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6 HISTÓRIA

6º ano

HISTÓRIA

Marco César Pellegrini Adriana Machado Dias Keila Grinberg


■■ Professor graduado em ■■ Professora graduada em ■■ Professora graduada em
História pela História pela Universidade História pela Universidade
Universidade Estadual de Estadual de Londrina (UEL). Federal Fluminense (UFF).
Londrina (UEL). ■■ Especialista em História ■■ Doutora em História Social
■■ Editor de livros na área Social e Ensino de História pela Universidade Federal
de ensino de História. pela Universidade Estadual Fluminense (UFF).
■■ Professor de História em de Londrina (UEL). ■■ Professora do
escolas da rede ■■ Professora de História em Departamento de História
particular de ensino. escolas da rede particular da Universidade Federal
de ensino. do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO).

MANUAL DO
PROFESSOR
2a. edição - São Paulo - 2012
Vontade de Saber História, 6o ano
Copyright © Adriana Machado Dias, Keila Grinberg e Marco César Pellegrini, 2012
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
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Editora
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Editora adjunta
Alaíde Santos
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Assistente editorial
Cláudia C. Sandoval
Revisores
Bárbara Borges
Fernando Cardoso Guimarães
Eliana Medina
Coordenador de produção editorial
Caio Leandro Rios
Arte
Projeto gráfico
Marcela Pialarissi (criação e coordenação)
Bruno Sampaio e Laís Garbelini (desenvolvimento)
Ilustrações
Ana Elisa/André L. Silva/Art Capri/Marcela Pialarissi
Mario Henrique/N. Akira/Paula Diazzi
Cartografia
E. Cavalcante
Capa
Marcela Pialarissi
Fotos da capa
IrÞne Alastruey/Glow Images (Guerreiro Terracota)
Sandro Botticelli. 1483. Têmpera sobre tela. Galeria
dos Ofícios, Florença (Detalhe da tela O Nascimento de Vênus)
Wallace Kirkland/Time Life Pictures/Getty Images Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Mohandas K. Gandhi) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Heini Schneebeli/The Bridgeman Art Library/Keystone
(Escultura Iorubá) Pellegrini, Marco César
Vontade de saber história, 6o ano / Marco César
Digital Vision/Getty Images (Menina) Pellegrini, Adriana Machado Dias, Keila Grinberg.
Iconografia -- 2. ed. -- São Paulo : FTD, 2012.
Supervisão
Célia Rosa Bibliografia.
ISBN 978-85-322-8102-9 (aluno)
Pesquisa ISBN 978-85-322-8103-6 (professor)
Alaíde França (coord.) e Cristina Mota
Editoração eletrônica 1. História (Ensino fundamental) I. Dias,
Adriana Machado. II. Grinberg, Keila. III. Título.
Diagramação
Daniela Cordeiro de Oliveira
Tratamento de imagens
José Vitor Costa 12-03243 CDD-372.89

Gerente executivo do parque gráfico Índices para catálogo sistemático:


Reginaldo Soares Damasceno 1. História : Ensino fundamental 372.89
Para você, o que é História? Algumas pessoas pensam
que História é o estudo do passado. Outras, porém, afirmam
que ela serve para entender melhor o presente. Nós acredita-
mos que História é tudo isso e muito mais!
O estudo da História nos ajuda a perceber as ligações exis-
tentes entre o passado e o presente. A escrita, a música, o ci-
nema, as construções magníficas, os aviões, os foguetes...
Tudo aquilo de que dispomos hoje, desde os produtos fabrica-
dos com tecnologia avançada até a liberdade de expressão,
devemos às pessoas que trabalharam e lutaram, enfim, que vive-
ram antes de nós. A História nos permite conhecer o cotidiano
dessas pessoas e perceber como a ação delas foi importante
para construir o mundo como ele é hoje.
A História nos auxilia a conhecer os grupos que formam as
sociedades, os conflitos que ocorrem entre eles e os motivos de
tais conflitos. Ela nos ajuda a tomar consciência da importância
de nossa atuação política e a desenvolver um olhar mais crítico
sobre o mundo. Assim, nos tornamos mais capazes de analisar
desde uma afirmação feita por um colega até uma notícia veicu-
lada pela televisão.
Ao estudarmos História, percebemos a importância do res-
peito à diversidade cultural e ao direito de cada um ser o que é,
e entendemos como esse respeito é indispensável para o exer-
cício da cidadania e para construirmos um mundo melhor.
Bem-vindo ao fascinante estudo da História!

Os autores.
Corel Stock Photo
SUMÁRIO
1
Capítulo

Estudar História é... 8


Conhecendo a História............................... 10 Calendários............................................... 14
■■ O que é História? ■■ O calendário gregoriano
■■ Para que serve a História? ■■ a.C./d.C.
■■ As diferentes interpretações ■■ Outros calendários
As fontes históricas
Linha do tempo.......................................... 15
■■

■■ A construção do conhecimento histórico ■■ Os elementos que formam


■■ Os sujeitos históricos uma linha do tempo
O tempo..................................................... 12 Explorando o tema.................................... 16
■■ Tempo da natureza ■■ A Arqueologia
■■ Tempo cronológico
■■ Tempo histórico
História e outras áreas do conhecimento... 18
■■ Diferentes profissionais
■■ Transformações e permanências
■■ O tempo histórico e suas durações Atividades................................................ 20

2 A origem do ser humano 24


Capítulo

O planeta Terra.......................................... 26 O período Neolítico.................................... 36


■■ A formação do planeta ■■ O início da agricultura
A evolução dos seres humanos.................. 28 ■■ A criação de animais
■■ África: o berço da humanidade ■■ A formação de aldeias
■■ A hominização ■■ A Idade dos Metais
■■ O desenvolvimento de instituições
O Paleolítico e o Neolítico.......................... 30
■■ O desenvolvimento dos seres humanos O cotidiano no período Neolítico................ 38
■■ Uma aldeia neolítica
A vida no Paleolítico.................................. 31
■■ O desenvolvimento de conhecimentos Explorando o tema.................................... 40
■■ Da África para outros continentes ■■ Das primeiras fogueiras à queima
indiscriminada de combustíveis fósseis
A especialização do trabalho
no Paleolítico.......................................... 32 Atividades................................................. 42
■■ Artistas especializados

3 Os povos da Mesopotâmia 46
Capítulo

A terra entre rios....................................... 48 Atividades econômicas.............................. 53


■■ Aproveitando a fertilidade do solo ■■ O trabalho no campo e na cidade
■■ Uma sucessão de povos ■■ O comércio com outros povos
A formação de cidades A religião na Mesopotâmia........................ 54
na Mesopotâmia..................................... 50 ■■ As crenças religiosas
■■ O estabelecimento das primeiras aldeias ■■ Os zigurates
■■ Desenvolvendo uma civilização A mitologia mesopotâmica: o dilúvio......... 55
■■ A cidade-estado de Ur
Explorando o tema.................................... 56
A sociedade mesopotâmica....................... 52 ■■ A escrita cuneiforme
■■ Diferentes condições de vida
Atividades................................................. 58
4 A África Antiga: os egípcios 62
Capítulo

A formação da civilização egípcia.............. 64 ■■ A moradia de um artesão egípcio


■■ As primeiras comunidades agrícolas
■ ■ A unificação do Egito
Explorando o tema....................................68
■ ■ Períodos da história do Egito Antigo
■■ As práticas religiosas no Antigo Egito

As camadas sociais................................... 66 Um rio de grande importância................... 72


■■ O faraó e sua família ■■ As cheias anuais do rio Nilo
■ ■ A elite egípcia
Atividades................................................. 74
■ ■ A camada pobre da população

5 A África Antiga: os cuxitas 78


Capítulo

A África na Antiguidade............................. 80 A transferência da capital cuxita............... 86


■■ Berço de grandes civilizações ■■ Trocas comerciais
Organização social e política..................... 81 ■■ A cultura cuxita
■ ■ As candaces
■■ Aspectos sociais
■ ■ O resgate do papel da mulher nas
■■ Aspectos políticos
■ ■ Aspectos religiosos sociedades africanas
O Império Cuxe.......................................... 82 Explorando o tema.................................... 88
■■ A influência egípcia ■■ Sociedades matriarcais
■ ■ Períodos do Império Cuxe

As pirâmides cuxitas................................. 84 Atividades................................................. 90


■■ Os túmulos reais

6 Os fenícios 94
Capítulo

Um povo voltado para o mar...................... 96 A cultura e o legado fenícios................... 100


■■ Aspectos geográficos ■■ O intercâmbio cultural
■ ■ O comércio fenício ■■ A religião fenícia
■■ Cidades e colônias fenícias
Explorando o tema.................................. 102
Os grandes comerciantes ■■ O alfabeto: da Fenícia para o mundo
da Antiguidade........................................ 98
■■ Um porto comercial Atividades............................................... 104

7 Os hebreus 108
Capítulo

A Terra Prometida.................................... 110 ■■ Os reinos de Judá e de Israel são dominados


■■ Quem são os hebreus ■■ As dominações estrangeiras
■ ■ Períodos da história hebraica ■ ■ A resistência e a dispersão

■ ■ A migração para o Egito


Explorando o tema.................................. 118
■ ■ A escravização dos hebreus

■ ■ O Êxodo
■■ Os judeus no mundo atual
■ ■ O período dos juízes Atividades............................................... 120
■ ■ A Monarquia e os reis hebreus

O cotidiano dos hebreus.......................... 114


■■ Uma cidade hebraica
A divisão do Estado................................. 116
■■ A população se revolta
8 Os persas 124
Capítulo

O povo persa........................................... 126 A religião persa....................................... 130


■■ A Pérsia ■■ A criação do Universo
■■ Os vizinhos medos Uma mistura de culturas......................... 131
■■ Períodos da história persa ■■ O respeito cultural
O Império Persa....................................... 128
Explorando o tema.................................. 132
■■ Os povos conquistados
■■ O correio
■■ O correrio persa
Atividades............................................... 134

9 Os antigos chineses 138


Capítulo

A China antiga......................................... 140 ■■ A religiosidade na China Han


■■ As aldeias do rio Amarelo ■■ Aspectos culturais
Períodos da história da China Antiga....... 141 A Rota da Seda........................................ 148
A unificação do território chinês.............. 142 ■■
A abertura da Rota
■■ O primeiro imperador chinês
■■ Os mercadores
■■ A destruição de livros ■■ O intercâmbio cultural
■■ Um período de mudanças Explorando o tema.................................. 150
■■ Aspectos sociais ■■ As invenções dos antigos chineses
■■ A construção da Muralha da China
Atividades............................................... 152
O período Han.......................................... 146
■■ A cidade de Changan

10
Capítulo

Os antigos gregos 156


O território grego..................................... 158 Péricles e a consolidação
■■ Aspectos geográficos da democracia...................................... 166
■ ■ Os habitantes da ilha de Creta ■■ As reformas de Péricles
■ ■ A chegada de outros povos

A vida nas cidades gregas....................... 167


■■ Os períodos da história da Grécia Antiga
■■ O espaço urbano
O governo nas cidades-estado gregas..... 160
■■ Diferentes formas de governo na Grécia Antiga
Explorando o tema..................................168
■■ O espaço rural
A cidade de Esparta................................. 161
■■ Os povos submetidos As instituições da
■■ O militarismo espartano democracia ateniense........................... 170
■ ■ A educação espartana ■■ Na época de Péricles
A cidade de Atenas.................................. 163 A Guerra do Peloponeso........................... 172
■■ Efervescência cultural ■■ Disputas entre atenienses e espartanos
■ ■ Exercendo o controle político
■■ O conflito
■ ■ Quem não tinha participação política

■ ■ Outros grupos que não participavam das


■■ Os efeitos da guerra
decisões políticas O Império Macedônico............................. 173
■ ■ A revolução hoplítica
■■ A ascenção da Macedônia
■ ■ A população exige mudanças

■ ■ Os tiranos Atividades............................................... 174


■ ■ Clístenes e a democracia ateniense
11 Os antigos romanos 178
Capítulo

A origem da civilização romana............... 180 A cidade de Roma.................................... 187


■■ A península Itálica ■■ A metrópole romana
■■ Os latinos O Baixo Império....................................... 189
■■ A presença etrusca na península Itálica ■■ A crise do império
■■ Períodos da história romana ■■ As tentativas de superação da crise
A Monarquia em Roma............................ 182 ■■ O cristianismo e a divisão do império
■■ A organização política As invasões germânicas.......................... 191
■■ A organização da sociedade ■■ As primeiras invasões
A República em Roma.............................. 183 ■■ Roma é conquistada
■■ A queda da Monarquia
Explorando o tema.................................. 192
■■ A expansão territorial e o aumento ■■ O cotidiano na Roma Antiga
da escravidão
■■ As dificuldades da plebe Atividades............................................... 194
■■ As conquistas da plebe
■■ As tentativas de reforma agrária
■■ A crise da República
■■ O fim da República
O Alto Império.......................................... 186
■■ A Pax Romana
■■ A extensão do império

12 A cultura clássica 198


Capítulo

Cultura clássica: presença em A arte e a arquitetura em Roma............... 208


nosso cotidiano..................................... 200 ■■ Os retratos individuais
■■ O que é cultura clássica? ■■ A construção de um aqueduto
■■ Falando grego
O Direito Romano..................................... 210
■■ A literatura dos antigos gregos ■■ O legado jurídico
A mitologia grega.................................... 202 ■■ O Corpo do Direito Civil
■■ Deuses e deusas
A cultura helenística................................ 211
O nascimento da filosofia ocidental......... 203 ■■ A civilização helenística
■■ Os filósofos gregos
Atividades............................................... 212
Explorando o tema.................................. 204
■■ Os espetáculos públicos romanos

Latim: a língua dos romanos.................... 206


■■ As origens
■■ As línguas neolatinas
■■ A literatura latina
■■ A escrita do povo

Ampliando seus conhecimentos............. 216


Referências bibliográficas...................... 222
1
Veja nas Orientações
para o professor
capítulo

alguns comentários e

Estudar História é...


explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

Arquivo/Agência Estado

A Fotografia do Viaduto do Chá, em São Paulo (SP), no início do século XX.

8
Vanessa Volk
B Fotografia do Viaduto do Chá, em São Paulo (SP), no início do século XXI.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
No decorrer do tempo, ocorrem transformações nos lugares e no mo- conhecimento prévio
dos alunos e estimular
do de vida das pessoas. Nos estudos históricos, procuramos analisar e seu interesse pelos
compreender como essas transformações acontecem. assuntos que serão
desenvolvidos no
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os capítulo. Faça a
mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■■ O que as imagens representam? participem
expressando suas
■■ Quanto tempo se passou entre a época de produção da imagem A e opiniões e respeitando
da imagem B? as dos colegas.

■ ■ Identifique algumas transformações que ocorreram nesse lugar de

uma época para outra. É possível identificar alguns elementos que


permaneceram? Quais?
Talvez você não tenha respostas para essas perguntas, mas procure
refletir sobre elas enquanto estuda os assuntos deste capítulo.

9
Conhecendo a História
O que é História? Para que ela serve? Quem faz a história? Onde? Como? Quando?

O que é História
História é o campo do conhecimento dedicado ao estudo das ações dos
seres humanos no tempo e no espaço. Esse estudo envolve as realizações
humanas, as transformações que ocorrem nas sociedades, bem como as
permanências, isto é, aquilo que pouco mudou ao longo do tempo.

Para que serve a História?


A História contribui para a compreensão das sociedades: suas transforma-
ções, mudanças, rupturas, simultaneidades e permanências, as relações
entre os seres humanos que as constituem, as semelhanças e as diferenças
que existem entre elas. A História nos auxilia a conhecer o passado e, assim,
compreender melhor o presente. Desse modo, nos tornamos mais capazes
de agir para transformar a sociedade.

O que é sociedade?
Sociedade é o conjunto de pessoas que convivem em um espaço, compartilhando as
mesmas regras, costumes, língua etc. A sociedade é composta por grupos sociais,
como a família, a escola, o trabalho. Por meio dos grupos sociais, as pessoas se
integram à sociedade, estabelecendo relações entre si.

As diferentes interpretações
Cada pessoa pode interpretar os acontecimentos do dia a dia de uma
maneira diferente. E essa diversidade é positiva. Já imaginou se todos pen-
sássemos da mesma maneira? Provavelmente não haveria ideias novas.
Os historiadores, quando estudam determinada sociedade, também podem
interpretá-la de diferentes maneiras.
Dependendo dos métodos de pesquisa e das fontes de que dispõe, o
historiador pode dar ênfase, por exemplo, a aspectos políticos, econômicos
ou culturais. A ênfase em um ou mais desses aspectos possibilita ao his-
toriador construir sua própria interpretação histórica com base no enfoque
escolhido por ele e pela documentação analisada.
Bassouls Sophie/Sygma/Corbis/Latinstock

O historiador francês
Jaque Le Goff, por
exemplo, privilegia em
suas pesquisas históricas
aspectos culturais das
sociedades, como seus
costumes e vida
cotidiana.

10
As fontes históricas

capítulo 1
Fonte histórica é tudo aquilo que traz informações sobre o passado, que

Photodisc/Getty Images
serve à construção do conhecimento histórico. São exemplos de fontes
históricas: jornais, livros, cartas, diários, letras de música, histórias em
quadrinhos, pinturas, fotografias, filmes, mapas, moedas, vasos, joias, es-

Estudar História é...


culturas e muitos outros.
Também são considerados fontes históricas os relatos orais, por exemplo,
as histórias contadas por nossos avós.

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Objects/
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Photodisc/Getty Images

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Getty Images
Stockdisc/Getty Images

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Os objetos acima
retratados são
A construção do conhecimento histórico exemplos de fontes
A análise e a interpretação das fontes históricas exigem do historiador históricas. Você
reconhece esses
muita habilidade e cuidado. Quando um historiador se depara com uma
objetos? Sabe qual
fonte histórica, ele já possui uma série de ideias, razões e emoções que a utilidade deles?
interferem em sua análise e em sua interpretação.
Uma mesma fonte histórica pode ser interpretada de diversas maneiras,
dependendo dos critérios de análise de cada historiador. Portanto, se cada
historiador faz a sua própria interpretação dos acontecimentos históricos,
ela não pode ser considerada uma verdade única e absoluta.

Os sujeitos históricos
Por muito tempo, foram considerados sujei tos
David Turnley/Corbis/Latinstock

históricos somente pessoas ditas “importantes”,


como reis, generais e políticos. Acreditava-se
que somente esses personagens de destaque
determinavam os rumos da história.
Nas últimas décadas, porém, os historiadores
mudaram essa ideia e passaram a consi derar
sujeito histórico toda pessoa que, individualmen-
te ou em grupo, participa do processo histórico.

Sujeitos da história, os idosos têm muito


a nos contar sobre o passado.

11
O tempo
O tempo é fundamental para os estudos históricos.
Existem, no entanto, diferentes maneiras de compreender o tempo.

Tempo da natureza
Existe o tempo que passa naturalmente, e não depende da vontade hu-
mana. Esse é o chamado tempo da natureza, que pode ser percebido, por
exemplo, pelo crescimento das árvores e pelo envelhecimento das pessoas.

Hemera
Tempo cronológico
Diferentemente do tempo da natureza, o tempo cronológico é medido,
contado. Esse tempo é um elemento cultural, pois foi o ser humano que
criou as diversas formas de medição do tempo.
O tempo cronológico pode ser dividido em unidades de medida: segundo,
minuto, hora, dia, mês, ano etc. Os principais instrumentos usados para
medir a passagem do tempo cronológico são o relógio e o calendário. Relógio mecânico.
Flávio Florido/Folhapress

Cultura conjun-
to de conheci-
mentos, costu-
mes, valores,
crenças, tradi-
ções etc., que
são transmitidos
de geração a
geração por meio
de ensinamentos
e pela observa-
ção da ação dos
outros.

As pessoas que trabalham em uma fábrica, por exemplo, têm suas


atividades reguladas principalmente pelo tempo do relógio. Essa
fotografia retrata trabalhadoras de uma fábrica de produtos alimentícios,
em Vila Velha (ES), no ano de 2004.

Tempo histórico
O tempo cronológico, como vimos, pode ser marcado por instrumentos
de medição, por exemplo, o relógio e o calendário, pois sua contagem é
feita com unidades fixas de medida, como a hora, o dia ou o ano.
O tempo histórico, por sua vez, possui diferentes ritmos e durações, e
pode ser verificado principalmente por meio das permanências e transfor-
mações que ocorrem nas sociedades.

12
Transformações e permanências

capítulo 1
As pessoas e as sociedades se transformam no decorrer do tempo, po-
rém, muitas coisas permanecem semelhantes. As fotografias abaixo retratam
a avenida Rio Branco, no centro da cidade do Rio de Janeiro, em duas
épocas diferentes. Repare que, apesar das transformações, alguns elemen-

Estudar História é...


tos permaneceram de uma época para a outra.
Iconographia

Henrique Amaral/Mais Imagens

Avenida Rio Branco no início do século XX e no início do século XXI.

O tempo histórico e suas durações


Para facilitar o entendimento das transformações

Iconographia
e das permanências sociais, o historiador francês
Fernand Braudel propôs três diferentes durações do
tempo histórico: a curta, a média e a longa duração.
O tempo histórico de curta duração refere-se a
eventos breves, como uma greve de trabalhadores,
uma disputa esportiva ou a assinatura de uma lei.
O tempo histórico de média duração diz respeito
a eventos ou processos mais demorados, mas que
ainda assim podem ser percebidos no decorrer de
uma vida, por exemplo, uma crise econômica ou a
duração do reinado de um monarca, como o governo
do imperador D. Pedro II no Brasil, que durou 49 anos.
O tempo histórico de longa duração caracteriza
os processos históricos que duram longos períodos.
É o caso, por exemplo, da escravidão no Brasil, que
durou cerca de 350 anos.
É importante observar que os acontecimentos e
processos históricos, apesar de terem diferentes du-
rações, estão interligados e podem ser simultâneos.
Por isso, o historiador, ao analisá-los, precisa levar em
conta essas durações.
A greve é um exemplo de evento de curta
duração. Acima, panfleto convocando os operários
Simultâneos são eventos que ocorrem ao mesmo tempo. de São Paulo a aderir a uma greve, em 1919.

13
Calendários
Existem diferentes tipos de calendários.
O ano bissexto
O calendário gregoriano O ano bissexto é um ano mais longo, pois
O calendário é um instrumento utilizado para medir a tem um dia a mais que os anos comuns.
passagem do tempo e dividi-lo em dias, meses e anos. Seu objetivo é tornar o calendário mais
preciso, pois a Terra, na realidade, demora
Para se estabelecer um calendário, observa-se a mo- cerca de 365 dias e seis horas para dar
vimentação dos astros celestes e procura-se identificar uma volta completa em torno do Sol.
a correspondência entre essa movimentação e a dura- Como os anos comuns têm 365 dias, a
ção de um ciclo anual. cada ano acumula-se uma diferença de
O calendário adotado oficialmente em nosso país é seis horas. Ao fim de quatro anos, a
diferença acumulada é de 24 horas. Para
o gregoriano, introduzido em 1582 pelo então papa
corrigir essa diferença, a cada quatro
Gregório XIII. Esse calendário é solar, ou seja, um ano anos é inserido um dia a mais no mês de
corresponde a uma volta da Terra em torno do Sol. fevereiro, que passa a ter 29 dias. Esse
Nesse calendário, o ano possui 365 dias e, a cada ano, que tem 366 dias, é chamado de
quatro anos, ocorre um ano bissexto. ano bissexto.

a.C./d.C.
No calendário gregoriano, a contagem dos anos tem início na data de
nas­c imento de Jesus Cristo. Por isso, nos estudos históricos é comum
encontrarmos as siglas a.C. e d.C., que significam “antes de Cristo” e “de-
pois de Cristo”, respectivamente. Dessa forma, o ano contado a partir do
nascimento de Cristo é o ano 1, o segundo é o ano 2, e assim sucessiva-
mente, em ordem crescente. Os anos “depois de Cristo” podem ou não ser
acompanhados da sigla d.C.
Da mesma forma, o primeiro ano anterior ao nascimento de Cristo é o
ano 1 a.C., isto é, “antes de Cristo”, o segundo é o ano 2 a.C., e assim
sucessivamente, em ordem decrescente.

Outros calendários
Além do calendário gregoriano,

Biblioteca Nacional, Paris. (detalhe). Foto: Lauros/Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone


existem outros calendários, por exem-
plo, o islâmico e o chinês.
No calendário islâmico, a contagem
dos anos tem início com a Hégira , que
foi a fuga do profeta Maomé de Meca
para Medina, ocorrida no ano 622.
O calendário chinês divide o tempo
em ciclos de doze anos. Cada ano é
representado por um animal, como o
tigre, o cão ou o macaco. Após doze
anos, o ciclo se reinicia e os nomes
dos animais voltam a se repetir.

Calendário chinês do
final do século XIX.

14
Linha do tempo

capítulo 1
A linha do tempo é um instrumento importante
que permite a localização dos fatos históricos no tempo.

Estudar História é...


Os elementos que formam uma linha do tempo
Na linha do tempo a seguir, que apresenta a divisão dos períodos da
história ocidental, estão indicados os principais elementos que compõem
uma linha do tempo. Observe.

Eixo cronológico Descrição dos períodos


Indicado por uma linha com uma seta, Pequenos textos que descrevem as
o eixo cronológico indica o sentido principais características dos
linear da passagem do tempo. períodos representados.

1789 até os dias


1453 a 1789 de hoje
Idade Idade
Moderna Contemporânea
Período em que A Idade
4000 a.C. a 476 navegadores Contemporânea
Antiguidade europeus é marcada
Nesse período, 476 a 1453 empreenderam por rápidas
que se inicia com a Idade Média longas viagens transformações. Foi
invenção da escrita, A Idade Média oceânicas e nesse período que
formaram-se foi o período estabeleceram foram inventados,
importantes em que houve contato com por exemplo, o
civilizações, como a grande difusão do povos de rádio, o automóvel,
egípcia, a chinesa e cristianismo na diferentes partes a televisão e o
a romana. Europa. do mundo. computador.

4000 a.C. 3000 a.C. 2000 a.C. 1000 a.C. ano 1 1000 2000

476 1453 1789


Queda da cidade Constantinopla é Início da
de Roma, capital conquistada pelos Revolução
do Império turcos otomanos. Francesa.
Romano.

Barras de periodização Acontecimentos de curta duração


As barras de periodização são utilizadas Os fatos indicados por pontos na linha
para indicar a duração de cada um dos do tempo geralmente são de curta
períodos representados na linha do duração. Muitas vezes, esses fatos
tempo. marcam momentos de rupturas.

Outras linhas do tempo


A divisão entre os períodos Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contem-
porânea, que aparece nessa linha do tempo, é uma das mais utilizadas pelos historiado-
res ocidentais. Porém, essa periodização não é a única. Trata-se de uma convenção que
valoriza os acontecimentos do mundo ocidental, mais especificamente da Europa, e não
serve, por exemplo, para periodizar a história dos países orientais como o Japão, a
China e a Índia.

15
Explorando o tema
A Arqueologia
A Arqueologia é a ciência que estuda o modo de vida dos povos do passado por meio da
análise dos vestígios materiais por eles produzidos. Muito do que sabemos sobre a Antigui-
dade, por exemplo, se deve ao trabalho dos arqueólogos.
Esses profissionais são responsáveis pela escavação, catalogação, pesquisa e interpretação
dos vestígios arqueológicos. Esses vestígios são os mais variados, como vasos, talheres, joias
e armas.

O sítio arqueológico
O local onde são feitas as escavações é chamado de sítio arqueológico. O trabalho de
escavação não é simples e, antes mesmo de começá-lo, existem cuidados que devem ser
tomados. Uma escavação malfeita pode danificar os vestígios e prejudicar os resultados de
uma pesquisa arqueológica.

Fotografia atual que retrata arqueólogos trabalhando na escavação


de um sítio arqueológico. Repare que o trabalho desses
profissionais envolve o uso de ferramentas como pás, baldes,
carrinhos de mão e pincéis. Além disso, exige um detalhamento

Randy Olson/National Geographic/Getty Images


preciso do local onde os vestígios são encontrados.

O estrato arqueológico
Para determinar a datação e interpretar o significado dos vestígios, os arqueólogos levam
em consideração o estrato arqueológico onde esses vestígios foram encontrados. Os estratos
são as camadas identificáveis no solo. Nos estratos mais profundos são encontrados os ves-
tígios mais antigos e nos estratos mais superficiais, os mais recentes.
Os estratos do solo são formados ao longo de milhares de anos, principalmente devido à
ação da natureza, como a erosão, as chuvas, o vento, as atividades vulcânicas e os terremotos.
No entanto, as atividades humanas também influenciam na formação dos estratos do solo.
Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio da construção de edifícios, barragens e aterros.

16
capítulo 1
Veja, a seguir, um esquema que representa um sítio arqueológico e os estratos onde são
encontrados vestígios.

Estudar História é...


Art Capri
Nos estratos
mais próximos
da superfície são
encontrados
objetos mais
recentes.

Cacos de cerâmica
datados da Antiguidade
podem ser encontrados
em estratos
intermediários.

Utensílios produzidos por


povos muito antigos
geralmente são encontrados
em estratos mais profundos.

Os arqueólogos também podem se dedicar ao estudo dos comportamentos de consumo das


sociedades contemporâneas. Para isso, as técnicas científicas são as mesmas, mas o sítio
arqueológico pode ser um aterro sanitário, por exemplo.
Louie Psihoyos/Science Faction/Corbis/Latinstock

Nessa fotografia vemos o


arqueólogo William Rathje
realizando uma pesquisa
arqueológica no aterro
sanitário da cidade de Nova
Yorque, nos Estados Unidos.

17
História e outras áreas do conhecimento
Para realizar seu trabalho de construção do conhecimento histórico, os
historiadores precisam da ajuda de profissionais de outras áreas do conhecimento.

Diferentes profissionais
Muitas vezes, o historiador depende da ajuda de outros profissionais,
além dos arqueólogos, para compreender os processos históricos.
Conheça algumas características do trabalho de alguns desses profissionais.

O antropólogo
estuda o ser
humano em seus
aspectos físicos e
culturais, desde a
sua evolução
biológica até sua
formação cultural,
que incluem mitos,
costumes e
linguagem.
Iustrações: Art Capri

O filósofo estuda
as impressões dos
seres humanos
sobre o mundo. A
Filosofia auxilia na
compreensão das
ideias e dos anseios
das pessoas
de determinadas
épocas.

18
capítulo 1
Estudar História é...
O sociólogo
estuda as sociedades
humanas e as
relações que se
estabelecem entre os
indivíduos e os
diversos grupos
sociais, como a
família, a escola
e as associações
de profissionais.
Iustrações: Art Capri

O geógrafo estuda
as transformações
que ocorrem no
espaço terrestre,
tanto aquelas
causadas por
fenômenos naturais
quanto as que são
realizadas pelos
seres humanos.

19
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.

Exercícios de compreensão
1 O que é História? 9 A linha do tempo apresentada na página 15
serve para organizar os acontecimentos
2 Qual é a utilidade da História? da história de todos os povos do mundo?
3 Cite exemplos de fontes históricas. Por quê?
10 Que tipo de trabalho realiza o arqueólogo?
4 Por que, na construção do conhecimento
Qual sua importância para a construção
histórico, não é possível chegar a uma
do conhecimento histórico?
verdade única e absoluta?
11 O que é um sítio arqueológico?
5 Atualmente, quais pessoas são conside­ra­
das sujeitos da história? 12 Escreva algumas características do trabalho
dos seguintes profissionais.
6 Escreva, com suas palavras, o que você
entendeu por: tempo da natureza, tempo a ) Antropólogo.
cronológico e tempo histórico. b ) Filósofo.
7 Dê exemplos de acontecimentos de curta, c ) Sociólogo.
de média e de longa duração. d ) Geógrafo.
8 Explique para que servem cada um dos 13 Escreva um texto sobre o que você espera
elementos que compõem uma linha do aprender nas aulas de História durante
tempo. este ano letivo.

Expandindo o conteúdo
14 Leia o texto a seguir.

A História estuda fatos relativos aos [seres humanos] ao longo


do tempo. O desenvolvimento das sociedades, a transmissão do
conhecimento e da cultura, a construção e sucessão das civilizações
e os acontecimentos anteriores aos fatos atuais são temas históricos
que fazem parte da cultura da humanidade. [...]
O termo historía vem do grego e significa “conhecimento por
meio da indagação ou investigação”. Por isso, o historiador deve
ser crítico em relação aos fatos que estuda. É parte do ofício ob-
servar que as sociedades mudam com o tempo. [...]
Apesar de a História concentrar o seu estudo em um tempo e
lugar determinados, o historiador deve ter conhecimento geral que
proporcione a ele um contexto amplo. Por exemplo, antigamente
ensinava-se História do Brasil sem conexão com a História mun-
dial. Hoje, as duas são ensinadas simultaneamente. Tudo o que
permite reconstituir os acontecimentos e as formas de vida do pas-
sado é fonte histórica. As fontes materiais são monumentos,
vestígios arqueológicos, documentos etc. Já as fontes imateriais são
tradições, costumes, lendas e mitos.

20
capítulo 1
A História relaciona-se com diferentes ciências, de acordo com
seu objeto de estudo. As ciências humanas, como Sociologia e An-
tropologia, são as mais próximas da História. Mas outras ciências
também podem contribuir. A Biologia, por exemplo, pode auxiliar

Estudar História é...


quem estuda a história da medicina. A Arqueologia, a Epigrafia
(interpretação das inscrições), a Numismática (estudo das moe-
das) e a Papirologia (estudo dos papiros egípcios e greco-romanos)
ajudam pesquisadores de História Antiga. Já quem se dedica à His-
tória Medieval usará como ciências auxiliares a Heráldica (estudo
de brasões), a Diplomática (estudo de documentos) e a Paleografia
(leitura de escrituras antigas). [...]
Paula Americano. Quando crescer, vou ser... historiador!
Ciência hoje das crianças. Rio de Janeiro: SBPC, n. 118, out. 2001. p. 12-3.

a ) De acordo com o texto, quais temas históricos fazem parte da cultura da hu­m a­n idade?
b ) Qual a origem do termo historía? Qual é o significado desse termo?
c ) Como era ensinada a História do Brasil antigamente? E nos dias de hoje?
d ) O que é fonte histórica?
e ) Cite exemplos de fontes materiais. Cite também exemplos de fontes imateriais.
f ) Quais ciências podem contribuir com os estudos de História Antiga?

15 Observe a fonte histórica ao lado. Ela é uma

João José Rescala - Água, Ceará. c. 1943. Coleção Museu Nacional de Belas-Artes/IBRAM/MinC
pintura que representa alguns sertanejos do
Nordeste brasileiro na década de 1940.
a ) Que tipo de fonte é essa?
b ) Qual é o nome da obra?
c ) Quem a produziu?
d ) Quando ela foi produzida?
e ) Por meio da análise dessa fonte, o que
você consegue perceber sobre o cotidia-
no dos sertanejos nor­d estinos daquela
época?
f ) Você já ouviu falar de casos em que pes-
soas têm de enfrentar situações seme­
lhantes à que foi representada nessa
pintura? Em caso afir­m ativo, descreva
onde e quando isso ocorreu.

21
16 Na construção do conhecimento histórico, muitas vezes o historiador utiliza métodos com-
parativos de análise das fontes. Compare as duas fotografias a seguir.

A B
Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock

Ronnie Kaufman/Corbis/Latinstock
Homem tirando fotografia de Criança tirando fotografia de
um casal, em 1873. um casal, em 2004.

a ) Faça uma descrição da fonte A. Descreva também a fonte B.


b ) Quais as principais diferenças entre as câmeras fotográficas retratadas nessas duas
fontes?
c ) Leia as frases e reescreva no caderno aquela que você considera correta:
■■ “o formato e os materiais usados na fabricação das duas câmeras retratadas são os mes-
mos”;
■■ “apesar das diferenças entre as duas câmeras retratadas, o hábito de tirar fotografias
permaneceu de uma época para a outra”.

No Brasil

17 Os fenômenos cíclicos, isto é,


que se repetem periodicamen-
te, podem ser representados
em um “calendário circular”.
Muitos povos indígenas que Parâmetros Curriculares da Escola Indígena. Brasília: MEC/SECAD, 1998

habitam o Brasil utilizam, além


do calendário gregoriano, um
calendário de suas atividades
cíclicas anuais. Observe o ca-
lendário criado pelos povos
que vivem no Parque Indígena
do Xingu, no estado de Mato
Grosso.

Calendário criado pelos


povos que vivem no Xingu.

22
capítulo 1
a ) Quais atividades os povos indígenas do Xingu realizam no mês de ja­n eiro?

b ) E no mês de abril, quais atividades realizam?

c ) Com base na análise desse ca­lendário, dê outros exemplos da ação do tempo da na­tureza

Estudar História é...


nas ativi­d ades dos povos do Xingu.

d ) Produza em seu caderno um calendário semelhante ao dos povos do Xingu. Nesse ca-
lendário anote, por exemplo, os meses em que você frequenta a escola, os meses em
que tem férias, o mês do seu aniversário etc. Ilustre-o com desenhos que representem
suas atividades anuais. Depois, compare-o com o de um colega e verifiquem as seme-
lhanças e as diferenças entre as atividades realizadas por vocês.

18 Faça no caderno uma linha do tempo da sua vida e organize-a registrando nela os fatos que
você considera mais importantes. Depois, apresente-a aos colegas.

19 Você viu que todas as pessoas são sujeitos da história. Você também é um sujeito da histó-
ria, por isso, as ações que você pratica interferem no cotidiano e na história das pessoas
que convivem com você.
Escreva um pequeno texto explicando como suas ações interferem, por exemplo, no cotidiano
e na história de sua família, da escola, do bairro.

Trabalho em grupo
20 Entreviste uma pessoa (parente, vizinho, amigo) com mais de 50 anos. Pergunte como eram
os costumes na época da infância dela, por exemplo: como era a escola, as brincadeiras,
o vestuário. Anote as perguntas que foram feitas e as respostas que foram dadas. Se
possível, produza ilustrações para representar os acontecimentos narrados pela pessoa
entrevistada.
Depois, escreva um texto sobre o que foi possível descobrir por meio da entrevista realizada.
Aponte também as semelhanças e as diferenças entre a época passada e o tempo presen-
te. Mostre esse texto aos colegas e conte como foi a experiência de entrevistar uma pessoa
mais velha.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo

Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ Estudar as ações humanas em outras épocas e lugares nos auxilia a compreender o
mundo em que vivemos.
■■ Fonte histórica é tudo o que nos fornece informações sobre o passado.
■■ Todas as pessoas podem ser consideradas sujeitos históricos, pois participam e influen-
ciam o processo histórico de diferentes formas.
■■ O historiador conta com o auxílio de profissionais de outras áreas do conhecimento
para realizar o trabalho de construção do conhecimento histórico.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi-
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

23
2
capítulo

A origem do ser humano


Christian Jegou Publiphoto Diffusion/SPL/Latinstock

A Essa ilustração Veja nas Orientações


para o professor
representa um grupo alguns comentários e
de hominídeos que explicações sobre os
viveu há cerca de dois recursos apresentados
no capítulo.
milhões de anos, no
período Paleolítico.

B Ferramentas
de pedra
Maurice Nimmo/Frank

produzidas por
Lane Picture Agency/
Corbis/Latinstock

seres humanos
há milhares de
anos.

24
Peter Jackson - Pinturas rupestres. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular. Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
C Ilustração produzida
na atualidade,
representando
seres humanos que
viveram milhares de
anos atrás pintando
a parede de uma
caverna.

Conversando sobre o assunto


Neste capítulo você fará uma viagem pela história do desenvolvimento
das características fundamentais dos seres humanos. Aproveite a seção
Conversando sobre
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os o assunto para ativar
o conhecimento
colegas sobre as questões a seguir. prévio dos alunos e
■ ■ Nas fontes A, B e C podemos observar alguns instrumentos de pedra. estimular seu
interesse pelos
Cite algumas formas de utilização desses instrumentos pelos nossos assuntos que serão
ancestrais. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
■■ Compare os hominídeos representados na fonte A com os seres huma- mediação do diálogo
nos representados na fonte C. Quais são as principais diferenças entre entre os alunos de
maneira que todos
eles? E as semelhanças? participem
■ ■ O que você sabe sobre o modo de vida dos primeiros seres humanos?
expressando suas
opiniões e
respeitando as dos
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo. colegas.

25
O planeta Terra
Há cerca de 3,5 bilhões de anos, surgiram as primeiras formas de vida.

A formação do planeta
O planeta Terra se formou há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, a par-
tir da matéria (poeira e gases) liberada durante a formação do Sol (e do próprio
sistema solar). Para obter esses dados, os cientistas buscaram informações
em rochas que existem na Terra, nas rochas lunares e na constituição dos
corpos que, ao longo do tempo, se chocaram com a Terra, como os meteoritos.

1 2 3

26
26
A origem do universo

capítulo 2
Ainda não temos uma explicação definitiva sobre a origem
do Universo. No entanto, existem teorias científicas consis-
tentes e que já possuem comprovação em muitos de seus
aspectos. Atualmente, a mais aceita pelos cientistas é a
Teoria da Grande Explosão, ou Big Bang. De acordo com

A origem do ser humano


ela, há cerca de 14 bilhões de anos toda a matéria do

Laguna Design/SPL/Latinstock
Universo estava concentrada em um único ponto. Após uma
gigantesca explosão, o Universo começou a se expandir,
dando origem ao tempo, ao espaço e às galáxias.

Representação artística do Big Bang.

Art Capri
1 Na época em que foi formada, a Terra era
extremamente quente, uma massa em
ebulição, constantemente atingida por
meteoros e cometas. Aos poucos, o planeta
foi esfriando, e uma camada rochosa foi se
formando em sua superfície.

2 Durante seu resfriamento, há cerca de


4 4,3 bilhões de anos, a Terra liberou uma
grande quantidade de gases e vapor de
água, que formaram a atmosfera e o
oceano primitivos.

3 Nos oceanos, há cerca de 3,5 bilhões


de anos, surgiram as primeiras formas
de vida: as bactérias e as algas. Esses
microrganismos evoluíram e deram
origem a outros seres vivos, como
medusas, trilobitas e estrelas-do-mar,
aproximadamente 550 milhões de
anos atrás.

5 4 Algumas plantas marítimas adaptaram-se


à vida fora da água e se tornaram, há
400 milhões de anos, as primeiras plantas
terrestres. Por volta de 350 milhões de
anos atrás, surgiram animais anfíbios.

5 Por volta de 200 milhões de anos atrás, a


Terra foi povoada por grandes répteis
chamados dinossauros.

6 Há cerca de 70 milhões de anos, surgiram


os primeiros mamíferos. Eles se adaptaram
aos mais diversos ambientes e deram
origem a muitas espécies de animais, entre
eles os primatas.

Anfíbio que sobrevive tanto na


água quanto na terra.
Atmosfera camada de ar que
6 envolve a terra.
Microrganismo organismo muito
pequeno, que só pode ser visuali-
zado por meio de microscópio.

27
A evolução dos seres humanos
O processo de hominização ocorreu no continente africano,
por isso a África é chamada de “berço da humanidade”.

África: o berço da humanidade


A origem do ser humano pode ser explicada pela teoria evolucionis­

Bassam Hammoudeh/SuperStock/Alamy/Other Images


ta, criada pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), em mea-
dos do século XIX, e aperfeiçoada por outros cientistas.
De acordo com essa teoria, os seres humanos são primatas, porém
eles evoluíram de modo diverso, desenvolvendo certas características
que os diferenciaram dos outros primatas.
O grupo dos primatas é formado por animais como micos, gorilas
e chimpanzés. Os primatas possuem unhas nos dedos das mãos e
dos pés, e quatro dentes incisivos superiores e quatro inferiores.
Além disso, muitos primatas possuem os polegares opositores, que
permitem a realização do movimento de pinça.

Gorila segurando uma flor. Essa ação só é possível porque


esse primata é capaz de realizar o movimento de pinça.

Entre as características que diferenciam os seres humanos dos outros pri-


matas estão: a forma ereta de andar, sobre duas pernas, e o desenvolvimento
de cérebros maiores, capazes de elaborar pensamentos mais complexos.

Photodisc/Getty Images

Grande parte da
O criacionismo evolução humana
ocorreu nas savanas
Além da teoria evolucionista, a mais aceita pelos cientistas, existem outras explicações
africanas. Essa
para a origem do ser humano, como as de cunho religioso. Uma das mais conhecidas
fotografia retrata a
dessas explicações é aquela que se encontra na Bíblia . De acordo com a versão bíblica,
paisagem atual de
defendida pelos chamados criacionistas, Deus criou o Universo e todos os seres vivos
em apenas seis dias, descansando no sétimo.
uma savana africana
localizada no Quênia.

28
A hominização

capítulo 2
O desenvolvimento de características típicas do ser humano, isto é, a cm 3 centímetro
hominização, proporcionou aos nossos ancestrais uma grande capacidade cúbico. Unidade
de adaptação aos mais diferentes ambientes. de medida de
volume que

A origem do ser humano


Veja, a seguir, algumas características dos principais hominídeos consi- corresponde a
derados ancestrais dos seres humanos. um cubo com
um centímetro
de lado.
Os Australopitecos surgiram na África entre 5 milhões e 1 milhão de
anos atrás. Mediam aproximadamente 1,20 metro de altura e pesavam
cerca de 30 quilogramas. O tamanho do cérebro era de cerca de
450 cm3. Os Australopitecos se locomoviam de forma ereta, mas
guardavam traços de seus ancestrais, principalmente nas proporções
dos braços e das pernas, o que permitia uma grande habilidade de subir
nas árvores. Habitavam as regiões mais arborizadas, alimentando-se
principalmente de vegetais, frutos e raízes.

Os Homo habilis viveram aproximadamente de 2,3 milhões a


1,6 milhão de anos atrás. Seu tamanho era de cerca de 1,25 metro de
altura e pesava aproximadamente 50 quilogramas. O cérebro
media cerca de 800 cm3. A denominação Homo habilis se deve ao fato
de que esses hominídeos eram capazes de fabricar suas próprias
ferramentas, utilizando-se principalmente de pedras lascadas.
Alimentavam-se de vegetais e também de carne, principalmente as
sobras de animais abatidos por grandes predadores. Viviam nas regiões
de clima mais ameno do continente africano.

Os Homo erectus viveram entre 1,8 milhão e 200 mil anos atrás.
Tinham aproximadamente 1,75 metro de altura e pesavam
70 quilogramas. O cérebro media cerca de 950 cm3. Desenvolveram
técnicas eficientes de caça, incluindo a de grandes animais, e
melhoraram a qualidade dos artefatos de pedra que produziam.
Estudiosos acreditam que foi o Homo erectus que aprendeu a
dominar o fogo, há cerca de 250 mil anos.

Os Homo neandertalensis viveram entre 300 mil e 29 mil anos


atrás. Com uma altura aproximada de 1,60 metro, peso de até
70 quilogramas e cérebro de 1400 cm3, eram robustos e
acostumados aos climas frios da Europa e da Ásia. Bons caçadores,
a carne era a base de sua alimentação. Eles foram os primeiros
hominídeos a enterrar seus mortos.
Ilustrações: Art Capri

Os Homo sapiens correspondem aos seres humanos modernos e,


assim como seus antepassados, tiveram origem na África. Estudiosos
acreditam que os primeiros Homo sapiens modernos (também
chamados de Homo sapiens sapiens) surgiram há aproximadamente
200 mil anos. A partir de 100 mil anos atrás, começaram a migrar
para outros continentes. Eles se espalharam pelo mundo e se
adaptaram aos mais diversos ambientes. O cérebro do Homo sapiens
mede aproximadamente 1400 cm3. Atualmente, existe uma grande
variação no peso e na altura dos seres humanos.

29
O Paleolítico e o Neolítico
Os seres humanos passaram por grandes transformações
físicas e culturais durante os períodos Paleolítico e Neolítico.

O desenvolvimento dos seres humanos


Conheça, na linha do tempo abaixo, algumas características dos períodos
Paleolítico e Neolítico.
12 mil anos a 5,5 mil anos atrás
Neolítico
2,5 milhões a 12 mil anos atrás
No período Neolítico (“pedra nova” ou “pedra polida”) os
Paleolítico seres humanos desenvolveram a agricultura e a criação
O período Paleolítico (“pedra antiga” ou “pedra de animais e passaram, assim, a produzir seus próprios
lascada”) teve início com o desenvolvimento dos alimentos. Esse novo meio de sobrevivência permitiu
primeiros hominídeos e se estendeu até cerca que eles se fixassem em um lugar, deixando de ser
de 12 mil anos atrás. Esse período compreende nômades. As ferramentas desse período, como enxadas,
a evolução dos hominídeos que deram origem foices e machados, eram mais elaboradas e feitas de
ao Homo sapiens, na África. Devido à longa pedra polida. Foi no período Neolítico que se formaram
extensão desse período, há uma grande variação as primeiras aldeias e que teve início a produção da
no modo de vida dos povos que nele viveram. cerâmica e, posteriormente, de objetos metálicos.

2 500 000 2 250 000 2 000 000 1 750 000 1 500 000 1 250 000 1 000 000 750 000 500 000 250 000

2 500 000 anos atrás 250 000 anos atrás


Aparecimento do gênero Seres humanos apren­d em a
Homo (Homo habilis). Uso de produzir o fogo.
utensílios de pedra lascada.

200 000 anos atrás


1 800 000 anos atrás Os primeiros Homo sapiens
Surgimento do Homo erectus. se desenvolvem na África.

1 750 000 anos atrás 100 000 anos atrás


Primeiras emigrações Humanos anatomicamente
de Homo erectus para modernos deixam o
outros continentes. Uso de continente africano.
ferramentas mais elaboradas.

50 000 anos atrás


A grande parte do pla­neta já
está povoada pelo ser humano.

12 000 anos atrás 5 500 anos atrás


Agricultura e domesticação Invenção da escrita.
de animais. Formação das
primeiras aldeias.
Início da produção de cerâmica.
Nômade aquele
que não tem
O Mesolítico habitação fixa e
No período Mesolítico, ocorreu a transição entre o Paleolítico e o Neolítico. Nesse se desloca
período, que teve duração variada em diferentes regiões do planeta, nossos ancestrais constantemente
foram, aos poucos, tornando-se mais sedentários, porém não abandonaram totalmente em busca de
a vida nômade. alimentos.

30
A vida no Paleolítico

capítulo 2
No período Paleolítico, o Homo sapiens levava uma vida nômade, e sobrevivia
praticando a caça e a coleta.

A origem do ser humano


O desenvolvimento de conhecimentos
O período Paleolítico foi muito extenso e compreendeu grande parte do A produção
processo de hominização. Durante esse período, nossos ancestrais evo- do fogo
luíram, desenvolveram conhecimentos, criaram técnicas e fabricaram novos Conheça uma das
instrumentos de uso cotidiano. técnicas utilizadas
pelos povos
O domínio do fogo, por exemplo, foi muito importante para os nossos primitivos para
ancestrais. O fogo permitiu que cozinhassem seus alimentos, espantassem produzir fogo.
os predadores e se mantivessem aquecidos mesmo em regiões frias.
A aquisição de novos conhecimentos, técnicas e ferramentas contribuiu
para o desenvolvimento cultural de nossos ancestrais.

Da África para outros continentes Com as duas


mãos, eles
O desenvolvimento cultural dos nossos ancestrais africanos tornou pos- giravam uma
sível sua emigração para outros continentes. Há cerca de 50 mil anos, eles vareta, pressio-
já haviam povoado quase todas as regiões do planeta. nando-a contra
outro pedaço de
Os primeiros Homo sapiens eram caçadores e coletores que levavam uma
madeira.
vida nômade. A maior parte de sua alimentação provinha da caça, da pes-
ca e da coleta de frutos, folhas e raízes. Por isso, estavam sempre se des-
locando em busca de regiões onde houvesse fartura de recursos naturais.
Como eram nômades, eles habitavam provisoriamente cavernas ou cons-
truíam moradias com galhos, ossos e peles de animais.
Quando a madei-
ra ficava muito
A dispersão do Homo sapiens quente, eles
colocavam um
E. Cavalcante

N
pouco de palha
O L
ÁSIA para queimar.
EUROPA S

Acrescentavam
pequenos grave-
tos e, depois,
pedaços maiores
de madeira até
OCEANO formar uma
fogueira.
Ilustrações: Paula Diazzi
PACÍFICO

ÁFRICA
Equador

OCEANO ÍNDICO
OCEANO
ATLÂNTICO

OCEANIA

0 1 400 2 800 km

75° L

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

31
A especialização do trabalho no Paleolítico
No período Paleolítico, prevaleceu uma divisão sexual do trabalho: as
O surgimento
mulheres eram encarregadas da coleta de frutos, folhas e raízes e do cui-
de crenças
dado com as crianças. Os homens eram encarregados da caça e da pro-
No período
cura de animais mortos para alimentar os membros do grupo.
Paleolítico
Além da divisão sexual do trabalho, alguns estudiosos acreditam que no surgiram as
período Paleolítico já havia também uma certa especialização na realização primeiras crenças
das tarefas cotidianas. Essa hipótese é reforçada pela grande variedade de em forças sobre-
instrumentos e objetos encontrados em sítios arqueológicos desse período. naturais. Essas
crenças se
Em alguns sítios arqueológicos foram encontrados anzóis, arpões, agulhas manifestavam
para costura e vários outros instrumentos tão elaborados que só po­d eriam principalmente
ter sido feitos por trabalhadores especializados. nos rituais, por
exemplo, nas ceri-
mônias fúnebres:

Coleção particular. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock


quando morria
uma pessoa, os
outros membros
do grupo prepara-
vam uma cova
Objetos feitos de osso, enfeitada com
datados de cerca de flores e enterra-
15 mil anos atrás, vam cuidadosa-
mente o morto,
encontrados na região de
com seus objetos
La Madeleine, na França.
pessoais mais
importantes.

Artistas especializados
Rupestre termo
A arte é um outro exemplo de que havia especialização do trabalho no que se refere a
perío­d o Paleolítico. De acordo com alguns estudiosos, a arte produzida no rocha, geralmente
Paleolítico é tão aprimorada que só poderia ter sido produzida por artistas usado para
especializados, que não precisavam realizar outras atividades e podiam designar pinturas,
dedicar grande parte de seu tempo à realização dessas pinturas. gravuras ou
desenhos feitos
As pinturas geralmente eram feitas no interior de cavernas e representa- em superfícies
vam principalmente animais e seres humanos. rochosas.

Corel Stock Photo

Pintura rupestre encontrada


na parede da caverna Font
de Gaume, localizada no
sudoeste da França. Essa
pintura foi feita por volta
de 13 mil a.C.

32
Enquanto isso... no continente americano

capítulo 2
No final do período Paleolítico, o continente americano já era habitado por diversos povos,
chamados de paleoíndios. Esses povos, de modo geral, eram caçadores e coletores que sobre-
viviam praticando a caça, a pesca e a coleta de frutos e raízes.

A origem do ser humano


Na região Norte do continente, os grupos de paleoíndios eram experientes na fabricação de
ferramentas de pedra, e suas pontas de lança eram talhadas com grande habilidade. Eles eram
especializados na caça de grandes animais, como os mamutes.
A América do Sul também era povoada nessa época. A região de Lagoa Santa, no atual
estado de Minas Gerais, por exemplo, era habitada por paleoíndios.
O texto a seguir descreve como eles viviam.
[...] Viviam em bandos reunidos em torno de um
líder. Dominavam o fogo e tinham técnicas rudi-
mentares de construção de utensílios de pedra
O mamute, grande lascada, como pontas de lanças e lâminas de quartzo
animal já extinto, capazes de cortar couro e carne. É possível que fa-
era semelhante bricassem cestas trançando fibras ou tiras de couro.
ao elefante,
porém com Ao contrário do que normalmente se imagina, os
porte muito paleoíndios não moravam em cavernas, e sim em lo-
maior. cais abertos onde havia água corrente disponível
[...]. Nesses locais, a vegetação farta e a presença de
animais silvestres garantia uma alimentação balan-
ceada entre vegetais e carne de caça. As cavernas
eram usadas como abrigos pelos caçadores e, prova-
Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

velmente, para a realização de rituais religiosos e


fúnebres. Embora fossem nômades, cada grupo
movia-se dentro de um território próprio, que co-
nheciam detalhadamente — o que facilitava a busca
de alimentos. Em situações especiais, os grupos de
uma mesma região se reuniam para caçadas conjun-
tas, para a celebração de cerimônias religiosas e para
fazer acordos de acasalamento.
A arqueologia também nos mostrou, mais re-
centemente, que os [habitantes] do Brasil paleolítico
tinham respeito por seus mortos, depositando-os
em abrigos de pedra — o que garantiu sua conserva-
ção ao longo dos milênios. [...]
Vinicius Romani. O Brasil de Luzia. Os caminhos da Terra.
São Paulo: Peixes, ano 12, n. 151, nov. 2004. p. 48.

O sujeito na história Luzia


Graças ao trabalho de pesquisadores brasileiros e ingleses, uma pa-
leoíndia que viveu na região de Lagoa Santa teve seu rosto revelado.
Seu esqueleto foi estudado pela equipe do pesquisador brasileiro Wal-
ter Neves, que estabeleceu a data em que ela viveu — cerca de 12 mil
Museu Nacional, Rio de Janeiro. Foto:
Antonio Scorza/AFP/Getty Images

anos atrás — e batizou-lhe com o nome de Luzia.


Em 1999, pesquisadores ingleses estudaram o crânio, fizeram uma
reconstituição facial de Luzia e concluíram que ela tinha formas mais
semelhantes às dos nativos australianos e africanos do que às dos
atuais indígenas do Brasil. Os estudos sobre Luzia estão ajudando os
pesquisadores a compreender como ocorreu o povoamento da América.

33
História em construção O povoamento da América

Existe consenso entre os estudiosos de que o continente americano foi povoado depois
da África, Europa, Ásia e Oceania, ou seja, de que na América o homem não se desenvolveu
a partir de outros hominídeos, tal como ocorreu na África. No entanto, esses estudiosos não
chegaram a um acordo sobre algumas questões: quando teriam chegado os primeiros po-
voadores da América, de onde vieram e quais teriam sido os caminhos por eles percorridos?
Observe o mapa a seguir.

Hipóteses de povoamento da América

E. Cavalcante
N

O L

AMÉRICA
DO NORTE

ÁSIA
EUROPA

OCEANO
ATLÂNTICO

ÁFRICA OCEANO
PACÍFICO
Equador

Meridiano de Greenwich

AMÉRICA
OCEANO DO SUL
ÍNDICO

OCEANIA

Limite litorâneo há 12 mil anos 0 2 200 km


Fonte: PARFIT, Michael. O enigma dos primeiros americanos. National Geographic. São Paulo: Abril, ano 1, n. 8, nov. 2000.

Hipótese da Rota de Bering: os primeiros habitantes da América teriam saído da Ásia, passando pelo estreito de Bering.
Acredita-se que durante a última Era Glacial, uma ponte de gelo teria se formado no estreito, tornando possível a passagem
da Ásia para a América.
Hipótese da Rota Costeira: os primeiros habitantes da América teriam saído da Ásia em pequenas embarcações e, nave-
gando próximo à costa, teriam chegado ao continente americano.
Hipótese da Rota Transpacífica: saídos também da Ásia, os primeiros povoadores da América teriam migrado para a
Oceania. Utilizando pequenas embarcações e navegando de ilha em ilha, eles teriam atravessado o oceano Pacífico, che-
gando à América do Sul.
Hipótese da Migração Atlântica: os primeiros povoadores teriam saído da Europa e, utilizando embarcações feitas de
couro, teriam navegado pelo oceano Atlântico até chegar ao norte da América.

De acordo com as principais hipóteses sobre o povoamento do continente americano, o


ser humano teria chegado à América no máximo há 12 mil anos. Essas hipóteses se baseiam
no fato de que alguns dos mais antigos vestígios arqueológicos, encontrados na América
do Norte, datam dessa época. No entanto, em outras regiões do continente foram desco-
bertas pedras lascadas, restos de fogueira e pinturas rupestres com datações bem mais
antigas.

34
Há pelo menos 50 mil anos

capítulo 2
Um dos sítios arqueológicos mais importantes para o estudo do povoa­m ento da América
é o Boqueirão da Pedra Furada, localizado no município de São Raimundo Nonato, no Piauí.
Nesse lugar foram encontrados vestígios da presença humana com mais de 50 mil anos de ida-

A origem do ser humano


de. Niéde Guidon, arqueóloga brasileira estudiosa desses vestígios, defende a hipótese de
que vários grupos humanos chegaram à América em diferentes épocas, percorrendo diversos
caminhos. De acordo com ela, os primeiros grupos humanos aqui chegaram há pelo menos
50 mil anos.
Manoel Novaes

O Boqueirão da
Pedra Furada fica no
Parque Nacional
Serra da Capivara,
onde já foram
identificados mais
de 700 sítios
arqueológicos.
Muitos deles
apresentam pinturas
e gravuras, e
também artefatos
humanos paleolíticos.
Essa fotografia
retrata uma pintura
rupestre feita em
uma rocha localizada
no Parque Nacional
Serra da Capivara.

Leia o texto a seguir, em que Niéde Guidon explica sua teoria.

[...] Não propomos um modelo de navegadores partindo, tal Colombo, à procura de


Beríngia
novas terras, mas nada impede de pensar na existência de pequenas embarcações para planície de terra
navegação costeira que poderiam, por causas naturais como tufões ou tempestades, se firme e gelo entre
desgarrar e ir dar a uma ilha. O grupo povoaria a ilha e aí viveria durante séculos ou milê- a Sibéria e o
Alasca, durante a
nios até que um novo acidente os levasse um pouco mais adiante. Poderíamos imaginar
última Era Glacial.
grupos dissidentes que migrariam ou também movimentos messiânicos. A gama de mo-
Terra do Fogo
delos permitida pela capacidade do cérebro do Homo sapiens é tal que é frustrante região no extremo
continuarmos fechados dentro da solução única de um bando correndo atrás da caça atra- sul da América do
vés de toda a Beríngia e do Alasca à Terra do Fogo. Sul.

Niéde Guidon. As ocupações pré-históricas do Brasil (excetuando a Amazônia). Manuela Carneiro da Cunha (Org.). História dos índios no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1992. p. 38.

A história do povoamento da América está em plena construção, e o território brasileiro é


considerado por muitos pesquisadores como uma das regiões mais propícias a novas des-
cobertas que possam nos ajudar a compreender como o ser humano ocupou o continente
americano.

35
O período Neolítico
Uma grande mudança marcou o fim do período Paleolítico e o início do
Neolítico: o desenvolvimento da agricultura e da pecuária.

O início da agricultura
Há cerca de 12 mil anos, alguns grupos humanos começaram a cultivar
plantas comestíveis e a criar animais. Embora à primeira vista isso possa
parecer algo sem grande importância, na verdade o desenvolvimento da
agricultura e da pecuária causou uma grande transformação no modo de
vida desses grupos, mudando o curso da história da humanidade.
Tudo começou quando alguns seres humanos perceberam que as semen-
tes que caíam no chão davam origem a novas plantas. Eles começaram,
então, a enterrar as sementes e constataram que, tempos depois, essas
plantas produziam uma quantidade maior de grãos.

A criação de animais

Art Capri
Na mesma época em que começaram a ser
cultivadas as primeiras lavouras, começou também
a domesticação de animais. O cachorro foi pro-
vavelmente o primeiro animal a ser domesticado
pelo ser humano. Pouco depois, animais como
carneiros, cabritos e bois também passaram a ser
domesticados.

A domesticação do cachorro foi muito importante para as


sociedades humanas do Neolítico. Os cachorros ajudavam a
cuidar dos grupos humanos com os quais viviam, dando o alerta
da chegada de animais ferozes ou de grupos inimigos. Além disso,
os cães auxiliavam os pastores que cuidavam dos rebanhos.

A formação de aldeias
A agricultura combinada com a pecuária teve grande impacto sobre o modo
de vida das populações primitivas. A agricultura fornecia cereais, que consti- As mulheres e
tuíam a base da alimentação, e a criação de animais fornecia carne e leite, e a agricultura
também lã e couro para a confecção de vestimentas. Além disso, a força ani- Enquanto os
homens caça-
mal podia ser usada para facilitar a realização de várias tarefas, principalmen-
vam, as mulheres
te a de arar a terra para plantar. permaneciam nos
Como resultado, houve um grande aumento na oferta de alimentos, com a arredores do
produção de excedentes que podiam ser armazenados. Isso propiciou o au- acampamento,
praticando a
mento da população, que passou a se fixar nos vales férteis dos rios, forman- coleta e cuidando
do as primeiras aldeias. Assim, o ser humano foi deixando a vida nômade e, das crianças. Por
aos poucos, foi se tornando sedentário. isso, foram elas
que puderam
A Idade dos Metais observar a
germinação das
No final do período Neolítico, há cerca de seis mil anos, os seres humanos sementes e
desenvolveram as primeiras técnicas de fundição. Utilizando o cobre e o estanho, praticar os primei-
metais extraídos do solo com certa facilidade, eles conseguiram produzir o bron- ros plantios.
ze, uma liga metálica muito resistente. Com o bronze, nossos ancestrais pude-
ram construir instrumentos mais eficazes para a caça, para o cultivo agrícola e
para outras atividades cotidianas.

36
O desenvolvimento de instituições

capítulo 2
Com a sedentarização e o novo tipo de convivência social em aldeias,
começaram a surgir as primeiras instituições. As instituições são estruturas
sociais que servem para organizar a vida de um determinado povo. Geral-
mente, as instituições estão baseadas nos costumes e tradições desse

A origem do ser humano


povo e estabelecem regras de comportamento e de convivência.
Veja, a seguir, algumas das principais instituições que começaram a ser
desenvolvidas pelo ser humano no período Neolítico.

A família
Uma das mais antigas instituições humanas é a família [...]
[que] sempre representou uma unidade mais ou menos per-
manente, composta dos pais e de sua prole, e que atende aos
fins de proteção dos [...] [filhos], divisão do trabalho, aquisi-
ção e transmissão de propriedade, conservação e transmissão
de crenças e costumes [...].

A religião
Uma segunda instituição, conhecida anteriormente, mas
desenvolvida em forma mais complexa pelo homem do Neolí-
tico, foi a religião. [...] A religião é, em toda parte, a expressão,
sob uma forma ou outra, de um sentimento de dependência
em face de um poder exterior a nós mesmos [...]. As popula-
ções primitivas dependiam universalmente da natureza — da
sucessão regular das estações, da queda de chuvas nas ocasiões
apropriadas, do crescimento das plantas e da reprodução de
animais. De acordo com essa ideia, esses fenômenos naturais
não ocorriam a menos que o homem cumprisse certos sacrifí-
cios e ritos. [...]

O Estado
Ainda outra das grandes instituições desenvolvidas pelo ho-
mem do Neolítico foi o Estado. [...] Uma sociedade organizada
que ocupa um território específico e que possui um governo efe-
tivo, independente do controle externo. [...]
A principal explicação para o surgimento dos Estados [...] re-
side no desenvolvimento da agricultura. [...] Em certas áreas onde
não havia agricultura estabilizada, é evidente que os Estados sur-
Ilustrações: Art Capri

giram como consequência de atividades militares, isto é, foram


fundados para fins de conquista, para defesa contra invasão ou
para tornar possível a expulsão de um invasor. [...]

Edward McNall Burns e outros. História da civilização ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais.
40. ed. Trad. Donaldson M. Garshagen. São Paulo: Globo, 2000. p. 12-3.

37
O cotidiano no período Neolítico
Com a sedentarização e a formação das primeiras aldeias, houve uma grande
mudança no modo de vida dos seres humanos.

Uma aldeia neolítica


As pessoas que viviam nas aldeias do período Neolítico se dedicavam
principalmente às atividades da agricultura e da pecuária. Mas, como a
produção de alimentos era maior do que o consumo, nem todos precisa-
vam realizar essas atividades. Por isso, havia muitos trabalhadores espe-
cializados, como ceramistas, metalúrgicos e artistas.

Uma aldeia neolítica ficava estabelecida


próxima a uma fonte de água, geralmente
um rio. A água era utilizada para o Os cereais eram os principais
consumo das pessoas e dos animais e, alimentos cultivados. Os grãos
também, na irrigação das lavouras. eram moídos em pilões de pedra
e, com a farinha, eram produzidos
diversos tipos de alimentos.
Uma das inovações do Neolítico foi
a invenção do tecido. Os tecelões
utilizavam a lã dos carneiros para
produzir tecidos, que serviam para
confeccionar roupas.

Os cães eram muito úteis. Eles ajudavam


Art Capri

a pastorear os rebanhos e, também,


davam o alerta quando se aproximavam
estranhos e animais selvagens.

Outra inovação importante do Neolítico foi a cerâmica.


Artesãos especializados produziam vasos cerâmicos, que
eram fundamentais para armazenar os cereais.

38
Por que

capítulo 2
Pré-história?
O termo Pré-história foi criado por
pensadores do século XIX, para se referir
ao período da história anterior ao desen-

A origem do ser humano


volvimento da escrita. Muitos historiadores
consideram esse termo inadequado, pois
já existia história antes da invenção da
escrita. Foram povos “pré-históricos”, por
exemplo, que desenvolveram a agricultura
e formaram as primeiras cidades. A riqueza produzida em uma aldeia
despertava a cobiça, principalmente, de
grupos nômades. Para proteger a aldeia
contra ataques, alguns homens armados
ficavam encarregados da segurança.

As habitações neolíticas eram construídas


com materiais variados, dependendo das
matérias-primas disponíveis na região. Os No período Neolítico, começaram a ser
materiais mais utilizados eram pedra, produzidos os primeiros instrumentos
madeira, barro e palha. de metal. O cobre foi o primeiro metal
a ser trabalhado. A metalurgia tornou
possível a produção de armas e
ferramentas mais resistentes.

Essa ilustração é uma representação artística


feita com base em estudos históricos.

39
Explorando o tema
Das primeiras fogueiras à queima indiscriminada de combustíveis fósseis
Como vimos neste capítulo, o domínio do fogo teve papel fundamental no desenvolvimen-
to biológico e cultural de nossos ancestrais. A utilização do fogo nas atividades cotidianas
alterou o ritmo de vida dos seres humanos, causando grandes transformações.
Além de possibilitar a ocupação humana em regiões de clima frio, o domínio do fogo favo-
receu a produção de utensílios de cerâmica, como potes e vasos, utilizados para armazenar
água e alimentos.
Posteriormente, o uso do fogo tornou
Ilustração de Alphonse de Neuville, gravura de Charles Laplante - Ferraria primitiva
na Africa. 1866. Xilogravura. Coleção particular. Foto: Akg-Images/Latinstock

possível o desenvolvimento de técnicas de


fundição de metais, entre eles o ferro. Com
isso, os seres humanos passaram a pro-
duzir ferramentas e armas mais resisten-
tes, como martelos, facas e espadas.

O domínio do fogo possibilitou aos seres humanos a


produção de utensílios de metal. Essa imagem
representa dois ferreiros africanos fabricando um
utensílio de metal. (Gravura do século XIX.)

O carvão mineral como combustível


Durante milênios, o principal combustível
E. Zimmer - Martelo a vapor. c. 1890. Xilogravura.
Coleção particular. Foto: Album/Akg-Images/Latinstock

utilizado para produzir o fogo foi a madeira.


Em meados do século XVIII, no entanto, um
novo combustível começou a ser utilizado
em larga escala: o carvão mineral, utilizado
como fonte de energia nas máquinas a
vapor.

Martelo a vapor do século XIX.


Gravura produzida por volta de 1890.

O petróleo
A partir do final do século XIX, outro combustível fóssil começou a ser usado na indústria e
nos transportes: o petróleo. Nessa época, ocorreu um salto na produção e no consumo deste
combustível, devido, principalmente, ao crescimento da economia mundial e à descoberta de
grandes reservas petrolíferas.
A partir de meados do século XX, no entanto, a queima destes combustíveis fósseis atingiu
níveis perigosamente altos. Esse aumento está causando problemas ambientais muito graves,
principalmente a poluição das águas e do ar. Além disso, de acordo com muitos estudiosos, a
queima em grande escala do carvão mineral e do petróleo é a principal causa do efeito estufa.

40
capítulo 2
O efeito estufa e o aquecimento global
O efeito estufa é um fenômeno causado pelo acúmulo de

A origem do ser humano


gases na atmosfera terrestre, como o CO 2 (dióxido de car-
bono), formando uma espécie de estufa, que permite a
entrada da luz do Sol, mas impede que o calor gerado na
superfície terrestre seja irradiado para o espaço, provocan-
do o aumento da temperatura atmosférica do planeta.
De acordo com muitos estudiosos, esse aquecimento
está ocasionando uma série de alterações no meio ambien-
te, como o derretimento das geleiras e a elevação do nível
dos oceanos. Como podemos observar no gráfico, se os
gases causadores do efeito estufa continuarem a ser lan-
çados na atmosfera, com o passar dos anos, haverá um
aumento significativo da temperatura atmosférica, que pode
causar graves problemas ambientais, como derretimento de
geleiras e elevação no nível dos oceanos.

A emissão de gases e o
aumento da temperatura global
Mudança de
temperatura (ºC)
4
Gases do efeito estufa

3
O petróleo é uma
2 das principais

Barbara Davidson/Dallas Morning News/Corbis/Latinstock


fontes energéticas
1 na atualidade. A
queima desse
0
combustível, no
entanto, produz
–1
grande quantidade
1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100 de dióxido de
Ano carbono.
Acervo da editora

Fonte: COX, Barry; MOORE, Peter. Biogeografia: uma abordagem


ecológica e evolucionária. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

Alternativas energéticas e mudança de hábitos


Atualmente, muitos pesquisadores estão empenhados em desenvolver fontes alternativas
de energia como uma maneira de diminuir os problemas ambientais. Entre elas, a energia
eólica, que usa a força dos ventos, e a solar, que converte a luz do sol em energia elétrica,
se destacam.
No entanto, mesmo que o avanço tecnológico viabilize essas alternativas, dificilmente os
problemas ambientais poderão ser resolvidos sem uma significativa mudança em nossos
hábitos de consumo.
Por exemplo, podemos diminuir o uso do automóvel e, consequentemente, as emissões de
CO 2, usando mais a bicicleta ou optando pelos meios de transporte coletivos, como o ônibus
e o metrô. Além disso, é imprescindível evitar o consumismo, reduzindo a quantidade de
energia gasta atualmente para fabricar produtos supérfluos.

41
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Produza um pequeno texto narrando al­guns 8 Produza um pequeno texto sobre o início
dos principais eventos que fazem parte da especialização do trabalho no período
da história da Terra. Procure abordar te­ Paleolítico.
mas como: a formação do planeta, o
surgimento das primeiras formas de vida, 9 No período Paleolítico surgiram as primei­ras
a evolução das espécies e o surgimento crenças em forças sobrenaturais. Cite um
dos primatas. exemplo desse tipo de crença.

2 “A África é o berço da humanidade”. Expli­ 10 Faça um fichamento com as hipóteses de


que essa frase. povoamento do continente americano. De
acordo com cada uma das hipóteses,
3 Como os evolucionistas explicam a ori­gem considere: de qual lugar teriam partido os
do ser humano? primeiros povoadores da América; qual
caminho eles teriam percorrido; que meio
4 Sobre a origem dos seres humanos, o que de transporte eles teriam utilizado; e em
afirmam os criacionistas? qual região do continente americano eles
5 Faça um fichamento com as caracterís­ti­cas teriam chegado.
dos hominídeos que são nossos an­­­­c es­­ 11 Qual é a hipótese defendida pela arqueó­
trais (Australopitecos, Homo habi­l is, Ho- loga brasileira Niéde Guidon a respeito do
mo erectus, Homo neandertalensis) e do povoamento da América?
ser humano mo­d erno (Homo sapiens).
Considere em seu fichamento: a época 12 Explique com suas palavras o que signifi­ca
em que esses seres viveram; a altura; a sedentarização.
massa corporal; e o volume do cérebro.
13 Cite três instituições que começaram a ser
6 O domínio do fogo teve várias conse­quên­ desenvolvidas pelo ser humano no período
cias na vida de nossos ancestrais. Cite Neolítico. Faça uma breve descrição de
al­­­g u­m as delas. ca­da uma delas.

7 Como o Homo sapiens obtinha seus ali­men­ 14 Se você fosse um Homo sapiens do perío­
tos no período Paleolítico? Como era a do Paleolítico, como seria o seu dia a dia?
divisão do trabalho nesse período? Produza um texto contando o que você
faria, o que comeria, como dormiria etc.
Expandindo o conteúdo
15 O texto a seguir apresenta as principais ideias da teoria evolucionista, criada pelo naturalista
inglês Charles Darwin, no século XIX, e aperfeiçoada por muitos estudiosos ao longo do
século XX.

Evolução significa transformação. Animais e vegetais mudam com o tem-


po. Darwin mostrou que a natureza fazia a seleção. Eis o que diz a teoria:
Reprodução: pais geram filhos semelhantes e que diferem das outras espé-
cies. Tigres têm filhotes tigres, leões, filhotes leões, e assim por diante.
Superpopulação: nem toda a prole sobrevive. Darwin calculou que, em 750
anos, um casal de elefantes teria 19 milhões de descendentes — se todos sobre-
vivessem.
Variação: nem toda a prole é igual. Há ligeiras diferenças em peso, altura, cor
e outras características. Surgem novas variações a cada geração.

42
capítulo 2
Seleção natural: a vida é uma luta em busca de alimento, espaço vital, com-
panheiros e outras coisas essenciais. Algumas características podem facilitar essa
luta, como dentes afiados no caçador, ou mais sementes na flor. Tais característi-
cas acomodam ou adaptam melhor um indivíduo ao meio ambiente,

A origem do ser humano


aumentando sua probabilidade de viver e de se reproduzir.
Hereditariedade: se uma característica vantajosa é hereditária, os descen-
dentes do animal ou do vegetal também a herdarão. Ela irá ajudá-los a sobreviver
e a deixar até mais descendentes, que trarão também esta característica.
Evolução: passados longos períodos de tempo, e muitas gerações, os caracte-
res que aperfeiçoam o sobrevivente se tornam mais comuns em uma espécie. A
espécie se transforma.
Origem das espécies: as espécies mais bem adaptadas ao ambiente vencem
aos poucos. As que não conseguem se adaptar desaparecem. À medida que o
ambiente se transforma, as espécies evoluem sempre e tentam continuar bem
adaptadas.
Steve Parker. Darwin e a evolução. Trad. Silvio Neves Ferreira. São Paulo: Scipione, 1996. p. 22.
(Caminhos da ciência).

a ) O que diz a teoria evolucionista sobre a variação nos membros das proles?
b ) O que é seleção natural?
c ) Como são preservadas as características que são vantajosas?
d ) Qual é o principal fator que determina o desaparecimento de algumas espécies e o sur­
gimento de outras?

16 Observe as imagens abaixo.

A B
Frank Lukasseck/Corbis/Latinstock

George Holton/Photoresearchers/Latinstock

a ) Qual das duas pinturas representa uma atividade típica do período Paleolítico? Jus­t ifique
sua resposta.
b ) Qual representa uma atividade que só começou a ser praticada no Neolítico? Jus­t i­f ique.

43
17 Observe o mapa.

Regiões de origem das plantas e dos animais domesticados

E. Cavalcante
N
NOROESTE DA
EURÁSIA O L

S
Girassol Aveia
Abóbora Arroz africano
ESTEPES DO ÁSIA CENTRAL
EUROPA SUDOESTE
Algodão Banana AMÉRICA DO NORTE
OCEANO CHINA
Trigo Centeio ORIENTE
ATLÂNTICO INDUS
PRÓXIMO
Ervilha Batata
Milho Abacaxi
Tomate
AMÉRICA CENTRAL SUDESTE DA ÁSIA
Mandioca
Abacate Arroz ÁFRICA OCIDENTAL
Soja

Equador PLANÍCIE DA
AMÉRICA DO SUL 0°

Meridiano de
Greenwich
Camelo Peru OCEANO ÍNDICO
bactriano ANDES
Rena Lhama
Cavalo Alpaca
Porco Galinha
OCEANO PACÍFICO
Boi Ganso

0 1 880 km

Fonte: BARRACLOUG, Geoffrey (Ed.). Atlas da História do Mundo. São Paulo: Folha da Manhã, 1995.

a ) Cite dois animais de origem americana e dois de origem asiática.


b ) Faça uma ficha em seu caderno com o nome das plantas que já eram cultivadas no pe­
ríodo Neolítico, separando-as por continentes: América, Europa, África e Ásia.
c ) A sua família costuma utilizar algumas dessas plantas no dia a dia? Quais?

Discutindo a história
18 A arqueóloga brasileira Niéde Guidon levantou uma grande polêmica entre os estudiosos
quando, na década de 1970, passou a afirmar que o povoamento da América teria ocorrido
há pelo menos 50 mil anos. Leia o artigo a seguir, publicado em 20/11/2006.

A arqueóloga Niéde Guidon riu por último. Evidências apresentadas ontem indicam que as ferra-
mentas de pedra descobertas pela pesquisadora no Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo
Nonato, foram mesmo feitas por seres humanos e têm entre 33 mil e 58 mil anos de idade. São, portanto,
a evidência mais antiga da ocupação da América.
Durante mais de duas décadas Guidon, paulista de origem francesa, foi ridicularizada por seus cole-
gas por propor uma idade tão antiga para os instrumentos. Mas uma análise das ferramentas da Pedra
Furada apresentada ontem por Eric Boeda, da Universidade de Paris, e Emílio Fogaça, da Universidade
Católica de Goiás, silenciaram os críticos. “Do meu ponto de vista, esta é uma evidência incontestável de
que os artefatos foram feitos por humanos”, disse à Folha o arqueólogo Walter Neves, da USP, até então
principal adversário intelectual de Guidon. “Ela merece esses louros”, disse, referindo-se à colega.
Os artefatos têm causado controvérsia desde a sua descoberta, em 1978. Eles foram achados junta-
mente com supostas fogueiras no abrigo, cujo carvão foi datado em até 50 mil anos. Uma datação
realizada depois na Austrália recuou a idade ainda mais: 58 mil anos.

44
capítulo 2
O problema era que, naquela época, as evidências apontavam que a presença humana tinha no máxi-
mo 15 mil anos no continente. [...]
Pedras rolantes

A origem do ser humano


[...] os arqueólogos sempre se recusaram a aceitar as datas de Guidon. As fogueiras, argumentavam,
poderiam muito bem ter sido produto de combustão espontânea e não havia ossos de animais ou huma-
nos no local. “O que acontecia até agora também é que alguns colegas [norte-]americanos diziam que os
objetos [achados no Piauí] eram apenas pedras que tinham rolado e se quebrado naturalmente”, diz Ni-
éde. “Mas agora não há a menor dúvida de que foram feitos por seres humanos. O consenso geral é que
agora existe um fato.” [...]
Cadeia operatória
O estudo de Boeda não parece deixar mais dúvidas. O francês é considerado um dos maiores especia-
listas do mundo em tecnologia lítica (de pedra) pré-histórica. Ele desvendou a chamada cadeia
operatória dos artefatos, ou seja, a sequência de lascamento do material, e descobriu que aquilo foi, de
fato, produzido por humanos. [...]
Cláudio Ângelo; Rafael Garcia. Homem ocupou o Piauí há 58 mil anos. Folha Online, São Paulo, 20 dez. 2006.
Extraído do site: <www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 1 ago. 2011.

a ) De acordo com estudos recentes, quantos anos de idade têm as ferramentas de pedra
encontradas por Guidon em São Raimundo Nonato?
b ) O que os pesquisadores Eric Boeda e Emílio Fogaça concluíram após analisarem essas
ferramentas?
c ) Por que na época em que foram encontrados os artefatos de Pedra Furada, na década
de 1970, Niéde Guidon foi ridicularizada por seus colegas?
d ) “Niéde Guidon riu por último”. O que os autores do texto quiseram dizer com essa frase?

Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo

Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ O surgimento e a evolução do ser humano ocorreram na África.
■■ Durante grande parte do processo evolutivo, os hominídeos sobreviveram graças à
caça e à coleta de frutos e raízes.
■■ Sedentário é o nome que se dá ao grupo de pessoas que deixaram a vida nômade e
se fixaram em um lugar.
■■ Os principais fatores que permitiram a sedentarização foram o domínio da agricultura
e da criação de animais.
■■ A sedentarização foi o que possibilitou a formação de aldeias e o desenvolvimento de
instituições, como a família, a religião e o Estado.
■■ O ser humano chegou ao continente americano há pelo menos 50 mil anos.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para
certificar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

45
3
capítulo

Os povos da Mesopotâmia
Veja nas Orientações para o professor alguns comentários e explicações sobre os
recursos apresentados no capítulo.
Museu Britânico, Londres. Foto: AAAC/TopFoto/Keystone

A Painel mesopotâmico datado de 2500 a.C., representando diferentes cenas de uma guerra.
Schutze+Rodemann/Arcaid/Corbis/Latinstock

B Detalhe de uma placa de argila com uma inscrição cuneiforme mesopotâmica.

46
Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock
C Relevo datado de 860 a.C., encontrado na Mesopotâmia.

Conversando sobre o assunto


Neste capítulo você vai conhecer os povos que habitavam uma região que na Antiguidade
era conhecida como Mesopotâmia, ou “terra entre rios”. Esses povos formaram algumas das
mais antigas civilizações que já existiram.
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os colegas sobre as
questões a seguir.
■ ■ Quais características das sociedades da Mesopotâmia podem ser percebidas por meio

da análise da fonte A?
■ ■ Você sabe o que é a escrita cuneiforme, que pode ser observada na fonte B? Como era

feita essa escrita?


■ ■ Quais informações sobre o cotidiano dos povos mesopotâmicos podem ser obtidas por

meio da observação da fonte C?


Talvez você ainda não tenha respostas para todas estas perguntas, mas pense nessas
questões enquanto lê este capítulo.
Aproveite a seção Conversando sobre o assunto para ativar o conhecimento prévio dos alunos e estimular seu interesse
pelos assuntos que serão desenvolvidos no capítulo. Faça a mediação do diálogo entre os alunos de maneira que todos
participem expressando suas opiniões e respeitando as dos colegas.
47
A terra entre rios
Mesopotâmia, palavra que significa “terra entre rios”, é o nome de uma região do
Oriente Médio, localizada entre os rios Tigre e Eufrates. A maior parte da
Mesopotâmia é ocupada atualmente pelo Iraque.

Aproveitando a fertilidade do solo


A paisagem do Oriente Médio é formada, em grande parte, por desertos
e montanhas, e desde a Antiguidade as condições para o cultivo de alimen­
tos e a criação de animais são muito difíceis.
A Mesopotâmia, no entanto, tinha uma

Georg Gerster/Age Fotostock/Keystock


característica diferente: em certas épocas
do ano, os rios Tigre e Eufrates enchiam
e inundavam suas margens. Essas cheias
fertilizavam o solo, tornando­o apropriado
para o desenvolvimento da agricultura e
da pecuária.
Aproveitando a fertilidade do solo da
Mesopotâmia, vários povos nela se fixa­
ram e, no decorrer de milhares de anos,
desenvolveram importantes civilizações,
entre elas a dos sumérios e a dos babi­
lônios.
Até os dias de hoje
a população local
pratica a agricultura
A Mesopotâmia nos vales da
E. Cavalcante Mesopotâmia. Essa
fotografia recente
O
N

L Mar
retrata os campos
S Cáspio cultivados às
Ri margens do rio
oT
igr
e Eufrates, no Iraque.

Nínive
Ri
o
Eu
fra Assur
te
s

Sippar
Babilônia
Agade Nippur
Lagash
Uruk
Nina
Ur

30° N

Golfo
Pérsico

0 112 km
45° L

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

48
Uma sucessão de povos

capítulo 3
Além dos sumérios e dos babilônios, vários outros povos habitaram a
Mesopotâmia, como assírios e caldeus. Alguns desses povos já viviam ali,
outros vieram de lugares distantes, atraídos pela riqueza da “terra entre
rios”. Eles travaram muitas guerras pelo

Os povos da Mesopotâmia
Detalhe de um

Escultura em relevo. Museu Britânico, Londres.


Foto: Werner Forman/Corbis/Latinstock
domínio da região, ocasionando o suces­ relevo de 645 a.C.
sivo domínio de um povo sobre o outro. representando o
exército assírio
Esses povos, apesar de terem línguas durante uma
e costumes diferentes, exerceram in­ batalha.
fluências culturais uns sobre os outros.
Assim, eles adquiriram semelhanças, por
exemplo, na religião, nas técnicas e na
escrita. Devido a essas semelhanças,
eles são conhecidos como povos meso­
potâmicos.
Observe a linha do tempo.

2000 a.C. a 1550 a.C.


Domínio babilônico 1300 a.C. a 612 a.C.
Sob o comando do rei Domínio assírio
3500 a.C. a 2340 a.C. Hammurabi, os babilônios Os assírios dominaram a
Domínio sumério invadiram e dominaram toda Mesopotâmia e fizeram da
Os sumérios fundaram as a região mesopotâmica. cidade de Nínive sua capital.
primeiras cidades por volta Eles constituíram um Estado Eram guerreiros valentes e
de 3500 a.C. Eles foram unificado e fundaram o impiedosos e possuíam uma
os inventores da escrita Primeiro Império Babilônico. força militar extraordinária:
cuneiforme, que mais tarde Além disso, criaram um dos soldados com armaduras,
seria adotada pela maioria primeiros códigos de leis armas de ferro, carros de
dos povos mesopotâmicos. escritas da história. guerra e cavalaria.

2340 a.C. a 2000 a.C. 1550 a.C. a 612 a.C. a


Domínio acadiano 1300 a.C. 539 a.C.
Os acádios conquistaram as Domínio cassita Domínio caldeu
cidades sumérias, entre elas Ur, Os cassitas Logo após
e formaram o Primeiro Império eram poderosos dominarem a
Mesopotâmico. Os acádios militarmente e Mesopotâmia, os
assimilaram a cultura suméria e conquistaram caldeus conquistaram
adotaram sua escrita e religião. os babilônios. outras regiões, como
Entre as cidades fundadas pelos Enquanto a Síria e a Palestina,
acádios estão Agadê e Sippar. dominaram a estendendo seus
Mesopotâmia, domínios até a
os cassitas fronteira com o
melhoraram as Egito. O domínio
técnicas agrícolas caldeu teve fim com
e introduziram o a invasão persa, em
cavalo na região. 539 a.C.

3500 a.C. 3000 a.C. 2500 a.C. 2000 a.C. 1500 a.C. 1000 a.C. 500 a.C.

49
A formação de cidades na Mesopotâmia
Por volta de 3500 a.C., várias aldeias mesopotâmicas já haviam crescido e se
transformado em cidades.

O estabelecimento das primeiras aldeias


De acordo com estudos arqueológicos, a região da Mesopotâmia já era
ocupada por grupos humanos por volta de 8000 a.C. Esses grupos, que
já haviam domesticado cabritos e carneiros e sabiam cultivar o trigo e a
cevada, foram aos poucos abandonando a vida nômade e se esta beleceram
em aldeias.
Entre esses grupos humanos estavam os sumérios, que provavelmente
foram os primeiros a utilizar técnicas de irrigação em suas lavouras. Eles
construíram canais e represas que permitiram o aproveitamento das águas
dos rios Tigre e Eufrates para irrigar as plantações. Dessa forma, eles am­
pliaram as áreas cultivadas e conseguiram produzir mais alimentos do que
o necessário para a alimentação dos agricultores.
O excedente de alimentos ocasionou grandes modificações no modo de
vida dos sumérios. A população aumentou e as aldeias cresceram. Muitas
pessoas puderam deixar de trabalhar na agricultura para se dedicar a ou­
tras atividades. Surgiram, então, vários tipos de trabalhadores especializa­
dos, como tecelões, ceramistas, carpinteiros e comerciantes.

Um espesso muro e um
fosso protegiam a cidade
contra ataques inimigos.

As moradias de Ur eram
construídas com tijolos
de argila secos ao Sol.

A agricultura era realizada em


campos localizados às margens do
rio Eufrates. Os canais de irrigação
levavam a água até as plantações
mais distantes do rio.

50
Desenvolvendo uma civilização

capítulo 3
Como era necessário o esforço conjunto de muitos agricultores para
construir e manter os diques e canais de irrigação, surgiram também es­
pecialistas no planejamento e administração dos trabalhos, o que acabou

Os povos da Mesopotâmia
dando origem a um sistema de governo. Para defender suas terras contra
a invasão de povos estrangeiros, foram organizados exércitos.
Como havia necessidade de se registrar as atividades agrícolas e comer­
ciais para controlar a cobrança de impostos, os sumérios desenvolveram
um sistema de escrita. Havia também os sacerdotes, pessoas que se de­
dicavam às questões espirituais. Eles eram os condutores de uma religião
que tinha numerosos deuses e dava explicações às questões relativas ao
ser humano e à natureza.
Os povos mesopotâmicos, por volta do ano 3500 a.C., já haviam desen­
volvido vários elementos que caracterizam uma civilização, como um go­
verno organizado, uma religião, um sistema de escrita, uma divisão do
trabalho, entre outros.

A cidade-estado de Ur
Observe uma ilustração que representa a cidade­estado de Ur, por volta
de 2500 a.C.

O palácio era a sede do governo da cidade. Nele, Nos portos eram realizadas
moravam o rei e sua família. Além disso, circulavam muitas trocas comerciais com
pelo palácio diariamente muitos funcionários, como povos estrangeiros.
sacerdotes, fiscais, chefes militares, mercadores,
escribas e soldados.

Mario Henrique

O zigurate, uma das construções mais


imponentes da cidade, era um tipo de
pirâmide formada por vários andares.
No topo ficava o templo onde eram
realizadas cerimônias religiosas.

Dique construção
feita para represar
a água.
Escriba pessoa
que, na Antiguidade,
era responsável por
fazer registros
Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
Baseado em A era dos reis divinos: 3000-1500 a.C. Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1989. escritos.

51
A sociedade mesopotâmica
A sociedade mesopotâmica era formada por diversos grupos sociais.

Diferentes condições de vida


Observe o esquema abaixo, que representa, de modo geral, a estrutura
das sociedades mesopotâmicas.

Rei: portador de grande poder, era tido como


representante dos deuses na Terra. O seu poder
raramente era questionado, pois a população temia
que, caso se rebelasse contra o rei, estaria se
rebelando contra os deuses.

Sacerdotes, nobres, chefes militares: faziam parte


de uma minoria privilegiada. Ocupavam os cargos mais
altos do governo, exercendo forte influência na política
e na economia.

Fiscais, escribas, comerciantes: eram subordinados às


camadas superiores da sociedade, mas tinham melhores
condições de vida que os demais trabalhadores.

Camponeses, soldados, artesãos, escravos: A maior


parte da sociedade era formada por trabalhadores livres
que viviam em condições de pobreza e tinham que pagar
impostos ao governo. Já os escravos, geralmente, eram
prisioneiros de guerra ou pessoas que haviam perdido a
Art Capri

liberdade por não conseguir pagar suas dívidas.

O sujeito na história Enhéduanna


Enhéduanna foi uma mulher que viveu na Mesopotâmia por volta de 2300 a.C. Mesmo
vivendo em uma época em que as mulheres tinham pouco destaque na sociedade, Enhé­
duanna se tornou conhecida devido às obras que escreveu. Ela era uma sacerdotisa e
muitos dos seus poemas foram dedicados a Inanna, deusa mesopotâmica da guerra e do
amor.
Mesmo não tendo sido a primeira a escrever poemas na Antiguidade, Enhéduanna ficou
conhecida por que foi uma das primeiras pessoas a assinar suas obras. Seu nome, assi­
nado em escrita cuneiforme, será lembrado para sempre.
André L. Silva

52
Atividades econômicas

capítulo 3
A economia mesopotâmica baseava-se nas atividades desenvolvidas em dois
espaços diferentes: o campo e a cidade.

Os povos da Mesopotâmia
O trabalho no campo e na cidade
Na área rural, os mesopotâmios plantavam principalmen­

Museu Britânico, Londres. Foto: Barbara


Heller/Heritage/Keystone
te trigo e cevada. O gergelim e a palmeira eram cultiva­
dos para a extração de óleo usado na alimentação e na
iluminação. A atividade pecuária também era muito impor­
tante. Eles criavam porcos, carnei ros e cabritos para a
produ ção de carne, lã, leite e seus derivados. Outros ani­
mais, como bois e jumentos, serviam para o transporte e
para puxar o arado. Os cavalos e os camelos eram utilizados
principalmente no transporte.
Relevo
Boa parcela do que era produzido no campo destinava­se à alimentação
mesopotâmico
dos moradores das cidades. Entre eles, havia vários profissionais, como datado de
comerciantes, artesãos, barbeiros, escultores e carpinteiros. Muitos desses 630 a.C.
profissionais trabalhavam em suas próprias residências, pois nas cidades representando
mesopotâmicas era comum as moradias serem utilizadas também como agricultores
oficinas de artesanato, estabelecimentos comerciais ou armazéns. trabalhando em
uma plantação
de palmeiras.
O comércio com outros povos
Os mesopotâmios mantinham relações comerciais com povos que viviam
em outras regiões. Caravanas de mercadores viajavam para lugares distantes,
como a Ásia Menor, o Egito, a Arábia e a Pérsia, para obterem produtos es­
cassos na região mesopotâmica, como madeira, pedras preciosas e metais.
Esses produtos serviam de matéria­prima para a fabricação de armas e
joias, que eram exportadas depois de manufaturadas. Os mesopotâmios
exportavam, também, tecidos e cevada. O governo controlava o comércio
e a produção do campo e das cidades, cobrando impostos sobre todas
essas atividades.

Origem dos produtos importados pelos mesopotâmios


E. Cavalcante

Mar de N
Aral
Mar Negro O L

S
ANATÓLIA
Mar
Cáspio
M
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Cobre ufr
Mediterrâneo ate MI PÉRSIA
Estanho s A
Prata
Ouro 45° N
EGITO
do

Lápis-lazúli
In
o
Ri

Cornalina
Ri

ARÁBIA Golfo
o
Ni

Turquesa Pérsico
lo

Mar
Esteatita (talco) Vermelho
Sílex 0 375 km
30° L
Granito
Madeira Fonte: REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997.

53
A religião na Mesopotâmia
Assim como a maioria dos povos antigos, os mesopotâmios também davam grande
importância às práticas religiosas.

As crenças religiosas

Museu Nacional do Iraque, Bagdá. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock


Os povos mesopotâmios eram politeístas, isto é, acreditavam na existên-
cia de vários deuses, entre eles Anu (deus-pai), Shamash (deus-sol), Sin
(deus da Lua), Inanna (deusa do amor e da guerra), Enki (deus das águas
doces) e Enlil (deus dos ventos). Leia o texto abaixo, que trata das crenças
religiosas dos mesopotâmios.

Os mesopotâmios [...] acreditavam que deuses e deusas eram responsáveis por tudo o
que acontecia no mundo. [...] Zelavam também por determinadas vilas, cidades e pessoas.
Cada mesopotâmio era protegido por um deus ou deusa, assim como as cidades. [...]
Os deuses esperavam que as pessoas sacrificassem animais e seguissem rituais para
mantê-los felizes. Sacerdotes e sacerdotisas especiais lavavam e vestiam imagens dos
deuses todos os dias, perfumando-as e adornando-as com joias. [...]
Se os deuses estivessem felizes, cumpriam suas missões — faziam as plantas crescer
e o povo prosperar. Se estivessem irados, puniam o povo. Causavam fomes, doenças e
derrotas em batalha. [...]
Marian Broida. Egito Antigo e Mesopotâmia para crianças. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 74. Estátua
representando
Abu, deus
Os zigurates mesopotâmico
da vegetação.
Os zigurates eram grandes construções feitas pelos mesopotâmios. Era
no alto dos zigurates que ficavam localizados os templos onde os cultos
eram realizados. Os cultos consistiam em orações, sacrifícios de animais e
oferendas aos deuses.

Patrimônio histórico
No Iraque, ainda existem ruínas do grande zigurate de Ur. Essas ruínas são considera-
das patrimônio histórico do Iraque.
Patrimônio histórico é tudo aquilo que tem significado histórico para uma determinada
sociedade, por exemplo: edificações, pinturas, utensílios domésticos, roupas, danças e
pratos típicos.
Grandes
construções
Ruínas do grande zigurate de Ur. da Antiguidade

Fotografia tirada em 2003. Ao encontrar esse ícone,


acesse o Objeto
Educacional Digital
disponível no DVD-ROM.
Silvio Fiore/Topham Picturepoint/TopFoto/Keystone

54
A mitologia mesopotâmica: o dilúvio

capítulo 3
A palavra mitologia (do grego mythos = fábula; logía = estudo) significa o
conjunto de histórias que pretendem explicar a origem do ser humano, do
Universo e seu funcionamento por meio da ação de deuses e heróis.

Os povos da Mesopotâmia
Para explicar a ocorrência de eventos naturais, entre eles terremotos e
Dilúvio grande
dilúvios, os povos mesopotâmicos criaram seus próprios mitos. O mito do di­ inundação.
lúvio, que muitos conhecem como uma história da Bíblia , por exemplo, é de
origem mesopotâmica. Leia o texto.

Houve um tempo em que Enlil, o mais poderoso dos deuses,

Museu do Louvre, Paris, França. Foto:


Erick Lessing/Album/Latinstock
se desgostou da humanidade e decidiu mandar uma inundação
da qual nenhum vivente pudesse escapar. Mas a sentença pareceu
demasiadamente rigorosa a Ea, um outro deus, que num sonho
deu aviso a Utnapishtim, o mortal da sua predileção. O prevenido
Utnapishtim construiu um barco para seu uso [...] e dentro dele
colocou a sua família e a “semente de todas as criaturas vivas... a
bicharada dos campos, e todos os artesãos”. O barco resistiu à Pedra com a
tempestade, que se desencadeou por seis dias e seis noites. No inscrição do Hino de
sétimo dia, quando as águas baixaram, Utnapishtim desembar- Nidaba, de cerca de
2110 a.C., que
cou e fez saírem seus passageiros, homens e animais. [...] descreve a grande
Samuel Noah Kramer. Mesopotâmia: o berço da civilização. inundação enviada
Trad. Genolino Amado. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p. 122. pelo deus Enlil.

Katie S. Atkinson - Arca de Noé. Séc. XX. Coleção particular. Foto: Images.com/Corbis/Latinstock

Pintura que representa a passagem bíblica em que os animais entram na Arca de Noé, antes do
grande dilúvio.

55
Explorando o tema
A escrita cuneiforme
A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo. Desenvolvida pelos sumérios no
terceiro milênio antes de Cristo, seu nome vem de “cunha”, que era o formato do instrumen­
to de bambu utilizado para gravar os sinais nas plaquetas úmidas de barro. Após serem
gravadas, as plaquetas eram expostas ao Sol para secar e, depois, colocadas em um forno
para serem cozidas e ganhar resistência. Povos como os sumérios, os babilônios e os as­
sírios utilizaram a técnica cuneiforme para escrever.
A escrita facilitava o controle da pro­

Herbert M. Herget ­ Homens produzindo selos cilíndricos. c. 1951. Ilustração.


Coleção particular. Foto: National Geographic Society/Corbis/Latinstock
dução e do estoque de alimentos, dos
rebanhos e de produtos têxteis e, tam­
bém, possibilitava o registro da conta­
bilidade dos templos e dos palácios
reais. Depois, com o aperfeiçoamento
dessa escrita, seu uso foi ampliado e ela
passou a ser utilizada para registrar de­
cretos reais, códigos de leis, hinos,
poesias, cartas de amor etc.
Leia o texto e observe a tabela.

Ilustração feita na atualidade que


representa escribas fazendo inscrições
em plaquetas de barro.

No princípio, os sinais cuneiformes eram pictográficos, ou seja, desenhavam aproximadamente aquilo que
queriam significar: o desenho de uma mão significava a palavra “mão”; um galho de cereal significava “cereal” ou
“grão de cereal”. Após, os desenhos passaram a expressar ideias mais abrangentes: a mão poderia significar “força”
ou o verbo “proteger”. Esse segundo estágio chama-se ideográfico.
Mais tarde, os sinais ganharam valores fonéticos (passaram a expressar sons, geralmente sílabas: ab, ba, bab).
Assim, a mão — que em sumério se lia SHU — deu origem a sinais que poderiam ser lidos, nas línguas acadianas,
como shu; qat; qad. Juntando-se vários sinais silábicos, formava-se uma palavra, por exemplo:

Shar Ru Um Sharrum = rei

A Wi Lum Awilum = homem


Marcelo Rede. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 32. (Que história é esta?).

Mesmo com o desenvolvimento de alguns sinais fonéticos, a maioria dos sinais cuneifor­
mes continuou a ser ideográfica. Por isso, a escrita mesopotâmica era muito difícil de ser
aprendida, sendo seu uso reservado aos escribas.

56
capítulo 3
O Código de Hammurabi

Os povos da Mesopotâmia
O Código de Hammurabi foi organizado entre 1792 e 1750 a.C., durante o governo de
Hammurabi, rei da Babilônia. Era composto de 282 artigos que tratavam de temas variados,
desde pequenos delitos até crimes graves. O código era baseado em um antigo princípio
mesopotâmico, o princípio de Talião (“Olho por olho, dente por dente”). De acordo com esse
princípio, o responsável por um crime deveria receber um castigo semelhante ao crime que
cometeu. Veja os exemplos.

Art. 196 — Se um awilum [homem livre] destruiu o olho de um


(outro) awilum: destruirão o seu olho. [...]
Art. 195 — Se um filho bateu em seu pai: cortarão a sua mão. [...]
Art. 200 — Se um awilum arrancou um dente de um awilum igual
a ele: arrancarão o seu dente. [...]
Art. 205 — Se o escravo de um awilum agrediu a face do
filho de um awilum: cortarão a sua orelha. [...]

Código de Hamurabi. c. 1792­1750 a.C. Monólito de diorito. Museu do Louvre,


Paris. Foto: Art Media/HIP/TopFoto/Keystone
Art. 229 — Se um pedreiro edificou uma casa para
um awilum, mas não fortificou o seu trabalho e a ca-
sa, que construiu, caiu e matou o dono da casa: esse
pedreiro será morto. [...]
O Código de Hammurabi. 3. ed. Trad. E. Bouzon. Petrópolis: Vozes, 1976. p. 86-8; 94.

Fotografia que retrata parte da pedra com


a inscrição do Código de Hammurabi. Na
parte inferior, encontram-se as leis
gravadas em escrita cuneiforme.
Na parte superior, pode-se observar o
relevo que representa Hammurabi
recebendo do deus Shamash o poder real
para exercer a justiça.

Apesar de o código ser baseado no prin­


cípio de Talião, havia casos em que as penas
eram aplicadas conforme a camada social
das pessoas envolvidas: ricos, pessoas de
menos posses e escravos recebiam penas
diferenciadas. A pedra com a inscrição do
código foi encontrada por arqueólogos fran­
ceses por volta de 1900 e levada para o
Museu do Louvre, em Paris, na França.

57
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Escreva com suas palavras como os pri­­ 5 Descreva a sociedade mesopotâmica.
meiros grupos humanos se esta­­be­leceram
na Mesopotâmia e como eles trabalharam 6 Quais eram os principais trabalhos rea­
para ampliar a produção agrícola. lizados no campo e nas cidades da Me­
sopotâmia?
2 Quais foram as consequências do au­mento
da produção de alimentos na Me­­so­ 7 Para quais regiões os mercadores me­s o­­
potâmia? potâmicos viajavam para realizar tro­c as
comerciais? Quais produtos eles compra­
3 Produza um pequeno texto explicando co­ vam nessas regiões? Quais pro­d utos eles
mo ocorreu o desenvolvimento da civili­ vendiam?
zação mesopotâmica.
8 Explique com suas palavras como era a
4 Sobre a ci­dade de Ur, responda às ques­tões. religião dos mesopotâmios.
a ) Qual era a principal função dos canais 9 Por que os zigurates eram importantes pa­
de irrigação? ra os mesopotâmios?
b ) Qual matéria-prima era usada na cons­ 10 Como era a técnica cuneiforme de es­
trução das moradias? crita?
c ) Onde eram realizadas as cerimônias 11 Qual era a importância da escrita para os
religiosas? mesopotâmios?
d ) Onde eram realizadas as trocas co­mer­
12 O que é o Código de Hammurabi?
ciais com povos estrangeiros?

Expandindo o conteúdo
13 Sobre o poder do rei na Mesopotâmia, leia o texto a seguir.

A figura do rei apareceu muito cedo na Mesopotâmia. Tudo indica que os membros de uma assem-
bleia (provavelmente formada pelos homens adultos) elegiam um rei para cuidar de tarefas específicas.
Mas esse cargo não era fixo e foi criado somente para os casos de necessidade de um comando mais
forte sobre a população, por exemplo, durante as guerras. Nessa época, o rei parece ter sido, antes de
mais nada, um representante da comunidade, inclusive diante dos deuses, acumulando também fun-
ções sacerdotais. Com o tempo, o rei fortaleceu seu poder e impôs a sua vontade sobre o restante da
comunidade. Foi o início de uma forte tendência de concentração do poder nas mãos do soberano, que
marcou toda história política mesopotâmica.
Paralelamente, o rei tornou-se uma autoridade independente do templo e de seus sacerdotes. De
fato, as escavações arqueológicas constataram que, por volta de 2600 a.C., surgiu nas cidades uma se-
gunda grande estrutura arquitetônica, além do templo: o palácio, que seria, a partir de então, a
morada do rei e o novo centro do poder.
Marcelo Rede. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 34-5. (Que história é esta?).

a ) Inicialmente, quais eram as principais funções do rei na comunidade mesopotâmica?


b ) Qual construção passou a representar o poder real por volta de 2600 a.C.? Como os
pesquisadores descobriram essa mudança na sociedade mesopotâmica?

58
14 Leia o texto.

capítulo 3
[...] Durante séculos, aproveitando as noites quentes e claras, [...] [os meso-

Os povos da Mesopotâmia
potâmios] observavam o curso das estrelas. [...] Logo conseguiram identificar
as estrelas que estavam todas as noites no mesmo lugar da abóbada celeste e
que, portanto, pareciam imóveis. Viram formas nas constelações e lhes deram
nome, como falamos hoje do Cruzeiro do Sul ou da Ursa Maior. [...] Achavam
que a Terra fosse um disco rígido e que a abóbada do céu fosse uma espécie de
bolha oca que todos os dias girasse por cima da Terra. Certamente ficavam
muito admirados ao constatar que nem todas as estrelas eram fixas, ou seja,
que algumas não eram grudadas na abóbada celeste [...].
Hoje nós sabemos que não são as estrelas que giram com a Terra em torno
do Sol. São os “planetas”. Mas naquele tempo [...] [os mesopotâmios não] po-
diam saber disso. Por isso acreditavam na intervenção da magia. Deram nomes
a essas estrelas e sempre as interrogavam. Pensavam que as estrelas fossem se-
res poderosos e que sua posição no céu tivesse um significado para o destino
dos homens. Achavam então que fosse possível prever o futuro pelo estudo da
posição dos astros. Hoje essa crença recebe o nome de astrologia [...].
Ernst Hans Gombrich. Breve história do mundo. Trad. Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 36-7.

a ) Como os mesopotâmios acreditavam que fosse o formato da Terra? E do céu?


b ) Qual era a relação dos mesopotâmios com os astros celestes?

15 A imagem a seguir representa diferentes atividades cotidianas na Mesopotâmia. Cada uma


dessas atividades está assinalada por uma letra. Relacione em seu caderno cada letra
destacada à sua descrição correta. Por exemplo: A: rei recebendo seus súditos.

stock rbis/Latin
res. Foto: Bettmann/Co
B
A

Museu Britânico, Lond

C D E

■■ rei recebendo os seus súditos ■■ homem conduzindo um carneiro


■■ homem carregando peixes ■■ homem conduzindo um boi
■■ músico tocando cítara ■■ homem conduzindo jumentos

59
Passado e presente
16 Leia o texto a seguir.
O Iraque, que ocupa grande parte da Mesopotâmia, possui uma área de 434 128 km2 (pouco maior
que o estado do Mato Grosso do Sul) e tem como capital a cidade de Bagdá. O país tem uma população
de cerca de 25 milhões de habitantes, em sua maioria formada por muçulmanos.
Nas últimas décadas, o Iraque foi devastado por três conflitos armados: a guerra contra o Irã, na
década de 1980; a Guerra do Golfo, em 1990; e a invasão liderada pelos Estados Unidos, em 2003.
Os vários conflitos armados devastaram o Iraque e acabaram agravando a situação de pobreza vivi-
da por grande parte da população, gerando uma terrível situa­ção de miséria. Além dos prejuízos
sofridos pela população, esses conflitos também passaram a ameaçar o patrimônio histórico da região.
Devido a esses conflitos, grande parte dos sítios arqueológicos e monumentos históricos foram da-
nificados e muitos deles completamente destruídos. Além da destruição, as guerras propiciaram a
ocorrência de saques aos sítios arqueológicos, feitos por pessoas interessadas em lucrar com a venda
dos achados arqueológicos no mercado ilegal de antiguidades.
Hoje, estima-se que existam aproximada-
Patrick Robert/Corbis/Latinstock

mente 10 mil sítios arqueológicos nessa região,


porém apenas uma pequena parcela deles foi
pesquisada. Com a devastação e os saques, a pes-
quisa sobre a história dos povos da Mesopotâmia
sofreu um duro golpe, pois muitas informações
importantes foram perdidas para sempre.
Texto dos autores.

O Museu Nacional do Iraque foi saqueado após a


intervenção norte-americana no país. Objetos sumérios,
assírios, acádios e pré-islâmicos fazem parte do acervo
desse museu. Fotografia tirada em 2003.

a ) Quais foram os três conflitos que devastaram o Iraque nas últimas décadas? Que
tipo de prejuízos esses conflitos geraram para a população iraquiana?
b ) Quais são as consequências dos danos ao patrimônio histórico da Meso­p o­t âmia?
c ) O que você entende por “patrimônio histórico”? Cite três exemplos de patrimônios
históricos.
d ) Nas proximidades do lugar onde você vive, podem ser encontrados casos de danos
aos patrimônios históricos? Cite um exemplo.

No Brasil
17 Neste capítulo, você conheceu a importância dos rios para os mesopotâmios. Assim como
eles, povos de diversos lugares do mundo se fixaram próximos aos rios para obter água
para beber, banhar-se, irrigar suas plantações e desenvolver a pecuária.
a ) Pesquise em jornais, revistas ou internet informações sobre pessoas que vivem nas pro­
ximidades de rios no Brasil. Procure saber, por exemplo: a importância que o rio tem
para as pessoas; como suas águas são utilizadas; se o rio está poluído ou não; o que
as pessoas fazem para preservá-lo; se o rio é utilizado como via de transporte; quais as
dificuldades enfrentadas pelos moradores e o que fazem para superá-las etc.
b ) Traga as informações para a sala de aula e apresente-as para os colegas.

60
Discutindo a história

capítulo 3
18 O texto a seguir apresenta uma discussão acerca da invenção da escrita em diferentes
lugares do mundo. Leia-o.

Os povos da Mesopotâmia
Até [...] [alguns anos atrás, acreditava-se que a escrita teria sido inventada] há cerca de 5 000 anos na
Mesopotâmia, atual Iraque. A região era ocupada pelos sumérios, que já cavavam canais de irrigação
para fazer agricultura em grande escala. “Depois que aprenderam a controlar a produção de alimentos,
eles foram os primeiros a se agrupar em cidades com uma administração central. Isso os forçou a criar
um modo de organizar a sociedade”, conta o maior especialista brasileiro em escrita mesopotâmica,
Emanuel Bouzon, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. “Para tanto, aprenderam a
escrever antes que os outros.”
Desde [...] [1998], porém, a história da escrita está sendo reescrita. Novos achados arque­o­­­lógicos, a
milhares de quilômetros dos sumérios, sugerem que a ideia ocorreu a diversos povos ao mesmo tempo.
Um deles foi anunciado no Egito, [...] pelo arqueólogo Günter Dreyer, do Instituto Arqueológico Ale-
mão. Escavando uma tumba real na margem do Nilo, em Abidos, ele desenterrou 180 placas de barro
com formas rudimentares de hieróglifos [...]. Elas podem ter sido gravadas há até 5 400 anos — três
séculos antes das sumérias.
Em maio de 1999, os americanos Jonathan Kenoyer, da Universidade de Wisconsin, e Richard
Meadow, da Universidade de Harvard, jogaram ainda mais lascas na fogueira. Encontraram, no atual
Paquistão, pedaços de vasos com [...] [escrita feita] há 5 300 anos pelo povo dravda, os construtores de
Harappa, uma das grandes cidades da Índia Antiga.
Ainda não há consenso sobre as descobertas. “Mas a importância dos achados é incontestável”, afir-
ma [...] o egiptólogo John Baines, da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ele desconfia que os
manuscritos egípcios não são mais antigos que os mesopotâmicos. Apesar disso, indicam que a arte de
registrar palavras por sinais estava sendo desenvolvida em mais de um lugar na mesma época. [...]
[A invenção da escrita] tanto pode ter acontecido às margens do Nilo quanto no deserto iraquiano ou,
ainda mais longe, nos vales da Ásia.
Denis Russo Burgierman. O primeiro dia da História. Superinteressante. São Paulo: Abril, ano 13, n. 142, jul. 1999. p. 52-3.

a ) Segundo Emanuel Bouzon, por que os mesopotâmios aprenderam a escrever?


b ) No texto são citados, além dos mesopotâmios, dois outros povos que podem ter sido os
primeiros a utilizar a escrita. Quais são eles?
c ) Que achados arqueológicos sugerem que a história da escrita precisa ser reescrita?

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A história, a geografia e a economia da Mesopotâmia são marcadas pela presença de
dois grandes rios: o Tigre e o Eufrates.
■■ Entre os povos que habitaram a Mesopotâmia estão sumérios, acádios, babilônios,
cassitas, assírios e caldeus.
■■ Os zigurates eram enormes construções erguidas em homenagem aos deuses.
■■ Os sumérios inventaram a escrita cuneiforme, um dos mais antigos sistemas de escrita
conhecidos.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi­
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem. 61
4
capítulo

A África Antiga: os egípcios


Veja nas Orientações para o professor alguns comentários e explicações
Observe as imagens a seguir. sobre os recursos apresentados no capítulo.

Em Tumba de Menna, Luxor. 18ª Dinastia


A Pintura representando agricultores egípcios trabalhando no cultivo do trigo, às margens do rio Nilo, no Egito Antigo.

Corel Stock Photo

B Fotografia que retrata as grandes pirâmides egípcias.

62
Roger Wood/Corbis/Latinstock
C Fotografia recente dos campos férteis às margens do rio Nilo.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
Neste capítulo você vai conhecer melhor os egípcios, um povo que de­ conhecimento prévio
dos alunos e estimular
senvolveu uma civilização milenar às margens do rio Nilo. seu interesse pelos
assuntos que serão
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os desenvolvidos no
colegas sobre as questões a seguir. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
■ ■ Quem são as pessoas que aparecem trabalhando na fonte A? Em que entre os alunos de
atividades elas trabalhavam? maneira que todos
participem expressando
■ ■ Quais informações sobre a região onde se desenvolveu a civilização suas opiniões e
respeitando as opiniões
egípcia é possível obter por meio da observação da fonte C? É pos­ dos colegas.
sível estabelecer alguma relação entre as fontes A e C?
■ ■ Os monumentos retratados na fonte B foram construídos pelas mes­

mas pessoas representadas na fonte A?


Talvez você ainda não tenha respostas para todas estas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

63
A formação da civilização egípcia
Os egípcios desenvolveram sua sociedade às margens de um grande rio,
construindo uma grande civilização em uma região desértica do continente africano.

As primeiras comunidades agrícolas


Segundo estudos arqueológicos, desde cerca de 8 000 a.C., as margens
do rio Nilo já eram ocupadas por grupos seminômades, que sobreviviam
praticando a caça, a pesca e a coleta de frutos e de cereais nativos da
região. Por volta de 5 000 a.C., vários desses grupos já haviam

Gian Berto Vanni/Corbis/Latinstock


se tornado sedentários e aproveitavam a fertilidade trazida pelo
rio para desenvolver a agricultura e a criação de animais.
Esses grupos enfrentavam dificuldades impostas pela natu­
reza, como o clima quente e seco e as cheias do rio Nilo. Com
isso, eles tiveram que criar técnicas apropriadas para sua
sobrevivência e permanência no local. Com o passar do tempo,
esses grupos formaram comunidades agrícolas independentes
entre si, chamadas nomos. Os nomarcas, como ficaram conheci­
dos os chefes dessas comunidades, disputavam com frequência
o domínio das áreas férteis.

Esse relevo representa egípcios pescando no rio Nilo. Os peixes também


eram muito importantes para a alimentação no Antigo Egito.

A unificação do Egito O Egito Antigo


Para melhor enfrentar essas disputas, os mem­
E. Cavalcante

bros das comunidades agrícolas foram se unindo O

S
L

e acabaram formando dois reinos distintos: o Tânis

Baixo Egito e o Alto Egito. Cerca de 300 anos BAIXO


EGITO
depois, em 3100 a.C., um governante do Alto Guize
Saqqara
Heliópolis
30° N
Egito, chamado Me nés, unificou os dois reinos e Mênfis

tornou­se o primeiro faraó egípcio. Ele assumiu PEN ÍN SUL A


o controle dos nomos, criando, assim, um Estado DO SIN AI

unificado.
Com a unificação, as funções que antes eram
exercidas pelos chefes dos nomos passaram a
ser realizadas pelos funcionários do Estado. ALTO
EGITO
Entre essas funções, estavam a aplicação das
leis, a fiscalização das atividades econômicas
Tebas
— como agricultura, criação de animais e comér­
cio — e o controle sobre a construção de obras
hidráulicas, por exemplo, canais de irrigação,
Fronteira entre o
diques e poços. Assouan Baixo e o Alto Egito
Regiões desérticas
Regiões férteis
Faraó principal governante do Egito Antigo, era
considerado filho dos deuses na Terra e exercia
autoridade administrativa, judicial e religiosa. Abu Simbel

Semneh 0 115 km
Fonte: KINDER, Hermann; HILGEMANN, Werner.
The Penguin Atlas of World History. Londres: Penguin, 2010. 30° L

64
Períodos da história do Egito Antigo

capítulo 4
Os egiptólogos costumam dividir a história do Egito Antigo em três perío­
dos: Antigo Reino, Médio Reino e Novo Reino. Veja, na linha do tempo,
alguns acontecimentos importantes que marcaram a trajetória da civilização
egípcia em cada um desses períodos.

A África Antiga: os egípcios


3100 a.C. a 2000 a.C. 2000 a.C. a
Antigo Reino 1575 a.C.
Os faraós que governaram durante esse Médio Reino
período buscaram manter o controle Esse período
sobre a sociedade, a economia e a tem início com
política no Egito. Essa centralização do a expulsão dos
1575 a.C. a
poder nas mãos do faraó diminuiu as estrangeiros e 525 a.C.
disputas territoriais entre os nomarcas, a retomada do Novo Reino
que se submeteram à autoridade do poder pelo faraó. O que marcou o início desse
faraó. A sociedade período foi a expulsão dos
Por volta de 2200 a.C., houve um egípcia viveu um hicsos e o fortalecimento
período de seca e de diminuição das período de grande militar do Egito. Os egípcios
cheias do rio Nilo que prejudicaram a crescimento voltaram a governar,
agricultura egípcia. Além disso, os altos econômico. reconquistando as terras
custos das construções monumentais No entanto, por que lhes foram tomadas e
empreendidas pelos faraós diminuíam volta de 1780 ocupando regiões vizinhas.
os recursos do Reino, como os a.C., as disputas A partir do século X,
estoques de cereais. A população internas pelo recomeçaram as invasões
camponesa começou a se revoltar, poder novamente estrangeiras e as frequentes
levando os nomarcas a disputar enfraqueceram disputas internas pelo
novamente o poder e o controle sobre a a administração poder, fazendo o Estado
força de trabalho. Com a administração central, facilitando egípcio gradativamente
central enfraquecida, o Egito foi a invasão de povos perder sua força até ser
invadido por povos estrangeiros vindos estrangeiros, entre conquistado pelos persas,
da Ásia. eles, os hicsos. em 525 a.C.

3000 a.C. 2000 a.C. 1000 a.C.

Os períodos intermediários
As três grandes fases da história do Antigo Egito foram encerradas pelos chamados
períodos intermediários. Apesar do grande poder que a maioria dos faraós desfrutou, na
história do Antigo Egito foi recorrente a tensão entre a centralização e a fragmentação
da autoridade.
Quando o poder central se enfraquecia e as disputas entre os chefes locais aumentavam,
o equilíbrio da sociedade e da economia se rompia, e o Egito ficava vulnerável aos ataques
externos. A produção agrícola declinava, pois a força de trabalho saía do controle estatal e
os diques, represas e canais — fundamentais para a agricultura — ficavam sem a devida
manutenção.
Além disso, durante esses períodos turbulentos, as trocas comerciais ficavam compro­
metidas, enfraquecendo ainda mais o poder central.

65
As camadas sociais
Ao longo do tempo, a sociedade egípcia mudou muito pouco.
Nela, quase não havia mobilidade social, pois o nascimento era um
fator determinante para marcar a posição social de um indivíduo.

O faraó e sua família

c. 890 a.C. Museu Egípcio,

Forman/TopFoto/Keystone
O faraó era considerado um deus vivo. Nessa condição, ele e sua família

Cairo. Foto: Werner


viviam em grandiosos palácios e levavam uma vida de muito conforto. Tinham
uma alimentação bastante variada: carnes, saladas, pães, doces e frutas. A
caça também era valorizada pelos faraós como uma atividade de lazer e um
exercício para a guerra.
A esposa do faraó vestia­se com ricas túnicas de linho e enfeitava­se com Joia egípcia feita
joias de ouro, turquesa e lápis­lazúli. Utilizava maquiagens variadas, feitas com lápis-lazúli.
da mistura de óleos perfumados e minerais coloridos em pó, e perucas
feitas de cabelos naturais ou de lã de carneiros.

A elite egípcia
Abaixo do faraó e sua família, havia uma camada de pessoas que tinham
muitos privilégios na sociedade. Faziam parte dessa camada:
■ ■ os sacerdotes, que conduziam as cerimônias religiosas;

■ ■ os nobres, , que eram parentes do faraó ou descendentes dos antigos


chefes dos nomos e geralmente ocupavam importantes cargos admi­

Museu Egípcio, Cairo. Foto: TopFoto/Keystone


nistrativos;
■ ■ os chefes militares, que detinham altos postos no exército;

■ ■ os funcionários do Estado, , que auxiliavam o faraó, por exemplo, na


fiscalização das plantações e na cobrança de tributos.

Entre os funcionários do Estado, havia os escribas, que sabiam ler,


escrever e fazer cálculos e eram muito respeitados na sociedade egípcia.
Escultura feita por volta de 2500 a.C., representando um escriba egípcio.

A camada pobre da população Em Tumba de Nakht, Tebas. 18 Dinastia

A maioria da população egípcia era pobre e parte de seus


a

rendimentos era destinada ao pagamento de impostos ao


governo. Faziam parte dessa camada:
■ ■ os artesãos, que realizavam diversos trabalhos artesa­

nais. Eles faziam roupas, sandálias, pinturas, esculturas,


joias, móveis, além de carros de guerra, barcos etc.;
■ ■ os camponeses, que se ocupavam com a criação de

animais, e com a caça, a pesca e o cultivo de produtos


agrícolas, como trigo, linho e algodão;
■ ■ os escravos, que em sua maioria eram prisioneiros de

guerra e trabalhavam nos campos, nas minas no deserto


ou na realização de tarefas domésticas.

Pintura que representa um escravo doméstico preparando aves


caçadas pelo seu senhor, para serem servidas em um banquete.

66
A moradia de um artesão egípcio

capítulo 4
No Egito Antigo, havia trabalhadores que, apesar de fazerem parte da
camada mais pobre da população, conquistavam melhores condições de
vida. Entre esses trabalhadores estavam os artesãos, como ourives, meta­
lúrgicos, carpinteiros, ceramistas e tecelões.

A África Antiga: os egípcios


Os artesãos geralmente moravam em casas simples, porém mais confor­
táveis que as moradias dos camponeses.
Observe a ilustração.

Havia uma despensa na casa, para


armazenar os alimentos. As bebidas
As paredes da casa e os cereais eram guardados em
geralmente eram feitas com vasos cerâmicos.
uma mistura de barro e palha.
Depois de prontas, eram
pintadas com cal.
A cozinha, geralmente, tinha
um telhado leve, feito de galhos
e de palha, para fazer sombra e
permitir a saída da fumaça.

Mario Henrique
O almofariz (pilão) ficava
encaixado no chão da cozinha
e era usado para moer cereais.

Normalmente, a casa tinha poucos móveis. Os mais usados eram bancos,


Essa ilustração é uma representação artística
mesas pequenas e caixas para guardar objetos. Os membros da família feita com base em estudos históricos.
costumavam dormir em esteiras e, às vezes, havia uma cama para o casal. Baseado em Jacqueline Morley. Como seria sua
vida no Antigo Egito? São Paulo: Scipione, 1996.

O sujeito na história Harwa


Estátua de Harwa. XXV dinastia egípcia.

Harwa foi um artesão egípcio que viveu por volta de


Museu da Nubia, Assuã, Egito. Foto:
Stefano Ravera/Alamy/Other Images

800 a.C. Assim como diversos artesãos do Egito Antigo,


Harwa era um trabalhador especializado que fazia pin­
turas e esculturas em templos religiosos. Graças ao
prestígio que adquiriu por meio do seu trabalho, ele foi
mumificado. Estudos feitos na múmia de Harwa revela­
ram que ele media cerca de 1,57 metro de altura e tinha
aproximadamente 45 anos quando morreu.

67
Explorando oExplorando
tema o tema
As práticas religiosas no Antigo Egito
A principal característica da religião no Egito Antigo era o politeísmo, isto
c. 530 a.C. Museu Egípcio, Cairo. Foto: Werner Forman/TopFoto/Keystone

é, a crença em vários deuses. Para os egípcios, os deuses eram seres pode­


rosos que controlavam o dia e a noite, a chuva e a seca, a vida e a morte.
Os egípcios imaginavam que essas divindades sentiam vontades seme­
lhantes às dos seres humanos e, por isso, faziam­lhes oferendas de comidas
e bebidas. Entre os deuses mais cultuados, estavam Hórus (deus do céu),
Ísis (deusa da fertilidade) e Osíris (deus dos mortos).

A crença na vida após a morte


Os egípcios acreditavam na vida após a morte e para eles era muito impor­
tante serem bem recebidos por Osíris no reino dos mortos. Segundo a cren­
ça desse povo, quando uma pessoa morria, sua alma deixava o corpo, mas
depois retornava. Por isso, os egípcios desenvolveram elaboradas técnicas
Estatueta de mumificação para conservar os corpos.
representando
Osíris. Leia o texto abaixo, que descreve o processo de mumificação dos corpos.

As múmias eram preparadas por sacerdotes especiais. Utilizando facas afiadas, eles,
primeiro, removiam os órgãos internos do corpo. O fígado, os pulmões, o estômago e os
intestinos eram colocados em recipientes, denominados vasos canopos, e [...] [sepulta-
dos] com a múmia. O coração, tido como centro da inteligência, ficava no lugar. O
cérebro era em geral descartado.
Extraídos os órgãos, os sacerdotes lavavam o corpo com especiarias [...] e óleos
de cheiro doce e o cobriam com natrão, uma espécie de sal, para absorver a

Art Capri
umidade, por 40 dias. No fim desse período, o corpo desidratado era embru-
lhado em faixas de linho e colocado em um caixão de madeira.
Zahi Hawass. Como eram feitas as múmias. A maldição dos faraós: minhas aventuras entre as
múmias. Publicado pela National Geographic Society. São Paulo: Abril, 2004. p.142.

Essa ilustração, produzida


na atualidade, representa
sacerdotes egípcios
realizando a mumificação
de um corpo.

68
capítulo 4
Nem todos eram mumificados

Al-Qatta’i, Egito. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock

A África Antiga: os egípcios


A técnica de mumificação dos corpos não era
utilizada por todas as camadas sociais. Original­
mente, era usada para mumificar o corpo do faraó,
das pessoas de sua família, dos sacerdotes res­
ponsáveis pelos cultos e cerimônias religiosas. A
partir do Médio Reino, no entanto, foi estendida a
todos os que pudessem pagar.
A maioria das pessoas não tinha condições de
pagar pelos serviços dos sacerdotes especiais, por
isso, optavam por uma forma de mumificação mais
simples, em que os órgãos internos não eram re­
tirados do corpo do morto. Nesses casos, o corpo Os egípcios procuravam reproduzir a vida terrena no
ficava coberto com natrão apenas por alguns dias, túmulo e no além, enterrando alimentos junto com o
e depois era embrulhado em faixas de linho e de­ morto e alguns de seus pertences pessoais.
positado em um caixão.

Uma tentativa de monoteísmo


O faraó Amenófis IV (1364-1347 a.C.) empre­
Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

endeu uma reforma religiosa monoteísta no Egito.


Ainda jovem, converteu-se ao culto de Aton, ou
o Disco Solar, uma divindade que representava a
manifestação visível do Sol, mas que até então
tinha pouca importância.
Por volta do quinto ano de seu governo, Ame­
nófis IV declarou Aton o único deus do Egito. Além
disso, mudou seu próprio nome para Aquenaton
(“aquele que agrada a Aton”), e iniciou a constru­
ção de uma nova capital, chamada Aquetaton
(“Horizonte de Aton”).
É provável que o faraó tivesse motivação política
e religiosa, pois o alvo de seus ataques foi princi­
palmente o clero de Amon, em Tebas, cujos sacer­
dotes haviam adquirido tanta riqueza e poder que
constituíam uma ameaça direta ao trono. Aquena­
ton nomeou-se o único intermediário entre os seres
humanos e a divindade. Segundo alguns egiptólo­
gos, essa era uma estratégia do faraó para diminuir
a influência religiosa dos sacerdotes egípcios e,
por outro lado, aumentar seu próprio poder.
No entanto, a nova religião desagradou à maio­
ria da população, que continuou cultuando seus
deuses secretamente. Após a morte de Aquena­
ton a capital do império voltou a ser a cidade de
Tebas e os sacerdotes retomaram as suas funções Relevo representando o faraó Aquenaton e sua
na condução das cerimônias religiosas. família em adoração ao deus Aton.

69
História em construção Os trabalhadores das grandes pirâmides

A forte crença na vida após a morte levou alguns A hipótese de Heródoto


faraós do Egito Antigo a ordenar a construção de gi- A hipótese de que cerca de 100 mil
gantescos complexos mortuários para lhes servir de escravos construíram as pirâmides nos foi
túmulo. Entre os mais impressionantes desses comple- transmitida pelo historiador grego Heró-
xos estão as pirâmides. doto de Halicarnasso, que visitou o Egito
por volta de 450 a.C., ou seja, cerca de
Entre cerca de 2550 e 2470 a.C., milhares de traba- dois mil anos após a construção das
lhadores participaram da construção das pirâmides dos pirâmides.
faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos. Por muito tempo
acreditou-se que as pirâmides foram construídas por
cerca de 100 mil escravos, que eram obrigados a pas-
sar toda sua vida esculpindo e transportando enormes
blocos de pedras debaixo de um sol escaldante. Próximo às obras, eram
Escavações recentes feitas nos arredores das pirâ- construídas tendas para o
descanso dos trabalhadores.
mides, no entanto, permitiram aos estudiosos elaborar Nesses locais também eram
uma outra hipótese sobre os construtores das pirâmi- feitas as refeições.
des. Foi descoberto um cemitério, e o estudo dos ossos
encontrados nos túmulos indica que os trabalhadores,
além de receberem uma boa alimentação, contavam Além dos trabalhadores
com cuidados médicos. encarregados da obra,
havia ajudantes, entre eles
De acordo com um dos maiores especialistas no as- mulheres e homens, que
sunto, o egiptólogo Zahi Hawass, os escravos não rece- carregavam água e
beriam esse tipo de tratamento. Hawass acredita que preparavam alimentos para
trabalharam nas obras cerca de 20 a 30 mil egípcios, os trabalhadores.
entre eles homens e mulheres. Alguns deles eram traba-
lhadores fixos contratados pelo Estado, enquanto outros
eram camponeses contratados temporariamente para
ajudar na execução das obras.
Para esse estudioso, o que motivava os egípcios a
se dedicar a essas obras gigantescas era o orgulho de
servir ao faraó e de construir sua morada eterna. E mais:
para Hawass, os egípcios não estavam somente cons-
truindo o túmulo do faraó. Estavam construindo sua
própria identidade, baseada em uma forte religiosidade
e na crença na vida após a morte.
Observe a ilustração. Ela representa os trabalhadores
egípcios construindo uma grande pirâmide.

Durante as obras, eram organizados grupos de


trabalho com a finalidade de dividir as tarefas.
Os grupos recebiam denominações, como
“Amigos de Quéops” e “Os mais fortes”.

Os blocos de pedra eram retirados das


pedreiras próximas com picaretas de pedra e
formões de cobre e, depois, arrastados em
trenós de madeira até as rampas.

70
capítulo 4
Zhang Ning/Xinhua Press/Corbis/Latinstock
Em 2010, Hawass anunciou a descoberta de
outro cemitério de trabalhadores das pirâmides.
A partir de achados como esse, os arqueólogos

A África Antiga: os egípcios


conseguiram novos dados que revelaram as
imprecisões da hipótese de Heródoto. Com o
avanço das pesquisas, é provável que outras
interpretações até então aceitas sejam revistas
e que novos conhecimentos sejam incorpora­
dos à história do Egito Antigo.

Fotografia que retrata pessoas visitando o


cemitério descoberto pela equipe de Hawass.

Mario Henrique
Para elevar os blocos de pedra, eram
construídas rampas ao redor das
pirâmides. Sobre as rampas, eram
colocadas toras de madeira para facilitar
o deslocamento dos blocos de pedra.

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
Baseado em Lionel Casson. Antigo Egito. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.

71
Um rio de grande importância
O rio Nilo era a principal fonte de água e vida para os egípcios.

As cheias anuais do rio Nilo


Húmus parte
Todos os anos, entre os meses de julho e novembro, o rio Nilo enchia e do solo rica em
alagava as áreas próximas às suas margens, depositando nelas uma rica nutrientes e,
camada de húmus. Quando as águas do rio baixavam, o solo de suas mar- portanto, bastan-
te fértil.
gens ficava fértil e apropriado para ser cultivado.

As paredes das casas


geralmente eram feitas com
uma mistura de barro e palha.
Depois de prontas, eram
pintadas com cal.

Existiam, às margens do
rio, pequenos mercados A pesca no rio Nilo era uma
onde eram atividade comum. Os
comercializados diferentes pescadores usavam grandes
produtos, muitos deles redes para pescar; depois, eles
trazidos de lugares vendiam os peixes nos
distantes. mercados.

O shaduf era um instrumento


usado para retirar a água do rio
Nilo e irrigar as plantações.

Os cereais, como o trigo e a


cevada, eram a base da
O ano
alimentação dos egípcios. Um pão
agrícola no redondo e achatado, feito com
Egito Antigo esses grãos, era o seu principal
alimento.

72
capítulo 4
A África Antiga: os egípcios
Crocodilos e hipopótamos existiam
em grande quantidade no rio Nilo.
Os egípcios temiam os ataques
desses animais; no entanto, sua

Mario Henrique
caça era considerada um esporte.

As embarcações eram o
principal meio de transporte
de pessoas e mercadorias no
Egito Antigo.

O papiro era uma planta muito


usada para fazer cordas,
sandálias, redes, pequenas
embarcações e, também, um tipo
de folha que se usava para
Os egípcios criavam animais escrever.
como gansos e cabritos, além
de bois, que eram usados na
alimentação e também para
puxar o arado nas plantações.
Um homem era considerado
rico se possuísse muitos A demarcação das áreas de plantio de
animais. cada família era feita por funcionários
do governo. As famílias produziam
mais do que era necessário para seu
consumo, pois tinham que pagar
tributos ao Estado. O que sobrava era
levado aos mercados para ser vendido
ou trocado por outros produtos.

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
Baseado em Jacqueline Morley. Como seria sua vida no Antigo Egito? São Paulo: Scipione, 1996.

73
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 De acordo com estudos arqueológicos, 8 Por que os egípcios mumificavam as pes­
quando teve início a ocupação das mar­ soas que morriam?
gens férteis do rio Nilo?
9 Estudos recentes indicaram que os traba­
2 O que eram os nomos? lhadores das grandes pirâmides, ao contrá­
rio do que se pensava, não eram escravos.
3 Explique como ocorreu a unificação do
Egito. a ) Quais descobertas arqueológicas leva­
ram Zahi Hawass a acreditar que os
4 Cite algumas das funções desempenhadas trabalhadores das grandes pirâmides
pelos funcionários do Estado no Egito não eram escravos?
Antigo.
b ) De acordo com o egiptólogo Zahi Ha­
5 Produza um pequeno texto sobre a socie­ wass, o que motivava os trabalhadores
dade egípcia antiga. das pirâmides a realizar essas obras
gigantescas?
6 Descreva a casa de um artesão que vivia
no Egito Antigo. 10 Cite algumas atividades que os egípcios
desenvolviam no rio Nilo e nas áreas pró­
7 Como era a religião dos antigos egípcios? ximas às suas margens.

Expandindo o conteúdo
11 O texto a seguir é um relato que foi escrito por um antigo egípcio. Leia-o.

Ponha a sua alma nas escritas! [...]


Observe como ela se salva através do trabalho!
Veja, não há nada que supere as escritas
São um barco perfeito!...
Farei com que goste de escrever mais do que de sua própria mãe.
Farei com que sua beleza lhe seja mostrada.
É a profissão mais importante do que qualquer outra.
Não existe igual na Terra.
John Man. A história do alfabeto. Trad. Edith Zonenschain. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 54.

a ) Em sua opinião, que profissão exercia o autor desse relato na sociedade egípcia antiga?
Cite um trecho do relato que o ajudou a chegar a essa conclusão.
b ) De acordo com o texto e com o que foi estudado, qual era a importância desses profis­
sionais para a sociedade egípcia antiga?

12 Leia o texto.

Os egípcios não viveram sozinhos no Oriente Próximo antigo. Muitas cul-


turas diferentes partilharam seu mundo: a Núbia ficava ao sul do Egito; a
Mesopotâmia se estendia a nordeste, na Ásia; os hititas viveram ao noroeste,
onde hoje é a Turquia. Todas essas culturas se comunicavam, comercializavam
e às vezes lutavam com o Egito.

74
capítulo 4
Além dessas, outras culturas se destacavam no mundo egípcio. A Líbia fa-
zia fronteira com o deserto a oeste do Nilo [...]. A Síria e Canaã ocupavam o
litoral entre o Egito e a Mesopotâmia. Ali viviam os israelitas, os filisteus e os
fenícios, entre outros povos. Barcos cruzavam o Mediterrâneo, vindos das

A África Antiga: os egípcios


ilhas da Grécia, de Chipre e Creta. Culturas conhecidas sobretudo dos histo-
riadores, Ebla, Mitanni e Susa, floresceram e desapareceram durante os 3 000
anos de história do Egito Antigo.
Muito mais longe, as terras da Índia e da China originaram ricas civilizações.
Povos viviam em outras partes da África e na Europa também. Desconhecidas
dos egípcios, civilizações cresciam nas Américas e na Austrália.
O Egito Antigo tem muito em comum com seus vizinhos mesopotâmios e
outros povos vizinhos. Criavam os mesmos animais (carneiros, bois e cabras);
forjavam metais similares (sobretudo bronze, até que a tecnologia do ferro foi
desenvolvida); e cultivavam vegetais semelhantes (entre os quais o trigo emer,
a cevada, o pepino e a cebola). Mas o clima e os costumes diferiam. Cada cul-
tura teve sua própria história e deixou-nos um legado único.
Marian Broida. Egito Antigo e Mesopotâmia para crianças.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 80.

a ) Cite alguns povos que tiveram contato com egípcios.


b ) De acordo com o texto, em que lugares do mundo antigo cresciam civilizações des­
conhecidas dos egípcios?
c ) Apesar das muitas diferenças culturais, egípcios e mesopotâmios tinham algumas práti­
cas em comum. Cite algumas.

No Brasil
13 Leia o texto.

Você pode conhecer um pouco mais sobre o Egito aqui no Brasil também.
É só fazer uma visita ao Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de
Janeiro, onde há uma exposição permanente de algumas peças da antiga civi-
lização egípcia.
A coleção do Museu Nacional conta com mais de 700 peças, incluindo
sarcófagos, amuletos, máscaras e múmias, e foi adquirida pelo imperador
D. Pedro I em 1826. Dentre as principais peças podemos destacar a múmia do
sacerdote Hori, que viveu entre 1100 e 1050 a.C. [...]
Outra raridade da coleção do Museu Nacional da Quinta é o único sarcófa-
go existente na América Latina, que ainda não foi aberto. [...] Este sarcófago foi
oferecido ao imperador do Brasil, D. Pedro II, pelo [...] [governante egípcio]
Ismail, quando o imperador viajou pelo Egito, em 1876. As inscrições sobre o
sarcófago incluem um hieróglifo muito raro. [...]

75
Há ainda muita coisa para se ver: múmias de crianças, de gatos e de croco-
dilos; lápides de rochas que registram grandes feitos de certos administradores
ou inscritas com pedidos e preces que ficavam dentro da tumba; amuletos,
colares, estatuetas e vasos tanto de cosméticos como outros especiais destina-
dos a conter os órgãos internos dos corpos mumificados.
Theresa Baumann. Uma visita à coleção egípcia do Museu Nacional
no Rio de Janeiro. In: Marian Broida. Egito Antigo e Mesopotâmia para crianças.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 82-3.

D. Pedro II, imperador do Brasil entre 1840 e 1889, fez duas viagens ao Egito: a primeira em 1871 e a segunda em 1876. M. Delie E E. Bechard. 1871. Coleção particular
Nessa fotografia, tirada no Egito em 1871, vemos o imperador (sentado à direita) com membros da família real, um grupo
de guias e egiptólogos estrangeiros.

a ) Em que lugar do Brasil há uma exposição permanente de antigas peças egípcias? Cite
algumas peças que fazem parte desse acervo.
b ) Reescreva no caderno os trechos do texto que indicam que os imperadores do Brasil,
D. Pedro I e D. Pedro II, se interessaram pela cultura egípcia.

Discutindo a história
14 Alguns países milenares, como Egito e Grécia, têm promovido ações para tentar recuperar
peças antigas que fazem parte de seu patrimônio histórico e que foram levadas para outros
países. Leia informações sobre esse assunto no texto a seguir.

76
capítulo 4
Quero minha múmia
[...] [Egito e Grécia lideram um grupo de países] que lu-
tam para receber de volta os tesouros arqueológicos que

A África Antiga: os egípcios


durante séculos foram levados de seus territórios por exér-
citos, exploradores e ladrões de tumbas estrangeiros. As

Foto: Corel Stock Photo


Museu Egípcio, Berlim.
reivindicações têm dividido os especialistas em antiguida-
des. De um lado estão governos e sociedades de arqueólogos
que acreditam que os tesouros culturais precisam ficar nos
países de origem, de onde nunca deveriam ter saído. Do Busto da
outro, diretores de museus e colecionadores que acham que rainha
as peças têm de ficar onde mais gente possa vê-las e onde Nefertiti.
tenham condições de ser guardadas e estudadas com maior
segurança. Eles temem que os artefatos devolvidos a países
conturbados tenham destino parecido com o das milenares
estátuas gigantes de Buda no Afeganistão, explodidas com
dinamite pelo governo fanático do Talibã, em 2001.
O Egito já conseguiu receber de volta centenas de estátuas, escrituras e múmias do tempo dos
faraós. “O processo começou com o presidente Gamal Nasser, na década de 1950, que queria a
devolução de tudo o que tinha sido levado do país desde 300 anos antes de Cristo”, diz Antonio
Brancaglion, egiptólogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. O caso mais recente foi o retorno
da múmia de Ramsés I, que estava nos Estados Unidos. [...] O diretor da divisão de antiguidades
do Egito, o arqueólogo Zahi Hawass, deflagrou no ano passado uma campanha agressiva de resti-
tuição de peças históricas. Entre outros itens, exige a devolução do obelisco da Place de la
Concorde, no centro de Paris, do magnífico busto da rainha Nefertiti, que está no Museu Egípcio
de Berlim, e da pedra de Roseta, cujo texto trilíngue permitiu que os hieróglifos egípcios fossem
decifrados e que hoje está exposta no Museu Britânico, em Londres.
Veja. São Paulo: Abril, ano 36, n. 1833, 17 dez. 2003. p. 64.

a ) Cite alguns dos países que possuem peças egípcias em seus museus.
b ) Quais são as duas principais opiniões acerca do que deve ser feito com as peças antigas
que foram retiradas de seus países de origem?
c ) Você concorda com alguma das opiniões? Qual? Justifique sua resposta.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando­lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique­lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ Por meio do trabalho, os egípcios conseguiram superar as dificuldades impostas pela

natureza e ao mesmo tempo aproveitar as suas potencialidades, formando uma das


maiores civilizações da Antiguidade.
■ ■ Na sociedade egípcia quase não havia mobilidade social.

■ ■ Em geral, os operários das grandes pirâmides não eram escravos.

■ ■ Os egípcios acreditavam na vida após a morte e por isso desenvolveram técnicas sofis­

ticadas de mumificação dos corpos.


Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi­
ficar­se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

77
5
A África Antiga:
capítulo

os cuxitas
Veja nas Orientações
Benjamin Lowy/Corbis/Latinstock

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Fotografia recente de uma


pirâmide construída pelos
cuxitas no século VII a.C.
Em Tumba de Ramesses III, Luxor. Foto: Alfredo Dagli Orti/The Art Archive/Corbis/Latinstock

B Nobres cuxitas representados


em pintura tumular encontrada
no Egito, datada de cerca de
1180 a.C.

78
Werner Forman/TopFoto/Keystone
C Relevo representando a rainha-mãe Amanishaketo, nas ruínas do Templo do Leão, em Naga, no Sudão. Esse templo
foi construído por volta do século II a.C. Também chamadas de candaces, as rainhas-mães exerciam grande poder
na sociedade cuxita. Essa imagem representa Amanitare dominando seus inimigos.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
A África é um continente que tem uma grande diversidade de povos e conhecimento prévio
dos alunos e estimular
culturas. Neste capítulo estudaremos algumas características de um seu interesse pelos
desses povos: os cuxitas, que mantiveram frequentes contatos com ou- assuntos que serão
desenvolvidos no
tros povos africanos, principalmente com os egípcios. capítulo. Faça a
Observe as imagens destas páginas e converse com os colegas sobre mediação do diálogo
entre os alunos de
as questões a seguir. maneira que todos
■ ■ Analisando as fontes A e B, quais informações podem ser obtidas participem
expressando suas
sobre a cultura cuxita? opiniões e respeitando
■ ■ Houve trocas culturais entre os cuxitas e outros povos? Quais são os
as dos colegas.

elementos que podem indicar essas trocas?


■ ■ Identifique as principais características da fonte C. Como foi represen-

tada a rainha-mãe cuxita? De que forma essa representação pode in-


dicar a importância de sua posição na sociedade?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

79
A África na Antiguidade
Desde a Antiguidade, o continente africano apresenta uma grande
diversidade de povos.

Berço de grandes civilizações


Foi na África que o ser humano surgiu. Foi nesse continente também que
se desenvolveram grandes civilizações, entre elas a egípcia e a cuxita.
Esses povos fundaram cidades e reinos, que eram muito conhecidos no
mundo antigo por seu grande desenvolvimento econômico, artístico e cultural.
Observe, no mapa, algumas cidades e reinos africanos na Antiguidade.

Cidades e reinos da África Antiga


EUROPA

E. Cavalcante
N
Cartago
Fez Mar Mediterrâneo O L

S
ÁSIA
Cairo
Trópico de GARAMANTES EGITO
Câncer Tebas

Ma
rV
er
SAARA NÚBIA

me
Querma
lho
Tombuctu Napata
GANA CUXE Méroe
Gaô
Ri

Axum
o
Rio

SAHEL

AXUM
ge
Vol

r
ta

NOK ue
Ben
Rio
Rio Nilo

Equador

Lago
Vitória
OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO Lago ÍNDICO
Tanganica
Vegetação
Florestas
Lago
Savanas Maláui
Estepes
Vegetação mediterrânea
Deserto
Oásis

Trópico de Capricórnio
CALAHARI

Fonte: BLACK, Jeremy.


0 620 km World History Atlas.
Londres: Dorling
15° L Kindersley, 2005.
Corel Stock Photo

Os oásis africanos
Os oásis são porções de terra, localizadas em pleno deserto, que
possuem água e cobertura vegetal onde podem ser cultivadas algumas
plantas mais resistentes, como amoreiras, oliveiras e tamareiras. Os
oásis são utilizados há centenas de anos como ponto de parada e
descanso para os comerciantes das caravanas que cruzam os desertos.
Fotografia que retrata um oásis localizado no deserto do Saara.

80
Organização social e política

capítulo 5
No continente africano se desenvolveram povos com culturas, costumes e religiões
diferentes. Havia, no entanto, algumas semelhanças na maneira de organizar a
sociedade, o governo e a religião.

A África Antiga: os cuxitas


Aspectos sociais
Várias sociedades da África Antiga eram
governadas por soberanos que se julgavam
filhos dos deuses. Nessas sociedades, geral-
mente, a camada dirigente era composta por
chefes militares e líderes religiosos.
Havia uma camada intermediária compos-
ta por profissionais como comerciantes, arte­

Litografia. Coleção particular. Foto: Ken Welsh/


Minério de ferro em Fouta Djallon. c. 1860.
sãos e joalheiros. Essa camada contribuiu

The Bridgeman Art Library/Keystone


muito para o desenvolvimento do comércio,
que foi o grande veículo de comunicação e
aproximação entre os povos africanos.
Existia também uma camada composta por
trabalhadores que realizavam diferentes tare-
fas, entre elas plantar, colher, trabalhar em
obras públicas e atuar no exército em caso de Nas antigas sociedades africanas, a fundição de metais era
guerra. Dessa camada também faziam parte uma importante atividade. Litografia representando um
os escravos. metalúrgico africano.

Aspectos políticos
Muitos reinos africanos da Antiguidade eram patriarcais, ou seja, eram
sociedades dirigidas pelos homens, geralmente os mais idosos e mais res-
peitados do grupo. Esses reinos africanos eram governados por reis, com
sucessão hereditária de poder. Em alguns casos, no entanto, o poder não
era transferido de pai para filho, mas de irmão para irmão, respeitando
sempre a linhagem real.
A mulher tinha um papel muito importante nas sociedades africanas da
Antiguidade. Elas exerciam funções religiosas e administrativas. Algumas
sociedades da África Antiga eram matriarcais, isto é, as mulheres eram as
principais autoridades.

Aspectos religiosos
Werner Forman/TopFoto/Keystone

Os antigos povos africanos acreditavam que os espíritos interferiam


no cotidiano da comunidade. Esses espíritos podiam ser de um ante-
passado distante, convertido em divindade; de um familiar morto recen-
temente ou até mesmo de um espírito da natureza. Acreditavam que
esses espíritos tinham o poder de trazer coisas boas ou más para o
mundo dos vivos. O culto aos antepassados existe até hoje em muitas
sociedades africanas.

Os africanos também cultuavam várias divindades, como


Apedemeque, deus guerreiro com corpo de homem e cabeça de
leão, representado nesse baixo-relevo produzido no século II a.C.

81
O Império Cuxe
Desde que era uma colônia egípcia, Cuxe chamava a atenção
por suas riquezas naturais.

A influência egípcia
Situada ao Norte do atual Sudão, na Núbia, a região de Cuxe foi muito
importante para os egípcios, principalmente pelo fornecimento de riquezas
naturais como o ouro.
Quando esteve sob domínio do Egito, a partir do século XVI a.C., Cuxe
sofreu forte influência cultural. Os cuxitas passaram a construir templos e
cidades com características egípcias, além de venerarem deuses semelhan-
tes. Porém, ao longo dos séculos desenvolveram uma identidade própria. Estela placa de
Entre os anos de 730 a.C. e 650 a.C., os pedra muito

Museu Egípcio, Cairo. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock


cuxitas dominaram o território egípcio. Tebas, usada entre os
povos da Antigui-
nessa época a capital egípcia, esteve sob do- dade, geralmente
mínio de imperadores cuxitas, conhecidos como como monumento
os faraós negros. Nesse período também hou- funerário. Nas
ve um grande intercâmbio cultural entre cuxitas estelas, muitas
e egípcios. vezes eram feitas
inscrições ou
desenhos em
homenagem à
pessoa falecida.

Escultura feita por volta de 690 a.C., representando Núbia região


entre o sul do
Taraca, faraó negro que reinou sobre a região da
Egito e o Sudão
Núbia no século VII a.C. e que financiou a
atual.
construção de pirâmides e templos religiosos.

O sujeito na história Nenu


Os antigos egípcios chamavam a Núbia de “Terra do Arco” devido à habilidade com que
seus soldados manuseavam o arco e a flecha. Muitos destes arqueiros atuaram nos exércitos
egípcios como mercenários, ou seja, lutavam em troca de pagamentos.
Nenu foi um arqueiro núbio que viveu
por volta de 2250 a.C. Na estela repro-
duzida ao lado, Nenu aparece repre-
Museu de Belas Artes, Boston. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

sentado com seu arco e flechas ao


lado de sua esposa, seus serviçais e
seus cães de estimação.
Muitos soldados núbios moravam no
Egito e se casavam com mulheres
egípcias, o que possibilitava um inten-
so intercâmbio cultural entre esses
povos.

Estela produzida por volta de 2100 a.C.


representando Nenu com sua esposa,
serviçais e animais de estimação.

82
História em construção Fontes para a história da África

capítulo 5
Durante muito tempo, a África foi tratada como um continente sem história. Essa ideia foi
criada e divulgada por estudiosos não africanos, que acreditavam que a história da África
não merecia ser objeto de estudos científicos.

A África Antiga: os cuxitas


Na segunda metade do século XX, essa situa­ç ão começou a mudar. Alguns pesquisado-
res passaram a considerar a história da África a partir da visão de mundo dos próprios
africanos, combatendo assim os preconceitos difundidos por uma visão da história que tinha
a Europa como referência.
As principais fontes para a história da África Antiga são os relatos escritos (sobretudo em
egípcio, grego, latim e árabe), os vestígios arqueológicos e a tradição oral.
Atualmente, a arqueologia é um dos campos de estudo que oferecem grandes possibili-
dades para o conhecimento da história das civilizações africanas.
Já a tradição oral, até recentemente

George Steinmetz/Corbis/Latinstock
negligenciada, fornece muitas informações
sobre a história das sociedades africanas,
além de permitir que se saiba mais sobre
os valores que fundamentam as culturas
nativas da África. Desse modo, a tradição
oral revela ao historiador um conhecimen-
to que os africanos transmitiram de geração
em geração, ao longo dos séculos, e que
não se encontra nos relatos escritos.

Nas últimas décadas, historiadores de todo o mundo


têm se dedicado a pesquisas em busca de fontes que
ofereçam informações sobre a história da África. Nessa
fotografia, vemos arqueólogos americanos, italianos e
etíopes trabalhando na escavação de um sítio
arqueológico na Etiópia, em busca de vestígios do
antigo Império Axum.

Períodos do Império Cuxe


Na linha do tempo a seguir, estão destacados os principais acontecimen-
tos da história dos cuxitas, que desenvolveram uma grande civilização na
região da Núbia. Observe-a.

c.1530 a.C. a c.1070 a.C. 730 a.C. a c. 670 a.C. 591 a.C. a 350 a.C.
Período do domínio egípcio Período de domínio cuxita Período de Méroe, que
sobre a região da Núbia, onde sobre os egípcios. Os faraós passa a ser a capital dos
viviam os cuxitas. negros cuxitas criaram a XV cuxitas devido à destruição
dinastia do Egito. de Napata pelos egípcios.

2500 a.C. 2000 a.C. 1500 a.C. 1000 a.C. 500 a.C. ano 1 350

c. 2500 a.C. c. 900 a.C. c. 100 a.C. 350


Os cuxitas se Fundação do Invenção da escrita O Império Cuxe
estabelecem na região Reino Cuxe, com meroítica, com é dominado
da Baixa Núbia. capital em Napata. caracteres egípcios. pelos axumitas.

83
As pirâmides cuxitas
Os imperadores cuxitas acreditavam que eram herdeiros diretos dos antigos faraós
egípcios.
Os túmulos reais
Os imperadores cuxitas adotaram rituais, símbolos e costumes há tempos
abandonados pelos egípcios. Esses imperadores chamavam a si mesmos de
faraós e ordenaram a construção de pirâmides para lhes servirem de túmulo.
Observe.

As pirâmides simbolizavam o poder dos Necrópole


reis, que eram considerados seres cemitério, local
divinos. Algumas necrópoles podiam destinado ao
reunir dezenas de pirâmides como sepultamento dos
essas, em que eram sepultados os mortos nas
soberanos e príncipes herdeiros. cidades antigas.

As pirâmides cuxitas eram bem


menores do que as egípcias,
porém mais pontiagudas.
Art Capri

À frente das pirâmides


eram construídas capelas
retangulares com entradas
monumentais.

Essa ilustração é uma representação artística


feita com base em estudos históricos.

84
Chauabitis

capítulo 5
Os chauabitis
Os principais materiais Algumas pirâmides eram eram estatuetas
utilizados na construção das construídas com paredes feitas de madeira,
pirâmides eram o arenito e o lisas, e outras, com frisos pedra ou marfim
cascalho, extraídos na região. horizontais. que representavam

A África Antiga: os cuxitas


os servidores do
faraó. Podiam
também
representar
animais, como
bois, cavalos e
cães. O costume
de sepultar o faraó
acompanhado
dessas estatuetas
substituiu a antiga
prática de
sacrificar pessoas
e animais para
acompanhar o
faraó em sua
morte. Era comum
encontrar
dezenas e até
centenas dessas
estatuetas ao lado
dos soberanos.

c. 700-600 a.C. Faiança. Coleção particular. Foto:


Heini Schneebeli/The Bridgeman Art Library/Keystone
Os reis que governavam por mais
tempo geralmente eram
sepultados em pirâmides Martin Gray/National Geographic/Getty Images

maiores e com maior quantidade


de joias, cerâmicas e alimentos.

Fotografia recente que retrata as


ruínas de algumas pirâmides
cuxitas em Méroe, no Sudão.

85
A transferência da capital cuxita
No início do século VII a.C., os cuxitas transferiram a capital de seu império
para Méroe.

Trocas comerciais O que são


A transferência da capital cuxita para a cidade de Méroe ocorreu por escarificações?
diversos motivos, entre eles a melhor qualidade do solo e o clima mais As escarificações
são cisões,
ameno da região. Além disso, sua localização facilitava as trocas comerciais
arranhões feitos
entre cuxitas e povos estrangeiros. no rosto ou pelo
Com o desenvolvimento do comércio, os cuxitas receberam também corpo. Além de
estarem
muitas influências culturais de povos estrangeiros, como gregos, romanos,
associados à
sírios, árabes, per­s as e indianos. beleza,
diferenciam os
A cultura cuxita indivíduos de
grupos distintos,
No período em que Méroe foi a capital do império, podendo também

Charles & Josette Lenars/Corbis/Latinstock


mesmo com a influência cultural de povos estrangeiros, indicar uma
os cuxitas mantiveram sua identidade, e retomaram posição social,
uma característica
práticas que haviam sido abandonadas: antigos deuses pessoal ou uma
africanos voltaram a ser cultuados, as escarificações e determinada fase
alguns costumes funerários também voltaram a ser pra- da vida da pessoa.
ticados. A partir do século II a.C., os cuxitas criaram a Em algumas
sociedades
escrita meroítica, que era utilizada principalmente pelos
africanas, a prática
funcionários responsáveis pela administração do império. da escarificação
ainda hoje é
Homem da etnia bobo com escarificações no rosto. comum.

Enquanto isso... no Saara Etnia grupo de


indivíduos que
Enquanto o Império Cuxe ampliava seu domínio sobre a região da Nú- compartilham as
bia, povos nômades e seminômades, chamados berberes, viviam no mesmas caracte-
rísticas sociocul-
deserto do Saara. turais, como a
Esses povos viviam principalmente da criação de carneiros, cabritos língua, a religião,
os costumes e os
e bois. Eles conheciam bem o deserto e se deslocavam constantemente modos de agir.
em busca de bons pastos para seus animais e terras para cultivo. Seminômades
Entre os grupos berberes havia os garamantes, que formaram um im- povos que migram
periodicamente,
portante reino no século V a.C., em uma região do Saara conhecida como mas que durante
Fezzan. certos períodos
Os garamantes possuíam um desenvolvido sistema de irrigação sub- fazem acampa-
mentos para prati-
terrânea denominado foggara . Esse sistema permitiu o florescimento da car a agricultura.
agricultura e da criação de animais em pleno deserto.
Habilidosos agricultores, engenhei-
Tiziana and Gianni Baldizzone/Corbis/Latinstock

ros e mercadores, os garamantes pro-


duziam e vendiam principalmente uvas,
figos, cevada e trigo, além de praticar
o comércio de escravos.

Fotografia recente de uma foggara,


construída de acordo com as antigas
técnicas dos garamantes.

86
As candaces

capítulo 5
Quando a capital do Império Cuxe foi transferida para Méroe, as mulheres,
que já exerciam grande influência religiosa, passaram a exercer também o
poder político na sociedade cuxita.

A África Antiga: os cuxitas


As rainhas-mães, chamadas candaces, ganharam grande destaque e, no
século II a.C., já haviam assumido o controle político da sociedade. Elas
deram início a um sistema matriarcal de poder.
Interfoto/Age Fotostock/Bankphoto

O bracelete de ouro ao lado, ricamente


ornamentado, pertenceu a candace
Amanischahete, rainha-mãe de Méroe.

O resgate do papel da mulher nas

Corel Stock Photo


sociedades africanas
Nas últimas décadas, intelectuais africanos têm
procurado estimular o resgate do papel da mulher
nas sociedades africanas. Afirmando que as africa-
nas sempre desempenharam importantes papéis
em suas sociedades, esses intelectuais percorrem
o mundo dando palestras sobre o tema.
Entre esses intelectuais, podemos citar Filipe
Vidal, professor de Antropologia Cultural e História
da Arte no Instituto Nacional de Formação Artística,
em Luanda, Angola. Nas palestras que realiza em
faculdades angolanas, ele convida os alunos a se
dedicar com maior afinco a pesquisas sobre os
aspectos tradicionais que testemunham o valor da
mulher nas sociedades africanas.
Segundo Filipe Vidal, os estudantes devem contribuir para que a socie- Mulher angolana
dade valorize seu passado. Alguns exemplos de obras de arte, como pin- com sua filha.
turas e esculturas de países como Egito e Angola, ressaltam a beleza, a
força e o poder que a mulher teve e que ainda se mantém em algumas Matrilinear
sociedades. Citando as comunidades bakongo, kwanhamas e ovibungo, organização social
o professor salienta que a conservação, em certa medida, da linhagem em que o nome e
os privilégios são
matrilinear nessas comunidades comprova a grande importância social da transmitidos pela
mulher. mãe.
Filipe Vidal explica que a visão atual da mulher como dependente dos Patrilinear
homens é resultado da influência do colonialismo europeu, cujo regime organização
social em que o
patrilinear dominante deslocou o feminino para um plano subalterno. Ele
nome e os
também afirma que uma verdadeira emancipação feminina deve partir do privilégios são
estudo e da recuperação de elementos do passado africano, pois os valo- transmitidos pelo
res de solidariedade entre homens e mulheres sempre foram a base da vida pai.
social dos povos africanos.

87
Explorando o tema
Sociedades matriarcais
Neste capítulo, você estudou que algumas sociedades africanas se destacaram pelo poder
exercido pelas mulheres. Esse modo de organização social foi denominado matriarcado.
Uma das principais características das sociedades matriarcais é a posição na qual as mu-
lheres se encontram. No matriarcado, quem ocupa o papel principal na família ou na comuni-
dade é a mulher, geralmente a mãe, e por meio dela são transmitidos o poder e os privilégios.

A figura da mulher no matriarcado


A palavra matriarcado tem origem latina ( mater = mãe) e grega ( arché = governo ou domí-
nio). Desse modo, matriarcado pode ser entendido como “domínio pelas mães”, caracteri-
zando os povos que tem a mãe (ou mulher) como figura central da família. Isso não significa,
no entanto, que matriarcado seja o inverso do patriarcado, onde a autoridade é exercida
pela figura masculina.
Não podemos afirmar que houve uma dominação da mulher sobre o Gênero neste
homem. Há estudos que afirmam que as sociedades matriarcais estavam caso, pode ser
mais próximas da solidariedade e do igualitarismo entre homens e mu- definido como
lheres do que do domínio de um gênero sobre o outro. diferença
biológica entre os
Desse modo, o poder seria compartilhado entre mulher e homem, as- sexos masculino
segurando um equilíbrio na sociedade. e feminino.

As sociedades matriarcais na atualidade


Os seres humanos desenvolveram diferentes formas de organização social no decorrer da
história. No passado, muitos povos organizaram-se segundo um modelo de sociedade ma-
triarcal. Diversos fatores, dentre eles o fortalecimento do patriarcado, contribuíram para o
declínio dessas sociedades. Atualmente, existem poucas sociedades que mantêm o matriar-
cado. Veja.

Mosuo
No sudoeste da China, em razão de seu isolamento geográfico, o povo mosuo mantém
viva a tradição do matriarcado. A sociedade é centrada nas mulheres, que possuem autori-
dade sobre as decisões da família e da comunidade.
Entre os mosuo, são as mulheres que es-
Michael S. Yamashita/Corbis/Latinstock

colhem os homens com quem irão se rela-


cionar e não há vínculos de casamento. Os
casais vivem em casas separadas e o pai
não exerce nenhum direito sobre os filhos e
filhas.

Fotografia recente retratando


mulheres da etnia mosuo
vestindo roupas tradicionais.

88
capítulo 5
Earl & Nazima Kowall/Corbis/Latinstock

A África Antiga: os cuxitas


Khasi
No Estado de Meghalaya, na Índia, a etnia
khasi conservou a tradição matriarcal até os dias
de hoje. Nessa sociedade, as mulheres são res-
ponsáveis pelos negócios da família, comandam
a casa e tomam as principais decisões.
Entre os khasi, os homens não possuem direi-
to à propriedade ou herança, pois esses são
privilégios transmitidos pela mãe, e somente
para as filhas.

Essa fotografia atual retrata uma


jovem participando de um tradicional
ritual da cultura dos khasi.

Kuna
No arquipélago de San Blas, no Panamá, os indígenas da etnia kuna mantêm uma tradição
milenar transmitida pelas mulheres. Elas são consideradas guardiãs da cultura e das tradições
do povo. A figura da mulher é o que sustenta a sociedade. Elas chefiam a casa e os homens
trabalham para o seu sustento.
Como a linhagem depende da mãe, quando um homem kuna se casa, é ele quem vai morar
com a família da esposa. Cada família possui uma propriedade, mas segundo suas leis ne-
nhuma terra pode ser vendida a estrangeiros, sob o argumento de que a terra pertence à
natureza.

Mulheres kuna com suas filhas.

Jane Sweeney/Age Fotostock/Keystock

89
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.

Exercícios de compreensão
1 Explique o que são sociedades matriar­ca­is. d ) O que eram os chauabitis?
Explique também o que são socie­d ades
4 Escreva um pequeno texto explicando o
patriarcais.
que é escarificação e quais seus sig­n i­f i­
2 Descreva as principais características das cados para os antigos povos africanos.
religiões dos antigos povos africanos.
5 Quem eram os garamantes? Como eles
3 Sobre o Império Cuxe, responda. con­­­s eguiam desenvolver atividades agrí­
colas e pecuárias em pleno deserto?
a ) Em que período os cuxitas dominaram
o território egípcio? 6 Segundo Filipe Vidal, historiador angolano,
qual era o papel das mulheres nas antigas
b ) Quem eram os chamados faraós ne­
sociedades africanas? Por que, para esse
gros?
intelectual, os jovens devem pesquisar os
c ) Descreva uma pirâmide cuxita. aspectos tradicionais africanos?

No Brasil
7 Em 2007, uma tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, a Acadêmicos do Salgueiro,
prestou uma homenagem às candaces em seu samba-enredo. Leia um trecho da letra.

Candaces

Antonio Scorza/AFP/Getty Images


Majestosa África
Berço dos meus ancestrais
Reflete no espelho da vida
A saga das negras e seus ideais [...]
Candaces mulheres, guerreiras
Na luta... Justiça e liberdade
Rainhas soberanas
Florescendo pra eternidade
Dudu Botelho e outros. Candaces.
In: Sambas de Enredo 2007 – Rio de Janeiro.
Universal, 2006, faixa 11.

No Carnaval de 2007, a Salgueiro


procurou valorizar a influência
cultural africana no Brasil.

a ) Quem foram as candaces?


b ) Em sua opinião, por que rainhas africanas da Antiguidade foram homenageadas por uma
escola de samba brasileira?

90
capítulo 5
Discutindo a história
8 Cada vez mais as discussões sobre a história da África têm ocupado lugar de destaque em
universidades e escolas. No entanto, esse interesse é recente, visto que durante muito

A África Antiga: os cuxitas


tempo o conhecimento sobre a África e os africanos foi negligenciado pelos estudiosos.
Leia os textos a seguir.

Texto A
A África não é uma parte histórica do mundo. Não tem
movimentos, progressos a mostrar, movimentos históricos
próprios dela. Quer isto dizer que a sua parte setentrional
[norte] pertence ao mundo europeu ou asiático. Aquilo
que entendemos precisamente pela África é o espírito
a-histórico, o espírito não desenvolvido, ainda envolto em
condições naturais e que deve ser aqui apresentado apenas
como no limiar do mundo.
Friedrich Hegel. In: Marina Gusmão de Mendonça. Histórias da África.
São Paulo: LCTE, 2008. p. 15.

Texto B
[...] Os racistas não cessavam de proclamar que a história
da África não tinha importância nem valor: os africanos não
poderiam ser os autores de uma “civilização” digna desse
nome e por isso não havia entre eles nada de admirável que
não houvesse sido copiado de outros povos. É assim que os
africanos se tornaram objeto — e jamais sujeito — da histó-
ria. Eram considerados aptos a recolher as influências
estrangeiras sem dar em troca a mínima contribuição ao
mundo.
O racismo pseudocientífico exerceu sua influência máxi-
ma no início do século XX. Após 1920, tal influência
declinou entre os especialistas em ciências sociais e naturais,
e após 1945, virtualmente desapareceu dos meios científicos
respeitáveis. Mas a herança desse racismo perpetuou-se. [...]
P. D. Curtin. Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em
geral. In: Joseph Ki-Zerbo (Org.). História geral da África: Metodologia e pré-história da África.
São Paulo: Ática/UNESCO, 1998, v. 1. p. 40-1.

a ) Qual é a visão defendida pelo autor do texto A sobre a África? Como ele a justifica?
b ) Quais as causas do racismo e do preconceito mencionados no texto B?
c ) Em sua opinião, quem são os “racistas” apontados no texto B? Por que seria tão difícil
atingir a cura dos preconceitos?
d ) Como a herança do racismo pode ser observada na atualidade? Cite exemplos.
e ) Você considera importante a discussão apresentada? Justifique sua resposta.

91
Passado e presente
9 Na página 86, conhecemos algumas características dos antigos povos do deserto do Saara.
O texto a seguir, que aborda as lutas atuais dos seus descendentes, é um trecho de uma
reportagem feita por Jeffrey Tayler, em 2005. Leia-o.

Ainda precisaríamos atravessar cerca de 600 quilômetros de montanhas, e aquele


era um começo de viagem nada auspicioso para o grupo, embora até previsível, consi-
derando a história aguerrida do povo que chamamos de berberes (a maioria deles
prefere o nome de amazigh, ou pessoa livre, mas o termo berbere ainda prevalece fora
da região). Esse povo tribal do norte da África, etnicamente distinto, composto de apro-
ximadamente 25 milhões de pessoas hoje concentradas no Marrocos e na Argélia, já
habitava essas montanhas inóspitas e esses desertos milhares de anos antes de a con-
quista árabe levar o Islã à região no século 7 d.C.
Nos séculos seguintes ao avanço dos árabes, muitos berberes foram expulsos das
planícies e seguiram para as terras altas, à procura de solos aráveis, pasto para o gado e,
principalmente, da liberdade anunciada em seu nome. Com o tempo, os berberes das
terras baixas adotaram a cultura, a religião e, em certa medida, a língua de seus con-
quistadores — entre os quais se incluíram, além dos árabes e entre períodos distantes
entre si, os romanos e os franceses. Mas aqueles que se isolaram nas terras altas conse-
guiram preservar sua identidade [...].
Os berberes vivem por todo o norte da África, mas onde a negação de sua identida-
de tem sido mais sistemática é no Marrocos, o país mais berbere do continente.
Embora 60% de sua população afirmem ter descendência berbere e quase 40% falem
uma das três línguas desse povo, a Constituição do Marrocos declara que o país é parte
do norte da África árabe, adota o árabe como língua oficial e não faz menção aos ber-
beres. Esse é um legado do nacionalismo árabe que desencadeou movimentos pela
independência no período colonial e, em nome da unidade, desconsiderou ou até su-
primiu as culturas de povos não árabes.
Durante boa parte dos últimos 13 séculos, as
montanhas do Alto Atlas — um dos mais remotos e
proibidos territórios do norte da África — foram
Martin Harvey/Corbis/Latinstock

controladas por comandantes militares berberes


que se recusaram a submeter-se aos sultões árabes
que governavam nas planícies marroquinas. De
1912 a 1956, quando a maior parte do Marrocos era
protetorado da França, os franceses designaram as
montanhas como área tribal e as deixaram sob o
controle efetivo dos líderes militares locais [...] que
colaboravam com os franceses. A resistência berbe-
re, entretanto, nunca arrefeceu, e os montanheses,
junto com rebeldes árabes nas cidades, expulsaram
os franceses em 1956.

Homem berbere utilizando vestimentas tradicionais.


Fotografia tirada no Marrocos, em 2004.

92
capítulo 5
Depois da independência, o governo marroquino controlado por árabes adotou
uma política de não interferência nas montanhas. Nas cidades, os protestos, os jornais
clandestinos, o ensino do antigo alfabeto berbere, chamado tifiagh, em salas de aula e
conversas sobre a revolução têm sido aspectos da nascente luta dos berberes por reco-

A África Antiga: os cuxitas


nhecimento cultural — uma batalha que vem, ano após ano, ganhando intensidade.
Os berberes urbanos que lideram esse movimento de revivescimento são intelectu-
ais que usam o francês em vez do árabe, língua que desprezam por ser a de seus
opressores. Mas o idioma que real­mente procuram preservar e promover é o tamazigh,
ou berbere [...].
Em março de 2000, centenas de intelectuais berberes assinaram o Manifesto Berbe-
re, em que descrevem a humilhação e alienação que muitos sentem como membros de
uma minoria oprimida. O manifesto reivindica o desenvolvimento de áreas rurais ber-
beres, há muito tempo negligenciadas, subvenção governamental para instituições
culturais berberes e revisão dos livros escolares para que reflitam o papel desempenha-
do por eles na história marroquina.
Enquanto os que vivem nas cidades lideram um movimento para reviver sua iden-
tidade cultural, os nativos das montanhas sobrevivem como agricultores, e dão
continuidade a uma cultura que existe há pelo menos cinco mil anos.
Jeffrey Tayler. Entre os berberes: uma jornada pelas montanhas do Alto Atlas, no Marrocos.
National Geographic. São Paulo: Abril, ano 5, n. 58, jan. 2005. p. 109; 115-7.

a ) Como os atuais berberes preferem ser chamados?

b ) De acordo com o texto, onde vivem atualmente os berberes?

c ) Quem foram os conquistadores dos povos berberes no século VII? O que os berberes
herdaram desses conquistadores?

d ) Atualmente, o que os berberes urbanos têm feito para recuperar sua identidade cultural?

e ) Quando foi assinado o Manifesto Berbere? Qual é o conteúdo desse manifesto?

f ) Enquanto os berberes urbanos promovem um movimento para reviver sua identidade


cultural, como sobrevivem os berberes das montanhas?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ O continente africano apresenta, desde a Antiguidade, uma grande diversidade cultural.
■■ Na África Antiga havia tanto sociedades patriarcais como sociedades matriarcais.
■■ As candaces tiveram um papel importante na sociedade e na política africanas.
■■ Houve trocas de influências culturais entre os antigos povos africanos, como os egípcios
e os cuxitas.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreen­d eram o conteúdo trabalhado neste capítulo.

93
6
capítulo

Os fenícios
Museu do Louvre, Paris. c. 772-705 a.C. Relevo em alabastro. Foto: Topham Picturepoint/TopFoto/Keystone

A Fenícios carregando madeira em suas embarcações. Veja nas Orientações para o professor
alguns comentários e explicações sobre
Baixo-relevo datado de cerca de 700 a.C. os recursos apresentados no capítulo.

94
Museu Nacional de Arqueologia, Cagliari. Foto: Alinari/TopFoto/Keystone

Carmen Redondo/Corbis/Latinstock
C
B Pedra com inscrições fenícias. No alfabeto fenício, Pedra com inscrições latinas. O alfabeto latino, utilizado
criado por volta de 1000 a.C., cada letra representava pelos antigos romanos, foi muito influenciado pela
um som. escrita fenícia.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Neste capítulo, estudaremos os fenícios, que eram excelentes navega- o conhecimento
prévio dos alunos e
dores e se destacaram nas atividades comerciais. Eles realizavam o estimular seu
comércio de mercadorias em todo o mundo Mediterrâneo e propiciaram interesse pelos
assuntos que serão
trocas culturais entre diversos povos da Antiguidade. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens destas páginas e converse com os colegas sobre mediação do diálogo
as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■ Descreva os elementos apresenta dos na fonte A. Quais características
participem
do povo fenício foram representadas? expressando suas
opiniões e
■ Compare as fontes B e C. É possível perceber semelhanças entre os respeitando as dos
colegas.
caracteres representados nestas inscrições? Você consegue identifi-
car alguns desses caracteres? Quais?
Reflita sobre essas questões enquanto você lê este capítulo.

95
Um povo voltado para o mar Semita de acordo
com a Bíblia,
semita significa
Os fenícios ocuparam uma estreita faixa de terra às margens do mar Mediterrâneo. descendente de
Sem, filho de Noé.
Aspectos geográficos Historicamente,
semita significa um
Por volta do ano 3000 a.C., o povo fenício se fixou na costa oriental do tronco linguístico
composto por várias
mar Mediterrâneo. A antiga Fenícia era uma estreita faixa de terra, localiza- línguas e povos
da entre o mar Mediterrâneo e uma cadeia de montanhas, que dispunha de correspondentes,
poucas áreas de solo fértil. Os fenícios, povo de origem semita, aproveita- como os hebreus e
vam essas áreas para cultivar principalmente cereais, frutas e azeitonas. os árabes.

Devido à escassez de solos férteis, os fení-

Richard Martin/Age Fotostock/Keystock


cios desde cedo se voltaram para o mar, ini-
cialmente para pescar e depois para praticar o
comércio com povos vizinhos. No decorrer do
tempo, acabaram por se tornar grandes nave-
gantes e excelentes comerciantes.

A região da antiga Fenícia é ocupada atualmente


pelo Líbano. Esse país possui território de cerca de
10 400 km2, que equivale a menos da metade do
estado brasileiro de Sergipe. Na fotografia, tirada
em 2005, vemos Beirute, capital do Líbano.

O comércio fenício
Graças ao comércio, as cidades fenícias prosperaram e enriqueceram.
Veja no mapa a seguir as rotas comerciais percorridas pelos fenícios e as
colônias que eles fundaram.

Rotas comerciais e colônias fenícias


E. Cavalcante

BRETANHA N
OCEANO
O L
ATLÂNTICO
S

GAULESES

CELTAS
45° N
Mar Negro
IBEROS Córsega Mar
Sagunto Adriático MACEDÔNIA
Sardenha
Gades Nova Cartago
PERSAS
Mar
Tíngis
Egeu
Sicília
Cartago
Mar Mediterrâneo
Salamina FENÍCIA
NÚMIDAS Biblos
Sídon
Tiro Fonte:
Fenícia
HILGEMANN,
Colônias fenícias Werner; KINDER,
Rotas comerciais fenícias LÍBIOS Deserto Hermann. Atlas
0 280 km
EGITO da Arábia Historique. Paris:
Perrin, 1992.

96
Cidades e colônias fenícias

capítulo 6
As principais cidades fenícias eram Biblos, Sídon e Tiro. Havia também
diversas colônias fundadas pelos fenícios, algumas das quais cresceram e
se tornaram cidades importantes, como Cartago, Gades e Sagunto. Essas

Os fenícios
cidades, chamadas de cidades-estado, eram independentes entre si, pois
cada uma possuía seu próprio governo. Contudo, essa falta de unidade po-
lítica entre as cidades fenícias acabou deixando-as vulneráveis aos ataques
de povos estrangeiros.
Observe na linha do tempo o período em que cada cidade fenícia mais
se destacou e, também, os povos que invadiram a Fenícia e dominaram
suas cidades.

2700 a.C. a 1500 a.C. 750 a.C. a 146 a.C.


Biblos foi fundada por Fundada em 814 a.C.,
volta de 2700 a.C. Até Cartago tornou-se a
cerca de 1500 a.C., principal colônia fenícia
era a cidade mais 1500 a.C. a 975 a.C. na costa africana.
importante da Fenícia, Sídon teve maior Enquanto Tiro estava
fornecendo produtos importância comercial enfrentando invasores
como a madeira, o vinho a partir de 1500 a.C., 975 a.C. a 750 a.C. estrangeiros, a cidade
e o azeite de oliva para quando os fenícios Após a expulsão dos de Cartago passou por
outros povos. Entre dominavam o comércio filisteus em 975 a.C., um período de grande
os séculos XVI e XII em toda a costa oriental a cidade de Tiro foi prosperidade. Por volta
a.C., essa cidade foi do mar Mediterrâneo. reconstruída e os de 750 a.C., Cartago já
dominada pelos egípcios, Forneciam corantes e fenícios recuperaram a era a principal cidade-
para quem passaram a outros produtos como supremacia no comércio -estado fenícia. A
pagar tributos. Tornou- vasos, joias, perfumes e marítimo. Nessa época, partir de 264 a.C.,
-se importante centro tecidos. Por volta de chegaram a fundar vários romanos e cartagineses
de distribuição de 1100 a.C., algumas portos comerciais na se enfrentaram em
produtos egípcios como cidades fenícias foram costa africana. sucessivas batalhas,
o papiro. Os habitantes invadidas pelos filisteus, A partir de 900 a.C., no conhecidas como
dessa cidade adotaram entre elas Sídon, que a entanto, a cidade de Guerras Púnicas,
inclusive o vestuário e a partir desse momento Tiro sofreu sucessivas encerradas em 146 a.C.,
religião dos egípcios. entrou em uma fase de invasões de povos quando Roma destruiu
declínio. estrangeiros. Cartago.

2500 a.C. 2000 a.C. 1500 a.C. 1000 a.C. 500 a.C. ano 1
Navio comerciante fenício (detalhe). Escultura em
pedra. Museu do Louvre, Paris. Foto: Giraudon /
The Bridgeman Art Library/Keystone

A sociedade fenícia
Na sociedade fenícia, havia uma
camada dominante, composta por
grandes comerciantes, donos de
estaleiros e negociantes de escravos.
Os pequenos comerciantes compu-
nham uma camada intermediária.
Havia também uma grande quantidade
de pessoas pobres, como os operários
e os marinheiros.

Estaleiro oficina
Relevo que representa uma onde os navios
embarcação comercial fenícia. são construídos
ou consertados.

97
Os grandes comerciantes da Antiguidade
Os fenícios eram conhecidos pelos povos da Antiguidade como grandes
navegantes e excelentes comerciantes.

Um porto comercial
Observe o infográfico, que representa um porto comercial instalado no
mar Mediterrâneo.

Os fenícios comercializavam
mercadorias muito valorizadas
pelos povos antigos, como azeite
de oliva, papiro, joias e tecidos
tingidos de vermelho.

98
capítulo 6
Nos portos mais importantes, os
fenícios construíam faróis, onde
eram acesas grandes fogueiras
para orientar as embarcações

Os fenícios
que navegavam à noite.

As embarcações de guerra eram menores e mais


velozes. Eram responsáveis pela patrulha da rota
comercial e defesa das embarcações comerciais.
Possuíam um esporão agudo na proa para perfurar
os cascos das embarcações inimigas.

Além das velas, as


embarcações fenícias
tinham remos, movidos
por escravos.

O cedro-do-líbano era
uma mercadoria muito
valiosa, pois sua madeira
de alta qualidade podia
ser usada em vários tipos
de construção.
As embarcações comerciais tinham
um casco largo e arredondado, com
maior espaço para o transporte das
mercadorias.
Art Capri

Essa ilustração é uma representação artística feita com


base em estudos históricos.
Baseado em Atlas das Civilizações. São Paulo:
Melhoramentos, 1996./Henry Woodhead (Dir.). Marés
bárbaras : 1500-600 a.C. Rio de Janeiro: Cidade
Cultural, 1995.

99
A cultura e o legado fenícios
Os fenícios, além de promover o intercâmbio cultural entre os povos antigos,
criaram um alfabeto que é a base de muitos alfabetos modernos.

O intercâmbio cultural
Os fenícios tiveram um papel fundamental no intercâmbio cultural entre
vários povos antigos. Nas relações comerciais, além da troca de mercado-
rias, ocorria também uma troca de conhecimentos.
Por meio desse intercâmbio cultural, os fenícios transmitiram muitos co-
nhecimentos a outros povos. Eles souberam também assimilar e aperfeiçoar
técnicas utilizadas por diferentes povos, como os egípcios, os mesopotâmios
e os gregos. Com os mesopotâmios, por exemplo, aprenderam a tingir te-
cidos; com os egípcios, a fabricar objetos com vidro.

Obras de arte em vidros


Para fabricar objetos de vidro, primeiro os fenícios modelavam uma quantidade de barro
no formato desejado. Em seguida, fixavam o barro em um pedaço de madeira para facilitar
o manuseio e, então, enrolavam o vidro aquecido no barro. Nessa fase, o vidro se apre-
sentava maleável e grudento, aderindo bem ao barro [ilustração A]. Geralmente eles
colocavam vidros de cores diferentes, utilizando o mesmo método descrito acima. Para
criar peças variadas, os fenícios faziam pequenos riscos no vidro ainda mole utilizando um
objeto de ponta [ilustração B]. Por fim, depois que o vidro esfriava e endurecia, os arte-
sãos tiravam o molde de barro de dentro da peça e o objeto estava pronto.

Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystock

Baseado em Henry Woodhead (Dir.).


Marés bárbaras : 1500-600 a.C. Rio Exposição de
B de Janeiro: Cidade Cultural, 1995. arte fenícia
Ilustrações: Paula Diazzi

Pingente de colar
fenício feito de vidro.

Utilizando esse método, os fenícios fizeram muitos objetos de vidro e se tor naram conhe-
cidos por toda a região mediterrânea em função da comercia liza ção de seus colares e
pingentes.

100
A religião fenícia

capítulo 6
A religião fenícia era voltada para o culto das forças da natureza
e dos astros, como o Sol e a Lua. Os rituais religiosos dos fenícios
eram feitos ao ar livre e incluíam sacrifícios de animais e de seres
humanos. Eles acreditavam que os sacrifícios ajudavam a acalmar

Os fenícios
The Bridgeman Art Library/Keystone
a ira dos deuses.

Museu do Louvre, Paris. Foto:


Os fenícios adoravam várias divindades, que estavam ligadas a
um deus principal, chamado de El. A religião fenícia exerceu gran-
de influência sobre vários povos antigos.

Estatueta feita de bronze representando Baal, uma


divindade fenícia, datada do século XIV a.C.

Enquanto isso... ... em Jerusalém

Na época em que os fenícios inventaram o alfabeto, o rei hebreu Salomão ordenou a


construção de um gigantesco templo na cidade de Jerusalém.
Ostentando luxo e riqueza, o Templo de Salomão foi construído com materiais trazidos
de diversos lugares, como marfim da África e cedro e bronze da Fenícia. Da Fenícia vieram
também os artesãos e os construtores que orientaram os operários hebreus na construção
do templo.
Para pagar a matéria-prima e a mão de obra fenícias, a cada três meses, Salomão en-
viava milhares de hebreus para trabalhar nas minas e nas florestas da Fenícia.
John Millar Watt - Templo de Jerusalém. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular.
Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone

Essa pintura representa operários trabalhando na construção do Templo de Salomão, sob


a orientação de um construtor fenício. (Pintura produzida no século X X).

101
Explorando o tema
O alfabeto: da Fenícia para o mundo
Para realizar suas atividades comerciais, os fenícios relacionavam-se com diferentes povos
do Mediterrâneo.
Como você estudou neste capítulo, além da troca de mercadorias, as relações comerciais
promoveram um intenso intercâmbio cultural entre os povos antigos.
É nesse contexto que o alfabeto fonético, criado pelos fenícios, difundiu-se no mundo me-
diterrâneo, servindo de base para o alfabeto de vários povos.

Pictogramas e ideogramas
Os primeiros sistemas de escrita eram baseados em sinais pictográficos (imagens gravadas
ou pinturas).
A escrita pictográfica é uma forma de representação simplificada de seres e objetos da
realidade vivida. Por exemplo, quando se desenhava um boi, o objetivo era dizer “boi”.
Com a utilização ao longo dos séculos, os símbolos ficaram mais abstratos e, em vez de
objetos, começaram a representar ideias. Dessa forma, a figura de um boi, por exemplo,
poderia representar também o gado ou a carne. Esses símbolos, chamados ideogramas,
deram origem à escrita ideográfica.

A origem do sistema de escrita fonética


Por volta de 1000 a.C., os fenícios transformaram os já conhecidos ideogramas em um
sistema mais simplificado de escrita.
As escritas mais utilizadas na época eram a egípcia (hieróglifos) e a mesopotâmica (cunei-
forme). No entanto, eram sistemas bastante complexos, e seu uso geralmente era limitado a
sacerdotes ou escribas.
Os fenícios, enquanto praticavam suas

Escribas egípcios. c. 2400 a.C. Baixo-relevo em calcário. Museu do Louvre,


Paris. Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock
atividades comerciais por todo o Mediterrâ-
neo, desenvolveram um sistema de escrita
simples e de fácil compreensão.
A grande inovação da escrita fenícia foi a
utilização de sinais que representavam ape-
nas os sons, o que deu origem ao alfabeto
fonético.
O alfabeto fenício era composto por ape-
nas 22 sinais, que representavam os sons
das consoantes. Com o passar do tempo,
diversos povos que comercializavam com os
fenícios foram adotando esses sinais e adap-
tando-os aos sons próprios de seus idiomas.
Tanto na Mesopotâmia como no Egito, saber ler e escrever
era sinônimo de privilégio e poder. Esse relevo, de cerca de
2400 a.C., representa escribas egípcios.
Art Capri

102
capítulo 6
Os fenícios
A influência fenícia nos alfabetos atuais
FENÍCIO GREGO LATINO
O sistema de escrita fenício foi adotado pelos
antigos gregos, que o adaptaram ao seu idioma
e introduziram as vogais.
Logo o alfabeto grego foi incorporado pelos
romanos, que o alteraram e criaram novas letras.
Os romanos criaram, assim, o alfabeto latino.
Na atualidade, os falantes de várias línguas,
como a inglesa, a espanhola e a portuguesa es-
crevem utilizando as letras do alfabeto latino.
Observe na tabela ao lado a comparação entre
as letras dos alfabetos fenício, grego e latino.

O alfabeto hoje
Existem hoje centenas de alfabetos diferentes
no mundo. A maioria, de uma maneira ou de
outra, sofreu influência do alfabeto fenício. Muitos
estudiosos consideram o alfabeto uma das
maiores invenções da humanidade.
Leia o texto a seguir.

[...]
A capacidade de adaptação do alfabeto é um dos
grandes segredos de seu sucesso. As letras podem pular
de um idioma para outro sem a menor cerimônia. Bas-
tam poucas mudanças: algumas letras ganham novos
sons, outras são criadas, outras são dispensadas. [...]
Outro ingrediente do êxito do alfabeto é a facilidade
de memorização. Nós, falantes do português, aprende-
mos só 26 símbolos para sair lendo e escrevendo. Os
russos, 33. Os indianos, 48. Já os chineses têm de apren-
der no mínimo 2 mil ideogramas para se comunicar
num nível básico, de um inventário de 60 mil símbolos.
[...]
Xavier Bartaburu. 4000 anos de A a Z. Os Caminhos da Terra. Fonte: MAN, John. A história do alfabeto. Trad. Edith Zonenschain.
São Paulo: Peixes, ano 12, n. 139, nov. 2003. p. 29. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

103
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais produtos agrícolas eram cultivados 5 Escreva um pequeno texto explicando o
pelos fenícios? processo de fabricação do vidro fe­nício.

2 Quais motivos levaram os fenícios a se 6 Como era a religião fenícia?


tornar navegadores e comerciantes?
7 Qual era a principal diferença entre o al­fabeto
3 Quais eram as principais diferenças en­t re fenício e os dos outros povos an­tigos?
as embarcações comerciais e as em­b ar­
cações de guerra fenícias? 8 Por que o alfabeto fenício foi importante
para a história de outros povos?
4 Qual foi a importância dos fenícios no
in­­tercâmbio cultural entre vários povos 9 Como foi a participação dos fenícios na
an­t igos? construção do Templo de Salomão? De
que forma Salomão pagou os fenícios?

Passado e presente
10 Leia o texto a seguir.

A paisagem [do Líbano] seria ainda mais bonita se restasse um pouco mais do mítico cedro que se
tornou símbolo do país, a ponto de estampar sua bandeira. O cedro-­do-líbano chegou a cobrir o país
inteiro, mas foi sendo lentamente extinto desde a Antiguidade para a construção de navios e templos.
Hoje se resume a uns 300 exemplares abrigados num parque perto de Bcharré [...].
Cristiano Mascaro. Líbano de volta à vida. Os caminhos da Terra. São Paulo: Peixes, ano 12, n. 142, fev. 2004. p. 36.

a ) Cite alguns usos do cedro pelos fenícios e outros povos da Antiguidade.


b ) Por que o cedro-do-líbano quase foi extinto?
c ) Em sua opinião, é importante para os libaneses evitar que o cedro-do-líbano seja extinto?
Por quê?

Expandindo o conteúdo
11 Os fenícios estabeleceram trocas comerciais com vários povos da Antiguidade, entre eles,
os egípcios. No entanto, a relação entre fenícios e egípcios não ficou restrita apenas ao
comércio. Leia o texto.

[...] De fato [as cidades-estado fenícias] e sua riqueza eram tão atraentes que, por volta do sécu-
lo XVI a.C., os egípcios passaram a mantê-las sob controle, não apenas comerciando, mas também
cobrando tributos. A presença egípcia era evidente em Biblos, o mais antigo porto [fenício]. Além
dos tributos, Biblos mandava cargas de cedro e grandes potes de vinho e azeite de oliva, bem como
os [artesãos] habilidosos, que construíam os navios do faraó, e marinheiros, que ajudavam a fazer
as embarcações navegarem. Por sua vez, Biblos tornou-se um centro de distribuição para os produ-
tos egípcios, inclusive o papiro. [...]
Henry Woodhead. (Dir.). Marés bárbaras: 1500-600 a.C. Trad. Pedro Maia Soares. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1995. p. 100-1. (História em revista).

a ) Qual era o mais antigo porto fenício?


b ) Que tipo de mercadorias eram enviadas de Biblos para o Egito?

104
c ) Que atividades os profissionais de Biblos exerciam no Egito?

capítulo 6
d ) Os comerciantes de Biblos vendiam o papiro egípcio em várias regiões do Mediterrâneo.
Qual era a principal utilidade desse papiro?

12 Leia o texto.

Os fenícios
Os caracteres da escrita
[...]
Não é fantástico poder escrever tudo a partir de [vinte e dois] sinais, fáceis de desenhar? Coisas
sensatas ou bobas, agradáveis ou desagradáveis. Para os egípcios, com seus hieróglifos, a tarefa não era
tão fácil. Para os mesopotâmicos também não, com sua escrita cu­­­nei­forme, composta por um número
imenso de sinais, que não correspondiam a letras mas, na maioria das vezes, a sílabas inteiras. Foi uma
inovação incrível imaginar que um sinal poderia ser equivalente a um som (e que uma determinada
letra teria uma determinada pronúncia) e que, a partir de [vinte e dois] sinais, seria possível formar
qualquer palavra.
Diego Lezama Orezzoli/Corbis/Latinstock

Escrita cuneiforme em
plaqueta de barro datada
do século VI a.C.

Os [seres humanos] que descobriram isso tinham necessidade de escrever muito, fossem cartas,
contratos comerciais... De fato, eles eram comerciantes que percorriam o mar para comprar, vender ou
trocar mercadorias ao longo de todo Mediterrâneo. Eles viviam não muito longe dos [hebreus], em ci-
dades muito maiores e mais poderosas do que Jerusalém — as cidades portuárias de Tiro e Sídon —, que
lembravam a Babilônia pela quantidade de habitantes e pela agitação. Aliás, sua língua e sua religião ti-
nham alguns pontos em comum com as [dos povos mesopotâmicos].
Corel Stock Photo

Escrita hieroglífica egípcia.


Cada sinal dessa escrita
representa uma palavra ou
uma ideia.

Por outro lado, eles eram menos dados à guerra. Os fenícios, nome desse povo do mar, preferiam
fazer suas conquistas de maneira diferente. Eles atravessavam o mar em seus barcos a vela e aportavam
em terras estrangeiras, onde estabeleciam bancas, casas de comércio. Trocavam com as populações do

105
Philippe Chery - Tito. c. 1810. Coleção particular. Foto: Stapleton Collection/Corbis/Latinstock
lugar peles de animais e pedras preciosas por ferramentas,
utensílios de cozinha e tecidos coloridos. Suas qualidades
como artesãos eram reconhecidas e apreciadas até em
regiões muito distantes. Aliás, tinham sido chamados a par-
ticipar da construção do templo de Salomão, em Jerusalém.
Seus tecidos em cores eram especialmente apreciados,
sobretudo os vermelhos-púrpura, que eles levavam ao outro
extremo [do mar Mediterrâneo].

Os tecidos vermelhos fabricados pelos fenícios eram


considerados artigos de luxo entre os povos da Antiguidade.
Ilustração feita por volta de 1810, em que o imperador
romano Tito é representado vestindo trajes vermelhos.
Alfredo Dagli Orti/The Art Archive/Corbis/Latinstock

Alguns fenícios se estabeleceram nas costas estrangeiras


em que tinham aberto bancas e criaram cidades. Por toda
parte eles eram bem acolhidos, tanto na África do Norte e na
Espanha como no sul da Itália, pois sabia-se que traziam coi-
sas bonitas.
Esses fenícios não se sentiam isolados de sua pátria, pois
podiam enviar cartas a seus amigos de Tiro e de Sídon. Eram
cartas escritas com caracteres muito simples, que eles ti-
nham inventado — os mesmos caracteres que continuamos
usando até hoje. É isso mesmo, quando você vê um B,
pode saber que ele é muito pouco diferente daquele que os
fenícios traçavam há 3 000 anos, quando escreviam de suas
distantes cidades portuárias cheias de vida [...] aos parentes
e amigos que tinham ficado em sua terra. A partir de agora
com certeza você não vai se esquecer dos fenícios.
Ernst Hans Gombrich. Breve história do mundo. Trad. Monica Stahel.
Folha de ouro do século VI a.C., São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 45-8.
com inscrições fenícias.

a ) Por que o autor denominou os fenícios como “povo do mar”?


b ) Por que os fenícios que moravam em cidades distantes não se sentiam isolados de sua
pátria?

Discutindo a história
13 Leia o texto a seguir.

Os fenícios eram exímios navegantes e durante séculos dominaram o comércio marítimo no mar
Mediterrâneo. Há vários indícios, no entanto, de que suas embarcações navegaram muito além do
Mediterrâneo.

106
capítulo 6
De acordo com alguns documentos, os fenícios teriam
sido os primeiros a realizar a circum-navegação da África,
por volta do ano 600 a.C. Contratados pelo faraó egípcio
Necao, os fenícios teriam iniciado a viagem pelo mar Ver-
N. Akira
melho e, depois de navegarem durante 3 anos, cruzaram o

Os fenícios
estreito de Gibraltrar e voltaram ao Egito navegando pelo
Mediterrâneo.
Existem, também, indícios de que os navegadores fení-
cios teriam chegado à América cerca de 2000 anos antes de
Cristóvão Colombo. Entre esses indícios estão algumas moe-
das que foram cunhadas pelos fenícios da cidade de Cartago.
O geólogo e numismata Mark McMenamin, depois de ana-
lisar as imagens gravadas nessas moedas, afirmou ter
Detalhe ampliado do suposto mapa-múndi encontrado um antigo mapa-múndi, em que, além da Euro-
que aparece na moeda fenícia.
pa, África e Ásia, aparece o continente americano.
A hipótese da vinda de navegadores fenícios à América é defendida por outros estudiosos. Eles
alegam que alguns povos pré-colombianos, entre eles os incas e os maias, possuem costumes e
construções semelhantes aos de povos como os egípcios e mesopotâmios, por exemplo, a mumi-
ficação dos mortos e a construção de grandes pirâmides. De acordo com esses estudiosos, os
povos americanos podem ter aprendido essas práticas com navegadores provenientes da Fenícia
e de outros lugares do Velho Mundo.
Muitos estudiosos, no entanto, não concordam com essa hipótese. Eles argumentam que os
povos da Antiguidade não dispunham de embarcações nem de técnicas de navegação necessárias
para realizar a travessia do oceano Atlântico.
A discussão, ao que parece, está longe de terminar. De qualquer modo, são necessários estudos
mais aprofundados para que se possa chegar a alguma conclusão sobre esse tema controverso.
Texto dos autores.

a ) Cite alguns fatos apontados por estudiosos em defesa da hipótese de que os fenícios
podem ter chegado à América.
b ) De acordo com o texto, a discussão sobre a possibilidade de os fenícios terem chegado
ao continente americano 2000 anos antes de Cristóvão Colombo está longe de terminar.
Escreva um pequeno texto expondo qual é a sua opinião sobre esse tema controverso.
Depois, apresente-o aos colegas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ Os fenícios eram excelentes navegadores e comerciantes.
■ As cidades fenícias eram independentes entre si e cada uma tinha seu próprio governo;
por isso, são chamadas de cidades-estado.
■ Os fenícios tiveram uma grande importância no intercâmbio cultural entre os povos da
Antiguidade.
■ O alfabeto fenício é a base de muitos alfabetos modernos, entre eles o da língua portu-
guesa.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

107
7
capítulo

Os hebreus
Veja nas Orientações
Gil Cohen Magen/Reuters/Latinstock

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Cerimônia religiosa
realizada em uma
sinagoga, na cidade
de Jerusalém, em
Israel, no ano de
2005.
Rafael Sanzio. Museus do Vaticano, Cidade do Vaticano

B Pintura feita pelo


artista italiano
Rafael Sanzio
(1483-1520).
Nessa pintura, o
artista representou
Moisés segurando
as Tábuas da Lei.

108
Corel Stock Photo
C Fotografia recente que retrata, em primeiro plano, o Muro das Lamentações, em Jerusalém.
Essa é a única parte que restou do Templo de Salomão.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Os antigos hebreus desenvolveram uma civilização que muito influenciou o conhecimento
a história do mundo ocidental, principalmente no campo religioso. prévio dos alunos e
estimular seu
Observe as imagens destas páginas e converse com os colegas sobre interesse pelos
as questões a seguir. assuntos que serão
desenvolvidos no
■ ■ A fonte A retrata cerimônia religiosa em uma sinagoga. Você sabe capítulo. Faça a
mediação do diálogo
como são chamados os seguidores dessa religião? entre os alunos de
■ ■ A cena representada na fonte B está relacionada ao episódio bíblico maneira que todos
participem
conhecido como Êxodo. Como os personagens foram representados? expressando suas
■ ■ Foi durante o Êxodo que Moisés teria recebido de Deus os Dez Man- opiniões e
respeitando as dos
damentos. Você conhece algum deles? colegas.
■ ■ Qual é a relação entre a Bíblia e os hebreus?

■ ■ O local retratado na fonte C é considerado sagrado pelos atuais ju-

deus. Qual seria o motivo?


Talvez você não tenha respostas para essas perguntas, mas procure
refletir sobre elas enquanto estuda os assuntos deste capítulo.

109
A Terra Prometida
Os antigos hebreus eram monoteístas, e sua história foi marcada
por diversas migrações.

Quem são os hebreus


A Palestina, conhecida desde a Antiguidade como “Terra de Canaã”, era
uma estreita faixa de terra localizada entre o mar Mediterrâneo e o deserto
da Síria. As principais áreas férteis da região ficavam localizadas nas pro-
ximidades do rio Jordão.
Por volta de 1800 a.C., a Palestina foi ocupada pelos

Zev Radovan/BibleLandPictures/Alamy/Other Images


hebreus, um povo de origem semita. Os hebreus dedi-
cavam-se à criação de carneiros e cabritos, e desloca-
vam-se constantemente em busca de pastagens para
seus rebanhos. Ao ocupar a Palestina, eles se fixaram
nas áreas férteis próximas ao rio Jordão, passando a
praticar a agricultura.
Os hebreus eram monoteístas, isto é, acreditavam na
existência de um deus único, que chamavam de Javé.
De acordo com sua crença, Javé havia feito uma alian-
ça com os hebreus: se eles fossem obedientes, Javé
os protegeria e daria a eles a Terra de Canaã. Por cau-
sa dessa aliança, Canaã ficou conhecida como a Terra
Prometida dos hebreus. Foto recente do rio
Jordão. Até os dias
A migração hebraica para a Palestina de hoje, as águas
desse rio são
Haran E. Cavalcante utilizadas para
N

O L
irrigar as plantações.
M S
ES
Mar OP
Mediterrâneo Rio OT
Rio

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ÍCIA

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FEN

Biblos Damasco
Tiro ACÁDIA Babilônia
INA

SUMÉRIA
EST

Jerusalém
PAL

Ur
Hebron Eridu 30° N
ARÁBIA Golfo
0 140 km
45° L
Pérsico
Migração dos hebreus para a Palestina
Fonte: ROGERSON, John. Bíblia: os caminhos de Deus. Madri: Edições del Prado, 1996. v. 1.
(Grandes Impérios e Civilizações).

A Bíblia
Coleção particular. Foto: Richard
T. Nowitz/Corbis/Latinstock

As crenças e, também, muitas histórias do povo hebreu estão registradas na Torá ,


um conjunto de cinco livros — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
—, que fazem parte do Antigo Testamento da Bíblia .
A Bíblia é uma das principais fontes para o estudo da história do povo hebreu. Ela é
formada por um conjunto de cerca de 70 livros, escritos entre os anos de 1400 a.C.
e 100 por sacerdotes, juízes, reis e profetas, que reuniram antigos conhecimentos
sobre a história e a religião hebraicas.

Rolos da Torá, ou Lei, considerada sagrada pelos judeus.

110
Períodos da história hebraica

capítulo 7
Veja, na linha do tempo, os principais fatos e períodos da história dos
hebreus.

Os hebreus
1800 a.C. a 1250 a.C. 1025 a.C. a 922 a.C. 586 a.C. a 322 a.C.
Período dos Período da Monarquia Exílio e retorno
patriarcas As tribos hebraicas Os hebreus do Reino de
Nesse período, as tribos unem-se sob o governo de Israel são dispersados pelo
hebraicas são governadas um monarca, formando o território mesopotâmico.
pelos patriarcas. Reino de Israel. Durante Os hebreus do Reino de
o reinado de Davi, os Judá são escravizados na
hebreus dominam quase Babilônia, mas se mantêm
toda a Palestina. unidos e retornam à
Palestina depois de cerca
de 50 anos.

1250 a.C.
a 1025 a.C.
Período 922 a.C. 322 a.C. a 135
dos juízes a 586 a.C. Dominações
Sob o comando de Monarquia estrangeiras
líderes denominados dividida Depois de serem
juízes, os hebreus A divisão em dois conquistados pelos
guerreiam contra reinos enfraquece macedônios e pelos
cananeus e filisteus os hebreus e facilita sírios, os hebreus
pelo domínio da sua conquista por são dominados pelo
Palestina. outros povos. Império Romano.

1800 a.C. 1600 a.C. 1400 a.C. 1200 a.C. 1000 a.C. 800 a.C. 600 a.C. 400 a.C. 200 a.C. ano 1 200

1800 a.C. 1250 a.C. 586 a.C.


Fixação dos hebreus O Reino de Judá ano 1
Hebreus retornam
na Palestina. é dominado pelos
à Palestina. Nascimento de
babilônios.
Jesus Cristo.

1600 a.C. 1025 a.C. 539 a.C.


Migração dos hebreus Fundação do Persas dominam 66
para o Egito. Reino de Israel. a Mesopotâmia e Romanos sufocam
permitem a volta dos a revolta dos
hebreus à Palestina. hebreus.
922 a.C.
1575 a.C. O Reino de Israel
Hebreus são é dividido em dois: 322 a.C.
escravizados no Egito. Reino de Judá e Alexandre 135
Reino de Israel. Magno Romanos
722 a.C. conquista a sufocam a
O Reino de Israel Palestina. segunda revolta
1300 a.C. é dominado hebraica.
Início do Êxodo, pelos assírios.
isto é, viagem 63 a.C.
de volta para a Império Romano
Palestina. domina a Palestina.

111
A migração para o Egito
Depois de se fixar na Palestina, os hebreus ali permaneceram por cerca
de duzentos anos. Por volta de 1600 a.C., no entanto, uma forte seca as-
solou a região, e os hebreus foram obrigados a abandonar a Palestina. Eles
emigraram, então, para o Egito, e se estabeleceram nas proximidades do
delta do rio Nilo. Nessa época, o Egito estava sob o domínio dos hicsos,
povo que, como os hebreus, era de origem semita.

A escravização dos hebreus


Enquanto o Egito esteve sob o domínio dos hicsos, os Uma sociedade patriarcal
hebreus não foram incomodados. No entanto, quando
A sociedade hebraica era organizada em
os egípcios conseguiram expulsar os hicsos, por volta comunidades chamadas de tribos. Cada
de 1575 a.C., passaram a escravizar os hebreus. Na uma delas era governada por
condição de escravos, os hebreus realizavam trabalhos um patriarca, que geralmente era um
forçados, como fabricar tijolos e arar os campos. homem idoso e muito respeitado pelos
membros da comunidade.
Essa forma de organização social é
O Êxodo conhecida como patriarcado.
Os patriarcas hebreus mais conhecidos
Por volta de 1300 a.C., sob a liderança de Moisés, os são Abraão, Isaac e Jacó.
hebreus conseguiram fugir do Egito e voltar para a O patriarca Jacó passou a ser chamado
Palestina. A fuga dos hebreus do Egito e sua volta para de Israel. É por esse motivo que os
a Palestina é conhecida como Êxodo. Segundo relatos hebreus também são conhecidos como
bíblicos, os hebreus demoraram 40 anos em sua viagem israelitas.
de volta à Terra Prometida.
De acordo com a Bíblia , durante o Êxodo,

Clive Uptton - Moisés no deserto. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção
particular. Foto: Look and Learn / The Bridgeman Art Library/Keystone
Moisés subiu o monte Sinai e lá recebeu de
Javé os Dez Mandamentos, conjunto de re-
gras que deveriam ser seguidas por todos os
hebreus.

Essa imagem representa os


hebreus caminhando pelo
deserto em sua viagem de
volta à Palestina. (Pintura
produzida no século XX).

O período dos juízes


Quando finalmente chegaram na Palestina, por volta de 1250 a.C., os
hebreus encontraram a região ocupada por outros povos, principalmente
os cananeus e os filisteus. Eles iniciaram, então, uma luta contra esses
povos para dominar a Terra Prometida. Durante esse período de conflitos,
as tribos hebraicas foram lideradas pelos juízes. Além de chefes militares,
os juízes eram líderes políticos e religiosos que, no decorrer dos anos, foram
concentrando poder em suas mãos.

112
A Monarquia e os reis hebreus

capítulo 7
As lutas para dominar a Palestina fizeram com que as tribos hebraicas
gradualmente se unissem e se organizassem politicamente. Por fim, em
cerca de 1025 a.C., os hebreus fundaram o Reino de Israel e escolheram
um rei para governá-los.

Os hebreus
O primeiro rei hebreu, chamado Saul, sofreu várias derrotas militares e
acabou morrendo durante uma batalha. Seu sucessor foi Davi, jovem co-
mandante que já havia vencido diversos combates quando subiu ao trono. Cidade Velha
Durante seu governo, que durou quarenta anos, Davi derrotou os filisteus, de Jerusalém

conquistando a maior parte da Palestina, e escolheu Jerusalém para ser a


capital do Reino de Israel.
O sucessor de Davi foi seu filho

Bojan Brecelj/Corbis/Latinstock
Salomão. De acordo com a tra-
dição hebraica, Salomão foi um
governante sábio e esclarecido.
Durante seu governo, o Reino de
Israel atravessou um período de
esplendor e prosperidade, pois
ele ampliou os domínios do reino,
estimulou o comércio e realizou
várias obras em Jerusalém.
A mais conhecida dessas
obras foi o Templo de Jerusalém,
também chamado de Templo de
Salomão.

Maquete que
A cultura hebraica representa como
teria sido o Templo
Os diferentes aspectos da cultura hebraica estão intimamente relacionados à sua de Salomão por
religião. Além da crença monoteísta, o direito e a literatura são os principais legados
volta de 520 a.C.
desse povo.
O direito hebraico está praticamente todo fundamentado no Código Deuteronômio.
Para compor esse código, os hebreus basearam-se em antigos códigos de leis mesopo-
tâmicos e cananeus. No entanto, existiam muitas diferenças entre esses códigos,
principalmente no que diz respeito à punição individual: entre os mesopotâmios, por
exemplo, um filho podia ser punido por uma falta de seu pai; já entre os hebreus, a
punição era individual, isto é, cada um pagava pelos seus próprios delitos.
No campo das artes plásticas os hebreus não se destacaram como outros povos da
Antiguidade. As pinturas ou esculturas eram raras: de acordo com a Bíblia, o ser humano
teria sido feito à semelhança de Javé, e, por isso, a religião proibia a produção de imagens
Código Deutero-
representando a divindade ou os seres humanos.
nômio código
A principal forma de expressão artística hebraica deu-se no campo literário. A Bíblia , de leis presente
que está entre os livros mais vendidos no mundo nos dias atuais, foi escrita em grande no quinto livro da
parte pelos antigos hebreus. Torá. Esse código
foi adotado em
N. Akira

622 a.C. como lei


A ilustração ao
oficial do Reino
lado representa
de Judá, e tinha
um trecho da como objetivo
Bíblia escrito reafirmar os
em hebraico. valores herdados
do patriarca
Moisés.

113
O cotidiano dos hebreus
Na época do rei Salomão, a maioria dos hebreus trabalhava em atividades
rurais, principalmente na agricultura e na pecuária. Muitos hebreus, no
entanto, viviam e trabalhavam em cidades.

Uma cidade hebraica


Nas cidades havia os mais diversos profissionais, como ceramistas,
tecelões, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros, ferreiros,
entre outros. Havia também feiras e mercados onde as pessoas
trocavam e compravam as mercadorias.
Observe o infográfico a seguir, que representa como era organi-
zada uma cidade hebraica na época do rei Salomão.

O templo era o lugar


onde os homens
Nas olarias eram fabricados realizavam seus
vasos e jarros de cerâmica, que rituais religiosos e
eram utilizados principalmente onde os meninos
no transporte de água e praticavam a leitura
armazenamento de cereais. de textos religiosos.

A maior parte das casas da Por ser uma sociedade


aldeia não era grande nem patriarcal, o homem mais
luxuosa. Havia um pátio velho exercia grande
externo, onde ficava o fogo influência na comunidade.
para cozinhar os alimentos.
O fogo geralmente era
compartilhado por várias
famílias.

As mulheres se ocupavam em
cuidar da casa, tecer fios de lã
e fazer cestos. As meninas
aprendiam suas tarefas em casa,
sob a supervisão materna.

114
capítulo 7
Os jumentos e os camelos eram os principais meios
de transporte. Os comerciantes formavam caravanas
para levar de um lugar para outro produtos como
trigo, azeite de oliva, vinho, figo, romã e cevada.

Os hebreus
Nos solos pouco férteis,
cultivavam-se oliveiras,
para se obter azeitonas, Os pastores
que eram um de seus costumavam levar
principais alimentos. seus rebanhos de
carneiros e cabritos
para áreas onde Próximo às fontes
houvesse boas de água, os hebreus
pastagens. cultivavam
coletivamente
cereais, videiras e
figueiras.

As crianças buscavam
água e lenha para
cozinhar os alimentos.

A pesca era essencial para


os hebreus, pois o consumo

Art Capri
de peixes era fundamental
em sua alimentação.

Essa ilustração é uma


representação artística
feita com base em
Videira planta frutífera
estudos históricos. que produz uva.
115
A divisão do Estado
A pesada tributação praticada pelos monarcas gerou descontentamento na
população e acabou levando à divisão do Estado hebraico.

A população se revolta
Os reinos hebraicos
Para construir o Templo de Jerusalém e,

E. Cavalcante
N
também, para manter o luxo na corte, du- O L
FENÍCIOS
rante o governo do rei Salomão, houve um S

grande aumento na tributação. A cobrança Mar


Mediterrâneo
de pesados impostos gerou um enorme
descontentamento, principalmente entre as
ARAMEUS
camadas mais pobres da população. REINO DE
ISRAEL
Após a morte de Salomão, em 922 a.C., Samaria
a população se revoltou contra essa pesa-

Rio Jordão
AMONITAS
da tributação. As tribos que viviam no nor-
Jerusalém
te do reino não se submeteram a Roboão, FILISTEUS
filho e sucessor de Salomão, e fundaram 31° 6’ N
Mar
seu próprio reino, que também se chamava Morto
Reino de Israel, com capital em Samaria.
As tribos do sul, por sua vez, formaram o
Reino de Judá e mantiveram a capital em REINO DE
Jerusalém. JUDÁ

Os reinos de Judá e de Israel


são dominados
Durante cerca de duzentos anos, os dois 0 50 km

reinos mantiveram sua independência. Porém, 35˚ L

Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann.


em 722 a.C., o Reino de Israel foi dominado Atlas Historique. Paris: Perrin, 1992.
pelos assírios. O Reino de Judá resistiu por
mais tempo, porém, em 586 a.C., foi con-

c. 645 a.C. Relevo em pedra. Museu Britânico, Londres. Foto: Werner Forman/TopFoto/Keystone
quistado pelos caldeus, que destruí ram sua
capital e levaram os hebreus como escravos
para suas terras. Esse episódio ficou conhe-
cido como Cativeiro da Babilônia.
Por volta de 539 a.C., quando os persas
dominaram a região mesopotâmica, os he-
breus puderam voltar à Palestina. Mesmo
permanecendo sob dominação persa, os
hebreus reconstruíram seu Estado na região
de Judá. Com o tempo, por causa do nome
dessa região, os hebreus passaram a ser
conhecidos como judeus.

Relevo que representa hebreus sendo


levados como escravos para a
Mesopotâmia.

116
As dominações estrangeiras

Hanan Isachar/Corbis/Latinstock

capítulo 7
As dominações estrangeiras sobre a Palestina não
cessaram com os persas: por volta do ano de 332 a.C.,
Alexandre Magno, rei da Macedônia, conquistou toda
a região. Depois da morte de Alexandre, a Palestina

Os hebreus
tornou-se uma província egípcia e, em seguida, foi
dominada pela Síria.
Por volta de 63 a.C., Roma, que estava em plena
expansão, dominou toda a Palestina, impondo pesada
tributação sobre os judeus.

Ainda hoje podem ser encontrados vestígios da dominação romana


sobre a Palestina. A fotografia recente ao lado retrata as ruínas de
um aqueduto construído pelos romanos no século I a.C.

Jesus Cristo
Jesus Cristo (Yeshua, em hebraico) era judeu e viveu durante a dominação romana na
Palestina. Sua pregação, defendendo a igualdade entre as pessoas e o amor ao próxi-
mo, formou a base sobre a qual se constituiu o cristianismo.
A pregação de Jesus, no entanto, representava uma ameaça para os sacerdotes judeus
e, também, para a elite romana, que, na época, governava a Palestina. Como Jesus
defendia a igualdade entre as pessoas, ele desagradava aos sacerdotes judeus. Além
disso, ele demonstrava indignação contra a pesada tributação praticada pelos romanos,
e isso era mal visto pelos membros da elite romana, que temiam que sua pregação
pudesse estimular revoltas populares.
Muitos estudiosos acreditam que os sacerdotes judeus se aliaram à elite romana para
condenar Jesus à morte e, assim, afastar o perigo que ele representava para seus interesses.

A resistência e a dispersão
Sob o domínio dos romanos, os judeus tentaram por duas vezes retomar
o poder sobre seu território. A primeira tentativa foi no ano de 66, em que
eles organizaram uma revolta, que foi duramente reprimida pelos romanos.
Jerusalém foi destruída e o Templo de Salomão foi incendiado.
A segunda revolta aconteceu no ano de 132. Dessa vez os judeus conse-
guiram recuperar o controle de sua região e resistiram a ataques romanos
durante três anos. No ano de 135, no entanto, o imperador romano Adriano
enviou suas melhores tropas para reprimir a revolta e expulsar os judeus da
Palestina. Com isso, os sobreviventes desse ataque iniciaram um processo
de dispersão pelo mundo.

O sujeito na história Bar-Kokhba


Donald Nausbaum/Robert Harding/Latinstock

Bar-Kokhba foi um judeu que viveu na época em que a Palestina


estava sob domínio do Império Romano. Em 132, Bar-Kokhba foi o
líder da segunda revolta contra o domínio romano. Devido às suas
habilidades como líder militar, os revoltosos judeus conseguiram resis-
tir durante cerca de três anos ao assédio do exército romano, o mais
poderoso da época.
Fotografia tirada em 2009, que mostra papiro encontrado em uma escavação arqueológica,
que contém inscrições em hebraico com instruções de Bar-Kokhba a seus oficiais.

117
Explorando o tema
Os judeus no mundo atual
Apesar da dispersão das comunidades judaicas em várias partes do mundo, e da sua
assimilação genética às populações acolhedoras, os judeus atuais mantiveram os principais
aspectos da religião dos antigos hebreus, embora, muitas vezes, adaptando-os às novas
condições históricas.

O L

S
E. Cavalcante

ESTADOS
UNIDOS

Carlos Carrion/Sygma/Corbis/Latinstock
Phil Schermeister/Corbis/Latinstock

Cerca de 6,4 milhões de judeus Na Argentina vive a maior


vivem nos Estados Unidos, país comunidade judaica da América
que concentra mais judeus do Latina. A maioria dos judeus
que o próprio Estado de Israel. argentinos se concentra na
Apenas na cidade de Nova capital Buenos Aires. Nas
Yorque estima-se que vivam ARGENTINA últimas décadas, a crise
2 milhões de judeus. Os judeus econômica e o desemprego
norte-americanos são altamente levaram ao empobrecimento
integrados à vida econômica, de uma parcela significativa
política e cultural do país. da comunidade judaica, de
Atualmente, mais de 80% modo que muitos judeus
dos judeus do mundo estão abandonaram o país.
nos Estados Unidos e no Fotografia recente retratando
Estado de Israel. judeus argentinos.
Fotografia atual de jovens
judeus nova-iorquinos.

118
capítulo 7
Em 1948, as populações judaicas de todo o mundo comemoraram a criação do Estado de
Israel. Oficialmente um Estado judeu, Israel ocupa parte do território que pertenceu aos an-

Os hebreus
tigos reinos de Judá e Israel.
Conheça algumas comunidades judaicas na atualidade.

Na Europa, atualmente, a maior


comunidade judaica encontra-se na
França. Desde a Antiguidade, os judeus

Peter Turnley/Corbis/Latinstock
habitaram diversas regiões desse
continente, principalmente a Espanha.
E U R O PA No final do século XV, com o aumento
das perseguições religiosas, grande
parte dos judeus europeus migraram
para outras regiões do mundo.
Fotografia atual de judeus em sinagoga
na Ucrânia, país do Leste europeu.

ISRAEL

No atual Estado de Israel, é


considerado judeu quem é filho de
uma mulher judia. A conversão de
David H. Wells/Corbis/Latinstock

um não judeu também é possível,


ETIÓPIA mas para isso o converso deve se
submeter aos critérios de avaliação
das autoridades religiosas.
Fotografia recente de judeus
realizando cerimônia religiosa no
Muro das Lamentações, em
Jerusalém, Israel.

Os judeus etíopes, chamados


pejorativamente de falashas (“estranhos,
Nir Alon/Demotix/Corbis/Latinstock

estrangeiros”), se autodenominam Beta Israel


(“Casa de Israel”). Recentemente, muitos
judeus negros da Etiópia migraram para o
Estado de Israel, onde enfrentam preconceito
por serem negros, e sofrem dificuldades de
assimilação e adaptação cultural. 0 1 015 2 030 km
Fotografia de 2009, de judeu etíope.

Fonte: O’ BRIEN, Joanne; PALMER, Martin. O atlas das


religiões: o mapeamento completo de todas as crenças.
Trad. Mário Vilela. São Paulo: Publifolha, 2008.

119
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Como a Palestina era conhecida entre os 10 Quais foram as consequências da po­l ítica
hebreus na Anti­g uidade? Descreva essa de altos impostos praticada tan­to por
região. Salomão quanto por seu fi­lho Roboão?

2 Explique com suas palavras como era a 11 Qual é a principal diferença entre o direito
religião dos hebreus. hebraico e o direito de outros povos an­
tigos, como os mesopotâmicos?
3 O que é a Torá?
12 “Os judeus praticamente não desen­volveram
4 “A sociedade hebraica era patriarcal”. Ex- as artes plásticas”. Como você justificaria
plique essa frase. essa afirmação?
5 O que foi o Êxodo? 13 Em poucas palavras, como você poderia
6 Ao voltarem do Egito, quais povos os he- descrever o cotidiano de uma cidade he-
breus encontraram vivendo na Pa­l estina? braica na época do rei Salomão?

7 Explique com suas palavras o que foi o 14 O que foi o Cativeiro da Babilônia? Por que
período dos juízes. depois desse episódio os hebreus pas­
saram a ser conhecidos como judeus?
8 O que era o Templo de Salomão?
15 O que foi a dispersão dos judeus? Qual
9 Escreva um pequeno texto sobre o período é a relação entre Bar-Kokhba e essa dis-
monárquico dos hebreus. persão?

Expandindo o conteúdo
16 Observe a imagem a seguir.
Detalhe do Arco de Tito. Roma, Itália. Foto: Werner Forman/Corbis/Latinstock

O Arco de Tito foi construído


no ano de 81 para
homenagear Tito, o
imperador romano que
havia derrotado os rebeldes
hebreus e reconquistado
Jerusalém, em 66. Nesse
alto-relevo, os hebreus
foram representados no
momento em que eram
levados como escravos
para Roma.
a ) Descreva a imagem acima.
b ) De que forma o povo hebreu resistiu ao domínio romano?
c ) Em sua opinião, por que os romanos construíram um arco para comemorar a conquista
de Jerusalém?

120
capítulo 7
17 O mapa a seguir representa as principais migrações dos hebreus na Antiguidade. Observe-o e, em
seguida, descreva no caderno as migrações indicadas no mapa, destacando o percurso, a
épo ca e os motivos de cada uma dessas migrações.

Os hebreus
E. Cavalcante Migrações dos hebreus
Haran N

O L
M
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Rio
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SÍRIA ate
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ÍCIA
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FEN
Damasco
Mar
Mediterrâneo INA ACÁDIA Babilônia
EST

SUMÉRIA
Jerusalém
PAL

PÉRSIA
Ur
30° N
Hebron
CALDEIA Golfo
Mênfis ARÁBIA Pérsico
A
o
Nil

EGITO B
Rio

MONTE
SINAI Mar C 0 160 km
Vermelho 45° L

Fonte: ROGERSON, John. Bíblia: os caminhos de Deus. Madri: Edições del Prado, 1996. v. 1. (Grandes Impérios e Civilizações).

18 Os trechos abaixo foram extraídos do Antigo Testamento. Leia-os.

A Javé disse a Abraão [...]: “Ergue os olhos e olha, do lugar em


que estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o oci-
dente. Toda a terra que vês, eu te darei, a ti e à tua posteridade
para sempre”. [...]
Gênesis 1: 13-14.

B [...] Os egípcios obrigavam os filhos de Israel ao trabalho, e


tornavam-lhes amarga a vida com duros trabalhos: a preparação
da argila, a fabricação de tijolos, vários trabalhos nos campos, e
toda espécie de trabalhos aos quais os obrigavam.
Êxodo 1: 13-14.

Sobre a utilização da Bíblia como fonte de informações, responda.


a ) Em sua opinião, qual dos trechos acima pode ser comprovado por meio de estudos his-
tóricos? Justifique sua resposta.
b ) Qual dos trechos não pode ser comprovado historicamente? Por quê?

19 A religião dos hebreus era monoteísta e as religiões de povos antigos, como os mesopotâmios
e os egípcios, eram politeístas. Explique as características de cada um desses dois tipos
de religião.

121
20 O texto a seguir apresenta a versão bíblica do Dilúvio e uma versão baseada em descobertas
arqueológicas sobre esse mesmo tema. Leia-o.

O que diz a Bíblia: segundo o Gênesis, um grande dilúvio destruiu a Terra.


Noé e sua família, avisados, construíram uma arca para salvar um casal de
cada espécie animal.
O que diz a Arqueologia: ruínas achadas no mar Negro, próximo da Turquia,
mostram que houve uma enchente catastrófica por volta de 5600 a.C. O nível do
mar Mediterrâneo subiu e irrompeu pelo estreito de Bósforo, inundando a pla-
nície onde hoje está localizado o mar Negro. Na época, a região era uma planície
de terras férteis, com um lago. Sobreviventes dessa catástrofre migraram para a
Mesopotâmia. Assim teria surgido a história do Dilúvio no texto sumério de
Gilgamesh. Os hebreus conheceram a história quando estiveram cativos na Ba-
bilônia.
Vinícius Romanini. Bíblia passada a limpo. Superinteressante. São Paulo: Abril, n. 178, jul. 2002. Extraído do site: <http://super.
abril.com.br/superarquivo/2002/conteudo_120436.shtml>. Acesso em: 31 jan. 2012.

a ) Qual é a versão bíblica para o Dilúvio?


b ) De acordo com descobertas arqueológicas, o que teria sido o Dilúvio?
c ) Identifique no texto um exemplo de influência cultural entre povos da Antiguidade.

21 Imagine que você fosse morador de um povoado hebreu da época do rei Salomão. Depois,
escreva um texto descrevendo como seria o seu dia a dia nesse povoado. Em seu texto,
procure descrever como seria o seu trabalho, sua moradia, sua alimentação, as pessoas
com quem você conviveria... Para enriquecer seu texto, retome assuntos estudados neste
capítulo e, também, o infográfico apresentado nas páginas 114 e 115. Depois de pronto,
troque seu texto com o de um colega, para que vocês possam ler e fazer críticas e comen-
tários sobre os textos.

Passado e presente
22 A cidade de Jerusalém é venerada como um local sagrado por três grandes religiões mono-
teístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Porém, essa cidade vem sendo disputa-
da por diversos povos há milênios. Leia o texto.

Cenário de intensas disputas em mais de três mil anos, Jerusalém concentra


uma fascinante fusão de idiomas, crenças, culturas e territórios sagrados. [...]
Jerusalém é venerada por judeus, muçulmanos e cristãos. Objeto de devoção e
cobiça, a cidade simboliza uma inabalável resistência. [...]
A [cidade], cercada por mais de quatro quilômetros de muralhas, guarda
monumentos recobertos de sangue, preces e sonhos. Atravessar seus históricos
portões é entrar em um mundo dividido em setores — judeu, árabe, cristão
e armênio —, mas onde camadas da história sobrepõem-se nos minaretes, nas
pedras secularmente pisadas das escadarias, sinagogas, igrejas e mesquitas, encar-
nando Jeová, Cristo e Maomé. O Muro das Lamentações, local mais sagrado para
judeus; o Domo da Rocha, santuário mais importante para os muçulmanos,

122
capítulo 7
depois de Meca e Medina; e a Via Dolorosa, onde a fé dos cristãos teria sido
moldada pela morte, sepultamento e ressurreição de Cristo; são alguns de seus
pontos marcantes.
Símbolo da unidade de seu povo e do renascimento da antiga terra natal, é

Os hebreus
para lá que se voltam os judeus ao rezar. O Muro das Lamentações, fronteira
entre o setor judeu e muçulmano, é o único vestígio da muralha [...] que servia
de sustentação para o famoso Templo de Salomão — centro religioso e nacional
do povo de Israel. Há séculos, tornou-se local de peregrinação dos judeus que
vinham lamentar a dispersão de seu povo e chorar sobre as ruínas do templo.
[...] O Muro das Lamentações, ironicamente, é a parte ocidental da edificação
que cerca o Domo da Rocha. O local, sempre sob fortíssimo esquema de segu-
rança, como toda a cidade, é fonte de discórdia entre árabes e judeus.
Para intensificar a disputa entre [árabes e judeus], o Domo da Rocha, primeira
grande obra do mundo islâmico, de 691, abriga uma pedra sagrada para ambos,
localizada exatamente atrás do Muro, na Esplanada das Mesquitas. [...]
Com sua abóbada de ouro, o Domo da Rocha simboliza a ascensão que todo
muçulmano deve fazer em direção a Deus. Os judeus acreditam que sobre aquela
pedra Abraão ofereceu seu filho Isaac em sacrifício. Para os muçulmanos, é o ponto
a partir do qual Maomé ascendeu ao Céu [...].
As construções da Jerusalém cristã emergiram entre os séculos IV e VI. Graças
aos bizantinos, construiu-se ali um centro cristão, com numerosas igrejas. Talvez a
mais importante delas seja a do Santo Sepulcro, também destruído e reconstruído
várias vezes, onde Jesus teria sido sepultado. A Via Dolorosa, circuito do martírio de
Jesus tem 14 estações e atrai fiéis do mundo todo. [...]
A cidade é movida e financiada pela fé. Fé que imprimiu sangue e glória em sua
história. [...]
Ana Claudia Ferrari. Abrigo da história e da fé. Scientific American. São Paulo: Duetto, ano 1, n. 10, jan. 2003. p. 92-3.

a ) Qual a importância da cidade de Jerusalém para os judeus?

b ) Para os muçulmanos, qual é a importância dessa cidade?

c ) E para os cristãos, por que Jerusalém é importante?


Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ Os hebreus foram um dos primeiros povos monoteístas.
■■ A história do povo hebreu é marcada por várias migrações.
■■ As crenças hebraicas foram em grande parte desenvolvidas a partir das crenças de
outros povos da Antiguidade.
■■ Atualmente, existem mais judeus nos Estados Unidos do que no Estado de Israel.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreen­d eram o conteúdo trabalhado neste capítulo.

123
8
capítulo

Os persas
Veja nas
Paule Seux/Hemis/Corbis/Latinstock

Orientações para
o professor alguns
comentários e
explicações sobre
os recursos
apresentados no
capítulo.

A Detalhe de relevo produzido no século V a.C., no palácio de Persépolis, no atual Irã, representando o
pagamento de tributos dos súditos do império persa.
Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular. Foto: Look and Learn / The Bridgeman Art Library/Keystone

B Ilustração que representa súditos levando impostos na forma de mercadorias ao imperador persa Dário I.
(Imagem produzida no século XX).

124
Aúra-Masda e Angra Mainyu disputam o mundo. Séc. XIX. Litografia colorida. Biblioteca de Artes Decorativas, Paris. Foto: Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone

C Cópia de um relevo de Persépolis que representa a disputa entre os deuses Ahura Mazda e Ahriman.
(Litografia colorida produzida no século XIX.)

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Neste capítulo, vamos estudar os persas, um povo que construiu um o conhecimento
prévio dos alunos e
dos maiores impérios da Antiguidade. estimular seu
interesse pelos
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os assuntos que serão
colegas sobre as questões a seguir. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
■ ■ As fontes A e B representam os súditos do império persa pagando mediação do diálogo
entre os alunos de
tributos. Essas fontes foram produzidas em épocas distintas. Você maneira que todos
consegue identificar semelhanças entre elas? Quais? participem
expressando suas
■ ■ Segundo o zoroastrismo, a religião dos persas, as pessoas podem
opiniões e
decidir livremente entre o caminho do bem ou do mal. A fonte C repre­ respeitando as dos
colegas.
senta a eterna disputa entre os deuses Ahura Mazda e Ahriman pela
consciência dos homens. Quais elementos indicam essa disputa?
Você conhece outras religiões que tenham princípios semelhantes? Quais?
Reflita sobre essas questões enquanto lê este capítulo.

125
O povo persa
A região de origem da civilização persa corresponde aproximadamente ao atual
Irã, no Oriente Médio.

A Pérsia
Os persas eram um povo nômade que, por volta de 2000 a.C., se fixou
em uma região montanhosa entre o golfo Pérsico e o mar Cáspio. Essa
região ficou conhecida como Pérsia.
Apesar do clima seco da região, os persas aproveitaram as poucas áreas
férteis disponíveis e passaram a praticar a agricultura e o pastoreio. Plan-
tavam principalmente trigo, cevada e hortaliças e criavam animais como
bois, carneiros e cabritos.

Os vizinhos medos Regiões de origem dos persas e dos medos


Vizinhos dos persas, os medos também

E. Cavalcante
Mar
chegaram à região por volta de 2000 a.C. N
Cáspio
Abandonando a vida nômade, eles se fixa- O L

ram em uma área próxima aos montes S

Zagros e lá fundaram a cidade de Ecbátana.


O reino dos medos era composto por Ecbátana
muitas aldeias, onde vivia a maioria da po- R
io 34° N
pulação. A sua principal ocupação era a Ti MÉDIA
gr
criação de gado, atividade também realizada e
pela população nômade, que se deslocava
constantemente pelo território à procura de Ri
melhores pastagens. oE
ufr
ate
Os medos tinham um exército forte, com- s Persépolis
épolis
posto por batalhões de lanceiros, cavaleiros
e arqueiros. Além disso, produziam armas
de ferro, que eram mais resistentes do que
PÉRSIA
as armas de bronze da época.
Golfo
Diante desse poderio militar, os persas Pérsico
foram subjugados pelos medos por cerca
de 1500 anos. Além de dever obediência 0 145 km

49° L
aos reis medos, os persas tinham de lhes
pagar pesados tributos. Fonte: WOODHEAD, Henry (Dir.). A elevação do espírito: 600-400 a.C.
Rio de Janeiro: Abril Livros, 1995. (História em revista).
Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

Medos representados em
relevo do século V a.C.,
localizado nas escadarias
de Tripylon, em
Persépolis, no Irã.

126
Períodos da história persa

capítulo 8
Veja, na linha do tempo, os principais períodos 479 a.C. a 330 a.C.
da história persa. Declínio do Império
Persa
A época áurea do

Os persas
Império Persa também
559 a.C. a 479 a.C. marca o início do seu
Expansão do Império Persa declínio. A enorme
2000 a.C. a 559 a.C. Sob a liderança de Ciro, os persas extensão alcançada
Domínio medo conquistam sua independência e pelo império na época
Os persas são começam suas conquistas territoriais. de Dário I e, também,
dominados pelos A expansão de seus domínios é rápida, a grande diversidade
medos, que ocupavam e em poucos anos os persas constituem de povos conquistados
um território ao norte da um poderoso império. No final do acabam dificultando
Pérsia, e tendo que lhes reinado de Dário I, por volta de 486 a.C., a administração e a
pagar tributos. o Império Persa atinge seu apogeu. cobrança de impostos.

2000 a.C. 1800 a.C. 1600 a.C. 1400 a.C. 1200 a.C. 1000 a.C. 800 a.C. 600 a.C. 400 a.C.

559 a.C. Os persas


conquistam sua inde­p endência.

480 a.C. Os gregos são


derrotados pelos persas na
batalha de Termópilas.

479 a.C. Os persas são


derrotados pelos gregos na
batalha de Plateia.

330 a.C. A invasão


macedônica marca o fim da
hegemonia persa. Jorge Fernandez/Alamy/Other Images

O Irã na atualidade
A região de origem da civilização persa
corresponde, aproximadamente, ao atual Irã.
Esse país possui cerca de 1 650 000 km2 (uma
área um pouco maior que a do estado do
Amazonas). O idioma oficial do Irã é o persa, e a
capital iraniana é a cidade de Teerã.
De acordo com dados de 2009, a população
do Irã é de cerca de 74 mi­lhões de habitantes,
sendo que a maior parte é de etnia persa.
Mais de 95% de sua população segue o
islamismo como religião, herança da dominação
árabe que ocorreu no século VII. Essa forte
presença muçulmana marca também a política e
a sociedade iraniana.

Fotografia de 2008 que retrata


iranianos muçulmanos rezando
em Teerã, capital do Irã.

127
O Império Persa
O Império Persa foi um dos maiores da Antiguidade. Seus domínios se estendiam
desde a Índia até o mar Mediterrâneo.

Os povos conquistados
Ciro foi o líder que conseguiu unificar as tribos persas e iniciar um perío-
do de vitórias militares. Em 559 a.C., os persas tornaram-se independentes
dos medos, realizando grandes conquistas territoriais. Na época do gover-
no de Dário I, neto de Ciro, os persas já haviam constituído um poderoso
império, que se estendia do Egito até a Índia.
Para melhorar a cobrança de tributos dos povos conquistados e para
favorecer o desenvolvimento econômico do império, os persas construíram
uma rede de estradas que interligava as diferentes províncias.
Além da construção de estradas, os persas ainda criaram uma moeda
única, o dárico, e padronizaram o sistema de pesos e medidas.
Observe a extensão do Império Persa, e também algumas informações
sobre os tributos que deviam ser pagos por alguns dos povos dominados.

A maior e mais importante das estradas Da Anatólia partiam Os indianos enviavam especiarias,
persas era a Estrada Real, que tinha carregamentos de ouro, pérolas, pedras preciosas e grandes
cerca de 2 500 quilômetros de extensão. prata e cobre. quantidades de ouro em pó.

O Império Persa
N. Akira

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas.


Londres: Dorling Kindersley, 2005.

Os egípcios pagavam seus tributos Da Arábia era enviada grande Os babilônios enviavam todos os anos
principalmente com linho e papiro. quantidade de incensos. grandes carregamentos de prata.

128
O correio persa

capítulo 8
Para administrar com mais eficiência seu vasto império, os persas criaram
um grande sistema de transmissão de mensagens. Para esse sistema fun-
cionar de modo eficiente, os persas construíram postos ao longo das es-
tradas, onde havia cavalos e cavaleiros alimentados e descansados.

Os persas
Assim, um cavaleiro que portava uma mensagem cavalgava rapidamente
até o próximo posto e transmitia a mensagem para o cavaleiro que ali se
encontrava. Esse cavaleiro partia imediatamente levando a mensagem até
o posto seguinte e, assim, sucessivamente, até a mensagem chegar ao seu
destino. O correio persa era muito rápido, e uma mensagem podia ser le-
vada por centenas de quilômetros em um único dia.

Persépolis, uma cidade majestosa


Durante o governo do imperador Dário I, os persas deram início à construção de uma
cidade para servir de capital ao império. Essa cidade recebeu o nome de Persépolis.
Além de um imponente complexo de palácios, Persépolis contava com um grandioso
centro cerimonial, um salão de audiências e diversos edifícios do governo.
Por volta de 330 a.C., a cidade foi destruída pelos macedônios, e ficou abandonada por
muitos séculos.
Somente em 1930, arqueólogos iniciaram as escavações na região e descobriram as
ruínas da antiga capital persa. Por causa da sua importância, Persépolis foi considerada
Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1979.
Atualmente, suas ruínas (fotografia abaixo) são visitadas por turistas do mundo todo e
são motivo de orgulho para os iranianos.
Charles & Josette Lenars/Corbis/Latinstock

Charles & Josette Lenars/Corbis/Latinstock

129
A religião persa
Bons pensamentos, boas palavras, boas ações: a essência da religião persa.

A criação do Universo
Um dos mais importantes legados culturais persas foi sua religião, co-
nhecida como zoroastrismo. Baseada em uma crença que se aproximava
do monoteísmo, a religião persa acabou influenciando as três principais
religiões monoteístas da atualidade: judaísmo, cristianismo e islamismo.
O zoroastrismo foi fundado, por volta de 600 a.C., por um homem chama-
do Zaratustra (ou Zoroastro, para os gregos). De acordo com essa religião,
existia um deus supremo, Ahura Mazda, e seu irmão gêmeo e opositor,
Ahriman.
Leia o texto abaixo. Ele é um trecho do mito persa da criação do Universo.

Ilustrações: Marcela Pialarissi


No início, o sábio senhor
Ahura Mazda vivia na luz; seu
gêmeo, [...] Ahriman, vivia na es-
curidão. Entre os dois havia
apenas ar.
Então Ahura Mazda criou o
tempo, e o mundo começou. Ele
trouxe os dias ensolarados e co-
locou as estrelas para brilhar nos
céus; fez a Lua crescer e minguar
e uniu o rápido relâmpago e o
barulhento trovão ao vento e às
nuvens. [...]
Neil Philip. O livro ilustrado dos mitos:
contos e lendas do mundo. 2. ed. Trad. Felipe
Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996, p. 30.

Ahura Mazda era infinitamente bondoso e sábio, e orientava os seres


humanos com base no amor e no respeito ao próximo. Ahriman, por sua
vez, era responsável por todas as maldades e sentimentos ruins, como a
inveja, a cobiça e a raiva.
De acordo com as crenças do zoroastrismo, cada pessoa teria a liberda-
de para escolher entre o Bem e o Mal. Se optasse por fazer o bem e seguir
a máxima zoroástrica — “Bons Pensamentos, Boas Palavras e Boas Ações”
— seria recompensado, ao morrer, com o reino de Ahura Mazda, cheio de
luz e bondade. Se escolhesse o mal e alimentasse sentimentos ruins, seria
condenado ao reino das sombras, morada de Ahriman.
Os zoroastristas acreditam que quando chegar o fim dos tempos, essas
pessoas serão novamente julgadas e haverá um recomeço do mundo. Nes-
se novo mundo, imortal e eterno, só haverá lugar para pessoas boas, que
viverão felizes com seus familiares e amigos.

130
Uma mistura de culturas

capítulo 8
Os persas assimilavam a cultura dos povos conquistados,
enriquecendo sua própria cultura.

Os persas
O respeito cultural
Os imperadores persas, geralmente, adotavam uma política de respeito
pela cultura dos povos conquistados. Além de permitir-lhes que mantivessem
seus costumes e sua religião, os persas ainda absorviam parte da cultura
desses povos.
Essa assimilação cultural pode ser percebida,

Kazuyoshi Nomachi/Corbis/Latinstock
por exemplo, na arquitetura persa e em suas
manifestações artísticas: com os babilônios e
os assírios, os persas aprenderam a técnica do
tijolo vidrado; com os egípcios, eles passaram
a utilizar pilares enfeitados com flores de lótus
e palmeiras.
No alto-relevo ao lado, vemos um exemplo
da influência cultural dos povos conquistados
na arte persa: o ser mitológico representado é
típico da cultura mesopotâmica.
Detalhe de um alto-relevo de esfinge esculpido em uma parede
do Palácio Central de Persépolis, no século VI a.C. Fotografia
tirada em 2001.

Enquanto isso... em Atenas


Por volta de 600 a.C., na cidade grega de Atenas, eram lançadas as bases de um sistema
político que mais tarde ficaria conhecido como democracia.
Naquela época, os atenienses estavam realizando importantes reformas na organização
política de Atenas, decretando a abolição da escravidão por dívida e criando a Assembleia
do Povo, espaço de debate aberto a qualquer cidadão ateniense maior de dezoito anos.
Com isso, além dos aristocratas, mais pessoas puderam participar das decisões políticas
em Atenas.

Autor desconhecido - Ginásio em Atenas. Litografia colorida. Coleção particular.


Foto: De Agostini Picture Library / The Bridgeman Art Library/Keystone
Essa ilustração, produzida na atualidade,
representa antigos gregos em Atenas.

131
Explorando o tema
O correio
Como vimos neste capítulo, os persas utilizaram um sistema de correio que contribuiu pa-
ra o controle e a administração de seu império. Ao longo da história, outras civilizações tam-
bém utilizaram sistemas semelhantes, como os antigos romanos e chineses.
A necessidade de comunicar-se à distância fez com que governantes organizassem dife-
rentes tipos de “correios”. No mundo Antigo, no entanto, esses serviços geralmente atendiam
apenas aos governantes e às camadas mais ricas da população.

As estradas imperiais
Diferentes impérios utilizaram as redes de estradas como meio de facilitar a comunicação
a distância. Por elas circulavam mensageiros que realizavam a troca de mensagens ou
encomen das de uma região para outra. Além disso, as redes de estradas tinham finalidade
econômica, pois facilitavam a coleta de impostos nas regiões conquistadas do império.

Denominadas cursus publicus, o sistema


de estradas dos romanos facilitava o
deslocamento de soldados e o transporte
de bens e mercadorias em nome do
Estado. Outro objetivo dessas estradas
era a circulação de mensageiros, que
poderiam percorrer até 270 quilômetros
em um único dia. Essa fotografia de
2004, mostra um trecho da Via Ápia,
importante estrada do Império Romano.
Atlantide Phototravel/Corbis/Latinstock

Os mensageiros medievais
Durante a Idade Média, nos reinos europeus havia
mensa geiros oficiais, denominados arautos. Esses men-
sageiros transmitiam mensagens e notícias solenes aos
moradores de todas as regiões do reino.
particular. Foto: Michael Nicholson/

Por meio desses mensageiros, a população era infor-


Séc. XIII. Ilustração. Coleção

mada, por exemplo, a respeito dos anúncios de guerra ou


proclamações de paz.
Corbis/Latinstock

Ilustração do século XIII que representa um arauto medieval.

132
capítulo 8
Os primeiros serviços postais

Os persas
Os primeiros sistemas de troca de mensagens pos-
suíam finalidades de caráter econômico ou militar, e
geralmente não atendiam a maior parte da população.
O sistema de correios tal qual conhecemos hoje
começou a se configurar a partir do século XV, quando
começaram a ser organizados serviços de troca de
correspondências e envio de pequenas encomendas.
Em países da Europa, por exemplo, o serviço postal
levou algum tempo até se tornar unificado. Era muito
comum ainda a variação de sistemas de pesos e me-
didas entre as regiões.

O “carteiro” no Brasil
No Brasil, a figura histórica do carteiro tem origem
no século XVII, com a criação do ofício de Correio-Mor.
Por ser um serviço pago, muitas pessoas na época
preferiam utilizar outros tipos de mensageiros para
trocar correspondências, como escravos ou viajantes.

Art Capri
A extensão territorial e a falta de estradas também
dificulta vam a comunicação entre as regiões do Brasil. O Correio-Mor era responsável por receber e
É somente a partir do século XIX que os correios pas- distribuir toda a correspondência do reino.
sam a atender a população em geral.

Olho-de-Boi. 1843. Museu


Imperial, Rio de Janeiro
O selo postal
Até o início do século XIX, as tarifas referentes ao sistema de
postagem eram pagas pelo destinatário. Isso criava dificuldades,
pois muitas vezes este se recusava a pagar.
Em 1840 houve uma revolução no sistema postal com a cria-
ção do primeiro selo, denominado Penny Black, na Inglaterra. O Brasil foi o segundo país a
emitir o selo postal. Criados em
O selo representava o pagamento prévio das tarifas postais, 1843, os primeiros selos
que passaram a ser pagas pelo remetente, evitando assim, as brasileiros são denominados
constantes devoluções. “olhos de boi”. Foram emitidos
nos valores de 30, 60 e 90 réis.
O correio eletrônico
O modo como as pessoas se comunicam e trocam informações
Acervo da editora

sofreu grandes mudanças ao longo do século XX, principalmen-


te com o aumento da utilização do telégrafo e do telefone. Mas
após a disseminação da internet, a partir da década de 1990,
os sistemas de comunicação foram profundamente alterados.
Atualmente, boa parte da população letrada possui um ende- No correio eletrônico, também
reço eletrônico. E embora o número de cartas tenha diminuído chamado de e-mail, os endereços
geralmente apresentam o
com a introdução do correio eletrônico, o sistema de correios
símbolo “arroba”, por exemplo:
no Brasil transporta e distribui em todo o território cerca de nome@servidor.com.
35 milhões de objetos por dia.

133
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Descreva a região onde os persas se fi-
correio papiro ouro
xaram, por volta de 2000 a.C.
estradas tributos moeda
2 Quais eram as principais atividades eco-
nômicas praticadas pelos persas após 6 Qual é o nome da religião criada pelos per-
sua sedentarização? sas? Descreva as principais ca rac te-
rísticas dessa religião.
3 Como era a relação entre medos e persas.
7 Qual foi a atitude dos im pe radores persas
4 O que os persas fizeram para favorecer o em relação à cultura dos povos por eles
desenvolvimento econômico do im pério? conquistados?

5 Produza um texto sobre o Império Persa 8 Relacione a rede de estradas com a admi-
usando as palavras do quadro a seguir. nistração do Império Persa.

Expandindo o conteúdo
9 Leia o texto.

Uma das reformas de maior impacto promovidas por Dário


foi a padronização da moeda. Durante séculos, quase todas as
transações comerciais haviam sido feitas sob a forma de troca.
Os trabalhadores eram em geral pagos em espécie — carne, ce-
vada, vinho ou azeite. Quando se usava ouro ou prata, cada
barra ou pepita precisava ser pesada em uma balança e ter sua
pureza avaliada. Esse sistema pouco prático foi modificado pela
primeira vez na Lídia, por Creso, que teve a brilhante ideia de
cunhar moedas de tamanho e valor padronizados. Na época de
Dário, vários outros estados haviam adotado esse procedimen-
to, mas algumas moedas eram de valor duvidoso. A contribuição
de Dário foi determinar que apenas o seu tesouro poderia
cunhar moedas de ouro, e impor um valor padronizado para
cada moeda. Os chamados dáricos de ouro, com a efígie do im-
perador, tornaram-se a principal moeda da época, aceita até
mesmo na Europa Central.
A difusão das moedas persas testemunha o intenso cresci-
mento do comércio mundial durante o reinado de Dário.
Regiões que nunca haviam mantido relações comerciais come-
çaram a trocar mercadorias. Com uma moeda comum confiável,
uma rede de estradas seguras e um sistema unificado de pesos e
medidas, criou-se um enorme mercado comum. Da Índia saí-
am especiarias, ouro, pérolas e pedras preciosas. As minas da
Anatólia produziam prata, cobre e ouro. Linho e papiro do Egi-
to, tecidos de Cartago e de Corinto, corantes da Fenícia, tapetes

134
capítulo 8
[da Pérsia], escudos da Ática e espadas do mar Negro, madeira
[...] das florestas da Trácia — todos esses artigos foram ampla-
mente distribuídos.
Os produtos de luxo sempre haviam sido comercializados,

Os persas
mas, com a melhora nos transportes, foi possível negociar mer-
cadorias de uso cotidiano. Grandes quantidades de cereais eram
transportadas por mar. Tecidos baratos, sandálias de couro, fer-
ramentas de ferro e artigos domésticos circulavam por toda
parte. Essa atividade não beneficiava apenas os mais ricos, mas
também os artesãos e os trabalhadores agrícolas. [...]
Todas as transações contribuíam, sob a forma de impostos,
para o aumento do tesouro imperial. [...]
Henry Woodhead (Dir.). A elevação do espírito: 600-400 a.C . Trad. Cláudio Marcondes.
Rio de Janeiro: Abril Livros, 1995. p. 29-31. (História em revista).

a ) Antes da criação da moeda na Pérsia, como eram feitas as transações comerciais?

b ) Como era chamada a moeda criada por Dário I? Que diferença ela possuía em relação
às moedas que circulavam em outros Estados?

c ) Quais as principais mudanças ocorridas no comércio após a difusão da moeda persa?

d ) Além de artigos de luxo, que tipo de mercadorias começaram a circular após a melhoria
no setor de transportes? Quem eram os beneficiados?

10 Leia o texto a seguir.

Os zoroastristas seguem os ensinamentos do profeta Zaratustra


(conhecido no Ocidente como Zoroastro). [...] As datas relativas a
Zaratustra são incertas [...], mas sabe-se que viveu no noroeste do
Irã. [...]
No século VII a.C., seus ensinamentos dispersaram-se por todo
o planalto iraniano, e [...] um século depois, o zoroastrismo tor-
nou-se a religião oficial do Estado e passou a ser praticado desde
a Grécia até o Egito e o Norte da Índia. [O zoroastrismo in-
f luenciou] outras religiões, particularmente o judaísmo, quando
os judeus estavam exilados na Babilônia, [...] e o cristianismo:
anjos, o fim do mundo, o julgamento final, a ressurreição e céu
e inferno tomaram emprestados das crenças zoroastristas sua
forma e conteúdo. [...]
John Bowker. Para entender as religiões. Trad. Cássio de Arantes Leite.
São Paulo: Ática, 1997. p. 13.

a ) Quem eram os zoroastristas?

b ) Segundo o texto, após tornar-se religião oficial do Império Persa, onde mais o zo­roastrismo
foi praticado?

c ) Quais foram as religiões mais influenciadas pelo zoroastrismo? Cite exemplos de ele­
mentos herdados do zoroastrismo por essas religiões.

135
Discutindo a história
11 Em 2007, a estreia do filme 300 levantou novamente o debate acerca dos limites da “liber-
dade poética” na produção, por exemplo, de livros e filmes sobre temas históricos. Leia o
texto a seguir.

Os 300 de Esparta: da história antiga para os quadrinhos e destes para o cinema


O filme 300 [...] estreou nos cinemas [em 2007 e despertou] a curiosidade do público. Em primeiro
lugar, por se tratar da adaptação cinematográfica da série de histórias em quadrinhos Os 300 de Esparta
(cujo título original é apenas 300), escrita e desenhada pelo norte-americano Frank Miller, autor que pos-
sui uma verdadeira legião de fãs no mundo inteiro.
Em segundo lugar, mas nem por isso menos significativo, pelo fato de o ator brasileiro Rodrigo Santoro
fazer parte do elenco. No filme, Santoro interpreta um dos papéis principais, o do imperador persa Xerxes.
Os 300 aos quais o título se refere são os guerreiros espartanos liderados por Leônidas, rei de Esparta, na
batalha de Termópilas, travada contra o Império Persa por volta do ano 480 a.C. Termópilas é o nome do
desfiladeiro onde foi travada essa batalha entre espartanos e persas.
Fidelidade aos quadrinhos ou à história
Provavelmente, o filme irá satisfazer aqueles que esperam uma adaptação fiel dos quadrinhos de Frank
Miller. No entanto, certamente irá decepcionar aqueles que esperam uma reconstituição fiel da batalha de
Termópilas. Isso ocorre porque os quadrinhos que inspiraram o filme estão longe de primarem pela fideli-
dade histórica. [...]
Fato e fantasia
Em linhas gerais, a história contada nos quadrinhos de Frank Miller é a mesma relatada pelo historia-
dor grego Heródoto (484-425 a.C.): um pequeno exército de 300 espartanos, liderados pelo rei Leônidas,
oferece uma heroica resistência contra um inimigo muito mais poderoso, o exército persa, enviado pelo
[imperador] Xerxes.
Trata-se de uma história em quadrinhos livremente baseada em fatos e personagens históricos. O rotei-
ro e a narrativa de Miller são envolventes, recheados de ação. No entanto, convém destacar que o autor
comete uma série de [...] erros sobre datas, fatos, circunstâncias no que se refere à questão da fidelidade
histórica (ou falta dela).
Vale lembrar que se trata de uma obra produzida com fins de entretenimento, por isso não pode-
mos esperar que seja uma reconstituição exata dos fatos em que se baseia. Segundo alguns críticos e a
maioria dos fãs de Miller, esses [erros] devem ser entendidos como “licença poética” (liberdades to-
madas pelo autor para tornar a narrativa mais interessante). Outros críticos discordam. Para eles, os
[erros] apresentados em 300 são crassos mesmo. Na visão desses críticos, seriam erros grosseiros de-
mais para serem tomados por licença poética.
Piercings [...]
Esses [erros] estão presentes, por exemplo, nas caracterizações de algumas das personagens, a começar
pelo próprio [imperador] Xerxes, que Miller retratou cheio de piercings pelo corpo, um visual que lem-
bra muito mais o de uma “tribo urbana” dos dias de hoje do que o de um [imperador] da Pérsia Antiga. [...]
Popularizando a história
Enfim, Os 300 de Esparta está longe de ser uma “aula de história”, como costumam afirmar os fãs mais
entusiasmados. Mas, com certeza, trata-se de uma obra que pode ajudar a tornar o estudo da história mais
interessante.

136
capítulo 8
O principal mérito dessa história em quadrinhos de Frank Miller foi popularizar um episódio da
história antiga, despertando o interesse pelo assunto em pessoas que jamais haviam lido qualquer
coisa a respeito da batalha de Termópilas. Após lerem os quadrinhos, muitos leitores passaram a pro-
curar informações sobre o assunto em outras fontes.

Os persas
Túlio Vilela. Extraído do site: <http//educação.uol.com.br>. Acesso em: 1 fev. 2012.

A B

Escultura em relevo. Persépolis, Irã. Foto:


Topham Picturepoint/TopFoto/Keystone

TopFoto/Keystone
Ator brasileiro,
Rodrigo Santoro,
interpretando o
imperador Xerxes no
Xerxes, em filme 300, dirigido
relevo de por Zack Snyder,
Persépolis. lançado em 2007.

a ) Por que o autor do texto afirma que os quadrinhos de Frank Miller estão longe de prima-
rem pela fidelidade histórica?
b ) Compare as imagens A e B, que representam Xerxes. Quais as principais diferenças que
você consegue perceber nessas duas representações?
c ) Quais são as duas principais opiniões acerca dos erros históricos cometidos por
Miller em Os 300 de Esparta ? Você concorda com alguma delas? Qual? Justifique sua
resposta.
d ) O autor conclui o texto afirmando que o mérito da obra de Miller foi ter popularizado um
episódio da história antiga. Você concorda com ele? Por quê?
e ) Procure se lembrar de outras obras artísticas que popularizaram algum acontecimento
histórico e conte aos colegas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren­
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A Pérsia ficava localizada na região onde hoje é o Irã.
■■ O Império Persa foi um dos maiores da Antiguidade.
■■ Os persas, apesar de cobrarem tributos, respeitavam a cultura dos povos conquistados.
■■ O zoroastrismo, religião dos antigos persas, influenciou as principais religiões monoteís­
tas da atualidade.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi­
car-se de que todos compreen­d eram o conteúdo trabalhado neste capítulo.

137
9
capítulo

Os antigos chineses
Museu Qin, Xian, China. Foto: Corel Stock Photo

A Soldados de
terracota, feitos no
século III a.C. Essas
esculturas,
encontradas na
China durante
escavações
arqueológicas, em
1974, foram feitas
por ordem do
imperador Qin
Huang Di, que
unificou o território
chinês em 221 a.C.,
fundando um
poderoso império.
Photodisc/Getty Images

Veja nas Orientações


para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

B Fotografia atual da
Muralha da China,
que começou a ser
construída no final
do século III a.C.

138
Museu Britânico, Londres

C Damas da corte
chinesa arrumando
os cabelos e
maquiando-se.
Pintura em seda do
século IV a.C.
ock
bis/Latinst
Liqun/Cor
. Foto: Liu
particular

D Bússola criada pelos


Coleção

antigos chineses, por


volta do século IV a.C.

Conversando sobre o assunto Aproveite a seção


Conversando sobre
Atualmente, a China é um país que vem impressionando o mundo em o assunto para ativar
o conhecimento
razão de seu rápido crescimento econômico. Muitos aspectos da atual prévio dos alunos e
cultura chinesa foram herdados de uma tradição milenar. Neste capítulo estimular seu
interesse pelos
estudaremos algumas características da antiga civilização chinesa. assuntos que serão
desenvolvidos no
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os capítulo. Faça a
colegas sobre as questões a seguir. mediação do diálogo
entre os alunos de
■ ■ O exército de terracota, que pode ser visto na fonte A, é uma represen-
maneira que todos
tação do exército real chinês. Quais são as relações entre o exército, participem
expressando suas
a autoridade do imperador e a unificação da China? opiniões e
■ ■ Qual seria o objetivo da construção da muralha retratada na fonte B? respeitando as dos
colegas.
Essa muralha ainda tem a mesma importância que tinha na Antigui-
dade?
■ ■ A cena representada na fonte C foi pintada em tecido de seda, uma

invenção chinesa. Quais informações podem ser obtidas a partir da


análise dessa fonte?
■ ■ A bússola, retratada na fonte D, é outra invenção dos antigos chineses.

Qual é a utilidade desse objeto?


■■ Você conhece alguma outra invenção chinesa utilizada nos dias de hoje?

Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

139
A China antiga
Os antigos chineses formaram uma das maiores civilizações
do continente asiático.

As aldeias do rio Amarelo


O rio Amarelo, chamado Huang-Ho pelos chineses, teve grande impor-
Painço também
tância na formação das primeiras aldeias chinesas. Os agricultores que se conhecido como
fixaram às margens desse rio, por volta de 3000 a.C., plantavam painço, milho-miúdo,
hortaliças, frutas e nozes e criavam porcos, bois e cabritos. Também pro- esse vegetal é
duziam objetos de cerâmica, que eram utilizados tanto no dia a dia quanto utilizado princi-
palmente na
em ocasiões especiais, como cerimônias religiosas e festas. fabricação de
As variações climáticas alternavam períodos de seca e de cheia, que farinha.
causavam muitos prejuízos para a população, provocando a destruição de
casas e plantações. Por essa razão, desde os primeiros tempos, os chineses
desenvolveram técnicas de controle das águas do rio, construindo reserva-
tórios para armazenar a água, nas épocas de cheia, e utilizá-la na irrigação
dos cam pos, nos períodos de seca.

Área ocupada pela civilização chinesa antiga

E. Cavalcante
N

MONGÓLIA O L

S
ÁSIA
CENTRAL
Pequim
DESERTO DE
TAKLA MAKAN
el
o COREIA
ar
Am

Mar
o
Ri

Luoyang Amarelo
Changan

Nanjing
Rio Yang-tsé

30° N
C HINA

ÍNDIA
Mar da
China

0 363 km

120° L

Fonte: EDWARDS, Mike. Han. National Geographic. São Paulo: Abril, ano 3, n. 46, fev. 2004.

A China hoje
George Steinmetz/
Corbis/Latinstock

Grande parte do território ocupado pela civilização chinesa antiga compõe


atualmente o território da China, que é o país mais populoso do mundo, com
1,3 bilhão de habitantes, e é o terceiro maior em extensão territorial.

O rio Huang-Ho recebeu esse nome porque o solo da região que ele
atravessa tem uma coloração amarela. Essa terra amarela, chamada
loesse, é muito fértil e, se irrigada, torna-se excelente para o cultivo.
Ao lado, plantação de feijão feita pelos habitantes da região do rio
Amarelo, na China. Fotografia tirada em 2000.

140
Períodos da história da China Antiga

capítulo 9
Observe, na linha do tempo a seguir, os principais períodos da história
da China Antiga.

Os antigos chineses
221 a.C. a 206 a.C. 206 a.C. a 220
Período Qin Período Han
Qin Huang Di se tornou o primeiro Nesse período, o Império Chinês atingiu
imperador chinês, unificando os sua extensão máxima. Na época Han,
reinos beligerantes da China. Foi ele caravanas de mercadores percorriam longos
que ordenou a confecção do exército caminhos em direção ao mar Mediterrâneo,
de terracota, formado por cerca de conhecidos como Rota da Seda. Foi nessa
sete mil guerreiros feitos de barro época que os chineses iniciaram a produção
cozido e colocados no túmulo do de papel, descobriram novas técnicas de
imperador para fazer sua guarda extração do sal marinho, aperfeiçoaram as
pessoal na eternidade. rodas de fiar e inventaram o sismógrafo.

200 a.C. 100 a.C. ano 1 100 200

c. 220 a.C. 117 a.C. c. 2 c. 105


Início da O Estado chinês Primeiro censo realizado na Início da
construção da monopoliza a produção China indica uma população de fabricação do
Grande Muralha. de ferro e sal. cerca de 60 milhões de pessoas. papel na China.

210 a.C.
Morte do imperador
chinês Qin Huang Di.

A China pré-imperial Sismógrafo

Séc. 13-14 a.C. Museu Real de Ontário, Toronto.


Foto: Richard Swiecki/Corbis/Latinstock
Quando a China foi unificada, em 221 a.C., seu povo aparelho que
já possuía uma história milenar. detecta e registra
Por volta de 2000 a.C., a maior parte da população terremotos.
vivia em aldeias às margens do rio Amarelo.
Há poucas informações sobre a história desse
período, no entanto, existem lendas que narram a
origem dos chineses. Uma delas conta a história de
Yü, o Grande. Ele teria acabado com as enchentes
que destruíam as aldeias às margens do rio Amarelo
construindo um reservatório para armazenar as
águas do rio e utilizá-las para irrigar as plantações
nas épocas de seca.
Entre 1500 a.C. a 1027 a.C., durante o chamado
Período Shang, os chineses antigos começaram a
produzir artefatos de bronze e de jade. Além disso,
foram encontradas inscrições em ossos de tartaruga
que revelam aspectos do cotidiano nessa época.
Foi também nesse período que os primeiros tecidos
de seda foram produzidos.
De 1027 a.C. a 221 a.C., durante o Período Zhou,
os chineses foram substituindo os instrumentos Os ossos oraculares, como
agrícolas e as armas de bronze por arados, enxadas este, eram usados pelos
e armamentos feitos de ferro fundido. A partir do adivinhos chineses, que
século V a.C., a história dos antigos chineses foi pretendiam prever o futuro
marcada por inúmeros conflitos internos entre os observando as rachaduras
Reinos Combatentes, que apenas acabaram com que o fogo provocava nesses
a unificação empreendida por Qin Huang Di. ossos.

141
A unificação do território chinês
O território chinês foi unificado no século III a.C. Nesse período, aconteceram
muitas transformações no modo de vida dos antigos chineses.

O primeiro imperador chinês


Por volta de 221 a.C., a região onde se formaria

Biblioteca Nacional, Paris


a China era composta por Estados independentes
e rivais que combatiam entre si pelo controle do ter-
ritório. Para aumentar suas chances de vitória, o
governante do Estado de Qin promoveu uma reforma
em seu exército e modificou as táticas de guerra.
Ao vencer os conflitos, o governante Qin unificou
os Estados independentes e proclamou-se impe-
rador da China. Seu nome, Qin Huang Di, era uma
junção de três palavras chinesas: Qin (primeiro),
huang (soberano), di (governante divino).

A destruição de livros
De acordo com relatos da época, o imperador
ordenou a destruição de todos os livros que ques-
tionassem as novas leis propostas por ele. Algumas
obras, no entanto, como os manuais agrícolas e os
livros de medicina, foram poupadas.
A queima dos livros foi representada nessa pintura
em seda do século VII.
Um período de mudanças
Durante o período Qin, foi estabelecido um novo código
Mudanças no dia a dia
de leis que regulamentava a ação de todos os habitantes
As mudanças introdu zidas por Qin
do império. Também foi feita a padronização dos pesos e transformaram o dia a dia dos chineses.
medidas, da escrita e das moedas. O novo sistema de irrigação, por exemplo,
possibilitou o aumento da produção
Além disso, o imperador Qin financiou a construção agrícola; a me lhoria das estradas fa cilitou
de estradas, pontes e canais, intensificando a comu- as trocas comerciais e culturais entre
nicação e o deslocamento das pessoas por todo o ter- regiões distantes; a unificação das
ritório unificado. Por essa razão, as trocas comerciais moedas incentivou a comercia lização de
produtos.
aumentaram bastante durante o período Qin.

Aspectos sociais
A sociedade, na época Qin, era composta principalmente por nobres, por
mercadores e por trabalhadores pobres.
Hemera

Os nobres geralmente pertenciam à família do imperador ou tinham uma


relação próxima com ele ou com seus conselheiros. Desse grupo social
faziam parte os funcionários do governo e os intelectuais.
Os mercadores vendiam tecidos de seda, vasilhas de cerâmica, instru- Antes da
mentos utilizados na agricultura, entre outras mercadorias. padronização, as
Os trabalhadores pobres compunham a maior parte da população. Eram moedas eram feitas
de formas variadas.
eles artesãos, agricultores e construtores, que trabalhavam ora na agricul-
Depois, passaram a
tura, ora nas obras financiadas pelo Estado. ser redondas com
Em casos de guerras ou conflitos contra invasores, os homens de todos os um furo quadrado
grupos sociais eram convocados para lutar no exército e defender o território. no centro.

142
A construção da Muralha da China

capítulo 9
Por volta de 220 a.C., o imperador Qin ordenou a construção de uma
grandiosa muralha, cujo principal objetivo era defender o território chinês
contra ataques inimigos. Naquela época, a obra chegou a medir cerca de
3 mil quilômetros de extensão. A muralha só foi concluída no século XVI.

Os antigos chineses
Atualmente, sua extensão é de aproximadamente 7 mil quilômetros.
Observe o infográfico.

As torres de vigia tinham em média 12 metros de


altura. A pequena distância entre elas permitia que A largura da muralha, em
os soldados mandassem avisos uns aos outros em toda sua extensão, varia

Art Capri
caso de ataques estrangeiros. As torres também entre 4 e 9 metros e a altura
eram usadas para armazenar alimentos e armas. média é de 7 metros.

Entre os operários que


participaram da construção
estavam soldados,
camponeses e escravos.

Os soldados chineses
usavam um uniforme de
combate composto por
capacete e armadura feita
de malha de ferro. Os
escudos eram feitos com
ferro e bronze. Os
soldados utilizavam
também lanças e espadas.
A principal arma de
guerra, no entanto, era a Os materiais usados na construção
besta, instrumento que variavam de acordo com a região por Essa ilustração é uma
representação artística feita com
disparava flechas com onde passava a muralha: pedra, argila base em estudos históricos.
muita força e precisão. ou madeira podiam ser usados na obra. Baseado em Atlas das Civilizações.
São Paulo: Melhoramentos, 1996.

143
Enquanto isso... na Índia

Na época da unificação imperial da China, havia


na Índia outro império que atravessava uma fase de Império Máuria (século III a.C.)
crescimento e prosperidade: o Império Máuria.

E. Cavalcante
N

A origem desse império está ligada à trajetória de Taxila


O L

Chandragupta Máuria, que em 320 a.C. tornou-se S

governante de Magada, um próspero reino localiza- Him


ala
ia

o
Ri
do a leste do rio Ganges.

Ind
o
Ga
ng

Rio
es Pataliputra
Primeiramente, Chandragupta Máuria unificou os
Sanchi
pequenos Estados da região e, em seguida, expulsou Ujjain
os macedônicos que haviam invadido a Índia.
ÍNDIA —
Assim, em 313 a.C., sob a liderança de Chandra- IMPÉRIO
Golfo de
MÁURIA
gupta Máuria, os indianos fundaram seu primeiro Mar da Arábia Bengala

grande império, que perdurou até o ano de 185 a.C. 15° N

Observe, no mapa ao lado, a extensão do Império


Máuria.

0 540 km OCEANO ÍNDICO


Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). Word History Atlas.
75° L
Londres: Dorling Kindersley, 2005.

Xilogravura. Coleção particular. Foto: Sammlung Rauch/Interfoto/Latinstock


Trocas comerciais
A Índia Máuria estabeleceu intenso comércio com as regiões
vizinhas, importando peles e seda da Ásia Central e da China
e exportando tecidos, joias, armas e especiarias. O comércio
marítimo também se desenvolveu, tanto ao longo das vias
fluviais como no mar.
A marinha mercante pertencia ao Estado, que regulava a
circulação das mercadorias e garantia a segurança contra os
assaltantes. Esse comércio era garantido pela produção dos
artesãos, que, entre outros ofícios, eram especializados na
produção de tecidos e na manipulação de metais.

Gravura do século XIX que representa


tecelões indianos fabricando tecidos.

Sociedade e religião na Índia Máuria


Já há alguns séculos antes da unificação da Índia pelos máurias, a so-
Hinduísmo
ciedade indiana foi se organizando de acordo com a tradição hinduísta conjunto de
das castas. O sistema de castas era estritamente rígido e partia do pres- crenças e
suposto de que as pessoas não eram socialmente iguais, pois, desde o doutrinas que
nascimento, eram dotadas com capacidades, obrigações e direitos espe- fazem parte da
tradição religiosa
cíficos, que não podiam ser alterados durante a vida presente.
indiana.
De acordo com o hinduísmo, mesmo que o indivíduo levasse uma vida Reencarnação
vir tuosa, ele apenas seria conduzido à salvação após inúmeras reencar- retornar à forma
nações. Com isso, as pessoas de camadas inferiores eram obrigadas a humana, nascer
aceitar sua difícil condição, que somente poderia ser alterada em “vidas de novo.
futuras”.

144
capítulo 9
As castas
Essa forma de organização, baseada na linhagem e na condição econômica de cada fa-
mília, dividiu a sociedade em quatro castas principais. Veja.

Os antigos chineses
Sistema de castas da Índia. Aquarela. Coleção particular. Foto: Dorling Kindersley/Getty Images

Xátrias: nobres, Brâmanes: sábios e


guerreiros encarregados sacerdotes responsáveis
de garantir a ordem pelos rituais sagrados e por
política e social. aconselhar os governantes.

Vaixás:
comerciantes,
proprietários
de terras.

Sudras: trabalhadores
braçais, que deviam respeito
e submissão aos membros
das castas superiores.

Havia ainda o grupo dos dalits, que não pertencia a nenhuma das outras
castas. Eles eram responsáveis pela realização das tarefas consideradas
indignas e impuras, como a limpeza de latrinas e ruas.
Imagem de Buda
O budismo em um templo
budista da Coreia.
Desde o século VI a.C., a sociedade indiana vivenciava um período de

Egmont Strigl/Imagebroker/Alamy/Other Images


constantes conflitos. Os brâmanes abusavam de sua autoridade, o que
gerava descontentamento na maior parte da população. Nas castas
inferio res, havia grande insatisfação com as difíceis condições de vida e
com a impossibilidade de transformação social em razão do rígido sis-
tema de castas.
Nessa época, um homem chamado Sidarta Gautama, mais tarde conhe-
cido como Buda, apresentou ensinamentos que propunham uma profunda
reforma social na Índia. Segundo esses ensinamentos, o caminho da ilu-
minação, ou seja, da sabedoria que conduziria o ser humano à salvação,
não se encontrava na satisfação dos próprios desejos, nem no total aban-
dono deles: era preciso seguir o “Caminho do Meio”.
O budismo representou um rompimento com a rígida tradição hinduísta das castas, o que
era uma grande novidade para a época, pois, de acordo com os ensinamentos de Buda, o
fato de uma pessoa pertencer a uma casta inferior não interferia na vida espiritual.
Com isso, todos os seres humanos, independentemente de sua posição social, poderiam
atingir a iluminação. Além disso, seus ensinamentos eram transmitidos por meio de uma
linguagem de fácil compreensão. Assim, pessoas de diferentes camadas sociais passaram a
seguir os seus ensinamentos. Ao conquistar cada vez mais seguidores, o budismo se expan-
diu para outras regiões, como a China, Japão e Coreia, onde teve grande aceitação.

145
O período Han
Expansão territorial, trocas comerciais com povos estrangeiros e intercâmbio
cultural foram características marcantes do período Han.

A cidade de Changan
Após a morte do imperador Qin, em 210 a.C., os chineses viveram um
período de turbulência, marcado por disputas pelo poder e revoltas popu-
lares. Liu Bang, funcionário imperial de origem cam po nesa, liderou uma
rebelião contra o poder imperial e, em 206 a.C., assumiu o trono chinês.
Este fato marca o início do período Han.
Nos primeiros anos da época Han, Changan era a capital do império e
possuía cerca de 500 mil habitantes. Observe o infográfico.

N. Akira
As casas dos nobres eram O palácio do imperador era a Os mercados eram os lugares
grandes, com pavilhões e pátios construção mais imponente mais movimentados da cidade.
espaçosos. Os móveis eram de da cidade. Seus portões eram Neles eram vendidos os mais
madeira. Possuíam tapetes e vigiados por sentinelas, que diversos produtos, como frutas,
esteiras que cobriam quase todo observavam a entrada e saída ervas medicinais, objetos de
o chão da casa. de pessoas do alto das torres. cerâmica, tecidos, animais etc.

No parque, havia lagos


e árvores. As pessoas
gostavam de passear
por lá.

Changan era uma cidade murada. Cada A maioria da população morava em casas Essa ilustração é uma representação artística
um dos quatro lados do muro possuía pequenas. Os móveis eram simples e feitos feita com base em estudos históricos.
Baseado em Lai Po Kan. Os chineses. São
três portões para entrada e saída de de madeira. Mesmo as casas menores Paulo: Melhoramentos, 1991.
pessoas e mercadorias. possuíam um pátio interno.

146
A religiosidade na China Han

capítulo 9
No período Han, três importantes correntes religiosas passaram a fazer
parte do dia a dia da população: o confucionismo, o budismo e o taoísmo.

Os antigos chineses
AA World Travel Library/TopFoto/Keystone

Corel Stock Photo

Liu Liqun/Corbis/Latinstock
Os ensinamentos do O budismo, de origem indiana, foi O taoísmo também pregava a
confucionismo enfatizavam o bastante aceito entre os chineses. harmonia entre humanidade e
respeito à família e às tradições Os ensinamentos budistas natureza, porém ensinava técnicas
chinesas. Além disso, as pessoas consideravam a característica de respiração e meditação como
deviam buscar a harmonia com a transitória e sofredora da vida forma de alcançar a paz espiritual.
natureza. O criador do como uma possibilidade de se Lao Tsé, o criador do taoísmo,
confucionismo foi Confúcio, que chegar ao nirvana. Acredita-se viveu no século IV a.C.
viveu por volta do século VI a.C. que Sidarta Gautama, o Buda,
tenha vivido por volta de 500 a.C.
Nirvana estado
de felicidade
Aspectos culturais eterna adquirida
por meio da
Os imperadores do período Han foram muito influenciados pelo confucio- disciplina e da
nismo. meditação.
As propostas dos confucionistas valorizavam a educação para todos e
não apenas para a elite. Por isso, na época Han, os cargos públicos pas-
saram a ser preenchidos por meio de concursos, que avaliavam o conhe-
cimento do candidato, independentemente da posição social que ocupava.
Contudo, as mulheres não podiam participar desses concursos.
As mulheres exerciam outras atividades, como cuidar da produção da
seda e das tarefas da casa. Elas viviam sob autoridade paterna até se ca-
sarem. As mulheres chinesas deviam ser leais, respeitosas e atenciosas,
sempre dispostas a ajudar as pessoas.

O sujeito na história Ban Zhao Museu Britânico, Londres

Ban Zhao foi uma importante escritora da época Han. Prove-


niente de uma família de estudiosos, tinha profundos conheci-
mentos sobre a história e a cultura chinesas.
Além de textos históricos, Ban Zhao escreveu sobre matemá-
tica, astronomia e literatura. Nujie ( Lições Femininas ) é sua obra
mais conhecida. Trata-se de um manual de comportamento
para as mulheres chinesas.
Ban Zhao defendia que as meninas, assim como os meninos,
deveriam ter direito à educação formal para melhor cuidarem
de suas famílias.
Pintura em seda representando Ban Zhao.

147
A Rota da Seda
A Rota da Seda possibilitou, além do comércio, inúmeras trocas culturais.

A abertura da Rota
Os imperadores da dinastia Han, preocupados em assegurar a proteção
das fronteiras chinesas, enviaram embaixadores para reinos distantes, a fim
de trocarem presentes e estabelecerem relações diplomáticas. Ao retorna-
rem, esses embaixadores trouxeram informações sobre dois grandes impé-
rios a oeste, o persa e o romano.
As notícias sobre a riqueza desses impérios estimularam a abertura de
rotas comerciais terrestres. Essas rotas foram ampliadas e chegaram até o
Império Romano, passando, também, pelos territórios da Pérsia, da Meso-
potâmia e da Arábia.
O conjunto dessas rotas ficou conhecido como Rota da Seda, e ocupava
uma área de mais de 8 000 quilômetros. Observe a extensão dessa rota no
mapa abaixo.

A Rota da Seda
E. Cavalcante

EUROPA N

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Rio Ural
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Lago DESERTO
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Mar Negro Ri Balkhash

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Constantinopla Mar de o
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Dunhuang Changan 45° L
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PÉRSIA
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fo

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0 590 km Rotas
ic
o

75° N
Fonte: TAO, Wang. Explorando a China. São Paulo: Ática, 1996.

Os mercadores
As caravanas atravessavam a Rota da Seda le-
Abraham Cresques - Detalhe de portulano da Ásia do séc. XIII. 1375.
Manuscrito iluminado em pergaminho. Biblioteca Nacional, Paris.
Foto: White Images/Scala, Florence/Glow Images

vando e trazendo mercadorias, conectando assim


os lugares mais distantes. Os mercadores chineses
levavam, além da seda, especiarias como canela,
cravo e gengibre. Também comercializavam cereais,
ferro, bronze e madeira, além de cerâmica, porce-
lanas e obras de arte.
Os povos que habitavam a Ásia Central, como
persas e indianos, compravam produtos chineses
e forneciam, em troca, cavalos, metais preciosos,
vinho, lã, linho, marfim e outras mercadorias, além
de escravos. Esses bens passavam por várias
caravanas de mercadores e, em algumas regiões, Imagem que representa mercadores percorrendo a Rota
o transporte também era feito por via marítima. da Seda em detalhe de um mapa do século XIV.

148
O intercâmbio cultural

capítulo 9
Além da troca de mercadorias, a Rota da Seda possibilitou o intercâmbio
cultural entre os povos que a utilizavam.
Entre os aspectos que transformaram o modo de vida das populações do

Os antigos chineses
Oriente e do Ocidente, estão a descoberta de novos animais e vegetais.
Outro aspecto importante foi o contato com diferentes estilos artísticos e
modos de vida e a difusão de doutrinas religiosas diversas, como o budis-
mo e o cristianismo.
Junto com as caravanas comerciais, se deslocavam
exércitos, sacerdotes, embaixadores e artistas oriun-
dos das mais diversas regiões. Foi essa diversidade
de pessoas de culturas diferentes que permitiu a troca
de ideias, crenças religiosas, de estilos artísticos e
formas de pensamento.

Mel Longhurst/Age Fotostock/Easypix


Fotografia tirada em 2010 de tecido de seda
à venda em mercado chinês. As cores
vivas e a riqueza de detalhes ainda hoje
são características da arte chinesa.

Chineses e romanos
Enquanto o comércio chinês com povos estrangeiros se expandia através da Rota da
Seda, o Império Romano se apresentava em sua máxima extensão, que ia desde o
território da atual Inglaterra até o golfo Pérsico e o mar Cáspio. Naquela época o
imperador de Roma, além das conquistas territoriais, financiou a construção de cidades,
muralhas, portos e procurou melhorar a administração do império.
Os romanos e chineses antigos sabiam da existência uns dos outros. O contato entre
esses povos, geralmente, era feito de maneira indireta, por meio das trocas comerciais
intermediadas por mercadores de diversas origens. Os tecidos de seda chineses eram
muito apreciados pelos romanos, sendo procurados em todo o império. Como o seu
preço era alto e os detalhes de sua produção eram mantidos em segredo pelos chineses,
muitos políticos romanos se queixavam de que todo o ouro do império estava sendo
trocado por tecidos e sedas.

Império Romano e Império Chinês no século I


E. Cavalcante

O L

EUROPA
45° N
ÁSIA

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M ed iterrân eo

Á RICA
ÁF
OCEA NO
0 830 km
Império Romano Í NDICO 90° L
Império Chinês
Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

149
Explorando o tema
As invenções dos antigos chineses
Muitas invenções dos antigos chineses são amplamente utilizadas nos
dias de hoje. A difusão desses inventos foi facilitada pela Rota da Seda.
As trocas comerciais contribuíram para que povos de diferentes regiões
conhecessem e adaptassem as invenções chinesas de acordo com sua
própria cultura.
Objetos utilizados em nosso modo de vida atual, como o papel, o guarda-
-sol, o vaso sanitário, o pincel e a pólvora, tiveram origem na China.
Além disso, a carriola, a roldana para mover objetos
de construção, e a bomba d’água, por exemplo, foram

Art Capri
novidades introduzidas no cotidiano dos trabalhadores
chineses cerca de mil anos antes de aparecerem nos
campos europeus.
A bússola, importante instrumento utilizado pelos Ilustração que representa um
navegadores do século XVI, também foi inventada antigo guarda-sol chinês.
pelos chineses.

Papel
Na China, o papel fornece, desde o século II a.C.,
Fotografia de 2001 retratando
um substituto prático em relação aos demais suportes
um chinês realizando impressão
utilizados para a escrita, como o osso, a seda e a em papel utilizando uma técnica
madeira. desenvolvida na China Antiga.
A invenção do papel pelos chineses foi um fator
Zhuang Yingchang/
ChinaFotoPress/Easypix

muito importante para o desenvolvimento da impren-


sa. As primeiras técnicas de impressão apareceram
na China no decorrer do século VII, em razão da ne-
cessidade dos monges budistas em ampliar o número
de cópias de seus textos sagrados.
Em meados de 1445, o alemão Gutenberg aprimo-
rou esta técnica, possibilitando a impressão de um
número maior de páginas em menos tempo.
Interior de uma oficina gráfica. Gravura colorida. 1619. Coleção
particular. Foto: The Granger Collection/Other Images

Foi na Europa do século XV que os livros começaram


a ser impressos e se tornaram acessíveis a um maior
número de pessoas. A gravura acima feita em 1619,
representa uma oficina gráfica.

150
capítulo 9
Bússola
A bússola, um importante instrumento de orientação, muito utilizado nas Grandes Navega-

Os antigos chineses
ções, foi inventada pelos chineses no século IV a.C. Na Europa ela ficou conhecida por volta
do século XIII.
Imagine pessoas a bordo de um navio, em um oceano desconhecido. Como fariam para se
localizar? Utilizando a bússola os navegadores obtinham informações sobre a sua localização, o
que facilitava a sua orientação. Desse modo, a bús-
sola possibilitou a realização de viagens em mar
aberto, pois até então as viagens marítimas se limi-
tavam às proximidades do litoral.
Quando os portugueses aportaram em terras

Caravela portuguesa. Séc. XX. Litografia colorida.


brasileiras, no ano de 1500, traziam consigo, entre

Coleção particular. Foto: Look and Learn/


outros instrumentos de navegação, uma bússola.

The Bridgeman Art Library/Keystone


A utilização da bússola foi muito importante para as Grandes
Navegações do século XV, facilitando a orientação, por
exemplo, dos navegadores portugueses que aqui chegaram
em 1500. Essa imagem representa uma caravela portuguesa
do século XV. (Litografia produzida no século XX).

Pólvora
As primeiras notícias que se tem de um material explosivo referem-se à China do século XI,
quando a pólvora passou a ser utilizada como explosivos e como fogos de artifício. Na Euro-
pa, foi no final da Idade Média que os segredos da fabricação e do uso da pólvora foram
descobertos, anunciando uma transformação nas técnicas militares. Os castelos e as muralhas
passaram a ser facilmente destruídos pelas balas dos canhões.

Cerco em castelo. Séc. XV. Biblioteca Britânica, Londres. Foto: Photo Scala Florence/Heritage Images/Glow Images
Flechas chinesas. Séc. XI. Coleção particular. Foto: The Granger Collection/Other Images

Os chineses
utilizavam a pólvora
para fabricar fogos de
artifício, como os que
estão representados
nessa imagem.

Os europeus começaram
a usar armas de fogo
há mais de 600 anos,
quando elas ainda
eram uma espécie de
pequenos canhões,
como podemos ver na
imagem ao lado,
produzida no século XV.
A pólvora explodia
dentro deles,
projetando balas de
pedra à distância.

151
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Por que o rio Amarelo recebeu esse nome? c ) Quais eram as armas utilizadas pelos
soldados chineses que defendiam o terri­
2 Quais eram as principais atividades desen- tório imperial de ataques es­tran­geiros?
volvidas pelos habitantes das primeiras
aldeias chinesas? d ) Como eram as torres de vigia e para
que serviam?
3 Quais eram as principais dificuldades en-
e ) Quais materiais foram usados na cons­
frentadas por esses habitantes e o que
trução da muralha?
eles fizeram para superá-las?
7 Elabore um texto explicando quais eram as
4 Quando e como ocorreu a formação do
principais diferenças entre o budismo e o
Império Chinês?
sistema de castas presente no hinduísmo
5 Quais foram as principais mudanças im­ tradicional.
plantadas no império durante o pe­ríodo
8 Quem foi Ban Zhao? Em sua opinião, por
Qin? Como essas mudanças trans­for­
que ela é importante para a história da
maram o dia a dia da popu­la­ç ão?
China Antiga?
6 Sobre a Muralha da China, responda.
9 O que foi a Rota da Seda e qual a sua im­
a ) Com que finalidade a muralha foi portância para os povos antigos?
cons­­t ruída?
10 Cite algumas invenções dos antigos chi­
b ) Que pessoas trabalharam em sua cons­ neses e explique sua utilidade.
­­t rução?

Expandindo o conteúdo
11 Leia o texto a seguir.

Os soldados de terracota
[O historiador] Siam Quian, [que viveu durante o período Han], não men­cionou
[em seus trabalhos] os exércitos de terracota. Ninguém sabia da sua existência até mar-
ço de 1974, quando dois camponeses do povoado de Yangeun, situado nas proximidades,
cavaram um poço no monte Li. Os arqueólogos acudiram ime­diata­men­te quando os
primeiros fragmentos fo­ram encontrados e, em seguida, foi confirmada a sensacio-
nal descoberta. Após a euforia dos pri­meiros momentos, iniciaram-se os trabalhos
de escavação.
Em primeiro lugar, foram desenterradas esculturas de soldados com 1,8 m e, inclu-
sive, com quase 2 m de altura, assim como de cavalos feitos de barro cozido (terracota),
que ainda conservavam restos das suas pinturas originais. Um fato curioso é que ne-
nhum soldado é igual ao outro e, embora as pernas, os dorsos e os braços tenham sido
realizados em série, cada rosto foi elaborado individualmente. Tampouco as partes pro-
duzidas em série, por meio da utilização de moldes, são absolutamente iguais e
surpreendem pela sua riqueza de formas: soldados com ou sem escudo, guerreiros de-
sarmados ou armados em diferentes posições de corpo e braços, assim como cocheiros
e arqueiros. A forma de cobrir a cabeça, em alusão à categoria de cada soldado, é outro

152
capítulo 9
elemento que varia. Assim, alguns possuem apenas um lenço atado ao redor de um
coque enquanto outros apresentam rugas estilizadas, que lhes dão o aspecto de oficiais.
Finalmente, seus penteados e adornos também são distintos.
Jordi Altarriba (Dir.). Enciclopédia do Patrimônio da Humanidade: China, vol. 2, Ásia.

Os antigos chineses
Barcelona: Altaya, 1998. p. 28-30.
Museu Qin, Xian, China. Foto: Corel Stock Photo

Soldados de terracota
desenterrados por meio de
escavações arqueológicas,
em 1974.

a ) Como aconteceu a descoberta do exército de soldados de terracota?


b ) Além dos soldados, qual animal foi modelado em terracota?
c ) Os soldados de terracota são iguais um ao outro? Explique.

12 A fabricação da seda teve início antes do século I a.C. Contudo, foi a partir do período Han,
quando as técnicas de fabricação foram aperfeiçoadas e sua produção aumentou, que
esse produto passou a ser conhecido além dos limites do Império Chinês. As principais
etapas da produção da seda eram desempenhadas pelas mulheres chinesas.
Observe as imagens, que representam etapas da produção da seda.

1 2 3
Museu dos Tecidos, Lion

Museu dos Tecidos, Lion

Museu dos Tecidos, Lion

Agora, em seu caderno, reescreva as seguintes frases associando cada uma delas com a
respectiva etapa da produção da seda.
a ) Os casulos eram despejados em uma bacia com água morna para que os fios amo­
lecessem e ficassem prontos para ser enrolados.

153
b ) Os bichos-da-seda eram alimentados com folhas de amoreira até que fizessem seus
casulos.
c ) Os fios eram tingidos e tecidos em um tear.

13 Leia o texto a seguir.

[A Rota da Seda] ligava a China, no Oriente, à Europa, no Ocidente, atravessando


o coração da massa de terra asiática. Os seus caminhos apertados cobriam uma dis-
tância de mais de 8 000 quilômetros! Muitos e diferentes povos viviam ao longo dos
caminhos da Rota da Seda. Nestes povos se incluíam não apenas os chineses e os
europeus, mas os muitos povos da Ásia Central e do Médio Oriente: hunos, mon-
góis, iranianos, árabes e turcos, para nomear apenas alguns. Durante os 1600 anos da
sua existência, a Rota da Seda funcionou como canal de comunicação entre estas
diversas culturas.
Mas por que razão surgiu essa extraordinária rota? A resposta mais simples a esta
pergunta são as razões de ordem comercial, a compra e venda de bens. Desde os
tempos mais antigos que as pessoas comerciaram com seus vizinhos. Determinados
bens de valor eram passados de uma tribo para outra, fazendo com que emergissem
diferentes rotas comerciais. Gradualmente, estas rotas foram-se reunindo e esten-
dendo por distâncias muito vastas. Cada tribo ou comunidade era como elo de uma
cadeia, e o comércio trouxe riqueza e prestígio a cada um desses elos.
Foi por volta do século I a.C., [...] que muitos elos diferentes de uma longa cadeia
comercial se reuniram para formar aquilo que hoje conhecemos como Rota da Seda.
Pela primeira vez, o ouro da Europa pôde comprar os produtos de luxo da China,
incluindo a seda, que dá o nome à rota. Mas foi uma troca difícil: como escreve Fa
Xian, a rota atravessava terrenos perigosos e, além disso, os comerciantes enfrenta-
vam a possibilidade de ataques de bandidos e de tribos que se dedicavam à pilhagem.
A Rota da Seda tornou-se mais segura e mais bem-sucedida quando os seus cami-
nhos foram protegidos por impérios poderosos. Assim, a história destes impérios, a
sua ascensão e queda, afetou diretamente o destino da Rota da Seda, desde as suas
origens até ao seu declínio, por volta de 1500, [época] em que as rotas marítimas
[passaram a fazer a] ligação entre o Oriente e o Ocidente. Por sua vez, a Rota da Seda
teve um profundo efeito na história. Anteriormente, os chineses ignoravam a exis-
tência dos europeus e vice-versa! Ao longo dos caminhos da Rota da Seda passaram
não apenas produtos, mas conhecimentos — conhecimentos de diferentes terras e
povos, das suas culturas e crenças. Estes conhecimentos constituíram a maior influên-
cia da Rota da Seda na história e o seu mais duradouro legado para os nossos dias.
Paul Strathern. Os caminhos terrestres. Trad. Maria José Figueiredo. Lisboa: Estampa/
UNESCO, 1993/94, p. 6-7. (As Rotas da Seda e das Especiarias).

a ) Qual era o tamanho da Rota da Seda e quais regiões ela ligava?


b ) Quais povos habitavam os caminhos da Rota da Seda? Que tipo de comunicação ela
proporcionava?
c ) Quais eram os perigos de se atravessar a Rota da Seda? O que tornou seus caminhos
mais seguros?
d ) Quando e por que a Rota da Seda entrou em declínio?
e ) Qual foi o efeito e o legado mais importante da Rota da Seda para a história?

154
capítulo 9
Discutindo a história
14 Cai Lun, alto funcionário imperial que viveu durante o período Han, ficou conhecido como
inventor do zhi, ou seja, do papel. Entretanto, descobertas arqueológicas recentes indicam

Os antigos chineses
vestígios de um papel ainda mais antigo que aquele produzido por Cai Lun. Leia o texto.

Pesquisas arqueológicas realizadas na província de Gansu, no no-


roeste da China, revelaram um pedaço de papel do século I a.C., que
provavelmente é o mais antigo da história. Essa descoberta pode de-
monstrar que a grande invenção chinesa não tem 1 900 anos, como
acreditavam os historiadores, mas talvez mais de 2 000 anos.
Segundo o estudioso Fu Licheng, diretor do Museu de Dunhuang, o
papel descoberto foi usado na época do nascimento de Jesus Cristo. De
acordo com a versão tradicional, Cai Lun inventou a técnica de fabricar
papel no ano 105.
Os pesquisadores encontraram o pedaço de papel em obras de restau-
ração na Grande Muralha em uma região que teve grande concentração
de soldados que patrulhavam as fronteiras durante a dinastia Han
(206 a.C.-25 d.C.). Provavelmente, o papel inscrito com antigos caracteres
chineses era o fragmento de uma carta escrita no final desse período,
como defendem os estudiosos.
A introdução da técnica chinesa no Ocidente, por volta do ano 1000,
barateou o custo dos livros, pois até então os ocidentais utilizavam como
suporte para a escrita principalmente o pergaminho, um material produ-
zido com peles de animais, que era difícil de fazer e custava caro.
Texto dos autores.

a ) Qual é a descoberta arqueológica apresentada no texto? Essa descoberta fortalece ou


enfraquece a versão até então aceita para explicar a origem do papel? Por quê?
b ) Qual foi a vantagem que a introdução do papel chinês trouxe para o Ocidente?
c ) Escreva um texto sobre a importância do papel em sua vida.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■ ■ As primeiras aldeias chinesas formaram-se às margens do rio Amarelo.

■■ A Muralha da China foi construída para proteger o território contra ataques estrangeiros.
■■ A Rota da Seda possibilitou, além das relações comerciais, trocas culturais entre diversos
povos antigos.
■■ Muitas das invenções chinesas antigas foram fundamentais para o processo de trans-
formação da história. Dentre essas invenções estão: a pólvora, a bússola e o papel.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreen­d eram o conteúdo trabalhado neste capítulo.

155
10
capítulo

Os antigos gregos
Veja nas Orientações para o
professor alguns comentários
e explicações sobre os
Museu Britânico, Londres. Foto:
The Bridgeman Art Library/Keystone

recursos apresentados no
capítulo.

A Vaso grego, produzido


no século VI a.C., que
representa agricultores
colhendo azeitonas.
Aquiles e Mêmnon. c. 500-460. Cerâmica grega. Foto: Ancient Art and
Architecture Collection Ltd./The Bridgeman Art Library/Keystone

B Detalhe de um
vaso grego do
século V a.C. que
representa o
combate entre
dois guerreiros.

156
Estela em mármore. Museu da Antiga Ágora, Atenas.
Foto: John Hios/Akg-Images/Latinstock

C Neste relevo em mármore, do


século IV a.C., vemos a deusa
Atena coroando a personificação
da democracia ateniense.
Óstraco com o nome
de Aristides. Foto:
Akg-Images/Latinstock

D Fragmentos de cerâmica, chamados


ostrakon, que eram usados pelos cidadãos
de Atenas para escrever o nome das pessoas
que eles queriam colocar no ostracismo, ou
seja, expulsar da cidade por representarem
ameaça à democracia.

Conversando sobre o assunto Aproveite a seção


Conversando sobre
Neste capítulo estudaremos os antigos gregos. Muitos aspectos da o assunto para ativar
cultura grega estão presentes em nossa sociedade nos dias de hoje. o conhecimento
prévio dos alunos e
Palavras como política, democracia e filosofia, por exemplo, tiveram origem estimular seu
na Grécia Antiga. interesse pelos
assuntos que serão
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os desenvolvidos no
capítulo. Faça a
colegas sobre as questões a seguir. mediação do diálogo
entre os alunos de
■■ Que atividade está sendo representada na fonte A? E na fonte B? maneira que todos
■■ A cidade grega de Atenas é considerada o berço da democracia. participem
expressando suas
Descreva a fonte C. Por que a deusa Atena, protetora da cidade de opiniões e
Atenas, está coroando a democracia? respeitando as dos
colegas.
■■ Em sua opinião, é possível estabelecer relações entre os objetos
retratados como fonte D e a democracia grega?
Talvez você ainda não tenha as respostas para essas perguntas, mas
pense nelas enquanto lê este capítulo.

157
O território grego
A civilização da Grécia Antiga se desenvolveu na península Balcânica, localizada
no Sul da Europa, às margens do mar Mediterrâneo.

Aspectos geográficos

Yann Arthus-Bertrand/Corbis/Latinstock
A península Balcânica possui um
relevo montanhoso e poucas áreas
de solo fértil. Entre as montanhas,
existem algumas planícies isoladas.
Essa região possui muitas ilhas e
tem um litoral bastante recortado.

Fotografia atual da ilha


grega de Patmos, no
mar Mediterrâneo.

Os habitantes da ilha de Creta


Antes dos gregos, uma importante civilização já havia se desenvolvido na
ilha de Creta: a civilização cretense.
Os habitantes da ilha de Creta ocuparam a região por volta de 3000 a.C.,
alcançando seu apogeu em 2000 a.C. Eles também eram chamados de
minoicos, por causa do nome de seu lendário rei Minos.
Os cretenses ficaram conhecidos pelo desenvolvimento de cidades e
portos e pelo comércio marítimo que realizavam com outros povos, entre
eles os fenícios e os egípcios. Além disso, desenvolveram um tipo de es-
crita (grego primitivo) e destacaram-se por suas obras de arte e pela cons-
trução de grandiosos palácios.
Por volta de 1450 a.C., Creta foi invadida pelos micênicos, e Cnossos,
sua capital, foi conquistada.
Museu Arqueológico de Iráclio, Creta, Grécia. Foto: Corel Stock Photo

Os esportes na ilha de Creta


Os cretenses davam muito valor às
práticas esportivas. Os principais espor-
tes praticados eram o salto acrobático, o
pugilismo, a luta de arena e o salto sobre
o touro. A prática de esportes, com o
tempo, foi assimilada pelos povos que
viriam a habitar as regiões da Grécia
Antiga. De acordo com alguns estudos,
esse costume cretense pode ter dado
origem aos Jogos Olímpicos gregos.

Pintura mural cretense datada de cerca


de 1500 a.C., representando mulheres
praticando o salto sobre o touro.

158
A chegada de outros povos

capítulo 10
Entre 2000 a.C. e 1200 a.C., a região da Grécia Antiga passou a ser
ocupada por povos indo-europeus. Entre esses povos, encontram-se aqueus
(2000 a.C.), jônios (1700 a.C.), eólios (1700 a.C.) e dórios (1200 a.C.).

Os antigos gregos
Povos que formaram a civilização grega Indo-europeus
povos originários

E. Cavalcante
das regiões
N

O L

S
próximas ao mar
Negro. A língua
Abdera falada por esses
M AC EDÔ N I A Tasos
povos, o indo-
-europeu, é
CALCIDICA 40° N
Imbros chamada por
Lemnos alguns estudiosos
de “língua-mãe”,
Mar Egeu Assos
Córcira Larissa pois deu origem a
Lesbos
TESSÁLIA diferentes idiomas,
ÁSI A entre eles o
Eubeia
Leucas
M E N OR grego, o latim e o
ET ÓL I A Cálcis
Delfos Erétria
Quios germânico.
BEÓCIA
Mégara ÁTICA Éfeso
Mar Atenas Andros
AC A I A Corinto Samos
Jônico
ARCÁDIA Micenas Tenos Icária Mileto

PELOPONESO Halicarnasso
Messena Paros Naxos
Aqueus Esparta
MESSÊNIA LACÔNIA Cnido
Jônios Melos

Rodes
Eólios
Dórios
Mar
Mediterrâneo
CRE TA Cnossos
Fonte: ARRUDA, José Jobson
0 75 km de A. Atlas Histórico Básico.
20° L São Paulo: Ática, 1995.

Os períodos da história da Grécia Antiga


Veja na linha do tempo os períodos históricos da Grécia Antiga.

1200 a.C. a 800 a.C.. 800 a.C. a 500 a.C. 500 a.C. a 338 a.C.
Período Homérico Período Arcaico Período Clássico
As principais informações desse período Em razão do aumento O período Clássico foi marcado
estão nas obras Ilíada e Odisseia, atribuídas populacional, os pelo predomínio de Atenas e
ao poeta Homero. Nesse período, a genos foram divididos Esparta, cidades-estado gregas
sociedade era organizada em genos, entre os descendentes que disputavam entre si o controle
conjunto de grupos familiares governados dos patriarcas, político e militar da região.
por patriarcas. impulsionando a
formação das cidades- 338 a.C. a 145 a.C.
2000 a.C. a 1200 a.C. -estado gregas.
Período Helenístico
Período Pré-homérico Nesse período, a Grécia
Foi no período Pré-homérico que os foi invadida e dominada
primeiros povos indo-europeus se pelos seus vizinhos do
fixaram no território grego. norte: os macedônios.

2000 a.C. 1800 a.C. 1600 a.C. 1400 a.C. 1200 a.C. 1000 a.C. 800 a.C. 600 a.C. 400 a.C. 200 a.C.

159
O governo nas cidades-estado gregas
Na Grécia Antiga, cada cidade-estado tinha sua própria forma de governo.

Diferentes formas de governo na Grécia Antiga


As cidades da Grécia Antiga eram cidades-estado politicamente
independen tes entre si, e cada uma delas tinha sua própria forma de go-
verno.
Eram os habitantes de cada uma das cidades gregas que escolhiam a
forma de governo que consideravam mais adequada para eles. Porém,
essa decisão geralmente não era pacífica e provocava disputas entre os
habitantes das cidades e os líderes do governo.
Conheça a seguir algumas das principais formas de governo
adotadas nas antigas cidades-estado gregas.

Monarquia: o monarca era o responsável


pelo controle militar, religioso e judiciário.
Ele podia governar sozinho ou auxiliado
por um conselho de nobres.

Aristocracia: os aristocratas, grandes


proprietários de terras, tomavam o poder
do monarca e passavam a governar. Nessa
forma de governo, o poder ficava restrito a
algumas famílias poderosas.

Tirania: governo de um só homem, que


assumia o poder por meio da força. Os
tiranos geralmente eram apoiados pela
população contra o governo aristocrático.

Democracia: os cidadãos participavam


das decisões por meio das assembleias de
cidadãos. No entanto, não eram
considerados cidadãos as mulheres, as
Ilustrações: Art Capri

crianças, os estrangeiros e os escravos.

160
A cidade de Esparta

capítulo 10
Fundada no século IX a.C., a cidade de Esparta ficou conhecida pelo poderio de
seu exército e pela rígida educação dada às crianças espartanas.

Os antigos gregos
Os povos submetidos
Esparta foi fundada pelos dórios, na região da Lacônia,

Loraine Wilson/Age Fotostock/Easypix


no século IX a.C. As atividades agrícolas realizadas em
Espar­ta eram o cultivo de cereais, oliveiras e vinhas. Essa
região, bastante montanhosa e repleta de pântanos, não
favorecia a navegação.
Os espartanos se destacaram pela forte tradição militar,
motivo pelo qual ficaram conhecidos em todo o mundo
grego na Antiguidade. No século VIII a.C., os espartanos já
haviam conquistado e subjugado os povos de toda a região
da Lacônia e da Messênia. Ao conquistarem esses territó-
rios, dividiram-nos em lotes e distribuíram a terra entre si.
Os povos conquistados, denominados hilotas, não eram
expulsos ou vendidos como escravos, e sim aprisionados e
obrigados a realizar os trabalhos agrícolas para sustentar a
população espartana. Apesar de serem obrigados a dar aos
espartanos a maior parte de sua produção agrícola, os hilo-
tas não eram considerados escravos. Fotografia que
Além dos hilotas, outros povos que foram subjugados por Esparta também retrata parte das
integraram a sociedade espartana. Eram os chamados periecos, pessoas ruínas da cidade de
Esparta.
livres que habitavam regiões periféricas de Esparta. Eles não tinham direitos
políticos e realizavam atividades ligadas principalmente ao artesanato e ao
comércio.

O militarismo espartano
O militarismo era uma característica marcante de Esparta. Até completar
60 anos, todos os homens espartanos eram considerados guerreiros. Essa
preocupação com a questão militar teve origem, principalmente, nas guer-
ras de conquista.
Durante esses conflitos os homoioi
Andrew Howat - Exército de Esparta (detalhe). Guache sobre papel. Séc. XX.
Coleção particular. Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
— camada guerreira e privilegiada de
Esparta — dominaram um grupo mais
numeroso (hilotas e periecos), razão
pela qual se sentiam constantemente
ameaçados. Com isso, eles implemen-
t a r a m u m r i g o ro s o s i s t e m a p a r a a
manutenção da ordem nas terras con-
quistadas, pois muitas vezes os hilotas
se revoltavam contra os espartanos.

Essa ilustração representa o exército


espartano participando de uma batalha.
(Ilustração produzida no século XX).

161
A educação espartana
A partir dos 7 anos, as crianças espartanas passavam por um rigoroso
treinamento físico. Os meninos eram treinados para se tornarem excelentes
guerreiros; as meninas, por sua vez, eram preparadas para serem mães de
filhos fortes e saudáveis.
O treinamento militar dos meninos incluía exercícios físicos, técnicas de
sobrevivência e de combate. Quando jovens, aprendiam a ler e a escrever.
Deveriam respeitar as ordens, falar pouco e objetivamente.
As meninas eram incentivadas a

Edgar Degas - Jovens Espartanos se exercitando. c. 1860. Óleo sobre tela.


Galeria Nacional de Londres, Inglaterra. Foto: Corbis/Latinstock
praticar atividades físicas, pois os
espartanos acreditavam que as mu-
lheres deveriam ser bem preparadas
para darem à luz filhos saudáveis, que
formariam o exército espartano. Além
disso, a elas ficavam reservados os
afazeres do âmbito doméstico e o
cuidado com os negócios familiares.

Pintura que representa moças e rapazes


espartanos praticando exercícios físicos.
Essa tela foi produzida por volta de 1860
pelo pintor francês Edgar Degas.

Guerras Greco-Pérsicas:

Autor desconhecido - Batalha marítima de Salamina, Grécia. c. 1800. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock


gregos contra persas
Entre 490 e 479 a.C., os gregos se envolveram em
uma série de conflitos contra o Império Persa, um
dos maiores da Antiguidade. Comandados pelo
imperador Dário, os persas invadiram e dominaram
várias cidades gregas, passando a cobrar
impostos dos seus habitantes.
Em Mileto, no entanto, a população se recusou a
pagar os impostos. Em represália, os persas
invadiram novamente a cidade, destruíram suas
muralhas, mataram os habitantes que ofereceram
resistência e escravizaram os sobreviventes.
Diante dessa ameaça, os habitantes de outras
cidades gregas também se rebelaram. O rei Dário
enviou então cerca de 50 mil soldados para
combatê-los. Mesmo contra esse expressivo
exército, os gregos foram vitoriosos.
Mais tarde, sob o comando do rei Xerxes, filho e
sucessor de Dário, os persas empreenderam uma
nova ofensiva enviando um exército ainda mais
poderoso. Os gregos decidiram resistir e se uniram
para defender seus territórios. Após importantes
vitórias, como na batalha naval em Salamina
(480 a.C.), e no campo de Plateia (479 a.C.), os
gregos afastaram a ameaça persa.

A imagem ao lado é um detalhe de uma tela,


produzida por volta de 1800, que representa a
batalha naval em Salamina.

162
A cidade de Atenas

capítulo 10
Atenas é conhecida como o “berço da democracia”. Nesse sistema de governo,
todos os cidadãos participavam da vida política. Mas em Atenas, somente uma
pequena parcela da população era considerada cidadã.

Os antigos gregos
Efervescência cultural
Atenas foi fundada na região da Ática no século X a.C. pelos jônios, e
tornou-se um importante centro de comércio marítimo. Por isso, seus ha-
bitantes mantinham um intenso contato comercial com várias cidades gre-
gas e também com diferentes povos, como egípcios, fenícios e babilônios.
Em razão desse dinamismo comercial, Atenas atraía pessoas dos mais
diversos lugares, o que gerava um constante intercâmbio de ideias. Esse
ambiente de efervescência cultural é considerado um dos principais motivos
que favoreceram o desenvolvimento da democracia em Atenas.

Exercendo o controle político


Inicialmente, a sociedade ateniense era governada pelos aristocratas,
também chamados de eupátridas, que eram grandes pro­­­prietários de terras.
Eles se consideravam descendentes de bravos

Auriga conduzindo uma quadriga (detalhe).Registro de pintura


negra em cílice (cerâmica grega). Coleção particular. Foto: BEBA/
AISA/The Bridgeman Art Library International/Keystone
guerreiros que ha­v iam fundado a cidade, e acre-
ditavam que eram “os melhores” ( aristoí ). Além de
con­t rolarem as terras mais férteis, os aristocratas
detinham o poder político e militar de Atenas.

Os aristocratas gostavam de se diferenciar por meio


de algumas práticas que simbolizavam seu poder
na sociedade, como o uso do cavalo, por exemplo.
Detalhe de vaso datado do século VI a.C.

Quem não tinha participação política


Grande parte da população ateniense era formada por pequenos proprie-
tários de ter­r as. Suas terras geralmente eram pouco férteis e eles viviam em
condições difíceis. Nos anos em que as colheitas eram ruins, eles precisavam
pedir empréstimos aos aristocratas, dando suas terras, ou até mesmo tor-
nando-se escravos dos aristocratas, como garantia de pagamento.
Os pequenos proprietários não podiam par­
Trabalhadores no campo. c. 530 a.C. Registro de pintura negra em
cêramica. Museu do Louvre, Paris. Foto: Giraudon/The Bridgeman
Art Library/Keystone

ticipar das decisões políticas. Além disso, quan-


do não conseguiam pagar suas dívidas, eles eram
obrigados a entregar suas terras, ou tornavam-se
escravos dos aristocratas.

Nessa pintura em cerâmica, datada do século VI a.C.,


vemos homens preparando o solo para o plantio
com um arado puxado por bois.

163
Outros grupos que não participavam das decisões políticas
Outro grupo social era formado pelos comerciantes e pelos artesãos,
como ceramistas, ferreiros e tecelões. Apesar de sua importância econô-
mica, esse grupo não tinha participação política na sociedade ateniense.
Havia, ainda, uma grande parcela da população formada por escravos. Eles
podiam ser prisioneiros de guerra ou pessoas que não conseguiam saldar
suas dívidas. Muitos escravos trabalhavam no espaço urbano, principal-
mente nos serviços domésticos e nas oficinas. Os que trabalhavam no es­
paço rural ocupavam-se, entre outras tarefas, com a agricultura e a mineração.

A revolução hoplítica
Hoplita era o nome do mais importante

Autor desconhecido - Hoplitas lutando. Pintura em cêramica. Séc. XI a.C.


Coleção particular. Foto: AAAC/TopFoto/Keystone
soldado grego, aquele que possuía os melho-
res armamentos e, em geral, combatia a ca-
valo. Durante todo o período Arcaico, apenas
os membros da aristocracia podiam tornar-se
hoplitas.
Aos poucos, o direito de ser hoplita foi
estendido aos homens comuns, desde que
conseguissem juntar a quantia suficiente pa-
ra comprar os equipamentos de combate.
Esses hoplitas combatiam a pé, lado a lado
nas falanges.
Observe, na ilustração, como era organiza-
da uma falange.

Hoplitas
representados em
um vaso de
cerâmica, do
século XI a.C.

Ilustração que
representa uma
Art Capri

falange.

A participação dos homens comuns nas guerras gerou, aos poucos, um


sentimento de igualdade entre eles. Esse sentimento contribuiu para que
aumentasse a oposição popular ao domínio político dos aristocratas.
De acordo com alguns historiadores, a revolução hoplítica não foi o único
fator que possibilitou o surgimento da democracia, mas teve um papel im-
portante na conquista de direitos iguais entre os cidadãos.

164
A população exige mudanças As reformas de Sólon

capítulo 10
Em 594 a.C., o legislador Sólon realizou
As grandes desigualdades sociais existentes em Ate- importantes reformas, como a abolição
nas fizeram com que, no início do período Clássico, as da escravidão por dívida e a devolução
camadas mais pobres da sociedade se revol tassem, das terras aos devedores. Além disso,
estabeleceu a renda do indivíduo como
exigindo mudanças.

Os antigos gregos
critério de participação nos assuntos

Autor desconhecido - Solon.


Mármore. Museu Arqueológico
Nacional, Nápoles, Itália. Foto:
Alinari/TopFoto/Keystone
Por sua participação nas guerras, os pequenos pro- políticos.
prietários adquiriram maior respeito social e passaram Dessa forma, não
a reivindicar também participação nos assuntos políti- somente os aristocratas
poderiam participar da
cos. Eles receberam apoio dos artesãos e dos comer- política, mas também
ciantes, e, juntos, passaram a lutar por uma distribuição as pessoas que haviam
de terras mais justa e pela abolição de suas dívidas. enriquecido por meio de
seu trabalho.
Os aristocratas, para tentar controlar as revoltas po-
pulares, criaram a figura do legislador, que era encarre- Busto de Sólon, feito
gado de colocar por escrito as leis da cidade. em mármore.

Os tiranos
As reformas de Sólon, no entanto, não foram suficientes para conter a
insatisfação popular. Nesse ambiente de conflitos, ganharam espaço os
tiranos, indivíduos que, contando com o apoio das camadas populares,
assumiam o governo por meio da força. Os principais tiranos atenienses
foram Pisístrato, Hípias e Hiparco.
Pisístrato, que governou Atenas por volta de 530 a.C., realizou importan-
tes reformas sociais. Ele concedeu empréstimos aos pequenos agricultores,
construiu obras públicas, como canais e portos, incentivou o comércio
externo e a construção de navios. Além disso, apoiou as realizações cultu-
rais em Atenas, construindo bibliotecas e incentivando a atuação de artistas,
poetas e sábios.
Seus sucessores, no entanto, não conseguiram manter-se no governo e
os aristocratas novamente assumiram o poder.

Clístenes e a democracia ateniense


Por volta de 510 a.C., o aristocrata Clístenes assumiu o governo de Atenas.
No entanto, ao contrário dos outros aristocratas, ele contava com o apoio
popular e promoveu importantes mudanças no sistema político ateniense.
Clístenes implantou a primeira forma de governo em que todos os cida-
dãos participavam dos assuntos da cidade: a democracia.
Durante o governo de Clístenes, foi criada também a lei do ostracismo.
De acordo com essa lei, qualquer pessoa que representasse perigo à ordem
democrática deveria ser expulso da cidade por dez anos, além de perder
seus direitos políticos durante esse período. A expulsão ou não dessas
pessoas era decidida por meio de uma votação.
Foto: Gianni Dagli Orti/
Museu Ágora, Atenas.

Corbis/Latinstock

O ostrakon ao lado, datado do século V a.C.,


representa um voto a favor da expulsão
de um homem chamado Temístocles.

165
Péricles e a consolidação da democracia
A democracia ateniense passou por diversas reformas até a sua consolidação em
meados do século V a.C., durante o governo de Péricles.

As reformas de Péricles
Com as reformas de Clístenes todos os cidadãos

Autor desconhecido - Busto de Péricles.


Escultura em pedra. Séc. V a.C. Museus
do Vaticano, Itália. Foto: Alinari/
The Bridgeman Art Library/Keystone
atenienses puderam participar das decisões polí-
ticas, nas Assembleias e nos Tribunais. Os cida-
dãos mais pobres, no entanto, não podiam deixar
de trabalhar e, por isso, tinham dificuldade de
exercer seus direitos políticos.
A participação política efetiva dos cidadãos mais
pobres só passou a ocorrer durante o governo de
Péricles, que permaneceu à frente do Estado por
mais de 30 anos. Foi ele que introduziu a mistoforia,
isto é, uma remuneração pelo tempo dedicado aos
assuntos públicos. Dessa forma, os cidadãos das
camadas mais baixas, antes excluídos, puderam
participar das decisões políticas.
Busto de mármore
Leia o trecho de um discurso em que Péricles representando
fala do orgulho que os atenienses deveriam sentir Péricles, produzido
do regime democrático. no século V a.C.

Temos um regime que nada tem a invejar das leis estrangeiras. Somos, antes,
Retórica arte de
exemplos que imitadores. Nominalmente, como as coisas não dependem de uma falar bem a fim de
minoria, mas, ao contrário, da maioria, o regime se denomina democracia. [...] convencer os
Ouso afirmar que nossa cidade, no seu conjunto, é para a Grécia uma lição viva [...]. ouvintes.

Tucídides. A democracia grega vista por Péricles. In: Jaime Pinsky (Org.). 100 textos de história antiga. 8. ed.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 94; 96. (Textos e documentos).

O sujeito na história Aspásia de Mileto


Na Grécia Antiga, homens e mulheres não tinham os mesmos direitos.
Autor desconhecido - Aspásia. 440 a.C. Mármore.
Foto: AAAC/TopFoto/Keystone
Os homens eram os únicos que podiam participar da vida pública e das
decisões políticas. Além disso, os pais, os irmãos e os maridos controla-
vam suas filhas, irmãs e esposas em todas as fases da vida delas. Geral-
mente, as mulheres ficavam a maior parte do tempo ocupadas com as
tarefas domésticas, cuidando da casa e dos filhos.
Existiram, no entanto, algumas exceções. Um bom exemplo é Aspásia,
mulher nascida em Mileto, que passou a viver em Atenas em meados do
século V a.C., no apogeu da democracia ateniense. As atitudes de Áspa-
sia demonstravam que ela não se submetia às regras de uma sociedade
em que a mulher era tratada como um ser inferior.
Muito inteligente nos assuntos de política e mestre em retórica, Aspásia
Busto de mármore
foi companheira de Péricles. Além de preparar os discursos de Péricles, feito por volta de
encontrava-se regularmente com Sócrates, um importante filósofo grego 450 a.C.,
que muito a admirava. Aspásia foi muito criticada pelos inimigos de Péri- representando
cles, que a acusavam de interferir nos negócios da cidade. Aspásia.

166
A vida nas cidades gregas

capítulo 10
No início do período Clássico, havia cidades espalhadas por todo
o território da Grécia.

Os antigos gregos
O espaço urbano
No território grego havia muitas cidades, como Atenas, Esparta, Micenas, Oleiro pessoa
Delfos e Corinto. Essas cidades, de modo geral, eram movimentadas, com que produz
muitas pessoas circulando pelas ruas, várias oficinas de artesãos que pro- artefatos de
duziam diversas mercadorias, e agitados mercados onde eram comerciali- cerâmica.
zados os mais variados produtos. Diversas atividades desenvolvidas nas
cidades foram retratadas nos vasos gregos.
Museu Ashmolean, Oxford. Foto: The

Museu Ashmolean, Oxford. Foto: The

Museu Mandralisca, Sicília. Foto: The


Bridgeman Art Library/Keystone

Bridgeman Art Library/Keystone

Bridgeman Art Library/Keystone


Oleiros fabricando Sapateiro grego medindo o tamanho Peixeiro grego cortando um
peças de cerâmica. do pé do cliente para produzir um pedaço de peixe para vender a
Vaso do século V a.C. calçado. Vaso do século V a.C. seu cliente. Vaso do século V a.C.

Observe a seguir a ilustração que representa alguns aspectos do cotidia-


no em uma antiga cidade grega.
Roger Payne - Atenas. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular.
Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone

Discutir assuntos
políticos era comum
no cotidiano dos
homens atenienses,
como podemos
observar nessa
ilustração produzida
no século XX.

167
Explorando o tema
O espaço rural
Apesar de haver um grande número de cidades na Grécia, a maior parte da população vivia
no espaço rural, trabalhando na agricultura e na criação de animais.
Os agricultores gregos tinham várias tarefas para realizar durante o período de um ano. O ano
agrícola tinha início em outubro, quando o clima estava frio. Veja.
Pyanopsión (outubro e novembro) Maimakterión (novembro e dezembro)

Tem início o ano do agricultor, quando começam os Depois de feito o plantio, o agricultor pode usar o tempo
trabalhos de aragem e semeadura da terra. Como no em que espera as plantas brotarem para realizar outras
Hemisfério Norte o inverno começa no mês de dezembro, atividades, como pequenos consertos em sua casa.
em outubro geralmente já está frio na Grécia.
Gamelión (janeiro e fevereiro) Anthestérion (fevereiro e março)

O agricultor corta os galhos secos das árvores para manter o Parte das terras, depois de limpa, permanece em repouso
fogo que aquece sua casa. Nas plantações que já brotaram, até novembro, ou seja, por um período de quase um ano.
é preciso fazer a limpeza, retirando as ervas daninhas. Esse repouso era fundamental para preservar o solo.

Elaphebolión (março e abril) Mounichión (abril e maio)


Ilustrações: Art Capri

O tempo começa a esquentar e os carneiros são Início do trabalho pesado para o agricultor, pois começa a
tosquiados. Além disso, os galhos secos das videiras são primeira colheita de trigo e cevada. Nessa época, o capim é
podados para estimular o crescimento de novos brotos. cortado para fazer o feno que servirá de alimento para o gado.

168
capítulo 10
Thargelión (maio e junho) Skirophorión (junho e julho)

Os antigos gregos
Em alguns campos ainda se colhe trigo e cevada. Terminam as colheitas de cereais e o agricultor
Quando há boas colheitas, os celeiros ficam cheios e começa a peneirar o trigo para separar a palha do
parte dos grãos pode ser levada às cidades para ser grão. As uvas já podem ser colhidas, bem como as
vendida nos mercados. azeitonas.

Hekatombaión (julho e agosto) Metageitnión (agosto e setembro)

As videiras continuam produzindo uvas. As oliveiras,


As uvas são amassadas para se fazer o vinho e as dependendo do ano, também produzem muitas azeitonas.
azeitonas são prensadas para se extrair o azeite. Esses Quando a colheita é boa, o excedente pode ser vendido
dois produtos eram essenciais na dieta dos gregos. nos mercados.

Boedromión (setembro e outubro)


Os galhos secos das árvores são
Ilustrações: Art Capri

cortados e armazenados para serem


usados como lenha. Os agricultores
aproveitam essa época para fazer
consertos nas casas e nos celeiros.

Produção do
azeite de oliva

Fotografia que retrata uma plantação de


oliveiras na região do Peloponeso, na Grécia.

A Grécia rural hoje


Charlie Waite/Stone/Getty Images

A agricultura sempre foi uma atividade essencial para a


economia da Grécia. Desde a Antiguidade, os gregos se
destacaram no cultivo da oliveira para a produção do
azeite.
Atualmente, a Grécia é o terceiro maior produtor mundial
de azeite de oliva. Muito utilizado na culinária devido ao
seu sabor, o azeite também é bastante consumido em
virtude de seus benefícios à saúde do corpo.

169
As instituições da democracia ateniense
No século V a.C., Atenas era uma cidade organizada para atender às exigências
do novo regime político.

Na época de Péricles
A democracia ateniense foi aperfeiçoada na época de Péricles. Durante seu
governo (461-429 a.C.), Atenas se tornou o maior centro irradiador da cultu-
ra grega. Péricles reorganizou o espaço público e ordenou a construção de
grandes edifícios.
Observe o infográfico, que representa a cidade de
Atenas na época de Pé ricles.

Embelezamento A parte alta da cidade era chamada de


de Atenas Acrópole. Ela funcionava como centro
Péricles queria fazer de religioso e de defesa. Na Acrópole de
Atenas uma cidade admirá- Atenas, foram construídos importantes
vel. Além da beleza e da edifícios, como o Partenon, templo
perfeição técnica, a cons- dedicado à deusa Atena.
trução dos edifícios e
monumentos impressionou
pela rapidez na execução.
Daí que as obras de Péricles
sejam mais dignas de admira-
ção, já que foram produzidas
em pouco tempo, para dura-
rem muito. No que respeita à
beleza, cada obra se mostrou
desde logo venerável; quanto
ao esplendor, está ainda agora
fresco, como se tivesse sido
acabada de fazer. Deste modo,
nelas floresce continuamente
uma certa juventude, que con-
serva um aspecto incorruptível
pelo tempo, como se as obras
incorporassem um espírito
sempre jovem e uma alma que
não envelhece.
Plutarco. Vidas Paralelas: Péricles e Fábio
Máximo. Trad. Ana Maria Guedes Ferreira;
Ália Rosa Conceição Rodrigues. Coimbra:
Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos
da Universidade de Coimbra, 2010. p. 84.

170
Photodisc/Getty Images

capítulo 10
Os antigos gregos
Fotografia
atual de
Atenas.

A Eclésia, ou Assembleia dos Cidadãos, era o lugar


onde os cidadãos atenienses se reuniam para discutir
diversos assuntos relacionados à sua cidade, como os
projetos de leis elaborados na Boulé.

No Tribunal dos Heliastas, ou


A Ágora, ou cidade baixa, Tribunal de Justiça, eram realizados
era a parte da cidade que os julgamentos, tanto das questões
funcionava como lugar de privadas quanto das públicas.
reuniões e como centro
comercial.

Quartel-general ou Strategeion. Aqui


ficavam os estrategos, responsáveis por
comandar as forças militares e zelar
pelo cumprimento das leis da cidade.

Na Boulé eram elaborados projetos de


lei ou resoluções para serem discutidos
na Assembleia dos Cidadãos. Além
disso, era sua função fiscalizar os
trabalhos públicos e organizar festas e
cultos religiosos.
Mario Henrique

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
Baseado em C. M. Bowra. Grécia Clássica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983./A
elevação do espírito: 600-400 a.C. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1995.

171
A Guerra do Peloponeso
A Guerra do Peloponeso provocou o enfraquecimento das cidades gregas, o que
facilitou o domínio dessa região por grandes impérios.

Disputas entre atenienses e espartanos


Durante as Guerras Greco-Pérsicas as principais cidades gregas se alia-
ram, sob a liderança de Atenas, formando a Confederação de Delos.
Atenas era responsável por administrar os tributos recolhidos e organizar
a frota marítima que defenderia essas cidades.
Essa hegemonia ateniense gerou insatisfação em várias cidades gregas,
especialmente Esparta, que não aceitava se submeter ao poderio de Atenas.
Os espartanos, então, se retiraram da confederação e formaram, com mem-
bros de outras cidades-estado, a Liga do Peloponeso.

O conflito
Em 431 a.C., Atenas, junto a cidades

Destruição do exército ateniense na Sicília durante a Guerra do Peloponeso.


Séc. XIX. Coleção particular. Foto: The Granger Collection/Other Images
aliadas, declarou guerra à Liga do Pelo-
poneso. Os gover nantes atenienses
tomaram essa decisão depois que os
espartanos invadiram Córcira, cidade-
-membro da Confederação de Delos.
A guerra envolveu um grande número
de cidades gregas. No início do conflito,
o domínio naval dos atenienses e seus
aliados foi predominante. No entanto, os
espartanos, que já eram superiores nos
combates terrestres, receberam apoio
dos persas e construíram também uma Essa gravura representa um confronto entre guerreiros espartanos e
frota de guerra, o que foi determinante atenienses ocorrido durante a Guerra do Peloponeso. (Gravura
para a sua vitória. produzida no século XIX).

Os efeitos da guerra
Os efeitos da Guerra do Peloponeso foram desastrosos para os gregos.
Muitas pessoas morreram ou foram escravizadas e várias cidades foram
destruídas.
Atenas, uma das mais prejudicadas, teve suas riquezas divididas entre
espartanos e persas. Em Esparta, os conflitos internos acabaram enfraque-
cendo sua organização, possibilitando que ela fosse dominada pela cidade
de Tebas.

No longo prazo, as consequências foram várias, a come-


çar pelo reforço dos regimes oligárquicos em toda a Grécia e
pelo enfraquecimento das cidades-estado independentes,
frente às potências imperiais, primeiro a Pérsia e, em seguida,
a Macedônia [...].
Pedro Paulo Funari. Guerra do Peloponeso. In: Demétrio Magnoli (Org.).
Histórias das guerras. São Paulo: Contexto, 2006. p. 42.

172
O Império Macedônico

capítulo 10
O Império Macedônico conquistou diversas cidades-estado gregas e formou um
dos maiores impérios com Alexandre, o Grande.

Os antigos gregos
A ascensão da Macedônia
No século IV a.C., Filipe II, rei da Macedô­n ia, tinha planos de expandir
seu território, localizado ao norte da Grécia.
No comando do exército macedônico, ele anexou diversas cidades gregas
enfraquecidas em decorrência da Guerra do Peloponeso. A principal der-
rota grega ocorreu em 338 a.C., na chamada Batalha de Queroneia, que
consolidou o poder macedônico nas principais regiões do mundo helênico.
Em 336 a.C., Filipe II foi assassinado e

Museu Arqueológico Nacional, Nápoles


seu filho, Alexandre, assumiu o comando do
exército macedônico. Ainda muito jovem,
ele deu continuidade às conquistas realiza-
das por seu pai. Alexandre realizou muitas
conquistas e fundou o Império Macedônico,
um dos mais extensos da Antiguidade.

Alexandre, o Grande, como ficou conhecido, era um


excelente estrategista e líder militar. Educado pelo
filósofo Aristóteles, aprendeu noções de medicina,
filosofia e ciências naturais e foi um grande
admirador da cultura grega. Essa pintura mural
representa Alexandre montado em seu cavalo.

O Império de Alexandre (século IV a.C.)

E. Cavalcante
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0 300 km Império de Alexandre o Grande


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Estados dependentes
o

45° L

Fonte: KINDER, Hermann; HILGEMANN, Werner. The Penguin Atlas of World History. Londres: Penguin Books, 2010.

173
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quais eram as principais características do 9 Explique o processo de consolidação da
território ocupado pelos antigos gre gos? democracia ateniense. Procure destacar
quem foram os reformadores e a impor-
2 Cite algumas realizações da civilização
tância de cada reforma nas instituições
cretense.
do governo.
3 Quais eram os principais esportes pra-
10 Imagine que você é um agricultor grego na
ticados em Creta? Quais deles são prati-
Antiguidade. Produza um texto sobre
cados na atualidade?
como seriam suas atividades coti dianas,
4 Explique, com suas palavras, quais eram quais seriam suas principais difi cul dades,
as principais formas de governo adotadas quais instrumentos agrícolas você utiliza-
nas cidades-estado da Grécia Antiga. ria no dia a dia e quais ati vi dades você
realizaria nas várias épocas do ano.
5 Sobre a cidade de Esparta, responda às
questões a seguir. 11 Sobre a organização do espaço público em
a ) Quando ocorreu sua fundação? Quem Atenas na época de Péricles, explique.
foram seus fundadores? a ) O que era a Acrópole e quais suas
b ) Explique por que Esparta geralmente é fun ções para a cidade?
associada ao militarismo. b ) Que atividades eram realizadas na
c ) Como os espartanos educavam seus Ágora?
filhos? Meninas e meninos eram edu-
c ) Quais eram os principais edifícios
cados da mesma forma?
pú blicos de Atenas e quais as funções
6 Os atenienses realizavam trocas comerciais de cada um deles?
com diferentes povos. Cite algumas con-
sequências desse dinamismo comercial. 12 Sobre a Guerra do Peloponeso, responda
às questões a seguir.
7 Explique o que foi a revolução hoplítica e
a ) Descreva as principais causas desse
qual sua importância para a criação da
conflito.
democracia em Atenas.
b ) Como a Guerra do Peloponeso enfra-
8 Escreva o que você entendeu sobre a par-
queceu as cidades-estado gregas?
ticipação política em Atenas antes das
reformas do legislador Sólon.

Expandindo o conteúdo
13 Estudos arqueológicos realizados nas últimas décadas demonstram que a região da Grécia
Antiga já era ocupada por grupos humanos há milhares de anos. O texto a seguir trata
desse assunto. Leia-o.

Partes da península Balcânica e muitas das ilhas gregas foram


povoadas bem cedo, ainda [no período Neolítico]. Os achados
Art Capri

das escavações arqueológicas mostram que, desde pelo menos


5000 a.C., muitas pequenas aldeias da região já eram tipicamente
neolíticas, isto é, seus habitantes já se fixavam mais em um terri-
tório, domesticavam e criavam animais (como cabras, ovelhas,
porcos e bois), praticavam a agricultura (plantando especialmente
o trigo e a cevada) e fabricavam utensílios de cerâmica.

174
capítulo 10
Ao mesmo tempo, algumas formas de vida mais antigas
sobreviviam: nas escavações [...] foram encontrados instrumen-
tos e armas feitos de pedra e osso, além de anzóis e arpões,
mostrando que a caça e a pesca continuavam importantes para a

Os antigos gregos
subsistência.
Desde muito cedo, a ocupação humana foi deixando suas
marcas na paisagem: muitas florestas originais foram devasta-
das para cederem lugar a campos de agricultura e pastos para
rebanhos.
Os objetos de metal começaram a difundir-se lentamente a
partir de 3000 a.C. Os artesãos utilizavam o cobre, a prata, o
chumbo e especialmente o bronze (uma mistura de cobre e es-
tanho). No princípio, eram feitas principalmente armas e peças
decorativas, o que sugere que o uso do metal esteve limitado a
camadas sociais mais ricas. O metal demorou a ser utilizado na

Ilustrações: Art Capri


fabricação de ferramentas e instrumentos agrícolas, que conti-
nuaram por muito tempo sendo feitos de madeira e pedra.
Marcelo Rede. A Grécia Antiga. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 8.
(Que história é esta?).

a ) De acordo com o texto, desde 5000 a.C., já havia aldeias na península Balcânica e nas
ilhas gregas. Quais características indicam que essas aldeias já eram tipicamente neo-
líticas?
b ) Quais marcas na paisagem foram sendo deixadas pela ocupação humana?
c ) Que metais eram usados pelos artesãos para fabricar armas e peças decorativas?
d ) Em sua opinião, por que os metais foram usados antes para fabricar armas e peças de-
corativas e só muito tempo depois para fabricar ferramentas e instrumentos agrícolas?

14 Com a implantação da democracia, houve uma grande transformação em Atenas. A cidade


foi dividida em dez tribos, todas organizadas com o mesmo número de habitantes. A cada
um ou dois anos eram sorteados, entre os habitantes de cada tribo, os nomes dos cidadãos
que iriam ocupar os cargos públicos. É importante lembrar que eram considerados
cidadãos apenas os homens com mais de 18 anos, filhos de pai e mãe atenienses. Mulhe-
res, escravos e crianças não participavam da democracia. O gráfico a seguir representa o
total de pessoas que viviam em Atenas por volta de 500 a.C.
Ilustrações: Marcela Pialarissi

Participação política da população de Atenas


Legenda
Participavam das decisões políticas Não participavam das decisões políticas

175
a ) Se cada elemento do gráfico apresentado na página anterior representa 5000 pessoas,
quantos habitantes Atenas tinha no ano 500 a.C.?
b ) Naquela época, quantas pessoas participavam das decisões políticas de Atenas?
c ) Nessa mesma época, quantas pessoas não participavam?
d ) O que é possível concluir sobre a participação política da população ateniense?

15 Esparta foi uma cidade-estado grega fundada pelos dórios por volta de 900 a.C., na região
do Peloponeso. Desde sua fundação, essa cidade teve um forte caráter militar. Leia o texto
a seguir sobre a sociedade espartana.

Três eram as categorias em que se dividia a sociedade esparta-


na: os homoioi (os [...] iguais); os periecos e os hilotas. Os primeiros
eram considerados os espartanos por ex­celência, os cidadãos. [...]
Seus afazeres eram exclusivamente de caráter político e militar.
[...]
Os periecos [...] eram homens livres, além de agricultores, dedi-
cavam-se à manufatura, produzindo os objetos necessários a todos.
Em época de guerra participavam do exército. [...]
Os hilotas [...] [eram os servos que] habitavam as terras con-
quistadas pelos espartanos: eram todos da mesma origem e, uma
vez [conquistados], permaneciam juntos nos locais em que sempre
moraram. [...] Os servos espartanos estavam presos à terra, não po-
diam se transferir, eram propriedade do Estado [...]. Frequen­-
temente foram recrutados para servir o exército e algumas vezes
depois disto ganharam a liberdade.
Maria Beatriz B. Florenzano. O mundo antigo: economia e sociedade. 10. ed.
São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 50-2.

a ) Como era dividida a sociedade de Esparta?


b ) Quem eram os homoioi? Quais eram seus afazeres?
c ) Quais eram as atividades exercidas pelos periecos?
d ) Tanto os periecos como os hilotas trabalhavam na produção agrícola, porém, existia
entre eles uma grande diferença social. Qual diferença era essa?

16 Leia o texto a seguir.

Talvez você já tenha ouvido falar que o Brasil é uma democracia. Mas sabe o que isso sig-
nifica? O nosso país é uma democracia porque, aqui, considera-se que a opinião dos cidadãos
deve ser a base de tudo. Tanto é que, em nosso país, cabe aos próprios brasileiros escolher
quem deve governá-los — quem será o prefeito, o governador, o presidente da República — e
também quem deve representá-los — os deputados federais e estaduais, os vereadores... E essa
escolha é feita nas urnas!
Há, porém, vários tipos de democracia. O Brasil, por exemplo, é uma democracia
presidencialista. Como vimos, os eleitores, em nosso país, não apenas elegem seus repre-
sentantes, mas, também, o presidente da República, a maior autoridade política da Nação
e quem governa de fato. Em alguns países que são democracias parlamentaristas, porém,
isso não ocorre. Quando acontecem eleições nacionais ali, a população elege apenas seus

176
capítulo 10
representantes — o equivalente aos deputados federais brasileiros —, formando o que cha-
mamos de parlamento. O parlamento, por sua vez, vota para escolher o primeiro-ministro,
a pessoa que irá governar de fato. Em geral, torna-se primeiro-ministro o líder do partido
que conseguiu eleger um maior número de representantes.

Os antigos gregos
Como o presidencialismo, o parlamentarismo é democrático também. Afinal, é apoiado
no voto dos eleitores em partidos e candidatos de sua livre escolha: quem escolheu os repre-
sentantes que estão no parlamento foi o eleitor, não é mesmo? De fato, a maior diferença entre
o parlamentarismo e o presidencialismo é que, no segundo, quem decide quem vai governar
é o eleitor — e não o parlamento. Por isso, teoricamente, em países presidencialistas, como o
Brasil, o eleitor tem mais poder, por votar não apenas em seus representantes, mas, também,
em quem irá governá-lo de fato: o presidente da República.
Renato Lessa. No mundo das eleições. Ciência Hoje das Crianças.
Rio de Janeiro: SBPC, ano 19, n. 173, out. 2006. p. 8-9.

a ) Quais são os dois tipos de democracia apresentados no texto? Qual deles está em vigor
no Brasil?
b ) Quais as principais diferenças entre esses dois tipos de democracia?
c ) Em qual desses dois tipos de democracia o eleitor participa diretamente da escolha dos
governantes? Por quê?
d ) Com um colega, conversem sobre a importância do voto. Depois, elaborem uma redação
com o tema "O poder do voto".

No Brasil
17 Faça uma pesquisa para conhecer melhor como funciona a democracia brasileira. Pesquise
em livros, revistas, jornais e internet, e procure descobrir informações como: quais são os
Três Poderes e as funções de cada um deles; quais são os funcionários públicos que pos-
suem cargos federais, estaduais e municipais e que representam os cidadãos brasileiros;
qual a duração do mandato de cada um desses representantes do povo; quais documentos
garantem os direitos do cidadão etc. Finalize o trabalho elaborando um texto com as prin-
cipais informações que você pesquisou. Se possível, ilustre-o com recortes de jornais ou
revistas, desenhos e gráficos.
Depois de pronto, mostre seu trabalho aos colegas.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A civilização grega formou-se a partir do encontro de vários povos de origem indo-europeia.
■■ Foi durante o período clássico da história da Grécia que as cidades de Esparta e Atenas
alcançaram o apogeu.
■■ A democracia foi criada em Atenas.
■■ Apenas uma pequena parcela da população de Atenas tinha participação política.
■■ A democracia grega era muito diferente da atual democracia brasileira.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

177
11
capítulo

Os antigos romanos
Veja nas Orientações
Werner Forman Archive/Glow Images

para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.

A Fotografia recente
retratando o Arco de Tito,
em Roma, construído em
comemoração à vitória
sobre os judeus que se
revoltaram contra o
domínio romano. Esse
monumento também é
conhecido como Arco do
Triunfo.
Scala, Florence/Glow Images

B Relevo do século II que


representa o exército
romano durante o
período imperial. Esse
relevo encontra-se na
cidade de Roma.

178
Aração. Mosáico. Séc. III. Museu
Nacional de Antiguidades,
Saint-Germain-en-Laye, França.
Foto: Giraudon/The Bridgeman
Art Library/Keystone

Museu Arqueológico Nacional, Nápoles


C Mosaico romano do século III
representando o trabalho de
escravos no campo.

Afresco que representa uma D


escrava arrumando os cabelos
de uma senhora de Pompeia.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Os romanos construíram um vasto e poderoso império na Antiguidade. o conhecimento
prévio dos alunos e
Por todo o império foram difundidos elementos da cultura romana, como estimular seu
o latim, o direito e, mais tarde, o cristianismo, para diversas regiões da interesse pelos
assuntos que serão
Europa. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■ ■ Por que o monumento retratado na fonte A é conhecido como Arco
participem
do Triunfo? Você conhece alguma construção semelhante a essa em expressando suas
opiniões e
outros lugares? Qual? respeitando as dos
■ ■ Como o exército romano foi representado na fonte B? É possível es-
colegas.

tabelecer relações entre o poder militar dos romanos e a expansão


de seu império na Antiguidade?
■ ■ Compare as fontes C e D. Quais atividades foram representadas? O

que é possível compreender sobre a sociedade romana por meio da


observação dessas fontes?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.

179
A origem da civilização romana
A civilização romana se desenvolveu na península Itálica a partir do
século VIII a.C.

A península Itálica Povos da península Itálica (século X a.C.)

E. Cavalcante
N

A península Itálica, lugar de origem Rio Pó O L

da civilização romana, é banhada pelo S

mar Mediterrâneo e possui solo fértil,


numerosos rios e clima temperado.

Rio
Gregos
Por volta do ano 1000 a.C., a penín-

Tib
r
Etruscos

e
Mar
sula Itálica era habitada por vários Italiotas
Ad r iático

povos. Observe o mapa ao lado. Latinos


Roma

Os latinos
A região próxima à foz do rio Tibre 40° N

era ocupada por povos latinos, que


depois se tornariam conhecidos como
romanos. Os latinos formaram várias
aldeias nessa região. Eles praticavam
a agricultura, cultivando principalmen- Mar
0 130 km
te trigo, figueiras e oliveiras, e criando 10° L
Med iter r ân eo

animais como bois e carneiros. Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

A presença etrusca na península Itálica


Ao norte da região habitada pelos latinos, havia uma
A presença grega na
importante civilização: a dos etruscos, que chegaram à
cultura romana
região no século VIII a.C., provenientes da Ásia Menor.
Além dos etruscos, os romanos foram
Eles eram excelentes navegadores e realizavam um inten-
muito influenciados pelos gregos. Já
so comércio marítimo com povos vizinhos. Os etruscos havia colônias gregas no sul da
fundaram várias cidades na península Itálica, como Etrúria, península Itálica e na Sicília desde o
Volterra e Arezzo. século VII a.C., e, dessa forma, os
Os romanos herdaram dos etruscos grande parte de sua gregos conviveram com os romanos
cultura, por exemplo, várias técnicas agrícolas e de orga- durante séculos.
nização militar, o alfabeto e o gosto por jogos e diversões, Assim, muitos elementos da cultura
como as lutas de gladiadores. Por causa dessa grande influên- grega foram incorporados pelos
cia, alguns estudiosos chamam romanos. Dos gregos, os romanos
Roma de “filha da Etrúria”. incorporaram e adaptaram o alfabeto,
vários conceitos e ideias, além de
grande parte de sua arte e sua
mitologia.

Escultura representando um casal


Museu Nacional
Etrusco, Roma. Foto:
Corel Stock Photo

etrusco. Os etruscos deixaram um


grande número de esculturas e
pinturas, o que tornou possível o
estudo do cotidiano dessa civilização.

180
Períodos da história romana

capítulo 11
Observe na linha do tempo os principais períodos da história de Roma.

509 a.C. a 31 a.C.

Os antigos romanos
República
No período republicano, 235 a 476
os romanos conquistaram Baixo Império
povos vizinhos e Período de crise
expandiram o seu e de declínio do
território. Internamente, 31 a.C. a 235 império, que foram
porém, enfrentaram Alto Império intensificados
800 a.C. a 509 a.C. sérios problemas sociais. Período em que o império principalmente
Monarquia Nessa época, os plebeus atingiu sua máxima pela invasão de
Nesse período, o rei, que conseguiram ampliar sua extensão territorial. Havia povos germânicos
era de origem etrusca, participação política. O estradas que interligavam e por disputas
exercia o controle aumento do poder dos a capital do império às internas pelo
administrativo, judicial, generais, no entanto, deu províncias mais distantes. governo imperial.
militar e religioso. Nessa origem a uma crise política Foi implantada a política Nesse período, o
época, a sociedade era que levou ao fim da do “pão e circo” e as cristianismo foi
dividida basicamente República. Com isso, teve desigualdades sociais difundido em várias
entre patrícios e plebeus. início o período imperial. aumentaram. regiões do império.

800 a.C. 700 a.C. 600 a.C. 500 a.C. 400 a.C. 300 a.C. 200 a.C. 100 a.C. ano 1 100 200 300 400 500

A origem lendária de Roma


Desde a Antiguidade, foram criadas diversas lendas para explicar a origem de Roma.
A mais popular dentre elas é aquela que atribui a fundação da cidade a Rômulo, filho do
deus da guerra Marte e de Reia Sílvia, filha do rei Numítor.
De acordo com essa lenda, Rômulo teria sido abandonado às margens do rio Tibre
junto com seu irmão gêmeo Remo, quando eles ainda eram bebês. Após terem sido
salvos e criados por uma loba, os dois irmãos foram encontrados por um casal de
pastores, com os quais passaram a viver.
Ao se tornarem adultos, receberam terras para fundar uma cidade, mas um desentendi-
mento fez com que Rômulo matasse seu irmão Remo. Tempos depois, Rômulo inicia a
construção da cidade às margens do rio Tibre, dando a ela o nome de Roma.
Araldo de Luca/Corbis/Latinstock

Estátua de bronze de
cerca de 500 a.C.
representando a loba que,
segundo a lenda, teria
amamentado os irmãos
Rômulo e Remo.

181
A Monarquia em Roma
Durante o período inicial de sua história, Roma era dominada pelos etruscos
e tinha como regime político a Monarquia.

A organização política
Por volta do século VIII a.C., os etruscos invadiram a região ocupada
pelos latinos e fundaram a cidade de Roma. Os etruscos unificaram as
aldeias latinas e impuseram um governo monárquico.
Na Monarquia romana, o rei etrusco era o governante supremo, respon-
sável pelo controle administrativo, judicial, militar e religioso. O rei era
eleito pela Assembleia do Povo, que era composta pelas pessoas influen-
tes da sociedade. A Assembleia decidia pela guerra ou pela paz e podia
vetar as propostas do rei.
Havia ainda o Senado, que era composto pelos membros mais influentes da Pintura
sociedade. O Senado analisava as propostas que já haviam sido aprovadas representando um
pela Assembleia e ficava responsável pelo governo na ausência do rei. grupo de patrícios
sendo servido por
seus escravos em
A organização da sociedade um banquete.
No período monárquico, a sociedade romana gra-

Museu Arqueológico Nacional, Nápoles


dualmente dividiu-se em dois grupos principais: os
patrícios e os plebeus.
Os patrícios compunham o grupo privilegiado da
sociedade romana. Eles tinham total controle sobre
as decisões políticas, criavam e aplicavam as leis,
cobravam impostos e julgavam crimes.
Além disso, os patrícios eram donos de grandes
propriedades e possuíam muitos escravos. Moravam
em casas luxuosas na cidade, chamadas domus , e
geralmente tinham também casas no campo, cha-
madas villas .
Os plebeus, por sua vez, formavam a grande mas-
sa de trabalhadores, como agricultores, artesãos e
pequenos comerciantes. Nessa época, não exerciam
cargos políticos e tinham pequena participação nas
decisões sobre os assuntos de interesse público.
Apesar de existirem plebeus ricos, principalmente grandes comerciantes,
a maioria da plebe vivia em condições precárias.
Cena do mercado. Séc. II. Escultura em pedra. Museu Ostiense,
Roma. Itália. Foto: Roger-Viollet/The Bridgeman Art Library/Keystone

Os clientes
Além dos patrícios e dos plebeus, em
Roma havia um grupo social conhecido
como clientes. Geralmente, os clientes
eram escravos libertos ou estrangeiros
imigrados. Eles estavam submetidos aos
seus patronos (patrícios de famílias ricas)
e deviam-lhes obediência em troca de
proteção, dinheiro e outros favores.

Relevo do século II que representa plebeus


romanos trabalhando em mercado.

182
A República em Roma

capítulo 11
As principais instituições políticas do período republicano eram o Consulado, o
Senado e a Assembleia do Povo.

Os antigos romanos
A queda da Monarquia
A Monarquia vigorou em Roma até cerca de 509 a.C., quando um grupo
de patrícios revoltou-se contra o rei etrusco Tarquínio II. Essa revolta foi mo-
tivada pelas concessões que o rei havia feito aos plebeus, dando-lhes maior
participação nos assuntos de interesse público. Descontentes com essas
concessões, os patrícios expulsaram os etruscos da cidade, derrubaram a
Monarquia e implantaram a República. A palavra República vem da expressão
em latim res publica que significa “coisa pública”, ou seja, que é do povo.
Veja abaixo quais eram as principais instituições no período republicano.

Ilustrações: Art Capri


Consulado: com o fim da Senado: entre as funções do Assembleia do Povo: no período
Monarquia, o rei foi substituído por Senado no período republicano, republicano, dela participavam tanto
dois cônsules, que tinham como destacam-se a organização dos patrícios quanto plebeus. Suas
função comandar o exército em cultos públicos, o controle das funções principais eram eleger os
tempos de guerra, representar a finanças e a administração das cônsules e promulgar leis.
cidade em cerimônias religiosas e províncias conquistadas por Roma.
julgar crimes. O mandato de um
cônsul durava um ano.

A expansão territorial e o aumento da escravidão


Logo nos primeiros tempos da República, os ro-

Museu Nacional de Antiguidades, Saint-Germain-en-Laye, França.


Foto: Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone
manos se lançaram à conquista dos povos vizinhos.
Devido a essa política expansionista, no século III a.C.
os romanos já haviam conquistado toda a península
Itálica.
Uma das principais consequências do expansionis-
mo romano e das guerras de conquista foi o aumen-
to do número de escravos. Em Roma, a escravidão
estava presente em quase todos os lugares, tanto
no campo como nas cidades. Os escravos, em sua
maioria de origem estrangeira, realizavam diferentes
tipos de trabalho, como a produção de alimentos, a
mineração, a construção de obras públicas e os
serviços domésticos.

Escravos fabricando azeite. Mosaico datado do século III.

183
As dificuldades da plebe
O expansionismo de Roma durante o período republicano teve profundas
consequências sociais. Muitos plebeus que eram convocados para lutar nas
guerras de conquista não podiam cuidar de suas terras e acabavam se
endividando. Para pagar essas dívidas, eles tinham de entregar suas terras
aos patrícios ou vender a si próprios como escravos.
Assim, houve um grande aumento na concentração de terras nas mãos
dos patrícios, e muitos plebeus migraram para as cidades em busca de
oportunidades de trabalho. Porém, como os romanos continuavam a escra-
vizar os prisioneiros de guerra, ficava muito difícil para um plebeu encontrar
trabalho.
Toda essa situação gerou uma crescente revolta entre os plebeus, que
passaram a reivindicar mudanças e a promover lutas sociais, causando uma
grave crise no governo republicano.

As conquistas da plebe
A primeira conquista importante dos plebeus

Coleção particular. Foto: AAAC/TopFoto/Keystone


ocorreu ainda no início do período republicano.
Realizando uma espécie de “greve geral” como
forma de pressão sobre os patrícios, os plebeus
adquiriram maior participação política, além da
abolição das dívidas altas e a libertação dos escra-
vos por dívidas.
Além disso, com a criação do cargo de Tribuno
da Plebe, por volta de 495 a.C., os plebeus adqui-
riram o poder de vetar as decisões dos patrícios.
Com isso, várias leis foram criadas, como a que
permitia casamentos entre patrícios e plebeus.
Em 450 a.C., outra importante vitória foi conquis-
tada pela plebe: a Lei das Doze Tábuas. Esse foi
o primeiro código de leis romanas escrito. Antes
dele, os patrícios mudavam as leis de acordo com
seus interesses, que geralmente eram contrários
aos da plebe.
Por volta de 365 a.C., a intensa pressão da ple-
be sobre os patrícios tornou possível a eleição do
primeiro cônsul plebeu. Essa foi certamente uma
das mais importantes conquistas da plebe. No Cena de casamento romano. Antes da aprovação
entanto, apesar dessas conquistas, a maioria dos da lei, plebeus não podiam se casar com patrícios.
plebeus continuou a viver em condições muito Mármore datado do século II.
difíceis.

O sujeito na história Caio Licínio Stolo


Caio Licínio Stolo foi um Tribuno da Plebe que, por volta de 365 a.C.,
conseguiu a aprovação de importantes leis na Assembleia do Povo.
Essas leis ficaram conhecidas como Leis Licínias.
As Leis Licínias determinavam que um dos dois cônsules fosse de
origem plebeia, limitavam a extensão da propriedade individual de terras
e estabeleciam que o pagamento das dívidas fosse calculado com base
na renda do devedor.

184
As tentativas de reforma agrária

capítulo 11
Ao longo do período republicano, os patrícios concentraram cada vez
mais terras em suas mãos. Desse modo, a má distribuição de terras tornou-
-se um grave problema social em Roma.

Os antigos romanos
Entre as tentativas de reduzir as desigualdades, destacam-se as iniciati-
vas de reforma agrária lideradas pelos irmãos Tibério e Caio Graco.
Os irmãos Graco, representantes políticos da plebe, criaram leis que de-
terminavam a repartição das terras públicas em pequenos lotes aos cidadãos
pobres, que passariam a pagar ao Estado uma quantia fixa.
Essas leis, no entanto, desagradaram aos grandes proprietários de terras
e a vários senadores que, para impedir sua aprovação, ordenaram o assas-
sinato de Tibério em 132 a.C. e também de Caio, cerca de dez anos depois.

A crise da República
Depois do fracasso das tentativas de reformas dos irmãos Graco, a
crise política piorou em Roma. Os plebeus lutavam por melhorias nas suas
condições de vida, mas os patrícios defendiam a manutenção de seus pri-
vilégios, agravando o quadro de agitações sociais e de crise nas instituições
políticas.
Nessa época, havia muitos generais que desfrutavam
As reformas de Mário
de grande popularidade, graças às vitórias obtidas nas
guerras de conquista. Alguns desses generais chegaram Mário aboliu a exigência de se possuir
bens para ingressar no exército, e
ao poder, passando a desrespeitar as normas legais e a estabeleceu, como forma de remuneração,
não aceitar as determinações do Senado. a participação dos soldados nos
Entre esses generais estava Mário, que em 107 a.C. foi resultados das pilhagens dos povos
conquistados.
eleito cônsul com o apoio da plebe. Mário reduziu os po-
deres do Senado e realizou reformas no exército que tive- Com essas reformas, a carreira militar
tornou-se uma boa opção profissional,
ram profundas consequências para a República romana.
principalmente para os plebeus. Os
As reformas de Mário agravaram a crise da Repúbli- soldados profissionais tinham maior
ca, pois contribuíram para a formação de exércitos fidelidade ao seu general do que
ao Estado republicano.
particulares e abriram caminho para que generais dita-
dores chegassem ao poder.

O fim da República Museus do Vaticano, Cidade


do Vaticano. Foto: Corel
Stock Photo
Um dos mais famosos desses generais foi Júlio César, que, liderando
um poderoso exército, derrotou seus rivais e foi declarado ditador pelo
Senado. O governo de Júlio César durou apenas dois anos, pois ele foi
assassinado em pleno Senado.
Outro general que chegou ao poder com o apoio de suas tropas foi
Otávio, que era filho adotivo de Júlio César. Em 31 a.C., Otávio der-
rotou seus concorrentes e assumiu sozinho o poder, adotando o
nome de Augusto, ou seja, “o venerado”. Otávio Augusto tornou-se,
assim, o primeiro imperador de Roma, pondo fim à República.

No seu curto governo, Júlio César tomou uma série de medidas importantes,
por exemplo: distribuiu lotes de terra para milhares de famílias, liberou os
devedores do pagamento de parte das dívidas, fez melhorias na cidade
de Roma e regulamentou a distribuição gratuita de trigo.
Ao lado, busto de Júlio César em mármore.

185
O Alto Império

Museus do Vaticano, Cidade do Vaticano. Foto: Corel Stock Photo


O governo de Otávio Augusto marcou o início da Pax Romana.

A Pax Romana
Quando tornou-se imperador, Otávio Augusto procurou assegurar a he-
gemonia romana nas fronteiras do império. Ele procurou, também, construir
mais estradas e garantir a segurança de quem nelas trafegava, o que esti-
mulou o comércio e aumentou o intercâmbio entre as várias regiões do
império. Além disso, patrocinou artistas e escritores e implantou um amplo
programa de construção de obras públicas, como teatros, templos, banhos
públicos e aquedutos.
Dessa forma, Otávio Augusto deu início a um período de tranquilidade e
prosperidade, que ficou conhecido como Pax Romana (Paz Romana). No
entanto, nunca foi definida a maneira como seriam escolhidos os sucesso- Estátua
res do trono. A falta de regras claras para a sucessão acabou se tornando representando
o imperador
um grande problema, que se prolongou até o fim do período imperial.
Otávio Augusto.

A extensão do império
Por volta do ano 120, o Império Romano abrangia aproximadamente
metade da Europa, o norte da África e parte do Oriente Médio. Observe.

O Império Romano (século II)


E. Cavalcante

O L

S
Mar
do
HIBÉRNIA Norte Mar
Báltico
BRITÂNIA
OCEANO
ATLÂNTICO
GERMÂNIA

Rio Loire

GÁLIA EUROPA
Rio P
ó DÁCIA
Rio
Dan
úbio
Mar Mar Negro
HISPÂNIA DALMÁCIA
Rio Tejo Adriático 40°
N
Córsega
ITÁLIA TRÁCIA
Sardenha Mar MACEDÔNIA
Tirreno Mar CAPADÓCIA
Mar Mediterrâneo
Mar Egeu
Sicília Jônio
LÍDIA
MAURITÂNIA ACAIA
SÍRIA
Rodes
Chipre
Creta ÁSIA
Mar Mediterrâneo
JUDEIA
wich

ÁFRICA
Green

CINERAICA
no de

Rio N
Meridia

ilo

EGITO
Área ocupada pelo Império Romano 0 355 km

Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

186
A cidade de Roma

capítulo 11
No século II, a cidade de Roma tinha aproximadamente um milhão de habitantes
e era o centro de um vasto império.

Os antigos romanos
A metrópole romana
Na época imperial, Roma era uma cidade bastante agitada. Vários edifícios
públicos, como termas, teatros e bibliotecas, eram pontos de encontro
para os habitantes, que podiam contar também com mercados, padarias,
lojas e escolas. Observe a seguir uma maquete que representa a cidade de
Roma durante o Império.

Iltalo Gismondi. Séc. XX. Museu da Civilização Romana, Roma. Foto: Vanni Archive/Corbis/Latinstock
O Fórum era a praça principal, um local aberto onde barbeiros, padeiros,
peixeiros, entre outros, ofereciam seus produtos e serviços em lojas ao
longo da praça.
Marco Cristofori/Corbis/Latinstock

Ao redor do Fórum, ficavam escolas onde


as crianças pequenas aprendiam a ler e a
escrever em latim e grego, além de cálculos
de aritmética. Muitas crianças pobres, entre-
tanto, não tinham acesso à escola, aprenden-
do com seus pais apenas o necessário para
ajudar no sustento da família.

Fotografia atual que retrata as ruínas do


antigo Fórum da cidade de Roma.

187
Conhecidas também como banhos públicos,

Araldo de Luca/Corbis/Latinstock
as termas eram frequentadas por patrícios e
plebeus. Os frequentadores das termas utili-
zavam esse espaço para descontrair e discutir
assuntos da vida pública em Roma.
As maiores termas possuíam um salão mo-
numental, com banhos quentes, mornos e
frios, salas para massagens, espaços para a
prática de esportes e também bibliotecas.

Essa fotografia retrata as ruínas das termas


de Caracala, uma das maiores que havia
na cidade de Roma.

Nos espaços destinados à diversão e ao entretenimento aconteciam es-


petáculos populares, como as corridas de biga, realizadas no Circo Máximo,
e as lutas de gladiadores, no Coliseu. Muitos desses eventos eram organi-
zados por pessoas de posses, mas a maioria era promovida pelo próprio
governo imperial.
O abastecimento de água era realizado atra-

Guido Baviera/Grand Tour/Corbis/Latinstock


vés de diversos aquedutos.
Os aquedutos distribuíam água para toda a
cidade, porém, somente os mais ricos tinham
acesso à água encanada em suas casas. A
maioria da população era obrigada a recorrer
às diversas fontes distribuídas pela cidade.

Antigo aqueduto que abastecia a cidade de


Roma, construído por volta do ano 40.
Fotografia tirada em 2004.

Enquanto isso... nas fronteiras do império


Na época do declínio do Império Romano, ocorria na Europa uma onda de movimentos
migratórios de povos nômades. Esses povos eram conhe­c idos pelos romanos como bárbaros.
Os mais temidos dentre eles eram os hunos. Foi fugindo da pressão dos hunos que diversos
povos germânicos, como os godos e os vândalos, avançaram em direção às fronteiras do
Império Romano. A fama atribuída aos hunos tornou-se ainda maior com o surgimento de
um novo líder, Átila. Sob o reinado de Átila, os hunos constituíram uma força altamente or-
ganizada para a guerra.
Ron Embleton - Hordas de hunos. Séc. XX. Litografia colorida. Coleção
particular. Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone

Os hunos descendiam de tribos nômades da Ásia


Central. Seus antecessores já haviam ameaçado civi-
lizações na China, Índia e Pérsia. Há poucos registros
sobre esses povos, mas acredita-se que o poder dos
hunos devia-se à destreza das armas (arco e flecha) e
ao uso de cavalos em combate. A habilidade dos ar-
queiros hunos em armar o arco e disparar flechas em
série montados a cavalo não poderia ser comparada a
nenhum outro povo nômade.
Os hunos eram hábeis cavaleiros. Essa imagem representa
guerreiros hunos montados a cavalo durante um combate.
(Litografia produzida no século XX.)

188
O Baixo Império

capítulo 11
O período conhecido como Baixo Império marcou o declínio
do Império Romano.

Os antigos romanos
A crise do império
Foram vários os motivos que geraram a crise do Império Romano. Co-
nheça os principais deles.
Crise do escravismo: desde a época em que o Império Romano inter-
rompeu sua expansão e deixou de promover guerras de conquistas, por
volta do ano 100, o número de escravos caiu consideravelmente. Como o
escravismo era um dos pilares da riqueza romana, a falta de escravos gerou
uma grave crise econômica.
Ruralização da economia: diante da crise pela qual passava o império,
houve um enfraquecimento de atividades como a produção artesanal e o
comércio. Assim, milhares de trabalhadores ficaram desempregados e
começaram a deixar as cidades para viver sob a proteção de grandes pro-
prietários de terras. Desse modo, a área rural começou a se tornar mais
importante que a área urbana.
Falta de proteção das fronteiras do império: a crise econômica fez com
que o Estado deixasse de arrecadar os impostos necessários para a ma-
nutenção do império. Cada vez mais pressionadas por povos estrangeiros,
principalmente germânicos, as fronteiras do império precisavam ser prote-
gidas pelo exército, mas o Estado estava com dificuldades de pagar o
soldo. Com isso, os governantes romanos precisaram criar novas formas
de proteger as fronteiras do Império, fazendo acordos com os povos inva-
sores já instalados. O Estado doava terras a esses invasores e, em troca, Soldo
eles tinham de evitar que novas invasões ocorressem nas fronteiras. Isso remuneração
paga ao soldado.
permitiu que, aos poucos, o exército romano fosse composto, em grande
parte, por germânicos.
Spectrum Colour Library/Heritage-Images/Glow Images

Durante o Baixo
Império, as muralhas
construídas pelos
romanos para
proteger suas
fronteiras tornaram-
-se insuficientes.
Nessa fotografia,
vemos um trecho da
Muralha de Adriano,
construída por volta
do ano 120, na
cidade de
Northumberland, na
Inglaterra, para tentar
conter o avanço dos
povos germânicos.

189
As tentativas de superação da crise
A partir do século III, a grave crise econômica vivida

Basílica de São Marcos, Veneza, Itália. Foto: Peter Barritt/SuperStock/Keystone


pelos romanos gerou também uma séria crise política.
Para se ter uma ideia, entre os anos de 235 e 284, vinte
e seis imperadores governaram Roma, e quase todos
foram assassinados.
Em 284, o imperador Diocleciano tentou contornar a
crise política instituindo a Tetrarquia, forma de governo
em que quatro imperadores dividiriam a responsabilidade
de governar o império.
Diocleciano tentou, também, amenizar a crise econô-
mica criando a Lei do Máximo, que fixava o valor máximo
das mercadorias. Suas reformas, no entanto, não foram
suficientes para controlar a crise.
O imperador seguinte, Constantino, desfez a Tetrarquia
e reunificou o poder do império em suas mãos. Perce-
bendo que a parte ocidental do império estava em plena
decadência, transferiu a capital para a cidade de Bizân-
cio, na parte oriental do império. Essa cidade, posterior-
mente, passou a se chamar Constantinopla.

Escultura que representa os quatro imperadores da Tetrarquia:


Diocleciano, Galério, Maximiniano e Constâncio Cloro.

O cristianismo e a divisão do império


Durante seu governo, Constantino passou a apoiar os seguidores de uma
re­­li­g ião que ganhava cada vez mais espaço no império: o cristianismo. Es-
sa religião surgiu a partir das pregações de Jesus Cristo e foi difundida
lentamente por todo o império.
Teodósio, o imperador seguinte, levou adiante os
planos de Constantino e tornou o cristianismo a
religião oficial do império, em 391. Além disso,
no ano de 395, Teodósio dividiu o império em
duas partes: o Império Romano do Ociden-
te e o Império Romano do Oriente.
Afresco da catacumba de Sta. Priscila, Roma

Enquanto isso, povos que desde o início


do século III pressionavam as fronteiras do
império intensificaram suas invasões. Eram
os chamados povos germânicos.

Jesus Cristo representado com


trajes tipicamente romanos.
Afresco datado do século III.

190
As invasões germânicas

capítulo 11
No século V, Roma foi conquistada pelos povos germânicos, que eram
chamados de bárbaros pelos romanos, pois não falavam o latim.

Os antigos romanos
As primeiras invasões
Desde o século III, os povos germânicos pressionavam as fronteiras e
ocupavam regiões que faziam parte do Império Romano. As primeiras invasões

Art Capri
germânicas foram desorganizadas e pouco eficazes diante do disciplinado
exército romano. No entanto, a lealdade que cada soldado germânico tinha Ilustração
por sua tribo ou clã fez deles guerreiros ferozes e capazes de desestruturar representando
os imponentes romanos. Veja o mapa abaixo. chefe ostrogodo.

As invasões germânicas
E. Cavalcante

Mar N
do
O L
Norte Mar
Báltico S

ANGLOS

SUEVOS
SAXÕES
OCEANO
LOMBARDOS
ATLÂNTICO FRANCOS
VÂNDALOS

OSTROGODOS

Braga Toulouse
Verona VISIGODOS

Mar Negro
Toledo Mar
Adriático Andrinopla
Roma
Cartagena Constantinopla 40° N
h
enwic

Mar Mediterrâneo Cosenza Mar


Egeu
e Gre

Siracusa
iano d

Cartago
Merid

0 245 km Império Romano


Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann. Atlas Historique. Paris: Perrin, 1992.

Roma é conquistada
Leia o texto abaixo, que trata da queda do Império Romano do Ocidente.
Clã grupo social
composto por
Apesar de representarem apenas 5% da população total do Império Romano,
indivíduos que
em poucos anos os germânicos ocuparam pontos [fundamentais] do império. A são descenden-
cidade de Roma foi conquistada em 476 e o último imperador deposto. Quebra- tes de um mesmo
va-se a unidade política anterior. Surgiram vários reinos germânicos, ponto de ancestral.
partida dos futuros países europeus. Começava a Idade Média.
Hilário Franco Júnior; Ruy de Oliveira Andrade Filho. Atlas: história geral.
São Paulo: Scipione, 1993. p. 16.

191
Explorando o tema
O cotidiano na Roma Antiga
Como vimos neste capítulo, a sociedade romana era dividida basicamente entre patrícios e
plebeus. Refletindo a situação econômica em que viviam, cada grupo possuía moradias, hábitos
e cotidianos diferentes.

As habitações
A moradia dos patrícios era bem diferen-
te da dos plebeus. Os patrícios moravam
em habitações luxuosas e confortáveis

N. Akira
chamadas domus . Eles pagavam artistas
para decorarem os pisos com mosaicos e
também pintarem afrescos nas paredes.
Já os plebeus viviam em locais mais
simples. Geralmente moravam em aparta-
mentos pequenos e com diversas pessoas
vivendo em um mesmo cômodo.
[...] Um bloco de apartamento era tão grande
que parecia uma “ilha” [...] As insulae eram altas
e estreitas. Tinham geralmente cinco andares. Os
construtores, em geral, usavam materiais baratos
e da pior qualidade. As insulae eram tão mal
construídas que as paredes rachavam ou os te-
lhados caíam dentro delas.
Joan Forman. Os romanos. São Paulo: Melhoramentos, 1975. p.17.

Nesta ilustração, que representa uma insulae, podemos


ver as precárias condições de vida dos plebeus.

Alimentação dos romanos


Os alimentos da culinária italiana que apreciamos

Museu Arqueológico Nacional, Nápoles


hoje, como massas, macarrão e pizza não faziam par-
te da dieta dos antigos romanos. O principal alimento
que eles consumiam era o pão, além de verduras,
azeitonas, legumes e o vinho, que era misturado com
água. A carne era cara, e geralmente as pessoas mais
ricas eram aquelas que mais a consumiam.

Pintura que representa uma padaria de um romano


plebeu. Os principais alimentos consumidos pelos
plebeus eram sopa, pão e vinho.

192
capítulo 11
Educação das crianças romanas
Os meninos e meninas de Roma entravam na esco-

Os antigos romanos
la por volta dos 7 anos de idade. Nela eles aprendiam
a ler, a escrever e também recebiam noções de cálculo.
Por volta dos 10 anos, as meninas deixavam a es-
cola e passavam a ser educadas unicamente pelas
suas mães. O objetivo era que se tornassem boas
donas de casa e mães.
A partir dos 10 anos, os meninos de famílias influen-

Escultura em relevo. Museu do Louvre, Paris.


Menino e professor (detalhe). c. 150-160.
tes iam para a escola secundária, onde aprendiam

Foto: Erich Lessing/Album/Latinstock


literatura, história e o idioma grego. Também eram pre­
parados para a vida militar.

Detalhe de relevo de cerca de 150, que representa um professor


ministrando aula a uma criança romana. Esse relevo encontra-se
atualmente no Museu do Louvre, na cidade de Paris.

Cotidiano das mulheres


O cotidiano das mulheres plebeias e patrícias era

Casal em banquete com escravo, de Herculano. Afresco. c. 50-79 d.C. Museu Arqueológico
Nacional, Nápoles. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
bem diferente.
As mulheres patrícias casavam-se por volta dos 14 anos
e a maioria dos casamentos eram arranjados pelos
pais. No entanto, elas tinham mais tempo livre para
realizar diversas atividades, como a leitura e o estudo.
Já as mulheres plebeias tinham mais autonomia em
relação ao casamento. Elas podiam casar com quem
quisessem, mas muitas vezes os casamentos entre
os plebeus eram realizados para o casal dividir as
despesas. Além disso, as plebeias tinham mais liber-
dade, pois trabalhavam fora e assim tinham maior
contato com outros ambientes.

Afresco romano do século I que representa um casal de patrícios


em um banquete, sendo servidos por um escravo.

Lazer
Crianças brincando. Séc. II a.C. Baixo-relevo.
Foto: DEA/A. Dagli Orti/De Agostini/Getty Images

Nos momentos de lazer, os romanos assistiam a


lutas dos gladiadores, a corridas de biga e aos espe-
táculos teatrais.
As crianças romanas jogavam algumas brincadeiras
semelhantes às atuais, como as bolinhas de gude,
jogo de pedrinhas, pião, jogos de tabuleiro e brinca-
deiras com bola.

Detalhe de um relevo, do século II a.C., localizado na cidade


de Roma, que mostra crianças romanas brincando.

193
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Qual povo ocupava a região próxima à foz c ) Como foi chamado o primeiro código
do rio Tibre? Quais atividades eco­nômicas de leis escrito de Roma? Por que ele
esse povo praticava? pode ser considerado uma conquista
da plebe?
2 Explique por que alguns estudiosos cha­
mam Roma de “filha da Etrúria”. 9 Cite três medidas adotadas durante o go­
verno de Júlio César.
3 Quais eram as principais instituições po­
líticas da Monarquia em Roma e quais as 10 Quem foi o primeiro imperador romano?
funções de cada uma delas? Quais foram as principais ações de seu
governo?
4 Como era dividida a sociedade no período
monárquico? 11 O que era o Fórum e qual sua importância
para os habitantes de Roma?
5 Quando a República foi implantada em
Roma? Por que isso ocorreu? 12 Explique cada um dos principais motivos
da crise do Império Romano.
6 Explique as funções de cada uma das insti­
tuições políticas republicanas abaixo. 13 Quais foram as principais tentativas de
superação da crise do império?
a ) Consulado.
14 Quais foram as medidas adotadas pelo
b ) Senado.
imperador Teodósio?
c ) Assembleia do Povo.
15 Sobre o cotidiano dos antigos romanos,
7 Quais foram as principais consequências responda às questões a seguir.
da política expansionista de Roma no
a ) Descreva as principais características
período republicano?
das moradias dos plebeus.
8 Sobre as conquistas da plebe durante a b ) Cite alguns alimentos consumidos por
República, responda. patrícios e plebeus na Antiguidade.
a ) O que os plebeus conquistaram por c ) Explique as diferenças entre a educação
meio da “greve geral”? de meninos e meninas.
b ) Quando foi criado o cargo de Tribuno da d ) Como era o cotidiano das mulheres
Plebe? O que isso representou pa­ra os romanas? Havia diferenças entre mu­
plebeus? lheres patrícias e plebeias?

Expandindo o conteúdo
16 O discurso a seguir foi escrito por Tibério Graco. Leia-o.

Os animais da Itália possuem cada um sua toca, seu abrigo, seu refúgio.
No entanto, os homens que combatem e morrem pela Itália estão à mercê
do ar e da luz e nada mais: sem lar, sem casa, erram com suas mulheres e
crianças. [...]
É para o luxo e enriquecimento de outrem que combatem e morrem tais
pretensos senhores do mundo, que não possuem sequer um torrão de terra.
Tibério Graco. Justiça social em Roma. In: Jaime Pinsky (Org.). 100 textos de história antiga. 8. ed.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 20. (Textos e documentos).

194
capítulo 11
a ) Quem foi Tibério Graco?
b ) O que ele tentou implantar em Roma?
c ) Ele conseguiu? Por quê?

Os antigos romanos
d ) Escreva no caderno o trecho do discurso que, em sua opinião, trata especificamente da
questão de terras em Roma.

17 Nas cidades romanas, os plebeus trabalhavam em diferentes atividades.


Observe as imagens abaixo.

A
Séc. III a.C. Relevo em pedra. Museu Nacional de Abruzzo,
Áquila. Foto: The Bridgeman Art Library/Getty Images

Relevo do
século II a.C.,
em pedra
representando
um ferreiro
trabalhando
em sua oficina.

B
Museu da Civilização Romana, Roma.
Foto: Roger-Viollet/TopFoto/Keystone

Relevo em
pedra
representando
um açougueiro
cortando
carnes.

a ) Faça em seu caderno uma descrição da fonte A. Anote a maior quantidade possível de
informações, por exemplo: qual é o local de trabalho representado; que roupas e que
ferramentas estão sendo utilizadas pelo profissional; qual é o tipo de mercadoria produ­
zido neste local de trabalho.
b ) Proceda da mesma maneira com a imagem B.
c ) Depois, responda: essas atividades ainda são comuns na atualidade? Elas são realizadas
da mesma maneira ou mudaram no decorrer do tempo?

195
No Brasil
18 A concentração de terras nas mãos de poucas pessoas provoca graves problemas sociais,
como vimos a respeito da Roma Antiga. Em várias partes do mundo, e em épocas variadas,
esse problema também foi verificado. Uma das maneiras de resolver parte desses problemas,
que também ocorrem no Brasil, é promover a reforma agrária. Leia o texto.

Fazer a reforma agrária significa realizar o assentamento no


campo de pessoas e famílias que querem terra para trabalhar. É
uma política pública de responsabilidade do governo federal, que
pode ser executada por meio de um projeto amplo que deve ter
como objetivos principais:
• a desconcentração fundiária, para evitar que a terra permane-
ça nas mãos de poucas pessoas ou empresas;
• a democratização do acesso à terra, possibilitando que mais
pessoas tenham acesso à terra para trabalhar.
Segundo a Constituição brasileira, a terra tem uma função so-
cial a cumprir. Isso significa que, embora tenha proprietário, deve
estar a serviço dos interesses da população, produzindo de acordo
com suas necessidades.
As grandes propriedades que não cumprem sua função social
podem, de acordo com a Constituição, ser desapropriadas para
a implantação de assentamentos rurais. As pequenas e médias
propriedades, bem como as empresas rurais, não podem ser
desa­propriadas.
É importante distinguir reforma agrária de luta pela terra. A
reforma agrária é uma política pública realizada pelo Estado. A
luta pela terra é realizada pelos movimentos sociais que reivindi-
cam o acesso à terra. A ocupação da terra é uma das principais
estratégias de pressão para que o governo realize a reforma agrária.
Bernardo Mançano Fernandes; Fernando Portela.
Reforma agrária. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 38.
(Viagem pela Geografia).

a ) De acordo com os autores do texto, quais são os principais objetivos da reforma agrária?

b ) De acordo com a Constituição brasileira, o que significa “função social da terra”?

c ) O que, segundo a Constituição brasileira, pode acontecer com as grandes propriedades


que não cumprem adequadamente sua função social?

d ) Explique a diferença entre reforma agrária e luta pela terra.

e ) Você já ouviu falar de algum movimento social que reivindica o acesso à terra? Qual é o
nome desse movimento e quais suas principais ações?

196
capítulo 11
Discutindo a história
19 A queda do Império Romano é tema de debates entre historiadores há pelo menos três sé­
culos. Entre as causas da queda, costuma-se citar a grande extensão do império, a crise

Os antigos romanos
interna e as invasões dos povos germânicos. Além dessas causas, alguns historiadores
afirmam que um dos principais motivos da queda do Império Romano foi a “decadência
moral” de seus habitantes. Ultimamente, no entanto, vários estudiosos têm contestado
essa opinião.
Os textos abaixo apresentam pontos de vista divergentes quanto à suposta “decadência mo­
ral” dos romanos nos anos finais do império. Leia-os.

A [...] O povo [pedia de maneira] [...] indiscreta e insolentemente, pão, vinho, di-
vertimentos e dinheiro [...]. Nos teatros, principalmente, Roma parecia ostentar
com maior prazer a sua indisciplina moral. [...] No meio de tais divertimentos era
natural que a moral des­falecesse. [...]
O que o povo queria eram as distribuições de dinheiro, festas, prodigalidades, pra-
zer, facilidades em tudo, tanto na política como na administração e na vida privada. [...]
Guglielmo Ferrero. Grande e decadência de Roma. Trad. Francisco Pati.
Porto Alegre: Globo, 1963. p. 123; 125; 136.

B Talvez a ideia mais corrente sobre o Império Romano seja a mais injustificada. Re-
ferimo-nos à noção de decadência moral, associada a exageros na comida e nas
diversões e que teria levado à decadência de Roma. [...]
Ainda mais importante, no entanto, é o fato de que noções como “decadência” são
por demais subjetivas. Teria havido decadência moral? Ou os costumes eram, simples-
mente, diferentes dos nossos? [...]
Pedro Paulo Funari. Roma: vida pública e vida privada. São Paulo: Atual, 2003. p. 6-7.

a ) Qual é o ponto de vista do historiador que escreveu o texto A?


b ) E o historiador do texto B, qual ponto de vista defende?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ Os romanos herdaram grande parte da cultura etrusca.
■■ A sociedade romana era composta principalmente por patrícios, plebeus e escravos.
■■ Os irmãos Caio e Tibério Graco tentaram implantar a reforma agrária em Roma.
■■ No século IV, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano.
■■ As invasões germânicas foram uma das causas do declínio do Império Romano.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

197
12
capítulo

A cultura clássica
Propaganda da loja de departamentos ‘Le Bon Marche’, A Lebre e a Tartaruga. Início do séc. XX. Litografia coloria. Coleção particular. Foto: Archives Charmet /The Bridgeman Art Library/Keystone

Museu do Louvre, em Paris. Foto:


Isolated objects/Alamy/Other Images

A Essa imagem representa uma cena da


fábula A lebre e a tartaruga, do escritor
grego Esopo, que viveu no século VI a.C.
(Litografia produzida no século XX).
Escultura que representa B
Veja nas Orientações para o Afrodite, deusa grega
professor alguns comentários e do amor.
explicações sobre os recursos
apresentados no capítulo.

198
C Cena de teatro representada em mosaico romano
Cena de teatro. Séc. I. Mosaico. Napoles, Itália. Foto: Araldo de Luca/Corbis/Latinstock
do século I. Na Antiguidade, o teatro romano foi
bastante influenciado pelos gregos.

Bettmann/Corbis/Latinstock
Gravura representando a deusa romana Justitia, de olhos vendados D
e segurando nas mãos uma balança e uma espada. Na Roma
Antiga, essa deusa personificava a Justiça.

Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Você já deve ter ouvido a expressão “isso é um clássico!” para se re- o conhecimento
prévio dos alunos e
ferir a uma obra de arte ou a um livro, por exemplo. O legado cultural dos estimular seu
antigos gregos e romanos compõe o que chamamos de cultura clássica, interesse pelos
assuntos que serão
assunto deste capítulo. desenvolvidos no
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os capítulo. Faça a
mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
■ ■ A fonte A representa uma cena da fábula A raposa e a lebre , de Eso-
maneira que todos
participem
po. Você conhece essa fábula? Quais são as principais características expressando suas
de uma fábula? Existem fábulas nos dias de hoje? opiniões e
respeitando as dos
■ ■ Agora descreva a escultura retratada na fonte B. Como a deusa gre- colegas.
ga Afrodite foi representada? Você conhece alguma obra semelhante
a esta? Qual?
■ ■ Na fonte C, quais elementos do teatro romano podem ser identifica-

dos? Você já assistiu a uma peça de teatro? Qual?


■ ■ Descreva os símbolos relacionados à justiça destacados na fonte D.

Por que a justiça foi representada dessa forma?


■ ■ É possível afirmar que a cultura clássica exerce grande influência em

nosso cotidiano?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.
199
Cultura clássica: presença em nosso cotidiano
A cultura clássica está presente em nosso cotidiano de várias maneiras, por
exemplo, na literatura, nas artes plásticas, na arquitetura, no teatro e na
filosofia.

O que é cultura clássica?

Giuliano Gomes/Folhapress
O termo cultura clássica é usado para fazer referên-
cia às expressões artísticas, como a arquitetura, a lite-
ratura e a escultura, desenvolvidas na Grécia entre os
séculos V e IV a.C. Essas expressões artísticas torna-
ram-se modelos, que foram seguidos pelos romanos
que conquistaram a Grécia.
Em razão da grande influência da arte e da literatura
greco-romanas na formação dos países ocidentais, o
termo cultura clássica passou a ser usado para qualifi- A arquitetura do prédio da Universidade
car a herança deixada pelos antigos gregos e romanos. Federal do Paraná, localizado em Curitiba, é
um exemplo da influência da cultura clássica
no Brasil. Fotografia tirada em 2006.
Falando grego
A influência da cultura clássica está presente em
nosso cotidiano, por exemplo, na língua portuguesa. Radicais gregos
Existem muitas palavras de origem grega que nós uti- Observe o quadro abaixo e conheça
alguns radicais gregos presentes na
lizamos no dia a dia. Observe. Língua Portuguesa.
■ ■ teatro ( théatron ): lugar para assistir a espetáculos;

■ ■ farmácia ( pharmakeía ): lugar onde se encontram os Radicais Significados


medicamentos; agro campo
■ ■ biblioteca ( bibliothéke ): coleção de livros.
antropo homem
O texto a seguir explica de que maneira a língua arqueo antigo
grega contribuiu na formação da língua portuguesa.
biblio livro
Leia-o.
cracia governo
O alfabeto grego surgiu [por volta do] século VIII a.C. e foi crono tempo
uma adaptação da escrita fenícia à língua grega. [...]
demo povo
Os primeiros povos a adotar o alfabeto grego e usá-lo para
filo amigo
escrever sua língua foram os etruscos, um povo que habitava a
península Itálica. Pouco depois, os romanos imitaram os etrus- fone som, voz
cos e começaram a escrever com esse alfabeto. [...] Os romanos hidro água
não se limitaram a copiar o alfabeto grego, mas o adaptaram à logia estudo
sua língua, que era o latim, eliminando ou acrescentando letras. metro medição
Com a expansão do Império Romano por grande parte do con-
mono único, um só
tinente europeu, houve uma difusão do latim [...].
nomo conhecedor
As línguas [neolatinas], isto é, todas aquelas que derivam do
sofo sabedoria
latim, como o português, o espanhol, o francês e o italiano,
usam o alfabeto latino. [...] teca coleção

César Coll; Ana Teberosky. Aprendendo Português.


tele distância
São Paulo: Ática, 2000. p. 66-8. zoo animal
Fonte: HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário
Radical a raiz de uma palavra. Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

200
A literatura dos antigos gregos

capítulo 12
O sistema de escrita grega era capaz de representar a língua falada com
grande clareza e exatidão. Além disso, em comparação com a escrita de
outros povos antigos, como os egípcios e os mesopotâmios, a escrita grega
era mais fácil de aprender. Essa facilidade de aprendizado permitiu que boa

A cultura clássica
parte da população grega fosse alfabetizada. Em Atenas, no século V a.C.,
por exemplo, muitas pessoas sabiam ler e escrever.
A difusão da escrita entre os gregos propiciou um grande desenvolvimen- Gênero literário
to da literatura. Um dos gêneros literários mais apreciados pelos gregos forma de
era a poesia, que servia para tratar dos mais diversos temas, desde os classificação das
acontecimentos mais importantes até os assuntos do dia a dia. Outro gê- obras literárias de
nero literário era a tragédia, utilizada geralmente para descrever grandes acordo com o
estilo, a estrutura
aventuras e episódios trágicos da vida dos heróis. A comédia, por sua vez,
ou a temática do
servia para satirizar as fraquezas humanas. texto.
Havia também um gênero literário muito popular entre os gregos: a fábula. Satirizar
As fábulas são pequenas histórias que geralmente têm animais entre os ridicularizar.
personagens, e apresentam ensinamentos sobre como agir com inteligência
em diferentes situações cotidianas. Um dos maiores mestres nesse tipo de
literatura foi Esopo, um escravo que viveu na Grécia no século VI a.C.
Leia, a seguir, uma das fábulas de Esopo.

Ilustração que

Paula Diazzi
representa Esopo
conversando com
uma raposa.

A raposa e as uvas
Uma raposa caminhava faminta a procura de algo para comer,
quando encontrou uma parreira carregada com uvas maduras. Famin-
ta, ela tentou apanhar as uvas, porém, os galhos da parreira estavam tão
altos que ela não conseguiu alcançá-las. Irritada, a raposa disse:
— Melhor assim, essas uvas estão verdes!
Moral da história: É fácil desprezar aquilo que não se alcança.
Texto adaptado pelos autores.
N. Akira

201
A mitologia grega
Os antigos gregos acreditavam que deuses e deusas interferiam na vida
das pessoas.

Deuses e deusas
A palavra mitologia (do grego mythos = fábula; logía = estudo) significa o
conjunto de histórias fabulosas que explicam a origem do Universo e do ser
humano por meio da ação de deuses e heróis.
De acordo com a mitologia grega, os deuses
habitavam o monte Olimpo, e frequentemente
interferiam na vida dos seres humanos.
Os deuses gregos eram imortais, no
entanto, assim como os seres huma-
nos, tinham defeitos e qualidades.
Além dos vários deuses, existiam
os heróis (ou semideuses), que
possuíam alguns po­d eres dos
deuses, porém eram mortais.

Luigi Sabatelli – Olimpus (detalhe). Galeria Palatine,


Palácio Pitti, Florença. Foto: Alinari/TopFoto/Keystone
Entre os heróis gregos mais
conhecidos estão Hércules,
Aquiles e Orfeu.

Deuses e deusas do Olimpo


representados pelo artista
italiano Luigi Sabatelli
(1772-1850), em 1825.

Os Jogos Olímpicos
Na Grécia Antiga, deuses e heróis eram homenageados em um importante evento
celebrado a cada quatro anos: os Jogos Olímpicos, que eram realizados na cidade de
Olímpia. No decorrer do tempo, os jogos adquiriram tanta importância que, no período
em que eram realizados, estabelecia-se uma trégua sagrada, suspendendo os conflitos
militares em toda a Grécia.
Os espectadores vinham das regiões mais remotas da Grécia para
Stadium (corrida). c. 520-500 a.C. Ânfora. Museu Ashmolean,
Oxford. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

acompanhar os jogos em Olímpia e oferecer sacrifícios aos deuses.


Algumas das modalidades esportivas realizadas eram: corrida,
salto, arremesso de disco, luta e o pentatlo (combinação de cinco
modalidades). O único prêmio concedido aos vencedores era uma
coroa feita de ramos de oliveira. No entanto, a vitória estava
vinculada à honra do atleta vencedor e dos deuses que o haviam
favorecido, e trazia grande orgulho à sua cidade.

Detalhe de um vaso grego, de cerca de 500 a.C., que representa uma


corrida de atletas gregos realizada durante os Jogos Olímpicos.

202
O nascimento da filosofia ocidental

capítulo 12
O século VII a.C. marca o nascimento do pensamento filosófico ocidental na Grécia.

Os filósofos gregos

A cultura clássica
“Quem sou?”, “De onde vim?”, “Para onde vou?”... Perguntas como essas
sempre fizeram parte da existência humana. No entanto, no século VII a.C.,
alguns gregos começaram a procurar novas respostas para essas antigas
perguntas.
Esses gregos, conhecidos como filósofos, deixaram de buscar explicações
sobre os mistérios da vida apenas na mitologia e começaram a utilizar a
razão, ou seja, a capacidade intelectual que o seres humanos têm para
explicar e ordenar a realidade de forma coerente.
Leia no texto a seguir as principais diferenças entre mitologia e filosofia.

1. O mito pretendia narrar como as coisas eram [...] no passado imemorial,


longínquo e fabuloso [...]. A filosofia, ao contrário, se preocupa em
explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro [...], as
coisas são como são.
2. O mito narrava a origem através de [...] rivalidades ou alianças entre
[deuses], enquanto a filosofia, ao contrário, explica a produção na-
tural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.
3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o in- A Escola
compreensível [...]. A filosofia, ao contrário, não admite contradições, de Atenas
fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja
coerente, lógica e racional [...].
Marilena Chaui. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática. 2002, p. 31.

Conheça a seguir alguns filósofos gregos e suas principais ideias.

Tales, nascido na cidade de Nascido em Atenas, Sócrates


Museus do Vaticano, Cidade do
Vaticano. Foto: SPL/Latinstock

Museus Capitolinos, Roma. Foto:


Araldo de Luca/Corbis/Latinstock

Mileto no final do século VII a.C., (470-399 a.C.) foi um dos


é considerado um dos mais principais filósofos gregos. Ele
antigos filósofos gregos. Ele se preocupava com questões
acreditava que os fenômenos relativas aos seres humanos,
naturais deveriam ser explicados como honra e moral. Para
com base na própria natureza, Sócrates, uma pessoa inteligente
sem recorrer aos mitos e seria aquela que admite que
deuses. nada sabe.

O principal discípulo de Sócrates Um dos maiores filósofos gregos


Museus Capitolinos, Roma.
Foto: Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock

Museu Nacional Romano, Roma.


Foto: Bettmann/Corbis/Lastinstock

foi Platão (429-347 a.C.). Ele foi Aristóteles (384-322 a.C.), o


acreditava que o mundo visível principal discípulo de Platão. Ele
era apenas uma cópia da defendia que as teorias deviam
verdadeira realidade. De acordo ser elaboradas com bases em
com Platão, a verdadeira fatos que pudessem ser
realidade encontrava-se no demonstrados. Seu sistema
mundo das ideias, sendo que a estava baseado na observação
maior delas era a ideia do Bem. dos fenômenos naturais e no
pensamento lógico.

203
Explorando o tema
Os espetáculos públicos romanos
Os espetáculos públicos eram frequentados pela maior parte dos moradores de Roma,
desde os escravos até os imperadores. O acesso da população a esses espetáculos era fa-
cilitado pelo grande número de feriados: no século III, havia cerca de 200 feriados por ano.
Além disso, havia diversos circos, arenas e teatros para a realização dos espetáculos.
No período imperial, a cidade de Roma tornou-se uma grande metrópole, com cerca de um
milhão de habitantes. Grande parte dessa população, no entanto, não encontrava trabalho e
vivia em condições miseráveis. Foi nessa época que os imperadores adotaram a chamada
política do “pão e circo” ( panis et circenses ).
De acordo com essa política, os imperadores distribuíam pães e cereais para a população
carente, e, também, promoviam grandes espetáculos que eram oferecidos gratuitamente ao
povo romano. Os principais espetáculos públicos eram as encenações de teatro, as lutas na
arena e as corridas de biga.

O teatro
As encenações teatrais, conhecidas como jogos

Séc. I. Mosaico. Alfredo Dagli Orti/


The Art Archive/Corbis/Latinstock
cênicos ( ludi scenici) , eram realizadas em Roma des-
de os primeiros tempos da República. Havia diversos
tipos de espetáculos teatrais, como as comédias, os
dramas e as tragédias.
Porém, como havia um grande número de estran-
geiros em Roma, as encenações teatrais que atraíam
maior público eram a mímica e a pantomima, espe-
táculos em que a trama era representada por meio
de gestos e da dança.
Mosaico representando atores ensaiando para um espetáculo.

As corridas de biga
Outro espetáculo público que atraía

Circo Romano. c. 175 .Mosaico. Museu Gallo Romano, Lion.


Foto: The Granger Collection, NYC/Other Images
multidões em Roma eram as corridas
de biga. Essas corridas eram realiza-
das nos circos, nome dado a grandes
construções destinadas à realização
desse tipo de competição. Havia cir-
cos em muitas cidades romanas. O
maior deles, o Circo Máximo, ficava
localizado na cidade de Roma e tinha
capacidade para acomodar 250 mil
pessoas nas arquibancadas.
Leia o texto a seguir, que trata das Corrida de biga representada em mosaico romano do século II.
corridas de biga.

[As bigas eram puxadas] por dois ou quatro cavalos, os cocheiros de pé, vestidos com uma túnica sem
mangas muito justa no peito, usando barrete de couro, com as rédeas presas à cinta. O cavalo da esquerda
comanda a parelha, os outros seguem-no. [A biga] era uma simples caixa montada sobre duas rodas, como
outrora os carros de guerra; mas era muito leve e só o peso do homem lhe imprimia alguma estabilidade. [...]
Pierre Grimal. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 247. (Lugar da História).

204
capítulo 12
As lutas de arena
Um dos espetáculos públicos que mais chamavam a atenção da população eram as lutas

A cultura clássica
de arena. A principal atração nas arenas era o combate entre gladiadores, que eram geral-
mente escravos treinados especialmente para lutar.
Nas arenas também eram realizadas lutas entre animais selvagens, como elefantes, ursos,
leões, touros, e, ainda, entre gladiadores e animais.

Em Vila Dar Buc Ammera, Líbia. Foto:


Roger Wood/Corbis/Latinstock
Mosaico que representa gladiadores lutando na arena.

Fotografia tirada em 2011 retratando o anfiteatro Flávio,


conhecido como Coliseu. Nesse anfiteatro, que tinha capacidade
para cerca de 50 mil espectadores, eram realizadas lutas de
gladiadores. Atualmente, o Coliseu atrai milhares de turistas de
todas as partes do mundo.

Eduardo Carriça/Photoview

205
Latim: a língua dos romanos
O latim deu origem a vários idiomas, inclusive o português.

As origens
O latim começou a ser falado na região do Lácio, no

Araldo de Luca/Corbis/Latinstock
século VIII a.C. Várias línguas antigas influenciaram na
formação do latim, entre elas o osco, o umbro e o grego.
Com a expansão do Império Romano, o latim foi levado a
diferentes regiões e passou a ser falado por um grande
número de pessoas.
A escrita latina era registrada de diferentes maneiras.
Leia no texto abaixo quais eram algumas delas.

Algumas poucas obras literárias foram preservadas em papiros


desde o Império Romano, mas não são muito numerosas. No entanto,
principalmente durante os primeiros séculos do império, os romanos
escreviam em todo tipo de objeto. Todos os edifícios públicos tinham
inscrições que informavam quem tinha sido o construtor, quem fi-
nanciara o prédio e outros dados. Os vasos de cerâmica também
tinham inscrições, com o nome do fabricante ou da olaria e a qualida-
de do produto. As moedas tinham inscrições, e também se escrevia
nas paredes, com estilete.
Pedro Paulo Funari. Império e família em Roma. São Paulo: Atual, 2000. p. 7-8. (A vida no tempo).

Inscrição em latim gravada em uma pedra.


As línguas neolatinas
O latim se tornou a língua oficial do império por volta do século II, mas
os registros escritos encontrados nas diferentes regiões do Império Romano
não foram feitos só nessa língua. O grego também era muito utilizado, prin-
cipalmente pelas pessoas mais instruídas. Outras línguas como o púnico e
o aramaico também eram faladas.
Apesar dessa variedade linguística, o latim foi a língua mais difundida no
século V, mesmo após a desagregação do império. No entanto, por causa
da diversidade de culturas que havia no império, essa língua se fundiu com
outras e deu origem ao que chamamos de línguas neolatinas.

O latim e as línguas neolatinas


Entre os idiomas neolatinos, destacam-se o português, o italiano, o espanhol e o francês.
Observe, no quadro abaixo, as semelhanças entre algumas palavras latinas e neolatinas.

Línguas neolatinas
Latim Português Italiano Espanhol Francês
ovo ovo uovo huevo oeuf
vino vinho vino vino vin
anno ano anno año an
aqua água acqua água eau
porta porta porta puerta porte
bucca boca bocca boca bouche
Fonte: WALTER, Henriette. A aventura das línguas no Ocidente: origem, história e geografia. São Paulo: Mandarim, 1997.

206
A literatura latina

capítulo 12
A literatura latina é o conjunto de textos literários
pro du zidos em latim na Roma Antiga. Estudos de
linguagem indicam que muito do que foi produzido
pelos romanos derivou da literatura grega, como

A cultura clássica
poe mas, peças de teatro e textos filosóficos.
Entre os escritores latinos mais conhecidos estão
Cícero (106-43 a.C.), advogado, político e filósofo,
Virgílio (70-19 a.C.), considerado o maior de todos
os poetas latinos, e Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.), o
principal historiador romano.

Museus do Vaticano, Cidade do Vaticano


Passagem do poema Eneida, escrito por Virgílio. Nessa
cena, Eneias e seus companheiros enfrentam uma forte
tempestade no mar. Pintura do século V.

A escrita do povo
Durante muito tempo, os estudiosos acreditaram que, para se conhecer
os diferentes aspectos da história de Roma, bastava consultar os registros
escritos deixados pela elite romana. Seguindo esse princípio, consideravam
fontes de informação somente as obras de escritores como Cícero e
Virgílio.
A camada popular do império, dessa forma, acabou sendo considerada
inculta e analfabeta, pois transmitia seus conhecimentos somente por mei os
orais, ou seja, não deixava registros escritos.
No entanto, escavações feitas na cidade de Pompeia, na Itália, no sécu-
lo XVIII, reve laram uma enorme quantidade de inscrições nas paredes da
cidade, feitas por padeiros, agricultores, artesãos, comerciantes e escravos.
Essas inscrições tratavam dos mais diferentes temas, como política, traba-
lho, amor e lutas de gladiadores. Ilustração que
reproduz as
Leia a tradução do diálogo abaixo. Ele foi escrito por dois homens, um inscrições feitas por
tecelão chamado Sucesso e seu rival Severo, que disputavam o amor de Severo e Sucesso
uma mesma mulher. em uma parede de
Pompeia.
Severo: O tecelão Sucesso ama a escrava chamada
Híris, a qual não quer saber dele, mas ele pede que ela N. Akira

tenha dó dele. Responda, rival!


Saudações.
Sucesso: Intervéns porque és um invejoso. Não
queiras bancar o engraçadinho, seu mau-caráter galan-
teador!
Severo: Disse e escrevi a verdade: tu amas Híris, que
não quer saber de ti.
[...] O que escrevi, é exatamente o que se passa.
[...]
In: Pedro Paulo Funari. A vida quotidiana na Roma antiga.
São Paulo: Annablume, 2003. p. 28.

207
A arte e a arquitetura em Roma
A arte romana era rica e diversificada, e sua arquitetura era monumental.

Os retratos individuais
A arte romana recebeu grande influência da arte grega. Essa influência
se tornou mais intensa no período republicano, quando, após conquistarem
várias regiões da Grécia, os exércitos romanos voltaram para Roma trazen-
do muitas obras de arte gregas.
Essas obras, como estátuas e relevos, serviam para decorar as mansões
de patrícios e de ricos comerciantes. Como havia grande procura por obras
de arte gregas, os artistas passaram a produzir muitas cópias dessas obras.
Foi somente no final do período republicano que a arte romana adquiriu
suas características próprias. Diferentemente dos gregos, que buscavam
representar a beleza ideal e a harmonia das proporções, os romanos de-
senvolveram uma arte mais realista e mais fiel aos modelos retratados.
Uma das formas de expressão artística em que os romanos mais se des-
tacaram foi o retrato individual. Leia o texto abaixo.

O desenvolvimento do retrato individual é geralmente considerado


como uma das principais realizações da arte romana. A [principal]
característica [...] deste estilo de retrato é um extremo realismo, com
particular realce para os aspectos [...] pouco atraentes do sujeito.
[Este] estilo, [sem] dúvida, [...] agradava muito aos romanos, que gos-
tavam de se ver como um povo forte, honesto e nada fantasioso. [...]
Tim Cornell; John Matthews. Roma: legado de um império. Trad. Maria Emilia Vidigal.
Madri: Edições del Prado, 1996. v. 2. p. 180. (Grandes impérios e civilizações).

Observe alguns retratos individuais romanos.


Caius Marius. Foto: Topham
Picturepoint/TopFoto/Keystone

Museu Nacional, Roma.


Foto: TopFoto/Keystone

Museu de Belas Artes, Boston. Foto:


The Bridgeman Art Library/Keystone

Museu Britânico, Londres. Foto: The


Bridgeman Art Library/Keystone

Escultura Escultura que Homem Escultura do


representando representa a representado século I a.C.,
um general cabeça de em escultura representando
romano. uma criança. do século I a.C. cabeça de mulher.

208
A construção de um aqueduto

capítulo 12
Os aquedutos romanos eram grandes construções que conduziam a água
das nascentes dos rios até as cidades, através de tubulações. Os aquedu-
tos podiam ser subterrâneos ou elevados, para manter o fluxo de escoa-
mento da água, e podiam ter dezenas de quilômetros de extensão.

A cultura clássica
A construção de um aqueduto era um processo complexo, que envolvia
a perfuração de túneis e a edificação de grandes conjuntos de arcos para
sustentar a tubulação.
Ainda hoje, existem aquedutos que foram construídos pelos romanos há
cerca de dois mil anos e que ainda estão em funcionamento, o que atesta
a qualidade e a durabilidade dessas construções.
Observe o infográfico a seguir, que representa a construção de um aque-
duto suspenso.
Art Capri

As tubulações que conduziam a


água ficavam na parte superior
do aqueduto. Os romanos aprenderam com
os gregos a utilizar guindastes
e roldanas para levantar os
blocos de pedra.

Os escravos formavam a maior


parte da mão de obra utilizada
na construção de grandes
obras como essa.

Os arcos que sustentavam o aqueduto


eram típicos da arquitetura romana.
Alguns tinham até 50 metros de
altura, o equivalente a um prédio de
17 andares.

Altos andaimes feitos de madeira


eram utilizados pelos trabalhadores
durante a construção.

Os principais materiais utilizados


Essa ilustração é uma representação artística
na construção dos aquedutos eram feita com base em estudos históricos.
pedra, tijolo, granito e cascalho. Baseado em Joan Forman. Os romanos.
São Paulo: Melhoramentos, 1999.

209
O Direito Romano
O Direito é um dos mais importantes legados romanos.

O legado jurídico
Os romanos nos deixaram uma vasta herança cultural,

Christel Gerstenberg/Corbis/Latinstock
artística e linguística. O legado jurídico, representado
pelo Direito Romano, por exemplo, exerceu influência
profunda em muitos países.
O primeiro passo dado por Roma na formulação de leis
escritas que dariam origem ao Direto Romano aconteceu
em 450 a.C., com a criação da Lei das Doze Tábuas, ou
Lex Duodecimum Tabularum . Os princípios legais das
Doze Tábuas, mesmo sofrendo algumas modificações ao
longo do tempo, foram seguidos em quase todo o impé-
rio por cerca de mil anos.
Mesmo com a queda do Império Romano do Ocidente,
muitos princípios da Lei das Doze Tábuas continuaram
vigorando no Império Romano do Oriente. Com a ascen-
são do imperador Justiniano, em 527, esses princípios
foram reinterpretados e compilados.
O imperador Justiniano contratou um grupo de juristas para fazer a
reinterpretação e a compilação das leis romanas, trabalho que demorou cerca
de três anos para ser concluído. Nessa imagem, Justiniano é representado
em um detalhe de mosaico da catedral de São Vital, em Ravena, na Itália.

O Corpo do Direito Civil


Esse trabalho de reinterpretação e compilação das leis romanas deu ori-
gem ao Corpo do Direito Civil ( Corpus Juris Civilis ), que se tornou a base
do sistema jurídico de vários países, como Alemanha, França, Japão, Indo-
nésia, México e Brasil.

José Carlos Moreira Alves — Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2007
Em nosso país, os princípios do Corpo do Direito Civil ,
também conhecido como Direito Romano, são ensinados
nas faculdades de Direito até os dias de hoje.
Conheça abaixo alguns princípios de Direito Romano
que estão presentes em nossa sociedade.
■■ Cuique suun : princípio básico da justiça, significa que
a cada um pertence aquilo que é seu.
■■ Dura Lex , sed Lex : a lei é dura, mas é a lei.
■■ Nullun crimen , nulla poena sine lege : não há crime
nem pena sem que a lei decida.

Capa de um livro sobre Direito Romano publicado


recentemente no Brasil. O conhecimento sobre as leis
contidas no Corpo do Direito Civil é muito importante
para os estudantes dos cursos de Direito no Brasil.

210
A cultura helenística

capítulo 12
A cultura helenística é resultado da fusão de várias culturas

A civilização helenística

A cultura clássica
A expressão “cultura helenística” é utilizada para fazer referência às ma-
nifestações culturais originadas da mistura entre a cultura grega e a dos
povos conquistados por Alexandre Magno.
Alexandre formou, em um curto espaço de tempo, um grande império.
Como esse império era vasto e abrangia grande parte de três continentes
(Europa, África, e Ásia), a cultura grega se espalhou por diferentes partes
do mundo e foi assimilada pelas populações locais, dando origem a uma
grande riqueza cultural.
Leia o texto a seguir, que trata do intercâmbio cultural propiciado pelas
conquistas de Alexandre Magno.

A contribuição mais célebre de Alexandre ficou conhecida como a “civiliza-


ção helenística”. Ou seja, a mistura do modo de vida grego com os costumes

Museu Peshawar, Paquistão.


Foto: Michel Porro/Getty Images
locais em lugares como o Egito, a Pérsia e a Mesopotâmia. O helenismo marcou
a ruptura de fronteiras culturais e religiosas, que até então eram fortemente de-
marcadas. O exército macedônio levou aos povos da Ásia uma nova língua e um
novo modo de governar [...].
Talvez a maior herança dessa expansão helenística de Alexandre tenha sido a
difusão da filosofia grega [...].
A ciência também se beneficiou da troca de conhecimentos entre os povos
dessas regiões. Se Alexandre levou à Ásia noções de biologia e medicina aprendi-
das com os sábios gregos, trouxe de volta ensinamentos de geometria e
matemática que propiciariam avanços na astronomia e na engenharia.
Paulo D’Amaro. Alexandre, o Grande?. Os Caminhos da Terra.
São Paulo: Peixes, ano 13, n. 153, jan. 2005. p. 32.
Harold Oakley - Farol de Alexandria. Séc. XX. Ilustração. Coleção particular. Foto: PoodlesRock/Corbis/Latinstock

Essa ilustração representa o Estátua de Buda


Farol de Alexandria, construído vestindo trajes
na cidade de Alexandria, fundada tipicamente gregos.
no Egito por Alexandre Magno. Essa obra de arte é
Nessa cidade havia uma um exemplo da fusão
importante biblioteca, que entre as culturas do
abrigava obras de grande parte Oriente e do Ocidente.
do mundo conhecido e onde se Estátua produzida no
reuniam estudiosos dos mais século II.
variados campos do
conhecimento. Esse intenso
intercâmbio cultural favoreceu a
integração das culturas do
Ocidente e do Oriente e a difusão
da cultura helenística. (Ilustração
produzida no século XX).

211
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 No caderno, forme pelo menos cinco pa­­ 9 Responda às questões a seguir sobre a
lavras utilizando os radicais gregos apre­ língua latina.
sentados na página 200. a ) Quando e onde o latim começou a ser
Observe um exemplo: falado?
Cronologia: crono (tempo) + logia (estudo) = b ) Quais línguas influenciaram o latim?
estudo do tempo.
c ) Além das obras literárias, escritas em
2 Cite três gêneros literários da Grécia An­tiga papiro, quais outras formas de registro
e descreva suas características prin­cipais. da escrita latina são conhecidas?
3 Quais são as principais características das d ) Quando o latim se tornou a língua oficial
fábulas? Você conhece alguma outra fá­ do Império Romano?
bula? Qual? e ) O que são línguas neolatinas? Cite al­
gumas delas.
4 Na mitologia grega, quais são as principais
diferenças entre deuses e heróis? 10 O que as inscrições nas paredes de Pom­peia
revelaram sobre o cotidiano das pes­soas
5 Quais são as principais diferenças entre
que ali viviam?
mito e filosofia?
11 Aponte algumas características da arte
6 Explique as principais ideias dos seguin­tes
romana.
filósofos gregos.
a ) Tales. c ) Platão. 12 Descreva a cons­trução e o funcionamento
de um aqueduto romano.
b ) Sócrates. d ) Aristóteles.
13 O que é o Corpo do Direito Civil? Cite al­guns
7 O que foi a política do pão e circo? de seus princípios presentes em nossa
8 Escreva um pequeno texto destacando as sociedade.
principais características dos espetáculos 14 O que significa a expressão “cultura hele­
públicos romanos. nística”?

Expandindo o conteúdo
15 Leia o texto a seguir.

As cores do branco
Estátuas clássicas de deuses gregos e de imperadores romanos são brancas ou cinzentas, e é dessa
forma que sempre estiveram expostas nos principais museus do mundo. Colori-las seria um verdadeiro
sacrilégio e um tremendo mau gosto. Pois é exatamente isso que fez o Museu do Vaticano na exposição
As Cores do Branco, [realizada em 2005]. A ideia dos organizadores do evento é mostrar que a arte antiga
era muito mais alegre e colorida do que imaginamos e acabar com a convicção de que as esculturas gre-
gas e romanas não tinham cor. “Na realidade, o conceito de que as obras eram totalmente brancas chegou
aos dias de hoje por causa da perda de policromia provocada pela ação do sol e da chuva”, diz o organi-
zador da mostra, Paolo Liveriani. [...]
Para chegar às cores utilizadas pelos artistas da Antiguidade, os restauradores do museu usaram téc-
nicas modernas, como raios ultravioletas, que permitem ver traços de cores desaparecidas no mármore.
[...]

212
capítulo 12
A concepção de que a arte clássica era imaculadamente branca, e assim devia permanecer, foi estabe-
lecida pelo alemão Joachin Winckelmann (1717-1768), considerado o fundador da história da arte e um
dos pioneiros da arqueologia. Winckelmann dizia que o branco era cor da beleza ideal e que o uso das
cores na escultura significava a decadência e o desvirtuamento da arte clássica. “Desde o século XIX,

A cultura clássica
estudiosos já sabiam que os gregos e romanos utilizavam cores em suas estátuas, mas até hoje, para o
grande público, o branco está associado ao clássico e ao bom gosto na escultura”, comenta Luciano
Migliaccio, professor de história da arte na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo. Apesar do impacto que as estátuas coloridas causam aos visitantes, dificilmente a exposição
do Museu do Vaticano conseguirá mudar esse conceito.
Ariel Kostman. As cores do branco. Veja. São Paulo: Abril, ano 37, n. 1882, 1 dez. 2004. p. 63.

Louisa Gouliamaki/AFP/Getty Images


Pessoa observa duas esculturas gregas, uma colorida e a outra sem cor, em 2007. A
escultura colorida é uma réplica da escultura branca, que foi originalmente produzida por
volta de 500 a.C.

a ) Qual foi o principal objetivo dos organizadores da exposição As cores do branco?


b ) Por que as estátuas gregas e romanas perderam a cor? Como os restauradores fizeram
para descobrir quais eram as cores originais dessas obras?
c ) Qual é a opinião de Joachin Winckelmann sobre o uso de cores nessas esculturas?
d ) “Apesar do impacto que as estátuas coloridas causam aos visitantes, será difícil mudar
a convicção das pessoas de que as estátuas gregas e romanas não tinham cor”. Você
concorda com essa afirmação? Justifique.

Passado e presente
16 Até o século IV, os antigos gregos realizavam periodicamente os Festivais Olímpicos, que
eram competições esportivas realizadas na cidade de Olímpia, em honra a Zeus, sua prin­
cipal divindade. Nesses jogos eram exaltados os ideais de perfeição entre os gregos, que
envolvia o culto ao corpo e à beleza física e, também, o desenvolvimento das capacidades
intelectuais. A partir de 1896, começaram a ser realizados a cada quatro anos os Jogos
Olímpicos, que, sob o lema “o importante é competir”, procurava estimular as competições

213
esportivas como forma de promover a paz entre os povos. Nesse sentido, a partir de 1960,
começaram a ser realizados também os Jogos Paraolímpicos, reservado aos portadores de
necessidade especiais. Os Jogos Paraolímpicos são importantes como um meio de elevação
da autoestima dos competidores, revelando que as deficiências físicas não são um empecilho
intransponível para uma existência ativa e feliz. Leia o texto a seguir.

Entre os dias 6 e 17 de setembro de 2008,

Frederic J. Brown/AFP/Getty Images


os olhos do mundo todo voltaram-se nova-
mente para Pequim, na China. Cerca de duas
semanas após o término dos Jogos Olímpi-
cos, entraram em cena novos campeões
mundiais e nova quebra de recordes.
Se esporte de alto rendimento é superação,
o esporte paraolímpico é a superação da su-
peração! A importância do esporte para
portadores de deficiência está muito além do
que possamos imaginar. A prática esportiva,
além de tornar prazerosa a reabilitação física
e psicológica, melhora a qualidade de vida e
amplia o círculo de amizades. Em um nível
mais competitivo, o esporte para portadores
de deficiência ainda tem a função de cons- Fotografia que retrata as equipes do Brasil e da China
cientizar a população da potência e eficiência disputando uma partida de basquete para cadeirantes
que todas essas pessoas ainda têm. durante os Jogos Paraolímpicos de Pequim, em 2008.
Pequim sediou, em 2008, a 13a edição dos Jogos Paraolímpicos que reuniu cerca de 4 mil
atletas, provenientes de 150 países dos cinco continentes. Desde os Jogos Olímpicos de Seul, em
1988, a Paraolimpíada é realizada logo em seguida aos Jogos Olímpicos. Os atletas utilizaram a
mesma estrutura de competições e Vila Olímpica.
E o Brasil estava lá. Com uma delegação recorde em número de atletas, o esporte paraolím-
pico brasileiro buscava alcançar a 12a colocação geral em Pequim, duas acima do honroso
14o lugar obtido em Atenas, em 2004. Mas fomos além, muito além, e terminamos a competi-
ção na 9a colocação. Competimos em 17 modalidades, entre elas algumas completamente
novas para nós em Jogos Paraolímpicos, como a vela e a bocha.
Ana França. Como funcionam os Jogos Paraolímpicos. Extraído do site: <http://esporte.hsw.uol.com.br>. Acesso em: 31 out. 2008.

a ) Quantos atletas participaram dos Jogos Paraolímpicos de Pequim? Quantos foram os


países participantes?
b ) De acordo com o texto, qual é a importância da prática esportiva para as pessoas por­
tadoras de necessidades especiais?
c ) Em sua opinião, por que a autora do texto afirma que o esporte paraolímpico é a “supe­
ração da superação”?

Discutindo a história

17 Desde a época da Roma Antiga até os dias de hoje, estudiosos procuram entender o que
levava milhões de romanos a assistir às lutas de gladiadores, mesmo com toda a violência
expressa nesse tipo de espetáculo.

214
capítulo 12
Diferentes hipóteses foram levantadas, entre elas, o fato de que a violência faz parte da natu­
reza humana, e que os romanos não teriam sido os únicos a apreciá-la. Outra hipótese é a
de que esse tipo de interesse pela violência é gerado em uma sociedade que já está em
crise, cuja população pouco se interessa por assuntos políticos, encontrando-se alienada,

A cultura clássica
alheia aos problemas da sociedade.
Leia o texto abaixo, que apresenta a opinião de Juvenal, um escritor romano nascido no
século I.

A Os críticos da sociedade romana sabiam que [os espetáculos públicos], junto com a farta
distribuição de comida que os acompanhava, transformavam [os romanos] de [cidadãos en-
gajados] em espectadores embotados. Como escreveu Juvenal: “O público, que antes
[aprovava] comandos, consulados, legiões e tudo o mais, agora não interfere [na vida pública]
e anseia apenas por duas coisas – pão e circo!”
In: Henry Woodhead. (Dir.). Impérios em ascensão. Trad. Pedro Maia Soares.
Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1990. p. 65. (História em revista).

Agora, leia a opinião de Lewis Mumford (1895-1990), um estudioso que acreditava que as razões
que levavam os romanos a assistir aos espetáculos de gladiadores eram as mesmas que
levam as massas atualmente a aceitar que diferentes formas de violência sejam veiculadas
nos meios de comunicação.

B Os habitantes das [cidades] modernas não estão, psicologicamente, por demais remotos de
Roma [...]. Temos nos­so próprio equivalente nas doses diárias de [violência] [...]: as reporta-
gens de jornal, as notícias de rádio, os pro­gramas de televisão, as novelas, os dramas, tudo isso
dedicado a retratar [...] todas as variedades de violência [...].
Lewis Mumford. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 4. ed.
Trad. Neil R. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 253.

a ) De acordo com o texto A, qual influência os espetáculos públicos exerciam sobre os


romanos?
b ) Você concorda com a opinião do autor do texto B? Justifique sua resposta.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.

Refletindo sobre o capítulo


Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu apren-
dizado. Verifique se você compreende as afirmações a seguir.
■■ A cultura clássica está presente em nosso cotidiano de diferentes formas.
■■ A filosofia ocidental teve origem na Grécia.
■■ O português é uma língua neolatina, isto é, derivada do latim.
■■ Alguns princípios do Direito Romano estão presentes em vários países, inclusive no
Brasil.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certifi-
car-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.

215
Ampliando seus conhecimentos
Veja algumas sugestões de livros, sites e filmes que tratam de
temas relacionados aos assuntos estudados neste volume.

Livros
■■ Tempo e História, de Carmen Teresa Gabriel. São Paulo: Moderna.
(Desafios).
O conceito de tempo histórico é muito importante para a aprendi-
zagem da História. Nesse livro você encontrará instrumentos que
facilitarão a compreensão das características do tempo histórico.

■■ Teoria da História, de Pedro Paulo Funari. São Paulo: Brasiliense.


(Tudo é História).
Esse livro trata de diferentes perspectivas sobre a História, esse
campo do conhecimento tão interessante. Ao lê-lo você irá perceber
que cada historiador pode interpretar os fatos históricos de uma

Convivência: ética, cidadania e responsabilidade


social. Trad. Norma Goldstein. São Paulo:
Larousse Editorial. 2003
maneira diferente e que essa diversidade é positiva.

■■ Convivência – Ética, cidadania e responsabilidade social,


Larousse Editorial. Larousse do Brasil.
Ética e cidadania são valores importantes para a vida em sociedade.
Além disso, são conceitos fundamentais para os estudos históricos.
Por meio de textos concisos, ilustrações e fotografias, o livro apre-
senta noções de ética, cidadania e responsabilidade social.

■■ Jornal da Idade da Pedra, notícias dos primórdios, de Fiona


Macdonald. Belo Horizonte: Dimensão. (Mitos em contos).
A autora Fiona Macdonald reuniu, sob o formato de textos jornalís-
ticos, informações sobre os seres humanos que viveram nos perío-
dos Paleolítico e Neolítico. Assim, ela aborda de maneira divertida
assuntos como o desaparecimento dos neanderthais, a alimentação,
a caça, a fabricação de ferramentas, os tipos de moradias etc.

■■ A Mesopotâmia, de Marcelo Rede. São Paulo: Saraiva. (Que


história é esta?).
Contendo documentos escritos e imagens de objetos arqueológicos,
esse livro apresenta um panorama social, econômico, político e
cultural sobre a civilização mesopotâmica.

216
■■ Antigas Civilizações, de João Guizzo (Ed.). São Paulo: Ática.
Traça um panorama sobre várias civilizações da Antiguidade. Com
muitos recursos imagéticos e um texto claro e conciso, a obra abor-
da alguns aspectos do cotidiano de antigas civilizações como a
Mesopotâmia, Egito, Babilônia, Grécia e Roma.

■■ Como seria sua vida no Antigo Egito, de Jacqueline Morley. São


Paulo: Scipione. (Como seria sua vida?).
A vida cotidiana no Antigo Egito é o tema desse livro. De modo bem
humorado, a autora aborda diversos assuntos, por exemplo, como
eram as moradias, o dia a dia de um agricultor, quais os direitos das

Alberto da Costa e Silva. Um passeio pela África.


Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 2006
mulheres na sociedade egípcia, entre outros.

■■ Um passeio pela África, de Alberto da Costa e Silva. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira.
Nesse livro, os personagens brasileiros Inácio, Zezinha e Gustavo se
aventuram pelo continente africano, passando por países como
Angola, Costa do Marfim e Congo. Após essa experiência eles passam
a compreender as diferenças culturais dos vários povos africanos que
vieram para o Brasil e que ajudaram a formar nossa cultura.

■■ Homens da África, de Ahmadou Kourouma. São Paulo: Edições SM.


Aborda o cotidiano e os costumes de quatro personagens de des-
taque da sociedade africana: um griô, um caçador, um príncipe e
um ferreiro. Suas ilustrações ajudam a compreender vários aspectos
da cultura africana.

■■ Pequena história da escrita, de Sylvie Baussier. São Paulo: Edi-


ções SM. (Pequenas Histórias dos Homens).
Os seres humanos inventaram símbolos para conservar as palavras
e para se comunicar. Um dia, um sumério precisou contar os animais
que criava; depois, um egípcio quis registrar suas orações. Enquan-
to isso um nativo americano escrevia datas em um calendário. Estes
são alguns dos exemplos, apresentados nesse livro, sobre a inven-
ção e a evolução da escrita até os dias de hoje.
Moacyr Scliar. ABC do mundo
judaico. São Paulo. Edições
SM. 2007

■■ ABC do mundo judaico, de Moacyr Scliar. São Paulo: Edições SM.


Ao ler esse livro você conhecerá um pouco das tradições culturais
e valores do povo hebreu. O seu conteúdo está organizado por meio
de verbetes e está dividido em seis eixos: festas do calendário ju-
daico; cerimônias; objetos rituais; referências bíblicas e históricas;
língua, livros e literatura; e referências a Israel.

217
■■ China Antiga, de Richard Bonson. São Paulo: Cia das Letrinhas.
O livro é sobre a China, uma civilização muito antiga e que possui
uma cultura riquíssima. Ele está dividido em duas partes: uma con-
ta a história do primeiro imperador chinês, que reinou entre 221 a
206 a.C., como em uma história em quadrinhos. A outra parte é
sobre as principais características dessa antiga civilização: cultura,
comércio, invenções e conhecimentos tecnológicos, além de gran-
des construções, como a Muralha da China.

■■ A Ilíada e a Odisseia, de Homero. São Paulo: Scipione. (Como


seria sua vida?).
São apresentadas duas das maiores obras da literatura ocidental: a
Ilíada e a Odisseia. Essas duas epopeias, escritas pelo poeta grego
Homero, são recontadas por meio de uma fascinante história em

Pedro Paulo Funari. Império e família em Roma.


São Paulo. Editora Atual. 2000
quadrinhos.

■■ Império e família em Roma, de Pedro Paulo Funari. São Paulo:


Atual. (A vida no tempo).
O livro propõe ao leitor a seguinte questão: o cotidiano de uma fa-
mília romana era muito diferente do dia a dia de uma família atual?
Para responder a essa pergunta, o autor convida o leitor a conhecer
costumes e hábitos romanos, como o relacionamento familiar, as
brincadeiras, o trabalho, a política e a maneira de se morar.

Sites

www.revistadehistoria.com.br.
Acessado em: 27 de fev. de 2012
■■ www.revistadehistoria.com.br – Revista de História da Biblioteca
Nacional.
Esse site se dedica à divulgação de conteúdos de História, sobre-
tudo de história do Brasil. Os artigos publicados são, em sua maio-
ria, estudos de fontes pertencentes à Biblioteca Nacional. Todos
podem contribuir com o site, enviando artigos, textos ou reportagens
que tenham ligação com a história do Brasil e a historiografia.

■■ www.museudapessoa.net – Museu da Pessoa.


www.museudapessoa.net.
Acessado em: 27 de fev.
de 2012

Esse é o site de um museu virtual, aberto à participação de todos


que queiram contar sua história. O objetivo é que as histórias de
cada pessoa sejam valorizadas pela sociedade e que suas memórias
contribuam para uma memória social, pois todas as pessoas são
sujeitos históricos.

■■ www.arqueologiapublica.com.br – Documento Patrimônio Cul-


tural – Arqueologia e Antropologia.
Você poderá conhecer um projeto desenvolvido para intensificar a

218
atividade arqueológica junto à comunidade, visando divulgar e com-
partilhar o conhecimento e os procedimentos arqueológicos com
crianças, adultos, professores e outros grupos, como indígenas e
quilombolas.

www.mae.usp.br – Museu de Arqueologia e Etnologia da Univer-

www.mae.usp.br. Acessado em:


27 de fev. de 2012
■■

sidade de São Paulo.


O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
possui um rico acervo, composto por mais de cem mil objetos ar-
queológicos e etnográficos produzidos em diferentes continentes e
em épocas diversas. Você poderá saber mais sobre o museu e
conhecer pesquisas, desenvolvidas por professores e alunos, nos
campos da Arqueologia, Etnografia e Museologia.

■■ www.portaldarte.com.br/artemesopotamica.htm - História So-


ciedade e Cidadania.
Esse portal apresenta, por meio de fotografias, vídeos e textos, as
características da arte e arquitetura produzidas na Mesopotâmia,
como templos e palácios.

www.museu.gulbenkian.pt/serv_edu/
navegar_no_antigo_egipto/egipto.html.
Acessado em: 27 de fev. de 2012
■■ www.museu.gulbenkian.pt/serv_edu/navegar_no_antigo_egip-
to/egipto.html - Navegar no Antigo Egito.
Esse site apresenta uma linha do tempo da história egípcia. Além
disso, contém mapas, imagens e textos sobre vários aspectos
da vida no Antigo Egito, por exemplo, o faraó, a religião e o alfa-
beto egípcio.

■■ www.libano.org.br/olibano_historia_fenicios.html –
Embaixada do Líbano no Brasil.
Esse portal foi escrito por libaneses, ou seja, pessoas nascidas no
país que atualmente ocupa a região da antiga Fenícia. Ele apresen-
ta informações que poderão enriquecer seu conhecimento sobre a
Fenícia, como suas características geográficas, econômicas, artís-
ticas e culturais.
http://discoverybrasil.uol.com.br/
china_antiga/index.shtml. Acessado
em: 27 de fev. de 2012

■■ discoverybrasil.uol.com.br/china_antiga/index.shtml –
China Antiga.
Quem foi o primeiro imperador chinês? Quais foram as dinastias
chinesas? Como era a vida e a cultura na China Antiga? Quais eram
as religiões existentes na China Antiga? Muitas coisas foram inven-
tadas lá? Para responder essas e outras perguntas, o site apresen-
ta textos concisos, enriquecidos com muitas imagens.

219
www.grecia.templodeapolo.net.
Acessado em: 27 de fev. de 2012
■■ www.grecia.templodeapolo.net – Templo de Apolo.
Apresenta um panorama sobre diversos povos da Antiguidade, so-
bretudo os que habitaram a Grécia Antiga. Nele, são abordados
temas como agricultura, artes, ciências, educação, militarismo,
política, entre outros. Além disso, o site possui um banco de vídeos
e imagens.

■■ greciantiga.org – Grécia Antiga.


Contendo muitos materiais textuais e fotográficos, esse portal pode
auxiliá-lo na busca de mais informações sobre a história e a cultura
da Grécia Antiga, como arte, filosofia, mitologia, literatura e geografia.

www.romereborn.virginia.edu.
Acessado em: 27 de fev. de 2012
■■ ww.romereborn.virginia.edu – Rome Reborn - Roma Renascida
(site em inglês).
O site Rome Reborn apresenta modelos digitais 3D que ilustram o
desenvolvimento urbano da antiga Roma. Os modelos apresentados
foram produzidos com base em uma série de estudos desenvolvidos
por pesquisadores especializados nesse tema.

■■ mithos.cys.com.br – Sistema de Pesquisa Mitológica


em Hipertexto.
Oferece um dicionário digital que contém o significado de termos

www.starnews2001.com.br/historia.
Acessado em: 27 de fev. de 2012
mitológicos de várias culturas.

■■ www.starnews2001.com.br/historia.html – Roma – Ascensão e


Queda do Império Romano.
Por meio de um conjunto de recursos é possível apreender aspectos
da história da civilização romana: fotografias de objetos e constru-
ções da Roma Antiga; informações sobre cultura, arte, mitologia,
política; além de indicações de livros e filmes sobre o assunto.

Filmes
■■ Peixe grande (2003), dirigido por Tim Burton.
Esse filme mostra a história de um personagem chamado Ed Bloom,
que realizou uma grande viagem pelo mundo durante sua juventude.
Filme de Eliane Caffé. Narradores de Javé. 2003. Brasil

Mais velho, Bloom tem como diversão narrar as aventuras que viveu
durante sua viagem. Contudo, ao contar suas histórias ele mescla
ficção e realidade, fascinando a todos que as ouvem.

■■ Narradores de Javé (2003), dirigido por Eliane Caffé.


Javé é um povoado ameaçado de extinção, pois a construção de
uma usina hidrelétrica inundará o lugar. Temendo isso, os moradores
se unem para escrever a história do povoado por meio da memória
e dos relatos orais de seus habitantes, para que, assim, apresentem
provas sobre a importância de se preservar o lugar.

220
■■ Pirâmides do Egito, segredos revelados (2002), dirigido por
Stuart McDonald.
Nesse documentário, o arqueólogo Zahi Hawass explora junto de
sua equipe a ala sul da Grande Pirâmide de Gizé. Contando com a
ajuda de um robô, os exploradores encontraram um antigo sarcó-
fago, revelando uma múmia milenar.

Filme de Bernardo Bertolucci. O pequeno Buda.


1993. EUA e Butão
■■ O pequeno Buda (1993), dirigido por Bernardo Bertolucci.
Um casal norte-americano recebe a visita de dois monges budistas,
vindos do Butão. Eles acreditam que o filho do casal é a reencarna-
ção de Lama Dorje, um mestre budista. Após ser convencido, o pai
vai para o Butão com os monges e seu filho, a fim de descobrir se
o menino realmente é a reencarnação de Lama. Em paralelo à nar-
rativa principal, que se passa na década de 1990, o filme conta a
história do príncipe Sidarta Gautama, o Buda, que viveu na Índia no
século VI a.C.

■■ Os Imortais (2011), dirigido por Tarsem Singh.


O filme conta a história de Teseu, herói escolhido por Zeus para
impedir que o rei Hipérion encontre o Arco de Epirus, pois essa é
uma arma capaz de liberar os Titãs, destruir a humanidade e derro-
tar os deuses do Olimpo.

■■ Troia (2004), dirigido por Wolfgang Petersen.


Esse filme é uma adaptação da Ilíada, obra do século VIII a.C. que
narra a guerra de Troia, travada entre gregos e troianos por volta de
1200 a.C e que se estendeu por dez anos. O filme mostra alguns
aspectos como os trajes, objetos de uso cotidiano e reconstituições

Filme de Ridley Scott. Gladiador. 2000. EUA


das embarcações gregas da época.

■■ Gladiador (2000), dirigido por Ridley Scott.


Esse filme narra a história de Maximus, um general que comanda as
tropas romanas contra os “bárbaros” na Germânia, mas que, após
a morte do imperador Marco Aurélio, se torna gladiador. Vários ele-
mentos do cotidiano de um gladiador são apresentados no filme,
como o treinamento, a alimentação, as relações entre senhor e
escravo, as armas e as técnicas de luta.

221
Referências bibliográficas
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MOTA, Carlos Guilherme. A Revolução Francesa. São Paulo: Ática, 1989.
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Matins Fontes, 1998. (Ensino superior).
NOVAIS, Fernando A. (Dir.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 5 v.
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.
PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Brasil indígena: 500 anos de resistência. São Paulo: FTD, 2000.
SACHS, Ignacy e outros. Brasil: um século de transformações. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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VISENTINI, Paulo G. Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo: da Pax Britânica do século
XVIII ao Choque das Civilizações do século XXI. Petrópolis (RJ): Vozes, 2000.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD


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Fone: (0-XX-11) 3545-8600 e Fax: (0-XX-11) 2412-5375
07220-020 GUARULHOS (SP)
6 HISTÓRIA
6º ano

Orientações
para o professor
Vivemos atualmente em uma sociedade tecnológica em que as trans-
formações ocorrem com grande rapidez e diariamente somos bombar-
deados por uma enorme quantidade de informações. Nessa sociedade
consumista, em que tudo rapidamente se torna “velho” e “ultrapassado”,
os alunos acabam vivenciando um presente sem historicidade, desco-
nhecendo os vínculos existentes entre o presente e o passado. Esse
desconhecimento histórico torna mais difícil para eles compreenderem
e questionarem a própria realidade em que vivem.
Diante dessa situação, adquire cada vez mais importância o papel
do historiador e do professor de História. A análise das transformações
que ocorrem nas sociedades constitui a essência dos estudos históricos
e, por isso, estudar História torna os alunos mais capazes de processar
o grande volume de informações que recebem e convertê-lo em conhe-
cimento. Dessa forma, eles se tornarão mais críticos e terão melhores
condições de entender as transformações sociais e como elas afetam
nossas vidas.
Para auxiliar o professor nessa tarefa, elaboramos esta coleção. Pro-
curamos fazer uma seleção de conteúdos relevantes, em que são de-
senvolvidos conceitos fundamentais para o estudo de História. Os temas
históricos são abordados em consonância com as pesquisas historio-
gráficas mais recentes e são trabalhados em um texto claro e acessível
aos alunos.
Em todos os volumes da coleção, encontra-se uma grande quanti-
dade de fontes históricas, principalmente imagéticas, que são contex-
tualizadas e, em muitos casos, exploradas por meio de atividades. A
coleção tem uma estrutura regular e está organizada de modo a facili-
tar o trabalho do professor, que pode, exercendo seu papel como
mediador, promover um aprendizado significativo para os alunos e
instrumentalizá-los para que adquiram maior autonomia e para que
possam continuar seu aprendizado ao longo da vida, ajudando a cons-
truir uma sociedade mais justa e democrática.

Os autores.
Sumário
Orientações gerais................................................................................................. 5
A estrutura da obra ................................................................................................................ 5
As seções ............................................................................................................................ 5

Os conteúdos da coleção ...................................................................................................... 9

Mapa de conteúdos e recursos . . .........................................................................................10

Orientações didáticas e metodológicas .............................................................................15


O ensino de História no Brasil.. ..........................................................................................15
Os objetivos do ensino de História . . ..................................................................................16
A proposta de ensino . . .......................................................................................................17
Concepção de história .......................................................................................................18
As fontes históricas ...........................................................................................................19
Conceitos fundamentais para o ensino de História ............................................................21

A construção da cidadania . . ................................................................................................26


O significado de cidadania nos Parâmetros Curriculares Nacionais .. .................................26
A importância do ensino pluriétnico.. .................................................................................26
A valorização da mulher na história ...................................................................................27
A inclusão na escola . . ........................................................................................................28

A importância da leitura e da escrita .................................................................................28


Algumas estatísticas . . ........................................................................................................28
O que é competência leitora? ............................................................................................29
As especificidades da leitura na disciplina de História ......................................................30
Leitura e prática da escrita .. ..............................................................................................31

A pesquisa escolar . . .............................................................................................................31


Procedimentos básicos ......................................................................................................31

A avaliação do ensino-aprendizagem ................................................................................33


A utilidade da avaliação . . ...................................................................................................33
A autoavaliação .................................................................................................................34
Uma proposta de autoavaliação .........................................................................................34

Tabela de conversão de séculos .........................................................................................36

Sugestões de leitura sobre o ensino de História .. .............................................................37

Objetivos, comentários e sugestões............................................... 38


Respostas das atividades....................................................................... 103
Referências bibliográficas..................................................................... 128
Orientações para o professor
Orientações gerais
A estrutura da obra
A presente coleção é destinada aos alunos dos anos finais do Ensino
Fundamen­tal. Composta por quatro volumes, sendo eles, 6 o, 7 o, 8 o e 9 o anos,

Orientações gerais
esta coleção apresenta uma estrutura organizada. Todos os doze capítulos de
cada volume são compostos por duas páginas de abertura e qua­t ro páginas de
atividades. Os títulos apresentam uma hierarquia clara e o texto didático respei­
ta a faixa etária dos alunos. Em todos os volumes, os conteúdos são acompa­
nhados de imagens, boxes auxiliares e glossário.
A sequência dos conteúdos está organizada de acordo com critérios cronológi­
cos. Além disso, procuramos explorar relações de simultaneidade, integrando,
sempre que possível, os conteúdos de história geral e de história do Brasil e
res­s altando as relações entre diferentes processos históricos.
Veja, a seguir, informações mais detalhadas sobre a estrutura dos capítulos.

As seções

Páginas de abertura do capítulo


■■ As páginas de abertura dos capítulos têm como princi­p ais objetivos explorar
o conhecimento prévio e despertar o interesse dos alu­n os pelos assuntos
que serão abordados. Para auxiliar o alcance desses ob­jetivos, em todas as
aberturas, o professor vai encontrar a seção Conversando sobre o assunto,
que é um roteiro de análise dos recursos da abertura, propiciando a explo­
ração de capacidades e habilidades fundamentais para o estudante, como
observação e memorização, seguidas de investigação e des­crição; e, também,
com a mediação do professor, o leque de interpretações pode ser aberto.
Além disso, a seção favorece um importante momento de interação e troca
de ideias entre professor e alunos. Essa seção pode ser muito útil como
forma de avaliar os conhecimentos dos alunos an­t es e depois da exposição
dos conteúdos do capítulo.

Enquanto isso...
■■ Além do texto principal, dos boxes auxiliares e do glossário, em todos os
vo­lumes da coleção o professor encontrará a seção Enquanto isso... O
princi­p al objetivo dessa seção é proporcionar um espaço para o trabalho
com a si­m ultaneidade e com os tempos históricos. Assim, por exemplo,
enquanto o Império Inca estava sendo conquistado pelos espanhóis, no
Brasil os portu­g ueses iniciavam a colonização das terras indígenas. É muito

5
importante promover a articulação entre os conteúdos que se apresentam
em uma mesma temporalidade, pois, assim, os alunos têm condições de
perceber que a história não acontece de maneira intercalada. Essa seção
pode auxiliar nesse sentido, no entanto, o papel do professor como mediador
entre o livro didático e os alunos é indispensável para promover uma apren­
dizagem mais significativa. Cabe ao professor a decisão fundamental sobre
o uso do apoio pedagógico que é o livro didático: construir critérios de se­
leção dos te­m as dos capítulos de que fará uso, levando-se em conta o
projeto pedagógi­c o da escola, as condições da turma e a carga ho­r ária da
grade curricular. Além disso, da maneira como a coleção está estru­turada,
o professor tem autonomia pedagógica para decidir sobre quais capí­tulos
abordar ou deixar de abordar, no todo ou em partes; sobre seguir a or­d em
apresentada ou reagrupar os capítulos pelos critérios organizativos que es­
colher, e fazer as pontes entre os capítulos dentro destes critérios.

O sujeito na história
■■ A seção também está presente em todos os volumes e seu principal obje­tivo
é mostrar aos alunos que, além dos agentes coletivos, existem pes­soas que
participaram ativamente do pro­cesso histórico por meio de suas ações indivi­
duais. Provavelmente a maioria das pessoas retratadas em O sujeito na his-
tória é pouco conhecida pelos alunos. O papel do professor é importante
nesse momento, incentivando pesquisa sobre esses sujeitos históricos em
fontes diversas e posteriores debates na classe. A seção pretende reforçar
que a ação de todos os sujeitos históricos, incluindo os próprios alunos, pode
mudar os rumos da história.

História em construção
■■ Seção que pode aparecer em qualquer parte do texto antes das Atividades.
Seu objetivo é mostrar aos alunos que a disciplina de História é um campo
em constante transformação e que as narrativas sobre o passado também
possuem uma história. Nessa seção, apresentamos as discussões mais re­
centes no campo da historiografia, além de textos de historiadores, que
abordem problemáticas históricas, conflitos de interpretação e revisões de
temas clássicos da historiografia nacional e internacional.

Explorando o tema
■■ Presente em todos os capítulos, a seção Explorando o tema aparece antes
das Atividades. Esta seção propõe leitura e interpretação de textos citados
de autores diversos, acompanhados de imagens, como fotografias, ilustra­
ções, obras de arte e outros recursos iconográficos. Trata-se de uma abor­
dagem temática relacionada a algum assunto apresentado no capítulo.

6
Atividades

Orientações para o professor


■■ Os 48 capítulos que compõem a coleção contam, cada um deles, com quatro
páginas de atividades. Essa estrutura regu­lar é uma vantagem para os alunos,
que podem contar com um im­portante espaço para exercitar diferentes capa­
cidades e habilidades. Ao pro­fessor cabe, de acordo com sua proposta pe­
dagógica, repensar, reorganizar, reestruturar, recriar as atividades existentes
e/ou produzir novas atividades. Para criar uma identidade e facilitar a execução
dos exercícios e atividades, essa apresenta subseções. São elas:

Orientações gerais
Exercícios de compreensão
■■ Subseção fixa, sempre no início das atividades. O principal objetivo desses
exer­c ícios é revisar o conteúdo trabalhado no capítulo. Eles geralmente são
apre­s entados respeitando a ordem em que aparecem no capítulo, no entanto,
cabe ao professor escolher a melhor ordem para trabalhá-los com os alunos.
Além disso, é fundamental que o professor estimule os alunos a produzir res­
postas com suas próprias palavras com base na interpretação dos conteúdos
e não da simples cópia. Embora possam parecer questionamentos simples,
eles contribuem com a formação da competência leitora, visto que os alunos,
para respondê-los de maneira satisfatória, precisam retomar os conteúdos
trabalha­d os.

Expandindo o conteúdo
■■ Essa subseção traz questionamentos que complementam e extrapolam os
conteúdos do capítulo. Geralmente são apresentados diferentes gêneros tex­
tuais acompanhados de questões de compreensão, interpretação, análise e
levantamento de hipóteses. Os níveis de dificuldade dos questionamentos
au­m entam gradativamente: para os estudantes do 6 o ano, há maior ocorrência
de questões de interpretação; já para os estudantes do 9 o ano, maior ocor­
rência de questões de levantamento de hipóteses.

Passado e presente
■■ Propicia momentos de ligações temáticas entre os acontecimen­t os do passa­
do e o tempo presente. A realização dessas ativida­d es estimula, nos alunos,
a percepção das permanências e das transformações no processo histórico.

No Brasil
■■ Com o objetivo principal de relacionar os conteúdos trabalhados com a his­t ória
e a realidade brasileiras, essa subseção proporciona aos alunos uma me­lhor
percepção de que aquilo que aconteceu ou acontece no mundo está di­reta ou
indiretamente relacionado com o Brasil, e vice-versa.

Trabalho em grupo
■■ Com o objetivo de promover a interação entre os alunos, essa subseção ge­
ralmente propõe temas a ser pesquisados em grupo. Cabe ao professor auxi­
liar os alunos nas diferentes etapas que compõem um trabalho de pesquisa,
desde a seleção do material de consulta até a elaboração de um texto, indi­
vidual ou coletivo, com os resultados da pesquisa. Em muitos casos, com o
intuito de proporcionar momentos de criatividade, a última etapa do trabalho

7
em grupo é a confecção de painel com cartazes e a socialização desses car­
tazes entre os alunos. Verificar se os alunos têm uma postura colaborativa ao
trabalhar em equipe é um dos pontos essenciais da avaliação do professor.

Discutindo a história
■■ Aparece geralmente ao final das Atividades. O principal objeti­v o dessa sub­
seção é apresentar temas polêmicos e geradores de debates. Em muitos
casos, são apresentadas mais de uma opinião acerca de um mesmo tema, de
forma a possibilitar aos alunos uma maior percepção de que a His­t ória não é
feita de verdades absolutas e que um assunto, mesmo que apa­rentemente já
esteja esgotado, sempre pode ser reinterpretado. Além disso, os alunos são
convidados a expressar suas próprias opiniões.

Refletindo sobre o capítulo


■■ Seção fixa localizada ao final de todos os capítulos da coleção. Trata-se de
uma síntese das principais ideias de cada capítulo, as quais, se forem com­
preendidas pelos alunos, indicam um aprendizado sobre os principais temas
abordados. Apresentada na forma de uma autoavaliação, seu principal obje­
tivo é estimular nos alunos a autonomia em relação à aprendizagem. Cabe
ao professor, no entanto, criar um espaço de diálogo entre seus alunos, a
fim de ter maiores condições de constatar lacunas no processo de ensino-
aprendi­z agem.

Ampliando seus conhecimentos


■■ Seção fixa que aparece ao final de todos os volumes da coleção. Trata-se
de sugestões de leitura sobre temas relacionados aos assuntos abordados
nos capítulos. Muitos dos livros indicados foram aprovados em programas
gover­n amentais e foram distribuídos para escolas públicas de todo o Brasil.
Ao pro­f essor cabe verificar se na biblioteca da escola constam alguns desses
livros e orientar os alunos a emprestá-los, além de estimulá-los a consultar
frequente­m ente o acervo da biblioteca. É importante que o professor orien­
te os alunos sobre os cuidados com os livros, explicando-lhes que muitos
outros alunos po­d erão utilizá-los no futuro.

8
Os conteúdos da coleção

Orientações para o professor


6o ano 7o ano 8o ano 9o ano
Capítulo

1 Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é...
Capítulo

A Segunda
2 A origem
do ser humano
A formação da
Europa medieval
O Antigo Regime Revolução Industrial

Orientações gerais
e o imperialismo
Capítulo

3 Os povos da
Mesopotâmia
A época medieval
na Europa
O Iluminismo
Os primeiros tempos
da República no Brasil
Capítulo

A Primeira Guerra
4 A África Antiga:
os egípcios
A expansão do Islã A Revolução Americana Mundial e a Revolução
Socialista na Rússia
Capítulo

O mundo

5 A África Antiga:
os cuxitas
A América antes da A Revolução Francesa e
chegada dos europeus o Império Napoleônico
depois da
Primeira Guerra
Mundial
Capítulo

6 Os fenícios
Reinos e impérios
africanos
A Revolução Industrial
O fim da República
Velha e a Era Vargas
Capítulo

7 Os hebreus
A Europa moderna:
o Renascimento
As independências na
América espanhola
A Segunda Guerra
Mundial
Capítulo

8 Os persas
A Europa moderna: as
Grandes Navegações
A independência
do Brasil
O mundo durante a
Guerra Fria
Capítulo

A Europa moderna: A consolidação da


9 Os antigos chineses reformas religiosas e
Absolutismo
independência
brasileira
As independências na
África
Capítulo

O pós-guerra no Brasil:
10 Os antigos gregos
A colonização na
América espanhola
O apogeu do Império do
Brasil
democracia e
populismo
Capítulo

O fim da Monarquia e a
11 Os antigos romanos
A colonização na
América portuguesa
proclamação da
República
A ditadura militar no
Brasil
Capítulo

A expansão das
12 A cultura clássica fronteiras da Colônia
portuguesa
A África no século XIX
O mundo
contemporâneo

9
10
Mapa de conteúdos e recursos
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Importância da História História Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Diferentes interpretações Fonte histórica Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Calendário

Capítulo
■■ ■■ ■■
da História Sujeito histórico Saber utilizar uma linha do tempo professor Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Fontes históricas Cultura Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar os idosos como Fotografia antiga
■■ ■■ ■■ ■■
1 Sujeitos históricos Tempo da natureza Exercitar a escrita sujeitos históricos Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Estudar Tempo Linha do tempo Comparar imagens Valorizar o trabalho do Infográfico
■■ ■■ ■■ ■■
História é... Calendários Sítios arqueológicos Fazer uma linha do tempo da vida historiador e de outros Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
Linhas do tempo Tempo cronológico Reconhecer-se como sujeito histórico profissionais Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■ ■■
Profissionais que auxiliam Tempo histórico Trabalhar em equipe Sensibilizar-se com o problema textuais
■■ ■■
nos estudos históricos Ritmos de tempo Entrevistar uma pessoa com mais de 50 anos da escassez de água no sertão
■■ ■■
Pré-história Fazer uma autoavaliação nordestino
■■
Valorizar a cultura indígena e
outras culturas
■■
Agir de maneira colaborativa
com os colegas
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Formação do planeta Terra Nomadismo Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Objeto produzido por
■■ ■■ ■■
Evolução dos seres Sedentarismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do seres humanos primitivos

Capítulo
■■ ■■ ■■
humanos Evolucionismo Interpretar uma linha do tempo professor Pintura
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Períodos Paleolítico e Criacionismo Analisar mapas Ter uma postura respeitosa com Fotografia recente
■■ ■■ ■■
2 Neolítico Hominização Interpretar fontes escritas e iconográficas relação às diferentes teorias Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
A origem do Povoamento da América Pintura rupestre Exercitar a escrita que explicam a origem do ser Infográfico
■■ ■■
ser humano Comparar imagens humano Linha do tempo
■■ ■■ ■■
Usar a imaginação Reconhecer a importância do Mapa
■■ ■■
Fazer uma autoavaliação trabalho do arqueólogo Pintura rupestre
■■ ■■ ■■
Discutir diferentes teorias Sensibilizar-se com as Reconstituição facial
■■
manifestações artísticas dos Diferentes gêneros
seres humanos primitivos textuais
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Região mesopotâmica Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Objeto produzido por
■■ ■■ ■■
Povos mesopotâmicos Cidade-estado Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do povos antigos

Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Formação de cidades Patrimônio histórico Interpretar mapas professor Alto-relevo
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento de Politeísmo Interpretar uma linha do tempo Valorizar diferentes crenças Painel
■■ ■■ ■■
3 civilizações Mito Interpretar fontes escritas e iconográficas religiosas Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
Os povos da Sociedade mesopotâmica Exercitar a escrita Reconhecer a importância da Mapa
■■ ■■ ■■
Mesopotâmia Economia na Mesopotâmia Associar texto com imagem preservação dos patrimônios Linha do tempo
■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Realizar uma pesquisa históricos Infográfico
■■ ■■ ■■
Mitologia Fazer uma autoavaliação Ilustração
■■ ■■
Código de Hammurabi Código de Hammurabi
■■ ■■
Escrita cuneiforme Diferentes gêneros textuais
■■
Placa de argila
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Formação da civilização Seminomadismo Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Escultura
■■ ■■ ■■
egípcia Sedentarismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■

Capítulo
Sociedade egípcia Estado Interpretar uma linha do tempo professor Mapa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Politeísmo Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■
4 Construção das pirâmides Trabalho Fazer uma autoavaliação religiosas Objeto produzido por povos
■■ ■■ ■■ ■■
Cotidiano às margens do Monoteísmo Interpretar fontes iconográficas Reconhecer a importância do antigos
A África rio Nilo cuidado com peças produzidas ■■
Infográfico
Antiga: os ■■
por povos antigos Ilustração
egípcios ■■
Estatueta
■■
Diferentes gêneros textuais
■■
Relevo
■■
Pintura

■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Geografia do continente Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■■ ■■ ■■
africano Patriarcalismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pintura tumular
■■ ■■ ■■ ■■

Capítulo
Organizações políticas e Matriarcalismo Analisar mapas professor Mapa
■■ ■■ ■■ ■■
sociais cuxitas Animismo Interpretar uma linha do tempo Valorizar diferentes crenças Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■
5 Práticas religiosas Identidade cultural Interpretar fontes escritas e iconográficas religiosas Litografia
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade cuxita Patrimônio histórico Exercitar a escrita Valorizar as manifestações Baixo-relevo
A África ■■
Construção de pirâmides ■■
Nomadismo ■■
Comparar imagens artísticas dos africanos antigos ■■
Escultura
Antiga: os ■■ ■■ ■■ ■■ ■■
O papel das mulheres nas Seminomadismo Analisar letra de samba-enredo Respeitar os costumes étnicos Estela
cuxitas ■■ ■■ ■■
sociedades africanas Intercâmbio cultural Fazer uma autoavaliação dos povos africanos antigos Estatueta
■■ ■■ ■■
A influência egípcia Respeitar o modo de vida dos Ruínas
■■ ■■
Sociedades matriarcais povos africanos que vivem no Infográfico
■■
atuais deserto Ilustração
■■
Diferentes gêneros
textuais
■■
Objeto produzido por
povos antigos

■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos geográficos da Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Baixo-relevo
■■ ■■ ■■
região da Fenícia antiga Cidade-estado Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pedra com inscrições
■■ ■■ ■■

Capítulo
Formação de cidades e Colonização Analisar mapas professor latinas e fenícias
■■ ■■ ■■ ■■
colônias fenícias Animismo Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar as manifestações Mapa
■■ ■■ ■■ ■■
6 Relações comerciais Sacrifícios rituais Interpretar uma linha do tempo artísticas dos antigos fenícios Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
estabelecidas pelos Politeísmo Comparar imagens Respeitar diferentes crenças Linha do tempo
Os fenícios fenícios ■■
Intercâmbio cultural ■■
Exercitar a escrita religiosas ■■
Infográfico
■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade fenícia Comparar as letras do alfabeto fenício, grego e Valorizar a contribuição fenícia Objeto produzido por povos
■■
Aspectos culturais fenícios latino para a formação do alfabeto antigos
■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Construir o conhecimento coletivamente grego e latino Estatueta
■■ ■■ ■■ ■■
Alfabeto fenício Fazer uma autoavaliação Sensibilizar-se com a Pintura
■■
necessidade de preservação da Plaqueta de barro
■■
vegetação natural do Líbano Ilustração
■■ ■■
Agir de maneira colaborativa Diferentes gêneros textuais
com os colegas

11
Orientações gerais Orientações para o professor
12
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade hebraica Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
Região habitada pelos Monoteísmo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pintura

Capítulo
■■ ■■ ■■
antigos hebreus Migração Analisar mapas professor Edifício construído pelos
■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos culturais Patriarcalismo Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar diferentes crenças antigos hebreus
■■ ■■ ■■
hebraicos Escravidão Interpretar uma linha do tempo religiosas Mapa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Monarquia Comparar imagens Valorizar as manifestações Torá
■■ ■■ ■■ ■■
Principais fatos e períodos Código de leis Analisar trecho de texto bíblico escrito em hebraico artísticas dos antigos hebreus Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■
7 da história dos antigos Estado Relacionar construção arquitetônica com Ter uma postura respeitosa com Maquete
■■ ■■
Os hebreus hebreus Patrimônio histórico acontecimento histórico relação às diferentes teorias Texto bíblico em
■■ ■■ ■■
Organização política dos Êxodo Exercitar a escrita que explicam a história dos hebraico
■■ ■■ ■■
antigos hebreus Dispersão Analisar a Bíblia como fonte de conhecimento hebreus Infográfico
■■ ■■ ■■
Formação dos reinos histórico Reconhecer a importância da Relevo
■■ ■■
hebraicos Comparar versões bíblicas e arqueológicas sobre a preservação dos patrimônios Alto-relevo
■■ ■■
Dominação estrangeira e história dos hebreus históricos Ruína
■■ ■■ ■■
resistência judaica Reconhecer-se como sujeito histórico Reconhecer a importância do Texto bíblico em
■■ ■■
Dispersão judaica Fazer uma autoavaliação trabalho do arqueólogo português
■■ ■■ ■■
Os judeus no mundo atual Respeitar o modo de vida dos Diferentes gêneros
antigos hebreus textuais
■■
Papiro

■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Região habitada pelos Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Gravura
■■ ■■ ■■
persas e medos Nomadismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente

Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Organização militar dos Império Analisar mapas professor Edifício construído pelos
■■ ■■ ■■
medos Tributação Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar diferentes crenças antigos persas
■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Patrimônio histórico Interpretar uma linha do tempo religiosas Alto-relevo
■■ ■■ ■■ ■■
civilização persa Zoroastrismo Comparar imagens Respeitar o modo de vida dos Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
Expansão dos persas Intercâmbio cultural Exercitar a escrita antigos persas Mapa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
8 Formação do Império persa Mito de criação Analisar texto da mitologia persa Reconhecer a importância da Linha do tempo
■■ ■■ ■■
Os persas Práticas religiosas Estudar a influência do zoroastrismo sobre outras preservação dos patrimônios Ruína
■■ ■■
Aspectos culturais persas religiões históricos Texto mitológico persa
■■ ■■ ■■ ■■
Produção cinematográfica Perceber “liberdade poética” em produção artística Valorizar as manifestações Diferentes gêneros
atual sobre episódio da que narra episódio da história persa artísticas dos povos antigos textuais
■■ ■■ ■■
história dos persas Construir o conhecimento coletivamente Agir de maneira colaborativa Litogravura
■■ ■■
O correio persa Fazer uma autoavaliação com os colegas
■■
As estradas imperiais
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Formação da civilização Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia recente
■■ ■■ ■■
chinesa Estado Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pintura em seda antiga

Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Região habitada pelos Censura Analisar mapas professor Esculturas de terracota
■■ ■■ ■■ ■■
antigos chineses Trabalho Interpretar uma linha do tempo Reconhecer a importância da Mapa
■■ ■■ ■■ ■■
Períodos da história dos Aculturação Interpretar fontes escritas e iconográficas preservação dos patrimônios Linha do tempo
■■ ■■ ■■
antigos chineses Confucionismo Comparar imagens históricos Moeda antiga
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Organização política e Budismo Exercitar a escrita Valorizar as manifestações Ilustração
■■ ■■ ■■
social dos antigos chineses Taoísmo Analisar mapas artísticas dos povos antigos Infográfico
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
9 Desenvolvimento de Castas Identificar as diferenças sociais e de gêneros na Respeitar diferentes crenças Escultura
Os antigos ■■ ■■
cidades Intercâmbio cultural sociedade chinesa antiga religiosas Bússola antiga
chineses ■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Associar texto com imagem Pintura
■■ ■■ ■■
Aspectos culturais dos Fazer uma autoavaliação Diferentes gêneros
antigos chineses textuais
■■ ■■
Relações comerciais Objetos produzidos
estabelecidas pelos antigos pelos antigos chineses
■■
chineses Gravura
■■
A construção da Muralha
da China
■■
A Rota da Seda
■■
O intercâmbio cultural
■■
As invenções dos antigos
chineses

■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos geográficos do Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Vaso grego antigo
■■ ■■ ■■
território ocupado pelos Migração Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente

Capítulo
■■ ■■ ■■
gregos antigos Retórica Analisar mapas professor Estátua
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Formação da civilização Trabalho Interpretar uma linha do tempo Reconhecer a importância da Ruínas
■■ ■■ ■■
grega Sociedade Comparar imagens preservação dos patrimônios Mapa
■■ ■■ ■■ ■■
Períodos da história da Escravidão Exercitar a escrita históricos Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Grécia Antiga Política Interpretar fontes escritas e iconográficas Valorizar as manifestações Escultura
■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento de Cidadania Associar texto com imagem artísticas dos povos antigos Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
10 cidades Democracia Reconhecer-se como sujeito histórico Respeitar diferentes crenças Ostrakon
Os antigos ■■ ■■ ■■ ■■
Cotidiano rural na Grécia Ostracismo Analisar gráfico da participação política em Atenas religiosas Infográfico
gregos ■■ ■■ ■■ ■■
Antiga Cidade-estado Construir o conhecimento coletivamente Agir de maneira colaborativa Gráfico
■■ ■■ ■■ ■■
Organização política e Oratória Realizar uma pesquisa com os colegas Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■
militar Intercâmbio cultural Fazer uma autoavaliação Respeitar o modo de vida dos textuais
■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Império gregos antigos Linha do tempo
■■ ■■ ■■
democracia Tirania Valorizar as manifestações Relevo
■■ ■■ ■■
Sociedade grega Monarquia artísticas dos povos antigos Objetos produzidos
■■ ■■ ■■
O Império Macedônico Aristocracia Reconhecer a importância do pelos gregos antigos
■■
Militarismo trabalho do arqueólogo

13
Orientações gerais Orientações para o professor
14
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Formação da civilização Civilização Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Maquete
■■ ■■ ■■
romana Monarquia Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Relevo

Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Principais períodos da Sociedade Analisar mapas professor Escultura
■■ ■■ ■■ ■■
história de Roma Política Exercitar a escrita Respeitar o modo de vida dos Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Organização política: República Interpretar fontes escritas e iconográficas romanos antigos Afresco
■■ ■■ ■■ ■■
Monarquia, República e Escravidão Interpretar uma linha do tempo Valorizar as manifestações Fotografia recente
■■ ■■ ■■
Império Reforma agrária Associar texto com imagem artísticas dos povos antigos Mapa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade romana Império Comparar imagens Reconhecer a importância da Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■
11 Questão agrária em Roma Infraestrutura Analisar trecho da Constituição brasileira que trata preservação dos patrimônios Ilustração
Os antigos ■■ ■■ ■■
Pax Romana Ruralização da da reforma agrária históricos Mosaico
romanos ■■ ■■ ■■ ■■
Expansão territorial economia Comparar textos historiográficos Sensibilizar-se com a luta pela Ruínas
■■ ■■ ■■ ■■
Cotidiano romano Tetrarquia Fazer uma autoavaliação terra empreendida pelos Diferentes gêneros
■■ ■■
Declínio do Império Intercâmbio cultural plebeus romanos textuais
■■ ■■
Romano Politeísmo Respeitar a organização política
■■ ■■
Práticas religiosas Monoteísmo dos romanos antigos
■■ ■■ ■■
Cristianismo Bárbaros Respeitar diferentes crenças
■■ ■■
Divisão do Império Romano Lenda religiosas
■■ ■■
Invasões germânicas Respeitar o modo de vida dos
povos germânicos
■■
Sensibilizar-se com a luta pela
terra empreendida por muitos
brasileiros

■■ ■■ ■■ ■■ ■■
A influência da cultura Cultura clássica Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Capa de livro infantil
■■ ■■
clássica na cultura Difusão cultural Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do antigo

Capítulo
■■ ■■ ■■
ocidental Gêneros literários Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Escultura
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Politeísmo Comparar imagens Valorizar a contribuição greco- Mosaico
■■ ■■ ■■
literatura Mitologia Exercitar a escrita romana para a formação da Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Filosofia Identificar palavras da língua portuguesa que são cultura ocidental Fotografia recente
■■ ■■ ■■
filosofia ocidental Gêneros teatrais formadas por radicais gregos Valorizar diferentes crenças Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■
Espetáculos públicos em Trabalho Comparar palavras latinas com neolatinas religiosas textuais
■■ ■■ ■■ ■■
12 Roma Princípios do Direito Analisar inscrição feita em uma parede de Pompeia Reconhecer a importância da Objeto produzido por
A cultura ■■ ■■
Formação da língua latina Romano Associar texto e imagem preservação dos patrimônios povos antigos
clássica ■■ ■■ ■■ ■■
Difusão da escrita Monocronia e Fazer uma autoavaliação históricos Pintura
■■ ■■ ■■
Manifestações artísticas policronia Respeitar e valorizar as Pedra com inscrição
■■
romanas Intercâmbio cultural expressões culturais dos povos latina
■■ ■■ ■■
Construção de aqueduto Cultura helenística antigos Infográfico
■■ ■■ ■■
romano Jogos Olímpicos Reconhecer a importância da Estatueta
■■ ■■ ■■
Desenvolvimento do Direito Línguas neolatinas preservação dos patrimônios Gravura
■■
Romano históricos Capa de livro atual
■■ ■■
Formação da cultura Ter uma postura respeitosa com
helenística relação às pessoas portadoras
■■
Mitologia de necessidades especiais
Orientações didáticas e metodológicas

Orientações para o professor


O ensino de História no Brasil
Nas últimas três décadas, o ensino de História no Brasil vem passando por
pro­fundas transformações. Essas transformações ganharam impulso junto com
o processo de redemocratização do país, iniciado com a abertura política do
regi­m e militar (1964-1985) ocorrida no final da década de 1970. Durante o pro-
cesso de redemocratização, ganharam força movimentos de profissionais da

Orientações gerais
educação na área do ensino de História que buscavam reformular os currículos
e transformar o ensino ministrado nas escolas brasileiras.
De fato, durante o regime militar, houve um esvaziamento nos conteúdos de
His­tória, que foram fundidos aos conteúdos de Geografia, dando origem aos
Estu­d os Sociais, que privilegiavam uma abordagem expositiva e despolitizada
da rea­lidade, buscando acomodar o aluno ao seu meio social e evitando uma
análise crítica da sociedade. A partir de 1971, com a introdução nos currículos
escolares das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e
Política Bra­s ileira, foram privilegiadas abordagens de caráter ufanista. Nesse
contexto, a his­t ória era apresentada como uma sucessão de fatos lineares, em
que apenas alguns indivíduos eram destacados como responsáveis pelo desen-
rolar da história. Nessa visão, procurava-se valorizar algumas datas do calen-
dário cívico nacional, que realçavam a importância desses “heróis”, e as pesso-
as “comuns” eram apre­s entadas como meros espectadores da história.

[...] Se a ordem e a moral transmitidas nas disciplinas e na prática educativa


visavam eliminar as divergências e tornar homogêneo o poder dos grupos do­
minantes no país representados pelos militares, a dedicação especial ao ensino de
moral e cívica cumpria a tarefa de reduzir os conceitos de moral, liberdade e de­
mocracia aos de civismo, subserviência e patriotismo. Além disso, houve uma re­
dução da formação moral à mera doutrinação ideológica – repressão do pensamen­
to e do livre debate de ideias e culto de heróis e datas nacionais. [...]
Assim, no período ditatorial, [...] o ensino de história [afirmou] sua impor­tância
como estratégia política do Estado, como instrumento de dominação, porque [é]
capaz de manipular dados que são variáveis importantes na correlação de forças e
capaz de uma intervenção direta no social, por meio do trabalho com a memória
coletiva. Nesse sentido, esteve submetido à lógica política do governo. [...]
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. Campinas:
Papirus, 2003. p. 22-4. (Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

Diante dessa situação, durante o processo de redemocratização, entre as


prin­c ipais reivindicações dos profissionais do ensino estavam a volta da História
co­m o disciplina autônoma, bem como a reformulação dos currículos, de modo
que essa disciplina pudesse formar nos alunos uma visão mais crítica da reali-
dade. Além disso, esses profissionais reivindicavam uma maior integração entre
o en­s ino de História na educação básica e o conhecimento histórico produzido
nas universidades.

15
No período de elaboração da nova Constituição brasileira, em defesa de in-
teresses de­m ocráticos e ao lado da intensa mobilização dos setores organizados
da população, estavam os profissionais da educação, batalhando por transforma­
ções no sistema educacional brasileiro, visando melhorar suas condições de
trabalho e garantir verbas para aprimorar a qualidade do ensino no Brasil.
A Constituição de 1988, conhecida como Carta Cidadã, de fato garantiu avan­
ços democráticos, como o restabelecimento das eleições diretas em todos os
ní­v eis, a garantia das liberdades civis e o fim da censura.
No campo da educação, a entrada em vigor da nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB), em 1996, e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
em 1997, foi resultado das lutas e dos debates travados por profissionais de
di­versas áreas ligados à educação. A partir de então, novas concepções educacio­
nais foram instituídas, como o trabalho com temas transversais e com a interdis­
ciplinaridade, e novos objetivos foram estabelecidos para a educação em geral
e para o ensino de História em particular.

A interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade se constitui com base na interação entre diferentes
disci­p linas e áreas do conhecimento, como História, Filosofia, Psicologia, Artes,
Lin­g uística, Crítica Literária, Economia, Sociologia, Geografia etc. A contribuição
que uma disciplina pode dar à outra amplia consideravelmente o campo de
análise e interpretação dos conteúdos escolares. Por isso, é importante, sempre
que pos­s ível, que professores de diferentes disciplinas troquem experiências e
busquem fortalecer os laços entre as áreas do saber.

Os objetivos do ensino de História


Alguns dos objetivos para o ensino de História foram incorporados ao Sistema
Nacional de Avaliação de Educação Básica (SAEB), em 1999. Esse sistema for­
nece elementos que servem de base para a elaboração de políticas que visam
melhorar a qualidade da educação no Brasil. De acordo com o SAEB, o ensino
de História deve alcançar os seguintes objetivos:

[...] Facilitar a construção, por parte do educando, da capacidade de pensar his­


toricamente, sendo que esta operação engloba uma percepção crítica e trans­
formadora sobre os eventos e estudos históricos.
Favorecer a aquisição de conhecimentos sobre diferentes momentos históri­cos,
a fim de desenvolver a habilidade de coordenação do tempo histórico.
Contribuir para a compreensão dos processos da História, através da análise
comparada das semelhanças e diferenças entre momentos históricos, de forma a
perceber a dinâmica de mudanças e permanências.
Propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que
este seja capaz de formar uma opinião possível sobre os eventos históricos estudados.
Possibilitar a integração dos conteúdos cognitivos com os aspectos afetivos e
psicomotores do educando, valorizando as características relacionais nas ati­vidades
de ensino-aprendizagem. [...]
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Matrizes curriculares de referência para o SAEB. Maria Inês Gomes
de Sá Pestana et al. 2. ed. Brasília: INEP, 1999. p. 63.

16
Além disso, as novas propostas curriculares estabelecem um objetivo primor­

Orientações para o professor


dial para o ensino de História.

[...] Para a maioria das propostas curriculares, o ensino de História visa con­
tribuir para a formação de um “cidadão crítico”, para que o aluno adquira uma
postura crítica em relação à sociedade em que vive. As introduções dos textos
oficiais reiteram, com insistência, que o ensino de História, ao estudar as socie­dades
passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno compreender o tempo presente
e perceber-se como agente social capaz de transformar a realidade, contribuindo
para a construção de uma sociedade democrática. [...]

Orientações gerais
BITTENCOURT, Circe. Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História. In: BITTENCOURT, Circe
(Org.). O saber histórico na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002. p. 19. (Repensando o Ensino).

A proposta de ensino
Para atingir esse objetivo, procuramos fazer uma seleção de conteúdos histó­
ricos relevantes, compostos de textos acessíveis para os alunos e com a presen­
ça de um grande número de fontes históricas, principalmente imagéticas. Para
que esses conteúdos sejam significativos para os alunos, no entanto, é necessá­
rio que o professor assuma o papel de mediador. Nesse sentido, consideramos
um importante referencial a proposta sociointeracionista, desenvolvida com
ba­s e nos estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934).
De acordo com essa proposta, o conhecimento é construído socialmente e, por
isso, o desenvolvimento intelectual ocorre na interação do indivíduo com o meio
social. Na condição de sujeito no aprendizado, o indivíduo não tem acesso direto
ao conhecimento, mas sim um acesso mediado, seja explicitamente ou não, pe-
las pessoas com as quais ele convive e pelos sistemas simbólicos de que dis­põe,
principalmente a linguagem. Por isso, o desenvolvimento intelectual consis­te na
interação do indivíduo com o meio social, mediada por várias relações.

[...] O conhecimento é construído a partir da internalização dos conceitos apren­


didos culturalmente por intermédio da interação com o outro. Por isso, a escola
deve criar situações de aprendizagem em que as crianças troquem experiências e,
em seguida, com a coordenação do professor, sistematizem as trocas realizadas.
A mediação do professor permitirá que os alunos saiam do plano do conheci­
mento informal que já trazem consigo para a escola e cheguem ao conhecimento
formal, resultado das negociações e sistematizações feitas em classe.
Esse processo é chamado interação social. No sociointeracionismo, a interação
social é sinônimo de diálogo. É ela que garante a constituição do sujeito em socie­
dade por meio da internalização dos dados culturais recebidos. Isso faz com que o
sujeito chegue a novas formas de comportamento e compreensão da realidade. [...]
Como consequência, o desenvolvimento intelectual não se produz apenas por
uma soma de experiências. Ele se dá na vivência das diferenças e dos valo­res con­
traditórios encontrados na convivência social. A criança aprende opon­do-se a al­
guém, identificando-se, imitando, estabelecendo analogias, internali­zando concei­
tos e significados, tudo isso num ambiente social e historicamente localizado. [...]
NEMI, Ana Lúcia Lana; MARTINS, João Carlos. Didática de história: o tempo vivido: uma outra história? São Paulo: FTD,
1996. p. 39-40. (Conteúdo e metodologia).

17
O papel de mediador do professor é fundamental para o desenvolvimento
inte­lectual dos alunos, porém é necessário levar em conta um conceito muito
importante para o sociointeracionismo: a zona de desenvolvimento proximal.

[...] O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe
nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desen­
volvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus prin­cipais
conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o
desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender
— potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência
com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal
é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de
conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o per­
curso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um profes­
sor precisa ter, segundo Vygotsky. [...]
NOGUEIRA, Nilcéia (Dir.). Nova Escola: Grandes Pensadores. São Paulo: Abril, n. 178, dez. 2004. Edição especial. p. 60.

Como parte do pressuposto de que o conhecimento é construído socialmen-


te e que o desenvolvimento intelectual do indivíduo passa pela sua interação
com o meio social, acreditamos que a abordagem sociointeracionista no ensino
de His­tória favorece uma vinculação maior do indivíduo ao meio social e uma
capacida­d e maior de compreender a historicidade dos valores e dos conflitos
sociais for­m ados historicamente.

Concepção de história
Outro aspecto importante a ser discutido é a concepção de história que ser-
viu de referencial para a elaboração desta coleção. Diante dos objetivos a serem
atin­g idos, consideramos mais apropriados os referenciais teóricos presentes na
corrente historiográfica denominada história nova. Essa corrente originou-se no
final da década de 1920, a partir da chamada Escola dos Annales, fundada
pelos his­toriadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch. Esse movimento
historiográfi­c o se desenvolveu como uma crítica à chamada história tradicional,
praticada pe­los historiadores metódicos, considerados positivistas.
Febvre e Bloch acreditavam que os campos de análise historiográfica, assim
co­m o o leque de fontes e sujeitos históricos deveriam ser ampliados. A consti-
tuição de uma “história total”, como defendiam, passava por uma necessária
renovação metodológica, pela ampliação do campo documental e pela aliança
com outras dis­c iplinas. O resultado dessa renovação seria, nas palavras de
Jacques Le Goff, a instituição de uma “história nova”.

[...] A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a


história [...] fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma
história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos,
documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais
etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou, para um
passado mais distante, um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a
história nova, documentos de primeira ordem. [...]
LE GOFF, Jacques (Dir.). A História nova. Trad. Eduardo Brandão. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 36-7.

18
Ao longo da segunda metade do século XX, a história nova afirmou-se como

Orientações para o professor


uma corrente historiográfica aberta às influências e contribuições de diversas
discipli­n as, como a Geografia, a Demografia, a Sociologia, a Psicologia, a An-
tropologia. Além disso, seus historiadores não acreditam na possibilidade de se
chegar a uma “verdade” histórica e defendem uma abordagem que reconheça
o papel do tempo presente na formulação das questões que fazem ao passado.
De acordo com a his­tória nova, os documentos não falam por si, o historiador
é quem os faz falar, é ele quem constrói a narrativa histórica com base em uma
vasta gama de fontes.
Assim, adotamos alguns pressupostos teóricos da história nova por considerá­

Orientações gerais
-los pertinentes à nossa ideia de conhecimento histórico em permanente cons­
trução, aberto à multiplicidade de fontes e análises e favorável ao diálogo inter­
disciplinar. As abordagens sugeridas pela história nova são essenciais para a
in­c lusão de temas antes pouco valorizados, como a história do cotidiano, das
clas­s es oprimidas e da cultura de um povo. Além disso, abrem espaço para que
se destaquem sujeitos históricos que geralmente estão ausentes no discurso
tradi­c ional, e também para ressaltar as lutas e contestações à ordem vigente,
movi­d as tanto por indivíduos quanto por grupos sociais.
Buscando atingir os objetivos estabelecidos pelas novas propostas curricula-
res que norteiam o ensino de História, principalmente os PCN, procuramos fazer
uma seleção de conteúdos e uma abordagem que propiciem que os alunos
iden­tifiquem as suas vivências pessoais com a de outros sujeitos históricos do
pas­s ado, estimulando não apenas o seu aprendizado, mas também promoven-
do a conscientização e a instrumentalização necessárias para o sentido funda-
mental de sua participação ativa no processo histórico.

As fontes históricas
No século XVIII, estudiosos franceses inseridos na tradição iluminista desenvol­
veram um método erudito de crítica das fontes. Esse método consistia na crítica
interna e externa dos documentos, de modo a comprovar, sob rígidos parâme-
tros cientificistas, a sua autenticidade, como a comparação entre os docu­m entos
por meio de seu estudo filológico. No século XIX, institucionalizada na Alemanha,
a história se tornou uma disciplina acadêmica, e os historiadores recorre­r am ao
método erudito dos franceses para o desenvolvimento de sua crítica his­tórica,
privilegiando os documentos escritos e de cunho oficial, principalmente os
documentos diplomáticos, o que gerou uma produção historiográfica centra­d a
na história política. Na passagem do século XIX para o século XX, alguns so­
ciólogos já criticavam a pretensa objetividade do método histórico.
No final dos anos 1920, a contestação a essa rigidez documental partiu dos
his­t oriadores franceses ligados à Escola dos Annales , responsáveis pela amplia-
ção do campo documental à disposição dos historiadores. A ampliação das
fontes, o desenvolvimento de novos temas e novas abordagens têm, lentamen-
te, chegado às escolas brasileiras.

Os currículos escolares e o próprio trabalho em sala de aula têm procurado


acompanhar o desenvolvimento dos estudos históricos nas universidades. A velha
História de fatos e nomes já foi substituída pela História Social e Cultural; os estu­

19
dos das mentalidades e representações estão sendo incorporados; pessoas comuns
já são reconhecidas como sujeitos históricos; o cotidiano está presente nas aulas e
o etnocentrismo vem sendo abandonado em favor de uma visão mais pluralista.
Reflexões sobre a “criação” do fato histórico ensinado nas aulas de História, as
metodologias e as linguagens usadas na divulgação do saber histórico, as aborda­
gens, conceituais e práticas, a seleção de conteúdos e a sempre atual questão “para
que serve” têm sido feitas com competência por educadores e historiadores preo­
cupados com o ensino-aprendizagem, em obras ao alcance de todos os interessados
em aprimorar seu trabalho com os alunos. [...]
PINSKY, Carla Bassanezi. Introdução. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009. p. 7.

Diante dessa renovação no ensino de História, acreditamos ser fundamental


que o professor oriente os alunos da necessidade de, ao se analisar fontes
históricas, levar em consideração os contextos, funções, estilos, argumentos,
pontos de vis­t a e intenções dos seus autores. Isso porque as fontes históricas,
por serem efei­tos de ações humanas do passado, não carregam em si o pas-
sado tal como ele aconteceu. Elas trazem, no entanto, a versão do autor sobre
esse acontecimen­t o. Além disso, as fontes são sempre lidas de acordo com os
valores do momen­to histórico de quem as analisa. As perguntas fundamentais
feitas por aqueles que desejam analisar uma fonte histórica são: quando?; quem?;
onde?; para quem?; para quê?; por quê?; como?. As ausências dessas respos-
tas também são dados importantes para a interpretação das fontes históricas.
Esses pressupostos devem ser seguidos, e com ainda mais cuidado, no caso
da utilização de fontes iconográficas, pois a sua utilização de modo acrítico
po­d e levar a equívocos que devem ser evitados tanto por historiadores quanto
por professores de História.

[...] A iconografia é, certamente, uma fonte histórica das mais ricas, que traz
embutidas as escolhas do produtor e todo o contexto no qual foi concebida, idea­
lizada, forjada ou inventada. Nesse aspecto, ela é uma fonte como qualquer outra
e, assim como as demais, tem que ser explorada com muito cuidado. Não são raros
os casos em que elas passam a ser tomadas como verdade, porque estariam retra­
tando fielmente uma época, um evento, um determinado costu­me ou uma certa
paisagem. Ora, os historiadores e os professores de História não devem, jamais, se
deixar prender por essas armadilhas metodológicas. [...]
A imagem, bela, simulacro da realidade, não é realidade histórica em si, mas traz
porções dela, traços, aspectos, símbolos, representações, [...] induções, có­digos,
cores e formas nelas cultivadas. Cabe a nós decodificar os ícones, torná­-los inteli­
gíveis o mais que pudermos, identificar seus filtros e, enfim, tomá-los como teste­
munhos que subsidiam a nossa versão do passado e do presente, ela também, ple­
na de filtros contemporâneos, de vazios e de intencionalidades. Mas a História é
isto! É construção que não cessa, é a perpétua gestação, como já se disse, sempre
ocorrendo do presente para o passado. É o que garante a nossa desconfiança salu­
tar em relação ao que se apresenta como definitivo e completo, pois sabemos que
isso não existe na História, posto que inexiste na vida dos homens, que são seus
construtores. [...]
PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-9. (História &... Reflexões).

20
Fontes arqueológicas, audiovisuais e relatos orais são outros tipos de fontes

Orientações para o professor


importantes para o historiador. As fontes arqueológicas, também chamadas de
“cultura material”, são os únicos recursos disponíveis para o estudo das socie­
dades ágrafas e das chamadas “pré-históricas”. Mesmo para a compreensão
de sociedades com escrita, a arqueologia colabora fornecendo elementos que
ge­r almente não figuram nos documentos escritos, como aspectos do cotidiano
ob­s erváveis em objetos domésticos, entre outros.

[...] As fontes arqueológicas constituem um manancial extremamente varia­do


para o historiador de todos os períodos da História, do mais recuado passa­do da

Orientações gerais
humanidade, até os mais recentes períodos e épocas. Se é verdade, como propõe o
historiador alemão Thomas Welskopp, que a História da sociedade é sempre uma
História das relações sociais, das identidades em confronto, das leituras plurais do
passado, então as fontes arqueológicas têm um papel impor­tante a jogar. No con­
texto contemporâneo, em que se valoriza a diversidade cultural como um dos maio­
res aspectos da humanidade, do viver em socieda­de, as fontes arqueológicas ajudam
o historiador a dar conta de um passado muito mais complexo, contraditório, múl­
tiplo e variado do que apenas uma única fonte de informação permitiria supor. [...]
FUNARI, Pedro Paulo. Os historiadores e a cultura material. In: PINSKY, Carla Bessanezi (Org.). Fontes históricas. São
Paulo: Contexto, 2006. p. 104-5.

As fontes audiovisuais e musicais, como o cinema e a televisão, ganharam


cada vez mais importância para os pesquisadores que se dedicam ao século
XX, o que foi possível pelo rápido avanço e sofisticação dos recursos eletrônicos.
O cuidado que o historiador deve ter ao lidar com esse tipo de fonte é ainda
maior que o dis­p ensado às fontes iconográficas, pois a impressão de objetivi-
dade e de retrato fiel da realidade vinculado pelas “imagens em movimento”
tende a ser ainda mais per­s uasiva que a oferecida pela imagem iconográfica.
Além de fonte de pesquisa, o cinema também funciona como um valioso veícu-
lo de aprendizagem escolar.
Os relatos orais constituem outro tipo de fonte privilegiada para se estudar a
história recente, embora o próprio estatuto da chamada “história oral” ainda
se­ja bastante discutido. Mesmo assim, é inegável o valor das entrevistas grava-
das como fontes históricas, desde que direcionadas em um projeto orientado
por uma metodologia que estabeleça claramente os objetivos das entrevistas,
e se defi­n am as pessoas ou grupos a serem abordados.

Conceitos fundamentais para o ensino de História


Ao longo desta obra, apresentamos aos alunos conceitos que são fundamen­
tais para a análise histórica das sociedades. Veja a seguir mais informações
so­b re alguns desses conceitos.

Política
Política é um termo polissêmico, ou seja, pode ser usado em vários sentidos.
O uso do termo teve origem nas cidades-estado da Grécia Antiga, com a pala-
vra grega politika derivando de polis , como explica o historiador Moses Finley:

21
[...] Não deixa de ser verdadeira [...] a afirmativa de que, efetivamente, os gregos
“inventaram” a política. Na tradição ocidental, a história política sempre se iniciou
com os gregos, o que é simbolizado pela própria palavra “política”, cuja raiz se en­
contra na palavra pólis. Além disso, em nenhuma outra sociedade do Oriente Pró­
ximo a cultura era tão politizada quanto entre os gregos. [...].
Para que tal sociedade funcionasse e não desmoronasse, era essencial um am­plo
consenso, uma noção de comunidade e uma autêntica disposição por parte de seus
membros para viverem conforme certas regras tradicionais, aceitarem as decisões
das autoridades legítimas, só fazerem modificações mediante amplo de­bate e pos­
terior consenso; numa palavra, aceitarem o “poder da lei” tão frequen­temente pro­
clamado pelos escritores gregos. [...] A isso se chama política. [...]
FINLEY, Moses I. (Org.). O legado da Grécia: uma nova avaliação. Trad. Yvette Vieira Pinto de Almeida. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1998. p. 32; 34.

Nesse sentido, a política pode ser entendida como um conjunto de relações


de poder. Também pode ser vista como a capacidade humana de organizar um
governo capaz de regular as disputas pelo poder, o que é feito nas sociedades
modernas por meio de uma Constituição. Ao governo assim organizado dá-se
o nome de Estado. Quando a prática política se torna inviável ou todos os seus
me­c anismos são esgotados, podem ocorrer guerras entre os grupos sociais
envol­v idos. A política está diretamente ligada ao poder, e não apenas com o
poder es­tatal, mas também aos micropoderes diluídos em todas as relações
sociais. De acordo com muitos estudiosos, a política reside também nas relações
entre ma­r ido e mulher, pais e filhos, professores e alunos, dirigentes de partidos
e seus fi­liados, patrões e empregados, além das próprias relações entre gover-
nantes e governados.
A política começou a ser objeto de uma ciência, a Ciência Política, no início
do século XVI com Nicolau Maquiavel, que na obra O Príncipe teorizou sobre as
estratégias para a tomada e manutenção do poder político, baseando­-se em
ações e modelos racionais e objetivos. Depois de Maquiavel, o conceito foi se
ampliando e ganhando novas significações.
[...] O texto de Maquiavel não traz a definição moderna de política, que só seria
cunhada a partir do século XVIII. Maquiavel enfatizou um conceito de po­lítica
ligado ao Estado, deixando de lado as classes sociais e suas contradições. No sécu­
lo XIX, Karl Marx resolveu pensar a política a partir das classes sociais e de suas
contradições. No século XX, o conceito de política atingiu até mesmo o co­tidiano.
Hoje, fala-se em politização do cotidiano, ações de protesto, lutas sociais que se dão
em esferas não institucionais. Ou seja, o sentido do que é ou não polí­tico muda
com o tempo e também com os interesses dos grupos sociais. Nos dias atuais, po­
lítica pode ser uma ação organizada para atingir demandas sociais (educação, saú­
de, segurança, condições de trabalho etc.), mas durante a Guerra Fria o conceito
de atividade política estava intimamente ligado ao de revolução, de ação transfor­
madora das estruturas sociais vigentes e da implementação de uma nova sociedade.
Nas últimas décadas do século XX, os partidos deixaram de ser o lugar privilegia­
do da luta política, embora ainda sejam espaços importantes. Hoje, organizações
não governamentais (ONGs), associações de moradores, as­sociações profissionais,
organizações feministas, grupos ambientalistas e de defe­sa dos animais, entre ou­
tros, compõem um leque amplo de espaços onde mani­festações propriamente po­

22
líticas podem ter lugar. Essa ampliação dos espaços reivindicativos na sociedade

Orientações para o professor


civil pode ser entendida de duas formas: por um lado, indica um avanço da politi­
zação de amplos setores sociais; por outro, é um sintoma da descentralização das
ambições políticas, que se tornaram cada vez mais pulverizadas. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 337.

O trabalho
De modo geral, o trabalho é todo ato de transformação feito pelo ser humano.
O trabalho, ao longo do tempo, adquiriu diversas formas, organiza­ç ões e valores.
Nas sociedades ditas “tribais”, ou seja, aquelas formadas por ca­ç adores e co-

Orientações gerais
letores, somadas às que praticavam a pecuária e a agricultura pri­m itivas, o
trabalho não era uma atividade separada de outros afazeres cotidianos. Ao
contrário, nas sociedades “tribais” o trabalho se misturava às esferas religio­s as,
ritualísticas, míticas, era dividido sexualmente e estava ligado às relações de
parentesco. Nessas sociedades, o trabalho não visava à acumulação de exceden­
tes, mas ao suprimento das necessidades da comunidade.

[...] Marshall Sahlins, antropólogo norte-americano, chama essas sociedades de


“sociedades do lazer”, ou as primeiras “sociedades da abundância”, pois, ao analisá­
-las, percebeu que elas não só tinham as suas necessidades materiais e so­ciais ple­
namente satisfeitas, como também dispunham de um mínimo de horas vinculadas
a atividades de produção (cerca de três ou quatro horas e nem sempre todos os
dias). Os [ianomamis] dedicavam pouco mais de três horas diárias às atividades
produtivas; os [guaiaquis], cerca de cinco horas, mas não todos os dias; e os kungs,
do deserto de Kalahari, em média quatro horas por dia.
O fato de se dedicar menos tempo às tarefas vinculadas à produção não signi­fica,
portanto, que se tenha uma vida de privações. Ao contrário, essas socieda­des vi­
viam muito bem alimentadas, e isso fica comprovado nos relatos os mais diversos,
que sempre demonstram a vitalidade de todos os seus membros. É claro que tais
relatos referem-se à experiência que viviam antes do contato com o chamado
“mundo civilizado”. [...]
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 36.

Entre os antigos gregos e romanos o trabalho braçal, penoso, realizado para


manter a subsistência — como o do escravo, do agricultor, do homem livre
pobre e até mesmo o do artesão — era desprezado pelos cidadãos ricos. O
ideal do ci­d adão era a prática do ócio, que lhe proporcionava tempo livre para
os prazeres e para a prática política, para a administração e defesa da cidade.
Na Idade Mé­d ia, particularmente nas sociedades em que predominava o feuda-
lismo, o traba­lho rural baseado na servidão foi predominante, o que não signi-
fica que as ativi­d ades de comércio e artesanato desapareceram. Não devemos
esquecer também as relações de trabalho desenvolvidas nas corporações de
ofício, que determina­v am a organização artesanal. Nessas corporações, o mes-
tre dominava as técni­c as e controlava todas as etapas do trabalho, contando
com a ajuda de alguns aprendizes.
Com o desenvolvimento do capitalismo, principalmente a partir do final do
sé­c ulo XVIII, teve início uma das mais radicais transformações nas relações do

23
tra­b alho que se conhece na história. O desenvolvimento da maquinofatura, da
fábrica e da grande indústria transformou, cada uma a seu tempo e em intensi-
dades dife­rentes, as relações medievais de trabalho. A nova classe social em
ascensão, a bur­g uesia, foi paulatinamente conquistando poder econômico e
político. Muitos arte­s ãos e camponeses desapropriados, ou expulsos das terras
senhoriais, tiveram de se submeter a um regime de trabalho assalariado, que
lhes retirava a autonomia e o domínio das etapas do processo produtivo, ou
seja, alienava os trabalhadores.

[...] Uma importante reflexão que os professores podem levantar em sala de


aula em torno do trabalho é sua multiplicidade histórica: primeiro, trabalho não é
emprego. Não é porque alguém — como uma dona de casa, por exemplo — não
tem um emprego que ela não trabalha. Segundo, o trabalho é mutável, na forma
como as pessoas o veem ao longo do tempo. Assim, não apenas enten­demos o
objetivo do trabalho de forma diferente de um japonês, como também definimos
trabalho de forma diferente de um grego do tempo de Péricles. O risco de anacro­
nismo na análise histórica de trabalho é grande. Precisamos estar atentos a essas
questões em sala de aula e acabar de vez, por exemplo, com a visão de que os índios
eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar e, logo, não serviam para a escravi­
dão. Além disso, importante contribuição para a cidada­nia brasileira é a valorização
do trabalho doméstico, do trabalho feminino e o reconhecimento de que a maioria
das mulheres realiza uma jornada dupla de trabalho. Enquanto o trabalho domés­
tico não for considerado trabalho no Bra­sil, a maioria das mulheres brasileiras,
principalmente as de baixa renda, conti­nuará a trabalhar duplamente sem reconhe­
cimento profissional ou social. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 403-4.

Sociedade
Sociedade é o conjunto de pessoas que convivem em um determinado espa-
ço, que seguem as mesmas regras e que compartilham valores, costumes,
língua etc. Um dos principais elementos comuns a todas as sociedades hierar-
quizadas é a existência de conflitos sociais. Os conflitos sociais expressam as
contradições em nível econômico e político. Eles evidenciam as tensões e dis-
putas, por exem­p lo, entre diversos grupos ou classes, ou entre setores da so-
ciedade civil organi­z ada contra medidas públicas que os prejudicam.

[...] Quem de nós já não vivenciou, como participante ativo ou como sim­ples
espectador de TV, cenas de manifestações de grupos, ou mesmo de multi­dões, em
defesa, por exemplo, do ensino público e gratuito ou contra a poluição do meio
ambiente? Quem não leu nos jornais notícias sobre greves de trabalha­dores da
indústria da construção civil ou da indústria automobilística, para for­çar patrões a
atender a suas reivindicações salariais? E quem já não viu nessas cenas a presença
de policiais golpeando com seus cassetetes braços, pernas e cabeças de manifestan­
tes, em nome da ordem pública e da segurança? Com certeza todos já viram, porque
são incontáveis os casos de manifestações e mo­vimentos sociais [...].
[...] O que primeiro nos chama a atenção é o iminente confronto com a po­lícia
— cena bastante comum em movimentos desse tipo. Mas devemos obser­var que
nem todo movimento social tem como um dos seus desdobramentos o enfrenta­

24
mento com a polícia. Como também não é verdade que todo enfrenta­mento com

Orientações para o professor


a polícia significa um movimento social. Entretanto, a situação des­crita evidencia um
conflito. E o conflito é um elemento constitutivo de todo movimento social. [...]
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 224.

Os conflitos intrínsecos às formações sociais geralmente se desenvolvem em


torno de questões como a conquista de direitos, as injustiças sociais, a busca
de meios essenciais à sobrevivência, discriminações etc. Esses conflitos podem
cres­c er, alongar-se no tempo e até mesmo desembocar em guerras. Atualmen-
te, os movimentos sociais são os responsáveis pela canalização dos conflitos
laten­t es na sociedade, arregimentando e organizando os grupos descontentes.

Orientações gerais
Para o professor de História, é importante passar aos alunos a visão de que
toda a his­t ória das sociedades ditas “civilizadas” foi e é permeada por conflitos
sociais, que, no entanto, assumiram formas diversas no decorrer do tempo.

Cultura
A cultura é criada e transmitida na interação social, e é apreendida em nossas
relações grupais, em que adquirimos identidades particulares que nos distinguem
de outros grupos e de outras culturas. Por meio da interação, apropriamo-nos
de certas “verdades” socialmente aceitas que se integram ao nosso código
cultural, e esse mesmo processo ocorre no sentido inverso, ao apreendermos
culturalmente o que deve ser negado, odiado ou desprezado. Dito de outra
forma, a cultura sintetiza nossa forma de valoração do mundo, um conjunto de
valores que nos são transmi­tidos pela família, escola, universidade, círculo de
amizades, trabalho, meios de co­m unicação etc.

[...] Cultura é uma perspectiva do mundo que as pessoas passam a ter em comum
quando interagem. É aquilo sobre o que as pessoas acabam por concor­dar, seu
consenso, sua realidade em comum, suas ideias compartilhadas. O Bra­sil é uma
sociedade cujo povo tem em comum uma cultura. E no Brasil, cada comunidade,
cada organização formal, cada grupo [...] possui sua própria cul­tura (ou o que al­
guns cientistas sociais denominam uma subcultura, pois se trata de uma cultura
dentro de outra cultura). Enquanto a estrutura ressalta as diferenças (as pessoas
relacionam-se entre si em termos de suas posições dife­rentes), a cultura salienta as
semelhanças (de que modo concordamos).
Fazer parte da “cultura jovem” no Brasil, por exemplo, é ter em comum com
várias pessoas certas ideias sobre verdade, política, autoridade, felicidade, li­berdade
e música. Nas ruas, na palavra escrita e falada, nas universidades, em shows e filmes,
desenvolve-se uma perspectiva à medida que as pessoas com­partilham experiên­
cias e se tornam cada vez mais semelhantes umas às outras, por um lado, enquan­
to se diferenciam crescentemente das que se encontram fora de sua interação.
Desenvolve-se uma linguagem comum entre os que com­partilham a cultura, con­
solidando a solidariedade e excluindo os de fora. [...]
Cultura é o que as pessoas acabam por pensar em comum — suas ideias sobre o
que é verdadeiro, correto e importante. Essas ideias nos guiam, deter­minam mui­
tas de nossas escolhas, têm consequências além de nosso pensa­mento. Nossa cul­
tura, compartilhada na interação, constitui nossa perspectiva consensual sobre o
mundo e dirige nossos atos nesse mundo.
CHARON, Joel M. Sociologia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 103-4.

25
A construção da cidadania

O significado de cidadania nos


Parâmetros Curriculares Nacionais
De acordo com os PCN, o conceito de cidadania deve ser visto em sua histo­
ricidade, não existindo um só tipo de cidadão, mas sim modelos históricos e,
por­t anto, mutáveis. Refletindo sobre a dimensão histórica do conceito de cida-
dania, os PCN apontam para a necessidade de democratização dos direitos
sociais, culturais e políticos. Assim, o objetivo é a formação de cidadãos críticos
e cien­tes de que possuem identidades próprias.

[...] Retornando aos PCNs, [percebe-se] o uso tanto da perspectiva da cida­dania


pela via da ampliação dos direitos como da cidadania relativa ao direito à diferen­
ça. Estas duas perspectivas [...] não se apresentam como incompatíveis nos PCNs.
[...] Na introdução dos temas transversais, parte em que existe maior investimento
em definir o significado de cidadania, nota-se a presença da pri­meira perspectiva,
sendo a história moderna da cidadania entendida dentro dos parâmetros da expan­
são e da universalização dos direitos. Contudo, em outras partes, em especial quan­
do se relaciona cidadania e identidade, a pers­pectiva que prevalece é a do direito à
diferença. [...]
MAGALHÃES, Marcelo de Souza. História e cidadania: por que ensinar história hoje. In: ABREU, Marha; SOIHET, Rachel
(Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 179-80.

Seguindo esses parâmetros, procuramos trabalhar no decorrer dessa obra no


sentido de estimular os alunos à participação social e política, a compreender a ci-
dadania como a efetivação de seus direitos básicos, de modo a combater as di­versas
formas de segregação étnica, religiosa ou econômica, dando ênfase às lu­tas dos
agentes históricos contra diferentes formas de dominação, como o es­cravismo, o
imperialismo e as ditaduras militares, por exemplo. Acreditamos que, ao darmos re-
levo à ação positiva dos sujeitos e grupos sociais em suas diversas formas de luta e
resistência à opressão, contribuiremos para a formação cidadã das novas gerações.

A importância do ensino pluriétnico


Nos últimos anos, o debate acerca da valorização das contribuições pluriétni­
cas na formação da população brasileira foi se expandindo do meio acadêmico
para a sociedade civil. Os resultados já podem ser vistos com a aprovação de
leis afirmativas, como a n o 10.639, de 2003, que determinou a introdução do
ensino de história da África e da cultura afro-brasileira, e a lei no 11.645, de
2008, que estabeleceu a obrigatoriedade da inclusão de história e cultura dos
povos indíge­n as aos alunos dos níveis fundamental e médio. A inclusão dessas
temáticas con­tribui para a desconstrução de preconceitos e estereótipos, for-
temente impregna­d os no conteúdo escolar, sobre africanos e indígenas.
Retomando as duas perspectivas de cidadania reconhecidas nos PCN, pode­
mos perceber que elas não se contrapõem, ao contrário, elas se complementam.
No caso da inserção da história da África e da cultura afro-brasileira e da histó­

26
ria e cultura indígenas nos ensinos fundamental e médio, vemos a expansão dos

Orientações para o professor


direitos de grupos tradicionalmente marginalizados e que agora devem ter sua
cultura e sua contribuição para a construção do Brasil reconhecidas, ao mesmo
tempo em que as especificidades desses grupos devem ser valorizadas como
res­p onsáveis por contribuições originais na formação da sociedade brasileira.
Esse direito à diferença, que ganhou força com o multiculturalismo, não deve
ser con­fundido com aquiescência às desigualdades, sendo justamente neste
ponto que essas alterações no currículo escolar tradicional devem intervir.

[...] O brasileiro, de um modo geral, sabe pouco a respeito do afrodescen­dente,


e quando sabe, está repleto de ideias preconceituosas. [...] Começa com a entrada

Orientações gerais
do negro no Brasil como escravo e mercadoria. A imagem do negro descalço, se­
minu e selvagem é mostrada na literatura escrita por brancos. Mas a história do
africano livre, dono de sua própria vida, produtor de sua cultura, à época dos gran­
des reinos e impérios da África pré-colonial, é pouco conheci­da. Está na hora de
desmontar as inverdades e omissões, para desnaturalizar os preconceitos e cons­
truir uma nação multirracial, justa e democrática.
FELIPE, Delton Aparecido; TERUYA, Teresa Kazuko. Ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação
básica: desafios e possibilidades. Extraído do site: <www.mudi.uem.br/arqmudi/volume_11/suplemento_02/artigos/081.pdf>.
Acesso em: 7 fev. 2012.

É importante na formação do afrodescendente que este conheça a origem de


seus antepassados. A valorização de sua identidade cultural e a do grupo ao
qual pertence é a forma mais eficaz de romper os preconceitos que a socieda-
de lhe faz interiorizar através dos meios de comunicação, da família e — o que
primeiro se espera eliminar — da escola. Não apenas os afrodescendentes, mas
a socie­d ade como um todo tendem a ganhar, principalmente os alunos brancos,
ao te­rem a chance de deixarem de ser impregnados com preconceitos e falsas
verda­d es. Nesse sentido, esta coleção procura abordar a história dos povos
africanos e indígenas inseridos em sua dinâmica própria, tentando tanto quanto
possível evitar narrativas eurocêntricas, que apenas tratam desses povos quan-
do em re­lação — sempre de subordinação — com os interesses europeus.

A valorização da mulher na história


Em todas as épocas históricas, houve mulheres que tiveram participação
ativa na sociedade e obtiveram grande reconhecimento social. Mas a organiza-
ção mas­s iva das mulheres em prol de seus direitos foi um fenômeno recente. O
reconhe­c imento de que a mulher tem direito à cidadania vem se construindo em
um pro­c esso lento e difícil, acelerado principalmente com as conquistas sociais
e polí­ticas da segunda metade do século XX.

O século XX já foi chamado de “século das mulheres”, momento em que o mo­


vimento de mulheres e, no interior deste, o movimento feminista, em suas múlti­
plas vertentes, viu muitas de suas reivindicações atendidas. Entretanto, se a cidada­
nia pode ser pensada como o “direito de ter direitos”, ou seja, como igualdade e
como eliminação de formas de hierarquias relacionadas ao “natu­ral”, não podemos,
ainda, considerar que o século XX tenha fornecido às mu­lheres a plena cidadania.
Mas devemos reconhecer que algumas conquistas fo­ram efetivadas. [...]
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e Especificidade. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi
(Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 293-4.

27
Um exemplo característico das conquistas femininas desse período foi a libe­
ração da venda e divulgação de métodos contraceptivos e, em alguns países,
a descriminalização do aborto, apesar da grande resistência dos países onde a
Igre­ja Católica ainda detém a influência política. Com essas conquistas, as mu-
lheres adquiriram um domínio inédito sobre seu corpo, puderam escolher o
momento de ter filhos, ou mesmo não tê-los. Nos anos 1980, o movimento das
mulheres in­v estiu na luta contra as violências das quais elas eram alvos princi-
pais, exigindo punições rigorosas para crimes como o estupro e a violência
doméstica. Apesar desses avanços, atualmente as mulheres ainda são discrimi-
nadas, principalmen­te nas relações de trabalho, nas quais costumam receber
salários mais baixos que os dos homens, mesmo exercendo funções idênticas.
Consideramos que o mais importante é a criação de um espaço comum entre
homens e mulheres, em que a diferença de identidades não seja motivo para a
diferença de direitos, e a sala de aula é um local privilegiado para isso.

A inclusão na escola
Os direitos das pessoas portadoras de necessidades especiais (também cha­
madas de portadoras de deficiência) foram estabelecidos na Convenção de
Gua­temala, de 1998. O documento, promulgado pelo Brasil em 2001, estabe-
lece que as pessoas portadoras de necessidades especiais têm direitos idênti-
cos aos das demais. No caso das crianças em idade escolar, a própria Consti-
tuição da Re­p ública proíbe que qualquer unidade escolar as exclua. Assim, é
ne­c essário que as escolas se adaptem às necessidades desses alunos, cujas
defi­c iências podem ser físicas, visuais, auditivas ou mentais.
A adaptação passa pela adoção de práticas criativas na sala de aula e mudan­
ças no projeto pedagógico, mas existem orientações específicas para casos de
deficiência. As mudanças não são fáceis, e sua eficácia depende de vontade e
empenho por parte dos profissionais envolvidos. Além da necessidade de adap­
tação da arquitetura da escola, os professores precisam buscar orientações
es­p ecializadas, conversar com os pais dos alunos e, principalmente, dar atenção
especial a esses alunos. Quando os resultados começam a aparecer, não só o
aprendizado dos alunos portadores de necessidades especiais progride, mas
to­d a a escola se torna mais cidadã.

A importância da leitura e da escrita


Algumas estatísticas
Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Básica
(SAEB), os índices nacionais de competência em leitura em Língua Portuguesa
de 2005 a 2009 estão muito abaixo do esperado (Veja os resultados do SAEB
2005 a 2009 – Resultados IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Bá-
sica. Extraído do site : <http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/portal-ideb>.
Acesso em: 26 jan. 2012.).
Nesse exame foram avaliados alunos de escolas públicas e privadas. Os re-
sultados divulgados pela PISA (do inglês, Programa Internacional de Ava­liação

28
Comparada), organizado pela OECD (do inglês, Organização para Coope­ração

Orientações para o professor


e Desenvolvimento Econômico), corroboram os exames nacionais. Realiza­d os
de três em três anos, esse exame internacional avaliou alunos na faixa dos 15
anos de idade nas escolas públicas e privadas de vários países, por meio de
análises comparativas de competência em leitura, Matemática e Ciências.
Segundo os resultados divulgados pelo PISA em 2009, os jovens bra­s ileiros
continuam com média inferior à de muitos paí­s es, desde o primeiro exame rea-
lizado em 2000, ocupando o 53º lugar no ranking dos 65 países avaliados.
(Faça o download do relatório PISA 2009. Extraído do site : <www.oecd.org/do
cument/61/0,3746,en_32252351_32235731_46567613_1_1_1_1,00.html>.

Orientações gerais
Acesso em: 26 jan. 2012.)

O que é competência leitora?


Para o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, em seu livro Construir as competên­
cias desde a escola , a noção de competência está ligada a “uma capacidade
de agir eficazmente para um determinado tipo de situação, apoiado em
conhecimen­t os, mas sem limitar-se a eles”, pois esses conhecimentos são “re-
presentações da realidade, que construímos e armazenamos ao sabor da nossa
experiência e de nossa formação”. A noção de competência, para Perrenoud,
estaria ligada à aplicabilidade de nossos conhecimentos para a solução de pro-
blemas diversos. Essa aplicabilidade, que constitui a competência, envolve a
capacidade de esta­b elecer relações entre os problemas e os nossos conheci-
mentos, fazer interpre­t ações, interpolações, inferências, invenções; realizar, “em
suma, complexas ope­r ações mentais cuja orquestração só pode construir-se ao
vivo, em função tanto de seu saber e de sua perícia quanto de sua visão da
situação”. (Perrenoud, Phi­lippe. Construir as competências desde a escola . Trad.
Bruno Charles Magne. Por­to Alegre: Artes Médicas Sul, 1999, p. 8-9.)
Nesse sentido, a noção de competência leitora está ligada à prática de estraté­
gias de leitura que possibilitem ao aluno explorar as mensagens (estejam elas
em textos, imagens, gráficos, formulários ou tabelas, por exemplo) em diversos
ní­v eis de cognição, possibilitando a interpretação e a compreensão para uma
lei­tura mais crítica e autônoma, construindo novos saberes.

O processo de construção de conhecimento passa, necessariamente, pelo “sa­ber


fazer”, antes de ser possível “compreender e explicar”, e essa compreensão e a con­
ceituação correspondente acabam por influenciar a ação posterior. Há, pois, uma
fase inicial em que predomina a ação para obter êxito, seguida por outra, cuja ca­
racterística principal é a troca constante de influências entre a ação e a compreen­
são, ambas de nível semelhante, e uma terceira em que a compreensão coordena e
orienta a ação. [...]
As competências podem ser categorizadas em três níveis distintos de ações e
operações mentais, que se diferenciam pela qualidade das relações estabelecidas
entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
No Nível Básico encontram-se as ações que possibilitam a apreensão das ca­
racterísticas e propriedades permanentes e simultâneas de objetos comparáveis,
isto é, que propiciam a construção de conceitos. [...]

29
No Nível Operacional encontram-se as ações coordenadas que pressupõem o
estabelecimento de relações entre os objetos; fazem parte deste nível os esquemas
operatórios que se coordenam em estruturas reversíveis. Estas competências, que,
em geral, atingem o nível da compreensão e a explicação, mais que o saber fazer,
supõem alguma tomada de consciência dos instrumentos e procedimentos utiliza­
dos, possibilitando sua aplicação a outros contextos. [...]
No Nível Global encontram-se ações e operações mais complexas, que envol­vem a
aplicação de conhecimentos a situações diferentes e a resolução de proble­mas inéditos. [...]
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Matrizes curriculares de referência para o SAEB. Maria Inês Gomes
de Sá Pestana et al. 2. ed. Brasília: INEP, 1999. p. 9-11.

As especificidades da
leitura na disciplina de História
Atualmente, o fato de um aluno ser considerado alfabetizado, ou seja, capaz
de ler e escrever, não significa que ele possa utilizar esses recursos como uma
ma­n eira de conhecer e de se expressar.

[...] Ser alfabetizado pode significar apenas que estes alunos leem mecanica­mente o
que lhes cai pela frente: propagandas, anúncios, placas na rua, trechos do livro didático,
avisos, exercícios passados pelo professor etc. Ou seja, eles são “atingidos” pelas coisas
escritas, mas pouco interagem com elas. De todo modo, a maior parte dos indivíduos
hoje em dia sabe mais do mundo através especialmente da televisão e do rádio, frente
aos quais habituamo-nos a ter uma atitude passiva e receptiva acrítica. [...]
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt e outros. Ler e escrever:
compromisso em todas as áreas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. p. 111-2.

A rapidez e praticidade com que se tem acesso à informação atualmente


fazem com que o contato dos jovens com a leitura geralmente seja rápido e
fragmenta­d o. Uma leitura contínua e atenta é um importante veículo de informa-
ções. No ca­s o específico da disciplina de História, leitura e escrita são funda-
mentais para a construção do conhecimento.
Por isso, o desenvolvimento da competência leitora permite que o aluno perce­
ba, por meio de uma leitura crítica, as visões de mundo, as parcialidades, as
iden­tificações e as possíveis conexões com a realidade de cada texto e seu
respec­t ivo autor.
Da mesma forma, o contato com fontes históricas de diversos tipos, como
car­tas, bulas, decretos, diários, depoimentos, notícias de jornais e revistas,
pinturas e textos literários, exige o desenvolvimento da competência leitora de
diversos tipos e níveis para a construção do conhecimento histórico.
Ao longo da obra, o desenvolvimento da competência leitora é constante­m ente
estimulado. As atividades presentes nesta coleção têm como objetivo auxi­liar
os alunos na compreensão dos conteúdos trabalhados, utilizando para isso fon­
tes de informação diversificadas. Além de valorizar as experiências vividas pelos
alunos e sua realidade próxima, elas incentivam-nos a desenvolver a competên-
cia leitora, aumentando sua autonomia e tornando-os sujeitos mais ativos em
seu pró­p rio aprendizado.

30
Orientações para o professor
Símbolos utilizados na coleção
Em muitos textos citados ao longo dos quatro volumes desta coleção, o
leitor po­d e se deparar com alguns símbolos, entre eles: c. = cerca de; [...]
= texto suprimido do original; [texto] = texto inserido no original.
Esses símbolos são utilizados para explicitar as intervenções que, por
necessida­d e de concisão ou de clareza, foram feitas nos textos de outros
autores citados nes­ta coleção.

Orientações gerais
Leitura e prática da escrita
Além da leitura, a escrita também deve ser constantemente estimulada. A
pro­d ução de textos estimula os alunos a pensarem criticamente e a refletirem
sobre aquilo que estão escrevendo.

[...] “Escrever para aprender”, lembra Gisele de Carvalho, que assim recupera
algumas das grandes tarefas do educador: “Se [...] escrever significa registrar os
caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da matéria
que ensinamos, temos uma tarefa em comum [...]: se todos nós, de uma forma ou
de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever...”.
Admiramos hoje a desenvoltura com que os jovens manejam seus computa­dores,
navegam nesses mares antes inimagináveis da Internet, criam seus blogs, repagi­
nam-se permanentemente, enviam e recebem mensagens em tempo real (usando
uma língua um tanto estranha, é bem verdade!). Aparentemente ne­nhum mistério
os detêm, e eles nos dão demonstrações diárias de habilidade, curiosidade, criati­
vidade. Nosso desafio, prepará-los nessa era planetária para a grande aventura do
conhecimento e da lucidez, talvez seja mais fácil de supe­rar do que pensamos.
RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar História: para uma boa formação, os alunos precisam entender bem o que
leem e saber pensar e escrever. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 6. abr. 2004. p. 78.

A pesquisa escolar
Procedimentos básicos
O ato de realizar pesquisas é fundamental para a disciplina de História. Nes-
sa coleção, em vários momentos os alunos são convidados a realizar pesquisas,
tan­to individuais como em grupos.
Para que a pesquisa escolar obtenha resultados satisfatórios, existem algumas
dicas que o professor pode fornecer aos alunos antes de sua realização. Veja.
■■ Definição do tema: além dos temas sugeridos na coleção, fica a critério do pro­
fessor escolher novos temas, de acordo com as especificidades de cada turma.
■■ Após a definição do tema, estabelecer um roteiro para a pesquisa, que inclui:
os objetivos da pesquisa (no caso, pesquisa escolar); definição das fontes
que serão utilizadas (livros, jornais, revistas, internet, dicionários, enciclopé-
dias, fo­t ografias, documentários, filmes, CD-ROM etc.) e definição dos pra-
zos para a entrega da pesquisa. Para as pesquisas realizadas na internet,
leia para os alunos as seguintes dicas.

31
Na internet, você pode encontrar sites sobre os mais variados assuntos. Pode
achar também ilustrações e mapas. Muitos costumam ter links, que são como as
remissões da enciclopédia. Basta clicar e você já está em outro site. Para usar a in­
ternet, você precisa aprender a selecionar as informações, senão acaba per­dendo
muito tempo. Uma boa ideia é formar uma agenda dos sites que você mais usa [...],
e ir trocando esses endereços com seus colegas.
Para ter certeza de que os dados e informações que você conseguiu [...] são cor­
retos, verifique a origem do site, ou seja, quem escreveu aquela página. Hoje, qual­
quer pessoa pode incluir informações na rede. Por isso, pre­fira os sites de escolas,
empresas, instituições de pesquisa e órgãos oficiais (Iba­ma, IBGE, Ministérios etc.),
que são mais confiáveis.
JUNQUEIRA, Sonia. Pesquisa escolar: passo a passo. Belo Horizonte: Formato Editorial, 1999. p. 23. (Dicas e informações).

■■ Para realizar o planejamento da pesquisa, solicitar a ajuda do professor, do


bibliotecário, dos pais etc.
■■ Estabelecer os responsáveis pela elaboração dos tópicos selecionados para
a pesquisa (no caso do trabalho em grupo) e definir os prazos que cada um
tem para entregar sua parte.
■■ Definir quem será o responsável por organizar o material pesquisado, tornan­
do-o um todo coerente. Mais interessante do que juntar um monte de textos
soltos e desconexos, é fazer uma reunião de pauta com todo o grupo e, juntos,
definir a ordem em que os tópicos devem ser apresentados na pesquisa.
■■ Ao ser elaborado o primeiro rascunho, todo o grupo deve ler para verificar
se os tópicos pesquisados foram contemplados de maneira satisfatória. É
impor­t ante, nessa etapa, verificar se o texto contém introdução, desenvolvi-
mento e conclusão.
■■ Selecionar as imagens que ilustrarão o trabalho: recortes, fotografias, mapas,
tabelas, gráficos etc. Nessa etapa, as imagens já devem ter sido indicadas
por cada um dos responsáveis pelos tópicos correspondentes.
■■ Feitas essas etapas, novamente cada membro do grupo deve ler o trabalho
e apresentar suas últimas considerações.
■■ Para concluir, o grupo deve preparar as partes iniciais e finais da pesquisa.
Compõem a parte inicial: título da pesquisa (e subtítulo, se houver); nome e
número de chamada dos integrantes do grupo; série ou ano, instituição de
en­sino, nome do professor, nome da disciplina, data etc. Além disso, é neces­
sário fazer um sumário do trabalho, respeitando a hierarquia (pesos) dos
títu­los. A parte final, por sua vez, é composta pelas referências bibliográficas,
que devem constar, no caso de livros, por exemplo: último sobrenome do
autor, nome do autor, título do livro, cidade, editora, ano de publicação,
páginas con­s ultadas, nome da coleção ou série, se houver. Em casos de
referências de artigos de revista, sites da internet etc., peça aos alunos que
vejam como es­t as foram feitas ao longo da coleção e as tomem como base.
■■ Para que os resultados da pesquisa sejam mais efetivos, é fundamental que
os grupos troquem informações sobre as conclusões a que chegaram.

32
A avaliação do ensino-aprendizagem

Orientações para o professor


A utilidade da avaliação
Atualmente muito se discute sobre a utilidade da avaliação no processo de ensi­
no-aprendizagem nas escolas. Seria a prática de avaliação um instrumento repres­
sor e autoritário que formaliza o conhecimento do aluno ou a avaliação seria um
instrumento que contribui para seu crescimento intelectual e espírito crítico?
O método tradicional de avaliação atualmente tem sido alvo de várias críticas,
pois, durante muitos anos, as instituições escolares se responsabilizaram por

Orientações gerais
uma aprendizagem homogênea e linear, que não considera as dificuldades e
qualida­d es de cada aluno no processo de aprendizagem. Neste sistema, a ava-
liação é uma forma de seleção e exclusão dos alunos, focada na quantidade de
saber acu­m ulado e nos princípios de eficiência e competitividade, como as
provas de vestibular, por exemplo. Assim, o pedagogo Jansen Felipe da Silva
afir­m a que esse modelo “contribui eficientemente para a marginalização socio-
econômica e cultural de grande parcela da população brasileira, principalmente
a pertencente às classes mais carentes”.
Por outro lado, a proposta formativa reguladora de avaliação leva em consi­
deração aspectos do cotidiano em sala de aula. A avaliação é tida como um
pro­c esso contínuo, diário e qualitativo que respeita o ritmo de cada estudante.
Ao contrário do modo tradicional de avaliação, a maneira como o sujeito apren-
de passa a ser mais importante do que aquilo que aprende.
Neste sentido, a prática pedagógica se torna reflexiva e transformadora, uma
vez que exige dos professores uma postura ativa sobre as dificuldades dos alunos.
Sendo a avaliação formativa reguladora constante, é necessário também diver­
sificar os instrumentos de avaliação (provas dissertativas, objetivas, trabalhos
em grupo, debates etc.). Esses instrumentos, quando utilizados com coerência,
le­v am em consideração não somente as capacidades cognitivas, mas também
as dimensões afetiva, social, cultural de cada aluno, aprofundando as relações
en­t re aluno e professor em sala de aula. Na proposta formativa reguladora, es-
ses instrumentos de avaliação são usados para compreender as necessidades
de ca­d a aluno, a fim de melhorar suas qualidades, diagnosticar e intervir de
maneira po­s itiva (e não simplesmente o classificar, selecionar e excluir).

As categorias dos conteúdos


Existem três diferentes tipos de conteúdos que devem constar em um planeja­mento
didático ou uma avaliação: conteúdos conceituais, procedimentais e ati­tudinais.
Os conteúdos conceituais permitem que o aluno entre em contato com conhe­
cimentos que formam conceitos. São as bases para a assimilação e organização
dos fatos na realidade.
Os conteúdos procedimentais envolvem ações que possibilitam ao aluno lidar
com os conhecimentos apreendidos, lhe dando instrumentos para analisar, pen­
sar e produzir um conhecimento próprio.
Já os conteúdos atitudinais estão ligados ao conhecimento escolar em um con­
texto socializador, e geram atitudes do aluno perante o conhecimento adquirido, os
professores, os colegas de sala, a vida em sociedade. Esses conteúdos estão li­
gados à prática constante e coerente de valores e atitudes na instituição escolar.

33
A autoavaliação
Em um processo de ensino-aprendizagem mais democrático, a utilização de
fer­ramentas de autoavaliação possibilita tanto a alunos como a professores
avaliar o desempenho em sala de aula. Assim, alunos e professores podem
contribuir mutuamente para melhorar as estratégias de ensino-aprendizagem e,
também, apontar as dificuldades encontradas no caminho para superá-las.
A autoavaliação se torna uma atitude de reflexão que deve ser contínua.

[...] Para o aluno autoavaliar-se é altamente favorável o desafio do professor,


provocando-o a refletir sobre o que está fazendo, retomar passo a passo seus pro­
cessos, tomar consciência das estratégias de pensamento utilizadas. Mas não é ta­
refa simples. Para tal, ele precisará ajustar suas perguntas e desafios às possibi­
lidades de cada um, às etapas do processo em que se encontra, priorizando uns e
outros aspectos, decidindo sobre o que, como e quando falar, refletindo sobre o seu
papel frente à possível vulnerabilidade do aprendiz. Nesse sentido, o caráter intui­
tivo e ético do educador faz-se fortemente presente, porque ele precisará promover
tal reflexão a partir do papel que lhe cumpre e da forma de relaciona­mento que
deseja estabelecer com seus alunos. [...]
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 54.

Desafiando os alunos, o professor também passa a refletir sobre a sua atua-


ção nos processos didáticos, adequando-se às necessidades do dia a dia em
sala de aula, tomando consciência de seu papel diante dos desafios do proces-
so de en­s ino-aprendizagem.

Uma proposta de autoavaliação


A pesquisadora Jussara Hoffmann defende a ideia de que a autoavaliação não
deve ser caracterizada como um processo de autojulgamento de atitudes e rela­
ções pessoais. Questionamentos atitudinais, como: “O que penso sobre minhas
atitudes na escola? O que penso sobre minha relação com colegas e professo­
res? Que notas me atribuiria sobre o que aprendi nesse período?”, podem atin-
gir a autoestima dos alunos de maneira negativa e criar conflitos entre estes e
os pro­fessores, uma vez que geralmente as respostas dos alunos são levadas
em con­s elhos de classe ou mesmo ser apresentadas aos pais ou responsáveis.
Para Hoffmann, a autoavaliação deve ser um instrumento que favoreça a refle­
xão e a construção do conhecimento.

[...] Um processo de autoavaliação só tem significado enquanto reflexão do educan­


do, tomada de consciência individual sobre as aprendizagens e condutas cotidianas,
de forma natural e espontânea como aspecto intrínseco ao seu de­senvolvimento, e
para ampliar o âmbito de suas possibilidades iniciais, favore­cendo a sua superação
em termos intelectuais. [...]

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 53.

34
Orientações para o professor
■■ O que estou aprendendo?
■■ O que eu aprendi?
■■ Como se aprende/se convive?
■■ De que forma poderia aprender melhor?
■■ Como poderia agir/participar para aprender mais?
■■ Que tarefas e atividades foram realizadas?
■■ O que aprendi com elas? O que mais poderia aprender?
■■ O que eu aprendi com meus colegas e professores a ser e fazer?

Orientações gerais
■■ De que forma contribuí para que todos aprendessem mais?

Além disso, é necessária a atenção em situações do dia a dia em sala de


aula que podem indicar exemplos de autoavaliação:

[...] a ajuda às tarefas que pedem; a solicitação de textos complementares ou


novas explicações para noções sobre as quais ainda têm dúvidas; a insistência em
explicações sobre os porquês dos seus erros em tarefas; o auxílio em classe e extra­
classe solicitado a outros colegas; a reivindicação de tempo e espaço para conver­
sarem sobre questões de ensino e relacionamento com professores e co­legas. [...]
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 55.

Anotações

35
Tabela de conversão de séculos
No calendário gregoriano, o nascimento de Jesus Cristo é um marco para a
contagem dos anos. É por esse motivo que existem as siglas a.C. (antes de
Cristo) e d.C. (depois de Cristo). Os anos que an­tecedem o nascimento de
Cristo são contados em ordem decrescente. Os anos que sucedem o nas­c imento
de Cristo são contados em ordem crescente.
Observe.
século XX a.C. (século 20 a.C.): de 2000 a 1901 a.C.
século XIX a.C. (século 19 a.C.): de 1900 a 1801 a.C.
século XVIII a.C. (século 18 a.C.): de 1800 a 1701 a.C.
século XVII a.C. (século 17 a.C.): de 1700 a 1601 a.C.
século XVI a.C. (século 16 a.C.): de 1600 a 1501 a.C.
2o milênio a.C. século XV a.C. (século 15 a.C.): de 1500 a 1401 a.C.
século XIV a.C. (século 14 a.C.): de 1400 a 1301 a.C.
Antes de Cristo

século XIII a.C. (século 13 a.C.): de 1300 a 1201 a.C.


século XII a.C. (século 12 a.C.): de 1200 a 1101 a.C.
século XI a.C. (século 11 a.C.): de 1100 a 1001 a.C.

século X a.C. (século 10 a.C.): de 1000 a 901 a.C.


século IX a.C. (século 9 a.C.): de 900 a 801 a.C.
século VIII a.C. (século 8 a.C.): de 800 a 701 a.C.
século VII a.C. (século 7 a.C.): de 700 a 601 a.C.
século VI a.C. (século 6 a.C.): de 600 a 501 a.C.
1o milênio a.C. século V a.C. (século 5 a.C.): de 500 a 401 a.C.
século IV a.C. (século 4 a.C.): de 400 a 301 a.C.
século III a.C. (século 3 a.C.): de 300 a 201 a.C.
século II a.C. (século 2 a.C.): de 200 a 101 a.C.
século I a.C. (século 1 a.C.): de 100 a 1 a.C.
Nascimento
de Jesus Cristo século I d.C. (século 1 d.C.): de 1 a 100 d.C.
século II d.C. (século 2 d.C.): de 101 a 200 d.C.
século III d.C. (século 3 d.C.): de 201 a 300 d.C.
século IV d.C. (século 4 d.C.): de 301 a 400 d.C.
século V d.C. (século 5 d.C.): de 401 a 500 d.C.
1o milênio d.C. século VI d.C. (século 6 d.C.): de 501 a 600 d.C.
Depois de Cristo

século VII d.C. (século 7 d.C.): de 601 a 700 d.C.


século VIII d.C. (século 8 d.C.): de 701 a 800 d.C.
século IX d.C. (século 9 d.C.): de 801 a 900 d.C.
século X d.C. (século 10 d.C.): de 901 a 1000 d.C.

século XI d.C. (século 11 d.C.): de 1001 a 1100 d.C.


século XII d.C. (século 12 d.C.): de 1101 a 1200 d.C.
século XIII d.C. (século 13 d.C.): de 1201 a 1300 d.C.
século XIV d.C. (século 14 d.C.): de 1301 a 1400 d.C.
século XV d.C. (século 15 d.C.): de 1401 a 1500 d.C.
2o milênio d.C. século XVI d.C. (século 16 d.C.): de 1501 a 1600 d.C.
século XVII d.C. (século 17 d.C.): de 1601 a 1700 d.C.
século XVIII d.C. ( século 18 d.C.): de 1701 a 1800 d.C.
século XIX d.C. (século 19 d.C.): de 1801 a 1900 d.C.
século XX d.C. (século 20 d.C.): de 1901 a 2000 d.C.

3o milênio d.C. século XXI d.C. (século 21 d.C.): de 2001 a 2100 d.C.

Existem algumas regras que nos auxiliam a identificar os séculos. Observe.


Quando o ano termina com dois zeros, o século será identificado pelos
dois primeiros algarismos.
■■ Ano 1500 = 1500 —Este ano pertence ao século XV
■■ Ano 2000 = 2000 —Este ano pertence ao século XX
Quando o ano não terminar com dois zeros, corte os dois últimos algaris-
mos e some 1 ao número restante.
■■ Ano 1789 = 1789 —17+1 = 18 — Este ano pertence ao século XVIII
■■ Ano 331 a.C. = 331 — 3+1 = 4 — Este ano pertence ao século IV a. C.

36
Sugestões de leitura

Orientações para o professor


sobre o ensino de História
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas
e metodologia . Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos , vol. 1. 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2002. (Repensando o Ensino).
. (Org.). O saber histórico na sala de aula . 6. ed. São Paulo: Con-
texto, 2002. (Repensando o Ensino).

Orientações gerais
CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. (Coords.). Drogas nas escolas .
Brasília: UNESCO, 2002.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: Experiên-
cias, reflexões e aprendizados . Campinas: Papirus, 2003. (Magistério: Forma-
ção e Trabalho Pedagógico).
FONSECA, Thais Nívia de Lima e. História & ensino de História . 2. ed. Belo Ho-
rizonte: Autêntica, 2006. (História &... reflexões).
GRINBERG, Keila; LAGÔA, Ana Maria Mascia; GRINBERG, Lúcia. Oficinas de
história: projeto curricular de Ciências Sociais e de História. Belo Horizonte:
Dimensão, 2000.
JARES, Xesús R. Educação para a paz: sua teoria e sua prática. 2. ed. Trad.
Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propos-
tas . São Paulo: Contexto, 2003.
LUCINI, Marizete. Tempo, narrativa e ensino de História. Porto Alegre: Mediação, 1999.
MONTEIRO, Ana Maria F. C.; GASPARELLO, Arlette Medeiros; MAGALHÃES,
Marcelo de Souza (Orgs.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas . Rio
de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2007.
MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola . 3. ed. Brasília:
MEC/SEF, 2001.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula . São Paulo: Con-
texto, 2003.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens . 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2006. (História &... reflexões).
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de História . São Paulo:
Contexto, 2009.
SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. História & Do-
cumento e metodologia de pesquisa . Belo Horizonte: Autêntica, 2007. (His-
tória &... reflexões).
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História . São Paulo:
Scipione, 2004. (Pensamento e ação no magistério).
SILVA, Marcos; FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no século XXI: Em
busca do tempo entendido . Campinas: Papirus, 2007. (Magistério: Formação
e Trabalho Pedagógico).
TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e história . São Paulo:
Moderna, 2000.

37
Objetivos, comentários e
sugestões

1
Capítulo

Estudar História é...

Objetivos
■■ Compreender os principais conceitos para o estudo da História.
■■ Perceber que existem diferentes interpretações dos fatos históricos.
■■ Perceber que existe uma grande variedade de fontes históricas.
■■ Verificar que todos somos sujeitos da história.
■■ Compreender que o tempo é um elemento essencial para os estudos históricos.
■■ Perceber a importância das linhas do tempo nos estudos históricos.
■■ Verificar quais outras áreas do conhecimento podem auxiliar o historiador em
seu trabalho de pesquisa.

O trabalho com o documento


A ideia comum é que o contato do historiador com sua ferramenta fundamental
de pesquisa — o documento escrito — ocorre, notadamente, em arquivos públicos
de abrangência nacional, estadual e/ou municipal e, em seguida, em arquivos par-
ticulares, museus, bibliotecas, centros de memória e/ou de documentação. Nesses
locais, quer seja preservando a memória de atos administrativos e/ou quaisquer
outros fatos considerados relevantes, os documentos apresentam-se selecionados,
classificados, catalogados e, quando necessário, até mesmo restaurados. Consti-
tuem, assim, núcleos de referência nos quais, dependendo da organização do acer-
vo disponível e das condições de trabalho, o pesquisador teria maior possibilidade
de acesso aos dados que deseja coletar.
Essa visão não corresponde, porém, a uma verdade absoluta, pois os documentos
que fundamentam os estudos históricos assumem, hoje, as formas mais diversas,
abordam diferentes conteúdos e podem ser encontrados em lugares os mais variados.
Uma infinidade de registros apresenta-se disponível atualmente para o trabalho do
historiador. Cada vez mais acessíveis, as informações sobre um determinado tema
provêm das mais diversas origens: jornais, revistas, livros, noticiários de rádio e de
televisão, filmes, documentários, internet, anedotário, linguagem e oralidade, entre
tantas outras, constituem apenas alguns exemplos. Formam um conjunto de dados
no qual a escrita pode ou não ser complementada, pelo menos, pela imagem, pelo
som e pelo objeto. Logo, diferente do passado, a democratização do conhecimento
incentiva uma rica discussão sobre a própria definição de documento, permitindo
que a pesquisa histórica não se restrinja ao espaço especializado do arquivo textual.
Notadamente para os temas atuais, a abrangência das fontes disponíveis torna vi-
ável a prática da crítica histórica em sala de aula desde os níveis mais elementares de

38
ensino. Eleger uma questão, selecionar registros que tratem do assunto, contextuali-

Orientações para o professor


zar, decodificar e construir uma ou mais versões desse tema são as tarefas básicas
desse tipo de trabalho. E, para tanto, cabe ao professor de História, como um bom
historiador, orientar seus alunos a lidar com a diversidade de dados, pois são cada
vez mais raras as análises históricas alicerçadas por um único tipo de documento.
SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. História & Documento e metodologia de pesquisa.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 67-8.

Comentários e sugestões

Objetivos, comentários e sugestões


Páginas 8 e 9

Páginas de abertura do capítulo


■■ A imagem A é uma fotografia em sépia do Viaduto do Chá, na cidade de São
Paulo, no início do século XX. As edificações retratadas compunham a arqui-
tetura da cidade naquela época, influenciada pelos padrões europeus. No
plano de fundo, vemos o Teatro Municipal, lugar muito frequentado pela elite
paulistana do período. Pelas ruas de paralelepípedo circulam pessoas, muito
mais homens que mulheres. É possível observar também a coexistência de
diferentes meios de transporte, como carroça, automóvel e bonde elétrico.
■■ A imagem B é uma fotografia recente do Viaduto do Chá, em São Paulo. A
arquitetura do Teatro Municipal, edifício que permaneceu de uma época para
a outra, contrasta com as novas edificações construídas. Pelas ruas circulam
carros, ônibus para transporte coletivo e várias pessoas, homens e mulheres,
com roupas de modelos variados. Elementos como o semáforo e a faixa para
pedestres indicam a passagem intensa de pessoas e automóveis nesse cená-
rio de São Paulo do século XXI.

Conversando sobre o assunto


■■ As fotografias representam um mesmo lugar, porém, em tempos diferentes: o
Viaduto do Chá, em São Paulo, no início do século XX (imagem A) e início do
século XXI (imagem B).
■■ Entre uma fotografia e outra, passaram-se aproximadamente 100 anos.
■■ Nesse período, o espaço urbano retratado sofreu grandes modificações, prin-
cipalmente, a construção de vários edifícios, o asfaltamento das ruas e a
instalação de postes de energia elétrica. Em meio a essas mudanças, a arqui-
tetura do Teatro Municipal foi mantida, ajudando a preservar, de certa forma,
a memória da cidade.

Página 11
■■ Explore com os alunos as imagens desta página, perguntando-lhes se sabem
o que são os objetos retratados e para que servem. É possível que os alunos
nunca tenham visto, por exemplo, uma ampulheta ou uma fita K7. Caso
você tenha estes ou outros objetos em casa, leve para os alunos manusea-
rem em sala de aula.
■■ Chame a atenção dos alunos para a multiplicidade de interpretações que
uma mesma fonte histórica pode ter. A ampliação do campo documental

39
possibilitou ao historiador a construção de narrativas produzidas com base
em concepções particulares e de assertivas do tempo presente. Desse mo-
do, o historiador poderá apresentar uma perspectiva própria sobre as fontes,
condicionada por seu conhecimento, emoções e experiências. Todos esses
fatores irão influenciar em sua maneira de trabalhar com os objetos e fontes
à sua disposição. Um texto produzido por um historiador baseado em suas
perspectivas é apenas mais uma interpretação diante de tantas outras, con-
testando a premissa de uma verdade absoluta a respeito de uma fonte ou
de que esta fale por si, sem os questionamentos propostos ao documento
pelo historiador.

Páginas 12 e 13
■■ Diferentemente do tempo cronológico, que trabalha com medidas constantes
e proporcionais de tempo, o tempo histórico considera eventos de curta,
média e longa duração, e seus referenciais são as mudanças que ocorrem
na sociedade. As transformações do tempo histórico não são exatas, po-
dendo apresentar rupturas e também permanências. As mudanças no tem-
po histórico não estão isentas do período que lhes antecede.

Página 17
■■ Explique aos alunos que, dependendo das condições do terreno e do tipo
de intervenção humana nele realizado, os estratos de um sítio arqueológico
e sua identificação podem ser bem mais complexos do que os representados
nesta ilustração.

2
Capítulo

A origem do ser humano

Objetivos
■■ Conhecer as etapas de formação do planeta Terra.
■■ Entender que os primeiros hominídeos tiveram origem no continente africano.
■■ Compreender que a evolução biológica do ser humano ocorreu na África. A
partir da África, o ser humano povoou outros continentes.
■■ Conhecer as principais diferenças entre o modo de vida no Paleolítico e no
Neolítico.
■■ Perceber a relação entre o início da agricultura, da pecuária e a sedentarização
e formação das primeiras aldeias.

Berço da humanidade
A mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones
terem sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta, o que faz
do continente africano o berço único da espécie humana. Os dados científicos que
corroboram tanto as análises do DNA mitocondrial quanto os achados paleoantro-
pológicos apontam constantemente nesse sentido.

40
O continente africano, palco exclusivo dos processos interligados de hominiza-

Orientações para o professor


ção e de sapienização, é o único lugar do mundo onde se encontram, em perfeita
sequência geológica, e acompanhados pelas indústrias líticas ou metalúrgicas cor-
respondentes, todos os indícios da evolução da nossa espécie a partir dos primeiros
ancestrais hominídeos. A humanidade, antiga e moderna, desenvolveu-se primeiro
na África e logo, progressivamente e por levas sucessivas, foi povoando o planeta
inteiro. Portanto, as atuais diferenças morfo-fenotípicas entre populações humanas
— as chamadas “raças” — são um fenômeno recente na história da humanidade
(presumivelmente do final do Paleolítico superior, 25000 a.C.–10000 a.C.). E a ci-
ência já descartou como anticientífica a ideia de que o morfo-fenótipo possa incidir

Objetivos, comentários e sugestões


de algum modo nos processos intelectuais de socialização ou de aquisição/aprimo-
ramento de conhecimentos. [...]
A história da espécie humana se confunde com a própria história da África,
onde se originaram, também, as primeiras civilizações do mundo. Cada novo des-
cobrimento da paleoantropologia ou da antropobiologia no continente africano
provoca novas ondas de choques e embates entre os cientistas, pois tais descobri-
mentos invalidam complexos esquemas teóricos até então tidos como definitivos,
complicando ainda mais o quadro das interpretações sobre a evolução humana.
As novas interpretações dos dados científicos remetem à grande complexidade
do acontecer humano como um dado essencial e permanente da história. Ao mes-
mo tempo, geram a necessidade de realizar constantes atualizações da história do
continente africano. Essa situação deve ser celebrada, pois enfraquece cada vez
mais os velhos mitos e esquemas preconceituosos que chegaram até a colocar em
dúvida a própria essência humana dos seres africanos. Ora, a história da humani-
dade começa precisamente com os primeiros seres humanos africanos; seres dota-
dos de consciência, de sensibilidade, e não somente de inteligência.
Certa tradição eurocêntrica e hegemônica costuma alinhar o fato histórico com
a aparição, recente, da expressão escrita, criando os infelizes conceitos de povos
“com história” e de povos “sem história”, que, eventualmente, o etnólogo Lucien
Levy-Bruhl iria transformar em “povos lógicos” e “povos pré-lógicos”. Mas a histó-
ria propriamente dita é a interação consciente entre a humanidade e a natureza, por
uma parte, e dos seres humanos entre si, por outra. Por conseguinte, a aparição da
humanidade como espécie diferenciada no reino animal abre o período histórico.
O termo “pré-história”, tão abusivamente utilizado pelos especialistas das discipli-
nas humanas, é uma dessas criações que doravante deverão ser utilizadas com
maior circunspeção. A porta de entrada no ensino da história da África passa pelo
reconhecimento desse continente nas suas singularidades essenciais, tais como:
■■
berço da humanidade em todas as suas configurações tanto antiga (Homo ha-
bilis, Homo erectus, Homo neanderthalensis) como moderna (Homo sapiens
sapiens);
■■
lugar a partir do qual se efetuou o povoamento do planeta, a partir de 100 a 80
mil anos;
■■
berço das primeiras civilizações agrossedentárias e agroburocráticas do mun-
do ao longo do Nilo (Egito, Kerma, Meroé).
WEDDERBURN, Carlos Moore. In: BRASIL. Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal no 10.639/03 –
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: MEC/BID/UNESCO, 2005. p. 135-7.

41
Comentários e sugestões

Páginas 24 e 25

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A representa uma paisagem natural que compunha o espaço de vida
dos hominídeos. De características simiescas, esses hominídeos se alimenta-
vam de folhas, raízes e carnes de animais que caçavam. Eles estruturavam
suas cabanas com pedaços de madeira e galhos de árvores. Os animais apre-
sentados no plano de fundo são típicos da região da qual esses hominídeos
descendem.
■■ Na fonte B, os objetos apresentados são ferramentas utilizadas pelos hominí-
deos. Eram feitas de pedra com formatos pontiagudos para auxiliá-los na
caça e no corte de couro e carnes de animais.
Estimule os alunos a dar suas opiniões sobre quais seriam as utilidades desses
objetos, por exemplo, socar e cortar alimentos.
■■ Na fonte C, antigos seres humanos realizam atividade de pintura na parede de
uma caverna. Desenhavam a respeito de seu cotidiano e costumes, sobretudo
a atividade de caça. O homem ao centro faz desenhos de animais, auxiliado
pelo outro indivíduo que segura um recipiente com fogo para iluminar o espa-
ço. O outro homem, em primeiro plano, produz a tinta para a execução da
tarefa. Esses antigos seres humanos vestiam-se com peles de animais e usa-
vam adereços em volta do pescoço feitos de ossos de animais.
■■ O trabalho com essas ilustrações (fontes A e C) requer cuidado, uma vez que
foram feitas na atualidade para representar hominídeos e seres humanos que
viveram há milhões de anos. Mesmo que tenham sido feitas com base em
estudos científicos, elas não podem ser interpretadas como representações
realistas dos hominídeos ou dos primeiros seres humanos.

Conversando sobre o assunto


■■ Nas três fontes apresentadas, percebe-se a importância dos instrumentos de
pedra no cotidiano dos nossos ancestrais. Nas imagens A, B e C, podemos
notar a obtenção gradativa dos conhecimentos para a utilização destes ins-
trumentos: na primeira ilustração, o hominídeo aparece iniciando seu manuseio;
na segunda, os objetos feitos de pedra são oriundos do domínio dos antigos
seres humanos com esse material, fabricando materiais que lhes serviriam
para as atividades de seu cotidiano, sobretudo a caça; na terceira ilustração,
os indivíduos já possuem domínio sobre a fabricação destes objetos e sobre
seu uso. Pintam nas paredes das cavernas parte de suas atividades cotidianas
facilitadas pela utilização desses instrumentos e fazem uso de pequenos re-
cipientes feitos de pedra para portar as tintas.
■■ Os hominídeos de ambas as ilustrações aproximam-se em algumas de suas
características físicas, ou seja, são bípedes e conseguem manusear objetos. Os
seres humanos antigos da fonte C, no entanto, utilizam adornos, comunicam-se
pelas pinturas rupestres e usam vestes feitas de peles de animais, uma vez que
têm muito menos pelos no corpo do que os hominídeos da ilustração A.

42
■■ Os primeiros seres humanos se alimentavam de raízes, folhas e caça. Eram

Orientações para o professor


nômades e podiam registrar suas atividades cotidianas nas paredes das ca-
vernas, com o auxílio de tintas e instrumentos de pedra fabricados por eles
mesmos. Para a caça, os objetos utilizados também eram feitos de pedra,
produzidos em decorrência do aprimoramento no manuseio desse elemento.
Os objetos eram pontiagudos e facilitavam a caça e o corte do couro e da
carne dos animais. Com a pele desses animais, protegiam-se do frio; com os
ossos, faziam adornos para se enfeitar.

Página 30

Objetivos, comentários e sugestões


■■ Explore as noções de anterioridade e posterioridade por meio da análise da
linha do tempo. Faça perguntas como: O que aconteceu antes, o surgimen-
to do Homo erectus ou do Homo habilis ?; O que aconteceu depois, o de-
senvolvimento do Homo sapiens ou a invenção da escrita? etc.
■■ Informe aos alunos que, de acordo com especialistas, o Homo sapiens alcançou,
entre 35 mil e 10 mil anos atrás, um novo grau de desenvolvimento. Para fazer
a diferenciação, os especialistas criaram a denominação Homo sapiens sapiens.
Leia no texto a seguir informações sobre o Homo sapiens sapiens.

Entre 35 mil e 10 mil anos atrás, surgiu o Homo sapiens sapiens, o [ser humano]
anatomicamente moderno, que deu origem aos tipos físicos de hoje. Munido de téc-
nicas aprimoradas, trabalhava de maneira inteligente com pedras, ossos e chifres na
confecção de instrumentos de caça que podiam ser facilmente transportados [...].
Ao evoluir física e culturalmente, esse homem moderno organizou-se em socie-
dade, desenvolveu traços religiosos, aperfeiçoou seus dons artísticos e passou a
ocupar quase todo o planeta.
BELLINGHAUSEN, Ingrid Biesemeyer. A evolução da vida na Terra. São Paulo: DCL, 2005. p. 46.

Página 31
■■ Aproveite este momento para valorizar a história da África, de onde descen-
dem os primeiros hominídeos.
■■ A partir das informações do mapa, estimule os alunos a pensar nos motivos
dos deslocamentos dos hominídeos, por exemplo, a procura por alimentos
ou ambientes mais adequados à sobrevivência.

Página 32
■■ Realize com os alunos uma atividade que, de maneira lúdica, pode auxiliar
na compreensão do termo pintura rupestre. A atividade consiste na realiza-
ção, pelos alunos, de pinturas que representem cenas de seu cotidiano. Eles
irão utilizar, para isso, “tintas” naturais.

Sugestão de atividade
Pintando o Cotidiano
Materiais
■■ papel craft ;

43
■■ tintas obtidas a partir de carvão vegetal, tijolo, terra, água, vegetais com cores
fortes, sementes;
■■ galhos secos, palha.
Primeiramente, verifique se os alunos compreendem o significado do termo
pintura rupestre.
Para auxiliar nessa compreensão, solicite-lhes que consultem as informações
apresentadas na página 32. Em seguida, relembre-os de que os temas pintados
pelos seres humanos primitivos nas rochas ou paredes de cavernas estavam,
geralmente, relacionados aos seus costumes cotidianos. Comente também que,
para realizar suas pinturas, os seres humanos primitivos utilizavam “tintas” en-
contradas na natureza, como carvão, barro, sementes, sumo de plantas etc.
Providencie a “superfície” na qual os alunos irão realizar as pinturas. Caso
haja a possibilidade de pintarem sobre uma superfície rochosa ou, então, sobre
uma parede revestida com reboco, conduza-os até o local escolhido. Caso isso
não seja possível, forneça aos alunos, ou peça que tragam de casa, pedaços
de papel craft , cortados em retângulos de 2m x 1m, pelo menos. Quanto maior
o pedaço de papel, mais liberdade os alunos terão para realizar as pinturas. A
atividade pode ser realizada tanto com os papéis fixados em paredes quanto
dispostos no chão. Providencie também as “tintas”: carvão vegetal, pedaços de
tijolos, terra e água (para fazer barro), vegetais com cores fortes, como beter-
raba e espinafre. Verifique a possibilidade de os alunos utilizarem também se-
mentes, como as de urucum, e sumo de plantas diversas. Peça aos alunos que
observem, na página 25, a maneira como a “tinta” está sendo preparada e
utilizada pelos seres humanos primitivos. Caso queira aprofundar a atividade e
realizar a interdisciplinaridade com Ciências, convide um professor dessa disci-
plina para dar sugestões e ensinar aos alunos técnicas de extração de “tinta”
das sementes e plantas.
Para a confecção dos “pincéis”, providencie galhos secos, palha etc. Se
preferirem, os alunos podem usar as próprias mãos para pintar. Essa atividade
pode ser feita individualmente ou em grupos; o importante é que todos partici-
pem expressando suas habilidades artísticas. Depois de realizada a atividade,
exponha as “pinturas rupestres” na sala de aula ou nos corredores da escola
para que todos conheçam o resultado dos trabalhos.
Caso as pinturas tenham sido feitas em superfícies rochosas ou paredes,
convide outras turmas ou os familiares dos alunos para vê-las no local onde
foram produzidas. Se julgar conveniente, peça aos alunos que produzam um
texto, individual ou coletivo, sobre as sensações que tiveram durante a realiza-
ção da atividade.

Páginas 38 e 39
■■ Explore com os alunos os elementos do infográfico apresentado nestas pá-
ginas. Veja algumas dicas a seguir.

Explorando a imagem
Uma aldeia Neolítica
■■ Estimule os alunos a observar:
- -as vestimentas dos homens, mulheres e crianças representadas;

44
- -as habitações, feitas de pedra, madeira, barro e palha, que formavam as

Orientações para o professor


aldeias;
- -o uso de instrumentos nos trabalhos domésticos, na colheita e na caça, bem
como o processo de produção de instrumentos de metal;
- -o local que habitavam, por exemplo, próximo à margem de rios;
- -as atividades desenvolvidas por estas sociedades.
Comente que a pecuária e a agricultura desenvolveram-se, sobretudo, em
razão da sedentarização desses grupos humanos. A sedentarização possibi-
litou, também, o desenvolvimento de trabalhos manuais, como o artesanato
com cerâmica, a produção de tecidos com as lãs dos carneiros domesticados

Objetivos, comentários e sugestões


e a fabricação de instrumentos de metal, que auxiliavam em suas atividades.
A permanência desses povos em um único lugar gerou a necessidade de vi-
gilância, realizada por homens armados encarregados da segurança, contra a
invasão de outros grupos. A formação de conglomerados pela construção de
habitações permitiu o desenvolvimento de instituições como a família, a religião
e o Estado, mudando o modo de vida desses seres humanos.

Página 40
■■ Comente com os alunos que os combustíveis fósseis são resultados de milhões
de anos de transformações, gerados pela decomposição da matéria orgânica,
ou seja, das plantas e dos animais. Destas transformações foram gerados o
carvão, o petróleo e o gás natural. E é pela necessidade de um longo período
para ser transformado que os combustíveis fósseis não são renováveis. Se julgar
conveniente, apresente aos alunos o seguinte texto, que aborda este assunto.

[...] Do total consumido no planeta, 40% provém desse combustível fóssil [óleo
de pedra] — seja a gasolina dos automóveis, o querosene que move os aviões ou o
diesel que faz andar não só os ônibus nas cidades, como os tratores e as máquinas
que produzem alimentos no campo e os caminhões que os transportam até os
centros urbanos. Isso sem falar nos outros derivados, que compõem toda a indús-
tria petroquímica: de plásticos e borrachas a tintas, sabão em pó, gás de cozinha e
até medicamentos. Os países mais afetados seriam os do hemisfério norte, onde o
petróleo ainda garante a calefação no inverno. Sem ele, o frio poderia provocar um
grande número de mortes.
Extraído do site: <http://super.abril.com.br/cotidiano/todo-petroleo-planeta-acabasse-ano-vem-441924.shtml>.
Acesso em: 27 jan. 2012.

Página 41

Sugestão de atividade
■■ Discuta com os alunos a relação entre o aquecimento global e o consumo.
Faça um levantamento sobre o que eles consideram “produtos supérfluos” e
o que pensam que se pode fazer para diminuir a emissão de CO 2 na atmos-
fera. Se julgar conveniente, proponha que façam uma pesquisa sobre o au-
mento da temperatura da Terra e a sua relação com o consumo, bem como
apresentem sugestões de fontes de energia alternativas.

45
3
Capítulo

Os povos da Mesopotâmia

Objetivos
■■ Perceber que a Mesopotâmia é uma região onde se desenvolveram algumas
das mais antigas civilizações do mundo.
■■ Compreender o conceito de civilização.
■■ Reconhecer que os mesopotâmios inventaram a escrita cuneiforme, um dos
mais antigos sistemas de escrita.
■■ Compreender que grande parte da Mesopotâmia fica atualmente no Iraque, um
país que, nas últimas décadas, foi devastado por conflitos armados, o que aca-
bou resultando em danos e destruições de importantes patrimônios históricos.

A influência mesopotâmica*
[...] Os habitantes da Mesopotâmia, começando provavelmente em aldeias isoladas,
passaram a construir redes locais de valas de irrigação, canais e locais de moradia junto
de represas, fazendo uso da madeira e do betume do vale superior, ao norte, como abrigo
e proteção contra as águas. Esse domínio da água foi o preço da sobrevivência comunal;
isso porque havia uma natural ameaça de escassez de água, no começo da estação de
crescimento, e a probabilidade de tempestades e enchentes no tempo da colheita. A pro-
dutividade agrícola apoiava-se, ali, na incessante vigilância e no esforço coletivo.
Aceitando esse duro desafio, as aldeias, numa antiga fase, aprenderam as vantagens
da ajuda mútua, do planejamento a longo prazo, da aplicação paciente a uma tarefa
comum, tudo isso repetido estação após estação. A autoridade, sobrevivente por longo
tempo, do Conselho de Anciãos denota uma antiga mobilização comunal da força de
trabalho sob uma liderança competente, embora local. Essa medida de cooperação
comunal pode, por sua vez, ter dado à realeza mesopotâmica justamente aquelas limi-
tações humanas que contrastam com sua correspondente egípcia: todavia, abriram o
caminho de uma autoridade, mais centralizada, que podia dominar uma área maior. [...]
Contudo, na Mesopotâmia, tão logo foi acalmado — e enganado — o Deus da
Tempestade, o excedente potencial de alimento e vitalidade humana foi enorme.
Mesmo a lã dos carneiros daqueles vales era mais grossa e mais útil que o produto
das pastagens mais secas: os tecidos de lã da Babilônia tornaram-se tão célebres
como os algodões do Egito. Os riscos eram grandes e os esforços para superá-los
desoladores; entretanto, as recompensas eram imensas.
Assim, é natural que, desse primeiro grande excedente, a Suméria, sem nenhuma
dúvida, segundo sustentam firmemente os arqueólogos da Mesopotâmia, em sua
maioria, tenha tomado a dianteira, começando na rede de cidades das tórridas
terras do delta, perto do golfo Pérsico. Essas cidades não somente inspiraram a mais
antiga arquitetura monumental de tijolos do Egito, mas, na astronomia, na escrita,
na organização militar, na construção de canais, na irrigação e, não menos, no
comércio [...], deixaram sua marca nas distantes cidades do vale do Indo.
MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 4. ed. Trad. Neil R. da Silva.
São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 70-1.
*Título dado pelos autores

46
Comentários e sugestões

Orientações para o professor


Páginas 46 e 47

Páginas de abertura do capítulo


■■ O painel apresentado como fonte A mostra soldados lutando em carros de
guerra, puxados por animais e levando prisioneiros para o rei. As vestes des-
ses personagens caracterizam o contexto de guerra. Há pessoas caídas no
chão, provavelmente feridas. Esses elementos indicam que os mesopotâmios

Objetivos, comentários e sugestões


eram povos belicosos.
Comente com os alunos que o painel foi encontrado na cidade de Ur, em um
túmulo real, e que possuía 40 centímetros de comprimento. Foi feito com
conchas e lápis-lazúli. Comente que, provavelmente, tratava-se de uma caixa
acústica de cítara de cerca de 2500 a. C. Veja, a seguir, elementos do painel
que podem ser trabalhados com os alunos.

Rédea Onagros Governante Soldado Cativo ferido

Museu Britânico, Londres. Foto: AAAC/TopFoto/Keystone

Soldados da Lanças Carro de guerra


infantaria

■■ A fonte B apresenta detalhe da escrita cuneiforme dos mesopotâmios em uma


placa de argila. Comente que essas placas eram cozidas, e os símbolos, ini-
cialmente, não representavam sons, mas ideias.
■■ A fonte C é um relevo em pedra e representa algumas atividades cotidianas
da Mesopotâmia, como uma mulher trabalhando na cozinha, e servas domés-
ticas, na parte superior do relevo. Na parte inferior esquerda, sacerdote com
vísceras de animais para ajudá-lo nos rituais que servem para prever o futuro,
e do lado direito, presença de um cozinheiro.

Conversando sobre o assunto


■■ Pela fonte A, nota-se que os mesopotâmios eram belicosos, possuíam equi-
pamentos de guerra, capturavam prisioneiros etc.
■■ A escrita cuneiforme, apresentada na fonte B era feita em placas de argila
cozida e foi criada pela necessidade de se controlar a cobrança de impostos.

47
■■ Pela fonte C, notam-se algumas atividades que eram feitas no cotidiano des-
sas sociedades, como trabalhos domésticos, realizados pelas mulheres; servas
para também realizarem afazeres domésticos e auxiliarem suas senhoras nas
atividades pessoais; rituais com animais para prever o futuro, indicando que
os mesopotâmios eram supersticiosos.

Página 48
■■ Para auxiliar na compreensão das características do Oriente Médio, apre-
sente aos alunos as informações do texto a seguir.

A expressão Oriente Médio é recente. Antes, usava-se com mais frequência Oriente
Próximo. Sob um ponto de vista mais limitado, o Oriente Médio é uma região da Ásia
formada pelos seguintes países: Irã, Iraque, Arábia Saudita, Turquia, Afeganistão, Iêmen,
Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos, Barein, Catar, Jordânia, Isarel, Síria e Líbano.
Porém, por apresentarem características semelhantes, outras regiões são incluí-
das quando falamos de Oriente Médio. O norte da África — países como Egito,
Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos — apresenta desertos, fala língua árabe e pratica
a religião muçulmana, características do Oriente Médio.
KARNAL, Leandro. Oriente Médio. São Paulo: Scipione, 1994. p. 10.

Página 49
■■ Explore as noções de tempo histórico analisando a linha do tempo com os
alunos. Faça perguntas como: Qual povo dominou por menos tempo a região
mesopotâmica? Quanto tempo durou o período do domínio babilônico? Os
assírios dominaram a região mesopotâmica antes ou depois dos cassitas? Que
fato marca o fim da dominação caldeia na Mesopotâmia? etc. Relacione, tam-
bém, o período de formação do Primeiro Império Mesopotâmico com a con-
quista da cidade de Ur, representada no infográfico das páginas 50 e 51.

Página 53
■■ A cornalina é um mineral de cor avermelhada e a origem de seu nome é
latina, referindo-se à coloração, que se aproxima com a cor de carne. A
cornalina é uma variedade da calcedônia, e se exposta ao sol por longos
períodos, tem a sua cor acentuada.
■■ Também composto pela calcedônia e por opala, o sílex é uma rocha que
apresenta, geralmente, coloração escura, cinza ou preta. Comente com os
alunos que por ser uma rocha muito dura, foi utilizada pelos primeiros seres
humanos na confecção de seus instrumentos de caça.
■■ Do latim “pedra azul”, o lápis-lazúli é uma rocha de coloração azulada. Foi
muito apreciada por povos antigos como os egípcios e os mesopotâmios.
Entre estes, era utilizada para confeccionar diferentes objetos, como joias,
jogos de tabuleiro e painéis.

Páginas 54 e 55
■■ Comente com os alunos que os mesopotâmios acreditavam que cada cida-
de tinha um deus protetor que ali residia com sua família e servidores, esta-

48
belecendo uma relação de trocas recíprocas com os habitantes do lugar.

Orientações para o professor


Tanto os seres humanos dependiam de seus deuses para equilibrar os ciclos
da natureza e garantir a produção agrícola, quanto os deuses precisavam do
trabalho humano para afirmar a sua sobrevivência.
■■ Conhecer diferentes versões sobre a origem do planeta e dos seres humanos
é muito importante para promover o respeito pela diversidade. Apresente aos
alunos o texto a seguir. Após o texto, veja sugestões de questionamento.

Sugestão de atividade
O surgimento do mundo

Objetivos, comentários e sugestões


Ao longo de sua história, os habitantes da Mesopotâmia contaram várias ver-
sões mitológicas sobre o surgimento do mundo e da humanidade. Lendo seus
textos, contudo, é possível perceber uma narrativa predominante, que foi passada
de geração para geração, com algumas modificações.
Segundo os sumérios, no princípio de tudo, havia um grande Mar, onde misturavam-se
todas as coisas. Era uma situação caótica, em que não se podia distinguir um elemento
do outro. Sem sabermos exatamente como, aquele Mar (que os sumérios consideravam
uma divindade, a deusa Nammu) deu origem ao Céu e à Terra. Os dois formavam uma
única montanha, da qual a Terra era a base e o Céu era o topo, e de sua união nasceram
vários deuses. Depois disso, um deles, chamado Enlil, separou o Céu e a Terra. Enlil fez
da Terra o seu reino; An, um outro deus, ficou com o Mundo Superior, o Céu. Existia
ainda um Mundo Inferior, que foi destinado a uma deusa, Ereshkigal [...].
A seguir, os deuses criaram tudo aquilo que existia na natureza (os rios, as chuvas,
os pântanos, as estepes...) e também tudo o que estaria presente na vida em socie-
dade (os trabalhos agrícolas, as construções, a escrita, as guerras, o amor...), estabe-
lecendo o papel e o destino de cada elemento criado. Portanto, os mesopotâmios
acreditavam em uma origem divina de tudo que fazia parte de suas vidas.
É importante notar que os mitos mesopotâmicos viam a criação do mundo
como uma superação do caos que existia no princípio de tudo, ou seja, como um
processo de separação e de ordenamento das coisas. Mas a nova ordem criada
pela vontade dos deuses não era definitiva. Nada garantia a sua continuidade, e
eram necessários esforços e cuidados para manter o Universo funcionando. [...]
REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 23-4. (Que história é esta?).

a ) O que os sumérios achavam que havia no princípio de tudo?


b ) Para os sumérios, o mar era uma divindade. Como eles chamavam essa divindade?
c ) O que aconteceu após a união entre o Céu e a Terra?
d ) Para os sumérios, existiam os deuses da Terra, os do Mundo Superior e os
do Mundo Inferior. Qual nome eles davam para essas divindades?
e ) O que, de acordo com os sumérios, foi criado pelos deuses?
f ) Para você, como surgiram o mundo e os seres humanos? Elabore um texto
explicitando suas opiniões. Se possível, faça desenhos para representar su-
as ideias. Depois de pronto, troque o seu texto com o de um colega e con-
versem sobre as semelhanças e as diferenças entre as opiniões de vocês.
Respostas: a) Um grande Mar, onde se misturavam todas as coisas. b) Nammu. c) O nasci-
mento de vários deuses. d) Enlil, An, Ereshkigal. e) Tudo aquilo que existia na natureza, como
rios e chuvas, e tudo aquilo que estava presente na vida em sociedade, como trabalhos agrí-
colas, escrita, guerras e amor. f) Pessoal. Muita atenção ao realizar a última questão, visto que
podem ocorrer discordâncias entre as ideias propostas pelos alunos. Não permita que façam
comentários preconceituosos, e reforce a importância do respeito pela diversidade de opiniões.

49
Página 57
■■ Comente que o Código de Hammurabi foi um conjunto de leis que estabe-
leceu critérios de punição de acordo com o crime cometido, por isso o
princípio “olho por olho, dente por dente”. Esse código, atribuído ao sobe-
rano babilônico Hammurabi, foi gravado em uma coluna de pedra em que,
na parte inferior, apareciam as leis, e na superior, um alto-relevo represen-
tando Hammurabi recebendo essas leis do deus Shamash. Essas leis do
Código de Hammurabi, porém, não eram iguais para todas as pessoas, os
escravos recebiam as piores penas.

4
Capítulo

A África Antiga: os egípcios

Objetivos
■■ Compreender que os egípcios formaram uma das mais antigas civilizações do
mundo.
■■ Reconhecer a importância do rio Nilo para os egípcios, assim como a importân-
cia da organização coletiva do trabalho.
■■ Reconhecer que os egípcios mantiveram contatos com outros povos da Anti-
guidade.
■■ Conhecer os novos estudos que contestam a teoria de que as pirâmides de
Gizé foram construídas por escravos.

A ciência do vale do Nilo


As contribuições do Egito ao mundo parecem distantes da civilização moderna.
As múmias e esfinges remetem mais a um passado misterioso e mágico do que a
feitos importantes e pioneiros. Não poderia ser uma visão mais equivocada. Muitos
aspectos da nossa vida diária devem sua origem à influência egípcia. Seja nos cam-
pos da lei, das artes, da literatura ou nas ciências aplicadas, as experiências desse
povo são valiosas. Se pouco se sabe sobre esse legado, é porque muitas descobertas
ainda precisam ser feitas.
Até dois séculos atrás, muito do nosso conhecimento baseava-se na ideia de
Aristóteles de que o desenvolvimento [do ser humano] só havia começado com os
gregos. Por quase dois milênios os especialistas nem sequer foram capazes de ler a
escrita da civilização egípcia, e todo o seu tesouro estava simplesmente posto de
lado. A redescoberta do Egito só aconteceu a partir de 1822, quando o erudito
francês Jean-François Champollion decifrou os hieróglifos com base nas inscrições
da Pedra de Roseta. Os misteriosos sinais faziam parte de um texto que aparecia
gravado, ao mesmo tempo, em três tipos de escrita, uma delas o grego. Até aquele
momento, o que se sabia sobre o Antigo Egito vinha de relatos dos gregos, dos
romanos ou da Bíblia. Com o aprendizado da leitura dessa linguagem, os estudos
voltaram-se para o Oriente e para seus registros originais. “Estamos agora para o
Egito como o Renascimento estava para a Grécia”, diz Antônio Brancaglion Jr.,
historiador do Museu Nacional do Rio de Janeiro e professor de Arqueologia na

50
UFRJ. O que se descobriu, então, foi que as margens do Nilo haviam sido extrema-

Orientações para o professor


mente férteis não apenas para a agricultura, mas também para a ciência. Hoje, sabe-
-se que muitas realizações gregas têm fundações mais antigas. As ideias de uma
alma imortal, da existência de bem e mal e de um deus criador, por exemplo, estão
presentes tanto na filosofia grega quanto na tradição judaico-cristã, mas suas raízes
são egípcias. Muitas das práticas médicas que se popularizaram com Hipócrates,
na Grécia, também já eram executadas dois mil anos antes no Egito. Lá foram ela-
borados jogos e construídos instrumentos musicais e armas sofisticadas.
A herança dos egípcios tem despertado cada vez mais interesse nos historiadores. [...]
GONÇALVES, Camila. A ciência do Vale do Nilo. Scientific American História: a ciência na antiguidade, São Paulo:

Objetivos, comentários e sugestões


Duetto, n. 3, s/d. Edição especial. p. 11-2.

Comentários e sugestões

Páginas 62 e 63
Páginas de abertura do capítulo
■■ Por meio dos elementos da fonte A é possível notar que os antigos egípcios
praticavam a agricultura. Os indivíduos aparecem joeirando, ceifando, colhen-
do o trigo e transportando-o em cestas para armazenamento de cereais auxi-
liados também, pelos animais, que eram corriqueiramente utilizados nessas
atividades. Um dos indivíduos sentados embaixo da árvore toca flauta, o que
indica que essa prática era comum. Próximas a este, duas pessoas disputam
um pedaço de trigo que sobrou da colheita. Para controlar a produção, escri-
bas fazem anotações em seus papiros, enquanto são supervisionados por
Menna em seu abrigo. A pintura foi encontrada na tumba de Menna.
Abrigo para Jarro para Trabalhadores
Menna Menna. carregar água. joeirando o trigo.
Escribas

Em Tumba de Menna, Luxor. 18ª Dinastia


fazendo
anotações
relativas à
produção
de grãos.

Trabalhadores
ceifando.

Foice Cestas para Trabalhadoras em conflito por causa


armazenar cereais. do trigo que sobrou da colheita.
■■ A fonte B é uma fotografia que retrata as três grandes pirâmides egípcias,
construídas para servir de túmulo aos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos,
por volta de 2500 a.C. Comente com os alunos.
■■ A fonte C é uma fotografia do rio Nilo e de suas margens, composta pelos
campos férteis. Em primeiro plano, os abrigos indicam a presença de comu-
nidades que vivem nesse local — cerca de 90% da população do Egito. As
velas das embarcações no centro do rio indicam a sua utilização, também,
como uma via para transporte.

51
Conversando sobre o assunto
■■ As pessoas que aparecem na fonte A são camponeses que trabalhavam como
agricultores na produção do trigo.
■■ Pela fotografia do rio Nilo — fonte C — nota-se que este rio teve grande im-
portância no desenvolvimento da civilização egípcia, pela sua perenidade e
pelas suas margens férteis. Os egípcios formavam uma população essencial-
mente agrícola, dependendo das cheias e vazantes do Nilo, apresentado na
fonte C, que fertilizavam o solo, tornando-o bom para o cultivo de produtos como
o trigo, apresentado na fonte A.
■■ Estudos recentes demonstraram que o trabalho de construção das pirâmides
foi realizado por homens e mulheres que se dividiam nas tarefas para a reali-
zação desta construção. Alguns destes eram trabalhadores fixos, contratados
pelo Estado, enquanto outros, os camponeses, eram contratados para reali-
zarem trabalhos temporários.

Página 65
■■ Explore as noções de duração do tempo histórico analisando a linha do
tempo com os alunos. Faça perguntas como: quanto tempo durou o Antigo
Regime? Quanto tempo durou o Novo Reino? Quanto tempo durou o Médio
Reino? Por que você acha que esse foi o período que durou menos tempo
na história do Antigo Egito?
■■ Entre os produtos oriundos das trocas comerciais que os egípcios faziam,
estava o cedro-do-líbado — espécie Cedrus libani — uma árvore que pode
viver centenas de anos e teve significativa importância para os povos antigos.
Pelos egípcios, era utilizado na construção de embarcações e em alguns ca-
sos, na mumificação dos corpos dos faraós, em razão do perfume de sua
madeira.

Página 69
■■ Para maior aprofundamento do termo monoteísmo, apresenta-se o texto a
seguir. Aproveite o momento para discutir com os alunos a questão da di-
versidade, enaltecendo o respeito às diferenças.

O que é uma religião monoteísta? Essa palavra, de origem grega (mono = um;
teo = deus), é aplicada às religiões que professam a fé num único deus.
O monoteísmo representa um momento fundamental na história das civiliza-
ções. Novos conceitos, novas formações e organizações morais e éticas vieram com
a aceitação de apenas uma verdade, em termos religiosos. [...]
Historicamente, constatamos que a força da fé [...] que se apresenta na condução
dos destinos dos homens, manteve a unidade cultural — ou pelo menos foi um
fator importante de identificação e expansão cultural —, no caso dos cristãos, dos
muçulmanos e dos judeus.
CISALPINO, Murilo. Religiões. São Paulo: Scipione, 2004. p. 47.

52
Páginas 70 e 71

Orientações para o professor


■■ Comente com os alunos sobre a importância de novos estudos e pesquisas
para a renovação do conhecimento histórico. Como no caso apresentado
nessas páginas — a conclusão do egiptólogo Zahi Hawass sobre os cons-
trutores das grandes pirâmides —, muitos outros conhecimentos históricos
também têm sido, nos últimos anos, reinterpretados pelos historiadores.
■■ Sobre a construção das pirâmides, apresente aos alunos as seguintes in-
formações.

Próximo às obras, eram construídas Para elevar os blocos de pedra, eram construídas Os blocos de

Objetivos, comentários e sugestões


tendas para o descanso dos rampas ao redor das pirâmides. Sobre as pedra eram
trabalhadores. Nesses locais rampas, eram colocadas toras de madeira para retirados das
também eram feitas as refeições. facilitar o deslocamento dos blocos de pedra. pedreiras próximas
com picaretas de
pedra e formões
Mario Henrique

de cobre e
arrastados em
trenós de madeira
até as rampas.

Além dos Durante as obras,


trabalhadores eram organizados
encarregados da grupos de
obra, outras trabalho com a
pessoas, entre finalidade de dividir
elas mulheres e as tarefas. Os
homens, ajudavam grupos recebiam
carregando água denominações,
e preparando os como "Amigos de
alimentos para os Quéops" e "Os
trabalhadores. mais fortes".

[As pirâmides de Gizé] foram construídas com blocos de calcário e granito cujo
peso variava de menos de uma tonelada até mais de 40 toneladas — todos eles
cortados, transportados e colocados em seu lugar por mãos humanas. Os antigos
egípcios não dispunham de máquinas complexas nem de animais (tampouco ex-
traterrestres!) para facilitar qualquer etapa desse trabalho. Além disso, depois de
terminarem o núcleo de uma pirâmide, eles a revestiam com pedras que se encai-
xavam perfeitamente. Depois, ainda poliam o monumento até que ele brilhasse ao
Sol como uma joia gigantesca.
MORELL, Virginia. Os operários das pirâmides. National Geographic. São Paulo: Abril, ano 2, n. 19, nov. 2001. p. 86.

Páginas 72 e 73
■■ Comente com os alunos que o rio Nilo desemboca em um delta (que está
representado no mapa da página 64). Esse delta possui formato triangular e
é uma região plana que se bifurca em canais, o de Roseta e o de Damieta,
que levam suas águas para o mar Mediterrâneo. Vários países do continen-
te africano, além do Egito, são abastecidos pelas águas do rio Nilo, como
Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República Democrática do Congo, Sudão,
Etiópia e Burundi.

53
■■ Realize com os alunos uma análise da fonte histórica a seguir, O Hino ao
Nilo , sobre a importância do rio Nilo para os egípcios. Esse hino foi escrito
por um egípcio que viveu durante o período do Médio Reino. Após o texto,
apresentamos sugestões de questionamentos.

Sugestão de atividade

O Hino ao Nilo*
Salve, ó Nilo, que sais da terra e vens dar vida ao Egito!... O que dá de beber ao
deserto e ao lugar distante da água...
O que faz a cevada e dá vida ao trigo para que ele possa tornar festivos os tem-
plos. Se ele é preguiçoso, então as narinas se tapam e todos ficam pobres. Se, por
isso, há um corte nas ofertas de alimentos dos deuses, então um milhão de homens
perece entre os mortais e pratica-se a avareza...
Mas as gerações de teus filhos alegram-se por ti e os homens te saúdam como um
rei, de leis estáveis, que chega na época própria e enche o Alto e o Baixo Egito. Sempre
que se bebe água, todos os olhos se voltam para aquele que dá em excesso os seus bens...
Se és muito lento para subir, são poucas as pessoas e suplica-se pela água do ano.
[...]
Quando o Nilo transborda, oferendas são feitas a ti, bois sacrificados a ti, gran-
des oblações são feitas a ti, engordam-se aves para ti, caçam-se leões no deserto
para ti, acende-se fogo para ti. E fazem-se ofertas a todos os outros deuses, como
se fazem ao Nilo, com superior incenso, bois, gado, aves e chamas...
Bem hajas, “Verdejante rio!” Bem hajas, “Verdejante rio!” Bem hajas tu, ó Nilo,
rio verdejante, que dás vida ao homem e ao gado!
In: CASSON, Lionel. O Antigo Egito. Trad. Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p. 36.
*Título dado pelos autores

a ) Identifique, no texto, pelo menos dois trechos que mostrem a importância


do rio Nilo para os antigos egípcios.
b ) A cheia anual do Nilo antigo era muito importante para o desenvolvimento
da agricultura. Localize as passagens do texto que fazem referência às
cheias do rio.
c ) Localize, também, as passagens que fazem referência aos anos em que as
cheias são insuficientes para as práticas agrícolas e quais são as conse-
quências disso.
d ) Desde os dias remotos, até os dias atuais, a natureza é homenageada por
meio de canções e hinos. Cite um exemplo de canção ou hino que faz
referência à natureza de algum lugar. Depois, transcreva um trecho que
exemplifique sua escolha.
Respostas: a) O que dá de beber ao deserto e ao lugar distante da água; O que faz a cevada
e dá vida ao trigo. b) Mas as gerações de teus filhos alegram-se por ti e os homens te saúdam
como um rei, de leis estáveis, que chega na época própria e enche o Alto e o Baixo Egito;
Quando o Nilo transborda, oferendas são feitas a ti, bois sacrificados a ti, grandes oblações
são feitas a ti, engordam-se aves para ti, caçam-se leões no deserto para ti, acende-se fogo
para ti. c) Se ele é preguiçoso, então as narinas se tapam e todos ficam pobres. Se, por isso,
há um corte nas ofertas de alimentos dos deuses, então um milhão de homens perece entre
os mortais e pratica-se a avareza; Se és muito lento para subir, são poucas as pessoas e su-
plica-se pela água do ano. d) Pessoal. Comente com os alunos que existem muitas canções
que exaltam a natureza brasileira.

54
Capítulo
5

Orientações para o professor


A África antiga: os cuxitas

Objetivos
■■ Perceber que na África se desenvolveram importantes civilizações na Antiguidade.
■■ Compreender o significado de patriarcalismo e matriarcalismo.
■■ Verificar que, entre os povos africanos, existiu grande troca de influências cul-
turais.

Objetivos, comentários e sugestões


■■ Valorizar o papel da mulher nas antigas sociedades africanas e perceber a im-
portância dessa valorização nos dias de hoje.

A importância do ensino de História da África


Durante muito tempo, em nossos currículos escolares, sobretudo no que se refere
à disciplina de História, a África e a sua importância no âmbito do desenvolvimento
da humanidade foram esquecidas. A negação dessa história, no Brasil, esteve relacio-
nada aos interesses das elites na construção de uma identidade em que os compo-
nentes étnico-raciais não maculassem a imagem europeizada e tida como superior,
considerada importante ao desenvolvimento da Nação brasileira. Tendo por funda-
mento princípios racistas ligados ao empenho histórico dessas elites em continuar no
poder e produzir saberes a partir de sua ótica, a história oficial vilipendiou o papel
relevante que a África teve na construção de nossa história.
No dia 9 de janeiro de 2003 foi aprovada a Lei no 10.639, que tornou obrigatório
o ensino sobre história da África e da cultura afro-brasileira e africana nos estabe-
lecimentos de ensino públicos e privados do Brasil. Para tanto, a formação de qua-
dros profissionais na área da educação torna-se cada vez mais relevante uma vez
que, através deles, a grande lacuna deixada pela história oficial poderá ser posta de
lado. A fomentação de espaços de discussão acerca da relevância do estudo da
história da África e da cultura afro-brasileira e africana se constitui uma das pri-
meiras tarefas das instituições de ensino superior que formam educadores. [...]
O primeiro ponto relevante se caracteriza pelo reconhecimento de que a história
da África e da cultura africana antecede às expansões ultramarinas e à exploração
de seus povos pelos europeus. Além disso, de que a sua contribuição no âmbito da
construção da história da humanidade é significativamente maior do que a ela foi
creditado. O segundo ponto importante seria o de refletir sobre a história da Áfri-
ca e da cultura africana a partir de suas especificidades. Isso significa estabelecer
um distanciamento dos conceitos maniqueístas, sobretudo, aqueles que colocam os
africanos como vítimas dos europeus, descaracterizando a sua participação nas
dinâmicas derivadas dos encontros entre essas duas sociedades.
Ainda que vários aspectos da cultura africana sejam abordados nos diferentes
espaços de educação, sobretudo os que exerceram influência sobre o Brasil, como
religiosidade, musicalidade, culinária, entre outros, a história daqueles que contri-
buíram para isso ainda é pouco sabida, discutida e refletida. Isso se deve porque os
africanos foram, por muito tempo, considerados sem história. Nesse sentido, a

55
produção de novos saberes pode ser efetivada através da formação, da atualização
e do compromisso dos educadores. Através desses requisitos, torna-se possível,
efetivamente, construir subsídios que resultem na reelaboração de uma história até
então negada e que, no âmbito do Brasil, faz parte de seus referenciais identitários.
MATTOS, Débora Michels. Extraído do site: <http://deboramichelsmatos.blogspot.com>. Acesso em: 3 fev. 2009.

Comentários e sugestões

Páginas 78 e 79

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é uma fotografia que apresenta a imagem de uma pirâmide cuxita
construída no século VII a.C.
Comente que a construção de pirâmides pelos cuxitas indica que havia uma
forte influência das crenças e valores egípcios nessa civilização.
■■ A fonte B é uma pintura tumular, feita no Egito e que representa dois membros
da nobreza cuxita. Eles estão vestindo roupas ricas em detalhes, adornadas
com faixas coloridas. Acima deles, foram feitos diferentes símbolos da escrita
egípcia. Chame a atenção dos alunos para o fato de que houve intercâmbio
comercial e cultural entre egípcios e cuxitas.
■■ O relevo inscrito nas ruínas do Templo do Leão — fonte C —, em Naga, no
Sudão, no século II a.C., representa a rainha-mãe Amanishaketo dominando
alguns inimigos. Essas mulheres eram chamadas de candaces e exerciam
grande poder na sociedade cuxita. A sua dimensão perante os outros indiví-
duos do relevo denota seu poder e soberania e indicam sua forte influência
exercida nesta sociedade.

Conversando sobre o assunto


■■ Pelas informações das imagens apresentadas nas fontes A e B, nota-se que
os cuxitas eram povos religiosos e, assim como os egípcios, acreditavam que
as pirâmides simbolizavam o poder dos reis, que eram considerados divinos.
A construção de pirâmides possibilitava o enterro de indivíduos com os seus
pertences mais valiosos. A inscrição tumular apresentada na fonte B indica a
importância dessa prática entre os cuxitas, principalmente entre os nobres.
■■ A sociedade cuxita recebeu grande influência cultural de outros povos. A
construção das pirâmides e seu significado, por exemplo, está fortemente
atrelado à cultura egípcia. Assim como entre os egípcios, as pirâmides eram
edificadas para o enterro de nobres e seus pertences mais valiosos.
■■ O destaque dado à rainha-mãe (candace), na fonte C, indica a importância do papel
das mulheres na sociedade cuxita. A sua imponência é denotada pela sua dimensão
com relação aos outros personagens. Com uma espada na mão, domina seus inimi-
gos. Este relevo é significativo para a compreensão da noção de sociedades matriar-
cais. Colabora, também, para uma discussão sobre valorização da mulher.

Página 80
■■ Assim como os cuxitas, outros povos formaram grandes e importantes civi-
lizações na África Antiga. Faça a leitura do mapa com os alunos, mostrando-
-lhes alguns desses reinos. Para complementar a análise do mapa, veja as
seguintes informações:

56
Axumitas

Orientações para o professor


A grande maioria dos axumitas dedicava-se à agricultura e à criação de animais,
levando uma vida praticamente idêntica à dos atuais camponeses do Tigre. Nas
encostas das montanhas, construíram terraços para a agricultura, que eram irriga-
dos pela água canalizada das torrentes. Nos confortes das montanhas e das planí-
cies, faziam cisternas e barragens para armazenar a água das chuvas, cavando canais
de irrigação. As inscrições indicam que cultivavam o trigo e outros cereais; conhe-
ciam também a viticultura e utilizavam arados puxados por bois. [...]
A fundação do reino [dos axumitas] serviu de base para a edificação de um
império. Do fim do século II ao início do século IV, Axum tomou parte nas lutas

Objetivos, comentários e sugestões


diplomáticas e militares que opunham os Estados da Arábia meridional. Os axu-
mitas submeteram as regiões situadas entre o planalto do Tigre e o vale do Nilo.
No século IV, conquistaram o reino de Méroe, então em decadência. [...]
A posição do reino de Axum no mundo comercial da época era a de uma po-
tência mercantil de primeiro plano, o que se evidencia pela cunhagem de moeda
própria em ouro, prata ou cobre. Axum foi o primeiro Estado da África setentrio-
nal a cunhar moeda, que naquele tempo não existia em nenhum dos países vassa-
los [...]. A cunhagem, em particular da moeda de ouro, constituía uma medida não
apenas econômica, mas também política; através dela, o Estado de Axum procla-
mava ao mundo a sua independência e prosperidade, o nome de seus monarcas e
as divisas do reino.
MOKHTAR, Gamal. (Org.). História Geral da África II: África antiga. 2. ed. Brasília: Unesco, 2010. p. 400-5.

Povo Nok
Pode dizer-se que a gente de Nok vestia-se de contas. Veem-se, em algumas
terra cotas, encachos que deviam ser feitos de couro e miçangas. [...] Numerosos
eram os colares a lhes descerem do pescoço, e as argolas e as pulseiras a lhes en-
cherem os braços. [...]
Nas escavações, toparam-se contas de quartzo e estanho em abundância. O
quartzo era trabalhado em forma de cilindros, com a ajuda de sulcos abertos em
pedras muito duras. Cortava-se o cilindro em pequeninos e furavam-se as contas
assim obtidas com um instrumento de ferro.
Pois os homens de Nok conheciam o ferro. Desde a metade do primeiro milênio
antes de Cristo. É o que nos dizem os testes realizados, pelos métodos de radiocar-
bono, com elementos recolhidos de escavações na área coberta pela chamada cul-
tura de Nok, escavações nas quais se encontraram terracotas associadas a utensílios
de ferro, a restos de fornos, a pedaços de tubos pelos quais os foles sopravam o ar
para dentro das fornalhas, e a escória de minério. [...]
Para fundir o ferro, empregavam um pequeno forno de poço raso. Faziam no
chão um buraco arredondado, com pouco mais de meio metro de circunferência e
outro tanto de profundidade. Prolongavam para cima a cavidade com um muro
cilíndrico de barro, em cuja base abriam os orifícios para os tubos dos foles. Com
o ferro obtido, produziam lâminas, pontas para lanças e flechas, argolas para bra-
ços, pulsos e tornozelos.
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006. p. 172-3.

57
Garamantes
O Norte da África foi habitado por uma diversidade de povos nômades e seden-
tários. Entre os primeiros, estão os berberes, que se deslocavam por regiões mon-
tanhosas e desérticas praticando a agricultura, o pastoreio e a criação de camelos.
Dos berberes descenderam outros povos não nômades, que se diferenciam pelos
seus costumes e modos de vida. Dos berberes que habitavam as regiões montanho-
sas — planícies setentrionais — descenderam os Mauris e os Númidas, que forma-
vam o grupo mais numeroso, e dos berberes que habitavam as regiões desérticas
descenderam os Garamantes.
Os garamantes organizavam-se em torno de uma autoridade política denominada
garama e, entre os séculos V a.C. e V d.C., formaram um importante reino no deserto
do Saara, mantendo o controle sobre as rotas comerciais que ligavam a costa Norte do
continente à região subsaariana e cobrando impostos de comerciantes e caravaneiros.
Uma grande contribuição do povo garamante foi o desenvolvimento de um sis-
tema de irrigação subterrânea denominado foggara. Esse sistema possibilitou as
práticas da agricultura em maior escala e da criação de animais em pleno deserto.
Esse sistema possibilitou ainda a produção e o comércio de produtos naturais como
uvas, figos, cevada e trigo.
Texto dos autores.

Reino de Gana
Para quem assim pensa, logo ali, ao norte do que viria a ser o núcleo do estado
de Gana, ter-se-ia desenvolvido, entre 800 e 300 a.C., um complexo sistema políti-
co — um estado incipiente ou, quando menos, uma poderosa chefia — a aglutinar
numerosas aldeias que acabaram, diante dos ataques dos nômades do deserto, por
se esconder e fortificar nas partes mais inacessíveis das escarpas. Pacificada a re-
gião, os habitantes das escarpas desceram dos esconderijos e estabeleceram aldeias
agrícolas nos oásis e no Sael. Com o desenvolvimento dessas e do comércio que
nelas se fazia, viria a surgir o reino, também soninquê, de Gana [...].
Segundo certas tradições [...] teriam sido cameleiros do deserto os fundadores
da primeira dinastia de Gana, a qual só fora substituída por uma linguagem sonin-
quê na época da hégira, após ter dado 22 reis ao país. [...]
Gana, como estado, possuía um núcleo coeso de poder, mas era, sobretudo, uma
enorme esfera de influência. Nele havia povos que respondiam diretamente ao rei
e outros que, sujeitos a seus sobas tradicionais ou a seus conselhos de anciães, ape-
nas se sabiam ligados ao caia-maga por vínculos espirituais, pelo dever militar e
pelo pagamento de tributos. As mais diversas formas de organização política con-
viviam dentro do reino, cuja frágil estrutura era quiçá permanentemente refeita
pela ação das armas, com cisões e acréscimos de súditos, e mantida pela divisão
dos povos em segmentos de nobres, homens livres, servos e escravos.
SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006. p. 274-7.

Página 83
■■ Explore com os alunos noções de duração do tempo histórico. Faça perguntas
como: Quando os cuxitas se estabeleceram na região da Núbia?; Qual foi o perío-

58
do de maior duração: o de domínio egípcio sobre a Núbia ou o de domínio cuxita

Orientações para o professor


sobre os egípcios?; Em que período se deu a fundação do Reino Cuxe? etc.

Página 86
■■ Sobre a escrita meroítica, comente que, apesar de em muito se aproximar
dos hieróglifos egípcios, era composta por 23 signos que representavam
consoantes, vogais e grupos silábicos.
■■ Caso julgue conveniente, para complementar o estudo da página, apresen-
te as seguintes informações aos alunos:

Objetivos, comentários e sugestões


[...] Os dirigentes de Méroe eram sumo sacerdotes à maneira faraônica, autointi-
tulavam-se reis dos Alto e Baixo Egito, e foram sepultados em pirâmides cujas pro-
porções foram diminuindo até o século IV d.C., mas eram escolhidos pela rainha-
-mãe entre os que tinham sangue real e conduziam os homens de uma forma total-
mente africana. Méroe fornecia ouro, escravos e produtos tropicais ao Mediterrâneo
e ao Médio Oriente, onde era conhecido como um reino exótico fronteiriço, visitado
de vez em quando. [...] mas o núcleo da economia de Méroe era o sorgo, o algodão e
o gado da Alta Núbia até Cartum e as terras úmidas envolventes. Em vez de transmi-
tir a cultura egípcia à África tropical, Méroe integrou-se na cultura indígena [autóc-
tone], como tantas vezes iria acontecer a culturas estrangeiras na história africana.
ILIFFE, John. Os africanos: a história dum continente. Trad. Maria Filomena Duarte. Lisboa: Terramar, 1999. p. 44-5.
(Da História).

■■ A língua cuxita é classificada como pertencente à família de línguas afro-


-asiáticas, um conjunto de línguas do Oriente Médio e da África Oriental,
cujas origens remontam há 15 000 anos. A família linguística afro-asiática era
chamada de “camito-semítica” pela escola alemã do século XIX. O termo
“camita”, porém, deixou de ser utilizado por não possuir valor linguístico.
“Camita” se refere, na verdade, a um personagem mítico, citado na Bíblia
como o filho que Noé teria amaldiçoado. Segundo a tradição cristã europeia,
Cam teria originado os povos africanos de cútis melânica (negra). Essa tra-
dição não possui comprovação antropológica nem linguística e, por isso, o
termo “camita” não é mais utilizado. Além disso, acreditava-se no século XIX
que o grupo étnico-linguístico então chamado de “camita” havia saído da
Arábia e povoado a África Oriental. As descobertas de fósseis na África no
início do século XX derrubaram essa tese, comprovando que os povos que
migraram da Ásia para a África haviam saído anteriormente da África para a
Ásia. Cuxe também é um personagem da Bíblia , descrito como um dos filhos
de Cam e um dos ancestrais da rainha de Sabá, considerada pelos etíopes
como sua ancestral. O próprio termo “cuxita” é, em algumas passagens da
Bíblia , interpretado como “etíope”.

Sugestão de atividade
Preparação de prato típico africano
Objetivos
■■ Participar das etapas de preparação de um prato típico africano.
■■ Reconhecer a influência africana na culinária brasileira.

59
Vários pratos consumidos no Brasil têm origem africana. Entre eles, um
dos mais conhecidos é o cuscuz, originário da região do Magreb. Para pre-
parar este prato com os alunos, vocês vão precisar de alguns utensílios e
ingredientes. Veja.

Utensílios
■■ tigela ou outro recipiente ■■ tábua de madeira ■■ pilão
■■ frigideira ■■ faca ■■ assadeira

Ingredientes
■■ trigo para quibe ■■ azeite
■■ legumes variados (pepino, tomate, ■■ limão
pimentão verde, cebola) ■■ hortelã
■■ sal ■■ pinhões cozidos e descascados

Modo de preparo
■■ Em uma tigela, coloque o trigo e cubra com água quente. Deixe em repouso até
que a água seja completamente absorvida. Depois, coloque um pouco de azeite.
■■ Corte os legumes em cubinhos.
■■ Misture então, em uma saladeira, o trigo e os legumes picados.
■■ No pilão, amasse as folhas de hortelã com azeite, fazendo um molho.
■■ Na frigideira, refogue os pinhões já cozidos. Em seguida, junte-os à mistura
de trigo e legumes, acrescentando também um pouco do suco do limão.
■■ Para finalizar, tempere o prato com o molho de azeite e hortelã e um pouco de sal.

Atenção: essa atividade, se não for bem orientada, pode causar acidentes. É
importante que as etapas em que os alimentos precisam ser cortados ou levados ao
fogo sejam acompanhadas de perto.
Caso julgue que a turma não possui maturidade para manipular objetos cortantes ou
utilizar o fogão, realize você mesmo essas etapas.

6
Capítulo

Os fenícios

Objetivos
■■ Perceber que, por meio das relações comerciais, os fenícios tiveram um papel
fundamental no intercâmbio cultural entre vários povos da Antiguidade.
■■ Reconhecer que os fenícios desenvolveram um alfabeto que, por tornar a es-
crita mais simples, foi adaptado por outros povos antigos e serviu de base
para muitos alfabetos modernos, entre eles o da Língua Portuguesa.
■■ Identificar que a civilização fenícia se desenvolveu onde hoje é o Líbano.

O alfabeto fenício*
A invenção do alfabeto foi uma das maiores conquistas [dos seres humanos] em
todos os tempos.

60
O alfabeto que conhecemos hoje e com o qual escrevemos nossa língua teve

Orientações para o professor


origem há três mil anos.
A importância dessa invenção consiste em representar todos os sons de uma
língua com apenas 22 letras.
Os responsáveis por isso foram os fenícios.
Os povos vizinhos copiaram essa ideia.
Mas cada povo tinha uma língua diferente. Então, cada um inventou novas letras
para os sons que não existiam na língua dos fenícios. E abandonou as letras que
não serviam para ele.
Nosso alfabeto, que é chamado de alfabeto [latino], foi o resultado dessas modificações.

Objetivos, comentários e sugestões


Como essa história é muito antiga, até hoje não conhecemos exatamente todos
os passos da sua evolução.
O alfabeto fenício foi adotado pelos gregos [...] e sofreu [...] numerosas modificações.
Os romanos herdaram dos gregos as letras que deram origem ao seu alfabeto.
Essas letras, por sua vez, também foram modificadas até chegar à forma atual.
Algumas das nossas letras são muito semelhantes às letras fenícias que lhes de-
ram origem. Só que várias delas surgiram em posições diferentes das que têm hoje,
parecendo para nós muito estranhas.
O A, por exemplo, nasceu, literalmente, de cabeça para baixo.
Isso porque o A foi inspirado na forma da cabeça de um boi:
Os fenícios chamavam o boi de aleph, e este era o nome do A em fenício. [...]
É curioso lembrar que os fenícios, que inventaram o alfabeto, não [criaram]
formas para representar o som das vogais.
Aliás, ainda hoje, em hebraico e árabe, línguas que se originaram diretamente
do fenício, é comum escrever-se sem a marcação das vogais.
Quem inventou a grafia e o uso das vogais foram os gregos, usando letras como
o A e o E, que funcionavam anteriormente como consoantes.
ROCHA, Ruth; ROTH, Otávio. O homem e a comunicação. O Livro das Letras. 10. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1996. p. 5-11; 28.
*Título dado pelos autores

Comentários e sugestões

Páginas 94 e 95

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é um baixo-relevo fenício, datado de cerca de 700 a.C., que apre-
senta algumas informações que podem ser interpretadas como parte do co-
tidiano e costumes desses povos. Por meio dela, é possível inferir que os fe-
nícios utilizavam embarcações como meio de transporte, movidas por remos,
e nelas transportavam madeiras. Isso indica que o comércio desse material
era comum. Essas embarcações eram adornadas com esculturas imitando
cabeças de cavalo. Nota-se, ainda, que as embarcações comportavam até
quatro pessoas, com o predomínio de homens. O texto a seguir traz informa-
ções sobre as embarcações fenícias. Se julgar conveniente, apresente essas
informações aos alunos.

61
[...] Barcos mercantes fenícios lançavam-se ao mar, com suas proas em forma de
cabeça de cavalo, enquanto navios de guerra tomavam a dianteira para patrulhar a
rota comercial. Essas [embarcações] de guerra, equipadas com remos para se apro-
ximar de barcos hostis e esporões com ponta de bronze para furar cascos, eram três
vezes mais rápidas, quando movidas à vela, do que os pesados navios mercantes
que protegiam. Em vez de permanecerem como escolta nas proximidades, as em-
barcações percorriam as vias marítimas, intimidando os piratas tentados pelos atra-
entes cargueiros fenícios.
Os fenícios lançavam frotas de navios mercantes, com o casco arredondado, o
que aumentava o espaço para a carga. [...] Para propulsão, os dois tipos de embar-
cação dispunham de um mastro e uma única vela quadrada. Em dias de calmaria
— comuns no verão mediterrâneo —, a tripulação podia baixar a vela, retirar o
mastro e pegar os remos. Originalmente, os remadores ficavam todos no mesmo
nível dentro do barco. Porém, à medida que os navios de guerra aumentaram de
tamanho, adotou-se um novo alinhamento para os remadores, a fim de aumentar
a potência e preservar o espaço. Nesse arranjo, os remadores sentavam-se em dois
níveis diferentes, com assentos alternados. Os navios com essa disposição foram
chamados de birremes. Séculos depois surgiram os trirremes, com três ordens de
remadores.
WOODHEAD, Henry (Dir.). Marés bárbaras: 1500-600 a.C. Trad. Pedro Maia Soares. História em revista. Rio de Janeiro:
Abril Livros, 1995. p. 101-2; 121.

■■ A fonte B é a fotografia de uma pedra com escrita fenícia, criada por volta
do ano 1000 a.C.
■■ A fonte C apresenta imagem de uma pedra com inscrições de letras latinas.

Conversando sobre o assunto


■■ Pelas descrições supracitadas sobre a fonte A, nota-se que os fenícios eram
povos que praticavam o comércio e o faziam pelo mar, transportando seus
produtos em embarcações, meio de transporte corriqueiramente utilizado por
eles.
■■ Pela análise das fontes B e C, percebe-se que a escrita dos fenícios e a es-
crita latina aproximam-se muito em sua forma. Diferentemente da escrita
egípcia que utilizava símbolos que representavam tanto fonemas, quanto ob-
jetos e ideias, a escrita fenícia era formada por 22 caracteres que representa-
vam um sistema fonético e em muito influenciou a escrita latina. Por meio da
representação da escrita latina na fonte C, identificam-se muitas letras de uso
comum em nosso idioma, como a letra C, A, O, L, E, T, R, V.

Página 96
■■ O cedro-do-líbano teve importância significativa para a sociedade fenícia.
Muito procurado por outros povos, como os egípcios, era comercializado e
transportado via mar Mediterrâneo. Esse transporte só foi possível por con-
ta da existência das embarcações fenícias, fabricadas também com a ma-
deira do cedro. Desde então, o cedro se tornou símbolo dessa sociedade.
O seu significado se estendeu, e em 1861, quando o Líbano ainda era parte
do império Turco-Otomano, passou a fazer parte da bandeira do Líbano. O
cedro é, pois, parte da identidade do Líbano, assim como o fora para os

62
fenícios. Apresente aos alunos a bandeira do Líbano, em seguida, peça pa-

Orientações para o professor


ra que realizem a atividade.

Sugestão de atividade
O símbolo nacional do Líbano
Objetivos
■■ Ler e interpretar um texto.
■■ Conhecer o principal símbolo nacional do Líbano.

Objetivos, comentários e sugestões


Acervo da editora
Leia o texto a seguir e responda às questões.

A bandeira do Líbano*
A bandeira atual do Líbano foi adotada em dezembro de 1943, pouco antes de
esse país se tornar independente da França. Sua bandeira foi criada com o intuito
de ser neutra, ou seja, de não se aliar a nenhum grupo religioso libanês.
Oficialmente as faixas horizontais vermelhas (superior e inferior) simbolizam
o sacrifício do povo libanês na luta pela independência. Porém, vermelho também
era a cor dos uniformes usados pela Legião Libanesa durante a Primeira Guerra
Mundial. Já a faixa branca, no centro da bandeira, representa pureza.
A árvore que se encontra no centro do pavilhão é o cedro-do-líbano, sendo ela
um símbolo da região desde a época dos fenícios. O cedro é também o símbolo da
comunidade cristã maronita, no Líbano.
A primeira vez que o cedro-do-líbano apareceu em uma bandeira foi em 1861,
quando o Líbano fazia parte do Império Turco-Otomano. Após a queda desse
império, o Líbano, em 1920, passou a ser um protetorado francês. Nessa época a
sua bandeira se tornou semelhante à da França (listras verticais tricolores de azul,
branco e vermelho), porém com o cedro-do-líbano no centro dela. O cedro sim-
boliza felicidade e prosperidade para o país.
A bandeira atual apresenta tanto o tronco quanto a folhagem na cor verde, há
uma variante em que o tronco é de cor castanha, no entanto, esta versão não é
reconhecida oficialmente.
RYAN, Siobhán (Dir.). Complete flags of the world. 4. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2002. p. 176.
(Texto traduzido pelos autores).
*Título dado pelos autores

a ) Na Antiguidade, qual era a importância do cedro-do-líbano para os fenícios?


b ) O que representam as cores da atual bandeira do Líbano?
c ) Em sua opinião, por que o cedro-do-líbano está presente na bandeira des-
se país?

63
Respostas: a) Na Antiguidade, o cedro-do-líbano era uma mercadoria muito valiosa, pois sua
madeira de alta qualidade podia ser usada em vários tipos de construções. b) Oficialmente as
faixas horizontais vermelhas (superior e inferior) simbolizam o sacrifício do povo libanês na luta
pela independência. Porém, vermelho também era a cor dos uniformes usados pela Legião
Libanesa durante a Primeira Guerra Mundial. Já a faixa branca, no centro da bandeira, repre-
senta pureza. c) Porque essa árvore simboliza felicidade e prosperidade para o país.

Página 97
■■ Comente com os alunos que a forma de organização dos fenícios foi a cida-
de-estado e, portanto, a expressão “Fenícia” se refere ao conjunto destas
cidades-estado.
■■ Explore outros elementos da linha do tempo com os alunos. Faça perguntas
como: Qual foi a época de predomínio da cidade de Biblos?; Em que perío-
do Biblos foi dominada pelos egípcios?; Quantos anos duraram as guerras
entre romanos e cartagineses?

Páginas 98 e 99

Explorando a imagem
■■ Explore com os alunos os elementos apresentados no infográfico, incentivan-
do-os a observar os detalhes e associá-los com os conteúdos apreendidos
sobre a sociedade fenícia. Em seguida, peça que elaborem um texto sobre o
cotidiano estabelecido nos portos do mar Mediterrâneo, sobretudo o comércio
de produtos, as suas embarcações, pessoas que trabalhavam, estabelecimen-
tos instalados, entre outros aspectos.

Página 101
■■ Sobre a religiosidade fenícia, leia o texto a seguir.

[...] Embora o nome dos deuses variasse de cidade para cidade, uma tríade de
divindades prevalecia: um deus principal conhecido como El, Baal ou Melcarte;
uma deusa mãe-terra às vezes chamada de Astarote; e um deus jovem, com fre-
qüência filho de Astarote e geralmente chamado Adone, cuja morte e ressurreição
anual refletia o ciclo anual das estações.
Em todo o Mediterrâneo, os fenícios adoravam essas três divindades, em grandes
templos semelhantes àquele construído para Salomão, e em santuários ao ar livre
mais modestos, frequentemente situados em morros. De acordo com relatos israe-
litas e gregos, era costume em alguns templos que mulheres respeitáveis se prosti-
tuíssem em homenagem à deusa Astarote. E em Cartago, num santuário ao ar livre
chamado tofete ou “lugar do sacrifício”, crianças pequenas eram, às vezes, cremadas
para satisfazer as divindades.
WOODHEAD, Henry (Dir.). Marés bárbaras: 1500-600 a.C. Trad. Pedro Maia Soares. História em revista. Rio de Janeiro:
Abril Livros, 1995. p. 107.

Página 102
■■ Caso julgue conveniente, comente com os alunos que a escrita fenícia sofreu
grande influência da escrita egípcia. A técnica de escrever sinais represen-

64
tando os sons da fala era praticada pelos egípcios antes de os fenícios a

Orientações para o professor


aprimorarem. Veja o exemplo a seguir. Nele, o nome do governante egípcio
Ramsés foi escrito com hieróglifos. O primeiro hieróglifo, da esquerda para a
direita, é um desenho representando o “Sol”, chamado de “Rá” pelos egípcios.
Neste caso específico, porém, o desenho do Sol está significando o som
consonantal “r” (inicial de “Rá”). O desenho do meio, por sua vez, significa o
som “ms”; e o terceiro, “ss”. Dessa forma, ao unirmos os sons dos
três hieróglifos, temos o som “r-ms-ss”; e, ao acrescentarmos as
vogais (que não eram escritas pelos egípcios), temos “Ramsés”.

Ana Elisa
Uma das maiores dificuldades da escrita egípcia estava em saber

Objetivos, comentários e sugestões


diferenciar quando um hieróglifo significava um som (como ocor-
re neste caso) e quando ele significava uma ideia completa.

7
Capítulo

Os hebreus

Objetivos
■■ Perceber que a Bíblia é uma das principais fontes de estudo para a história
dos hebreus.
■■ Verificar que a história do povo hebreu é marcada por várias migrações.
■■ Perceber que a sociedade hebraica era patriarcal.
■■ Conhecer informações sobre o cotidiano em uma cidade hebraica, por volta
do ano 1000 a.C.

O mundo judaico*
Mundo judaico, o que se entende por tal expressão? Ela não tem muito que ver com
geografia. Claro, há um Estado judaico, o Estado de Israel, mas existem judeus em todos
os continentes. E o que todos eles têm em comum? São uma raça, como queriam os
nazistas (uma raça inferior, que tinha de ser exterminada)? Não, os judeus não são um
grupo fisicamente homogêneo, mesmo porque há judeus brancos e judeus negros (os
da Etiópia), não sendo pelas características físicas que sua identidade se afirma.
Mas, então, o judaísmo é uma religião? Sim, existe uma religião judaica, como
existe uma religião cristã e uma religião muçulmana, mas o judaísmo não pode ser
considerado apenas uma fé, pois muitos dos que se dizem judeus não são crentes
e nem seguem os preceitos da Torá e do Talmud.
O judaísmo significa, antes de tudo, a herança de uma longa história. Os ante-
passados dos judeus viveram situações semelhantes, quase sempre ameaçadoras:
foram perseguidos, tiveram de fugir dos locais onde moravam — muitos dos quais
vieram parar no Brasil e em outros países da América. Além desse passado comum,
eles possuem uma cultura singular, que inclui música, dança, poesia, teatro..., e às
vezes um idioma próprio, como é o caso do iídiche ou do ladino. Essas coisas de-
finem o modo de ser dessas pessoas, fazem com que elas se sintam próximas de
quem foi marcado por experiências semelhantes. [...]
SCLIAR, Moacyr. ABC do mundo judaico. São Paulo: Edições SM, 2007.
*Título dado pelos autores

65
Comentários e sugestões

Páginas 108 e 109


Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A retrata uma cerimônia religiosa realizada em uma sinagoga na cida-
de de Jerusalém, Estado de Israel. No local, homens com vestimentas e ador-
nos que se assemelham: terno preto com camisa branca, quipá para cobrir a
cabeça — símbolo da religião judaica — e as mechas de cabelo que lhes
saem das têmporas, como forma de respeito às escrituras da Torá .
■■ A fonte B é uma pintura de Rafael Sanzio, feita por volta de 1494. Representa
o episódio do Êxodo, com a figura de Moisés portando nas mãos a tábua dos
Dez Mandamentos. Se julgar conveniente, apresente as seguintes informações
aos alunos.

O primeiro e o segundo mandamentos dizem que os judeus devem adorar o


único Deus verdadeiro e que não devem adotar [ou adorar] ídolos de outros povos.
[...] O terceiro mandamento lembra aos judeus que Deus é por demais grandioso
para que Seu nome seja pronunciado em vão. [...] O quarto mandamento assevera
que os judeus devem guardar o sábado como dia santo. Assim como Deus fez no
sétimo dia de Sua criação. [...] O quinto mandamento diz que os filhos devem
honrar os pais. [...] O sexto mandamento diz: “Não matarás”. [...] O sétimo man-
damento proíbe o adultério, [...] relação fora do casamento. O oitavo mandamento
diz: “Não roubarás”. [...] O nono mandamento assevera: “Não apresentarás um fal-
so testemunho contra teu próximo”. [...] No décimo mandamento, Deus ordena a
Seu povo que evite a cobiça [daquilo que é do próximo].
BOWKER, John. Para entender as religiões. Trad. Cássio de Arantes Leite. São Paulo: Ática, 1997. p. 116-7.

■■ A fonte C é uma fotografia das ruínas do Muro das Lamentações em Jerusalém,


Estado de Israel. O Muro, local de adoração de devotos do judaísmo, repre-
senta parte do Templo de Salomão, que foi destruído. Nota-se a sua dimensão
com relação aos indivíduos a sua volta. Os que estão próximos ao muro,
prostram-se diante dele, simbolizando a sua crença e religiosidade.
Comente que todo o local onde se localiza o Muro compõe o Monte do Tem-
plo , ou Esplanada das Mesquitas , um lugar sagrado tanto para muçulmanos,
quanto para judeus e, por isso, é um dos lugares mais disputados do mundo.
Após a criação do Estado de Israel, a tradição de introduzir um pequeno pe-
daço de papel com seus pedidos entre as fendas do muro foi retomada pelos
judeus.
Sobre esse monumento, apresente as seguintes informações aos alunos.

O rei Davi fez de Jerusalém sua capital, e lá seu filho Salomão ergueu o Templo.
Ele foi construído para abrigar a Arca da Aliança, a suprema relíquia nacional e reli-
giosa de Israel, feita na época de Moisés e resgatada dos filisteus por Davi. O Templo
[...] acabou sendo reconhecido como o centro do mundo judaico. Foi destruído pelos
babilônios em 586 a.C., refeito em uma versão menor [por volta do] século V a.C., e
reconstruído em uma escala mais pródiga pelo rei Herodes, o Grande, no século I
a.C. O Templo foi finalmente destruído pelos romanos, em 70. [...]

66
Após a destruição do Templo de Herodes em 70, apenas o Muro Ocidental per-

Orientações para o professor


maneceu de pé. Esse é o local mais sagrado do mundo judaico. Conhecido como
Muro das Lamentações, porque os judeus costumavam ficar ao seu lado se lamen-
tando a perda do templo, é até hoje um importante centro de peregrinação. [...]
BOWKER, John. Para entender as religiões. Trad. Cássio de Arantes Leite. São Paulo: Ática, 1997. p. 119.

Conversando sobre o assunto


■■ Os seguidores da religião, apresentados na fonte A, são chamados de judeus.
■■ Na fonte B, Moisés foi retratado apresentando os Dez Mandamentos, enquan-

Objetivos, comentários e sugestões


to os outros personagens o observam e se prostram diante dele. Comente
com os alunos que Moisés foi um profeta israelita e é considerado o patriarca
dos judeus, um dos líderes religiosos mais importantes desse povo.
■■ Sobre os Dez Mandamentos, espera-se resposta pessoal dos alunos.
■■ Crenças e histórias do povo hebreu compõem a Torá , que faz parte do Antigo
Testamento. Desse modo, a Bíblia é uma das principais fontes de estudo pa-
ra a história do povo hebreu e é, para ele, considerada sagrada.
■■ O Muro das Lamentações é a parte que restou da construção feita no período
de Salomão e, por isso, é também conhecido como Templo de Salomão. Esse
período, principalmente por volta de 520 a.C., foi muito próspero para o povo
hebreu. O significado do muro está, pois, ligado às tradições hebraicas e re-
presenta um símbolo da crença e religiosidade dos judeus atuais: lá eles la-
mentam a perda do templo, professam a sua devoção e depositam nos vãos
do muro pequenos papéis com seus pedidos. O local é até hoje centro de
peregrinação.

Página 110
■■ Se julgar conveniente, para complementar o estudo da página, apresente as
seguintes informações sobre a Torá .

[O] Pentateuco é o conjunto de cinco livros que abre o que os cristãos chamam
de Antigo Testamento e que os judeus chamam de Torá, a “Lei” (fazem parte do
Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). [...]
Apesar das mudanças feitas com o passar do tempo, a essência dessas narrativas
foi preservada. Após a queda dos reinos de Israel e Judá entre os séculos VIII e
VI a.C., quando milhares de judeus partiram para o exílio, surgiram as primeiras
traduções dos textos bíblicos para outras línguas. A partir daí, narrativas como as
do Gênesis escaparam das fronteiras da Palestina para o mundo.
A mais famosa dessas traduções foi feita por volta do século III a.C. para a língua
grega, o idioma mais influente na época. A tradução foi encomendada para a Bi-
blioteca de Alexandria, o mais importante centro cultural do período. [...] Essa
versão ficaria conhecida como Septuaginta, que ainda hoje é a base da Bíblia usada
pela Igreja Ortodoxa Grega. [...]
A primeira tradução [...] continha diferenças, a partir dos próprios nomes dos
livros do Pentateuco. No hebraico, o primeiro se chamava Bereshit (“No princípio”).

67
Na versão em grego foi renomeado de Genesis, que quer dizer “origem”. Shemôt
(“Nomes”, em hebraico), o segundo, virou Exodos, ou “saída”. O terceiro livro, cha-
mado Vaicrá (“Ele chama”) ou Sêfer Torat Cohanim (“Livro dos sacerdotes”), rece-
beu o nome de Levitikon (“Descendentes de Levi”). Bamibdar (“No deserto”), tam-
bém chamado de Humash Hapercudim (“Livro dos censos”), virou Arithmoi em
grego, ou Números em português. Por fim, Dvarim (“Palavras”) ou Misné Torá
(“Segunda Torá”) virou Deuteronomos (deutéros = segundo/nomos = lei).
Além da versão em grego, havia traduções para o aramaico, a língua corrente na
antiga Palestina na época do nascimento de Jesus. [Aliás, após a morte dele], novos
textos iriam ser escritos por seus seguidores. Dali em diante, os textos sagrados de
judeus e cristãos iriam se separar, e a Bíblia ganharia o que seria mais tarde chama-
do de Novo Testamento.
Cavalcante, Rodrigo. A criação da Bíblia. Aventuras na História, São Paulo: Abril, n. 28, dez. 2005. p. 35.

Página 111
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Qual o pe-
ríodo de maior duração da história hebraica?; Em que período ocorreu a
divisão da Monarquia dos hebreus?; Quando teve início o Êxodo?; etc.

Página 112
■■ Para complementar o estudo da página, peça aos alunos que realizem a
atividade sobre os Dez Mandamentos.

Sugestão de atividade
Objetivos
■■ Ler e interpretar uma fonte primária.
■■ Perceber que alguns dos comportamentos condenados pelos Dez Mandamen-
tos são considerados crime no Brasil atualmente.
Leia o texto a seguir e responda às questões.

Os Dez Mandamentos
I ) Eu sou Javé, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão.
Não terás outros deuses diante de mim.
II ) Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que
há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da
terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, Javé, teu Deus,
sou Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a ter-
ceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a
milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
III ) Não pronunciarás o nome do teu Deus em vão; porque Javé não deixará
impune o que tomar o seu nome em vão.
IV ) Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e
farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado de Javé teu Deus; e
não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha [...].
V ) Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra [...].

68
VI ) Não matarás.

Orientações para o professor


VII ) Não adulterarás.
VIII ) Não furtarás.
IX ) Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
X ) Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu
jumento, nem coisa alguma do teu próximo. [...]
Êxodo 20, 1-17.

a ) Identifique, entre os Dez Mandamentos, os trechos que melhor caracterizam

Objetivos, comentários e sugestões


o monoteísmo hebraico.
b ) Alguns dos comportamentos condenados nos Dez Mandamentos são, na
atualidade, considerados crimes nos códigos de lei de muitos países. No
caso do Brasil, quais são esses comportamentos?
Respostas: a) “Não terás outros deuses diante de mim.”; “Não farás para ti imagem de escul-
tura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás.” b) Matar seres humanos
(VI), furtar (VIII) e dar falso testemunho (IX).

Páginas 114 e 115


Explorando a imagem
■■ Explore o infográfico com os alunos. Comente sobre detalhes como os indiví-
duos e suas vestes, atividades que cada um deles está realizando e por quem
são realizadas. Faça-lhes perguntas sobre como era realizado o transporte de
alimentos, bebidas e mercadorias; quem eram as pessoas que trabalhavam
no interior das aldeias e em que elas trabalhavam; qual a importância das
fontes de água para a cidade hebraica. Peça para que observem a paisagem
natural e comente o que era possível cultivar em cada espaço. Chame a aten-
ção para a imagem do templo, no plano de fundo. Com a análise, incentive os
alunos a comentarem sobre o cotidiano dos hebreus.

Página 116
■■ Se julgar conveniente, para complementar o estudo da página, explore com
os alunos o episódio do Cativeiro da Babilônia por meio do seguinte texto.

Em dezembro de 598 a.C. Nabucodonosor saiu da Babilônia uma vez mais para
batalhar no Ocidente. Sitiou Jerusalém, que três anos antes se tinha revoltado, e a
16 de março de 597 a.C. a cidade caiu. O rei Joaquim e muitos dos seus súditos
foram deportados para a Babilônia e Sedecias subiu o trono de Judá. Passados al-
guns anos, Sedecias revoltou-se também. Os babilônicos iniciaram um cerco a Je-
rusalém que durou mais de um ano. Finalmente, abriu-se uma brecha nas muralhas
no Verão de 587 a.C. (ou 586 a.C.) e a cidade rendeu-se um mês mais tarde apro-
ximadamente. É possível que grande parte de Jerusalém fosse destruída neste tempo
e muitos judeus deportados. Nabucodonosor nomeou governadores, mas houve
muitas rebeliões, que deram lugar a represálias posteriores por parte dos Babilôni-
cos e em 582 a.C.–581 a.C. este motivou novas deportações. Provavelmente Judá
foi anexado naquele tempo à província de Samaria.
ROAF, Michel. Mesopotâmia – e o Antigo Médio Oriente. Madri: Ediciones del Prado, 1997. p. 198-9.

69
Páginas 118 e 119
■■ O gráfico a seguir apresenta um panorama sobre o número de judeus no
mundo. Apresente-a aos alunos de modo a complementar o estudo das
páginas.

Onde estão os judeus


Participação dos países (%) na população judaica mundial —
2005
1,8% 1,4%
2,3%
2,9%
3,8% Estados Unidos
5,1% Israel
França
40,5% Canadá
Reino Unido
40,2% Rússia
Argentina
Outros

Acervo da editora
Fonte: PALMER, Martin; O’BRIEN, Joanne. O atlas das religiões: o mapeamento completo de todas as
crenças. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 30.

8
Capítulo

Os persas

Objetivos
■■ Perceber que o Império Persa foi um dos maiores da Antiguidade.
■■ Verificar que o Império Persa era interligado por uma extensa rede de estradas.
■■ Verificar que os persas cobravam tributos de vários povos, como os egípcios,
indianos e babilônios.
■■ Compreender que o zoroastrismo, religião dos persas, exerceu profunda influ-
ência sobre as grandes religiões monoteístas da atualidade.

A Pérsia em seu auge


Ninguém jamais controlara território tão vasto ou tanta riqueza. Os nobres do
Egito, os [governadores] da Mesopotâmia e da Ásia Menor, os chefes nômades dos
desertos orientais e os rajás da Índia, todos pagavam tributos ao imperador da
Pérsia. No apogeu do império, por volta [...] do século V a.C., o domínio persa
abrangia cinco milhões de quilômetros quadrados de montanhas e estepes, imensos
desertos e férteis planícies fluviais, habitados por cerca de dez milhões de súditos.
A renda anual do império alcançava um valor equivalente a quinhentas toneladas
de prata.
Essa realização dos persas assinalou um importante avanço para a civilização,
não apenas devido à assombrosa riqueza ou extensão de seu império. Para preser-
var um domínio tão vasto, eles foram obrigados a desenvolver novas e esclarecidas

70
técnicas de governo, que fossem eficazes em enormes áreas, onde viviam povos

Orientações para o professor


extremamente diversos. [...] Após conquistar uma Nação, os persas pouco interfe-
riam em seus negócios internos ou na vida cotidiana de seus habitantes. Evidente-
mente, os soberanos persas exigiam tributos, mas também promoviam a atividade
econômica, em tal medida que muitos povos e países viram-se em melhor situação
após a conquista persa. Essa nova dimensão política [...] não surgiu por acaso: re-
sultou de um esforço deliberado para aperfeiçoar a sociedade humana, não apenas
para os mais poderosos. O rei persa Dário I afirmou que sempre defenderia as leis,
“para que o forte não oprima nem destrua o fraco”.
Durante esse período — aproximadamente de 600 a 400 a.C. —, o desejo de

Objetivos, comentários e sugestões


aperfeiçoamento não se restringia à Pérsia ou aos métodos de governo. Novas
ideias, atitudes e crenças, visando a uma vida melhor ou a uma compreensão mais
ampla da vida, borbulhavam em muitas partes do mundo. [...]
WOODHEAD, Henry (Dir.). A elevação do espírito: 600-400 a.C. Trad. Pedro Maia Soares. Rio de Janeiro: Abril Livros,
1995. p. 9-10. (História em revista).

Comentários e sugestões

Páginas 124 e 125

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é um detalhe de relevo do palácio de Persépolis com destaque pa-
ra os indivíduos que portam objetos e animais nas mãos como forma de pa-
gamentos de tributos ao rei. A representação da prática no relevo indica a sua
importância e costume no Império Persa. Se julgar conveniente, apresente aos
alunos as informações do texto a seguir.

Os palácios persas em Persépolis [...] fornecem listas dos povos súditos dos reis
persas. Os seus representantes são retratados com as roupas características, trazen-
do as ofertas das respectivas regiões. Diferentes das representações egípcias e assí-
rias, os relevos persas mostram os súditos de pé e com um ar digno, conduzidos
pela mão para entregarem as suas ofertas. Existe aqui, uma concepção nobilística
do império [...]. Outra diferente, preservada por Heródoto, fornece as satrapias
organizadas por Dario e a avaliação do tributo de cada uma. [...]
SISTEGRAF; VIDELEC (Orgs.). Grécia: berço do Ocidente. Madri: Edições del Prado, 1996. p.129.

■■ A fonte B é uma ilustração, feita na atualidade, que representa o pagamento


de impostos ao imperador da Pérsia, Dário I. A posição de destaque e a sun-
tuosidade do local confirmam a sua soberania. Dário I está sentado e em um
nível acima de seus súditos, cercado pelos seus guardiões, com um cetro em
uma das mãos, além de vestes e coroa que o diferenciam dos demais indiví-
duos. Entre seus guardiões, vê-se a figura de um guerreiro persa, em primei-
ro plano, portando arco e flechas, porém vestindo trajes sofisticados para
compor a guarda pessoal do Dário I. Ao seu lado, também em primeiro plano,
há um outro guardião, portando uma faca na cintura. Em segundo plano, estão
dois únicos homens sem camisa, que representam os súditos do rei, em fila,
para realizar o pagamento de impostos em forma de mercadorias. O primeiro
deles se curva diante do imperador, como sinal de respeito a sua soberania.

71
■■ A cópia do relevo — fonte C — representa a disputa entre dois deuses do
Império Persa, Ahura Mazda e Ahriman, respectivamente. Ambos estão po-
sicionados frente a frente, no centro da imagem, o que pode indicar equilíbrio
na disputa entre eles. As suas vestimentas se assemelham, diferenciadas
apenas pela cor, e tanto Ahura Mazda quanto Ahriman possuem barba, co-
roa, portam um cetro em uma das mãos e com a outra seguram um objeto
circular, o qual simboliza esta disputa. Esses deuses eram parte da crença
e da religiosidade dos persas e representavam o bem e o mal.

Conversando sobre o assunto


■■ Ambas as fontes — A e B — retratam o pagamento de impostos dos súditos
ao imperador da Pérsia. Tanto no relevo, quanto na ilustração, os súditos se
organizam em filas para realizarem o pagamento de impostos na forma de
mercadorias. Os povos dominados pagavam tributos aos persas na forma de
ouro, prata, cobre, linho, papiro, incenso, pérolas, pedras preciosas, entre
outros produtos.
■■ Os elementos que indicam a disputa entre os deuses é a posição em que
estão, o cetro que portam e o círculo que ambos disputam, que representaria
a vitória de um dos lados. Outras religiões que têm como eixo o dualismo
entre o bem e o mal são judaísmo, cristianismo e islamismo.

Página 126
■■ Com mais de mil anos de domínio, os medos contribuíram com seu legado
cultural para a antiga Pérsia. As informações a seguir versam sobre o legado
dos medos. Se julgar conveniente, para complementar o estudo da página,
apresente-as aos alunos.

À Pérsia deram aos medos a sua língua ariana, o seu alfabeto de 36 letras, a
substituição da argila pelo pergaminho, o extenso uso da coluna na arquitetura, o
seu código moral de escrupulosa economia em tempo e paz e ilimitada ostentação
em tempo de guerra, a sua zoroastriana religião dos deuses Ahura-Mazda e Arimã,
a sua família patriarcal e o casamento polígamo [...].
DURANT, Will. História da Civilização. 4. ed. Trad. Gulnara de Morais Lobato. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1957. v. 2. p. 58.

Página 127
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Quanto
tempo durou o domínio medo?; Em quanto tempo o Império Persa expandiu
o seu domínio? etc. Em seguida, comente que a diversidade dos povos
conquistados no império foi fator significativo para seu auge, mas também
foi um dos motivos de sua decadência, pela dificuldade de se administrar e
de cobrar impostos de todos esses povos.
■■ Caso queria aprofundar a discussão sobre o Irã com os alunos, complemen-
te o conteúdo da página com o texto a seguir.

Da Pérsia histórica ao Irã moderno


O Irã é um dos países mais antigos do mundo. A sua região esteve povoada,
pelo menos, a partir do oitavo milênio a.C. Está situada em um enclave estratégico,

72
na região do Oriente Médio ao sul-oeste da Ásia. Em 1500 a.C., povos indo-arianos

Orientações para o professor


chegaram à região procedentes do rio Volga e da Ásia Central. Na região se esta-
beleceram, então, as duas principais tribos arianas, os persas e os medos. Ambas
chamaram seu novo lar de Irã, forma abreviada de Iran-sahr (país dos iranianos).
Outro povo viveu no sul do Irã, na região que os gregos depois chamariam Persis,
de onde procede o nome Pérsia, com que a região ficou historicamente conhecida.
Por sua localização geográfica, o Irã esteve, desde seus inícios, situado na encruzilhada
de um conjunto de civilizações, impérios e rotas estratégicas, ligando Europa e Ásia. [...]
O país foi teatro de permanentes invasões e alvo da cobiça de seus vizinhos imediatos e,
na era contemporânea, passou a ser disputado pelas grandes potências mundiais.

Objetivos, comentários e sugestões


A geo-história do Irã, portanto, desenvolveu-se em meio a frequentes invasões,
com as subsequentes mudanças de regimes e dinastias, e constantes alterações da
propriedade da terra e pilhagens de seus recursos naturais. Tudo isso agiu como um
obstáculo para a constituição de um aparelho de Estado consolidado e centralizado
e, na era moderna, para um desenvolvimento de relações de propriedade que cons-
tituíssem a base de uma acumulação capitalista independente. As consequências
destas peculiaridades da história iraniana se fariam sentir na era contemporânea, e
seriam um dos fatores determinantes da natureza de sua recente revolução. [...] entre
641 e 651, os exércitos árabes conquistaram a região. A maioria de seus habitantes foi
convertida ao Islã, sobrevivendo, porém, outras crenças, como o zoroastrismo, o cris-
tianismo e o judaísmo. [...] Durante o período de dominação árabe, houve um inter-
câmbio entre a cultura árabe e a persa que se detecta, por exemplo, na adoção pelo
califado abássida da organização administrativa sassânida e dos costumes persas.
O Islã iraniano teve seu próprio perfil, diferente do restante do mundo muçul-
mano. Os persas adaptaram a forma xiita heterodoxa do Islã, utilizando-a, inclusi-
ve, como uma arma contra os chefes supremos árabes.
COGGIOLA, Osvaldo. A Revolução Iraniana. São Paulo: Editora Unesp, 2008. p. 21-3.

Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Sobre os confrontos entre persas e gregos, assista, com os alunos, se julgar
conveniente, ao filme 300 .

Objetivo
■■ Perceber que as produções cinematográficas com temas históricos devem ser
analisadas com cuidado.
O filme 300 — inspirado na graphic novel (romance gráfico) Os 300 de Es-
parta , de Frank Miller e Lynn Varley, de 1998 — aborda o episódio da batalha
das Termópilas (480 a.C.), que ocorreu no contexto das Guerras Greco-Pérsicas.
Relatada pelo historiador grego Heródoto, essa batalha deu-se quando o
grande exército persa, liderado pelo imperador Xerxes, combateu no desfiladei-
ro das Termópilas, na Grécia Central, um exército constituído por apenas 300
espartanos, que em razão de sua tenaz resistência, permitiram a reorganização
das forças militares gregas. Dessa maneira, os persas, já enfraquecidos após o
confronto nas Termópilas, foram finalmente derrotados pelos gregos na batalha
de Plateia, em 479 a.C.

73
Apesar de se basear em fontes históricas, o enredo do filme está longe de
abordar os personagens e os fatos de maneira fiel aos relatos de Heródoto.
Nesse sentido, deve ser assistido e analisado de maneira crítica. O filme, mes-
mo assim, pode ser visto como uma obra que desperta o interesse por temas
históricos e motiva os espectadores a buscar saber mais sobre seu conteúdo
em outras fontes.

Filme de Zach Snyder. 300. 2006. EUA


Ficha Técnica
Título — 300
Diretor — Zack Snyder
Atores Principais — Rodrigo
Santoro, Gerard Butler, David
Wenham, Vincent Regan, Lena
Headey, Andrew Tiernan
Ano — 2007
Duração — 116 minutos
Origem — EUA

Página 128
■■ Sobre a Estrada Real, apresente aos alunos as seguintes informações.

Os reis persas construíram excelentes estradas, a fim de manterem o império


coeso. A mais famosa era a Estrada Real, de cerca de 2500 quilômetros de extensão,
que ligava Susa, perto do golfo Pérsico, a Sardes, perto da costa ocidental da Ásia
Menor. Tão bem conservada era essa estrada que os mensageiros do rei, viajando
dia e noite, podiam cobrir sua extensão total em menos de uma semana. Outras
estradas ligavam as várias províncias a uma ou outra das quatro principais cidades
persas: Susa, Persépolis, Babilônia e Ecbátana. Embora contribuindo, naturalmen-
te, para o desenvolvimento do comércio, essas estradas foram construídas com o
objetivo principal de facilitar o controle sobre as partes remotas do império.
BURNS, Edward McNall e outros. História da civilização ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais, 40. ed. Trad.
Donaldson M. Garshagen. São Paulo: Globo, 2000. v . 1. p. 52-3.

Página 130
■■ Leia o texto a seguir, que traz informações sobre o zoroastrismo, religião
persa que, apesar de politeísta, influenciou o judaísmo, cristianismo e isla-
mismo — as três religiões monoteístas da atualidade.

Uma grande parte dos conceitos encontrados tanto no Antigo como no Novo
Testamento origina-se diretamente do Zoroastrismo, embora a religião em si não
seja mencionada na Bíblia. Muitos dos reis da Pérsia mencionados no Antigo Tes-
tamento foram zoroastrianos. Entre estes estão Josias, Ciro, Artaxerxes, Assuero e
Dario. Os magos, homens sábios do Leste que vieram à manjedoura para ver o
recém-nascido Jesus, eram sacerdotes zoroastrianos. Embora muitas religiões an-
tigas tenham exercido influência sobre a religião do Antigo e do Novo Testamento,
o Zoroastrismo é a única que permanece viva [até] hoje.

74
Satã, conforme descrito e aceito na Bíblia, foi introduzido a partir do Zoroastris-

Orientações para o professor


mo, assim como também o foi o elaborado esquema de anjos e demônios, do Sal-
vador que deveria vir, e as doutrinas da ressurreição e do juízo final, assim como a
concepção de uma vida futura a ser vivida no Paraíso.
O Zoroastrismo foi a primeira religião a ensinar a universalidade. Ela defendeu
que a salvação oferecida por seu deus, Ahura-Mazda, não se confinaria aos poucos,
mas seria para todos que chegassem ao seu conhecimento e entendimento.
FROST JÚNIOR. In: FERNANDES, Edrisi de Araújo. As origens históricas do Zaratustra nietzscheano. Extraído do site:
<http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde_arquivos/21/TDE -2006-11-16T122935Z-391/ Publico/EdrisiAF.pdf>.
Acesso em: 21 jan. 2012.

Objetivos, comentários e sugestões


9
Capítulo

Os antigos chineses

Objetivos
■■ Reconhecer que os chineses desenvolveram uma das civilizações mais antigas
da humanidade.
■■ Identificar que a Muralha da China começou a ser construída na Antiguidade,
com o objetivo de proteger o território chinês contra ataques inimigos. Atual-
mente sua extensão é de aproximadamente sete mil quilômetros.
■■ Compreender que a Rota da Seda possibilitou as relações comerciais e os
intercâmbios culturais entre chineses e diferentes povos da Antiguidade.
■■ Reconhecer que muitas das invenções dos antigos chineses foram de grande
importância para o processo de transformação da História, e que várias delas
ainda são utilizadas em nosso cotidiano.

A China
[A China] tem uma cultura milenar. Seus grandes inventos revolucionaram o
mundo cultural e [industrial]. Basta citar dois exemplos em apoio a essa afirmação:
a tinta e a pólvora.
Segundo [alguns] historiadores, a China é o mais antigo país organizado em
Estado. Embora boa parte do território chinês se tenha desintegrado em diversos
momentos de sua história, como consequência de grandes conflitos, existe uma
continuidade ininterrupta desde o nascimento da civilização chinesa, há cinco mil
anos. Não há dúvidas de que o Estado chinês se consolidou entre 221 e 206 a.C.
Àquela época, o imperador [...] estabeleceu o sistema único de escrita por ideogra-
mas, ainda hoje utilizado, o qual permite que falantes de línguas diferentes leiam
os mesmos textos. Era um sistema muito complicado (e continua sendo), pois exis-
tem dezenas de línguas diferentes no território chinês. As pessoas de lugares afas-
tados não conseguem comunicar-se entre si, dada a grande variedade de dialetos.
Apesar da existência desses dialetos, a comunicação se faz por meio do mandarim
oficial. Em seu afã de consolidar o pensamento chinês, o imperador ordenou tam-
bém a queima de livros e a execução de muitos eruditos. [...]

75
Por volta de 220 a.C., a dinastia empreendeu uma obra monumental: a constru-
ção da Grande Muralha, para proteger-se da invasão dos hunos, obra gigantesca
que, com o trecho encontrado em 1998, atingiu 7 200 quilômetros de extensão. [...]
OTERO, Edgardo. A origem dos nomes dos países. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Panda Books, 2006. p. 212-3.

Comentários e sugestões

Páginas 138 e 139

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é uma fotografia de esculturas de terracota produzidas por volta de
221 a.C., por ordem do imperador chinês Qin Huang Di. Elas foram encontra-
das em 1974 por meio de escavações arqueológicas, e representam soldados
que compunham a guarda pessoal do imperador em seu túmulo. Todos estão
em uma mesma posição, com vestimentas e adornos que se assemelham. A
fisionomia, no entanto, foi trabalhada para diferenciá-los em suas caracterís-
ticas físicas: cada um dos soldados foi representado conforme as particulari-
dades de seus rostos.
Aproveite o momento para comentar com os alunos sobre o trabalho do ar-
queólogo: é imprescindível para o estudo da história de povos antigos, graças
à cultura material encontrada: esta pode representar usos, costumes, modos
de vida e o cotidiano de civilizações das quais pouco se têm informações.
■■ A fonte B é uma fotografia recente da Muralha da China. A imagem apresenta,
em primeiro plano, um forte onde ficavam os soldados para guarda e vigilância
contra invasões inimigas. A muralha começou a ser construída no final do
século III a.C. e terminou no século XVI. É um local muito visitado por turistas
de todo o mundo.
■■ A fonte C é uma pintura em seda chinesa, datada do século IV a.C. Represen-
ta um momento da vida privada de mulheres da corte chinesa, arrumando os
cabelos e maquiando-se. No centro, uma mulher se olha no espelho enquan-
to a outra penteia os cabelos, auxiliada por outra mulher, em pé. Acessórios
e objetos de beleza compõem o espaço e dão sentido à representação da
pintura. O artefato indica que as mulheres da elite davam uma atenção espe-
cial ao embelezamento corporal.
■■ A fonte D é a imagem de uma antiga bússola chinesa. Os chineses foram os
inventores da bússola e de outros objetos muito utilizados até os dias de hoje.

Conversando sobre o assunto


■■ A existência do exército chinês foi significativa para o processo de unificação
da China. O exército representava guarda e proteção; por isso, o imperador
chinês ordenou a confecção dos soldados de terracota, para acompanhá-lo
em seu túmulo, protegendo-o após a morte.
■■ A muralha foi construída com o objetivo de defender o território chinês contra
a invasão de inimigos. Atualmente, a Muralha da China não tem mais o senti-
do de proteção do território chinês, mas é um monumento muito conhecido e
visitado por turistas de várias partes do mundo. Ela possui cerca de sete mil
quilômetros de extensão e é parte da identidade da população chinesa.

76
■■ Pela análise da fonte C, podemos inferir que as mulheres chinesas da corte

Orientações para o professor


tinham o costume de se produzir, arrumar os cabelos e maquiarem-se. Perce-
be-se que a seda, invenção chinesa, era também utilizada como suporte para
produção de pinturas.
■■ A bússola é utilizada para orientação de rotas e destinos. Atualmente, fazem
o papel da bússola os aparelhos de navegação via satélite.
■■ Resposta pessoal. Outras invenções chinesas ainda utilizadas são a seda, a
pólvora e o papel.

Página 140

Objetivos, comentários e sugestões


■■ A China é conhecida como uma das civilizações mais antigas do mundo.
Grande parte dos estudos arqueológicos indica que a civilização chinesa se
desenvolveu nas proximidades do rio Amarelo e que a dinastia Xia foi a pri-
meira da história chinesa. Novos estudos, entretanto, têm considerado pos-
sibilidades diferentes para o desenvolvimento da China. Segundo pesquisas
feitas pelo Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais,
a formação da civilização chinesa teve contribuições de outros núcleos po-
pulacionais e culturais mais antigos do que os encontrados na região do rio
Amarelo. Leia o texto.

Para o pesquisador Andrew Lawler, as descobertas recentes são uma oportuni-


dade para questionar a origem da China, um assunto confuso e complicado nos
círculos acadêmicos do país. Embora o estudo ainda não esteja finalizado, parece
que revelará que, ao contrário do que até agora se pensava, a cultura chinesa se
formou através da união de diferentes culturas milenares.
AGÊNCIA EFE. Achados arqueológicos questionam origem da civilização chinesa. Extraído do site: <http://noticias.terra.com.
br/ciencia/interna/0,,OI3933649-EI238,00.html>. Acesso em: 6 fev. 2012.

Página 141
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Quanto
tempo durou o período Qin?; Sob o governo de qual imperador se iniciou a
construção da Muralha da China?; Qual o período de maior duração? etc.
■■ Caso queira complementar o conteúdo da página, comente com os alunos
que durante a Dinastia Shang, os chineses adoravam um deus supremo,
denominado Shang Ti, além de outros que representavam elementos da
natureza, como o Sol, a Lua, o vento, a chuva.
■■ Durante o período Qin, ocorreram mudanças na organização militar. O exér-
cito se profissionalizou, e os soldados passaram a receber treinamento e
pagamento pela prestação de serviços. Os guerreiros mais valentes, mesmo
aqueles de origem camponesa, começaram a receber lotes de terra como
prêmio pela sua atuação nos combates. Este fato representou uma grande
mudança em relação à propriedade da terra. Antes, a terra era de posse
exclusiva do Estado e, por isso, não podia ser comprada nem vendida. Ape-
nas os membros da nobreza, por sua posição social e econômica, recebiam,
por concessão do Estado, lotes de terra que deveriam ser cuidados e culti-
vados. A nova medida causou uma alteração na sociedade: possibilitou que
guerreiros de origem camponesa também fossem contemplados com lotes
de terra. A nova lei criou um grande descontentamento entre os membros

77
da nobreza, porque perderam o direito hereditário exclusivo sobre a posse
da terra.
■■ Indique aos alunos que há diversas grafias para as palavras de origem chi-
nesa. Isso ocorre porque a escrita chinesa é ideogramática e não alfabética,
como a escrita da Língua Portuguesa. Assim, uma mesma palavra chinesa
pode ser escrita, na forma latina, de várias maneiras. Por exemplo, a palavra
Chiá pode ser grafada também como Xiá , ou Hsia . Chin Huang Di pode ser
Ch’in Che Huang Ti ou Qin Shi Huangdi .

Página 142
■■ Entre 481 e 221 a.C., sete Estados rivais disputaram o domínio da China.
Para iniciar o estudo da página, apresentam-se as seguintes informações.

O início dos Estados Combatentes é marcado pelo fim da capacidade de arbítrio


dos zhous sobre os problemas internos e a concentração de força em apenas sete
principados: Qi, Qin, Chu, Zhao, Han, Yen e Wei. Cada qual, com sua força militar
e seu próprio corpo de funcionários, [começou] um processo de guerra ininterrup-
ta que culminou com a vitória do melhor organizado (e cruel) Estado Qin, em 221 a.C.
O novo soberano decide, após a vitória sobre os zhous, assumir o título de Primei-
ro Grande Imperador Amarelo, ou Qin Shi Huang Di [...].
BUENO, André. O advento dos Estados Combatentes. Extraído do site: <www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/
historia/historia_geral_idade_antiga/os_chineses/civil_chinesa2>. Acesso em: 30 jan. 2012.

■■ Com base no contexto da queima de livros na China do imperador Qin Huang


Di, converse com os alunos e leve-os a imaginar como seria não poder ter
acesso a determinados livros que, por ventura, os fizessem refletir e pensar
sobre os trabalhos de um governante. Discuta a possibilidade de não poder
se manifestar contra alguma medida de um presidente, de um governador
ou mesmo de um prefeito. Aproveite o momento para exercitar o senso crí-
tico dos alunos e enalteça o respeito às diferentes opiniões.

Página 143
■■ A Muralha da China é conjunto de diversas muralhas, construídas pelos chi-
neses ao longo dos séculos, utilizando as diferentes técnicas e matérias-
-primas disponíveis. A principal finalidade desse conjunto de muralhas era
defender o território chinês contra investidas de povos antigos do Norte da
Ásia, como os xiongnu e, séculos depois, os mongóis. Para tanto, foram
construídas muralhas onde os mantimentos ficavam armazenados e os mi-
litares ficavam abrigados. As passarelas elevadas permitiam o deslocamen-
to das tropas, interligando as torres. A Muralha da China perdeu sua função
militar de defesa no século XVII, quando o território chinês foi expandido mais
para o Norte. Atualmente, ela é um dos principais pontos turísticos da China.

Página 144
■■ Caso queira aprofundar o estudo sobre o hinduísmo, apresentado na página,
leia as informações do texto a seguir.

78
O hinduísmo destaca-se pela sua multiplicidade de formas e por ser extrema-

Orientações para o professor


mente criador e mutável, tanto na vida religiosa como na vida social. A sua união
não advém de um fundador ou de uma escrita sagrada, mas da continuidade de
uma evolução, desde a Antiguidade ao Presente. É essa razão pela qual os hindus
denominam a sua crença de “Religião Eterna” (sanatana-dharma), na qual é natural
que surjam, em diferentes épocas, homens sábios e mestres religiosos que procla-
mem a mesma doutrina de formas diversas. [...] Três particularidades do hinduísmo:
trata-se de uma religião “convertida” e não fundada, que não reconhece dogmas
muito rígidos e é um fenômeno especificamente indiano. Os hindus acreditam na
eternidade do mundo em constante renovação, não reconhecendo por isso nenhum

Objetivos, comentários e sugestões


momento como o princípio absoluto do mundo, nem um processo histórico único
para a salvação. Não existindo uma personalidade central no papel de revelador,
podem, por princípio, coexistir diferentes cultos e modos de pensar, todos eles com
a mesma validade. Uma vez que o hinduísmo não reconhece dogmas absolutos,
também não dita crenças determinadas. O crente pode aceitar um deus criador
pessoal ou uma lei universal impessoal. Os meios para alcançar a salvação são
igualmente multifacetados. Contudo, a crença não é completamente arbitrária, pois
gira em redor de um ciclo de determinadas concepções: a percepção do Cosmo
com um todo ordenado, regido por uma lei universal (dharma); a representação
terrena desta ordem por um sistema hierárquico rígido de castas e os seus manda-
mentos de pureza; a crença em eras (kalpas) e períodos cósmicos, com diversos fins
do mundo e novas criações; bem como a ideia de que esta ordem natural do mun-
do tem, simultaneamente, a função de uma ordem moral.
HATTSTEIN, Markus. Religiões do mundo. Trad. Paula da Silva. Colônia: Könemann, 2000. p. 6-7.

Página 147
■■ Sobre Confúcio, comente com os alunos que ele foi um importante pensador
do século VI a.C., e seus ensinamentos deram origem a uma escola filosó-
fica denominada Confucionismo. Se julgar conveniente, acrescente ao co-
mentário, as seguintes informações:

Confúcio não era deificado. Nenhum chinês lhe dirigia orações ou pedidos. Sua
passagem pela vida era, contudo, honrada pelos cidadãos, reverenciada por suas
contribuições à civilização chinesa.
O mestre pensador, que viveu cerca de 500 anos antes de Cristo, deixou como
legado uma sólida armadura moral à sociedade e um sistema de meritocracia efi-
caz, baseado em exames abertos a todos, que aconteciam exatamente nos espaços
a ele dedicados, os wen miao. Também valorizou o respeito aos genitores (chamado
de piedade filial) e o sentido profundo da educação, do altruísmo e da cortesia.
Todos se submetiam a esses ensinamentos, até o imperador, como sugere seu
título oficial de Filho do Céu. Mesmo reivindicando para si uma condição algo
divina, na verdade, a liturgia imperial não era uma religião nem estava ligada a
nenhuma em especial. [...]
JAVARY, Cyrille J-D. Um país, muitos credos. História Viva. São Paulo:
Duetto, n. 34, s/d. Edição Especial China. p. 19.

■■ Comente que a obra de Ban Zhao é muito importante não apenas pelo seu
conteúdo, mas também pelo fato de a escritora ser do sexo feminino. Na

79
China Antiga, a condição feminina não se assemelhava à masculina. À gran-
de maioria das mulheres não era permitido dedicar-se às atividades intelec-
tuais, ou seja, elas não tinham acesso à educação e, por isso, não sabiam
ler nem escrever. Além do manual de comportamento para as mulheres
chinesas, Ban Zhao escreveu poesias, tratados sobre a história da China,
matemática, astrologia etc. A partir de 106, foi conselheira da imperatriz
Deng, substituta do marido, o imperador He, que governou a China até 121.

Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Sobre a vida de Sidarta Gautama, assista com os alunos, se julgar convenien-
te, ao filme O pequeno Buda .

Objetivo
■■ Promover o respeito pela diversidade religiosa.
O filme O pequeno Buda, do diretor italiano Bernardo Bertolucci, narra a his-
tória de um casal de Seattle, nos Estados Unidos, que recebe a visita de dois
monges budistas, vindos do Butão. Eles acreditam que o filho do casal é a reen-
carnação de Lama Dorje, mestre budista recentemente falecido. Após ser con-
vencido, o pai vai para o Butão com os monges e seu filho, a fim de descobrir se
o menino realmente é a reencarnação de Lama. Em paralelo à narrativa principal,
que se passa na década de 1990, o filme traz outra narrativa, que conta a histó-
ria do príncipe Sidarta Gautama, o Buda, que viveu na Índia no século VI a.C. O
pequeno Buda também traça um paralelo entre dois modos de vida muito distin-
tos, o ocidental e o oriental, focando o estranhamento do homem norte-america-
no com relação aos costumes do Butão, país milenar com forte tradição budista.
Filme de Bernardo Bertolucci. O pequeno Buda. 1993. EUA e Butão

Ficha Técnica
Título — O pequeno Buda
Diretor — Bernardo Bertolucci
Atores Principais — Keanu
Reeves, Ruocheng Ying, Chris
Isaak, Bridget Fonda, Alex
Wiesendanger
Ano — 1993
Duração — 140 minutos
Origem — EUA e Butão

Páginas 150 e 151


■■ As invenções dos antigos chineses transformaram o modo de vida destes
povos. No período Han, a carriola, a roldana, a bomba-d’água, o sismógra-
fo, os arreios para cavalo, os instrumentos de ferro, geraram um aumento
na produtividade agrícola e maior agilidade na construção de grandes obras
arquitetônicas. Essas inovações também foram importantes para os europeus,
que tiveram o conhecimento dessas criações somente alguns séculos depois.

80
Se julgar conveniente, comente isso com os alunos e apresente o texto a seguir.

Orientações para o professor


Quatro invenções tecnológicas chinesas dos tempos Han e dos tempos medievais
lançaram toda a base para a exploração e colonização europeia do mundo: a bússola
tornou-se a ferramenta dos navegadores pioneiros de Portugal, Holanda e Inglater-
ra; a pólvora possibilitou aos europeus o domínio das terras por eles encontradas;
papel e impressão tornaram possível a grande disseminação de suas ideologias e
leis. [...]
SCHAFER, Edward H. China Antiga. Trad. Maria de Lourdes Campos Campello. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 131.
(Biblioteca de História Universal Life).

Objetivos, comentários e sugestões


Sugestão de atividade
Pesquisa
Comente com os alunos que os antigos chineses elaboraram conhecimentos
médicos e criaram várias terapias para tratar as doenças. Vestígios arqueológi-
cos indicam que a medicina tradicional chinesa vem se desenvolvendo desde o
século VI a.C. Porém, os primeiros documentos escritos que trazem informações
sistemáticas sobre a medicina chinesa datam do começo do século III a.C.,
durante a dinastia Han. Mesmo após o desenvolvimento da medicina ocidental
moderna, baseada em princípios e métodos considerados científicos, a medi-
cina tradicional continuou a ser utilizada não só na China, mas em vários luga-
res do mundo. Atualmente, um número crescente de pessoas tem buscado
tratamentos baseados em antigos conhecimentos orientais.
Em seguida, peça aos alunos que escolham uma prática terapêutica tradicio-
nal chinesa e realize uma pesquisa sobre ela, procurando descobrir, por exem-
plo: os benefícios dessa terapia; que tipos de pessoas fazem uso dela e com
quais objetivos; se há riscos de tratamentos malsucedidos. Podem ser feitas
entrevistas com pessoas que fazem uso dessas terapias, anotando suas opiniões.
Para finalizar, peça que produzam um cartaz com os resultados da pesquisa,
utilizando, se possível, imagens, tabelas, ilustrações e outros recursos visuais.
Cada aluno (ou cada grupo de alunos) deve(m) levar o cartaz para a sala de
aula e apresentá-lo aos colegas.
Esta atividade pode ser realizada individualmente ou em grupo. Se possível,
auxilie os alunos com dicas de livros, revistas, sites etc. que tratem dos temas
propostos na pesquisa. Além disso, se achar interessante, você pode convidar
um especialista em terapia tradicional chinesa para falar um pouco sobre seu
trabalho para os alunos.

10 Os antigos gregos
Capítulo

Objetivos
■■ Compreender o processo que levou à criação da democracia em Atenas.
■■ Conhecer as principais formas de governo nas cidades-estado gregas.
■■ Conhecer as principais atividades rurais realizadas na Grécia Antiga.
■■ Verificar a organização do espaço urbano de Atenas e conhecer as principais
instituições da democracia ateniense.

81
A invenção da cidade e do cidadão
É absolutamente impossível considerar de modo uniforme a vida do cidadão
grego como se poderia pensar em fazê-lo com o cidadão de qualquer país contem-
porâneo. De fato, na Antiguidade clássica, a Grécia não existia como entidade po-
lítica. Há uma comunidade grega de língua e de civilização, mas o território que
geograficamente corresponde àquilo que se nomeia Grécia é dividido em um gran-
de número de cidades, de porte e importância variáveis, completamente indepen-
dentes umas das outras e muito frequentemente rivais, a ponto de se afrontarem
em acirradas guerras. A cidade-estado (a pólis, em grego) é um verdadeiro peque-
no Estado independente, do qual um país moderno como Luxemburgo poderia
talvez fornecer uma ideia aproximativa. Assim, cada cidade-estado possui um re-
gime político próprio e instituições que variam consideravelmente de uma cidade
a outra, mesmo se em princípio não havia mais monarquia ou tirania na Grécia da
época clássica. Cada um desses Estados possui cidadãos, mas seus direitos e deve-
res não são forçosamente os mesmos conforme se está em Esparta, em Argos, em
Corinto ou em Atenas, para citar apenas alguns exemplos. [...]
As informações que possuímos sobre as cidades-estado estão longe de serem unâni-
mes. Quer se trate de fontes literárias ou arqueológicas, a documentação de que dispo-
mos é sensivelmente mais importante, embora ainda assim muito incompleta, para
Atenas, a mais prestigiosa, sobretudo na época clássica, das cidades-estado gregas — e
também a mais falante, graças aos muitos autores cujas obras chegaram até nós: histo-
riadores, oradores, dramaturgos, filósofos. Essas informações podem ser completadas
com dados arqueológicos, notadamente as inscrições descobertas no setor do centro
político, comercial e religioso da cidade, na Ágora e em seu entorno. [...]
MAFFE, Jean-Jacques. Trad. Ana Montoia. História Viva: grandes temas. São Paulo: Duetto, n. 3, s/d. Edição Especial. p. 17.

Comentários e sugestões

Páginas 156 e 157

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é um vaso grego produzido no século VI a.C. e representa a colhei-
ta de azeitonas por agricultores gregos. No detalhe, os personagens dedicam-
-se a esta atividade, colhendo o fruto da árvore e aqueles que caem no chão.
O vaso de duas alças possui detalhes pintados em sua base e uma faixa que
o contorna e emoldura o desenho.
■■ A fonte B mostra o detalhe de um vaso grego de cerâmica, de cerca de 490 a.C.,
utilizado na Antiguidade para misturar vinho com água. Nesse detalhe, vemos
uma pintura de tom avermelhado, sobre um fundo pintado de preto. Nesse
estilo grego de pintura, que surgiu no século VI a.C., o artista pintava de pre-
to o fundo do vaso e os detalhes da imagem, deixando o desenho com a cor
avermelhada, característica do barro depois de cozido. O acontecimento re-
presentado nessa pintura é a luta entre dois personagens míticos, ambos filhos
de deusas: o herói grego Aquiles (à esquerda); e o rei etíope Memnon, paren-
te do rei de Troia, Príamo. Essa batalha, em que Aquiles mata Memnon, faz
parte do mito da Guerra de Troia.

82
Comente com os alunos que tanto esta representação quanto a anterior foram

Orientações para o professor


confeccionadas em vasos, o que indica o seu uso cotidiano pelos gregos.
■■ A fonte C mostra um relevo ateniense em que a deusa Atena, em pé, é repre-
sentada fazendo a coroação de um indivíduo. Este personifica a democracia,
conquistada pelos atenienses.
■■ A fonte D são fragmentos de cerâmica com a inscrição de algumas letras.
Criados durante o governo de Clístenes, esses fragmentos, conhecidos na
Grécia Antiga como ostrakon , eram utilizados para escrever nomes de indiví-
duos que os cidadãos de Atenas queriam deixar no ostracismo por represen-
tarem uma ameaça à democracia.

Objetivos, comentários e sugestões


Conversando sobre o assunto
■■ Na fonte A, vê-se a representação da colheita de azeitonas por agricultores.
Na fonte B, os personagens estão em combate.
■■ Sobre a fonte C, descreva-a conforme as informações supracitadas. Em se-
guida, comente que a coroação da democracia significa a importância desta
conquista para os gregos antigos.
■■ Resposta pessoal. Comente com os alunos sobre o ostrakon , explicando seu
significado.

Página 159
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Qual perío-
do da história da Grécia Antiga teve maior duração? Quando as moedas
passaram a ser usadas na Grécia? Em qual período a democracia foi implan-
tada em Atenas?

Página 160
■■ Caso queira aprofundar o estudo sobre o processo de formação das cidades-
-estado na Grécia, leia as informações.

Traduzimos como cidade, ou cidade-estado, o termo pólis, com a qual os antigos


designavam, na época clássica, um estabelecimento humano geralmente agrupado
em torno de um centro urbano e controlando um território relativamente extenso.
A cidade-estado era, então, a forma política característica do mundo grego [...]. As
cidades-estado no sentido específico do termo eram Estados autônomos, com suas
próprias leis, moedas e divindades tutelares.
O que as caracterizava essencialmente, entretanto, era o fato de que os que compunham
a cidade, os cidadãos (em grego poletai) dividiam o território e tomavam em comum as
decisões políticas da cidade. Ora, nem sempre fora assim no mundo grego [...].
Os palácios micênicos desapareceram bruscamente no início do século XII
[a.C.], abrindo-se então para o mundo grego um período de recuo da civilização,
chamado pelos arqueólogos de “séculos obscuros”. Apenas no final do século IX
[a.C.] começaram a surgir estabelecimentos humanos cuja ocupação no espaço
revelava, desde a origem, uma estrutura diferente: as cidades-estado.
Muitas questões foram levantadas a respeito dos fatores que presidiram o apare-
cimento desse novo tipo de organização humana e espacial. A geografia da paisa-

83
gem grega, propícia à fragmentação, foi equivocada. Sugeriram-se fatores religiosos
(agrupamentos em torno de santuários ou túmulos monumentais), culturais e eco-
nômicos (passagem de uma economia baseada no cultivo de cereais, oliveiras e
vinhedos). Na verdade, todos esses fatores podem ter ao mesmo tempo influencia-
do o estabelecimento dessa nova forma de organização política, que não tardaria a
desenvolver-se em proveito do que se conhece como colonização grega. Pois o
movimento de expansão dos gregos no perímetro mediterrâneo, determinado ini-
cialmente pela necessidade de novas terras e pelo desejo de buscar metais e outras
matérias-primas de que a Grécia não dispunha, levou à criação, em menos de du-
zentos anos, de centenas de novas cidades-estado. Foi frequentemente a exploração
arqueológica de algumas delas (como Mégara Hiblaia, na Sicília, ou Metaponte, no
sul da Itália) que permitiu isolar as características próprias da cidade-estado, co-
munidade de “iguais” que dividiam a área urbana e seu território, preservando no
cerne daquela o espaço livre da ágora, lugar onde os cidadãos se reuniam para to-
mar em comum as decisões da cidade [...].
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Trad. Carlos Ramalhete. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 60-1.

Páginas 161 e 162


■■ Realize com os alunos uma atividade sobre a educação espartana. Por causa
do conteúdo do texto apresentado a seguir, caso haja algum aluno na classe
que seja portador de necessidades especiais, procure evitar constrangimentos,
aproveitando a oportunidade para destacar a importância do respeito às dife-
renças. Antes de realizar a atividade, comente que, em Esparta, ser forte e
saudável era pré-requisito para ser respeitado socialmente, visto que a socie-
dade espartana era guerreira. Apresente aos alunos o texto a seguir, escrito
por Plutarco (c. 46-119), que trata da educação dos meninos espartanos. Após
o texto, apresentamos algumas sugestões de questionamentos.

Sugestão de atividade
A educação espartana
Quando uma criança nascia, o pai não tinha direito de criá-la: devia levá-la
a um lugar chamado lesche. Lá assentavam-se os Anciãos [...]. Eles examina-
vam o bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam.
Se era malnascido e defeituoso, jogavam-no no que se chama os Apotetos,
um abismo ao pé do [monte] Taigeto. Julgavam que era melhor, para ele mes-
mo e para a cidade, não deixar viver um ente que, desde o nascimento, não
estava destinado a ser forte e saudável...
Os filhos dos espartanos não [eram] domésticos, escravos ou assalariados.
Licurgo proibira-o. Ninguém tinha permissão para criar e educar o filho a seu
gosto. Quando os meninos completavam sete anos, ele próprio os tomava sob
sua direção, arregimentava-os [...] a um regulamento e a um regime comuni-
tário para acostumá-los a brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa punha
aquele cuja inteligência sobressaía e que se batia com mais arrojo. Este era
seguido com os olhos, suas ordens eram ouvidas e punia sem contestação.
Assim sendo, a educação era um aprendizado de obediência. Os Anciãos vi-
giavam os jogos das crianças. Não perdiam uma ocasião para suscitar entre

84
eles brigas e rivalidades. Tinham assim meios de escutar, em cada um, as dispo-

Orientações para o professor


sições naturais para a audácia e a intrepidez na luta. Ensinavam a ler e escrever
apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à
obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do
mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam treinamento mais severo: ras-
pavam a cabeça, andavam descalços, brincavam nus a maior parte do tempo.
Tais eram seus hábitos. Quando completavam doze anos, não usavam mais
camisa. Só recebiam um agasalho por ano. Negligenciavam o asseio, não conhe-
ciam mais banhos [...] a não ser em raros dias do ano, quando tinham direito a
essas “boas maneiras”. Dormiam juntos, agrupados em patrulhas e tropas, so-

Objetivos, comentários e sugestões


bre [leitos] que eles próprios fabricavam com juncos que cresciam às margens
do [rio] Eurotas e que quebravam sem faca, com as mãos. No inverno, coloca-
vam nos seus [leitos] o que se chama de lycophones. Parece que essas plantas
têm poder calorífico.
PLUTARCO. A vida de Licurgo. In: PINSKY, Jaime. (Org.). 100 textos de história antiga. 8. ed. São Paulo: Contexto,
2003. p. 108-9. (Textos e documentos).

a ) De acordo com o autor do texto, por que os espartanos jogavam ao abis-


mo os bebês que não nasciam encorpados e robustos?
b ) Com que idade os meninos espartanos eram inseridos em um rígido regime
comunitário?
c ) Por que, de acordo com o autor do texto, os Anciãos suscitavam brigas e
rivalidades entre os meninos?
d ) Quais eram os principais objetivos da educação espartana?
e ) Você gostaria de receber uma educação espartana? Justifique sua resposta.
Respostas: a) Porque julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar
viver um ente que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável. b) Aos
sete anos de idade. c) Porque tinham assim meios de escutar, em cada um, as disposições
naturais para a audácia e a intrepidez na luta. d) Acostumar os meninos à obediência, torná-los
duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. e) Resposta pessoal.

Página 162
■■ As Guerras Greco-Pérsicas, também chamadas de Guerras Médicas, foram
uma série de conflitos no século V a.C., envolvendo várias cidades gregas,
principalmente Atenas e Esparta, contra o Império Persa. Leia a seguir o
texto sobre algumas das consequências das Guerras Greco-Pérsicas, como
o fortalecimento da democracia em Atenas.

As Guerras Médicas [Greco-Pérsicas] trariam consequências importantes para to-


do o mundo grego, mas sobretudo para Atenas. De fato, foram os atenienses que
sofreram os mais rudes golpes. Sua cidade fora destruída e seus santuários, queima-
dos pelos persas. Por outro lado, a Grécia lhes devia pela segunda vez ter sido salva
do perigo bárbaro. Os atenienses, porém, não pretendiam parar por aí: empreende-
riam também a libertação [...] da Ásia Menor da dominação persa, e para isso fizeram
uma aliança sob sua direção, chamada Liga de Delos por ter seu centro no santuário
de Apolo da ilha com esse nome. Esta aliança viria rapidamente a tornar-se nas mãos
dos atenienses um poderoso instrumento de seu domínio no Egeu.
Mas as Guerras Médicas colaborariam também para a evolução interna de Ate-
nas. Embora efetivamente [a batalha de] Maratona [em 490 a.C.] tivesse sido uma

85
vitória dos hoplitas atenienses, [a batalha de] Salamina [em 480 a.C.] fora proeza
da frota construída por Temístocles e dos marinheiros, recrutados entre os cida-
dãos mais pobres, aqueles que não tinham recursos próprios para adquirir a panó-
plia [armadura] hoplítica. Como deveriam mais tarde lembrar o panfletário dito
Velho Oligarca e Aristóteles, essa vitória, fruto do empenho dos elementos mais
pobres do demos, daria a estes um peso cada vez maior na vida da cidade-estado e
contribuiria para o triunfo da democracia. As consequências, evidentemente, não
se fizeram manifestar logo. No entanto, menos de vinte anos após Salamina, as
reformas de Efialtes, retirando do velho conselho aristocrático do Areópago suas
prerrogativas e atribuindo-lhes à Boulé dos Quinhentos e à Helieia, sancionariam
o papel cada vez maior do demos na condução dos negócios da cidade, fundando
definitivamente a democracia ateniense.
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Trad. Carlos Ramalhete. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 198.

Página 165
■■ Sobre a lei do ostracismo comente que essa medida não tinha caráter pu-
nitivo, e sim preventivo, pois os condenados ao ostracismo, após cumprirem
o período de exílio, podiam voltar e reaver seus bens e direitos políticos.
■■ Sobre as mudanças promovidas por Clístenes, comente, também, que ele
eliminou a divisão censitária entre os cidadãos, permitindo a todos a parti-
cipação nas magistraturas, no conselho do Bouleuterion e nos tribunais de
Helieia.

Página 166
■■ Sobre Aspásia de Mileto, leia o texto a seguir.

Nos tempos de Péricles, Aspásia foi a mulher mais famosa de Atenas.


O que também poderia ser dito de outra maneira: nos tempos de Aspásia, Péri-
cles foi o homem mais famoso de Atenas.
Seus inimigos não perdoavam que fosse mulher e estrangeira e, para acrescentar-
-lhe alguns defeitos, atribuíam a ela um passado inconfessável, e diziam que a es-
cola de retórica, que ela dirigia, era um criadouro de mocinhas fáceis.
Foi acusada de desprezar os deuses, ofensa que podia ser paga com a morte.
Diante de um tribunal de mil e quinhentos homens, Péricles a defendeu. Aspásia
foi absolvida, embora em seu discurso de três horas Péricles tenha esquecido de
dizer que ela não desprezava os deuses, mas achava que os deuses nos desprezam
e arruínam nossas efêmeras felicidades humanas.
Naquela época, Péricles já havia expulsado a esposa de seu leito e de sua casa e
vivia com Aspásia. E por defender os direitos do filho que teve com ela, havia vio-
lado uma lei que ele mesmo havia escrito.
Para escutar Aspásia, Sócrates interrompia suas aulas. Anaxágoras citava suas
opiniões.
— Que arte ou poder tinha essa mulher, para dominar os políticos mais eminen-
tes e para inspirar os filósofos? — perguntou-se Plutarco.
GALEANO, Eduardo H. Espelhos. Trad. Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 50.

86
■■ Após a leitura do texto, comente com os alunos sobre a importância do

Orientações para o professor


papel exercido por Aspásia de Mileto. Mesmo em uma sociedade onde mu-
lheres não tinham os mesmos direitos políticos que os homens, desempenhou
um papel de valor estimável nos assuntos políticos de Atenas.

Página 167
■■ Sobre os vasos na Grécia Antiga, leia as informações a seguir.

Entre os vasos gregos, há um grupo de recipientes com uma forma muito carac-
terística e que foram utilizados em toda a Grécia ao longo dos tempos. A maior

Objetivos, comentários e sugestões


parte destas formas [foi utilizada] nos banquetes; outras, como o lutroforo e o lebes
gâmico, eram especialmente dedicados aos noivos como presentes de casamento;
também havia caixas de toucador — píxides —, onde se podiam guardar os cosmé-
ticos e as joias. A hidra empregava-se para o [...] transporte e para armazenar a água
das fontes; as ânforas, para guardar o vinho e o azeite.
GRACIA Y ASENSIO, José Jacobo Storch. O melhor da arte grega 2. Lisboa: G & Z Edições, s/d. p. 38.

Explorando a imagem
■■ Explore os elementos da imagem da página 167 com os alunos. Diga-lhes que
apesar de representar uma cena da Grécia Antiga, foi produzida no século XX
e, portanto, simula como seria parte do cotidiano dos atenienses. Chame a
atenção para a indumentária dos indivíduos, com trajes tipicamente gregos,
feitos de tecidos que lhes transpassavam o corpo. Alguns deles foram ador-
nados com tiaras no cabelo. A arquitetura do plano de fundo compõe o cenário
de Atenas. Neste espaço os homens, em primeiro plano, discutem assuntos
políticos. Comente com os alunos sobre quem participava destas discussões.
Como na imagem, apenas homens versavam sobre assuntos referentes à
democracia em Atenas e somente tinham participação aqueles que eram con-
siderados cidadãos. Para corroborar a análise da imagem, apresente aos
alunos as informações do texto a seguir.

Na Atenas clássica, do tempo de Péricles, isto é, no século V a.C., [...] em


uma cidade vista como um centro de liberdade e um modelo de democracia,
a organização política e social estava muito longe de assentar, como se poderia
ingenuamente acreditar, sobre os princípios da igualdade e da fraternidade.
Mesmo se as reformas introduzidas por Clístenes, no [...] século VI a.C., [...]
caminharam indiscutivelmente no sentido de estabelecer uma isonomia, isto
é, a igualdade perante a lei, é preciso não esquecer que a sociedade ateniense
não diferia de modo algum daquela das outras cidades antigas, na medida em
que existem, em Atenas e fora dela, categorias sociais bastante fechadas em si,
entre as quais apenas uma, a dos cidadãos, possui direitos comparáveis àqueles
dos habitantes de nossos países modernos, e especialmente o direito de isono-
mia. Os cidadãos eram minoritários no conjunto da população que compre-
ende um número importante de escravos, desprovidos de qualquer liberdade
e de qualquer personalidade cívica ou jurídica, e de metecos, que são coagidos,
embora homens livres, a muitos deveres e se beneficiavam de poucos direitos.
Portanto, só aqueles que possuem o título de cidadão podem pretender à ple-
nitude de uma vida teoricamente livre e responsável, à igualdade perante a lei
e à participação nos assuntos políticos. [...]
MAFFE, Jean-Jacques. A invenção da cidade e do cidadão. Trad. Ana Montoia. História Viva: grandes temas. São
Paulo: Duetto, n. 3, s/d. Edição Especial. p. 17-8.

87
11 Os antigos romanos
Capítulo

Objetivos
■■ Conhecer o processo que levou ao desenvolvimento da República romana.
■■ Identificar as principais formas de governo em Roma.
■■ Compreender o conceito de reforma agrária, tanto em Roma quanto na atualidade.
■■ Conhecer os motivos que levaram à crise do Império Romano.

O sóbrio romano
A carreira de Roma durou um milênio; naquela época, reunira ela o maior im-
pério jamais visto pelo mundo. Mas a extensão e a estabilidade do império não são
as únicas razões que levaram Roma a proclamar a sua grandeza. Há uma razão mais
permanente, que consiste no dom genial com que Roma soube sustentar e embe-
lezar as realizações intelectuais e culturais do mundo grego por ela conquistado,
espalhando-se por toda a Europa. A arquitetura, a arte, a literatura e a religião ro-
manas — tudo isso revelando a influência da Grécia — trazem a inconfundível
marca do poder e da segurança dos romanos. [...]
Uma palpável herança de Roma sobrevive nos restos de nobres estruturas constru-
ídas através dos séculos: o Panteon e o Coliseu, na própria [cidade de] Roma; os
imensos aquedutos espalhados por três continentes; as estradas que uniram todo o
império. Legado intangível e mais importante é o fato de que, transformando um
mundo fragmentado numa comunidade única, Roma estabeleceu padrões para ins-
tituições públicas, para a liberdade individual e um respeito à lei que ainda perdura.
O Império Romano foi construído pelas armas e pela diplomacia. [...] Roma
exigia tributo do império, mas dava muito em troca: a obediência à lei dentro dos
limites do império, [...] pronto intercâmbio de gêneros e de produtos, tolerância de
diferenças culturais inevitáveis dentro de um domínio tão vasto. Acima de tudo,
Roma incutia em todos os romanos, das províncias ou metropolitanos, uma cren-
ça positiva no destino da própria Roma. Essa crença, firmemente estabelecida nu-
ma época em que os deuses pagãos dominavam, sobreviveu à queda do poderoso
Júpiter e sustentou a Roma cristã. [...]
HADAS, Moses. Roma Imperial. Trad. Gulnara L. de Moraes Pereira; Iolanda Steidel de Toledo. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1983. p. 11. (Biblioteca de História Universal Life).

Comentários e sugestões

Páginas 178 e 179

Páginas de abertura do capítulo


■■ A fonte A é uma fotografia do Arco de Tito, monumento romano construído
em ocasião da comemoração da conquista de Jerusalém pelo imperador Tito
Flávio. Os detalhes do arco apresentam esculturas desse episódio. Na parte
de cima, frase escrita em latim, Senatvs Popvlvsqve Romanvs Divo Tito Divi

88
Vespasiani F(ílio) Avgvsto , que significa: “Do Senado e do povo romano para

Orientações para o professor


o divino Tito, filho do divino Vespasiano, Vespasiano Augusto.”
■■ O detalhe do relevo da fonte B apresenta o exército romano no período impe-
rial. No centro, homens com armaduras, capacete, escudo e adornos para
combate. Contornando-os, esculturas de outros combatentes montados a
cavalo.
■■ A fonte C é um mosaico romano confeccionado no século III. Representa es-
cravos trabalhando na colheita e aragem do campo, apresentados descalços
e com roupa feita de um tecido que lhes transpassa o corpo.

Objetivos, comentários e sugestões


■■ Por meio da observação do afresco — fonte D — nota-se que havia escravidão
na sociedade romana, que existiam mulheres escravas, que elas realizavam
serviços como cuidar da aparência da senhora etc. Além disso, percebe-se
que as mulheres eram vaidosas e gostavam de ter seus cabelos arrumados.
Podemos observar também como eram as vestimentas, tanto das mulheres
livres, quanto das escravas. Comente com os alunos sobre o papel desempe-
nhado pelas escravas na sociedade romana antiga, as quais, como no afresco,
faziam parte do cotidiano e da vida privada das senhoras romanas.

Conversando sobre o assunto


■■ O monumento apresentado na fonte A é chamado de Arco do Triunfo, pois foi
edificado por ocasião da conquista dos romanos sobre Jerusalém. Sobre
monumento semelhante, cite o Arco do Triunfo localizado na França, edificado
para comemoração da vitória de Napoleão Bonaparte na batalha de Austerlitz.
■■ Na fonte B, o exército romano foi representado com suas armaduras, escudos
e espadas no ato do combate. Seu poderio militar teve muita influência na
expansão do império na Antiguidade. O exército forte e organizado colaborou,
portanto, para as conquistas do território romano.
■■ Foram representadas, nas fontes C e D, o exercício de atividades agrícolas e
domésticas. Por meio delas, compreende-se que havia escravidão na socie-
dade romana e que a mão de obra escrava poderia realizar tarefas específicas
e distintas como trabalhos no campo e atividades domésticas (estas exercidas
por mulheres escravas).

Página 180
■■ Se julgar conveniente e queira complementar o estudo da página, comente
com os alunos que, para alguns estudiosos, a fundação de Roma se deve
aos etruscos. Sobre estas informações, leia o trecho a seguir.

[...] Não se conhecem os detalhes da fundação histórica de Roma, mas uma das
hipóteses é que Roma teria sido fundada [...] por chefes etruscos que teriam unido
numa única comunidade diferentes povoados de sabinos e latinos. Entre 753 a.C.
e 509 a.C., Roma cresceu, deixou de ser uma pequena povoação e transformou-se
numa cidade dotada de calçadas, fortificações e sistema de esgoto, tendo o latim
se consolidado como língua corrente. [...]
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p. 82. (Repensando a História).

89
Página 181
■■ Sobre os principais períodos destacados na linha do tempo, faça perguntas
aos alunos como: Qual período da história romana teve a duração mais lon-
ga?; Em qual período o Império Romano atingiu sua extensão territorial
máxima?; A invasão do império pelos povos germânicos ocorreu em qual
período? etc.

Página 182
■■ Comente com os alunos sobre alguns aspectos da mobilidade social na
Roma monárquica. Apesar de não pertencerem ao grupo dos patrícios, os
plebeus poderiam enriquecer com seu próprio trabalho, sobretudo graças a
atividades comerciais. A sua ascensão econômica, no entanto, não signifi-
cava a possibilidade de ampliar sua participação em assuntos públicos. Além
disso, havia os plebeus pobres que moravam em grande número em lugares
pequenos, sem acesso nem mesmo a banheiros.

Página 183
■■ Caso queira aprofundar o estudo sobre a escravidão em Roma, apresente
aos alunos as informações a seguir.

Nos campos ou nas cidades, o trabalho era realizado tanto por homens livres
como por escravos. Sem dúvida, a escravidão existia já no começo da República,
mas naquela ocasião o trabalho livre era predominante. Aceita-se [...] que com as
guerras de conquista empreendidas por Roma, a escravidão tenha aumentado con-
sideravelmente. Até o final da era romana a principal fonte de obtenção de escravos
foi sempre a guerra. Desde fins do século III a.C., a escravidão é atestada maciça-
mente na península Itálica e, no século I a.C., pode-se dizer que ela é generalizada.
Ainda assim, a mão de obra livre continuou existindo em Roma.
A condição de escravo variou muito de acordo com a época, em função de sua
origem, seu dono, sua atividade e, finalmente, segundo o meio em que vivia, rural
ou urbano. Tal como na Grécia, o escravo estava submetido à autoridade de seu
senhor, e sua condição obedecia mais ao direito privado do que ao direito público.
Como na Grécia, não existiu em Roma uma atividade que fosse especificamente
escrava. Isto quer dizer que o escravo não se definia pelo tipo de atividade que
realizava, mas sim como um indivíduo privado de liberdade.
O trabalho nas minas, reservado principalmente à mão de obra escrava por ser
mais penoso e difícil, é um fato recorrente em todos os lugares onde existiu a es-
cravidão na Antiguidade. [...]
Os escravos rurais, se comparados aos urbanos, tinham uma vida mais sofrida e
curta. A maior parte da massa dos trabalhadores não especializados que realizavam
as tarefas agrícolas nas médias e grandes propriedades vivia, sem dúvida, em con-
dições sub-humanas. [...] Por outro lado, existiam entre os próprios escravos rurais
alguns que gozavam de certos “privilégios” em relação aos demais. Tal era o caso
dos escravos especializados em alguma tarefa específica [...].
Nas cidades os escravos ou se ocupavam dos serviços domésticos ou da manu-
fatura e comércio. Quando o tráfico de escravos chegou ao auge no século I a.C.,

90
os cidadãos romanos possuíam muitos deles para serviços pessoais. Eram escravos

Orientações para o professor


de luxo: cozinheiros, escribas, administradores, “bibliotecários”, secretários, pre-
ceptores etc. [...]
Tal como na Grécia, a alforria era uma esperança de todo escravo, e talvez até
mesmo a razão para continuar trabalhando. Tanto na República quanto no Império,
a alforria de escravos foi uma prática muito comum, principalmente no que diz
respeito ao escravo urbano. Do ponto de vista do direito privado, o liberto tomava
o nome de seu dono e se tornava o seu filho adotivo. [...] Tornavam-se cidadãos
com plenos direitos cívicos, diferentemente dos libertos na Grécia que passavam à
categoria de metecos.

Objetivos, comentários e sugestões


FLORENZANO, Maria Beatriz B. O mundo antigo: economia e sociedade. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 70-1; 73-4.

Página 185
■■ Sobre a reforma agrária em Roma, apresente aos alunos as seguintes infor-
mações.

A questão agrária constitui um problema sempre presente em Roma desde o


início do século V a.C., [...] atingindo seu ponto crítico na época dos Graco, cuja
ação reformadora se situa nos anos entre 133 a.C. e 121 a.C. [...]
A crise agrária do século II a.C. não tinha relação com possíveis dificuldades na
produção ou na comercialização agrícola [...]. O problema era de outro caráter:
como possibilitar o acesso de um crescente número de indivíduos sem terra a essa
propriedade?
O movimento de reforma agrária liderado pelos irmãos Graco foi uma tentativa
de restaurar o equilíbrio social rompido pelas mudanças resultantes da expansão
imperialista de Roma no Mediterrâneo. [...] Foi o início de um longo período de
instabilidade política que somente se encerraria um século mais tarde, com a ins-
tauração do império e a consolidação do sistema escravista. [...]
O projeto de Tibério Graco limitava o direito de [possessão] sobre as terras pú-
blicas. Estabelecia que cada indivíduo poderia ocupar no máximo 500 jeiras (125
hectares) do ager publicus [terras públicas advindas de herança ou de confisco
pelo Estado em decorrência de conquistas militares, e que deveriam pertencer ao
povo]. [...]
A parte excedente a este limite seria devolvida ao Estado; as terras assim recu-
peradas seriam divididas em pequenos lotes e distribuídas aos cidadãos pobres,
[não podendo ser vendidas]. [...] Os beneficiários deviam pagar um pequeno im-
posto, o vectigal, uma taxa anual sobre a terra. Não sabemos com certeza a extensão
dos lotes; crê-se que seriam no máximo 7,5 hectares (30 jeiras). [...]
Havia, portanto, uma série de garantias, tanto para os ocupantes ricos, que con-
servariam áreas consideráveis, quanto para os proletários, impedidos de vender
suas parcelas, evitando-se assim a volta à situação anterior.
[...] [No entanto, havia um forte grupo contrário] à reforma agrária [que era
formado por aqueles] que ocupavam o ager publicus ilegalmente [...], [muitos te-
miam] serem expropriados. Sem dúvida os itálicos ricos que exploravam em larga
escala as terras públicas se encontravam entre os opositores da lei. [...]

91
Uma multidão de senadores [da oposição temendo as ações de Tibério Graco]
[...] invadiu o local dos comícios no Capitólio. [...] Foi um massacre, no qual Tibé-
rio e inúmeros partidários foram mortos. [...]
[Mesmo assim], a comissão agrária [...] prosseguiu com suas atividades, [agora
lideradas pelo irmão de Tibério: Caio]. [...]
[Como] tribuno da plebe, [em 123 a.C.], Caio fez votar uma lei em virtude da qual
o Estado distribuía mensalmente trigo a preço fixo e mais baixo que o de mercado
para os cidadãos romanos. [...] [Assim], Caio aliviava a miséria da plebe urbana.
[...] [O Senado mais uma vez contrário à reforma reagiu de forma agressiva,
perseguindo Caio e seus partidários]. Tentando a fuga, e em vias de cair nas mãos
de seus inimigos, Caio fez-se matar por um seu escravo. [...] Seguiu-se, [então],
uma violenta repressão, numa onda de prisões, processos e exílios.
CORASSIN, Maria Luiza. A Reforma Agrária na Roma Antiga. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 8-9; 46; 49; 54-55; 58; 72.
(Tudo é história).

■■ Na Roma Antiga e em vários outros lugares e épocas, a concentração de


terras nas mãos de poucos sempre provocou graves problemas sociais. No
Brasil, esse problema também existe. Com base na leitura e interpretação
do texto a seguir, reflita sobre os danos sociais causados pela distribuição
desigual de terras no Brasil e elabore um texto defendendo argumentos que
respeitem os direitos humanos.

Sugestão de atividade
Tempo de plantar, tempo de colher
O Brasil é um país de população predominantemente urbana. De acordo com
o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a grande
maioria da população brasileira, cerca de 81,2%, vive em áreas urbanas, restando
18,8% nas áreas rurais. Ainda assim, um dos principais problemas que enfrenta-
mos é a questão agrária, o que fica evidente pela frequência com que a mídia
noticia ocupações de fazendas, espaços públicos, estradas ou agências governa-
mentais por trabalhadores rurais sem terra, que reclamam a agilidade na imple-
mentação de uma reforma agrária. [...]
Ao mesmo tempo que a questão agrária ganhou evidência, tornou-se comum
atribuí-la a um padrão concentrador do acesso à terra que, deitando raízes no
nosso passado, deu origem ao chamado latifúndio – mais do que uma extensão de
terra, um sistema de dominação que estava na base do poder dos proprietários,
como um mecanismo de controle social, principalmente sobre aqueles que se en-
contravam no interior dos grandes domínios e de muitos que, mesmo estando
fora, com estes se relacionavam.
[...] A questão agrária tinha em sua base [nas décadas de 1940 a 1960] o arca-
ísmo do mundo rural, hoje ela é resultante dos próprios processos de moderniza-
ção da agricultura, e da sociedade brasileira de maneira mais ampla. A agricultu-
ra brasileira, ainda que não na sua totalidade, é vista nos dias atuais como um
setor dinâmico, altamente produtivo, internacionalmente competitivo, apontan-
do-se ao chamado agribusiness, o agronegócio, como um dos motores fundamen-
tais de nossa economia. A afirmação desse quadro, porém, não se deu sem uma
contrapartida social significativa.
GRYNSZPAN, Mario. Tempo de plantar, tempo de colher. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 9, jul. 2004. p. 28; 31.

92
Orientações para o professor
A distribuição de terras no Brasil

20%
(4 500 000
pequenas
propriedades)
45%
(45 000
latifúndios)

Objetivos, comentários e sugestões


35%
(480 000
propriedades
médias)

Acervo da editora
Minifúndios (propriedades com menos de 100 hectares)
Fonte: IBGE. Censo agropecuário, 2006.
Propriedades médias (entre 100 e 1 000 hectares)
Latifúndios (propriedades com mais de 1 000 hectares)

■■ Partindo dos recursos expostos, escreva um texto sobre os danos sociais


causados pela distribuição desigual de terras no Brasil, apresentando uma
proposta para reduzir esse problema. Considere em seu texto, além de seus
conhecimentos prévios, aspectos históricos desse tema, valendo-se dos
conteúdos apresentados em sala de aula sobre o capítulo, a respeito das
tentativas de reforma agrária pelos irmãos Tibério e Caio Graco. Defenda
sua proposta com base em argumentos que respeitem os direitos humanos.
Resposta
Caso opte pela realização dessa atividade, é muito importante que realize as correções neces-
sárias nos textos apresentados pelos alunos. É importante verificar, por exemplo, se o texto
apresentado está no formato solicitado no enunciado; se os temas abordados estão adequados;
se o aluno insere título; se defende seus argumentos respeitando os direitos humanos; se usa
seus conhecimentos prévios na composição do texto e se sabe utilizar corretamente a norma
culta da Língua Portuguesa.

Página 186
■■ Sobre a Pax Romana, comente com os alunos que ela se caracterizou pelo de-
senvolvimento político, econômico e social do Império Romano e pela ausência
de grandes guerras, que eram muito frequentes no período republicano. No
entanto, não significou o fim dos conflitos armados. Guerras “menores” foram
travadas durante esse período em quase todas as regiões do império, principal-
mente para sufocar revoltas internas e impedir ataques estrangeiros. A Pax
Romana durou quase dois séculos, até a morte do imperador Marco Auréilo, em 180.

Página 187

Explorando a imagem
■■ A maquete da cidade de Roma apresentada na página 187 foi elaborada
pelo arquiteto italiano Ítalo Gismondi (1887-1974). Com dezessete metros
de diâmetro e representando edifícios em uma escala 1:250, esta obra foi
realizada entre os anos de 1933 e 1937. A maquete está exposta no Museu
da Civilização Romana, em Roma. Explore esta fonte com os alunos, apre-
sentando-lhes algumas informações.

93
Modelo de Roma no tempo de Constantino. Museu da Civilização Romana,
8

2 1

9
3

Roma. Foto: Vanni Archive/Corbis/Latinstock


4 5
7

1. Fórum Romano: era a praça central, um local aberto onde barbeiros, pa-
deiros, peixeiros, entre outros, ofereciam seus produtos e serviços em
lojas ao longo da praça. No fórum também havia espaço para templos.
Ao seu redor ficavam escolas onde as crianças pequenas aprendiam a ler
e a escrever em latim e grego, além de cálculos e aritmética. Muitas crian-
ças pobres, entretanto, não tinham acesso à escola, aprendendo com
seus pais apenas o necessário para ajudar no sustento da família.
2. Moradias urbanas: as moradias refletiam as desigualdades nas condições
de vida de seus habitantes. Os mais ricos habitavam os domus, grandes
residências compostas por vários aposentos, pátios e canteiros com flores
e arbustos. A maioria da população pobre, por outro lado, morava nas
insulae, do latim, ilhas, que eram grandes blocos residenciais que tinham
até seis andares. Seus moradores viviam muitas vezes em condições pre-
cárias, em pequenos apartamentos, pouco arejados, sem banheiro ou co-
zinha. Por isso, muitos eram obrigados a usar fogareiros portáteis para
cozinhar e aquecer-se, vivendo o perigo permanente de incêndios, pois vários
andares, principalmente os superiores, eram construídos com madeira.
3. Circo Máximo: local onde ocorriam vários espetáculos, entre eles as cor-
ridas de biga.
4. Coliseu: anfiteatro onde aconteciam as lutas de gladiadores. Muitos desses
eventos eram promovidos por pessoas da sociedade, mas a maioria deles
era promovida pelo próprio governo imperial.
5. Termas de Trajano: nessas termas, além de banhos públicos, havia salas
de ginástica e salões, onde eram promovidos jogos e recitais de música,
que podiam ser frequentados, mediante pagamento. No entanto, havia as
termas em que tantos as pessoas ricas quanto as pobres, podiam tomar
banho nas banheiras coletivas de água fria ( frigidarium ), morna ( tepidarium )
ou quente ( calidarium ).
6. Aqueduto de Nero: uma das construções responsáveis pelo sistema de
abastecimento de água. Porém, somente os mais ricos tinham acesso à
água encanada em suas casas. A maioria da população era obrigada a
recorrer às diversas fontes distribuídas pela cidade.
7. Templo de Cláudio: local dedicado ao culto imperial.
8. Teatro de Marcelo: local onde eram realizadas as apresentações teatrais
como as tragédias e as comédias.
9. Templo de Vênus e Roma: local reservado à adoração dos deuses.

94
Páginas 189 e 190

Orientações para o professor


■■ Se julgar conveniente, comente com os alunos que as causas do declínio do
Império Romano do Ocidente têm sido debatidas há muito tempo por diver-
sos estudiosos. Durante o século XVIII, por exemplo, alguns historiadores
começaram a usar o conceito de “Baixo Império” para se referir aos últimos
séculos do Império Romano do Ocidente. Esse conceito deixava transpare-
cer a ideia de declínio, e ainda hoje é muito usado.
Na mesma época, o historiador inglês Edward Gibbon defendia que a deca-
dência de Roma se iniciou já no final do século II, com a morte do Imperador
Marco Aurélio. Para esse historiador, as causas da decadência eram tantas,

Objetivos, comentários e sugestões


que a pergunta correta não seria “por que” o império foi destruído, mas sim
como ele pode subsistir por tanto tempo. Entre as causas do declínio, Gibbon
destacava a aceitação de imigrantes germânicos na condição de colonos
que deveriam defender as fronteiras do império, e, também, a adoção do
cristianismo, que teria alimentado a intolerância religiosa e certo desprezo
pela antiga tradição militar dos romanos, o que teria levado ao enfraqueci-
mento do exército. A partir dos anos 1950, surgiram novas abordagens
sobre o assunto, quando historiadores alemães começaram a utilizar o con-
ceito de Antiguidade Tardia. Em 1971, o irlandês Peter Brown publicou o
obra O Mundo da Antiguidade Tardia : De Marco Aurélio a Maomé . Mesmo
sem negar que houve uma fase final de decadência, Brown valorizou a ideia
de continuidade, pois, segundo ele, praticamente nenhuma ruptura drástica
teria ocorrido nos anos finais do Império Romano do Ocidente. Um exemplo
disso seria a continuidade de vários princípios do Direito Romano, o desen-
volvimento das línguas de origem latina (como o francês, o espanhol e o
português) e a difusão do Cristianismo como fator unificador da Europa.

Página 191
■■ Comente com os alunos que, apesar de chamados de “bárbaros” pelos romanos,
optou-se pelo uso do termo “povos germânicos”, uma vez que o primeiro tem
uma conotação negativa. Bárbaro, para os romanos, eram aqueles que não
falavam o latim, eram “incultos e não civilizados”. Chame a atenção dos alunos
para o fato de que foram justamente esses povos “bárbaros” que tiveram a
habilidade de se integrar, lentamente, aos costumes do Império Romano. Co-
mente também que, durante muitos anos, esses povos conviveram pacifica-
mente com os romanos, estabelecendo diversas alianças familiares e culturais.

12 A cultura clássica
Capítulo

Objetivos
■■ Compreender o que significa a expressão cultura clássica.
■■ Identificar os elementos da cultura clássica que ainda estão presentes em
nosso cotidiano.
■■ Compreender as diferenças entre mito e filosofia.
■■ Conhecer alguns princípios do Direito Romano.

95
A presença no Ocidente
[...] Os conceitos com que os gregos percebiam o mundo atingiram outros povos,
e a razão é clara: os gregos foram os que mais influíram sobre os romanos, que por
sua vez foram aqueles que diretamente mais influenciaram o Ocidente. Não se
trata de lembrar quão intensamente o Ocidente é latinizado, mas de ressaltar, nes-
se modo indireto, quão profundamente Roma foi helenizada.
A helenização de Roma é o primeiro e o maior capítulo da história do legado
grego em terras do poente, e foi tão profunda, que constitui, ela mesma, um capí-
tulo especial desse fenômeno histórico e historiográfico da aculturação, da delibe-
rada opção de um “país”, em dado momento, acolher a cultura de outro, [...] os
romanos, vencedores, acolheram a cultura dos gregos vencidos. A consciência que
eles mesmos tinham do fenômeno verifica-se pelo notório verso de Horácio
(65-8 a.C.), [...] “A Grécia conquistada conquistou o feroz vencedor, e as artes in-
troduziu no Lácio rústico”. [...]
Percebe-se assim que a influência grega em Roma e no Ocidente não se mate-
rializou apenas num ou noutro hábito, numa ou noutra prática [...], mas nas con-
cepções mesmas com que os objetos do mundo são percebidos. [...]
[...] Poesia, [...] história, geografia, filosofia, retórica, sofística, filologia, gramática, [...]
todas essas matérias, genericamente falando, ou todas essas palavras são gregas, como são
astronomia, física, mecânica, química, matemática, arquitetura, aritmética e outras.
A bem dizer, a concepção segundo a qual nada há no Universo que não valha a
pena ser estudado, e que por isso vem repartido, por assim dizer, em disciplinas,
que incluem as letras, deve-se à filosofia de Aristóteles. Ao lado da poesia e de al-
gumas outras matérias, a filosofia, e nela principalmente Platão [...] e Aristóteles,
será um dos objetos mais importantes da influência grega em Roma e no Ocidente.
OLIVA NETO, João Angelo. A presença no Ocidente. Biblioteca EntreLivros. São Paulo:
Duetto, n. 1, s/d. Edição especial. p. 92-4.

Comentários e sugestões

Páginas 198 e 199


Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A representa uma cena da fábula A Lebre e a Tartaruga , do escritor
grego Esopo. Para apoiar a análise, apresente o seguinte texto para os alunos.

Certa vez a tartaruga desafiou a lebre para uma corrida. As outras tartarugas
riram da cara da pobrezinha:
— Você está maluca? Apostar corrida com o bicho mais veloz da mata? Você vai
perder, e feio!
Mas a tartaruga não se deixou abater:
— Deixe estar, deixe estar.
No dia marcado, a lebre e a tartaruga se aqueceram e o macaco deu o tiro de
largada. Sob aplausos das torcidas, começou a corrida do século. Em menos de um
minuto, a lebre já estava tão longe que resolveu tirar uma soneca.

96
— A tartaruga vai demorar uma vida para chegar aqui. Só que aí aconteceu o

Orientações para o professor


que parecia impossível. A lebre dormiu tão profundamente que a tartaruga conse-
guiu ultrapassá-la e chegou em primeiro lugar.
Moral: Nem sempre os mais velozes chegam em primeiro lugar.
Fábulas de Esopo. Adap. Ivana Arruda Leite. São Paulo: Escala Educacional, 2004. p. 10-1. (Recontar).

■■ A fonte B apresenta escultura de Afrodite, deusa grega do amor. Ela foi repre-
sentada seminua, em posição frontal, com o rosto levemente inclinado para o
lado. As vestes que lhe cobrem apenas a parte de baixo do corpo compõem
o sentido de beleza e sensualidade. Comente com os alunos que, segundo a

Objetivos, comentários e sugestões


mitologia grega, Afrodite nasceu da espuma que se formou na água do mar.
■■ A imagem do mosaico — fonte C — apresenta três personagens encenando
parte de uma peça de teatro. Eles estão sentados em volta de uma mesa, com
vestimentas que se assemelham e sugerem estar discutindo algo. Comente
com os alunos que o teatro romano foi muito influenciado pelo teatro grego e
sua representação em um mosaico indica que a prática era comum.
■■ A fonte D é uma gravura da deusa romana Justitia. Representando a justiça,
a personagem apresenta-se em posição ereta, olhos vendados, espada em
uma das mãos e balança na outra. Converse com os alunos a respeito desta
representação. Pergunte a eles o que pensam sobre o significado dos olhos
vendados, da espada e da balança nas mãos da personagem, e por que a
justiça foi representada por uma mulher.

Conversando sobre o assunto


■■ As fábulas são histórias que, no final, apresentam algum ensinamento ou uma
“moral da história” para o leitor. Geralmente seus personagens são animais.
■■ Afrodite foi representada com a parte superior do corpo nu e a parte inferior
coberta, e apresenta-se com a cabeça levemente inclinada. A obra que se
assemelha a essa é a Vênus de Milo , escultura romana.
■■ O uso de máscara nos atores é um elemento do teatro romano que pode ser
apontado. Hoje, o teatro é realizado, geralmente em locais específicos, com
palco, cortina e espaço para o público assistir à peça. No entanto, há peças
que são encenadas ao ar livre, nas ruas.
■■ Os olhos vendados de Justitia simbolizam a imparcialidade e a igualdade de
direitos; a espada, quase em descanso, representa a própria declaração do
direito, quando controvertido; a balança representa equilíbrio.
■■ As influências da cultura clássica estão muito presentes em nosso cotidiano.
O legado do direito romano, o teatro de origem grega, as obras de arte no
estilo clássico, as fábulas, a arquitetura etc.

Página 202
■■ Comente com os alunos que o monte Olimpo está localizado na Grécia e é
o ponto mais alto do país, com aproximadamente 2917 metros. Na mitologia
grega, o monte Olimpo era considerado a morada dos deuses, onde eles se
reuniam para festejar ou para decidir sobre o destino da humanidade.

97
Sugestão de atividade
■■ Auxilie os alunos a identificar os deuses da mitologia grega. O afresco
Olimpus , do artista italiano Luigi Sabatelli, foi pintado entre os anos de 1819
e 1825. Nessa pintura estão representados cerca de vinte deuses do Olim-
po . O afresco está localizado na abóbada da Sala da Ilíada, no Palácio
Pitti, que fica na cidade de Florença, na Itália. Para explorar essa fonte com
os alunos, apresente a eles as informações a seguir.
■■ Ainda sobre esse assunto, comente com os alunos que os romanos foram
muito influenciados pela mitologia grega. Leia o texto.

Foram [...] os etruscos que facultaram a Roma o seu primeiro contato impor-
tante com os deuses e deusas gregos, muitos dos quais, com o tempo, foram
virtualmente adotados pelos romanos sem modificação alguma. Júpiter passou
a ser sinônimo de Zeus, o deus-pai dos gregos. Afrodite [deusa do amor] tornou-
-se sem esforço a radiante e formosa Vênus. Do mesmo modo, Juno passou a ter
os atributos de Hera, a deusa grega das mulheres e do casamento; Marte, os de
Ares, deus da guerra; Mercúrio, os de Hermes, mensageiro de deus; Diana, os
de Ártemis, deusa da caça; Minerva, os de Atena, deusa da sabedoria. Alguns
dos deuses gregos, especialmente Apolo, entraram no panteão de Roma sem ao
menos trocar de nome.
HADAS, Moses. Roma Imperial. Trad. Gulnara L. de Moraes Pereira; Iolanda Steidel de Toledo. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1983. p. 124. (Biblioteca de História Universal Life).

1. Zeus: deus dos deuses.


2. Palas Atena: deusa da sabedoria.
3. Hermes: deus dos pastores; mensageiro
dos deuses.
4. Afrodite: deusa do amor. 2

Luigi Sabatelli - Olimpus (detalhe). Galeria Palatine, Palácio Pititi,


5 3
5. Dionísio: deus do vinho e da vegetação. 1

6. Ares: deus da guerra.


7. Eros: deus do amor.

Florença. Afresco Foto: Alinari/TopFoto/Keystone


14
8. Posêidon: deus dos mares.
8
9. Hades: deus do mundo subterrâneo.
4 9
10. Apolo: deus da profecia e da medicina. 6 7 10
11
11. Ártemis: deusa da caça e protetora dos
animais selvagens; deusa do parto.
12. Pan: deus das florestas, dos campos e dos
rebanhos. 13
13. Deméter: deusa dos cereais e da fertilidade.
14. Hera: deusa do casamento e das mulheres.
12

■■ Comente com os alunos que os Jogos Olímpicos foram criados na Grécia


Antiga em 776 a.C. e, tal como os jogos atuais, aconteciam de quatro em
quatro anos. Se julgar conveniente e quiser complementar o estudo da pá-
gina, leia o texto a seguir, que trata da importância do ideal esportivo entre
os antigos gregos.

98
Na [Grécia Antiga], o espírito de competição e o ideal esportivo adquiriram uma

Orientações para o professor


posição vital na vida social pela primeira vez na história da humanidade. O cultivo
das habilidades mentais e intelectuais do homem não estava, de modo algum, dis-
sociado da prática de exercícios físicos; ao contrário, eles se completavam recipro-
camente. A ginástica e o esporte estavam interligados à educação musical do jovem
e ao seu pleno desenvolvimento psíquico e mental.
Além disso, a religião, muito longe de se opor a esse tipo de educação, consagrou-
-lhe uma posição definitiva nos grandes santuários pan-helênicos, onde as compe-
tições atléticas e musicais eram celebradas sob a proteção dos deuses e vistas por
milhares de espectadores provenientes de todas as partes do mundo helênico. Tan-

Objetivos, comentários e sugestões


to os atletas quanto os espectadores estavam cientes de que o dia dos jogos repre-
sentava o coroamento de um longo período de treino e de que a vitória consagraria
as cidades que preparavam os vencedores.
Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga: Olimpíada antiga e os jogos olímpicos. Trad. Luiz Alberto Machado Cabral. São Paulo:
Odysseus, 2004. p. 13.

Página 203
■■ Sobre os períodos da filosofia grega, veja as seguintes informações.

Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da filosofia grega têm como
referência o filósofo Sócrates de Atenas, donde a divisão em filosofia pré-socrática
e socrática. [...]
Os quatro grandes períodos da filosofia grega, nos quais seu conteúdo muda e
se enriquece, são:
1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do
século V a.C., quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem
do mundo e as causas das transformações na natureza.
2. Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século
IV a.C., quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética e a
política e as técnicas (em grego ântropos quer dizer homem; por isso o perí-
odo recebeu o nome de antropológico).
3. Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C., quan-
do a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a
cosmologia e a antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar que tudo
pode ser objeto de conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamen-
to e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer
os critérios da verdade e da ciência.
4. Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até o sécu-
lo VI depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança Roma e o pensa-
mento dos primeiros padres da Igreja, a filosofia se ocupa sobretudo com as
questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e
a natureza e de ambos com Deus.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 34-35.

Página 204
■■ Comente com os alunos que a política do pão e circo era uma forma de o
governante promover sua própria imagem e tentar manter a população sob

99
controle, evitando reivindicações e revoltas. Aproveite o momento para des-
pertar o senso crítico dos alunos. Indague-os sobre o que pensam a respei-
to de uma medida como esta, levando-os a refletir sobre possíveis soluções
para sanar o problema da miserabilidade em que se encontrava grande
parte da população de Roma.

Página 205

Sugestão de atividade
Análise de Filme
■■ Sobre o modo de vida dos gladiadores, assista com os alunos, se julgar con-
veniente, ao filme Gladiador .

Objetivo
■■ Perceber que as produções cinematográficas com temas históricos devem ser
analisadas com cuidado.
A história deste filme se passa no Império Romano, no ano 180, o último do
governo do imperador Marco Aurélio, e tem como principal cenário o Coliseu.
Os personagens do filme, em sua maioria, realmente existiram e tiveram impor-
tante participação nesse período da história romana.
O diretor Ridley Scott, no entanto, tomou a liberdade de alterar vários fatos e
mudou o destino de alguns personagens. Nas primeiras cenas desse épico, po-
demos observar uma batalha de tropas romanas contra os “bárbaros” na Germâ-
nia. Vemos também o personagem de Marco Aurélio demonstrando seu desejo,
antes de morrer, de restabelecer a República e de restituir o poder dos senadores.
Além disso, vários elementos do cotidiano da vida de um gladiador são apre-
sentados no filme, como o treinamento, a alimentação, as relações entre senhor
e escravo, as armas e as técnicas de luta.
Filme de Ridley Scott. Gladiador. 2000. EUA

Ficha Técnica
Título — Gladiador
Diretor — Ridley Scott
Atores Principais —
Russell Crowe, Joaquin
Phoenix, Richard Harris
Ano — 2000
Duração — 154 minutos
Origem — EUA

Página 207
■■ Caso queira complementar o estudo da página sobre a literatura latina, leia
para os alunos as seguintes informações.

Virgílio foi o grande poeta épico latino, tendo composto, na época do imperador
Augusto (século I a.C.) a Eneida, um poema que contava as origens heróicas do
povo romano, descendente dos troianos. Na mesma época, Tito Lívio escrevia uma

100
monumental História de Roma, desde a fundação até Augusto. Em ambos os casos,

Orientações para o professor


as obras representavam bem os planos de Augusto para glorificar as origens e a
história de expansão e do domínio romano do mundo.
Você deve estar se perguntando: mas todo mundo era estudado? É difícil acreditar,
não é mesmo? Mas a verdade é que não eram só as pessoas de posse que se preocu-
pavam com a cultura. A grande massa da população romana, ainda que semianalfa-
beta, também gostava de escrever e, mesmo que não se pudesse ter livros publicados,
era possível escrever nas paredes. As paredes preservadas de Pompeia, cidade destru-
ída pela erupção do Vesúvio em 79 d.C., trazem milhares de grafites populares, ins-
crições que tratam dos mais variados temas. Há poesias, desenhos, recados, trocas de

Objetivos, comentários e sugestões


impressões, até exercícios escolares podem ser lidos [...]. A língua usada nas paredes
não era a mesma que se usava na literatura ou na oratória, era mais simples e direta,
cheia de “erros”. Foi desse latim vulgar que veio o português que falamos, tanto em
termos de vocabulário como na estrutura das frases.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2007. p. 121.

■■ Se julgar conveniente comente sobre a arte do grafite com os alunos, uma


rica forma de manifestação artística da contemporaneidade. Antes de iniciar
os comentários, no entanto, é importante que se apontem as diferenças
entre o grafite e a pichação. Enquanto os adeptos do primeiro normalmente
solicitam a autorização dos agentes do poder público ou dos proprietários
dos imóveis onde será produzida a sua arte, a pichação é considerada um
ato de vandalismo, um crime contra o patrimônio público e privado.
Assim como os grafites pompeianos, o contexto dos grafites atuais está
relacionado ao universo da cultura popular. Introduzido no Brasil no final da
década de 1970, o grafite está fundamentado em movimentos culturais co-
mo o do hip hop , do rap ( rhythm and poetry , do inglês “ritmo e poesia”) e do
break dance (estilo de dança típico dos adeptos do hip hop ) e aborda temá-
ticas relacionadas a questões sociais, políticas, econômicas, éticas e am-
bientais. Os grafiteiros — aqueles que praticam a arte do grafite — utilizam
spray de tinta e sua “tela” são os muros, paredes e ruas das cidades. Atu-
almente, muitos jovens e adolescentes encontram no grafite uma maneira de
manifestar suas opiniões, conquistando inclusão social e exercendo efetiva-
mente a sua cidadania.

Página 209
■■ O texto a seguir traz informações sobre Sextus Julius Frontinus, que admi-
nistrava os aquedutos que abasteciam Roma, no século I. Se julgar interes-
sante, apresente essas informações aos alunos.

Ser administrador geral do departamento de águas talvez não fosse o cargo mais
charmoso da hierarquia romana, mas como curator aquarum do final do século I,
Sextus Julius Frontinus reconheceu que seu trabalho era importante “não só para
o conforto, mas também para a saúde e até a segurança da cidade”. Além dos escri-
bas e assessores técnicos, ele liderava uma equipe de 700 pedreiros, encanadores e
outros operários. Os vazamentos nos nove aquedutos que traziam a Roma a água
fresca das montanhas mantinham seus homens sempre ocupados, assim como o

101
combate às tentativas ilegais de canalizar água diretamente dos suprimentos públi-
cos. “O suprimento público fica paralisado”, queixava-se Frontinus, “por causa dos
cidadãos particulares que querem regar seus jardins”. Os canais revestidos de ci-
mento que traziam água para Roma percorriam a maior parte de sua rota sob a
terra: dos 435 quilômetros de aquedutos que Frontinus administrava, apenas cerca
de 65 corriam na superfície. Dentro da cidade, os aquedutos iam dar em tanques,
de onde a água era distribuída através de uma miríade de canos de chumbo, para
as fontes, os banhos públicos e as casas dos ricos. Por um sistema complexo de si-
fões, a água chegava até os edifícios no monte Capitolino e outras colinas. O con-
trole rigoroso de Frontinus permitiu-lhe quase dobrar o suprimento público, e ele
se vangloriava de que “nem mesmo a água servida é perdida”: aproveitava-a para
limpar os esgotos e as latrinas públicas, antes de despejá-la no rio Tibre.
FLEMING, Fergus. A evolução das cidades. Trad. Isa Mara Lando. Rio de Janeiro: Abril Coleções, 1996. p. 50.
(História em revista).

Página 210
■■ Comente com os alunos que a Lei das Doze Tábuas representou o registro
de uma tradição de leis que até meados do século V a.C. eram orais. Por
serem muito interpretativas, geralmente favoreciam a elite. A criação da Lei
das Doze Tábuas significou, portanto, uma conquista da plebe e o primeiro
passo no desenvolvimento do direito romano.

102
Orientações para o professor
Respostas das atividades

1
bido, por exemplo, pelo envelhecimento das
Capítulo

Estudar História é... pessoas. Já o tempo cronológico, diferentemen-


te do tempo da natureza, é medido e contado
Exercícios de compreensão pelos seres humanos (em horas, dias etc.).

Respostas das atividades


1 História é o campo de conhecimento dedicado Para medir a passagem do tempo, são usados
ao estudo das ações dos seres humanos no instrumentos como o relógio e o calendário. Por
tempo e no espaço. Esse estudo envolve as fim, há o tempo histórico, que possui diferentes
realizações humanas, as transformações que ritmos e durações, verificados, principalmente,
ocorrem nas sociedades, bem como as perma- por meio das permanências e transformações
nências, isto é, aquilo que mudou pouco ao que ocorrem nas sociedades.
longo do tempo. 7 Resposta pessoal. Os alunos podem citar diver-
2 A História é útil para que possamos compreender sos exemplos, alguns possíveis são: Aconteci-
as sociedades: suas modificações e permanên- mentos de curta duração: greve de trabalhado-
cias, além das próprias relações entre os seres res; disputa esportiva; assinatura de uma lei.
humanos. A História nos auxilia a conhecer o Acontecimentos de média duração: crise eco-
passado, colaborando para nossa compreensão nômica; duração do reinado de um monarca.
do presente. Assim, nos tornamos mais capazes Acontecimentos de longa duração: valores
de agir para transformar a sociedade. morais; escravidão no Brasil.

3 Exemplos de fontes históricas são: jornais, livros, 8 Os alunos devem observar, no infográfico que se
cartas, diários, letras de música, histórias em encontra na página 15, as seguintes informações
quadrinhos, pinturas, fotografias, filmes, mapas, referentes aos elementos que compõem uma
moedas, vasos, joias, esculturas, relatos orais linha do tempo: descrição dos períodos: breves
(como as histórias contadas por nossos avós) etc. textos que descrevem as principais caracterís-
ticas dos períodos representados; barras de
4 Porque os historiadores, quando estudam deter- periodização: são utilizadas para indicar a du-
minada sociedade, podem interpretá-la de dife- ração de cada um dos períodos representados
rentes maneiras. Dependendo de sua concep- na linha do tempo; eixo cronológico: indica o
ção, métodos e das fontes de que dispõe, o sentido linear da passagem do tempo, é indica-
historiador pode dar ênfase, por exemplo, a do por uma linha com uma seta; acontecimen-
aspectos políticos, econômicos ou culturais. tos de curta duração: são indicados por pontos
A ênfase em um ou mais desses aspectos possi- na linha do tempo. Esses fatos, muitas vezes,
bilita ao historiador construir sua própria inter- representam momentos de ruptura.
pretação histórica a partir do enfoque escolhido
9 Não. Porque ela adota uma periodização que
por ele e da documentação analisada.
valoriza os acontecimentos do mundo ocidental,
5 São considerados sujeitos da história todas as mais especificamente da Europa. Essa linha do
pessoas que, individualmente ou em grupo, tempo não serve, por exemplo, para periodizar
participam do processo histórico. a história dos países orientais como o Japão, a
China e a Índia.
6 Existem diferentes maneiras de se compreender
o tempo. Uma dessas formas é o chamado 10 Os arqueólogos são profissionais responsáveis
tempo da natureza, que é o tempo que não pela escavação, catalogação, pesquisa e inter-
depende da vontade humana e pode ser perce- pretação dos vestígios arqueológicos. Esse

103
trabalho colabora para a construção do conhe- Epigrafia (interpretação das inscrições), da
cimento histórico, pois aumenta as informações Numismática (estudo das moedas) e da Pa-
que os historiadores possuem sobre as socie- pirologia (estudo dos papiros egípcios e
dades que viveram no passado. greco-romanos).

11 Sítio arqueológico é o local onde são feitas es- 15 a ) Essa fonte histórica é uma pintura. Se julgar
cavações por arqueólogos. necessário, comente com os alunos que a
pintura é uma fonte imagética ou iconográfica.
12 a ) O antropólogo estuda o ser humano em seus
aspectos físicos e culturais, desde a sua b ) O nome dessa obra é Água (conforme consta
evolução biológica até sua formação cultural. no crédito da imagem, na lateral dela).

b ) O filósofo estuda as impressões dos seres c ) Essa obra foi produzida por João José Rescala.
humanos sobre o mundo, ajudando na com- d ) Essa imagem foi produzida por volta de 1943.
preensão das ideias e dos anseios das pes- e ) Analisando essa fonte, é possível descobrir
soas de determinadas épocas. que tipo de roupa eles usavam (roupas sim-
c ) O sociólogo estuda as sociedades humanas ples, sem sapatos, de chapéu ou lenço na
e as relações que se estabelecem entre os cabeça), a sua fisionomia (de tez morena,
indivíduos e os diversos grupos sociais. olhar compenetrado), a forma como conse-
d ) O geógrafo estuda as transformações que guiam água (indo até um poço), a forma
ocorrem no espaço terrestre, tanto aquelas como trabalhavam (ao lavar roupas e trans-
causadas por fenômenos naturais quanto as portar água), o formato da casa e do abrigo
que são realizadas pelos seres humanos. que eles utilizavam (ao fundo da imagem), a
paisagem em que habitavam (de chão seco,
13 Resposta pessoal. Estimule os alunos a refletir com ausência de vegetação) etc.
sobre os assuntos tratados nesse capítulo para
f ) Resposta pessoal. Se possível, promova entre
imaginar o que eles esperam aprender nas aulas
os alunos um momento para compartilharem
de História durante o ano letivo.
suas experiências.
Expandindo o conteúdo 16 a ) Os alunos devem atentar para aspectos que
14 a ) De acordo com o texto, fazem parte da cultu- diferenciam uma época da outra, como o
ra da humanidade os seguintes temas histó- estilo dos penteados, das roupas e dos aces-
ricos: o desenvolvimento das sociedades, a sórios e a tecnologia, além das diferenças
transmissão do conhecimento e da cultura, a entre as máquinas fotográficas de cada fonte.
construção e sucessão das civilizações e os b ) Entre 1873 e 2004 a máquina fotográfica re-
acontecimentos anteriores aos fatos atuais. duziu bastante de tamanho, e a imagem
b ) A origem do termo historía é grega, e seu passou a ser gravada digitalmente, não mais
significado é “conhecimento por meio da de modo analógico.
indagação ou investigação”. c ) A segunda frase. Explique aos alunos que a
c ) Antigamente, ensinava-se História do Brasil segunda frase denota a permanência do
sem conexão com a História mundial. Hoje, hábito de tirar fotos, mas uma grande trans-
as duas são ensinadas simultaneamente. formação em diversos aspectos das câmaras
d ) Fonte histórica é tudo o que permite recons- fotográficas.
tituir os acontecimentos e as formas de vida
do passado. No Brasil
e ) Alguns exemplos de fontes materiais: monu- 17 a ) No mês de janeiro, os povos do Xingu colhem
mentos, vestígios arqueológicos, documen- milho.
tos etc. Alguns exemplos de fontes imateriais: b ) No mês de abril, os povos do Xingu realizam
tradições, costumes, lendas e mitos. pescaria.
f ) Para os estudos de História Antiga, podem c ) Estimule os alunos a relacionar as atividades
contribuir as ciências da Arqueologia, da dos indígenas com o tempo da natureza;

104
associando, por exemplo, a época boa para E com seus professores? E com seus colegas?”;

Orientações para o professor


o plantio de mandioca com essa atividade “O que vocês faziam para se divertir em famí-
humana; a época em que a melancia e o lia?”; “Quais eram suas brincadeiras favoritas?”;
abacaxi estão maduros com as atividades de “Algum fato dessa época marcou a sua vida
colheita etc. Explique aos alunos que, quan- para sempre?”; “Por favor, cante uma música
do os indígenas derrubam árvores no mês de dessa época que você gostava”. Se necessário,
maio, retiram apenas o necessário para aten- auxilie os alunos, também, no apontamento de
der às suas necessidades, evitando, assim, semelhanças e diferenças entre a época relata-
a degradação ambiental. da na entrevista e os dias atuais, estimulando-os
d ) Resposta pessoal. Oriente os alunos a expor a anotarem suas próprias impressões sobre as
respostas das perguntas feitas. Promova entre

Respostas das atividades


em seu calendário, de preferência, fatos “cí-
clicos”, ou seja, que se repetiram em anos os alunos o respeito às diferentes opiniões que po-
passados e que vão provavelmente se repe- dem surgir durante a apresentação dos trabalhos.
tir nos anos futuros. Para selecionar quais

Capítulo
atividades colocar no calendário, pode-se
utilizar as sugestões que estão no livro do
A origem do ser humano
aluno. Uma outra sugestão seria citar os
Exercícios de compreensão
meses em que ocorrem festividades de que
eles gostem, como o Natal e a Páscoa, além 1 Resposta pessoal. Oriente os alunos a apresen-

de festas cívicas. tarem no texto as informações que aparecem no


infográfico que se encontra nas páginas 26 e 27,
Promova entre os alunos o respeito aos dife-
como o esfriamento do planeta, o surgimento
rentes tipos de calendários que podem surgir
dos microrganismos e sua evolução, dando
durante a realização dessa atividade.
origem a outros seres vivos, como estrelas-do-
18 Resposta pessoal. Oriente os alunos a anotarem -mar, plantas, anfíbios, répteis e mamíferos.
na linha do tempo situações pelas quais eles
2 Espera-se que os alunos percebam que a frase
passaram em ambientes variados (família, esco-
“A África é o berço da humanidade” passa a
la, bairro), que foram importantes para seu de-
ideia de que o processo de hominização acon-
senvolvimento pessoal e, também, fatos que, de
teceu no continente africano.
alguma maneira, mudaram a vida deles. Promo-
va entre os alunos o respeito às diferentes linhas 3 Os evolucionistas afirmam que os seres humanos
do tempo que podem ser apresentadas durante são primatas que evoluíram de modo diverso,
a realização dessa atividade. desenvolvendo certas características que os
diferenciaram dos outros primatas.
19 Resposta pessoal. Oriente os alunos a prestar
Entre essas características estão a postura ereta,
atenção em atitudes que eles tenham tomado
o andar sobre duas pernas, e o desenvolvimen-
no passado e que, de alguma forma, mudaram
to de cérebros maiores, capazes de elaborar
a situação dos ambientes em que eles vivem
pensamentos mais complexos.
(família, escola, bairro); percebendo, também,
se essas mudanças ainda permanecem. 4 Os criacionistas baseiam-se na Bíblia. Nela, Deus
criou o Universo e todos os seres vivos já em
Trabalho em grupo suas formas atuais não havendo um processo
de evolução, em apenas seis dias, descansando
20 Resposta pessoal. Se julgar necessário, auxilie
no sétimo dia.
os alunos na elaboração de perguntas sobre a
infância da pessoa, como: “Onde você mora- 5 Os alunos devem apresentar no fichamento as
va?”; “O que você mais gostava de comer?”; informações que aparecem na página 29, como
“Como você se vestia em casa? E na escola?”; o aumento crescente da altura, da massa cor-
“Onde você estudava? Como se deslocava até poral e do volume do cérebro dos hominídeos,
lá?”; “Como eram as aulas?”; “Como era a sua culminando nos homens modernos, que apre-
convivência com seus pais? E com seus irmãos? sentam grande variedade de altura e peso.

105
6 O domínio do fogo permitiu que nossos ancestrais Neolítico. A família representa a ligação perma-
cozinhassem os alimentos, se mantivessem nente entre os pais e seus filhos, envolvendo
aquecidos em regiões frias e se defendessem proteção, divisão do trabalho, a aquisição e
contra o ataque de predadores. transmissão de propriedades, e a conservação
de crenças e costumes transmitidos às novas
7 No período Paleolítico, os alimentos eram obtidos
gerações.
por meio da caça, da pesca e da coleta de frutos,
folhas e raízes. Havia uma divisão sexual do tra- A religião é a expressão da crença em uma força
balho: as mulheres coletavam frutos, folhas e raí- superior, manifestada por meio de cerimônias
zes e cuidavam das crianças, enquanto os homens em que os participantes cumpriam sacrifícios e
eram encarregados da caça e da procura de rituais para manter a ocorrência de alguns fenô-
animais mortos para a alimentação do grupo. menos naturais como as chuvas. O Estado foi
criado com a função de organizar a sociedade
8 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos res- em um determinado território, instituindo um
saltem as teorias defendidas por alguns estu- governo próprio que regulasse atividades impor-
diosos, os quais acreditam que havia uma certa tantes, como a agricultura e a guerra.
especialização do trabalho já no período Paleo-
14 Resposta pessoal. Oriente os alunos a analisar o
lítico. Essa hipótese é reforçada graças a gran-
de variedade de instrumentos e objetos encon- infográfico das páginas 38 e 39, antes de iniciar
trados em sítios arqueológicos desse período. a elaboração do texto.
Entre esses instrumentos estão anzóis, arpões
e agulhas. Expandindo o conteúdo
A arte é um outro exemplo dessa especialização, 15 a ) Segundo a teoria evolucionista, existem ligei-
pois as pinturas encontradas no interior de ca- ras diferenças em peso, altura, cor e outras
vernas são tão aprimoradas que só poderiam características entre os membros da prole.
ter sido produzidas por artistas especializados. Surgem, assim, novas variações a cada ge-
ração.
9 Um exemplo de crença paleolítica são as cerimô-
b ) Seleção natural é um dos tópicos da teoria
nias fúnebres. Quando morria uma pessoa, havia
evolucionista, que afirma que certas carac-
um ritual em que os outros membros do grupo
terísticas de acomodação ou adaptação de
preparavam uma cova enfeitada com flores e
um ser vivo no meio ambiente podem aumen-
enterravam cuidadosamente o morto, junto com
tar sua probabilidade de viver e de se repro-
seus objetos pessoais mais importantes.
duzir, não correndo o risco de sua espécie
10 Os alunos devem apresentar no fichamento as desaparecer.
informações presentes no mapa Hipóteses de c ) As características vantajosas são preservadas
povoamento da América , que se encontra na por meio da hereditariedade, ou seja, da
página 34. transmissão das características vantajosas
para os descendentes.
11 Niéde Guidon defende a hipótese de que vários
grupos humanos chegaram à América em dife- d ) O principal fator para o surgimento e desapare-
rentes épocas, percorrendo diversos caminhos, cimento de espécies é a adaptação às trans-
e que os primeiros grupos humanos aqui che- formações que ocorrem no meio ambiente.
garam há pelo menos 50 mil anos. 16 a ) A pintura A representa uma atividade paleolí-
12 A sedentarização foi o processo em que os seres tica, que é a caça.
humanos passaram a se fixar em um determina- b ) A pintura B representa uma atividade neolítica,
do lugar, praticando a agricultura e a criação de que é o pastoreio de animais.
animais, formando as primeiras aldeias e aban-
17 a ) A pergunta permite vários exemplos, dois
donando a vida nômade que levavam até então.
deles são: lhama e peru, de origem america-
13 A família, a religião e o Estado são três instituições na; galinha e camelo bactriano, de origem
que começaram a ser desenvolvidas no período asiática.

106
b ) Oriente os alunos a criarem, no caderno, uma Esses grupos humanos foram os primeiros a utili-

Orientações para o professor


ficha seguindo o modelo a seguir, com o zar técnicas de irrigação em suas lavouras,
seguinte título: Plantas cultivadas no período construindo canais e represas para aproveitar
Neolítico , separadas por continentes. as águas dos rios Tigre e Eufrates. Dessa forma,
eles ampliaram a produção agrícola.
Girassol, abóbora, abacate, milho, tomate, algodão,
América batata, abacaxi, mandioca. 2 As consequências do aumento da produção de
Europa Aveia e centeio. alimentos foram o crescimento da população e
África Arroz africano. das aldeias. Muitas pessoas puderam deixar de
trabalhar na agricultura para se dedicar a outras
Ásia Trigo, ervilha, algodão, banana, arroz, soja.
atividades, surgindo vários tipos de trabalhado-

Respostas das atividades


c ) Resposta pessoal. Oriente os alunos a recor- res especializados, como tecelões, ceramistas,
darem dos alimentos preparados e consumi- carpinteiros e comerciantes.
dos em suas casas no dia a dia, como arroz, 3 Espera-se que os alunos ressaltem que os povos
banana, tomate, batata. É interessante lem- mesopotâmios necessitavam do esforço con-
brá-los, também, de produtos que têm como junto de várias pessoas para construir e manter
matéria-prima as plantas que aparecem no os diques e os canais de irrigação. Dessa forma,
mapa, como óleo de girassol ou de soja, surgiram especialistas no planejamento e na
farinha de milho ou de mandioca, pão de administração desses trabalhos, o que acabou
centeio, roupas confeccionadas com tecido dando origem a um sistema de governo. Além
feito de algodão etc. disso, era necessário também defender as terras
contra invasores estrangeiros, o que levou a
Discutindo a história organização dos exércitos. Foi desenvolvido um
18 a ) As ferramentas têm entre 33 mil e 58 mil anos sistema de escrita, por conta da necessidade
de idade. de se registrar as atividades agrícolas e comer-
b ) Os pesquisadores concluíram que os artefatos ciais para controlar a cobrança de impostos.
foram, de fato, produzidos por seres humanos. Existiam também os sacerdotes, que eram pes-
soas dedicadas às questões religiosas. O desen-
c ) A pesquisadora foi ridicularizada porque defen-
volvimento de elementos como esses na socieda-
dia a ideia de que os artefatos de pedra des-
de mesopotâmica caracterizam uma civilização.
cobertos por ela, e que tinham sido datados
de 50 mil anos ou mais, eram ferramentas 4 a ) A principal função dos canais de irrigação era
produzidas por seres humanos. Porém, acre- levar água até as plantações mais distantes
ditava-se, até então, que a presença humana dos rios Tigre e Eufrates.
na América tinha no máximo 15 mil anos. b ) As moradias eram construídas com tijolos de
d ) Os autores quiseram dizer que, só depois de argila secos ao Sol.
mais de duas décadas, a hipótese defendida c ) As cerimônias religiosas eram realizadas num
por essa arqueóloga foi comprovada por meio templo no topo do zigurate.
de análises científicas, não havendo como d ) Muitas trocas comerciais com povos estran-
contestar. geiros eram realizadas nos portos de Ur.
5 A sociedade mesopotâmica era formada por di-

3
Capítulo

versos grupos sociais. O rei era portador de um


Os povos da Mesopotâmia grande poder, e também tido como represen-
tante dos deuses na Terra. Sacerdotes, nobres
Exercícios de compreensão
e chefes militares faziam parte de uma minoria
1 Espera-se que os alunos percebam que alguns privilegiada, ocupando altos cargos no governo.
dos primeiros grupos humanos da Mesopotâmia, Fiscais, escribas e comerciantes eram subordi-
ao domesticarem cabritos e carneiros e iniciarem nados às camadas superiores da sociedade,
o cultivo de trigo e cevada, abandonaram a vida mas tinham melhores condições de vida que os
nômade e se estabeleceram em aldeias na região. demais trabalhadores.

107
A maior parte da sociedade era formada por tra- 10 A técnica cuneiforme de escrita consistia em
balhadores livres, como camponeses, soldados gravar sinais em plaquetas úmidas de barro com
e artesãos. Esses viviam em condições de po- um instrumento de bambu. Após serem grava-
breza e tinham que pagar impostos ao governo. das, as plaquetas eram expostas ao Sol para
Além disso, havia os escravos, geralmente pri- secar e, depois, colocadas em um forno para ser
sioneiros de guerra ou pessoas que não conse- cozidas e ganhar resistência.
guiram pagar suas dívidas, perdendo assim sua
11 A escrita era importante para os mesopotâmios
liberdade.
porque facilitava o controle da produção e do
6 No campo, os principais trabalhos realizados estoque de alimentos, dos rebanhos e de pro-
eram os cultivos de trigo e de cevada, além do dutos têxteis e, também, possibilitava o registro
cultivo do gergelim, do qual se extraía um óleo da contabilidade dos templos e dos palácios
utilizado na alimentação e na iluminação. reais. Além disso, a escrita permitia o registro
Também era praticada a atividade pecuária, como de textos religiosos, literários e jurídicos.
a criação de porcos, carneiros e cabritos para 12 O Código de Hammurabi foi organizado entre
a produção de carne, lã, leite e seus derivados. 1792 e 1750 a.C., durante o governo de Ham-
Havia também a criação de animais para puxar murabi, rei da Babilônia. Era composto de 282
o arado e para o transporte, como bois, cavalos artigos que tratavam de temas variados. O có-
e camelos. Nas cidades, os principais trabalhos digo era baseado em um antigo princípio meso-
eram aqueles realizados por profissionais como potâmico, o princípio de Talião (“Olho por olho,
comerciantes, artesãos, barbeiros, escultores e dente por dente”). De acordo com esse princípio,
carpinteiros, que trabalhavam, normalmente, em o responsável por um crime deveria receber um
sua própria residência. castigo semelhante ao crime que cometeu.
7 Os mercadores viajavam para a Ásia Menor, o
Egito, a Arábia e a Pérsia. Compravam madeira, Expandindo o conteúdo
pedras preciosas e metais. Vendiam armas e 13 a ) O rei na Mesopotâmia possuía a função de
joias, além de tecidos e cevada. exercer um comando mais forte sobre a po-
pulação quando necessário, por exemplo,
8 Os alunos devem perceber que os povos meso-
durante as guerras. Ele era uma espécie de
potâmios acreditavam em vários deuses, entre
representante da comunidade, acumulando
eles Anu (deus-pai), Shamash (deus-sol), Sin
também funções sacerdotais.
(deus da Lua), Inanna (deusa do amor e da
guerra), Enki (deus das águas doces), Enlil (deus b ) Por volta de 2600 a.C., a construção do pa-
dos ventos). lácio passou a representar o poder real. Os
pesquisadores descobriram essa mudança
Para eles, os deuses e as deusas eram responsáveis
por meio do estudo de escavações arqueo-
por tudo o que acontecia no mundo, além de
lógicas, pois constataram o surgimento nas
cuidarem das pessoas, das vilas e das cidades.
cidades de uma segunda grande estrutura
Os mesopotâmios deveriam manter os deuses
arquitetônica, que seria a morada do rei e o
felizes, para não serem punidos com fomes,
novo centro do poder.
doen­ças e derrotas em batalha. Para isso, tinham
que realizar rituais, como o sacrifício de animais. 14 a ) Os mesopotâmios acreditavam que a Terra
Havia também sacerdotes e sacerdotisas espe- tinha o formato de um disco rígido. Já o céu,
ciais que lavavam, vestiam e embelezavam as para eles, era uma espécie de bolha oca que
imagens dos deuses todos os dias. todos os dias girava por cima da Terra.
9 Os zigurates eram construções importantes para b ) Para os mesopotâmios, os astros eram seres
os mesopotâmios porque era onde se realizavam poderosos e a posição deles no céu tinha um
as práticas religiosas. No alto dos zigurates, fi- significado para o destino dos homens. As-
cavam localizados os templos, onde aconteciam sim, acreditavam que era possível prever o
cultos que consistiam em orações, sacrifícios futuro pelo estudo da posição dos astros
de animais e oferendas aos deuses. celestes.

108
15 A: rei recebendo os seus súditos; B: músico to- Se necessário, auxilie os alunos na coleta e

Orientações para o professor


cando cítara; C: homem conduzindo um carnei- na interpretação das informações que apa-
ro; D: homem conduzindo um boi; E: homem recerem nas fontes pesquisadas.
carregando peixes; F: homem conduzindo ju- b ) Promova entre os alunos o respeito às dife-
mentos. rentes opiniões que possam surgir durante a
realização dessa atividade.
Passado e presente
16 a ) A guerra contra o Irã, na década de 1980; a Discutindo a história
Guerra do Golfo, em 1990; e a invasão lide- 18 a ) Depois que aprenderam a controlar a produ-
rada pelos Estados Unidos, em 2003. Esses ção de alimentos, os mesopotâmios foram

Respostas das atividades


conflitos devastaram o Iraque e acabaram os primeiros a se agrupar em cidades com
agravando a situação de pobreza vivida por uma administração central. Isso os forçou a
grande parte da população, gerando uma criar um modo de organizar a sociedade.
situação terrível de miséria. Para tanto, aprenderam a escrever.
b ) Com a destruição de parte do patrimônio b ) Os egípcios e os dravdas também podem ter
histórico, muitas informações importantes sido os primeiros povos a utilizar a escrita.
sobre a história dos povos da Mesopotâmia
c ) A descoberta de 180 placas de barro com
foram perdidas para sempre.
formas rudimentares de hieróglifos que po-
c ) Espera-se que os alunos concluam que patri- dem ter sido gravadas há até 5400 anos,
mônio histórico é tudo aquilo que tem signi- encontradas no Egito; e pedaços de vasos
ficado histórico para uma determinada socie- com escrita feita há 5300 anos, encontrados
dade, como edificações, pinturas, esculturas, no atual Paquistão. Acreditava-se, até alguns
utensílios domésticos, roupas, danças e anos atrás, que a escrita teria sido inventada
pratos típicos. Para que um bem seja consi- há cerca de 5000 anos na Mesopotâmia,
derado um patrimônio histórico, ele deve ser atual Iraque.
reconhecido como produto cultural de uma
sociedade. Incentive os alunos a pesquisarem
4
Capítulo

em sua cidade e/ou estado, os três exemplos


A África Antiga: os egípcios
solicitados de patrimônio histórico, seja ele
material ou imaterial. Caso não haja nenhum Exercícios de compreensão
patrimônio histórico no estado em que vivem
1 De acordo com estudos, grupos seminômades
os alunos, incentive-os a pesquisarem exem-
iniciaram a ocupação das margens férteis do rio
plos nacionais.
Nilo em cerca de 8000 a.C. Em 5000 a.C., vários
d ) Resposta pessoal. Comente com os alunos desses grupos já haviam se tornado sedentários
os tipos de danos que um patrimônio histó- e aproveitavam a fertilidade trazida pelo rio para
rico material pode sofrer como depredações, desenvolver a agricultura e a criação de animais.
pichações, furtos, ou danos ocasionados por
falta de manutenção. No caso do patrimônio 2 Os nomos eram comunidades agrícolas indepen-
histórico imaterial, um dos principais danos dentes entre si. Seus chefes disputavam com
causados seria a impossibilidade de dar con- frequência o domínio das áreas férteis do Egito.
tinuidade à transmissão e reprodução desse 3 Para melhor enfrentar as disputas por áreas fér-
patrimônio, comprometendo a sua existência. teis, os membros das comunidades agrícolas do
Egito foram se unindo e acabaram formando
No Brasil dois reinos distintos: o Baixo Egito e o Alto Egi-
17 a ) Se achar conveniente, traga para a sala de to. Em 3100 a.C., o governante do Alto Egito,
aula materiais (livros, jornais, revistas) que chamado Menés, unificou os dois reinos e tor-
possam servir de fontes de pesquisa para os nou-se o primeiro faraó egípcio. Ele assumiu o
alunos nessa atividade. Incentive-os a pes- controle dos nomos, criando, assim, um Estado
quisar em diferentes fontes, inclusive em sites. unificado.

109
4 Entre as funções de um funcionário do Estado no 9 a ) Em escavações recentes feitas nos arredores
Egito Antigo estavam: a aplicação das leis, a das pirâmides, foi descoberto um cemitério,
fiscalização das atividades econômicas e o con- e o estudo dos ossos encontrados nos tú-
trole sobre a construção de obras hidráulicas. mulos indica que os trabalhadores, além de
receberem uma boa alimentação, contavam
5 A sociedade egípcia era dividida em camadas
com cuidados médicos. Com base nessas
sociais. O faraó e sua família viviam em grandio-
descobertas arqueológicas, o egiptólogo Zahi
sos palácios e tinham uma vida confortável e
Hawass afirma que escravos não receberiam
luxuosa. Abaixo deles, estava a camada social
esse tipo de tratamento. Ele acredita que
que incluía os sacerdotes, os nobres, os chefes
participaram nas obras cerca de 20 a 30 mil
militares e os funcionários do Estado. Essas
egípcios. Alguns deles eram trabalhadores
pessoas também tinham muitos privilégios na
fixos contratados pelo Estado, enquanto
sociedade.
outros eram camponeses contratados tem-
Mas a maior parte da população egípcia era pobre porariamente.
e parte do que ganhavam tinha que ser paga em
b ) Para realizar essas obras gigantescas, os
impostos ao governo. Essa camada social era
trabalhadores das pirâmides eram motivados
formada por artesãos, camponeses e escravos,
pelo orgulho de servir ao faraó e de construir
que em sua maioria eram prisioneiros de guerra.
sua morada eterna. Além disso, os egípcios
6 As paredes das casas geralmente eram feitas não estavam somente construindo o túmulo
com uma mistura de barro e palha. Depois de do faraó, estavam construindo sua própria
prontas, eram pintadas com cal. Normalmente, identidade, baseada em uma forte religiosi-
as casas tinham poucos móveis. Os mais usados dade e na crença na vida após a morte.
eram bancos, mesas pequenas e caixas para
10 Às margens do rio Nilo, diversas atividades eram
guardar objetos.
desenvolvidas. Havia pequenos mercados onde
Os membros da família costumavam dormir em eram comercializados diferentes produtos, mui-
esteiras e, às vezes, havia uma cama para o tos deles trazidos de lugares distantes. O papi-
casal. A cozinha, geralmente, tinha um telhado ro era uma planta encontrada às margens do rio
leve, feito de galhos e de palha, para fazer som- e que era muito usada para fazer cordas, san-
bra e permitir a saída da fumaça. O almofariz dálias, redes, pequenas embarcações e, tam-
(pilão) ficava encaixado no chão da cozinha, e bém, para elaborar um tipo de folha que se
era usado para moer cereais. Havia uma des- usava para escrever.
pensa na casa, para armazenar os alimentos.
Nas proximidades do rio Nilo, os egípcios cultiva-
As bebidas e os cereais eram guardados em
vam cereais, como o trigo e a cevada, que eram
vasos cerâmicos.
a base de sua alimentação.
7 A religião dos antigos egípcios era politeísta, ou
seja, baseava-se na crença em vários deuses. Expandindo o conteúdo
Para os egípcios, os deuses eram seres pode- 11 a ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
rosos que controlavam o dia e a noite, a chuva percebam que o autor desse relato se apre-
e a seca, a vida e a morte. Os egípcios imagi- senta como alguém que exerce a profissão
navam que essas divindades sentiam vontades de escriba. No trecho: “Farei com que goste
semelhantes às dos seres humanos e, por isso, de escrever mais do que de sua própria mãe”,
faziam-lhes oferendas de comidas e bebidas. é possível perceber a enorme importância
Entre os deuses mais cultuados, estavam Hórus que o autor atribui à escrita. Por isso, esse
(deus do céu), Ísis (deusa da fertilidade) e Osíris autor deve ser um escriba.
(deus dos mortos).
b ) Os escribas eram profissionais que sabiam ler,
8 Os egípcios mumificavam os corpos das pesso- escrever e fazer cálculos. Como funcionários
as mortas por acreditarem que quando uma do Estado, podiam auxiliar o faraó na fisca-
pessoa morria, sua alma deixava o corpo, mas lização das plantações e na cobrança de
depois retornava. tributos.

110
12 a ) Alguns dos povos que tiveram contato com c ) Resposta pessoal. Estimule os alunos a refle-

Orientações para o professor


os egípcios foram: núbios, mesopotâmios, tir sobre cada uma das opiniões para melhor
hititas, líbios, israelitas, filisteus e fenícios. justificar a preferência por uma delas.
b ) Segundo o texto, na Índia, na China, nas
Américas e na Austrália cresciam civilizações
5

Capítulo
desconhecidas dos egípcios. A África Antiga: os cuxitas
c ) Eles criavam os mesmos animais (carneiros, bois,
Exercícios de compreensão
cabritos); forjavam metais similares (sobretudo
bronze, até que a tecnologia do ferro foi desen- 1 As sociedades matriarcais são aquelas em que
volvida); e cultivavam vegetais semelhantes (o as principais autoridades são mulheres. As so-
ciedades patriarcais são aquelas em que as

Respostas das atividades


trigo emer, a cevada, o pepino, a cebola).
principais autoridades são homens, geralmente
No Brasil os mais idosos e mais respeitados do grupo.
Para complementar a resposta deste questiona-
13 a ) No Museu Nacional da Quinta da Boa Vista,
mento, oriente os alunos a utilizar as informa-
na cidade brasileira do Rio de Janeiro. Algu-
ções das páginas 88 e 89.
mas dessas peças são: a múmia do sacer-
dote Hori, um sarcófago fechado, múmias de 2 Os antigos povos africanos acreditavam que os
crianças, gatos e crocodilos, lápides de ro- espíritos dos mortos interferiam no cotidiano dos
chas, amuletos, colares, estatuetas e vasos. vivos. Esses espíritos podiam ser de um ante-
b ) São trechos do texto que indicam que os passado distante, convertido em divindade.
imperadores do Brasil se interessavam pela Acreditavam que esses espíritos tinham o poder
cultura egípcia: “A coleção do Museu Nacio- de trazer coisas boas ou más para o mundo dos
nal conta com mais de 700 peças, incluindo vivos. O culto aos antepassados existe até hoje
sarcófagos, amuletos, máscaras e múmias, em muitas sociedades africanas.
e foi adquirida pelo imperador D. Pedro I em
3 a ) Os cuxitas dominaram o Egito entre os anos
1826”. “Este sarcófago foi oferecido ao im-
de 730 a.C. e 650 a.C.
perador do Brasil, D. Pedro II, pelo [...] [go-
b ) Os chamados faraós negros eram imperadores
vernante egípcio], Ismail, quando o imperador
cuxitas que dominaram Tebas, a capital egípcia.
viajou pelo Egito, em 1876”.
c ) As pirâmides cuxitas eram bem menores do
Discutindo a história que as egípcias, porém mais pontiagudas. À
frente das pirâmides, eram construídas ca-
14 a ) Alguns dos países que possuem peças egíp-
pelas retangulares com entradas monumen-
cias em museus: Estados Unidos, França
tais. Os principais materiais utilizados na
(Paris), Alemanha (Berlim), Inglaterra (Lon-
construção das pirâmides eram o arenito e o
dres). Com o auxílio de um mapa-múndi,
cascalho, extraídos na região. Algumas pirâ-
mostre aos alunos os locais citados no texto.
mides eram construídas com paredes lisas,
b ) Com relação ao que deve ser feito com as e outras, com frisos horizontais. Geralmente,
peças antigas que foram retiradas de seu os reis que governavam por mais tempo eram
país de origem, uma das opiniões é dos go- sepultados nas pirâmides maiores.
vernos de países como Egito e Grécia e de
d ) Os chauabitis eram estatuetas feitas de ma-
sociedades de arqueólogos que acreditam
deira, pedra ou marfim que representavam
que os tesouros culturais precisam ficar nos
os servidores do faraó. Podiam também re-
países de origem, de onde nunca deveriam
presentar animais como bois, cavalos e cães.
ter saído. Por outro lado, da parte de direto-
Era costume sepultar o faraó acompanhado
res de museus e de colecionadores, a opinião
dessas estatuetas.
é de que as peças têm de ficar onde mais
pessoas possam vê-las e onde tenham con- 4 A escarificação é um procedimento em que são
dições de ser guardadas e estudadas com feitas cisões e arranhões no rosto ou pelo corpo.
maior segurança. As escarificações eram importantes porque re-

111
velavam informações sobre a pessoa, como a c ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
que grupo ela pertencia, a sua posição social, percebam que esse preconceito está presen-
uma característica pessoal ou uma determinada te em setores diferenciados da sociedade,
fase da vida da pessoa. Além disso, eram asso- como consequência de uma ideia que foi
ciadas à beleza. defendida por muito tempo.
5 Os garamantes eram um povo que descendia dos d ) Resposta pessoal. Estimule os alunos a per-
nômades habitantes do deserto e que formou um ceberem situações presentes em nosso co-
importante reino no deserto do Saara, entre os tidiano, como a diferença de remuneração
séculos V a.C. e V d.C. Os garamantes consegui- entre brancos e afrodescendentes, a desi-
ram praticar atividades agrícolas e pecuárias em gualdade social, dentre outros.
pleno deserto, graças a um desenvolvido sistema
e ) Resposta pessoal. Incentive os alunos a per-
de irrigação subterrânea chamado foggara.
ceberem a importância de tal discussão para
6 Segundo esse historiador, o papel da mulher era uma possível solução desse problema que
o de condutora em determinadas sociedades. sentimos até hoje.
Em países como o Egito e Angola, elas tinham
o poder de decisão, e ainda têm em algumas Passado e Presente
comunidades africanas. Em Angola, nas comu-
9 a ) Atualmente, a maioria dos berberes prefere
nidades bakongo, ovimbundo e kwanhamas , as
decisões do rei tinham de ter o consentimento ser chamada de amazigh , ou pessoa livre,
da esposa. Ainda segundo esse historiador, os mas o termo berbere prevalece fora da região.
jovens estudantes devem pesquisar os aspectos b ) Segundo o texto, os berberes vivem atualmen-
tradicionais africanos, de modo a entender o te concentrados no Marrocos e na Argélia.
valor da mulher na sociedade. c ) No século VII, os berberes foram conquistados
pelos árabes, de quem herdaram a cultura,
No Brasil
a religião e, em certa medida, a língua.
7 a ) As candaces foram mulheres que, no século
d ) Atualmente, um grupo de berberes urbanos
II a.C., assumiram o poder político na socie-
lidera um movimento para recuperar sua
dade cuxita. As candaces, também chama-
identidade cultural. Eles lutam pelo reconhe-
das de rainhas-mães, deram início a um
cimento da sua cultura, por meio de protes-
sistema matriarcal de poder.
tos, jornais clandestinos, ensino do alfabeto
b ) Resposta pessoal. Destaque aos alunos que
berbere, conversas sobre revolução por re-
no trecho inicial do samba-enredo, foi ressal-
conhecimento cultural, preservação e promo-
tada a ancestralidade com os povos africa-
ção do idioma berbere.
nos. Comente que, nesse caso, a homena-
gem às candaces foi uma maneira de valori- e ) O Manifesto Berbere foi assinado em março de
zar a influência da cultura africana no Brasil, 2000. O Manifesto Berbere descreve a humi-
além de destacar a importância do papel da lhação e alienação que muitos berberes sen-
mulher na sociedade. tem como membros de uma minoria oprimida,
reivindicando o desenvolvimento das áreas
Discutindo a história rurais berberes, há muito tempo negligencia-
8 a ) O autor do texto A defende a visão de que a das, a subvenção governamental para insti-
África não é uma parte histórica do mundo. tuições culturais berberes e a revisão dos livros
Justifica-se dizendo que tal continente não escolares para que reflitam o papel desempe-
tem progressos a mostrar, nem movimentos nhado por eles na história marroquina.
históricos próprios.
f ) Os berberes que habitam as montanhas so-
b ) O racismo e o preconceito seriam heranças brevivem como agricultores, e dão continui-
das teorias pseudocientíficas que exerceram dade a sua cultura, que existe há pelo menos
influência máxima no início do século XX.
cinco mil anos.

112
6
adoravam várias divindades, que estavam liga-

Capítulo

Orientações para o professor


Os fenícios das a um deus supremo, chamado de El.

7 Em relação a outros alfabetos antigos, a principal


Exercícios de compreensão
diferença do alfabeto fenício é que ele representava
1 Os fenícios cultivavam principalmente cereais, apenas os sons, o que tornou a escrita bem mais
frutas e azeitonas. simples. Nas escritas hieroglífica (egípcia) e cunei-
2 Devido à escassez de solos férteis, os fenícios forme (mesopotâmica), por exemplo, cada figura
desde cedo se voltaram para o mar, inicialmen- podia representar uma palavra, uma ideia ou um
te para pescar e depois para praticar o comércio som, o que tornava seu aprendizado muito difícil.
com povos vizinhos. 8 Porque o alfabeto fenício rapidamente se difundiu

Respostas das atividades


3 As embarcações comerciais tinham um casco entre os povos antigos. Os gregos foram um dos
largo e arredondado, com um espaço maior pa- povos que o adotaram, inserindo nele as vogais.
ra o transporte das mercadorias. Já as embarca- Mais tarde, os etruscos e os romanos também
fizeram alterações nesse alfabeto, dando origem
ções de guerra eram menores e mais velozes.
ao alfabeto latino. O alfabeto latino, por sua vez,
Eram responsáveis pela patrulha da rota comer-
tornou-se a base de muitos alfabetos modernos,
cial e defesa das embarcações comerciais. Pos-
entre eles o da Língua Portuguesa.
suíam um esporão agudo na proa para perfurar
os cascos das embarcações inimigas. 9 Os fenícios venderam cedro e bronze para a
construção do templo. Além disso, artesãos e
4 Os fenícios tiveram um papel importante no in-
construtores fenícios participaram da construção
tercâmbio cultural entre os povos antigos. Nas
do templo, orientando os operários hebreus.
relações comerciais, além da troca de mercado-
Para pagar a matéria-prima e a mão de obra
rias, ocorria também uma troca de conhecimen-
fenícias, a cada três meses, Salomão enviava
tos. Os fenícios transmitiram muitos conheci-
milhares de hebreus para trabalhar nas minas e
mentos a outros povos e souberam, também,
nas florestas da Fenícia.
assimilar e aperfeiçoar técnicas utilizadas por
diferentes povos, como os egípcios, os meso-
Passado e presente
potâmios e os gregos.
10 a ) A madeira do cedro é de alta qualidade e era
5 Para fabricar peças de vidro, os artesãos fenícios utilizada pelos povos antigos em diversos
primeiro modelavam uma quantidade de barro tipos de construção, como por exemplo, na
no formato desejado. Em seguida, fixavam construção de navios e templos.
o barro em um pedaço de madeira e enrolavam o
b ) O cedro-do-líbano chegou a cobrir o país in-
vidro aquecido no barro. Por se encontrar ma- teiro, mas foi sendo lentamente extinto des-
leável e grudento, o vidro aderia bem ao barro. de a Antiguidade, por causa de sua extração
Geralmente se colocavam vidros de cores dife- para a venda da madeira, entre outros usos.
rentes, utilizando essa mesma técnica. Procu-
c ) Resposta pessoal. Explique aos alunos que
rando criar peças variadas, os fenícios utilizavam
evitar a extinção do cedro deve ser importan-
um objeto com ponta para fazer pequenos riscos
te para os libaneses, pois essa árvore tem
no vidro ainda mole. Após o esfriamento do vi-
tanta importância simbólica para o Líbano
dro, ele endurecia, e os artesãos retiravam o
que está estampada em sua bandeira.
molde de barro de dentro da peça, finalizando
a fabricação do objeto. 11 a ) O mais antigo porto fenício era o de Biblos.
b ) Biblos enviava para o Egito mercadorias como
6 A religião fenícia era voltada para o culto das
cedro, vinho e azeite de oliva.
forças da natureza e dos astros, como o Sol e
a Lua. Os rituais religiosos eram feitos ao ar livre c ) Os profissionais de Biblos trabalhavam no
e incluíam sacrifícios de animais e de seres hu- Egito como artesãos, construindo navios, e
manos. Os fenícios acreditavam que os sacrifí- marinheiros, ajudando a fazer as embarca-
cios ajudavam a acalmar a ira dos deuses. Eles ções navegarem.

113
d ) O papiro era utilizado principalmente para fazer sendo construídas conforme os estudos
registros escritos. Comente com os alunos históricos avançam. Por isso, é comum en-
que, como naquela época não havia papel, o contrar versões diferentes sobre um mesmo
papiro, ao lado do pergaminho, era um dos acontecimento histórico. Se julgar necessá-
mais importantes suportes da escrita. rio, comente também que existem hipóteses
que apontam para a possibilidade de outros
Expandindo o conteúdo povos navegadores, além dos fenícios, terem
12 a ) O autor chamou os fenícios de “povo do mar” chegado na América antes de Colombo, co-
porque eles percorriam todo o mar Mediter- mo os vikings . Promova entre os alunos o
râneo para comprar, vender ou trocar merca- respeito às diferentes opiniões que possam
dorias. Os fenícios faziam as suas conquistas surgir durante a realização dessa atividade.
atravessando o mar em seus barcos a vela e

7
aportando em terras estrangeiras, onde es-

Capítulo
tabeleciam casas de comércio. Os hebreus
b ) Os fenícios que moravam em cidades distan-
tes não se sentiam isolados porque podiam Exercícios de compreensão
enviar cartas a seus parentes e amigos que 1 A Palestina era conhecida como “Terra de Canaã”.
tinham ficado em sua terra. Era uma estreita faixa de terra localizada entre
o mar Mediterrâneo e o deserto da Síria. As
Discutindo a história principais áreas férteis da região ficavam locali-
13 a ) Entre os fatos que alguns estudiosos apontam zadas nas proximidades do rio Jordão.
em defesa da hipótese de que os fenícios 2 A religião dos hebreus era monoteísta, isto é,
podem ter chegado à América, estão algumas acreditavam em um único deus, que eles cha-
moedas que foram cunhadas pelos fenícios mavam de Javé. Segundo a crença, havia uma
da cidade de Cartago. Um numismata (estu- aliança entre os hebreus e Javé. Se eles fossem
dioso de moedas), depois de analisar as obedientes, Javé os protegeria e daria a eles a
imagens gravadas nessas moedas, afirma ter Terra de Canaã (Palestina).
encontrado um antigo mapa-múndi, em que,
além da Europa, África e Ásia, aparece o 3 A Torá é um conjunto de cinco livros que também

continente americano. Ainda em defesa des- fazem parte do Antigo Testamento da Bíblia .
sa hipótese, estudiosos citam o fato de que Nela estão registradas as crenças e muitas his-
alguns povos pré-colombianos, entre eles os tórias do povo hebreu. Os livros são: Gênesis,
Incas e os Maias, possuem costumes e cons- Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
truções semelhantes aos de povos como os 4 A sociedade hebraica era patriarcal porque es-
egípcios e mesopotâmios, como por exem- tava organizada em comunidades chamadas de
plo, a mumificação dos mortos e a constru- tribos, sendo que cada uma delas era governa-
ção de grandes pirâmides. De acordo com da por um patriarca, que geralmente era um
esses estudiosos, os povos americanos po- homem idoso e muito respeitado pela comuni-
dem ter aprendido essas práticas com nave- dade. Essa forma de organização social é co-
gadores provenientes da Fenícia e de outros nhecida como patriarcado.
lugares do Velho Mundo.
5 O Êxodo foi a fuga dos hebreus do Egito e sua
b ) Resposta pessoal. Comente com os alunos
volta para a Palestina, o que ocorreu por volta
que o navegador Cristóvão Colombo travou
de 1300 a.C. Essa fuga foi liderada por Moisés,
contato com habitantes do continente ame-
e segundo relatos bíblicos eles demoraram 40
ricano em 1492, dando início às relações
anos em sua viagem de volta para a Terra Pro-
entre os povos europeus e americanos. Res-
metida (Palestina).
salte aos alunos que, nos estudos de Histó-
ria, não existem “verdades prontas” ou “ab- 6 Ao retornarem do Egito, os hebreus encontraram
solutas”, mas sim, verdades parciais que vão os cananeus e os filisteus vivendo na Palestina.

114
7 Durante o período em que os hebreus iniciaram 14 O Cativeiro da Babilônia é o nome dado ao perí-

Orientações para o professor


uma luta contra os cananeus e os filisteus para odo de 586 a.C. até 539 a.C., em que o Reino
dominar a Terra Prometida, as tribos hebraicas de Judá foi conquistado pelos caldeus, e os
eram lideradas pelos juízes. Esses juízes eram hebreus foram levados como escravos para as
chefes militares e líderes políticos e religiosos. terras caldeias. Depois desse episódio, os he-
Com o passar do tempo, os juízes foram con- breus passaram a ser chamados de judeus
centrando poder em suas mãos. porque eles foram libertados pelos persas e
retornaram à região de Judá.
8 O templo de Salomão, também chamado de
Templo de Jerusalém, era uma construção feita 15 Bar-Kokhba liderou uma revolta contra o domínio
durante o governo do rei Salomão. romano sobre os judeus da Palestina. Quando

Respostas das atividades


9 As tribos hebraicas foram gradualmente se unin- Adriano sufocou essa revolta, ele expulsou os
do e se organizando politicamente, devido às judeus sobreviventes da região, causando sua
lutas para dominar a Palestina, até que, por dispersão por várias regiões do mundo a partir
volta de 1025 a.C., os hebreus fundaram o Rei- de 135.
no de Israel. O primeiro rei de Israel foi Saul, que
sofreu derrotas militares e morreu em batalha. Expandindo o conteúdo
Seu sucessor foi Davi, que derrotou os filisteus, 16 a ) A imagem representa uma cena de conquista
conquistando a maior parte da Palestina, e es- em que podemos observar alguns hebreus, que
colheu Jerusalém para ser a capital do reino. aparentam estar com os braços presos, sendo
Davi foi sucedido pelo seu filho Salomão. Du- conduzidos pelos romanos. Alguns objetos
rante seu governo, o Reino de Israel foi esplen- hebraicos também estão sendo levados pelos
doroso e próspero. Foram ampliados os domí- romanos, como é o caso do Menorah.
nios do reino, o comércio foi estimulado e várias
b ) Os judeus tentaram por duas vezes retomar o
obras foram realizadas em Jerusalém.
poder sobre seu território. Primeiramente,
10 O aumento de impostos gerou descontentamento, organizaram uma revolta que foi duramente
principalmente entre as camadas mais pobres da reprimida pelos romanos; em seguida, no ano
população. Após a morte de Salomão, as tribos de 132, os judeus organizaram uma outra
que viviam no norte do reino não se submeteram revolta, conseguindo recuperar o controle de
ao rei Roboão, fundando o seu próprio reino. sua região, resistindo aos ataques romanos
Assim, os hebreus se dividiram entre Reino de durante três anos.
Israel, ao Norte, e Reino de Judá, ao Sul. c ) Resposta pessoal. Oriente os alunos a percebe-
11 Para o direito hebraico a punição era individual, rem que uma obra de arte como esta serve
ou seja, cada um pagava pelos seus próprios para valorizar a vitória romana sobre os hebreus.
delitos, diferentemente de outros códigos de 17 A - Cor vermelha: percurso: de Ur, na Caldeia,
direito da época. O direito mesopotâmico, por
até Haran e, depois, até Hebron, na Palestina;
exemplo, previa que um filho poderia ser punido
época: por volta de 1800 a.C.; motivo: os he-
pela falta de seu pai.
breus estavam à procura de terras férteis e se
12 A afirmação de que os judeus não desenvolveram dirigiram à terra de Canaã (Palestina), que eles
as artes plásticas se justifica pelo fato de que a acreditavam que tinha sido prometida a eles por
religião hebraica proibia a representação de seu Deus.
divindades ou seres humanos em imagens pin- B - Cor verde: percurso: de Hebron, na Palestina,
tadas ou esculpidas. até Mênfis, no Egito; época: por volta de 1600
13 Resposta pessoal. Oriente os alunos a reverem a.C.; motivo: uma forte seca na Palestina obri-
o infográfico da cidade hebraica das páginas gou os hebreus a emigrarem para o Egito.
114 e 115. Os alunos podem escrever sobre a C - Cor laranja: percurso: de Mênfis, no Egito, até
organização das casas, a importância dos tem- Jerusalém, na Palestina; época: por volta de
plos, os papéis desempenhados por homens e 1300 a.C.; motivo: êxodo ou fuga do Egito,
mulheres, dentre outras características. onde os hebreus estavam sendo escravizados.

115
18 a ) O trecho B pode ser comprovado cientificamen- famoso Templo de Salomão. Há séculos,
te. Ele relata a escravização dos hebreus no tornou-se local de peregrinação dos judeus
Egito, o que é possível de ser comprovado por que vinham lamentar a dispersão de seu
meio de estudos arqueológicos e históricos. povo e chorar sobre as ruínas do templo.
b ) O trecho A não pode ser comprovado cienti- b ) Para os muçulmanos, a cidade de Jerusalém é
ficamente, porque esse trecho está associa- importante porque é lá que fica o Domo da
do a uma crença do povo hebreu e não a um Rocha, santuário mais importante para eles,
fato concreto. depois de Meca e Medina. O Domo da Rocha
é a primeira grande obra do mundo islâmico,
19 As religiões monoteístas, como a dos hebreus,
de 691, e abriga uma pedra sagrada tanto
eram caracterizadas pela crença em um único
para os muçulmanos (que creem que seu pro-
deus. As religiões de outros povos antigos, co-
feta Maomé ascendeu ao Céu nessa pedra)
mo a dos mesopotâmios e dos egípcios, eram
quanto para os judeus (que creem que sobre
politeístas, ou seja, eram caracterizadas pela
essa pedra Abraão ofereceu seu filho Isaac em
crença em vários deuses.
sacrifício). Com sua abóbada de ouro, o Domo
20 a ) A versão bíblica para o Dilúvio universal narra da Rocha simboliza a ascensão que todo mu-
a história de um grande dilúvio que destruiu çulmano deve fazer em direção a Deus.
a Terra. Noé e sua família, avisados por Deus, c ) Os cristãos consideram Jerusalém importante
construíram uma arca para salvar um casal porque é a cidade onde fica a chamada Via
de cada espécie animal da Terra. Dolorosa, circuito do martírio de Cristo, onde
b ) De acordo com estudos arqueológicos, o dilú- a fé dos cristãos teria sido moldada pela
vio citado na Bíblia se refere a uma enchente morte, sepultamento e ressurreição de Cris-
catastrófica, ocorrida por volta de 5600 a.C. to. Graças aos bizantinos, construiu-se ali um
O nível do mar Mediterrâneo subiu e irrompeu centro cristão, com numerosas igrejas. Talvez
pelo estreito de Bósforo, inundando a planície a mais importante seja a do Santo Sepulcro,
onde hoje está localizado o mar Negro. que já foi destruída e reconstruída várias
c ) O seguinte trecho trata da influência cultural vezes e é considerada o local onde Jesus
de um texto sumério sobre os hebreus: “So- teria sido sepultado.
breviventes dessa catástrofe migraram para
a Mesopotâmia. Assim teria surgido a histó-
8
Capítulo

ria do Dilúvio no texto sumério de Gilgamesh.


Os persas
Os hebreus conheceram a história quando
estiveram cativos na Babilônia”. Exercícios de compreensão
21 Resposta pessoal. Os alunos devem apresentar 1 Por volta de 2000 a.C., os persas se fixaram em
no texto elementos presentes no infográfico uma região montanhosa entre o golfo Pérsico e
apresentado nas páginas 114 e 115. Os elemen- o mar Cáspio. Essa região, de clima seco e com
tos apresentados podem ser divididos nas ca- poucas áreas férteis, ficou conhecida como
tegorias: trabalho, moradia, alimentação e Pérsia.
costumes. Promova entre os alunos o respeito
2 As principais atividades econômicas dos persas
às diferentes opiniões que possam surgir duran-
eram: agricultura e pastoreio. Eles cultivavam
te a realização dessa atividade.
trigo, cevada e hortaliças e criavam animais
Passado e presente como bois, carneiros e cabritos.

22 a ) A cidade de Jerusalém é importante para os 3 Os medos tinham um exército forte, composto


judeus porque ela é o símbolo da unidade de por lanceiros, cavaleiros e arqueiros; e produ-
seu povo e do renascimento da antiga terra ziam armas de ferro, que eram mais resistentes
natal. O Muro das Lamentações, local mais do que as armas de bronze da época. Utilizando-
sagrado para os judeus, é o único vestígio da -se desse poderio militar, os medos subjugaram
muralha que servia de sustentação para o os persas por cerca de 1500 anos.

116
4 Para favorecer o desenvolvimento econômico do Expandindo o conteúdo

Orientações para o professor


império, os persas construíram uma rede de
9 a ) Antes da criação da moeda na Pérsia, quase
estradas que interligava as diferentes províncias;
todas as trocas comerciais eram feitas sob a
criaram uma moeda única, o dárico; e padroni-
forma de troca. Quando se usava ouro ou pra-
zaram o sistema de pesos e medidas, aperfei-
ta, cada barra ou pepita precisava ser pesada
çoando o sistema de cobrança de tributos.
em uma balança e ter sua pureza avaliada.
5 Resposta pessoal. Os alunos devem apresentar b ) A moeda criada por Dário se chamava dárico.
no texto as palavras que aparecem no quadro O dárico era diferente das moedas que cir-
(“correio”, “estradas”, “papiro”, “tributos”, “ouro” culavam em outros Estados na época porque
e “moeda”), baseando-se nas informações apre- o seu valor era padronizado.

Respostas das atividades


sentadas nas páginas 128 e 129.
c ) Após a difusão da moeda persa, o comércio
6 A religião criada pelos persas se chama zoroas- passou por um intenso crescimento. Regiões
trismo. Baseada em uma crença que se aproxi- que nunca haviam mantido relações comer-
mava do monoteísmo, essa religião surgiu por ciais entre si começaram a trocar mercado-
volta de 600 a.C., fundada por um homem rias. Com uma moeda comum confiável, uma
chamado Zaratustra. Segundo Zaratustra, exis- rede de estradas seguras e um sistema uni-
tia um deus supremo, Ahura Mazda, e seu irmão ficado de pesos e medidas, criou-se um
gêmeo e opositor, Ahriman. Ahura Mazda era enorme mercado comum. A difusão da mo-
infinitamente bondoso e sábio, e orientava os eda persa possibilitou o intercâmbio comer-
seres humanos com base no amor e respeito ao cial entre Índia, Anatólia, Egito, Cartago,
próximo. Ahriman, por sua vez, era responsável Fenícia, Ática e Trácia.
por todas as maldades e sentimentos ruins,
d ) Os produtos de luxo sempre haviam sido co-
como a inveja, a cobiça e a raiva.
mercializados, mas, com a melhora nos
Cada pessoa teria a liberdade para escolher entre transportes, foi possível negociar mercado-
o Bem e o Mal. Se optasse por fazer o bem, rias de uso cotidiano. Grandes quantidades
seria recompensado, ao morrer, com o reino de de cereais eram transportadas por mar. Te-
Ahura Mazda. Se escolhesse o mal, seria con-
cidos baratos, sandálias de couro, ferramen-
denado ao reino das sombras, morada de Ahri-
tas de ferro e artigos domésticos circulavam
man. Os zoroastristas acreditam que, depois do
por toda parte. Essa atividade beneficiava
fim dos tempos, haverá um recomeço de mundo,
não só os mais ricos, mas também os arte-
imortal e eterno, em que só haverá lugar para
sãos e os trabalhadores agrícolas.
as pessoas boas, que viverão com seus familia-
res e amigos. O zoroastrismo exerceu influência 10 a ) Os zoroastristas eram os seguidores dos ensi-
nas três principais religiões monoteístas da namentos do profeta Zaratustra (ou Zoroastro).
atualidade: judaísmo, cristianismo e islamismo. b ) Segundo o texto, depois que o zoroastrismo
7 Os imperadores persas, geralmente, adotavam se tornou a religião oficial do Império Persa,
uma política de respeito pela cultura dos povos ele passou a ser praticado desde a Grécia
conquistados. Além de permitir-lhes que manti- até o Egito e o Norte da Índia.
vessem seus costumes e sua religião, os persas c ) As religiões mais influenciadas pelo zoroas-
ainda absorviam parte da cultura desses povos. trismo foram o judaísmo e o cristianismo. Os
Essa assimilação cultural pode ser percebida, aspectos dessa religião que mais tiveram
por exemplo, na arquitetura persa e em suas influência no judaísmo e cristianismo dizem
manifestações artísticas, nas quais se percebe respeito à forma e ao conteúdo de algumas
a influência cultural de mesopotâmios e egípcios. crenças, como: a crença nos anjos, no fim
8 O sistema de estradas era utilizado para a coleta
do mundo, no céu e no inferno, no julgamen-
de impostos nas regiões conquistadas do impé- to final e na ressurreição.
rio, para o deslocamento de soldados e no trans-
porte de bens e mercadorias em nome do Esta- Discutindo a história
do, o que facilitava a administração do império. 11 a ) O autor afirma que os quadrinhos de Frank

117
9
Miller não primam pela fidelidade histórica

Capítulo
porque Miller comete erros sobre datas, fatos Os antigos chineses
e circunstâncias históricas. Por exemplo, a
caracterização do personagem do imperador Exercícios de compreensão
Xerxes, que Miller retratou cheio de piercings 1 O rio Amarelo recebeu esse nome porque o solo
pelo corpo, é um visual que lembra muito mais da região que ele atravessa tem uma coloração
o de uma “tribo urbana” dos dias de hoje do amarela.
que o de um imperador da Pérsia Antiga.
2 Os habitantes das primeiras aldeias chinesas se
b ) Na imagem A, Xerxes foi representado vestindo
estabeleceram principalmente às margens do
uma túnica, com um tipo de chapéu na cabeça,
rio Amarelo, por volta de 3000 a.C. Eles planta-
usando uma barba comprida e cabelos enca-
vam painço (milho-miúdo), hortaliças, frutas e
racolados quase na altura dos ombros.
nozes; criavam porcos, bois e cabritos; e pro-
Já na imagem B, sua representação é a de um duziam objetos de cerâmica, que eram utilizados
homem careca e sem barba, coberto por no dia a dia e em cerimônias religiosas e festas.
vários adornos pelo corpo (em vez de uma
3 As principais dificuldades dos habitantes das
túnica), apresentando também adornos na
primeiras aldeias chinesas adivinham de varia-
cabeça e piercings no rosto.
ções climáticas, que provocavam períodos de
c ) Uma das opiniões é de que os erros devem ser
seca e de cheia, causando a destruição de casas
entendidos como “licença poética” (liberdades
e plantações. Por essa razão, os chineses de-
tomadas pelo autor para tornar a narrativa
senvolveram técnicas de controle das águas do
mais interessante). A outra opinião é de que rio, construindo reservatórios para armazenar a
os erros apresentados são grosseiros demais água, na época de cheia, e utilizá-la para a irri-
para serem tomados por licença poética. gação dos campos, no período de seca.
Promova entre os alunos o respeito às dife-
4 Por volta de 221 a.C., a região onde se formaria a
rentes opiniões que possam surgir durante a
China era composta por Estados independentes
realização dessa atividade.
e rivais, que combatiam entre si pelo controle do
d ) Resposta pessoal. Comente com os alunos
território. Nessa época, o governante do Estado
sobre a importância de se estudar a batalha de de Chin venceu os conflitos entre os Estados,
Termópilas, pois nela os espartanos impediram, unificou-os e se proclamou imperador da China.
por alguns dias, o avanço do exército persa
para o interior da península Balcânica (onde 5 Durante o período Qin, algumas mudanças foram
atualmente se localiza a Grécia), acabando por implantadas na China: foi estabelecido um novo
enfraquecê-lo. Essa ação facilitou a derrota do código de leis que regulamentava a ação de
exército persa. A desvantagem numérica de todos os habitantes do império; foi feita a pa-
espartanos em relação aos persas demonstra dronização dos pesos e medidas, da escrita e
a importância de se conhecer o terreno e de das moedas; financiou-se a construção de es-
se possuir melhores técnicas de combate, o tradas, pontes e canais, intensificando a comu-
que, nesse caso, beneficiou os espartanos. nicação e o deslocamento das pessoas por
Promova entre os alunos o respeito às diferen- todo o território unificado. Essas mudanças
tes opiniões que possam surgir durante a rea- transformaram o cotidiano dos chineses: o novo
lização dessa atividade. sistema de irrigação possibilitou o aumento da
produção agrícola; a melhoria das estradas fa-
e ) Resposta pessoal. Se achar necessário, co-
cilitou as trocas comerciais e culturais entre
mente com os alunos sobre outras obras
regiões distantes; a unificação das moedas in-
artísticas, como filmes, livros, pinturas, HQs,
centivou a comercialização de produtos.
que popularizaram algum episódio histórico,
reforçando a ideia de que muitas das obras 6 a ) A Muralha da China foi construída para defen-
artísticas populares atendem mais às neces- der o território chinês contra ataques inimigos.
sidades de entretenimento do que a do es- b ) Soldados, camponeses e escravos trabalha-
tudo da História. ram na construção da Muralha da China.

118
c ) Os soldados chineses se protegiam com ca- b ) Além dos soldados, cavalos foram modelados

Orientações para o professor


pacetes, armaduras feitas de malha de ferro em terracota.
e escudos feitos com ferro e bronze. Os c ) Nenhum soldado é igual ao outro e, embora
soldados atacavam com lanças, espadas e, as pernas, os dorsos e os braços tenham
principalmente, bestas, uma arma que dis- sido realizados em série, cada rosto foi ela-
parava flechas com muita força e precisão. borado individualmente. Tampouco as partes
d ) As torres de vigia tinham em média 12 metros produzidas em série são absolutamente
de altura e permitiam que os soldados man- iguais: soldados com ou sem escudo, guer-
dassem avisos uns aos outros em caso de reiros desarmados ou armados em diferentes
ataques estrangeiros. Também eram usadas posições de corpo e braços, assim como
para armazenar alimentos e armas. cocheiros e arqueiros. A forma de cobrir a

Respostas das atividades


cabeça, em alusão à categoria de cada sol-
e ) Os materiais usados na construção da mura-
dado, é outro elemento que varia. Assim,
lha da China eram variados: pedra, argila ou
alguns possuem apenas um lenço atado ao
madeira.
redor de um coque enquanto outros apresen-
7 Resposta pessoal. Oriente os alunos a lerem tam rugas estilizadas, que lhes dão o aspec-
novamente as informações das páginas 144 e to de oficiais. Finalmente, seus penteados e
145, as quais ressaltam o rompimento feito pe- adornos também são distintos.
lo budismo com relação à rígida tradição hinduís­
12 a ) Os casulos eram despejados em uma bacia
tas das castas.
com água morna para que os fios amoleces-
8 Resposta pessoal. Ban Zhao foi uma importante sem e ficassem prontos para ser enrolados.
escritora chinesa da época Han. Ela escreveu Etapa 2.
sobre matemática, astronomia e literatura. Sua b ) Os bichos-da-seda eram alimentados com
obra mais conhecida é Nujie ( Lições Femininas ), folhas de amoreira até que fizessem seus
um manual de comportamento para as mulheres casulos. Etapa 1.
chinesas. Além de ter sido um exemplo de atu- c ) Os fios eram tingidos e tecidos em um tear.
ação da mulher no campo intelectual, Ban Zhao Etapa 3.
foi importante também por defender o direito à
13 a ) A Rota da Seda cobria uma distância de mais
educação formal para as meninas.
de 8 000 quilômetros e ligava a China, no
9 A Rota da Seda era um longo caminho que ia da Oriente, à Europa, no Ocidente.
China até a Europa. Ela era percorrida por mer- b ) Além de chineses e europeus, muitos povos
cadores que realizavam, em toda a sua exten- habitavam os caminhos da Rota da Seda, co-
são, um intenso comércio com diferentes povos. mo hunos, mongóis, iranianos, árabes e turcos.
10 Resposta possível: Papel, pólvora, bússola, car- A Rota da Seda proporcionava um canal de
riola. O papel é utilizado para registrar a escrita; comunicação entre essas diversas culturas.
a pólvora é um explosivo utilizado em diversas c ) Os perigos de se atravessar a Rota da Seda
armas de fogo e em fogos de artifício; a bússo- estavam nos terrenos perigosos que faziam
la é utilizada por navegadores e outros explora- parte dela, além da possibilidade de ataques
dores para se guiarem no mar; a carriola é utili- de bandidos e de tribos que se dedicavam à
zada para transportar objetos de construção.7 pilhagem. Os caminhos da Rota da Seda se
tornaram mais seguros quando passaram a
Expandindo o conteúdo ser protegidos por impérios poderosos. As-
11 a ) Os soldados de terracota foram descobertos sim, a história desses impérios, a sua ascen-
quando dois camponeses do povoado de são e queda, afetou diretamente o destino da
Yangeun cavaram um poço no monte Li, em Rota da Seda.
março de 1974. Os arqueólogos acudiram d ) A Rota da Seda entrou em declínio por volta
imediatamente quando os primeiros fragmen- de 1500. Esse declínio se deveu ao estabele-
tos foram encontrados e, em seguida, foi cimento de rotas marítimas que passaram a
confirmada a sensacional descoberta. fazer a ligação entre o Oriente e o Ocidente.

119
e ) A Rota da Seda teve um profundo efeito na 3 Os principais esportes praticados em Creta eram:
história, pois comunicou diversos povos que, o salto acrobático, o pugilismo, a luta de arena
anteriormente, não se conheciam. Os chineses, e o salto sobre o touro. Ainda são praticados,
por exemplo, ignoravam a existência dos eu- na atualidade, o salto acrobático (ginástica ar-
ropeus e vice-versa. O legado mais duradouro tística) e o pugilismo (boxe).
que a Rota da Seda deixou para os nossos dias
4 As principais formas de governo adotadas nas
é constituído pelos conhecimentos referentes
cidades-estado da Grécia Antiga foram a Mo-
a diferentes terras e povos, suas culturas e
narquia, a Aristocracia, a Tirania e a Democracia.
crenças, que foram sendo transmitidas às po-
Na Monarquia, o rei era o responsável pelo
pulações que travavam contato com os mer-
controle militar, religioso e judiciário. Ele podia
cadores que percorriam seus caminhos.
governar sozinho ou auxiliado por um conselho
de nobres. Na Aristocracia, os aristocratas,
Discutindo a história
grandes proprietários de terra, tomaram o poder
14 a ) A descoberta arqueológica apresentada no do monarca e passaram a governar. Nessa for-
texto é um pedaço de papel que poderia ser ma de governo, o poder ficava restrito a algumas
o mais antigo da história. O artefato data do famílias poderosas. A Tirania era o governo de
século I a.C., o que enfraquece a versão até um só homem, que assumia o poder por meio
então aceita para explicar a origem do papel, da força, geralmente apoiado pela população.
segundo a qual ele teria sido inventado so- Na Democracia, os cidadãos participavam das
mente no século II. decisões por meio das assembleias de cidadãos.
b ) Antes do papel, o Ocidente usava outros su- No entanto, não tinham participação política as
portes para a escrita, principalmente o perga- mulheres, as crianças, os estrangeiros e os es-
minho, muito mais caro e difícil de produzir. cravos.
Havia também o papiro egípcio, muito difícil
5 a ) Esparta foi fundada no século IX a.C. pelos
de se obter na Europa. A chegada da invenção
dórios, na região da Lacônia.
chinesa diminuiu os custos dos livros.
b ) Porque o militarismo era uma característica
c ) Resposta pessoal. Comente com os alunos
marcante de Esparta. Um exemplo disso é
sobre a importância do papel, por exemplo,
que até completar 60 anos, todos os homens
no material escolar: cadernos, livros didáticos,
eram considerados guerreiros.
papéis utilizados em atividades de Arte, como
o papel crepom, o sulfite, o papel cartão etc. c ) A partir dos 7 anos as crianças espartanas
passavam por um rigoroso treinamento físico.
A educação de meninos e meninas era dife-
10
Capítulo

Os antigos gregos rente. Os meninos eram treinados para se


tornarem excelentes guerreiros. Quando jo-
Exercícios de compreensão vens, aprendiam a ler e a escrever. Deveriam
respeitar as ordens, falar pouco e objetiva-
1 Os antigos gregos ocuparam a região da penín-
mente; as meninas, por sua vez, eram pre-
sula Balcânica, que possui um relevo montanho-
paradas para serem mães de filhos fortes e
so e poucas áreas de solo fértil. Entre as mon-
saudáveis.
tanhas, existem algumas planícies isoladas.
Essa região possui muitas ilhas e tem um litoral 6 Atenas atraía pessoas dos mais diversos lugares,
bastante recortado. o que gerava um constante intercâmbio de
ideias. Esse ambiente de efervescência cultural
2 Entre as realizações da civilização cretense, es-
é considerado um dos principais motivos que
tão: o desenvolvimento de cidades e portos; a
favorecem o desenvolvimento da democracia
realização de comércio marítimo com outros
em Atenas.
povos, entre eles os fenícios e os egípcios; o
desenvolvimento de um tipo de escrita (o grego 7 A revolução hoplítica ocorreu quando houve o
primitivo); a elaboração de obras de arte e a aumento do número de homens comuns nas
construção de grandiosos palácios. guerras, o que fez surgir um sentimento de

120
igualdade entre eles. Esse sentimento contribuiu 12 a ) Atenas, líder da Confederação de Delos, era

Orientações para o professor


para que aumentasse a oposição popular ao responsável por administrar os tributos e
domínio político dos aristocratas. De acordo com organizar a frota marítima que defenderia as
alguns historiadores, essa revolução não foi o cidades gregas aliadas durante as Guerras
único fator que possibilitou o surgimento da Greco-Pérsicas. Essa hegemonia ateniense
democracia, mas teve um papel importante na gerou insatisfação em várias cidades-estado,
conquista de direitos iguais entre os cidadãos. especialmente Esparta, que não aceitava se
submeter ao poderio de Atenas. Os esparta-
8 Resposta pessoal. Oriente os alunos a pensarem
nos, então, se retiraram da confederação e
sobre como a política ateniense era organizada, formaram, junto com membros de outras
quem tinha direitos políticos e toda a população cidades-estado, a Liga do Peloponeso.

Respostas das atividades


que era excluída desses direitos.
b ) Muitas pessoas morreram ou foram escravi-
9 Clístenes implantou a primeira forma de governo zadas e várias cidades foram destruídas.
em que todos os cidadãos participavam dos Atenas, uma das mais prejudicadas, teve
assuntos da cidade: a democracia. Ele foi o cria- suas riquezas divididas entre espartanos e
dor da lei do ostracismo, pela qual qualquer persas. Em Esparta, os conflitos internos
pessoa que representasse perigo à ordem demo- acabaram enfraquecendo sua organização,
crática deveria ser expulso da cidade por dez possibilitando que ela fosse dominada pela
anos, além de perder seus direitos políticos du- cidade de Tebas. No longo prazo, as conse-
rante esse período. Apesar de poderem participar quências foram várias, a começar pelo refor-
das decisões políticas, a participação efetiva dos ço dos regimes oligárquicos em toda a Grécia
cidadãos mais pobres só passou a ocorrer du- e pelo enfraquecimento das cidades-estado
rante o governo de Péricles. Foi ele quem intro- independentes, frente às potências imperiais,
duziu a mistoforia, isto é, uma remuneração pelo primeiro a Pérsia e, em seguida, a Macedônia.
tempo dedicado aos assuntos públicos. 13 a ) Em 5000 a.C., as aldeias localizadas na pe-

10 Resposta pessoal. Oriente os alunos a ler as


nínsula Balcânica já possuíam características
neolíticas, isto é, seus habitantes já se fixa-
informações das páginas 168 e 169 antes de
vam em um território, domesticavam e cria-
escrever seu texto.
vam animais (como cabritos, carneiros, por-
11 a ) A Acrópole era a parte alta da cidade de Ate- cos e bois), praticavam a agricultura (plan-
nas. Ela funcionava como centro religioso e tando especialmente o trigo e a cevada) e
de defesa. fabricavam utensílios de cerâmica.
b ) Na Ágora eram realizadas reuniões e trocas b ) Desde muito cedo, a ocupação humana foi
comerciais. deixando suas marcas na paisagem. Muitas
c ) Os principais edifícios públicos de Atenas florestas originais foram devastadas para
eram: a Eclésia, ou Assembleia dos Cida- cederem lugar a campos de agricultura e
dãos, onde os cidadãos se reuniam para pastos para rebanhos.
discutir diversos assuntos relacionados à sua c ) Os artesãos utilizavam, para fabricar armas e
cidade; o Tribunal dos Heliastas, ou Tribunal peças decorativas, o cobre, a prata, o chum-
de Justiça, onde eram realizados os julga- bo e especialmente o bronze (uma mistura
mentos; o Quartel-general, ou Strategeion , de cobre e estanho).
onde ficavam os estrategos, responsáveis por d ) Resposta esperada: Porque as ferramentas e
comandar as forças militares e zelar pelo os instrumentos agrícolas continuaram por
cumprimento das leis da cidade; e a Boulé , muito tempo sendo feitos de madeira e pedra,
onde eram elaborados os projetos de lei ou provavelmente pela dificuldade em se obter
resoluções para serem discutidos na Assem- o metal. Isso fazia dele um bem acessível
bleia dos Cidadãos e, também, onde eram somente para as camadas mais ricas, as
organizadas festas, cultos religiosos e a fis- quais deveriam ter mais necessidade de uti-
calização dos trabalhos públicos. lizar o metal em armas para se proteger e

121
adornos para ostentar sua autoridade do que quem decide quem vai governar é o eleitor,
para fabricar ferramentas que facilitassem o não o Parlamento.
trabalho de seus empregados. d ) Resposta pessoal. Se possível, combine com
14 a ) No ano 500 a.C., Atenas tinha aproximada- os alunos um momento para as duplas apre-
mente 130000 habitantes. sentarem as principais ideias de sua redação.

b ) Naquela época, cerca de 40000 pessoas par-


No Brasil
ticipavam das decisões políticas em Atenas.
17 Resposta pessoal. Se achar conveniente, leve
c ) Na mesma época, cerca de 90000 pessoas não
para a sala de aula materiais (livros, jornais,
participavam das decisões políticas em Atenas.
revistas) que possam servir de fontes de pes-
d ) É possível concluir que a maior parte da po-
quisa para os alunos nessa atividade. Se neces-
pulação ateniense não participava das deci-
sário, auxilie os alunos na coleta das informa-
sões políticas.
ções que aparecerem nas fontes pesquisadas.
15 a ) A sociedade de Esparta era dividida em três Promova o respeito entre os alunos durante as
categorias: os homoioi , os periecos e os apresentações dos trabalhos.
hilotas .
b ) Os homoioi (os iguais) eram considerados os
espartanos por excelência, os cidadãos. Seus
Capítulo
11 Os antigos romanos
afazeres eram exclusivamente de caráter
político e militar. Exercícios de compreensão
c ) Os periecos eram agricultores; dedicavam-se 1 A região próxima à foz do rio Tibre era ocupada
à manufatura, produzindo os objetos. Em por povos latinos, que depois ficariam conhe-
época de guerra, participavam do exército. cidos como romanos. Os latinos formaram
várias aldeias nessa região, onde praticavam a
d ) Os periecos eram homens livres, enquanto
agricultura, cultivando principalmente trigo, fi-
que os hilotas eram os servos que habitavam
gueiras e oliveiras, e criando animais como bois
as terras conquistadas pelos espartanos e,
e carneiros.
por isso, estavam presos à terra, não poden-
do se transferir do local. Além disso, os hilo- 2 Alguns estudiosos chamam Roma de “filha da
tas eram propriedades do Estado. Algumas Etrúria” porque os romanos herdaram dos etrus-
vezes, no entanto, eles eram libertados de- cos grande parte de sua cultura, como, por
pois de servir o exército de Esparta. exemplo, as várias técnicas agrícolas e de or-
ganização militar, o alfabeto e o gosto por jogos
16 a ) O texto apresenta dois tipos de democracia:
e diversões, como corridas de biga e lutas de
a democracia presidencialista e a democracia
gladiadores.
parlamentar. No Brasil, vigora a democracia
presidencialista. 3 As principais instituições políticas da Monarquia
b ) Na democracia presidencialista, os eleitores em Roma eram: a Assembleia do Povo, com-
não apenas elegem seus representantes, mas, posta por pessoas influentes da sociedade, que
também, o presidente da República, a maior tinha a função de eleger o rei, podendo inclusi-
autoridade política da Nação. Já na democra- ve vetar as suas propostas e decidir pela guer-
cia parlamentar, a população elege apenas ra ou pela paz; e o Senado, que analisava as
seus representantes — o equivalente aos propostas que já haviam sido aprovadas pela
deputados federais brasileiros —, formando o Assembleia e ficava responsável pelo governo
Parlamento, que, por sua vez, elege o primei- na ausência do rei.
ro-ministro. Em geral, torna-se primeiro-minis- 4 No período monárquico, a sociedade romana era
tro o líder do partido que conseguiu eleger um dividida entre patrícios e plebeus. Os patrícios
maior número de representantes. eram donos de grandes propriedades, possuíam
c ) No presidencialismo, o eleitor participa dire- muitos escravos e faziam parte do grupo privi-
tamente da escolha dos governantes, pois legiado, que controlava as decisões políticas,

122
criava e aplicava leis, cobrava impostos e julga- fez melhorias na cidade de Roma e regulamen-

Orientações para o professor


va crimes. Os plebeus formavam a grande mas- tou a distribuição gratuita de trigo.
sa de trabalhadores, como agricultores, artesãos
10 O primeiro imperador romano foi Otávio Augusto.
e pequenos comerciantes. Eles não exerciam
As principais ações de seu governo foram: as-
cargos políticos e tinham pequena participação
segurar a hegemonia romana nas fronteiras do
nas decisões sobre os assuntos de interesse
império; construir mais estradas e garantir a
público.
segurança de quem nelas trafegava, estimulan-
5 Em 509 a.C., a Monarquia foi derrubada por um do o comércio e aumentando o intercâmbio
grupo de patrícios que se revoltou contra o rei entre as várias regiões do império; patrocinar
etrusco Tarquínio II. Isso aconteceu devido às artistas e escritores e implantar um amplo pro-

Respostas das atividades


concessões que esse rei havia feito aos plebeus, grama de construção de obras públicas, como
dando-lhes maior participação nos assuntos de teatros, templos, banhos públicos e aquedutos.
interesse público. Descontentes com essas Dessa forma, Otávio Augusto deu início a um
concessões, os patrícios expulsaram os etrus- período de tranquilidade e prosperidade, que
cos de sua cidade, e implantaram a República. ficou conhecido como Pax Romana .

6 a ) O Consulado era composto por dois cônsules, 11 O Fórum era um grande recinto aberto onde se
que tinham como função comandar o exér- localizavam os mercados, os templos, os tribu-
cito em tempo de guerra, representar a cida- nais de justiça e a prefeitura. Ele era importante
de em cerimônias religiosas e julgar crimes. para a vida social, pois era onde as pessoas se
b ) Entre as funções do Senado republicano, encontravam para tratar de assuntos da cidade.
destacam-se: a organização dos cultos pú- 12 Dentre os motivos que geraram a crise do Impé-
blicos, o controle das finanças e a adminis- rio Romano, os principais foram: a crise do es-
tração das províncias conquistadas por Ro- cravismo, a ruralização da economia e a falta de
ma. proteção das fronteiras do império. A crise do
c ) As funções principais da Assembleia do Povo escravismo está relacionada ao fato de que, por
eram eleger os cônsules e promulgar leis. volta do ano 100, o número de escravos caiu
consideravelmente devido à interrupção das
7 Devido à política expansionista do período repu-
guerras de conquistas. A ruralização da econo-
blicano, os romanos conquistaram toda a pe-
mia ocorreu por causa do enfraquecimento de
nínsula Itálica, o que levou a um aumento do
atividades como a produção artesanal e o co-
número de escravos, de maioria estrangeira.
mércio. Dessa maneira, milhares de trabalhado-
8 a ) Depois de uma espécie de “greve geral”, os res ficaram desempregados, deixando as cida-
plebeus conquistaram maior participação des para viver sob o mando de grandes proprie-
política, além da abolição das dívidas altas e tários de terra. A falta de proteção das fronteiras
a libertação dos escravos por dívidas. do Império ocorreu devido à falta de dinheiro do
b ) O cargo de Tribuno da Plebe foi criado por Estado para manter um exército nessas regiões.
volta de 495 a.C., possibilitando aos plebeus Assim, os governantes romanos fizeram um
vetar as decisões dos patrícios. Com isso, acordo com os germânicos, no qual o Estado
várias leis foram criadas, como a que permi- doava terras a eles e, em troca, eles tinham de
tia casamentos entre patrícios e plebeus. evitar que novas invasões ocorressem nas fron-
c ) O primeiro código de leis escrito de Roma foi teiras. Isso fez com que, aos poucos, o exército
a Lei das Doze Tábuas. Ele pode ser consi- romano fosse composto, em grande parte, por
derado como uma conquista da plebe por- estrangeiros.
que, antes desse código, os patrícios muda- 13 Para tentar superar a crise política do Império
vam as leis de acordo com seus interesses. Romano no século III, o imperador Diocleciano
9 Durante seu governo, Júlio César distribuiu lotes instituiu a Tetrarquia, forma de governo em que
de terra para milhares de famílias, liberou os quatro imperadores dividiriam a responsabilida-
devedores do pagamento de parte das dívidas, de de governar o império. Outra tentativa foi a

123
de amenizar a crise econômica criando a Lei do Expandindo o conteúdo
Máximo, que fixava o valor máximo das merca-
16 a ) Tibério Graco foi um Tribuno da Plebe.
dorias. Suas reformas, no entanto, foram insu-
ficientes para superar a crise. Já o imperador b ) Tibério Graco tentou implantar a reforma agrária
Constantino desfez a Tetrarquia e reunificou o em Roma, baseada em leis que determinavam
poder do império em suas mãos. Percebendo a repartição das terras públicas em pequenos
que a parte ocidental do império encontrava-se lotes aos cidadãos pobres, que passariam a
em plena decadência, transferiu a capital para pagar ao Estado uma quantia fixa.
a cidade de Bizâncio, na parte oriental do impé- c ) Tibério Graco não conseguiu implantar as leis da
rio. Essa cidade, posteriormente, passou a se reforma agrária, porque elas desagradaram os
chamar Constantinopla. grandes proprietários de terra e vários senado-
14 O imperador Teodósio tornou o cristianismo a res que, para impedir sua aprovação, ordenaram
religião oficial do império, em 391 e, em 395, o assassinato de Tibério, em 132 a.C.
dividiu o império em duas partes: o Império d ) Resposta pessoal. Uma das respostas possí-
Romano do Ocidente e o Império Romano do veis: “É para o luxo e enriquecimento de
Oriente. outrem que combatem e morrem tais preten-
15 a ) Os plebeus viviam em locais simples. Geral-
sos senhores do mundo, que não possuem
mente moravam em apartamentos pequenos sequer um torrão de terra”.
e com diversas pessoas vivendo em um 17 a ) Ao descrever a imagem A, os alunos devem
mesmo cômodo. atentar para as seguintes características: a
b ) Alguns alimentos consumidos eram: pão, imagem representa um ferreiro que está tra-
verduras, azeitonas, legumes e vinho, que era balhando em uma oficina; ele parece estar
misturado com água. A carne era cara e ge- usando uma espécie de avental, em túnica;
ralmente as pessoas mais ricas eram aquelas as ferramentas que ele está utilizando são:
que mais a consumiam. um martelo e uma pinça para segurar o ob-
c ) Os meninos e meninas de Roma entravam na jeto que está produzindo; estão representa-
escola por volta dos 7 anos de idade. Por das, também, as mercadorias produzidas
volta dos 10 anos, as meninas deixavam a nesse local: instrumentos e objetos de metal,
escola e passavam a ser educadas unica- como martelos, pontas de lança, fechaduras,
mente pelas suas mães. O objetivo era que pinças, entre outros.
se tornassem boas donas de casa e mães. b ) Ao descrever a imagem B, os alunos devem
Os meninos de famílias influentes, por sua atentar para as seguintes características: a
vez, a partir dos 10 anos, iam para a escola imagem representa um açougueiro trabalhan-
secundária, onde aprendiam literatura, histó- do; ele está usando uma túnica; há também
ria e o idioma grego. Também eram prepara- uma mulher no local; ele está usando como
dos para a vida militar. instrumento de trabalho uma faca; nesse
d ) O cotidiano de mulheres patrícias e plebeias local estão penduradas carnes de animais
era bem diferente. As mulheres patrícias para fins comerciais e de consumo.
casavam-se por volta dos 14 anos, sendo c ) A atividade de açougueiro ainda é bastante
que a maioria dos casamentos eram arranja- comum, enquanto que a atividade de ferreiro
dos pelos pais. Elas tinham mais tempo livre parece ter diminuído consideravelmente nos
para realizar diversas atividades, como a últimos tempos. Hoje, os açougueiros utilizam
leitura e o estudo. máquinas de corte e de moer, além de esto-
As mulheres plebeias, por sua vez, tinham carem a carne em frigoríficos para que não
mais autonomia em relação ao casamento, estrague. No entanto, ainda utilizam a faca
tinham mais liberdade, pois trabalhavam fora para realizar tarefas mais simples. Já o tra-
e assim tinham maior contato com outros balho artesanal do ferreiro acredita-se que
ambientes. pouco tenha mudado com relação às técni-

124
cas e ferramentas utilizadas. Entretanto, nos b ) O historiador que escreveu o texto B defende

Orientações para o professor


últimos tempos, as indústrias metalúrgicas o ponto de vista de que a noção de “deca-
que produzem objetos de metais em larga dência” é subjetiva e, por isso, não é possível
escala vêm substituindo cada vez mais a avaliar se a moral dos romanos era “deca-
produção artesanal dos ferreiros. dente”, no sentido atual de “decadência”.
Antes de tudo, é necessário levar em conta
No Brasil a possibilidade de os costumes romanos
serem, simplesmente, diferentes dos nossos.
18 a ) De acordo com os autores do texto, os prin-
cipais objetivos da reforma agrária são: a
desconcentração fundiária, para evitar que a
12

Capítulo
A cultura clássica

Respostas das atividades


terra permaneça nas mãos de poucas pes-
soas ou empresas; e a democratização do
acesso à terra, possibilitando que mais pes- Exercícios de compreensão
soas tenham acesso à terra para trabalhar. 1 Respostas possíveis: Agrônomo = agro (campo)
b ) De acordo com a Constituição brasileira, “fun- + nomo (conhecedor) = conhecedor do campo;
ção social da terra” significa que a terra, antropologia = antropo (homem) +logia (estudo)
mesmo que tenha um proprietário, deve estar = estudo do homem; arqueologia = arqueo (an-
a serviço dos interesses da população, pro- tigo) + logia (estudo) = estudo do antigo; biblio-
teca = biblio (livro) + teca (coleção) = coleção
duzindo de acordo com suas necessidades.
de livros; cronômetro = crono (tempo) + metro
c ) Segundo a Constituição brasileira, as grandes
(medição) = medição do tempo; democracia =
propriedades de terra que não cumprem
demo (povo) + cracia (governo) = governo do
adequadamente sua função social podem ser
povo; filósofo = filo (amigo) + sofo (sabedoria)
desapropriadas para a implantação de as- = amigo da sabedoria; hidrômetro = hidro (água)
sentamentos rurais. + metro (medição) = medição de água; mono-
d ) A reforma agrária é uma política pública rea- fone = mono (único, um só) + fone (som, voz) =
lizada pelo Estado. Já a luta pela terra é um único som, única voz; telefone = tele (distância)
conjunto de estratégias de pressão feitas + fone (som, voz) = som ou voz à distância;
sobre o governo pelos movimentos sociais zoologia = zoo (animal) + logia (estudo) = estu-
que reivindicam o acesso à terra. do dos animais.
e ) Resposta pessoal. Para auxiliar os alunos 2 Resposta possível: poesia, tragédia e comédia. A
nessa atividade, apresente a eles algumas poesia, um dos gêneros mais apreciados pelos
informações sobre os principais movimentos gregos, servia para tratar dos mais diversos temas,
sociais que reivindicam o acesso à terra no desde os acontecimentos mais importantes até os
Brasil, como o Movimento dos Trabalhadores assuntos do dia a dia. A tragédia era utilizada
Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984; geralmente para descrever grandes aventuras e
a Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 1975; episódios trágicos da vida dos heróis. A comédia
e a Via Campesina, fundada em 1992. Co- servia para ironizar as fraquezas humanas.
mente com os alunos que esses grupos
3 As fábulas são pequenas histórias que geralmen-
procuram conscientizar os cidadãos brasilei-
te têm animais entre os personagens, e apre-
ros da necessidade de se fazer a reforma
sentam ensinamentos sobre como agir com
agrária no país, além de pressionarem o
inteligência em diferentes situações cotidianas.
governo para que se cumpra as determina-
ções da Constituição sobre esse assunto. Resposta pessoal. Se achar interessante, comen-
te sobre outras fábulas de Esopo com os alunos.
Discutindo a história 4 Os deuses tinham poderes de interferir na vida
19 a ) O ponto de vista do historiador que escreveu dos seres humanos e eram imortais; os heróis
o texto A é de que foi a decadência moral ou semideuses possuíam alguns poderes dos
que levou à queda do Império Romano. deuses, porém eram mortais.

125
5 O mito narra sobre um passado distante e fabu- corridas de biga, veículo puxado por dois ou
loso; a filosofia, ao contrário, se preocupa em quatro cavalos (quadriga), conduzido por um
explicar o passado, o presente e o futuro, tal cocheiro de pé. As corridas de biga eram reali-
como são. O mito narra a origem do mundo por zadas nos circos, nome dado a grandes cons-
meio das rivalidades ou alianças entre deuses; truções destinadas a realização desse tipo de
enquanto a filosofia, ao contrário, explica a ori- competição.
gem do mundo por meio de elementos e causas
9 a ) O latim começou a ser falado no século VIII
naturais. O mito não se preocupa com contra-
a.C., na região do Lácio.
dições, com o fabuloso e o incompreensível; a
filosofia, ao contrário, exige que a explicação b ) Várias línguas antigas influenciaram na formação
seja coerente, lógica e racional. do latim, entre elas o osco, o umbro e o grego.
c ) Além das obras literárias, outras formas conhe-
6 a ) Tales acreditava que os fenômenos naturais
cidas de registro da língua latina são: as ins-
deveriam ser explicados com base na própria
crições em edifícios públicos, que informavam
natureza, sem recorrer aos mitos e deuses.
quem tinha sido o construtor, quem financiara
b ) Sócrates preocupava-se com questões rela- o prédio e outros dados; as inscrições em
tivas aos seres humanos, como honra e vasos de cerâmica, com o nome do fabrican-
moral, ou seja, valores éticos. De acordo com te ou da olaria e a qualidade do produto; as
suas ideias, uma pessoa inteligente é aquela inscrições em moedas; e também as inscri-
que admite que nada sabe.
ções nas paredes, feitas com estilete.
c ) Platão acreditava que o mundo visível era
d ) O latim se tornou a língua oficial do Império
apenas uma cópia da verdadeira realidade.
Romano por volta do século II.
A verdadeira realidade encontrava-se no
e ) Devido à diversidade de culturas que havia no
mundo das ideias, sendo que a maior delas
Império Romano, a língua latina se fundiu com
era a ideia do Bem.
outras línguas e deu origem ao que chamamos
d ) Aristóteles defendia que as teorias deviam ser
de línguas neolatinas. Algumas delas são: o
elaboradas a partir de fatos que pudessem
português, o italiano, o espanhol e o francês.
ser demonstrados. Seu sistema filosófico
estava baseado na observação dos fenôme- 10 As inscrições nas paredes de Pompeia revelaram
nos naturais e no pensamento lógico. que grupos populares, como padeiros, agricul-
tores, artesãos, comerciantes e escravos, es-
7 De acordo com a política do pão e circo, os im-
creviam mensagens que tratavam dos mais di-
peradores distribuíam pães e cereais para a
ferentes temas, como política, trabalho, amor e
população mais carente e, também, promoviam
lutas de gladiadores.
grandes espetáculos que eram oferecidos gra-
tuitamente ao povo romano. 11 A arte romana foi bastante influenciada pela arte
grega. Essa influência se tornou mais intensa
8 Resposta pessoal. Os alunos podem ressaltar
após os romanos conquistarem regiões da Gré-
que a maior parte dos moradores de Roma fre-
cia. Com isso, os exércitos romanos voltaram
quentava os espetáculos públicos, que ocorriam
para Roma trazendo muitos objetos de arte
em circos, arenas e teatros. Eram encenados
gregas. Somente no final do período republica-
espetáculos teatrais de diversos tipos, como as
no a arte romana adquiriu suas características
comédias, os dramas e as tragédias, mas os
próprias.
mais populares eram a mímica e a pantomima.
Um dos espetáculos que mais atraía a atenção Ao contrário dos gregos, que buscavam represen-
da população eram as lutas de arena, em que tar a beleza ideal e a harmonia das proporções,
ocorria o combate entre gladiadores, geralmen- os romanos desenvolveram uma arte mais rea-
te escravos treinados para lutar. Nas arenas lista e fiel aos modelos retratados.
também eram realizadas lutas entre animais Um dos destaques da expressão artística romana
selvagens e, ainda, entre gladiadores e animais. é o retrato individual, cuja principal característi-
Outro espetáculo de grande público eram as ca é um extremo realismo, com particular realce

126
para os aspectos pouco atraentes do sujeito a beleza e a originalidade das obras de arte

Orientações para o professor


representado. Como os romanos gostavam de clássica estavam no fato delas serem bran-
ser ver como um povo forte e honesto, esse cas, estudiosos já vêm afirmando desde o
estilo agradava muito. século XIX que havia cores nas estátuas da
arte clássica. Promova entre os alunos o
12 Os alunos devem apresentar no texto as infor-
respeito às diferentes opiniões que possam
mações contidas na página e os elementos
surgir durante a realização dessa atividade.
presentes no infográfico que se encontra na
página 209.
Passado e presente
13 O Corpo do Direito Civil é uma reinterpretação e 16 a ) Nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, partici-
compilação das leis romanas que se tornou a

Respostas das atividades


param cerca de 4000 atletas, de aproxima-
base do sistema jurídico de vários países. Estão damente 140 países.
presentes em nossa sociedade o princípio Cui-
b ) A importância do esporte para portadores de
que suun (a cada um pertence aquilo que é seu);
necessidades especiais está no fato de que
o princípio Dura Lex , sed Lex (a lei é dura, mas
a prática esportiva, além de tornar prazerosa
é a lei); e também o princípio Nullun crimen, nulla
a reabilitação física e psicológica, melhora a
poena sine lege (não há crime nem pena sem
qualidade de vida e amplia o círculo de ami-
que a lei decida).
zades. Em um nível mais competitivo, o es-
14 A expressão “cultura helenística” se refere às porte para portadores de deficiência ainda
manifestações culturais originadas da mistura tem a função de conscientizar a população
entre a cultura grega (também chamada de “he- da potência e eficiência que todas essas
lênica”) e as culturas dos povos conquistados pessoas têm.
por Alexandre Magno, como egípcios, persas e c ) Resposta pessoal. Comente com os alunos
mesopotâmios. os possíveis motivos que fizeram a autora do
texto usar essas palavras para descrever os
Expandindo o conteúdo Jogos Paraolímpicos. Explique que esse
15 a ) O principal objetivo dos organizadores da evento esportivo demonstra que o portador
exposição As cores do branco foi mostrar de necessidades especiais pode realizar ati-
que a arte antiga era muito mais alegre e vidades diversas, entre elas a prática de
colorida do que imaginamos e acabar com a esportes. Comente que os Jogos mostram a
convicção de que as esculturas gregas e força, a perseverança e a inspiração de atle-
romanas não tinham cor. tas que no dia a dia superam obstáculos não
b ) As estátuas gregas e romanas ficaram brancas somente nos esportes, mas também na so-
por causa da perda de policromia provocada ciedade em que vivem.
pela ação do Sol e da chuva. Para descobrir Por vezes, os portadores de necessidades
quais eram as cores originais dessas obras, especiais se veem obrigados a conquistar
foram usadas técnicas modernas, como raios respeito dentro do convívio social, apesar de
ultravioleta, que permitem ver traços de cores todas as pessoas possuírem os mesmos
desaparecidas no mármore. direitos. Promova entre os alunos o respeito
c ) Segundo o historiador e arqueólogo Joachin às diferentes opiniões que possam surgir
Winckelmann, o branco seria a cor da beleza durante a realização dessa atividade.
ideal e o uso das cores na escultura signifi-
cava a decadência e o desvirtuamento da Discutindo a história
arte clássica. Ele defendia a concepção de 17 a ) De acordo com o texto A os espetáculos pú-
que a arte clássica era imaculadamente bran- blicos exerciam nos romanos uma transfor-
ca, e assim devia permanecer. mação de cidadãos engajados em especta-
d ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos dores embotados. Em outros tempos, o pú-
não concordem com essa afirmação, porque, blico romano participava ativamente das
apesar de Winckelmann haver afirmado que decisões políticas de Roma, mas, na época

127
do escritor Juvenal (século I), os romanos culo. Infelizmente, a violência é um dos pro-
pararam de interferir na vida pública e pas- blemas presentes em nossa sociedade, mas
saram a ansiar somente pelos espetáculos. ela não deve ser encarada como mais uma
b ) Resposta pessoal. Comente com os alunos atração espetacular da TV, e sim como algo
sobre o grande destaque dado à violência extremamente danoso ao convívio em socie-
nos meios de comunicação da atualidade, dade e às práticas de cidadania.
como em programas de TV, telejornais, jor- Oriente os alunos que uma forma de se de-
nais impressos, revistas etc.; e que a violên- fender dos excessos cometidos por um pro-
cia é veiculada de maneira sensacionalista, grama de TV é desenvolver a consciência
de forma que, muitas vezes, ganha mais vi- crítica e de cidadania para saber o que se
sibilidade do que outros tipos de notícias, o deve assistir ou não. Promova entre os alunos
que a transforma em um verdadeiro espetá- o respeito às diferentes opiniões que possam
surgir durante a realização dessa atividade.

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