alcorão?
c ) Que produtos agrícolas cultiva­vam? c ) Explique o que é o Hadith.
d ) Quais animais criavam? d ) Quais são os Cinco Pilares do Islã? Ex­
plique cada um deles.
e ) Como realizavam o comércio de mer-
cadorias? e ) O que é a Caaba? Qual a importância
dela para os muçulmanos?
f ) Como era sua religião?
f ) Qual o nome do tecido preto que cobre
2 Explique como o islamismo foi fundado.
a Caaba? Quando ele é trocado?
3 Explique a diferença entre os termos árabe g ) O que é o Haram Sagrado?
e muçulmano.
h ) O que é o Tawaf?
4 O que é a jihad?
i ) Onde os peregrinos ficam durante o
5 Explique quais fatores motivaram a expan- Hajj?
são islâmica.
9 Qual a importância dos sábios muçul­ma­nos?
6 Descreva como aconteceu a conquista da
península Ibérica pelos muçulmanos. 10 Onde foram criados os algarismos que utili-
zamos atualmente? Como o uso des­ses
7 Elabore um texto sobre a presença mu­ algarismos foi difundido pelo mundo?
çulmana na península Ibérica usando as
palavras e expressões a seguir. 11 Qual a obra literária árabe mais conhecida
mundialmente? Cite o nome de duas his­
sociedade cientistas tórias presentes nessa obra.
influência cultural islamismo 12 Quem foi Avicena? Qual a sua importância
península Ibérica Al-Andalus para a história da medicina?
muçulmanos agricultura

Expandindo o conteúdo
13 Leia o texto a seguir.

O Sol já estava alto e Aladim sentiu fome. Pediu à mãe algo para comer.
— Ah, meu filho. Ontem à noite você estava com tanta fome que lhe servi toda a comida que
havia em casa — disse ela com pesar.
Aladim ficou calado durante algum tempo, pensando no que fazer. De repente, lembrou-se da
lâmpada que havia trazido. Pegou-a na sacola e disse à mãe:
— Essa lâmpada deve valer alguma coisa. Vou tentar vendê-la e trazer alguma comida para casa.
— Está bem, mas antes deixe-me limpá-la. Assim você pode conseguir um preço melhor por ela.

72
capítulo 4
A mulher pegou a lâmpada e começou a esfregá-la com um pedaço de pano. No mesmo instante,
fez-se um clarão e surgiu um enorme gênio, que disse:
— Ordene o que quiser e obedecerei.

A expansão do Islã
— Quem é você? — perguntou Aladim.
— Sou o gênio da lâmpada. Estou sempre pronto a atender a qualquer pedido de quem tiver essa
lâmpada encantada nas mãos.
A mulher não chegou a ouvir as últimas palavras daquele gigante assustador. Ao vê-lo surgir,
levou um susto tão grande que caiu desmaiada.
Aladim não se espantou tanto com aquela aparição. [...] Conseguiu amparar a mãe, enquanto
prestava atenção ao que o gênio dizia. Depois de acomodar a mulher em uma almofada, pegou a
lâmpada e ordenou ao gênio:
— Traga-me alguma coisa para comer, mas que seja uma refeição deliciosa, digna de um rei.
Em poucos segundos, surgiu uma mesa posta na sala.”
Aladim e a lâmpada maravilhosa. Adap. de Edson Rocha Braga. São Paulo: Scipione, 2001. p. 16-7. (Reencontro Infantil).

a ) Qual o nome da história apresentada acima? Como você chegou a essa conclusão?
b) Essa história faz parte de uma conhecida obra literária árabe. Qual é o nome dessa obra?
c ) Faça um desenho representando uma passagem dessa história.

14 Segundo pesquisas feitas em 2006, o islamismo é hoje a religião com maior número de se-
guidores no mundo. Observe o mapa a seguir.

O islamismo no mundo atual

E. Cavalcante
N

O L

CAZAQUISTÃO
FRANÇA

ALBÂNIA TURQUIA
SÍRIA AFEGANISTÃO
OCEANO MARROCOS IRAQUE IRÃ
ATLÂNTICO ARGÉLIA LÍBIA PAQUISTÃO
EGITO ARÁBIA OCEANO
BANGLADESH
SAUDITA PACÍFICO
OMÃ ÍNDIA
MAURITÂNIA NÍGER
MALI
CHADE IÊMEN
SUDÃO
COSTA NIGÉRIA ETIÓPIA
SURINAME DO
MARFIM CAMARÕES SOMÁLIA MALÁSIA
Equador UGANDA
CONGO QUÊNIA 0°
Meridiano de Greenwich

TANZÂNIA INDONÉSIA

ANGOLA
OCEANO
OCEANO MOÇAMBIQUE
ÍNDICO
PACÍFICO BOTSUANA

de 91% a 100%
de 51% a 90%
de 21% a 50% 0 1 890 km
de 6% a 20% 0°
menos de 5% Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

73
a ) O que esse mapa repre­s enta?
b ) Cite os nomes de alguns países em que mais de 90% da população é muçulmana.
c ) Cite um país americano em que mais de 5% da população é muçulmana.

15 Em 1095, o papa Urbano II declarou aos fiéis católicos que era necessário conquistar Jerusa-
lém, a “Terra Santa”, tomando-a dos muçulmanos. Em 1099, os guerreiros cristãos
participantes da primeira Cruzada conquistaram Jerusalém. O texto a seguir trata sobre es-
se episódio. Leia-o.

Foi um dia de terror. Em 15 de julho de 1099, milhares de guerreiros loiros


entraram em Jerusalém matando adultos, velhos e crianças, [...] e saqueando
mesquitas e casas. As ruas se transformaram numa imensa poça de sangue. [...]
Dois dias depois, não havia sequer um muçulmano em Jerusalém. Tampouco
havia judeus. Nas primeiras horas da batalha, muitos deles participaram da
defesa do seu bairro, a Juderia. Mas, quando os cavaleiros invadiram as ruas,
os judeus entraram em pânico. A comunidade inteira, repetindo um gesto an-
cestral, reuniu-se na sinagoga para orar. Os invasores bloquearam as saídas,
jogaram lenha e atearam fogo à sinagoga. Os judeus que não morreram quei-
mados foram assassinados na rua. [...]
Os saques [...] e assassinatos de crianças não eram nada condizentes com o
tratamento que os próprios muçulmanos sempre deram aos cristãos e judeus
que viviam em seus territórios. Quando eles chegaram a Jerusalém, no
século VII, fizeram questão de preservar as igrejas cristãs e sinagogas judaicas.
O acordo era claro: desde que esses povos não insultassem o profeta e não
deixassem de pagar seus impostos, eles sempre teriam a liberdade para viver de
acordo com suas crenças e suas próprias leis. Os poucos casos de governos
hostis aos judeus e cristãos não passavam de exceções em longos períodos de
convivência pacífica.
Rodrigo Cavalcante. Os dois lados das Cruzadas. Superinteressante.
São Paulo: Abril, ano 9, n. 213, maio 2005. p. 54-5; 58.

a ) Quais povos viviam em Jerusalém antes da chegada dos cruzados?


b ) De acordo com o texto, como foi a tomada de Jerusalém pelos cristãos?
c) Escreva com suas palavras como foi a tomada do bairro dos judeus.
d ) Explique com suas palavras qual era o acordo que havia entre muçulmanos e os povos
que viviam em Jerusalém desde o século VII.

Discutindo a história
16 Nos países islâmicos, a religião envolve quase todos os aspectos da vida das pessoas, sejam
homens, mulheres ou crianças. Entretanto, cada país tem a sua própria maneira de inter-
pretar as leis do Alcorão e cada um deles apresenta formas distintas de regulamentar a
vida diária. Leia a seguir uma entrevista concedida por Magda Aref Abdul Latif, uma brasi-
leira muçulmana que estuda a cultura do Islã e é membro do Centro de Estudos e Divulgação
do Islã, que é sediado em Suzano, São Paulo.

74
capítulo 4
Como é a vida da mulher muçulmana?
Não existe a mulher muçulmana. Existem as mulheres muçulmanas. Isso depende de vários fatores, como
condição social e país de origem. A mulher muçulmana reza cinco vezes por dia, mas não são todas que cum-
prem, como em qualquer mandamento religioso. No Brasil, nós usamos o véu [...]. Praticamos as orações,

A expansão do Islã
fazemos jejum no mês de Ramadã. As meninas trabalham, estudam, outras são donas de casa, tem de tudo.

Você acha que existe igualdade entre homens e mulheres no islamismo?


Isso é um assunto muito discutido. Por que a mulher muçulmana é vista pelo Ocidente como uma mulher
que tem menos direitos, inferiorizada, submissa? Até pela própria veste se associa isso. Para o Ocidente, o fato
de a mulher usar o véu é sempre associado à submissão e ignorância. Já para a mulher muçulmana, o véu é
entendido como algo que a dignifica, dá valor, que impõe respeito. É uma ideia diametralmente oposta à que
o Ocidente faz do véu e da própria mulher.
Quanto aos direitos e deveres, o Alcorão é bem claro quando diz que a mulher tem direitos sobre o marido
e o marido sobre a mulher.
O Islã foi uma religião que inovou nos direitos da mulher em coisas que a Europa só conseguiu há pouco
tempo. A mulher no Ocidente não votava. A muçulmana tem esse direito desde o surgimento do Islã. A mu-
lher tem o direito ao divórcio e à herança, o que é bem mais recente na Europa.

Como a mulher islâmica é tratada por sua família?


Para o muçulmano, é obrigação do homem sustentar a mulher e os filhos. Isso é um dever dele. Se a mulher
quiser trabalhar fora, esse dinheiro é dela.

As muçulmanas podem se produzir, pintando as unhas ou usando maquiagem, por exemplo?


Está no Alcorão que toda mulher muçulmana deveria se cobrir com seus véus porque é mais conveniente
para que não seja molestada. Isso tem uma finalidade. O significado do véu é esconder das vistas do homem
tudo aquilo que desperta o desejo. Toda a sensualidade, toda a beleza, a mulher esconde isso dos homens e
restringe isso ao seu marido e ao ambiente familiar. Na presença dos pais, avós, tios, sogros, a mulher pode se
produzir da maneira que quiser, pode se maquiar, fazer o cabelo e se vestir da maneira que quiser. O objetivo
é não despertar o desejo de outros homens.
Fabiana Fevorini. O véu dignifica a mulher. IstoÉ Gente Online. Extraído do site:
<www.terra.com.br/istoegente/exclusivo/outubro2001/muculmanos.htm>. Acesso em: 6 dez. 2011.

a ) Com base na entrevista e nos seus conhecimentos, escreva um texto apontando quais
são as principais diferenças existentes entre as mulheres muçulmanas e as mulheres
ocidentais que não são muçulmanas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ O islamismo foi fundado no século VII pelo profeta Maomé.

■■ Nos séculos VII e VIII os muçulmanos dominaram uma vasta região, que se estendia da
península Ibérica até a Índia.
■■ Muitos elementos da cultura ibérica foram influenciados pela cultura muçulmana.
■■ A cidade de Meca é um lugar sagrado para os muçulmanos, e recebe milhões de fiéis
de várias regiões do mundo.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

75
5
A América antes da
capítulo

chegada dos europeus


Veja nas Orientações
Roger Cracknell 01/classic/Alamy/Other Images

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados neste
capítulo.

A Alguns povos
americanos, como
os maias e os
astecas,
construíram
pirâmides
gigantescas.
Ao lado, fotografia
de 2011 retratando
uma pirâmide maia,
em Chichén Itzá,
no México.
Autor desconhecido – Guerreiro asteca. c. 1600-1800. Ilustração. Coleção particular. Foto: Bettman/Corbis/Latinstock

B Durante a expansão de
seu império, os astecas
subjugaram vários povos,
que desse modo
passavam a pagar
tributos. Essas
conquistas foram
possibilitadas pela força
de seu exército. Essa
imagem representa um
guerreiro asteca
portando um escudo e
uma lança farpada
chamada atlal. Esses
guerreiros vestiam-se
com pele de jaguar,
grande felino das
florestas americanas. Por
invocar a imagem desse
animal, eram conhecidos
como guerreiros jaguar.
(Gravura do século XIX.)

76
William Mullins/Alamy/Other Images

Rosa Gauditano/Studio R

C Os incas formaram um grande império na América do Sul. D Fotografia recente de pai e filho indígenas da etnia
Todas as regiões do império eram interligadas por uma Waurá, no estado do Mato Grosso.
extensa rede de estradas. Fotografia atual de turistas
caminhando em estrada inca, no Peru.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Antes da chegada dos europeus, o continente americano era habitado o conhecimento
prévio dos alunos e
por diversos povos indígenas. Cada um desses povos tinha sua própria estimular seu
língua, cultura, crenças e tradições. Neste capítulo, vamos conhecer infor­ interesse pelos
assuntos que serão
mações sobre alguns povos indígenas da América. desenvolvidos no
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os capítulo. Faça a
mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
■ ■ A fonte A retrata uma pirâmide construída pelo povo maia. Por que
maneira que todos
participem
alguns povos americanos construíram pirâmides? Você conhece expressando suas
construções semelhantes a essa feitas por outros povos? Quais? opiniões e
respeitando as dos
■ ■ Descreva a fonte B. Como o guerreiro asteca foi representado? Qual colegas.
era importância da guerra para os astecas?
■ ■ A fonte C retrata um trecho de estrada inca. Qual era a importância

da rede de estradas para o Império Inca?


■ ■ Descreva os indígenas retratados na fonte D. É possível afirmar que

o modo de vida desses povos passou por transformações após o


contato com os europeus? Por quê? Quais elementos tradicionais da
cultura indígena podem ser identificados nessa fonte?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto você lê este capítulo.

77
Os povos da América
Os povos que viviam na América antes da chegada dos europeus
apresentavam grande diversidade cultural.

Uma diversidade de povos


Povos indígenas
No século XV, a América era habitada por cerca de Quando Cristóvão Colombo desembarcou
100 milhões de indígenas, distribuídos por todo o con- no atual continente americano, pensou ter
tinente. Essa população era composta por centenas de chegado às Índias e, por isso, chamou as
grupos étnicos, que apresentavam grande diversidade pessoas que aqui viviam pelo nome de
cultural. Cada um desses grupos tinha sua própria língua, “índios”. Porém, esse termo não é o mais
adequado, sendo preferível usar o termo
costumes, tradi ções, religião e também sua própria for- “indígena”, que significa “nativo”.
ma de organização social, econômica e política.
John White - Mulher inuit com bebê. Séc. XVI. Coleção
particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

Baseado em Karl Bodmer - Mulher dakota. Séc. XIX. Coleção


particular. Foto: Historical Picture Archive/Corbis/Latinstock
Povos da América

E. Cavalcante
N

Esquimós O L

Atabascos
Esquimós
Algonquinos

Comanches
Apaches
Mulher e bebê Sioux Mulher e criança
esquimós. Pueblos Musgoguis sioux.
Seminolas
Herbert M. Herget - Nobre maia. Séc. XX. Coleção de Imagens
da National Geographic, Washington. Foto: National
Geographic/Glow Images

Alan King engraving/Alamy/Other Images


Trópico de Câncer

ASTECAS
Caraíbas
OCEANO
MAIAS ATLÂNTICO
Aruaques
Aruaques
Chibchas
Equador Caraíbas 0°
Caras

Quéchuas Tupis
OCEANO PACÍFICO INCAS
Jês
Aimarás Guaranis
Homem maia. Trópico de Capricórnio Homem guarani.
Tupis
Hércules Florence – Habitação dos apiacás sobre o Rio Arinos
Autor desconhecido – Mulher inca. Séc. XVI. Ilustração.
Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

(detalhe). 1828. Academia de Ciências da Rússia, Moscou

Araucanos

Patagões
0 1 160 km

60° O
Fonte: PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram.
São Paulo: Atual, 1994.

Mulher inca. Homem apiacá.

78
Algumas civilizações importantes da América

capítulo 5
Observe, na linha do tempo abaixo, o período de duração de algumas
civilizações americanas.

A América antes da chegada dos europeus


1200 a 1532
Incas
Os incas chegaram ao vale
300 a 1200 1200 a 1521 do Cuzco no século XIII e
Maias Astecas dominaram os povos que
Organizavam-se em Os astecas eram viviam na região. Construíram
cidades autônomas um povo guerreiro cidades e templos usando
unidas em torno que se estabeleceu principalmente pedras como
de um único centro no vale do México, matéria-prima. Formaram um
político. Os maias construindo grande império na região dos
eram excelentes a cidade de Andes, que se estendia por
construtores, Tenochtitlán, cerca de 3 000 quilômetros.
escultores, passando a dominar
ceramistas e vários povos que
astrônomos. viviam nessa região.

ano 1 500 1000 1500 2000

Civilizações andinas e mesoamericanas


A maior parte do território americano era habitado por povos nômades e seminômades.
Esses grupos se dedicavam à caça, à pesca e à coleta de alimentos. Também pratica-
vam a agricultura, mas apenas como complemento às outras atividades.
No entanto, os incas que habitavam a região andina (atuais Equador, Peru, Bolívia e
norte do Chile) e os maias e astecas que viviam na Mesoamérica (sul do México e parte
da América Central) desenvolveram elementos característicos de uma civilização.
Entre esses elementos estão a criação de um Estado com governo centralizado, respon-
sável pela coordenação das atividades produtivas, como a agricultura em grande escala;
um grupo especializado de sacerdotes responsáveis pelos cultos e pelos templos, além
de ocorrer uma divisão social do trabalho e diferenciação entre ricos e pobres.

Ruínas e centros
Prisma/SuperStock /Glow Images

cerimoniais de
Teotihuacan,
que era a
maior cidade
mesoamericana
na época da
chegada dos
europeus.
Teotihuacan
foi declarada
Patrimônio
Cultural da
Humanidade
pela Unesco
em 1987.

79
Os maias
Os maias desenvolveram uma sociedade bastante complexa.
Eles influenciaram muitos povos da Mesoamérica.

Os povos de Yucatán
Os maias habitavam a região da

Em Templo de Bonampak, México. Séc. VIII. Foto: Charles & Josette Lenars/Corbis/Latinstock
península de Yucatán e algumas áreas
próximas. A base da economia dessa
civilização era a agricultura, prin­c i­
palmente o cultivo do milho. Os maias
também plantavam feijão, tomate, ba­
tata, mandioca, algodão, entre outros
produtos.
Esse povo pré-colombiano atingiu
o auge de seu desenvolvimento entre
os séculos lV e X, quando chegou a
mais de dois milhões de habitantes
e cerca de 50 cidades-estado. Entre
as principais cidades maias destacam-
-se Chichén Itzá, Cobal, Copán, Tikal
e Palenque.
Esse mural maia,
pintado nas
As cidades-estado paredes do templo
Nas cidades-estado maias havia um núcleo chamado de centro cerimonial, de Bonampak,
representa uma
onde ficavam localizadas as principais construções. Era nesse lugar que cerimônia ritual em
viviam os governantes, os sacerdotes, os artesãos e os mercadores. homenagem aos
O restante da população vivia distante dessa área e se dedicava, princi­ deuses maias da
palmente, às atividades agrícolas. Essas pessoas costumavam frequentar terra e da
fertilidade.
o centro cerimonial para adquirir produtos e para participar de cerimônias No detalhe acima,
religiosas. Elas também iam a esse local quando eram convocadas pelos foram pintados
governantes para trabalhar na construção de obras públicas, como pirâ­ músicos que, com
mides, palácios, observatórios astronômicos, monumentos e também na seus instrumentos,
pavimentação de ruas. acompanhavam o
ritual.
Sergio Pitamitz/SuperStock /Glow Images

As pirâmides da Mesoamérica
Muitas pirâmides construídas pelos indígenas
americanos encontram-se espalhadas por toda a
Mesoamérica. Grande parte delas já foi identificada Cidade-estado
e restaurada, mas acredita-se que ainda existam cidade que tem
muitas outras a serem descobertas. seu próprio
governo, suas
De formas e tamanhos bastante variados, essas próprias leis.
constru­ções eram utilizadas como templos, onde
Pré-colombiano
se realizavam rituais religiosos.
nome usado
para se referir aos
povos que viviam
A pirâmide de Kukulkán, ao lado, localizada na na América antes
cidade maia de Chichén Itzá, no México, da chegada de
impressiona por sua beleza e grandiosidade. Cristóvão Colombo
a esse continente.

80
A cultura maia

capítulo 5
Os maias tinham uma cultura rica e variada, e desenvolveram muitos
conhecimentos que usamos até hoje.

A América antes da chegada dos europeus


A escrita
Os maias desenvolveram técnicas e conhecimentos altamente especiali­
zados, em áreas como a engenharia, a matemática, a astronomia, a escul­
tura, a cerâmica e a escrita.
A escrita maia era composta de símbolos chamados hieróglifos, que
representam ideias por meio de desenhos simbólicos. Os hieróglifos maias
eram gravados em placas de pedra ou pintados em objetos de cerâmica,
em paredes ou nos códices. Apesar de muito estudados, ainda hoje os
hieróglifos maias não foram totalmente decifrados.
Códice de Madri. Museu da América, Madri

Grande parte do que restou


da escrita maia está
registrada nos códices. Os
códices eram tipos de livros
elaborados por escribas
especializados, e abordavam
vários assuntos, como a
religião, a origem e a história
do povo maia, a geografia da
região e os números da
produção agrícola.

O sistema de numeração
Os maias desenvolveram um sistema de
Acervo da editora

numeração considerado um dos mais com­


pletos do mundo. A utilização do zero
nesse sistema é considerada de grande
importância. Alguns estudos demonstram Equinócio
que esse sistema de numeração era utili­ um dos dois
zado, principalmente, nas atividades rela­ momentos do ano
cionadas ao comércio e à administração. em que a noite e
o dia têm a
mesma duração.
No sistema numérico maia, três símbolos eram utilizados.
A concha representava o zero, um ponto significava uma Solstício um
unidade e o traço representava cinco unidades. Os símbolos dos dois
ao lado representam os números de zero a onze. momentos do ano
em que há maior
diferença entre a
O calendário duração do dia e
a da noite. No
Os maias também desenvolveram calendários bastante precisos. Isso foi solstício de
possível graças à cuidadosa observação dos astros realizada por eles. Um inverno ocorre a
desses calendários, o Haab , era composto de 18 meses de 20 dias, mais noite mais longa
cinco dias livres, totalizando 365 dias. Esse calendário era utilizado, princi­ do ano e, no de
palmente, para determinar eventos astronômicos, como os equinócios e verão, a noite
mais curta do ano.
os solstícios.

81
Os astecas
Os astecas eram grandes guerreiros e conseguiram em pouco tempo conquistar
vários povos da Mesoamérica.

Um povo guerreiro
Os astecas vieram do norte da Mesoamérica e fixaram-se na região cen-
tral do México. No ano de 1325, eles ocuparam uma ilha do lago Texcoco
e fundaram a cidade de Tenochtitlán. Eles eram guerreiros e conquistaram
outros povos que viviam na região, obrigando-os a pagar tributos em forma
de ouro, alimentos ou produtos, como tecidos, cacau e algodão. Dessa
forma, os astecas acumularam muitas riquezas, organizaram um poderoso
exército e continuaram a expandir seus domínios. Em menos de 200 anos,
os astecas já haviam formado um poderoso império.

A importância da religião

Códice Mendoza. Séc. XVI. Biblioteca Bodleian, Oxford


A religião era muito importante na vida da população
asteca. Assim como os outros povos indígenas da América,
eles eram politeístas. Porém, possuíam uma divindade
prin­c ipal: o deus do Sol, Huitzilopochtli, que também era
o deus da guerra. Para agradar a esse deus, os astecas
faziam sacrifícios humanos. Leia o texto a seguir sobre
esses sacrifícios rituais.

[...] Segundo a crença [asteca], no início do mundo, os deuses ti-


nham dado seu próprio sangue para que o Sol se movesse. Portanto,
exigiam sangue humano para manter o mundo em funcionamento.
Como o sangue é o princípio da vida, apenas o sangue poderia manter
o tempo andando. Sem os sacrifícios, o mundo terminaria. Assim, fa-
ziam guerra especialmente para capturar prisioneiros e ofertar seu
sangue nos templos.
Leandro Karnal. A conquista do México. São Paulo: FTD, 1996. p. 20. (Para conhecer melhor).

De acordo com uma profecia, Huitzilopochtli


Biblioteca Nacional Central, Florença

revelou aos astecas que eles deveriam se


fixar no local onde encontrassem uma
águia que, pousada sobre um cacto,
engolisse uma serpente. Essa profecia foi
representada em uma página do Códice
Mendoza, reproduzida acima.

Alguns dias antes da cerimônia de sacrifício, a


pessoa que seria sacrificada recebia um
tratamento diferenciado: era bem alimentado,
vestia-se com roupas especiais e recebia
homenagens. Geralmente, as pessoas que eram
sacrificadas sentiam-se honradas em poder
contribuir com a continuidade do funcionamento
do mundo e da vida na Terra. Essa ilustração,
presente em um códice asteca, representa um
sacrifício humano.

82
O poder militar dos astecas

Códice Mendoza. Séc. XVI. Biblioteca Bodleian, Oxford

capítulo 5
Um dos principais motivos que possibilitou a rápi­
da expansão dos domínios astecas foi o seu poder
militar. O exército asteca estava sempre pronto para
a guerra, tanto para manter o controle sobre os po­

A América antes da chegada dos europeus


vos dominados como para conquistar novas terras.
No entanto, antes de atacar um povo, eles tentavam
dominá-lo sem utilizar a violência.
Quando queriam dominar uma cidade, por exem­
plo, os astecas enviavam embaixadores ao local. Os
habitantes dessa cidade tinham, então, a possibili­
dade de escolher se iriam submeter-se ao domínio
asteca ou não. Caso eles decidissem aceitar as
ordens do chefe asteca, teriam de pagar tributos,
mas poderiam manter seu próprio líder. Caso con­
trário, os astecas atacavam a cidade e, se fossem
vitoriosos na guerra, obrigavam o povo conquistado
a pagar pesados tributos.

Página do Códice Mendoza, produzido no século XVI, que mostra alguns


dos produtos pagos como tributos aos astecas, como mantos, roupas
de guerreiros, escudos, milho, algodão, feijão e pimenta.

O comércio

Biblioteca Medicea Laurenziana, Florença


Em Tenochtitlán, havia um bairro comercial im­por­
tante e muito movimentado, chamado Tlatelolco.
Nesse bairro existia um grande mercado onde
eram comercializados produtos de várias regiões,
como pedras preciosas, plumas, sal, mel, conchas,
pérolas, animais, produtos agrícolas e arte­s anais.
Todos esses produtos eram levados ao mercado
pelos mercadores, chamados de pochtecas.
Para comprar as mercadorias, os pochtecas
percorriam longas distâncias e, por isso, tinham
um grande conhecimento da região.

Página de códice que representa os produtos


vendidos no mercado de Tlatelolco.

O sujeito na história Zanatzin

Zanatzin foi um pochteca que viveu no final do século XV, durante o governo do chefe as­
teca Ahuítzotl. Sob as ordens desse soberano, Zanatzin fazia viagens a terras distantes.
Nessas viagens, ele comandava outros comerciantes e também os carregadores que trans­
portavam as mercadorias. Zanatzin levava roupas, tapetes e outros produtos para serem
trocados por plumas, tinturas e pedras preciosas.
Além das atividades comerciais, ele desempenhava também o papel de espião, pois, ao
chegar a uma cidade, observava quais eram os principais produtos e a capacidade de defe­
sa do povo visitado. Depois, ele levava as informações para o chefe asteca, que o recom­
pensava com riqueza e prestígio. Assim, Zanatzin enriqueceu e passou a oferecer banquetes
aos seus companheiros pochtecas e a seus clientes da nobreza asteca.

83
Os incas
No final do século XV, os incas haviam formado um grande império na

Felipe Guamán Poma Ayala – Nova Crônica e


Bom Governo.1615. Biblioteca de ICI, Madri.
Foto:Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock
América do Sul, que contava com cerca de 12 milhões de pessoas.

Os conquistadores incas
A civilização inca constituiu um poderoso império na América. Eles se
estabeleceram no vale do Cuzco, em meados do século XIII, quando toda
a região já era habitada por diversos povos. Por meio de combates e de
alianças, os incas conquistaram esses povos e estabeleceram seu domínio
na região. A partir de então, os incas expandiram seus domínios, acabando
por formar um império com mais de 3 000 quilômetros de extensão ao longo
da cordilheira dos Andes e do litoral do oceano Pacífico. Os incas não
utilizavam a
O domínio inca escrita. Para
registrar
Ao dominar e agregar vários povos ao seu império, os incas procuravam informações, eles
manter relações amistosas com eles. Para isso, faziam acordos com os povos utilizavam um
instrumento
dominados e permitiam que eles mantivessem vários aspectos de sua cultura. chamado quipo,
Esses povos podiam continuar falando sua própria língua, desde que apren­ composto de
dessem o quéchua, a língua inca. Eles também podiam cultuar suas divindades dezenas de
locais, porém deviam incluir Inti, o deus Sol, em sua adoração. Além disso, cordões coloridos.
os incas preferiam conservar as estruturas sociais dos povos dominados, Utilizando nós, os
mantendo no poder os chefes locais que jurassem fidelidade a eles. incas criavam
códigos que
permitiam
A organização social controlar, por
exemplo, os
Os incas desenvolveram uma sociedade organizada em camadas, onde estoques de
cada pessoa exercia uma função específica. No topo estava o Inca, como alimentos e o
era chamado o soberano do império, que recebia homenagens e tributos pagamento de
dos povos conquistados. Havia pessoas que tinham vários privilégios, co­ tributos. A imagem
mo a isenção de tributos: eram eles os chefes militares, os juízes, os ad­ acima, de 1615,
representa um
ministradores e os contadores. inca utilizando o
A maioria das pessoas, no entanto, dependia apenas do seu trabalho, como quipo.
os marceneiros, os pedreiros e os agricultores. Nesse grupo, o trabalho era
feito por homens e mulheres. Nas épocas de plantação e de colheita, todos
trabalhavam no campo, porém, nos demais períodos do ano, os homens tra­
balhavam em grandes obras públicas e, se necessário, prestavam serviços
militares. As mulheres se ocupavam com a produção de cestos e do vestuário
da família, cuidavam das crianças e trabalhavam nas lavouras.

Enquanto isso... na Europa


Em meados do século XV, enquanto o Império Inca atingia
Esquadra de Pedro Álvares Cabral (detalhe). Séc. XVI.
Biblioteca da Academia de Ciências, Lisboa

seu apogeu, os turco-otomanos conquistaram a cidade de


Constantinopla, que era a capital do Império Bizantino. Ao do­
minar essa cidade em 1453, os turco-otomanos passaram a
controlar o comércio no Mediterrâneo, o que dificultou o aces­
so dos europeus aos mercados do Oriente. Esse obstáculo
comercial impulsionou navegadores europeus a procurar novos
caminhos para o Oriente, iniciando uma expansão marítima que
ficou conhecida como Grandes Navegações.
A caravela era uma embarcação resistente e rápida. Ela foi
fundamental para a expansão marítima dos europeus.

84
As grandes obras dos incas

capítulo 5
Os incas eram excelentes construtores. Além de cidades, eles cons­ Terraço agrícola
truíram forta­le­z as, templos, santuários e terraços agríco­l as. Muitas sistema de cultivo em
construções incas eram fei­tas com grandes blocos de rocha que eram degraus, desenvolvido
cortados com ferramentas de cobre. Esses blocos se encaixavam per­ por vários povos,

A América antes da chegada dos europeus


como incas, chineses
feitamente e não necessitavam de cimento ou qualquer outra substância e indianos, para
para uni-los. Atualmente, as ruínas de algumas construções edificadas possibilitar o cultivo
pelos incas ainda podem ser visitadas em cidades como Cuzco e Lima, agrícola nas encostas
das montanhas.
no Peru, e Quito, no Equador.
Corel Stock Photo

Corel Stock Photo

Terraço agrícola localizado no Peru. As ruínas de Machu


Picchu (acima), as mais
Os incas também construíram uma ampla rede de estradas que interliga­ bem conservadas do
va todas as regiões do império e facilitava o transporte de pessoas e de Peru, foram
mercadorias. Para facilitar a comunicação, as estradas tinham vários postos, descobertas somente
em 1911. Essa cidade
distribuídos em intervalos regulares, onde ficavam mensageiros, chamados
está localizada em
de chasquis . Quando um chasqui recebia uma mensagem a ser transmitida, uma região de difícil
ele partia correndo pela estrada até chegar ao próximo posto. Então, trans­ acesso, no alto de
mitia a mensagem a outro chasqui , que se encarregava de passá-la adiante, uma montanha da
e assim sucessivamente, até que a mensagem chegasse ao seu destino. cordilheira dos Andes.
Felipe Guamán Poma de Ayala – Nova Crônica e Bom Governo. 1615. Biblioteca de ICI, Madri

Jeremy Horner/Corbis/Latinstock

Fotografia recente que retrata um trecho de uma das estradas construídas pelos
incas. Nesse trecho, localizado no Peru, há uma pequena vila, habitada por
descendentes dos antigos incas.
Na imagem ao lado, um chasqui aparece tocando a concha para anunciar sua
aproximação. Ilustração feita em 1615, pelo inca Guamán Poma de Ayala.

85
Os primeiros habitantes do Brasil
Antes da chegada dos portugueses, o território onde hoje fica o Brasil já era
habitado por uma grande diversidade de povos indígenas.

A diversidade cultural dos povos indígenas Este território não


De acordo com vários estudos, no início do século XV, se chamava Brasil
havia cerca de três milhões de indígenas vivendo nessas O território onde atualmente
terras. vivemos não se chamava Brasil
antes da chegada dos portugueses.
Os indígenas estavam agrupados em cerca de 900 povos
Até por volta de 1500, cada povo
diferentes, como os tupinambás, os carijós, os caetés, os indígena tinha um nome próprio
xavantes, entre outros. Esses povos apresentavam diferen­ para se referir à região onde vivia.
ças entre si, e cada um deles tinha seu próprio modo de
O nome mais conhecido era o que
vida, sua língua, seus costumes e suas crenças. os tupiniquins usavam para se
Essas diferenças se manifestavam, por exemplo, na ma­ referir ao atual litoral brasileiro:
neira como organizavam suas aldeias. Observe, a seguir, Pindorama, que na língua tupi
como eram formadas, naquela época, as aldeias dos povos significa “Terra das Palmeiras”.
tupiniquins, ianomâmis e xavantes.

A aldeia dos tupiniquins era formada


por cinco ou seis grandes casas,
construídas em torno de um pátio
central. Nesse pátio eles costumavam
realizar reuniões e cerimônias. Em cada
uma das casas, moravam cerca de
50 pessoas. Cada família tinha seu
próprio espaço, onde era feito o fogo
para cozinhar e onde eram armadas as
redes para dormir. Muitas aldeias
tupiniquins eram cercadas com madeira
para protegê-las contra o ataque de
povos inimigos.
Ilustrações: Art Capri

A aldeia dos ianomâmis era formada


por uma única grande casa, que
abrigava todos os moradores. Dentro
dela, cada família tinha seu próprio
espaço para cozinhar e dormir. Essa
casa, onde viviam cerca de 70 pessoas,
era circular, com uma abertura no
centro para permitir a entrada da luz do
Sol e a saída da fumaça das fogueiras.
A aldeia-casa era construída com
madeira e folhas de palmeira.

86
Art Capri

capítulo 5
Essas ilustrações são representações
artísticas feitas com base em estudos
históricos.

A América antes da chegada dos europeus


A aldeia dos xavantes era formada por
várias casas dispostas em formato de
ferradura, com a abertura geralmente
voltada para o rio mais próximo. Suas
casas eram feitas de madeira e de folha
de palmeira e, cada uma, geralmente
abrigava três ou quatro famílias. No centro
da aldeia existia o warã, onde os homens
se reuniam para discutir assuntos de
interesse comuns a todos os membros
do grupo.

História em construção Caminho do Peabiru


O caminho do Peabiru é um sistema de estradas construído pelos indígenas há mais de
1200 anos. Essas estradas atravessavam o continente e ligavam desde o litoral sul do atual
Brasil ao Peru, totalizando cerca de três mil quilômetros de extensão.
Apesar de haver relatos de viajantes e religiosos europeus sobre o Peabiru desde o
século XVI, só recentemente pesquisas têm sido feitas para se tentar descobrir quem cons­
truiu esse caminho e qual a sua finalidade.
Algumas hipóteses indicam que indígenas que habitavam o atual território brasileiro teriam
aberto grande parte desse sistema de caminhos, por razões ainda desconhecidas. Além
disso, alguns pesquisadores atribuem a autoria de trechos do caminho — situados mais a
oeste do continente — aos incas, que teriam por objetivo realizar trocas comerciais ou ex­
pandir seu império.
Alguns estudos reforçam a hipótese de que os caminhos brasileiros foram feitos pelos
indígenas guaranis e que os caminhos peruanos foram construí dos pelos incas, inclusive com
a utilização de diferentes técnicas.
Estudiosos realizaram uma análise comparativa entre diferentes trechos do caminho e iden­
tificaram que aqueles que se encontram no atual território brasileiro foram construídos com
técnicas mais simples. Já nos
caminhos existentes no Peru Caminho do Peabiru

E. Cavalcante
foram utilizadas técnicas e AM
O
N

sistemas construtivos mais AC


TO
S

complexos, incluindo pontes, RO

pavimentação e canaletas pa­ PERU


Cuzco
MT
BA

ra escoamento da água.
15° S
Atualmente muitos estudos GO
DF

ainda estão sendo realizados BOLÍVIA


Porto Suárez
com o objetivo de compreen­ MG

der melhor as técnicas e os Potosi


MS
OCEANO
motivos que levaram os povos PACÍFICO Porto SP
Casado
indígenas a construir esse PARAGUAI Peabiru São Paulo RJ

amplo sistema de estradas. Capricórnio Guairá PR São Vicente


Trópico de Pitanga
Assunção Curitiba
OCEANO
Peabiru Limites atuais dos estados brasileiros ARGENTINA ATLÂNTICO
SC
Ramais Limites atuais dos países
65° O RS 0 350 km

Fonte: LANGER, Johnni. Caminhos ancestrais. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 2, n. 22, ago. 2005.

87
Explorando o tema
Os povos indígenas no Brasil atual
Depois da chegada dos europeus à América, a partir do final do século XV, o modo de vida
tradicional das sociedades indígenas passou por muitas transformações.
A invasão das terras indígenas e a desestruturação de suas sociedades foram algumas das
consequências sofridas pelos nativos no contato com a sociedade não indígena.

A casa dos homens,


localizada no centro
da aldeia, é o local
onde os homens se
reúnem para discutir
assuntos de interesse
de todos os membros
do grupo. É também
A praça, entre a casa dos homens e
onde são realizados
as demais moradias, é o espaço de
rituais religiosos e
convivência onde as crianças
cerimônias
brincam, os idosos contam histórias
importantes.
e homens e mulheres trabalham,
conversam ou descansam.

As casas são dispostas em círculo,


ao redor da praça. São feitas com
madeira e palha. Cada uma dessas
moradias abriga várias famílias
e, geralmente, é habitada por cerca
de 40 pessoas.

A arte caiapó se
expressa de várias
maneiras, por
exemplo, nos
utensílios como
vasos de cerâmica,
cestas, redes
e esteiras,
que são
ornamentados com
pinturas e
plumagens.

88
capítulo 5
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas ao longo dos últimos 500 anos, muitos povos
indígenas conseguiram preservar até hoje vários costumes de seus antepassados. Entre esses

A América antes da chegada dos europeus


povos estão os ianomâmis, os xavantes, os bororos e os caiapós.
A ilustração a seguir representa alguns aspectos do modo de vida dos caiapós, povo indí­
gena que vive na região localizada entre os estados do Pará e Mato Grosso.

Os caiapós
constroem sua
aldeia próxima a
um rio, no qual
tomam banho,
pescam e
retiram água
para o uso diário.

Alguns costumes
da sociedade não
indígena foram
incorporados
pelos caiapós.
Atualmente, por
exemplo, eles
jogam futebol e
assistem
à televisão.

O pajé, além de líder O chefe é respeitado por todos


espiritual, detém muitos porque baseia suas decisões
conhecimentos sobre na vontade da maioria dos
ervas medicinais e é membros da aldeia. Se um
responsável pelo chefe agir de modo autoritário
tratamento de diversas pode até ser expulso do grupo.
doenças.

A pintura corporal, além


de indicar a posição social,
serve para expressar
sentimentos pessoais,
como alegria ou tristeza.
Art Capri

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.

89
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais povos habitavam o continente ame- 6 Responda às seguintes questões sobre os
ricano antes da chegada dos europeus? astecas.
Como era composta essa população? a ) Quando chegaram ao vale do Mé­x ico?
2 Explique por que é preferível usar o termo b ) Qual o nome de sua principal cidade?
“indígena” e não o termo “índio” para
fazer referência aos povos que viviam na c ) Explique o que era o sacrifício ritual.
América antes da chegada dos europeus. d ) Explique como era feita a conquista de
3 O que significa o termo Mesoamérica? outros povos pelos astecas.

4 Sobre os maias, responda. e ) Quais eram os principais produtos que


os povos conquistados usavam como
a ) Qual região habitavam? pagamento de tributos aos astecas?
b ) Quais os produtos agrícolas produzidos f ) Cite alguns produtos comercializados
e consumidos por eles? no mercado de Tlatelolco.
c ) Como era organizada sua sociedade? g ) Quem eram os pochtecas?
d ) Quais eram suas principais cidades? 7 Em que região os incas se estabeleceram?
e ) O que era o centro cerimonial?
8 Quais eram as principais obras dos incas?
f ) Qual era a função das pirâmides para os Como eram feitas essas construções?
maias?
9 O que eram os terraços agrícolas?
5 Escreva um texto sobre a cultura maia uti­
lizando as palavras a seguir. 10 Explique com suas palavras como fun­cio­
nava o sistema de transmissão de men­sa­
conhecimentos numeração gens no Império Inca.

hieróglifos códice pirâmides 11 O que é o caminho do Peabiru? De acordo


com os estudiosos, quais povos construí­
calendário agricultura
ram esse caminho?

Expandindo o conteúdo
12 Leia o texto a seguir e conheça um pouco mais sobre a formação cultural dos maias, incas
e astecas.

Para entender quem foram e qual a importância dos povos incas, maias e astecas, devemos fazer primei-
ro uma pergunta: o que é a cultura de um povo? De uma forma simples, podemos dizer que cultura é o
conjunto de crenças, tradições, conhecimentos, costumes e comportamentos dos povos. No caso dos incas,
maias e astecas, os pesquisadores acreditam que suas culturas foram construídas a partir das crenças, tradi-
ções, conhecimentos, costumes e comportamentos transmitidos por outros povos que viveram antes ou ao
mesmo tempo que eles. Assim, muitas das características que chamam a atenção nessas três civilizações —
como a construção de grandes cidades, templos majestosos, técnicas de irrigar o solo, calendários, escritas,
estilos artísticos, deuses e rituais religiosos — já faziam parte da vida de grupos ainda mais antigos.
Maria Regina Celestino de Almeida. Incas, maias e astecas: três tesouros na América. Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro: SBPC, ano 14, n. 114, jun. 2001. p. 13.

a ) De acordo com o texto, o que é a cultura de um povo?


b ) Como se constituíram as culturas inca, maia e asteca?
c ) Quais são as características comuns entre esses povos?

90
capítulo 5
13 Na sociedade asteca, havia dois tipos de escolas: os calmecac e os telpochcalli. Leia o texto
a seguir, e veja qual era a diferença entre elas.

Para chegar a ser guerreiro ou sacerdote, os membros da classe alta mexicana tinham escolas especiais,
os calmecac. Os astecas não tinham uma escrita como a nossa: seus textos constituíam-se de complicados

A América antes da chegada dos europeus


desenhos, de difícil interpretação até hoje. Lidar com esses textos fazia parte do currículo das escolas, onde
a disciplina era extremamente rigorosa, com punições severas para qualquer pequena falta. Mesmo perten-
cendo à classe alta, os estudantes dos calmecac trabalhavam duro desde antes do nascer do sol. Também
eram obrigados a longos jejuns. [...]
As camadas mais baixas da população estudavam em escolas menos rigorosas, chamadas telpochcalli.
Porém, notável na sociedade mexicana, [...] era a obrigatoriedade do estudo para todos. Ao contrário da
Europa do mesmo período, a maioria da população no vale do México passava pela escola. Esta extensão
da rede escolar não atingiu [no México], até hoje, o nível que tinha no México pré-hispânico.
Leandro Karnal. A conquista do México. São Paulo: FTD, 1996. p. 14-6. (Para conhecer melhor).

a ) Quais pessoas estudavam nos calmecac? Explique como era o ensino nessas escolas.
b ) O que eram os telpochcalli ?
c ) Explique com suas palavras a seguinte frase: “A extensão da rede escolar não atingiu no
México, até hoje, o nível que tinha no México pré-hispânico”.

14 A pintura a seguir é um detalhe do mural A grande cidade de Tenochtitlán, produzido pelo ar-
tista mexicano Diego Rivera, em 1945. Nesse detalhe, o artista representou o mercado de
Tlatelolco, o principal centro comercial de Tenochtitlán. Observe-o.

Diego Rivera – A Grande Cidade de Tenochtitlán (mural). 1945. Palácio Nacional, Cidade do México
2 1

3 5

a ) Identifique, no quadro abaixo, as descrições de alguns dos personagens representados


no mural. Em seguida, reescreva essas descrições no caderno, associando cada uma
delas ao número correspondente no mural. Veja o exemplo: 1 – chefe asteca.

■■ vendedor de ervas medicinais ■■ carregadores de mercadorias


■■ chefe asteca ■■ vendedora de milho ■■ vendedor de legumes

b ) Agora, produza um texto descrevendo o mural. Nesse texto, inclua: o nome do autor,
a data e o título da obra. Além disso, descreva quais pessoas foram representadas

91
(homens, mulheres, crianças); o que essas pessoas estão fazendo, que roupas estão
utilizando; como o artista representou a paisagem, as construções etc. Por fim, apre-
sente no texto sua opinião sobre o mural, as impressões que ele lhe causou e que
aspecto mais chamou sua atenção.

15 Imagine que você fosse um adolescente caiapó. Produza um texto sobre como seriam suas
atividades cotidianas, quais seriam suas principais dificuldades, como você se vestiria,
quais alimentos consumiria, como seria sua casa, seu relacionamento com os demais
membros da aldeia etc.

Passado e presente
16 Muitas características culturais dos indígenas americanos estão, ainda hoje, presentes nas
culturas dos povos latino-americanos. Leia o texto a seguir e, depois, observe a bandeira
do México.

Acervo da editora
Segundo a lenda, os astecas saíram em busca de
um lugar que os deuses lhes haviam prometido. Deve-
riam procurar uma águia pousada num cacto, com
uma serpente no bico. Encontraram a águia numa pe-
dra, numa ilha do lago Texcoco, e ali se estabeleceram.
Ana Maria Machado. Explorando a América Latina.
São Paulo: Ática, 1997. p. 19.

Atual bandeira do México.

a ) Quais elementos da lenda asteca podem ser identificados na bandeira do México?


b ) Em sua opinião, por que os mexicanos adotaram em sua bandeira um símbolo as­t eca?

Trabalho em grupo
17 Desde a chegada dos europeus ao continente americano, os povos indígenas do Brasil foram
sendo expulsos da maior parte das terras que ocupavam. Nos dias de hoje, a maioria des-
ses povos vive nas chamadas Terras Indígenas, que são demarcadas pelo governo federal
para garantir a sobrevivência cultural desses povos. Para conhecer um pouco mais sobre
a história e a cultura dos indígenas no Brasil, realize com os colegas uma pesquisa
sobre um desses povos na atualidade. Veja o roteiro.

a ) Escolham um povo indígena que vive no Brasil atualmente e, depois, selecionem as fon-
tes de informação que o grupo vai utilizar, por exemplo, livros, revistas, jornais, sites da
internet.
b ) Procurem descobrir:
■■ onde viviam os ancestrais desse povo ■■ como é o relacionamento desse povo
e onde eles vivem atualmente; com a sociedade não indígena;
■■ quais os costumes, a língua e as tra- ■■ quais são os maiores problemas en-
dições desse povo; frentados por esse povo atualmente.
■■ como é o cotidiano desse povo;
■■ quais as influências desse povo na
cultura brasileira de forma geral;
c ) Façam um cartaz com as informações pesquisadas, inserindo textos, imagens, tabelas etc.
Por fim, apresentem os resultados da pesquisa para o restante da turma.

92
capítulo 5
Discutindo a história
18 Um dos costumes astecas que mais chocou os europeus foi a prática de sacrifícios humanos.
No entanto, essa prática tinha um significado muito importante para os astecas. Leia o

A América antes da chegada dos europeus


texto a seguir.

Para tentar entender os sacrifícios humanos para os povos antigos, é preciso


resgatar o significado da palavra: em latim, sacrificare quer dizer tornar sagrado.
Como parte dos registros dos povos mesoamericanos foi destruída durante a
colonização espanhola, essa visão religiosa foi substituída pelos relatos dos mis-
sionários e conquistadores, que viam nos sacrifícios humanos a comprovação de
que os nativos eram realmente bárbaros.
Para os astecas, a prática de imolar humanos era parte integrante e importan-
te de seus rituais. Para eles, era uma forma de agradar Huitzilopochtli, o deus da
guerra e do Sol, que apreciava receber oferendas de sangue humano para que o
Sol continuasse a nascer a cada manhã. Todos os estratos sociais acreditavam que
a ausência da devoção causaria a extinção do astro-rei. Sem seu calor, simplesmente
não haveria vida no planeta.
Para satisfazer Huitzilopochtli, os sacrificados — em geral prisioneiros de
guerra — eram colocados sobre uma pedra e seus peitos abertos para que o co-
ração fosse retirado. O ponto mais alto da celebração consistia na elevação do
órgão pulsante em direção ao Sol, quando, na concepção dos sacerdotes, a ener-
gia cósmica se unia à da oferenda, reforçando a fertilidade e a vitalidade do povo.
Fabiana Zanni (Coord.). A vida como oferenda. Impérios Pré-colombianos.
São Paulo: Abril, nov. 2004. v. 2. p. 71. (Grandes Impérios).

a ) O que significa sacrificare em latim?


b ) Segundo o texto, o que aconteceu com parte dos registros mesoamericanos?
c) Quem era Huitzilopochtli?
d ) Para os astecas, qual era o significado dos sacrifícios humanos?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ Na época da chegada dos europeus, a América era habitada por cerca de 100 milhões
de indígenas.
■■ Cada um dos povos indígenas que vivia na América tinha sua própria língua, costumes,
tradições, enfim, sua própria cultura.
■■ Os maias, os astecas e os incas foram povos americanos que formaram grandes civilizações.
■■ Atualmente, o Brasil é habitado por diversos povos indígenas que mantêm muitos dos
aspectos do modo de vida de seus antepassados.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi­
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

93
6
Reinos e impérios
capítulo

africanos
Veja nas Orientações
Autor desconhecido. Séc. XVI. Coleção particular. Foto: Peter Horree/Alamy/Other Images

para o professor
alguns comentários
e explicações sobre
os recursos
apresentados neste
capítulo.

A Relevo produzido no
século XVI em placa de
metal que representa um
obá, rei africano que
detinha autoridade
religiosa e política nos
reinos iorubás. Ele está
rodeado por seus
guerreiros e servos e, em
sua mão direita, segura
uma espada cerimonial.
StockFolio/Alamy/Other Images

B Fotografia atual que


mostra uma caravana de
mercadores cruzando o
Saara, de modo
semelhante ao que
faziam no passado. As
caravanas propiciavam
um rico intercâmbio
cultural e comercial entre
os diversos povos
africanos.

94
Yoshio Tomii/SuperStock/Glow Images
C Mesquita e universidade de Sankore construída entre os séculos XIV e XV, em Tombuctu, cidade
da atual República do Mali. Essa cidade fez parte do império Mali e de Songai, e foi fundada no
século XI, na confluência das rotas comerciais entre o Saara e a África Ocidental. Fotografia tirada
na atualidade.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
o conhecimento
Antes da chegada dos europeus na África, vários povos desse conti­ prévio dos alunos e
nente estavam organizados em sociedades complexas, que formavam estimular seu
interesse pelos
desde pequenos reinos até grandes impérios. Neste capítulo, você vai assuntos que serão
estudar algumas dessas importantes sociedades. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os mediação do diálogo
entre os alunos de
colegas sobre as questões a seguir. maneira que todos
■ ■ Como o obá foi representado na fonte A? Quais elementos indicam
participem
expressando suas
seu poder e autoridade? opiniões e
respeitando as dos
■ ■ A fonte B retrata uma caravana de mercadores cruzando o deserto
colegas.
do Saara. Por que as atividades comerciais favoreciam o intercâmbio
cultural entre os povos africanos? É possível estabelecer relações
entre as atividades comerciais e a difusão do islamismo no continente
africano?
■ ■ Descreva a fonte C. Quais elementos indicam a presença do islamis­

mo nesse local?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

95
O continente africano
A África abrigou, desde a Antiguidade, uma grande diversidade de povos, cada um
com sua língua, costumes e tradições.

Os povos africanos
Entre os séculos VI e XV, diversos povos habitaram o continente africano.
Cada um deles possuía sua própria língua, tradições e religiosidades. Esses
povos também apresentavam diversidade em relação à forma de organiza­
ção social e política. Havia diversos grupos nômades, muitas comunidades
que viviam em pequenas aldeias e também povos que estavam organizados
em grandes reinos e impérios.
Observe o mapa a seguir, que representa a localização de alguns dos
mais importantes reinos e impérios africanos desse período.

Reinos e impérios africanos (500-1600)

E. Cavalcante
EUROPA
N

Fez Mar Mediterrâneo O L

S
ÁSIA
ISLÂMICOS Cairo

Trópico de
Câncer
Ma
rV

MACÚRIA
er
me

GANA - séc. X
lho

Dongola
Tombuctu
Koumbi Gaô Soba
Saleh Jené CANEM
ALÓDIA
Ri

Lalibela
o

HAUÇÁS

ge

ETIÓPIA
r

IORUBÁS ue
Ifé Ben
Rio
Rio Nilo

Benin

Rio Congo
Equador

OCEANO
Banza Congo CONGO ÍNDICO

OCEANO SUAÍLI
ATLÂNTICO

ZIMBÁBUE
Grande
Zimbábue
Trópico de Capricórnio

MALI (séc. XIII)


SONGAI (séc. XV)
0 556 km
20° L

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

96
Uma sucessão de reinos e impérios

capítulo 6
Observe, na linha do tempo abaixo, o período de predominância de alguns
reinos e impérios africanos.

Séculos XV e XVI

Reinos e impérios africanos


Século XIV ao XVIII Império Songai
Reino do Congo Os songais
Entre os séculos XIV e conquistaram o
XVIII, o Congo foi um Império Mali e
importante reino da formaram um poderoso
África Centro-Ocidental. império na região.
Século VI ao XIII
Reino de Gana Século XIII ao XV
O Reino de Gana Império Mali
dominou os povos que O Império Mali conquistou o
viviam na região próxima Reino de Gana no século XIII
aos rios Senegal e Níger. e passou a dominar a região.

500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

O Saara
O comércio foi uma importante atividade econômica para vários povos africanos. A
grande dimensão territorial e as condições climáticas severas do deserto do Saara não
impediram a circulação de pessoas e mercadorias.
A utilização do camelo foi fundamental para que as pessoas pudessem circular pelo
Saara. Esse animal, introduzido na região pelos árabes, por volta do século II, é resis­
tente ao rigoroso clima do deserto e tem a capacidade de passar vários dias sem se
alimentar e sem beber água.
As rotas comerciais que atravessavam o Saara, chamadas de rotas transaarianas,
permitiram a comunicação e a troca de mercadorias entre os habitantes da África
Mediterrânea, os povos do deserto e os grupos que viviam nas regiões de savanas e de
florestas tropicais ao sul do Saara. Entre as mercadorias trocadas estavam o sal, ouro,
tecidos, gêneros alimentícios e escravos.

Rotas transaarianas
E. Cavalcante

EUROPA N
Ceuta Túnis
OCEANO Fez Mar Mediterrâneo
O L

ATLÂNTICO Trípoli S
Sijilmessa
Agmate Siuá Cairo
Gadamés

Trópico de Tagaza Dakhla


Câncer
Azogui Gate Kharga
Arguim
Tadmekka
Audagoste
Tombuctu Agadés
Sila Gaô
Koumbi Azelik 20° N
Saleh Kano Lago Chade
Rio Nilo
Ri
o

Fonte: SILVA,
ge

Alberto da Costa e.
r

A enxada e a
lança. Rio de
Rotas transaarianas 0 540 km Janeiro: Nova
20° L Fronteira, 2006.

97
O Reino de Gana Escavações em
Koumbi Saleh
Para o soberano de Gana, ter mais súditos era mais importante Em 1915,
começaram
que possuir terras. a ser realizadas
escavações
arqueológicas na
A importância dos súditos antiga cidade de
Koumbi Saleh.
O Reino de Gana foi fundado no século VI por povos do deserto. Ficava Desde então,
localizado entre o deserto do Saara e os rios Senegal e Níger. As principais essas escavações
cidades de Gana eram Koumbi Saleh e Tegdaoust. têm revelado
importantes
Nesse reino, o soberano era chamado de gana . Seus súditos lhe deviam informações
tributos e eram obrigados a prestar serviços militares em tempos de guerra. sobre como
Uma particularidade do Reino de Gana era que, para seus soberanos, era viviam as pessoas
mais importante ter muitos súditos do que grandes extensões de terra. Leia da cidade. Entre
os vestígios
o texto. escavados, estão
centros religiosos,
[...] Sua soberania exercia-se sobre os homens e não so- moradias e vários
objetos de
bre a terra. O monarca não estava interessado em ampliar cerâmica, metal,
seu poder pela adição de novos territórios, mas em subme- vidro e pedra.
ter números crescentes de sobados, cidades, aldeias e grupos
humanos, que lhe pagassem tributo e lhe pudessem fornecer Sobado
soldados para a guerra, servidores para a corte, lavradores Território que
para os campos reais. [...] ficava sob a
autoridade de um
Alberto da Costa e Silva. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed.
líder político
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 277.
chamado de soba.

Enquanto isso... na Índia

Na época da fundação do Reino de Gana, no século VI, os guptas


lutavam para manter o poder na Índia. O período de predomínio
gupta ficou conhecido como a “idade de ouro” da história indiana.
Nessa época, os indianos se destacaram em diferentes áreas,
como na escultura, arquitetura, literatura, astronomia e matemática.
Os astrônomos indianos descobriram, por exemplo, que a Terra
é redonda e que gira em torno de seu próprio eixo. Os matemáticos
indianos, por sua vez, deram uma contribuição que nós utilizamos
até os dias de hoje. Leia o texto.

[...] A época dos guptas trouxe uma contribuição [...] valiosa aos matemáticos:
os próprios números, tais como os conhecemos. De fato, [...] a numeração “ára-
be”, com seus nove algarismos e seu zero, não é árabe; foi criada pelos matemáticos
Séc. VI. Museu Nacional da Índia, Nova Delhi.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

indianos da época gupta. Os árabes — que chamavam a matemática de “ciência


indiana” — não fizeram mais do que adotar a notação dos números e os sistemas
decimais, antes de os transmitir à Europa [...].
Dale M. Brown (Ed.). Índia Antiga. Trad. Carlos Cordeiro de Mello.
Rio de Janeiro: Abril Coleções/Time Life, 1999. p. 136. (Civilizações Perdidas).

Durante o período gupta, os artistas indianos aprimoraram suas técnicas e realizaram


elaboradas esculturas como essa, que representa Buda, datada do século VI.

98
O islamismo na África

capítulo 6
A religião islâmica foi difundida em diferentes regiões do continente africano,
conquistando muitos seguidores.

Reinos e impérios africanos


A difusão do islamismo
A religião islâmica passou a fazer parte do cotidiano de vários povos afri­
canos a partir do século VII. A princípio, o islamismo foi difundido no Norte
da África, mas logo conquistou adeptos em outras regiões do continente.
A difusão do islamismo na África aconteceu principalmente por meio do
comércio. Comerciantes muçulmanos levavam, além das mercadorias, suas
crenças e ideias.
Os ulemás também foram importantes agentes na difusão do islamismo Ulemá estudioso
pelo continente africano. Profundos conhecedores dessa religião, eles pe­ e professor nas
regrinavam nas mais distantes regiões ensinando os princípios islâmicos escolas islâmicas.
por meio da leitura do Alcorão .
Barry Iverson//Time & Life Pictures/Getty Images

O Alcorão
O livro sagrado
do islamismo é o
Alcorão. Além
dos princípios
religiosos, esse
livro estabelece
normas de
conduta, desde
como se vestir
até como se
comportar em
batalhas.

James Marshall/
Corbis/Latinstock
Atualmente, em países da África, como Argélia, Somália, Sudão e Egito, existem muitos seguidores
do islamismo. Na fotografia acima, tirada em 2000, vemos meninos sudaneses estudando o Alcorão
na escola.

A escravidão nas sociedades islâmicas


A escravidão estava presente em várias sociedades africanas islamizadas.
Apesar de sua importância, no entanto, o comércio de escravos não era a
principal atividade econômica dessas sociedades. De acordo com os cos­
tumes islâmicos, só podiam ser escravizadas aquelas pessoas que não
aceitavam o islamismo como sua religião.
Os escravos desempenhavam diferentes funções. Muitos deles prestavam
serviços administrativos e militares, outros realizavam serviços domésticos.
Além disso, havia aqueles que trabalhavam nas minas de sal, na agricultura
e na produção artesanal.

99
O Império Mali
Diferentes povos habitavam o Império Mali. As principais cidades desse império
eram Jené, Gaô e Tombuctu.

Uma mistura de povos


No século XIII, o Reino de Gana foi conquistado por povos vizinhos, que
fundaram o Império Mali. O soberano do Mali, denominado mansa , era o
comandante militar, político e religioso do império, e recebia tributos de seus
súditos.
Diferentes povos habitavam o Mali, como mostra o texto a seguir.

A população do Mali era composta de várias etnias, sendo os mandingas a


principal delas. No século XIV o império era composto de povos da região do
rio Senegal, como jalofos, sereres, tucolores e fulas; das cabeceiras do Níger,
como bambaras e soninquês [...]. Adobe tijolo de
construção feito
Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 35. com a mistura de
barro argiloso e
palha.
A importância do comércio Noz-de-cola
O comércio era uma das atividades mais importantes nas cidades do planta de gosto
Mali. Entre os produtos comercializados, estavam sal, ouro, cobre, marfim, amargo que
possui proprieda­
tecidos e noz-de-cola. Nas cidades do Mali também havia o comércio de des estimulantes
pessoas, que eram vendidas ou compradas para trabalhar como escravas. e revigorantes.
Apesar da importância do comércio nas principais cidades, como Jené, No Brasil, é
conhecida como
Gaô e Tombuctu, muitas pessoas exerciam outros tipos de atividades. obi e orobó.
Grande parte da população do império vivia em pequenos vilarejos e
Unesco
dependia da pesca, da agricultura e da criação de animais para a sua
Organização das
sobrevivência. Nações Unidas
Em razão da influência do islamismo na região, em algumas cidades, para a Educação,
a Ciência e a
como Jené e Tombuctu, foram construídas mesquitas e, também, madrasas ,
Cultura.
escolas destinadas aos estudos religiosos.
Gavin Hellier/JAI/Corbis/Latinstock

A mesquita de Jené é
considerada a maior
construção em adobe
da atualidade e, em
1988, recebeu da
Unesco o título de
Patrimônio da
Humanidade.

100
História em construção Os griôs e a história de Mali

capítulo 6
Em Mali, assim como em outras sociedades da África, a

Bruno Morandi/Robert Harding World Imagery/Getty Images


transmissão da história social, política e religiosa geralmente
era feita por meio da tradição oral. Nessas sociedades, ha­

Reinos e impérios africanos


via os griôs, homens que percorriam longas distâncias nar­
rando os acontecimentos passados. Os griôs narravam os
fatos em forma de poesia, enquanto tocavam instrumentos
musicais. Em suas viagens, eles aproveitavam para conversar
com as pessoas e conhecer novas histórias, a fim de incor­
porá-las em suas narrativas.
Os griôs transmitiram seus conhecimentos de geração em
geração, possibilitando que vários aspectos da história do
Império Mali se tornassem conhecidos atualmente. Esse é o
caso da história de Sundjata Keita, considerado o fundador
do Império Mali.
O texto a seguir conta porque Sundjata foi tão importante
para a história do Mali. Para produzir esse texto, o historiador
senegalês Djibril Tamsir Niane (1932-) baseou-se nas histórias
contadas pelos griôs sobre o Império Mali. Leia-o. Essa fotografia retrata dois griôs
que vivem atualmente na região de
Há reis que são poderosos graças à sua força militar: todo o mundo Sofara, na República do Mali.
treme diante deles. Contudo, quando eles morrem, só se fala mal de- Repare no instrumento musical que
eles utilizam para acompanhar a
les. Há outros, que não fazem nem bem, nem mal: quando morrem, narrativa de suas histórias. Esse
são simplesmente esquecidos. Outros são temidos porque têm força, instrumento é chamado de kora.
mas sabem utilizá-la e são amados porque amam a justiça. Sundjata
pertenceu a este último grupo. O povo o temia, mas o amava também. Mandinga o mesmo que
Ele foi o pai do Mandinga; ele deu a paz ao mundo. Depois dele, o Império Mali.

mundo não conheceu maior conquistador [...]. Tradição oral transmissão,


realizada por meio da fala, da
Djibril Tamsir Niane. Sundjata, ou, A epopeia Mandinga. Trad. Oswaldo Biato. São Paulo: Ática, 1982. p. 120. história e da cultura de um povo
Extraído do site: <www.casadasafricas.org.br>. Acesso em: 28 nov. 2011.
ou de um grupo social.

O sujeito na história Ibn Battuta

Ibn Battuta nasceu em Tânger, no atual Marrocos, por volta

Dumouza. Séc. XIX. Coleção particular. Foto: Roger-Viollet/TopFoto/Keystone


de 1304. Quando tinha aproximadamente 20 anos de idade,
Battuta deu início a uma série de viagens pelo Oriente, passan­
do muitos anos de sua vida viajando pela África e pela Ásia: foi
a Meca, na península Arábica; a Alexandria, no Egito; a Pequim,
na China; a Constantinopla, no Império Bizantino; entre tantas
outras localidades.
Por volta de 1350, Ibn Battuta esteve nos domínios do Impé­
rio Mali e deixou alguns relatos sobre essa visita. Ele descreveu
geograficamente a região e fez comentários sobre a corte do
mansa , o imperador.
Os relatos de Ibn Battuta ainda hoje são considerados im­
portantes fontes históricas.

Essa imagem, produzida no século XIX, representa Ibn Battuta


acompanhado de um guia africano, em uma de suas viagens.

101
O Império Songai
Quando conquistaram o Império Mali, os songais tomaram Tombuctu
e fizeram de Gaô a capital de seu império.

Os songais
Assim como aconteceu com o Reino de Gana, o Império Mali também foi
conquistado por um povo vizinho. Conhecido como songai, esse povo fun­
dou um poderoso império na região do rio Níger: o Império Songai.
Em Tombuctu, os songais conseguiram melhorar o abastecimento de água
da cidade canalizando o rio Níger e perfurando poços. Essas melhorias
também possibilitaram que os agricultores tivessem uma produção maior
e mais estável. Porém, foi na área da educação que os songais mais se
destacaram.
O texto a seguir trata das escolas e universidades criadas pelos songais
em Tombuctu. Leia-o.

O ponto forte dos songais [...] era a cultura, embora eles tenham se destacado tam-
bém em outros campos [...].
Havia constante intercâmbio de professores entre as universidades de Tombuctu,
Córdoba (Espanha), Fez (Marrocos), Cairo (Egito), Bagdá (Pérsia). No século XVI, a
cidade de Tombuctu tinha 180 escolas islâmicas, incluindo o ensino primário, secun-
dário e superior. Berbéria região
O ensino em suas faculdades era semelhante ao das demais universidades euro- litorânea
localizada ao
peias e árabes e incluía Teologia, Tradição, Direito, Gramática, Retórica, Lógica, Norte da África,
Matemática, Geografia, Astrologia, História, entre outras especialidades. Era um às margens
ambiente acadêmico potente, que alimentava um próspero mercado onde, segun- do mar
do Leão, o africano, eram vendidos “muitos livros manuscritos que vinham da Mediterrâneo.
Berbéria”. [...] Os livros não eram apenas importados, mas ali também se copiavam Atualmente, é
onde se localizam
muitos deles e foi esta tradição local de reprodução de obras que permitiu aos eru-
o Marrocos, a
ditos da cidade ter suas próprias bibliotecas, algumas das quais eram sem dúvida Argélia, a Tunísia
muito importantes [...]. e a Líbia.
Isso fez de Tombuctu a cidade dos livros e das bibliotecas. Dessa forma, [...] Leão, o africano
Tombuctu se converteu, entre os séculos XIV e XVI, em uma rica metrópole, “tal- foi como ficou
vez a mais próspera do Sahel”, e também em capital do saber e da cultura. conhecido
Hassan al-Wazzan,
José Carlos Ruy. A Alexandria negra. Retrato do Brasil - Reportagem. depois que
Extraído do site: <www.oficinainforma.com.br>. Acesso em: 9 dez. 2011.
escreveu um livro
relatando as suas
Travel Ink/Gallo Images/Getty Images

viagens pela
África. Hassan
nasceu em
Granada, na
Espanha, e viajou
A produção de
pela África na
manuscritos é uma época do Império
atividade comum Songai.
em Tombuctu até os
dias de hoje. Essa Sahel faixa de
fotografia, tirada terra que se
recentemente, localiza entre o
deserto do Saara
retrata um homem
e as florestas
produzindo um
tropicais mais ao
manuscrito em
sul do continente.
língua árabe.

102
Os reinos iorubás

capítulo 6
Para os iorubás, Ifé era uma cidade de grande importância,
pois além de centro religioso, era a morada do oni.

Reinos e impérios africanos


O oni e os obás
Na região da atual Nigéria se desenvol­

Angus McBride. Séc. XX. Coleção particular. Foto:


Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
veram, principalmente a partir do século X,
diferentes reinos formados por povos da
etnia iorubá, como os de Owo, Queto e
Benin.
Ifé era a cidade mais importante para os
iorubás. Formada no século VI, ela se tor­
nou importante graças à sua posição de
entreposto comercial e, também, porque
seus artesãos aprenderam, desde cedo,
técnicas de fundição do ferro.
Além disso, Ifé era um importante centro
religioso e político. Nessa cidade, morava
o oni , o principal rei iorubá. Os demais reis
eram denominados obás , e todos deviam
respeitar a autoridade do oni . Ilustração que representa um obá e seus guerreiros.

A arte em Ifé
Escavações arqueológicas realizadas em Ifé revelaram que a arte iorubá
era muito elaborada. Foram encontradas esculturas em terracota, cobre e Terracota
argila cozida no
latão, que datam dos séculos XII ao XV. Entre elas estão algumas esculturas
forno.
que representam cabeças de reis e de outros nobres, feitas com a utilização
da técnica da cera perdida. Observe.
Comissão Nacional de Museus e Monumentos, Ifé. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

Museu Britânico, Londres. Foto: Boltin Picture Library/The Bridgeman Art Library/Keystone

A técnica da
cera perdida

Escultura feita por volta do século XIII, em Essa escultura de bronze, produzida no
terracota, que representa uma rainha iorubá. século XIV, representa um rei iorubá.

103
O Reino do Benin
Um dos mais importantes reinos iorubás foi o Reino O dendê
do Benin. Fundado pelos edos no século XV, esse reino
Fruto de uma palmeira originária da região
prosperou por conta, principalmente, da atividade mer­ do Benin, o dendê foi introduzido na
cantil. Pela Cidade do Benin, a maior do reino, passavam América no início do século XVI. De sua
produtos como sal, peixe seco, dendê, tecidos e cobre. semente é extraído um óleo de excelente
Para tornar mais ágeis as trocas comerciais, os edos qualidade, que atualmente é um dos mais
consumidos no mundo. O azeite de dendê
utilizavam como moeda manilhas e barras de cobre. é um ingrediente indispensável na elabo­
O poder do reino era centralizado na figura do obá , ração de vários pratos da cozinha afro­
­brasileira, como o vatapá e o acarajé.
que governava auxiliado por um conselho de nobres. O
obá também controlava os chefes das aldeias que faziam

Rogério Reis/Pulsar
parte do reino.

A arte do Benin
Os artesãos do Benin produziram grande quantidade
de esculturas e relevos em placas de metal, que mostram
diferentes aspectos de sua cultura. Um exemplo dessa
arte é a placa de bronze mostrada abaixo, que repre­
senta o obá acompanhado por chefes guerreiros e ser­
vos. Observe­a.

A espada O tamanho do
cerimonial era um personagem é uma
dos principais indicação de sua
símbolos do poder importância na
do obá e da realeza sociedade, por isso,
do Benin. o obá é o
personagem maior.

Esse personagem,
assim como o que O colar de contas,
está do lado oposto que cobre todo o
na imagem, é um pescoço do obá,
dos chefes era reservado
guerreiros do obá. apenas às pessoas
da elite do reino.

Esses dois
personagens são
Picture Library/Heritage Image/Otherimages
Museu Britânico, Londres. Foto: Ann Ronan

servos do obá, e
sua posição social
Manilha
inferior é indicada
objeto em
por seu tamanho
forma de
menor. argola
usado como
adorno.

104
O Reino do Congo

capítulo 6
A atividade comercial era muito importante no Reino do Congo.

N. Akira
O mani Congo

Reinos e impérios africanos


Representação do
O Reino do Congo foi fundado próximo ao rio Congo, no centro­oeste da nzimbu, a moeda
África, no final do século XIV. A capital desse reino era chamada de Banza que circulava no
Congo, e nela vivia o mani Congo, seu principal governante. Leia o texto. Reino do Congo.

[O mani Congo era] o chefe supremo,


por isso podemos dizer que o poder estava O Reino do Congo no século XVII
centralizado nas suas mãos, ainda que fosse

E. Cavalcante
N
auxiliado por um conselho real. O L

o Nsundi Kundi
O reino era muito forte e estava dividido S
Co
ng Okango
o
em províncias, cada qual controlada e admi- Ri Mbula
nistrada por um chefe local. Esses chefes Mpangu Songo

coletavam impostos e eram responsáveis Kiova Kongo a Nlaza


Pinda Mbata
pelo controle da produção econômica de Banza Congo
Nsoyo Mukatu
cada região. Nsonso
Mpemba Nkusu
No Reino do Congo, havia enormes mer- 1° N

cados onde eram trocados produtos como sal, Wandu


OCEANO Wembo
tecidos e metais vindos de várias regiões. ATLÂNTICO
Mbamba

Além disso, uma moeda circulava por todo o


Ndembu
reino, facilitando as trocas. Ela era feita de
uma concha, chamada nzimbu, que só se en- 0 130 km
contrava na ilha de Luanda (Angola atual). 10° L
Limite entre províncias
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
Kelly Cristina Araújo. Áfricas no Brasil. São Paulo: Scipione, 2003. africano. São Paulo: Ática, 2006.
p. 34. (Diálogo na Sala de Aula).

O cristianismo no Reino do Congo


No século XV, os portugueses iniciaram a exploração do litoral africano em busca de
metais preciosos e rotas de comércio e, em 1483, desembarcaram no Reino do Congo.
Muitos chefes locais congoleses se aliaram aos portugueses, que tinham maior poder
militar, e converteram­se ao cristianismo. Ao fazer alianças com os portugueses, esses
chefes congoleses conseguiam armamentos e apoio dos portugueses, conquistando
maior poder na região. Em 1489, o próprio mani Congo se converteu ao cristianismo e
procurou impor essa religião a toda a população do reino. Muitos congoleses, no
entanto, recusaram­se a renunciar à sua religião tradicional.

Banza Congo, capital


Thomas Astley. Séc. XVII. Universidade da Virgínia, Charlottesville

do reino, em gravura
do século XVII. Com
a influência do
cristianismo, essa
cidade teve seu
nome mudado para
São Salvador do
Congo.

105
Explorando o tema
A metalurgia nas

Séc. XVI. Museu Britânico, Londres. Foto: Werner Forman Archive/Glow Images

Espada cerimonial. Museu do Quai Branly, Paris. Foto: Jean­Gilles Berizzi/RMN/Other Images
sociedades africanas
Os seres humanos desenvolveram
as primeiras técnicas de fundição
há cerca de seis mil anos. O primei­
ro metal trabalhado foi o cobre, que
podia ser extraído da natureza com
certa facilidade. Posteriormente,
adicionando outro metal, o estanho,
ao cobre, foi possível produzir o
bronze, uma liga metálica mais re­
sistente que o cobre.
Da mesma forma que outros povos,
os africanos dominaram técnicas
de fundição de metais. Acredita­se
que no continente africano a meta­
lurgia do cobre e do bronze se
desenvolveu, inicialmente, no Egito, Cabeça de bronze encontrada Espada cerimonial de um
utilizando minérios vindos da Ásia na Nigéria. Essa escultura obá do Benin. Sua lâmina
representa Idia, a mãe de um foi confeccionada com
ou de outras regiões da África, co­ obá do Benin. ferro forjado.
mo no caso do ouro, que era pro­

Autor desconhecido ­ Machado cerimonial do Faraó Amósis I. Séc. XVI.


Museu do Cairo, Egito. Foto: Akg­Images/Bildarchiv Steffens/Latinstock
veniente da Núbia, ao sul do Egito.
A metalurgia também se desen­
volveu em várias outras regiões da
África, como na região do reino do
Benin e da Núbia. A produção me­
talúrgica com a utilização de vários
materiais atingiu alto nível técnico
e artístico na África. Veja alguns
exemplos ao lado.
Machado cerimonial
No entanto, a metalurgia do ferro do faraó egípcio Amósis I.
foi a que mais se desenvolveu gra­ Para a sua fabricação,
ças à relativa abundância desse os artesãos egípcios utilizaram
lâminas de cobre.
metal e por ser mais duro e resis­
tente do que o cobre e o bronze.
Bracelete da Rainha Amanishakheto. Museu Estadual
de Arte Egípcia, Munique. Foto: Interfoto/Keystone

Com o ferro, os africanos pude­


ram fabricar ferramentas mais for­
tes, como machados, enxadas,
foices e facões. Também melhora­
ram seus armamentos, aumentando
a capacidade bélica dos exércitos,
o que dava mais poder aos chefes
africanos. Logo que foram desco­
bertas e dominadas, as técnicas de Bracelete de ouro da rainha candace
fundição do ferro se disseminaram Amanischahete, encontrado no Sudão.
por todo o continente africano.

106
capítulo 6
O ferreiro africano

Reinos e impérios africanos


Nas sociedades africanas, os metais não se relacionam apenas às necessidades materiais,
pois estão ligados a aspectos simbólicos, religiosos e culturais. A atividade do ferreiro é
comparada à magia, o que lhe dá prestígio e também faz com que seja temido.
Ainda hoje, muitos ferreiros da África Ocidental vivem em aldeias e empregam as técnicas
tradicionais da metalurgia do ferro. Essas técnicas são transmitidas de pai para filho e, des­
se modo, não são acessíveis a pessoas estranhas. Leia o texto a seguir.

O ferreiro vive ainda hoje nas aldeias da Áfri-


ca do Oeste e tem importante papel social,
diferente do ferreiro europeu. Na Europa, um
ferreiro é alguém especializado em trabalhar e
consertar objetos de ferro, com auxílio da bigor-
na, do martelo ou de outros instrumentos. Na
África tradicional, o termo “ferreiro” é como um
recipiente no qual podemos também colocar ou-
tras palavras, como ourives, escultor de máscaras,
construtor de canoas. [...]

Jonathan Blair/Corbis/Latinstock
Nas sociedades africanas, o ferreiro pertence a
uma casta, que é muito respeitada, porque seus
membros são considerados detentores do saber e
praticantes da magia. Eles só se casam com mu-
lheres de sua casta. [...]
Nessa fotografia recente,
Também a mulher do ferreiro desempenha na sociedade africana tradicional tirada no Sudão, ferreiros
um papel definido: ela é a oleira da comunidade, fabricando [recipientes cerâmi- estão martelando um
cos]. As funções do ferreiro são transmitidas de pai para filho, e suas crianças objeto de ferro
incandescente sobre uma
começam logo a desempenhar as funções de aprendizes. A oficina é um assunto bigorna, para atingir o
de família: quem provém de outros clãs familiares não pode entrar ali nem nunca formato e o acabamento
poderá tornar-se ferreiro. desejado.
Ahmadou Kourouma. Homens da África. Trad. Roberta Barni. São Paulo: Edições SM, 2009. p. 118-24.

Carlos Julião - Serro Frio. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, SP
Metalurgia africana no Brasil
A tradição metalúrgica africana chegou ao Brasil com os africanos
que para cá foram trazidos na condição de escravos.
No Brasil, os escravos de origem banto, especialistas na fundição do
ferro, eram procurados pelos senhores de engenho para a fabricação
de ferramentas em geral, pois era necessário que trocassem cons­
tantemente os utensílios de ferro desgastados.
Os conhecimentos metalúrgicos dos africanos colaboraram para
a fabricação das ferramentas para a agricultura, como enxadas e
machados, além de instrumentos próprios para o trabalho de artesãos,
como o enxó, ferramenta utilizada para dar o acabamento em peças de
madeira.

A imagem ao lado mostra escravos em uma mina, utilizando o


almocafre, uma ferramenta de ferro de origem africana para a
extração de metais preciosos.

107
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Elabore um pequeno texto sobre o Reino de b ) Qual era o nome de sua capital?
Gana abordando aspectos como: sua fun-
c ) Quais as melhorias promovidas pelos
dação, a região em que ficava localizado e
songais em Tombuctu?
a relação entre o soberano e seus súditos.
d ) Escreva um pequeno texto sobre a edu­
2 Sobre a difusão do islamismo na África, cação no Império Songai.
responda.
10 Qual era o nome da mais importante
a ) Quando essa religião começou a ser
cidade iorubá? Explique sua importância.
difundida no continente africano? Qual
era seu principal meio de difusão? 11 Quem era o principal governante iorubá?
b ) Quem eram os ulemás? Qual era sua E os demais reis, como eram cha­m ados?
im­p ortância para a difusão do islamis-
mo na África? 12 Que tipos de objetos foram encontrados
em escavações arqueológicas feitas na
3 Escreva um pequeno texto sobre a es­ cidade de Ifé?
cravidão nas sociedades islâmicas dando
exemplos das funções exercidas pelos 13 Que produtos eram comercializados no
escravos. Reino do Benin? Quais objetos eram usa­
dos como moeda nesse reino?
4 Cite alguns povos que formavam o Impé­rio
Mali. 14 Observe a placa de bronze apresentada na
página 104. Que objetos simbolizam o
5 Quais eram as principais cidades do Im­pério
poder do obá?
Mali? Que produtos eram comer­cializados
nessas cidades? 15 Sobre o Reino do Congo, responda.
6 O que eram as madrasas? Cite o nome de a ) Em que região do continente africano
duas cidades onde elas foram cons­truí­das. ficava localizado?
7 Qual a importância dos griôs para o es­tudo b ) Como era chamado seu principal
da história do Mali? gover­n ante?
8 Escreva, com suas palavras, quem foi Ibn c ) Quais eram as funções dos chefes das
Battuta. províncias?
9 Sobre o Império Songai, responda. d ) Como ocorreu a introdução do cris­
tianismo no Reino do Congo?
a ) Em que região do continente africano
ficava localizado?

Expandindo o conteúdo
16 O texto a seguir trata da escravidão no Reino do Congo. Leia-o.

Entre os escravos, os mais privilegiados eram os prisioneiros nobres, usados em atividades


militares. Aí podiam ver destacadas suas características de coragem e iniciativa. Eles podiam
participar da divisão do espólio de guerra e aspirar a possuir seus próprios soldados. A seguir
vinham os que trabalhavam nas famílias de camponeses; estes podiam chamar o senhor de
“pai” e trabalhar com seus filhos e filhas, frequentar sua casa e desfrutar um padrão de vida
muito semelhante ao de seu senhor. Os menos afortunados eram destinados às fazendas de

108
capítulo 6
escravos, onde trabalhavam sob as ordens de um feitor e o máximo que podiam aspirar era ter
uma parcela de terra para trabalhar em proveito próprio. [...] Com a passagem do tempo, a
maior parte dos escravos adquiria, na prática, a maioria dos direitos dos não escravos: podiam
ir e vir, receber heranças, acumular propriedades. O que os distinguiam do senhor era, funda-

Reinos e impérios africanos


mentalmente, a impossibilidade do casamento com mulheres livres e [de participar de]
assuntos políticos.
Mary Del Priore; Renato Pinto Venâncio (Orgs.). Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 17-8.

a ) Em que atividades eram usados os prisioneiros de origem nobre? Quais eram seus direitos?
b ) Que privilégios tinham os escravos das famílias camponesas?
c ) A que podiam aspirar os escravos que trabalhavam nas fazendas?
d ) Que direitos os escravos adquiriam com a passagem do tempo? Quais direitos não podiam
adquirir?

17 O texto a seguir faz parte do livro Um passeio pela África, escrito por Alberto da Costa e
Silva (1931-), especialista brasileiro em história africana. Nesse livro, o autor conta a histó-
ria da viagem de três jovens brasileiros pela África, narrando suas aventuras e descobertas.
No trecho a seguir, o personagem Ibrahim, que é um guia turístico, apresenta importantes
informações sobre o Império Songai. Leia-o.

“Estamos indo na direção de Gaô, que foi o centro de um outro grande império, o de Songai” —
explicou Ibrahim.
“No fim do século XV, Songai substituiu o Mali como potência predominante nessa região e con-
quistou grande parte dos seus territórios. A própria Tombuctu passou para as mãos do rei de Songai”.
Muitas canoas iam e vinham pelo rio, algumas delas parcialmente cobertas por uma espécie de
abóbada feita de esteira. Nas maiores, viam-se vinte ou trinta pessoas, além de cabritos, carneiros,
cestos de aves, enormes cabaças e todo o tipo de fardos e amarrados.
“No passado, as canoas transportavam também soldados e seus cavalos. O poder militar de Son-
gai baseava-se em grande parte em suas flotilhas, ou grupo de canoas, que permitiam o rápido
deslocamento das tropas pelo rio. Quando chegavam na proximidade do lugar de ataque, os soldados
desciam dos barcos e muitos deles montavam a cavalo. Os arqueiros e os guerreiros, armados de es-
cudos, porretes e azagaias, ou lanças de cabo curto, seguiam a pé. [...]”
“Os songais eram excelentes cavaleiros. Como também os do Mali. Com seus cavalos com sela,
estribo e rédeas, os songais dominavam tão bem as técnicas da cavalaria pesada quanto os cavaleiros
da Idade Média europeia. Do alto de seus animais, protegidos por escudos, capacetes de metal e cotas
de malha, eles atacavam em massa o adversário, com longas lanças e espadas. Os cavalos tinham a
cabeça e o corpo cobertos por um pano acolchoado, o lifidi, que amortecia as flechas inimigas. [...]”
Alberto da Costa e Silva. Um passeio pela África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 17-8.

a ) Cite o nome de duas cidades conquistadas pelos songais.


b ) De acordo com o texto, o que os songais transportavam em suas canoas quando pre-
tendiam realizar um ataque militar?
c ) O que são flotilhas? Para que os songais as utilizavam?
d ) Quais eram as habilidades dos songais como cavaleiros?

109
18 O relato a seguir foi recolhido por volta do ano de 1960. Leia-o.

Sou griô. Meu nome é Djeli Mamadu Kuyatê, filho de Bintu Kuyatê e de Djeli Kedian
Kuyatê, mestre na arte de falar. Desde tempos imemoriais estão os Kuyatês a serviço dos
príncipes Keita do Mandinga: somos os sacos de palavras, somos o repositório que conser-
va segredos multisseculares. A Arte da Palavra não apresenta qualquer segredo para nós;
sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento; nós somos a memória dos homens;
através da palavra, damos vida aos fatos e façanhas dos reis perante as novas gerações.
Recebi minha ciência de meu pai Djeli Kedian, que a recebeu igualmente de seu pai; a
história não tem mistério algum para nós; ensinamos ao vulgo tudo que aceitamos
transmitir-lhe [...].
Conheço a lista de todos os soberanos que se sucederam ao trono do Mandinga. Sei
como os homens negros se dividiram em etnias, porque meu pai me legou todo o seu sa-
ber; sei por que motivo um se chama Kamara; um outro, Keita; e um terceiro, Sidibê ou
Traorê; todo nome tem um sentido, uma significação secreta.
Ensinei a reis a história de seus ancestrais, a fim de que a vida dos antigos lhes servisse
de exemplo, pois o mundo é velho, mas o futuro deriva do passado.
Djibril Tamsir Niane. Sundjata, ou, A epopeia Mandinga. Trad. Oswaldo Biato. São Paulo: Ática, 1982. p.11.
Extraído do site: <www casadasafricas.org.br>. Acesso em: 28 nov. 2011.

a ) Qual é a atividade exercida pela pessoa que fez esse relato? Qual é o nome dessa
pessoa?
b ) De acordo com o relato, qual é a função dos griôs na sociedade africana?
c ) Como é transmitido o conhecimento dos griôs?
d ) Escreva o nome de quatro soberanos do Mali que são citados no texto.
e ) Para o autor do relato, por que é importante que reis conheçam a história de seus ancestrais?

Trabalho em grupo
19 No Brasil, a tradição dos griôs foi transmitida pelos africanos aos seus descendentes e está
presente em nossa sociedade. Realize com os colegas uma pesquisa sobre os griôs no
Brasil atualmente.
a ) Pesquisem em livros, revistas, jornais, internet etc., informações relacionadas aos griôs
brasileiros.
b ) Procurem descobrir:
■■ quais as características dos griôs brasileiros?
■■ quais são os instrumentos musicais utilizados por eles?
■■ o que os griôs contam em suas histórias?
■■ qual é a importância dos griôs para a história do Brasil?
c ) Por fim, produzam um cartaz sobre os griôs contendo os dados obtidos com a pesquisa.
Procurem inserir imagens, trechos de histórias contadas pelos griôs etc.

110
capítulo 6
Passado e presente
20 Em 2005, a Unesco realizou uma pesquisa sobre os impactos ambientais que têm causado
danos a diversos Patrimônios Mundiais, entre eles a cidade de Tombuctu, na atual Repú-

Reinos e impérios africanos


blica do Mali. Essa cidade tem sofrido vários danos em decorrência do processo de deser-
tificação do Sahel. Por isso, um projeto da Unesco foi criado com o objetivo de proteger
esse patrimônio. Leia o texto.

Várias ações foram empreendidas para proteger a ci-

Issouf Sanogo/Staff/AFP/Getty Images


dade de Tombuctu dos impactos am­­bientais, incluindo:
- a restauração das mesquitas e casas danificadas;
- a remoção da areia nas proximidades das mesquitas;
- a criação de zonas-tampão para proteger as mesquitas
da invasão de areia;
- a melhoria dos sistemas de drenagem pluviais.
Um aspecto importante desse pro­jeto incluiu a partici-
pação de artesãos locais no processo de restauração. As
técnicas tradicionais utilizadas por esses artesãos consti- Artesãos locais trabalhando na restauração de
tuem uma verdadeira lição de conservação do patrimônio uma mesquita em Tombuctu, em 2006.
cultural frente aos impactos ambientais.
O sucesso dessas medidas levou o Comitê do Patrimônio Mundial a retirar Tombuctu da lista dos pa-
trimônios mundiais em perigo. Mas os impactos ambientais são uma constante ameaça à conservação
desse patrimônio.
Unesco. Timbuktu: Mali. Case Studies on Climate Change and World Heritage. Extraído do site: <whc.unesco.org>. Acesso em: 28 nov. 2011. (Texto traduzido pelos autores).

a ) Quais ações foram empregadas pela Unesco para proteger a cidade de Tombuctu contra
os danos causados pela desertificação do Sahel?
b ) Quem são as pessoas que trabalham na restauração das casas e mesquitas?
c ) Em sua opinião, qual é a importância do uso de técnicas tradicionais na restauração das
construções de Tombuctu?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ Desde a Antiguidade, o continente africano é habitado por uma grande diversidade de

povos.
■■ Vários povos africanos se converteram ao islamismo a partir do século VII.
■■ Muitos dos aspectos conhecidos atualmente sobre a história de Mali foram transmitidos
de geração em geração pelos griôs.
■■ Havia muitas escolas e várias universidades em Tombuctu, na época do Império Songai.
■■ Os povos africanos dominaram diversas técnicas metalúrgicas, dentre elas a fundição
do ferro.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi­
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

111
7
A Europa moderna:
capítulo

o Renascimento
Veja nas Orientações
Sandro Botticelli – Primavera. c. 1478. Galeria dos Ofícios, Florença. Foto: Photodisc/Getty Images

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos apresentados
no capítulo.

A A tela Primavera foi


feita pelo pintor
renascentista
Sandro Botticelli
(1445-1510), por
volta de 1478.
Nessa pintura, ele
representou vários
personagens da
mitologia grega
vestidos com trajes
tipicamente
romanos.
Michelangelo Buonarroti - Pietá. Escultura. c.1498. Basilica de São Pedro. Foto: Araldo de Luca/Corbis/Latinstock

B Escultura de Michelangelo intitulada Pietá. Nessa obra,


ele representou a passagem bíblica em que Maria segura
o corpo de Jesus após a crucificação. Pietá foi esculpida
em mármore no ano de 1499, e atualmente se encontra
na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

112
Andreas Cellarius. Séc XVII. Biblioteca Britânica, Londres
C Nicolau Copérnico (1473-1543) foi um dos primeiros a afirmar que a Terra e os demais planetas
giram em torno do Sol. Nessa imagem, datada de 1661, vemos uma representação do Universo
de acordo com a concepção de Copérnico.
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
Neste capítulo, vamos estudar o Renascimento, movimento que teve conhecimento prévio
dos alunos e estimular
início na Europa durante a passagem da Idade Média para a Idade Mo- seu interesse pelos
derna. Esse movimento artístico, cultural e científico buscou romper alguns assuntos que serão
desenvolvidos no
conceitos e valores medievais. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os entre os alunos de
colegas sobre as questões a seguir. maneira que todos
participem
■ ■ Você sabe quem são os personagens representados na fonte A?
expressando suas
Descreva essa pintura. Quais elementos dessa fonte indicam a influên­ opiniões e respeitando
as dos colegas.
cia greco-romana na arte renascentista?
■ ■ Analise a escultura reproduzida como fonte B. Além da influência da

cultura clássica, os temas religiosos continuaram a inspirar os artistas


do Renascimento. Como podemos identificar essa influência na
fonte B?
■ ■ O Renascimento também foi um período marcado por inovações no

campo científico. Observe a fonte C. Como o Universo foi represen-


tado nessa fonte? Que elemento ocupa a posição central nessa re-
presentação? Como essa teoria ficou conhecida? Como as teorias
anteriores a Copérnico representavam o Universo?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

113
A Itália renascentista
O movimento renascentista teve início na Itália, mas logo se espalhou
por outras regiões da Europa.

Aspectos políticos
Entre os séculos XI e XIII, a Europa

Francesco Rosseli. Séc. XV. Coleção particular


passou por um processo de grande
desenvolvimento econômico, graças
ao aumento da produção agrícola e à
expansão comercial e urbana. Entre-
tanto, no final do século XIII, esse
desenvolvimento desacelerou. Para
alguns estudiosos, essa situação,
chamada de “crise do século XIV”, foi
provocada por vários motivos, com
destaque para a Guerra dos Cem
Anos e a peste negra.
No norte e no centro da Itália, a si-
tuação era diferente do restante da
Europa. Nessas re­g iões, onde o feuda-
lismo não exerceu forte influência,
encontravam-se as áreas mais urbani-
zadas de toda a Europa. Nelas, o meio
urbano era movimentado pelo comér-
cio, o que gerava um grande fluxo de
riquezas. Isso propiciou o enrique­
cimento das instituições comerciais e Acima, detalhe de imagem que representa a cidade de Florença, no final
bancárias, da mesma forma que esti- do século XV. Nessa época, Florença era um importante centro
mulava as atividades manufatureiras. comercial, financeiro e cultural.

O mecenato
As grandes cidades mercantis italianas, como Gênova, Veneza e Floren-

Altobello Melone - Cesare Borgia, Duque dos Valentinos. Séc.


XV. Óleo sobre tela. Galeria da Academia Carrara, Bergamo,
Itália. Foto: Alfredo Dagli Orti/The Art Archive/Corbis/Latinstock
ça, eram cidades-estado independentes entre si. Havia lutas constantes
pelo poder entre as famílias mais poderosas dessas cidades e também
entre cidades vizinhas.
Nesses conflitos, destacavam-se as forças mercenárias, lideradas pelos
condottieri (comandantes), que muitas vezes exerciam o controle político
sobre a cidade.
Entre as famílias ricas, havia também outro tipo de disputa, que se ma-
nifestava por meio da ostentação de riqueza e poder. Uma das formas de
ostentação era tornar-se um mecenas, ou seja, um benfeitor das artes e da César Bórgia, filho
cultura, apoiando artistas que expressassem valores novos em suas obras. do papa
Alexandre VI,
Esse universo conflituoso e turbulento, em que os valores individualistas pertencia à rica e
começavam a superar os valores teológicos tradicionais, criou o ambiente influente família
propício para que a Itália fosse a pioneira de um grande processo de reno- Médice, que por
vação intelectual e cultural, que ficou conhecido como Renascimento. séculos influenciou
a política florentina.
Mercenário soldado, geralmente estrangeiro, que fazia parte das forças militares de (Retrato do final do
um Estado visando apenas aos ganhos financeiros. século XV).

114
O que é Renascimento?

capítulo 7
Renascimento é a tradução da palavra italiana rinascita , que significa
“nascer de novo”. O Renascimento foi um movimento que buscou rever as
concepções de mundo que vigoravam até aquele momento. Esse movimento
teve início na Itália, mas logo se espalhou por diferentes regiões da Europa.

A Europa moderna: o Renascimento


Nessa época, o continente europeu estava passando por grandes transfor-
mações sociais, culturais, religiosas, científicas, econômicas e políticas.
O termo Renascimento foi criado no século XVI para caracterizar uma
época de “renovação” em relação à Idade Média. Leia o texto.

[Os] homens do século XVI percebiam que viviam em uma nova época, conside-
ravam a época anterior — o período que passou a ser chamado de Idade Média como
um tempo de trevas e obscurantismo e, para marcarem sua diferença com esse tempo
passado, voltaram-se para o passado mais distante — a Antiguidade. [...] Os próprios
intelectuais daquele tempo chamaram a época em que viviam de Renascimento, co-

Ofícios, Florença. Foto: The Bridgeman Art Library/


Giorgio Vasari - Autorretrato. 1566-68. Galeria dos
mo se na Idade Média não tivesse havido qualquer produção cultural importante. [...]
Maria Teresa Vianna Van Acker. Renascimento e humanismo: o homem e o mundo europeu do século XIV ao século XVI.
São Paulo: Atual, 1992. p. 7. (História geral em documentos).

Giorgio Vasari (1511-1574), pintor e arquiteto italiano, provavelmente foi o primeiro a


usar o termo Renascimento em sua obra Vida dos mais excelentes pintores,
escultores e arquitetos italianos. Nessa obra, Vasari dividiu o Renascimento italiano

Keystone
em três períodos, mais tarde denominados Trecento, Quattrocento e Cinquecento.

Períodos do Renascimento italiano


O Renascimento italiano costuma ser dividido em três principais períodos.
Veja, na linha do tempo, algumas características desses períodos e, também,
alguns fatos importantes ocorridos durante o Renascimento italiano.

Século XV Século XVI


Século XIV Quattrocento Cinquecento
Trecento Época de prosperidade econômica Época de crise econômica em várias
Período de em algumas regiões da Itália que se regiões da Itália, principalmente em
transição entre refletiu na arte renascentista como razão da expansão marítima portuguesa
os valores um todo. Obras monumentais foram e espanhola, que passaram a controlar o
medievais e os encomendadas pelos mecenas italianos, comércio de especiarias antes dominado
renascentistas, em como a cúpula da catedral de Santa por italianos e árabes. É nessa época, no
que foram criadas Maria del Fiori, em Florença, feita pelo entanto, que a arte renascentista italiana
as pinturas de arquiteto Brunelleschi (1377-1446). Entre alcançou seu esplendor. Essa época
Giotto (1267-1337) os artistas desse período, destacam-se os é conhecida como Idade de Ouro do
e as poesias de escultores Ghiberti (1378-1455) e Donatello Renascimento. Destacam-se artistas como
Francisco Petrarca (1386-1466), e os pintores Masaccio Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo
(1303-1374). (1402-1428) e Sandro Botticelli. (1475-1564) e Rafael (1483-1520).

1300 1350 1400 1450 1500 1550 1600

1305 1543
Giotto cria pinturas que, mais 1492 Nicolau Copérnico publica uma obra
tarde, são consideradas marcos Cristóvão Colombo chega afirmando que a Terra gira em torno
da transição da arte medieval à América. do Sol.
para a renascentista.
1500 1521
Chegada dos portugueses às terras A expedição de Fernão de Magalhães é a
que hoje pertencem ao Brasil. primeira a dar uma volta completa no planeta.

115
O humanismo
Durante o Renascimento, os humanistas se inspiraram nas ideias da Antiguidade
clássica e valorizaram as capacidades do ser humano.

Os humanistas
Durante a Idade Média, o ensino nas universidades

Vincenzo Foppa – Menino lendo Cícero. c. 1460. Coleção Wallace, Londres


era voltado para os estudos de Teologia, Direito e
Medicina.
A partir do século XIV, no entanto, alguns estudio-
sos apresentaram novas propostas no ensino de
Filosofia, História, Matemática e Poesia. Dessa for-
ma, os humanistas, como esses estudiosos ficaram
conhecidos mais tar­d e, iniciaram uma profunda re-
forma educa­c ional.

A valorização da Antiguidade clássica


Os humanistas buscavam inspiração nos antigos
escritores gregos e romanos. Alguns dos principais
valores da Antiguidade clássica foram retomados,
como a exaltação das capacidades do indivíduo e a
valorização da liberdade individual. Para melhor in-
terpretar os textos dos autores antigos, os humanis-
tas também se dedicaram ao estudo das lín­g uas
clássicas: o grego e o latim.
Essa busca de inspiração na Antiguidade clássica Nas escolas humanistas, as crianças eram
não quer dizer que os humanistas ficaram presos a estimuladas a ler autores da Antiguidade clássica.
ela. Eles foram além, inovaram em seus estudos e O afresco acima, feito por Vincenzo Foppa (c.1430-
possibilitaram que novas ideias circulassem na socie- -1515) por volta de 1460, representa um menino
dade renascentista. lendo Cícero, um escritor romano.

A valorização do ser humano

Leonardo da Vinci – Homem Vitruviano. c. 1492. Galeria da Academia, Veneza. Foto: Corel Stock Photo
No período medieval, de acordo com o pensamento
religioso, Deus era considerado o centro do Universo
(teocentrismo). Os seres humanos eram considerados
pecadores incapazes de pensar livremente.
Porém, durante o Renascimento, a grande valori-
zação das capacidades do ser humano fez surgir a
crença no antropocentrismo. Palavra de origem gre-
ga ( anthropos = homem), significa que o ser humano
passou a ser considerado o mais importante referen-
cial não só nas questões humanas, mas, também, nas
questões universais.
Os humanos passaram a ser vistos como seres do­
tados de potencial criativo, capazes de produzir novos
conhecimentos e de transformar a realidade.

Por volta de 1492, Leonardo da Vinci, um dos mais


importantes artistas do Renascimento, desenhou o
Homem Vitruviano, em que representou as medidas e
proporções consideradas ideais do corpo de um homem.

116
O Renascimento científico

capítulo 7
Durante o Renascimento, ocorreram grandes inovações no campo científico.

Um período de transformações

A Europa moderna: o Renascimento


O Renascimento foi um período marcado por muitas O heliocentrismo
transformações também no campo científico. Os estudos Elaborado pelo astrônomo Nicolau
humanistas abri ram caminho para inovações técnicas e Copérnico, o heliocentrismo afirmava que
muitas invenções. Leia o texto. o Sol era o centro do Sistema Solar, e,
assim, a Terra e os demais planetas
[...] Durante o Renascimento, ocorreram grandes progressos em giravam ao redor dele. Essa teoria não foi
anatomia, medicina, astronomia e matemática. A prensa foi inventa- aceita pela Igreja e tampouco pela maioria
da e, pela primeira vez, os livros tornaram-se disponíveis para dos cientistas, pois contrariava o
geocentrismo, ideia mais aceita na época,
[muitas] pessoas. Foi também uma época de exploração do mundo que afirmava que o Sol e os planetas
e o início da ciência moderna. Nicolau Copérnico afirmou que a giravam em torno da Terra.
Terra girava em torno do Sol. Muitos exploradores navegaram pelos

Andreas Cellarius. (detalhe).


Séc XVII. Biblioteca Britânica, Londres
mares em busca de rotas comerciais para o Extremo Oriente. Cristó- Nessa ilustração, feita no
vão Colombo cruzou o Atlântico e aportou na América. As caravelas século XVII, Nicolau
portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral chegaram às Copérnico é representado
segurando um globo
terras do Brasil. Vasco da Gama contornou a África e alcançou a terrestre e um compasso.
Índia. Os navegantes de Magalhães deram a volta no globo.
Janis Herbert. Leonardo da Vinci para crianças. Trad. Fernanda Abreu.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 20-1.

Anatomia estudo da forma e da estrutura, por exemplo,


de células, tecidos e órgãos dos seres vivos.

Enquanto isso... em Pindorama

No período do Renascimento, o território que viria a ser chamado de Brasil era habitado
por centenas de povos indígenas diferentes. Cada um desses povos tinha seus próprios
costumes, tradições e modo de vida.
Entre esses povos estavam os tupinambás. Eles viviam próximos ao litoral e chamavam
essa região de Pindorama. Os tupinambás viviam em aldeias circulares e suas casas eram
feitas com palha e madeira de árvores que existiam na região. Eles plantavam mandioca,
batata-doce, amendoim, abóbora e abacaxi, entre outros alimentos. Fabricavam canoas e
jangadas, bem como armas e instrumentos musicais. Os
Carl Friedrich Philipp von Martius – Visão do cume da Serra da Estrela
para a Baía de S. Sebastião. Séc. XIX. Coleção particular
tupinambás tinham o costume de fazer pinturas corporais
usando tintas extraídas de plantas, como o urucum e o je-
nipapo. Essas pinturas eram feitas em ocasiões especiais,
como festas e funerais.
Como os tupinambás viviam em regiões próximas ao lito-
ral, eles foram um dos primeiros povos a ter seus territórios
invadidos pelos colonizadores portugueses. Apesar de re-
sistirem e lutarem contra os invasores, os tupinambás foram
dizimados em função das guerras, da escravização e das
doenças trazidas pelos europeus.

A riqueza da flora brasileira pode ser percebida no próprio nome


que os tupinambás davam à sua terra: em tupi-guarani, a língua
falada por eles, Pindorama significa “Terra das Palmeiras”.

117
A arte renascentista
A arte renascentista caminhava junto à ciência.

A arte e a ciência
A arte renascentista deve ser compreendida com os avanços científicos A arte medieval
da época. Os pintores, arquitetos e escultores do Renascimento, além de
Antes do Renasci-
artistas, tinham conhecimentos científicos. As novas técnicas de arte cria- mento, a forma de
das naquela época dependiam, por exemplo, de cálculos matemáticos e de arte predominante
estudos de anatomia. Leia o texto. foi a medieval,
que era basica-
[...] A arte renascentista é uma arte de pesquisa, de invenções, inovações e mente religiosa e
aperfeiçoamentos técnicos. Ela acompanha paralelamente as conquistas da física, simbólica. Os
artistas medievais
da matemática, da geometria, da anatomia, da engenharia e da filosofia. [...] não se preocupa-
Nicolau Sevcenko. O Renascimento. 16. ed. São Paulo: Atual, 1994. p. 27. (Discutindo a história). vam em represen-
tar os objetos e
as pessoas em
A escultura
Michelangelo Buonarroti – Davi. c. 1505. Galeria da Academia, Florença. Foto: Corel Stock Photo

seu tamanho,
forma e cor reais.
A escultura foi outra importante manifestação Por isso, na arte
artística do Renascimento. medieval, não
havia grande
Ela era caracterizada pela harmonia de seus preocupação com
traços, com inspiração nos modelos da Antigui- questões técni-
dade clássica. cas, por exemplo,
noções de profun-
Grande parte das esculturas eram feitas de didade, forma e
mármore e retratavam o desejo de perfeição e o proporção.
culto ao ser humano, características presentes
na arte renascentista. A imagem abaixo,
produzida no século
Escultores como Ghiberti, Donatello e Miche- XVI, retrata o
langelo inovaram nas técnicas e deram grande momento em que
expressividade aos personagens representados. músicos italianos
realizavam um
Michelangelo, além de pintor, era excelente escultor. Ele concerto. Eles
utilizava principalmente o mármore em suas esculturas. Essa utilizavam
obra, Davi, foi esculpida por volta de 1505 e é considerada instrumentos como
uma das mais belas obras de arte da época do Renascimento. a viola de gamba
(em primeiro plano)
e o alaúde (no
A música e a literatura centro da imagem).

Os músicos renascentistas procuraram criar novas formas e es-


Autor desconhecido. Séc. XVI. Óleo sobre tela. Museu do Louvre,
Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

truturas musicais, além de aperfeiçoarem vários instrumentos para


que pudessem produzir maior variedade de sons. Temas rejeitados
pela Igreja durante a Idade Média passaram a ser incorporados nas
canções, assim como os instrumentos musicais — entre eles o
alaúde, o saltério e as violas de gamba.
No campo literário, gêneros literários clássicos, como a poesia
lírica e a epopeia, foram retomados e renovados pelos autores
renascentistas. Destacaram-se escritores como Francesco Pe-
trarca e Giovani Boccaccio. Contudo, o autor de maior destaque
desse período foi Dante Alighieri, autor de A divina comédia , que
em uma época que o latim era a língua mais valorizada, escreveu
sua obra na língua italiana, contribuindo para o desenvolvimento
literário na Itália.

118
A pintura

capítulo 7
As primeiras mudanças em relação à pintura medieval podem ser perce-
bidas na obra de Giotto. Ao contrário dos pintores medievais, Giotto repre-
sentava os personagens e os objetos de maneira mais semelhante à qual
vemos, por isso se preocupava com noções de espaço e de profundidade.

A Europa moderna: o Renascimento


Depois dele, vários pintores renascentistas, como Rafael e Michelangelo,
aprimoraram cada vez mais suas técnicas. Observe a imagem abaixo.

A preocupação
Sandro Botticelli – O nascimento de Vênus. c.1485 Galeria
dos Ofícios, Florença. Foto: Corel Stock Photo

com as formas
reais do corpo
humano pode
ser percebida
no detalhe
desta pintura
de Sandro Capela
Botticelli, Sistina
O nascimento
de Vênus, de
cerca de 1485.
Nela, o pintor
representou
divindades da A obra de
Antiguidade Brunelleschi
Clássica.
O arquiteto
italiano Filippo
Brunelleschi
A técnica da perspectiva projetou diversos
edifícios,
A arte renascentista se diferenciou por completo da arte medieval quan- principalmente
do a técnica da perspectiva foi criada. Essa técnica, baseada em cálculos capelas e igrejas,
ma te máticos e geométricos, permitia que os objetos da cena retratada que seguiam as
parecessem estar em profundidades diferentes. mesmas
proporções de
Para causar essa impressão aos observadores, os pintores traçavam linhas antigos edifícios
que se encontravam no chamado ponto de fuga. Observe. romanos.
Ele é mais
Leonardo da Vinci – Adoração dos Magos. Séc. XV. Galeria dos Ofícios,
Florença. Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images

conhecido, no
entanto, como o
Ponto de fuga criador da técnica
da perspectiva.

Cosmo Condina/SuperStock/Glow Images

Cúpula da
Catedral Santa
Maria del Fiore,
Nessa pintura inacabada de Leonardo da Vinci, podemos perceber claramente o estudo de perspectiva em Florença, obra
realizado pelo artista. Repare nas linhas que atraem o olhar do observador para o ponto de fuga. de Brunelleschi.

119
Explorando o tema
A técnica do
Leonardo da Vinci: um gênio renascentista sfumato
Considerado um dos maiores gênios da humanidade, Leonardo da Vinci Leonardo da Vinci
foi um dos mais importantes artistas do Renascimento e, também, um foi o pioneiro no
grande cientista. uso de uma
técnica de pintura
Nascido na pequena cidade italiana de Vinci, em 1452, Leonardo foi, que ficou conheci-
desde pequeno, um apreciador da natureza e das artes. Além de criar no- da como sfumato.
vas técnicas de pintura, como o sfumato , ele tinha conhecimentos de Com essa técnica,
arquitetura, engenharia, escultura, música, matemática e anatomia. o pintor conseguia
suavizar traços e
Leia o texto a seguir. linhas das pinturas
dando um efeito
“esfumaçado”.
Na pintura e no desenho, Da Vinci ex-
plorava a diversidade da natureza. Usava
sombras para dar às coisas aparência tri-
dimensional. Não usava contornos.
Os gestos e as expressões das figuras de

Paris: Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone


c.1478. Óleo sobre painel. Museu do Louvre,
Da Vinci transmitem emoções verdadeiras.

Leonardo da Vinci - Virgem dos rochedos.


Ele usava a perspectiva aérea, ou
atmosférica, técnica que dava ao fundo
um aspecto impreciso e empalidecido,
para parecer distante.
Richard Mühlberger.
O que faz de um Da Vinci um Da Vinci? Trad.
Valentina Fraíz-Grijalba. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000. p. 48. Detalhe de pintura de Da Vinci com a
técnica da perspectiva aérea.
Leonardo da Vinci – O coração. c. 1513. Biblioteca Ambrosiana, Milão

Leonardo da Vinci – Roda-d´água com taças. c. 1503. Biblioteca Ambrosiana, Milão.


Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images

O funcionamento dos órgãos do corpo humano Leonardo da Vinci também se interessava


interessava Leonardo da Vinci. por máquinas e aparelhos hidráulicos.
Acima, estudo do coração humano e dos vasos Nesse desenho, produzido por volta de
sanguíneos, que ele fez por volta de 1513. 1503, ele fez estudos de rodas-d´água.

120
capítulo 7
A Mona Lisa
Leonardo da Vinci pintou vários quadros que são admirados até hoje por sua beleza e

A Europa moderna: o Renascimento


qualidade técnica. Mas nenhum deles ficou tão conhecido como a Mona Lisa , concluído por
volta de 1505.
Nesse quadro, é possível identificar algumas das principais características da pintura re-
nascentista, como o uso de tinta a óleo, a riqueza de detalhes e a busca por retratar os
objetos e as pessoas de maneira semelhante à que vemos.
Conheça a seguir algumas informações sobre esse quadro.
Leonardo da Vinci – Mona Lisa. c. 1505. Museu do Louvre, Paris. Foto: Corel Stock Photo

No fundo dessa pintura, Da


Vinci utilizou a técnica da
perspectiva aérea, uma
grande novidade para
a época.

Mona Lisa foi retratada sem


sobrancelhas, como era
costume entre as mulheres
na época renascentista.

A técnica do sfumato
pode ser bem
percebida nos cantos
dos olhos e da boca
de Mona Lisa.

Os cantos da boca de Mona


Lisa são indefinidos, por isso
se diz que ela tem um
“sorriso enigmático”.

A importância dos detalhes


para a pintura renascentista
pode ser verificada nos
bordados do vestido e nas
dobras do tecido.

A posição das mãos


de Mona Lisa serviu de
modelo para pintores
durante muitos anos.

121
O cotidiano nas cidades italianas
A vida nas cidades italianas era muito agitada. Eventos culturais aconteciam
durante o ano todo.

Do campo para a cidade


Na época renascentista, as cidades italianas estavam se tornando maio-
res e mais movimentadas. Pequenos agricultores deixavam suas atividades
no campo e passavam a viver nas cidades, realizando comércio ou pres-
tando serviços em lojas e oficinas.
Nessas cidades havia muitos mercados, igrejas e praças, nas quais eram
realizados diferentes eventos e espetáculos.
As pessoas mais ricas apreciavam a vida
nas cidades, on de geralmente rea li-
zavam seus negócios, mas tam-
bém achavam importante pos-
suir propriedades no campo
para descanso da família.

O costume de ir ao campo

Giusto Utens – Villa do Castelo. 1599. Museu de Florença,


Florença. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
repousar era comum entre os
antigos romanos. Foram eles,
também, que deram o nome
de villas às propriedades
rurais. Esse costume comum
na Antiguidade clássica foi
adotado por várias pessoas
ricas na época do
Renascimento. A imagem
representa uma villa italiana
no final do século XVI.

A educação nas cidades italianas


Em algumas cidades italianas, havia escolas que geralmente eram fre- A importância
quentadas apenas pelas pessoas de famílias ricas. Os alunos dessas esco- da religião
las, além de praticar esportes como natação e hipismo, aprendiam sobre A religião não
literatura clássica, matemática, política e boas maneiras — modos de falar, deixou de ser
ouvir, comer, se vestir, se portar em locais públicos, por exemplo. importante na
vida das pessoas
Leia um trecho de O livro da etiqueta , publicado em 1558, escrito pelo durante o Renas-
clérigo e escritor Giovanni della Casa (1503-1556). cimento. A Igreja
continuou a ter
Todos devem vestir-se bem, de acordo com sua idade e a sua posição na sociedade. De papel de desta-
outra forma, sua atitude será tomada como sinal de desprezo por seus semelhantes. [...] que nas cidades
e, também, na
Abstenha-se tanto quanto possível de fazer ruídos que firam os ouvidos, tais como ran- área rural. Nas
ger ou sugar os dentes. Deve-se tomar cuidado para não engordurar os dedos a ponto de casas geralmente
sujar o guardanapo com eles, pois isso desagradaria os outros. Também não é polido limpá- havia oratórios,
-los no pão. [...] em que as
pessoas acen-
Não se deve falar nem muito devagar, como se houvesse perdido o gosto pela fala, nem diam velas e
rápido demais, como se estivesse esfomeado por ela, mas de maneira pausada, como deve realizavam cultos
fazer um homem sóbrio. [...] aos santos
católicos.
John R. Hale. Renascença. Trad. Ronaldo Veras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 57. (Biblioteca de História Universal Life).

122
As atividades de lazer

capítulo 7
Havia muitas festas e diversões nas ruas das cidades italianas. Carnavais,
procissões e espetáculos esportivos, como corridas de cavalos e lutas de
boxe, aconteciam em diferentes épocas do ano. Durante esses eventos, as
pessoas usavam seus trajes mais bonitos e enfeitavam ruas e casas com

A Europa moderna: o Renascimento


tecidos coloridos, bandeiras e flores.
Vittore Carpaccio – São Jorge batizando o gentios (detalhe). Séc XVI. Escola de São Jorge de
Schiavoni, Veneza. Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images

Os lutadores combatiam

Giovanni di Ser Giovanni – O jogo de Civettino.


Séc. XV. Palácio Davanzati, Florença
vestidos com trajes
elegantes. Detalhe de
pintura datada do
século XV.

Durante as festividades,
havia muita dança e
música. Nessa pintura,
vemos músicos tocando
trombetas e tambor.

As cidades de Veneza e Florença


Na época renascentista, Flo-

Vista da muralha da cidade de Florença. Séc. XV. Coleção


Stapleton, Reino Unido. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
rença era uma das maiores cida-
des europeias, com cerca de 60
mil habitantes. A cidade era cer-
cada por muralhas e possuía
grandes portões de madeira, vi-
giados dia e noite por sentinelas
armados, que controlavam a en-
trada e a saída das pessoas e
mercadorias vindas de outras
regiões da Itália e, também, de
diferentes regiões do mundo. Em
suas ruas havia muitas lojas,
oficinas, e também igrejas e pa- A imagem acima retrata a cidade de Florença no final do século XV.
lácios.
Vittore Carpaccio - Milagre da relíquia da Cruz na ponte Rialto.
1494. Galeria da Academia, Veneza. Foto: The Bridgeman Art
Library/Getty Images

Veneza era, assim como Florença, uma cidade


agitada. Por ser cortada por canais, era comum
que o transporte de pessoas e de mercadorias
fosse feito em pequenas embarcações chamadas
de gôndolas.
A cidade recebia muitos visitantes, que passe-
avam em gôndolas especiais, muitas delas co-
bertas e manobradas por gondoleiros experientes
e bem vestidos.
Imagem que retrata a cidade de Veneza no início do século XVI.

123
O Renascimento em outras regiões da Europa Teatrólogo
pessoa que
escreve peças
As ideias renascentistas se propagaram por diferentes regiões da Europa, teatrais ou que se
porém em cada lugar elas apresentaram características próprias. ocupa de ativida-
des relacionadas
ao teatro.
Flandres
Durante o Renascimento, a pintura foi uma das principais

Museu do Louvre, Paris


manifestações artísticas em Flandres, região da atual Bélgica.
Os flamengos, como eram chamados os habitan­tes dessa
região, foram os criadores da tinta a óleo, que conferia mais
vivacidade às pinturas, proporcionando forte impacto na
pintura renascentista em diferentes regiões da Europa.
Um dos temas que se popularizaram nas pinturas foram as
cenas do cotidiano familiar, as quais retratavam a rique­z a do
interior de residências ou palácios de banqueiros e comer-
ciantes burgueses.

Os pintores flamengos retratavam com frequência cenas da vida cotidiana e se


interessavam pelos detalhes. Observe a quantidade de pequenos objetos presentes
em O cambista e sua mulher, de Quentin Metsys (1466-1530), feito em 1514.

França

Gustave Dore. Séc. XIX. Ilustração. Coleção particular.


Foto: Stefano Bianchetti/Corbis/Latinstock
Os franceses se destacaram nas mais diferentes manifes-
tações artísticas renascentistas, como a pintura, a escultura
e a arquitetura. A atuação dos mecenas foi muito importante
na França, pois, além dos artistas, eles financiaram o traba-
lho de humanistas, linguistas e poetas, pintores e arquitetos.
Na literatura, destacou-se François Rabelais (c.1490-1553),
autor de Gargântua e Pantagruel . Nessa obra, Rabelais se
utiliza das imagens de dois gigantes medievais fabulosos,
famosos pela sua força e grande apetite, buscando valorizar
os aspectos naturais e corporais da existência humana. Ra-
belais defende a liberdade individual, por meio de uma única
regra moral: “Faze o que tu queres”.

Essa ilustração, feita pelo artista francês Gustave Doré em 1873, representa
Gargântua sendo alimentado, satisfazendo assim, um de seus prazeres.

Inglaterra
Colin Anderson/Photographer’s Choice/Getty Images

O Renascimento inglês começou no final do século XV e


foi marcado principalmente pela atuação de músicos, escri-
tores e teatrólogos. O principal representante do teatro inglês
foi William Shakespeare (1564-1618), autor de peças como
Romeu e Julieta , Hamlet e O mercador de Veneza .
Em seus primeiros trabalhos, Shakespeare abordou temas
otimistas, baseados em sólidos valores morais; no entanto,
na maturidade, passou a escrever tragédias, onde abordava
temas existenciais, como o amor, o cinismo e a desilusão.
A obra de William Shakespeare é revisitada com frequência pelo teatro, cinema e
literatura. A imagem ao lado representa uma encenação recente de Hamlet, que
possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: “To be or not to be:
that’s the question” (“Ser ou não ser, eis a questão”).

124
Espanha

E. Vela. Gravura. Coleção particular. Foto: Prisma Archivo/Alamy/Other Images

capítulo 7
As primeiras manifestações do Renascimento espanhol
datam principalmente do início do século XVI. A grande marca
do Renascimento na Espanha é a forte religiosidade presente
nas pinturas e esculturas da época.

A Europa moderna: o Renascimento


Na literatura, uma das obras mais conhecidas do Renas-
cimento espanhol é Dom Quixote de La Mancha , do escritor
Miguel de Cervantes. O livro conta as aventuras fantasiosas
de um cavaleiro medieval, parodiando os romances de cava-
laria como forma de criticar a sociedade espanhola da época,
considerada atrasada e ainda feudal.

Essa imagem representa Dom Quixote, à direita, e seu companheiro Sancho


Pança após vivenciarem uma de suas aventuras. (Gravura do século XIX).

Portugal

Fundação Biblioteca Nacional, Lisboa


Assim como na Espanha, o Renascimento português se
desenvolveu no início do século XVI. Em Portugal, as princi-
pais manifestações renascentistas ocorreram na literatura e
no teatro. O grande nome da literatura portuguesa foi Luís
Vaz de Camões (1525-1580), autor de Os Lusíadas .
No teatro, o principal expoente foi Gil Vicente (1470-1536),
autor de peças como o Auto da barca do inferno , o Auto das
almas e A farsa de Inês Pereira .

Publicado pela primeira vez em 1572, a obra Os Lusíadas narra


a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco
da Gama, além de outros episódios da história do Estado
português. A imagem ao lado retrata o frontispício da
primeira edição dessa obra.

Albrecht Dürer c. 1498. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock


Alemanha
Quando houve a difusão dos ideais renascentistas e hu-
manistas na Alemanha, no final do século XV e início do XVI,
a região estava sob o impacto da Reforma Protestante lidera-
da por Martinho Lutero, que criticava os abusos da Igreja
Católica.
Nesse contexto conturbado, os ideais renascentistas in-
fluenciaram, principalmente, a produção artística, em que se
destacaram as obras de Albrecht Dürer e Hans Holbein.
Suas gravuras e pinturas receberam influência da Renascença
italiana, mas apresentavam também características propria-
mente germânicas, geralmente abordando temas religiosos
de forma sombria.

Gravura de Albrecht Dürer que representa São Miguel


matando um dragão, ser mitológico associado ao mal.

125
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Explique por que as pessoas do século XVI d ) Que tipos de objetos eles produziam?
chamavam de Renascimento a época em e ) Como era feita a pintura corporal dos
que estavam vivendo. tupinambás? Em que ocasiões eles
2 Escreva sobre os três períodos do Re­n as­ fa­z iam essas pinturas?
cimento italiano, destacando os prin­cipais 12 Explique por que arte e ciência cami­n ha-
artistas de cada um desses pe­r ío­d os. ram juntas durante o Renascimento.
3 O que é um mecenas? Qual sua importância 13 Quais as principais características da mú-
no Renascimento? sica e da literatura renascentistas?
4 Por que é possível afirmar que os hu­ma­nis­ 14 Que tipo de material os escultores renas­
tas realizaram uma reforma edu­c a­c io­n al centistas utilizavam em suas obras?
durante o Renascimento?
15 Escreva um pequeno texto sobre Leonardo
5 Quais valores da Antiguidade clássica fo­ram da Vinci, citando exemplos de suas
resgatados pelos humanistas? rea­l izações.
6 Por que era importante para os humanistas 16 Que pessoas geralmente frequentavam as
estudar o grego e o latim? escolas durante o Renascimento? O que
7 O que significa antropocentrismo? elas aprendiam nas escolas?

8 Durante a Idade Média, os seres humanos 17 Faça uma descrição da cidade de Florença
eram considerados pecadores incapazes na época do Renascimento.
de pensar livremente. E durante o Re­n as­ 18 O que são gôndolas? Em qual cidade ita­
cimento, como o ser hu­m ano era visto? liana elas são utilizadas como meio de
9 Cite algumas conquistas científicas da épo­ transporte?
ca do Renascimento. 19 Cite algumas manifestações do Renas­
10 O que é heliocentrismo? cimento nos seguintes lugares da Eu­ropa.
a ) Flandres.
11 Sobre os tupinambás, responda.
a ) Como eles chamavam o território onde b ) França.
habitavam? c ) Inglaterra.
b ) Como eram organizadas suas aldeias? d ) Espanha.
c ) Qual era a base da alimentação desse
e ) Portugal.
povo?

Expandindo o conteúdo

20 Leia o texto a seguir.

Os modelos de Ptolomeu e Copérnico


Cláudio Ptolomeu foi um astrônomo e geógrafo grego que viveu [...] provavelmente
entre os anos de 90 e 168. Ptolomeu propôs um modelo para explicar o movimento que
observamos todos os dias: o nascer e o pôr do sol.

126
capítulo 7
Ele também procurou elucidar o movimento dos planetas e das estrelas. Em seu modelo
a Terra era o centro do Universo. Tudo girava ao seu redor. Cada astro circundava a Terra
em sua órbita. Em volta da Terra estariam, primeiro, a Lua; depois, Mercúrio, Vênus, Sol,
Marte, Júpiter e Saturno.

A Europa moderna: o Renascimento


[...] Esse modelo, baseado na física de Aristóteles, foi assumido como verdadeiro pela
Igreja ao longo da Idade Média. [...]
No século XVI, [...] aproximadamente 1500 anos após Ptolomeu, um cônego polonês
chamado Nicolau Copérnico (1473-1543), ao estudar o movimento dos planetas, achou
que o modelo geocêntrico de Ptolomeu era muito complicado. [...] Copérnico pensou
que o Sol, sendo o único astro com luz própria do sistema, não poderia ficar fora do
centro, para que pudesse iluminar bem os demais planetas. Cogitou, então, em construir
um outro modelo, no qual mudava o centro das órbitas dos planetas da Terra para o Sol.
Esse modelo ficou conhecido como heliocêntrico, isto é, o Sol no centro.
Andréia Guerra e outros. Galileu e o nascimento da ciência moderna.
São Paulo: Atual, 1997. p. 27-8. (Ciência no tempo).

a ) Qual foi o modelo proposto por Cláudio Ptolomeu para explicar o movimento dos planetas
e das estrelas? Que nome foi dado a esse modelo?
b ) Por que Nicolau Copérnico achou que o Sol deveria ser o centro do Universo?
c ) Como ficou conhecido o modelo proposto por Copérnico?

21 Leia o texto a seguir.

Nas pinturas da Idade Média, os objetos e as pessoas pareciam

André L. Silva
ponto de fuga
chapados e fora de proporção. Foi durante o Renascimento que
os artistas passaram a usar a perspectiva e começaram a desenhar
as coisas do modo como as viam na natureza.
Pensando bem, não é fácil mostrar profundidade e espaço em
uma figura desenhada sobre uma superfície plana. [...] No mun-
do real, quanto mais longe as coisas estão, menores parecem.
Basta olhar para uma fila de postes de telefone para comprovar.
Os postes mais próximos de você parecem maiores do que os que
estão mais longe, embora tenham o mesmo tamanho. [...] Você
pode ver outro exemplo de perspectiva na ilustração dos trilhos
de trem [...] ao lado. As linhas paralelas parecem se juntar à me-
dida que se distanciam de você. Em arte, esse ponto onde as
linhas se encontram chama-se ponto de fuga.
Janis Herbert . Leonardo da Vinci para crianças.
Trad. Fernanda Abreu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 22.

a ) Escreva um pequeno texto explicando o que você entendeu sobre perspectiva e ponto de
fuga. Se precisar, cite exemplos para ajudar na sua explicação.

22 O escritor português Luís Vaz de Camões foi um dos principais representantes do Renasci-
mento em Portugal. Em sua obra, Os Lusíadas (1572), ele narra as aventuras da expedição
de Vasco da Gama em busca do caminho marítimo para as Índias. Leia um trecho de
Os Lusíadas.

127
A reunião dos deuses
Os portugueses navegavam pelo grande oceano desconhecido. O vento manso inchava as velas das
naus. As proas cortavam as águas, deixando a superfície coberta de espuma branca.
Enquanto isso, os deuses estavam reunidos no monte Olimpo, convocados por Júpiter,
senhor dos raios.
Com uma voz de meter medo, o pai de todos os deuses falou:
— Eternos moradores do céu estrelado! Chamei vocês aqui por causa desse pequeno povo da Eu-
ropa descendente do deus Luso e que agora vai realizar grandes feitos. Suas façanhas serão maiores que
as dos assírios, dos persas, dos gregos e dos romanos, os quatro povos que já dominaram o mundo.
E Júpiter continuou falando:
— O destino prometeu a eles o governo do mar do Sol nascente. Assim, é justo que encontrem logo
a terra desejada. [...]
Luís Vaz de Camões. Os Lusíadas. Adap. Edson Rocha Braga. São Paulo:
Scipione, 1998, p. 4-5. (Reencontro infantil).

a ) É possível perceber a influência da Antiguidade clássica nesse trecho de Os Lusíadas?


Por quê?
b ) De acordo com o texto, quais povos já haviam dominado o mundo na época da expedição
de Vasco da Gama? Escolha um desses povos e produza um texto com o conhecimen-
to que você tem sobre ele.

23 Na pintura medieval as pessoas não eram representadas da forma como nós as vemos, pois
não havia a preocupação com noções de profundidade e proporcionalidade.
Observe as imagens a seguir, que representam as Três Graças, deusas da Antiguidade clássi-
ca. Depois, responda às questões.

A
Museu Britânico, Londres

As Três Graças.
Iluminura de
manuscrito italiano,
século XIV.

128
capítulo 7
B

Sandro Botticelli. c. 1478. Galeria dos Ofícios, Florença. vbvFoto: Corel Stock Photo

A Europa moderna: o Renascimento


Detalhe da obra Primavera,
de Botticelli, século XV, em
que estão representadas as
Três Graças.

a ) Faça uma descrição da imagem A. Anote, por exemplo, a data em que foi produzida,
como as personagens foram representadas e a sensação que a imagem causou em
você.
b ) Proceda da mesma maneira com a imagem B.
c ) Depois, escreva um pequeno texto comparando as duas imagens. Destaque, por exemplo,
os trajes que as personagens estão usando, os tecidos, a maneira como seus cabelos
foram representados, as expressões de seus rostos, as técnicas utilizadas nessas pin-
turas etc.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ O Renascimento foi um movimento que buscou rever as concepções medievais do mundo.
■■ O Renascimento italiano costuma ser dividido em três períodos: Trecento, Quattrocento e
Cinquecento.
■■ Os humanistas utilizavam diversos valores da Antiguidade clássica como referências para
seus estudos.
■■ O movimento renascentista provocou grandes transformações em diversas áreas, dentre
elas a ciência e a arte.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

129
8
A Europa moderna:
capítulo

as Grandes Navegações
Joannes Stradanus – Caçando criaturas marítimas. Séc. XVII. Coleção particular.
Foto: The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library/Keystone

Veja nas Orientações


para o professor
alguns comentários
e explicações sobre
os recursos
apresentados no
capítulo.

A Nessa pintura, vemos a


representação de
embarcações europeias e de
algumas criaturas marítimas.
Gravura do século XVII.
Jerônimo Marini – Orbis Universalis. 1512. Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro

B Mapa-múndi produzido em
1512 pelo italiano Jerônimo
Marini. Esse foi o primeiro
mapa em que a palavra
Brasil é utilizada para nomear
as terras recém-conquistadas
pela Coroa portuguesa na
América.

130
C A bússola foi um instrumento de
grande importância para as navegações
oceânicas. Ela foi criada por chineses e
Top Foto/Keystone

aperfeiçoada pelos árabes antes de ser


utilizada pelos europeus.

Interior de farmácia. Séc. XV. Castelo de Issogne, Vale de Aosta.


Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Essa imagem representa uma D
botica no final do século XV, na
Europa. Nesses estabelecimentos
era feito o comércio de
medicamentos e especiarias.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
Como vimos no capítulo anterior, a Idade Moderna foi uma época de conhecimento prévio
dos alunos e estimular
profundas transformações. Nesse período, por meio das Grandes Nave- seu interesse pelos
gações, os europeus entraram em contato com outros povos e culturas, assuntos que serão
desenvolvidos no
e também ampliaram seus conhecimentos geográficos. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os entre os alunos de
colegas sobre as questões a seguir. maneira que todos
participem
■■ Descreva a fonte A. Como as criaturas marítimas foram representadas expressando suas
nessa fonte? Em sua opinião, elas eram reais ou imaginárias? Que opiniões e respeitando
as dos colegas.
informações essa fonte pode fornecer sobre o imaginário europeu na
época das Grandes Navegações?
■■ A fonte B ilustra um mapa-múndi do século XVI. Por que o mundo foi
representado dessa forma? Identifique as semelhanças e as diferenças
entre esse mapa-múndi e os que são produzidos na atualidade.
■■ A fonte C retrata uma bússola. Por que esse instrumento foi impor-
tante para as Grandes Navegações?
■■ Descreva a fonte D. Você sabe qual é a relação entre o comércio de
especiarias e as Grandes Navegações? Comente.
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

131
Medo e aventura nos mares
A procura por riquezas levou os europeus a enfrentar seus medos
e a desbravar mares e oceanos desconhecidos.

O que foram as Grandes Navegações?


Grandes Navegações é o nome dado ao conjunto de expedições marítimas
realizadas principalmente por portugueses e espanhóis entre os séculos XV
e XVII. Nessas expedições, os europeus se lançaram ao mar em busca de
novos territórios, de especiarias e de metais preciosos.
Por meio das Grandes Navegações, os europeus acabaram colocando
em contato povos de diferentes regiões do planeta.

Olaus Magnus (detalhe). 1539.


Museu Britânico, Londres
O medo do desconhecido
Na época das Grandes Navegações, os europeus
tiveram de enfrentar muitos perigos nos mares,
mas nada era tão assustador como o medo do
desconhecido.
Eles acreditavam que os oceanos eram habitados Ilustração de 1539,
por peixes gigantes, dragões e outros monstros, e que representa um
temiam ser devorados por esses seres imaginários. monstro imaginário
atacando uma
caravela.
As rotas das navegações
Apesar do grande medo do desconhecido, os europeus se lançaram ao
mar em busca de novas terras e de riquezas. Eles desenvolveram uma tec-
nologia de navegação eficiente, que permitiu a realização de grandes viagens
e a descoberta de um novo mundo. Observe, no mapa, as principais rotas
das Grandes Navegações.

As Grandes Navegações

E. Cavalcante
OCEANO GLACIAL ÁRTICO N

O L
Círculo Polar Ártico
S

EUROPA
AMÉRIC A
DO N ORTE PORTUGAL ESPANHA ÁSIA
Is. Açores Lisboa
Palos
I. Madeira Ceuta OCEANO
Cabo PACÍFICO
Trópico de Câncer Bojador
AMÉRIC A I. Hispaniola Cabo Calicute
C EN TRAL Verde ÁFRICA
FILIPINAS

Equador
Melinde 0°
OCEANO PACÍFICO AMÉRIC A
DO SUL
OCEANO ÍNDICO
Porto Seguro
Sofala OCEANIA
Trópico de Capricórnio
Cabo da
Boa
OCEANO Esperança
ATLÂNTICO Bartolomeu Dias (Portugal)
Vasco da Gama (Portugal)
Meridiano de

Pedro Álvares Cabral (Portugal)


Greenwich

Estreito de Cristóvão Colombo (Espanha)


Magalhães Fernão de Magalhães e
Círculo Polar Antártico Sebastião Elcano (Portugal)
OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

0 2 340 km

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

132
A formação dos Estados modernos

capítulo 8
No século XV, o poder dos reis europeus foi fortalecido com o apoio da nobreza
e da burguesia.

A Europa moderna: as Grandes Navegações


O desenvolvimento comercial e urbano
No século XV, em razão do aumento das trocas comerciais, muitas cidades
europeias passavam por um momento de grande crescimento. Dessa forma,
as relações feudais estavam se enfraquecendo.
Nesse contexto, os comerciantes, conhecidos como burgueses, enfrentavam
dificuldades para vender seus produtos, pois as estradas que eles percorriam
eram precárias e inseguras. Além disso, não havia uma moeda unificada para
todos os feudos.

Mestre de Maria de Borgonha – O exército francês


derrota o flamengo em Cassel em 1328. Coleção
do Earl de Leicester, Holkham Hall, Norfolk. Foto:
The Bridgeman Art Library/Keystone
Para intensificar as relações comerciais, os
reis financiaram a construção de novas estradas
e garantiram sua segurança. Também padroni-
zaram as moedas e, assim, passaram a controlar
melhor a arrecadação de impostos de todas as
regiões de seus reinos. Além disso, com os im-
postos arrecadados, eles formaram exércitos
que não estavam submetidos ao poder dos
senhores feudais. Pintura do século XIV
que representa o
Mais poder ao rei exército francês
combatendo
Os comerciantes apoiavam os reis, pois as mudanças promovidas por eles soldados flamengos.
estimulavam as relações comerciais. Os nobres, apesar de se enfraquecerem A França foi uma das
com essas mudanças, também apoiavam os reis, pois mantinham muitos privi- primeiras nações
légios, como a isenção do pagamento de impostos e o recebimento de pensões. europeias a formar
um exército
O apoio da burguesia e da nobreza fortaleceu o poder dos reis e possibi- profissional que
litou a centralização política dos reinos, que foram se constituindo em Esta- ficava sob as ordens
dos, ou seja, grandes extensões territoriais que tinham suas próprias leis e do rei.
um governo forte e centralizado. Essa centralização possibilitou aos reis in-
vestir seus recursos na procura por novos territórios e riquezas, como ouro
e especiarias, incentivando as navegações marítimas a partir do século XV.

O Estado moderno português Lusitano relativo


No século VIII, a península Ibérica havia sido invadida pelos muçulmanos, que estabele- a Portugal.
ceram um governo próprio e passaram a administrar a região. A partir do século XII, os
nobres da região da Lusitânia organizaram um exército para expulsar os muçulmanos do
território. Em 1125, o exército lusitano passou a ser
comandado pelo nobre D. Afonso Henriques, que venceu
Theodore de Bry – Partida de Lisboa para o Brasil.
Séc. XVI. Serviço Histórico da Marinha, Vincennes

o exército muçulmano e, em 1139, unificou a região da


Lusitânia. D. Afonso fundou, então, o Reino de Portugal,
tornando-se rei do primeiro Estado moderno europeu.
A centralização do poder nas mãos do rei, a posição
geográfica de Portugal e o conhecimento sobre navegação
que os ibéricos tinham aprendido com os muçulmanos foram
fundamentais para que os portugueses pudessem iniciar as
Grandes Navegações, no começo do século XV.

Essa imagem mostra a movimentação de


embarcações no porto de Lisboa, no século XVI.

133
As cobiçadas especiarias
Até o início do século XV, o comércio de especiarias na Europa era quase todo feito
por mercadores árabes e italianos.

O comércio de especiarias
Na época das Grandes Navegações, era difícil fazer a conservação dos
alimentos. Por isso, para conservar e melhorar seu sabor, principalmente o
da carne, as pessoas usavam especiarias, como pimenta, cravo, canela, Especiarias
noz-moscada e gengibre. As especiarias, no entanto, eram muito caras na
Europa. Leia o texto a seguir.

[No século XV], [...] a Europa já negociava com o Norte da África e a Ásia,
inclusive com o Extremo Oriente. Como as distâncias entre esses locais eram A tomada de
Ceuta
enormes e os europeus não controlavam sozinhos todas as rotas, havia uma sé-
A cidade de
rie de intermediários no comércio. Os principais intermediários eram os árabes Ceuta, no norte
[...], que traziam a maioria das mercadorias até as cidades italianas, como Vene- da África, era um
za, Gênova, Pisa etc. Daí os produtos eram distribuídos por toda a Europa [...]. importante centro
comercial, onde
Passando por tantas mãos, as mercadorias chegavam muito caras aos destinos.
circulava o ouro
Todo esse comércio era feito basicamente por terra [...]. A pequena parte do comércio
marítima se realizava sempre junto à costa ou em mares fechados (como o transaariano.
Com o objetivo de
Mediterrâneo, o mais importante mar comercial da época), porque os europeus controlar esse
não sabiam como velejar em mar aberto. comércio, os
Janaína Amado; Ledonias Franco Garcia. Navegar é preciso: grandes descobrimentos
portugueses
marítimos europeus. São Paulo: Atual, 1989, p. 14-5. (História em documentos). atacaram e
conquistaram
Photodisc/Getty Images

Ceuta, em 1415.
Além do ouro,
outros produtos
comercializados
nessa cidade
eram muito
cobiçados pelos
portugueses,
As especiarias, como cravo, pimenta, folha de louro e canela, são principalmente as
encontradas facilmente na atualidade, porém, na época das Grandes especiarias.
Navegações, elas eram consideradas artigos de luxo.
Transaariano
A tomada de que atravessa o
Séc. XV. Coleção particular. Foto: Roger–Viollet/Top Foto/Keystone

Constantinopla deserto do Saara,


no continente
Em 1453, a tomada de africano.
Constantinopla pelos turco-
-otomanos dificultou ainda
mais o acesso dos europeus
ao comércio de especiarias.
Essa dificuldade acabou
estimulando a procura por
um caminho marítimo para
as Índias. A gravura ao lado
representa o ataque turco
à Constantinopla, em 1453.

134
O caminho marítimo para as Índias

capítulo 8
Insatisfeitos com os altos preços dos produtos orientais, portugueses e espanhóis
se lançaram ao mar na busca de um caminho marítimo para as Índias.
Cabo porção de

A Europa moderna: as Grandes Navegações


terra que avança
A procura pelo caminho marítimo para o mar.

Os portugueses fizeram grandes esforços para encontrar um caminho O que eram


marítimo para as Índias. Uma conquista importante aconteceu quando, as “Índias”?
depois de várias tentativas, uma expedição comandada por Gil Eanes con- Na época das
seguiu finalmente ultrapassar o cabo Bojador, na costa africana, em 1434, Grandes Navega-
e depois retornar para Portugal. ções, os europeus
chamavam de
A notícia logo se espalhou e estimulou os governantes portugueses a “Índias” diferentes
patrocinar novas expedições. Várias delas percorreram o litoral ocidental regiões, principal-
da África, entrando em contato com as populações locais e tomando co- mente as do conti-
nhecimento da geografia e das correntes marítimas. Isso possibilitou um nente asiático,
como a China, o
aprimoramento dos mapas e abriu caminho para que novos marinheiros se Japão e a Índia.
aventurassem pelo oceano Atlântico.

O cabo da Boa Esperança

Christopher Thomas/Photographer’s Choice /


Getty Images
Conhecendo algumas informações básicas
sobre o litoral africano e suas correntes marítimas,
os portugueses foram cada vez mais longe até
que, em 1487, uma expedição comandada por
Bartolomeu Dias ultrapassou o cabo das Tormen-
tas, no extremo sul do continente africano. Ani-
mado com a conquista, o rei português decidiu
mudar o nome do cabo das Tormentas para cabo
da Boa Esperança e começou a investir em uma Cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente
nova expedição exploradora. africano. Fotografia aérea tirada na atualidade.

A chegada à América

Theodore de Bry – Colombo em Espanhola. Séc. XVI. Coleção particular


Entusiasmados com a conquista marítima dos
portugueses, os reis espanhóis apoiaram uma
expedição que também tinha o objetivo de
encon­t rar um caminho marítimo para as Índias.
Comandada por Cristóvão Colombo, essa expe-
dição saiu do porto de Palos, na Espanha, em
agosto de 1492. Colombo, no entanto, acredi-
tava que a Terra era redonda e que seria possível
chegar às Índias navegando sempre na direção
oeste.
Em 12 de outubro, pouco mais de dois meses
após a partida, Colombo desembarcou no terri-
tório que acreditou se tratar das Índias. Ele, na Gravura do século XVI, que representa a chegada de
Cristóvão Colombo à América. Observe os detalhes dessa
verdade, estava equivocado, pois havia chegado
imagem, que manifestam a mentalidade europeia da
a um continente até então desconhecido dos época: a cristianização dos habitantes nativos,
europeus. Esse continente, mais tarde, seria simbolizada na fixação de uma cruz e o desejo de
chamado de América. explorar os metais preciosos do território indígena.

135
O Tratado de Tordesilhas
Logo após a chegada de Colombo à Améri-
ca, os reis espanhóis tentaram garantir a pos- Os tratados entre Portugal e Espanha
se do território para a Espanha. Eles recorreram

E. Cavalcante
N

ao papa Alexandre VI que, em maio de 1493, O L

S
publicou a chamada bula Inter Coetera . Essa
EUROP A
bula estabelecia uma linha imaginária localiza-
da a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Açores
Verde: as terras encontradas a leste dessa linha Madeira
seriam portuguesas e as terras a oeste seriam Canárias

espanholas. ÁFRICA
AMÉRICA
Insatisfeito com essa partilha, o rei de Portugal Ilhas de
Cabo Verde
pro pôs que a linha divisória ficasse a 370 léguas Equador

a oeste das ilhas de Cabo Verde, aumentando a

Meridiano de Greenwich
área de domínio português. Esse acordo, conhe- OCEANO
ATLÂNTICO
cido como Tratado de Tordesilhas, foi assinado
pelo papa e pelos reis portugueses e espanhóis
OCEANO
em 1494. PACÍFICO

Tratado de Tordesilhas Bula Inter Coetera


(7 de junho de 1494) (4 de maio de 1493)

Fonte: GOES FILHO, Synerio Sampaio. Navegantes,


bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formação 0 1 880 km
das fronteiras do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 0°

A chegada às Índias
Poucos anos depois, o governo português en-

Autor deconhecido. Coleção particular.


Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
viou uma nova expedição para tentar finalmente
chegar às Índias por um caminho marítimo. Essa
expedição, comandada por Vasco da Gama, atin-
giu seu objetivo, chegando à cidade de Calicute,
na Índia, em 1498. Os portugueses negociaram
com os indianos e vol taram para Portugal com os
navios repletos de especiarias e artigos de luxo.
Foram recebidos como verdadeiros heróis em sua
terra natal.

Gravura que representa Vasco da Gama sendo recebido pelo


governante e pelos membros da Corte de Calicute, na Índia.

A chegada ao Brasil
Animados com o sucesso da expedição de Vasco da Gama, os gover-
Bula documento
nantes portugueses financiaram uma nova expedição para buscar especia- religioso que traz
rias e estabelecer contatos comerciais com os indianos. Essa expedição, determinações do
composta por 13 embarcações, partiu de Portugal sob o comando de Pedro papa.
Álvares Cabral. Légua antiga
Antes de chegar ao seu destino, no entanto, a expedição se afastou de- medida de
distância equiva-
mais da costa africana e acabou chegando ao litoral do atual estado da lente a cerca de
Bahia, no Brasil, em 22 de abril de 1500. Os portugueses permaneceram 6,5 quilômetros.
neste território cerca de dez dias, fizeram contatos com os indígenas e
depois seguiram viagem rumo à Índia.

136
História em construção A polêmica do descobrimento

capítulo 8
O uso da expressão “descobrimento” do

J. L. Bulcão/Pulsar
Brasil vem sendo cada vez mais contestado.
De acordo com a versão tradicional, a frota de

A Europa moderna: as Grandes Navegações


Pedro Álvares Cabral desviou-se da rota pre-
vista e acabou chegando ao litoral do atual
estado da Bahia, realizando assim a “desco-
berta do Brasil”.
Essa versão é cada vez menos aceita pelos
historiadores, pois apresenta várias distorções.
Uma delas é o fato de que, quando a frota de
Cabral aqui chegou, em 22 de abril de 1500,
este território já era habitado por cerca de três
milhões de indígenas. Desse modo, como po-
deria ter ocorrido uma descoberta?
Fotografia tirada no ano de 2000, do monte Pascoal,
Leia o texto a seguir, que trata desse assunto. primeiro local avistado pela frota de Cabral.

Descobrimento é um termo tradicionalmente empregado pela historiografia [...], desde o século XIX,
para se referir à chegada dos primeiros europeus à América e ao início da colonização desse continente. [...]
Capistrano de Abreu, historiador do final do século XIX [...] utiliza, de acordo com o uso então comum, a
expressão “descobrimento do Brasil” para falar das primeiras expedições ao que viria ser o território brasi-
leiro. Mas o termo parece ter caído em desuso no fim do século XX. A crítica ao processo predatório de
colonização rendeu frutos e atualmente a maioria dos historiadores [...] prefere nem mesmo falar de desco-
brimento, mas de conquista e de colonização. [...]
Kalina Vanderlei Silva; Maciel Henrique Silva. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 93.

Portugueses ou espanhóis?
Outras questões polêmicas ainda envolvem o episódio da chega-

Age Fotostock/SuperStock/Glow Images


da dos europeus ao Brasil. Historiadores têm debatido, por exemplo,
sobre a possibilidade de a frota marítima liderada por Cabral não
ter sido a primeira a chegar ao território brasileiro.
O historiador e geógrafo pernambucano, Manuel Correia de
Andrade, apontou recentemente que, antes dos portugueses, nave-
gantes espanhóis já haviam visitado o litoral norte do Brasil, entre
eles estaria Vicente Yáñes Pinzón. Ele teria desembarcado no litoral
brasileiro em janeiro de 1500, ou seja, três meses antes de Cabral.

Painel que presta homenagem a Vicente Yáñez Pinzón (1462-1514).


Esse painel localiza-se em Palos de la Frontera, na Espanha, cidade
conhecida como “Berço do Descobrimento da América”.

Causalidade ou intencionalidade?
Até algumas décadas atrás, a historiografia privilegiou a teoria de que os portugueses não
sabiam da existência do território brasileiro e que chegaram aqui por acaso. Atualmente, no
entanto, vários historiadores têm contestado essa versão e argumentam que os portugueses
já sabiam da existência destas terras.
De acordo com esses historiadores, foi por isso que, na época da assinatura do Tratado
de Tordesilhas, em 1494, os portugueses insistiram tanto em deslocar para oeste a linha
imaginária que dividia as possessões da Espanha e de Portugal.

137
Explorando o tema

O cotidiano em alto-mar
A tripulação de uma caravela vivia um cotidiano difícil e perigoso, com viagens longas e
desconfortáveis. Os viajantes estavam sujeitos a vários riscos, como naufrágios ou ataques
de piratas. O dia a dia das embarcações era marcado pelo desconforto, pela fome e pela
falta de higiene. As precárias condições de vida facilitavam a disseminação de doenças que
ameaçavam toda a tripulação.

Crianças e adolescentes
entre nove e dezesseis
anos eram alistadas
nas embarcações para
trabalhar como
grumetes. Os grumetes
faziam o mesmo
trabalho pesado que os
marinheiros e
frequentemente sofriam
maus-tratos.

Nos momentos de folga,


os marujos divertiam-se,
Os carpinteiros e os calafates
por exemplo, pescando,
eram encarregados de fazer
jogando cartas ou
reparos e vedar frestas no casco
cantando. Outro
para evitar a entrada de água na
passatempo comum
embarcação.
entre eles era contar e
ouvir histórias de viagens
e aventuras.
Art Capri

138 Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
capítulo 8
O mestre orientava e
dava ordens aos

Séc. XV. Biblioteca Estense Universitária, Modena


marinheiros, além de

A Europa moderna: as Grandes Navegações


informar ao piloto
sobre o rumo a ser
seguido.

O comandante
planejava o trajeto da
viagem, mapeava o
caminho a ser seguido e
calculava as distâncias. A cartografia dos séculos XV e XVI baseava-se nas cartas-portulano:
Além disso, ele mapas desenhados sobre pergaminhos. Esses mapas possuíam
registrava em um diário instruções náuticas sobre as direções e distâncias aproximadas, que
de bordo os principais orientavam os comandantes. Após cada viagem os portulanos eram
acontecimentos da atualizados com os conhecimentos adquiridos nas novas terras.
viagem.
A alimentação dos tripulantes era composta de carne seca, peixes
secos, queijo, cebola, grãos, ervilhas secas e biscoitos. Por causa
das dificuldades de conservação, no entanto, os alimentos e
O capitão-mor também a água logo se deterioravam. Leia a seguir uma breve
chefiava e organizava descrição sobre uma doença muito comum no interior das carave-
toda a viagem. Era ele las, o escorbuto.
quem recebia o maior
pagamento, a melhor De todas as calamidades físicas que se abatiam sobre os marujos dos
alimentação e o séculos XVI e XVII, nenhuma era mais devastadora e repulsiva que o
alojamento mais escorbuto. Doença provocada pela carência de vitamina C, o escorbuto
confortável. provoca hemorragias e causa rompimento das paredes de vasos sanguí-
neos. [...] O efeito mais conhecido da doença é o inchaço das gengivas,
que apodreciam, ficavam muitíssimo malcheirosas e tinham que ser cor-
tadas a navalha. As vítimas do escorbuto em geral morriam após dois
meses de grandes sofrimentos.
Eduardo Bueno. A viagem do descobrimento: a verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de Janeiro:
Objetiva, 1998. p. 41. (Terra Brasilis).

Severino Baraldi - Fernão de Magalhães. 1980. Gravura. Coleção particular. Foto:


Look and Learn/The Bridgeman Art Library International/Keystone (detalhe)

139
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Explique com suas palavras o que foram as 9 O que determinou o Tratado de Tordesilhas?
Grandes Navegações.
10 Qual era o objetivo da expedição coman­
2 Produza um pequeno texto explicando os da­d a por Pedro Álvares Cabral? Antes de
principais motivos que levaram à forma­ chegar ao seu destino, em que lugar essa
ção dos Estados modernos. expedi­ção aportou? Quando isso ocorreu?
3 Com qual objetivo os portugueses atacaram
11 No ano de 1500, quantos indígenas habita­
Ceuta?
vam o território onde hoje é o Brasil?
4 O que eram as chamadas Índias?
12 Por que o uso da expressão “descoberta
5 Antes da descoberta do caminho marítimo do Brasil” vem sendo cada vez mais con­
para as Índias, como era feito o comércio testado?
de especiarias? Que povos controlavam
esse comércio? 13 Alguns historiadores afirmam que a ex­
pedição comandada por Pedro Álvares
6 Onde fica localizado o cabo da Boa Espe­
Cabral chegou ao Brasil por acaso. Outros
rança? Como era chamado esse cabo
historiadores, no entanto, discordam des­
antes de 1487?
sa versão. Produza um texto explicando
7 Qual era o objetivo da expedição coman­­ quais são os argumentos defendidos por
dada por Cristóvão Colombo? Em que esses dois grupos de estudiosos.
continente essa expedição acabou che­
gando? Quando isso ocorreu? 14 Cite algumas tarefas realizadas pelos tripu­
lantes de uma caravela durante uma via­
8 O que determinava a bula Inter Coetera? gem na época das Grandes Navegações.
Em que ano ela foi publicada?

Expandindo o conteúdo
15 Leia o texto a seguir sobre uma viagem marítima que aconteceu no ano de 1500.

Sexta-feira, 20 de março de 1500. O piloto Pero Escolar aposta que daqui a três dias os marinhei-
ros verão o arquipélago de Cabo Verde. Há que se dar crédito à previsão de Escolar. É dos mais
experientes tripulantes desta frota, ostenta um raro currículo de sucessos no mar. Há 12 anos, em
1488, participou da frota de Bartolomeu Dias na expedição que venceu o cabo das Tormentas, no sul
da África. Também estava no timão do navio de Vasco da Gama quando os portugueses descobriram
o caminho marítimo para as Índias. Na hierarquia das esquadras, o piloto é figura-chave. É o moto-
rista do barco, fica no timão. Daí ser chamado de timoneiro.
No mar, há dois tipos de profissionais: a ‘‘gente do mar’’ e a ‘‘gente das armas’’. O primeiro grupo
cuida de todas as tarefas náuticas; o segundo, da parte bélica. Entre a ‘‘gente do mar’’ estão coman-
dantes, pilotos, grumetes, pajens, remendadores de velas. O grupo das armas é o quartel flutuante
[...]. Nele servem soldados e artilheiros, ou bombardeiros. Trabalham sob as ordens do artilheiro-
-mestre e do sargento. [...] A turma de guerreiros é imensa. Responde por quase a metade da
tripulação: são 700 soldados, distribuídos pelos 13 barcos e a maioria com menos de 20 anos de
idade. Não recebem treinamento e sequer têm formação militar. Antes de embarcar, eram artesãos,
sapateiros e alfaiates no comércio lisboeta. Não estão felizes em alto-mar, são recrutados a força e
ganham uma mixaria de cinco cruzados anuais. A ‘‘gente do mar’’ também não é das mais alegres a
bordo. O trabalho infantil é corriqueiro. Nesta esquadra, 10% da tripulação é de crianças com

140
capítulo 8
idade entre 9 e 15 anos. São os grumetes e os pajens, personagens frequentes em todos os barcos que
deixam Lisboa. Chegam alistados pelos próprios pais interessados em receber o pequeno soldo pago
aos meninos. Os pajens servem aos religiosos e oficiais. Os grumetes fazem de tudo. Lavam o convés,
os banheiros e, por vezes, trabalham como remendadores de velas. É um ofício ininterrupto: as velas

A Europa moderna: as Grandes Navegações


vivem rasgando por causa do atrito no intrincado sistema de cordames. O comandante é a autorida-
de máxima no barco. Em tese, é o responsável pela navegação. Mas como muitos, a exemplo de
Cabral, pouco entendem de mar, a singradura fica por conta de seus subordinados. O imediato trata
da proa; o contramestre, da popa; o guarda, do convés. Com apitos sincronizados, organizam o tra-
balho dos 60 marinheiros da nau capitânia. Nos outros barcos, o número de marinheiros é menor,
mas as funções são as mesmas.
O serviço pesado não é feito apenas pelos marinheiros e grumetes. Há também os calafates, que
vedam fendas e buracos no casco do barco; e os tanoeiros, que cuidam dos tonéis, barris e pipas
guardados no porão, para que não vazem. Completam o grupo da ‘‘gente do mar’’ dezenas de arte-
sãos e carpinteiros. Como se vê, esta esquadra é uma multidão de gente e ofícios. Estão amontoadas
nestes 13 barcos 1 500 pessoas, cerca de 2,5% da população de Lisboa. A superlotação é arriscada.
Uma das principais razões dos acidentes em alto-mar é justamente o peso excessivo dos navios. Há
uma média de 20% de tripulação excedente em cada navio que singra o Atlântico a partir de Portu-
gal. A maioria dos tripulantes dorme vendo a lua no gelado convés. Todos sonham com o regresso.
Ana Beatriz Magno. As lides da multidão no mar. Correio Web. Extraído do site: <www2.correioweb.com.br>. Acesso em: 10 jul. 2008.

a ) Quais são os dois principais grupos de profissionais presentes nas embarcações?


b ) Cite algumas atividades realizadas por profissionais de cada um desses grupos.
c ) De acordo com o texto, que tipos de trabalho eram realizados por crianças? Como essas
crianças eram alistadas para trabalhar na embarcação?
d ) De quais expedições o piloto Pero Escolar já havia participado? Qual era a expedição da
qual ele participava no ano de 1500?

16 Leia o texto a seguir, que trata da formação dos Estados modernos na época das Grandes
Navegações.

A sociedade medieval baseava-se, internamente, [em uma] hierarquia consagrada pela Igreja,
onde cada indivíduo ocupava o lugar que Deus havia lhe predeterminado. Por isso, a tentativa de
mudar a situação social era vista como um ato de rebeldia contra a vontade divina. Esse controle da
Igreja era exercido principalmente sobre os moradores das cidades medievais, de mentalidade con-
servadora e atrelada às normas tradicionais.
Mas com o desenvolvimento do comércio, a burguesia adquiriu um poder sem precedentes.
Pequenos mercadores foram se transformando em grandes comerciantes e deram início a um pro-
cesso de dissolução das estruturas e concepções da antiga ordem social. Foi surgindo, então, pouco a
pouco, uma classe burguesa, que, com base em seu poder econômico e cultural, começou a romper
os vínculos com o clero e a nobreza. [...]
A nobreza, por sua vez, a partir do início do século XVI, foi se tornando cada vez mais dependen-
te dos monarcas.
Sob ameaça de pena de morte, os nobres foram proibidos, por exemplo, de possuir canhões ou
recrutar tropas em seus territórios. Sem poder guerrear e arruinada economicamente, a nobreza
aproximou-se dos reis [...].
Com a falência política e econômica da nobreza, estabeleceu-se uma nova relação entre [os gru-
pos sociais]. A burguesia e a Monarquia aliaram-se. Para a burguesia, essa aliança significava,

141
sobretudo, livrar-se do antigo imposto feudal e aumentar suas possibilidades de enriquecimento, já
que podia negociar diretamente com o Estado, ter uma moeda mais estável e ligar-se ao aparelho
administrativo.
Os monarcas europeus, embora oriundos da aristocracia, buscavam formas de se libertar dos
laços de suserania e vassalagem. Tolhidos por esses compromissos feudais, eles reinavam, mas não
governavam. Assim, a ambição política da Monarquia absorveu de bom grado o nascente ideal
nacionalista que se difundia nas cidades. E recebeu, em troca, o apoio político e econômico da bur-
guesia. Foram surgindo as fortes monarquias europeias, que se tornaram Estados [...] soberanos.
Assim, a aliança burguesia-realeza foi uma consequência [...] de ambições comuns.
Conhecer 2000: História — Da Idade Média à Idade Moderna. São Paulo: Nova Cultural, 1995. v. 10. p. 92-3.
(Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa).

a ) Que transformações o desenvolvimento do comércio provocou na sociedade europeia?


b ) O que levou os nobres a dependerem cada vez mais dos reis?
c ) Na aliança entre a realeza e a burguesia, que vantagens obtinham os reis? E os bur­
gueses?

17 Escreva um pequeno texto contando como seria seu cotidiano se você fosse um marinheiro
na época das Grandes Navegações. Conte como seria sua alimentação, sua higiene, suas
dificuldades, seus medos. Conte também sobre suas diversões nos momentos de folga.
Depois de pronto, apresente seu texto aos colegas.

Discutindo a história
18 No ano de 2000, na cidade de Porto Seguro, na Bahia, foram realizados vários eventos co­
memorativos da chegada dos portugueses ao Brasil. Naquele mesmo ano, no entanto,
autoridades de outro município brasileiro, o Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco,
fizeram algumas reivindicações. Leia o texto.

Unidas pela polêmica e separadas pelo mar


Às vésperas das comemorações oficiais dos 500 anos de Descobrimento do Brasil — evento que
deve atrair milhares de turistas a Porto Seguro, na Bahia —, o município pernambucano do Cabo de
Santo Agostinho reafirma sua reivindicação de primeiro local do solo brasileiro a ter sido pisado por
um europeu. No caso, o espanhol Vicente Yáñez Pinzón. No próximo dia 26 [de janeiro], data em que
o navegador teria aportado na Enseada de Suape, representantes de Palos de La Frontera, cidade
natal de Pinzón, estarão no Cabo para comemorar os 500 anos da chegada do seu filho mais ilustre
ao Brasil e ratificar um convênio de irmandade entre os dois municípios, assinado em Palos, no últi-
mo mês de novembro. [...]
Na opinião do prefeito [da cidade], o primeiro passo para se fazer justiça ao navegador, também
conhecido como o primeiro a chegar à foz do rio Amazonas, é discernir os conceitos de descobridor
e colonizador, confundidos ao longo do tempo.
De fato, segundo o geógrafo Manuel Correia de Andrade, mesmo tendo Pinzón desembarcado
no Brasil três meses antes que Cabral e até lavrado a ata jurídica de posse da terra avistada, o feito não
pôde ser reconhecido oficialmente em virtude do Tratado de Tordesilhas. [...]
Esclarecendo os pontos obscuros em torno do descobrimento do País, a prefeitura do Cabo visa
aproveitar o momento dos 500 anos para incrementar o turismo no município. Atrativos, como as
belas praias e os monumentos históricos, não lhe faltam, diga-se de passagem.

142
Além disso, o convênio de irmandade, firmado com Palos de La Frontera — o qual constitui-se

capítulo 8
[em um] compromisso de colaboração econômica, social e de intercâmbio cultural —, tem o objeti-
vo de captar investimentos e consequentemente desenvolvimento para o município. “Queremos abrir
as portas do Cabo e de Pernambuco para os espanhóis, que demonstram interesse em relação às nossas

A Europa moderna: as Grandes Navegações


potencialidades”, revela [o prefeito].
[...] As atividades programadas para comemorar os 500 anos da passagem de Pinzón por Pernam-
buco incluem missa campal, apresentações folclóricas, plantio de árvores nativas de Mata Atlântica,
inauguração da caravela estilizada, feita por um artista plástico cabense em homenagem ao navega-
dor e show popular na Praia de Gaibu. Um dos pontos altos será ainda o Seminário Internacional
Vicente Yáñez Pinzón, [...] onde estarão reuni-

Christian Knepper/Opção Brasil Imagens


dos historiadores e pesquisadores brasileiros,
portugueses e espanhóis, bem como técnicos
das áreas de educação e turismo. [...]
Mona Lisa Dourado. JC Online. Extraído do site:
<www2.uol.com.br/JC/>. Acesso em: 20 dez. 2011.

Cabo de Santo Agostinho (PE).


Fotografia tirada em 2004.

a ) De acordo com o prefeito do Cabo de Santo Agostinho, quem foi o primeiro navegador
europeu a chegar ao Brasil?
b ) Qual é a cidade natal desse navegador? Em que país ela fica localizada?
c ) Qual o objetivo do convênio de irmandade assinado pelas autoridades de Palos de La
Frontera e Cabo de Santo Agostinho?
d ) Quais atividades foram programadas para comemorar a passagem de Pinzón por Per­
nambuco?
e ) Em sua opinião, o dia do “descobrimento” do Brasil deveria ser mudado de 22 de abril
para 26 de janeiro? Por quê? Escreva um pequeno texto dando sua opinião e apresente-o
aos colegas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ As chamadas Índias compreendiam principalmente regiões do continente asiático,

como a China, o Japão e a Índia.


■ ■ No século XV, o comércio terrestre de especiarias era dominado principalmente pelos

árabes.
■ ■ O objetivo da expedição de Cristóvão Colombo, quando chegou à América, era encon-

trar um caminho marítimo para as Índias.


■ ■ A expressão “descobrimento do Brasil” não é adequada, pois na época da chegada

dos europeus, este território já era habitado por milhões de indígenas.


Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para cer-
tificar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

143
9
A Europa moderna: reformas
capítulo

religiosas e Absolutismo
Hyacinthe Rigaud, Retrato de Luís XIV. 1701. Museu do Louvre, Paris

H. Vogel - Lutero pregando suas 95 teses. 1890. Coleção particular. Foto: Akg-Images/Latinstock
A Retrato do rei Luís XIV, principal representante B Imagem que representa Martinho Lutero (1483-
do Absolutismo francês. Pintura feita em 1701. -1546), líder da Reforma protestante, afixando na
porta da catedral de Wittenberg, na Alemanha, um
cartaz contendo 95 argumentos que contestavam
algumas ações da Igreja Católica. (Imagem
produzida por H. Vogel, em 1890).
Autor desconhecido - O início da impressão de livros. c. 1960. Coleção particular.
Foto: Westfälisches Schulmuseum/Akg-Images/Latinstock

Veja nas Orientações para o


professor alguns comentários e
explicações sobre os recursos
apresentados no capítulo.

C A imagem ao lado representa


Johannes Gutenberg (c.1398-1468)
conferindo uma página impressa na
prensa de tipos móveis que inventou.
Junto dele é possível observar seus
assistentes realizando várias atividades
necessárias no processo de impressão
de um livro.

144
Jan Luyken - Tribunal da Santa Inquisição. 1664. Água-forte. Arquivo de Notícias de Arte e História, Berlim. Foto: Akg-Images/Latinstock
D Essa gravura, produzida no século XVIII, representa a execução de hereges na fogueira, durante a Inquisição.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
Na Europa, durante a Idade Moderna, os campos religioso e político conhecimento prévio
dos alunos e estimular
passaram por grandes transformações. A unidade religiosa europeia foi seu interesse pelos
quebrada por diversos movimentos reformadores que contestavam a assuntos que serão
desenvolvidos no
autoridade da Igreja Católica. Já no campo político, os reis procuravam capítulo. Faça a
aumentar seu poder. Neste capítulo estudaremos as reformas religiosas mediação do diálogo
entre os alunos de
e a formação dos Estados Absolutistas. maneira que todos
participem
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os expressando suas
colegas sobre as questões a seguir. opiniões e respeitando
as dos colegas.
■■ Descreva a fonte A. Quais elementos dessa fonte indicam o poder
real de Luís XIV?
■■ Como o personagem em destaque na fonte B foi representado? Você
sabe quem foi Martinho Lutero? Quais práticas da Igreja Católica
foram contestadas por ele?
■■ A fonte C ilustra uma prensa do século XV. Essa invenção possibilitou
um aumento na difusão de livros pela Europa e pelo mundo. Identifi-
que os elementos dessa fonte que estão relacionados à impressão
de livros.
■■ Você já ouviu falar sobre a Inquisição? Descreva a fonte D. Como os
personagens foram representados nessa fonte?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

145
A Europa nos séculos XVI e XVII
Os séculos XVI e XVII, na Europa, foram marcados por profundas transformações
científicas, culturais e econômicas.

O contexto histórico
Hegemonia
No início do século XVI, as ideias humanistas difundidas durante o Re- influência predo-
nascimento circulavam cada vez mais e, com isso, vários pensadores passa­ minante, autori-
ram a ques­t ionar a posição hegemônica da Igreja Católica nas sociedades dade absoluta.
europeias.
No campo científico, ocorreram impor-

Luigi Sabatelli - Galileu apresentando seu telescópio ao Senado de Veneza. Séc. XIX.
Museu de Física e História Natural, Florença. Foto: Alfredo Dagli Orti/The Art Archive/
Corbis/Latinstock
tantes inovações nesse período. A inven-
ção da luneta, por exemplo, possibilitou
que a teoria geocentrista — defendida
pela Igreja — fosse contestada com base
em argumentos científicos.
Além disso, por conta de várias inova-
ções técni­c as, as ideias começavam a ser
transmitidas com maior rapidez. Entre
essas inovações estavam a substituição
do pergaminho pelo papel e, também, a
invenção da prensa, que contribuíram pa-
ra diminuir os custos de produção de livros,
fazendo com que mais pessoas tivessem
acesso a eles. Esses fatores contribuíram
para a expansão da alfabetização, princi-
palmente a partir do século XVI. Na imagem acima,
Galileu
(1564-1642)
A situação da Igreja Católica é representado
Nesse contexto, na Europa cristã do mostrando sua
Bartolomé Bermejo – São Domingos de Silos. c. 1475. Museu do Prado, Madri

século XVI, as condições estavam mais luneta aos


senadores de
favoráveis para a contestação dos dogmas
Veneza.
da Igreja. A invenção da
O aumento na disponibilidade de exem- luneta contribuiu
plares da Bíblia possibilitou seu estudo a para a descoberta
um número maior de católicos letrados. de evidências que
Nessa época, muitos religiosos se manifes- validaram a teoria
tavam contra o enriquecimento da Igreja e heliocentrista,
segundo a qual o
o afastamento de seus membros das ques-
Sol estaria no
tões espirituais. O que causava maior des- centro do Universo.
contentamento era a institucionalização de
práticas como a simonia (venda de relíquias
sagradas e favores divinos), além do com-
portamento desregrado de muitos clérigos,
que não observavam os votos de castidade.

A partir do século XVI, o enriquecimento da Igreja


Católica – que, na imagem, pode ser notada
no altar folheado a ouro e nas vestimentas
luxuosas do religioso representado –, passou
a ser duramente críticado.

146
Os séculos XVI e XVII na Europa

capítulo 9
As reformas religiosas ocorridas no século XVI tiveram grande influência
sobre os acontecimentos políticos do século seguinte.

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


Século XVI Século XVII
Reformas religiosas Absolutismo
As mudanças pelas quais passava a Europa no O Absolutismo foi caracterizado pela
século XVI se refletiram na religião e provocaram centralização do poder na figura do
uma série de movimentos que visavam reformar a monarca. Os Estados absolutistas, apesar
Igreja. A Reforma, iniciada por Lutero, acabou por das particularidades de cada região,
dividir os cristãos entre católicos e protestantes. apresentavam algumas características
O movimento conhecido como Contrarreforma comuns, como a manutenção de um exército
foi marcado por um conjunto de ações da forte, a cobrança de altos impostos e o
Igreja Católica para reafirmar alguns de seus incentivo às atividades comerciais.
princípios e também tentar conter o avanço do
protestantismo.

1500 1550 1600 1650 1700

1517 1610 1648


Martinho Lutero apresenta 95 Galileu Galilei constrói Fim da Guerra dos Trinta Anos e
teses contestando várias ações da uma luneta e a utiliza na assinatura do Tratado de Vestfália.
Igreja Católica. Esse fato marca o observação dos astros.
início da Reforma protestante.
1618
1545 Início da Guerra dos Trinta Anos, que envolve 1632
Início do Concílio de Trento. Nesse diversos Estados europeus, entre eles o Sacro Galileu publica o Diálogo sobre
concílio, os líderes católicos Império Romano-Germânico, Espanha, Suécia os dois principais sistemas do
instituem o Index, uma lista de e França, que disputavam poder e território. mundo, em que defende a teoria
livros proibidos pela Igreja. Questões religiosas também motivaram o conflito. heliocentrista de Copérnico.

Pedro Berruguete - Cenas da Vida de São Domingos de Gusmão. Séc. XV. Museu do
Prado, Madrid. Foto: Scala Florence/Glow Images
Manifestações heréticas Dogma conjun-
Desde que o cristianismo foi adotado como to de princípios
religião oficial do Império Romano, foram religiosos
considerados hereges todos aqueles que nega- estabelecido
como verdade
vam a autoridade da Igreja, ou que não aceitavam
indiscutível.
os dogmas. A partir do século XI, os movimentos
heréticos, como os cátaros (“puros”), os fraticelli e Heresia
os valdenses ganharam força. atitudes e ideias
que questionam
Uma das principais manifestações heréticas era o as práticas
movimento dos cátaros, que se expandiu princi- estabelecidas
palmente pelo sul da França. Esse movimento era pela Igreja
formado tanto por clérigos como por leigos, que Católica.
sustentavam uma doutrina dualista, ou seja,
Tese argumen-
acreditavam na existência de duas divindades: a
to, proposta.
do Mal seria responsável pela criação de todo o
universo material, e a do Bem, que seria respon-
sável pelo mundo espiritual.
Assim, os cátaros identificavam com o Mal tudo
que fosse ligado à matéria, como a sexualidade,
a riqueza e a própria instituição da Igreja
Católica. As comunidades formadas por cátaros Essa pintura, do final do século XIV,
aumentaram de tal modo que a Igreja Católica representa a queima de livros
organizou uma Cruzada (1209-1229) e dizimou considerados hereges pela Igreja
seus seguidores. Católica.

147
A Reforma As indulgências
Indulgenciar é o
Inconformado com a venda de indulgências, Martinho Lutero inicia um movimento mesmo que
perdoar. Na época
religioso conhecido como Reforma protestante. de Lutero, os
líderes da Igreja
Católica estavam
Martinho Lutero perdoando as
pessoas mediante
Nascido na cidade alemã de Eisleben, em 1483, Martinho Lutero teve uma pagamentos em
educação rígida com base nos ensinamentos católicos. Estudou em colégios dinheiro. Era
religiosos e, em 1505, formou-se em Teologia. possível comprar
indulgências para
Nesse mesmo ano, foi contratado para dar aulas na Universidade de pessoas já
Wittenberg, onde tomou conhecimento dos abusos cometidos pela Igreja falecidas ou até
Católica por meio da venda das indulgências. para pecados que
ainda não tinham
sido cometidos.
As teses de Lutero
Em 1517, em protesto contra a presença de um vendedor de

Svenja-Foto/Zefa/Corbis/Latinstock
indulgências em Wittenberg, Lutero afixou na porta da igreja da
cidade um cartaz com 95 teses que denunciavam esse procedi-
mento da Igreja Católica. Conheça três dessas teses.

21. Erram, pois, os pregadores das indulgências que dizem que, pelas indul-
gências do papa, o homem fica livre de toda a pena e fica salvo. [...]
32. Serão condenados para toda a eternidade, com os seus mestres, aqueles
que creem estar seguros da sua salvação por cartas de indulgências. [...]
43. É preciso ensinar aos cristãos que aquele que dá aos pobres, ou empres-
ta a quem está necessitado, faz melhor do que se comprasse indulgências.
Martinho Lutero. Obras. In: Adhemar Marques e outros. História moderna através de textos. 11. ed.
São Paulo: Contexto, 2005. p. 119-20. (Textos e documentos).

Atualmente, nas portas da catedral de Wittenberg,


estão gravadas as 95 teses de Lutero.

Outros movimentos reformistas


As ideias de Lutero logo se espalharam pela Alemanha e, em
Lucas Cranach, o Jovem - Os reformadores. Óleo sobre
painel. Paróquia de São Bráz, Nordhausen, Alemanha.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
pouco tempo, já haviam alcançado outros países europeus, como
Suécia, Dinamarca e Noruega. Em todos esses países, Lutero
conquistou vários seguidores, que ficaram conhecidos como lu-
teranos ou protestantes.
Alguns seguidores de Lutero, no entanto, foram mais radicais,
e começaram a pregar fervorosamente contra alguns ensinamen-
tos da Igreja Católica. Essas pessoas deram origem a outros
movimentos reformistas, como o zwinglianismo, o anabatismo e
o calvinismo.
Na Inglaterra, o movimento reformista assumiu características Essa pintura, feita por Lucas
diferentes, pois a ruptura com a Igreja Católica foi conduzida pe- Cranach, no século XVI,
lo próprio rei Henrique VIII (1491-1547). A reforma anglicana, representa Martinho Lutero
como ficou conhecida, foi motivada pelos conflitos entre o rei inglês cercado por simpatizantes e
apoiadores que contribuíram para
e o papa, e também pelo interesse da Coroa inglesa em se apo- a difusão das ideias reformistas
derar das terras e das riquezas da Igreja Católica. Desse modo, o por toda a Europa.
líder da religião anglicana passou a ser o próprio rei inglês.

148
A Contrarreforma

capítulo 9
Para tentar conter o avanço do protestantismo, líderes da Igreja Católica
organizaram um movimento que ficou conhecido como Contrarreforma.

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


A reação católica
Inconformados com a grande aceitação das ideias de Lutero na Europa,
os líderes da Igreja Católica organizaram uma reação, que ficou conhecida
como Contrarreforma. Para isso, realizaram encontros entre 1545 e 1563
para discutir formas de combater o movimento protestante e reavaliar a
conduta dos líderes do catolicismo.
Esses encontros ocorreram na cidade italiana de Trento, por isso ficaram A noite de São
Bartolomeu
conhecidos como Concílio de Trento.
O Concílio de Trento. Séc. XVII. Secretaria de Estado, Vaticano

A Companhia de Jesus
Fundada pelo espanhol Inácio de Loyola,
em 1540, a Companhia de Jesus acabou
se tornando uma das principais represen-
tantes do movimento da Contrarreforma.
Os jesuítas, como eram chamados seus
membros, fundaram vários colégios com
o objetivo de ensinar a fé católica. Além
disso, muitos deles participaram ativa-
mente das reuniões do Concílio de Trento.
Concílio
assembleia de
autoridades da
Igreja Católica
para tratar de
Essa pintura representa líderes
assuntos
da Igreja Católica reunidos no
doutriná rios,
Concílio de Trento. (Afresco do dogmáticos e
século XVII.) disciplinares.

A Inquisição Mártir pessoa


que, por não
Órgão da Igreja Católica criado no século XIII, a Inquisição ganhou força renunciar a uma
durante o movimento da Contrarreforma. A partir de então, em várias re- crença, é subme-
tida à tortura, ou
giões da Europa, os juízes do chamado Tribunal da Inquisição torturaram
à pena de morte.
e condenaram à morte milhares de homens e mulheres cristãos acusados
de heresia.

O sujeito na história Giordano Bruno

Nascido em 1548 na cidade italiana de Nola, Giordano Bruno se


Autor desconhecido - Retrato de Giordano Bruno. Coleção
particular. Foto: Scala Florence/Glow Images

tornou padre em 1572. Pouco depois, no entanto, foi acusado de


heresia por causa de suas ideias, entre elas a de que o Universo
é infinito e a de que Deus está em todos os seres vivos, cada planta,
cada animal.
Em 1592, foi preso pelo Tribunal da Inquisição e, mesmo sofrendo
com a tortura, não negou suas ideias. Ele foi então condenado à
morte na fogueira e executado em 1600.
Giordano Bruno é considerado por muitos um mártir do pensa-
mento científico. Suas ideias marcaram o início das discussões
entre a fé e a razão. Giordano Bruno.

149
Explorando o tema
A Inquisição
A Inquisição foi criada no século XIII pela Igreja Católica com o objetivo de investigar e
combater as práticas que contestavam os dogmas da Igreja. Essa instituição também ficou
conhecida como Tribunal do Santo Ofício. Os métodos empregados pela Inquisição, assim
como as vítimas das perseguições, foram os mais variados. Os historiadores costumam divi-
dir a Inquisição em dois momentos distintos: a inquisição medieval e a inquisição moderna.
Durante a Idade Média, a Inquisição ligava-se diretamente ao Vaticano. Era uma instituição
que protegia a Igreja das ameaças à fé católica na Europa. Todas as opiniões ou práticas
contrárias aos dogmas católicos eram consideradas heresias. Dessa forma, as principais
vítimas dos tribunais eram pessoas ou grupos de católicos que se desviavam das condutas
estabelecidas pela Igreja, criando novas crenças.
A Inquisição alcançou o auge da repressão entre os séculos XVI e XVIII. Na Idade Moderna,
essa instituição esteve submetida ao Estado, defendendo os interesses das monarquias eu-
ropeias centralizadas. Milhares de homens e mulheres foram julgados e condenados pelos
tribunais da Inquisição. Apesar do principal objetivo em comum, havia diferenças entre as
inquisições espalhadas pela Europa. As vítimas variavam, assim como o caráter repressivo
das perseguições e o número de condenados em cada Estado.

Os principais alvos da perseguição


Qualquer um poderia ser um delator, ou seja, acusar alguém suspeito de praticar heresia.
A identidade do delator era preservada, e muitas vezes os acusados não sabiam qual era a
acusação contra eles.
Entre os perseguidos estavam os chama-
dos cristãos novos, pessoas recém-conver-
tidas ao catolicismo — muitos dos quais
eram judeus ou muçulmanos. Muitos cristãos
novos sofriam perseguição porque ficavam
sob suspeita de manter suas antigas crenças
em segredo.
Outras práticas perseguidas eram aquelas
consideradas pagãs, como a magia, a alqui-
mia e a astrologia, tidas pelos cristãos como
bruxaria ou feitiçaria.
Dentre as punições aplicadas durante a
Inquisição, estavam: tor­t­u ras, prisões, con-
fisco de bens, trabalhos forçados, degredo,
entre outros castigos.

Os crimes contra a fé católica eram os mais


graves, e muitas vezes punidos com a morte. Para
obter confissões, eram utilizados métodos
violentos, como a tortura. As execuções, muitas
vezes feitas por meio da cremação em fogueira,
eram realizadas em grandes eventos públicos,
chamados autos de fé.

150 Degredo banimento, exílio.


capítulo 9
A bruxaria

Nicolas Eymerich -
Directorium inquisitorum
(Manual do Inquisidor).
1376. Roma
A Inquisição definia como feitiçaria ou bruxaria

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


todas as crenças e rituais mágico-religiosos. Essas
práticas eram mais comumente associadas às mu-
lheres. Em diversas regiões da Europa, milhares Frontispício da edição
delas foram perseguidas e condenadas à morte na de 1582 do livro
Malleus Maleficarum,
fogueira sob acusação de feitiçaria ou bruxaria pelo
“O Martelo das
Tribunal do Santo Ofício. Feiticeiras”, escrito
Existiam manuais que eram utilizados durante o por dois inquisidores
período de “caça às bruxas”, que orientavam os in- para servir como um
quisidores sobre como identificar, interrogar e extrair manual de “caça às
a confissão nos processos. bruxas”.

Esses manuais procuravam justificar a perseguição

Autor desconhecido - A prisão. S.d. Ilustração. Centro de Preservação Film


Corbis, Pensilvânia. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
às mulheres, associando-as às práticas de bruxaria.

Os protestantes também perseguiam?


Nas regiões onde o protestantismo era dominante,
embora não houvesse a criação de tribunais oficiais
de inquisição, também houve perseguição e intole-
rância religiosa. Crimes de adultério, discordância
dos dogmas protestantes e bruxaria foram alguns
dos crimes perseguidos. Na Inglaterra, por exemplo,
instaurou-se uma “caça às bruxas”, e centenas de
mulheres acusadas de feitiçaria foram condenadas
à morte. Já na Alemanha, grupos religiosos que não
aceitavam as regras da Igreja Evangélica foram per-
seguidos, e milhares de pessoas foram torturadas e
executadas em nome dos dogmas protestantes.
Autor desconhecido - Inquisição medieval. Coleção particular. Foto: Christian Jegou Publiphoto Diffusion/SPL/Latinstock

Essa ilustração representa a prisão de uma idosa acusada de


bruxaria por protestantes da vila onde morava.

A Inquisição no Brasil
Autor desconhecido - Aparatos médicos cafres. Coleção
particular. Foto:The Bridgeman Art Library/Keystone

A partir do século XVI, algumas colônias espanholas na


América tiveram seus tribunais de inquisição. No Brasil, por
outro lado, não foram criados tribunais permanentes, ou seja,
não houve uma inquisição oficial. Porém, o tribunal de
inquisição funcionava no Brasil por meio de representantes.
Além disso, eram enviados funcionários do Santo Ofício nas
chamadas “Visitações”. Esses funcionários percorriam as
regiões do Brasil acompanhando as acusações de heresia.
Após a investigação, os acusados podiam ser presos e
levados a julgamento em Portugal. No Brasil, há registros de
três Visitações, totalizando cerca de mil e cem pessoas
investigadas. Dentre elas, aproximadamente vinte e nove
foram condenadas à morte na fogueira. O maior alvo em Adivinhações, fabricação de unguentos e
terras brasileiras foram os cristãos-novos, acusados de poções mágicas, feitiços para relações
práticas judaizantes. amorosas, benzeduras e usos de amuletos
Mas além de cristãos-novos, a Inquisição no Brasil perseguiu (como o da imagem acima) eram algumas das
também “feiticeiras”, homossexuais, formas de sincretismo crenças e práticas compartilhadas pela
religioso (mistura de práticas cristãs, indígenas e africanas), população colonial no Brasil nos tempos da
entre outros. Inquisição e que eram consideradas heresias.

151
A formação dos Estados absolutistas
No século XVII, durante a formação dos Estados absolutistas europeus,
ocorreram muitos conflitos entre católicos e protestantes.

Os efeitos das reformas religiosas

Autor desconhecido - Sinagoga Portuguesa de Amsterdã. Ilustração.


Coleção particular. Foto: Nathan Benn/Ottochrome/Corbis/Latinstock
As discussões acerca de questões religiosas
acabaram provocando conflitos generalizados
por mais de um século em toda a Europa.
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi o
último, o mais longo e o mais destrutivo dos
conflitos religiosos iniciados por líderes católi-
cos e protestantes. A estimativa é que esse
conflito tenha causado a morte de mais de 4
milhões de pessoas.
Os protestantes, reunidos principalmente em
torno de uma coligação de principados alemães
e contando com o apoio da França, acabaram
Além dos protestantes, os judeus também sofreram
derrotando os católicos, reunidos em torno dos
perseguições religiosas na Europa. Muitos deles refugiaram-
soberanos do Sacro Império Romano Germâ- -se na Holanda, onde encontraram liberdade religiosa. Essa
nico e da Espanha. Essa derrota pôs fim ao imagem, produzida por volta do século XVII, representa o
projeto da Contrarreforma de erradicar o pro- interior da Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, construída em
testantismo na Europa. 1671, na Holanda, por judeus portugueses.

O mercantilismo

Pierre Landry - Frontispício de “Le Negociant Parfait” de Jacques Savary. 1665.


Biblioteca Nacional, Paris, França. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Com o fortalecimento dos Estados nacionais, o
mercantilismo ganhou força. O mercantilismo foi um
conjunto de práticas econômicas adotadas por vários
reinos europeus, principalmente entre os séculos XV
e XVII.
Essas práticas se baseavam no sistema monetário
chamado metalismo, segundo o qual a riqueza de um
Estado é medida pela quantidade que ele possui de
metais preciosos, especialmente ouro e prata. A fim de
conservar seus estoques de metais preciosos, esses
reinos buscavam manter uma balança comercial posi-
tiva, isto é, exportando mais produtos do que impor-
tando. Também adotavam o exclusivo comercial, prá-
tica em que uma colônia podia comercializar apenas
com a sua metrópole europeia.

Gravura do século XVII, representando atividades comerciais sendo


realizadas em Paris, na França. Enquanto um comerciante
negocia mercadorias, é possível ver, ao fundo, navios sendo
carregados com produtos para serem exportados.

Tratado de Vestfália
O Tratado de Vestfália, assinado em 1648, pôs fim à Guerra dos Trinta Anos. A principal
resolução desse tratado foi dar aos governantes o direito de oficializar uma religião em
seu território, fosse ela católica, luterana ou calvinista. Com o tratado, o princípio do
interesse nacional ganhou precedência frente às reivindicações religiosas.

152
Os Estados absolutistas europeus

capítulo 9
Após a assinatura do Tratado de Vestfália, houve uma reorganização
territorial dos Estados europeus. O tratado determinou também o princípio
de soberania nacional, ou seja, os países seriam autônomos e não pode-
riam sofrer intervenção internacional em seu território.

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


Naquela época, o sistema feudal estava em crise e a nobreza perdia cada
vez mais seu poder, tornando-se dependente do monarca. Por outro lado, o
comércio se desenvolvia rapidamente e um novo grupo social ganhava im-
portância: a burguesia. Os camponeses, por sua vez, viviam em condições
precárias, enfrentavam a fome e pagavam impostos cada vez mais altos.
Parte do dinheiro arrecadado por meio de impostos era usada para a
manutenção de um exército forte e permanente. Além disso, os reis inves-
tiam em grandes viagens marítimas, a fim de conquistar novos territórios
fora da Europa e ampliar seus poderes.

Estados europeus no século XVII

E. Cavalcante
N

Territórios sob domínio REINO DA SUÉCIA O L


ESCÓCIA
Espanhol S

Francês Mar REINO DA


do
Sueco IRLANDA Norte DINAMARCA Mar
Báltico
Austríaco I MPÉ RI O RU S S O
Prussiano INGLATERRA
Veneziano REPÚBLICA PRÚSSIA
Genovês HOLANDESA BRANDEMBURGO
Otomano
SACRO IMPÉRIO REINO DA POLÔNIA
Igreja Católica
ROMANO-
Fronteiras do Sacro Império -GERMÂNICO ÁUSTRIA
Romano-Germânico
OCEANO
REINO DA
ATLÂNTICO FRANÇA HUNGRIA
SUÍÇA
SAVOIA VENEZA CHERKESSK
ESTADOS
REINO DE ITALIANOS
GÊNOVA FLORENÇA Mar Negro
PORTUGAL PRINCIPADO 40° N
DA CATALUNHA ESTADOS
R
EI PAPAIS
NO
DA
ESPANHA O
Mar Mediterrâneo N
A Fonte: MCEVEDY,
M
O Collin. Atlas de História
O T
MARROCOS Moderna (até 1815).
O
R I 0 330 km São Paulo: Companhia
I M P É
0° das Letras, 2007.

O Absolutismo francês Na época de Luís


XIV, o Palácio de
A França foi o Estado europeu que mais adotou práticas absolutistas. Versalhes era usado
O período mais característico do Absolutismo francês aconteceu durante o pelos membros da
nobreza, que
reinado de Luís XIV, o “Rei-Sol”, entre 1661, quando assumiu efetivamente realizavam
o governo, e 1715, ano de sua morte. Uma de suas primeiras ações foi demi- suntuosos bailes e
tir funcionários e ministros de origem nobre, substituindo-os por homens de jantares.
origem burguesa, interessados em dinamizar a indústria e o comércio franceses. Atualmente,
funcionam no
Com o objetivo de deixar o comércio mais ágil, priorizou a construção de palácio um museu e
portos e estradas, investiu na implantação de fábricas de seda, de lã e um centro cultural.
de artigos de luxo, bem como de armas. Como mecenas, Luís XIV teve grande
Corel Stock Photo

destaque. Comprou fábricas de tapeçarias e móveis, estimulou o trabalho de es-


critores e compositores. Além disso, reformou o Louvre e construiu o Palácio
de Versalhes, símbolo do Absolutismo francês.
Contudo, para realizar todas essas obras e manter o grande luxo em que
vivia a Corte, Luís XIV aumentou consideravelmente a tributação, causando
enorme insatisfação entre os seus súditos.

153
A prensa de Gutenberg
Gutenberg criou uma prensa que revolucionou as técnicas de produção de livros.

Imprimindo um livro
Por volta de 1450, o alemão Johannes Gutenberg aprimorou antigas téc-
nicas chinesas de impressão e criou um método mais prático de produção
de livros. Observe.

Jacqui Hurst/Corbis/Latinstock

Os tipos eram feitos de uma liga de


metais, como o chumbo e o estanho.
Giovanni Stradano – O desenvolvimento da imprensa. c. 1600. Coleção particular.
Foto: The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library/Keystone

O compositor
encaixava os tipos de
trás para a frente para
que a impressão
saísse correta.

154
O impressor passava a As folhas O papel era colocado na prensa sobre os tipos

capítulo 9
tinta na composição com impressas eram organizados e, então, o tipógrafo girava a manivela
uma almofada de couro. colocadas em um da prensa e fazia descer a placa de metal que,
A tinta era feita de óleo e varal para secar. apertando o papel sobre os tipos, imprimia o texto.
fuligem, e o papel podia
ser feito de couro fino ou

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


de sobras de tecido.

O chefe dos tipógrafos


supervisionava o trabalho
para garantir a qualidade
do material impresso.

Depois de impressas e secas, as folhas


eram acomodadas em balcões. O material
impresso ia desde panfletos simples até
páginas de livros, que podiam ser
encadernados na própria tipografia.
Biblioteca Universitária de Augsburgo, Gotinga.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

O primeiro livro impresso


por Gutenberg foi uma
Bíblia, em 1455.

155
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Escreva um pequeno texto sobre o contex- 7 Sobre o Concílio de Trento, responda.
to histórico europeu nos séculos XVI e a ) Onde ocorreu?
XVII.
b ) Quando ocorreu?
2 Qual era o procedimento da Igreja Católica
c ) Quem foram seus organizadores?
mais contestado por Lutero em suas 95
teses? Explique esse procedimento. 8 Explique o que foi a Inquisição.
3 Escolha uma das teses de Lutero apre­ 9 Cite algumas práticas do mercantilismo.
sentadas na página 148 e explique com
10 O que foi a Guerra dos Trinta Anos? Quais
suas palavras o que você entendeu.
foram suas consequências?
4 Como ficaram conhecidos os seguidores
11 O que foi o Tratado de Vestfália? Quais foram
de Lutero? Cite o nome de três movi­
as consequências desse tratado?
mentos reformistas.
12 Cite as principais características do Abso-
5 O que foi a Contrarreforma? lutismo francês.
6 Sobre a Companhia de Jesus, responda. 13 Na época de Gutenberg, quais eram as
a ) Quem foi seu fundador? matérias-­­primas usadas na fabricação
dos tipos, do papel e da tinta?
b ) Quando foi fundada?
14 Descreva as principais etapas de impressão
c ) Como eram chamados seus membros?
no sistema criado por Gutenberg. Qual foi
d ) Qual era seu principal objetivo? a importância dessa invenção?

Expandindo o conteúdo
15 O texto a seguir apresenta a resolução do Concílio de Trento sobre a venda de indulgências.
Leia-o.

Havendo Jesus Cristo concedido à sua Igreja o poder de conce-


der indulgência, e tendo a Igreja usado desta faculdade que Deus
lhe concedeu, desde os tempos mais remotos; ensina e ordena o
sacrossanto Concílio que o uso das indulgências [...] deve conser-
var-se pela Igreja, e fulmina o anátema contra os que, ou afirmam
serem elas inúteis, ou neguem que a Igreja tenha poderes para
concedê-las. Não obstante, deseja que se proceda com moderação
na sua concessão, [e] estabelece em geral, pelo presente decreto,
que se exterminem de forma absoluta todos os lucros ilícitos que
se cobram dos fiéis para que as consigam [...].
Sessão XXV do Concílio de Trento. In: Adhemar Martins e outros. História moderna através de textos.
11. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p. 121. (Textos e documentos).

a ) O que o Concílio de Trento decidiu sobre o uso de indulgências pela Igreja Católica?
b ) De acordo com o texto, o que aconteceria com aqueles que afirmassem que as indul­
gências eram inúteis?
c ) O que esse decreto estabeleceu em relação à concessão de indulgências pela Igreja?

156
capítulo 9
16 Observe e analise as imagens a seguir.

Louis Le Nain – Família de camponeses em um interior. 1642. Museu do Louvre, Paris

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


Pintura de cerca de 1640 representando uma família de camponeses franceses.

Nicolas de Largillière – Retrato do pintor com a família. c. 1710. Museu do Louvre, Paris

Pintura de cerca de 1710 representando uma família de burgueses franceses.

a ) Nas fontes A e B, identifique: o nome dos artistas que produziram as obras, os títulos
e as datas.
b ) Compare as duas imagens e verifique: quantas pessoas foram retratadas em cada uma
delas; o que as pessoas estão vestindo; quais são as diferenças entre seus trajes;
como são suas expressões faciais; em que ambiente foram retratadas; o que parecem
estar fazendo.
c ) Elabore um texto descrevendo as semelhanças e as diferenças entre as duas imagens
apresentadas. No texto, escreva também quais as suas conclusões sobre a sociedade
da época por meio da análise das imagens.

157
17 Leia o texto a seguir.

A revolução de Galileu
Galileu era francamente favorável ao heliocentrismo, mas, até então, não havia nada que provasse
essas ideias e nem uma prova evidente de que o sistema geocêntrico estivesse errado. Tendo ouvido
falar que um holandês [...] havia construído um “aparelho” que aproximava os objetos distantes,
Galileu, por sua conta, estudou como deveria ser e passou a construí-lo.
Essa primeira luneta logo foi apontada para o céu em busca de novos conhecimentos. Com ela
foram feitas as descobertas que abalaram seu tempo: a Lua não era uma esfera geometricamente
perfeita como se pensava; lá existiam vales, montanhas e outros acidentes, como na Terra.
Júpiter tinha ao seu redor várias pequenas luas. Isso era uma grande prova, pois, segundo o pen-
samento dominante, todos os objetos celestes deviam girar ao redor da Terra, centro do Universo.
Achava-se que o Sol, como todas as coisas do céu, devia ser perfeito e, portanto, sem manchas.
Mas as manchas do Sol apareceram na luneta de Galileu.
E a mais importante descoberta dessa série foram as fases de Vênus. Esse planeta apresentava fa-
ses semelhantes às da Lua. E mais: seu tamanho, visto com a mesma luneta, apresentava variações
que evidenciam seu movimento ao redor do Sol, e não da Terra. [...]
Para Galileu, parecia evidente que, depois dessas provas, o heliocentrismo seria aceito como ver-
dade científica. Isso, entretanto, não aconteceu. Ele foi chamado pela Inquisição e advertido para que
não voltasse a pregar o “erro” e a “heresia”. Em 1638 publicou os seus Diálogos com argumentos
ainda mais claros em defesa das novas ideias. Pouco depois, para escapar às torturas, teve que, em
público e diante do Tribunal da Inquisição, abjurar, isto é, confessar e reconhecer o “mal” que faziam
suas ideias. [...]
Aqueles que o prenderam e o

Autor desconhecido - O julgamento de Galileu. Séc. XVII.


Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
fizeram “confessar” conseguiram
retardar, mas não im­pedir que as
ideias se espalhassem e frutificas-
sem. Galileu é um patrimônio da
humanidade.
Rodolpho Caniato. O Céu. 2. ed. São Paulo: Ática,
1993. p. 64; 66-7. (Na sala de aula).

Pintura que representa o


julgamento de Galileu pelo
Tribunal da Inquisição.

a ) Que instrumento possibilitou a Galileu comprovar que a Terra não era o centro do
Universo?
b ) Por meio de suas observações, o que Galileu descobriu sobre a Lua?
c ) E sobre o Sol, o que ele descobriu?
d ) De acordo com o autor do texto, qual foi a mais importante descoberta de Galileu?
e ) O que aconteceu com Galileu quando ele apresentou suas conclusões?
f ) Em sua opinião, por que o autor do texto afirmou que Galileu é um “patrimônio da
humanidade”?

158
18 Leia o texto a seguir.

capítulo 9
Já em 1700 a.C., o povo minoico, de Creta, impri-

Séc. XIII. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone


mia sílabas em argila. No século II d.C., os chineses
inventaram o papel e a tinta. Entalhavam cilindros de

A Europa moderna: reformas religiosas e Absolutismo


mármore, passavam tinta sobre eles e aplicavam-nos
sobre papel. No século VI, os chineses já usavam blo-
cos de madeira para imprimir. Com essa técnica,
produziram, em 868 d.C., o primeiro livro de que se
tem notícia, o Sutra do Diamante.
Na década de 1040, o alquimista chinês Pi Sheng
inventou o tipo móvel. Assou caracteres de argila e co-
locou-os em uma sequência predeterminada sobre uma
placa de ferro coberta de cera. Assim era possível passar
a tinta na placa toda e aplicá-la sobre o papel. Tipógra-
fos coreanos aprimoraram a tecnologia no século XV,
produzindo tipos de bronze.
Por que, então, coube a Gutenberg a fama pela in-
venção da tipografia? Em parte, porque aperfeiçoou
bastante a tecnologia dos tipos e da prensa, tornando
mais viável o processo. E em parte porque, como muitos
outros inventores, teve sorte. Com 26 letras simples, o
alfabeto europeu é mais fácil de ser impresso do que os
ideogramas asiáticos. Além disso, seus contemporâneos,
os intelectuais do Renascimento, aproveitaram a nova
tecnologia para disseminar suas ideias.
Patricia S. Daniels; Stephen G. Hyslop. Atlas da História do Mundo. Trad. Ana Ban. Página de antigo livro chinês impresso
São Paulo: National Geographic Society/Abril, 2004. p. 26. com blocos de madeira.

a ) Quando foi inventado o tipo móvel? Onde ele foi inventado?


b ) Que povo produziu os tipos móveis em bronze?
c) Por que, de acordo com o texto, Gutenberg tornou-se conhecido como inventor da
tipografia?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ As 95 teses apresentadas por Martinho Lutero em 1517 contestavam principalmente a
venda de indulgências pela Igreja Católica.
■■ As ideias de Lutero deram início a um movimento religioso chamado Reforma protestante.
■■ A Contrarreforma foi uma reação da Igreja Católica contra o avanço do protestantismo.
■■ As principais características do Estado absolutista eram a manutenção de um exército
forte, a cobrança de altos impostos e a centralização do poder nas mãos do monarca.
■■ A prensa inventada por Gutenberg revolucionou as técnicas de produção de livros.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

159
10
A colonização na
capítulo

América espanhola
Códice mexicano Lienzo de Tlaxcala. c.1550. Coleção particular. Foto: Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone

Veja nas Orientações


para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Ilustração de um códice
mexicano, de 1550, que
representa uma batalha entre
os astecas e os invasores
espanhóis e seus aliados.
Diego Rivera – A Conquista ou a Chegada de Hernán Cortez a Vera Cruz (detalhe).
1951. Palácio Nacional, Cidade do México

B Pintura mural que representa os


primeiros anos de colonização
espanhola na América. Ela foi
produzida pelo artista mexicano
Diego Rivera, em 1951.

160
Corel Stock Photo
C A Praça das Três Culturas, no México, contém elementos indígenas, coloniais e contemporâneos.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Com a chegada dos espanhóis ao continente americano, ocorreram o conhecimento
prévio dos alunos e
profundas transformações no modo de vida das populações nativas. A estimular seu
conquista e a colonização espanhola na América causaram a morte de interesse pelos
assuntos que serão
milhares de indígenas, em decorrência de guerras, maus-tratos, trabalho desenvolvidos no
compulsório e doenças de origem europeia. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os entre os alunos de
colegas sobre as questões a seguir. maneira que todos
participem
■■ Identifique os personagens representados na fonte A. Que tipos de expressando suas
opiniões e
armas eram usadas pelos espanhóis? E pelos indígenas? Que infor- respeitando as dos
mações sobre a conquista espanhola na América podem ser obtidas colegas.
com base na análise dessa fonte?
■■ Observe a fonte B. De acordo com as informações que podem ser
extraídas dessa fonte, como foram os primeiros anos de colonização
espanhola na América? O que é possível compreender sobre as re-
lações de trabalho na América espanhola ao analisar essa fonte?
■■ A praça apresentada como fonte C recebeu esse nome porque con-
tém elementos indígenas, espanhóis (coloniais) e mexicanos (contem-
porâneos). Você consegue identificar esses elementos?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

161
O choque entre dois mundos
A chegada dos europeus marcou o início de uma catástrofe
para as populações indígenas da América.

Conquista e destruição
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 12 de outubro de
1492, esse continente era habitado por cerca de 80 mi­lhões de pessoas.
Essa população era composta por diferentes sociedades, cada uma com
sua língua, seus costumes e seu próprio modo de vida. Havia desde pe-
quenos grupos habitando as florestas tropicais até grandes impérios, como
o dos incas e o dos astecas, formados por milhões de indígenas.
Para a população nativa da América, a chegada dos europeus represen-
tou uma verdadeira catástrofe. No caminho aberto por Colombo, vieram
conquistadores interessados em riquezas, principalmente o ouro e a prata.
Na busca pelo enriquecimento rápido, esses conquistadores deixaram um
rastro de devastação e sofrimento.
Os sobreviventes das guerras de conquista foram incorporados ao pro-
cesso de colonização. Os colonizadores se apossaram das terras, escravi-
zaram e impuseram suas leis e sua cultura aos indígenas. Além disso, a
fome, a violência e as doenças causaram a morte de milhões de indígenas
e a destruição de povos inteiros.
A conquista e a colonização do continente americano podem ser consi-
deradas como um choque entre dois mundos. Desse encontro nasceu um
“Novo Mundo”: um continente produtor de grandes riquezas que, no entanto,
foram distribuí­d as de maneira desigual. As consequências da conquista,
co­m o as desigualdades e as injustiças sociais, deixaram marcas pro­f undas
que até hoje estão presentes principalmente nas sociedades da América
Latina.
Corel Stock Photo

Essa fotografia
retrata área central
da Cidade do México,
capital mexicana na
atualidade. Nela, é
possível observar, em
primeiro plano, as
ruínas do Templo
Maior, principal
edifício cerimonial
dos astecas, que foi
destruído pelos
espanhóis. Ao fundo,
a catedral da cidade,
símbolo do
catolicismo, religião
que teve papel de
destaque na
colonização da
América Latina e até
hoje exerce grande
influência cultural
sobre os povos
latino-americanos.

162
A América entre os séculos XV e XVII

capítulo 10
Observe, na linha do tempo a seguir, alguns fatos importantes da con-
quista e da colonização da América.

A colonização na América espanhola


1450 1500 1550 1600 1650

1492 1580 1620


Cristóvão Colombo chega ao 1521 O rei Filipe II, da Fundação da colônia
continente que viria a ser As tropas de Hernán Espanha, assume de Massachusetts, na
chamado de América. Cortez conquistam o trono português América do Norte, pelos
Tenochtitlán, a e passa a governar peregrinos que viajaram
1511 capital asteca. ao mesmo tempo a bordo do navio.
Diego de Velásquez a Espanha e
comanda a ocupação e 1532 Portugal. Esse 1623
a colonização de Cuba. Sob o comando de Francisco período ficou A França inicia a
Pizarro, os espanhóis conhecido como conquista e a colonização
1519 conquistam o Império Inca. União Ibérica. de ilhas antilhanas.
Expedição de Atahualpa, o soberano inca, é
Hernán Cortez executado no ano seguinte. 1640
chega ao México D. João IV assume o trono português
e inicia os 1545 e inaugura o governo da família
combates contra Descoberta de jazidas de prata em Potosí, Bragança em Portugal, recuperando
os astecas. na atual Bolívia. Essas minas foram as a autonomia portuguesa com o fim
maiores produtoras de prata da América. da União Ibérica.

O genocídio americano Genocídio


De acordo com os principais estudiosos do assunto, a população da América na época extermínio total
da chegada dos europeus era de aproximadamente 80 milhões de pessoas. Apenas ou parcial de um
30 anos depois, essa população havia sido reduzida para cerca de 10 milhões de determinado
pessoas. Vários estudiosos consideram que esse foi o maior genocídio da história. grupo étnico.
Séc. XVI. Biblioteca Medicea Laurenziana, Florença

Essa reprodução de
um códice asteca
mostra a violência
dos espanhóis
contra os indígenas.

163
A conquista do Império Asteca
Os primeiros confrontos entre espanhóis e astecas resultaram na O regresso de Quetzalcoatl
morte de muitas pessoas. Antes da chegada dos astecas,
os povos indígenas que viviam
no vale do México eram politeís-
A chegada de Cortez tas, mas tinham um deus
principal, chamado Quetzalcoatl.
A conquista do Império Asteca pelos espanhóis foi coman- Quando os astecas conquista-
dada por um jovem oficial espanhol chamado Hernán Cortez. ram a região, impuseram a esses
Cortez partiu de Cuba, à frente de um grupo de 100 marinheiros povos o culto a outro deus,
e 600 soldados, e desembarcou em Vera Cruz, no litoral do Huitzilopochtli, destronando
assim o antigo deus.
México, em 1519. No entanto, eles acreditavam no
poder de Quetzalcoatl e pensa-
A prisão de Montezuma vam que um dia esse deus
retornaria à região para resgatar
A notícia da presença de pessoas estranhas na região chegou seu trono.
rapidamente ao conhecimento de Montezuma, o imperador Por isso, quando Cortez chegou
ao vale do México, os astecas
asteca. Por causa de uma profecia, ele acreditou que Cortez
acreditaram que ele fosse
fosse um antigo deus asteca que havia regressado. Quetzalcoatl.
Por isso, quando Cortez chegou em Tenochtitlán, a capital

Werner Forman/Corbis/Latinstock
do império, ele foi recebido respeitosamente e ficou hospedado
no palácio de Montezuma. Os espanhóis, no entanto, aprovei-
tando-se da situação, aprisionaram o imperador, obrigando-o
a contar onde estavam escondidos os tesouros dos astecas.
A população asteca, no entanto, só percebeu claramente seu
engano quando um fato inesperado deflagrou o conflito: em
uma ce­r imônia religiosa ocorrida durante a ausência de Cortez,
os espanhóis fecharam as portas do templo e massacraram
cerca de 2 000 astecas. A população se revoltou e atacou os
espanhóis, matando muitos deles e perseguindo os sobreviven- Escultura que representa
tes até a saída da cidade. Durante os conflitos, no entanto, o Quetzalcoatl.
imperador Montezuma foi morto.

A tomada da capital asteca


Depois dessa derrota, Cortez buscou
Autor desconhecido - A tomada de Tenochtitlán por Cortez. Séc. XVI. Embaixada
Britânica, Cidade do México. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

reforços principalmente entre os povos


indígenas inimigos dos astecas. Com
suas tropas reorganizadas, Cortez promo-
veu um cerco a Tenochtitlán e envenenou
as fontes de água da cidade.
Durante o cerco, que durou 75 dias,
milhares de astecas morreram envenena-
dos ou em razão da fome e das doenças.
Por fim, em agosto de 1521, os es­p a­nhóis
in­v adiram a cidade, mataram o sucessor
de Montezuma e conquistaram a capital
asteca.

Essa imagem representa a tomada de


Tenochtitlán pelos soldados de Hernán Cortez.

164
História em construção Por que os espanhóis venceram?

capítulo 10
Durante muito tempo, a vitória dos espanhóis sobre os astecas foi explicada pelos histo-
riadores por meio de uma interpretação eurocêntrica, que atribuía a vitória espanhola a uma
suposta inferioridade “natural” das populações indígenas tidas como “selvagens”. No entanto,

A colonização na América espanhola


com o avanço das pesquisas e a superação dos preconceitos eurocêntricos, atualmente o
êxito dos espanhóis é atribuído a uma combinação de diversos fatores.
Leia o texto a seguir, que trata desse assunto.
A rapidez com que os espanhóis conquistaram o Império Asteca leva sempre a uma questão: como um pu-
nhado de europeus puderam enfrentar um império de quase 25 milhões de habitantes? A resposta é complexa.
A luta de Cortez tinha vários aliados. Entre esses aliados [...] havia outros povos do México que não aceitavam o
domínio asteca, e acabaram por engrossar, de forma significativa, as fracas tropas de Cortez.
Também o uso das armas de fogo e dos cavalos representou um formidável aliado dos planos dos invasores.
Porém, um aliado invisível seria o mais fundamental: as epidemias. O contato com os espanhóis expôs os astecas
a novas formas de doenças, para as quais não tinham defesa: a varíola, a gripe, o sarampo e tantas outras. Essas
doenças existiam há séculos na Europa e já faziam parte do cotidiano dos europeus. Na América, porém, eram
uma novidade, e causaram epidemias que dizimaram milhares de nativos. [...] Totalmente despreparados para
esta guerra bacteriológica, os astecas acreditaram que seus deuses os puniam com a doença, enfraquecendo
ainda mais o ânimo da resistência.
Devemos levar em conta, ainda, como os espanhóis viam a guerra. Para um europeu do século XVI, a guerra
era muito prática e dever-se-ia usar qualquer recurso para matar o inimigo. Alianças, chantagens, mentiras,
massacres: tudo foi utilizado pelas tropas de Cortez. Para os astecas [...] a guerra era um evento quase sagrado,
cheia de regras, não feita para matar o inimigo ime-

Autor desconhecido - Indígenas mexicanos construindo


embarcações. Séc XVI. Biblioteca Nacional, Madrid. Foto:
The Bridgeman Art Library/Keystone
diatamente, mas para capturá-lo e, posteriormente,
oferecê-lo em sacrifício. Essa diferença entre os dois
modos de fazer guerra foi fatal para os astecas.
Leandro Karnal. A conquista do México. São Paulo:
FTD, 1996. p. 30. (Para conhecer melhor).

Imagem do século XVI que representa soldados


espanhóis e alguns indígenas aliados de Cortez
construindo barcos para atacar os astecas. Note
que nessa imagem aparecem Cortez e um líder
indígena coordenando os trabalhos.

O sujeito na história Malinche

A conquista do Império Asteca teve a participação decisiva de uma indígena que ficou
conhecida como Malinche. De origem asteca, ela foi vendida como escrava a um chefe maia
que, depois, a ofereceu como presente a Hernán Cortez. Malinche falava o nahuatl , língua
dos astecas, e também a língua dos maias.
Autor desconhecido - Cortez encontra Montezuma (detalhe).
Séc. XIX. Biblioteca Britânica, Londres. Foto: The Bridgeman
Art Library/Keystone

A partir do contato com os conquistadores, ela


logo aprendeu o espanhol. Cortez, aproveitan-
do a habilidade de Malinche no entendimento
da língua e dos costumes indígenas, usou-a
como sua intérprete. Depois de receber o ba-
tismo cristão, Malinche tornou-se mulher de
Cortez, com quem teve vários filhos.

Essa imagem representa Malinche (à direita) atuando como


intérprete em um diálogo entre Cortez e Montezuma.

165
A conquista do Império Inca
A morte do imperador inca desestabilizou a sociedade
e facilitou a conquista espanhola.

Felipe Guaman Poma de Ayala - Primeiro encontro entre Pizarro e Atahualpa em 1532. c. 1600. Foto: The Granger Collection/Other Images
A chegada de Pizarro
Assim como ocorreu com os astecas, a conquista
do Império Inca foi liderada por um oficial espanhol,
porém mais experiente que Hernán Cortez, chamado
Francisco Pizarro.
Pizarro chegou à América do Sul em 1532,
acompanha­d o de cerca de 180 homens vestidos com
armaduras de metal, trazendo 30 cavalos e muitas
armas, como arcabuzes, espadas e canhões. Ao
chegar, ele tomou conhecimento de que o imperador
Atahualpa encontrava-se na cidade de Cajamarca,
acompanhado de cerca de 30 mil soldados incas.

A execução de Atahualpa
Acompanhado de seus homens e de um grupo de
indígenas hostis aos incas, Pizarro partiu para Caja-
marca. Ao chegar à cidade, convidou Atahualpa
para um encontro pacífico. O imperador aceitou o
convite e dirigiu-se ao lugar combinado acompanha-
do de cerca de cinco mil homens desarmados. Ao
Essa imagem, produzida no século XVI, representa o
sinal de Pizarro, os soldados espanhóis atacaram os primeiro encontro entre Pizarro e Atahualpa. Além dos
homens de Atahualpa e prenderam o imperador. soldados incas que faziam a guarda de seu soberano,
Para que fosse libertado, Atahualpa ofereceu aos nota-se, na imagem, a presença de um religioso e
espanhóis uma enorme quantidade de ouro. Pizarro de outros membros da expedição espanhola.
aceitou a proposta e em pouco tempo o ouro foi reunido e entregue ao con- Arcabuz antiga
quistador. Pizarro, no entanto, em vez de cumprir sua parte no acordo, man- arma de fogo de
dou executar Atahualpa. Em seguida, comandou a tomada de Cuzco, a capital cano curto e
do império. Em 1535, Pizarro fundou a cidade de Lima, no litoral, e instalou largo, semelhante
ali a sede do governo espanhol, assumindo o controle do Império Inca. a uma espingarda.

Enquanto isso... no Brasil


Benedito Calixto – Fundação de São Vicente. 1990. Museu Paulista da USP, São Paulo

Na época em que Pizarro iniciou as guerras de


conquista do Império Inca, os portugueses iniciavam
a colonização do território onde hoje fica o Brasil.
No ano de 1532, durante uma expedição coloni-
zadora comandada por Martim Afonso de Souza,
os portugueses fundaram São Vicente, a primeira
vila brasileira.
A colonização portuguesa, assim como a espa-
nhola, provocou a morte de muitos indígenas que
habitavam a região e significou a tomada das terras
desses povos.
Tela feita por Benedito Calixto em 1900, representando
a fundação da vila de São Vicente.

166
A administração das colônias

capítulo 10
Depois de um período inicial de grande violência contra os indígenas, o governo
espanhol procurou organizar a administração dos territórios conquistados.

A colonização na América espanhola


A colonização espanhola
No período que se seguiu ao das guerras de conquista houve enorme
violência contra os indígenas. Os conquistadores queriam enriquecer rapi-
damente e, por isso, saquearam templos e túmulos, roubando ídolos e
objetos sagrados. Além do saque, os conquistadores europeus escravizaram
os indígenas, obrigando-os a realizarem pesados trabalhos.

Os vice-reinos Domínios espanhóis na América


Para organizar a exploração de rique-

E. Cavalcante
Santa Fé N

zas nas terras conquistadas, o governo O L

espanhol dividiu o território em dois vice- St. Augustine S

Trópico de Câ
-reinos: o da Nova Espanha e o do Peru. ncer
Havana
Mérida
Para administrar os territórios conquis- Cidade do
México Vera Cruz Santo Domingo
tados, o governo espanhol enviou vice-
Cartagena
-reis, que tinham amplos poderes para Caracas OCEANO
Panamá ATLÂNTICO
governar. Esses governantes geralmente Santa Fé
de Bogotá
prestavam contas de suas atividades ao Equador
Quito 0°

Conselho das Índias, um órgão criado


especialmente para resolver conflitos e OCEANO PACÍFICO
nomear autoridades para administrar as Lima
Cuzco
colônias. La Paz
Potosí
Para auxiliar na administração, havia as Trópico de Ca
pricórnio Assunção
Audiencias , que eram tribunais responsá-
veis pela aplicação da justiça. Além disso, Santiago Buenos Aires
as cidades maiores tinham uma adminis- Concepción

tração municipal, chamada Cabildo . Os Vice-reino da Nova Espanha


Vice-reino do Peru
membros desse órgão geralmente eram
grandes proprietários de terras e comer- 0 1 075 km
50° O
ciantes bem-sucedidos. Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.
Hemis.fr/SuperStock/Glow Images

Cidades e universidades
Poucos anos após o início da colonização espanhola na América, os coloni­
zadores espanhóis fundaram várias cidades em suas colônias. Essas
cidades foram fundadas com o objetivo de organizar a administração e de
facilitar o comércio e a cobrança de impostos nas colônias. Ainda no século
XVI, a Coroa espanhola incentivou a instalação de universidades na América.
A primeira universidade foi criada em 1538, em São Domingo e, em 1553,
foi fundada a Universidade Real e Pontifícia da Cidade do México. O
governo espanhol acreditava que as universidades facilitariam a transmissão
da cultura e dos valores europeus aos habitantes da América.

Fotografia retratando o convento de São Domingo, onde


funcionou a primeira universidade da América espanhola.

167
A organização da economia
A economia na América espanhola baseou-se na mineração e na produção agrícola,
desenvolvidas principalmente com a exploração da mão de obra indígena.

A mineração
A exploração das minas de metais preciosos nas colônias espanholas Catequizar
na América contribuiu para o desenvolvimento econômico da Espanha. converter à fé
Após a conquista e a pilhagem das sociedades conquistadas, o governo católica.
espanhol investiu na mineração de prata e de ouro. As minas de ouro logo Charque tipo
se esgotaram, mas foram encontradas grandes jazidas de prata em Zaca- de carne bovina
tecas, no México, e em Potosí, na atual Bolívia. A exploração de metais que é salgada e
preciosos nas colônias fez da Espanha o Estado mais poderoso da Euro- seca ao Sol.
pa no século XVI.
Para abastecer os grandes centros minera-

Séc XIX. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone


dores que se formavam, foram estabelecidas
propriedades agrícolas e pecuárias, como as
da região dos Pampas, na Argentina. Essas
propriedades abasteciam as regiões mineiras
fornecendo principalmente alimentos e animais
para o trabalho.
Após a segunda metade do século XVII, o
declínio da mineração aumentou a importância
da agricultura e da pecuária nas colônias es-
panholas. Assim, o governo da Espanha esti-
mulou o plantio de grandes lavouras de cacau,
café e cana-de-açúcar, e a criação de reba-
nhos fornecedores de couro e charque, para Essa ilustração, feita no século XIX, representa indígenas
comercializar esses produtos na Europa. trabalhando na produção da prata.

O trabalho nas colônias espanholas


Embora o trabalho de escravos africanos também
Bartolomé de Las Casas
tenha sido utilizado, a economia das colônias baseou-se
O padre dominicano Bartolomé de Las
principalmente na exploração da mão de obra indígena.
Casas foi um dos grandes críticos da
Os indígenas foram submetidos a dois tipos de organi- exploração dos indígenas nas colônias
zação do trabalho: a encomienda e a mita . Na encomien- espanholas. Em seus escritos e discursos,
da , um proprietário de minas ou de fazendas agrícolas Las Casas denunciou a brutalidade dos
pagava tributos à Coroa espanhola para adquirir um conquistadores e o extermínio das popula-
grupo de indígenas. O proprietário ficava responsável ções indígenas. Para ele, essas populações
não deveriam ser confiadas aos conquis-
pelo fornecimento de roupas e alimentos e, também, tadores, mas ficar sob a guarda de
pela catequização, e passava então a explorar a mão religiosos, que poderiam levar adiante a
de obra desses indígenas. sua catequiza-
Séc. XVI. Arquivo das Índias, Sevilha.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

ção e subme-
A mita , de origem inca, foi adaptada pelos espanhóis.
tê-los ao
Eles sorteavam alguns indígenas em suas comunidades trabalho de
e os obrigavam a trabalhar em outras regiões da colô- forma pacífica.
nia. Esses indígenas, chamados de mitayos , geralmen-
te trabalhavam por quatro meses e recebiam um
pequeno salário. A mita foi muito usada nas minas do Bartolomé de
Peru, onde as péssimas condições de trabalho e os Las Casas.
abusos dos proprietários causaram a morte de milhares
de indígenas.

168
A sociedade colonial

capítulo 10
A sociedade colonial espanhola era dividida de acordo com critérios étnicos.

Os grupos sociais

A colonização na América espanhola


A sociedade na América espanhola era formada por cinco grupos prin-
cipais: os chapetones , os criollos , os mestizos , os indígenas e os escravos
africanos. Essa divisão se baseava principalmente em aspectos étnicos,
que eram usados para determinar a posição de cada um na economia da
colônia.
Carta
etnográfica

Os chapetones eram espanhóis que migraram para a América e


dominaram o grande comércio entre as colônias e a Metrópole, atuando
como fornecedores de produtos e como banqueiros. Além disso, os
chapetones ocupavam os cargos administrativos mais importantes.

Os criollos eram os descendentes de espanhóis


nascidos na América. Mesmo excluídos dos cargos
mais importantes da administração colonial, eram
grandes proprietários rurais e exploradores de
minas. Os criollos, juntamente com os chapetones,
formavam a elite das colônias.

Um grupo que ganhou importância no decorrer da colonização


era formado pelos mestizos. Filhos de espanhóis e de
mulheres indígenas, esse grupo cresceu em quantidade e
causou preocupação à Coroa espanhola, que temia revoltas
sociais. As populações mestiças geralmente exerciam trabalhos
ligados ao artesanato e ao pequeno comércio.

Os indígenas constituíam a maioria da população


colonial. Durante a colonização, a mão de obra
indígena passou a ser usada pelos espanhóis
principalmente na mineração e na agricultura.
Ilustrações: Art Capri

A mão de obra africana também foi utilizada nas colônias espanholas da


América. Os escravos africanos trabalhavam como pedreiros, carregadores
de mercadorias e prestadores de serviços domésticos. Nas Antilhas, os
africanos trabalharam principalmente nas lavouras de cana-de-açúcar.

169
A mineração em Potosí
Em pouco mais de um século, a mina de Potosí chegou a produzir cerca de 18 mil
toneladas de prata.

Extraindo a prata
A extração de prata em Potosí foi essencial para a economia da América
espanhola. Por volta de 1600, essa região era a maior produtora de prata
do mundo, possibilitando à Espanha conquistar uma posição de destaque
na economia mundial.
A pintura abaixo, produzida no século XVI, representa as principais etapas
da produção de prata em Potosí.

O triturador era utilizado para Inicialmente, as minas de Potosí


moer o minério de prata extraído foram exploradas superficialmente,
da montanha. Ele era formado por nas partes mais altas da montanha.
pesados pilões de ferro, que eram Depois, foram cavadas galerias cada
movidos por um moinho d’água. vez mais profundas e perigosas.
Sumaj Orko. Séc. XVI. Sociedade Hispânica da América, Nova Iorque

O huayra era um tipo de forno usado


para aquecer e fundir a prata. De
origem indígena, o huayra ficava nas
encostas da montanha para
aproveitar os ventos fortes que
sopravam nesse local.

Os azogueros
supervisionavam
o trabalho dos
indígenas.

Os cajones eram tanques de A tina era um tanque com Os indígenas eram a principal mão de obra nas minas
pedra onde os indígenas faziam água usado para separar a espanholas da América. Eram eles que trabalhavam
o amálgama, isto é, a mistura do prata das impurezas e do em todo o processo de produção da prata, desde a
minério de prata com o mercúrio. excesso de mercúrio. extração do minério até a fundição do metal.

170
Enquanto isso... nas colônias inglesas e francesas

capítulo 10
A partir do século XVI, a Inglaterra e a França tentaram estabelecer e explorar colônias
na América. Porém, foi somente no século XVII que franceses e ingleses ocuparam efetiva-
mente territórios no continente americano.

A colonização na América espanhola


Conquista e colonização inglesa
Domínios ingleses e franceses
Diversos fatores contribuíram para o em territórios americanos
início da colonização inglesa, dentre eles

E. Cavalcante
as péssimas condições de vida de grande O
N

L
parte da população e as perseguições S

políticas e religiosas. Isso fez com que


muitas pessoas se dispusessem a tentar
uma nova vida na América.
Grandes CANADÁ
Quando desembarcaram nesse conti- Lagos
Quebec
ACÁDIA TERRA NOVA

nente, os ingleses se depararam com um Boston


Newport
Port-Royal

grande número de povos indígenas, como NOVA FRANÇA Filadélfia Nova Iorque
Richmond
os sioux e os cherokees . Esses indígenas Jamestown

lutaram contra os ingleses, porém foram Charleston


OCEANO
ATLÂNTICO
exterminados ou tiveram de se submeter LUISIANA Savannah

aos invasores.
30˚ N
Depois de conquistar territórios na Amé-
rica do Norte e nas Antilhas, comerciantes Trópico de Câncer

das cidades de Londres e Plymouth, na


Inglaterra, conseguiram a autorização do HAITI
Domínios ingleses
governo inglês para a criação de duas ANTILHAS Domínios franceses

companhias de comércio para administrar


a colonização nas Treze Colônias da Amé-
rica do Norte. Essas companhias deveriam
OCEANO
atrair imigrantes para a América, facilitan- PACÍFICO Caiena 0 700 km
do a aquisição de terras e financiando a 75° O

viagem daqueles que não podiam pagá-la. Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling kindersley, 2005.

A colonização francesa na América


A colonização francesa foi empreendida pelas companhias de comércio, organizadas por
particulares e sem o apoio financeiro do governo francês. Sendo assim, foram fundadas as
primeiras colônias na região do atual Canadá.
A partir dos primeiros núcleos de povoamento, teve início a penetração no território ca-
nadense, empreendida por caçadores e comerciantes de peles de animais, como castores
e cervos. Desse modo foram estabelecidos os primeiros contatos com os nativos. Alguns
anos depois, vários padres jesuítas começaram a se estabelecer nessa região, com o ob-
jetivo de catequizar esses indígenas.
Os franceses também tiveram de enfrentar uma forte resistência de diversos povos nativos
que viviam na região, como os dakotas e os comanches . Além disso, os constantes confli-
tos entre franceses e ingleses pela posse de territórios americanos dificultaram a coloniza-
ção francesa na região.
Na região das Antilhas, os franceses ocuparam várias ilhas que haviam sido abandonadas
pelos espanhóis e deram início ao cultivo de produtos tropicais. Nessas ilhas predominou
o trabalho escravo africano. Na América do Sul, os franceses conquistaram um pequeno
território que, atualmente, se chama Guiana Francesa. Nessa região eles passaram a pro-
duzir principalmente algodão, cana-de-açúcar e café.

171
Explorando o tema
Os indígenas na América Latina atual
De acordo com estimativas recentes, a população da América Latina é composta por cerca
de 35 milhões de indígenas.
Apesar da violência de que foram vítimas desde a época da chegada dos europeus, os
indígenas latino-americanos têm grande participação na formação populacional e cultural de
vários países da América Latina.
A conquista e a colonização da América pelos europeus deixaram marcas profundas nos
países latino-americanos. Os indígenas, que formam grande parte da população camponesa
desses países, frequentemente são expulsos de suas terras e deixados à margem da econo-
mia e da política dos países onde vivem.
Martin Alipaz/epa/Corbis/Latinstock

Bolivianas participando da chuta, uma dança típica


do carnaval da Bolívia. Fotografia tirada em 2007.
Peter Adams/JAI/Corbis/Latinstock

Sergio Dorantes/Corbis/Latinstock

Crianças peruanas cuidando Mexicanos trabalhando na produção de


de um rebanho de lhamas. instrumentos musicais. Fotografia tirada
Fotografia tirada em 2005. por volta de 1990.

172
capítulo 10
Os Movimentos Sociais Indígenas

A colonização na América espanhola


Os indígenas são povos que possuem uma cultura, identidade e modos de vida distintos
da cultura cristã ocidental. Por meio de organizações e movimentos sociais, os grupos indí-
genas e de camponeses lutam pela defesa de seus direitos, procuram garantir a posse de
suas terras e preservar sua cultura e suas tradições.
No México, o Exército Zapatista de Libertação

Bernard Bisson/Corbis/Latinstock
Nacional (EZLN) é uma organização político-militar,
que possui apoio de vários setores da sociedade
mexicana, como professores, artistas, estudantes,
sindicatos, ONGs, entre outros.
Formado essencialmente por camponeses de
origem indígena, o EZLN luta pelo direito à posse
coletiva da terra e o fim da opressão.

O EZLN tem como princípios básicos a defesa de direitos individuais e


coletivos negados aos povos indígenas mexicanos e a construção de
um país livre, democrático e justo. Nessa fotografia, de 2001, vemos
membros do EZLN durante uma manifestação na Cidade do México.

O Movimento de Unidade Plurinacional Pa-


Guilherme Granja/Reuters/Latinstock

chakutik-Nuevo País (MUPP-NP) surgiu em 1995


com a finalidade de representar os interesses dos
povos indígenas do Equador. Nas eleições presi-
denciais em 1996, o Pachakutik conseguiu ocupar
oito cadeiras no Congresso.
O Pachakutik é o maior partido político comanda-
do por indígenas daquele país, e tem uma ampla
participação na defesa dos seus interesses no Equador.

O MUPP-NP é um partido ativo na luta por melhores condições


para os povos indígenas. Nessa fotografia vemos membros do
MUPP-NP, em Quito, capital do Equador, em protesto contra o
governo, em 1999.
Jaime Saldarriaga/Reuters/Latinstock

O Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC)


é uma das principais organizações indígenas da
Colômbia. Esse conselho luta por maior autonomia
desses povos e também pelos direitos dos povos
indígenas à educação pública, de acordo com a
cultura de cada etnia.

Fotografia de 2011 retratando


indígenas ligados ao CRIC
celebrando o 40o aniversário
do movimento.

173
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Escreva um pequeno texto sobre a diversi­ ■■ Francisco Pizarro chega à América do Sul.
dade da população americana na época ■■ Cristóvão Colombo desembarca na
da chegada de Cristóvão Colombo. América.
2 Quais as consequências, para a popula­ção ■■ Hernán Cortez chega em Vera Cruz.
indígena americana, da chegada dos eu­ ■■ Espanhóis conquistam a capital do Im­
ropeus na América? pério Asteca.
3 Quem foi Montezuma? Por que ele recebeu ■■ Francisco Pizarro funda a cidade de
Her­nán Cortez respeitosamente em Teno­ Lima, no Peru, assumindo o controle do
ch­titlán? Império Inca.
4 Como ocorreu a tomada da capital as­teca? 8 Explique as funções do Conse­lho das Ín­dias,
das Audiencias e dos Ca­bildos.
5 Sobre a conquista do Império Inca, res­ponda.
a ) Quem liderou a conquista? 9 Por que o governo espanhol procurou fun­
dar cidades e incentivou a criação de
b ) Quem foi Atahualpa? universidades em suas colônias na Amé­
c ) Descreva como foi o encontro entre rica?
Atahualpa e Pizarro.
10 Quais eram as principais atividades eco­
d ) O que Atahualpa ofereceu a Pizarro pe­ nômicas desenvolvidas nas colônias es­­
la sua libertação? Qual dos dois lados panholas?
não cumpriu o acordo? Explique.
11 Cite alguns produtos agrícolas cultivados
e ) Qual era o nome da capital do Império nas colônias americanas da Espanha pa­
Inca? Qual cidade os espanhóis cons­ ra serem comercializados na Europa.
truíram para ser a sede do gover­n o
espanhol? 12 Explique com suas palavras o que era a
encomienda e o que era a mita.
6 Explique o contexto brasileiro na época da
conquista do Império Inca. 13 Quem foi Bartolomé de Las Casas?

7 Leia as frases a seguir, que apresentam 14 Quais eram as características de cada um


acontecimentos relacionados à conquista dos principais grupos sociais da América
do Império Asteca e do Império Inca. De­ espanhola?
pois, em seu caderno, elabore uma linha
do tempo organizando cronologicamente 15 Escreva um pequeno texto explicando co­mo
esses acontecimentos, incluindo a data foram as colonizações inglesa e francesa
de cada um deles. na América.
■■ É fundada a primeira universidade na 16 Quais são os principais objetivos das atuais
América espanhola, em Santo Domingo. lu­­­tas dos indígenas na América Latina?

Expandindo o conteúdo
17 O texto a seguir foi escrito por um indígena da América que aprendeu a língua espanhola,
alguns anos após a conquista do Império Asteca. Esse texto narra a morte de muitos indí­
genas em decorrência de uma epidemia de varíola, transmitida a eles pelos soldados de
Cortez. Leia-o.

Quando se foram os espanhóis do México e ainda não se preparavam os espanhóis


contra nós, primeiro se difundiu entre nós uma grande peste, uma enfermidade geral.
Começou em Tepeílhuitl [mês do calendário asteca]. Sobre nós se estendeu: grande

174
capítulo 10
destruidora de gente. Alguns bem os cobriu, por todas partes (de seu corpo) se estendeu.
Na cara, na cabeça, no peito etc.
Era uma enfermidade destruidora. Muitas pessoas morreram dela. Ninguém podia
andar, no máximo estavam deitadas, estendidas em sua cama. Ninguém podia mover-se,

A colonização na América espanhola


não podia virar o pescoço, não podia movimentar o corpo, não podia deitar de cabeça
para baixo, nem deitar-se sobre as costas, nem mover-se de um lado ao outro. E quando
moviam algo, davam gritos. A muitos deu morte a pegajosa, atormentadora, dura enfermi-
dade dos grãos.
Muitos morreram dela, mas muitos somente de fome morreram: houve mortos pela
fome: já ninguém cuidava de ninguém, ninguém com outros se preocupava. [...] Uns fica-
ram cegos, perderam a visão.
O tempo que esta peste manteve-se forte foi de sessenta dias, sessenta dias funestos. [...]
Miguel León-Portilla. A visão dos vencidos: a tragédia da conquista narrada pelos astecas.
Trad. Carlos Urbim; Jacques Waimberg. Porto Alegre: L&PM, 1985. p. 99-100.

a ) De acordo com o autor, quais eram os sintomas da doença?


b ) Além da doença, o que causou a morte de muitos indígenas?
c ) Quanto tempo durou a doença?
d ) Como o adoecimento dos indígenas facilitou a conquista do Império Asteca pelos
es­p a­n hóis?

Passado e presente
18 O texto a seguir, publicado em 2007, relata uma descoberta arqueológica feita por pes­
quisadores peruanos. Leia-o.

O primeiro esqueleto de um ameríndio morto a tiros pelos conquistadores europeus


foi encontrado por arqueólogo peruano em um cemitério inca perto de Lima, capital do
Peru, anunciou, em Washington, uma equipe de arqueologia auxiliada pela National
Geographic Society.
Este é o primeiro caso conhecido de uma pessoa morta por uma bala no território do
Novo Mundo, há 500 anos, no período da conquista espanhola das Américas.
O homem pode ter morrido durante as lutas indígenas contra as forças comandadas
por Francisco Pizarro [...].
“Pela primeira vez identificamos restos humanos de um indígena morto durante a con-
quista”, disse o arqueólogo peruano Guillermo Cock.
Com sua equipe, Cock encontrou 72 corpos em um cemitério inca de Puruchuco, su-
búrbio perto de Lima, nos trabalhos prévios à construção de uma estrada.
Todos os indígenas, enterrados de forma rápida e a pouca profundidade, sem seguir a
tradição de posicioná-los com a cabeça virada para o leste, parecem ter sido vítimas de um
confronto com os conquistadores.
Os cientistas têm quase certeza de que um deles morreu após receber um tiro na cabeça.
Outros dois corpos têm rastros de ferimentos a bala que ainda dependem de confirmação
científica.

175
Após as escavações de 2004 a 2006, o corpo com o crânio perfurado foi analisado em
um microscópio eletrônico [...].
Os cientistas detectaram a presença de rastros de ferro ao redor do impacto do projétil
na parte posterior do crânio, sem dúvida uma bala de mosquete, uma arma de fogo que
começou a ser utilizada na Europa no início do século XVI.
Arqueólogo peruano descobre primeiro índio morto a tiros na conquista da América.
Agence France-Presse. Extraído do site: <www.afp.com>. Acesso em: 17 jan. 2012.

a ) Escreva com suas palavras qual foi a descoberta arqueológica feita pelo pesquisador
Guillermo Cock.
b ) Quais elementos da descoberta arqueológica permitem aos cientistas afirmar que o in­
dígena foi morto durante um conflito contra espanhóis?

19 As colônias inglesas na América apresentavam grandes diferenças sociais e econômicas


entre si. Leia o texto a seguir.

As colônias do norte da costa atlântica apresentavam o clima temperado, semelhante


ao europeu. Dificilmente esta área poderia oferecer algum produto de que a Inglaterra
necessitasse.
Essa questão climática favoreceu o surgimento, único no universo colonial das Améri-
cas, de um núcleo colonial voltado à policultura, ao mercado interno e não totalmente
condicionado aos interesses metropolitanos.
A agricultura das colônias [do norte] destacava o consumo interno, com produtos co-
mo o milho. O trabalho familiar, em pequenas propriedades, foi bastante comum nas
colônias do norte. [...]
As colônias do sul, por sua vez, abrigaram uma economia diferente. Seu solo e clima
eram mais propícios para uma colonização voltada aos interesses europeus.
O produto que a economia sulina destacou desde cedo foi o tabaco. O tabaco implicou
uma permanente expansão agrícola por ser uma planta exigente, que esgota rapidamente
o solo, obrigando os colonos do sul a abrir novas áreas de cultivo. O fumo tornou-se um
produto fundamental no sul. [...]
A falta de [mão de obra] para o tabaco em pouco tempo impôs o uso do escravo. Esse
trabalho escravo cresceu lentamente, posto que [...] o trabalho branco servil foi predomi-
nante no século XVII.
A sociedade sulina que acompanha essa economia é marcada, como não poderia deixar
de ser, por uma grande desigualdade.
Leandro Karnal. Estados Unidos: A formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007. 4. ed. p. 50; 52. (Repensando a história).

a ) De acordo com o texto, por que as colônias do norte não atendiam aos interesses me­
tropolitanos? Quais eram esses interesses?
b ) Quais fatores contribuíram para o desenvolvimento do cultivo do tabaco nas colônias
do sul?
c ) O que levou a utilização do trabalho escravo nas colônias do sul?
d ) Explique as principais diferenças sociais e econômicas entre as colônias do norte e as
do sul.

176
capítulo 10
20 Observe o gráfico a seguir.

Acervo da editora
População do Império Inca (1530-1590)

A colonização na América espanhola


População
(em milhões de pessoas)
10
10

2,5
1,5

0 Anos
1530 1560 1590

Fonte: BETHEL, Leslie (Org.). História da América Latina. A América Latina Colonial.
São Paulo: Edusp/Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. v. 1.

a ) O que está representado no gráfico?


b ) Quantas pessoas havia no Império Inca em 1530?
c ) E no ano de 1590, qual era a população do Império Inca?
d ) O que é possível concluir com base na análise desse gráfico?
e ) Como essa diminuição da população inca pode ser explicada?

Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ Quando os europeus chegaram à América, milhões de indígenas já habitavam esse con-
tinente.
■■ A conquista e a colonização do território americano causaram a morte de milhões de
indígenas.
■■ Os povos indígenas resistiram de várias maneiras à dominação europeia.
■■ A mineração e a agricultura foram a base da economia colonial espanhola.
■■ Atualmente, os descendentes de indígenas continuam lutando por seus direitos.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certificar-
-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

177
11
A colonização na
capítulo

América portuguesa
A Esse mapa representa o
Lopo Homem – Terra Brasilis. Mapa do Atlas Miller. 1515-1519. Departamento de Planisférios e Cartografias da Biblioteca Nacional, Paris

Veja nas Orientações


território brasileiro logo para o professor
alguns comentários e
depois da chegada dos explicações sobre os
europeus. recursos apresentados
no capítulo.

B Abaixo, detalhe de pintura feita por volta


de 1647 pelo artista holandês Frans Post
(1612-1680), que representa um
engenho de açúcar no Brasil.
Frans Post – Engenho de açúcar. G. Marcgraf (detalhe). c. 1647.
Em Rerum per Octennium in Brasilia, Amsterdã

178
Delfim Martins/Pulsar

C No ano 2000, muitos indígenas


Mastrangelo Reino/Folhapress

protestaram contra as comemorações


dos 500 anos do “Descobrimento do
Brasil”. Para esses indígenas, desde o
“descobrimento” suas terras vêm sendo
invadidas, e eles têm sido vítimas de
grande violência, o que causou muitas
mortes e a desestruturação de suas
sociedades. Acima, protesto ocorrido
em Santa Cruz Cabrália (BA).

D Passeata promovida no Dia da Consciência


Negra, em 2006. Nessa passeata, os
manifestantes estavam reivindicando
melhorias na escola pública e garantia dos
direitos dos afro-brasileiros.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
A colonização portuguesa na América teve início nas primeiras décadas o conhecimento
prévio dos alunos e
do século XVI. Ela foi feita com base no trabalho de indígenas e de africa- estimular seu
nos e seus descendentes. Neste capítulo você irá estudar como os portu- interesse pelos
assuntos que serão
gueses exploraram as riquezas do território americano. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■ ■ Quais elementos são destacados no mapa reproduzido como fonte A? participem
Quem são os personagens e qual atividade estão realizando? expressando suas
opiniões e
■■ Descreva a paisagem e os personagens representados na fonte B. Você respeitando as dos
colegas.
sabe qual era a importância do açúcar para a colonização do Brasil?
■ ■ Por que há protestos, nos dias de hoje, de descendentes de africanos

e de indígenas reivindicando seus direitos, conforme demonstram as


imagens C e D?
Pense nessas questões enquanto lê este capítulo.

179
A chegada dos europeus
Quando aqui chegaram, em 1500, os portugueses estabeleceram contato
com os tupiniquins.

Os primeiros contatos
Em 22 de abril de 1500, uma esquadra portuguesa comandada por Pedro
Álvares Cabral chegou às terras que hoje formam o Sul do estado da Bahia.
No dia seguinte, os portugueses avistaram um grupo de indígenas na praia
e desembarcaram para estabelecer os primeiros contatos.
Alguns fatos ocorridos nesse primeiro encontro foram narrados em uma
carta que o escrivão português Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal.
Leia a seguir um trecho dessa carta.

E dali tivemos a visão de homens que andavam pela praia, cerca


de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, por chega- Batel pequena
rem primeiro. embarcação que
geralmente é
[...] E o Capitão mandou no batel em terra a Nicolau Coelho transportada
para ver aquele rio. E logo que ele começou a ir para lá, acudiram dentro de navios
pela praia homens, quando dois, quando três, de maneira que, che- maiores.
gando o batel à beira do rio, eram ali dezoito ou vinte homens Escrivão
pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas ver- funcionário que
relata por escrito
gonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijos os atos que se
para o batel; e Nicolau Coe­lho lhes fez sinal que pousassem os ar- processam para a
cos. E eles os pousaram. autoridade que
representa.
Pero Vaz de Caminha. Carta ao rei Dom Manuel. 3. ed. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2000. p. 17. (Prestígio). Rijo tenso.

A carta de Caminha
A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, conhecida como Carta
do Achamento do Brasil, relata o primeiro encontro dos portugueses com os nativos
da terra e as impressões que seus hábitos causaram nos portugueses. Também
contém descrições geográficas e impressões
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa

pessoais do autor sobre o valor do território.


Assim, ela é considerada o primeiro documento
escrito referente à história de nosso país.
A carta manteve-se inédita no arquivo nacional
português, localizado na Torre do Tombo do
castelo de Lisboa, onde ficou até 1773, quando
o diretor do arquivo, José Seabra da Silva,
mandou fazer uma cópia.
Supõe-se que uma cópia da carta tenha vindo
para o Brasil em 1808, junto com a família real.
Sabe-se que ela foi divulgada pela primeira vez
em 1817, no livro Coreografia Brasileira , escrito
pelo padre Aires do Casal.

Reprodução da última página da Carta


ao rei Dom Manuel, escrita por Pero
Vaz de Caminha em 1500.

180
Os indígenas

capítulo 11
Os indígenas com os quais os portugueses estabeleceram os primeiros
contatos eram tupiniquins. Eles falavam a língua tupi e habitavam o litoral
brasileiro.

A colonização na América portuguesa


Arquivo da Academia de Ciências da Rússia, Moscou

Pintura produzida em
1827 pelo artista francês
Aimé-Adrien Taunay
(1803-1828).
Ela representa indígenas
bororos ouvindo um
caçador narrar uma de
suas histórias.

Os tupiniquins viviam em aldeias compostas por cinco a dez grandes


habitações organizadas de maneira circular, com um pátio central. As aldeias
eram cercadas e nelas podiam viver entre quinhentos e três mil habitantes.
Além dos tupiniquins, outros povos indígenas habitavam a costa brasilei-
ra no século XVI, entre eles tremembés, potiguares, caetés, bororos, tupi-
nambás, aimorés, tamoios, guaranis e charruas. Cada um desses povos
tinha seu próprio modo de vida, seus costumes e tradições, enfim, sua
própria cultura.

Primeiras décadas de colonização


Conheça os principais acontecimentos que marcaram as primeiras déca-
das da colonização do Brasil.

1500 1510 1520 1530 1540 1550 1560 1570 1580 1590 1600

1500
Navegadores
1530 1549 1565
portugueses chegam O governo português Os portugueses expulsam
Criação do Governo-geral e
ao território brasileiro. envia uma expedição, os franceses da Guanabara
início da construção da cidade
comandada por e fundam a vila de São
de Salvador, na capitania da
1501 Martim Afonso Sebastião do Rio de Janeiro.
Bahia de Todos os Santos,
de Souza, com o
O governo português envia para ser a capital da Colônia.
objetivo de iniciar 1580
a primeira expedição a colonização do
de reconhecimento do 1554 Filipe II, rei da
território brasileiro. Os jesuítas fundam um colégio na Espanha, assume o
território brasileiro.
região dos campos de Piratininga, trono português e
1516 1532 no interior da capitania de São passa a governar,
Martim Afonso de Souza Vicente, que posteriormente deu ao mesmo tempo,
Cristóvão Jacques Espanha e Portugal.
comanda a primeira funda São Vicente, a primeira origem à vila de São Paulo.
vila do Brasil. Nesse mesmo Esse fato marca o
expedição “guarda-costas”, início da União Ibérica.
cujo objetivo é impedir que ano, o governo português 1555
franceses explorem a costa divide o território brasileiro Os franceses fundam uma
brasileira. em capitanias hereditárias. colônia denominada França
Antártica, na Guanabara.

181
As primeiras formas de

Art Capri
exploração
O pau-brasil foi o produto que mais interessou aos
europeus no início da exploração do território.

As feitorias
Nos primeiros anos após a chegada da expedição
de Cabral ao território dos indígenas, os portugueses
demonstraram pouco interesse em ocupar essas fei-
torias. Eles se limitaram a explorar seus recursos
naturais, construindo feitorias em diferentes pontos
do litoral.

Ilustração que representa uma feitoria


construída em terras indígenas.

O pau-brasil Essa ilustração é uma representação


artística feita com base em estudos
históricos.
Entre os produtos explorados nas terras indígenas, estavam a pimenta e Baseado em Aventuras na História,
n. 3, novembro/2003.
o tabaco, e também animais, como araras e macacos. No entanto, o produto
que despertou maior interesse nos portugueses foi o pau-brasil. A madeira
dessa árvore, de cor avermelhada, era usada na Europa para a extração de
um pigmento para tingir tecidos, que tinha um alto valor comercial.

O escambo
Desde que aqui chegaram, os portugueses precisaram da ajuda dos in-
dígenas para explorar o pau-brasil. Para conseguir a colaboração deles, os
portugueses começaram a realizar um tipo de comércio baseado em trocas,
conhecido como escambo.
Árvore de pau-
Os indígenas cortavam, transportavam e armazenavam as toras de pau-
-brasil, localizada
-brasil nas feitorias, deixando-as prontas para serem embarcadas nos navios. em São Paulo.
Em troca, eles recebiam objetos e ferramentas que não conheciam, como Fotografia tirada,
facas, foices e machados. em 2007.
O texto a seguir trata desse assunto. Ele foi escrito pelo viajante
Fabio Colombini

francês Jean de Léry (1534-1611), que esteve no Brasil no século XVI.

[...] Quanto ao modo de carregar os navios com [o pau-brasil], direi


que tanto por causa da dureza, e consequente dificuldade em [derrubá-lo],
como por não existirem [...] animais [...] para [transportá-lo], é [arrasta-
do] por meio de muitos homens; e se os estrangeiros que por [aqui] viajam
não fossem ajudados pelos [indígenas], não poderiam nem sequer em um
ano carregar um navio de tamanho médio. [...]
Jean de Léry. Viagem à terra do Brasil. Trad. Sérgio Milliet. Belo Horizonte: São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980. p. 168.
(Reconquista do Brasil).

Além da exploração do pau-brasil, os europeus contaram com


a ajuda dos indígenas para sobreviver na nova terra. Com os indí-
genas, eles aprenderam a caçar, pescar, plantar, preparar os ali-
mentos da terra e a se locomover com segurança pelas matas.

182
A colonização

capítulo 11
Interessados nas riquezas do Brasil e preocupados com a presença de outros
europeus, os portugueses iniciaram a colonização do território dos indígenas. Colonização
ocupação e

A colonização na América portuguesa


povoamento de
A presença de outros europeus um território com
o objetivo de
As riquezas naturais existentes nas terras dos indígenas não interessavam
tomar posse dele
somente aos portugueses. Outros europeus, entre eles os franceses, pas- e de fazê-lo
saram a frequentar a costa brasileira para explorar principalmente o pau- produzir riquezas.
-brasil. Colonizar significa
também enfrentar,
Para tentar garantir a posse das terras brasileiras, os portugueses, então, dominar ou
deram início à colonização do território. incorporar o povo
que já habitava o
As capitanias hereditárias território ocupado.

Para efetivar a colonização do território e fazê-lo ge-

Luís Teixeira – Capitanias hereditárias. 1574. Biblioteca da Ajuda, Lisboa


rar riquezas, o governo português decidiu enviar uma
expedição colonizadora. Essa expedição foi chefiada
pelo português Martim Afonso de Souza que, em 1532,
fundou São Vicente, a primeira vila brasileira. A partir
de então, o governo português começou a implantar
no Brasil o sistema de capitanias hereditárias.
As capitanias hereditárias eram grandes lotes de
terras que foram doados a portugueses de posses.
A pessoa que recebia uma capitania era chamada de
donatário. Cada donatário era responsável por promo-
ver a colonização e tornar produtivas as terras da ca-
pitania que lhe fora doada. Alguns obtiveram sucesso
nessa tarefa, mas outros nem chegaram a vir para o
Brasil.
No início, as capitanias que mais se desenvolveram
foram Pernambuco, Porto Seguro, Ilhéus e São Vicente.
Nelas eram cultivadas grandes lavouras de cana-de-
-açúcar, que era utilizada na fabricação do açúcar,
produto de alto valor comercial na Europa.

A mão de obra indígena Esse mapa,


produzido por volta
Para trabalhar na produção do açúcar, os colonos escravizaram milhares de 1574, mostra a
de indígenas, que foram obrigados a realizar tarefas árduas no dia a dia dos divisão do Brasil em
canaviais. A maioria dos indígenas, no entanto, nunca aceitou essa situação. capitanias
hereditárias.
[...] Descontentes, queimaram engenhos, acabaram com roças e povoados, obrigando os
portugueses a recuar e fugir.
As revoltas indígenas destruíram os núcleos fundados pelos donatários do Espírito Santo,
Ilhéus, Porto Seguro, Bahia e ameaçaram seriamente os de Pernambuco e São Vicente. [...]
Laima Mesgravis; Carla B. Pinsky. O Brasil que os europeus encontraram: a natureza, os índios, os homens brancos.
São Paulo: Contexto, 2000. p. 83. (Repensando a história).

Preocupados, os donatários solicitaram a ajuda do rei de Portugal,


informan­d o-lhe que, se não enviasse reforços, as capitanias corriam sério
risco de fracasso.

183
O Governo-geral
Diante das dificuldades enfrentadas pelos donatários

Urbs Salvador. Intensidade do Porto. Séc. XVII. Coleção particular


nas capitanias, o rei de Portugal decidiu aumentar a
presença portuguesa na Colônia. Com isso, em 1549,
foi implantado um governo centralizado no Brasil, cha-
mado Governo-geral. Para ser o primeiro governador-
-geral, o governo português nomeou Tomé de Souza.
Tomé de Souza chegou ao Brasil acompanhado de
funcionários portugueses para auxiliá-lo na administração
da Colônia. Os principais funcionários eram o ouvidor-
-mor, que cuidava da justiça, o procurador-mor, que era
responsável pela arrecadação de impostos para a Coroa,
e o capitão-mor, encarregado da defesa e da fiscalização
do território. Vieram também soldados e muitos traba-
lhadores, como artesãos, carpinteiros e pedreiros.

Imagem do século XVII que representa a


cidade de Salvador, sede do Governo-geral.

A presença dos jesuítas A fundação


de São Paulo
Além desses funcionários, vieram com Tomé de Souza alguns padres
jesuí­t as, que tinham como objetivo converter os indígenas ao catolicismo. Em 1554, os
jesuítas fundaram
A Igreja Católica condenava a escravização destes e, em toda a Colônia,
um colégio no
os jesuítas fizeram forte oposição à utilização de indígenas como escravos. planalto, longe do
Para catequizar os indígenas, os jesuítas organizaram missões em várias litoral, com a
regiões do continente americano. intenção de
catequizar os
Nas missões, os indígenas que
Ivan Wasth Rodrigues. Séc. XX. Coleção particular

indígenas viviam na região.


aprendiam a língua A ocupação e o
e os costumes povoamento
dessa região do
portugueses, além
interior também
de realizarem vários ajudaram na
trabalhos agrícolas defesa e na posse
e artesanais. A do território para
catequização dos Portugal. O
indígenas, no povoado que se
entanto, acabou desenvolveu ao
modificando seu redor desse
modo de vida e colégio deu
desorganizando origem à cidade
suas sociedades. de São Paulo.

O sujeito na história Antônio


Antônio foi um indígena de origem tupi educado pelos jesuítas em uma missão localizada
na capitania de Ilhéus. Nessa missão, Antônio teve contato com os costumes portugueses
e com o cristianismo. Ao chegar à idade adulta, tornou-se líder da Santidade Jaguaripe.
Santidade era o nome dado aos locais dirigidos por chefes indígenas onde se faziam rituais
que misturavam tradições tupis ao culto cristão.
Divulgando suas profecias pelo sertão, Antônio passou a atrair uma multidão de indíge­­nas,
prin­c ipalmente aqueles que fugiam da escravidão nos canaviais. A Santidade liderada por
Antônio e muitas outras que surgiram depois, no entanto, foram perseguidas e destruídas
pelas autoridades portuguesas.

184
A mão de obra africana

capítulo 11
Desde que eram presos na África, até chegarem ao Brasil, os africanos
escravizados percorriam uma longa trajetória, repleta de sofrimentos e incertezas.

A colonização na América portuguesa


A longa trajetória
Com o aumento da produção de açúcar no Brasil, tornou-se necessário o Luso-brasileiro
trabalho de um número cada vez maior de pessoas. Inicialmente, os portugue- descendente de
ses escravizaram os indígenas que aqui viviam. Depois, passaram a comprar português
pessoas na África e trazê-las para trabalhar como escravas no Brasil. nascido no Brasil.

Na África
Os africanos eram capturados em suas aldeias
e levados para as feitorias próximas aos portos
de embarque. A compra e o transporte de africanos
para o Brasil eram realizados por comerciantes

c. 1850. Universidade da Virgínia, Charlottesville


Africanos cativos sendo levados para o navio.
portugueses e luso-brasileiros. Eles negociavam
com os chefes africanos, oferecendo produtos
como tecidos, armas e tabaco em troca de es-
cravos.
Nas feitorias, os escravos ficavam presos em
um recinto com paredes altas e geralmente sem
cobertura, onde ficavam expostos ao sol e à chu-
va. Essa situação podia durar várias semanas.
Gravura
A escravidão tradicional africana representando
escravos sendo
A escravidão já existia nas sociedades tradicionais africanas muito antes do contato
levados da feitoria
com os europeus. Nessas sociedades, as pessoas podiam ser escravizadas por diferentes
para o navio.
motivos, por exemplo, serem capturadas e tornarem-se prisioneiras de guerra; por
dívidas; punição por crimes diversos; e até mesmo a escravização voluntária, que
ocorria quando as pessoas não tinham condições de manter sua subsistência.
A condição de vida das pessoas escravizadas também variava muito na África. Nos
grandes reinos e impérios africanos, alguns escravos trabalhavam em grandes plantações,
carregavam cargas e conduziam caravanas, enquanto outros podiam fazer parte de
exércitos e até mesmo tornarem-se comandantes militares, administradores e conselheiros
de reis.
Nas sociedades organizadas em pequenas aldeias ou conjuntos de aldeias, a presença
de escravos era menor. Nelas, a importância econômica da escravidão era pequena, e a
posse de escravos, sobretudo domésticos, constituía sinal de status aos seus proprietários.
Nessas sociedades, os escravos tinham uma condição de vida muito semelhante às das
pessoas livres da família de seus proprietários.
A grande demanda provocada pelo
Autor desconhecido. Séc. XIX. Xilogravura.
Coleção particular. Foto: Interfoto/Latinstock

comércio atlântico de escravos


alterou as características da
escravidão tradicional africana. Como
os chefes africanos se viam
fortalecidos ao adquirir produtos
europeus (pólvora, armas de fogo,
espadas, tecidos, cavalos), eles
passaram a se dedicar cada vez mais
à captura de escravos. A imagem ao
lado representa africanos aprisionados
no interior do continente sendo levados
para os locais de venda no litoral.

185
Nos navios

Escola americana. Gravura. Coleção particular. Foto: Peter


Newark American Pictures/The Bridgeman Art Library/Keystone
A etapa seguinte era a viagem de navio até o Brasil. Para
aumentar os lucros, os traficantes levavam um número exces-
sivo de escravos nos navios. Além disso, na maioria dos casos,
a água e os alimentos eram insuficientes.
Nessas viagens, que podiam durar meses, as condições eram
precárias e causavam a morte de muitas pessoas. A alta mor-
talidade nos navios negreiros fez com que ficassem conhecidos
como “tumbeiros”.

Gravura produzida no século XIX que


representa escravos em convés de navio.

Nos mercados
Ao chegar ao Brasil, geralmente os africanos

Johann Moritz Rugendas – Mercado de escravos.


Séc. XIX. Coleção particular
eram levados para um mercado de escravos.
Nesses mercados, eles costumavam re­ceber
uma alimentação melhor e alguns cuidados de
saúde com o objetivo de melhorar sua apa-
rência e aumentar o seu preço de venda.
Os escravos, então, ficavam expostos à
venda e eram examinados minuciosamente
pelos compradores, que procuravam identi-
ficar os mais fortes e sadios. Depois de
vendidos, alguns escravos eram levados
para trabalhar nas vilas e cidades. A maioria,
porém, era levada às áreas rurais para tra- Escravos à venda em mercado brasileiro.
balhar na produção de açúcar.

O comércio atlântico de escravos (séculos XVI a XIX)


E. Cavalcante

Cabo N
Verde
O L
Bissau
ÁFRICA S

Ajudá Lagos
São Jorge
da Mina
Equador São Tomé

Belém São Luís Cabinda
OCEANO
Luanda ÍNDICO
Recife
BRASIL Cassanje
Meridiano de Greenwich

Benguela
Salvador
OCEANO Moçambique
ATLÂNTICO
Rio de Janeiro
Trópico de Capricórnio

OCEANO
PACÍFICO
0 930 km
Principais rotas do comércio 0˚
atlântico de escravos para o
Brasil, do século XVI ao XIX Fonte: Souza, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.

Entre os séculos XVI e XIX, mais de 11 milhões de africanos escravizados foram enviados para a América. Desse total,
cerca de 4 milhões vieram para o Brasil.

186
História em construção A opção pela escravização de africanos

capítulo 11
O comércio internacional de escravos movimentou a economia colonial da América até a
metade do século XIX. Os africanos escravizados eram levados de diversas regiões da
África para países da Europa e colônias na América. No Brasil, por cerca de trezentos anos,

A colonização na América portuguesa


a base da economia colonial esteve relacionada ao trabalho escravo de africanos e de seus
descendentes. Estima-se que aproximadamente quatro milhões de escravos tenham de-
sembarcado nos portos brasileiros.
Diversos fatores contribuíram para que a escravização indígena ficasse em segundo pla-
no, ao mesmo tempo em que a Coroa portuguesa incentivava a importação de escravos
africanos. Leia o texto a seguir, que aborda essa questão.

[...] Por que será que os portugueses lançaram mão da escravidão do negro africano no lu-
gar da escravidão indígena ou mesmo da mão de obra livre europeia?
Durante muito tempo essa questão foi explicada como consequência de fatores sociocultu-
rais. Portugal tinha uma população pequena, não existia gente suficiente para colonizar todo o
império que os portugueses haviam conquistado. Além disso, a escravidão indígena não teria
tido êxito em virtude das características culturais dos “índios indolentes”. Assim, a única solu-
ção encontrada para a falta de portugueses e para a inaptidão indígena teria sido a utilização
do negro africano. No entanto, ao longo do tempo os historiadores estudaram mais a fundo
essa questão e puderam perceber que a escravidão negra se justifica muito mais por fatores
econômicos. O tráfico, o comércio intercontinental de escravos, foi uma atividade extrema-
mente lucrativa para as coroas europeias durante a época moderna, e é pela ótica das práticas
mercantilistas que ele deve ser entendido. O escravo era uma das mais valiosas mercadorias
que a metrópole vendia para a colônia, enriquecendo os comerciantes portugueses e facilitan-
do a exploração do império português. A captura do índio nativo não proporcionava lucro
algum para a metrópole, no máximo, gerava um comércio interno e um contato maior entre as
diversas regiões da colônia, o que nem sempre era interessante para Portugal, uma vez que um
tal contato geraria o aquecimento de um mercado interno do qual a metrópole não participa-
va, não recebia tributos e, portanto, não lucrava [...]. A relação entre escravidão e comércio fica
mais evidente quando se percebe que, embora iniciado pelos portugueses, o tráfico de escravos
foi praticado por todas as potências mercantilistas da época moderna, como Holanda, França
e Inglaterra.
Mauro Bertoni; Jurandir Malerba. Nossa gente brasileira: textos e atividades para o ensino fundamental. Campinas: Papirus, 2001. p. 50.
Litografia. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock

Essa imagem representa esquematicamente o transporte de escravos em um porão de um navio negreiro.


Observe como os comerciantes procuravam transportar o maior número possível de pessoas e assim aumentar
seus lucros com o comércio de escravos.

187
O engenho de açúcar
O açúcar era produzido em uma grande propriedade rural, chamada de engenho
de açúcar.

O trabalho no engenho
O engenho era uma grande propriedade rural, onde eram realizadas
todas as etapas da produção de açúcar, desde a plantação da cana-de-
-açúcar até a embalagem do produto.
Apesar de haver alguns trabalhadores livres, o trabalho nos engenhos
era baseado na mão de obra escrava. Além das atividades relacionadas à
produção açucareira, os trabalhadores de um engenho plantavam vários
alimentos, cuidavam dos rebanhos de animais, faziam os trabalhos do-
mésticos e produziam suas próprias roupas.

Nos canaviais, a maior parte do trabalho era A senzala era o local onde As matas forneciam
realizada pelos escravos recém-chegados da os escravos ficavam madeira para
África, os chamados “escravos novos”. abrigados depois da construções e lenha
jornada de trabalho. Essa para o funcionamento
construção geralmente era das caldeiras.
feita com paredes de
barro e telhado de palha.

Os escravos cultivavam pequenas lavouras


para melhorar sua alimentação. Alguns
conseguiam até mesmo vender algum
excedente e juntar dinheiro para comprar a
liberdade. Os senhores de engenho
costumavam apoiar essa atividade,
entendendo que essas lavouras ligariam o
escravo à terra, evitando as fugas.
Art Capri

Essa ilustração é uma representação artística


feita com base em estudos históricos.

188
Localizada nas proximidades da casa- O dono do engenho, chamado de senhor de engenho, morava

capítulo 11
-grande, a capela era o centro das com sua família na casa-grande, que era uma construção
festividades e cerimônias religiosas. ampla e confortável. Na casa-grande trabalhavam escravos
Os escravos, assim que chegavam da domésticos, principalmente mulheres, que cuidavam dos
África, eram batizados na capela e filhos dos senhores, servindo como amas de leite e
recebiam um nome cristão. realizando a maior parte dos trabalhos domésticos.

A colonização na América portuguesa


Nas moradias de
trabalhadores
livres viviam
profissionais como
marceneiros,
ferreiros, feitores e
o mestre de açúcar.

A casa de engenho era o lugar onde a cana era


moída e o açúcar era fabricado. A maior parte dos
trabalhos era realizada por escravos sob a
supervisão do mestre de açúcar, que geralmente era
um trabalhador livre.

Os rios tinham grande importância no


funcionamento do engenho. Além de fornecer a
água e peixes para abastecer os moradores, os
Ama de leite escrava que rios eram utilizados como vias de transporte da
amamenta os filhos pequenos produção. Nos engenhos maiores, suas águas
Art Capri

do senhor de engenho. eram canalizadas para mover as moendas.

189
A produção do açúcar
Para transformar a cana em açúcar, era necessário o trabalho de muitas pessoas.

Fazendo um engenho funcionar


Nas ilustrações a seguir, estão representadas as principais etapas de
produção do açúcar em um engenho. Observe-as.

1 2

Os trabalhadores cortavam e recolhiam a cana Assim que chegavam com a cana na casa
e, em seguida, a transportavam até a casa de de engenho, os trabalhadores a moíam para
engenho. extrair seu caldo.

3 4

Os trabalhadores cozinhavam o caldo de cana Depois, o melaço era coado e despejado em


para engrossá-lo, transformando-o em melaço. formas de barro, para solidificar e branquear.

5 6
Ilustrações: Art Capri

Essas ilustrações
são representações
artísticas feitas com
base em estudos
históricos.

Depois que o açúcar solidificava e branqueava, Assim que secava, o açúcar era encaixotado
era retirado da forma, batido e colocado ao Sol e levado ao porto para ser transportado
para secar. para a Europa.

190
A presença holandesa

capítulo 11
No século XVII, os holandeses invadiram e dominaram a mais importante região
produtora de açúcar do Nordeste brasileiro.

A colonização na América portuguesa


A situação política
A invasão holandesa no Nordeste brasileiro fez parte de um processo
A União Ibérica
político que envolveu a Espanha, a Holanda e Portugal.
Em 1578,
Em 1580, com a formação da União Ibérica, o Brasil ficou sob domínio D. Sebastião, o
da Espanha. Nessa época, os Países Baixos (Holanda e Bélgica) também jovem rei de
Portugal,
eram governados pelos espanhóis. As cidades da Holanda, no entanto,
desapareceu na
estavam atravessando um período de grande desenvolvimento comercial. batalha de
Com isso, houve um fortalecimento dos grupos burgueses, que queriam Alcácer Quibir, no
mais autonomia para fazer seus negócios. Marrocos, sem
deixar herdeiros.
Em 1581, depois de muitas lutas, os holandeses proclamaram sua inde- Naquela época, o
pendência, que não foi aceita pelos espanhóis. Os holandeses decidiram, rei da Espanha,
então, dar continuidade à guerra contra a Espanha invadindo o Brasil, que, Felipe II, era o
parente mais
devido à União Ibérica, era considerado um território espanhol. próximo de
D. Sebastião e,
As invasões no Nordeste além disso,
contava com o
Os holandeses tinham um grande interesse no Nordeste brasileiro, pois, apoio da nobreza
lusitana. Assim,
naquela época, os engenhos da Bahia e de Pernambuco eram os maiores em 1580, Felipe II
produtores de açúcar da Colônia, e o preço desse produto estava em alta da Espanha
no mercado europeu. assumiu o trono
português,
Com isso, em 1624, os holandeses invadiram Salvador, mas encontraram passando a
forte resistência da população. Depois de muitas disputas, eles deixaram governar Portugal
a cidade em 1625. Passados alguns anos, os holandeses invadiram e e Espanha.
O período de
dominaram a capitania de Pernambuco. Em seguida, eles invadiram outras 60 anos em
capitanias do Nordeste, estabelecendo seu domínio sobre grande parte que essas duas
dessa região. coroas estiveram
reunidas é
Além disso, os holandeses invadiram e dominaram Angola, na África, conhecido como
para garantir o fornecimento de escravos para trabalhar nos canaviais e União Ibérica.
engenhos do Nordeste.

O governo de Nassau
Entre 1637 e 1644, a região ocupada pelos holandeses foi gover- Albert Eckhout – Mulher Tupi. 1641. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague

nada pelo conde Maurício de Nassau. Nesse período, muitas trans-


formações ocorreram na região. Nassau ordenou a construção de
vários prédios, fortificações, ruas, estradas, jardins, pontes e canais.
Além disso, Nassau trouxe vários artistas e estudiosos holandeses
para conhecer o território e os habitantes do país. Eles produziram
livros, pinturas, tapeçarias e desenhos sobre a fauna e a flora e,
também, sobre as pessoas que viviam no Brasil.

Essa pintura, que representa uma mulher indígena, foi feita pelo
artista holandês Albert Eckhout (1610-c.1665). Durante o
período em que esteve no Brasil, Eckhout produziu diversas
pinturas de indígenas, paisagens e alimentos existentes no país.

191
Explorando o tema

A resistência africana
Os africanos resistiram de diversas formas à do-

E. Cavalcante
O quilombo dos Palmares
minação portuguesa. Uma dessas formas era a N

preservação dos costumes de sua terra natal, como O L


Recife 8° S

danças, cantos e crenças. Outras ações, como a S


Pernambuco
1
Povoados
destruição de ferramentas, a queimada das planta- 1 - Amaro
2
3
5 4
ções ou a agressão aos senhores, também eram 2 - Acotire 7
6
3 - Tabocas 1
realizadas pelos escravos africanos. 4 - Tabocas 2 9
8
5 - Zumbi 10
6 - Aqualtene
Os quilombos 7 - Dambrabanga
8 - Subupira
11 OCEANO
ATLÂNTICO
9 - Osenga Alagoas Maceió 0 56 km
As formas mais importantes de resistência, no 10 - Macaco
35° O
11 - Andalaquituche
entanto, eram a fuga e a formação de quilombos. Fonte: Glória e Morte dos Palmares. Nova Escola.
São Paulo: Abril, ano 10, n. 86, ago. 1995.
Durante todo o período de escravidão, houve a
formação de quilombos em todas as regiões do
Brasil. O texto a seguir trata desse assunto. Leia-o. Planta de
quilombo
[Os] quilombos [eram] povoações constituídas fun-
damentalmente de escravos foragidos, mas que acolhiam Ilustração
também homens livres e marginalizados pela sociedade. representando
A história mais conhecida a esse respeito é a do quilombo um quilombo.
de Palmares, [...] onde, no final do século XVI, começou
a se formar uma rede de povoados que, ao longo do tem-
po, atingiu uma população calculada em torno de 20 mil
pessoas. Era, na verdade, um conjunto de [povoados],
cada qual com seu próprio chefe, organizado numa con-
federação, sob o comando de um rei eleito, nos moldes
dos reinos africanos. [...]
Mauro Bertoni; Jurandir Malerba. Nossa gente brasileira: textos e atividades
para o ensino fundamental. Campinas: Papirus, 2001. p. 54.
Art Capri

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.

192
capítulo 11
Os quilombolas
Os quilombolas, como eram chamados os moradores dos quilombos, viviam em liberdade.

A colonização na América portuguesa


Para se alimentar, eles criavam porcos e galinhas, caçavam, pescavam e cultivavam lavouras
de mandioca, milho, cana-de-açúcar, batata-doce e feijão. Como produziam além de suas
necessidades, eles negociavam o excedente nos povoados vizinhos, obtendo em troca pro-
dutos como sal, tecidos, armas e pólvora.
O trabalho era dividido entre os quilombolas: enquanto alguns
trabalhavam na agricultura ou na criação de animais, outros se
dedicavam ao artesanato, à fabricação de farinha ou à metalurgia.
Havia também aqueles que se dedicavam à proteção do quilombo,

Antônio Parreiras – Zumbi. 1927. Museu Antônio Parreiras, Niterói


devido à constante ameaça de ataques.
O quilombo dos Palmares resistiu a diversas expedições militares
enviadas pelo governo para destruí-lo. Somente no ano de 1694,
após quase cem anos de resistência, o quilombo foi destruído.

A cultura afro-brasileira
A cultura afro-brasileira é o resultado da mistura de elementos culturais
africanos na formação da cultura brasileira. Ao serem trazidos para o Brasil,
os africanos passaram a conviver com os povos indígenas que aqui habita-
vam, com os colonizadores europeus, em especial os portugueses, e também
com outros africanos trazidos de diferentes regiões da África.
Apesar da violência, da segregação e das privações que sofreram, os africanos
preservaram muitos aspectos de sua cultura. Além disso, por meio da miscigena- zumbi, o principal líder do
ção e das trocas culturais, forneceram elementos importantes para a formação quilombo dos Palmares,
da sociedade brasileira. tornou-se símbolo da luta dos
Em nosso país, a herança cultural africana se manifesta, por exemplo, na afro-brasileiros contra a
religião, na culinária, na música e na dança, bem como nas palavras e opressão e a discriminação.
expressões incorporadas ao português falado no Brasil. Essa pintura, feita pelo artista
brasileiro Antônio Parreiras
Atualmente, no dia 20 de novembro, é comemorado o Dia Nacional da
Consciência Negra. Nesse dia, muitos brasileiros vão às ruas para protestar
(1860-1939), representa
contra a discriminação e lutar pela igualdade de direitos em nosso país. zumbi.

Essa fotografia, tirada em


2005, retrata uma
apresentação de capoeira,
importante manifestação da
cultura afro-brasileira, durante
as comemorações do Dia
Nacional da Consciência
Negra, em Salvador, na Bahia.

Metalurgia conjunto
de técnicas que
possibilitam a fabrica-
ção de objetos e
Sérgio Pedreira/Folhapress

ferramentas de metal.

193
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Sobre o documento histórico transcrito na b ) Com que objetivo foi implantado?
página 180, responda.
c ) Quais eram os principais funcionários
a ) Qual é o título desse documento? que au­x iliavam o governador-geral?
Qual função cada um deles exercia?
b ) Quem é o autor desse documento?
A quem ele era destinado? 11 Qual foi a participação dos jesuítas na co-
c ) Em que ano ele foi escrito? lonização do Brasil?
d ) No trecho apresentado, o que o autor 12 No início da colonização, os portugueses
do documento descreve? escravizaram muitos indígenas que aqui
viviam. Depois, eles passaram a trazer
2 O que é escambo?
africanos para trabalhar como escravos
3 Com que finalidade o pau-brasil era uti­li­ no Brasil. Quais foram os principais mo-
zado na Europa? tivos que levaram os portugueses a
optarem pela escravização de africanos?
4 De acordo com Jean de Léry, como era
possível aos portugueses realizarem em 13 Com suas palavras, descreva o que acon­
pouco tempo o corte do pau-brasil e o tecia em cada uma das seguintes etapas
embarque da madeira nos navios? da trajetória dos escravos africanos que
eram trazidos para trabalhar no Brasil.
5 Como os portugueses conseguiram so­
breviver na época em que começaram a a ) Na África.
explorar o novo território? b ) Nas feitorias.
6 O que significa “colonizar”? c ) Nos navios.

7 O que eram as capitanias hereditárias? d ) Nos mercados brasileiros.

8 Como era chamada a pessoa que rece­ 14 O que foi a União Ibérica? Qual foi seu pe-
b i a uma capitania? Quais eram suas ríodo de duração?
obrigações?
15 Quais motivos levaram os holandeses a in­
9 No início da produção de açúcar no Brasil, ­v adir o Brasil?
os colonos escravizaram indígenas para
16 Por que os holandeses preferiram invadir o
trabalhar nos canaviais. Como os indíge-
Nordeste brasileiro?
nas reagiram a essa situação?
17 Qual foi a outra região invadida pelos ho-
10 Sobre o Governo-geral, responda.
landeses nessa época? Qual era o obje-
a ) Quando foi implantado? tivo dessa invasão?

Expandindo o conteúdo
18 Leia o texto a seguir sobre o modo de vida de alguns povos indígenas na época da chegada
dos portugueses.

Os [indígenas] viviam em aldeias, praticando a agricultura, a caça, a pesca e a coleta [...]. Essas aldeias po-
diam mudar de lugar depois de alguns anos à medida que as comunidades necessitavam deslocar-se à procura
de locais mais apropriados ao exercício das atividades que lhes garantiam a sobrevivência, áreas de solo mais
rico ou regiões de maior abundância de caça, peixes ou frutas de acordo com as estações. Assim, populações
indígenas tinham grande mobilidade e poucos bens, que deviam ser transportados de um lugar a outro.

194
capítulo 11
[Eles] cultivavam basicamente a mandioca, mas também podiam plantar milho [...], feijão, batata-doce.
Alguns plantavam cará, abacaxi, abóbora, além de algodão e tabaco. Consumiam praticamente tudo o que
produziam e nunca formavam grandes estoques. O objetivo de seu trabalho não era a acumulação de bens.
O [indígena] só tinha a propriedade pessoal de suas armas e enfeites e partilhava todo o resto, principal-

A colonização na América portuguesa


mente os produtos da caça, pesca e coleta. [...]
A divisão das tarefas na sociedade indígena determinava que além de caçar, pescar, cortar lenha e com-
bater, os homens construíssem canoas e cabanas e limpassem o terreno para o plantio da lavoura. As
mulheres plantavam, colhiam, preparavam o alimento, fiavam, teciam, faziam cestos e potes de barro e co-
letavam frutos, raízes e insetos comestíveis, cuidavam da casa e das crianças. [...] As crianças participavam
das atividades produtivas conforme sua capacidade física e aprendiam suas tarefas observando os adultos.
Laima Mesgravis; Carla B. Pinsky. O Brasil que os europeus encontraram: a natureza, os índios,
os homens brancos. São Paulo: Contexto, 2000. p. 38-43. (Repensando a história).

a ) Por que os indígenas frequentemente mudavam suas aldeias de lugar?


b ) Quais eram os principais produtos que eles cultivavam?
c ) Que objetos eram considerados propriedade pessoal entre os indígenas?
d ) Quais eram as tarefas dos homens? Quais eram as tarefas das mulheres?
e ) Como as crianças aprendiam as tarefas cotidianas?
f ) Em sua opinião, por que os indígenas não faziam grandes estoques de alimentos?

19 Observe a imagem abaixo, que representa a chegada dos portugueses, em 1500, às terras
que hoje formam o Sul do estado da Bahia.

Oscar Pereira da Silva – Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500.
1922. Museu Paulista da USP, São Paulo

a ) Quem é o autor dessa obra? Qual o título da obra? Quanto tempo depois da chegada
dos portugueses ela foi produzida?
b ) Faça uma descrição da tela des­tacando as características da pai­sagem, das embarcações
e dos trajes utilizados pelos portugueses e indígenas.
c ) Releia o trecho da carta de Ca­m i­n ha da página 180. Quais são as principais diferenças
entre a des­c rição fei­t a dos indígenas na carta e sua re­p resentação na tela?
d ) Explique por que um mesmo a­c on­­teci­m en­t o histórico pode ser apre­s entado de ma­­neiras
diferen­t es.

195
20 O relato a seguir é de um africano, chamado Baquaqua. No início do século XIX, ele foi cap-
turado em sua aldeia e transportado como escravo para o Brasil. Leia-o.

[...] Levaram-me à casa de um homem branco, onde [permaneci] até a manhã seguinte [...]. Depois
[...], levaram-me ao rio e colocaram-me num barco. [...] Estávamos há duas noites e um dia nesse rio,
quando chegamos a um lugar muito bonito, cujo nome não me lembro. Não ficamos ali por muito tem-
po, tão logo os escravos foram reunidos e o navio estava pronto para velejar [...].
Quando estávamos prontos para embarcar, fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com
cordas pelo pescoço e assim arrastados para a beira-mar. O navio estava a alguma distância da praia. [...]
Por fim, quando chegamos à praia, [...] escravos vindos de todas as partes do território estavam ali e
foram embarcados. O primeiro barco alcançou o navio em segurança, apesar do vento forte e do mar
agitado; o próximo a se aventurar, porém, emborcou e todos se afogaram, com exceção de um homem.
Ao todo, trinta pessoas morreram. [...] Fui colocado no próximo barco que seguiu rumo ao navio. [...]
Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de [um] lado e as mulheres do ou-
tro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar
no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos
corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga.
Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória.
Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo. [...]
Que aqueles “indivíduos humanitários”, que são a favor da escravidão, coloquem-se no lugar do es-
cravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África à América, sem
sequer experimentarem mais que isso dos horrores da escravidão; se não saírem abolicionistas convic-
tos, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição. [...]
Muitos escravos morreram no percurso. Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado
pela sede que tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés e nunca mais
o vi. Suponho que tenha sido jogado no mar.
Mahommah G. Baquaqua. Biografia de Mahommah G. Baquaqua. Revista Brasileira de História.
São Paulo: Anpuh; Marco Zero. vol. 8, n. 16., mar. 1988, p. 270-2.

a ) Com base no que você aprendeu neste capítulo, como era chamado o local na praia
onde Baquaqua e os demais escravos esperavam antes de embarcar para o Brasil?
b ) Produza um pequeno texto explicando por que os navios negreiros foram chamados de
“tumbeiros”.
c ) Qual é a sugestão de Baquaqua àqueles “indivíduos humanitários” que são a favor da
escravidão? Você acredita que se essas pessoas seguissem a sugestão elas se tornariam
abolicionistas? Justifique sua resposta.

Discutindo a história
21 Os textos a seguir apresentam opiniões divergentes a respeito da catequização dos indígenas
pelos jesuítas na época da colonização. Leia-os.

A [...] É realmente para admirar-se [a] grandeza moral com que [os jesuítas] [...] vinham aqui
assumir com tanta coragem a função de resgatar à barbárie toda uma família humana que andava
perdida. [...]
Rocha Pombo. História do Brasil. 9. ed. São Paulo: Melhoramentos. 1960, p. 84.

196
capítulo 11
B Reunidos [nas missões], a vida cotidiana dos [indígenas] foi completamente remodelada, tendo
por base a estreita conjugação do trabalho com vida religiosa. No lugar da moradia conjunta, os [in-
dígenas] foram obrigados a residir em casas que compartimentavam as famílias. Em vez da vida
ritmada pela natureza, passaram a se submeter ao tempo tal como o concebiam os europeus [...]. O

A colonização na América portuguesa


cristianismo foi sendo introduzido, na medida em que sufocava no [indígena] a manifestação cultu-
ral que lhe era própria. [...] Separando “arte e vida” [...], os traços de sua cultura, como o canto, foram
adaptados para um uso mecânico e sem vida de louvação dos santos, os quais não coincidiam com o
sentido de sua vida diária [...].
Luiz Koshiba. O índio e a conquista portuguesa. São Paulo: Atual, 1994. p. 63-4. (Discutindo a história do Brasil).

a ) Escreva, com suas palavras, qual é a opinião expressa pelo autor do texto A sobre a
catequização de indígenas.
b ) Qual a perspectiva defendida pelo autor do texto B sobre a catequização dos indígenas
promovida pelos jesuítas?
c ) Discuta com os colegas os dois pontos de vista e, para finalizar, escrevam um texto co-
letivo explicando qual a opinião de vocês sobre esse assunto.

22 Agora que você já estudou as mais importantes formas de resistência à escravidão utilizadas
no Brasil pelos africanos e seus descendentes, dentre elas a fuga e a formação de quilom-
bos, vamos fazer uma pesquisa sobre esse tema na atualidade. Para isso, reúna-se a um
grupo com alunos de sua turma e, sob a orientação do professor, pesquise se em sua ci-
dade, região ou estado existem comunidades remanescentes de quilombos. Essas comu-
nidades existem em praticamente todas as regiões do nosso país, muitas delas com seus
direitos já reconhecidos, mas também há várias que ainda lutam, principalmente, para terem
seus territórios demarcados. Em sua pesquisa, procure informações em livros, jornais,
revistas e na internet. Depois de finalizada a pesquisa, organize o material encontrado,
como fotografias, reportagens, artigos, dentre outros, e monte um painel com as informa-
ções obtidas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado.
■■ Os povos indígenas realizaram uma série de trabalhos para os portugueses, principal-
mente a extração de pau-brasil. Esse trabalho envolvia uma relação comercial conhecida
como escambo.
■ ■ Os indígenas não aceitaram a escravidão imposta pelos colonos portugueses e reagiram

de diferentes maneiras.
■ ■ A principal mão de obra utilizada nos engenhos de açúcar era a de africanos escravizados.

■ ■ Os africanos e seus descendentes lutaram de diferentes formas contra a escravidão,

entre elas, fugindo e formando quilombos.


■ ■ Muitos povos indígenas protestaram contra as comemorações dos 500 anos do “des-

cobrimento” do Brasil, pois para eles esse acontecimento marcou o início da invasão de
suas terras.
■ ■ O Dia Nacional da Consciência Negra é muito importante para a valorização da dignidade

e da luta dos afrodescendentes pelo reconhecimento de seus direitos.


Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi-
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

197
12
A expansão das fronteiras da
capítulo

Colônia portuguesa
A As expedições para o interior do
Henrique Bernardelli - Retirada do Cabo de São Roque. 1927.Óleo s/ tela. Museu Paulista da USP, SP. Foto: José Rosael

Veja nas Orientações


Brasil, organizadas com o objetivo de para o professor
alguns comentários e
capturar e aprisionar indígenas para explicações sobre os
vendê-los como escravos, chamavam- recursos apresentados
-se bandeiras. No final do século XVII, no capítulo.
os bandeirantes, responsáveis por
essas expedições, passaram também
a procurar jazidas de metais
preciosos. Essa pintura, produzida em
1927, representa uma expedição de
bandeirantes paulistas.
Johann Moritz Rugendas – Vila Rica. Séc. XIX. Coleção particular

B Vila Rica, atual


Ouro Preto, em
Minas Gerais.
Imagem produzida
pelo artista alemão
Johann Moritz
Rugendas
(1802-1858), no
século XIX.

198
Johann Jacob Steinmann – Caminho dos Órgãos. 1834. Coleção particular

Joaquim da Rocha Ferreira – Provedor das Minas. 1963. Museu Paulista da USP, São Paulo
C Caravana de tropeiros com suas mulas carregadas de mercadorias. Tela
produzida em 1834 pelo artista suíço Johann Steinmann (1800-1844).

Essa imagem, produzida pelo artista Joaquim da Rocha Ferreira D


(1900-1965), representa um cobrador de impostos do
governo português pesando o ouro extraído em uma mina.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
o conhecimento
Nos primeiros 200 anos de colonização do Brasil, como vimos, as ativi- prévio dos alunos e
dades econômicas ficaram concentradas próximas ao litoral. A partir do estimular seu
interesse pelos
século XVIII, no entanto, a colonização portuguesa avançou em direção ao assuntos que serão
desenvolvidos no
interior do continente, ultrapassando os limites estabelecidos no Tratado capítulo. Faça a
de Tordesilhas. Neste capítulo, estudaremos como se deu esse processo mediação do diálogo
entre os alunos de
e também as consequências da expansão das fronteiras da colônia. maneira que
todos participem
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os expressando suas
opiniões e
colegas sobre as questões a seguir. respeitando as dos
■■ Como a expedição bandeirante foi representada na fonte A? Qual era a
colegas.

importância econômica da captura de indígenas? Quais foram as con-


sequências do bandeirantismo para a colonização do Brasil?
■■ Analise a fonte B. Quem são as pessoas representadas nessa fonte?

Que atividade elas estão realizando?


■■ Em que consistia a atividade dos tropeiros, representados na fonte C?

Qual era a sua importância para as cidades e vilas do interior da Colônia?


■■ Descreva os personagens representados na fonte D. Qual era a impor-

tância do funcionário em destaque para as receitas da Coroa portuguesa?


A tributação do ouro despertava que tipo de reação nos habitantes das
minas?
Pense nessas questões enquanto lê este capítulo.

199
Um período de crise
Ao final da União Ibérica, Portugal passava por crises econômicas, territoriais e militares.

A situação de Portugal com o fim da União Ibérica


A União Ibérica, como vimos, foi um período de união das Coroas espanho­
la e portuguesa. Nesse período, que durou 60 anos, Portugal foi governado
pelos reis espanhóis. Em 1640, D. João IV assumiu o trono português e pôs
fim à dominação espanhola em Portugal, dando início à dinastia de Bragança.
Na época em que recuperou sua autonomia política, Portugal encontrava-
Confisco
-se em difícil situação econômica. Havia perdido grande parte de suas
apreensão
colônias no Oriente e também na África. Além disso, a frota naval portuguesa forçada de algo
estava em péssimas condições por causa da falta de manutenção e do confisco pertencente a
de embarcações por parte dos espanhóis. outra pessoa ou
Para agravar a situação de Portugal, o Nordeste brasileiro, que era a princi- país.
pal região produtora de açúcar na Colônia, continuava sob domínio holandês.
Frans Post – Cidade Maurícia e
Recife. c. 1630. Coleção particular

Tela que representa


a cidade de Recife,
em Pernambuco, na
época do domínio
holandês.

Retomando o controle da Colônia


Para melhorar a administração da Colônia, em 1642, o governo português
criou o Conselho Ultramarino. Esse conselho fazia parte de uma política
de renovação administrativa do reino português. Sua principal função era
manter a Coroa informada sobre os assuntos relativos às suas colônias,
como a cobrança de impostos, a manutenção das fortificações e as condições
de povoamento. Além disso, na tentativa de resolver a crise econômica, o
rei D. João IV aumentou os impostos e criou as companhias de comércio.

Linha do tempo
Observe, na linha do tempo, alguns fatos importantes ocorridos durante
a colonização portuguesa na América.

1600 1650 1700 1750 1800

1630 1654 1776 1798


Holandeses invadem a Os holandeses são Independência dos Estados Eclode a
Capitania de Pernambuco. expulsos do Brasil. Unidos da América. Conjuração
Baiana.
1688 1789
Na Inglaterra, a Revolução Gloriosa cria o Parlamento, Início da Revolução Francesa com
que estabelece limites ao poder do rei. a tomada da Bastilha em Paris.

1693 1789
Bandeirantes paulistas encontram as primeiras minas de ouro Ocorre em Minas Gerais a
em Minas Gerais. Conjuração Mineira.

200
As companhias de comércio

capítulo 12
Para reforçar o controle sobre o comércio e limitar a participação de es-
trangeiros nos negócios da Colônia, a Coroa portuguesa criou as compa­
nhias de comércio.

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


Essas companhias deveriam controlar a venda dos produtos consumidos
pelos colonos, garantir o fornecimento de escravos, manter uma frota arma-
da para proteger os navios e financiar o transporte do açúcar para a Europa.
As companhias de comércio, no entanto, não funcionaram como a Coroa
por­t uguesa esperava. Em muitos casos elas não cumpriram suas funções e,
em outros, abusaram nos preços dos produtos, provocando muita insatisfa-
ção entre os colonos e a eclosão de revoltas.

A expulsão dos holandeses

Autor desconhecido - Batalha dos Guararapes. Séc. XVII.


Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
Além dessas medidas, o governo português fez vários
esforços para expulsar os holandeses do Nordeste e re-
tomar o controle sobre essa região. Como Portugal não
tinha condições de manter um exército português na
Colônia, precisou contar com a participação de muitos
brasileiros na luta contra os invasores. Após muitas ba-
talhas, as tropas luso-brasileiras finalmente conseguiram,
em 1654, expulsar os holandeses do Nordeste.

Batalha entre luso-brasileiros e holandeses representada no detalhe da


obra Batalha dos Guararapes. Essa batalha aconteceu no morro dos
Guararapes, em Pernambuco, por volta de 1650.

O açúcar das Antilhas


Durante o tempo em que os holandeses permaneceram no Nordeste bra-
sileiro, eles aprenderam, no dia a dia dos engenhos, as técnicas de produção
do açúcar.
Depois que foram expulsos do Nordeste, os holandeses passaram a produ­
zir o açúcar em suas colônias nas Antilhas, utilizando as técnicas aprendidas
no Brasil.
Como os holandeses possuíam contatos comerciais na Europa, eles con-
seguiram negociar preços melhores para a venda de seu produto. Isso causou
uma drástica redução da venda do açúcar brasileiro na Europa, aumentando
ainda mais a crise econômica de Portugal.
A refinaria de açúcar. Séc. XVIII. Biblioteca Nacional, Paris.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

Gravura que representa


um engenho de açúcar
nas Antilhas.

201
A busca por novas riquezas
Com a queda dos lucros da atividade açucareira, a Coroa portuguesa aumentou
o incentivo à procura por metais preciosos no Brasil.

A procura por minerais preciosos


Desde o início da colonização, a Coroa portuguesa estimulou a procura
por minerais preciosos no solo brasileiro. No entanto, a partir do século
XVII, o governo português intensificou a busca por jazidas de minérios,
mobilizando esforços para encontrar, no Brasil, uma nova atividade econô-
mica que gerasse mais lucros para a Coroa. O rei de Portugal passou,
então, a oferecer prêmios e títulos de nobreza para aqueles que encontras-
sem jazidas de ouro. Nessa ocasião, os bandeirantes formavam o grupo
mais capacitado para empreender tal jornada.

Os bandeirantes

Jean-Baptiste Debret. Séc XIX. Biblioteca Municipal


Mário de Andrade, São Paulo
Os bandeirantes eram
habitantes da vila de São
Paulo que organizavam Nas bandeiras de
expedições para capturar prospecção, os
indígenas e vendê-los para bandeirantes
trabalhar como escravos nos viajavam a pé ou com
engenhos do litoral ou nas um número reduzido
fazendas paulistas. Essas de animais de carga.
expedições, chamadas Os caminhos eram
bandeiras de preação, eram difíceis de atravessar
formadas por cerca de duas e, para sobreviver,
mil pessoas, que adentravam eles tinham que
os sertões percorrendo lon- caçar, pescar, coletar
gas jornadas que duravam Nessa gravura, produzida por Debret, vemos alguns frutos e encontrar
vários meses. indígenas aprisionados. água potável. A tela
abaixo representa
bandeirantes
procurando minerais
As bandeiras de prospecção preciosos.
A partir do século XVII os bandeirantes passaram a organizar

Henrique Bernardelli - Os Bandeirantes. c. 1889. Biblioteca Municipal de São Paulo, São Paulo
diversas expedições que tinham como objetivo principal locali-
zar jazidas de minerais preciosos. Essas expedições, chamadas
bandeiras de prospecção, eram formadas por pequenos grupos
de até cinquenta pessoas, que percorriam o interior do territó-
rio à procura, principalmente, de minas de ouro e de pedras
preciosas.
Finalmente, em 1693, os bandeirantes paulistas encontraram
as primeiras minas de ouro, em uma região próxima à atual
cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Nos anos seguintes,
várias outras minas foram encontradas nessa região.

A ampliação dos domínios portugueses


As expedições promovidas pelos bandeirantes propiciaram
o aumento do território da Colônia. Avançando além das fron-
teiras delimitadas pelo Tratado de Tordesilhas, os bandeirantes
ampliaram consideravelmente os domínios coloniais dos por-
tugueses na América.

202
A mineração

capítulo 12
A notícia da descoberta de ouro no interior da Colônia se espalhou rapidamente
e atraiu muitas pessoas para a região das minas.

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


A grande migração
Com a descoberta do ouro, teve início uma grande migração de pessoas Documento que
para a região das minas. Aventureiros e sonhadores, atraídos pela notícia da mostra os
rendimentos das
descoberta, se deslocaram de todas as partes do Brasil, de Portugal e tam-
Casas de Fundição
bém de outros países em direção às minas. Em pouco tempo, milhares de de Vila Rica,
pessoas estavam explorando as ricas jazidas. Sabará, Rio das
Mortes e Serro Frio,
em Minas Gerais,
O controle de Portugal no ano de 1767.
Com tanta gente explorando o ouro, o governo português

Rendimento das casas de fundição. 1767. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro


decidiu criar, em 1770, a capitania de Minas Gerais. Além disso,
tomou outras providências para controlar a extração do minério
e a cobrança de impostos. Leia o texto.

A cada ano se descobriam novas jazidas e a produção crescia, mas


Portugal ainda não tinha implantado uma forma eficaz de cobrança do
quinto real. [...]
[Para controlar a cobrança de impostos] foram criadas as Casas de
Fundição, para onde era enviado todo o ouro extraído, para ser fundido
e retirada a quinta parte devida à Coroa. O restante era transformado
em barras marcadas com o selo real, e devolvido ao dono. A esse processo
chamava-se “quintar o ouro”.
Cristina Leminski. Tiradentes e a conspiração de Minas Gerais. São Paulo:
Scipione, 1994. p. 19-20. (História em aberto).
Nacional, Rio de Janeiro.
Foto: Rômulo Fialdini
Museu Histórico

Barra de ouro
“quintada”.
Novas
descobertas
Em 1718, foram
O quinto era apenas um dos impostos cobrados pelo governo português e encontradas
equivalia a 20% de toda a produção de ouro e pedras preciosas. A Coroa por- novas minas de
tuguesa cobrava impostos sobre mercadorias e, também, sobre pessoas que ouro no atual
circulavam na região das minas. Havia impostos cobrados, por exemplo, sobre Mato Grosso e,
em 1725, no atual
os produtos trazidos de outras regiões da Colônia, sobre o trabalho escravo estado de Goiás.
utilizado na extração dos minérios e sobre o uso de estradas ou pontes.
Por volta de 1729,
foram também
O contrabando descobertas
jazidas de dia-
Insatisfeitos com a alta tributação paga ao governo de Portugal, muitos mantes em Serro
mineradores tentavam contrabandear o ouro para evitar o pagamento dos Frio, na capitania
impostos. Eles procuravam esconder o metal extraído dentro de suas botas de Minas Gerais.
Próximo às lavras,
ou chapéus, debaixo da sela do cavalo ou dentro de suas armas, de manei- desenvolveu-se o
ra a passar despercebidos pelos fiscais e evitar o pagamento do quinto real. Arraial do Tijuco,
Outra maneira de esconder o ouro era colocá-lo dentro de estatuetas de que deu origem
à cidade de
santos feitas de madeira e ocas por dentro. Essas estatuetas ficaram conhe-
Diamantina.
cidas como “santos do pau oco”.

203
A mina de ouro
Nas minas, a maioria dos trabalhos era realizada por escravos.

A extração do ouro
A extração do ouro exigia o trabalho de muitas pessoas. No Brasil, a maior
parte da mão de obra na mineração era composta por escravos. Observe
a seguir como era feita a extração do ouro em uma mina.

Para tornar mais eficiente a cobrança O dono da mina A bateia é uma vasilha redonda e
de impostos, a Coroa portuguesa criou precisava ter pelo afunilada, feita de madeira ou metal,
o cargo de fiscal da Coroa. Esse menos 12 escravos utilizada para separar o ouro da areia
funcionário era responsável pela para ter o direito de e do cascalho. Esse instrumento foi
cobrança dos impostos na Colônia. explorar uma jazida. introduzido no Brasil pelos africanos.

Quando um escravo
encontrava uma grande
pepita de ouro, ele era
recompensado com parte
desse metal e podia até
comprar a liberdade.

Os feitores geralmente
eram trabalhadores livres
encarregados de vigiar o
trabalho dos escravos.

A grupiara era a escavação feita nas encostas das montanhas. Nesse tipo de
exploração, a água era canalizada para descer pelas encostas dos morros e
arrastar o mineral precioso até o tanque de coleta, chamado mundéu. Esse tanque
Art Capri

era forrado com couros de boi, que retinham o ouro e deixavam a água escorrer.

204
O ouro retirado das margens dos rios era chamado

capítulo 12
de ouro de aluvião. Essa forma de exploração do
ouro foi muito praticada, pois era simples e não
exigia grandes investimentos. As reservas de ouro
de aluvião, no entanto, logo se esgotavam.

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


O almocafre é uma
espécie de enxada
pontiaguda que era
usada para escavar a
encosta dos morros.

A mineração de
galeria era a
exploração do ouro
no interior dos
morros. Conforme
se escavava, os
túneis eram
escorados com
estacas de
madeira. Esse tipo
de mineração era
muito perigoso por
causa dos riscos
de desabamentos.

Art Capri

Os escravos cumpriam longas jornadas de trabalhos penosos e recebiam


Essa ilustração é uma representação artística
feita com base em estudos históricos. uma alimentação insuficiente. Em razão das precárias condições de vida,
Baseado em J. M. Rugendas. Lavagem do
ouro perto da montanha do Itacolomi. c. 1835.
a saúde desses escravos se esgotava depois de poucos anos de trabalho.

205
O abastecimento das minas
As regiões de mineração eram abastecidas principalmente por tropeiros e monçoeiros.

Os tropeiros
Nas regiões de mineração, a principal atividade desenvolvida era a extra-
ção de minérios. Por isso, ferramentas, roupas, animais e grande parte dos
alimentos eram trazidos de outras regiões da Colônia. Abastecimento
de Minas Gerais
A maioria dessas mercadorias era levada no lombo de mulas por comer-
ciantes conhecidos como tropeiros. Leia o texto.

Charles Landseer - Mercadores de São Paulo e Minas Descansando em um Rancho.


c. 1827. Lápis sobre papel. Coleção particular
No início do século XVIII, a oportunidade de
abastecer o mercado com mulas, gado e mercado-
rias variadas fez surgir o tropeirismo. O movimento
econômico atendia, em especial, às necessidades de
Minas Gerais, cuja população voltava-se quase que
exclusivamente à extração de ouro e pedras precio-
sas, precisando adquirir todo tipo de produto. As
tropas eram conduzidas numa rota que partia de
Viamão, no Rio Grande do Sul, e ia até Sorocaba,
em São Paulo. De lá, os rebanhos [...] eram encami-
nhados aos centros consumidores.
Maria Celeste Corrêa; Zig Kock (Org). Museu vivo: guia ilustrado da história do Paraná.
Curitiba: Zig Fotografias, 2007. p. 64.

Os monçoeiros Essa imagem,


produzida por volta
Outro tipo de expedição que auxiliou no abastecimento da região das de 1827,
minas foi chamado de monções. As monções eram expedições fluviais feitas representa um
por meio de canoas. tropeiro
descansando,
Os monçoeiros geralmente partiam de Porto Feliz, no rio Tietê, no atual enquanto escravos
estado de São Paulo, e chegavam até o rio Cuiabá, no atual estado do carregam suas
Mato Grosso. A maior parte da viagem era feita por vias fluviais, mas havia mulas com
trechos em que as canoas eram transportadas por terra. mercadorias.

Cada canoa usada nas mon-


José Ferraz de Almeida Júnior – Partida da monção. 1897.
Museu Paulista da USP, São Paulo

ções tinha capacidade para


transportar cerca de vinte pes-
soas, além das mercadorias
que eram levadas para serem
trocadas por ouro nas minas do
Mato Grosso.

Partida de uma monção em Porto Feliz.


Pintura feita pelo artista brasileiro José
Ferraz de Almeida Júnior (1850-1889).

206
As consequências da mineração

capítulo 12
A mineração foi uma atividade fundamental para a expansão
A transferência
e o povoamento do território brasileiro. da capital

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


Em 1763, a capital
A formação de vilas e cidades da Colônia foi
transferida de
A descoberta de minas de ouro e de diamantes teve consequências Salvador para o
importantes e causou uma série de transformações na Colônia. Graças ao Rio de Janeiro. A
grande deslocamento de pessoas para a região das minas, foram sendo cidade do Rio de
Janeiro ficava
formadas várias vilas e cidades no interior do território. Esses núcleos mais próxima da
urbanos acabaram se tornando importantes mercados consumidores. região das minas
Para levar as mercadorias para essa região e abastecer os mercados, e em seu porto
foram abertos vários caminhos, que propiciaram uma maior ligação entre era embarcada
as regiões da Colônia. para Portugal a
maior parte do
O percurso feito por tropeiros e monçoeiros era longo e cansativo, sen- ouro brasileiro.
do necessárias várias paradas para descanso. Nesses locais de parada, Com a transferên-
também se formaram pequenos núcleos populacionais, que, no decorrer cia da capital, o
do tempo, tornaram-se cidades, como é o caso de Ponta Grossa, no governo portu-
guês pretendia
atual estado do Paraná, e Anápolis, no atual estado de Goiás.
exercer um maior
controle sobre a
A delimitação das fronteiras produção e o
transporte de
Na segunda metade do século XVIII, diversos tratados foram assinados ouro e, também,
entre o governo português e o governo espanhol, na tentativa de delimitar sobre a cobrança
as fronteiras de suas colônias na América. O principal deles foi o Tratado de impostos na
Colônia.
de Madri, assinado no ano de 1750.
Nesse tratado, prevaleceu o prin-
cípio do uti possidetis , segundo o As fronteiras da Colônia portuguesa no século XVIII
qual quem tem direito a um territó-

E. Cavalcante
rio é a Nação que efetivamente o N

L
O
ocupa. Antes da assi natura do S

tratado, por exemplo, a ci dade de Neg


ro
Equador

Japurá Óbidos Belém
Cuiabá era ocupada por portugue- Manaus as São Luís
azon
ses, porém ficava em território Am jós u Fortaleza
Xing

ia
á

a
ru

p
de
espanhol. Após a assinatura do
r
Ju

a T Natal
a

M íba
na Oeiras Paraíba
tratado, essa cidade passou a per-
ia
gua

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Pa

Recife
Ara

tencer à Coroa portuguesa.


co

O Tratado de Madri estabeleceu


cis

Salvador
Fran

que as fronteiras entre a Colônia Vila Bela Ilhéus


São

Cuiabá Goiás
Minas Novas
portuguesa e as colônias espanho-
ai
gu

OCEANO
P ara

Diamantina
las, na América, seriam determina- Mariana ATLÂNTICO
á

Vitória
das, principalmente, por limites
ran

OCEANO
Pa

PACÍFICO
naturais, como rios e montanhas. São Paulo Rio de Janeiro
Santos
São Vicente Trópico
de Capricó
Desde a assinatura do Tratado rnio
Desterro
de Ma dri, a configuração territorial Laguna
i
ua

do Bra sil sofreu poucas alterações.


ug

Porto Alegre
Ur

Rio Grande
0 515 km
40° O
Fonte: HOLANDA, Sérgio Buarque de; CAMPOS,
Áreas sob influência das vilas e cidades
Pedro Moacyr de (Dirs.). A Época Colonial. Áreas conhecidas, mas sem vilas ou cidades
São Paulo: Difusão Editorial, 1981. v. 1

207
Explorando o tema
A arte barroca no Brasil

Juvenal Pereira/Pulsar
O barroco é um estilo artístico que surgiu
na Europa no final do século XVI. No Brasil,
esse estilo se desesenvolveu com base no
modelo europeu. No entanto, foi adaptado às
condições brasileiras. Dessa forma, o barro-
co brasileiro ganhou características próprias,
e suas influências podem ser observadas em
diversas áreas, como a arte, a literatura e a
arquitetura.

O barroco no Brasil
Na arte barroca, há grande variedade de
traços e riqueza de detalhes. As obras bar-
rocas possuem, também, uma forte tendência
religiosa. Essa tendência está presente na
construção e decoração de igrejas, na pintu-
ra e na escultura de santos e anjos.
Fotografia tirada em 2011, da igreja de São Francisco
O estilo barroco chegou ao Brasil por meio de Assis, localizada na cidade de Mariana, no estado
de artistas portugueses que passaram a en- de Minas Gerais.
sinar suas técnicas aos aprendizes brasileiros.

Manuel da Costa Ataíde. Em Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto. Foto: Rômulo Fialdini
Conforme os artistas brasileiros produziam
suas obras, no entanto, eles desenvolviam
características próprias que as diferenciavam
das obras barrocas europeias.

O barroco mineiro
Em meados do século XVIII, a região de
Minas Gerais se destacava como um dos mais
importantes centros econômicos e urbanos
do Brasil. Nessa época, os artistas mineiros
foram muito influenciados pelo barroco, esti-
lo artístico que predominava na Europa.
Na capitania de Minas Gerais, localizada no
interior brasileiro e de difícil acesso, essa
diferenciação entre a arte local e a arte euro-
peia foi ainda mais marcante do que na região
litorânea do país. Por isso, o barroco mineiro
foi considerado a primeira expressão artística
genuinamente brasileira.

Pintura feita no teto da igreja de São Francisco de Assis, em


Ouro Preto, por Manuel da Costa Ataíde (1762-1830),
importante artista do barroco mineiro.

208
capítulo 12
Aleijadinho e o barroco mineiro

Aleijadinho - Os Passos da Paixão de Cristo (detalhe). c. 1796. Escultura em madeira.


Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, MG. Foto: Manoel Novaes
Considerado o maior representante do barroco mi-

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


neiro, o artista Antônio Francisco Lisboa, conhecido
como “Aleijadinho”, nasceu em Vila Rica, atual Ouro
Preto, por volta de 1730. Durante toda a sua vida,
Aleijadinho dedicou-se à elaboração de esculturas e à
decoração de igrejas na região das minas, e acabou se
tornando o mais célebre artista brasileiro de seu tempo.
Aos 40 anos de idade, o artista foi acometido por
uma doença que degenerou seus membros e dificultou
seu trabalho. Com o auxílio de seus aprendizes, no
entanto, ele continuou a produzir belíssimas obras de
arte, como Os Doze Profetas . Foi Aleijadinho quem
projetou a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro
Preto, e fez as esculturas que se encontram nessa
igreja. Sua obra é ainda hoje admirada em todo o mun-
do por sua beleza e originalidade.

Detalhe da obra Os Passos da Paixão de


Cristo, de Aleijadinho. Essa obra está
localizada na Igreja do Bom Jesus de
Matosinhos, em Congonhas do Campo,
Minas Gerais.

Ricardo Azoury/Pulsar
Manoel Novaes

Os Doze Profetas estão localizados na Essa fotografia retrata duas das doze
entrada da igreja de Bom Jesus de esculturas de profetas localizados na entrada
Matosinhos, em Congonhas do Campo, da igreja de Bom Jesus de Matosinhos.
Minas Gerais. Esculpidas em pedra-sabão, essas esculturas
representam os profetas Jeremias e Ezequiel.

209
Novas ideias e revoluções pelo mundo
Enquanto a mineração no Brasil entrava em declínio,
revoluções aconteciam na América do Norte e na Europa. O suíço Jean-Jacques
Rousseau foi um
importante pensador
O Iluminismo iluminista.
Na época da grande mineração no Brasil, ganhava força na Europa

Allan Ramsay – Retrato de Jean-Jacques Rousseau. 1766.


Galeria Nacional da Escócia, Edinburgo
um movimento chamado Iluminismo. Esse movimento era formado por
pensadores que escreviam e publicavam textos defendendo o uso da
razão para explicar os fenômenos naturais e sociais. Esses pensadores,
chamados iluministas, eram contrários às explicações de caráter reli-
gioso, e questionavam o Absolutismo, modelo político que vigorava na
Europa naquele momento.
Os iluministas criticavam a centralização do poder nas mãos dos reis.
Por esse motivo, propunham a substituição dos reis absolutos por go-
vernos que de fato representassem a população de uma Nação. Também
criticavam a intervenção do Estado na economia. Além disso, esses
pensadores defendiam a igualdade de todos perante a lei, a liberdade
de opiniões e o direito à propriedade.

A Revolução Americana
Enquanto isso, na América do Norte, os habitantes das Treze Colônias es- Em 1777, foi criada
tavam insatisfeitos com os altos impostos que tinham de pagar à Inglaterra e, uma bandeira para
além disso, se sentiam prejudicados com a intervenção inglesa em sua orga- a nova Nação. Ela
possuía 13 estrelas
nização política e econômica. Como forma de protesto, os colonos resolveram
e 13 faixas,
boicotar a venda de produtos ingleses na América. Com isso, teve início o representando as
processo de independência das Treze Colônias inglesas, movimento também Treze Colônias.
conhecido como Revolução Americana.
Em 1776, depois de uma série de conflitos entre as tro­pas coloniais

Acervo da editora
e inglesas, os líderes americanos assinaram a Declaração de Indepen­
dência, documento que determinou a independência política das Treze
Colônias. Em seguida, foi instaurada uma República, governada por
presidentes eleitos por meio de voto. A união das Treze Colônias deu
origem aos Estados Unidos da América.

A Revolução Francesa
Nessa mesma época, cresciam as desigualdades
Claude Cholat. Museu Carnavalet, Paris

sociais na França e, além disso, os trabalhadores do


país tinham de pagar altos impostos ao governo.
Esses fatores aumentaram o descontentamento da
população, que se revoltou contra a autoridade do
rei e contra os privilégios da nobreza.
Influenciados pelos ideais iluministas e pelas lutas
de independência na América do Norte, os revolucio-
nários derrubaram o Absolutismo monárquico na
França. Foi então implantada uma República, gover-
nada por representantes eleitos pela população.
Ilustração que representa a população francesa atacando a
prisão da Bastilha, símbolo do poder do monarca francês, em
1789. Esse fato marcou o início da Revolução Francesa.

210
A Conjuração Mineira

capítulo 12
A Conjuração Mineira, também conhecida como Inconfidência Mineira, foi
resultado da crescente insatisfação dos habitantes da capitania de Minas Gerais
com a alta tributação cobrada pelo governo português.

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


Os planos dos revoltosos Influências estrangeiras
Endividados e insatisfeitos com a cobrança de impos- Ao se posicionarem contra a dominação
portuguesa, os conjurados traziam em
tos e com o domínio português, um grupo de pessoas seus discursos a influência das novas
influentes de Vila Rica começou a organizar uma conju­ ideias e revoluções em outras partes da
ração que tinha como objetivos principais cancelar o América e na Europa. Muitas vezes, essas
pagamento dos impostos e das dívidas com a Coroa ideias chegaram até os conjurados por
portuguesa e proclamar uma República na capitania de meio da leitura de livros ou porque muitos
deles haviam estudado na Universidade
Minas Gerais. de Coimbra, em Portugal, onde entraram
Vários grupos sociais participaram desse movimento, em contato com os princípios iluministas.
como proprietários de minas, políticos, advogados,
poetas, militares e padres. Eles passaram a fazer reuniões

Acervo da editora
para planejar a revolta, que seria iniciada no dia da co-
brança da derrama. Depois que a capitania se tornasse
autônoma, os conjurados pretendiam, entre outros pla-
nos, instalar manufaturas na região, iniciar a exploração
de ferro e implantar uma universidade em Minas Gerais.
O governador da capitania de Minas Gerais, no entan-
to, foi informado dos planos dos conspiradores, e orde-
nou a suspensão da derrama. Desarticulados, os líderes
do grupo decidiram esperar por uma melhor oportunida-
de para iniciar o movimento, porém acabaram presos e A atual bandeira do estado de Minas Gerais foi
condenados. idealizada na época da Conjuração Mineira.

Quem foi Tiradentes? Sentença. 18/04/1792. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

Alferes oficial
Entre os envolvidos na Conjuração de um exército
Mineira, estava o alferes Joaquim José que ocupa
da Silva Xavier (1746-1792). Ele era posição inferior
conhecido como Tiradentes e foi um na hierarquia
dos membros mais ativos do movimen- militar.
to. Quando a conjuração foi descober- Conjuração
ta pelas autoridades, Tiradentes foi associação de
preso e assumiu toda a responsabilida- pessoas contrá-
de pela organização do movimento. rias a um governo
ou autoridade e
Assim, enquanto os demais conjurados
que possuem
foram condenados ao exílio na África, objetivos comuns.
Tiradentes foi o único condenado à
Derrama
morte.
cobrança de
impostos atrasa-
dos devidos pelos
mineradores.
Página da sentença de condenação
Exílio expulsão
dos conjurados assinada pela
de um indivíduo
rainha portuguesa, D. Maria, em
de sua terra natal.
abril de 1792.

211
História em construção A figura de Tiradentes

Tiradentes foi transformado em “herói nacional” da história política brasileira. Em vários mo-
mentos da história do Brasil, a imagem de Tiradentes foi apresentada pelos historiadores e de-
fendida por diferentes governos como um exemplo de luta e sacrifício em defesa da liberdade.

A criação do herói

Décio Villares - Tiradentes. Litografia, 1890. Acervo da Igreja Positivista do Brasil


Na época do Império (1822-1889), com o Brasil já inde-
pendente de Portugal, mas ainda sob um regime monár-
quico, esse personagem e o movimento do qual fez parte
não eram bem vistos pelas elites ligadas à Monarquia.
Tanto a Conjuração Mineira quanto a figura de Tiradentes
eram ligadas à desordem, ao risco de fragmentação do
território nacional e à deslealdade para com a pátria.
Quando os republicanos assumiram o poder no Brasil,
em 1889, era necessário criar heróis nacionais para sim-
bolizar não apenas o regime que começava, mas também
para identificar na figura de Tiradentes as raízes da luta
pela liberdade que os republicanos queriam legar, criando
assim uma imagem positiva do país e do novo regime
político.
No livro A formação das almas (1990), o historiador Nessa litogravura de 1890, intitulada
brasileiro José Murilo de Carvalho dedicou-se ao estudo “Tiradentes”, o artista republicano Décio
da construção da figura de Tiradentes como um herói cívi- Villares representa-o parecido com Jesus
co nacional pelos governos republicanos. Leia a seguir um Cristo. Até então, não existia nenhum
trecho dessa sua obra. retrato de Tiradentes e, a partir dessa obra,
praticamente todas as representações do
alferes identificavam-no à figura de Cristo.
[...] O governo republicano tentou dele se apropriar, declarando
o 21 de abril feriado nacional e, em 1926, construindo a estátua em
Devassa nome dado ao inquérito
frente ao prédio da Câmara. Os governos militares recentes foram estabelecido para julgar os inconfi-
mais longe. Lei de 1965 declarou Tiradentes patrono cívico da na- dentes.
ção brasileira e mandou colocar retratos seus em todas as repartições

Simone Marinho/O Globo


públicas. [...]
José Murilo de Carvalho. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 71.

Na segunda metade do século XX, a figura de Tiraden-


tes e da Inconfidência começou a ser revisada. Em uma
obra intitulada A devassa da devassa (1977), o historiador
inglês Kenneth Maxwell já não se preocupou com a tradi-
ção heroica construída pelos historiadores brasileiros em
torno da figura de Tiradentes e dos objetivos políticos dos
demais inconfidentes.
Para esse historiador, a Conjuração devia ser compreen­
dida no contexto econômico e político luso-brasileiro do
final do século XVIII, e nesse contexto o que mais motivava
os inconfidentes eram os interesses materiais (quase todos
Estátua de Tiradentes construída em
deviam para a Coroa), embora utilizassem como justifica-
1926, e fixada em frente da atual sede
tiva a defesa da liberdade do povo contra a opressão da da Assembleia Legislativa do Estado do
Coroa portuguesa. Rio de Janeiro.

212
A Conjuração Baiana

capítulo 12
No final do século XVIII, a população da Bahia estava indignada com as péssimas
condições de vida e exigia mudanças.

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


Dificuldades da população de Salvador
Poucos anos depois da Conjuração Mineira, a população da Bahia também

Acervo da editora
demonstrou sua insatisfação com o governo português. A maior parte da
população baiana pagava altos impostos e vivia em condições precárias.
Um grupo de intelectuais começou a se reunir e a discutir propostas de
mudanças. Em pouco tempo, escravos, soldados e trabalhadores livres e
pobres uniram-se ao movimento e deram uma nova condução à revolta.
Entre esses trabalhadores, estavam pedreiros, sapateiros, artesãos e alfaia-
tes. Por isso, o movimento também ficou conhecido como a Conjuração Bandeira da
Conjuração Baiana.
dos Alfaiates. As cores azul,
vermelha e branca
Reivindicações da população também estão
presentes na atual
Insatisfeitos com a Coroa portuguesa e profundamente influenciados bandeira do estado
pelos ideais da Revolução Francesa, os revoltosos pretendiam proclamar a da Bahia.
República, abrir o porto de Salvador ao livre comércio e conquistar melho-
res condições de vida.
Para divulgar os ideais do movimento, em 1798, os conjurados afixaram
manifestos contrários ao governo português e à escravidão em diferentes
pontos da cidade.

Johann Moritz Rugendas – Hospício de N. Senhora da


Piedade na Bahia. Séc. XIX. Coleção particular
Denúncias e prisões
Pouco tempo depois, muitos participantes
do movimento foram presos e interrogados.
Os principais líderes da conjuração foram
condenados à morte. Outros participantes do
movimento foram exilados na África.

Essa gravura, feita no século XIX por Rugendas, mostra


a Praça da Piedade, em Salvador. Foi nesse local que
os líderes da Conjuração Baiana foram executados.

O sujeito na história Cipriano Barata


Domingos A. Sequeira – Cipriano Barata.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Médico e filósofo de formação, Cipriano Barata (1762-1838) teve papel


ativo em vários movimentos revoltosos, como a Conjuração Baiana, a Re-
volução Pernambucana e a Confederação do Equador.
Suas ideias foram amplamente divulgadas em panfletos e jornais, espe-
cialmente no jornal por ele fundado, o Sentinela da Liberdade .
Influenciado pelas ideias iluministas, Cipriano Barata combateu a escra-
vidão, incentivou a participação das mulheres na política e lutou contra o
domínio português no Brasil. Cipriano Barata.

213
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais eram os maiores problemas en­f ren­ 11 O que eram as monções?
tados pelo governo português na época
do fim da União Ibérica? 12 Cite algumas consequências da mi­ne­ração
no Brasil.
2 Quais os objetivos da criação do Conselho
Ultramarino? 13 Quando a capital da Colônia foi transferida
para o Rio de Janeiro? Quais foram os
3 Sobre as companhias de comércio, res­ principais motivos dessa transferência?
ponda.
14 O que foi o Tratado de Madri? Nesse tra­
a ) Por que elas foram criadas? tado, qual princípio prevaleceu? O que
b ) Quais funções essas companhias de­ ele significava?
veriam exercer?
15 Quais as principais características do bar­
c ) Por que as companhias de comércio roco mineiro?
não funcionaram como o governo por­
tuguês esperava? 16 Quem foi Aleijadinho?

4 Por que o açúcar produzido pelos holan­de­ 17 Explique como as idei­a s iluministas e as
ses nas Antilhas prejudicou a venda do revoluções na América do Norte e na Eu­
açúcar brasileiro? ropa influenciaram as revoltas coloniais
brasileiras.
5 Responda às seguintes questões sobre as
bandeiras. 18 Responda às seguintes questões sobre a
Conjuração Mineira.
a ) Quais eram os dois principais tipos de
bandeiras? Qual era o objetivo prin­ a ) Qual foi o principal motivo da revolta?
cipal de cada um deles? b ) Quais eram os planos dos con­ju­ra­dos?
b ) Qual a relação das bandeiras com a c ) Quais grupos sociais participaram do
expansão territorial brasileira? movimento?
6 Por que o governo português criou as Ca­ d ) Como o governo português reagiu à
sas de Fundição? conjuração?

7 O que significava “quintar o ouro”? 19 Escreva um texto sobre a Conjuração Baia­


na usando as palavras e expressões do
8 Sobre quais produtos e serviços a Coroa quadro.
portuguesa cobrava impostos na região
das minas? ideais da
Conjuração governo
9 Como os mineradores tentavam evitar o Revolução
dos Alfaiates português
pagamento dos impostos cobrados pelo Francesa
governo português?
insatisfação escravidão prisão
10 Segundo a autora do texto apresentado na
página 206, quais motivos levaram ao trabalhadores
exílio impostos
surgimento do tropeirismo na Colônia? livres

Expandindo o conteúdo
20 A gravura a seguir, feita por Rugendas no século XIX, representa a extração de ouro em uma
mina. Observe-a.

214
capítulo 12
Johann Moritz Rugendas – Lavagem de minério de ouro. c. 1835. Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros/USP, São Paulo. Foto: Neoimagem

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


a ) Produza um texto com base na imagem apresentada. Nesse texto, descreva quais pes­
soas foram representadas; o que estão fazendo; que roupas estão utilizando; como era
o dia a dia dessas pessoas; como o artista retratou a paisagem etc. Procure incluir no
texto os tipos de mineração que estão sendo realizados e os nomes dos objetos utiliza­
dos em cada um desses tipos.
b ) Depois de pronto, troque seu texto com o de um colega e verifiquem quais são as se­
melhanças e diferenças entre eles.

21 Leia o texto a seguir sobre o destino do ouro brasileiro.

[...] O resultado [da grande produção de ouro nas Minas Gerais] foi a redução de Portugal à con-
dição de entreposto, de um lado para os produtos importados da Inglaterra e do Norte da Europa
demandados pelos brasileiros, mas que Portugal era incapaz de suprir; de outro, para as remessas do
ouro brasileiro, que chegavam ao [rio] Tejo apenas para serem despachadas para Londres para pagar
essas importações. [...] O ouro brasileiro [...] estimulou o comércio e as exportações inglesas para
Portugal durante toda a primeira metade do século XVIII. (É possível dizer que o ouro brasileiro
lançou as bases para a futura Revolução Industrial na Inglaterra) [...].
A.J.R. Russell-Wood. O Brasil colonial. In: Leslie Bethell (Org.). História da América Latina: América Latina Colonial. Trad. Mary Amazonas Leite de Barros;
Magda Lopes. São Paulo/Brasília: Edusp/Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. v. 2. p. 524.

215
a ) De acordo com o texto, qual foi o resultado para Portugal da grande produção de ouro
em Minas Gerais?
b ) De onde provinham os produtos importados consumidos no Brasil? Qual era a função de
Portugal nesse comércio?
c ) Qual era o destino final do ouro brasileiro?
22 O gráfico a seguir mostra a produção do ouro brasileiro no século XVIII. Observe-o.

Acervo da editora
Produção do ouro no Brasil no século XVIII
Toneladas
16 15,8
14,8 Goiás
14,1 14,1
14 Minas Gerais
12,6
12 Mato Grosso
10,5 9,8
10 Total
8,5 9,0 8,8
7,6 8,1
8 6,5 6,5 6,3
6 4,9 4,5
4,4 4,4
4
1,5
2
0
1705 1710 1715 1720 1725 1729 1734 1739 1744 1749 1754 1759 1764 1769 1774 1779 1784 1789 1794 1799 Anos

Fonte: PINTO, Virgílio Noya. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: América Latina Colonial.
São Paulo/Brasília: Edusp/Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. v. 2.

a ) Qual capitania brasileira produziu maior quantidade de ouro no século XVIII?


b ) Em que ano a capitania de Goiás extraiu cerca de 6 toneladas de ouro?
c ) Quantas toneladas de ouro foram extraídas da capitania do Mato Grosso no ano de 1739?
d ) Em que ano o Brasil produziu maior quantidade de ouro? Quantas toneladas foram pro­
duzidas nesse ano?
e ) Estabeleça relações entre a Conjuração Mineira e o declínio da produção de ouro em
Minas Gerais.

Trabalho em grupo
23 A cobrança de impostos é uma característica comum às sociedades humanas de diversas
épocas. No entanto, a destinação dada a esses impostos varia de acordo com os interes­
ses das sociedades e de seus governantes. Nas sociedades democráticas, o objetivo
principal do governo é garantir o bem-estar da população, atendendo aos interesses da
maioria. Desse modo, é muito importante que os cidadãos de cada país saibam como o
dinheiro recolhido é aplicado pelo governo. Realize com os colegas uma pesquisa sobre
os impostos no Brasil atualmente.
a ) Pesquisem em livros, revistas, jornais, internet etc., informações sobre o tema.
b ) Procurem descobrir:
■■ quais os nomes dos principais impostos pagos atualmente pelos brasileiros;
■■ como o dinheiro recolhido por meio dos impostos é utilizado pelo governo.
c ) Em sala, conversem com os colegas dos outros grupos sobre a aplicação do dinheiro pú­
blico. Depois, produzam um texto coletivo com as opiniões de vocês sobre o assunto.
d ) Por fim, produzam um cartaz explicativo sobre os impostos no Brasil usando os dados
obtidos na pesquisa. Apresentem seu cartaz aos colegas.

Discutindo a história
24 O texto a seguir apresenta diferentes opiniões sobre o bandeirantismo paulista. Leia-o.

216
capítulo 12
[...] O bandeirantismo e os bandeirantes figuram entre os grandes mitos da historiografia
brasileira, sobretudo a produzida em São Paulo [...] no século XIX e início do XX. O viajante
francês Saint-Hilaire, que esteve no Brasil entre 1816 e 1822, encantou-se com as conquistas dos
paulistas e escreveu sobre os longos percursos das bandeiras e a expansão territorial, consideran-

A expansão das fronteiras da Colônia portuguesa


do-os como pertencentes a uma “raça de gigantes”. Essa expressão tornou-se célebre ponto de
referência para a criação do herói bandeirante. Taunay e Alfredo Elis Jr., historiadores do início
do século XX, consideraram os bandeirantes como responsáveis pela atual dimensão territorial
do Brasil. Oliveira Viana também forneceu elementos para a construção do mito dos bandeiran-
tes, descrevendo-os como homens instruídos e acostumados ao luxo.
Foi Capistrano de Abreu, no entanto, quem inaugurou uma vertente historiográfica dedicada
a contestar a figura heroica do bandeirante. A partir da documentação jesuítica, destacou o
emprego da violência, a destruição das [missões] religiosas e a escravidão indiscriminada dos
[indígenas]. Viana Moog seguiu a mesma trilha, relacionando a ação bandeirante com as práti-
cas predatórias que se perpetuam na história do Brasil, a falta de interesses coletivos, a busca de
fortuna rápida e a instabilidade social.
Alcântara Machado, em 1929, foi o autor que inovou muito no estudo dos bandeirantes.
Relativizou o mito dos bandeirantes, sem negá-lo de todo, e foi pioneiro, entre nossos historia-
dores, no uso de inventários e testamentos como fonte histórica. Constatou que os bandeirantes
não eram nobres nem ricos mercadores, como defendia Oliveira Viana, senão modestos lavra-
dores, pequenos mercadores e aventureiros rústicos. Mostrou que se dedicavam à agricultura de
subsistência e à captura de [indígenas] pelo interior. Nesse estudo pioneiro, debruçou-se sobre
o cotidiano da sociedade paulista para contestar a historiografia tradicional, destinada a erguer
o mito dos bandeirantes.
Ronaldo Vainfas (Dir.). Dicionário do Brasil Colonial (1500–1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 64-5.

a ) Quais historiadores contribuíram para a criação do mito do herói bandeirante? Quais


argumentos eles utilizaram para transformar os bandeirantes em heróis?
b ) Qual a visão de Capistrano de Abreu sobre os bandeirantes?
c ) E qual é a visão de Viana Moog?
d ) Quais fontes históricas Alcântara Machado utilizou para estudar os bandeirantes?
e ) Como Alcântara Machado definiu os bandeirantes?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
Refletindo sobre o capítulo
Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu aprendi-
zado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ As bandeiras eram expedições promovidas pelos paulistas que tinham o objetivo de apri-

sionar indígenas e, posteriormente, de encontrar ouro e pedras preciosas.


■ ■ Tropeiros e monçoeiros auxiliaram no fornecimento de mercadorias para a região das

minas.
■■ A mineração provocou a migração de muitas pessoas para a região das minas, promoven-

do a expansão territorial e a interligação de diversas regiões do Brasil.


■ ■ O barroco mineiro é considerado a primeira forma de expressão artística genuinamente

brasileira.
■ ■ Importantes revoltas ocorridas no Brasil no século XVIII foram influenciadas pelas ideias

iluministas e pelas revoluções Americana e Francesa.


Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certificar-
-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

217
Ampliando seus conhecimentos
Veja algumas sugestões de livros, sites e filmes que tratam de temas
relacionados aos assuntos estudados neste volume.

Livros
■■ A história do mundo em quadrinhos: a Europa medieval e os
invasores do Oriente, de Larry Gonick. São Paulo: Jaboticaba.
(Reencontro infantil).
Esse livro apresenta, por meio de quadrinhos, referências para a
compreensão de acontecimentos importantes da História. O autor
apresenta fatos marcantes ocorridos durante a Idade Média, como
a origem de algumas nações e vários conflitos políticos e religiosos,
que ajudam a entender o mundo contemporâneo.

■■ Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, de Cícero Pedro


de Assis. São Paulo: Nova Alexandria. (Clássicos em Cordel).

Fiona Macdonald. Como Seria sua vida na Idade


Média? São Paulo: Editora Scipione, 2006
No formato de literatura de cordel, esse livro conta as aventuras do
lendário rei Arthur, que juntamente com os cavaleiros da Távola
Redonda teria expulsado os invasores e iniciado um período de
grande prosperidade na Inglaterra.

■■ Como seria sua vida na Idade Média?, de Fiona Macdonald. São


Paulo: Scipione. (Como seria sua vida).
Esse livro, ricamente ilustrado, aborda diversos assuntos relaciona-
dos ao modo de vida e ao cotidiano das pessoas na Idade Média.

■■ As mil e uma noites, de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan.


Conhecidas mundialmente, as histórias originárias do Oriente Médio
foram preservadas por meio de antigos manuscritos. Entre eles
destaca-se o livro As mil e uma noites, que conta as famosas histó-
rias tradicionais persas e árabes, incluindo Simbad, o marujo e Ali
Babá e os quarenta ladrões, entre outras.
Paulo Daniel Farah. ABC do mundo
árabe. São Paulo: Edições SM, 2006

■■ ABC do mundo árabe, de Paulo Daniel Farah. São Paulo: Edições SM.
O livro aborda a influência árabe sobre diversas culturas do mundo.
Essa influência está presente, por exemplo, em várias palavras do vo-
cabulário português e do espanhol e também em muitas outras áreas
do conhecimento como arquitetura, aritmética, astronomia e literatura.

■■ ABC do continente africano, de Rogério Andrade Barbosa. São


Paulo: Edições SM.
A África, além de ser considerada o berço da humanidade, apresen-
ta uma enorme pluralidade cultural. Esse livro nos possibilita conhe-
cer mais sobre as histórias e as culturas do continente africano e
sua grande influência na cultura brasileira.

218
■■ Leonardo da Vinci e seu supercérebro, de Michael Cox. Trad.
Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras.
Leonardo da Vinci foi um dos intelectuais mais importantes do
período Renascentista. Além de pintor, se destacou também em
diversas outras áreas, como engenharia, anatomia e matemática.
Nesse livro, o leitor vai conhecer um pouco mais sobre esse ar-
tista, que teve papel decisivo no desenvolvimento de diversas
áreas do conhecimento.

Os Lusíadas em quadrinhos, de Fido Nesti. São Paulo: Peirópolis.

Benedito Prezia. Esta terra tinha dono.


São Paulo: Editora FTD, 2000
■■

Nesse livro, a obra mais famosa de Luís Vaz de Camões é contada


por meio de quadrinhos. Desse modo, o texto original de Camões
torna-se mais atraente, prendendo a atenção do leitor e tornando
mais agradável a leitura desse clássico.

■■ Esta terra tinha dono, de Benedito Prezia. São Paulo: FTD.


Esse livro apresenta a vida dos povos indígenas e o impacto da
chegada dos portugueses às suas terras, abordando os conflitos e
a resistência indígena contra os invasores europeus.

■■ Nos passos de... Cristóvão Colombo, de Jean-Paul Duviols. Rio


de Janeiro: Rocco. (Infinito Saber).
O livro torna o leitor um acompanhante de Cristóvão Colombo em
suas viagens. Assim, ele pode conhecer o dia a dia à bordo das
caravelas, os planos de Colombo para chegar às Índias e a “desco-
berta” da América. A história apresenta importantes fatos da histó-
ria da Espanha, além de esclarecer como era a cartografia e a na-

Keila Grinberg e outros. Para conhecer Chica da


Silva. Rio de Janeiro: Editora Zahar. 2007
vegação da época.

■■ Para conhecer Chica da Silva, de Keila Grinberg e outros. Rio


de Janeiro: Zahar. (Para conhecer).
Narrativa sobre a vida de Chica da Silva, uma ex-escrava que se
tornou livre e rica. O livro aborda os costumes da época, o tra-
balho escravo, o cotidiano e as relações sociais no Brasil colonial.
O livro ainda contém mapas, ilustrações e uma linha do tempo,
que auxiliam o leitor a entender melhor esse período.

■■ Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de


Almeida. São Paulo: L&PM.
História de Leonardo, filho de imigrantes portugueses que se torna
um sargento de milícias. A história se passa no Brasil, na época de
D. João VI, e apresenta vários elementos do cotidiano das camadas
médias e pobres do período.

219
Sites
■■ www.wdl.org/pt – Biblioteca digital mundial.
Esse site disponibiliza, em diversas línguas, importantes documen-
tos originários dos mais diversos países. Nele, encontram-se desde
fotografias e mapas até livros completos, organizados de acordo

www.wdl.org/pt. Acessado em:


01 mar. de 2012
com seu local de origem.

■■ www.abrem.org.br – Associação Brasileira de Estudos Medievais.


Site que tem como objetivo o ensino, a pesquisa e a divulgação de
produções historiográficas ligadas ao período medieval. O site contém,
ainda, uma biblioteca com artigos e textos relacionados ao tema.

■■ www.islam.org.br – Centro de estudos e divulgação do Islã.


Site dedicado ao conhecimento do Islamismo, religião com o maior
número de seguidores no mundo. Nesse site é possível encontrar di-
versos textos para melhor compreender o Islã e mundo muçulmano.

www.socioambiental.org.
Acessado em: 01 de
mar. de 2012
■■ pib.socioambiental.org/pt – Povos indígenas do Brasil.
Nesse site você poderá conhecer um pouco mais sobre os diversos
povos indígenas que vivem no Brasil atualmente, por exemplo, sua
história, modo de vida, costumes e localização.

■■ multirio.rio.rj.gov.br/historia/index.html – Educação Multirio –


América Portuguesa.
Esse site apresenta um panorama sobre a América Portuguesa,

casasdasafricas.org. Acessado em:


01 de mar. de 2012
abordando assuntos como a chegada dos portugueses ao Brasil,
colonização, tratados comerciais e escravidão.

■■ casadasafricas.org.br – Espaço cultural e de estudos sobre as


sociedades africanas.
Esse portal tem como objetivo contribuir para a ampliação e divul-
gação de estudos sobre as sociedades africanas, disponibilizando,
para isso, textos, vídeos e fotografias, entre outros recursos.

Filmes
■■ As mil e uma noites (2000), dirigido por Steve Barron.
Esse filme mostra a história do sultão persa Schariar, que, após
ser traído por sua esposa, a mata. A partir de então, para não ser
traído novamente, decide se casar cada dia com uma jovem e
matá-la após a noite de núpcias. Isso se repete até o dia em que
ele se casa com Sherazade, que todas as noites narrava para o
sultão fantásticas histórias. Ele fica tão encantado que decide
poupar Sherazade a cada dia, para que pudesse ouvir mais his-
tórias. Esse filme recria várias lendas árabes famosas do clássico
As mil e uma noites .

220
Filme de Jean-Jacques Annaud. O nome da rosa. 1986.
Itália, Alemanha e França
■■ O nome da Rosa (1986), dirigido por Jean-Jacques Annaud.
A história do filme gira em torno das misteriosas mortes que passam
a ocorrer em um mosteiro na Itália, no ano de 1327. Essas mortes
ocorrem em meio a um intenso debate religioso entre monges e
frades sobre o futuro da Igreja. Produzido sob a orientação do his-
toriador Jacques Le Goff, especialista em Idade Média, o filme
apresenta muitas informações sobre o período medieval, abordando
elementos da moral cristã e do pensamento filosófico da época.

■■ Shakespeare Apaixonado (1998), dirigido por John Madden.


Essa história fictícia se passa na Inglaterra renascentista do final do
século XVI e narra a história do jovem escritor William Shakespeare,
que atravessa um período de bloqueio criativo até conhecer Viola,
uma jovem pertencente à nobreza da época. Ele volta a escrever e
se apaixona por ela, até que um casamento arranjado pela família
de Viola passa a ameaçar o amor entre dois.

■■ A rainha Margot (1994), dirigido por Patrice Chéreau.


Na França do século XVI, a católica Marguerite de Valois, irmã do
rei francês Carlos IX, é forçada a se casar com o protestante hun-
guenote Henrique de Bourbon, rei de Navarra, com o intuito de
minimizar as disputas entre os adeptos das duas doutrinas religiosas.
O casamento não sanou as disputas religiosas, no dia 24 de agos-
to de 1572, após o casamento, iniciou-se a matança de milhares de
protestantes, episódio que ficou conhecido como a Noite de São
Bartolomeu.

■■ O homem da máscara de ferro (1998), dirigido por Randall Wallace.


Na França do século XVII, o rei absolutista Luís XIV descobre que
possui um irmão gêmeo. Ele, então, prende-o em uma masmorra
com medo de que este lhe roube o trono. Com o tempo, Luis XIV
vai se tornando um tirano e despertando a inimizade até mesmo dos
famosos mosqueteiros Athos, Porthos e Aramis, que, ao descobrirem

Filme de Ridley Scott. 1492 - A conquista do Paraíso. 1992.


Espanha/França/EUA/Inglaterra
o segredo do rei, decidem libertar seu irmão gêmeo e assim mudar
os rumos da história da França.

■■ 1492 – A conquista do paraíso (1992), de Ridley Scott.


O filme narra a história do navegador Cristóvão Colombo, apresen-
tando todo o cenário da expansão ultramarina liderado por Portugal
e Espanha nos séculos XV e XVI. O filme narra desde os planos de
Colombo para chegar às Índias circunavegando o globo terrestre,
passando pelo cotidiano desgastante à bordo das caravelas até o
“Descobrimento” da América, entre outros fatos importantes ocor-
ridos no período.

221
Referências bibliográficas
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MONDAINI, Marco. Direitos humanos. São Paulo: Contexto, 2006.
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PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Brasil indígena: 500 anos de resistência. São Paulo: FTD, 2000.
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SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. Trad. Laura Teixeira Motta.
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VAINFAS, Ronaldo (Dir.). Dicionário do Brasil Colonial: 1500-1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
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VISENTINI, Paulo G. Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo: da Pax Britânica do século
XVIII ao Choque das Civilizações do século XXI. Petrópolis (RJ): Vozes, 2000.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD


224 Avenida Antonio Bardella, 300
Fone: (0-XX-11) 3545-8600 e Fax: (0-XX-11) 2412-5375
07220-020 GUARULHOS (SP)
7 HISTÓRIA
7º ano

Orientações
para o professor
Vivemos atualmente em uma sociedade tecnológica em que as trans-
formações ocorrem com grande rapidez e diariamente somos bombar-
deados por uma enorme quantidade de informações. Nessa sociedade
consumista, em que tudo rapidamente se torna “velho” e “ultrapassado”,
os alunos acabam vivenciando um presente sem historicidade, desco-
nhecendo os vínculos existentes entre o presente e o passado. Esse
desconhecimento histórico torna mais difícil para eles compreenderem
e questionarem a própria realidade em que vivem.
Diante dessa situação, adquire cada vez mais importância o papel
do historiador e do professor de História. A análise das transformações
que ocorrem nas sociedades constitui a essência dos estudos históricos
e, por isso, estudar História torna os alunos mais capazes de processar
o grande volume de informações que recebem e convertê-lo em conhe-
cimento. Dessa forma, eles se tornarão mais críticos e terão melhores
condições de entender as transformações sociais e como elas afetam
nossas vidas.
Para auxiliar o professor nessa tarefa, elaboramos esta coleção. Pro-
curamos fazer uma seleção de conteúdos relevantes, em que são de-
senvolvidos conceitos fundamentais para o estudo de História. Os temas
históricos são abordados em consonância com as pesquisas historio-
gráficas mais recentes e são trabalhados em um texto claro e acessível
aos alunos.
Em todos os volumes da coleção, encontra-se uma grande quanti-
dade de fontes históricas, principalmente imagéticas, que são contex-
tualizadas e, em muitos casos, exploradas por meio de atividades. A
coleção tem uma estrutura regular e está organizada de modo a facili-
tar o trabalho do professor, que pode, exercendo seu papel como
mediador, promover um aprendizado significativo para os alunos e
instrumentalizá-los para que adquiram maior autonomia e para que
possam continuar seu aprendizado ao longo da vida, ajudando a cons-
truir uma sociedade mais justa e democrática.

Os autores.
Sumário
Orientações gerais................................................................................................. 5
A estrutura da obra ................................................................................................................ 5
As seções ............................................................................................................................ 5

Os conteúdos da coleção ...................................................................................................... 9

Mapa de conteúdos e recursos . . .........................................................................................10

Orientações didáticas e metodológicas .............................................................................16


O ensino de História no Brasil.. ..........................................................................................16
Os objetivos do ensino de História . . ..................................................................................17
A proposta de ensino . . .......................................................................................................18
Concepção de história .......................................................................................................19
As fontes históricas ...........................................................................................................20
Conceitos fundamentais para o ensino de História ............................................................22

A construção da cidadania . . ................................................................................................27


O significado de cidadania nos Parâmetros Curriculares Nacionais .. .................................27
A importância do ensino pluriétnico.. .................................................................................27
A valorização da mulher na história ...................................................................................28
A inclusão na escola . . ........................................................................................................29

A importância da leitura e da escrita .................................................................................29


Algumas estatísticas . . ........................................................................................................29
O que é competência leitora? ............................................................................................30
As especificidades da leitura na disciplina de História ......................................................31
Leitura e prática da escrita .. ..............................................................................................32

A pesquisa escolar . . .............................................................................................................32


Procedimentos básicos ......................................................................................................32

A avaliação do ensino-aprendizagem ................................................................................34


A utilidade da avaliação . . ...................................................................................................34
A autoavaliação .................................................................................................................35
Uma proposta de autoavaliação .........................................................................................35

Tabela de conversão de séculos .........................................................................................37

Sugestões de leitura sobre o ensino de História .. .............................................................38

Objetivos, comentários e sugestões............................................... 39


Respostas das atividades....................................................................... 110
Referências bibliográficas..................................................................... 144
Orientações para o professor
Orientações gerais
A estrutura da obra
A presente coleção é destinada aos alunos dos anos finais do Ensino
Fundamen­tal. Composta por quatro volumes, sendo eles, 6 o, 7 o, 8 o e 9 o anos,

Orientações gerais
esta coleção apresenta uma estrutura organizada. Todos os doze capítulos de
cada volume são compostos por duas páginas de abertura e qua­t ro páginas de
atividades. Os títulos apresentam uma hierarquia clara e o texto didático respei­
ta a faixa etária dos alunos. Em todos os volumes, os conteúdos são acompa­
nhados de imagens, boxes auxiliares e glossário.
A sequência dos conteúdos está organizada de acordo com critérios cronológi­
cos. Além disso, procuramos explorar relações de simultaneidade, integrando,
sempre que possível, os conteúdos de história geral e de história do Brasil e
res­s altando as relações entre diferentes processos históricos.
Veja, a seguir, informações mais detalhadas sobre a estrutura dos capítulos.

As seções

Páginas de abertura do capítulo


■■ As páginas de abertura dos capítulos têm como princi­p ais objetivos explorar
o conhecimento prévio e despertar o interesse dos alu­n os pelos assuntos
que serão abordados. Para auxiliar o alcance desses ob­jetivos, em todas as
aberturas, o professor vai encontrar a seção Conversando sobre o assunto,
que é um roteiro de análise dos recursos da abertura, propiciando a explo­
ração de capacidades e habilidades fundamentais para o estudante, como
observação e memorização, seguidas de investigação e des­crição; e, também,
com a mediação do professor, o leque de interpretações pode ser aberto.
Além disso, a seção favorece um importante momento de interação e troca
de ideias entre professor e alunos. Essa seção pode ser muito útil como
forma de avaliar os conhecimentos dos alunos an­t es e depois da exposição
dos conteúdos do capítulo.

Enquanto isso...
■■ Além do texto principal, dos boxes auxiliares e do glossário, em todos os
vo­lumes da coleção o professor encontrará a seção Enquanto isso... O
princi­p al objetivo dessa seção é proporcionar um espaço para o trabalho
com a si­m ultaneidade e com os tempos históricos. Assim, por exemplo,
enquanto o Império Inca estava sendo conquistado pelos espanhóis, no
Brasil os portu­g ueses iniciavam a colonização das terras indígenas. É muito

5
importante promover a articulação entre os conteúdos que se apresentam
em uma mesma temporalidade, pois, assim, os alunos têm condições de
perceber que a história não acontece de maneira intercalada. Essa seção
pode auxiliar nesse sentido, no entanto, o papel do professor como mediador
entre o livro didático e os alunos é indispensável para promover uma apren­
dizagem mais significativa. Cabe ao professor a decisão fundamental sobre
o uso do apoio pedagógico que é o livro didático: construir critérios de se­
leção dos te­m as dos capítulos de que fará uso, levando-se em conta o
projeto pedagógi­c o da escola, as condições da turma e a carga ho­r ária da
grade curricular. Além disso, da maneira como a coleção está estru­turada,
o professor tem autonomia pedagógica para decidir sobre quais capí­tulos
abordar ou deixar de abordar, no todo ou em partes; sobre seguir a or­d em
apresentada ou reagrupar os capítulos pelos critérios organizativos que es­
colher, e fazer as pontes entre os capítulos dentro destes critérios.

O sujeito na história
■■ A seção também está presente em todos os volumes e seu principal obje­tivo
é mostrar aos alunos que, além dos agentes coletivos, existem pes­soas que
participaram ativamente do pro­cesso histórico por meio de suas ações indivi­
duais. Provavelmente a maioria das pessoas retratadas em O sujeito na his-
tória é pouco conhecida pelos alunos. O papel do professor é importante
nesse momento, incentivando pesquisa sobre esses sujeitos históricos em
fontes diversas e posteriores debates na classe. A seção pretende reforçar
que a ação de todos os sujeitos históricos, incluindo os próprios alunos, pode
mudar os rumos da história.

História em construção
■■ Seção que pode aparecer em qualquer parte do texto antes das Atividades.
Seu objetivo é mostrar aos alunos que a disciplina de História é um campo
em constante transformação e que as narrativas sobre o passado também
possuem uma história. Nessa seção, apresentamos as discussões mais re­
centes no campo da historiografia, além de textos de historiadores, que
abordem problemáticas históricas, conflitos de interpretação e revisões de
temas clássicos da historiografia nacional e internacional.

Explorando o tema
■■ Presente em todos os capítulos, a seção Explorando o tema aparece antes
das Atividades. Esta seção propõe leitura e interpretação de textos citados
de autores diversos, acompanhados de imagens, como fotografias, ilustra­
ções, obras de arte e outros recursos iconográficos. Trata-se de uma abor­
dagem temática relacionada a algum assunto apresentado no capítulo.

6
Atividades

Orientações para o professor


■■ Os 48 capítulos que compõem a coleção contam, cada um deles, com quatro
páginas de atividades. Essa estrutura regu­lar é uma vantagem para os alunos,
que podem contar com um im­portante espaço para exercitar diferentes capa­
cidades e habilidades. Ao pro­fessor cabe, de acordo com sua proposta pe­
dagógica, repensar, reorganizar, reestruturar, recriar as atividades existentes
e/ou produzir novas atividades. Para criar uma identidade e facilitar a execução
dos exercícios e atividades, essa apresenta subseções. São elas:

Orientações gerais
Exercícios de compreensão
■■ Subseção fixa, sempre no início das atividades. O principal objetivo desses
exer­c ícios é revisar o conteúdo trabalhado no capítulo. Eles geralmente são
apre­s entados respeitando a ordem em que aparecem no capítulo, no entanto,
cabe ao professor escolher a melhor ordem para trabalhá-los com os alunos.
Além disso, é fundamental que o professor estimule os alunos a produzir res­
postas com suas próprias palavras com base na interpretação dos conteúdos
e não da simples cópia. Embora possam parecer questionamentos simples,
eles contribuem com a formação da competência leitora, visto que os alunos,
para respondê-los de maneira satisfatória, precisam retomar os conteúdos
trabalha­d os.

Expandindo o conteúdo
■■ Essa subseção traz questionamentos que complementam e extrapolam os
conteúdos do capítulo. Geralmente são apresentados diferentes gêneros tex­
tuais acompanhados de questões de compreensão, interpretação, análise e
levantamento de hipóteses. Os níveis de dificuldade dos questionamentos
au­m entam gradativamente: para os estudantes do 6 o ano, há maior ocorrência
de questões de interpretação; já para os estudantes do 9 o ano, maior ocor­
rência de questões de levantamento de hipóteses.

Passado e presente
■■ Propicia momentos de ligações temáticas entre os acontecimen­t os do passa­
do e o tempo presente. A realização dessas ativida­d es estimula, nos alunos,
a percepção das permanências e das transformações no processo histórico.

No Brasil
■■ Com o objetivo principal de relacionar os conteúdos trabalhados com a his­t ória
e a realidade brasileiras, essa subseção proporciona aos alunos uma me­lhor
percepção de que aquilo que aconteceu ou acontece no mundo está di­reta ou
indiretamente relacionado com o Brasil, e vice-versa.

Trabalho em grupo
■■ Com o objetivo de promover a interação entre os alunos, essa subseção ge­
ralmente propõe temas a ser pesquisados em grupo. Cabe ao professor auxi­
liar os alunos nas diferentes etapas que compõem um trabalho de pesquisa,
desde a seleção do material de consulta até a elaboração de um texto, indi­
vidual ou coletivo, com os resultados da pesquisa. Em muitos casos, com o
intuito de proporcionar momentos de criatividade, a última etapa do trabalho

7
em grupo é a confecção de painel com cartazes e a socialização desses car-
tazes entre os alunos. Verificar se os alunos têm uma postura colaborativa ao
trabalhar em equipe é um dos pontos essenciais da avaliação do professor.

Discutindo a história
■■ Aparece geralmente ao final das Atividades. O principal objeti­v o dessa sub-
seção é apresentar temas polêmicos e geradores de debates. Em muitos
casos, são apresentadas mais de uma opinião acerca de um mesmo tema, de
forma a possibilitar aos alunos uma maior percepção de que a His­t ória não é
feita de verdades absolutas e que um assunto, mesmo que apa­rentemente já
esteja esgotado, sempre pode ser reinterpretado. Além disso, os alunos são
convidados a expressar suas próprias opiniões.

Refletindo sobre o capítulo


■■ Seção fixa localizada ao final de todos os capítulos da coleção. Trata-se de
uma síntese das principais ideias de cada capítulo, as quais, se forem com­
preendidas pelos alunos, indicam um aprendizado sobre os principais temas
abordados. Apresentada na forma de uma autoavaliação, seu principal obje­
tivo é estimular nos alunos a autonomia em relação à aprendizagem. Cabe
ao professor, no entanto, criar um espaço de diálogo entre seus alunos, a
fim de ter maiores condições de constatar lacunas no processo de ensino-
-aprendi­z agem.

Ampliando seus conhecimentos


■■ Seção fixa que aparece ao final de todos os volumes da coleção. Trata-se
de sugestões de leitura sobre temas relacionados aos assuntos abordados
nos capítulos. Muitos dos livros indicados foram aprovados em programas
gover­n amentais e foram distribuídos para escolas públicas de todo o Brasil.
Ao pro­fessor cabe verificar se na biblioteca da escola constam alguns desses
livros e orientar os alunos a emprestá-los, além de estimulá-los a consultar
frequente­m ente o acervo da biblioteca. É importante que o professor orien-
te os alunos sobre os cuidados com os livros, explicando-lhes que muitos
outros alunos po­d erão utilizá-los no futuro.

8
Os conteúdos da coleção

Orientações para o professor


6o ano 7o ano 8o ano 9o ano
Capítulo

1 Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é...
Capítulo

A Segunda
2 A origem
do ser humano
A formação da
Europa medieval
O Antigo Regime Revolução Industrial

Orientações gerais
e o imperialismo
Capítulo

3 Os povos da
Mesopotâmia
A época medieval
na Europa
O Iluminismo
Os primeiros tempos
da República no Brasil
Capítulo

A Primeira Guerra
4 A África Antiga:
os egípcios
A expansão do Islã A Revolução Americana Mundial e a Revolução
Socialista na Rússia
Capítulo

O mundo

5 A África Antiga:
os cuxitas
A América antes da A Revolução Francesa e
chegada dos europeus o Império Napoleônico
depois da
Primeira Guerra
Mundial
Capítulo

6 Os fenícios
Reinos e impérios
africanos
A Revolução Industrial
O fim da República
Velha e a Era Vargas
Capítulo

7 Os hebreus
A Europa moderna:
o Renascimento
As independências na
América espanhola
A Segunda Guerra
Mundial
Capítulo

8 Os persas
A Europa moderna: as
Grandes Navegações
A independência
do Brasil
O mundo durante a
Guerra Fria
Capítulo

A Europa moderna: A consolidação da


9 Os antigos chineses reformas religiosas e
Absolutismo
independência
brasileira
As independências na
África
Capítulo

O pós-guerra no Brasil:
10 Os antigos gregos
A colonização na
América espanhola
O apogeu do Império do
Brasil
democracia e
populismo
Capítulo

O fim da Monarquia e a
11 Os antigos romanos
A colonização na
América portuguesa
proclamação da
República
A ditadura militar no
Brasil
Capítulo

A expansão das
12 A cultura clássica fronteiras da Colônia
portuguesa
A África no século XIX
O mundo
contemporâneo

9
10
Mapa de conteúdos e recursos
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■ ■ ■ ■ ■
Importância da História História Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■ ■ ■ ■
Tempo Tempo da natureza Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente

Capítulo
■ ■ ■ ■
Linha do tempo Tempo cronológico Interpretar uma linha do tempo professor Castelo medieval
■ ■ ■ ■ ■
Conceitos importantes para Tempo histórico Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar o trabalho do Jornal antigo
■ ■ ■
1 os estudos históricos Ritmos de tempo Exercitar a escrita historiador Fotografia antiga
■ ■ ■ ■ ■
Estudar Fontes históricas Sociedade Comparar imagens Valorizar os indígenas como Linha do tempo
■ ■ ■
Cultura Construir o conhecimento coletivamente sujeitos históricos Planta antiga da cidade
História é... ■ ■ ■
Respeitar e valorizar a cultura de Salvador
Trabalho Fazer uma autoavaliação
■ ■
Política indígena e outras culturas Tirinha
■ ■
■ Sensibilizar-se com a luta dos Diferentes gêneros
Economia
■ trabalhadores brasileiros por textuais
Fonte histórica

melhores condições de vida Litogravura
■ ■
Conscientizar-se da Fac-símile da
necessidade de preservação da Declaração de
natureza Independência dos

Agir de maneira colaborativa Estados Unidos da
com os colegas América

■ ■ ■ ■ ■
Conceito de Idade Média Medievalidade Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Ilustração
■ ■ ■ ■
Períodos da Idade Média Obscurantismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Alto-relevo

Capítulo
■ ■ ■ ■
A formação da Europa Mundo ocidental Interpretar uma linha do tempo professor Edifício construído pelos
■ ■ ■
medieval Estado Interpretar fontes escritas e iconográficas Respeitar os costumes étnicos bizantinos
■ ■ ■ ■
2 Visões historiográficas Escravidão Analisar mapas dos povos germânicos Fotografia recente
■ ■ ■ ■
A formação sobre a Idade Média Ruralização da Exercitar a escrita Respeitar e valorizar as Linha do tempo
■ ■ ■
da Europa Divisão do Império Romano economia Trabalhar em equipe manifestações artísticas dos Mosaico
■ ■ ■ ■
As invasões bárbaras Migração Construir o conhecimento coletivamente povos germânicos Mapa
medieval ■ ■ ■ ■ ■
Organização social dos Patriarcalismo Fazer uma autoavaliação Valorizar diferentes crenças Gravura antiga
■ ■
povos germânicos Animismo religiosas Seda bizantina
■ ■ ■ ■
Práticas religiosas Politeísmo Respeitar e valorizar as Iluminura
■ ■ ■
Reinos germânicos Cristianismo manifestações artísticas dos Infográfico
■ ■ ■
O Império Romano do Direito bizantinos Capacete germânico
■ ■ ■
Oriente Dogmatismo Agir de maneira colaborativa Diferentes gêneros
■ ■
Manifestações artísticas “Bárbaros” com os colegas textuais
■ ■
bizantinas Intercâmbio cultural Reconhecer a importância da

Cisma da Igreja preservação dos patrimônios

Elaboração do Corpo do históricos
Direito Civil

O legado bizantino

A cidade de Constantinopla

Relações comerciais
■ ■ ■ ■ ■
Formação do Império Império Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■ ■ ■
Carolíngio Estado Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Castelo medieval

Capítulo
■ ■ ■ ■
Organização política Cristianismo Analisar mapas professor Iluminura
■ ■ ■ ■ ■
Desenvolvimento do Feudalismo Interpretar fontes escritas e iconográficas Respeitar e valorizar as Mapa
■ ■ ■
3 feudalismo Imobilidade social Analisar gráfico manifestações artísticas da Gravura
■ ■ ■ ■
A época Sociedade feudal Catolicismo Exercitar a escrita medievalidade Infográfico
■ ■ ■ ■ ■
medieval na Economia feudal Militarização Analisar tabela Valorizar diferentes crenças Gráfico
■ ■ ■ ■
Os castelos medievais Cooperativismo Associar texto com imagem religiosas Ilustração
Europa ■ ■ ■ ■ ■
O poder da Igreja Católica Usura Comparar imagens Valorizar o modo de vida das Tabela
■ ■ ■ ■
Transformações na Europa Burgueses Perceber permanências medievais no modo de vida pessoas que moram na área Diferentes gêneros

feudal Racionalidade das sociedades atuais rural textuais
■ ■ ■ ■
Espiritualidade medieval Intercâmbio cultural Relacionar fatos históricos simultâneos Sensibilizar-se com as difíceis
■ ■
Cruzadas Fazer uma autoavaliação condições de vida da população

Desenvolvimento de europeia na época da Peste
cidades Negra
■ ■
Desenvolvimento comercial Respeitar os costumes dos

Peste Negra povos medievais

Primeiras universidades
■ ■ ■ ■ ■
Civilizações da península Politeísmo Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■ ■ ■
Arábica Nomadismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Edifício construído pelos
■ ■ ■

Capítulo
O início da pregação de Monoteísmo Interpretar uma linha do tempo professor muçulmanos
■ ■ ■ ■
Maomé Jihad Interpretar fontes escritas e iconográficas Respeitar e valorizar diferentes Ilustração
■ ■ ■ ■
4 Formação do mundo Etnia Analisar mapas crenças religiosas Linha do tempo
■ ■ ■ ■
islâmico Islamismo Exercitar a escrita Valorizar o modo de vida das Mapa
A expansão ■
Expansão dos domínios ■
Difusão cultural ■
Comparar números índicos, arábicos espanhóis e pessoas que moram no deserto ■
Astrolábio
do Islã ■ ■ ■
islâmicos Intercâmbio cultural italianos Respeitar a cultura islâmica Tabela
■ ■ ■
Conquista islâmica da Diferenciar o termo árabe do termo muçulmano Gravura
■ ■
península Ibérica Analisar texto da literatura árabe Diferentes gêneros
■ ■
Práticas religiosas Elaborar desenho com base em texto textuais
■ ■ ■
Aspectos culturais Fazer uma autoavaliação Pintura

islâmicos Mesquita islâmica

O legado técnico e cultural
islâmico
■ ■ ■ ■ ■
Diversidade étnica no Indígena Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■ ■ ■
continente americano Etnia Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Códice
■ ■ ■ ■

Capítulo
Civilizações americanas Civilização Interpretar uma linha do tempo professor Mapa
■ ■ ■ ■ ■
5 Organização política maia Mesoamérica Analisar mapas Valorizar diferentes crenças Gravura antiga
■ ■ ■ ■
A América Aspectos culturais maias Pré-colombiano Interpretar fontes escritas e iconográficas religiosas Gravura recente
■ ■ ■ ■ ■
antes da Organizações política e Cidade-estado Exercitar a escrita Valorizar o modo de vida das Linha do tempo
■ ■ ■
chegada militar asteca Trabalho Associar texto com imagem pessoas que viviam na América Pintura
■ ■ ■ ■
dos Aspectos culturais astecas Politeísmo Relacionar fatos históricos simultâneos antes da chegada dos europeus Ilustração
■ ■ ■ ■
Relações comerciais Sacrifício ritual Analisar códices pré-colombianos no continente Infográfico
europeus astecas ■
Militarização ■
Trabalhar em equipe ■
Respeitar e valorizar as ■
Bandeira
■ ■ ■ ■
Organização política inca Império Realizar uma pesquisa manifestações culturais pré- Diferentes gêneros
■ ■ ■
Sociedade inca Sociedade Construir o conhecimento coletivamente -colombianas textuais
■ ■ ■ ■
Aspectos culturais incas Patrimônio histórico Reconhecer-se como sujeito histórico Ruínas

11
Orientações gerais Orientações para o professor
12
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■ ■ ■ ■ ■
Aspectos culturais dos Sistema de numeração Fazer uma autoavaliação Sensibilizar-se com a luta dos Mural maia
■ indígenas da América para ■
primeiros habitantes do Hieróglifos Pirâmide maia
■ manter viva sua cultura ■
Brasil Diversidade cultural Sistema numérico
■ ■
Povos indígenas no Brasil Respeitar os costumes étnicos
atual dos povos pré-colombianos

Reconhecer a importância da
preservação dos patrimônios
históricos
■ ■ ■ ■ ■
Diversidade étnica no Diversidade étnica Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
continente africano ■ ■ ■
Cultura tradicional Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Escultura
■ ■ ■ ■

Capítulo
Formação de reinos e Civilização Interpretar uma linha do tempo professor Mapa
impérios africanos ■ ■ ■ ■
Império Analisar mapas Valorizar diferentes crenças Linha do tempo

Organizações políticas e ■ ■ ■
Reino Interpretar fontes escritas e iconográficas religiosas Alcorão
sociais africanas
6
Reinos e ■
Práticas religiosas

Islamismo ■
Exercitar a escrita ■
Reconhecer a importância da ■
Mesquita islâmica
■ ■ ■

Escravidão Relacionar fatos históricos simultâneos preservação dos patrimônios Diferentes gêneros
impérios Sociedade de Gana ■ ■

Difusão do islamismo no Tradição oral Trabalhar em equipe históricos textuais
africanos ■ ■ ■ ■
continente africano Sociedade Realizar uma pesquisa Agir de maneira colaborativa Gravura antiga
■ ■ ■
■ Cristianismo Construir o conhecimento coletivamente com os colegas Ilustração
Escravidão islâmica
■ ■ ■ ■
■ Patrimônio histórico Fazer uma autoavaliação Respeitar e valorizar as Placa de bronze
Sociedade de Mali
■ ■ ■
Aspectos culturais songais Intercâmbio cultural manifestações culturais Objetos feitos com metal
■ africanas
Organização política dos

reinos iorubás Respeitar os costumes étnicos

Aspectos culturais iorubás dos povos africanos
■ ■
Sociedade iorubá Reconhecer a importância do

Organização política do trabalho do arqueólogo
Reino do Congo ■
Valorizar a história narrada por

Difusão do cristianismo no meio da tradição oral
Reino do Congo

A metalurgia nas
sociedades africanas
■ ■ ■ ■ ■
Conceito de Renascimento Renascimento Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■ ■ ■ ■
Períodos do Renascimento Humanismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gravura antiga

Capítulo
italiano ■ ■ ■
Racionalidade Interpretar uma linha do tempo professor Linha do tempo

O mecenato ■ ■ ■ ■
Antropocentrismo Interpretar fontes escritas e iconográficas Reconhecer a importância da Afresco

Desenvolvimento do ■ ■ ■
7 Cultura clássica Exercitar a escrita preservação dos patrimônios Desenho de Leonardo da
humanismo ■
Heliocentrismo ■
Comparar imagens históricos Vinci
A Europa ■
Aspectos do Renascimento ■
Ciência ■
Analisar quadro Mona Lisa ■
Valorizar as expressões ■
Tela de Leonardo da Vinci
moderna: o científico ■ ■ ■

Aspectos artísticos do Mecenato Analisar trecho de Os Lusíadas artísticas europeias Tela de Von Martius
Renasci­mento ■ ■ ■
Renascimento Geocentrismo Perceber construção do conhecimento histórico Ilustração antiga
■ ■
■ Fazer uma autoavaliação Escultura
Leonardo da Vinci

■ Iluminura
Cotidiano das cidades

italianas renascentistas Capa do livro Os
■ Lusíadas
Aspectos do Renascimento

em outras regiões da Europa Ilustração

Diferentes gêneros textuais
■ ■ ■ ■ ■
Conceito de Grandes Grandes Navegações Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Diferentes gêneros
■ ■
Navegações Estado moderno Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do textuais

Capítulo
■ ■ ■ ■
Formação dos Estados Centralização do poder Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Ilustração antiga
■ ■ ■ ■
modernos Tratado diplomático Exercitar a escrita Agir de maneira colaborativa Mapa
■ ■ ■ ■
8 As rotas das navegações Descobrimento Analisar mapas com os colegas Gravura
■ ■ ■ ■
A Europa As cobiçadas especiarias Reconhecer-se como sujeito histórico Sensibilizar-se com dificuldades Pintura
■ ■ ■
moderna: as A tomada de Construir o conhecimento coletivamente enfrentadas pela tripulação de Bússola
■ ■
Constantinopla Fazer uma autoavaliação uma caravela na época das Fotografia recente
Grandes ■ ■
O caminho marítimo para Grandes Navegações Iluminura
Navegações as Índias ■
Respeitar a mentalidade ■
Fotografia aérea
■ ■
O Tratado de Tordesilhas europeia na época das Grandes Infográfico
■ ■
Chegada dos europeus à Navegações Mapa-múndi antigo

América Painel

Discussão historiográfica
sobre o “descobrimento”
do Brasil

O cotidiano em alto-mar

■ ■ ■ ■ ■
Contexto histórico europeu Humanismo Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Diferentes gêneros
■ ■ ■
Desenvolvimento do Heresia Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do textuais

Capítulo
■ ■ ■
movimento reformista Reforma Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Gravura
■ ■ ■ ■ ■
Aspectos da Indulgência Comparar imagens Valorizar diferentes crenças Pintura
■ ■ ■
9 Contrarreforma Inquisição Exercitar a escrita religiosas Fotografia recente
■ ■ ■ ■ ■
A Europa A Inquisição Estado Relacionar fatos históricos simultâneos Valorizar as expressões Linha do tempo
■ ■ ■ ■
moderna: O mercantilismo Absolutismo Interpretar uma linha do tempo artísticas europeias Texto com trechos das
■ ■ ■ ■
A prensa de Gutenberg Mercantilismo Analisar teses de Martinho Lutero Respeitar o modo de vida dos teses apresentadas por
reformas ■ ■ ■
Formação dos Estados Soberania Nacional Inter-relacionar fatos religiosos e políticos europeus que viveram durante Lutero
religiosas e absolutistas ■
Burguesia ■
Analisar mapas os séculos XVI e XVII ■
Mapa
Absolutismo ■ ■ ■ ■ ■
Absolutismo francês Contrarreforma Fazer uma autoavaliação Apresentar posicionamento Infográfico

Bruxaria crítico
■ ■ ■ ■ ■
Encontro entre europeus e Choque cultural Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■ ■ ■
indígenas da América Indígena Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gráfico

Capítulo
■ ■ ■ ■
Conquista da América Sociedade Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Códice
■ ■ ■ ■
pelos europeus Colonização Analisar códices Valorizar diferentes crenças Linha do tempo
■ ■ ■ ■
10 Genocídio americano Genocídio Exercitar a escrita religiosas Diferentes gêneros
■ ■ ■ ■
A Conquista do Império Império Relacionar fatos históricos simultâneos Valorizar os indígenas como textuais
■ ■ ■
colonização Asteca Politeísmo Interpretar uma linha do tempo sujeitos históricos Escultura
■ ■ ■ ■ ■
Motivos que explicam a Estado Analisar mapas Respeitar e valorizar a cultura Ilustração
na América ■ ■ ■
vitória dos europeus nas Trabalho Analisar gráficos indígena e outras culturas Mapa
espanhola guerras de conquista ■
Demarcação de terras ■
Fazer uma autoavaliação ■
Sensibilizar-se com as ■
Infográfico
■ ■ ■
Conquista do Império Inca Patrimônio histórico dificuldades enfrentadas pela Pintura mural
■ ■ ■
Aspectos da administração Intercâmbio cultural população indígena da América Tela de Benedito Calixto
■ ■
espanhola nas colônias Respeitar os costumes étnicos Ruínas

Organização econômica dos povos americanos
■ ■
Sociedade colonial Reconhecer a importância da

A mineração em Potosí preservação dos patrimônios
históricos

13
Orientações gerais Orientações para o professor
14
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■ ■
Aspectos da colonização Sensibilizar-se com a luta dos
inglesa na América indígenas da América para

Aspectos da colonização manter viva sua cultura
francesa na América

Indígenas na América
Latina atual
■ ■ ■ ■ ■
Encontro entre portugueses Choque cultural Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as opiniões Mapa histórico
■ ■ ■
e indígenas Indígena Observar, ler e descrever dos colegas e do professor Pintura

Capítulo
■ ■ ■ ■ ■
Aspectos culturais Colonização Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar diferentes crenças Fotografia recente
■ ■ ■
indígenas Estado Interpretar texto de Pero Vaz de Caminha religiosas Carta de Pero Vaz de
■ ■ ■ ■
11 Primeiras formas de Trabalho Exercitar a escrita Valorizar os indígenas como Caminha
■ ■ ■
A exploração Escravidão Interpretar uma linha do tempo sujeitos históricos Linha do tempo
■ ■ ■ ■ ■
colonização Aspectos da colonização Catequização Analisar texto sobre escambo de Jean de Léry Respeitar e valorizar a cultura Diferentes gêneros
■ ■
portuguesa da América Resistência Associar imagem e texto indígena e outras culturas textuais
na América ■ ■ ■ ■ ■
A mão de obra africana Patrimônio histórico Analisar mapas Sensibilizar-se com as Ilustração
portuguesa ■
Relações comerciais ■
Intercâmbio cultural ■
Analisar diferentes perspectivas historiográficas dificuldades enfrentadas pela ■
Trecho de texto de Jean
■ ■
Funcionamento de um Construir o conhecimento coletivamente população indígena da América de Léry
■ ■ ■
engenho de açúcar Fazer uma autoavaliação Reconhecer a importância da Gravura
■ ■
Etapas da produção do preservação dos patrimônios Mapa

açúcar históricos Infográfico
■ ■ ■
Presença holandesa na Sensibilizar-se com as Trecho de texto de
Colônia portuguesa dificuldades enfrentadas pelos Baquaqua

Formas de resistência africanos para resistirem à
africana à dominação dominação portuguesa

portuguesa Respeitar e valorizar a cultura
africana

Valorizar os africanos como
sujeitos históricos

Sensibilizar-se com as lutas dos
afro-brasileiros por melhores
condições de vida
■ ■ ■ ■ ■
Contexto político e Fronteira Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■ ■ ■
econômico português no Bandeira Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente

Capítulo
■ ■ ■
final do século XVII Economia Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Linha do tempo
■ ■ ■ ■ ■
Administração portuguesa Trabalho Exercitar a escrita Sensibilizar-se com a luta dos Gravura
■ ■ ■
12 na América Escravidão Interpretar uma linha do tempo conjurados baianos e mineiros Documento oficial
■ ■ ■ ■ ■
A expansão Conflito entre holandeses, Política Analisar documento oficial das Casas de Fundição Agir de maneira colaborativa Barra de ouro “quintada”
■ ■
das portugueses e brasileiros Cultura de Minas Gerais com os colegas Infográfico
■ ■ ■ ■ ■
Bandeirantismo Iluminismo Analisar barra de ouro “quintada” Reconhecer a importância da Mapa
fronteiras ■ ■ ■ ■
Aspectos da mineração no República Interpretar página de condenação dos conjurados preservação dos patrimônios Esculturas de Aleijadinho
da Colônia Brasil ■
Absolutismo mineiros históricos ■
Bandeira
portuguesa ■ ■ ■ ■
Relações comerciais Conjuração Analisar mapas Diferentes gêneros
■ ■
internas Tributação Analisar gráficos textuais
■ ■ ■ ■ ■
Consequências da Resistência Associar texto e imagem Valorizar o modo de vida das Ilustração
■ ■ ■
mineração Patrimônio histórico Analisar diferentes perspectivas historiográficas pessoas que viviam no Brasil Gráfico
■ ■ ■ ■
Aspectos artísticos União Ibérica Trabalhar em equipe nos séculos XVII e XVIII Litogravura
■ ■ ■ ■
brasileiros Bandeirantismo Realizar uma pesquisa Respeitar e valorizar a cultura Tela de Johann
■ ■ ■
Novas ideias e revoluções Arte barroca Construir o conhecimento coletivamente indígena Steinmann
■ ■
pelo mundo Fazer uma autoavaliação Valorizar os indígenas como

Conjuração Mineira sujeitos históricos
■ ■
Conjuração Baiana Valorizar a participação dos
africanos na construção da
história do Brasil

Sensibilizar-se com as
dificuldades enfrentadas pelos
africanos no Brasil

Valorizar os africanos como
sujeitos históricos

Respeitar e valorizar as
manifestações artísticas
brasileiras

15
Orientações gerais Orientações para o professor
Orientações didáticas e metodológicas

O ensino de História no Brasil


Nas últimas três décadas, o ensino de História no Brasil vem passando por
pro­fundas transformações. Essas transformações ganharam impulso junto com
o processo de redemocratização do país, iniciado com a abertura política do
regi­m e militar (1964-1985) ocorrida no final da década de 1970. Durante o pro-
cesso de redemocratização, ganharam força movimentos de profissionais da
educação na área do ensino de História que buscavam reformular os currículos
e transformar o ensino ministrado nas escolas brasileiras.
De fato, durante o regime militar, houve um esvaziamento nos conteúdos de
His­tória, que foram fundidos aos conteúdos de Geografia, dando origem aos
Estu­d os Sociais, que privilegiavam uma abordagem expositiva e despolitizada
da rea­lidade, buscando acomodar o aluno ao seu meio social e evitando uma
análise crítica da sociedade. A partir de 1971, com a introdução nos currículos
escolares das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e
Política Bra­s ileira, foram privilegiadas abordagens de caráter ufanista. Nesse
contexto, a his­t ória era apresentada como uma sucessão de fatos lineares, em
que apenas alguns indivíduos eram destacados como responsáveis pelo desen-
rolar da história. Nessa visão, procurava-se valorizar algumas datas do calen-
dário cívico nacional, que realçavam a importância desses “heróis”, e as pesso-
as “comuns” eram apre­s entadas como meros espectadores da história.

[...] Se a ordem e a moral transmitidas nas disciplinas e na prática educativa


visavam eliminar as divergências e tornar homogêneo o poder dos grupos do­
minantes no país representados pelos militares, a dedicação especial ao ensino de
moral e cívica cumpria a tarefa de reduzir os conceitos de moral, liberdade e de­
mocracia aos de civismo, subserviência e patriotismo. Além disso, houve uma re­
dução da formação moral à mera doutrinação ideológica – repressão do pensamen­
to e do livre debate de ideias e culto de heróis e datas nacionais. [...]
Assim, no período ditatorial, [...] o ensino de história [afirmou] sua impor­tância
como estratégia política do Estado, como instrumento de dominação, porque [é]
capaz de manipular dados que são variáveis importantes na correlação de forças e
capaz de uma intervenção direta no social, por meio do trabalho com a memória
coletiva. Nesse sentido, esteve submetido à lógica política do governo. [...]
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. Campinas:
Papirus, 2003. p. 22-4. (Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

Diante dessa situação, durante o processo de redemocratização, entre as


prin­c ipais reivindicações dos profissionais do ensino estavam a volta da História
co­m o disciplina autônoma, bem como a reformulação dos currículos, de modo
que essa disciplina pudesse formar nos alunos uma visão mais crítica da reali-
dade. Além disso, esses profissionais reivindicavam uma maior integração entre
o en­s ino de História na educação básica e o conhecimento histórico produzido
nas universidades.

16
No período de elaboração da nova Constituição brasileira, em defesa de in-

Orientações para o professor


teresses de­m ocráticos e ao lado da intensa mobilização dos setores organizados
da população, estavam os profissionais da educação, batalhando por transforma­
ções no sistema educacional brasileiro, visando melhorar suas condições de
trabalho e garantir verbas para aprimorar a qualidade do ensino no Brasil.
A Constituição de 1988, conhecida como Carta Cidadã, de fato garantiu avan­
ços democráticos, como o restabelecimento das eleições diretas em todos os
ní­v eis, a garantia das liberdades civis e o fim da censura.
No campo da educação, a entrada em vigor da nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB), em 1996, e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),

Orientações gerais
em 1997, foi resultado das lutas e dos debates travados por profissionais de
di­versas áreas ligados à educação. A partir de então, novas concepções educacio­
nais foram instituídas, como o trabalho com temas transversais e com a interdis­
ciplinaridade, e novos objetivos foram estabelecidos para a educação em geral
e para o ensino de História em particular.

A interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade se constitui com base na interação entre diferentes
disci­p linas e áreas do conhecimento, como História, Filosofia, Psicologia, Artes,
Lin­g uística, Crítica Literária, Economia, Sociologia, Geografia etc. A contribuição
que uma disciplina pode dar à outra amplia consideravelmente o campo de
análise e interpretação dos conteúdos escolares. Por isso, é importante, sempre
que pos­s ível, que professores de diferentes disciplinas troquem experiências e
busquem fortalecer os laços entre as áreas do saber.

Os objetivos do ensino de História


Alguns dos objetivos para o ensino de História foram incorporados ao Sistema
Nacional de Avaliação de Educação Básica (SAEB), em 1999. Esse sistema for­
nece elementos que servem de base para a elaboração de políticas que visam
melhorar a qualidade da educação no Brasil. De acordo com o SAEB, o ensino
de História deve alcançar os seguintes objetivos:

[...] Facilitar a construção, por parte do educando, da capacidade de pensar his­


toricamente, sendo que esta operação engloba uma percepção crítica e trans­
formadora sobre os eventos e estudos históricos.
Favorecer a aquisição de conhecimentos sobre diferentes momentos históri­cos,
a fim de desenvolver a habilidade de coordenação do tempo histórico.
Contribuir para a compreensão dos processos da História, através da análise
comparada das semelhanças e diferenças entre momentos históricos, de forma a
perceber a dinâmica de mudanças e permanências.
Propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que
este seja capaz de formar uma opinião possível sobre os eventos históricos estudados.
Possibilitar a integração dos conteúdos cognitivos com os aspectos afetivos e
psicomotores do educando, valorizando as características relacionais nas ati­vidades
de ensino-aprendizagem. [...]
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Matrizes curriculares de referência para o SAEB. Maria Inês Gomes
de Sá Pestana et al. 2. ed. Brasília: INEP, 1999. p. 63.

17
Além disso, as novas propostas curriculares estabelecem um objetivo primor­
dial para o ensino de História.

[...] Para a maioria das propostas curriculares, o ensino de História visa con­
tribuir para a formação de um “cidadão crítico”, para que o aluno adquira uma
postura crítica em relação à sociedade em que vive. As introduções dos textos
oficiais reiteram, com insistência, que o ensino de História, ao estudar as socie­dades
passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno compreender o tempo presente
e perceber-se como agente social capaz de transformar a realidade, contribuindo
para a construção de uma sociedade democrática. [...]
BITTENCOURT, Circe. Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História. In: BITTENCOURT, Circe
(Org.). O saber histórico na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002. p. 19. (Repensando o Ensino).

A proposta de ensino
Para atingir esse objetivo, procuramos fazer uma seleção de conteúdos histó­
ricos relevantes, compostos de textos acessíveis para os alunos e com a presen­
ça de um grande número de fontes históricas, principalmente imagéticas. Para
que esses conteúdos sejam significativos para os alunos, no entanto, é necessá­
rio que o professor assuma o papel de mediador. Nesse sentido, consideramos
um importante referencial a proposta sociointeracionista, desenvolvida com
ba­s e nos estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934).
De acordo com essa proposta, o conhecimento é construído socialmente e, por
isso, o desenvolvimento intelectual ocorre na interação do indivíduo com o meio
social. Na condição de sujeito no aprendizado, o indivíduo não tem acesso direto
ao conhecimento, mas sim um acesso mediado, seja explicitamente ou não, pe-
las pessoas com as quais ele convive e pelos sistemas simbólicos de que dis­põe,
principalmente a linguagem. Por isso, o desenvolvimento intelectual consis­te na
interação do indivíduo com o meio social, mediada por várias relações.

[...] O conhecimento é construído a partir da internalização dos conceitos apren­


didos culturalmente por intermédio da interação com o outro. Por isso, a escola
deve criar situações de aprendizagem em que as crianças troquem experiências e,
em seguida, com a coordenação do professor, sistematizem as trocas realizadas.
A mediação do professor permitirá que os alunos saiam do plano do conheci­
mento informal que já trazem consigo para a escola e cheguem ao conhecimento
formal, resultado das negociações e sistematizações feitas em classe.
Esse processo é chamado interação social. No sociointeracionismo, a interação
social é sinônimo de diálogo. É ela que garante a constituição do sujeito em socie­
dade por meio da internalização dos dados culturais recebidos. Isso faz com que o
sujeito chegue a novas formas de comportamento e compreensão da realidade. [...]
Como consequência, o desenvolvimento intelectual não se produz apenas por
uma soma de experiências. Ele se dá na vivência das diferenças e dos valo­res con­
traditórios encontrados na convivência social. A criança aprende opon­do-se a al­
guém, identificando-se, imitando, estabelecendo analogias, internali­zando concei­
tos e significados, tudo isso num ambiente social e historicamente localizado. [...]
NEMI, Ana Lúcia Lana; MARTINS, João Carlos. Didática de história: o tempo vivido: uma outra história? São Paulo: FTD,
1996. p. 39-40. (Conteúdo e metodologia).

18
O papel de mediador do professor é fundamental para o desenvolvimento

Orientações para o professor


inte­lectual dos alunos, porém é necessário levar em conta um conceito muito
importante para o sociointeracionismo: a zona de desenvolvimento proximal.

[...] O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe
nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desen­
volvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus prin­cipais
conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o
desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender
— potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência
com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal

Orientações gerais
é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de
conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o per­
curso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um profes­
sor precisa ter, segundo Vygotsky. [...]
NOGUEIRA, Nilcéia (Dir.). Nova Escola: Grandes Pensadores. São Paulo: Abril, n. 178, dez. 2004. Edição especial. p. 60.

Como parte do pressuposto de que o conhecimento é construído socialmen-


te e que o desenvolvimento intelectual do indivíduo passa pela sua interação
com o meio social, acreditamos que a abordagem sociointeracionista no ensino
de His­tória favorece uma vinculação maior do indivíduo ao meio social e uma
capacida­d e maior de compreender a historicidade dos valores e dos conflitos
sociais for­m ados historicamente.

Concepção de história
Outro aspecto importante a ser discutido é a concepção de história que ser-
viu de referencial para a elaboração desta coleção. Diante dos objetivos a serem
atin­g idos, consideramos mais apropriados os referenciais teóricos presentes na
corrente historiográfica denominada história nova. Essa corrente originou-se no
final da década de 1920, a partir da chamada Escola dos Annales, fundada
pelos his­toriadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch. Esse movimento
historiográfi­c o se desenvolveu como uma crítica à chamada história tradicional,
praticada pe­los historiadores metódicos, considerados positivistas.
Febvre e Bloch acreditavam que os campos de análise historiográfica, assim
co­m o o leque de fontes e sujeitos históricos deveriam ser ampliados. A consti-
tuição de uma “história total”, como defendiam, passava por uma necessária
renovação metodológica, pela ampliação do campo documental e pela aliança
com outras dis­c iplinas. O resultado dessa renovação seria, nas palavras de
Jacques Le Goff, a instituição de uma “história nova”.

[...] A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a


história [...] fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma
história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos,
documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais
etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou, para um
passado mais distante, um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a
história nova, documentos de primeira ordem. [...]
LE GOFF, Jacques (Dir.). A História nova. Trad. Eduardo Brandão. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 36-7.

19
Ao longo da segunda metade do século XX, a história nova afirmou-se como
uma corrente historiográfica aberta às influências e contribuições de diversas
discipli­n as, como a Geografia, a Demografia, a Sociologia, a Psicologia, a An-
tropologia. Além disso, seus historiadores não acreditam na possibilidade de se
chegar a uma “verdade” histórica e defendem uma abordagem que reconheça
o papel do tempo presente na formulação das questões que fazem ao passado.
De acordo com a his­tória nova, os documentos não falam por si, o historiador
é quem os faz falar, é ele quem constrói a narrativa histórica com base em uma
vasta gama de fontes.
Assim, adotamos alguns pressupostos teóricos da história nova por considerá­
-los pertinentes à nossa ideia de conhecimento histórico em permanente cons­
trução, aberto à multiplicidade de fontes e análises e favorável ao diálogo inter­
disciplinar. As abordagens sugeridas pela história nova são essenciais para a
in­c lusão de temas antes pouco valorizados, como a história do cotidiano, das
clas­s es oprimidas e da cultura de um povo. Além disso, abrem espaço para que
se destaquem sujeitos históricos que geralmente estão ausentes no discurso
tradi­c ional, e também para ressaltar as lutas e contestações à ordem vigente,
movi­d as tanto por indivíduos quanto por grupos sociais.
Buscando atingir os objetivos estabelecidos pelas novas propostas curricula-
res que norteiam o ensino de História, principalmente os PCN, procuramos fazer
uma seleção de conteúdos e uma abordagem que propiciem que os alunos
iden­tifiquem as suas vivências pessoais com a de outros sujeitos históricos do
pas­s ado, estimulando não apenas o seu aprendizado, mas também promoven-
do a conscientização e a instrumentalização necessárias para o sentido funda-
mental de sua participação ativa no processo histórico.

As fontes históricas
No século XVIII, estudiosos franceses inseridos na tradição iluminista desenvol­
veram um método erudito de crítica das fontes. Esse método consistia na crítica
interna e externa dos documentos, de modo a comprovar, sob rígidos parâme-
tros cientificistas, a sua autenticidade, como a comparação entre os docu­m entos
por meio de seu estudo filológico. No século XIX, institucionalizada na Alemanha,
a história se tornou uma disciplina acadêmica, e os historiadores recorre­r am ao
método erudito dos franceses para o desenvolvimento de sua crítica his­tórica,
privilegiando os documentos escritos e de cunho oficial, principalmente os
documentos diplomáticos, o que gerou uma produção historiográfica centra­d a
na história política. Na passagem do século XIX para o século XX, alguns so­
ciólogos já criticavam a pretensa objetividade do método histórico.
No final dos anos 1920, a contestação a essa rigidez documental partiu dos
his­t oriadores franceses ligados à Escola dos Annales , responsáveis pela amplia-
ção do campo documental à disposição dos historiadores. A ampliação das
fontes, o desenvolvimento de novos temas e novas abordagens têm, lentamen-
te, chegado às escolas brasileiras.

Os currículos escolares e o próprio trabalho em sala de aula têm procurado


acompanhar o desenvolvimento dos estudos históricos nas universidades. A velha
História de fatos e nomes já foi substituída pela História Social e Cultural; os estu­

20
dos das mentalidades e representações estão sendo incorporados; pessoas comuns

Orientações para o professor


já são reconhecidas como sujeitos históricos; o cotidiano está presente nas aulas e
o etnocentrismo vem sendo abandonado em favor de uma visão mais pluralista.
Reflexões sobre a “criação” do fato histórico ensinado nas aulas de História, as
metodologias e as linguagens usadas na divulgação do saber histórico, as aborda­
gens, conceituais e práticas, a seleção de conteúdos e a sempre atual questão “para
que serve” têm sido feitas com competência por educadores e historiadores preo­
cupados com o ensino-aprendizagem, em obras ao alcance de todos os interessados
em aprimorar seu trabalho com os alunos. [...]
PINSKY, Carla Bassanezi. Introdução. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).

Orientações gerais
Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009. p. 7.

Diante dessa renovação no ensino de História, acreditamos ser fundamental


que o professor oriente os alunos da necessidade de, ao se analisar fontes
históricas, levar em consideração os contextos, funções, estilos, argumentos,
pontos de vis­t a e intenções dos seus autores. Isso porque as fontes históricas,
por serem efei­tos de ações humanas do passado, não carregam em si o pas-
sado tal como ele aconteceu. Elas trazem, no entanto, a versão do autor sobre
esse acontecimen­t o. Além disso, as fontes são sempre lidas de acordo com os
valores do momen­to histórico de quem as analisa. As perguntas fundamentais
feitas por aqueles que desejam analisar uma fonte histórica são: quando?; quem?;
onde?; para quem?; para quê?; por quê?; como?. As ausências dessas respos-
tas também são dados importantes para a interpretação das fontes históricas.
Esses pressupostos devem ser seguidos, e com ainda mais cuidado, no caso
da utilização de fontes iconográficas, pois a sua utilização de modo acrítico
po­d e levar a equívocos que devem ser evitados tanto por historiadores quanto
por professores de História.

[...] A iconografia é, certamente, uma fonte histórica das mais ricas, que traz
embutidas as escolhas do produtor e todo o contexto no qual foi concebida, idea­
lizada, forjada ou inventada. Nesse aspecto, ela é uma fonte como qualquer outra
e, assim como as demais, tem que ser explorada com muito cuidado. Não são raros
os casos em que elas passam a ser tomadas como verdade, porque estariam retra­
tando fielmente uma época, um evento, um determinado costu­me ou uma certa
paisagem. Ora, os historiadores e os professores de História não devem, jamais, se
deixar prender por essas armadilhas metodológicas. [...]
A imagem, bela, simulacro da realidade, não é realidade histórica em si, mas traz
porções dela, traços, aspectos, símbolos, representações, [...] induções, có­digos,
cores e formas nelas cultivadas. Cabe a nós decodificar os ícones, torná­-los inteli­
gíveis o mais que pudermos, identificar seus filtros e, enfim, tomá-los como teste­
munhos que subsidiam a nossa versão do passado e do presente, ela também, ple­
na de filtros contemporâneos, de vazios e de intencionalidades. Mas a História é
isto! É construção que não cessa, é a perpétua gestação, como já se disse, sempre
ocorrendo do presente para o passado. É o que garante a nossa desconfiança salu­
tar em relação ao que se apresenta como definitivo e completo, pois sabemos que
isso não existe na História, posto que inexiste na vida dos homens, que são seus
construtores. [...]
PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-9. (História &... Reflexões).

21
Fontes arqueológicas, audiovisuais e relatos orais são outros tipos de fontes
importantes para o historiador. As fontes arqueológicas, também chamadas de
“cultura material”, são os únicos recursos disponíveis para o estudo das socie­
dades ágrafas e das chamadas “pré-históricas”. Mesmo para a compreensão
de sociedades com escrita, a arqueologia colabora fornecendo elementos que
ge­r almente não figuram nos documentos escritos, como aspectos do cotidiano
ob­s erváveis em objetos domésticos, entre outros.

[...] As fontes arqueológicas constituem um manancial extremamente varia­do


para o historiador de todos os períodos da História, do mais recuado passa­do da
humanidade, até os mais recentes períodos e épocas. Se é verdade, como propõe o
historiador alemão Thomas Welskopp, que a História da sociedade é sempre uma
História das relações sociais, das identidades em confronto, das leituras plurais do
passado, então as fontes arqueológicas têm um papel impor­tante a jogar. No con­
texto contemporâneo, em que se valoriza a diversidade cultural como um dos maio­
res aspectos da humanidade, do viver em socieda­de, as fontes arqueológicas ajudam
o historiador a dar conta de um passado muito mais complexo, contraditório, múl­
tiplo e variado do que apenas uma única fonte de informação permitiria supor. [...]
FUNARI, Pedro Paulo. Os historiadores e a cultura material. In: PINSKY, Carla Bessanezi (Org.). Fontes históricas. São
Paulo: Contexto, 2006. p. 104-5.

As fontes audiovisuais e musicais, como o cinema e a televisão, ganharam


cada vez mais importância para os pesquisadores que se dedicam ao século
XX, o que foi possível pelo rápido avanço e sofisticação dos recursos eletrônicos.
O cuidado que o historiador deve ter ao lidar com esse tipo de fonte é ainda
maior que o dis­p ensado às fontes iconográficas, pois a impressão de objetivi-
dade e de retrato fiel da realidade vinculado pelas “imagens em movimento”
tende a ser ainda mais per­s uasiva que a oferecida pela imagem iconográfica.
Além de fonte de pesquisa, o cinema também funciona como um valioso veícu-
lo de aprendizagem escolar.
Os relatos orais constituem outro tipo de fonte privilegiada para se estudar a
história recente, embora o próprio estatuto da chamada “história oral” ainda
se­ja bastante discutido. Mesmo assim, é inegável o valor das entrevistas grava-
das como fontes históricas, desde que direcionadas em um projeto orientado
por uma metodologia que estabeleça claramente os objetivos das entrevistas,
e se defi­n am as pessoas ou grupos a serem abordados.

Conceitos fundamentais para o ensino de História


Ao longo desta obra, apresentamos aos alunos conceitos que são fundamen­
tais para a análise histórica das sociedades. Veja a seguir mais informações
so­b re alguns desses conceitos.

Política
Política é um termo polissêmico, ou seja, pode ser usado em vários sentidos.
O uso do termo teve origem nas cidades-estado da Grécia Antiga, com a pala-
vra grega politika derivando de polis , como explica o historiador Moses Finley:

22
[...] Não deixa de ser verdadeira [...] a afirmativa de que, efetivamente, os gregos

Orientações para o professor


“inventaram” a política. Na tradição ocidental, a história política sempre se iniciou
com os gregos, o que é simbolizado pela própria palavra “política”, cuja raiz se en­
contra na palavra pólis. Além disso, em nenhuma outra sociedade do Oriente Pró­
ximo a cultura era tão politizada quanto entre os gregos. [...].
Para que tal sociedade funcionasse e não desmoronasse, era essencial um am­plo
consenso, uma noção de comunidade e uma autêntica disposição por parte de seus
membros para viverem conforme certas regras tradicionais, aceitarem as decisões
das autoridades legítimas, só fazerem modificações mediante amplo de­bate e pos­
terior consenso; numa palavra, aceitarem o “poder da lei” tão frequen­temente pro­

Orientações gerais
clamado pelos escritores gregos. [...] A isso se chama política. [...]
FINLEY, Moses I. (Org.). O legado da Grécia: uma nova avaliação. Trad. Yvette Vieira Pinto de Almeida. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1998. p. 32; 34.

Nesse sentido, a política pode ser entendida como um conjunto de relações


de poder. Também pode ser vista como a capacidade humana de organizar um
governo capaz de regular as disputas pelo poder, o que é feito nas sociedades
modernas por meio de uma Constituição. Ao governo assim organizado dá-se
o nome de Estado. Quando a prática política se torna inviável ou todos os seus
me­c anismos são esgotados, podem ocorrer guerras entre os grupos sociais
envol­v idos. A política está diretamente ligada ao poder, e não apenas com o
poder es­tatal, mas também aos micropoderes diluídos em todas as relações
sociais. De acordo com muitos estudiosos, a política reside também nas relações
entre ma­r ido e mulher, pais e filhos, professores e alunos, dirigentes de partidos
e seus fi­liados, patrões e empregados, além das próprias relações entre gover-
nantes e governados.
A política começou a ser objeto de uma ciência, a Ciência Política, no início
do século XVI com Nicolau Maquiavel, que na obra O Príncipe teorizou sobre as
estratégias para a tomada e manutenção do poder político, baseando­-se em
ações e modelos racionais e objetivos. Depois de Maquiavel, o conceito foi se
ampliando e ganhando novas significações.
[...] O texto de Maquiavel não traz a definição moderna de política, que só seria
cunhada a partir do século XVIII. Maquiavel enfatizou um conceito de po­lítica
ligado ao Estado, deixando de lado as classes sociais e suas contradições. No sécu­
lo XIX, Karl Marx resolveu pensar a política a partir das classes sociais e de suas
contradições. No século XX, o conceito de política atingiu até mesmo o co­tidiano.
Hoje, fala-se em politização do cotidiano, ações de protesto, lutas sociais que se dão
em esferas não institucionais. Ou seja, o sentido do que é ou não polí­tico muda
com o tempo e também com os interesses dos grupos sociais. Nos dias atuais, po­
lítica pode ser uma ação organizada para atingir demandas sociais (educação, saú­
de, segurança, condições de trabalho etc.), mas durante a Guerra Fria o conceito
de atividade política estava intimamente ligado ao de revolução, de ação transfor­
madora das estruturas sociais vigentes e da implementação de uma nova sociedade.
Nas últimas décadas do século XX, os partidos deixaram de ser o lugar privilegia­
do da luta política, embora ainda sejam espaços importantes. Hoje, organizações
não governamentais (ONGs), associações de moradores, as­sociações profissionais,
organizações feministas, grupos ambientalistas e de defe­sa dos animais, entre ou­
tros, compõem um leque amplo de espaços onde mani­festações propriamente po­

23
líticas podem ter lugar. Essa ampliação dos espaços reivindicativos na sociedade
civil pode ser entendida de duas formas: por um lado, indica um avanço da politi­
zação de amplos setores sociais; por outro, é um sintoma da descentralização das
ambições políticas, que se tornaram cada vez mais pulverizadas. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 337.

O trabalho
De modo geral, o trabalho é todo ato de transformação feito pelo ser humano.
O trabalho, ao longo do tempo, adquiriu diversas formas, organiza­ç ões e valores.
Nas sociedades ditas “tribais”, ou seja, aquelas formadas por ca­ç adores e co-
letores, somadas às que praticavam a pecuária e a agricultura pri­m itivas, o
trabalho não era uma atividade separada de outros afazeres cotidianos. Ao
contrário, nas sociedades “tribais” o trabalho se misturava às esferas religio­s as,
ritualísticas, míticas, era dividido sexualmente e estava ligado às relações de
parentesco. Nessas sociedades, o trabalho não visava à acumulação de exceden­
tes, mas ao suprimento das necessidades da comunidade.

[...] Marshall Sahlins, antropólogo norte-americano, chama essas sociedades de


“sociedades do lazer”, ou as primeiras “sociedades da abundância”, pois, ao analisá­
-las, percebeu que elas não só tinham as suas necessidades materiais e so­ciais ple­
namente satisfeitas, como também dispunham de um mínimo de horas vinculadas
a atividades de produção (cerca de três ou quatro horas e nem sempre todos os
dias). Os [ianomamis] dedicavam pouco mais de três horas diárias às atividades
produtivas; os [guaiaquis], cerca de cinco horas, mas não todos os dias; e os kungs,
do deserto de Kalahari, em média quatro horas por dia.
O fato de se dedicar menos tempo às tarefas vinculadas à produção não signi­fica,
portanto, que se tenha uma vida de privações. Ao contrário, essas socieda­des vi­
viam muito bem alimentadas, e isso fica comprovado nos relatos os mais diversos,
que sempre demonstram a vitalidade de todos os seus membros. É claro que tais
relatos referem-se à experiência que viviam antes do contato com o chamado
“mundo civilizado”. [...]
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 36.

Entre os antigos gregos e romanos o trabalho braçal, penoso, realizado para


manter a subsistência — como o do escravo, do agricultor, do homem livre
pobre e até mesmo o do artesão — era desprezado pelos cidadãos ricos. O
ideal do ci­d adão era a prática do ócio, que lhe proporcionava tempo livre para
os prazeres e para a prática política, para a administração e defesa da cidade.
Na Idade Mé­d ia, particularmente nas sociedades em que predominava o feuda-
lismo, o traba­lho rural baseado na servidão foi predominante, o que não signi-
fica que as ativi­d ades de comércio e artesanato desapareceram. Não devemos
esquecer também as relações de trabalho desenvolvidas nas corporações de
ofício, que determina­v am a organização artesanal. Nessas corporações, o mes-
tre dominava as técni­c as e controlava todas as etapas do trabalho, contando
com a ajuda de alguns aprendizes.
Com o desenvolvimento do capitalismo, principalmente a partir do final do
sé­c ulo XVIII, teve início uma das mais radicais transformações nas relações do

24
tra­b alho que se conhece na história. O desenvolvimento da maquinofatura, da

Orientações para o professor


fábrica e da grande indústria transformou, cada uma a seu tempo e em intensi-
dades dife­rentes, as relações medievais de trabalho. A nova classe social em
ascensão, a bur­g uesia, foi paulatinamente conquistando poder econômico e
político. Muitos arte­s ãos e camponeses desapropriados, ou expulsos das terras
senhoriais, tiveram de se submeter a um regime de trabalho assalariado, que
lhes retirava a autonomia e o domínio das etapas do processo produtivo, ou
seja, alienava os trabalhadores.

[...] Uma importante reflexão que os professores podem levantar em sala de

Orientações gerais
aula em torno do trabalho é sua multiplicidade histórica: primeiro, trabalho não é
emprego. Não é porque alguém — como uma dona de casa, por exemplo — não
tem um emprego que ela não trabalha. Segundo, o trabalho é mutável, na forma
como as pessoas o veem ao longo do tempo. Assim, não apenas enten­demos o
objetivo do trabalho de forma diferente de um japonês, como também definimos
trabalho de forma diferente de um grego do tempo de Péricles. O risco de anacro­
nismo na análise histórica de trabalho é grande. Precisamos estar atentos a essas
questões em sala de aula e acabar de vez, por exemplo, com a visão de que os índios
eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar e, logo, não serviam para a escravi­
dão. Além disso, importante contribuição para a cidada­nia brasileira é a valorização
do trabalho doméstico, do trabalho feminino e o reconhecimento de que a maioria
das mulheres realiza uma jornada dupla de trabalho. Enquanto o trabalho domés­
tico não for considerado trabalho no Bra­sil, a maioria das mulheres brasileiras,
principalmente as de baixa renda, conti­nuará a trabalhar duplamente sem reconhe­
cimento profissional ou social. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 403-4.

Sociedade
Sociedade é o conjunto de pessoas que convivem em um determinado espa-
ço, que seguem as mesmas regras e que compartilham valores, costumes,
língua etc. Um dos principais elementos comuns a todas as sociedades hierar-
quizadas é a existência de conflitos sociais. Os conflitos sociais expressam as
contradições em nível econômico e político. Eles evidenciam as tensões e dis-
putas, por exem­p lo, entre diversos grupos ou classes, ou entre setores da so-
ciedade civil organi­z ada contra medidas públicas que os prejudicam.

[...] Quem de nós já não vivenciou, como participante ativo ou como sim­ples
espectador de TV, cenas de manifestações de grupos, ou mesmo de multi­dões, em
defesa, por exemplo, do ensino público e gratuito ou contra a poluição do meio
ambiente? Quem não leu nos jornais notícias sobre greves de trabalha­dores da
indústria da construção civil ou da indústria automobilística, para for­çar patrões a
atender a suas reivindicações salariais? E quem já não viu nessas cenas a presença
de policiais golpeando com seus cassetetes braços, pernas e cabeças de manifestan­
tes, em nome da ordem pública e da segurança? Com certeza todos já viram, porque
são incontáveis os casos de manifestações e mo­vimentos sociais [...].
[...] O que primeiro nos chama a atenção é o iminente confronto com a po­lícia
— cena bastante comum em movimentos desse tipo. Mas devemos obser­var que
nem todo movimento social tem como um dos seus desdobramentos o enfrenta­

25
mento com a polícia. Como também não é verdade que todo enfrenta­mento com
a polícia significa um movimento social. Entretanto, a situação des­crita evidencia um
conflito. E o conflito é um elemento constitutivo de todo movimento social. [...]
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 224.

Os conflitos intrínsecos às formações sociais geralmente se desenvolvem em


torno de questões como a conquista de direitos, as injustiças sociais, a busca
de meios essenciais à sobrevivência, discriminações etc. Esses conflitos podem
cres­c er, alongar-se no tempo e até mesmo desembocar em guerras. Atualmen-
te, os movimentos sociais são os responsáveis pela canalização dos conflitos
laten­t es na sociedade, arregimentando e organizando os grupos descontentes.
Para o professor de História, é importante passar aos alunos a visão de que
toda a his­t ória das sociedades ditas “civilizadas” foi e é permeada por conflitos
sociais, que, no entanto, assumiram formas diversas no decorrer do tempo.

Cultura
A cultura é criada e transmitida na interação social, e é apreendida em nossas
relações grupais, em que adquirimos identidades particulares que nos distinguem
de outros grupos e de outras culturas. Por meio da interação, apropriamo-nos
de certas “verdades” socialmente aceitas que se integram ao nosso código
cultural, e esse mesmo processo ocorre no sentido inverso, ao apreendermos
culturalmente o que deve ser negado, odiado ou desprezado. Dito de outra
forma, a cultura sintetiza nossa forma de valoração do mundo, um conjunto de
valores que nos são transmi­tidos pela família, escola, universidade, círculo de
amizades, trabalho, meios de co­m unicação etc.

[...] Cultura é uma perspectiva do mundo que as pessoas passam a ter em comum
quando interagem. É aquilo sobre o que as pessoas acabam por concor­dar, seu
consenso, sua realidade em comum, suas ideias compartilhadas. O Bra­sil é uma
sociedade cujo povo tem em comum uma cultura. E no Brasil, cada comunidade,
cada organização formal, cada grupo [...] possui sua própria cul­tura (ou o que al­
guns cientistas sociais denominam uma subcultura, pois se trata de uma cultura
dentro de outra cultura). Enquanto a estrutura ressalta as diferenças (as pessoas
relacionam-se entre si em termos de suas posições dife­rentes), a cultura salienta as
semelhanças (de que modo concordamos).
Fazer parte da “cultura jovem” no Brasil, por exemplo, é ter em comum com
várias pessoas certas ideias sobre verdade, política, autoridade, felicidade, li­berdade
e música. Nas ruas, na palavra escrita e falada, nas universidades, em shows e filmes,
desenvolve-se uma perspectiva à medida que as pessoas com­partilham experiên­
cias e se tornam cada vez mais semelhantes umas às outras, por um lado, enquan­
to se diferenciam crescentemente das que se encontram fora de sua interação.
Desenvolve-se uma linguagem comum entre os que com­partilham a cultura, con­
solidando a solidariedade e excluindo os de fora. [...]
Cultura é o que as pessoas acabam por pensar em comum — suas ideias sobre o
que é verdadeiro, correto e importante. Essas ideias nos guiam, deter­minam mui­
tas de nossas escolhas, têm consequências além de nosso pensa­mento. Nossa cul­
tura, compartilhada na interação, constitui nossa perspectiva consensual sobre o
mundo e dirige nossos atos nesse mundo.
CHARON, Joel M. Sociologia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 103-4.

26
A construção da cidadania

Orientações para o professor


O significado de cidadania nos
Parâmetros Curriculares Nacionais
De acordo com os PCN, o conceito de cidadania deve ser visto em sua histo­
ricidade, não existindo um só tipo de cidadão, mas sim modelos históricos e,
por­t anto, mutáveis. Refletindo sobre a dimensão histórica do conceito de cida-

Orientações gerais
dania, os PCN apontam para a necessidade de democratização dos direitos
sociais, culturais e políticos. Assim, o objetivo é a formação de cidadãos críticos
e cien­tes de que possuem identidades próprias.

[...] Retornando aos PCNs, [percebe-se] o uso tanto da perspectiva da cida­dania


pela via da ampliação dos direitos como da cidadania relativa ao direito à diferen­
ça. Estas duas perspectivas [...] não se apresentam como incompatíveis nos PCNs.
[...] Na introdução dos temas transversais, parte em que existe maior investimento
em definir o significado de cidadania, nota-se a presença da pri­meira perspectiva,
sendo a história moderna da cidadania entendida dentro dos parâmetros da expan­
são e da universalização dos direitos. Contudo, em outras partes, em especial quan­
do se relaciona cidadania e identidade, a pers­pectiva que prevalece é a do direito à
diferença. [...]
MAGALHÃES, Marcelo de Souza. História e cidadania: por que ensinar história hoje. In: ABREU, Marha; SOIHET, Rachel
(Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 179-80.

Seguindo esses parâmetros, procuramos trabalhar no decorrer dessa obra no


sentido de estimular os alunos à participação social e política, a compreender a ci-
dadania como a efetivação de seus direitos básicos, de modo a combater as di­versas
formas de segregação étnica, religiosa ou econômica, dando ênfase às lu­tas dos
agentes históricos contra diferentes formas de dominação, como o es­cravismo, o
imperialismo e as ditaduras militares, por exemplo. Acreditamos que, ao darmos re-
levo à ação positiva dos sujeitos e grupos sociais em suas diversas formas de luta e
resistência à opressão, contribuiremos para a formação cidadã das novas gerações.

A importância do ensino pluriétnico


Nos últimos anos, o debate acerca da valorização das contribuições pluriétni­
cas na formação da população brasileira foi se expandindo do meio acadêmico
para a sociedade civil. Os resultados já podem ser vistos com a aprovação de
leis afirmativas, como a n o 10.639, de 2003, que determinou a introdução do
ensino de história da África e da cultura afro-brasileira, e a lei no 11.645, de
2008, que estabeleceu a obrigatoriedade da inclusão de história e cultura dos
povos indíge­n as aos alunos dos níveis fundamental e médio. A inclusão dessas
temáticas con­tribui para a desconstrução de preconceitos e estereótipos, for-
temente impregna­d os no conteúdo escolar, sobre africanos e indígenas.
Retomando as duas perspectivas de cidadania reconhecidas nos PCN, pode­
mos perceber que elas não se contrapõem, ao contrário, elas se complementam.
No caso da inserção da história da África e da cultura afro-brasileira e da histó­

27
ria e cultura indígenas nos ensinos fundamental e médio, vemos a expansão dos
direitos de grupos tradicionalmente marginalizados e que agora devem ter sua
cultura e sua contribuição para a construção do Brasil reconhecidas, ao mesmo
tempo em que as especificidades desses grupos devem ser valorizadas como
res­p onsáveis por contribuições originais na formação da sociedade brasileira.
Esse direito à diferença, que ganhou força com o multiculturalismo, não deve
ser con­fundido com aquiescência às desigualdades, sendo justamente neste
ponto que essas alterações no currículo escolar tradicional devem intervir.

[...] O brasileiro, de um modo geral, sabe pouco a respeito do afrodescen­dente,


e quando sabe, está repleto de ideias preconceituosas. [...] Começa com a entrada
do negro no Brasil como escravo e mercadoria. A imagem do negro descalço, se­
minu e selvagem é mostrada na literatura escrita por brancos. Mas a história do
africano livre, dono de sua própria vida, produtor de sua cultura, à época dos gran­
des reinos e impérios da África pré-colonial, é pouco conheci­da. Está na hora de
desmontar as inverdades e omissões, para desnaturalizar os preconceitos e cons­
truir uma nação multirracial, justa e democrática.
FELIPE, Delton Aparecido; TERUYA, Teresa Kazuko. Ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação
básica: desafios e possibilidades. Extraído do site: <www.mudi.uem.br/arqmudi/volume_11/suplemento_02/artigos/081.pdf>.
Acesso em: 7 fev. 2012.

É importante na formação do afrodescendente que este conheça a origem de


seus antepassados. A valorização de sua identidade cultural e a do grupo ao
qual pertence é a forma mais eficaz de romper os preconceitos que a socieda-
de lhe faz interiorizar através dos meios de comunicação, da família e — o que
primeiro se espera eliminar — da escola. Não apenas os afrodescendentes, mas
a socie­d ade como um todo tendem a ganhar, principalmente os alunos brancos,
ao te­rem a chance de deixarem de ser impregnados com preconceitos e falsas
verda­d es. Nesse sentido, esta coleção procura abordar a história dos povos
africanos e indígenas inseridos em sua dinâmica própria, tentando tanto quanto
possível evitar narrativas eurocêntricas, que apenas tratam desses povos quan-
do em re­lação — sempre de subordinação — com os interesses europeus.

A valorização da mulher na história


Em todas as épocas históricas, houve mulheres que tiveram participação
ativa na sociedade e obtiveram grande reconhecimento social. Mas a organiza-
ção mas­s iva das mulheres em prol de seus direitos foi um fenômeno recente. O
reconhe­c imento de que a mulher tem direito à cidadania vem se construindo em
um pro­c esso lento e difícil, acelerado principalmente com as conquistas sociais
e polí­ticas da segunda metade do século XX.

O século XX já foi chamado de “século das mulheres”, momento em que o mo­


vimento de mulheres e, no interior deste, o movimento feminista, em suas múlti­
plas vertentes, viu muitas de suas reivindicações atendidas. Entretanto, se a cidada­
nia pode ser pensada como o “direito de ter direitos”, ou seja, como igualdade e
como eliminação de formas de hierarquias relacionadas ao “natu­ral”, não podemos,
ainda, considerar que o século XX tenha fornecido às mu­lheres a plena cidadania.
Mas devemos reconhecer que algumas conquistas fo­ram efetivadas. [...]
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e Especificidade. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi
(Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 293-4.

28
Um exemplo característico das conquistas femininas desse período foi a libe­

Orientações para o professor


ração da venda e divulgação de métodos contraceptivos e, em alguns países,
a descriminalização do aborto, apesar da grande resistência dos países onde a
Igre­ja Católica ainda detém a influência política. Com essas conquistas, as mu-
lheres adquiriram um domínio inédito sobre seu corpo, puderam escolher o
momento de ter filhos, ou mesmo não tê-los. Nos anos 1980, o movimento das
mulheres in­v estiu na luta contra as violências das quais elas eram alvos princi-
pais, exigindo punições rigorosas para crimes como o estupro e a violência
doméstica. Apesar desses avanços, atualmente as mulheres ainda são discrimi-
nadas, principalmen­te nas relações de trabalho, nas quais costumam receber

Orientações gerais
salários mais baixos que os dos homens, mesmo exercendo funções idênticas.
Consideramos que o mais importante é a criação de um espaço comum entre
homens e mulheres, em que a diferença de identidades não seja motivo para a
diferença de direitos, e a sala de aula é um local privilegiado para isso.

A inclusão na escola
Os direitos das pessoas portadoras de necessidades especiais (também cha­
madas de portadoras de deficiência) foram estabelecidos na Convenção de
Gua­temala, de 1998. O documento, promulgado pelo Brasil em 2001, estabe-
lece que as pessoas portadoras de necessidades especiais têm direitos idênti-
cos aos das demais. No caso das crianças em idade escolar, a própria Consti-
tuição da Re­p ública proíbe que qualquer unidade escolar as exclua. Assim, é
ne­c essário que as escolas se adaptem às necessidades desses alunos, cujas
defi­c iências podem ser físicas, visuais, auditivas ou mentais.
A adaptação passa pela adoção de práticas criativas na sala de aula e mudan­
ças no projeto pedagógico, mas existem orientações específicas para casos de
deficiência. As mudanças não são fáceis, e sua eficácia depende de vontade e
empenho por parte dos profissionais envolvidos. Além da necessidade de adap­
tação da arquitetura da escola, os professores precisam buscar orientações
es­p ecializadas, conversar com os pais dos alunos e, principalmente, dar atenção
especial a esses alunos. Quando os resultados começam a aparecer, não só o
aprendizado dos alunos portadores de necessidades especiais progride, mas
to­d a a escola se torna mais cidadã.

A importância da leitura e da escrita


Algumas estatísticas
Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Básica
(SAEB), os índices nacionais de competência em leitura em Língua Portuguesa
de 2005 a 2009 estão muito abaixo do esperado (Veja os resultados do SAEB
2005 a 2009 – Resultados IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Bá-
sica. Extraído do site : <http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/portal-ideb>.
Acesso em: 26 jan. 2012.).
Nesse exame foram avaliados alunos de escolas públicas e privadas. Os re-
sultados divulgados pela PISA (do inglês, Programa Internacional de Ava­liação

29
Comparada), organizado pela OECD (do inglês, Organização para Coope­ração
e Desenvolvimento Econômico), corroboram os exames nacionais. Realiza­d os
de três em três anos, esse exame internacional avaliou alunos na faixa dos 15
anos de idade nas escolas públicas e privadas de vários países, por meio de
análises comparativas de competência em leitura, Matemática e Ciências.
Segundo os resultados divulgados pelo PISA em 2009, os jovens bra­s ileiros
continuam com média inferior à de muitos paí­s es, desde o primeiro exame rea-
lizado em 2000, ocupando o 53º lugar no ranking dos 65 países avaliados.
(Faça o download do relatório PISA 2009. Extraído do site : <www.oecd.org/do
cument/61/0,3746,en_32252351_32235731_46567613_1_1_1_1,00.html>.
Acesso em: 26 jan. 2012.)

O que é competência leitora?


Para o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, em seu livro Construir as competên­
cias desde a escola , a noção de competência está ligada a “uma capacidade
de agir eficazmente para um determinado tipo de situação, apoiado em
conhecimen­t os, mas sem limitar-se a eles”, pois esses conhecimentos são “re-
presentações da realidade, que construímos e armazenamos ao sabor da nossa
experiência e de nossa formação”. A noção de competência, para Perrenoud,
estaria ligada à aplicabilidade de nossos conhecimentos para a solução de pro-
blemas diversos. Essa aplicabilidade, que constitui a competência, envolve a
capacidade de esta­b elecer relações entre os problemas e os nossos conheci-
mentos, fazer interpre­t ações, interpolações, inferências, invenções; realizar, “em
suma, complexas ope­r ações mentais cuja orquestração só pode construir-se ao
vivo, em função tanto de seu saber e de sua perícia quanto de sua visão da
situação”. (Perrenoud, Phi­lippe. Construir as competências desde a escola . Trad.
Bruno Charles Magne. Por­to Alegre: Artes Médicas Sul, 1999, p. 8-9.)
Nesse sentido, a noção de competência leitora está ligada à prática de estraté­
gias de leitura que possibilitem ao aluno explorar as mensagens (estejam elas
em textos, imagens, gráficos, formulários ou tabelas, por exemplo) em diversos
ní­v eis de cognição, possibilitando a interpretação e a compreensão para uma
lei­tura mais crítica e autônoma, construindo novos saberes.

O processo de construção de conhecimento passa, necessariamente, pelo “sa­ber


fazer”, antes de ser possível “compreender e explicar”, e essa compreensão e a con­
ceituação correspondente acabam por influenciar a ação posterior. Há, pois, uma
fase inicial em que predomina a ação para obter êxito, seguida por outra, cuja ca­
racterística principal é a troca constante de influências entre a ação e a compreen­
são, ambas de nível semelhante, e uma terceira em que a compreensão coordena e
orienta a ação. [...]
As competências podem ser categorizadas em três níveis distintos de ações e
operações mentais, que se diferenciam pela qualidade das relações estabelecidas
entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
No Nível Básico encontram-se as ações que possibilitam a apreensão das ca­
racterísticas e propriedades permanentes e simultâneas de objetos comparáveis,
isto é, que propiciam a construção de conceitos. [...]

30
No Nível Operacional encontram-se as ações coordenadas que pressupõem o

Orientações para o professor


estabelecimento de relações entre os objetos; fazem parte deste nível os esquemas
operatórios que se coordenam em estruturas reversíveis. Estas competências, que,
em geral, atingem o nível da compreensão e a explicação, mais que o saber fazer,
supõem alguma tomada de consciência dos instrumentos e procedimentos utiliza­
dos, possibilitando sua aplicação a outros contextos. [...]
No Nível Global encontram-se ações e operações mais complexas, que envol­vem a
aplicação de conhecimentos a situações diferentes e a resolução de proble­mas inéditos. [...]
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Matrizes curriculares de referência para o SAEB. Maria Inês Gomes
de Sá Pestana et al. 2. ed. Brasília: INEP, 1999. p. 9-11.

Orientações gerais
As especificidades da
leitura na disciplina de História
Atualmente, o fato de um aluno ser considerado alfabetizado, ou seja, capaz
de ler e escrever, não significa que ele possa utilizar esses recursos como uma
ma­n eira de conhecer e de se expressar.

[...] Ser alfabetizado pode significar apenas que estes alunos leem mecanica­mente o
que lhes cai pela frente: propagandas, anúncios, placas na rua, trechos do livro didático,
avisos, exercícios passados pelo professor etc. Ou seja, eles são “atingidos” pelas coisas
escritas, mas pouco interagem com elas. De todo modo, a maior parte dos indivíduos
hoje em dia sabe mais do mundo através especialmente da televisão e do rádio, frente
aos quais habituamo-nos a ter uma atitude passiva e receptiva acrítica. [...]
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt e outros. Ler e escrever:
compromisso em todas as áreas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. p. 111-2.

A rapidez e praticidade com que se tem acesso à informação atualmente


fazem com que o contato dos jovens com a leitura geralmente seja rápido e
fragmenta­d o. Uma leitura contínua e atenta é um importante veículo de informa-
ções. No ca­s o específico da disciplina de História, leitura e escrita são funda-
mentais para a construção do conhecimento.
Por isso, o desenvolvimento da competência leitora permite que o aluno perce­
ba, por meio de uma leitura crítica, as visões de mundo, as parcialidades, as
iden­tificações e as possíveis conexões com a realidade de cada texto e seu
respec­t ivo autor.
Da mesma forma, o contato com fontes históricas de diversos tipos, como
car­tas, bulas, decretos, diários, depoimentos, notícias de jornais e revistas,
pinturas e textos literários, exige o desenvolvimento da competência leitora de
diversos tipos e níveis para a construção do conhecimento histórico.
Ao longo da obra, o desenvolvimento da competência leitora é constante­m ente
estimulado. As atividades presentes nesta coleção têm como objetivo auxi­liar
os alunos na compreensão dos conteúdos trabalhados, utilizando para isso fon­
tes de informação diversificadas. Além de valorizar as experiências vividas pelos
alunos e sua realidade próxima, elas incentivam-nos a desenvolver a competên-
cia leitora, aumentando sua autonomia e tornando-os sujeitos mais ativos em
seu pró­p rio aprendizado.

31
Símbolos utilizados na coleção
Em muitos textos citados ao longo dos quatro volumes desta coleção, o
leitor po­d e se deparar com alguns símbolos, entre eles: c. = cerca de; [...]
= texto suprimido do original; [texto] = texto inserido no original.
Esses símbolos são utilizados para explicitar as intervenções que, por
necessida­d e de concisão ou de clareza, foram feitas nos textos de outros
autores citados nes­ta coleção.

Leitura e prática da escrita


Além da leitura, a escrita também deve ser constantemente estimulada. A
pro­d ução de textos estimula os alunos a pensarem criticamente e a refletirem
sobre aquilo que estão escrevendo.

[...] “Escrever para aprender”, lembra Gisele de Carvalho, que assim recupera
algumas das grandes tarefas do educador: “Se [...] escrever significa registrar os
caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da matéria
que ensinamos, temos uma tarefa em comum [...]: se todos nós, de uma forma ou
de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever...”.
Admiramos hoje a desenvoltura com que os jovens manejam seus computa­dores,
navegam nesses mares antes inimagináveis da Internet, criam seus blogs, repagi­
nam-se permanentemente, enviam e recebem mensagens em tempo real (usando
uma língua um tanto estranha, é bem verdade!). Aparentemente ne­nhum mistério
os detêm, e eles nos dão demonstrações diárias de habilidade, curiosidade, criati­
vidade. Nosso desafio, prepará-los nessa era planetária para a grande aventura do
conhecimento e da lucidez, talvez seja mais fácil de supe­rar do que pensamos.
RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar História: para uma boa formação, os alunos precisam entender bem o que
leem e saber pensar e escrever. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 6. abr. 2004. p. 78.

A pesquisa escolar
Procedimentos básicos
O ato de realizar pesquisas é fundamental para a disciplina de História. Nes-
sa coleção, em vários momentos os alunos são convidados a realizar pesquisas,
tan­to individuais como em grupos.
Para que a pesquisa escolar obtenha resultados satisfatórios, existem algumas
dicas que o professor pode fornecer aos alunos antes de sua realização. Veja.
■■ Definição do tema: além dos temas sugeridos na coleção, fica a critério do pro­
fessor escolher novos temas, de acordo com as especificidades de cada turma.
■■ Após a definição do tema, estabelecer um roteiro para a pesquisa, que inclui:
os objetivos da pesquisa (no caso, pesquisa escolar); definição das fontes
que serão utilizadas (livros, jornais, revistas, internet, dicionários, enciclopé-
dias, fo­t ografias, documentários, filmes, CD-ROM etc.) e definição dos pra-
zos para a entrega da pesquisa. Para as pesquisas realizadas na internet,
leia para os alunos as seguintes dicas.

32
Na internet, você pode encontrar sites sobre os mais variados assuntos. Pode

Orientações para o professor


achar também ilustrações e mapas. Muitos costumam ter links, que são como as
remissões da enciclopédia. Basta clicar e você já está em outro site. Para usar a in­
ternet, você precisa aprender a selecionar as informações, senão acaba per­dendo
muito tempo. Uma boa ideia é formar uma agenda dos sites que você mais usa [...],
e ir trocando esses endereços com seus colegas.
Para ter certeza de que os dados e informações que você conseguiu [...] são cor­
retos, verifique a origem do site, ou seja, quem escreveu aquela página. Hoje, qual­
quer pessoa pode incluir informações na rede. Por isso, pre­fira os sites de escolas,
empresas, instituições de pesquisa e órgãos oficiais (Iba­ma, IBGE, Ministérios etc.),

Orientações gerais
que são mais confiáveis.
JUNQUEIRA, Sonia. Pesquisa escolar: passo a passo. Belo Horizonte: Formato Editorial, 1999. p. 23. (Dicas e informações).

■■ Para realizar o planejamento da pesquisa, solicitar a ajuda do professor, do


bibliotecário, dos pais etc.
■■ Estabelecer os responsáveis pela elaboração dos tópicos selecionados para
a pesquisa (no caso do trabalho em grupo) e definir os prazos que cada um
tem para entregar sua parte.
■■ Definir quem será o responsável por organizar o material pesquisado, tornan­
do-o um todo coerente. Mais interessante do que juntar um monte de textos
soltos e desconexos, é fazer uma reunião de pauta com todo o grupo e, juntos,
definir a ordem em que os tópicos devem ser apresentados na pesquisa.
■■ Ao ser elaborado o primeiro rascunho, todo o grupo deve ler para verificar
se os tópicos pesquisados foram contemplados de maneira satisfatória. É
impor­t ante, nessa etapa, verificar se o texto contém introdução, desenvolvi-
mento e conclusão.
■■ Selecionar as imagens que ilustrarão o trabalho: recortes, fotografias, mapas,
tabelas, gráficos etc. Nessa etapa, as imagens já devem ter sido indicadas
por cada um dos responsáveis pelos tópicos correspondentes.
■■ Feitas essas etapas, novamente cada membro do grupo deve ler o trabalho
e apresentar suas últimas considerações.
■■ Para concluir, o grupo deve preparar as partes iniciais e finais da pesquisa.
Compõem a parte inicial: título da pesquisa (e subtítulo, se houver); nome e
número de chamada dos integrantes do grupo; série ou ano, instituição de
en­sino, nome do professor, nome da disciplina, data etc. Além disso, é neces­
sário fazer um sumário do trabalho, respeitando a hierarquia (pesos) dos
títu­los. A parte final, por sua vez, é composta pelas referências bibliográficas,
que devem constar, no caso de livros, por exemplo: último sobrenome do
autor, nome do autor, título do livro, cidade, editora, ano de publicação,
páginas con­s ultadas, nome da coleção ou série, se houver. Em casos de
referências de artigos de revista, sites da internet etc., peça aos alunos que
vejam como es­t as foram feitas ao longo da coleção e as tomem como base.
■■ Para que os resultados da pesquisa sejam mais efetivos, é fundamental que
os grupos troquem informações sobre as conclusões a que chegaram.

33
A avaliação do ensino-aprendizagem
A utilidade da avaliação
Atualmente muito se discute sobre a utilidade da avaliação no processo de ensi­
no-aprendizagem nas escolas. Seria a prática de avaliação um instrumento repres­
sor e autoritário que formaliza o conhecimento do aluno ou a avaliação seria um
instrumento que contribui para seu crescimento intelectual e espírito crítico?
O método tradicional de avaliação atualmente tem sido alvo de várias críticas,
pois, durante muitos anos, as instituições escolares se responsabilizaram por
uma aprendizagem homogênea e linear, que não considera as dificuldades e
qualida­d es de cada aluno no processo de aprendizagem. Neste sistema, a ava-
liação é uma forma de seleção e exclusão dos alunos, focada na quantidade de
saber acu­m ulado e nos princípios de eficiência e competitividade, como as
provas de vestibular, por exemplo. Assim, o pedagogo Jansen Felipe da Silva
afir­m a que esse modelo “contribui eficientemente para a marginalização socio-
econômica e cultural de grande parcela da população brasileira, principalmente
a pertencente às classes mais carentes”.
Por outro lado, a proposta formativa reguladora de avaliação leva em consi­
deração aspectos do cotidiano em sala de aula. A avaliação é tida como um
pro­c esso contínuo, diário e qualitativo que respeita o ritmo de cada estudante.
Ao contrário do modo tradicional de avaliação, a maneira como o sujeito apren-
de passa a ser mais importante do que aquilo que aprende.
Neste sentido, a prática pedagógica se torna reflexiva e transformadora, uma
vez que exige dos professores uma postura ativa sobre as dificuldades dos alunos.
Sendo a avaliação formativa reguladora constante, é necessário também diver­
sificar os instrumentos de avaliação (provas dissertativas, objetivas, trabalhos
em grupo, debates etc.). Esses instrumentos, quando utilizados com coerência,
le­v am em consideração não somente as capacidades cognitivas, mas também
as dimensões afetiva, social, cultural de cada aluno, aprofundando as relações
en­t re aluno e professor em sala de aula. Na proposta formativa reguladora, es-
ses instrumentos de avaliação são usados para compreender as necessidades
de ca­d a aluno, a fim de melhorar suas qualidades, diagnosticar e intervir de
maneira po­s itiva (e não simplesmente o classificar, selecionar e excluir).

As categorias dos conteúdos


Existem três diferentes tipos de conteúdos que devem constar em um planeja­mento
didático ou uma avaliação: conteúdos conceituais, procedimentais e ati­tudinais.
Os conteúdos conceituais permitem que o aluno entre em contato com conhe­
cimentos que formam conceitos. São as bases para a assimilação e organização
dos fatos na realidade.
Os conteúdos procedimentais envolvem ações que possibilitam ao aluno lidar
com os conhecimentos apreendidos, lhe dando instrumentos para analisar, pen­
sar e produzir um conhecimento próprio.
Já os conteúdos atitudinais estão ligados ao conhecimento escolar em um con­
texto socializador, e geram atitudes do aluno perante o conhecimento adquirido, os
professores, os colegas de sala, a vida em sociedade. Esses conteúdos estão li­
gados à prática constante e coerente de valores e atitudes na instituição escolar.

34
A autoavaliação

Orientações para o professor


Em um processo de ensino-aprendizagem mais democrático, a utilização de
fer­ramentas de autoavaliação possibilita tanto a alunos como a professores
avaliar o desempenho em sala de aula. Assim, alunos e professores podem
contribuir mutuamente para melhorar as estratégias de ensino-aprendizagem e,
também, apontar as dificuldades encontradas no caminho para superá-las.
A autoavaliação se torna uma atitude de reflexão que deve ser contínua.

[...] Para o aluno autoavaliar-se é altamente favorável o desafio do professor,

Orientações gerais
provocando-o a refletir sobre o que está fazendo, retomar passo a passo seus pro­
cessos, tomar consciência das estratégias de pensamento utilizadas. Mas não é ta­
refa simples. Para tal, ele precisará ajustar suas perguntas e desafios às possibi­
lidades de cada um, às etapas do processo em que se encontra, priorizando uns e
outros aspectos, decidindo sobre o que, como e quando falar, refletindo sobre o seu
papel frente à possível vulnerabilidade do aprendiz. Nesse sentido, o caráter intui­
tivo e ético do educador faz-se fortemente presente, porque ele precisará promover
tal reflexão a partir do papel que lhe cumpre e da forma de relaciona­mento que
deseja estabelecer com seus alunos. [...]
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 54.

Desafiando os alunos, o professor também passa a refletir sobre a sua atua-


ção nos processos didáticos, adequando-se às necessidades do dia a dia em
sala de aula, tomando consciência de seu papel diante dos desafios do proces-
so de en­s ino-aprendizagem.

Uma proposta de autoavaliação


A pesquisadora Jussara Hoffmann defende a ideia de que a autoavaliação não
deve ser caracterizada como um processo de autojulgamento de atitudes e rela­
ções pessoais. Questionamentos atitudinais, como: “O que penso sobre minhas
atitudes na escola? O que penso sobre minha relação com colegas e professo­
res? Que notas me atribuiria sobre o que aprendi nesse período?”, podem atin-
gir a autoestima dos alunos de maneira negativa e criar conflitos entre estes e
os pro­fessores, uma vez que geralmente as respostas dos alunos são levadas
em con­s elhos de classe ou mesmo ser apresentadas aos pais ou responsáveis.
Para Hoffmann, a autoavaliação deve ser um instrumento que favoreça a refle­
xão e a construção do conhecimento.

[...] Um processo de autoavaliação só tem significado enquanto reflexão do educan­


do, tomada de consciência individual sobre as aprendizagens e condutas cotidianas,
de forma natural e espontânea como aspecto intrínseco ao seu de­senvolvimento, e
para ampliar o âmbito de suas possibilidades iniciais, favore­cendo a sua superação
em termos intelectuais. [...]

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 53.

35
■■ O que estou aprendendo?
■■ O que eu aprendi?
■■ Como se aprende/se convive?
■■ De que forma poderia aprender melhor?
■■ Como poderia agir/participar para aprender mais?
■■ Que tarefas e atividades foram realizadas?
■■ O que aprendi com elas? O que mais poderia aprender?
■■ O que eu aprendi com meus colegas e professores a ser e fazer?
■■ De que forma contribuí para que todos aprendessem mais?

Além disso, é necessária a atenção em situações do dia a dia em sala de


aula que podem indicar exemplos de autoavaliação:

[...] a ajuda às tarefas que pedem; a solicitação de textos complementares ou


novas explicações para noções sobre as quais ainda têm dúvidas; a insistência em
explicações sobre os porquês dos seus erros em tarefas; o auxílio em classe e extra­
classe solicitado a outros colegas; a reivindicação de tempo e espaço para conver­
sarem sobre questões de ensino e relacionamento com professores e co­legas. [...]
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 55.

Anotações

36
Tabela de conversão de séculos

Orientações para o professor


No calendário gregoriano, o nascimento de Jesus Cristo é um marco para a
contagem dos anos. É por esse motivo que existem as siglas a.C. (antes de
Cristo) e d.C. (depois de Cristo). Os anos que an­tecedem o nascimento de
Cristo são contados em ordem decrescente. Os anos que sucedem o nas­c imento
de Cristo são contados em ordem crescente.
Observe.
século XX a.C. (século 20 a.C.): de 2000 a 1901 a.C.

Orientações gerais
século XIX a.C. (século 19 a.C.): de 1900 a 1801 a.C.
século XVIII a.C. (século 18 a.C.): de 1800 a 1701 a.C.
século XVII a.C. (século 17 a.C.): de 1700 a 1601 a.C.
século XVI a.C. (século 16 a.C.): de 1600 a 1501 a.C.
2o milênio a.C. século XV a.C. (século 15 a.C.): de 1500 a 1401 a.C.
século XIV a.C. (século 14 a.C.): de 1400 a 1301 a.C.
Antes de Cristo

século XIII a.C. (século 13 a.C.): de 1300 a 1201 a.C.


século XII a.C. (século 12 a.C.): de 1200 a 1101 a.C.
século XI a.C. (século 11 a.C.): de 1100 a 1001 a.C.

século X a.C. (século 10 a.C.): de 1000 a 901 a.C.


século IX a.C. (século 9 a.C.): de 900 a 801 a.C.
século VIII a.C. (século 8 a.C.): de 800 a 701 a.C.
século VII a.C. (século 7 a.C.): de 700 a 601 a.C.
século VI a.C. (século 6 a.C.): de 600 a 501 a.C.
1o milênio a.C. século V a.C. (século 5 a.C.): de 500 a 401 a.C.
século IV a.C. (século 4 a.C.): de 400 a 301 a.C.
século III a.C. (século 3 a.C.): de 300 a 201 a.C.
século II a.C. (século 2 a.C.): de 200 a 101 a.C.
século I a.C. (século 1 a.C.): de 100 a 1 a.C.
Nascimento
de Jesus Cristo século I d.C. (século 1 d.C.): de 1 a 100 d.C.
século II d.C. (século 2 d.C.): de 101 a 200 d.C.
século III d.C. (século 3 d.C.): de 201 a 300 d.C.
século IV d.C. (século 4 d.C.): de 301 a 400 d.C.
século V d.C. (século 5 d.C.): de 401 a 500 d.C.
1o milênio d.C. século VI d.C. (século 6 d.C.): de 501 a 600 d.C.
Depois de Cristo

século VII d.C. (século 7 d.C.): de 601 a 700 d.C.


século VIII d.C. (século 8 d.C.): de 701 a 800 d.C.
século IX d.C. (século 9 d.C.): de 801 a 900 d.C.
século X d.C. (século 10 d.C.): de 901 a 1000 d.C.

século XI d.C. (século 11 d.C.): de 1001 a 1100 d.C.


século XII d.C. (século 12 d.C.): de 1101 a 1200 d.C.
século XIII d.C. (século 13 d.C.): de 1201 a 1300 d.C.
século XIV d.C. (século 14 d.C.): de 1301 a 1400 d.C.
século XV d.C. (século 15 d.C.): de 1401 a 1500 d.C.
2o milênio d.C. século XVI d.C. (século 16 d.C.): de 1501 a 1600 d.C.
século XVII d.C. (século 17 d.C.): de 1601 a 1700 d.C.
século XVIII d.C. ( século 18 d.C.): de 1701 a 1800 d.C.
século XIX d.C. (século 19 d.C.): de 1801 a 1900 d.C.
século XX d.C. (século 20 d.C.): de 1901 a 2000 d.C.

3o milênio d.C. século XXI d.C. (século 21 d.C.): de 2001 a 2100 d.C.

Existem algumas regras que nos auxiliam a identificar os séculos. Observe.


Quando o ano termina com dois zeros, o século será identificado pelos
dois primeiros algarismos.
■■ Ano 1500 = 1500 —Este ano pertence ao século XV
■■ Ano 2000 = 2000 —Este ano pertence ao século XX
Quando o ano não terminar com dois zeros, corte os dois últimos algaris-
mos e some 1 ao número restante.
■■ Ano 1789 = 1789 —17+1 = 18 — Este ano pertence ao século XVIII
■■ Ano 331 a.C. = 331 — 3+1 = 4 — Este ano pertence ao século IV a. C.

37
Sugestões de leitura
sobre o ensino de História
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas
e metodologia . Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos , vol. 1. 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2002. (Repensando o Ensino).
. (Org.). O saber histórico na sala de aula . 6. ed. São Paulo: Con-
texto, 2002. (Repensando o Ensino).
CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. (Coords.). Drogas nas escolas .
Brasília: UNESCO, 2002.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: Experiên-
cias, reflexões e aprendizados . Campinas: Papirus, 2003. (Magistério: Forma-
ção e Trabalho Pedagógico).
FONSECA, Thais Nívia de Lima e. História & ensino de História . 2. ed. Belo Ho-
rizonte: Autêntica, 2006. (História &... reflexões).
GRINBERG, Keila; LAGÔA, Ana Maria Mascia; GRINBERG, Lúcia. Oficinas de
história: projeto curricular de Ciências Sociais e de História. Belo Horizonte:
Dimensão, 2000.
JARES, Xesús R. Educação para a paz: sua teoria e sua prática. 2. ed. Trad.
Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propos-
tas . São Paulo: Contexto, 2003.
LUCINI, Marizete. Tempo, narrativa e ensino de História. Porto Alegre: Mediação, 1999.
MONTEIRO, Ana Maria F. C.; GASPARELLO, Arlette Medeiros; MAGALHÃES,
Marcelo de Souza (Orgs.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas . Rio
de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2007.
MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola . 3. ed. Brasília:
MEC/SEF, 2001.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula . São Paulo: Con-
texto, 2003.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens . 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2006. (História &... reflexões).
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de História . São Paulo:
Contexto, 2009.
SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. História & Do-
cumento e metodologia de pesquisa . Belo Horizonte: Autêntica, 2007. (His-
tória &... reflexões).
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História . São Paulo:
Scipione, 2004. (Pensamento e ação no magistério).
SILVA, Marcos; FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no século XXI: Em
busca do tempo entendido . Campinas: Papirus, 2007. (Magistério: Formação
e Trabalho Pedagógico).
TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e história . São Paulo:
Moderna, 2000.

38
Objetivos, comentários e

Orientações para o professor


sugestões

1
Capítulo

Estudar História é...

Objetivos, comentários e sugestões


Objetivos
■■ Entender a importância do estudo da História.
■■ Perceber que o conceito de tempo é essencial para o estudo da História.
■■ Compreender que os conceitos de sociedade, cultura, trabalho, política e
economia são fundamentais para o desenvolvimento dos estudos históricos.
■■ Perceber que os historiadores interpretam os fatos do passado por meio da
análise de fontes históricas.

O ensino de História e a construção da cidadania


[...] Qual(is) história(s) ensinar e qual cidadania queremos no Brasil, no século
XXI? [...] Qual sociedade sonhamos e construímos, cotidianamente, nos nossos
espaços de vida? Buscar essas respostas requer de nós, que temos como ofício o
ensino de História, um profundo olhar sobre os desafios do nosso tempo, as exi-
gências teóricas e políticas.
Proponho essa reflexão, partindo de duas premissas óbvias para os historiadores.
A primeira é pensar a História como disciplina fundamentalmente educativa, for-
mativa, emancipadora e libertadora. A História tem como papel central a formação
da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades,
e elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva. A segun-
da é ter consciência de que o debate sobre o significado de ensinar História proces-
sa-se, sempre, no interior de lutas políticas e culturais. [...]
A atual produção historiográfica nacional e internacional, inspiradora das novas
propostas de ensino de História, ao dar voz e lugar aos diferentes sujeitos históricos,
desafia os modelos ideológicos modificadores, homogeneizadores, que levam ao
obscurantismo e à autoexclusão. [...]
Podemos afirmar que, apesar do peso e da força dos modelos tradicionais de
educação, a principal característica do ensino de História no Brasil, no atual con-
texto histórico, é a busca incessante do fim da exclusão. Por caminhos distintos, os
diversos currículos e práticas pedagógicas tentam ampliar o campo da História
ensinada, incorporando temas, problemas, fontes e materiais. Assim, a escola fun-
damental e média tenta se constituir como espaço de construção de saberes e prá-
ticas fundamentais, reconstruindo a passagem de libertação do homem: de súdito
para cidadão. Somente o ensino de História comprometido com a análise crítica da
diversidade da experiência humana pode contribuir para a luta, permanente e fun-
damental, da sociedade: direitos do homem, democracia e paz.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. São Paulo:
Papirus, 2003. p. 89; 95-6. (Formação e Trabalho Pedagógico).

39
Comentários e sugestões

Páginas 8 e 9

Páginas de abertura do capítulo


■■ Na pintura de Vittore Carpaccio — fonte A — vê-se uma movimentação inten-
sa de pessoas em torno do Grande Canal de Veneza, no século XV. Os indiví-
duos foram representados com os trajes típicos da época. Nota-se a presen-
ça de religiosos na cena, concentrados em pequenos grupos. Os gondoleiros
também aparecem com as vestimentas típicas, assim como os passageiros.
No canto direito, um passageiro leva consigo um cãozinho. O fluxo das gôn-
dolas é intenso, em todos os pontos do canal. A arquitetura renascentista
pode ser percebida na edificação em primeiro plano, com detalhes que reme-
tem à cultura clássica. O canal é cortado por uma ponte de madeira por onde
circulam pessoas e o plano de fundo é composto por edificações (estabeleci-
mentos comerciais e moradias).
■■ A fonte B é uma fotografia recente com vista para o Grande Canal de Veneza,
por onde ainda circulam barcos e gôndolas. A ponte que atravessa o canal é
de alvenaria. À beira do canal, homens e mulheres caminham e fazem refeição.
No plano de fundo da fotografia, edificações que se destacam pelas suas
cores e pela arquitetura antiga.

Conversando sobre o assunto


■■ Ambas as fontes representam o cotidiano e a circulação de pessoas no mesmo
espaço, o Grande Canal de Veneza. Tanto a pintura quanto a fotografia podem
ser consideradas documentos históricos, uma vez que por meio delas é possível
fazer um estudo do cotidiano, dos usos e costumes de cada período retratado.
■■ Passaram-se mais de 500 anos entre a produção de uma fonte e outra. Entre as
transformações que ocorreram estão as indumentárias das pessoas, o número
de gôndolas circulando pelo canal, a construção da ponte (antes de madeira;
atualmente de alvenaria), a beira do canal, agora utilizada também como área de
gastronomia. Dentre as permanências é possível identificar a arquitetura das edi-
ficações, que mantiveram as características do século XV, sobretudo, o prédio
localizado no lado esquerdo: apesar da vista parcial na fotografia, percebe-se que
se mantiveram os detalhes que caracterizam a arquitetura clássica.
■■ Ao longo do tempo, algumas coisas passam por transformação por serem
parte de um conjunto de elementos que se modificam, sobretudo pela ação
humana. Para suportar o crescente número de pessoas, as cidades ganham
novos espaços, novos tipos de habitações (como prédios ou até mesmo fa-
velas), aumentam seus estabelecimentos comerciais e instituições, assim
como eleva-se o número de automóveis circulando pelas ruas. Em meio a
essas transformações, no entanto, há elementos que permanecem, seja para
a conservação do espaço (ou como preservação do patrimônio histórico),
como modo de afirmar a identidade e a memória local.

Página 10
■■ Desde o final da década de 1960, colocou-se um problema no campo da
História: seria ela ciência ou arte? Alguns historiadores acreditam que o

40
processo de construção do conhecimento histórico é mais artístico do que

Orientações para o professor


científico, pois a subjetividade e a imaginação do historiador, presentes nes-
se processo, retiram o estatuto de cientificidade do saber. Além disso, esses
estudiosos consideram a impossibilidade de se alcançar o passado tal como
ele aconteceu, sendo permitido ao historiador apenas interpretar essa reali-
dade passada, construída tanto pela fonte histórica analisada, quanto pelo
próprio historiador, que atribui a ela uma série de significações.
Embora o conhecimento histórico reflita, de fato, a subjetividade, a visão de
mundo, as apreensões e valores do historiador e de sua época, o que torna
a História uma ciência é justamente o comprometimento e a responsabilida-

Objetivos, comentários e sugestões


de desse historiador com as evidências que encontra para tratar de deter-
minado assunto, utilizando, para isso, métodos de análise das fontes. Faz
parte do trabalho do historiador utilizar a imaginação e a subjetividade no
processo de construção do conhecimento histórico; no entanto, como afirmou
o historiador francês Jacques Le Goff no verbete “História” da Enciclopédia
Einaudi , essa imaginação é uma “imaginação científica, que se manifesta
pelo poder da abstração”, portanto, deve ser capaz de expressar a opinião
do historiador em termos racionais de explicação, pois ao contrário das ci-
ências exatas, como a Física, a Química e a Matemática, a ciência histórica
é mais dedutiva do que demonstrável, baseada mais em avaliações do que
em descrições.

Explorando a imagem
■■ Oriente os alunos a compararem as fotografias da praça José de Alencar,
apontando as permanências e transformações no espaço. Explore com eles
os detalhes, os meios de transporte, monumentos, edificações, habitações,
pessoas circulando, a paisagem natural. Em seguida, proponha que elaborem
um texto apresentando essa análise. Para contextualizá-los historicamente
sobre as duas fotografias, apresente-lhes as informações do texto a seguir.

A Praça José de Alencar é o ponto de confluência de quatro importantes e


antigos bairros da cidade: Flamengo, Catete, Laranjeiras e Botafogo.
No local onde está situada a praça existia a famosa Ponte do Salema, que
cruzava o Rio Carioca, tendo a seu lado a barreira onde até 1866 era cobrado
pedágio de todo animal ou veículo que por ali passasse.
Com a urbanização do local foi erigida em 1897 a estátua do escritor brasi-
leiro José de Alencar, obra de Rodolpho Bernardelli, dando ao logradouro sua
denominação atual.
Em 1905, foi procedida a canalização do Rio Carioca, transformando-o em
um riacho subterrâneo cujo curso está exatamente sob a praça.
Hoje, além da estátua, só resta do século XIX, a Igreja Metodista, fundada
por americanos e ingleses em 1822, sendo este o primeiro templo da confissão
construída no Brasil [...].
SIQUEIRA, Ricardo (Org.). Rio de Janeiro Ontem e Hoje 2. Rio de Janeiro: O Autor, 2004. p. 72-3.

41
Página 12
■■ Aproveite a linha do tempo apresentada nessa página e explore com os
alunos a noção de simultaneidade. Reforce com eles que, no tempo históri-
co, é possível que dois ou mais acontecimentos ocorram em um mesmo
momento, isto é, que sejam simultâneos. Faça-lhes perguntas utilizando os
termos enquanto, no tempo em que, durante etc.

Página 14
■■ Analise os elementos das fotografias com os alunos. Comente que, corri-
queiramente utilizado pelo gaúcho do Rio Grande do Sul, a pilcha — nome
tradicional de sua vestimenta — é composta de botas de couro, bombachas,
uma calça de cós largo abotoada no tornozelo e com dois bolsos grandes
nas laterais, camisa, lenço atado ao pescoço (podendo ter diferentes tipos
de nós), e chapéu para se proteger do sol.
O vaqueiro do sertão nordestino, por sua vez, veste-se com o tradicional
gibão de couro, uma espécie de casaco utilizado para sua proteção, além
das calças com perneiras, alpargatas, luvas e chapéu de couro.
Comente com os alunos que a cultura pode também ser determinada pelo
país, estado, região ou cidade. Alguns países do Oriente Médio, por exemplo,
identificam-se por aspectos culturais relacionados a sua religiosidade. O isla-
mismo nesses países caracteriza seus modos, usos e costumes. Por outro lado,
na Argentina, as províncias do sul do país, que compõem a Patagônia, apresen-
tam regiões desérticas de clima frio e úmido e, por esse motivo, é escassamen-
te povoada. Parte da região, no entanto, é habitada pelos indígenas Mapuche,
que ainda mantêm tradições e ritos de sua cultura, originários de seus antepas-
sados. Nas províncias da região central do país, por sua vez, região conhecida
como Pampas, localizam-se terras férteis para a produção agrícola e de gado;
por conta disso, parte de sua população apresenta costumes e tradições antigas
que ainda estão presentes: a população é essencialmente rural.

Páginas 16 e 17
Sugestão de atividade

Análise de um documento escrito


■■ Realize, com os alunos, a atividade de compreensão da análise de documen-
tos escritos a seguir, proporcionando-lhes oportunidade de se perceber como
produtores da história.

Materiais
■■ Livros, revistas ou jornais que contenham um antigo documento escrito, ou se
possível, o próprio documento, por exemplo, cartas, cartões-postais, jornais,
panfletos, registros de nascimento, cardápios etc.
■■ Dicionários.
■■ Caderno para anotações.
Faça uma análise prévia dos documentos, verificando se são adequados
para a faixa etária a que se destinam.

42
Se possível, leve para a sala de aula diferentes documentos escritos e divida

Orientações para o professor


a turma em grupos, solicitando a cada grupo que analise um deles.
Apresente aos alunos de cada grupo o documento selecionado. Peça que
leiam-no atentamente e, em seguida, realizem a análise.
Análise dos elementos do documento
■■ Escrevam no caderno as palavras do documento que vocês não conhecem e
procurem seu significado;
■■ Façam um resumo das principais ideias de cada parágrafo.

Questionamento acerca dos documentos

Objetivos, comentários e sugestões


■■ Qual é a natureza do documento: lei, relatório, poema, discurso, memória,
relato de viagem, carta?
■■ Em qual época o documento foi produzido? Ele é contemporâneo ao fato re-
portado?
■■ Quem é o autor do documento? Qual é sua nacionalidade? Por que ele escre-
veu esse documento? Para que pessoa(s) esse documento é destinado?

Sugestão: oriente os alunos durante a realização da atividade, fornecendo


informações complementares que podem auxiliar na análise dos documentos, por
exemplo, os contextos históricos em que foram escritos, informações sobre seus autores
etc. Ao término da análise, reúna os alunos para que cada grupo possa apresentar as
conclusões a que chegaram. Para finalizar a atividade, cada aluno deve elaborar,
individualmente, um texto contando suas impressões sobre a realização da atividade.

■■ Se julgar conveniente, e quiser complementar o estudo das páginas, con-


verse um pouco com os alunos sobre a historiografia.
A historiografia é feita com base em pesquisas documentais e interpretações
de fatos históricos, que criam sentidos para a relação entre o passado e a
realidade presente. Assim, apesar de produzir conhecimentos a respeito do
passado, a historiografia não pode reconstruí-lo tal como aconteceu. Isso se
deve ao fato de não podermos voltar no tempo e recuperarmos os aconte-
cimentos exatamente como eles ocorreram. Analisamos o passado por meio
dos indícios que perduraram até o presente. Esses indícios podem ser inter-
pretados de maneiras diferentes e, por isso, existe uma grande diversidade
de produções historiográficas a respeito de um mesmo tema. Leia o texto a seguir.

Se nossa perspectiva de História se altera constantemente [...] e se a História


admite diferentes enfoques e versões, tudo o que conhecemos a respeito de um
fato é uma verdade atual. Em outras palavras, novos estudos e informações podem
alterar [...] essa verdade. Isso não quer dizer que estávamos errados, mas que a
descoberta de fontes inéditas e ainda a possibilidade de enxergar novos dados e
construir novas interpretações, a partir de fontes já existentes, abrem caminho pa-
ra uma nova visão, para a elaboração de uma nova verdade.
A verdade histórica está sempre sendo revisitada, revista e refeita. Não é algo
pronto e acabado à nossa espera. Ela se transforma porque mudam a época, a ma-
neira como elaboramos nossos questionamentos e, em decorrência, nossas moti-
vações para estudá-la. [...]
BOSCHI, Caio César. Por que estudar História? São Paulo: Ática, 2007. p. 29.

43
2
Capítulo

A formação da Europa medieval

Objetivos
■■ Compreender o conceito de Idade Média.
■■ Verificar quais foram os principais motivos do declínio do Império Romano.
■■ Conhecer aspectos da organização econômica, política e social dos povos
germânicos.
■■ Perceber que vários reinos germânicos se formaram nas regiões do antigo
Império Romano.
■■ Conhecer aspectos históricos do Império Romano do Oriente.
■■ Perceber a influência do Direito Romano nos códigos de leis de vários Estados
modernos.

Somos todos da Idade Média


Pouca gente se dá conta, mas muitos hábitos, conceitos e objetos que estão pre-
sentes no nosso dia a dia, inclusive o idioma que falamos, vêm daquela época.
Muitos professores consideram especialmente árdua a tarefa de ensinar História Me-
dieval. A distância que separa os alunos de época tão remota, argumentam alguns, seria
um dos principais obstáculos. Como despertar seu interesse por tema tão antigo? Como
passar às novas gerações conceitos, ideias e fatos que, aparentemente têm tão pouco a ver
com o mundo de hoje? Mas seria bem diferente se eles mostrassem aos seus discípulos
que, [...] embora muita gente não se dê conta, nosso cotidiano está impregnado de hábitos,
costumes e objetos que vêm de muito mais longe do que se pode imaginar.
Ao tratarmos de História do Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia
22 de abril de 1500, quando Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra
“descobriram” nossa terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de
si, toda uma história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, com-
portamentos e sentimentos? Aquilo que hoje é o Brasil não tem boa parte de sua
identidade definida pela longa história anterior de seus “descobridores”? Dizendo
de outro modo, nossas raízes são medievais, percebamos ou não este fato.
[...] Pensamos, falamos, lemos e escrevemos português, na maioria das vezes sem
darmos conta de que esse elemento central do patrimônio cultural brasileiro vem
da Idade Média. E não só porque nossa língua nasceu em Portugal medieval, como
qualquer língua, com o passar do tempo o português falado na sua terra de origem
foi se alterando bastante. Muitas das características do idioma falado hoje em dia
em Portugal — inclusive o que chamamos de sotaque daquele povo — são do sé-
culo XIX. Mas no Brasil esse idioma foi introduzido no século XVI por colonos que
falavam da mesma forma que cem ou duzentos anos antes, isto é, como em Portugal
medieval. Além disso, sendo o Brasil muito vasto e muito distante da metrópole
portuguesa, as lentas transformações na língua demoravam mais para chegar aqui.
Em resumo, falamos hoje um português mais parecido com o da Idade Média do
que com o de Portugal moderno [...].

44
Estudar História — de qualquer época ou de qualquer local — não deve ser ta-

Orientações para o professor


refa utilitarista, não deve “servir” para alguma coisa específica. A função de seu
estudo é mais ampla e importante; é desenvolver o espírito crítico, é exercitar a
cidadania. Ninguém pode atingir plenamente a maturidade sem conhecer a própria
história, e isso inclui, como não poderia deixar de ser, as fases mais recuadas do
nosso passado. Assim, estudar História Medieval é tão legítimo quanto optar por
qualquer outro período. Mas não se deve, é claro, desprezar pedagogicamente a
relação existente entre a realidade estudada e a realidade do estudante. Nesse sen-
tido, pode ser estimulante mostrar que, mesmo no Brasil, a Idade Média, de certa
forma, continua viva.

Objetivos, comentários e sugestões


FRANCO JR., Hilário. Somos todos da Idade Média. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro:
Sabin, n. 30, mar. 2008. p. 58-1.

Comentários e sugestões

Páginas 24 e 25

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é um relevo romano com detalhe de batalha entre romanos e ger-
mânicos. O relevo, feito em mármore, apresenta uma figura central, a cavalo,
provavelmente o imperador Caio Décio, que governou o Império Romano
entre 249 e 251. Foi esculpido em um sarcófago, e atualmente está no Museu
Nacional Romano, em Roma. Comente com os alunos que a maneira como
os combatentes foram representados é um dado interessante para a análise
dessa fonte. Chame a atenção para o fato de o relevo ter sido esculpido por
um artista romano durante a época de conflitos entre romanos e germânicos.
Peça-lhes para expressar suas opiniões sobre os motivos que levaram o ar-
tista a retratar os romanos altivos, com roupas de combate, armaduras, es-
padas, escudos, elmos, e os germânicos apavorados, submetidos ao exérci-
to romano. Incentive-os a se expressarem sobre quais aspectos das invasões
germânicas o artista pretendeu legar à posteridade, por exemplo.
■■ Produzida no século XVII, por François Chauveau, a gravura apresentada co-
mo fonte B representa a invasão germânica em Roma, sob o comando de
Alarico, rei dos visigodos. Como líder germânico, Alarico foi o primeiro a pro-
mover um saque ao Império Romano. Os guerreiros, em primeiro plano, inva-
dem o território romano em bandos, com armaduras, escudos e lanças, co-
mandados por Alarico, que toca a trombeta como sinal positivo para a invasão.
Em segundo plano, o exército romano avança, com homens a cavalo e com
indumentárias de guerra. As edificações, no plano de fundo, são também
tomadas pelos guerreiros de Alarico.
■■ A fonte C é um mapa de Constantinopla produzido por volta de 1420, que
delimita o território da capital do Império Romano. No mapa, Constantinopla
é cercada por um muro onde ficavam soldados que a protegiam contra a in-
vasão de inimigos. Nos limites da cidade, observam-se algumas edificações,
no centro da imagem, a igreja. No plano de fundo, castelo do imperador Cons-
tantino, limitado pelos muros edificados para sua proteção.

45
Conversando sobre o assunto
■■ Na fonte A, o relevo apresenta homens em combate: romanos lutando por
conta da invasão das fronteiras do império pelos germânicos. No relevo, os
romanos se sobressaem em relação aos germânicos, com suas indumentárias
e objetos que os auxiliariam no combate. Desse modo, submetem os germâ-
nicos à sua força. Os povos germânicos eram aqueles que viviam fora das
fronteiras do Império Romano, tinham seus próprios costumes, que eram di-
ferentes dos costumes romanos, habitavam a região da Germânia, e não fa-
lavam latim. Possuíam uma economia baseada na agricultura de subsistência,
vivendo em pequenas povoações.
■■ Na gravura, a fragilidade do Império Romano pode ser percebida pelo grande
número de combatentes comandados por Alarico, representando a decadên-
cia do poderio militar do exército romano.
■■ A fonte C é um mapa de Constantinopla, que delineia o espaço que representou
a capital do Império Romano do Oriente até meados do século XV. Ela se tornou
a capital, sobretudo por conta de sua estratégica localização, entre a Europa e a
Ásia, região por onde passavam parte das rotas comerciais marítimas e terrestres.
■■ As imagens podem indicar uma sequência de acontecimentos que levaram à
queda do Império Romano do Ocidente e à transferência da capital do Impé-
rio Bizantino para a cidade de Constantinopla. Apesar de as fontes A e B
serem contrapostas, denotam a batalha entre os povos germânicos e os ro-
manos. A primeira sugere uma supremacia dos romanos em detrimento dos
germânicos; a segunda, o poderio do exército de Alarico, rei dos visigodos,
ao saquear Roma. Essas batalhas desencadearam o enfraquecimento e a
consequente queda do Império Romano, dividindo-o em duas partes, Império
Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente e transferindo a capital do
último para a cidade de Constantinopla (fonte C).

Página 26
■■ Comente com os alunos que a Idade Média é um período histórico situado en-
tre a Antiguidade e a Idade Moderna. Muitos historiadores consideram que a
Idade Média tem início com a queda do Império Romano do Ocidente, no ano
de 476, e termina com a tomada da cidade de Constantinopla pelos turco-
-otomanos, em 1453. Esses acontecimentos, no entanto, são apenas referências
estabelecidas por historiadores para facilitar os estudos históricos. Dependendo
do objeto de estudo, outras periodizações e outros marcos históricos podem
ser utilizados. Além disso, os acontecimentos se desenvolvem em razão de uma
série de fatores e, por isso, não são interrompidos com rupturas pontuadas
naquele tempo ou espaço exato. São inúmeros fatos que influenciam nas mu-
danças e que se desenvolvem em continuidades e descontinuidades.

Página 27
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Qual fato
marca o início da Idade Média?; A passagem da Alta para a Baixa Idade
Média é marcada por quais fatos?; Qual fato marca o término da Idade Mé-
dia? etc. Cite um fato de curta duração ocorrido durante a Idade Média.
Em seguida comente com os alunos que a periodização da Idade Média em
Alta Idade Média (do século V ao X) e Baixa Idade Média (do século XI ao

46
XV) não é compartilhada por todos os historiadores que se dedicam ao es-

Orientações para o professor


tudo da medievalidade. O historiador francês Jacques Le Goff, por exemplo,
propôs uma periodização diferente. Leia o texto.

[...] Jacques Le Goff propôs a hipótese de uma longa Idade Média, do século IV
ao XVIII, quer dizer, “entre o fim do Império Romano e a Revolução Industrial”. É
verdade que, não mais do que o tradicional milênio medieval, esta longa Idade
Média também não é imóvel e seria absurdo negar as especificidades de sua última
fase, que chamamos habitualmente Tempos Modernos (efeitos da unificação do
mundo e da difusão da imprensa, ruptura da Reforma, fundação das ciências mo-
dernas com Galileu, Descartes e Newton, Revolução Inglesa e Estado absolutista,

Objetivos, comentários e sugestões


afirmação do Iluminismo, etc.). Essas novidades são consideráveis, mas, finalmen-
te, talvez não mais que a duplicação da população e da produção que se opera
entre os séculos XI e XIII e que constitui um crescimento excepcional na história
ocidental, de uma amplitude desconhecida desde a invenção da agricultura e que
não se reproduzirá antes da Revolução Industrial. A longa Idade Média, em seu
conjunto, é um período de profundas transformações quantitativas e qualitativas e,
quanto a esse aspecto, não há mais diferenças entre os séculos XVI e XVII e os
séculos XI a XII do que entre estes e a Alta Idade Média.
BASCHET, Jérôme. A Civilização Feudal: do ano 1000 à colonização da América. Trad. Marcelo Rede. São Paulo: Globo,
2000. p. 44.

■■ Caso julgue conveniente, para complementar o estudo da página, comente


com os alunos que os humanistas valorizavam as ações humanas e acredi-
tavam que os indivíduos estavam no cerne do desenvolvimento de seus
valores, manifestando-se em vários campos do conhecimento. Os iluministas,
por sua vez, defendiam sobremaneira o pensamento racional em substituição
às crenças religiosas e às respostas pela fé, desprezando os valores da
Idade Média. Em contrapartida, os românticos valorizaram as emoções e a
fé, negando a oposição total aos preceitos da religião. Suas paixões eram
manifestas nas artes plásticas, na literatura, na música, no teatro. Contra-
pondo-se aos últimos, os racionalistas primavam pelo conhecimento empi-
ricamente verdadeiro e universalmente válido. Sendo assim, buscavam es-
tudar a Idade Média para assim inferir sobre seus costumes e cotidiano.

Páginas 28 e 29
■■ Sobre o processo de declínio do Império Romano, a partir do século III,
apresente aos alunos as seguintes informações.

Tendo se encerrado a fase de expansão militar [no século II], tratava-se agora de
garantir as melhores condições de manutenção e defesa dos territórios conquista-
dos. As atividades bélicas deixaram de ter caráter ofensivo, passando a assumir um
caráter eminentemente defensivo.
No princípio do século IV, as antigas formações militares (legiões e guarda pre-
toriana) foram praticamente dissolvidas e em seu lugar apareceram duas unidades
militares específicas: as tropas de fronteira, colocadas em fortificações permanentes
nos limes, isto é, nos limites do mundo romano, com a incumbência de protegê-los
de eventuais invasões; e uma força tática móvel, colocada em posições estratégicas
no interior do território imperial.
A tais formas correspondem novas formas de recrutamento. As consequências eco-

47
nômico-financeiras da crise afetaram a estabilidade militar devido à dificuldade de
remuneração dos soldados. No século IV, uma das formas de pagamento do serviço
militar consistia na concessão de lotes de terra de fronteira a soldados regularmente
recrutados e incorporados aos quadros do exército quando cumpriam seu tempo regu-
lar de serviço ao fim de 25 anos. Era uma maneira de assegurar a presença de pessoas
capacitadas a defender as fronteiras em caso de ataque. Além disso, assiste-se a uma
gradual incorporação de tropas auxiliares germânicas aos efetivos do exército.
Com efeito, paralelamente aos fatores internos da crise do Império Romano, há
que se considerar o fator externo, relacionado com a irrupção de povos germânicos
no interior do império. Eles eram chamados pelos romanos de “bárbaros”, desig-
nação genérica de todos os povos que não falavam latim nem adotavam os padrões
da civilização greco-romana. Habitavam ao norte das fronteiras imperiais em regi-
ões da atual Europa Centro-Oriental e passaram a pressionar as fronteiras locali-
zadas nas proximidades dos rios Reno, Danúbio e Don.
Embora tivessem um longínquo parentesco, de uma matriz indo-europeia co-
mum (algo que se revela em traços sociais, religiosos e linguísticos [...]), nos sécu-
los IV-VI os povos germânicos estavam organizados em tribos e confederações de
tribos, podendo ser divididos em três grandes grupos étnico-regionais: os escandi-
navos (anglos, saxões e jutos) que habitavam nas proximidades do mar do Norte,
os germanos ocidentais (suevos, turíngios, burgúndios, alamanos e francos) que
habitavam nas proximidades do rio Elba, e os germanos orientais (godos, alanos,
alamanos, vândalos e lombardos) que habitavam entre os rios Elba e Don. A eles
vieram juntar-se um povo originário das estepes asiáticas, os hunos, cuja pressão
militar foi a principal responsável pela entrada dos germanos em território romano,
dando início à “avalanche bárbara”. Essa penetração, ora pacífica e ora violenta,
alteraria o mapa político do império, acirrando a crise já existente e contribuindo
decisivamente na fragmentação da unidade imperial. Dos escombros do claudican-
te Império Romano é que emergiriam os reinos bárbaros da Alta Idade Média.
MACEDO, José Rivair. Conquistas bárbaras. In: MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto,
2006. p. 79-80.

Página 30
■■ Sobre o direito consuetudinário, comente com os alunos que, baseado na
oralidade, e como produto dos costumes, esse princípio era considerado
uma propriedade do indivíduo, amparando-o em qualquer lugar que estives-
se. Valendo-se das tradições orais, em detrimento das leis escritas, o direito
dos germânicos influenciou sobremaneira a época medieval.

3
Capítulo

A época medieval na Europa

Objetivos
■■ Compreender o conceito de feudalismo.
■■ Perceber que a sociedade feudal foi formada pela combinação de tradições
romanas e tradições germânicas.
■■ Entender que a Igreja Católica se tornou a instituição mais influente da Europa
ocidental no decorrer da Idade Média.
■■ Perceber as transformações que marcaram a passagem da chamada Alta
Idade Média para a Baixa Idade Média.
■■ Estudar o que foram as Cruzadas, seus objetivos e consequências.

48
Feudalismo

Orientações para o professor


Feudalismo é um conceito histórico construído com o intuito de servir de ferra-
menta teórica para o estudo de determinado período na formação do Ocidente. Ou
seja, refere-se especificamente ao sistema político, econômico e social da Europa
medieval. Mas esse conceito pode se tornar também uma categoria de análise ao
ser aplicado a realidades tão diversas como o Japão medieval e o Islã. No entanto,
o modelo de feudalismo clássico foi construído a partir da Europa ocidental, prin-
cipalmente da França. O termo em si não é contemporâneo ao período que repre-
senta, pois só foi elaborado no século XVII. Mas o mundo medieval conhecia a
palavra feudo, usada para nomear a posse e usufruto de uma parcela do patrimônio

Objetivos, comentários e sugestões


fundiário do rei. [...]
O feudalismo é tema que suscita questões bastante atuais, que podem ser levadas
para o cotidiano da sala de aula: a existência de latifúndios e de pessoas sem terra,
a permanência de relações servis no campo, a intolerância religiosa etc. Podemos
relacionar essas questões contemporâneas com as estruturas feudais que as prece-
deram. Tal tema, assim, pode ganhar muito se trabalhado a partir de uma relação
com o presente. Um estudo atento do feudalismo e da Idade Média como um todo
não deve também cair na visão preconceituosa de que estamos lidando com uma
“Idade das Trevas”, com um momento de obscurantismo na História. No seio da
sociedade feudal surgiram muitos elementos que a Idade Moderna adotou.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 150-3.

Comentários e sugestões

Páginas 42 e 43

Páginas de abertura do capítulo


■■ A iluminura produzida no século XV — fonte A — apresenta, em primeiro pla-
no, indivíduos trabalhando na colheita de uvas. Homens e mulheres com
vestimentas características dos camponeses da época medieval dividem-se
nas tarefas da vindima, depositando as uvas para serem transportadas pelos
animais para o castelo, no plano de fundo. Comente com os alunos que alguns
avanços na área agrícola permitiram um aumento significativo na produção
destes gêneros, como é o caso da utilização da atrelagem de animais, permi-
tindo o transporte de produtos. A iluminura pertence ao livro As Riquíssimas
Horas do Duque de Berry e a vindima retratada se refere ao mês de setembro.
Considerado um dos mais belos livros de horas da Idade Média, constitui-se
uma preciosa fonte de temas do cotidiano da época, apresentando temas
relacionados aos ciclos da agricultura e ao calendário das festas religiosas.
Atualmente o livro está no Museu Conde, no Castelo de Chantilly, no norte da
França.
■■ A iluminura apresentada como fonte B representa membros da Igreja abenço-
ando um grupo de cavaleiros de partida para uma guerra. O grupo de religio-
sos se direciona aos cavaleiros com a elevação de cruz para a benção. Co-
mente com os alunos que os cavaleiros partiam para lutar em uma cruzada,
expedição que objetivava a reconquista da cidade de Jerusalém para os
cristãos, que naquela época estava sob o domínio dos turco-otomanos.

49
■■ O mercado medieval representado na fonte C apresenta o cotidiano do co-
mércio na cidade. Estabelecimentos com vendas de tecidos, especiarias, e
ervas medicinais compõem o contexto retratado na iluminura. No plano de
fundo, vê-se um barbeiro em atividade, atendendo seu cliente. A arquitetura
com janelas pequenas caracteriza o período medievo, assim como a indumen-
tária dos personagens da imagem, que vestem tanto saios — um tipo de
vestido sem botões que chegavam até os joelhos —, vestimenta típica das
camadas pobres, quanto gloneles — espécie de vestido com mangas largas
— e túnicas que iam até o pescoço e eram apertadas na cintura, vestes das
camadas ricas. Pelas vestimentas é possível perceber, pois, que os mercado-
res medievais tinham a possibilidade de enriquecer com o comércio de seus
produtos. Comente com os alunos que, diferentemente da fonte B, produzida
no século XIV, esta iluminura já apresenta um desenho em perspectiva, com
os elementos dispostos em camadas e em profundidade.
■■ Outra iluminura medieval, a fonte D representa a atividade de um cambista. O
homem ganha destaque no centro da imagem, com cores trabalhadas em
fundo branco. Sentado, ele apoia as mãos no suporte onde ficam suas moedas.
Comente com os alunos que as atividades dos cambistas estão na origem do
sistema bancário moderno, e que a representação da atividade na iluminura
indica o seu costume na Europa medieval, sobretudo com o aumento do fluxo
populacional nas cidades.

Conversando sobre o assunto


■■ Na fonte A, as pessoas representadas são camponeses que trabalham na área
agrícola. Pertencentes a este grupo, trabalhavam nos feudos como servos. A
fonte B, por sua vez, representa dois grupos sociais da sociedade feudal: a
nobreza, que guerreava e era formada por reis, condes, marqueses e duques,
e o clero, formado por religiosos da Igreja Católica, como bispos, cardeais,
padres e monges.
■■ O castelo (fonte A) abrigava a nobreza da Europa medieval, grupo que foi re-
presentado na fonte B pelos cavaleiros cruzados. Além disso, era para esse
local que eram levados os produtos agrícolas cultivados e colhidos pelos
camponeses.
■■ A fonte C representa o cotidiano em um mercado medieval, e a fonte D, um
cambista com seus produtos. A disposição dos estabelecimentos e das mer-
cadorias são típicas de um mercado medieval. Pela iluminura pode-se notar a
comercialização de produtos como tecidos, roupas, especiarias, e prestação
de serviços, como barbearia.
■■ O cambista representado na fonte D trabalha com a troca de moedas. Sua
atividade era de suma importância na Idade Média uma vez que, com a entra-
da de moedas vindas de várias regiões, eles podiam facilitar as negociações
dos mercadores, fazendo a troca de moedas quando necessário.

Página 44
■■ Comente com os alunos que a expressão “carolíngio” se refere ao nome do
imperador Carlos Magno.
■■ Sobre os reinos romano-germânicos, comente com os alunos que a Europa
medieval emergiu a partir da fusão destes dois reinos. Os povos germânicos
que ocuparam a Europa Ocidental encontraram um mundo ruralizado, no

50
qual se destacavam os latifúndios e uma grande massa de camponeses e

Orientações para o professor


escravos vinculados à terra e às atividades agrárias. De modo geral, as elites
germânicas se uniram às elites romanas, principalmente por meio de casa-
mentos e de laços de fidelidade, o que contribuiu para a mistura de tradições
romanas e germânicas. Mencione sobre o direito germânico, que era con-
suetudinário, e passou a ser compilado em latim, idioma que continuou a
ser usado nas funções burocráticas. Além disso, muitas instituições romanas
foram mantidas, principalmente os órgãos da administração municipal. A
cristianização dos povos germânicos foi outro elemento integrador entre
essas culturas: em um continente fragmentado politicamente após o fim do

Objetivos, comentários e sugestões


Império Romano, a autoridade espiritual da Igreja se tornou um importante
elemento unificador.

Página 45
■■ Nos séculos VIII e IX ocorreu um movimento de renovação cultural no Impé-
rio Carolíngio. Esse movimento, conhecido como Renascimento Carolíngio,
se caracterizou pelo incentivo à atividade intelectual e pela criação de centros
educacionais e culturais. Além disso, foram feitas cópias manuais de livros
antigos e foram publicados vários manuais pedagógicos e filosóficos.

Página 46
■■ Comente com os alunos que o período feudal se caracterizou pelas relações
de vassalagem e de servidão. Independentemente da condição social dos
indivíduos, havia entre eles uma relação de dependência pessoal. Quando um
nobre ou um cavaleiro se vinculavam ao senhor feudal, tornavam-se vassalos
do senhor feudal, e ele um suserano. Quanto aos camponeses pobres, quan-
do se vinculavam ao senhor feudal, passavam a ser seus servos. Sobre essas
relações de dependência no período medieval, leia o texto a seguir.

[...] A vassalagem funcionava como uma prestação de homenagem que um nobre


fazia a outro mais poderoso, passando esse a ser seu suserano. O vassalo devia a
seu senhor lealdade e serviços, em geral militares. Em troca o suserano fornecia
proteção e meios materiais para sua manutenção. Meios que poderiam ou não ser
um feudo.
No caso de servidão, eram duas as principais formas de sujeição: a sujeição do
indivíduo e a sujeição da terra. Na primeira forma, o servo pertencia ao senhor, que
em geral se apropriava apenas de seu trabalho [...]. Na segunda forma, os senhores
arrendavam parcelas de sua terra a camponeses livres em troca de porcentagem na
produção e pagamentos de serviços, as chamadas corveias. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 152.

Páginas 48 e 49
■■ O texto a seguir trata dos castelos medievais no imaginário ocidental.

O castelo medieval está estreitamente ligado ao feudalismo, e a imagem recor-


rente que o imaginário europeu constrói dele confirma que a época e o sistema

51
feudal, desde o século X até a Revolução Francesa, formaram uma camada funda-
mental das realidades materiais, sociais e simbólicas da Europa. De modo geral,
pode-se identificar uma evolução lenta, mas constante, do castelo medieval, que
passa da posição de fortaleza à de residência. Como ele está intimamente associado
à atividade militar, é notável que sua transformação tenha sido suscitada de forma
decisiva por uma revolução técnica nos séculos XIV-XV, ou seja, a artilharia. Suas
muralhas não resistem mais ao canhão, e o castelo medieval passa a ter o status de
relíquia, símbolo, ruína e, para muitos, nostalgia. Porém, com relação ao período
[chamado de] longa Idade Média [séculos IV a XVIII] que nos interessa aqui, pro-
pomos uma definição do castelo medieval: a de fortaleza habitada.
Do século X ao XII, o castelo medieval surge primeiramente sob duas formas:
na Europa do Norte, com torres e habitações modestas e fortificadas erigidas sobre
lugares altos naturais ou artificiais (trata-se do castelo em cima de um montículo);
na Europa Meridional, este castelo precoce é erguido mais frequentemente sobre
locais altos naturais e rochosos, os rochedos. [...]
De modo geral, o castelo, bem como o claustro, não pode ser separado do seu
ambiente natural. O castelo enraizou o feudalismo no solo. [...] O castelo permanece
associado ao campo e mais ainda à natureza, embora em certas regiões da Europa ele
seja construído dentro das cidades, como Normandia (Caen), na Flandres (Gante) e
principalmente na Itália. Ele constitui a unidade do conjunto espacial de habitação
estabelecido pelo feudalismo na realidade e no imaginário europeu. [...] De modo
geral, a imagem do castelo medieval ainda viva no imaginário ocidental lembra que
naquela época a guerra era onipresente, e o herói principal, ao lado do santo desig-
nado pela graça de Deus, um guerreiro que se distinguia antes pelo prestígio de sua
residência estreitamente ligada à guerra que por suas proezas.
Outro sinal da permanência do castelo medieval no imaginário europeu [e oci-
dental] é a importância que esta imagem adquiriu na sensibilidade das crianças. O
castelo medieval é objeto de exercícios e desenhos em sala de aula. Ele povoa os
desenhos animados, filmes, propagandas de televisão, espetáculos de sons e luzes.
Dentre as maravilhas medievais, o castelo aumentou sua influência pela conquista
dos espíritos e sensibilidades infantis.
LE GOFF, Jacques. Heróis e maravilhas da Idade Média. Trad. Stephania Matousek. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 90-2; 105.

Páginas 50 e 51

Explorando a imagem
■■ Explore os elementos do infográfico com os alunos. Comente que a principal
atividade econômica no período medieval era a agricultura. No entanto, nos
últimos séculos da Idade Média, atividades como o artesanato e o comércio se
multiplicaram e passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas que viviam
tanto nos feudos quanto nas cidades. Essas atividades permitiram maiores
trocas culturais e monetárias no período, o que provocou a expansão da eco-
nomia feudal. Em seguida, peça aos alunos que, em dupla, analisem os elemen-
tos do infográfico, apontando as características do ambiente retratado, a pai-

52
sagem natural no plano de fundo, as atividades dos servos no manso senhorial

Orientações para o professor


e nos mansos servis; as atividades agrícolas representadas, bem como o local
e a prática do artesanato e do comércio. Peça que mencionem a igreja em sua
análise como parte do cotidiano da sociedade feudal, assim como os castelos,
estabelecendo a relação entre o senhor feudal e os servos e sua relevância
para a economia. Diga-lhes para compararem as habitações e observarem as
vestes dos indivíduos, fazendo considerações sobre suas camadas sociais, de
acordo com o conteúdo do capítulo. Em seguida, proponha que construam um
pequeno texto com suas percepções sobre o cotidiano medieval.

Objetivos, comentários e sugestões


Página 53
■■ Para que os alunos compreendam melhor a relação entre a transformação
na espiritualidade medieval e a arquitetura das igrejas, comente que até o
século XII predominavam as igrejas em estilo românico. Essas igrejas pos-
suíam paredes largas e espessas e tinham poucas janelas. Esse estilo vigo-
rava porque havia, até então, a concepção de que as igrejas eram fortalezas
de Deus, isto é, lugares protegidos da realidade. A partir do século XII, en-
tretanto, a maioria das igrejas passou a ser construída em estilo gótico, que
tinha como principais características torres altas, janelas grandes decoradas
com vitrais e teto com abóbadas muito altas. Isso demonstrou não apenas
uma mudança de estilo, mas também uma transformação na espiritualidade
medieval, indicando uma relação mais aberta à realidade externa. Nesse
período, a luz passou a ser considerada pelos cristãos um símbolo de Deus.
Assim, a arte dos vitrais nas grandes janelas é uma das principais marcas
das igrejas em estilo gótico.
Leia o texto a seguir.

É importante lembrar que para os medievos não havia arte pela arte, imagens
feitas apenas pelo seu valor estético. A finalidade didática delas era essencial.
No românico essa característica era muito acentuada, daí, por exemplo, as fre-
quentes cenas do Juízo Final colocadas logo na entrada, lembrando que somente
dentro da igreja (edifício religioso) e da Igreja (instituição) era possível a salvação.
A arquitetura sólida, de largas paredes, grossos pilares e poucas janelas, não era
apenas resultado das limitações técnicas da época, mas, sobretudo da necessidade
de fazer das igrejas “fortalezas de Deus”. Na mesma linha, o românico não tinha
preocupação de retratar a realidade visível, pouco importante, e sim de revelar a
essência das coisas, daí o forte simbolismo daquela arte.
No gótico, arte urbana sem deixar de ser religiosa — as referências medievais
sempre permaneceram ligadas ao sagrado —, o espaço da cultura vulgar era maior.
O fundamental continuava a ser a arquitetura religiosa, mas as catedrais góticas
contavam, para ser erguidas, com a indispensável colaboração da burguesia local e
da monarquia. Atendiam, portanto, a necessidades espirituais e práticas diferentes
das do românico. Expressão de uma nova sociedade em formação, o gótico estava
ligado à cultura que se desenvolvia nas escolas urbanas, ao pensamento que procu-
rava harmonizar Fé e Razão. Concebia-se Deus como luz (daí os vitrais) e valori-
zava-se seu lado humano (daí o culto à Virgem).

53
A natureza passava a ser vista como parte essencial da criação, por isso se pro-
curava retratá-la com realismo. Essa postura revela tanto uma nova sensibilidade
(cuja melhor expressão é São Francisco) quanto uma nova preocupação intelectu-
al, cuja melhor expressão é a retomada de Aristóteles. O gótico estava exatamente
nesse equilíbrio entre as coisas tão diferentes como as representadas pelo santo e
pelo filósofo.
FRANCO JR., Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 111.

Página 55
■■ Para complementar o tópico sobre os burgos e os burgueses, comente com
os alunos que, com o crescimento das cidades e do comércio internacional,
os mercadores se instalaram inicialmente nos subúrbios das cidades, em
bairros localizados fora das muralhas, onde comercializavam seus produtos.
Conforme foram se destacando econômica e politicamente, conquistaram
vários privilégios. Primeiramente, foi promovida a ampliação da muralha ao
redor de seus bairros, que foram chamados de burgos. Os mercadores que
controlavam os burgos, denominados burgueses, receberam o título de ci-
dadãos livres e conquistaram, por meio das cartas comunais, maior autono-
mia para comercializar seus produtos, bem como o direito de pegar em armas
para defender seus interesses. Com todos esses privilégios, eles ascenderam
socialmente e passaram a criticar os privilégios feudais, além de reclamar
por maior participação política.

Sugestão de atividade
■■ Conhecer os vários aspectos da Idade Média é importante para que os alunos
não construam uma visão estereotipada sobre esse importante período histó-
rico. Apresente a eles o texto abaixo e, depois, faça-lhes os questionamentos
apresentados em seguida.

[A Idade Média] conservou o nome que lhe foi dado pelo Renascimento e que
tinha, no começo, um sentido pejorativo: [era] uma época cruel ou “tenebrosa”, ao
mesmo tempo violenta, obscura e ignorante. Sabemos, atualmente, que essa imagem
é falsa, mesmo que tenha existido uma Idade Média da violência: não apenas contra
judeus, com o começo do antissemitismo, e repressão contra os rebeldes aos ensina-
mentos da Igreja, aqueles que eram chamados de “hereges”, por meio da Inquisição.
As Cruzadas, evidentemente, também fazem parte do balanço negativo.
Mas a Idade Média foi também, acho até que principalmente, um grande período
criativo. Podemos ver isso nos domínios da arte, das instituições, sobretudo nas
cidades (por exemplo, nas universidades), ou ainda no campo do pensamento — a
filosofia que chamamos de “escolástica” atingiu altos patamares do saber. Também
vimos até que ponto a Idade Média criou “lugares de encontro” comerciais e fes-
tivos (as feiras, as festas), que continuam a nos inspirar.
Além disso, a Idade Média realizou uma curiosa combinação entre a diversida-
de e a unidade. A diversidade é o nascimento daquilo que começa a constituir as
Nações: a França e a Alemanha, a partir do século IX, a Inglaterra, no final do
século XI, e também a Espanha, quando Castela e Aragão se reuniram pelo casa-
mento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, no final do século XV. A uni-

54
dade, ou uma certa unidade, vem da religião cristã, que se impõe por toda parte.

Orientações para o professor


[...] Essa religião reconhece a distinção entre clérigos e leigos, de modo que pode-
mos dizer que a Idade Média, de modo geral, marcou o nascimento de uma socie-
dade leiga. [...]
Falta dizer que a Idade Média foi o período no qual surgiu e foi construída a
Europa. Se cada período de civilização tem um papel, uma missão, no conjunto
do desenvolvimento histórico, podemos dizer que a missão da Idade Média foi a
de permitir o nascimento, de “engendrar” a Europa. Devemos hoje procurar con-
solidá-la e completá-la; a Idade Média legou, portanto, à Europa um movimento
ao mesmo tempo de unidade e diversidade, que ainda pode servir de inspiração.

Objetivos, comentários e sugestões


Não é por acaso que o termo “Europa”, pouco frequente nos escritos da Idade Média,
surge na metade do século XV, no título de um tratado atribuído ao papa Pio II.
LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Trad. Hortencia Lencastre. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 111-3.

a ) Em que período da história surgiu o termo Idade Média?


b ) Qual era o sentido que esse termo tinha em sua origem?
c ) Cite dois aspectos negativos da Idade Média.
d ) Cite dois aspectos positivos da Idade Média.
e ) Explique o que o autor quis dizer ao afirmar que a Idade Média “realizou
uma curiosa combinação entre a diversidade e a unidade”.
f ) Qual foi o papel da Idade Média no conjunto do desenvolvimento histórico?
g ) Com base no texto e no que você aprendeu nesse capítulo, produza um
texto explicitando quais foram, em sua opinião, os acontecimentos mais
importantes da Idade Média. Depois de pronto, troque seu texto com o
de um colega e conversem sobre as semelhanças e as diferenças entre
as opiniões de vocês.
Respostas: a) Foi durante o Renascimento que surgiu o termo Idade Média. b) Quando o
termo Idade Média surgiu, ele tinha um sentido pejorativo, como se esse período fosse cruel,
tenebroso, violento, obscuro e ignorante. c) Os aspectos negativos da Idade Média podem ser:
violência contra os judeus, que marca o começo do antissemitismo, repressão contra os rebel-
des aos ensinamentos da Igreja, e as Cruzadas. d) Os aspectos positivos da Idade Média
podem ser: surgimento de diferentes formas de expressão artística; criação de instituições
como as universidades; criação de lugares festivos como as feiras e as festas. e) O autor quis
dizer que, ao mesmo tempo em que ocorria a diferenciação dos países europeus durante a
Idade Média, a Europa manteve certa unidade em função da adoção da religião cristã. f) O
papel da Idade Média no conjunto do desenvolvimento histórico foi o de permitir o nascimento
da Europa. g) Pessoal. Muita atenção ao realizar a última questão proposta, visto que pode
ocorrer diversidade de opiniões entre os alunos. No entanto, não permita que façam comen-
tários preconceituosos, e reforce a importância do respeito aos povos e culturas do passado.

4
Capítulo

A expansão do Islã

Objetivos
■■ Conhecer aspectos culturais dos povos que viviam na península Arábica no
século VII.
■■ Estudar a formação do Império Islâmico.
■■ Estudar a contribuição técnica e cultural dos muçulmanos na península Ibérica.
■■ Conhecer os cinco princípios fundamentais do islamismo.

55
A reação da maioria não muçulmana: do sonho da integração à
islamofobia
[...] A presença crescente de muçulmanos na Europa (e nos EUA) tem tornado
o Islã um elemento permanente no tecido social. Espera-se, em seguida, o surgi-
mento de um Islã ocidental, assim como há um budismo ocidental, um catolicismo
chinês etc. [...] A questão não é apenas como a imigração moldará o Islã da mino-
ria muçulmana, mas também como a civilização ocidental mudará sob a influência
da implantação muçulmana em seu seio. É aí que predominam as resistências.
O elemento da rejeição, na verdade, tem sido mais forte que o da integração. O anglo-
-irlandês Fred Halliday, conhecido especialista em relações internacionais e Oriente
Médio, chama isto de “antimuçulmanismo”. Outros autores, como o francês Alain
Gresh, cunharam o termo “islamofobia” para definir o conjunto de atitudes negativas
frente ao Islã. Tais atitudes, que se encontram de Portugal até a Suécia (além de ter
correlatos, por exemplo, na civilização ortodoxa Sérvia e entre os hindus na Índia),
certamente são anteriores ao atual encontro com o Islã e mesmo à época imperialista
[...]. O encontro entre a Europa e o Islã é mais antigo; nem sempre foi hostil mas, mes-
mo assim, os preconceitos estão enraizados em ambos os lados. Encontros históricos
mais remotos, como as Cruzadas e o assédio de Viena, são realimentados nessa ideo-
logia. Trata-se de uma “invenção de tradição”, com crescente apelo popular.
Portanto, se islamofobia [...] instrumentaliza velhos estereótipos, como construção
ideológica ela é nova, ligando dois grupos de fenômenos percebidos como perigosos:
por um lado, ameaças estratégicas (relacionadas com o petróleo, o terrorismo, os
palestinos, as armas de destruição em massa); por outro, ameaças de ordem demo-
gráfico-cultural (questões de imigração e de (in)compatibilidade religiosa, racial ou
cultural). Na Europa se desenvolve mais a islamofobia demográfica — fomentada
ainda pela crise econômica e trazendo em seu bojo reações xenofóbicas — do que a
estratégia. A causa é clara: a Europa que, ao contrário da América, nunca se conside-
rou terra de imigração, está sendo desafiada com o repentino influxo de um grupo,
apesar das nuances, claramente muçulmano e, daí, “impossível de ser assimilado”.
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 179-80.

Comentários e sugestões

Páginas 62 e 63

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fotografia apresentada na fonte A retrata uma multidão de fiéis muçulmanos
em oração, em torno da Caaba , na cidade de Meca. Esta edificação é cober-
ta por um manto escuro com bordados dourados e abriga a Pedra Negra,
chamada Hajjar-al-Aswad, uma das relíquias mais sagradas para o Islã. Co-
mente com os alunos que Caaba é uma palavra de origem árabe e significa
“Casa de Deus”. Trata-se de uma edificação cúbica de aproximadamente 15
metros de altura. Segundo a tradição religiosa islâmica, o santuário foi cons-
truído por Ibrahim (Abraão) e seu filho Ismael, em obediência a uma ordem de
Alá. Comente também que, todos os anos, cerca de dois milhões de fiéis se
dirigem para Meca para realizar suas orações ao redor da Caaba .

56
■■ Produzida no século XX, a fonte B é uma pintura que representa a partida de

Orientações para o professor


guerreiros islâmicos para a guerra de expansão de seus domínios. Os comba-
tentes estão a cavalo e apresentam indumentárias e adornos de sua religião,
como o hijab , um acessório utilizado na cabeça, e armas nas mãos para o
combate. O plano de fundo contextualiza a abordagem da pintura, com a
imagem de uma mesquita muçulmana.
■■ A fonte C é uma ilustração que representa parte da história de Aladim, pre-
sente na obra literária árabe As mil e uma noites . Aladim está em primeiro
plano, de costas e, ao ver o gênio saindo da lâmpada, levanta sua cabeça de
modo a fazer seus pedidos a ele. A figura do gênio é imponente com relação
a Aladim, com dimensões que ocupam quase todo o espaço da ilustração,

Objetivos, comentários e sugestões


braços fortes e cruzados, cabeça com turbante e olhos cerrados.
■■ A fonte D é uma gravura com inscrições árabes e ilustração de um alambique,
o qual representa o processo de destilação, uma invenção árabe.

Conversando sobre o assunto


■■ Meca é considerada sagrada para os muçulmanos porque é a cidade de
nascimento de Maomé, seu profeta. É também nessa cidade que se localiza
a Pedra Negra, uma relíquia sagrada abrigada na Caaba, atraindo inúmeros
fiéis que se unem para orar em torno deste monumento todos os anos. Co-
mente com os alunos que a cidade de Meca é uma das mais antigas da pe-
nínsula Arábica e, atualmente, é uma das maiores da Arábia Saudita. Os
membros da Dinastia Saudita — que governam o centro e o norte da penín-
sula desde 1932 — têm procurado manter grupos de apoio aos peregrinos,
principalmente no mês de Dhu al-Hijja , do calendário muçulmano. Nesse mês,
milhões de fiéis de todo o mundo efetuam o Hajj , a grande peregrinação que
inclui uma série de rituais, passando pela Grande Mesquita e por outros trechos
da cidade de Meca.
■■ Na fonte B, percebe-se a movimentação de cavaleiros muçulmanos perten-
centes ao exército, partindo especificamente para lutas pela expansão dos
domínios islâmicos, montados a cavalos e com armas para guerra.
■■ Além da história de Aladim , há também as bem populares histórias de Ali Ba-
bá e os quarenta ladrões ; As sete viagens de Simbá, o marujo e Sherazade .
■■ A fonte D apresenta a ilustração de um alambique, criação dos árabes. É uti-
lizado em processos de destilação de álcool, perfume, óleo, remédio, entre
outras substâncias.

Página 65
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Em qual
século teve início a expansão islâmica?; Qual fato ocorreu antes: a morte de
Maomé ou a conquista da península Ibérica pelos muçulmanos? etc. Cite um
fato de curta duração ocorrido durante a dinastia Abássida.

Página 66
■■ Sobre o jihad , leia as informações a seguir.

[...] É preciso destacar o conceito ambíguo do jihad, comumente traduzido como


guerra santa. Literalmente, jihad quer dizer “esforço em favor de Deus”. Abraçar o

57
islã implicava, desde o começo e até hoje, tanto para o indivíduo quanto para a co-
munidade, assumir um compromisso total — para reger a própria vida nos moldes
prescritos por Deus, para imbuir a sociedade com a letra e o espírito da lei divina e
para propagar a verdadeira religião no mundo inteiro. Jihad, então, pode apontar
para a disciplina da transformação interior (o grande jihad) tanto quanto para o
empenho na guerra de conversão dos infiéis, externa e, se necessário, violenta (o
pequeno jihad). “Luta” ou “militância” aproximariam melhor o sentido da palavra.
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 36.

Página 67
■■ O texto a seguir expõe alguns aspectos da sociedade islâmica na Espanha.

Enquanto Cristóvão Colombo partia de Palos rumo a um continente que ele não
imaginava encontrar, um número bem maior de pessoas corria aos portos em bus-
ca de navios que os conduziriam a destinos igualmente incertos. Por decreto real,
os judeus da Espanha — ou de Sefarad, como eles a chamavam — estavam obriga-
dos a optar entre a conversão à “verdadeira fé católica ou o exílio. 1492 está mar-
cado em nossa imaginação como o início de uma era, o ano da descoberta da
América. Mas é também um triste marco final. Isabel de Castela e Fernando de
Aragão, os monarcas espanhóis que comissionaram o capitão genovês para desbra-
var uma rota alternativa até o Extremo Oriente, também enterraram para sempre
uma das mais ricas experiências de tolerância religiosa da história ocidental. [...]
A Idade Média não se resume a feudalismo, peste e cruzadas. A Espanha islâmica
— chamada de Al-Andalus em árabe, daí o nome atual da região sul do país, Anda-
luzia — era um lugar luminoso, a vanguarda cultural e científica da Europa. Sobre-
tudo, era um espaço raro (aliás, único) de convivência pacífica e de intercâmbio
criativo entre as três grandes fés monoteístas, islamismo, cristianismo e judaísmo. [...]
Em janeiro de 1492, no episódio culminante da “reconquista”, o último e acuado
soberano islâmico cederia a chave do belíssimo palácio de Alhambra, sede do gover-
no de Granada, a Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Os reis católicos assinaram
um tratado em que se comprometiam a preservar a liberdade religiosa dos muçul-
manos. Não o cumpriram. O espírito da época era outro e a Espanha firmava-se
como uma nova nação, unificada sob uma só igreja e falando uma só língua. [...]
TEIXEIRA, Jerônimo. Muçulmanos, judeus e cristãos em paz: a idade das luzes. Extraído do site: <http://historia.abril.com.
br/cotidiano/muculmanos-judeus-cristaos-paz- idade-luzes-433401.shtml>. Acesso em: 16 fev. 2012.

Sugestão de atividade
Pesquisa
■■ Muitas são as influências árabes sobre outras culturas. O legado cultural dos
al-Andalus — como eram chamados os árabes pelos habitantes da península
Ibérica — permeou espaços e costumes. Além do legado técnico e científico,
os árabes influenciaram o mundo com sua culinária.

Os árabes [...] não só introduziram novas culturas como divulgaram seus ban-
quetes refinados e o uso do açúcar na confeitaria. Além disso, difundiram frutos
cítricos, como o limão siciliano, o limão taiti e a laranja azeda [...] e o gosto por

58
amêndoas, tâmaras, damascos e pistaches. Também foi nesse período que renasceu

Orientações para o professor


o interesse pelos sabores sofisticados das especiarias, tão apreciados anteriormen-
te pela elite romana.
A expansão árabe não parou por aí: motivou a introdução e a difusão do con-
sumo do espinafre, da berinjela e do arroz na Península Ibérica. O arroz com leite
e o arroz-doce com canela também são legados do período al-Andalus [...].
Por conta da expansão territorial, os árabes aprenderam e aperfeiçoaram o método
persa de extração do açúcar e, em seguida, introduziram a técnica no Mediterrâneo. [...]
A expansão dessa lavoura no Mediterrâneo, que foi apropriada pelos portugue-

Objetivos, comentários e sugestões


ses e espanhóis, deve-se principalmente aos árabes. Mas a zona de ação dos ibéri-
cos não foi o Mediterrâneo, e sim o Atlântico. Os portugueses cultivaram a cana-
-de-açúcar na Ilha da Madeira, nos Açores, em Cabo Verde e, por último, no
Brasil, onde o açúcar se tornou o principal produto explorado pelos nossos colo-
nizadores em 1532. Foi quando Martim Afonso de Sousa incentivou o desenvol-
vimento dessa cultura na capitania São Vicente. [...]
Esse legado árabe vingou no seio da sociedade colonial brasileira ou, mais no-
tadamente, da nordestina. O açúcar e seu método de produção junto à casa-gran-
de e à senzala moldaram as relações sociais da Colônia e criaram uma farta cultu-
ra adocicada, que gerou inúmeras receitas e infinitas possibilidades.
A vocação do Brasil para absorver os costumes árabes prosseguiu com a chegada
dos primeiros imigrantes árabes ao país, a partir do século XIX. Eles difundiram seu
gosto por esfihas, quibes, charutos e outros alimentos consumidos em seus países de
origem, que foram incorporados à alimentação cotidiana de muitos brasileiros.
CHARLOIS, Paula; FARIAS, Diogo. Os sabores do al-Andalus. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de
Janeiro: Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 73, out. 2011. p. 39; 41.

■■ Após a leitura do texto com os alunos, proponha que realizem uma pesquisa
sobre receitas de doces árabes. Peça para que levem uma receita para a sala
de aula e troquem-na com os colegas. Aproveite o momento e comente sobre
a influência árabe em nosso cotidiano, valorizando e respeitando a diversidade.

Página 69
■■ Sobre os conflitos entre sunitas e xiitas, comente com os alunos que desde
a vitória dos sunitas em relação à sucessão de Maomé, no século VII, eles
assumiram a hegemonia do mundo islâmico. Em vários momentos da histó-
ria muçulmana, os embates entre sunitas e xiitas (e também no interior des-
ses grupos) deram origem a conflitos violentos. Atualmente, xiitas e sunitas
estão em conflito em várias partes do mundo muçulmano, principalmente no
Oriente Médio. Nessa região, países como o Iraque, Irã, Líbano, Iêmen, Afe-
ganistão e até mesmo a rica Arábia Saudita, estão sujeitos às lutas entre
esses grupos. Os confrontos geralmente acontecem entre milícias armadas
que se enfrentam nas ruas, mas também ocorrem por meio de ataques com
carros-bombas. Os principais alvos são lugares de grande concentração de
pessoas. Esses ataques têm como consequência, na maior parte das vezes,
a morte de civis, pessoas comuns não ligadas aos grupos em confronto.

59
Página 71
Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Para conhecer um pouco mais sobre a literatura de idioma árabe, assista com
os alunos, se julgar conveniente, ao filme As mil e uma noites .
Um dos maiores clássicos da literatura árabe, As mil e uma noites teve suas
principais histórias adaptadas para uma versão cinematográfica. O filme, lançado
em 2000, apresenta-nos a história de Schariar, um sultão da Pérsia que mata
sua esposa adúltera (no filme, ele é vítima de uma tentativa de assassinato
pela esposa) e, desde então, decide que jamais será traído novamente. Para
tanto, ele adota uma rotina cruel: cada dia ele se casaria com uma jovem virgem,
a qual, após a noite de núpcias, seria degolada.
Isso se repete até o dia em que ele se casa com Sherazade, que começa a
narrar histórias fantásticas para o sultão até que ele durma. Ele fica fascinado com
as histórias e poupa sua nova esposa a cada dia para ouvir o fim das histórias.
Com muitos efeitos especiais, esta versão para o cinema recria várias histórias
e contos árabes famosos de As mil e uma noites, como Ali Babá e os quarenta
ladrões, As sete viagens de Simbad, o marujo e Aladim e a lâmpada maravilhosa.

Filme de Steve Barron. As Mil e Uma Noites. 2000. EUA


Ficha Técnica
Título — As mil e uma noites
Diretor — Steve Barron
Atores Principais — Mili Avital,
Rufus Sewell, Alan Bates, James
Frain, Jason Scott Lee e John
Leguizamo
Ano — 2000
Duração — 150 minutos
Origem — EUA

A América antes da chegada


5
Capítulo

dos europeus

Objetivos
■■ Compreender que, antes da chegada dos europeus à América, uma diversida-
de de povos já habitava esse continente.
■■ Conhecer aspectos da organização política, econômica, social e cultural dos
chamados povos pré-colombianos.
■■ Perceber que, antes da chegada dos portugueses, cerca de três milhões de
indígenas viviam no território onde hoje fica o Brasil.
■■ Estudar a diversidade dos povos indígenas que viviam no Brasil antes de 1500.
■■ Conhecer aspectos do cotidiano dos povos indígenas do Brasil na atualidade.

60
A América e os vestígios de seus primeiros habitantes

Orientações para o professor


Quando pensamos nos primeiros habitantes da América logo nos lembramos de
incas, maias e astecas, povos que conhecemos por meio dos relatos dos homens que
aqui chegaram com a expansão marítima europeia. Entretanto, o continente foi
ocupado muito antes do século XV e abrigou uma infinidade de culturas, até hoje
pouco conhecidas.
Não podemos dizer com exatidão quando e como o continente foi povoado, mas
sabemos que na América desenvolveram-se muitos grupos com cultura neolítica.
Para conhecê-los é preciso inseri-los na região em que viveram e analisar o proces-

Objetivos, comentários e sugestões


so de desenvolvimento cultural pelo qual passaram ao longo do tempo. Em muitos
casos, esses processos duraram séculos e envolveram grupos diversos, que se mis-
turaram através de migrações ou conquistas. Cada povo dava um nome à região
em que vivia, sem que houvesse um nome para designar o continente. [...]
A historiografia relativa aos primeiros habitantes da América habitualmente
refere-se a eles como povos pré-colombianos, tomando como marco a chegada de
Colombo ao continente, em 1492. Assim como o nome dado ao continente, esse é
um marco eurocêntrico que desconsidera a longa história dos povos americanos
que antecede esse acontecimento. Contudo, se nosso interesse está voltado para os
primeiros habitantes das terras americanas, é preciso recuar o marco inicial de sua
história, já que eles não desapareceram com a chegada dos europeus. Pelo contrá-
rio, muitas das civilizações mantiveram suas culturas por um longo tempo depois
disso, algumas até hoje.
HUMBERG, Flávia Ricca; NEVES, Ana Maria Bergamin. Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras
civilizações urbanas. São Paulo: Atual, 1996, p. 3-4. (História geral em documentos).

Comentários e sugestões

Páginas 76 e 77

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fotografia apresentada como fonte A retrata uma pirâmide maia. A dimensão
da pirâmide se denota pela presença de pessoas que circulam ao seu redor.
Comente com os alunos que as pirâmides faziam parte da cultura e religiosida-
de maia. Sua construção atendia aos costumes desse povo, sendo parte de
alguns rituais de sacrifício. A pirâmide da fonte A localiza-se na cidade de Chichén
Itzá, no México, e hoje é visitada por turistas de várias partes do mundo.
■■ A fonte B é uma gravura produzida no século XIX que representa um guerrei-
ro asteca. Conhecidos como “guerreiros jaguar”, esses homens vestiam-se
com a pele desse felino, invocando-o em suas batalhas.
■■ A fonte C é uma fotografia recente de uma estrada inca, localizada no Peru.
Comente com os alunos que a estrada retratada é a do Vale do Lulucha, trilha
que leva ao santuário de Machu Picchu.
■■ A fotografia apresentada como fonte D retrata indígenas (pai e filho) da etnia
Waurá, do estado do Mato Grosso. As pinturas e adornos que utilizam deno-
tam os costumes de sua etnia.

61
Conversando sobre o assunto
■■ A construção de pirâmides por alguns povos, como os da América pré-colom-
biana, faz parte de seus costumes e rituais religiosos. Algumas construções
semelhantes a essa são as pirâmides feitas pelos egípcios e outros povos da
África antiga, como os cuxitas.
■■ O guerreiro asteca ilustrado na fonte B (gravura do século XIX) foi representa-
do utilizando pele de jaguar e portando escudo e lança farpada nas mãos. Os
astecas guerreavam, sobretudo, para capturar pessoas para a realização de
sacrifícios nos rituais religiosos.
■■ A rede de estradas construída pelos incas — fonte C — facilitava o transpor-
te de pessoas e mercadorias. Além disso, fez uma interligação entre todas as
regiões que compunham o império inca.
■■ Os indígenas retratados na fonte D são pai e filho da etnia Waurá. Ambos usam
pinturas no rosto e adornos nos braços. O indígena adulto usa pintura também
no corpo, além de colar e brincos. Apesar de esses elementos indicarem cos-
tumes tradicionais dos indígenas, após o contato com os europeus, muitos
deles perderam suas tradições e costumes.

Página 78
■■ Sobre os esquimós, comente com os alunos que são povos que habitam regiões
do Alasca, do Canadá e da Groelândia. Sua alimentação baseia-se em peixes
e mamíferos marinhos, como a foca, e vestem-se com peles dos animais que
caçam. Alguns deles habitam os iglus, casas construídas com blocos de neve
endurecidos pelo frio e pelo vento. A denominação “esquimó”, atualmente, vem
sendo questionada por alguns historiadores, que a consideram pejorativa, pois
significa “comedor de peixe”, ou, “comedor de carne crua”. Estes historiadores
utilizam a expressão “inuit” (nome da etnia) para denominar estes povos.

Página 79
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Qual a civi-
lização mais antiga da Mesoamérica?; Qual a cidade mais antiga: Tenotihuacán
ou Tenochtitlán? Peça para que citem o nome de civilizações que existiram
simultaneamente na América, isto é, durante um mesmo período de tempo.

Páginas 80 e 81
■■ O mural maia apresentado na página 80 está em um sítio arqueológico de
Bonampak, no estado de Chiapas, no México. Esse sítio arqueológico, com-
posto de três pirâmides e algumas ruínas, localiza-se dentro de uma densa
floresta e, por esse motivo, só foi encontrado pelos pesquisadores na déca-
da de 1940. Comente com os alunos que os murais narram aspectos da
história dos maias. Na primeira pirâmide, as pinturas fazem referência à
consagração do líder maia Chaan Muan II; a segunda pirâmide conta a his-
tória de uma guerra para aprisionar cativos para o sacrifício em honra aos
deuses maias, além de cenas da própria cerimônia ritual; a terceira pirâmide
mostra a celebração realizada durante e após o sacrifício, onde aparecem
músicos e dançarinos.

62
■■ Sobre a pirâmide de Kukulkán, comente com os alunos que, nos equinócios

Orientações para o professor


de primavera e outono, o jogo de luz e sombra que acontece no pôr do sol
produz a representação de uma serpente que parece descer pelas escadarias
da pirâmide. Para os maias, esse acontecimento era considerado obra do
deus Kukulkán. Os descendentes dos maias comemoram esse acontecimen-
to até os dias de hoje.
■■ Explore o conhecimento prévio dos alunos. Pergunte-lhes quem foi Cristóvão
Colombo, de modo a exercitarem a memória a respeito de conteúdos estudados
anteriormente. Caso julgue conveniente, comente que Cristóvão Colombo foi
um navegador genovês que, no contexto das grandes navegações, liderou a

Objetivos, comentários e sugestões


frota que alcançou o continente posteriormente nomeado de americano.
■■ Como parte de seus costumes, os maias praticavam muitos rituais religiosos.
Apresente-lhes as seguintes informações.

A busca de visões no mundo dos espíritos


Em sua condição de intermediária entre os vivos, os deuses e os ancestrais, a
realeza maia executava diversos rituais destinados a abrir os portais entre o mundo
terreno e o dos espíritos. Nesses rituais, os participantes procuravam atingir um
estado de alterações de consciência acompanhado de visões, buscando contato di-
reito com o sobrenatural. Os nobres utilizavam intoxicantes bebidas fermentadas e
plantas alucinógenas, não só para induzir essas visões, mas também para atingir
uma condição preliminar, propícia à mais importante prática ritual: a sangria.
Havia inúmeras ocasiões para essa prática. Todo evento significativo, do nasci-
mento à morte, da semeadura do milho à ascensão de um rei, requeria uma ofe-
renda de sangue. Mais que um ato simbólico, essa oferenda servia para que os
humanos dedicassem aos deuses seu mais valioso dom.
BROWN, Dale M. O esplendor dos maias. Trad. Pedro Paulo Poppovic. Rio de Janeiro: Abril Coleções, 1998. p. 113.
(Civilizações Perdidas).

Página 83
■■ Sobre a sociedade asteca, apresente aos alunos as seguintes informações.

Assim como os guerreiros, os comerciantes, chamados pochtecas, constituíam


também um grupo social influente e diferenciado. O termo designava apenas os
poderosos negociantes encarregados do comércio exterior [...].
Ligados diretamente aos pochtecas, os artesãos estavam em uma posição social-
mente inferior. Constituíam um grupo numeroso, que fazia maravilhas em arte
plumária, em joalheria com ouro, prata e pedras preciosas.
Naturalmente, os nobres, guerreiros, comerciantes e artesãos representavam
uma porcentagem limitada da população. A grande maioria pertencia à classe dos
macehuales, a gente comum, que gozava de direitos e deveres específicos à sua
condição. Mantinham um terreno utilizado para cultivo e para a construção da
casa e beneficiavam-se da distribuição estatal de alguns alimentos e vestimentas.
Em contrapartida, submetiam-se aos impostos, deviam cumprir o serviço militar
e eram convocados a qualquer momento para tomar parte nos trabalhos públicos
— limpeza da cidade, construção de templos, caminhos e pontes.

63
Os escravos, situados na faixa mais baixa da escala social, tinham um estatuto bas-
tante curioso. Trabalhavam sem salário, eram bem tratados e moravam na casa de seus
donos, que os alimentavam e vestiam. As dívidas de jogo eram a causa mais corrente
da escravatura, pois, diante da impossibilidade de pagá-las, os devedores ofereciam-se
voluntariamente para a ocupação servil. Em outros casos, uma família que passava
necessidades vendia um de seus membros. Entretanto, esse estatuto não era perpétuo:
o escravo ou seus parentes podiam comprar de volta a liberdade, e seus filhos, necessa-
riamente, nasciam livres. Além disso, não se podia vendê-los sem seu consentimento.
ACOSTA, Rosário. A vida na monumental Tenochtitlán. História Viva. São Paulo: Duetto, ano 4, n. 44, jun. 2007. p. 46.

Explorando a imagem
■■ Comente com os alunos que, entre os astecas, uma das funções dos códices
era registrar dados econômicos e comerciais, como os números da produção
agrícola e os produtos pagos pelas cidades conquistadas como tributo. Dadas
estas informações, e com o infográfico a seguir, explore o Códice Mendoza,
apresentado na página, com os alunos.

Manto Grande
Manto
Roupas de
guerreiro, feitas
Símbolo que de penas.
representa o
número 20. Escudos feitos
de penas.
Símbolo para
duas caixas de Símbolo que
colheita de representa o
cereais. número 400.

Símbolo para Os símbolos que se


Códice Mendoza. Séc. XVI.
Biblioteca Bodleian, Oxford

duas caixas de encontram na


feijão e amaranto margem esquerda e
(planta cuja folha no rodapé da
e semente são página representam
comestíveis). treze cidades que
pagavam tributos
aos astecas.

Páginas 86 e 87
■■ Há muita controvérsia em relação à origem do nome Brasil. É comum rela-
cionar essa denominação ao nome de uma espécie de árvore abundante que
existia nesse território: o pau-brasil. No entanto, alguns estudiosos datam
do século XIV a primeira representação cartográfica em que aparece uma
ilha chamada Hy Brazil, localizada no oceano Atlântico, entre a ilha de Aço-
res e a Irlanda. Diga aos alunos que Hy Brazil povoava o imaginário europeu
no final do século XIV, pois várias lendas narravam sua história. Em uma
dessas lendas, era apresentada como uma ilha misteriosa, que desaparecia
atrás da névoa sempre que os navegadores se aproximavam dela.
■■ Sobre a cultura dos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da che-
gada dos europeus, leia as seguintes informações.

64
Quanto à organização social, variou consideravelmente de tribo para tribo. Entre

Orientações para o professor


os tupinambás, as moças tinham de passar por provas e segregação na puberdade,
após o que lhes era permitida uma considerada liberdade sexual. Um rapaz, antes
de ser considerado suficientemente valente para o casamento, tinha de provar-se
em combate ou na matança de prisioneiros. [...] Depois de casados, ambos os par-
ceiros permaneciam fiéis um ao outro. Em geral, o casamento era matrilocal, mu-
dando-se o marido para a casa da mãe da esposa, a menos que fosse suficientemen-
te poderoso para estabelecer uma família própria. [...]
[...] as tribos tupis, a exemplo da maioria das outras na bacia Amazônica, eram
controladas por conselhos de homens mais velhos, que se reuniam quase diaria-

Objetivos, comentários e sugestões


mente e eram dirigidas tibiamente pelos seus chefes. No entanto, toda a tribo era
rigorosamente obrigada a conformar-se à prática aceita. [...]
O mundo sobrenatural era muito real para os tupis, mesmo que não tenham
tido uma religião organizada. Sentiam-se rodeados de espíritos ou demônios, al-
guns protetores, mas em sua maioria malévolos. A vida tribal estava envolvida
numa trama de lendas, mitos, cerimônias e crenças espirituais.
BETHEL, Leslie. (Org.). História da América Latina: América Latina Colonial. 2. ed. Trad. Maria Clara Cescato. São Paulo:
Edusp / Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. v. 1. p. 111-3. (História da América Latina).

■■ Muitas sociedades indígenas que viviam no atual território brasileiro pratica-


vam uma agricultura diversificada. A mandioca era o principal cultivo, em
razão da facilidade de manejo e a adaptação da planta a solos pouco férteis.
Também cultivavam milho, batata-doce, abóbora e cará, entre outros alimen-
tos. O texto a seguir descreve o cultivo da mandioca e da principal técnica
usada na agricultura indígena: a coivara.

A cultura da mandioca envolvia homens e mulheres indígenas. Primeiramente, nos


lugares onde se iria plantá-la, cortavam-se as árvores e deixavam-nas secar de um a três
meses. Nessa etapa, empregavam-se machados de pedra e fogo — esse último, recurso
eficaz para limpar a área, fertilizar a terra com cinzas e eliminar as cobras. Em seguida,
acontecia a coivara. Tal atividade consistia em reunir os restos de madeira em montí-
culos, queimando-se novamente, efetuando-se, em seguida, a limpeza final do terreno.
Uma vez encerrada essa atividade, terminava também o ciclo masculino de trabalho;
era então dado início ao ciclo feminino, que envolvia o plantio, a erradicação das ervas
e a retirada da raiz da terra. Após duas ou três colheitas, que ocorriam a cada ano e
meio, abandonava-se a clareira que havia sido aberta na mata, permitindo que a flores-
ta voltasse a crescer. As aldeias eram desfeitas — novamente o fogo era utilizado — e a
população indígena se deslocava para um novo território.
DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. p. 16-8.

■■ Explique aos alunos que as estradas do Caminho de Peabiru ligavam-se uma


a outra por meio de ramais. Partindo de uma estrada principal, suas ramifi-
cações direcionavam seus passageiros a outras localidades.

Sugestão de atividade
A diversidade indígena no Brasil*
Poucos sabem que o território brasileiro foi um grande corredor pelo qual
passaram centenas e centenas de povos indígenas, cruzando a região em todos

65
os sentidos. Segundo estudos recentes, no continente deve ter havido cerca de
1500 línguas, sendo a metade de povos da região amazônica. Essa dispersão
de grupos de várias procedências fez com que possuíssemos uma das maiores
diversidades étnicas do continente. [...]
Para entrar nesse grande universo cultural, tão desconhecido da maioria dos bra-
sileiros, podemos usar dois tipos de classificação: a linguística e a geográfico-cultural.
Seguindo o critério linguístico, hoje essas nações ou etnias são classificadas
em troncos e famílias linguísticas, fazendo desaparecer uma antiga divisão, que
indicava apenas dois grupos: tupi e tapuia. Na realidade, o termo tapuia, usa-
do pelos falantes da língua tupi, significava “o inimigo”, “o contrário” e referia-
-se àqueles que não falavam tupi.
São conhecidos [...] dois [grandes] troncos linguísticos: o tupi, com sete famí-
lias (arikém, juruna, mondí, munduruku, ramarama, tupari e tupi-guarani), e o
macro-jê, com seis famílias (borôro, botocudo, kariri, jê, karajá e maxakali).
Há também catorze famílias linguísticas que não puderam ser agrupadas em
troncos, devido ao grande processo de destruição de que foram vítimas, como
as famílias aruak, aruá, bora, guaikuru, karib, maku, mura, nambikuara, pano,
txapakura, tukano e yanomami. Cada família reúne de dois a vinte grupos.
Ainda há dez povos que possuem línguas isoladas, isto é, que não apresentam
semelhanças com outras línguas, como os tikuna, myky, irantxe e outros. Além
desses, há também 31 povos que perderam sua língua original, como os pata-
xó, os xokó, os pankararu, os xakriabá, os tupinikim e outros. [...]
Outro critério [de classificação] leva em consideração as áreas culturais.
Trata-se do critério geográfico-cultural, que reúne esses povos em quatro gru-
pos: horticultores de região úmida, horticultores de região seca, coletores e grupos
da região nordestina. Os horticultores recebem esse nome por exercerem tra-
dicionalmente uma agricultura elementar, ao contrário dos andinos, que exer-
ciam uma agricultura intensiva.
HECK, Hegon; PREZIA, Benedito. Povos indígenas: terra é vida. São Paulo: Atual, 1999. p. 12-3. (Espaço e debate).
*Título dado pelos autores

a ) Defina o critério de classificação linguística dos indígenas que habitam o


território brasileiro.
b ) O que significa o termo tapuia ?
c ) Defina também o critério de classificação geográfico-cultural .
Respostas:a) Seguindo o critério linguístico, hoje essas nações ou etnias são classificadas em troncos
e famílias linguísticas, fazendo desaparecer uma antiga divisão, que indicava apenas dois grupos:
tupi e tapuia. b) Na realidade, o termo tapuia, usado pelos falantes da língua tupi, significava “o inimi-
go”, “o contrário” e referia-se àqueles que não falavam tupi. c) Outro critério de classificação leva em
consideração as áreas culturais. Trata-se do critério geográfico-cultural, que reúne esses povos em
quatro grupos: horticultores de região úmida, horticultores de região seca, coletores e grupos da
região nordestina. Os horticultores recebem esse nome por exercerem tradicionalmente uma agricul-
tura elementar, ao contrário dos andinos, que exerciam uma agricultura intensiva.

6
Capítulo

Reinos e impérios africanos

Objetivos
■■ Conhecer aspectos culturais e políticos de alguns reinos e impérios africanos.
■■ Compreender que, a partir do século VII, o islamismo foi difundido em diferen-
tes regiões do continente africano.

66
Orientações para o professor
■■ Compreender o conceito de escravidão sob a perspectiva islâmica.
■■ Perceber que muitos aspectos da história do continente africano foram trans-
mitidos à posteridade por meio da tradição oral.
■■ Conhecer elementos da educação e da arte de alguns povos africanos.

Mali
Império do Mali não tinha organização distinta da de seu antecessor, o de Gana. Não
era um estado unitário, nem homogêneo. Compreendia as mais diversas formas polí-

Objetivos, comentários e sugestões


ticas, desde reinos e cidades-estado a aldeias que obedeciam a conselhos de anciães. A
extensão e a diversidade dos territórios que lhe pagavam tributo e lhe forneciam tropas
exigiam do rei dos reis uma ampla tolerância para com as peculiaridades de cada par-
cela do império e vetavam, por isso mesmo, uma política de islamização. [...]
O mansa estava acima de todos. Era mais do que humano e, por isso, comia em
segredo. Jamais alçava a voz ou se dirigia diretamente aos súditos: um intérprete e
bardo, o dieli, repetia em voz alta o que o rei lhe murmurava. Diante dele só se
chegava de rojo, descalço, vestido de roupas velhas ou de farrapos. E se o mansa,
por intermédio do “língua”, ao súdito se dirigisse, este jogava areia sobre a própria
cabeça e as próprias costas.
De manto vermelho e boné dourado, envolto num turbante de brocados de ouro,
Sulaimã dava audiências. Sentava-se em almofadas de seda, sob um guarda-sol enci-
mado por um pássaro de ouro, do tamanho de um falcão. Cercavam-no os chefes
militares, a pé e a cavalo, a trazerem, nas ocasiões mais solenes, aljavas de ouro e
prata, espadas de ouro, lanças de ouro e cristal. À sua volta dispunham-se também
os altos funcionários, e grande número de pajens, soldados, escravos, e músicos com
tambores, trompas, xilofones e mandolins de duas cordas. Traziam para si junto do
rei duas éguas ricamente ajaezadas. E dois carneiros, para cortar o mau-olhado. [...]
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2006. p. 335; 337.

Comentários e sugestões

Páginas 94 e 95

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é um detalhe de relevo com a imagem de um soberano ioruba (obá )
e seus guerreiros e servos. Como autoridade religiosa e política, o soberano
está no centro do relevo e ganha destaque pela sua posição e pela maneira
como foi representado, utilizando adornos e segurando uma espada cerimonial
em uma das mãos. Seus guerreiros, posicionados atrás dele, indicam uma
hierarquia de poder que se corrobora pela figura dos servos: pequenos em
relação aos outros indivíduos e quase que em outro plano no relevo. Os guer-
reiros portam escudos e lança, enquanto os servos apresentam-se com indu-
mentárias simples e sem objetos que caracterizam um contexto de combate.
O relevo foi feito em placa de metal, o que indica que os africanos antigos
faziam uso desse material em seu cotidiano.

67
■■ A fonte B é uma fotografia recente que retrata uma caravana de mercadores
passando pelas dunas do deserto do Saara, na África. O uso do camelo era
e é comum entre esses povos. Chame a atenção dos alunos para o fato de os
camelos serem animais muito resistentes. Além de armazenar gordura na cor-
cova, o que lhes possibilita permanecer muitos dias sem comida, eles têm três
pálpebras que protegem seus olhos durante as tempestades de areia. Os
camelos também têm grande tolerância a temperaturas elevadas.
■■ A fotografia apresentada como fonte C retrata a Universidade de Sankore, em
Tombuctu. O território da cidade de Tombuctu fez parte do império Mali e do
império de Songai. Sua localização estratégica, na confluência das rotas co-
merciais, entre o Saara e a África Ocidental, denota a sua importância.

Conversando sobre o assunto


■■ O obá foi representado no centro da imagem, segurando uma espada cerimonial.
Os guerreiros e servos que o rodeiam e a sua posição no relevo indicam seu poder.
■■ Por meio das caravanas de mercadores que cruzavam o deserto, foi possível
um contato intenso entre os povos africanos, possibilitando trocas culturais
entre eles. O islamismo, por exemplo, difundiu-se graças à circulação de co-
merciantes muçulmanos pelo deserto que, além de transportarem suas mer-
cadorias, levavam consigo suas crenças e costumes.
■■ A fotografia retrata a Universidade de Sankore, uma construção em formato
de torre, feita com barro e madeira e cercada por um muro. A presença da
mesquita muçulmana, que apresenta características semelhantes, indica a
influência islâmica nesse local.

Página 96
■■ Comente com os alunos que, atualmente, o continente africano ainda apre-
senta uma grande diversidade de línguas. De acordo com o historiador e
diplomata brasileiro Alberto da Costa e Silva, é possível que lá sejam faladas,
nos dias de hoje, mais de mil línguas. Algumas delas, como o hauçá e o
suaíli, são faladas por milhões de pessoas, enquanto outras são comparti-
lhadas por apenas algumas dezenas de falantes.
■■ Estimule os alunos a opinar sobre os elementos da cultura africana que
compõem a cultura brasileira. Diga-lhes que nossa língua é influenciada pe-
las línguas dos povos africanos, por isso, muitas palavras que fazem parte
do nosso vocabulário têm origem africana, tais como: farofa, canjica, samba,
berimbau e moleque. A culinária, indumentária e religião brasileiras também
apresentam elementos da cultura africana. Cuscuz, vatapá e acarajé são
exemplos da influência africana na culinária brasileira, além do uso de leite
de coco e óleo de dendê como temperos. As religiões afro-brasileiras, que
sincretizam elementos do candomblé, do catolicismo e do espiritismo, tam-
bém são importantes contribuições dos africanos à cultura brasileira.

Página 97
■■ Aproveite a linha do tempo apresentada nessa página e explore com os
alunos a noção de simultaneidade. Reforce que, no tempo histórico, é pos-
sível que dois ou mais acontecimentos ocorram em um mesmo momento,

68
isto é, que sejam simultâneos. Faça-lhes perguntas utilizando os termos

Orientações para o professor


enquanto, no tempo em que, durante, entre outros.
■■ Por conta do intenso câmbio cultural proporcionado pelas rotas de comércio,
o Império Mali foi habitado por pessoas de diferentes etnias, como mandin-
gas, jalofos, sereres, tucolores e fulas. Além disso, a influência islâmica
nessa região foi marcante, o que acarretou na construção de vários centros
de estudos islâmicos e mesquitas, algumas em atividade até hoje.

Página 99
O texto a seguir traz informações complementares sobre o islamismo na África.

Objetivos, comentários e sugestões


■■

A relação entre árabes e africanos datam de muitos séculos. Mas, é com o advento do
islamismo que, de fato, os árabes começaram a se estabelecer no continente africano, um
processo iniciado a partir de 639 d.C. Os árabes chegam ao Egito e iniciam a sua obra de
“conversão”. Entre avanços e recuos, num confronto por vezes violento com a religião tradi-
cional, o Islã vai se impondo, e intercambiando com essa religião aspectos fundamentais.
Depois da conquista pelas armas, os mercadores árabes passaram a atingir re-
giões onde buscavam fortuna em forma de marfim, ouro e, principalmente, escra-
vos. Com eles, levaram sua religião: o africano não tinha qualquer alternativa; ou
se tornava um crente ou era tachado de infiel.
A ideia muçulmana da existência de um Deus único supremo não era desconhe-
cida dos africanos. E a lei do Alcorão não conflitava, basicamente, com os costumes
das tribos. O setor das crenças e práticas religiosas dos nativos da Nigéria oferece
uma clara ilustração da unidade latente que caracteriza as tradições dos diversos
grupos étnicos do país. Todos os povos da Nigéria acreditam na existência de um
Ser Supremo, conhecido por Olorum ou Olodumaré entre os Yorubás, Osenabua
entre os Idos, Chineke entre os Ibos, Obasi entre os Efiks, Ogheges entre os Isokos,
Oritses entre os Itsekiris e Awundus entre os Tivs, para citar alguns exemplos. [...]
Sem dúvida o islamismo negro é uma religião sincrética, na mesma medida em que na
própria Arábia a prática islâmica estaria permeada de usos considerados supersticiosos. [...]
LIMA, Claudia. O islamismo na África. Extraído do site: <www.claudialima.com.br/pdf/O_ISLAMISMO_NA _AFRICA.
pdf>. Acesso em: 28 fev. 2012.

■■ Sobre a escravidão islâmica, leia as informações do texto a seguir.

Inicialmente os escravos eram prisioneiros capturados nas guerras santas que


expandiram o Islã da Arábia pelo norte da África e através da região do golfo Pér-
sico. A escravização era justificada com base na religião, e aqueles que não eram
muçulmanos eram legalmente passíveis de escravização. [...]
[Sendo assim], na tradição islâmica, a escravidão era vista como um meio de
converter os não muçulmanos. Assim, uma das tarefas do senhor era a instrução
religiosa, e teoricamente os muçulmanos não podiam ser escravizados, embora na
prática isso fosse muitas vezes violado. A conversão não levava automaticamente à
emancipação, mas a assimilação à sociedade do senhor, julgada de acordo com a
observância à religião, era considerada um pré-requisito para a emancipação e nor-
malmente garantia melhor tratamento.
LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Trad. Regina A. R. F. Bhering; Luiz
Guilherme B. Chaves. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 47; 49.

69
■■ Comente com os alunos que, apesar da difusão, na África, do cristianismo e,
posteriormente, do islamismo, as religiões tradicionais africanas continuam
fortemente arraigadas na população. Sua presença permanece forte mesmo
em regiões onde o islamismo se impôs há séculos. Nas crenças africanas
tradicionais, não há separação rígida entre o mundo natural e o sobrenatural,
pois os seres humanos, os espíritos ancestrais, as entidades e as divindades
fazem parte de um mesmo universo. Um exemplo de resistência ao Islã e de
apego às antigas tradições foi dado pelo povo dogon. Entre os séculos XIII
e XV, esse povo migrou de sua região, no atual Mali, para fugir da islamização,
e se fixou em áreas de difícil acesso, a leste do rio Níger, de modo que pu-
deram preservar suas tradições até os dias de hoje.

Página 100
■■ Comente com os alunos que um dos objetivos da Unesco é definir e prote-
ger o Patrimônio Cultural ou Natural da Humanidade, como paisagens exu-
berantes, edificações ou até mesmo cidades inteiras.

Página 101
■■ Comente com os alunos que, em várias regiões do continente africano, os
griôs se destacam como importantes agentes históricos, pois transmitem de
geração em geração as histórias de seus pensamentos. Leia o texto a seguir.

Mas afinal quem são os griôs? São trovadores, menestréis, contadores de histó-
rias e animadores públicos para os quais a disciplina da verdade perde rigidez,
sendo-lhe facultada uma linguagem mais livre. Ainda assim, sobressai o compro-
misso com a verdade sem o qual perderiam a capacidade de atuar para manter a
harmonia e a coesão grupais, com base em uma função genealógica de fixar mito-
logias familiares no âmbito de sociedades tradicionais. [...]
Muitas vezes respaldados pela música e valendo-se da coreografia contam coisas
antigas, cantando as grandes realizações dos “bravos e dos justos”, celebrando o
heroísmo e a salvaguarda da honra. Em contrapartida, evocam o desprezo pelo
medo da morte e denunciam os desonestos e os ladrões, revelando aos nobres os
exemplos a serem seguidos ou repudiados.
Por seu turno, emprestando um caráter mítico às áreas narrativas, os griôs ver-
sam sobre epopeias de heróis, desde os seus nascimentos até suas mortes, como
símbolos da gênese de seus povos e de suas trajetórias. Dois exemplos clássicos são
as recitações sobre Sundjata Keita, fundador do Império Mali, e de Chaka, funda-
dor do reino Zulu, no sul da África.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo
Negro, 2005. p. 30-1.

Páginas 106 e 107


■■ Ainda não existe consenso sobre a origem da metalurgia do ferro na África
subsaariana. Alguns autores defendem que as técnicas de fundição desse
minério vieram de fora, pois na África subsaariana não havia sinais de trabalho
com o cobre e o bronze, tradicionalmente considerados como etapas neces-
sárias para se chegar à tecnologia da fundição do ferro, que é mais complexa.

70
Para esses estudiosos, as técnicas podem ter tido origens diversas e segui-

Orientações para o professor


do caminhos diferentes: origem cartaginesa, que a transmitiu aos berberes
e estes a levaram através do Saara, no sentido norte-sul; ou de origem asi-
ática, através do Mar Vermelho, passando por Méroe, no sentido leste-
-oeste e atingindo a África Central e Ocidental.
Por outro lado, recentemente muitos estudiosos africanos vêm defendendo o
domínio autônomo dessa tecnologia na própria África. Baseados em vestígios
arqueológicos — que, no entanto, não são aceitos por todos os estudiosos do
assunto — eles defendem que desde o final do terceiro milênio antes de Cristo,
o trabalho com o ferro era realizado por povos de origem bantu e, desde a me-

Objetivos, comentários e sugestões


tade do primeiro milênio a.C., pelos povos da chamada cultura Nok.

Sugestão de atividade
■■ Comente com os alunos que uma das importâncias de se estudar a história
da África está em conhecer mais a fundo a diversidade cultural desses povos.
Leia o texto abaixo, que aborda aspectos culturais de diferentes etnias africa-
nas. Após o texto apresentamos sugestões de questionamentos.

Os povos africanos*
Os [africanos] que vivem ao norte [do Saara] são predominantemente brancos,
e os que vivem ao sul, negros. Mas estes também são diversos entre si. Um amara
da Etiópia é tão distinto de um ambundo de Angola quanto, na Europa, um escan-
dinavo de um andaluz. E um jalofo do Senegal é diferente de um xona de Zimbá-
bue como um russo de um siciliano.
Na região meridional do continente, há um complicador: os chamados coissãs,
que compreendem os bosquímaros e os hotentotes. São povos baixos, pardo-ama-
relos, com face e nariz achatados, olhos estreitos como os dos chineses, cabelos
que de tão encarapinhados mais parecem um gorro feito com grãos de pimenta-
-do-reino, e falam línguas que possuem cliques ou estalidos com valor de conso-
antes. Os coissãs ocupavam, no passado, as áreas semidesérticas e desérticas [...].
Alguns povos africanos, como os pigmeus das florestas do Congo e os sãs ou bos-
químaros das áreas semiáridas da África do Sul, vivem da caça e da coleta de raízes,
frutas e mel. Outros, como os cóis ou hotentotes, os fulas e os massais, da criação de
gado. A maioria retira o sustento do cultivo da terra. Mas os pastores, enquanto con-
duzem o gado de uma pastagem para outra, colhem os frutos das árvores e o mel das
colmeias que encontram no caminho, e suas mulheres podem cultivar cereais em
pequenos roçados. Os lavradores não só pescam, caçam e recolhem o que lhes dá
naturalmente a terra, como também podem possuir cabras, ovelhas e bois. [...]
Alguns Estados estendiam-se por amplos territórios e eram formados por várias
nações, sob o comando de uma delas — e a esses estados chamamos impérios.
Havia reinos menores, com uma ou mais [etnias]. E outros ainda menores, que
podemos comparar às cidades-estado da Grécia antiga. Essas várias entidades po-
líticas eram compostas geralmente de uma família real, ou de duas ou mais famí-
lias reais que se revezavam no poder ou disputavam pelo voto ou pelas armas. [...]
Em algumas sociedades, os ferreiros, os ourives, os escultores, as oleiras e os
bardos formavam castas profissionais. [...] Os ferreiros transformavam o minério
em facas, pontas de lança e enxadas. Os escultores cortavam em um pedaço de

71
madeira a imagem de um ancestral. As oleiras faziam com o barro potes e gamelas.
E os bardos, dielis ou griôs, que eram músicos, poetas e historiadores, davam uma
função nova às palavras quando compunham versos.
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008, p. 16; 18-9.
(Explicado aos meus filhos).
*Título dado pelos autores

a ) Quais grupos africanos são chamados de coissãs? Quais são as caracte-


rísticas físicas e linguísticas desses povos?
b ) Cite exemplos da organização econômica de alguns povos africanos. Re-
lacione o nome do povo à atividade econômica exercida por seus membros.
c ) Como os povos africanos se organizavam politicamente?
d ) Quais grupos africanos formavam as castas profissionais? O que eles faziam?
Respostas: a) Os coissãs compreendem os bosquímaros e os hotentotes. São povos baixos,
pardo-amarelos, com face e nariz achatados, olhos estreitos como os dos chineses, os seus
cabelos são encarapinhados. Os coissãs falam línguas que possuem cliques ou estalidos com
valor de consoantes. No passado, eles ocupavam as áreas semidesérticas e desérticas do con-
tinente africano. b) Os pigmeus das florestas do Congo e os sãs ou bosquímaros das áreas se-
miáridas da África do Sul vivem da caça e da coleta de raízes, frutas e mel. Os cóis ou hotento-
tes, os fulas e os massais têm como principal atividade econômica a criação de gado. No entan-
to, enquanto conduzem o gado de uma pastagem para outra, colhem os frutos das árvores e o
mel das colmeias que encontram no caminho, e suas mulheres podem cultivar cereais em pe-
quenos roçados. Alguns povos possuem cabras, ovelhas e bois. c) Havia povos organizados em
Estados, que se estendiam por amplos territórios e eram formados por várias nações, sob o
comando de uma delas; havia os reinos, formados por uma ou mais etnia; outros povos africanos
se organizavam em torno de uma cidade-estado. d) Ferreiros, ourives, escultores, oleiras e bar-
dos (ou griôs) formavam as castas profissionais africanas. Os ferreiros transformavam o minério
em facas, pontas de lança e enxadas; os ourives trabalham com o ouro; os escultores utilizavam
a madeira para fazer a imagem de seus ancestrais; as oleiras produziam potes de barro e game-
las; e os bardos, também chamados de dielis ou griôs, eram músicos, poetas e historiadores.

7
Capítulo

A Europa moderna: o Renascimento

Objetivos
■■ Entender o que foi o Renascimento.
■■ Estudar as principais características do humanismo.
■■ Perceber que durante o Renascimento ocorreram grandes inovações no cam-
po científico.
■■ Conhecer os principais aspectos da arte renascentista.
■■ Estudar aspectos do cotidiano das cidades italianas na época do Renascimento.
■■ Perceber que o movimento renascentista se propagou por diferentes regiões
da Europa.

A Renascença*
[...] [O termo “Renascença”] foi cunhado em referência à tentativa de artistas e
filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos da Grécia e de Roma.
Durante esse período, os indivíduos demonstraram uma crescente preocupação
com a vida terrena, aspirando conscientemente a traçar seus destinos – atitude que
caracteriza a modernidade.

72
É claro que a Renascença não constituiu um rompimento completo e súbito com

Orientações para o professor


a Idade Média. Muitos costumes e atitudes medievais persistiram nesse período.
Entretanto, a tese de que a Renascença é o berço dos tempos modernos tem muito
fundamento. Os próprios artistas e escritores renascentistas tinham consciência de
pertencer a uma nova época. Referiam-se aos séculos medievais como uma Idade
das Trevas, que se seguira ao esplendor da Grécia e Roma antigas, e acreditavam
estar vivendo um reflorescimento da grandeza cultural. Os artistas e escritores da
Renascença eram fascinados pelas formas culturais da Grécia e de Roma; buscavam
imitar o estilo clássico e captar o espírito secular da Antiguidade. Com o tempo,
romperam com as formas artísticas e literárias medievais. Valorizavam o pleno

Objetivos, comentários e sugestões


desenvolvimento do talento humano e expressavam um novo entusiasmo sobre as
possibilidades de vida neste mundo. Essa nova perspectiva marca a ruptura com a
Idade Média e o surgimento da modernidade.
A Renascença foi, portanto, uma idade de transição, que presenciou o abandono
de certos elementos da visão medieval, a ressurreição das formas culturais clássicas
e o aparecimento de atitudes nitidamente modernas. [...]
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. 3. ed. Trad. Waltensir Dutra; Silvana Vieira. São Paulo:
Martins Fontes, 2002. p. 216-7.
*Título dado pelos autores

Comentários e sugestões

Páginas 112 e 113

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é uma pintura renascentista feita por volta de 1478, pelo artista
italiano Sandro Botticelli. De título Primavera , a obra trabalha com a temática
da mitologia grega, com a valorização da cultura clássica. O título da obra
caracteriza todo o seu contexto, trabalhando com a alegoria da chegada da
primavera. No centro da pintura, ganha destaque a imagem da deusa Vênus,
com o corpo e cabeça levemente inclinados e trajes de estilo clássico romano.
O arco formado atrás de sua cabeça, em um espaço de clareza em meio aos
tons escuros da pintura, denota um sentido de serenidade da deusa, que,
junto ao cupido Eros, acima, surge para avivar os campos, trazendo-lhes flo-
res e beleza na primavera. Os personagens do lado esquerdo formam uma
sequência de acontecimentos que compõem a temática da obra. Zéfiro, o ser
de tom esverdeado que surge por entre o tronco da árvore, personifica o deus
dos ventos. Ele abraça a ninfa Clóris para transformá-la em Flora, a persona-
gem de vestido florido. Nota-se, ainda, que Eros aparece de olhos vendados
e sua flecha está direcionada para as três personagens que representam Aglaia,
Talia e Eufrósina, símbolos da sensualidade, beleza e castidade, respectiva-
mente. Ao lado destas, o deus Hermes dissipa as nuvens, fechando a repre-
sentação mitológica feita na pintura. Comente com os alunos que, mesmo com
a premissa de resgatar elementos da Antiguidade greco-romana, os renascen-
tistas acreditavam estar começando algo novo, “renascendo” intelectualmen-
te e artisticamente após o período medieval.
■■ A escultura apresentada na fonte B foi produzida no período renascentista
pelo artista Michelangelo. Sua abordagem parte de uma temática bíblica, no

73
entanto, apresenta elementos da cultura clássica, como a indumentária da
personagem representada por Maria, que se aproximam das vestimentas ro-
manas. A passagem bíblica é a do momento seguinte à crucificação de Jesus
Cristo, em que Maria o segura em seus braços. Para denotar o tema, Miche-
langelo representou Maria com cabeça e ombros curvados e Jesus com a
cabeça e corpo estirados no colo de sua mãe.
Comente com os alunos que a palavra pietà significa piedade, devoção. Co-
mente também que, para produzirem suas obras, os artistas do Renascimen-
to estudavam os elementos a serem trabalhados de modo a representá-los de
maneira muito próxima da realidade. Os personagens da escultura de Miche-
langelo, por exemplo, apresentam uma visão detalhada da anatomia humana.
■■ A imagem apresentada como fonte C representa a concepção de Universo de
Nicolau Copérnico, astrônomo e matemático renascentista, que defendia o
chamado heliocentrismo. De acordo com esta teoria, o Sol é o centro do Sis-
tema Solar e, tanto a Terra quanto os demais planetas, se movimentavam ao
redor dele. Apesar de hoje não haver mais questionamentos quanto à validade
dessa teoria, na época de Copérnico ela não foi imediatamente aceita e pro-
vocou sérias desavenças entre ele e outros cientistas da época e a Igreja.
A figura é trabalhada com adornos e apresenta inscrições em latim. No centro
da imagem, o círculo compõe-se dos doze signos da astrologia, até a chega-
da do Sol como figura central. Fora do círculo, a imagem de Ptolomeu está à
esquerda, e a de Nicolau Copérnico à direita, com um globo terrestre e com-
passo nas mãos.

Conversando sobre o assunto


■■ Os personagens que aparecem na fonte A são Vênus, Eros, Hermes, Aglaia,
Talia e Eufrósina, Clóris e Zéfiro. Todos compõem o contexto representado na
imagem de alegoria da chegada da primavera, por meio da mitologia grega.
Além desses elementos e do próprio contexto da obra, Sandro Botticelli ador-
nou seus personagens com vestimentas romanas, caracterizando os preceitos
renascentistas de retorno e valorização da cultura clássica greco-romana.
■■ Em sua escultura, Michelangelo trabalhou com temática bíblica, representan-
do Maria segurando o corpo de Jesus após a crucificação. Esses elementos
cristãos, no entanto, fundem-se com motivos de origem clássica, como a
vestimenta dos personagens, semelhantes à romana.
■■ Na fonte C o Universo foi representado em formato circular, adornado com os
signos do zodíaco e formando uma órbita em torno do Sol. Este, no centro da
imagem, representa a teoria de Nicolau Copérnico, conhecida como heliocen-
trismo. Anterior à teoria de Copérnico, os estudos versavam sobre a imobili-
dade da Terra, que se mantinha parada enquanto o Sol e Lua se movimentavam
ao seu redor.

Página 114
■■ Explore o conhecimento prévio dos alunos: incentive-os a exercitar a memó-
ria a respeito dos conteúdos já estudados. Comente com eles sobre os
períodos de crise que agravaram a situação da Europa no século XIV, entre
eles os conflitos da Guerra dos Cem Anos e a disseminação da Peste Negra.
Pergunte-lhes a respeito do contexto da Guerra dos Cem Anos e suas con-
sequências para a França e para a Inglaterra, como falta de recursos, tribu-

74
tos pesados, fracas colheitas, e agravamento da Peste Negra, doença que

Orientações para o professor


assolou a Europa Ocidental nesta época.
No texto a seguir, o historiador Nicolau Sevcenko explica de que forma essa
chamada “crise do século XIV” possibilitou uma profunda mudança na estru-
tura da sociedade europeia. Caso julgue conveniente, apresente-o aos alunos.

[...] Os fatores que têm sido apontados pelos historiadores como os principais
responsáveis por esse refluxo do desenvolvimento econômico são: a Peste Negra, a
Guerra dos Cem Anos e as revoltas populares. Essa crise do século XIV tem sido
denominada também crise do feudalismo, pois acarretou transformações tão drás-

Objetivos, comentários e sugestões


ticas na sociedade, economia e vida política da Europa, que praticamente diluiu as
últimas estruturas feudais ainda predominantes e reforçou, de forma irreversível, o
desenvolvimento do comércio e da burguesia. [...]
A grande mortalidade decorrente da peste e da guerra procedeu à desorganiza-
ção da produção e disseminou a fome pelos campos e cidades — razão das grandes
revoltas populares que abalaram tanto a Inglaterra e a França, quanto a Itália e a
Flandres nesse mesmo período.
Havia, porém, outras razões para as revoltas populares. Com o declínio demo-
gráfico causado pela guerra e pela peste, os senhores feudais passaram a aumentar
a carga de trabalho e impostos aos camponeses remanescentes, a fim de não dimi-
nuir seus rendimentos. Era contra essa superexploração que os trabalhadores se
revoltavam. A solução foi adotar uma forma de trabalho mais rentável, através da
qual poucos homens pudessem produzir mais. Adotou-se então, preferencialmen-
te, o trabalho assalariado, o arrendamento, ou seja, os servos foram liberados para
vender seus excedentes no mercado das cidades. Assim, estimulados pela perspec-
tiva de um rendimento próprio, os trabalhadores e arrendatários incrementaram
técnicas e aumentaram a produção. Passaram a predominar, portanto, as atividades
agrocomerciais, como a produção de cereais e de lã, e os novos empresários passa-
ram a exigir a propriedade exclusiva e privada das terras em que investiam. Tudo
isso concorreu para a dissolução do sistema feudal de produção [...].
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. 19. ed. São Paulo: Atual, 1996. p. 7-8. (Discutindo a história).

Página 115
■■ Explore a linha do tempo com os alunos, chamando-lhes a atenção para o
período de transição representado. Faça-lhes perguntas como: Qual foi o
período de duração do Quattrocento ?; Qual século ficou conhecido como
“Idade do Ouro” na Itália renascentista?. Peça que citem alguns artistas que
se destacaram no Cinquecento etc.

Página 116
■■ Explique aos alunos que o antropocentrismo é um conceito que permeia
algumas correntes filosóficas ou crenças religiosas que consideram o ser
humano o centro do Universo. De acordo com essa perspectiva, os humanos
são vistos como seres dotados de potencial criativo, capazes de produzir
novos conhecimentos e de transformar a realidade.

75
■■ Comente com os alunos que o afresco é uma técnica em que a pintura é
feita sobre uma base de gesso. Nela o artista aplica pigmentos puros diluídos
somente em água, permitindo que as cores adentrem na superfície. O nome
deriva da palavra italiana fresco, que em português tem o mesmo significado.
■■ Leonardo da Vinci realizou, na década de 1490, o desenho intitulado Homem
Vitruviano . Para fazer esse desenho sobre as medidas e proporções consi-
deradas ideais do corpo de um homem, Leonardo da Vinci se inspirou no
estudo das proporções do corpo humano feito pelo arquiteto romano Marcos
Vitrúvio Polião, no século I a.C. Para enriquecer o trabalho com esse docu-
mento, observe o infográfico a seguir.
O homem apresentado

Leonardo da Vinci – Homem Vitruviano. c. 1492. Galeria da Academia, Veneza. Foto: Corel Stock Photo
com proporções
O quadrado
perfeitas representa
representa o
um modelo ideal de
mundo físico e os
beleza para o ser
quatro elementos:
humano, de acordo
ar, fogo, terra e
com um padrão
água. O círculo
estético idealizado na
simboliza o espírito
cultura clássica.
humano.

O padrão de
O umbigo do homem
medidas e
como eixo central da
proporções
figura significa a
considerado ideal
razão.
para o corpo
humano, poderia
servir, por A área do círculo é
extensão, para exatamente igual à
todo o Universo. área do quadrado.
Uma junção perfeita
de formas
matemáticas.

Páginas 118 e 119


■■ Caso julgue conveniente, comente com os alunos que a música do Renas-
cimento não surgiu a partir de grandes rupturas, mas de um processo gra-
dual, onde as concepções e as formas foram se modificando. A música aos
poucos foi se tornando uma arte independente e deixando de ser um simples
acompanhamento para as cerimônias e celebrações religiosas. Nesse con-
texto, desenvolveu-se a música profana (ou seja, não religiosa) e o canto
coral (em oposição ao canto em uníssono). Compositores e músicos uniram
interpretações, habilidades técnicas e dramaticidade. Na música coral
combinou-se uma rica melodia e um equilíbrio formal de grande expressivi-
dade, preservando a inteligibilidade do texto. Com relação à arquitetura, na
época do Renascimento era comum que burgueses, nobres e clérigos finan-
ciassem artistas para trabalhar em obras de arte que tinham como objetivo
embelezar as cidades. Esses arquitetos construíam palácios, catedrais,
capelas, pontes e monumentos públicos, tendo como modelo estético e
técnico a arquitetura antiga. Na arquitetura renascentista religiosa, utilizou-se
o modelo centralizado de templo, semelhante a uma cruz grega ornamenta-
da com cúpulas. Na arquitetura profana, os nobres ordenaram a construção
de palácios de grande imponência e originalidade que lhes conferia grande status.

76
Página 124

Orientações para o professor


Explorando a imagem
■■ Explore a pintura O cambista e sua mulher com os alunos com auxílio do in-
fográfico abaixo. Aproveite o momento para reforçar a respeito das infinitas
possibilidades de interpretação de uma mesma fonte histórica. O gênero ima-
gético, nesse sentido — no qual se incluem fotografias, pinturas, caricaturas
— permite ao historiador múltiplas possibilidades de abordagem, inferindo-se
sobre seu conteúdo. Nesse âmbito, comente com eles que o quadro do pintor

Objetivos, comentários e sugestões


flamengo Quentin Metsys pode sugerir duas ou mais interpretações. Dentre
elas, a de mostrar o cambista como um profissional respeitável, que trabalha
ao lado da esposa em uma rotina comum. Outras análises, no entanto, indicam
que a obra do artista teria um caráter moralizante, satirizando a avareza e a
ganância do banqueiro. Há ainda outra análise que parte do pressuposto de
que a obra tinha a intenção de relacionar o comércio e a doutrina da Igreja,
simbolizada pelo livro que a mulher folheia. Veja o infográfico a seguir.

Quentin Metsys – O cambista e sua mulher. 1514. Museu do Louvre, Paris

A introdução da
tinta a óleo O livro representado é
permitiu melhor provavelmente um
qualidade e guia litúrgico de
detalhamento na orações e salmos,
pintura conhecido como Livro
renascentista. das Horas, assim
chamado por indicar
as orações específicas
para as ações feitas ao
longo do dia.

O cambista
examina e pesa
alguns dos
objetos sobre a
mesa. É possível
ver moedas e
anéis de ouro, No espelho convexo há a
pérolas e pesos. figura de um homem de
turbante ao lado da janela.
É possível que esse
personagem seja um
autorretrato do pintor, como
também pode representar
um ladrão que observa o
trabalho do casal.

■■ Após a análise, peça aos alunos que exponham suas opiniões sobre o conte-
údo da pintura. Proponha que troquem informações com os colegas e com-
partilhem suas interpretações a respeito do documento.

77
Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Sobre o Renascimento em outras regiões da Europa, em especial na Inglater-
ra, assista com os alunos ao filme Romeu & Julieta .
O filme Romeu & Julieta , de 1996, foi dirigido pelo cineasta australiano Baz
Luhrmann. O roteiro baseia-se na peça homônima escrita pelo inglês William
Shakespeare na década de 1590. Essa adaptação foi feita em comemoração
aos 441 anos da peça e ganhou características modernas, fazendo prevalecer,
no entanto, a linguagem poética e dramática da literatura shakespeariana. A
trama se passa na cidade fictícia de Verona Beach, marcada pela violência en-
tre duas famílias rivais, os Montecchio e os Capuleto. Essa hostilidade, entre-
tanto, não impediu que o jovem Romeu, um Montecchio, se apaixonasse pela
jovem Julieta, uma Capuleto. As disputas e rivalidades entre as famílias são
acompanhadas pela mídia da cidade, que anunciou o desfecho trágico da his-
tória de amor entre Romeu e Julieta.

Filme de Baz Luhrmann. Romeu e Julieta. 1996. EUA


Ficha Técnica
Título — Romeu e Julieta
Diretor — Baz Luhrmann
Atores Principais — Leonardo
DiCaprio, Claire Danes, Harold
Perrineau, John Leguizamo,
Pete Postlethwaite, Paul Sorvino
Ano — 1996
Duração — 135 minutos
Origem — EUA

A Europa moderna: as Grandes


8
Capítulo

Navegações

Objetivos
■■ Compreender o que foram as Grandes Navegações.
■■ Perceber que a formação dos Estados europeus contribuiu para que os reis
investissem na procura por novos territórios e riquezas.
■■ Relacionar a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos com a procura
dos europeus por novos caminhos que os levassem às Índias.
■■ Perceber que Portugal e Espanha foram os primeiros Estados europeus a in-
vestir na navegação atlântica.
■■ Estudar o momento da chegada dos portugueses ao território onde atualmen-
te se localiza o Brasil.
■■ Conhecer diferentes pontos de vista sobre o “descobrimento” do Brasil.
■■ Estudar o cotidiano em uma caravela na época das Grandes Navegações.

78
A Era das explorações marítimas*

Orientações para o professor


Entre [os séculos XV e XVI] os europeus aprenderam que todos os mares são
um só e que os navegantes, tendo navios e provisões convenientes, habilidade e
coragem, poderiam no devido tempo chegar a qualquer região do mundo que ti-
vesse uma costa oceânica e, o que era ainda mais importante, regressar ao ponto
de partida. Não há outro período na história do mundo ocidental que se compare
a esse tempo em significação, em variedade e em interesse dramático. [...]
Os exploradores eram na sua maioria homens práticos, pouco inclinados a es-
crever. Não viam interesse em prestar informações valiosas, salvo aos homens a
quem serviam. Estes incentivavam o silêncio, pois tinham a esperança de mono-

Objetivos, comentários e sugestões


polizar os rendimentos das terras recém-descobertas. Por isso, os pormenores das
descobertas têm de ser com frequência deduzidos dos escritos de cronistas e de
amadores sedentários de viagens, e que se baseavam tanto na teoria clássica e nas
conjecturas cosmográficas quanto na experiência.
A Idade da Exploração é em geral associada ao Renascimento; com um recru-
descimento da curiosidade, com uma nova clareza e objetividade no estudo dos
fenômenos naturais e das realizações humanas. Entretanto, nada havia de novo em
relação às viagens nem ao desejo de ver terras estranhas. A novidade foi a organi-
zação sistemática do reconhecimento marítimo e o rápido aperfeiçoamento de su-
as técnicas. [...]
HALE, John R. Idade das explorações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 7. (Biblioteca de História Universal Life).
*Título dado pelos autores

Comentários e sugestões
Páginas 130 e 131

Páginas de abertura do capítulo


■■ A pintura, fonte A, representa o contexto das Grandes Navegações europeias
a partir do século XVI. O barco à vela se destaca no centro da imagem e é
rodeado por ondas e criaturas. Estes seres foram representados com olhos e
corpos direcionados à embarcação. Os demais barcos, no plano de fundo,
contextualizam a representação do artista. Comente com os alunos que cria-
turas e monstros marinhos fizeram parte do imaginário europeu, sobretudo
daqueles que se lançariam ao mar em busca de novos territórios. Esse imagi-
nário permeou as artes, com a representação de seres que devorariam em-
barcações e tripulantes. Sobre esse assunto, leia o texto a seguir.

O extraordinário se abriu diante da Europa a partir do século XVI. O continen-


te, por séculos fechado em rotas terrestres e em viagens marítimas de curto alcan-
ce, se viu imerso em uma nova geografia planetária com as grandes navegações. Os
homens da Idade Média, em um primeiro momento, transferiram ao Oriente e ao
Novo Mundo seus sonhos e pesadelos. E seus monstros, presentes nos bestiários
tradicionais, migraram para a literatura de viagem. [...] os exuberantes bestiários
medievais [eram] um misto de enciclopédia com pensamento religioso, que des-
creveram monstros, alguns híbridos entre bichos e humanos, outros misturando
vários animais selvagens, outros ainda deformando atributos humanos [...].

79
O Oriente, mais tarde o Novo Mundo foram inspirações para tamanha sede de
exotismo, não uma base concreta, pois os seres criados não tinham correspondên-
cia com a realidade natural ou histórica das regiões distantes da Europa.
DUMÉZIL, Bruno. Era dos descobrimentos e imaginário medieval. História Viva. São Paulo: Duetto, n. 35, s/d.
p. 72-3. Edição Especial: Grandes Temas.

■■ A fonte B reproduz o mapa-múndi produzido em 1512 pelo italiano Jerônimo


Marini. O fundo da imagem foi adornado com motivos arabescos e inscrições
em latim. Comente com os alunos que esse mapa foi o primeiro a utilizar a
palavra “Brasil” para nomear as terras recém-conquistadas pela Coroa portu-
guesa na América. Comente também que foi produzido sob a influência dos
costumes árabes e, por isso, a região Sul do globo terrestre é representada
no lado superior. Apesar de apresentar imprecisões, por exemplo, represen-
tando a Palestina no centro da Terra e o território da Inglaterra bastante dis-
torcido, esse mapa foi muito inovador para a época, pois levou em conside-
ração a representação de locais até então pouco conhecidos pelos europeus,
como a Escandinávia e o Brasil. Diga-lhes que a versão original dessa obra
está atualmente na Livraria Antiquária, em Roma.
■■ A fonte C apresenta imagem de uma bússola, objeto de grande importância
no contexto das Grandes Navegações. Além da bússola, outros instrumentos
foram utilizados pelos navegadores, como o sextante, a esfera armilar, o as-
trolábio e o sonar.
■■ A imagem apresentada como fonte D mostra o interior de uma botica do sé-
culo XV. Os personagens contextualizam a sua abordagem, comprando, ven-
dendo, produzindo os medicamentos. Em primeiro plano, do lado direito, in-
divíduo dedica-se à fabricação de algum medicamento, com socadeira e pilão
nas mãos. Nota-se a precariedade de suas condições pelas suas roupas
rasgadas e sapatos em apenas um dos pés. O personagem em frente ao bal-
cão observa os produtos do estabelecimento, enquanto é atendido pelo homem
a sua frente com balança na mão. Ao seu lado, um homem se encarrega do
controle de venda dos produtos. Os medicamentos e especiarias que eram
vendidos compõem o fundo da imagem.

Conversando sobre o assunto


■■ As criaturas marítimas da fonte A foram representadas cercando uma embar-
cação em alto-mar. Essas criaturas faziam parte do imaginário europeu no
contexto das Grandes Navegações, não eram reais. Por meio delas é possível
perceber que os navegadores da Europa Moderna receavam se deparar com
seres agressivos, que devorariam as embarcações e seus tripulantes.
■■ O mapa apresentado como fonte B foi feito a partir da influência dos costumes
árabes, por isso a inversão dos países. Diferente do mapa atual, o mapa da
página apresenta a região sul do globo terrestre do lado superior e a Palestina
no centro. Além disso, a África tem proporções menores que as dos mapas
atuais e o território da Inglaterra aparece distorcido.
■■ A bússola, apresentada na fonte C, foi de grande importância para as Grandes
Navegações, pois orientava a tripulação das embarcações para seus destinos.
■■ A fonte D é uma pintura do século XV que representa o interior de uma botica
europeia. Na botica, estão expostos diversos recipientes onde ficavam arma-
zenados os medicamentos e as especiarias para venda. Como já exposto

80
anteriormente, quatro personagens aparecem na cena: dois homens atrás do

Orientações para o professor


balcão (um usando balança e outro fazendo anotações); um comprador (homem
ao centro); e um homem realizando o trabalho de pilar. O comércio de espe-
ciarias está diretamente relacionado às Grandes Navegações: de alto valor
comercial na Europa, as especiarias (como cravo, canela, gengibre, pimenta)
eram encontradas em regiões distantes, como África e Ásia. As possibilidades
de enriquecimento levaram muitos comerciantes a patrocinarem as Grandes
Navegações. Além disso, interessada nos lucros, a nobreza europeia também
se envolveu nestas empreitadas.

Objetivos, comentários e sugestões


Página 132 e 133
■■ O texto a seguir apresenta o contexto histórico que possibilitou aos portu-
gueses darem início às Grandes Navegações. Caso julgue conveniente,
apresente-o aos alunos.

[...] Uma das principais características da Modernidade na Europa Ocidental foi


a centralização do poder nas mãos dos reis, fator fundamental na formação dos
Estados nacionais. Os reis, “pela graça de Deus”, estimularam a expansão ultrama-
rina e comercial, proporcionando novas oportunidades para seus súditos, sobretu-
do os comerciantes, principais aliados das monarquias na luta contra os particula-
rismos regionais e os privilégios feudais. [...]
Dois fatores impulsionaram a expansão geográfica europeia do início do século
XV. Em primeiro lugar, a necessidade de alimentar uma população cada vez maior
provocou o desbravamento de áreas de fronteira e a colonização das ilhas atlânticas
descobertas por Portugal durante o século XV. [...]
Em segundo lugar, a expansão comercial do final da Idade Média estimulou a
procura por metais preciosos, sobretudo ouro e prata. Entre os fatores que contri-
buíram para “enriquecer” a Europa Ocidental merecem destaque as Cruzadas, ten-
tativa de recuperar os lugares sagrados da cristandade no Mediterrâneo oriental.
[...]
Os portugueses lançaram-se à conquista e ao conhecimento do Mar-Oceano [o
Atlântico] no alvorecer do século XV, quatro anos depois de conquistarem a praça
do Ceuta, em 1415, por iniciativa do Infante Henrique de Avis. [...]
O ideal de cruzada contra o “infiel” muçulmano fundamentou, inicialmente, a
expansão portuguesa, embora então — e como sinal dos novos tempos — já se
reconhecesse que, sem o dinheiro proveniente do comércio, a conversão e o com-
bate aos “infiéis” e “hereges”, além da conquista de novas almas, tornavam-se tare-
fa impossível de realizar. Isso explica, em grande parte, os privilégios concedidos
pelo papado aos reis de Portugal. [...]
Obras de astrônomos e matemáticos árabes, que vinham sendo traduzidas na
península Ibérica desde o século XII, forneceram o instrumental teórico necessário
à navegação oceânica e, nessas viagens pioneiras, possibilitaram às naus ir e — mais
importante ainda — voltar. [...].
A experiência da navegação até as ilhas do Atlântico forneceu o conhecimento
do sistema de ventos e das correntes dessa parte do oceano. A descoberta e o con-
trole da rota de retorno em arco, que se afastava da costa africana, beirando o ar-

81
quipélago dos Açores e contornando os ventos alísios e a corrente de Nordeste,
foram elementos importantíssimos no processo de expansão. A abertura dessa “au-
toestrada”, por assim dizer, no Atlântico Norte, possibilitou a volta segura das via-
gens à costa ocidental da África, e, posteriormente, à América e às Índias. [...]
Outros fatores pesaram, entretanto, para que Portugal se tornasse pioneiro entre
as monarquias cristãs no empreendimento da expansão comercial europeia rumo
ao desconhecido. A posição geográfica do pequeno reino seria de grande vantagem,
dada a proximidade com o continente africano e a presença de correntes marítimas,
que levavam quase naturalmente para as ilhas do Atlântico.
LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Senac, 2008. p. 43; 47; 54-8.

Página 134
■■ Explore o conhecimento prévio dos alunos perguntando-lhes quais especia-
rias conhecem ou já consumiram. Comente que muitos desses produtos
estão presentes em nosso cotidiano, utilizados no preparo de pratos ou
para curas de doenças e alívios de dores. A canela, por exemplo, é larga-
mente utilizada para aprimorar o sabor de alguns doces como o curau e o
arroz-doce; já a noz-moscada tempera pratos salgados, como molhos, ou
purê de batatas, por exemplo. O gengibre, além de ser utilizado para fins
culinários, é um dos ingredientes para o preparo de xaropes caseiros para
curar tosses.

Página 135
■■ Caso queira complementar o estudo da página, comente com os alunos que
o pioneirismo português e espanhol no processo de expansão marítima po-
de ser explicado por alguns motivos, entre os quais:
■■ Conquista de Ceuta: em 1415 os portugueses conquistaram a cidade de
Ceuta, que era dominada pelos mouros, o que possibilitou aos lusitanos o
controle de um importante centro comercial e estratégico no norte da África.
■■ Conquista de Constantinopla: com a tomada de Constantinopla pelos turco-
-otomanos em 1453, os europeus encontraram dificuldade para conseguir
especiarias provenientes das Índias percorrendo caminhos terrestres. Dian-
te disso, tiveram que utilizar a navegação para consegui-las.
■■ Conquista de Granada: em 1492, o recém-formado Estado espanhol pôs
fim ao processo de reconquista da península Ibérica, dominada pelos mou-
ros desde o século VII.
■■ Acúmulo de metais preciosos: o acúmulo de metais preciosos, entre eles o
ouro, era uma prática comum nos Estados europeus dos séculos XV e XVI.
Esses metais, além de servirem para a cunhagem de moedas, eram usados
em estado bruto nas trocas comerciais.
■■ Religiosidade: o ideal de evangelização, ou seja, levar a fé cristã a pessoas
que não a conheciam, era muito forte nos Estados de Portugal e Espanha
nos séculos XV e XVI.

82
Sugestão de atividade

Orientações para o professor


Análise de Filme
■■ Sobre a chegada de Colombo à América e a consequente conquista do territó-
rio americano pelos europeus, assista ao filme 1492 – A conquista do Paraíso.
O filme, dirigido pelo inglês Ridley Scott, foi lançado em 1992, ano em que
foram realizadas solenidades para marcar os 500 anos da chegada dos europeus
na América. Esse filme narra a trajetória do navegador genovês Cristóvão
Colombo e a conquista da América. Com o apoio financeiro dos soberanos

Objetivos, comentários e sugestões


Fernando de Aragão e Isabel de Castela, da Espanha, Colombo partiu do porto
de Palos em 1492, visando chegar às Índias, o que possibilitaria a ampliação
dos mercados europeus e o fim do monopólio comercial italiano sobre as mer-
cadorias trazidas do Oriente. Mesmo apresentando algumas incorreções, o filme
traz informações interessantes sobre os costumes da época. Os personagens,
os trajes e os objetos, por exemplo, foram criados e produzidos com base em
pesquisas históricas.

Filme de Ridley Scott. 1492 - A Conquista do Paraiso.


1992. Espanha, França, EUA e Inglaterra
Ficha Técnica
Título — 1492 — A conquista
do Paraíso
Diretor — Ridley Scott
Atores Principais — Gerard
Depardieu, Armand Assant,
Sigourney Weaver, Michael
Wincott, Kevin Dunn
Ano — 1992
Duração — 148 minutos
Origem — Espanha, França,
EUA e Inglaterra

Página 136
■■ Comente com os alunos que Inter Coetera é uma expressão latina que sig-
nifica “entre outros” e que esta foi a primeira bula de determinação papal
para dividir as terras encontradas entre Portugal e Espanha.

A Europa moderna: reformas religiosas


9
Capítulo

e Absolutismo
Objetivos
■■ Estudar o contexto histórico da Europa nos séculos XVI e XVII.
■■ Conhecer os principais aspectos das reformas religiosas ocorridas no século XVI.
■■ Compreender o processo de formação dos Estados absolutistas europeus.
■■ Estudar características do Absolutismo francês.
■■ Conhecer o cotidiano de trabalho em uma tipografia da época de Johannes
Gutenberg.

83
A Reforma e a Idade Moderna
[...] A Reforma contribuiu, em muitos aspectos importantes, para a formação da
modernidade. Ao dividir a cristandade em católica e protestante, destruiu a unida-
de religiosa da Europa, a principal característica da Idade Média, e enfraqueceu a
Igreja, principal instituição da sociedade medieval. Fortalecendo o poder dos mo-
narcas às expensas dos órgãos religiosos, a Reforma estimulou o crescimento do
Estado moderno, secular e centralizado. [...]
A Reforma contribuiu também para a criação da ética individualista que caracteriza
o mundo moderno. Uma vez que os protestantes, ao contrário dos católicos, não tinham
nenhum intérprete oficial das Escrituras, ficava a cargo do indivíduo a terrível respon-
sabilidade de interpretar a Bíblia de acordo com os ditames de sua consciência.
[...] A devoção não era determinada pela igreja, mas pelo indivíduo autônomo, cuja
consciência, iluminada por Deus, era a fonte de todo julgamento e autoridade. [...]
Ao ressaltar a consciência individual, a Reforma pode ter contribuído para o de-
senvolvimento do espírito capitalista, que fundamenta a economia moderna. Assim
argumentou o sociólogo alemão Max Weber em [Ética protestante e o espírito do ca-
pitalismo] (1904). [...] Os homens de negócio protestantes acreditavam ter a obrigação
religiosa de enriquecer, e sua fé lhes dava a autodisciplina necessária para isso. [...]
[...] O protestantismo produziu, portanto, uma atitude profundamente individu-
alista que valorizava a força interior, a autodisciplina e o comportamento sóbrio e
metódico — atributos necessários a uma classe média em busca de sucesso num
mundo altamente competitivo.
MARVIN, Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. 3. ed. Trad. Waltensir Dutra; Silvana Vieira. São Paulo:
Martins Fontes, 2002. p. 244-6.

Comentários e sugestões

Páginas 144 e 145

Páginas de abertura do capítulo


■■ A pintura apresentada como fonte A foi feita no início do século XVIII e repre-
senta o rei absolutista Luís XIV. A composição da pintura denota o sentido de
ostentação e nobreza do monarca francês. Luís XIV está posicionado no centro
da obra, usando sapatos brancos com detalhes vermelhos, calça branca e
manto azul e branco. Com a mão direita ele segura um cetro e do seu lado
esquerdo, carrega uma espada. Esses objetos são símbolos do seu poder. O
local e os objetos do plano de fundo da obra indicam que foi inspirada em um
espaço privado, frequentado por Luís XIV. Comente com os alunos que o rei da
França foi o precursor do uso de muitos artigos de vestuário e difundiu costumes
que denotavam e ostentavam sua nobreza. O salto alto, por exemplo, foi corri-
queiramente utilizado por Luís XIV. O texto a seguir trata desse assunto.

[...] Luís XIV inventou o luxo tal como o conhecemos hoje. Os diamantes e o
champanhe, por exemplo, tornaram-se sinônimo de sofisticação e glamour em seu
reinado. Os sapatos de salto alto [na época, adotado por homens e mulheres], in-
dispensáveis para as mulheres elegantes, foram ideia dos artesãos palacianos. A

84
gastronomia francesa, com seus chefs, e a alta-costura, com seus estilistas-estrelas,

Orientações para o professor


apareceram durante seu reinado, assim como as butiques, as grifes e os salões de
cabeleireiros.
[...] No caso de Luís XIV, é que o estilo de sua corte se perpetuou. A explicação
para isso é que, sob o cetro de Luís XIV, o luxo deixou de ser exclusividade dos
nobres para se transformar em objeto de consumo. A Europa ficou fascinada pelas
criações da corte francesa. Todos queriam roupas, móveis e receitas culinárias vin-
das da França — há até um estilo de móveis e pinturas chamado Luís XIV. Já na-
quela época os franceses souberam se aproveitar desse sucesso e transformaram a
moda, os perfumes e a gastronomia em indústrias que desde então só fizeram

Objetivos, comentários e sugestões


crescer e, hoje, são alicerces da economia do país.
CARELLI, Gabriela. Inventor do luxo. Veja. São Paulo: Abril, n. 1920, 31 ago. 2005. p. 110.

■■ A imagem apresentada como fonte B mostra uma cena em que Martinho Lu-
tero, líder da Reforma Protestante, afixa um documento na porta de Igreja
Católica de Wittenberg, na Alemanha. O conteúdo desse documento trazia
algumas considerações contra a Igreja e ficou conhecido como 95 Teses de
Lutero. Em primeiro plano, pessoas observam a ação do religioso.
■■ A fonte C é uma imagem que representa várias pessoas trabalhando no
processo de produção de um livro, entre elas, Johannes Gutenberg, o inven-
tor da prensa de tipos móveis. Gutenberg, ao fundo, confere uma página
impressa enquanto os outros indivíduos realizam atividades diversas, como
leitura e prensa das folhas. Nota-se, pela observação das páginas pendura-
das no alto da imagem, que o processo de secagem das folhas impressas
não era rápido.
■■ A gravura — fonte D — faz a representação de uma cena em que os hereges
são queimados na fogueira durante a Inquisição. O fato ocorre no plano de
fundo da imagem, com presença de um réu sobre um cadafalso, enquanto
algumas pessoas acendem fogueiras em volta dele. Participam também pes-
soas da nobreza e da Igreja, como pode ser observado pelo sacerdote, com
um crucifixo na mão, em primeiro plano. Comente com os alunos que o auto
de fé era um evento público promovido pela Coroa espanhola em vilas, cidades
e abadias, a fim de punir as pessoas condenadas pelo Tribunal do Santo Ofí-
cio (a Inquisição Católica) por heresia. De acordo com os costumes da época,
o auto de fé começava com uma procissão, que partia da prisão da Inquisição
e ia até a praça central. Participavam dessa procissão todos os habitantes
locais, incluindo os condenados. Na praça, era realizada uma longa missa e,
em seguida, começavam os rituais de punição dos hereges.

Conversando sobre o assunto


■■ Na fonte, o poder de Luís XIV, pode ser denotado pela vestimenta e adornos
que usa, como os sapatos de salto alto, o enorme manto real, o cetro na mão
e a espada na cintura. Além disso, seu próprio posicionamento e postura
podem indicar o seu poder.
■■ Na fonte B, o personagem em destaque, Martinho Lutero, foi representado
afixando um cartaz com suas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg.
Suas teses contestavam algumas ações da Igreja Católica, sobretudo aquelas
ligadas às indulgências.

85
■■ Os elementos relacionados à impressão de livros, na fonte C, são a prensa de
tipos móveis, as páginas com os conteúdos impressos, a secagem das pági-
nas e as formas de tipos móveis empilhadas sobre uma mesa, que está atrás
de Gutenberg.
■■ A Inquisição foi criada pela Igreja Católica com o objetivo de investigar e punir
aqueles que cometiam ações consideradas condenáveis pela Igreja. As penas
da Inquisição podiam variar, desde a perda de liberdade até a morte, com o
indivíduo queimado na fogueira. Os personagens na fonte D foram represen-
tados participando de um auto de fé. Entre estes estão sacerdotes, pessoas
pertencentes à nobreza e o réu.

Página 147
■■ Explore a linha do tempo com os alunos, fazendo-lhes perguntas como:
Quando teve início o Concílio de Trento? O que foi esse concílio?; Quando
teve fim a Guerra dos Trinta Anos e qual documento marcou esse fim? etc.
■■ Comente com os alunos que fraticelli foi uma congregação fundada por um
grupo de religiosos franciscanos em 1294. Os fraticelli tiveram uma relação
conflituosa com a Igreja, pois contestavam o luxo e a ostentação de alguns
clérigos em um momento em que a Europa passava por sérias crises de
fome e pestes. Por se oporem a esse comportamento dos clérigos, em 1318
foram condenados pelo Papa João XXII.
■■ A expressão valdense deriva do nome do criador da seita, o mercador Pedro
Valdo, no ano de 1174 em Lyon. Pedro Valdo queria pregar o Evangelho em
seu idioma, por isso mandou traduzir a Bíblia . No entanto, o pedido de sua
ação foi negado pelo bispo diocesano no Concílio de Latrão, em Roma, o
que ocasionou conflito com a Igreja Católica. Porém, mesmo sem liberdade
de culto e sofrendo constantes perseguições, os valdenses mantiveram seus
princípios após a Reforma protestante.

Página 148
■■ Comente com os alunos que Lutero, ao fundamentar sua doutrina, baseou-
-se na ideia de justificação pela fé, ou seja, a salvação cristã dependeria da
crença das pessoas em Deus, e não na realização dos rituais católicos. Além
disso, acreditava que somente a Bíblia podia revelar a vontade de Deus, sem
precisar da interpretação teológica dos clérigos católicos. Outro importante
elemento da doutrina luterana era o sacerdócio universal, isto é, o princípio
de que todos os fiéis seriam membros do sacerdócio, eliminando a diferen-
ça entre leigos e clérigos. Consequentemente, deveria ser eliminada toda a
autoridade do papa e da Igreja. Lutero também traduziu a Bíblia do latim
para o alemão, possibilitando que mais pessoas pudessem ter acesso direto
ao que os cristãos consideram a palavra de Deus. A tradução contribuiu
para a sistematização da escrita em alemão, contribuindo para o desenvol-
vimento da Língua Alemã moderna.

Página 149
■■ Explique aos alunos que, no período medieval, o tribunal da Igreja respon-
sável por julgar as pessoas consideradas hereges chamava-se Tribunal do

86
Santo Ofício. Esse tribunal normalmente punia os pecadores com a exco-

Orientações para o professor


munhão. Já no século XV, sob o nome de Tribunal da Santa Inquisição,
criado na Espanha, o tribunal perseguia principalmente os cristãos-novos,
ou seja, os judeus que se diziam convertidos ao catolicismo, mas que con-
tinuavam participando dos rituais judaicos. Na época da Contrarreforma, no
entanto, a Inquisição passou a perseguir protestantes, cientistas que con-
trariavam os dogmas da Igreja, homossexuais e polígamos. Leia o texto.

[...] No rastro do concílio de Trento (1545-1563), marco institucional da Con-


trarreforma, as Inquisições passaram a se preocupar com o perigo do protestante

Objetivos, comentários e sugestões


e a defender a pureza de dogmas e leis da Igreja de Roma: perseguir os que duvi-
davam da virgindade de Maria, [...], os que negavam existir o Purgatório, os que
questionavam os sacramentos, os bígamos. Animados por uma política de inter-
venção contra o avanço da “heresia luterana”, os inquisidores acabariam movendo
fortíssima campanha moralizante, processo controlador e adestrador de condutas
individuais. No limite os inquisidores trariam para o seu foro delitos sexuais [...].
Some-se a isso a tradicional perseguição à feitiçaria [...].
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Confissões da Bahia: santo Ofício da inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras,
1997. p. 9-10. (Retratos do Brasil).

Página 151
■■ Sobre a Inquisição no Brasil, leia o texto a seguir. Se julgar conveniente,
apresente as principais informações aos alunos.

Tudo mudou com a chegada da visitação, que integrou nova estratégia inquisi-
torial, em tempo de União Ibérica, voltada para o Atlântico hispano-português. A
estreia do Santo Ofício no Brasil amedrontou mais do que prendeu os cristãos-
-novos, embora tenha destroçado a sinagoga de Matoim, no Recôncavo Baiano. Em
todo caso, deixou um rastro deletério, rompendo a solidariedade cotidiana que
unia cristãos-velhos e novos da Colônia.
Ao longo do século XVII, outras visitações deram seguimento à ação inquisitorial,
reforçada, no século XVIII, pela consolidação de uma rede de familiares e comissários,
além da justiça eclesiástica, que pinçava suspeitos de heresia em suas visitas diocesanas.
Foi esta a máquina que viabilizou a Inquisição no Brasil, resultando no seguinte balan-
ço: 1 074 presos, sendo 776 homens e 298 mulheres; 48% deles e 77% delas eram cris-
tãos-novos acusados de judaizar; a grande maioria dos homens presos (62%) morava
na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro, enquanto a maioria das mulheres (54%)
vivia em terra fluminense, seguidas de longe pelas mulheres da Bahia (14%).
O auge da ação inquisitorial ocorreu na primeira metade do século XVIII (51%
dos presos). Vinte homens e duas mulheres da Colônia foram queimados em Lis-
boa, todos por judaizar. Dentre eles, o dramaturgo carioca Antônio José da Silva
(1739) e a octogenária Ana Rodrigues, matriarca do engenho de Matoim. A velha
sinhá embarcou para Lisboa acompanhada de uma escrava e morreu no cárcere em
1593. Nem assim ela escapou da fogueira. O Santo Ofício desenterrou seus ossos
para queimá-lo em auto de fé, no Terreiro do Paço.
VAINFAS, Ronaldo. O que a Inquisição veio fazer no Brasil? Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro:
Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 73, out. 2011. p. 21.

87
Páginas 154 e 155
■■ A substituição do pergaminho pelo papel foi essencial para a invenção da pren-
sa. Enquanto o pergaminho era feito com peles de animais e tinha um preço
muito elevado, o papel, feito de trapos moídos, tinha um preço bem mais baixo,
possibilitando a popularização dos livros impressos. Contudo, apesar de
a prensa de Gutenberg ter revolucionado o mundo editorial e rompido com a
tradição medieval de produção de manuscritos, alguns costumes daquela épo-
ca foram mantidos. Leia, a seguir, um texto do historiador Roger Chartier sobre
as permanências medievais na produção de livros após a invenção da prensa.

[...] Em meados da década de 1450, só era possível reproduzir um texto copian-


do-o à mão, e de repente uma nova técnica, baseada nos tipos móveis e na prensa,
transfigurou a relação com a cultura escrita. O custo do livro diminui, através da
distribuição das despesas pela totalidade da tiragem, muito modesta aliás, entre
[1000] e [1500] exemplares. Analogamente, o tempo de reprodução do texto é re-
duzido graças ao trabalho da oficina tipográfica.
Contudo, a transformação não é tão absoluta como se diz: um livro manuscrito
(sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro pós-Gutenberg ba-
seiam-se nas mesmas estruturas fundamentais — as do códex. Tanto um como
outro são objetos compostos de folhas dobradas um certo número de vezes, o que
determina o formato do livro e a sucessão dos cadernos. Estes cadernos são mon-
tados, costurados uns aos outros e protegidos por uma encadernação.
A distribuição do texto na superfície da página, os instrumentos que lhe permi-
tem as identificações (paginação, numerações), os índices e os sumários: tudo isto
existe desde a época do manuscrito. Isso é herdado por Gutenberg e, depois dele,
pelo livro moderno. [...]
Há portanto uma continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a
cultura do impresso, embora durante muito tempo se tenha acreditado numa rup-
tura total entre uma e outra. Com Gutenberg, a prensa, os tipógrafos, a oficina,
todo um mundo antigo teria desaparecido bruscamente. Na realidade, o escrito
copiado à mão sobreviveu por muito tempo à invenção de Gutenberg, até o século
XVIII, e mesmo o XIX.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo de Moraes.
São Paulo: Unesp, 1998. p. 7-9. (Prismas).

Página 157

Explorando a imagem

A pintura Família de camponeses em um interior , de 1642, realizada pelo


artista francês Louis Le Nain, representa o cotidiano de uma família francesa
pobre da época. Nela, observa-se a melancolia de seus membros e a escas-
sez de bens materiais. A luz difusa e sombria se mistura aos olhares de
tristeza dos personagens. O encanto da infância é substituído pelas precárias
condições de vida. Alguns dos membros dessa família estão agrupados em

88
torno de uma pequena mesa, enquanto os outros estão próximos ao fogo.

Orientações para o professor


Veja, no infográfico a seguir, mais informações para explorar essa fonte com
os alunos.
Crianças Vestimentas
Elas estão absorvidas em suas próprias As vestimentas simples dos
atividades. Um menino está observando o camponeses contrastavam com o luxo
fogo, o outro toca uma flauta, enquanto as e a pompa da moda da Corte francesa
outras parecem distraídas e entediadas. na época.

Louis Le Nain – Família de camponeses


em um interior. 1642. Museu do
Louvre, Paris

Objetivos, comentários e sugestões


Alimentação
O pão e o vinho
eram comuns e
essenciais na
dieta das famílias Pobreza
pobres. Panelas vazias
evidenciam a
escassez de
alimentos.

Saleiro
O sal era usado como tempero e
também para conservar o alimento.

10 A colonização na América espanhola


Capítulo

Objetivos
■■ Estudar as consequências do encontro entre europeus e indígenas americanos.
■■ Compreender os principais motivos que possibilitaram a conquista europeia
sobre os povos indígenas da América.
■■ Estudar os principais aspectos da colonização dos territórios americanos ocu-
pados pelos europeus.
■■ Entender que as principais atividades econômicas dos europeus na América
foram a mineração e a agricultura.
■■ Perceber que a mão de obra indígena e africana foram amplamente exploradas
pelos europeus em suas colônias na América.
■■ Estudar a organização da sociedade colonial na América.
■■ Conhecer aspectos da sociedade latino-americana atualmente.

Construindo uma colônia


Apesar das permanentes tentativas de limitação que os reis espanhóis tentaram
impor à escravidão indígena, os conquistadores tinham a seu serviço uma legião
imensa de escravos. [...]

89
Uma forma comum de exploração do trabalho indígena ficou conhecida como
encomienda: os índios eram colocados sob a responsabilidade de um espanhol, que
explorava seu trabalho em troca de dar-lhes uma educação cristã. Este sistema
agradava ao rei, pois garantia a educação cristã, e agradava ainda mais aos colonos
espanhóis, pois garantia, na prática, mão de obra abundante e gratuita em troca de
algumas poucas aulas de catequese. [...]
Outra forma de exploração dos índios foi reparti-los sob a tutela de um funcio-
nário real, pagando-se a eles uma espécie de salário pelos seus serviços. Na prática,
nem este sistema (usualmente chamado de repartimiento) nem a encomienda im-
pediam a total e aberta exploração dos índios.
Esgotados no trabalho das minas de prata do México, explorados nas plantações
pelos encomenderos, destruídos pelas constantes epidemias trazidas da Europa, a
população indígena declinou de cerca de 25 milhões para menos de 1 milhão na
região central do México. [...]
[Mas] não bastava controlar os índios e extrair o fruto do seu trabalho. [...] A
imensa riqueza e os excessos cometidos por eles [colonizadores], porém, levaram
o rei a procurar ter um controle mais direto sobre as áreas conquistadas. O México
recebeu, então, um vice-rei. [...]
O vice-rei prestava obediência somente ao rei. Porém, era mais comum que sua
comunicação não fosse diretamente com o soberano, mas com o conselho criado
para tratar da América: o Conselho das Índias. Este grupo de pessoas recebia, na
Espanha, as cartas vindas das autoridades na América; resolvia as disputas e nome-
ava as autoridades.
Grandes regiões foram subdivididas em áreas administrativas chamadas de Au-
diências. Os membros das Audiências faziam visitas de inspeção pelas cidades e
aldeias. Muitas cidades também tiveram um Cabildo, espécie de Câmara de Vere-
adores ou governo municipal. Os membros do Cabildo eram escolhidos entre a
elite local: grandes proprietários ou grandes comerciantes.
Muito cedo, nos Cabildos, surgiria um tipo de conflito que marcaria a história
da América até o século XIX: os interesses daqueles brancos descendentes de espa-
nhóis que já tinham raízes na região muitas vezes se chocavam com os interesses
dos recém-chegados da Espanha. Os brancos nascidos na América eram chamados
de criollos. Os espanhóis passaram a ser apelidados de chapetones. Como o governo
espanhol confiava mais nestes últimos do que nos criollos e só nomeava autoridades
chapetones para os cargos, as tensões foram crescendo.
Havia vários impostos cobrados sobre o México. Um dos mais famosos era o
quinto (em geral 20%), imposto sobre a produção de metais. O rei também recebia
dinheiro pelos produtos exportados e importados pelo México. Havia monopólios
reais, ou seja, produtos que somente a Coroa podia explorar como o sal, a pólvora
e o mercúrio, metal utilizado para extrair a prata do solo. Estes impostos garantiram
que os reis espanhóis tivessem muito poder e transformassem seu país na grande
potência europeia dos séculos XVI e XVII.
KARNAL, Leandro. A conquista do México. São Paulo: FTD, 1996. p. 34-6. (Para conhecer melhor).

90
Comentários e sugestões

Orientações para o professor


Páginas 160 e 161
Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A — códice asteca de 1550 — representa um combate entre astecas
(lado direito da imagem) e espanhóis (do lado esquerdo, acompanhados de
indígenas aliados). Na fonte, os guerreiros astecas foram representados com
escudos e pequenos arcos e flechas. Alguns deles usam cocar e pinturas no
rosto e vestem-se apenas com uma espécie de tanga. Estão organizados em

Objetivos, comentários e sugestões


fileiras para o combate. Do outro lado, os espanhóis avançam montados a
cavalo e portando lanças e espadas. Além deles, partem para a batalha con-
tra os astecas, indígenas aliados dos espanhóis. A inscrição em seus escudos,
suas vestes, adornos e a ave que os acompanha, indicam a identidade desses
homens, indígenas de grupos descontentes com o domínio asteca. Comente
com os alunos que as ilustrações dos códices produzidos pelos indígenas
mesoamericanos neste período (dominação espanhola na América) são carac-
terizadas por cenas de conflito e mortes violentas (sangue jorrando, órgãos
humanos espalhados, corpos dilacerados). Leve os alunos a refletir sobre
essas ilustrações, fazendo com que percebam-nas como reflexo da brutalida-
de e violência sofridas pelos povos da América.
■■ A fonte B, detalhe de mural de 1951, foi produzida pelo artista mexicano Diego
Rivera e representa a chegada de Hernán Cortez à América. A obra apresen-
ta nativos e espanhóis ocupando o mesmo espaço, com a submissão dos
primeiros à situação de violência e trabalho forçado imposto pelos europeus.
Vê-se, em primeiro plano, um homem com trajes típicos europeus recebendo
moedas. Ao lado, um indígena está amarrado e tem o rosto marcado por fer-
ro quente por um soldado, seguido de um africano, com gargantilha de escra-
vo. Os animais do lado direito, como burros, cavalos e cachorros, foram tra-
zidos pelos europeus. A submissão pode ser também denotada pela cena em
que o indígena, do lado esquerdo da imagem, segura um crucifixo e beija-o,
indicando sua aculturação. Ao seu lado, a figura de um padre com livro nas
mãos. Neste mural, a violência contra os indígenas também é notada na cena
de fundo: alguns estão pendurados em árvores com cordas, outros realizam
trabalhos forçados puxando troncos de árvores, escavando rochas em busca
de minérios, sendo constantemente vigiados sob a ameaça de açoites.
Comente com os alunos que, como é característico da arte muralista, Rivera
procurou produzir uma arte pedagógica, capaz de conscientizar o observador
sobre diversos aspectos sociais e históricos do México. Durante a produção
desses murais, Rivera recorreu aos códices pré-colombianos (como o que foi
apresentado como fonte A) como fontes de pesquisa, retirando deles a inspi-
ração estética e temática para a elaboração de suas obras.
■■ A fonte C é uma fotografia da Praça das Três Culturas, localizada no México.
Nela, há o encontro de culturas diferentes por meio da arquitetura de seus
monumentos e edificações. Em primeiro plano, elementos indígenas pré-co-
lombianos podem ser notados, com a presença das escadarias. Ao fundo,
uma catedral católica edificada por espanhóis com pedras retiradas de um
templo asteca. Seguido desta, no plano de fundo, prédios de arquitetura con-
temporânea.

91
Conversando sobre o assunto
■■ Os personagens representados na fonte A são espanhóis e indígenas astecas.
Os primeiros utilizavam espada e lança como armas, enquanto os indígenas
utilizavam arco e flecha e porretes. Pela fonte, infere-se que os espanhóis
saíram vitoriosos na batalha, matando os indígenas (despedaçados ao chão)
por meio de suas armas de maior porte.
■■ Nota-se, pela fonte B, que os primeiros anos de colonização espanhola na
América significaram violência, submissão e morte de muitos nativos. Os eu-
ropeus que ali chegaram dominaram o território e submeteram os indígenas a
trabalhos forçados e à conversão religiosa. Sobre as relações de trabalho, fica
evidente, pela análise da fonte, que os europeus usaram métodos violentos
contra os indígenas (açoites, acorrentamento, mutilação).
■■ Os elementos representados na fotografia são as escadarias, de origem indí-
gena; a catedral, de origem colonial europeia; e os prédios, edificados con-
temporaneamente.

Página 163
■■ Comente com os alunos que, em menos de um século após a chegada dos
europeus ao continente americano, grande parte dos 80 milhões de indíge-
nas que viviam na América havia morrido. Essas mortes foram provocadas
pelas guerras de conquistas, travadas entre os indígenas e os europeus,
pelas doenças disseminadas entre os nativos que, por não possuírem anti-
corpos para combater os vírus, acabaram morrendo, e por fim, pelas difíceis
condições de trabalho a que foram submetidos pelos colonizadores.

Páginas 164 e 165


■■ Comente com os alunos que, para combater os astecas, os espanhóis con-
taram com a colaboração de indígenas aliados (que eram inimigos dos as-
tecas). Por meio de seus intérpretes, Cortez conseguiu administrar um efi-
ciente sistema de informação e, assim, pode perceber, entre outras coisas,
o descontentamento dos povos submetidos ao domínio asteca em relação
ao governo de Montezuma. Tais informações foram decisivas para garantir
a vitória dos espanhóis sobre os indígenas. Leia o texto a seguir.

[...] “Vendo as discórdias e a animosidade de uns e de outros, fiquei muito satis-


feito, pois me pareceu que isso contribuiria muito para o que me propunha a fazer
e que eu poderia encontrar um meio de subjugá-los mais rapidamente. Pois, como
diz o ditado, ‘dividir para reinar’ etc., e lembrei-me da palavra evangélica, que diz
que todo reino dividido será destruído” [...]. Os [indígenas] chegariam a solicitar a
intervenção de Cortez em seus próprios conflitos; como escreve Pierre Martyr:
“Esperavam que, defendidos por tais heróis, teriam, contra seus vizinhos, auxílio e
proteção, pois eles também são corroídos por essa doença que nunca desapareceu
e é, de certo modo, inata na humanidade: eles têm, como os outros homens, a fúria
da dominação.
In: TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. 2. ed. Trad. Beatriz Perrone Moisés.
São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 123-4.

92
■■ Explique aos alunos que a figura de Malinche é extremamente contraditória

Orientações para o professor


para os mexicanos. Enquanto alguns deles costumam responsabilizar Ma-
linche pela derrota dos astecas, acusando-a de traição e de submissão à
cultura e ao poder dos espanhóis, outros mexicanos admiram-na e exaltam-
-na como a fundadora do povo e da cultura mexicana, marcados pela mis-
cigenação étnica.

Página 166
■■ Comente com os alunos, caso julgue conveniente, que os incas não aceita-
ram passivamente a dominação espanhola e, em vários momentos, lutaram

Objetivos, comentários e sugestões


para expulsar os invasores. Em 1536, após vários crimes cometidos pelos
espanhóis contra as mulheres da nobreza, o inca Manco Capac fugiu de
Cuzco com muitos de seus súditos. Ele e seu exército sitiaram a cidade por
um ano, mas não conseguiram vencer os espanhóis, que receberam apoio
de tropas vindas do Panamá. Manco, então, refugiou-se nas florestas de
Vilcabamba, na Amazônia. Nessa região, os incas resistiram à dominação
estrangeira até 1572, quando o último imperador, Tupac Amaru I, foi preso
e executado sumariamente. Assim terminava a resistência inca. Com o pas-
sar dos anos, Tupac Amaru I tornou-se um ícone da luta contra o domínio
estrangeiro em toda a América.

Explorando a imagem
■■ Proponha aos alunos que analisem a gravura Primeiro encontro entre Pizarro
e Atahualpa em 1532 e, em seguida, discutam sobre o domínio espanhol no
Império Inca, de modo a explorar sua percepção sobre o genocídio indígena,
a aculturação, os motivos da conquista e, de que maneira esse contexto his-
tórico se reflete na situação dos indígenas da América na atualidade. Peça
para que observem os elementos que identificam a cultura inca e a espanho-
la, desde as vestes e adornos até a fisionomia destes personagens na gravu-
ra. Além disso, destaque a organização dos incas: a posição ocupada por
Atahualpa e a quantidade destes nativos com relação aos espanhóis. Dos
últimos, que percebam a cordialidade para com Atahualpa e seu povo — que
seria desmistificada após sua morte —, além da presença do padre, que indi-
ca a tentativa de conversão dos indígenas ao catolicismo.

Páginas 167 e 168


■■ Comente com os alunos que, na colonização da América, a Igreja Católica
esteve bastante presente. Seu poder era submetido ao Estado metropolita-
no por conta do regime do padroado. Com ele, a Coroa aumentou seu poder
sobre as instituições religiosas, nomeando bispos e controlando os benefícios
eclesiásticos, como o dízimo, que deveria ser empregado na difusão da fé
católica pelas regiões conquistadas. A atuação da Igreja nas colônias foi
missionária, buscando reunir os indígenas em aldeamentos, chamados de
missões (ou reduções), com o intuito de catequizá-los, isto é, convertê-los
ao catolicismo. As missões eram comandadas por religiosos (dominicanos,
franciscanos ou jesuítas), que procuravam transmitir aos indígenas os valores
da cultura cristã europeia por meio de peças de teatro, pinturas, esculturas
e outras manifestações artísticas.

93
Página 169
■■ Sobre os grupos sociais na América espanhola, comente com os alunos que as
relações de poder dependiam da posição social de cada pessoa. O que
designava o lugar ocupado pelo indivíduo na sociedade eram o seu local de
nascimento ou a sua descendência. Aos espanhóis que viviam nas colônias
e aos seus descendes diretos, nascidos na América, delegavam-se posições
e cargos de maior prestígio. Aos grupos formados por aqueles que tinham
descendência indígena, eram indígenas nativos ou africanos, restavam po-
sições e trabalhos relegados pela elite da sociedade colonial.

Página 170
■■ Sobre o trabalho dos indígenas nas minas de Potosí, leia as informações a seguir.

O índio passa 8 horas na mina, mas as dimensões das galerias só permitem


quatro horas de trabalho por trabalhador; a descida se realiza por escada de mão
feitas com barra de madeira e armação de couro: há uma para a subida e outra
para a descida. Há umas “barbacoas” para as pausas necessárias; os trabalhadores
descem de três em três, o primeiro leva uma vela de sebo, que ilumina pouco, mas
que a toda instante é apagada pelo vento; cada carregador deve sair com duas ar-
robas (23 kg) de mineral em uma bolsa em forma de saco armada ao peito. As
subidas são, em média, de 150 “estados” (de 1,57 metros, ou seja 250 m). [...]
O que ameaça o índio que trabalha no fundo da mina, a curto prazo, é a pneu-
monia, ao sair do calor da mina ele se encontra na montanha exposto ao vento, a
4.000 m de altitude; a longo prazo é a “tosse” silicose pulmonar, contraída na poei-
ra e na fumaça das velas que enchem as galerias das minas. [...]
VILLAR, Pierre. Ouro e Moeda na história. 1450-1920. Trad. Philomena Gebran. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. p. 156-7.

Páginas 172 e 173


■■ Comente com os alunos que a principal reivindicação de muitos indígenas
na atualidade é pela reforma agrária, ou seja, por uma divisão mais igualitá-
ria da terra. Eles lutam, também, pelo direito à saúde e à educação, além do
direito de manter seus costumes e tradições.
■■ Leia o texto a seguir, que aborda o papel das mídias contemporâneas como
fontes para o estudo das ações promovidas pelo Exército Zapatista de Li-
bertação Nacional.

Quando surgiu no cenário mundial em janeiro de 1994 o Exército Zapatista de


Libertação Nacional apresentava características parecidas com as de outros grupos
guerrilheiros presentes na história da América Latina. O uso das armas e os com-
bates iniciais com o exército mexicano mostraram um grupo muito bem estrutu-
rado militarmente e que usava táticas de guerrilhas beneficiando-se da Selva La-
candona. Com o tempo, o uso de recursos audiovisuais, como a televisão e a inter-
net, se impôs como uma nova tática de guerrilha. Divulgando as ideias do movi-
mento, arregimentando militantes e simpatizantes em todo o mundo ou construin-
do sua versão da própria história, os zapatistas colocaram aos historiadores con-
temporâneos a relação com suas fontes novamente em questão. [...]

94
Além dos textos jornalísticos da cobertura dos meios de comunicação e dos

Orientações para o professor


comunicados zapatistas, apareceram nos endereços sobre Chiapas na internet rela-
tórios das organizações humanitárias presentes na zona de conflito sobre os ataques
das tropas federais à população civil, sobre os números de mortos e feridos no
conflito e violações aos direitos humanos. Também ONGs ao redor do mundo
começaram a colocar na rede manifestações de solidariedade aos zapatistas e uma
primeira ação conjunta via Internet surgiu a partir de denúncias sobre bombardeios
da aviação mexicana sobre as comunidades indígenas, fato desmentido pelo governo.
[...] A partir do momento que os zapatistas começam a utilizar a internet como
forma de divulgação e ataque ao governo mexicano, apresenta-se uma nova via de

Objetivos, comentários e sugestões


combate utilizando um instrumento que dificulta o controle e a censura por parte
do Estado.
BISCO JÚNIOR, José Gaspar; LINO, Sonia Cristina. Guerrilha Eletrônica: o Exército Zapatista de Libertação Nacional
(EZLN) e o uso das mídias audiovisuais contemporâneas. In: XII Encontro Regional de História: usos do passado. n. 12. Rio de
Janeiro: Universidade Federal Fluminense, ago. 2006. p. 1; 4.

■■ Após a leitura do texto com os alunos, peça para manifestarem suas opiniões
sobre o uso de mídias, como a internet, em seu cotidiano. Indague-os a
respeito de fatos de grande repercussão, publicados em páginas da internet,
ou mesmo acontecimentos locais ligados ao cotidiano dos alunos, seja a
comercialização de algum produto, uma manifestação a respeito de algo
ocorrido no Brasil ou no mundo ou, até mesmo, a divulgação de uma festa
em um site de relacionamento. Incentive-os a refletir sobre como a internet
pode interferir na vida das pessoas. Aproveite o momento para debater sobre
o uso dessas mídias com ética e respeito ao próximo.

Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Sobre a conquista e a colonização da América pelos europeus, assista, se
julgar conveniente, ao filme Aguirre , a cólera dos deuses .
Esse filme foi produzido, escrito e dirigido pelo alemão Werner Herzog. Lan-
çado em 1972, apresenta uma visão onírica dos Andes e da Amazônia, trazendo
como personagem central o soldado Lope de Aguirre, interpretado por Klaus
Kinski. Inspirado no personagem histórico homônimo, de origem basca, Aguirre
é um assassino ávido por riquezas que, no decorrer da história, se torna cada
vez mais insano.
Fazendo referência a um acontecimento histórico de 1560, a narrativa come-
ça no Peru, onde se encontram Aguirre, sua filha Flóres e dois nobres espanhóis,
Pedro de Ursúa e Fernando de Guzman. Em nome da Coroa espanhola, eles
começam uma expedição descendo o “Rio Grande” (o Amazonas) em jangadas,
acompanhados por soldados espanhóis, guias indígenas e um padre. O princi-
pal objetivo da expedição era encontrar a cidade mítica de El Dorado, onde,
segundo a lenda, havia ouro em abundância.
Enquanto desce o rio, a expedição se depara com vários problemas, como
redemoinhos e, principalmente, ataques de indígenas da região. Para impres-

95
sioná-los, a expedição traz consigo um cavalo — animal desconhecido pelos
indígenas — e um homem de pele escura — característica física que eles tam-
bém não conheciam.
Em meio a muitas adversidades, os dois nobres são assassinados e Aguirre
assume o comando da expedição. Acreditando que organizaria uma rica colônia,
Aguirre ordena aos soldados que o sigam numa rebelião contra a Coroa espa-
nhola, assassinando quem não concordasse com ele.
Apesar de a expedição incluir personagens históricos que não faziam parte
dela, e de apresentar um desfecho idealizado para Aguirre, o filme mostra rela-
ções de poder e modos de agir característicos do início da colonização da
América espanhola.

Filme de Werner Herzog. Aguirre, a cólera dos deuses.


1972. Alemanha Ocidental
Ficha Técnica
Título — Aguirre, a cólera dos
deuses
Diretor — Werner Herzog
Atores Principais — Klaus
Kinski, Ruy Guerra, Helena Rojo,
Del Negro
Ano — 1972
Duração — 90 minutos
Origem — Alemanha Ocidental

11 A colonização na América portuguesa


Capítulo

Objetivos
■■ Conhecer os principais acontecimentos que marcaram os primeiros anos da
colonização do Brasil.
■■ Estudar as atividades econômicas desenvolvidas pelos portugueses nas pri-
meiras décadas da colonização.
■■ Compreender que a mão de obra africana foi a base da economia brasileira
durante todo o período colonial.
■■ Compreender o funcionamento de um engenho de açúcar no período colonial.
■■ Conhecer os principais aspectos da presença holandesa no Nordeste brasilei-
ro durante algumas décadas do século XVII.
■■ Compreender que os africanos resistiram à dominação portuguesa por meio
de negociações, lutas e fugas.

96
O início da colonização do Brasil

Orientações para o professor


Ao desembarcar, trazendo sementes, animais e ferramentas, os colonos forma-
vam uma pequena vila e iniciavam roças e plantações. Quando possível, plantavam
cana e construíam engenhos de açúcar. Os portugueses haviam chegado à conclu-
são de que seria um bom investimento produzir açúcar no Brasil para vendê-lo por
um bom preço na Europa.
Com a instalação dos colonos e a produção colonial, começaram as hostilidades
entre portugueses e índios no litoral que levariam à destruição das populações

Objetivos, comentários e sugestões


nativas da costa em pouco menos de um século.
Interessados nas manufaturas europeias, os índios eram capazes de fornecer alimen-
tos, mulheres e prisioneiros de guerra aos colonos e de colaborar vez ou outra na cons-
trução de suas vilas, fortalezas e engenhos. Quando achavam que já tinham bens e
ferramentas o suficiente, paravam de trabalhar voluntariamente para os colonos. Quan-
do não viam nenhuma vantagem em ter europeus invadindo seu território e instalando-
-se em suas terras, atacavam. A opção portuguesa pelo investimento na produção açu-
careira aumentou as dificuldades de relacionamento entre nativos e colonos.
As plantações ocupavam sem permissão territórios indígenas e exigiam, para dar
lucro, um grande número de trabalhadores empenhados em tarefas pesadas e lon-
gas jornadas em péssimas condições de trabalho. Os portugueses eram poucos e
não tinham interesse em trabalhar dessa forma, queriam uma vida melhor e não
pior do que a que teriam na Europa. Os índios também não tinham nenhuma
vontade de atuar permanentemente nessas atividades e sem pagamentos compen-
sadores do seu ponto de vista. Então, para solucionar seu problema com a mão de
obra de maneira extremamente rentável, os portugueses resolveram utilizar-se de
escravos indígenas em suas plantações e engenhos. Começaram comprando e obri-
gando ao trabalho forçado índios aprisionados por tribos amigas. Com o sucesso
e a expansão da economia açucareira, passaram a escravizar tanto índios rebeldes
e hostis quanto aliados. [...]
Inúmeros conflitos e massacres indígenas resultaram da ambição escravista dos
portugueses. As lavouras lusitanas avançavam à medida que as indígenas se dete-
rioravam em algumas décadas. As riquezas naturais da faixa litorânea, que possi-
bilitavam a sobrevivência e o desenvolvimento das populações indígenas, foram
ocupadas pelos colonos que terminaram por expulsar ou aniquilar os nativos. Em
grande desvantagem diante das armas lusitanas, submetidas, reduzidas ou dizima-
das por doenças que [...] desconheciam, as populações nativas perderam para os
portugueses o controle do litoral, fugindo para o interior ou simplesmente sendo
massacradas física e culturalmente. No final do século XVI, os índios já não eram
mais “os senhores do litoral”. Até o início do século XVII, a produção colonial era
feita basicamente à custa dos índios escravizados.
MESGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanazi. O Brasil que os europeus encontraram: a natureza, os índios, os homens
brancos. São Paulo: Contexto, 2000. p. 30-1. (Repensando a história).

97
Comentários e sugestões

Páginas 178 e 179


Páginas de abertura do capítulo
■■ O mapa apresentado como fonte A representa parte do território brasileiro
logo após a chegada dos europeus. De origem portuguesa, sua autoria é atri-
buída ao cartógrafo Lopo Homem. Foi feito a mão sobre pergaminho, prova-
velmente entre 1515 e 1519, durante o reinado de D. Manuel. No território
representado, vemos árvores de pau-brasil e indígenas trabalhando em seu
corte e carregamento, o que indicia a exploração dessa matéria-prima e da
mão de obra indígena. O nordeste do Brasil e parte da região sudeste, trechos
representados no mapa, foram as primeiras regiões a serem colonizadas pelos
portugueses. Exterior ao mapa, presença de caravelas portuguesas e inscrições
em latim. Comente com os alunos que o mapa Terra Brasilis faz parte da co-
leção de mapas conhecida como Mapas do Atlas Miller , que se encontra na
Biblioteca Nacional de Paris. Para complementar a análise e explorá-la com
os alunos, veja o infográfico a seguir.

Território português Pau-brasil


As bandeiras e o brasão A diversificada Mata Atlântica se
Lopo Homem – Terra Brasilis. Mapa do Atlas Miller. 1515-1519. Departamento
de Planisférios e Cartografias da Biblioteca Nacional, Paris

indicam o domínio de Portugal resume a pau-brasil e a escassas


sobre o Brasil. O texto que palmeiras. As árvores de pau-brasil
explica o mapa, acima do aparecem concentradas, quando na
brasão, está em latim, o realidade crescem a uma distância
idioma dos documentos de 15 a 20 metros entre si.
oficiais da época.
Os estereótipos
Animais exóticos Os [indígenas] são mostrados como
A fauna é abundante, colorida selvagens guerreiros ou como aliados.
e variada, com predomínio de O [indígena] com um machado
animais exóticos, como a demonstra o contato com os
onça, o macaco e as aves portugueses, que ofereciam objetos
(arara e papagaio). de metal em troca de pau-brasil. [...]
Terra Brasilis
Dragão Textos do infográfico obtidos em: O nome do mapa, Terra Brasilis,
No século XVI, os europeus Nova Escola, ano 13, n. 114. São significa Terra do pau-brasil, em
acreditavam que havia Paulo: Abril, agosto/1998, p. 26-27. latim. O fundo é vermelho por
mesmo dragões [...] no Brasil. causa da cor da própria madeira.

■■ A imagem apresentada como fonte B foi produzida pelo artista holandês Frans
Post, no século XVII, no contexto da colonização e do trabalho nos engenhos
de açúcar. Ela representa um engenho de açúcar no Brasil. Nessa pintura, Frans
Post representou os trabalhadores do engenho e os africanos escravizados
exercendo suas funções. Alguns estão transportando a cana-de-açúcar para o
moinho, onde outros escravos trabalham tirando o suco da planta. Há também
um grupo de escravos carregando uma liteira, provavelmente ocupada pelo
senhor de engenho. Ao fundo, Frans Post representou a casa-grande, que era
o local onde morava o proprietário, sua família e seus escravos domésticos.
■■ A fonte C é uma fotografia que retrata uma manifestação de indígenas duran-
te a comemoração dos 500 anos do “Descobrimento do Brasil”. A imagem
apresenta uma multidão de pessoas utilizando trajes como camisetas e ber-
mudas, além de adornos indígenas, como cocar, saias feitas de palha e cola-

98
res. Esses indivíduos estão protestando contra a comemoração da data, uma

Orientações para o professor


vez que foi a partir dela que muitos de seus descendentes foram dizimados
ou aculturados pela imposição dos costumes europeus, e suas terras, desde
então, vêm sendo invadidas.
■■ A fotografia apresentada como fonte D retrata uma multidão de pessoas
manifestando-se a favor dos direitos dos afro-brasileiros, durante as comemo-
rações do Dia da Consciência Negra — 20 de novembro — em 2006. Esses
indivíduos, de diversas etnias, carregam faixas e cartazes.

Conversando sobre o assunto

Objetivos, comentários e sugestões


■■ No mapa apresentado como fonte A destacam-se o nordeste e parte do sudes-
te brasileiro, ocupados por árvores de pau-brasil, animais e indígenas, além das
caravelas portuguesas, exteriores ao mapa. Os indígenas representados traba-
lham com a extração e carregamento da madeira das árvores de pau-brasil.
■■ Na fonte B, a paisagem natural funde-se com arquitetura da casa-grande, da
senzala e do engenho de açúcar. Na pintura, os escravos (vestidos com calças
e saias) aparecem trabalhando, e o feitor, montado a cavalo, acompanhando os
escravos que estão transportando alguém (possivelmente o dono do engenho
ou alguém de sua família). O trabalho nos engenhos de açúcar gerou grandes
lucros para a Coroa portuguesa, viabilizando a colonização do território.
■■ Os protestos ocorrem contra a discriminação étnica, pela reivindicação por
inclusão social e pela garantia dos direitos, melhorias na educação em escolas
públicas do país, além do reconhecimento das culturas indígena e africana e
dos territórios indígenas como parte da identidade nacional.

Página 181
■■ Caso julgue conveniente, leia para os alunos o texto a seguir, que trata da
importância dos conhecimentos indígenas para a sobrevivência dos primei-
ros colonizadores europeus.

Cada navio que aportava no Brasil deixava uma leva de europeus. Sobreviviam
os que casavam com índias, aceitos pelos nativos segundo a praxe de oferecer ao
visitante uma mulher da tribo. Numa época de guerras, era vantajosa a absorção
dos estrangeiros, que se tornaram peças-chave em um esquema de escambo que
abrangia, além do pau-brasil, o abastecimento das naus.
Os europeus pagavam com facas e espelhos. Para os índios, os objetos de metal
eram um enorme avanço e os espelhos, espantosos. [...] Os europeus integrados às
tribos comandavam seus parentes homens no corte e no transporte da madeira,
faziam as transações e reforçavam o poderio do grupo, fornecendo-lhe instrumen-
tos de ferro. Essas tribos tinham vida muito melhor e os novos membros, posição
privilegiada. [...]
Esses europeus se adaptaram bem à nova situação, tornando-se quase índios.
Andavam nus, comiam mandioca, aprendiam o nome das plantas, a época certa do
cultivo, a língua nativa. E geravam filhos [...] brasileiros: identificados com o pai
poderoso, mas herdeiros dos costumes da mãe. Criados no cruzamento da cultura
materna e das informações paternas, constituíram a base na qual se assentaria a
colonização. [...]

99
A solução encontrada pelos portugueses para assegurar a posse da terra foi as-
sociar-se a uma tribo indígena a fim de promover guerra aos inimigos desta. A
partir de 1553, os recém-chegados firmaram acordos com os tupis contra os ta-
puias, ou seja, todos os não tupis. Tais alianças eram vitais, pois no Rio de Janeiro,
os franceses, que disputavam com os portugueses a posse do Brasil, haviam se
aliado aos inimigos dos tupis. Além disso, os escravos tão necessários para os bran-
cos podiam ser capturados nas tribos inimigas.
[...] Para os portugueses, a convivência com os tupis era essencial para que pu-
dessem se fixar na terra. Enquanto tentavam adaptar as sementes trazidas da
Europa, aprendiam a sobreviver nos trópicos: os índios lhes mostravam as plantas
comestíveis, as boas madeiras, ensinavam-nos a dormir em redes, caçar, pescar e
cultivar a terra. Na prática, tratava-se de uma aliança informal, baseada em uma
grande novidade para época: o casamento. A ocupação do território dependia,
assim, do bom relacionamento com os nativos. [...]
CALDEIRA, Jorge. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 22-3; 31; 33-4.

Página 183
■■ O mapa apresentado nessa página, desenhado pelo português Luís Teixeira,
em 1574, mostra a divisão do Brasil em capitanias hereditárias.

Luís Teixeira - Capitanias hereditárias. 1574. Biblioteca da Ajuda, Lisboa


Uma característica importante desse mapa é a diferença em
relação ao formato original das capitanias, criadas em 1532.
Como o mapa foi desenhado após a instalação do Governo-
-geral (1549), ele reflete uma nova configuração. A capitania da
Bahia, por exemplo, é chamada no mapa de capitania de Sua
Majestade, pois foi onde se instalou a administração de Tomé de
Souza e fundou-se a cidade de Salvador, sede do governo. Ou-
tra característica importante foi o deslocamento da linha de
Tordesilhas em dez graus para oeste, ou seja, adentrando na
região espanhola. Contando de norte para sul, aparecem no
mapa as seguintes capitanias com os nomes de seus donatários:
Rio Grande (João de Barros); Itamaracá (Francisco Barreto);
Pernambuco (Jorge Dalbuquerque); Bahia (Sua Majestade); Ilhéus
(Francisco Giraldes); Porto Seguro (Duque Daueiro); Espírito
Santo (Vasco Coutinho); Paraíba do Sul (Pero de Goes); São
Vicente (Lopo de Souza).

Página 187
■■ Observe a litografia do navio negreiro com os alunos. Em seguida, se julgar
conveniente, apresente-lhes as informações a seguir.

O número de escravos por navio era... o máximo possível. Uns quinhentos numa
caravela, setecentos num navio maior [...] iniciavam a viagem que demorava de 35
a 50 dias a partir de Angola até Recife, Bahia ou Rio de Janeiro, numa viagem nor-
mal. Calmarias ou correntes adversas podiam prolongar a travessia até cinco ou
seis meses, tornando mais dantescas as cenas de homens, mulheres e crianças es-
premidos uns contra os outros, vomitando e defecando frequentemente em seus

100
lugares, numa atmosfera de horror que o calor e o mau cheiro se encarregavam de

Orientações para o professor


extremar. [...]
É claro que, num ambiente desses, grassavam doenças, fazendo com que o fun-
do do mar se transformasse no ponto final da viagem de muitos. [...]
PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2000. p. 37. (Repensando a História).

Páginas 188 e 189

Explorando a imagem

Objetivos, comentários e sugestões


■■ Explore o infográfico apresentado com os alunos. Observe com eles as
atividades desempenhadas no engenho, o corte e carregamento da
cana-de-açúcar, o cultivo nas lavouras, bem como a produção do açúcar
na casa de engenho, de modo a perceberem o cotidiano dos escravos.
Peça para que observem as roupas dos personagens, os tipos de mo-
radias e as diversas atividades realizadas. Comente com eles que as
mulheres escravas dedicavam-se a afazeres domésticos na casa-grande,
que o transporte de cana puxado por animais era conhecido como tra-
piche e que o moinho de cana, movido a água, chama-se moinho real.
Além disso, comente que, muitas vezes, as matas serviam como escon-
derijo para escravos fugidos dos engenhos.
Em seguida, sugira que elaborem um texto tecendo sua percepção a
respeito da abordagem do infográfico. Proponha que mencionem os
elementos trabalhados na imagem, bem como aqueles explorados em
sala de aula, e comentem sobre as relações de trabalho no engenho.

Página 193
■■ O texto a seguir, trata sobre o Dia Nacional da Consciência Negra. Apre-
sente-o aos alunos.

O dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, foi instituído ofi-


cialmente pelo governo federal em 1995, no contexto das comemorações do tricen-
tenário da morte de Zumbi dos Palmares. Esse dia é síntese ao mesmo tempo de
reflexão e ação, traduzidas como luta e reafirmação permanente de cidadania. A
data refere-se à morte de um dos principais líderes negros que resistiu à escravidão
[...], ocorrida, ao que se sabe, por volta de 1665. Zumbi liderou um grupo de escra-
vos fugidos do cativeiro que deram origem à mais conhecida das comunidades a se
levantar contra a escravidão, o quilombo dos Palmares.
Apesar de enfrentar durante séculos o silêncio sistemático imposto por aqueles
que buscaram esvaziar as lutas dos africanos cativos e seus descendentes [...]. As
lutas da população afrodescendente tornaram possível a inclusão do Dia da Cons-
ciência negra como data cívica nacional incorporada ao calendário escolar.
O dia da Consciência Negra não serve apenas para ações comemorativas laudatórias
de fundo mítico. O dia 20 de novembro busca promover ações afirmativas de valoriza-

101
ção da população afrodescendente brasileira, mantendo luz sobre nosso passado escra-
vista e criando formas de construir ações de combate ao seu legado funesto. [...]
Portanto, [...] é igualmente um momento para potencializar as estratégias de
ações afirmativas que permitam à população afrodescendente e, por extensão, ao
conjunto da população brasileira marginalizada, reafirmar sua presença social, sua
cidadania. [...]
OLIVEIRA, Marco Antonio de. 20 de novembro (1995) Dia da Consciência Negra. In: BITTENCOURT, Circe (Org.).
Dicionário de datas da história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2007. p. 271; 274.

Sugestão de atividade
A produção de açúcar no Brasil
■■ Leia o texto a seguir sobre o modelo de produção de açúcar implantado no
Brasil colonial.

Embora a extração de pau-brasil tenha começado dois anos após o descobrimen-


to, a fixação dos portugueses na Colônia só ocorreu de fato com a cana-de-açúcar.
Antes de a produção brasileira ganhar fôlego, o açúcar consumido pelos euro-
peus era tão caro e escasso que chegou a ser um complemento de luxo no dote de
princesas. O produto foi introduzido na Europa pelos árabes e era fabricado na
Sicília. Os mouros também tentaram a sua produção na Espanha. Em 1440, o
quilo de açúcar chegou a valer 1,22 grama de ouro — o equivalente, na cotação do
dólar em outubro de 1998, a um preço de 18 800 dólares por quilo de açúcar! Isso
evidencia a importância da indústria açucareira, que produziria em grande escala
em mãos portuguesas.
Em 1516, o rei Manuel I enviou ao Brasil o capitão Pedro Capico, detentor dos
conhecimentos necessários ao fabrico do açúcar. Em 1521 já se noticiavam expor-
tações de açúcar brasileiro. Mas a produção regular começou de fato em 1533, no
engenho de Martim Afonso de Souza, em São Vicente (SP). Em 1540, Portugal
produzia tanto açúcar nas ilhas (principalmente na Ilha da Madeira) que empre-
gava mais de cem navios no seu transporte. Da Madeira chegaram as mudas de
cana que [o donatário] Duarte Coelho plantou em Pernambuco, nas proximidades
de Olinda. Em 1548 plantava-se cana na Bahia e cresciam os canaviais de São
Paulo e do Rio de Janeiro.
No fim do século XVI, Pernambuco tinha 66 engenhos; [...] mais alguns de
outras regiões da Colônia forneciam o grosso das exportações, que já no início das
atividades eram as mais importantes do mundo. Os latifúndios, cada vez maiores,
entravam no círculo vicioso da superprodução para serem lucrativos. O trabalho
escravo dos negros fazia o sistema funcionar, regando o chão com suor e sangue.
Necessitando cada vez mais de terras, [...] o latifúndio incendiou o Nordeste,
apelando à coivara [queimada]: o fogo destruiu as matas, queimou a maior parte das
madeiras de lei, modificou o clima, o regime das águas (agravando o problema das
secas) e exterminou a fauna regional. Enquanto provocava esse impacto ecológico,
o latifúndio criou duas classes: a dos escravos, brutalizados como animais, relegados
à condição de máquina de trabalho; e a dos senhores, que usufruíam da produção a
serviço da metrópole portuguesa. A incipiente “classe média” (pequenos proprietá-
rios, artesãos, trabalhadores liberais) demoraria quase dois séculos para crescer.

102
O desenvolvimento dos engenhos e o uso extensivo da terra atenderam à gran-

Orientações para o professor


de demanda mundial. Por volta de 1550, o Brasil já era o maior produtor de açúcar
do mundo. A partir daí, a produção de 4,5 mil toneladas obtida no final do sécu-
lo XVI atingiu rapidamente o dobro, chegando a 9 mil toneladas nos primeiros
anos do século XVII. As exportações foram tão vultosas que deram à Colônia,
naquela época, uma renda per capita que o país não tornaria a alcançar em toda
sua história. Dada a exígua população, isso significou uma concentração de rique-
za como nunca mais houve nas mãos de uns poucos privilegiados. [...]
CHIAVENATO, Júlio José. O negro no Brasil: da senzala à abolição. São Paulo: Moderna, 1999. p. 11-3. (Polêmica).

Objetivos, comentários e sugestões


a ) Quais transformações ocorreram no mercado internacional do açúcar depois
que o Brasil iniciou sua produção nos engenhos de cana?
b ) Qual foi a importância do açúcar brasileiro para a economia de Portugal?
c ) Relacione a produção de açúcar nos engenhos com o processo de con-
centração de terras e de renda no Brasil colonial.
Respostas: a) O desenvolvimento dos engenhos brasileiros aumentou sobremaneira a quanti-
dade de açúcar presente no mercado mundial. Fazendo um uso extensivo da terra, o Brasil
conseguia atender a demanda mundial de açúcar. b) O açúcar brasileiro deu a Portugal uma
renda per capita que eles não voltariam a ter em toda a sua história. Mas isso significou, tam-
bém, uma concentração de riquezas como nunca houve nas mãos de uns poucos privilegiados.
c) A produção do açúcar era realizada em grandes propriedades rurais com mão de obra es-
crava. Por isso, à medida em que a demanda crescia, a concentração das terras produtivas e
da renda gerada pelo açúcar se detiveram nas mãos de alguns poucos latifundiários.

A expansão das fronteiras


12
Capítulo

da colônia portuguesa
Objetivos
■■ Conhecer o contexto político e econômico de Portugal no século XVII.
■■ Estudar o papel dos bandeirantes na economia colonial brasileira.
■■ Compreender que a mineração impulsionou a migração de grande número de
pessoas para o interior do país.
■■ Estudar as etapas do trabalho de mineração.
■■ Compreender que as regiões mineradoras no interior do Brasil eram percorridas
e abastecidas pelos tropeiros.
■■ Estudar as principais consequências da mineração, como a formação de vilas
e cidades e a delimitação das fronteiras.
■■ Perceber que as novas ideias e revoluções que ocorriam pelo mundo durante
os séculos XVII e XVIII influenciaram vários movimentos revoltosos no Brasil.

O ouro das Minas Gerais


Na conquista do vasto território, cuja posse Portugal legitimou por meio de
numerosos tratados, os bandeirantes desempenharam papel de extrema importân-
cia, rompendo as barreiras do sertão à procura de [indígenas] e de ouro. Se as ri-
quezas das minas contribuíram para o alargamento das fronteiras e o povoamento
de uma enorme região antes pertencente à Espanha, seu esplendor foi, contudo, de
breve duração. Na verdade, menos de cem anos transcorreram entre a descoberta

103
das primeiras jazidas e a decadência dos filões auríferos: pouco tempo para o tér-
mino de um sonho que envolveu milhares de pessoas e favoreceu a primeira explo-
são urbana da vida brasileira. Incentivando a fundação de cidades, Portugal pro-
curava facilitar a cobrança de impostos; em curto prazo, no entanto, as vilas criadas
voltaram-se contra a Coroa, protestando contra o fisco e seus abusos. Um modo de
ser brasileiro começava a exprimir-se, não só nos protestos, mas também na obra
de numerosos artistas que o ouro inicialmente atraiu, depois forjou: músicos, po-
etas, pintores, arquitetos, escultores, entalhadores. Trabalhando em geral como
simples operários — muitos dos quais permanecem até hoje anônimos —, esses
homens fizeram explodir o barroco na terra mineira. [...]
FEIST, Hildegard (Ed.). Saga: a grande história do Brasil, vol. 2. São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 103

Comentários e sugestões

Páginas 198 e 199

Páginas de abertura do capítulo


■■ A pintura apresentada como fonte A foi produzida no século XX por Henrique
Bernardelli, porém representa o contexto do bandeirantismo paulista no Brasil,
no final do século XVII. A pintura retrata tropas comandadas pelo bandeirante
Raposo Tavares, representado em primeiro plano com chapéu de abas largas,
camisa, calça, gibão de couro, botas de cano longo. Seguido deste, outros
homens da expedição e indígenas capturados. Comente com os alunos que
o objetivo dos bandeirantes nas terras brasileiras era desbravá-las em busca
de ouro e pedras preciosas e indígenas para o cativeiro.
■■ Na obra intitulada Villa Ricca , do artista alemão Johann Moritz Rugendas, o
cenário retratado é o das minas de ouro da antiga cidade de Vila Rica, atual
Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Ao analisar a fonte B, nota-se um
desenho paisagístico que mostra, em primeiro plano, escravos e feitores tra-
balhando. Os feitores eram responsáveis por supervisionar os trabalhos no
garimpo da faisqueira (como eram chamadas as jazidas encontradas nos leitos
dos rios e córregos). Nesse tipo de mineração, as rochas eram quebradas
pelo método do talho a céu aberto. No segundo plano, é possível ver as ha-
bitações da vila e a vegetação da região.
■■ A fonte C é uma pintura que representa uma caravana de tropeiros seguindo
com suas mulas carregadas de mercadorias. Na imagem, alguns homens
seguem a cavalo, ou a pé, orientando as tropas. Comente com os alunos que
esses homens transportavam mercadorias como roupas, ferramentas e ali-
mentos para regiões de mineração da Colônia.
■■ A fonte D, produzida pelo artista Joaquim da Rocha Ferreira, representa um
cobrador de impostos da Coroa portuguesa pesando o ouro extraído das
minas. Nessa imagem, além do cobrador, foram representados três guardas
da Coroa, responsáveis por evitar tumultos e garantir que todo o ouro extraído
fosse pesado. No canto esquerdo da pintura há o dono de uma mina, que
provavelmente está fiscalizando o trabalho do cobrador. Além desses perso-
nagens há, na pintura, vários escravos que trabalhavam na mina. Eles estão
levando o ouro extraído para ser pesado.

104
Conversando sobre o assunto

Orientações para o professor


■■ A expedição foi representada fazendo a retirada do Cabo de São Roque, co-
mandado pelo bandeirante Raposo Tavares. Além do grupo bandeirante, faziam
parte da expedição indígenas capturados para serem vendidos como mão de
obra escrava nos engenhos do litoral ou nas fazendas paulistas. O bandeiran-
tismo propiciou, para a Colônia, uma ampliação de seus territórios, avançan-
do além das fronteiras delimitadas pelo Tratado de Tordesilhas.
■■ As pessoas representadas na fonte B são escravos trabalhando nas minas e
feitores supervisionando os trabalhos.
Os tropeiros representados na fonte C estão fazendo o transporte de merca-

Objetivos, comentários e sugestões


■■

dorias como alimentos, roupas, ferramentas e animais para o interior da Co-


lônia, onde eram realizadas atividades de mineração.
■■ Na fonte D foram representados funcionários da Coroa portuguesa, como
cobrador de impostos e guardas, além do dono da mina e escravos trabalhan-
do nela. O funcionário da Coroa portuguesa, por meio da pesagem do ouro,
atribuía um valor ao imposto a ser recolhido. No entanto, as tributações eram
pesadas, causando revoltas nos habitantes das regiões de mineração.

Página 200
■■ Caso julgue conveniente, apresente aos alunos as informações a seguir, que
tratam da retomada do trono português, por D. João IV.

Filho de D. Teodósio e de D. Ana Velasco, D. João IV foi o primeiro rei da di-


nastia de Bragança e seu reinado marcou a recuperação da soberania portuguesa
após 60 anos de dominação espanhola (1580-1640). Herdeiro de D. Catarina, du-
quesa de Bragança e neta de D. Manuel, D. João IV era o elo de continuidade di-
nástica dos Avis e foi o bastião da resistência portuguesa durante o poder filipino.
A “Corte de Vila Viçosa”, onde os Braganças viveram uma espécie de exílio duran-
te a União Ibérica, tornara-se o símbolo da autonomia portuguesa, funcionando
como um paço régio, distante da castelhanização do reino, sobretudo de Lisboa,
levada a cabo no período. [...]
A consolidação da independência do reino foi, de fato, o maior desafio do reinado
de D. João IV, aclamado em 15 de dezembro de 1640 como o “rei libertador”. [...]
O reinado de D. João IV foi marcado, assim, pelo esforço da Restauração interna
e externa da Coroa Portuguesa.
VAINFAS, Ronaldo (Dir.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 164.

■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Peça para que observem os fatos
destacados e associem com os conteúdos apresentados, por exemplo, a
expulsão dos holandeses, em 1654. Pergunte-lhes qual a relação deste fato
com a coroação de D. João IV no trono português.

Página 201
■■ O texto a seguir trata do período de domínio holandês no Brasil. Se julgar
interessante, comente as informações com os alunos.

105
Numa certa noite de março de 1644, o conde Johann Mauritius van Nassau (ou
João Maurício de Nassau) — governador e mecenas do Brasil — conclamou o po-
vo de Recife a assistir uma grande festa durante a qual, garantiu ele, um boi iria
voar. Houve quem logo duvidasse, é claro. Até os mais céticos, porém, devem ter
pensado duas vezes antes de rir na cara do conde. Afinal, não estavam eles na ci-
dade mais cosmopolitana e avançada da América? Um jardim não floria onde antes
fora charco? O porto não fervilhava repleto de navios e de mercadorias de todo o
mundo? Não produziam a pleno os engenhos? Oficiais ingleses e investidores ju-
deus, aventureiros suecos, mascates escoceses, negociantes alemães e franceses às
centenas não percorriam ruas impecavelmente pavimentadas? Além disso, naque-
la mesma tarde não fora inaugurada a maior ponte da América, um prodígio ar-
quitetônico de 318 metros de comprimento? Desde que assumira como governa-
dor, capitão e almirante-general das terras conquistadas ou por conquistar pela
Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, Nassau tinha tirado a colônia do chão.
No dia da inauguração da ponte e da festa do boi voador, porém, ao príncipe só
restavam dois meses de Brasil. Mesmo que um boi voasse, a obra de Nassau logo
iria por água a abaixo.
Por 24 anos, os holandeses foram senhores de sete das dezenove capitanias em
que se dividia o Brasil do final do século XVII. Velhos parceiros comerciais de
Portugal atacaram a maior das colônias lusas, entre outras razões, porque travaram
com a Espanha a guerra por sua independência. Invadir o Brasil era unir o útil do
lucro açucareiro ao agradável da vingança contra um inimigo ancestral. A tomada
da zona produtora de açúcar do Brasil foi o plano minuciosamente articulado pela
Companhia das Índias Ocidentais — empresa de capital privado que obteve do
governo holandês o monopólio do comércio com a América e a África. A invasão
de Salvador, em 1624, durou apenas um ano e deu prejuízo à companhia. Mas, em
março de 1630, os holandeses tomaram a cidade de Recife — e lá ficaram até a sua
expulsão, em janeiro de 1654. Ao longo desse quarto de século, os sete anos conhe-
cidos como o tempo de Nassau (1637 a 1644) marcaram o apogeu do domínio
holandês no Brasil, originando a tradição segundo a qual o destino desse país seria
mais nobre caso o projeto colonial da Companhia das Índias Ocidentais tivesse
sido mantido. Mas o fato é que, como o próprio Nassau previra, menos de um ano
depois de sua partida — antes da qual o conde fez voar um couro de boi cheio de
palha por fios que a noite escondia —, azedou-se de vez o doce Brasil holandês.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma História. A incrível saga de um país. São Paulo: Ática, 2002. p. 88.

Página 202
■■ A gravura de Debret intitulada Soldados índios escoltando selvagens foi
produzida em 1827. Chame a atenção dos alunos para o fato de que, nessa
imagem, tanto os perseguidores quanto os perseguidos são indígenas. Isso
se deve ao fato de que, durante o período das bandeiras de preação, os
indígenas e mestiços da costa se aliaram aos portugueses para capturar indí-
genas do interior e escravizá-los. Comente com eles que isso acontecia em
razão de uma série de fatores, entre eles, o fato de muitos mestiços serem
filhos dos próprios portugueses com mulheres indígenas; além disso, desde
antes da chegada dos portugueses ao continente, muitos povos indígenas
já eram inimigos entre si.

106
Página 203

Orientações para o professor


Explorando a imagem
■■ O documento nomeado Rendimento das Casas de Fundição encontra-se atual-
mente no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Esse documento mostra o
controle dos rendimentos de ouro de quatro Casas de Fundição — criadas
para o controle da tributação do ouro, mais especificamente para a cobrança
do quinto real. O quinto era um imposto cobrado sobre toda a extração do
ouro feita no Brasil e destinava 20% do total do ouro extraído para a Coroa
portuguesa. Esse documento mostra a tributação do ouro retirado de quatro

Objetivos, comentários e sugestões


cidades de Minas Gerais no ano de 1767. São elas: Vila Rica, Sabará, Rio das
Mortes e Serro Frio. Observe, no infográfico, mais elementos para explorar
essa fonte com os alunos.

Na parte superior do Abaixo da


documento observa- insígnia

Rendimento das casas de fundição. 1767. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro


-se a insígnia portuguesa está
portuguesa, a descrição do
representada pelo documento:
escudo de armas. “Mapa do que
Essa insígnia indica renderão as
que o proprietário Reais Casas de
responsável por esse Fundição das
documento era de quatro Comarcas
origem nobre. de Minas Gerais
Na parte central do no 3o Trimestre,
documento encontra- Julho, Agosto, e
-se uma tabela, Setembro do ano
dividida em três 1767”.
partes: à esquerda
Comarcas: Vila Rica, Onça, marco,
Sabará, Rio das oitava, arroba e
Mortes e Serro Frio; grama são
no centro estão as unidades de
marcações do medida,
Quinto, quinta parte utilizadas nesse
do total da documento para
arrecadação extraído fazer referência à
do Subsídio, à direita. divisão do ouro.

No fim do documento há um texto descrevendo as quantias que serão revertidas em quintos: “Em que
se mostra importar o Real 5 o neste 3 o Trimestre de 1767, a quantia de vinte, sete arrobas, onze
marcos, sete onças, quatro oitavas, dezoito gr. E dois 5 os: O 7.m. 2. onc. 5/8. 7.gr. e 1/5 pertencente
as 5 a de Minas Nova, que não faz além da cota”.

Página 206
■■ Caso julgue conveniente, comente com os alunos que a alimentação dos
tropeiros consistia principalmente em carne seca, mandioca e leguminosas
como o feijão. O feijão com farinha, quase sem caldo, misturado à carne
seca e/ou à linguiça deu origem ao prato conhecido como feijão tropeiro.
■■ A pintura intitulada Partida da Monção , de 1897, representa a partida dos
monçoeiros para mais uma expedição. O quadro foi uma encomenda espe-
cial do governo de São Paulo, que buscava valorizar a identidade regional

107
resgatando a história dos bandeirantes, tropeiros e monçoeiros. O artista
José Ferraz de Almeida Júnior demorou três anos para finalizar a obra e,
durante sua elaboração, visitou várias vezes a cidade representada, Porto
Feliz, às margens do rio Tietê. Atualmente este quadro está exposto no
Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

Páginas 208
■■ O barroco caracteriza-se pela exuberância das formas nas obras de arte.
Inspirado pela Contrarreforma, movimento do século XVI de restauração da
Igreja Católica, o estilo barroco trazia um forte fervor religioso, que foi espe-
cialmente acentuado em Minas Gerais, em razão da competição entre as
irmandades católicas. No início do século XVII, as ordens monásticas, como
a dos jesuítas, começaram a estimular a utilização do estilo artístico barroco
no Brasil. A partir de meados do século XVIII, o barroco mineiro passou a
adquirir feições próprias, sob a influência do estilo rococó, caracterizado
pela policromia (uso de diversas cores) e pelo aumento da utilização de dou-
rados, imprimindo elegância às obras. O barroco mineiro possui uma grande
originalidade, notável pela introdução de elementos que, na época, eram
inovadores, como a utilização de tons fortes das cores azul e vermelha, e a
representação de anjos com feições afro-brasileiras.
■■ Comente com os alunos que, na época da mineração brasileira, foram for-
madas associações de fiéis católicos nas regiões das minas. Essas associa-
ções ficaram conhecidas como irmandades. As irmandades exerciam um
importante papel na promoção do convívio social, pois reuniam pessoas de
diferentes grupos da sociedade mineira. Além disso, atuavam na melhoria
dos serviços públicos, promoviam a construção de asilos, orfanatos e hos-
pitais, prestavam assistência àqueles que necessitavam de alimentação,
vestuário ou moradia. Além disso, realizavam procissões e festas religiosas,
que contavam com a participação de músicos e artistas de Minas Gerais. No
final do período colonial, estima-se que existiam cerca de 300 irmandades
nessa capitania. Apresente aos alunos o texto a seguir, que trata da impor-
tância das irmandades mineiras para os escravos. Em seguida, apresentamos
sugestões de questionamentos.

Sugestão de atividade
As irmandades
[...] Para as populações escravas, as irmandades eram o único espaço de so-
ciabilidade consentido [...] pelas autoridades. Ao invés de ameaça à ordem social,
eram entendidas pelo Estado absolutista português como instrumentos de con-
trole da sociedade. Controle, mas sem inibir a manifestação de sentimentos. Ao
contrário, sendo as mais numerosas, as irmandades de negros impunham-se
como veículos de expressão da cultura e da religiosidade negra africana, sobre-
tudo no que diz respeito a festas e celebrações de rituais religiosos.
[...] No Brasil, o catolicismo — religião do colonizador — se sobrepôs, mas
não substituiu as religiões dos africanos. Sob o seu manto protetor e aliadas a
elementos cristãos, cultivaram-se e preservaram-se tradições religiosas africa-

108
nas. Ritos e práticas religiosas de origem africana juntaram-se e se fundiram

Orientações para o professor


com tradições e práticas religiosas do colonizador branco. Diante do avassala-
dor domínio do branco, para o negro importava não perder os fortes matizes
originais de sua cultura religiosa e, por extensão, sua identidade. Preservaram
esses traços o quanto lhes foi permitido fazer, amoldando-os e amalgamando-
-os com os da religião do colonizador.
BOSCHI, Caio. Irmãos na vida e na morte. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 1, n. 1. Rio de Janeiro:
SABIN, jul. 2005. p. 65.

a ) De acordo com o texto, qual era a importância das irmandades para a

Objetivos, comentários e sugestões


população escrava?
b ) Para o governo português, qual era a função social das irmandades?
c ) Como essas associações de fiéis, que eram católicas, conseguiram cultivar
e preservar elementos da cultura africana?
Respostas: a) De acordo com o texto, para as populações escravas, as irmandades eram o
único espaço de sociabilidade consentido pelas autoridades portuguesas e, além disso, era
uma possibilidade para que os escravos manifestassem seus sentimentos e expressassem sua
cultura e religiosidade. b) Para as autoridades portuguesas, em vez de ameaçar a ordem, as
irmandades católicas eram vistas como instrumentos de controle social. c) As irmandades
católicas contavam com a participação de africanos que foram trazidos à força para o Brasil e
que tinham sua própria religiosidade. Ao participarem das irmandades, esses africanos sincre-
tizaram seus ritos e práticas religiosas às tradições e práticas religiosas do colonizador branco,
ou seja, ao catolicismo. Essa fundição de ritos e práticas religiosas produziu uma religiosidade
própria das regiões onde africanos e portugueses conviviam intensamente.

109
Respostas das atividades
1
onde as águas são mais calmas e servem de
Capítulo

Estudar História é... apoio para a água da superfície. Por fim, o tem-
po da longa duração é representado pelo fundo
Exercícios de compreensão do oceano, onde as águas são praticamente
1 História é a ciência que estuda como os seres imóveis e sustentam as outras duas camadas.
humanos agem no tempo e no espaço, suas 8 Resposta pessoal. São exemplos de grupos so-
realizações em sociedade e as transformações e ciais: família, escola, comunidade de bairro,
permanências que ocorrem ao longo do tempo.
grupos de amigos e amigas, igreja, grupos ar-
2 Estudar História é importante porque ela nos tísticos (musicais, teatrais, literários), grêmios
ajuda a compreender as transformações e per- escolares, recreativos ou esportivos etc.
manências das sociedades ao longo do tempo,
9 São exemplos de conflitos que podem acontecer
além das semelhanças e das diferenças existen-
entre grupos socais com interesses divergentes:
tes entre elas, em diferentes épocas e lugares.
relações entre patrões e empregados, e o con-
Além disso, a História procura explicar as rela-
flito entre membros do grupo social Greenpeace
ções estabelecidas entre os seres humanos, de
e os membros do grupo social dos caçadores
maneira a nos auxiliar na compreensão dos
de baleia.
acontecimentos passados. Dessa forma, pode-
mos entender melhor o mundo em que vivemos 10 O trabalho é importante para a sociedade porque
e nos tornar mais capazes de agir para transfor- permite ao ser humano transformar a natureza
mar a sociedade. em seu benefício, a fim de atender às suas pró-
prias necessidades. Ele assume formas diferen-
3 O tempo é essencial para o estudo da História
tes de acordo com as características e neces-
porque ele permite a análise da duração das
sidades da sociedade em que é realizado. O
transformações e das permanências que ocor-
trabalho é essencial para o desenvolvimento
rem na sociedade.
humano.
4 Exemplo de acontecimento de curta duração: a
11 Em uma sociedade democrática, a atividade
assinatura de uma lei; exemplo de acontecimen-
política é realizada com base em uma Constitui-
to de média duração: o governo de Dom Pedro
ção, que é um conjunto de leis que definem os
II; exemplo de acontecimento de longa duração:
principais direitos e deveres de um país. Além
o sistema escravista.
disso, a população tem o direito de votar para
5 Os fatos que se transformam lentamente no decor- escolher seus governantes.
rer de séculos parecem não se alterar e, por isso,
12 Porque a economia envolve o gerenciamento de
podem ser considerados permanências históricas.
diversos fatores, como os citados na questão,
6 Ruptura histórica é uma mudança brusca ocor- e eles definem a forma como a sociedade se
rida no processo histórico. Geralmente são organiza para produzir bens que atendem as
acontecimentos breves, como uma revolução. necessidades humanas.

7 Braudel comparou o tempo histórico às águas 13 Fonte histórica é tudo aquilo que pode nos for-
do oceano. De acordo com a comparação de necer informações sobre o passado. São exem-
Braudel, o tempo dos acontecimentos é breve plos de fontes históricas: documentos escritos,
e móvel como a água que fica na superfície, como livros, cartas, decretos e biografias; do-
agitada pelo vento e pela chuva. O tempo das cumentos imagéticos, como pinturas, fotografias
conjunturas é a camada que fica logo abaixo, e caricaturas.

110
Expandindo o conteúdo de distância do local onde D. Pedro procla-

Orientações para o professor


mou a independência.
14 a ) Exemplos de acontecimentos de curta dura-
ção: um nascimento, a assinatura de um 16 a ) No primeiro quadrinho, Haroldo está seguran-
acordo, uma greve e a independência política do uma máquina fotográfica e ouvindo Calvin
de um país. Exemplos de acontecimentos de dizer que gosta da fotografia porque as pes-
média duração: o período de uma crise eco- soas pensam que a câmera sempre mostra a
nômica, a duração de uma guerra e a perma- verdade. No segundo quadrinho, Calvin diz
nência de um regime político. Exemplos de que as pessoas acham que a câmera é apenas
acontecimentos de longa duração: duração uma máquina insensível que grava fatos, mas,
de um regime de trabalho, os hábitos religio- na realidade, as câmeras mentem o tempo

Respostas das atividades


sos e de mentalidades e o uso de moedas. todo; e completa dizendo que, se você sele-
b ) No exemplo da Independência do Brasil, o cionar os fatos, conseguirá manipular a reali-
fato de curta duração é o dia em que a inde- dade. No terceiro quadrinho, Calvin está
pendência política do Brasil foi proclamada, sentado em um lado da sua cama, apontando
em 7 de setembro de 1822; um fato de média para o outro lado, onde se encontra uma pilha
duração é o processo de independência, desordenada de vários objetos; ele fala que
iniciado por volta de 1808, com a chegada limpou o lado da cama em que está sentado
da Corte portuguesa no país, e terminado em e pede para Haroldo tirar uma fotografia dele
1822, com a proclamação de D. Pedro I; um em que não apareça o lado bagunçado da
fato de longa duração é a permanência da cama, para que as pessoas, ao verem a foto-
escravidão como sistema de trabalho no grafia, pensem que ele mantém seu quarto
Brasil, que mesmo depois de proclamada a arrumado. No último quadrinho, Haroldo con-
independência permaneceu em vigor. tinua segurando a máquina, pronto para foto-
grafar, e pergunta se isso não é contra a lei.
15 A - Não há certeza que D. Pedro tenha erguido Calvin, correndo para a direção oposta de
uma espada no momento em que proclamou Haroldo, pede para o tigre esperar enquanto
a independência. Alguns artistas representam ele penteia o cabelo e coloca uma gravata.
D. Pedro segurando uma carta ou um chico-
b ) Calvin pediu para Haroldo fotografar a parte do
te em sua mão. No entanto, não há docu-
quarto que está arrumada, porque assim vai pa-
mentos históricos que indiquem que ele se-
recer que o quarto dele está sempre organizado.
gurava algum objeto naquele momento.
c ) Se Calvin mostrar a fotografia que Haroldo
B- Para viagens longas e cheias de obstáculos,
tirou a alguém, essa pessoa vai pensar que
como era o caso da que foi feita por D. Pedro,
seu quarto está sempre arrumadinho.
o cavalo não era o meio de locomoção mais
adequado. Em trajetos como esse, era mais d ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
comum o uso de mulas, animais mais fortes percebam que o historiador, ao analisar uma
e resistentes. fotografia, deve estar atento ao fato de que
a pessoa que tira a fotografia escolhe o po-
C- A casa representada no lado direito da tela
sicionamento e o aspecto que será fotogra-
não existia naquela época. Essa casa, usada
fado. Além disso, o historiador deve consi-
como pousada por viajantes, só foi constru-
derar a atitude da pessoa ou do local retra-
ída em 1850.
tado, pois eles podem estar desconfigurando
D- A comitiva de D. Pedro usa roupas de veludo a realidade, o fato em si. Contudo, isso não
e os soldados estão vestidos com a farda da significa que a fotografia não possa ser utili-
guarda de honra. É mais provável que tanto a zada como fonte histórica, mas que ela deve
comitiva quanto os soldados usassem roupas ser entendida como uma construção históri-
mais simples e confortáveis, mais apropriadas ca, não como um fato dado, verdadeiro. O
para quem percorre um trajeto longo e difícil. historiador deve procurar analisar o contexto
E - O riacho do Ipiranga não deveria aparecer na em que a fotografia foi produzida, quem a
tela, pois se localizava a dezenas de metros produziu, para que, quando foi produzida etc.

111
Discutindo a história 3 Porque ao longo desses mil anos, foram formadas
várias das atuais Nações da Europa; muitas das
17 a ) O ponto de vista do autor do texto A é de que
línguas faladas atualmente também surgiram na
o ritual antropofágico era uma prática comum
Idade Média. Nesse período a Igreja católica
entre os indígenas brasileiros, que atraía
tornou-se a mais importante instituição religiosa
pessoas de outras aldeias e chamava a aten-
do Ocidente. Além disso, foi no final da Idade
ção dos europeus; ele descreve o ritual com
Média que o capitalismo, sistema econômico
riqueza de detalhes.
adotado na maioria dos países da atualidade,
b ) O ponto de vista do autor do texto B é de que começou a se fortalecer. Por isso, vários histo-
não é possível afirmar se os rituais antropo- riadores consideram que a Idade Média foi o
fágicos de fato ocorriamentre os indígenas, período em que nasceu o mundo ocidental.
ou se essa é uma visão deturpada, criada
pelos europeus, que viam no “outro” (no in- 4 A Alta Idade Média é o período que vai do sécu-
dígena) os defeitos inaceitáveis que queriam lo V ao século X, época em que vários povos
ver, mas que não necessariamente existiam. germânicos invadiram o Império Romano e for-
maram diversos reinos. O cristianismo se forta-
c ) Resposta pessoal. Lembre os alunos que, nos
leceu durante a Alta Idade Média e, nesse período,
estudos de História, não existem “verdades pron-
ocorreu a lenta consolidação do sistema feudal.
tas” ou “absolutas”, mas, sim, verdades
A Baixa Idade Média é o período que vai do
parciais que vão sendo construídas conforme
século XI ao século XV, época em que o sistema
os estudos históricos avançam. Por isso, é
feudal entrou em crise e que houve uma revita-
comum encontrar versões diferentes sobre
lização das cidades e do comércio. Foi na Baixa
um mesmo acontecimento histórico. Promo-
Idade Média que surgiu a burguesia e que foram
va entre os alunos o respeito às diferentes
formadas as primeiras monarquias centralizadas
opiniões que possam surgir.
na Europa. No final desse período, teve início a
expansão marítima europeia.
2
Capítulo

A formação da Europa medieval 5 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos per-


cebam que, na época em que atingiu sua máxima
Exercícios de compreensão extensão, por volta do ano 100, o Império Roma-
1 A Idade Média é um período histórico situado entre no abrangia aproximadamente metade da Europa,
a Antiguidade e a Idade Moderna. Muitos historia- o Norte da África e parte do Oriente Médio. O
dores consideram que a Idade Média tem início governo era forte e controlava todas as regiões
com a queda do Império Romano do Ocidente, no do império, centralizando o poder e estabelecen-
ano de 476, e termina com a tomada da cidade do uma unidade política. A arrecadação de im-
de Constantinopla pelos turco-otomanos, em postos garantia a manutenção de um poderoso
1453. Esses acontecimentos, no entanto, são exército, que protegia as fronteiras e mantinha a
apenas referências estabelecidas por historiadores ordem social. As cidades do império eram inter-
para facilitar os estudos históricos. Dependendo ligadas por estradas. As atividades urbanas ti-
do objeto de estudo, outras periodizações e outros nham grande importância econômica, e as cida-
marcos históricos podem ser utilizados. des eram mantidas principalmente pelo exceden-
te agrícola produzido por escravos.
2 Até poucas décadas atrás, a Idade Média era
também conhecida como “Idade das Trevas”, 6 As principais causas do declínio do Império Ro-
porque esse teria sido um período de muita mano foram: a crise do escravismo, que era um
pobreza, intolerância religiosa e obscurantismo. dos pilares econômicos de Roma. Desde que o
Atualmente, porém, o termo “Idade das Trevas” Império Romano interrompeu sua expansão e
não é mais utilizado pelos historiadores, pois, deixou de promover guerras de conquistas, o
apesar dos problemas enfrentados pelas pes- número de escravos diminuiu consideravelmen-
soas que viveram naquela época, a Idade Média te, provocando uma grave crise econômica; a
foi um período de importantes realizações e de ruralização da economia. Frente à crise pela
grandes transformações. qual passava o império, houve um enfraqueci-

112
mento de atividades como a produção artesanal tência de um paraíso. Além disso, tinham cultos

Orientações para o professor


e o comércio. Assim, milhares de trabalhadores animistas, ou seja, de adoração às forças da
ficaram desempregados e começaram a deixar natureza.
as cidades para viver sob a proteção de grandes
11 Os reinos germânicos formados no território que
proprietários de terras. Desse modo, a área
fazia parte do Império Romano do Ocidente
rural começou a se tornar mais importante que
foram: Reino dos Visigodos, dos Vândalos, dos
a área urbana. Por fim, a ocupação germânica,
Francos, dos Burgúndios e dos Ostrogodos.
pois a crise econômica fez com que o Estado
romano deixasse de arrecadar os impostos ne- 12 Na época de formação dos primeiros reinos ger-
cessários para sua manutenção, forçando-o a mânicos, houve uma grande difusão do cristia-
ceder territórios aos germânicos, que, em troca, nismo. Essa religião tinha como base as prega-

Respostas das atividades


tinham que guardar as fronteiras e evitar que ções de Jesus Cristo, que viveu na Palestina,
outros povos invadissem essas regiões. uma região dominada pelo Império Romano
desde 64 a.C. O cristianismo tinha como prin-
7 As duas partes em que foi dividido o Império Roma-
cípio o desapego aos bens materiais e o amor
no, em 395, foram: o Império Romano do Ociden-
te, com capital em Roma; e o Império Romano do ao próximo, e conquistou muitos seguidores em
Oriente, com capital em Constantinopla. várias regiões do império.

13 Enquanto o Império Romano do Ocidente se


8 Alguns dos povos germânicos que invadiram o
Império Romano foram: anglos, saxões, suevos, desintegrava,o Império Bizantino desenvolvia um
lombardos, francos, vândalos, ostrogodos e comércio cada vez mais forte que impulsionava
visigodos. o crescimento das cidades. Além de Constantinopla,
a capital do império, havia outras importantes
9 Os romanos chamavam de “bárbaros” todos cidades, como Antióquia e Niceia. Nessas cida-
aqueles que não compartilhavam sua cultura e des, além de uma população numerosa, existiam
que não falavam sua língua, o latim. Esse era o grandes construções, como igrejas, teatros,
caso dos povos germânicos, que, por isso, eram circos, banhos públicos e hipódromos.
chamados de “bárbaros”.
14 Constantinopla era uma das maiores e mais po-
10 Resposta pessoal. Os germânicos plantavam pulosas cidades de sua época. Ficava localiza-
coletivamente produtos como trigo, cevada e da na divisa entre a Europa e a Ásia, em uma
centeio e criavam rebanhos de bois, porcos e região por onde passava grande parte das rotas
carneiros. Quando as pastagens se esgotavam, de comércio marítimo e terrestre. Por isso, essa
geralmente eles se deslocavam para um novo cidade cumpria um importante papel nas trocas
lugar. Para complementar sua alimentação, eles comerciais entre a Europa e o Oriente.
praticavam a caça e a pesca. Também pratica-
vam o comércio, trocando produtos como ma- 15 Os mercadores bizantinos percorriam os cami-
deira e peles por armas, tecidos, ouro e prata. nhos marítimos utilizando pequenas e grandes
As sociedades germânicas eram patriarcais. A embarcações. Por terra, os caminhos eram
união de várias famílias dava origem a um clã ou percorridos com camelos, cavalos ou burros.
comunidade. Os germânicos eram muito inde-
16 Resposta pessoal. Os bizantinos consideravam-
pendentes e autônomos, o que dificultava a
-se os únicos herdeiros do Império Romano, uma
formação de um Estado com poder centralizado.
vez que, no Ocidente, o encontro entre romanos
Em épocas de guerras, no entanto, eles esco-
e germânicos havia transformado demais a an-
lhiam um chefe, que tinha poder sobre o comi-
tiga cultura. Os bizantinos chamavam a si pró-
tatus , que era o grupo de guerreiros armados.
prios de romanos e deram o nome de România
As leis dos povos germânicos não eram escritas,
à sua terra.
mas, sim, baseadas nos costumes e transmitidas
oralmente. Essa forma de direito é chamada de 17 A forte religiosidade no Império Bizantino refletiu-
consuetudinário. Os povos germânicos eram -se nas manifestações artísticas. Pinturas, mo-
politeístas, eles também acreditavam na exis- saicos, iluminuras, afrescos, esculturas, litera-

113
tura e arquitetura eram expressões artísticas que d ) São exemplos de cidades que eram ligadas
exaltavam principalmente acontecimentos bíbli- pelas rotas comerciais: Fez, Córdoba, Vene-
cos, a vida dos santos, a importância da fé. Além za, Cairo, Zhaia, Caliana, Bruges, Hamburgo,
do aspecto religioso, a arte bizantina valorizava Budapeste, Constantinopla, Kiev, Peshawar,
a figura do imperador, apresentando-o como um Bagdá, etc.
mediador entre Deus e o ser humano. Assim e ) Constantinopla era importante para o comér-
como os demais aspectos da cultura bizantina, cio medieval porque por ela passavam muitas
a arte também apresentava características ro- rotas comerciais vindas da Ásia, da África e
manas, gregas, orientais e cristãs. da Europa.
18 Alguns países da atualidade que receberam maior 21 a ) Os greco-romanos chamavam de “bárbaros”
influência da cultura bizantina são: Rússia, Bulgá- os povos estranhos a sua cultura e a seu
ria, Ucrânia e Hungria. O alfabeto utilizado nesses mundo.
países, por exemplo, mantém grande semelhança
b ) São exemplos de povos germânicos: visigo-
com o alfabeto grego, utilizado em Bizâncio. Além
dos, ostrogodos e hérulos (góticos); francos,
disso, a religião predominante nesses países é o
anglos, vândalos e lombardos (teutônicos).
cristianismo ortodoxo. A influência bizantina tam-
bém pode ser notada na arquitetura e no planeja- c ) De acordo com o texto, os fatores que, no sé-
mento urbano desses países. culo IV, motivaram a incorporação dos germa-
nos ao exército romano foram: a crise do Es-
Expandindo o conteúdo tado romano, que precisou incorporar muitas
tribos germânicas ao exército imperial para
19 a ) Justiniano governou o Império Bizantino no
policiar as fronteiras; e a diminuição da procu-
século VI.
ra pela carreira militar por parte dos romanos,
b ) Justiniano viveu em Constantinopla, que era
provocada pelo recuo demográfico da popula-
a capital do Império Bizantino.
ção e pela sua crescente cristianização.
c ) O texto afirma que, para “recuperar a grande-
d ) As invasões germânicas propriamente ditas
za perdida da velha Roma”, Justiniano orde-
foram precipitadas pela pressão de um povo
nou que fossem recenseados todos os inú-
oriental, os hunos, que levaram os germanos
meros textos das leis editadas pela antiga
em fuga a entrarem maciçamente em territó-
Roma e também as observações que os
rio romano.
eruditos e juristas de renome tinham feito
sobre eles. e ) As principais consequências das invasões
germânicas no Império Romano foram:
d ) Todos os escritos jurídicos coletados na épo-
a conquista da cidade de Roma, em 476, a
ca de Justiniano foram reunidos no grande
deposição do último imperador romano,
livro jurídico do Direito Romano, cujo nome
a quebra da unidade política anterior e o sur-
em latim é Corpus Juris Civilis Justiniani .
gimento de vários reinos germânicos. Esses
Essa obra é importante até hoje porque mui-
fatores marcaram o início da Idade Média.
tas leis atuais fazem referência a ela.

20 a ) São mercadorias originárias da Ásia: seda, Trabalho em grupo


especiarias, ouro, prata, ferro, pedras pre-
22 Resposta pessoal. Se julgar necessário, sugira
ciosas e escravos.
aos alunos alguns dos maiores grupos migrató-
b ) São produtos originários da Europa: azeite, rios das últimas décadas, como: palestinos,
sal, cereais, vinho, peixe, chumbo, ferro, bengalis (de Bangladesh), afegãos, georgianos,
prata, madeira, tecido e escravos. argelinos, egípcios, burquinenses, mexicanos,
c ) Os comerciantes medievais navegavam pelo bolivianos etc. Sugira também alguns dos prin-
Oceano Índico e Oceano Atlântico, e também cipais países que mais recebem migrantes,
pelo Mar Mediterrâneo, Mar Negro, Mar Ver- como: Estados Unidos, Canadá, Rússia, Arábia
melho, Mar da Arábia, além do Golfo Pérsico Saudita, Alemanha, Austrália, Japão, França,
e Golfo de Bengala. Espanha, Inglaterra, Indonésia e Israel.

114
3
mento do poder dos reis e um fortalecimento do

Capítulo

Orientações para o professor


A época medieval na Europa poder dos nobres. Além disso, a partir do sécu-
lo X, houve uma nova onda de invasões: árabes,
Exercícios de compreensão húngaros e vikings vindos de diferentes regiões
1 Os germânicos se diferenciavam dos romanos causaram grande devastação na Europa, enfra-
quanto à organização do Estado: não tinham leis quecendo ainda mais o poder dos reis.
escritas nem instituições políticas, como o Se-
5 A sociedade feudal foi formada a partir da com-
nado ou a Assembleia. Assim, o poder e o pró-
binação de tradições romanas e de tradições
prio reino eram compreendidos como proprie-
germânicas. O colonato, por exemplo, de origem
dades do rei. Nesses reinos, as relações entre
romana, consistia na obrigação dos trabalhado-

Respostas das atividades


o rei e os súditos baseavam-se nos laços de
res rurais em entregar parte de sua produção e
honra e de fidelidade.
de trabalhar alguns dias da semana nas terras
2 Resposta pessoal. O Reino Franco, localizado na do senhor, isto é, do proprietário das terras. O
Gália, conseguiu uma maior estabilidade princi- juramento de fidelidade que os nobres feudais
palmente devido às relações estabelecidas com prestavam entre si, por sua vez, era uma tradição
a Igreja Católica, que, naquela época, passava germânica. Essa tradição teve origem no comi-
por um período de fortalecimento. Clóvis, consi- tatus , grupos de guerreiros armados formados
derado o primeiro grande rei franco, depois de pelos germânicos em épocas de guerra.
unificar os francos sob seu comando, em 496,
6 A sociedade feudal tinha a agricultura como ba-
converteu-se ao cristianismo. Essa aliança au-
se da economia, sendo que praticamente tudo
mentou o poder do rei e permitiu a expansão do
o que era produzido destinava-se apenas
reino. Depois da morte de Clóvis, no entanto, o
ao consumo dos habitantes do feudo, e não ao
Reino Franco passou por um período de divisões
comércio. Quando se formaram os reinos ger-
entre o herdeiros do trono e se enfraqueceu.
mânicos, a partir do século V, tornaram-se fre-
Nessa época, o governo começou a ser exercido
quentes as alianças entre reis e nobres: o rei
de fato pelos chamados majordomus (“mordomos
doava um feudo a um nobre e prometia protegê-
do palácio”). O mais conhecido dos majordomus
-lo em tempos de guerra. O nobre, por sua vez,
foi Carlos Martel, que deteve o avanço dos árabes
jurava obedecer ao rei e guerrear a seu lado.
na Europa. Em 751, o majordomus Pepino, o
Esse processo resultou no enfraquecimento dos
Breve, obteve o apoio do papa e afastou o rei
reis e possibilitou que os nobres adquirissem
Childerico III, tornando-se o novo rei dos francos
maior independência para administrar e cuidar
e iniciando a dinastia carolíngia.
dos seus feudos.
3 Resposta pessoal. Carlos Magno foi o mais im-
7 Os três grupos sociais da época do feudalismo
portante rei da dinastia carolíngia, iniciada por
eram: a nobreza, o clero e os camponeses. A
seu pai, Pepino, o Breve. Carlos Magno expan-
nobreza era formada por reis, condes, marqueses
diu o território franco e forçou os povos con-
e duques, que se dedicavam principalmente à
quistados a se converterem ao cristianismo, o
guerra e à defesa de seus territórios. Os nobres
que fortaleceu ainda mais o poder da Igreja
formavam o grupo mais poderoso da sociedade
Católica nos limites do Império Carolíngio. A fim
feudal. Eram eles que possuíam a maioria dos
de oficializar um poderoso império cristão na
feudos e que ofereciam proteção aos campone-
Europa, no ano de 800, o papa Leão III corou
ses que moravam e trabalhavam em seus domí-
Carlos Magno como imperador. Desse modo,
nios. Em troca, esses senhores feudais exigiam
desde a queda do Império Romano do Ociden-
fidelidade e uma série de obrigações dos cam-
te, pela primeira vez formou-se uma unidade
poneses. O clero era formado por religiosos da
política na Europa Ocidental.
Igreja Católica, como bispos, cardeais, padres e
4 Carlos Magno morreu em 814. Após sua morte, monges. Esse grupo era dividido em dois: o alto
o Império Carolíngio foi dividido entre seus três clero e o baixo clero. A maioria dos religiosos do
filhos. Com essa divisão, houve um enfraqueci- alto clero tinha origem nobre. Esses religiosos

115
possuíam muitas terras e, como em geral eram 11 A partir do século X, houve uma nova onda de
os únicos letrados, cuidavam da administração invasões na Europa, empreendida por árabes,
dos reinos e dos feudos. Os membros do baixo húngaros e vikings .
clero, por sua vez, não tinham origem nobre e
12 A rotação trienal de culturas foi uma técnica de
eram os encarregados de prestar atendimento
plantio que consistia em dividir as áreas agríco-
espiritual e auxílio material às pessoas pobres e
las em três campos: enquanto dois eram culti-
necessitadas das paróquias onde atuavam. Por
vados, um permanecia em repouso. Isso permi-
fim, havia o grupo dos camponeses, formado
tiu um grande aumento nas áreas cultivadas,
basicamente pelos servos da gleba. Eles podiam
promovendo uma maior oferta de alimentos.
usar algumas terras do feudo e, em troca, deviam
trabalhar para o senhor e permanecer nesse 13 Resposta pessoal. Dentre as inovações técnicas
feudo, assim como seus filhos e netos, por toda que possibilitaram mudanças nos métodos de
a vida. Além dos servos, o grupo dos campone- produção, por volta do ano 1000, estão a char-
ses era composto pelos vilões. Os vilões eram rua, a utilização do cavalo, a colhera de espá-
descendentes de antigos romanos, proprietários duas e os moinhos de água e de vento. O uso
de pequenos lotes de terra, que tiveram que da charrua, que era um arado munido de uma
ceder essas terras a senhores feudais em troca lâmina de metal, possibilitou revolver mais pro-
de proteção. Por causa de sua origem, os vilões fundamente o solo, aumentando a produção
eram camponeses livres, e não estavam presos agrícola. O uso do cavalo, que era mais forte e
à terra como os demais servos. Porém, tanto os rápido que o boi, tornou mais ágil o trabalho
servos como os vilões deviam ao senhor feudal de arar os campos de cultivo. O uso da colhera de
uma série de obrigações. espáduas possibilitou a concentração da força
8 Resposta pessoal. Na época feudal, a Igreja tinha de tração no peito do animal, aumentando sua
grande importância, pois muitas pessoas seguiam eficiência. A difusão dos moinhos movidos pela
os ensinamentos cristãos e se submetiam às água ou pelo vento promoveu o aumento na
suas regras. A Igreja recebia muitas doações de oferta de farinhas de cereais, melhorando a
dinheiro e de terras, o que a transformou na maior qualidade da alimentação.
proprietária de terras na Europa. Cada vez mais 14 Os motivos alegados pelo papa Urbano II para
rica e poderosa, a Igreja exercia grande influência convocar a Primeira Cruzada era expulsar os
política, por meio de alianças com reis e nobres. turcos que haviam conquistado a Palestina e
9 O enriquecimento da Igreja acabou criando pro- dificultado as peregrinações dos cristãos aos
blemas internos. Diversos membros do alto lugares onde Jesus viveu. Porém, além das
clero passaram a levar uma vida de luxo e rique- questões religiosas, outros fatores impulsiona-
za, afastando-se das questões religiosas. Muitos ram as Cruzadas. A população havia aumentado
cristãos, no entanto, não concordavam com e não existiam oportunidades de trabalho para
essa vida de luxo e acreditavam que a Igreja todos. Assim, enviar essas pessoas para com-
deveria retornar às suas origens. Alguns desses bater no Oriente em nome da fé cristã era tam-
religiosos criaram, então, as ordens monásticas, bém uma maneira de resolver os problemas
as quais, de modo geral, defendiam que os populacionais da Europa. As principais conse-
católicos deveriam viver de maneira simples, quências das Cruzadas foram: intensificação do
rezando, estudando, trabalhando e ajudando os comércio na Europa; aumento do consumo de
pobres e necessitados. produtos orientais; navegação pelo mar Medi-
terrâneo por mercadores europeus e crescimen-
10 São Francisco de Assis era filho de um rico co-
to das cidades europeias. Todos esses fatores
merciante que renunciou à herança e passou a
contribuíram para enfraquecer o poder dos
viver de esmolas, dedicando-se à religiosidade
nobres e desestruturar o sistema feudal.
e praticando a caridade. Francisco de Assis
queria provar que era possível viver na pobreza 15 As corporações de ofício, também chamadas de
e na humildade que, segundo ele, eram valores guildas, eram associações de artesãos que
originais do cristianismo. exerciam a mesma profissão. Esses profissionais

116
se agrupavam em corporações para defender Nessas universidades, mesmo sem abandonar

Orientações para o professor


seus interesses, como os preços de compra e as referências religiosas, houve uma renovação
venda ou a padronização da qualidade de seus do ensino. Passaram a predominar os estudos
produtos. Além disso, essas associações tinham filosóficos e buscava-se explicar os fenômenos
funções religiosas, uma vez que organizavam a naturais e sociais com base na razão. Várias
construção de capelas nos locais onde atuavam, universidades tiveram que enfrentar a resistência
o que inaugurou uma nova forma de organização da Igreja Católica, que pretendia manter o con-
de trabalho. Os membros das corporações de trole sobre o ensino.
ofício eram considerados cidadãos livres.
Expandindo o conteúdo
16 Os cambistas surgiram em um momento históri-

Respostas das atividades


20 a ) A tabela representa a rotação trienal de cul-
co em que comerciantes e mercadores se en-
turas.
contravam periodicamente nas feiras e merca-
dos para oferecer suas mercadorias. Esses b ) A introdução do método de rotação trienal de
mercados e feiras possibilitavam a circulação de culturas na sociedade feudal permitiu um
muitos produtos de várias regiões e também grande aumento nas áreas cultivadas, pro-
promoviam um intenso intercâmbio cultural. Nas movendo uma maior oferta de alimentos.
férias, os mercadores se deparavam com uma 21 a ) A - Na rotação trienal, enquanto um campo
diversidade de moedas vindas de lugares dife- ficava em repouso, os outros dois eram cul-
rentes. Para resolver esse problema, surgiram tivados.
os cambistas. Eles facilitavam as negociações

B - Uma importante inovação técnica foi a
trocando as moedas conforme a necessidade
charrua, um arado munido de uma lâmina de
dos comerciantes. Como pagamento pelo ser-
metal, que podia revolver mais profundamen-
viço prestado, os cambistas ficavam com uma te o solo, aumentando a produção agrícola.
parte das moedas trocadas.

C - Os servos eram responsáveis pela limpe-
17 O burgo era uma cidade cercada por muros, que za e preparação do terreno.
se formava junto às muralhas de um castelo ou de
D - O período de repouso era quando o cam-
uma cidade mais antiga. Os comerciantes, com o po ficava em descanso para recuperar a
crescimento do comércio e das cidades, foram se fertilidade do solo.
tornando muito numerosos. Eles habitavam e
E - Ao redor do castelo eram construídas
exerciam suas atividades dentro dos burgos, e, grossas muralhas.
por isso, eram chamados de burgueses.

F - O centro político do feudo era o castelo.
18 a ) A Peste Negra aconteceu em meados do sé- b ) Resposta pessoal. A imagem representa um
culo XIV. feudo em que aparece um grande castelo ao
b ) Essa doença espalhou-se a partir da Ásia fundo, no alto de um monte, com várias tor-
Central e chegou ao Ocidente trazida pelos res e protegido por uma grande muralha. No
navios comerciais. primeiro plano, está representado um servo
c ) A Peste Negra (ou peste bubônica) era trans- arando um campo de cultivo, conduzindo
mitida pelas pulgas dos ratos. Essa doença uma charrua puxada por um boi. No meio da
se alastrou rapidamente, devido à superpo- imagem, estão representados alguns servos
limpando um terreno; um servo em outro
pulação e à falta de higiene das cidades.
terreno, guardando cereais colhidos em um
d ) A consequência da Peste Negra para a popu-
saco; e ainda um servo em outro terreno,
lação europeia foi a dizimação de aproxima-
cuidando de animais. Está representado,
damente um quarto de toda população.
também, um quinto terreno com uma árvore
19 As primeiras universidades surgiram a partir do seca no meio e uma pequena casa ao lado.
século XIII, na Europa. Nessa época, estudantes Ao realizar essa atividade, promova entre os
e professores começaram a se organizar em alunos o respeito às diferentes opiniões que
corporações para defender seus interesses. possam surgir.

117
22 a ) A Catedral de Pisa possui paredes largas, com Passado e presente
poucas janelas; colunas retas, com o topo 24 a ) Alguns dos objetos inventados durante a Ida-
em formato de triângulo; e portais quadrados de Média que permanecem em nosso coti-
com a parte alta redonda. A Catedral de diano são: roupas de baixo, calças compri-
Chartres possui duas torres altas e colunas das, cintos com fivela, botões, óculos, espe-
que parecem se inclinar conforme ascendem; lhos de vidro, janelas de vidro, relógios me-
várias janelas enormes, decoradas com vi- cânicos, colheres e garfos.
trais; e portais com formato oval, com a b ) Alguns dos costumes do período medieval que
parte alta triangular. permanecem em nosso cotidiano são: o há-
bito de olhar o relógio, de comer com talhe-
b ) O estilo arquitetônico da Catedral de Pisa é
res e de utilizar bancos e cartórios para
românico; o estilo arquitetônico da Catedral
funções específicas.
de Chartres é gótico.
c ) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno
c ) As diferenças entre as duas catedrais são: a atente para a importância de objetos que fo-
de Pisa é mais sóbria que a de Chartres, que ram inventados no passado e que continuam
possui vários adornos; a de Pisa possui tra- sendo usados em larga escala até hoje. Co-
ços que se alinham enquanto a de Chartres mente com os alunos que, por vezes, tratamos
possui traços que se sobrepõem; a de Pisa esses objetos com certa displicência, como
possui poucas janelas e nenhum vitral, en- se eles não tivessem tanta importância, mas,
quanto a de Chartres possui várias janelas na verdade, se não fosse pelos objetos inven-
tados na Idade Média, nosso modo de vida
com vitrais.
atual seria bastante diferente. Além disso, o
23 a ) Veneza e Gênova, na Idade Média, se tornaram progresso científico ocorre a partir do princípio
as duas maiores cidades comerciantes italia- de que novas invenções só podem surgir se
nas. Esse desenvolvimento mercantil foi fa- baseadas em invenções mais antigas.
vorecido pelo fato de as duas cidades serem

4
particularmente desfavorecidas para as ati-
Capítulo

vidades agrárias. Essa tendência foi reforça- A expansão do Islã


da pelo estreito contato que elas mantinham
com civilizações comerciais, como a bizanti- Exercícios de compreensão
na e a muçulmana. Por fim, já havia uma 1 a ) Os beduínos eram árabes nômades que viviam
tradição comercial e urbana na Itália desde a se deslocando por oásis no deserto.
Antiguidade. b ) Os beduínos moravam na península Arábica.

b ) No Oriente, os venezianos vendiam trigo, vi- c ) Os beduínos aproveitavam os oásis para cul-
tivar plantas como trigo, lentilha, cebola, alho
nho, madeira, sal e peixe defumado, além de
e legumes.
ferro, madeira e escravos. De Bizâncio, os
venezianos traziam especiarias, seda e outros d ) Os beduínos criavam cabritos, carneiros e
camelos.
manufaturados; do Egito, traziam especiarias
e ouro. e ) Com suas caravanas, percorriam longas dis-
tâncias levando e trazendo mercadorias dos
c ) O acordo entre genoveses e cruzados consis- mais diversos lugares. O camelo era seu
tia no apoio genovês aos cruzados (com principal meio de transporte.
transporte, provisões e empréstimos), em f ) A religião dos beduínos era politeísta e seus
troca do recebimento de privilégios comer- vários deuses eram representados por ídolos
ciais nas cidades conquistadas por eles. Foi que ficavam guardados em um templo na
assim que os genoveses puderam formar um cidade de Meca. Essa cidade era um impor-
vasto e rico império colonial — arrancado dos tante centro religioso e atraía peregrinos de
bizantinos e muçulmanos. todas as partes da península.

118
2 De acordo com a tradição islâmica, no ano de 7 Resposta pessoal. Os muçulmanos permanece-

Orientações para o professor


610, enquanto Maomé meditava em uma caver- ram oito séculos na península Ibérica, região que
na, o anjo Gabriel teria lhe aparecido. Nessa eles chamavam de Al-Andalus. Nessa região, os
aparição, o anjo teria trazido a ele uma mensa- muçulmanos estabeleceram uma sociedade de
gem: “Há um só Deus, Alá, e um só profeta, grande diversidade cultural, em que havia go-
Maomé”. Contando com o apoio de sua família, vernantes árabes, guerreiros berberes converti-
Maomé passou a pregar sua crença em um dos ao islamismo, judeus, cristãos e escravos
único Deus, chamado Alá. Nascia, assim, o Islã, de diversas etnias. Os muçulmanos exerceram
religião também conhecida como islamismo. grande influência cultural entre os ibéricos.
Cientistas, literatos, filósofos, médicos e arqui-
3 Os árabes são um povo originário da península
tetos muçulmanos que viviam na península fica-

Respostas das atividades


Arábica. Foi nessa região que surgiu a religião
ram conhecidos no Ocidente. Palavras de origem
muçulmana e grande parte dos árabes, mas não
árabe foram incorporadas ao vocabulário espa-
todos, tornou-se seguidores da fé islâmica. Por
nhol e português e comidas típicas árabes pas-
outro lado, muitas pessoas não árabes foram
saram a fazer parte do cardápio ibérico. Além
convertidas ao islamismo, como os persas e
disso, a agricultura ibérica também foi influen-
indonésios, por exemplo. Desse modo, nem
ciada pelos muçulmanos, que transmitiram aos
todos os árabes são muçulmanos e nem todos
agricultores cristãos seus conhecimentos.
os muçulmanos são árabes.
8 a ) O islamismo surgiu em 610, ano em que, se-
4 A jihad é o dever de todo muçulmano em defen-
gundo a tradição islâmica, Maomé recebeu
der o Islã, seja por meio da pregação religiosa,
uma mensagem do anjo Gabriel e passou a
do comportamento pessoal ou da luta armada.
divulgar o islamismo.
Esse foi um principio importante que impulsionou
a expansão islâmica. b ) Alcorão é o nome do livro sagrado do Islã,
que, segundo a tradição muçulmana, contém
5 A partir do século VII, os povos árabes se unifi- as palavras de Alá, reveladas ao profeta Ma-
caram em torno de uma mesma fé e passaram omé pelo anjo Gabriel.
a compartilhar os mesmos ideais. De acordo
c ) Hadith é um conjunto de normas de conduta
com os ensinamentos de Maomé, todo fiel de-
que são baseadas em palavras e atitudes
veria assumir um compromisso com Alá e se
exemplares de Maomé e devem ser seguidas
comprometer com a causa islâmica. A unificação
em torno da fé propiciou também a unidade pelos muçulmanos.
política com a centralização do poder nas mãos d ) Os Cinco Pilares do Islã são: Shahada, ou
do califa. Com o poder centralizado e exércitos testemunho, que é a primeira prece que o
bem organizados, os muçulmanos puderam muçulmano aprende. Pronunciada em voz
expandir seus domínios, controlando rotas co- alta, representa a declaração de fé do fiel ao
merciais e cobrando tributos dos povos con- islamismo; Salat, que são orações feitas por
quistados. todos os muçulmanos adultos cinco vezes
todos os dias (pela manhã, ao meio-dia, à
6 A conquista muçulmana da península Ibérica
teve início em 711, quando o general muçulma- tarde, ao pôr do sol e à noite), com a cabeça
no Tarik ibn Ziyad atravessou a estreita passa- voltada para Meca; Zakat, que é uma contri-
gem de mar que separa o Norte da África e o buição financeira paga pelos fiéis para fins
Sul da península Ibérica. Tarik cruzou o estreito de caridade, usada principalmente para aju-
à frente de um exército de berberes islamizados, dar as pessoas necessitadas; Sawn, que é o
atacou o reino dos visigodos, expulsando-os jejum feito durante o dia no mês do Ramadã,
para o norte da península, e se estabeleceu na quando se comemora a revelação da palavra
região. Por cerca de oito séculos a partir dessa de Alá ao profeta Maomé; e o Hajj, que é a
data, a península Ibérica foi habitada por muçul- peregrinação a Meca, feita por todo muçul-
manos e, também por cristãos e judeus, e foi mano pelo menos uma vez na vida, desde
governada de acordo com as leis do Islã. que possua condições físicas e financeiras.

119
e ) A Caaba (palavra que em árabe significa “Ca- conhecidas dessa coletânea são: “Ali Babá e os
sa de Deus”) é um edifício cúbico, de apro- Quarenta Ladrões” e “As Sete Viagens de Sim-
ximadamente 15 metros de altura, que, se- bad, o Marujo”.
gundo a tradição religiosa, foi construído por
12 Avicena (em árabe Ibn Sina) foi um médico e fi-
Ibrahim (Abraão) e seu filho Ismael, em obe-
diência a uma ordem de Alá. É na Caaba que lósofo muçulmano que viveu entre os anos de
fica a Pedra Negra, chamada Hajjar-al-Aswad, 980 e 1037. Ele estudou filosofia, direito, geo-
objeto sagrado do Islã. metria, aritmética, lógica e física, e escreveu
importantes obras, que reúnem grande parte
f ) O tecido preto que cobre a Caaba se chama
dos conhecimentos científicos e filosóficos da
Kiswa . A Kiswa é bordada com inscrições em
ouro e é feita pela mesma família há várias época. Seus estudos sobre medicina inovaram
gerações. Ela é trocada todo ano no período na forma de tratar as doenças. Alvicena acredi-
do Hajj . tava que o bem-estar das pessoas doentes era
fundamental para curá-las. Por essa razão, ele
g ) O Haram Sagrado é o espaço no interior da
geralmente recomendava aos seus pacientes
mesquita que é utilizado para a circulação
escutar música e observar belas paisagens.
dos fiéis. Atualmente possui capacidade pa-
ra receber cerca de 300 mil peregrinos ao Seus textos sobre medicina foram utilizados
mesmo tempo. pelos médicos europeus até o século XVII.

h ) O Tawaf é o percurso feito em volta da Caaba.


Expandindo o conteúdo
Depois de entrar na Mesquita, o peregrino
dirige-se à Pedra Negra, beija-a e então dá 13 a ) O nome da história apresentada é “Aladim e
sete voltas em sentido anti-horário, recitando a lâmpada maravilhosa”. É possível chegar a
orações. essa conclusão por causa do nome do per-
sonagem (Aladim) e do objeto mágico que ele
i ) Durante o Hajj , muitos peregrinos ficam hos-
possui (uma lâmpada). Além disso, é o nome
pedados em hotéis que ficam próximos à
do livro citado.
Grande Mesquita, enquanto outros ficam ao
ar livre ou alojados em tendas e barracas. b ) Essa história faz parte da obra árabe chama-
da As mil e uma noites .
9 Os sábios muçulmanos foram importantes porque
resgataram obras filosóficas, literárias, científicas c ) Resposta pessoal. Oriente os alunos que, ao
e técnicas dos antigos gregos e traduziram-nas desenharem a situação escolhida, devem
para o árabe, preservando esses conhecimentos levar em conta os aspectos da cultura mu-
antigos. Também recuperaram conhecimentos çulmana: as roupas, os móveis, as comidas
chineses, persas e indianos, aprimoraram esses etc. Para tanto, podem observar as imagens
saberes e os difundiram por todo o Ocidente. do capítulo ou ainda pesquisar mais algumas.
Os conhecimentos difundidos pelos muçulma-
14 a ) Esse mapa representa a porcentagem de ha-
nos contribuíram para o desenvolvimento das
bitantes que seguem a religião muçulmana
ciências modernas.
em cada país do mundo.
10 Os algarismos de 0 a 9 usados hoje pela maioria
b ) Alguns países em que mais de 90% da popu-
dos povos para representar os números e reali-
lação é muçulmana são: Mauritânia, Marro-
zar os cálculos matemáticos derivam de algaris-
cos, Argélia, Líbia, Egito, Somália, Iêmen,
mos criados pelos antigos indianos. Quando os
Omã, Arábia Saudita, Iraque, Irã, Afeganistão,
muçulmanos entraram em contato com a cultu-
Paquistão.
ra indiana, na época da expansão islâmica, eles
conheceram esses algarismos e difundiram seu c ) Resposta pessoal. O Suriname é um país
uso pela Europa, África e Ásia. americano em que mais de 5% da população
é muçulmana.
11 A obra literária em idioma árabe mais difundida
pelo mundo chama-se As mil e uma noites , uma 15 a ) Antes da chegada dos cruzados viviam, em
coletânea de histórias. Duas das histórias mais Jerusalém, judeus, muçulmanos e cristãos.

120
b ) De acordo com o texto, a tomada de Jerusa- Patagões, Tupis, Guaranis e Gês. Essa popula-

Orientações para o professor


lém pelos cristãos levou à morte povos mu- ção era composta por centenas de grupos étni-
çulmanos e judeus, sem distinção de idade, cos, que apresentavam grande diversidade
e arrasou as casas, sinagogas e mesquitas cultural. Cada um desses grupos tinha sua
da cidade. própria língua, costumes, tradições, religião e
c ) Resposta pessoal. No início da batalha, muitos também sua própria forma de organização so-
judeus participaram da defesa do seu bairro, cial, econômica e política.
a Juderia. Mas, quando os cavaleiros invadi-
2 Porque quando Cristóvão Colombo desembarcou
ram as ruas, a comunidade judaica se abri-
no atual continente americano pensou ter che-
gou, em pânico, na sinagoga. Os invasores
gado às Índias e, por isso, chamou as pessoas
cristãos atearam fogo à sinagoga, matando

Respostas das atividades


que aqui viviam de “índios”. Porém, esse termo
na rua os judeus que não foram queimados.
genérico não corresponde à diversidade de
d ) Resposta pessoal. Desde o século VII, os povos que viviam nesse continente, sendo pre-
muçulmanos dominavam Jerusalém e esta- ferível o termo “indígena”, que significa “nativo”.
beleceram um acordo com judeus e cristãos:
eles teriam a liberdade de viver conforme 3 O termo Mesoamérica é utilizado para designar
suas próprias crenças e leis desde que não a região que abrange o sul do México e parte
insultassem o profeta Maomé e não deixas- da América Central.
sem de pagar seus impostos. 4 a ) Os maias habitavam a região da península de
Yucatán e algumas áreas próximas.
Discutindo a história
b ) A base da economia maia era a agricultura. O
16 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos principal produto era o milho, mas eles tam-
apontem diferenças entre as mulheres muçul- bém plantavam feijão, tomate, batata, man-
manas e as mulheres ocidentais que não são dioca, algodão, entre outros produtos.
muçulmanas com relação aos direitos políticos
c ) Nas cidades-estado maias havia um núcleo
e civis (igualdade de direitos e direito ao voto,
chamado de centro cerimonial, era nesse
ao divórcio e à herança), que foram conquista-
lugar que viviam os governantes, os sacer-
dos pelas mulheres muçulmanas muito antes
dotes, os artesãos e os mercadores. O res-
das mulheres ocidentais que não são muçulma-
tante da população vivia distante dessa área
nas; e também com relação à vaidade (maquia-
e se dedicava, principalmente, às atividades
gem, roupas chamativas), que para as mulheres
agrícolas.
ocidentais que não são muçulmanas pode ser
valorizada no convívio social, enquanto que, d ) Entre as principais cidades maias destacam-
para as muçulmanas, só pode ser praticada no -se: Chichén Itzá, Cobal, Copán, Tikal e
círculo familiar, pois, no meio social, elas procu- Palenque.
ram esconder a sua beleza dos homens, utili- e ) O centro cerimonial era onde ficavam locali-
zando o véu. Promova entre os alunos o respei- zadas as principais construções. Era nesse
to às diferentes opiniões que possam surgir. lugar que viviam os governantes, os sacer-
dotes, os artesãos e os mercadores. O res-
tante da população costumava frequentar o
A América antes da chegada dos
5
Capítulo

centro cerimonial para adquirir produtos e


europeus
para participar de cerimônias religiosas. Elas
Exercícios de compreensão também iam a esse local quando eram con-
vocadas pelos governantes para trabalhar na
1 Os povos que habitavam o continente americano
construção de obras públicas.
antes da chegada dos europeus eram os: Es-
f ) As pirâmides maias eram utilizadas como
quimós, Atabascos, Algonquinos, Comanches,
Apaches, Sioux, Pueblos, Musgoguis, Semino- templos, onde se realizavam rituais religiosos.
las, Astecas, Maias, Caraíbas, Aruaques, Chibchas, 5 Resposta pessoal. Os maias desenvolveram
Caras, Quéchuas, Incas, Aimarás, Araucanos, muitos conhecimentos especializados relacio-

121
nados com as áreas de engenharia, matemática, e ) Entre os tributos pagos para os astecas pelos
astronomia, escultura, cerâmica e escrita. A povos dominados estavam os mantos, rou-
escrita maia era composta por hieróglifos, que pas de guerreiros, escudos, milho, algodão,
eram símbolos que representavam ideias. Os feijão e pimenta.
hieróglifos eram gravados em placas de pedra f ) Alguns dos produtos comercializados no mer-
ou pintados em objetos de cerâmica, em pare- cado de Tlatelolco: pedras preciosas, plumas,
des ou nos códices. Os códices eram tipos de sal, mel, conchas, pérolas, animais, produtos
livros elaborados por escribas especializados, agrícolas e artesanais.
que abordavam diversos assuntos, como: reli-
g ) Os pochtecas eram os mercadores astecas.
gião, história, geografia e produção agrícola.
Além dos hieróglifos, os maias desenvolveram 7 Os incas se estabeleceram no vale do Cuzco, em
um elaborado sistema de numeração, conside- meados do século XIII, quando toda a região já
rado por muitos historiadores como um dos mais era habitada por diversos povos.
completos do mundo. Eles também desenvol-
8 Os incas eram excelentes construtores. Além de
veram calendários extremamente precisos,
cidades, eles construíram fortalezas, templos,
graças à observação dos astros que eles reali-
santuários e terraços agrícolas. Muitas constru-
zavam do alto das pirâmides. A base da econo-
ções incas eram feitas com grandes blocos
mia maia era a agricultura, e os principais pro-
de rocha que eram cortados com ferramentas de
dutos cultivados eram: milho, feijão, tomate,
pedra e instrumentos de cobre. Esses blocos se
batata, mandioca e algodão.
encaixavam perfeitamente e não necessitavam de
6 a ) Os astecas chegaram ao vale do México por cimento ou qualquer outra substância para uni-los.
volta de 1325. Eles ocuparam uma ilha do lago
9 Os terraços agrícolas eram um sistema de culti-
Texcoco e fundaram a cidade de Tenochtitlán.
vo em degraus, que foi desenvolvido por vários
b ) A principal cidade dos astecas era Tenochtitlán. povos, como incas, chineses e indianos, para
c ) O deus do Sol, Huitzilopochtli, que também possibilitar o cultivo agrícola nas encostas das
era o deus da guerra, era o principal deus montanhas.
asteca. Para agradar a esse deus, os astecas
10 Resposta pessoal. Os incas construíram uma
faziam sacrifícios humanos. Segundo a cren-
ampla rede de estradas que interligavam todas
ça asteca, no início do mundo, os deuses
as regiões do império e facilitava o transporte
tinham dado seu próprio sangue para que o
de pessoas e de mercadorias. Para facilitar a
Sol se movesse. Portanto, exigiam sangue
comunicação, as estradas tinham vários postos,
humano para manter o mundo em funciona-
distribuídos em intervalos regulares, onde fica-
mento. Como o sangue é o principio da vida,
vam mensageiros, chamados de chasquis.
apenas o sangue poderia manter o tempo
Quando um chasqui recebia uma mensagem a
andando. Sem os sacrifícios, o mundo termi-
ser transmitida, ele partia correndo pela estrada
naria. Assim, faziam guerra especialmente
para capturar prisioneiros e ofertar seu san- até chegar ao próximo posto. Então, transmitia
gue nos templos. a mensagem a outro chasqui , que se encarre-
gava de passá-la adiante, e assim sucessiva-
d ) Quando queriam dominar uma cidade, por
mente, até que a mensagem chegasse ao seu
exemplo, os astecas enviavam embaixadores
destino.
ao local. Os habitantes dessa região tinham,
então, a possibilidade de escolher se iriam 11 O caminho do Peabiru é um sistema de estradas
submeter-se ao domínio asteca ou não. Ca- construído pelos indígenas há mais de 1200 anos.
so eles decidissem aceitar as ordens do Essas estradas atravessavam o continente e li-
chefe asteca, teriam de pagar tributos, mas gavam desde o litoral sul do atual Brasil ao Peru,
poderiam manter seu próprio líder. Caso totalizando cerca de três mil quilômetros de ex-
contrário, os astecas atacavam a cidade e, tensão. Recentemente, pesquisas têm sido feitas
se fossem vitoriosos na guerra, obrigavam o para se tentar descobrir quem construiu esse
povo conquistado a pagar pesados tributos. caminho e qual a sua finalidade. Algumas hipó-

122
teses indicam que os indígenas que habitavam o b ) Resposta pessoal. O mural intitulado A gran-

Orientações para o professor


atual território brasileiro teriam aberto grande de cidade de Tenochtitlán está localizado no
parte desse sistema de caminhos, por razões Palácio Nacional, na Cidade do México. Ele
ainda desconhecidas. Além disso, alguns pes- foi pintado pelo artista mexicano Diego Rive-
quisadores atribuem a autoria de trechos do ra, em 1945. Rivera representou homens,
caminho – situados mais a oeste do continente mulheres e crianças comprando ou vendendo
– aos incas, que teriam por objetivo realizar trocas as mercadorias comercializadas no mercado
comerciais ou expandir seu império. de Tlatelolco. Algumas pessoas estão carre-
gando as mercadorias (canto esquerdo do
Expandindo o conteúdo mural), outras estão vendendo legumes,
12 a ) A cultura de um povo é o conjunto de suas milho ou ervas medicinais, bem como tecidos

Respostas das atividades


crenças, tradições, conhecimentos, costu- e potes de cerâmica. As pessoas represen-
mes e comportamentos. tadas vestem roupas brancas ou vermelhas,
b ) Os pesquisadores acreditam que suas culturas que são uma espécie de túnica, de vestido.
foram construídas a partir das crenças, tra- O chefe asteca está localizado no centro do
dições, conhecimentos, costumes e compor- mural, sentado em um local de destaque. Ele
tamentos transmitidos por outros povos que usa uma roupa branca e segura um objeto
viveram antes ou ao mesmo tempo que eles. símbolo de seu poder. Ao fundo, Rivera pin-
c ) As características comuns entre os incas, tou a paisagem da cidade de Tenochtitlán,
maias e astecas são: a construção de gran- com os canais de água onde os astecas
des cidades e de templos majestosos, cultivavam suas hortas. Atrás da cidade, há
a utilização de técnicas de irrigar o solo, a várias montanhas. Na parte superior esquerda
criação de calendários e de escritas, estilos do mural, o artista representou o templo de
artísticos parecidos, semelhança em relação Huitzilopochtli e de Tlaloc, deuses astecas.
aos deuses e aos rituais religiosos.
15 Resposta pessoal. Oriente os alunos a produzir
13 a ) Nos calmecac estudavam os filhos dos mem- um texto que respeite a cultura indígena, evitan-
bros da classe alta mexicana que desejavam do atitudes etnocêntricas ou de desrespeito
se tornar guerreiros ou sacerdotes. Nessas para com os costumes próprios do cotidiano
escolas, as crianças aprendiam a ler os com- indígena.
plicados desenhos que compunham a escrita
asteca. A disciplina era rigorosa, com puni- Passado e presente
ções severas, trabalho pesado e longos jejuns.
16 a ) Os elementos da lenda asteca que podem ser
b ) Os telpochcalli eram as escolas frequentadas observados na atual bandeira do México são:
pelas camadas mais baixas da população
águia pousada em cima de um cacto com
asteca. Essas escolas eram menos rigorosas
uma serpente presa em seu bico.
que os calmecac .
b ) Resposta pessoal. Os mexicanos adotaram
c ) Resposta pessoal. De acordo com essa frase,
um símbolo asteca em sua bandeira atual
depois da conquista e colonização do Méxi-
porque eles se sentem descendentes e her-
co pelos espanhóis, o nível e a extensão do
deiros desse povo pré-colombiano que viveu
sistema educacional mexicano diminuiu bas-
na região onde hoje se localiza o México.
tante, não atingindo, ainda hoje, o mesmo
nível das escolas astecas, como os calmecac
Trabalho em grupo
e os telpochcalli .
17 Resposta pessoal. Se julgar necessário, sugira
14 a ) 1 - Chefe asteca.
aos alunos alguns nomes de povos indígenas

2 - Carregadores de mercadorias. que vivem no Brasil atualmente, como: caingan-

3 - Vendedor de legumes. gues, caiapós, bororos, guaranis, carajás, mun-

4 - Vendedora de milho. durucus, ticunas, xavantes, ianomâmis, parecis

5 - Vendedora de ervas medicinais. etc.

123
Discutindo a história 3 Resposta pessoal. A escravidão estava presente
em várias sociedades africanas islamizadas.
18 a ) Em latim, sacrificare significa tornar sagrado.
Apesar de sua importância, no entanto, o co-
b ) De acordo com o texto, parte dos registros
mércio de escravos não era a principal atividade
dos povos mesoamericanos foi destruída
econômica dessas sociedades. De acordo com
durante a colonização espanhola. Então, a
os costumes islâmicos, só podiam ser escravi-
visão religiosa dos astecas em relação aos
zadas aquelas pessoas que não aceitavam o
sacrifícios rituais foi substituída pelos relatos
islamismo como sua religião. Os escravos de-
dos missionários e conquistadores, que viam sempenham diferentes funções. Muitos deles
nos sacrifícios humanos a comprovação de prestavam serviços administrativos e militares,
que os nativos eram realmente bárbaros. outros realizavam serviços domésticos. Além
c ) Huitzilopochtli era o deus da guerra e do Sol, disso, havia aqueles que trabalhavam nas minas
que apreciava receber oferendas de sangue de sal, na agricultura e na produção artesanal.
humano para que o Sol continuasse a nascer
4 A população do Mali era composta de várias
a cada manhã.
etnias, sendo os mandingas a principal delas.
d ) Para os astecas, os sacrifícios humanos pos-
No século XIV, o império era composto de povos
sibilitavam a continuação da existência de
da região do rio Senegal, como jalofos, sereres,
todos os seres, pois eles acreditavam que a
tucolores e fulas; das cabeceiras do Níger, como
ausência da devoção causaria a extinção do
bambaras e soninquês.
astro-rei, e, sem seu calor, simplesmente não
haveria vida no planeta. 5 Algumas das principais cidades do Império Mali
eram Jené, Gaô e Tombuctu. Entre os produtos
comercializados, estavam sal, ouro, cobre, mar-

6
Capítulo

fim, tecidos e noz-de-cola. Nas cidades do


Reinos e impérios africanos
Mali também havia o comércio de pessoas, que
Exercícios de compreensão eram vendidas ou compradas para trabalhar
como escravas.
1 Resposta pessoal. O Reino de Gana foi fundado
no século VI por povos do deserto. Ficava loca- 6 As madrasas eram escolas destinadas aos estu-
lizado entre o deserto do Saara e os rios Sene- dos religiosos. Jené e Tombuctu são exemplos
gal e Níger. Nesse reino, o soberano era chama- de cidades onde foram construídas madrasas .
do de gana . Seus súditos lhe deviam tributos e
7 Os griôs são importantes para os estudos da
eram obrigados a prestar serviços militares em história do Mali porque ao transmitir seus co-
tempos de guerra. Uma particularidade do Rei- nhecimentos de geração em geração, permitiram
no de Gana era que, para seus soberanos, era que vários aspectos da história do Império Ma-
mais importante ter muitos súditos do que gran- li se tornassem conhecidos atualmente.
des extensões de terra.
8 Resposta pessoal. Ibn Battuta foi um explorador
2 a ) A religião islâmica começou a fazer parte do
africano que passou muitos anos de sua vida viajan-
cotidiano de vários povos africanos a partir do por diversas regiões da África e da Ásia. Quando
do século VII. A difusão do islamismo na visitou o Império Mali, Ibn Battuta deixou importantes
África aconteceu principalmente por meio do relatos sobre a geografia da região e sobre a corte
comércio. Comerciantes muçulmanos leva- do imperador. Os relatos de Ibn Battuta são consi-
vam, além das mercadorias, suas crenças e derados importantes fontes históricas.
ideias.
9 a ) O Império Songai se localizava na região do
b ) Os ulemás eram profundos conhecedores do
rio Níger.
islamismo, eles peregrinavam nas mais dis-
tantes regiões ensinando os princípios islâ- b ) A capital do Império Songai era Gaô.
micos por meio da leitura do Alcorão . Sendo c ) Em Tombuctu, os songais conseguiram me-
assim, eles tiveram grande importância na lhorar o abastecimento de água da cidade
difusão do islamismo. canalizando o rio Níger e perfurando poços.

124
Essas melhorias também possibilitaram que poder do obá : a espada cerimonial (um dos

Orientações para o professor


os agricultores tivessem uma produção maior principais símbolos da realeza do Benin) e o
e mais estável. colar de contas (reservado apenas às pessoas
d ) No Império Songai, a educação era promovi- da elite do reino).
da pelas escolas islâmicas, onde havia o 15 a ) O Reino do Congo foi fundado próximo ao rio
ensino primário, secundário e superior. Havia Congo, no centro-oeste da África.
constante intercâmbio de professores entre
b ) O principal governante do Reino do Congo era
as universidades de Tombuctu, Córdoba
chamado de mani Congo.
(Espanha), Fez (Marrocos), Cairo (Egito) e
c ) Os chefes das províncias do Reino do Congo
Bagdá (Pérsia). O ensino em suas faculdades
detinham as funções de coletar impostos e

Respostas das atividades


era semelhante ao das demais universidades
de controlar a produção econômica de cada
europeias e árabes e incluía teologia, tradi-
região.
ção, direito, gramática, retórica, lógica, ma-
temática, geografia, astrologia, história, entre d ) O cristianismo foi introduzido no Reino do
outras especialidades. Na cidade de Tombuc- Congo no século XV, quando muitos chefes
tu, os songais instalaram 180 escolas islâmi- locais congoleses se aliaram aos portugue-
cas. Era um ambiente acadêmico potente, ses, que tinham maior poder militar, e con-
que alimentava um próspero mercado onde verteram-se ao cristianismo. Ao fazer alianças
eram vendidos livros importados e também com os portugueses, esses chefes congole-
os copiados na própria cidade. Dessa forma, ses conseguiam armamentos e apoio dos
Tombuctu se converteu, entre os séculos XIV portugueses, conquistando maior poder na
e XVI, na cidade dos livros e das bibliotecas; região. Em 1489, o próprio mani Congo se
uma metrópole rica e próspera, considerada a converteu ao cristianismo e procurou impor
capital do saber e da cultura. essa religião a toda a população do reino.
Muitos congoleses, no entanto, se recusaram
10 A cidade iorubá mais importante era Ifé. Essa a renunciar à sua religião tradicional.
cidade se tornou importante graças à sua posi-
ção de entreposto comercial e, também, porque Expandindo o conteúdo
seus artesãos aprenderam, desde cedo, técni-
16 a ) Os prisioneiros nobres eram usados em ativi-
cas de fundição do ferro. Além disso, Ifé era um
dades militares, em que podiam ver destaca-
importante centro religioso político.
das suas características de coragem e inicia-
11 O principal rei iorubá era o oni . Os demais reis tiva. Eles tinham o direito de participar da
eram denominados obás , e todos deviam res- divisão do espólio de guerra e podiam possuir
peitar a autoridade do oni . seus próprios soldados.

12 As escavações arqueológicas realizadas em Ifé b ) Os escravos das famílias de camponeses


revelaram que a arte iorubá era muito elaborada. podiam chamar o senhor de “pai” e trabalhar
Foram encontradas esculturas em terracota, com seus filhos e filhas, frequentar sua casa
cobre, bronze e latão, que datam dos séculos e desfrutar um padrão de vida muito seme-
XII ao XV. Entre as mais sofisticadas, estão lhante ao de seu senhor.
aquelas que representam cabeças de reis e de c ) Os escravos que trabalhavam nas fazendas
outros governantes. eram menos afortunados que os outros e só
podiam aspirar, no máximo, à posse de uma
13 No Reino do Benin, eram comercializados pro-
parcela de terra para trabalhar em proveito
dutos como sal, peixe seco, dendê, tecidos e próprio.
cobre. Para tornar mais ágeis as trocas comer-
d ) Com o passar do tempo, a maior parte dos
ciais, os edos utilizavam como moeda manilhas
escravos adquiria, na prática, a maioria dos
e barras de cobre.
direitos dos não escravos: podiam ir e vir,
14 Na placa de bronze apresentada na página 104, receber heranças, acumular propriedades.
estão representados objetos que simbolizam o No entanto, havia dois direitos que eles não

125
podiam adquirir, porque eram direitos que Brasil, podem ser identificados como rappers ,
somente o senhor possuía e que os distinguia violeiros, repentistas ou como um membro de
dos escravos: o direito de se casar com mu- alguma comunidade que conhece histórias co-
lheres livres e de participar de assuntos po- nhecidas por poucas pessoas. O griô é uma
líticos. espécie de compêndio da memória coletiva. Ele
mantém viva uma cultura em extinção, daí sua
17 a ) Gaô e Tombuctu são duas das cidades con-
importância para a história. Comente com os
quistadas pelos songais.
alunos sobre a importância da tradição oral
b ) Quando pretendiam realizar um ataque militar,
para a constituição da memória coletiva.
os songais utilizavam suas canoas para trans-
portar soldados e cavalos.
Passado e presente
c ) Flotilhas são grupos de canoas. Os songais
20 a ) As ações empregadas pela Unesco para prote-
utilizavam-nas para um deslocamento rápido
ger a cidadede Tombuctu contra os danos
das tropas pelo rio.
causados pela desertificação do Sahel foram:
d ) Como cavaleiros, os songais possuíam as
a restauração das mesquitas e casas danifica-
mesmas habilidades técnicas dos cavaleiros
das; a remoção da areia nas proximidades das
da Idade Média europeia. Do alto de seus
mesquitas; a criação de zonas-tampão para
animais, protegidos por escudos, capacetes
proteger as mesquitas da invasão de areia; a
de metal e cotas de malha, eles atacavam em
melhoria dos sistemas de drenagem pluviais.
massa o adversário, com longas lanças e
b ) A Unesco incluiu no projeto de proteção de
espadas. Os cavalos eram equipados com
Tombuctu artesãos locais para auxiliarem nos
sela, estribo e rédeas; e tinham a cabeça e
o corpo cobertos por um pano acolchoado, trabalhos de restauração, pois as técnicas
o lifidi , que amortecia as flechas inimigas. tradicionais utilizadas por esses artesãos
constituem uma verdadeira lição de conser-
18 a ) A pessoa que fez esse relato é um griô e se vação do patrimônio cultural frente aos im-
chama Djeli Mamadu Kuyatê. pactos ambientais.
b ) Segundo o relato, os griôs são os mestres na c ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
arte de falar; o repositório que conserva se- atentem para o fato de que as técnicas tradi­
gredos multisseculares; a memória dos ho- cionais utilizadas por esses artesãos consti-
mens; por meio das palavras, eles dão vida tuem uma lição de conservação do patrimônio
aos fatos e às façanhas dos reis perante as porque são técnicas de conservação que vêm
novas gerações. sendo usadas há séculos pelos artesãos lo-
c ) Os conhecimentos dos griôs são transmitidos cais e que, com o passar do tempo, se tornam
de pai para filho; e os griôs ensinam ao vulgo cada vez mais aprimoradas e mais eficientes,
tudo o que é permitido transmitir-lhes. permitindo a constante conservação das
d ) Kamara, Keita, Sidibê e Traorê são soberanos casas e mesquitas da cidade.
do Mali citados no texto.
e ) Para o autor do relato, é importante que os
7
Capítulo

reis conheçam a história de seus ancestrais A Europa moderna: o Renascimento


para que a vida dos antigos lhes sirva de
exemplo, pois o futuro deriva do passado. Exercícios de compreensão
1 Os homens do século XVI percebiam que viviam
Trabalho em grupo em uma nova época, consideravam a época
19 Resposta pessoal. Comente com os alunos que anterior – o período que passou a ser chamado
no Brasil, assim como em regiões africanas, os de Idade Média como um tempo de trevas e
griôs se caracterizam por contar as histórias do obscurantismo e, para marcarem sua diferença
passado de seu povo, de sua comunidade. Eles com esse tempo passado, voltaram-se para o
são verdadeiros contadores de história e, no passado mais distante – a Antiguidade.

126
2 Trecento: Período de transição entre os valores 9 São exemplos de conquistas científicas realizadas

Orientações para o professor


medievais e os renascentistas, em que foram na época do Renascimento: invenção da prensa,
criadas as pinturas de Giotto e as poesias de a noção de que a Terra gira em torno do Sol,
Francisco Petrarca. Quattrocento: Época de avanços nas técnicas de navegação. Além disso,
prosperidade econômica em algumas regiões ocorreram grandes progressos em anatomia,
da Itália que se refletiu na arte renascentista medicina, astronomia e matemática.
como um todo. Obras monumentais foram en-
10 O heliocentrismo foi uma teoria elaborada pelo
comendadas pelos mecenas italianos, como a
astrônomo Nicolau Copérnico. Nessa teoria,
cúpula da catedral de Santa Maria del Fiori, em
Copérnico afirmava que o Sol era o centro do
Florença, feita pelo arquiteto Brunelleschi. Entre
Sistema Solar, e, assim, a Terra e os demais
os artistas desse período, destacam-se os es-

Respostas das atividades


planetas giravam ao redor dele. Essa teoria não
cultores Ghiberti e Donatello e os pintores Ma-
foi aceita pela Igreja e tampouco pela maioria
saccio e Sandro Botticelli. Cinquecento: Época
dos cientistas, pois contrariava o geocentrismo,
de crise econômica em várias regiões da Itália,
ideia mais aceita na época, que afirmava que o
principalmente em razão da expansão marítima
Sol e os planetas giravam em torno da Terra.
portuguesa e espanhola, que passaram a con-
trolar o comércio de especiarias antes domina- 11 a ) Os tupinambás chamavam o território que
do por italianos e árabes. É nessa época, no habitavam de Pindorama.
entanto, que a arte renascentista italiana alcan- b ) Os tupinambás viviam em aldeias circulares e
çou seu esplendor. Essa época é conhecida suas casas eram feitas com palha e madeira
como Idade de Ouro do Renascimento. Desta- de árvores que existiam na região.
cam-se artistas como Leonardo da Vinci, Miche-
c ) A base alimentar dos tupinambás era: man-
langelo e Rafael.
dioca, batata-doce, amendoim, abóbora e
3 Um mecena era um benfeitor das artes e da cul- abacaxi, entre outros alimentos.
tura. Ele apoiava artistas que expressavam va- d ) Além de suas moradias, os tupinambás fabri-
lores novos em suas obras. cavam canoas e jangadas, bem como armas
4 É possível afirmar que os humanistas realizaram e instrumentos musicais.
uma reforma educacional durante o Renascimen- e ) Os tupinambás tinham o costume de fazer
to porque eles apresentaram novas propostas no pinturas corporais usando tintas extraídas de
ensino de Filosofia, História, Matemática e Poesia. plantas, como o urucum e o jenipapo. Essas
Nas escolas humanistas, as crianças eram esti- pinturas eram feitas em ocasiões especiais,
muladas a ler autores da Antiguidade clássica. como festas e funerais.

5 Os humanistas buscavam inspiração nos antigos 12 A arte renascentista deve ser compreendida com
escritores gregos e romanos. Alguns dos princi- os avanços científicos da época. Os pintores,
pais valores da Antiguidade clássica foram reto- arquitetos e escultores do Renascimento, além
mados, como a exaltação das capacidades do de artistas, tinham conhecimentos científicos.
indivíduo e a valorização da liberdade individual. As novas técnicas de arte criadas naquela épo-
ca dependiam, por exemplo, de cálculos mate-
6 Para melhor interpretar os textos dos autores antigos.
máticos e de estudos de anatomia. Era uma
7 Antropocentrismo: palavra de origem grega ( àn- arte de pesquisa, invenções, inovações e aper-
thropos = homem), significa que o ser humano feiçoamentos técnicos, que acompanhava as
passou a ser considerado o mais importante conquistas da física, matemática, geometria,
referencial não só nas questões humanas, mas, anatomia, engenharia e filosofia.
também, nas questões universais.
13 Os músicos renascentistas procuraram criar no-
8 Durante o Renascimento, os humanos passaram vas formas e estruturas musicais, além de aper-
a ser vistos como seres dotados de potencial feiçoarem vários instrumentos para que pudes-
criativo, capazes de produzir novos conhecimen- sem produzir maior variedade de sons. Temas
tos e de transformar a realidade. rejeitados pela Igreja durante a Idade Média

127
passaram a ser incorporados nas canções, as- das principais manifestações artísticas em
sim como os instrumentos musicais – entre eles Flandres, região da atual Bélgica. Os flamen-
o alaúde, o saltério e as violas de gambá. No gos, como eram chamados os habitantes
campo literário, gêneros literários clássicos, dessa região, foram os criadores da tinta a
como a poesia lírica e a epopeia, foram retoma- óleo. Um dos temas que se popularizaram
dos e renovados pelos autores renascentistas. nas pinturas foram as cenas do cotidiano
familiar.
14 Os escultores da época do Renascimento faziam
suas obras utilizando o mármore como material. b ) Os franceses se destacaram nas mais diferen-
tes manifestações artísticas renascentistas,
15 Resposta pessoal. Leonardo nasceu na cidade como a pintura, a escultura e a arquitetura.
de Vinci, na Itália, em 1452. Por isso, ele ficou A atuação dos mecenas foi muito importante
conhecido como Leonardo da Vinci. Ele é con- na França, pois, além dos artistas, eles finan-
siderado um dos mais importantes artistas do ciaram o trabalho de humanistas, linguistas
Renascimento, pois, além de criar novas técni- e poetas, pintores e arquitetos.
cas de pintura, como o sfumato , tinha conheci-
c ) O Renascimento inglês começou no final do
mentos de arquitetura, engenharia, escultura,
século XV e ficou marcado principalmente
música, matemática e anatomia. Leonardo da
pela atuação de músicos, escritores e teatró-
Vinci explorava, na pintura, a diversidade da
logos. O principal representante do teatro
natureza. Usava sombras para dar às coisas
inglês foi William Shakespeare (1564-1618),
aparência tridimensional, porém, não usava autor de peças como Romeu e Julieta, Hamlet
contornos. Usava a perspectiva aérea, ou at- e Rei Lear .
mosférica, técnica que dava ao fundo um as-
d ) As primeiras manifestações do Renascimento
pecto impreciso e empalidecido, para dar a
espanhol datam principalmente do início do
impressão de distância.
século XVI. A grande marca do Renascimen-
16 Em algumas cidades italianas, havia escolas que to na Espanha é a forte religiosidade presen-
geralmente eram frequentadas apenas pelas te nas pinturas e esculturas da época.
pessoas de famílias ricas. Os alunos dessas e ) O Renascimento português se desenvolveu
escolas, além de praticar esportes como nata- no início do século XVI. Em Portugal, as prin-
ção e hipismo, aprendiam sobre literatura clás- cipais manifestações renascentistas ocorre-
sica, matemática, política e boas maneiras — ram na literatura e no teatro. O grande nome
modos de falar, ouvir, comer, se vestir, se portar da literatura portuguesa foi Luís Vaz de Ca-
em locais públicos, por exemplo. mões (1525-1580), autor de Os Lusíadas . No
17 Na época renascentista, Florença era uma das teatro, o principal expoente foi Gil Vicente
maiores cidades europeias, com cerca de 60 mil (1470-1536), autor de peças como o Auto da
habitantes. A cidade era cercada por muralhas barca do inferno , o Auto das almas e A farsa
e possuía grandes portões de madeira, vigiados de Inês Pereira .
dia e noite por sentinelas armados, que contro-
lavam a entrada e a saída das pessoas e mer- Expandindo o conteúdo
cadorias vindas de outras regiões da Itália e, 20 a ) O nome dado ao modelo proposto por Cláudio
também, de diferentes regiões do mundo. Em Ptolomeu para explicar o movimento dos
suas ruas, havia muitas lojas, oficinas, e também planetas e das estrelas foi geocentrismo. De
igrejas e palácios. acordo com esse modelo, a Terra era o cen-
tro do Universo e, por isso, os planetas e
18 Gôndolas são pequenas embarcações utilizadas
estrelas giravam ao seu redor. Em volta da
para fazer o transporte de pessoas e de merca-
Terra estariam girando a Lua, Mercúrio, Vê-
dorias pelos canais da cidade de Veneza, na
nus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. O mode-
Itália. As gôndolas também eram alugadas por
lo de Ptolomeu era baseado na física de
pessoas que visitavam a cidade de Veneza.
Aristóteles, e foi assumido como verdadeiro
19 a ) Durante o Renascimento, a pintura foi uma pela Igreja ao longo da Idade Média.

128
b ) Copérnico pensou ser o Sol o centro do Uni- manos, por fim, atingiram seu apogeu entre

Orientações para o professor


verso porque, sendo o único astro com luz 31 a.C. e 235. Nesse período, o império
própria do sistema, não poderia ficar fora do atingiu sua máxima extensão territorial. Havia
centro para que pudesse iluminar bem os estradas que interligavam a capital do impé-
demais planetas. rio às províncias mais distantes.
c ) O modelo proposto por Copérnico ficou co-
23 a ) A imagem A foi produzida no século XIV, como
nhecido como heliocentrismo.
parte de um livro manuscrito. Nessa iluminu-
21 a ) Resposta pessoal. A perspectiva foi uma téc- ra, as Três Graças aparecem vestindo túnicas
nica inaugurada pelos artistas da época do brancas, com barrado verde e amarelo. Elas
Renascimento. Essa técnica era utilizada aparecem chapadas, sem volume, profundi-

Respostas das atividades


para pintar as coisas do modo como são dade ou perspectiva.
vistas na natureza. A técnica do ponto de
b ) A imagem B, por sua vez, foi produzida no
fuga também foi criada na época do Renas-
século XV, pelo artista renascentista Sandro
cimento. De acordo com essa técnica, as
linhas paralelas parecem se juntar conforme Botticelli. Ela é um detalhe da pintura Prima-
vão ficando cada vez mais longe do obser- vera (apresentada na página 112). Nessa
vador. O ponto onde as linhas paralelas se pintura, pode-se perceber a preocupação do
juntam é chamado de ponto de fuga. Essas pintor em representar as Três Graças com
técnicas eram utilizadas para criar uma im- base nas técnicas renascentistas, tais como
pressão de profundidade e de distância em perspectiva e volume. As Três Graças apare-
superfícies planas. cem, aqui, como pessoas reais.
22 a ) Sim, pois Camões utiliza a mitologia grega c ) Resposta pessoal. Se possível, mostre aos
para explicar a predestinação dos portugue- alunos outras obras produzidas durante o Re-
ses em conquistar terras. De acordo com nascimento, para que eles possam analisá-las.
esse texto, os deuses do Olimpo, convoca-
dos por Júpiter, conversam sobre o destino
A Europa moderna: as Grandes
8
Capítulo

reservado aos portugueses, que são os


Navegações
descendentes do deus Luso.
b ) Resposta pessoal. Os povos que, segundo o Exercícios de compreensão
texto de Camões, já haviam dominado o
1 Grandes Navegações é o nome dado ao conjun-
mundo na época da expedição de Vasco da
to de expedições marítimas realizadas principal-
Gama foram: assírios, persas, gregos e ro-
mente por portugueses e espanhóis entre os
manos. Os assírios dominaram a Mesopotâ-
séculos XV e XVII. Nessas expedições, os euro-
mia. Eram guerreiros valentes e impiedosos
e possuíam uma força militar extraordinária: peus se lançaram ao mar em busca de novos
soldados com armaduras, armas de ferro, territórios, de especiarias e de metais preciosos,
carros de guerra e cavalaria; os persas, por e acabaram colocando em contato povos de
sua vez, sob a liderança de Ciro, conquista- diferentes regiões do planeta.
ram sua independência e começaram suas
2 Os principais motivos que levaram à formação
conquistas territoriais. Em poucos anos os
dos Estados modernos foram o apoio da bur-
persas constituíram um poderoso império.
guesia e o apoio dos nobres aos reis. Os comer-
No final do reinado de Dário I, por volta de
486 a.C., o Império Persa atingiu seu apogeu; ciantes apoiavam os reis, pois as mudanças
os gregos viveram seu período de apogeu por promovidas por eles estimulavam as relações
volta de 500 a.C. e 338 a.C. Esse período, comerciais. Os nobres, apesar de se enfraque-
chamado de período Clássico, foi marcado cerem com essas mudanças, também apoiavam
pelo predomínio de Atenas e Esparta, cida- os reis, pois mantinham muitos privilégios, como
des-estado gregas que disputavam entre si a isenção do pagamento de impostos e o rece-
o controle político e militar da região; os ro- bimento de pensões.

129
3 Os portugueses atacaram Ceuta interessados em chegar ao seu destino, essa expedição se afas-
controlar o comércio naquela importante região, tou demais da costa africana e acabou chegan-
por onde circulavam o ouro e as especiarias das do ao litoral do atual estado da Bahia, no Brasil,
rotas comerciais transaarianas. em 22 de abril de 1500.

4 Na época das Grandes Navegações, os europeus 11 No ano de 1500, cerca de três milhões de indí-
chamavam de “Índias” diferentes regiões, prin- genas já habitavam o território onde hoje é o
cipalmente do continente asiático, como a Chi- Brasil.
na, o Japão e a Índia.
12 O uso da expressão “descobrimento” do Brasil
5 Antes da descoberta do caminho marítimo para vem sendo cada vez mais contestado porque a
as Índias, o comércio de especiarias na Europa versão tradicional, que afirma que a frota de
era feito basicamente por terra. A pequena par- Pedro Álvares Cabral desviou-se da rota previs-
te marítima se realizava junto à costa ou em ta e acabou chegando ao litoral do atual estado
mares fechados (como o Mediterrâneo, o mais da Bahia, é cada vez menos aceita pelos histo-
importante mar comercial da época) porque os riadores, visto que apresenta várias distorções.
europeus não sabiam como velejar em mar Uma delas é o fato de que, quando a frota de
aberto. Como as distâncias eram enormes e os Cabral aqui chegou este território já era habita-
europeus não controlavam sozinhos todas as do por cerca de três milhões de indígenas.
rotas, havia uma série de intermediários no co- Desse modo, não poderia ter ocorrido uma
descoberta.
mércio. Os principais intermediários eram os
árabes, que traziam a maioria das mercadorias 13 Resposta pessoal. Até algumas décadas atrás,
até as cidades italianas, de onde os produtos a historiografia privilegiou a teoria de que os
eram distribuídos por toda a Europa. portugueses não sabiam da existência do terri-
tório brasileiro e que chegaram aqui por acaso.
6 O cabo da Boa Esperança fica localizado no
Atualmente, no entanto, vários historiadores têm
extremo sul do continente africano. Antes de
contestado essa versão e argumentam que os
1487, ele era chamado de cabo das Tormentas.
portugueses já sabiam da existência destas
7 O objetivo da expedição comandada por Cristóvão terras; o que explicaria o fato de, na época da
Colombo era encontrar um caminho marítimo assinatura do Tratado de Tordesilhas, os portu-
para as Índias, conforme desejavam os reis es- gueses insistirem tanto em deslocar mais para
panhóis, que apoiaram a expedição. Essa expe- oeste a linha imaginária que dividia as posses-
dição acabou chegando, em 1492, ao continen- sões da Espanha e de Portugal.
te que, mais tarde, seria chamado de América.
14 Resposta pessoal. Os alunos devem apresentar
8 A bula Inter Coetera estabelecia uma linha ima- no texto elementos presentes no infográfico das
ginária localizada a 100 léguas a oeste das ilhas páginas 138 e 139 do livro do aluno.
de Cabo Verde: as terras encontradas a leste
dessa linha seriam portuguesas e as terras a
Expandindo o conteúdo
oeste seriam espanholas. Essa bula foi publica- 15 a ) Os dois principais grupos de profissionais pre-
da pelo papa Alexandre VI em maio de 1493. sentes nas embarcações são: a ‘‘gente do
mar’’, que cuida das tarefas náuticas, e a
9 O Tratado de Tordesilhas determinou que a linha
‘‘gente das armas’’, que cuida da parte bélica.
divisória das terras espanholas e portuguesas fi-
b ) A ‘‘gente do mar’’ é composta por: coman-
casse a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo
dante, que é a autoridade máxima do barco;
Verde, aumentando a área de domínio português
piloto, que fica no timão pilotando o barco;
que havia sido estabelecida pela bula Inter Coetera.
imediato, que trata da proa; contramestre,
10 A expedição de Pedro Álvares Cabral foi finan- que cuida da popa; guarda, que cuida do
ciada pelos reis portugueses com o objetivo de convés; grumetes, que são crianças e jovens
buscar especiarias e estabelecer contatos co- que executam diversas tarefas braçais; pa-
merciais com os indianos. Porém, antes de jens, que são crianças e jovens que servem

130
aos religiosos e oficiais; calafates, que vedam moeda mais estável e ligar-se ao aparelho

Orientações para o professor


fendas e buracos no casco do barco; tanoeiros, administrativo.
que cuidam dos tonéis, barris e pipas guar-
17 Resposta pessoal. Oriente os alunos a redigirem
dados no porão; remendadores de velas, que
o texto proposto em primeira pessoa. Peça-lhes
cuidam de arrumar as velas; artesãos e car-
para apresentarem os elementos presentes no
pinteiros. A “gente das armas” é composta
infográfico das páginas 138 e 139.
por soldados, artilheiros e bombardeiros, que
trabalham sob as ordens do artilheiro-mestre
Discutindo a história
e do sargento. Eles não recebem treinamen-
to e sequer têm formação militar. Antes de 18 a ) Segundo o prefeito do Cabo de Santo Agos-
embarcar, eram artesãos, sapateiros e alfaia- tinho, o primeiro navegador europeu a chegar

Respostas das atividades


tes. Geralmente esses profissionais eram ao Brasil foi o espanhol Vicente Yáñez Pinzón.
recrutados à força. b ) A cidade natal do navegador Vicente Yáñez
c ) As crianças trabalhavam como grumetes, fa- Pinzón é Palos de La Frontera, na Espanha.
zendo de tudo, como lavar o convés, os c ) O convênio de irmandade assinado pelas au-
banheiros e, por vezes, remendar as velas; e toridades de Palos de La Frontera e de Cabo
como pajens, servindo aos religiosos e ofi- de Santo Agostinho é um compromisso de
ciais. Essas crianças eram alistadas pelos colaboração econômica, social e de intercâm-
próprios pais, interessados em receber um bio cultural, que tem por objetivo captar in-
pequeno soldo pelo alistamento da criança. vestimentos e desenvolver o município.
d ) O piloto Pero Escolar já havia participado da d ) Para comemorar a passagem de Pinzón por
expedição de Bartolomeu Dias que, em 1488, Pernambuco, foram organizados uma missa
passou pelo cabo das Tormentas, no sul da campal, apresentações folclóricas, o plantio
África; participou, também, da expedição de de árvores nativas de Mata Atlântica, a inau-
Vasco da Gama que chegou até as Índias. guração da caravela estilizada, um show
No ano de 1500, Pero Escolar participou da popular e um seminário internacional de
frota de Cabral, o que é reforçado pela data, historiadores e pesquisadores brasileiros,
20 de março de 1500. portugueses e espanhóis, bem como técni-
16 a ) O desenvolvimento do comércio provocou o cos das áreas de educação e turismo.
enriquecimento dos burgueses, dando-lhes e ) Resposta pessoal. Lembre os alunos que, nos
um poder sem precedentes. Conforme pe- estudos de História, não existem “verdades
quenos mercadores iam se transformando prontas” ou “absolutas”, mas sim, verdades
em grandes comerciantes, teve início um parciais que vão sendo construídas conforme
processo de dissolução das estruturas e os estudos históricos avançam. Por isso, é
concepções da antiga ordem social. comum encontrar versões diferentes sobre
b ) A partir do início do século XVI, os nobres um mesmo acontecimento histórico. Promo-
foram proibidos, por exemplo, de possuir va o respeito entre as diferentes opiniões que
canhões ou recrutar tropas em seus territó- possam surgir entre os alunos durante a re-
rios. Sem poder guerrear e arruinada econo- alização dessa atividade.
micamente, a nobreza foi se tornando cada
vez mais dependente dos monarcas. A Europa moderna: reformas
9
Capítulo

c ) Na aliança entre a realeza e a burguesia, os religiosas e Absolutismo


reis obtinham o apoio político e econômico
da burguesia para se libertarem dos compro- Exercícios de compreensão
missos feudais que tolhiam o seu poder. Os 1 Resposta pessoal. O contexto histórico dos sé-
burgueses, por sua vez, se livravam do anti- culos XVI e XVII foi marcado pela circulação mais
go imposto feudal e aumentavam suas pos- ampla das ideias humanistas difundidas a partir
sibilidades de enriquecimento, já que podiam da época do Renascimento. Vários pensadores
negociar diretamente com o Estado, ter uma passaram a questionar a posição hegemônica

131
da Igreja Católica nas sociedades europeias. No 6 a ) A Companhia de Jesus foi fundada pelo es-
campo científico, foi inventada a luneta, que panhol Inácio de Loyola.
possibilitou maior contestação dos cientistas em b ) O ano de fundação da Companhia de Jesus
relação à teoria geocentrista, defendida pela é 1540.
Igreja. Além disso, por conta de várias inovações
c ) Os membros da Companhia de Jesus eram
técnicas, as ideias começavam a ser transmiti-
chamados de jesuítas.
das com maior rapidez. O aumento na disponi-
d ) O principal objetivo dos jesuítas era fundar
bilidade da Bíblia possibilitou que muitos cató-
colégios para ensinar a fé católica.
licos letrados interpretassem individualmente os
escritos sagrados e, além disso, muitos religio- 7 a ) O Concílio de Trento foi realizado na cidade
sos se manifestavam contra o enriquecimento italiana de Trento.
da Igreja e o afastamento de seus membros das b ) As reuniões do Concílio de Trento ocorreram
questões espirituais. O que causava maior des- entre os anos de 1545 e 1563.
contentamento era a institucionalização de
c ) Os organizadores desse concílio foram os lí-
práticas como a simonia, além do comporta-
deres da Igreja Católica.
mento desregrado de muitos clérigos, que não
observavam os votos de castidade. 8 A Inquisição foi um órgão da Igreja Católica cria-
do no século XIII, que ganhou força durante o
2 O procedimento da Igreja Católica mais contes-
movimento da Contrarreforma. A partir de então,
tado por Lutero era a venda das indulgências,
em várias regiões da Europa, os juízes do cha-
ou seja, a venda de perdão. Na época de Lute-
mado Tribunal da Inquisição torturaram e con-
ro, era possível comprar indulgências para pes-
denaram à morte milhares de homens e mulhe-
soas já falecidas ou até para pecados que ainda
res cristãos acusados de heresia.
não tinham sido cometidos.
9 São práticas do mercantilismo: metalismo, ba-
3 Resposta pessoal. Na tese de número 21, Lute-
lança comercial positiva e o exclusivo comercial.
ro diz que os vendedores de indulgências erram
ao dizer que, pela compra das indulgências do 10 A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi o último,
papa, o homem fica livre de todo o pecado e se o mais longo e o mais destrutivo dos conflitos
salva; na tese 32, ele afirma que aqueles que religiosos iniciados por líderes católicos e pro-
compram as indulgências acreditando que es- testantes. A estimativa é que esse conflito tenha
tarão salvos, assim como aqueles que as ven- causado a morte de mais de 4 milhões de pes-
dem, serão condenados por toda a eternidade; soas. Os protestantes, reunidos principalmente
na tese 43, Lutero diz que é melhor que os em torno de uma coligação de principados
cristãos ajudem aos pobres e necessitados do alemães e contando com o apoio da França,
que comprem indulgências. acabaram derrotando os católicos, reunidos em
torno dos soberanos Habsburgos do Sacro
4 Os seguidores de Matinho Lutero foram chama-
Império Romano Germânico e da Espanha. Es-
dos de luteranos ou protestantes. São exemplos
sa derrota pôs fim ao projeto da Contrarreforma
de outros movimentos reformistas: o zwinglia-
de erradicar o protestantismo na Europa.
nismo, o anabatismo e o calvinismo.
11 O Tratado de Vestfália foi assinado em 1648,
5 Contrarreforma é o nome dado para a reação
marcando o fim da Guerra dos Trinta Anos. A
organizada pelos líderes da Igreja Católica, in-
principal resolução desse tratado foi dar aos
conformados com a grande aceitação das ideias
governantes o direito de oficializar uma religião
de Lutero na Europa. Foram realizados encon-
em seu território, fosse ela católica, luterana ou
tros entre 1545 e 1563 para discutir as formas
calvinista. Com o tratado, o princípio do interes-
de combater o movimento protestante e reava-
se nacional ganhou precedência frente às reivin-
liar a conduta dos líderes do catolicismo. Esses
dicações religiosas.
encontros ocorreram na cidade italiana de
Trento, por isso ficaram conhecidos como Con- 12 As principais características do Absolutismo
cílio de Trento. francês foram: demissão de funcionários e mi-

132
nistros de origem nobre e substituição desses b ) Na pintura A, foram representadas oito pes-

Orientações para o professor


funcionários por homens de origem burguesa, soas, um cachorro e um gato. As pessoas
interessados em dinamizar a indústria e o co- vestem roupas simples. Há um menino que
mércio franceses; construção de portos e estra- aparece de costas, do lado esquerdo da tela,
das; implantação de fábricas de seda, de lã e e uma menina de perfil, com um véu na ca-
de artigos de luxo, bem como de armas e au- beça. Esses dois personagens estão um
mento da tributação. pouco afastados da cena principal, localiza-
dos atrás da mesa da família. Em primeiro
13 As matérias-primas utilizadas na época de Guten-
plano, à esquerda, foi representada uma
berg para imprimir livros eram: ligas de metais,
mulher, provavelmente a dona da casa. Ela
como chumbo e estanho, para fazer os tipos;
segura uma jarra e um copo de vinho; usa

Respostas das atividades


óleo e fuligem para a fabricação de tinta; couro
um véu e roupas pesadas. Ao seu lado, um
fino e sobras de tecidos para fazer o papel.
menino aparece tocando uma flauta, olhando
14 As principais etapas de impressão na época de para seu rosto. O homem que usa o chapéu
Gutenberg eram: produção dos tipos; compo- é provavelmente o pai da família. Ele olha
sição dos tipos, feita pelo compositor para que para frente, segura uma espécie de jarro com
a impressão saísse correta; o impressor passa- a mão esquerda e, com a mão direita, apóia
va a tinta na composição com uma almofada de sobre a mesa. A moça, sentada quase à
couro; o papel era colocado na prensa sobre os frente do pai, possivelmente é a filha mais
tipos organizados e, então, o tipógrafo girava a velha que, apesar de ser ainda jovem, apre-
manivela da prensa e fazia descer a placa de senta uma aparência cansada, acostumada
metal que, apertando o papel sobre os tipos, com as dificuldades de sua vida. Há uma
imprimia o texto; após a impressão, o papel era menininha atrás da moça e um menino sen-
colocado no varal para secar. O material impres- tado no chão, também com uma expressão
so ia desde panfletos simples até páginas de de cansaço. Eles provavelmente foram repre-
livros, que podiam ser encadernados na própria sentados na cozinha da casa, um local escu-
tipografia. Essa invenção aprimorou as antigas ro e abafado. Na pintura B, foram represen-
técnicas chinesas de impressão e criou um mé- tadas três pessoas. O homem à esquerda é
todo mais prático de produção de livros. o próprio pintor da tela, Nicolas de Largillière,
que aparece ao lado de sua família (conforme
Expandindo o conteúdo diz o título da tela). Ao seu lado, há uma
15 a ) Na sessão XXV do Concílio de Trento, os líderes menina. Ela segura um papel em uma das
da Igreja Católica decidiram que a venda das mãos e levanta a outra, parecendo recitar
indulgências deveria continuar, pois era uma uma poesia ou cantar uma música. Ao lado
concessão que Jesus havia dado à Igreja. da menina, foi representada uma mulher,
b ) De acordo com o texto, aqueles que negassem provavelmente a mãe. Todos eles usam rou-
a validade da venda das indulgências deve- pas luxuosas para a época. O local retratado
riam ser excomungados. é uma paisagem, com arvores e arbustos.
c ) De acordo com o texto, ficou decidido nessa c ) Resposta pessoal. Incentive os alunos a notar
sessão do concílio que as indulgências de- as diferentes camadas sociais representas,
veriam ser concedidas com moderação e que o que fica evidente por meio dos vestuários,
os lucros obtidos com essas vendas fossem semblantes, gestos e ambiente.
exterminados.
17 a ) O instrumento que possibilitou Galileu com-
16 a ) A fonte A, intitulada Família de camponeses em provar que a Terra não era o centro do Uni-
um interior, foi produzida por volta de 1640, verso foi a luneta.
pelo artista francês Louis Le Nain. A fonte B b ) Galileu descobriu que a Lua não era uma es-
foi produzida por volta de 1710. Essa pintura, fera geograficamente perfeita como se pen-
intitulada Retrato do pintor com a família, foi sava, pois nela existiam vales, montanhas e
feita pelo francês Nicolas de Largillière. outros acidentes, como na Terra.

133
c ) Sobre o Sol, Galileu descobriu que ele não era A colonização na América
10

Capítulo
perfeito, pois apresentava várias manchas. espanhola
Além disso, ele percebeu que Vênus girava
em torno do Sol, o que contribuiu para que Exercícios de compreensão
a teoria heliocêntrica de Copérnico ganhasse 1 Na época da chegada de Cristóvão Colombo na
destaque. América, a população que habitava o continen-
te americano era bastante diversificada e com-
d ) De acordo com o autor do texto, a mais im-
punha sociedades distintas entre si, cada uma
portante descoberta de Galileu foi perceber
com sua língua, seus costumes e seu modo de
as fases de Vênus. Esse planeta apresentava
vida. Havia desde pequenos grupos habitando
fases semelhantes às da Lua. E mais: seu
as florestas tropicais até grandes impérios, como
tamanho, visto com a mesma luneta, apre- o dos incas e o dos astecas, formados por
sentava variações que evidenciam seu movi- milhões de indígenas.
mento ao redor do Sol, e não da Terra.
2 Para a população nativa da América, a chegada
e ) Galileu foi chamado pela Inquisição para que
dos europeus representou uma verdadeira catás-
não voltasse a falar desse “erro” e “heresia”. trofe. No caminho aberto por Colombo, vieram
Em 1638, publicou os Diálogos , em que conquistadores interessados em riquezas, prin-
apresentava argumentos ainda mais claros cipalmente o ouro e a prata. Na busca pelo enri-
em defesa das novas ideias. Pouco depois, quecimento rápido, esses conquistadores deixa-
para escapar às torturas da Inquisição, teve ram um rastro de devastação e sofrimento. Os
que admitir em público que confessava e sobreviventes das guerras de conquista foram
reconhecia o “mal” que faziam suas ideias. incorporados ao processo de colonização. Os
colonizadores se apossaram das terras, escravi-
f ) Resposta pessoal. Comente com os alunos
zaram e impuseram suas leis e sua cultura aos
que a obra de Galileu foi fundamental para o
indígenas. Além disso, a fome, a violência e as
desenvolvimento tecnológico e científico,
doenças causaram a morte de milhões de indí-
possibilitando que cientistas posteriores a ele
genas e a destruição de povos inteiros.
se utilizassem das suas ideias para poder
construir novas teorias científicas. Promova 3 Montezuma era o imperador asteca na época da

entre os alunos o respeito às diferentes opi- chegada dos espanhóis à América. Ele recebeu
Cortez respeitosamente por causa de uma pro-
niões que possam surgir durante a realização
fecia, que o fez acreditar que Cortez era
dessa atividade.
Quetzalcoatl, um antigo deus asteca.
18 a ) O tipo móvel foi inventado em 1040, pelo al-
4 Para tomar a capital asteca, Cortez promoveu
quimista chinês Pi Sheng.
um cerco a Tenochtitlán e envenenou as fontes
b ) Foram os tipógrafos coreanos que, no século de água da cidade. Durante o cerco, que durou
XV, inventaram os tipos de bronze. 75 dias, milhares de astecas morreram envene-
c ) De acordo com o texto, Gutenberg ficou co- nados ou em razão da fome e das doenças. Por
nhecido pela invenção da tipografia porque fim, em agosto de 1521, os espanhóis invadiram
ele aperfeiçoou bastante a tecnologia dos a cidade, mataram o sucessor de Montezuma e
conquistaram a capital asteca.
tipos e da prensa, tornando mais viável o
processo. E em parte porque, como muitos 5 a ) A conquista do Império Inca foi liderada por um
outros inventores, teve sorte. Com 26 letras oficial espanhol, chamado Francisco Pizarro.
simples, o alfabeto europeu é mais fácil de b ) Atahualpa era o imperador inca na época da
ser impresso do que os ideogramas asiáticos. chegada de Pizarro ao território inca.
Além disso, seus contemporâneos, os inte- c ) Pizarro enviou um convite para que Atahualpa
lectuais do Renascimento, aproveitaram a se encontrasse com ele. Atahualpa se dirigiu
nova tecnologia para disseminar suas ideias. ao lugar combinado acompanhado de cerca

134
de cinco mil homens desarmados. Ao sinal a administração e de facilitar o comércio e a

Orientações para o professor


de Pizarro, os soldados espanhóis atacaram cobrança de impostos nas colônias. No que diz
os homens de Atahualpa e prenderam o im- respeito às universidades, incentivou sua criação
perador. porque acreditava que elas facilitariam a trans-
d ) Atahualpa ofereceu a Pizarro uma enorme missão da cultura e dos valores europeus aos
quantidade de ouro pela sua libertação. habitantes da América.
Pizarro aceitou a proposta, mas não cumpriu
10 A principal atividade econômica desenvolvida na
sua parte no acordo. Depois de receber o
colônia espanhola foi, a princípio, a mineração
ouro entregue pelos incas, mandou executar
de prata e de ouro. Com o declínio dessa ativi-
Atahualpa.
dade, após a segunda metade do século XVII,

Respostas das atividades


e ) Cuzco era a capital do Império Inca. Para aumentou a importância da agricultura e da
funcionar como sede do governo espanhol, pecuária.
Pizarro fundou, em 1535, a cidade de Lima,
localizada no litoral. 11 Alguns dos produtos agrícolas cultivados nas
colônias americanas da Espanha eram: cacau,
6 Na época da conquista do Império Inca, os por-
café e cana-de-açúcar.
tugueses iniciavam a colonização do território
onde hoje fica o Brasil. No ano de 1532, duran- 12 Na encomienda, um proprietário de minas ou de
te uma expedição colonizadora comandada por fazendas agrícolas pagava tributos à Coroa es-
Martim Afonso de Souza, os portugueses fun- panhola para adquirir um grupo de indígenas. O
daram São Vicente, a primeira vila brasileira. A proprietário ficava responsável pelo fornecimen-
colonização portuguesa provocou a morte de to de roupas e alimentos e, também, pela cate-
muitos indígenas que habitavam a região e sig- quização, e passava então a explorar a mão de
nificou a tomada das terras desses povos. obra desses indígenas. A mita, de origem incaica,
foi adaptada pelos espanhóis. Eles sorteavam
7 Oriente os alunos a procurar no capítulo as datas
alguns indígenas em suas comunidades e os
referentes aos acontecimentos propostos. De-
obrigavam a trabalhar em outras regiões da co-
pois, oriente-os a elaborar uma linha do tempo,
lônia. Esses indígenas, chamados de mitayos ,
respeitando a escala por eles adotada. Alguns
geralmente trabalhavam por quatro meses e re-
fatos que podem aparecer na linha do tempo,
cebiam um pequeno salário. A mita foi muito
são: 1492 - Cristóvão Colombo desembarca na
América; 1519 - Hernán Cortez chega em Vera usada nas minas do Peru, onde as péssimas
Cruz; 1521 – Espanhóis conquistam a capital do condições de trabalho e os abusos dos proprie-
Império Asteca; 1532 - Francisco Pizarro chega tários causaram a morte de milhares de indígenas.
à América do Sul; 1535 - Francisco Pizarro fun- 13 Bartolomé de Las Casas foi um padre dominica-
da a cidade de Lima, no Peru, assumindo o no que criticava a exploração dos indígenas nas
controle do Império Inca; 1538 - É fundada a colônias espanholas. Em seus escritos e discur-
primeira universidade da América espanhola, em sos, Las Casas denunciou a brutalidade dos
Santo Domingo. conquistadores e o extermínio das populações
8 O Conselho das Índias foi um órgão criado pelo indígenas. Para ele, essas populações não de-
governo espanhol com a finalidade de resolver veriam ser confiadas aos conquistadores, mas
conflitos e nomear autoridades para administrar ficar sob a guarda de religiosos, que poderiam
as colônias. As Audiencias eram tribunais res- levar adiante a sua catequização e submetê-los
ponsáveis pela aplicação da justiça. Os Cabildos ao trabalho de forma pacífica.
eram órgãos responsáveis pela administração
14 Os principais grupos sociais da América espa-
municipal, geralmente formados por grandes
nhola eram os chapetones , os criollos , os mes-
proprietários de terras e comerciantes bem-
tizos , os indígenas e os escravos africanos. Os
-sucedidos.
chapetones eram espanhóis que migraram para
9 O governo espanhol procurou fundar cidades na a América e dominaram o grande comércio en-
América espanhola com o objetivo de organizar tre as colônias e a Metrópole, atuando como

135
fornecedores de produtos e como banqueiros, 16 As atuais lutas dos indígenas na América Latina
além de ocuparem os cargos administrativos estão voltadas à defesa de seus direitos. Seus
mais importantes. Os criollos eram os descen- principais objetivos são: garantir a posse de suas
dentes de espanhóis nascidos na América, que terras e preservar sua cultura e suas tradições.
possuíam grandes propriedades rurais e minas,
mas eram excluídos dos cargos mais importan- Expandindo o conteúdo
tes da administração colonial. Os mestizos eram 17 a ) De acordo com o autor, os sintomas da do-
um importante grupo social, composto por filhos ença que atacou os indígenas eram: dores
de espanhóis e de mulheres indígenas, que no corpo, na cabeça, no peito. As pessoas
geralmente exerciam trabalhos ligados ao arte- não podiam andar, e por isso ficavam deita-
sanato e ao pequeno comércio. Os indígenas das, não podiam virar o pescoço nem movi-
eram a maioria da população colonial e traba- mentar o corpo, não podiam deitar de cabe-
lhavam principalmente na mineração e na agri- ça para baixo nem sobre as costas, não
cultura. Os escravos africanos trabalhavam podiam mover-se de um lado para o outro.
como pedreiros, carregadores de mercadorias, Quando algumas delas se moviam, davam
prestadores de serviços domésticos e, nas An- gritos de dor.
tilhas, trabalhavam no cultivo de cana-de-açúcar. b ) Além dessa doença, muitos também morreram
15 Os ingleses que vieram para a América no sécu- de fome.
lo XVII tiveram que lutar contra um grande nú- c ) A doença durou sessenta dias.
mero de povos indígenas, submetendo-os ou d ) O adoecimento dos indígenas facilitou a con-
exterminando-os. Depois de conquistar territó- quista do Império Asteca pelos espanhóis
rios na América do Norte e nas Antilhas, comer- porque os tornou fracos para a batalha e
ciantes de Londres e de Plymouth conseguiram desestabilizou a organização da sociedade.
do governo inglês a autorização para a criação
de duas companhias de comércio para adminis- Passado e presente
trar a colonização das Treze Colônias da Amé-
18 a ) O pesquisador Guillermo Cock descobriu, em
rica do Norte. Essas companhias deveriam atrair
um cemitério inca perto de Lima, o primeiro
imigrantes para a América, facilitando a aquisi-
esqueleto de um ameríndio morto a tiros
ção das terras e financiando a viagem daqueles
pelos conquistadores europeus.
que não podiam pagá-la. A colonização france-
b ) Os cientistas acreditam que o indígena foi
sa na América, por sua vez, foi empreendida
morto durante um conflito contra espanhóis
pelas companhias de comércio, organizadas por
porque ele foi enterrado de forma rápida e
particulares e sem o apoio financeiro do gover-
com pouca profundidade, sem seguir a tra-
no francês. A partir dos primeiros núcleos de
dição inca de posicionar os mortos com a
povoamento, teve início a penetração no terri-
cabeça virada para o leste. Além disso, havia
tório canadense e foram estabelecidos os pri-
cerca de 72 corpos de indígenas nessa mes-
meiros contatos com os nativos. Os franceses
ma vala, o que leva a crer que tenham sido
tiveram que enfrentar uma forte resistência de
vítimas de um confronto com os espanhóis.
diversos povos nativos que viviam na região.
Além disso, os constantes conflitos entre fran- 19 a ) De acordo com o texto, as colônias do norte
ceses e ingleses pela posse de territórios difi- não atendiam aos interesses metropolitanos,
cultaram a colonização francesa na região. Nas pois apresentavam o clima temperado, seme-
Antilhas, os franceses ocuparam várias ilhas e lhante ao europeu. Dificilmente esta área po-
deram início ao cultivo de produtos tropicais, deria oferecer algum produto de que a Ingla-
utilizando principalmente o trabalho escravo terra necessitasse, como é o caso do tabaco.
africano. Na América do Sul, os franceses con- b ) As colônias do sul possuíam solo e clima
quistaram um pequeno território que, atualmen- propícios para uma colonização voltada para
te, se chama Guiana Francesa, onde produziram os interesses europeus, como era o caso do
principalmente algodão, cana-de-açúcar e café. tabaco.

136
c ) A falta de mão de obra para o tabaco em 3 A madeira dessa árvore, de cor avermelhada, era

Orientações para o professor


pouco tempo impôs o uso do escravo. Esse usada na Europa para a extração de um pigmen-
trabalho escravo cresceu lentamente, posto to para tingir tecidos, que tinha um alto valor
que o trabalho branco servil foi predominan- comercial.
te no século XVII.
4 De acordo com Jean de Léry, os portugueses
d ) Enquanto as colônias do norte se caracteri-
conseguiram realizar em pouco tempo o corte
zaram pela policultura, mercado interno,
do pau-brasil e o embarque da madeira nos
utilização de mão de obra familiar, pequenas
navios graças ao trabalho dos indígenas, que
propriedades e não eram totalmente condi-
cortavam, transportavam e armazenavam as
cionadas aos interesses metropolitanos; as
toras de pau-brasil nas feitorias, deixando-as
colônias do sul abrigaram uma economia

Respostas das atividades


diferente, voltada aos interesses europeus, prontas para serem embarcadas nos navios.
com utilização do trabalho escravo, forman- 5 Os portugueses conseguiram sobreviver porque
do uma sociedade marcada por grande de- contaram com a ajuda dos indígenas, com quem
sigualdade social. aprenderam a caçar, pescar, plantar, preparar
20 a ) O gráfico representa a população do Império os alimentos da terra e se locomover com se-
Inca entre os anos de 1530 e 1590. gurança pelas matas.
b ) Em 1530, o Império Inca possuía 10 milhões 6 Colonizar significa ocupar e povoar um território
de pessoas. com o objetivo de tomar posse dele e de fazê-lo
c ) Em 1590, a população do Império Inca era de produzir riquezas. Colonizar significa também
1,5 milhão. enfrentar, dominar ou incorporar o povo que já
d ) É possível concluir que, em pouco tempo, habitava o território ocupado.
sessenta anos, a população do Império Inca
7 As capitanias hereditárias eram grandes lotes de
diminuiu consideravelmente.
terras que foram doadas aos portugueses de
e ) Essa diminuição pode ser explicada pela che- posses.
gada dos europeus, seguida pelo conflito e
dizimação de grande parte da população 8 A pessoa que recebia uma capitania era chama-
incaica. da de donatário. Cada donatário era responsá-
vel por promover a colonização e tornar produ-
tivas as terras da capitania que lhe fora doada.
A colonização na América
11
Capítulo

portuguesa 9 A maioria dos indígenas nunca aceitou essa si-


tuação. Descontentes, reagiram queimando
Exercícios de compreensão engenhos, acabando com roças e povoados,
1 a ) O título do documento histórico transcrito é obrigando os portugueses a recuar e fugir.
Carta ao rei Dom Manuel .
10 a ) O Governo-geral foi implantado em 1549.
b ) O autor desse documento é o escrivão Pero
b ) O Governo-geral foi implantado com o objeti-
Vaz de Caminha. O documento era destinado
vo de aumentar a presença portuguesa na
ao rei de Portugal, Dom Manuel.
Colônia.
c ) O documento foi escrito no ano de 1500.
c ) Os principais funcionários que auxiliavam
d ) O autor descreve alguns fatos ocorridos du-
o governador-geral eram o ouvidor-mor, o
rante o primeiro encontro entre portugueses
procurador-mor e o capitão-mor, além de
e um grupo indígena. Ele descreve como os
soldados, artesãos, carpinteiros e pedreiros.
indígenas se vestiam e como eles recepcio-
naram o navegante português que foi até a A função exercida pelo ouvidor-mor era a de
praia. cuidar da justiça, o procurador-mor era res-
ponsável pela arrecadação de impostos para
2 O escambo é um tipo de comércio baseado em a Coroa e o capitão-mor era encarregado da
trocas. defesa e da fiscalização do território.

137
11 Os padres jesuítas tinham como objetivo conver- alguns cuidados de saúde, com o objetivo de
ter os indígenas ao catolicismo. A Igreja Católica melhorar sua aparência e aumentar o seu
condenava a escravização destes e, em toda a preço de venda. Os escravos, então, ficavam
Colônia, os jesuítas fizeram forte oposição à uti- expostos à venda e eram examinados minu-
lização de indígenas como escravos. Para cate- ciosamente pelos compradores, que procu-
quizar os indígenas, os jesuítas organizaram ravam identificar os mais fortes e sadios.
missões em várias regiões do continente ameri- Depois de vendidos, alguns escravos eram
cano. Nessas missões, os indígenas aprendiam levados para trabalhar nas vilas e cidades. A
a língua e os costumes portugueses, além de maioria, porém, era levada para às áreas
realizarem vários trabalhos agrícolas e artesanais. rurais para trabalhar na produção de açúcar.

12 Durante muito tempo essa questão foi explicada 14 União Ibérica é o nome dado ao período em que
como consequência de fatores socioculturais. o rei da Espanha, Felipe II, assumiu o trono
Contudo, ao longo do tempo os historiadores português, passando a governar Portugal e
estudaram mais a fundo essa questão e pude- Espanha ao mesmo tempo. O períodode dura-
ram perceber que a escravidão negra se justifi- ção da União Ibérica foi de 60 anos.
ca muito mais por fatores econômicos. O tráfico,
15 Em 1581, depois de muitas lutas, os holandeses
o comércio intercontinental de escravos, foi uma
proclamaram sua independência, que não foi
atividade extremamente lucrativa para as coroas
aceita pelos espanhóis. Os holandeses decidi-
europeias durante a época moderna, e é pela
ram, então, dar continuidade à guerra contra a
ótica das práticas mercantilistas que ele deve
Espanha invadindo o Brasil, que, devido à União
ser entendido. O escravo era uma das mais
Ibérica, era considerado um território espanhol.
valiosas mercadorias que a metrópole vendia
para a colônia, enriquecendo os traficantes 16 Os holandeses tinham um grande interesse no Nor-
portugueses e facilitando a exploração do im- deste brasileiro porque, naquela época, os enge-
pério português. nhos da Bahia e de Pernambuco eram os maiores
produtores de açúcar da Colônia, e o preço desse
13 a ) Na África, os africanos eram capturados em
produto estava em alta no mercado europeu.
suas aldeias e levados para as feitorias pró-
ximas aos portos de embarque. A compra e 17 Os holandeses invadiram e dominaram Angola,
o transporte de africanos para o Brasil eram na África. O objetivo da invasão e domínio ho-
realizados por traficantes portugueses e luso- landês em Angola foi garantir o fornecimento de
-brasileiros, que negociavam com os chefes escravos para trabalhar nos canaviais e enge-
africanos, oferecendo produtos como teci- nhos do Nordeste brasileiro.
dos, armas e tabaco em troca de escravos.
b ) Nas feitorias, os escravos ficavam presos em Expandindo o conteúdo
um recinto com paredes altas e geralmente 18 a ) Os indígenas geralmente mudavam suas al-
sem cobertura, onde ficavam expostos ao sol deias de lugar à medida que necessitavam
e à chuva. Essa situação podia durar várias deslocar-se à procura de locais mais apro-
semanas. priados ao exercício das atividades que lhes
c ) Nos navios que partiam rumo ao Brasil, para garantiam a sobrevivência, áreas de solo mais
aumentar os lucros, os traficantes levavam rico ou regiões de maior abundância de caça,
um número excessivo de escravos. Além peixes ou frutas de acordo com as estações.
disso, na maioria dos casos, a água e os b ) Os principais produtos cultivados pelos indí-
alimentos eram insuficientes. Nessas viagens, genas eram: mandioca, milho, feijão, batata-
que podiam durar meses, as condições eram -doce, cará, abacaxi, abóbora, algodão e
precárias e causavam a morte de muitas tabaco.
pessoas. c ) Os únicos objetos que eram de propriedade
d ) Nos mercados brasileiros, os africanos cos- pessoal de um indígena eram as armas e os
tumavam receber uma alimentação melhor e enfeites.

138
d ) Os homens indígenas caçavam, pescavam, Além disso, Caminha afirma que apenas uma

Orientações para o professor


cortavam lenha, construíam canoas e caba- pessoa foi enviada à terra; na imagem, cerca
nas, limpavam o terreno para o plantio da de oito portugueses estão chegando em terra
lavoura e combatiam. As mulheres plantavam, firme, incluindo o comandante-mor. De acordo
colhiam, preparavam o alimento, fiavam, te- com o relato de Caminha, os indígenas “esta-
ciam, faziam cestos e potes de barros, cole- vam nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse
tavam frutos, raízes e insetos comestíveis, suas vergonhas”. O pintor, por sua vez, repre-
cuidavam da casa e das crianças. sentou-os usando uma espécie de canga.
e ) As crianças indígenas aprendiam as tarefas d ) Resposta pessoal. Os acontecimentos histó-
cotidianas observando os adultos. ricos são construídos a partir da perspectiva

Respostas das atividades


f ) Resposta pessoal. Os indígenas não faziam de quem os narra. Assim, um mesmo acon-
grandes estoques de alimentos porque eles tecimento histórico pode ser apresentado de
contavam com a produção de cada dia para diferentes maneiras de acordo com os obje-
sobreviver e, muitas vezes, contavam com os tivos e as intenções daquele que narra. No
alimentos disponíveis na natureza. Além disso, caso da pintura, o artista se preocupou em
como eles mudavam de tempos em tempos mostrar esse encontro de maneira pacífica,
o local da aldeia, era melhor que não tivessem sugerindo a submissão dos indígenas ante
muitas coisas para levar. Por fim, os indígenas aos portugueses (cena em que os indígenas
produziam alimentos para o consumo interno ajoelhados beijam a mão do comandante-
do grupo, não para comercializá-los. -mor). Caminha, por sua vez, pretendia rela-
19 a ) Essa obra, intitulada Desembarque de Pedro
tar ao rei de Portugal como era a terra en-
Álvares Cabral em Porto Seguro, em 1500 foi contrada e as pessoas que nela viviam.
pintada pelo artista brasileiro Oscar Pereira 20 a ) O local na praia onde Baquaqua e os demais
da Silva. Ela foi produzida em 1922, ou seja, escravos esperaram antes de embarcar para
422 anos depois do desembarque de Pedro o Brasil era chamado de feitoria.
Álvares Cabral nas terras do Brasil.
b ) Resposta pessoal. Os navios ficaram conhe-
b ) Nessa pintura, Oscar Pereira da Silva repre- cidos como “tumbeiros” devido à alta morta-
sentou a paisagem do local e os indígenas, lidade das pessoas que eram transportadas
homens, mulheres e crianças, à beira da em condições precárias, em viagens que
praia, portando lanças e flechas em suas poderiam durar meses.
mãos. Eles usam tipos de cangas que cobrem
c ) Baquaqua sugere que aqueles “indivíduos hu-
suas partes íntimas. Parecem estar bravos
manitários” que defendem a escravidão colo-
com a chegada dos portugueses, pois estão
quem-se no lugar do escravo no porão baru-
inquietos, alguns com as mãos levantadas.
lhento de um navio negreiro, apenas por uma
Os portugueses chegam num pequeno barco,
viagem da África à América, sem sequer ex-
pois as caravelas foram deixadas mais longe
perimentarem mais que isso dos horrores da
da praia. O comandante está em terra firme,
escravidão. Baquaqua acredita que, assim,
ao seu lado há uma bandeira portuguesa e
dois ou três indígenas ajoelhados, beijando eles se tornariam abolicionistas convictos.
suas mãos, em sinal de reverência. No barco, Resposta pessoal. Estimule os alunos a refle-
estão cerca de oito portugueses, todos ves- tir sobre o caráter desumano da escravidão,
tidos com roupas que lembram a nobreza desde as condições precárias das viagens
europeia. Um deles, inclusive, veste uma realizadas nos navios negreiros até a venda e
armadura. exploração da mão de obra do africano.

c ) Na Carta, Caminha afirma que cerca de sete 21 a ) O autor do texto A admira-se com a grandeza
ou oito indígenas estavam na praia e que os moral dos jesuítas que, com tanta coragem
outros foram chegando ali conforme o batel vinham para o Brasil assumir a função de res-
se aproximava. Na pintura, no entanto, existe gatar os indígenas da barbárie em que viviam,
mais do que oito nativos na beira da praia. da perdição que era o seu modo de vida.

139
b ) O autor do texto B afirma que o cotidiano dos b ) As companhias de comércio deveriam contro-
indígenas foi inteiramente modificado a partir lar a venda dos produtos consumidos pelos
do momento em que eles foram reunidos nas colonos, garantir o fornecimento de escravos,
missões. Eles deixaram de viver na moradia manter uma frota armada para proteger os
conjunta, sendo divididos em núcleos fami- navios e financiar o transporte do açúcar
liares, de acordo com a perspectiva jesuítica para a Europa.
de família. A percepção do tempo foi modifi- c ) As companhias de comércio não funcionaram
cada e o cristianismo foi introduzido no coti- como o governo português esperava porque,
diano desses indígenas, sufocando as mani- em muitos casos, elas não cumpriram suas
festações culturais que lhes eram próprias. funções e, em outros, abusaram nos preços
Enfim, de acordo com o autor desse texto, dos produtos, provocando muita insatisfação
os jesuítas contribuíram para a extinção da entre os colonos e a eclosão de revoltas.
cultura indígena.
4 Depois que foram expulsos do Nordeste, os ho-
c ) Resposta pessoal. Promova entre os alunos
landeses passaram a produzir o açúcar em suas
o respeito às diferentes opiniões que possam
colônias nas Antilhas, utilizando as técnicas
surgir durante a realização e apresentação
aprendidas no Brasil. Como os holandeses pos-
dos trabalhos.
suíam contatos comerciais na Europa, eles
22 Resposta pessoal. Incentive os alunos a perce- conseguiram negociar preços melhores para a
berem a importância da preservação dessas venda de seu produto. Isso causou uma drásti-
comunidades e a valorizarem sua luta constan- ca redução da venda do açúcar brasileiro na
te pelo reconhecimento de seus direitos, como Europa, aumentando ainda mais a crise econô-
a demarcação de seus territórios. mica de Portugal.

5 a ) Os dois principais tipos de bandeiras eram:


A expansão das fronteiras da
12
as bandeiras de preação e as bandeiras de
Capítulo

Colônia portuguesa prospecção. As bandeiras de preação eram


expedições organizadas para capturar indíge-
Exercícios de compreensão nas e vendê-los para trabalhar como escravos
1 Os maiores problemas enfrentados pelo governo nos engenhos do litoral ou nas fazendas pau-
português no final da União Ibérica eram: a di- listas. Eram formadas por cerca de duas mil
fícil situação econômica enfrentada pelo país; pessoas, que adentravam os sertões percor-
as péssimas condições em que se encontrava rendo longas jornadas que duravam vários
a frota naval portuguesa, por causa da falta de meses.As bandeiras de prospecção eram
manutenção e do confisco de embarcações por expedições formadas por pequenos grupos
parte dos espanhóis. Além disso, o Nordeste de até cinquenta pessoas, que percorriam o
brasileiro, que era a principal região produtora interior do território à procura, principalmente,
de açúcar na Colônia, continuava sob domínio de minas de ouro e de pedras preciosas.
holandês. b ) As expedições promovidas pelos bandeirantes
propiciaram o aumento do território da Colô-
2 O Conselho Ultramarino foi criado em 1642. Esse
nia. Avançando além das fronteiras delimita-
Conselho fazia parte de uma política de renova-
das pelo Tratado de Tordesilhas, os bandei-
ção administrativa do reino português. Sua prin-
rantes ampliaram consideravelmente os do-
cipal função era manter a Coroa informada sobre
mínios coloniais dos portugueses na América.
os assuntos relativo às suas colônias, como a
cobrança de impostos, a manutenção das forti- 6 O governo português criou as Casas de Fundição
ficações e as condições de povoamento. para controlar a cobrança de impostos. Todo o
ouro extraído nas minas brasileiras era enviado
3 a ) As companhias de comércio foram criadas
para as Casas de Fundição.
pela Coroa portuguesa para reforçar o con-
trole sobre o comércio e limitar a participação 7 Depois de enviado para as Casas de Fundição
de estrangeiros nos negócios da Colônia. para ser fundido e para ser retirada a quinta

140
parte devida à Coroa, o restante do ouro era 14 O Tratado de Madri foi o principal tratado assi-

Orientações para o professor


transformado em barras marcadas com o selo nado entre o governo português e o espanhol a
real, e devolvido ao dono. A esse processo respeito da delimitação de fronteiras das colô-
chamava-se “quintar o ouro”. nias americanas. Nesse tratado, prevaleceu o
princípio do uti possidetis, segundo o qual quem
8 A Coroa portuguesa cobrava impostos sobre mer-
tem direito a um território é a Nação que efeti-
cadorias e, também, sobre pessoas que circula-
vamente o ocupa.
vam na região das minas. Havia impostos cobra-
dos, por exemplo, sobre os produtos trazidos de 15 Os artistas mineiros foram muito influenciados
outras regiões da Colônia, sobre o trabalho escra- pelo barroco, estilo artístico que predominava
vo utilizado na extração dos minérios e sobre o na Europa no século XVIII. Na capitania de Minas

Respostas das atividades


uso de estradas ou pontes. Gerais, localizada no interior brasileiro e de difí-
cil acesso, a diferenciação entre a arte local e a
9 Insatisfeitos com a alta tributação paga ao go-
arte europeia foi mais marcante do que na região
verno de Portugal, muitos mineradores tentavam
litorânea do país. Por isso, o barroco mineiro foi
contrabandear o ouro para evitar o pagamento
considerado a primeira expressão artística ge-
dos impostos. Eles procuravam esconder o
nuinamente brasileira.
metal extraído dentro de suas botas ou chapéus,
debaixo da sela do cavalo ou dentro de suas 16 Aleijadinho é considerado o maior representante
armas, de maneira a passar despercebidos pe- do barroco mineiro. Seu verdadeiro nome era
los fiscais e evitar o pagamento do quinto real. Antônio Francisco Lisboa. Ele nasceu em Vila
Outra maneira de esconder o ouro era colocá-lo Rica, atual Ouro Preto, por volta de 1730. Du-
dentro de estatuetas de santos feitas de madei- rante toda a sua vida, se dedicou à elaboração
ra e ocas por dentro. Essas estatuetas ficaram de esculturas e à decoração de igrejas na região
conhecidas como “santos do pau oco”. das minas, e acabou se tornando o mais célebre
artista brasileiro de seu tempo. Aos 40 anos de
10 Segundo a autora, o tropeirismo surgiu na Colô-
idade, ele foi acometido por uma doença que
nia devido às necessidades de Minas Gerais,
degenerou seus membros e dificultou seu tra-
cuja população voltava-se quase que exclusiva-
balho. Com o auxílio de seus aprendizes, no
mente à extração de ouro e pedras preciosas,
entanto, ele continuou a produzir belíssimas
precisando adquirir todo tipo de produto. obras de arte. Sua obra é ainda hoje admirada
11 As monções eram expedições fluviais, feitas por em todo o mundo por sua beleza e originalidade.
meio de canoas. 17 Ao se posicionarem contra a dominação portu-
12 Algumas consequências da mineração foram: a guesa, os conjurados traziam em seus discursos
formação de vilas e cidades no interior do terri- a influência das novas ideias e revoluções em
tório; a abertura de caminhos para deslocar outras partes da América e na Europa. Muitas
mercadorias até as populações que se estabe- vezes, essas ideias chegaram até os conjurados
leciam no interior do país; a fundação de pousos por meio da leitura de livros ou porque muitos
nesses caminhos para o interior que, no decor- deles haviam estudado na Universidade de
rer do tempo, também se tornaram cidades. Coimbra, em Portugal, onde entraram em con-
tato com os princípios iluministas.
13 A capital da Colônia foi transferida de Salvador
para o Rio de Janeiro em 1763. Essa transferên- 18 a ) O principal motivo da Conjuração Mineira foi
cia foi motivada pelo fato de a cidade do Rio de a crescente insatisfação dos habitantes da
Janeiro ficar mais próxima da região das minas, capitania de Minas Gerais com a alta tributa-
além disso, em seu porto era embarcada para ção cobrada pelo governo português.
Portugal a maior parte do ouro brasileiro. Com a b ) Os principais planos dos conjurados eram:
transferência da capital, o governo português cancelar o pagamento dos impostos e das
pretendia exercer um maior controle sobre a dívidas com a Coroa portuguesa, proclamar
produção e o transporte de ouro e, também, uma República na capitania de Minas Gerais,
sobre a cobrança de impostos na Colônia. instalar manufaturas na região, iniciar a ex-

141
ploração de ferro e implantar uma universi- podem ser realizadas de diferentes formas,
dade em Minas Gerais. sendo que algum aspecto pode ser destaca-
c ) Vários grupos sociais participaram desse mo- do ou até mesmo omitido, de acordo com as
vimento, como proprietários de minas, polí- observações de cada um.
ticos, advogados, poetas, militares e padres.
21 a ) Para Portugal, o resultado da grande produção
d ) O governo português reagiu à Conjuração
de ouro em Minas Gerais foi sua redução à
Mineira prendendo os conjurados e os con-
condição de entreposto comercial, pois pas-
denando ao exílio na África, exceto o alferes
sou a mediar o comércio da Inglaterra e
Tiradentes, que foi o único condenado à
morte. Norte da Europa com o Brasil.
b ) Os produtos importados consumidos no Brasil
19 Resposta pessoal. A Conjuração Baiana foi um
vinham da Inglaterra e do Norte da Europa.
movimento liderado por um grupo de intelectuais
Nesse comércio, Portugal tinha a função de
que começou a se reunir para discutir propostas
de mudanças na sociedade baiana, em que mui- entreposto comercial, recebendo esses pro-
tas pessoas viviam em condições precárias e dutos importados e enviando-os para o Brasil.
pagavam altos impostos. Escravos, soldados, c ) O destino final do ouro brasileiro era a Inglaterra.
trabalhadores livres e pobres aderiram ao movi-
22 a ) A capitania brasileira que produziu a maior
mento. Entre esses trabalhadores, estavam pe-
dreiros, sapateiros, artesãos e alfaiates. Por isso, quantidade de ouro no século XVIII foi a de
o movimento também ficou conhecido como a Minas Gerais.
Conjuração dos Alfaiates. Devido à insatisfação b ) O ano em que a capitania de Goiás extraiu
com o governo português e à influência dos ide- cerca de seis toneladas de ouro foi 1754.
ais da Revolução Francesa, os revoltosos preten-
c ) Em 1739, foram extraídas da capitania do
diam proclamar a República, abrir o porto de
Mato Grosso pouco menos de duas tonela-
Salvador ao livre comércio e conquistar melhores
das de ouro.
condições de vida. Em 1798, os conjurados afi-
xaram manifestos contrários ao governo portu- d ) O ano em que o Brasil produziu maior quan-
guês e à escravidão em diferentes pontos da tidade de ouro foi 1754, quando foram pro-
cidade. Pouco tempo depois, muitos participan- duzidas 15,8 toneladas de ouro.
tes do movimento foram presos e interrogados. e ) Resposta pessoal. A Conjuração Mineira ocor-
Os principais líderes da conjuração foram conde- reu em 1789, motivada pelos excessivos
nados à morte. Outros participantes do movimen-
impostos portugueses sobre o ouro brasilei-
to foram exilados na África.
ro. Pela análise do gráfico, é possível perce-
ber que, nessa época, a produção de ouro
Expandindo o conteúdo
estava em pleno declínio no Brasil, inclusive
20 a ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
em Minas Gerais. Por isso, é provável que os
apresentem no texto informações contidas
impostos estivessem se tornando cada vez
na imagem de Rugendas e no infográfico
mais prejudiciais à população que dependia
apresentado nas páginas 204 e 205. Se julgar
do ouro para sobreviver em Minas Gerais.
necessário, auxilie os alunos a fazerem uma
relação dos itens propostos na questão e
aqueles que aparecem no infográfico, por
Trabalho em grupo
exemplo: pessoas: fiscal da Coroa, dono da 23 Resposta pessoal. Se julgar necessário, auxilie
mina, feitores e escravos; tipos de mineração: os alunos a pesquisar o significado dos nomes
retirada do ouro de aluvião, mineração de dos impostos (que normalmente vêm em siglas),
galeria, grupiara; objetos: bateia, almocafre, explicando que, ao analisar o nome do imposto,
couros de boi que ficam no mundéu. é possível deduzir sobre qual atividade ele inci-
b ) Resposta pessoal. Comente com os alunos o de. Promova entre os alunos o respeito às dife-
quanto a análise e interpretação de uma obra rentes opiniões que possam surgir.

142
Discutindo a História c ) Para Viana Moog, os bandeirantes eram como

Orientações para o professor


agentes predatórios, cujas práticas se per-
24 a ) Os historiadores que contribuíram para a cria-
petuam na história do Brasil em aspectos
ção do mito do herói bandeirante foram
como a falta de interesses coletivos, a busca
Taunay e Alfredo Elis Jr. Eles consideraram
de fortuna rápida e a instabilidade social.
os bandeirantes como responsáveis pela
atual dimensão territorial do Brasil. Oliveira d ) Para estudar os bandeirantes, Alcântara Ma-
Viana, por sua vez, descreveu-os como ho- chado utilizou inventários e testamentos
mens instruídos e acostumados ao luxo. como fontes históricas.
b ) Capistrano de Abreu via os bandeirantes como e ) Alcântara Machado definiu os bandeirantes
pessoas que empregaram a violência, des- como modestos lavradores, pequenos mer-

Respostas das atividades


truíram missões religiosas e escravizavam cadores e aventureiros rústicos.
indígenas indiscriminadamente.

143
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