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RIO DE JANEIRO
2017
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RIO DE JANEIRO
2017
Agradecimentos
Agradeço primeiro àqueles professores da educação Básica que começaram um árduo
trabalho de expandir minha visão de mundo. E também àqueles que me ajudaram, mesmo
quando eu não merecia.
Às meninas que moraram comigo, em Santa Teresa, quando saí da casa de família. Jessyca,
Julia, Nadyra, Ana, Pamela, Isabela, Geruza, Bianca, Rissely, Camila, Talita, Beatriz e
Bárbara. Vocês transformaram uma simples república em um lar.
Agradeço todos meus amigos do colégio que ainda permanecem nessa condição, mesmo
depois de tantos anos. Tenho a sorte de ainda amar e ser amada por vocês. Filipe, Caio, Pelle,
Cintia, Martha, Julia, Henrique, Pedro, Clariana, Lele, Vitor, Vitoso, Christian, Gabriel,
Bianca, Kadmo, Milena, Ricardo, Ana Luiza, Rodrigo e Pedro.
Também aos amigos que fiz depois de sair de Teresópolis. Aqueles que estiveram comigo nos
momentos ruins e nos momentos bons, aqueles que me aturaram dando aula de algum tema de
História ou sociologia no meio da madrugada. Victor, Carlos, Sibelius, Guilherme, Mariana,
Pedro, Adriano, Leonardo, Daíza e Sula.
À minha avó, Suely, que me deixou ficar em sua casa por quase metade do meu curso.
À minha avó, Luzia, que mesmo não fisicamente, sei que esteve comigo todo o tempo.
À todos os colegas da graduação que sempre foram simpáticos, mesmo que eu não tivesse
feito esforço para fazer amigos, apesar de não trocarmos confidencias, a faculdade sempre foi
mais agradável quando vocês estavam presentes.
Àqueles que se tornaram meus amigos durante o curso e que sei que não deixarão essa
posição: Mariane, obrigada por todas as tardes conversando sobre astrologia e romances, e por
sempre me ajudar em questões acadêmicas que estiveram ao seu alcance. Ana, obrigada por
ter sido a primeira a falar comigo na primeira aula que assisti, obrigada por sempre me falar
coisas novas, e obrigada por me ensinar a não se importar tanto com certas coisas. Luca, por
sempre ser o mesmo, e sempre ajudar, mesmo que estivesse ocupado com seus próprios
problemas. Anderson, por ter me apoiado e acreditado em mim mesmo quando eu não
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acreditava, por ser uma pessoa tão próxima que eu conheço mais que a mim mesma. Caroline,
primeiro por ser
uma amiga tão boa que compartilha os mesmos sentimentos que eu, e segundo por ter me
apresentado ao PIBID e ter me incentivado tanto a fazer o processo seletivo, o programa
mudou minha vida.
Aos bolsistas, supervisores e coordenadores do PIBID. Em especial, Fernanda, que foi uma
das pessoas mais interessadas em ajudar e que acabou se tornando uma amiga, Livia, que foi a
primeira a me ajudar a pensar no tema da monografia e me dar dicas de bibliografia, e
principalmente Rafaela, que de mera supervisora passou a ser a pessoa que mais me
incentivou e abriu meu mundo academicamente, e que hoje considero uma amiga.
O meu desejo de ter entrado no Ensino de história foi um processo e por isso agradeço à
minha coordenadora e orientadora, Cinthia Monteiro de Araújo, não apenas pela orientação,
mas por todas as reuniões de seu grupo de pesquisa- Diferir – que se tornaram uma parte
agradável da minha semana. E também à minha professora de Didática especial, Warley da
Costa, que, além de ser uma pessoa ótima, me ajudou na expansão do conhecimento da área.
À minha madrinha, Eliane, que eu tenho certeza, é minha segunda mãe. À Tathi, a pessoa que
eu tenho certeza, nunca vai mudar e que vai me aguentar até o fim da vida. Não é possível
imaginar uma vida sem as duas.
Ao meu pai, por ter me dado apoio emocional e financeiro que permitiram que eu cursasse
essa faculdade. À minha mãe por ter sempre apostado na minha educação e ter sempre estado
presente, apesar das discordâncias.
E, por último, à todas as mulheres (e pessoas) que lutaram, e ainda lutam, por um mundo que
tenha cada vez mais igualdade de gênero. Tais lutas me permitiram estudar em uma
faculdade, ter meus direitos de cidadã plenos e trabalhar sobre o tema. A luta não acabou, mas
vocês tiveram um papel fundamental nos avanços que já conseguimos.
RESUMO
O presente trabalho tem como o objetivo analisar e comparar o tratamento da história das
mulheres em narrativas didáticas a partir da análise de duas coleções de Livros Didáticos de
História de Ensino Médio aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
2018, que estará em vigência no triênio 2018-2021. As coleções selecionadas são: História,
Sociedade e Cidadania, de Alfredo Boulos Junior e Oficina de História, dos autores Flávio de
Campos, Julio Pimentel Pinto e Regina Claro.
The presente work aims to analyze and compare the treatment os the women history in school
didactic narratives through the study of two collection of textbooks of History of High School
approved by the National Programo f Didactic Book of 2018, that will be validity in the
triennium 2018-2021. The collections selected are História, Sociedade e Cidadania, from
Alfredo Boulos Junior and Oficina de História, from the autors Flávio de Campos, Julio
Pimentel Pinto and Regina Claro.
1 Introdução
O Ensino de História vem cada vez mais ganhando espaço dentro da área da pesquisa
histórica nos últimos anos. O levantamento dos trabalhos dos encontros nacionais da
Associação Nacional de História (ANPUH) ocorridos no período de 2003 a 2015 feito pelo
grupo de Estudos Diferir– Diferenças e Interculturalidades no Ensino de História –, do qual
faço parte, demonstram que há cada vez mais Simpósios Temáticos e/ou trabalhos
apresentados que tratam da temática Ensino de História. Segundo Guimarães (2009) algumas
hipóteses podem ser levantadas para que esse crescente interesse seja despertado: a crise no
ensino de história, que foi pouco sensível às enormes transformações que o campo passou nos
últimos anos, como também uma distância entre o que é produzido na universidade e seus
resultados para o ensino de história das escolas.
A temática gênero também vem ganhando cada vez mais espaço dentro da pesquisa
historiográfica, assim como em todas as ciências humanas. Entretanto, ao contrário do
esperado, ainda há muito pouca pesquisa de gênero inserida na área do Ensino de História,
algo que pode ser percebido pelos resultados da pesquisa citada anteriormente. Mas, por que
estudar gênero no ensino de História é tão importante?
Segundo a revista Exame, uma em cada três mulheres sofreram algum tipo de
violência física no ano de 2016 no Brasil1, a revista também afirma que pelo menos 40% das
mulheres acima de 16 anos já sofreram algum tipo de assédio. Tais dados são frutos de uma
sociedade que ainda é estruturalmente machista, na qual, se não existirem movimentos de
diversos setores sociais em busca de uma mudança, terá sempre esses números altos de
violência de gênero. Trabalhar gênero na educação, portanto, é fundamental para um processo
de mudanças sociais que são mais do que necessárias nos dias de hoje.
A escola deveria ser uma instituição que educa para a cidadania, para a igualdade e
para a ampliação de direitos, porém ainda é possível perceber muitas escolas reproduzindo
práticas sexistas, que, através de normas, formas de avaliação, livros didáticos, currículos,
disciplinas, entre outros, acabam por não problematizar e não abordar questões de gênero,
assim como outras produções discursivas e linguísticas que hierarquizam as diferenças,
produzindo as desigualdades no ambiente escolar. Muitos professores ainda reproduzem
práticas de reforçar o que seria exclusivo do universo dos alunos e das alunas, essas atitudes
1
Os números da violência contra mulheres no Brasil. 8 mar. 2017. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/brasil/os-numeros-da-violencia-contra-mulheres-no-brasil/>. Acesso em
28/11/2017.
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levam a consequências na forma de pensar desses alunos até, provavelmente, toda a vida.
(TEIXEIRA, MAGNABOSCO, 2010).
Falar sobre gênero, então, implica necessariamente ocupar uma posição crítica em
relação às verdades estabelecidas e aprendidas por nós como se fossem únicas, imutáveis e
inquestionáveis. Por isso seu estudo é essencial para educadores, pois todas as pessoas
deveriam ter o direito à educação, à vivência e às experiências de sexualidade. A pedagogia
escolhida e utilizada pelo professor em sala de aula deve pressupor uma preocupação de
construir uma sociedade mais democrática e mais interessada na coletividade. Ser professora
implica observar como as diferenças são reproduzidas por nós, para assim promover um
espaço constantemente problematizado e aberto às multiplicidades. (TEIXEIRA;
MAGNABOSCO; 2010) Ou seja, como professores:
Precisamos, enfim, nos voltar para práticas que desestabilizem e
desconstruam a naturalidade, a universalidade e a unidade do centro e que
reafirmem o caráter construído, movente e plural de todas as posições. É
possível, então, que a história, o movimento e as mudanças nos pareçam
menos ameaçadores. (LOURO, 2013, p. 53)
2
FRAZÃO; RALEJO. 2014, p. 176
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que no âmbito social existem diferentes processos de pertencimento (de gênero, étnico, de
classe, entre outros).
A atual situação da cidadania no país é caracterizada como autoritária, tendo relações
sociais extremamente hierarquizadas, por isso há uma “necessidade de transformações das
relações sociais nas dimensões econômica, política e cultural, para garantir a todos a
efetivação do direito de ser cidadão” (MAGALHÃES, 2009, p.177). Esse direito à cidadania
passa a ser visto junto ao direito à diferença, que pode ser compreendida dentro da afirmação
universal da diferença, também conhecido como o Multiculturalismo. Esse conceito é um
elogio à heterogeneidade, onde o Estado deve ser o encarregado a gerencias a manutenção das
diferenças entre os grupos sociais. Deste modo, a ideia de cidadania presente nos PCNs é vista
pela via da ampliação direitos como, principalmente, o direito à diferença. (MAGALHÃES,
2009)
Não podemos deixar, então, de citar a relação que o ensino de História tem com os
materiais didáticos, pois são eles que dão suporte nas aulas, tornando o conhecimento
palpável ao aluno. Esse material é o livro didático. Ele é uma das principais formas de analise
dos objetivos do currículo, pois ele tem desempenhado um papel central e determinante na
organização da prática docente, deixando de ser entendido como apenas um material
complementar ou de suporte para professores e alunos. (Lygia Vuyk de Aquino) Segundo
Circe Bittencourt (2017), O livro didático é um veículo portador de um sistema de valores, de
uma ideologia, de uma cultura, ou seja, transmitem estereótipos e valores dos grupos
dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, conforme os preceitos da
sociedade branca burguesa. Claro que, com os movimentos na área da educação, os livros
estão começando a mudar de forma e estão cada vez com mais espaço para aqueles que
sempre foram renegados pela História.
A intenção do trabalho é, a partir do ponto de vista de se entender que a diferença
presente no ensino de História é importante para a diminuição das discriminações na
sociedade brasileira, perceber como as mulheres são tratadas nos livros didáticos de História
aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2018, que se dedica ao
segmento do Ensino Médio. Através da comparação dos dois livros, o objetivo é o
levantamento de dados sobre como e quando as mulheres aparecem (historicamente ou não)
representadas nos livros didáticos mais recentes.
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Este conhecimento, então, precisaria estar presente, também, na pesquisa histórica. Por
isso é importante comentar que o campo da História sofreu diversas mudanças de concepções
nos últimos dois séculos, principalmente ao longo do século XX. Com o surgimento da
História dos Annales, na França, o campo da história se abriu para diversas possibilidades
antes impossíveis de serem consideradas para a pesquisa histórica. Segundo Fueter (1953,
apud BURKE, 1991), a partir da insatisfação que Marc Bloch e Lucien Febvre sentiam nas
décadas de 10 e 20 do século passado em relação à história política, que se vinculava à uma
relativa pobreza de suas análises, nas quais as situações históricas complexas eram reduzidas
a um simples jogo de poder entre os grandes, sendo as outras parcelas da sociedade excluídas
das análises e da escrita histórica. A História, então, precisava ser filha de seu tempo, isto é
necessitava corresponder aos anseios da humanidade que viva em um momento de convulsões
e rupturas com o passado.
Dessa forma, a necessidade de uma história que fosse mais abrangente e totalizante
surgia do sentimento de complexidade que o homem sentia em relação a si mesmo, que não
podia ser reduzido a apenas um reflexo de jogos de poder ou das maneiras de viver dos
poderes no momento. Fazer uma nova história, então, era descobrir o homem em sua
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No Brasil, ela tem início na década de 1890 e término em 1934, quando as mulheres adquirem o
direito de voto.
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do poder das mulheres na historiografia e nas ciências sociais. Lembrando que, para a autora,
o termo poder é polissêmico, e que, quando usado no singular tem conotação política. Para
Perrot, o feminismo como um fato social até é aceito na sociedade, mas não como um fato
político, pois é também uma questão de poder. As mulheres, que já não eram protagonistas,
foram cada vez mais silenciadas no século XIX, que, apesar de não inventar, reforça a questão
dos papéis sociais de gênero. Para Duby (apud Perrot, 2017) as mulheres são vistas como um
objeto do poder masculino. Ou seja, a ideia de um “poder social das mulheres” é sustentando
principalmente por aqueles que não querem que o poder delas aumente, por isso a autora
afirma que a própria análise do poder das mulheres é, ela mesma, um jogo de poder.
O conceito de gênero, portanto, é elaborado para superar os impasses que a história
das mulheres havia encontrado. (Costa, 2009) Ele foi ressignificado pelas feministas pós-
estruturalistas 6e o corpo passou a ser visto como um construto sociocultural e linguístico,
onde ele é um produto e um efeito das relações de poder. O gênero como uma categoria
analítica surge no final do século XX, sendo uma tentativa das intelectuais feministas de
reivindicar um local de definição para destacar a incapacidade das teorias existentes até o
momento de explicar as desigualdades entre homens e mulheres. Assim, quando Joan Scott
escreveu seu famoso artigo Gênero: uma categoria útil para a análise histórica ela propôs o
uso de um novo termo para se tratar as relações de sexo na sociedade – ou trabalhar a história
das mulheres. O termo sugerido, gênero, passou então a ser usado na época para se referir à
organização social da relação entre os sexos. Para as feministas americanas o termo enfatizava
o caráter fundamentalmente social das diferenças sexuais. Era, portanto, uma rejeição do
determinismo biológico implícito em termos como “sexo” ou “diferença sexual” (SCOTT,
1995).
Assim, inscrever as mulheres na História significaria uma redefinição e um
alargamento daquilo que se considerava historicamente importante, não sendo necessário
apenas uma nova forma de história das mulheres, mas sim, uma nova história. Além de
Gênero, classe e raça também se tornaram categorias cruciais para a escrita dessa nova
história. O grande desafio teórico desta história seria perceber como o gênero dá sentido à
organização e à percepção do conhecimento histórico. Em sua utilização mais simples gênero
se referiria então à mulher, mas é importante perceber que qualquer história das mulheres é,
também, sobre os homens, já que um obrigatoriamente implica no estudo do outro. Portanto,
gênero passa a ser uma representação de todas as formas de construção social, cultural ou
linguística implicada com os processos que diferenciam mulheres e homens.
Gênero, segundo Scott (1995), é uma categoria social imposta a um corpo sexuado.
Assim, para a autora, gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos, como também é uma forma primária de dar significado
às relações de poder, pois “gênero é um campo primário no interior do qual, ou, por meio do
qual, o poder é articulado” (SCOTT, 1995, p. 88). A categoria, portanto, é crucial para a
organização da igualdade e da desigualdade, já que as estruturas hierárquicas dependem de
compreensões generalizadas das assim chamadas relações naturais entre homem e mulher.
Relações de gênero, assim como Perrot (2017) afirmou, são parte do próprio significado de
poder. Os estudos de gênero acabam sendo as formas como as características femininas ou
masculinas não representadas, como mais ou menos valorizadas, as formas pelas quais o
feminino e o masculino se distingue, aquilo que é possível pensar e dizer sobre mulheres e
homens que vai constituir, efetivamente, o que se passa em determinada cultura, em um
momento histórico específico (MEYER, 2013), A concepção de gênero vem, portanto,
substituir as noções de sexo de caráter biológico.
Para Judith Butler (1999, apud Gandelman, 2009), a binaridade sexo/gênero segue a
tradição do pensamento ocidental de articular em oposições binárias, ou seja, a diferença
sexual não deve ser vista como uma função de diferenças materiais que não sejam, também,
marcadas e formadas por práticas discursivas. O próprio sexo é uma categoria generizada, por
isso o gênero não pode ser visto como uma inscrição cultural de sentido em um sexo
preexistente. O gênero deve designar, também, o aparato de produção pelo qual os sexos, eles
próprios, são estabelecidos. As normas regulatórias do sexo acabam por trabalhar de uma
forma performativa para construir a materialidade dos corpos, das diferenças sexuais, a
serviço da consolidação da heteronormatividade. Por isso Tania Navarro-Swain (ANO, apud
Galdeman 2009) afirma que o gênero cria o sexo, e não o contrário. Ela também afirma que as
representações produzidas pelas tecnologias de gênero são absorvidas por um processo de
auto representação e auto domesticação, ou seja, sofrem um assujeitamento 7, que seria a
emergência como sujeitos generificados que reproduzem as relações sociais assim como as
entendemos no ocidente.
7
Efeito das tecnologias de gênero, o assujeitamento seria a resposta individual para a interpelação do
social. Aprendemos que se é mulher a partir da prática dos signos que vivemos.(GALDEMAN, 2009).
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3 Gênero e Educação
Em nossa sociedade operamos a partir de uma identidade que é a norma –
masculinidade branca heterossexual, classe média e judaico-cristã – que é a aceita e a
legitimada. A normalidade e a diferença, que é sempre construída a partir de uma relação, são
sócio e culturalmente construídas, nas quais todos os indivíduos daquela sociedade participam
deste processo, sendo ativos ou passivos, sofrendo com ela, ou sendo vítimas dela. Um
exemplo desta norma são os dias dedicados aos grupos subalternos – dia da mulher, dos
índios, da consciência negra, do orgulho gay...- aqueles que são considerados “normais” pela
cultura e sociedade não precisam de dias para serem lembrados, já o são a todo momento.
Trabalhar com gênero na escola é importante, pois como Dagmar Meyer (2013)
afirma, Gênero é uma “ferramenta conceitual, política e pedagógica central quando se
pretende colocar em cheque tanto algumas das formas de organização social vigentes quanto
as hierarquias e desigualdades delas decorrentes” (MEYER, 2013, p.12-13). O educador então
deveria partir do princípio que nada é natural, ou seja, toda verdade é parcial e provisória,
assim, ele deveria mudar os focos dos processos de ensino-aprendizagem vigentes, invés de
dar respostas, como também elaborar perguntas, tirando os alunos da certeza e os colocando
na dúvida. Todas as certezas, então, podem e devem ser questionadas sem que isso signifique
paralisar o pensamento, muito pelo contrário, tais questionamentos são uma fonte de energia
intelectual e política, extremamente importante na educação.
Judith Butler (1999 apud LOURO, 2013) diz que essas diferenças de gênero e
sexualidade são, não apenas uma função de diferenças materiais, mas também,
simultaneamente, marcadas e formadas por práticas discursivas. Essas práticas traduzem-se,
então em hierarquias, que, em muitos momentos são assumidas pelo próprio sujeito. É
necessário, então, que o educador saiba como os discursos que instituem tais diferenças são
produzidos e quais seus efeitos, assim como quem é marcado como diferente, como currículo
e outras instâncias pedagógicas que representam os sujeitos e que possibilidades, destinos e
restrições a sociedade lhes atribui (LOURO, 2013).
4 Ensino de História
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“A Lei nº 11.645/08 altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº
10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir
no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira
e Indígena”. ( BRASIL, Retirado de: <http://portal.mec.gov.br/educacao-quilombola-/323-secretarias-
112877938/orgaos-vinculados-82187207/12989-relacoes-etnico-raciais> . Acesso em 04/12/2017)
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Os PCNs no Brasil são diretrizes elaboradas pelo Ministério da Educação que tem como o principal
objetivo orientar educadores por meio de uma normatização de fatores fundamentais de cada
disciplina escolar da educação básica. Eles atingem tanto a rede pública, como a privada, de ensino.
Seu objetivo é garantir aos estudantes o direito de acesso aos conhecimentos considerados necessários
para o exercício da cidadania. Mesmo não sendo obrigatórios, eles servem como uma referência para
ao professores, coordenadores e diretores, sendo possíveis de se adaptar às características locais.
10
BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Parâmetro
Currículares Nacionais Volume 06: História. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_5a8_historia.pdf> .
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da História oficial. Dessa forma, o debate a respeito das lacunas historiográficas se abre para
uma história social e cultural. Também levam a uma reexaminação das abordagens históricas.
Em vista disso, o ensino de História deve ser um processo de tomada de uma consciência que
nos conduza a um novo estágio de conhecimento crítico sobre a sociedade e sobre nós
mesmos. Os estudos das relações de gênero acabam por colocar em cena diversos conceitos
que são essenciais para o conhecimento histórico, ou seja, estudar gênero é um dos caminhos
para a reflexão das pluralidades.
Este ensino deve ser feito de uma maneira que os estudantes recebam elementos
suficientes para o olhar de gênero, isto é, perceber como o masculino e o feminino são
representados e como a sociedade se organiza a partir de tais organizações. Falar de gênero na
disciplina de história é
capacitar os estudantes para perceber a historicidade de concepções,
mentalidades, práticas e formas de relações sociais é justamente uma das
principais funções das aulas de história. Ao observar que as ideias a respeito
do que é “ser homem” e “ser mulher”, os papéis considerados femininos e
masculinos ou a condição das mulheres, por exemplo, foram se
transformando ao longo da história (como e por que), os alunos passa a ter
uma visão mais crítica de suas próprias concepções, bem como das regras
sociais e verdades apresentadas como absolutas e definitivas no que diz
respeito às relações de gênero. Também adquirem uma compreensão maior
dos limites e possibilidades dos seres históricos (os estudantes entre eles)
(PINSKY, 2009, p.32-33)
perspectiva da história social e a dos estudos das mulheres, pois estes são os lugares onde
acontece o assentamento do conceito gênero.
Portanto, com a influência dos movimentos feministas e com a incorporação dos temas
de gênero na História Social, há um aprofundamento dos estudos, debates e fundamentações
sobre o campo das relações de gênero. Nesse sentido, pesquisar os materiais usados na prática
de professores e professoras nas aulas de história permite que se compreenda a multiplicidade
de abordagens possíveis de se trabalhar com gênero, mas, mais importante, permite que se
reconheça a quebra de preconceitos, as discussões sobre pluralidade, além de também
compreender o contato, a assimilação sobre a questão de Gênero na formação inicial
(COSTA, 2003, apud ZARBATO, 2015).
Ainda está muito presente na sociedade o processo histórico que legitima as
concepções sobre as normatizações e padrões de comportamento entre homens e mulheres,
que são encontrados, principalmente em forma de estigmas para aqueles que não se encaixam no
modelo patriarcal heteronormativo.
O trabalho em sala de aula sobre as questões de gênero acaba por ultrapassar as prescrições do
currículo formal, ampliando os elementos de análise sobre essas relações que são presentes nas vidas
dos alunos e alunas, suas famílias e seus professores. É no espaço escolar que as crianças e
adolescentes, no papel de alunos, reelaboram suas histórias, com seus desejos mais íntimos
até as atitudes frente aos colegas na escola e na sociedade.
11
BITTENCOURT, 2004, pp. 299
21
O professor de História deve sempre usar o conteúdo de uma forma que o presente e o
passado sejam sempre problematizados. O livro didático, importante instrumento neste
processo, não deve propiciar apenas a memorização com exercício repetitivos, mas sim levar
o aluno a uma reflexão e uma compreensão do assunto que ele trata, recorrendo à varias
fontes de pesquisa, podendo ser elas: fotografias, filmes, propagandas, música, teatro, etc...
Circe Bittencourt (2011) diz que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, instituições
internacionais, principalmente a Unesco, começaram a ter uma maior preocupação com livros
didáticos, com a intenção de incentivar mudanças nas produções escolares, em especial nos
países que se envolveram no conflito. Elas tinham a intenção de ajudar nas transformações
das relações internacionais com o objetivo de promover a paz, promovendo a divulgação de
exemplos históricos de soluções de conflitos por meio de negociações e acordos. Também se
preocupava em evitar, através de suportes educacionais, qualquer manifestação de favorecesse
o despertar de sentimentos de hostilidade entre os povos. Esse interesse por investigações
sobre o livro didático de História a partir da segunda metade do século XX, em especial na
Alemanha relaciona-se com seu potencial de referência política das sociedades, segundo
Verena Garcia (2000 apud BITTENCOURT, 2011) ele é entendido por vários analistas como
verdadeiras autobiografias dos estados-nação. A preocupação com os livros didáticos, então,
foi tornando-se mais constante por parte de especialistas das universidades nos anos 1970 e
1980.
Segundo Choppin (2004) há uma onipresença dos livros didáticos em um nível global,
tendo um forte peso na indústria editorial em diversos países. O livro didático tem uma
multiplicidade de funções, já que ele coexiste com outros tipos de suportes educativos e inclui
diversos agentes em sua vida útil. A literatura escolar, então é uma junção da literatura
religiosa, da literatura didática e da literatura de lazer.
Os livros didáticos acabam assumindo múltiplas funções: a função referencial ( ou
curricular, ou programática), que constitui o suporte privilegiado dos conteúdos educativos; a
função instrumental, que põe em prática métodos específicos de aprendizagem e propõe
exercícios e atividades com objetivos pedagógicos; função ideológica e cultural, que é a
função mais antiga pois é o principal vetor dos valores das classes dominantes sendo um
instrumento de construção de identidades, acabando por ser um símbolo de soberania
nacional; e, por fim, a função documental, que pode oferecer um conjunto de documentos que
podem desenvolver o espírito crítico do aluno, sendo uma função recente na literatura escolar
e ainda não é universal, apenas está presente em ambientes pedagógicos que privilegiam a
autonomia do estudante (CHOPPIN, 2004).
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Os livros didáticos de História são um tema polêmico. Ele ainda é visto como um
instrumento de transferência de ideologia e da perpetuação do ensino tradicional. Mesmo
assim, continuam sendo usados pelas escolas de todo o país, e tem sofrido mudanças
significativas ao longo dos últimos anos. Ainda muito criticados por diversos motivos, como
deficiências de conteúdo, lacunas e erros conceituais ou informativos, Fonseca (2003, apud
MELLO, 2016) afirma que muitos livros didáticos de História não acompanham a produção
de novos conhecimentos da área, ficando presos à indústria editorial, sendo a brasileira uma
das maiores do mundo. Tais críticas se fundamentam na concepção de que seja possível
existir um livro ideal. Porém, segundo Bittencourt (2004), o livro didático possui limites,
vantagens e desvantagens, e é dentro desta lógica que ele deve ser estudado.
Uma das especificidades do livro didático de história está no processo de criação e
cristalização de uma memória, na consolidação de determinados fatos que acabam por ser
considerados fundamentais nas mudanças sociais. Entretanto o livro didático não pode ser
visto como o único responsável por tal sedimentação da memória histórica, na maior parte das
vezes, ele serve como um instrumento de reprodução de uma historiografia que é responsável
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pela produção desta memória e de interpretações que são renovadas – sempre em torno dos
mesmos fatos – que acabam sendo os momentos que explicam todo o processo histórico.
(VESENTINI, apud BITTENCOURT, 2004)
Assim, segundo Bittencourt (2011), os estudos sobre os livros didáticos de História
têm se transformado, sendo possível perceber uma mudança quanto aos preconceitos e
desprestígios de que eles tinham nos anos 1980. Como ele era considerado um objeto limitado
a divulgar uma ideologia das classes dominantes, caracterizava-se por ser uma produção de
segunda classe, que também desprestigiava aqueles que dele se ocupavam (BATISTA, 1999,
apud BITTENCOURT2011). Segundo Flávia Eloisa Caimi (2017), até a década de 1990,
grande parte destas pesquisas se incidiam mais forte em duas principais dimensões de análise,
sendo a primeira o estudo dos conteúdos privilegiados ou ausentes nas obras, e a segunda
tendo um caráter de denúncia da ideologia que estava presente nos livros didáticos, que o
apontavam como um instrumento de poder das camadas dominantes, que tinham como
principal falha priorizar a chamada “história dos vencedores, mantendo ausente a história das
populações subalternas.
Essa visão transformou-se, como atestam as pesquisas e as proliferações de
publicações nacionais e internacionais a respeito do tema. Essas análises têm possibilitado
conhecer com uma maior profundidade a complexidade na qual se reveste este material
didático (mercadoria e depositário de conhecimento curricular, formador de professor...). Tal
compreensão, portanto, oferece elementos que possibilitam a reflexão de sua presença nas
salas de aula.
Flávia Eloisa Caimi (2017), ao tomar o livro didático como objeto de estudo, utiliza o
termo “imperfeições”, que retoma à análise de Mendoza, Piedrahita e Cortez (2009), na qual
livro de textos escolares contém três tipos de imperfeições, as necessárias as inerentes e as
contingentes. As imperfeições necessárias seriam aquelas que, ao respeitarem a liberdade do
professor, permitem que estes tenham uma organização pedagógica própria. As imperfeições
inerentes são, então aquelas que são associadas à própria natureza do material e são sobre a
temporalidade, uma vez que a duração dos acontecimentos pode alterar a pertinência destes
nos livros. Já as imperfeições contingentes são àquelas que dizem respeito às condições
materiais e editoriais, na qual o livro precisa ser atrativo e consumido, precisando atender às
políticas educativas do Estado como também às expectativas da sociedade. Sendo assim,
compreender o livro didático com suas especificidades é essencial para a análise das
repercussões de uma política nacional de avaliação.
24
decisórios, pois a decisão acaba sendo realizada a partir da análise dos livros que são
fornecidos pelas editoras nas escolas, que acaba conferindo vantagem às grandes editoras, que
tem condições financeiras de enviar os livros. Os professores acabam preferindo avaliar os
livros em mãos à ler as resenhas disponibilizadas. E, dentro destas escolhas realizadas pelos
professores os elementos que mais influenciam nesta decisão são: a adequação e consonância
da obra didática com a realidade de seus alunos e com o projeto pedagógico da escola, a
presença de temas relacionados ao cotidiano, a estrutura dos livros e a lógica de conteúdos
que não fujam de certo padrão próximo daquele que os professores tem mais intimidade, os
conteúdos bem estruturados e organizados, linguagem clara e acessível par o professor e os
alunos, presença de atividades e práticas de exercícios adequados à faixa etária dos alunos, e,
por último, um projeto gráfico editorial que tenha boas imagens e ilustrações. 15
16
As obras didáticas de Sociologia, Filosofia e Arte deveriam ser organizadas em volumes únicos
abrangendo os três anos.
29
17
No momento é aluno do programa de doutorado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Tem experiência. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em História Política e Sociedade.
18
Formado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986), mestre em História
Social pela Universidade de São Paulo (1993) e doutor em História Social também pela USP (2000).
Professor de História Medieval do Departamento de História da Universidade de São Paulo.
19
Graduado em História (1985), mestre (1991), doutor (1995) e livre docente (2010) em História
Social pela Universidade de São Paulo. Deu aula no Departamento de História da PUC-SP entre 1987
e 1998 e, desde 1999, é professor no Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).
20
Mestre em História Social. Atualmente desenvolve projetos de capacitação de professores da rede pública de
ensino na área de história e cultura africana e afro-brasileira.
30
dicas de livros para aprofundar os assuntos (também não estudado no trabalho); Mãos à obra,
que contém questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e de vestibulares.
A respeito da temática gênero presente na coleção, a resenha presente no Guia do
PNLD 2018 apresenta os seguintes trechos:
Na formação cidadã, abarca-se a discussão sobre relações de gênero e étnico-
raciais, na perspectiva de questionamento dos discursos de intolerância e na
afirmação da diversidade cultural. [...] Nota-se o cuidado na abordagem do
papel das mulheres em diferentes contextos históricos, das questões de gênero
e das transformações na família. [...] (BRASIL, 2017, p. 80)
4.2 A análise
Os dois primeiros volumes têm como a primeira temática a história das sociedades
ágrafas, que são apresentadas no Capítulo 1: Surgimento dos seres humanos de Oficina de
História 1, nos subcapítulos África: o surgimento dos seres humanos e A revolução Neolítica,
e na unidade 1: Técnicas, Tecnologia e vida social, de História, Sociedade e Cidadania, no
capítulo 2 A Aventura humana: os primeiros tempos. Os dois livros mostram o papel social
33
das mulheres em tais sociedades – sua responsabilidade era coleta de alimentos e cuidado dos
filhos -, no primeiro livro há um tópico apenas para tratar a divisão sexual do trabalho 21,
mostrando que, com o desenvolvimento da agricultura, junto a caça e à violência,
contribuíram para a autoridade masculina e o controle sobre as mulheres, como também há
uma valorização das atividades masculinas em relação às femininas, tal texto é importante
para mostrar ao aluno que a divisão sexual do trabalho foi algo construído socialmente, e não
faz parte da natureza do ser humano. No segundo livro, Boulos Junior chama a atenção para a
hipótese de que foram as mulheres que descobriram a agricultura a partir da observação dos
pássaros, também importante para que os alunos percebam que as mulheres têm papeis sociais
ativos e são responsáveis pelo desenvolvimento social e cultural da humanidade. 22
Os dois
livros citam Luzia quando citam a arqueologia no Brasil.23
No capítulo 3 Mesopotâmia, parte da Unidade 2 Cidades: passado e presente de
História: Sociedade e Cidadania, as mulheres são apenas citadas quando as leis do código de
Hamurabi24 são descritas, dentro dessas as normas sobre casamento e a assistência às viúvas,
no sentido social apenas isso. No âmbito religioso, duas deusas – Ishtar e Nammu – são
citadas quando a religião mesopotâmia é apresentada 25. No livro Oficina de História não há
nenhum indício de mulheres no subcapítulo que se refere à Mesopotâmia.
A respeito dos povos africanos, que aparecem no subcapitulo Os povos Africanos da
unidade 1 de Oficina de História e no capítulo 4 África Antiga: Egito e Núbia de História:
Sociedade e Cidadania, o papel das Candaces é apresentado nos dois livros, porém ele é mais
desenvolvido no livro de Boulos, que, não apenas explica quais seus papeis, mas desenvolve
todo um tópico a respeito dessas rainhas mães. É nesse livro que o capitulo é iniciado com um
texto e uma imagem a respeito da mulher faraó Hatechepsut, que não é citada em Oficina da
História. Porém, é neste livro que, no quadro Engenho e Arte, que tem a proposta de ser uma
leitura complementar do Capítulo, tem um texto sobre relações de gênero retirado da obra
História das relações de gênero de Peter Stearns.26
O capítulo 2, do livro Oficina de História, A Grécia Antiga, trata da Antiguidade
grega, os autores tratam das mulheres espartanas em dois momentos, o primeiro, dentro do
quadro Estrutura política e social de Esparta (século VII a.C.),27 que tem diversos aspectos da
21
CAMPOS; PINTO; CLARO. 2016. V. 1, p. 25
22
BOULOS JUNIOR. 2016. V. 1, p. 35
23
Op. Cit. p. 39.
24
Op. Cit. p. 53
25
Op. Cit. p. 59
26
Op. Cit. p. 57
27
Op. Cit. p. 74
34
28
Op. Cit. p. 76
29
Op. Cit. p. 123
30
Op. Cit. p. 134
31
Op. Cit. p. 145
32
Op. Cit. p. 152-153
35
cristã Clotilde, do reino da Burgúndia, é lembrada quando o autor narra a história do reino
franco, quando o rei franco se casou com ela 37. Na página 186, sobre as relações de suserania
e vassalagem, a respeito do casamento da filha do suserano. Quando a Guerra dos Cem Anos
é narrada, a figura de Joana D’Arc é lembrada de forma justa, junto a uma breve biografia da
personagem.38 De volta ao livro Oficina de História, a respeito da vida nas cidades, se fala
que a única forma dos mercadores ricos terem acesso à nobreza é a partir do casamento, com
nobres de famílias falidas.39
O Islamismo é tratado no subcapítulo “O Islã”, pertencente ao capítulo 4, do livro
Oficina de História e no capítulo 11 Civilização árabe-mulçumana da Unidade 4 Diversidade
Religiosa: o respeito à diferença. No segundo, o capítulo se inicia com um texto sobre a
polêmica do uso da hijab na Europa atualmente, junto a uma foto de duas mulheres usando o
véu religioso em um mercado na Itália40. Tais fotografias são relevantes para que se
compreenda a importância, nos dias de hoje, do estudo do surgimento da religião e das
populações islâmicas no período da Alta Idade média. No mesmo livro, na página 207, a
mulher de Maomé, Cadija, é citada quando é narrada a biografia do profeta. Nos dois livros,
Fátima, filha de Maomé é citada, na página 132 de Oficina de História, quando os fatimidas
são descritos, e na página 210 de História: Sociedade e Cidadania, quando fala sobre a morte
de Ali, seu marido e quarto Califa. Em Oficina de História o quadro “Um outro olhar:
Literatura” apresenta o texto “As mil e uma noites e a Questão feminina” de Adélia Bezerra
Meneses, que mostra a força das mulheres na obra milenar. 41
Os dois livros têm sessões separadas para a História da África, no subcapítulo 5.2
Visões do Paraíso de Oficina de História, no tópico África: as sociedades urbanas, quando
os autores falam sobre as cidades das florestas, deixam bastante claro a presença das mulheres
nos mercados no seguinte trecho: “E seus mercados se distinguiam pelo grande número de
mulheres, às quais era reservada a venda de produtos” (Ibidem, p. 163). Em História:
Sociedade e Cidadania, no capítulo 12, Formações políticas africanas, quando o autor fala
sobre o império de Gana, fala a respeito da particularidade da sucessão matrilinear 42
deste
império. Sobre o reino do Congo, o papel social das mulheres é bem descrito quando o autor
37
Op. Cit. p. 180
38
Op. Cit. p. 200
39
Op. Cit. p. 153
40
Op. Cit. p. 205
41
Op. Cit. p. 134
42
Op. Cit. p. 221
37
fala sobre a responsabilidade das mulheres por todos os processos da agricultura e também da
pecuária.43
Sobre o período da Formação dos Estados Nacionais é importante dizer que no livro
Oficina de História, o tema é dividido, no subcapítulo 5.3, Entre o mundo medieval e o início
da Idade Moderna, e no capítulo 9 Antigo Regime e as monarquias absolutistas, no
subcapítulo 9.3 O absolutismo na Inglaterra enquanto em História: Sociedade e Cidadania
ele aparece reunido no capítulo 13 Tempos de reis poderosos e impérios extensos. Quando
Boulos Junior fala da Formação da França, Joana D’Arc não é esquecida dentro do tópico
sobre a Guerra dos Cem Anos, onde ela aparece junto a uma biografia e sobre a realização de
seus feitos durante a guerra44. A partir da narrativa da perseguição, feita pelos reis em cima
dos camponeses, à prática de feitiçaria é sobretudo nas mulheres – no livro, se encontra nesta
parte uma imagem datada do século XVIII, de John Ashton de uma mulher acusada de
feitiçaria que deveria provar sua inocência. A Rainha Catarina de Médici também é lembrada
quando a noite de São Bartolomeu é narrada 45. A rainha espanhola Isabel é citada em dois
momentos, o primeiro, na página 252, sobre a formação da Espanha e seu casamento com
Fernando – onde também se encontra uma imagem dos reis datada do século XVI – e no
segundo momento, brevemente a respeito das navegações espanholas, na página 257. No livro
Oficina de História não há lembranças a respeito nem de Joana D’Arc, nem da rainha Isabel.
Sobre as representações de rainhas inglesas, a que mais ganha destaque é a rainha
Elizabeth I, tanto que seu Retrato da Armada de 1588 é o que inicia as discussões sobre o
absolutismo no capítulo 13 de História: Sociedade e Cidadania, mas ela não é a única. No
tópico sobre o anglicanismo, do capítulo 9 de Oficina de História, a primeira esposa de
Henrique VIII, Catarina de Aragão, é citada durante a narrativa do rompimento da coroa
inglesa com a Igreja católica, junto a ela, Jane Seymour, a única esposa do rei que teve um
filho homem, Maria I, filha mais velha de Henrique VIII, e Ana Bolena, segunda esposa do
rei, também são citadas. 46 Há um tópico, Mulheres no poder, que explica o Ato de Sucessão e
discorre sobre a era Elizabetana47. Elizabeth também ganha destaque na página 249 de
História: Sociedade e Cidadania, quando a Dinastia Tudor é apresentada e, segundo o autor, é
em seu reinado que ocorre a época áurea do absolutismo inglês, em seguida a rainha é
lembrada por incentivar as pilhagens na América, na África e na Ásia, ou seja, à pirataria.
43
Op. Cit. p. 226
44
Op. Cit. p. 244
45
Op. Cit. p. 244
46
Op. Cit. p. 256-266
47
Op. Cit. p. 266
38
Não é apenas na política que as mulheres deste período são lembradas, no tópico Shakespeare
em cena, a personagem Cleópatra, da peça Antônio e Cleópatra, é vista como uma
comparação à rainha Elizabeth, como vemos no trecho “Tal qual a rainha inglesa, ela
(Cleópatra) oferece a perspectiva de um novo papel feminino” (Ibidem, p. 267). Catarina de
Aragão e Ana Bolena também são citadas em História Sociedade e Cidadania, no capítulo 14
Renascimento e Reformas religiosas, na página 279, a respeito da Reforma na Inglaterra.
No subcapitulo A reforma protestante, de Oficina de História, no quadro História e
Arte: Arte e Religiosidade que fala sobre a proibição da devoção de imagens religiosas e o
surgimento de um novo contexto na arte que buscava representar o cotidiano das mulheres da
época, a pintura A leiteira (1658-1660), de Johannes Vermeer, pintor holandês, aparece junto
ao texto, na página 204. O Capítulo 14 de História: Sociedade e Cidadania, Renascimento e
Reforma religiosas coloca as “mulheres tidas como bruxas” (Ibidem, p. 282) como umas das
vítimas da Inquisição.
A América é tratada no Capítulo 6 A conquista do Nova Mundo de Oficina de História
1, enquanto ele aparece no livro destinado ao segundo ano de História: Sociedade e
Cidadania, na unidade 1, Nós e os outros: a questão do etnocentrismo. A América antes da
chegada dos europeus é tratada no segundo tópico do Capitulo 6, Os negros da terra, onde a
mulher aparece dentro do tópico Os incas, na página 190, mas são apenas lembradas como
esposas do Inca. A mulher aparece em maior frequência no Capítulo 1, América indígena,
mas em fotos que representam a “jovem asteca”, a “mulher inca” e a “Menina caiapó”, na
página 12, que, entretanto, são imagens recentes e não representações das mesmas na época
do encontro com os europeus. No quadro Para Refletir, há uma imagem de “Mulher Inca
falante do Idioma quíchua” (ibidem, p.21). Por último, na Figura 3 da página 25, há uma
mulher Kalapalo que está preparando beiju, na Aldeia Aiha, no parque Xingu. Percebe-se,
então, que as indígenas americanas no livro de Boulos Junior não aparecem no texto corrido
da matéria, apenas ao serem representadas em fotos recentes, ajudando a aproximação da
temática ao tempo presente.
Entrando na temática de América colonial, no subcapitulo 2, Visões dos
conquistadores, do capítulo 7, O Velho e o Novo Mundo sob a cruz e a espada, de Oficina de
História se encontra o quadro História e Biologia: Índios perderam a guerra bacteriológica,
que tem o seguinte trecho:
Assim, no século XVI, a representação da morte passou a ser associada ao erotismo
das pinturas dos retábulos das igrejas: o tradicional esqueleto com uma foice foi
substituído por uma jovem mulher, bela, diáfana, encarregada de levar os homens para
o outro mundo. (ibidem, p.209)
39
55
Op. Cit. p. 117
56
Op. Cit. p. 119
57
Op. Cit. p.43
41
aluno possa acessar e saber mais a respeito dela. 58 No mesmo subcapítulo, Catarina de
Bragança, filha de D, João IV, é citada pois o dote de seu casamento com Carlos II, da
Inglaterra forma as Antilhas59. Dona Joana, rainha de Portugal e mulher de D. João III, é
lembrada quando o movimento do Sebastianismo é narrado.60 Não há nada a respeito dessas
personagens no livro História, Sociedade e Cidadania, pois nenhum destes temas é tratado no
livro.
O iluminismo é tratado no subcapítulo 2, O Iluminismo, parte do Capítulo 2, Nem tudo
que reluz é ouro, de Oficina de História, onde os autores colocaram tópicos específicos sobre
as mulheres: As mulheres e o Feminismo, que mostra que as mulheres participavam dos cafés
e salões onde as ideias iluministas eram debatidas, os pensadores da época que eram contra e
a favor sua presença também são citados pelos autores (Rousseau, que era contra, defendia a
estrutura patriarcal da sociedade, enquanto Kant associava as mulheres à atividades fúteis. Já
David Humme e Jeremy Bentham eram favoráveis à presença e aos direitos das mulheres). O
tópico Os direitos das mulheres, apresenta o livro Uma reivindicação dos Direitos da Mulher
(1792), da inglesa Mary Wollstonecraft, e suas principais ideias, como também apresenta a
pensadora francesa Olympe de Gouges (Marie Gouze), que escreveu Declaração dos Direitos
da mulher e da cidadã e frequentava a Associação pela Luta e Igualdade de Direitos Políticos
para as mulheres que aconteciam na casa de Sophie Condorcet. Olympe acabou sendo
condenada e morta pelo tribunal revolucionário, e dois anos depois de sua morte, as mulheres
foram confinadas ao espaço doméstico e proibidas de redigir manifestos, protestar e participar
de clubes políticos61. Dentro deste mesmo subcapítulo, no tópico A extinção da Companhia
de Jesus, Dona Maria I, de Portugal é lembrada pois foi durante seu reinado que os setores
conservadores realizaram a Viradeira. 62
As mulheres têm um espaço significativo nos capítulos sobre Revolução Francesa dos
dois livros. Em Oficina de História, no subcapítulo A Revolução Francesa, que está no
capítulo 3, Na velocidade das luzes, no qual há o quadro História e Literatura
contextualizando a história da Chapeuzinho Vermelho, que apesar de ser uma personagem
fictícia pode dar várias indicações de como eram as mulheres naquela época. Também há um
quadro com o título Esquerda, Centro e Direita mostrando que a esquerda na cultura judaico-
cristã é vista como algo inferior e “Eva saiu da costela esquerda, na Idade Média o lado
58
Op. Cit. p. 46-47
59
Op. Cit. p.50
60
Op. Cit. p.51
61
Op. Cit. p.75
62
Op. Cit. p. 81
42
esquerdo, que era feminino por excelência, era tido como imagem satânica em oposição ao
lado direito, considerado divino” (ibidem, p.99). Há um tópico (Mulheres na Revolução) e um
quadro (Mulheres revolucionárias) que discute a grande participação das mulheres na
Revolução Francesa, mas que, apesar de terem conquistado espaço na vida social, não tiveram
reconhecimento de seus direitos como cidadãs e profissionais.63 Por fim, há o quadro Análise
de Imagem que analisa os detalhes da pintura Consagração do imperador Napoleão e
coroação da imperatriz Josefina, inclusive os aspectos que diz a respeito da imperatriz. 64Em
História: Sociedade e Cidadania, no capítulo 8, A Revolução Francesa e a Era Napoleônica,
as mulheres aparecem primeiro no quadro Para Refletir, que apresenta um texto, uma imagem
e traz questões para os alunos, o texto fala sobre quando as mulheres foram a Versalhes para
levar o rei à Paris, para resolver o problema de abastecimento de comida na capital francesa, o
texto apresenta um relato da época, e as duas questões buscam o aluno refletis na participação
feminina na Revolução e em como as mulheres eram vistas na França do século XVIII 65. A
Girondina Charlotte Corday é lembrada, na página 163, por ter assassinado o líder dos sans-
culottes, Jean-Paul Marat.
As mulheres não aparecem com nenhum destaque dentro da temática da Revolução
Industrial em Oficina de História 2, mas em História: Sociedade e Cidadania, no capítulo 6, a
Rainha Elizabeth I é, mais uma vez lembrada, quando se fala sobre o acumulo de capitais que
se deu a partir de seu governo. 66 Sobre a vida dos trabalhadores no início da industrialização é
dito que havia um uso intenso do trabalho feminino pois estas ganhavam bem menos que um
homem67. Sobre algumas das conquistas das lutas dos trabalhadores, na página 130, no ano de
1842 há a proibição do trabalho infantil e feminino nas minas. No Volume 3 da coleção de
Boulos, no primeiro capítulo, Industrialização e Imperialismo, quando a Lei dos Pobres, da
Inglaterra há o seguinte trecho: “Lá os maridos eram separados das esposas e desencorajados
a ter filhos; homens e mulheres eram submetidos a uma rotina de trabalho extenuante, em
troca de comida.” (BOULOS, 2016, v.3, p.14)
No subcapítulo Conspirações e revoltas na América portuguesa, pertencente ao
Capítulo 4, O Diabo ronda as Colônias, D. Maria I, é citada por ter sido a Rainha de Portugal
durante a Inconfidência Mineira. Já o livro de Boulos Junior, no capítulo 5, Expansão e ouro
na América Portuguesa, há uma figura da obra Negras vendedoras de Carlos Julião68, c. 1776,
63
Op. Cit. p.105
64
Op. Cit. p.108
65
Op. Cit. p. 163
66
Op. Cit. p. 125
67
Op. Cit. p.128
68
Op. Cit. p. 104
43
com um texto sobre as negras do tabuleiro. Francisca da Silva, ou Chica da Silva, como é
conhecida, é citada na página 105, que fala sobre seu casamento com João Fernandes.
No subcapítulo 4.2, As independências na América espanhola, de Oficina de História,
há um quadro com o título Mulheres na Política que apresenta Policarpa Salavarrieta, a Pola,
e seu papel na independência da Colômbia junto a uma pintura sua (Policarpa Salavarrieta,
marcha para o suplício, c.1825). 69
No Quadro Análise da Pintura, que analisa a pintura
Simón Bolívar, libertador e pai da nação, (1819), a figura da mulher no quadro é analisada no
seguinte trecho: “A jovem República é representada como uma indígena de cocar de penas,
carregando arco e flechas. Seus traços são de uma mestiça e os trajes (pérolas, jóias e vestido),
de uma europeia.” (ibidem, p. 143). Em História: Sociedade e Cidadania, no capítulo 9,
Independências: Haiti e América Espanhola, na página 185 há o quadro Para Saber Mais,
que apresenta a biografia de Simón Bolívar, no qual duas mulheres são citadas: Maria Tereza
Del Toro, primeira esposa de Bolívar, e Manuela Saénz, que salvou a vida do
“revolucionário” e foi sua última companheira, também é apresentado um retrato de Manuela,
datado de 1820, com a legenda: “Ela lutou ao lado de Bolívar pela independência na América
espanhola, Hoje é vista por muitos latinos americanos como uma das heroínas dos
movimentos independentistas na América” (ibidem, p.185).
No subcapítulo 4.3, A independência do Brasil, de Oficina de História, a única mulher
citada é D. Maria I, que aparece no texto corrido em dois momentos, um primeiro, na página
145, sobre a vinda da família real para o Brasil e sobre a regência de D. João VI devido a
doença mental da mãe, e em um segundo momento, na página seguinte, sobre a sua morte e a
coroação de seu filho. D. Maria também aparece em dois momentos no Capítulo 10,
Emancipação Política do Brasil, de História: Sociedade e Cidadania, primeiro como a
sucessora de D. José I, no tópico sobre a administração de Pombal, e segundo, no tópico sobre
a vinda da família real portuguesa, como a mãe de D. João, “que assumira a regência em
razão da doença de sua mãe(...)” (ibidem, p.200).
Oficina de História utiliza muitas imagens femininas ao tratar do conceito de Nação e
nacionalismo no subcapítulo A nação como novidade que se encontra no capítulo 5, Nações,
Nacionalismo e Internacionalismo. Primeiro há a pintura A liberdade guiando o povo (1830),
do qual a liberdade é personificada em uma mulher. A participação das mulheres é citada na
Revolução de 183070, como também é citada na Revolução de 1848, quando Marianne torna-
se o símbolo da Revolução Francesa. Os clubes femininos também são citados, pois entre
69
Op. Cit. p. 142
70
Op. Cit. p. 162
44
apresentada uma pintura com a filha, D. Maria da Glória, que, com a abdicação do trono
português do pai, tornou-se rainha de Portugal74.
Os dois livros falam brevemente da mulher dentro a temática imperialismo, que em
Oficina de História 2, é abordado no capítulo 6, O imperialismo, e em História: Sociedade e
Cidadania 3, no capítulo 1, Industrialização e Imperialismo. No primeiro há apenas uma
pintura (Lady Cruzon, de William Logsdail, óleo sobre tela, de 1873), dentro do quadro O
luxo da Belle Époque75. No segundo, a rainha Vitória aparece no tópico sobre a partilha da
Ásia, pois ela foi proclamada imperatriz da Índia.76
Os capítulos 7, A Costura da ordem republicana no Brasil, e Capitulo 13,
Modernização, mão de obra e guerra no segundo reinado e Capítulo 14, Abolição e
República, respectivamente dos livros Oficina de História e os dois últimos de História:
Sociedade e Cidadania, falam sobre o Brasil do século XIX. No capítulo 13, o quadro La
Paragaya, de 1880, encontrado na página 263, mostra uma mulher em meio a toda a
devastação da guerra do Paraguai, e em sua legenda há uma sinalização para os alunos
perceberem a ausência de homens na pintura. No capítulo 14, Luiza Mahin é citada na
legenda da foto de Luiz Gama77, como sua mãe, já na página 272, há uma foto de “Senhoras
vendendo frutas e legumes nas ruas em Rio Grande (RS), c. 1910. (...)” (ibidem, p.272).
Princesa Isabel é lembrada como a governanta na época da assinatura da Lei Aurea, depois de
forte pressão popular78. Ao expor a vida dos recém-libertos, a casa de Tia Ciata é lembrada
como o local onde consideram que o samba nasceu79. Tia Perciliana, outra baiana da Cidade
Nova, é lembrada no quadro Para saber mais sobre João da Baiana.80 Na charge encontrada
na página 280, as figuras femininas representam os estados da República. As escravas são
brevemente lembradas no papel de mães tanto no capítulo 14 81quanto no capítulo 782, quando
a lei do ventre é exposta. No subcapítulo 7.1, O império do café e a República, há um trecho
sobre o Baile da Ilha Fiscal: “no volumoso lixo deixado após a festa, foram encontradas
muitas peças intimas, de homens e mulheres, demonstrando que o encontro não fora lá muito
decente” (ibidem, p. 230). E por fim, há um Quadro Um outro olhar: Literatura com um
74
Op. Cit. p.221
75
Op. Cit. p.196
76
BOULOS JUNIOR, 2016, v.3, p. 23
77
Op. Cit. p.269
78
Op. Cit. p.272
79
Op. Cit. p.273
80
Op. Cit. p.273
81
Op. Cit. p.270
82
Op. Cit. p.222
46
trecho do livro Iracema de José de Alencar e a pintura homônima ao livro, de José Maria de
Medeiros, datada de 1881.83
Maria Bonita é retratada nas duas coleções. Primeiro no subcapitulo As Armas da fé,
pertencente ao capítulo 8, Fora da Ordem Brasileira de Oficina de História 2, através das
Fotos Lampião e Maria Bonita e Lampião, Maria Bonita e seu bando, as duas do fotógrafo
Benjamin Abraão e do ano de 1936.84 E em História: Sociedade e cidadania 3, ela aparece no
tópico Cangaceiros e cangaço, do Capítulo 3, Primeira Republica: dominação e resistência,
em uma foto de c.1930 com a legenda: “Na fotografia de c. 1930, Maria Bonita e Lampião.
Com o ingresso de Maria Bonita no bando, quebrou-se o costume antigo de os bandos de
cangaceiros serem formados apenas por homens. (...)” (BOULOS, 2016, v. 3, p.65). Neste
mesmo capítulo, no tópico Industrias e urbanização na Primeira República, há uma Foto de
Operários de Cotonifício Rodolfo Crespi, na cidade de São Paulo em 1917, com uma
presença significativa de mulheres (e crianças).85 No tópico sobre o movimento operário é
uma foto de mulheres trabalhando em uma fábrica de sapatos em São Paulo 86. Quando o autor
explica o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, aponta que um dos objetivos decidido era a
regulamentação do trabalho feminino e sobre a greve de 1917, uma das conquistas descritas é
o fim do trabalho noturno para mulheres. 87 Ainda neste período histórico, no subcapítulo A
Classe operária vai ao Paraíso? de Oficina de História, no tópico a respeito do carnaval elas
são brevemente citadas, juntos ais homens, na página 264.
O terceiro volume de Oficina de História se inicia com o Capítulo Guerra e
Revolução, dentro da temática da Primeira Guerra Mundial, os autores colocam um trecho do
depoimento da enfermeira inglesa, Florence Farmborough, que descreve o horror da guerra,
retirado do livro A beleza da Dor: uma história íntima da Primeira Guerra Mundial. 88
E
sobre os massacres ocorridos no meio da guerra, há o seguinte trecho: “Os homens eram
eliminados, as mulheres violentadas e deportadas, os idosos e as crianças” (CAMPOS;
PINTO; CLARO; 2016, v.3, p.26). A Primeira Guerra é tratada no Capítulo 2, de História:
Sociedade e Cidadania 3, chamado A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, há uma
fotografia datada de 1918 – ano final da guerra-, que mostra apenas mulheres trabalhando em
uma fábrica de munição, junto a um texto sobre a substituição dos homens pelas mulheres em
83
Op. Cit. p.233
84
Op. Cit. p.252
85
Op. Cit. p.65
86
Op. Cit. p.68
87
Op. Cit. p.69
88
CAMPOS; PINTO; CLARO; 2016, v.3, p. 26
47
trabalhos, não apenas nas fábricas, mas em outros serviços89. A esposa do arquiduque
Francisco Ferdinando é citada na descrição de seu assassinato 90. O papel do feminino é
novamente lembrado no quadro Para saber mais, com o título A mulher na Guerra, junto a
duas fotos, com a legenda: “Acima, uma operária, devidamente equipada, usa maçarico para
realizar um trabalho de solda. Ao lado, mulheres britânicas voluntárias posam junto de suas
ambulâncias na França. As duas fotos foram tiradas durante a Primeira Guerra Mundial”
(Ibidem, p.34).
No mesmo capítulo, em História: Sociedade e Cidadania 3, na página 38, há uma
fotografia da família real russa na Inglaterra junto a Rainha Vitória, além da rainha inglesa, na
foto também está Alexandra Fyodorovna e sua filha Olga 91. Na legenda foto também se
destaca a relação de parentesco entre a Rainha e a czarina. Na página 42, as mulheres não são
esquecidas como integrantes de uma passeata em fevereiro de 1917. No quadro Dialogando o
autor faz questão de mostrar o importante papel das mulheres na Revolução Russa, com um
questionamento do porquê os livros muitas vezes as esquecem, também há uma foto com a
legenda “mulheres em uma manifestação em São Petersburgo, Rússia, 1917” (ibidem, p.43).
Em Oficina de História 3, as mulheres aparecem nas páginas 34 e 35 do subcapítulo 1.2, A
Revolução Socialista da Rússia, no Quadro História e Literatura que tem uma foto, de 1917,
com homens e mulheres que acompanham soldados que aderiram à causa bolchevique. No
tópico Divergências e disputas: Crítica da União Soviética, um trecho de A Revolução Russa,
de Rosa Luxemburgo é apresentada.
Na temática da Revolução Mexicana as mulheres aparecem como sujeitas históricas
apenas no livro Oficina de História 3, no quadro “As mulheres revolucionárias” junto à
pintura Do Porfirismo à Revolução: O povo pega em armas.92 Na primeira vez que o livro
fala sobre a história da África, no subcapítulo 4, África: o colonialismo e suas estruturas, é
apresentado um cartaz de propaganda de 1931, A Grande França, na página 45, no qual três
mulheres estão representando três territórios: norte da África, Ásia e África Subsaariana. O
segundo capítulo de Oficina de História 3, O Destino bate à sua porta, é iniciado com um
texto a respeito da semana de arte moderna de 1922, que descreve o quadro Abapuru, de
Tarsila do Amaral, assim como cita Anita Malfati como uma das artistas que fizeram parte do
movimento artístico93. No segundo subcapítulo, A crise de 1929: dos Estados Unidos ao
89
Op. Cit. p.29
90
Op. Cit. p.32
91
Também há a presença do czar russo Nicolau II e o príncipe de Gales, Eduardo, marido da rainha
Vitória.
92
Op. Cit. p.42
93
Op. Cit. p.53
48
assembleia Constituinte em maio de 1933, ilustra essa discussão. No quadro Para saber
97
mais sobre Feminismo na Primeira República com um texto de Rachel Soihet sobre Bertha
Lutz, a emancipação feminina e a Constituição de 34. No tópico a respeito da Constituição de
1934, o voto feminino é novamente citado, mostrando a importância que o autor tenta mostrar
para as conquistas do movimento sufragista da época. A comunista Olga Benário é lembrada
pelos dois livros, estando no capítulo 6 de História: Sociedade e Cidadania, no tópico sobre o
levante comunista de 1935 e representada no Cartaz do longa-metragem Olga. Em Oficina de
História, ela já aparece no segundo subcapitulo, A Moldura autoritária, no tópico sobre
radicalização na política, junto ao Quadro Olga Benário e Anita Leocádia Prestes, na página
85. No terceiro subcapítulo, A moldura operária, no tópico a respeito dos direitos trabalhistas,
quando foi conquistada a licença para mulheres gestantes. 98
E no tópico Legitimação e
Propaganda, Carmem Miranda é citada como uma das cantoras que cantavam no programa
de rádio A Hora do Brasil. Em Oficina de História, a era Vargas é novamente citada no
segundo subcapítulo do capítulo 5, O Fim do Estado Novo, onde Marlene e Emilinha Borba
são citadas junto a outras celebridades da época, 99
O Capítulo 4, A Segunda Guerra Mundial, cita mulheres em seu segundo subcapítulo,
A Guerra, nos tópicos A Nova Ordem e O Holocausto. No primeiro as mulheres aparecem no
seguinte trecho: “As SS organizavam frequentes invasões a domicílios; ocorriam estupros de
mulheres e espancamentos de homens” (ibidem, p.111), e no segundo, na página 116, como
um dos grupos colocados nos campos de concentração estão os homossexuais. 100 O Capítulo
5, A Segunda Guerra Mundial, apresenta uma fotografia de mulheres republicanas na luta
contra o fascismo, no cerco ao Álcazar de Toledo, em 1936, na página 96. A mulher de Hitler,
Eva Baun, é citada quando é falado sobre o suicídio do casal 101, e, novamente, apresenta uma
fotografia com a legenda:
Famílias judias acossadas por soldados nazistas no Gueto de Varsóvia, na
Polônia, em maio de 1943. Após uma revolta em que 20 soldados alemães
foram mortos, as tropas nazistas eliminaram 15 mil judeus e levaram os
sobreviventes para o campo de concentração (Ibidem, p.104)
97
Op. Cit. p. 82
98
Op. Cit. p. 88
99
Op. Cit. p.135
100
O termo homossexual pode incluir tanto homens e mulheres, sabe-se que mulheres bissexuais e
lésbicas foram tanto vítimas do holocausto quanto homens gays. Por isso o termo é importante para a
pesquisa.
101
Op. Cit. p. 103
50
102
Op. Cit. p. 128
103
Op. Cit. p. 139
104
Op. Cit. p. 142
105
Op. Cit. p. 153
51
106
Op. Cit. p.183
107
Op. Cit. p.192
108
Op. Cit. p. 194
109
Op. Cit. p. 198
110
Op. Cit. p. 171
111
Op. Cit. p. 178
112
Op. Cit. p.184
52
113
Op. Cit. p.167
114
Op. Cit. p.166
115
Op. Cit. p.168
116
Op. Cit. p.188
117
Op. Cit. p. 189
118
Op. Cit. p. 214
119
Op. Cit. p..196
53
discutir a História junto aos saberes da Biologia, e discute a pílula anticoncepcional através de
um texto e questões sobre o desenvolvimento da pílula nos anos 50 e 60 do século XX.
Katherine MacKormick é citada por ter sido uma das financiadoras da pesquisa para o
desenvolvimento da pílula, o trecho a seguir proporciona uma ideia de como a vida sexual da
mulher era percebida na época: “a primeira visita ao ginecologista e a prescrição da pílula
marcam, em geral, para uma jovem, o começo da vida sexual” (ibidem, p.201)
O Capítulo 8, A esperança equilibrada, se inicia com a foto da Manifestação das
mulheres por eleições diretas, no Congresso Nacional tirada no ano de 1984. 120 E em seu
primeiro subcapítulo, Brazilian way of life, há um quadro sobre Cultura e alienação, na página
212, de jovens mulheres fazendo compras na rua Augusta, em São Paulo, tirada em 1973. Em
outro quadro, Argentina e Perón, Maria Estela Martinez, conhecida como Isabelita, é citada
como a presidente – cargo que assumiu após a morte do marido, Juan Domingos Perón, - que
sofreu o golpe militar.121 Cristina Kirchner é citada na página 221 como presidente da
Argentina, que ficou no cargo por dois mandados, tendo sido presidente depois de seu marido.
Mais à frente há um outro quadro sobre as Mães da praça de maio, junto a uma fotografia de
nome hormônio, tirada em 1981. 122
No segundo subcapítulo, O crepúsculo dos Deuses, sobre o processo de
redemocratização, a deputada federal Bete Mendes é citada ao lado de Aírton Soares e
Lysâneas Maciel, como não obediente ao PT123 (que havia determinado o não
comparecimento de seus deputados), e ter votado na chapa de transição democrática. No
subcapítulo seguinte, No Horizonte do Brasil, a ministra da economia, Zélia Cardoso de
Mello, e a esposa do ministro do trabalho, que foi flagrada usando o carro oficial do ministro
levando a sua cachorra ao veterinário, são citadas no tópico sobre o Ministério Collor.
A história da África é resgatada novamente no subcapítulo We are the world, de
Oficina de História 3, que ao falar do Apartheid, fala que os casamentos mistos eram
proibidos 124
o mesmo é dito no capítulo 8, Independências: África e Ásia, de História:
sociedade e Cidadania, na página 154. Mas antes disso, no mesmo capítulo, a poesia Mama
Negra, que é ilustrada por uma gravura de uma mulher, feita no século XVI, introduzem o
tema125. Também é apresentada a fotografia 126 de uma mulher saindo de um banheiro “para
120
Op. Cit. p. 212
121
Op. Cit. p. 219
122
Op. Cit. p. 222
123
Partido dos Trabalhadores.
124
Op. Cit. p.239
125
Op. Cit. p. 146
126
A fotografia é de 1970, Soweto.
54
mulheres não europeias”, e segundo a legenda, a partir disso, “conclui-se, portanto, que havia
banheiros destinados ao uso exclusivo dos brancos.” (ibidem, p. 154)
O subcapítulo 1, Admirável Mundo Novo, pertencente ao capítulo 9, A
Globalização de Oficina de História, se inicia com uma discussão sobre literatura, e uma das
autoras citadas é Mary Shelley, que escreveu Frankstein.127 Há um tópico sobre as Políticas
do Corpo, onde as ideias de Simone de Beauvoir sobre a questão do gênero e do sexo são
apresentadas, pois ela dizia que estes não eram uma determinação biológica. Ao desenvolver-
se o texto fala da lei Maria da Penha, e sobre o avanço no quesito dos direitos LGBTs, que
avançam cada vez mais ao longo dos anos. Mas os autores fazem questão de mostrar que,
mesmo com estes avanços na área, ainda há desigualdades sexuais, como podemos ver no
seguinte trecho: “Da mesma forma, a presença de mulheres em postos legislativos, por
exemplo, é desproporcional à sua presença na sociedade brasileira e a média salarial paga às
mulheres ainda é inferior à que é paga aos homens” (Ibidem, p. 253). Para complementar essa
discussão, os autores colocaram a questão do Enem sobre Simone de Beauvoir 128. Os autores
também tratam das transformações nas famílias, sobre o divórcio e o aumento das mães que
criam seus filhos sozinhas, segundo eles, redução da interferência religiosa acabaram
transformando comportamentos sexuais e sociais, assim como as mudanças nos papeis das
mulheres, mães e pais solteiros 129. No tópico sobre a presidência de Barack Obama, Hilary
Clinton130 é citada como sua sucessora na candidatura da presidência dos Estados Unidos.
Michelle Obama também aparece em uma foto ao lado do marido, Obama, após do discurso
de vitória do presidente, em novembro de 2012.131 No tópico Um Mundo em tensão, encontra-
se o seguinte trecho: “O direito à escolha de orientação sexual está presente na legislação de
muitos países, o que não impede que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais sofram
constantes ameaças, perseguições e ataques.” (ibidem, p.258), mostra uma preocupação dos
autores de tratar da temática gênero, porém ao colocar “escolha de orientação sexual” eles
erram, já que uma das grandes defesas do movimento LGBT é de que, não se escolhe,
conscientemente, sua orientação sexual.
O capítulo 12, O fim do Bloco Soviético e a Nova Ordem mundial, de História,
Sociedade e Cidadania 3 é o capítulo onde mais se encontra representações femininas dos
livros analisados. Logo no começo do capítulo, o autor, com a intenção de mostrar a
127
Op. Cit. p. 250
128
Op. Cit. p. 253
129
Op. Cit. p. 254
130
Op. Cit. p..258
131
Op. Cit. p. 258
55
diversidade étnica e cultural da URSS, apresenta quatro fotos de pessoas soviéticas, sendo três
delas de mulheres: uma menina armênia, uma jovem ucraniana e uma jovem siberiana. 132
No
tópico sobre outros países do leste europeu, Helena Ceausescu é citada junto ao seu marido,
na página 235, Nicolau, como ditadores da Romênia. Na mesma página se encontra uma foto
de dois jovens se beijando no dia da abertura do muro de Berlim, em 1989. A respeito dos
conflitos étnicos e religiosos, em busca do desmembramento da Iuguslávia, se encontra o
seguinte trecho: “[...] violentaram meninas mulçumanas de 12-13 anos e as engravidaram,
alegando que era preciso injetar sangue sérvio a população mulçumana” (ibidem, p.237). As
camponesas indianas da região da Caxemira são apresentadas em uma fotografia dentro do
tópico sobre a emergência da Índia. 133
Outra fotografia, agora de palestinos que aguardam a
distribuição de alimentos em um acampamento de refugiados em Amã, tirada em 1955,
mostra apenas mulheres com crianças, que provavelmente são seus filhos. 134
No tópico a
respeito do Irã, a discussão do papel feminino ganha um maior espaço, pois ao falar do
governo Pahlevi, fala sobre a conquista delas ao direito de voto, e, ao falar do governo
Khomeini, podemos encontrar o seguinte trecho sobre a mulher iraniana:
[...]as mulheres passaram a ter que usar o véu, se cobrir da cabeça aos pés
em ambiente público, e foram proibidas de usar maquiagem e pintar as
unhas. A mulher iraniana foi proibida de rir e conversar com o sexo oposto
em público devendo sair à rua acompanhada do pai, irmão ou marido; em
caso de divórcio, não teria direito a nenhum bem material e, em caso de
adultério, seria condenada ao apedrejamento. (...) Em 1997, o moderado
Mohammas Khatami tornou-se presidente, com o apoio dos intelectuais, dos
jovens e das mulheres e buscou modernizar o país, sem, no entanto, alinha-lo
aos Estados Unidos. (ibidem, p.256-257)
Mais à frente, no mesmo capítulo, há uma fotografia de mulheres afegãs, usando a burca, mas
mostrando seus dedos sujos de tinta, prova que votaram nas eleições presidenciais de 2014.
Segundo o autor, essa imagem é um indício de um processo em curso no mundo islâmico, o
crescimento do protagonismo feminino. 135
Ele termina o capítulo falando a respeito das lutas
populares na África do Norte e no Oriente Médio, nas quais um grande número de jovens e
mulheres participaram, sendo uma das motivações a negação de igualdade de direito às
mulheres.136
No subcapítulo 9.2, África: desafios, esperanças e paradoxos, de Oficina de História,
a respeito da ação da indústria farmacêutica na África, os autores narram uma experiência de
132
Op. Cit. p.229
133
Op. Cit. p. 246
134
Op. Cit. p.253
135
Op. Cit. p. 259
136
Op. Cit. p. 261
56
teste de remédio realizado em Camarões, de julho de 2004 a janeiro de 2005, que foram feitos
em 400 prostitutas, que eram voluntárias, mas não sabiam exatamente o que era.137
O subcapítulo 9.3, Lula: para além do bem e do mal, se encontra o nome de algumas
mulheres políticas do país, como a deputada Luciana Genro (RS) e a senadora Heloísa Helena
(AL), que foram citadas quando foram expulsas do PT pelo diretório nacional, após as duas
fazerem duras críticas à política econômica do governo Lula138. Heloísa Helena também
aparece no capítulo 13139, O Brasil e a Nova Ordem Mundial, que a cita como uma das
concorrentes de Lula nas eleições de 2006, sendo a representante do PSOL 140. Dilma Roussef
é bastante citada, por motivos óbvios, pelos dois livros, aparece pela primeira vez em Oficina
de História 3, no tópico Reeleição e Mensalão, onde os autores falam que um número grande
de opositores do Regime militar ganhou cargos de alto escalão, incluindo Dilma, que era
participante da Vanguarda Popular Revolucionária141. No tópico sobre o Governo Dilma, os
autores deixam claro que a popularidade de Lula foi decisiva para a eleição de Dilma, e
realçam a importância da eleição de uma ex-guerrilheira. A candidata Marina, ex-ministra de
Lula também é citada como uma das concorrentes de Dilma. Os autores apontam que “após
um ano de governo, a popularidade de Dilma superava todos os presidentes desde 1992.”
(Ibidem, p. 270) Em História, Sociedade e Cidadania 3, o autor fala que Dilma ganhou as
eleições prometendo dar continuidade aos programas sociais do governo Lula, também é dada
uma descrição de seu governo142. As eleições de 2014, são destacadas nos dois livros, Marina
Silva é novamente citada em Oficina de História 3, agora como vice de Eduardo Campos, que
ocupa seu lugar na candidatura, após sua morte 143. Os dois livros colocam as eleições de 2014
como bastante acirradas, falam sobre os problemas econômicos e os escândalos de corrupção
durante o segundo mandato Dilma, quando houve uma indignação da opinião pública para a
presidente, o Impeachment de Dilma é, então, apontado pelos dois livros como a conclusão de
uma crise política. Em História, Sociedade e Cidadania 3 no quadro Para saber mais há um
texto, O Governo Dilma Roussef: da coalizão à colisão, de Marly Motta, escrito
especialmente para a coleção.
Para finalizar, História, Sociedade e Cidadania aponta seis desafios ainda a serem
vencidos atualmente, sendo um deles a
137
Op. Cit. p. 265
138
Op. Cit. p. 266
139
Op. Cit. p. 277
140
Partido Socialismo e Liberdade.
141
Op. Cit. p. 268
142
Op. Cit. p.278-279
143
Op. Cit. p.271
57
A análise dos livros, portanto, nos mostra que, assim como o Guia do PNLD 2018
afirmava, há uma forte presença de figuras femininas e de discussões sobre a temática gênero
nas duas obras. Porém, ainda percebe-se seu silenciamento em certos momentos históricos ou
uma falta de contextualização de algumas imagens presentes ao longo das coleções. Por
exemplo, no capítulo 12, Formações políticas Africanas, de História, Sociedade e Cidadania
1, há diversas fotos de africanas e descendentes de africanos, que apesar de terem um motivo
dentro do texto, não estão, de fato, representando diretamente as pessoas que foram citadas,
são fotos da contemporaneidade, que permitem a relação com o presente, porém, não são
representações históricas, isto é algo que se repete ao longo da coleção. Apesar de existirem
vários momentos de apontamento da participação feminina em algumas revoluções ocorridas
na Europa e, até no Brasil, ainda percebe-se um silenciamento da participação das mulheres
nos movimentos em reação à Industrialização e urbanização, que foram tratados por
Thompson144 e Perrot.145
De forma geral, a análise da presença feminina nas duas obras didáticas analisadas é
bastante satisfatória, enquanto Oficina de História busca sempre contextualizar os papeis e as
relações de gênero, e ainda apresentar as mulheres dentro da escrita histórica, em História,
Sociedade e Cidadania, as mulheres aparecem mais historicamente, discussões a respeito de
seu silenciamento são apresentadas, mas as discussões a respeito das relações de gênero são
pouco abordadas e pouco aprofundadas.
5 Considerações Finais
144
THOMPSON, E. P. A Economia moral revisitada. In: _______. Costumes em comum: Estudos
sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
145
PERROT, Michele. Os excluídos da História. Operários, mulheres, prisioneiros. Parte II
Mulheres, Cap. 1 e 2, p. 167-212. 4a. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
58
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