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UMA EPOPEIA DE FÉ

HISTÓRIA 1105 BATISTAS LETOS NO BRASIL


OSVALDO RONIS

UMA EPOPEIA DE FÉ:

HISTÓRIA DOS BATISTAS LETOS NO BRASIL

1974

Edição da Junta de Educação Religiosa e Publicações


da Convenção Batista Brasileira
CASA PUBLICADORA BATISTA
Caixa Postal 320 — ZC 00
Rio de Janeiro — GB
236.1981
Ron•Epo
Ronis, Osvaldo, 1913 —
Uma epopéia de fé: história dos batistas latos no Brasil. Rio de Janeiro.
Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1974.
634 p. 282 ilus.

1. Batistas Letos no Brasil. 2. Letos — Batistas — Brasil. 3. Brasil —


Batistas — Imigração Leta. I. Título.

CDD — 286.1981
325.247430981

Modelo de ficha catalográfica

Capa de Cecconi
2.000 / junho, 1974
OSVALDO R ONIS

Professor de Geografia Bíblica, Arqueologia Bíblica,


Introdução Bíblica, Velho Testamento, Evangelismo
e Sociologia no Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil e no Instituto Batista de Educação Reli-
giosa; de História da Educação na Faculdade de
Filosofia de Campo Grande, GB e na Faculdade de
Educação, Ciências e Letras "Grande Rio", Duque
de Caxias, RJ.
Dedicatória

A
Evangelina,
esposa e dedicada colaboradora
na minha vida ministerial,
sem cujo encorajamento
e sacrifício
não seria possível esta obra.

O Autor
SUMÁRIO
Pág.
Apresentação 17
Prefácio do autor 19
Introdução 25
PARTE I — PRELIMINARES 27

CAPITULO I
O PAIS E O POVO DA LETÔNIA 31
1. Geografia 31
2. Economia 33
3. O Povo e sua Psicologia 34
4. Panorama Histórico-político 36
4.1. Regime monárquico 36
4.2. Domínio germânico 37
4.3. Domínio russo-polonês 38
4.4. Domínio sueco 38
4.5. Domínio russo 40
4.6. Regime republicano 46
4.7. Opressão russo-comunista 50
4.8. Opressão nazista 51
4.9. Domínio soviético 52
5. Cultura 54
5.1. Língua 54
5.2. Escrita e literatura 54
5.3. Folclore 56
5.4. Música 57
5.5. Religião 58
5.6. Educação 65
CAPITULO II
HISTÓRICO DOS BATISTAS NA LETÔNIA 71
1. Diferentes Raízes 71
1.1. Irmãos Morávios 71
1.2. Luteranos 72
1.3. Batistas alemães 72
Pág.
2. Primeiros Batistas Letos 74
3. Crescimento e perseguições 79
4. Emigração 84
5. Expansão 87
6. Os Batistas Letos e a Aliança Batista Mundial 91
7. Os Batistas Letos na Vida Administrativa do seu País 96
8. Opressão Comunista e o Desmantelamento da Obra Batista na
Letônia 97

PARTE II - IMIGRAÇÃO DE BATISTAS LETOS PARA O BRA-


SIL ANTERIOR Ã I GUERRA MUNDIAL 101

CAPITULO III
IMIGRAÇÃO PARA OS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO
GRANDE DO SUL 105
1. As Facilidades Imigratórias no Brasil 105
2. Primeiros Movimentos Emigratórios de Batistas Letos para o
Brasil até a I Guerra Mundial 106
3. Início e Desenvolvimento da Imigração de Batistas Letos no Bra-
sil até a I Guerra Mundial 107
3. 1 Em Rio Novo, Estado de Santa Catarina (1890) 107
3. 2. Em Rio Oratório, Estado de Santa Catarina (1892) 126
3. 3. Em Ijuí, Estado do Rio Grande do Sul (1893) 127
3. 4. Em Rio Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina (1893) ... 139
3. 5. Em Alto-Guarani ou Massaranduba, Estado de Santa
Catarina (1893) 141
3. 6. Em Jacu-Açu, Estado de Santa Catarina (1898) 144
3. 7. Em Ponta Comprida ou Rio Branco, Estado de Santa
Catarina (1899) 146
3. 8. Em Terra de Zimmermann, Estado de Santa Catarina
(1900) 151
3. 9. Em Brüedertal ou Schroederstrasse, Estado de Santa Ca-
tarina (1901) 152
3.10. Em Linha Telegráfica, Estado de Santa Catarina (1901) 153

CAPITULO IV
IMIGRAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO 157
1. Os Batistas Letos em Nova Odessa (1906) 157
2. Os Batistas Letos em Jorge Tibiriçá ou Corumbatai (1906) .. 169
3. Os Batistas Letos em Nova Europa (1907) 171
4. Os Batistas Letos em Pariquera-Açu (1910) 173
5. Os Batistas Letos em São José dos Campos (1914) :175
6. Aspectos Cooperativos das Igrejas Batistas Letas no Brasil até
o fim da I Guerra Mundial 178
7. Retrospecto Panorâmico 184
Pág.
PARTE 1II - IMIGRAÇÃO DE BATISTAS LETOS PARA O BRA-
SIL APÓS A I GUERRA MUNDIAL, 1922/23 187

CAPITULO V
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO PECULIAR DA IMIGRAÇÃO . 191
1. Antecedentes Históricos e Psicológicos 191
2. Antecedentes Político-religiosos 194
3. O Movimento de Despertamento Espiritual na Letônia e a Emi-
gração de Batistas Letos para o Brasil em 1922/23 203
4. Dificuldades e a Providência Divina na Emigração 208
5. A Travessia do Atlântico em Vários Grupos até o Brasil 215

CAPITULO VI
A EPOPÉIA DA COLÔNIA VARPA 221
1. Preparativos para a Fundação da Nova Colônia 221
2. A Localização da Nova Colônia 223
3. Aquisição das Terras 227
4. Ocupação das Terras Adquiridas 228
5. Chegada da Primeira e Maior Caravana de Imigrantes Batistas
Letos com Destino a Varpa 229
6. Organização da Vida Comunal 233
7. A Liderança e a Forma de Governo da Colônia 236
8. Falta de Amparo Oficial 239
9. As Circunstâncias Primitivas de Vida na Colônia 240
10. Terras da Colônia em Litígio Judicial 245
11. Constituição da Igreja Batista Leta de Varpa 246
12. Aspectos do Desenvolvimento Sócio-econômico de Varpa 249
12. 1. Saída de parte dos imigrantes de Varpa para as fazendas 249
12. 2. Saída de moças de Varpa em busca de empregos na
cidade de São Paulo 251
12. 3. Agricultura e pecuária 253
12. 4. Indústria madeireira 254
12. 5. Transporte 255
12. 6. Centro comercial de Varpa 256
12. 7. Educação 258
12. 8. Saúde 260
12. 9. Assistência Social 261
12.10. Energia Elétrica 262
13. Uma Colônia Leta Satélite - LETÔNIA 262
14. Declínio Sócio-econômico 263
15. Administração Pública em Varpa 264
CAPITULO VII
O SURGIMENTO DA COMUNIDADE SÓCIO-RELIGIOSA DE PAL-
MA 267
1. Origens e Fundamentos Doutrinários 267
Pág.
2. Desenvolvimento Econômico de Palma 270
3. A Vida Religiosa de Palma 280
3.1. Atividades missionárias 281
3.2. Imprensa Religiosa 284
3.3. A Igreja Batista de Palma 291

PARTE IV — CRESCIMENTO DA OBRA MISSIONARIA DOS BA-


TISTAS LETOS NO BRASIL 295

CAPITULO VIII
INICIATIVAS MISSIONÁRIAS DOS BATISTAS LETOS DE VAR-
PA E A INTEGRAÇÃO DE SUA OBRA COM OS BATISTAS BRA-
SILEIROS 299
1. Tentativas Iniciais no Relacionamento com os Batistas Brasileiros 299
1.1. Ênfase doutrinárias do Pastor João Inkis, o líder principal 299
1.2. Acusações de Pentecostismo no Movimento 301
1.3. Correntes e posições doutrinárias na Igreja Batista Leta
de Varpa 307
1.4. Algumas ênfases doutrinárias dos batistas letos de Varpa 308
2. Despertamento Missionário entre os Batistas Letos de Varpa . . 308
2.1. Conferência para definições em 1924 309
2.2. Conferência Missionária de Varpa em 1926 310
3. Campos Étnicos de Atividades Missionárias 314
3.1. Missão entre os eslavos 317
3.2. Missão entre os alemães 325
3.3. Missão entre os lituanos 326
3.4. Missão entre os brasileiros 327
4. Órgãos de Coordenação Missionária 341
4.1. Comissões Missionárias da Igreja Batista Leta de Varpa 342
4.2. Centro da Missão Sertaneja 342
4.3. Novas Igrejas Letas em Varpa 345
4.4. União Missionária Batista Leta do Brasil 347
4.5. União das Igrejas Batistas Eslavas do Brasil 347
5. Escola Missionária do Sertão 348
6. Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Bra-
sil em Palma 352
7. Integração dos Batistas Letos de Varpa nas Estruturas Batistas
Brasileiras 353
7.1. Fatores que concorreram para a integração 353
7.2. Marchas e contramarchas na integração 356
CAPITULO IX
EXPANSÃO DO TRABALHO BATISTA LETO NO BRASIL DE
1922 ATÉ 1972 365
1. As Primeiras Igrejas Batistas Letas do Brasil e a Influência que
sobre Elas Exerceu o Movimento Imigratório de 1922/23 365
Pág.
1. 1. Igreja Batista Leta de Nova Odessa - Estado de São
Paulo 366
1. 2. Igreja Batista Leta de Rio Novo - Estado de Santa
Catarina 370
1. 3. Igreja Batista de Rio Mãe Luzia - Estado de Santa Ca-
tarina 373
1. 4. Igreja Batista Leta de Rio Branco - Estado de Santa
Catarina 373
1. 5. Igreja Batista Leta de Ijuí - Linha 11 - Estado do Rio
Grande do Sul 374
2. Igrejas Batistas Letas no Brasil Organizadas após a I Guerra
Mundial 378
2. 1. Igreja Batista Leta de Varpa - Estado de São Paulo
(1923) 378
2. 2. Igreja Batista de Porto União - Estado de Santa Cata-
rina (1925) 388
2. 3. Igreja Batista de Areias - Estado de São Paulo (1930) 390
2. 4. Igreja Batista de Pitangueiras, Colônia Varpa - Estado
de São Paulo (1932) 392
2. 5. Igreja Batista de Palma, Colônia Varpa - Estado de
São Paulo (1934) 393
2. 6. Igreja Batista de Urubici - Estado de Santa Catarina
(1934) 394
2. 7. Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital - Estado de
São Paulo (1934) 397
2. 8. Segunda Igreja Batista de Nova Odessa - Estado de
São Paulo (1936) 401
2. 9. Segunda Igreja Batista de Varpa - Estado de São Paulo
(1941) 405
2.10. Igreja Batista de Renascença - Estado do Paraná (1951) 407
3. Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil 407
3. 1. Primeiras iniciativas 407
3. 2. Situação das igrejas depois da II Guerra Mundial 408
3. 3. Primeira Conferência Missionária 409
3. 4. Segunda Conferência Missionária 412
3. 5. Organização da Associação das Igrejas Batistas Letas no
Brasil 412
3. 6. Fins, constituição, recursos, direção e ação do novo órgão
cooperativo 413

CAPITULO X

EXPANSÃO DA OBRA MISSIONÁRIA DOS BATISTAS LETOS


DO BRASIL 421
1. Missão Evangélica Batista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia 421
1. 1. Primórdios da história da Missão 421
1. 2. Acampamento de Gaiba - Estado de Mato Grosso 422
Pág.
1. 3. Fazenda de Rincón del Tigre - Bolívia 424
1. 3. 1. Aquisição e ocupação da fazenda 424
1. 3. 2. Surgimento da Escola 425
1. 3. 3. Iglesia Evangélica Bautista de Rincón del Tigre 426
1. 3. 4. Dificuldades iniciais e a providência divina ... . 426
1. 3. 5. Acampamento dos índios Aiorés 428
1. 3. 6. Novos obreiros para a frente missionária 430
1. 3. 7. Obreiros da retaguarda 434
1. 3. 8. Ambulatório 435
1. 3. 9. Templo 436
1. 3.10. Agricultura, pecuária e indústria da Missão 436
1. 3.11. Panorama atual do trabalho da Missão 436
1. 3.12. Reconhecimento das autoridades oficiais 437
1. 3.13. Reconhecimento da obra pela Denominação Ba-
tista na Bolívia 438
1. 3.14. Liderança atual da Missão 438
2. Missão Batista Leta no Litoral e na Região Serrana do Estado
do Paraná - Brasil 439
2. 1. Pastor João Pupols e o início de uma nova fase no traba-
lho batista do litoral do Estado do Paraná 439
2. 2. Pastor João Weidemann e a Missão Batista Leta do litoral
norte-paranaense 442
2. 3. Outros obreiros letos no campo missionário do litoral
norte-paranaense 443
2. 4. Novo campo missionário na região serrana de Rio Pardo,
Estado do Paraná 445

CAPITULO XI
MISSÕES BATISTAS LETAS PROVENIENTES DE INICIATIVAS
PARTICULARES 451
1. Na cidade de Anhumas - Estado de São Paulo 451
2. Na cidade de Monte Mor - Estado de São Paulo 452
3. Na cidade de Bastos - Estado de São Paulo 452
4. Na cidade de Inúbia Paulista - Estado de São Paulo 453
5. Na cidade de Regente Feijó - Estado de São Paulo 455
6. Na Vila de Monte Verde - Minas Gerais 456
7. Na cidade de Pederneiras - Estado de São Paulo 460
8. O significado das missões de iniciativa particular 461

CAPITULO XII
OBREIROS BATISTAS LETOS NO BRASIL 465
1. Batistas Letos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil
e outras Instituições Denominacionais 465
2. Obreiros Batistas Letos no Brasil nas Áreas de Ministério das
Igrejas, Evangelização e Missões e Educação Religiosa 469
Pág.
2. 1. Obreiros procedentes dos grupos imigrados antes da I
Guerra Mundial 470
2. 2. Obreiros originários do movimento imigratório de 1922/23 481
2. 3. Obreiros imigrados após a II Guerra Mundial 501
3. Obreiros Batistas Letos do Brasil no Campo da Música Sacra . . 503
3. 1. Regentes oriundos dos grupos imigrados antes da I Guerra
Mundial 504
3. 2. Regentes originários dos imigrantes de 1922/23 506
3. 3. Regentes imigrados após a II Guerra Mundial 514

PARTE V - CONTRIBUIÇÃO DOS BATISTAS LETOS PARA O


PROGRESSO DO BRASIL 517

CAPITULO XIII
CONTRIBUIÇÃO PARA A VIDA RELIGIOSA E CULTURAL 521
1. Contribuição para a Vida Religiosa 521
1. 1. Estabelecimento de Igrejas 521
1. 2. Extensão da obra de evangelização e missões 522
1. 3. Aumento do Ministério Batista 524
1. 4. Ensino teológico 525
1. 5. Doutrinamento das igrejas 529
1. 6. No campo da Música Sacra 532
1. 7. Transferência de Palma para a Convenção Batista Brasi-
leira 538
2. Contribuições à Vida Cultural 546
2. 1. Estabelecimento de escolas 546
2. 2. Exercício do magistério 546
2. 3. Cultura profissional liberal 547
2. 3. 1. No Campo da Medicina 547
2. 3. 2. No Campo Jurídico 548
2. 3. 3. No Campo da Egenharia 548
2. 3. 4. Na Área Odontológica 549
2. 3. 5. Na Área da Enfermagem 549
2. 3. 6. No Campo da Assistência Social 549
2. 3. 7. No Campo da Economia e Administração 549
2. 3. 8. Na Área da Ordem e Segurança Nacional 549

CAPITULO XIV
UMA AVALIAÇÃO GLOBAL E CONCLUSIVA DA OBRA BATIS-
TA LETA NO BRASIL 553
1. Avaliação sob o Aspecto Teológico 553
2. Avaliação sob o Aspecto Eclesiástico 554
3. Avaliação da Metodologia na Obra Missionária 555
4. Avaliação da Cooperação dos Batistas Letos com os Batistas
Brasileiros 556
5. Avaliação sob o Aspecto Cultural e Sociológico 557
Pág.
6. Avaliação da Expansão Missionária 558
7. O Futuro Previsível e o Imprevisível 563
ANEXOS 565
Anexo I 567
Anexo II 573
Anexo III 575
Anexo IV 579
Anexo V 583
Anexo VI 587
Anexo VII 589
Anexo VIII 591
Anexo IX 593
Anexo X 597
Anexo XI 599
Anexo XII 601
BIBLIOGRAFIA 605
APRESENTAÇÃO

O aparecimento desta História dos Batistas Letos no Brasil, muito


acertadamente cognominada "Uma Epopéia de Fé", evoca a declaração
oracular do Eclesiastes, de que há um tempo determinado para todas as
coisas. Os acontecimentos que eclodem no devido tempo engastam-se ad-
miravelmente nas conjunturas e na seqüência lógica e oportuna da histó-
ria e da vida.
Não há dúvida de que os historiadores distanciados dos eventos que
procuram historiar, levam a vantagem de perspectivas que só as maiores
dimensões do tempo e do espaço permitem.
Por outro lado, o historiador contemporâneo dos episódios por ele
historiados, conta com alguns favorecimentos de alta relevância para quem
se empenha pela autenticidade dos fatos. O historiador contemporâneo
tem acesso direto a fontes primárias, algumas das quais se encontram
ainda vivas e borbulhantes. Vale-se também da pesquisa pessoal imediata.
Sonda as personalidades envolvidas e atuantes nos episódios, o que lhe
permite uma compreensão mais vivencial dos fenômenos, e especialmente
a interpretação dos mesmos em sentido mais humanístico do que historio-
gráfico.
E mais, o historiador contemporâneo é policiado por aqueles que
estão envolvidos nos eventos enfocados. Os fatos assinalados e anali-
sados, inclusive para fins de avaliação e interpretação, hão de estar se-
guramente respaldados nas pesquisas e constatações positivas, o que, por
sua vez, também evita conclusões de natureza subjetiva bem como as de
acentuado tempero preferencial e emocional.
Osvaldo Ronis revela-se o autêntico historiador. A pesquisa que
empreendeu foi trabalho de diligência e tenacidade, que consumiu muitos
meses. Algumas fontes que conseguiu descobrir, bem como documentário
preciosíssimo que desenterrou e coligiu, das mais variadas procedências,
estavam na iminência de desaparecerem para sempre.
O fio de meada começa na velha Letônia, terra de povo amante da
paz e, como diria o grande Rui Barbosa, dotado da "vontade heróica do
trabalho", porém repetidamente espoliada por invasores poderosos, que
se revelaram desumanos nas sevícias e sangrias praticadas na sanha
cruel do expansionismo dominador.
Como ocorreu no primitivo cristianismo, quando os seguidores do
Divino Mestre foram dispersados de Jerusalém, por força de atroz per-

17
seguição contra eles desencadeada, também foi a terrível tirania dos
invasores da Letônia que tangeu para o Brasil algumas levas de batistas.
Não houve uma simples imigração de lá para cá. Não se processou
um mero transplante de batistas do Norte da Europa para o Sul do Bra-
sil, à maneira do que ocorreu com outros grupos étnicos que para cá
vieram. Os batistas letos descentralizaram gradativamente as suas comu-
nidades originais, e engastaram-se na estrutura batista nacional, preser-
vando sempre as motivações missionárias que trouxeram na sua bagagem
de autênticos batistas. Foi por força dessa integração sui-generis na
vida batista brasileira, que a imigração batista leta para o Brasil se con-
verteu na "terceira força" do desenvolvimento da obra batista no País,
segundo a expressão do saudoso W. C. Taylor.
Qualquer tentativa de fazer o levantamento do roteiro histórico dos
batistas no Brasil, requer o subsídio da grande contribuição com que
Osvaldo Ronis veio brindar a bibliografia denominacional.
Mas não é só. A História dos Batistas Letos no Brasil não é apenas
uma narrativa. É também uma farta fonte de consultas para fins de
análise e interpretação dos fatos coligidos. O acervo documental, que é
vasto e variadíssimo, irá para os arquivos da Biblioteca do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, onde será de utilidade a futuros pes-
quisadores.
A esta altura, são em número relativamente reduzido, os veteranos
da Epopéia de Fé, que deixaram Riga para virem servir a Jesus Cristo
na Terra do Cruzeiro do Sul. A maioria já partiu para a Glória Celestial.
As suas obras, porém, aqui permanecem como testemunho vivo e elo-
qüente de sua fidelidade ao Senhor da Glória. Para quem desfrutou da
convivência com alguns protagonistas pioneiros da Epopéia de Fé, e
ilustres descendentes seus, esta História faz o passado voltar a viver,
um passado que o leitor também voltará a viver de coração emocionado
e com hinos de louvor a Deus.

João F. Soren

18
PREFÁCIO DO AUTOR

O processo de surgimento da presente contribuição à História dos


Batistas do Brasil começou em dezembro de 1941, quando da publicação,
em O Jornal Batista, de uma série de três artigos da autoria do venerando
missionário batista norte-americano no Brasil, Dr. W. C. Taylor, sob o
título "Igrejas Onde Arde a Sarça". Aqueles artigos traziam as informa-
ções e as impressões que seu autor havia recebido ao visitar as igrejas
batistas das duas maiores colônias letas — a de Nova Odessa e a de Var-
pa — ambas no Estado de São Paulo. Vale a pena transcrever aqui a
parte introdutória da referida série de artigos:
"O lugar onde tu estás é terra santa". Assim disse Deus
a Moisés na presença da sarça que ardia, mas não ficava con-
sumida com o arder. Não a sarça, mas a presença de Deus era
a base daquela santidade. É assim que eu penso das igrejas
batistas nas colônias letas que visitei este ano. Constituem
uma terra santa. Estou viajando continuamente, estes últimos
anos, como testemunha itinerante de Cristo e de sua verdade.
Não escrevo dessas viagens e experiências. Prefiro usar o es-
paço que O Jornal Batista generosamente me concede, em ser
testemunha de Cristo e da verdade por escrito, também. Gos-
taria, porém, de abrir esta exceção à regra, se me é permi-
tido, e dar aos meus irmãos uma idéia do cristianismo que vi e
gozei na comunhão das igrejas letas, pois penso que pode con-
tribuir para a santidade dos leitores. (1)
O mês de maio daquele ano (1941) o Dr. W. C. Taylor havia pas-
sado em Palma, que é uma parte da Colônia Varpa, como professor do
curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, curso
este que um ano antes se iniciara naquela localidade para os obreiros do
interior e sob a direção de Dr. John L. Riffey e Dr. Paulo C. Porter.
Palma é uma fazenda com a dimensão de cerca de 300 alqueires paulistas,
onde se encontra uma comunidade de batistas letos — denominada, no
seu estatuto, CORPORAÇÃO EVANGÉLICA PALMA — em que todos
vivem em comum, para, com o seu trabalho, contribuir para a manutenção
de todos e incrementar a extensão do Reino de Deus na terra. O Dr. W.

(1) Taylor, W. C., "Igrejas Onde Arde a Sarça", O Jornal Batista, Ano XLI, n9 50, 11 de
dezembro de 1941. p. 1.

19
C. Taylor havia assistido a alguns cultos na Igreja Batista de Palma, na
Igreja Batista Central de Varpa e na II Igreja Batista de Varpa, todas
dentro da grande colônia leta de Varpa. Ali ele havia indagado da his-
tória sui-generis daquela colônia, da razão de ser do tipo de música do
povo leto, da participação do grande número de obreiros letos ou de ori-
gem leta na obra batista do Brasil, etc. Reunindo os resultados de suas
investigações, aquele nobre obreiro da causa batista no Brasil e conhe-
cedor profundo da sua história concluiu pela existência de uma terceira
grande força na evangelização do Brasil — a missão dos Batistas letos
no Brasil. Disse ele textualmente:
Talvez mereçam menção lado a lado três grandes forças
irmanadas na evangelização do Brasil e no testemunho da men-
sagem batista da verdade do Novo Testamento. A Junta de
Richmond é a mais antiga aqui, com seus missionários e sua
cooperação com as igrejas, individualmente em épocas pionei-
ras, e coletivamente em instituições nas quais é possível e efi-
caz a cooperação delas na obra do Reino. A segunda é a Con-
venção Batista Brasileira e suas instituições em que as igrejas
batistas do Brasil se irmanam e cooperam com sabedoria bí-
blica. E a terceira é a missão leta que vive em cooperação au-
tônoma, mas franca e leal, na mesma santa obra. E não é fator
insignificante a missão leta. É de magna vitalidade e valor. (2 )
Naquela altura o articulista fez um paralelo estatístico pelo qual
descobriu o seguinte:
Há um batista leto em trinta e cinco batistas brasileiros,
mas um pastor em sete no Brasil que partiu dessas colônias es-
pirituais. Isto significa que sua valiosa contribuição numérica
para nosso ministério é cinco vezes maior que a da média das
igrejas. É uma cooperação de indizível valor, e se estende até
os nossos Seminários, às juntas estaduais e nacionais de evan-
gelização, à literatura, à música, naturalmente, e ao pastorado
de várias das maiores e das menores cidades do Brasil e, acima
de tudo, ao esforço comum em que estamos empenhados para
evangelizar as vastas colônias estrangeiras no país. E, além
de seu quinhão do ministério das igrejas, há valiosos contin-
gentes de educadores e educadoras, que servem a Cristo, e ou-
tros que labutam na sociedade e nas igrejas como médicos, en-
fermeiras e músicos e homens de todos os ofícios dignos. O
Estado de São Paulo acolheu com generosidade e liberdade re-
ligiosa as maiores dessas colônias, se bem que as há também
no Paraná, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e por sua
vez o Estado de São Paulo recebe na sua vida intelectual e es-
piritual os frutos de seu generoso acolhimento desse povo he-
róico e laborioso. (3)

(2) Id., ibid., n° 51, 18 de dezembro de 1941, p. 3.


(3) Id., ibid., p. 3. O grifo é nosso.

20
E no último artigo o Dr. W. C. Taylor arremata: Repito que o que
esses irmãos fizeram e vão fazer os constitui uma das três principais
agências de evangelização batista no Brasil. (4 )
Tais afirmações de um homem do gabarito de Dr. W. C. Taylor cau-
saram em nós, que somos fruto dessa imigração batista leta no Brasil,
uma profunda impressão. Até então não havíamos alcançado as propor-
ções da projeção e influência desse movimento em termos de evangelização
no Brasil. Começamos, então, a analisar a matéria sob vários aspectos.
Verificamos que dados ainda mais abundantes e completos sobre essa
"terceira força" na evangelização deste país poderiam ser oferecidos para
edificação do povo batista brasileiro e, acima de tudo, para glorificação
de Deus.
Alguém, pois, deveria escrever uma História dos Batistas Letos no
Brasil, pensávamos. Mas quem poderia fazê-lo com competência e agra-
do? Um autor brasileiro certamente o faria à altura deste cometimento.
Mas fá-lo-ia com competência, não podendo pesquisar nas fontes autên-
ticas, originais e completas, desconhecendo o idioma leto? Já um autor
leto, dos mais antigos, que tivesse vivido a própria história dessa imi-
gração batista leta, evidentemente escreveria com muito mais competên-
cia. Entretanto, talvez não o fizesse com agrado, tanto do ponto de vista
do vernáculo, como do que na metodologia e na epistemologia se denomina
problema de "bias", ou distorção da realidade, que pode ocorrer até mes-
mo involuntariamente, em conseqüência da participação íntima e exces-
siva do observador nos fatos ou fenômenos por ele observados, ou seja, a
tendência de ver esses fatos como que através dos "óculos coloridos" de
sua própria experiência ou do seu subjetivismo. (5)
Passados alguns anos, soubemos que certo irmão de uma das igrejas
batistas letas da Colônia Varpa, dado a colecionar material histórico,
estaria preparando, em língua leta, uma história da Colônia Varpa. Cer-
tamente seria uma excelente obra, mas obviamente incompleta do ponto
de vista geral da imigração batista leta no Brasil, pois olvidaria a his-
tória das colônias e igrejas batistas letas anteriores à fundação da grande
Colônia Varpa no Estado de São Paulo.
Pouco depois fomos informados que um dos pastores letos teria come-
çado a colher o material necessário para escrever uma história dos batis-
tas letos no Brasil em língua leta, com bafejo oficial da Associação das
Igrejas Batistas Letas do Brasil. Mas quando este tomou conhecimento
de que um outro pastor também estaria fazendo o mesmo trabalho, para
evitar duplicidade de esforços, renunciou, modestamente, em favor do últi-
mo. Aconteceu, porém, que esse último num ato de humildade e gentile-
za, desistiu em favor do primeiro. Ora, no meio de tanta virtude ficamos
nós sem a história desejada ...
Já por volta de 1960, corria a notícia de que o Sr. Júlio Malves, ba-
tista leto dos mais antigos, de cultura a mais ampla — embora autodidata
— jornalista, escritor, editor do mais antigo jornal leto publicado no

(4) Id., ibid., n, 52, 25 de dezembro de 1941, p. 3. O grifo é nosso.


(5) Pierson. Donald, Teoria e Pesquisa em Sociologia, São Paulo, Edições Melhoramentos,
1967, pp. 36, 37 e 319.

21
Brasil, "Lihdumnieks" (O Desbravador) que circulou de 1907 a 1909 —
colonizador do interior dos Estados de São Paulo e Mato Grosso, possui-
dor de uma biblioteca de mais de 3.000 volumes em seis línguas, versado
em assuntos filosóficos, teológicos e políticos, este homem estaria escre-
vendo, em idioma leto, uma história completa dos letos no Brasil. Acon-
teceu, porém, que esse ilustre irmão, já idoso, adoeceu e teve que pôr a
sua pena de escritor de lado, reconhecendo não lhe restarem mais condi-
ções para realizar a tarefa a que se propôs.
Em fins de 1962, tivemos a oportunidade de assistir ao 40° aniversário
de fundação da Colônia Varpa. Dada a importância daquela colônia no
que concerne à evangelização referida pelo eminente batista Dr. W. C.
Taylor nos seus artigos em O Jornal Batista de 1941, números 50, 51, 52,
já citados, e instado por inúmeros amigos, resolvemos apresentar à 45°
Assembléia Anual da Convenção Batista Brasileira, reunida em Vitória,
Estado do Espírito Santo, em janeiro de 1963, uma súmula histórica pa-
norâmica sobre os batistas letos no Brasil, a título de comunicação daquela
efeméride aos batistas brasileiros. (6 ) Aquele discurso despertou inte-
resse no sentido de que fosse escrita, em português, uma história dos ba-
tistas letos no Brasil.
Em julho de 1963, fomos honrados com o convite para pregar os ser-
mões oficiais (7 ) do 14° Congresso Anual da Associação das Igrejas Ba-
tistas Letas no Brasil, que se realizou com a Igreja Batista Central de
Varpa (também chamada Primeira Igreja Batista Leta de Varpa). Con-
vidados a participar da reunião plenária de sua Junta Executiva, apresen-
tamos a idéia da necessidade de uma providência daquele órgão no sentido
de descobrir-se uma pessoa a ser oficialmente incumbida de preparar, em
leto, uma história dos batistas letos no Brasil e, posteriormente, uma
tradução em português, para conhecimento geral dos batistas brasileiros
e louvor do Senhor da Seara. Mal sabíamos que naquela mesma reunião
seríamos nós a pessoa escolhida para escrever a aludida história. Relu-
tamos, alegando a falta de condições para tão grande tarefa, como falta de
material, de recursos para a sua busca em fontes distantes, falta de tempo,
etc. — mas não adiantou. Foi-nos facultado preparar a obra logo em
português e prometida ajuda no acesso às fontes e na coleta de informa-
ções necessárias. Quase não acreditando em nós mesmos, acabamos acei-
tando a tarefa, porém sem prazo para a sua conclusão.
Na 464 Assembléia Anual da Convenção Batista Brasileira, realizada
em janeiro de 1964 com a Primeira Igreja Batista da Capunga, no Recife,
Pernambuco, no relatório da Junta Executiva surgiu o assunto "Acam-
pamento para o Sul do Brasil". Aquela Junta, após meticulosos estudos,
recomendou a aceitação do oferecimento da Corporação Evangélica Palma
em forma de doação, sob certas condições, de toda a sua propriedade e
acervo para ali ser instalado o desejado Acampamento. O plenário votou,
de pé, a aceitação do oferecimento, prestando, na mesma oportunidade,

(6) Ronis, Osvaldo, "Os Batistas Letos no Brasil", O Jornal Batista, Ano LXIII, ri, 10, 9
de março de 1963. p. 4.
(7) Entre os batistas letos o orador oficial prega vários sermões, que são considerados oficiais
pelo fato de serem proferidos pelo orador oficial.

22
uma homenagem aos irmãos letos pela obra por eles realizada no Brasil,
homenagem esta prestada na pessoa do Pastor André Klavin, gerente da
Corporação Evangélica Palma, presente à Assembléia. Na mesma oca-
sião foi proposto também que a então "Junta de Escolas Dominicais e
Mocidade seja convidada a editar uma obra que conte a história dos ba-
tistas letos no Brasil". ( 2 ) A esta altura o Dr. João F. Soren, então
Presidente da Junta Executiva, apresentou um adendo indicando o nome
do Pastor Osvaldo Ronis para escrever a referida história. E, por este
informar que já recebera uma solicitação igual da parte dos batistas le-
tos do Brasil em sua última Assembléia, o adendo proposto, embora já
incorporado à proposta original quando votada, escapou ao registro do
secretário de Ata.
Daquela data em diante começamos a corresponder-nos com pastores,
leigos e toda e qualquer pessoa dentre os batistas letos no Brasil, América
do Norte, Canadá, Bolívia e Argentina que pudessem fornecer algum ma-
terial; a visitar obreiros e igrejas letas; a solicitar exame das atas das
igrejas; a enviar questionários; a fazer entrevistas; a pedir fotografias
e jornais antigos, revistas, obras, cartas, relatórios, anais, anuários, mo-
nografias, teses, reportagens, crônicas, depoimentos, boletins, narrativas
sobre episódios marcantes; a comparecer aos Congressos Anuais da As-
sociação das Igrejas Batistas Letas no Brasil; a consultar arquivos de
algumas das nossas instituições, como Junta de Missões Nacionais, Junta
Executiva da Convenção Batista Paulistana, Junta Executiva da Conven-
ção Batista Brasileira, Colégio Batista do Rio de Janeiro, Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro
e o Arquivo Nacional. Enviamos 145 cartas a 80 pessoas. Além disso,
fizemos oito viagens para coleta de dados no contato com igrejas e obrei-
ros, inclusive ao distante Lago Gaíba, no Estado de Mato Grosso, e a
Rincón dei Tigre, Missão Batista Leta na Bolívia.
As fontes consultadas nesta pesquisa em quatro idiomas — leto, por-
tuguês, inglês e castelhano — foram ao todo 220, assim distribuídas: 78
livros; 62 coleções anuais de 22 jornais diferentes; 12 anuários; 6 revistas;
2 teses de doutorado; 7 arquivos de instituições batistas; 4 monografias;
1 arquivo oficial (Arquivo Nacional) ; 2 álbuns históricos; 4 boletins; 8
coleções de atas de Igrejas, Associações e Convenções; 28 entrevistas;
36 inquéritos por meio de questionários de trinta perguntas cada um;
22 narrativas de episódios inéditos; 31 cartas particulares de arquivos
pessoais.
Agradecemos a colaboração das pessoas que nos escreveram cartas
em resposta à solicitação de informações, pondo em relevo entre elas as
do Pastor Rodolfo Andermann e de Júlio Malves, agora já falecido. De
igual modo agradecemos o auxílio das pessoas entrevistadas; das igrejas
e instituições batistas que nos possibilitaram acesso a seus arquivos;
dos muitos irmãos que nos emprestaram ou ofertaram fotografias para
ilustração desta obra; da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil,
que nos fez uma oferta para ajudar nas despesas das oito viagens que

(8) Convenção Batista Brasileira, 46' Assembléia, Recife, 1964. Atas, relatórios e pareceres,
p. 10.

23
fizemos em busca de material para esse trabalho; do irmão e amigo Ver-
ner Grinberg, que nos levou em seu avião a Mato Grosso e sertão da
Bolívia — Rincón del Tigre — com o mesmo objetivo; do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, que nos liberou de algumas aulas durante
alguns semestres e nos concedeu o semestre sabático em 1973; da nossa
boa Primeira Igreja Evangélica Batista na Penha, GB., que com paciência
suportou a falta de melhores cuidados pastorais; do Dr. João Filson
Soren, digno ex-Reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, a
cujo estímulo reiterado devemos a concretização desta dissertação; dos
ilustres professores desse Seminário: Dr. Reynaldo Purim, Dr. Jerry S.
Key, Dr. João Carlos Keidann, Prof. Darei Dusilek e Prof. José dos Reis
Pereira pelas valiosas sugestões na preparação desta obra; dos pastores
e professores Emanuel F. de Queiroz e Roberto Alves de Souza, a quem
devemos a revisão de vários capítulos do manuscrito; e da nossa Família,
que pacientemente esperou o fim desta longa jornada, que tantas priva-
ções lhe acarretou.

24
INTRODUÇÃO

1. Conceituação de História — Ao se escrever uma história certa-


mente se requer, antes de mais nada, uma definição clara do que seja o
conceito genuíno e técnico da história. Ora, várias e diferentes formas
tem assumido este conceito através dos tempos. Para sermos breves,
basta dizer que já se provou insuficiente a definição de História como
apenas a "investigação do passado"; igualmente como mero "conhecimen-
to dos fatos que se desenrolaram através dos tempos"; ou, ainda, como
"exposição de quantos eventos dizem respeito à atividade social do ho-
mem". (1) Estes conceitos já evoluíram para a forma seguinte: A His-
tória é a ciência que investiga, conhece e expõe as ações racionais do ho-
mem, por ele praticadas como ser social, isto é, ocorridas necessariamente
no tempo e no espaço, interconexas, vinculadas cada uma de per si à mo-
tivação respectiva e votadas todas à causa da Civilização. ( 2)
Logo, para termos uma história real e tecnicamente aceitável, ela
não pode prescindir de investigação ou pesquisa, nem de conhecimento e
nem de exposição clara e verídica dos fatos ou ações racionais do homem,
ocorridos no tempo e no espaço, indo até as suas motivações, assim pro-
curando descobrir-lhes o verdadeiro sentido ou a sua interpretação.
2. Natureza da Investigação ou Pesquisa Histórica — Uma investi-
gação de fatos históricos, remotos ou próximos, requer, evidentemente,
uma pesquisa séria e criteriosa, tanto em extensão como em profundidade,
procurando chegar a todas as fontes possíveis e explorando-as em todo
o seu conteúdo.
Fonte histórica é tudo aquilo que dá acesso à verdade histórica, ou
que direta ou indiretamente dá notícia dos fatos históricos.
No caso presente, isto é, ao escrever-se a "História dos Batistas
Letos no Brasil", a investigação tinha de ser ampla e profunda, abran-
gendo mais de oitenta anos de história desde os primórdios da imigração
batista leta neste país, motivada por diversos fatores. Investigando as
motivações desta imigração, destaca-se nesta história a religiosa, cuja

(1) Cf. Fonseca, Roberto Piragibe da, Manual de Teoria da História, Brasil—Portugal, Edi-
tora Fundo de Cultura, 1967, p. 24.
(2) Id., ibid., p. 27.

25
ação produziu o maior movimento, a maior colônia, e, ao tempo, a maior
igreja batista na América do Sul (mais de 1.750 membros), e, conse-
qüentemente, a maior influência no meio-ambiente.
3. Conhecimento Geral Histórico — Um conhecimento seguro e por-
menorizado dos fatos históricos só pode ser obtido mediante uma ampla
pesquisa em fontes fidedignas. Daí o cuidado e a seriedade com que se
deve proceder no arrolamento e seleção das fontes em que se pretende
basear a exposição dos fatos, bem como na própria exposição, que deve
ser, tanto quanto possível, isenta de subjetivismo pessoal daquele que
fornece a informação como do próprio autor.
Sendo o autor um dos imigrantes letos, chegado ao Brasil, quando
ainda menino de nove anos de idade, no maior movimento imigratório
batista leto de motivação religiosa, viveu e acompanhou a história dos
batistas letos no Brasil durante 50 anos. Valendo-se do seu domínio da
língua leta teve acesso amplo às fontes originais e autênticas que se po-
deriam encontrar sobre o assunto. E, consultando ainda as fontes ao seu
alcance em mais três outros idiomas, que refletem a observação e infor-
mação de elementos fora dos arraiais letos, o autor procurou apropriar-se
do mais amplo conhecimento histórico que a obra requer.
4. A Exposição dos Fatos Históricos Particulares ou a Historiografia
— Esta tem de ser sucinta ou ampla, dependendo da natureza, do campo
.e da amplitude do tempo que a história abrange. Mas antes de tudo ela
tem de ser clara, estabelecendo a interconexão dos fatos, e verídica, fun-
damentando-se em fontes autênticas e fidedignas.
Na exposição dos fatos históricos relacionados com a imigração ba-
tista leta no Brasil, o autor usou o método científico, chamado evolutivo
ou genético, que consiste numa narrativa útil das ocorrências históricas
com a necessária explicação objetiva ou interpretativa; isto é, mediante
a determinação das motivações dos fatos históricos e da projeção destes
no meio-ambiente — ou seja a influência por eles exercida — encontrar
a sua explicação e interpretação. Este gênero de critério historiográfico
é o único que, a nosso ver, justifica o lançamento desta contribuição à
História dos Batistas do Brasil.
Convencido o autor de que seria difícil ao leitor comum e até ao
estudante da obra Batista em nossa terra compreender a história dos
batistas letos no Brasil sem um conhecimento razoável do grande pano-de-
-fundo ou cenário histórico do seu país de origem e seu povo — em seus
aspectos geográfico, econômico, étnico e psicológico, político e cultural
— bem como sem o conhecimento das origens e desenvolvimento dos ba-
tistas na Letônia em seu contexto histórico, os dois primeiros capítulos
deste trabalho são dedicados precisamente a esse panorama que se des-
venda por trás da história da imigração dos batistas letos no Brasil.

26
PARTE I

PRELIMINARES
CAPITULO I

O PAIS E O POVO DA LETÔNIA

1. Geografia
2. Economia
3. O Povo e sua Psicologia
4. Panorama Histórico-político
4.1 — Regime monárquico
4.2 — Domínio germânico
4.3 — Domínio russo-polonês
4.4 — Domínio sueco
4.5 — Domínio russo
4.6 — Regime republicano
4.7 — Opressão russo-comunista
4.8 — Opressão nazista
4.9 — Domínio soviético

5. Cultura
5.1 — Língua
5.2 — Escrita e literatura
5.3 — Folclore
5.4 — Música
5.5 — Religião
5.6 — Educação
29
CAPITULO I
O PAIS E O POVO DA LETÔNIA

O nome do país — LETÔNIA — bem como os termos gentílicos


"letos" e "letões" são as designações mais conhecidas entre os povos la-
tinos. Derivam-se da alcunha que lhes deram os antigos livos ou lívios
(fino-ugros), povo vizinho nos primórdios de sua história, em cuja língua
a palavra "lett" significa "cavar terra", pois os letos sempre foram es-
sencialmente agricultores. A divulgação destas designações geográfica
e étnica entre os latinos, ao que parece, deve-se ao primeiro cronista leto,
Heinricus de Lettis, sacerdote católico romano, que entre 1225 e 1227
escreveu, em latim, a sua Chronicon Lyvoniae, da qual são conhecidas
hoje pelo menos 24 cópias.
1. Geografia
A Letônia, o maior dos três países chamados Bálticos, situa-se a leste
do Mar Báltico, defronte da Península Escandinava, na Europa Setentrio-
nal, entre 55° 40' 23" e 589 5' 12" Lat. N., e 209 58' 7" e 289 14' 30" Long. E.
Limita-se ao norte com a Estônia (375 km), a leste com a Rússia (351
km), a sudeste com a Polônia (105 km), ao sul com a Lituânia (570 km)
e a oeste com o Mar Báltico (497 km). Fig. 1
A superfície do seu território é de 66.000 km2. Tomando em consi-
deração as áreas dos países europeus em geral, pode-se dizer que a Le-
tônia é um país de tamanho médio, pois, dos 35 países da Europa, 15 são
menores que a Letônia, entre os quais contam-se a Estônia, a Lituânia, a
Dinamarca, a Bélgica, a Holanda, a Suíça e a Albânia. (1) As distâncias
entre os pontos extremos nas direções norte-sul e oeste-leste são 269 km e
442 km, respectivamente. Fig. 2
A população da Letônia, nos últimos 50 anos, vem girando em torno
de 2.000.000 de habitantes. Em 1914, pouco antes da deflagração da
I Guerra Mundial, havia no país 2.552.000 habitantes (72% letos e 28%
estrangeiros — lituanos, russos, poloneses, alemães, estonianos e judeus),
porém durante a primeira conflagração mundial, a revolução e as lutas

( 11 Svabe, Arveds, Latvju Enciklopedija (Enciclopédia Leta ). Estocolmo, Editora Tris


Zvaigznes, 1950-1955, p. 1349.

31
pela independência, a Letônia perdeu cerca de 700.000 cidadãos, ou seja,
27% da população, o mais alto índice de baixas de todos os países da
Europa. Acrescentando-se a este o número de deslocados, os emigrados
e os deportados por motivos políticos e religiosos, em 1920, em toda a Le-
tônia havia apenas 1.596.000 pessoas. Já em 1939, às vésperas da II
Guerra Mundial, a população do país havia subido para 2.000.000. En-
tretanto, alguns anos após aquele conflito, precisamente em janeiro de
1949, um jornal da Letônia ocupada pelos russos afirmava que na Re-
pública havia 2.000.000 de habitantes, dos quais 1.000.000 era consti-
tuído de letos. Com as deportações, fuzilamentos e mortes que ocorreram
naquele ano e no ano seguinte, em 1951 já não havia mais que 900.000
letos numa população de 2.000.000 de habitantes. (2 ) Era a ação da
política de russificação que se instalara para anular qualquer reação
nacionalista dos países ocupados.
Os habitantes da Letônia ao tempo do início da II Guerra Mundial
estavam distribuídos entre 60 cidades e 518 comunidades rurais. A capi-
tal da Letônia é Riga, com 400.000 habitantes (1939), a mais antiga e
até certa época a mais importante das capitais do Báltico — já existente
antes do ano 1186, data em que foi ali fundado o primeiro bispado ro-
mano pelo Bispo Meinhard, como relatam as crônicas do Bispo Arnold de
Lubech, escritas em 1207 (3 ) — fica às margens do rio Daugava, a 14 km
de sua desembocadura no Golfo de Riga. Um dos templos mais antigos de
Riga, o da Igreja de S. Pedro, cuja construção findou em 1491, possuía a
mais alta torre de madeira do mundo (133 m), que ruiu em 11 de março
de 1666, ou seja, 175 anos depois. Foi reconstruída em 1690, com 110 m
de altura. Mas duas vezes foi danificada — por incêndio e depois por um
raio — e novamente reconstruída em 1747, com 115 m de altura. Final-
mente, na II Guerra Mundial, a 28 de junho de 1941, os russos invasores
em sua retirada — atacados pelos alemães — incendiaram a notável obra
de arquitetura, símbolo da cidade de Riga. ( 4 ) Figs. 3 e 4
A topografia da Letônia é quase plana, ou ligeiramente ondulada na
maior parte de sua superfície, sendo que ao centro, norte e leste forma-se
um planalto com elevações mais acentuadas, tendo o seu ponto de altitude
máxima 310 m. Devido à estrutura geológica (as morainas) e o recuo
das geleiras quaternárias, há na Letônia 2.980 lagos de origem glaciária,
sendo o maior deles de 56 km2, e 512 rios, muitos deles navegáveis, quase
todos úteis para transporte de madeira aos grandes centros industriais
ou portos de exportação, por meio de junção de toras em jangadas que
são levadas correnteza abaixo. O maior e o mais importante rio da Le-
tônia é o Daugava (Dvina, segundo os russos), "a antiquíssima via de
trânsito comercial entre os países Escandinavos e o Bizâncio". (5) Esse
rio tem 1.000 km de comprimento, nascendo no Lago Dvinetz, no planalto
de Valdai, na Rússia, a 14 km a sudeste das nascentes dos grandes rios
russos Volga e Dnieper, desemboca no Golfo de Riga, no Mar Báltico,

(2) Id., ibid., p. 774.


(3) Bilmanis, Alfred., Latvia as an Independent State. Washington, 1947, p. 3.
(4) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 1952 e 1953, 1903 e 1904.
(5) Ozolins, N., A Lettonia. S. Paulo, 1935, p. 3.

32
atravessando o país na direção leste-oeste. Como os rios Dnieper e Volga
desaguam nos mares Negro e Cáspio respectivamente, estas vias fluviais
eram as artérias principais de comércio da Escandinávia e Báltico — no-
tadamente de âmbar e de peles — com os impérios grego, romano, bizan-
tino, persa e árabe. ( 6 )
Essa topografia do país, com seus rios, lagos, colinas, planícies e
vales cobertos de pastagens naturais, campos cultivados (71%) e flores-
tas (29%) em que predominam imensos pinheirais, apresenta uma varie-
dade de paisagens excepcionalmente belas em qualquer estação do ano
e quase que em qualquer ponto.
O clima da Letônia é classificado como frio oceânico ou frio médio.
O número de dias de inverno com neve varia entre 65 e 130 durante o ano,
no litoral e no interior, respectivamente. A temperatura mínima no in-
verno varia entre — 17°C e 37°C, conforme o ano; e no verão a máxima
entre 25°C e 35°C — sendo a média anual entre 6°C e 119C. (7) Os fatores
principais na determinação do clima são: a proximidade do Mar Báltico,
as frentes quentes resultantes das correntes marítimas quentes do Atlân-
tico que banham o ocidente europeu até o extremo sul da Escandinávia
ou Mar do Norte, e a grande quantidade de lagos e rios.
A flora e fauna, essencialmente nórdicas, são ricas e variadas devido
à topografia e ao clima. Há na Letônia mais de 1.000 espécies de flores,
17 espécies de salgueiros, 470 espécies de musgos, 2.230 espécies de algas,
1.400 espécies de cogumelos, ótimos para o consumo, 30 espécies de bagos
ou frutinhas suculentas — como morangos, amoras, mirtilos etc. Toda
essa flora estende-se pelas florestas, campos, pastagens, vales, beiras de
estradas e de rios. Quanto às florestas, estas cobrem 29% da superfície
do país e 52% dessas florestas são constituídas de pinheirais, principal-
mente do "pinho-de-riga", que possui uma concentração incomum de re-
sina, que lhe confere uma resistência secular em qualquer clima do mun-
do. O restante das florestas compõe-se de nogueiras, carvalhos e outras
árvores, das quais uma boa parte oferece ao homem abundante seiva, que
é colhida em certas épocas do ano para a produção de bebidas. Cultivam-
-se em abundância macieiras, pereiras, ameixeiras, cerejeiras e outras
árvores frutíferas. No que concerne à fauna, proliferam no país 463
espécies de vertebrados, das quais 70 de peixes, 7 de répteis, 308 de aves
e 67 de mamíferos, como veados, lobos, lebres, esquilos, raposas, ursos,
teixugos, doninhas, lontras, castores etc., cujas peles são procuradíssimas
nos mercados mundiais. (8)

2. Economia

Quanto aos recursos naturais, embora não haja no subsolo do país


jazidas de ouro, prata, petróleo etc., existem as de gesso, pedra calcárea,
matéria-prima para indústria de cimento, que abastece o mercado interno
e o dos países vizinhos. Há imensas áreas de turfa, de argila de excelente

(6) Svabe, Arveds., Op. cit., p. 442 ss.


(7) Id., ibid., pp. 656 e 657.
(8) Bilmanis, Alfred., Op. cit., pp. 18 e 19.

33
qualidade para fabricação de cerâmica fina, de ocre, para fabricação de
tintas. Há também fontes de águas minerais, especialmente as sulfurosas.
Menção especial merece o comércio de âmbar — uma forma petrificada
de resina de gigantescas coníferas (pinhos) que floresceram na era Ter-
ciária e cuja formação se acha principalmente no fundo do Mar Báltico,
lado oriental, e que é lançado pelas tempestades às praias. Desde os tem-
pos imemoriais a fama do Báltico como "Terra de Ouro do Norte" era
conhecida entre os gregos, romanos e bizantinos, quando os fenícios e os
wikings expandiram o comércio desse precioso produto natural solicitado
para a confecção de jóias. A sua extraordinária beleza, numa gama va-
riada de cores, desde o alaranjado pálido até o marrom avermelhado, e sua
extrema dureza, fizeram do âmbar artigo mais procurado que o próprio
ouro (9 ) Além disso, há uma variada industrialização de pescado (peixe
salgado e prensado, enlatado, defumado etc.), de laticínios, de cereais, de
lã, de linho e de produtos suínos. Isto porque a economia do país baseia-
-se principalmente na criação do gado leiteiro, na de suínos e na avicul-
tura, sendo a primeira dessas atividades favorecida pelas pastagens na-
turais, além da cultura de plantas forrageiras. Na agricultura, sobres-
saem-se os cereais, a batata, a beterraba de açúcar, o linho e o cânhamo.
A extração e o preparo da madeira, entretanto, são a atividade tradicio-
nal, tendo por base o pinho-de-riga, mundialmente afamado e exportado
para o exterior. (10 )) Em apenas 22 anos de independência, o país con-
seguiu colocar as suas indústrias têxteis, de conservas, de laticínios e de
malte em primeiro lugar entre os países do Báltico e entre os primeiros
da Europa. (11)) Mas toda a prosperidade que o povo leto conseguiu pela
vontade tenaz e trabalho sacrificial foi arrasada pelas duas guerras mun-
diais, com seus bombardeios, saques, invasões bárbaras, pestes, coletiviza-
cão das propriedades rurais, confiscos, despovoamento em virtude da
busca de refúgio e de sua humilhação face à prepotência dos vizinhos
gigantes, a quem já não faz sentido a força do Direito, senão o direito da
força.
3. O Povo e Sua Psicologia
Nos 21 anos que precederam a II Guerra Mundial, ou seja, entre a
proclamação da Independência da Letônia e a deflagração daquele con-
flito, sucederam-se amplas pesquisas históricas oficiais, trazendo à luz
grande quantidade de material de suma importância para o estudo do
passado longínquo daquele país. Investigações tanto por meio de esca-
vações arqueológicas como por pesquisas nos arquivos da Letônia e prin-
cipalmente nos dos países vizinhos e até mais distantes, como a França,
a Itália e o Estado do Vaticano, têm fornecido um acervo documentário
científico de inestimável valor para um conhecimento maior, tanto em
extensão como em profundidade, do quadro étnico-histórico-político do
povo leto.

(9) Bruver, Arnold, "O Báltico à Luz da Arqueologia Pré-Histórica", Boletim da Sociedade
Brasileira de Geografia, Ano XVI, julho a dezembro de 1967, pp. 23 e 24.
(10) Enciclopédia Barsa, Rio de Janeiro, São Paulo, 1968, Vol. 8, p. 296.
(11) Bilmanis, Alfred., Op. cit., p. 214 ss.

34
Segundo o Prof. Dr. Francis Balodis, (12) os letos, bem como os li-
tuanos, procedem dos antigos baltos indo-europeus, cuja origem se perde
no passado. No fim da Idade da Pedra, por volta do ano 2.000 a.C., eles
penetraram no vale do Daugava, apossando-se das terras ao sul e ao
norte do mesmo, fazendo os fino-ugros recuarem mais para o norte. De
acordo com as pesquisas acima referidas não existe qualquer parentesco
do povo leto com os fino-ugros — ancestrais dos finlandeses e estonianos
— nem com os lívios — ramo mais meridional dos fino-ugros — que ainda
no século XIII d C habitavam algumas áreas ocidentais do atual terri-
tório da Letônia, razão pela qual os comerciantes germânicos deram a
toda a terra o nome de Livônia, e nem com os eslavos, porque os ances-
trais destes só apareceram naquelas proximidades cerca do ano 600
d.C. (12 )

Conforme as crônicas e o folclore mais antigos daquela região, "as


tribos bálticas, já no século VIII a.C., haviam atingido um grau consi-
derável de desenvolvimento e cultura, apresentando características niti-
damente delineadas da chamada civilização lituano-letoniana". (14) He_
ródoto (século V a.C.) referiu-se a esses povos dando-lhes a designação
de hiperbóreos. Depois Políbio (século II a.C.), geógrafo grego radicado
em Roma; Tácito, historiador latino; Plínio, o Velho, grande escritor ro-
mano; e Cláudio Ptolomeu (estes últimos, dos séculos I e II d.C.), refe-
rindo-se à terra de âmbar, cognominaram-na Báltia ou terra dos povos
bálticos. (15)
Os historiadores, etnógrafos e arqueólogos citam entre esses povos
bálticos, os seguintes: estos ou éstios, erúlios, prussianos, galindos, suli-
nos, vênedos ou vendos, lituanos, curos, selônios, zemgálios, latgálios ou
letos. Os letos realmente constituem a unidade das tribos e não povos de
zemgálios, curos, selônios e latgálios, fato este comprovado pelos estudos
filológicos e arqueolinguísticos baseados nas escavações e pesquisas ar-
queológicas e pela localização milenar das mesmas nas áreas que desde
há muito são conhecidas como províncias da Letônia, que são: Curlândia,

(12) O Prof. Dr. Francis Balodis, falecido em Estocolmo em 1947, era leto e uma das maiores
autoridades européias em História, Arqueologia e Etnologia. Estudou Teologia na Universi-
dade de Terbat (Estônia); História em Moscou; Filosofia, Etnologia e Egiptologia em Mu-
nique (Alemanha); e depois Arqueologia em Moscou. Foi docente da Universidade e do
Instituto de Arqueologia de Moscou nas cadeiras de História Oriental, História da Arte e
Arqueologia; na Universidade da Letônia nas cadeiras de Arqueologia, Etnologia e História
Oriental; na Universidade de Estocolmo nas cadeiras de Egiptologia e Arqueologia da Europa
Oriental; idem, idem, na Universidade de Upsala (Suécia). Foi Diretor do Museu Histórico
da Letônia e Vice-Diretor do Instituto Histórico da Letônia. Organizou e presidiu o II Con-
gresso de Arqueólogos Bálticos e o Congresso de Historiadores Bálticos (1930 e 1936). Che-
fiou várias expedições arqueológicas no território da Letônia e no estrangeiro, foi conferencista
em congressos internacionais e escreveu cerca de 200 trabalhos científicos.
(13) Cf. Balodis, Francis, "The Fortunes of the Latvian People in the Light of Recent His-
torical Studies", Drauga Vests (Mensagem do Amigo), 1946, n9 51/52, p. 23 ss.
(14) Cf. Bruver, Arnold, "Os Letonianos e sua Contribuição à Colonização do Sertão Brasi-
leiro", Revista de Imigração e Colonização, Rio de Janeiro, Ano XIII, 1952, n° 1, p. 48 ss.
(15) Cf. Azevedo, Aroldo, O Mundo Antigo, S. Paulo, 1965, p. 63 ss.

35
Zemgália, Latgália e Vidzeme (área de absorção dos lívios pelos selônios,
remotamente chamada Livônia pelos comerciantes germânicos ). (16)
Quanto às características raciais, as pesquisas arqueológicas deixam
perceber nitidamente as peculiaridades diferenciais, tanto de natureza
física como ocupacional e cultural, em relação aos povos vizinhos dentro
dos limites etnográficos secularmente reconhecidos. A média dos esque-
letos descobertos, que datam entre o II e o XII séculos da nossa era,
denota estruturas físicas fortes, de 1,70 m — 1,95 m de altura, de forma
craniana dolicocéfala, de face notadamente alongada, indicando a sua
filiação à raça nórdica, e não à eslava. Os letos dos tempos atuais têm
preservado através dos séculos não só a sua língua, mas também as ca-
racterísticas dos baltos, seus ancestrais. Eles são geralmente altos, de
estrutura robusta, alourados, de olhos azul-cinza. Desde tempos imemo-
riais os letos são agricultores, e certamente daí desenvolveu-se um tipo
fisicamente forte, bem como resistente, resignado e perseverante diante
das adversidades.
Do ponto de vista psicológico, é um povo piedoso, de profundo amor
à família, acentuado apego à propriedade privada, dedicação quase que
desmedida ao trabalho, senso prático e habilidoso, intransigente padrão
de justiça e igualdade de direitos para ambos os sexos e todas as classes
e de uma capacidade quase que inesgotável de suportar as vicissitudes,
como a sua história o prova através dos séculos. Também é um povo sen-
timental. Ama a música, o canto, a poesia, as artes, a literatura e as fes-
tas populares e religiosas. O orgulho de toda jovem leta é possuir habi-
lidade na arte de bordar, na culinária e nas diferentes ocupações domés-
ticas. Durante o longo inverno de cada ano (cerca de 4 meses), ela fia,
tece, costura, borda, enfim, enche a sua arca de dotes na expectativa de
um casamento. Especial interesse neste particular demonstram as mães
letas, que consideram vergonhoso dar em casamento uma filha que não
possua um considerável cabedal de conhecimentos de artes domésticas.

4. Panorama Histórico-político
4.1 — Regime monárquico
Tanto quanto as fontes históricas mais fidedignas revelam, até o
século X não houve alterações importantes no quadro histórico-político
da região, gozando, os pequenos Estados letos, de completa independência
sob o regime monárquico, sendo os wikings escandinavos os únicos vi-
zinhos que de alguma forma preocupavam os letos, devido às incursões de
piratagem e de domínio no rio Daugava, a excelente via fluvial que garan-
tia o seu comércio com o Oriente. Mas a prosperidade das tribos letas
despertou a cobiça também dos piratas procedentes do leste, ou seja, da
Rússia. Das 320 ruínas de fortificações escavadas pelos arqueólogos mo-
dernos ao longo do rio Daugava e da fronteira leste, 160 se encontram na
área desta última. Já no século XI (1040) ocorreu a primeira grande
invasão russa, com pretensões de dominação da Letônia. Foi, porém, re-

(16) Cf. Rutenberg, Otto von, Baltijas Vesture (História do Báltico), Trad. Vidinu Janis,
Riga, s/data, p. 43 ss.

36
pelida, deixando 9.000 soldados russos mortos nos campos de batalha,
segundo as crônicas eslavas. (17 ) Igualmente ocorreram ataques invasores
dos dinamarqueses e suecos às regiões de Curlândia ou Curônia e Zem-
gália, ao sul e oeste da Letônia (1049-1051), repetindo-se novos ataques
russos (1111 e 1180), porém todos desastrosos para os invasores. (18)
Mas a partir do século XIII começa o sofrimento do povo leto e dos
demais povos bálticos, e que se prolonga até hoje, para vergonha da civili-
zação, tendo havido apenas uma breve trégua de 22 anos — entre as duas
guerras mundiais — quando a Letônia gozou a sua Independência.
A seguir oferecemos um panorama desta longa via dolorosa do povo
leto através de sete séculos.
4.2 — Domínio germânico
Segundo o cronista mais antigo da Letônia, Heinricus, de Lettis
(1187) — autor da Chronicon Lyvoniae — no fim do século XII (1186),
apareceu na Livônia (assim denominavam os conquistadores teutões o
Estado conjunto de grande parte da Letônia e Estônia) o primeiro frade-
missionário católico romano, por nome Meinhard, juntamente com os co-
merciantes germânicos da Liga Comercial Hanseática, a grande vanguar-
da da expansão alemã, para cristianizar aqueles pagãos descobertos pelos
comerciantes desde 1138. (19 ) Porém os seus esforços deram resultados
bastante modestos. É que os lívios e letos, cuja religião se caracterizava
pelo naturalismo panteísta, não aceitavam com facilidade o cunho sa-
grado das imagens e da cruz, a coação e o caráter explorador e escraviza-
dor dos mercadores cristãos, cognominando os seus empórios de "colônias
de criminosos". (20)
Após a morte do bispo alemão Meinhard, veio substituí-lo o Bispo
Bertold, também alemão, mais infeliz ainda, pois apenas dois anos após
a sua chegada à Livônia (1198) foi assassinado, numa batalha fracassada,
por um lanceiro lívio. O seu contingente de cruzados despertara nos nati-
vos um ódio mortal.
Para substituir o Bispo Bertold, foi nomeado terceiro bispo da Livônia
um nobre germânico de Bremen, Albert von Apeldern. Este, em 1201,
aportou à Livônia com 23 navios repletos de cruzados, enviados pelo Papa
Inocêncio III, disposto a converter aqueles pagãos ao cristianismo a ferro
e fogo. Usando de astúcia e violência, o Bispo Albert foi conquistando a
Livônia e Curônia para o Sacro Império Romano e para a coroa da Ale-
manha, pelo que o Papa Inocêncio III concedeu, em 1215, à Livônia a
condição de Estado Eclesiástico, denominando-a Terra Mariana.
Para contar com suas próprias forças e não depender dos cruzados
papais, fundou a sua ordem militar-religiosa, denominada "Fratres Mi-
litae Christi", a qual, entretanto, em 1236 foi quase totalmente destruída
na Batalha de Saule e os remanescentes incorporados à Ordem Teutônica

(17) Letônia, Washington, American Latvian Association in United States, 1968, p. 15 (do
original em castelhano).
(18) Cf. Balorlis. Francis. op. cit.. o. 25.
(19) Cf. Merkelis, G.. Latweeschi (Letos). Riga. s/data. op. 13 e 14.
(20) Cf. Rutenberg, Otto von, Op. cit., p. 56 ss.

37
da Prússia Oriental, que a esta altura já era o terror daquelas plagas. A
reação dos nativos, por meio de guerrilhas, raptos e sacrifícios dos inva-
sores em fogueiras aos deuses etc., de nada valeu para deter a opressão
e o aniquilamento. Assim desvaneceu a aspiração unificadora dos dife-
rentes grupos do povo leto e a evolução nacional, instaurando-se na Le-
tônia o feudalismo germânico e germanizante, pela Ordem Teutônica, (21)
que ali permaneceu durante duzentos anos. No decorrer deste período
houve fases mais violentas e outras mais brandas, em que se pretendeu
atrair o povo nativo com alguns favores em troca de submissão e acei-
tação de certas exigências. Confiscadas as propriedades e formados os
grandes latifúndios, reduzidos os nativos à servidão como "glebas adscrip-
ti", os senhores feudais germânicos trataram de trocar os nomes de fa-
mília dos aborígenes, germanizando-os pela tradução. Assim surgiram
sobrenomes como Freimann, Eichmann, Andermann, Grinberg, Leimann
e outros, embora mais tarde essa troca ocorresse também por escolha
própria. (22) Também os nomes das cidades, dos rios e de outros aciden-
tes geográficos sofreram a mesma ação germanizadora; igualmente as
categorias sociais, as funções e os funcionários da ordem administrativa,
da organização militar e da estrutura eclesiástica. (23) Fig. 5
4.3 — Domínio russo-polonês
No século XV, devido à licenciosidade do clero e das classes domi-
nantes, o domínio germânico começou a enfraquecer. Vivia ele na euforia
da inexpugnabilidade, quando em 1501 os russos fizeram uma profunda
incursão na Livônia, levando 40.000 camponeses como prisioneiros de
guerra, além de grande quantidade de gado e mercadorias outras. Repe-
tiram a façanha em 1558, quando Ivan Grozny, conhecido como o Terrível,
arrasou o país na ânsia de obter para a Rússia uma saída na direção do
Báltico. ( 24 ) Entretanto, esta primeira ocupação foi breve. Em 1561 as
províncias do norte — Vidzeme (Livônia) e Latgália — uniram-se à Po-
lônia por um tratado, e as do sul Kurzeme (Curlândia) e Zemgale (Zem-
gália) — constituíram-se em Ducado de Curlândia, vassalo da Polônia,
que a esta altura já estava aliada à Lituânia, contra a Rússia. Nesta
mesma época a Suécia atacou os russos na Estônia, expulsando-os e fi-
cando perigosamente perto da Polônia, com a qual já vinha alimentando
antiga rixa por causa da Estônia. Em 1582 o imperador russo Ivan, o
Terrível, fez as pazes com a Polônia e no ano seguinte com a Suécia, de-
sistindo das regiões que havia pretendido dominar, isto é, a Livônia, a
Latgália e a Curlândia.
4.4 — Domínio sueco
Em 1621, os suecos, sob o comando de Gustavo Adolfo, rei da Suécia,
invadiram e dominaram a Livônia. Já o Ducado de Curlândia, a começar

(21) Cf. Id.. ibid.. pp. 92 a 129.


(22) Svabe, Arveds. Op. cif., p. 190(1
(21) Rilmanis. Alfred. Op. cit.. DD, 4-9.
(24) Dreimanis, P., Latvijas Vesture (História da Letônia), Riga, 1935, pp. 90 e 91.

38
pelo seu primeiro duque, Ketler, havia aceito o protestantismo luterano,
introduzido por alguns alemães e prestigiado pelo povo para sacudir o
jugo do clero católico romano, de quem guardava as mais tristes recorda-
ções. Agora também os suecos trouxeram a sua reforma ou fé luterana à
Livônia, acompanhada de novas esperanças de humanização das leis feu-
dais e mais desafogo aos camponeses.
O período de dominação sueca na Letônia durou cem anos, ou seja,
até 1721. O governo clarividente dos suecos introduziu muitas reformas
e melhorias na vida dos letos. Leis foram mudadas; os grandes latifún-
dios cujos donos não aceitavam as melhorias recomendadas foram desa-
propriados e distribuídos entre os camponeses; escolas foram fundadas
por toda parte para os filhos dos camponeses, com ensino profissional;
foi liberada aos camponeses a venda de suas colheitas em mercado livre;
foram melhoradas as estradas velhas e abertas muitas outras novas; foi
instaurada uma ordem jurídica ao alcance dos humildes; foram instituídos
o correio e outros serviços públicos. (25) Na esfera religiosa, foram sendo
construídos templos luteranos e foi exigido dos pastores que pregassem
e ministrassem os sacramentos em leto. Foi impressa a literatura religiosa
em leto, como catecismo, hinário e outros livros de caráter religioso, bem
como foi financiada pelo governo sueco a primeira tradução e publicação
da Bíblia em língua leta, tarefa para a qual foi convidado, em 1680, pelo
rei da Suécia, Carlos XI, o pastor luterano Ernst Glück, alemão, de uma
das melhores paróquias da Letônia. Terminando o seu trabalho em 1690,
foi publicado em 1694. O Pastor E. Glück fez a tradução diretamente das
línguas originais para a língua leta. (26)
Referência especial neste período merece o desenvolvimento do Du-
cado da Curlândia — praticamente soberano — particularmente durante
os anos de 1642 a 1682, sob o governo esclarecido e ousado do Duque
Jekabs, neto do primeiro Ketler. Dono de uma ampla e sólida cultura,
adquirida na Alemanha, na Holanda, na França e na Inglaterra, possuidor
de um tino comercial e de uma vocação política admiráveis, acrescidos de
uma grande vontade de servir ao povo do seu ducado, conseguiu levar o
seu governo tão longe que chegou a possuir uma frota mercante de 65
navios e uma frota militar de 64 navios armados e 36 não armados. Fa-
bricou os seus próprios canhões para todos os navios e ainda vendeu
muito armamento para o estrangeiro. Estabeleceu tratados comerciais
com as grandes potências daqueles dias, como a França, a Inglaterra,
Portugal e Espanha; adquiriu colônias na Africa, a Gâmbia, e na Amé-
rica Central, a ilha de Tobago. (27)
A província de Latgália ficou sob o domínio polonês desde 1629 até
1772, sofrendo a influência católica romana tanto religiosa como social
e politicamente. O povo nativo de Latgália, porém, não foi polonizado,
conservando a sua língua e suas tradições.
(25) Cf. Dreimanis, P., Op. cit., pp. 106-116.
(26) Svabe. Arveds. Op. cit., p. 261.
(27) Cf. Dreimanis. P., Op. cit., p. 121-126.

39
4.5 — Domínio russo
O século XVII trouxe para a Letônia modificações profundas. Com
o enfraquecimento da Polônia e sua partilha entre a Rússia e a Prússia,
os latifundiários alemães da Livônia, insatisfeitos com a política sueca,
contrária aos seus interesses, conseguiram articular uma revolta contra
a Suécia, com o auxílio da Rússia czarista. Pedro I, o Grande, lançou-se
contra a Livônia (Vidzeme) e expulsou os suecos em 1721. No ano se-
guinte atacou a Latgália e tomou-a aos poloneses. Em 1795, a Imperatriz
Catarina II, por meio de uma compra, dominou o Ducado de Curlândia
(Kurzeme ). (28 ) Desta forma todas as regiões letas estavam incorpo-
radas à Rússia, da qual só conseguiram separar-se em 1918. Durante
quase dois séculos as nobrezas alemã e russa, sob as armas do Império
Russo, reduziram o campesinato da Letônia à mais humilhante servidão.
Mas o espírito da Era Humanista e da Revolução Francesa chegou
também até a Letônia, agindo sobre os opressores.
No século XIX — logo no início — surgiram mudanças importantes
no governo da Rússia. Em 1801, ascendeu ao trono do Império Russo,
Alexandre I, cuja educação, longe dos pais, à sombra do suíço Frederic
César de La Harpe, de idéias revolucionárias, recebeu as influências do
pensamento liberal de Gibbon, Locke e Rousseau sobre a razão, a justiça
e a igualdade. Gradativamente foi introduzindo reformas, visando à li-
beração do espírito criador do seu povo, à melhoria do estatuto servil do
campesinato russo e dos povos dominados e a boa vizinhança dos últimos.
As várias revoltas dos camponeses nos fins do século anterior foram com-
preendidas pelo imperador e as suas reivindicações aos poucos atendidas,
inclusive a abolição da servidão — no sul, Curlândia (1817), no norte,
Vidzeme (1819) , e no leste, Latgália (1861). (29 ) Seus sucessores, Nicolau
I e Alexandre II, especialmente este último, seguiram a mesma política,
embora com algumas vacilações, decorrentes do temperamento pessoal.
(30 ) Isto despertou no seio do povo leto uma esperança para unificação
de suas forças a fim de conseguir a autonomia da Letônia. Já em vários
lugares os próprios senhores feudais compreenderam as aspirações do
povo e trataram de amenizar a situação deste. (31) Também a industria-
lização do Império, que havia atraído alguns jovens letos aos grandes
centros — como Riga, Reval, São Petersburgo (hoje Leningrado) —
abriu excelente oportunidade para ingressarem nas escolas médias e su-
periores e assim ampliarem a sua visão sócio-econômico-política. (32 )
Dentro de pouco surgiram jornais letos, dirigidos por esses estudantes e
alguns pastores luteranos, circulando entre o povo. É verdade que ini-
cialmente esses periódicos tiveram feição mais religiosa, mas logo foram
tomando suas cores políticas e nacionalistas, o que resultou no fechamen-
to de alguns e perseguição aos seus redatores. Mas o fator mais impor-

(2R) Id., ibid., p. 1S0.


(29) Cf. Id., ibid., pp. 186-190.
(30) Enciclopédia Barsa, Rio de Janeiro, S. Paulo, 1968, Vol. I, pp. 246 e 247.
(31) Dreimanis, P., Op. cit., pp. 163-166.
(32) Id., ibid., pp. 212-218.

40
tante no esclarecimento do povo sobre a dignidade da pessoa humana
foi a ação dos Irmãos Morávios que desde a primeira metade do século
XVIII começaram a exercer a sua influência na Letônia. A sua ênfase
pietista, que exigia na vida diária as obras como prova da fé que profes-
savam; o seu amor ao Salvador comum, que os fazia amarem-se mutua-
mente; o sacerdócio universal dos crentes, que os levava à responsabili-
dade e zelo a favor da causa comum; e finalmente a consciência, da abso-
luta necessidade de estabelecer o Reino de Deus — justo e eqüitativo —
na terra, fizeram dos Irmãos Morávios e seus simpatizantes gente escla-
recida, consciente do valor e dos deveres da pessoa humana; gente piedosa
e ordeira, exemplo para os demais camponeses na conduta e no trabalho;
gente serena e firme nas suas aspirações pela liberdade e autodetermi-
nação. Sob a sua influência, e mesmo iniciativa, os letos modificaram
grandemente o seu modo de vida, deixando o alcoolismo, o tabagismo, a
superstição etc., interessando-se muito pela instrução, pelo cuidado do
corpo, pela união e fraternidade entre si e com a vizinhança, pela leitura
da Bíblia, pelo respeito e lealdade às autoridades e às leis que não con-
trariassem sua consciência, e, principalmente, pela fidelidade aos postu-
lados de sua fé e correta compreensão dos direitos naturais do homem,
que eram discutidos em suas reuniões e conferências. (33) Mas o cresci-
mento e progresso das igrejas e congregações morávias não agradaram
aos senhores da terra e seus pastores luteranos, que trataram de oprimir
e perseguir os pietistas.
vista desta reação, o povo procurou proteção junto à igreja oficial
da Rússia czarista — a Ortodoxa Grega. Isto agradou ao Imperador
Nicolau I, que preconizava a política de russificação contra os grupos
étnicos e religiosos do seu vasto império. Seu agente, o bispo ortodoxo
Irenarca, em Riga, era procurado por grandes grupos de camponeses de-
sejosos de emigrar para o sul do Império, região do Mar Negro, onde,
dizia-se, a Coroa concedia aos agricultores terras férteis gratuitamente
como propriedade perpétua, e onde o clima era mais ameno. ( 34 ) O arce-
bispo prometia providenciar tudo, fazendo crer que o Imperador apenas
esperava que o povo passasse à Igreja Ortodoxa para lhe ajudar a sair
da situação aflitiva na Letônia. Por outro lado, os camponeses letos de-
sejavam muito ficar diretamente sob a Coroa imperial para não mais
continuar a sofrer sob os chicotes e as varas dos barões alemães, senhores
das terras, que há 700 anos atrás haviam colonizado e dominado a Le-
tônia. (35) E o povo tratou de passar para a Igreja Ortodoxa.
Para dar uma idéia do que era o sofrimento do povo sob o feudalismo
germânico, traduzimos aqui um pequeno trecho do livro escrito em 1796
pelo apóstolo da liberdade da Letônia, G. Merkelis, intitulado LATVEES-
CHI (trad. LETOS), publicado em Leipzig, Alemanha, e reeditado mais
tarde em Riga, um verdadeiro libelo contra a desumanidade dos senhores
feudais. Descreve as humilhações a que eram submetidos os camponeses

(33) Cf. Id., ibid., pp. 168 a 173.


(34) Cf. Krodzneeks, J., Zemneeku nemeeri 1841 gadã (As Revoltas dos Camponeses) em
1R41. figa. s/data. DD. h1-66.
(35) Cf. Dreimanis. P., Op. cit., pp. 201-212.

41
e em conseqüência das quais eles iam se degenerando em sua sensibilidade,
já desiludidos das reformas preconizadas, que, inúmeras vezes procla-
madas, haviam ficado apenas no papel, devido aos entraves criados pelas
artimanhas políticas regionais, configuradas no conluio dos governado-
res gerais com os grandes senhores cobertos de títulos nobiliárquicos, (36)
bem como em virtude das vacilações do próprio Imperador, sob a pressão
dos latifundiários, que lhe pagavam altos impostos. Diz G. Merkelis:
Quem é responsável por essa grosseria animalesca de que
os senhores acusam o povo? — A culpa é vossa, nobres covar-
des! A despeito do vosso sorriso e dos vossos altos conceitos de
humanidade, vós, como os monges dos tempos antigos, tentais
conservar os vossos concidadãos em nível cultural mais baixo. O
vosso pé despótico esmaga o mais tenro botão de consciência
própria que tenta desabrochar neles. Eles têm que asseme-
lhar-se aos animais, para vós poderdes nadar nos mais refina-
dos arroubos de vossa ostentação e de vossa luxúria. Por isso
vós contornais toda e qualquer ordem que vise ao seu bem-es-
tar. Por isso vós castigais como crime toda e qualquer mani-
festação de consciência própria que neles surja, ou escarneceis
da mesma, aproveitando-a para novas torturas. Com as costas
vergastadas e o estômago vazio — ou repleto de farelo — o leto,
certamente, não ascenderá ao nível de amor, de amizade, de
gratidão, de generosidade, ou de qualquer outra virtude que
seja própria do ser humano. Porém, dai-lhe liberdade e tempo
para ganhar o seu próprio sustento e adquirir instrução e cul-
tura, e ele se tornará rapidamente melhor homem do que a
grande maioria de vós. A prova das minhas palavras está nas
poucas regiões em que se observa a prosperidade do agricultor
trazida pela marcha dos tempos. (37 )
Porém nada valeu a busca de proteção na Igreja Ortodoxa oficial.
As peregrinações do povo à sede do bispado ortodoxo em Riga, para alis-
tar-se no movimento emigratório para o sul, implicava em falta ao ser-
viço obrigatório nos latifúndios dos senhores feudais germânicos e em
fuga ou abandono de seus senhores, igualmente crime, passível dos mais
severos castigos corporais, aplicados sem piedade. Isto revoltou os cam-
poneses a tal ponto que em 1841 passaram eles ao ataque. De armas,
ferramentas agrícolas e paus em punho, atacaram furiosamente inúmeras
fazendas incendiando e saqueando, ferindo e matando. (38 ) No auge da
revolta, os barões feudais conseguiram do Imperador um exército para
reprimir a revolta. Esta foi abafada a ferro e fogo. (39 ) Os revoltosos
foram presos, castigados fisicamente, mortos alguns e muitos deportados
para as áreas gélidas da Sibéria, em trabalhos forçados nas florestas
e na mineração. (")

(36) Cf. Merkelis, G., Op. cit., pp. 69-85.


(37) Merkelis, G., Op. cit., pp. 85 e 86.
(38) Cf. Dreimanis. P., Op. cit.. pp. 201-208.
(39) Cf. Krodzneeks, J., Op. cit., pp. 70-122.
(40) Cf. Svabe, Arveds, Op. p. 2714.

42
O sangue daquela revolta havia manchado todo o território da Le-
tônia. Milhares que se haviam tornado ortodoxos voltaram ao luteranis-
mo, desiludidos em suas esperanças, pois o preço da russificação do czar
lhes pareceu demasiado alto. O povo estava dizimado. Os camponeses
aparentemente haviam perdido a batalha. Os letos citadinos eram tão
poucos e tão controlados pelos sindicatos de classe que praticamente ne-
nhuma expressão possuíam, pois sua admissão em atividades profissio-
nais dependia de provas de libertação da servidão agrícola e obedecia a
uma certa porcentagem em relação aos profissionais alemães. (41) Igual-
mente a Constituição das Cidades limitava ao mínimo o número de re-
presentantes letos em seus conselhos, para não propiciar ocasião ao sur-
gimento de movimentos nacionalistas indígenas. Em tais circunstâncias,
as aspirações pela autonomia do povo autóctone pareciam esvaecer-se.
Porém a partir da metade do século XIX começou um período de
"Despertamento da Nacionalidade" — assim denominado pelos historia-
dores — que teve a sua culminância na proclamação da independência da
Letônia em 1918. Concorreram para a formação dessa caudal de idéias
e ideais os seguintes fatores: a atuação cautelosa, mas positiva, de vários
pastores luteranos alemães dos feudos germânicos, que durante os seus
estudos no estrangeiro haviam absorvido bastante do iluminismo cultu-
ral-filosófico da época: (42) o liberalismo de alguns senhores feudais,
que, em assembléias de sua classe (Landtags) procuravam analisar racio-
nal e objetivamente os motivos e as conseqüências das revoltas dos cam-
poneses; ( 43) a decretação, por etapas, do czarismo russo, de medidas
com vistas à concessão de alguns direitos políticos à população campesina
e posterior russificação da mesma, em oposição à germanização, a que
procedia a maioria das escolas paroquiais dos feudos ; (44 ) aparecimento
de escolas municipais e ginásios oficiais onde lograram estudar vários
filhos de letos que, mais tarde, com a cultura ampliada em universidades
estrangeiras, tornaram-se os paladinos do idealismo nacionalista; (45) o
surgimento de alguns seminários de professores para treinamento de jo-
vens letos como mestres auxiliares nas escolas paroquiais, dos quais mui-
tos "escapavam" para Terbate (Estônia), S. Petersburgo e Moscou, onde,
à sombra dos barões eslavófilos e da Coroa, alcançaram maior cultura,
que mais tarde colocaram a serviço da causa da emancipação do povo
leto; (46 ) o aparecimento de jornais, revistas e livros — uns poucos im-
pressos por pastores luteranos alemães na Letônia, outros por acadêmicos
e escritores letos em S. Petersburgo — que iam divulgando os ideais da
nacionalidade através de contos, poesias, comentários e traduções, usando
metáforas e outras figuras de linguagem, uma vez que a censura estava
atenta; (47) a atuação dos Irmãos Morávios e o surgimento dos batistas,

(41) Cf. Svabe, Arveds, Op. cit., pp. 577, 2103, 2127.
(42) Cf. Id., ibid., pp. 2715 e 2716.
(43) Dreimanis, P., Op. cit., pp. 208-232.
(44) Cf. Dreimanis, P., Op. cit., pp. 185-200.
(45) Cf. Svabe; Op. cit., p. 825.
(46) C. Id., ibid., pp. 294, 421, 565, 1772. 226R.
(47) C. Id., ibid., pp. 1997, 1978, 2426-2428, 2022-2025.

43
que, sem se imiscuírem na política, com suas escolas, seu testemunho, sua
doutrina e seus ideais concernentes à liberdade humana e responsabili-
dade individual, influenciaram amplas áreas no seio do povo; (") a fun-
dação (1868) e atuação da Sociedade Leta de Riga, com fins filantrópicos
e culturais, que se tornou uma força aglutinadora de natureza político-so
cial; (49 ) a realização, desde 1873, de grandes festivais nacionais de coros
folclóricos; e finalmente, o surgimento da classe média, que, por razões
estratégicas e imediatistas, sendo mais russófila que germanófila, desen-
volveu e sustentou o ideal de conseguir a autonomia da Letônia dentro
da hegemonia russa como primeira etapa para chegar à emancipação da
povo leto e independência do país. (5°)
Embora politicamente a Letônia não mais pertencesse ao mundo ger-
mânico, mas russo, os tentáculos do feudalismo estavam presentes na cor-
te russa para fazer valer seus interesses, preparando uma reação oficial
ao movimento de Despertamento da Nacionalidade. Aumentando a polí-
tica de russificação nas escolas — em que aos alunos não era permitida
nem a conversação em língua leta — nos tribunais — onde a legislação
agrária, tributária, social e criminal passou a ser impressa em russo e
controlada por funcionários russos (51) — e nos domínios da consciência
religiosa, pelo incremento da influência e do poder oficial do clero orto-
doxo, obedecendo ao princípio imperialista clo Czar Alexandre III enf e-
chado no célebre slogan "um czar, uma fé, uma língua", a nobreza feudal
germânica viu-se afastada do controle da situação na Letônia e o povo
leto exposto a dois inimigos poderosos dentro de sua própria terra — o
gendarme autocrático russo e o arrogante senhor feudal germânico.
verdade que a essa altura da história do povo leto já o camponês havia
sido libertado da servidão escravagista, mas ele ficou sem a terra, que foi
expropriada em troca do resgate de sua liberdade pessoal, fato este que o
deixou sem o pão de farelo que vinha junto com a servidão. Tentou-se
corrigir tal situação por meio de uma instituição que se denominou "Klau-
shu darbi", em que o camponês podia adquirir com serviço ou em espécie
(a produção) a área de terra que ocupava antes, (82 ) mas outras implica-
ções tornavam a medida quase que mera continuação da situação anterior.
A despeito de tudo, porém, as aspirações nacionalistas dos letos
cresciam em harmonia com o progresso e o liberalismo generalizados na
Europa na segunda metade do século XIX. O desenvolvimento da indústria
nas cidades, especialmente em Riga — que a esta altura já era, em im-
portância, a segunda cidade de todo o Báltico — atraía a mão-de-obra
dos sem-terra, tornando a outrora maioria germânica em minoria. (53)
Gradualmente foi se desenvolvendo a liderança de Riga, tanto comercial
como industrial, política, artística e intelectualmente, de modo especial
devido ao prestígio do seu Instituto Politécnico, que atraía a atenção até

(48) Cf. Id., ibid., pp. 293. 203 e 204.


(49) Cf. Id., ibid., p. 2164.
(50) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 41.
(51) Cf. Svabe, Arveds, Op. cit.,. p. 1860.
(52) Cf. Id., ibid., pp. 1021 e 1022.
(53) Cf. Dreimanis. P., Op. cit., p. 269.

44
de numerosos jovens de países vizinhos. Esses estudantes estrangeiros,
com os nacionais e alguns intelectuais letos em São Petersburgo, Moscou
e capitais de outros países, estabeleceram contatos com movimentos rei-
vindicadores similares na Polônia, Estônia, Lituânia e na própria Rússia.
Em abril de 1903 foi realizado o 1° Congresso das Nações Bálticas Opri-
midas, ao qual compareceram vários patriotas letos. A decisão desse
congresso foi no sentido de incrementar uma luta interna contra o do-
mínio czarista e a opressão dos barões alemães em todos os países opri-
midos, com vistas à sua independência. Liderado pela classe intelectual,
o povo leto acolheu com entusiasmo a resolução e começou a exigir, por
toda parte, escolas letas, uso da língua leta nos tribunais e nas transações,
melhores condições de trabalho para os camponeses e para os operários,
eleições universais para as Dietas municipais, mais ampla liberdade de
consciência, de imprensa, de associação, de reunião etc. (54)
Ao raiar do século XX raiaram também esperanças mais vívidas de
liberdade democrática para o povo leto. A simultaneidade das reivindica-
ções dos povos bálticos e das classes agrária e operária da própria Rús-
sia, justamente nos dias dos maiores fracassos da guerra russo-japonesa,
atordoaram o governo imperial. E quando, em 9 de janeiro de 1905, em
São Petersburgo, os operários russos organizaram, sob a direção do sa-
cerdote ortodoxo Gapon, a sua marcha pacífica ao palácio de inverno
do czar, para lhe pedir medidas que aliviassem a sua sorte, o governo
mandou atirar sobre a multidão, havendo 96 mortos e 333 feridos. (55)
Foi o estopim da chamada. Revolução de 1905, movimento político-social
que incendiou as províncias bálticas, a Polônia e a própria Rússia. A
camarilha palaciana dos barões da Letônia conseguiu engendrar junto
ao governo uma intriga tal que esse país tornou-se alvo das maiores atro-
cidades para eliminar o seu movimento nacionalista. Milhares de letos
de todas as camadas sociais, cidadãos cônscios de seus direitos e deveres,
patriotas legítimos, foram aprisionados, fuzilados ou deportados para a
gélida Sibéria, condenados a trabalhos forçados. (56) Entretanto, alguns
conseguiram esconder-se ou fugir para o estrangeiro, enquanto grandes
grupos emigratórios, desiludidos em suas esperanças de sobrevivência dig-
na em sua própria terra procuraram novos ares nos Estados Unidos da
América do Norte, no Canadá e no Brasil. (57)
Porém após a revolução de 1905, em todo o Império Russo começou
a verificar-se uma mudança gradativa de monarquia absoluta para um
regime de monarquia constitucional liberal. (58) Tal fato fortaleceu a
consciência nacional dos letos e preparou caminho para uma nova etapa,
agora afinal, na luta pela independência da Letônia. Embora a onda
revolucionária tivesse interrompido o desenvolvimento cultural e material

(54) Cf. Bilmanis, Alfred, Op. cit., pp. 43 e 44.


(55) Cf. Svabe, Arveds, Op. cit., p. 1930.
(56) Id., ibid., pp. 1931-1933.
(57) Cf. Bilmanis, Alfred, Op. cit.., pp. 44-46.
(58) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 1933.
(59) Plutte, W., "Lauku strahdneeku aizeeschana uz pilsehtu" (O Êxodo dos Camponeses
para a Cidade), Austrums (Oriente), Riga, 3 de março de 1898, pp. 229 a 235.

45
do povo e arrebatado valores conspícuos da campanha da emancipação,
com a mudança do regime monárquico, já referida, a recuperação se pro-
cessou rapidamente. A revolução industrial, que nas duas últimas décadas
do século XIX já havia alcançado a Letônia, (09) após o movimento de
1905 tomou um impulso novo, havendo, por exemplo, em 1910,782 fábri-
cas no país, com 93.000 operários, contra 478 fábricas, com 62.000 ope-
rários, em 1900. As 136 associações rurais promoviam exposições, con-
ferências, seleção do gado leiteiro, desenvolvimento da indústria de lati-
cínios, da apicultura, da horticultura etc. Também foram criadas neste
período nada menos de 267 instituições de crédito, facilitando aos peque-
nos proprietários e aos operários das cidades a aquisição dos meios de
fazer render mais o seu trabalho, construir casas próprias etc., assim
aumentando rapidamente a classe média. Com o desenvolvimento eco-
nômico do povo, incrementou-se o desenvolvimento social e cultural. Sur-
giram novos líderes e mentores em todas as camadas do povo e em todos
os setores da vida nacional. (60 ) Foram promulgadas novas leis que per-
mitiram o direito de representação, relativa liberdade de imprensa (59 jor-
nais circulavam no ano de 1913), bem como a liberdade de se criarem es-
colas letas com ensino da língua leta paralelamente à russa. (61 ) É óbvio
que todo esse desenvolvimento proporcionou meios e condições de elevar o
nível cultural e social dos letos, permitindo-lhes a afirmação de sua nacio-
nalidade e a capitalização de tudo em favor de sua completa liberdade e
independência do país.

4.6 — Regime republicano

Irrompendo a I Guerra Mundial em 1914, o povo leto tentou sacudir,


uma vez por todas, o jugo latifundiário alemão, bem como se livrar da
opressão política dos russos. Os letos ofereceram à causa dos aliados
um exército de 180.000 soldados, dentre uma população de cerca de
2.000.000 de habitantes. Apesar da existência de fortes bases militares
russas na Letônia, os alemães, invadindo o país pelo sul, puseram em
debandada os contingentes russos. Os letos lutaram ferozmente em de-
fesa de sua terra, dificultando e retardando a penetração do inimigo,
perdendo 32.000 homens entre 1915 e 1917, quando quase toda a Letônia
foi ocupada pelo inimigo. Cerca de 850.000 refugiados civis se espa-
lharam pela Rússia, (62 ) abandonando ao fogo das tropas russas em reti-
rada as suas casas e ao saque dos invasores alemães o seu gado e tudo mais
que escapasse aos incêndios. Mas os letos estavam convictos de que após
a guerra os aliados reconheceriam os seus direitos de uma nação livre e
os seus enormes sacrifícios a favor da causa aliada. Os líderes letos em
S. Petersburgo e Moscou organizaram comitês de ajuda aos refugiados —
ao todo 83 — procurando manter acesa a chama da nacionalidade, a fé
num futuro feliz e a unidade em torno do firme propósito de ver a Letô-

(60) Dreinamis, P., Op. cit., pp. 276 e 277.


(61) Id., ibid., p. 279.
(62) Bruver, Arnold, "Os Letonianos e Sua Contribuição à Colonização do Sertão Brasileiro",
Revista de Imigração e Colonização, Rio de Janeiro, Ano XIII, 1952, n9 1, p. 54.

46
nia livre do jugo estrangeiro quase milenar. (63) Depois de postas a salvo
do fogo da linha de frente as famílias dos refugiados, esses comitês, com o
apoio das autoridades russas — solicitado pelos três representantes letos
no parlamento imperial (Dome) — organizaram novos contingentes de
voluntários de todas as idades, que, juntamente com os que já haviam
emigrado da Letônia após a revolução de 1905, foram incorporados às
tropas russas para voltarem à terra natal e lutarem pela expulsão do
inimigo germânico, comum aos russos e letos. Porém os russos se omiti-
ram, deixando os letos sozinhos no fogo.
Nessa altura irrompeu na Rússia a chamada revolução socialista de
1917, caindo o czarismo. Falava-se, então, em "Letônia livre na Rússia
livre", ou seja, a Letônia autônoma dentro de uma federação russa de
nações. Era válida esta idéia para os letos, porém apenas como primeira
etapa para a conquista da plena e total independência do povo leto. En-
quanto os socialistas-comunistas russos estavam às voltas com a afirma-
ção de seu poder e autoridade em seu próprio país, constituiu-se, em
território russo — em S. Petersburgo — a Junta Nacional Provisória da
Letônia, composta de representantes de várias associações e organizações
de classe, que realizou a sua primeira sessão na cidade leta de Valka,
em novembro de 1917, na faixa ainda não ocupada pelos alemães. A Junta
Nacional Provisória imediatamente divulgou um protesto contra qualquer
divisão ou anexação do território leto, proclamando a Letônia um Estado
autônomo, cuja ordem interna e relações externas seriam determinadas
por uma Assembléia Constituinte e um plebiscito. Os socialistas russos,
percebendo o rumo que estavam tomando os acontecimentos, deram co-
bertura à organização de um governo comunista leto, que também insta-
lou-se na mesma faixa não ocupada pelos alemães, definindo-se contra a
autonomia da Letônia. A Junta Nacional Provisória apressou-se a enviar
a Londres um representante que conseguiu o reconhecimento da Letônia
como Estado de fato por parte da Inglaterra, e sua simpatia em favor das
aspirações nacionalistas do povo leto. Nessa altura ocorre a ocupação
total do país pelos germânicos, mas também, e imediatamente, a queda da
Alemanha. Seguem-se, então, as demarches para a unificação das facções
políticas do povo das três províncias étnicas — Vidzeme (antiga Livônia),
Kurzeme (antes dividida em Curlândia e Zemgália) e Latgale (antiga
Latgália). A 17 de novembro de 1918, organiza-se em Riga, com repre-
sentantes dos vários partidos políticos e de associações de classe, o Con-
selho do Povo da Letônia, em cuja primeira sessão fica eleito como Pri-
meiro Ministro o Dr. Karlis Ulmanis — graduado pelos Departamentos
de Agricultura das Universidades de Zürich — Suíça, Leipzig — Alemanha
e Lincoln, Nebraska U.S.A. (64) É marcado o dia seguinte para a pro-
clamação da independência e instalação do Governo Provisório. No dia 18
de novembro, às 5 h da tarde, no amplo Teatro de Ópera de Riga, é pro-
clamada, solenemente, a independência da República Democrática da Le-
tônia e declarado instalado o Governo Provisório. O coro da Ópera com

(63) Svabe, Arveds, loc. cit., pp. 230 e 231.


(64) Svabe, Arveds, loc. cit., pp. 2528 e 2529.
47
o povo apinhado no Teatro entoa, comovidamente, três vezes, a chamada
Súplica do Povo — "DIEVS, SVETI LATVIJU!", e cuja tradução é
"Deus, abençoa a Letônia", cantada pela primeira vez no I Festival de
Coros em 1873, tornando-se desse dia em diante o Hino Nacional da Le-
tônia. As forças germânicas de ocupação em Riga a tudo assistiam pas-
sivamente, obrigadas a tanto pelo armistício com os Aliados. (55)
Golpeado em seus interesses, o comando germânico retardava a trans-
ferência da administração do país ao novo governo. Também mal obser-
vava as suas obrigações de defesa da fronteira leste ou seja, a fronteira
da Letônia com a Rússia. O Governo Provisório, surgindo como que das
próprias cinzas de uma terra devastada e empobrecida, além de enfrentar
os problemas normais de um novo país que se levanta, isto é, os econômi-
cos, sociais, sanitários e políticos, tinha que defrontar-se com dois inimi-
gos simultaneamente — os germânicos, que dificultavam a ação do go-
verno, e os destacamentos vermelhos russos, que invadiram o país em
5 de dezembro de 1918 — portanto, apenas 17 dias após a proclamação da
independência — encabeçados por um governo comunista leto "quisling",
formado na Rússia. (66) A situação era muitíssimo crítica. Abriu-se o
voluntariado para lançar tropas nacionais contra o inimigo vermelho,
mas era necessário primeiramente expulsar os alemães, que estavam fa-
zendo em muitos pontos o jogo dos vermelhos, entregando-lhes armas e
munições a título de capitulação. As frotas da Inglaterra e França no
Báltico forneceram armas, munição e víveres para os batalhões de volun-
tários. Reanimados pelas antigas pretensões de povoar os países bálticos
com colonos procedentes da Alemanha, os alemães organizaram, em Ber-
lim, uma sociedade colonizadora da Curlândia — "Die Landgesellschaft
Kurlande" — com imensos recursos financeiros para a empresa que o
próprio Kaiser Guilherme II havia prestigiado com duas visitas pessoais
à Jelgava, capital do antigo Ducado de Curlândia, no Sul da Letônia.
Obviamente, tal plano apaixonou os letos, e estes lançaram-se numa luta
mortal contra os alemães, os quais, derrotados e tomados de pânico, fo-
ram queimando e destruindo tudo que encontravam na sua fuga deses-
perada. Afinal, em 15 de julho de 1920, a Alemanha pediu armistício e
foi assinado o tratado de paz. (67)
Entrementes, as tropas vermelhas russas haviam ocupado uma gran-
de parte do território da Letônia, inclusive Riga, a capital. O Governo
Provisório já havia se transferido para Liepaja, no sul do país, onde per-
maneceu por pouco tempo, pois os alemães obrigaram-no a retirar-se
a bordo do navio inglês "Saratov", fundeado ao largo. O Primeiro Mi-
nistro dirigiu-se à Suécia e Estônia para conseguir apoio em tropas, o
que de fato se concretizou na Estônia. Grandes contingentes de soldados
estonianos, incorporando também grande número de letos do norte da

(65) Cf. Dreimanis, P., loc. cit., pp. 290-296.


(66) Bilmanis, Alfred, loc. cit.,. p. 50.
(67) Svabe, Arveds, loc. cit., pp. 309 a 312. Também Bruver, Arnold, "Os letonianos e sua
contribuição à colonização do sertão brasileiro", Revista da Imigração e Colonização, Rio de
Janeiro, Ano XIII, 1952, n° 1, pp. 54 e 55. E ainda Dreimanis, P., loc. cit., pp. 300 a 309.

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Fig. 1. Posição geográfica da Letônia em relação aos demais países


da Europa.
Fig. 2. Mapa da Letônia.

Fig. 3. Vista panorâmica da cidade de Riga, capital da Letônia.


Fig. 4. Torre da Igreja de São Pedro em Riga,
incendiada pelos comunistas.

Fig. 5. Ruínas do castelo medieval de Kokne-


se construído em 1205.
Fig. 6. Monumento da Liberdade na cidade de Riga.
Fig. 7. Teatro da Opera Nacio-
nal da Letônia, em Riga.

Fig. 8. Jovens letas em trajes nacionais.


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Where Bal-tic he- roes trod, keep her from harm 1 harm

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Our bloo-ming daugh-ters near, Our sin-ging sons ap- pear,May For- tune
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lai- mé sliet, wils. Lat-vi - - jã. Lat - vi - jã.


smi- ling here Grace Lat-vi-a. Grace Latvi a.

Fig. 9. Hino Nacional da Letónia.


Fig. 10. Vista geral de um Festival Nacional de Coros em Riga.

Fig. 11. Uma Casa de Oração dos Irmãos Morávios na Letônia.


Fig. 12 Ana Peterlevitz Ger- Fig. 13. Pastor Dr. J. A. Freijs.
tner, esposa do pio-
neiro batista leto no
Bãltico, Adams Ger-
tner.

Fig. 14. Pastor João Inkis Fig. 15. Templo da Igreja Batista de Mateus,
(ou Janis Inkis). Riga, Letônia.
Fig. 16. Edifício da União das
Igrejas Batistas da Le-
tônia, em Riga.

Fig. 17. Primeira Conferência Batista dos Países Bálticos, realizada em


Riga, Letônia, no ano de 1926.
Fig. 18. Karlis Balodis.

Fig. 19. Sociedade de Moças da Igreja Batista Leta de Rio Novo, SC,
em 1898.
Fig. 20. União dos Moços da Igreja Batista Leta de Rio Novo, SC,
em 1901.

Fig. 21. Arthur Leimann


(sentado) e Carlos
Leimann (de pé).
Fig. 22. Segundo templo da Igreja Batista Leta de Rio Novo, SC,
fotografia tirada em 1897, por ocasião do 5.° aniversário da
igreja.

Fig. 23. Coro da Igreja Batista Leta de Rio Novo, SC, em 1913.
Fig. 25. Pastor Alexandre Klavin, esposa, D.
Kate, e filho, Paulo Alexandre (no
colo de D. Kate) e Zelma, em 1904.

Fig. 24. Dr. Guilherme Bu-


tler (ou William Bu-
tler).

Fig. 27. Missionário Carlos Roth ( ao centro) e os quatro primeiros


estudantes do seu pequeno Seminário, todos letos. Da
esquerda para a direita: Frederico Leimann, Alexandre
Klavin, Ricardo J. Inke e João Nettenberg, Porto Alegre,
1903.
Fig.28.Pastor
Karlls
Ander-
manis.

Fig. 29. Pastor João Inkis em trajes gaúchos,


em Ijui, Rio Grande do Sul (1899).

Fig. 30. Fotografia da Igreja Batista Leta de Ijui — Linha 11, tirada
em 1947, junto do prédio da primeira Escola Anexa, que por
muitos anos servia de templo.
Fig. 31. Prof. André Gailis, com os primeiros alunos da "Aula Leta".

Fig. 32. Pastor Frederico Leimann.


Fig. 33. Irmão Silvestre Joaquim Rosa à
frente do seu rancho, primeiro ín-
dio convertido e batizado, membro
da Igreja Batista Leta de Ijui —
Linha 11, RS.

Fig. 34. Pastor Guilherme Leimann (ou


Wilis Leimann) e esposa, D. Lúcia.
Letônia, atacaram o flanco direito das tropas vermelhas, assim retar-
dando o avanço do invasor. (68) O coronel Inglês, Alexander — o famoso
Marechal Alexander da II Guerra Mundial — comandou uma das divisões
letas da frente russa. Extremamente cruéis foram as batalhas com os
comunistas, mas finalmente, após a vitória esmagadora na frente alemã,
o exército nacional — já nesta altura com cerca de 200.000 soldados mo-
bilizados — rompeu as linhas russas, desorganizou as suas defesas e,
com o auxílio das tropas polonesas, perseguiu os vermelhos seu próprio
território a dentro, longe da fronteira, inflingindo-lhes completa derrota.
Porém, não menos cruel foi a ação bolchevista contra as populações civis
e os prisioneiros nas áreas letas ocupadas pelos russos, revelando, assim,
a verdadeira feição do comunismo. Igrejas eram transformadas em tri-
bunais populares, clubes de oficiais e tabernas; os quadros de arte sacra
foram quebrados e lançados nas fossas sanitárias; os camponeses eram
presos e martirizados ao menor sinal de resistência às arbitrariedades dos
invasores; alguns milhares de cidadãos foram fuzilados e outros tantos
exilados para a Sibéria (69 ) e condenados a trabalhos forçados, inclusive
pastores batistas e outros, que sofreram torturas indescritíveis registra-
das em depoimentos de testemunhas oculares, publicados em documentos
até hoje não contestados. ( 70 ) Finalmente, após dois anos de lutas san-
grentas pela liberdade e independência da Letônia, foi assinado o Tratado
de Paz com a Rússia, em Riga, a 11 de agosto de 1920, cujo Artigo 2° re-
zava o seguinte:

Em virtude do princípio proclamado pela República Federal


Socialista da Rússia Soviética, que estabelece o direito de au-
t odeterminação para todas as nações e de igual forma a total
separação dos Estados nos quais elas têm estado incorporadas,
e em virtude do desejo expresso pelo povo da Letônia de possuir
uma existência nacional e independente, a Rússia reconhece,
sem reservas, a independência, bem como a auto-subsistência e
a soberania do Estado da Letônia, e, voluntariamente e para
todo sempre renuncia a todos os direitos de soberania sobre o
povo leto e seu território, que antigamente pertencia à Rússia
sob o então existente direito constitucional, bem como sob os
tratados internacionais, que, no sentido aqui indicado, deixam
de ter validade para o futuro. O status anterior de sujeição da
Letônia à Rússia não acarreta qualquer obrigação para com
a Rússia no que diz respeito ao povo leto ou seu território. ( 71)
Fig. 6

(68) Cf. Drejmrmis, P.. Op. cit., pp. 320-322.


(69) Cf. Svabc, Arveds, Inc. cit., pp. 313, 328-343.
(70) Cf. Mãcitãji kas navê gãja (Pastores que marcharam para a morte), Limbazi, Edição
do Sínodo da Igreja Luterana, sem data, pp. 23-164.
(71) Cf. Bilmanis, Alfred, loc. cit., pp. 50 e 51. Também Bruver, Arnold, "Letônia e Sua
Imigração para o Brasil", Revista Parlamentar, Rio de Janeiro, Ano III, n° 3/4, março-abril,
1949, p. 123.

49
Seguiu-se um período de reconstrução e consolidação da vida nacio-
nal, com eleição da Assembléia Constituinte; o reconhecimento de jure
pelas grandes potências européias e as repúblicas americanas; recepção
da Letônia como membro da então Liga das Nações (22 de setembro
de 1921) ; organização da administração política e jurídica, dos trans-
portes e comunicações, da segurança, da educação, da economia e finan-
ças, da saúde, da agricultura — procedendo imediatamente à reforma
agrária; da indústria e comércio etc. A 3 de fevereiro de 1932 foi assi-
nado o tratado de não agressão entre a Letônia e a Rússia. Entretanto
cedo foram percebidos pelos diplomatas letos os indícios dos intentos das
potências vizinhas. A par do desenvolvimento amplo e rápido da vida
interna do país, tanto nas áreas política e econômica, cultural e artística
— criando-se a Universidade da Letônia, o Instituto Histórico, a Academia
de Arte, o Conservatório de Música etc. — como nas suas relações políti-
cas e comerciais com o exterior, crescia também a apreensão quanto à
validade dos tratados assinados com as duas grandes potências vizinhas
— Alemanha e Rússia — que faziam dos ditos tratados com os países
Bálticos meras cortinas de papéis, que a cada momento poderiam ser rom-
pidas. (72 ) (*) Fig. 7

4.7 — Opressão russo-comunista

Infelizmente a paz, a prosperidade e a liberdade duraram na Letônia


apenas duas décadas após as sangrentas lutas pela libertação do jugo
estrangeiro de sete séculos. Em 1939 principiou a II Guerra Mundial
inicialmente limitando-se à Alemanha versus Polônia. Ainda no mesmo
ano, a 5 de outubro, a Letônia foi convidada a assinar, em Moscou, um
tratado de ajuda mútua com a Rússia, o que foi feito também com os
demais países bálticos. Aumentando o perigo com o avanço alemão, ba-
seada no referido tratado, a Rússia exigiu logo permissão e facilidades
para a instalação de bases militares no território leto, bem como a en-
trada de 300 "técnicos" civis para proceder a tais instalações. Seguiu-se
a ocupação das bases por 30.000 soldados russos. A negação da Finlândia
de assinar tratado semelhante com a União Soviética havia sido respon-
dida com invasão daquele país. Apesar de heróica resistência, a Finlândia
capitulou em 11 de março de 1940. Entrementes surgiram greves em vá-
rios setores vitais da Letônia, inundando-se o país com propaganda anti-
governista. Os acontecimentos foram-se sucedendo rapidamente e a 17
de junho de 1940 as colunas motorizadas soviéticas ocuparam a Letônia
numa operação-relâmpago, consumando-se a incorporação do país à União
Soviética a 21 de julho do mesmo ano, à sombra de um governo fanto-
che. ( 73 ) Estava feito em pedaços o tratado de paz de 11 de agosto de
1920 com o seu Art. 2°, passando o país a sofrer toda sorte de vicissitudes,
desde desapropriações arbitrárias e sumárias até a coletivização total das

(72) Cf. Svabe, Arveds, loc. cit., pp. 99-129.


(*) A esta altura, 1922, começou o maior movimento de emigração dos batistas letos para
o Brasil, em que cerca de 2.300 pessoas, de muitas igrejas batistas letas, se estabeleceram na
Colônia Varpa, fundada a 1 de novembro de 1922, no interior de São Paulo.
(73) Cf. Id., ibid., pp. 801-803.

50
propriedades rurais, prisões, fuzilamentos e deportação dos julgados in-
convenientes ao regime. Numa só noite, entre 13 e 14 de junho de 1941,
foram presas e deportadas em vagões de transporte de gado, para a Si-
béria e outras regiões longínquas da Rússia, cerca de 35.000 pessoas,
entre homens e mulheres e crianças, separando-se os chefes de suas res-
pectivas famílias. ( 74 ) Nunca antes a Letônia, em tão pouco tempo, havia
experimentado tamanho terror.

4.8 — Opressão nazista

Deflagrada a guerra entre a Alemanha e a Rússia em 22 de junho de


1941, a Letônia caiu sob a opressão dos alemães nazistas a 19 de julho
do mesmo ano. Os russos em retirada dinamitaram pontes e estradas,
incendiaram edifícios públicos, igrejas, indústrias e cidades inteiras, bem
como propriedades rurais, deixando o povo em completa miséria. Porém
os nazistas alemães não foram menos cruéis. As velhas pretensões ger-
mânicas sobre os países bálticos recrudesceram com ousadia sem prece-
dentes. Por um decreto do governo alemão em 28 de julho de 1941, foi
constituída a nova província germânica de "Ostland", abrangendo os paí-
ses bálticos e a Rússia Branca, proclamando-se, no órgão oficial Deutsche
Zeitung im Ostland de 19 de outubro de 1941, a estranha teoria de "he-
rança das conquistas soviéticas", em que, tratando dos direitos de pro-
priedade nos territórios ocupados pela Alemanha, se diz:

Desde o começo da guerra germano-soviética, em 22 de


junho de 1941, a propriedade privada não existe mais nos paí-
ses sob a lei soviética, pelo que ninguém mais pode reivindicar
direito legal de proprietário. Pelo sacrifício do sangue dos sol-
dados germânicos esses países foram libertados. Conseqüen-
temente, o Reich Alemão considera-se o herdeiro legal das con-
quistas soviéticas. ( 75)

Com tal "lógica" e tal "libertação" os alemães prepararam um novo


martírio para o povo leto. A bota germânica pisou impiedosamente, pal-
mo a palmo, a terra leta, esmagando as tentativas de resistência de qual-
quer espécie. As prisões já não comportavam o número de presos, pelo
que foram deportados para a Alemanha, principalmente os militares. Du-
rante a ocupação alemã da Letônia, foram deportados nada menos de
32.000 cidadãos, como antinazistas ou simplesmente prejudiciais aos pro-
pósitos germânicos, além dos 12.000 operários recrutados para a indús-
tria alemã. ( 76 )

A devastação do país durante as batalhas russo-alemãs foi algo pa-


voroso, principalmente nas regiões leste e sul. Para se ter uma idéia
sobre a situação reinante naquela altura da história da Letônia e das con-
seqüências da mesma sobre o povo, segue, em tradução, no Anexo I, um

(74) Cf. Id., ibid., pp. 474-478.


(75) Cf. Bilmanis. Alfred, Op. cit., p. 168.
(76) Cf. Svabe, Arveds, Op. cit., p. 479.

51
breve relato das experiências pessoais do Pastor A. Meters, presidente da
União das Igrejas Batistas da Letônia durante quinze anos consecutivos,
cargo que deixou em plena ocupação alemã em 1942. (77 )

4.9 — Domínio Soviético

Em fins de 1944, os exércitos alemães principiaram a recuar em to-


das as frentes, caminhando para o colapso. O poder militar comunista
russo invadiu os países bálticos pelo leste. Ocupando mais da metade
do território da Letônia, o exército soviético reeditou os saques, as cruel-
dades, as violências e as perseguições arbitrárias do chamado "ano tene-
broso" — de junho de 1940 a julho de 1941 — da primeira ocupação co-
munista do país durante a II Guerra Mundial. Apavorados com a pers-
pectiva do terror, os fugitivos, em vagas enormes, deslocavam-se pelas
estradas para o sul, na direção da Alemanha, em parte sob ordens mili-
tares alemãs para conseguir mão-de-obra para a indústria dizimada pela
guerra naquele país, em parte voluntariamente, e em barcos de pesca de
capacidade reduzida, pobremente camuflados, à noite, atravessaram o Mar
Báltico na direção oeste, para a Suécia, sendo muitos deles metralhados
do ar pela aviação russa. As chamadas "expedições punitivas" russas
varriam cidades, aldeias, campos e florestas em perseguição à resistência
patriótica clandestina, incluindo humildes camponeses sob a suspeita de
terem dado esconderijo aos grupos civis armados, e até senhoras e moças
apanhadas suprindo de alimentos tais grupos nas florestas. Em meio a
todo esse terror, os bolchevistas decretaram a mobilização de todos os
homens de 16 anos para cima, válidos ou não, sob pena de fuzilamento,
enviando-os à frente da batalha contra os alemães, sem qualquer treina-
mento, obviamente como medida de extermínio do povo leto. Segundo
relatórios seguros, de dezembro de 1944 até maio de 1945, só da cidade de
Riga foram deportados para a Sibéria cerca de 8.000 habitantes, de ou-
tras cidades, 38.000 operários, e do interior, 150.000 ex-proprietários,
cujas terras foram estatizadas e entregues aos colonos russos para a rus-
sificação da população. As propriedades das igrejas e outras entidades
religiosas foram confiscadas, permitindo-se a opção ou pela permanência
nas mesmas sob impostos e aluguéis astronômicos ou pelo abandono
imediato, para serem entregues às autoridades, que geralmente instala-
vam nelas quartéis, sedes de clubes ateístas e mesmo cavalariças. ( 78)
Segundo informações oficiais da Legação da Letônia em Washington,
dadas em março de 1946, portanto quase um ano depois do término da II
Guerra Mundial, o terror continuava na Letônia em ritmo acelerado.
Enquanto, no início da ocupação comunista, eram deportados geralmente
os homens, àquela altura já era comum a deportação das mulheres e dos
jovens para áreas ignoradas da Rússia, notadamente se pertencentes às
famílias dos legionários que haviam se incorporado nas forças militares

(77) Cf. Meters, Augusts, Piezimes par mana dzivi (Anotações Sobre a Minha Vida), EUA ,
1950 (mimeografado), pp. 110 a 115. Ver Anexo I.
(78) Cf. Bilmanis, Alfred, Op. cit., pp. 371 e 372. Também Svabe, Arveds, Op. cit., pp. 224
e 225; 479-482; 808-811.

52
alemães de ocupação em defesa da pátria. O trecho seguinte, traduzido
do Boletim de Informações da referida Legação, diz algo do terror que
aquele povo experimentou:
O tratamento dos presos e detidos é simplesmente insu-
portável e indescritível. É algo inimaginável para o século XX.
A época de Nero de modo algum poderia ser pior e por certo
não alcançou tão alto número de vítimas. E isto tudo acontece
em nome da democracia! Em janeiro repetiram-se as prisões
e agora, depois das "eleições", está ameaçada uma nova onda
de prisões. De modo que até a primavera talvez nem meio
milhão de letos terão ficado em sua própria terra. E tudo isto
acontece enquanto os grandes sentam-se em redor das mesas
de paz e falam da liberdade dos homens, do bem-estar dos ho-
mens etc. Escárnio em mais alto grau!... Agora já não há
uma só família que não tenha sido atingida pelo terror. Õ
Deus, apieda-te dos pequenos sem pais, das famílias sem seus
chefes, ou sem mães e outros queridos!. .. (79)
Enfim, toda a estrutura social, econômica, jurídica, política, moral
e religiosa foi desmantelada e arrasada pelo regime comunista, imposto
a ferro e fogo na Letônia, e sob o qual permanece até o dia de hoje,
uma vez que desde a cessação das hostilidades da II Guerra Mundial, a 8
de maio de 1945, nenhuma alteração se verificou na situação da Letônia
e dos outros países bálticos, sendo cada vez mais sistemática, meticulosa
e crescente a implantação do colonialismo soviético, tanto sob o ponto de
vista político-econômico como sob o sócio-cultural, para escárnio de todas
cartas e tratados internacionais e da própria civilização.
Por esta visão panorâmica do aspecto histórico-político da Letônia,
pode-se avaliar o longo sofrimento que o povo leto tem experimentado e
descobrir as razões — tanto as evidentes quanto as subjacentes — que
explicam a presença de letos em maior ou menor número em quase todos
os países da face da terra, especialmente de grupos religiosos que tiveram
a sua liberdade já cerceada ou sob forte ameaça de cerceamento.
Contudo, permanece no espírito dos letos em exílio uma chama de
esperança de que "algo" há de acontecer um dia que devolverá a liberdade
à Pátria leta. Por esta causa continuam a subir aos céus preces ardentes.
Não se espera, entretanto, uma libertação próxima, senão remota. Não
se cogita mais tanto em fazer apelos às grandes nações, antes em cultivar
o espírito nacional, leto, entre os letos dispersos pelo mundo e seus des-
cendentes, reunindo-os em organizações diversas de natureza cultural e
fornecendo-lhes abundante literatura — livros, revistas e jornais — des-
tinada a sustentar a luta pela sobrevivência étnica deste povo, suas tra-
dições, sua cultura, sua língua, seus costumes, suas esperanças etc. "Per-
dendo esses elementos fundamentais da nossa caracterização étnica, nós
mesmos estaremos perdidos. Deixando de concentrar todas as nossas
(79) Latvian Information Bulletin, The Latvian Legation, Washington, Latvian edition, mar-
ço, 1946, pp. 2 e 3. Também "Resistencia Nacional a la Ocupasion Comunista de Letonia",
Revista Báltica, Buenos Aires, n° 8, 1961, p. 63.

53
forças nesta direção agora" — diz uma das revistas publicadas no exílio
— "amanhã poderá ser demasiadamente tarde." (80)

5. Cultura
Embora no tópico anterior já tenha despontado o aspecto cultural do
povo leto, convém abordá-lo mais especificamente aqui.
5.1 — Língua
A língua leta apresenta características próprias. Pertence ao ramo
das línguas indo-européias, com forte substrato de sânscrito. Das lín-
guas atuais, a que mais se assemelha à língua leta é a lituana, cujo pa-
rentesco com o sânscrito é ainda mais acentuado.
Desde o renomado historiador inglês do século XVI, Richard Hakluyt
("Principal Navegations", 1589) e o autor da mais antiga História Leta
("História Lettica", 1649), pastor luterano operante na Letônia, P. Ei-
nhorn, até os estudos mais amplos da moderna filologia comparativa de
Meillet, Hauser, Endzkins, Blesse, Buga e outros, está definitivamente
estabelecido que a língua leta é genuinamente autêntica desde tempos
imemoriais, sem qualquer vinculação de origem com as línguas eslavas ou
o idioma germânico, senão meras influências geográficas e históricas
(barbarismos germânicos e eslavos) que durante os 22 anos de indepen-
dência foram eliminadas pelas pesquisas do Departamento de Filologia
da Universidade da Letônia, organizado em 1919 (81)
5.2 — Escrita e Literatura
Os antigos letos conheciam a escrita rúnica desde épocas remotas,
como testemunham os diversos objetos encontrados com inscrições 1-únicas
na Letônia: um cabo de macete de pilão, uma harpa antiga, vários corti-
ços de abelhas e outros. Embora a documentação desta escrita seja bas-
tante limitada para dizer que tenha sido amplamente usada na Letônia,
há uma prova bastante evidente que faz crer numa relativa divulgação da
escrita entre os letos: a existência de uma classe intelectual — burtnieki
(homens de letras), profissionais de escrita e leitura nos tempos idos
da história leta.
Porém os primeiros textos em língua leta só apareceram no século
XVI, todos de caráter religioso — tanto católico romano como evangélico
luterano — tais como: a oração do "Pai Nosso", catecismos, hinários li-

(80) "Godajamais lasitaj" (Honrado Leitor), Editorial da revista Musu Laikmets (Nossa
época), Welheim, Alemanha Ocidental, Ano I, ri9 1, julho de 1968, p. 2; Letonia, Washington,
American Latvian Association in United States, 1968, p. 15 (do original em castelhano).
(81) Cf. Bilmanis, Alfred, Op. cit., pp. 130 a 134. Também Svabe, Arveds, Op. cit., pp. 1340
e 1341; Behrzinsch, P., Indija (Índia), Editor A. Gulbis, Riga, s/data, pp. 1-7; Endzelins, J. e
Mülenbach, K., Latviesu Gramatica (Gramática Leta), Editora Walters un Rapa, Riga, 1923,
pp. 9 e 10; Rupainis, Antons, Archeolíngvistika (Arqueolinguística). Editora Latviu Gramata,
Waverly, Iowa, U.S.A., 1967, p. 5 ss. e comentário do editor: Lejnieks, A.T. "Latviski vardi
un skanas hindustanu valodas" (Palavras e sons da língua leta nas línguas indus), Drauga
Vests, novembro, 1944, n° 37, pp. 22 a 24.

54
túrgicos, todos traduções de clérigos alemães e impressos em letras gó-
ticas, que só vieram a ser abolidas com a introdução e oficialização da
grafia latina já no século XX. (S2 ) Com o desenvolvimento da literatura
sagrada os letos chegaram a possuir em sua própria língua o Novo Tes-
tamento em 1685 e a Bíblia completa em 1694, feitas as duas impressões
em sua própria terra, na tipografia do Superintendente Geral da Letônia,
J. Fisher. O tradutor foi o erudito pastor luterano Ernst Glück, alemão,
fazendo a tradução diretamente dos originais grego e hebraico, contando
com alguns auxiliares e com o financiamento do rei Carlos XI da Suécia,
país sob cujo domínio se encontrava a Letônia na ocasião. É digno de
nota o fato de que a tradução foi feita por incumbência daquele soberano
e sob recomendação do Superintendente Geral, ambos grandemente inte-
ressados no bem-estar do povo leto, ordenando que daquela primeira edição
da Bíblia, de 1.500 exemplares, um exemplar fosse colocado em cada
igreja e em cada escola da Letônia. Esta tradução da Bíblia foi a maior
conquista cultural que o povo leto obteve durante a época da dominação
sueca, marcando uma etapa importantíssima no desenvolvimento intelec-
tual, moral e espiritual do povo, bem como na estrutura e aperfeiçoamento
ortográfico da língua. (83 ) Assinale-se que durante duzentos anos a li-
teratura impressa em leto era unicamente a de natureza religiosa e pas-
Loral. Somente na segunda metade do século XVIII surgiram os primeiros
livros de teor secular, como coleções de lendas, contos, trovas, gramáticas,
dicionários, e volumes de popularização das ciências. Já no século se-
guinte — época do chamado "Despertamento da Nacionalidade" — des-
pontaram muitos autores com inúmeras publicações, que ora eram supri-
midas, ora liberadas, conforme os caprichos dos dominadores russos, cul-
minando no mais apreciável acervo de literatura nas décadas de 20 e 30
do século presente — décadas da liberdade e independência — quando
para uma nação pequena, de apenas 2.000.000 de habitantes e de uma
história literária de pouco mais de trezentos anos vividos sob pressão,
havia mais de 26.000 livros (títulos) publicados, dando à Letônia, em
1925, o 2° lugar na Europa em número de habitantes por 1 (um) livro
produzido, ou seja, 1 (um) livro para cada 1.015 habitantes. (84 ) Já
no ano de 1937 — só naquele ano — foram publicados 1.333 livros (títu-
los), num total de 3.329.364 exemplares; sendo 427 de ficção, poesia,
ensaio, novela; 310 de ciências sociais; 145 de livros de textos; 70 de
História e Geografia; 54 de Religião; 37 de artes; 26 de ciências exatas;
11 de Filosofia; 4 de Filologia; 67 de assuntos diversos. (85 ) No que diz
respeito às atividades culturais através dos periódicos, havia em circula-
ção, era 1938, na Letônia, 47 jornais diários, com amplos suplementos
literários, e 154 revistas de periodicidade semanal, quinzenal, mensal,
bimestral e trimestral. 58 dessas revistas eram de natureza político-social,
36 versando sobre religião, 26 tratando de assuntos especificamente agrí-

(82) Cf. Berzins, L e Dravnieks, A., Latviesu literaturas vesture pamatskolam (História da
Literatura Leta para Escolas Elementares), Editor A. Gulbis, Riga, 1932, pp. 35-38. Também
Bilmanis, Alfred, Op. cif., p. 141.
(83) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 261.
(84) Id., ibid., Op. cit., pp. 704 e 705.
(85) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 148.

55
colas e tecnológicos, 16 dedicadas ao beletrismo, 13 abordando problemas
educacionais, uma tratando de Geografia e História, uma especializada
em assuntos científicos e uma de caráter geral. (86 )
5.3 — Folclore
A principal fonte do folclore leto são as Dainas, ou seja, o conjunto
de canções populares, lendas, provérbios etc., que reflete a antiga cultura
e a milenar história da Letônia, a filosofia de vida de seu povo e as suas
características étnicas e religiosas. As Dainas apresentam, numa forma
poética muito singela e breve, a descrição da vida e das ocupações dos
letos; cantam a natureza da terra — rios, montes, mar, flora, fauna, o
caráter sagrado de algumas árvores (carvalho e liepa — tília cordata) —
bem como a bravura dos heróis letos nas guerras contra seus seculares
e insaciáveis agressores, especialmente germanos e russos, que explora-
ram a terra e o povo durante séculos; cantam a juventude, o amor ao
trabalho e à virtude e o amor à pátria e aos produtos da terra; cantam
as qualidades do guerreiro, sem jamais estimular à guerra, as boas rela-
ções entre os vizinhos, o carinho que se deve ao órfão, o respeito que
merecem os mais velhos e especialmente os pais, e sobretudo a venera-
ção e reverência que se deve a Deus, o verdadeiro doador de todas as
coisas. (87 ) Também cantam as danças antigas, os instrumentos musicais
que as acompanham, como: Stabule (flauta), feita de vara de álamo, bé-
tola ou pinheiro; taure (buzina), preparada de casca de árvore ou de
chifre de boi; dukas (gaita de foles), saco de couro inflado, com duas
ou três flautas; o mais delicado instrumento musical dos antigos letos, a
kokle (harpa), instrumento de corda em forma de trapézio, com 5 ou 7
cordas com que geralmente eram acompanhadas as canções populares;
e as bungas (tambores), instrumentos de percussão feitos de madeira
e couro, para marcar o ritmo.
O número de Dainas ou canções populares colecionadas e catalogadas
até 1-7-1945 foi de 775.257, além de 1.535.743 outros textos folclóricos
de lendas, provérbios, charadas etc., que coloca o folclore leto entre os
mais ricos do mundo, provando a antiguidade desse povo pequeno, mas
possuído de uma extraordinária produtividade de espírito. (88 ) Fig. 8
A ocasião mais festiva do calendário anual do povo — restolho de um
paganismo longínquo — é a noite de 23 de junho, em homenagem à entrada
do verão, cuja divindade é o Sol, que envia o seu emissário Janis (pron.
Iaanis; trad. João), para naquela noite passar em revista tudo e todos
e verificar se de fato a homenagem (nos tempos antigos o culto) está
sendo prestada, e então distribuir a boa sorte para o ano seguinte. Co-
meçando com verdadeiro carnaval de flores e ervas medicinais a enfeitar
e perfumar as pessoas e as casas, com todas as dependências, os depósi-
tos da colheita, os currais, os animais etc., velhos e jovens passam a
noite comendo um queijo especialmente feito para essa ocasião, bebendo
uma cerveja de fabricação doméstica, dançando em pares e em grupos,

(86) Id., ibid., pp. 152 e 153.


(87) Cf. Berzins, L., e Dravnieks, A., Op. cit., pp. 6-14.
(88) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 646.

56
de mãos dadas, e cantando canções próprias, em que, após cada linha da
estrofe, entremeia-se, duas ou três vezes, o refrão "ligo" (pron. "liigoa";
trad. "balança"). (S9) Com a cristianização do povo, a festa passou a ser
observada em homenagem a São João Batista, conservando-se a tradição,
porém esvaziada de seu conteúdo pagão.

5.4 — Música
A música leta caracteriza-se pelo seu estilo melancólico e sentimen-
tal, decorrência natural da opressão em que viveu o povo durante sete sé-
culos. A partir da época do despertamento da nacionalidade, ocorrido
pelos meados do século XIX, a música teve o seu maior desenvolvimento.
O povo leto é um povo musical por natureza, sempre organizando coros
e orquestras em suas comunidades — seculares ou religiosas — e pro-
movendo grandes festivais regionais e nacionais de canto, com partici-
pação de até 400 coros com aproximadamente 20.000 vozes. (90 ) Sob
o controle de um regime de dupla vigilância — da hierarquia feudal ger-
mânica e a gendarmaria russa do século XIX — esses festivais constituí-
ram a única maneira de expressão da solidariedade nacional. O primeiro
festival de coros de âmbito nacional realizou-se em Riga no ano 1873,
quando, sob os olhares perplexos dos opressores, foi entoada pela primeira
vez a Súplica do Povo — "DIEVS SVETI LATVIJU" (trad. "Deus, aben-
çoa a Letônia") pelo grande coral de 1.003 vozes, em que tomaram parte
45 coros regionais, (91) composição esta que por ocasião da proclamação
da República, em 1918, foi adotada como Hino Nacional da Letônia, jus-
tamente por causa do seu conteúdo de solidariedade nacional. Fig. 9
O Hino Nacional da Letônia tem a sua história cheia de peripécias, o
que prova que o espírito do seu conteúdo de há muito causava sérios re-
ceios aos opressores do povo leto e inimigos de sua cultura.
O autor da música e da letra é um dos mais conspícuos compositores
do período do Despertamento da Nacionalidade — Karlis Baumanis (1835-
1905), patriota, idealista e artista. No passado heróico do povo leto, na
sua capacidade de sofrer e de resistir, ele vê as esperanças de um futuro
abençoado. O caminho para esse futuro é a educação — a escola, sob o
pálio da fé em Deus. O texto do referido hino constitui uma prece que,
traduzida, é a seguinte: "Deus abençoa a Letônia, /Nossa querida Pátria;
(Õ, abençoa a Letônia, /abençoa-a! /Onde vicejam as filhas dos letos,
(Onde cantam os filhos dos letos, /Permite-nos nela saltar de felicidade,
/Em nossa Letônia."
Cedo a administração russa percebeu o tom nacionalista da "inocen-
te" canção, proibindo entoá-la nas solenidades e festas de caráter local
ou regional. Mais tarde houve ocasiões em que era permitido cantá-la no
final dos programas, porém não se permitia que os homens descobrissem
a cabeça — como costumavam fazer em oportunidades anteriores. Depois
a dita administração forçou a modificação da letra, substituindo a palavra

(89) Cf. Id., ibid., Op. cif., pp. 847-849.


(90) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 168.
(91) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 565.

57
LATVIJA (Letônia) pela palavra BALTIJA (Báltia) — designação então
dada a toda a região leste do Mar Báltico, que compreendia a Letônia e
Estônia — para tentar "diluir" os sentimentos nacionalistas contidos no
poema. Mesmo assim, freqüentemente o povo corria o risco, mas entoava
o hino na sua forma original_ A sua música em tônicas ascendentes e re-
petidas deixa uma impressão de profunda súplica e majestosa elevação. (")
Numerosos são os compositores letos, que têm produzido um acervo
musical considerável, entre os quais destacam-se E. Meingailis e J. Vitols,
sendo que vários deles receberam a sua formação artística em Conserva-
tórios estrangeiros, notadamente de S. Petersburgo, Moscou, Stutgart,
Dresden, Leipzig, Berlim e Paris. Entre os muitos gêneros de música
cultivados pelos letos, destaca-se o coral, lírico e sinfônico, com produções
de repercussão internacional. (93 ) Fig. 10

5.5 — Religião
Consoante o imenso folclore leto, o povo da Letônia era profunda-
mente religioso desde o passado mais remoto e crente na sobrevivência
eterna da alma. A sua religião antiga era o panteísmo naturalista, sem
ídolos de qualquer espécie, refletindo, porém, o mito do sol dos antigos
indo-europeus, bem como o seu dualismo. E como povo essencialmente
agrícola, vivendo exclusivamente na dependência das forças da natureza,
via nestas mesmas forças os seus entes supremos. O seu ser supremo era
Dievs — Deus — freqüentemente denominado Vetais — o Velho — e
Perkons — o Trovão. A deidade feminina era conhecida como Laima,
uma espécie de protetora dos recém-nascidos. A Natureza para os antigos
letos era animada. Assim, florestas, lagos, rios, ventos, campos, etc., eram
considerados genesíacos sob a simples designação de mahte (pron. máate)
— mãe — ou mamulina (pron. máamulinha) — mãezinha.
Segundo as crônicas católicas romanas do Bispo Adão de Bremen,
Alemanha, os letos tiveram os primeiros contatos com o cristianismo no
fim da primeira metade do século XI, ou mais precisamente por volta de
1048, quando foi erguida a primeira igreja pelo rei dinamarquês Sven
Estridson, no sul da Curlândia (região que abrange o sudoeste da Le-
tônia), que tentou cristianizar os povos do Báltico. Por outro lado, há
registros do cronista ortodoxo grego, monge Nestor, referentes a incur-
sões do clero eslavo pelo leste desde fins do século X, batizando letos e
lívios aludindo, ainda, a uma lendária visita missionária do apóstolo
André às regiões ocidentais da Rússia, indo até o Báltico. (94)
Porém muito mais agressivo foi o catolicismo romano procedente da
Alemanha. Em 1186 chegou à Letônia o frade alemão Meinhard, acom-
panhando os comerciantes germânicos. Prometendo proteção ao povo
contra os bandos lituanos de piratagem, tentou atrair o mesmo para o
catolicismo. Ao morrer, dez anos depois, bem acanhado apresentava-se

(92) Lt, "No Latvijas valsts himnas vestures" (Da história do hino nacional leto), Revista
Ilustreis Schurnals (Jornal Ilustrado ), Editora LETTA, n9 2, junho de 1920, pp. 5 e 6.
(93) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 169.
(94) Bilmanis, Alfred, The Church in Latvia, New York, Editado por Drauga Vests, 1954,
pp. 4 e 5.

58
o progresso da sua obra, embora já tivesse alcançado as honras de bispo.
Sucedeu-lhe o Bispo Bertoldo, de Hanover, que, logrando pouco sucesso,
obteve de Inocêncio III a bênção papal e um grande contingente de cru-
zados, legionários assalariados pelos príncipes e o Papa, para obrigar os
letos a se tornarem cristãos à força. Na batalha que se travou perto de
Riga, em 1198, o bispo caiu morto, o que acendeu a ira dos cruzados para
cometerem as mais terríveis atrocidades, obrigando, finalmente, o povo
a aceitar o batismo. Porém, mal os cruzados haviam embarcado de volta,
os novos "cristãos" lançaram-se no rio Daugava para "lavar" o cristia-
nismo imposto. ( 95) Por fim, em 1201 chegou o Bispo Alberto, com 23
navios de cruzados para "cristianização definitiva dos letos, o que al-
cançou em grande parte pela Ordem que fundou, denominada "Fratres
Militiae Christi", como já ficou demonstrado na parte referente ao aspecto
histórico-político da Letônia antiga, páginas atrás.
Com seus frades, padres, bispos e Ordens de Cruzados, a Igreja Ca-
tólica controlou a vida religiosa dos letos durante cerca de três séculos,
até que em 1522 André Knopken — um sacerdote da Igreja Católica
Romana de Riga que, estando na Alemanha em estudos, havia travado
contato com Lutero — levou à Letônia a Reforma, que rapidamente se
alastrou por todo o país devido ao descontentamento reinante em relação
ao catolicismo. Entretanto, o luteranismo alemão teve mais aceitação
simplesmente por motivos político-econômicos que propriamente por ques-
tões de consciência.
Porém, durante o período da dominação sueca na Letônia (1629-1721) ,
uma brisa evangélica notável reavivou o luteranismo no país. 'É" que,
sendo os suecos protestantes rigorosos, foram introduzidas várias leis e
normas referentes à disciplina religiosa mais rigorosa e consentânea com
padrões evangélicos; foi ampliada grandemente a rede escolar junto dos
templos luteranos e nas fazendas, cujos mestres obrigatoriamente tinham
que ser também catecistas piedosos e, acontecimento da mais alta im-
portância, foi feita a tradução da Bíblia em língua leta (1689), com a
obrigatoriedade de ser colocado um exemplar em cada escola para leitu-
ras diárias aos alunos e pelos alunos, conforme foi dito anteriormente.
Mas um verdadeiro despertamento religioso, com repercussão pro-
funda e duradoura na vida espiritual e social do povo e que, por esta razão,
merece aqui atenção especial, surgiu em 1729, com a chegada dos Irmãos
Morávios ou Congregação dos Irmãos, como eram conhecidos na Letônia.
(96) Essa fraternidade foi fundada pelo Conde Nicolau von Zinzendorf,
um nobre austríaco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo,
movimento que surgiu dentro da Igreja Luterana com Filipe Jacó Spener,
pastor em Frankfurt sobre o Meno, na Alemanha, em 1666, como reação
contra a fria ortodoxia e uma afirmação da primazia do coração na ex-
periência religiosa. A ênfase do Pietismo na regeneração como "aquela
mudança produzida no coração do homem de fé pelo Espírito de Deus, e

(95) Klaupiks, Adolfs, 'Latviesu Baptistu 100 gadi" (O centenário dos batistas letos),.
Dzivibas Cels (Caminho da Vida), Toronto, Canadá, Editado pela União Batista Leta da
América do Norte, 1960, p. 16.
(96) Id., ibid., p. 17.

59
no fato de ser necessário que aquele que é nascido de Deus leve uma vida
de santidade e serviço", resultou numa renovação da doutrina básica da
Reforma, o sacerdócio universal dos crentes, levando os leigos a participa-
rem dos serviços religiosos e da obra missionária. Isto importou num
autêntico "reavivamento da piedade do cristianismo real, dinâmico, em
contraste com a mera ortodoxia doutrinária". E o fato de o seu ensino
e seus métodos serem recebidos como novos no seio da Igreja Luterana,
bem fala da situação religiosa então existente. Fora da Alemanha, o
Pietismo (inicialmente designação pejorativa) alcançou a Morávia, a In-
glaterra, e os Estados Unidos, sendo uma das causas do chamado Grande
Reavivamento na América. (97)
Os Irmãos Morávios, em algumas partes da Europa conhecidos sim-
plesmente como Congregação dos Irmãos ou Igreja dos Irmãos, é realmen-
te o rebento de uma velha raiz — os Hussitas, seguidores do reformador
João Huss, queimado vivo pela Igreja Católica em 6 de julho de 1415 —
com o enxerto do Pietismo do século XVII. Perseguidos durante mais de
um século e finalmente banidos de suas pátrias — Boêmia e Morávia,
duas regiões antigas da Tcheco-eslováquia — dispersaram-se pela Polô-
nia, Prússia e Saxônia, onde geralmente foram absorvidos pela Igreja
Evangélica. Um pequeno grupo deles, constituído precisamente de cinco
jovens já amadurecidos, chefiado por Christian David, fixou-se na Saxô-
nia, na propriedade do Conde Zinzendorf, que os recebeu sob sua proteção
e lhes erigiu uma casa junto do monte Hut, em 1722, que mais tarde de-
nominaram "Herrnhut" — abrigo do Senhor.
Zinzendorf — já influenciado pelo Pietismo da Alemanha desde os
dias quando estudou na escola do líder pietista Francke, em Halle, onde
"organizou entre os meninos a 'Ordem do Grão de Mostarda', para pro-
moção da piedade pessoal e evangelização do mundo", (98) identificou-se
de tal maneira com os ideais de seus protegidos que dentro de pouco tem-
po se tornou o seu chefe. Recebendo um considerável número de outros
"irmãos" da Morávia, fundou uma escola nos moldes da de Francke para
a preparação de evangelistas que seriam enviados pelo mundo a fora, e,
em 1727, quando pela primeira vez todos juntos celebraram a Ceia do
Senhor, deu à congregação uma espécie de Constituição, pela qual ficou
instituída a organização conhecida pela designação "Irmãos Morávios".
(99 ) O amor a Cristo e o amor fraternal constituíram a grande motivação
para tudo que realizavam. Desejavam ser uma sociedade exclusivamente
religiosa dentro da Igreja Luterana, como um jardim dentro de um campo,
ou como uma igrejinha dentro da Igreja — "ecclesiola in ecclesia". En-
tretanto, as suas características e a sua ênfase na obra missionária de-
ram-lhe uma feição tão distinta de outros grupos religiosos que já em

(97) CE. Nichols, Robert Hasting, História da Igreja Cristã, s/1., Casa Editora Presbiteriana
e The North Brasil Presbyterian Mission, 1954, pp. 176 e 177.
(98) Muirhead, H. H., O Cristianismo Através dos Séculos, Rio de Janeiro, Casa Publicadora
Batista, 1949, Vol. III, p. 95.
(99) Kundzinsch, K., "Brahlu Draudzes 200 gadi un musu tautas baznica- (O Bicentenário
da Igreja dos Irmãos Morávios e a Igreja do Nosso Povo), Revista Swehtdeenas Rihts (Manhã
Dominical), Riga, Ano IV, n° 8, 18 de fevereiro de 1923, p. 2.

60
1742 foi reconhecida pelo governo prussiano, em 1749 pelo parlamento
inglês e no mesmo ano "como parte da Igreja do Estado da Saxônia, com
rito especial." (100)

A fim de que a Congregação pudesse estender a sua obra por todo o


mundo, Zinzendorf organizou as "congregações itinerantes" — pequenos
grupos de "irmãos" que com a sua profissão iam se estabelecendo nas
cidades e nas comunidades rurais dos diversos países para a realização da
obra missionária. Assim, com a chegada de construtores, marceneiros, al-
faiates, tecelões, ferreiros, sapateiros, barbeiros etc., na verdade chega-
vam àqueles lugares missionários da Palavra de Deus. (101)
Convidado pelo pastor luterano Grüner, da Igreja de Krimulda (Le-
tônia), com apoio de outros colegas, também conhecedores do movimento
pietista e profundamente preocupados com o formalismo religioso e a
decadência do luteranismo na Letônia, chegou a Riga, em 1729, o decano
dos Irmãos Morávios da colônia de Herrnhut, Christian David, com mais
dois companheiros. Pondo-se em contato com os pastores simpáticos ao
movimento, visitaram no interior, em Valmiera, a Sra. Hallart, viúva de
um general e proprietária de um dos latifúndios mais prósperos, de for-
mação pietista na Universidade de Halle, que logo se tornou a grande
propulsora da obra dos Irmãos Morávios na Letônia. Depois de prepa-
rado o terreno e aprendido o idioma leto, eles começaram a reunir o
povo nas várias paróquias e a pregar a sua mensagem de regeneração
genuína, qualificando-se como auxiliares dos pastores luteranos, pois não
concitavam o povo a deixar a Igreja. O seu fervor, amor e poder espiri-
tual impressionaram logo os camponeses, e grandes multidões confessa-
vam os seus pecados em lágrimas, passando a viver uma nova vida.
Agora era necessário atrair para a obra também os senhores das terras
e do povo. Para tal tarefa não pareciam suficientes os humildes irmãos
pedreiros e carpinteiros. Era necessário solicitar a ajuda do próprio
fundador da irmandade, o Conde Zinzendorf, o qual chegou à Letônia em
1736 e durante um mês viajou por todo o norte e oeste do país, pregando
com ardor, eloqüência e unção poderosa do Espírito de Deus e ganhando
a simpatia e o coração de muitos dos senhores da terra. O centro da
obra dos Irmãos Morávios na Letônia foi a grande fazenda da viúva
Hallart, em Valmiera, onde o próprio Conde Zinzendorf fundou o pri-
meiro Seminário de Professores do país para preparação de mestres letos
para o povo leto com o fim de formar uma consciência nacional no es-
pírito genuinamente cristão e também preparar obreiros para a obra ora
iniciada. Como prova de que os letos naquela altura dos acontecimentos
já eram dignos de tal instituição, temos o fato da grande procura de
ingresso, matriculando dentro de pouco tempo 120 alunos, rigorosamente
selecionados e já amadurecidos. (102)

(100) Cf. Walker, Williston, História da Igreja Cristã, São Paulo, 1926, Imprensa Metodista
(trad. W. B. Lee). 29 vol., pp. 255 e 256.
(101) Cf. Kundzinsch, K., Op. cit., p. 3.
(102) Cf. Krodzneeks, K., "Bralu Draudze Vidzeme" (A Igreja dos Irmãos Morávios em
Vidzeme), Revista Austrums, Riga, 1 de julho de 1899, p. 25.

61
Dez anos depois, em 1740, já havia na Letônia 4.000 letos adeptos
do novo movimento, na sua grande maioria camponeses, reunindo-se em
casas dos irmãos ou em "Casas de Reuniões" especialmente construídas
pelos próprios crentes em lugares aprazíveis. (103) A vida moral de nível
elevado, a atitude pacífica mesmo diante das mais estranhas e pesadas
exigências e injustiças — limitando-se a reação a pronunciamentos ver-
bais ou citações bíblicas — comoveram até muitos dos senhores da terra,
que passaram a tratar com mais brandura essa gente que revelava qua-
lidades nobres, crescendo mais e mais o seu prestígio. Fig. 11
Entretanto, é preciso dizer que nem sempre este prestígio agradou
o clero luterano alemão, que por várias vezes tentou fazer cessar o mo-
vimento e em parte o conseguiu, ainda que por pouco tempo. As denúncias
enviadas ao Consistório Geral Luterano, apenas 14 anos após o início
da obra moraviana, não chegaram a ser devidamente apuradas, quando
veio do governo imperial russo a ordem expressa mandando fechar todos
os locais de funcionamento dos cultos, proibindo reuniões em outros lo-
cais, exigindo a retratação de todos que tivessem abraçado a "nova fé"
e expulsando todos os "irmãos" estrangeiros. As exigências foram exe-
cutadas pelas autoridades locais. O Conde Zinzendorf na ocasião encon-
trava-se na América do Norte. Sua esposa foi a São Petersburgo, tentar
convencer a corte, da injustiça e improcedência de tais denúncias, porém
nada conseguiu. De volta da América do Norte, o próprio Conde Zinzen-
dorf chegou a Riga, para tentar modificar a situação, quando, a 23 de
dezembro de 1743, foi preso e três semanas depois expulso do país. (104)
Em 1770, estando Catarina II, amiga dos enciclopedistas franceses, no
trono do Império Russo, decretou a liberdade de cultos, permitindo, desta
forma, a volta da "Congregação dos Irmãos" às atividades abertas e legais,
pois por 27 anos o seu trabalho funcionava na clandestinidade. (105)
Na época do seu florescimento, ou seja na primeira metade do século
XIX, as congregações dos Irmãos Morávios na Letônia subiram a 140
e o número de seus membros a cerca de 30.000. (106) No que se refere
aos dirigentes ou obreiros das congregações, havia em 1817 apenas 10
"irmãos" alemães, porém 1.000 nacionais. (107)
O movimento dos Irmãos Morávios recebe, em toda a literatura leta,
um indiscutível reconhecimento pela sua contribuição espiritual, moral,
intelectual, social e pelo despertamento do espírito da nacionalidade. Com
objetivos basicamente espirituais, os "irmãos" insistiram na alfabeti-
zação do povo, para que este pudesse ler a Bíblia; realizavam os cultos
e demais reuniões em língua leta, para atingir as camadas humildes da
sociedade e assim nivelar servos e patrões diante dos valores supremos
da vida, como o temor a Deus, o amor, a tolerância e a justiça; pela én-

(103) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 292.


(104) Cf. Krodzneeks, J., -13ralu Draudze Vidzeme", Revista Austrums, Riga, 6 de setembro
de 1899, pp. 188 e 189.
(105) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 293.
(106) Klaupiks, Adolfs, Op. cif., p. 18.
(107) Harnach, Dr. Th., Die lutherische Kirche Livlands und die Herrnhutische Bruderge-
meinde, Erlangen, 1860, p. 272, citado por Birkerts, A., Latviesu Intelgence (A Inteligência
Leta ), Riga, Editor A. Rap.zs, 1927, Parte II, p. 29.

62
fase no sacerdócio universal dos crentes conscientizaram do seu valor
o povo humilde, despertando nele aspirações e confiança num futuro
melhor sob a égide dos princípios bíblicos; pela sua mensagem e seu
exemplo na vida social diária conseguiram superar o separatismo psico-
lógico em numerosas comunidades do país, mesmo sem intenção propo-
sitada, senão a de ser "sal da terra" e "luz do mundo". Os templos das
religiões formais — ortodoxa grega, católica romana e luterana — e as
tabernas se esvaziavam enquanto as "Casas de Reuniões" dos "irmãos" se
enchiam de povo. Foram diminuindo rapidamente o crime, as questões
domésticas, o nascimento de filhos naturais; a sonegação de impostos e a
falta de pagamento de dívidas passaram a ser consideradas as formas
mais ousadas e covardes de roubo; o caráter patriarcal da família passou
a constituir a força preservadora da moral e dos bons costumes do mais
alto respeito; a primazia da Bíblia no lar e na arbitragem de quaisquer
questões passou a ser quase uma obrigatoriedade legal. Depois de 1804
até 1835, em vastas áreas da província de Vidzeme, os cargos públicos
nos distritos — como de Conselheiro, Juiz e Tesoureiro do Erário — só
poderiam ser ocupados por cidadãos que pertencessem à "Congregação
dos Irmãos". Era o reconhecimento público da confiança, do caráter e do
prestígio que gozavam aqueles crentes entre o povo. (108)
Evidentemente, este grupo, mais que qualquer outro, exerceu uma
influência notável sobre a vida do povo naquela época, particularmente
nas regiões norte e centro, e isto devido a sua ênfase na vida espiritual.
Algumas manifestações extremadas e estranhas de alguns elementos de
modo algum ofuscavam o brilho dos aspectos positivos. Entre as facetas
negativas, os autores citam algumas, que na segunda metade do século
XIX acabaram por reduzir gradativamente o movimento: 1) Mudanças
sócio-econômicas e políticas, bem como perseguições religiosas luteranas,
que forçaram muitos camponeses a preferir a Igreja Ortodoxa, oficial do
Império Russo, quando em dois anos (1846-1847) passaram para aquela
Igreja 6.683 morávios ; (109) 2) modificações internas na Congregação
dos Irmãos, forçadas pela necessidade da sobrevivência, levando-se em
conta as denúncias sobre o caráter secreto de determinadas reuniões dos
líderes ou "pais", como eram chamados; 3) aproximação da Igreja Lu-
terana — também como necessidade de sobrevivência — das normas,
mensagem e espírito do movimento moraviano modificado; 4) o conflito
entre a geração velha e a nova dos próprios "irmãos", por força de mo-
dificações culturais da época, considerando aquela como manifestação
condenável e pecaminosa qualquer inovação, como, por exemplo, o apa-
recimento do uso de sapatos, que provocou esta fulminante sentença de
um dos mais veneráveis "pais": "Maldito quem usa sapatos"; 5) apare-
cimento das escolas públicas, subtraindo a alfabetização à influência mo-
raviana, e a estatização de outras instituições de nível médio, para atender
à política de russificação da população leta. (110)

(10R) Birkerts. A.. loc. cit.. D. 29.


(109) Malves, J., -Pietisms- (Pietismo), Revista Uz laiku robezchas (No Limiar dos Tempos),
Editora "Palma -, Estado de São Paulo, Ano I, 1934, n9 3, p. 50.
(110) Cf. Kundzinsch, K., Op. cit., pp. 4 e 5.

63
Com tudo isto a Congregação dos Irmãos foi perdendo as suas ca-
racterísticas peculiares, acabando por encerrar a sua tarefa histórica
pela morte dos mais antigos e influentes de seus líderes, pela integração
de outros na Igreja Luterana, e pelo ingresso de inúmeros outros em as
Igrejas Batistas nascentes na década de 60 do século XIX.
Outro grupo religioso digno de menção é a Igreja Ortodoxa Grega,
que até 1936 esteve sob a superintendência do patriarcado de Moscou, daí
por diante passando à sua autonomia, vinculando-se diretamente com o
Patriarca de Constantinopla. A sua atuação de grande proselitista, com
fins políticos de russificação dos letos, ocorreu principalmente nos mea-
dos do século XIX, declinando gradativamente depois, passando quase
que exclusivamente a servir às populações eslavas, especialmente os rus-
sos.
Em termos de distribuição da população por confissões religiosas, o
censo de 1935, o último divulgado por fontes credenciadas, apresentava
o seguinte quadro: (111)

Religião Número Porcentagem

Protestantes 1.094.787 56,13


Católicos Romanos 476.963 24,45
Igreja Ortodoxa Grega 174.389 8,94
Crentes Antigos (ramo ortodoxo) 107.195 5,50
Judeus 93.406 4,79
Outros 3.762 0,19

Entre os protestantes estão contados os presbiterianos, metodistas,


e batistas. Os católicos romanos têm o seu maior contingente na região
leste, em Latgale, limítrofe da Polônia, de onde recebeu a sua influência
religiosa desde os tempos do domínio polonês naquela área.

Na Letônia independente (1918-1940) a religião era separada do


Estado, predominando a mais completa liberdade religiosa para todos os
credos. De 17 de junho de 1940 a 1° de julho de 1941 permaneceu sob
ocupação comunista soviética; de 1° de julho de 1941 a 9 de maio de 1945
esteve sob o domínio nazista, e desde então até esta data encontra-se
novamente sob o poder do comunismo. Durante todos esses anos a reli-
gião na Letônia sofreu perseguições sob as mais diversas formas.
A religião sempre foi considerada pelo povo leto como sinal supremo
de vitalidade e desenvolvimento moral e espiritual de uma nação e ele-
mento capaz de assegurar a melhor cooperação internacional. Somente
nações religiosamente enfraquecidas, com seus guias espirituais profissio-
nalizados e seu padrão de vida moral inferiorizado pela falta de disci-
plina religiosa que procede de uma consciência bem formada e devotada
a Deus e ao próximo, é que se conformam com a usurpação do bem pelo

( 111 ) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 22.

64
mal. Graças ao seu passado religioso, o povo leto achou coragem para
resistir a todos os ensinamentos subversivos das ditaduras modernas —
nazismo e bolchevismo, a suportar os horrores de sua ação destruidora
sem perder a fé no futuro, e a orar para que Deus, na sua providência,
ainda lhe devolva a liberdade política e religiosa, pois ele quer viver sob o
signo da cruz, e não da foice e martelo. (112)

5.6 — Educação

A primeira escola de que se tem notícia na Letônia foi a catedralí-


cia, aberta pelo terceiro bispo católico romano, Albert, em 1201, em Riga,
destinada ao preparo de candidatos ao sacerdócio. Com a Reforma, a
situação melhorou, pois, embora àquela altura as escolas constituíssem
privilégio só dos filhos dos alemães, senhores das terras, um e outro
dos meninos letos ali encontrou luzes intelectuais que, mais tarde am-
pliadas em escolas superiores estrangeiras, prepararam o caminho para o
despertamento da nacionalidade. Entretanto, só no século XVII, com o
domínio sueco — surgindo as escolas públicas e os ginásios — é que se
pôde falar em educação para o povo leto. Dizia a ordem imperial de 20
de maio de 1601, no seu Art. 5°:

Queremos que também os camponeses dessa terra tenham


a liberdade de enviar seus filhos à escola e que estes também
aprendam ofícios. (113)

De 1681 em diante foi introduzida a obrigatoriedade de ensino ele-


mentar aos filhos dos camponeses letos em sua própria língua. Cabia
aos latifundiários instalar escolas em suas propriedades. Porém, eles
sabotaram a lei ao máximo, de modo que muito reduzidos foram os re-
sultados da nova legislação. Já os Irmãos Morávios, nos meados do sé-
culo XVIII, deram um grande impulso na educação do povo, especialmen-
te de adultos, que ansiosamente desejavam ler a Bíblia e o hinário, aliás,
rico e apreciado, sendo o cântico a grande atração do povo. (114)
Depois de 1819, já no período do domínio russo, quando foram san-
cionadas as leis que libertavam os camponeses da servidão germânica,
mas não lhes proporcionavam terras para produzir, novas leis foram
postas em execução, determinando a instalação de uma escola em cada
distrito com mais de 500 homens e em cada paróquia com mais de 2.000
almas; surgindo logo também escolas municipais e dois seminários de
professores. Entretanto, tudo isto visava à russificação da população,
política esta que chegou ao ponto de proibir não só o ensino da língua
leta nas escolas mas até a conversação das crianças em leto durante o
recreio. Houve, então, uma sensível retração por parte dos camponeses.
Contudo, em 1897 a Letônia apresentava apenas 22% de analfabetos, e
entre 1851 e 1900 estudaram nas universidades de S . Petersburgo, Moscou

(112) Bilmanis, Alfred, Op. cit., p. 25.


(113) Svabe, Arveds, Op. cit., p. 824.
(114) Id., ibid., p. 825.
(115) Id., ibid., p. 826.

65
e Dorpat (Estônia) nada menos de 1.270 jovens letos. Interessante é
notar que nesta última, fundada pelo rei da Suécia, Gustavo Adolfo, em
1632, matricularam-se naquele período 619 estudantes letos, dos quais a
grande maioria estudava teologia, para servir como pastores do seu po-
vo. (115 ) Em outras universidades formaram-se militares e juristas.

Na Letônia livre, depois de 1918, a maior atenção foi dada à educa-


ção, criando-se a gratuidade e obrigatoriedade do ensino fundamental em
6 anos, seguindo-se o secundário, de 5 anos (ou artes e ofícios no mesmo
nível), passando o aluno então para a Universidade com 11 Faculdades,
acusando-se em 1935, apenas 11% de analfabetos em todo o país, dos
quais somente 2% de letos, sendo os demais russos, poloneses e litua-
nos. ( 116 ) Durante a II Guerra Mundial e depois da ocupação comunista
da Letônia, todo o sistema escolar foi desmantelado impiedosamente, para
se implantar a ideologia materialista em nome de uma "cultura" cujo
quadro estatístico referente ao ano de 1939 segue abaixo, comparado com
o da Letônia em 1935: (117 )

Porcentagem de alfabetização na Rússia e na Letônia


Até 10 anos De 10 a 49 anos Acima de 50 anos
Hom. Mul. Tot. Hom. Mul. Tot. Hom. Mul. Tot.

R. cid. 95,7 84,0 89,5 97,6 91,0 94,2 82,2 46,5 61,1
L. cid. 96,1 92,3 94,0 97,9 95,8 96,8 91,0 84,8 87,3
R. int. 82,2 66,6 76,8 93,3 79,2 86,3 56,9 15,8 32,3
L. int. 89,3 82,3 85,6 93,7 86,6 90,0 78,6 72,9 75,5
R. total 90,8 72,6 81,2 95,1 83,4 89,1 64,5 24,9 40,9
L. total 91,8 86,3 88,8 95,3 90,2 92,6 82,8 77,6 79,9

Fonte: Janis Kronlins, 379 baiga gada dienas, s/1, 1967, Editora
Latvju, Gramata, p. 137. A informação da parte russa, co-
lhida pelo autor de Kulturnoje stroikelstvjo CCCP, Statisti-
cheskij sbornik, Gosplanizdat, Moscva, 1940, p. 7. Fonte
oficial.

Chamamos a atenção do leitor para as últimas três colunas da di-


reita do quadro acima, que falam bem alto das raízes da cultura do povo
leto livre em comparação com a dos seus "libertadores". Ainda outro
fator curioso nesta avaliação cultural é o seguinte: em 1938, na Rússia
Soviética, foram construídas novas ou radicalmente reformadas 2.214

(116) Id., ibid., pp. 827 a 832. Também Latvija desmit gados (Letõnia em 10 anos), Edição
da Jubilejas Komisija, Riga, 1928, pp.
(117) Kronlins, Janis, 379 baiga gada dienas (379 dias do ano tenebroso), s/1, Editora
Latvju, Gramata, 1967, p. 137.

66
escolas, ou seja, uma escola para cada 77.000 habitantes. Ao passo que
na Letônia, no mesmo ano, foram construídas novas ou reconstruídas 135
escolas, portanto, uma para cada 15.000 habitantes. (111)
O ensino religioso foi banido das escolas da Letônia desde 30 de
julho de 1940, com recomendaçEo expressa aos professores para, por
todos os meios ao seu alcance, extinguir quaisquer conceitos religiosos
das crianças e orientar as suas mentes a uma atitude de crítica consciente
para com a religião, dando-lhes elementos para tanto. Falando a um
congresso de professores em 3 de setembro do mesmo ano, disse um dos
elementos categorizados e responsáveis pela instrução: "À escola foi
imposta uma tarefa grande e séria: ensinar as crianças no espírito anti-
-religioso. Em lugar da religião, deve ser oferecida aos alunos uma outra
perspectiva do mundo, mais profunda — a perspectiva materialista." Em
outro congresso semelhante, realizado em 3 e 4 de janeiro do ano se-
guinte, foi dito: "A educação anti-religiosa é dever de cada professor,
dando esta direção a todo o seu trabalho. Ninguém pode recusar-se a
este dever ou assumir posição de neutralidade." (119 ) Outras portarias
foram baixadas, que terminantemente limitavam a liberdade religiosa do
professor, inclusive a sua freqüência à igreja, a pretexto de que o pro-
fessor deve ser o exemplo de seus alunos.
É evidente que tal situação resultou em uma resistência decidida de
alunos e professores de todos os níveis. Porém, o terror venceu. Nada
menos de 2.500 alunos, só do nível secundário, foram mortos, deportados
ou presos, nos dois últimos anos, (120 ) igual sorte recebendo cerca de
474 professores, entre os quais dois ilustres batistas: Karlis Lidaks,
professor de música, inclusive no Seminário Batista de Riga, compositor
de mais de 50 hinos e regente dos mais competentes, e Janis Riess, pro-
fessor de História e Diretor do Seminário Batista de Riga, ambos depor-
tados para a Sibéria, onde, não resistindo aos sofrimentos, morreram. (121)
Certamente, todos esses aspectos do país e do povo da Letônia aqui
abordados, ajudam-nos a compreender e interpretar, em parte, a parcela
desse povo, que conhecemos no Brasil, bem como o seu trabalho. O clima
do país de origem, os costumes, as raízes étnicas, as circunstâncias polí-
ticas e culturais inegavelmente são fatores que lançam bastante luz so-
bre a vida e obra dos batistas letos no Brasil, terra que os acolheu com
tanta hospitalidade. A prosperidade econômica de suas colônias, a sua
capacidade de trabalho e de integração e cooperação, sem perder as suas
características étnicas, a sua grande vocação musical etc., aí encontram,
em grande parte, a sua explicação, ressalvada, naturalmente, a operação
de Deus, que não tem preferências raciais e que usa qualquer nação com
suas características étnicas que Ele mesmo plantou e cultiva na vida dos
povos.

(118) Id., ibid., p. 10, citando a informação russa oficial de Kulturnoje stroikelstvjo CCCP,
(Estrutura Cultural), Gosplanizdat, 1940, p. 90.
(119) Id., ibid., p. 103, citando Antireligionic, 1940, p. 38 ss.
(120) Id., ibid., p. 269.
(121) Id., ibid., p. 339.

67
Entretanto, do ponto de vista humano, causa espécie a densidade
da população batista leta no Brasil. Nos E.U.A. há muito mais letos,
mas muito menos batistas letos. Há muitas colônias letas no mundo, mas
colônias letas batistas ou predominantemente batistas, são encontradas
somente no Brasil. A contribuição numérica dos batistas letos neste país
para o ministério batista do Brasil, ao longo de toda a história batista
brasileira, é outra razão que suscita indagações naqueles que refletem
sobre o assunto. Evidentemente, tudo isto não aconteceu por mero acaso.
São caminhos de Deus.

68
CAPITULO II
HISTÓRICO DOS BATISTAS NA LETÔNIA
1. Diferentes Raízes

1.1 — Irmãos Morávios


1.2 — Luteranos
1.3 — Batistas alemães

2. Primeiros Batistas Letos


3. Crescimento e Perseguições
4. Emigração
5. Expansão
6. Os Batistas Letos e a Aliança Batista
Mundial
7. Os Batistas Letos na Vida Administrativa do
Seu País
8. Opressão Comunista e o Desmantelamento da
Obra Batista na Letônia
CAPITULO Il

HISTORICO DOS BATISTAS NA LETÔNIA

1. Diferentes Raízes

O movimento batista na Letônia começou espontaneamente, sem


qualquer ação missionária organizada ou missionários enviados do es-
trangeiro. O protestantismo luterano dominante, formal e indiferente
para com as aspirações mais profundas da alma, causou no seio do povo
leto uma busca ansiosa pela verdade. Até vários pastores luteranos —
os mais sensíveis — reconheciam tal estado de coisas e pregavam de seus
púlpitos a necessidade de se buscar uma vida piedosa condizente com os
ditames do evangelho. (1)
1.1 — Irmãos Morávios
Destacam-se na história dos batistas da Letônia três diferentes raí-
zes que lhes deram origem. A primeira encontra-se no movimento dos
Irmãos Morávios, que, pouco mais de cem anos antes do surgimento dos
batistas, havia iniciado a sua obra naquela terra. As suas ênfases na
necessidade de uma experiência pessoal com Deus; na regeneração do
coração do pecador pelo Espírito Santo, mediante o arrependimento; na
responsabilidade individual do cristão em testemunhar de Cristo em todo
lugar e em qualquer circunstância, tanto pela palavra como pela conduta
— e principalmente por esta última; na necessidade de orar e ler a Bíblia
e de se reunir com outros para estudo bíblico, oração e cânticos — pre-
pararam o terreno para a obra batista. Entretanto, como os morávios de
Hernhut continuavam na Igreja Luterana, inclusive aceitando o batismo
infantil — embora não como ordenança do Senhor, senão como ritual
ao se dar nome à criança — ao invés da imersão de adultos, que foi a
prática da outra corrente que resultou no surgimento das primeiras igre-
jas batistas, conhecidas no sul da Alemanha como dos "Taufer" (os que
batizam), (2 ) muitos desses sinceros perscrutadores das Escrituras Sa-

(1) Klaupiks, Adolfs, "Latviesu Baptistu 100 gadi" (O Centenário dos Batistas Letos),
Dzivibas Cels (Caminho da Vida), Toronto. Canadá, Editado pela União Batista Leta da
América do Norte, 1960, pp. 19-21.
(2) Riess, J., Latveeschu baptistu draudzchu izcelschanas un winu tahlaka attihstiba (Origem
e Desenvolvimento das Igrejas Batistas Letas), Riga, 1913, pp. 20-25.

71
gradas, desejando ir mais além na vida religiosa e obedecer ao batismo,
bíblico, encontraram plena satisfação na doutrina e prática das igrejas
batistas nascentes na Letônia. (3 ) Também o hinário que os primeiros
batistas letos usaram foi o dos Irmãos Morávios, compilado pelo seu
apreciado poeta G. Loskiels. (4 ) Mais tarde, quando os batistas prepara-
ram o seu próprio hinário (1880), de 647 hinos, mais de 300 eram ou de
origem morávia, (5) — com toda aquela peculiaridade sentimental e emo-
cional que caracterizava aqueles irmãos de profunda piedade — ou de
origem luterana alemã, os então chamados "corais", porque eram can-
tados a quatro vozes.
1.2 — Luteranos
A segunda raiz dos batistas letos encontra-se nos luteranos since-
ros e piedosos da Curlândia — província meridional da Letônia, onde os
Irmãos Morávios não tiveram penetração — que, identificando-se em
suas aspirações comuns, reuniam-se em pequenos grupos aqui e ali para
oração e leitura da Bíblia e ouvir sermões de pastores luteranos mais
piedosos, sempre acompanhados de comentário, explicação e discussão,
para o que suplicavam o esclarecimento do Espírito Santo. Esses grupos,
verdadeiros núcleos de "combustão espontânea", formaram-se em torno
de alguns professores rurais e de um pequeno negociante da cidade de
Liepaja (Libau, segundo os alemães). Entre eles destaca-se o professor
do distrito de Siras, de nome Hamburger, que por volta de 1849 costu-
mava reunir, para tais exercícios espirituais os seus alunos e por vezes
também os pais destes e outras pessoas que o procuravam por causa de
sua piedade. Dois anos depois, o barão local — desgostoso com a ação
do professor distrital, que ensinava a guarda do domingo, a abstenção
de bebidas alcoólicas e sempre condenava o mundanismo da igreja ofi-
cial — destituiu o mestre do seu cargo, mandando-o embora. Porém um
dos seus alunos mais amadurecidos continuou a realizar com o grupo
as reuniões de oração e leitura da Bíblia, juntando-se a ele o Sr. Adams
Gertners, (6 ) alfaiate de profissão e cujo pai lhe havia dado a melhor
instrução que um artesão na época poderia oferecer a seu filho, isto é,
ler, escrever, calcular e falar em leto e em alemão. ( 7) Cerca de dez
anos depois esse servo de Deus tornou-se o primeiro pastor batista leto
e aquele que realizou, numa só vez, os primeiros 72 batismos na Letônia,
que foram também os primeiros em todo o Báltico (Letônia, Lituânia e
Estônia). (8 )
1.3 — Batistas alemães
A terceira raiz que deu origem ao movimento batista na Letônia foi
a presença e ação dos batistas leigos imigrados da Alemanha, entre 1856

(3) Id., ibid., pp. 243 e 244.


(4) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., p. 70.
(5) Id., ibid., p. 132.
(6) Riess, J., Op. cit., pp. 32 a 40.
(7) Adams Gertners era avô do conhecido Pastor Arnaldo Gertners, por muitos anos pro-
fessor e ecônomo do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e pastor da Igreja Batista
de Ricardo de Albuquerque, GB.
(8) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 20 e 21.

72
e 1859, mais precisamente da Igreja Batista da cidade de Memel, igreja
esta fundada em 1841 por J. G. Onken, o renomado "apóstolo da Ale-
manha". Esta ação dos leigos foi como sopro sobre brasas que logo
inflamou tudo em seu redor. Até então nenhum daqueles líderes dos
perseguidores da verdade bíblica tivera qualquer contato com batistas,
senão apenas informações, dadas por alguns pastores luteranos, de que
havia, na Alemanha e na América do Norte, igrejas que batizavam imer-
gindo somente adultos que apresentassem em sua vida frutos de arrepen-
dimento. Um dos letos, por nome Fritzis Jekabsons, devido à crise de
trabalho em sua cidade natal, Liepaja — causada pela guerra da Criméia
que motivou o bloqueio inglês dos portos do Mar Báltico — emigrou para
Memel, onde teve a felicidade de conhecer a Igreja Batista, na qual foi
batizado, em 1" de setembro de 1855, pelo então pastor da Igreja, F.
Niemetz. Em 1856, ele voltou à sua cidade natal como o primeiro batista
leto. Na mesma época, emigraram de Memel para Letónia — precisa-
mente para a cidade de Liepaja e redondezas — alguns batistas alemães,
que passaram a realizar em suas residências cultos em alemão. O pastor
de sua igreja em Memel os visitou algumas vezes, realizando cultos pú-
blicos e até uma série de conferências durante 6 dias. Mas isto logo lhe
custou a proibição terminante de voltar à Curlândia, bem como a da
realização dos cultos nas casas dos batistas alemães. Com tal posição,
assumida pelas autoridades, a porta estava fechada na Curlândia para
qualquer atividade evangelística por parte da Igreja Batista de Memel.
Mas Deus tinha outros meios para o prosseguimento da obra. ( 9 )
Adams Gertners, visitando, em 1859, seu velho mestre de ofício na
pequena cidade de Gróbina, ficou sabendo dos cultos que se realizavam
em casa do Sr. Brandmann, batista alemão de Memel ali residente e onde
a proibição ainda não havia chegado. Poucos dias depois, Adams Gertners
e sua esposa, Ana, foram, de Úzava, visitar o Sr. Brandmann. Depois do
culto, continuaram a conversar até alta madrugada. Ao sair, disse Gert-
ners a sua mulher: "Agora sei o que devo fazer; agora sei em que estou
firmado." Ainda em 1859, o Sr. Gertners voltou a visitar o Sr. Brand-
mann, agora acompanhado de mais dois amigos influentes do movimento.
Depois de uma longa troca de idéias, ficou acertado que o Sr. Brandmann
iria brevemente passar algumas semanas entre o grupo de Úzava, durante
o dia trabalhando na sua profissão de cordoeiro e à noite explicando aos
irmãos as doutrinas batistas, o que de fato aconteceu. Durante aquelas
reuniões, oravam muito, liam a Bíblia e discutiam assuntos doutrinários
e aspectos éticos do cristianismo em todos os seus pormenores. Chegando
à conclusão de que estavam preparados para receberem "a santa imersão"
(assim tratavam o batismo), apelaram ao Sr. Brandmann para que os
batizasse imediatamente. Este, porém, negou-se a fazê-lo, explicando que
para tanto faltava-lhe autorização expressa de sua igreja em Memel.
Pedir a presença do pastor daquela igreja para realizar os batismos seria
inútil, uma vez que a sua entrada no território leto estava terminante-
mente proibida pelas autoridades. Restava-lhes o único caminho — aliás,
o mais difícil — o de medirem a longa distância até Memel para lá re-

(9) Riess. J.. Op. cit., pp. 30 e 31.

73
ceberem o batismo bíblico. Neste sentido foi trocada correspondência
com aquela igreja, a qual logo convidou os letos convertidos a irem a
Memel para serem batizados. (10)

2. Primeiros batistas letos


Em princípios de agosto de 1860, cerca de dez homens daquele grupo
procuraram obter, das autoridades, a devida licença para solicitar o pas-
saporte para uma viagem a Memel. Investigados os motivos da viagem,
esta não lhes foi permitida. Atravessar a fronteira sem permissão das
autoridades seria uma aventura por demais arriscada para chefes de
família. Porém, não desistiram do plano. Sete deles resolveram viajar
mesmo sem a indispensável licença e o passaporte, na certeza de que
Deus haveria de lhes abrir o caminho de alguma forma. Entre eles es-
tava o já referido Adams Gertners, cuja esposa também resolveu inte-
grar o grupo, perfazendo ao todo 8 letos. Fig. 12. O Sr. Brandmann
prontificou-se a acompanhá-los, levando três candidatos de nacionalidade
alemã ao batismo, fruto do trabalho individual dos poucos batistas ale-
mães — apenas 14 — residentes em Liepaja. Os alemães não tiveram
dificuldade alguma na obtenção dos documentos, por serem estrangeiros
que fariam uma visita à sua terra. Já os letos nem sabiam se chegariam
a Memel ou não. Quando todos chegaram ao último distrito do território
leto, e estando já quase na fronteira, Deus respondeu às orações dos seus
filhos. Um dos integrantes do grupo lembrou-se de um velho conhecido
seu que tempos atrás era escrivão de um dos latifúndios da fronteira com
a Alemanha e, de indagação em indagação, conseguiu localizá-lo na fa-
zenda de Perkone. Expôs-lhe o problema. Este pediu 50 copeques por
pessoa e forneceu-lhes a licença de fronteiriços, válida apenas por 7 dias.
Isto era-lhes mais que suficiente. Cheios de alegria santa, cruzaram a
fronteira sem a menor dificuldade, chegando a Memel na tarde do sába-
do, dia 10 de setembro do mesmo ano de 1860. Os irmãos da Igreja de
Memel os receberam com muita afabilidade. Na mesma noite foi convo-
cada uma sessão da igreja, em que cada um dos irmãos expôs a sua fé em
Cristo e o seu desejo de receber o batismo bíblico, a "santa imersão". Os
batismos tiveram lugar no dia seguinte, domingo, 2 de setembro de 1860,
sendo oficiante o pastor auxiliar E. Albrecht. Reinou uma alegria imen-
sa na igreja. Pouco depois, dando notícia do acontecido, escreveu o pas-
tor titular da igreja, F. Niemetz, no periódico batista daquela época,
Mission-Blatt: "Dos 11 candidatos, quase todos conheciam somente o
idioma leto — língua peculiar a mais falada na Curlândia. A nossa co-
municação com eles só foi possível através de intérprete. Eles estavam
repletos de fervor para com o seu Salvador crucificado. Os nossos co-
rações saltaram de prazer e os nossos olhos encheram-se de lágrimas
quando os amados, com corações cheios de alegria, apresentaram o seu
testemunho a respeito do amor e do poder de Jesus Cristo em suas vi-
das." (11)

(10) Klaupiks, Adolfs, loc. cif., pp. 22 e 23. Também Inkis, J., Kasbaptisti ir un ko vivi grib?
(Quem São Os Batistas e o Que Eles Pretendem?), Riga, Edit. j. A. Freijs, 1909, p. 62.
(11) Riess, J., Op. cit., pp. 41 a 43.

74
Voltando à Letônia, os recém-batizados, com grande poder e coragem,
passaram a dar seu testemunho perante o povo, falando da graça e mise-
ricórdia que haviam recebido de Deus e expondo as suas convicções.
Não tardaram, entretanto, as perseguições. Um daqueles irmãos ne-
gou-se a levar a sua filhinha recém-nascida à igreja para ser aspergida
segundo o rito luterano. O conselho local da igreja oficial — o Consis-
tório — tomou as providências para que o batismo da criança se efetuas-
se sob coação. A questão chegou ao Governador Geral, que adiou a
solução. As autoridades eclesiásticas locais e da vizinhança próxima e
distante começaram a alarmar o povo contra os batistas, alegando até
indecorosidade em suas reuniões, porque estas eram realizadas a portas
fechadas, face à perseguição; transgressão da ordem de proibição das
reuniões; e vaidade manifesta em considerarem-se os "despertados" e
"avivados", assim classificando os demais como inferiores. Pressionado
pela igreja oficial, o poder público lançou, mão de coação. No dia 15 de
setembro foi preso o Sr. Brandmann, sob a acusação de agitador, pois
que havia realizado várias reuniões para os letos em Czava, bem como
chefiado um grupo de letos em viagem a Memel, a fim de receber um
novo batismo. Na mesma ocasião, foram chamados perante as autori-
dades todos os integrantes daquela viagem e persuadidos a que nunca
mais intentassem uma outra viagem a Memel com o mesmo objetivo.
Igual observação foi dirigida a todos os professores rurais das redon-
dezas de Gróbina que mantinham contatos constantes com os batistas
e desejavam receber o novo batismo. Finalmente, em princípios de 1861,
o Sr. Brandmann foi banido da Letônia pelo Ministério do Interior do
Império da Rússia como elemento indesejável à paz interna. Isto des-
pertou ainda maior zelo entre os recém-batizados, especialmente no co-
ração de Adams Gertners, que passou a viajar e pregar em toda parte
onde sabia haver pessoas interessadas no novo movimento, o que lhe
custou também as mais cruéis perseguições. Dois jovens batistas ale-
mães de Liepaja — um rapaz e uma moça — tentaram ajudar o irmão
Adams Gertners. Ao chegarem ao local da pregação, foram presos jun-
tamente com Gertners. Os três foram algemados sob os olhares atônitos
dos assistentes. A jovem, Maria Kronberg, feliz por poder sofrer pelo
nome do seu amado Salvador, disse que poderiam algemar-lhe também os
pés. O delegado de polícia que chefiava a diligência ordenou que fossem,
então, algemados os pés dos três. Assim foram levados para a cadeia
da cidade de Wenspils, onde foram interrogados e maltratados durante
alguns dias. De Wenspils foram enviados a outras cidades e finalmente
levados de volta para o centro mais importante da Curlândia, a cidade de
Liepaja. Longos trechos desta tétrica jornada os presos percorreram a
pé, acorrentados aos trenós da soldadesca. Os tornozelos sangrando, sob
a ação das algemas, deixavam manchas vermelhas na neve do caminho,
que se prolongou por léguas e léguas. A notícia dessa marcha "crimi-
nosa" espalhou-se célere, e os irmãos de vários lugares correram aos
povoados por onde teria que passar a caravana, para suprir de alimentos

75
os heróicos sofredores. A simpatia cristã foi um conforto inestimável
para aqueles mártires do evangelho de Cristo na Letônia. (12)
.7k. primeira viagem a Memel, quando a 2 de setembro de 1860 ali
foram batizados os primeiros 8 batistas letos, seguiram-se mais outras
duas no ano seguinte, por via marítima, em barcos de pesca particulares.
Escolheram a via marítima, para evitar cruzamento da fronteira — já
que era inútil pensar-se em obtenção de documentos — ainda que conti-
nuasse o risco da vigilância da guarda da costa. Esta, porém, era traída
freqüentemente pela neblina e pelos temporais, que obrigavam os guar-
das ao recolhimento. Os integrantes da segunda viagem seriam 61, todos
do sexo masculino, sendo 15 candidatos ao batismo e um servindo de
guia, este já batizado na viagem anterior. Sendo quase todos pescadores,
homens altos e musculosos, habituados às intempéries marítimas, relati-
vamente jovens, nada temiam, senão a desobediência ao Senhor. No
silêncio da noite de 29 de maio de 1861, largaram, orando ao Deus Iodo-
-poderoso. Depois de alcançarem uma certa distância da costa, passaram
a ritmar os movimentos dos remos com os cânticos dos tão amados hinos
do Loskiels, poeta e hinólogo inspirado dos Irmãos Morávios. Por volta
das 9 horas da manhã do dia seguinte já haviam alcançado as imediações
do porto de Liepaja, onde deveriam receber a bordo o 159 candidato ao
batismo. Exatamente nesta altura cobriu-os uma forte neblina, que per-
mitiu a aproximação do barco até bem perto da praia. Um dos viajantes
foi ao encontro do aludido companheiro e duas horas depois voltou com
ele. Quando já estavam novamente em alto mar, a cerração desapareceu.
Um vento favorável, inflando as velas, os conduziu tão rapidamente, que
ao cair da tarde do mesmo dia já se encontravam em Memel. Novamente
foram recebidos com afeto cristão pelos irmãos alemães com seu pastor,
F. Niemetz, à frente. Para evitar uma intervenção do cônsul russo, que
poderia vir a ser notificado da presença de pescadores letos na cidade, os
irmãos foram rapidamente convocados para uma reunião, em que os no-
vos candidatos ao batismo foram aceitos e às 23 horas do mesmo dia
batizados.
Na viagem de retorno, chegando a Liepaja, aproximaram-se da costa
para que o irmão ali residente desembarcasse. Este saltou na água des-
pido, segurando a roupa acima da cabeça. Ao chegar à praia, foi preso
por um guarda e levado ao posto policial. Interrogado, contou por que o
grupo havia ido a Memel. Dali foi enviado, por etapas, a várias cidades,
para ser ouvido por diferentes autoridades sobre o alegado novo tipo de
contrabando — o "contrabando da fé". A viagem durou duas semanas.
O preso marchava a pé, algemado de pés e mãos a uma corrente presa à
carruagem dos guardas. O irmão Wikstrems — este era o seu nome —
permaneceu preso quase seis meses, em várias cadeias, até ser pronun-
ciada a sua sentença: seria mandado para o interior da Rússia para
cumprir obrigações militares. E de fato ali permaneceu por seis longos
anos.

(12) Cf. Kronlins, J., Dieva Druva (Na Seara de Deus), São Paulo, Editado pela Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil, 1966, pp. 70 a 80.

76
Os demais recém-batizados continuaram a viagem de retorno com
muita dificuldade devido ao mau tempo, podendo avançar só à custa de
remos, pois o vento lhes era contrário o dia inteiro. Ã noite, foram lan-
çados à praia pelas ondas enfurecidas. Quando parou o vento, acenderam
uma fogueira para enxugar as roupas, inteiramente molhadas durante a
tempestade. Foi o bastante para que fossem percebidos por um oficial
da guarda que dentro em pouco os prendeu. Embora constatasse que não
se tratava de contrabandistas, o oficial levou-os à sede do latifúndio em
cuja jurisdição ocorreu a prisão, para registrar o fato e requisitar car-
roças e cavalos para o transporte até a sede da comarca. No caminho
tiveram que passar por uma outra fazenda, onde pararam para um pe-
queno descanso. Logo os curiosos cercaram os presos. Sabendo as ra-
zões de sua prisão, passaram a escarnecer dos prisioneiros. Para defen-
der os crentes de maiores vexames, a própria senhora do fazendeiro re-
preendeu os zombadores e mandou trazer para os irmãos pão fresco, leite,
e queijo em quantidade para alimentá-los e muni-los de provisão para
o caminho, dizendo: "Os batistas são boa gente, eu os conheço desde a
Alemanha."

Na justiça da comarca todos os irmãos foram soltos, embora mais


tarde fosse cobrada a multa de um rublo por terem viajado sem documen-
tos competentes. Os mais velhos retornaram ao barco com autorização,
por escrito, para prosseguirem viagem por mar, enquanto os mais jovens
seguiram a pé, para passar pela casa do irmão Adams Gertners, onde se
realizavam reuniões de evangelização e cultos de oração. Ali contaram
das maravilhas do poder de Deus e dos sofrimentos pelo nome de Jesus.
Na mesma noite foi realizada uma espécie de sessão da congregação, em
que foram ouvidos os testemunhos de novos convertidos, recebendo estes
recomendações para serem batizados na próxima viagem a Memel, que
deveria ocorrer por aqueles dias.

Mais adiante, cinco dos irmãos dessa primeira caravana marítima


foram presos novamente pelos guardas da fronteira que encontraram em
seu poder hinários batistas alemães, trazidos de Memel. Confiscados os
livros, foram interrogados, para explicar como haviam ousado ir a Memel
sem permissão, ao que responderam: "Convém obedecer mais a Deus do
que aos homens." Então o juiz avançou sobre um dos mais próximos,
agarrando-o pelo braço e ameaçando chamar o soldado para castigá-los
com varas. Porém desta vez os irmãos foram poupados. (13 ) Mais tarde,
aqueles servos de Deus concluíram que em tudo havia operado a sábia
orientação divina. As enormes ondas do Mar Báltico, que pareciam dis-
postas a sepultá-los para sempre, na verdade os salvaram. É que, no
seu destino, a 40 milhas mais adiante, as autoridades e o povo, este por
estar instigado — já estavam esperando de volta os "fugitivos" com
correntes e varas, para justiçá-los pelas suas próprias mãos, porque ou-
saram crer na mensagem da Bíblia e pensar diferentemente dos demais
cidadãos, "importando" ilegalmente da Alemanha o batismo bíblico. Exi-

(13) Cf. Riess, J., Op. cit., pp. 45-50.

77
bida a autorização escrita pela justiça da comarca, confundiram-se os ini-
migos e deixaram de molestar aqueles irmãos. (14)
Apenas duas semanas depois, partiram outros recém-convertidos para
serem batizados na Igreja Batista em Memel, Alemanha. Eram sete
irmãos — seis homens e uma moça de 17 anos, Catarina Peterlevitz,
cunhada de Adams Gertners. Nenhum deles era pescador, razão por que
tiveram dificuldades em obter um barco. Também nenhum possuía qual-
quer experiência de navegação marítima. Entretanto, o caminho marí-
timo era o único que lhes parecia viável, devido à impossibilidade de
obter os documentos para cruzar a fronteira alemã. Contrataram, então,
um certo proprietário de um veleiro, conhecido como hábil navegador e
contrabandista, para levá-los a Memel. No dia e hora combinados, os
santos aventureiros partiram. Mais adianta foram surpreendidos por
uma embarcação da guarda marítima que os observava com binóculos.
O veleiro parou, lançando a âncora. Como geralmente os contrabandistas
costumavam fugir à aproximação da patrulha marítima, esta concluiu,
certamente, que se tratava de meros pescadores e deixou de abordá-los.
Horas depois, sem qualquer embaraço, chegaram a Memel sãos e salvos.
Após alguma dificuldade em encontrar a residência do pastor, acabaram
por achá-la. Nova manifestação da mais cativante fraternidade, embora
todos fossem desconhecidos e quase nada entendessem do idioma alemão.
Era a manhã de uma sexta-feira. No domingo foram ouvidos os teste-
munhos através de intérprete, um diácono que conhecia o leto e que
havia acompanhado o pastor na sua primeira viagem à Curlândia. A
igreja exultou de novo pela manifestação da graça divina entre o povo
da Letônia. Os batismos foram realizados na tarde daquele domingo, 30
de junho de 1861, segundo os registros daquela igreja. (15)
A volta desses irmãos, porém, foi dramática. A tempestade os sur-
preendeu depois de algumas milhas de viagem. O vento arrebentou as
cordas das velas e quebrou o mastro. Com esforço e habilidade do dono
do veleiro, a embarcação foi consertada e assim puderam prosseguir. Mais
tarde souberam que guardas haviam sido destacados em certo ponto para
apreender o barco na volta. Mas cor_-1 o atraso causado pelo temporal,
aqueles vigias, já cansados, adormeceram, e o veleiro passou por eles
despercebido. Mais uma vez Deus havia manifestado a sua misericórdia
para com os seus servos.
Entretanto, o Senhor os provou duas semanas depois, quando todos
receberam a intimação para comparecerem à justiça da comarca, a fim
de darem contas de uma viagem que havia sido consumada sem a devida
licença. Todos compareceram perante a justiça, exceto um, que, movido
pelo temor, desapareceu da redondeza. Interrogados primeiramente os
homens sobre os motivos que os havia levado a buscar um outro batismo
em Memel, responderam que a Palavra de Deus assim o ordena. Argüi-
dos de desobediência ao governo, realizando tal viagem, retrucaram ime-
diatamente que para eles era mais importante obedecer a Deus do que
aos homens, porque assim ficavam bem com a sua própria consciência.

(14) Inlds, J., Op. cit., no. 63-65.


(15) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., p. 25.

78
O juiz tentou levar a jovem Catarina Peterlevitz a declarar que ela teria
sido induzida à viagem a Memel, para que assim escapasse do castigo que
aguardava os outros recém-batizados. Mas a moça respondeu que havia
viajado por sua livre decisão. O tribunal infligiu, a cada um, a pena de
15 pares de varadas e pagamento de 150 copeques em moeda.
Na sala dos castigos foram introduzidos primeiramente os homens.
Os soldados, depois de tomarem bastante aguardente, passaram a aplicar
o castigo. Cada um dos crentes recebeu, deitado de bruço e desnudo, os
15 pares de varadas nas costas, sem dar um gemido. Quando um se
levantava outro deitava-se na mesma poça de sangue que deixara o seu
companheiro de martírio. Depois dos açoites, foram levados todos à pre-
sença do juiz para pagar a quantia arbitrada a título de "despesas da
justiça". Mais uma vez a jovem Catarina foi insinuada a negar a sua
responsabilidade na viagem. Porém ela a confirmou. O juiz então repli-
cou: "Tu estás louca, menina!" — e mandou executar a sentença. (16)
Essas são apenas algumas amostras da série de sofrimentos dos
primeiros batistas letos, por causa da ousadia de antes obedecerem a
Deus do que aos homens, buscando o batismo bíblico na Alemanha sem
permissão das autoridades.

3. Crescimento e perseguições
Dentro de um período curto de apenas dez meses, já haviam recebido
batismo 30 letos, que ficaram arrolados como membros da Igreja Batista
de Memel, na Alemanha. As dificuldades, os perigos de vida e as perse-
guições atrozes que sofriam os crentes na volta de cada viagem realiza-
da à Alemanha, levaram os irmãos da Igreja Batista de Memel a pensar
em uma solução mais adequada ao desenvolvimento da obra batista na
Letônia. Foi quando, em agosto de 1861, o Pastor F. Niemetz, pastor
titular da Igreja de Memel, convidou o irmão Adams Gertners a visitar
a igreja, onde permaneceu por algumas semanas. Durante esse tempo, o
irmão Gertners teve oportunidade de conhecer de perto o trabalho batista,
seus princípios e suas doutrinas fundamentais e distintivas. Seu mestre,
em todos os aspectos, foi o Pastor F. Niemetz, homem culto e experi-
mentado nas lides batistas. Por sua sugestão, a Igreja Batista de Memel,
na mesma ocasião, autorizou o irmão Adams Gertners a superintender
o trabalho batista entre os letos, podendo batizar e distribuir a Ceia do
Senhor. Poderes iguais a mesma igreja deu, na mesma ocasião, ao irmão
Daniel Jurask, seu membro preeminente em Liepaja, para cuidar do tra-
balho entre os alemães.
Voltando à Letônia, Adams Gertners encontrou um grande grupo de
candidatos ao batismo nas congregações mais fortes. Então, no sábado,
dia 22 de setembro de 1861, bem depois dos trabalhos duros nos lati-
fúndios, no silêncio da noite, secretamente, mais de uma centena de pes-
soas dirigiu-se para um determinado ponto às margens do rio Zira, bem
distante de qualquer habitação, para não serem percebidas, a fim de
realizar os primeiros batismos na Letônia. Perto da meia-noite Adams

(16) Riess, J., Op. cit., p. 52.

79
Gertners leu a Bíblia à luz de uma lanterna, pregou um breve sermão,
mandou cantar um hino conhecido do hinário luterano, orou e desceu
às águas, seguido de uma longa fila de 72 candidatos. Antes da imersão,
interpelou de novo os candidatos sobre a sua fé em Cristo e então os
batizou, solenemente, em nome da Trindade. Já era uma hora da ma-
drugada, quando, ali mesmo, à margem do rio, celebraram pela primeira
vez a Ceia do Senhor. Com os 30 batistas anteriormente batizados em
Memel, a congregação, unida pela fé comum e pelo amor fraternal, já
contava com 102 pessoas. (17 )
Decorridos apenas 25 dias após os primeiros batismos, o mesmo irmão
Adams Gertners realizou novos batismos, desta vez na represa da casa
de seu sogro, porém ainda na escuridão da noite, às 23 h. A notícia dos
dois batismos ocorridos à noite correu célere e alcançou as autoridades,
que imediatamente prenderam seu oficiante e proibiram as reuniões na-
quela casa. A incipiente igreja mudou-se para outra casa. Não tardou
a proibição também lá. Passou a reunir-se, então, no bosque, mas tam-
bém ali chegou a perseguição. Os arrendatários que permitiam os cultos
em suas casas ou em seus bosques eram presos, castigados com varas,
com multas e até com expulsão da propriedade arrendada. Mas nem
mesmo no inverno os irmãos cessaram de se reunir ao relento. Eram
comuns os cultos realizados sobre o gelo dos terrenos pantanosos e, como
as orações eram feitas de joelhos, os crentes deixavam covas na neve
e no gelo, que se derretia com o calor do corpo. (18)
Com poucas interrupções, Adams Gertners esteve preso durante dois
anos no seu ministério curto de apenas 16 anos. Muitos dos seus com-
panheiros de pregação de igual modo sofreram prisões e outros castigos.
Alguns deles atravessaram a fronteira e fixaram-se na Lituânia, onde o
movimento batista ainda não era conhecido. Assim aconteceu com a fa-
mília Inkis, cujos dois valorosos filhos, Grigis e Jacob, pouco depois tor-
naram-se pastores e líderes do período pioneiro dos batistas na Letônia,
sendo que o último foi o segundo presidente da Convenção Batista da
Letônia. Este, em 1899, emigrou para o Brasil e dois de seus filhos —
Janis (João), Inkis e Ricardo Inke — foram pastores muito conhecidos
em nosso país e cujo sobrinho, Jacó Ricardo Inke, ainda hoje labuta no
ministério batista no Estado de São Paulo. Na faixa limítrofe da Lituâ-
nia, onde residiam, cultivaram terras e testemunharam do evangelho de
Cristo, deixando igrejas fundadas.
Durante a prisão de Adams Gertners, outros seus companheiros ba-
tizavam, autorizados pela congregação, uma vez que outras tentativas
de ir a Memel e receber batismos na Igreja Batista alemã foram frustra-
das pela violência das autoridades. Naquelas circunstâncias, pouco se
pensava em questões organizacionais ou administrativas. Os vários gru-
pos, que se reuniam em regiões diferentes, tinham seus dirigentes, cele-
bravam a Ceia presidida por estes e vários deles receberam autorização
para batizar. Alguns desses grupos ou congregações jamais puderam
estabelecer uma data como sendo a da sua organização em Igreja, pois

(17) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 26 e 27.


(18) Riess, J., Op. cit., p. 59.

80
que, desde os primórdios, já se consideravam como tais, embora todos
os seus membros estivessem arrolados, por correspondência de Adams
Gertners, na Igreja Batista de Memel, na Alemanha.
Outro grande grupo ou igreja formou-se em Liepaja e redondezas.
Inicialmente os letos que ali iam se convertendo filiaram-se à congre-
gação alemã, mas quando o número destes superou o dos alemães, passa-
ram a formar uma congregação à parte, que logo formou outras con-
gregações, que também passaram a chamar-se igrejas. O movimento todo,
porém, obedecia à orientação de Adams Gertners, que, em 1866, foi for-
malmente ordenado pela Igreja Batista de Memel. As igrejas o estimavam
e respeitavam a tal ponto que era tratado como "o bispo das igrejas de
Curlândia", como se lê em atas de várias dessas igrejas. (1°)
A persistência e o testemunho dos crentes e a disposição de todos
de arrostar os maiores sacrifícios pessoais e as mais cruéis perseguições,
foram conquistando a simpatia do povo e despertando a grandes e peque-
nos para os valores do evangelho. Assim, com o prolongamento da prisão
de Adams Gertners, em 1863, dois irmãos corajosos foram ao governador
suplicar a sua libertação. Este os aconselhou que procurassem o próprio
Czar Alexandre II, em São Petersburgo. Incontinenti, fizeram o longo e
penoso percurso e, por mediação de pessoas relacionadas com os Irmãos
Morávios de Riga, residentes em São Petersburgo, e de um soldado da
guarda imperial que era leto, conseguiram um encontro fortuito com o
soberano da Rússia, quando este passeava no jardim do palácio. O czar
deu ordens aos seus oficiais para que os camponeses letos fossem minu-
ciosamente interrogados e seu pedido tomado a termos, o que foi feito
sem delongas. (20 ) Retornando à Letônia, esperaram pouco mais que um
ano sem obter qualquer resposta. Voltaram, então, a São Petersburgo
para saber a razão da demora de uma resposta. Finalmente, em outubro
de 1863, foi recebida, com data de 8 de agosto do mesmo ano, a ordem
de soltura de Adams Gertners, na qual se afirmava a falta de fundamen-
tos nas acusações formuladas pela justiça dos latifúndios germânicos da
Letônia, pois que a nova doutrina em nada comprometia a segurança
e a paz dos cidadãos. Ao ganhar a sua liberdade, Adams Gertners ime-
diatamente batizou mais 17 novos convertidos, agora em pleno dia. En-
tretanto, a polícia continuou a vigiar os passos de Gertners até novem-
bro de 1866, tentando por todos os meios impedir as suas viagens mais
longas, obrigando-o a uma apresentação diária às autoridades.
Em novembro de 1865, chegou, da parte do Governador da Curlân-
dia, uma portaria em que se ordenava o arquivamento de todos os pro-
cessos de acusação contra os batistas e se dava a eles plena liberdade de
reunião em qualquer ponto da província. No domingo seguinte, Gertners
batizou mais 27 convertidos, em pleno dia, celebrando a Ceia, a seguir,
no amplo pomar da casa de um dos crentes. E em 1867, o testemunho
batista chegou a Riga, capital da Letônia, onde, em 1876, foi organizada
a primeira Igreja Batista.

(19) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 27-36.


(20) Riess, J., Op. cit., p. 303.

81
Daí por diante o progresso foi extraordinário. Foram surgindo igre-
jas e obreiros novos, dos quais alguns seguiram para o Seminário Batista
em Hamburgo, Alemanha. Várias propriedades foram adquiridas pelas
igrejas e congregações e construídos "luhgschanas nami" (Casas de
Oração). Também foram surgindo escolas junto às igrejas, para que os
filhos de batistas não sofressem constrangimentos e perseguições, co-
muns nas escolas oficiais ou paroquiais luteranas.
Em 1869, reuniu-se a primeira conferência de consultas, de 10 obrei-
ros batistas letos, em que vários problemas eclesiásticos e práticos fo-
ram abordados. Em 1875, foi convocada a Primeira Conferência das Igre-
jas Batistas Letas. Entre outros assuntos — de natureza doutrinária,
disciplinar e cooperativa — foi discutido o da autonomia das igrejas
batistas letas. Votou-se, então, uma proposta de solicitação à Igreja
Batista de Memel, no sentido de esta permitir que as igrejas batistas da
Letônia se separassem dela e iniciassem a sua vida independente, já que,
pelas circunstâncias então reinantes e o crescimento do trabalho, a su-
bordinação àquela igreja era apenas uma questão formal. O novo pastor
da igreja de Memel, A. Giltzaw, presente à Conferência no ano seguinte,
expressou a satisfação que reinava em sua igreja devido ao progresso
alcançado pelos batistas letos, afirmando que não foram criados quais-
quer obstáculos para que a autonomia solicitada se tornasse realidade
e ainda apelou para que os batistas letos criassem imediatamente o seu
próprio trabalho missionário organizado. Outrossim, afiançou que a igre-
ja em Memel daria uma ajuda financeira para a promoção inicial deste
trabalho, bem como para o atendimento dos irmãos pobres e dos perse-
guidos, o que foi o princípio das Juntas de Evangelismo e de Beneficência
da obra batista na Letônia. Nessa ocasião também as igrejas batistas
letas pediram ingresso na União Batista da Prússia Oriental, onde fo-
ram aceitas.
No ano seguinte, em 1878, a União resolveu pedir à União Batista
da Prússia Oriental a permissão para as igrejas da Letônia ("igrejas fi-
liais") organizarem sua própria União, o que aconteceu em outubro de
1879. Naquela ocasião, para dar ao ato feição a mais fraternal possível,
os irmãos letos realizaram a sua Conferência com a Igreja Batista em
Memel, com a presença de 30 mensageiros das igrejas batistas da Letônia.
A "igreia-mãe" regozijou-se sobremaneira com o fato, e ajudou, com a
orientação do seu pastor, na elaboração da primeira Constituição da novel
oras nização, que foi aprovada, e a encaminhar a filiação da mesma à
União Batista da Europa Ocidental. Na mesma ocasião, um amigo não
batista. mas grande apreciador da obra batista, o Sr. Bergmann, abastado
comerciante alemão, tomando conhecimento da oportunidade de ajudar
os batistas letos na evangelização da Letônia, comprometeu-se a contri-
buir para esta obra com 3.000 rublos anuais, o que efetivamente fez por
vários anos, possibilitando, assim, o sustento de 19 evangelistas itineran-
tes e a construção de algumas Casas de Oração. (21)
A nova estrutura do trabalho batista leto não trouxe quaisquer pro-
blemas com as autoridades na Letônia, pois a 27 de março de 1879 havia

(21) Cf. Id., ibid., pp. 284-286.

82
sido decretada, pelo governo imperial da Rússia, a chamada "Lei dos
Batistas", dando às igrejas batistas: 1) plena liberdade de proclamação
de sua doutrina; 2) reconhecimento oficial dos pastores batistas pelo
Governador; 3) liberdade de reunião, desde que requerida ao Governador
e realizada em edifícios apropriados; e 4) autorização de registros civis
(casamentos, nascimentos e óbitos) pelas igrejas, com reconhecimento
das instituições civis oficiais. Logo os batistas letos cuidaram do seu
jornal, Evangelists (O Evangelista) ; do seu hinário (até então usavam
o hinário dos Irmãos Morávios), traduzindo uma grande parte dos hinos
do hinário batista alemão; de uma nova "Comissão de Missões" e de
uma "Comissão de Construção de Templos", que coordenou a padroni-
zação relativa dos templos batistas, levando, vinte anos depois, algumas
igrejas a construírem templos com mais de 1.500 lugares. (22) Não
tardou também o surgimento de uma editora, que, embora a princípio
de iniciativa particular de J. A . Freijs, passou, mais tarde, à União,
tornando-se uma agência poderosa na impressão da literatura evangé-
lica. Também apareceu, na década dos 90, uma plêiade de obreiros un-
gidos de Deus, entre eles destacando-se J. A. Freijs e Janis Inkis (que
deste ponto em diante será chamado pelo seu nome traduzido — João
Inkis) ; sendo que o primeiro tornou-se o mais popular dos pastores le-
tos, tanto na sua própria terra como no estrangeiro, tendo sido eleito,
por diversos anos consecutivos, presidente da União e Diretor do Semi-
nário Batista de Riga, enquanto o segundo projetou-se como notável
evangelista, escritor, hinólogo e líder, também ocupando, por várias ve-
zes, a presidência da União. Figs. 13 e 14
Seguiram-se algumas dificuldades na vida batista da Letônia, nas
quais foi notória a ajuda dos pastores alemães, tanto de Memel como de
outros lugares, inclusive uma carta extraordinária do próprio J. G.
Onken, presidente da Junta Executiva da União Batista da Europa Oci-
dental, que valeu por um tratado de eclesiologia. (23) Também o pri-
meiro livro de caráter teológico em leto foi da autoria de J. G. Onken,
traduzido pelo Pastor M. Riess e editado pela editora do próprio autor,
em Hamburgo, em 1875, intitulado — Declaração de Fé com, Explicação
das Escrituras Sagradas, Dedicada às Igrejas Cristãs Denominadas Ba-
tistas.
O primeiro hinário batista leto foi editado em 1880, já com 647 hi-
nos, em sua maior parte traduzidos do alemão, e quatro anos mais tarde
um volume de 171 hinos para coros que já desde 1871 começaram a surgir
em várias igrejas. Em 1909, aquele hinário foi substituído pelo "Muhsu
Dziesmu Grahmata" (Nosso Hinário), com 834 hinos para o canto con-
gregacional e mais 184 hinos em quatro vozes, com música, para uso de
coros, perfazendo um total de 1018 hinos num só volume, em cujo preparo
literário o maior mérito pertence ao Pastor João Inkis, já referido. (24)
(22) Cf. Klaupiks, Adolfs, Op. cit., p. 37.
(23) Riess, J.. Op. cit., p. 100.
(24) Kronlins, J., "Muhsu literatura" (Nossa Literatura). Uz augschu! (Para Cima!), Edi-
ção da União das Igrejas Batistas da Letônia (1935), p. 51.

83
Aumentando cada vez mais o progresso da causa batista no país, os
inimigos da verdade fizeram recrudescer as perseguições por meio de
leis, que passavam a limitar a ação e os movimentos dos pastores e outros
pregadores, a organização de igrejas etc. Assim, de 1893 em diante, os
batistas na Letônia voltaram a sofrer proibições e encarceramentos e até
mesmo exílios para a longínqua e frigidíssima Sibéria, sujeitos às pres-
sões políticas e eclesiásticas do governo russo e da Igreja Ortodoxa, cau-
sadas pelo desenvolvimento rápido do trabalho batista no sul da Rússia
e na Letônia. (25)

4. Emigração
O movimento emigratório do povo leto começou com o despertamento
da nacionalidade, na segunda metade do século XIX. Alcançada a liber-
tação do jugo escravocrata dos latifúndios alemães, o camponês leto,
para sua sobrevivência, não acalentava outro desejo senão o de conse-
guir um pouco de terra para lavrar. Mas as terras da Letônia estavam
nas mãos dos barões germânicos, que continuavam a explorar o povo
através de arrendamentos escorchantes. Krischjanis Valdemars um dos
expoentes máximos na formação da nacionalidade leta — que havia ad-
quirido a sua cultura no exterior e mantinha excelentes relações com a
alta sociedade russa em São Petersburgo e com elementos da adminis-
tração do Império — comprou duas grandes propriedades na Rússia, na
região de Novgorod, e para lá começou a atrair os camponeses letos,
dando-lhes certa área para cultivar, a qual poderiam adquirir com pa-
gamento a longo. prazo. Entre os camponeses letos que emigraram para
Novgorod, em 1867 encontravam-se também 14 batistas, com seus co-
rações ardentes pela fé recentemente abraçada. Porém, ao chegar ao seu
destino, foram surpreendidos pelo fato de que já não havia mais terras
para eles. Um general russo, sabendo da situação do grupo, levou-os
mais para o interior da região, onde possuía uma propriedade não cul-
tivada, e ali fixaram-se esses irmãos, que logo construíram um barracão
de blocos de turfa, a título de casa de oração, e passaram a evangelizar
os seus companheiros luteranos.
Forçados pelas agruras econômicas, outros grupos de letos foram
emigrando para o interior da Rússia, e entre eles muitos batistas, que
logo fundaram suas igrejas e escolas, sempre zelosos no testemunho do
evangelho, tanto aos seus patrícios luteranos como aos russos ortodoxos.
Um dos primeiros obreiros a visitar esses grupos batistas, ajudando-os
na organização e orientação do trabalho, foi o Pastor Grigis Inkis, que
fez a sua primeira visita àquele campo em 1869, fundando a primeira
igreja batista leta na Rússia em 1870, em Lhubine, região de Novgorod.
Vinte anos mais tarde, havia naquela região 12 igrejas batistas letas,
entre as quase 50 colônias, e mais 8 em outras regiões mais distantes.
Um dos eficientes obreiros locais foi o irmão Anss Araiums, mais tarde
pastor leigo das igrejas batistas letas de Mãe Luzia e Nova Odessa, no

(25) Kronlins. Janis, Gaishá Celâ (No Caminho Iluminado), New York, Editora Alba
(União das Igrejas Batistas Letas da América do Norte), 1964, pp. 116 a 120.

84
Brasil. Em 1890, o Pastor Jekabs (Jacó) Inkis, irmão de Grigis Inkis,
mudou-se para aquela região, a fim de servir àquelas igrejas em pleno
desenvolvimento. Foi de lá que, em 1899, ele emigrou para o Brasil, com
sua família e outros, (26 ) deixando na Letônia o seu fliho mais velho,
Pastor João Inkis, que se tornou um dos grandes líderes e mentores dos
batistas em sua terra e figura de proa no grande movimento emigratório
batista leto para o Brasil, em 1922/23.
Particularmente notável foi a contribuição dos batistas letos na
evangelização de São Petersburgo — capital do Império Russo de então,
também conhecida como Petrogrado e mais tarde Stalingrado — onde
chegaram quatro leigos, em 1895, e logo se constituíram em igreja. Na-
quele tempo, havia, na metrópole russa, duas igrejas batistas russas e
uma de fala alemã. Os irmãos letos dirigiram-se à última, em busca de
espaço para o seu trabalho entre os letos residentes na cidade e os rus-
sos que desejassem participar. Não há muitos pormenores sobre a pri-
meira fase do trabalho daquela igreja, mas sabe-se que, em 1901, já
possuía 45 membros em seu rol e que era visitada regularmente por dois
pastores letos, embora ainda continuasse a reunir-se em sala alugada à
igreja batista alemã. Em 1907, a igreja já estava com 110 membros,
entre eles muitos russos. Naquele mesmo ano, após insistentes convites,
aceitou o pastorado daquela igreja um jovem leto recém-formado pelo
Spurgeon College de Londres, Williams Fetlers. A igreja leta alugou a
sua própria sede e em dois anos já estava com mais de 200 membros,
sendo que os russos constituíam a grande maioria. A intensa atividade
evangelística do dinâmico obreiro tornou muito conhecida a igreja entre
o povo. Em 1910, os russos daquela igreja organizaram-se em terceira
igreja russa de São Petersburgo, ficando com o pastor e o Fundo do
Templo da igreja leta, que já estava bem forte. Os batistas letos encon-
traram outro local e continuaram progredindo, sem lamentações quanto
aos esforços investidos no primeiro trabalho. (27) No Natal de 1911, foi
inaugurado o primeiro e maior templo batista da capital da Rússia, o
da terceira igreja (as outras igrejas batistas reuniam-se em casas alu-
gadas) — surgida da igreja leta — com 2.500 lugares, pregando o então
presidente da Aliança Batista Mundial, Dr. MacArthur. (28 ) Mais tarde,
Williams Fetlers ainda desenvolveu um amplo trabalho missionário entre
os russos, tanto na própria Rússia como nos Estados Unidos e na Letô-
nia, fundando Institutos Bíblicos, jornais e sociedades de tratados ou
folhetos de evangelização, enviando evangelistas, colportores e tomando
ainda outras iniciativas, ao ponto de ser decretada a sua deportação para
a Sibéria, que depois foi comutada em exílio. (29)
Em 1913, depois de longa espera pela autorização do governo, foi
aberto o Seminário Teológico Batista de São Petersburgo, sob c, direção

(26) Riess, J., Op. cit., pp. 246 a 263 e 264.


(27) Id., ibid., pp. 265 a 267.
(28) Meters, Augusts, Darbinieki (Os obreiros), Monografia mimeografada e editada pelo
Autor, USA, 1953, p. 44.
(29) "O Reino de Cristo no Mundo", O Jornal Batista, Rio de Janeiro, Ano XV, n° 9, 4 de
março de 1915, p. 2, 2' col. Também "Notícias Religiosas do Mundo", O Jornal Batista,
Ano XV, n° 23, 10 de junho de 1915, p. 5, 2' col. Ver Anexo II.

85
do pastor, engenheiro e professor universitário, I. S. Prochanov. Dos
19 estudantes matriculados cinco eram letos; e, dos quatro professores
um era leto — de nome Karlis Inkis — regente e compositor diplomado
pelo famoso Conservatório Imperial de São Petersburgo, primo dos pasto-
res Ricardo Inke e João Inkis. Escreveu um compêndio de teoria musi-
cal em russo e publicou cerca de seis hinários ou coleções de hinos para
coros juvenis e corais de igrejas em leto e russo, nos quais grande parte
dos hinos são seus trabalhos originais, e fez harmonizações. (30 )
De 1870 até à revolução comunista de 1917, havia nas 20 igrejas
batistas letas na Rússia mais de 1.000 membros, sendo que o centro
maior era o da região de Novgorod, onde chegou a existir uma associa-
ção de igrejas filiada à União das Igrejas Batistas da Letônia. (31) Vá-
rios pastores batistas originaram-se dessas igrejas, os quais mais tarde
tornaram-se líderes da denominação batista na Letônia, nos Estados Uni-
dos e no Brasil. Na última década do século passado e nos primeiros
14 anos deste século, alguns grupos de famílias batistas letas emigraram
daquelas colônias para o Brasil, em busca de maior liberdade religiosa
e melhores condições climáticas, pois o inverno rigoroso e prolongado
daquelas plagas era difícil de suportar. Desses grupos formaram-se vá-
rias colônias letas no sul do Brasil — nos Estados de Santa Catarina,
Rio Grande do Sul e São Paulo.
Após a I Guerra Mundial, os irmãos letos na Rússia ainda desen-
volveram algum trabalho, especialmente entre os russos, mantendo qua-
tro evangelistas itinerantes letos e um russo. Mas não tardou a coletivi-
zação das colônias, a requisição dos templos para servirem de sede para
as instituições comunistas ou para se transfomarem em teatros e clubes
de diversões, culminando na deportação dos obreiros e dispersão dos cren-
tes. Desde então, não há notícias sobre qualquer vestígio dessa obra. (32 )
Outro movimento emigratório dos batistas letos foi para a América
do Norte. Este, porém, em proporções bem menores. Desde 1890 come-
çaram a afluir batistas letos a Filadélfia, onde, em 1900, foi fundada a
primeira igreja batista leta na América do Norte, com 46 membros. Com
os abalos da revolução dos camponeses da Rússia em 1905, outros batistas
da Letônia e da Rússia refugiaram-se ali em busca de liberdade e prospe-
ridade. Até 1910 já havia cinco igrejas batistas letas nos Estados Unidos
— em Filadélfia, Boston, Chicago, Cleveland e Quakertown, no interior,
as quais até hoje existem e prosperam.
Porém, o contingente maior de emigrantes batistas letos dirigiu-se
para o Brasil. Isto, a partir de 1890, apenas nove anos depois da chegada
do primeiro missionário batista, W. B. Bagby, a este país, como veremos
nos capítulos seguintes.

(30) Meters, Augusts, Piezimes par manu dzivi (Anotações Sobre a Minha Vida). Mono-
grafia mimeografada, editada pelo Autor, USA, 1953, p. 22.
(31) Krasnais, Vilburts, Latviesu Kolonijas (Colônias Letas), Riga, Editora União Na-
cional da Juventude Lata, 1938, p. 151.
(32) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., p. 58.

86
5. Expansão

Até o ano de 1918, — ano da Independência da Letônia — a obra


batista na Letônia sofria seus altos e baixos, devido às opressões polí-
tico-religiosas. Entretanto, era evidente e firme o crescimento numérico
dos crentes e das igrejas, embora deficiente do ponto de vista estrutural.
Tudo o que requeria ação cooperativa, esbarrava em dificuldades de na-
tureza legal. A União das Igrejas Batistas existia de fato, mas não
podia existir de direito, embora por várias vezes solicitasse a aprovação
dos seus estatutos pelo Ministério do Interior e o respectivo registro. A
primeira Assembléia Anual da União das Igrejas Batistas da Letônia
que se reuniu com a permissão do governo foi em 1908, em Velda. As de
1910 e 1913 foram realizadas sob a constrangedora circunstância da pre-
sença do representante do Ministério do Interior, ainda sem a condição
de pessoa jurídica da União. A Assembléia não podia ter um aspecto de
organização, senão uma reunião de representantes de igrejas batistas.
Por exemplo, não se podia falar de eleição da Diretoria da União, nem de
Comissão de Exame de Contas da União; então, falava-se de "Comissão
de Literatura" — representada pela Diretoria e a Comissão ou Junta
Executiva — e de "Comissão de Revisão de Contas da Preparação da
Conferência" (Assembléia) e outras. (33) Os periódicos não podiam ser
de propriedade da União, senão de particulares. De igual forma, as edi-
toras e mais tarde também as escolas. Assim, o primeiro periódico dos
batistas da Letônia, Evangelists (O Evangelista), que circulou entre 1881
e 1885, legalmente pertencia ao presidente da União das Igrejas. Não
havendo possibilidade de obtenção de registro para um novo jornal, em
1903 surgiu o segundo jornal dos batistas, Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão) editado e impresso em Memel, Alemanha, cujo editor era des-
conhecido aos batistas letos, mas cuja "assinatura pode ser feita com o
Pastor João Inkis, em Riga", o qual, de fato, era o seu redator. Ele en-
viava os originais ao editor em Memel, recebia de lá as provas para cor-
reção, enviava-as de volta a Memel e depois recebia o jornal impresso
para distribuição entre as igrejas. Depois de uma luta de mais de um
ano, João Inkis conseguiu o registro do jornal e então passou a editá-lo
em Riga. Como naquele tempo (1905) havia surgido um outro periódico,
de iniciativa particular do Pastor J. A. Freijs, que também possuía uma
editora, o Pastor João Inkis incorporou o seu jornal a este, denominado
Awots (Fonte), sendo os dois obreiros seus redatores e proprietários e
recebendo o periódico o reconhecimento da União das Igrejas Batistas da
Letônia. Mais outros jornais, destinados às Escolas Dominicais e Uniões
de Mocidade, vieram a lume em 1907 e 1913, usando a mesma estratégia.
Todos eles tiveram uma grande aceitação e circulavam amplamente entre
os batistas do país e os letos da Rússia, da América do Norte e do Brasil,
servindo como veículos de informação, inspiração, doutrinamento e evan-
gelização. Porém a I Guerra Mundial impediu em 1915, a continuação
da publicação dos jornais denominacionais, bem como desarticulou todo
o trabalho da União. Milhares de batistas, fugindo das linhas de frente,

(33) Id., ibid., pp. 45 e 46.

87
retiraram-se para o interior da Rússia; grande número de obreiros foi
mobilizado, assim não tendo mais condições de permanecer em seus postos
denominacionais; templos foram danificados, quando não destruídos.
Só depois de terminadas as lutas de Independência da Letônia, já em
1920, é que a União das Igrejas Batistas Letas conseguiu rearticular-se,
realizando, naquele ano, uma Assembléia (a última havia se reunido em
1913), agora já sob plena proteção das leis liberais e democráticas da
pátria livre e independente. O jornal denominacional Sauceja Balss (A
Voz do Arauto), fundado naquela Assembléia, no ano seguinte fundiu-se
com o Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), passando a denominar-se
Kristiga Balss (A Voz Cristã). Este começou a circular em 1921 e teve
como seu primeiro redator o Pastor Arvido Eichmann, conhecido pastor
e missionário no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, para onde
emigrou em 1922, vindo a ser o redator do primeiro mensário religioso
leto editado no Brasil, Miera Vests (Mensagem da Paz). Kristiga Balss
circula até o presente — tendo tido pequena interrupção durante a II
Guerra Mundial — editado pela União das Igrejas Batistas Letas da
América do Norte, sob a direção do Pastor Rudolfs Eksteins, (34 ) que
visitou o Brasil e a Bolívia em 1968.
Para verificarmos o progresso numérico dos batistas na Letônia,
servem-nos os seguintes dados estatísticos: Em 1864, apenas quatro anos
após o início da obra batista na Letônia, já havia 1.000 membros nas
igrejas batistas letas. Em 1910, o número de batistas na Letônia já
havia crescido para 8.000. Ao se comemorar o 75° aniversário daquele
trabalho, o que ocorreu em 1935, havia 10.500. (35 ) Em 1938, pouco
antes da deflagração da II Guerra Mundial — após o que não há mais
dados estatísticos — havia na Letônia mais de 12.000 batistas em 109
igrejas com 96 pastores e quase igual número de pastores auxiliares e 74
templos, alguns dos quais com mais de 2.000 lugares. (36) Fig. 15.
Grandes méritos no progresso do trabalho batista na Letônia per-
tencem ao Dr. J. A. Freijs, servo de Deus dos mais conspícuos, que desde
1881, aos 18 anos de idade, até 1930, foi a figura de maior projeção na
vida batista desse país. Sucumbido pela enfermidade naquele ano, ainda
acompanhou por 20 anos, inválido, o desenvolvimento da obra batista
em sua terra, e depois os sofrimentos decorrentes da devastação da II
Guerra Mundial e da opressão comunista que as igrejas e as instituições
batistas padeceram. Um autodidata persistente e inteligente, dominando
quatro línguas (leto, russo, alemão e inglês), tornou-se uma das culturas
mais expressivas do país em campos diversos.

(34) Meters, Augusts, "Iespiestais vards" (A Palavra Impressa), Dzivibas Cels (O Caminho
da Vida). Editado pela União Batista Leta da América do Norte e impresso em Toronto,
Canadá, 1960, pp. 212 a 217.
(35) Lauberts, P., "Baptistu 75 gadu vehsturiska gaita Latvijã" (A jornada histórica de 75
anos dos batistas na Letônia), Uz augshu! (Para Cima!), Comp. de J. Kronlins. Riga,
União das Igrejas Batistas da Letônia, 1935, p. 33.
(36) Meters, A., "Baptistu darbs Latvijã" (A obra batista na Letônia), Pret straumi (Contra
a Correnteza), Compilação de Fr. Cukurs, Greven, Alemanha, Edição da União Batista
Leta (em exílio), 1949, p. 11.

88
Durante o meio século de serviços prestados à sua denominação e ao
seu país, o Dr. J. A. Freijs granjeou a admiração unânime tanto de seus
irmãos na fé como "dos de fora", quer nacionais, quer estrangeiros. Foi
pastor efetivo, interino e honorário de muitas igrejas; fundou a Associa-
ção de Escolas Bíblicas Dominicais e organizou uma editora que mais
tarde passou para a União das Igrejas Batistas da Letônia, quando já
era uma empresa modelar no país, tendo prestado imensos serviços ao
povo, especialmente à juventude, na produção e divulgação da literatura
cristã. Durante o seu primeiro pastorado, fundou a Sociedade Missio-
nária Evangélica, que desenvolveu um trabalho extraordinário, reunindo
recursos à base de 3 copeques diários de cada sócio, que possibilitaram
e oferecimento de ajuda no sustento de obreiros das igrejas mais pobres,
envio de evangelistas às áreas ainda não atingidas do território pátrio
e às igrejas letas da Rússia e até do Brasil, como a viagem do Pastor
João Inkis, em visita às igrejas das colônias letas dos F,stados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, onde permaneceu dois anos (1897-1899)
evangelizando, doutrinando, organizando e aconselhando. (37)
O Dr. J. A. Freijs editou o Almanaque Loto e depois o Almanaque
da Família Leta, ambos ricos em contos, poesias, biografias de homens
célebres, de missionários etc., visando à formação cristã do povo. Essas
edições o tornaram muito popular no seio de sua nação. Foi fundador
e redator, co-redator e editor de quatro jornais. Viajou pela América
do Norte, Inglaterra, Suécia, França, Palestina e outros países, além de
conhecer bem a sua própria terra, que percorreu a pé e de bicicleta em
várias direções — quando ainda não havia trem — realizando trabalhos
evangelísticos. Foi presidente da União das Igrejas Batistas da Letônia
por várias vezes; presidente e coordenador do serviço evangélico de
assistência aos soldados da 1 Guerra Mundial e viajou pela Inglaterra
e Estados Unidos para angariar meios para o seu povo, arrasado pela
mesma guerra, no que foi muito bem sucedido, simultaneamente fazendo
propaganda do seu país, realizando conferências e dando entrevistas aos
maiores jornais desses países. Representou os batistas da Letônia no 3°
e 4° Congressos da Aliança Batista Mundial e conseguiu levar vários
líderes mundiais batistas à Letônia, com vistas à aproximação e confra-
ternização. Em janeiro de 1922, abriu o Seminário Teológico Batista da
Letônia, em Riga, fruto de seus contatos com os líderes batistas ingleses
e norte-americanos, em cooperação com a União das Igrejas Batistas da
Letônia. Foi diretor daquele Seminário durante oito anos, quando, forçado
pela enfermidade, foi obrigado a afastar-se do honroso posto denomina-
cional. Por duas vezes sofreu coação das autoridades, por sua qualidade
de líder religioso: uma vez em 1915, pelo governo czarista, quando foi
deportado para a Sibéria, onde permaneceu por um ano e meio, e a
segunda vez por ocasião da entrada dos comunistas em Riga, em 1919,
quando esteve preso no Presídio Central de Riga durante cinco meses.
Mas também por duas vezes recebeu grandes homenagens: em 1923,
quando a Universidade de Redland, de Califórnia, U.S.A., conferiu-lhe o

(37) Kronlins, Janis, Gaishá Cetà (No Caminho Iluminado), New York, Editora ALBA
(União das Igrejas Batistas Letas da América do Norte), 1964, pp. 32 a 34.

89
título de "Doutor em Divindades", pelos conhecimentos adquiridos e re-
levantes serviços prestados, e a segunda quando, em 1932, o Governo da
Letônia lhe conferiu a medalha da "Ordem das Três Estrelas", a maior
daquele país, pelos serviços prestados ao povo leto na sua formação mo-
ral e espiritual. Ainda preparou o plano de construção do Edifício da
União das Igrejas Batistas da Letônia em Riga, de cinco andares, que
foi inaugurado em 1934 e no qual estavam instaladas a Junta Executiva
da União, a Editora da Denominação, o Seminário Teológico e a Igreja
do Seminário, da qual foi o primeiro pastor. Veio a falecer em 24 de
março de 1950, aos 86 anos de idade. (38 ) Fig. 16
Devido a choques de personalidades liderantes, em 1926 a União das
Igrejas Batistas da Letônia dividiu-se. A parte cismática alegou abuso
de autoridade por parte do Presidente e também da própria União, que
entendeu recusar certos mensageiros à Assembléia Anual da União reali-
zada naquele ano. (39 ) Essa recusa, na verdade, teve suas raízes num
movimerrim de despertamento espiritual surgido em algumas regiões da
Letônia desde 1919 (que abordaremos num dos próximos capítulos). Em
1923, havia voltado à Letônia o Pastor Williams Fetlers, assumindo a
liderança do movimento. O referido obreiro logo fundara uma sociedade
missionária que enviou evangelistas por toda a Letônia, criou também um
Instituto Bíblico que preparou um bom número de obreiros, construiu —
à semelhança do que havia feito em São Petersburgo — o "Templo da
Salvação", ao qual diariamente milhares de pessoas afluíam para ouvi-lo,
e organizou a sua Editora, assim criando uma obra paralela à da União,
contra a qual esta procurou reagir. (40)
Felizmente a situação de duas Uniões batistas na Letônia perdurou
apenas oito anos. De ambos os lados surgiu, espontaneamente e ao
mesmo tempo, o desejo de fusão das duas entidades, o que ocorreu em
1934, com grande regozijo de todos. Daí por diante, a Denominação Ba-
tista na Letônia progrediu grandemente, marchando vitoriosa, com um
admirável espírito de unidade. ( 41)
Além dos dados estatísticos gerais atrás oferecidos, temos a apre-
sentar os que se relacionam com os vários setores do trabalho denomina-
cional até às vésperas da invasão comunista de 1940, que arrasou a obra
batista naquele país. No que diz respeito às Escolas Bíblicas Dominicais,
havia 140, com 650 professores e cerca de 7.000 alunos (crianças, ado-
lescentes e jovens, pois os adultos até aquela data não participavam da
Escola Bíblica Dominical na Letônia, como em quase toda a Europa).
Nas Uniões de Mocidade, que eram 61, contavam-se 1.670 unionistas.
Nas 18 Uniões de Adolescentes, que naquele país eram organizadas em
moldes de escotismo, havia cerca de 500 jovens. À União Coral Batista
pertenciam 107 coros, com 2.600 coristas. Esta organizou uma vasta rede
de cursos preparatórios para regentes e muitos festivais em praças pú-

(38) Cf. Id., ibid., pp. 277 a 281.


(39) Id., ibid., pp. 234 a 236.
(40) Meters, Augusts, Piezimes par mana dzivi (Anotações sobre a minha vida), Mono-
grafia mimeografada e editada pelo Autor. U.S.A., 1953. p. 68.
(41) Id., ibid., p. 69.

90
blicas — de caráter regional e nacional — nos quais cantavam coros até
com 1.100 vozes. (42) Nas igrejas havia também várias orquestras com
um total de 800 músicos. A União Feminina era composta de 55 socie-
dades, com mais de 1.500 sócias. O Orfanato Batista, instalado numa
excelente propriedade rural, amparava 40 órfãos, em condições primoro-
sas. A Editora Batista publicava quatro periódicos: Kristiga Balss (A
Voz Cristã), órgão oficial denominacional; Svetdienas Skolnieks (O Alu-
no da Escola Bíblica Dominical), com comentários das lições dominicais,
histórias ilustrativas e evangelísticas; Rita Stari (Raios da Manhã),
jornal para a mocidade, com matéria variada; e Dzirkstelite (A Cente-
lhinha) , órgão dos adolescentes.
As duas instituições teológicas — o Seminário e o Instituto Bíblico
— prepararam nada menos de 92 pastores e evangelistas, dos quais mui-
tos foram aperfeiçoar-se em seminários ingleses, norte-americanos e sue-
cos. ( 43)
6. Os batistas letos e a Aliança Batista Mundial
Quanto à Aliança Batista Mundial, os letos já vêm tomando parte
atuante dessa entidade desde o seu 1° Congresso de âmbito mundial. Em
1905, na cidade de Londres, realizou-se o 19 Congresso da Aliança Batista
Mundial. Ali esteve presente o jovem leto Williams Fetlers, então estu-
dante de Teologia no Spurgeon College da mesma cidade, a quem coube
representar a Letônia na sessão de abertura do Congresso. Além disso,
a União das Igrejas Batistas da Letônia saudou os batistas do mundo
com um telegrama, pois naquele ano, devido à grande revolução que sa-
cudiu o Império Russo, o transporte para o exterior era muitíssimo di-
fícil.
Em 1908 teve lugar, em Berlim, a 1a Conferência Batista Européia,
à qual compareceu uma considerável representação dos batistas letos,
chefiada pelo Pastor João Inkis, então presidente da União das Igrejas
Batistas da Letônia.
Em 1911 realizou-se o 29 Congresso da Aliança Batista Mundial, na
cidade de Filadélfia, Estados Unidos da América do Norte. A delegação
batista leta foi novamente liderada pelo presidente da União, Pastor
João Inkis, integrando-a mais três pastores que viajaram da Letônia e
os cinco pastores das igrejas batistas letas da América do Norte que
estavam arroladas na União das Igrejas Batistas da Letônia. Foi na-
quele Congresso que os batistas letos ingressaram formalmente na Alian-
ça Batista Mundial. (44)
A 2a Conferência Européia aconteceu em Estocolmo, na Suécia, em
1913. Os batistas da Letônia representaram-se novamente por um bom

(42) Lidaks, K., "Baptistu koru dziedashana" (O cântico coral dos batistas), Uz Augshu!
(Para Cima!), Edição da União das Igrejas Batistas da Letônia (1935), pp. 69-73.
(43) Meters, A., "Baptistu Darbs Latvijâ" (A obra batista na Letônia), Pret Straumi (Contra
a Correnteza), compilação de Fr. Cukurs, Greven, Alemanha, Edição da União Batista Leta
(em exílio), 1949, pp. 12 e 13. Também Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 68-70.
(44) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., p. 51. Também Baptist World Alliance, Second Congress,
Philadelphia, June 19-25 1911. Record of Proceedings, Printed by Harper 6 Brothers
Company, Philadelphia, Pa., U.S.A., p. 45.

91
grupo de obreiros, desta vez chefiados pelo Pastor J. A. Freijs, que
naquele ano era o presidente da União das Igrejas Batistas da Letônia.
Em 1923, realizou-se, também em Estocolmo, o 3° Congresso da
Aliança Batista Mundial. A delegação leta — que fretou um navio —
foi de 56 representantes, chefiada novamente pelo eminente líder, Pastor
J. A. Freijs, e que também naquele ano era o presidente da União das
Igrejas Batistas da Letônia. Desta vez, por inspiração do seu líder, a
representação leta preparou-se sobremodo. Cerca da metade da delega-
ção era composta de coristas de excelente qualidade. O maestro Karlis
Lidaks, professor de música e compositor, organizou um coral e o pre-
parou com bastante antecedência. O repertório era quase todo de com-
positores letos, inclusive peças com letra e música do próprio regente.
Os coristas, ao cantarem, trajavam vestes típicas nacionais, o que con-
tribuiu para dar um colorido e uma beleza singulares às suas apresen-
tações. Nas várias exibições, tanto nas sessões do Congresso como nas
igrejas e na Catedral Luterana da Capital Sueca, as ovações não cessa-
vam enquanto os números não fossem repetidos. A imprensa sueca ocu-
pou-se amplamente com o reconhecimento da categoria da música e exe-
cução do coral leto. Tal era a opinião unânime do Congresso e da crítica
musical da cidade, que aquele coral foi classificado como o melhor de
todos os que se apresentaram no grande conclave batista mundial. Um
grupo de delegados norte-americanos fez ao coral leto um convite para
fazer uma viagem de concertos pela América do Norte logo após o Con-
gresso — com todas as despesas pagas — que, infelizmente, não foi pos-
sível aceitar, dadas as ocupações dos coristas que os aguardavam em sua
terra. (45) Naquele Congresso, os batistas brasileiros foram represen-
tados pelo missionário Dr. F. M. Edwards, de São Paulo, que de volta ao
Brasil publicou em O Jornal Batista a fotografia do coro leto com a
seguinte legenda: "O coro leto, que fez um grande sucesso, não somente
pela harmonia e beleza das suas vozes e músicas, mas também pela beleza
de trajes característicos das coristas." (46)) Nos artigos preparatórios
para o 5° Congresso da Aliança Batista Mundial que se realizaria em
Berlim, de 4 a 10 de agosto de 1934, escreveu o então Secretário Geral
da Aliança, Dr. J. H. Rushbrooke: "Esperamos também a presença de
um coro leto, e todos os que se recordarem do Congresso em Estocolmo
estarão interessados nesta esperança." (47) Também é interessante notar
que foi no 3° Congresso da Aliança Batista Mundial que nasceu o seu
Departamento da Juventude Batista Mundial, (48 ) para cujo primeiro Co-
mitê Geral foi eleito um dos jovens letos presentes, de 23 anos, engenheiro
Rudolfs Putnaerglis, (49) líder da mocidade batista leta, mais tarde Co-

(45) Kronlins, Janis, Op. cit., pp. 196-205.


(46) "Ecos do Congresso Batista Mundial em Estocolmo, Suécia", O Jornal Batista, Ano
XXIII, n° 39, 27 de setembro de 1923, p. 1.
(47) Rushbrooke, J. H., "Aliança Batista Mundial", O Jornal Batista, Ano XXXIV, n° 18,
3 de maio de 1934, p. 7.
(48) Baptist World Alliance, Oficial Reports of the Eleventh Congress, Ed. by Josef
Nordenhaug, Nashville. Tenn.. Broadman Press. 1966. p. 382.
1491 Kristipa Balss (A Voz Cristã), órgão da União das Igrejas Batistas da Letônia, n° 17,
1° de setembro de 1923, p. 386. Nota da Redação.

92
ordenador do Trabalho das Escolas Bíblicas Dominicais da União Batista
da Letônia e chefe da Brigada dos Adolescentes, (Laifu Brigade) che-
gando a ocupar, a certa altura, a um só tempo, 31 cargos na Denomina-
ção. (50) Como refugiado da II Guerra Mundial, emigrou para o Canadá,
onde atua como cientista atômico e líder batista.
Em 1926, realizou-se em Riga, Capital da Letônia, a 19 Conferência
Batista do Báltico (Finlândia, Estônia, Lituânia e Letônia). Ã frente
de sua organização e execução estava o já referido líder leto, Dr. J. A.
Freijs. Na ocasião também estavam presentes o Presidente da Aliança
Batista Mundial, Dr. E. Y. Mullins; o Presidente da União Batista da
Grã-Bretanha, Dr. J. H. Rushbrooke; e o representante dos batistas
norte-americanos e Coordenador de Socorros aos Flagelados da I Guerra
Mundial na Europa, Dr. W. O. Lewis. Aliás, é importante notar que o Dr.
J. H. Rushbrooke tornou-se muito amigo dos batistas letos desde a sua
primeira visita à Letônia, em 1920, logo após a devastação sofrida pelo
país durante a I Guerra Mundial, levando, em suas várias visitas, outras
personalidades batistas ilustres, como Ch. H. Brooks, W. B. Liphard,
W. S. Abernathy, W. T. Sheppard, S. W. Cumming, Everett Gill, E. H.
Sears e mais dois presidentes da Aliança Batista Mundial — G. W. Truett
e J. MacNeill. (51) Fig. 17
Ao 4° Congresso da Aliança Batista Mundial, que teve lugar em
Toronto, no Canadá, em 1928, os batistas letos tornaram a enviar uma
representação de cinco pastores residentes na Letônia e seis nos Estados
Unidos (pois que as igrejas letas deste país ainda estavam integrando a
União das Igrejas Batistas da Letônia).
De igual modo, ao 5° Congresso, realizado em 1934, em Berlim, com-
pareceu uma delegação de batistas letos composta de mais de uma dezena
de representantes e mais o Pastor Carlos Andermann, enviado pelos batis-
tas letos do Estado de São Paulo, Brasil.
No 6° Congresso, ocorrido no ano de 1939, em Atlanta, Estados Uni-
dos, mais uma vez a bandeira da Letônia desfilou na sessão inaugural,
portada pelo representante dos batistas letos, Pastor A. Eglits. Também
os batistas letos do Brasil tiveram lá o seu representante, na pessoa do
Pastor Karlis Grigorovitsch, conhecido obreiro de São Paulo, que ali
trabalhou com os eslavos.
O 7° Congresso da Aliança realizou-se em Copenhague, Dinamarca,
em 1947. Nesta altura, o trabalho batista na Letônia já estava totalmente
desfigurado. A Diretoria da União das Igrejas Batistas da Letônia e
sua Junta Executiva, quase em sua totalidade, achavam-se em exílio na
Alemanha, pois os alemães haviam ordenado esta providência ao eva-
cuarem o país diante da segunda invasão comunista, em 1944. Até então
haviam sido encontrados cerca de 1.200 batistas letos em 11 acampa-
mentos de refugiados, organizados em igrejas e congregações. Dos 24

(50) Meters, Augusts, Darbinieki (Os obreiros), Monografia mimeografada e editada pelo
autor, 11.S.A.. 1953. p. 116.
(51) Latveeschu Baptistu Zeminara Gada Gramata (Anuário do Seminário Batista Leto),
Riga, Edição do Seminário, Ano II. 1923, pp. 69-77.

93
pastores batistas letos em exílio na Alemanha, uma boa parte logrou
obter permissão das autoridades militares para fazer visitas pastorais.
Esses obreiros realizaram vários batismos e até promoveram Festivais de
coros. Um deles chegou a ser pastor de algumas igrejas alemães. Quando,
em 1946, o então presidente da Aliança Batista Mundial, Dr. J. H. Rush-
brooke, visitou a Alemanha e entrou em contato com os batistas letos e
seus líderes denominacionais e os viu organizados e em atividade, ani-
mou-os a se fazerem representar no Congresso, que se realizaria no ano
seguinte em Copenhague. Igual atitude assumiu o Secretário Geral da
Aliança naquela ocasião, o Dr. W. O. Lewis, outro grande amigo dos
Batistas letos, já que não havia notícias de organização de espécie alguma
entre os batistas na Letônia e a Diretoria da sua legítima e última or-
ganização estava ali em exílio. E assim, ao 79 Congresso da Aliança
compareceu uma delegação leta de sete pastores, falando em nome dos
batistas letos o Pastor R. Eksteins, junto da bandeira de sua pátria
ultrajada. (52 )
No 8° Congresso da Aliança, que se reuniu em Cleveland, Estados
Unidos da América do Norte, em 1950, a representação leta foi de mais
de 100 pessoas. É que, àquela altura, grande parte dos refugiados batis-
tas dos países europeus havia conseguido permissão para emigrar para
os Estados Unidos. No grande desfile do Congresso, os irmãos letos mais
uma vez marcharam sob a bandeira rubro-alvo-rubra, todos trajando ves-
tes nacionais típicas. À passagem do grupo leto, o maior de quantos
representavam os povos dominados pela Rússia, o público nas ruas e os
congressistas no Estádio irromperam em ruidosas e demoradas palmas.
Prepararam também um coral de 80 figuras, que, sob a competente re-
gência do maestro e compositor Dr. E. Bashtiks, apresentou-se com vá-
rios hinos nas sessões do Congresso, numa das igrejas da cidade e na
televisão. (53) O presidente da Aliança era então o Dr. C. Oscar Johnson.
Ele teve a seguinte expressão a respeito do cântico dos letos: "É povo
que vem de grandes tribulações. Agora podemos perceber, através de seu
cântico maravilhoso de hinos espirituais, as experiências por que pas-
saram." (54 )
Falou naquela ocasião, em nome dos batistas letos espalhados pelo
mundo, o Pastor Adolfs Klaupiks, que desde 1947 vinha ocupando alto
cargo na Aliança Batista Mundial, com escritório na sede da Aliança em
Washington, qual seja o de Coordenador do Serviço de Socorro e Assis-
tência, órgão especializado permanente que tem canalizado vultosos re-
cursos, tanto em dinheiro como em espécie, para socorro de deslocados

(52) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 55 e 56. Também Meters, A., Piezimes par manu dzivi
(Anotações sobre a minha vida), Monografia mimeografada e editada pelo autor, U.S.A.,
1953, p. 100 e Cukurs, Fr. "Arpusdzimtenes" (Fora da Pátria), Pret Straumi (Contra a Cor-
renteza), compilação de Fr. Cukurs, Greven, Alemanha, Edição da União Batista Leta (em
exílio). 1949. D. 30.
(53) Sprogis, J., "Viesosanas Amerika" (Visitando a América), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), Palma (S. Paulo), n° 10, outubro de 1950, pp. 16 e 17.
(54) "Brazilijas S. Paulo Stata Latviesu Baptistu Draudzu Misiones Kongress" (Conferência
Missionária das Igrejas Batistas Letas do Estado de São Paulo, Brasil), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), Palma (SP), n° 10, outubro de 1951, p. 16.

94
e flagelados de guerra, de fome e de outras catástrofes em diversos paí-
ses. A sua experiência de vários anos de deslocado da guerra na Ale-
manha e o seu conhecimento de diversas línguas, inclusive a russa, fize-
ram-no qualificado para o posto, do qual só veio a afastar-se em 1969, por
ter chegado à idade de jubilação. A esse Congresso não faltou também
a presença dos batistas letos do Brasil, representados pelo casal João
Sprogis, da Igreja Batista Leta de S. Paulo.
Ao 9° Congresso da Aliança, reunido em Londres, em 1955, por oca-
sião do seu Jubileu de Ouro, também estavam presentes os batistas letos,
embora em número reduzido e sem condições de representação, dado o
novo panorama político na Europa.
Já nos dois conclaves batistas mundiais realizados no Rio de Ja-
neiro — a 4a Conferência Mundial da Juventude Batista, em 1953, e o
10° Congresso da Aliança Batista Mundial, em 1960 — a participação
dos letos foi a mais numerosa e a mais atuante. Tanto no primeiro como
no segundo conclave compareceram cerca de 150 batistas letos. A dire-
ção geral da música, na Conferência da Juventude, esteve a cargo do loto
emigrado do Brasil para os Estados Unidos, o conhecido regente, violi-
nista, cantor e pregador, Carlos Gruber. Um coral de letos de 54 vozes,
regido pelo maestro Arvido Leiasmeier, de São Paulo, apresentou-se em
duas sessões, cantando seis hinos, dos quais quatro eram de compositores
letos. Três preletores letos dissertaram sobre o canto coral e congrega-
cional na evangelização e a influência do folclore na música sacra. Eram
os maestros Carlos Gruber, Arthur Lakschevitz e André Jansons. A certa
altura, depois de fazer várias alusões aos letos nas atividades da Confe-
rência, o Presidente Robert S. Denny disse, num bom humor: "Parece
que sem os letos o sol já não se levanta nem se põe." (55) E a bandeira
da Letônia continuava a tremular entre os demais símbolos das naciona-
lidades representadas no conclave. Porém, no 10° Congresso da Aliança,
realizado no Rio de Janeiro, os letos ficaram tristes e desapontados
quando prevaleceu o critério político sobre o étnico no chamado "Desfile
das Nações", porque não foi permitido, pela alta administração do Con-
gresso, o desfile da bandeira da Letônia entre as das demais nações, pois
que, dizia-se, a Letônia já estava representada pela Rússia. De nada
valeram as explicações nem os protestos. A resposta breve e incisiva foi
que a Aliança orientava-se pela divisão dos países usada pela ONU.
Quando alguém retrucou que esta não era a divisão do Novo Testamento
e nem do hino que cantamos com tanta fé: "O, raças, tribos e nações!
Ao Rei divino honrai!" — a resposta foi um sorriso caridoso. Como
consolação, foi permitido o desfile da bandeira da Letônia no gramado do
Estádio do Maracanã, na grande reunião do encerramento do Congresso,
por não se tratar de desfile oficial de abertura do Congresso. Daí por

(55) J. A., "IV Vispasaules Baptistu Jaunatnes Kongress Riodezaneira" (O IV Congresso


Mundial da Juventude Batista no Rio de Janeiro), Kristiga Balss (A Voz Cristã), Mensário
religioso Teto. Washington. D. C., U.S.A., n.os 9 e 10, setembro e outubro de 1953, pp. 112
e 113; também Dobelis, G., "IV Vispasaules Baptistu Jaunatnes Kongress" ( O IV Con-
gresso Mundial da Juventude Batista), Kristigs Draugs, Palma (S. Paulo), n, 12, dezembro
de 195. DD. 17 e IR.

95
diante, jamais à bandeira da Letônia foi dado flutuar nos conclaves mun-
diais batistas, embora batistas letos estivessem presentes em todos os
congressos da Aliança, acompanhando com interesse os seus trabalhos,
neles participando com os seus corais, e na administração da entidade,
como era o caso do Pastor Adolfs Klaupiks, já referido. Desde a ocupação
comunista da Letônia, em 1944, a nenhum batista leto foi dado sair de
sua terra e representar os batistas de lá em algum congresso mundial
da Aliança. Mas os seus irmãos espalhados pelo mundo o têm feito com
assiduidade, mesmo sem procuração passada pelos batistas que ficaram
na Letônia, e sem o direito de portar a sua bandeira; enquanto os batistas
russos, num longo período de 27 anos (1928-1955), de forma alguma
puderam se representar nos congressos da Aliança. (56) Além do mais,
convém lembrar que a obra batista na Letônia precedeu à da Rússia em
10 anos. (57 )
No 10° Congresso da Aliança Batista Mundial, realizado em 1960, no
Rio de Janeiro, os batistas letos tiveram a maior participação, tanto na
organização como no programa do mesmo. Nos trabalhos da organização
do Congresso, três pastores letos tiveram papel relevante: Pastor Ilgonis
Janait, na Comissão de Recepção, Pastor Arnaldo Gertners, na presidên-
cia da Comissão de Alimentação, e Pastor Osvaldo Ronis, na presidência
da Comissão de Música. comissão de Música — na qual também par-
ticipou como membro efetivo o conhecidíssimo maestro leto Arthur Laks-
chevitz — coube a tarefa de organizar e preparar o grande Coral de
3.000 vozes, que cantou em todas as sessões noturnas do notável con-
clave, bem como na grande concentração de cerca de 200.000 pessoas no
Maracanã, na tarde de 3 de julho de 1960. Dentre os cinco regentes do
Grande Coral, dois eram letos — Arthur Lakschevitz, do Rio de Janeiro,
e Arvido Leiasmeier, de São Paulo. Os letos presentes àquele Congresso
ainda organizaram um coral de 80 figuras, que cantou em duas sessões
do Congresso e em três igrejas, sob a regência do maestro André Jansons,
de São Paulo.

7. Os batistas letos na vida administrativa do seu país

Como cidadãos leais à pátria e interessados no bem-estar do seu po-


vo, os batistas letos tomaram parte ativa na vida administrativa do seu
país. Impondo-se perante as diversas classes e colaborando na imprensa
e na educação, foram sendo indicados, nomeados e eleitos vários pastores
e leigos para as funções públicas as mais diversas. Assim, no curto prazo
de apenas 22 anos de vida independente da República da Letônia, os
batistas tiveram quatro deputados, vários vereadores, um prefeito e até
um Ministro de Estado. Entre eles salientaram-se as figuras de Evalds
Rimbenieks, por vários anos prefeito da cidade de Liepaja — a segunda
em importância política, industrial, comercial e intelectual do país —
sendo depois deputado e posteriormente Ministro de Finanças, e de J. A.

(56) Zhidkov, Yakov, Baptist World Alliance, Oficial Reports, Londres, Ed. Arnold T.
Ohm, 1955, p. 32.
(57) Id., ibid., p. 31.

96
Freijs, o qual, como Conselheiro do Conselho da Capital, Riga, exerceu
grande influência nas altas camadas administrativas. Por iniciativa do
primeiro e de seus companheiros de ideal, os batistas organizaram no
país quatro Sociedades de Educação, mantiveram várias escolas cristãs
e fundaram uma União Operária Cristã para influir na formação da men-
talidade popular ameaçada pelo materialismo e ateísmo de que estavam
eivados os partidos políticos que atraíam as massas. (59 ) Essas organi-
zações prestaram relevantes serviços, reconhecidos pelas autoridades go-
vernamentais. O primeiro presidente da República da Letônia, Janis
Cakste, quando da visita da delegação batista ao novo governo, expres-
sou seu alto reconhecimento aos batistas, assinalando que as igrejas
batistas são autenticamente nacionais, pois que não foram fundadas por
elementos estrangeiros, mas surgiram por si mesmas no seio do povo.
Mais tarde, o terceiro presidente, Alberts Kviesis, por ocasião da
condecoração do Pastor Dr. J. A. Freijs com a comenda da Ordem das
Três Estrelas, manifestou o seu reconhecimento à contribuição batista
na formação moral e espiritual do povo leto. Igualmente o quarto presi-
dente, Dr. Karlis Ulmanis — que durante vários anos havia estudado nos
Estados Unidos — quando da visita da delegação batista ao palácio do
governo com os Drs. G. W. Truett e J. H. Rushbrooke, em 1937, mani-
festou seu pleno conhecimento dos princípios batistas e sua satisfação
pela atuação dos batistas letos na vida de sua nação. Quando da come-
moração do 20° Aniversário de Independência, o Presidente Ulmanis man-
dou convidar, com empenho especial, o então presidente da União das
Igrejas Batistas da Letônia, Pastor Augusts Meters, para que estivesse
presente nas solenidades. (59)

8. Opressão Comunista e o Desmantelamento da Obra Batista na Letônia


Finalmente, veio a opressão com a incorporação da Letônia à Rússia
Soviética. De surpresa, a 17 de junho de 1940, os tanques russos, em
número incontável, atravessaram a fronteira e avançaram pelas estradas,
ocupando cidades e vilas desse país amante da paz e do progresso. As
cenas que se desenrolaram prediziam algo tétrico. E logo veio a opres-
são violenta e desumana. A cada momento eram decretadas novas leis
que restringiam a tudo e a todos e executavam barbaridades em nome
da justiça e da cultura. A Assembléia anual da União Batista da Letônia,
que deveria realizar-se nos dias 22 a 24 de junho, foi proibida. O Semi-
nário Batista foi fechado. A Associação da Mocidade Batista teve que
cessar imediatamente suas atividades. A educação religiosa não podia
ser mais ministrada às crianças. As igrejas não podiam mais continuar
qualquer obra social. Nenhuma propaganda religiosa era permitida. O
Orfanato Batista foi coletivizado com a sua magnífica propriedade e os
órfãos distribuídos pelas instituições oficiais existentes ou improvisadas.

(58) Kronlins, J., Kongresa Gramata (O Livro do Congresso). Riga, Editado pela União
das Igrejas Batistas da Letônia, 1923, pp. 50 e 51.
(59) Meters, Augusts, Piezimes par manu dzivi (Anotações sobre a minha vida). Monogra-
fia mimeografada e editada pelo autor, U.S.A., 1953, pp. 2 e 3.

97
O Edifício da União Batista foi confiscado com a Editora, a Livraria, o
Seminário e a Igreja do Seminário. No santuário dessa igreja foi insta-
lado, inicialmente, "Latvijas filma" (O Filme da Letônia), e depois o
clube comunista, com cinema e salão de bailes. O pastor daquela igreja,
R. Eksteins, teve que abandonar a sua moradia, instalada no referido
edifício, no prazo de 12 horas. Seguiu-se a grande provação dos obreiros.
Cada pastor era elemento indesejável à administração comunista. Come-
çaram as prisões dos religiosos e os longos interrogatórios. Ai daquele
que não tivesse o seu sistema nervoso em dia, pois a menor discrepância
entre o que foi declarado poucas horas antes, perante certos inquirido-
res, e o que estava sendo declarado no momento, perante outros inquiri-
dores, levava o tal a ser contado na categoria de "suspeito" que passava
a ser rigorosamente vigiado.
Depois de um ano de arbitrariedades e massacres psicológicos, veio,
a 14 de junho de 1941, a tenebrosa noite que em nada ficou devendo à
tristemente célebre "noite de S. Bartolomeu". Milhares de cidadãos, nas
cidades e nos campos, foram arrancados de suas residências e deportados
para lugares ignorados na vastíssima Sibéria, para serem feitos escravos
da Rússia. Assim foram levados, em comboios de gado, cerca de 35.000
homens, mulheres e crianças. Entre eles, segundo se sabe, foram 250
membros das igrejas batistas e uma dúzia de pastores. ( 60 )
Quando, em 1941, os alemães invadiram a Letônia, expulsaram as
tropas russas e estabeleceram a sua ditadura, o Edifício da União Batista
foi devolvido, mas não foi permitida nem a abertura do Seminário, nem o
funcionamento da Editora. Entretanto, permitiu-se a realização de cinco
festivais de coros batistas, uma conferência da mocidade e a última As-
sembléia da União das Igrejas Batistas da Letônia.
Em 1944, as tropas comunistas novamente ocuparam o país e então
começou a grande fuga do povo para o sul (Alemanha) e para o oeste
(Suécia). Cerca de 2.000 batistas refugiaram-se na Alemanha, e algu-
mas centenas na Suécia, atravessando o Báltico em barcos de pescadores,
na escuridão da noite, levando apenas os pertences mais indispensáveis.
Templos foram destruídos pelos bombarbeios, e outros tantos confiscados
e tomados para uso dos comunistas. O Edifício da União Batista foi
transformado em teatro. ( 61)
Os pastores refugiados na Alemanha, em número de 24, trataram de
coordenar o trabalho batista leto no exílio, pois a Diretoria da União das
Igrejas Batista da Letônia estava espalhada pelos acampamentos dos
refugiados. Quando as circunstâncias o permitiram, foram organizadas
igrejas e congregações numa dúzia de acampamentos. Foram realizados
batismos e vários festivais de coros. Outro grupo batista leto encontra-
va-se na Dinamarca. Entre 1940 e 1944, os vendavais da guerra haviam
espalhado pela Europa cerca de 3.000 batistas letos com 35 pastores e

( 60 ) Eksteins, R., "Apspieshana" (Opressão) , Pret Straumi (Contra a Correnteza ) . Com-


pilação de Fr. Cukurs, Greven, Alemanha, Edição da União Batista Leta ( em exílio) , 1949,
pp. 19 e 20.
( 61 ) Id., ibid., p. 21.

98
8 membros da Diretoria da União das Igrejas Batistas da Letônia. O
cuidado para com aquele rebanho tão disperso encerrou-se em 1948, quan-
do começou a emigração para América do Norte, Canadá, Austrália e
Brasil, conforme as oportunidades que cada um conseguia aproveitar.
Desde 1945, as Igrejas Batistas da Letônia estão incluídas na União
Cristã Evangélica Batista Soviética e subordinadas à superintendência
que fica em Moscou. Toda a atividade das Igrejas está sujeita às deter-
minações e leis administrativas do governo soviético. ( 62) As restrições
e represálias que os batistas letos sofreram em sua terra não são conhe-
cidas no exterior, senão quando transpiram através de alguma corres-
pondência que escapa à censura ou de contatos pessoais fortuitos que al-
guns visitantes estrangeiros conseguem estabelecer com os irmãos de
lá. Sabe-se que, em 1967, havia na Letônia 66 Igrejas batistas, com cerca
de 6.000 membros. (63) Portanto, 50% do número existente 29 anos an-
tes. É que, depois da era estalinista, a situação melhorou um pouco e
daí a razão da tolerância relativa que se observa nas questões religiosas.
Mas como o Estado comunista é de regime policial, é evidente a insegu-
rança e tensão em que vivem os nossos irmãos. Para uma avaliação das
perseguições religiosas sofridas na Letônia, temos duas cartas, de dois
pastores, um luterano e outro batista, este último, Roberto Tarsier, é
irmão do conhecido Pastor Dr. Pedro Tarsier, do Rio Grande do Sul. (64)

(62) Religion in Cornunist Dominated Area. Edited by Paul B. Anderson and Blahoslav S.
I-Iruby. New York, National Council of the Churches of Crist in the U.S.A., v. 8, nós 19 e
20, outubro, 15/31, 1938, item 1.330, p. 213.
(63) Klaupiks, Adolfs, Op. cit., pp. 54 a 56.
(64) Ver Anexo III.

99
PARTE II

IMIGRAÇÃO DE BATISTAS LETOS PARA O BRASIL


ANTERIOR Ã. I GUERRA MUNDIAL
CAPITULO III
IMIGRAÇÃO PARA OS ESTADOS DE SANTA CATARINA
E RIO GRANDE DO SUL

1. As Facilidades Imigratórias no Brasil


2. Primeiros Movimentos Emigratórios de Batistas Letos Para o Brasil
Até a I Guerra Mundial
3. Inicio e Desenvolvimento da Imigração de Batistas Letos no Brasil
Até a I Guerra Mundial
3.1 — Em Rio Novo, Estado de Santa Catarina (1890)
3.2 — Em Rio Oratório, Estado de Santa Catarina (1892)
3.3 — Em TM, Estado do Rio Grande do Sul (1893)
3.4 — Em Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina (1893)
3.5 — Em Alto Guarani ou Massaranduba, Estado de Santa Ca-
tarina (1893)
3.6 — Em Jacu-Açu, Estado de Santa Catarina (1898)
3.7 — Em Ponta Comprida ou Rio Branco, Estado de Santa Ca-
tarina (1899)
3.8 — Em Terra de Zimmermann, Estado de Santa Catarina (1900)
3.9 — Em Bruedertal ou Schroederstrasse, Estado de Santa Ca-
tarina (1901)
3.10 — Em Linha Telegráfica, Estado de Santa Catarina (1901)
CAPITULO III
IMIGRAÇÃO PARA OS ESTADOS DE SANTA CATARINA
E RIO GRANDE DO SUL

1. As Facilidades Imigratórias no Brasil


Os séculos XIX e XX assinalaram uma nova forma de povoamento
do Brasil, realizado através de imigrantes estrangeiros, que, em sua gran-
de maioria, se fixaram como colonos em vastas zonas rurais do sul do
país. Assim, em 1818 chegaram 2.000 suíços-alemães, procedentes do
cantão de Friburgo, Suíça, fundando a colônia (hoje cidade) de Nova
Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro. A partir de 1824, os alemães se
espalharam pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pa-
raná, São Paulo e Espírito Santo. No ano de 1866, os norte-americanos
foram para diversas partes do Brasil, especialmente São Paulo, região de
Santa Bárbara, não muito distante de Campinas. Depois de 1871, vieram
os italianos, que se destinavam principalmente aos cafezais do Estado
de São Paulo, bem como às áreas virgens de Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. A começar de 1875, chegaram os eslavos — polo-
neses, ucranianos e outros — ocupando largas faixas do planalto para-
naense. A partir de 1890, aportaram também os holandeses, os húngaros,
os lituanos e os letos. (1) Os húngaros, lituanos e letos, constavam ofi-
cialmente nas estatísticas como "russos", pois, procedendo do Império
Russo, com documentos russos, ninguém indagava de sua origem étnica,
a não ser os vizinhos, mais tarde, com a convivência. Toda essa movi-
mentação de maiores ou menores contingentes estrangeiros para o Brasil
foi se dando em decorrência da política de colonização do país, de que
o governo imperial brasileiro passou a cuidar com especial solicitude de-
pois de 1864, organizando, oficialmente, o seu serviço de imigração, com
transporte marítimo e terrestre de imigrantes ou colonos a custa do
Tesouro, com agências no Rio e em São Paulo, hospedarias, alojamento
e distribuição pelas colônias dos outros Estados. De tal modo foi se

(1) Azevedo, Aroldo, Geografia Humana do Brasil, 10' ed., São Paulo, Companhia Editora
Nacional, 1954, pp. 69 a 71; 104 e 105. Também Jones, Judith Mac Knight, Soldado Descansa,
1' ed., São Paulo, Editora jarda, 1967, pp. 89-127.

105
completando e se aperfeiçoando esse serviço, que, em 1875, veio a cons-
tituir-se um dos mais importantes departamentos do Ministério da Agri-
cultura.
Paralelamente a tal ação direta do governo, ia-se também contra-
tando com particulares a vinda ou importação de imigrantes e sua locali-
zação conveniente. Daí a formação de empresas, amparadas pelos favores
oficiais, que se esforçavam também por suprir, pela colonização com ele-
mento estrangeiro, a deficiência de braços para o trabalho no país, cau-
sada principalmente pela lei de 1850, que proibia o tráfico de escravos. (2 )
2. Primeiros Movimentos Emigratórios de Batistas Letos
Para o Brasil Até a I Guerra Mundial
As opressões político-religiosas e as condições sócio-econômicas pre-
cárias, que na Letônia não permitiam ao cidadão adquirir um pouco de
terra para lavrar e com o produto do seu trabalho prosperar honestamen-
te, foram os motivos fundamentais que deram origem aos primeiros mo-
vimentos emigratórios de batistas letos para o Brasil.
Tratando-se de um povo basicamente de ocupação agrícola, os letos,
ao chegarem ao Brasil, logo procuraram áreas de terras, as mais amplas
possíveis para as cultivarem e prosperarem e concomitantemente desen-
volverem sua vida espiritual num ambiente de plena liberdade religiosa.
Assim, grupos maiores e menores de batistas letos, em datas diferentes,
durante os primeiros 24 anos da emigração leta (1890 a 1914), aporta-
ram ao Brasil, estabelecendo-se em zonas rurais mais ou menos afastadas
dos centros maiores, de acordo com a orientação política imigratória bra-
sileira. Não se tratou absolutamente de latifundiários que viessem fazer
riqueza no Brasil, embora, mais tarde, vários de seus descendentes se
enriquecessem razoavelmente com seu trabalho honesto e tenaz, ven-
cendo todos os obstáculos e vicissitudes.
A emigração dos letos para o Brasil teve a sua origem com o apare-
cimento de publicações sobre este país no diário leto Baltijas Weh,stnesis
(O Mensageiro Báltico) em 1889, editado em Riga, capital da Letônia,
e de um pequeno livro em princípios de 1890, intitulado Brazilija (Brasil).
Essas publicações eram da autoria de dois jovens letos recém-formados
pela Universidade de Dorpat, na Estônia — Karlis Balodis, pastor lute-
rano e Peteris Sahlitis, Doutor em Filosofia, que haviam visitado o Brasil
em 1888, interessados em verificar a procedência ou não das propaladas
vantagens que o Brasil estaria oferecendo aos imigrantes agricultores,
especialmente no Estado de Santa Catarina, segundo a imprensa alemã.
No Rio de Janeiro e em Desterro (mais tarde Florianópolis) entraram
em contato com uma das empresas colonizadores — a Grã-Pará — visi-
tando as suas colônias formadas de poloneses e italianos, na região de
Orleães, onde o clima se assemelhava ao da Letônia, naturalmente sem
os rigores do inverno.
As publicações em pauta descreviam o Brasil, a fertilidade da terra,
o clima, a flora e a fauna, os produtos, a política liberal do governo, as

(2) Rocha Pombo, História do Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, W. M.
Jackson Inc. Editores, Nova edição ilustrada, Volume V, 1935, pp. 265 e 266.

106
facilidades oficiais dadas aos imigrantes agricultores, inclusive o apoio
à formação de grandes aglomerados de imigrantes da mesma naciona-
lidade para evitar a nostalgia e os problemas culturais. A oportunidade
de uma emigração de letos em grande escala, tanto da Letônia como das
colônias letas da Rússia, parecia excepcional aos dois jovens letos. E,
sob os efeitos da impressão que as publicações causaram em certas ca-
madas sociais, Karlis Balodis logo organizou em Riga uma agência de
emigração para o Brasil.
A esta altura, é curioso lembrar a idéia utópica que o eufórico
agente de emigração e pastor luterano acima referido havia concebido,
qual seja a da transferência total do povo leto para o Brasil — cerca
de 2,000.000 de pessoas — dadas as dificuldades que os camponeses en-
frentavam para adquirirem o seu próprio cantinho de terra para cultivar
e a violência política de russificação, que naquele tempo desenvolvia em
todo o Báltico o senador russo Manasein. (3) Evidentemente tal idéia
não foi divulgada amplamente, senão em uma roda limitada de poucos
redatores de jornais, companheiros que esposavam os mesmos ideais
quanto à resistência ao programa de russificação. É justamente desses
redatores que, décadas depois, veio-nos a informação, (4) pois que, logo
ao chegar ao Brasil com o seu primeiro e único grupo de imigrantes letos,
Karlis Balodis descobriu que tal projeto era de todo inexeqüível, já pela
nova política reinante no país que não mais permitia grandes concentra-
ções de elementos estrangeiros de uma só nacionalidade, já pela reação
negativa do seu grupo, que quase em sua totalidade abandonou o local da
colônia logo nos primeiros dias após à chegada. (5)
3. Inicio e Desenvolvimento da Imigração de Batistas
Letos no Brasil Até a I Guerra Mundial
3.1 — Em Rio Novo, Estado de Santa Catarina (1890)
Em abril de 1890, Karlis Balodis partiu do cais de Riga com cerca
de 25 famílias, a bordo de um navio pequeno, que os levou ao porto de
Lübek, na Alemanha, de onde, em outro vapor, chegaram a Laguna, porto
brasileiro do Estado de Santa Catarina. ( 6) A maior parte daqueles emi-
grantes compunha-se de diaristas da metrópole leta, especialmente da
fábrica de cimento, que não se conformava em trabalhar indefinidamente
só pelos interesses do patrão, sem condições de chegar à emancipação
econômica. Durante a viagem — que lhes era gratuita — esses emigran-
tes faziam as suas fantasias, pensando na lavoura em termos europeus.
(3) Inks, J., "Latweeschi Brazilijã" (Os letos no Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cris-
tão), Palma, São Paulo, Editora Palma, n9 1, janeiro de 1948, p. 8. Também Elberts, A.,
Rio Novas Latweeschu Kolonijas Wehsture no 1890-1913 g. (História da colônia leta do
Rio Novo de 1890-1913), pp. 1 e 2. Manuscrito inédito que se encontra nos arquivos do
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(4) Severins, "Kada latveeschu utopija pirms 40 gadiem" (Certa utopia leta de há 40 anos),
revista Dzive (Vida), Riga, n9 3, 4 de abril de 1930, pp. 115 e 116.
(5) Malves, J., Latweeschu eeceloschanas sahkms Brazilijã (Início da imigração leta no
Brasil), p. 2, narrativa preparada a pedido do autor, por tratar-se do mais antigo colonizador
leto no Brasil, 1965.
(6) Id.. ibid.. p. 1.

107
De Laguna até Orleães, Município de Tubarão, viajaram pela estrada de
ferro recém-construída, que na época ali fazia o seu ponto final. De,
Orleães marcharam a pé cerca de dez quilômetros, até Rio Novo, grande
gleba de terras que tomou este nome emprestado do rio que corta a re-
gião. Ficou ali estabelecida a primeira colônia leta no Brasil, a de Rio.
Novo. Fig. 18
O contraste entre o ambiente que conheciam na Letônia e aquele que
se lhes deparava agora no Brasil, produziu nos recém-chegados um im-
pacto negativo. Encontrando-se ainda nos alojamentos comuns de alguns
barracões da empresa colonizadora e percebendo, na mata virgem a des-
bravar, um futuro tenebroso, resolveram abandonar o local, dispersan-
do-se pelas cidades do Sul, como Desterro e Porto Alegre, enquanto uns
poucos voltaram a Riga. Ficaram na colônia apenas quatro famílias.
Entre elas estava a única família batista — irmão Janis Arums, sua es-
posa e um filho adotivo, Adolfos, e mais a irmã Catarina Bitait, que veia
em sua companhia. (7)
Janis Arums, personalidade dinâmica e otimista, começou a derrubar
a mata virgem e a plantar. Escreveu várias cartas aos irmãos batistas
de Riga, que ao tempo da emigração do primeiro grupo haviam manifes-
tado bastante interesse em vir para o Brasil. Como resultado dessa cor-
respondência, em julho de 1891 chegaram a Rio Novo cinco famílias ba-
tistas, entre elas as de Frischenbruder e Malves, mais tarde nomes de
projeção entre os batistas letos no Brasil. Em novembro do mesmo ano
chegaram mais duas e em dezembro mais 25 famílias batistas. (8 ) O
irmão Janis Arums estava radiante. Os cultos, que vinham sendo dirigi-
dos por ele desde os primeiros dias de sua chegada, agora estavam sendo
freqüentados por uma verdadeira multidão. Atraídos pelas notícias, che-
garam também algumas famílias luteranas. Entre os batistas havia diá-
conos, regentes de coros, coristas, superintendentes e professores de Es-
colas Bíblicas Dominicais bem como pregadores, embora nenhum pastor
regularmente ordenado. Um dos irmãos construiu a sua casa de madeira
tosca, com uma sala ampla para a realização dos cultos. Dentro em
pouco outros irmãos disputavam o privilégio de abrigar a igreja nas-
cente. Todos eram dominados por uma grande alegria, e longe, mata
virgem a dentro, ressoavam os hinos cantados em louvor a Deus.
Depois de algumas reuniões preparatórias, na tarde de um domingo,
a 20 de março de 1892, foi organizada a Igreja Batista Leta de Rio Novo
Estado de Santa Catarina, com 75 membros, todos imigrantes letos. ( 9 )
Foi a primeira igreja batista leta no Brasil. Também foi a primeira igreja
batista que Deus plantou em toda a vasta região meridional do Brasil,
de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Até então haviam sido organizadas
duas igrejas batistas de colonos norte-americanos no Estado de São

(7) Frischenbruder, J., Rio Novas Latweeschu Draudze 40 gados, 1892-1932 (A Igreja
Batista Leta de Rio Novo em 40 anos, 1892-1932), s/data, p. 5. Manuscrito inédito que se
acha no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(8) Id., ibid., p. 6.
(9) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
teta de Rio Novo), Livro n° 1, pp. 1 e 2. Encontra-se no Museu Batista do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, R. de Janeiro, GB.

108
Paulo, a de Santa Bárbara (1871) e a de Estação (1879), e mais duas
em 1891, sendo que uma na cidade de São Paulo e a outra em Campinas,
por batistas europeus, que, fugindo das perseguições religiosas, aporta-
ram nesta terra. Entretanto, estas duas últimas tiveram uma existência
efêmera, uma vez que devido às mudanças, que dispersaram os imigran-
tes pelas fazendas do interior, e à epidemia da febre amarela, ambas ex-
tinguiram-se no ano seguinte. (10 ) Portanto, apenas dez anos incomple-
tos depois da organização da primeira igreja batista brasileira na Bahia
(15 de outubro de 1882), organizou-se a primeira igreja batista leta no
Brasil, na primeira colônia leta, abrindo caminho para imigração de
outros batistas letos que contribuíram com uma parcela considerável
para a evangelização de vastas áreas do sul do país.
Como primeiro moderador da igreja, com autorização para ministrar
também os batismos e Ceia do Senhor, foi eleito, logo na primeira ses-
são, o ancião Fritzs Karps, que mais tarde passou a ser o pastor-leigo
da igreja. Para dirigir reuniões de oração e os cultos dominicais eram
escalados vários irmãos. Com a chegada de mais alguns grupos letos
batistas e luteranos a Rio Novo, procedentes de Riga e outras regiões
da Letônia e das colônias letas da província de Novgorod, na Rússia, ve-
rificou-se a necessidade de um local próprio para construção de um tem-
plo e de uma escola para os filhos dos imigrantes. Apelaram para o
Diretor da empresa colonizadora, Sr. Etiene Stawiarsky (pai do professor
Vitor Stawiarsky, que depois, por muitos anos, exerceu o magistério no
Colégio Batista e outras instituições do Rio de Janeiro), no sentido de
ser-lhes designada e doada uma área de terra para edificação de um
templo, uma escola e instalação de um cemitério, pois que os mortos
eram sepultados junto das respectivas residências. Nada conseguindo, a
igreja resolveu construir um templo provisório, de madeira tosca, com
telhado e paredes de folhas de palmeiras, numa pequena área que um
certo irmão cedeu num lugar central. Com amor e entusiasmo, partici-
pando do trabalho homens e mulheres, foi construído em três dias o
templo provisório, bem amplo, com paredes só até a altura de um homem
médio, deixando um vão daí para cima, para ventilação e iluminação. Os
bancos eram feitos de paus roliços fincados no chão batido, unidos por
travessas aparelhadas a machado, que recebiam quatro ripas longas de
coqueiros, também aparelhadas a machado, e sem encosto. E acrescenta
o historiador daquela igreja: "Eram assentos bastante cômodos." (11)
Ainda a respeito daquela casa de cultos escreve o historiador da colônia:
Foi a primeira propriedade da coletividade; lugar especial
onde todos se reuniam para o louvor de Deus; era como que a
primeira fortaleza na nova terra conquistada. Era lugar onde
se uniam as idéias, os ideais e as resoluções; lugar de onde
emanavam as atividades espirituais e temporais. (12)

(10) Crabtree, A. R., História dos Batistas do Brasil, Rio de Janeiro, Casa Publicadora
Batista, 1937, Volume 1, p. 298.
(11) Frischenbruder, J., Op. cit., p. 9.
(12) Elberts, A., Op. cif., p. 5.

109
O grande problema da igreja foi a falta de um pastor preparado e
experimentado. Surgindo dificuldades de natureza ética, doutrinária e
eclesiológica, alguns irmãos escreveram ao Pastor J. A. Freijs, presi-
dente da União das Igrejas Batistas da Letônia e obreiro esclarecido,
para que orientasse a Missão Evangélica de Riga — apelidada "Sociedade
dos Três Copeques" (*) — no sentido de enviar-lhes um obreiro residente,
ou que ele mesmo os visitasse, permanecendo por algum tempo no Brasil.
Com pedido semelhante a igreja dirigiu-se a um jovem batista concluinte
do curso teológico do Seminário Batista de Hamburgo, Alemanha, por
nome Karlis Ruschewitz. A igreja também apelou à direção da empresa
colonizadora, com o propósito de obter uma ajuda financeira nas despesas
da vinda de um pastor para a comunidade leta, pastor este que não
podia ser encontrado no Brasil, bem como solicitou de novo a concessão
de um terreno em que ela pudesse erigir edificações próprias para uma
escola e um templo e ainda restasse uma área razoável para um cemitério.
Entretanto, nenhum desses apelos trouxe qualquer resultado positivo,
senão alguns anos depois.
A igreja continuou a sua marcha sob a liderança de leigos, sempre
prosperando numérica, material e espiritualmente. Poucos meses depois
de fundada a igreja, foram organizadas a Sociedade de Senhoras, a So-
ciedade de Moças e uma Sociedade de Moços, sendo que a Escola Bíblica
Dominical e o Coro já estavam funcionando mesmo antes da organização
da igreja. Também foi organizada uma Sociedade Missionária nos moldes
da Missão Evangélica de Riga, na Letônia, da qual muitos dos irmãos da
Igreja de Rio Novo haviam sido fundadores. Interessante é notar que
esta última e as três primeiras sociedades acima citadas eram de natu-
reza missionária, todas propondo-se a trabalhar pela arrecadação e acumu-
lação de recursos para atendimento de apelos missionários de fora e su-
primento das necessidades da evangelização interna da colônia e arre-
dores. Figs. 19 e 20
O ano de 1893 foi bastante agitado na vida da colônia leta de Rio
Novo, bem como nas colônias vizinhas, alemã e italiana, pela proximi-
dade de acampamentos de grupos militares da Revolução Federalista. Os
colonos de Rio Novo a essa altura já haviam prosperado consideravel-
mente. Haviam obtido boas colheitas, instalado amplas pastagens e po-
mares e formado bons rebanhos. Porém, quase nada ainda conheciam de
português. E só mesmo graças à proteção de Deus e à ação do Diretor
da empresa colonizadora, que armara — ainda que precariamente — um
grupo de colonos para guardar as estradas, é que os prejuízos foram
mínimos. Os colonos letos haviam fixado, em certo lugar estratégico e
camuflado, um sino, que fora doado pela empresa colonizadora para o
futuro templo, que seria badalado à aproximação dos militares saquea-
dores, alertando, assim, os moradores para que tratassem de esconder
os animais que os soldados costumavam arrebatar primeiro — cavalos,
para montaria, e o gado, para alimentação das tropas. Em certa oca-
sião o chefe do grupo leto, um alemão que falava o português, saiu so-

(*) Copeque (Kopeik) — unidade minima da moeda russa. Três copeques era a contribui-
ção diária de cada sócio da referida Missão.

110
zinho e desarmado ao encontro dos militares, aconselhando-os a evitar
o caminho dos "russos" — como eram conhecidos os letos de Rio Novo
— pois que estes eram numerosos e guardavam as estradas emboscados.
O oficial ouviu o desconhecido, sorriu desconfiado, mas não prosseguiu
no caminho. (13 ) Embora sem danos de vidas, e havendo poucos danos
materiais, aquele ano foi para a colônia de constantes sobressaltos e
preocupações, que forçaram os lavradores a permanecerem mais presos
às casas, assim retardando consideravelmente os labores agrícolas e, con-
seqüentemente, os trabalhos e atividades da igreja, resultando em menor
freqüência aos cultos e aos ensaios dos coros e redução nas contribuições
e ofertas.
Em princípios de 1894, chegou da Letônia a Rio Novo a família
Leimann, que mais tarde deu ao ministério batista todos os seus quatro
filhos: Frederico, Wilis (Guilherme), Carlos e Arthur, dentre os quais o
mais conhecido no Brasil foi o Pastor Carlos Leimann, intrépido e valo-
roso desbravador de campos difíceis em nossa terra. Fig. 21
Passadas as agitações revolucionárias, a igreja retomou a sua mar-
cha normal com o novo impulso que tomou ao obter um outro local para
a construção de novo templo, pois que o provisório, o de folhas de pal-
meiras, já estava sendo consumido pelo tempo. Desta vez a construção
foi feita bem mais ampla e de material mais resistente, isto é, de tabui-
nhas de cedro, finas e curtas (60 a 80 cm), lascadas com auxílio de uma
plaina de grandes proporções, manipulada por oito a dez homens. Tanto
o telhado como as paredes eram do mesmo material, inclusive portas e
janelas, sendo que estas mais tarde foram envidraçadas. Desta forma,
as noites frias ou chuvosas já não espantavam os freqüentadores dos
cultos. A construção foi feita em 14 dias por 47 colonos decididos a ver
erguida a nova casa de cultos, que também serviria à escola. E os que,
por algum motivo, não puderam participar dos trabalhos da construção,
ofereceram em dinheiro o valor da diária para a aquisição do material,
como pregos, dobradiças, vidros etc. (14 ) Assim, o segundo templo da
igreja foi inaugurado, com grande festividade e movimentação da colô-
nia e vizinhança, em agosto de 1894. (") Fig. 22
No que diz respeito às atividades da Igreja de Rio Novo naquela
altura de sua história — de apenas dois anos de existência — merece
menção especial o canto coral. Como a colônia, em sua extensão, acom-
panhasse os dois cursos de água, o do Rio Novo e o do Rio Carlota, os
membros da igreja, por motivo de distância, reuniam-se durante a semana
em dois núcleos para oração — um na sede da igreja e outro na casa de
um crente no bairro de Rio Carlota. Porém, o último organizou logo.
também o seu coro. De modo que, aos domingos, nos cultos, cada coro
cantava um hino na parte inicial e na conclusão cantavam os dois coros
unidos, número que sempre era considerado o ponto alto do ofício reli-
gioso. Os dois regentes, por sinal muito competentes, esmeravam-se ao
máximo para que os seus respectivos coros se apresentassem tecnica-

(13) Elberts, A., Op. cit., pp. 7-9.


(14) Id., ibid., p. 8.
(15) Frischenbruder, J., Op. cit., p. 13.

11?
mente a contento e espiritualmente à altura de sua santa missão. As
festas especiais do ano, como a Páscoa, o Pentecostes e o Natal, eram
comemoradas sempre durante dois dias, como era costume na Letônia.
Os aniversários tanto da igreja como das outras organizações — Socie-
dade de Senhoras, Sociedade de Moças, Sociedade Missionária — e ou-
tras festas de caráter promocional, missionário e evangelístico, sempre
eram abrilhantados com vasto conteúdo musical, fator que constituía a
principal atração não somente para os próprios batistas, como também
para os patrícios luteranos, para os alemães e italianos das colônias vizi-
nhas e para alguns brasileiros que moravam na região, a maior parte dos
quais era constituída de empregados dos colonos. O grande problema
daqueles irmãos era o de pregadores que pudessem anunciar o evangelho
na língua dos seus ouvintes atraídos pelo canto coral, pois que apenas
dois deles se expressavam sofrivelmente em alemão, e nenhum conhecia o
português.
Podemos perceber quanto o espírito missionário preocupava os ir-
mãos letos de Rio Novo, pelo que se encontra lançado na Ata da sessão
regular de 19 de abril de 1896, item 8:
Da parte da Sociedade Missionária é apresentada uma
proposta no sentido de ser convidado um missionário que possa
pregar em todas as línguas aqui conhecidas, bem como entre
nós... e, para que a igreja possa calcular a sua capacidade
quanto ao sustento do referido missionário, é feito um apelo
para que cada um escreva num papel com quanto se compro-
mete a contribuir para tal finalidade e o entregue à mesa até
a próxima sessão. (16)
Na sessão seguinte não puderam chegar a uma conclusão, pelo que
o assunto foi entregue a uma comissão. Na Ata da sessão de 21 de junho,
item 2, lemos assim:
Quanto ao sustento do missionário e atendimento das de-
mais necessidades da igreja, a Comissão sugere que a igreja
apresente aos seus membros a seguinte forma de contribuição:
chefes de família e solteiros independentes, tenham proprie-
dade ou não — 25:000$000 por ano. Irmãs solteiras indepen-
dentes — 5:000$000 por ano. A sugestão é transformada em
proposta, que é aprovada por voto unânime para vigorar a
partir de 1897. (17 )
Na mesma época o coro também havia dado algumas audições em
Orleães, a cidadezinha mais próxima, onde se observava um interesse
muito grande pelo evangelho. (18 ) Fig. 23
Esta verdadeira "pressão" de interesse, despertado pela atuação do
coro em toda a vizinhança, tanto próxima como distante, abriu a visão
dos irmãos letos para divisar a oportunidade que estava em suas mãos
de testemunhar do evangelho. Isto levou-os novamente a apelar à Socie-

(16) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo). Livro n° 1, p. 95.
(17) Id., p. 98.
(18) Id., p. 102.

112
dade Missionária de Riga, no sentido de ser-lhes enviado um obreiro.
Além disso, agravavam-se os problemas éticos e doutrinários, chegando
a ocorrer, em 1894, a primeira divisão na igreja, em que quatro famílias
separaram-se porque não foi aceita sua exigência de que as mulheres
cobrissem a cabeça quando presentes aos cultos. (19 )
Finalmente, em junho de 1897, enviado pela Sociedade Missionária
de Riga, chegou a Rio Novo um dos seus mais dinâmicos obreiros, o jo-
vem pastor João Inkis, (20 ) de 26 anos de idade, já experiente nas lides
evangelísticas na Letônia e nas colônias letas da Rússia, falando corre-
tamente três línguas — leto, russo e alemão. A sua permanência entre
os batistas letos do Brasil, que durou dois anos, ( 21 ) uniu a sua alma a
este país de tal forma que voltou em outra visita, em 1911, e depois, em
1921, transferiu-se definitivamente para o Brasil, fundando, em 1922,
juntamente com mais 2.300 letos, quase todos batistas, a grande colônia
Varpa, no interior do Estado de São Paulo. As suas inúmeras poesias,
cartas e artigos falam de sobejo do seu encanto pelo Brasil. (22)
Quando o Pastor João Inkis visitou o Brasil pela primeira vez, já
havia quatro colônias letas no país, localizadas em Rio Novo, Mãe Luzia,
Ijuí e uma no Município de Blumenau, a 50 km dessa cidade catarinense,
nas vizinhanças da colônia teuto-polonesa de Massaranduba, no Alto Gua-
rani. Sendo elas constituídas de imigrantes predominantemente batistas,
em cada uma também havia uma igreja batista. Durante o período de
sua primeira estada no Brasil, o referido pastor visitou todas as quatro
colônias e igrejas, pondo em ordem as coisas relativas à sua vida social,
fraternal, espiritual, eclesiástica e intelectual, dedicando, porém, maior
parte do tempo à maior igreja, que era a de Rio Novo. Nesta os pro-
blemas acumulados já eram tantos e tão variados que foi preciso usar
de uma estratégia especial, que felizmente não faltava ao Pastor João
Inkis, graças à extraordinária vocação de liderança de que era dotado.
Após dois dias de festa para recepcionar o obreiro, este assumiu a
direção da igreja. A primeira providência foi promover uma grande
reunião de reconciliação e confraternização. Os resultados deste passo
foram os mais abençoados. A recuperação dos excluídos, afastados e
amargurados foi quase total. Reorganizou a Escola Bíblica Dominical;
organizou a Sociedade de Moços e um grande coral de mocidade, que foi
o caminho para mais tarde unir a Sociedade de Moças com a dos Moços
numa só grande União de Mocidade, que passou a ter o seu jornal ma-
nuscrito, que circulava em várias cópias, sempre repleto de matéria va-
riada — comentários, noticiários, poesias etc.; organizou coro masculino,
coro feminino, coro infantil e outros, havendo, ao todo, seis coros na
igreja; iniciou um trabalho de evangelização entre os alemães da redon-
deza, em Orleães e em Mãe Luzia, para onde viajou algumas vezes acom-
panhado de grande número de jovens, aos quais havia ensinado cânticos

(19) Elberts, A.. Op. cit., p. 9.


(20) Id., ibid., p. 10.
(21) Inkis, J., "Latweeschi Brazilijã" (Os letos no Brasil), Kristigs Draugs, janeiro de
1948, p. 7.
(22) Questionários de pesquisa.

113
em alemão; organizou estudos bíblicos e séries de reuniões de oração e
de leitura e comentário de sermões de pregadores célebres; instituiu novo
método de contribuição mensal; ministrou estudos especiais aos diáconos
eleitos, ordenando-os em seguida; preparou homenagens especiais aos
obreiros que desde os primórdios do trabalho ali haviam demonstrado
dedicação e persistência, assim ensinando a igreja a ser reconhecida e
grata para com aqueles que estavam na liderança e por isto suportavam
um peso de responsabilidade maior que os demais; realizou muitos batis-
mos, cerimônias de casamento, visitas a doentes e idosos, com eles cele-
brando a Ceia do Senhor; promoveu curiosos desfiles noturnos pela co-
lônia, em que os crentes levavam tochas de luz, com que chamavam a
atenção da vizinhança, conduzindo-a, com o desfile, para o templo, onde
então se desenvolvia um programa evangelístico. Na vida social, o Pas-
tor João Inkis promoveu a organização da Sociedade dos Colonos, que
passou a gerir os negócios temporais, como conservação de estradas e
pontes, problemas de divisas, entre vizinhos, queixas e protestos de na-
tureza reivindicatória e desavenças outras; constituiu uma Comissão de
Instrução, que passou a trabalhar junto ao Diretor Etiene Stawiarsky,
do qual obteve a doação da área necessária para a construção do prédio
para escola, onde seria ministrado o ensino de leitura e escrita em leto e
em português, Aritmética, História e Geografia do Brasil e Música; ins-
talou o cemitério; empreendeu várias expedições, que duraram alguns
dias, em busca de novas glebas para os imigrantes letos que chegassem
depois; com a permissão do então delegado de Polícia de Orleães, Sr. Gal-
dino Guedes, conseguiu na colônia, o Juizado de Paz, que presidia, em
nome da lei, os respectivos negócios, tendo autoridade de aplicar multas
de até 5:$000, as quais, no entanto, jamais foram aplicadas. Esfor-
çou-se também para que a colônia tivesse uma visita médica periódica,
visto que o médico mais próximo residia na cidade de Tubarão, sede do
município, a 50 km de Rio Novo.

Referência especial merece a sua providência quanto à vinda de um


professor competente para a escola da colônia. Primeiramente, corres-
pondeu-se com seu primo Karlis Inkis, que, devido aos seus estudos em
Petrogrado, então capital do Império Russo, não pôde aceitar o convite.
Porém, logo depois de seu retorno à Letônia o Pastor João Inkis con-
seguiu interessar na obra educativa no Brasil o seu amigo, jovem pro-
fessor, Wilis Butlers, mais tarde conhecido pelos brasileiros como Prof.
Guilherme Butler ou Dr. William Butler, bem como o seu companheiro
nas atividades evangelísticas nas colônias da Rússia e cunhado de Gui-
lherme Butler, Alexandre Klavin, pai dos conhecidos professores Dr.
Paulo Alexandre Klavin e D. Selma Klavin, que já por longos anos exer-
cem o magistério no Rio de Janeiro.

Depois de um ano de profícuas atividades em Rio Novo, onde en-


caminhou a igreja para uma obra evangelística de considerável ampli-
tude, inclusive deixando organizada uma congregação alemã nas proxi-
midades da colônia de Rio Novo e outra na colônia de Mãe Luzia, onde
trabalhou durante três meses seguidos e depois fez outras visitas espar-

114
sas, (23) o pastor João Inkis ainda permaneceu quatro meses nas colônias
de Blumenau (24) e três meses com a igreja da colônia de Ijuí, (25) mais
tarde conhecida como Igreja Batista Leta de Ijuí, Linha 11, no Estado
do Rio Grande do Sul, realizando trabalho intenso nos moldes do que
havia feito em Rio Novo. De volta de Ijuí, ainda passou quase dois
meses em Rio Novo, deixando organizada uma pequena igreja alemã,
com seis membros, (26 ) de cuja sobrevivência, porém, não há notícias
posteriores. Ao despedir-se da Igreja de Rio Novo, explicou que, ao
convite que dela havia recebido para assumir seu pastorado, só poderia
dar resposta depois que voltasse à Letônia, pois no momento julgava
seu dever voltar ao seu país. (27)

Durante a sua permanência no Brasil, o Pastor João Inkis havia


mantido correspondência com sua família em Lhubine, colônia leta na
Rússia, onde seu pai, Jekabs (Jacob) Inkis, exercia o pastorado ao mesmo
tempo que lavrava a terra, mas cujo clima, demasiadamente rigoroso
para a idade do velho pioneiro e líder batista na Letônia e as crescentes
perseguições religiosas aconselhavam uma mudança. Nessa correspon-
dência tentou convencê-la de que o Brasil, "terra da liberdade, das pal-
meiras e da eterna primavera" — como costumava descrevê-la em seus
artigos, cartas e poesias — era o lugar ideal para ela, além das oportuni-
dades ímpares que teria seu pai para cooperar no trabalho dos batistas
letos neste país. De fato, a família Inkis transferiu-se para o Brasil em
fins de maio de 1899, ( 28 ) desembarcando no porto de São Francisco,
Santa Catarina, onde o filho mais velho, Pastor João Inkis, a esperava,
fixando-se na colônia de Ponta Comprida, Município de Blumenau, jun-
tamente com outros batistas letos procedentes das igrejas da região de
Novgorod, na Rússia. Os membros da família Inkis que se fixaram defi-
nitivamente no Brasil eram os seguintes: Pastor Jacob Inkis e esposa,
os seus filhos: Eduardo — que veio a ser pai do Pastor Jacob R. Inkis,
obreiro formado pelo Seminário Batista do Rio de Janeiro e operante no
Estado de São Paulo; Ricardo (o mais novo) — mais tarde o conheci-
díssimo Dr. Ricardo J. Inke, pastor de várias igrejas no Brasil e pro-
fessor, por longos anos, no Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro;
Natália e Constância — a primeira contraindo núpcias com Janis Peter-
levitz, sendo progenitora do destacado e dedicado diácono Leopoldo Pe-
terlevitz da I Igreja Batista Leta de Nova Odessa; e a segunda, casando-
-se com Júlio Malves, colonizador já citado neste trabalho, a cuja obra
ainda voltaremos nos capítulos que seguem.

(23) Frischenbruder, J., Op. cit., pp. 12-18. Também Elberts, A., Op. cit., pp. 13-32, e
Araium, Alexandre, Entrevista com o autor.
(24) Inkis, J., "Latweeschi Brazilija- (Os letos no Brasil), Latweeschu Familijas Kalendars
1901 (Almanaque da Familia Leta, 1901), Riga, p. 94.
(25) Id. ibid.. D. 112.
(26) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n9 1, pp. 181 e 182.
(27) Ibid., (3. 1R2.
(28) Inke, Ricardo, J., Diário manuscrito que se acha no Museu Batista do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil. Rio de Janeiro. GB.

115
A esta altura convém fazer referência a duas cartas escritas pelo
pastor João Inkis, ambas endereçadas à Igreja Batista Leta de Ijuí, que
revelam o quanto esse homem de Deus amava o Brasil e como desejava
que os batistas letos emigrassem da Letônia para esta terra e aqui em
liberdade testemunhassem do evangelho e cooperassem na salvação de
brasileiros e estrangeiros. (29 ) Na primeira carta, escrita de Desterro
(Florianópolis) em 11 de maio de 1899, na qual fala de algumas experiên-
cias interessantes no encontro com marujos letos a bordo de um navio
leto no porto do Rio Grande, diz o Pastor João Inkis:
Contei-lhes a respeito da vida nas colônias letas do Brasil,
pelo que alguns exclamaram: "Logo que chegarmos a casa
voltaremos ao Brasil para ficar."... Se meus pais viessem
para se fixarem no Brasil, então também eu estaria mais preso
ao Brasil... Há um certo preconceito ou prevenção contra o
Brasil no seio do povo e é difícil destruí-lo... Eu, porém, digo:
vale a pena derramar suor pela preparação de uma nova pátria
para os letos; isto é mais compensador do que servir aos es-
tranhos na Báltia, isto é, aos alemães e russos.
Na segunda carta, escrita do Rio de Janeiro, em 28 de agosto de
1899, depois de discorrer sobre sua visita à Primeira Igreja Batista do
Rio de Janeiro, o encontro que teve com o Pastor Dr. William Buck
Bagby, a emoção que experimentou no culto a que assistiu e a apresen-
tação que o Dr. Bagby fez da sua pessoa como "missionário leto que está
de volta do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina", diz ele:
Eu pedi que fosse enviado algum pregador do evangelho
para pregar em português nos Estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul e disse que nós, os letos, ajudaríamos no seu
sustento com 1:000$000 por ano. Isto alegrou muito os pre-
sentes. Portanto, trabalhai, irmãos, com coragem. Pode acon-
tecer que cedo tenhamos que cumprir a nossa promessa, e as-
sim alcançaremos a oportunidade de trabalhar pelas missões
internas... Agora falta o necessário elemento humano para
ser enviado para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Oremos
para que o Senhor o escolha... O grupo de letos de Blumenau
cresce cada vez mais. Em poucos anos ali teremos uma grande
colônia. Eu também estou pensando insistentemente, se for da
vontade de Deus, depois de dois anos voltar e fixar-me em
Blumenau... Trabalhai quanto estiver em vossas forças, pois
Deus, que contempla a cada um de seus filhos, há de vos aben-
çoar. (3°)
Importante é assinalar aqui os efeitos do apelo a que se refere o
Pastor João Inkis na carta acima. O primeiro, foi o interesse que ele des-
pertou no nosso missionário pioneiro W. B. Bagby para lançar a rede mis-
sionária sobre os Estados do extremo sul do país, considerando-o uma

(29) As duas cartas no original encontram-se nos arquivos do Museu Batista do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de janeiro, GB.
(30) Ver textos completos das duas cartas, em tradução, nos Anexos III e IV.

116
verdadeira chamada divina. Prova disto está no trecho da sua comunica-
ção à Junta de Richmond, que diz:
Há meses veio ao Rio, em trânsito para a Europa, um
batista russo, crente zeloso do Estado de Santa Catarina. Dis-
se-me ele que há uns 250 batistas russos e alemães nesse Esta-
do, imbuídos do espírito missionário, e que desejavam ajudar
na evangelização dos seus vizinhos brasileiros. Pediram que
lhes mandássemos um evangelista para trabalhar com eles
nesse serviço. Prontificaram-se a cooperar no sustento de um
bom pastor que enviássemos para lhes ajudar na evangeliza-
ção daquela zona. Estou em correspondência com esses irmãos
e prometi visitá-los e examinar o campo logo que puder. De-
vemos, se possível for, entrar naquele campo durante o ano de
1900. Oxalá tivéssemos já um bom obreiro para labutar com
aqueles zelosos batistas na obra missionária em Santa Cata-
rina. Parece que Deus nos está chamando para o norte, o sul
e o oeste. (31)
O outro efeito foi a visita prometida do Dr. W. B. Bagby à colônia
e Igreja de Rio Novo, em maio de 1900, juntamente com o Dr. J. L. Down-
ing, ( 32 ) este último missionário e médico em São Paulo. Desta visita, o
historiador da Igreja de Rio Novo registra o seguinte:
O Dr. Bagby cantava e pregava fervorosamente. O Dr.
Downing falava lentamente, mas, corno médico, foi muito so-
lícito em ajudar aos doentes. Os dois alegraram-se muito com
a nossa redondeza e manifestaram a opinião de que o irmão
João Inkis deveria voltar e trabalhar como obreiro na evange-
lização desta região. (33)
Como contribuição para a obra missionária do Brasil, a Diretoria
da referida Igreja havia entregue aos missionários 65$000, oferta que
a igreja ao ser notificada, achou pequena. (34 ) Porém, reinou grande
alegria no seio da igreja pelo fato de tornar-se agora conhecida entre os
batistas brasileiros. Este primeiro contato com a nossa liderança deno-
minacional depois ensejou a visita de outros obreiros, como A. B. Deter
e Djalma Cunha, integrando a Igreja Batista Leta de Rio Novo na obra
denominacional dos batistas brasileiros.
O ano de 1900 trouxe uma grande esperança à Igreja Batista Leta de
Rio Novo, ainda em conseqüência da referida visita do Pastor João Inkis.
Foi a chegada do Prof. Guilherme Butler, em fins de maio, procedente da
Letônia, para assumir a direção da escola anexa, e também do seu cunha-
do, Alexandre Klavin, em fins de julho, para pastorear a igreja. Figs.
24 e 25

(31) Crabtree, A. R., Op. cit., pp. 299 a 301. (Os letos na citação são chamados "russos"
porque eram cidadãos do Império Russo de então — O. R.)
(32) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n9 1, pp. 205 e 206.
(33) Frischenbruder, J., Op. cit., pp. 18 e 19.
(34) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n' 1, p. 206.

117
Guilherme Butler empenhou-se logo no estudo do vernáculo, na reor-
ganização da escola, na reforma completa e ampliação do currículo para
um curso de 6 anos e na construção de um novo edifício para a escola
e que servisse ao mesmo tempo para os cultos da igreja e residência
para o professor. Com seu otimismo e dinamismo contagiou os colonos
todos, tanto batistas como luteranos e mesmo os alemães e italianos das
colônias vizinhas. Promoveu também uma vasta propaganda da escola
nas outras colônias letas do Brasil — Ijuí, no Rio Grande do Sul, e Mãe
Luzia e Blumenau em Santa Catarina — das quais falaremos mais adian-
te. Enfatizou a necessidade de preparar a geração jovem para os tempos
modernos, mais exigentes, e planejou um internato para os alunos de
fora, que começaram a solicitar matrículas. Elaborou um currículo de
alto gabarito para o lugar, a época e as circunstâncias: Leto, Português,
Alemão, Matemática, Álgebra, Geometria, Geografia, História Geral, His-
tória do Brasil, História Natural, Física, Desenho, Caligrafia, História
Sagrada, História Eclesiástica, Ginástica, Artes Domésticas para meninas
e Música, inclusive violino e harmônio. Além disso, preparou, em leto, o
primeiro caderno de Portugalu Valodas Mahciba (O Ensino da Língua
Portuguesa). A mensalidade foi fixada em 3$000, fora a pensão. (35 )
A escola ganhou tal fama que, em 28 de maio de 1903, quando da
inauguração do novo trecho da estrada de ferro entre Orleães e a estação
de Lauro Müller, o Governador do Estado, Vidal Ramos, desejou visitá-la.
A comitiva foi recebida à frente da escola, toda enfeitada, com cânticos
do coro. Ao entrarem os visitantes e o povo no salão de cultos, o Prof.
Guilherme Butler explicou às autoridades que ali habitava um povo cren-
te que tinha por base de vida os mandamentos de Deus. Leu, do Sermão
do Monte, no Evangelho de Mateus, o trecho referente ao sal da terra e à
luz do mundo e orou a Deus, agradecendo as alegrias daquele dia e su-
plicando ricas bênçãos, equilibrado senso de justiça e sabedoria do Alto
sobre o Governo do Estado e cada uma das autoridades presentes. No-
vamente o coro cantou vários hinos. A tudo os visitantes assistiram com
reverência e até emocionados. Em seguida, foi oferecido um lauto ban-
quete ao Governador e sua comitiva. Finalmente, o Governador, num
improviso, agradeceu a recepção, tecendo os mais altos encômios ao es-
pírito religioso, empreendedor e industrioso do povo leto daquela colônia
— que ele agora considerava entre as melhores do Estado, — aos cânticos
harmoniosos a quatro vozes, às instalações práticas e primorosas da
escola e ao dotado professor; afirmando que naquela tarde se sentia como
se estivesse "nas próprias habitações da paz e do trabalho". Na mesma
ocasião, o Sr. Prefeito penitenciou-se pela falta de ajuda do Governo
Municipal, prometendo daí por diante uma subvenção de 30$000 mensais
à escola. (36 ) Diga-se de passagem que a promessa foi cumprida enquanto
o Prof. Butler esteve à frente da escola.

(35) Butlers, W., Portugalu valodas mahciba (O ensino da lingua portuguesa), Rio Novo,
1901, Impresso com W. Rotermund, S. Leopoldo, p. 32. Acha-se no Museu Batista do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(36) "Augsti Weesi Rionovã, Brazilijã" (Visitas honrosas em Rio Novo, Brasil), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão ), Memel, 25 de agosto de 1903, n' 7, p. 2.

118
O novo pastor da igreja, Alexandre Klavin, teve de enfrentar de
pronto a invasão da doutrina sabatista, que de uma só vez arrebatou
cerca de 15 membros, vários dos quais, porém, mais tarde foram recupe-
rados. Mas a heresia passou a fustigar a igreja por vários anos, causando
danos de quando em vez. O espírito pacífico e paciente do obreiro da
igreja permitiu-lhe levar o barco com serenidade através dos vendavais,
realizando um ministério abençoado, embora com sua saúde já um tanto
abalada.
Em 1901, havia chegado ao Brasil, fixando-se em Porto Alegre, o
Pastor Karl Roth, conhecido também como Carlos Roth — nome pelo qual
será citado nas páginas subseqüentes desta obra — missionário batista
alemão enviado pela THE GERMAN BAPTIST MISSIONARY SOCIETY
OF PHILADELPHIA, PA. NORTH AMERICA (também conhecida como
"a Junta Alemã") para cuidar do trabalho batista entre os alemães no
Sul do Brasil. (37 ) Ele visitou a Igreja Batista Leta de Rio Novo pela
primeira vez em outubro do mesmo ano. (38) Homem culto, equilibrado,
prático e de larga visão missionária, Carlos Roth conquistou logo a sim-
patia e o apoio da igreja a favor dos seus planos de trabalho. Três eram
os pontos mais importantes para os quais chamou a atenção da igreja:
primeiro, que a igreja abrisse, nas proximidades da colônia, uma Escola
Bíblica Dominical para os alemães, sob a direção do Prof. Guilherme
Butler; segundo, que a igreja cooperasse com um pequeno seminário,
que pretendia organizar em breve na cidade de Porto Alegre, com a ajuda
da sua Missão; e, terceiro, que a igreja estudasse a viabilidade da orga-
nização de uma Associação Batista Teuto-Leta do Brasil, ( 39) de vez
que a esta altura (1901) já havia neste país duas igrejas alemãs — de
Linha Formosa e de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul — e seis igrejas
letas; de Ijuí, Rio Grande do Sul, de Rio Novo, Mãe Luzia, Alto-Gua-
rani, Jacu-Açu e Bruedertal — esta última também conhecida como
Schroederstrasse — no Estado de Santa Catarina. Como resultado ime-
diato do seu trabalho nos poucos dias que permaneceu em Rio Novo, deu-
-se o pedido de ingresso no seminário, que ainda nem existia, do próprio
pastor da igreja, Alexandre Klavin, e mais dois jovens ativos, João Net-
tenberg e Frederico Leimann, que já estavam aspirando ao minis-
tério da pregação da Palavra de Deus e até haviam procurado contatos
com o Seminário Batista de Hamburgo, na Alemanha. ( 40 )
Prosseguindo na sua viagem em visita às igrejas batistas letas, Car-
los Roth chegou à colônia de Jacu-Assu, município de Blumenau, em
novembro daquele ano. Ali encontrou um outro jovem vocacionado para
o ministério e ansioso por uma oportunidade de se preparar conveniente-

(37) Crabtree, A. R., Op. cit., p. 315.


(38) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
de Rio Novo), Livro n° 1, p. 228.
(39) Ibid., loc. cit., p. 228.
(40) Mellenberg, Maria, Roberts Leimanis", Brasilijas Latviesu Kalendars. 1969 —
Literariskals pielikums (Almanaque Leto do Brasil, 1969 — Suplemento literário). Suple-
mento do "Amigo Cristão", Editora Palma, Palma, São Paulo, p. 105. Tradução do original
alemão editado pela União Batista Alemã do Rio de la Plata, 1951.

119
mente para tal obra. Tratava-se de Ricardo J. Inke, mais tarde conhecido
no Brasil, bem assim nos Estados Unidos, como Dr. Ricardo J. Inke.
Foi com esses quatro estudantes letos que Carlos Roth abriu o seu
seminário em 1903, em Porto Alegre, juntando-se a eles, posteriormente,
mais dois letos — Guilherme Leimann e Pedro Sahlits, ambos de Rio
Novo, e depois mais um teuto-brasileiro, Ricardo Pitrowsky, e um brasi-
leiro, Paulo Malaquias da Mancha, o qual mais tarde muito ajudou no
campo da Igreja Batista Leta de Ijuí. Não consta que outros obreiros
tenham estudado naquela escola teológica, que encerrou as suas ativida-
des em 1908 com a volta definitiva do missionário Carlos Roth aos Es-
tados Unidos. ( 41)) Com exceção do Pastor Alexandre Klavin, que fa-
leceu em 1905, e Pedro Sahlits, que foi estudar nos Estados Unidos, de
onde não mais voltou, todos os discípulos letos do missionário 'Carlos
Roth exerceram longos e abençoados ministérios entre os alemães do Bra-
sil e da Argentina e entre letos e brasileiros em nossa terra, pregando
todos eles em pelo menos três línguas, sendo que Ricardo J. Inke, que
também trabalhou entre os russos nos Estados Unidos, pregava em seis
idiomas. Fig. 27
Em uma outra viagem de Carlos Roth a Rio Novo, em fins de 1903,
mais um moço leto resolveu preparar-se para a obra do ministério. Tra-
tava-se do Prof. Guilherme Butler, que, com a partida do Pastor Ale-
xandre Klavin para o Seminário de Porto Alegre, havia sido eleito pela
igreja de Rio Novo para pregar, batizar e distribuir a Ceia do Senhor.
Mas este, aspirando um curso mais completo, decidiu ingressar na Aca-
demia Alemã de Rochester, Estados Unidos da América do Norte. Con-
cluído aquele curso, ingressou no The Newton Theological Institution,
Universidade de New York, e finalmente na Universidade de Colúmbia,
servindo ao mesmo tempo como evangelista de algumas igrejas alemãs
e como pastor da Igreja Batista Leta de New York, onde foi consagrado
ao ministério. (42 ) Voltando ao Brasil em fins de 1913, prestou grandes
serviços aos batistas como pastor, professor do Colégio e Seminário Ba-
tista do Rio de Janeiro, primeiro presidente da Convenção Batista Pa-
raná-Santa Catarina e como mestre da juventude do Brasil por mais de
30 anos no Colégio Estadual de Curitiba.
Ainda em 1903, é importante assinalar o pedido do jovem Carlos Lei-
mann à Igreja Batista Leta de Rio Novo, na sessão de 27 de dezembro,
no sentido de ser-lhe permitido organizar uma Escola Bíblica Dominical
para brasileiros. ( 43 ) A igreja deu permissão com grande alegria e votos
de bênçãos divinas, e, no ano seguinte, Carlos Leimann desenvolveu um
trabalho intenso entre os brasileiros não só da colônia como de toda a
redondeza próxima e distante, pregando e organizando Escolas Bíblicas
Dominicais em diversos lugares, como Orleães, Pedras Grandes, Laran-

(41) Crabtree, A. R., Op. cit., pp. 315 e 316.


(42) Convenção Batista Brasileira, Oitava Reunião Anual, Rio de Janeiro, 1914, Atas,
Anexo 3, Relatório da Junta do Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1914, p. 12. Também Meters, Augusts, Darbinieki (Os
Obreiros), Monografia mimeografada e editada pelo autor, USA, 1953, p. 25.
(43) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo) Livro n' 1, p. 277.

120
jeiras, Serra, Bom Sucesso e muitos outros, embora o púlpito de sua
própria igreja ainda não lhe fosse franqueado, por tratar-se de moço que
recentemente havia se reconciliado, depois de vários anos de exclusão
motivada pelo abandono do lar paterno e da igreja. ( 44) Durante cinco
anos de atividades evangelísticas, quando muitos brasileiros foram ba-
tizados, o jovem provou, de sobejo, o seu caráter e a sua vocação ao mi-
nistério. Foi quando, depois de tomar conhecimento da extinção do Se-
minário de Carlos Roth, em Porto Alegre, onde estudaram seus dois
irmãos, Frederico e Guilherme, entrou em contato com o recém-fundado
Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro. Sendo recomendado em
31 de janeiro de 1909 pela igreja de Rio Novo, foi matriculado na referida
instituição em março do mesmo ano. Foi ele o segundo leto a ingressar
no nosso Seminário, no segundo ano de seu funcionamento, onde estudou
durante quatro anos. O primeiro leto a matricular-se na instituição men-
cionada, foi Roberto Sprogis, em 1908, da Igreja Batista de Corumbataí,
São Paulo, igreja constituída só de letos. Mas esse logo adoeceu, não
tendo mais oportunidade de continuar os estudos. (45)
Defrontando-se novamente com o problema da falta de um pastor, a
Igreja de Rio Novo apelou outra vez para a liderança batista da Letônia,
de onde, em agosto de 1905, recebeu, com regozijo, o pastor e professor
Karlis Andermanis. Apaixonado pela obra da evangelização dos brasi-
leiros e vendo as excelentes oportunidades que o campo catarinense ofe-
recia, assim se expressou, em notícia que enviou ao jornal denominacio-
nal da Letônia, depois de dois anos de atividades intensas:
O nosso trabalho pode ser descrito com as seguintes pa-
lavras do Senhor Jesus: "Eis que tenho posto diante de ti uma
porta aberta, a qual ninguém pode fechar, que tens pouca for-
ça, e guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome."
Nas montanhas da Serra, estamos para fundar duas igre-
jas brasileiras. Tenho batizado em Rio Novo crentes brasileiros,
e eles agora pedem ajuda para construir templos para as suas
reuniões. Iremos cooperar com as nossas coletas. O- irmão que
lês esta notícia, não terás um desejo de fazer alguma coisa
através da redação do "Draugs" em favor desta obra? Lem-
bra-te de que eu não tenho nenhuma relação com grandes ou
pequenas sociedades missionárias, mas trabalho com as minhas
poucas forças, juntamente com a igreja de Rio Novo, cum-
prindo a grande tarefa que Jesus nos deixou. Aqui vai o cla-
mor; agora, prova, irmão, que tu tens um coração cheio de
amor para com o povo do Brasil, que é católico. Eu quero aqui
trabalhar e morrer, porque tenho regado esta seara com as mi-
nhas lágrimas, pois que me tenho apaixonado por ela. Tenho
estado em viagens que duram semanas, juntamente com o gru-
po de cantores de Rio Novo, pregando nas casas humildes dos
brasileiros; e parece-me que estou numa terra de sonhos, de
(44) Leimann, Carlos. Entrevista com o autor em Castelo, E. Santo, em 23-10-1965.
(45) Shepard, J. W., "Começos do Colégio e Seminário", O Jornal Batista, Ano VIII, n° 14,
9 de abril de 1908, p. 5.

121
tão grande que é a sede pelo evangelho aqui. Não, tu não fi-
carás indiferente, irmão. Tu intercederás e ajudarás a esta
obra. Quando leres esta nota eu estarei nas montanhas da
Serra por algumas semanas. Eu direi aos brasileiros que te-
nho irmãos na Letônia que oram por eles. (46 ) Fig. 28
O Pastor Karlis Andermanis serviu à Igreja de Rio Novo durante
cinco anos com muita eficiência, comunicando o seu afastamento, por
motivos doutrinários, em dezembro de 1909 e sendo excluído em março de
1910, por sua filiação aos pentecostais de Rio Mãe Luzia. A esta altura, o
Pastor Frederico Leimann, da Igreja Batista de Linha Formosa (alemã),
no Rio Grande do Sul, visitou a Igreja de Rio Novo e conseguiu o in-
gresso desta na recém-fundada Convenção Batista do Rio Grande do Sul,
composta de igrejas alemãs e letas, uma vez que desde novembro de
1907 a igreja se encontrava desligada da União das Igrejas Batistas da
Letônia, decisão que tomara espontaneamente, por ter concluído ser im-
possível manter qualquer tipo de cooperação com ela em bases eficientes,
devido à distância que separava a igreja do campo daquela União. Um
ano depois, porém, a Igreja de Rio Novo veio a saber que não havia sido
recebida na Convenção Batista clo Rio Grande do Sul por não ter enviado
mensageiros a sua Assembléia no ano anterior, quando do seu pedido de
ingresso, embora tivesse contribuído financeiramente com toda a regula-
ridade. Ã vista do ocorrido, a igreja anulou a sua resolução anterior de
filiar-se à referida Convenção, aguardando os acontecimentos. ( 47 )
O trabalho entre os brasileiros, tão bem iniciado pela igreja em tela,
corria perigo de passar aos pentecostais, não fosse a atuação de dois
professores e um fazendeiro, frutos daquele trabalho. Foram eles: Ma-
nuel Bessa, Onofre Borges e Alfredo Stamm; o primeiro, atuante na con-
gregação da Serra da Capivara, e os dois últimos, na de Pedras Grandes.
Os três freqüentemente serviam à Igreja de Rio Novo como obreiros vi-
sitantes, na falta de um pastor, assim abrindo-lhe cada vez mais a visão
das oportunidades de trabalho de evangelização entre os brasileiros. Tam-
bém as visitas dos filhos da igreja — Frederico Leimann e Carlos Lei-
mann — embora mais raras, porém mais prolongadas, contribuíram muito
para dinamizar o trabalho externo, organizando excursões e jornadas
evangelísticas, a cavalo e de trem, a lugares mais distantes, como Tuba-
rão, Criciúma, Laguna, Nova Veneza, Braço do Norte, Brusque e outros.
Carlos Leimann também foi o primeiro a aconselhar a filiação da igreja à
Convenção Batista Brasileira, cuja influência se espraiava cada vez mais
para o sul do país.
Em princípios de outubro de 1911, a Igreja de Rio Novo recebeu no-
vamente, com grande alegria, o Pastor João Inkis, então presidente da
União das Igrejas Batistas da Letônia, que, depois do 2° Congresso da
Aliança Batista Mundial em Filadélfia, Estados Unidos, fez a sua segunda
visita ao Brasil. O Pastor João Inkis permaneceu em Rio Novo dois me-

(46) Andermanis, K., sauciens no Brazilijas" (O clamor do Brasil), Draugs (Amigo),


Riga, n° 47, 10 de novembro de 1907, p. 1.
(47) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Lata de Rio Novo), Livro n° 2, pp. 64 e 74.

122
ses, visitando, reconciliando, consolando e realizando cultos, estudos bí-
blicos, reuniões de oração quase todos os dias, bem como empreendendo
uma grande jornada evangelística à colônia de Rio Mãe Luzia, em que
tomaram parte 28 pessoas, e onde demorou uma semana. Pitoresca é a
descrição do historiador que relata a entrada dos 28 cavaleiros, montados
em animais esbeltos, na cidade de Nova Veneza, cantando um hino mar-
cial, (48) assim arrastando uma grande multidão à praça central, onde
anunciaram a mensagem do evangelho. Foram dias de grandes atividades
e de um verdadeiro refrigério para a igreja. Estudando com os irmãos
de Rio Novo o problema do pastorado, o Pastor João Inkis também acon-
selhou à igreja a sua filiação à Convenção Batista Brasileira, que certa-
mente a consideraria como um dos seus postos avançados no sul, e assim
ajudaria na colocação de um obreiro. ( 49 ) O seu último grande trabalho
em Rio Novo foi a realização de 29 batismos no dia 23 de novembro de
1911, quando, entre os candidatos, encontrava-se também um jovem com
seus quase 15 anos, por nome Reynaldo Purim, mais tarde o conhecidíssi-
mo Dr. Purim, pastor e professor no Rio de Janeiro, tendo pastoreado
várias igrejas e lecionado 16 matérias em dois Seminários Teológicos e
nove Colégios, e que até a data da publicação deste livro, encontra-se em
plena atividade, sempre atualizado com o progresso e desenvolvimento
do conhecimento humano.
Em 1912, o irmão Carlos Leimann aceitou o convite que a igreja lhe
dirigiu através da Junta de Missões Nacionais, para que esta o enviasse
como seu obreiro ao campo catarinense. Ao mesmo tempo que exercesse
as atividades pastorais na igreja, o Pastor Carlos Leimann desenvolveria
também o trabalho de evangelização entre os brasileiros, já iniciado. Em
outubro daquele ano, Carlos Leimann, recentemente consagrado pela igre-
ja Batista de Nova Odessa, e o missionário A. B. Deter, então Secretário
Correspondente e Tesoureiro da Junta de Missões Nacionais da Conven-
ção Batista Brasileira, chegaram ao Rio Novo, onde foram recebidos fes-
tivamente. Do entendimento então havido entre a Junta e a igreja, ficou
acertado que a igreja cooperaria com a Convenção Batista Brasileira e
que esta, através de sua Junta de Missões Nacionais, lhe ajudaria no sus-
tento pastoral com 100 mil réis mensais, cabendo à igreja pagar 50 mil
réis para completar o salário, com a condição de o Pastor Carlos Leimann
dar parte do seu tempo à evangelização de brasileiros. Na mesma ocasião
também foi organizada a Igreja Batista em Pedras Grandes (não em
Pedras Brancas, como consta na História dos Batistas do Brasil, Volume
II) com 20 membros brasileiros da Igreja Batista Leta de Rio Novo, que
assim veio a ser a primeira igreja batista brasileira organizada em terras
catarinenses. (50 ) Também foram dadas credenciais especiais da Igreja
Batista Leta de Rio Novo ao missionário A. B. Deter, para representá-la
na 61 Assembléia Anual da Convenção Batista Brasileira, que se reuniria

(48) Frischenbruder, J., Op. cit., p. 30.


(49) Rio Novas Lattveeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n9 2, p. 77.
(50) Mesquit,., Antônio N. de, História dos Batistas do Brasil, Rio de Janeiro, Casa Publi-
cadora Batista, 1940, Volume II, p. 113.

123
em dezembro de 1912 em Belém do Pará, e solicitar a sua filiação à Con-
venção, o que de fato aconteceu. ( 51)
O Pastor Carlos Leimann desenvolveu um grande trabalho missio-
nário com apoio da Igreja Batista Leta do Rio Novo, não só na vizinhan-
ça da colônia, mas principalmente nas regiões mais distantes, organizando
escolas bíblicas dominicais, pontos de pregação e congregações. Entre-
tanto, a sua permanência à frente da Igreja de Rio Novo foi curta. Durou
apenas pouco mais de um ano. Elaborando um Estatuto para a igreja,
transferindo a propriedade para o nome da igreja, abolindo umas tantas
praxes e costumes no trato de questões disciplinares e ausentando-se da
igreja e da escola freqüentemente por períodos mais ou menos longos,
originaram-se não poucas dificuldades, que foram crescendo a tal ponto
que já não lhe foi possível permanecer à frente da igreja e da escola,
ainda que um grupo razoavelmente grande lutasse por isso. Finalmente,
em junho de 1914, o Pastor Carlos Leimann organizou uma igreja em Or-
leães com os membros da Igreja de Pedras Grandes, alguns letos e brasi-
leiros ali residentes e filiados à Igreja Batista Leta de Rio Novo, e mais
18 irmãos dissidentes desta última, residentes em Rio Novo. A estes úl-
timos a igreja considerou como excluídos, embora tivessem solicitado as
suas cartas de transferência, pois não admitia a idéia de concessão de
cartas a membros residentes na sede, isto é, em Rio Novo. (52 )
Com esta nova base de operações em Orleães, o Pastor Carlos Lei-
mann continuou seu trabalho missionário naquela região até o ano de
1916, quando, a convite do missionário Loren M. Reno, transferiu-se para
o Estado do Espírito Santo. Cinco anos depois, voltou como evangelista
ao campo da Convenção Paraná-Santa Catarina, onde permaneceu até
1927, desenvolvendo um amplo trabalho pelos dois Estados, principalmente
no litoral do Paraná, então inóspito, retornando nesse ano ao Estado do
Espírito Santo, onde serviu até a sua morte em 15 de junho de 1968. (53 )
Seguiu-se um período difícil na vida da igreja, que só não foi agra-
vado graças à assistência que o pastor e professor Guilherme Butler lhe
deu, tanto por correspondência, durante a sua estada no Rio de Janeiro
como professor do Colégio e Seminário Batista, como também com sua
presença durante as férias, que anualmente passava em Rio Novo, até
que, em março de 1919, deixando o magistério no Rio de Janeiro por
motivo de saúde, transferiu-se novamente para Rio Novo, assumindo o
pastorado da Igreja, bem como a direção da escola anexa. Com a cola-
boração do missionário do campo, A. B. Deter, que já se havia fixado em
Curitiba, preparado a organização da Convenção Batista Interestadual
Paraná-Santa Catarina e visitado a Igreja de Rio Novo em janeiro da-
quele ano, conseguiu a unificação das duas igrejas — de Orleães e de Rio
Novo — em 11 de maio de 1919. Naquela data deixou de existir a Igreja

(51) Rio Novas Latweescliu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n" 2, p. 90. Também Convenção Batista Brasileira, Atas da 7'
Assembléia Anual, 1913, o. 3.
(52) Ibid., pp. 140-147.
(53) Leimann, Carlos, Entrevista com autor em Castelo, ES, 23-10-65.

124
Batista de Orleães, (54 ) passando os seus 40 membros, letos e brasileiros,
a pertencer à Igreja Batista Leta de Rio Novo. Na mesma ocasião, ainda
com a presença do citado missionário, a igreja resolveu filiar-se à Con-
venção Batista Interestadual Paraná-Santa Catarina, cuja primeira As-
sembléia já estava marcada para os dias 10 a 13 de junho na Igreja Ba-
tista de Paranaguá. (55 )
Naquela Assembléia estiveram representadas todas as igrejas batistas
dos dois Estados, que eram 9, sendo que as 3 do Estado de Santa Catari-
na eram constituídas de batistas letos. Também os mensageiros dessas
igrejas tiveram papéis preponderantes naquela Assembléia: Roberto Kla-
vin, da Igreja Batista Leta de Rio Novo, foi o que dirigiu o culto de
abertura da Assembléia inaugural da nova Convenção; Guilherme Butler,
pastor da Igreja Batista Leta de Rio Novo, foi eleito Presidente daquela
Assembléia e apresentou um discurso sobre "Educação"; Jacob Klawa,
obreiro da Igreja Batista Leta de Rio Mãe Luzia, que falou aos conven-
cionais sobre "Como os batistas de Curlândia (província da Letônia)
sustentam seu trabalho". (56 ) No noticiário informativo e estatístico
publicado em O Jornal Batista de 25 de março de 1920, o secretário Cor-
respondente da Convenção Paraná-Santa Catarina, missionário A. B.
Deter, assim se expressa:
Este ano marca a entrada das igrejas Letas na coopera-
ção ativa do campo. Estes irmãos são crentes de longos anos
e são os mais experimentados entre todos os nossos obreiros. A
Convenção teve a honra de ter, como presidente, o nosso amá-
vel e dedicado irmão Dr. Guilherme Butler, pastor da igreja
leta de Rio Novo...
Reunir-se-á no dia 15 de maio a segunda reunião dos men-
sageiros das igrejas do nosso campo em Rio Novo, no lindo
templo dos irmãos letos.
Os irmãos mensageiros que tiverem o privilégio de assistir
à Convenção de Rio Novo terão o prazer de ouvir um dos me-
lhores coros da América do Sul. ( 57 )
Na mesma publicação verifica-se a seguinte estatística daquele cam-
po em 1919: Total de igrejas — 9; total de membros nas igrejas — 546;
nas três igrejas letas do campo, que também eram as únicas igrejas ba-
tistas no Estado de Santa Catarina (Rio Novo, Mãe Luzia e Rio Branco
— desta última falaremos mais adiante) — 242 membros, sendo que a
maior de todas as igrejas do campo Paraná-Santa Catarina era a de
Rio Novo, com 148 membros. (58 ) Fato importante referente à Segunda
Assembléia Anual da Convenção Interestadual Paraná-Santa Catarina,

(54) A atual Igreja Batista de Orleães foi organizada pela Igreja Batista de Rio Novo em
1941.
(55) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n° 2, pp. 233-235.
(56) Leal, Hidualpo, "Convenção Batista Interestadual Paraná-Santa Catarina", O Jornal
Batista, Ano XIX, n' 33, Rio de Janeiro, 14 de agosto de 1919, p. 6.
(57) Deter, A. B., "O Campo Paraná-Santa Catarina", O Jornal Batista, Ano XX, n° 13,
Rio de Janeiro, 25 de março de 1920, p. 8.
(58) Id., ibid., p. 9.

125
realizada na Igreja Batista Leta de Rio Novo, foi a presença do Dr. S. L.
Watson, do Rio de Janeiro, que, inspirado no que verificou nas igrejas
letas com respeito à contribuição das escolas anexas, lançou, naquela
oportunidade, um movimento em favor da obra de educação batista no
campo, que alcançou ótimos resultados com a inauguração de escolas
anexas em quase todas as igrejas existentes e as que iam se organizando.
Tal foi a repercussão deste fato, que o Dr. Antônio N. de Mesquita, na
p. 239, do Vol. II da História dos Batistas do Brasil, classificou aquela
Assembléia Convencional como "uma Convenção Histórica".
Quanto à cooperação financeira na extensão do Reino de Deus na
terra e auxílio aos necessitados, a Igreja Batista Leta de Rio Novo ma-
nifestou-se sensível desde os seus primeiros anos de existência. As Atas
de suas sessões estão repletas de provas deste fato. Com freqüência a
igreja levantava ofertas ou destinava somas de suas entradas regulares
para construção de templos de inúmeras igrejas no Brasil e na Letônia;
para publicação de folhetos nos dois países referidos; para o Colégio e o
Seminário do Rio de Janeiro e para o Seminário Batista de Riga; para
seminaristas e pastores enfermos ou idosos; para os flagelados de guerra
na Letônia; para missões na Rússia, na Letônia e na Argentina; para a
obra de Missões Estrangeiras, Missões Nacionais e Estaduais de nosso
país; para a Junta de Escolas Dominicais e Mocidade; para O Jornal
Batista e o jornal denominacional do Estado — O Batista; para campa-
nhas de construção de hospitais; para a "Grande Campanha Batista"
lançada em 1919 etc. Especial menção merece a chamada "Festa da Co-
lheita", realizada anualmente em agosto, no templo da igreja, com vasto
programa variado e banquete, para o qual todos contribuíam em espécie e
do qual todos participavam, inclusive pagando uma entrada, e cujo lucro
era destinado a algum fim externo na promoção da obra de Deus. A
tônica da festa era louvor e gratidão a Deus pelos frutos da terra, a
exemplo das festas de Israel na antiguidade.
Com a imigração dos batistas letos em grande escala, após a I Guer-
ra Mundial, e um certo movimento de êxodo generalizado nas colônias
letas mais antigas do Brasil, a situação das respectivas igrejas sofreu
alterações — umas favoráveis, outras desfavoráveis — razão pela qual a
sua história será completada mais adiante em conexão com o desenvolvi-
mento geral da obra dos batistas letos na Pátria brasileira, que é o ob-
jetivo principal deste trabalho.

3.2 — Em Rio Oratório, Estado de Santa Catarina (1892)


Nos meses de julho e agosto de 1892, chegaram a Rio Novo algumas
famílias letas, batistas e luteranas, que já não encontraram áreas sufi-
cientes na colônia para as suas atividades agrícolas. Forçadas por esta
circunstância, procuraram outro lugar para instalação de uma nova colô-
nia. Orientadas pela mesma empresa colonizadora, a Grã-Pará, foram para
o vale do Rio Oratório, a cerca de 10 km de Rio Novo, onde fundaram
a Colônia do Rio Oratório, a segunda colônia leta no Brasil. Com a che-
gada de mais alguns grupos de batistas letos das colônias da Rússia, or-
ganizou-se a Igreja Batista Lcta do Rio Oratório, portanto, a segunda

126
igreja batista Teta em terras brasileiras, citada várias vezes nas Atas da
Igreja Batista Leta de Rio Novo. Não se conhece com exatidão a data
de sua fundação. Porém, a primeira menção desta igreja nas Atas da
Igreja de Rio Novo é de 27 de novembro de 1892, onde ela já aparece como
igreja independente e autônoma, pois que alguns de seus membros naquela
oportunidade apresentaram-se aos irmãos em Rio Novo, solicitando uma
intervenção, uma vez que haviam sido excluídos de sua igreja, pelo único
motivo de terem participado da Ceia do Senhor na Igreja de Rio Novo,
quando de visita a esta colônia. (5°) Isto nos faz acreditar que a posição
doutrinária daquela igreja fosse a da Ceia ultra-restrita.
Infelizmente não se conservou nenhum registro daquela igreja, que,
aliás, teve uma vida curta, pois que, cerca de um ano e meio depois de
fundada a colônia, a quase totalidade dos letos deixou aquelas terras, por
serem demasiadamente pedregosas e por isso impróprias para lavoura,
mudando-se para a grande Colônia de Ijuí, Município de Cruz Alta, Es-
tado do Rio Grande do Sul, ao lado de imigrantes poloneses e italianos.
Ali o Governo oferecia maiores facilidades na aquisição de terras, que
eram planas e férteis, embora os colonos não recebessem a ajuda oficial
em mantimentos e implementos agrícolas para o primeiro ano de tra-
balho, como acontecia nas colônias do Estado de Santa Catarina.

3.3 — Em Ijui, Estado do Rio Grande do Sul (1893)


O Serviço de Terras e Colonização do Rio Grande do Sul, órgão ofi-
cial para incrementar a colonização no Estado, fundou a Colônia de Ijuí
em 30 de maio de 1890, na vasta região do Vale do Rio Ijuí, formando
assim o 5° Distrito do Município de Cruz Alta. Os primeiros 22 imigrantes
a se estabelecerem na colônia vieram da Rússia czarista e chegaram à
Colônia de Ijuí em 19 de outubro de 1890. Eram os teuto-russos das an-
tigas colônias germânicas de Volínia, região da Ucrânia. Naquele ano
e no seguinte chegaram grupos de poloneses e italianos, e, no fim de 1892,
os primeiros letos que se localizaram nas Linhas 4, 5 e 6 Oeste, setores
em que eram divididas as terras a serem ocupadas pelos imigrantes. ( 60 )
Parece que esses vieram diretamente da Letônia e não eram batistas.
Não há informações seguras neste particular.
Em fins de 1893, chegaram os primeiros batistas letos a Ijuí, vindos
da Colônia de Rio Oratório, Estado de Santa Catarina. Eram eles: João
Alexandre Keidann e esposa, D. Lina — pais do Pastor Rodolfo Keidann
e avós dos pastores Benjamim W. Keidann e João Carlos Keidann,
professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil — e Thomaz
Ukstin, sua esposa, D. Emília, e sua mãe, D. Lavise — pais e avó do
Pastor Carlos Ukstin, muito conhecido no trabalho batista brasileiro.
Penetraram a mata densa por uma picada, a pé, numa distância de 18 km,
para encontrar as demarcações dos lotes que haviam escolhido na planta

(59) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Batista
Leta de Rio Novo), Livro n° 1, p. 13.
(60) Fischer, Martin, "A Colonização de Ijui LIrn retrospecto histórico, sociológico e
étnico", Correio Serrano, Ano II, n° 88, Ijui — RS, 5 de novembro de 1967, pp. 3 a 5.
Edição comemorativa do 502 aniversário.

127
dos agrimensores no "Barracão", local onde hoje se encontra a cidade de
Ijuí, mas que naquela época nada mais apresentava senão um grande
barracão de madeira, destinado à administração do escritório de coloni-
zação, e uma dúzia de barracos menores ao redor. Chegando aos seus lo-
tes, passaram os primeiros dias numa pequena barraca coberta de len-
çóis, até abrirem uma clareira e construírem os seus ranchos. (61)
Já em princípios de 1894, chegou um grande grupo de batistas letos
da Colônia de Rio Oratório e alguns da de Rio Novo, juntando-se depois
outros, vindos das colônias letas da Rússia, assim estabelecendo-se a Co-
lônia Leta de Ijuí, a terceira colônia teta no Brasil. O trabalho duro de
derrubar a mata virgem, plantar as roças repletas de tocos e de raízes
e carregar às costas tudo que necessitavam do ponto de abastecimento
mais próximo, que era o referido "Barracão", até que conseguissem ad-
quirir animais de montaria — nada disto desanimou os novos colonos. O
Diretor da colônia, o eminente Dr. Augusto Pestana, admirava muito
esses imigrantes, pela sua resistência física, força de vontade, inteligên-
cia e religiosidade autêntica, atribuindo a esses fatores o segredo de sua
prosperidade rápida.
Reunindo-se em casas de diversos irmãos para a realização do culto
a Deus, os batistas decidiram, um ano depois de sua fixação nas terras
de Ijuí, fundar a sua igreja. Assim foi que, a 23 de março de 1895, or-
ganizou-se, com 30 membros, a Igreja Batista Leta de Ijui, Linha 10, que
alguns anos depois transferiu-se para a Linha 11, onde permanece até o
presente. Foi a terceira igreja batista leta no Brasil. Não havendo tem-
plo e nem terreno para construção de um templo, a igreja reunia-se, nos
primeiros anos, em casa dos irmãos João Alexandre Keidann e André
Keidann e por vezes na do irmão Jukums (Joaquim) Makevits, sendo que
este último foi o pastor-leigo que dirigiu a igreja durante os primeiros
quatro anos, pregando, batizando, celebrando a Ceia do Senhor, as ceri-
mônias de casamento e funerais e dirigindo as sessões de negócios. Em-
bora sem curso teológico, era dotado por Deus de uma compreensão pro-
funda das Escrituras Sagradas e de senso equilibrado para orientar o
rebanho, tarefa que não era fácil, devido à heterogeneidade deste.
Em fevereiro de 1898, os irmãos construíram, com grande júbilo, o
primeiro templo, que também deveria servir como sede da escola, pois
que os colonos ressentiam-se de uma escola para seus filhos. Porém, a
dificuldade da ocasião era encontrar um professor que dirigisse a escola.
Contudo, dentro de um ano Deus solucionou o problema. Fig. 29
O grande acontecimento dos primeiros anos de vida da Igreja Batista
Leta de Ijuí foi a visita do Pastor João Inkis, enviado pela Sociedade Mis-
sionária de Riga em 1897. Depois de um ano de permanência em Rio
Novo e quatro meses na colônia leta que havia no Município de Blumenau,
ele visitou a colônia leta de Ijuí, demorando-se ali os três primeiros meses
do ano de 1899. O seu trabalho, durante esse curto espaço de tempo, foi
de um valor extraordinário. Sua primeira iniciativa foi a de promover
a reconciliação entre a igreja e um grupo de irmãos que, por desentendi-

(611 Garros, Waldemar, Entrevista com o autor em 20 de julho de 1967, Ijui, Rio Grande
do Sul.

128
mentos sérios, realizava o seu trabalho à parte. Em seguida, atacou o
problema da instrução. Não havia professor, embora os irmãos tivessem
feito grande esforço para manter a escola que funcionava no templo. O
Pastor João Inkis mostrou a necessidade de a igreja patrocinar a escola e
convidar também os letos luteranos e alemães da vizinhança a cooperar.
Em poucas semanas a coordenação dos esforços estava feita, um mobi-
liário modelar para a escola preparado peles irmãos letos, e, com grande
festividade, presentes as autoridades da Colônia e o pastor luterano,
representando a comunidade alemã, foi inaugurada a "Aula Lata" (Assim
se denominou a escola), onde se ensinava Leto, Português, Alemão e ou-
tras disciplinas. Naqueles dias estava em Ijuí, em visita aos pais, o Prof.
André Gailis, de uma escola urbana da Argentina, que alguns anos atrás
havia deixado a Colônia de Rio Oratório, em Santa Catarina, para tentar
melhor sorte na república vizinha. O Pastor João Inkis convenceu-o de
que melhor serviço estaria prestando se aceitasse a escolha de Ijuí, onde
filhos de seus patrícios necessitavam de quem os guiasse pela estrada lu-
minosa da instrução com temor de Deus. O Prof. André Gailis aceitou o
convite e de fato prestou um grande serviço à mocidade de Ijuí, numa
vasta região, onde não havia uma só escola. (62,) Interessante é lembrar
que, na falta de cartilhas para o grande número de crianças, o referido
professor improvisou um curioso abecedário de composição, que hoje
pode ser visto no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, no Rio de Janeiro, GB. Figs. 30 e 31
Outro esforço do Pastor João Inkis foi organizar a vida social da
colônia leta de Ijuí, à semelhança do que havia feito em Rio Novo, inclu-
sive com Departamento do Cemitério e Departamento dos Correios, que
funcionaram por muitos anos. ( 63) Também dedicou-se à evangelização,
especialmente dos alemães da Linha 5, onde foram ganhas várias almas
para Cristo e firmado um trabalho permanente. Durante a visita a Ijuí,
o Pastor João Inkis batizou 12 novos convertidos, (64) realizou reuniões
de diversas naturezas, especialmente de estudos bíblicos, de oração e
santificação, bem como programas de inspiração missionária, visando à
motivação da mocidade. Na volta de Ijuí, em abril de 1899, passando por
Porto Alegre, o Pastor João Inkis visitou ali a recém-organizada igreja
batista constituída de irmãos alemães, então a terceira igreja batista
organizada no Estado do Rio Grande do Sul e a única na capital gaúcha.
Na ordem cronológica, as três primeiras igrejas batistas fundadas no
Estado do Rio Grande do Sul foram as seguintes: Igreja Batista de Linha
Formosa, alemã (5/11/1893) ; Igreja Batista Leta de Ijuí (23/3/1895) ;
e Igreja Batista de Porto Alegre, alemã (1899), que foi organizada com 8
membros. (65 ) Na visita do Pastor João Inkis atrás referida, logo no
início da história da igreja de Porto Alegre, ocorreu algo na obra mis-
sionária no sul do Brasil em que aquele pastor teve participação interes-

(62) Inkis, J., ''Latweeschi Brazilijâ" (Letos no Brasil), J. A. Freija Latweeschu Familijas
Kalendars 1901 (Almanaque da Familia Leta, de J. A. Freijs, 1901), Riga, p. 118.
(63) Daniel, Alberto, Entrevista do autor, em 16 de julho de 1967, Ijui, Rio Grande do Sul.
(64) História da Epreja Baptista Letta em I juhy, de 1895-1920, Ijui, 1920, p. 2.
(65) Crabtree, A. R., Op. cit., pp. 313-315.

129
sante. Eis o que nos informa o pesquisador da História Batista no Brasil,
Pastor Jair C. de Castro, do Departamento de Estatística e História da
antiga Junta de Escolas Dominicais e Mocidade da Convenção Batista
Brasileira, quando trata dos primórdios da Igreja Batista de Porto Alegre:
A necessidade imediata e cada vez mais premente era a de
um pastor efetivo. Alertada convenientemente sobre as atri-
buições do ancião e diáconos pelo Pastor J. Inkis, enviado à
América do Sul pela Missão Leta de Riga, a igreja pediu a
vinda de um pastor ao Comitê Geral das Missões dos Batistas
Alemães dos EE.UU., que enviou o evangelista Heinrich Sch-
wendener para estudar aqui as possibilidades de um trabalho
missionário mais amplo.
Foram suas recomendações ao Comitê Geral das Missões
que determinaram a vinda ao país do missionário Karl Roth no
ano 1901, quando o trabalho tomou novo impulso. (66)
Assim, mais uma vez surge a figura dinâmica do Pastor João Inkis
na promoção da obra missionária no Brasil naqueles dias primitivos, e
desta vez entre os alemães, com os quais já vinha mantendo relações bas-
tante cordiais tanto em Rio Novo como em Mãe Luzia, Blumenau, Ijuí e
agora em Porto Alegre. Embora neste último lugar se tratasse de mera
visita de passagem, não deixou de ser significativa para o trabalho ba-
tista alemão no Rio Grande do Sul, consoante a nota de pesquisa atrás
inserida, bem como para a Igreja Batista Leta de Ijuí, como veremos
mais adiante, e para a obra batista em geral, conforme a referência já
feita no tópico sobre a Igreja de Rio Novo.
Heinrich Schwendener, enviado especial do Comitê Geral das Missões
dos Batistas Alemães dos EE.UU., visitou a Igreja de Ijuí em abril de
1900. Este verificou que as três igrejas batistas existentes no Estado do
Rio Grande do Sul — duas alemãs (em Linha Formosa e em Porto Alegre)
e uma leta (Ijuí) — com mais quatro igrejas letas no Estado de Santa
Catarina, constituíam uma excelente base para a obra missionária entre
os alemães nos dois Estados sulinos. Voltando aos EE.UU., logo reco-
mendou a vinda de um missionário ao Brasil que coordenasse a coopera-
ção dessas igrejas para a promoção desta obra. Assim, no ano seguinte
chegou o missionário Carlos Roth e no mês de julho visitou a Igreja de
Ijuí, da qual conseguiu amplo apoio para a realização dos seus planos.
Em maio de 1902 voltou à Igreja Batista Leta de Ijuí para novos contatos,
realizando estudos, aconselhando, batizando e coordenando planos. No
ano seguinte, abrindo o seu Seminário em Porto Alegre e lá recebendo
os quatro primeiros estudantes letos já mencionados, recomendou à Igreja
Batista Leta de Ijuí, um deles, Alexandre Klavin, com auxílio garantido
para seu sustento pela Junta Missionária Alemã dos Estados Unidos da
América do Norte. Em março de 1904 o Pastor Alexandre Klavin assu-
miu o pastorado. (67 )

(66) O Estatisfa, Boletim do Departamento de Estatística e História da Junta de Escolas


Dominic's e Mocidade da Convenção Batista Brasileira, Ano 6, 2' quinzena de janeiro de
1959. n' 2. p. 1.
(67) 1-lis,toria da Egreja Baptista Letta de Ijuhy, de 1895-1920, Ijuí, 1920, pp. 2-3.

130
No mesmo ano, o Pastor Alexandre Klavin convidou o jovem profes-
sor e poeta Ansis Elberts, de Rio Novo, para assumir a direção da escola
anexa, que o prof. André Gailis havia deixado após 6 anos de gestão. O
novo professor reorganizou a escola, ampliou o seu currículo, incluindo
todo o programa das escolas oficiais e enriquecendo-o com outras disci-
plinas úteis, a exemplo da escola da Igreja Leta de Rio Novo, Santa Ca-
tarina, e publicou, em 1907, em língua leta, o seu livro Deenvidus Ameri-
kas walstju geografija un Brazilijas wehsture (Geografia dos países sul-
-americanos e História do Brasil), que foi impresso em Riga, Letônia, e
largamente divulgado, tanto na Letônia como nas colônias letas do Brasil,
para instrução dos imigrantes letos, o qual hoje pode ser visto no Museu
Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
GB.
Outro aluno leto do Seminário de Carlos Roth, Frederico Leimann,
visitou a Igreja Batista Leta de Ijuí durante as férias de 1904/05, reali-
zando um intenso trabalho evangelístico entre letos, alemães e brasileiros,
dando, assim, um grande impulso missionário à igreja. De acordo com
os planos de Carlos Roth, a Igreja Batista Leta de Ijuí — na ocasião
também a maior — e a Igreja Alemã de Linha Formosa, uma vez que
incluídas no campo missionário da Junta Alemã, deveriam servir de base
para a obra missionária naquela região do Estado do Rio Grande do Sul.
A Igreja Alemã de Linha Formosa já havia recebido nas férias de 1903/04
a visita de Ricardo J. Inke, outro estudante leto de Carlos Roth, que nas
férias de 1904/05 foi enviado às colônias alemãs da Argentina, onde,
depois de concluídos os estudos, foi pastorear, por 5 anos, a Igreja Ba-
tista de Ebenézer, na província de Entre Rios. (68 ) Estando em Ijuí, nas
férias já referidas, Frederico Leimann visitou a colônia alemã de Neu-
-Württemberg, hoje Panambi, onde Carlos Roth havia feito os dois
primeiros batismos em agosto de 1901. A atuação de Frederico Leimann
nessa oportunidade deu tal impulso ao trabalho que 8 novos crentes fo-
ram batizados por ele — cinco no dia 1° de janeiro de 1905 e três no
dia 6 do mesmo mês. Quando Carlos Roth voltou àquela colônia alemã em
abril do mesmo ano e batizou mais uma jovem convertida, verificou a
necessidade de organizar ali uma igreja batista, o que ocorreu em 23 de
março de 1906. Dos 11 membros fundadores, 8 haviam recebido o batismo
pelo ministério de Frederico Leimann. ( 09 )
Os crentes batizados em Neu-Württemberg eram arrolados na Igreja
Batista Leta de Ijuí, de onde foram demissoriados por ocasião da organi-
zação da Primeira Igreja Batista Alemã de Neu-Württemberg. (70 ) Fre-
derico Leimann não teve oportunidade de estar presente ao ato da orga-
nizarão da igreja, presidido por Carlos Roth, porém pouco depois teve o
privilégio de presidir a cerimônia da inauguração do primeiro templo da

(68) Inke, Ricardo J., Dienas Grahmatina (Pequeno Diário), 29 caderno, Manuscrito inédito
que se encontra no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro. GB.
(69) Grellert, O., 50 Jahre Baptistengemeinde 'Imanuer Panambi, 1906-1956. (50 anos da
Igreja Batista 'Imanuel' r Panambi, 1906-1956), Editora Metropolitana, Porto Alegre, pp.
16 e 17.
(70) História da Egreja Baptista Letta em I juhg, de 1895-1920, Ijui, 1920, p. 3.

131
igreja, em que tomou parte também seu irmão Guilherme Leimann, ( 71 )
outro estudante leto do seminário de Carlos Roth e mais tarde pastor da
Igreja Batista Leta de Ijuí. Uma caravana de 35 irmãos da Igreja Ba-
tista Leta de Ijuí, percorreu, a cavalo, 7 léguas, até Neu-Württemberg,
para acompanhar os pregadores Frederico e Guilherme Leimann por oca-
sião da inauguração do primeiro templo daquela igreja, numa demons-
tração entusiástica de apoio ao incipiente trabalho entre alemães e de
alegria pelo progresso da obra de Deus. ( 72 )
Interessante é notar que 22 dias antes de se organizar a igreja ale-
mã de Neu-Württemberg, isto é, a 1' de março de 1906, "o seminarista,
agora Pastor J. Nettenberg, leto, foi empossado" para dirigir a congre-
gação, ( 73 ) e nesta capacidade continuou à frente da igreja. Nesse pas-
torado, de apenas um ano, foram estabelecidos os primeiros contatos dos
irmãos batistas alemães com os brasileiros, com fins evangelísticos, e
colhidos os primeiros frutos com o batismo dos irmãos Demétrio de
Araújo (15-7-1906) e sua esposa, Maria (1-4-1907). (') Após a saída
do Pastor J. Nettenberg para pastorear a Igreja Batista Leta de Ijuí, o
Pastor Frederico Leimann tornou a dar a sua cooperação à Igreja Batista
Alemã de Neu-Württemberg, como auxiliar do missionário Carlos Roth,
até que, de 1910 passou a ser o seu pastor visitante, até 1913. ( 75 ) Assim,
cerca de 8 anos aquela igreja, nos seus primórdios, recebeu a cooperação
e liderança dos letos. Fig. 32
Voltando à atuação de Frederico Leimann na Igreja Batista Leta du-
rante as férias de 1904/05, temos que nos referir ao início que ele deu
ao trabalho de evangelização dos brasileiros e alemães nas redondezas de
Ijuí. Pregando em três línguas — leta, alemã e portuguesa — levando o
coro da igreja e quartetos masculinos em suas viagens missionárias, pro-
movendo grandes reuniões evangelísticas na sede da igreja, com progra-
mas ricos em conteúdo musical — cânticos pelo coro misto e coro mascu-
lino, quartetos, duetos, solos e música instrumental (violinos, clarinetes,
flautas) — Frederico Leimann imprimiu à igreja um ritmo evangelís-
tico e missionário que perdurou por muitos anos. (76 ) O primeiro fruto
colhido entre os brasileiros foi o irmão Sylvestre Joaquim da Rosa, índio
civilizado, veterano da guerra do Paraguai, que foi batizado por Fre-
derico Leimann em 25 de janeiro de 1905. Fig. 33
Entretanto, apesar de todas as perspectivas favoráveis ao desen-
volvimento de um grande trabalho em torno da Igreja Batista Leta de
Ijuí, naquele mesmo ano, tão bem iniciado com a atuação dinâmica de
Frederico Leimann, tiveram lugar certas ocorrências que travaram a boa
marcha da obra. Em abril um grupo de irmãos letos, insatisfeitos com a

(71) Grellert, O., Op. cit., p. 19.


(72) Shepard, 1. W., "O Começo do Colégio e Seminário'', O Jornal Batista, Ano VIII, n' 14,
9 de abril de 1908, p. 7.
(73) Grellert, O., carta dirigida ao autor em 10 de março de 1966, que se encontra no
Arquivo do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janei-
ro, GB.
(74) Id., op. cit., p. 108.
(75) Id., carta dirigida ao autor em 10 de março de 1966.
(76) Questionário de pesquisa.

132
liderança da igreja, separou-se e considerou-se uma igreja sem qualquer
ato de organização formal ou apoio moral de outras igrejas, como já
havia feito um outro grupo oito anos antes, o qual, graças à habilidade do
Pastor João Inkis, em 1899 voltou ao seio da igreja. Retiraram-se tam-
bém os irmãos alemães da Linha 5, congregação que havia surgido por
ocasião da visita do Pastor João Inkis às igrejas batistas letas do Brasil.
Porém, o golpe mais doloroso foi o falecimento do pastor da igreja, Ale-
xandre Klavin, a 18 de julho de 1905, apenas 16 meses depois de em-
possado no pastorado. ( 77 )
Em 1906 a igreja continuou no seu ritmo na evangelização dos bra-
sileiros, mantendo um evangelista brasileiro, irmão Paulo Malaquias Man-
cha, que passou a desenvolver o trabalho em diversos lugares. Em prin-
cípios de 1907 assumiu a direção da igreja o pastor leto João Nettenberg,
que tendo deixado o pastorado da Igreja Alemã de Neu-Württemberg,
impulsionou ainda mais o trabalho entre os brasileiros. Mas o seu pas-
torado não foi além do fim daquele ano devido a certos problemas que
surgiram em torno de sua pessoa. Amargurado, deixou o pastorado e
morreu alguns anos depois.
Em 1908 o Pastor Frederico Leimann deu assistência pastoral à
Igreja Batista Leta de Ijui, contando com a cooperação do evangelista
Paulo Malaquias Mancha. Em agosto daquele ano o missionário Carlos
Roth, já na viagem de despedida do seu campo de trabalho, uma vez que
deixaria o Brasil, visitou novamente a igreja, levando consigo o recém-
-consagrado pastor, seu aluno, Guilherme Leimann. Depois de vários dias
de atividades com a igreja, esta convidou o Pastor Guilherme Leimann
para assumir o seu pastorado. Aceito o convite, o novo pastor foi empos-
sado pelo missionário Carlos Roth no dia 19 de setembro de 1908. ( 78 )
Diga-se de passagem, este foi o pastorado local mais longo que aquela
igreja já teve, pois que durou 15 anos, ou seja, até 1923, ainda que pos-
teriormente houvesse um outro pastorado longo, de 21 anos, porém com
apenas 9 anos de residência do obreiro na colônia. Fig. 34
Durante o pastorado de Guilherme Leimann, a Igreja Batista Leta
de Ijuí viveu a sua época de florescimento, de expansão e de prosperi-
dade, ainda que não isenta de dificuldades internas, por vezes, e alguns
problemas sérios em suas relações cooperativas com o primeiro missio-
nário da Missão Batista Americana Brasileira — A. L. Dunstan — que
cooperava com a Convenção Batista Brasileira.
Ainda em 1908 Guilherme Leimann, acompanhado de seu irmão Fre-
derico, chegou a Ramadas, ou Linha 1, onde encontrou quatro pessoas
convertidas, com as quais deu início ao trabalho batista naquela locali-
dade. ( 79 ) Aqueles irmãos sofreram grandes perseguições, até com sério
risco de vida, e o Pastor Guilherme Leimann teve que sustentar forte
polêmica com o sacerdote católico local, após o que o trabalho prosperou

(77) História da Egreja Baptista Letta em ljuhy, 1895-1920, Ijui, 1920, p. 3.


(78) Ibid., p. 3.
(79) Leimann, G., Ramadas draudze (Igreja de Ramadas), manuscrito em leto, inédito, de
memórias sobre os começos do trabalho batista em Ramadas; do arquivo de Júlio Malves,
cedido pela familia Malves ao Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, Rio de Janeiro, GB.

133
magnificamente, até que em 1917 foi organizada uma igreja, que pros-
perou por muitos anos, continuando sob o pastorado de Guilherme Lei-
mann até 1919, quando, por absoluta falta de possibilidade de assistência
de que necessitava, passou para o campo missionário dos batistas suecos
ou a chamada Missão Batista Rio-grandense, que já vinha exercendo as
suas atividades naquela região gaúcha desde 1912. (80 )
Na ata de 27 de setembro de 1908 a Igreja Batista Leta de Ijuí re-
gistra o estabelecimento de uma congregação em Santo Ângelo, fruto
do dinamismo de Frederico Leimann. Ainda no mesmo ano Frederico
Leimann, pastor da Igreja alemã de Linha Formosa, nas suas intensas
atividades evangelísticas, descobriu, depois de uma viagem de mais de
500 km a cavalo, três famílias batistas de origem alemã, emigradas da
Rússia, na Colônia de Guarani, Linha República. Estas já vinham reali-
zando os seus cultos, mas sem um obreiro que lhes pudesse dar assis-
tência mais adequada e imprimir um desenvolvimento à pequena con-
gregação. Sendo para o Pastor Frederico Leimann muito difícil visitar
aquela congregação com regularidade, devido à grande distância, reco-
mendou-lhes o seu irmão Guilherme Leimann, pastor da Igreja Batista
Leta de Ijuí. Quando este visitou aqueles irmãos, eles o elegeram seu
pastor e filiaram-se de pronto à Igreja Batista Leta de Ijuí. Em pouco
tempo ali desenvolveu-se um próspero trabalho, sempre contando cem a
cooperação de irmãos letos de Ijuí, que sacrificavam dois ou três dias
por mês para acompanhar seu pastor, cantando, declamando e ensinando,
até que em 9 de abril de 1911 foi organizada uma igreja batista com 48
membros, (81 ) que passou a ser visitada regularmente pelo Pastor Gui-
lherme Leimann durante vários anos, permanecendo dias e até semanas
inteiras em atividades evangelísticas, que mais tarde frutificaram em
quatro igrejas. (82)
Fato interessante é que em maio de 1909 a Igreja Batista Leta de
Ijuí tornou-se o berço da Convenção das Igrejas Batistas do Rio Grande
do Sul, hoje conhecida como Convenção Batista Pioneira do Sul do Brasil.
O conclave foi realizado em quatro línguas — português, leto, alemão e
tcheco. Isto porque os núcleos coloniais das diferentes nacionalidades
conservavam a sua herança cultural própria, visto que a cultura brasi-
leira naquele tempo ainda estava longe de penetrar naquela região. Após
a retirada do missionário Carlos Roth para a América do Norte, a lide-
rança da obra missionária passou às mãos de Frederico Leimann, um dos
discípulos mais antigos e mais identificados do campo, mercê as longas
viagens pelo mesmo e o manejo de várias línguas faladas nas diversas
colônias. Assim, sob a sua dinâmica liderança, surgiu a Convenção, ideal
já acalentado e até certo ponto elaborado pelo seu mestre, Carlos Roth.

(80) Sundbeck, C. A., "A Missão Batista Rio-grandense", O Jornal Batista, Ano XXIII, n9
45, 8 de novembro de 1923, p. 7. Também Svensson, Carl, "Rio Grande do Sul", O Jornal
Batista, Ano XX, n' 14, I de abril de 1920, p. 11.
(81) Grellert, O., carta dirigida ao autor em 10 de março de 1966.
(82) Leimann, G., Guaranijas draudze (A Igreja de Guarani). Manuscrito em leto, inédito,
constando memórias sobre o trabalho batista em Guarani. Arquivo de Júlio Malves. Encon-
tra-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.,
cedido pela família Malves.

134
O historiador da Igreja Batista Leta de Ijuí registra o fato como auspi-
cioso para a obra e particularmente honroso para a igreja. Mas passe-
mos a palavra ao historiador da Convenção Batista Pioneira do Sul do
Brasil sobre a histórica reunião de Ijuí em 31 de maio de 1909:
A Ata da Organização da Convenção diz que a questão da
fundação já havia sido ventilada por todas as igrejas, e, depois
de um entendimento entre as igrejas a este respeito, a Igreja
de Ijuí (Leta) convidou as Igrejas e Congregações existentes
para uma festa de confraternização (Vereinigungsfest). Esta-
vam presentes todos os irmãos da igreja hospedeira, irmãos de
Panambi, de Ramada, Invernada, Guarani (República), irmãos
tchecos e o Pastor F. Leimann, único da Igreja Formosa. Estes
irmãos convidados, num ambiente festivo, deliberaram fundar
a Convenção Batista do Rio Grande do Sul. Consta nesta ata,
que os irmãos falaram e oraram em 4 idiomas: português, leto,
checo e alemão. Estatutos provisórios foram elaborados e um
Comitê (provisorisches Komitee) votado. Esta grande reunião
em Ijuí, no domingo de Pentecostes, 31 de maio de 1909, tinha
um caráter deliberativo e provisório. Não foi considerada esta
reunião como a primeira Assembléia constituída da nova Con-
venção. Ao Comitê provisório pertenceram os seguintes ir-
mãos: F. Leimann, presidente; T. Ukstin, vice-presidente; W.
Leimann, secretário; e os irmãos G. Feuerharmel e R. Feuer-
harmel como primeiro e segundo tesoureiros. A última deli-
beração da reunião de Ijuí é a seguinte: 'Es wurde beschlossen,
dass so Gott Will, die erste Konferenz zu Pfingsten im nãchsten
Jahr auf Linha Formosa stattfinden soll.' Tradução: 'Foi de-
liberado que, se Deus quiser, a primeira Assembléia da Con-
venção será realizada no domingo de Pentecostes do próximo
ano, em Linha Formosa.' (83)
Embora a referida reunião não fosse "considerada" como a primeira
Assembléia da "nova Convenção" — e não nos é dado saber o motivo —
qualquer leitor entenderá que de fato foi ali, no seio da Igreja Batista
Leta de Ijuí, que aquela Convenção nasceu, pois na primeira Ata já se
fala de algo existente, designado como a "nova Convenção", e seu ca-
ráter provisório não lhe poderia negar a existência. Irmãos de quatro
nacionalidades, sem qualquer distinção racial, crentes zelosos como eram,
uniram suas forças, seus ideais e suas experiências para um trabalho
comum na promoção do Reino de Deus. Contudo, curioso é notar que
coube aos letos, por vários anos, a liderança desse trabalho. Dos cinco
membros do Comitê provisório eleito na histórica reunião realizada na
Igreja Batista Leta de Ijuí, três eram letos — F. Leimann, T. Ukstin e
W. Leimann (trata-se de Guilherme Leimann). Na assembléia conven-
cional do ano seguinte, compareceram 7 mensageiros de fora, dos quais 5

(83) Grellert, O., carta dirigida ao autor em 10 de março de 1966, que se encontra nos
Arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
GB.

135
ietos, e quanto à liderança "a comissão provisória agora se transformou
em Diretoria da Convenção. Os mesmos irmãos foram confirmados. Fora
da igreja hospedeira, os alemães não estavam presentes, só por cartas."
(84 ) Na Assembléia de 1911, realizada novamente na Igreja Batista de
Ijuí, dos quatro membros da diretoria, dois eram letos — Frederico Lei-
mann, presidente, e Guilherme Leimann, secretário, e os trabalhos trans-
correram em 3 línguas — leto, alemão e português. Na Assembléia rea-
lizada em 1912 na Primeira Igreja Alemã em Neu-Württemberg, foi re-
eleita a diretoria do ano anterior. O Pastor Frederico Leimann permane-
ceu na presidência da Convenção até 1915 e seu irmão, Guilherme Lei-
mann, foi membro da diretoria até 1920, ano em que a Igreja Batista
Leta de Ijuí hospedou pela última vez aquela Convenção. ( 85 )
Ainda outro fato relevante para a Igreja Batista Leta de Ijuí ocor-
reu em 1909: o auxílio que passou a receber da Junta Alemã para o sus-
tento do seu obreiro, com a condição de que este desse parte do seu tempo
à atividade missionária na redondeza próxima e distante. Isto veio ao
encontro dos anseios do obreiro e da igreja, que já haviam dado provas
sobejas de interesse missionário. Este auxílio cessou em fins de 1914,
quando Guilherme Leimann, a pedido de sua igreja, não aceitou a sua
transferência para a Igreja Alemã de Linha Formosa em substituição
ao seu irmão Frederico, que havia se transferido para a Missão Alemã
da Argentina. Para garantir o seu sustento, Guilherme Leimann, ainda
a pedido de sua igreja, aceitou a sua nomeação oficial como professor
da escola primária anexa à igreja, que vinha se ressentindo da falta de
um mestre. (86 )
Em 1910, o Pastor Guilherme Leimann visitou a colônia militar do
Alto Uruguai, na fronteira com a Argentina, em companhia de um irmão
de Ramadas, que num encontro algures havia oferecido um Novo Tes-
tamento a um cidadão por nome Thealdo, inspetor da Colônia. Para atin-
gir aquela colônia, viajava-se três dias a cavalo naqueles tempos. De-
morando-se ali alguns dias, visitaram muitas casas e realizaram vários
cultos. Naquela mesma ocasião o Pastor Guilherme Leimann batizou, no
rio Uruguai, à maneira de João Batista — sem qualquer sessão de igreja
— os irmãos Pedro e Carlos Thealdo, que ali mesmo, à beira do rio, fi-
zeram a sua profissão de fé, sendo depois arrolados na Igreja Batista
Leta de 'jul. Em suas memórias sobre as atividades missionárias que
desenvolveu no campo da Igreja Batista Leta de Ijuí, escreve o Pastor
Guilherme Leimann, quando relata os primórdios do trabalho batista em
Alto Uruguai:
Após cada visita, aqueles irmãos, no ato da despedida, re-
solvem acompanhar-nos até uma certa distância fora da co-
lônia. Assim percorrem, a pé, vários quilômetros. No momen-
to em que nos separamos indagam, com lágrimas nos olhos,
quando tornaremos a visitá-los. Isto causa-nos uma profunda

(84) Id., ibid.


(85) Id., ibid.,
(86) História da Egreja Baptista Letta de I juhy, 1895-1920, Ijui, 1920, pp. 3 e 4.
136
dor no coração. Que resposta seria possível dar? A grande
necessidade da assistência espiritual está diante dos nossos
olhos. Mas em outros lugares vemos a mesma necessidade. O
primeiro domingo de cada mês passamos com a Igreja Lata
de Ijuí. Ali, além dos letos, reúnem-se brasileiros, alemães,
boêmios, italianos e um sueco (na Colônia de Ijuí há ao todo
16 nacionalidades). O culto na igreja leta começa às 10 horas
da manhã e é preciso celebrá-lo em três línguas — leto, portu-
guês e alemão. Seguem-se a sessão da igreja, batismos e a Ceia
do Senhor, terminando os trabalhos lá pelas 4 horas da tarde.
O segundo domingo passamos em Ramadas; o terceiro em In-
vernada; o quarto em Guarani. Estando nestes lugares apenas
uma vez por mês, percorre-se mais de 400 quilômetros. ( 87 )
Nas condições de mais de sessenta anos atrás, quando o melhor meio
de transporte era a montaria, as viagens, além de serem penosas, con-
sumiam cerca de um terço do tempo disponível. Daí o problema de en-
contrar ocasião para cuidar também da congregação de Alto Uruguai.
Contudo, o trabalho ali prosperou, mesmo com as visitas esporádicas do
pastor e de outros irmãos — tanto de Ijuí como de Ramadas — até que,
em 1913, aqueles irmãos, liderados por A. L. Dunstan, solicitaram cartas
de transferência da Igreja de Ijuí, para se organizarem em igreja. (88 ) A
Igreja Batista Leta de Ijuí apresentava, em 1910 a seguinte estatística:
número de membros, 153; sendo 71 letos, 62 brasileiros, 12 alemães, 6
boêmios (checos) e 2 italianos. (89 ) Diga-se, porém, a bem da verdade,
que os anos de 1911 a 1913 foram bastante dolorosos para a Igreja Ba-
tista Leta de Ijuí. Trata-se de uma atitude estranha, perturbadora e in-
feliz, tomada pelo missionário A. L. Dunstan para com a Convenção das
Igrejas Batistas Alemãs do Rio Grande do Sul — nome que havia ado-
tado a Convenção das Igrejas Batistas do Rio Grande do Sul — especial-
mente para com a Igreja Batista Leta de Ijuí, procurando separar os
irmãos brasileiros, arregimentar os descontentes da igreja, para organi-
zar uma outra igreja na Linha 11, o que de fato conseguiu em 1912. ( 90 )
Também atraiu para a sua missão a congregação de Invernadas, à qual
a igreja concedeu 28 cartas de transferência em abril de 1911, para se
organizar em igreja, e a congregação de Alto Uruguai, como já foi dito
atrás. (91 ) Além destas, outras atitudes lamentáveis, produzindo exalta-
ção de ânimos e julgamentos distorcidos e suspeitos, causaram sérios em-
baraços na integração das igrejas batistas de origem estrangeira do Rio
Grande do Sul na obra batista brasileira, situação que só veio a modi-

(87) Leimann, G., Alto Uruguajs draudze (Igreja do Alto Uruguai), manuscrito em leto
inédito, constando memórias dos primórdios do trabalho batista em Alto Uruguai; do arquivo
particular de Júlio Malves. Encontra-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB., cedido pela família Malves.
(88) História da Egreja Baptista Letta de I juhy, 1895-1920. Ijui, 1920, p. 4.
(89) Folha solta de um relatório encontrada pelo autor num antigo livro de Atas da Igreja
Batista Leta de Ijui, em 1967.
(90) História da Egreja Baptista Letta de I juhy, 1895-1920, Ijui, 1920, p. 4. Também
Garros, Waldemar, entrevista com o autor, Ijui, Rio Grande do Sul, em 20 de julho de 1967.
(91) Ibid., p. 4.

137
ficar-se anos depois, com a ação inteligente do missionário Harley Smith
e outros. (92 )
Em 1915, os irmãos da congregação de alemães e checos da Linha
14, retiraram suas cartas de transferência para se unirem à Igreja Alemã
de Neu-Württemberg, o que reduziu bastante o número de membros da
Igreja Leta.
Importante é citar o fato de que em junho de 1916, a Igreja Batista
Leta de Ijuí filiou-se à Convenção Batista Brasileira, tendo enviado o
seu pastor à Assembléia Anual da Convenção, em São Paulo. ( 93) Em 8
de abril de 1917, a congregação de Ramadas organizou-se em igreja, com-
posta exclusivamente de irmãos brasileiros — em número de 25 — mas
que escolheram para seu pastor o obreiro leto — Guilherme Leimann,
que continuou no pastorado até 1919.
Acontecimento relevante, ocorrido no dia 21 de outubro de 1917, foi
a inauguração do novo e amplo templo da Igreja Batista Leta de Ijuí, no
qual participaram cerca de 500 pessoas, entre elas muitos representantes
das igrejas da região e autoridades municipais. No ano seguinte, ocorreu
a construção e inauguração do novo prédio para a escola anexa. Esses
dois fatos deram uma projeção notável à igreja no meio social. As festi-
vidades comemorativas de datas históricas nacionais, e algumas referen-
tes à história da Letônia, celebradas no templo, por muitos anos eram
pontos de atração de toda a população, devido ao estilo de programações,
comuns entre os letos, em que o patriótico, o social e o religioso eram
ingredientes de tal modo combinados que faziam da festa algo que dei-
xava uma profunda impressão na alma do povo, ao mesmo tempo desper-
tando uma apreciação pelos valores reais da vida. Fig. 35
Ao término da I Guerra Mundial, quando o movimento imigratório
havia sofrido total interrupção e a evangelização dos alemães e brasilei-
ros havia tomado maior incremento por parte das respectivas Conven-
ções, a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11 Leste, estava reduzida a
80 membros, (94 ) seu pastor sobrecarregado com responsabilidades de
três pastorados e direção de uma escola anexa oficial, problemas de uma
cisão e as relações cooperativas cortadas com o já referido missionário do
campo, que havia organizado outra igreja cerca de um quilômetro dis-
tante da sede da primeira. Infelizmente esta última circunstância, que
causou um quase total isolamento da igreja dentro do seu próprio campo,
perdurou por alguns anos, custando-lhe, bem como a seu pastor, imensos
sacrifícios e dores, chegando este a ser exonerado do cargo em 1923,
quando os missionários suecos Janson, Sundbeck e Spore foram solicita-
dos a colaborar na orientação da igreja até que a situação se normali-
zasse e fosse encontrado um obreiro que pudesse conduzir a igreja num
clima de paz e segurança. (95)

(92) Mesquita, António N. de, História dos Batistas do Brasil, Rio de Janeiro, Casa Publi-
cadora Batista, 1940, V. II, p. 236.
(93) História da Egreja Baptista Letta de I juhy, 1895-1920, Ijui, 1920, p. 5.
(94) Vereinigung der Deutschen Baptisten Gemeinden Rio Grande do Sul, Mãrz 9-11. 1919,
(Convenção das Igrejas Batistas Alemãs do Rio Grande do Sul, março 9-11, 1919), p. 2.
(95) Garros, Walderrar, Entrevista com o autor, Ijui, Rio Grande do Sul, em 20 de julho de
1967.

138
Encerrando este primeiro período da história da Igreja Batista Leta
de Ijuí — Linha 11 Leste, que abrange pouco mais de 25 anos de sua
existência, é de justiça registrar as palavras do obreiro que mais tempo,
energias e amor dedicou ao trabalho missionário dessa igreja — o Pastor
Guilherme Leimann — numa de suas missivas dirigidas a um dos seus
colegas, em que bem se pode avaliar a sua influência na obra da evan-
gelização naquela região do Estado do Rio Grande do Sul:
Das 14 igrejas alemãs existentes nesta região, 6 perten-
ceram, em suas origens, à; Igreja Leta de Ijuí. Também das 6
igrejas brasileiras, 4 igualmente nasceram da extensão do tra-
balho da Igreja Batista Leta de Ijuí. Além disto, também nas
demais igrejas batistas alemãs e brasileiras uma considerável
porcentagem de seus membros tem sido constituída de letos. (96)
O Pastor Guilherme Leimann, depois de deixar a Igreja Batista Leta
de Ijuí, transferiu-se para a Colônia Guarani, onde pastoreou por vários
anos igrejas da chamada Missão Sueca, mudando-se depois para Giruá,
localidade em que veio a falecer em 1962.
A Igreja Batista Leta de Ijuí, no período até aqui descrito, já havia
contribuído com somas elevadas para a obra da Convenção das Igrejas
Batistas Alemãs do Rio Grande do Sul, Missões Estrangeiras e Nacionais
da Convenção Batista Brasileira, O Jornal Batista, construção de templos
batistas no Brasil e na Letônia, Seminário Batista do Rio de Janeiro e
Seminário Batista de Riga (Letônia), missões na Argentina, socorro aos
flagelados da Primeira Guerra Mundial na Letônia e para muitas outras
finalidades. Igualmente havia recomendado dois de seus filhos ao Semi-
nário do Rio de Janeiro — Frederico Freymann e Frederico Link — que
tiveram atuação relevante na Denominação Batista. Posteriormente, mais
outros obreiros de projeção saíram da Igreja Batista Leta de Ijuí, de cuja
atuação nos ocuparemos mais adiante.
A história subseqüente da Igreja Batista Leta de Ijuí será dada nos
capítulos seguintes, em conexão com o desenvolvimento geral da obra
batista leta no Brasil.
3.4 — Em Rio Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina (1893)
Em 1893, algumas famílias letas mudaram-se da Colônia de Rio
Novo para o vale do Rio Mãe Luzia, cerca de 70 km ao sul, onde encon-
traram terras férteis em condições favoráveis de aquisição. Correspon-
dendo-se com outras famílias batistas nas colônias letas da Rússia, imi-
graram novos grupos de letos, batistas e luteranos, dando origem à Co-
lônia de Rio Mãe Luzia, a quarta colônia leta no Brasil.
Por algum tempo, os batistas conservaram-se como congregação da
Igreja Leta de Rio Novo. Porém, logo após a chegada do Pastor Anss

(96) Leimann, G., carta dirigida ao Pastor João Lukass, em 30 de maio de 1954, a qual se
encontra no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
GB., cedida pela familia Malves, do arquivo de Júlio Malves.

139
Araium, em junho de 1895, (') procedente da Rússia — onde por vários
anos havia trabalhado como obreiro itinerante, superintendendo oito igre-
jas nas colônias letas da região de Novgorod — sob a sua direção foi
organizada a Igreja Batista Leta de Rio Mãe Luzia, a quarta igreja ba-
tista Teta no Brasil. ( 9s) Naquela ocasião já havia 11 famílias batistas
letas na colônia de Rio Mãe Luzia ( 99 ) e a igreja se reunia num barracão
coberto de folhas de palmeiras. (100)
Em 1898, quando o Pastor João Inkis, vindo da Letônia, visitou pela
primeira vez as colônias e igrejas letas no Brasil, permaneceu cerca de
três meses na colônia de Rio Mãe Luzia. Tendo feito depois outras visi-
tas, estendeu o trabalho da igreja também aos alemães, realizando in-
tensas atividades evangelísticas entre eles. Como fruto deste esforço,
foram batizadas três famílias alemãs em uma só ocasião, ocorrendo ou-
tros batismos posteriormente. Em 1899, várias famílias letas transferi-
ram-se de Rio Mãe Luzia para as novas colônias leias fundadas no Mu-
nicípio de Blumenau. Entre elas achava-se também o pastor, Anss
Araium. Daí por diante, por mais de 20 anos, a igreja passou a ser diri-
gida por um obreiro leigo — Jacob Klawa. Por voto unânime, a igreja
o incumbiu de todas as funções ministeriais — direção dos cultos, cele-
bração de batismos, Ceia do Senhor, cerimônias de casamento, funerais,
representação etc., — apesar do que ele nunca deixou a enxada e o arado,
como agricultor que era. Seu caráter e seu conhecimento das Escrituras
Sagradas lhe granjearam todo esse reconhecimento. Mas, modesto como
era, sempre fazia questão de que a igreja convidasse os pastores da
Igreja Batista Leta de Rio Novo para visitas periódicas, especialmente
para intensificar o trabalho entre os alemães e brasileiros, cujos idiomas
de princípio lhe eram difíceis de manejar. Atendendo a tais insistências,
os pastores Guilherme Butler, Karlis Andermanis e Carlos Leimann muito
cooperaram com a igreja de Mãe Luzia. Também as visitas do missio-
nário Carlos Roth e dos seminaristas Alexandre Klavin, João Netten-
berg, Frederico Leimann, Ricardo J. Inke e Guilherme Leimann muito
contribuíram para a expansão da Igreja de Mãe Luzia, que ficava no
caminho de suas jornadas que faziam durante as férias, geralmente via-
jando a pé entre Porto Alegre e Rio Novo. Mais tarde, o missionário
A. B. Deter deu valiosa cooperação à igreja e apoio ao seu obreiro Jacob
Klawa, integrando a igreja na Convenção Batista Brasileira e na Con-
venção Interestadual Paraná-Santa Catarina.
Entre os chamados pastores-leigos das igrejas letas, Jacob Klawa
foi o que mais se projetou, representando a sua igreja nos conclaves
convencionais, inclusive dirigindo cultos devocionais e apresentando es-
tudos especiais. (101) Foi ele o patriarca da notável família Klawa, que

(97) Araium, Alexandre, Questionário de pesquisa respondido em 20 de agosto de 1968,


firmado em Nova Odessa, São Paulo.
(98) Riess, J., Latweeschu baptistu draudzchu izceloschanás (Origens das Igrejas Batistas
Letas). Riga, Edição das Igrejas Batistas Letas, 1913, p. 274.
(99) Araium, Alexandre. loc. cit.
(100) Riess, J., loc. cit.
(101) Leal, Hidualpo, "Convenção Batista Interestadual, Paraná-Santa Catarina", O Jornal
Batista, Ano XIX, n9 33, Rio de Janeiro, 14 de agosto de 1919, p. 6.

140
deu, à obra da evangelização do Brasil três de seus filhos como pastores
— João Klawa, Eduardo Klawa e Alfredo Klawa, atuantes nos Estados
de São Paulo, Guanabara e Paraná, sendo que os outros, como leigos,
igualmente têm sido operosos no trabalho de Deus onde quer que tenham
fixado residência. Bem assim, os seguintes netos: Jacó Miguel Klawa —
pastor do movimento renovacionista no norte do Paraná; Davi Klawa —
pastor no Estado de São Paulo; Lívia Rita Klawa — por muitos anos
missionária da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasi-
leira, tendo servido também como Diretora do Internato do Colégio Ba-
tista Brasileiro de São Paulo; Lídia Sônia Klawa — obreira no sudoeste
paranaense e Reinaldo Klawa, evangelista no Estado de Paraná. A
mesma família também legou ao Brasil a cientista Prof` Rute Klawa,
com curso do Instituto de Pesquisas da Marinha do Brasil e pesquisadora
de Física Nuclear do Instituto de Engenharia Nuclear, Comissão Nacio-
nal de Engenharia Nuclear, responsável pelo Laboratório de Medidas do
Reator Argonauta da Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, com curso de
Mestrado em Engenharia Nuclear, exercendo o magistério experimental
do mesmo curso, e jovem atuante nas lides da mocidade batista brasi-
leira.
Após duas décadas de atividades, decrescendo o número de membros
letos, devido ao êxodo para outras colônias, e aumentando o de alemães
e brasileiros, a igreja foi forçada a adotar o vernáculo em todos os seus
trabalhos. Como conseqüência, ocorreu também a modificação do seu
nome, passando a denominar-se Igreja Batista de Rio Mãe Luzia. Infe-
lizmente, constatamos o estravio de quase todos os documentos — como
relatórios, Atas etc. — referentes aos primeiros anos de sua história,
bem como a períodos posteriores. Valendo-nos de outras fontes, consta-
tamos que o número de seus membros no tempo de seu florescimento
não passou da casa dos 40 e que o êxodo de muitos deles e a dizimação
pelas doutrinas sabatistas e pentecostais quase que aniquilaram-na (102)
estando, em 1919, reduzida a 28 membros, com uma Escola Bíblica Do-
minical de 20 alunos. (103 )

3.5 — Em Alto Guarani ou Massaranduba, Estado de Santa Catarina


(1893)
A região de maior densidade de batistas letos em Santa Catarina,
antes da I Guerra Mundial, foi a de Blumenau. Ali, entre Blumenau e
Joinvile, a partir de 1893, desenvolveram-se seis colônias de imigrantes
letos, em sua grande maioria batistas. Foram elas: Alto Guarani, também
conhecida como Marraranduba, Jacu-Açu, Linha Telegráfica, Bruedertal,
também chamada Schroederstrasse, Ponta Comprida, mais tarde deno-
minada "Núcleo Colonial Barão do Rio Branco" ou simplesmente Rio
(102) Questionário de pesquisa; Entrevistas com Alexandre Araium, em Nova Odessa e
Eduardo Klawa, no Rio de Janeiro; também "Ouvindo e Informando", Batista Paranaense,
Ano XLIV, n° 380, julho de 1963, pp. 4 e 5, (Depoimento de Eleonoro Klawa).
(103) Deter, A. B., "Campo Paraná-Santa Catarina", O Jornal Batista, Ano XX, n° 13,
Rio de Janeiro, 25 de março de 1920, pp. 8 e 9.

141
Branco, e Terra de Zimmermann, hoje conhecida como Campinas. Nas
quatro primeiras, havia, por algum tempo, igrejas batistas autônomas, e
nas duas últimas, congregações pertencentes à Igreja Batista Leta de
Jacu-Açu, (104 ) cuja sede, em 1907, foi transferida para Ponta Comprida.
(105
) Sendo a Colônia de Alto Guarani, ou Massaranduba, a mais antiga
daquela região, principiemos com a sua história, relatando o trabalho
batista que ali se desenvolveu.
Em 1893, nove famílias batistas deixaram uma das colônias letas de
Novgorod, na Rússia, e, via Letônia, chegaram ao porto alemão de Bre-
men, para ali partirem para Laguna, Estado de Santa Catarina, com des-
tino à colônia leta de Rio Novo. Na inspeção médica, cinco famílias fo-
ram retidas, porque as suas crianças estavam acometidas de febre, en-
quanto as demais prosseguiram. Uma semana depois, essas famílias lo-
graram embarcar num outro navio e, depois de cinco semanas de viagem,
estavam chegando ao porto catarinense de São Francisco. Porém, à en-
trada da Baía de São Francisco, nas proximidades da Ponta José Dias, o
navio foi de encontro a um rochedo submerso, abrindo um rombo
no casco. Um navio de bandeira francesa, que estava deixando o porto,
prestou socorro aos náufragos e levou-os à terra firme. Enquanto esses
aguardavam o salvamento de parte de sua bagagem que havia ficado a
bordo do navio encalhado e já bastante adernado, os nossos irmãos fo-
ram abordados por outros passageiros, que se destinavam a Blumenau,
especialmente por um negociante polonês da cidade de São Francisco, que
falava o russo, a quem expuseram a situação difícil em que se encontra-
vam. Dentro de pouco surgiu um agrimensor alemão de Blumenau, co-
nhecedor das glebas que o governo ali estava colonizando. Informado
pelo polonês acerca da situação dos imigrantes letos naufragados, tratou
de convencê-los da conveniência de seguirem com os demais passageiros
do navio sinistrado, que demandavam a Blumenau, e lá se entenderem
sobre uma área de terras férteis naquele município, na região do Alto
Guarani, perto da colônia teuto-polonesa de Massaranduba, que o governo
estava oferecendo gratuitamente aos imigrantes que quisessem cultivá-la.
Confirmada a informação por mais outras pessoas, os nossos irmãos de-
sistiram de esperar pelas providências da companhia de navegação para
levá-los a Laguna e seguiram para Blumenau. Feitos os entendimentos
com a agência oficial de colonização, foi-lhes providenciada uma grande
carruagem que os levou, numa jornada de sete horas, até Massaranduba,
de onde seguiram, por uma picada, ora a pé, ora a cavalo, até o Alto
Guarani, onde encontraram pousada no moinho de um colono alemão.
No dia seguinte, embrenhando-se mata virgem a dentro, sempre es-
tupefatos diante da exuberância da natureza tropical, demarcaram as
suas áreas e começaram a derribar a mata. Logo no primeiro domingo
escolheram um lugar limpo, à sombra de uma gigantesca árvore, onde
celebraram o primeiro culto. Estava descoberto um novo centro para

(104) Janowskis, F. J., "Rio Brankas svetdienas skola" (A Escola Bíblica Dominical de Rio
Branco), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), C. E. Palma, 1954, n° 5, pp. 11 e 12.
(105) Protokoli Latweeschu Baptistu Draudzes Stundam, no 1903 g. lihdz 1914 gadam (Atas
das sessões da Igreja Batista Leta, de 1903 a 1914), Ata de 19 de janeiro de 1907, item n" 1.

142
imigrantes letos no Brasil e fundada a Colônia de Alto Guarani, a quinta
colônia leta no Brasil.
Mas, logo em seguida, veio a primeira grande provação — a epidemia
de difteria, que dentro de uma semana ceifou cinco crianças. O golpe
mais pesado caiu sobre a família Loks, que perdeu os seus três filhos —
de 12, de 8 e de 2 anos, tristeza que só veio a desanuviar-se com o nasci-
mento de Rodolfo, que, décadas depois, veio a ser o sogro do antigo e
conhecido funcionário do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Roberto Gertner, — irmão do Pastor Arnaldo Gertner — imigrado em
1923, casando-se com a jovem Dzidra, filha de Rodolfo Loks.
Depois de levantados os primeiros ranchos, o do irmão Frederico
Broks foi escolhido para servir de sede à congregação. Os demais com-
ponentes desse grupo batista leto eram os membros das famílias Grunt-
mann, Zamels, Akeldams e Loks. Ainda que a liderança recaísse sobre
o irmão Broks, a direção dos cultos obedecia, por alguns anos, ao sis-
tema de rodízio. Os hinos eram cantados de cópias transcritas de um
único hinário "sobrevivente" do naufrágio.
Embora aqueles irmãos se sentissem materialmente satisfeitos com
a fartura que a terra exuberante lhes proporcionava, o isolamento de
outros irmãos da mesma fé, língua e costumes começou a causar-lhes
certa nostalgia. Foi quando, depois de pouco mais de um ano de perma-
nência naquela localidade, eles foram achados pelo irmão Peluschs, vindo
de Rio Novo. Este irmão, que em Orleães casualmente havia tomado
conhecimento do naufrágio atrás referido, viajou uma semana à procura
de seus irmãos e patrícios que havia deixado em Bremen, na Alemanha,
impedidos de embarcar por motivo de enfermidade em suas famílias. (106)
A partir daquela visita, dentro de aproximadamente dois anos, jun-
taram-se àquelas cinco famílias mais treze outras, vindas de Rio Novo,
Rio Mãe Luzia e Novgorod (Rússia). Organizaram-se, então, Escola Bí-
blica Dominical, União de Mocidade, coro e escola primária. Quando o
Pastor João Inkis, em 1898, visitou as colônias letas do Brasil, esteve
também na de Alto Guarani, ocasião em que foi reconhecida a congre-
gação como igreja autônoma. Esta, portanto, foi a quinta igreja batista
leta no Brasil.
Continuando a chegar grupos de letos de outras colônias, da Letô-
nia e da Rússia, e faltando terras em Alto Guarani, outras glebas foram
encontradas, em que novas colônias letas foram estabelecidas e novas
igrejas organizadas. Diversas fontes nos informam que os pastores dessas
igrejas serviram à Igreja do Alto Guarani, entre os quais, as principais
referências são feitas a Anss Araium, Jacob Inkis e Pedro Graudins, da
Igreja de Jacu-Açu; aos irmãos Frederico e Guilherme Leimann, do Rio
Grande do Sul, que visitaram a igreja algumas vezes, permanecendo ali
durante semanas seguidas e desenvolvendo trabalhos evangelísticos entre
os alemães e os brasileiros da vizinhança; bem como ao missionário
Carlos Roth, de Porto Alegre. Entre os novos convertidos, a grande

(106) Peluschs, A., Carta dirigida ao autor em 27-8-1966.

143
maioria era constituída de filhos das próprias famílias letas, sendo que
só uns poucos alemães e brasileiros chegaram a se tornar membros da
Igreja, pois que pouquíssimos eram os batistas letos da colônia que ti-
vessem condições de anunciar o evangelho em alemão ou português.
Com as diversas dificuldades surgidas, algumas vezes essa igreja
resolveu tornar-se congregação da Igreja Batista Leta de Jacu-Açu; po-
rém, voltando tudo à normalidade, a congregação voltava à autonomia e
independência de uma igreja batista, fato que se pode constatar pelas atas
da Igreja Batista Leta de Jacu-Açu entre os anos de 1903 a 1909.
Entre os jovens que saíram da Igreja Batista Leta de Alto Guarani,
sendo por algum tempo também membros da Igreja Batista Leta de
Jacu-Açu, merece referência especial o missionário das selvas Argentinas
da região de Misiones, Kristaps (Cristóbal) Vanags. (107 )
Com o êxodo dos letos da região de Blumenau e Joinvile para Nova
Odessa e outros lugares no Estado de São Paulo — motivado pela insa-
lubridade do clima e problemas relacionados com os preços e o difícil
escoamento da produção, a Igreja do Alto Guarani foi diminuindo rapi-
damente, tornando-se em 24 de março de 1909 congregação da Igreja de
Jacu-Açu, que a essa altura tinha a sua sede em Ponta Comprida. (108)
Em outubro de 1912, os últimos proprietários letos deixaram a colônia,
passando as áreas por eles cultivadas durante quase 20 anos para mãos
de poloneses e italianos. (109)

3.6 — Em Jacu-Açu, Estado de Santa Catarina (1898)


Com a afluência de imigrantes letos à região de Blumenau, atraídos
pela fertilidade das terras e as facilidades em sua aquisição, em 1898
estabeleceu-se uma colônia leta a 15 km a noroeste de Alto Guarani, no
lugar denominado Jacu-Açu — um vasto vale que se estende aos pés das
majestosas elevações de Jaraguá-Açu e Jaraguá-Mirim. Ali se fixaram
cerca de 15 famílias, dominadas pelo espírito de pioneirismo, passando
a abrir picadas e caminhos, derrubar árvores gigantescas, construir pon-
tes, erguer suas casas e formar suas roças, pomares e hortas. Foi, cro-
nologicamente, a sexta colônia leta fundada no Brasil.
Sendo quase todos batistas, logo foram realizando os seus cultos
em casas dos que possuíam acomodações mais amplas, destacando-se as
dos Diener, dos Peterlevitz, dos Fritzson, dos Janowski e dos Araium,
famílias que chegavam a disputar o privilégio de hospedar a igreja.
A esta altura merece destaque a família Diener, cujo filho, João
Diener, jovem convertido aos 15 anos naquela igreja e batizado ali em 15
de junho de 1904, mais tarde tornou-se muito conhecido no Estado de
São Paulo e sul de Minas como colportor, evangelista, poeta, líder da
mocidade, hinólogo e regente do coro e superintendente da Escola Bí-

(107) Id., ibid.


(108) Rudzits, J., "No Kompridas un apkahrtnes" (De Comprida e Adjacências). Lihdum-
neeks (O Desbravador), São Paulo, n' 7, de 10 de novembro de 1909, pp. 2 e 3.
(109) Peluschs. A.. loc. cit.

144
blica Dominical da Primeira Igreja Batista de São Paulo, tendo contri-
buído com vários hinos para a formação do Cantor Cristão, destacando-se
o de n° 259 — "Ao findar o labor desta vida", da qual é autor da letra
e música. (110)
Devido à falta de registros das ocorrências dos primeiros anos de
vida da igreja, não há notícias da data exata da organização formal da
Igreja Batista Leta de Jacu-Açu, a sexta igreja batista leta no Brasil,
senão as referências às comemorações anuais de seu aniversário celebra-
do a 24 de junho, (111 ) sendo unânime o testemunho dos remanescentes
daquela igreja de que o ano tenha sido o de 1898. (112)
Quando o Pastor Anss Araium se transferiu da colônia de Mãe Luzia
para Jacu-Açu, em 1899, já encontrou a igreja ali em pleno funciona-
mento, embora sem obreiro. Segundo os moldes das igrejas européias, a
orientação geral pertencia a um Conselho de Anciãos, eleito pela igreja,
que por sua vez indicava os dirigentes de cultos, bem como os de sessões
de negócios, os celebrantes da Ceia do Senhor e de batismos etc., que
eram depois confirmados por voto da igreja. Eleito pastor da igreja, Anss
Araium permaneceu por algum tempo sozinho no pastorado, dividindo
depois as responsabilidades com o Pastor Jacob Inkis, veterano obreiro
dos dias pioneiros da obra batista na Letônia, que chegou ao Brasil com
sua família em maio de 1899, ao qual já nos referimos.
Em 1901, chegou a Jacu-Açu o jovem e dinâmico evangelista, poeta
e hinólogo, Pedro Graudins, que havia sofrido muitas perseguições por
causa do evangelho da parte do governo czarista, inclusive longos períodos
de prisão. Este logo foi revelando a sua capacidade de liderança e se
impondo à admiração dos irmãos. Como naquele tempo já haviam sur-
gido outros núcleos coloniais de batistas letos ao redor de Jacu-Açu, os
dois obreiros veteranos, já cansados e carregados de enfermidades, pas-
saram a direção a Pedro Graudins, que foi eleito pastor da igreja, cola-
borando aqueles como seus auxiliares nas congregações das colônias onde
residiam. (113 )
Neste ponto convém explicar que os pastores letos em geral não
eram sustentados integralmente pelas igrejas. Possuíam os seus sítios,
lavravam a terra, criavam o gado etc., enquanto as igrejas lhes davam
apenas uma gratificação e de quando em vez promoviam um mutirão
para cultivar as suas roças ou colher os cereais, a título de complementa-
ção da gratificação.
Sentindo, nas igrejas e congregações, a falta de pastores suficiente-
mente habilitados e a conseqüente falta de normas uniformes e doutri-

(110) Cerqueira, Tertuliano, Carta dirigida ao autor em 18 de março de 1971, com base na
pesquisa em arquivos da Primeira Igreja Batista de São Paulo; também Album da Junta
Patrimonial, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1929, p. 74; e Sutton, Joan, Entrevista
com o autor em 11 de maio de 1968.
(111) Cf. Protokoli Latweeschu Baptistu Draudzes Stundam, no 1903 g. lihdz 1914 gadam
(Atas das sessões da Igreja Batista Leta, de 1903 a 1914).
(112) Inkis, J., "Latweeschi Brazilijr (Os letos no Brasil), Latweeschu Familijas Kalendars,
1901 (Almanaque da Familia Leta, 1901), Riga, pp. 94 e 95.
(113) Inke, Ricardo J., "Os Batistas Letos no Brasil", In Crabtree, A. R., História dos
Batistas do Brasil, Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1937, Vol. I, p. 318.

145
nariamente seguras, bem como a falta de um vínculo que objetivasse a
unidade e cooperação das igrejas batistas letas do Brasil, os três obrei-
ros, sob a liderança de Pedro Graudins, promoveram a organização da
"Associação das Igrejas Batistas Letas da Região de Blumenau e Join-
vile", que se reuniu na sua ia Assembléia nos dias 1 e 2 de janeiro de
1902, com a Igreja Batista Leta de Jacu-Açu, (114 ) fato que abordaremos
no final do próximo capítulo, quando da apreciação dos aspectos coope-
rativos dos batistas letos imigrados no Brasil antes da I Guerra Mundial.
A partir de 1902, a Igreja de Jacu-Açu passou a desenvolver um tra-
balho movimentado, juntamente com as suas grandes congregações nas
duas colônias vizinhas, de Ponta Comprida e de Terra de Zimmermann,
achando-se a primeira sob a direção do Pastor Jacob Inkis, enquanto a
segunda era liderada pelo Pastor Anss Araium. Tanto a igreja como
as congregações possuíam seus coros, suas Escolas Bíblicas Dominicais,
organizações para Mocidade, escola anexa etc., freqüentemente realizan-
do intercâmbios com as igrejas e congregações das colônias vizinhas, bem
como festas comemorativas de datas especiais e reuniões evangelísticas
para alemães e poloneses, que nas vizinhanças das outras colônias eram
mais encontradiços, apresentando programas longos e ricos, chegando al-
guns deles a constar de 54 números. (115)
Nos cinco primeiros anos de existência, tanto a colônia como a igreja
de Jacu-Açu apresentaram um crescimento magnífico. Porém, não tardou
o declínio, motivado por vários fatores econômicos e climáticos que de-
ram origem a um grande êxodo para as novas colônias letas no Estado
de São Paulo, especialmente a de Nova Odessa. Por esta razão, a Igreja
de Jacu-Açu, que em 1903, contava com 177 membros, (116) ficou redu-
zida a pouco mais de 50% em 1907, sendo que a maioria pertencia à
congregação de Ponta Comprida, colônia vizinha, de que nos ocuparemos
no tópico seguinte, para a qual foi transferida a sede da igreja naquele
mesmo ano.

3.7 — Em Ponta Comprida ou Rio Branco, Estado de Santa Catarina


(1899)
Quando os letos de Jacu-Açu viram a sua colônia totalmente lotada
de imigrantes, em princípios de 1899, e sabendo que outros grupos esta-
vam para chegar da Letônia e das colônias da Rússia, tomaram a inicia-
tiva de procurar terras para a sua localização. O Pastor João Inkis, que
por esse tempo estava visitando os letos da região de Blumenau, tomou

(114) Schoinvilles un Blumenawas apkahrtnes latweeschu baptistu beedribas Pada sapulce.


Schakwase, 1 un 2 janvari, 1902 gadã (Assembléia Anual da Associação dos Batistas Letos
da Região de Joinvile e Blumenau, Jacu-Açu, 1 e 2 de janeiro de 1902). Este documento
encontra-se em forma manuscrita no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, Rio de Janeiro, GB., doado pelo irmão Alberto Daniel, da Igreja Batista Leta de
Ijui — Linha 11).
(115) Rudzit, J., Op. cit., p. 3.
(116) Schakwases baptistu draudzes loceklu saraksts, no 1903 g. 1. aprila (Rol de membros
da Igreja Batista de Jacu-Açu, em 1° de abril de 1903). Documento que se encontra no
Museu. Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB., doado
pela Igreja Batista de Joinvile, Santa Catarina.

146
parte ativa na busca de novas áreas para os imigrantes, penetrando as
matas virgens com os grupos de irmãos, medindo, calculando, estudando
a vegetação para a avaliação do solo etc. Encontrando uma gleba ra-
zoável a poucos quilômetros a noroeste de Jacu-Açu, na direção de Join-
vile e já dentro dos limites desse município, ao longo do ribeirão deno-
minado Ponta Comprida, aqueles irmãos foram ao respectivo escritório e
reservaram uma grande parte da referida gleba para os patrícios espe-
rados. (117 ) Quando, em fins de maio de 1899, chegou o grupo da pro-
víncia russa de Novgorod, em que veio também a família Inkis, isto é, os
pais e irmãos do Pastor João Inkis, este foi ao porto de São Francisco do
Sul para recepcioná-lo e conduzi-lo à nova colônia de Ponta Comprida,
a sétima colônia leta no Brasil, que mais tarde aqueles imigrantes pas-
saram a chamar simplesmente "Comprida".
Depois de uma festa de recepção no grande e prodigamente ornamen-
tado salão da casa da já referida família Diener, que servia de sede para
a igreja, os 46 irmãos recém-chegados foram distribuídos pelos lares
como hóspedes, até que se instalassem em suas novas propriedades. Den-
tro em pouco, grandes clareiras foram abertas nas matas, as roças plan-
tadas e as casas levantadas.
Na ampla sala da casa do Pastor Jacob Inkis, na colônia de Ponta
Comprida, reunia-se, dominicalmente, a congregação, indo todos assistir
aos cultos na sede da igreja, na colônia de Jacu-Açu, um domingo por
mês. Em fins de 1901, depois da chegada de novos grupos de imigrantes
letos da Europa, já havia 20 famílias residentes na colônia de Ponta
Comprida, e na congregação funcionavam: Escola Bíblica Dominical,
Coro, Sociedade de Moças e a Sociedade de Moços. Todos os irmãos to-
mavam parte ativa nos trabalhos e nos intercâmbios e festividades que
se promoviam com as outras colônias. O veterano Pastor Jacob Inkis,
liderava a congregação, assistido pelo seu filho Eduardo, que foi um
leigo de notáveis qualidades e que prestou serviços apreciáveis em diver-
sas igrejas batistas letas no Brasil como superintendente da Escola Bí-
blica Dominical e líder da mocidade, legando ao ministério batista o seu
único filho varão — Jacob R. Inke — formado pelo Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil. Ricardo J. Inke, filho caçula desse veterano
obreiro, em 1901 seguiu para o Seminário do missionário Carlos Roth, em
Porto Alegre.
Como já foi dito, em 1903 a Igreja de Jacu-Açu — a essa altura
constituída dos batistas das colônias de Jacu-Açu, Ponta Comprida e
Terra de Zimmermann — contava com 177 membros, sendo a maior
igreja batista de todo o sul do Brasil. Porém, mudando-se mais da me-
tade de seus membros para o Estado de São Paulo — inclusive os dois
pastores Anss Araium e Jacob Inkis — a igreja transferiu a sua sede
para Ponta Comprida, onde morava a maioria dos membros restantes,
com o jovem Pastor Pedro Graudins à frente.
Visto que até 1909 as terras da colônia não haviam sido medidas
oficialmente — tendo os interessados demarcado as suas propriedades

(117) Araium, Alexandre; Jacobson, Henrique; Nikowsky, Mathias; Loks, Rodolfo, Entrevis-
tas com o autor e questionários de pesquisa.

147
em comum acordo — nesse ano o governo procedeu à medição e começou
a introduzir os melhoramentos que a ação colonizadora naqueles tempos
requeria, como construção de estradas e pontes, instalação de centro
médico e farmácia, escola etc., para reter o êxodo da população ordeira
e trabalhadora da região. Feitos os levantamentos e constatados os di-
reitos dos herdeiros do eminente estadista Barão do Rio Branco às ter-
ras de Jacu-Açu e Ponta Comprida, o Governo Federal as adquiriu e
confirmou os seus ocupantes nas áreas por eles cultivadas havia uma
década, dando à localidade o nome de "Núcleo Colonial Barão do Rio
Branco", que daí por diante passou a ser conhecido simplesmente como
Rio Branco, e a igreja como Igreja Batista Leta de Rio Branco, Santa
Catarina. (118 )
o já mencionado êxodo dos letos daquela região para São Paulo,
causou desânimo na igreja. Também as desavenças entre irmãos e ou-
tras falhas na conduta cristã, afastaram mais outros da cooperação com
a igreja. Finalmente, surgiu, em 1910, uma profunda cisão em torno
da pessoa do pastor. Porém, graças à segunda visita do Pastor João
Inkis ao Brasil, em 1911, quando, como presidente da União das Igrejas
Batistas da Letônia, percorreu as colônias e igrejas letas no Brasil, res-
tabeleceu-se a paz entre as duas facções. Reorganizaram-se os vários
departamentos da igreja, foram eleitos novos oficiais em lugar dos que
haviam se transferido para São Paulo, reanimou-se a mocidade e tudo
recebeu um novo sopro de vida.
Palavra especial aqui deve ser dada à atuação da mocidade. Tendo
a igreja recebido, em 1912 e 1913, algumas visitas dos pastores Guilher-
me e Carlos Leimann, os jovens pediram permissão para dar início a um
trabalho regular entre os brasileiros, ao que a igreja prontamente aquies-
ceu. (119 )
Mais tarde, em 1916, as visitas de A. B. Deter e Ricardo J. Inke
contribuíram ainda mais para interessar a igreja na obra batista bra-
sileira, ocorrendo o seu ingresso na Convenção Batista Brasileira em
junho de 1916, quando da inauguração do seu templo e realização de
uma série de conferências evangelísticas dirigida pelo Pastor Ricardo
J. Inke. (120) Fig. 36
Entretanto, não foi dado à igreja desfrutar a prosperidade por muito
tempo. Em 1917, as agitações pentecostais da colônia de Rio Mãe Luzia
atingiram também a região de Blumenau, através da mudança de alguns
elementos fanáticos, que entenderam ser sua missão "despertar" outras
igrejas letas. (121) As baixas nas fileiras batistas foram grandes, che-
gando a atingir o próprio pastor da igreja em Rio Branco, Pedro Graudins,
que daí por diante passou a dirigir a igreja pentecostal da mesma loca-
lidade, o que fez por muitos anos, porém sem extremos na sua posição

(11S) Id.. ibid.


(119) Protokoli Latweeschu Baptistu Draudzes Stundam, no 1903 g. lihdz 1914 gadam (Atas
das sessões da Igreja Batista Leta de 1903 a 1914), Ata de 9 de fevereiro de 1913, itens 4 e 6.
(120) Deter, A. B., "Junta de Missões Nacionais", O Jornal Batista, Ano XVI, Rio de
Janeiro, 10 de agosto de 1916, n' 30, p. 7. Idem "Rio Novo", O Jornal Batista, Ano XVI,
Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1916, n° 33, p. 7.
(121) Araium, Alexandre; Loks, Rodolfo; Jacobson, Henrique — Questionários de pesquisa.

148
doutrinária, sempre procurando manter boas relações com a igreja ba-
tista. (122 ) Assim, a Igreja Batista Leta de Rio Branco entrou novamen-
te em declínio, realizando o seu trabalho com dificuldades, principalmen-
te por falta de obreiro que a doutrinasse convenientemente. Porém, o
missionário A. B. Deter, que no ano seguinte transferiu-se para Curitiba,
bem como o pastor e professor Guilherme Butler, que de Rio Novo fez
várias visitas a Rio Branco, e também o Pastor Carlos Leimann, o evan-
gelista José Cascão e mais tarde o missionário A. W. Luper, se prontifi-
caram a dar a sua cooperação à igreja, visitando-a periodicamente e rea-
lizando estudos doutrinários e esforços evangelísticos de diversos tipos.
Com auxílio desses obreiros, a Igreja de Rio Branco conseguiu reerguer-
-se, expandindo a sua influência até Bananal (hoje Guaramirim), Barra
Velha, Joinvile, Hansa, Itaperiú, Blumenau e outros lugares onde residiam
membros da igreja, que eram visitados por diversos grupos evangeliza
dores. (123 ) Esses grupos realizavam cultos nas residências daqueles
crentes; nas congregações de duas outras colônias letas — em locali-
dades denominadas Brüedertal e Linha Telegráfica, no Município de Blu-
menau, onde por alguns anos existiram igrejas autônomas, como veremos
nos tópicos seguintes, e cujos remanescentes depois filiaram-se à igreja
em Rio Branco. Neste reerguimento, que depois de 1918 tomou corpo, o
principal papel pertenceu à União de Mocidade, que, numa igreja de ape-
nas 66 membros, (124 ) contava com 36 unionistas. (125 ) Os jovens or-
ganizavam e custeavam viagens evangelísticas, ora a pé, ora montados,
ora em caminhões, nomeando evangelistas do seu próprio meio para
pregar e ajudar os jovens das duas congregações a permanecerem fiéis
na doutrina e prática da vida cristã, na evangelização e na cooperação
com a União e a igreja, função em que se distinguiram moços, como
Mathias Nikovskis e João Rudzit — que mais tarde foram os baluartes
do trabalho em Porto União — Frederico Janowskis, Eduardo Brocks, e
Rodolfo Loks — que, sob a orientação do Pastor Carlos Leimann, lan-
çaram os fundamentos do trabalho em Barra Velha e Itaperiú — Ernesto
Martinsons e outros. Este último recebeu a chamada divina para o mi-
nistério e passou alguns anos estudando no Ginásio Estadual de Curitiba,
pretendendo depois seguir para o Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, Rio de Janeiro, intento que não chegou a se concretizar devido à
enfermidade que o levou à morte. (126)

(122) Inke, Jacob R., depoimento enviado ao autor.


(123) Cf. Barão do Rio Brancas Latweeschu Baptistu Jauneeschu Beedribas protokolu
grahmata, No 1916 gada lihdz 1924 gadam (Livro de Atas da União de Mocidade Batista
Leta de Rio Branco. De 1916 a 1924), Arquivado no Museu Batista do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(124) Deter, A. B., "Campo Paraná-Santa Catarina". O Jornal Batista, Ano XX, n° 13,
Rio de Janeiro, 25 de março de 1920, pp. 8 e 9.
(125) Cf. Barão do Rio Brancas Latweeschu Baptistu Jaunatnes protokolu grahmata, No 1916
gada lihdz 1924 gadam (Livro de Atas da União de Mocidade Batista de Rio Branco. Do
ano de 1916 até 1924), Documento que se encontra nos arquivos do Museu Batista do Se-
minãrio Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB., doado pela Igreja Batista
de Joinvile.
(126) Ibid.

149
Interessante é verificar o programa de treinamento que a União de
Mocidade da Igreja Batista Leta de Rio Branco desenvolvia, bastando
para isto uma pesquisa nos seus livros de atas. Havia programas mensais
de estudos bíblicos, com perguntas e respostas de natureza teológica, ecle-
siológica e ética; programas de discussão de temas bíblicos e sociais;
programas devocionais e de oração; programas variados, com números
musicais, apresentados pelo coro da mocidade, quartetos, solos, peças ao
violino e por um conjunto de instrumentos de sopro; e programas ou
sessões literárias, em que eram apreciadas as criações dos unionistas
em prosa, poesia, crônica, reportagem etc. A maneira de proceder na
avaliação das produções literárias, era bem criteriosa. Anualmente eram
eleitos dois críticos literários, dos mais capazes, que mensalmente reco-
lhiam as criações dos jovens depositadas numa urna especialmente pre-
parada para tal fim, podendo o autor assinar o nome ou pseudônimo.
Antes das sessões, os críticos liam os trabalhos e preparavam o seu re-
latório. Nas sessões, os trabalhos todos eram lidos perante a União, bem
como o relatório com o parecer dos críticos. Em seguida, o plenário
discutia o valor dos trabalhos literários à luz do parecer e votava a sua
aprovação ou rejeição. Finalmente, as produções aprovadas eram trans-
critas em livros especiais, para conservação e eventual publicação. Para
dirimir dúvidas ocasionais, eram consultados alguns livros da parca bi-
blioteca e os pastores visitantes. Tais sessões eram as mais populares,
ainda que fossem as de maior duração, pois nelas se manifestava a ca-
pacidade criativa dos unionistas e se projetavam os valores necessários
ao trabalho dos jovens. Normalmente, em cada sessão eram apresenta-
dos seis a oito trabalhos, mas houve sessões em que foram lidas e criti-
cadas até dezoito produções literárias. (127)
Para levantamento de recursos para sua atuação, a União estipu-
lava mensalidades para os seus membros, organizava bazares e quermes-
ses, e levantava ofertas especiais. Freqüentemente pedia licença à igreja
para convidar um pastor ou evangelista de fora para visitar o campo
da igreja, responsabilizando-se pelas despesas decorrentes. Também a
União mantinha um considerável estoque de Bíblias e folhetos em leto,
alemão e português, para não somente atender à procura local, mas
principalmente distribuir nas excursões evangelísticas na vizinhança pró-
xima e distante da colônia. (128)
Com o novo afluxo de imigrantes letos, que ocorreu após a I Guerra
Mundial, vieram alguns novos obreiros batistas letos para o campo Pa-
raná-Santa Catarina, entre eles os jovens evangelistas Carlos Stroberg
e Paulo Gailit, que mais tarde serviram à Igreja Batista Leta de Rio
Branco. Esta, então, tomando um novo impulso, teve uma nova fase,
que será enfocada em um dos capítulos que seguem, culminando com
mais duas transferências de sua sede — uma para Guaramirim (antiga

(127) Ibid.
(128) Ibid.

150
Bananal) e outra para Joinvile, onde finalmente transformou-se em Igre-
ja Batista de Joinvile, como é hoje conhecida. (129 )
3.8 — Em Terra de Zimmermann, Estado de Santa Catarina (1900)
Os grupos de letos que chegaram a Jacu-Açu nos princípios de 1900
já não encontraram mais terras suficientes naquela colônia e nem na de
Ponta Comprida. Porém um certo negociante alemão, por nome Zimmer-
mann, na ocasião estava vendendo uma ampla área de terras que pos-
suía a cerca de 12 km ao sul de Jacu-Açu. Valendo-se da oportunidade
de adquirir boas terras por preço bastante baixo, parte daqueles irmãos
encaminhou-se para lá. Assim, inicialmente seis famílias e depois mais
outras cinco fixaram-se naquela localidade, fundando a oitava colônia
leta no Brasil, bem como a congregação batista, pertencente à igreja em
Jacu-Açu. A liderança da congregação coube ao Pastor Anss Araium,
que um ano antes já havia adquirido a sua propriedade próximo daquele
lugar. Com a assistência constante do obreiro experimentado, principal-
mente depois de 1901, quando a Igreja de Jacu-Açu — da qual antes
havia sido pastor — passou às mãos do Pastor Pedro Graudins, a con-
gregação teve um desenvolvimento notável, havendo uma grande Escola
Bíblica Dominical, um excelente coro e uma União de Mocidade.
Em janeiro de 1904, a igreja elegeu um auxiliar para o Pastor Anss
Araium, especialmente para o trabalho entre os alemães. Era o jovem
evangelista Kristaps Vanags, que um ano depois partiu para a Argen-
tina, (130 ) onde passou a ser conhecido como Pastor Cristóbal Vanag,
trabalhando entre grupos de estrangeiros no território de Misiones. (131)
A sua atuação na congregação de Terra de Zimmermann, ainda que breve,
foi marcante, bem como na redondeza da colônia, revelando aptidões di-
versas e alto espírito missionário.
Em meio às alegrias e à prosperidade, surgiram também algumas
desavenças entre os irmãos da congregação. A Igreja de Jacu-Açu, in-
formada dos problemas, tentou resolvê-los a seu modo, sem tomar em
consideração a sua repercussão no local. Isto causou uma cisão entre os
irmãos da congregação. O grupo maior, com o Pastor Anss Araium à
frente, resolveu, então, constituir-se em igreja autônoma em janeiro de
1905, (132 ) ficando o grupo menor fiel à igreja em Jacu-Açu. Durante um
ano inteiro foram envidados esforços no sentido de unificar o trabalho
naquela colônia, inclusive solicitando-se a ajuda do missionário Carlos
Roth, de Porto Alegre, que poucos meses antes da cisão havia visitado

(129) Kepler, Walter R., Cartas dirigidas ao autor em 10 de maio e 9 de agosto de 1971, com
base em pesquisas nos arquivos da Igreja Evangélica Batista de Joinvile, Santa Catarina.
(130) Araium, E., Carta de 10 de setembro de 1905, citada por Júlio Malves em “Mazs
papildinajums pie gramatas: Nova Odesas latviesu baptistu draudze 25 gados" (Pequeno
complemento ao livro: "A Igreja Batista de Nova Odessa em 25 anos" ), Kristigs Draug.s
(O Amigo Cristão), 1932, n° 3, p. 61.
(131) Los Bautistas em las Repúblicas del Plata, Junta de Publicaciones de la Convención
Evangélica Bautista de las Repúblicas del Plata, Buenos Aires, 1930, p. 208.
(132) Protokoli Latweeschu Baptistu Draudzes Stundam, no 1903 g. lihdz 1914 gadam
(Atas das sessões da Igreja Batista Leta. De 1903 a 1914), Ata de 5 de março de 1905,
item 3.

151
as colônias letas do Estado de Santa Catarina e conseguido o seu voto
a favor da organização de uma Associação Batista Teuto-Leta, que de-
veria concretizar-se dentro de pouco tempo. Com a graça de Deus e a
atuação de Ricardo J. Inke, este enviado de Carlos Roth, em janeiro de
1906 se efetuou a união das facções, e a igreja irregularmente constituí-
da deixou de existir. (133 ) Quando, meses depois, se cogitou da organi-
zação regular de uma igreja na colônia de Terra de Zimmermann, come-
çou o movimento de mudança para São Paulo, já mencionado, reduzindo
aquela colônia a poucas famílias, que continuaram filiadas à Igreja de
Jacu-Açu até 1909, quando o trabalho se extinguiu definitivamente por
motivo de transferência de seus membros para Nova Odessa, Estado de
São Paulo. (134 )

3.9 — Em Brüedertal ou Schroederstrasse, Estado de Santa Catarina


(1901)
Esta colônia ficava a cerca de 30 km ao norte de Jacu-Açu, junto da
colônia alemã do mesmo nome. Os primeiros alemães a se estabelecerem
nessa região, que é um vasto vale, pertenciam à seita evangélica denomi-
nada Irmãos Morávios. Foram eles que deram o nome ao lugar e à es-
trada ou rua que corria pelo vale.
O primeiro batista leto a se fixar em Brüedertal foi Jahnis (João)
Liepins, que para lá foi em fevereiro de 1901. Ele era um pastor-leigo
que havia fundado uma igreja batista numa das colônias da Rússia, mas
que pela opressão político-religiosa se extinguiu. Em Brüedertal o Pas-
tor João Liepins logo começou a realizar cultos em sua casa para os
alemães vizinhos que eram luteranos. Descobrindo, nas proximidades,
terras que os colonos alemães estavam abandonando para buscarem ou-
tros núcleos coloniais de mais futuro, escreveu aos seus parentes e ami-
gos Tetos na Rússia e estes também vieram para Brüedertal, aproveitan-
do o transporte gratuito que o governo brasileiro estava oferecendo. As-
sim, em fins de 1901 já era uma realidade a nona colônia leta no Brasil,
e a Igreja Batista Leta de Brüedertal, a sétima igreja batista leta no
Brasil, que começou com 19 membros e em agosto de 1904, já contava
com 31 membros, Escola Bíblica Dominical, coro e uma grande sala —
com capacidade para 100 pessoas sentadas — anexa à casa de Jacob
Liepins, (135) irmão do pastor e que mais tarde veio a ser o pai do Prof.
Carlos Liepins, de Nova Odessa, formado pelo Colégio Batista do Rio
de Janeiro, muito conhecido dos antigos professores e colegas desse edu-
candário.
A igreja elegeu o irmão João Liepins como seu pastor, embora para
realizar batismos ele, na maioria das vezes, convidasse o Pastor Pedro
Graudins, da Igreja de Jacu-Açu, ocasiões que eram celebradas com gran-
des programas em tom festivo, com a participação de coros das outras

(133) Ibid., Ata de 7 de janeiro de 1906, item 3.


(134) Looks, Rodolfo; Peluschs, Augusto; Jacobson, Henrique, — Questionário de pesquisa.
(135) Cf. Silmanowitch, P., "No Schroederstrasse, Brazilijá" (De Schroederstrasse, Brasil),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Riga, n' 30, de 27 de outubro de 1904, p. 4 e n° 31, de
3 de novembro de 1904, p. 5; também Loks, Rodolfo, Questionário de pesquisa.

152
igrejas e com ágapes para todos os presentes, cujo número quase sempre
ultrapassava a uma centena de pessoas. O missionário Carlos Roth, da
Missão Alemã do Rio Grande do Sul, também visitou essa colônia várias
vezes, realizando trabalhos especiais com os alemães da redondeza e ba-
tizando novos crentes.
Interessante é assinalar, a esta altura, que foi dessa colônia leta que
emigrou para a Argentina, em 1905, a família Pedro Libert, cujos dois
filhos, Pedro Libert Jr. e Adolfo Libert, na ocasião ainda meninos de
cinco e quatro anos respectivamente, mais tarde tornaram-se pastores
batistas, vindo a ser o pastor Pedro Libert Jr., ou "Hijo", o pai do in-
ternacionalmente conhecido pastor Dr. Samuel Libert, líder batista na
Argentina, que já visitou o Brasil diversas vezes. Outrossim, essa famí-
lia também teve participação expressiva na fundação da primeira igreja
batista que se plantou em terras do Paraguai, em 1918, pois que no mes-
mo ano havia emigrado da Argentina para Paraguai, passando a residir
em Assunção, a Capital do país vizinho. Quando, em 24 de outubro de
1920, foi fundada a Iglesia Evngélica Bautista de Asunción, seis dos
dezesseis membros fundadores eram da família Libert, sendo Pedro Li-
bert Jr. o secretário da igreja e o que assinou a ata da fundação. (136)
À semelhança da Igreja de Alto Guarani, também a de Brüedertal,
por motivo de mudança de seus membros algumas vezes preferiu consi-
derar-se como congregação da Igreja de Jacu-Açu, voltando à sua auto-
nomia quando chegava algum novo reforço. Finalmente, no ano de 1918,
os últimos colonos batistas letos daquela localidade venderam as suas
propriedades e mudaram-se para Rio Branco, onde passaram a pertencer
à Igreja local. (137 )
3.10 — Em Linha Telegráfica, Estado de Santa Catarina (1901)
Um dos grupos de imigrantes letos que chegou da Europa à colônia
de Jacu-Açu em princípios de 1901, dirigiu-se logo para Alto Guarani,
na esperança de encontrar terras gratuitas do governo nas proximidades
para cultivar. Entretanto, não as encontrando, depois de algum tempo de
procura de solução para a sua situação, o grupo encaminhou-se para uma
área de 24 km a oeste de Alto Guarani, denominada Linha Telegráfica,
que estava sendo colonizada por alemães. O grupo constava de oito fa-
mílias, das quais cinco eram batistas e três luteranas. Os cultos dos
batistas, realizados na casa do irmão Frederico Simanis e por ele dirigi-
dos, logo atraíram tanto os letos luteranos como os alemães luteranos e
católicos das adjacências.
Pouco depois, outros batistas letos fixaram-se na mesma região e
assim aquele núcleo passou a ser conhecido como Colônia Leta de Linha
Telegráfica, a décima colônia leta no Brasil, com sua congregação ba-
tista, cujos membros eram de várias igrejas das colônias letas da Rússia
e uns poucos das do Brasil. Por sentirem-se isolados dos demais núcleos

(136) N9 1, Libro de Acras de la Iglesia Evangélica Bautista de Asunción (Paraguay), Ata


n° 1, 24 de outubro de 1920, fotocópia, gentileza de Júlio Cezar Chenu; também entrevista
do autor com o Dr. Samuel Libert, Rio de Janeiro, julho de 1968.
(137) Jacobson, Henrique; Loks, Rodolfo; Araium, Alexandre; Peluschs, Augusto, Ques-
tionário de pesquisa.

153
batistas letos e sem a assistência espiritual que esperavam da igreja de
Jacu-Açu, os batistas letos daquela localidade declararam-se constituídos
em Igreja Batista Leta de Linha Telegráfica, sendo, cronologicamente,
a oitava igreja batista leia em terras brasileiras. (138)
Por falta de um dirigente experimentado à testa da igreja, esta
sofreu da mesma intermitência em sua autonomia que se verificou com a
igreja do Alto Guarani, isto é, ora tendo uma existência autônoma, ora
passando a depender da Igreja de Jacu-Açu como congregação, cujos
obreiros, Jacob Inkis e Pedro Graudins — principalmente este último —
davam-lhe a assistência espiritual. (139 ) Quando em 1910, alguns irmãos
letos de Alto Guarani se mudaram para a Linha Telegráfica, acharam a
igreja com apenas 18 membros. (140)) De 1911 em diante, deixou de exis-
tir a igreja autônoma na colônia de Linha Telegráfica, embora pouco
mais tarde ali se verificasse um considerável aumento de batistas letos.
Entretanto, a congregação possuía tal autonomia que dirigia seus pró-
prios destinos, exercia a sua própria disciplina e mantinha a sua própria
tesouraria, sem qualquer prestação de contas à Igreja de Jacu-Açu, fun-
cionando esta só como última corte de apelação em casos que exigissem
tal providência. (141)) Finalmente, em 1917, quando o movimento pente-
costal já havia envolvido o próprio pastor da Igreja de Jacu-Açu, os
batistas da Colônia de Linha Telegráfica foram quase totalmente absor-
vidos pelo pentecostismo, com Pedro Graudins à frente. No mesmo ano,
os remanescentes batistas deixaram aquela colônia e mudaram-se para
Jacu-Açu, encerrando-se, assim, o trabalho batista na Linha Telegráfi-
ca. (142 ) Fig. 47
Concluímos aqui a história das igrejas batistas letas nos Estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul até o fim da I Guerra Mundial, para
prosseguirmos no próximo capítulo com a história das igrejas batistas
letas no Estado de São Paulo no mesmo período.

(138) Cf. Schoinvilles un Blumenawas apkahrtnes latweeschu baptistu beedribas gada sapul,
ce. Schakwase, 1 un 2 janvari, 1902 gada (Assembléia Anual da Associação dos Batistas
Letos da Região de Joinvile e Blumenau, Jacu-Açu, 1 e 2 de janeiro de 1902).
(139) Cf. Protokoli Latweeschu Baptistu Draudzes Stundam no 1903 g. lihdz 1914 gadam
(Atas das sessões da Igreja Batista Leta de 1903 a 1914), p. 6 ss.
(140) Loks, Rodolfo; Jacobson, Henrique; Peluschs, Augusto, r Questionário de pesquisa.
(141) Ibid.
(142) Ibid.

154
CAPITULO IV

IMIGRAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO

1. Os Batistas Letos em Nova Odessa (1906)

2. Os Batistas Letos em Jorge Tibiriçá ou Corumbataí


(1906)

3. Os Batistas Letos em Nova Europa (1907)

4. Os Batistas Letos em Pariquera-Açu (1910)

5. Os Batistas Letos em São José dos Campos (1914)

6. Aspectos Cooperativos das Igrejas Batistas Letas


no Brasil até o fim da 1 Guerra Mundial

7. Retrospecto Panorâmico
CAPITULO IV
IMIGRAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO

1. Os Batistas Letos em. Nova Odessa (1906)

A história da fundação da colônia leta de Nova Odessa, bem como a


da Primeira Igreja Batista Leta de Nova Odessa, a mais conhecida de
todas as igrejas letas no Brasil, prende-se intimamente à pessoa do irmão
Júlio Malves, um dos elementos humanos a que mais deve a imigração leta
no Brasil depois de 1905.
Júlio Malves chegou ao Brasil em 1891, com nove anos de idade, em
companhia de seus pais, fixando-se na primeira colônia leta em terras
brasileiras — Rio Novo, Santa Catarina. Em 1898 acompanhou a f a-
mília quando esta se transferiu para a Colônia de Jacu-Açu, no Município
de Blumenau. Depois dos primeiros estudos, que culminaram com dois
anos de freqüência a uma escola alemã de direção católica, voltou às ati-
vidades agrícolas. Sendo por natureza retraído e até certo ponto inibido,
dedicou-se a muitas leituras em leto, alemão e português e à reflexão
sobre temas e problemas filosóficos, sociais, políticos e teológicos. Des-
cobertos os seus pendores literários, mas não tendo oportunidade de
prosseguir nos estudos, enveredou pelo autodidatismo sistemático, que
em alguns anos proporcionou-lhe um considerável cabedal de conheci-
mentos. Simultaneamente com as suas leituras e ajudado por alguns
companheiros, por volta de 1902 editou, em forma manuscrita, em idioma
leto, o primeiro jornal mensal da colônia, denominado Schakwases Wehst-
nesis (O Arauto de Jacu-Açu), que teve vida efêmera. (1)
Uma de suas maiores preocupações de jovem pensador foi a de um
futuro melhor para os letos do Brasil, espalhados em colônias de difícil
acesso e em zonas de clima insalubre. Idealizava a obtenção de uma
gleba de grandes proporções, do Governo, em região de clima saudável,
nas proximidades de um grande centro, para que os patrícios não sofres-
sem o aviltamento dos preços de sua produção agrícola, e em condições
de poderem preservar a sua cultura e desenvolver a sua vida comunal nos
moldes europeus, cujos padrões evidentemente eram superiores não só

(1) Krigers, Verner, Entrevista com o Sr. Júlio Malves em 15 de fevereiro de 1967, em
Rumo-a-Oeste, Mato Grosso. Também Malves, J., Questionário de pesquisa.

157
aos seus próprios olhos, mas também aos olhos do próprio Governo, que
então reconhecia que as populações interioranas brasileiras muito tinham
a aprender dos imigrantes estrangeiros. As suas idéias eram desposadas
também por vários outros jovens e por alguns dos mais idosos, entre
estes Ernesto Araium, um dos colonos mais ativos e vivamente interes-
sados no bem-estar sócio-econômico da comunidade leta, grande amigo
da mocidade e regente do coro da igreja em Jacu-Açu. Sabedor das idéias
de Júlio Malves, Ernesto Araium começou a estimular o jovem para que
dedicasse ao menos um ano a viagens e estudos ponderados, com o in-
tuito de descobrir um lugar adequado para a concretização de tais ideais.
Aconteceu, porém, que Júlio Malves adoeceu seriamente, ficando preso
ao leito cerca de ano e meio, depois do que forçoso lhe foi procurar outro
clima e outra atividade. Na mesma época, o seu amigo Ricardo J. Inke,
que havia passado suas férias entre os colonos alemães da Argentina,
entre os quais havia muitos batistas, começou a enviar notícias tentado-
ras sobre as condições de vida dos agricultores da República vizinha.
Ainda que muitos desejassem transferir-se imediatamente para a Argen-
tina, faltavam-lhes os recursos financeiros necessários para tal transfe-
rência. Júlio Malves não simpatizava com a mudança dos letos para a
Argentina, especialmente por causa do rigor do inverno em grande parte
do seu território, como também em virtude do clima político que então
dominava aquele país. ( 2 ) Leitor que era de um jornal alemão de Join-
vile e de outro de São Paulo, estava razoavelmente informado a respeito
do assunto. Percebendo, entretanto, a insatisfação dos seus irmãos em
Santa Catarina e carecendo ele mesmo de um clima melhor para a recu-
peração da saúde, mandou publicar um anúncio num jornal alemão de
Joinvile, em que se apresentava para qualquer emprego. Providencial-
mente, o anúncio foi lido por um senhor leto, Karlis Grinberg, que havia
adotado o nome de Carlos Monteverde (tradução do nome original) e ele
contratou Júlio Malves para vender sabonetes de sua fabricação nas ci-
dades do interior de São Paulo. Acompanhando seu patrão numa viagem
de dois meses, na cidade de Belo Monte, Júlio Malves desligou-se da firma
de Carlos Monteverde, convencido de que faltavam-lhe aptidões para tal
ramo de negócio. Depois de quatro meses de trabalho numa fazenda
próxima, dirigiu-se para a Capital do Estado, na esperança de encontrar
uma ocupação mais consentânea com os seus pendores e suas condições
físicas. Lá tomou conhecimento do grande incremento que a imigração
estrangeira estava tomando no Estado.
Antes mesmo de encontrar um emprego, percebendo que havia che-
gado a hora de agir em favor de seus irmãos, que sofriam mil agruras
em Santa Catarina, resolveu romper com a sua natural inibição e pedir
uma audiência com o então Secretário de Agricultura, Dr. Carlos Botelho.
Uma vez na presença do ilustre homem público, expôs-lhe os problemas
dos letos nas colônias da região de Blumenau e Joinvile e os seus ideais
de reuni-los numa grande colônia em que pudessem trabalhar com pro-
veito e contribuir para o desenvolvimento da agricultura no Estado, es-
(2) Malves, J., "Mazs papildinajums pie gramatas: Nova Odesas latviesu baptistu draudze
25 gados" (Pequeno complemento ao livro: A Igreja Batista Leta de Nova Odessa em
25 anos), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), 1932, n° 3, pp. 60 e 61.

158
clarecendo que se tratava de um povo afeito aos labores agrícolas e de
grande força de vontade e tenacidade. (3 ) Após mais alguns entendimen-
tos, ficou acertado que a Secretaria de Agricultura mandaria cinco pas-
sagens gratuitas para uma comissão de representantes que desejasse
visitar alguns núcleos coloniais do Estado de São Paulo, especialmente
o de Nova Odessa, recentemente abandonado por judeus russos agencia-
dos na Europa na região de Odessa, junto ao Mar Negro. Aqui vale no-
tar que o próprio Dr. Carlos Botelho já havia viajado largamente pela
Europa, a serviço de sua Secretaria, indo até o Mar Negro. Ali se en-
cantou tanto pela cidade de Odessa, que, ao voltar ao Brasil, planejou
uma cidade com o traçado daquela — com avenidas de 20 m de largura,
ruas de 16 m e quarteirões de 104 m, com apenas quatro lotes, de 52 m x
52 m cada um, para a formação de vastos jardins e pomares — cuja de-
marcação ele dirigiu pessoalmente — junto à estação ferroviária que
serviria a Fazenda Velha, (4 ) área principal a ser colonizada, inclusive
dando-lhe o nome de "Nova Odessa".
Quase ao mesmo tempo o Dr. Carlos Botelho enviou à Europa o
Sr. João Gutmann, um leto luterano de Ijuí que exercia funções de agente
de imigração junto à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo,
a qual mantinha um escritório de imigração em Antuérpia, com sucursal
em Londres. Instalado na sucursal, o Sr. João Gutmann entrou em conta-
to com os letos interessados em emigrar, residentes nas muitas colônias
letas espalhadas pelo território russo, bem como os da própria Letônia,
então província da Rússia, a fim de enviá-los para o Estado de São
Paulo. ( 5)
Diante da possibilidade de serem ocupadas as terras de Nova Odessa
pelos imigrantes enviados por João Gutmann, o irmão Júlio Malves, logo
após os seus primeiros contatos com o Secretário de Agricultura do Es-
tado de São Paulo, comunicou-se com o seu velho conselheiro na Colônia
de Jacu-Açu — Ernesto Araium — de quem recebeu imediatamente um
cartão de resposta em que manifestava o mais vivo interesse pelo assunto.
Foi quando Júlio Malves escreveu uma longa e detalhada exposição das
condições vantajosas que Nova Odessa oferecia aos irmãos letos de San-
ta Catarina, enviando-a ao irmão Ernesto Araium e também à Igreja
Batista Leta de Jacu-Açu. O documento alvoroçou a grande maioria
dos membros da referida igreja e até das igrejas vizinhas. Na ocasião
encontrava-se em Jacu-Açu, para um período de visita à família, o jovem
Ricardo J. Inke, que pediu à igreja o privilégio de integrar a comissão
dos cinco representantes que visitariam Nova Odessa, ao que a igreja
prazerosamente anuiu. Quando, em fevereiro de 1906, os representantes
da Colônia de Jacu-Açu viram a qualidade das terras de Nova Odessa, as
condições favoráveis ao escoamento da produção e as extraordinárias
facilidades oferecidas pelo Governo do Estado para o início da vida
agrícola dos colonos — inclusive a cobertura total das despesas de trans-
(3) Krigers, Verner, loc. cit.
(4) Jones, Judith Mac Knight. Soldado Descansa! 1' ed. São Paulo, Editora Jarde, 1967,
p. 366.
(5) Araium, Oscar, "Bosquejo histórico de Nova Odessa", O Tempo, Ano XII, Americana,
São Paulo, n9 536, p. 2.

159
ferência de tantos quantos desejassem fixar-se ali — o próprio irmão
Ricardo J. Inke, que até então pensava numa transferência dos letos de
Santa Catarina para a Argentina, entusiasmou-se pela mudança para
Nova Odessa, (6 ) que ficava à margem da ferrovia, a Companhia Pau-
lista de Estradas de Ferro, a cerca de 130 km da Capital do Estado. O
relatório dos representantes da Colônia de Jacu-Açu teve ali uma reper-
cussão tão positiva que imediatamente iniciaram-se as vendas de pro-
priedades e benfeitorias e os preparativos para a mudança por parte da
grande maioria dos batistas letos daquela colônia.
A esta altura dos acontecimentos, Júlio Malves, estando ainda de-
sempregado, formulou ao Dr. Carlos Botelho um pedido de emprego. Foi
quando este o convidou para trabalhar no posto zootécnico da Secretaria
de Agricultura, e, dois meses depois, verificando as suas aptidões, na
Biblioteca da mesma Secretaria como tradutor de documentos e corres-
pondência oficial em idioma alemão. Embora o primeiro mês lhe fosse
extremamente penoso por se encontrar absolutamente sem recursos, só
pelo fato de ser funcionário da Secretaria de Agricultura, condições que
lhe facilitaria a colocação dos letos de Santa Catarina no Estado de São
Paulo, especialmente em Nova Odessa, Júlio Malves se dispôs a passar
até fome, o que efetivamente aconteceu, para servir ao seu povo, ( 7 )
cujo progresso, naquela região e naquele Estado da Federação, ele já
vislumbrava com uma verdadeira visão de profeta, como veremos pouco
mais adiante, na participação que teve na organização da igreja batista
em Nova Odessa, que, 17 anos depois veio a servir, na providência di-
vina, como cabeça-de-ponte para a fundação da grande colônia leta de
Varpa, no interior do Estado de São Paulo, a maior em todo o mundo.
Por uma dessas coincidências muito raras, aconteceu que a 24 de
junho de 1906 chegaram a Nova Odessa os dois primeiros grupos de imi-
grantes letos um vindo de Santa Catarina e outro da Europa. (8 ) O
primeiro era constituído de batistas e transferido por iniciativa de Júlio
Malves, enquanto o outro, de luteranos, enviado por João Gutmann. A
Fazenda Velha, cuja sede distava cerca de 8 km de Vila Americana (hoje
Americana) e 7 km da estação de Nova Odessa — adquirida pelo Go-
verno e dividida em pequenos sítios de 10 alqueires cada um — foi a
área onde se estabeleceu a décima primeira colônia leta no Brasil. Os
que procederam de Santa Catarina e que já possuíam uma razoável ex-
periência de alguns anos de vida agrícola no Brasil levavam considerável
vantagem sobre os demais, vindos diretamente da Europa. Enquanto
aqueles resistiam muito bem às dificuldades naturais e apresentavam
bom rendimento em seus labores, estes preferiram tentar sua sorte em
centros urbanos, abandonando as suas terras e espalhando-se, em grande
parte, pelas cidades, como Campinas, Rio Claro, Jundiaí, São Paulo, ou
então fixando-se na projetada cidade de Nova Odessa, junto da estação.
Ainda por vários anos continuava o fluxo dos batistas letos de Santa
Catarina para Nova Odessa. Eram recebidos por Júlio Malves no porto

(6) Malves, J.. Op. cit., p. 61.


(7) Krigers, Verner, Loc. cit.
(8) Araium, Oscar. Op. cit., p. 2.

160
de Santos e conduzidos por ele para ocupar as terras ainda disponíveis
na nova colônia e depois nos núcleos coloniais de Jorge Tibiriçá, perto de
Corumbataí, e em Nova Europa, servida pela Estrada de Ferro Doura-
dense. ( 9) Fig. 38
Neste ponto da história da Colônia de Nova Odessa, merece refe-
rência especial a alta estima em que eram tidos os batistas letos pelo
Diretor do Núcleo Colonial de Nova Odessa, Oscar LOfgren, que na oca-
sião residia na sede da Fazenda Velha. Para tanto contribuiu grandemen-
te o bom relacionamento do irmão Júlio Malves com o ilustre homem,
bem como a vida ordeira e exemplar dos colonos. Em suas visitas fre-
qüentes ao Diretor, nos primeiros meses da existência da colônia, o irmão
Júlio Malves o informava amplamente sobre a história dos longos so-
frimentos do povo leto sob o jugo estrangeiro e outros aspectos, como
sejam: sua tradição agropecuária, seu interesse pela instrução, seu es-
pírito religioso e seu respeito à ordem constituída. Desses contatos re-
sultaram inúmeras atenções especiais por parte do Diretor do núcleo para
com os colonos, que redundaram em maior e mais rápido progresso da
colônia. Destacam-se entre elas as seguintes: a rápida implementação do
trabalho agrícola, a abertura e conservação eficiente das estradas, a
instalação de escola pública e a franquia do novo e amplo paiol de tábuas
na sede da fazenda para a realização dos cultos dos batistas, já que a
casa do irmão Roberto Peterlevitz — local em que a congregação se
reunia desde os seus primeiros dias — não comportava mais a grande
assistência. No dia da dedicação do paiol aos cultos também foi organi-
zada a igreja, como veremos mais adiante. (10 ) Outrossim, dezesseis
anos mais tarde, quando Oscar Lõfgren já era chefe da Inspetoria de
Imigração no porto de Santos, Júlio Malves recebeu a sua inestimável
colaboração na solução dos intricados problemas relacionados com o de-
sembarque das primeiras levas de batistas letos que vinham da Letônia
para fundar a Colônia Varpa. (11) Assim Deus usou os relacionamentos
humanos para abençoar o seu povo. Entretanto, não faltaram intrigas
e incompreensões, que acarretaram ao irmão Júlio Malves muito des-
gosto e até mesmo esperanças frustradas. Fig. 39
Como em todos os problemas dos primórdios da Colônia de Nova
Odessa os irmãos letos compartilhavam com o irmão Júlio Malves tanto
as tristezas como as alegrias, assim também solicitaram a sua ajuda na
organização regular e formal de uma igreja, problema que se lhes apre-
sentava difícil, por estarem num meio estranho e serem estranhos ao
meio. Em vista de o irmão Júlio Malves residir em São Paulo e já estar
identificado com a Primeira Igreja Batista da Capital e com os missio-
nários J. J. Taylor e W. B. Bagby, os irmãos letos de Nova Odessa soli-
citaram-lhe que, sobre o assunto de organização da igreja, entrasse em
contato com os referidos missionários, especialmente com o Dr. W. B.

(9) Questionários de pesquisa.


(10) Wahwers, R., Nova Odesas Latweeschu baptistu draudze 25 gados (A Igreja Batista
Leta de Nova Odessa em 25 anos), pp. 10 e 23.
(11) Malves, J., Arquivo particular (correspondência entre os Srs. Oscar Lofgren e Júlio
Malves de 30-06-1922, 03-07-1922, 08-07-1922, 13-07-1922, 17-07-1922, 21-07-1922, 12-08-
1922, 16-08-1922, 14-11-1922, 16-12-1922, 22-04-1923, 22-03-1924).

161
Bagby — a quem alguns já conheciam de suas visitas mensais à vizinha
colônia americana de Santa Bárbara, onde servia à pequena igreja ba-
tista fundada em 1871 — expressando o desejo de ver o missionário
batista pioneiro à frente da organização da igreja, e ao mesmo tempo
pedindo que o irmão Júlio Malves o acompanhasse a Nova Odessa e na
ocasião servisse de intérprete. (12 ) Feitos os contatos, ficou combinado
que, por ocasião da inauguração do paiol da Fazenda Velha como local
permanente dos cultos, fosse também organizada a igreja. E assim, aos
26 de dezembro de 1906, sob a presidência do missionário W. B. Bagby,
presente também o então evangelista do campo paulistano, H. Gartner,
foi fundada, com 50 membros, a Igreja Batista Leta de Nova Odessa, ( 13 )
anos depois denominada Primeira Igreja Batista de Nova Odessa, a nona
igreja batista leta organizada no Brasil e a primeira no Estado de São
Paulo. O missionário Bagby muito se alegrou com o privilégio que lhe
fora dado de ser o presidente do concílio de organização da igreja e ime-
diatamente apelou para a plena integração da mesma na obra batista
do Brasil. Embora ainda permanecesse o grande obstáculo do desconhe-
cimento do idioma nacional, a igreja, por intermédio do seu intérprete
Júlio Malves e por recomendação deste, hipotecou ao missionário todo
o seu apoio naquilo que lhe fosse possível dentro de suas limitações. (14)
Antes de considerarmos o trabalho da Igreja Batista Leta de Nova
Odessa, convém mencionar mais um fator de suma importância na colo-
nização leta no Brasil e que está estreitamente vinculado tanto à Colônia
de Nova Odessa como à pessoa de Júlio Malves. Referimo-nos à atuação
jornalística deste.
Firmada a Colônia de Nova Odessa, Júlio Malves afirmou-se também
como colonizador. A experiência de Nova Odessa e a capacidade de per-
cepção e observação da vida sócio-econômica e política do país o fizeram
sistematizar as suas idéias referentes ao problema da imigração no Bra-
sil, sobre os quais ele começou a escrever — sob o pseudônimo de "Pere-
grino" — uma série de publicações no maior jornal do Estado, O Estado
de São Paulo. O Dr. Carlos Botelho, observador perspicaz, tendo acom-
panhado o desenvolvimento da colônia leta de Nova Odessa e a atuação
jornalística do funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo, que externava uma filosofia de imigração que lhe parecia
interessante, resolveu fazer algo mais através da imprensa para incre-
mentar a imigração de mais letos no Estado de São Paulo. Sugeriu, então,
a Júlio Malves que, com a subvenção da Secretaria de Agricultura do
Estado de São Paulo,, editasse um jornal em idioma leto para servir de
veículo às suas idéias e informações aos letos espalhados pelo sul do
Brasil, Argentina, Rússia e Letônia. Tal idéia foi para Júlio Malves
como a própria realização de um sonho já há muito acalentado. E em
1907 começou a circular o Lihdumneeks (O Desbravador), com quatro
páginas em formato de 30 cm x 50 cm, com uma edição quinzenal de
3.000 exemplares, com redação e expedição na residência do próprio edi-

(12) Malvas, 1., Op. cit., p. 62.


(13) Wahwers, R., Op. cit., p. 10.
(14) Questionário de pesquisa.

162
tor, na Rua dos Guaianases 78, São Paulo, sendo feita a impressão em
Hennies Irmãos, Rua Riachuelo 14/16, São Paulo, sem prejuízo das pu-
blicações em português no diário paulista atrás referido. (15 )
O Lihdumneeks apresentava um conteúdo variado e prático, dando
orientação ampla aos letos que desejassem vir para o Brasil; descrevendo
aspectos geográficos e históricos, bem como econômicos e sociais; tam-
bém orientando os colonos letos do Brasil em aspectos agrícolas, jurídi-
cos e econômicos; publicando contos, histórias e poesias dos dias pri-
mitivos dos imigrantes; e principalmente oferecendo um farto noticiário
da vida social e religiosa nas colônias letas do Brasil e das oportunidades
de localização de imigrantes letos em novos núcleos coloniais no Estado
de São Paulo. Também publicava as críticas que eram feitas ao trabalho
de Júlio Malves, não raro travando-se sérias polêmicas. Inclusive uma
das críticas, que era dirigida por elementos luteranos, alegando dema-
siada matéria de interesse religioso — especificamente batista — num
jornal subvencionado pelo poder público, foi a que mais pesou para que
o jornal cessasse as suas atividades. Enquanto Júlio Malves tomava as
providências para desfazer a intriga, ocorreu a mudança do Secretário
de Agricultura. Ao novo Secretário não interessava o jornal. Entre os
colaboradores mais destacados, citamos Dr. Rodolfo Libeks, engenheiro
residente no Rio de Janeiro, e, pelo que parece, o primeiro leto a residir
na então Capital da República; João Diener, figura de expressão na
Colônia de Nova Odessa; e Ricardo J. Inke, pastor em Entre Rios, Ar-
gentina. Depois de três anos de circulação ininterrupta em quatro con-
tinentes — América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia (Harbin,
na Mandchúria e Hong-Kong na China) — o Lihdumneeks teve que
encerrar a sua atuação benéfica, que não só mantinha uma vinculação
salutar entre as colônias e igrejas batistas letas do Brasil, como também
encaminhou muitos imigrantes letos — de dentro e de fora do Brasil —
para o Estado de São Paulo, justificando assim plenamente a sua exis-
tência e entrando para a história como o primeiro periódico impresso no
Brasil em idioma leto. (16 )
Voltemos agora ao desenvolvimento da Igreja Batista Leta de Nova
Odessa. Logo no ato de sua fundação, em 1906, foi eleito como seu pri-
meiro moderador o irmão Anss Araium, que havia anos já vinha acumu-
lando uma longa experiência de pastorado, desde a província de Novgo-
rod, na Rússia, e mais tarde nas igrejas das colônias de Mãe Luzia e
Jacu-Açu, no Estado de Santa Catarina. Ajudado por um Conselho
composto de homens experientes, permaneceu na direção da Igreja de
Nova Odessa até 1914, com pequenas interrupções.
Em 1907, após uma visita de Ricardo J. Inke a Nova Odessa, a
igreja encaminhou uma solicitação ao missionário Carlos Roth, em Por-
to Alegre, no sentido de que a chamada "Missão Alemã" nomeasse o
irmão Ricardo J. Inke seu missionário em Nova Odessa, o qual àquela
altura era obreiro daquela missão entre os alemães da Argentina, na
Igreja de Ebenézer, na província de Entre Rios, onde fora ordenado. O

(15) Malves, J., Questionário de pesquisa.


(16) Id., ibid.

163
missionário Carlos Roth não concordou com este plano, ficando esse obrei-
ro à frente do seu próspero trabalho na Argentina. Ocorrendo em 1908 a
mudança da família do Pastor Ricardo J. Inke de Ponta Comprida para
Nova Odessa, nas férias de 1909 ele visitou novamente a igreja em Nova
Odessa. No ano seguinte, 1910, mudou-se definitivamente para essa colô-
nia e assumiu o pastorado da igreja, deixando a "Missão Alemã". Entre-
tanto, a sua permanência no novo campo não chegou a um ano. Na 43
Assembléia da Convenção Batista Brasileira, realizada em 1910, em São
Paulo, o Pastor Ricardo J. Inke é "descoberto" pelo missionário J. W.
Shepard e pelo Dr. T. B. Ray, então Secretário Executivo da Junta de
Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos,
ou seja, a Junta de Richmond, e, por insistência dos dois, o novo pastor
de Nova Odessa, sempre ansioso de mais preparo para melhor servir à
Causa de Cristo, seguiu para os Estados Unidos em fins de 1910, com
o compromisso de, concluídos os estudos teológicos, voltar ao pastorado
da Igreja de Nova Odessa. (17 )
Para substituir o Pastor Ricardo J. Inke durante a sua ausência, a
igreja convidou o Pastor Frederico Leimann, que desde 1904 estava
atuando entre os alemães, letos e brasileiros no Estado do Rio Grande
do Sul, em cooperação com a "Missão Alemã" já mencionada, inclusive
encontrando-se na liderança da Convenção das Igrejas Batistas do Rio
Grande do Sul. Este fez uma visita a Nova Odessa em 1910 e, pronto
para ajudar à novel igreja, colocou-se a sua disposição por alguns pe-
ríodos mais ou menos prolongados — três a quatro meses por ano —
durante a ausência do Pastor Ricardo J. Inke. Ainda que essas visitas
ocorressem somente duas vezes — em 1910 e em 1913 — deixaram um
saldo positivo considerável em doutrinamento, evangelização, estímulo e
estruturação da igreja, ampliando-lhe a visão e firmando-lhe as estacas.
Sob a orientação segura e mansa do Pastor Anss Araium, a igreja,
logo de início, organizou-se em condições de começar a promover um
trabalho produtivo. Na primeira sessão após a fundação da igreja surgiu
o Coro e a Escola Bíblica Dominical. Aquele sob a regência competente
do diácono Ernesto Araium, que neste posto serviu até 1915, e esta sob a
superintendência do irmão Anss Strautmann, que mais tarde deu à De-
nominação o seu filho, Pastor Carlos Ricardo Strautmann, formado pelo
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
A União de Mocidade surgiu na primeira visita do jovem Pastor Ri-
cardo J. Inke a Nova Odessa, em meados de 1907, o qual encontrou entre
os moços um desejo de se organizarem em uma União para prestarem
algum serviço efetivo à igreja, visto que sabiam existir uma forte União
de Mocidade na Igreja Batista Leta de Rio Novo, Santa Catarina, e ou-
tra na Igreja Batista Leta de Ijuí, Rio Grande do Sul. A esta altura esse
tipo de organização era uma novidade para as igrejas brasileiras. Sob
a presidência do Pastor Ricardo J. Inke, o assunto foi levado à igreja e
no dia 12 de agosto daquele ano foi organizada a União de Mocidade com
18 membros, figurando entre eles João Diener e André Leekning — no-

(17) Inke, Sophia, Richards Jekabs Inkis (Ricardo Jacob Inke). Dados biográficos enviados
ao autor em 28 de junho de 1967.

164
mes que posteriormente se tornaram muito conhecidos entre os batistas
brasileiros — atuando ambos como presidentes da União. Menção espe-
cial na liderança da União de Mocidade merece o irmão Eduardo Inke
— já antes referido quando de sua atuação na Igreja de Jacu-Açu, Santa
Catarina — que, com o seu equilíbrio e diplomacia, durante a sua gestão
(1908/1909) tirou a União de urna crise que ameaçava a sua integridade,
levando-a a uma nova fase, de prosperidade e de trabalho unido e útil,
assim restaurando a confiança da igreja nos seus jovens. Seguiu-se-lhe
a gestão do jovem Frederico Puke, dinâmico e idealista, que, com a co-
laboração do Pastor Frederico Leimann, em sua visita prolongada em
1910, tornou a União a "menina dos olhos" da igreja. Os estudos bíbli-
cos, dirigidos em estilo original por esse pastor, e as várias discussões
públicas de caráter polêmico, sustentadas por ele na "Sociedade Letta
Instructiva de Nova Odessa" — na época em mãos de mentores socia-
listas-materialistas, que punham em dúvida a veracidade e autentici-
dade da Bíblia — foram as atividades que polarizaram a atenção dos
jovens da igreja, ampliando-lhes a visão e firmando-os na fé.
Com grande entusiasmo, apoio e participação total da igreja, foi
celebrado, em 1909, o segundo aniversário da União de Mocidade, em
cujo programa constavam 83 números, programa este que levou várias
horas de duas noites para ser apresentado. Neste ponto também é pre-
ciso assinalar o papel que o Pastor Ricardo J. Inke teve no estímulo dos
jovens para se dedicarem aos estudos, conseguindo encaminhar André
Leekning, Wilis Klawa, Eduardo Alksbirze e o próprio presidente da
União, Frederico Puke, para o Colégio e Seminário Batista do Rio de
Janeiro. Quando o último partiu para o Colégio e Seminário em janeiro
de 1911, também levou a incumbência de representar a igreja e a União
de Mocidade na 5a Assembléia Anual da Convenção Batista Brasileira,
que se reunia em Campos, onde teve uma atuação destacada em favor
da introdução de Uniões de Mocidade nas igrejas batistas do Brasil, (18 )
pois, embora já existisse uma "corrente de Uniões desde o Norte ao Sul,
algumas funcionando com muito proveito e entusiasmo", (19 ) havia ain-
da bastante resistência quanto à viabilidade desse tipo de organização
entre os batistas. Os missionários Salomão Ginsburg e F. M. Edwards
— o primeiro, membro da primeira Comissão de Uniões de Mocidade
Batista nomeada na V Assembléia da Convenção Batista Brasileira, e
ambos conhecedores também da atuação dinâmica e abençoada da União
de Mocidade da Igreja Batista Leta de Nova Odessa, foram os grandes
paladinos, na Assembléia de Campos, em defesa do trabalho organizado
dos jovens das igrejas batistas. Desta forma, coube também à mocidade
da Igreja Batista Leta de Nova Odessa uma parcela na implantação da
idéia da organização de Uniões de Mocidade Batista nas igrejas do Bra-
sil. (20 )
Por volta de 1911 começaram, em número crescente, a se fixar jo-
vens letos na cidade de São Paulo, em busca de melhores fontes de renda.
(18) Janaitis, \V., "Draudzes jaunatne" (A Mocidade da Igreja), Nova Odesas latweeschu
baptistu draudze 25 gados (A Igreja Batista Leta de Nova Odessa em 25 anos), p. 45.
(19) Convenção Batista Brasileira, 3' Assembléia, Recife, 1909, Atas, p. 33.
(20) Janaitis, W., Op. cit., pp. 48 e 49.

165
A maior parte daqueles moços era procedente das famílias de Nova
Odessa. Quando, naquele ano, o Pastor João Inkis veio da Letônia, em
sua segunda visita às colônias letas do Brasil, aconselhou a Igreja de
Nova Odessa a cuidar de seus jovens que residiam na Capital do Estado,
sugerindo que esta tarefa fosse entregue aos moços zelosos da União
de Mocidade. A igreja prontamente confiou à União essa responsabili-
dade, e o jovem Frederico Puke — que, depois de dezoito meses de es-
tudos no Colégio Batista do Rio de Janeiro, fora impedido de continuá-
-los — foi escolhido pela União para dirigir aquele trabalho. Assim, a
partir de agosto de 1912, por quase dois anos consecutivos, foram reali-
zados cultos duas vezes ao mês na sede da Associação Cristã de Moços,
tendo uma assistência em torno de 60 pessoas em cada reunião, sempre
sob a direção desse jovem.
Uma crise muito séria, que dividiu a União em dois partidos con-
flitantes, impediu a continuação do trabalho em São Paulo, afastando
alguns elementos de valor e reduzindo o número de unionistas de 55, em
1913, para 37, em 1916. Os resultados da crise só não foram mais de-
sastrosos devido a dois fatores humanos — além do principal e funda-
mental, que foi a graça de Deus — quais sejam: a atuação diplomática,
mas segura, da jovem Olga Strelniek — mais tarde conhecida professora
do Colégio Batista Brasileiro em São Paulo e de outros educandários —
que, com a renúncia do presidente, subiu da vice-presidência à presidên-
cia da União; e a chegada do Pastor Ricardo J. Inke, de volta dos seus
estudos na América do Norte, para pastorear a Igreja Batista Leta de
Nova Odessa.
Sob a direção inteligente do jovem André Leekning — que já havia
concluído o curso do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro, e fora convidado para assumir a direção da Escola Anexa —
e a supervisão compreensiva do Pastor Ricardo J. Inke, a União de
Mocidade experimentou, daí por diante, um período de expansão, entrando
em contato mais estreito com os missionários J. J. Taylor, A. B. Deter,
J. W. Shepard, F. M. Edwards e outros, que visitavam a colônia fre-
qüentemente, bem assim com a mocidade de algumas igrejas brasileiras,
realizando intercâmbios com as Uniões da Primeira Igreja Batista de
São Paulo e Primeira Igreja Batista de Santos. Entre os jovens letos
da Capital de São Paulo, o mais destacado, por volta de 1918, foi João
Diener, pertencente à Primeira Igreja Batista de São Paulo e ocupando
o cargo de Presidente da União Paulistana, organização de Uniões da
Mocidade Batista de São Paulo. Na Assembléia bienal desta União,
realizada em 1919 com os jovens da Primeira Igreja Batista de Santos,
compareceram 30 mensageiros da mocidade batista de Nova Odessa. A
Assembléia seguinte, em 1921, realizou-se com a União de Mocidade de
Nova Odessa. (21) E assim a mocidade batista de Nova Odessa tem
cooperado no melhor espírito com a juventude batista brasileira.
Voltando às atividades e progresso da igreja na sua fase inicial,
merece menção a cooperação que durante alguns meses recebeu do se-
minarista Carlos Leimann e de seu irmão, Pastor Guilherme Leimann,

(21) Id., ibid., pp. 49-52.

166
aquele nas férias de 1911/12 e este no último trimestre de 1913. O mis-
sionário A. B. Deter, na ocasião Secretário Correspondente e Tesoureiro
da Junta de Missões Nacionais, residente em São Paulo, articulou os
planos para nomear o irmão Carlos Leimann como missionário da Junta
de Missões Nacionais no Estado de Santa Catarina, com base em Rio
Novo. Podendo pregar em leto e em português, serviria como pastor à
Igreja Batista Leta de Rio Novo e evangelizaria a ampla redondeza.
Nomeado pela referida Junta por iniciativa de A. B. Deter, a Igreja
Batista Leta de Nova Odessa ordenou o irmão Carlos Leimann ao mi-
nistério no dia 18 de setembro de 1912, sendo o concílio ordenatório
composto dos pastores W. B. Bagby, A. B. Deter, F. M. Edwards, J. Gre-
senberg e Jekabs Inkis. Fig. 40
Com a volta do pastor Ricardo J. Inke da América do Norte, em
1915, e sua posse no pastorado da Igreja Batista Leta de Nova Odessa,
novo sopro de vida penetrou em todas as camadas da igreja. Grandes
esperanças encheram o coração dos crentes e reanimaram-se a Socie-
dade de Senhoras, a União de Mocidade, a Escola Bíblica Dominical, o
Coro, a Escola Anexa e a Banda, de 14 figuras, denominada "Barítono",
cuja atuação havia dado algumas dores de cabeça. O número de mem-
bros já havia subido a 142, sendo na ocasião, a maior igreja batista do
interior do Estado, ( 22 ) quando, em 1916, o Pastor Ricardo J. Inke foi
convocado para exercer o cargo de Secretário Correspondente e Tesou-
reiro do Campo Paulistano, que naquela época incluía os Estados de
São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Para atender melhor aos encar-
gos da nova investidura, o Pastor Ricardo J. Inke teve que transferir sua
residência para a cidade de Campinas, onde, por falta de obreiros, teve
que assumir também o pastorado da Primeira Igreja Batista, visitando
a Igreja de Nova Odessa duas vezes por mês. Um ano depois, em fe-
vereiro de 1917, eleito professor do Colégio e Seminário Batista do Rio
de Janeiro e instado pelo seu diretor, Dr. J. W. Shepard, o Pastor Ri-
cardo J. Inke transferiu-se para a Capital da República, deixando desa-
lentada a Igreja de Nova Odessa, bem como todo o Campo Paulistano,
onde o seu dinamismo e a sua paixão evangelística haviam lhe conquis-
tado admiração.
Porém, ainda que breve — apenas de um ano e meio — o pastorado
do irmão Ricardo J. Inke em Nova Odessa foi marcante, deixando um
considerável saldo positivo. É que, por falta de um doutrinamento se-
guro e uma assistência constante, a disciplina da igreja deixava algo
a desejar. Grassava a venda de bebidas alcoólicas e do fumo em alguns
armazéns de propriedade de membros da igreja e no armazém da Co-
operativa dos colonos, em que figuravam como acionistas todos os pro-
prietários batistas, constituindo estes a maioria da corporação. A mo-
cidade, levada por alguns líderes da já citada "Sociedade Letta Instruc-
tiva de Nova Odessa", estava estremecida na sua fé e, por conseguinte,
no zelo por uma conduta exemplar. Contra tais irregularidades e ten-
dências insurgiu-se a igreja sob a liderança do Pastor Ricardo J. Inke.

(22) Inke, Ricardo J., "Campo Batista Paulistano", O Jornal Batista, Ano XVI, n, 5, Rio
de Janeiro, 10 de fevereiro de 1916, p. 4.

167
A atitude firme e positiva do pastor encorajou vários líderes da igreja,
que depois continuaram a luta contra as manifestações negativas no
seio do povo de Deus. Assim é que, com a saída do Pastor Ricardo J.
Inke, foi convidado a assumir a direção da igreja como evangelista e
moderador o irmão André Leekning. Este condicionou a aceitação do
convite à formal e cabal condenação de venda de bebidas alcoólicas e
aplicação de medidas disciplinares rígidas aos transgressores. Tal ati-
tude do obreiro levou a igreja a votar em 3 de fevereiro de 1918 a proi-
bição da venda de bebidas alcoólicas pelos membros da igreja, inclusive
no armazém da cooperativa, em cuja Assembléia Geral os acionistas
batistas apresentaram a respectiva moção e deram o seu voto cerrado
pela extirpação do mal. Satisfeita a condição, André Leekning assumiu
a direção da igreja, porém não consentindo na sua ordenação, pois que
intimamente não se sentia vocacionado para o ministério. Assim mesmo
a igreja o autorizou a celebrar a Ceia do Senhor e ministrar os batismos
até que encontrasse outro obreiro. (23 )
Depois de um ano de atividades à frente da Igreja, André Leekning
renunciou ao cargo para dedicar-se ao magistério no Colégio Batista Bra-
sileiro de São Paulo. A igreja convidou então o Pastor Guilherme Bu-
tler, de Rio Novo, e depois Janis Birzenieks, da América do Norte, mas
estes não aceitaram o convite.
O ano de 1918 assinala-se na história da Igreja Batista Leta de
Nova Odessa como de especial significação, por tratar-se do ano de
inauguração do seu magnífico templo, que na época era um dos melho-
res de todo o sul do Brasil e que até hoje está servindo à igreja. De
1906 a 1909 a igreja reunia-se, como já foi dito atrás, no paiol da sede
da Fazenda Velha. Em agosto de 1909 chegou o casal João e Anlize
Karklis, procedente da Rússia, de situação econômica muito boa, e com-
prou uma área razoável de terra, em que foram incluídas as benfeitorias
da sede da Fazenda Velha. De 1909 a 1918 a igreja passou a reunir-se
numa das grandes salas da casa residencial do fazendeiro João Karklis.
A precariedade das acomodações levou a igreja a pensar num templo,
mas os óbices que se apresentavam eram intransponíveis na ocasião.
Finalmente, em 1915, foi eleita uma comissão para escolha do local e
construção do templo. Considerados os vários oferecimentos de local
para o templo, decidiu-se pelo mais central, oferecido pelo irmão Au-
gusto Peterlevitz. A Comissão movimentou toda a igreja numa cam-
panha de construção, mas especialmente às senhoras e à Mocidade —
sob a liderança do Pastor Ricardo J. Inke e depois de André Leekning
— é que se deve o sucesso daquela campanha. No dia 26 de dezembro
de 1918, a Igreja Batista Leta de Nova Odessa inaugurou, com grande jú-
bilo, na presença de cerca de 400 pessoas de nove nacionalidades, o seu
magnífico templo, sob a direção do seu ex-pastor, irmão Ricardo J. Inke.
Entre os hóspedes especiais figuraram os Drs. W. B. Bagby, J. J. Taylor
e R. E. Pettigrew e respectivas esposas, o Coronel Antônio Ernesto da
Silva e o seminarista Antônio de Oliveira. Do custo total da obra, que
era de 30 :000$000 (trinta contos de réis), no dia da inauguração a dí-

(23 ) Wahwers, R., Op. cit., p. 22.

168
vida era de apenas um conto e quinhentos mil réis. Na ocasião a igreja
contava já com 150 membros, uma União de Mocidade de 55 unionistas,
um coro de 40 vozes, uma Escola Bíblica Dominical, uma banda de mú-
sica, uma "Classe Bereana" de estudos doutrinários sistemáticos para
obreiros leigos e uma Escola -Anexa, sendo, portanto, uma das igrejas
mais prósperas e maiores do Brasil. (24) Figs. 41 e 42
Apesar da intermitência de liderança pastoral, a marcha da igreja
não sofreu solução de continuidade, graças a uma liderança leiga da
melhor qualidade. Merecem menção, neste sentido, os diáconos: Ernesto
Araium, por vários anos moderador da igreja; Wilis Leeknings, um dos
mais dedicados evangelistas que a igreja já teve e que foi o primeiro
a dedicar as tardes dos domingos à visitação em seu trole (carruagem
de 4 rodas de tração animal, para três ou quatro pessoas), indo aos
lares brasileiros da vizinhança, dando, assim, origem, mais tarde, ao
trabalho batista em Cachoeiro; Frederico Strelnieks, um dos mais un-
gidos pregadores leigos; Evalds Uzars, outro pregador apreciado. To-
dos estes eram peças indispensáveis na fase primitiva da igreja em Nova
Odessa, quando os venerandos pastores Anss Araium e Jekabs Inkis já
não mais podiam servir devido à idade avançada.
Outro fator importante no desenvolvimento da igreja e que contri-
buiu grandemente para a sua unidade e prosperidade foi a literatura
batista que era encomendada da Letônia, bem como O Jornal Batista e o
Batista Paulistano. Como povo alfabetizado, os letos são geralmente
grandes ledores, mesmo quando já em idade avançada. Os batistas letos
sempre foram apreciadores da página impressa e dela se valeram para
estabelecer e expandir a sua obra. Como conseqüência natural desse in-
teresse pela leitura, a igreja em Nova Odessa também respondia a toda
espécie de apelos vindos da Letônia ou das entidades e igrejas batistas
do Brasil. Assim, a obra missionária sempre recebeu franco e liberal
apoio da parte da Igreja Batista Leta de Nova Odessa desde os seus
primórdios, bem assim os Seminários, os Colégios, os Orfanatos e ou-
tras instituições.
Entretanto, a época de florescimento da Igreja Batista Leta foi a
que seguiu à I Guerra Mundial, ou seja, após a grande imigração de ba-
tistas letos em 1922/23, como veremos mais adiante.
2. Os Batistas Letos em Jorge Tibiriçá ou Corumbatai (1906)
Quando as melhores áreas das terras da Colônia de Nova Odessa já
haviam sido tomadas pelos colonos letos, a Secretaria de Agricultura de
São Paulo tratou de encaminhar os demais imigrantes para outros nú-
cleos coloniais, como Jorge Tibiriçá — estação de Corumbataí, Estrada
de Ferro Paulista, no Município de Rio Claro — Nova Europa, Gavião
Peixoto e Nova Paulicéia, no Município de Nova Europa, onde já estavam
localizados grupos de imigrantes alemães. (25) Os primeiros colonos le-
tos a se fixarem no Núcleo Colonial Jorge Tibiriçá ali chegaram preci-
samente nos últimos dias do mês de dezembro de 1906. Vieram da Le-
(24) Cf. Inke, Ricardo J., "Igreja Batista de Nova Odessa", O Jornal Batista, Ano XIX,
n' 4, Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 1919, pp. 7 e 8.
(25) Malves, J., Carta ao autor, datada de 15 de setembro de 1966.

169
tônia, via Londres, enviados pelo agente leto de imigração João Gut-
mann. Entre eles achava-se a família Sprogis, que deu ao trabalho ba-
tista do Estado de São Paulo — tanto leto como brasileiro — três dos
seus descendentes. O primeiro deles foi Roberto Sprogis, também o pri-
meiro jovem batista leto a se matricular no Colégio e Seminário Batista
do Rio de Janeiro, quando este abriu as suas portas em março de 1908
(a inauguração do Colégio se deu a 5 de março e a do Seminário a 15 do
mesmo mês ). (26 ) A respeito deste jovem o Dr. J. W. Shepard, Diretor
da novel instituição, fez a seguinte referência: "Havia cinco estudantes
para o ministério no princípio, porém o irmão Roberto Sprogis voltou
para São Paulo, devido a sua pouca saúde." ( 27 ) Posteriormente, po-
rém, ele prestou bons serviços à evangelização dos brasileiros. Outro
membro notável dessa família foi o Dr. João Sprogis, um dos leigos de
maior folha de serviços prestados à Denominação Batista no Brasil, es-
pecialmente no campo da educação religiosa — Escolas Bíblicas Domi-
nicais e Uniões de Mocidade — tendo também ocupado os cargos de mo-
derador e pregador em várias igrejas, na falta de pastores, e por alguns
anos exerceu as funções de Diretor do Orfanato Batista do Estado de
São Paulo, quando este se achava sediado em Nova Europa. (28,) Por
volta de 1922 João Sprogis esteve no Colégio e Seminário Batista do
Rio de Janeiro como estudante para o ministério da Palavra de Deus,
mas, devido à situação econômica da família, não lhe foi possível pros-
seguir nos estudos, formando-se, posteriormente, em Odontologia. Ain-
da que como leigo, o Dr. João Sprogis vem prestando até o presente os
melhores serviços à Causa da Denominação Batista, inclusive como
líder em vários cargos na Associação das Igrejas Batistas Letas do Bra-
sil, tendo seus mandatos periodicamente renovados. O terceiro membro
influente dessa família foi o Dr. Ernesto Sprogis, também odontologista
e leigo ativo, que estava terminando o Curso de Extensão do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil em Palma e já prestes a dedicar-se
integralmente ao ministério, quando Deus o chamou a sua presença.
Em 1907 juntaram-se às famílias letas residentes no Núcleo Colonial
Jorge Tibiriçá, mais outras famílias letas, procedentes das colônias de
Santa Catarina e que não encontraram mais áreas suficientes de terra
em Nova Odessa. Destaca-se entre elas a família Alkschbirze, cujo filho,
Eduardo, mais tarde formou-se pelo Colégio e Seminário Batista do Rio
de Janeiro e pela Faculdade de Filosofia de Ciências e Letras do Rio de
Janeiro, doutorando-se em Filosofia, e que prestou grande serviço à
Denominação Batista como evangelista no campo paulistano, ao lado
do Pastor José Gresenberg e dos missionários F. M. Edwards e A. B.
Deter, e, no campo gaúcho, com o missionário A. L. Dunstan; também
atuando no magistério como professor do Colégio Batista de Porto Ale-
gre e professor público. Com a chegada dessas famílias, a comunidade
leta, já relativamente numerosa, caracterizou-se como um grupo distinto

(26) Mesquita, Antônio N. de, História dos Batistas do Brasil, Casa Publicadora Batista,
Rio de Janeiro, 1940, Vol. II, p. 27.
(27) Shepard, J. W., "Começos do Colégio e Seminário", O Jornal Batista, Ano VIII, n9 14,
de 9 de abril de 1908, p. 3.
(28) Sprogis, J., Carta ao autor, datada de 13 de outubro de 1966.

170
e passou a ser conhecida como Colônia Leta de Jorge Tibiriçá, sendo
esta a décima segunda colônia leta no Brasil. Figs. 43, 44 e 45
Quando em 1908 chegaram a essa colônia mais alguns batistas letos
de Nova Odessa, para ali fixarem residência, a 7 de julho daquele ano
foi organizada a Igreja Batista de Corumbatai, a décima igreja batista
leta do Brasil, constituída de 9 membros, todos letos, com Roberto Spro-
gis à frente como moderador e pregador. (29) Ainda que inicialmente a
igreja se constituísse exclusivamente de membros de nacionalidade leta
e seus cultos regulares e outros trabalhos decorressem em idioma leto,
os irmãos não lhe deram a designação de "igreja leta". Consoante as
pesquisas realizadas, nota-se que isto se deve à visão e dinamismo do
seu moderador, que, assimilando cedo o idioma nacional, já fazia alguns
trabalhos esparsos em português, (30 ) bem como à influência do espírito
missionário dos pastores que freqüentemente visitavam a igreja, como
Frederico Leimann, Guilherme Leimann, Carlos Leimann e Ricardo J.
Inke, que pregavam tanto em leto como em português e alemão, o mis-
sionário F. M. Edwards e o evangelista do campo paulistano, Pastor J.
Gresenberg, que representavam os batistas brasileiros, e o então semi-
narista Eduardo Alkschbirze, que dedicava as suas férias ao trabalho
da Igreja de Corumbataí e de outras no Estado de São Paulo. (31)
Entretanto, a vida da igreja foi relativamente curta. O êxodo dos
colonos, causado por uma série de contratempos climáticos e econômicos,
começou a verificar-se em 1916. Naquele ano a igreja havia alcançado
o seu clímax em crescimento numérico — 24 membros — para no prin-
cípio de 1917 chegar a apenas 6 batistas residentes, sendo dada como
extinta. (32 ) Finalmente, em 1919 só restava uma única família batista
leta em Corumbataí, (33) que não conseguiu restaurar o trabalho extinto.

3. Os Batistas Letos em Nova Europa (1907)


Entre os vários núcleos coloniais que o governo do Estado de São
Paulo fundou pelo interior do seu território na primeira década do pre-
sente século, conta-se também o de Nova Europa, no então Município de
Ibitinga. O Diretor desse núcleo foi o Dr. Rudolfs Libeks, engenheiro
agrônomo leto que estava lecionando no Instituto Gammon de Lavras,
Sul do Estado de Minas Gerais, quando o Secretário de Agricultura do
Estado de São Paulo, Dr. Carlos Botelho, o convidou para aquela fun-
ção em 1907. Faleceu em 1908, no Rio de Janeiro, fulminado por um
colapso cardíaco, quando estava cuidando de interesses dos imigrantes

(29) Sprogis, Roberto, "Noticiário", O Jornal Batista, Ano VII, n' 23, de 23 de julho de
1908, p. 7. Também Sieplins, Eduardo, carta ao autor, firmada em 29 de outubro de 1969.
(30) Id.., ibid.
(31) Alkschbirze, Eduardo, Entrevista com o autor em 26 de junho de 1967, em Porto
Alegre.
(32) Inke, Ricardo J., Arquivo particular, doado ao Museu Batista do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil pela viúva D. Sophia W. Inke. Também Sprogis, João, "No Nova
Odesas" (De Nova Odessa), fauna Tehwija (A Nova Pátria), mensário leto editado por
A. J. Fuhrmann, América do Norte, Bradley Beach, N. J., Vol. IV, 1917, n° 5, p. 196.
(33) Alkschbirze, R., Correspondência encontrada nos arquivos particulares de Júlio Malves,
em poder do autor.

171
junto ao Governo Federal, (34 ) tendo prestado relevantes serviços no
estabelecimento da Colônia Leta de Nova Europa, a décima terceira co-
lônia leta no Brasil. Os primeiros letos a se localizarem nas matas de
Nova Europa vieram das colônias letas da Rússia na primeira metade
de 1907. Eram 13 famílias, quase todas batistas. Em setembro de 1908
chegaram mais 7 famílias, e até o fim do ano mais outras famílias letas,
vindas das colônias do sul do país, juntaram-se àquelas. Ainda no mes-
mo ano fixaram-se 7 famílias letas na fazenda São Joaquim, a 3 km
da cidade de Ibitinga e 35 km de Nova Europa. (35)
A Igreja Batista de Nova Europa foi organizada em 1909, com 22
membros, todos letos, juntando-se, mais tarde, duas famílias russas, (36 )
sendo, assim, a décima primeira igreja batista leta fundada no Brasil.
A exemplo da Igreja de Corumbataí, também a de Nova Europa não se
chamou "igreja leta", senão em suas relações com as demais igrejas
letas. Parece que as razões foram as mesmas referidas com relação à
Igreja de Corumbataí. Um dos primeiros pastores a visitar a novel
igreja e pregar outra língua que não a leta, foi Ricardo J. Inke, quando
em 1909 esteve em visita prolongada a sua família em Nova Odessa,
vindo da Argentina. Com seu fervor evangelístico, lançou-se à conquista
de alemães e brasileiros de Nova Europa, deixando o trabalho, depois,
aos cuidados dos obreiros itinerantes do campo e do missionário F. M.
Edwards. Entretanto, por falta de um obreiro local em condições de
manter o trabalho em português, foram poucos os frutos entre os bra-
sileiros. Em 1911 o Pastor João Inkis, vindo da Letônia, em sua segunda
visita às colônias e igrejas batistas letas do Brasil, demorou-se algumas
semanas em Nova Europa, realizando um trabalho de doutrinamento
e consolidação na igreja local. Nos anos seguintes, o seminarista Eduardo
Alkschbirze dedicou especial atenção à igreja em Nova Europa durante
as suas férias escolares. Porém, por volta de 1914, com o êxodo de
muitos dos irmãos letos para outros lugares, dispersaram-se também os
poucos membros alemães e brasileiros, ficando a igreja sem local para
se reunir e sem assistência pastoral. Assim sendo, a igreja foi dada
como extinta, fato este confirmado pela estatística oficial do Estado de
São Paulo publicada em 1915, em que já não mais constava o nome da
Igreja Batista de Nova Europa. (37)
A partir de 1916, porém, com a volta do Pastor Ricardo J. Inke ao
Brasil e ao Estado de São Paulo como pastor das igrejas batistas de
Nova Odessa e de Campinas e com a sua eleição para o cargo de Secre-
tário Correspondente do campo, o trabalho batista em Nova Europa
começou a reviver. O espírito evangelístico de Ricardo J. Inke o levou
(34) Inke, Ricardo J., "A Imigração Leta no Brasil", Discurso proferido em 5 de outubro
de 1929 na Associação Leto-Brasileira do Rio de Janeiro, Kristiga Balss (A Voz Cristã),
recorte sem data; Arquivo particular, doado ao Museu Histórico Batista do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(35) Krasnais, Vilberts, Latviesu Kolonijas (Colônias Letas), Edição da União Nacional
da Juventude Leta, Riga, 1938, p. 479.
(36) Sieplin, Eduardo, Carta dirigida ao autor em 29 de outubro de 1969 (O remetente
secretariou a Ata da organização da Igreja).
(37) Sampaio, Adolfo B. Abreu, "Repartição de Estatística e Archivo do Estado de São
Paulo", O Jornal Batista, Ano XV, Rio de Janeiro, n9 35, 9 de setembro de 1915, p. 6.

172
a visitar as velhas veredas batistas de Nova Europa e descobrir os re-
manescentes da igreja extinta, em sua maioria alemães e brasileiros, e
a neles reavivar o espírito de testemunho cristão e a disposição de res-
taurar o trabalho batista. Alguns dos batistas que haviam se congre-
gado com os adventistas reexaminaram a sua posição doutrinária e vol-
taram a cooperar com a congregação batista, que de início se reunia
em casa da única família leta remanescente — a do irmão Carlos Sieberts.
Ocorreram várias conversões entre alemães e brasileiros. Além do Pas-
tor Ricardo J. Inke, passaram a visitar sistematicamente a congregação
batista o Pastor José Gresenberg e o colportor irmão Misael de Alber-
natz. Também no Núcleo Colonial de Nova Paulicéia, vizinho de Nova
Europa, houve despertamento entre alemães. Em abril de 1919 já havia
40 batistas em Nova Europa e Nova Paulicéia e 9 batistas em Ibitinga.
(38) Assim, em 19 de julho de 1919 foi reorganizada a igreja, tomando
o nome de Igreja Batista Brasileira de Nova Europa, embora os seus
membros pertencessem a seis nacionalidades: brasileiros, alemães, letos,
um austríaco, uma portuguesa e uma estoniana. Estiveram presentes o
Pastor José Gresenberg, o evangelista Eduardo Alkschbirze e o colportor
Misael de Albernatz. A casa do irmão Guilherme Geissler foi escolhida
como sede da igreja e todos os trabalhos eram realizados em portu-
guês. (38)
Portanto, mesmo extinta a igreja leta, as suas raízes ainda brota-
ram e deram muitos frutos.
4. Os Batistas 'tetos em Pariquera-Açu (1910)
Por volta de 1909 o governo do Estado de São Paulo estendeu a sua
política colonizadora também à região sul do seu território, fundando o
Núcleo Colonial de Pariquera-Açu, distrito do Município de Iguape. Al-
guns batistas letos de Nova Europa e Ibitinga interessaram-se pela nova
colônia, e em fins de 1910 mudou-se para Pariquera-Açu a família Ro-
senfeld, principal esteio da congregação de Ibitinga, pertencente à Igre-
ja Batista de Nova Europa. Era a única família batista em toda aquela
região. Pouco mais de dois anos depois transferiu-se para Pariquera-Açu
também o jovem Eduardo Sieplin, secretário da Igreja de Nova Europa,
evangelista fervoroso, cantor e regente. Junto com a família Rosenfeld,
deu início a uma Escola Bíblica Dominical, que logo foi prosperando e
se desenvolvendo em uma congregação com Eduardo Sieplin à frente.
A sala da casa da família Rosenfeld, a 5 km da Vila de Pariquera-Açu,
dominicalmente estava repleta de visitantes brasileiros da vizinhan-
ça. (40)
Em abril de 1913, chegou a Pariquera-Açu, procedente da Letônia, a
família do irmão Ernesto Grinberg: ele, sua esposa, Isabelle, seu filho
(38) Inke, Ricardo J., Arquivo particular, doado pela família Inke ao Museu Histórico
Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Rio de Janeiro, GB.
(39) "Noticiário" O Jornal Batista, Ano XIX, Rio de Janeiro, n9 32, de 7 de aposto de
1919. p. 14. Também KOhler. Otto, carta dirigida ao autor em 16 de junho de 1969.
(40) Rosenfeld, Carlos, Entrevista com o Pastor Verner Kriger em Nova Odessa, 26 de
fevereiro de 1968. Também "Noticias" O Jornal Batista, Ano XV, Rio de Janeiro, n9 23,
de 10 de junho de 1915, p. 7.

173
Verner, de dois anos de idade, sua irmã Ema e uma cunhada. O menino
Verner, anos depois, tornou-se o conhecidíssimo batista leto, industrial
e piloto, grande promotor da obra batista no Brasil, que é o irmão Verner
Grinberg, de quem falaremos mais detalhadamente alguns capítulos
adiante.
Animados com o progresso do trabalho, os irmãos letos resolveram
solicitar a assistência da liderança da Convenção Batista do Estado de
São Paulo. Como o irmão Eduardo Sieplin já conhecia o missionário F.
M. Edwards de suas visitas à Igreja de Nova Europa, escreveu a este,
convidando-o para visitar o novo trabalho de Pariquera-Açu. Impedido
por outros compromissos, o missionário respondeu que os irmãos recebe-
riam a visita do Pastor José Gresenberg. Também este obreiro, impedido
por motivos superiores, deixou de fazer a visita, enviando, em meados do
mês de novembro de 1914, o seu auxiliar de Mogi das Cruzes, Pastor João
Batista Júnior. Após uma semana de pregação a auditórios numerosos
na sede da congregação e uma grande reunião na Vila de Pariquera-Açu,
a 25 de novembro de 1914 foi organizada a Igreja Batista Leta de Pa-
riquera-Açu, a décima segunda igreja batista leta no Brasil, com 5 mem-
bros, todos letos. A reunião transcorreu em duas línguas, o Pastor João
Batista Júnior falando em português, interpretado para o idioma leto
pela irmã Emília Rosenfeld. A Ata da organização da igreja, redigida
em idioma leto, ainda registra a recepção de mais duas pessoas por pro-
fissão de fé, para serem batizadas no mesmo dia às 3h da tarde, sendo,
portanto, considerados 7 os membros fundadores da igreja: Didrikis Ro-
senfeld, Emília Rosenfeld, Ernesto Grinberg, Izabelle Grinberg, Eduardo
Sieplin, Carlos Rosenfeld e Lina Steichmann. (41 ) Na sessão seguinte,
que foi realizada por ocasião da segunda visita do Pastor João Batista
Júnior, em 2 de maio de 1915, foi recebida mais uma irmã, da Igreja
Batista de Curitiba, também de nacionalidade leta, e, por profissão de
fé e batismo, uma outra senhora, de nacionalidade alemã. Ainda na
mesma sessão, a igreja resolveu filiar-se à Convenção Batista do Estado
de São Paulo, cooperando financeiramente com todos os seus fins e as-
sinando o seu jornal, O Batista Paulistano. (42)
Daí por diante a igreja passou a receber com regularidade as visitas
do evangelista do campo, Pastor José Gresenberg, que costumava per-
manecer semanas seguidas em Pariquera-Açu — hospedando-se em casa
de seu irmão Ernesto Gresenberg, que a esta altura já estava residindo
naquela localidade — realizando trabalhos evangelísticos todas as noi-
tes, com o auxílio valioso do coro — cujos cânticos a quatro vozes eram
uma grande novidade — regido por Eduardo Sieplin, e celebrando ba-
tismos. Os irmãos letos acompanhavam o pastor aos pontos de pregação
nos sítios e fazendas próximos e distantes da redondeza, andando fre-

(41) Pariquera-Açu Latweeschu Baptistu Draudzes Dibinaschanas Stundas Protokols (Ata


da Sessão de Organização da Igreja Batista Leta de Pariquera-Açu), 25 de novembro de
1914. Este documento encontra-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, Rio de Janeiro, GB., doado pelo irmão Carlos Rosenfeld.
(42) Pariquera-Açu Latweeschu Baptistu Draudzes Sapulces Protokols (Ata da Sessão
Regular da Igreja Batista Leta de Pariquera-Açu), 2 de maio de 1915, idem, idem, Museu
Batista.

174
qüentemente longas horas da noite, sob a luz bruxuleante das lanternas
de querosene, pelos trilhos dos pastos e das roças e pelas picadas re-
cém-abertas nas matas, para levar a preciosa mensagem de Cristo aos
brasileiros e estrangeiros perdidos nas trevas espirituais. O trabalho da
igreja prosperou de tal modo que, ao chegar o fim do ano de 1915, esta
já contava com 35 membros. ( 43)
Porém, nos princípios de 1916 começou o êxodo dos irmãos letos de
Pariquera-Açu, porque novas perspectivas econômicas se lhes abriram,
especialmente no ramo da indústria extrativa de madeira, o que os levou
a procurar regiões de matas mais densas. Também, por motivos de de-
ficiência na direção do núcleo colonial, outros irmãos, estrangeiros e
brasileiros, desanimados, deixaram aquela localidade e se dispersaram
pela redondeza, pelo que a igreja chegou quase a se extinguir. Segundo
narrativas de alguns remanescentes, a reorganização da Igreja de Pa-
riquera-Açu teria ocorrido por volta de 1919, já com sede em uma casa
particular na cidade de Pariquera-Açu, constituindo-se exclusivamente de
brasileiros. (44) Em setembro de 1922 a igreja estava com 33 membros
dos quais apenas 16 residindo na sede, sem pastor e sem um evangelista
assistente. (45)
Até o ano de 1923 não consta que algum pastor leto tivesse dado
qualquer assistência a essa igreja, ocorrendo isto, porém, mais tarde,
como ainda teremos oportunidade de fazer referência.
Ainda que a prosperidade dessa igreja não fosse marcante, o seu
testemunho no local e a própria dispersão posterior dos membros pelo
Município de Iguape e regiões vizinhas e distantes, permanece até hoje
dando os seus frutos. E, embora o número de letos em Pariquera-Açu
fosse reduzido e o tempo de permanência desse grupo étnico fosse rela-
tivamente curto, a comunidade era conhecida sob a designação de "co-
lônia leta", mormente devido ao elemento aglutinador principal — a igre-
ja que inicialmente era constituída exclusivamente de batistas letos.
Assim, a comunidade leta de Pariquera-Açu foi a décima quarta colônia
leta no Brasil, cujo mérito na obra da extensão do Reino de Deus na
terra está no fato de ter deixado naquela região plantada uma igreja
batista testemunhando do evangelho de Cristo. ( 46)
5. Os Batistas Letos em São José dos Campos (1914)
A iniciativa de estabelecer uma colônia leta no Município de São
José dos Campos pertence ao já referido colonizador batista leto Júlio
Malves. Satisfeito com o sucesso alcançado com a fundação da Colônia
Leta de Nova Odessa, bem relacionado com a Secretaria de Agricultura
do Estado de São Paulo e descontente com as condições climáticas para
imigrantes do norte da Europa nas colônias que surgiram depois da Co-
lônia de Nova Odessa e onde a grande maioria dos letos encontrou di-

(43) Rosenfeld, Carlos, loc. cif.


(44) Sieplin, Eduardo, Carta particular dirigida ao autor em 12 de junho de 1969. Também
Leimann, Carlos, Entrevista com o autor em 23-10-65, em Castelo, Estado do Espírito Santo.
(45) Silva, Luiz Corrêa da, "Egreja Baptista de Pariquera-Açu, São Paulo", O Jornal
Batista, Ano XXII, n° 34, 35, 36, de 7 de setembro de 1922, p. 79.
(46) Mesquita, Antônio Neves de, Op. cit., p. 340.

175
ficuldades em permanecer, Júlio Malves continuou explorando outras
áreas do Estado de São Paulo em busca de condições melhores para o
estabelecimento de uma nova colônia. Enquanto estudava os planos e as
possibilidades para a realização do seu intento, também escrevia intensa
e extensivamente artigos sobre as vantagens da imigração no Brasil, pu-
blicados nos jornais batistas da Letônia, especialmente no Awots, cuja
penetração tanto na Letônia como na Rússia e até mesmo nas colônias
russas e alemães da China, motivou-lhe uma vasta correspondência. (47 )
Tendo encerrado a sua missão em Nova Odessa e passado depois
cerca de um ano e meio na Colônia de Nova Europa, Júlio Malves des-
cobriu, nas proximidades da cidade de São José dos Campos, à margem
da Estrada de Ferro Central do Brasil, terras férteis e em condições
vantajosas de aquisição nos limites da fazenda de Vargem Grande. (48 )
Em maio de 1914 as duas famílias Malves — Júlio e Augusto — e a
família Alkschbirze mudaram-se para São José dos Campos, onde den-
tro de pouco tempo receberam, procedentes da Letônia, as famílias Vaser,
Lazdbergmann, Strauss e Shause, sendo o chefe desta última um pre-
gador leigo, cujo filho, Arvido Shause, mais tarde veio a prestar grande
contribuição no desenvolvimento do trabalho batista no Estado de São
Paulo e no Estado do Paraná, em Curitiba, onde até o presente exerce
a sua influência juntamente com seus filhos, que atuam como líderes à
frente da juventude batista paranaense. (49 )
Com as sete famílias letas que se fixaram nas imediações de São
José dos Campos, ficou estabelecida a décima quinta colônia leta no
Brasil. Sendo todos os colonos batistas letos, logo passaram a celebrar
os cultos em leto, na casa da família Alkschbirze. Surgiu então o desejo
de organizar uma igreja, pois a correspondência de Júlio Malves dava
esperanças de uma boa afluência de novos imigrantes batistas letos. Por
mediação de Júlio Malves, foram estabelecidos contatos com a liderança
batista brasileira em São Paulo — de vez que a esta altura Júlio Malves
era membro da Primeira Igreja Batista de São Paulo e a 1° de ja-
neiro de 1915 foi organizada a Igreja Batista Leta de São José dos Cam-
pos, com 12 membros, todos letos, (50 ) sendo esta a décima terceira igreja
batista leta organizada no Brasil.
Com a continuação da I Guerra Mundial, porém, o movimento
gratório cessou. Também a cultura lucrativa do abacaxi com fins de
exportação para a Europa — que naquela época foi a grande atração
da região de São José dos Campos e sobre a qual Júlio Malves havia
escrito amplamente — com a guerra decaiu a tal ponto que muitos dos
cultivadores da saborosa "bromelia ananás" tiveram grandes prejuízos,
por falta de mercado. Isto trouxe um sério retraimento na afluência dos

(47) Malves, Júlio, Arquivo particular, consultado pelo autor em P de agosto de 1969
em Rumo-a-Oeste, Mato Grosso, às margens do Lago Gaiba.
(48) Questionários de pesquisa entre vários remanescentes e pesquisas feitas in loco pelo
Pastor Carlos Rodolfo Andermann, residente em São José dos Campos.
(49) Malves, Júlio, Carta dirigida ao autor em 10 de junho de 1967 em resposta ao ques-
tionário enviado. Também Shause, Arvido, Entrevista com o autor em Curitiba, em 21 de
junho de 1968.
(50) "Noticiário", O Jornal Batista, Ano XV, n° 1, de 7 de janeiro de 1915, p. 10.

176
letos para São José dos Campos, o que também resultou na paralisação
do crescimento da igreja. Em princípios de 1916 ainda chegaram à pe-
quena colônia as famílias Grinberg e Kwinte e o irmão Eduardo Sieplin,
sendo que a primeira e o último provenientes da Colônia de Pariquera-
-Açu. Porém, dentro dos dois anos seguintes, de todas as famílias letal
residentes em São José dos Campos, restava apenas a dos Alkschbirze,
cujos remanescentes ainda ali permanecem.
Assim, a Igreja Batista Leta de São José dos Campos teve uma
existência breve — de apenas 5 anos — sendo dada como extinta em
1919 e não passando de 25 o seu número de membros. (51)
Não há registros mais detalhados do trabalho que essa igreja teria
desenvolvido. Porém, pelas entrevistas e através de questionários de
pesquisa, recolhemos o seguinte: a Igreja Batista Leta de São José dos
Campos realizava os seus trabalhos normalmente em língua leta, havendo
partes em português nos programas especiais de Natal, de aniversário
da Igreja e por ocasião das visitas do Pastor João Batista Júnior e do
evangelista Eduardo Alkschbirze. Entretanto, sendo uma igreja com se-
de fora da cidade — a cerca de 5 km — e não havendo um obreiro que
desenvolvesse alguma atividade em português, os brasileiros interessa-
dos na mensagem do evangelho logo passavam a participar dos trabalhos
da Igreja Cristã Evangélica, que havia sido fundada aproximadamente
na mesma época. Esta, na falta de um organista e um dirigente de mu-
sica em seu seio, solicitou a cooperação do jovem Artur Alkschbirze,
regente do coro da igreja leta. Com a extinção da igreja leta, a única
família leta remanescente — a dos Alkschbirze filiou-se à Igreja Cris-
tã Evangélica. (52 )
Entretanto, a semente lançada pelos batistas letos na seara brasi-
leira não ficou sem seus frutos especificamente denominacionais. Alguns
irmãos brasileiros, a cuja frente estava Pedro Lopes, mantiveram ainda
por algum tempo uma congregação batista, que era visitada pelo semi-
narista Eduardo Alkschbirze e outros, mas, com um novo surto de mu-
danças, também esta desapareceu. (53) Quando, em 27 de dezembro de
1942, foi organizada a atual Igreja Batista de São José dos Campos,
houve uma considerável participação dos batistas letos, cujo número
havia aumentado novamente na cidade. Assim, são mencionados os no-
mes das famílias Pedro Shause, Arvido Shause, André Pusplatais, Filipe
Andermann, Augusto Strauss, Eduardo Strauss e outras, ao todo cerca
de 16 pessoas, algumas das quais cooperaram com a congregação batista
brasileira antes da organização da atual igreja, que foi fundada com 34
membros, sempre fazendo-se a menção do "jornalista Júlio Malves, que
iniciou o trabalho batista em São José dos Campos". (54 )

(51) Alkschbirze, Eduardo, Entrevista com o autor em 26 de junho de 1967, em Porto


Alegre.
(52) Id., ibid.
(53) "Noticias do Campo", O Jornal Batista, Ano XVI, n9 10, de 9 de março de 1916, p. 11.
(54) Columbani. Liberato, Carta do atual pastor da Igreja Batista de São José dos Campos,
Estado de São Paulo, datada de 31 de dezembro de 1971, a qual se encontra em nossos
arquivos.

177
6. Aspectos cooperativos das igrejas batistas tetas
no Brasil até o fim da I Guerra Mundial
Durante os primeiros dez anos (1892-1902) da história das igrejas
batistas letas no Brasil, a única vinculação cooperativa destas com or-
ganizações batistas era com a União das Igrejas Batistas da Letônia.
Toda a literatura de educação religiosa — Bíblias, hinários, livros de-
vocionais, sermonários, revistas e jornais — as igrejas encomendavam
da Letônia. Por sua vez, as mesmas igrejas e elementos isolados envia-
vam aos jornais e revistas batistas da Letônia as notícias sobre a vida
das igrejas letas no Brasil, poesia, contos e outros trabalhos literários.
Assim, os apelos da União das Igrejas Batistas da Letônia e as necessi-
dades das igrejas batistas letas no Brasil passaram a ser conhecidos cá
e lá. Em atendimento às mais diversas solicitações dos batistas da Le-
tônia, muitas ofertas eram enviadas das igrejas letas do Brasil, como
também alguns clamores destas eram ouvidos pelos batistas da Letônia
— principalmente com respeito aos obreiros — e por duas vezes foi
enviado o Pastor João Inkis ao Brasil, para visitar as colônias e igrejas
letas no território brasileiro e ajudá-las na consolidação do seu trabalho
e na solução de alguns problemas de natureza teológica e eclesiástica,
surgidos por falta de pastores devidamente preparados.
Outro motivo para as igrejas permanecerem vinculadas à União das
Igrejas Batistas da Letônia era o fato de que naquela altura não havia
no sul do Brasil nenhuma entidade batista a que pudessem filiar-se, a
não ser urna associação batista que se organizou no Rio de Janeiro em
agosto de 1894, (55) mas da qual os batistas letos nem tinham conheci-
mento, devido à distância que os separava, à diferença de língua e à
ausência de contato com o trabalho batista brasileiro, cujo campo, na-
quele tempo, tinha o seu ponto extremo sul na cidade do Rio de Janeiro.
A primeira idéia que incentivou as igrejas batistas letas à coope-
ração com os batistas brasileiros partiu do Pastor João Inkis, quando
este — de passagem pelo Rio de Janeiro, na volta de sua primeira visita
às colônias e igrejas batistas letas no Brasil — falou à Primeira Igreja
Batista do Rio de Janeiro e ao seu pastor, missionário W. B. Bagby,
solicitando aos batistas brasileiros um obreiro para os cerca de 250 ba-
tistas russos (letos) e alemães no extremo sul do país, que desejavam
evangelizar aquela região, mas não tinham obreiros que falassem o por-
tuguês, declarando, outrossim, que aqueles irmãos estavam prontos a
cooperar no sustento do obreiro. (56 ) Porém, por falta de obreiro, tal
plano não chegou a se concretizar na época e nem mesmo após a visita
dos missionários W. B. Bagby e J. L. Downing à Igreja Batista Leta de
Rio Novo, em maio de 1900, senão doze anos mais tarde, quando a Junta
de Missões Nacionais enviou o Pastor Carlos Leimann — filho da Igreja
de Rio Novo — como seu missionário para o Estado de Santa Catarina,
com residência em Rio Novo, servindo ao mesmo tempo nos pastorados
das igrejas de Rio Novo e Rio Mãe Luzia.

(55) Crabtree, A. R., Op. cit., p. 109.


(56) Id., ibid., p. 168. Também Inkis, J., Carta escrita do Rio de Janeiro, em 28 de agosto
de 1899, à Igreja Batista Leta de Ijui (ver tradução no Anexo IV).

178
Quando, em outubro de 1901, o missionário batista alemão Carlos
Roth, residente em Porto Alegre, chegou à Igreja Batista Leta de Rio
Novo com a idéia de organizar uma "Associação Batista Teuto-leta do
Brasil", tentando atrair as cinco igrejas batistas letas já existentes no
Brasil para a esfera do trabalho que se destinava exclusivamente aos
alemães, esta não encontrou repercussão no seio da igreja, apoiando,
porém, plenamente, a idéia do mesmo missionário sobre a instalação
de um pequeno seminário batista em Porto Alegre. Igual atitude toma-
ram também as igrejas letas do Município de Blumenau. Porém a igreja
leta da Colônia de Ijuí, no Estado do Rio Grande do Sul, por se achar
no centro das atividades missionárias de Carlos Roth, concordou em
participar de uma Associação de igrejas batistas alemãs, idéia que só
veio a se tornar realidade quando o próprio missionário Carlos Roth já
havia se retirado do Brasil, isto é, em 1909. Convém notar também a
circunstância de que nesta altura o trabalho batista alemão estava sob
a liderança de um obreiro leto, Frederico Leimann, e que a entidade em
questão — a Convenção Batista Alemã do Rio Grande do Sul — orga-
nizou-se justamente no templo da Igreja Batista Leta de Ijuí. (57 )
Porém as igrejas batistas letas do Município de Blumenau, sob a li-
derança do recém-imigrado e jovem pastor Pedro Graudins, da Igreja de
Jacu-Açu, realizarám, nos dias 1 e 2 de janeiro de 1902, a primeira as-
sembléia da Associação das Igrejas Batistas Letas da Região de Join-
vile e Blumenau, expedindo às demais igrejas letas do Brasil — de Rio
Novo, Rio Mãe Luzia e Ijuí — um convite para se associarem com ela
por ocasião da assembléia do ano seguinte.
A respeito dessa organização, de vida efêmera, vale a pena fazer
uma apreciação, ainda que ligeira, pois que as resoluções de sua pri-
meira assembléia refletem doutrinas e práticas observadas nas igrejas
batistas letas do Brasil naquela época.
O conclave em pauta reuniu-se na Igreja Batista Leta de Jacu-Açu,
na data referida acima, representando-se, segundo as Atas, três igrejas
e duas congregações, com um total de 18 mensageiros. No preâmbulo
dessas Atas lê-se o seguinte:
O irmão P. Graudins, como Presidente da Conferência,
apresenta o assunto da organização da Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil, já muitas vezes discutido entre os
obreiros. Vários irmãos, especialmente o irmão Jekabs Inkis,
manifestam a sua opinião sobre a necessidade de uma organi-
zação destas, dizendo: "A União Batista do Báltico acha-se por
demais distante de nós; ocorrendo alguns problemas, alguma
divisão, quem decidirá a questão, se não há uma Associação?
Os crentes não devem comportar-se arbitrariamente, antes de-
vem sujeitar-se uns aos outros. Razão por que os pequenos
grupos de crentes não deveriam constituir-se em igrejas au-
tônomas, porém filiar-se como congregações de algumas igre-
jas maiores." Os irmãos de Alto-Guarani apóiam, contentes,

(57) I juhyas Latweeschu Baptistu Draudzes 25 Gadu Wehsture (25 anos de História da
Igreja Batista Leta de Ijui), p. 3.

179
esta idéia e comunicam que há três meses atrás a pequena igre-
ja de lá passou a considerar-se congregação da Igreja de Jacu-
-Açu e que o irmão P. Graudins os visita, dispensando-lhes os
cuidados espirituais. Os mensageiros da Igreja de Brüedertal
declaram que por hora não podem decidir se a sua igreja virá
ou não tornar-se uma congregação da Igreja de Jacu-Açu e
nem podem afirmar se a mesma se unirá ou não à Associação,
prometendo que logo que voltarem à igreja apresentarão o as-
sunto e comunicarão a resolução à Diretoria da Associação. A
Conferência vota que daqui por diante em parte alguma um
grupo de crentes pode constituir-se em igreja sem o consenti-
mento da Comissão Executiva da Associação, a saber, dos
que ora participam da organização da Associação.
Votada a proposta da organização da Associação, foi eleito o te-
soureiro da mesma e levantada uma oferta para formar o fundo da en-
tidade, 6 contos e 140 mil réis, bem como a Comissão Executiva, com-
posta de cinco irmãos. Nas sessões seguintes foram tratados os mais
variados assuntos, como: o casamento civil — sendo recomendado que
os crentes o realizassem antes do religioso; o registro de nascimentos
e óbitos — recomendando-se a escolha de um "inspetor de quarteirão"
pela comunidade e reconhecido pelo governo municipal; a criação de
escolas anexas, para que os filhos não crescessem na ignorância, ou a
promoção de abaixo-assinados, solicitando escolas às autoridades; a
criação, nas igrejas, de "Sociedades de Amigos da Escola Bíblica Domi-
nical", para maior promoção de Escolas Bíblicas Dominicais, que são de
suma importância na formação de famílias fortes; o casamento misto —
recomendando-se a exclusão do crente que não observasse o preceito vo-
tado; o cultivo do fumo e a fabricação de aguardente — sendo termi-
nantemente proibidos; a cobrança de todas as anuidades atrasadas dos
excluídos, por ocasião de sua reconciliação, relativas ao tempo durante o
qual permaneceram fora da igreja — sendo recomendada a cobrança; o
uso da cruz nas sepulturas e do cruzeiro à entrada dos cemitérios ba-
tistas nas colônias — sendo recomendada a supressão de tal uso, em
razão do sentido idolátrico e supersticioso que a cruz traz consigo no
Brasil; os litígios entre irmãos levados perante os tribunais seculares
antes de serem julgados pela igreja — sendo condenada tal prática, e, no
caso de chegar a tanto e a justiça venha dar ganho de causa ao acusado
e este desejar voltar à comunhão fraternal, cada igreja terá o direito de
examinar a sentença à luz dos ensinamentos bíblicos, podendo recusar a
admissão pretendida; a cobrança de juros sobre empréstimos feitos aos
irmãos na fé — recomendada uma cautelosa investigação dos motivos
do empréstimo e, no caso de estes serem de natureza a envolverem a
subsistência da família, não deveriam ser cobrados juros; em outros ca-
sos, a decisão deveria ficar com a consciência de cada um, porém, ha-
vendo cobrança de juros, em hipótese alguma estes poderiam ser supe-
riores aos cobrados pelos bancos brasileiros; o uso do véu pelas mulhe-
res durante a oração nos cultos públicos — depois de longa discussão,
foi recomendado o uso, "por tratar-se de uma opinião apostólica"; o uso
de jóias, anéis e brincos — recomendou-se aos obreiros que exortassem

180

imoAAAAAA
as suas igrejas, visando ao total repúdio do uso de jóias por parte dos
crentes; a deficiência no cuidado espiritual das igrejas e congregações
— sendo recomendada e logo efetuada a eleição de três obreiros itine-
rantes: pastores Jekabs Inkis e Anss Araium e o irmão Karlis Blumits;
a abstenção da participação da Ceia do Senhor — sendo votada a ex-
clusão para quem se abstivesse da Ceia por três vezes consecutivas sem
justo motivo.
Finalmente, a Associação entendeu não desligar-se ainda da União
das Igrejas Batistas da Letônia e convidar as igrejas batistas letas de
Rio Novo, de Rio Mãe Luzia, e de Ijuí para ingressarem e se represen-
tarem na próxima Assembléia anual, enviando-lhes as Atas da Assem-
bléia de 1902 para conhecimento e eventual observação das recomenda-
ções que julgassem cabíveis nas circunstâncias em que cada uma delas
se encontrava. (58)
Sabe-se que por força de uma epidemia de febre amarela, que asso-
lou a região em 1903, a Associação deixou de reunir-se naquele ano, ra-
zão por que as igrejas de Rio Novo, Rio Mãe Luzia e Ijuí não efetuaram
o seu ingresso, deixando-o para outra ocasião. Entretanto, não há do-
cumento algum e nem menção nas atas dessas igrejas e nem nas da
Igreja de Jacu-Açu quanto à continuidade da referida Associação. As-
sim, tudo faz crer que a emigração dos letos para as novas colônias do
Estado de São Paulo e a distância que separava as igrejas da região de
Joinvile e Blumenau das do extremo sul teriam sido os motivos que
tornaram tão breve a vida daquela Associação.
Em 1909 a Igreja Batista Leta de Ijuí ingressou na Convenção Ba-
tista do Rio Grande do Sul (alemã), com a qual cooperou até 1916, ano
em que se filiou à Convenção Batista Brasileira. Para esta filiação,
muito contribuiu a tenacidade do Pastor Guilherme Leimann, então pas-
tor da igreja, enfrentando uma dificuldade séria, qual seja a oposição
do missionário A. L. Dunstan, por motivos de incompatibilidade entre
os dois obreiros, acumulada ao longo de alguns anos de atritos, e mar-
ginalização da igreja, que não aceitava as atitudes do missionário, bem
como a arregimentação de descontentes para organização de uma igreja
nova no campo daquela, invasão da seara alheia e outras. Quando o
Pastor Guilherme Leimann se apresentou à 104 Assembléia da Conven-
ção Batista Brasileira, reunida na Primeira Igreja Batista de São Paulo,
houve uma reação ousada antes mesmo de ser considerado o seu pedido
quanto à filiação da Igreja de Ijuí. Da ocorrência, eis o registro dis-
creto que encontramos nas Atas daquela Assembléia:
Foi mencionado o fato de que o irmão G. Leimann apre-
sentou-se como representante da Igreja de Ijuí, Rio Grande do
Sul, e haver uma carta postal fazendo queixa. Foi nomeada
uma comissão dos irmãos O. P. Maddox, J. R. Inke e H. E.
Cockell para tratar do assunto.
Já quase no final dos trabalhos convencionais, registra-se:
(58) Shoinvilles un Blumenawas apkahrtnes latweeschu baptistu beedribas pada sapulce.
Schakwase 1 un 2 janvari, 1902 gadà (Assembléia Anual da Associação dos Batistas Letos
da Região de Joinvile e Blumenau, Jacu-Açu, 1 e 2 de janeiro de 1902); encontra-se no
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

181
A Convenção, por proposta, teve por bem reconsiderar o
caso do pedido da Igreja de Ijuí, Rio Grande do Sul. Depois de
alguma discussão, houve proposta para que a igreja citada fosse
aceita na Convenção. (59 )
Daí por diante a Igreja Batista Leta de Ijuí deixou definitivamente
qualquer vinculação com a União das Igrejas Batistas da Letônia, ainda
que continuando a colaborar financeiramente em um outro setor, princi-
palmente respondendo aos apelos das igrejas batistas da Letônia quan-
to à reconstrução de seus templos danificados pela devastação da
I Guerra Mundial.
Quanto às igrejas batistas letas de Rio Novo e Rio Mãe Luzia, Es-
tado de Santa Catarina, estas passaram a cooperar com a Convenção
Batista Brasileira a partir de 1912, ano em que a Junta de Missões Nacio-
nais da Convenção Batista Brasileira enviou para aquela zona o Pastor
Carlos Leimann, que além de servir como pastor dessas duas igrejas e
como professor da Escola Anexa em Rio Novo, desenvolveu um amplo
trabalho missionário, em toda a região, com o povo brasileiro, como já
ficou dito atrás. A inclusão das duas igrejas mencionadas na esfera da
Convenção Batista Brasileira deve-se especialmente aos esforços do mis-
sionário A. B. Deter e ao Pastor Carlos Leimann. (60)
Em 1916, a Igreja Batista Leta de Rio Branco, no Município de
Blumenau, Estado de Santa Catarina, antes conhecida como Igreja Ba-
tista Leta de Jacu-Açu, reunindo os remanescentes das cinco colônias
vizinhas, cujas igrejas haviam desaparecido com as mudanças contínuas
dos batistas letos para as novas colônias no Estado de São Paulo, pas-
sou a cooperar com a Convenção Batista Brasileira. Neste passo impor-
tante, o papel preponderante pertenceu ao Dr. Ricardo J. Inke, que na
qualidade de Secretário Correspondente do Campo Paulistano e repre-
sentante da Junta de Missões Nacionais, que àquela altura tinha sob
os seus auspícios o campo do Estado de Santa Catarina, assim se ex-
pressou na sua correspondência ao Batista Paulistano:
Logo no dia seguinte, o vosso secretário correspondente
partiu para Santa Catarina. A Junta de Missões Nacionais de-
cidiu enviar um representante a esse Estado, porque aquele
campo necessitava de reorganização. .. Perto da Estação Ba-
nanal fica o Núcleo Colonial "Rio Branco", fundado pelo Go-
verno Federal. Ali temos uma igreja leta com 50 membros e
dois outros pontos de pregação com 30 membros. .. Durante
dez dias preguei o evangelho entre os letos, brasileiros e ale-
mães.. . Esta igreja uniu-se também unanimemente com a
nossa Convenção Batista Brasileira e decidiu contribuir re-
gularmente para Missões Nacionais, Estrangeiras e Educação.
Também ganhei alguns assinantes para o nosso O Jornal Ba-
tista. Por enquanto não foi possível organizar uma Conven-
(59) Convenção Batista Brasileira, 10' Reunião Anual, São Paulo, Atas, 1916, pp. 5-18.
(60) Rio Novas Latweeschu Baptistu Draudzes Protokolu Grahmata (Atas da Igreja Ba-
tista Leta de Rio Novo), Livro 2, p. 90. Também Convenção Batista Brasileira, 7' Assem-
bléia Anual, Bahia, 1913, Relatório da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista
Brasileira, p. 6.

182
ção Estadual, porque ainda temos outras igrejas no Sul deste
Estado para serem consultadas. O que Sta. Catarina necessita
é de um evangelista, sendo ao mesmo tempo o Secretário cor-
respondente daquele campo. A Igreja de Rio Branco pediu una-
nimemente tal obreiro. Porém este obreiro deve saber todas
as três línguas daquele Estado, porque as igrejas são letas, o
povo é alemão e a língua oficial do Estado é a portuguesa. (61)
Daquele ano em diante a Igreja de Rio Branco aparece nos noticiá-
rios e relatórios como uma das igrejas mais fortes de todo o Brasil, como
se pode verificar de uma referência honrosa a ela feita no Relatório da
Junta de Missões Nacionais do ano de 1918, como sendo a igreja que,
dentre todas as igrejas batistas do Brasil, mais contribuiu para Missões
Nacionais, exceto a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, ( 62 ) mes-
mo sem o obreiro reclamado pelo Dr. Ricardo J. Inke na nota atrás refe-
rida.
Já as igrejas batistas letas do Estado de São Paulo, dada a atuação
de Júlio Malves nos seus relacionamentos com os missionários e evange-
listas do campo paulistano e ação dos próprios missionários W. B. Bagby,
J. J. Taylor, A. B. Deter e S. L. Ginsburg, do Pastor Dr. Ricardo J. Inke
e dos evangelistas José Gresenberg, Eduardo Alkschbirze e João Batista
Júnior, integraram-se no trabalho da Convenção Batista Brasileira pra-
ticamente desde a sua fundação. Parece-nos, entretanto, que exceção deve
ser feita com relação à última igreja mencionada, a de São José dos
Campos, a respeito da qual faltam-nos dados que possam oferecer con-
dições de firmar um juízo seguro.
É mister salientar de modo especial o papel importante que teve
Júlio Malves na aproximação e integração dos batistas letos na Conven-
ção Batista Brasileira através de suas mensagens à Convenção, publica-
das em O Jornal Batista, e alguns artigos outros, enviados à redação
nesse primeiro período da imigração dos batistas letos no Brasil, bem
como no período seguinte, ou seja, depois da I Guerra Mundial. O escopo
desses artigos e mensagens abrange vários assuntos, como: breve histó-
rico da imigração leta no Brasil até 1910; escorço histórico, geográfico,
étnico e político da Letônia; localização de Batistas letos no Brasil, suas
igrejas, seus obreiros, suas atividades e outros. Nas Atas da 4a Reunião
Anual da Convenção Batista Brasileira lemos:
109. O irmão Salomão Ginsburg lê alguns trechos de relató-
rio do irmão Júlio Malves, residente em Nova Europa, sobre
os irmãos letos no Brasil, no qual, descrevendo mais ou menos
o seu número, suas condições etc., manifesta o desejo que eles
têm de se filiar a nós.

(61) Inke, Ricardo J., "De Campinas a Sta. Catharina", Batista Paulistano., 15 de agosto
de 1916, pp. 2 e 3.
(62) Convenção Batista Brasileira, 11' Assembléia Anual, 1918, Vitória, E. Santo, Atas e
Relatórios, Anexo II, p. 11.

183
110. Foi proposto e apoiado que o citado relatório fosse publi-
cado em O Jornal Batista. ( 63 )
Na mesma Assembléia, ainda é lida uma outra carta de Júlio Mal-
ves, esta enviada ao redator de O Jornal Batista, em que sugere ao
mesmo o acréscimo no nosso órgão oficial de um suplemento mensal em
leto, trazendo artigos e notícias resumidas de todo o trabalho batista
no Brasil, "o que seria um excelente meio de aproximação entre os ba-
tistas letos e brasileiros." ( 64) Não há registro da medida que a Assem-
bléia teria tomado, porém sabemos que tal suplemento jamais apareceu.
Nas Atas da Décima Reunião Anual da Convenção Batista Brasi-
leira, realizada em São Paulo em 1916, consta ainda:
Pelo irmão Salomão L. Ginsburg foi lembrada a necessi-
dade de se tratar do pedido feito pelo irmão Júlio Malves, e que
é o seguinte: que a Convenção se comunique com o Lord Loyd
George, pedindo sua intervenção a favor dos irmãos leto3 que
foram exilados da Rússia por causa da religião, especialmente
os que foram para a Sibéria. O assunto foi muito discutido,
sendo por fim proposto que a Convenção oficie ao Rev. Sheaks-
pear, inteirando-o dos fatos e pedindo a sua intervenção junto
ao Governo Russo. A comissão designada para esse fim é
composta dos irmãos: W. E. Entzminger, F. M. Edwards e A.
B. Deter.
Em seguida foi apresentado o artigo sobre "A localização
dos batistas letos no Brasil", sendo proposto que, em vez de ser
lido na sessão, fosse publicado em O Jornal Batista. (65)
7. Retrospecto panorâmico
Durante o primeiro ciclo da imigração leta no Brasil, isto é, desde o
seu início, de 1890 até 1922, existiram, em nosso país, 15 colônias letas,
constituídas predominantemente de batistas, e 13 igrejas batistas letas,
com pouco mais de 500 membros. Algumas dessas colônias tiveram exis-
tência efêmera e, conseqüentemente, efêmera foi também a vida das res-
pectivas igrejas. Motivos econômicos e climáticos forçaram os imigran-
tes a uma busca constante de outras áreas e regiões geográficas onde
pudessem prosperar, porém, não raro, também motivos espirituais in-
fluenciaram as mudanças. É que nas pequenas colônias, em que poucos
eram os elementos que compunham as igrejas e a cuja direção se viam
leigos freqüentemente problemáticos, a atmosfera religiosa ressentia-se
de algo dinâmico que se verificava em colônias e igrejas maiores. Por
outro lado, o ingresso de outros estrangeiros e brasileiros nessas igre-
jas, forçando o uso da língua nacional nos trabalhos religiosos, criava a
nostalgia nos letos da geração mais velha, que nada entendiam de portu-

(63) Convenção Batista Brasileira, 4' Reunião Anual, 1910, São Paulo, Atas e Relatórios,
Ata 5', itens 109 e 110. O referido artigo foi publicado em O Jornal Batista, Anexo X, n°
26 e 27, de 30 de junho e 14 de julho de 1910, pp. 6 e 7, sob o titulo: "Os Batistas Letos no
Brasil."
(64) Id., ibid.. item 111.
(65) Convenção Batista Brasileira, 10' Reunião Anual, 1916, São Paulo, Atas e Relatórios,
Ata 6', pp. 11 e 12. O artigo foi publicado em O Jornal Batista, n° 27, de 13 de julho de 1916.

184
guês, despertando-lhes a ansiedade de viver num meio em que pudessem
ouvir a mensagem de Deus em sua própria língua, sem perda alguma de
seu conteúdo; em que pudessem cantar os grandes hinos em ajuntamentos
de seus irmãos de raça e experimentar as profundas emoções que enches-
sem esses momentos arrebatadores de visões sublimes da vida futura, as-
sim inspirando energias para suportar as vicissitudes da presente existên-
cia terrena; em que pudessem orar no meio de outros irmãos que compre-
endessem os seus anseios e angústias, bem como as suas alegrias, e ex-
pressar tudo isto em palavras que traduzissem fielmente os sentimentos de
todos e o "amém" uníssono e inteligente selasse os louvores e as petições
com o timbre da autenticidade. Além do mais, o desconhecimento do
idioma nacional — obstáculo natural no processo de comunicação — foi
o fator preponderante no entravamento de uma integração melhor das
igrejas batistas letas menores, ainda que, por outro lado, justamente este
fosse o fator que apressasse a transformação ou formação de congrega-
ções e igrejas caracteristicamente letas em predominantemente brasilei-
ras, dando, assim, continuidade ao trabalho iniciado pelos letos.
Por tudo isto, a maior parte das igrejas letas pequenas, em núcleos
étnicos também pequenos, não teve uma existência mais longa e, conse-
qüentemente, uma participação e influência maior no trabalho batista
brasileiro. Entretanto, convém que se diga, a bem da verdade, que, ao
menos com referência à cooperação financeira, as igrejas menores nada
ficaram devendo às maiores, e que todos os eventos — quer das colônias
e igrejas letas grandes, quer das pequenas — devem ser vistos e interpre-
tados à luz dos resultados e influências posteriormente verificados e con-
firmados no tempo e no espaço.
Ao término da I Guerra Mundial, ou seja, da segunda década deste
século, das 13 igrejas batistas letas que haviam sido fundadas no Brasil,
existiam apenas 5: Rio Novo, Rio Mãe Luzia, Ijuí, Rio Branco e Nova
Odessa. Quatro haviam desaparecido, pelos motivos atrás referidos —
Rio Oratório, Alto Guarani, Linha Telegráfica e Brüedertal. Outras qua-
tro haviam dado lugar a igrejas brasileiras, ou predominantemente bra-
sileiras, com a presença de outros estrangeiros: Corumbataí, Nova Eu-
ropa, Pariquera-Açu e São José dos Campos, sendo que a segunda e a
última sofreram interrupções mais longas entre a extinção da igreja leta
e organização de uma igreja brasileira com os remanescentes daquela.
Além das quatro igrejas brasileiras surgidas dos remanescentes bra-
sileiros de igrejas letas, naquele período foram fundadas cinco igrejas e
uma congregação brasileiras como resultado direto do trabalho dos ba-
tistas letos: Igreja Batista de Pedras Grandes e Igreja Batista de Or-
leães — no campo da Igreja Batista Leta de Rio Novo, Estado de Santa
Catarina, e a Igreja Batista do Alto Uruguai, Igreja Batista de Ramadas,
Igreja Batista de Invernadas e a congregação batista de Santa Rosa —
no campo da Igreja Batista Leta de Ijuí, Linha 11, no Estado do Rio
Grande do Sul.
Interessante é notar que o papel principal na fundação destas igrejas
e da congregação que posteriormente tornou-se igreja, pertence à visão
de três pastores letos e irmãos: Frederico Leimann, Guilherme Leimann e
Carlos Leimann; sendo que os dois primeiros por algum tempo eram

185
também missionários da já referida missão alemã, e o último, da Junta de
Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. As igrejas que eles
pastoreavam eram realmente dinâmicas, sempre dispostas a acompanhar
a visão dos seus guias. Inúmeras foram as localidades nos Estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul — cidades, vilas, fazendas e sítios —
que foram evangelizadas pelas igrejas letas, colhendo-se messes abundan-
tes para o Reino de Deus, e em algumas delas chegando a organizar-se
igrejas posteriormente. Alguns dos nomes dessas localidades encontra-
mos nas Atas das igrejas e nos noticiários. São eles: Tubarão, Serra
do Capivari, Laranjeiras, Braço do Norte, Laguna, Brusque, Nova Tren-
to, Urussanga, Nova Veneza, Criciúma, Araranguá, São Bento do Sul,
Jaraguá do Sul, Bananal e Joinvile, no Estado de Santa Catarina, e
Neu-Württenberg (Panambi), Linha 5 Leste, Linha Uma, Linha 18 e
Linha 23 Norte, Santa Rosa, Peter-Nero, Timbaúva, Invernadas, Rama-
das, Alto Uruguai, Linha República e Ijuí no Estado do Rio Grande do
Sul.
Ainda que num dos capítulos subseqüentes deste estudo histórico
iremos tratar exclusivamente dos obreiros batistas letos em todo o Brasil,
parece-nos conveniente, a esta altura, fazer ao menos uma citação dos
obreiros letos que contribuíram para o desenvolvimento do trabalho ba-
tista leto no Brasil durante o primeiro ciclo de imigração e de outros que
saíram das igrejas letas do mesmo período e trabalharam com os brasi-
leiros e entre outras nacionalidades, vários deles projetando-se durante
alguns anos no período seguinte e alguns atuando até o presente. Ei-los:
1) João Inkis, 2) Fritzs Karps, 3) Alexandre Klavin, 4) Karlis Ander-
manis, 5) Guilherme Butler, 6) Anss Araium, 7) Jacob Klawa, 8) Jacó
Liepins, 9) Jekabs Inkis, 10) Jukums (Joaquim) Makevitzs, 11) João
Nettenberg, 12) Ricardo J. Inke, 13) Frederico Leimann, 14) Guilherme
Leimann, 15) Carlos Leimann, 16) Pedro Graudins, 17) Roberto Sprogis,
18) Frederico Freymann, 19) Eduardo Alkschbirze, 20) Frederico Puke,
21) André Leekning, 22) João Sprogis, 23) João Diener, 24) Kristaps
(Cristóbal) Vanags, 25) Pedro Libert (filho), 26) Adolfo Libert — estes
três últimos deram as suas vidas ao trabalho batista na Argentina, 27)
Pedro Sahlit — que foi estudar nos Estados Unidos da América do Norte
e lá ficou exercendo o seu ministério por poucos anos, vindo a falecer, e
28) Reynaldo Purim. Vale notar que dois dos obreiros citados — Gui-
lherme Butler e Ricardo J. Inke — foram os primeiros professores letos
no Colégio Batista e Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro, exercendo também outros cargos de liderança na Denomina-
ção Batista no Brasil, como teremos ocasião de ver mais adiante. Ou-
trossim, vários deles contribuíram com sua inteligência e sua pena, es-
crevendo artigos doutrinários, inspirativos e informativos em O Jornal
Batista e em outras publicações denominacionais e mesmo seculares, des-
tacando-se entre eles o Dr. Ricardo J. Inke, sempre apreciado.
Com este capítulo encerramos o estudo da história dos batistas letos
no Brasil até o fim da I Guerra Mundial.

186
PARTE III

IMIGRAÇÃO DE BATISTAS LETOS PARA O BRASIL


APÓS A I GUERRA MUNDIAL, 1922/23
CAPITULO V

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO PECULIAR


DA IMIGRAÇÃO

1. Antecedentes Históricos e Psicológicos

2. Antecedentes Político-religiosos

3. O Movimento de Despertamento Espiritual


na Letônia e a Emigração de Batistas
Letos para o Brasil em 1922 e 1923

4. Dificuldades e a Providência Divina


na Emigração

5. A Travessia do Atlântico em Vários


Grupos até o Brasil
CAPITULO V

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO PECULIAR


DA IMIGRAÇÃO

De todos os capítulos da presente pesquisa histórica e interpretação


prática em torno da imigração dos batistas letos no Brasil, este poderá
parecer o mais difícil, em vista do fundo religioso que possuía o movi-
mento imigratório batista leto para o Brasil em 1922/23 e que resultou
na fundação da maior colônia de batistas letos do mundo, denominada
VARPA, em plena mata virgem do interior do Estado de São Paulo, e da
maior igreja batista da América do Sul, na época, com cerca de 1.750
membros, cuja influência se estendeu muito além das zonas da Alta So-
rocabana e Alta Paulista, indo até as colônias e igrejas batistas letas
mais antigas, as colônias e comunidades eslavas de todo o sul do Brasil,
ao próprio trabalho batista brasileiro, e até a selva boliviana, como te-
remos oportunidade de verificar mais adiante.
Entretanto, na realidade, os fatos falam melhor na sua própria pers-
pectiva histórica. Os significados teológicos na interpretação desses mes-
mos fatos podem variar, como de fato variam, no tempo e no espaço,
sem, contudo, afetar a sua interpretação prática, que é o nosso objetivo
no presente trabalho.
Como a corrente imigratória em tela teve características próprias
e diferentes dos outros movimentos da mesma natureza, cremos que, para
o entendimento correto da mesma corrente, precisamos voltar a nossa
atenção para os seus antecedentes históricos e as circunstâncias políticas
e psicológicas da época, que nos ajudarão a encontrar as raízes religiosas
e talvez até o seu significado teológico para o cumprimento do propósito
divino na História.

1. Antecedentes Históricos e Psicológicos

A idéia de uma emigração leta em grandes proporções da Letônia


para o Brasil não era novidade nos arraiais batistas letos ao fim da
Guerra Mundial. Como antecedentes históricos do movimento emi-
gratório batista leto de 1922/23, cuja perspectiva, naturalmente, sofreu
modificações gradativas à luz de fatos novos como as conseqüências ma-
teriais, morais e espirituais da I Guerra Mundial e o despertamento reli-

191
gioso que sacudiu o país a partir de 19.18, podemos alistar alguns fatos
e opiniões documentadas de destacados líderes batistas que mais tarde
achavam-se à frente do referido movimento.
Em primeiro lugar, recordamos aqui as duas cartas do Pastor João
Inkis, escritas em 1899 à Igreja Batista Leta de 44 às quais já aludimos
no Capitulo III. Numa delas, remetida da cidade de Desterro, hoje Flo-
rianópolis, em 11 de maio daquele ano, afirmava esse pastor: "Vale a pena
derramar suor na preparação de uma nova pátria para os letos; isto é
mais compensador do que servir aos estranhos no Báltico, isto é, aos ale-
mães e russos." (1)
Em outra carta, remetida do Rio de Janeiro em 28 de agosto do
mesmo ano, dizia ele: "O grupo de letos de Blumenau cresce cada vez
mais. Em poucos anos ali teremos uma grande colônia. Eu também estou
pensando insistentemente, se for da vontade de Deus, depois de dois anos
voltar e fixar-me em Blumenau." ( 2 )
Nos anos seguintes, muitos artigos foram publicados pelo Pastor
João Inkis nos jornais denominacionais da Letônia e no Almanaque da
Família Leta, publicado pelo editor batista, Pastor J. A. Freijs, sobre as
colônias letas no Brasil. Também os mesmos periódicos divulgavam
abundante noticiário sobre a vida nas colônias e atividades das igrejas
letas no Brasil. Em 1911, o Pastor João Inkis, de volta do 2° Congresso
da Aliança Batista Mundial em Filadélfia, EUA, visitou pela segunda
vez as colônias e igrejas batistas letas do Brasil. A sua ascensão na car-
reira ministerial e publicitária o havia levado à liderança máxima da
denominação batista na Letônia — presidência da União das Igrejas Ba-
tistas da Letônia e presidência de sua Junta Executiva — requerendo do
grande servo de Deus o máximo de suas energias, tempo e capacidade,
porém, mesmo assim, não pôde furtar-se aos apelos e atrações do Brasil,
que tanto apreciava, e das colônias e igrejas letas com as quais há doze
anos estava intimamente vinculado, ainda mais porque àquela altura a
sua família já se encontrava fixada no Brasil, na Colônia de Nova Odessa,
e o já mencionado colonizador e jornalista Júlio Malves, fundador da
Colônia Leta de Nova Odessa, já havia se tornado seu cunhado, casando-
-se com uma de suas irmãs.
A inquietação política internacional, que afinal resultou na grande
hecatombe mundial de 1914, começou a fazer a sua pressão psicológica
sobre o povo batista leto no sentido de ver no Brasil o seu refúgio, caso
viesse a perigar a segurança dos crentes. Este antecedente psicológico
está consubstanciado num artigo do irmão Júlio Malves, escrito em 22
de junho de 1916 e publicado em O Jornal Batista de 13 de julho daquele
ano, intitulado "A Localização dos Batistas Letos no Brasil", do qual
apresentamos aqui alguns trechos, com grifos que são nossos, mas cujo
texto completo recomendamos ao leitor e que se encontra no Anexo V.
O grosso cias forças letas está por vir ainda. Caberá à pa-
vorosa hecatombe mundial a incumbência de reforçar as nossas
fileiras no Brasil. Embora ainda seja prematuro emitir opi-

( 1 1 Ver Anexo IV (os grifos são nossos).


(2) Id., (os grifos são nossos).

192
niões sobre o modo por que vai terminar este cataclisma da
humanidade contemporânea, uma coisa, porém, é certa, que ha-
verá um êxodo batista em escala ainda não atingida. Seja qual
for o desfecho desta luta, podemos contar como certo que os
ambientes ainda por muito tempo se conservarão carregados.. .
Muitos procurarão escapar das novas tribulações que sobrevi-
rão, e demandarão as plagas sul-americanas. A nossa pobre
Letônia tem sofrido horrivelmente. Já vai um ano que metade
dela se acha invadida pelas hostes aguerridas dum inimigo que
não conhece misericórdia nem compaixão para com o nosso
povo. Em virtude de todas estas calamidades, começará o êxo-
do em grandes proporções logo que as vias de comunicação es-
tejam mais ou menos restabelecidas. . . Já há muito tempo
antes da guerra era o pensamento das nossas igrejas ali que,
em qualquer eventualidade que viesse perturbar a segurança
dos crentes, estes não deixariam de se refugiar no Brasil. A
guerra, todavia, precipitou-se tão repentinamente, que estes
planos, como todos sabemos, de forma alguma podiam ser pos-
tos em prática. Tenho em mãos muita correspondência inte-
ressante sobre este assunto, mas seria demasiado prolongado
citá-la aqui. . . A grande vantagem da nossa gente consiste
em seu amor ao trabalho; e como o trabalho aqui é bem re-
munerado, irá forçosamente galgar posições materiais mais
satisfatórias. E à medida que isto suceder, eles dia a dia irão
contribuindo mais para a evangelização da nova pátria ado-
tada e para nossa causa comum. . . Nos planos divinos da salva-
ção do mundo está também incluído o Brasil; e se o grande
General destacar algumas unidades dos seus exércitos para cá,
isto certamente é feito por motivos de ordem estratégica. E
esta não será a primeira vez que pequenos núcleos de crentes,
quase expulsos, demandam novas terras, para aí plantarem
seu estandarte e conquistarem essas terras para o seu coman-
dante. ( 3 )
Estes pensamentos, escritos seis anos antes do início do movimento
emigratório de 1922/23 de batistas letos para o Brasil, possuem um sen-
tido profético impressionante, revelando, ao mesmo tempo, que muito
antes da data em que foram escritos já estava em. marcha uma idéia
de uma corrente emigratória de crentes batistas letos para o Brasil.
Quando e como se realizaria essa emigração, eram questões que per-
tenciam ao futuro, para serem solucionadas por Deus, pelos meios de
sua escolha. A verdade é que, cerca de dez anos depois da publicação
do artigo em foco, as palavras de Júlio Malves haviam atingido seu

(3) Malves, Júlio, "A localização dos batistas letos no Brasil", O Jornal Batista, Ano XVI,
n' 27, de 13 de julho de 1916, pp. 5 e 6. Ver Anexo V. O artigo em tela foi escrito inicial-
mente como mensagem dirigida à Convenção Batista Brasileira reunida em sua 10' Assem-
bléia Anual com a Igreja Batista da Liberdade, São Paulo, e que, depois de apresentado
à Convenção, foi enviado, por voto da Assembléia, à redação de O Jornal Batista, para a
sua publicação. (Atas da 10' Reunião Anual da Convenção Batista Brasileira, 1916, São
Paulo, 6' sessão, p. 12).

193
pleno cumprimento, especialmente no que diz respeito à "evangelização
da nova pátria adotada", como veremos mais adiante. É evidente que o
autor do artigo refletia o pensamento e os acontecimentos ocorridos na
Letônia, como se depreende da referência feita à abundante correspon-
dência que tinha em mãos. Portanto, a esta altura o importante é a
apuração do fato histórico de que muito antes de 1922, e mesmo antes
de 1914, já se pensava, na Letônia, numa emigração para o Brasil. Emi-
gração esta que teria por objetivo a busca de um refúgio contra as cala-
midades de uma guerra que eventualmente viriam sobre a sua pátria e
que, ao tempo da publicação do artigo (1916), já estavam presentes e
não mais permitiam a fuga, e depois das quais, com toda certeza esta
se daria. Foi então, com um objetivo maior ou espiritual, que Júlio
Malves anunciou, como numa verdadeira previsão profética, a missão
evangelizadora.

2. Antecedentes Político-religiosos
Os antecedentes político-religiosos da emigração dos batistas letos
para o Brasil em 1922/23 são encontrados nos horrores e nas devasta-
ções que a I Guerra Mundial havia produzido em todos os setores da vida
do povo leto e no conseqüente despertamento espiritual no meio batista,
com aspectos pietistas e apocalípticos. É verdade que em 1922 as cala-
midades mais agudas já haviam passado e em muitos a euforia da inde-
pendência política, da liberdade e da prosperidade era notória, porém, em
muitos outros espíritos, havia algo que dizia de sua pouca duração. Inú-
meros testemunhos desta natureza poderiam ser alistados em favor do
fato de que os sofrimentos causados pela guerra e os horizontes inquie-
tantes do pós-guerra haviam causado uma ansiedade em certas camadas
do povo leto. Em muitos crentes e líderes batistas letos havia amadure-
cido a idéia de que por meio das muitas tribulações de guerra Deus es-
tava despertando o seu povo no mundo inteiro, e especialmente na Le-
tônia, para uma vida santificada e consagrada, como também abalando
todo o povo leto para que O buscasse enquanto O pudesse achar.
A seguir, apresentamos alguns exemplos de correspondência que re-
fletem esta convicção e que, ao mesmo tempo, já estavam apontando para
um movimento emigratório.
Nos arquivos do irmão Júlio Malves encontramos esta carta de
Fritzis Hintenbergs, de Liepaja (Libau), escrita em 11 de novembro de
1919:
Até que ponto teriam sido modificadas as exigências de
imigração no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, du-
rante os cinco anos de guerra, em comparação com aquelas
que o senhor citou no jornal Awots, n° 22, 1914?
Nos últimos anos, a Europa, para nós os europeus, tem
sido verdadeira madrasta. Ainda que agora ela esteja fazendo
um esforço para aplainar os caminhos do passado e nos ofe-
recer promessas para o futuro, os nossos corações estão bas-
tante carregados de amargura contra ela, e parece que muitos
de nós lhe dariam as costas e partiriam mundo a fora, longe,

194
para encontrar uma nova pátria, onde a terra não seja tão
sedenta de sangue e onde pudessem derramar suor no traba-
lho. ( 4 )
Outra carta, que bem caracteriza a situação reinante na Letônia após
o término da I Guerra Mundial, remetida da cidade de Talsi em 29 de
dezembro de 1920 pelo irmão K. Rudzit e encontrada entre muitas outras
do mesmo estilo nos arquivos já referidos diz o seguinte:
Nós, os crentes da Europa, vivendo estes tempos terríveis
e prevendo já o que ainda há de vir, sentimos em nossos cora-
ções o desejo de transpor o grande Oceano, na direção do
Brasil. Estando com o irmão J. Inkis em Riga, solicitei-lhe o
endereço do irmão Andermann, mas ele me recomendou que
seria melhor escrever ao irmão. Por esta razão, dirijo-me ao
senhor, solicitando a sua bondade, pelo amor de Deus, de nos
mandar alguma informação quanto à possibilidade de nos mu-
darmos para lá e sob que condições; se seria possível conseguir
do governo passagens grátis, porque nós, os emigrantes, somos
todos crentes, e, portanto, verdadeiros, pelos quais se pode em-
penhar a palavra, e na maioria somos agricultores. Portanto,
com muitos rogos, pedimos-lhe que nos escreva. (5)
Nos arquivos da Primeira Igreja Batista Leta de Nova Odessa en-
contra-se a missiva do pastor João Inkis, àquela igreja, firmada em Riga
a 23 de dezembro de 1920, na qual dava resposta favorável ao convite
que havia recebido para ser seu pastor. Entre outras coisas, diz o mis-
sivista:
De fato, os meus anseios são pelo Brasil, a terra dos so-
nhos da minha mocidade, porém acampar-me entre vós eu ja-
mais havia pensado. Percebo que uma nova onda de emigração
está surgindo silenciosamente, e desta vez de gente provada no
cadinho das tribulações e que lava e branqueia os seus ves-
tidos no sangue do Cordeiro, que com olhos ungidos lê o Livro
Santo e através do Espírito de Deus entende que é chegado o
tempo da queda da velha Babel, e que os santos, que não de-
sejam receber o sinal da besta, brevemente não terão lugar
para permanecer. As esperanças desta gente estão voltadas
por sobre as ondas azuis do Oceano para a amada terra que
vós habitais, sem saberdes por que fostes à frente abrir um
trilho e preparar o caminho para o resto dos escolhidos do Se-
nhor. A maravilhosa mão do Senhor vos guiou, e ainda guia,
para atingir os alvos finais do seu reino. Profundamente con-
vencido quanto aos propósitos do Senhor com relação aos seus
escolhidos na Letônia, eu estava esperando, em silêncio, que
esta onda de emigração levantasse também o barquinho da
minha família, levando-o consigo, porque eu mesmo não tenho

(4) Hintenbergs, Fritzis. Carta dirigida a Júlio Malves em 11/11/1919. Encontra-se no


Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro.
(5) Rudzit, K., Carta endereçada a Júlio Malves, em 29/12/1920. Encontra-se nos arquivos
do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro.

195
forças para tanto... Nos terrores e tristezas da guerra, apren-
demos a dividir o último pedacinho de pão com o faminto...
Eu nem sei o que foi que me impediu que estivesse em vosso
meio há mais tempo. Certamente a mão do Senhor que dese-
java guiar, tanto a mim quanto aos meus queridos, através da
escola das tribulações, para sermos purificados para o seu san-
to trabalho. Bendito seja o nosso querido Pai pelo cálice amar-
go que temos bebido e pelas lágrimas de dor que temos derra-
mado, aprendendo obedecer-Lhe em tudo. (6 )
No depoimento solicitado ao Pastor Arvido Eichmann sobre os moti-
vos da emigração de 1922/23, assim se expressa esse servo de Deus, um
dos líderes da emigração em tela:
Os motivos exteriores da emigração encontram-se nos
acontecimentos políticos daquela época, nos quais, entretanto,
estava atuando, inequivocamente, a mão de Deus. Através da
ocupação do país pelos alemães e pelos russos, o povo havia
chegado a um estado de tensão. Os velhos alicerces de uma
vida em paz estavam destruídos. O espírito do homem pro-
curava descanso; procurava um fundamento mais seguro. Sob
tais condições, surgiu um despertamento espiritual nas igrejas
batistas... Na mesma ocasião apareceu a idéia da emigração.
Em parte, esta idéia surgiu através de várias revelações e vi-
sões espirituais, e em parte através de uma íntima convicção
de que havia uma necessidade de levantar-se e partir. Afinal,
nem todos que haviam recebido revelações emigraram. Assim,
uma irmã, que teve uma visão em plena reunião, viu, numa
cena de guerra uma terrível destruição, que a assustou até ao
desmaio, porém ela ficou para trás. E na última invasão russa
ela experimentou todo aquele terror e perdeu a vida... A
maioria dos emigrantes era constituída de pessoas que haviam
experimentado em sua vida o despertamento espiritual... As-
sim, para alguns foi dito: "VAI", enquanto para outros "FI-
CA". Tanto a uns como a outros referem-se as palavras de
Jesus: "... depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado,
dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que de-
víamos fazer."... Entretanto, também não havia uma visão
segura quanto ao alvo da emigração. Se quizermos caracteri-
zar a emigração, então o mais certo é descrevê-la com He-
breus 11:8: "Partiu sem saber para onde ia." Também não
havia um plano definido para uma obra missionária. Este nas-
ceu depois. (7)
Na narrativa de suas experiências com relação à emigração de que
estamos tratando, o ilustre poeta e obreiro leigo, Roberto Vavers — pai
(6) Inkis, J., Carta escrita de Riga, em 23 de dezembro de 1920. Arquivos da I Igreja
Batista Leta de Nova Odessa.
(7) Eichmann, Arvido, "Alguns apontamentos sobre a emigração de batistas Tetos para o
Brasil nos anos 1922/23", narrativa firmada em 10 de maio de 1965, que se encontra nos
arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
GB.

196
de dois competentes maestros, Filipe Vavers e Gunars Vavers — que
em seus dias de mocidade foi um dos líderes da juventude batista leta
no Brasil, assim se expressa:
Como refugiado da I Guerra Mundial, em 1915, fui parar
na colônia leta de Novgorod, na Rússia, de onde regressei à
Letônia em 1919, já com família constituída. Na Rússia eu
havia experimentado um ano de regime comunista. Observan-
do o comportamento do poder comunista, cada vez mais vol-
tado contra Deus e desumano, foi que eu e minha esposa re-
solvemos emigrar para a Letônia. Na Letônia encontrei o
movimento religioso chamado "despertamento". Ouvi e vi como
se desenvolvia o movimento, observando seu lado positivo,
como também o negativo. Na sua marcha positiva surgiu e
cresceu a idéia da emigração para o Brasil. Esta questão de
emigração não me era estranha. Eu a conhecia desde os seus
primórdios. Em 1907 meu pai já estava com as passagens no
bolso, enviadas pelo agente Gutmann, de Londres, quando eu,
rapaz de 18 anos, resisti teimosamente à idéia, razão por que
não emigramos. Porém, ao tempo em que começaram a se mo-
vimentar as massas humanas das igrejas do "despertamento",
também eu senti em meu coração um forte desejo de emigrar
e percebi, nas questões relacionadas com a viagem, a nítida
orientação de Deus... O motivo principal da emigração para
o Brasil foi: escapar da ordem comunista. Graças a Deus, até
aqui o temos conseguido. Não recebi nenhuma insinuação para
tanto, nem de pastores e nem de agentes. Depois, a situação
econômica. Finalmente, a devastação deixada pela guerra. (8)
A seguir, sobre as raízes e razões da emigração leta de 1922/23,
trazemos o depoimento de Júlio Malves, expresso num manuscrito prepa-
rado em português, aparentemente inédito, com falta de algumas laudas,
encontrado em seus arquivos e que hoje pode ser consultado nos arquivos
do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. O
título do artigo é "A ILUSÃO DA SELVA SECULAR" e constitui uma
crítica bem fundamentada a uma obra de ficção requintadamente perver-
sa, com o mesmo título, publicada em 1936 na Letônia, sobre a vida e
condições dos imigrantes letos no Brasil. Na parte introdutória, assim
diz o autor do artigo:
Certas rodas do povo daquele país (Letônia) naquele tem-
po ainda estiveram debaixo de uma forte impressão do pavor
ali produzido pela passagem macabra das cruéis hordas bolche-
vistas. Tendo passado pelas etapas tétricas do infernal regime,
o povo estava cansado e exausto. A imagem viva dos recentes
acontecimentos, como os fuzilamentos sumários e outros, ain-
da dominava muitos espíritos. Para muitos, foi custoso acre-
ditar que esses acontecimentos não se repetiriam e que o "dra-
gão vermelho", nas terras da Letônia, estava subjugado para
sempre. Temiam a vizinhança da Rússia e pensavam que opor-

(8) Vavers, Roberto, Carta enviada ao autor em 2 de agosto de 1966, em nosso arquivo.

197
tunamente suas hordas invadirão novamente o país e toma-
rão a desforra, exigindo compensações ainda mais pesadas e
mais tétricas. Principalmente a gente mais religiosa só via u'a
miragem triste do futuro, pouco acreditando na perspectiva
desanuviada do momento, que julgavam passageira. Neste es-
tado de ânimo, começavam cada vez mais a sentir certa nos-
talgia e saudades por quaisquer imaginadas terras distantes,
por horizontes longínquos... Em conseqüência disto é que na-
quela ocasião chegaram da Letônia para o Brasil uns 2 ou 3 mil
imigrantes letos. Era um episódio de imigração interessante e
curioso. Na Letônia, essa imigração era combatida e dificul-
tada. Os jornais recriminaram o movimento e publicaram as
mais desencontradas e inverídicas notícias a respeito. (9)
Do mesmo autor preservou-se, em seus arquivos, o manuscrito do
discurso que pronunciou pela passagem do 40° ano de ministério do Pas-
tor João Inkis, comemorado em Palma em 1932:
Veio a Guerra Mundial, com todo o seu horror... De-
portações, fuga, requisição, ocupação comunista, fome, morte
e desespero varreram a terra dos nossos antepassados. Diante
desses fatos, a alma de muitos indagava: como seria se Cristo
viesse repentinamente? Em tais condições, um sentimento de
despreparo foi tomando conta dos crentes, levando-os a um
exame introspectivo sério e profundo, despertando, ao mesmo
tempo, uma sede intensa por uma santificação maior. Este des-
pertamento ou avivamento, que alguns chamam de pânico,
marcou, na história batista dos letos, talvez a maior etapa.
Quem conhece esta história mais de perto, sabe que renúncia
espiritual heróica demonstrou a nossa gente! (1°)
Outro testemunho interessante sobre as condições dominantes na
Letônia antes da emigração de 1922/23 é o da irmã Karlina (Carolina)
Vanaga, a mais antiga funcionária da redação do mensário Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), editado em Palma, Colônia Varpa. Ei-lo:
Durante o tempo da guerra viviam-se dias difíceis e tene-
brosos: perdas materiais; separação dolorosa dos amigos e fa-
miliares, pois muitos chefes de família e irmãos foram convo-
cados para a guerra; fuga para as florestas e até para outros
continentes. Ã noite refletia-se no horizonte o clarão rubro da
guerra e ouvia-se o ribombar sinistro dos canhões do inimigo.
As escolas não podiam funcionar e os alunos perdiam muito
nos seus estudos. Enfermidades diversas surgiam entre o povo
e muitos foram transferidos para as habitações celestiais; es-
pecialmente as crianças eram vitimadas. O horror e as triste-
zas da guerra, sentiram e entenderam principalmente os adul-

(9) Malves, J., A Ilusão da Selva Secular, Manuscrito inédito do arquivo particular do
autor, que se encontra atualmente nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(10) Malves, J., 'anis Inkis (João Inkis), Encontra-se nos arquivos do Museu Batista do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

198
tos; crianças e jovens, aos quais a manhã da vida traz sorrisos
róseos, esqueceram logo os dias tenebrosos.
As experiências da primeira guerra amoleceram e sensibi-
lizaram os corações dos homens, tornando-os como terra fértil.
Então soprou a brisa do Espírito Santo sobre a Letônia e ou-
tros lugares. Foi o início do despertamento espiritual...
Naquele tempo as igrejas batistas experimentaram uma
grande mudança. Houve reconciliações entre os crentes em de-
sentendimento. Nas reuniões de oração, houve reconhecimento
e arrependimento de pecados com lágrimas. Muitos recupera-
ram a alegria da salvação. Muitos, especialmente os jovens,
aceitaram a Jesus como seu único Salvador e foram, pelo ba-
tismo, acrescidos à igreja. Foi um acontecimento alegre e fe-
liz. As Escolas Bíblicas Dominicais refloresceram, pois tam-
bém as crianças sentiram o toque do Pai Celestial em seus
corações. Os coros estavam cheios de cantores novos e fervo-
rosos. Nos cultos dominava o espírito de oração. O interesse
dos crentes estava voltado para a primavera espiritual...
Depois disto começou a emigração para o Brasil. O pró-
prio Deus ia abrindo as portas. Cada um pessoalmente recebia
da parte do Senhor a luz para tanto, bem como a certeza e
convicção de que deveria encetar a longa viagem ao encontro
de um futuro desconhecido. A convicção era bem clara e forte.
Esta não podia ser obscurecida nem destruída por coisa algu-
ma, nem pelos desentendimentos que ela chegou a causar no
seio de algumas famílias. Até na União das Igrejas Batistas
da Letônia surgiram interrogações duvidosas a respeito da
emigração. Todos não entenderam a questão de uma mesma
maneira e nem todos tiveram intimamente a mesma chama-
da. (11)
Finalmente citamos as palavras do maestro Arthur Garancs, um dos
leigos mais conspícuos, que assim se manifesta sobre a referida emi-
gração:
Creio e estou plenamente convencido de que nenhuma pes-
soa ou organização dirigiu o ato da nossa emigração da Le-
tônia para o Brasil, mas que esta surgiu inspirada pelo Espí-
rito de Deus nas igrejas batistas da Letônia na época do mo-
vimento de despertamento espiritual. Não digo que assim
aconteceu com todos, pois dentro de uma mesma família fre-
qüentemente se dividiram os pensamentos. (12)
Inúmeros outros testemunhos semelhantes poderíamos acrescentar,
mas a falta de espaço não no-lo permite.

(11) Vanaga, K., "Piedzivojumu atminas" (Lembranças de Experiências), Brazilijas Latviesu


Kalendars 1970 (Almanaque dos Letos do Brasil, 1970), Suplemento do "Amigo Cristão'',
pp. 119-121.
(12) Garancs, Arthur, Carta datada de 20 de novembro de 1968, que se encontra em nossos
arquivos.

199
Examinando-se a literatura batista leta da época, verifica-se que
entre os anos de 1918 a 1925 o movimento do despertamento espiritual
na Letônia teve o seu impulso de ascensão, declinando depois vagarosa-
mente, até diluir-se dentro das estruturas das igrejas batistas tradicio-
nais, deixando, entretanto, evidentes os seus efeitos benéficos, em ter-
mos de revivificação da vida cristã. É verdade que as igrejas do des-
pertamento espiritual aglutinaram-se, de 1926 a 1934, em torno de al-
gumas personalidades que entraram em choque com a União das Igre-
jas Batistas da Letônia, fundando a Segunda União das Igrejas Batistas
da Letônia. Entretanto, esta teve uma duração efêmera, de vez que es-
sencialmente não havia diferenças que justificassem a divisão.
Dentro da referida literatura pode-se notar três ênfases fundamen-
tais que geralmente caracterizam os movimentos carismáticos: 1) a
santificação ou a busca de uma real presença de Deus na vida pessoal
dos crentes; 2) a idéia da iminência da segunda vinda de Cristo, inspi-
rada pelos "sinais dos tempos" ou circunstâncias políticas, sociais, mo-
rais e religiosas da época; 3) a manifestação de dons sobrenaturais, es-
pecialmente línguas estranhas e profecias. "para a edificação da igreja."
Quanto às duas primeiras ênfases sente-se que eram muito acen-
tuadas no movimento do despertamento espiritual em muitas igrejas ba-
tistas da Letônia logo após a I Guerra Mundial, o que, aliás, é comum
nos tempos de grandes crises na vida dos povos, como foi a produzida
pelas tensões da guerra, à qual nos referimos acima. A terceira ênfase,
a dos dons e de um acentuado iluminismo, entretanto, não era tão ge-
neralizada, pois relativamente poucos eram os crentes que se viram agra-
ciados por tais experiências carismáticas. Porém o conjunto destas três
ênfases, que tiveram por objetivo nítido um retorno ao cristianismo apos-
tólico e conseqüente preparação para a segunda vinda de Cristo naqueles
"últimos dias", não era obra ditada por alguma instituição ou algum
líder carismático que mobilizasse em redor de si pessoas cegas e faná-
ticas, mas antes um acordar de consciência e um despertar de anseios,
movidos por Deus, muito subjetivos, íntimos, indiscutíveis e crescentes,
pelo encontro com o Senhor, que disse: "Eis que cedo venho." (13 )
Os frutos positivos do movimento de despertamento espiritual na
Letônia foram: 1) uma profunda convicção do pecado em muitos cora-
ções; 2) alegria imensa de testemunhar, de orar e de contribuir; 3) um
grande número de reconciliações e conversões por todos os quadrantes
do país, como nunca antes houve na história dos batistas letos, atingin-
do também outras denominações. Crentes e interessados vindo de lon-
gas distâncias, no rigor do inverno, compareciam às reuniões de consa-
gração e evangelização, que freqüentemente duravam alguns dias. Sa-
crifícios imensos foram levados a efeito em favor de maior promoção
do Reino de Deus no país.
Contudo, houve também aspectos negativos: exageros, exaltação
própria e outras falhas comuns aos homens em qualquer lugar e em
qualquer tempo, sendo, porém, sempre reprimidas. As fraquezas foram

(13) Apocalipse 22:12.

200
exploradas tanto pelos incrédulos como pelos crentes que se opunham
ao movimento, distorcendo fatos e ridicularizando seus protagonistas.
Mas o saldo positivo foi extraordinariamente grande e os seus efeitos
transpuseram as próprias fronteiras da Letônia com o movimento emi-
gratório de que estamos tratando.
Aliás, ao comentarmos esse episódio ocorrido na Letônia, não seria
justo passar adiante sem fazer referência a alguns outros movimentos
semelhantes, em outras partes do mundo, ou ao menos ao anseio por tais
movimentos de avivamento espiritual, até mesmo no Brasil.
Notável é a mensagem do saudoso missionário Dr. W. E. Entzmin-
ger no livro de sua autoria — O Poder do Alto ou a Necessidade de os
Crentes se Revestirem da Virtude do Espírito Santo, editado pela Casa
Publicadora Batista, Rio de Janeiro, em que esse servo de Deus, já em
1904, assim se expressou:
Deus sabe, como também todos os que trabalham no evan-
gelho neste país, que o trabalho evangélico se ressente da tre-
menda falta de obreiros, pois, "A seara verdadeiramente é
grande, mas os obreiros são poucos"; porém, cremos que a ne-
cessidade de os crentes brasileiros se revestirem da virtude do
Espírito Santo é ainda mais urgente do que a do aumento de
obreiros. (14)
Em fevereiro de 1936 escreveu o Pastor Ebenézer Cavalcante o se-
guinte sobre o supracitado livro do Dr. W. E. Entzminger:
Entzminger leva-nos ao Tabor, e exclama, fervoroso: "Oh!
que Deus seja servido abençoar este nosso humilde esforço
para despertar o seu povo entre nós."... Seu tema central é
a necessidade de os crentes se revestirem da virtude do Espí-
rito Santo. Esta necessidade não é menor nem maior hoje...
O poder da vida cristã não tem merecido a devida atenção.
Formamos uma geração marteana, ativa e serviçal, tecnica-
mente manualizada. Falta-nos, porém, o Pentecostes perma-
nente da alma. A inteligência dos nossos métodos faz estancar
os rios de água viva que Jesus prometeu manariam do ventre
daqueles que nele cressem...
O Espírito Santo anela por nós. Somos o grande campo do
seu trabalho. Ele, que é o penhor da nossa herança celeste e
habita em nós, quer batizar-nos, encher-nos de si mesmo, un-
gir-nos para o trabalho e selar-nos para o testemunho ousado,
como fez a Pedro e a Carey. Essa linguagem é bíblica, e não
"pentecostal". Saibamos discriminar e ver. A prevenção e um
zelo amargo podem afastar-nos da Bíblia. Cuidado, e cuidado!
Aconselho aos moços que decoram o "Manual" a estuda-
rem devocionalmente "O Poder do Alto". (15 )

(14) Entzminger, W. E., O Poder do Alto, 3' ed., Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista,
1947, pp. 3 e 4, (o grifo é nosso).
(15) Cavalcante, Ebenezer, "Chronicas Baptistas'', O Jornal Batista. Ano XXXVI, n' 9, de
27 de fevereiro de 1936, p. 8.

201
Num artigo, sob o título "Um Avivamento na América do Sul",
depois de apresentar uma circular de W. B. Palmer, coronel do Exército
da Salvação em Buenos Aires, em que o signatário apela para um mo-
vimento de oração entre todos os evangélicos "para que Deus derrame
o seu santo Espírito sobre este grande continente", a redação de O Jor-
nal Batista, em agosto de 1916, arremata com o seguinte comentário:
Não podemos deixar de aplaudir sem reservas este movi-
mento. Não se pode imaginar o que seria possível fazer se
todos os crentes da América do Sul se unissem neste elevadís-
simo propósito. ('a)
Em abril de 1922, O Jornal Batista dava a notícia: "Uma onda de
revivificação religiosa atravessa diversas regiões do mundo", ressaltan-
do especialmente o despertamento espiritual verificado em "algumas na-
ções nascidas da grande guerra", onde "a mensagem do evangelho atrai
as multidões e as conversões são às centenas e milhares", citando parti-
cularmente o avivamento na Rússia e na Bélgica. (17)
Anos depois, em março de 1934, O Jornal Batista insere, em suas
colunas, o artigo "Revivificação — As Últimas Chuvas", da autoria de
E. J. W., em que são abordados os diversos movimentos de avivamento
espiritual no mundo e feitas as seguintes afirmações:
O Espírito Santo está operando com poder no seio da Igre-
ja e quer preparar todos os seus membros para o momento glo-
rioso do seu arrebatamento, ao "encontro do Senhor nos ares".
Sem dúvida, o avivamento do povo de Deus resultará no des-
pertamento e salvação de muitas outras almas; porque, quan-
do crentes são avivados e purificados desperta-se neles o espí-
rito de oração e zelo para trabalhar, esforçando-se para trazer
outros a Jesus. O propósito especial das "últimas chuvas" é
preparar a Igreja para a sua transladação. (18 )
Assim, em rápido relance na nossa própria literatura, podemos veri-
ficar que já antes da I Guerra Mundial, quando as nuvens das tensões
políticas toldavam o horizonte, e muito mais durante e depois da guerra,
por toda parte havia sinais de um grande avivamento espiritual, e no
Brasil uma ansiedade por um despertamento desta natureza. Portanto,
não era algo inédito que os batistas letos experimentassem tal desperta-
mento espiritual, mesmo porque é fenômeno histórico o surgimento de
avivamentos em torno de grandes crises por que passaram certos povos
em determinadas épocas. A I Guerra Mundial trouxe uma crise aguda,
especialmente entre os povos da Europa, com reflexos nas Américas e
em outras partes do mundo. E os prognósticos de uma nova catástrofe
mundial cumpriram-se, pouco mais de 20 anos depois, com a II Guerra
Mundial. E novamente os crentes foram despertados para procurar mais
intensamente a presença de Deus.

(16) "Um Avivamento na América do Sul'', O Jornal Batista, Ano XVI, n' 30, de 10 de
agosto de 1916, p. 3, (o grifo é nosso).
(17) "De Toda Parte", O Jornal Batista, Ano XXII, n' 15, de 13 de abril de 1922, p. 2.
(18) E.J.W., "Revivificação — As Últimas Chuvas", O Jornal Batista, Ano XXXIV, nc' 12,
de 22 de março de 1934, p. 11.

202
3. O Movimento de Despertamento Espiritual na Letônia
e a Emigração de Batistas Letos para o Brasil em 1922/23
Na imprensa batista leta da época, ou na secular, nada se lê que
tivesse qualquer feição de propaganda a favor de uma emigração de
batistas para o Brasil. Contudo, por alguns vislumbres, percebe-se que
em 1920 já se falava, em termos de profecia, de uma "fuga para o de-
serto", (19 ) que significava emigração de uma parte dos crentes para
um país distante na América do Sul, depois claramente designado como
sendo o Brasil, ( ) pois que mais cedo ou mais tarde o país cairia sob
o domínio das forças do mal, materialistas e ateístas, como de fato acon-
teceu. Sobre esta fuga é interessante citar um trecho de uma carta que
Júlio Malves escreveu do Brasil ao seu cunhado, Pastor João Inkis, na
Letônia, publicada no mensário batista Draugs (Amigo) :
Quero crer que com tal movimento os homens aí tornam-se
melhores e crescem no verdadeiro amor. Se é assim, então
temos que aceitar que ele de fato procede do Espírito Santo.
Bem como você, também eu estou plenamente convencido
de que vivemos de fato os últimos tempos que antecedem à
vinda de Cristo. Com isto não quero dizer que eu esteja tão
preparado que já me achasse digno de sua vinda; mas tal an-
seio é como saudade de alguém que está fora de casa e com o
desejo de ver o fim do mal que domina o mundo, que como o
vento do norte tem soprado também nos meus jardins.
Freqüentemente, o amor à minha pátria, a Letônia, toma
conta de mim, porém o bom senso acaba vencendo e então
passo a meditar como poderia eu fazer algo positivo para tor-
nar possível a "fuga para o deserto" do modo como você está
pensando. Talvez neste sentido eu possa ser útil de alguma
forma e, se de fato tal coisa for necessária, estou pronto a
ajudar com todas as minhas forças.
Com respeito ao anticristo, eu ainda não estou bem escla-
recido. Os meus pontos de vista pendem mais para a teoria de
Ginnes. Que nós vivemos, presentemente, tempos terríveis, não
tenho a menor dúvida. Tudo caminha de tal maneira que de
fato não há mais saída. Nenhum plano de melhorar a huma-
nidade está dando certo. Democracia, fraternidade humana e a
idéia da paz são verdadeiros escárnios que aparecem no palco
da humanidade hodierna. Onde está a Liga das Nações e ou-
tros pontos importantes do programa dos homens?... Em
parte alguma se pode vislumbrar qualquer sinal que nos diga
que a raça humana esteja melhorando. (21)

(19) Apocalipse 12:6.


(20) Inkis, J., Dieva prats un cilvecigie maldi musu izcelosana no Latvijas (A Vontade de
Deus e os Enganos Humanos na Nossa Emigração da Letônia), Suplemento do Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), Palma, Edição de 1950, p. 13.
(21) Malves, J., Draugs (Amigo), periódico batista leto, Riga, 1920, ri9 5, p. 8. (o grifo é
nosso).

203
Nove anos depois, quando a Igreja Batista Leta de Varpa estava
comemorando seu sétimo ano de existência, assim se expressou o mesmo
irmão no estudo que apresentou naquela oportunidade:
O despertamento espiritual na Letônia originou-se espe-
cialmente nas circunstâncias trevosas e difíceis geradas pela
guerra, nas quais os filhos de Deus começaram a desejar an-
siosamente a volta de Cristo. Este anseio purificou a tal ponto
as suas almas que eles começaram, insistentemente, a cami-
nhar mais zelosamente nas pegadas de Jesus. Os sofrimentos
sempre levam o homem mais perto de Deus. Assim aconteceu
também na Letônia naquela época. O principal elemento de
identificação dos filhos de Deus é o amor com que se amam
reciprocamente. E, de fato, nos primórdios do despertamento
espiritual na Letônia nasceu entre os crentes um forte amor
fraternal. Aborrecimentos e desconfianças, que antes existiam
em várias camadas de obreiros, desapareceram e todos se con-
venceram de que finalmente havia chegado a época das luzes
nas igrejas. Um dos obreiros mais destacados da Letônia na-
quela época, o pranteado irmão K. Freijvalds, 9 anos atrás,
isto é, a 16 de novembro de 1920, escrevendo para New York
sobre o que estava acontecendo na Letônia, em uma carta,
assim afirma: "O nosso trabalho na Letônia acaba de tomar
um rumo muitíssimo abençoado. As manifestações indesejá-
veis desapareceram totalmente. O Senhor está nos enviando
a chuva refrescante do Espírito e os nossos campos reverde-
cem. Em toda parte percebe-se um despertamento espiritual
— nova vida e fervor. Na União domina a fraternidade e una-
nimidade. As discórdias já não mais existem — domina per-
feita compreensão. Nas igrejas são realizadas séries de reu-
niões de santificação e por toda parte há sinais de um desejo
ardente por uma vida santificada. Cremos que o Senhor con-
servará em nós este espírito, e ainda o multiplicará, de modo
a inundar com as correntezas da verdade a nossa querida Le-
tônia, onde agora impera plena liberdade, despertando toda a
nossa nação, que ainda está adormecida..."
Bela foi também a transferência para cá de uma parte da
vida espiritual despertada na Letônia pelas circunstâncias da
guerra. Os que ficaram, abertamente escreviam que esta ha-
via sido a melhor parte das igrejas. E podemos crer nesta
afirmação, pois com as suas obras essa gente provou que de-
seja ficar vigilante, à parte com o Senhor, nesta hora decisiva
— nesta meia-noite — para a humanidade. Pouco lhes im-
portava o reino material da Letônia, mas eles dividiram os seus
haveres livremente, sem indagar de qualquer recompensa, com
o irmão mais necessitado, para que também este pudesse par
tir e esperar o Senhor. Tal despertamento foi uma verdadeira
ressurreição, que os filhos de Deus experimentam poucas vezes
na história. Tal movimento pode ser combatido como um en-

204
gano, como fizeram os que ficaram em nossa pátria, porém
não se pode negar a sua beleza e a sua significação como sinal
de verdadeiros filhos de Deus. É um episódio na história dos
filhos de Deus que como pérola preciosa há de brilhar um dia
na coroa da Igreja. (22)
Segundo as narrativas e as entrevistas com cerca de quatro deze-
nas de pessoas que de alguma forma estiveram na crista dos aconteci-
mentos relacionados com a emigração em tela, bem como pelos artigos
publicados no mensário Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), editado em
Palma, e mais dois opúsculos — Dieva prats un cilvecigie maldi musu
izcelosana no Latvijas (A Vontade de Deus e os Enganos Humanos na
Nossa Emigração da Letônia) e Mes so mantu turam mala traukos
(Temos Este Tesouro em Vasos de Barro), fica bem claro que em meio
ao despertamento espiritual já referido, emergiu a seguinte orientação
de Deus, manifestada de maneiras diversas: emigrar para o Brasil. Im-
pressionante é que em pouco tempo tal idéia conseguiu aglutinar um
grande número de crentes batistas na Letônia. Foi orientação de Deus,
segundo seu testemunho, porque homem algum conseguiria movimentar
tão grande número de pessoas de uma só confissão religiosa, que se des-
locou de sua terra com tanta espontaneidade e sem qualquer vislumbre
de recompensas materiais, para enfrentar tantas dificuldades e por fim
realizar tanto trabalho em prol da Sua Causa em terra estrangeira, como
foi o caso da emigração de batistas letos para o Brasil em 1922/23,
mesmo contando com os antecedentes históricos e políticos, já referidos
páginas atrás, que Ele usou naturalmente para a execução dos seus pro-
pósitos. Argumentam os entrevistados: "Se cremos que Deus tem um
plano para cada vida, que razões teríamos para deixar de crer que tam-
bém tem seus planos para com os povos ou parte deles? Deus fez emi-
grar da Caldéia as famílias de Tera e Abraão; deslocou a família de
Jacó para o Egito; moveu a emigração de Israel do Egito para Canal., e
depois para Babilônia e novamente para a terra de Judá; nos tempos
modernos, sob pressão da intolerância religiosa, fez emigrar grupos de
batistas e menonitas da Alemanha, Suíça e Holanda para a Inglaterra,
de onde, sob outra pressão, juntaram-se aos puritanos perseguidos, que,
por uma orientação divina, chegaram ao novo continente, onde deram
origem à nação norte-americana, e assim por diante. (23) Neste sentido,
o Pastor João Lukass, obreiro leto dos mais dinâmicos e mais conhecidos
entre letos e brasileiros no Estado de São Paulo e fora dele, assim
afirma:
Eu creio que estamos no Brasil, segundo o plano de Deus,
para a obra do Senhor. Por escaparmos dos perigos da guerra
ou do comunismo, são bênçãos acrescentadas como outras.
Para executar o seu plano, Deus usa o medo (exércitos fugin-
do), a fome (José no Egito), a prisão (Paulo), por fim, todas

(22) Id., Beigu iesakums (O Começo do Fim), Manuscrito da mensagem proferida perante
a Igreja Batista Leta de Varpa em novembro de 1929, que se encontra nos arquivos do
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(23) Inkis, J., Op. cit., pp. 16-19.

205
as coisas contribuem para o bem dos que amam o Senhor. Este
plano talvez fosse mal compreendido ou interpretado, mas era
plano de Deus. Jesus ensinou três anos e meio aos seus discí-
pulos sobre o Reino e eles, na ascensão, ainda indagaram sobre
o Reino de Israel. (24 )
Também o depoimento do Pastor Arvido Eichmann, que foi a alma
da obra missionária dos batistas letos imigrados no Brasil após a I Guer-
ra Mundial, merece menção. Ei-lo:
Depois de a Letônia deixar de existir como país indepen-
dente, e mutilada a sua feição pela guerra e pelas forças de
ocupação, até deixá-la quase irreconhecível, não há quem possa
contestar a natureza divina das fontes de onde nasceu a emi-
gração. Igualmente, ninguém porá em dúvida o propósito de
Deus na questão de fazer os crentes letos participantes na pre-
gação do evangelho "a toda criatura". Isto provam as dezenas
de obreiros letos da geração mais velha e da geração jovem
que operam na seara do Senhor no Brasil e além-fronteiras. (25)
No retrospecto sobre a emigração à luz dos acontecimentos na Eu-
ropa, o Pastor João Inkis assim se expressou na sua tese apresentada
no Congresso das Igrejas Batistas de Varpa em 23 de junho de 1941:
Havia pessoas dentre os crentes evangélicos que não con-
fiavam na paz, que não podiam unir suas vozes ao entusiasmo
reinante pela chegada da manhã áurea da liberdade e segu-
rança nacional, como justa recompensa pelo sangue vertido.
Também nós pertencíamos a esta "qualidade esquisita de gen-
te" que cruzou o Atlântico imenso, penetrando no seio do ser-
tão do Estado de São Paulo. Atravessamos o Rio do Peixe
e na sua margem direita erguemos altar ao Senhor que nos
guiou tão maravilhosamente. Desde alta madrugada até tarde
da noite o sertão ouvia hinos e preces da Igreja Imigrante...
Quem nos advertiu a não confiarmos nas retumbantes pro-
messas de paz na Europa foi a palavra profética lida e com-
preendida naqueles momentos sombrios. O espírito atribulado
dirigia-se ao Guarda divino com a pergunta: "Guarda, que
horas são da noite? Guarda, que horas são da noite? Res-
pondeu o Guarda: Vem a manhã, e também a noite; se quereis
perguntar, perguntai; voltai, vinde" (Is. 21:11,12) ... O que
nos estimulava era uma apreensão interna, indizível, seme-
lhante ao instinto que possuem as aves de arribação, que num
certo momento sentem a necessidade de deixar os prados e os
ninhos onde nasceram e voar para longe, em procura de novos
ares...
Certamente houve apelos proféticos, mas isto é mais uma
prova de que a emigração não obedeceu aos ditames da inteli-

(24) Lukass, João, Carta datada de 23 de julho de 1966, em nossos arquivos.


(25) Eichmann, Arvido, Biles so manto furam malu traukos (Temos Este Tesouro em Vasos
de Barros), Rincon, 1963, p. 8.

206
gência humana, nem tampouco foi motivada por especulações
econômicas. Um apelo destes não poderia mover ninguém a li-
quidar suas propriedades e viajar, se não sentisse dentro de si
uma convicção. Não podemos dizer isto de todos. Assim como
Ló acompanhou Abraão não por sua própria convicção, também
nós tivemos desses companheiros. Explicam-se, por isso, as
divergência que depois surgiram... Se houve receio que in-
fluiu em nossa saída, foi, certamente, o terror que experimen-
tamos do poder demoníaco, que como um pesadelo horrível
sobreveio à Rússia, dando fim à república democrática recém-
-organizada; foi o receio do falso profeta, que prometia muito,
mas zombava do Criador, que, em seu regime, transformava
homens em feras, aniquilando tudo que diz respeito à crença
em Deus. O terror vermelho já. deu provas suficientes de sua
conduta na Letônia nos dias da sua formação em República...
Tínhamos sempre um pressentimento lúgubre de que um dia a
onda vermelha inundaria os países Bálticos... Há uma coisa
mais dura do que a morte. n- a vida do crente opressa debaixo
dum regime onde a alma tem que respirar o ar da impiedade...
Agora, enquanto os acontecimentos sombrios da Europa
impressionam deveras, a faixa branca da bandeira da Letônia
colore-se, pouco a pouco, de vermelho... Preces sinceras so-
bem dos nossos corações por todos aqueles que esperam em
Deus na Letônia. Talvez eles, atualmente, melhor do que nós,
compreendem o significado do nosso êxodo...
Este episódio, talvez o mais sério de nossa vida, foi-nos
uma carta enigmática que não podíamos decifrar, como acon-
teceu nos tempos de Isaías. "Pelo que toda visão vos é como
as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe ler, dizen-
do: Ora, lê isto; e ele responde: Não posso, porque está selado
ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora, lê isto, e
ele responde: Não sei ler" (Is. 29:11,12) ...
Vivendo nesta terra, agora, ainda que não tivéssemos ne-
nhum outro motivo para justificar a vinda, satisfaz-nos a con-
vicção de que fizemos a vontade de Deus... Nós, que sobre-
vivemos, preocupamo-nos em levar avante o mandato do nosso
Mestre, em pregar o evangelho até a sua segunda vinda. Oxalá
que sejamos mais fiéis e dedicados ao trabalho de evangeliza-
ção do que temos sido até agora. (26)
Quanto aos aspectos negativos no desenvolvimento dos movimentos
de despertamento espiritual e da emigração dos batistas letos para o
Brasil em 1922/23, como extremismos e distorções doutrinárias, para
sermos fiéis à História, não podemos deixar de fazer a necessária refe-
rência, dentro dos limites das fontes disponíveis. Esses aspectos foram
reconhecidos, em termos bem explícitos, pela própria liderança dos imi-
grados três anos após a sua chegada ao Brasil, admitindo o fato de ter

(26) Inkis, J., "Reafirmando Princípios", Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Palma, 1941.
n' 7, pp. 8-10, e n° 8, pp. 5-7.

207
havido, em vários casos, uma excessiva liberdade no uso de dons caris-
máticos, que deveriam estar "sujeitos aos profetas"; a falta de equilí-
brio doutrinário de obreiros que, sob a pressão dos "profetas", foram
arrastados para posições errôneas; a vaidade espiritual, que tornou "in-
chados" os que apresentavam esses dons, transformando o despertamento
espiritual em artigo barato; e até a ilogicidade do subjetivismo de alguns,
chegando às raias da irresponsabilidade em interpretar os seus erros e
fraquezas como fenômenos naturais de um certo período de tentação a
que está sujeito aquele que recebe o Espírito Santo, à semelhança dos
40 dias de tentação no deserto que sofreu Jesus Cristo logo após o seu
batismo. ( 27 )
A reação a esses extremos não deixou de dividir, por algum tempo,
as opiniões. Uns acharam que era de seu dever tomar uma posição radi-
cal, enquanto outros preferiram encarar os problemas dos desvios e dis-
torções com paciência e amor, até que tudo chegasse aos seus devidos
eixos. Esta última atitude foi a prevalecente. Daí a curiosa interpre-
tação de Emílio Conde, baseada na absoluta falta de conhecimento dos
fatos e até de dados e datas, quando afirma que "em 1923 um grupo de
Pentecostais vindos da Letônia fundou a igreja na cidade de Varpa" (os
grifos são nossos) e que só por meio da literatura batista e contato com
os batistas é que os pastores levaram aquela igreja a unir-se à Denomina-
ção Batista. ( 28) Lamentavelmente, ao fazer tais afirmações, o autor
desconhecia que aqueles imigrantes eram membros de igrejas batistas na
Letônia e que nem ainda hoje existe algo que se chama "cidade de Varpa",
quanto mais em 1923, quando tudo era uma imensa mata virgem. Igno-
rava também que o grupo que fundou a igreja pentecostal em Varpa, no
ano de 1936, até então fazia parte de uma igreja batista que com paciên-
cia e amor esperou cerca de 14 anos pela definição da posição daquele
grupo, o que ocorreu no ano citado e depois das visitas feitas pelo mis-
sionário pentecostal da cidade de Marília, Estado de São Paulo, Simão
Lundgren.
Ademais, prova evidente e pública de que a igreja fundada em Varpa
no ano de 1923 não era pentecostal está no fato de que esta jamais se
identificou com o grupo pentecostal leto existente desde 1917 no sul do
país e jamais foi nem mesmo procurada por este para quaisquer conta-
tos. Os aspectos iluministas e carismáticos presentes no movimento na
verdade não chegaram a caracterizar a presença do pentecostismo no
sentido específico da palavra.
4. Dificuldades e a Providência Divina na Emigração
Quatro eram as dificuldades principais que o movimento emigratório
batista leto de 1922/23 enfrentou: 1) a falta de numerário para as pas-
sagens dos emigrantes face à mudança repentina da política imigratória
do Brasil, sendo suspenso o transporte gratuito; 2) a falta de permissão,

(27) Id., "Dieva prats un cilvecigie maldi musu izcelosana no Latvijas" (A Vontade de
Deus e os Enganos Humanos na Nossa Emigração da Letônia), Suplemento do Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), Palma, Edição de 1950, pp. 3 e 26-31.
(28) Conde, Emílio, História das Assembléias de Deus no Brasil, 1' edição Rio de Janeiro,
1960, p. 277.

208
por parte do governo brasileiro, da entrada de imigrantes das áreas co-
munistas ou ocupadas pelos comunistas invasores; 3) a oposição do go-
verno da Letônia, que necessitava de todos os seus cidadãos para recons-
truir o país devastado pela guerra; e 4) a incompreensão da liderança
da União das Igrejas Batistas da Letônia, que, sentindo-se atingida pelas
restrições governamentais ao movimento emigratório que ameaçavam ge-
neralizar-se e comprometer a Denominação toda, condenou o movimento
como fanático e herético.
Mas, a mão de Deus não tardou a agir sob formas as mais impres-
sionantes. Primeiramente, em 1921, antes que surgisse qualquer dificul-
dade, o Pastor João Inkis recebeu da Igreja Batista Leta de Nova Odessa,
no Brasil, um convite para assumir o seu pastorado. Apesar da boa si-
tuação que desfrutava esse irmão na Letônia — Pastor, durante 22 anos,
da maior igreja batista do país, com cerca de 800 membros, e líder da
maior evidência na Denominação — aceitou o convite. (29) Na despedida
que a igreja lhe preparou no dia 14 de agosto daquele ano, pelo movimen-
to incomum e pela representação das entidades denominacionais nas duas
sessões do vasto programa, aquilatou-se o prestígio que o Pastor João
Inkis desfrutava na Letônia. (30 )
Porém àquela altura dos acontecimentos nada se sabia a respeito de
como a emigração se iniciaria e nem como teria seu desenvolvimento.
Isto porque não havia planejamento humano algum para tal fim e nem
se sabia em que lugar no Brasil os emigrantes se localizariam. E é exa-
tamente devido a estas circunstâncias que a partida do Pastor João In-
kis assume importância especial na história daquela emigração. No seu
sermão de despedida, tangido pela emoção que dominava os presentes,
teve estas palavras verdadeiramente proféticas: "Não choremos. Poupe-
mos a nossa vista, pois ainda teremos que ler muito a Palavra de Deus.
Teremos que ler muitas notícias da obra missionária. 2-me dada esta
noção no meu íntimo." (31)
Apesar da ênfase messiânica do seu sermão, parece que o Pastor
João Inkis previu profeticamente que os batistas letos realizariam no
Brasil uma obra missionária cujas notícias mais tarde seriam lidas na
imprensa batista daqui e da Letônia, ainda que nada fosse dito, naquela
oportunidade, sobre a emigração para o Brasil. Fig. 46
Com a partida do Pastor João Inkis e família para o Brasil, os pre-
parativos para a emigração na Letônia foram se acelerando e a corres-
pondência dos interessados em emigrar foi se avolumando na mesa da-
quele obreiro em Nova Odessa, no Brasil. Quando ele percebeu as pro-
porções do movimento, escreveu logo para a Letônia, aconselhando que,
pelo menos uns seis meses antes da partida da primeira leva, deveriam
ser enviadas ao Brasil algumas pessoas de confiança, que, com os recur-
sos coletados entre os emigrantes, procurassem encontrar uma área sufi-
(29) Sprogis, João, "De Nova Odessa", O Jornal Batista, Ano XXII, n° 29, de 6 de julho
de 1922. p. 11.
(30) Rudolfs, "Brahla J. Inka atvadischanas" (A Despedida do irmão J. Inkis), Kristiga
Balss (A Voz Cristã), n° 3, setembro de 1921, pp. 88-93.
(31) Id., ibid., p. 89. (o grifo é nosso)

209
cientemente ampla para a instalação de uma colônia, fazer o pagamento
inicial da mesma e levantar, no local, algumas edificações provisórias
para abrigar os adventícios esperados. Porém, a marcha dos aconteci-
mentos na Letônia, aconselhava uma ação cautelosa e ao mesmo tempo
rápida, considerando a pressão que o novo governo do país começou a
exercer sobre o movimento emigratório, tentando pôr mão em supostos
agenciadores de trabalhadores agrícolas para o Brasil.
Atendendo ao conselho do Pastor João Inkis, um grupo de irmãos,
que já havia vendido as suas propriedades na Letônia, estava pronto
para embarcar, quando as autoridades brasileiras negaram a permis-
são de entrada no país a imigrantes letos. Os motivos alegados eram
dois: 1) os letos colocados nos núcleos coloniais no Estado de São Paulo
não queriam trabalhar nas fazendas vizinhas na época da colheita —
razão pela qual os núcleos haviam sido criados; e 2) temia-se a infiltra-
ção do esquerdismo bolchevista no Brasil através da entrada de imi-
grantes procedentes da área européia até há pouco por ele dominada, já
que o governo do Brasil não tinha reconhecido ainda a independência e o
caráter democrático dos países bálticos. Diante do impasse, Júlio Mal-
ves, solicitado pelo Pastor João Inkis, viajou imediatamente para o Rio
de Janeiro, a fim de se pôr em contato com o Exmo. Sr. Ministro das
Relações Exteriores do Brasil e encontrar uma solução urgente. ( 32 )
De São Paulo, o referido irmão endereçou, a 24 de abril de 1922,
uma carta de 5 laudas, espaço um, ao Exmo. Sr. Ministro das Relações
Exteriores, Dr. J. M. Azevedo Marques, preparando o caminho para a
entrevista. Na dita carta, apontou habilmente as vantagens de se esta-
belecer relações diplomáticas com a Letônia, principalmente visando fins
comerciais, podendo-se também abrir as portas para os agricultores le-
tos desejosos de emigrar devido às ameaças comunistas, e especialmente
para os agricultores batistas, cujas colônias no Brasil eram um atestado
vivo de trabalho e honradez, adiantando que já se encontra em marcha
um movimento de emigração de batistas da Letônia para o exterior por
motivos de princípios religiosos e que tal corrente emigratória deveria
ser aproveitada o quanto antes pelo Brasil. (33 )
Enquanto esperava pela audiência com o Exmo. Sr. Ministro, Júlio
Malves visitou a redação da publicação carioca O Economista, em cujas
colunas, franqueadas com liberalidade, inseriu, em 20 de maio de 1922,
um artigo sob o título "Intercâmbio Comercial com a Letônia", em que
tentou demonstrar a conveniência de se estabelecer relações diplomáticas
e comerciais do Brasil com a Letônia independente e democrática, pon-

(32) Krigers, Verner, Entrevista com Júlio Malves em 15 de fevereiro de 1967, em Rumo-a-
-Oeste, Mato Grosso. Também Inkis, J., Op. cit., p. 14.
(33) Malves, Júlio, Cópia da carta em tela. Encontra-se nos arquivos do Museu Batista do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

210
do-se à disposição das autoridades e entidades comerciais para quais-
quer entendimentos. (34)
Júlio Malves permaneceu no Rio de Janeiro durante 37 dias, tra-
tando da permissão para a entrada no território nacional do grupo de
batistas letos, a quem denominou "os procuradores dos imigrantes", jun-
to ao Exmo. Sr. Ministro das Relações Exteriores do Brasil, alcançando
pleno êxito. Entretanto, surgiu, à última hora, a "descoberta" do De-
creto Federal n° 4.247, de 6 de janeiro de 1921, que considerava indese-
jáveis para o país imigrantes maiores de 60 anos, em virtude do qual
os consulados brasileiros no estrangeiro não visavam os passaportes no
porto de embarque a tais pessoas, a não ser mediante certificados forne-
cidos pelas Inspetorias de Imigração nos portos de desembarque no Bra-
sil, a pedido e sob responsabilidade de pessoas já domiciliadas aqui e que
possuíssem recursos para garantir-lhes a subsistência. Havendo, no gru-
po que aguardava ordem de embarque, duas pessoas com mais de 60
anos de idade, foi preciso dividir o mesmo em dois grupos, autorizando
o embarque de três famílias e deixando a quarta família com as pessoas
idosas e algumas solteiras para um embarque posterior. Contando, fi-
nalmente, com a ajuda do Sr. Oscar Lõfgren, inspetor responsável pela
Inspetoria de Imigração do Estado de São Paulo no porto de Santos e
antigo Diretor do Núcleo Colonial de Nova Odessa, ao tempo em que ali
foi fundada a colônia leta, foi encontrada uma solução para os emigran-
tes maiores de 60 anos, que estavam aguardando havia mais de dois
meses a permissão de entrada no Brasil. Para apressar a tramitação
dos documentos, Júlio Malves foi novamente ao Sr. Ministro das Rela-
ções Exteriores no Rio de Janeiro. Este, sempre gentil e solícito, per-
suadido da urgência do caso, telegrafou ao cônsul brasileiro em Ham-
burgo, dando autorização para o embarque de tais pessoas, que lhe se-
riam apontadas por um certo cidadão, Pastor Carlos Rodolfo Andermann.
Não se sabe como aquele representante diplomático brasileiro havia en-
tendido que daí por diante todos os emigrantes procedentes da Letônia
e apresentados pelo referido pastor no consulado em Hamburgo deve-
riam ter seus passaportes visados, independentemente de qualquer ter-
mo de responsabilidade procedente do Brasil. Entrementes, chegou a Ri-
ga um telegrama de São Paulo de que o Cônsul Geral em Hamburgo
havia sido autorizado pelo Governo Brasileiro a visar os passaportes dos
letos. A 19 de agosto de 1922 o Pastor Carlos Rodolfo Andermann deixou
a Letônia com destino a Hamburgo na Alemanha, onde, para surpresa
sua, recebeu do Cônsul brasileiro a comunicação de que todos os emi-
grantes por ele indicados poderiam visar seus passaportes sem exigências
senão a do exame médico. (35)

(34) Cf. Malves, J., Cópias de cartas de 13 de maio e 1° de junho de 1922, dirigidas a
Augusto Malves; e de 13 de julho do mesmo ano, endereçada ao Sr. Oscar Lofgren. Tam-
bém Lofgren, Oscar, Carta enviada de Santos ao Sr. Júlio Malves, firmada em 17 de julho
de 1922. Essa correspondência encontra-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(35) Andermann, Carlos Rodolfo, Correspondência firmada em São José dos Campos aos
15 de janeiro de 1967; em nossos arquivos. Também Pusplatais, André, Entrevista com o
autor em 16 de janeiro de 1969 em São José dos Campos, Estado de São Paulo.

211
Mas havia ainda uma outra dificuldade na emigração — a carência
de recursos financeiros para as passagens de todos quantos sentiam em
seu coração que deviam emigrar. Ao tempo da partida do Pastor João
Inkis, uma passagem marítima de Londres a Santos custava 25 libras.
Diante disto, os irmãos mais abastados, ainda que não todos, venderam
as suas propriedades e colocaram o dinheiro à disposição dos mais ne-
cessitados que desejassem emigrar, para ser aplicado segundo o critério
dos líderes que mereciam confiança geral. A chamada "Caixa Comum",
que se formou para receber empréstimos e doações para esse fim, tinha
vários tesoureiros que recebiam os recursos e os encaminhavam à aplica-
ção indicada. Mas estes não entravam na medida em que cresciam as
necessidades na aquisição de passagens para os menos abonados. Para
resolver o problema, Deus entrou com sua providência. Apareceram em
Hamburgo muitas companhias de navegação querendo fazer o transpor-
te de emigrantes, estabelecendo-se, assim, uma verdadeira concorrência.
E, ao invés de 25 libras esterlinas, preço que era cobrado por pessoa um
ano antes, de Londres a Santos, a Royal Mail Company chegou a baixar
para 8 libras esterlinas de Hamburgo a Santos. Desta forma, os recur-
sos existentes foram suficientes para todos. (3°)
A dificuldade maior, porém, foi a reação do governo da, Letônia,
pressionado pela imprensa, que explorava tudo que fosse passível de
crítica, exagerando e distorcendo o que não o fosse e imaginando moti-
vos onde não os pudesse encontrar. Dizia, por exemplo, que os apregoa-
dores do fim do mundo estavam conseguindo o seu intento, que era a
emigração em massa; que o movimento tinha características de uma su-
perstição religiosa, pois que os emigrantes quase todos eram batistas;
que era de se esperar que o governo tomasse medidas enérgicas contra
as pessoas mal formadas, que exploravam a crendice de gente ingênua e
que como agentes de firmas colonizadoras do Brasil estavam fazendo um
bom negócio; que a sociedade exigia que o movimento fosse liquidado de
imediato e com recursos radicais, se necessário, pois que tal seita (ba-
tista) o país já não podia tolerar, uma vez que se tornara perigosa tanto
para o indivíduo como para a sociedade. (37)
Diante de tais investidas da imprensa secular e endossadas pela im-
prensa evangélica luterana, (38 ) o governo, que a princípio havia usado
de meios suaves para reprimir o movimento — como longas esperas pela
emissão de passaportes estrangeiros e repetidas inquirições dos motivos
da emigração — passou à suspensão da emissão de passaportes, confi-
namento em residência e até prisão celular de algumas pessoas que pola-
rizavam as atenções dos emigrantes. Tais prisões sofreram os pastores
Otto Vebers e Carlos Kraul e o então jovem João Augstroze, enquanto

(36) Inkis, J., Op. cit., p. 14.


(37) Lauberts, P., Pahrskats par kongresa gadu no 1921-1923" (Relatório Anual do Con-
gresso, de 1921-1923), Kongresa Grahmafa (O Livro do Congresso), 1923, Edição da União
das Igrejas Batistas da Letônia, p. 15, notas de rodapé.
(38) Teofils, B., "Mormonisms un brazilianisms" (Mormonismo e Brasilianismo), revista
Swehtdeenas Rihts (A Manhã de Domingo), Riga, 1923, Ano IV, n° 25, de 17 de junho de
1923, pp. 2 e 3.

212
uma jovem permaneceu confinada em sua residência, incomunicável, du-
rante algumas semanas. (3°)
Essas medidas governamentais foram tomadas por muitos já como
"princípio das dores". Orações incessantes começaram a subir ao tro-
no da graça divina, pedindo a libertação dos presos e confinados e a
abertura dos caminhos para a emigração, pois tudo indicava que o go-
verno estava disposto a impedi-la, julgando tratar-se de algum alicia-
mento de mão-de-obra para os fazendeiros produtores do café no Brasil,
acobertado de certa mística religiosa para conseguir o seu intento. Os
presos foram libertados, pois nada foi apurado que os comprometesse;
as acusações de mistificação do povo não foram confirmadas; relação
alguma com qualquer agente de imigração do Brasil foi comprovada, de
vez que tal não existia; e a emissão de passaportes foi restabelecida, com
ordens expressas aos prefeitos e delegados policiais de fornecerem os do-
cumentos de habilitação para obtenção de passaportes a todo e qualquer
cidadão que os solicitasse. (40) Apesar da evidente manifestação da pro-
vidência de Deus, muitos recuaram deixando de emigrar. (41)
A última dificuldade que os emigrantes batistas tiveram que en-
frentar e suportar por mais tempo foi a reação de alguns elementos da
liderança da União das Igrejas Batistas da Letônia. No órgão denomi-
nacional Kristiga Balss, redigido pelo Pastor Arvido Eichmann, que cin-
co meses depois também emigrou para o Brasil e foi um dos grandes lí-
deres do trabalho batista lato, apareceu, em 15 de março de 1922, a
primeira reação pública, com a divulgação da seguinte advertência da
Junta Executiva da União das Igrejas Batistas da Letônia, então sob a
presidência do Pastor André Pinchers, que, igualmente, meses depois, já
se achava no Brasil e foi pastor da Igreja Batista Leta de Varpa por
nove anos. Eis o que diz a advertência:
Considerando os mais diversos boatos com referência à
emigração, a Junta Executiva da União Batista da Letônia
acha imprescindível comunicar às igrejas batistas da Letônia
o seguinte:
1. Da parte da Junta nenhuma organização e nem mesmo
qualquer estímulo existem com respeito à emigração.
2. Segundo a convicção da Junta, tal emigração não pode
ter qualquer fundamento religioso relacionado com a
posição doutrinária batista, baseada no ensino da Bí-
blia.
3. Segundo a convicção da Junta, a emigração é uma
questão pessoal e secular de cada um dos interessados.
(39) O. S., Carta de uma jovem que esteve confinada, firmada em Riga, a 17/11/22, e en-
dereçada ao Pastor Rodolfo Carlos Andermann em Hamburgo, onde este se encontrava a
serviço do movimento emigratório. Também Augstroze, João, Carta dirigida ao autor em 21
de dezembro de 1968; e Necrológio do Pastor Carlos Kraul, Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), 1962, n° 4, p. 19 ss., também Pusplatais, André, loc. cit.
(40) Id., ibid.
(41) Lauberts, P., Op. cit., p. 14.

213
4. A Junta não recomenda a emigração para o Brasil, e
adverte a cada membro de igreja quanto ao perigo de
ser levado a deixar a sua terra natal ou a estimular
irmãos menos experientes a dar tal passo.
A Diretoria: A Pinchers
J. Laudams
Ed. Eichmanis (42 )
No mesmo órgão e no mesmo número aparecem também duas ou-
tras comunicações que denotam a crise que se estabeleceu na alta dire-
ção da União a propósito da emigração. Dizem elas que a Junta recebeu
um abaixo-assinado de 127 nomes, dos quais 25 eram de pastores, exi-
gindo o afastamento de três obreiros dos quadros da Junta, eleitos pela
Assembléia da União, e a inclusão de três outros, apontados pelos sig-
natários. Diz um dos comunicados que "os primeiros três irmãos, para
resguardar a União de uma provável divisão, voluntariamente se demi-
tiram, depois do que os irmãos Lauberts, Bermaks e Gegers foram ad-
mitidos nos quadros da Junta", cuja diretoria imediatamente demitiu-se,
sendo eleito o Pastor Lauberts novo presidente da Junta Executiva. (43)
Seguem-se as renúncias do presidente da União das Igrejas Batistas da
Letônia, Pastor André Pinchers, e do redator do órgão denominacional
Kristiga Balss, Pastor Arvido Eichmann, sendo eleito pela Junta, para
ambos os cargos vagos, o Pastor P. Lauberts, presidente da Junta Exe-
cutiva. (44 ) De igual modo renunciam seus cargos três dos quatro evan-
gelistas da União: Peteris Fokrots, Pauls Ceipe e Karlis Rudolfs Ander-
manis, enquanto o quarto, Pastor Otto Vebers, é demitido por ter feito
alguma propaganda em suas viagens pelas igrejas a favor da emigração
para o Brasil. (45) Todos esses partiram para o Brasil poucos meses de-
pois.
Finalmente, no relatório sobre as atividades da Junta Executiva e
da União prestado à Assembléia bienal desta última — realizada na ci-
dade de Liepaja de 13 a 16 de setembro de 1923 — o presidente explicou
a obra do movimento do despertamento espiritual como "obra destrui-
dora", que, não fosse a intervenção ousada, ou seja, o abaixo assinado
atrás referido, resultaria num êxodo ainda maior, pois que já havia che-
gado a 6.000 o número dos que emigrariam para o Brasil. Justificou a
ação rápida e ousada com as exigências da imprensa secular feitas, nesta
altura, ao governo, em nome da opinião pública, no sentido de se fechar

(42) Pinchers, A., Laudams, J., Eichmanis, Ed., "Izceloschana uz Braziliju" (Emigração
para o Brasil), Kristiga Balss (A Voz Cristã), Riga, n° 6, de 15 de março de 1922, pp. 143
e 144, n° 12 de 15 de junho de 1922, pp. 303 e 304.
(43) Id., "Muhsu Draudzem" (As Nossas Igrejas), Kristiga Balss (A Voz Cristã), n° 6, 15
de março de 1922, p. 144.
(44) Lauberts, P., Freijwalds, K., Dinbergs, Art., "Sabeedribas Padomes sehde, 8 un 9
marta" (Reunião da Junta Executiva em 8 e 9 de março), Kristiga Balss (A Voz Cristã), n"
6, 15 de março de 1922, p. 144.
(45) Freijwalds, K., "Sabeedribas Padomes 11 sehde, 29 un 30 augusta Riga" (A 11'
Reunião da Junta Executiva da União em Riga em 22 e 30 de agosto), Kristiga Balss (A Voz
Cristã), n° 18, 15 de setembro de 1922, p. 416.

214
as organizações batistas na Letônia — como igrejas, Seminário e ou-
tras — e suspender a emissão de passaportes estrangeiros aos batistas,
as quais estavam na iminência de serem executadas. Também transcre-
veu o manifesto da Diretoria da União das Igrejas Batistas da Letônia,
cuja última frase dizia: "Responsabilizar perante a nação todos os ba-
tistas da Letônia pelas ações de uma parte deles, seria como se alguém
pretendesse responsabilizar todo o povo leto pelos crimes que alguns Te-
tos tivessem cometido." (46)
Tal reação por parte da liderança dos batistas que ficaram na Le-
tônia é compreensível diante de duas ameaças nitidamente delineadas na
situação existente. A primeira era a do esvaziamento e até mesmo da
extinção de muitas igrejas pelo êxodo em massa, de vez que a estatística
da União referente ao ano de 1921 acusava, em todo o país, 9.657 membros
nas 84 igrejas batistas, (47) enquanto 6.000, segundo a palavra do pró-
prio presidente, estavam para emigrar. (48) A segunda ameaça era a
do fechamento de todas as igrejas batistas na Letônia e liquidação de
suas instituições, consoante a pressão da imprensa e as medidas de in-
tervenção oficial que já se esboçavam de diversas formas. (49 )
Ainda que esta reação não constituísse a dificuldade maior de todas
quantas aquele movimento teve pela frente em sua fase inicial, entre-
tanto, foi a mais amarga, porque partiu de irmãos em Cristo, e a que
por mais tempo perdurou, refletindo por vários anos na vida dos batis-
tas Tetos imigrados naquela ocasião, como veremos num dos capítulos
mais adiante.
5. A Travessia do Atlântico em vários grupos até o Brasil
A viagem dos emigrantes da Letônia até o Brasil não poderia ocorrer
de uma só vez, tanto pela incerteza do número exato dos interessados na
emigração, como devido às restrições impostas pelo governo, bem como
pela contingência de ter que contar somente com navios de pequena ca-
pacidade, por serem seus preços de passagem mais ao alcance dos re-
cursos dos emigrantes.
Também não poderia ter uma organização formal devido à oposiçao
do governo, que, sempre vigilante, tentava encontrar motivos para obstar
a emigração.
A organização, se assim podemos designá-la, era simples e eficiente,
principalmente devido à dedicação com que as pessoas nela envolvidas
desempenhavam as suas funções. Assim, tudo corria bem com o mínimo
de organização.
Na Letônia havia algumas pessoas que, apontadas pelos próprios
irmãos interessados na emigração, tomavam nota dos nomes dos emi-
grantes e de suas condições financeiras com relação à aquisição de pas-
sagens, enviando essas listas ao Pastor Carlos Rodolfo Andermann que

(46) Lauberts, P., Op. cit., pp. 14-16.


(47) "No Redakcijas galda" (Da Mesa da Redação), Kristiga Balss (A Voz Cristã), Riga,
n° 11. de 1 de junho de 1922, p. 270.
(48) Lauberts, P., loc. cit., p. 14.
(49) Id., ibid., p. 16.

215
se encontrava em Hamburgo, Alemanha, instalado num modestíssimo cô-
modo do Süd Hotel. Quando cada qual dos emigrantes, por sua própria
iniciativa e risco, conseguia o seu passaporte estrangeiro, as pessoas aci-
ma referidas organizavam os emigrantes discretamente, em pequenos gru-
pos, marcando com eles o dia do embarque para Hamburgo e comuni-
cando ao citado pastor o de sua chegada àquela cidade portuária alemã.
Em Hamburgo, o Pastor Carlos Rodolfo Andermann fazia os con-
tatos constantes com várias companhias de navegação, acertando com
elas os preços, o número de reservas e outras providências; recebia os
grupos dos emigrantes procedentes da Letônia e, juntamente com os
agentes das companhias de navegação já tratadas, os encaminhava à
Hospedaria dos Emigrantes, enquanto aguardavam o dia do embarque
e se submetiam à inspeção de saúde; e providenciava os respectivos vis-
tos no consulado brasileiro. Fig. 47
Acertado o dia da partida do navio e o número de emigrantes que
estariam a bordo, o Pastor Carlos Rodolfo Andermann comunicava por
telegrama, ao irmão Júlio Malves, em São Paulo, o nome do navio, o
número de emigrantes letos a bordo, a data da partida de Hamburgo, ou
de outro porto e a data da chegada a Santos. Júlio Malves, por sua vez,
comunicava, por carta, os mesmos dados, em português, ao Sr. Oscar
Lõfgren, chefe da Inspetoria de Imigração do Estado de São Paulo no
porto de Santos e seu amigo particular desde 1906, que tomava todas as
providências necessárias quanto aos desembaraços no dia do desembar-
que dos imigrantes batistas letos, que apreciava desde os dias quando
era Diretor do Núcleo Colonial de Nova Odessa.
No dia do desembarque de cada grupo, Júlio Malves, geralmente
junto com mais alguns irmãos da Colônia de Nova Odessa, ia ao porto
de Santos, a fim de receber os imigrantes e os acompanhar, em vagões
especiais da Estrada de Ferro Santos—Jundiaí, até a Casa de Imigra-
ção em São Paulo, onde ficavam por um ou dois dias aos cuidados da
Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
Depois de ajudá-los a se desembaraçarem das formalidades daquela
Secretaria e obter-lhes os chamados "Passes de Imigrantes", inteiramen-
te gratuitos até a Estação do destino, seguia com os imigrantes letos até
a estação de Sapezal, na Estrada de Ferro Sorocabana, onde eram rece-
bidos por representantes da Colônia Varpa, irmãos Vilis Lustins e Ar-
thur Garancs, que tinham o seu escritório no enorme barracão-hospeda-
ria com a inscrição "Casa Varpa". Depois de um ou dois dias de des-
canso, marchavam a pé 31 km, de Sapezal até a Colônia Varpa, sob a
direção de diferentes irmãos. (50 )
Todo esse itinerário, Riga — Hamburgo — Santos — São Paulo —
Sapezal — Varpa, levava normalmente 25 a 30 dias, dependendo das es-
calas dos navios, e em alguns casos até 40 dias, quando havia algum pro-
blema com o embarque em Hamburgo. (51)

(50) Malves, J., Narrativa enviada ao autor em 11 de setembro de 1966. Acha-se nos arqui-
vos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(51) Andermann, Carlos Rodolfo, Entrevista em 12 de janeiro de 1968, em São José dos
Campos, Estado de São Paulo.

216
O primeiro grupo, chamado "procuradores dos imigrantes", compos-
to de três famílias abastadas e que trazia os recursos para a aquisição de
terras onde instalar uma grande colônia, chegou ao Brasil em agosto de
1922. Recebido em Santos pelo Pastor João Inkis e o irmão Júlio Malves,
dirigiu-se para a Colônia Leta de Nova Odessa, onde ficou hospedado em
vários lares. As três famílias eram: a de Peteris Veinbergs, cujo chefe
veio a ser o Diretor da Colônia Varpa; a de Roberto Rudzits, cujo chefe
foi Vice-Diretor da Colônia e depois tornou-se o negociante mais popular
de toda a região; e a de Mikelis Rimsha, cujo chefe era um dos técnicos
mais entendidos em pecuária e laticínios e que mais tarde instalou e de-
senvolveu o laticínio de Palma. Depois de cerca de uma semana de des-
canso, esses irmãos, acompanhados de outros da Colônia de Nova Odessa,
seguiram para espiar as terras que poderiam ser adquiridas para o es-
tabelecimento da nova colônia, sobre as quais Júlio Malves e outros já
haviam colhido informações, aspecto que será apreciado no capítulo se-
guinte.
Em setembro do mesmo ano chegou o segundo grupo, composto da
família do Pastor Alberto Eichmann, seu irmão solteiro, Pastor Arvido
Eichmann e mais algumas pessoas, solteiras e idosas, contadas como
agregadas àquela família. Este grupo, adicionado ao primeiro, formou
o chamado "grupo dos pioneiros", de 28 pessoas, que entrou na mata
virgem para receber as grandes levas que já vinham se aproximando da
costa brasileira.
A 26 de outubro de 1922 chegou ao porto brasileiro de Santos, pelo
navio inglês "Araguaya" — que durante a I Guerra Mundial os alemães
haviam tomado aos brasileiros e depois os ingleses comprado aos ale-
mães — a primeira e a maior leva de imigrantes batistas letos, composta
de 453 pessoas, entre as quais se achavam o autor desta obra, com quase
dez anos de idade, e seus pais. O embarque desse grupo se deu no porto
francês de Cherburgo.
Daí por diante os grupos se sucediam com breves intervalos de três
a quatro semanas, e assim, desde agosto de 1922 até outubro de 1923,
chegaram ao Brasil pela grande corrente emigratória de batistas letos e
acamparam na Colônia Varpa 2.223 pessoas, (52 ) trazidas em 13 levas
por 11 navios, sendo que um deles — o "Antônio Delfino" — fez três
viagens. (53 )
As caravanas maiores, que variavam entre 100 e 450 pessoas, chega-
ram entre fins de outubro de 1922 e meados de março de 1923. Nas hos-
pedarias de emigrantes em Hamburgo, em Santos e em São Paulo, a
bordo dos navios e nos vagões das vias férreas Santos—Jundiaí e Soro-
cabana não cessavam os hinos entoados em leto, causando admiração dos
circunstantes. A bordo, os cultos eram realizados diariamente, num es-
pírito fervoroso em que se misturavam as saudades da terra natal, dos

(52) Klavin, André, Arquivo Pessoal, Registro particular administrativo do primeiro acam-
pamento de Varpa.
(53) Malves, J., Cópias da correspondência com o Sr. Oscar Ltifgren, Chefe da Inspetoria
de Imigração do Estado de São Paulo no porto de Santos. Também Questionários de Pesquise.

217
familiares queridos que ficaram lá e a certeza gloriosa de que Deus os
estava conduzindo para um lugar por Ele mesmo preparado, fossem quais
fossem as dificuldades a enfrentar. Nos cultos, nas leituras bíblicas e
orações individuais e em grupos espalhados pelo convés e pelos dormi-
tórios dos navios, bem como pelos pátios e alojamentos das hospedarias
dos imigrantes, esses irmãos encontravam forças para a sua estranha
aventura de fé. (54 )
Tal foi a impressão que esses irmãos causaram nos marinheiros e
servidores das hospedarias de imigrantes, que em alguns casos foram
taxados de loucos, e em outros, de santos. Quando a primeira grande
caravana, de 453 batistas letos, deu entrada no enorme salão do refei-
tório da Hospedaria de Imigrantes de São Paulo para a primeira refei-
ção que lhes seria servida, ninguém tocou nos alimentos que lhes foram
postos nas mesas. Os copeiros tentavam comunicar, por meio de gestos,
que podiam servir-se, entretanto, os imigrantes abanavam a cabeça em
sinal negativo. Os servidores não entendiam a atitude. Dentro de pouco
toda a equipe do refeitório e da cozinha e de controle estava nas portas
para ver o que ia acontecer. Num dado momento, depois que todos já
haviam se assentado às mesas, estabeleceu-se o silêncio e uma voz de ba-
rítono, surgida de uma das extremidades do salão, iniciou o cântico de
uma das mais apreciadas estrofes do repertório do canto congregacional,
que todos passaram a acompanhar a quatro vozes: "Svets ir! Svets ir!
Svets ir Tas Kungs! Un debess un zeme; un debess un zeme ir pilnas vina
godibas!" (Santo é! Santo é! Santo é o Senhor! E os céus e a terra; e os
céus e a terra estão cheios da sua glória!) Seguiu-se uma fervorosa ora-
ção, em ação de graças, a qual todos confirmaram com um AMÉM que
jamais fora dito antes naquele lugar, passando-se então a servir-se do
alimento.
Um dos funcionários, que a tudo assistia admirado, ao deixar o re-
feitório naquele momento teve a seguinte exclamação, captada por um
dos irmãos de Nova Odessa que entendia o português: "Esta é uma gente
santa!" (55)
Tal prática era comum para esses irmãos, como o é até hoje por
ocasião de grandes refeições em conjunto ou ágapes, mas para os servi-
dores da Hospedaria de Imigrantes em São Paulo foi algo nunca visto.
Foi, portanto, o primeiro testemunho dado por esses crentes em terras
brasileiras aos primeiros brasileiros com que depararam. Não foi teste-
munho em idioma que fosse a estes compreensível, mas uma atitude de
adoração reverente que parece ter comunicado algo superior, mesmo sem
palavras inteligíveis.

(54) Cf. Vanaga. K., Op. cit., p. 121. Também Klavin, André, Entrevista com o autor em
15 de outubro de 1969.
(55) Folhas soltas de um diário não identificado, encontradas nos arquivos de Júlio Malves.

218
CAPITULO VI

A EPOPEIA DA COLÔNIA VARPA

1. Preparativos para a Fundação da Nova Colônia


2. A Localização da Nova Colônia
3. Aquisição das Terras
4. Ocupação das Terras Adquiridas
5. Chegada da Primeira e Maior Caravana de Imigrantes Batistas Letos
com Destino a Varpa
6. Organização e Vida Comunal na Colônia
7. A Liderança e a Forma de Governo na Colônia
8. A Falta de Amparo Oficial
9. As Circunstâncias Primitivas de Vida na Colônia
10. Terras da Colônia em Litígio Judicial
11. Constituição da Igreja Batista Leta de Varpa
12. Aspectos do Desenvolvimento Sócio-econômico de Varpa
12.1 — Saída de parte dos imigrantes para as fazendas
12.2 — Saída de moças de Varpa em busca de empregos na cidade
de São Paulo
12.3 — Agricultura e pecuária
12.4 — Indústria madeireira
12.5 — Transportes
12.6 — Centro comercial de Varpa
12.7 — Educação
12.8 — Saúde
12.9 — Assistência Social
12.10 — Energia elétrica
13. Uma Colônia Leta Satélite — LETÔNIA
14. Declínio Sócio-econômico
15. Administração Pública em Varpa
CAPITULO VI
A EPOPÉIA DA COLÔNIA VARPA

Após a partida do Pastor João Inkis para o Brasil em 19 de setem-


bro de 1921, o movimento emigratório entre os batistas da Letônia tomou
vulto. Não havendo, porém, naquele país, pelos motivos já expostos, uma
coordenação organizada do movimento, criou-se uma situação de expec-
tativa à espera de um sinal de partida. Humanamente falando, este sinal
dependia de dois fatores fundamentais: liberdade para deixar o país e
um lugar para estabelecer a nova colônia de imigrantes batistas letos
no Brasil. Quanto ao primeiro fator, já vimos como a providência divina
foi atuando sob várias formas, abrindo as portas à emigração e remo-
vendo as dificuldades da imigração no Brasil. Do segundo fator — a
localização dos mais de dois mil imigrantes batistas letos no Brasil, ou
seja, a fundação da nova colônia — é que nos ocuparemos no presente
capítulo.
1. Preparativos para a Fundação da Nova Colônia
Os primeiros passos neste sentido foram dados pelo Pastor João
Inkis pouco antes de sua partida da Letônia para o Brasil, através de
correspondência mantida com o seu cunhado Júlio Malves. Ligado à Se-
cretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Júlio Malves estava em
condições de fazer as sondagens com vistas à localização dos imigrantes
batistas letos. São estas as suas próprias palavras:
Quando o irmão Inkis escreveu-me sobre a movimentação
dos letos no sentido de emigrarem para o Brasil, respondi-lhe
que já havia colocado alguns grupos de italianos, espanhóis e
alemães na Alta Sorocabana. Ele pediu-me, então, que pro-
curasse sondar a possibilidade de imigração de letos, chaman-
do a minha atenção para o fato de que os recursos financeiros
eram poucos para esse fim. (1)
A esta altura é importante assinalar que já por volta de setembro de
1920 Júlio Malves estava engajado na "Empresa de Colonização e Agri-
(1) Krigers, Verner, Entrevista com Júlio Malves em 15 de fevereiro de 1967, em Rumo-a-
-Oeste, Mato Grosso. Encontra-se nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

221
cultura", que tinha a sua sede na cidade de Assis, Estrada de Ferro So-
rocabana, Estado de São Paulo, encarregando-se do "Serviço de Infor-
mações sobre Vendas de Terras, Colonização etc.", na Rua Marquês de
Paranaguá, 19, na cidade de São Paulo. (2 ) A sua atenção estava voltada
para uma zona nova daquele Estado, a qual se estendia de Assis na di-
reção oeste até a estação de Quatá — que naquele tempo era o ponto
final da Estrada de Ferro Sorocabana — e na direção noroeste até o Rio
do Peixe e mesmo além deste, onde havia várias glebas à venda. Sabendo
que naquelas matas virgens estavam trabalhando dois madeireiros letos
na extração de dormentes para a ferrovia — os irmãos Ernesto Grinberg
e Pedro Schause, conhecidos desde a colônia em São José dos Campos —
Júlio Malves dirigiu-se ao primeiro por carta, solicitando o seu parecer
sobre a topografia, qualidade das terras e das matas etc., na região do
Rio do Peixe e sobre as possibilidades de uma colonização ali, principal-
mente na área da Fazenda Aldeia Grande. Como Ernesto Grinberg lhe
desse as melhores informações, (3) destacou o seu irmão Augusto Malves
como seu preposto em Assis, junto à empresa atrás referida, para de lá
orientar os serviços de exploração da região, enquanto ele mesmo tratava
de entrar em contato com os proprietários das referidas terras. (4 ) Se-
gundo o que se nota pela correspondência por ele mantida com Augusto
Malves, Ernesto Grinberg e Pedro Schause, e pela longa lista de 481 no-
mes de pessoas de 90 famílias, quase todas de descendência alemã, nas-
cidas no oeste da Rússia, oeste da Polônia e sul da Letônia e que estavam
desejosas de emigrar para o Brasil, Júlio Malves desenvolveu grande ati-
vidade na tentativa de colocar na zona da Alta Sorocabana os imigrantes
que o procurassem, inclusive mantendo, por algum tempo, um grupo de
trabalhadores para os serviços de derrubada de matas e outros. (5)
Outrossim, diante do apelo do Pastor João Inkis para que, nas son-
dagens solicitadas, se levasse em conta a escassez de recursos dos emi-
grantes e diante do fato de não haver mais no Estado de São Paulo ter-
ras devolutas — terras desocupadas pertencentes ao Estado — e nem
mesmo terras baratas, Júlio Malves dirigiu-se ao Governo do Estado de
Mato Grosso a fim de obter uma grande gleba de terras devolutas na-
quele Estado, mas este recebeu com frieza a consulta. Depois propôs-lhe
um plano de colonização que resultaria em benefícios mútuos, isto é, para

(2) Papel timbrado de uma carta de Júlio Malves endereçada a Ernesto Grinberg em 22 de
setembro de 1920, em cujo verso este lhe redigiu a resposta sobre assunto urgente. Encontra-se
nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de
Janeiro, GB.
(3) Grinberg, Ernesto, Cartas escritas a Júlio Malves e remetidas de Sapezal e Cristal em
18-6-1921, 6-9-1921, 20-11-1921, arquivadas no Museu Batista do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(4) Cf. Cópias de cartas de Júlio Malves dirigidas a Augusto Malves em 3-3-1922, 13-5-1922
e 1-6-1922.
(5) Cf. Correspondência de 28 cartas trocadas entre Júlio Malves e Augusto Malves, Ernesto
Grinberg e Pedro Schause no período de 22 de setembro de 1920 a 18 de dezembro de 1922
(cópias e originais) e uma lista de emigrantes alemães, devidamente qualificados, em número
de 481, de 90 famílias, assinada pelo pastor batista alemão G. Henke, de Libau (Liepaja ), sul
da Letônia, em 21 de junho de 1921. Esses documentos encontram-se no Museu Batista do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

222
o Governo e para os colonos, porém os resultados foram os mesmos. Di-
rigiu-se também com proposta semelhante à Prefeitura de Corumbá, che-
gando a obter o apoio da Associação Comercial de Corumbá, entretanto,
tudo foi em vão. (6)
2. A Localização da Nova Colônia
Quando o pastor João Inkis já se encontrava no Brasil, juntamente
com Júlio Malves estabeleceram alguns pontos básicos que deveriam nor-
tear a escolha do local para a nova colônia leta a ser fundada: 1) vindo
todos da Letônia para o Brasil por uma orientação divina, como acredi-
tavam, e, portanto, para um propósito comum, deveriam concentrar-se
num só lugar para evitar a dispersão; 2) tal lugar, conseqüentemente,
teria de ser bastante amplo para que cada uma das 300 a 400 famílias
esperadas tivesse uma área para cultivar; 3) tendo em conta os poucos
recursos financeiros dos imigrantes, as terras teriam de ser de preços
acessíveis. (7)
Orientando-se por estas normas, em março de 1922 o Pastor João
Inkis e Júlio Malves empreenderam a longa viagem de Nova Odessa à
Alta Sorocabana, onde, partindo da Estação de Quatá, visitaram as ter-
ras da Fazenda Pitangueiras, além do Rio do Peixe, acompanhados de
Augusto Malves, que as havia achado boas para o fim em vista. (8)
Os dois espias voltaram satisfeitos a Nova Odessa, mas alguns ir-
mãos da Igreja Batista de Nova Odessa, igualmente entendidos na maté-
ria, acharam que seria mais prudente oferecer também outras opções aos
predecessores dos emigrantes que dentro em breve chegariam ao Brasil,
e que estas poderiam ser procuradas em zonas menos distantes da capital
do Estado, em regiões mais cultivadas. Quando, em agosto de 1922, o
Pastor João Inkis recebeu a notícia de que os predecessores, chamados
"procuradores", dos emigrantes batistas letos já estavam a caminho do
Brasil e que desejavam visitar a Colônia de Nova Odessa antes de en-
contrar o lugar definitivo onde estabelecer a nova colônia, em sessão do
dia 20 do mesmo mês cientificou a igreja do fato, e logo foram tomadas
providências quanto à hospedagem das famílias que chegariam. Na mes-
ma sessão cogitou-se também da ajuda da igreja na escolha do local onde
estabelecer a colônia para os batistas letos que dentro em breve chega-
riam em grande número. Foi eleita uma comissão para prestar esta aju-
da, composta do Pastor João Inkis e os irmãos Ernesto Araium e Augusto
Peterlevitz, e votado c pagamento das despesas com a publicação de
anúncios na imprensa quanto à procura de terras. (9 )
Quando os predecessores esperados chegaram a Nova Odessa (2 de
setembro de 1922), já circulavam ali informações sobre diversas glebas

(6) Malves, Júlio, "Tentativas Fracassadas", O Momento, Ano VIII, Corumbá, n° 2.250, de
6 de março de 1954, p. 1.
(7) Questionários de pesquisa respondidos por André Klavin, Júlio Malves, Arvido Eichmann
e João Augstroze.
(8) Malves, Júlio, Cópia da carta dirigida a Ernesto Grinberg em 9 de setembro de 1922.
Também Inkis, João, Relatório sobre a visita ao Rio do Peixe, Ata n° 148, de março de 1922,
da Igreja Batista Leta de Nova Odessa.
(9) Igreja Batista Leta de Nova Odessa, Ata n° 152, de 20 de agosto de 1922.

223
à venda, de há muito conhecidas e rejeitadas por Júlio Malves. Umas
eram pequenas para tão grande número de famílias; outras, de preços
demasiadamente altos; ainda outras, com documentação confusa. De-
pois da visita à gleba próxima de Jacarei, na Estrada de Ferro Central
do Brasil, feita por Augusto Peterlevitz e um dos recém-chegados, con-
cordaram em organizar uma expedição de cerca de 10 pessoas para es-
piar as terras da Fazenda Pitangueiras, na Alta Sorocabana, região do
Rio do Peixe, pertencentes a um capitalista português residente em São
Paulo, João Gomes Martins, que ali possuía, aproximadamente, 6.000
alqueires. Seu preço era de 100 mil réis por alqueire, com pequena en-
trada e pagamento em três anos, sem juros. Nessas condições o proprie-
tário vendia 3.000 alqueires, o que era mais do que suficiente para o
número calculado de batistas que na Letônia aguardava o sinal de par-
tida para emigrar. (") A única objeção que alguns irmãos de Nova
Odessa apresentaram inicialmente era o fato de a gleba estar demasia-
damente distante da capital do Estado, cerca de 700 km pela Estrada
de Ferro Sorocabana, levando 22 horas de viagem, e mais 31 km por uma
picada, não havendo estradas, e de estar totalmente coberta de matas
virgens, o que exigiria enormes sacrifícios da parte dos letos, não acos-
tumados às condições climáticas, totalmente diversas às do seu habitat
anterior.
A expedição partiu de Nova Odessa, via São Paulo, aos 12 de setem-
bro de 1922, chegando no dia seguinte à noite a Quatá, onde Augusto
Malves, previamente avisado, já a aguardava com um agrimensor enviado
pelo proprietário das terras a serem espiadas, dois animais de carga com
provimentos e dois cavalos de montaria para expedicionários mais fracos
ou eventualmente acidentados. (11)
O grupo dos "espias da terra" — como foi cognominado na ocasião e
passou a ser conhecido na história da Colônia Varpa — compunha-se de
treze pessoas, sendo doze letos e um brasileiro. Os letos eram os se-
guintes: Júlio Malves — o chefe da expedição — e o Pastor João Inkis —
o guia espiritual; cinco representantes dos batistas letos que aguarda-
vam o momento oportuno para emigrar para o Brasil — Roberts Rudzits,
Peteris Veinbergs, Mikelis Rimsha, Janka Kruse e Pauis Ceipe, sendo este
o enfermeiro dos espias; cinco representantes da colônia de Nova Odessa
— Vilis Lieknins, Janis Peterlevitz, o cozinheiro da expedição, Augusto
Malves, o responsável pelo racionamento da provisão e pelos animais de
carga, Theodors Eidocks, o encarregado da caça e pesca para obtenção de
carne fresca, e Eduards Lieknins, o vigia noturno do acampamento. O
brasileiro, conhecido apenas pelo prenome de Erwino, descendente de ale-
mães, era o agrimensor da região e por isso foi convidado para servir de
guia da expedição.
Como não havia estrada, os espias penetraram na mata 30 km pela
picada a pé, gastando na marcha um dia inteiro. Chegando, ao anoitecer,

(10) Cf. Malves, Júlio, Cópias de cartas endereçadas a Augusto Malves em 11 de agosto de
1922, e 6 e 8 de setembro de 1922, que se encontram no Museu Batista do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro. GB.
(11) Id., ibid.

224
à margem esquerda do Rio do Peixe, o Pastor João Inkis realizou o pri-
meiro culto com a expedição, recordando a maravilhosa ação da mão
de Deus na vida do seu povo na antigüidade, reafirmando a sua confian-
ça na orientação divina do movimento emigratório que se processava na
Letônia e exortando a todos para que orassem e buscassem a resposta
divina durante os dias da expedição sobre se de fato aquele deveria ser o
lugar da nova colônia leta, ou não. Acrescentou ainda, que se entre os
componentes da expedição reinasse um espírito alegre e de compreensão
mútua, então aquele seria o lugar escolhido, em caso contrário, deveria
ser rejeitado. Depois de várias orações, atravessaram o rio e pernoita-
ram na casa humilde de uma família alemã, que os recebeu com muita
amabilidade.
No dia seguinte partiram mata virgem a dentro, subindo o curso do
Rio do Peixe pela sua margem direita, até uma distância de cerca de
8 km, onde o guia sabia existir uma pequena clareira com um rancho
que pouco tempo atrás alguns agrimensores haviam deixado. Acampan-
do-se ali, os expedicionários passaram a examinar, minuciosamente, a
vegetação, os leitos dos córregos, amostras da terra e madeira de lei para
as futuras construções. Percorrendo as matas em vários grupos durante
o dia, voltavam à noite ao acampamento para apresentar e ouvir os re-
latórios das observações. Realizando cultos matutinos e vespertinos dia-
riamente, mantinham tanto quanto possível, um espírito de harmonia e
unidade nas observações. Durante os primeiros dias, enquanto examina-
vam uma faixa de terra de mais ou menos 3 km de largura ao longo do
Rio do Peixe, as conclusões eram otimistas e indicavam que de fato aquele
lugar deveria ser o escolhido para a futura colônia. Mas, à medida que
os espias se afastavam mais do rio, observavam que as terras, na sua
maior extensão, eram fracas, sem córregos e sem madeira de lei, o que
modificou a posição otimista anteriormente assumida. Os cinco irmãos
recém-chegados da Letônia não quiseram opinar sobre a conveniência
ou não do lugar para a fundação da nova colônia. Mas os irmãos de
Nova Odessa, mais experientes no assunto, deram opinião contrária, en-
quanto os dois chefes da expedição, receosos de influir, mostravam-se re-
servados, por causa da posição assumida pelos representantes da Co-
lônia de Nova Odessa. Fig. 48
Depois de uma permanência de 12 dias na mata, os espias voltaram
à ferrovia por um outro caminho, que os levou à Estação de Sapezal, ou
seja, uma estação antes de Quatá — acesso que eles não conheciam na
ida e que pouco depois seria usado pelas caravanas sucessivas dos ba-
tistas letos que se destinavam à Colônia Varpa — chegando a Nova
Odessa exaustos, depois de 16 dias gastos naquela missão.
No dia seguinte ao da volta da expedição, chegou a Nova Odessa o
restante do grupo dos procuradores dos imigrantes batistas letos que,
dadas as dificuldades surgidas na ocasião do embarque, não havia conse-
guido chegar ao Brasil em tempo de integrar-se ao grupo dos "espias da
terra". Entre esses adventícios encontravam-se os dois irmãos pastores
Alberto Eichmann e Arvido Eichmann, que logo foram informados das
diferentes opiniões que reinavam entre os espias sobre a escolha do local

225
para a colônia que se pretendia fundar. Diante cia situação confusa que
se havia estabelecido em torno do problema, aqueles irmãos resolveram
verificar melhor as terras da fazenda do Sr. Isernhagen, nas proximida-
des de Jacareí. Porém, de volta daquela viagem, as divergências conti-
nuaram. Frente à dificuldade de uma decisão satisfatória, todos os re-
cém-chegados da Letônia a Nova Odessa resolveram entregar o problema
a Deus, realizando reuniões de oração até que viesse uma resposta clara
e indiscutível. Após cerca de 10 dias de expectativa, veio a resposta es-
perada, quando todos aqueles irmãos imigrantes, com o pastor João Inkis
à frente, concordaram que o lugar da nova colônia devia ser aquele vi-
sitado pelos espias junto ao Rio do Peixe, nas terras da Fazenda Pitan-
gueiras, na então zona da Alta Sorocabana, posteriormente incluída na
Alta Paulista. (12 ) Sobre este ponto difícil na história daquela imigração
escreveu o pastor João Inkis:
Inicialmente, seguindo os conselhos bem pensados e bem
intencionados e práticos dos amigos e usando os meios huma-
nos comuns, os espias chegaram a uma grande confusão. Mas
as tristezas ensinaram a orar a Deus. Orando fervorosamente
em favor de cada passo a ser dado e recebendo orientação de-
finida através de dons espirituais, os problemas complexos
começaram a se ordenar maravilhosamente. (13 )
E, para sentirmos como era subjetiva a interpretação dos fatos em
torno desta questão, como foi em torno de muitas outras, trazemos o de-
poimento do Pastor Arvido Eichmann, um dos líderes do movimento emi-
gratório de que nos ocupamos:
No que diz respeito à escolha do local para a colônia, tam-
bém ali operaram circunstâncias naturais. De todos os lugares
oferecidos, somente as condições de aquisição das terras onde
se acha a Colônia Varpa é que estavam ao alcance dos compra-
dores, cujos recursos eram poucos. Assim, foi visitado um lu-
gar perto da Estrada de Ferro Central do Brasil. A localiza-
ção era boa, próximo à estação da ferrovia, mas o preço muito
além das possibilidades. Só a primeira parcela já ia além de
duzentos contos de réis. Tanto quanto eu sei, o mesmo acon-
teceu com os outros lugares. Somente as terras da atual Co-
lônia Varpa estavam sendo vendidas com uma pequena entrada
e em condições suaves de pagamento. Naquele tempo ninguém

(12) A maior parte das informações referentes à expedição em tela e às conclusões chegadas
foi colhida da entrevista que Eduardo Lieknins — o último sobrevivente dos cinco represen-
tantes da colônia de Nova Odessa na expedição concedeu a Leopoldo Peterlevitz em
agosto de 1968, a quem o autor solicitou esta colaboração, complementada, em parte, pela
entrevista de Júlio Malves dada ao pastor Verner Krigers em fevereiro de 1967, também a
pedido do autor, e, em parte, pela cópia da carta de Júlio Malves a Pedro Schause, remetida
de Nova Odessa aos 26 de setembro de 1922.
(13) Inkis, J., Dieva prats un silvecigie maldi musu izcelosana no Latvijas (A Vontade de
Deus e os Enganos Humanos na Nossa Emigração da Letônia). Suplemento do Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), 1950, p. 15.

226
ainda pensava na "Missão do Sertão". Cada um cuidava onde
pôr o pé e como começar a vida. (14 )
Assim verifica-se que, para atingir os seus eternos propósitos, Deus
orientou, por maneiras variadas, a escolha daquele lugar para a fundação
da Colônia Varpa, que dentro de pouco tempo se tornaria um centro de
irradiação da mensagem salvadora de Cristo Jesus, como veremos nos
capítulos subseqüentes.

3. Aquisição das Terras


Uma vez decidida a questão da localização da nova colônia, era ur-
gente tratar da compra das respectivas terras e tomar outras providên-
cias, pois que Júlio Malves havia recebido um telegrama dizendo que a
primeira grande leva, de 453 pessoas, já, estava a caminho do Brasil, a
bordo do navio "Araguaya", que chegaria ao porto de Santos aos 26 de
outubro de 1922. Portanto, estavam abertos os caminhos para a grande
corrente emigratória e um fluxo de levas sucessivas traria ao Brasil um
contingente considerável de batistas letos.
Aos 10 de outubro de 1922, os irmãos Peteris Veinbergs e Roberts
Rudzits, acompanhados do Pastor Arvido Eichmann e mais outros ir-
mãos de Nova Odessa como intérpretes, partiram para São Paulo a fim
de tratar da aquisição das terras escolhidas. (15) Feitos os últimos ajus-
tes com o proprietário, João Gomes Martins, aos 13 de outubro de 1922,
foi lavrada no 13° Tabelião da cidade de São Paulo a escritura pública
de compromisso de compra e venda de uma gleba de aproximadamente
2.100 alqueires de terras da Fazenda Pitangueiras, no Município de Cam-
pos Novos, Comarca de Assis, Estado de São Paulo, pelo preço total de
180 :000$000 (cento e oitenta contos de réis), pagando-se uma pequena
parte como entrada e o restante em seis anos, sendo que durante os pri-
meiros três anos não seriam cobrados juros, e figurando como legítimos
vendedores João Gomes Martins e sua mulher Carolina de Freitas Mar-
tins, e como legítimos compradores, os Srs. Peteris Veinbergs e Roberts
Rudzits. (16 ) Aquela gleba mais tarde foi retalhada em lotes de 1, 5 e 10
alqueires, que, depois de sorteados entre os interessados e computadas
as despesas de vida em comum em acampamento durante um ano, foram
revendidos aos colonos a 125$000, 150$000, 175$000 e 200$000 o alquei-
re. (17) Fig. 49
Permanecendo em São Paulo mais um dia, os mesmos irmãos, com
Augusto Malves à frente — o qual havia sido convidado para ajudar nas
providências diversas a serem tomadas, uma vez que Júlio Malves estava
enfermo — compraram uma caldeira locomóvel e algumas peças neces-

(14) Eichmann, Arvido, Questionário de pesquisa; Dobelis, G., "Pateiciba un lieciba" (Gra-
tidão e Testemunho), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 11, novembro de 1968, 1, con-
tracapa.
(15) Vanaga, Carolina, Narrativa sobre os dias primitivos da Colônia Varpa, preparada a
pedido do autor; acha-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB. Trata-se de uma das integrantes mais evidentes do grupo.
(16) Klavin, André, Entrevista concedida ao autor em 15-10-1969.
(17) Garancs, Arthur, Carta endereçada ao autor em 20 de novembro de 1968.

227
sárias à montagem de uma serraria e um moinho. (18) Tal providência
era urgente por causa dos problemas de habitação e alimentação que os
imigrantes logo teriam pela frente. Os recursos para todos esses gastos
eram principalmente dos dois nobres irmãos Peteris Veinbergs e Roberts
Rudzits, que haviam vendido as suas propriedades na Letônia e agora os
adiantavam a bem da coletividade. Compraram, ainda, muitas foices e
enxadas, ferramentas que não eram usadas na Letônia, e, portanto, não
viriam na bagagem dos imigrantes. Além disso, adquiriram querosene
e alguns caldeirões de cobre, de 60 litros de capacidade, destinados à
cozinha do acampamento dos imigrantes.
Voltando a Nova Odessa, esses irmãos comunicaram à igreja, reu-
nida em sessão no dia 15 de outubro, pela palavra do Pastor Arvido Eich-
mann, que as terras para a nova colônia já haviam sido adquiridas na
zona da Alta Sorocabana, não muito distante da Estação de Sapezal. Na
Ata da mesma sessão, em tom de lamento, se diz que a fundação da nova
colônia atingiu também a Igreja de Nova Odessa, pois que seu pastor, o
irmão João Inkis, havia pedido a sua exoneração, para acompanhar os
imigrantes, por assim entender ser da vontade de Deus, e que deste modo
a igreja novamente se encontrava sem pastor. (19 )
Poucos dias depois, todos os 27 imigrantes batistas letos recém-che-
gados partiram de Nova Odessa, rumo às terras compradas, para pre-
parar o lugar para a grande caravana que chegaria ao Brasil no dia 26
do mesmo mês.
Entrementes, Júlio Malves havia tomado providências para que em
Sapezal fosse erguido um barracão para pernoites, descanso e depósito
da bagagem dos imigrantes, (20 ) antes de iniciarem a marcha, sempre
difícil e cansativa, até ao local da nova colônia, que ficava a 31 km da
Estação de Sapezal. O barracão logo foi adquirido pela colônia, junta-
mente com o respectivo lote, e adaptado para servir como hospedaria para
os imigrantes, que viriam em levas após levas, e como entreposto e ar-
mazém para abastecimento da colônia enquanto não se colhessem os pri-
meiros frutos, levando à frente um grande letreiro com as palavras CASA
VARPA. (21)

4. Ocupação das Terras Adquiridas


Depois de dois dias de descanso em Sapezal, o primeiro grupo de 27
imigrantes, atrás mencionado, partiu, a pé, na direção do Rio do Peixe,
sendo a sua bagagem levada por dois carroceiros brasileiros em suas car-
roças puxadas por burros. Devido ao caminho, que mais parecia uma
picada, a marcha era vagarosa, pelo que os peregrinos venceram apenas
cerca de 20 km no primeiro dia de caminhada, pernoitando junto a um
morro, ao relento, sobre o chão forrado de folhas de palmeiras. No dia

(18) Malves, J., Cópia da carta enviada a Pedro Schause em 12 de outubro de 1922, que se
encontra nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
(19) Igreja Batista de Nova Odessa, Ata n° 153, de 15 de outubro de 1922.
(20) Malves, J., Op. cit.
Rio de Janeiro, GB.
(21) Klavin, André, Op. cit.

228
seguinte, 22 de outubro de 1922, à tarde chegaram ao Rio do Peixe, ( 22)
ao local da nova colônia, já conhecido de cinco dos componentes do grupo,
pois que integraram a expedição dos "espias da terra". Um velho rancho
dos agrimensores que por ali haviam andado, medindo as terras, no meio
de uma pequena clareira cercada de mata virgem, sem viva alma, era o
quadro que se apresentava naquele fim do dia cinzento, de chuvinha miú-
da, aos olhos daqueles pioneiros de Varpa. Para a travessia do rio, usaram
uma velha canoa abandonada, perigosamente pilotada por alguém que
nada entendia daquele tipo de embarcação, e uma grande árvore caída
sobre o rio, servindo de pinguela, depois preferida pelas moças e algumas
senhoras.
Uma vez todos acomodados no rancho feito de lascas de troncos de
coqueiros e muito mal coberto de tabuinhas aparelhadas a machado, im-
provisaram um jantar e realizaram um culto, dirigido pelos Pastores Al-
berto e Arvido Eichmann. As tensões e apreensões causadas pela pri-
meira impressão desapareceram. A terra estava ocupada. E ocupada por
um pugilo de crentes possuídos de grande fé, que lhes dava uma convic-
ção tranqüila de que ali estavam pela vontade de Deus e para o cumpri-
mento pleno desta vontade juntamente com os mais de dois milhares que
estavam para chegar. (23)
5. Chegada da Primeira e Maior Caravana de Imigrantes Batistas
Letos com Destino a Varpa
Enquanto os pioneiros estavam derrubando um pouco mais da mata
virgem em torno da clareira e instalando uma cozinha primitiva, já se
aproximava do porto de Santos o navio "Araguaya", da companhia in-
glesa de navegação Royal Mail, trazendo a primeira grande caravana
de emigrantes batistas letos — 453 pessoas — que se destinava à mata
virgem do Brasil e cuja chegada marcaria a fundação da colônia.
Esses emigrantes, ao chegarem da Letônia a Hamburgo, na Ale-
manha, foram informados de que o seu navio os receberia a bordo no
porto francês de Cherburgo. Isto significava mais problemas consulares,
ainda que o transporte por ferrovia até o porto de embarque corresse
por conta da companhia de navegação. Mais uma vez a providência
divina abriu todas as portas para que a viagem transcorresse sem emba-
raços. Entretanto, uma surpresa séria os aguardava: o transbordo de
passageiros de rebocadores para o navio, que se encontrava ancorado
ao largo do porto de Cherburgo, e isto ao anoitecer e com mar agitado.
Afora os sustos naturais em tais circunstâncias e os choros das crianças,
acompanhados de orações à meia voz da parte das mães que subiam as
escadas oscilantes nas cordas, a operação, ainda que demorada, transcor-
reu sem qualquer acidente. (24 )
(22) "Pirma novembra svehtki Palmas sehtâ" (A Festa de 1° de Novembro em Palma),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), 1932, n° 11, p. 181. Também, Eichmann, Lilija, —
carta firmada em 20 de janeiro de 1967.
(23) Cf. Vanaga, Carolina, Op. cit. Também Eichmann, Arvido, Questionário de Pesquisa;
Klavin, André, Op. cit.
(24) Questionários de pesquisa e observação pessoal do autor, que foi um dos integrantes
da caravana em tela.

229
Durante os 20 dias de viagem marítima, os integrantes desse grupo
numeroso — constituído de lavradores, administradores, guarda-livros,
engenheiros, carpinteiros, pedreiros, ferreiros, professores, pastores, mú-
sicos, comerciantes, alfaiates, sapateiros, padeiros, enfermeiras, costurei-
ras, pintores, tipógrafos, topógrafos, mestres-de-obras, eletricistas e ou-
tros técnicos — tiveram bastante tempo para fazer os mais variados pro-
jetos sobre a maneira pela qual organizariam a vida na colônia que iriam
fundar dentro de poucos dias. Certamente ainda não sabiam o que iriam
encontrar. Contudo, conscientes de que estavam atendendo a uma di-
reção divina nas suas vidas, criam que pela fé e diligência superariam
as dificuldades, por maiores que viessem a ser. Entenderam que, todos
não sendo lavradores, mas todos se destinando à lavoura, teriam de ini-
ciar a vida em bases cooperativas, para que ninguém passasse neces-
sidades. E esse cooperativismo teria de ser sobretudo teocrático, pois
todos estavam atendendo a um aceno divino para deixar a sua pátria e
ir para uma terra desconhecida, onde lhes seria revelado como deveriam
viver e qual seria ali a sua missão. (25 ) Alguns dos mais extremados
julgavam ser desnecessário planejar muito, pois brevemente ocorreria a
segunda vinda de Cristo. A maioria, porém, sustentava que, embora
fosse iminente a volta de Cristo, o trabalho não cessaria, pois que o pró-
prio Senhor Jesus Cristo ensinou que a sua vinda surpreenderia os ho-
mens em suas atividades normais. (26)
Uma das providências mais importantes tomadas a bordo daquele
navio, por iniciativa do Pastor Janis Apse, foi a formação de uma caixa
comum de subsistência — à semelhança daquela que existia para a aqui-
sição de passagens para os emigrantes batistas letos menos favorecidos
— para atender a todos igualmente, até que cada um pudesse prosseguir
na vida por sua própria conta. E foi desta caixa, que teve origem a
bordo do navio "Araguaya", inspirada no mais abnegado e desprendido
amor fraternal, que durante um ano cerca de 2.300 pessoas tiveram a
sua subsistência alimentícia. (27) Quanto às roupas e aos calçados, cada
família os trazia em abundância; até as de uso somente no inverno eu-
ropeu, totalmente inadequados para o clima tropical.
Ao atracar o "Araguaya" no porto de Santos, ali estava no cais o
Pastor João Inkis, acompanhado de Júlio Malves e outros irmãos de
Nova Odessa, para recepcionar o primeiro e o maior grupo de imigrantes
batistas letos. Era a tarde do dia 26 de outubro de 1922. Fig. 50
Cumpridas as formalidades do desembarque, grandemente facilitadas
pelo Sr. Oscar Lofgren, Chefe da Inspetoria de Imigração do porto de
Santos, e que tempos atrás havia sido diretor do Núcleo Colonial de
Nova Odessa, e amigo de Júlio Malves, todos os imigrantes letos foram
embarcados em trem especial, que já os aguardava por trás do Arma-
zém 18, para serem conduzidos à Casa de Imigração em São Paulo, via-
gem em que foram acompanhados pelos irmãos que estavam no cais para
recepcioná-los. Ao chegarem à Hospedaria da Casa de Imigração, foram

(25) Klavin, André, Op. cit.


(26) Mateus 24:36-44.
(27) Klavin. André. Op. cit.

230
muito bem recebidos pelas autoridades e funcionários, e muito bem tra-
tados. Fig.51
No dia seguinte, cerca de uma centena desses imigrantes estranhos,
que cantavam e oravam até nas refeições, foi submetida à necessária ins-
peção médica. Depois de providenciados os passes gratuitos de imigran-
tes, esse primeiro grupo, do qual fez parte o autor desta dissertação, no
dia 29 à tarde, embarcou em dois carros de segunda classe da então bi-
tola estreita da Estrada de Ferro Sorocabana para a Estação de Sapezal,
hoje Caramuru, onde chegou na tarde do dia 30, depois de uma viagem
penosa e poeirenta. Desta forma a Casa de Imigração liberava diaria-
mente um grupo de pouco mais de cem pessoas, que seguia o mesmo des-
tino, sofrendo as mesmas vicissitudes na viagem. (28) Fig. 52
Tendo pernoitado em Sapezal, no barracão já mencionado, prepara-
do para servir de hospedaria, na manhã do dia 31 de outubro, depois de
um culto celebrado com fervor, o grupo partiu, em fila indiana, mata a
dentro, na direção do Rio do Peixe. Homens e mulheres, carregando os
seus pertences mais leves e as crianças menores, causticados, na sua
epiderme alva de nórdicos, pelo sol escaldante, tropeçando freqüentemen-
te em tocos, raízes e cipós, caminhavam alegres, cantando e bendizendo
a Deus. Mais tarde, uns poucos revelaram que haviam sofrido alguns
momentos de dúvidas e arrependimento na caminhada difícil, mas que
estes desapareceram diante dos cânticos de seus irmãos e do tom triun-
fante que os líderes do grupo davam à marcha. Um único acidente em
toda aquela viagem foi o tombo de um irmão idoso, ferindo o peito sobre
um toco, sendo carregado por outros, numa padiola preparada de cipós,
até o local onde tiveram de pernoitar, recuperando-se no dia seguinte. (29 )
Ao entardecer daquele dia chegaram ao pé do morro de Taquara
Branca já bem cansados. A picada, que era o rumo entre duas glebas de
terras, subia o morro, coberto de mata densa. Como fossem grandes as
dificuldades encontradas para galgar a elevação com bagagem, crianças
e pessoas idosas, os irmãos a denominaram em sua língua, Grutibu kalns
(Morro das Dificuldades) , como é conhecido até o presente. No alto,
foram improvisadas, em uma pequena clareira, algumas barracas com
lençóis e cobertores, enquanto alguns tiveram que dormir ao relento.
Repentinamente desabou uma chuva, que atravessou os lençóis e os co-
bertores, deixando todos molhados, bem como seus pertences. A despeito
de tudo, o espírito do grupo era muito bom, sem murmurações ou quei-
xumes, dando graças a Deus pela sua proteção.
No dia seguinte, após um desjejum com pão torrado e chá, cuidaram
todos de secar as roupas ao sol, que nascia no horizonte límpido. Dei-
xando alguns irmãos naquele local para levantarem um abrigo de folhas
de coqueiro para os grupos que seguiriam o mesmo caminho nos dias e
(28) Klavin, André. Op. cit.
(29) Bediks, Alfredo, "Cela gajiens no Sapezales lidz Zivupei" (A Marcha de Sapesal ao
Rio do Peixe), manuscrito inédito de narrativa solicitada pelo autor. Acha-se nos arquivos
do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

231
meses seguintes, (20 ) encetaram a última etapa de sua difícil jornada
até o Rio do Peixe, em cuja margem oposta já os esperavam os 27 pre-
decessores, chegados dias antes. ( 31) Cansados, com os pés ardendo nos
calçados europeus duros e pesados, interrompendo a marcha com diversas
paradas, afinal aqueles irmãos chegaram ao destino por volta das 15 h.
Do outro lado do rio, no alto do barranco, o grupo dos precursores, pres-
sentindo a aproximação daquele contingente, saudou-o com o cântico cuja
mensagem ecoou na mata virgem e que dizia: "Sede corajosos, vós os
redimidos!" (Música do hino 508 do Cantor Cristão — "Eu avisto uma
terra feliz"). Em resposta, irrompeu o hino dos recém-chegados : "É
chegado o momento precioso de vermo-nos face a face novamente..."
Na travessia do Rio do Peixe alguns lançaram mão da canoa velha
ali existente, outros do grande tronco de árvore caído, que ligava as duas
margens, ao qual o grupo anterior já havia pregado um corrimão, e mais
outros entraram na água com seus trajes completos, segurando as malas
e outros volumes de bagagem sobre a cabeça, e assim cruzaram as águas,
que em alguns lugares davam à altura do peito.
Após os calorosos cumprimentos, feita a travessia da bagagem e ten-
do jantado uma papa de arroz com feijão ralo, a multidão reuniu-se, já
ao lusco-fusco, na clareira do alto da margem direita do Rio do Peixe,
no meio de troncos de árvores derrubadas, que lhe serviram de bancos,
para celebrar um culto de louvor a Deus. Lutando contra uma densa
nuvem de mosquitos, cantaram alguns hinos, e depois, em voz pausada,
num misto de apreensão e fé, um pastor de meia-idade, postado atrás de
um grosso toco de peroba que lhe servia de púlpito, exortou os crentes.
Depondo a sua Bíblia sobre o toco, aquele servo de Deus convidou a
grande congregação a se pôr de joelhos naquele chão, que lhes era como
a "terra prometida" e que lhes daria o sustento na nova pátria, até a
volta do Senhor. Seguiram-se orações emocionantes, quase simultâneas,
regadas das mais santas lágrimas e inspiradas na mais profunda fé,
transformando aquele sítio num santuário. Aquele culto continuou noite
a dentro, alternando-se as orações de louvor e súplicas ardentes com os
hinos que ecoavam maravilhosamente na mata virgem. Naquela primeira
noite todos dormiram ao relento, pois que não havia tempo para a pre-
paração das primeiras tendas de pano de algodão, que haviam trazido de
Sapezal em peças. Foi a tarde e a noite do dia 1° de novembro de 1922,
data que passou para a História e o calendário da Colônia Varpa como
a de sua fundação. (32 ) Estabeleceu-se, assim, a décima sexta colônia
Zeta no Brasil.

(30) Pupols, João, "Janis Pupols" (João Pupols), manuscrito inédito sobre a biografia do
Pastor João Pupols, solicitada pelo autor, a qual se encontra em nosso arquivo.
(31) Dobelis, G., "Uzticiba par mazumu" (Fidelidade no Pouco), Kristigs Draugs, (O Amigo
Cristão), 1970, n9 8, p. 8.
(32) Klavin, André, Op. cit. Também Vanaga, K., "Varpas Latviesu Baptistu Draudzu 44
gada svetki" (449 Aniversário das Igrejas Batistas de Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), 1966, n° 12, p. 18; também Questionários de pesquisa.

232
6. Organização da Vida Comunal

No dia seguinte, logo pela manhã, reuniram-se os pastores presentes


para dar os primeiros passos na vida da comunidade, que já constava de,
aproximadamente, 140 pessoas, sendo que na mesma tarde, com a che-
gada do segundo grupo, já seriam 250 e, dentro de mais dois ou três dias,
cerca de 500 pessoas. Naquela reunião, após fervorosas orações pela di-
reção e proteção de Deus em favor daquele povo, em terra estranha e
condições tão primitivas, o primeiro ato deliberativo foi o da escolha do
Pastor André Klavin para a administração do acampamento, com pode-
res para selecionar, entre os imigrantes, os seus auxiliares nos setores
que julgasse necessário criar. Assim, no primeiro dia já foram criados os
setores de abastecimento e cozinha, instalação do acampamento (cons-
trução das habitações) e derrubada das matas e plantio. Com a chegada
de mais outros grupos, criaram-se as superintendências de construção
de estradas e pontes, de transportes, de medição da terra, de saúde, de
indústria, de instrução, de relações públicas e um escritório de adminis-
tração geral, (33 ) aspectos de que trataremos mais adiante.
Naquele primeiro dia de organização da vida comunal, 2 de novem-
bro de 1922, o Pastor André Klavin convocou os imigrantes que haviam
trazido em sua bagagem algumas ferramentas — como machados e ser-
ras — juntando a estas uma boa quantidade de foices, compradas em
São Paulo pelo grupo de precursores e devidamente preparadas para o uso,
e muniu com elas um grupo de cerca de 50 jovens, para começar a der-
rubada da mata. Duas dezenas de moças foram divididas em dois grupos,
que, com as foices limpavam o mato miúdo, enquanto os moços, com ma-
chados e serras, derrubavam as árvores maiores, cortando-as em toras de
medidas certas, para serem oportunamente transportadas para a serra-
ria, que em poucas semanas já estaria funcionando, com o fim de pre-
parar material com que construir as habitações e outras instalações.
Dois dias depois, esse grupo já era constituído de cerca de 100 jovens.
Era impressionante o espetáculo que aquele serviço oferecia, quando,
com pequenos intervalos, ouviam-se estrondos que assinalavam quedas
sucessivas de gigantescas árvores da mata virgem, que cedia à invasão
daquela mocidade corada e robusta, que não conhecia o impossível. Era
preciso preparar a terra com urgência para receber a semente e produzir
o sustento para as caravanas sucessivas que iriam chegar, trazendo mais
de duas mil almas à nova colônia. Figs. 53 e 54
No setor de instalação do acampamento ficaram os homens enten-
didos em construção, carpinteiros e outros, e um grupo de senhoras en-
carregadas de costurar as grandes tiras de pano para cobertura das pri-
meiras tendas ou barracas. Algumas máquinas de costura manuais fo-
ram retiradas da bagagem e postas a serviço daquele setor. No fim do
dia, já estavam prontas cinco tendas alvas, que abrigaram as senhoras
e crianças, ficando os homens mais uma noite ao relento. No dia seguin-

(33) Dobelis, G., "Uzticiba par mazumu" (Fidelidade no Pouco), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), 1970, n° 8, p. 8. Também Klavin, André, Op. cit. e Gertner, Arnaldo, Entrevista
em 18 de dezembro de 1966.

233
te, mais algumas tendas foram preparadas, para que ninguém ficasse
sem abrigo. Tais barracas protegiam os seus habitantes contra o sol
causticante, mas contra a chuva pouco valiam. Por ocasião dos tempo-
rais, os imigrantes tiveram que proteger-se e proteger os seus pertences
e seus leitos com guarda-chuvas abertos dentro de suas tendas. Aquela
situação, na verdade, perdurou apenas uns poucos dias, pois logo foi le-
vantado um grande barracão, de cerca de 40 m de comprimento por 8 de
largura, construído de grossos esteios de madeira, telhado de folhas-de-
-flandres, trazidas de Sapezal, e paredes de grandes quadrados pré-fabri-
cados de cipó trançado pelas senhoras e moças. O barracão foi dividido
em compartimentos ou quartos, com saídas para os lados e um corredor
no meio. De cada lado do corredor levantavam-se beliches de paus roli-
ços, que eram forrados com as roupas grossas de inverno que os imigran-
tes haviam trazido consigo. As paredes de cipós trançados eram for-
radas com lençóis e cobertores. Cada quarto comportava de 12 a 16
pessoas. Alguns dias depois já havia três desses barracões prontos, e
após dois meses já eram sete. Figs. 55 e 56
Como medida profiláctica, foram preparadas instalações sanitárias
adequadas, distantes dos barracões de habitação. Para os banhos, foram
escolhidos dois locais afastados, um para cada sexo, à beira do Rio do
Peixe, onde foram construídas também as respectivas saunas — ou ba-
nhos de vapor — instalação considerada pelos letos indispensáveis à
conservação da boa saúde.
A cozinha, instalada ao lado do acampamento, junto a uma fonte de
água límpida e abundante, consistia de alguns caldeirões enormes de co-
bre, firmados sobre uma vala que recebia lenha, vários outros apetrechos
e um grande forno de adobe e barro para a preparação do pão. Tudo isto
era coberto por um telhado de troncos de coqueiros lascados ao meio e
escavados em forma de calhas, que eram colocados sobre a estrutura de
paus roliços, como se colocam telhas coloniais. Ao lado da cozinha fi-
cava o velho rancho que serviu de primeiro abrigo aos predecessores,
agora transformado em despensa. A chefia da cozinha foi entregue à
D. Marta Inkis, esposa do Pastor João Inkis, que, com senso prático e
econômico, dirigia o seu setor, coadjuvada por uma equipe de auxiliares,
observando-se rigorosas medidas de limpeza e higiene. A equipe do abas-
tecimento do combustível, ou seja, da lenha, era composta de meia dúzia
de senhores mais idosos, que a serravam e rachavam inicialmente na
roça — depois na serraria — e um grande grupo de meninos e adoles-
centes, que, em padiolas, transportava a lenha rachada até a cozinha. A
equipe juvenil de transporte de lenha trabalhava somente quatro a cinco
horas por dia, sempre na parte da tarde, ficando as manhãs para a fre-
qüência à escola, que logo fora organizada com os professores existen-
tes entre os imigrantes, estando à frente o Pastor Alberto Eichmann,
experimentado no magistério já havia anos.
O local de cultos mereceu especial atenção na preparação do acam-
pamento. A ampla área do barranco mais alto do rio, logo à esquerda do
lugar de travessia ou porto, foi limpa, arrancando-se todos os tocos me-
nores e médios, aplainando-se a terra e enfileirando-se os troncos de ár-

234
vores à guisa de bancos, suficientes para se assentarem várias centenas
de pessoas, com um toco de peroba mais robusto servindo de púlpito e um
banquinho rústico de assento aparelhado a machado, sem encosto, para
servir de "poltrona" ao pregador, tendo por trás um rancho para as reu-
niões dos pastores e outros obreiros, ao qual o povo deu o nome pitores-
co de "rancho dos profetas". Durante umas poucas semanas, a cobertura
do púlpito e parte da área destinada aos assistentes do culto foi de pa-
nos que haviam servido para as primeiras tendas, mas o sol e as chuvas
de vento acabaram por destruí-la, passando o povo a se proteger, inclu-
sive do sol, com os seus guarda-chuvas. Numa das suas muitas poesias, o
Pastor João Inkis, descreveu o "templo" da igreja na colônia como sendo
"de teto do azul-celeste e paredes do verde da mata virgem". (34 ) Figs.
57 e 58
Ao lado daquela "área sagrada", pendente de um braço de madeira
pregado num poste, achava-se uma enxada de boa qualidade à guisa de
sino, que, tangida por um martelo, emitia os sinais convencionados para
acordar, para reunir-se em locais determinados, para distribuição e iní-
cio dos diversos serviços, para as refeições, para os cultos e para os fu-
nerais à margem do rio, de onde um barco conduzia os esquifes ao cemi-
tério localizado cerca de 4 km abaixo do local do acampamento, perto do
projetado "Centro da Colônia", que hoje constitui a sede do Distrito de
Varpa. Pequenas clareiras abertas na mata virgem do outro lado do Rio
do Peixe, sobre o qual foi construída uma pinguela ou ponte para pe-
destres, eram locais preparados para um bom número de classes da Es
cola Bíblica Dominical, onde tabuletas pregadas às árvores traziam os
nomes das respectivas classes. (35)
Uma das providências de maior escala, porém, foi a da construção
da estrada entre a colônia e a Estação de Sapezal, na Estrada de Ferro
Sorocabana, pois que a hoje denominada Alta Paulista ainda dormia seu
sono quase secular, vindo a despertar cerca de doze anos mais tarde,
reduzindo-se, assim, quase à metade a distância às fontes de recursos da
colônia, que passou a utilizar-se da Companhia Paulista. de Estradas de
Ferro para os seus contatos com o "exterior", através da estação de
Tupã, hoje uma das cidades mais florescentes da Alta Paulista.
Assim, apenas 4 dias depois da chegada da primeira caravana, foi
organizada a turma de construção da estrada entre a colônia e a Estação
de Sapezal, obra prioritária na sobrevivência e desenvolvimento da co-
lônia. A turma, composta de 50 homens e 3 senhoras para preparação
das refeições e lavagem e remendo das roupas dos trabalhadores, com o
engenheiro João Krumins à frente, auxiliado por Alfredo Bediks e João
Pupols, acampou junto do Córrego de Cristal, nas proximidades do "Mor-
ro das Dificuldades" (Taquara Branca). Mal estava concluída a ponte
e feito o levantamento para estabelecer o melhor traçado para a estrada

(34) Apud Vanaga, K., "Piedzivojumu atminas" (Lembranças de Experiências), Brazilijas


Latviesu Kalendars 1970 (Almanaque dos Letos do Brasil), suplemento do Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), D. 124.
(35) Ronis, Osvaldo, "Os Batistas Letos no Brasil", Revista de Senhoras e Moças Batistas,
Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1965, 49 Trimestre, p. 28.

235
a fim de se evitar a subida íngreme do morro, chegou de Sapezal, puxada.
por 10 juntas de bois, a caldeira de 10 HP, comprada pelos predecessores
para movimentar a serraria, o moinho de fubá, a bancada de torneiro e
outras máquinas. Na subida do morro, sem estrada, os animais sozinhos
não puderam levar adiante a sua carga. Com a ajuda dos 50 homens,.
puxando por meio de uma corda, a caldeira foi levada até ao alto do
morro. Ao chegar a pesada máquina ao Rio do Peixe, ainda sem ponte,
os bois arrastaram-na através das águas do rio, mas não tiveram forças
para levá-la barranco acima. Novamente o braço humano, de cerca de
100 homens, puxando por duas cordas, ajudou os animais, já exaustos
da longa e difícil viagem pela mata, a arrastar a caldeira ao local a ela
destinado. Foi uma vitória, pois daí por diante o trabalho renderia mais
e traria melhores condições para a vida no acampamento. (36 )
Em resumo, dentro do primeiro mês de vida da colônia já estava
derrubada e queimada uma área considerável da mata virgem ao redor
do acampamento; plantado o primeiro milho; construídas as primeiras
tendas e os primeiros barracões para a habitação; instalada uma grande
cozinha, já com dois grandes fornos para assar pão; iniciada a cons-
trução de pontes e estradas para comunicação mais fácil e mais rápida
com a Estrada de Ferro Sorocabana; instalada uma indústria — a ser-
raria; iniciada a medição das terras em lotes para os futuros sítios; e
preparado um magnífico local de cultos, embora ao ar livre, que era o
ponto central de todas as atenções, pela função orientadora, confortadora
e inspiradora dos cultos e outras reuniões que ali se realizavam. Fig. 59

7. A Liderança e a Forma de Governo da Colônia

O Pastor João Inkis, que entrou na colônia com a primeira caravana,


era o líder espiritual em maior evidência. Outros líderes eram os pas-
tores Otto Vebers, Arvido Eichmann, Alberto Eichmann, André Klavin,
André Pinchers e Carlos Krauls. Todos estes mereceram a confiança ge-
ral dos imigrantes. Contudo, a figura do Pastor João Inkis salientou-se
entre as demais. Pela sua capacidade de idealizar e projetar, tornou-se
também o orientador geral da colônia. Sua estatura, sua voz, seu olhar
penetrante, sua perspicácia, seu discernimento claro, sua experiência de
qüinquagenário, sua personalidade, seu conhecimento das Escrituras Sa-
gradas e seu estilo de interpretá-las deram-lhe um ar sacerdotal, caris-
mático, que pouquíssimos deixavam de lhe reconhecer. Para todas as
apreensões ou decisões na fase inicial da colônia, era quase indispensável
ouvi-lo. Também era o conselheiro sábio e piedoso que inspirava con-
fiança a quem quer que dele se aproximasse para expor um problema ou
solicitar uma orientação. Tudo isto, aliado ao seu prestígio de líder de-
nominacional, granjeado já na Letônia, durante a sua atuação de mais
de três décadas como pastor, pregador, exegeta, poeta, hinólogo, escritor,

(36) Krumins, J. "Sapezales cela taisisana", (A Construção da Estrada de Sapezal), Narra-


tiva solicitada pelo autor, firmada em Palma, a 27 de julho de 1966, achando-se nos arquivos
do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

236
redator, editor e presidente da União das Igrejas Batistas da Letônia,
fizeram-no credor da maior confiança. (37)
Possuindo também o dom de dar nomes acertados e significativos às
coisas, foi o Pastor João Inkis, quem sugeriu o nome de VARPA à nova
colônia, que no idioma leto significa espiga. A idéia era que, como uma
espiga é uma unidade na qual se acham fixadas muitas outras unidades,
que são os grãos, aquela colônia era uma unidade, um belo conjunto de
muitos grãos cheios de potencialidade, que eram os batistas letos ali
fixados. E assim passou para o mapa geográfico do Brasil o primeiro, e
até o presente o único, termo leto — VARPA — assinalando o local da
vila ou centro da colônia, que hoje é a sede de um dos distritos do Mu-
nicípio de Tupã, Estado de São Paulo.
Embora o Pastor João Inkis fosse como que a alma da grande co-
munidade que era a Colônia Varpa, efetivamente não foi um autocrata
ou um ditador, como algumas publicações alhures o têm apresentado dis-
torcidamente. As resoluções sempre vinham a público em nome dos
"irmãos da direção", uma espécie de colegiado dos pastores atrás men-
cionados, ao qual a comunidade entregou a direção por consenso unâni-
me. Os problemas estudados por esse grupo, em reuniões realizadas no
chamado "rancho dos profetas", eram apresentados primeiramente a
Deus, por meio de orações, não raro, contando com a participação de
alguns leigos mais consagrados. De modo que, quando as resoluções sur-
giam, já traziam consigo como que uma chancela divina. Daí o caráter
teocrático que o governo da Colônia Varpa apresentava inicialmente.
Porém, alguns meses depois, quando, com a chegada de novos gru-
pos, o número de imigrantes batistas letos havia subido, no acampamento,
a cerca de 1.300 pessoas, já havia se fundado a igreja e também já ha-
viam surgido algumas murmurações, foi preciso modificar o sistema de
governo, tornando-o mais democrático. Por iniciativa do próprio colegia-
do referido, passaram a realizar-se, periodicamente, as chamadas "As-
sembléias da Colônia Varpa". Por sufrágio popular foi eleito Diretor da
colônia o irmão Peteris Veinbergs, e como Vice-Diretor, o irmão Roberts
Rudzits. Para Secretário das Assembléias, Chefe do Escritório da Ge-
rência e Superintendente do Abastecimento foi sufragado o Pastor Arvido
Eichmann. (38) Para a Superintendência da Indústria elegeu-se o irmão
Jekabs Ruks, e para a Superintendência de Transportes, seu filho, o jo-
vem Harijs Ruks. Para a Superintendência das Atividades Agrícolas foi
eleito o jovem João Augstroze e como elemento de ligação com o "exte-
rior", ou seja, de relações públicas, o jovem João Inkis Jr., filho do Pas-
tor João Inkis, que já manejava satisfatoriamente a língua portuguesa,
pois que havia passado um ano estudando no Colégio Batista do Rio de

(37) Klavin, André, Op. cit.


(38) As Superintendências o povo apelidou, jocosamente, de "Ministérios-. Assim, falava-se
em Ministério do Abastecimento, Ministério da Indústria, Ministério dos Transportes, Minis-
tério da Agricultura, Ministério das Relações Exteriores etc. (João Augstroze, Carta de 21
de dezembro de 1968).

237
Janeiro, onde, na época, estudavam também outros moços letos das co-
lônias do sul do país, principalmente das do Estado de São Paulo. (39)
Na Superintendência da Instrução achava-se o Pastor Alberto Eichmann,
auxiliado pelas professoras Emma Wikman, Matilde Liepins (depois Sa-
moilovics) , Maria Mizere, Maria Mellenberg, Zenija Graikste, Elisa Zel-
tin e outras. A Superintendência da Saúde era chefiada pelo irmão Gus-
tavo Narkevitzs, farmacêutico e enfermeiro, que havia adquirido uma
experiência razoável no campo da medicina servindo nas forças armadas
durante a I Guerra Mundial, auxiliado por algumas enfermeiras. Para
a Superintendência da Medição da Gleba foi eleito o engenheiro-agri-
mensor Alfredo Treijs, auxiliado pelo topógrafo Ernesto Mellums e mais
18 homens, que mediram e demarcaram a gleba, dividindo-a em lotes
de 5 e 10 alqueires no setor agrícola, lotes de 1 alqueire no setor profis-
sional e lotes de 1 hectare e 0,5 hectare na área urbana. Havia também
um setor de conservação de roupas e calçados, subordinado diretamente
à Administração Geral, à cuja frente achava-se, desde o primeiro dia das
atividades da Colônia, o Pastor André Klavin. (40 )
Todos eram solicitados a participar, segundo as suas habilidades e
forças, em todos os trabalhos da comunidade. Ninguém recebia remune-
ração, como também ninguém pagava nada pela sua manutenção. Para
a sobrevivência de todos, era preciso que todos trabalhassem. Era da
competência do Administrador Geral a determinação do setor em que
cada qual cooperaria, bem como a dispensa ou não de determinadas ta-
refas, ouvido o respectivo Superintendente. Era notória a prontidão do
povo em tomar parte nos trabalhos da comunidade. Na falta de vagas
em serviços mais adequados às mãos femininas, uma boa parte das jo-
vens da colônia integrou as turmas de construção de estradas internas
da colônia. De enxadas em punho, elas faziam a planagem do leito da
estrada, depois que as árvores e tocos eram removidos pelos homens.
Para contornar uma certa disposição negativa dos meninos no abasteci-
mento do combustível para a cozinha, o Administrador Geral fez cons-
truir uns troles sobre trilhos de peroba para transportar, pelo declive
até a cozinha, numa distância de cerca de 500 m, a lenha acumulada no
alto, junto da serraria. Tal medida constituiu uma grande motivação
para que ninguém faltasse ao serviço. Ademais, estabeleceu-se o prêmio
de "Menção Honrosa" mensal para o menino que conseguisse durante o
mês, dentro de suas escalas de viagens, conduzir as cargas sem descarri-
lamentos. (41)
Os diretores da colônia, por serem os proprietários legais das ter-
ras enquanto cada família não adquirisse o seu lote, eram os presidentes
das assembléias. Entretanto, alegando motivos diversos, eles quase sem-
pre delegavam poderes à própria assembléia para eleger quem a presidi-
ria. Desta forma, vários irmãos serviram na função de presidentes, entre
os quais se destacaram André Klavin, Carlos Stroberg e João Augstroze,

(39) Augstroze, J., Respostas ao Questionário de Pesquisa.


(40) Id., ibid.
(41) Klavin, André, Op. cif. Também Gertner, Arnaldo Entrevista com o autor em 15
de março de 1969, em nosso arquivo.

238
sendo que em alguns assuntos mais complexos era solicitada a presença
do Pastor João Inkis na direção daqueles conclaves. Os assuntos roti-
neiros eram resolvidos pelo Administrador Geral com os responsáveis
pelas diversas Superintendências, à Assembléia subindo apenas assuntos
novos e decisões mais gerais. (42)
Quando o primeiro acampamento — também conhecido como "Ve-
cais Legeris" (O Acampamento Velho) — já se tornara pequeno para
receber o afluxo de novas caravanas de imigrantes, em meados de 1923
foi instalado o segundo, quatro quilômetros adiante, perto do projetado
"Centro da Colônia Varpa", à beira de um riacho de águas aceleradas e
agitadas, a que fora dado o nome poético de "Stirna" (Cerva), razão
por que o local passou a ser conhecido como "Stirnas Legeris" (Acampa-
mento de Stirna). Este era bem menor, com apenas dois barracões, abri-
gando, aproximadamente, 300 pessoas, que recebiam a provisão e a di-
reção dos órgãos administrativos do primeiro acampamento. Foi junto
deste que foi construída em 1924 a "Tenda da Congregação", e em 1931,
o grande templo de 1.000 lugares, que, depois de algumas reformas, ali
se encontra até hoje.
8. Falta de Amparo Oficial
Nenhuma ajuda governamental, porém, foi recebida pelos imigrantes
batistas letos que fundaram a Colônia Varpa, senão unicamente os passes
de imigrantes nas ferrovias de Santos a São Paulo e de São Paulo a Sa-
pezal. Não receberam a restituição das passagens marítimas, prometida
pelas publicações oficiais de O Immigrante a todos os imigrantes que
se localizassem na lavoura, quer nas fazendas, quer estabelecendo-se por
conta própria, sob a alegação de que os imigrantes letos eram estranhos
à profissão agrícola. Até o dia de hoje não se descobriu a que se deve
tal engano. Mas esse lamentável equívoco foi sanado quando, pelo em-
penho de Júlio Malves, foi feita uma inspeção oficial na Colônia Varpa
pelo próprio Diretor de Terras, Colonização e Imigração, em fins de
1925, na qual foi verificado que realmente aqueles imigrantes eram agri-
cultores e haviam realizado progresso admirável em plena mata virgem,
formando um novo e importante centro agrícola no interior do Estado
de São Paulo, sem ter recebido qualquer auxílio dos poderes públicos,
nem na construção de estradas e nem em implementos agrícolas. Na
referida inspeção foi dada a esperança àqueles imigrantes letos de que
os seus requerimentos de reembolso dos gastos com as passagens marí-
timas seriam deferidos. Entretanto, alguns meses depois, sob a alegação
de "fora de prazo", veio o seu indeferimento. (43)
Dentro de poucos anos surgiram problemas sérios relativos à conser-
vação da estrada de rodagem construída pelos imigrantes letos de Varpa.
Ainda que aberta por particulares, era ela de uso público. Carroças e
(42) Klavin, André, Op. cit. Também Gertner, Arnaldo, Op. cit.
(43) Malves, Júlio, Cópia do ofício dirigido em 15 de maio de 1926 ao Exmo. Sr. Dr. Secre-
tário de Agricultura do Estado de São Paulo, fazendo aditamentos aos requerimentos ante-
riormente dirigidos à mesma autoridade. Acha-se nos arquivos do Museu Batista do Semi-
nário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

239
carros de boi dos sitiantes e moradores às margens do primeiro trecho
de 15 km freqüentemente deixavam a estrada quase intransitável para
os caminhões da colônia. Os poderes públicos municipais, porém, não se
interessavam pela conservação de uma via que não estava em seus pro-
jetos e seus orçamentos. Apesar de repetidos apelos feitos à municipali-
dade e as promessas dadas, não se chegou a qualquer resultado positivo.
Também o movimento comercial de Sapezal foi diminuindo dia a dia,
reduzindo, assim, as suas possibilidades de atendimento à Colônia Var-
pa. (44)

Entrementes, Júlio Malves, que havia fundado a Colônia Letônia


numa área limítrofe de Varpa, no vizinho Município de Quatá, empre-
endeu a construção de uma estrada para ligar as duas colônias com a
cidade de Quatá, centro comercial de recursos maiores que Sapezal, além
do que também encurtaria a distância entre Varpa e a via férrea em,
aproximadamente, 7 km. (45) Confiado em promessas reiteradas da edi-
lidade de Quatá, no sentido de designar uma ajuda substancial dos cofres
municipais para tal melhoramento público, esse irmão contratou os ser-
viços de um grupo considerável de imigrantes letos de Varpa para a
construção da estrada. Completado o serviço e feito o requerimento do
pagamento, o despacho foi: "Para ser discutido em ocasião oportuna."
Depois de um ano de espera, em fevereiro de 1926 foi repetida a petição
para que se cumprisse a promessa. O novo despacho dizia: "Aguarde a
oportunidade." Quando em 20 de setembro de 1938 Júlio Malves reque-
reu do Sr. Prefeito do Município de Quatá para certificar ao pé do pró-
prio requerimento "qual foi o teor dos despachos exarados nas atas das
sessões da Câmara Municipal aos vários requerimentos do signatário desta
petição", nada mais foi certificado senão os despachos atrás referidos.
( 46) Assim, outra estrada foi aberta pelos imigrantes letos, desta vez
de Varpa a Quatá, que passou a ter grande importância na circulação da
riqueza e no desenvolvimento de uma grande região do interior do Estado
de São Paulo, sem que para tanto os poderes públicos tivessem contribuí-
do com um só centavo. Sofreram os letos que trabalharam meses a fio
sem receber o seu soldo, como sofreu também Júlio Malves, inclusive san-
ções da Igreja Batista Leta de Varpa, (47 ) sob a acusação de que não
pagou aos trabalhadores contratados. Mas a estrada continua até hoje,
enriquecendo o país.

9. As Circunstâncias Primitivas de Vida na Colônia


A vida na Colônia Varpa, nos seus primórdios, foi cercada das cir-
cunstâncias mais primitivas. Além daquelas que já mencionamos páginas

(44) Gertner, Arnaldo, Entrevista com o autor em 15 de março de 1969.


(45) Id., ibid.
(46) Documento fornecido pela Prefeitura Municipal de Quatá, Estado de São Paulo, em 14
de outubro de 1938, devidamente autenticado pelo Sr. Secretário Contador Interino, Laércio
Machado Nogueira, com firma reconhecida, encontrado nos arquivos de Júlio Malves, que se
acha no arquivo do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro, GB.
(47) Igreja Batista Leta de Varpa, Ata de 28 de fevereiro de 1937, Livro II, p. 141.

240
Fig. 35. Segundo templo da Igreja Batista
Leta de Ijui — Linha 11, RS, inau-
gurado em 1917.

Fig. 36. Igreja Batista Leta de Rio Branco, SC, em 1916.


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Fig. 37. Mapa das colônias e igrejas batistas letas no Estado de Santa
Catarina.

Fig. 39. Primeiro local de cultos


(paiol) da Igreja Batista
Leta de Nova Odessa, SP,
em 1906.

Fig. 38. Júlio Malves.


Fig. 40. Pastor Dr. Ricardo
J. Inke.

Fig. 41. Igreja Batista Leta de Nova Odessa, SP, à frente de sua
segunda sede, "Fazenda Velha". Ao centro, Dr. W. B. Bgby.
Fig. 43. Dr. João
Sprogis.

Fig. 42. Templo definitivo da Igreja Batista


Leta de Nova Odessa, SP, inaugura-
do em 1918.

Fig. 44. Dr. E r -


n es to
Sprogis.

Fig. 45. Prof. Dr. André Le-


ekning.
Fig. 46. Família João Inkis. Da direita para a esquerda: Pastor João Inkis, D.
Marta Inkis, João Inkis Jr. e Emma Inkis.

Fig. 47. Pastor Car-


los Rodolfo
Ander-
mann.
Fig. 48. Os "espias" da Colônia Varpa, em
1922.
K. ,;,Hro ! a\A/RE--iRPR

Nék
Fig. 49. Planta da Colônia Varpa.

Fig. 50 Convés do navio ARAGUAYA, da Mala Real Inglesa, no cais


do porto de Santos, em 26 de outubro de 1922, trazendo 453
batistas letos ao Brasil, fundadores da Colônia Varpa, no
interior do Estado de São Paulo, a 1.° de novembro do mesmo
ano.
Fig. 51. A primeira leva de imigrantes batistas letos (26 de outubro
de 1922), à porta da Alfândega de Santos, SP.

Fig. 52. Imigrantes da primeira leva no refeitório da Hospedaria da


Casa do Imigrante, em São Paulo, em 27 de outubro de 1922,
chegados a Santos, SP, pelo navio ARAG(JAYA, no dia an-
terior.
Fig. 53. Derrubando as matas virgens de Varpa.

Fig. 54. Toco de uma gigantesca árvore na re-


gião de Varpa.
Fig. 55. Primeiro acampamento (provisório) dos imigrantes batistas
letos em Varpa, nos dias 1 a 3 de novembro de 1922.

Fig. 56. Os barracões do Primeiro Acampamento dos imigrantes letos


de Varpa.
Fig. 57. Primeiro local de cultos nos dias primitivos de Varpa.

Fig. 58. Pastor André. Klavin (X) falando dos dias primitivos de
Varpa, interpretado pelo Pastor Osvaldo Ronis, 42 anos
anos depois da fundação da colônia, exatamente no local
dos primeiros cultos em Varpa, por ocasião da visita do
então Presidente da Aliança Batista Mundial, Dr. João
F. Soren (1964).
Fig. 59. Medidores das terras de Varpa.

Fig. 60. Transporte de abastecimento para a Colônia Varpa.


Fig.61.Pastor
Ar vido
Ei c h -
m a n n
( ou Ar-
vids Eich-
manis ) .
Fig. 62. Martelo mecânico, construído pelos
técnicos letos de Varpa, para fincar
as estacas da ponte sobre o Rio do
Peixe.

Fig. 63. Os primeiros serradores de madeira


na Colônia Varpa.
Fig. 64. As classes da primitiva escola diária da Colônia Varpa, em ja-
neiro de 1923, reunindo-se nas clareiras da mata.

Fig. 65. Primeira classe de Português em Varpa; ao centro,


sentado, João Inkis Jr., o professor.
Fig. 67. Jorge Láza-
ro de Ca-
margo, "o
leto preto",
o primeiro
brasi-
leiro bati-
zado em
Varpa e que
falava a
Fig. 66. Pastores da Igreja Batista Leta de língua leta.
Varpa em 1925. Sentados da es-
querda para a direita: João Inkis
(ou Janis Inkis), Alberto Eich-
mann e André Pincher (ou An-
drejs Pinchers). Em pé, na mes-
ma ordem: Otto Vebers e André
Klavin (ou Andrejs Klavins).

Fig. 68. Uma turma de construção de estradas internas da Colônia


Varpa.
Fig. 69. Construindo pontes Fig. 70. Vilis Lustins, pionei-
nos caminhos de ro na liderança da
Varpa. vida sócio-econômi-
ca de Varpa.

Fig. 71. Transporte misto — de carga e pas-


sageiros — de André Kruklis.
Fig. 72. Primeiro táxi da Colônia Varpa, de
propriedade de André Kruklis.

Fig. 73. Lancha de Palma, denominada CERIBA (Esperança).


atrás, relacionadas com outros aspectos, vamos referir-nos a outras no
tópico presente.
O problema do abastecimento, por exemplo, para tão grande número
de pessoas, foi muito sério, já pela escassez de víveres na redondeza ina-
bitada, como pela falta de variedade e adequação na alimentação e pela
irregularidade do transporte em carros de boi e carroças puxadas a bur-
ros. Não poucas vezes o abastecimento do grande acampamento sofreu
crises sérias porque os víveres, que vinham de longe — de 15 a 30 km —
não chegavam a tempo de se fazer uma previsão tranqüila para o con-
sumo nos dois ou três dias mais próximos, quanto mais de uma ou duas
semanas seguintes. De modo que tudo quanto chegava — e só chegava
feijão, fubá para o fabrico de pão e um pouco de açúcar mascavo para
adoçar o chá e às vezes o café — era preciso racionar e economizar para
que a grande multidão não ficasse de repente à míngua. A despeito de
toda a economia, houve ocasiões em que, atrasando o transporte de abas-
tecimento que era despachado da "Casa Varpa" em Sapezal, onde os
irmãos Vilis Lustins e Arthur Garancs compravam os víveres da redon-
deza e contratavam o transporte, o acampamento ficava sem nenhuma
provisão para o dia seguinte. Então o povo era informado da situação
no culto da noite e todos oravam fervorosamente, pedindo o socorro di-
vino. Numa dessas ocasiões, em que as chuvas prolongadas haviam des-
truído o caminho e os carros de boi, carregados de víveres, haviam ato-
lado e ficado abandonados na estrada inundada vários dias, os crentes
suplicaram ajuda de Deus para tão numeroso povo sem alimentação. No
dia seguinte, pouco antes do meio-dia, chegou do outro lado do rio uma
tropa com vários sacos de feijão que um certo sitiante, morador a 15 km
de distância, pela manhã, havia resolvido levar ao acampamento dos Te-
tos para vender porque necessitava de algum dinheiro urgentemente. Era
a resposta de Deus às orações do seu povo. (48)
De outra feita, Deus respondeu ao clamor dos seus filhos por meio
de uma enorme anta que vinha descendo o rio perseguida pelos cães de
uns caçadores caboclos e que os irmãos abateram a tiros de suas armas,
obtendo, assim, a carne suficiente para a alimentação durante quase dois
dias. (49) Fig. 60
A esta altura, importante é notar como a mão de Deus começou a
atuar no meio daquelas circunstâncias primitivas para preparar aquela
parte do povo para a tarefa que estava em seus propósitos. Providencial-
mente, Deus colocou sobre os ombros do Pastor Arvido Eichmann a Su-
perintendência do Abastecimento da colônia. Isto propiciou a este seu
servo os primeiros contatos com o povo brasileiro e com outros colonos
estrangeiros quando, indo pelas matas, sítios, fazendas e povoados pró-
ximos e distantes, para comprar e enviar víveres à colônia, aprendeu os
rudimentos da língua portuguesa e começou a sentir os apelos das neces-
sidades espirituais do povo do sertão paulista, tornando-se pouco depois
a figura central do movimento missionário que, partindo de Varpa, irra-
diou-se em todas as direções da redondeza próxima e distante. Fig. 61

(48) Klavin, André, Op. cit.


(49) Id., ibid.

241
Ainda com referência à alimentação, temos de registrar a deficiên-
cia do teor alimentício por força da falta de variedade e propriedades
nutritivas. Não havia gado para abater, e a carne fresca, adquirida em
fontes distantes, devido ao clima quente, acabava por deteriorar-se até
chegar à colônia. Portanto, a carne, a maior fonte de proteínas, era
coisa raríssima, de vez que o charque era caríssimo e muito pouco acei-
tável ao paladar europeu. Toucinho salgado era o único "tempero" para
o feijão de caldo ralo, raramente acrescido de algumas rodelinhas de ce-
bola. O pão de milho, ou de fubá puro, pela sua falta de liga tornava-se
em verdadeira farofa. Depois os padeiros descobriram que com o acrésci-
mo de um pouco de raspa de mandioca obtinha-se um pão mais consis-
tente. Verduras, ovos e leite foram coisas inexistentes por mais de seis
meses. O primeiro leite que apareceu na colônia foi o de cabra, que o
irmão Eduardo Ronis introduziu quando, como trabalhador da turma de
construção da estrada para Sapezal, entrou em contato com alguns ca-
boclos que, em troca de algumas peças de roupa de lã, trazidas da Letô-
nia, lhe deram uma cabra que dava dois litros diários de leite. n que o seu
único filho, Osvaldo, (5°) estava muito doente, por deficiência de alimen-
tação, e, na falta de dinheiro, era preciso voltar ao método primitivo de
comerciar — o de troca de mercadorias. Outros pais aflitos pela saúde
dos filhos seguiram-lhe o exemplo, mas o mercado de cabras era bastante
escasso e a procura de agasalhos de lã ainda mais escassa. Mas as cane-
quinhas de leite que os donos das poucas cabras foram distribuindo no
acampamento, em troca da angariação de algum alimento para estas —
folhagem inferior dos pés de milho e outras — parece que ajudaram a
salvar algumas das crianças que já não suportavam o caldo de feijão e a
água de arroz. Contudo, durante os dois primeiros anos — novembro
de 1922 a dezembro de 1924 — o clima tropical, extremamente fatigante
para os nórdicos, a alimentação inadequada e insuficiente e a quase au-
sência de recursos médicos acabaram por levar à morte precisamente 166
pessoas, das quais 41 acima de 60 anos e as demais em sua grande maio-
ria abaixo de 5 anos. (51)

O barracão da enfermaria, localizado pouco além dos seis barracões


de moradia, era a melhor construção do acampamento. Suas paredes
eram feitas das mesmas tabuinhas do telhado, bem fechadas, para evitar
correntes de ar. Os seus 10 leitos eram feitos de tábuas serradas no mato,
forrados com colchões de folhas secas e desfiadas de coqueiros. O en-
fermeiro e farmacêutico Gustavo Narkevics, (52 ) figura simpática, pa-
ternal e equilibrada, auxiliado por algumas enfermeiras, tentava atender
a todos os casos mais complicados que com meras compressas quentes e
aspirina não cediam em tratamento domiciliar. Alguns maços de algo-
dão e gaze, vidros de álcool e iodo, comprimidos, xaropes, pomadas e al-

(50) O autor da presente obra.


(51) Klavin, André, Carta datada de 19 de janeiro de 1963, citando dados fornecidos pela
Prefeitura de Campos Novos.
(52) Trata-se do pai de dois profissionais liberais, conhecidos por letos e brasileiros: Arvido
Narkevics, farmacêutico em São Paulo, e Dr. Olavo Narkevics, médico em Rio Claro, Estado
de São Paulo, ambos batistas atuantes em igrejas brasileiras.

242
guinas injeções anti-ofídicas, alguns pacotes de gesso para fraturas e um
instrumental precaríssimo de pequena cirurgia com alguns carretéis de
esparadrapo, era tudo que o pequeno ambulatório anexo à enfermaria
continha. As afecções disentéricas foram as que maior número de ví-
tima fizeram. A falta de conhecimento específico das doenças tropicais
e dos recursos terapêuticos existentes no país, aliada ao desconhecimento
da língua, tornou difícil a 'atuação eficiente da equipe de saúde. A des-
peito de tudo isto, porém, foi inestimável o serviço por ela prestado à
colônia. (9
O transporte da colônia nos primeiros tempos era dividido em dois
setores: o externo — que compreendia o trecho de 31 km entre a Estação
de Sapezal e o Rio do Peixe, sobre o qual ainda não havia ponte; e o in-
terno — da margem direita do rio para as várias partes do acampamento.
A bagagem mais pesada do grande número de imigrantes, bem como a
grande quantidade de víveres para o abastecimento do povo nos dois
acampamentos eram transportados até a margem esquerda do Rio do
Peixe com carros de boi e carroças de burro alugados. Na travessia do
rio e até os barracões e o depósito de mantimentos as cargas eram leva-
das nas costas de homens, pela pinguela estreita. Em fins de março de
1923 foi adquirido o primeiro caminhão da colônia — um Ford de "bi-
gode" 1923, de uma tonelada de capacidade de carga, que então passou
a fazer o transporte pelo trecho já pronto da estrada até a margem do
rio, continuando, porém, o transporte interno a valer-se tão-somente das
costas de homens e, de quando em vez, também de algumas mulheres.
Quando a estrada toda já se achava concluída, os mestres de obras, com o
engenheiro João Krumins à frente — assistido pelos especialistas no ra-
mo, Martins Jansons e Janis Karsons — voltaram-se para a construção
da grande ponte de cerca de 40 m de vão, sobre o Rio do Peixe. Nas
circunstâncias primitivas em que se encontrava aquela comunidade, sem
ferro e sem aparelhagem apropriada para uma obra daquele gabarito, e
num local distante de qualquer centro industrial que pudesse prestar al-
gum auxílio técnico, aqueles homens dependiam tão-somente do seu en-
genho humano e da bênção de Deus na execução da difícil tarefa. Todas
as peças foram preparadas, segundo as medidas dadas na planta, no
próprio local onde a madeira era encontrada e depois transportadas nas
costas dos homens ou arrastadas pelo chão com o auxílio de cordas —
como era feito também o transporte de madeira até a serraria — e co-
locadas à beira do rio. Entrementes, um grupo de mestres trabalhava na
preparação de um martelo mecânico, de, aproximadamente, 300 kg, todo
ele — inclusive engrenagens — de ipê, a madeira mais resistente da re-
gião, para fincar as enormes pilastras no fundo do rio. Cerca de 20 ho-
mens trabalharam quase três meses, até o término das obras da ponte,
que foi denominada, na língua leta, Uzvaras Tilts (A Ponte da Vitória),
sem um só acidente. A essa altura, a colônia já possuía três caminhões,
que faziam o transporte externo e interno, sem o enorme sacrifício de
energias humanas, que em alguns casos custaram sérias distensões mus-

(53) Klavin, André, Op. cit.

243
culares e mais tarde a manifestação de diversas modalidades de males da
coluna dorsal. (54 ) Figs. 62 e 63

A escola diária funcionava ao ar livre, em clareiras abertas na mata,


à sombra de árvores gigantescas, na margem esquerda do Rio do Peixe,
que as crianças atravessavam pela pinguela. Os bancos eram de troncos
de árvores, com a parte superior aparelhada a machado. As mesas, outros
troncos de árvores, igualmente aparelhados, porém em nível mais elevado.
A mesa da professora era feita de duas tábuas grossas serradas à mão,
pregadas sobre quatro estacas fortes, fincadas no chão. A sua cátedra
era um banco de tronco de madeira, aparelhado na parte superior, fir-
mado em duas forquilhas resistentes, fincadas na terra. O quadro não
era negro; era um quadrado de duas tábuas de cedro avermelhado, ali-
sadas à plaina, sobre o qual se escrevia a carvão. O problema da falta
de cadernos era resolvido pelo uso de tabuinhas de madeira aplainada, à
guisa de lousas, nas quais os alunos escreviam a carvão e que após às
aulas eram lavadas no rio pelas próprias crianças, para estarem em con-
dições de serem usadas no dia seguinte. Os pássaros, as borboletas e
outros insetos, nas mais variadas cores e tamanhos, bem como diversas
qualidades de macacos, especialmente sagüis, distraíam constantemente
a atenção tanto dos alunos como das próprias professoras. Mas tudo
isto também era motivo para levar as crianças à apreciação da pessoa de
Deus na sua maravilhosa obra da criação. Na hora do recreio, a gran-
de atração da criançada eram os cipós de todos os tamanhos e calibres
que pendiam das grandes árvores e que serviam de magníficos e originais
balanços para a expressão lúdica infantil. Na falta de livros as profes-
soras organizavam o seu programa de ensino valendo-se, de memória, do
que haviam ministrado nas escolas da Letônia. Todo o trabalho escolar
decorria, inicialmente, em língua leta. Tão logo as professoras foram
aprendendo algo de português, passaram a transmitir os rudimentos do
vernáculo também às crianças de suas classes. (55 ) Fig. 64
Aqui convém registrar o fato de que o primeiro professor de portu-
guês aos imigrantes batistas letos de Varpa foi o jovem João Inkis Jr.,
filho do líder principal da Colônia Varpa, que, como já registramos pá-
ginas atrás, estudou a nossa língua no Colégio Batista do Rio de Janeiro,
tendo chegado ao Brasil um ano antes do início da imigração leta em
foco. Um grupo de cerca de três dezenas de jovens aderiu à iniciativa
de João Inkis Jr., entre cujos integrantes contavam-se além das profes-
soras já citadas — os moços que mais tarde tornaram-se obreiros conhe-
cidos no trabalho batista brasileiro, como Arnaldo Gertner, Karlis Gri-
gorowitschs, Carlos Purgailis — mais conhecido como Carlos Gruber ___
Girts Dobelis, João Augstroze, Rodolfo Carlos Andermann, André Pus-
platais e Carlos Sider, bem como várias moças, que pouco depois inte-

(54) Gertner, Arnaldo, loc. cit.


(55) Mellenberg, Maria, "Skolas V arpas sakuma laikos" (As Escolas nos dias primitivos
de Varpa), narrativa preparada a pedido do autor, firmada em 1 de abril de 1967, que se
encontra nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB.

244
graram as diversas equipes de evangelização operantes nas vizinhanças
da Colônia Varpa. (56) Fig. 65
Aqueles tempos eram os dias "das coisas pequenas" (57) que hoje,
no entanto, têm a sua importância no cômputo geral dos acontecimentos
relacionados com a participação dos batistas letos na obra da extensão do
Reino de Deus no Brasil. A visão deste país como uma terra necessitada
do evangelho começou a descortinar-se diante dos olhos de muitos da-
queles batistas letos na medida em que as possibilidades de comunicação
com o povo foram aumentando.
Contudo, houve quem não suportasse as circunstâncias primitivas da
vida no acampamento, e os que não concordaram com a interpretação da
liderança e da maioria dos crentes de que aquele era o lugar em que
Deus os queria. Alguns deles abandonaram a colônia indo para algumas
colônias letas mais antigas ou as grandes cidades, e uns poucos voltando
para a Letônia. O número destas "deserções" foi exagerado, de tempos
em tempos, em publicações ali e algures, quando, na realidade, esse nú-
mero foi insignificante, não passando de 3% dentro do primeiro ano de
vida da colônia e chegando talvez a cerca de 5% três anos depois de sua
fundação. (58) Curioso é assinalar que vários dos que deixaram a Colô-
nia Varpa acabaram voltando à mesma pouco tempo depois, inclusive
alguns dos poucos que haviam voltado à Letônia e lá experimentado as
misérias da II Guerra Mundial. Os descontentes que ficaram na colônia
porque não tinham condições de deixá-la, aos poucos acomodaram-se às
circunstâncias e, embora um tanto negativistas e críticos, depois pros-
peraram como os demais.
10. Terras da colônia em litígio judicial
O abalo mais sério que a Colônia Varpa sofreu foi quando, na se-
gunda metade da década de vinte, as suas terras foram contestadas por
mais dois outros cidadãos que se diziam donos. O mais forte deles, Sr.
Veiga, levou o caso à Justiça. A Justiça de São Paulo reconheceu os di-
reitos dos dois, isto é, do Sr. João Gomes Martins, que havia vendido as
terras aos letos, e do Sr. Veiga, sendo que as do último deveriam ser
delimitadas do ribeirão de Pitangueiras para oeste, abrangendo, assim,
uma pequena faixa pertencente à colônia dos letos. Porém, o agrimen-
sor do Sr. Veiga, ao fazer a medição de suas terras novamente, traçou a
linha divisória para dentro da colônia de tal modo que acabou por incluir
a maior parte da mesma como sendo de sua propriedade. O apelo que foi
feito à Justiça Federal do Rio de Janeiro, nada valeu, pois esta confirmou
o julgado pela Justiça do Estado de São Paulo. Os letos estavam amea-
çados de expulsão de suas terras. Mergulhados em sua tristeza, dirigi-
ram um apelo telegráfico ao Exmo. Sr. Presidente da República. Foi dada
ordem ao departamento competente em São Paulo para reexaminar a
questão. Este recomendou ao representante da Colônia Varpa, Pastor
Arvido Eichmann, que tentasse apelar às partes litigantes a se entende-
(56) Gertner, Arnaldo, loc. cit.
(57) Ezequiel 4:10.
(58) Klavin. André. loc. cit.

245
rem por meios pacíficos. Não havendo recursos para constituir advoga-
do, o próprio representante mencionado tentou, durante longos meses, o
entendimento proposto. Certo dia o querelante comunicou à colônia que
faria valer os seus direitos e expulsaria os ocupantes de suas terras. A
situação tornou-se gravíssima. O povo clamou a Deus. E de Deus veio
o socorro. Ciente da ameaça feita, o Departamento Federal de Terras e
Colonização enviou um ultimato às partes em litígio em que se propunha
uma opção: que resolvessem o seu litígio fora dos limites da colônia,
isto é, com compensações de outras glebas, ou seriam destituídos de seus
direitos sobre as terras contestadas. Louvável foi a atitude do Sr. João
Gomes Martins que, a título de compensação, entregou ao litigante uma
área de terras, fora dos limites da Colônia Varpa, igual à que estava
sendo por este reclamada. (59 )
Tal socorro de Deus foi uma nova experiência na vida dos batistas
letos de Varpa que deixou lições indeléveis do valor da oração e da de-
pendência de Deus na vida de seus filhos.
11. Constituição da Igreja Batista Leta de Varpa
Depois de cinco meses de vida em comunidade no primeiro acampa-
mento da Colônia Varpa e tendo chegado já um grande número de batis-
tas letos — aproximadamente, 1.000 membros de mais de 30 igrejas
batistas da Letônia, no primeiro domingo de abril de 1923, ou seja, pre-
cisamente dia 4 de abril daquele ano, foi constituída a Igreja Batista
Leta de Varpa, a décima quarta igreja batista leta organizada no Brasil.
Uma grande parte dos seus fundadores já havia trazido consigo as suas
cartas de recomendação ou de transferência, outra parte as solici-
tou pelo correio, depois de ter chegado ao Brasil, e mais outra parte foi
recebida por aclamação, inclusive duas igrejas, que haviam emigrado da
Letônia com todos os seus membros. Após declarada a igreja consti-
tuída, foi celebrada, pela primeira vez, a Ceia do Senhor, num ambiente
de profunda humildade, regozijo e fraternidade. (60 )
Extraímos aqui alguns trechos da notícia publicada em O Jornal
Batista pelo irmão Ernesto Sprogis, obreiro da Igreja Batista Leta de
Nova Odessa, imigrado em 1906:
Há poucos dias tive oportunidade de visitar pela primeira
vez a nova colônia leta "Varpa" ... Gozei o privilégio de acom-
panhar a Sapesal, no trem especial, uns 350 imigrantes re-
cém-chegados da Letônia. Encheram-se os sete carros de pas-
sageiros já bastante cansados da longa viagem, mas alegres
no espírito, cantando ainda hinos de louvor ao Senhor. O pú-
blico nas aldeias e cidades, ouvindo esses belos cânticos, quase
fechou a passagem na plataforma, aplaudindo e pedindo para
repetir. "Se não estivéssemos viajando, teríamos agora mag-
nífica oportunidade de dar ao povo brasileiro as boas-novas de

(59) G. D., --- "Varpas iecelotaju 30 gadu pateicibas svetki- (A Festa de Gratidão pelos
30 anos desde a entrada dos imigrantes de Varpa) Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12.
dezembro de 1952, pp. 15 e 16, citando Pastor Arvido Eichmann.
(60) Augstroze. João. Op. cit.

246
salvação", ouvi de algum dos imigrantes. Isto me fez lembrar
e pensar na grande falta de luz do evangelho que sofre o povo
brasileiro. Quantos pastores, evangelistas e outros trabalha-
dores bem preparados e dispostos a obedecer à ordem do Se-
nhor para a sua seara já não estão na nova colônia leta! O
Senhor sabe melhor do que nós, por que motivo convidou e
mandou esses irmãos e toda a grande igreja da Letônia para
este país, protegendo-a maravilhosamente nas muitas e diver-
sas grandes dificuldades, desde a sua saída e viagem demora-
da, nunca os privando do conforto e de sua proteção.
Chegando a Sapesal, alguns irmãos receberam-nos com
grande caridade, oferecendo-nos refeições numa casa especial-
mente comprada para esse fim. Depois saímos para a colônia,
onde chegamos às sete e meia da tarde. Os novos imigrantes
tinham organizado um coro e arranjado um hino especial para
saudar os irmãos aí; e, chegando à praia do Rio do Peixe, o
dito coro começou a cantar. Depois, o coro da igreja, além
do rio, respondeu com um hino muito conhecido e usado nas
igrejas da Letônia... Passei na nova colônia mais de uma
semana... Durante este tempo continuou a organização da
igreja... Foram matriculados quase mil membros, ficaram
outros para serem recebidos e mais de dez candidatos prontos
a receber batismo nas águas do Rio do Peixe... Já tem em
plena função um coro de 200 vozes, mais ou menos; e uma
escola dominical com mais de 300 crianças. Está em atividade
também uma escola elementar, atualmente sem um programa
especial por falta de livros necessários.
Os trabalhos diários de formar a nova colônia, até que
cada um possa recolher-se à sua própria residência, são bem
organizados e feitos por mãos diligentes e fiéis em todos os
departamentos. Admirei a fraternidade e simplicidade dos di-
versos especialistas... Estou certo de que a onça feroz, o can-
guçu e outros habitantes da floresta nunca viram um movi-
mento igual. E também muitos de nós não teremos ouvido um
coro tão bem ensaiado e um amor e paciência tão aprimora-
dos, a favor dos irmãos na fé, como nessa igreja. (61)
Como líder da igreja foi escolhido o Pastor João Inkis, e mais seis
auxiliares, pastores: Otto Vebers, Arvido Eichmann, Alberto Eichmann,
André Klavin, André Pincher e Carlos Kraul. O Pastor Carlos Kraul,
depois de dois meses, deixou a igreja e a colônia por ter aceito o convite
para pastorear a Igreja Batista Leta de Nova Odessa, o que foi uma pro-
vidência divina para a integração dos batistas letos no trabalho batista
brasileiro, como teremos ocasião de narrar pouco mais adiante. O Pastor
Arvido Eichmann dirigiu-se para Dourado, na região de São Carlos, para
dar assistência espiritual ao grupo de batistas letos de Varpa que alguns
meses antes haviam partido para trabalhar numa grande fazenda do Dr.

(61) Sprogis, Ernesto, "A Nova Colônia: Varpa — E. S. Paulo", O Jornal Batista, Ano
XXIII, n° 17, 26 de abril de 1923, p. 11.

247
Carlos Botelho, ex-Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo,
que já conhecia os letos desde os tempos da fundação da Colônia de
Nova Odessa. Os demais pastores ficaram à frente da igreja, alternan-
do-se na responsabilidade principal do pastorado João Inkis e Otto Ve-
bers. Em 1925, porém, a direção da igreja passou ao pastorado único
de André Pincher, pois que a igreja não desejava mais um pastorado
colegiado, ainda que apreciasse a colaboração dos demais pastores no
chamado "Conselho da Igreja". (62 ) Fig. 66
Com a constituição da igreja, ficaram também formalmente reco-
nhecidas como organizações da mesma a Escola Bíblica Dominical e o
grande coro de 200 vozes, regido pelos maestros: Hermanis Janaitis e o
jovem Karlis Grigorowitschs. (63) No segundo acampamento, onde os
cultos eram dirigidos pelo Pastor Alberto Eichmann, havia um coro sob
a direção alternada dos maestros Valdemar Janaitis, Emílio Krigers,
que também era compositor, (64 ) Karlis Adams e Janis Karsons. A par-
tir de 1924, quando a vida em comunidade nos acampamentos havia ces-
sado e os imigrantes batistas letos estavam na fase da fixação em suas
propriedades particulares e formação de seus sítios, a igreja transferiu
a sua sede para o segundo acampamento, mais central, denominado Stir-
na. Ali erigiu o seu primeiro templo — um barracão de tábuas com mais
de 500 m2 ; de chão arenoso (sem assoalho) ; com um estrado para a
mesa e o púlpito e um outro, em degraus, para o coro; com bancos de
tábuas pregadas sobre tocos de paus roliços, enterrados no chão e sem
encosto — ao qual foram anexadas dependências para residência das
professoras da escola diária e das parteiras que serviam à colônia e
adjacências. (65) Nessa nova fase de vida da Igreja de Varpa os re-
gentes do grande coro passaram a ser os irmãos Arthur Garancs — o
mais destacado — e o titular da batuta; João Augstroze, depois pastor
muito conhecido no Estado de São Paulo; Arvido Leiasmeier — mais
tarde um dos leigos mais dinâmicos dentre os batistas letos e brasileiros;
e Emílio Krigers, o compositor já referido. Algum tempo depois sur-
giram dois outros regentes igualmente competentes — João Vitols, que
formou um grande coral da mocidade, e Hermanis Skuja, destacando-se
à frente do coral masculino e posteriormente do coro da Segunda Igreja
Batista de Varpa. Em todo o trabalho da Igreja o canto coral sempre
foi o apoio maior da pregação e o grande atrativo dos programas espe-
ciais, comemorativos das diversas efemérides do calendário bíblico —
como Páscoa e Natal — e do calendário da colônia — como o aniversá-
rio de sua fundação, 19 de novembro, a festa anual da Mocidade Unida de
Varpa, 24 de junho, e outras.
O fato mais importante, porém, ocorrido no início da nova fase de
vida da colônia e da Igreja de Varpa em 1924, foi a organização de uma
comunidade sócio-religiosa dentro da colônia, de caráter permanente e

(62) Klavin, André, loc. cit.


(63) Respectivamente pai do conhecido pastor e professor Ilgonis janait e ilustre obreiro
Carlos Grigorowitschs, pastor da Igreja Batista Boas-Novas, São Paulo, Capital.
(64) Pai do Pastor Verner Kriger, obreiro conhecido nos Estados de São Paulo e Paraná.
(65) Igreja Batista Leta de Varpa, Ata de 1 de agosto de 1926, Livro II, p. 257.

248
incomum, semelhante à que houve nos dias após o Pentecostes em Je-
rusalém, (66) que tomou o nome de CORPORAÇÃO EVANGÉLICA PAL-
MA, objeto do próximo capítulo.
Os anos de 1924 e 1925 foram de suma importância na vida de Var-
pa. Foi quando a igreja enfrentou uma séria crise em terreno de defi-
nições doutrinárias e quando descobriu a sua verdadeira missão no Brasil
à luz das experiências adquiridas em três anos de sua existência como
igreja e também como colônia representativa de uma corrente religiosa,
aspectos esses que abordaremos pouco mais adiante.
12. Aspectos do Desenvolvimento Sócio-Econômico de Varpa
Depois de, aproximadamente, sete meses de vida em comum e es-
tando ainda bastante atrasados os trabalhos de medição da gleba da
colônia em lotes, onde cada família principiaria a sua vida própria, co-
meçaram a escassear os recursos da chamada "Caixa Comum". Por
outro lado, o produto das primeiras plantações — milho, feijão e man-
dioca — pela sua quantidade limitada, não representava subsistência
suficiente para atendimento a tão grande número de pessoas, senão por
um período relativamente curto. Também não era prudente gastar toda
a produção no consumo, quando era necessário reservar bastante para
novas sementeiras. Ademais, sabia-se que mais outros grupos de batis-
tas estavam prestes a partir da Letônia para o Brasil com destino a
Varpa, o que agravaria ainda mais a situação já séria com respeito à
subsistência na colônia. Com tais preocupações em mente, os pastores
Arvido Eichmann e André Klavin, respectivamente Superintendente do
Abastecimento e Administrador Geral dos acampamentos, analisaram
detidamente o problema e pediram a Deus uma ajuda na solução do
mesmo.
12.1 — Saída de Parte dos Imigrantes de Varpa para as Fazendas
Após alguns entendimentos, com João Inkis Jr., Superintendente de
Relações Públicas e o Dr. Mário Cabral, engenheiro e representante do
Sr. João Gomes Martins, proprietário das terras de Varpa, os dois pas-
tores já referidos, responsáveis diretos pela subsistência material da
colônia, apresentaram à liderança da colônia a seguinte sugestão: que a
Diretoria da colônia entrasse em entendimento com a Liga Agrícola Bra-
sileira e a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo para obter
informações quanto a um possível interesse da parte dos grandes fazen-
deiros produtores de café em contratarem grupos de imigrantes letos de
Varpa para trabalharem em suas fazendas, pois que tal solução traria
ao menos quatro vantagens: 1) daria, de imediato, condições de uma
dieta mais variada e mais abundante para os que saíssem para as fa-
zendas; 2) pouparia recursos da comunidade para a subsistência dos que
não pudessem deixar a colônia; 3) daria recursos em termos de moeda
corrente e de experiência, para, depois de pelo menos um ano de tra-
balhos nas fazendas, começarem a formar os seus próprios sítios em

(66) Atos dos Apóstolos, 2:14,45.

249
Varpa, adquirindo ferramentas, sementes, gado, animais de tração e
construindo suas casas; 4) ofereceria um bom fundamento para pleitear,
junto às autoridades do Departamento de Imigração, o reembolso das
passagens marítimas Europa—Brasil, de vez que um dos requisitos para
tal pretensão era o compromisso de os imigrantes prestarem serviços re-
munerados nas fazendas por um período mínimo de um ano. (67)
Aprovada a sugestão, o Superintendente de Relações Públicas, João
Inkis Jr., imediatamente entrou em contato com os respectivos órgãos
e com os fazendeiros por eles indicados. Não tardaram cartas de fazen-
deiros dirigidas à Diretoria da colônia, solicitando grupos de 30, 50 e
até 100 trabalhadores, com todas as despesas de transporte pagas pela
Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, cartas estas que eram
lidas publicamente ao fim dos cultos para apresentação e encaminha-
mento dos interessados. (68)
Dentro de poucos meses cerca de um terço dos letos da Colônia
Varpa achava-se em doze fazendas distantes, (69 ) da chamada "zona
velha" do Estado de São Paulo, como Ipauçu, Igualdade, Dois Córregos,
Bauru, Dourado, Capão Preto e outros, cada grupo comendo "de um só
caldeirão" — como diziam ao referir-se à vida em comunidade — a fim
de possibilitar a ajuda de senhoras no trabalho.
Em todos aqueles grupos cuidava-se também, com muita ênfase, da
vida espiritual, sob a liderança de homens escolhidos do seu próprio meio,
entre eles alguns pastores, evangelistas e diáconos. Organizaram-se Es-
colas Bíblicas Dominicais, Uniões de Mocidade, Coros etc. Os cultos eram
realizados aos domingos e quase todas as noites da semana. Embora os
trabalhos fossem pesados, o sol abrasador e a poeira das terras verme-
lhas dos cafezais sufocantes, aqueles irmãos trabalhavam animados e
eram assíduos aos cultos, procurando sempre manter a união fraternal,
e acesa a chama da fé.
Esse testemunho atraiu a atenção do povo simples das fazendas e
também dos próprios fazendeiros, que freqüentemente assistiam aos cul-
tos para ouvirem os coros dos letos cantarem, embora nada entendes-
sem. Daí é que os imigrantes batistas letos começaram a compreender
que Deus os havia lançado naquelas fazendas para testemunharem de
Cristo. Alguns jovens aprenderam a língua portuguesa o suficiente para
poder comunicar aos brasileiros um pouco da mensagem do amor de
Cristo. A melhor comunicação contudo, foi através dos hinos em por-
tuguês, que foram providenciados com abundância e muito cantados. (70 )
Algumas professoras que faziam parte do grupo começaram a reunir as
crianças brasileiras e a ensinar-lhes as histórias bíblicas e alguns cori-
nhos. Uma dessas crianças, um menino de cor com 11 anos de idade,
chamado Lázaro Jorge de Camargo, órfão abandonado, foi adotado pelo
grupo de Dourado e depois levado a Varpa, quando o grupo retornou à

(67) Klavin, André, loc. cit., Augstroze, J., Op. cit.


(68) Klavin, André, loc. cit.
(69) Inkis, J., "Babas druvas" (Os Campos Brancos), Meera Wehsts (Mensagem da Paz),
periódico religioso leto editado em Palma. Ano VI, n9 2, 1930, p. 19.
(70) Vanaga, K., Op. cit., pp. 124 e 125.

250
Colônia, fazendo parte da comunidade de Palma. Em dezembro de 1927
o Dr. Ricardo J. Inke estava de visita a Varpa, quando aos 18 dias da-
quele mês tomou a profissão de fé em português feita por Lázaro Jorge
perante a Igreja Batista Leta de Varpa, sendo o primeiro brasileiro da-
quela igreja, e aos 26 do mesmo mês foi batizado nas águas do Rio do
Peixe, ocasião quando foi realizado o primeiro culto em língua portu-
guesa na Colônia Varpa, dirigido pelo saudoso Dr. Ricardo J. Inke. (71)
Mais tarde, em 5 de janeiro de 1931, Lázaro Jorge de Camargo despe-
diu-se da Igreja Batista Leta de Varpa, para, com a recomendação da
mesma, ingressar no Colégio Batista do Rio de Janeiro e preparar-se
para o ministério. ( 72 ) E hoje esse irmão faz parte do ministério batista
brasileiro no Estado da Guanabara. Fig. 67
Depois de uma permanência de um, dois e até três anos nas fazendas,
aqueles grupos de batistas letos voltaram a sua colônia para instalarem
a sua vida particular em seus próprios sítios. A esta altura a vida em
comum no acampamento já havia sido encerrada e as terras medidas e
sorteadas entre os interessados. Não sendo possível medir as terras de
tal maneira que todos tivessem acesso a córregos ou ribeirões, que eram
escassos, os lotes passaram a receber a classificação de udens zemes e
sausas zemes (terras com água e terras secas) , sendo os últimos os mais
numerosos. Mas, tendo em vista que alguns irmãos haviam doado ou
emprestado dinheiro para a aquisição das terras, a estes foi dado o privi-
légio de escolher o seu lote. Os demais, para evitar questões, receberam
os seus por sorteio.
Entretanto, nem todos voltaram das fazendas para a Colônia Varpa.
Receando as novas e inevitáveis dificuldades na mata virgem, vários ir-
mãos letos, com suas famílias, dirigiram-se para a Colônia Leta de Nova
Odessa, onde o nível econômico de vida era bem mais alto, o clima con-
sideravelmente melhor, as condições de trabalho mais suaves, havendo
boas oportunidades de arrendamento de terras férteis, que logo trariam
lucros. Alguns outros buscaram na cidade de São Paulo ocupações de
acordo com as suas habilidades profissionais. Vários jovens procuraram
oportunidades para estudar. Dentre estes, alguns tornaram-se obreiros
destacados na obra de evangelização.

12.2 — Saída das Moças de Varpa em Busca de Empregos na Cidade


de São Paulo
Outro expediente que foi encontrado para resolver a carência de re-
cursos na Colônia Varpa naqueles dias ainda primitivos foi a busca de
empregos na cidade de São Paulo para o sempre habilidoso elemento fe-
minino. Os letos que não foram trabalhar nas fazendas, encerrada a
vida em comum nos acampamentos e feita a medição e a partilha da
gleba, viram-se, de um momento para outro, sem recursos com que co-
meçar a pagar as prestações de suas propriedades e iniciar ali a nova

(71) Igreja Batista de Varpa, Ata de 18 de dezembro de 1927.


(72) Id., Ata, de 5 de janeiro de 1930.

251
vida, instalando seus sítios. O expediente que encontraram os que ti-
nham filhas na família foi empregá-las na cidade de São Paulo, embora
isto representasse um sério perigo para elas e uma grande apreensão
para os pais, os parentes e a igreja em geral. Foi recomendado pela li-
derança que os pais tivessem o cuidado de empregar somente as filhas
de maior idade e amadurecidas na fé.
Entre as primeiras jovens encontrava-se também uma viúva, mo-
dista de profissão, com sua filha quase adolescente. Depois de saberem
que algumas irmãs batistas letas recém-chegadas da Letônia haviam se
empregado com facilidade quando ainda se encontravam na Casa de
Imigração em São Paulo, partiram para a Capital. Após alguns dias de
permanência numa pensão modesta, a viúva alugou uma casa e trans-
formou-a numa oficina de costura e hospedaria para as moças que aguar-
davam o emprego. Pouco depois mudou-se para São Paulo um irmão,
que abriu uma agência de empregos. Graças às habilidades, honestidade,
pontualidade, dedicação, modo de ser e de servir das jovens letas batistas
como governantas, cozinheiras, arrumadeiras, enfermeiras particulares e
de consultórios médicos, a sua fama crescia célere, principalmente entre
as famílias da alta sociedade paulistana, que lhes ofereciam salários ele-
vados. (73)
Tal situação vantajosa motivou um afluxo crescente de moças de
Varpa para São Paulo, sendo que por volta de 1926 já havia na Capital
quase duas centenas delas. Seguiram-nas alguns pais, que, devido à ida-
de, já não tinham condições de cuidar de trabalhos agrícolas, empregan-
do-se, principalmente, como jardineiros e mordomos das famílias ricas
de São Paulo, que lá possuíam magníficas mansões. Também alguns mo-
ços demandaram à Capital do Estado em busca de empregos em diferen-
tes ramos de atividades, merecendo menção especial a então garbosa
Guarda Civil, corporação que selecionava os seus elementos dentro de pa-
drões físicos, morais e intelectuais rigorosos, admitindo somente jovens
de certa estatura para cima, sadios, esbeltos, fortes, de conduta ilibada
e de um certo preparo intelectual. (74 )
Foram aquelas moças e algumas senhoras sem filhos, como também
os poucos moços, assalariados, que, trabalhando e economizando, envia-
ram mensalmente — durante alguns anos — boas quantias de dinheiro
aos seus pais em Varpa, para ajudá-los a pagar as prestações das terras,
construir boas casas, adquirir gado leiteiro, animais de tração, carroças,
charretes etc., assim contribuindo com uma parcela considerável para o
desenvolvimento material e social da colônia. Também foi com aquela
juventude, de início somente constituída de moças, que surgiu um flo-
rescente trabalho batista leto na cidade de São Paulo, dando origem à
Igreja Batista Leta de São Paulo, que teve uma participação capital no

(73) Andermann, Carlos Rodolfo, Entrevista com o autor em 9 de janeiro de 1970, em


São José dos Campos. Também Vanaga, Carolina — Narrativa Manuscrita inédita sobre os
dias primitivos de Varpa, p. 6. Acha-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(74) Id., ibid.

252
início e desenvolvimento de uma vasta obra missionária na redondeza
próxima e distante de Varpa, (75) como veremos páginas adiante.
12.3 — Agricultura e Pecuária
Depois do sorteio de lotes, que eram cerca de 200, cada um dos imi-
grantes foi penetrando pelas picadas das linhas divisórias, para encon-
trar o seu. Começaram, então, as grandes derrubadas, geralmente feitas
em mutirões; as grandes queimas das matas derrubadas, que ofereciam es-
petáculos impressionantes, quando verdadeiros mares de fogo cobriam
vastas áreas da colônia e saturavam a atmosfera com a fumaça de tal
maneira que dias seguidos o povo andava com os olhos ardendo; os tra-
balhos de plantação das roças de milho, feijão, mandioca, arroz e algo-
dão; a formação de pastos e de pomares; a perfuração de poços, que iam,
em alguns casos, até 30 m de profundidade, até encontrar o veio d'água;
a abertura de estradas internas para o acesso aos sítios etc. Figs. 68 e 69.
Um dos setores rendosos a assinalar na vida dos sitiantes letos de
Varpa foi o sericícola — criação de bichos-da-seda — que proporcionava
até nove safras de casulos de seda por ano, dependendo da amplitude das
plantações de amoreiras, cuja folha é o alimento do bicho-da-seda. A
introdução de sericicultura em Varpa se deu através da Corporação Evan-
gélica Palma, que fez as primeiras experiências e proporcionou os pri-
meiros cursos, orientados pelo Vilis Lustins, o maior incentivador da
obra social na colônia. ( 76) Em 1928 surgiu a primeira associação de
classe, com o nome SOCIEDADE LETA DE AGRICULTURA "AMOREI-
RA", que em 1932 já contava com 180 sócios em Varpa e adjacências. ( 77)
Fig. 70
A par da agricultura e sericicultura, cresceu a pecuária. A princí-
pio era difícil encontrar gado leiteiro, pois as fazendas mais próximas
distavam 40 a 50 km. Também não havia recursos suficientes para ad-
quiri-lo. A Corporação Evangélica Palma havia trazido da Fazenda do
Dr. Carlos Botelho, em Dourado, as primeiras vacas e um reprodutor.
Poucos eram os imigrantes letos que podiam comprar uma ou duas va-
cas. O primeiro a adquirir o gado leiteiro entre os sitiantes de Varpa —
e que depois tornou-se o guia e intermediário para muitos outros adqui-
rirem vacas, bois, touros, cavalos — foi Eduardo Ronis. Ele fazia fre-
qüentemente a pé a longa distância de, aproximadamente, 45 km, até
Juliápolis, na direção norte, acompanhado de um ajudante ou do próprio
interessado, em busca do gado para os sitiantes letos de Varpa. Sur-
gindo também outros intermediários, dentro de poucos anos já quase não
havia sitiante leto em Varpa que não tivesse gado em seus pastos, prin-
cipalmente leiteiro, chegando, em alguns casos, a 30 cabeças. ( 78)

(75) Id., ibid.


(76) Progenitor da Prof' Vali Lustin, a primeira jovem de Varpa que fez o Curso Normal
em São Paulo, sendo por alguns anos professora pública e depois por muitos anos Diretora
do Grupo Escolar da Colônia.
(77) Alcides, "Zemkopibas biedribas 'Amoreira' nada sapulce". (Assembléia Anual da
Sociedade Agrícola ("Amoreira"), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 11. novembro
de 1932, p. 3.
(78) Klavin. André. loc. cif.

253
Desenvolvendo-se a pecuária rapidamente e não havendo mercado
interno e nem próximo para a grande produção de manteiga, que para os
sitiantes representava a melhor fonte de renda, em 1931 foi fundada a
COOPERATIVA DE LATICÍNIOS — "LATVIA" DE VARPA LTDA.,
com 30 sócios. Como técnico do laticínio foi convidado o Pastor Nikolau
Kwasche, que desde o seu tempo da Letônia conhecia o ramo e na oca-
sião estava trabalhando num estabelecimento especializado de leite in-
fantil na Freguezia do O, arredores de São Paulo, de propriedade do
Dr. Augusto de Macedo Costa, consultor Jurídico do Governo do Estado.
Persuadido pessoalmente pelo Pastor João Inkis e André Puspla-
tais, posteriormente diácono da Igreja Batista de São José dos Campos,
o Pastor Nikolau Kwasche deixou o lugar rendoso, para assumir a di-
reção técnica do laticínio recém-organizado em Varpa, ganhando apenas
um terço do salário que percebia em São Paulo. (79 ) Em 1965 a coope-
rativa foi reestruturada para servir numa esfera maior, denominando-se
COOPERATIVA AGRO-PECUÃRIA "LATVIA" DE VARPA LTDA., que
em 1968 reunia 190 proprietários agrícolas de Varpa, chegando a pro-
duzir até 90 kg diários de manteiga de primeira qualidade. (80 )
Aviltando-se os preços na área da sericicultura, a partir de 1935
os letos de Varpa desenvolveram rapidamente a criação de galinhas de
raça em bases racionais, observando-se a técnica moderna nesse ramo de
atividade agrícola. Dentro de 10 anos a colônia contava com uma pro-
dução mensal de 45.000 a 50.000 dúzias de ovos, cujo mercado de con-
sumo era a cidade de São Paulo, (81) carreando capital bem significativo
para a melhoria de vida dos imigrantes e para a obra missionária, que
necessitava de recursos.
Outras fontes de renda dignas de registro foram: apicultura, suino,
cultura, citricultura, cunicultura e fabricação de raspa de mandioca, ao
tempo em que esta, por força de lei, era adicionada à farinha de trigo.

12.4 — Indústria Madeireira


Uma boa fonte de renda, notadamente para a CORPORAÇÃO EVAN-
GÉLICA PALMA, foi a madeira serrada para a construção de casas.
Peroba, cedro e canelão havia em abundância em toda a região de Varpa
e arredores. Em Palma foi montada uma serraria logo nos primeiros
meses de sua existência, em 1924, que funcionava dia e noite, para for-
necer madeira serrada para São Paulo e depois para Bastos, grande
colônia japonesa cerca de 35 km de Varpa. Além da serraria de Palma
outras duas foram instaladas em Varpa. A primeira era a de Pedro
Veinbergs, que adquiriu todo o remanescente industrial da comunidade
inicial e prestou grande serviço de preparação de material para a cons-

(79) Kwasche, Nicolau, Carta dirigida ao autor em 14 de dezembro de 1969, a qual se


acha em nosso arquivo particular.
(80) Garancs, Arthur, Questionário respondido em 20 de novembro de 1968.
(81) Rekis, Karlis, "Putnkopiba" (Avicultura) Drauga Vests (Mensagem de Amigo).
Mensário religioso e patriótico leto redigido e editado por Karlis Purgailis em New York.
n° 53/54 de março e abril de 1946, p. 29.

254
trução das casas dos imigrantes. Mais tarde, Pedro Veinbergs passou a
indústria ao seu genro Jefim Balaniuk, (82) que continuou à frente da
mesma por alguns anos, transferindo-se depois para Mato Grosso. A
segunda serraria foi de iniciativa de João Brediks, que instalou depósi-
tos de madeira serrada em algumas cidades mais distantes de Varpa.
Na vizinha Colônia Letônia, Ernesto Grinberg e seu filho Verner Grin-
berg possuíam uma serraria de grande capacidade de produção, que in-
clusive adquiria madeira nas matas de Varpa, para industrializá-la. A
esta altura, menção honrosa merecem todos esses proprietários de ser-
rarias, que fizeram grandes contribuições em fornecimento gratuito de
madeira para a construção de vários templos na colônia e outros tantos
no amplo campo missionário em toda a redondeza de Varpa, bem como
para a edificação de escolas e do Hospital de Varpa. (83)

12.5 — Transporte
Grande parte do desenvolvimento econômico de Varpa pertence ao
transporte, que possibilitou a circulação da produção da Colônia. Após a
fixação dos imigrantes em seus lotes de terras e conseqüente cessação
da vida comunitária nos acampamentos, o transporte passou para mãos
de particulares. Dos três caminhões que inicialmente eram de proprie-
dade comum, um havia sido requisitado pelas forças revolucionárias de
1924, outro, cedido a Hari Ruks, primeiro superintendente dos trans-
portes da colônia, e o terceiro, vendido a Frederico Janaitis, um dos pri-
meiros comerciantes surgidos em Varpa. (84 ) Hari Ruks, ingressando
na Corporação Evangélica Palma, dedicou-se ao transporte de sua co-
munidade, o que absorvia totalmente o seu tempo e suas energias. O
seu ajudante, André Kruklis, deixando a comunidade de Palma, adquiriu
um caminhão e tornou-se o primeiro e o mais popular homem de trans-
porte regular, diário, entre a Colônia Varpa e a Estação de Sapezal. (85)
Mais tarde, aumentando o movimento de passageiros — colonos que iam
a São Paulo a negócio ou em busca de saúde — foi o primeiro a possuir
um táxi, com que também, passou a servir em todos os casamentos cia
colônia, para conduzir os noivos ao templo da igreja. Voltando ao trans-
porte misto de carga e passageiros, em 1932 veio a falecer tragicamente,
colhido o seu veículo na passagem de linha férrea em Sapezal. André Kru-
klis foi também um grande amigo da obra missionária, não cessando de
oferecer aos domingos, gratuitamente, o seu transporte para levar as equi-
pes de evangelização aos pontos mais distantes fora da Colônia Varpa.
Figs. 71 e 72

(82) Pai dos conhecidos e atuantes jovens batistas em Mato Grosso, Dr. David Balaniuk,
advogado, vereador e presidente da Câmara Municipal de Campo Grande por várias legis-
laturas; Dr. Félix Balaniuk, advogado e líder da mocidade batista brasileira; e Williams
Balaniuk, pastor batista e por vários anos Secretário Executivo do campo batista mato-
-grossense.
(83) Klavin, André, loc. cit.
(84) Gertner, Arnaldo, loc. cit.
(85) Pai do Pastor Alfon Kruklis. obreiro muito conhecido nos Estados de Santa Catarina
é Minas Gerais e no Distrito Federal.

255
Com o crescimento e desenvolvimento da economia de Varpa, e a
abertura de outra estrada para a Estação de Quatá, na Estrada de Ferro
Sorocabana, e a aproximação da Estrada de Ferro Paulista — primeira-
mente chegando a ponta de trilhos até Marina, depois até Pompéia e fi-
nalmente até Tupã multiplicaram-se os transportes. Entre os mais
conhecidos e mais regulares estava o caminhão do negociante Roberto
Rudzits, sempre dirigido pelo seu dinâmico filho Edgar Rudzits, que,
sendo um adolescente de calças curtas quando começou a dirigir o cami-
nhão, revelou-se um hábil motorista, prestativo e pontual, a despeito do
mau estado das estradas, sendo também o responsável pelo correio da
colônia. Foi outro amigo do trabalho missionário, dando freqüentemente
a sua cooperação gratuita no transporte de grupos de obreiros.
Com a aproximação da Estrada de Ferro Paulista — a Alta Paulista
— a Colônia Varpa foi desmembrada do Município de Campos Novos,
passando a pertencer, sucessivamente, aos municípios de Marília, Pom-
peia e, finalmente, ao de Tupã, cujas autoridades passaram a abrir e
conservar as estradas para Varpa, elevando esta à categoria de Distrito,
dando, assim, um novo impulso ao desenvolvimento econômico daquela
colônia Teta. (86)
Um outro transporte, que serviu por um prazo relativamente curto
à circulação da riqueza e à extensão do trabalho missionário, foi o flu-
vial, mantido pela lancha CERIBA (Esperança), (87) de propriedade de
Palma, e que foi construída especialmente para transportar madeira 35 km
Rio do Peixe abaixo, de onde os caminhões da Colônia Japonesa de Bas-
tos a transportavam até o seu destino. Quase que dominicalmente, a
mesma lancha servia ao trabalho missionário, distribuindo grupos de
obreiros — pregadores, professores de alfabetização e cantores — pelos
"portos" mais próximos dos locais das congregações. Fig. 73

12.6 — Centro Comercial de Varpa


Logo após o sorteio dos lotes pelos imigrantes batistas letos de
Varpa, desenvolveu-se um centro comercial na encruzilhada das duas es-
tradas principais da colônia, onde os três principais proprietários —
Roberto Rudzits, Gustavo Narkevit e Frederico Janaitis — tinham o
ponto de confluência de seus lotes, o qual ficava a pouco mais de 1.000 m
do segundo acampamento (Stirna), local do templo provisório da igreja
e da área escolhida para a construção do templo definitivo, que veio a ser
edificado e inaugurado em 1931. Esses irmãos construíram as suas resi-
dências provisórias de madeira e depois as definitivas, de alvenaria, am-
plas e belas, uma delas até com dois andares, tendo à frente, lojas para
os seus estabelecimentos comerciais (de "secos e molhados"). O Sr.
Gustavo Narkevitz evitou negociar com "secos e molhados", instalando
em sua casa uma farmácia, com ambulatório, uma loja de fazendas e uma
papelaria e livraria, tornando-se, assim, o primeiro fornecedor de Bíblias
em várias línguas para o povo daquela redondeza, do nosso Cantor Cristão

(86) Garancs. Arthur, Op. cie.


(87) A referida lancha era movida a motor de caminhão adaptado pelos técnicos de Palma.

256
e de alguns outros livros da Casa Publicadora Batista do Rio de Janeiro
e de livros publicados na Letônia. Figs. 74 e 75
Dentro em pouco, as três propriedades estavam retalhadas em pe-
quenos lotes urbanos, abertas mais três ruas convergentes para a encru-
zilhada das estradas, surgindo açougue, padaria, barbearia, alfaiataria,
ferraria, marcenaria, selaria, oficina mecânica, pensão, estúdio fotográ-
fico, Cartório de Paz e Tabelionato, serviço de correio, gabinete dentário
etc. Alguns anos depois já havia também um consultório médico e até
um pequeno hospital, que as igrejas de Varpa construíram e inaugura-
ram em 1939.
Aos domingos todos os estabelecimentos comerciais permaneciam
fechados. Fumo e bebidas alcoólicas não se vendiam, pois, tratando-se
de uma colônia de crentes, não se admitia qualquer violação de princípios
bíblicos na vida social da mesma. Daí o voto da igreja, proibindo a com-
pra e venda de álcool na colônia — a não ser para fins medicinais na
farmácia, assim mesmo em quantidades pequenas — e a recomendação
expressa a todos os irmãos para não venderem imóveis a incrédulos.
Contudo, se alguém vendesse, então deveria introduzir na escritura pú-
blica cláusulas que proibissem a construção de bares, cinemas ou outros
centros de diversão mundana. (88)
Infelizmente, o ideal de uma sociedade perfeita à base de proibi-
ções foi impossível de ser mantido por muito tempo. Ademais, o próprio
Tabelião recusou-se a incluir nas escrituras de compra e venda de imó-
veis — por impertinentes e ilegais — quaisquer cláusulas restritivas ao
livre uso das propriedades pelos seus legítimos proprietários. Alguém,
premido pela necessidade, foi o primeiro a vender um lote de sua proprie-
dade nas proximidades do Centro de Varpa a um cidadão brasileiro,
católico, que, achando por bem atender às "necessidades prementes" dos
seus patrícios, abriu o primeiro bar, que reunia, especialmente aos do-
mingos, muitos dos elementos nacionais empregados nos sítios dos letos
e em outras atividades, bem como os caboclos residentes nas vizinhanças
da colônia. Mais tarde, herdeiros incrédulos de um dos negociantes ven-
deram uma parte do seu imóvel a um outro brasileiro, onde foi construído
mais um bar e um bilhar. Dentro de mais algum tempo surgiu também
um campo de futebol e uma capela católica. E com o fim da tranqüi-
lidade dominical no Centro de Varpa o Governo estadual instalou uma
Subdelegacia de Polícia e uma cadeia. Tal mudança na feição do Cen-
tro de Varpa, hoje chamado Vila Varpa, foi motivo de repetidas lamen-
tações, em que transparece a nota de uma certa frustração, (89) pois
esperava-se, aparentemente, que o testemunho e a influência religiosa
de Varpa deveriam ser tão poderosos que jamais houvesse necessidade
de uma cadeia naquele lugar. E diga-se de passagem que, pela graça
de Deus, raríssimos foram os ocupantes daquela prisão, e a Colônia
Varpa continuou, como continua até hoje, a dar o testemunho do poder
do evangelho, mesmo que alguns de seus filhos eventualmente tenham
(88) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas de 10 de março de 1929 e de 28 de abril de 1929.
(89) Eichmann, Arvido, "Iecelotaju draudzes jubilejas preludija" (Prelúdio do Jubileu da
Igreja Imigrante), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 3, março de 1963, p. 4.

257
falhado. Lá estão os templos da Primeira Igreja Batista de Varpa, da
Igreja Batista Russa de Varpa, da Igreja Batista Brasileira de Varpa,
da Assembléia de Deus em Varpa e da Cruzada de Evangelização em
Varpa — estes cinco, no Centro de Varpa, e mais os da Igreja Batista
de Palma e da Igreja Batista de Pitangueiras, nos respectivos bairros
— o primeiro no extremo oriental e o segundo no extremo ocidental da
colônia. Fig. 76
Merecem menção, também, as duas necrópoles de Varpa. A pri-
meira, denominada "Cemitério dos Pioneiros", nas proximidades do Cen-
tro de Varpa e do local do segundo acampamento — "Acampamento de
Stirna" — onde se encontra presentemente o templo da Igreja Batista
Leta de Varpa, sempre foi alvo de cuidados coletivos da colônia. Ali
jazem os restos mortais dos que não viram a prosperidade daquele em-
preendimento de fé — a Colônia Varpa — e o desenvolvimento da obra
missionária que ele projetou na história, guardadas as devidas propor-
ções, porque foram vitimados pelas dificuldades insuperáveis dos pri-
meiros anos de existência da colônia isolada na mata virgem. Essa ne-
crópole foi administrada pela própria colônia por meio de uma "Comis-
são do Cemitério", formando-se mutirões, periodicamente, para a sua
conservação, levantando-se ofertas para as despesas de seu cerco e subs-
tituição das cruzes e placas, etc., e realizando-se cultos memoriais em seu
sítio por ocasião da passagem do "Dia da Colônia", que é o dia 1° de
novembro. Fig. 77
A segunda necrópole, conhecida como "O Cemitério Novo", foi ins-
talada ao lado do Centro de Varpa, hoje incluída na área da Vila Varpa,
em terreno doado por Teodoro Platais, que logo passou à administração
municipal, embora os letos da colônia Varpa tenham feito, inicialmente,
todos os serviços, como muros etc.
12.7 — Educação
Devido à extensão da área da Colônia Varpa, com seus 200 sítios
particulares e a Corporação Evangélica Palma — que é de quase 49 km2
— a Igreja Batista Leta de Varpa criou três escolas para a instrução
das crianças da colônia. Uma funcionava no templo provisório da igreja
(depois numa das salas anexas do novo templo) no acampamento de
Stirna, também chamada Escola do Centro, pela sua proximidade do
Centro de Varpa; outra, em instalações especialmente preparadas para
esse fim em Palma, extremo oriental de Varpa; e a terceira, em prédio
construído no extremo ocidental da colônia, no bairro de Pitangueiras.
Durante 10 anos a igreja, com a colaboração dos pais, cuidava da ins-
trução primária na colônia, sem qualquer auxílio dos poderes públicos.
Só em 1933 é que estes, através da Delegacia de Ensino de Marília, no-
mearam três professoras públicas brasileiras para Varpa, reconhecendo
as três escolas como escolas públicas com curso de três anos. (90 ) Fig. 78
Porém os imigrantes desejavam para seus filhos instrução mais am-
pla. Movimentaram-se, então, para conseguir um Grupo Escolar para

(90) Valija, "Par Varpas Skolu" (Sobre a Escola de Varpa), Drauga Vests (Mensagem de
Amigo), n° 53/54, março/abril de 1946, p. 27.

258
Varpa. Nova Comissão Escolar foi eleita pelos batistas letos da colônia,
com Gustavo Narkevitz à frente. Diplomata, dinâmico e persistente,
este removeu todos os obstáculos criados pelas autoridades. Por lista
de abaixo-assinados conseguiu provar que havia na Colônia Varpa mais
de 200 crianças entre 8 a 12 anos, como rezava a exigência; e para neu-
tralizar a alegação oficial de falta de recursos para a aquisição de uma
propriedade, doou ao Estado um amplo terreno no Centro de Varpa, ao
lado de sua residência e seu estabelecimento comercial, levando o povo
de Varpa a construir um prédio de acordo com os requisitos necessários
e entregá-lo ao Governo para o uso público. Nesta campanha Gustavo
Narkevitz contou com a colaboração desprendida do construtor João
Brediks, grande amigo da causa pública em Varpa e diácono da igreja
local. Na solenidade de lançamento da pedra fundamental do prédio do
Grupo Escolar de Varpa, que ocorreu no dia 24 de junho de 1940, com-
pareceram autoridades várias e representantes da imprensa e do ensino
do Município de Pompéia — ao qual pertencia o Distrito de Varpa —
enaltecendo a iniciativa do povo leto. Foi quando o representante do
Prefeito, em seu discurso, declarou que aquele era o primeiro Grupo
Escolar no Estado de São Paulo a ser construído inteiramente por ini-
ciativa particular. (91) Fig. 79
Em 1942 o Grupo Escolar de Varpa foi inaugurado com outra gran-
de solenidade, aumentando de ano para ano — no decorrer desses últi-
mos trinta anos — o atendimento na administração do ensino primário
à população infantil da colônia e adjacências. Era um espetáculo inspi-
rador ver as crianças chegando — a pé, a cavalo, de charretes — de
todas as direções, de perto e de longe, irrequietas e alegres, brancas, ne-
gras, bronzeadas e amarelas, de famílias letas, russas, alemães, brasilei-
ras e japonesas, todas irmanadas sob a bandeira do Brasil, cantando
com entusiasmo o Hino Nacional Brasileiro e aprendendo a amar, a ser-
vir, e a enaltecer a Pátria brasileira, para cujo crescimento e desenvol-
vimento estavam se preparando. (92 ) Menção especial merece a atuação
dinâmica, prática e abnegada da Profa. Lídia Lustin, que por muitos
anos foi Diretora do Grupo Escolar de Varpa, sendo a primeira jovem da
colônia a concluir o Curso Normal oficial em São Paulo, como dito atrás.
Hoje a referida instituição é denominada GRUPO ESCOLAR "João Bre-
diks", em homenagem a seu construtor e benemérito da instrução pú-
blica, falecido em 1965. Figs. 80 e 81
Estava em cogitações de dois ilustres educadores letos do Brasil —
Ricardo J. Inke e Guilherme Butler — fundar em Varpa, por volta de
1926, uma instituição de ensino com dois cursos — ginasial e teológico
— pois que grandes eram as perspectivas educacionais no local e enor-
mes as distâncias até os centros maiores onde a educação secundária e a
teológica pudessem ser encontradas. O Dr. Ricardo J. Inke, na sua pri-
meira visita a Varpa em 1926, chegou a escolher o local para a referida
instituição, que foi a parte mais alta dos terrenos de Palma, exatamente

(91) "Em prol da instrução primária de Varpa", Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 6.
junho de 1940, pp. 15 e 16.
(92) Valija, Op. cit., p. 27.

259
onde está situado hoje o Acampamento Batista de Palma. Quando, em
1932, o Dr. Guilherme Butler visitou a Colônia e o ilustre educador dei-
xou transparecer que estava cogitando da possibilidade de sua transfe-
rência para Varpa, reacenderam-se as esperanças dos líderes de ver ali
instalada uma escola de nível médio com um curso teológico anexo para
a preparação de obreiros no próprio campo missionário. (93) Tais espe-
ranças, porém, não chegaram a concretizar-se na época, por razões pes-
soais dos dois educadores, senão em parte, quando da fundação da Escola
de Missões em Palma, três anos depois, como veremos adiante.

12.8 -- Saúde
No setor da saúde, nenhuma assistência oficial foi recebida pela
colônia. Quando os doentes apresentavam sintomas mais complexos,
eram levados a São Paulo, onde o Pastor Carlos Rodolfo Andermann —
que dava assistência espiritual aos batistas letos da Capital — os enca-
minhava aos consultórios médicos ou aos hospitais, onde a sua cortesia e
simpatia sempre encontravam portas abertas para o atendimento dos
batistas letos do interior.
Em 1929 emigrou de Riga, Letônia, a médica-cirurgiã leta, luterana,
Dra. Margô Anderson. Veio com seu curso de medicina completo, mas,
para exercer a profissão no Brasil, teve que revalidá-lo na Escola de
Medicina de Salvador, Bahia, onde permaneceu o tempo necessário exi-
gido por lei. Voltando a Varpa, começou a clinicar com muita eficiência.
A sua fama de médica extraordinária estendeu-se muito além das fron-
teiras de Varpa. A princípio instalou o consultório em sua residência.
Procurada por doentes de longas distâncias, dos quais muitos necessi-
tando de intervenções cirúrgicas ou de tratamento especial e intensivo,
teve que ampliar a sua casa e improvisar uma sala de operações e uma
pequena enfermaria. Entretanto, as improvisações logo revelaram-se in-
suficientes e inadequadas, indicando a necessidade de um hospital na
colônia. A idéia lançada pela ilustre médica encontrou clima favorável
em todas as camadas — povo, pastores, líderes leigos, colônias vizinhas
e até no Consulado da Letônia em São Paulo. Teodoro Dambergs, um
dos moradores do Centro de Varpa, doou um terreno bastante amplo
para a construção do hospital. Em maio de 1936 a Igreja Batista Central
de Varpa (que é a mesma Igreja Leta de Varpa, por algum tempo co-
nhecida também como a Primeira Igreja Batista Leta de Varpa) resol-
veu patrocinar a campanha de construção de um hospital modesto, con-
vidando as demais igrejas da colônia — que já eram cinco àquela altura
— e a Igreja Batista Leta de São Paulo a participar. (94 ) A obra foi
orçada em 25:000$000. A Comissão do Hospital, composta de 7 mem-
bros indicados pelas igrejas batistas de Varpa, presidida pelo Pastor
Carlos Kraul — então pastor da Igreja Batista Central de Varpa —
desenvolveu uma ação ampla e eficiente. Os recursos foram surgindo e

(93) Klavin, André, loc. cit. Também Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), rf 7, julho de
1932, 1' contracapa, Redatorial.
(94) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas de 28 de junho de 1936 e 24 de abril de 1937.

260
se avolumando, e a 19 de novembro de 1939, exatamente 17 anos depois
de fundada a colônia, foi inaugurado o Hospital de Varpa, ( 95) com 12
leitos, consultório, sala de curativos, farmácia, sala de operações com
-uma autoclave a querosene e o instrumental cirúrgico completo, que a
médica já havia trazido da Letônia.
A fama da médica crescia e a procura do hospital foi aumentando.
Pessoas vindas de perto e de longe, inclusive dos Estados do Paraná e
Mato Grosso, eram atendidas, sem distinção de credo, raça, cor ou con-
dição social, recebendo todos o tratamento dentro das possibilidades e
recursos técnicos do hospital. A administração do nosocômio estava in-
teiramente com a médica, enquanto a propriedade ficou registrada em
nome da Igreja Batista Central de Varpa. A par dos serviços prestados
em termos de saúde à população de uma imensa área geográfica, o hos-
pital estendeu também a sua influência evangélica como instituição de
uma colônia de batistas com assistência espiritual prestada aos doentes
pelos pastores das igrejas, entre os quais se destacou o Pastor Carlos
Kraul.
Com o desenvolvimento geral da região da Alta Paulista e conse-
qüente surgimento de várias cidades com seus hospitais — especialmente
a cidade de Tupã, apenas a 18 km de Varpa — foi diminuindo a procura
do Hospital de Varpa. A médica, cansada de 18 anos de atividades in-
tensas em Varpa, também já não se sentia em condições de ficar à frente
do hospital, mudando-se para Tupã em 1947. Por mais dois anos aquela
casa de saúde foi dirigida pelo Dr. Eduardo Ligers, jovem médico for-
mado no Rio de Janeiro e que já por algum tempo estava clinicando em
Varpa, imigrado em 1923, juntamente com seus pais e seu irmão mais
velho Carlos Ligers — que se formou em odontologia — tendo perten-
cido à comunidade de Palma, onde seu pai foi um dos líderes e depois
um dos fundadores da Misión Evangélica Bautista Leta na Bolívia. (96 )
Finalmente, em 1949, o Hospital de Varpa cerrou as suas portas, tendo
cumprido durante dez anos a sua missão pioneira numa zona desprovida
de recursos médico-hospitalares.

12.9 — Assistência Social


No que diz respeito à assistência à velhice desamparada, a Igreja
Batista Leta de Varpa construiu, no terreno de sua propriedade, ao lado
do templo, o que denominou "Nespejnieku Maja" (Casa dos Inválidos),
para recolher aquelas pessoas idosas, de ambos os sexos, que não tives-
sem parentes que lhes pudessem dispensar cuidados. A manutenção da
casa era feita principalmente através de ofertas em espécie dadas pelos
crentes de Varpa — gêneros alimentícios, roupas, calçados — e coletas
mensais para atendimento de tratamento de saúde, como visitas médicas
e medicamentos, despesas funerárias e outras.

(95) Eichmann, Arvido, "No Varpas Kolonijas" (Da Colônia Varpa), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n9 11, novembro de 1938, p. 176.
(96) Klavin. André, loc. cit.

261
Quanto aos cuidados com os órfãos, nos casos raros ocorridos, os
apelos às famílias sem filhos ou outras têm alcançado resposta imediata,
de modo a não necessitar de outra providência.
Os Batistas letos de Varpa participaram também, em larga escala,
na assistência aos refugiados letos e russos da I Guerra Mundial em vá-
rios países europeus, e aos letos da II Guerra Mundial na Alemanha,
bem como no Brasil, aos que aqui procuraram abrigo.

12.10 — Energia Elétrica


Na Comunidade de Palma, logo nos primeiros anos de sua existência,
foi instalada luz elétrica para seu uso particular, pois que a queda d'á-
gua em seus terrenos não possuía potencial para fornecer luz e energia
para a colônia. Por muitos anos tentou-se interessar as autoridades
municipais e a estadual no fornecimento de energia elétrica para o Dis-
trito de Varpa, mas as repetidas crises políticas e financeiras, bem como
a falta de uma representação dinâmica e atuante da colônia na área
administrativa do município, neutralizaram as tentativas. A iniciativa
particular de um irmão, Alberto Lasmanis, que instalou uma pequena
usina elétrica represando as águas de um riacho próximo do Centro de
Varpa, mal atendia ao consumo de sua residência, sua oficina, ao tem-
plo e casa pastoral da Igreja Batista Central de Varpa, que se achavam
nas proximidades, e de mais alguns poucos vizinhos. A ausência de
quedas d'água de algum potencial dentro da área da colônia não permi-
tiu empreendimento de maior vulto no setor de produção de energia
elétrica. Finalmente, em 1970, pelo empenho especial da autoridade mu-
nicipal de Tupã, cujo prefeito era um crente metodista, chegou a Varpa
a linha de fornecimento de energia elétrica, estendendo os seus benefí-
cios não só à Vila Varpa mas também a muitas propriedades rurais da
colônia e ao Acampamento Batista "Palma", para cujo consumo a usina
da Corporação Evangélica Palma já não é suficiente. Fig. 82

13. Uma Colônia Leta Satélite — LETÔNIA


Em 1924, depois da chegada da maioria dos imigrantes batistas le-
tos que se destinavam a Varpa, Júlio Malves, que já havia adquirido
terras no Município de Quatá, limítrofes a Varpa — e que inicialmente
havia destinado à fundação dessa colônia — começou a colonizá-las.
( 97) Medidos e demarcados os lotes, alguns letos de Varpa e outros que
vinham chegando das fazendas ou da Letônia e já não encontravam ter-
ras em Varpa, fixaram-se na nova colônia, à qual o seu fundador deu
o nome de Colônia Letônia. Foi a décima sétima colônia leta fundada
no Brasil. Dez anos depois, já havia nesta colônia cerca de 200 letos e
outro tanto de russos, búlgaros e alemães, duas casas de negócio per-
tencentes a letos, com uma estrada de rodagem construída pelos letos
de Varpa ligando as duas colônias à cidade de Quatá, sede do município.

(97) Zvirgsdins, K., "Latviesu muiza teiksmainâ Gaibas ezera krastâ" (Uma fazenda leta
à margem do bucólico lago de Gaiba), Laiks (Tempo), periódico leto editado em Buenos
Aires, Argentina, 7 de março de 1964, p. 6.

262
A esta altura já havia também uma forte congregação batista leta —
com Coro, Escola Bíblica Dominical e União de Mocidade — uma con-
gregação batista hispano-russa e outra alemã, todas pertencentes à Igre-
ja Batista Leta de Varpa, sendo fruto do trabalho missionário desta,
especialmente dos irmãos de Palma. Em 1930, Júlio Malves doou à Igre-
ja de Varpa um alqueire de terra, próximo do centro da colônia, onde
foi construído um bom templo de madeira. Em 1939 Júlio Malves trans-
feriu-se para o Estado de Mato Grosso, junto do lago Galha, na fron-
teira com a Bolívia, localidade à qual deu o nome de Rumo-a-Oeste. ( 98)
Neste ponto menção honrosa deve ser feita à cooperação que a
família Malves prestou ao trabalho missionário na Colônia Letônia e
arredores, hospedando os missionários, os professores das classes de al-
fabetização e os grupos corais, freqüentemente chegando a duas dezenas
de pessoas, para facilitar-lhes o trabalho e ensejar maior rendimento no
que diz respeito ao tempo e aplicação de meios e recursos na obra mis-
sionária. (99 ) Fig. 83
Com o êxodo quase total dos batistas alemães e letos da Colônia
Letônia, entre 1945 e 1950, e a transferência da sede da Igreja Batista
de Bandeiras — fruto do trabalho missionário dos letos de Varpa —
para o centro da colônia que a esta altura já era conhecido pelo nome
de Campinho, os batistas remanescentes da Colônia Letônia passaram a
cooperar com aquela igreja. Conseqüentemente, a propriedade doada
por Júlio Malves à Igreja Batista Leta de Varpa para uma futura igreja
batista da Colônia Letônia não tinha mais razão de ser, sendo vendida
em 1956 e o preço da venda entregue ao desenvolvimento do trabalho
missionário dos batistas letos em Rincón del Tigre, Bolívia. (100)

14. Declínio Sócio-econômico

Nas duas décadas de 50 a 60 a vida econômica de Varpa apresentou


um declínio sensível. Deve-se tal situação a vários fatores, tais como:
enfraquecimento gradativo das terras; êxodo da geração jovem em bus-
ca de instrução e de atividades mais consentâneas com os seus pendores
e mais lucrativas; e o êxodo de famílias inteiras, para tentar melhores
condições de vida, ou de pais, para ficarem sob os cuidados dos filhos,
que já conquistaram uma situação econômica melhor. Várias proprie-
dades vendidas aos vizinhos letos ou outros estrangeiros e brasileiros
adentrantes foram transformadas em pastos, com prédios, pomares, hor-
tas e jardins devastados. Conforme cálculos dignos de crédito, ao com-
pletar a Colônia Varpa 43 anos de existência, cerca de um terço dos
letos que inicialmente se fixaram na colônia haviam emigrado para as
cidades de São Paulo, Assis, Tupã, Americana, São José dos Campos e
outras no Estado de São Paulo; para Curitiba, Londrina e Renascença

(98) Malves, J.. Questionário de pesquisa.


(99) Gertner, Arnaldo. Entrevista em 10 de junho de 1972, Rio de Janeiro.
(100) Igreja Batista Leta de Varpa. Atas. Ata de 18 de dezembro de 1955, Livro III,
p. 120.

263
no Estado do Paraná; para Rio de Janeiro, Guanabara; para Urubici no
Estado de Santa Catarina; e para algumas das colônias letas mais an-
tigas, como as de Ijuí e Nova Odessa. (101)
Entretanto, ultimamente a avicultura e a sericicultura têm recru-
descido em Varpa, levantando aos poucos a sua economia, que, somada à
presença da energia elétrica, à mecanização do trabalho agrícola, à adu-
bação da terra, e construção de estradas pavimentadas muito próximas,
oferecem esperança para uma fixação maior do elemento leto na colônia.

15. Administração Pública em Varpa


A partir de 1934 a Colônia Varpa passou a contar com os seguintes
representantes da administração pública, nomeados pelas autoridades es-
taduais: Sr. Luiz Teixeira Leite (brasileiro) — Escrivão de Paz e Ta-
belião; Sr. Gustavo Narkevitz (leto), Juiz de Paz; Sr. Valdemar Kar-
klin (brasileiro, filho de letos de Santa Catarina) — Inspetor de quar-
teirão; Arthur Garancs (leto) — Agente Municipal. ( 102 ) Tais serviços
públicos em Varpa, depois de 12 anos de existência da colônia, represen-
tavam progresso e mais facilidade na solução de problemas da área ofi-
cial, que antes demandavam longas viagens à sede do Município ou da
Comarca. Assim, os letos de Varpa tiveram uma administração oficial
exercida quase que totalmente pelos seus próprios elementos. Entretan-
to, algum tempo depois veio a supressão de quase todos esses serviços.
Terminando este capítulo não estamos encerrando a narrativa da
história de Varpa, por isso que no decorrer da presente dissertação vol-
taremos aos seus aspectos religiosos, dado o seu escopo essencialmente
religioso.

(101) Cf. Garancs, Arthur, Entrevista dada em 1966 ao Prof. Fernando Fonseca Salgado,
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente, Estado de São Paulo.
Acha-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
GB.
(102) "Varpas iedzivotajiem par zinu" (Aviso aos Habitantes de Varpa), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n° 4. abril de 1934, contracapa.

264
CAPITULO VII
O SURGIMENTO DA COMUNIDADE SOCIO-RELIGIOSA DE PALMA

1. Origens e Fundamentos Doutrinários


2. Desenvolvimento Econômico de Palma

3. A Vida Religiosa de Palma


3.1 — Atividades missionárias
3.2 — Imprensa Religiosa
3.3 — A Igreja Batista de Palma
CAPITULO VII
O SURGIMENTO DA COMUNIDADE SÓCIO-RELIGIOSA DE PALMA

Palma é o bairro oriental de Varpa, também conhecida como Fazenda


Palma, ou seja, a propriedade da CORPORAÇÃO EVANGÉLICA PAL-
MA, que ocupa uma área de 290 alqueires, tendo seu núcleo habitacional
e industrial, composto de 66 construções, (1) instalado à margem direita
do ribeirão Aldeia Grande, mais conhecido pelo nome de Picadão das
Araras, ou simplesmente Picadão.

1. Origens e Fundamentos Doutrinários


Aproximando-se o fim da vida em comunidade nos acampamentos e
o início da partilha das terras pelos imigrantes da Colônia Varpa, verifi-
cou-se que entre eles havia um número razoável de pessoas que não
tinham condições de formar os seus próprios sítios na mata virgem —
eram moços e moças solteiros, muitos deles já em idade madura, viúvas
com filhos pequenos, viúvos de idade avançada, casais sem filhos e ou-
tros. Em uma das Assembléias da colônia, em 1923, o Pastor João Inkis
expôs o assunto e apresentou a sugestão de que se formassem quatro
fazendas coletivas ou comunidades de 50 pessoas, às quais se destinaria
50 alqueires de terra para cada uma, localizadas nos quatro pontos car-
deais da colônia. Na mesma oportunidade, o Pastor Nicolau Kwasche
apoiou a idéia, discutiu-a amplamente e movimentou a organização do
primeiro grupo, no qual apresentaram-se também algumas famílias com
filhos já moços, idealistas, e que estavam dispostos a cooperar com os
solteiros e as viúvas na luta pela sobrevivência. Em pouco tempo, com
a ajuda de Júlio Malves, estavam preparados estatutos, de 56 artigos,
dentro das normas legais vigentes no país para as cooperativas. Ato
contínuo, formaram-se os outros três grupos sob a liderança dos irmãos
João Pupols, Jacó Ligers e Ernesto Dundurs. O primeiro grupo, reunido
sob a direção do Pastor Nicolau Kwasche, que passou a ser o seu chefe,
escolheu o nome Emaus Kopsaimnieciba (Fazenda Coletiva "Emaás").
Poucas semanas depois, 25 irmãos daquele grupo partiram para a fazen-

(1) CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, "Inventário de Palma'', Arquivos da Junta


Executiva, 1965, Rio de Janeiro.

267
da do Dr. Carlos Botelho, em Dourado, seguindo depois os três grupos
cooperativistas restantes, para ganhar os recursos com que pagar as ter-
ras das respectivas cooperativas que iriam ocupar e instalar as suas se-
des. (2)
Em fins de 1923, porém, o plano e a idéia das comunidades foram,
modificados pela iniciativa do Pastor Otto Vebers — a esta altura pastor
da igreja de Varpa — que achou ser inconvenientes comunidades pe-
quenas em bases de mera preocupação com a subsistência material, ad-
vogando a união destas em uma única comunidade, de número ilimitada
de membros, e semelhante à igreja cristã primitiva em Jerusalém, con-
forme Atos 2:42 e 4:32-35, com vistas ao ideal de alcançar e preservar a
unidade apostólica em que "da multidão dos que creram era um o cora-
ção e a alma." (3)
Uma vez aceita a modificação, foi esta comunicada aos irmãos em.
Dourado, com a explicação de que a resolução fora tomada pela liderança
com pleno acordo dos irmãos dos quatro grupos cooperativistas que se
achavam na colônia e que a nova e única comunidade não mais teria por
base um estatuto de natureza temporal, porém iria seguir o exemplo da
igreja apostólica em Jerusalém. À vista desta modificação alguns dos
agregados desistiram de fazer parte duma comunidade única. (4)
Por outro lado, porém, muitos outros passaram a apoiar o novo pla-
no e a nova base doutrinária, julgando ser a melhor maneira de consagra-
rem suas vidas a Deus. Assim, juntos numa só comunidade, trabalhariam
cada um fielmente no seu setor, comendo todos a mesma comida à mesma
mesa, tendo seus cultos diários à noite para o refrigério de suas almas.
Viveriam todos em amor e para o bem comum, servindo ao Senhor da
maneira como Ele mesmo o revelasse no decorrer do tempo até a sua
segunda vinda, não tendo preocupações com os problemas materiais. En-
tenderam que assim corresponderiam melhor ao chamamento divino que
cada um sentiu no seu íntimo quando deixou a sua pátria e imigrou no
Brasil. Especialmente a idéia da proximidade da segunda vinda de Cristo
levou alguns a buscar o modo de vida dos primitivos cristãos em Jeru-
salém, quando ninguém considerava nada como seu próprio, para que
todos tivessem o necessário para a sua manutenção e ninguém padecesse
carência alguma. (5)
Alguns membros da Igreja de Varpa, tanto leigos como pastores,
porém, temendo que esta idéia, que lhes parecia extremada, eventualmente
pudesse evoluir para a formação de uma nova seita, levaram o caso da
organização da grande comunidade ao Conselho da Igreja de Varpa e
depois a uma sessão plenária, a fim de serem sabatinados os líderes que
haviam orientado a formação de tal entidade e solicitar, ao mesmo tem-
(2) Kwasche, Nicolau, Questionário de Pesquisa, datado em 14 de dezembro de 1969, Varpa,
Estado de São Paulo.
(3) Eichmann, Arvido, Questionário de Pesquisa, firmado em Rincón del Tigre, Bolívia, em
10 de maio de 1964, arquivado no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(4) Kwasche, Nicolau, loc. cit.
(5) Augstroze, João, Correspondência firmada em Campinas aos 21 de dezembro de 1968.
a qual se acha nos arquivos do autor.

268
po, um pronunciamento oficial da referida igreja. Estando próxima uma
conferência geral de três dias, de 11 a 13 de maio de 1924, para serem
discutidos temas oriundos de uma controvérsia que havia suscitado uma
crise interna e que exigiam definições, foi incluído na agenda da mesma
também o assunto referente à comunidade em tela.
Chegados os dias da conferência, travaram-se discussões sobre o
assunto. Diversos obreiros apontaram para o caráter temporário da vida
em comum que havia na igreja primitiva em Jerusalém e a ausência de
qualquer ordem apostólica em todo o Novo Testamento a esse respeito, e
mesmo a inexistência de qualquer referência de que tal modo de vida
conferisse algum privilégio espiritual ou que promovesse o crente a uma
categoria superior. Por outro lado, os líderes da comunidade afirmaram
que não se tratava de uma cooperativa comum das que se organizam na
sociedade em geral e nem de uma comunidade como a de Jerusalém.
Mostraram ainda que a comunidade não alimentaria nenhuma separação
entre os que dela participavam e os demais irmãos da colônia residentes
em propriedades isoladas. Deixaram claro também que a comunidade
não endossaria nem responderia por qualquer pronunciamento que con-
substanciasse uma tendência para exaltá-la como algo superior; que a
comunidade não usaria nenhuma propaganda ou pressão para alguém to-
mar parte nela ou dela se retirar; e que a comunidade surgiu por uma
questão de necessidades materiais, sendo reconhecida como a melhor for-
ma para atendê-las no presente e no futuro. Finalmente, a conferência
chegou à conclusão de que deveriam ser aceitas as explicações apresen-
tadas pelos líderes da comunidade, e, caso alguém houvesse incorrido em
algum erro doutrinário neste assunto ou tivesse se exaltado por perten-
cer à entidade, tudo lhe fosse perdoado em espírito de amor fraternal,
aprovando todos a seguinte resolução; "A referida comunidade não é
uma cooperativa secular e nem tampouco é uma nova seita, mas uma
união ou corporação fraterna e beneficente que serve a seu tempo e para
seus fins específicos". (6)
Encerrados os trabalhos de medição das terras da colônia em lotes,
foi separada uma gleba de, aproximadamente, 300 alqueires para a fa-
zenda coletiva destinada à comunidade já formada e em cujo quadro so-
cial achavam-se registradas cerca de 350 pessoas, recebendo o nome de
Palma, mais tarde Corporação Evangélica Palma. (7 )
Em 14 de junho de 1924 os trabalhos de derrubada de matas e de
instalações da sede da comunidade estavam adiantados a tal ponto que
uma grande parte dos componentes desta puderam fazer a sua transfe-
rência, seguindo-se outros posteriormente. No comando dos trabalhos
diários estava novamente o Pastor André Klavin, o experimentado ad-
ministrador do primeiro grande acampamento à margem do Rio do Peixe.
A liderança espiritual recaiu sobre os pastores João Inkis e Arvido Ei-
chmann. Como o grupo da fazenda de Dourado necessitasse de alguém
que se dedicasse exclusivamente a sua orientação espiritual, foi enviado
para lá o Pastor Arvido Eichmann, ficando o Pastor Nicolau Kwasche na
(6) Cf. Igreja Batista Leta de Varpa, Atas, Livro n9 1, pp. 157-159.
(7) Augstroze, João, loc. cit.

269
administração dos setores da fazenda onde trabalhavam os letos, confor-
me a determinação do fazendeiro, Dr. Carlos Botelho. ( 8 ) Figs. 84, 85 e 86
2. Desenvolvimento Econômico de Palma
A rigor, Palma jamais deu ênfase ao desenvolvimento econômico
como fim em si. Não havia interesse em um progresso material para sa-
tisfação de ambições, por mais justificáveis que fossem. Mas o esforço
pela sobrevivência de todos — tanto os válidos como os inválidos — e o
desprendimento em não visar lucros pessoais, somados a um regime de
simplicidade de vida e poupança, com o fim de servir à causa de Deus
através da comunidade pela maneira que Ele o fizesse entender, resultaram
num desenvolvimento econômico admirado por tantos quantos têm visi-
tado a fazenda coletiva Palma.
No princípio não havia capital para iniciativa alguma. Tudo depen-
dia do trabalho, e este requeria tempo para dar os primeiros frutos. A
alimentação diária de, aproximadamente, 250 pessoas naquelas circuns-
tâncias não era problema simples. Era preciso um tirocínio especial para
empregar os recursos escassos de maneira a render o máximo no prazo o
mais longo possível. O quinhão de Palma recebido da colheita do primei-
ro ano de trabalhos coletivos nas roças em redor do primeiro acampamen-
to também representava muito pouco para o gasto, pois era necessário
reservar uma grande parte para nova sementeira. Gado de corte para
consumo era preciso comprar, mas o dinheiro era pouco. Giraus, alçapões
e laços curiosos eram armados em vários pontos nas matas para a caça
de veados, antas e capivaras, que freqüentemente substituíam a carne de
gado. Os responsáveis por este último serviço eram os jovens Arnaldo
Gertner e João Brediks, que, todas as manhãs, armados de suas espin-
gardas, percorriam os 10 ou 12 pontos diferentes de armadilhas espalha-
dos pela floresta que margeava o ribeirão Aldeia Grande. ( 9 ) Fig. 87
Os rendimentos do trabalho do grupo da fazenda em Dourado eram
enviados a Palma, onde mais de duas centenas de pessoas achavam-se fi-
xadas, trabalhando febrilmente nas derrubadas das matas, plantação de
cereais, algodão, cana-de-açúcar, mandioca; na formação de pastos, de
pomares e hortas; na montagem de moinho, serraria e outros setores
industriais; na preparação de instalações para criação de gado, porcos e
aves; na construção de mais casas de moradia para a comunidade, esco-
la, depósitos, oficinas, garagens, cortume, saunas, etc. Tanto em Palma
como em Dourado, todos trabalhavam com grande dedicação e unidade
de vistas, num clima de alta saturação espiritual e amor fraternal, reali-
zando cultos todas as noites no refeitório ou sob árvores frondosas, do-
minando-os um só pensamento: servir ao bem comum, tendo sempre em
vista o mandamento: "...amarás o teu próximo como a ti mesmo" (10 ),
para glorificação do nome de Deus e testemunho cristão perante o mun-
do. (11)

(8) Kwasche, Nicolau, loc. cit.


(9) Gertner, Arnaldo. loc. cit.
(10) Mateus 19:19.
(11) Klavin, André, Entrevista com o autor em 16 de outubro de 1969.

270
Quando, em fins de 1926, o grupo de Dourado voltou a Palma, esta
já apresentava um aspecto surpreendentemente agradável; com campos
extensos de plantações bem tratadas e verdejantes em sua exuberância
tropical; com seus pomares, hortas e jardins em torno do conjunto resi-
dencial ou vila de casas de madeira assobradadas, construídas em estilo
europeu, forradas e assoalhadas, com janelas envidraçadas e encortina-
das ; com uma pequena indústria — serraria movida a vapor e moinho à
roda d'água — produzindo para o consumo interno e para exportação
(inicialmente para São Paulo e depois para a colônia japonesa de Bas-
tos) ; e um caminhão de transporte, que fazia a circulação da produção,
mantendo contatos constantes com a Estação de Sapezal. Homens, mu-
lheres, jovens e adolescentes, cada qual segundo as suas habilidades e
suas forças, produziam no seu setor com alegria e diligência, sob a admi-
nistração geral de André Klavin, sendo convocados para o trabalho, para
as refeições e para os cultos por meio de um sino e confraternizando
principalmente nas horas das refeições à mesa comum no amplo refeitó-
rio. Para os que trabalhavam nas roças e matas mais afastadas da
sede, as refeições eram servidas nos locais de trabalho. A essa altura a
alimentação já era bem mais variada. As agruras dos trabalhos pesados
e do clima eram amenizadas pelas motivações espirituais da comunidade,
sempre renovadas nos cultos vespertinos diários no refeitório, à luz de
lampiões de pressão Petromax, que depois foram substituídos pela ilu-
minação elétrica gerada na própria indústria de Palma. (12 ) Fig. 88

A partir de 1927, a atenção da fazenda coletiva voltou-se principal-


mente para a pecuária. Com o plantel de 12 vacas e um touro de raça
holandesa, trazidos da fazenda de Dourado, foi dado início a uma fonte
de renda que se tornou fundamental na economia de Palma. Fazendo-se
uma seleção gradual e inteligente, dentro de poucos anos a fazenda
Palma já possuía, aproximadamente, 500 cabeças de gado, sendo 200 de
vacas leiteiras, em sua maioria de alta produção, das raças Jersey, ho-
landesa e zebu. Em 1927 foi registrada a Fábrica de Manteiga Palma,
que começou a colocar o seu produto em São Paulo. Até 1940 a sua
produção foi oscilante. Daí por diante, porém, foi aumentando rapida-
mente, chegando, em alguns anos, a produzir mais de 8.000 kg. Pela sua
qualidade, a manteiga de Palma teve grande procura, destacando-se en-
tre os consumidores, em primeiro lugar, a firma Chocolates Kopenhagen
S.A. e o Colégio Batista de São Paulo, sendo que por alguns anos tam-
bém o Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro recebia o produto.
(13) Figs. 89 e 90
A segunda fonte de renda em importância foi a avicultura. Instala-
ções aprimoradas foram feitas, e a partir de 1935 começaram a ser re-
metidos ovos e frangos para a capital do Estado e cidades próximas. Ao
fim da década de 50, a granja de Palma contava com mais de 4.500 ga-
linhas poedeiras, sendo a "Cooperativa Agrícola Cotia" a distribuidora

(12) Id., ibid.


(13) Id., ibid.

271
de sua produção de ovos que orçava em torno de 10.000 dúzias mensais.
(14) Figs.
gs 91, 92 e 93
As demais fontes de renda da comunidade de Palma eram a serici-
cultura, a apicultura — com cerca de 80 colméias — produzindo, apro-
ximadamente, 400 latas de 20 litros de mel por ano, e a plantação e in-
dustrialização da mandioca, que durante 6 anos produzia 25 a 30 tone-
ladas de farinha mensalmente, toda ela comprada pelo governo para ser
acrescentada à farinha de trigo destinada ao fabrico de pão, principal-
mente durante a II Guerra Mundial. A produção de açúcar e hortaliças
também era considerável, mas destinava-se ao consumo interno. Nos
primeiros anos também foi cultivado o algodão. É interessante assinalar
que este chegou a ser industrializado na própria comunidade, para o seu
consumo. Por meio de maquinaria adquirida em Nova Odessa era feito
o descaroçamento; pelas senhoras mais idosas era preparado o fio em
antigas rocas trazidas da Letônia, sendo o pano tecido em teares ma-
nuais, também construídos em Palma, destinado à confecção de toalhas
de rosto, aventais, toalhas para as grandes mesas do refeitório, etc. Figs.
94 e 95
Em 1929 foi registrado o primeiro estatuto de Palma, pois que, à
vista do desenvolvimento econômico, as exigências oficiais e a própria
situação interna da comunidade constrangeram a tanto. No seu Artigo
29, tratando dos FINS DA CORPORAÇÃO, diz o estatuto:
a) Tendo por mira, como santo modelo, os primeiros cris-
tãos dos tempos primitivos com sua consagração a Deus na
vida cotidiana e prática, o fim dos fundadores da Corporação
é, sem exceção de nacionalidade ou cidadania, idade, sexo, edu-
cação ou capacidade de trabalho, associar-se mutuamente nu-
ma comunidade de apoio moral e material, a qual durante sete
anos já fora, pelos fundadores, aqui praticamente experimen-
tada, com resultados benéficos. (15)
Sob a distribuição e aplicação do fruto do labor da Corporação e so-
bre a admissão e demissão de membros e seus deveres, rezam as cha-
madas "Instruções" 1, 2 e 3, anexas ao estatuto:
...os frutos do seu labor, desejam distribuir eqüitativa-
mente entre si e gastá-los dentro de um senso de eqüidade, não
excluindo dos benefícios os membros da comunidade incapazes
para o trabalho; . ..e, com base em possíveis saldos, desses fru-
tos de labor e vida parcimoniosa da Corporação, receber sob o
seu teto e seus cuidados pessoas necessitadas e incapazes para
o trabalho, como: viúvas, órfãos e velhos, bem como — segun-
do as possibilidades — contribuir para fins religiosos, culturais
e beneficentes fora da comunidade... A admissão de novos
membros na corporação será feita por voto da maioria em As-
sembléia Geral; ... sendo que, os bens que o membro recém-ad-
mitido traz consigo, passam a pertencer ao patrimônio comum

(14) Id., ibid.


(15) Evangeliska Korporacija "Palma" (Corporação Evangélica Palma), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n9 10, outubro de 1932, última capa.

272
Fig. 74. Montagem de fotografias do templo, algumas casas comer-
ciais e residências da Colônia Varpa (1932).

Fig. 75. Residência do Sr. Roberto Rudzit (ou


Roberts Rudzits) no centro comercial
de Varpa, em 1936.
14,
1.--,

NJ
CO
Fig. 76 . Vistaaérea do Centro de Varpaem
Fig. 77. Monumento comemorativo do cinqüentenário da Colônia
Varpa, erigido no Cemitério dos Pioneiros em homenagem
aos imigrantes letos falecidos entre 1922 e 1925.
Fig. 78. Uma das turmas da Escola Elementar de Varpa, em 1932,
com a Prof.a Geny Graikste ao centro.

Fig. 79. Sr. Gustavo Narke-


vitz.
Fig. 80. Uma turma do Grupo Escolar de Varpa, com a sua professora
e Diretora, Lídia Lustin.

Fig. 81. Prédio do Grupo Escolar "João Brediks", em Varpa.


Fig. 83. Templo batista da Colônia Letônia,
limítrofe de Varpa.

Fig. 84. Pastor André Klavin.


Fig. 85. Pastor João Inkis.

Fig. 86. Pastor Arvido Ei-


chmann.
Fig. 87. Os caçadores Arnaldo Gertner e João
Brediks com a sua caça, uma anta de
meia tonelada.

Fig. 88. Serraria de Palma.


F'ig. 89. Gado leiteiro de Palma, em 1935.

Fig. 90. Equipe do Laticínio de Palma.

Fig. 91. Suinocultura em Palma.


Fig. 93. Apicultura em Palma.

Fig. 94. Colheita de algodão nos campos de Palma.


Fig. 95. Fiação de algodão para tecelagem em Palma.

Fig. 96. Colheita de arroz na Fazenda Palma.


Fig. 97. A casa mais antiga de Palma.

Fig. 98. Uma das residências coletivas de Palma.


Fig. 99. A rua principal de Palma.
Fig. 100. Vista geral de Palma em 1936
Fig. 101. Fabricação de açúcar em grande es-
cala na Fazenda de Palma.

14-

Ai

Fig. 102. Pastor André Klavin em sua indumentária de trabalho à


frente da Corporação Evangélica Palma (1969).
da Corporação... O membro da Corporação que a deixar livre-
mente ou sob constrangimento, não terá direito a qualquer in-
denização pelos seus labores e nem aos bens que trouxe ao in-
gressar na Corporação, porque tais contribuições são conside-
radas doações voluntárias aos fins beneficentes da Corpora-
ção... A Corporação reserva-se ao direito de excluir de seu
meio qualquer membro que com a sua vida moral contrariar os
fins a que ela se propõe, assim causando escândalo, sendo cons-
trangido a deixar a comunidade.. . Qualquer membro da Cor-
poração tem o direito ao uso dos bens e benefícios da Corpora-
ção pelos meios e nas medidas estabelecidas de comum acordo
pela comunidade... Cada membro da Corporação tem o dever
de participar na medida de suas possibilidades nos trabalhos
em conjunto e nas demais obrigações. (16 )
Tratando da administração e da auto-limitação, aquele estatuto afir-
ma:
A administração da Corporação cabe a uma Diretoria de
sete homens eleitos dentre seus membros, sempre de acordo
com a vontade expressa pela maioria.. . Na Assembléia Geral
só têm direito a voto os membros maiores de 18 anos.. . A
Corporação Evangélica "Palma" não contrai dívidas. (17)
Além do estatuto, a corporação votou, em ocasiões diferentes, certas
instruções complementares, em termos mais explícitos, a respeito de de-
terminados problemas que surgiam, harmonizando-as sempre com o es-
pírito do estatuto. Assim, por exemplo, sobre o afastamento de alguns
membros da Corporação, a instrução respectiva adverte que qualquer
membro da comunidade que se afastasse por algum tempo da mesma
deveria lembrar-se de seus irmãos incapazes de trabalhar e que dependiam
do trabalho de todos, procurando indenizar a sua falta de participação
no sustento da causa comum; em caso contrário, deveria considerar-se
desligado da Corporação. Quanto à insatisfação que alguém estivesse nu-
trindo no que diz respeito ao padrão de vida da corporação, diz a ins-
trução:
É dever de cada membro da comunidade pedir a Deus com
insistência a graça de contentar-se com a alimentação, a vesti-
menta, a moradia e outras benfeitorias que a vida em comum
na Corporação lhe pode oferecer. A ninguém é lícito considerar
as suas exigências pessoais segundo os pesos e medidas que es-
tabeleceria se vivesse por sua própria conta fora da comuni-
dade. Tal modo de pensar claramente revela a incompatibili-
dade daquele membro com a vida em comunidade. .. Se a al-
guém se torna fastidioso viver em comunidade e aprender a
conduzir-se santamente, fazer bem ao próximo e realizar a obra
missionária, então que viva a sua própria vida à parte e tente
fazer tudo isto por sua própria conta... Porém é com bênção
(16) Evangeliska Korporacija "Palma" (Corporação Evangélica "Palma" ), Súmula do
estatuto, legalmente registrado, com anexo das Instruções 1. 2 e 3, p. 2.
(17) Ibid., pp. 2 e 3.

273
que é despedido e recebido de volta o membro da Corporação
que por ela for licenciado para tratamento de saúde ou para
realizar a obra missionária. (13 )
Em 1930, o desenvolvimento econômico de Palma, conduzido pelos
princípios cristãos de trabalho diligente, de justiça, de eqüidade e de
poupança, já havia atingido um nível tal que tornou possível instituir
uma pequena remuneração para cada membro da Corporação. A provi-
dência entrou em vigor a partir de 1' de dezembro daquele ano, através
da Instrução n° 2. Até então cada um fazia o seu pedido de retirada da
Caixa da Corporação segundo as suas necessidades para aquisição de
roupas, calçados e miudezas, pois que a alimentação e a habitação eram
fornecidas pela Corporação. Porém tal prática prejudicava os mais ini-
bidos, que, temendo pesar sobre a comunidade, deixavam de fazer as suas
retiradas ou as faziam com extrema modéstia, passando a viver em nível
inferior aos demais membros da Corporação. Também isto impedia o
desenvolvimento do espírito de liberalidade e responsabilidade individual
no contribuir para a igreja, a causa missionária e a beneficência, trans-
ferindo-se tais deveres para a comunidade. O valor dos salários diários
instituídos na data referida era de quatro níveis ou categorias, segundo
a natureza do trabalho que cada um executava e os gastos em roupa
que a sua função exigia. Essas diárias eram pagas em "Notas de For-
necimento" — ou Apgahdas Zihmes, como eram conhecidas no idioma
leto — equivalentes a 1, 3, 5 e 10 mil réis e seus submúltiplos de 1/10,
2/10, 4/10 e 5/10. Naturalmente, com tais notas a pessoa poderia com-
prar somente na lojinha modesta da Corporação, onde tudo era vendido
pelo preço de custo. Para a aquisição de objetos não encontrados na loja
e para as contribuições à igreja e o desenvolvimento da obra missionária,
a Corporação permutava as notas pela moeda corrente. (19 ) Fig. 96
Entre 1930 e 1960 Palma teve os seus dias de maior desenvolvimento
sócio-econômico e de sua maior influência religiosa, como veremos adian-
te. Foi a época em que floresciam campos bem tratados; pastava gado
numeroso e sadio em pastagens limpas de ervas daninhas, com diferentes
qualidades de capim em divisões feitas por 43 km de cercas de arame
farpado, oferecendo variedade e abundância de alimentação aos rebanhos,
e canaviais magníficos, que constituíam a fonte principal de suplemen-
tação da dieta para o gado leiteiro, misturando-se a cana picada com o
farelo de arroz e freqüentemente também laranja picada. O laticínio,
próximo dos currais, fabricava a melhor manteiga produzida no Estado
— segundo o testemunho da grande consumidora do produto na Capital,
a Chocolates Kopenhagen S.A. — num ambiente da maior limpeza e cui-
dado primoroso. A avicultura, com as incubadoras fabricadas na própria
Palma, produzia milhares de dúzias de ovos e milhares de pintos de ra-
ças selecionadas e aves para corte, ocupando uma grande área logo à
chegada de Palma, por entre laranjeiras frondosas. Mais adiante, um
grande pomar a produzir laranja de variadas qualidades, tangerinas (ber-
gamotas), abacates, abacaxis, mangas, caquis, ameixas e outras frutas.

(18) Ibid., pp. 4 e 5.


(19) Ibid., pp. 7 e 8.

274
As estradas eram bem cuidadas, cercadas de lindos eucaliptos e pinheiros.
O templo, localizado no alto, entre árvores frondosas, onde funcionava
também no princípio a Escola Missionária e depois o Curso de Extensão
do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, este permanecendo por
23 anos. A vila de oito grandes casas de moradia, assobradadas, com
varandas e jardins repletos de rosas, dálias, cravos, papoulas e outras
variedades de flores, margeando a rua estendia-se por entre palmeiras,
abacateiros, ciprestes e uma grande e variada horta, além da qual havia
um bosque de eucaliptos a perfumar o ambiente. Linhas de fios elétricos,
conduzindo luz para todas as edificações e setores de serviço até a Nora
(Retiro) distante, e uma linha telefônica de magneto para comunica-
ções com este setor de produção pecuária. O açude, que de início for-
necia água para a enorme roda de 7 m de diâmetro que movia o moinho,
trituradoras de milho em espiga, debulhadoras, máquinas de beneficia-
mento de arroz e outras, depois passou a alimentar a turbina possante
que acionava o enorme gerador, fonte de energia elétrica para as má-
quinas dessa indústria e mais as de fabricação de açúcar e de farinha
de mandioca, da tipografia, das duas câmaras frigoríficas — a da sede,
junto do refeitório e cozinha, e a do laticínio — bem como para as mais
de 500 lâmpadas que iluminavam todos os setores e as áreas externas,
ruas etc. A alimentação já era mais abundante e variada, consumindo-
-se arroz e feijão como base do cardápio, acrescentando-se a broa espe-
cial preparada à moda leta, batata doce, mandioca, lombo de porco de-
fumado, repolho e pepino em conserva, verduras em abundância, leite,
ovos, manteiga, ricota, mel, pasta de amendoim, chá, café, pães rechea-
dos com fumeiro picado e temperado com pimenta e cebola, e frutas
laranja, tangerina, banana, abacaxi, melancia, goiaba, abacate, e sorvetes
aos domingos, fabricados das mesmas frutas, ovos e leite. Também
usava-se, como se faz até hoje, uma variedade de sopas ao jantar, de
especial agrado dos mais idosos, e diferentes qualidades de doces pre-
parados das frutas cultivadas na fazenda. Além de tudo, é preciso fazer
menção especial a uma bebida refrigerante sui generis, característica dos
camponeses letos, denominada "skaba putra", preparada na base de leite
coalhado, cozimento de arroz (na Letônia usa-se o grão de centeio),
acrescentando-se o soro puro e amanteigado que resulta da batida do
creme de leite para produzir manteiga e cujo sabor de acidez peculiar a
torna extremamente refrescante. Figs. 97, 98, 99, 100 e 101
Os hóspedes e visitantes em Palma sempre eram tratados com a
mais expressiva cordialidade e alimentados com fartura e liberalidade,
sem qualquer distinção social, racial ou religiosa. O grande alvo da
comunidade, que em sua maioria era constituída de pessoas que não
conheciam a língua portuguesa, era praticar sempre a virtude cristã da
hospitalidade, meio pelo qual chamavam a atenção de todos quantas
chegavam a Palma para os motivos daquela forma de vida diferente e
seus fins, assim tornando possível o seu testemunho de Cristo, "autor e
consumador da fé".
A missionária Maria Mellenberg, membro fundador de Palma e uma
das primeiras, senão a primeira das obreiras letas naquele campo de

275
evangelização, que se estendeu mais tarde por toda a Alta Sorocab anu,
e Alta Paulista, interpretando o sentido de Palma, assim se expressa:
nossa vida aqui é um protesto público contra a ambição e a avareza, os
males que estão destruindo a sociedade em geral; o nosso testemunho
neste ponto, embora fraco e aparentemente destoante das opiniões em
geral, creio que deixará um rasto luminoso no céu silencioso." (20 )
O missionário norte-americano de saudosa memória, Dr. W. C. Tay-
lor, preletor do Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil em seu primeiro ano de funcionamento em Palma, escre-
vendo, em O Jornal Batista, sobre a história da Colônia Varpa e a vida
que observou especialmente em Palma, afirmou o seguinte: "Vivi um
mês em Palma, e é difícil imaginar uma terra mais santa e operosa no
bem." (21)
O saudoso Pastor José de Miranda Pinto visitou Varpa e Palma
em 1940. No seu artigo "Rios no Deserto" teve as seguintes expressões
com referência a Palma: "É um oásis no deserto; uma fonte no ermo ...
É um sonho de piedade, uma deliciosa experiência espiritual." (22)
O jornal Estado de São Paulo, em sua edição de 3 de março de 1960,
publicou uma ampla reportagem do seu enviado especial a Palma, na
qual, a propósito da tendência do desaparecimento da Comunidade, entre
outras coisas, dá o repórter o seguinte testemunho :
Encerra-se, assim, a experiência única no Brasil. Um gru-
do de homens que nunca haviam tentado a vida em comunidade
cria, por inspiração religiosa e por necessidade de sobrevivên-
cia, um sistema de trabalho rural em comum com distribuição
eqüitativa de lucros.
É útil tentar descobrir por que uma comunidade criada
pela necessidade de se defender e de defender um grupo se pode
manter inalterada durante quase quarenta anos, sem que nas-
cesse o desejo e a necessidade de enriquecimento coletivo ou
individual. A fazenda Palma tem ainda hoje 290 alqueires, e
somente agora começa a empregar trabalhadores assalariados,
pois já não há, entre seus membros, jovens em condições de rea-
lizar as tarefas mais pesadas...
Da noção de que o enriquecimento não é importante e de
que as decisões não devem ser tomadas apressadamente, surgiu
a base prática para que os princípios religiosos dos membros da
comunidade pudessem agir como elemento de estabilização do
grupo que a compõe. Os fundamentos consolidadores da expe-
riência da fazenda Palma são, pois, indiscutivelmente religio-
sos, e da fé e da prática Batista estabeleceram-se os laços, in-

(20) Mellenberq. Maria, Questionário de Pesquisa respondido em 27 de julho de 1966.


Arquivado no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de
Janeiro. GB.
(21) Taylor, W. C., "Igrejas Onde Arde a Sarça", O Jornal Batista, Ano XLI, n9 51, 18
de dezembro de 1941, p. 3.
(22) Miranda Pinto, José de, "Rios no Deserto", O Jornal Batista, Ano XLI, n9 21, 22 de
maio de 1941, p. 4.

276
terligando cada um dos membros para a aceitação da economia
comum. Os próprios estatutos da Corporação, registrados em
1929, depois dos primeiros sete anos de experiência, consagram
esta afirmação, ao afirmar, no artigo segundo, que a comuni-
dade terá por "santo modelo os primeiros cristãos dos tempos
primitivos".
Aceitaram-se sempre novas adesões à comunidade, desde
que o novo membro concordasse em entregar a totalidade de
suas posses, com exceção dos objetos de uso pessoal. O traba-
lho é remunerado; o homem recebe atualmente Cr$ 40 por dia
e a mulher Cr$ 22. As refeições são feitas em comum, e os gas-
tos de alimentação são de responsabilidade da comunidade. No
refeitório comum serve-se sem restrições de quantidade, leite,
manteiga, broa, mel, manteiga de amendoim, lombo de porco.
Somente as roupas são adquiridas com a remuneração do tra-
balho.
Quando há lucros, processa-se sua divisão no fim do ano.
Em 1959, cada membro do sexo masculino recebeu o equivalen-
te a Cr$ 80 por dia de trabalho... Até hoje não há privilégios
individuais no grupo... A comunidade não contrai dívidas,
como exigem os próprios estatutos, e se dedica a diversas ati-
vidades não lucrativas, como a edição de publicações em le to e
russo, distribuídas por grupos batistas em todo o mundo. Um
gerente e um grupo de sete diretores são responsáveis pela exe-
cução das decisões da assembléia geral. O atual gerente é o
Sr. André Klavin, um velho forte de 72 anos, de olhar decidido
e fala mansa, humilde e sereno.
Seria preciso que um grupo formado por trabalhadores de
elevada qualificação profissional se reunisse para realizar o
milagre de Palma. Antes que eletricidade chegasse àquela re-
gião, lá já se dispunha de luz elétrica, pois se construiu uma
represa — com barragem de madeira — e instalou-se um ge-
rador. Ferreiros habilíssimos conseguiram construir, com pe-
daços de metal, as primeiras máquinas rudimentares, e mecâ-
nicos de grande capacidade souberam aproveitar peças encon-
tradas aqui e ali para montar o equipamento de uma serraria.
Da madeira veio o necessário às construções, e antes de chegar
à primeira cidade, à Alta Paulista, viviam já os letos em rela-
tivo conforto. No mesmo conforto de que hoje dispõe, sem
lutar pela riqueza, e alegrando-se no trabalho. (23)
Outro jornal paulista, A Nação, quase quatro anos depois, publicou
um histórico minucioso sobre Varpa e Palma, em que assim se expressa:
Tupã, que foi o trovão dos nossos índios e que os jesuítas
ampliaram para designar Deus, é um município paulista que,
entre árvores e jardins, esconde um novo paraíso, onde uma
colônia de letões vive como se fora em novo Éden. Uma pe-
(23) Sartoretto, José Natal, "Tende a desaparecer a Comunidade de Palma", Estado de
São Paulo, edição de 3 de março de 1960 (página não identificada no recorte).

277
quena população, pacata e obreira, vive uma experiência iné-
dita em terras brasileiras... Uma parcela, composta de viú-
vas e órfãos, sem possibilidades de proverem a própria subsis-
tência, deu origem a uma fazenda coletiva e, posteriormente,
formação de uma Corporação Evangélica, que tem o nome de
Palma.
Todos trabalham para todos. O índice de alfabetização é
de 100% (o que deve causar inveja a muitas megalópolis), os
inválidos têm salário e a renda resultante da produção é divi-
dida proporcionalmente, segundo as necessidades de cada um.
No Município de Tupã, no Distrito de Varpa, há um pe-
queno e desconhecido paraíso, onde se desenvolve e se põe em
prática o sentimento comunitário e o espírito associativo, onde
se promove, por todos os modos, a assistência mútua, espiri-
tual, moral, social e intelectual e material; onde inválidos, viú-
vas e órfãos gozam das mesmas prerrogativas concedidas aos
demais; onde não há preconceito de espécie alguma; onde, pa-
rece,... o homem vive feliz como se estivesse em irrevelado
canto do paraíso ...
Tudo leva a crer que esta obra coletiva tende a se extin-
guir, pela impossibilidade de sobrevivência de todos os seus
membros. Mas o exemplo de sua experiência de vida coletiva e
espontânea jamais será esquecido por todos que o conheceram,
como exemplo de vida comunitária das mais notáveis. (24)
Outros periódicos nacionais têm divulgado notícias a respeito de
Palma, analisando sociológica e psicologicamente a comunidade, sem
oferecer explicação plausível do ponto de vista destas ciências e acabando
por reconhecer o fator religioso como o fundamental, sempre admirando
a sua eficácia. É que jornalistas, alunos e professores de faculdades de
São Paulo, Bauru, Campinas, Rio Claro, Presidente Prudente e outras ci-
dades têm visitado a Corporação e feito pesquisas e análises, (25 ) das
quais infelizmente não nos foi possível obter cópias.
Porém um dos acontecimentos mais honrosos para Palma foi a visita
do Prof. Dr. Toyohico Kágawa, famoso sociólogo e pastor evangélico ja-
ponês, em abril de 1953, uma das figuras de maior evidência no mundo
social da época, líder popular e professor universitário em sua terra na-
tal, falecido há alguns anos. Segundo o seu testemunho, já havia lido
descrições sobre Palma nos jornais e revistas do Japão, havia visto pai-
sagens de Palma e fotografia do seu gerente, Pastor André Klavin, ao
qual reconheceu logo ao chegar à comunidade, saudando-o com exclama-
ção de alegria. Na sua entrevista com o gerente, indagou minuciosa-
mente sobre a origem e história da comunidade de Palma, sua vida reli-
giosa, social e econômica, sempre admirando os ideais e a prática do
autêntico cristianismo ali observado. Enfatizou que ali estava sendo dada
a lição de que a solidariedade social, tão desejada entre as nações, para

(24) Barrionuevo, Ramón, "Tupã, como Deus, propicia vida como em novo paraíso", A
Nação, edição de 14 de novembro de 1963, pp. 13 e 14.
(25) Klavin, André, loc. cit.

278
evitar os conflitos sociais, tem de ser precedida pela reforma econômica
e esta, por sua vez, pela reforma espiritual dentro do homem — a qual
não é possível sem Jesus Cristo. (26 )
A responsabilidade de gerência desse empreendimento admirável, —
a CORPORAÇÃO EVANGÉLICA PALMA — coube ao Pastor André
Klavin, que foi um dos pastores letos mais conhecidos no Brasil. Ele
esteve na gestão desde a fundação de Palma até o dia 18 de junho de 1970,
quando faleceu. Filho de pais humildes, afeito ao trabalho, dotado por
Deus de uma extraordinária capacidade de administração e de relaciona-
mento humano, possuidor de um profundo senso prático, autodidata, jus-
to, equilibrado, humilde, amigo dos pobres e necessitados, piedoso, co-
nhecedor profundo das Escrituras Sagradas, amado e respeitado em Pal-
ma, em toda a Colônia Varpa, na cidade de Tupã, sede do município, e
em toda a vasta redondeza, o Pastor André Klavin administrou, com ha-
bilidade e economia, durante quase cinco décadas a CORPORAÇÃO
EVANGÉLICA PALMA, experiência inédita no Brasil. O seu porte mi-
litar aliado a sua alta estatura, seu olhar inteligente e penetrante, ves-
tido em sua indumentária, quase invariável de culote, botas e quepe, sua
força lógica na argumentação, seu talento diplomático, irradiando con-
fiança, segurança e caráter de homem sem dolo, honesto e justo, gran-
jearam-lhe simpatia inclusive entre "os que são de fora", a ponto de um
Delegado Regional de Polícia, em visita a Palma, depois de averiguar
a improcedência de certas suspeitas lançadas sobre a comunidade em
dias agitados da vida política do Brasil, declarar que teve muito prazer
e honra de conhecer o Sr. André Klavin — a quem já conhecia como o
`Marechal de Palma' e 'Pai dos Pobres' — e assegurar-lhe a mais com-
pleta confiança das autoridades.
A Folha do Povo, periódico de Tupã, na edição de 22 de junho de
1970, assim se expressou sobre André Klavin, num artigo de homenagem,
alguns dias após o seu falecimento: "Esse cidadão, conhecidíssimo em
Tupã, de estatura elevada, sereno, compenetrado, humano,. . . honesto, sé-
rio em todos os sentidos, com seu riso moderado e com um coração sem-
pre extravasando bondade, o Sr. André Klavin continuamente procurava
acertar, dando de si antes de pensar em si. Foi um exemplo." (27)
Da mesma forma como era habilidoso na vida secular, o Pastor
André Klavin o era na vida ministerial. Além da participação na vida
religiosa da comunidade de Palma, sendo um dos co-pastores da igreja
que ali se organizou mais tarde, por cerca de 20 anos foi membro da
Junta Executiva da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil e
presidente, por 15 anos, da Missão do Sertão, órgão executivo das ativi-
dades missionárias das igrejas de Varpa, do qual trataremos no próximo
capítulo. Também pastoreou por três anos a Igreja Batista Ie Pitan-
gueiras, no outro extremo da Colônia Varpa, andando, dominicalmente,

(26) Cf. "Profesora Toyohico Kágawa virsosanas Palma" (A visita do Professor Toyohico
Káqawa em Palma), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Palma, São Paulo, n9 7, julho,
1953, pp. 17 a 19 e 3' contracapa.
(27) Transcrição enviada ao autor pelo Pastor G. Dobelis em correspondência firmada em
2 de julho de 1970.

279
a longa distância de 18 km de ida e volta para servir àquela igreja em
uma fase bastante difícil de sua história.
Toda a sua vida de 82 anos o Pastor André Klavin permaneceu sol-
teiro, dividindo o tempo com a sua comunidade e com Deus na promoção
do Seu Reino, pregando, aconselhando jovens e idosos, solteiros e casa-
dos, patrões e empregados, sempre numa atitude e num tom patriarcais,
sem jamais causar, em quem quer que seja, a menor suspeita do mais
leve deslize. No seu escritório modestíssimo, instalado num cômodo es-
treito de uma meia-água no prédio da tipografia, não havia auxiliares
nem equipamento que sua complexa atividade administrativa bem me-
recia. Morava nas mesmas condições, comia na mesma mesa e recebia
o mesmo salário dos demais membros da comunidade, destacando-se, po-
rém, em mais trabalho e menos horas de lazer. Nas viagens a serviço
dos interesses da Corporação, até bem pouco tempo antes de sua morte,
não era capaz de lançar mão de passagens de primeira classe nos trens,
"para não servir de tropeço ao irmão mais fraco", dizia. Foi o exemplo
acabado de um cristão dedicado em larga escala a serviço do próximo
em nome do evangelho de Cristo, sem distinção de nacionalidade, raça,
religião ou classe social. (28 ) Fig. 102

3. A Vida Religiosa de Palma

Na verdade, em Palma não se pode separar a vida religiosa da vida


social e econômica, de vez que aquela era, e ainda é, o motivo e ao mes-
mo tempo o fim da comunidade. Tanto as horas de trabalho como das
refeições e do lazer possuíam uma forte conotação religiosa. As refei-
ções eram iniciadas com cântico de uma estrofe de um hino de louvor
do repertório batista leto, seguindo-se uma oração. Durante as horas de
trabalho, era comuníssimo ouvirem-se comentários referentes ao traba-
lho missionário, a algum artigo religioso lido em algum periódico leto
ou aos últimos sermões do pastor da igreja. As horas de descanso eram
preenchidas invariavelmente com a leitura bíblica, leitura de livros de-
vocionais, de jornais e revistas religiosos atuais ou de coleções antigas,
especialmente do período de reavivamento espiritual na Letônia. À noite,
após o jantar, diariamente celebravam-se cultos de oração, que eram di-
rigidos geralmente pelos pastores.
Aos domingos pela manhã, a maioria dos moradores de Palma, per-
corria a pé, a distância de 5 km, até o templo da Igreja de Varpa, para
tomar parte nos cultos, ficando na sede da Corporação apenas as crian-
ças, que ali tinham a sua Escola Bíblica Dominical à parte e que não
eram muitas, e alguns adultos mais idosos, para os quais a caminhada
para a igreja pela estrada arenosa era algo quase impossível. Para estes
havia um culto dominical dirigido por algum dos obreiros da comunidade.
Aos domingos à noite a congregação de Palma funcionava com todos os
seus membros presentes, com participação do coro, havendo uma vez por

(28) Ronis, Osvaldo, "Está com o Senhor um dos Patriarcas do Trabalho Batista Leto no
Brasil", O Jornal Batista, Ano LXX, n9 30, 26 de julho de 1970, pp. 1 e 4.

280
mês a celebração da Ceia do Senhor, por autorização da igreja, com par-
ticipação de membros que moravam na vizinhança.
Os grupos ou congregações dos batistas letos de Varpa espalhados
pelas fazendas mantinham constante correspondência com a igreja em
Varpa, informando-a de suas atividades e problemas, e, não raro, solici-
tando ajuda para a solução dos mesmos. Para atender a tais pedidos,
de quando em vez algum dos pastores era enviado pela igreja em visita
àqueles grupos, mantendo-se, assim, vinculação estreita com eles. Pela
distância, porém, que separava a Colônia Varpa do grupo de Palma re-
sidente em Dourado, pelo número elevado de membros que o compunha
e pelo fato de ali estar na liderança do Pastor Arvido Eichmann, desta-
cado pela própria comunidade de Palma, aquela congregação recebeu au-
tonomia plena, cabendo-lhe apenas o dever de comunicar à igreja as so-
luções dadas aos problemas surgidos e as alterações ocorridas no movi-
mento de membros. Por força desta circunstância, quando em novem-
bro de 1926 o grupo de Dourado voltou a Palma, a congregação assumiu
as características de uma igreja autônoma em toda a sua estrutura, pos-
suindo as suas organizações internas — como Escola Bíblica Dominical,
coro de adultos, coro infantil, coro de adolescentes, Uniões de Mocidade
e de adolescentes — sua escola anexa e seu trabalho missionário na re-
dondeza de Varpa, já praticamente iniciado um ano antes por alguns
elementos de Palma. (29 ) Figs. 103 e 104

3.1 — Atividades missionárias

Ainda que a Igreja Batista Leta de Varpa, já na conferência de maio


de 1924, atrás referida, tivesse chegado à conclusão de que a sua tarefa
no Brasil era promover a obra missionária, nada de efetivo pôde reali-
zar, por falta de conhecimento suficiente de português e também — se-
gundo seu próprio julgamento — por falta de condições espirituais ideais
para tamanha tarefa. Falava-se em missões, porém em termos de pre-
paração, indagando e procurando saber como, onde e quando começar o
trabalho.
Entretanto, os primeiros passos neste sentido foram dados pelos
irmãos de Palma, aliás, a rigor, pelos jovens, especialmente moças. Nos
noticiários são citados os nomes: Maria Mellenberg, Olga Svern, Emma
Inkis (filha do Pastor João Inkis), Valija Lustin e Maria Garajs. Pouco
depois surgiram Carolina Vanaga, João Augstroze, Arnaldo Gertner e
Karlis Purgailis, mais tarde conhecido como Carlos Gruber. Todos eram
obreiros da Escola Bíblica Dominical de Palma, sendo que Maria Mellen-
berg e Valija Lustin eram também professoras da escola primária. Foi
no domingo 22 de novembro de 1925 que um grupo de jovens da Escola
Bíblica Dominical de Palma visitou pela primeira vez um sítio de brasi-
leiros, não muito distante. A visita tinha dois objetivos: ver um gigan-
tesco toco, de uma árvore secular que se dizia ali ter existido, e retribuir
a visita de crianças brasileiras ali residentes, que algum tempo antes
haviam estado em Palma. Os recursos de comunicação em língua por-

(29) Klavin, André, loc. cit.

281
tuguêsa ainda eram bastante limitados naqueles dias. Por esta razão,
usava-se muito cantar hinos em português, a duas ou quatro vozes, e
ler alguns versículos da Bíblia. No hino a mensagem já ia "pronta",
diziam, e no versículo bíblico também. Assim, naquele domingo o grupo
cantou dois hinos em português e um em leto — para satisfazer à curio-
sidade dos presentes — e leu alguns versos bíblicos naquele ambiente
humilde, impregnado de ignorância espiritual, e também orou em leto
e em português. Algumas daquelas jovens, tomadas de grande alegria
pela receptividade que tiveram, prometeram voltar, pois em seus cora-
ções estava nítida a convicção de que Deus as queria naquele campo
sertanejo para testemunhar do seu amor. (30 ) A Profa Maria Mellenberg
já deu 50 anos àquele trabalho, cuja extensão e profundidade é difícil de
descrever, dada as limitações desta dissertação. Fig. 105
Com mais algumas visitas àquele mesmo sítio e a outros ranchos
espalhados pela mata virgem, foi aumentando o número de jovens e
adultos de Palma chamados por Deus para trabalhar na sua Seara. En-
tretanto, verificaram logo a existência de um grande obstáculo ao seu
trabalho — o analfabetismo. Foi quando a irmã Maria Mellenberg, com
suas companheiras, iniciou a primeira "Escolinha Dominical", como de-
nominava, precedida por uma aula de alfabetização. Isto ocorreu na
tarde de 4 de julho de 1927, primeiro domingo daquele mês. (31) Pouco
depois, quando o interesse pela iniciativa foi aumentando por parte das
crianças brasileiras residentes em diversos ranchos na área limítrofe de
Palma, a "Escolinha Dominical" passou a funcionar na sede da Cor-
poração, sob a superintendência do jovem Arnaldo Gertner. Naquele
humilde trabalho, a boa semente do evangelho de Cristo foi lançada em
muitos corações jovens, indo a dar fruto mais tarde, em locais distantes,
nas fazendas, vilas e cidades novas, onde os obreiros de Palma foram le-
vando a mensagem do evangelho.
Na mesma época, fins de 1925, o grupo batista leto de Palma na
fazenda de Dourado também havia iniciado o seu testemunho do evan-
gelho de Cristo aos brasileiros. Por algum tempo fez parte desse grupo
o jovem João Inkis Jr., que havia estudado no Colégio Batista do Rio
de Janeiro, e por isto já podia comunicar-se bem em português. Foi ele
o primeiro pregador aos brasileiros naquela fazenda, o professor de por-
tuguês aos obreiros da Escola Bíblica Dominical da congregação e o
ensaiador do primeiro hino em português, que foi o "Eia! às armas ca-
maradas .. .". Também foram realizados alguns cultos na cidade de Dou-
rado, onde pregava o mesmo jovem João Inkis Jr. e, algumas vezes, os
irmãos João e Ernesto Sprogis, de Nova Odessa. Naqueles cultos, papel
importante exercia o coro da congregação leta de Dourado, regido al-
ternadamente por três regentes — Waldemar Snikers, Carlos Siders e
Roberto Wahvers. Cedo a direção do trabalho em português passou às
mãos do Pastor Arvido Eichmann, que muito se esforçou para dominar

(30) Mellenberg, Maria, "Palmas svetdienas skola" (A Escola Bíblica Dominical de Palma ),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), nQ 5, maio de 1954, pp. 22 a 24. Idem, questionário de
pesquisa respondido em 27 de julho de 1966.
(31) Id., ibid.

282
bem o vernáculo e pregar com clareza a mensagem da Palavra de
Deus. (32 )
Em meados de 1926, chegaram àquela fazenda várias famílias rus-
sas, com as quais logo passaram a ser realizados cultos em língua russa.
Aquele grupo, e mais um outro, de 25 famílias batistas russas, vieram
ao Brasil por mediação de dois pastores letos de Palma — Carlos Rodolfo
Andermann e Karlis Grigorowitsch — que em maio de 1925, haviam
sido enviados à Europa em resposta aos apelos de crentes batistas do
sul da Rússia (Ucrânia), que sofriam perseguições por parte do regime
comunista, e que queriam ajuda para emigrarem para o Brasil. Como
emigrantes procedentes da área comunista, aqueles irmãos necessitavam
de permissão especial do governo brasileiro para a sua imigração. Median-
te o testemunho de batistas letos em fazendas pertencentes a figuras emi-
nentes do Governo do Estado, provando-se gente pacífica e trabalhadora,
as respectivas autoridades permitiram que esses imigrantes entrassem no
país. (33 ) Uma vez no Brasil, essas famílias foram encaminhadas ini-
cialmente a duas fazendas onde já se encontravam batistas letos, a fim
de cumprirem a exigência oficial de prestarem serviço remunerado nas
fazendas do Brasil ao menos durante um ano, a título de compensação
do transporte marítimo pago pelo governo brasileiro da Europa até o
Brasil.
Em outubro de 1926, acompanhando os irmãos letos que deixaram
a fazenda em Dourado, chegaram a Palma: a família numerosa do bra-
sileiro Benedito Dionísio, um jovem órfão — Lázaro Jorge de Camargo,
que foi batizado no ano seguinte na Igreja Batista Leta de Varpa e hoje é
pastor no Estado da Guanabara; e 7 famílias batistas russas, estas for-
mando o núcleo inicial da congregação russa, que pouco depois deu ori-
gem à Igreja Batista Russa de Varpa e base para o empreendimento de
um amplo trabalho missionário entre os eslavos nas redondezas de Var-
pa e em toda a Alta Sorocabana. (34 )
Entre os primeiros trabalhos dessa ação missionária eslava é justo
destacar um que teve início em 1928 ao sul da Colônia Letônia, que fi-
cava no extremo oposto — sudoeste — da Colônia Varpa, a 20 km de
Palma, em lugar denominado "Estrela", onde se desenvolveu uma forte
congregação, composta de russos e espanhóis, sob a direção dos pastores
Arvido Eichmann e Girts Dobelis e um considerável grupo de jovens que
os acompanhava. (Fig. 106) Meses depois, na mesma região, surgiu
a congregação de Bandeiras, a oeste de Varpa, distando 14 km de Pal-
ma, sob a orientação do jovem Arnaldo Gertner, ajudado por um grupo
de moços de Palma.
Assim os irmãos de Palma desenvolveram um vasto trabalho mis-
sionário em duas direções — leste e oeste — recebendo cada vez maior

(32) Vanaga, K., "Douradas svetdienas skola" (A Escola Bíblica Dominical em Dourado),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 5, maio de 1954, pp. 24 e 25.
(33) Cf. Dobelis, G., ''Atskats uz ewangelijuma darba pirmo gadu desmitu starp slavu
emigrantiem Brazilijã" (Retrospecto sobre o primeiro decênio do trabalho de evangelização
entre os emigrantes eslavos no Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 9, setembro
de 1936, p. 162.
(34) Dobelis, G., loc. cif., n° 10, outubro de 1936, p. 181.

283
cooperação de jovens e adultos de Varpa, fora da Comunidade de Palma,
assim influenciando a igreja toda a participar da obra missionária.
Entretanto, quer nos parecer que, entre as contribuições mais ex-
pressivas de Palma à evangelização do Brasil, conta-se a manutenção de
uma escola de preparação teológica para obreiros do sertão — plane-
jada pelo "Centro Missionário do Sertão", que se organizou em Varpa,
visando à obra missionária realizada pelos batistas letos de Varpa entre
os eslavos e brasileiros — que funcionou durante 3 anos em prédio es-
pecialmente construído para este fim em Palma, dando lugar depois ao
Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil pelo
longo período de 23 anos, preparando mais de 100 obreiros, espalhados
pelos campos do sul do Brasil.
Ainda que não fosse obra de iniciativa exclusiva de Palma, esta na
verdade, assumiu o maior peso de responsabilidade, tanto na instalação
como na manutenção do Corpo Docente e dos estudantes, que recebiam
gratuitamente o ensino, a habitação e a alimentação. No próximo capí-
tulo, quando tratarmos do trabalho cooperativo de todos os batistas
letos de Varpa, apresentaremos pormenores sobre este setor de atividade
missionária, ficando aqui consignado, entretanto, o papel preponderante
que nela exerceu a comunidade de Palma.

3.2 — Imprensa Religiosa


A imprensa batista leta no Brasil tem uma história interessante.
Em fins de fevereiro de 1923, a bordo do navio "Antônio Delfino" estava
se aproximando do Brasil um grupo de 350 batistas letos com destino
a Varpa. Entre eles havia um bom número de jovens, crentes fervoro-
sos, idealistas, que se organizaram numa União, sob a liderança de dois
deles — Janis (João) Bukmanis e Jekabs (Jacó) Rosenberg, ambos poe-
tas e prosadores dos mais expressivos. Chegando a Varpa, reuniram-se
a eles mais quatro moços — João Inkis Jr., Arnaldo Schverns, Ernesto
Mellums e Kuno Dundurs — organizando um "grupo literário" (grêmio),
ao qual denominaram "Stars" (Raio), fundando o seu jornal "Domas"
(Pensamentos). Em seis meses de existência, o jornal saiu a lume sete
vezes. O primeiro número, um único exemplar, saiu em forma manus-
crita; os demais foram datilografados na máquina do escritório da co-
lônia, em várias cópias, circulando de mão em mão. (35) Seu conteúdo,
em poesia e prosa, com ilustrações em aquarela, exaltava a graça de
Deus, a vida cristã, a natureza, as aspirações da alma regenerada e os
ideais da juventude crente de crescer e trabalhar pela causa de Cris-
to. (36 )
Devido à saída de uma grande parte dos imigrantes de Varpa para
as fazendas, o grêmio se desfez e o jornal deixou de circular. Os dois
jovens idealistas — João Bukmanis e Jacó Rosenberg — não perderam,
porém, a idéia de um jornal, e continuaram dispostos a reeditá-lo na

(35) Inkis, J., -Jahnis Bukmanis" (João Bukmanis), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão).
n° 1/2, janeiro/fevereiro de 1941, pp. 28 e 29.
(36) Malves, Júlio, Questionário de pesquisa.

284
fazenda de Dourado, para onde iriam seguir como membros alistados na
comunidade de Palma que eram. Antes de chegar a Dourado, entre-
tanto, resolveram visitar a Colônia Leta de Nova Odessa, que ficava a
caminho, via São Paulo, a Capital. Ali casualmente encontraram à ven-
da, por preço ínfimo, uma pequena máquina impressora manual, que
imprimia apenas duas páginas de cada vez, com um punhado de tipos
mais ou menos adaptados aos sinais peculiares à escrita da língua lata.
Era o material tipográfico de uma publicação de caráter político, já ex-
tinta, que havia servido a uma associação lata não batista. Estando já
n3 fazenda, os dois jovens entraram em entendimento com os líderes do
grupo, pastores Arvido Eichmann e Nicolau Kwasche, e dentro em pouco
a aquisição do referido material foi consumada. (37 )

Quanto ao escopo do jornal, as idéias foram reestudadas sob a di-


reção do Pastor Arvido Eichmann, o líder espiritual do grupo, e que já
possuía a experiência de redator e impressor de jornal quando serviu na
Letônia, à frente do órgão oficial dos batistas de lá. Chegaram à con-
clusão de que deveriam publicar um jornal de estudos bíblicos e doutri-
nários, de testemunhos de experiências religiosas e de noticiário das
igrejas batistas letas do Brasil, bem como informações da obra batista
na Letônia e da obra missionária no mundo. Surgiu, assim, o primeiro
periódico religioso leto no Brasil e na América do Sul, denominado Meera
Wehsts (Mensagem de Paz). Seu redator foi o Pastor Arvido Eichmann
e seus auxiliares os dois jovens já mencionados, ficando Jacó Rosenberg
como redator auxiliar e João Bukmanis como tipógrafo, arte que apren-
deu em um breve estágio de duas semanas na tipografia de um jornal
de Dourado, sendo pouco depois auxiliado pelas jovens Emília Berzin e
Carolina Vanag, (38 ) sendo que esta continua a trabalhar na tipografia
ininterruptamente até hoje em Palma.

Os trabalhos da tipografia da fazenda em Dourado começaram a 8


de junho de 1925, porém só cm outubro daquele ano é que veio a lume
e primeiro número do mensário Meera Wehsts, ( 39 ) em forma de urna
revista de 16 páginas de 13 x 24 cm. Sem uma estrutura econômica or-
ganizada, sem preço fixo para a assinatura, solicitando de seus assinan-
tes apenas ofertas voluntárias e visitando gratuitamente os lares que não
possuíssem condições financeiras de fazer qualquer oferta, mas desejassem
lê-lo, o jornal foi ganhando aceitação geral, sendo enviado a quase todas
as igrejas batistas letas do Brasil, à Letônia e aos batistas latos nos
Estados Unidos da América do Norte. E não apresentava déficit, só por-
que o grupo da comunidade de Palma em Dourado incluía a publicação
do jornal dentro de suas atividades religiosas, a fim de servir para a
instrução, edificação e inspiração do povo de Deus de língua lata. Em seu
conteúdo, a ênfase era dada aos estudos bíblicos preparados pelo Pastor

(37) Cf. Inkis, J., Op. cit., pp. 28 e 29.


(38) Dobelis, G., "Mac. Avida Eichmana pieminai..." (Em Memória do Pastor Arvido
Eichmann... ), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 10, outubro de 1969, primeira
contracapa.
,(39) Id., ibid.

285
João Inkis ou traduções de autores estrangeiros. Menção especial merece
o comentário e exegese das Epístolas de Paulo aos tessalonicenses, que
mais tarde circulou em separata. Além disso, eram estudados os mais
variados temas doutrinários, devocionais, históricos e político-sociais à
luz da Revelação; biografias de eminentes servos de Deus no passado,
movimentos missionários e outros, da autoria do Pastor Arvido Eich-
mann, Alida Osol, Júlio Malves, Carolina Vanaga e uma imensa riqueza
de poesias do Pastor João Inkis, João Bukmanis — sob o pseudônimo
Upmalietis (O ribeirinho), Jacó Rosenberg — sob o pseudônimo Kalnu
Jekabs (Jacó dos Montes), Pastor Alberto Eichmann — sob o pseudô-
nimo Jurmalnieks (O praiano), e outros.

Entretanto, os dois jovens, Jacó Rosenberg e João Bukmanis, con-


tinuavam a pensar num jornal mais adequado à mentalidade do crente
jovem, mais dinâmico, mais sonhador, com visões e oportunidades espe-
cialmente para jovens, lutando por torná-lo realidade. Um ano depois de
iniciada a publicação de Meera Wehsts, saiu o vigoroso Jaunais Lihdum-
neeks (O Jovem Desbravador), com 40 páginas, de periodicidade trimes-
tral, na redação de Jacó Rosenberg, contando com muitos colaboradores,
apresentando-se como "Coleção Literária para a Juventude", oferecendo
literatura religiosa, beletrística e científica, ( 40 ) mantendo quatro se-
ções com escritos abundantes e variados: "Estudos Bíblicos", "O Jardim
da Juventude", "Natureza e Vida" e "Ecos da Vida". Merecem destaque
os estudos apresentados pelo Pastor João Inkis sobre "Psicologia ou Es-
tudo da Alma", "Visão Panorâmica sobre a História dos Judeus" e "Pro-
blemas da Juventude"; diversos artigos sobre aspectos da história, geo-
grafia e povo do Brasil, da autoria do jovem João Inkis Jr., que também
era responsável por duas das seções atrás mencionadas e que traduziu
vários artigos do médico brasileiro, Dr. Belisário Penna, sobre as doenças
endêmicas, para orientação dos imigrantes; "Cultura", estudo psico-pe-
dagógico do ponto de vista cristão, e "Panorama", análise da situação
política, social, econômica e religiosa do mundo à luz das profecias, da
autoria de Júlio Malves. Em 1928 foi acrescentada uma nova seção
"A Juventude Leta do Brasil" — sob a direção de Roberto Vavers, um
dos imigrantes de Varpa, na época residente em Nova Odessa — com no-
tícias das diversas Uniões de Mocidade das igrejas batistas letas no
Brasil e incentivos a uma ação conjunta em favor de um esforço missio-
nário no Brasil. Inúmeros trabalhos literários em prosa e poesia; noti-
ciário da obra missionária no exterior; noticiário das atividades missio-
nárias dos batistas letos no Brasil; noticiário e comentários das persegui-
ções religiosas na Rússia comunista; narrativas de movimentos de aviva-
mento espiritual em vários países; informações sobre o trabalho batista
brasileiro em todos os seus setores — evangelização, missões, educação e
especialmente educação teológica, enfim, variadíssimo, abundante e subs-
tancioso era o conteúdo do jornal da juventude batista leta do Brasil Jau-
nais Lihdumneeks, que circulou trimestralmente por três continentes, em
uma tiragem de quase dois mil exemplares até 1930, quando interrompeu a

(40) Meera Wehsts (Mensagem de Paz), n' 5, 1926, p. 80.

286
sua edição, para reaparecer em 1934 como suplemento do mensário Kris-
tigs Draugs.
Aproximadamente na mesma época, surgiu também um suplemento
para a infância e adolescência das colônias e igrejas letas do Brasil, de-
nominado Rihta Rasa (Orvalho Matinal), sob a direção do já citado
João Bukmanis, ou Upmalietis, o qual igualmente engajou-se no Kristigs
Draugs a partir de 1935. Seu objetivo foi proporcionar aos adolescentes
e às crianças dos imigrantes letos a educação religiosa na linguagem dos
seus lares (idioma leto), seu crescimento espiritual, moral e intelectual,
inclusive franqueando suas páginas às produções dos adolescentes, como
descrições de acontecimentos, tradução de histórias colhidas em Jóias de
Cristo, comentários de fatos bíblicos ou históricos etc. Cessou a sua
publicação em fins de 1940, nas vésperas da lei que proibia no Brasil
publicações em língua estrangeira.
Em novembro de 1926, com a volta do grupo de Dourado para Var-
pa, a tipografia instalou-se em Palma. Um ano depois, com o crescimento
do trabalho missionário entre os imigrantes eslavos, estudou-se a possi-
bilidade da publicação de um jornal religioso em língua russa, que ser-
visse de vínculo para uma obra cooperativa eficiente entre as numerosas
congregações de batistas russos, búlgaros, bessarábios, romenos, polo-
neses, ucranianos e outros eslavos, que, além de seus próprios idiomas,
conheciam o idioma russo por força das circunstâncias políticas domi-
nantes em seus respectivos países há séculos. Assim foram encomenda-
dos tipos russos no estrangeiro e em janeiro de 1928 veio a lume o pri-
meiro número do primeiro periódico religioso em idioma russo publicado
na América do Sul, denominado Drudjeskoie Slovo (A Palavra Amiga),
redigido pelo Pastor Karlis Grigorowitsch. Sobre o periódico em tela,
assim se expressa o Pastor G. Dobelis, outro obreiro leto que por longos
anos dedicou-se ao trabalho missionário entre os eslavos:
O jornal teve por objetivo a evangelização e inicialmente
era distribuído como folheto — gratuitamente e mediante ofer-
tas. Os leitores receberam o "Drud. Slovo" com satisfação e
começaram a apoiá-lo cada vez mais com suas ofertas. O cam-
po de atividades do jornal estendeu-se muito além das frontei-
ras do Brasil, até a Polônia e Bessarábia. Pouco depois o jor-
nal passou a servir às necessidades espirituais dos grupos dis-
persos, incluindo também notícias sobre a marcha do trabalho e
dos acontecimentos mais importantes ocorridos nas igrejas.
Com a organização da União das Igrejas Batistas Eslavas, o
jornal passou a ser contado como órgão desta União. ( 41)
O Pastor João Inkis, em um dos seus retrospectos sobre a obra mis-
sionária dos letos no Brasil, assim se refere ao jornal publicado em russo:
O auxiliar principal neste trabalho é o jornal publicado em
língua russa, Drudjeskoie Slovo (A Palavra Amiga). Porém

(41) Dobelis, G., "Atskats uz ewangelijuma darba pirmo gadu desmitu starp slavu emi-
grantiem Brazilijâ" (Retrospecto sobre o primeiro decênio do trabalho de evangelização entre
os emigrantes eslavos no Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 9, setembro de
1936, p. 164.

287
a maior parte de sua provisão durante todo esse tempo tem pe-
sado sobre os ombros incansáveis da editora acima citada. Com
seus pés pressurosos, o jornal tem percorrido caminhos longos,
visitando os seus leitores espalhados não só pelo Brasil mas
por toda a América do Sul e até cruzando o mar para a Polônia,
Bessarábia e outros rincões habitados pelos russos, sendo bar-
rado somente na prisão gigantesca no oriente da Europa, em
cujo interior, atrás do muro vermelho, sofre, sufocado, o povo
russo. Tendo em conta a grande pobreza em que vive a gente
russa na Bessarábia e na Polônia, tão limitada em seus direitos
de cidadania, convinha que nos voltássemos com uma atenção
muito cordial para as veredas desse mensageiro tão apreciado
em toda parte, tornando possível o envio de um grande número
de exemplares gratuitos para as almas sedentas de lá. (42)
Em outubro de 1930 o Pastor Arvido Eichmann, redator-gerente do
primeiro periódico religioso leto Meera Wehsts, editado pela Corporação
Evangélica de Palma, depois de cinco anos de atividade frutífera, fez
ciente à grande família de leitores a sua impossibilidade de continuar à
frente daquela publicação, porque com o seu envolvimento cada vez maior
no trabalho missionário crescente entre eslavos, brasileiros e alemães
na redondeza de Varpa, já não podia dar conta de duas tarefas de tão
grande responsabilidade. Decidindo dedicar-se inteiramente à obra mis-
sionária, este pastor apelou aos leitores para que orassem pela indicação
de um substituto na redação e gerência do jornal. (43) No mês seguinte
a solução do problema se deu com a unificação de todas as publicações
— menos a russa — num só periódico, sob o antigo nome de Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), mensário de propriedade do Pastor João
Inkis desde 1903, e que na época do grande despertamento espiritual na
Letônia havia se constituído em porta-voz daquele movimento. (44) As-
sim, a partir de dezembro de 1930, ressurgiu o Kristigs Draugs, editado
pela Corporação Evangélica Palma, à qual passou a pertencer o jornal,
sendo seu Redator-Gerente o competente e experimentado publicista Pas-
tor João Inkis, o antigo proprietário do periódico. Novas seções foram
criadas, como "Missões", sob a direção do Pastor Arvido Eichmann,
com noticiário abundante e variado sobre a obra missionária no mundo
e especialmente a que estava sendo desenvolvida pelos batistas letos da
Colônia Varpa; biografias de C. H. Spurgeon, Salomão Ginsburg e ou-
tros grandes servos de Deus; estudos exegéticos da Epístola aos He-
breus e outros livros da Bíblia; traduções de longos trabalhos de autores
estrangeiros, como : "Assim Eu Vi o Mundo", de Herbert Gezork, "Via-
gem através da Sibéria", de Heinrich Wrede, "A Luta pela Fé na Rússia
Soviética", de W. J. Marcinkowsky, "Os Caminhos de Deus em 1pocas

(42) Inkis, J., "Brazilijas latweeschu baptistu misiones apweeniba" (União Missionária Ba-
tista Leta do Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Palma, Estado de São Paulo, n°
8, agosto de 1936, p. 145.
(43) Eichmann, Arvido, "Meera Wehsts lasitajiem" (Aos leitores de "Mensagem de Paz"),
Meera Wehsts (Mensagem de Paz), C/E Palma, n9 10, outubro de 1930, p. 196.
(44) Id., "Cela juhtis" (Na encruzilhada), Meera Wehsts, (Mensagem de Paz), n° 11,
novembro de 1930, p. 216.

288
(aions)", de H. Grosmann, e outros; também a tradução de longos tre-
chos de "Os Sertões", de Euclides da Cunha; estudos doutrinários de uma
variedade abundante; lições para uso nas Escolas Bíblicas Dominicais
das igrejas letas; estudos devocionais; uma imensa variedade de poe-
sias; notícias do trabalho batista brasileiro; notícias do trabalho batista
na Letônia; notícias das atividades da Aliança Batista Mundial; notícias
e relatórios de congressos, institutos doutrinários, missionários e de mú-
sica sacra no Brasil e na Letônia, notícias das igrejas batistas letas do
Brasil; discursos e mensagens dos presidentes e ministros do Brasil;
mensagens e informações do consulado da Letônia no Brasil; conselhos
sobre higiene, e outros escritos valiosos.
Com a aquisição de uma nova máquina impressora, elétrica, em 1931,
os trabalhos na tipografia foram se tornando mais rápidos e mais per-
feitos. Daí por diante o setor tipográfico da Corporação Evangélica
Palma passou a chamar-se Casa Publicadora "Palma", nome em que foi
registrado o seu periódico, que, por questões técnicas e outras, incluiu
em seu bojo, como suplementos, os outros dois atrás mencionados —
Jaunais Lihdumneeks e Rihta Rasa. Outras publicações ainda surgiram,
como A Boa Semente — brochura anual em português e em lato, desti-
nada às crianças e redigida pela Profq Maria Mellenberg, Bernu Prieks
(A Alegria das Crianças), estórias e poesias para as crianças, bem como
Brazilijas Latviesu Kalendars (Almanaque dos Letos do Brasil), redi-
gido pelo irmão Alexandre Samoilovics, e que, além do calendário e in-
formações práticas sobre as datas das mudanças de estações do ano, de
eclipses, de tarifas postais etc., traz um rico e variado conteúdo literá-
rio de cerca de 140 páginas. Além disso, a editora de Palma publicou um
livro de poesias do Pastor Alberto Eichmann, cujo pseudônimo era: Jur-
malnieks (o praiano), denominado Sartie Logi (As Janelas Róseas), e
uma tradução da obra de J. A. Kargel, "Dieva Svetnicas Noslepumi Ve-
caja Deriba" (Os Segredos do Santuário de Deus no Velho Testamento),
um livro alentado de 30 capítulos, 282 páginas, tamanho 24 x 18 cm,
contendo uma interpretação dos símbolos e do cerimonial do Tabernácu-
lo do Antigo Testamento, cujo cumprimento e realidade se encontram na
pessoa de Jesus Cristo. Figs. 107 e 108
Por força de exigências das leis do "Estado Novo", o periódico Kris-
tigs Draugs e seus suplementos não podiam mais estar em mãos de es-
trangeiros, o que colocou em dificuldades a continuidade da imprensa
religiosa de Palma. Para solução do problema, efetuou-se a eleição do
Pastor Jacó R. Inke, de Nova Odessa, brasileiro nato, de pais letos, so-
brinho do Pastor João Inkis, como Diretor e Redator responsável do pe-
riódico a partir de fevereiro de 1939, a cuja frente se encontra até o pre-
sente. Com o agravamento da situação mundial, novo problema atingiu
o periódico em tela. Foi a portaria do Ministro da Justiça do Governo
brasileiro, expedida em 18 de julho de 1939, que vedava a circulação de
jornais e periódicos no Brasil em língua estrangeira, sem a respectiva
tradução. Alguns meses depois, precisamente em janeiro de 1940, o Kris-
tigs Draugs reapareceu, agora dublado, ou seja, com a tradução de todos
os artigos em português, para atender às exigências governamentais. No

289
entanto, tal situação acarretou outros problemas, especialmente os de
ordem econômica, que finalmente forçaram a paralisação de todas as pu-
blicações, de fevereiro de 1941 a novembro de 1947.
Cessadas as restrições impostas pelas circunstâncias anormais na
área política, voltou o Kristigs Draugs a ser impresso em leto e a cir-
cular livremente a partir de dezembro de 1947, ainda que bastante redu-
zido por algum tempo, sem as seções destinadas à juventude e às crian-
ças, porém com maior ênfase da obra missionária em dois novos campos
— um nacional e outro estrangeiro, ou seja, o primeiro na região do li-
toral do Paraná e o segundo no sertão do oriente boliviano, a 80 km
da fronteira brasileira, num lugar denominado Rincón del Tigre, trabalho
este cujas origens também se encontram em Palma. A participação do
Pastor João Inkis na publicação do periódico, porém, foi declinando,
tanto pela idade como pela enfermidade, passando as responsabilidades,
desde 1948, para os ombros do Pastor Girts Dobelis, membro da comu-
nidade de Palma desde os seus começos. E neste posto ele permanece,
ininterruptamente, até o presente (1972). Fig. 109 e 110
Daí por diante mais outras variedades aparecem no conteúdo do
mensário religioso leto editado em Palma: são estudos bíblicos prepa-
rados pelos pastores G. Dobelis, Arvido Eichmann, João Lukass e outros;
traduções de escritos de G. W. Truett, Arnold H. Ohrn — da Aliança
Batista Mundial, de G. Macklaren, de A. T. Robertson, de Billy Graham,
de A. Murray; traduções de sermões de Paulo C. Porter, J. L. Riffey, W.
Clinton e Ronald Rutter — profesores do Curso de Extensão que fun-
cionava em Palma; também traduções de sermões e artigos de João F.
Soren, Thurmon Bryant e José dos Reis Pereira (comentários, editoriais
e tópicos de O Jornal Batista) ; traduções de diversos artigos de O Jornal
Batista, Batista Paulistano, O Semeador, Revista da Mocidade e outros
periódicos; notícias e reportagens das Assembléias da Convenção Ba-
tista Brasileira, da Convenção Batista Paulistana, da Ordem dos Minis-
tros Batistas do Estado de São Paulo, da Associação das Igrejas Batistas
da Alta Paulista; divulgação e noticiário da Campanha Nacional de Evan-
gelização e da Campanha das Américas; divulgação da chegada, recepção
e colocação de novos imigrantes letos depois da II Guerra Mundial, ser-
viço feito pelo Pastor João Lukass, da Igreja Batista Leta de São Paulo;
conselhos e comentários sobre questões de saúde, pelo Dr. Eduardo Li-
ger, filho de Palma etc.
Além das publicações em leto e russo, não podemos deixar de men-
cionar as publicações em português. Entretanto, não nos foi possível
catalogá-las. A principal destas, parece-nos, é a brochura anual deno-
minada A Boa Semente, atrás referida, coletânea de estórias e poesias
para crianças, na redação da ProP Maria Mellenberg, cuja tiragem é de
2.000 exemplares, dos quais, aproximadamente, 500 são enviados às Es-
colas da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira.
As demais publicações em português são diversos folhetos de evangeli-
zação e doutrinamento, que têm sido muito usados, especialmente pelas
igrejas da região da Alta Paulista.

290
Em suma, os periódicos religiosos e outras publicações editados pela
Casa Publicadora Palma — especialmente nos idiomas leto e russo, acres-
cidos de seus suplementos trimestrais e anuais já citados, representam,
através dos seus 47 anos de circulação, uma biblioteca religiosa consi-
derável e variada, espalhada por cerca de 22 países de 4 continentes deste
"mundo vasto, imenso", por onde estavam dispersos, pelas guerras e per-
seguições, os seus leitores letos, russos, búlgaros, bessarábios, ucrania-
nos, rumens e poloneses. (45)
Escapa aos cálculos humanos a contribuição que a comunidade de
Palma tem dado à evangelização e à edificação, consolação e inspiração
do povo de Deus nas três línguas através do seu humilde trabalho de
publicações religiosas. Este trabalho foi o laço que uniu e ainda con-
tinua unindo, especialmente os letos do Brasil, dos Estados Unidos da
América do Norte e do Canadá, em torno da obra missionária que se
desenvolve no Brasil e na Bolívia.
Por motivos de ordem técnica, a partir de junho de 1972, os perió-
dicos da Corporação Evangélica Palma passaram para a IGREJA BA-
TISTA DE PALMA, continuando como seu diretor e redator responsável,
o Pastor Jacó R. Inke. O Kristigs Draugs vem agora com a seguinte
apresentação: O Amigo Cristão — mensário religioso em língua leta,
dedicado exclusivamente à promoção da Fé cristã e do trabalho missio-
nário. Mediante solicitação à Igreja Batista de Palma, será enviado gra-
tuitamente a quem o desejar receber." (46)
3.3 — A Igreja Batista de Palma
Em 2 de abril de 1934 foi fundada a Igreja Batista do Picadão, com-
posta de letos e brasileiros evangelizados pelos irmãos de Palma, a qual,
de 1939 em diante, passou a chamar-se Igreja Batista de Palma. Inicial-
mente, fora dado aquele nome à novel igreja para não identificá-la com
a Corporação Evangélica Palma, uma vez que a congregação se organi-
zava em igreja com membros letos de Palma e brasileiros dos vários
pontos de pregação espalhados pelas matas e sítios além do ribeirão
denominado Picadão (ou Aldeia Grande), o único acidente geográfico
que lhes era comum, porque servia de divisa. (47 ) Mais tarde, com o de-
senvolvimento do trabalho missionário e organização da igreja em San-
tana, cidade da Alta Paulista, que posteriormente mudou seu nome para
Herculândia — passando também a igreja a ser conhecida por este nome
— os membros brasileiros na sua totalidade desligaram-se da Igreja
Batista de Picadão, permanecendo nela apenas os letos de Palma, razão
por que foi adotado o novo nome — Igreja Batista de Palma — na qual,

(45) Os países aos quais chegaram as publicações referidas, segundo as nossas pesquisas
em entrevistas e questionários, eram os seguintes: Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Vene-
zuela, Bolívia, Estados Unidos da América do Norte, Canadá, Alemanha, Inglaterra, Suécia,
Letônia, Suíça, França, Bélgica, Holanda, Austrália, índia, Palestina, Polônia, Bessarábia
e Rumênia.
(46) Kristigs Draugs, n9 6, junho de 1972, 1° contracapa.
(47) Osol, Alida, "Wahrpas Pikadonas baptistu draudzes dibinaschana" (Fundação da
Igreja Batista do Picadão Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 4, abril de
1934, pp. 78 e 79.

291
porém, nunca deixou de ser feito trabalho em português, principalmente
o estudo bíblico na Escola Bíblica Dominical, pois que os vizinhos mais
próximos e os campeiros brasileiros que foram admitidos sempre se con-
gregavam com os letos.
A igreja foi organizada com 137 membros, ( 4S) reunindo-se, a princí-
pio, no refeitório da comunidade e depois no santuário da Escola Missio-
nária, atrás referida. Lamentavelrnente não existem mais atas dos pri-
meiros anos de vida da igreja em Palma, ( 4°) razão pela qual desconhe-
cemos o movimento de membros naquele período e as decisões importan-
tes que por ela foram tomadas. Contudo, pelo noticiário sabemos que o
número de freqüentadores dos cultos andava pela casa dos duzentos; que,
sendo uma igreja leto-brasileira, foram eleitos dois pastores: Pastor João
Inkis para os letos, que em sua grande maioria não entendiam a língua
portuguesa, e o Pastor Arvido Eichmann para os brasileiros; e que na
mesma ocasião foram escolhidos 10 diáconos, 7 letos e 3 brasileiros. Os
diáconos brasileiros já eram fruto do trabalho missionário, (50 ) sendo
que um deles, o irmão Antônio Garcia Gimenes, veio a ser mais tarde
pastor de uma das igrejas batistas brasileiras na cidade de São Paulo.
Daí por diante a igreja prosseguiu vitoriosa, dando excelente exem-
plo de consagração, cooperação e liberalidade no trabalho missionário.
Em tudo isto, na verdade, a Corporação se confundia com a Igreja. Aque-
la fazia a obra, dividindo as honras com esta. Desenvolveram-se coros
de adultos, de jovens e de crianças quase que exclusivamente de elemen-
tos da Corporação. Neles destacaram-se os regentes Hary Ruks, Carlos
Osol, Carlos Purgailis Gruber e os irmãos Eugênio e Alexandre Samo-
lovics. De igual modo, organizou-se uma orquestra de bandolins e vio-
lões, com cerca de 30 figuras, sob a regência do irmão Karlis Grigoro-
witsch. Cresceram as Uniões de Jovens e de Adolescentes, realizando
programas especiais com diversas motivações — missões, música, poesia,
literatura, beneficência etc. Multiplicaram-se equipes de evangelização —
de pregadores, cantores, declamadores, professores — que saíam aos sá-
bados à tarde ou domingos pela madrugada nas diversas direções, en-
frentando, a pé (poucas vezes de caminhão, por razões econômicas ou
falta de estradas), sob o sol causticante ou chuvas torrenciais, distân-
cias de 15, 20, 30 e até 45 km, por estradas arenosas e trilhos ou picadas
nas matas, a fim de oferecer aos caboclos e aos imigrantes de diversas
nacionalidades as luzes do conhecimento intelectual e espiritual, através
das escolas dominicais de alfabetização e de estudo bíblico, seguindo-se
os cultos de pregação do evangelho de Jesus Cristo. (51)
A parte brasileira da igreja, porém, oferecia o vasto campo de ativi-
dades missionárias para a mesma. Casebres solitários na mata virgem,
sítios, colônias e sedes de fazendas, cidades novas, que iam surgindo
principalmente ao longo do traçado da Estrada de Ferro Paulista, e nu-

(48) IGREJA BATISTA LETA DE VARPA, Atas, Ata de 5 de fevereiro de 1934.


(49) Dobelis, G., Carta ao autor, firmada em Palma em 6 de novembro de 1968.
(50) Osol, Alida, Op. cit., p. 79.
(51) Informações sintetizadas do vasto noticiário da seção "Misione" (Missões), do perió-
dico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), editado em Palma.

292
cleos coloniais de estrangeiros eram os locais onde moravam os irmãos
que faziam parte da igreja e trabalhavam, preparando caminho para os
irmãos letos de Palma, que, com a sua experiência e seus dons, iam pre-
gando, organizando, batizando e construindo as chamadas "misiones tel-
tis" (tendas de missões), que, no começo, em duas localidades pelo me-
nos, eram tendas de pano, sendo logo construídas coberturas de tabuinhas
de madeira sobre quatro ou mais esteios, de paredes de lascas de co-
queiro e chão batido, e, finalmente, construções de tábuas ou de alve-
naria, assoalhadas, denominadas "luhgschanas nami" (casas de oração).
Também liberal foi a participação da Igreja Batista de Palma na obra
realizada pelos batistas brasileiros, como Missões Nacionais, Missões Es-
trangeiras, Missões Estaduais, Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, Beneficência e construção de diversos templos de igrejas brasi-
leiras que solicitavam ajuda. E isto, mesmo antes de sua filiação à Con-
venção Batista Brasileira.
A "Mision Evangélica Bautista Leta", que há quase três décadas
vem atuando em Rincón del Tigre, na selva boliviana, também teve a sua
origem num grupo de irmãos de Palma que em 1944 deixou a comuni-
dade para fundar uma outra, nos mesmos moldes, às margens do lago
Gaíba, na fronteira do Estado de Mato Grosso com a Bolívia, de onde
dois anos depois mudou-se para o interior do território do país vizinho.
A história desta missão será apresentada à parte, em detalhes, em um dos
capítulos seguintes.
Outro aspecto importante na cooperação da igreja e da comunidade
de Palma na evangelização antes do Curso de Extensão já mencionado
foi a prontidão em hospedar os diversos cursos, especialmente para os
obreiros eslavos, visando à preparação de professores para Escolas Bí-
blicas Dominicais, pregadores leigos, regentes de coros e músicos (houve
cursos com mais de 50 participantes), bem como reuniões de pastores
e evangelistas letos, eslavos e brasileiros. Por várias vezes também re-
cebeu Assembléias anuais da Mocidade Batista da Alta Paulista e da
Associação das Igrejas Batistas da Alta Paulista, sempre demonstrando
a genuína fraternidade cristã.
Finalmente, registramos aqui a doação, em 1264, de todo o acervo de
Palma à Convenção Batista Brasileira, para o uso perpétuo dos batistas
desta terra, que tão acolhedora foi para os imigrantes batistas letos.
Hoje, ali se acha instalado o Acampamento Batista de Palma, de âmbito
nacional, que, em sua fase inicial, esteve sob a administração da Junta
Executiva da Convenção Batista Brasileira, achando-se desde agosto de
1971 sob a jurisdição da Junta de Educação Religiosa e Publicações da
mesma Convenção. A história desta doação será apreciada em um dos
últimos capítulos da presente dissertação.

293
PARTE IV

CRESCIMENTO DA OBRA MISSIONARIA


DOS BATISTAS LETOS NO BRASIL
CAPITULO VIII

INICIATIVAS MISSIONÁRIAS DOS BATISTAS LETOS


DE VARPA E A INTEGRAÇÃO DE SUA OBRA COM OS
BATISTAS BRASILEIROS

1. Tentativas Iniciais de Relacionamento com os Batistas


Brasileiros
1.1 — Ênfases doutrinárias do Pastor João Inkis, o líder
principal
1.2 — Acusações de pentecostismo no movimento
1.3 — Correntes e posições doutrinárias na Igreja Batista
Leta de Varpa
1.4 — Algumas ênfases doutrinárias dos batistas letos de
Varpa

2. Despertamento Missionário Entre os Batistas Letos de Varpa


2.1 — Conferência para definições em 1924
2.2 — Conferência Missionária de Varpa em 1926

3. Campos Étnicos de Atividades Missionárias


3.1 — Missão entre eslavos
3.2 — Missão entre alemães
3.3 — Missão entre lituanos
3.4 — Missão entre brasileiros

4. Órgãos de Coordenação Missionária


4.1 — Comissões missionárias da Igreja Batista Leta de
Varpa
4.2 — Centro da Missão Sertaneja
4.3 — Novas Igrejas Batistas Letas em Varpa
4.4 — União Missionária Batista Leta do Brasil
4.5 — União das Igrejas Batistas Eslavas do Brasil

5. Escola Missionária do Sertão

6. Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do


Brasil em Palma

7. Integração dos Batistas Letos de Varpa nas Estruturas


Batistas Brasileiras
7.1 — Fatores que concorreram para a integração
7.2 — Marchas e contramarchas na integração

298
CAPITULO VIII
INICIATIVAS MISSIONÁRIAS DOS BATISTAS LETOS
DE VARPA E A INTEGRAÇÃO DE SUA OBRA COM OS
BATISTAS BRASILEIROS

No capítulo anterior, quando enfocamos a comunidade de Palma, já


nos referimos às suas atividades missionárias ligadas à própria existên-
cia da corporação. Voltando agora a um panorama geral da vida dos
batistas letos de Varpa, parece necessário examinar as raízes históricas
da obra missionária que esses irmãos desenvolveram, sua expansão e a
contribuição que ela deixou para o crescimento do reino de Deus em
nossa terra e no país vizinho, a Bolívia.

1. Tentativas Iniciais no Relacionamento com os Batistas


Brasileiros

Antes de entrarmos propriamente no exame da promoção da obra


missionária pelos batistas letos de Varpa, é mister reportarmo-nos a al-
guns fatos que têm a ver com o relacionamento desses irmãos com os
batistas brasileiros, fatos esses que influíram na origem e rumo das suas
iniciativas e atividades missionárias.

1.1 — Ênfases doutrinárias do Pastor João Inkis, o líder principal


O Pastor João Inkis, com esposa e um casal de filhos recentemente
saídos da adolescência, chegou ao Brasil em 20 de setembro de 1921,
desembarcando no Rio de Janeiro, então Capital do país, hospedando-se
por uns dias no lar do seu irmão Dr. Ricardo J. Inke, professor e deão
do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil — então chamado Co-
légio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, na ala esquerda da vetusta
residência outrora pertencente ao Barão de Itacuruçá. Antes de seguir
para Nova Odessa, onde tomaria posse no pastorado da Igreja leta a 25
de setembro, o Pastor João Inkis visitou, na noite de quinta-feira, dia 22,
a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, quando dirigiu uma palavra
à mesma. Depois, informando os batistas da Letônia sobre a chegada

299
da família Inkis ao Brasil, seu filho, João Inkis Jr. (1) escreveu no órgão
oficial dos batistas letos:
Após a introdução do pastor da igreja, Dr. F. F. Soren,
falou ao auditório meu pai, interpretado para o português por
meu tio, Ricardo Inke. Entre outras coisas, o orador enfatizou
os sinais da proximidade da segunda vinda de Cristo e o esta-
belecimento do seu reino, apontando para a estátua do sonho de
Nabucodonozor, a qual já se encontra em seu estágio de desin-
tegração. (2 )
Em torno da chegada do Pastor João Inkis ao Brasil, O Jornal Ba-
tista de 6 de outubro daquele ano publicou o seguinte comentário:
Conforme fora anunciado, o Pastor Inkis, irmão do nosso
amado irmão e amigo Dr. Ricardo Inke, recém-chegado da
Rússia, narrou, na quinta-feira p.p., à noite, na Primeira Igreja,
as condições atuais daquele grande país onde domina o bol-
chevismo. O Pastor Inkis é uma figura simpática, de um belo
físico, expressão jovial e denunciadora de um forte caráter
cristão. Vinha acompanhado de sua esposa e filhos. Contou
ele algumas das suas experiências como pastor da Primeira
Igreja Batista de Riga (hoje, capital da Letônia, um país nas-
cido da guerra), como presidente da Convenção Batista e re-
dator do jornal batista oficial. Segundo ele, as condições mo-
rais e espirituais do povo russo são atualmente muito piores
que as suas condições físicas; e não só as do povo russo, mas
as de toda a Europa. Há alguns séculos começou o ateísmo a
invadir as classes intelectuais; mas atualmente ele invade as
massas de trabalhadores. É ali agora muito comum ver-se um
homem, e até uma mulher, levantar o punho cerrado para o
céu e amaldiçoar as pessoas da Santíssima Trindade. Na sua
opinião, a Europa está deixando passar o seu dia, e o lugar de
refúgio da religião é o continente novo, a América. Parece,
entretanto, que este grande homem de Deus, no seu zelo pela
causa do Senhor, foi tomado de desânimo como Elias. Talvez
que, sob condições mais favoráveis, se avigore a sua esperança
e veja as maravilhas que o Senhor está operando nos velhos
continentes, e os sete mil que não dobraram os seus joelhos ao
Baal do ateísmo, da imoralidade, do egoísmo, etc. (3)
Nota-se que o Pastor João Inkis revelou, francamente, as suas con-
vicções e a sua visão profética da desgraça que cairia sobre a Europa, o
que de fato aconteceu com a hecatombe da II Guerra Mundial. Todavia,
parece haver uma certa reserva, que o nosso órgão oficial insinua no
comentário em tela com respeito à posição doutrinária do Pastor João

(1) Este irmão já por algumas décadas é membro da Igreja Batista da Liberdade, São Paulo,
Capital.
(2) Inkis Júnior, J., "Jaunajâ tehwijã" (Na Nova Pátria), Kristiga Balss (A Voz Cristã),
n° 8, de 15 de dezembro de 1921, p. 220. Editado em Riga, Letônia, pela União das Igrejas
Batistas da Letônia.
(3) O Jornal Batista, Ano XXI, n° 40, de 6 de outubro de 1921, p. 12.

300
Inkis e que depois refletiu sobre o movimento imigratório de batistas
letos no Brasil em 1922/23.
Ainda no órgão dos batistas brasileiros, no número seguinte, onde
aparece na primeira página, em destaque, a fotografia das famílias dos
c'ois Inkis — João e Ricardo — depois de noticiar a partida do Dr. Ri-
cardo Inke para os Estados Unidos, lemos a seguinte nota, referente ao
pastor recém-chegado:
O seu irmão carnal e irmão na fé, Rev. João Inkis, ao qual
já em número anterior nos referimos, foi durante 22 anos pas-
tor da primeira Igreja batista de Riga, Capital da província
russa da Livônia, constituída em Estado independente como
conseqüência da grande guerra, porque este povo tem uma lín-
gua e história adiantadas e separadas das do povo russo, ao
qual estava ligado apenas pela força. O Rev. João Inkis é na
sua pátria um escritor e poeta de nome. Passou por duras pri-
vações durante a guerra, vindo restaurar o seu espírito atribu-
lado na Canaã Brasileira, onde espera a vinda de muitos outros
irmãos, até aos quais a fama da hospitalidade do nosso povo
e da huberdade do nosso solo já chegou. O dito irmão tem uma
idéia arraigada muito interessante. Ele crê que o Brasil será o
refúgio da Igreja de Cristo, nas últimas grandes tribulações,
antes da segunda vinda do mesmo Senhor. Estará direito nesta
sua crença? Não sabemos, Deus o sabe; mas confessamos que
grande privilégio seria o nosso se o Senhor nos desse essa hon-
ra. ( 4 )
Novamente aparece nítida a posição enfaticamente escatológica do
Pastor João Inkis e agora mais compreensiva a atitude de O Jornal Ba-
tista.
Em janeiro de 1922, nos dias 24 a 26, realizou-se, na Igreja Batista
de Santos, a 13a Assembléia Anual da Convenção Batista Paulistana.
Como pastor de uma das mais prósperas igrejas batistas do Estado —
a Igreja Batista Leta de Nova Odessa — e desejando se entrosar com os
batistas brasileiros, João Inkis compareceu, juntamente com outros men-
sageiros de sua igreja, àquele conclave em Santos. Notou, entretanto,
que a liderança — com poucas e honrosas exceções — demonstrava uma
certa reserva para com ele. Com a partida do Pastor Dr. Ricardo J. Inke
para a América do Norte, aparentemente o seu irmão João Inkis ficou
ignorado, bem como o movimento imigratório batista leto por ele refe-
rido. (5)
1.2 — Acusações de pentecostismo no movimento
O golpe mais forte, porém, veio uns poucos meses depois, quando foi
publicada pelo O Jornal Batista uma nota, colhida de um jornal batista
estrangeiro, que dava conta de certa comunicação do presidente do Se-
minário Batista de Riga, Capital da Letônia, em que se dizia que a deno-

(4) Id., Ano XXI, n° 41, 13 de outubro de 1921, p. 1.


(5) Malves, J., Depoimento firmado em 3 de novembro de 1966, em Rumo-a-Oeste, Mato
Grosso.

301
minação batista em todo o Báltico estava enfrentando certas dificuldades
devido a um movimento pentecostal que escolheu o Brasil como esconde-
rijo para escapar ao terror cio Anticristo mencionado no Apocalipse.
Porém a denominação estaria enfrentando, vitoriosa, "a propaganda dos
fanáticos e desequilibrados". (6)
Tal nota provocou da parte de Júlio Malves, de Nova Odessa, uma
retificação bastante minuciosa e longa, provando a impropriedade da
acusação com referência ao movimento de despertamento espiritual que
estava ocorrendo na Letônia e que nada tinha de pernicioso e demons-
trando, inclusive com dados estatísticos, que os 8.000 batistas daquele
país haviam evangelizado com tanta eficiência que em 1920 haviam efe-
tuado 800 batismos e em 1921 precisamente 1.120, enquanto nos anos
anteriores esse número havia oscilado entre 100 e 200 apenas. Disse
ainda, que não havia razão de ridicularizar o problema de emigração dos
letos para o Brasil, lembrando que 300 anos antes "huguenotes e batis-
tas perseguidos emigraram da Europa em demanda à América do Norte,
fugindo dessa maneira da "coroa do martírio"; porém, quão grande tem
sido a bênção que isso trouxe para todo o mundo Cristão! Se Deus faz
cousas extraordinárias nestes tempos também extraordinários, isto não
é contra as Escrituras e deve tão-somente encher os nossos corações de
júbilo e reverência. "Júlio Malves, porém, arrematou a retificação com
uma certa censura ao nosso órgão denominacional por ter divulgado tal
notícia tendenciosa em que foram acoimados de "fanáticos e desequili-
brados" irmãos nossos, sem melhor averiguação, o que motivou uma
nota da Redação. (7)
A retificação de Júlio Malves, porém, foi retificada por sua vez, pelo
Pastor leto Eduardo Alkshbirze, de Ijuí, afirmando que a notícia pu-
blicada pelo nosso jornal era verdadeira, acrescentando mais outros de-
talhes. (8 ) Não satisfeito com o seu artigo, escreveu o pastor aludido
ao Secretário da União das Igrejas Batistas da Letônia, Sr. K. Freywald,
um leigo de projeção — alto funcionário do Ministério do Interior da
Letônia — a quem enviou, traduzida para o idioma leto, a retificação
de Júlio Malves, solicitando urna resposta. Esta de fato veio pouco de-
pois e foi traduzida para o português pelo Pastor Eduardo Alkshbirze
e publicada em O Jornal Batista para conhecimento da denominação
batista brasileira, citando, inclusive, nomes dos líderes do movimento que
já haviam embarcado para o Brasil e afirmando, categoricamente, que
eles "não são batistas". (9 ) Entretanto, tal afirmação do Sr. K. Frey-
wald, assinada em 23 de setembro de 1922, não condizia com o seu rela-
tório dado à denominação na Letônia sobre uma reunião da Junta Exe-
cutiva, publicado apenas oito dias antes (15 de setembro de 1922) no
jornal denominacional Kristiga Balss, em que não há a mais leve refe-

(6) O Jornal Batista, Ano XXII, n° 23, de 1 de junho de 1922, p. 12.


(7) Malves, J., "São Paulo, Nova Odessa", O Jornal Batista, Ano XXII, n5 25, 29 de
junho de 1922, p. 18.
(8) Alkshbirze, Ed., "Retificação a uma Retificação", O Jornal Batista, Ano XXIII, n° 33,
24 de agosto de 1923, p. 4.
(9) Id., "O Pentecostismo na Letônia", O Jornal Batista, Ano XXIII, n° 49, 28 de dezembro
de 1923. pp. 8 a 10.

302
rência a pentecostismo e nenhuma nota que denunciasse a intolerância
expressa naquela, traduzida pelo Pastor Eduardo Alkshbirze. Eis a parte
relativa ao assunto, extraída do relatório mencionado:
Apreciando de um modo geral o trabalho realizado na i'eu-
nião da Junta, constatamos que este foi produtivo e objetivo.
Com pesar temos que registrar o afastamento de nossas fileiras
de alguns obreiros, como os irmãos Alberto e Arvido Eichmann,
R. Andermann e P. Ceipe, que emigraram para o Brasil, obede-
cendo a um chamamento íntimo. Ouve-se que mais alguns
obreiros emigrarão, seguindo estes. O fenômeno, segundo o
nosso juízo, é incompreensível e indesejável, pois isto produ-
zirá um claro no nosso trabalho. Entretanto, nós confiamos no
nosso Grande Mestre e na sábia direção do nosso Chefe na obra
missionária, que não permitirá que o trabalho venha a perecer
até o dia do seu resplendor em glória, e que cuidará do desper-
tamento espiritual da Letônia, aclarando as nuvens escuras que
no momento estão acumuladas sobre as igrejas, produzindo ne-
las uma impressão melancólica. Os nossos irmãos não emigram
sem o conhecimento do nosso Senhor para um futuro desconhe-
cido ou para uma escuridão. E mesmo que este seu passo fosse
fruto de um espírito de engano, nós ainda cremos que a mão do
Senhor os não abandonará, mas que na hora precisa os deterá
e desviará do caminho errôneo, conduzindo-os para o certo.
Desejamos, aos que partem, o melhor, e oremos para que o
Senhor fique conosco em nossa terra e nos dê forças para que
não desfaleçamos na sua obra e sejamos uma bênção para os
nossos patrícios. (1°)
Fica, pois, para a História a discrepância inexplicável, uma vez que
aqueles que poderiam dar as explicações já estão sepultados.
A impressão, porém, que ficou na liderança batista leta de Varpa
foi que a acusação havia encontrado eco no meio batista brasileiro, a co-
meçar pelo seu órgão oficial — O Jornal Batista — que divulgou os co-
mentários acres dos opositores do movimento imigratório, porém guar-
dou silêncio absoluto sobre uma imigração batista inédita, que deu en-
trada no país a um contingente de quase dois mil batistas, que fundaram,
em plena mata virgem do Estado de São Paulo, a maior Igreja Batista da
América do Sul na época, igreja esta que, a certa altura do ano de 1923,
possuía mais membros que todas as 17 igrejas batistas existentes no
Estado de São Paulo no ano anterior, isto é, 1.650, e quase o número de
membros das 18 igrejas batistas do então Distrito Federal (hoje Estado
da Guanabara), que somava a 1.894. (11)

(10) Freywald, K., -Sabeedribas Padomes 11 sehde, 29 un 30 augustâ Rigâ" (A 11' Reu-
nião da Junta Executiva da União, realizada em Riga, nos dias 29 e 30 de agosto), Kristiga
Balss (A Voz Cristã), órgão da União das Igrejas Batistas da Letônia, n9 18, 15 de setem-
bro de 1922, p. 417.
(11) O Jornal Batista, Ano XXIII, n° 16, de 19 de abril de 1923, p. 16. Idem, 15, de 12
de abril de 1923, p. 5.

303
Um segundo surto de acusações da mesma natureza, desta vez par-
tindo de elemento brasileiro, surgiu em fins de 1925 e se prolongou por
mais de um ano, esmorecendo, depois, lentamente. Foi na cidade de
São Paulo e foi dirigido à congregação batista leta ali existente desde
fins de 1923, constituída, em quase sua totalidade, de moças e senhoras
procedentes da Igreja Batista Leta de Varpa, porém, já filiada à Pri-
meira Igreja Batista em São Paulo, que desde 12 de março de 1925 es-
tava sob os cuidados do Pastor Emílio Kerr. (12 ) Essas irmãs haviam
deixado a Colônia Varpa, em busca de emprego na Capital, para ajudar,
com o fruto do seu trabalho, as suas famílias a instalarem os seus sítios
próprios. A Primeira Igreja Batista em São Paulo, ainda no pastorado
do missionário F. M. Edwards, havia cedido uma de suas dependências
para aquele grupo. (13 ) Com a chegada de alguns irmãos — chefes de
família e solteiros — as atividades do grupo passaram a ter um caráter
mais organizado, com feições de uma congregação. Em atendimento
aos apelos do pastor e outros obreiros pela integração dos irmãos letos,
a Primeira Igreja Batista em São Paulo recebeu cartas de transferência
de 35 membros da Igreja Batista Leta de Varpa, em sessão de 24 de abril
de 1924, e mais 47 em sessão de 19 de fevereiro de 1925, autorizando, ao
mesmo tempo, aquela congregação de letos a celebrar a Ceia do Senhor
em separado — com a assistência do pastor da igreja — em razão de seus
membros não entenderem o português. (14 ) Aconteceu, entretanto, que,
por vários motivos ponderáveis, também as outras reuniões foram sendo
realizadas pelo grupo leto em separado. Entre estes, foram citados três
fundamentais: 1) Os letos conheciam ainda muito pouco o português
para terem proveito real dos cultos da Primeira Igreja Batista em São
Paulo; 2) pela mesma razão não podiam se expressar em orações e cân-
ticos, fatores muito caros à vida espiritual, ainda mais que a nostalgia
oriunda da separação de sua terra e de sua grande igreja em Varpa
oprimia bastante aquele grupo; 3) incompatibilidade de horários para a
grande maioria da congregação, dada a natureza de suas ocupações —
serviços domésticos — em que os patrões concediam dispensa somente
aos domingos à tarde. (15)
Na sessão de 19 de novembro de 1925 a Primeira Igreja Batista em
São Paulo, já sob a orientação do novo pastor, dirigiu-se aos irmãos letos
por meio de um memorandum em que os acusava de práticas pentecostais
em seus cultos. Estes, refutando as acusações, deram motivos para a
convocação de um concílio de pastores, para a qual o pastor ficou autori-
zado em sessão de 17 de fevereiro de 1926. Não há notícia, porém, da
realização do concílio. Mas na sessão de 18 de março de 1926 foi lida
uma carta do missionário Salomão Luiz Ginsburg em que, respondendo

(12) "Primeira Igreja Batista de São Paulo", O Jornal Batista, Ano XXV, n° 13, 26 de
março de 1925, p. 16.
(13) Krikis, Lucija, "Masu Darbs" (O Trabalho das Irmãs), S. Paulas Latviesu Bapfistu
Draudze 20 Gados (Igreja Batista Leta de São Paulo em 20 anos), edição da Igreja Batista
Leta de São Paulo, 1954, p. 59.
(14) Primeira Igreja Batista em São Paulo, Atas, Informação fornecida pela secretaria da
Igreja.
(15) Andermann, Carlos Rodolfo, Entrevista em 12 de janeiro de 1968.

304
a um questionário que lhe fora enviado pela igreja, condenou o pente-
costismo e ao mesmo tempo fez uma advertência "quanto ao comporta-
mento da igreja, que não deveria ter feito acusações sem provas". Após
mais algumas ponderações, em 13 de maio de 1926 a Primeira Igreja
Batista em São Paulo tomou a seguinte deliberação: "que a língua a ser
usada, de hoje em diante nos cultos, seja apenas o vernáculo", dando-se
o prazo até o fim do mês para a congregação leta tomar conhecimento
da mesma. (16 )
Diante de tal situação — que já era mais uma questão idiomática
que teológica — nada mais restava aos irmãos letos, senão deixar a Pri-
meira Igreja Batista em São Paulo. Pediram o prazo até 30 de junho de
1926 para permanecerem nas condições em que se encontravam, ao mesmo
tempo agradecendo "o fato de por tanto tempo terem-nos agasalhado
em seu meio". (17) O prazo lhes foi concedido. Encontraram, no templo
da Igreja Presbiteriana Independente, na Rua 24 de Maio, um novo aga-
salho, onde permaneceram por 16 anos, sempre desfrutando a mais am-
pla cordialidade. (18) Para evitar novas dificuldades e julgando que a
sua permanência na cidade de São Paulo seria temporária, os batistas
Tetos filiaram-se novamente à Igreja Batista Leta de Varpa, de onde
recebeu a Primeira Igreja Batista em São Paulo a solicitação de cartas
de transferência para 61 irmãos, em 16 de setembro de 1926, (19 ) tornan-
do-se, assim, uma congregação daquela igreja.
Posteriormente, o Pastor Dr. Paulo C. Porter, por muitos anos Se-
cretário Correspondente e Tesoureiro do campo batista paulistano, assim
se referiu ao caso em tela:
Chegamos ao Brasil em agosto de 1922. Cerca de três
meses depois da nossa chegada o missionário F. M. Edwards
me disse que ia a Santos encontrar-se com um grupo de irmãos
batistas vindos da Letônia. Algum tempo depois da sua che-
gada — não sei se meses ou um ano — um grupo desses irmãos
começou a se reunir nas dependências da Primeira Igreja Ba-
tista em São Paulo. Tudo foi muito bem até a morte do irmão
Edwards em 1924. A Primeira Igreja escolheu outro pastor, e
este, ouvindo as orações fervorosas dos letos e não entendendo
o que diziam, concluiu que eram pentecostais... Eles foram
procurar outro lugar, encontrando-o na Igreja Presbiteriana
Independente. O pastor da Primeira Igreja Batista de São
Paulo, não satisfeito... publicou um artigo no Batista Pau-
listano, denunciando-os como pentecostais... Não demorei em
ter contato com o irmão Carlos Kraul, então pastor da Igreja
Batista Leta de Nova Odessa. Conversando com ele muitas
vezes, fiquei com vontade de visitar a Colônia Varpa. Destas
(16) Primeira Igreja Batista em São Paulo, Atas, 19-11-1925; 21-01-1926; 17-02-1926; 18-03-
1926; 13-05-1926. Dados fornecidos pela secretaria da Igreja.
(17) Id., Ata, 16-06-1926. Dados fornecidos pela secretaria da Primeira Igreja Batista em
São Paulo.
(18) Andermann, Carlos Rodolfo, loc. cit.
(19) Primeira Igreja Batista em São Paulo, Ata, 16-09-1926.

305
conversas concluí que aqueles irmãos eram batistas, e não pen-
tecostais. (20 )
Em janeiro de 1926 o Dr. Ricardo J. Inke levou a Varpa o Pastor Co-
ronel Antônio Ernesto da Silva, na ocasião Presidente da Convenção Ba-
tista Paulistana, que no ano anterior havia sido Secretário Corresponden-
te da mesma Convenção e, em 1920, Presidente da Convenção Batista Bra-
sileira. Aquele servo de Deus, de convicções sólidas, foi o primeiro líder
batista brasileiro a visitar a Colônia Varpa e desfazer publicamente, pelo
órgão da Convenção Batista Brasileira, as incompreensões e os precon-
ceitos que pairavam sobre os batistas letos de Varpa. Vale a pena trans-
crever as impressões e as conclusões do Pastor Coronel Antônio Ernesto
da Silva. Ei-las:
Estou escrevendo do sertão Paulista, mas sertão onde o
Senhor Jesus Cristo tem fiéis seguidores.
Enviado pela Convenção Batista Paulistana, estou visitan-
do os irmãos letos que constituem a igreja local, convindo ob-
servar que o nome da estação é Sapezal, mas a colônia onde está
organizada a igreja se chama Varpa.
A igreja de Varpa foi organizada em 1923, com 1.400
membros. (*) n atualmente seu pastor o irmão André Pincher,
formado pelo Seminário Batista de Hamburgo e zeloso defen-
sor das nossas doutrinas. Presentemente, a igreja conta com
mil e poucos membros na colônia, visto terem partido 180 para
a fazenda Dourados, acompanhados pelo Pastor Eichmann, e
200 ou mais terem seguido para a Capital, em busca de recur-
sos para a manutenção dos membros da família e outros fins.
interessante e impressionante a história destes irmãos,
e só conversando com eles é que se pode avaliar os seus sofri-
mentos e vitórias.
Quando o bolchevismo invadia sorrateiramente a sua ter-
ra, tiveram eles, depois de algumas reuniões de avivamento e
de muitas orações, a inspiradora idéia de vir para o Brasil, es-
tabelecendo-se em São Paulo...
Uma desconfiança, porém, pairava sobre a doutrina destes
irmãos, pois de longe lhes vinha sendo feita a acusação de um
pentecostismo fanático e pernicioso. Tal desconfiança foi des-
feita em meu espírito, não só pela convivência tida com eles,
como também pelos cultos que tenho prestado com eles ao Al-
tíssimo, nos quais não tenho observado o menor indício de pen-
tecostismo, ao contrário, tenho visto a ordem e a decência re-
comendadas pelo Apóstolo, e estou certo de que qualquer irmão
que aqui vier, terá a mesma impressão que estou tendo, isto é,
que estes irmãos são batistas, e isto é o que professam ser em
seus sermões, orações e hinos.

(20) Porter, Paulo C., Carta firmada em 5 de outubro de 1968. O grifo é nosso.
(*) Em abril de 1923 a igreja possuía 1.400 membros, mas já em setembro do mesmo ano
1.750 (O. R.)

306
Se tem havido algumas idéias esquisitas, a igreja não tem
culpa e está vigilante e zelosa pela pureza das doutrinas do
Evangelho...
Pelo que tenho observado, estes irmãos estão ansiosos para
nos auxiliarem no trabalho do Senhor e estou certo, ao menos
tenho esperança, de que eles serão excelentes cooperadores com
os batistas brasileiros e especialmente com os paulistanos. O
que eles têm feito materialmente atesta que vão fazer muito
mais espiritualmente...
Os hinos cantados neste longínquo sertão atestam a alegria
que lhes vai no coração por possuírem a salvação, e, finalmente,
as suas vidas e o zelo pela grande Causa estão mostrando que
amam a Jesus. . . Como é arrebatador ouvirem-se hinos tão
harmoniosos quão espirituais, cantados neste longínquo sertão!
Glória, Glória a Jesus! Aleluia! (21)
Embora valiosa a opinião do Presidente da Convenção Batista Pau-
listana, Pastor Coronel Antônio Ernesto da Silva, os acontecimentos com
relação aos batistas letos na Primeira Igreja Batista em São Paulo e o
artigo do seu pastor no Batista Paulistano aconselhavam aos líderes da
Igreja Batista Leta de Varpa uma atitude de espera com respeito à inte-
gração na obra batista brasileira. Preferiram, esses irmãos, encontrar o
seu lugar, por obscuro que fosse, na promoção do Reino de Deus, na
medida em que o Senhor mesmo lhes abrisse os horizontes, a visão, as
oportunidades e as possibilidades em recursos materiais e humanos, dei-
xando para mais tarde a questão da integração. Acreditaram que o
tempo aplainaria o caminho para esta integração, afastando os obstá-
culos.

1.3 — Correntes e posições doutrinárias na Igreja Batista Leta de Varpa

Houve, entretanto, no meio batista leto de Varpa, naqueles dias pri-


mitivos, alguns elementos de correntes doutrinárias extremadas. Tole-
rava-se-lhes os desvios, na esperança de sua volta ao equilíbrio, o que
não deixava de criar, freqüentemente, tensões e crises, que chegavam a
dividir a própria liderança. Eram elementos que haviam absorvido algo
semelhante ao que se observa no seio do pentecostismo, entretanto, não
se identificando com ele. Evidentemente, esses elementos, ou suas idéias
doutrinárias, não serviam de aferidores da Igreja Batista Leta de Varpa.
Dois desses grupos extremados, aliás pequenos, decantaram-se bem cedo
e separaram-se da comunhão da igreja, sendo excluídos. Um deles teve
a sua origem na congregação de Palma e outro na de São Paulo. Anos
depois, mais outros dois grupos, estes maiores que os primeiros, também
separaram-se da igreja. Um deles resultou na fundação de uma igreja
tipo renovacionista, de duração efêmera, com o Pastor Alexandre Abolin
à frente (1927), e o outro na Igreja Pentecostal de Varpa (1936), com
os leigos Janis Caune e Janis Ungurs como líderes, tendo no pastorado o

(21) Silva, Antônio Ernesto da, "São Paulo Uma Visita a Sapesal" O Jornal Batista,
Ano XXVI, n' 5, 4 de fevereiro de 1926, p. 15. Os grifos são nossos.

307
então missionário pentecostal de Marília, Simão Lundgren, de origem
sueca. (22)

1.4 — Algumas ênfases doutrinárias dos batistas letos de Varpa


Dada a sua ênfase pré-milenista, parece evidente que toda a dificul-
dade em torno dos batistas letos de Varpa residia nas idéias da iminên-
cia da segunda vinda de Cristo e direção do Espírito Santo na vida cristã,
aspectos doutrinários que não são exclusividade do pentecostismo. A
segunda vinda de Cristo era tão iminente para os batistas letos imigra-
dos no Brasil em 1922/23 quanto o foi para os crentes do século I da
nossa era, como se vê nas páginas do Novo Testamento. A preeminência
do Espírito Santo na vida cristã — revestimento, enchimento, plenitude
ou outros designativos que possam expressar o fato — era tão vital para
os batistas letos tangidos pelo despertamento espiritual na Letônia quan-
to o foi para os cristãos do tempo do Novo Testamento, e o é para os de
qualquer época, sejam eles batistas ou não. Tanto para estes como para
aqueles a vida cristã era e é impossível sem a ação do Espírito Santo. ( 23)
Foi a maior ou menor ênfase nesta ação que deu margem para certas
posições divergentes entre os batistas da Letônia, e que tiveram seus re-
flexos no Brasil — acompanhados de distorções, exageros e incompreen-
sões — colocando os batistas letos de Varpa numa posição de algum
modo desfavorável perante a opinião geral dos batistas brasileiros ou ao
menos perante alguns de seus líderes. (24 )
Em tais circunstâncias, fazer-se uma obra missionária em coopera-
ção com os batistas brasileiros era assunto para ser adiado, a fim de
evitar atritos e perturbações tanto para letos como para brasileiros. An-
tes era necessário que se aplainassem os caminhos para uma aproxima-
ção mais efetiva. Mas isto não impediu que os letos fizessem a sua
própria obra missionária, independente da obra batista brasileira, com
seus próprios recursos materiais e humanos e seguindo a sua própria
orientação. Outrossim, nem mesmo convinha o ingresso da Igreja Ba-
tista Leta de Varpa na Convenção Batista Paulistana ou na Convenção
Batista Brasileira antes que todas as dúvidas desaparecessem por si
mesmas, dando, simplesmente, tempo ao tempo.

2. Despertamento Missionário Entre os Batistas


Letos de Varpa
Como já foi dito páginas atrás, no início do movimento emigratório
batista leto para o Brasil em 1922/23 não se falava em promoção de
missões no sentido específico do termo. Além da referência do Pastor
João Inkis em seu discurso de despedida da igreja que pastoreava na
Letônia, em 14 de agosto de 1921, citada no Capítulo V, nada mais se
ouvia a respeito do assunto. A grande ênfase do movimento estava nos

(22) Klavin, André, loc. cit.; também Gertner, Arnaldo, loc. cit.; Malves, J., Questionário de
pesquisa; cf. Igreja Batista Leta de Varpa, Atas de 1924, 1925, 1934, 1936.
(23) Leiasmeier, João, Entrevista em 21 de janeiro de 1969.
(24) Malves, J., Questionário de pesquisa.

308
assuntos escatológicos da doutrina cristã e conseqüente necessidade de
se atingir maior grau de espiritualidade por parte do povo de Deus pelo
crescimento na santificação. Alguns chegaram a concluir que a escolha
do local para a fundação da Colônia Varpa — afastado dos grandes cen-
tros, em densa mata virgem — teria obedecido a um plano de isolamento
dos crentes das influências mundanas para estarem em melhores condi-
ções de aguardarem a vinda de Cristo. Comentários como este e outros
corriam de boca em boca, dentro e fora da colônia, dando interpretações
diversas às motivações do grande movimento. O escasseamento dos re-
cursos materiais comuns para a subsistência de tão grande número de
pessoas na colônia e a conseqüente necessidade de buscar trabalho nas
fazendas e na Capital para garantir a sobrevivência e reunir recursos
para a instalação de sítios próprios começaram a criar tensões que em
algumas mentes punham em dúvida a interpretação dominante de que
o movimento emigratório foi dirigido por Deus para o cumprimento dos
seus altos propósitos, que, embora não compreendidos plenamente no
momento, sê-lo-iam mais tarde.

2.1 — Conferência para definições em 1924


Foi por volta dos primeiros meses do ano de 1924 que surgiu no seio
da Igreja Batista Leta de Varpa uma crise em torno de diversos assuntos
que exigiam definições. Examinadas as indagações que despontavam.
entre os irmãos, o Conselho da igreja, autorizado por esta, convocou uma
conferência ampla de pastores, obreiros leigos e membros da igreja para
os dias 11 a 13 de maio de 1924. Eram cinco as questões básicas sobre
as quais se faziam necessários pronunciamentos objetivos ou explica-
ções claras, que constituíram, então, o ternário da conferência. Ei-las:
I. A Questão da Comunidade de Palma.
II. Somos Batistas ou Pentecostais?
III. A Orientação do Espírito de Deus na Igreja é expressa somente
através de pastores eleitos para dirigi-la ou também por in-
termédio de outros obreiros ou pessoas?
IV. Qual é a Nossa Tarefa no Brasil?
V. Quais os Fundamentos Bíblicos que Alicerçam a Nossa Emigra-
ção da Letônia?
Não houve pessoas designadas para fazer qualquer exposição em
torno das questões levantadas. O pastor principal da igreja, a esta al-
tura o irmão Otto Vebers, em nome do Conselho levantava as indaga-
ções, que então passavam a ser discutidas pelo plenário. As discussões
foram longas e minuciosas, chegando-se, finalmente, às conclusões, que
em resumo- são as seguintes: Primeira: A comunidade de Palma não é
uma comuna, nem uma cooperativa secular e nem tampouco uma seita
religiosa. E uma união ou corporação fraternal de beneficência mútua.
Segunda: Não cabe à igreja o designativo "pentecostal" por isso que
todos os seus membros procedem de igrejas batistas existentes na Le-
tônia e cooperantes com a União das Igrejas Batistas da Letônia, onde
o movimento de despertamento espiritual continua em marcha entre as

309
mesmas. Terceira: O Espírito de Deus, na verdade, trabalha através de
cada crente, mas, segundo Efésios 4:1-13, quanto à direção das igrejas
Deus designa, para cada uma delas e seus diversos ministérios, aqueles
ministros que Ele quer e cuja direção se deve acatar. Quarta: Com-
preendemos que a nossa tarefa no Brasil é promover a obra missionária
de acordo com as nossas possibilidades materiais e espirituais, mas com-
preendendo também que a tarefa fundamental, segundo a Palavra de
Deus, é: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina (I Tim. 4:16), pois
somente então o crente será um instrumento útil nas mãos de Deus, tan-
to na sua própria igreja como na obra missionária externa. Quinta: A
nossa emigração da Letônia foi, indubitavelmente, motivada e orientada
no íntimo de cada um pelo Espírito de Deus, à semelhança da de Filipe,
que foi levado ao caminho de Gaza por onde passaria o eunuco de Can-
dace (Atos 8:16-40) necessitado do evangelho. Compreendemos que a
Bíblia não fala contra a emigração; esta foi obra de uma fé profunda e
uma obediência incondicional a uma motivação interior procedente do
Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade. (25 )
Apesar das conclusões da conferência, a crise de certa maneira con-
tinuou — ora amainando, ora recrudescendo — sem, contudo, chegar a
ser um movimento, senão uma tenaz e amarguradora agitação, de ca-
ráter quase que pessoal, dirigida, a título de ortodoxia, contra a lide-
rança da igreja e de todo o movimento emigratório de 1922/23, e basea-
da em esperanças frustradas. (26 ) Tal situação, porém, tumultuou a vida
da igreja por algum tempo, entravando uma ação positiva no sentido de
promoção de uma obra missionária.
A despeito de tudo, porém, Deus estava atuando no coração de vá-
rios obreiros — especialmente do Pastor João Inkis — e de várias manei-
ras, levando-os a compreender que a verdadeira missão daquele movi-
mento era a de dar testemunho do evangelho de Cristo ao povo do
Brasil. Houve, entretanto, quem oferecesse resistência a essa idéia.

2.2 — Conferência Missionária de Varpa em 1926


A partir de março de 1925 a Igreja Batista Leta de Varpa começou a
tomar rumos mais definidos em direção de missões, bem como em ou-
tros aspectos. Do pastorado colegiado a igreja passou ao pastorado
único do Pastor André Pincher, formado pelo Seminário Batista de Ham-
burgo, Alemanha. Dentre todos os pastores, este era o único que possuía
o curso superior de um Seminário. Eleito por quase unanimidade de
votos, tomou posse na direção da igreja em 10 de abril de 1925. (27)
Dentro em breve foram estabelecidos contatos com dois ilustres
obreiros letos, que já vinham militando no Brasil há anos, pastores Dr.
Ricardo J. Inke, do Rio de Janeiro, e Dr. Guilherme Butler, de Curitiba,
Paraná, com vistas a uma nova conferência, contando com a presença dos
dois obreiros. Na sessão do Conselho da igreja, que foi realizada em 27

(25) Cf. Igreja Batista Leta de Varpa, Atas do Conselho, Livro I, p. 157 ss. O grifo é nosso.
(26) Ibid., Livro II, pp. 225-257.
(27) Cf. Igreja Batista Leta de Varpa, Atas de janeiro a abril de 1925.

310
de setembro de 1925, foi votado que se realizasse a conferência planejada,
na qual tomariam parte todos os pastores, obreiros leigos e irmãos em
geral, e que a direção da mesma fosse entregue ao Pastor Dr. Ricardo
J. Inke. O objetivo central do conclave deveria ser: a promoção de uma
obra missionária no Brasil pelos batistas letos de Varpa, e, eventual-
mente, com a cooperação de outras igrejas letas existentes no país. (28)
Na reunião seguinte do mesmo Conselho, ocorrida em 18 de outubro
de 1925, o Pastor André Pincher, com a colaboração do Pastor João
Inkis, sugeriu um temário para o referido conclave, ao qual passaram a
denominar Conferência Missionária de Varpa, bem como a data de sua
realização, que seria 7 a 10 de janeiro de 1926. Outrossim, apresentou a
sugestão — já ventilada com os demais pastores — de realizar também
um curso breve, intensivo, com vistas à preparação de obreiros para o
início de uma obra missionária na região da Sorocabana. (29 ) Lamen-
tava, entretanto, que os dois obreiros convidados para dirigir o curso alu-
dido, acabavam de dar respostas negativas. O Dr. Ricardo J. Inke havia
assumido naqueles dias as responsabilidades de missionário no Rio de
Janeiro e o Dr. Guilherme Butler estava impedido de visitar a Colônia
Varpa naquela data por força de obrigações inadiáveis no exercício do
magistério em Curitiba. A despeito do contratempo, porém, o Conselho
votou recomendar à igreja a realização da Conferência na data prevista
com seus próprios recursos e a colaboração do Dr. Ricardo J. Inke, que
estaria presente para apresentar o seu assunto, deixando o curso de
preparação de obreiros para uma outra oportunidade. O ternário votado
naquela reunião do Conselho e aprovado pela igreja na sessão de 24 de
outubro daquele ano, foi o seguinte:
I. "A Prontidão do Povo Brasileiro em Receber o Evangelho" —
Pastor Dr. Ricardo J. Inke.
II. "Os Molhos Missionários que os Batistas Letos Poderiam Juntar
Separadamente ou com os Batistas Brasileiros" — Pastor Ar-
vido Eichmann.
III. "Os Sinais dos Tempos na Natureza, na Política e na Vida Reli-
giosa" — Júlio Malves.
IV. "A Unidade da Igreja de Cristo na Diversidade de Seus Mem-
bros" — Pastor Carlos Kraul.
V. "A Vontade de Deus e os Enganos Humanos na Nossa Emigra-
ção da Letônia" — Pastor João Inkis. (30 )

(28) Idem Atas do Conselho, Livro I, p. 126, sessão de 27 de setembro de 1925.


(29) Naquela altura, a região da Sorocabana, da cidade de Assis para frente, na direção do
Rio Paraná, era considerada a "zona nova" do Estado de São Paulo, semeada de cidades
novas e fazendas numerosas. O último posto avançado do trabalho batista brasileiro naquela
vasta região, em princípios de 1926, era a Igreja Batista de Assis, com uma pequena con-
gregação em Presidente Prudente, que desde 1923 funcionava em casa do irmão Eduardo
Sieplin, um batista leto imigrado em 1908 e que já havia iniciado trabalhos batistas em outros
lugares. (Depoimento de Eduardo Sieplin, firmado em Regente Feijó, em 28 de outubro de
1969, o qual se encontra no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB).
(30) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas do Conselho, Sessão de 18 de outubro de 1925.
Também Atas da Igreja, Livro I, p. 221, sessão de 24 de outubro de 1925.

311
Ao final da Conferência, o Pastor João Inkis, depois de sua análise
minuciosa da questão da emigração, deu a seguinte nota missionária, que
daí para frente passou a sintonizar muitos corações com a vontade de
Deus:
Finalmente, voltando-nos para os nossos irmãos deste país,
ousamos expressar a nossa esperança de sermos de alguma for-
ma úteis na obra missionária nacional. Muita coisa estará, tal-
vez, acima das nossas forças, mas, tomando em consideração
a nossa característica de desbravadores, quem sabe a mocidade
de nossa igreja poderá ser usada no serviço pioneiro das mis-
sões; não nas cidades, mas pelas matas virgens; não para en-
sinar as gentes, batizar e fundar igrejas, mas para servir em
grupos de leitura da Bíblia e cânticos, ensinando os analfabe-
tos do sertão a ler a Bíblia e a cantar louvores ao nome de Je-
sus, assim preparando caminho para uma obra de evangeliza-
ção organizada, pelos recantos esquecidos do Brasil. (31)
A Conferência Missionária de Varpa realizou-se com êxito. Perce-
beu-se, especialmente por parte dos jovens, uma ansiedade de realizar um
trabalho digno de filhos de Deus na seara do Mestre no Brasil. Isto ficou
evidente no artigo enviado ao órgão da União das Igrejas Batistas da
Letônia pela então jovem Emma Inkis (hoje Emma Inkis Kreplin), filha
do Pastor João Inkis, em que disse o seguinte:
... Esteve presente também o irmão A. Ernesto da Silva,
Presidente da Convenção Batista Paulistana. Graças à presen-
ça desse irmão e seus esclarecimentos, serão removidas muitas
pedras de tropeço — preconceitos — que nos separavam de
obreiros e igrejas locais ou nacionais. Com insistentes anelos,
ele convidou a igreja a se filiar à Convenção e participar da
obra missionária...
Como resposta à Conferência, surgiu no seio da mocidade
um desejo fervoroso de trabalhar na seara do Senhor, pois que
em nosso redor há tantas almas imortais que vivem em comple-
tas trevas espirituais. Nós, que antes estávamos longe e agora
estamos perto de Jesus, por meio do seu sangue conduzidos à
luz, podemos conservar tudo isto só para nós? Não devemos
também mostrar esta luz divina às almas que perecem nas tre-
vas da ignorância? Creio que é chegado o tempo de colocarmos
a luz no velador e permitir que seus raios caiam, primeiramen-
te, na redondeza mais próxima de nós, e depois, se for neces-
sário, também mais longe. Até agora estávamos sendo prepa-
rados e temperados para isto. Suportando as vicissitudes de
imigrantes, o sol abrasador e as chuvas torrenciais, os jovens
agora são capazes de descobrir, com a Bíblia em uma das mãos
e a foice na outra, o rancho distante e solitário do brasileiro
na mata virgem e dizer ao seu habitante que Cristo o ama, en-

(31) Inkis, J., Dieva prats un cilvecigie maldi musu izcelosana no Latvijas (A Vontade de
Deus e os Enganos Humanos em Nossa Emigração da Letônia), Suplemento de Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), Ed. Palma, edição de 1950, p. 34.

312
sinar-lhe a cantar alguns dos nossos corinhos em sua própria
língua e, principalmente, ensinar-lhe a ler, pois a grande maio-
ria do povo não sabe ler. Ficou entendido que seria dever da
Igreja de Varpa fazer este trabalho pioneiro; não fundar igre-
jas, nem batizar, pois isto farão os pastores e missionários, que
para tanto são mais capazes. Fazer mais do que falar. Visi-
tando os ranchos dos brasileiros verificamos que ali se faz ne-
cessária a mão de ajuda e um conselho antes de tudo. Se
fizermos isto primeiro, então poderemos falar-lhe do grande
amor de Deus. Certa vez fomos ao rancho do nosso vizinho
brasileiro, Sr. Machado — católico, homem de bem. Encontra-
mo-lo em seu leito, ardendo em febre. Primeiramente tentamos
aliviar-lhe os sofrimentos com algumas compressas, dando
também instruções à sua empregada, que, aflita, dizia a cada
momento: "Vocês foram mandados por Deus". Depois de tudo,
então, cantamos suavemente alguns hinos e oramos, o que não
ficou sem o seu efeito. Cito esse fato para mostrar em que con-
dições é possível fazer o trabalho missionário junto do simples
habitante das matas aqui.
O futuro pertence a Deus e por isso não podemos fazer
grandes planos, mas podemos esperar que será do seu agrado
usar cada um de nós na sua obra. (32)
As primícias da Conferência Missionária de Varpa foram cinco mo-
ços que, atendendo aos apelos do Espírito de Deus e do seu servo, Pastor
Dr. Ricardo J. Inke, apresentaram-se para o trabalho entre os brasileiros
desejando adquirir o preparo necessário no Colégio e Seminário Batista
do Rio de Janeiro, como era conhecido então. Na sessão da igreja, que
se realizou no dia 31 de janeiro de 1926, o Pastor André Pincher apre-
sentou os seus nomes à igreja, explicando que os moços pediram a re-
comendação necessária para serem admitidos no Seminário. Entretanto,
no caso esta recomendação não poderia ser dada diretamente pela igreja,
porque esta ainda não pertencia a nenhuma Convenção Batista existente
no Brasil. Mas, segundo as instruções deixadas pelo Dr. Ricardo J. Inke,
professor do referido Seminário, e o Pastor Antônio Ernesto da Silva,
Presidente da Convenção Batista Paulistana, os moços poderiam ser re-
comendados a qualquer igreja batista brasileira de São Paulo, com as
respectivas cartas de transferência para aprenderem a língua portugue-
sa e se treinarem por algum tempo no trabalho batista brasileiro, sendo
então posteriormente recomendados ao Seminário por essa igreja brasi-
leira. Assim, foram demissoriados e recomendados naquela sessão os
jovens: João Augstroze, Frederico Vitols (que antes de sua partida da
Letônia já havia iniciado seus estudos no Seminário Batista de Riga),
Arvido Leiasmeier e Emílio Silenieks, sendo que o quinto moço, Martinho
Albino Janson, por causa de sua pouca idade, deixou de ser recomendado,
tendo pedido, na sessão seguinte, a sua carta de transferência para uma
igreja batista em São Paulo, de onde mais tarde foi recomendado ao Semi-

(32) Inkis, Emma, "No Brazilijas" (Do Brasil), Kristiga Balss (A Voz Cristã), n9 6, 15
de março de 1926, p. 136.

313
nário. Na mesma ocasião, ainda, foi lida a carta do jovem Arthur Laks-
chevitz, que estava trabalhando em São Paulo, em que solicitava a sua
carta de transferência para uma igreja batista do Rio de Janeiro, onde
pretendia estudar no Colégio Batista local, no que foi atendido. ( 33) Fig.
111
Posteriormente, outros jovens letos seguiram o mesmo caminho, dei-
xando a colônia, em busca de melhor preparo para atender à chamada
divina para o ministério da Palavra de Deus; enquanto ainda outros ali
mesmo dedicavam os seus talentos ao trabalho missionário da redondeza,
buscando meios de aperfeiçoamento para a obra ou no autodidatismo ou
nos cursos especiais para obreiros de Escolas Bíblicas Dominicais e Mú-
sica, que eram oferecidos de quando em vez, ou no estudo do português
com alguns obreiros que o conheciam melhor, ou na Escola de Missões
que foi fundada em Palma, ou no Curso de Extensão do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, que funcionou em Palma durante 23 anos.

3. Campos Étnicos de Atividades Missionárias


Inicialmente eram dois os campos missionários que se descortinavam
diante dos batistas letos de Varpa, obedecendo, como era natural, a uma
divisão baseada em critério idiomático: o campo entre os eslavos e o
campo entre os brasileiros. Pouco depois surgiram mais dois campos,
embora bem mais limitados: o campo entre os alemães e o entre os li-
tuanos. E cerca de vinte anos depois, despontou o campo entre os serta-
nejos e índios na Bolívia. Todos estes campos missionários surgiam es-
pontaneamente, sem qualquer programa previamente traçado ou estru-
tura elaborada; resultaram, simplesmente, da própria dinâmica do cris-
tianismo do Novo Testamento, sob a égide do Espírito Santo.
Interessante é notar que partiram da visão do campo missionário
eslavo as visões para outros campos, especialmente para o brasileiro.
O descortínio desses horizontes missionários tão vastos, pertence ao
Pastor João Inkis, que, pela inspiração de Deus, os descrevia em poesias,
artigos, sermões, conferências e preleções perante os jovens e obreiros.
Uma de suas primeiras produções deste estilo foi a poesia "Muhscha mes-
chos atskan slava" (Nas Matas Virgens Ecoa o Louvor), escrita espe-
cialmente para servir como letra de um hino majestoso por ocasião da
comemoração do 50 aniversário da Colônia Varpa, em 1° de novembro de
1927, quando foi cantado pela primeira vez. (34 ) Eis a tradução livre da
poesia:
NAS MATAS VIRGENS ECOA O LOUVOR
Louvor! Louvor!
Nas matas virgens ecoa o louvor!
Povo nativo, canta conosco!
Chegamos aqui de uma terra longínqua
Para dizer que alvoreceu para ti a manhã de luz!

(33) Igreja Batista Leta de Varpa. Atas, Livro I, p. 238.


(34) Augstroze, João, Carta firmada em 10 de outubro de 1966.

314
AMOR — A nossa bandeira sagrada;
AMOR — A nossa saudação para todos;
AMOR — O nosso maior mandamento;
AMOR — O ideal verdadeiro da nossa vida.
Rei dos corações, por Ti espera
A confraria dos eleitos;
Príncipe da Paz, ainda sofre e geme
Sob a maldição a criação;
Vem, Senhor Jesus,
Estabelece o Teu Reino!
Tu, que és a esperança da glória!
Louvor! Louvor!
Nas matas virgens ecoa o louvor!
Povo em trevas, canta conosco!
Soa a tua hora,
Alvorece sobre ti a manhã de luz.
Em nome de Jesus nos congregaremos —
Um só Pastor, um só rebanho! (35)
Em agosto de 1928, por iniciativa da União de Mocidade da Igreja
Batista Leta de Nova Odessa, foi convocada uma reunião para estudar a
idéia da criação de uma entidade geral de congraçamento e cooperação
da Juventude das igrejas batistas letas do Estado de São Paulo. Foi
eleita uma comissão, que deveria sugerir uma estrutura e um plano de
ação para essa entidade. Em 7 de outubro essa comissão se reuniu em.
São Paulo e lançou as bases para uma "União da Juventude Batista Leta
do Brasil", incluindo os estudantes letos do Rio de Janeiro e os jovens
das igrejas batistas letas existentes no Sul do país, fazendo sugestões
às Uniões de Mocidade das respectivas igrejas e solicitando seu apoio aos
planos elaborados. (36 ) Para presidente da nova entidade foi eleito o
jovem Pastor Karlis Grigorowitsch, que, a esta altura, já se encontrava
totalmente entregue ao trabalho missionário entre os eslavos. No seu
primeiro artigo sobre o novo passo dado no trabalho da mocidade, des-
fraldando a bandeira missionária, escreveu o referido irmão:
... A nossa juventude precisa erguer-se para um trabalho
sério, que a espera nos campos brancos do Brasil. Para tal
obra, antes de tudo, ela mesma tem que estar preparada inte-
riormente. Oremos, fervorosamente para que a iniciativa da
união da juventude prossiga segundo a vontade de Deus, a fim
de que os objetivos sejam alcançados. (37)
Um ano depois o Pastor João Inkis abriu ainda mais a visão missio-
nária com dois artigos marcantes — "Banas druvas" (Os campos Bran-

(35) Inkis, J., "Muhscha meschos atskan slava" (Nas Matas Virgens Ecoa o Louvor),
Meera Wehsts (Mensagem de Paz), C/E Palma, Sapesal, E.F.S., Estado de São Paulo,
Ano VI, n° 2, 1930, p. 20.
(36) Grigorowitsch, K., (Muhsu jaunatnes apweenoschanás" (A União da nossa Mocidade),
'aunais Lihdumneeks (O Jovem Desbravador), n° 1, C/E Palma, Sapesal, Estado de São
Paulo, janeiro de 1929, p. 22.
(37) Id., ibid.

315
cos) e "Misiones Fronte" (A Frente Missionária) — publicados nos pe-
riódicos letos editados em Palma, com circulação em todas as colônias
letas do Brasil, dos quais vale a pena transcrever alguns parágrafos:
A palavra imortal a respeito dos campos brancos que es-
peram pelos ceifeiros tornou-se indelével na bandeira das mis-
sões cristãs... "Levantai os vossos olhos e vede os campos que
já estão brancos para a ceifa... " Porventura nós, os chamados
do Senhor, enviados da pequenina Letônia para aqui realizar-
mos a obra de missões, já não podemos levantar os nossos olhos
para ver os campos brancos deste jovem país — o Brasil?...
Louvado seja o Senhor, pois que já se ouve o tinir das foi-
ces de evangelização na vizinhança próxima e distante das co-
lônias Varpa e Letônia. Os obreiros de Varpa já podem comu-
nicar-se em cinco línguas diferentes. Já começou e está sendo
continuada por eles a pregação do Evangelho, pela palavra fala-
da e impressa, a par de sua língua materna também em idiomas
como o russo, o português, o alemão e o lituano... (38 )
Nós chegamos a esta terra com as nossas Bíblias e os nos-
sos hinários. Mas os habitantes deste país, nativos ou imigran-
tes, com poucas exceções, são estranhos à verdade que a Bíblia
comunica .. . Junto com o Evangelho, que é o principal, em
nossas mochilas encontramos também outras preciosidades:
as línguas russa, alemã, lituana — e, se mexermos bastan-
te, talvez encontremos mais alguma. A língua dos brasileiros
aprendemos aqui. A geração mais velha já não chegará a tan-
to; em compensação, o idioma nativo é privilégio dos nossos
jovens...
A igreja, cuja juventude é missionária, torna-se uma igreja
missionária. ..
A obra missionária, que pode aproximar reciprocamente e
unir a nossa mocidade e as nossas igrejas, mostra-nos o quadro
seguinte:
Cada União de Mocidade é a unidade que ataca as portas
do inferno, o poder maligno das trevas espirituais. Cada igreja
é a retaguarda da sua mocidade organizada para a luta, que a
sustenta com suas orações e todo o seu amor que a obra requer.
Essas unidades embandeiradas, ainda que separadas pela dis-
tância em que vivem, estão unidas em espírito e prosseguem
avançando... Assim, a nossa frente missionária se estenderia
desde o Rio de Janeiro, — Seminário Batista — passando pelos
Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, até
seu ponto final — /jui.
Em resumo, a nossa divisa seria: A mocidade batista leta
do Brasil como uma frente unida, com suas igrejas na retaguar-
da.

(38) Inkis, J., "Baltas Druvas" (Os Campos Brancos). Meera Wehsts (Mensaaem de Paz).
C/E Palma, via Sapesal, Estado de São Paulo, Ano VI, n° 2, 1930, pp. 18 a 20.

316
A realização deste plano não exige nenhuma nova estru-
tura ou organização, como também não pede nenhum afasta-
mento das organizações (Convenções ou Associações, trad.) a
que as igrejas pertencem; igualmente, não requer a redução
das contribuições e ofertas que vêm sendo feitas para o traba-
lho geral, porque não se pretende fundar uma "caixa de guerra"
para nossa frente missionária. E nem precisamos um novo ór-
gão ou periódico para tal fim, pois o nosso Jaunais Lidumnieks
(O Jovem Desbravador) pode muito bem manter o sistema de
comunicação ... A atividade missionária doméstica e na re-
dondeza das igrejas não requererá, em primeiro lugar, recursos
financeiros, porém a consagração pessoal e total a Deus; a
consagração das mãos, dos pés, do coração, dos olhos e dos
lábios.
Este plano estratégico de missões, como acaba de ser de-
monstrado, não pretende introduzir nada de novo do ponto de
vista estrutural na mocidade ou nas igrejas, senão conseguir
que os nossos patrícios neste país dêem as mãos para uma obra
profundamente santa, que há de ser realizada a partir da vizi-
nhança de cada um. ( 39 )
Com tais motivações se multiplicavam os obreiros — alfabetizadores
e professores das Escolas Bíblicas Dominicais, cantores, declamadores e
pregadores — fazendo o trabalho progredir rapidamente. Por outro la-
do, a Igreja Batista Leta de Varpa foi estabelecendo dias especiais, com
pregação evangelística e cânticos pelos coros e quartetos em russo, ale-
mão e português, com ágapes entre os cultos da manhã e da tarde, con-
vidando-se o povo das adjacências da colônia — que chegava a algumas
centenas — o que motivava ainda melhor receptividade às equipes mis-
sionárias que iam pelos "campos brancos para a ceifa" e ensejava opor-
tunidades de abertura de novos trabalhos de evangelização. (40)

3.1 — Missão entre eslavos


Essa missão subentendia o trabalho entre os imigrantes de origem
eslava, aos quais a língua russa era comum, dado o secular imperialismo
russo em vastas áreas da Europa.
As origens da missão batista entre os eslavos no Brasil, realizada
pelos letos, prendem-se às condições sócio-econômicas e religiosas adver-
sas existentes na Rússia ao fim da I Guerra Mundial. Um dos fundadores
da Colônia Varpa e seu Diretor, Sr. Peteris Pedro Veinbergs, durante a
1 Guerra havia-se refugiado na Ucrânia, Sul da Rússia, com toda a sua
família. Lá a sua filha mais velha casou com um dos cidadãos russos.
Terminada a guerra, a família Veinbergs voltou à Letônia, deixando a
filha casada na Ucrânia. Estando seu pai já no Brasil, na Colônia Varpa,

(39) Inkis, J., "Misiones fronte" (A Frente Missionária), Jaunais Lihdumneeks (O Jovem
Desbravador), C/E Palma, Sapesal, E.F.S., Estado de São Paulo, n° 5, setembro de 1930,
pp. 134 a 137.
(40) A. U., "No Varpas" (De Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12, dezembro
de 1936. p. 214.

317
essa filha escrevia-lhe a respeito das crescentes dificuldades na vida ma-
terial e religiosa sob o regime comunista reinante na Rússia, indagando
das possibilidades de ela com sua família e muitos outros crentes russos
emigrarem para o Brasil. Pouco depois também vários outros apelos
foram recebidos da mesma área e no mesmo sentido. Por intermédio de
Júlio Malves, foram estabelecidos contatos com a Secretaria de Agricul-
tura do Estado de São Paulo, que ao tempo havia restabelecido a política
da imigração subvencionada desde que os imigrantes se comprometessem
a trabalhar — remunerados — pelo menos um ano nas fazendas de café
a título de compensação pelas despesas que o governo tinha com a vinda
deles para o Brasil. Desses contatos resultou aprovada a vinda ao Brasil
de dois grupos de 25 famílias ucranianas cada um, às expensas dos co-
fres oficiais. (41)
Para facilitar a vinda desses grupos de crentes, a companhia de
imigração contratada pelo governo do Estado para trazer imigrantes
para o Brasil prontificou-se a custear as despesas de duas pessoas que
fossem à Europa buscar aqueles dois grupos de imigrantes. Para tal
tarefa foram escolhidos, pelos líderes de Varpa, os pastores Karlis Gri-
gorowitsch e Carlos Rodolfo Andermann, ambos falando bem o russo, e
o último também o alemão, que em maio de 1925 seguiram para o Velho
Continente. (42 )
Entrementes, grupos de outros países — como a Polônia, a Bulgá-
ria e a Romênia — também estabeleceram contatos com os batistas letos
do Brasil, solicitando auxílio para emigrarem para o Brasil.
Depois de longas buscas para encontrar caminhos pelos quais esses
irmãos pudessem emigrar — pois que o Brasil não mantinha sua repre-
sentação em países comunistas — batendo às portas da Holanda, Fran-
ça, Polônia e Áustria, o Pastor Karlis Grigorowitsch voltou ao Brasil
com o seu grupo em fins de janeiro de 1926 e o Pastor Carlos Rodolfo
Andermann com o seu poucos meses depois. Digna de registro foi a
atuação do Sr. Salins, destacado funcionário leto do Departamento de
Imigração da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, que, na
ocasião estando em Viena, prestou inestimáveis serviços à causa da imi-
gração dos crentes eslavos, facilitando a missão do Pastor Carlos Ro-
dolfo Andermann. ( 43 )
Uma vez no Brasil, o primeiro grupo desses imigrantes — no qual
também se achava o pastor batista russo Simeon Molochenko e sua fa-
mília — seguiu, acompanhado do Pastor Karlis Grigorowitsch, para a
Fazenda Bela Vista, perto da Estação de Ipauçu, Estrada de Ferro So-
rocabana, e o segundo, sob a direção do Pastor Carlos Rodolfo Ander-
mann, para a fazenda do Dr. Carlos Botelho, nas proximidades de Dou-
rado, Estrada de Ferro Douradense, no Estado de São Paulo.

(41) Grigorowitsch, K., Carta datada de 3 de junho de 1972.


(42) Id., ibid.
(43) Andermann, Carlos Rodolfo, "Celnieks starp celniekiem" (Viajeiro Entre Viajeiros),
p. 3, Manuscrito inédito de reminiscências enviado ao Sr. Vilis Lustins, por este cedido ao
Sr. Júlio Malves. de cujo arquivo foi recolhido com permissão da família Malves. Acha-se
no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

318
A Congregação batista russa da Fazenda Bela Vista começou a fun-
cionar logo a partir dos primeiros dias de fevereiro de 1926 sob a direção
do Pastor Karlis Grigorowitsch, autorizado pela Igreja Batista Leta de
Varpa a batizar e presidir a celebração da Ceia do Senhor. ( 44) Com re-
sidência em Palma, Colônia Varpa, o pastor Karlis Grigorowitsch — nas-
cido e criado na Letônia até a sua adolescência, educado na escola média
da Rússia durante suas peregrinações como refugiado da I Guerra Mun-
dial, universitário na Rússia e depois na Letônia, dominando perfeita-
mente a língua russa e afeiçoado ao povo russo desde os primórdios de
suas atividades na seara do Mestre (1920) como evangelista de uma
Convenção russa na região do Volga, ( 45 ) quando contava apenas 19
anos de idade, — passou a ser o missionário entre os eslavos no Brasil,
pois o movimento imigratório desses povos prometia crescer, como de
fato cresceu por alguns anos.
A esta altura dos fatos relacionados com a obra de evangelização
entre os eslavos, é mister que se registre que logo nas primeiras semanas
de existência da congregação russa na Fazenda Bela Vista, o pastor já
citado, irmão Simeon Molochenko, transferiu-se, com sua família, para
a cidade de São Paulo. Lá deu início a um trabalho batista russo que
resultou na fundação da Primeira Igreja Batista Russa do Estado de
São Paulo em dezembro de 1926, ( 46 ) trabalho este que de pronto se
integrou na Convenção Batista Paulistana e nenhuma relação teve com a
missão leta entre os eslavos, por julgar errada a sua orientação doutri-
nária.
A primeira celebração da Ceia do Senhor na congregação russa da
Fazenda Bela Vista ocorreu em 7 de março de 1926, e os primeiros ba-
tismos foram realizados em 29 de agosto do mesmo ano. Entre estas
primícias se achava também o jovem Jefim Balaniuk (já mencionado no
Cap. VI), ( 47 ) que se tornou mais tarde um dos líderes do trabalho ba-
tista russo em Varpa e redondezas, regente do coro e diácono da Igreja
Batista Russa de Varpa, e que durante as duas últimas décadas vem
servindo como diácono e moderador da Igreja Batista de Terenos, Mato
Grosso. Não se cogitou logo da organização de uma igreja. na Fazenda
Bela Vista, porque a permanência daqueles irmãos ali era de caráter pro-
visório, como nas demais fazendas onde eram colocados os imigran-
tes. (48)
A congregação batista russa de Dourado ficou aos cuidados do Pas-
tor Arvido Eichmann, que residia ali servindo como pastor da congre-

(44) Grigorowitsch, K., loc. cit.


(45) Meters, Augusts, Darbinieki (Os Obreiros), Mimeografado, edição do autor, U.S.A.,
1953, p. 55; Dobelis, G., "Atskats uz ewangelijuma darba pirmo gadu desmitu starp slavu
emigrantiem Brazilijâ" (Retrospecto sobre o primeiro decênio do trabalho de evangelização
entre os emigrantes eslavos no Brasil) Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 9, setembro
de 1936, p. 162.
(46) Grigorowitsch, K., Carta firmada em 6 de julho de 1972.
(47) Dobelis, G., "Atskats uz ewangelijuma darba pirmo gadu desmitu starp slavu emigran-
tiem Brazilijá" (Retrospecto sobre o primeiro decênio do trabalho de evangelização entre os
emigrantes eslavos no Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 9, setembro de 1936,
p. *162.
(48) Grigorowitsch, K., loc. cit.

319
gação leta, enquanto o pastor Carlos Rodolfo Andermann foi solicitado
para dirigir a congregação da cidade de São Paulo, que crescia cada vez
mais com a afluência de jovens e alguns casais em busca de serviço me-
lhor remunerado. Quando algumas famílias batistas russas do grupo
de Dourado acompanharam os batistas letos de regresso a Palma, sur-
giu ali o núcleo batista russo de Varpa, a cuja frente ficou o Pastor G.
Dobelis. Entrementes, novos grupos de eslavos desembarcavam no porto
de Santos, batistas e não batistas, sendo enviados daí às fazendas de
café, tanto de São Paulo como do Estado do Paraná, enquanto outros
se dirigiam ao Rio Grande do Sul.
Quem cuidaria daqueles irmãos batistas eslavos — russos, búlgaros,
bessarábios, ucranianos, poloneses, romenos e outros? As organizações
missionárias dos batistas brasileiros não o podiam fazer, pois faltava-
-lhes o principal — a língua. Quem pregaria a mensagem do Evangelho
aos eslavos sem Cristo que vinham aportando ao Brasil? A liderança de
Varpa compreendeu logo a responsabilidade dos batistas letos neste se-
tor, pois que estes traziam consigo elementos capazes de comunicar o
Evangelho em russo, idioma comum também aos eslavos. E, mais ainda,
os letos poderiam evangelizar também os imigrantes alemães e lituanos,
pois vários deles conheciam as respectivas línguas. E a geração jovem dos
letos já possuía condições cada vez melhores de fazê-lo em português,
para ganhar os sertanejos da região e os imigrantes espanhóis e italia-
nos. (49)
Na primeira fase do trabalho missionário dos letos de Varpa entre
os eslavos — que vai de 1926 a 1928 — pela ação dinâmica do Pastor
Karlis Grigorowitsch foi estendida uma vasta rede de congregações, es-
palhadas pelas fazendas do interior do Estado de São Paulo, onde os imi-
grantes eslavos iam se agrupando. Assim, essas congregações eram en-
contradas nas proximidades dos seguintes lugares, ao longo das princi-
pais ferrovias do Estado bandeirante: Sorocabana — 1) Cardoso de Al-
meida, 2) Cândido Mota, 3) Ourinhos, 4) Ipauçu, 5) Luiz Pinto, 6) São
Manuel, 7) Laranja Doce, 8) Santa Lina, 9) Caiuvá, 10) Porto União
(Sta. Catarina), e 11) Prainha (Santos—Juquiá); Noroeste — 1) Lins;
Paulista — 1) Alfredo Ellis e 2) Monte Alto; Mogiana — 1) São Joaquim,
2) Orlândia e 3) Luiz Prado. ( 50 ) Em todos esses lugares verificaram-se
muitas conversões e batismos, pois, a partir dos meados de 1926, a maio-
ria dos eslavos adentrantes era constituída de ortodoxos e de católicos
romanos.
Em janeiro de 1928, como ficou dito no Capítulo VII, começou a cir-
cular entre os eslavos do Brasil e de vários países da Europa, o periódico
em língua russa — Drujeskoie Slovo (A Palavra Amiga) — redigido pelo
Pastor Karlis Grigorowitsch e editado pela Corporação Evangélica Pal-
ma. Desde então até 1968 — quando encerrou a sua circulação — esse
periódico vinha servindo de excelente laço de união entre os diversos
grupos de crentes eslavos, evangelizando, doutrinando, consolando e in-

(49) Inkis, J., "Brazilijas latviesu baptistu misiones apvieniba" (União Missionária dos
Batistas Letos do Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), ri° 7, julho de 1936, p. 147.
(50) Cf. Dobelis, G., Op. cit., pp. 163 e 164.

320
formando sobre a vida espiritual, social e material dos crentes nas di-
versas localidades.
Em meados de 1928, quando a maior parte dos imigrantes eslavos
começou a deixar as fazendas, aconteceu que estes iam se fixando na
cidade de São Paulo, especialmente no bairro da Moóca, e na região da
Alta Sorocabana, onde iam adquirindo terras e formando suas colônias,
inclusive em Varpa e redondezas que assim se tornaram o centro do setor
do trabalho entre os eslavos na Alta Sorocabana.
Em 1928, na cidade de São Paulo, o Pastor Karlis Grigorowitsch
iniciou o trabalho missionário com os eslavos, celebrando alguns cultos
em russo na Associação Cristã de Moços e depois no templo congregacio-
nal do bairro da Moóca. A partir de outubro daquele ano, porém, pas-
sou a celebrá-los dominicalmente numa pequena garagem alugada, com
80 cadeiras, na Rua Padre Raposo, 109, no mesmo bairro, onde em 6 de
janeiro de 1929 foi organizada a Igreja Batista Russa da Moóca com 25
membros e a presença dos dirigentes do trabalho missionário de Varpa.
A novel igreja ficou sob o pastorado do missionário Karlis Grigorowitsch,
que duas semanas depois batizou mais de 10 novos membros. (51) Essa
foi a primeira igreja organizada no campo missionário dos batistas letos
de Varpa e, por sinal, na própria Capital do Estado. Desta forma, mar-
cou-se o começo de uma grande obra que essa igreja, pela visão, fé, tino
e esforço do seu pastor e esposa — Karlis Grigorowitsch e Ana Augstroze
Grigorowitsch — realizaria, como vem realizando, contando, também, com
um grande grupo de leigos e alguns evangelistas, que dentro em pouco se
fizeram pastores. Hoje a referida grei é conhecida como a Igreja Batista
de Boas-Novas, em Vila Zelina, São Paulo, mantendo cerca de 17 missio-
nários em diversas partes do Brasil e estendendo a sua rede de evangeli-
zação — com congregações e pontos de pregação — a diversas cidades e
estâncias hidrominerais do interior do Estado de São Paulo, sendo que
algumas dessas congregações já foram organizadas em igrejas. Figs.
112 e 113
O campo missionário eslavo foi se estendendo com a crescente ajuda
dos batistas letos no sustento de obreiros, aluguel de imóveis, aquisição
do equipamento, viagens etc., servindo a Igreja Batista Russa de Moóca
como base do setor de São Paulo, sob a orientação do Pastor Karlis
Grigorowitsch. Numa visão panorâmica, eis o quadro desse setor: 1)
Moóca, bairro da Capital paulista, sede da igreja; 2) Bela Vista, outro
bairro para onde foi transferida, posteriormente, a sede da igreja, tendo
sido construído ali um templo em propriedade adquirida pelo esforço dos
irmãos russos; 3) Sant'Ana; 4) 'piranga; 5) Vila Anastácio, também
bairros da cidade de São Paulo. Depois a obra se estendeu para as ci-
dades de 6) Osasco, 7) Mogi das Cruzes, 8) Buri, 9) Jaguariaiva, e os
remanescentes em 10) Ourinfios, e 11) Fazenda Tapiratuba, na Mogiana.
Na direção do Sul abriu-se um novo campo entre os poloneses e ucrania-
nos em 12) Serrados, 13) Getúlio Vargas, 14) Cachoeirinha, no Paraná,
(52 ) chegando mais tarde, em 1931, ao Estado de Santa Catarina, às

(51) Cf. Id., ibid., loc. cit.


(52) Cf. Id., ibid.

321
colônias de 15) Vera Guarani, onde foi organizada uma igreja ucraniana,
e 16) Santa Leocádia, e depois ainda, Dorison, 18) Bugre, 19) Va-
WeS, 20) Iracema, 21) Prudentópolis, 22) Três Barras e 23) Paciência,
( 53 ) e mais tarde também 24) Irati e 25) Joaquim Távora, no Paraná, e
26) Povoado dos Prados, no Rio Grande do Sul. (54 )
Em todos esses lugares foram batizados, entre 1929 e 1936, nada
menos de 225 pessoas, sendo arroladas na Igreja Batista Russa de Moóca,
como era conhecida na época. Trabalhou como obreiro principal desse
campo missionário o Pastor Karlis Grigorowitsch, auxiliado por dois
evangelistas — Basílio Rudiuk, russo, e Teodoro Tovkan, ucraniano —
que surgiram do próprio campo, mas de cujo sustento cuidou o chamado
"Centro Missionário" de Varpa, que, a partir de 1935, evoluiu para a
"União Missionária Batista Leta do Brasil" e "Associação das Igrejas
Batistas Eslavas do Brasil", entidades de que trataremos mais adiante.
Fig. 114
O trabalho missionário entre os eslavos na região de Varpa e Alta
Sorocabana teve os seus começos em 1927 com algumas famílias russas
que haviam acompanhado os batistas letos de volta das fazendas e acha-
va-se sob a direção do Pastor Girts Dobelis. Os russos que já eram cren-
tes filiaram-se à Igreja Batista Leta de Varpa. Os primeiros cultos em
russo foram celebrados em Palma, passando a ser realizados depois em
casa de um certo irmão russo na colônia. Os primeiros batismos de rus-
sos ocorreram em 22 de abril de 1928. No fim do mesmo ano a congre-
gação já contava com 41 membros, passando a reunir-se na antiga resi-
dência do irmão Gustavo Narkevitz — leigo leto dos mais destacados —
local que logo se tornou Insuficiente para receber os ouvintes que acor-
riam aos cultos. Com a chegada de novos grupos de russos, a igreja leta
adquiriu um terreno no Centro de Varpa para a congregação russa, onde,
com o esforço dos próprios russos e a ajuda de irmãos batistas letos de
São Paulo e de Varpa, foi construído um grande templo, cuja inaugura-
ção ocorreu em 17 de novembro de 1930. No ano seguinte foi aberta uma
escola primária para as crianças russas, que funcionava no templo, diri-
gida pela mestra leta, Profa Matilde Liepin (depois Samoilovic). Em 17
de abril de 1932 foi organizada a Igreja Batista Russa de Varpa, à qual
foram sendo filiadas as congregações, próximas e distantes, estabeleci-
das nas colônias e grupos isolados em fazendas, vilas, povoados e cida-
des ao longo da Estrada de Ferro Sorocabana. (55 )
Em 1936, ao completar-se o primeiro decênio da obra missionária
dos batistas letos entre os eslavos, o setor de Varpa e Alta Sorocabana
apresentava o seguinte panorama: 1) Igreja Batista Russa de Varpa,

(53) Cf. Id., ibid.; também, Towkan, T., "No Leokadijas, S. Katrina - (De Leocádia, Santa
Catarina), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 7, julho de 1933, p. 109; Id. "No ukrai-
nieschu misiones lauka S. Katrinã- (Do Campo Missionário Ucraniano em Santa Catarina),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 12, dezembro de 1933, op. 190 e 191; A. O.. "No
ukrainiesu misiones lauka" (Do Campo Missionário Ucraniano), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n° 2, fevereiro de 1934, p. 36.
(54) "Slavu misiones darbs" (O Trabalho Missionário Entre os Eslavos), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n° 2, fevereiro de 1948, p. 15, Editorial.
(55) Id., ibid., n° 10, outubro de 1936, pp. 181 a 184.

322
com 110 membros, templo próprio, Escola Bíblica Dominical, coro, União
de Mocidade e escola primária; 2) Congregação da Colônia Prata, a su-
doeste de Varpa, fundada em 1929, com templo próprio, Escola Bíblica
Dominical e coro; 3) Congregação da Colônia Nova Rússia, localizada na
região limítrofe ocidental de Varpa, iniciada em 1931, com templo, Es-
cola Bíblica Dominical, União de Mocidade, coro e escola primária; 4)
Congregação de Setenta, localidade próxima à Colônia Letônia, fundada
em 1931, com templo próprio, Escola Bíblica Dominical e coro; 5) Con-
gregação da Colônia Estrela, ao sul da Colônia Letônia, onde o trabalho
teve início em outubro de 1928 com as visitas do Pastor Arvido Eich-
mann e de alguns jovens de Palma. Os trabalhos regulares ali principia-
ram em 1929, quando também surgiu uma congregação de espanhóis e
italianos. Em Estrela foi construído um grande templo para servir às
duas congregações, que possuíam Escola Bíblica Dominical, coro, União
de Mocidade e escola primária, com cerca de 120 alunos. Procede dessa
colônia o Pastor André Yastrebov, obreiro conhecido entre os batistas
brasileiros de São Paulo e outros Estados; 6) Congregação da Colônia
Central, constituída quase que exclusivamente de búlgaros, localizada
entre as colônias Estrela e Setenta, com templo próprio, Escola Bíblica
Dominical e coro; 7) Congregação de Pagett, próxima à Rancharia, Es-
trada de Ferro Sorocabana; 8) Igreja Batista Búlgara da Esperança,
que em 1932 começou como a maior congregação do campo eslavo e em
3 de setembro de 1933 se organizou em igreja. Em 1936 aquela igreja
possuía 130 membros, templo próprio, um grande coro, Escola Bíblica
Dominical, um obreiro que Deus levantou do seu próprio meio, evange-
lista Trifon Tschernev, alguns diáconos, União de Mocidade, escola pri-
mária e uma grande classe de alfabetização para adultos. Ã frente do
setor de instrução estava uma jovem leta, a Prof3 Valija Lustin. A con-
gregação de Pagett, de onde procedeu a maioria dos membros, passou a
pertencer a essa igreja, que veio a ser também um celeiro de obreiros,
destacando-se entre eles o Pastor André Peticov, muito conhecido entre
os brasileiros, líder de grande folha de serviços prestados à Denominação
no campo capixaba, no paulistano — no qual já por vários anos exerce
as funções de Secretário Geral da Junta Executiva da Convenção — e em
diversos setores da Convenção Batista Brasileira; 9) Congregação de
Nova Bessarábia, colônia ao sul de Santo Anastácio, na Alta Sorocabana,
que teve seu início em 1931 e prosperou por três anos. Com a crise eco-
nômica, a maior parte dos crentes mudou-se para outras localidades, dei-
xando enfraquecido o trabalho em Nova Bessarábia; 10) Congregação
da Colônia Varpa, fundada também em 1931, ao sul da cidade de Santo
Anastácio, com Escola Bíblica Dominical, escola primária, templo pró-
prio e coro; 11) Congregação da colônia de Costa Machado, localizada
entre as duas últimas, com Escola Bíblica Dominical e escola primária.
Dessa colônia nos veio o Pastor Demétrio Coev, que por vários anos foi

323
evangelista das congregações da região de Santo Anastácio, mais tarde
obreiro ativo entre as igrejas brasileiras do campo paulistano; 12) Con-
gregação da Colônia Aurora, fundada em 1933, 11 km ao sul de Santo
Anastácio, com templo, Escola Bíblica Dominical e coro; 13) Congregação
de Santo Anastácio, onde se fixaram algumas famílias em 1934; 14)
Congregação da Colônia Balisa, 45 km ao norte de Martinópolis, Estrada
de Ferro Sorocabana, trabalho iniciado em 1932, mas lamentavelmente
combatido por um outro grupo que ia penetrando no campo eslavo da
missão leta e, em nome da ortodoxia, ia colhendo onde não havia semea-
do; 15) Congregação da Fazenda Beija-Flor, perto da Estação de Re-
gente Feijó, na Estrada de Ferro Sorocabana; 16) Congregação da Fa-
zenda Santa Lina, que surgiu em 1932, não muito distante da Estação
de Quatá, Estrada de Ferro Sorocabana; e 17) Congregação de Granada,
na Alta Paulista, fundada em 1933 com pessoas que já haviam sido evan-
gelizadas pelos irmãos de Palma alguns anos antes. (56 ) e mais os pontos
de pregação em 18) Vió, 19) São Martins, 20) Rancharia e 21) Água da
Fortuna.
Em todo esse vasto campo de atividades missionárias dos letos de
Varpa entre os eslavos (São Paulo, Varpa, Alta Sorocabana, Paraná,
Santa Catarina), com trabalhos regulares em cerca de 70 lugares e em
muitos outros em caráter intermitente, em dez anos haviam sido bati-
zadas mais de 1.000 pessoas. (57 ) Os obreiros letos que se achavam na
direção do trabalho eram os pastores Karlis Grigorowitsch, Girts Dobelis
e Arvido Eichmann, ajudados por dedicados professores e evangelistas
letos, voluntários, como Alexandre Samoilovic e sua esposa Matilde,
Alida Osols, Marta Gailis, Elza Strauss e vários outros. Fig. 115.
Verificado o grande desenvolvimento da obra, já no ano anterior ao
da celebração do primeiro decênio das atividades missionárias dos batis-
tas letos entre os eslavos (1935), foi organizada a "União das Igrejas
Batistas Eslavas do Brasil", que foi assumindo, gradativamente, maiores
responsabilidades, estando em sua diretoria três dos pastores letos: Kar-
lis Grigorowitsch — presidente, Girts Dobelis — Secretário, e Arvido Ei-
chmann, vogal. Com a nova estrutura também surgiram novos rumos e
novas iniciativas, inclusive a de estender o trabalho missionário entre
os eslavos das Repúblicas vizinhas — o Uruguai, a Argentina e o Para-
guai — de vez que foram recebidos insistentes apelos neste sentido da
parte das igrejas ali existentes. (5s) Para tanto, foram enviados a esses
países dois dos principais obreiros letos — Pastor Arvido Eichmann, em
1936, e Pastor Karlis Grigorowitsch, em 1939, — para visitarem as colô-
nias e igrejas eslavas e espiarem os campos. As duas visitas demoradas
— de três e de dois meses, respectivamente — produziram abundantes
frutos, pois havia ali uma grande falta de obreiros e, conseqüentemente,

(56) Id., ibid., loc. cit.


(57) Inkis, J., "Brazilijas Latweeschu baptistu misiones apveeniba" (A União Missionária
Batista Leta do Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 8, agosto de 1936, p. 145.
(58) Eichmann, Arvido, "Makedonijas sauciens" (O Clamor da Maceclonia), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n9 10, outubro de 1934, p. 184.

324
um enfraquecimento do trabalho das igrejas. (59 ) Contudo, um trabalho
efetivo entre os eslavos daqueles países não foi possível realizar por mo-
tivo da eclosão da II Guerra Mundial.
Em 1957, a "União das Igrejas Batistas Eslavas" contava com 12
igrejas e um total de 1.143 membros, 20 Escolas Bíblicas Dominicais,
com 1.248 alunos e 104 professores e oficiais; 9 Uniões de Mocidade, com
320 membros; 9 coros, com 285 coristas; 8 Sociedades de Senhoras, com
213 sócias; e 5 orquestras, com 108 instrumentos. As 12 igrejas foram
organizadas sob a orientação direta dos missionários letos, sendo 8 no
Estado de São Paulo, 3 no Estado do Paraná e 1 no Estado do Rio
Grande do Sul. Também foram construídos 24 templos, sendo alguns
destes de grandes proporções. Desde o início do trabalho dos letos entre
os eslavos, em 1926, até 1960, foram realizados naquele campo 1.850
batismos. (60 ) Há também a considerar um grande número de crentes
eslavos, que por motivos diversos filiaram-se a igrejas brasileiras em
numerosas cidades do interior e nas Capitais dos Estados de São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul. Importante é notar, ainda, o número de
obreiros que esse campo deu ao Brasil, dos quais a maioria está à frente
de igrejas batistas brasileiras. Entre eles mencionamos os seguintes pas-
tores, embora saibamos que houve outros, cuja confirmação, porém, não
chegou às nossas mãos em tempo: 1) Basílio Rudiuk, 2) Teodoro Tow-
kan, que, depois de prestar relevantes serviços ao campo, passou às filei-
ras pentecostistas, 3) Trifon Tschernev, 4) Simão Horbatschik, 5) De-
métrio Coev, 6) Elias Ganev, 7) Stefan Sendas, 8) Constantino Volcov,
9) Anastácio Grekow, 10) Gregório Bredritschuk, 11) Vicente Burkie-
wicz, 12) André Peticov, 13) João Duduch, 14) Zinovei Pugaschev, 15)
Alexandre Serdiuk, 16) João Volcov, 17) Wazlav Mataitis.
Com as limitações às atividades dos estrangeiros, oriundas da situa-
ção anormal criada pela II Guerra Mundial, tornou-se inevitável restrin-
gir-se a expansão missionária em língua que não o vernáculo. Tal cir-
cunstância, por outro lado, provocou a emancipação mais rápida do cam-
po missionário eslavo, possibilitando aos batistas letos, depois da guerra,
intensificar a obra missionária em outras direções. Contudo, a partici-
pação destes, naquele trabalho, perdurou até 1957. (61)

3.2 — Missão entre os alemães


As atividades missionárias dos batistas letos entre os alemães sur-
giram por volta de 1925 na Colônia Letônia, nas vizinhanças de Varpa.

(59) Eichmann, Arvido, "Slavu tautibu emigrantu garigais stavoklis Dienvidus Amerika"
(A Situação Espiritual dos Emigrantes Eslavos na América do Sul), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), n9 7, julho de 1936, pp. 122 e 123. Também Schepetunko, A., "No Argen-
tinas" (De Argentina), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 4, abril de 1939, p. 61; e
Grigorowitsch, K., "Pa talajam druvam" (Pelas Searas Distantes), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n9 6, junho de 1939, pp. 90 a 92; n' 7, julho de 1939, pp. 108 e 109; n' 8, agosto
de 1939, pp. 127 e 128.
(60) Lukass, J., "Latviesu baptistu misiones darbs arpus dzimtenes" (A Obra Missionária
dos Batistas Letos Fora de Sua Pátria), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Palma, 1960,
n' 10, outubro de 1960, p. 5.
(61) Dobelis, G., Questionário de Pesquisa.

325
Ali, e em alguns sítios mais afastados, residiam algumas famílias alemãs
muito receptivas ao evangelho. Coube aos pastores André Pincher e
Arvido Eichmann a iniciativa nesse campo, auxiliados pelo diácono João
Leiasmeier e mais tarde também pelo irmão João Pupols, leto residente
naquela colônia, que foi regente do coro da congregação alemã e onde
organizou e dirigiu, por alguns anos, uma orquestra com 25 figuras, que
se constituiu numa grande atração no trabalho missionário da congre-
gação alemã e das congregações de outras nacionalidades na vizinhan-
ça. (62)
Outro setor do campo missionário alemão foi a região de Presidente
Venceslau, na Alta Paulista. Também ali o pioneiro foi o Pastor André
Pincher. Em suas visitas às colônias alemãs realizava grandes reuniões,
batizando novos convertidos e encarregando-os de responsabilidades em
diversos setores, pois as suas obrigações pastorais na Igreja Batista Le-
ta de Varpa não permitiam uma assistência mais assídua àquele setor,
que distava mais de 200 km de Varpa. (63)
As congregações alemãs — com escolas bíblicas dominicais, coros e
templos — funcionavam como filiais da Igreja Batista Leta de Varpa,
tendo, porém, plena autonomia na promoção e administração da obra,
inclusive na celebração das ordenanças. Assim, durante duas décadas
foram colhidos numerosos molhos nesse campo, embora não chegasse a
ser organizada nenhuma igreja. Com as restrições às atividades de es-
trangeiros, criadas pela II Guerra Mundial, aquele trabalho cessou, in-
gressando os crentes nas igrejas de língua nacional mais próximas.

3.3 — Missão entre os lituanos


Em abril de 1929, o jovem leto Fritzis Romisch, dominando perfei-
tamente o idioma lituano e tendo recebido a chamada divina para a obra
missionária, publicou um artigo no Jaunais Lihdumneeks (O Jovem Des-
bravador) conclamando a mocidade batista leta a ajudá-lo na obra por
ele iniciada entre imigrantes lituanos nas proximidades de Varpa. Infor-
mando os leitores de que em dois anos imigraram no Brasil nada menos
de 35.000 lituanos, assim se expressou:
A esse povo falta a luz espiritual, falta a literatura religiosa,
falta a Bíblia. Ele sofre em sua ignorância. A sua alma clama
a Deus pelo pão da vida. Contemplando este campo branco
para a ceifa aqui mesmo diante dos nossos olhos, parece que
vejo o Senhor Jesus Cristo de pé junto do mesmo, e, contem-
plando-o longa e tristemente, a indagar: "A quem enviarei;
quem irá por mim?" Movido por esta indagação, o meu cora-

(62) Pupols, João, Questionário de pesquisa. Trata-se do Pastor João Pupols, obreiro leto
que há quase três décadas trabalha no litoral do Paraná, onde, juntamente com a esposa
D. Alida e mais outros obreiros letos, realiza uma vasta obra missionária.
(63) K., "No Varrias" (De Varpa). Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI, Palma,
1930, n° 5, p. 113; Eichmann, Arvido, "Varpas apkartne" (Nos Arredores de Varpa), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n9 1, 1931, p. 23; Tupess, J., "Pie svetku eglites Letonijas vacu
draudzite" (junto ao Pinheirinho de Natal na Congregação Alemã da Letônia), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão). n° 1, janeiro de 1935, p. 14: Dobelis. G.. op. cit., p. 163.

326
ção respondeu: "Eis-me aqui, Senhor; se podes me usar, en-
via-me a mim." (64)
Animado por uma grande oportunidade na cidade de São Paulo,
onde em certos bairros novos a população lituana era bastante densa,
Fritzis Romisch aliou-se à recém-organizada Igreja Batista Russa da
Moóca, que lhe cedeu a sua sede para os cultos de evangelização, e em
1930 passou a atuar naquele campo, contando, inclusive, com a partici-
pação da mocidade da Congregação Batista Leta de São Paulo. ( 65 ) Pos-
teriormente a sua atividade se estendeu à Alta Sorocabana e ao Estado
do Paraná, onde foram ganhos muitos lituanos para Cristo, filiando-se
estes gradativamente, às igrejas eslavas ou brasileiras, dada a flutuação
dos movimentos imigratórios internos. Outro obreiro que colaborou na
missão entre os lituanos foi o irmão Waglav Mataitis, jovem lituano con-
vertido em Palma e que fez o curso de três anos na Escola Missionária
que funcionava em Palma. Aos poucos, porém, esse setor da missão dos
batistas letos foi sendo absorvido pelos setores eslavo e brasileiro,
tendo o missionário Fritzis Romisch se engajado na obra missionária
que esses irmãos realizam na Bolívia.

3.4 — Missão entre os brasileiros


Dois foram os setores principais da obra missionária dos batistas
letos de Varpa entre os brasileiros: Missão Sertaneja (Sertona misione),
abrangendo as vizinhanças de Varpa, Alta Sorocabana e Alta Paulista, e
Missão do Litoral Paranaense (Paranas jurmalas misione) compreen-
dendo o litoral do Estado do Paraná do porto de Paranaguá para o norte,
ultimamente incluindo também áreas mais para o oeste do litoral, razão
por que passou a designar-se Campo do Paraná (Paranas darba lauk.$).
Aqui trataremos apenas do primeiro setor, deixando o segundo para o
capítulo seguinte, dada a sua conexão com as demais igrejas batistas
letas do Estado de São Paulo ou com a Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil.
Conforme referência feita no capítulo anterior, o trabalho missio-
nário dos batistas letos de Varpa entre os brasileiros teve seu princípio
com os jovens de Palma lá pelo ano de 1927, tomando vulto a partir de
1928, — quando se denominou Missão Sertaneja — e fixando definiti-
vamente as suas bases em 1930, com os primeiros batismos e com a se-
paração do Pastor Arvido Eichmann para a obra missionária pela Igreja
Batista Leta de Varpa. Figs. 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122 e 123
Nesse período inicial do trabalho missionário em tela, não houve es-
truturas previamente elaboradas e nem obreiros assalariados. Grupos

(64) Romisch, Fritzis, "Jauns stuhritis Kristus vihna kalna" (Um Novo Cantinho na Vinha
de Cristo), 'aunais Lihdumneeks (O Jovem Desbravador), Palma, 1929, n° 4, pp. 123 e 124.
(65) Id. ibid., "No jauna misiones stuhrischa" (Do Novo Cantinho Missionário), n° 1,
1930, p. 30; Id. ibid., "No leetuweeschu misiones stuhrischa" (Do Cantinho Missionário Li-
tuano), n° 5, 1930, pp. 147 e 148; também "Moókas kreevu draudze" (A Igreja Russa de
Moóca). Editorial de Meera Wehsts (Mensaqem de Paz). Ano VT. 1930. nc. 9, D. 171: j. I. J.,
"No S. Paulo" (De São Paulo), Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI, 1930, n° 6, p.
114: ainda "Sveiceeni" (Saudações), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 5. maio de
1932, 1' contracapa.

327
de jovens voluntários, sob a liderança de alguns que manejavam um pou-
co melhor a língua portuguesa — como João Augstroze, Maria Meilen-
berg, Emma Inkis, Arvido Eichmann, Jacó Schmit e outros — visitavam,
dominicalmente, diversos pontos, onde ia se estabelecendo o trabalho.
Estes se achavam nas colônias vizinhas, fazendas, sítios e casebres iso-
lados nas pequenas clareiras da mata virgem, distando alguns até 20 e
30 km de Varpa. A pé, e algumas vezes de caminhão, durante meses e
anos seguidos esses grupos venciam as distâncias indiferentes às condi-
ções atmosféricas para pregar e ensinar às crianças e aos adultos a ler,
escrever, fazer contas, cantar, orar, observar preceitos de higiene, cuidar
dos enfermos, obedecer aos pais, observar os mandamentos de Deus e
amar o próximo. Eis o depoimento de um daqueles obreiros pioneiros,
hoje o venerando Pastor João Augstroze:
Constrangidos pelo amor infinito de Cristo, sem organi-
zação nem sustento, saíam os grupinhos de pioneiros para os
lugares próximos e distantes, para visitar os ranchos dos bra-
sileiros espalhados pelas matas, a fim de com eles cantar do
amor de Deus, de Jesus — O Salvador; ensinar a ler e escre-
ver aos que desejassem aprender; e estabelecer relações de
amizade e confiança mútua, com vistas a um trabalho mais
amplo nos dias vindouros. Alguns domingos esses grupinhos
chegaram a andar cerca de 60 km para visitar os locais de
trabalho, com uma simples merenda que levavam consigo. As-
sim eu, como os demais obreiros, não fomos convidados por
ninguém para fazer aquele trabalho, e nem fomos organiza-
dos ou sustentados materialmente por alguém. Aquele era um
serviço voluntário; cada um ganhando o seu sustento com as
suas próprias mãos e anunciando o evangelho às gentes sem
que para isto recebesse qualquer pagamento. (66 )
Num retrospecto sobre aqueles dias pioneiros da obra missionária
dos fetos entre os brasileiros, o Pastor João Lukass, um dos primeiros
a dedicar a sua vida e seus bens àquele trabalho e sobejamente conhe-
cido no Brasil, assim se expressou:
... O poder de Deus, que se aperfeiçoa na fraqueza, se
provou como tal nas veredas da Missão do Sertão. Surgiram
grupos missionários voluntários. Primeiramente é preciso no-
tar a coragem desses pioneiros. A despeito do reduzido conhe-
cimento de português, uma extraordinária prontidão havia ne-
les para servir como professores ensinando ao povo humilde
do sertão a ler, escrever, fazer contas, cantar. O mais dotado
de espírito de iniciativa colocava-se por trás da mesa — onde
tal peça existisse — e dava o seu testemunho, enquanto os de-
mais, que se julgavam menos capazes, testemunhavam junto
da esquina da choupana, procurando dizer o que ia em seu
coração para transmitir a sua experiência ao seu vizinho.

(66) Augstroze, João, Questionário de pesquisa, o qual se acha nos arquivos do Museu
Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

328
De madrugada, não levando em conta se o dia seria de sol
escaldante ou de chuvas torrenciais, eles partiam. Nada os
detinha no trabalho. E assim, mês após mês, a folha de ser-
viços de muitos deles apresentava anos de incansável traba-
lho e esforço. Carregados de volumes, que continham livros,
cadernos, lápis, Bíblias, hinários, folhetos, colírios para a fre-
qüentíssima dor-d'olhos, merenda, essa gente recebia como
única recompensa a boa consciência de que fizera o que estava
ao seu alcance para ajudar o próximo. Esse trabalho foi aben-
çoado. Os vizinhos observavam: "Essa gente não busca o que
é nosso, mas a nós." E Deus abria os corações, como o fez
com Lídia em Filipos. Surgiram pontos de pregação, escolas
bíblicas dominicais, congregações e igrejas. Houve tempo
quando as escolas do nosso campo missionário contavam com
mais de 500 alunos. E agora, quando lançamos o olhar sobre
o passado, parece que estamos sonhando... (67 )
Entre os obreiros dos primórdios daquele trabalho temos de men-
cionar o jovem Jacó Schmit, barbeiro de profissão, bom pregador, que
aprendeu o vernáculo com certa facilidade e ainda o ensinava aos outros
jovens que integravam os vários grupos. Não sendo de Palma, agluti-
nou em torno de si outros moços de Varpa que se dispuseram a acom-
panhá-lo nas suas jornadas evangelísticas. Porém o excesso de ativida-
des esgotaram as suas resistências orgânicas, sendo vitimado pela tuber-
culose em 1934, deixando profunda tristeza entre seus companheiros ( 68 )
Fig. 124
Com a participação de outros moços da Igreja Batista Leta de Varpa
nos trabalhos de evangelização, esta começou a sentir necessidade não só
de apoiar a obra como também de chamar a si a orientação e adminis-
tração da mesma. Assim, em maio de 1928, a igreja elegeu uma Comis-
são Missionária de três membros: Pastor André Klavin e os diáconos
João Leiasmeier e Roberto Bember. (6°) Sua tarefa era informar a igreja
dos trabalhos missionários que estavam sendo realizados, angariar re-
cursos, em forma de ofertas voluntárias, para ajudar a obra, e estudar
meios como administrar o trabalho iniciado. Em 1930, por iniciativa do
Pastor João Inkis — que sempre foi o grande mentor da obra missio-
nária de Varpa — foi ampliada a Comissão em tela para 12 membros,
acrescentando-lhe a tarefa de examinar os candidatos ao batismo, sendo
indicados 4 para ouvir os de fala portuguesa, 3 para ouvir os de fala
russa, e 3 para ouvir os de fala alemã, uma vez que a igreja, em sua
grande maioria, não entendendo esses idiomas, não poderia avaliar a
experiência de conversão relatada. (70 ) Fig. 125

(67) Lukass, João, "Pa misiones tekam" (Pelas Veredas Missionárias), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), n° 1, janeiro de 1948, p. 4.
(68) "Jekaba Schmita peeminai" (Em Memória de Jacó Schmit), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n° 2, fevereiro de 1934, pp. 37 e 38.
(69) João Leiasmeier é o progenitor do conhecido maestro Arvido Leiasmeier; Roberto
Bember deu dois de seus filhos, Laimons e Gonardo, ao ministério batista em igrejas bra-
sileiras.
(70) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas, Livro II, p. 66, Ata de 16 de março de 1930.

329
Dentro de dois anos (1928-1930), a ação missionária dos batistas
letos de Varpa entre os brasileiros já se estendia em três direções da
colônia: para o leste — em Aldeia Grande, Fazenda do Mirante e Fa-
zenda Brasília; para o oeste — em Estrela, Colônia Letônia e Bandeiras;
para o sul — na Fazenda Cristal. Além desses lugares, onde o trabalho
missionário era feito com regularidade, havia outros tantos, que eram
visitados de quando em quando pelas equipes ou por alguns obreiros
isoladamente.

A título de avaliação do espírito missionário do pioneiro daquela


obra, Pastor Arvido Eichmann, espírito este que ele pelo seu exemplo e
pela graça de Deus conseguiu infundir também em seus companheiros de
trabalho, transcrevemos abaixo alguns trechos de um artigo seu, fir-
mado em 31 de março de 1930:

Regressando dos povoados vizinhos de russos, alemães e


brasileiros, cansado, sentei-me no tronco de uma árvore caída
à beira da picada na mata virgem, e mergulhei nos meus pró-
prios pensamentos. Naquele domingo havia visitado quatro
diferentes lugares de trabalho. Reunindo todas as impressões
recebidas, surgiu em mim a seguinte indagação: Todo esse
esforço terá algum valor? Terá algum resultado? — Bem vi-
vas se me apresentavam diante dos olhos a minha insuficiên-
cia pessoal e a minha incompetência no trabalho.

Retirando da minha pasta o Novo Testamento Alemão,


edição de Mülheimeesch, abri no capítulo 4 da segunda carta
de Paulo aos Coríntios. Detendo-me nos dois últimos versos,
em meu coração penetrou uma luz maravilhosa de fé, partida
das palavras: "Weil wir nicht auí das Zichtbare rechnen, zon-
der auí das Unzichtbare" — "... em virtude de não contar-
mos com o visível, pelo contrário, contamos com o invisível..."
Naquele momento eu, pela fé, percebi a realidade da invisibili-
dade da obra de Deus... Eu entendi que o resultado final da
obra do Reino de Deus não depende do que é visível, mas da
operação do invisível de Deus por meio de Jesus Cristo. E o
meu coração se encheu de uma profunda paz. Eu compreendi
que o meu dever é tão-somente fazer a vontade do meu Senhor,
por mais insignificante que possa ser a parte visível do meu
trabalho. O resultado final está nas mãos de Cristo, e será
bom.

Mais evidente ainda se me tornou esta verdade, na com-


paração do Reino de Deus com o grão de mostarda. Com que,
afinal, conta o semeador ao lançar na terra a pequena semen-
te? Contaria ele com a insignificância exterior da semente?
Certamente que não! Ele conta com o poder escondido —
invisível — na semente. Neste poder está a garantia do resul-
tado do seu trabalho. Não a aparência insignificante ou gran-

330
diosa de uma semente, mas o poder de vida nela escondido é
que constitui a garantia do seu sucesso final. (71)
Em 3 de agosto de 1930, dia histórico e de imensa alegria para a
Igreja Batista Leta de Varpa, foram batizadas 20 pessoas no Rio do
Peixe, constituindo as primícias do seu trabalho missionário. ( 72) Eram
frutos de uma semeadura longa e de um cultivo paciente. Apenas duas
semanas antes, escrevia uma das obreiras, Alida Osol (hoje Alida Ei-
chmann) , algo que bem caracteriza as circunstâncias do trabalho e o
espírito com que este era encarado pelos missionários:
Novamente amanhece tranqüilo um domingo em Palma.
Os jovens, como de costume, divididos em grupos, espalham-se
pelas picadas em todas as direções para realizar o trabalho
das Escolas Bíblicas Dominicais com os brasileiros que moram
nas vizinhanças. Uma parte dos professores e um grupo de
cantores segue, em caminhão, para a aldeia dos russos na
Colônia Letônia que dista mais de 20 km, onde na recém-cons-
truída tenda russo-brasileira hoje será realizado um trabalho
evangelístico para os espanhóis e italianos da redondeza .. .
Durante a viagem surgem, diante do nosso espírito, uma após
outra, as numerosas fisionomias conhecidas, que hoje veremos
novamente, e no coração nasce uma ansiedade pelo dia quando
aqueles rostos refletirão a face do Filho de Deus. Um poder
misterioso e tremendo continua vedando os olhos espirituais
desse povo católico, espiritualmente congelado, de modo a di-
ficultar a penetração em seu coração do brilho glorioso do
evangelho.
Por outro lado, os pensamentos voltam-se para nós mes-
mos, nós que estamos levando a esse povo o glorioso evange-
lho de Cristo. Virá a face de Cristo conosco, sem quaisquer
distorções? Estamos inteiramente entregues nas mãos de Cris-
to com nossos pensamentos, palavras e comportamento? Te-
mos um coração limpo de hipocrisia, inveja, amor próprio, vai-
dade, maledicência, orgulho? De caminho, paramos em casa
do irmão Malves. Ali, dobrando os nossos joelhos em oração,
os nossos corações como que se derreteram na presença de
Deus em reconhecimento e confissão das nossas fraquezas e
nossa insuficiência, tornando-se claro em nossas consciências
de que esta honrosa e santa obra de salvar almas não é obra
das nossas mãos, e, sim, obra de Cristo, e que, apesar da nossa
insuficiência, não podemos deixar de testemunhar, pois que
Deus envia aos homens outros homens, e o coração ora: "Se-
nhor, purifica-nos, e permite que nós Te acompanhemos e te-
nhamos oportunidade de ver as Tuas obras".
(71) Eichmann, Arvido, "Ar ko rehkinajamees misiones darbu strahdajot" (Com Que Con-
tamos Realizando a Obra Missionária), Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI, n' 5,
1930, pp. 95 e 96.
(72) A., "Auglu pirmaji" (As Primícias), Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI, n.
8, 1930, pp. 155 e 156.

331
Chegamos ao destino bem antes da hora do início do tra-
balho, e os nossos pequenos amigos, as crianças, em bandos,
correm para junto de nós... Percebe-se que eles desejam
muito estar na Escola Bíblica Dominical; nem frio, nem chuva
conseguem impedi-los. Chegam também aqueles jovens italia-
nos que costumam comportar-se zombeteiramente em nossas
reuniões. Porém estão aqui novamente. Por algumas vezes
eles haviam indagado dos amigos que assistem aos cultos se
já não estariam cansados de ouvir aquelas bobagens. Mas pa-
rece que eles mesmos também ainda não cessaram de ouvir-
-nos, e, através dos seus irmãozinhos que freqüentam a Escola.
Bíblica Dominical, eles adquiriram o Cantor Cristão. Uma
profunda reverência domina a reunião enquanto pregam os
irmãos Jacó Schmit e Ernesto Dundurs, que, em palavras ,sim-
pies, mas penetrantes, apontam para a finitude do homem e a
vida eterna em Cristo. Percebe-se que Deus está operando si-
lenciosamente neste campo tão duro da sua seara. Alguns
olhares denunciam lágrimas secretas. Outros pedem que se-
jam anunciados os números dos hinos que o coro canta do
Cantor Cristão, os quais eles encontram rapidamente e cantam
juntos.

Após algumas horas de convivência com as crianças, par-


timos para outro lugar, do outro lado do rio, onde está anun-
ciado um trabalho evangelístico às 3 h da tarde. Lá, um gru-
po de nossos irmãos Tetos havia acabado de encerrar a escola
e estava à nossa espera à frente da casa... Por falta de es-
paço na casa, a reunião foi realizada ao ar livre. Logo de
início foi bem sensível a presença do Espírito de Deus na reu-
nião, soprando sobre as almas sedentas. Inclinam-se as fron-
tes, uma após outra, e correm lágrimas silenciosas pelas faces.
Quando o dirigente da reunião convida aqueles que desejam
orar pelo perdão dos seus pecados e salvação de suas almas
que levantem a mão, quase todos o fazem. Dobramos, então,
os nossos joelhos. A primeira que levanta a sua voz é uma
jovem senhora. A sua oração simples e fervorosa é seguida
por muitas outras, sem interrupção, o que nos faz sentir que
o Espírito de Deus rompeu as prisões dos corações e neles a
verdade encontrou livre entrada. Quem os despertou aqui,
onde só há poucos meses é que iniciamos o trabalho missio-
nário? Quem criou neles essa ansiedade por uma vida santa?
Quem lhes ensinou a clamar a Deus desta forma? — Esta não
é obra de homens, mas de Deus. Há momentos em que Deus
traz à luz o que Ele fez em segredo, e permite ao homem ver,
inconfundivelmente, a Sua obra.

Encerrada a reunião, os nossos amigos brasileiros ainda


pedem que cantemos o hino que eles tanto aprenderam a amar:
"Minha possessão eterna..."

332
Voltamos para casa com os nossos corações fortalecidos na
fé e na confiança no nosso Supremo Comandante, a cujos pés
um dia jazerá o mundo inteiro. (73)
O dia 10 de agosto de 1930 foi outra data histórica e de grande
significação para a Igreja Batista Leta de Varpa. Na manhã daquele
domingo tiveram lugar duas solenidades inesquecíveis: a separação do
pastor Arvido Eichmann para a obra missionária e o lançamento da
"pedra" fundamental — que, na falta de pedra, era um grande cepo de
ipê, madeira considerada indestrutível pela sua resistência — do templo
definitivo da igreja, que, pela sua capacidade para 1.000 pessoas as-
sentadas, seria, como de fato o foi, um dos dois maiores templos evan-
gélicos da América do Sul. O Pastor João Inkis, na ocasião disse as
seguintes palavras com referência à separação do Pastor Arvido Eich-
mann para a obra missionária:
Já começou a ceifa nos campos brancos do sertão, e os
primeiros molhos já foram recolhidos. Esta alegria não é ape-
nas uma alegria de esperanças em perspectiva, mas também
alegria de uma batalha vitoriosa. A frente missionária, sob o
comando do seu Senhor, fez um ataque e libertou vários prisio-
neiros do pecado. Homens e mulheres são feitos discípulos, e
agora lhes é necessário ensinar tudo que Cristo tem mandado.
Esta tarefa requer um obreiro experimentado. Já há algum
tempo um pequeno grupo de irmãos da América do Norte,
com o irmão Pedro Fokrots à frente, (74 ) começou a ajudar
à obra missionária aqui, expressando também o desejo de ver
o Pastor Arvido Eichmann separado para este trabalho entre
os brasileiros. E agora a Comissão Missionária local e toda a
Igreja de Varpa assim o entendem. Muito pesado e cheio de
responsabilidades será para o Pastor Arvido Eichmann este
trabalho pioneiro, mas também grande é o poder com que o
Senhor reveste as suas testemunhas fiéis. (75)
Em janeiro de 1931 um novo obreiro integrou-se nas atividades
missionárias dos batistas letos de Varpa. Foi o evangelista João Lukass,
que a 6 de dezembro do mesmo ano foi consagrado ao ministério na
Igreja Batista Leta de Varpa. (76) Convicto de que Deus o havia cha-
mado para a promoção do Seu reino na terra, João Lukass, com a jovem
esposa D. Alma e o primogênito, havia seguido em abril de 1929 para
Curitiba, objetivando o seu preparo para a obra do evangelho. Premido

(73) Osol, Alida, "Kad atlauts Deewa darbos skatitees" (Quando é Permitido Ver as Obras
de Deus). Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI. n° .. 1930. pp. 154 e 155.
(74) Pedro Fokrots, um dos evangelistas batistas letos que imigrou no Brasil em 1922 e
emigrou para os Estados Unidos da América do Norte quatro anos depois, na ocasião
estava à frente de uma congregação de tendências pentecostais em New York, constituída
de letos, que por vários anos prestou ajuda financeira à obra dos batistas letos de Varpa.
(75) "No Warpas" (De Varpa), Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano VI, n° 8, 1930,
p. 153.
(76) Lukass, João, Narrativa biográfica enviada ao autor — a pedido — em 23 de julho
de 1966, que se encontra no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB.

333
pelas dificuldades financeiras na Capital paranaense, meses depois trans-
feriu-se para a cidade de Porto União, a convite do Pastor Carlos Stro-
berg, que ali pastoreava a igreja batista organizada pelos letos poucos
anos antes. Trabalhando na construção da via férrea durante o dia,
João Lukass estudava noites inteiras, prestando o exame de madureza
em fins de 1930, logrando aprovação. Concomitantemente, estudava
com o Pastor Carlos Stroberg as matérias da área de Educação Religio-
sa e o ajudava no seu vasto campo de atividades pastorais, assim adqui-
rindo experiência no trabalho com o povo brasileiro. Em dezembro de
1930, voltando a Varpa, em visita a seus pais, não resistiu aos apelos
das grandes oportunidades naquela redondeza, entregando-se imediata-
mente à obra, ( 77) na qual permaneceu durante 10 anos, desenvolvendo
uma ação missionária por todos os títulos admirável, como veremos
mais adiante. Fig. 126
Ainda outro fator importante na evangelização das redondezas de
Varpa, ocorrido na mesma época, foi a oferta de 1.000 Bíblias em por-
tuguês e 200 em espanhol por uma sociedade distribuidora de Escritu-
ras Sagradas para a América Latina, sociedade esta sediada na América
do Norte, o que veio ajudar aos obreiros na sua missão. Pouco depois,
novas contribuições dessa natureza foram feitas, de modo que em prin-
cípio de 1933 a Missão Sertaneja em Varpa — como passou a chamar-se
— possuía um estoque considerável de Escrituras Sagradas em 9 idio-
mas: português, russo, ucraniano, polonês, húngaro, espanhol, italiano,
alemão, e japonês. (78)
Em janeiro de 1932 já havia 9 congregações no campo missionário
da Missão Sertaneja, com 9 escolas, freqüentadas por 381 alunos. ( 79 )
Somado este número aos 250 alunos nas escolas do campo eslavo (80)
- que era outro setor da mesma Missão Sertaneja — havia, em 1932,
um total de 631 alunos, que estavam sendo evangelizados, doutrinados
e alfabetizados pelos irmãos letos de Varpa, sob a direção de 5 obreiros:
Arvido Eichmann, Girts Dobelis, João Lukass, Maria Mellenberg e Jacó
Schmit, auxiliados por numerosos jovens. No mesmo ano foi construí-
da, junto à casa do Pastor João Lukass, próximo do Centro de Varpa, a
Casa Missionária, com uma grande sala e dois dormitórios, para atender
aos que dentre o povo brasileiro, buscavam contato com os missionários
e que, vindo de longe, necessitavam ali pernoitar, bem como para reali-
zar cursos breves para obreiros de Escolas Bíblicas Dominicais e outros.
A inauguração da casa, construída pelo esforço dos batistas letos de

(77) Abolins, J., "Mac. J. Lukass 25 gadu darbibas atcere" (Comemoração dos 25 anos de
atividades do Pastor J. Lukass), Kristigs Dragigs (O Amigo Cristão), n' 3, março de 1957,
p. 11.
(78) Eichmann, Arvido, "Weens milions jaunderibu preeksch Latin-Amerikas" (Um Milhão
de Novos Testamentos para a América Latina), Meera Wehsts (Mensagem de Paz), Ano
VI, n' 10, 1930, p. 195; também "Wehstulneeks" (Correspondente), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), n' 2, fevereiro de 1933, 2' e 3' contracapas.
(79) A. O., "Kristus dzimschanas swehtki Sertona Misionê" (O Natal na Missão Sertaneja),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 1, janeiro de 1932, pp. 20 e 21.
(80) "Sertona misiones darbs starp kreeweem" (A Obra Missionária Sertaneja Entre os
Russos), Editorial do Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 1, janeiro de 1932, pp. 22 e 23.

334
Varpa, aconteceu em 26 de janeiro de 1933, com grande regozijo para os
obreiros e para todos os crentes e amigos. (81) Interessante é assinalar
a prontidão com que os irmãos letos de Varpa acorreram à referida
construção, a ponto de a caixa de Missões não precisar gastar mais que
um conto de réis em moeda de então. Os 10.000 tijolos empregados no
edifício foram doados pelo grande amigo da obra missionária e educa-
cional de Varpa já citado, diácono João Brediks; as janelas e portas
foram pagas com as ofertas especiais levantadas pela Escola Bíblica
Dominical e pela Sociedade de Senhoras da Igreja Batista Leta de Var-
pa; a mão-de-obra foi oferecida em dias de trabalho, ou dinheiro cor-
respondente, pelos homens da mesma igreja; e as camas, colchões, rou-
pas de cama, toalhas, louças etc. foram doados por algumas famílias que
assim acharam a sua oportunidade de cooperar. (82 ) Fig. 127
Esta era, geralmente, a forma entusiástica e liberal com que aqueles
irmãos atendiam a cada nova necessidade, nova conquista e nova opor-
tunidade nos campos missionários, como templos e escolas, sem prejuízo
das ofertas para fins regulares da sua grei e fins denominacionais solici-
tados pelas agências (Juntas) da Convenção Batista Brasileira e Con-
venção Batista Paulistana. Graças aos esforços do missionário Paulo
C. Porter, então Secretário-Correspondente-Tesoureiro da Junta Execu-
tiva da Convenção Batista Paulistana, visando à plena integração dos
batistas letos de Varpa no programa e nas estruturas dos batistas bra-
sileiros, as relações entre os batistas letos e os batistas brasileiros sem-
pre foram boas. Provas deste bom relacionamento dos letos com o tra-
balho batista nacional, nós as temos em abundância no noticiário do pe-
riódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), editado em Palma, Varpa,
como também nos noticiários de O Jornal Batista e O Batista Paulistano,
bem como nos relatórios financeiros da Junta Executiva da Convenção'
Batista Paulistana daqueles anos. Citamos aqui apenas uma destas pro-
vas, que surge justamente na época da maior expansão das atividades
missionárias dos batistas letos de Varpa:
As igrejas da Colônia Varpa estão na expectativa de rece-
ber, em fins de setembro, a visita do querido e honrado irmão
Dr. Paulo C. Porter. Como representante da Convenção Batis-
ta Paulistana, ele receberá as coletas para as necessidades da
Convenção, que as igrejas daqui desejam oferecer de bom gra-
do, mesmo que não pertençam ainda à mesma Convenção. (83 )
Em 1933, a partir do mês de dezembro, Deus levantou um novo'
obreiro para a Missão Sertaneja de Varpa, João Korps, que desde 1928
estava acompanhando, como voluntário, os grupos de jovens que domi-
nicalmente levavam a boa semente do evangelho pelas redondezas de
Varpa, ora integrando-se nas equipes orientadas pelo Pastor João Lu-

(81) A. O., "Misiones mahjweetas atwehrschana" (A Inauguração da Casa Missionária),


Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 2, fevereiro de 1933, pp. 26 e 27.
(82) Eichmann, Arvido, "Sertona misiones mahjweeta" (A Casa da Missão Sertaneja),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 4, abril de 1933, pp. 60 e 61.
(83) "Sweiceeni" (Saudações), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 9, setembro de
1933, 1' contracapa; nota editorial.

335
kass, ora nas do evangelista Jacó Schmit, juntamente com os jovens
Guilherme Vitols — irmão do Pastor Frederico Vitols, Marta Lapins,
Ana Bumbieris e outros. Passando ao quadro de obreiros da Missão
Sertaneja, o evangelista João Korps encarregou-se das atividades missio-
nárias dos setores oeste e norte das vizinhanças de Varpa, isto é, da
Congregação em Bandeiras e dos pontos de pregação na Fazenda Ban-
deiras, Fazenda Santa Terezinha, Juliápolis e no nascente povoado de
Tupã, que em poucos anos se tornou uma cidade. ( 84 ) Fig. 128
A primeira igreja brasileira surgida do trabalho missionário dos ba-
tistas letos de Varpa foi a Igreja Batista Unida do Rio do Peixe. A sua
organização ocorreu em Varpa, na Casa Missionária — que passou a ser
a sua sede — em 10 de fevereiro de 1934, havendo, no dia seguinte — do-
mingo, 11 de fevereiro — um grande culto de ação de graças no templo
da Igreja Batista Leta de Varpa. Foi chamada "unida" devido ao seu
caráter como que federativo, pois era constituída de membros pertencen-
tes a cinco congregações, distantes umas das outras, que gozavam de
plena autonomia no seu trabalho. Como a permanência de sua sede em
Varpa era provisória e não se podia prever onde seria a definitiva, a
igreja denominou-se "do Rio do Peixe" porque esse rio era o acidente
geográfico comum a toda a vasta região daquele campo missionário. (85)
Pouco depois a novel igreja transferiu a sua sede para o templo da con-
gregação de Água das Polainas, onde passou a residir também seu pastor,
irmão João Lukass, e posteriormente para a cidade de Quatá, denominan-
do-se, finalmente (1942), Igreja Batista de Quatá, como é conhecida até
o presente. Fig. 129
Cerca de dois meses depois de fundada a Igreja Batista Unida do Rio
do Peixe, organizou-se, em 2 de abril de 1934, a igreja leto-brasileira
em Palma, adotando o nome de Igreja Batista do Picada-o, como já foi
dito no capítulo anterior. Essa igreja reunia os batistas letos da Corpo-
ração Evangélica Palma e os brasileiros pertencentes às congregações e
pontos de pregação localizados ao sul e leste da colônia Varpa.
Em 19 de maio de 1935, foi fundada a Igreja Batista de Bandeiras,
ao oeste da Colônia Varpa, que mais tarde mudou a sua sede para Cara-
pinho, no antigo centro da Colônia Letônia, onde permanece até hoje.
Fig. 130
Em 1937, só a Igreja Batista Unida do Rio do Peixe, já com sede em
Quatá, contava com 22 congregações e pontos de pregação, abrangendo
uma área de nada menos de 3.000 km2, (86 ) o que constituía, aproxima-
damente, metade da extensão do campo da Missão Sertaneja de Varpa.
Fig. 131

(84) "Sertona Misiones Centra kases pahrskats" (Relatório da Caixa do Centro da Missão
Sertaneja), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 1, janeiro de 1934, p. 39; também a
narrativa solicitada pelo autor ao Pastor João Korps, firmada em São Paulo em 10 de fe-
vereiro de 1967.
(85) Cf. Eichmann, Arvido, "Pirmâ brazileeschu draudze Sertona misiones darba laukâ"
(A Primeira Igreja Brasileira no Campo da Missão Sertaneja), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), ri° 3, março de 1934, pp. 56 e 57.
(86) Id., "No Rio do Peisches draudzes" (Da Igreja do Rio do Peixe), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n9 4, abril de 1937, pp. 59 a 61.

336
Fig. 103. Escola Elementar de Palma, da qual saíram quatro jovens
de projeção nacional e internacional: (1) Elza Aviekste,
médica na Espanha, (2) Unia Birzeniek, missionária-en-
fermeira da Junta de Missões Nacionais da Convenção Ba-
tista Brasileira, (3) Erna Horbastchik, esposa do Pastor
Simeon Horbastchik e (4) Carlos Gruber, pastor, evange-
lista e cantor internacional. Professoras: (5) Maria Mel-
lenberg e (6) Valija Lustin.

Fig. 104. Escola Dominical de Palma, em lingua portuguesa, com seu


superintendente Arnaldo Gertner ao centro.
Fig. 105. Missionária Maria
Mellenberg. Fig. 106. Pastor Girts Do-
belis.


uo
Zt Punia,

Fig. 107. Escritores letos no Brasil em 1931, colaboradores do perió-


dico Kristigs Draugs.
Fig. 108. Corpo redatorial da Casa Publicadora de Palma em 1929.

Fig. 109. Coro da Mocidade de Palma.


r"1 II

Fig. 110. Orquestra de bandolins de Palma, em 1934.


CAL'I'US DA 24 r.3.;RO vh.P.Pa, NTZ

-:CEP. ,:li.A.111 A COo121:itAcA0 DA:3


I2 ■

NOVA oDWSA uUTUAS,


1926 - 1973

Rincón del Tigre (BOLIVIA)

dag
g

Guarani e
Sta.Leo-
°Ulla
CATARINA

Cronologia agroxima/la das


atividades missionárias
Na Região ©, desde 1927
até 1973
Nas Regiões y c, @ 07
de 1929 até 94
Nas Regiões C e C) de
1948 até o pr eoecit e ( 1973)

Fig. 111. Mapa dos diversos campos da Missão Sertaneja de Varpa.


Fig. 112. Pastor Karlis Grigorowitsch, esposa,
D. Ana Augstroze Grigorowitsch, e
filhos.

Fig. 113. Templo da Igreja Batista Boas No-


vas, São Paulo, Capital.
go
a
1927 -1947
Fig. 115 Obreiros da mis-
são eslava: Ale-
xandre Samoilo-
vic e sua esposa,
D. Matilde. Fig. 116 Um grupo missionário de Palma,
com João Augstroze à frente, a
caminho de uma das fazendas
distantes, em 1930.

Fig. 117. Congregação da Fazenda Pinto, com uma das equipes mis-
sionárias de Palma, em 1930.
Fig. 118. Uma das equipes missionárias de
volta do trabalho evangelistico.

Fig. 119. Grupo missionário de Varpa caminho de diversas congre-


gações da redondeza da Colônia Varpa, em 1931.
Fig. 120. Grupo missionário de Palma de volta das congregações de
Colônia Letônia, Estrela e Bandeiras, nas vizinhanças da
Colônia Varpa (1934).

Fig. 121 Grupo missionário de jovens de Pal-


ma e Varpa, descendo o Rio do Pei-
xe para realizar cultos em diversos
sítios ribeirinhos.
Fig. 122. Batismos no Rio do Peixe, numa das congregações ribeiri-
nhas, vendo-se ao fundo a mesa com toalha branca, pre-
parada para a distribuição da Ceia do Senhor (1933), em
plena mata.

casgá- de OIRO V:
ó) Gni SM • IQ,

Nkitsr. Wr. F-•

Fig. 123. As Casas de Oração da Colônia Varpa e do Campo Missio-


nário da Missão Sertaneja.
Fig. 124. M i s -
s i o -
nário
Jekabs
i Jacó )
Shmits.

Fig. 125. A tenda da Congregação da Colônia Letônia, em 1931.


Fig. 126. Pastor João Lukass e esposa, D.
Alma.

Fig. 127. Hospedaria Missionária de Varpa.


Fig. 128. Organização da Igreja Batista Unida do Rio do Peixe,
primeiro fruto da Missão Sertaneja de Varpa.

Fig. 129. Primeiro templo da Igreja Batista de Quatá, por ocasião


de sua inauguração, em 1936.
Fig. 130. Templo da Igreja Batista de Bandeiras, pré-fabricado em
Palma e montado pelo então evangelista, o jovem Arnaldo
Gertner.

Fig. 131. Diversos aspectos da obra da Missão Sertaneja de Varpa,


no campo da Igreja Batista Unida de Rio do Peixe, mais
tarde denominada Igreja Batista de Quatá.
Fig. 132. Pastor João Korps e familia.

Fig. 133. Primeiro templo da Igreja Batista


de Tupã, SP.
Fig. 134. Templo da Igreja Batista, de Herculândia (ex-Sant'Ana),
trabalho missionário de Palma.

Fig. 135. Templo da Igreja Batista de Para-


guaçu Paulista.
Fig. 136. Templo da Igreja Batista Brasileira
de Varpa.

Fig. 137. Pastor Emílio


Weidmann.
Fig. 138. Templo da Igreja Batista de Adamantina, SP.

Fig. 139. Curso Bíblico para obreiros eslavos. Palma, 1934.


Fig. 140. Primeira turma da Escola Missionária do Sertão, em Palma,
1935.

Curso de Ei.fenc.Gio do Strrnc;riod

Fig. 141. Primeira turma do Curso de Extensão do Seminário Teo-


lógico Batista do Sul do Brasil, em Palma (1940).
Fig. 142. A primeira turma do Curso de Extensão em Palma, 2.° ano,
quando da visita do Dr. W. C. Taylor como preletor prin-
cipal do Curso (26/5/1941).

Fig. 143. Segunda turma do Curso de Extensão em Palma, 1945.


Fig. 144. Pastor Carlos Kraul e esposa, D. Jú-
lia.

Fig. 145. Coro da I Igreja Batista de Nova Odessa, SP, em 1966.


Fig. 146. Pastor Carlos Stroberg e esposa, D.
Griselda.

Fig. 147. Pastor Paulo Gailit e esposa, D.


Lídia Korn Gailit.
Fig. 148. Mensageiros à 2.a Assembléia da Convenção Batista do Rio
Grande do Sul, na Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11,
em 1926.

Fig. 149. Celebração do cinqüentenário da Igreja Batista Leta de


Ijui — Linha 11, RS.
Fig. 150. Templo da Igreja Batista Leta de
Ijui — Linha 11, RS., inaugurado em
1965, por ocasião do 70.° aniversário
da igreja.

Fig. 151. Pastor André Pincher e esposa,


D. Júlia.
Fig. 152. Batismos em 1928. Igreja Batista Leta de Varpa.

Fig. 153. Em cima: à direita — o tabernáculo antigo do segundo


acampamento de Varpa; à esquerda — o anexo (para mo-
cidade e escola diária) do novo templo, ao centro — o cons-
trutor do novo templo, diácono João Karsons. Embaixo: à
esquerda — a frente do novo templo da Igreja Batista Leta
de Varpa; à direita — aspecto do interior do templo.
Fig. 154. Diácono João Leiasmeier, adminis-
trador das obras do novo templo da
Igreja Batista Leta de Varpa, tendo
sido também o vice-moderador da
mesma igreja por longos anos. A
foto foi tirada ao completar 97 anos
de idade, em 1972.

Fig. 155. Líderes da Convenção Batista Brasileira em visita a Palma,


em 1/11/1931. (1) Dr. T. B. Stover, (2) Paulo C. Porter.
Fig. 156. A assistência no dia da inauguração do templo da Igreja
Batista Leta de Varpa, com a presença do Dr. Paulo C.
Porter e do Dr. T. B. Stover (1/11/1931).

Fig. 157. Coral Unido de Varpa, Palma e Colônia Letônia, por ocasião
da inauguração do templo da Igreja Batista Leta de Varpa.
Fig. 158. Jekabs (Jacó) Ro-
senbergs.

Fig. 159. Diretoria da União de Mocidade da


Igreja Batista Leta de Varpa em
1931. Ao centro Pastor André Pin-
cher.

Fig. 160. Arvido


Nar-
kevitz.

Fig. 161. Corpo Diaconal da Igreja Batista


Central de Varpa (1934), como pas-
sou a ser denominada a Igreja Ba-
tista Leta de Varpa daquele ano em
diante.
Fig. 162. Pastor Carlos Kraul na sua montaria
missionária.
Fig. 163. Batismos realizados pelo Pastor Carlos Kraul na Igreja
Batista de Bandeiras, SP.

Fig. 164. O pastor atual (1972) da Igreja Ba-


tista Central de Varpa, João Augs-
troze e esposa, D. Hilda Augstroze.
Temploatual (1972 ) da Igreja Batista CentraldeVarpa .
Ainda no ano de 1937, a 7 de setembro, foi organizada, com 21 mem-
bros, uma nova igreja no campo missionário dos batistas letos de Varpa,
a saber: a Igreja Batista de Tupã. Em seu concílio organizador partici-
param quatro pastores batistas letos — Carlos Kraul, João Lukass, Al-
berto Eichmann e Karlis Grigorowitsch, e dois pastores batistas brasi-
leiros — Severino Batista e Axel Frederico Anderson, sendo que estes
últimos foram eleitos presidente e secretário, respectivamente. No rol da
novel igreja entraram também como fundadores membros da Igreja Ba-
tista de Marília e alguns da Igreja Batista de Ribeirão Preto, que haviam
afluído à nova cidade em busca de novas oportunidades para a vida ma-
terial e que logo haviam se colocado ao lado do evangelista João Korps, da
Missão Sertaneja de Varpa, a fim de organizar em igreja a congregação
por este iniciada. (87) (Fig. 132) Foi pelo dinamismo e prestígio desse
obreiro que o fundador da cidade, Sr. Souza Leão — homem de grande
influência em toda a região da Alta Paulista, conhecedor e apreciador dos
batistas letos de Varpa — doou à congregação um amplo terreno para
a construção de um templo batista, inclusive prontificando-se a custear
metade das despesas da construção. (88) Ordenado em 1939, o Pastor
João Korps desenvolveu um vasto trabalho missionário e pastoral tanto
na área de Tupã como em grande área da Alta Paulista e até no norte
do Paraná — Floresta e Terra Rica — estabelecendo congregações, al-
gumas das quais foram organizadas em igrejas. Uma das realizações
mais notáveis desse trabalho foi a organização de uma igreja na cidade
de Oswaldo Cruz, na Alta Paulista, onde também alguns irmãos letos —
da família Berzins — tomaram parte na liderança, sendo, pouco depois,
servida, durante vários anos, pelo Pastor Emílio Veidman, leto que imi-
grou, ainda jovem, em 1922. (89 ) Fig. 133
Em 1938, o setor brasileiro da Missão Sertaneja de Varpa possuía
em seu campo 413 membros em 3 igrejas organizadas para brasileiros e
uma leto-brasileira, e mais 16 congregações e 24 pontos de pregação,
tendo sido realizados naquele ano 103 batismos, sustentando apenas 7
obreiros, sendo voluntários os demais. (90 )
A 11 de fevereiro de 1940 foi organizada, com 40 membros, a Igreja
Batista de Sant'Ana, nova cidade surgida na Alta Paulista, que, devido
à mudança do nome desta, posteriormente passou a chamar-se Igreja
Batista de Heroulândia. Esta era fruto do trabalho dos batistas letos de
Palma. (91) Os membros brasileiros pertencentes à Igreja Batista de
Picadão, em Palma, em sua maioria passaram a fazer parte da novel
igreja. Em conseqüência deste fato, a parte leta da Igreja de Picadão,

(87) Anderson, Axel Frederico, "Uma Nova Igreja", O Jornal Batista, Ano XXXVII, n°
45, 11 de novembro de 1937, p. 15.
(88) Korps, João, Narrativa solicitada pelo autor, firmada em 10 de fevereiro de 1967.
(89) Id., ibid.
(90) Lukass, João, "Latviesu baptistu misiones darbs arpus dzimtenes" (A Obra Missionária
dos Batistas Letos Fora da Pátria), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), r).9 10, outubro de
1960, p. 6.
(91) J. R. I., "Organização da Igreja Batista em Santana", Kristigs Draugs (O Amigo Cris-
tão), edição em português, n9 3, março de 1940, pp. 77 e 78.

337
que era constituída dos irmãos de Palma, passou a chamar-se daí por
diante Igreja Batista de Palma, como é conhecida até o presente. Fig. 134
Os obreiros que mais se destacaram no campo da Igreja Batista de
Herculândia foram: Arvido Eichmann, Maria Mellenberg, João Grikis e
Constantino Volcov, sendo este de nacionalidade russa, também atuando
no setor eslavo em Granada, e aqueles todos letos. Posteriormente ali
deram a sua cooperação mais outros dois obreiros letos: o Pastor Jacó
Ricardo Inke e o evangelista Frederico Janovskis. Por vários anos fo-
ram pastores daquela igreja Antônio Nogueira Coelho e João Gomes
Ferreira, recebendo ajuda da Missão Sertaneja de Varpa.
Em princípios de 1941 foi fundada a Igreja Batista de Paraguaçu
Paulista, na Alta Sorocabana, com 53 membros. (92 ) Este trabalho fora
iniciado pelo Pastor Arvido Eichmann, e depois continuado pelo Pastor
João Lukass e o evangelista Benedito Serafim, fruto do trabalho missio-
nário dos letos e pai do conhecido obreiro do campo paranaense, Pastor
Mauro Serafim. Fig. 135
Em todos esses lugares os letos de Varpa construíram templos, em
alguns também casas pastorais, mantiveram escolas de alfabetização e
Escolas Bíblicas Dominicais. Cedo os missionários ensinaram aos novos
crentes das diversas congregações e às novas igrejas a desenvolverem o
seu próprio trabalho de evangelização, a entregarem o dízimo e a se in-
tegrarem na Convenção Batista Paulistana, bem como na Convenção
Batista Brasileira.
Até princípios de 1941, quando cessou de circular o periódico Kris-
tigs Draugs (O Amigo Cristão) — restrição decorrente da II Guerra
Mundial — no campo da Missão Sertaneja de Varpa, entre os brasileiros
já havia cerca de 80 congregações e pontos de pregação, divididos entre
as áreas de influência das 5 igrejas atrás referidas, ou sejam: Igreja
Batista Unida do Rio do Peixe (posteriormente Quatá), Igreja Batista
de Bandeiras, Igreja Batista de Tupã, Igreja Batista de Santana e Igreja
Batista de Paraguaçu Paulista. Depois, em setembro de 1955, foi orga-
nizada a sexta igreja brasileira naquele campo: Igreja Batista Brasileira
de Varpa, com sede na vila Varpa (antes denominado Centro de Varpa),
com o incansável obreiro Carlos Kraul à frente, seguindo-se-lhe o Pastor
Girts Dobelis, e ultimamente o Pastor Arthur Ignovsky. Fig. 136
A partir de 1946 desenvolveu-se outro grande setor da Missão Serta-
neja de Varpa — o do extremo da Alta Paulista, numa faixa de aproxi-
madamente 100 km de extensão por 40 km de largura, entre a cidade de
Lucélia e o Rio Paraná, rumo a oeste. O avanço dos trilhos da Compa-
nhia Paulista de Estradas de Ferro atraía para aquela região multidões de
brasileiros, principalmente nordestinos, bem como imigrantes de outras
regiões, fazendo surgir, rapidamente, povoados e cidades que àquela al-
tura já se contavam a mais de duas dezenas. Quando o Pastor Carlos
Gruber, evangelista leto de Varpa e atuante na América do Norte, co-
municou à Missão Sertaneja o seu propósito de oferecer, pessoalmente, o

(92) Eichmann, Arvido, "Ano 1940 na Igreja Batista tinida do Rio do Peixe — Quatá",
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), edição em português, ri9 1/2, janeiro/fevereiro de
1941, pp. 13 e 14.

338
sustento para um obreiro numa área necessitada, o missionário Arvido
Eichmann, o líder dessa Missão, entrou em contato com o Pastor Emílio
Veidmann, jovem leto que trabalhava com as igrejas de Areias e Piras-
sununga. Após uma viagem pela região referida em companhia do mis-
sionário Arvido Eichmann, o jovem pastor entregou a sua vida para ser
gasta ali na obra missionária, escolhendo como base de sua atuação a
princípio a localidade de Oswaldo Cruz e logo depois a nascente cidade de
Adamantina, onde já existia uma pequena congregação. Na região havia
mais alguns pequenos núcleos de batistas, distantes uns dos outros, qua-
se todos pertencentes à Igreja Batista de Lucélia, porém carentes de
cuidados por falta de obreiro. Emílio Veidmann atendia a todos os
apelos, sem distinção, visitando cidades, povoados, fazendas, sítios e ran-
chos isolados nas novas derrubadas distantes, pregando, batizando, ensi-
nando, aconselhando e carreando meios para construção de casas de ora-
ção, solicitados aos batistas letos de Varpa e adjacências. Em 8 de agos-
to de 1948, sob os auspícios da Igreja Batista de Marília, à qual per-
tenciam os fundadores da congregação, foi organizada a Igreja Batista
de Adamantina, da qual o missionário Emílio Veidmann foi pastor du-
rante 9 anos. O valoroso obreiro desenvolvia pontos de pregação e con-
gregações da sua igreja como também assistia aos que não eram do seu
rebanho, pois que a falta de quem pregasse o constrangia a tanto. Sua
irmã, Emma, que morava com ele, ajudava-o com grande dedicação em
Adamantina e nos pontos mais próximos. Emílio Veidmann também
mantinha uma excelente seção no periódico leto de Palma, Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), sob o título "Baltâs Druvas" (Os Campos Brancos),
considerada uma fonte de inspiração e motivação missionárias. Figs. 137
e 138
Examinando-se as coleções anuais do periódico Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), aparece cerca de uma centena de nomes de lugares, uns
mais populosos e outros menos, em que os missionários da Missão Ser-
taneja de Varpa estabeleceram pontos de pregação e congregações de
trabalho evangelístico de permanência mais ou menos estável. Em mui-
tos desses lugares foram construídos templos e prédios para escolas, ce-
lebrados muitos batismos, a Ceia do Senhor — por delegação da igreja
— e movimentadas festas de Natal, com distribuição de roupas, víveres
e presentes para as crianças sertanejas e realizadas semanas de evange-
lização, de doutrinamento e de cursos especiais para obreiros e para com-
ponentes de coros, conjuntos instrumentais e regentes. Sendo impossível
abranger num simples tópico toda a história daquela Missão, seguem
adiante apenas os nomes das localidades em que funcionaram os referi-
dos trabalhos, em muitos deles concomitantemente e em outros em épocas
diferentes, dada a instabilidade das populações naquele tempo nas re-
giões novas do Estado de Sà-,o Paulo, que atraíam lavradores, comercian-
tes e artífices. Ei-los:
1) Colônia Letônia, 2) Estrela (depois denominada Graminha), 3)
Colônia Central, 4) Sapezal, 5) Santa Lina, 6) Fazenda Cristal, 7) Es-
panhóis, 8) Rafael Silveira, 9) Aldeia Grande, 10) Taquara Branca, 11)
Barra Mansa, 12) Bandeiras, 13) Fazenda de Bandeiras, 14) Fazenda

339
Santa Terezinha, 15) Fazenda. Continental, 16) Agua das Polainas, 17)
Água de Sapé, 18) Agua Santa, 19) Agua do Boi, 20) Água da Onça, 21)
Agua Bonita, 22) Água da Prata, 23) Aguinha, 24) Fazenda do Pinto,
25) Fazenda Brasília, 26) Fazenda Roma, 27) Água da Morte, 28) For-
tuna, 29) Quatá, 30) Rancharia, 31) João Ramalho, 32) Capitão Olím-
pio, 33) Moema, 34) Xavier, 35) Pagette, 36) Paulino, 37) Borá, 38)
Peixoto, 39) José dos Santos, 40) Retiro de Santa Lina, 41) Barreiro,
42) São Pedro, 43) Santo Antônio, 44) Boa Vista, 45) Severino, 46)
Fazenda Martins, 47) José da Cunha, 48) Fazenda Cobal, 49) Garcias,
50) Fazenda Rodrigues, 51) Fazenda Barbosa, 52) Manoel Maria, 53)
Fazenda Gil, 54) Fazenda Maia, 55) Fazenda Belmonte, 56) Pinga Fogo,
57) Mendes, 58) Fazenda Lapré, 59) Colônia Machado, 60) Tupã, 61)
Laranja Doce, 62) Sant'Ana (hoje chamada Herculândia), 63) Universo,
64) São Luís, 65) Juliápolis, 66) Vila Queiroz, 67) Granada, 68) Urutu,
69) Fazenda José Amâncio, 70) Fazenda Souza Leão, 71) Paraguaçu
(hoje, Paraguaçu Paulista), 72) Marcos Pereira, 73) Bastos, 74) Julia-
na, 75) Oswaldo Cruz, 76) Fazenda Generoso Lima, 77) Parnazo, 78)
Bartira, 79) Santa Ida, 80) Quintana, 81) Vila Campante, 82) Boa Es-
perança, 83) Quilômetro Sete, 84) Fazenda Jangada, 85) Fazenda Co-
queirão, 86) Maricate, 87) Capivari, 88) Treze de Maio, 89) Campinho,
90) Paulópolis, 91) Primavera, 92) Olinda, 93) Córrego Branco, 94)
Córrego do Veado, 95) Fazenda Mirante, 96) Fazenda Recreio, 97) Águas
Claras, 98) Fazenda Cachoeira, 99) Água das Palmeiras, 100) Duzentos
Alqueires, 101) Nova Granada, 102) Fazenda Luar, 103) Iepê e 104)
Adamantina. (93)
Um dos mais precisos observadores do trabalho batista no Brasil,
Pastor T. C. Bagby, missionário arguto e justo em suas avaliações, em
uma de suas "Cartas Paulistas" em O Jornal Batista, assim se expressa
a respeito do trabalho missionário dos letos de Varpa: "Os letos de Var-
pa estendem a sua ação evangelizadora pela região de Sorocabana. Que
missionários eles são !" No mesmo artigo, cita pelo nome os trinta pas-
tores que em 1932 estavam atuando no campo batista paulistano, sendo
dez deles letos: João Klawa, Rodolfo Andermann, Carlos Grigorowitsch,
Carlos Kraul, João Inkis, André Pincher, André Klavin, Arvido Eich-
mann, Alberto Eichmann e João Lukass. ( 94 )
Em todo trabalho da Missão Sertaneja mister se faz mencionar tam-
bém a participação de jovens estudantes letos de Varpa que estavam se
preparando para o ministério, alguns no Colégio Batista de São Paulo
e outros no Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, e que nas fé-
rias escolares prestavam a sua colaboração naquela obra. Entre eles
destacaram-se Frederico Vitols, Arnaldo Gertner, Osvaldo Ronis, Carlos
Gruber, Alberto Silenieks e Alfredo Rusins. Todos eles até o presente
estão integrados na obra batista brasileira como pastores e professores
em seminários teológicos, menos os dois últimos, que não chegaram a ser

(93) Cf. Lukass. João, Op. cit., p. 6; também Questionário de Pesquisa respondido por Maria
Mellenberg e Noticiário do periódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), 1930 a 1960.
(94) Bagby, Tecê, "Carta Paulista", O Jornal Batista, Ano XXXII, n° 13, 31 de março
de 1932, p. 13.

340
ordenados, mas que prestaram grandes serviços como evangelistas em
igrejas batistas brasileiras de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e
Petrópolis, sendo que Carlos Gruber é também evangelista internacional
de longa data.
Entretanto, nem todos os frutos do trabalho da Missão Sertaneja
de Varpa resultaram em igrejas, por força das mudanças já referidas.
Tais frutos, porém, foram enriquecer de congregações e igrejas brasi-
leiras de diversas cidades da Alta Paulista, Alta Sorocabana, Noroeste e
da Capital do Estado de São Paulo, bem como o trabalho de numerosas
igrejas em outros Estados, como Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do
Sul e Guanabara, onde ainda recentemente encontramos crentes batiza-
dos pelos missionários letos das redondezas de Varpa. Outrossim, tam-
bém vários pastores que militaram e ainda militam em igrejas brasileiras,
surgiram da obra missionária de Varpa, à qual devem a sua formação
religiosa, como sejam: Antônio Garcia Gimenez, Jorge Lázaro de Ca-
margo, João Alves Lopes, Nelson Nunes de Lima, Josué Nunes de Lima,
Onézimo Nunes de Lima, Benedito Serafim e, provavelmente, mais al-
guns.
Ainda por iniciativa de alguns batistas letos de Varpa, principal-
mente as famílias Verner Grinberg, Arvido Leiasmeier e Arvido Maur-
mann, foram organizadas — a princípio com a ajuda dos obreiros da
Missão Sertaneja — igrejas batistas brasileiras em cidades como: Bastos
e 'naja Paulista, na Alta Paulista, e Monte Verde (fundada por Verner
Grinberg, no extremo sul do Estado de Minas Gerais), lugares onde ele
montava as suas serrarias e depósitos de madeira para construções, aju-
dando a edificar templos, casas pastorais e prédios de escolas e mantendo
professoras para disseminar a luz intelectual, moral e espiritual no seio
do povo desta terra hospitaleira. (95)
Organizadas as igrejas do campo da Missão Sertaneja de Varpa
atrás mencionadas, as duas mais fortes em breve se emanciparam — a
de Quatá e a de Tupã — e pouco depois constituíram algumas de suas
congregações em novas igrejas. Por outro lado, as áreas de influência
de congregações e igrejas brasileiras da Convenção Batista Paulistana
foram confinando com a área do campo da Missão Sertaneja de Varpa,
passando a restringi-lo. Isto fez com que os batistas letos de Varpa
voltassem os seus olhos para outras oportunidades, como o litoral para-
naense e o interior boliviano, então já com a cooperação de outras igre-
jas batistas letas do Brasil, como veremos adiante.

4. Órgãos de Coordenação Missionária

Como já foi dito páginas atrás, o trabalho missionário dos batistas


letos de Varpa teve o seu princípio no que podemos chamar de "combus-
tão espontânea", isto é, sem qualquer estrutura formal ou coordenação
programada. Depois de quase um ano de atividades evangelísticas vo-
luntárias realizadas pelos jovens de Palma e por alguns dentre os colonos

(95) Grinberg, Verner, Entrevista com o autor em 11 de janeiro de 1969, Monte Verde,
Sul de Minas.

341
de Varpa, sob a liderança do Pastor Arvido Eichmann, a Igreja Batista
Leta de Varpa começou a sentir a necessidade de uma coordenação dos
esforços missionários. Embora os obreiros fossem todos voluntários, não
carecendo de nenhum dispêndio de recursos materiais com eles, iam sur-
gindo diversas necessidades nos locais de trabalho, como atendimento
aos enfermos com medicamentos, aquisição de material escolar para os
alunos das escolas de alfabetização e de literatura para alguns que já
sabiam ler e, principalmente, levantamento de "tendas missionárias" —
como denominavam os templos improvisados ou casas de oração, e outras.

4.1 — Comissões Missionárias da Igreja Batista Leta de Varpa

Os primeiros órgãos de coordenação missionária foram duas Co-


missões Missionárias da Igreja Batista Leta de Varpa, eleitas em 1928 e
1930, conforme referência feita páginas atrás. Com o rápido desenvolvi-
mento do trabalho, porém, esses órgãos provaram-se insuficientes.

4.2 — Centro da Missão Sertaneja


Em 26 de dezembro de 1931 ocorreu, em Palma, o primeiro encontro
de todos os obreiros do trabalho missionário das redondezas de Varpa —
os pastores Arvido Eichmann, João Lukass e Girts Dobelis, o evangelista
Jacó Schmit e todos os professores das escolas de alfabetização e Escolas
Bíblicas Dominicais, dirigentes de música e cantores — com o fim de
render graças a Deus pelo progresso do trabalho e pelas vidas que se ofe-
reciam para a realização do mesmo. Com auxílio de mapas e esquemas,
o Pastor Arvido Eichmann fez uma explanação histórico-estatística de-
talhada de todas as atividades do campo no setor brasileiro, onde já se
assinalavam 9 locais de trabalho fixo com escolas cuja matrícula total
acusava 381 crianças. (96 ) Em 6 de janeiro de 1932 aconteceu o segundo
encontro, desta vez visando ao trabalho entre os eslavos, sob a direção
do Pastor Girts Dobelis. Esse campo já registrava 10 localidades de tra-
balho regular nas adjacências de Varpa e região de Santo Anastácio, com
249 membros de igreja e 250 alunos das Escolas Bíblicas Dominicais e
de alfabetização. (97)
Como resultado desses conclaves, discutidos os problemas e as ne-
cessidades dos campos em sua realidade presente e perspectiva futura,
foi criado, a 27 de junho de 1932, o que se denominou Centro da Missão
Sertaneja, composto dos Pastores Arvido Eichmann, João Lukass e
Girts Dobelis, e dos evangelistas Jacó Schmit e Ernesto Dundurs. Conso-
lidando-se o trabalho existente nas redondezas de Varpa, novos avanços
se projetaram, especialmente no setor eslavo. Novos estudos se fizeram
necessários, resultando estes, em fevereiro de 1933, na seguinte estrutura:

(96) A. O., "Kristus dzimschanas swehtki Sertona Misionê" (O Natal na Missão Sertaneja),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 1, janeiro de 1932, pp. 20 e 21.
(97) "Sertona misiones darbs starp kreeweem" (A Obra da Missão Sertaneja entre os Rus-
sos), Editorial do Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 1. janeiro de 1932. pp. 22 e 23.

342
A Missão Sertaneja — Seu Trabalho e Organização

I. O Trabalho da Missão Sertaneja


O trabalho da Missão Sertaneja presentemente abrange:
1) Diversos povos que habitam nas vizinhanças da Colônia Varpa,
como: brasileiros, russos, búlgaros, lituanos e outros;
2) As colônias Búlgaras de: Pagett, Setenta, Feiticeiro, Nova Bes-
sarábia, Fazenda Beija-Flor e a colônia russo-búlgara de Balisa;
3) As colônias ucranianas perto da Estação de Rancharia, na Es-
trada de Ferro Sorocabana, e em Santa Leocádia e suas adjacên-
cias, no Estado de Santa Catarina.

II. A Organização da Missão Sertaneja


A ação da Missão Sertaneja divide-se em:
a) A frente missionária;
b) A retaguarda missionária.

A Frente Missionária, seu escopo, organização e recursos.


— A Frente Missionária se compõe dos obreiros atuantes que servem
nos campos e locais mencionados, e é superintendida pelo Centro
da Missão Sertaneja.
— O Centro da Missão Sertaneja foi eleito em reunião conjunta dos
obreiros atuantes da obra missionária e a Comissão Missionária
da Igreja de Varpa, em junho de 1932, e compõe-se dos seguintes
obreiros: Girts Dobelis, Ernesto Dundurs, João Lukass, Jacó Sch-
mit e Arvido Eichmann.
— As atribuições do Centro da Missão Sertaneja são: superintender
e coordenar a execução do trabalho missionário, enviando evan-
gelistas, promovendo reuniões de evangelização, organizando Es-
colas Bíblicas Dominicais, construindo casas de oração, adminis-
trando os imóveis e os recursos monetários, mantendo contato
com organizações e particulares que desejam ajudar no sustento
da obra, oferecendo-lhes informações nas reuniões missionárias
e outras.
— Os recursos do Centro Missionário se constituem das ofertas vo-
luntárias de pessoas e organizações que serão publicadas no Kris-
tigs Draugs (O Amigo Cristão), sob o título: "Para a Obra da
Missão Sertaneja." A entrega das ofertas pode ser feita: em
Palma — na editora; em Varpa — com Z. Blums; em Pitanguei-
ras — com o Pastor Alberto Eichmann; em São Paulo — com o
Pastor Rodolfo Andermann; bem assim com todo e qualquer
obreiro da Missão Sertaneja.
O destino dos recursos do Centro da Missão Sertaneja. Estes, em
primeiro lugar, destinam-se ao envio dos obreiros, pagando-lhes
o sustento integral, ou parcial, ou apenas reembolsando-lhes as
despesas de viagens; também para o custeio das viagens de gru-
pos corais para os locais de trabalho missionário, aquisição de

343
literatura cristã para ser distribuída nos campos, construção de
escolas e casas de oração, manutenção das Escolas Bíblicas Do-
minicais, ajuda aos alunos, preparação de cursos para obreiros
etc.
— As contas e os relatórios financeiros da caixa do Centro da Mis-
são Sertaneja são examinados por pessoas merecedoras de con-
fiança e publicados nos periódicos Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão) e Drudjeskoie Slovo (A Palavra Amiga).

A Retaguarda Missionária
— A retaguarda da Missão Sertaneja é constituída de particulares,
comissões missionárias das igrejas e outras organizações que de-
sejam sustentar essa obra diretamente — com ofertas destinadas
— ou através do Centro da Missão.
— A tarefa da retaguarda da Missão Sertaneja é despertar os cren-
tes para a obra missionária por meio de conversas particulares
ou através de programas missionários; promover reuniões de ora-
ção pró-missões e despertar o interesse pela intercessão em fa-
vor da obra e dos obreiros; arrecadar recursos para este fim, e
outros.
— Os recursos da retaguarda missionária e sua aplicação. A reta-
guarda recebe as ofertas de pessoas particulares ou através das
reuniões especiais missionárias (coletas), registrando-as sob os
respectivos títulos. As Comissões Missionárias e outras organi-
zações aplicam os seus recursos ou diretamente no sustento de
obreiros ou enviando-os ao Centro da Missão. Neste caso, o Cen-
tro aplicará e publicará o uso das ofertas da mesma forma como
o faz com as demais. (98)
A estrutura acima, planejada pelo Pastor João Inkis, (99 ) o homem
que bem poderia ser cognominado o "estrategista das missões letas no
Brasil", teve total aceitação; e os relatórios dos três anos seguintes de-
monstraram magníficos progressos, tanto no que tange ao levantamento
de recursos para a obra missionária, como no que diz respeito à extensão
e à intensidade com que o trabalho passou a ser feito. A nota fundamen-
tal do plano foi a voluntariedade do povo de Deus no fornecimento de
recursos. Igrejas e particulares, organizações internas das igrejas, inclu-
sive uma em New York, e as coletas especiais das festividades, que reu-
niam o povo de Varpa em grande número várias vezes por ano, eram as
fontes abundantes do sustento da obra. Por outro lado, o Centro da
Missão Sertaneja teve o cuidado de orientar logo de início as congrega-
ções para o seu sustento próprio, assim dando-lhes condições de, futu-
ramente, serem igrejas operosas e responsáveis.

(98) "Sertona misione, vinas darbs un organizacija" (A Missão Sertaneja, Seu Trabalho e
Organização), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 2, fevereiro de 1933, pp. 30 e 31.
(99) Inkis, João, "Sertona misiones darbinieku zentrs. (Projekts)", Centro dos Obreiros da
Missão Sertaneja (Projeto), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 8, agosto de 1931,
pp. 164 a 167.

344
4.3 — Novas Igrejas Letas em Varpa
A esta altura devemos registrar as alterações ocorridas na Igreja
Batista Leta de Varpa. Trata-se do seu desdobramento natural em qua-
tro igrejas independentes e autônomas, embora estas características já
existissem de fato nas respectivas congregações.
Em 1931 a Igreja Batista Leta de Varpa estava contando com qua-
tro congregações: a de São Paulo (Capital), a mais antiga; a da Colônia
Letônia; a de Pitangueiras, setor ocidental de Varpa; e a de Palma (a
Corporação Evangélica Palma), localizada no extremo leste de Varpa.
A primeira congregação a se organizar em igreja foi a de Pitanguei-
ras, bairro que tomou o nome do ribeirão que o atravessa. O surgi-
mento dessa congregação está ligada à escola primária que foi fundada
no setor ocidental da colônia para facilitar a freqüência das crianças.
Para tal fim o irmão Frederico Gabalins doou um terreno bastante am-
plo, no qual a Igreja Batista Leta de Varpa construiu um bom prédio
para a escola, o qual passou a servir também como local de cultos sema-
nais para os membros da igreja ali residentes. Aos poucos, passaram
a ser realizados também os cultos aos domingos pela manhã para os mais
idosos, que tinham dificuldades de percorrer a distância de 5, 6, e até
7 km até o Centro de Varpa, sede da igreja. Foi eleito, então, o Pastor
Alberto Eichmann para dirigir os trabalhos naquele ponto. Não tarda-
ram a formar-se a Escola Bíblica Dominical, a União de Mocidade e um
grupo coral. Finalmente, em 10 de abril de 1932, organizou-se a Igreja
Batista de Pitangueiras, que teve participação notável na obra missio-
nária da Missão Sertaneja de Varpa, tomando a si a tarefa de apoiar um
dos obreiros que era membro da mesma — o evangelista João Korps —
propondo-se a dar cobertura às atividades deste, acompanhando-o com
grupos corais e professores, cooperando financeiramente com as demais
igrejas que suportavam o maior peso das responsabilidades da Missão
Sertaneja, hospedando cursos especiais para obreiros e outros fins, tendo
à frente, por vários anos, o Pastor Alberto Eichmann. (100)
A segunda congregação batista leta de Varpa a organizar-se em
igreja autônoma foi a de Palma, em 2 de abril de 1934, inicialmente cha-
mada Igreja Batista de Picadão, depois, Igreja Batista de Palma. A sua
história já foi enfocada no Capítulo VII, quando tratamos da Corporação
Evangélica Palma.
A terceira igreja que surgiu dos imigrantes letos de Varpa, com al-
guns poucos membros de outras igrejas letas, foi a Igreja Batista Leta
de São Paulo, organizada em 21 de outubro de 1934, com 166 membros.
Inicialmente a congregação batista leta da Capital do Estado se reunia
numa das salas da Primeira Igreja Batista de São Paulo, como dissemos
páginas atrás. Dadas as dificuldades surgidas, a partir de 1926 os ir-
mãos letos passaram a se reunir no templo da Igreja Presbiteriana da

(100) Cf. O. A., "Misiones diena Pitangeira" (Dia Missionário em Pitangueiras), Kristigs:
Draugs (O Amigo Cristão), n° 6, junho de 1934, pp. 117 e 118; também Korps, João, narra-.
tiva biográfica enviada ao autor, firmada em 10 de fevereiro de 1967, achando-se em nossa.
arquivo.

345
Rua 24 de Maio, no centro da cidade, onde, na data já mencionada, foi
organizada a Igreja. Tendo à frente, desde 1926, o dinâmico obreiro
Pastor Carlos Rodolfo Andermann, a igreja se desenvolveu sob todos os
aspectos, inclusive numa participação ativa na obra missionária de Var-
pa, contribuindo durante 10 anos para o sustento do primeiro missioná-
rio assalariado da Missão Sertaneja de Varpa, o Pastor João Lukass.
(101) Também cooperou, através do seu coral e grupos de jovens da
União de Mocidade, na evangelização dos russos e lituanos na Capital,
trabalho a cuja frente se encontravam dois missionários, imigrantes letos
de Varpa, Karlis Grigorowitsch e Fritzis Romisch. Mais adiante narrare-
mos com mais alguns detalhes a história dessa igreja.

Assim, até fins de 1934, em Varpa já havia três igrejas letas — Cen-
tral de Varpa, a mais antiga e a maior, de Pitangueiras e de Palma. A
congregação da Colônia Letônia, embora forte e ativa, nunca se organi-
zou em igreja, permanecendo sempre filiada à Igreja Batista Central de
Varpa. E na Capital do Estado estava a próspera Igreja Batista Leta,
constituída, em quase sua totalidade, de elementos oriundos de Varpa.

Esse grupo de igrejas e a congregação da Colônia Letônia, constituía


a grande força do trabalho missionário, incluindo, naturalmente, os pró-
prios campos missionários, que cedo aprenderam a participar da obra.
Porém, menção deve ser feita também a outras igrejas batistas letas do
país, que, animadas com o progresso e os recursos humanos do trabalho
missionário dos batistas letos de Varpa, também vieram em seu auxílio
em medida cada vez maior.
Outra alteração importante que aconteceu em 1934 em Varpa, foi
a mudança do pastorado na Igreja Batista de Varpa, ocorrida no mês
de abril. Como foi dito em um dos capítulos anteriores, o Pastor Carlos
Kraul, um dos obreiros de projeção, imigrado com os demais que fun-
daram a Colônia Varpa, em 1922, logo após a organização da Igreja
Batista Leta de Varpa em abril de 1923, transferiu-se para a Colônia
de Nova Odessa, por ter aceito o pastorado da Igreja Batista de Nova
Odessa. Em abril de 1934, o Pastor Carlos Kraul resignou aquele pasto-
rado para aceitar o convite da Igreja Batista Leta de Varpa, enquanto
o Pastor André Pincher, pastor desta última por nove anos, aceitou o
pastorado da Igreja de Nova Odessa. O espírito evangelístico do Pastor
Carlos Kraul e sua facilidade no manejo da língua portuguesa, que havia
aprendido em Nova Odessa e em seu trabalho de evangelização, foram
excelentes estímulos a uma dedicação missionária ainda maior da Igreja
Batista Central de Varpa (como daquele ano em diante passou a cha-
mar-se). O novo obreiro no contexto da obra missionária de Varpa deu
nova dimensão à cooperação da igreja.

(101) Cf. Andermann, R., "S. Paulas latviesu baptistu draudzes sakums" (Os primórdios da
Igreja Batista Leta de São Paulo), S. Paulas latviesu baptistu draudze 20 gados (A Igreja
Batista Leta de S. Paulo em 20 anos), Edição da Igreja Batista Leta de S. Paulo, 1954, pp.
7 a 9; também Sprogis, J., "S. Paulas latviesu baptistu draudze 20 gados" (A Igreja Batista
Leta em 20 anos), ibid, p. 10.

346
4.4 — União Missionária Batista Leta do Brasil
Com o desenvolvimento ainda maior da obra missionária em tela,
tornou-se necessário dar-lhe bases mais amplas. A iniciativa da reestru-
turação coube ao próprio Centro da Missão Sertaneja de Varpa, que
convocou, para 25 de junho de 1935, uma Conferência Missionária em
Varpa, por ocasião das comemorações da passagem do 759 ano do início
do trabalho batista na Letônia. As igrejas convidadas a se representar
na Conferência foram as de Varpa e as demais do Estado de São Paulo.
Os mensageiros credenciados, examinando a extensão do trabalho mis-
sionário já existente e as perspectivas futuras, inclusive entre os eslavos
de Uruguai, Argentina e Paraguai, resolveram organizar, na mesma da-
ta, a União Missionária Batista Leta do Brasil e convidar todas as igre-
jas batistas letas do país a participar dela, aprovando o Estatuto pre-
viamente elaborado e elegendo a seguinte Diretoria: Presidente — Kar-
lis Grigorowitsch; Vice-Presidente — Carlos Kraul; 1° Secretário — Ar-
thur Garancs; 2° Secretário — Arvido Eichmann; 1° Tesoureiro — Nicolau
Kwasche; 2° Tesoureiro — Eduardo Kuplens; Vogais — Alberto Eich-
mann, João Lukass, Carlos Rodolfo Andermann, Girts Dobelis, André
Klavin e João Inkis. Todos eram elementos de Varpa, inclusive o Pastor
Carlos Rodolfo Andermann, que representava a Igreja Leta de São Paulo,
Capital, organizada no ano anterior. (102)
O Estatuto da União estabelecia como fim da novel organização a
"evangelização dos povos da América do Sul através da palavra falada
e impressa, alvo este cuja consecução une as igrejas batistas letas do
Brasil". Quanto à sua estrutura, era constituída de igrejas cujos men-
sageiros tomavam as deliberações em assembléias anuais, elegendo tam-
bém uma Junta Executiva, de 12 membros, renovável anualmente em um
terço, sendo permitida a recondução de seus membros ao mandato. No
que concerne aos recursos, as fontes eram as ofertas voluntárias de pes-
soas, igrejas ou organizações, sendo vedado à União, em hipótese alguma,
contrair dívidas. ("3)
4.5 — União das Igrejas Batistas Eslavas do Brasil
Foi organizada na Colônia Esperança, onde se achava uma das mais
fortes igrejas do campo missionário eslavo, com a participação de 40
mensageiros de 18 lugares, representando cerca de 900 membros de igre-
jas, nos dias 10 a 14 de julho de 1935, portanto, apenas alguns dias de-
pois da organização da União Missionária Batista Leta do Brasil. O
objetivo da novel entidade era unir as igrejas e os obreiros eslavos e
desenvolver melhor o trabalho entre os vários grupos étnicos nela repre-
sentados, dando-lhes maiores privilégios como também maiores respon-
sabilidades. (104)

(102) Grigorowitsch, K., "Brazilijas Latweeschu Baptistu Misiones Apveeniba" (União Mis-
sionária Batista Leta do Brasil), Kristigs Driugs (O Amigo Cristão), n' 12. dezembro de
1935, pp. 181 e 182.
(103) Cf. "Brazilijas Latweeschu Baptistu Misiones Apveenibas Statuti" (Estatutos da União
Missionária Batista Leta do Brasil), ibid., pp. 182 e 183.
(104) Dobelis, Girts, Entrevista em 27 de outubro de 1969, Palma.

347
Três dos obreiros letos da Diretoria da União Missionária Batista
Leta do Brasil também foram escolhidos para dirigir a entidade eslava:
Pastor Karlis Grigorowitsch, também eleito presidente desta, e os Pas-
tores Arvido Eichmann e Girts Dobelis. Tal fato assegurou a continui-
dade e harmonia no trabalho das duas entidades, que ainda continuariam
contando com o apoio da Missão Sertaneja de Varpa. Até 1968 a referi-
da organização eslava ainda estava em atividade, embora bastante re-
duzida, quando, então, tendo como presidente o Pastor André Yastrebov,
fruto do trabalho missionário dos letos entre os eslavos e pastor da
Igreja Batista da Paz, São Paulo, fundiu-se com a Convenção Batista
Ucraniana e Russa. (105)

5. Escola Missionária do Sertão


O rápido desenvolvimento do trabalho da Missão Sertaneja levou os
obreiros do chamado Centro Missionário de Varpa a pensarem numa ins-
tituição de preparo teológico, adequada às condições do meio em que a
obra missionária estava sendo realizada. Deus já estava levantando jo-
vens para a sua obra entre eslavos e brasileiros que necessitavam de
preparo específico para atenderem às exigências do campo. Enviá-los às
instituições existentes nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de
Janeiro, levaria anos até que chegassem ao final do curso e pudessem
servir na obra missionária do sertão. Além do mais, completando os es-
tudos nos grandes centros, talvez não voltassem mais aos campos difíceis
do sertão de onde procederam, dadas as atrações das oportunidades e
facilidades que lá se deparam diante do obreiro para trabalhar na causa
do Senhor. Por outro lado, escassos eram os recursos financeiros dos
humildes imigrantes — que ainda necessitavam investir muito com vistas
à estabilização da vida econômica — para gastá-los com os estudos e
manutenção dos filhos nas grandes cidades. Portanto, era necessário
pensar numa escola missionária do sertão para o trabalho missionário
no sertão. (106) Fig. 139
Os recursos materiais e humanos para tal obra evidentemente esta-
vam no grande centro batista do sertão de São Paulo — Colônia Varpa.
A Corporação Evangélica de Palma logo viu nessa iniciativa a sua opor-
tunidade de servir, pois que esta se enquadrava perfeitamente nos seus
objetivos, razão por que ofereceu à Missão Sertaneja de Varpa o local, o
material e a mão-de-obra para a construção de um edifício em Palma,
destinado à Escola Missionária do Sertão, planejada pelo Centro Missio-
nário, embora aceitasse também a colaboração de amigos da obra mis-
sionária. (107 ) Assim é que, em 27 de agosto de 1933, foram lançados
os alicerces do Edifício da Escola Missionária do Sertão, à esquerda da
entrada da sede de Palma, e em 20 de abril de 1934 foi inaugurado o pro-
jetado edifício, com santuário no centro e dois anexos laterais para salas

(105) ibid.
(106) Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 9, setembro de 1933, Editorial da 1' contracapa.
(107) Klavin, André e Eichmann, Arvido, "Eeluhgums uz misiones nama pamata likschanas
swehtkeem" (Convite para a Solenidade de Lançamento dos Alicerces do Edifício da Escola
Missionária), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 7, julho de 1934, 1' contracapa.

348
de aula, que dentro em pouco tempo já estavam equipadas com carteiras,
quadros-negros etc. O sermão oficial do programa de inauguração da
Escola Missionária do Sertão coube ao venerando obreiro João Inkis, o
estrategista e incentivador da obra missionária dos batistas letos do
Brasil. O ato, ao qual compareceram mais de 800 pessoas, contou tam-
bém com a presença do Pastor Dr. Paulo C. Porter, Secretário Corres-
pondente e Tesoureiro do Campo Batista Paulistano, que estava visitan-
do a Colônia Varpa pela segunda vez. Saudando os irmãos letos em nome
dos batistas brasileiros, manifestou o interesse e o reconhecimento que
estes tinham pela obra que a Missão Sertaneja de Varpa estava reali-
zando em favor da evangelização do Brasil. Representantes de 14 lo-
calidades em que estava sendo feito o trabalho missionário falaram da
satisfação que as igrejas e as congregações dos campos missionários ex-
perimentavam em ver lançada mais uma iniciativa missionária dos ba-
tistas letos de Varpa. Num programa de quase cinco horas de duração,
os oradores falaram e os diversos grupos corais cantaram em cinco idio-
mas — leto, russo, búlgaro, alemão e português, demonstrando bem a
variedade étnica coberta por aquela ação missionária. (108)
Impedido pela enfermidade, não teve oportunidade de comparecer
àquela festa o Dr. Ricardo J. Inke, então professor do Seminário Teoló-
gico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro. Referindo-se ao fato, es-
creveu ele em 10 de junho de 1934:
Lamento profundamente não ter podido atender ao con-
vite para estar presente à festa da inauguração da Escola Mis-
sionária do Sertão... Tal Escola no sertão é de muita neces-
sidade. Os sertanejos necessitam aprender ali mesmo. . . Com
grande interesse venho acompanhando o desenvolvimento do
trabalho missionário feito pela Missão Sertaneja de Varpa e o
surgimento da Escola Missionária. Com a maior boa vontade
desejo cooperar na Comissão da Escola Missionária, dentro das
minhas capacidades e experiência que Deus me tem propor-
cionado no campo da pedagogia. O meu coração está sendo
atraído fortethente, pelos meus patrícios, e, se esta for a von-
tade do Senhor, também eu me unirei ao Corpo Docente da
Escola Missionária do Sertão. O tempo é pouco; há muito que
fazer; os obreiros são escassos... (109)
Na semana seguinte à inauguração do edifício da Escola Missioná-
ria do Sertão e do novo templo da Igreja Batista de Pitangueiras —
uma bela construção para 400 pessoas, com galerias — Varpa recebeu
a visita do Dr. José Nigro, pastor da Primeira Igreja Batista de Santos,
São Paulo, e na ocasião Presidente da Convenção Batista Paulistana e da
Convenção Batista Brasileira. Seu objetivo, segundo revelou, foi co-
nhecer de perto a vida social, econômica e religiosa do povo leto de Var-

(108) Osols, Alicia, "Sertona misiones nama atwehrschana" (Inauguração do Edifício da


Escola Missionária do Sertão), Kristigs Dralugs (O Amigo Cristão), n9 5, maio de 1934,
pp. 93 a 95.
(109) Inke, Ricardo J., "No Rio de Janeiro" (Do Rio de Janeiro), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n9 6, junho de 1934, 1. contracapa.

349
pa. Pregou em todas as igrejas da colônia e visitou alguns pontos do
campo missionário da Missão Sertaneja. Ao fim da visita confessou que
muita coisa que viu em Varpa o surpreendeu, alegrando-o sobremaneira.
(110 ) O Dr. José Nigro já conhecia vários batistas letos residentes em
São Paulo, imigrantes da Colônia Varpa, especialmente o jovem Carlos
Gruber, que, enquanto estudante em São Paulo, era regente de cinco
coros de igrejas brasileiras, inclusive da igreja do Dr. José Nigro, em
Santos. Em janeiro de 1934 as duas Convenções — a Convenção Batista
Paulistana e a Convenção Batista Brasileira — haviam realizado as
suas assembléias anuais na Primeira Igreja Batista de Santos, concla-
ves em que os batistas letos de Varpa foram representados pelo Pastor
André Pincher, da Igreja Batista Central de Varpa, em caráter de ob-
servador. Naquela oportunidade, os batistas brasileiros, através de seus
líderes, inclusive o Dr. José Nigro, manifestaram novamente as suas
esperanças de ver os batistas letos de Varpa integrados nos esquemas
e estruturas dos batistas brasileiros, ingressando em seus organismos
cooperativos. (111 ) A visita do presidente das duas Convenções a Varpa
e os contatos com os obreiros e a obra missionária dos letos aplainaram
novamente os caminhos para o ingresso desses irmãos nas Convenções
brasileiras, que poucos meses antes haviam sido prejudicados por um
obreiro batista brasileiro através de O Jornal Batista, pormenor a que
voltaremos no fim do capítulo.
Neste ponto julgamos oportuno transcrever parte das impressões do
Dr. José Nigro sobre os batistas letos de Varpa, publicadas no nosso
órgão denominacional. Depois de narrar as intensas atividades desen-
volvidas durante os dias de sua permanência em Varpa e no campo
missionário das vizinhanças da colônia, eis como o Dr. José Nigro en-
cerra o seu artigo:
Ao término da minha visita aos nossos irmãos letos, cons-
tatei, com prazer, que eles são observadores fiéis de todos os
nossos princípios batistas, e que não diferem essencialmente
em suas práticas, dos batistas brasileiros.
Notei apenas certas particularidades litúrgicas nos seus
cultos, que nós não praticamos, mas que não podem constituir
motivos de censura nem de separação.
O uso da cruz nos templos, orar de joelhos, acompanhar
as orações com freqüentes interjeições de súplicas e de louvor;
apego ferrenho à sua própria língua, uso de sinos em alguns
lugares, e outras coisas dessa natureza, não me parecem mo-
tivos suficientes para que eles se mantenham fora da nossa
Convenção; cousas mais estranhas observei nas igrejas batis-
tas italianas, sem que no entanto ninguém se tenha escandali-
zado ainda com elas; e eu espero que o trabalho que vem sendo
feito desde muito pelo irmão Porter, no sentido de uma perfei-
ta e completa cooperação das Igrejas Batistas Letas, Russas,

(110) Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 5, maio de 1934, redatorial da 1' contracapa.
(111) Purgailis, K., "Brazileeschu baptistu sanahksmes Santosá" (Assembléias Batistas Bra-
sileiras em Santos), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 2, fevereiro de 1934, pp. 29 e 40.

350
Húngaras, Búlgaras etc., com a nossa Convenção Paulistana se
torne uma realidade para breve.
Contamos para isso com a Graça de Deus e boa vontade
manifesta dos irmãos Carlos Kraul, Arvido Eichmann, Alber-
to Eichmann, Inke, Pincher, Lukass, Andermann, Grigorowits-
ch, Imbre e outros muitos irmãos que nutrem também forte
simpatia por esse movimento de aproximação cristã. (112)
A Escola Missionária do Sertão abriu as aulas do seu primeiro ano
letivo em 17 de fevereiro de 1935, com a matrícula de 17 alunos de 9 na-
cionalidades — brasileiros, letos, russos, búlgaros, bessarábios, ucrania-
nos, lituanos, poloneses e gagaúsos (descendentes de imigrantes turcos
da Bessarábia). Para dirigir a Escola foi escolhido o Pastor Karlis Gri-
gorowitsch, que deixou a sua igreja na cidade de São Paulo e transfe-
riu-se para Palma, dando todo o seu tempo ao trabalho da educação
teológica. O Corpo Docente era constituído dos seguintes professores:
o próprio diretor — Pastor Karlis Grigorowitsch, a cujo cargo ficou a
maior parte das matérias; o Pastor Arvido Eichmann e o maestro Arthur
Garancs. O curso, inicialmente de duração de dois anos e ministrado em
português, compreendia as seguintes matérias: Português, Aritmética,
Geografia Bíblica, Música, Velho Testamento, Novo Testamento, Teolo-
gia Sistemática, Teologia Pastoral, História Eclesiástica, Homilética e
Religiões e Seitas. No fim de dois anos de estudos, o curso foi estendido
para mais um ano, no qual ficaram 10 dos alunos mais dotados, apro-
fundando-se especialmente na interpretação das Escrituras, ou Herme-
nêutica. A Corporação Evangélica Palma oferecia a hospedagem gra-
tuita a todos os alunos durante todo o curso, ajudando, inclusive, com
tratamento de saúde e vestuário para alguns, compreendendo que assim
Deus lhe havia aberto uma oportunidade para servir, que era a sua ra-
zão de ser. Durante os meses do ano letivo os estudantes aos domingos
se distribuíam, para o trabalho, pelo campo missionário das adjacências
de Varpa, enquanto durante as férias serviam nos campos mais afas-
tados. (113) Fig. 140
Formada a primeira turma em fins de 1937, o Centro Missionário
resolveu levar o curso aos campos missionários, realizando, durante o
ano seguinte, em períodos mais ou menos prolongados, vários cursos em
diferentes lugares. Em 1939 tentou-se repetir a experiência, mas sur-
giram dificuldades de ordem local, em que os obreiros da liderança do
curso tiveram que assumir responsabilidades pastorais nas principais
igrejas, inclusive o Diretor da Escola Missionária, que voltou à sua igre-
ja em São Paulo. Também vários jovens vocacionados já haviam bus-
:ado preparo nas instituições do ensino médio brasileiras, com vistas ao
ingresso no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Foi quando o

(112) Nigro, José, "Notas de Viagem", O Jornal Batista, Ano XXXIV, n° 27, 5 de julho de
1934, pp. 12 e 13.
(113) Osols, Alida, "Sertona misiones skolas atvehrschanas swehtki" (A Festa da Abertura
da Escola Missionária do Sertão), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 3, março de 1935,
pp. 46 e 47: id., "Wahrpas misiones skolas audzeknu atvadischanas" (A Despedida dos Alu-
nos da Escola Missionária de Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 12, dezembro
de 1937, pp. 188 e 189.

351
referido Seminário, através do Pastor Dr. Paulo C. Porter, procurou
levar o Curso de Extensão também até Palma, para proporcionar es-
tudos teológicos aos obreiros do Estado de São Paulo que não tivessem
condições de estudar nos grandes centros.

6. Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul


do Brasil em Palma

A partir de 1939, ano em que as igrejas batistas letas de Varpa in-


gressaram na Convenção Batista Brasileira, passou-se a pensar na am-
pliação da cooperação que a União Missionária das Igrejas Batistas Le-
tas do Brasil poderia oferecer através de sua Missão Sertaneja de Var-
pa. Foi quando, depois de consultados os líderes batistas letos dessa
Missão pelos Drs. Paulo C. Porter e John Leslie Riffey, respectivamente
Secretário Correspondente e Tesoureiro da Junta Executiva da Conven-
ção Batista Paulistana e Diretor do Curso de Extensão do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, concordaram todas em realizar, du-
rante o mês de maio de 1940, o primeiro ciclo de estudos daquele Curso,
que compreendia ao todo 5 anos. ( 114 ) A experiência foi tão positiva
que foi sendo repetida durante 23 anos, passando pelo Curso de Exten-
são de Palma cerca de 100 obreiros de várias nacionalidades, em sua
maioria brasileiros, até a transferência para a cidade de Bauru, para
logo depois ser transformado em Instituto Bíblico Batista de Bauru,
conhecido atualmente como Instituto Bíblico Batista de São Paulo. (115 )
Ilustres preletores e professores contribuíram com seu talento, conheci-
mentos e dedicação no preparo de obreiros que jamais teriam outra
oportunidade igual fora de Palma. Entre eles citamos os seguintes:
Dr. W. C. Taylor, Dr. J. L. Riffey, Dr. A. R. Crabtree, Dr. Paulo C.
Porter, Dr. Lester C. Bell, Dr. Malcolm Tolbert, maestros Arthur Garancs
e Arvido Leiasmeier, pastores Arvido Eichmann, Jacó R. Inke, Ro-
nald Rutter e Roberto Jansevskis e a Profa Esther Riffey. A contri-
buição da Corporação Evangélica Palma, em cooperação com as igrejas
batistas letas de Varpa, na hospedagem e alimentação gratuitamente
oferecidas aos professores e alunos do referido Curso, considerado como
continuação da Escola Missionária extinta, foi outra oportunidade que
os letos de Varpa tiveram para servir na evangelização do Brasil. Figs.
141, 142 e 143

Esta participação dos batistas letos sempre foi cheia de entusiasmo


e alegria, tomando parte todas as igrejas de Varpa, quer nos cultos de
abertura, quer nos de encerramento de aulas e de formatura, realizados
no grande templo da Igreja Batista Central de Varpa. Disso dão teste-
munho os repetidos noticiários publicados pelo periódico leto já mencio-
nado.

(114) Eichmann, Arvido, "Curso de Extensão do Seminário do Rio", Kristigs Draugs (O


Amigo Cristão), n9 3, março de 1940, p. 79.
(115) Rutter, Ronald, Entrevista em 22 de setembro de 1970, Rio de Janeiro, GB.

352
7. Integração dos Batistas Letos de Varpa nas Estruturas
Batistas Brasileiras
Consoante o que foi dito no início deste capítulo, questões cultu-
rais (língua, literatura, costumes), ênfases doutrinárias e posições des-
favoráveis, de um e outro obreiro batista nacional, dificultaram uma
integração mais rápida dos batistas letos de Varpa na Convenção Ba-
tista Paulistana e na Convenção Batista Brasileira. Tal situação levou
os irmãos imigrantes a um relativo isolamento até que o tempo remo-
vesse os obstáculos surgidos no caminho dessa integração, que só veio
a efetivar-se 16 anos depois da fundação da Colônia Varpa. Entretanto,
isto não impediu que os batistas letos de Varpa cooperassem — ainda
que não com a regularidade de um compromisso assumido — com o tra-
balho batista brasileiro em diversos setores, como o Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, a construção de templos
de igrejas brasileiras, beneficência, missões e especialmente a promoção
de um trabalho missionário próprio — cujo fruto mais tarde veio forta-
lecer a Convenção Batista Paulistana e a Convenção Batista Brasileira
— e a participação de vários obreiros na liderança batista nacional.

7.1 — Fatores que concorreram para a integração

O primeiro fator que concorreu para a integração dos batistas letos


de Varpa nos esquemas batistas brasileiros e que de modo algum pode
ser subestimado foi a correspondência dos irmãos João e Ernesto Spro-
gis, membros da Igreja Batista Leta de Nova Odessa, enviada para O
Jornal Batista e publicada a partir de março de 1923, portanto, apenas
cinco meses após a chegada dos primeiros imigrantes a Varpa. Dando
notícias de sua igreja, que já vinha cooperando com a Convenção Ba-
tista Paulistana e a Convenção Batista Brasileira desde a sua fundação
em 1906, aqueles irmãos informavam os batistas brasileiros da imigra-
ção de um grande número de batistas letos no país, localizados na Co-
lônia Varpa, pela qual também a sua igreja havia sido beneficiada com
dois pastorados consecutivos exercidos por obreiros vindos daquele mo-
vimento e pela cooperação de crentes imigrados que se fixaram em Nova
Odessa. (116)
O segundo fator foi a atuação do Dr. Ricardo J. Inke, querido entre
letos e brasileiros. Ele visitou a Colônia Varpa diversas vezes a partir
de 1924, publicou notas de suas viagens na imprensa batista e fez con-
tatos para levar a Varpa alguns líderes batistas brasileiros. (117 ) De
igual modo, se empenhou para esclarecer a liderança de Varpa a respei-
to das estruturas batistas brasileiras de cooperação denominacional,
mostrando que em nada sofreria o trabalho local ou a obra missionária
das igrejas de Varpa, de vez que nenhuma ingerência haveria por parte

(116) Sprogis, João, "Igreja Batista de Nova Odessa", O Jornal Batista, Ano XXIII, n° 12,
22 de março de 1923, p. 12; também Sprogis, Ernesto, "A Nova Colônia Varpa E. S.
Paulo", O Jornal Batista, Ano XXIII, n° 17, 26 de abril de 1923, p. 11.
(117) Stover, T. B., "Visitando Varpa", O Jornal Batista, Ano XXXI, n° 47, 19 de no-
vembro de 1931, p. 9.

353
das entidades brasileiras na vida e obra das igrejas letal, Outrossim,
endossou todas as recomendações da Igreja Batista Leta de Varpa dadas
aos jovens que naqueles primeiros anos procuraram o Colégio Batista do
Rio de Janeiro e o Seminário, que estavam ligados na época.
O terceiro fator foi o pastorado do Pastor Carlos Kraul (118 )) na
Igreja Batista Leta de Nova Odessa, posteriormente denominada Pri-
meira Igreja Batista de Nova Odessa, cargo que exerceu de 1923 a 1934.
Identificando-se com os obreiros americanos e brasileiros, representando
a sua igreja nos conclaves batistas brasileiros estaduais e nacionais, pre-
gando em púlpitos de igrejas batistas brasileiras, hospedando a Con-
venção Batista Paulistana em sua assembléia anual de fevereiro de 1925
e travando amizade com o Dr. Paulo C. Porter, por vários anos Secre-
tário-Correspondente e Tesoureiro do Campo Paulistano, contava a todos
a experiência inédita de Varpa e, ganhando a mais ampla apreciação e
confiança, assim foi preparando caminho para uma integração efetiva dos
batistas letos de Varpa na obra batista brasileira.
O quarto fator foi a presença de obreiros batistas e jovens estudantes
de Varpa em igrejas e instituições de ensino batistas brasileiras, como
o Colégio Batista Brasileiro de São Paulo, o Colégio Batista de Curitiba
e o Colégio Batista do Rio de Janeiro e Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil. Entre eles citamos aqui os que foram bem conhecidos
entre os brasileiros na década de 1925 a 1935: Carlos Liger, João Augs-
troze, Frederico Grinberg, Frederico Vitols, Arthur Lakschevitz, Pedro
Tarsier, Carlos Stroberg, Martinho Janson, André Janson, Eduardo Li-
ger, Osvaldo Ronis, Alfredo Rusins, Arnaldo Gertner, Carlos Gruber,
João Lukass, Paulo Gailit e Alberto Silenieks. Assim, no Rio, São Paulo
e Curitiba passaram a ser conhecidos vários batistas letos de Varpa, bem
como algo da história e trabalho daquela colônia.
O quinto fator, sendo este o mais importante, por ser o decisivo, foi
a atuação do Dr. Paulo C. Porter, já referido. Na verdade a sua ação
já estava sendo sentida em conjunto com a atuação do Pastor Carlos
Kraul e com a de alguns estudantes atrás mencionados. Desde fins de
1925, quando o Dr. Paulo C. Porter assumiu o pastorado da Primeira
Igreja Batista de Campinas, perto de Nova Odessa, travou-se uma só-
lida amizade entre ele e o Pastor Carlos Kraul, na ocasião pastor da
Igreja Batista Leta de Nova Odessa. Dos repetidos contatos e longas
conversações a respeito dos batistas letos de Varpa, resultou uma via-
gem dos dois à Colônia Varpa em maio de 1930 no carro do missionário,
o que era uma temeridade naqueles tempos de falta de estradas. Apro-
veitando a oportunidade, pararam em diversos povoados para evangeli-
zar, inclusive Marília, que rapidamente se tornou uma cidade. Da sua
visita a Varpa e sua atuação posterior, diz o Dr. Paulo C. Porter:
Fiquei impressionado com o espírito missionário e educa-
tivo dos letos, como também com a vida nas suas famílias. O
irmão Gustavo Narkevitz tomava conta das escolas em geral.
O irmão Arvido Eichmann dirigia o grande movimento de evan-

(118) Progenitor da conhecidíssima Prof, Tabita Kraul Miranda Pinto, viúva do saudoso
Dr. José de Miranda Pinto, Reitora do Seminário Teológico Betel, Rio de Janeiro, GB.

354
gelismo, e o Pastor André Pincher era pastor da grande igre-
ja. O irmão Kraul interpretava o que se ia dizendo a respeito
da nossa visita e dos batistas brasileiros e americanos. Todos
me receberam muito bem. Convidaram-me para pregar algu-
mas noites na grande igreja. O irmão Kraul interpretava.
Acostumado a pregar e apelar para conversões, o irmão Kraul,
sabendo dos costumes, me disse para não convidar os que acei-
tassem Cristo a vir para frente. Eu então apelei para a moci-
dade que aceitasse Cristo no coração, e na noite seguinte, os
que assim O aceitassem, tomassem lugar nos bancos da frente.
De fato, na noite seguinte um bom número de moços estava
sentado nos bancos da frente... Conversei com o irmão Pin-
cher e concluí que não havia diferença fundamental de dou-
trina. Naquela ocasião propus no meu coração procurar in-
fluenciar os moços letos chamados ao ministério a estudarem
no nosso Seminário do Rio... Visitei-os anualmente e preguei
por meio de intérpretes: Kraul, Arvido Eichmann e outros.
Quando inauguraram a Escola de Missões de Palma, tomei par-
te no programa e depois em muitas outras festividades. Quan-
do o irmão Grigorowitsch deixou a Escola de Missões, propus
que Varpa e Palma hospedassem o Curso de Extensão que
estava sendo fundado naquele tempo. Antes disto já tinha
promovido um retiro dos pastores da vizinhança de Varpa.
Assim estávamos ficando cada vez mais achegados no traba-
lho do Senhor. Eu visitava todos os grupos estrangeiros e
procurava persuadi-los a fazerem duas coisas — mandar os
seus filhos para os nossos colégios e para o Seminário, e en-
trar na Convenção Batista Paulistana. A vitória chegou du-
rante a II Guerra Mundial, quando o Brasil entrou na guerra.
A restrição no uso de línguas estrangeiras sem dúvida apres-
sou a vinda das igrejas de estrangeiros para apresentarem as
suas credenciais à Convenção Batista Paulistana. Mas a ver-
dadeira base já estava assentada na amizade e na cooperação
que já existia. Talvez a maior vitória seja o fruto dos moços
que estudaram no nosso Seminário e no Curso de Extensão...
O povo leto em geral é um povo dotado por Deus de qualidades
excelentes. Ama o estudo e se educa, e por isso ocupa lugares
de destaque em todos os ramos da vida civil e religiosa. (119)

Há, ainda, um sexto fator a ser lembrado na integração dos batistas


letos de Varpa na família batista brasileira. Referimo-nos às visitas
feitas por diversos líderes batistas do Brasil à Colônia Varpa. Entre
estes já citamos o Dr. Ricardo J. Inke, Pastor Antônio Ernesto da Silva,
Dr. Paulo C. Porter e Dr. José Nigro, aos quais acrescentamos ainda os
seguintes : Dr. Jayme de Andrade — na ocasião Secretário do Campo
Paulistano; Dr. Antônio Maurício — missionário em Portugal; Dr. L. M.
Bratcher — Secretário-Correspondente e Tesoureiro da Junta de Missões

(119) Porter, Paulo C., Carta firmada em 5 de outubro de 1968.

355
Nacionais da Convenção Batista Brasileira; Dr. T. B. Stover — Diretor
do Departamento de Escolas Bíblicas Dominicais e Mocidade da Junta
de Escolas Bíblicas Dominicais e Mocidade da Convenção Batista Brasi-
leira; e o Pastor Emílio W. Kerr — na oportunidade Presidente da Con-
venção Batista Paulistana. Os dois últimos visitaram Varpa em novem-
bro de 1931, por ocasião da inauguração do grande templo de Varpa.
7.2 — Marchas e contramarchas na integração
Logo após a sua primeira visita a Varpa, em maio de 1930, o Dr.
Paulo C. Porter publicou no Batista Paulistano um artigo em que deu
as suas impressões, que, aliás, foram as mais elogiosas. (120) A lideran-
ça da grande Igreja Batista Leta de Varpa também já estava percebendo
que era tempo de estudar o assunto da integração na família batista
brasileira. Em janeiro do ano seguinte (1931), essa igreja enviou dois
representantes à assembléia convencional paulistana, que se realizou em
Rio Claro, na qualidade de visitantes-observadores, pois para tanto ha-
via recebido um convite da Diretoria da Convenção Batista Paulistana.
Os representantes mencionados eram os pastores Arvido Eichmann e
Karlis Grigorowitsch, sendo que ambos foram também incluídos no pro-
grama do conclave. Foi naquela oportunidade que o Pastor Arvido Ei-
chmann proferiu um discurso sobre o tema: "Cristo Entre os Emigran-
tes, (121) em que historiou e explicou todo o movimento de imigração
de batistas letos em 1922/23. A ata da sétima sessão daquela assem-
bléia registra o seguinte:
... Dada a palavra ao irmão Arvido Eichmann, este lê um
bem feito discurso, dando a razão de ser da imigração e o seu
fim em vista, manifestando que entre eles tem havido vários
traidores e alguns que apostataram da fé. n dada a palavra ao
irmão Austriclinio de Abreu, para falar sobre os imigrantes e
sua relação com os batistas brasileiros, o qual usa como texto:
"Uma mesma lei haverá para o natural como para o estran-
geiro que peregrina pela tua terra." Dividiu o seu discurso em
três partes: la) Os não crentes que vêm se refugiar debaixo da
mesma bandeira devem gozar da mesma simpatia; Os cren-
tes que pelas perseguições e dificuldades vêm às nossas plagas,
devem ter dupla simpatia nossa; Os missionários, que dei-
xaram a sua pátria para nos trazer o Evangelho e despendem os
seus recursos, devemos recebê-los e sermos gratos. Em seguida
o Presidente declara o parlamento aberto sobre o assunto.. .
Pedindo a palavra, Dr. Porter diz interessantes notas quanto
ao trabalho dos batistas no Brasil.. . que devemos deixar as
pequenas diferenças e unirmo-nos num mesmo espírito no tra-

(120) Porter, Paulo C., "Visita à Colônia Varpa", Batista Paulistano, 15 de julho de 1930,
pp. 1 e 2.
(121) "Saweenibas jautajums Wahrpas kolonijas draudzê" (A Questão da Convenção na
Igreja Batista da Colônia Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), Editorial do n° 1.
janeiro de 1931, pp. 51 a 55; ibid., Eichmann, Arvido, "S. Paulas walsts baptistu saeima"
(A Assembléia dos Batistas do Estado de São Paulo), pp. 61 e 62; e id. ibid., Kristus starp
emigranteem" (Cristo Entre os Emigrantes), pp. 63 a 65.

356
balho do Senhor. Pede a palavra o Dr. Tertuliano Cerqueira,
que cita Efésios 4:5 em argumento da união entre batistas no
Brasil. (122)
Em março de 1931, num editorial do Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), foram feitos amplos esclarecimentos sobre as relações reinan-
tes no Brasil entre igrejas e convenções, lembrando, também, que já
estava dissipado o clima de desconfiança criado pelos artigos de um pas-
tor, publicado em O Jornal Batista no ano da chegada dos primeiros
imigrantes batistas letos que fundaram a Colônia Varpa, taxando-os de
pentecostais, e que as relações com a Convenção Batista Paulistana eram
as melhores possíveis, de sincera fraternidade, como se constatou das
diversas visitas que seus líderes haviam feito a Varpa. (123)
No mesmo editorial, entretanto, foram apresentados também dois
motivos que ainda pareciam ser impedimentos à integração desejada por
muitos: a língua — o grande meio de comunicação e motivação — e o
caráter peculiar e excepcional do trabalho missionário que a Igreja Ba-
tista Leta de Varpa estava desenvolvendo e que, somado ao campo batis-
ta brasileiro do Estado, em numero de membros representava um terço
de todos os batistas do Estado bandeirante, o que, dadas as peculiari-
dades, antes recomendava a organização de uma Convenção à parte. (124)
Em dezembro do mesmo ano realizou-se nova assembléia da Con-
venção Batista Paulistana na Igreja Batista do Brás. A Igreja Batista
Leta de Varpa enviou como representante o seu pastor, irmão André
Pincher. Na Ata irg 4 daquela assembléia da Convenção Batista Paulis-
tana, com data de 9 de dezembro de 1931, lê-se o seguinte:
. Ouve-se uma breve alocução do Pastor Pincher, da
Colônia Varpa, interpretada pelo Pastor Kraul. O Pastor Pin-
cher saúda, em nome da sua igreja, a Convenção e justifica o
fato de até agora não estar a sua igreja cooperando oficial-
mente com a Convenção, dizendo esperar que isto aconteça den-
tro em breve, pois que já aqueles irmãos estão desembaraçados
de algumas dificuldades que os inibiam de fazê-lo. (125)
Divergências na interpretação de compromissos decorrentes de uma
integração dos batistas letos de Varpa nas estruturas batistas brasileiras,
levaram a liderança daqueles irmãos a protelar a consumação dessa in-
tegração, limitando-se a Igreja Batista Leta de Varpa a enviar a sua
representação fraternal às assembléias anuais da Convenção Batista Pau-
listana e a cooperar na área financeira livremente, sem observação de
quaisquer critérios de obrigatoriedade, regularidade ou proporciona-
lidade. O ponto principal das referidas divergências, suscitado por líde-
res de influência em Varpa, aparentemente residia no receio de que o
ingresso da Igreja Batista Leta de Varpa na Convenção Batista Paulis-
(122) Convenção Batista Paulistana, Atas da Associação Evangélica Batista de São Paulo,
da Junta Batista Paulistana, da Convenção Batista Paulistana e da Junta Executiva da
Convenção Batista Paulistana, pp. 173 e 174.
(123) "Saweenibas jautajums Wahrpas koronijas draudzê" (A Questão da Convenção na
igreja da Colônia Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 1, janeiro de 1931, p. 53.
(124) Ibid., p. 54.
(125) Convenção Batista Paulistana, Op. cit., p. 196.

357
tana acabaria por limitar a sua expansão missionária, tanto porque exi-
giria dela maiores compromissos financeiros, como talvez a sujeitaria a
modificações em sua filosofia, metodologia e estrutura missionárias. (126)
Quando, após repetidos encontros do Dr. Paulo C. Porter com a li-
derança de Varpa, estava prestes a se consumar o ingresso da Igreja
Batista Leta de Varpa na Convenção Batista Paulistana, um novo ele-
mento negativo despontou no caminho da integração: uma referência,
contendo acusações aos irmãos letos e russos de Varpa, feita pelo Pastor
Emílio W. Kerr numa notícia de viagem a Santo Anastácio, publicada
em fevereiro de 1934 em O Jornal Batista. (127 ) Um mês depois, o Dr.
Paulo C. Porter, conhecedor da realidade, refutou todas as acusações,
com dados concretos, dizendo, sobre os irmãos letos, entre outras coisas,
o seguinte:
As igrejas mantêm uma disciplina boa. Não é justo acusar
aqueles irmãos de relaxamento moral... Disse mais, a mesma
notícia, que aqueles irmãos nunca nos ajudaram em nada, nem
nas Igrejas fracas de Presidente Prudente e de Assis. Ao con-
trário, ajudaram bastante, conseguindo, pela graça de Deus,
harmonizar o trabalho em Presidente Prudente, e também di-
rigiram conferências edificantes em Assis. Além disso, man-
têm trabalho entre os brasileiros e entre muitas outras nacio-
nalidades, já tendo uma igreja organizada entre os brasileiros,
de mais de cem membros. Usam a nossa literatura, ensinam
as nossas doutrinas e pretendem unir-se com as demais igrejas
batistas brasileiras. Mantêm muitos pontos de pregação, an-
dando a pé dominicalmente, moços e moças, vinte quilômetros
na ida e vinte na volta. Como se poderá dizer que não têm
feito nada? Passe a mão na consciência, cada um de nós, para
ver se está fazendo tanto! Os irmãos da Colônia Varpa con-
tribuíram, durante o ano passado, com mais de quinze contos
de réis para Missões. Não combatem o dízimo. Ensinam que
devemos dar mais que o dízimo e que somos mordomos de
Deus.
Quanto às acusações de heresia na teologia, pouca base
têm estas. Cada crente tem certeza da salvação, e ao mesmo
tempo ensinam a constante vigilância. Entre nós as opiniões
variam sobre este e outro ponto, como a validez da Lei, etc.
No começo do trabalho da Colônia, houve elementos semipen-
tecostais. Sobre o Espírito Santo aceitam a doutrina ensinada
na Teologia do Dr. Langston. Poucos chegam ao extremo en-
sinado e praticado pelo Dr. Ridout.

(126) "Saweenibas jautajums Wahrpas kolonijas draudzê" (A Questão da Convenção na


igreja da Colônia Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 1, janeiro de 1931, p. 54;
também Eichmann, Arvido, "Scho darit un to nepamest" (Fazer Isto e Não Deixar Aquilo),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 2, fevereiro de 1939, pp. 28 e 29; e Inke, Jacó R.,
"Convenção Batista Brasileira", O Amigo Cristão (Suplemento em português), n9 4, abri/
de 1939, pp. 1 e 2.
(127) Kerr, E. W., "Santo Anastácio", O Jornal Batista, Ano XXXIV, n9 7, 15 de feve-
reiro de 1934, p. 13.

358
Diz ainda o irmão na sua notícia que estes irmãos fogem
com horror de se unir à nossa Convenção Paulistana. Já por
quatro anos mandam representantes à nossa Convenção para
estudar a questão, e assim todos os anos, incluindo o presente.
A opinião é quase unânime de se apresentarem na próxima
convenção. O que os faz hesitar são estas acusações que sur-
gem de uma e outra fonte, pela natural hesitação de alguns
irmãos mais velhos, pois não conhecem a língua portuguesa etc.
Trabalhemos todos nós a favor da confraternização de todos
os batistas do nosso Estado e do Brasil todo. Unidos seremos
fortes! (128)
Quando o Pastor Emílio W. Kerr voltou à carga, a redação do nosso
érgão denominacional fez sentir que a discussão estava encerrada, pois
não edificava a ninguém. (129 )
O resultado foi que novamente a integração das igrejas letas de
Varpa, que a esta altura já eram duas — Central de Varpa e Pitangueiras
— ficou para uma oportunidade posterior.
Finalmente, com o advento do chamado "Estado Novo" na vida po-
lítica do país e a conseqüente necessidade de controle de atividades de
estrangeiros para preservar o povo do contágio de idéias bolchevistas, e
mediante novos entendimentos entre as lideranças batistas, em janeiro
de 1939 consumou-se a integração das igrejas batistas letas e eslavas
(estas do campo missionário dos batistas letos de Varpa) nas estrutu-
ras batistas brasileiras. Esclarecendo a questão para o público ledor do
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), o seu novo diretor e redator res-
ponsável, Pastor Jacó R. Inke, assim escreveu no suplemento em por-
tuguês:
a-nos grato, também, assinalar o gesto das igrejas batistas
imigrantes deste Estado, que se filiaram à Convenção Esta-
dual e, "ipso facto", passaram a fazer parte da Convenção Na-
cional.
Como sabemos, estas igrejas, algumas organizadas há uma
dezena de anos, outras recentemente, não estavam filiadas à
Convenção, mas, unidas entre si, promoveram o trabalho de
evangelização no meio dos imigrantes. Muitos não podiam com-
preender este trabalho isolado da Convenção, desferindo até,
alguns, críticas acerbas, levados a julgar, talvez, pela aparên-
cia. O fruto para se sazonar precisa de tempo. Era necessário
este trabalho coeso entre as igrejas para o desempenho da
missão para que foram vocacionadas. Este trabalho teve como
conseqüência a conversão de centenas de almas, em poucos
anos, e a organização de diversas igrejas, sendo que algumas
delas fazem parte da Convenção desde a sua organização.
(128) Porter, Paulo C., "Os Irmãos da Colônia Varpa", O Jornal Batista, Ano XXXIV.
n' 11, 15 de março de 1934, p. 13.
(129) Kerr, Emílio W., "Mais Explicações", O Jornal Batista, Ano XXXIV, n° 12, 22 de
março de 1934, p. 10.

359
Chegou, entretanto, o momento em que todas estas greis
viram a necessidade e oportunidade de fazerem parte da Con-
venção, com a qual sempre cooperaram na medida de suas pos-
sibilidades. Estas igrejas de elementos estrangeiros, que vie-
ram da então turbulenta Europa após a grande guerra, achan-
do-se no meio estranho e levando ainda a fama que na maioria
das vezes não mereciam, como está evidenciado hoje, não sen-
tiam, a necessidade de pertencer à Convenção até que seu tra-
balho e seus métodos merecessem apreciação justa. Por outro
lado, o desenvolvimento exige uma íntima cooperação com a
Convenção para o seu melhor benefício, como também todos
querem ter o privilégio de cooperar mais amplamente na evan-
gelização do País.
Apesar de tudo isto, não haverá solução de continuidade no
trabalho que as igrejas russas e letas estão fazendo neste Es-
tado e no sul do país. Agora mesmo o Pastor Carlos Grigoro-
witsch acha-se de viagem pelos países vizinhos do sul — Uru-
guai e Argentina — estabelecendo contatos entre os crentes
e abrindo novos trabalhos nas colônias eslavas. Suas despesas
são custeadas pela União das Igrejas Batistas Russas. Não
há fundamento, portanto, para a notícia publicada algures, de
que essa União deixou de existir. A Convenção estadual não
cogitou disto em absoluto. Como iria assumir a responsabili-
dade desse trabalho? Ela apenas tomou conhecimento desses
fatos e aceitou essas igrejas com todo o trabalho que estão
fazendo e continuarão a fazer. Com isso, de forma alguma
decresce a responsabilidade dessas igrejas para com a Con-
venção. Elas estão satisfeitas na parte que têm nos trabalhos
convencionais. (13o)
A pedido do redator de O Jornal Batista, o Pastor Karlis Grigoro-
witsch escreveu para a Denominação Batista do Brasil um artigo a pro-
pósito da recepção das igrejas batistas letas e eslavas — com cerca de
2.100 membros — na comunidade batista brasileira, historiando, su-
cintamente, o movimento imigratório de batistas letos em 1922/23 e o
surgimento da obra missionária dos letos entre os eslavos e os brasilei-
ros do sertão paulista, a fundação da Escola Missionária em Palma e
dando outras informações relativas às mesmas igrejas. Finalizando o
Seu artigo, assim se expressou o Pastor Karlis Grigorowitsch:
Pelo exposto, se vê que os crentes letos e eslavos têm pro-
curado fazer, na evangelização do país, aquela parte do tra-
balho na qual dificilmente poderiam ser substituídos. E, se
chegou a hora de estreitarem, ainda mais, suas relações com os
batistas brasileiros, eles ingressam nesta grande família com
o desejo leal de trabalhar esforçadamente não só no seu setor,
como também na causa geral, com a qual estão doravante mais

(130) Inke, Jacob, R., Op. cit., pp. 1 e 2.

360
identificados, tendo em mira o grande alvo — levar o Brasil
querido aos pés de Cristo, Rei da Paz. (131)
Lamentavelmente o secretário de atas da 25a Assembléia da Con-
venção Batista Brasileira, realizada na Primeira Igreja Batista de São
Paulo nos dias 24 a 27 de janeiro de 1939, ao citar os batistas das diversas
nacionalidades apresentados à Convenção para seu ingresso — em cujo
nome falou o Pastor Karlis Grigorowitsch — por um lapso omitiu os
batistas letos de Varpa, (132 ) que estavam sendo recebidos na mesma
ocasião; contudo, registrou as igrejas de Varpa, Palma e Pitangueiras,
todas da mesma colônia, com os nomes dos respectivos mensageiros,
(133 ) o que obviamente não poderia ter ocorrido se elas não estivessem
arroladas.
Daí por diante a cooperação das igrejas batistas letas de Varpa
tem sido leal e crescente em todos os setores do trabalho batista brasi-
leiro, tanto na área regional como na estadual e nacional, sem que al-
guém jamais fizesse qualquer restrição sob qualquer aspecto. Como se
vê, os motivos da demora na integração daquelas igrejas foram mais
externos que internos e não refletiam propriamente a posição de um
bloco étnico isolado, mas a atitude de igrejas independentes, uma vez
que outras igrejas letas com raízes no mesmo movimento imigratório —
como, por exemplo, a Igreja Leta de São Paulo — já haviam ingressado
na Convenção Batista Paulistana e Convenção Batista Brasileira alguns
anos antes. Por outro lado, nada sofreu o trabalho missionário dos ba-
tistas de Varpa por motivo de sua integração nas estruturas batistas
brasileiras. A União Missionária Batista Leta do Brasil continuou a sua
existência, evoluindo, após a II Guerra Mundial, e com advento de novos
obreiros letos, para a Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil,
tomando a si dois novos campos missionários de maior amplitude, quais
sejam o do litoral do Paraná e o do sertão da Bolívia, de que trataremos
mais adiante.

(131) Grigorowitsch, K., "Novas Igrejas no Seio da C.B.B.", O Jornal Batista, Ano XXXIX,
n° 9, 2 de março de 1939, p. 3.
(132) Convenção Batista Brasileira, Atas, Relatórios e Pareceres, 25' Assembléia, São Pau-
lo, 1939, (Ata 5), p. 14.
(133) Idem, pp. 7 e 8.

361
CAPITULO IX

EXPANSÃO DO TRABALHO BATISTA LETO NO BRASIL


DE 1922 ATÉ 1972

1. As Primeiras Igrejas Batistas Letas do Brasil e a


Influência que Sobre Elas Exerceu o Movimento
Imigratório de 1922/23

1.1 — Igreja Batista Leta de Nova Odessa — Estado de Sãa


Paulo
1.2 — Igreja Batista Leta de Rio Novo — Estado de Santa
Catarina
1.3 — Igreja Batista de Rio Mãe Luzia — Estado de Santa
Catarina
1.4 — Igreja Batista Leta de Rio Branco — Estado de Santa
Catarina
1.5 — Igreja Batista Leta de buí — Linha 11 — Estado do Rio
Grande do Sul

2. Igrejas Batistas Letas no Brasil Organizadas Após a


I Guerra Mundial

2.1 — Igreja Batista Leta de Varpa — Estado de São Paulo


(1923)
2.2 — Igreja Batista de Porto União — Estado de Santa Ca-
tarina (1925)
2.3 — Igreja Batista de Areias — Estado de São Paulo (1930)
2.4 — Igreja Batista de Pitangueiras, Colônia Varpa Estado
de São Paulo (1932)
2.5 — Igreja Batista de Palma, Colônia Varpa — Estado de
São Paulo (1934)
2.6 — Igreja Batista de Urubici — Estado de Santa Catarina
(1934)
2.7 — Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital — Estado de
São Paulo (1934)
2.8 — Segunda Igreja Batista de Nova Odessa — Estado de
São Paulo (1936)
2.9 — Segunda Igreja Batista de Varpa — Estado de São Paulo
(1941)
2.10 — Igreja Batista de Renascença — Estado do Paraná (1951)

3. Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil


3.1 — Primeiras iniciativas
3.2 — Situação das igrejas depois da II Guerra Mundial
3.3 — Primeira Conferência Missionária
3.4 — Segunda Conferência Missionária
3.5 — Organização da Associação das Igrejas Batistas Letas no
Brasil
3.6 — Fins, constituição, recursos, direção e ação do novo órgão
cooperativo

364
CAPITULO IX

EXPANSÃO DO TRABALHO BATISTA LETO NO BRASIL


DE 1922 ATA 1972

Nos capítulos III e IV da presente dissertação, analisamos o pri-


meiro ciclo da imigração batista leta no Brasil, compreendido no período
de 1890 a 1922, ou seja, até o fim da I Guerra Mundial. A rigor, a imi-
gração do primeiro ciclo cessou com o início daquele conflito, isto é, em
1914, mas a ascensão e o declínio da maioria das colônias do primeiro
ciclo imigratório e das respectivas igrejas verificaram-se durante aquela
guerra e nos anos imediatamente subseqüentes, até 1922, quando teve
início o maior movimento imigratório de batistas letos no Brasil, que
deu origem à Colônia Varpa e à Corporação Evangélica Palma, objeto
dos capítulos V, VI e VII. Vinculada a esse movimento, então, estava a
obra missionária realizada por esses irmãos, da qual já nos ocupamos no
capítulo VIII.
Lançaremos, agora, uma vista sobre o trabalho todo dos batistas le-
tos no Brasil, desde 1922 até 1972, ou seja, sobre a segunda etapa da sua
história, verificando, primeiramente, a atuação das cinco igrejas rema-
nescentes do período anterior e depois o trabalho de dez outras igrejas,
surgidas no segundo período, ou seja, nos últimos 50 anos, embora uma
parte desse quadro já tenha sido apreciada nos capítulos especificamen-
te referentes à Colônia Varpa, sua igreja e sua obra missionária.

1. As Primeiras Igrejas Batistas Letas do Brasil e a Influência


que sobre Elas Exerceu o Movimento Imigratório de 1922/23
Das cinco igrejas que existiam antes do segundo período da história
dos batistas letos no Brasil, algumas se achavam dizimadas pelo êxodo,
outras pela invasão de doutrinas sabatistas e pentecostistas e todas se
ressentiam da falta de pastores locais que cuidassem do seu desenvolvi-
mento. Em tais circunstâncias, essas igrejas olhavam com justificadas
esperanças para o movimento imigratório batista leto de 1922/23, que
trouxe consigo diversos pastores, evangelistas e leigos experimentados,
todos imbuídos do fervor que o Espírito de Deus havia derramado sobre
as igrejas da Letônia pelo avivamento já relatado. Assim, não tardaram
solicitações de visitas periódicas de pastores de Varpa às referidas igre-

365
jas e alguns pastorados foram assumidos por obreiros procedentes de
Varpa. Outrossim, ocorreram mudanças de diversas famílias de Varpa
para as Colônias mais antigas, onde as condições econômicas e climáti-
cas eram mais favoráveis. De uma ou de outra forma, todas as cinco
igrejas adiante abordadas, em alguns detalhes, foram beneficiadas, re-
sultando em aumento numérico de seus membros e revigoramento do
espírito evangelístico. Também era valiosa a influência, nessas igrejas,
dos periódicos editados em Palma, que eram muito lidos e apreciados
devido ao seu conteúdo rico e variado, e, sobretudo, por serem publica-
dos em idioma leto.

1.1 — Igreja Batista Leta de Nova Odessa — Estado de São Paulo


Das igrejas letas mais antigas, esta foi a primeira a receber a in-
fluência do movimento imigratório de 1922/23. Como ficou dito antes,
em 1921 a Igreja de Nova Odessa recebeu o Pastor João Inkis, um dos
líderes do movimento, como seu pastor e que em fins de 1922 já se des-
pedia, para fundar a Colônia Varpa. Entretanto, aquele ano de pasto-
rado do citado obreiro foi de imensa valia em todas as atividades da
igreja, mormente no seio da mocidade, de cujo meio surgiram leigos
consagrados que por muitos anos constituíram os pilares da obra batista
.em Nova Odessa e redondezas. (1)
Após a saída do Pastor João Inkis, a Igreja Batista Leta de Nova
Odessa recebeu visitas prolongadas de cinco pastores de Varpa, que
muito contribuíram para a sua edificação. Eram eles: Pedro Fokrots,
Nicolau Kwasche, Otto Vebers, André Pincher e Carlos Kraul. Este úl-
timo aceitou o pastorado efetivo da igreja, (2 ) no qual permaneceu nove
anos, ou seja, até 1934. Nos primeiros quatro anos de pastorado de
Carlos Kraul, a igreja cresceu de 196 membros, em 1922, para 446, em
1926. (3 ) A maior parte desse crescimento numérico era resultado do
afluxo de letos de Varpa para Nova Odessa e adjacências. A outra parte
veio da adolescência e juventude, em cujo seio a ação evangelística do
pastor encontrou a maior repercussão, e do trabalho missionário entre
os brasileiros. Fig. 144
Durante o pastorado de Carlos Kraul, atenção especial foi dada aos
cultos em português, ponto de partida para uma ação evangelística di-
nâmica. Converteram-se muitos brasileiros e se fizeram membros da
igreja, constituindo, assim, motivação para maior expansão da obra mis-
sionária local. Inúmeros trabalhos de evangelização foram realizados
em toda a redondeza da Colônia de Nova Odessa, nos sítios próximos e
afastados, na Estação de Nova Odessa, em Vila Americana, em Rebou-
ças (hoje Sumaré) e na Cadeia Pública de Campinas, tendo sempre à
frente o pastor, acompanhado da mocidade, coro, quartetos, conjuntos
instrumentais e pregadores leigos. Em Areias, a 9 km de Vila Ameri-

(1) Wahvers, R., Nova Odessas Latweeschu Baptistu Draudze 25 gados (A Igreja Ba-
tista Leta de Nova Odessa em 25 anos), edição da Igreja Batista Leta de Nova Odessa,
1931, p. 16.
(2) Id., ibid., p. 17.
(3) Id., ibid., p. 35.

366
cana (hoje Americana), numa fazenda adquirida pelo irmão Rodolfo
Fritzsons, em 1924 foi estabelecida uma pequena colônia leta com imi-
grantes vindos de Varpa e das colônias de Santa Catarina, onde se or-
ganizou uma congregação que poucos anos depois deu lugar a uma igre-
ja batista leta. (4)
Não tardaram também a surgir florescentes Escolas Bíblicas Domi-
nicais: na Estação de Nova Odessa, sob a direção de Carlos Burse; em
Vila Americana, liderada pelos jovens Emílio Veidmann e Carlos Ri-
cardo Strautmann; em Rebouças, dirigida por Carlos Liger; em Ca-
choeiras e Santa Bárbara d'Oeste, orientadas por Roberto Kreplin e ou-
tros; e em Monte Mor e Pirassununga, onde membros ativos da igreja,
moradores nessas cidades ou suas vizinhanças, iniciaram o trabalho,
para cujo desenvolvimento receberam o apoio da igreja. Em todos estes
lugares desenvolveram-se congregações que mais tarde foram organizadas
em igrejas, cabendo à Igreja Batista Leta de Nova Odessa organizar as
seguintes: Igreja Batista de Areias (1930), II Igreja Batista de Nova
Odessa (1936) e Igreja Batista de Santa Bárbara d'Oeste (1955). As
igrejas de Americana Sumaré (antiga Rebouças) e Pirassununga fo-
ram organizadas pela II Igreja Batista de Nova Odessa; e a de Monte
Mor, sob os auspícios da I Igreja Batista de Campinas.
A Sociedade de Senhoras da igreja, que durante alguns anos havia
interrompido suas atividades, a partir de 1926 retomou o seu lugar, sob
a liderança de D. Júlia Kraul, esposa do pastor, prestando relevantes ser-
viços no levantamento de recursos para missões, evangelismo local e
beneficência, bem como superintendendo a aplicação daqueles que eram
destinados a este último setor. (5)
Na superintendência geral da Escola Bíblica Dominical da igreja,
os três obreiros de maior destaque e mais longa permanência no cargo
foram: Ernesto Sprogis, Hermanis Janaitis e Rodolfo Kivits. Cada um
teve o seu mérito na formação da mentalidade da igreja sobre uma Es-
cola Bíblica Dominical ideal, tendo contribuído para o desenvolvimento
intelectual e espiritual dos batistas latos de Nova Odessa. Os mesmos
irmãos ainda se distinguiram como pregadores leigos, além de outros
como: Wilis Lieknins, Ernesto Araium, Frederico Strelnieks, Evaldo-
Uzars, Zanis Eksteins, Roberto Kreplin e Waldemar Snikers.
Importante papel, ainda, na edificação da igreja, evangelização e.
divulgação da música sacra naquele tempo pertence ao coro da igreja,
que se tornou famoso, tendo-se apresentado em diversas audições em
igrejas evangélicas de Piracicaba, Santa Bárbara, Rio Claro, Campinas,
Americana e São Paulo. Seus regentes mais destacados na década dos
20 foram: Hermanis Janaitis, Valdemar Janaitis, Carlos Burse e André.
Janson, bem como o regente do coro feminino, Roberto Wahvers. (6)
Salomão Ginsburg — que deu a maior contribuição à hinódia batista
brasileira — assim se referiu ao coro da Igreja Batista Leta de Nova
Odessa:
(4) Id., ibid., pp. 17 a 20 e 31.
(5) Id., ibid., pp. 33 e 34.
(6) Id., ibid., p. 28.

367
"Imaginai um coro composto de umas cem vozes, bem
adestradas, obedecendo à batuta de um mestre, cantando os
belos hinos de Sião! Esses hinos falavam à alma e nos faziam
esquecer tudo, embevecidos com a harmonia deliciosa dessas
vozes que emanavam de corações repletos do amor divino...
Se algum irmão deseja ter uni vislumbre dos gozos do céu,
venha passar um domingo com os irmãos latos em Nova Odes-
sa. Falam os mundanos dos prazeres mundanos, nas vozes das
grandes cantoras, porém nada sabem dos gozos dos crentes,
gozos esses que ultrapassam a tudo quanto o mundo possa
oferecer." (7)
Relatando sobre o Instituto de Mocidade realizado em Nova Odessa,
em 1939, escreveu o missionário Dr. S. L. Watson, uma das maiores fi-
guras batistas que o Brasil já teve:
"Os cânticos dos hinos, já se deve notar, nos levaram até
as alturas. Olha, aquela gente canta! Muita gente canta bem,
mas aquela canta otimamente. Que vozes maviosas! Que co-
ros harmoniosos! Que música espiritual!" (8 )
O Dr. Antônio Mesquita, líder batista brasileiro de várias décadas,
assim se expressou sobre o coro da Igreja Batista Leta de Nova Odessa:
"O Coro da Igreja, pode ter igual, mas não melhor. Dis-
seram-me que na outra colônia em Varpa (muito desejo co-
nhecer também esse trabalho) o coro é ainda melhor, porque
tem mais poetas e músicos, mas eu não posso crer que haja
melhor coro em parte alguma do mundo. Uni poema sacro
cantado depois do culto arrebatou-me... Que admiráveis har-
monias! Não vi esses gritos estridentes, tão próprios de quem
não sabe música, nem essas falhas tão próprias de quem não
está identificado com o mister. Um grupo impressionante quer
pelo porte, quer pela ordem e perfeição dos cânticos." (9)
Ainda menção especial merece a atuação da mocidade da igreja, de
cujo seio saíram diversos jovens, para estudar nas cidades vizinhas, como
Piracicaba, Rio Claro, Campinas, e também nas mais distantes — São
Paulo e Rio de Janeiro. Entre estes, destacou-se o Prof. Carlos Liepin,
genro do Pastor Carlos Kraul e genitor da assistente social e colaborado-
ra na obra educacional e social batista no Estado da Guanabara e Junta
de Missões Nacionais, D. Dayse Calmon, e da médica batista, Dra. Livia
Ludmilla Liepin. O Prof. Carlos Liepin fez os seus estudos no Colégio
Batista do Rio de Janeiro, abrindo uma escola particular, anexa à igreja
em Nova Odessa, por volta de 1929, que prosperou durante vários anos
servindo à causa da educação da juventude de Nova Odessa. (ui) Por sua
influência como professor em diversas cidades vizinhas, outros jovens

(7) Ginsburg, Salomão L., "Notícias Goianas e Paulistas", O Jornal Batista. Ano XXVI,
n9 33, p. 15.
(8) Watson, S. L., "Visitando o Estado de São Paulo", O Jornal Batista, Ano XXXIX,
n9 51, p. 14.
(9) Mesquita, Antônio Neves, "Visitando São Paulo", O Jornal Batista, Ano XXXII, n9
29, p. 14.
(10) Wahvers, R., Op. cit., p. 32.

368
encontraram oportunidades para adquirirem preparo em nível médio e,
em alguns casos, até em nível superior, especialmente no campo da mú-
sica, o que proporcionou à mocidade de Nova Odessa condições excelen-
tes de não só desenvolver seu próprio trabalho, mas de tomar a liderança
de outros setores da igreja, como a Escola Bíblica Dominical, o Coro, o
evangelismo. Também a jovem professora Ludmilla Araium (depois Lei-
asmeier) deu sua contribuição no curso noturno de português que o Pastor
Carlos Kraul organizou com o fim de habilitar a mocidade para o trabalho
de evangelização. (11)
Em 1934 o Pastor Carlos Kraul deixou o pastorado da Igreja Batista
Leta de Nova Odessa, transferindo-se para a Colônia Varpa, onde fora
eleito pastor da Igreja Batista Central de Varpa — antes chamada Igreja
Batista Leta de Varpa ou Primeira Igreja Batista de Varpa. Os nove
anos do pastorado de Carlos Kraul em Nova Odessa deixaram marcas po-
sitivas indeléveis na vida da igreja, que podem ser resumidas no seguinte
trinômio: Reavivamento — Evangelização — Consagração.
Depois do pastorado de Carlos Kraul, a Igreja Batista Leta de Nova
Odessa — posteriormente denominada I Igreja Batista de Nova Odessa,
Fazenda Velha — teve à sua frente os seguintes pastores: André Pincher,
de Varpa, que serviu dois anos incompletos vindo a falecer em plena ati-
vidade; João Inkis, de Varpa; Jacó R. Inke, de Santa Catarina; Janis
Roberto Jansevskis, de Varpa; Mikelis Zegelnieks, André Ceruks, Augus-
to Lakschevitz e Gunars Tiss, estes procedentes da Letônia como imi-
grantes refugiados da II Guerra Mundial. Quase todos esses pastorados
foram breves, em torno de dois anos, exceto o do Pastor André Ceruks,
que foi de treze anos, sendo forçado a renunciar por motivo de enfermi-
dade, e o último, do Pastor Gunars Tiss, que vem dirigindo a referida
Igreja desde 1966. (12 )
No que diz respeito à evangelização, ainda foram estabelecidos tra-
balhos permanentes e sistemáticos em Fazenda Cullen, Sítio Grande, Sí-
tio das Palmeiras e Paraíso.
Quanto ao número de membros, o ponto alto — com 447 no rol —
a I Igreja Batista de Nova Odessa atingiu em 1928, ainda no pastorado do
Pastor Carlos Kraul. Depois, devido à mudança dos irmãos para as cida-
des vizinhas, a capital do Estado ou outras colônias, o número de mem-
bros da igreja entrou em declínio, especialmente em 1936, devido à or-
ganização da II Igreja Batista de Nova Odessa. Ultimamente esse declí-
nio tem sido retardado pela direção dinâmica que o Pastor Gunars Tiss
tem imprimido à Igreja, dando ênfase especial no envolvimento da moci-
dade pela música, organizando e desenvolvendo cursos de música, uma
grande orquestra de diversos instrumentos, uma outra somente de ban-
dolins e violões, coros graduados e outras atividades, de vez que ele
mesmo é professor de música, pianista, solista e regente de longa data,
com cursos de especialização, sendo também diretor e proprietário de um

(11) Id., ibid., p. 64.


(12) Cf. Araium, Alexandre, Carta firmada em Nova Odessa, a 15 de fevereiro de 1969,
que se acha em nosso arquivo.

369
conservatório de música em Americana. Presentemente (1972) a I IL,re-
ja Batista de Nova Odessa tem 160 membros em seu rol.
Apesar do mencionado declínio quantitativo não tem diminuído o
espírito de ação e cooperação da referida igreja. Trabalham com inten-
sidade as organizações internas, como a Escola Bíblica Dominical, as
Uniões de Treinamento, a Sociedade Feminina, Orquestras, Coros gradua-
dos e diversas comissões. A igreja sustenta um casal de missionários en-
tre os índios de Rondônia e uma jovem missionária na Ilha Rasa, no li-
toral do Paraná; contribui para todos os fins da Convenção Batista Pau-
listano., Convenção Batista Brasileira e a obra missionária dos batistas
letos do Brasil. Referência especial merecem as excursões evangelísticas
da orquestra da mocidade, que participa das campanhas locais e regio-
nais, tendo chegado também até Curitiba e Rio de Janeiro. (13 )
Por ocasião da passagem do cinqüentenário da Colônia de Nova
Odessa, em 1956, quando foi inaugurado em frente à Estação de Nova
Odessa o monumento alusivo ao acontecimento, a I Igreja Batista de No-
va Odessa recebeu em seu amplo jardim que cerca o templo, o povo e as
autoridades para um grande banquete, oferecido pela municipalidade e
realizou um grande concerto, ocasião em que cantaram os coros das duas
igrejas batistas letas e falaram diversos oradores, representantes das
autoridades oficiais.
A geração mais velha da I Igreja Batista de Nova Odessa vai es-
casseando, enquanto seus descendentes, já em terceira e quarta geração,
vão sendo assimilados pelo meio sócio-cultural brasileiro, em que se
acham inseridos. Mas, a par dessa assimilação, os jovens sentem-se feli-
zes de suas origens letas e imprimem à dinâmica do trabalho de sua igre-
ja características e traços culturais da etnia subjacente, mesmo com o
declínio considerável do uso da língua leta no ambiente doméstico e ecle-
siástico. Parece-nos que Nova Odessa será um dos últimos redutos da
cultura leta no Brasil a se render à assimilação total, e que esta não
ocorrerá tão cedo quanto julgam alguns. Fig. 145

1.2 — Igreja Batista Leta do Rio Novo — Estado de Santa Catarina


Das igrejas batistas letas mais antigas do Brasil — fundadas antes
da I Guerra Mundial — a de Rio Novo, Estado de Santa Catarina, foi a
segunda a ser beneficiada pelos batistas de Varpa. Estava ela sem pas-
tor, quando, em 1925, o evangelista Carlos Stroberg, jovem inteligente
e dinâmico de Varpa, de 27 anos de idade, foi convidado para assumir
a direção da Igreja de Rio Novo. É que no ano anterior, quando em
visita à sua tia, que morava naquela colônia, Carlos Stroberg havia per-
manecido duas semanas entre aqueles irmãos, realizando uma série de
trabalhos que foi um verdadeiro refrigério para a igreja. Depois de
seis meses de atividades em Rio Novo, a igreja o enviou ao Colégio Ba-
tista de Curitiba para estudar durante dois anos, a fim de habilitar-se

(13) "Divdesmit Tresais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas Kongress" (Vi-
gésimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n° 10, outubro de 1972, pp. 19 e 20.

370
para a direção da Escola Anexa e para evangelização da redondeza, caren-
te de obreiros. Estudou também Teologia e outras matérias, que eram da-
das pelos destacados obreiros A. B. Deter, Guilherme Butler, e W. H.
Berry, este diretor do Colégio Batista de Curitiba. Ordenado em 1926,
em Curitiba, enquanto estudava, Carlos Stroberg também pastoreava as
igrejas de Rio Novo, Rio Branco, Rio Negro, Itaqui, Porto União e Ro-
seira. Com a volta do Pastor Carlos Stroberg, para Rio Novo, então já
casado com a Profa Griselda Bichel, de família alemã, durante dois anos
entregou-se ao trabalho da igreja local e da de Rio Mãe Luzia, à evangeli-
zação da redondeza, como Tubarão, Criciúma, Laguna, Orleães e outros
lugares, onde mais tarde surgiram igrejas, enquanto sua esposa desen-
volvia a obra de educação na Escola Anexa da igreja em Rio Novo. Na-
quele pastorado, a referida igreja chegou a 200 membros em seu rol,
estando economicamente estabilizada, cooperando com a Convenção Ba-
tista Brasileira e a Convenção Batista Paraná-Santa Catarina. ei) Fig.
146
Em 1929 o Pastor Carlos Stroberg transferiu-se para Porto União,
ficando a Igreja Batista do Rio Novo sem pastor residente. Por algum
tempo ela ainda manteve o seu vigor anterior, mas logo veio o êxodo da
geração jovem, em busca de melhores oportunidades para a vida ou de
áreas de terras mais novas e mais férteis, entrando a igreja em declínio
lento, do qual nunca mais se recuperou. Por recomendação do missio-
nário A. B. Deter, a Igreja Batista do Rio Novo valeu-se das visitas do
Pastor Abraão de Oliveira, obreiro que ela sustentava em cooperação
com a Convenção para desenvolver a congregação de Laguna, que em
31 de dezembro de 1931 foi organizada em igreja. Quando, em 1933,
aquele obreiro deixou Laguna, a Igreja do Rio Novo passou a ser cui-
dada novamente pelo Pastor Carlos Stroberg, que, a esta altura, já era
Secretário Correspondente da Convenção Paraná-Santa Catarina, aju-
dado pelos pastores Carlos Ukstin, leto de Ijuí, Rio Grande do Sul, e,
anos mais tarde, Egidio Gióia, missionário da Igreja Batista do Méier,
Guanabara, em Florianópolis. Em 1934 a congregação de Urubici foi
organizada em igreja, com 28 membros, dos quais 18 eram procedentes
da Igreja Batista do Rio Novo e 10 da Igreja Batista Leta de Varpa.
Dado o enfraquecimento do trabalho em Laguna, a Convenção enviou
para lá o Pastor Paulo Gailit, obreiro leto de Varpa que desde 1929 es-
tava estudando em Curitiba, com a condição de pastorear também as
igrejas em Rio Novo e Rio Mãe Luzia. (Fig. 147) Com o seu dinamismo
e desprendimento, o Pastor Paulo Gailit desenvolveu também o trabalho
batista em Criciúma, São Joaquim, Nova Veneza, Sangão, São Roque,

(14) Cf. Frischenbruders, J. "Rio Novas Latviesu Baptistu Draudze 40 gados" (1892-1932)
(A Igreja Batista Leta de Rio Novo em 40 anos 1892-1932), manuscrito inédito; encontra-se
no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro; também
"Mac. Karlis Strobergs" (Pastor Carlos Stroberg), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão),
n9 8, agosto de 1954, pp. 9 a 11; carta de Carlos Stroberg ao autor, firmada em Americana,
a 26 de março de 1966, que se encontra nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro; "Rio Novas Baptistu Draudzes Protokoli"
(Atas da Igreja Batista do Rio Novo), Livro II, de 1924 a 1934, o qual se encontra no
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro.

371
Içara, Tubarão e Orleães, sendo que em 1940, nesta última localidade, foi
organizada a Igreja Batista de Orleães, com 28 membros da Igreja Ba-
tista do Rio Novo, assumindo o pastorado da mesma o Pastor Carlos
Ukstin, que também passou a servir à Igreja de Rio Novo. (15 )
Merece menção, ainda, a ajuda dos missionários A. B. Deter, A. Ben
Oliver e Adriano Blankenship, dada à Igreja Batista do Rio Novo em
épocas difíceis, bem como de obreiros brasileiros, como os pastores An-
tônio D. Santolim e Renato Salles, tomando profissões de fé e celebrando
as ordenanças. Também os jovens letos Reynaldo Purim e Eduardo Kla-
Iva, quando ainda seminaristas e depois como pastores, prestaram rele-
vantes serviços à igreja em épocas de férias e ocasiões especiais. De
igual modo, alguns pastores letos de Varpa visitaram a igreja e a servi-
ram por algumas semanas em períodos diferentes. Mais tarde, o Pastor
Augusto Lakschevitz, refugiado da II Guerra Mundial, deu a sua contri-
buição à Igreja Batista de Rio Novo quando pastoreava as igrejas em
Tubarão e Orleães. Na mesma época, estava atuando como evangelista da
igreja o irmão Frederico Janovskis, um obreiro leto da Colônia de Rio
Branco, que, residindo em Rio Novo, também serviu em outros setores
e cargos.
Como diversas famílias letas mais antigas houvessem mudado para
Nova Odessa, Urubici, Orleães, Criciúma, Curitiba e outras partes do
Brasil, tomando seu lugar famílias brasileiras, a partir de 1960 a igreja
adotou o uso exclusivo da língua portuguesa em todos os seus trabalhos.
Mesmo com a redução do número de seus membros, em 1966 a igreja
construiu uni novo templo, inaugurando-o em março de 1967, por ocasião
do 75° aniversário de sua fundação. Com a continuação do êxodo, porém,
ficando com menos de uma dezena de membros residentes no local, a
partir de meados de 1968 a Igreja Batista de Rio Novo começou a cuidar
de sua dissolução, convidando um dos líderes do campo, Pastor Juracy
Lemos, o novo pastor da Igreja Batista de Tubarão, para encaminhar o
assunto. (16 ) Este apresentou um plano de organização do Lar Batista
Catarinense — instituição de assistência social para infância e velhice
desamparadas — a ser instalado na propriedade da Igreja de Rio Novo.
Foi nomeada então uma comissão especial a qual convocou os representan-
tes das igrejas do sul do Estado para estudar o assunto. Depois de di-
versas reuniões, de alguns meses de experiência na execução do plano
e da impossibilidade de se obter o apoio da Junta Executiva Catarinense
— que no momento não dispunha de recursos para tal empreendimento —
foi dissolvida a comissão referida, resolvendo a igreja tornar-se congre-
gação da Igreja Batista de Orleães, de conformidade com a consulta pre-
viamente feita a esta. Assim, pelo ato solene realizado em 1° de junho

(15) Cf. "Rio Novas Baptistu Draudzes Protokoli" (Atas da Igreja Batista do Rio Novo),
Livro III, de 1935 a 1940; Gailit, Paulo, "Região Sul-Catarinense", O Jornal Batista, Ano
XXXVII, n° 21, 27 de maio de 1937, p. 14; Id., "Associação Sul-Catarinense", O Jornal
Batista, Ano XXXVII, n° 49, 9 de dezembro de 1937, p. 15; Id., "Estado de Santa Catarina
.-- Associação Sul-Catarinense", O Jornal Batista, Ano XL, n° 16, 18 de abril de 1940, p.
14; Id., "Associação Sul-Catarinense", O Jornal Batista, Ano XL, no 32, 15 de agosto de
1940, p. 14.
(16) Cf. Atas das Sessões da Igreja Batista de Rio Novo, Livro IV, pp. 1 a 58.

37Z
de 1969, a Igreja Batista de Rio Novo foi dissolvida depois de 77 anos de
existência profícua, mas "cuja existência continuará através de suas fi-
lhas, netas e membros espalhados em diversos lugares", passando seu
patrimônio à Convenção Batista Catarinense. (17 )

1.3 — Igreja Batista de Rio Mãe Luzia — Estado de Santa Catarina

Temos muito poucas informações do trabalho da Igreja Batista de


Rio Mãe Luzia, dado o extravio de seus livros de atas e outros documentos.
Sabemos, porém, que o movimento imigratório leto de 1922/23 fez tam-
bém a sua contribuição ao desenvolvimento dessa igreja através da atua-
ção de dois pastores que, ainda jovens, saíram de Varpa para estudar em
Curitiba, onde foram ordenados. Trata-se de Carlos Stroberg e Paulo
Gailit. Como ficou dito no tópico anterior, esses obreiros deram vários
anos de suas vidas laboriosas à evangelização do sul do Estado de Santa
Catarina, servindo, especialmente, às igrejas letas de Rio Novo e Rio
Mãe Luzia e desenvolvendo, ao mesmo tempo, a obra nas cidades de La-
guna, Orleães, Criciúma, Tubarão e outros lugares, onde mais tarde
surgiram igrejas.
Também os então seminaristas e depois pastores João e Eduardo
Klawa, filhos daquela igreja; Carlos Ukstin, de Ijuí ; e o Pastor Augusto
Lakschevitz, prestaram a sua colaboração no cuidado do trabalho batista
em Rio Mãe Luzia. As constantes mudanças, porém, e o êxodo da gera-
ção jovem em busca de instrução e melhores condições de vida, neutrali-
zaram o crescimento da igreja. No que diz respeito à assistência pastoral,
de alguns anos para cá, a Igreja de Rio Mãe Luzia tem dependido das
visitas dos Secretários-Correspondentes do campo catarinense e dos pas-
tores das igrejas mais próximas na região, pois que o número reduzido
de membros não permite manter um pastor local.

1.4 — Igreja Batista Leta de Rio Branco — Estado de Santa Catarina

No fim da segunda década deste século, a Igreja Batista Leta de Rio


Branco estava bastante reduzida devido às mudanças e à invasão de sa-
batistas e pentecostais. Um grupo de colonos letos do Rio Branco, em
1918, mudou-se para as vizinhanças de Porto União, enquanto outro grupo
estabeleceu-se em Bananal, a estação da via férrea mais próxima, e mais
outro em Joinvile, sempre iniciando o seu testemunho com a organização
de uma Escola Bíblica Dominical.
Em 1922, a convite do Dr. A. B. Deter, missionário e Secretário-Cor-
respondente do campo Paraná—Santa Catarina, mudou-se para Rio Bran-
co o Pastor Carlos Leimann, que há vários anos estava trabalhando no
Estado do Espírito Santo. Doutrinador por excelência e incansável des-
bravador de novos campos, Carlos Leimann durante cinco anos cuidou da
Igreja Batista Leta de Rio Branco e suas congregações, formadas pelos
grupos de letos atrás referidos, a par do seu trabalho de evangelista iti-

(17) Ibid., p. 64 e Anexos.

373
nerante nos dois Estados sulinos. Durante o seu pastorado, a igreja re-
cobrou as suas energias, embora não passasse de 60 membros. (18)
Em outubro de 1927, o Pastor Carlos Stroberg assumiu o pastorado
interino, como Secretário-Correspondente e Tesoureiro do Campo Para-
ná—Santa Catarina, sendo, em meados de 1928, eleito pastor da igreja
em Rio Branco, Arthur Leimann, irmão de Carlos Leimann, que havia
terminado seu curso no Seminário Bautista de Buenos Aires, Argentina.
Em 1929, Carlos Stroberg teve que voltar a assumir a direção da igreja.
Dado o êxodo dos letos, Carlos Stroberg, em 1939, levou a igreja a rea-
lizar todos os seus trabalhos em português, voltando o Pastor Arthur
Leimann agora como auxiliar de Carlos Stroberg durante o interregno
de suas visitas. Foram estabelecidas congregações em Bananal, Hansas
e Joinvile, e pontos de pregação em Rajá, Blumenau e Canoinhas. Uma
nova onda de pentecostismo, porém, dizimou a igreja. Foi quando, já
sem a direção de Carlos Stroberg e sem o pastor Arthur Leimann, a
igreja votou a transferência de sua sede para Bananal (Guaramirim),
para onde também transladou o seu templo de madeira, demolido em Rio
Branco. Nessa época, papel saliente na direção do trabalho da igreja
pertenceu ao evangelista Frederico Janovskis e aos leigos Rodolfo Loks
e Henrique Jacobson. De janeiro de 1943 em diante a igreja passou a
chamar-se Igreja Batista de Bananal, e, a partir de dezembro de 1944,
Igreja Batista de Guaramirim, devido à mudança de nome que sofreu a
localidade.
Em agosto de 1946, sob a direção do Pastor Egídio Gióia, ocorreu
nova mudança da sede da igreja, desta vez para Joinvile, porque a maio-
ria de seus membros havia passado a residir nessa cidade — denominan-
do-se Igreja Batista de Guaramirim, com sede em Joinvile. Mas de maio
de 1947 em diante a igreja tomou o nome de Igreja Batista de Rio Branco
com sede em Joinvile.
Depois de um breve pastorado do Pastor Antônio D. Santolim, assu-
miu a direção da igreja o Pastor Edgar Coelho Batista, sob cuja orienta-
ção, em 21 de novembro de 1954, foi aceito o novo Estatuto da igreja, em
que esta passou a denominar-se Igreja Batista de Joinvile, sendo que, a
essa altura, possuía poucos membros letos. Desta forma, extinguiu-se a
Igreja Batista Leta de Rio Branco, deixando em seu lugar, com os seus
remanescentes, a igreja brasileira em Joinvile. (19 )

1.5 — Igreja Batista Leta de I jui, Linha 11 — Estado do Rio Grande


do Sul
Depois das igrejas de Nova Odessa e Rio Novo, a da Colônia de Ijuí
foi a que mais influência recebeu do movimento imigratório leto de

(18) Leimann, Carlos, Entrevista com o autor em 23 de outubro de 1965 na cidade de


Castelo, Espirito Santo.
(19) Kepler, Walter, Carta dirigida ao autor em 9 de agosto de 1971, firmada em Joinvile,
conténdo informações colhidas em pesquisa feita nos documentos da Igreja Batista de Join-
vile, Santa Catarina; também Leimann, Arthur, Entrevista com o autor em 15 de fevereiro de
1965, em Joinvile; Loks, Rodolfo, Questionário de Pesquisa; e Gailit, Paulo, "De Santa
Catarina", O Jornal Batista, Ano XLIII, n9 45, 11 de novembro de 1943, p. 4.

374
1922/23, tanto através da afluência de alguns novos imigrantes à colônia,
como pelos serviços prestados à igreja pelos obreiros procedentes de
Varpa.
Após as comemorações do jubileu de prata em 1920, a igreja em tela
continuou vitoriosa a sua marcha até fins de 1922, com o Pastor Guilher-
me Leimann à frente. O ano de 1923, entretanto, inesperadamente tornou-
-se tumultuoso, culminando com uma cisão e a saída do pastor. Graças
aos esforços dos missionários batistas suecos operantes na região, que
foram convidados a ajudar a igreja na difícil contingência, foi possível
a união das partes em desacordo, passando o Pastor Guilherme Leimann
a cooperar exclusivamente com o trabalho batista sueco. (20 )
Buscando para si um pastor efetivo, a Igreja de Ijuí dirigiu-se à sua
coirmã em Nova Odessa, solicitando uma ajuda nesse sentido. Foi-lhe
então recomendado o Pastor Adolfo Kaktins, recém-chegado da Letônia,
cujo pastorado, entretanto, durou pouco mais de um ano, dadas as difi-
culdades criadas por sua instabilidade doutrinária. (21)
Mudadas as circunstâncias na liderança do campo batista gaúcho.
(22) e bem assim na orientação da Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11,
esta foi recebida, em 1925, na Convenção Batista Rio-grandense. Nos dias
14 a 17 de janeiro de 1926, a Assembléia anual da Convenção foi realizada
na igreja supracitada, o que causou grande regozijo em seu seio, expresso
inclusive na voluntariedade em oferecer com abundância frangos, leitões,
manteiga, ovos e leite para dar uma hospedagem digna aos mensageiros.
(23) Fig. 148
Nos três anos seguintes, 1927 a 1929, a Igreja Batista Leta de Ijuí,
foi servida por vários pastores letos visitantes de Varpa, como Carlos
Grigorowitsch, Carlos Kraul, Carlos Rodolfo Andermann, João Lukass,
João Inkis e Nicolau Kwasche. Alguns desses obreiros permaneceram
com a igreja apenas algumas semanas, enquanto outros, vários meses.
Assim é que o Pastor Nicolau Kwasche a pastoreou durante nove meses
e em caráter efetivo. Nessa época, importante papel tiveram também os
seminaristas, filhos da igreja, que, em suas férias, promoviam ação evan-
gelística mais intensa. Foram eles: Frederico Link, Emílio Keidann,
Carlos Ukstin e Carlos Otto Daniel. Afora estes, deve ser citado também
o seminarista Pedro Tarsier, um dos imigrantes de Varpa, que serviu à
igreja com muita eficiência durante três meses de suas últimas férias,
antes de sua formatura, tendo sido convidado para assumir o pastorado,
o que, entretanto, não ocorreu. A igreja voltou-se mais uma vez para os
pastores letos de São Paulo, especialmente para os de Varpa, a fim de
encontrar alguém que assumisse o seu pastorado, mas sem resultado.
Convidou também o Pastor Cristóvão Vanags, leto de Santa Catarina
que estava trabalhando numa região difícil da Argentina, porém igual-
mente sem sucesso. De igual forma dirigiu-se à liderança dos batistas da

(20) Igreja Batista Leta de flui — Linha 11, Atas, Ata de 3 de fevereiro de 1924.
(21) Id. ibid.
(22) Id. ibid., Ata de 14 de dezembro de 1925; também Mesquita, António Neves de, His-
tória dos Batistas do Brasil, Vol. 2, p. 345.
(23) Id. ibid., Ata de 31 de janeiro de 1926.

375
Letônia, entretanto sem lograr resposta positiva. Finalmente, a escolha
recaiu sobre o Pastor Dr. Frederico Link, filho da própria igreja. Duran-
te esse período merece destaque a atuação dos leigos da igreja à frente
da direção geral, da Escola Bíblica Dominical e da Escola Anexa. Entre
eles aparecem mais freqüentemente os seguintes: Thomaz Ukstin, João
Keidann, Rodolpho Keidann, Juri Daniel, Alberto Daniel, João Garros,
Waldemar Garros, João Hartmann, João Janson, João Arajs, Gustavo
Arajs, Herique Grimm e Rodolfo Grimm. (24 )
De 1929 a 1950 a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, esteve sob
a orientação do Pastor Dr. Frederico Link, formado pelo Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil e Faculdade de Filosofia do Rio de Ja-
neiro. (25) Embora apenas durante 9 dos 21 anos desse pastorado a
igreja contasse com a residência do pastor na sede — pois no restante
desse período o Pastor Frederico Link visitava a igreja apenas de dois
em dois meses ( 26) — foi uma época que se caracterizou pela tranqüili-
dade e produtividade, quando novamente recebeu ênfase a evangelização
externa. Em 1934 a igreja recebeu como seu campo missionário o inci-
piente trabalho batista em Cruz Alta, iniciado pela primeira Igreja Ba-
tista Brasileira de Porto Alegre que, dada a distância, não podia conti-
nuá-lo. (27 ) Com o crescimento desse trabalho, em 1939 ali foi organi-
zada uma congregação batista pertencente à Igreja Batista Leta de Ijuí
— Linha 11, que mais tarde cessou de existir pela mudança da quase
totalidade de seus integrantes para outros lugares. (28)) Quando em 1950
ali chegou o irmão Alberto Penno com sua família, para assumir a di-
reção da Agência do Banco do Brasil, este reuniu os poucos remanescen-
tes da antiga congregação e, com o apoio do missionário Daniel Sharpley,
reorganizou o trabalho, que resultou, mais tarde na fundação da Igreja
Batista de Cruz Alta. (29 ) Outrossim, em 1938, a Igreja Batista Leta de
Ijuí — Linha 11, organizou a sua congregação de Santiago em igreja. (30 )
A partir de 1940, por força das exigências oficiais já referidas, a
igreja teve que introduzir o uso do vernáculo em todos os seus trabalhos.
Isso entristeceu os mais idosos, porém, em compensação alegrou os jo-
vens, cuja parlicipação no trabalho da igreja tornou-se bem mais dinâmi-
ca em diferentes setores, em virtude do seu conhecimento da língua na-
cional, ensejando assim o aparecimento de novos obreiros leigos capazes
de exercer liderança. Em conseqüência dessa, circunstância, a direção da
igreja — depois do pastorado do Dr. Frederico Link — passou a diversos
leigos, valendo-se, freqüentemente, da orientação interina e ocasional

(24) Id. ibid., cf. Atas de 1926 a 1929.


(25) Garros, Waldemar, "Breve Histórico", inédito, acha-se nos arquivos do Museu Batista
do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(26) Id. ibid.
(27) Igreja Batista Leta de Ijui, Linha 11, Atas, Ata de 19 de julho de 1934.
(28) Droppa, Emílio (fundador da Congregação Batista de Cruz Alta), Carta firmada em
Cruz Alta em 7 de maio de 1971, a qual se encontra nos arquivos do Museu Batista do Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(29) - Oliveira, Wilson Alves de, Carta firmada em Cruz Alta a 21 de maio de 1971, arqu,-
vada no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro. GB.
(30) Igreja Batista Leta de Ijui -- Linha 11, Atas, Ata de 15 de maio de 1938.

376
de pastores alemães e brasileiros, como Oscar Horn, Francisco da Silva,
Orestes de Andrade, José Regiani e outros. Ultimamente a igreja tem sido
ajudada pelo Pastor Gastão Pinto Pache de Faria, da Igreja Batista
Brasileira de Ijuí, à qual pertencem diversos irmãos letos ou de origem
leta que deixaram as atividades agrícolas e moram agora na cidade de
Ijuí. Fig. 149
Entre os leigos de mais destaque nos últimos tempos encontra-se o
irmão Roberto Mierkaln, cuja atuação tem sido muito apreciada pelo seu
dinamismo, segurança e liberalidade. Cabe a ele o mérito de a igreja ter
construído o seu novo templo, sólido e sóbrio, embora constituída de ape-
nas cerca de 40 membros. O templo foi inaugurado por ocasião do 70°
aniversário da Igreja, em 1965. Fig. 150
A Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, foi por muitos anos uma
das igrejas mais fortes do Estado do Rio Grande do Sul, tendo contribuí-
do para todos os fins denominacionais, hospedado a Convenção Estadual
por diversas vezes com grande liberalidade, bem como dado um elevado
número de obreiros, pastores e leigos dedicados ao trabalho batista bra-
sileiro, especialmente o gaúcho. Entre esses, salientamos: Frederico Frey-
mann, Dr. Frederico Link, Emílio Keidann, Carlos Ukstin, Carlos Otto
Daniel, Rodolpho Keidann, Klaudy Garros, Erna Keidann Seitz, bem como
seus descendentes: Daltro Keidann, Dr. João Carlos Keidann, Benjamim
Keidann, Bruno Teodoro Seitz, Ivo Augusto Seitz, Olívia Nancy Daniel,
Anita Arais, Edwin llarim Keidann e Dra. Flávia Kronberg. (31)
A igreja também sempre zelou pela instrução, motivo por que man-
teve a sua escola anexa até bem poucos anos atrás. Em 1963 o governo
municipal inaugurou um amplo prédio escolar na colônia, dando-lhe o
nome de "André Gailis", que foi o primeiro professor da Escola da Igreja
Batista Leta de Ijuí, tendo sido esta, em 1899, a primeira escola em toda
aquela região. Por ocasião da inauguração do novo templo da igreja, o
Sr. Walter Mueller, Prefeito de Ijuí, honrou a colônia leta através de um
decreto que deu o nome de "Rincão dos Letos" à região, que compreende
as Linhas 10 a 13 e do Travessão 42 até à margem do rio Ijuí. (32 )
Ao transcurso do 750 aniversário da Igreja Batista Leta de Ijuí —
Linha 11, em 25 de março de 1970, a Convenção Batista do Rio Grande
do Sul homenageou o povo batista leto com a inauguração de uma placa
de bronze, fixada num bloco de pedra, no pátio do templo. Naquela opor-
tunidade o Presidente da referida Convenção, Pastor Wilson de Oliveira,
disse que Deus havia confiado aos batistas letos iniciar o trabalho batista
entre os brasileiros do Estado do Rio Grande do Sul, e que, ao deixarem
eles a sua terra natal, não haviam imaginado que seriam os pioneiros na
evangelização da nova pátria. (33)
Na mesma oportunidade, no sermão oficial do jubileu da igreja, de-
clarou o Pastor Rodolpho Keidann, o veterano dos obreiros letos oriun-

(31) Keidann, Rodolfo, Entrevista em Ijui, a 25 de julho de 1967.


(32) "Um Descendente Leto Conta a História de seu Povo", Correio Serrano, Ijui, 10 de
novembro de 1965, p. 6.
(33) Daniel, Alberto, "Izuijas Latviesu Baptistu Draudze" (Igreja Batista Leta de Ijui),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 8, agosto de 1970, p. 17.

377
dos da Igreja Batista Leta de Ijuí, que essa igreja fora a primeira a ini-
ciar o trabalho de evangelização na língua do país e que, com o trabalho
direto da igreja ou com a participação de seus membros, foram organiza-
das 12 igrejas no decorrer dos 75 anos: Invernada, Ramadas, Campo No-
vo, Alto Uruguai, Três Passos, Cruz Alta, Santiago, Linha 5, Linha 23,
Panambi, Palmeira das Missões e Brasileira de Ijuí. (34 )
Assim, a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, já por 78 anos, dá o
seu testemunho no sul do país.

2. Igrejas Batistas Letas no Brasil Organizadas após a


I Guerra Mundial

Feito o retrospecto panorâmico sobre as igrejas batistas letas rema-


nescentes do primeiro período e que continuaram atuando também no se-
gundo, isto é, após o término da primeira grande conflagração mundial
que nos serve de divisor dos fatos no estudo da imigração batista leta no
Brasil, voltemo-nos agora para as igrejas organizadas após a referida
conflagração.
Dois foram os fatores que fizeram surgir novas igrejas batistas le-
tas no Brasil nesse segundo período: 1) a afluência de novos imigrantes
batistas letos, em grande número, depois do despertamento religioso na
Letônia de pós guerra, e 2) as migrações internas em busca de melhores
condições de vida.

2.1 — Igreja Batista Leta de Varpa — Estado de São Paulo (1923)

Nos capítulos VI e VIII deste livro, quando tratamos da origem


e desenvolvimento da Colônia Varpa e da obra missionária realizada
em sua redondeza próxima e distante, já mencionamos diversos aspectos
da vida da Igreja Batista de Varpa, em função da qual se explica a pró-
pria existência da colônia. Dado o fundo religioso do grande movimento
imigratório leto de 1922/23 e o governo eclesiástico da Colônia Varpa
durante os primeiros anos de sua existência, era impossível desvincular
a história da colônia da história do movimento missionário que ali se de-
senvolveu. Por essa razão, trataremos agora exclusivamente da Igreja
Batista Leta de Varpa, que se organizou em 4 de abril de 1923, e que, na
ordem cronológica — recordamos — foi a décima quarta igreja batista
leta fundada no Brasil, e a primeira após a 1 Guerra Mundial. ( 35 )
O período de consolidação doutrinária e estrutural da igreja de Var-
. pa e dos primórdios de sua expansão missionária pertence ao pastorado de
André Pincher, homem de cultura teológica adquirida no Seminário Teo-
lógico Batista de Hamburgo, Alemanha, obreiro de grande visão e capa-
cidade de trabalho e de senso diplomático. Figs. 151 e 152

(34) Id. ibid.., p. 16.


(35) Ver Capitulo VI, tõpico: "Constituição da Igreja Batista de Varpa".

378
Foi também durante o seu pastorado de nove anos consecutivos
(1925-1934) que a igreja construiu o seu primeiro templo, um dos maio-
res da América do Sul na época. (3°)
Para pôr em destaque o vulto da obra, damos aqui alguns detalhes.
As medidas do santuário eram as seguintes: 36 m de comprimento, 18 m
de largura e 7,5 m de altura, com capacidade para 1.000 pessoas assen-
tadas. A parte reservada para o coro foi construída em forma de concha
acústica, o que produzia magnífico efeito de audição. Além da nave,
construiu-se também uma ala anexa, com dois pavimentos, medindo 18 x
20 m. O andar térreo comportava salas para a escola anexa, biblioteca
e reuniões da mesa diaconal e diversas comissões, quarto de hóspedes,
cozinha e outras acomodações, enquanto, no pavimento superior, ficou
instalado o chamado "Salão da Mocidade" ("Jauneeschu Zahle") , com as-
sentos para 200 pessoas. Toda a obra foi construída em 378 dias úteis,
sendo os mestres e operários os próprios membros da igreja que traba-
lharam gratuitamente, sob a direção técnica do diácono João Karsons,
construtor profissional, e administração geral do diácono João Leias-
meier — um dos leigos mais eficientes e pontuais, que não faltou um só
dia na coordenação dos serviços da grande obra — perfazendo um total
de 4.545 dias de serviço oferecidos pelos irmãos. Além disso, foram
dados também muitos dias de juntas de bois, de burros e cavalos no
transporte do material, gastando-se, em moeda corrente, apenas cerca de
30 contos de réis. (37 ) Figs. 153 e 154
No ato inaugural do grande templo, ocorrido a 1° de novembro de
1931, quando se comemorava o 9° aniversário de fundação da colônia,
estiveram presentes representantes de quase todas as igrejas batistas
letas então existentes no Brasil e dos diversos setores da obra missio-
nária dos batistas letos de Varpa. Os batistas brasileiros estavam repre-
sentados pelos pastores Emílio W. Kerr — Presidente da Convenção Ba-
tista Paulistana; Dr. Paulo C. Porter — Secretário-Correspondente da
mesma Convenção e Diretor do Colégio Batista Brasileiro de São Paulo;
Dr. T. B. Stover — representando a Casa Publicadora e a Junta de Es-
colas Dominicais e Mocidade da Convenção Batista Brasileira; e Dr. Ri-
cardo J. Inke — professor do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil e do Colégio Batista do Rio de Janeiro. Para esgotar o programa
festivo do grande acontecimento, foi preciso ocupar também o dia se-
guinte, 2 de novembro, quando os ilustres visitantes realizaram uma aben-
çoada conferência evangelística, que resultou em várias dezenas de de-
cisões ao lado de Cristo, tanto de jovens e adolescentes das famílias da
própria igreja, como de brasileiros da vizinhança, que em grande número
compareceram à festividade. (38 ) Figs. 155, 156 e 157

(36) O templo anterior, provisório, ou “Telts" (tenda), como foi cognominado, era um dos
grandes barracões do 2' acampamento, adaptado para fins de culto a Deus, que havia ser-
vido à igreja durante oito anos.
(37) "Luhgschanas nama atwehrschanas swehtki Wahrpâ" (A Festa de Inauguração da
Casa de Oração em Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n" 11/12, novembro e
dezembro de 1931, p. 133.
(38) Idem.

379
Com referência à Igreja em Varpa, seu templo e sua cooperação com
a obra batista brasileira, oportuno é transcrever parte do testemunho
interessante do Dr. Djalma Cunha, Reitor do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil (1937-1945), dado através de O Jornal Batista,
quando de sua visita àquela colônia:

"Varpa fica distante de Quatá cerca de 32 km, e 80 de


Marília. Um dos lugares mais pinturescos que temos conhecido
em todo o sertão brasileiro (e nós o conhecemos do sul do Ma-
ranhão ao sul de Santa Catarina) ... O templo na Colônia
Varpa é realmente magnífico. Tem uma capacidade que riva-
liza com o templo da Primeira Igreja Batista do Rio... Pela
primeira vez em nossa vida, vimos a Ceia do Senhor dada em
cálice comum. O serviço é muito interessante para quem, como
nós, está acostumado com o modo de dar a Ceia em nossas
igrejas. Eles têm seis grandes cálices de metal, doirados, com
as respectivas bitndejas e dois grandes vasos do mesmo metal,
encimados por uma cruz, vasos onde põem o vinho destinado
a suprir os cálices quando esgotados pelos comensais. Os diá-
conos, com reverência e zelo extremos, preparam a mesa do
Senhor e sentam-se em frente à congregação, com o pastor, o
co-pastor e o pastor visitante. Por nímia gentileza, deram-nos
um copo intato ... Antes da Ceia, falamos, interpretados pelo
Pastor Kraul, e o numeroso auditório, a pedido do pastor, ao
nosso apelo à cooperação com o Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil, levantou-se por um instante, gesto este que mui-
to nos confortou e muito agradecemos. Nem outra coisa se
poderia esperar de tão boa gente, de quem vários filhos cursa-
ram e outros cursam ainda e cursarão as aulas do nosso Se-
minário no Rio de Janeiro. (39 )
O templo de Varpa, como já notamos, é vastíssimo. Com-
porta cerca de 1.000 pessoas. Só o lugar para o coro corres-
ponde a um salão de alguns dos nossos templos menores. Eles
têm 150 membros no coro, mais ou menos, e uma excelente
orquestra e piano. Os hinos cantados ali como em nenhuma
parte ouvimos. Parece que todos os letos sabem música e por
lei são obrigados a ter excelente voz. E que reverência! Nem
um só chega a assentar-se em seu lugar, antes de ajoelhar-se
e orar a Deus. Este é o modo por que procede o pastor também.
O púlpito não está em uma das extremidades do templo,
como acontece entre nós, mas de um lado, no centro do grande
salão. Muito boa acústica. Como é belo tanta gente louvando
de coracão ao Senhor! E isto, não nos esqueçamos, no sertão
do Brasil, no interior de São Paulo. Louvado seja nosso Deus!
Quem poderá dizer o que será do Brasil, quando os filhos des-

(39) Cunha, Djalma, "Varpa — A Colônia de Fadas", O Jornal Batista, Ano XXXVI. n'
47, 19 de novembro de 1936, pp. 11 e 12.

380
ses veteranos e pioneiros da fé entre nós, identificados conos-
co, integrados na nossa civilização, cheios de fé e de zelo pelo
evangelho que receberam de seus abnegados pais, se espalha-
rem pelo território da República e ajudarem na política e ad-
ministração do país?!
O templo foi feito por eles mesmos. Obra que custaria
centenas de contos de réis em qualquer uma das nossas cida-
des, custou-lhes apenas algumas dezenas de contos de réis,
visto que todos os artífices estavam entre eles e todos traba-
lhavam para o Senhor, gastando-se somente o indispensável
com o que não podiam eles fazer, como ferragens, etc. Fica
esse majestoso edifício sertanejo no centro de uma circunferên-
cia bordada de ciprestes, com um raio de cerca de 50 metros.
Quanta poesia! ()Deus! Deus meu, salva o Brasil! Salva-o ! . . .
O Pastor Kraul recebe, nessa comunidade batista, as hon-
ras que devem ser tributadas ao Ancião de Israel. Sua virtuosa
esposa e sua mimosa filhinha de 15 anos (trata-se da hoje
conhecidíssima Prof' Tabita Kraul Miranda Pinto. O.R.)
enchem de encantos o lar onde, ao mais leve contato, nota
logo o visitante que nele o presidente é Jesus Cristo. Os mais
antigos, como Rudzit, Ozolin, Inke, Ronis, Gustavo Narkevitz,
e outros, ouvem, no templo do Senhor, suas vozes confundi-
rem-se com a dos filhos e netos, nos louvores que dão ao Se-
nhor do templo.
Esse grupo de batistas, conquanto sustente o seu próprio
serviço, e auxilie o trabalho em sua terra, não se esquece e
nem nega sua cooperação com o nosso trabalho. O Dr. Brat-
cher, quando lá esteve, a serviço da Junta de Missões Nacio-
nais, recebeu mais de um conto de réis de coleta para os índios.
Trouxemos dinheiro para missões, dinheiro de vários irmãos
para a Junta Paulistana, "O Batista Paulistano", Missões Es-
trangeiras, Abrigo de Cegos da Igreja em Engenho de Dentro,
e já vos dissemos que nos deram dinheiro para o Seminário do
Rio. E com o tempo, não há dúvida, a cooperação tornar-se-á
mais sistemática e regular. Nem outra coisa se esperaria. (40)
O desdobramento normal da Igreja Batista Leta de Varpa, já des-
crito no capítulo VIII, no contexto da obra missionária realizada pelos
irmãos dessa colônia, ensejou uma ênfase maior nos dias especiais, ob-
servados sempre na sede da igreja-mãe, com grandes programas e cultos
solenes, em que tomavam parte coros e orquestras unidos e todo o povo
da colônia e adjacências. Tais ocasiões eram os dias ou festas missio-
nárias, festivais de coros, Festa da Mocidade Unida (24 de junho), Dia
da Colônia (1° de novembro) , Dia das Escolas Bíblicas Dominicais e di-
versos outros. Este último foi instituído por sugestão do Superinten-
dente, diácono Gustavo Narkevitz, o qual por 25 anos dirigiu a Escola
Bíblica Dominical da Igreja Batista Leta de Varpa. Nesse dia, obser-

(40) Id., "Colônia Palma — Subúrbio da Colônia Varpa", O Jornal Batsta, Ano XXXVI,
nc 50, 10 de dezembro de 1936, p. 15.

381
vado anualmente por ocasião da festa de Pentecostes, algumas centenas
de crianças e adolescentes, com os professores das respectivas classes,
marchavam em formação — portando bandeiras brasileiras e letas —
do Centro de Varpa até o grande templo da igreja-mãe, onde eram sau-
dados pela banda e orquestra de cordas, realizando-se, em seguida, um
programa especial, pelas crianças, com cânticos de coros infanto-juve-
nis e palestras. Nessas oportunidades, eram recolhidas as ofertas que
a criançada havia acumulado durante meses para diversos fins, dos quais
o mais contemplado na década de 30 foi o de socorro a crianças flagela-
das nos países comunistas da Europa. Outrossim, tais encontros geral-
mente eram acompanhados de bolos, biscoitos e chá — cada criança
trazendo a sua própria candiuinha — o que constituía o ponto alto na
sociabilidade da petizada da colônia. (41)
Aliás, esses ágapes eram usuais também nos Dias Missionários, nas
Festas da Mocidade Unida e em outras oportunidades, como, por exem-
plo, a recepção que a igreja preparou por ocasião do casamento do pas-
tor Arvido Eichmann e Alida Osol, ocorrido em 29 de outubro de 1939,
do qual participaram à mesa 1.602 pessoas, sendo consumidos 459 kg
de pão e bolo e 900 litros de café com leite. (42 )
Em anos posteriores, dentre os superintendentes da Escola Bíblica
Dominical da Igreja Batista Leta de Varpa, os que mais se destacaram
e que serviram nesse posto durante períodos mais prolongados foram os
seguintes: Eduardo Kuplens, diácono e moderador da igreja por muitos
anos; Arvido Narkevitz, farmacêutico, líder da mocidade e filho de Gus-
tavo Narkevitz, e Dr. Eduardo Liger, médico, que nos últimos tempos
reside na cidade de Dracena. Todos esses desenvolveram notável ativi-
dade à frente da Escola Bíblica Dominical. Nos últimos anos, a supe-
rintendência dessa organização está sendo exercida pelo irmão Pedro
Miltuzs, um dos obreiros mais destacados da igreja, que, conquanto
leigo, dedica grande parte do seu tempo à igreja e especialmente ao
trabalho missionário da Missão Sertaneja nas redondezas de Varpa, jun-
tamente com a esposa, Elvira Brediks Miltuzs. (43)
O coro da igreja desde 1925 vem sendo dirigido principalmente pelo
irmão Arthur Garancs, um dos maestros mais competentes e humildes
dentre os batistas letos do Brasil. A sua experiência, já de mais de cin-
qüenta anos na regência, o coloca entre os mais destacados mestres de
música sacra. Regeu também, por muitos anos, a orquestra da Igreja
Batista Central de Varpa, a orquestra unida das igrejas de Varpa e
ensinou teoria musical e violino a muitos jovens dessa colônia. Dentre
esses, preparou um com muito esmero, João Vitols, que há decadas vinha

(41) Cf. Graikste, Geny, "Behrnu jubileja Wahrpã" (O Jubileu das Crianças em Varpa),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), 7, julho de 1933, pp. 110 a 112.
(42) Igreja Batista Central de Varpa, Atas, Ata de 19 de novembro de 1939, Livro II,
p. 169.
(43) Apse, Fernando, "Divdesmit Tresais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas
Kongress- (Vigésimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Bra-
sil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), 119 9, setembro de 1972, p. 18, relatório da Igreja
Batista Central de Varpa.

382
assumindo cada vez maior responsabilidade à frente do coro e da orques-
tra, tendo-se dedicado também aos pequenos grupos e conjuntos que acom-
panham os evangelistas nas congregações das redondezas de Varpa e ao
ensino da música nas referidas congregações.
Outro aspecto de destaque na vida da Igreja Batista Leta de Varpa,
foi a organização chamada Mocidade Unida de Varpa, uma espécie de
Assembléia das Uniões de Mocidade das igrejas batistas letas da Co-
lônia Varpa, cuja criação pertence ao inolvidável líder da juventude ba-
tista leta de então e redator do jornal Juunais Lihdurrtneeks (O Jovem
Desbravador), o poeta e beletrista Jacó Rosenberg. Por mais de duas
décadas foi ele o presidente dessa organização, em que os aspectos ad-
ministrativos e deliberativos, visando à uniformidade de ação dos jo-
vens das diversas igrejas, tomavam muito pouco tempo nos conclaves —
pois que para esses fins funcionavam um Conselho constituído de repre-
sentantes das diversas Uniões — concentrando-se toda a atenção na for-
mação intelectual e espiritual da mocidade, em nível elevado e na ins-
piração da mesma para dedicação de suas vidas ao serviço do Mestre.
Fig. 158
A expressão principal dessa entidade era a já referida Festa da Mo-
cidade Unida, quando os jovens e as igrejas de Varpa se reuniam —
como ainda se reúnem — para comemorarem a fundação da Juventude
de Varpa e contemplarem os mais altos ideais da vida apontados pelos
líderes locais ou pelos mensageiros convidados de fora. Tais "revoadas"
da mocidade atraíam jovens de outras igrejas batistas letas do Brasil,
resultando, assim, num verdadeiro intercâmbio, inspirador e salutar, em
que se ouviam sermões, alocuções, corais, orquestras, solos, duetos e
quartetos vocais e instrumentais, declamações, breves discursos de sau-
dações aos visitantes que representavam outras organizações da juven-
tude batista leta e freqüentemente também a brasileira, orações e cânti-
cos congregacionais. O programa sempre se dividia em duas partes: a
primeira era apresentada pela manhã, em idioma leto, e a segunda à
noite, em português, para proveito também dos brasileiros, que em nú-
mero cada vez maior afluíam à grande festa da mocidade.
Grande mérito no trabalho da mocidade naqueles tempos coube ao
já citado diácono Gustavo Narkevitz, que por vários anos presidiu a
União de Mocidade da Igreja Batista Central de Varpa, e depois ao seu
filho Arvido Narkevitz, jovem que fez seus estudos de humanidades no
Colégio Batista do Rio de Janeiro e os superiores em São Paulo, e que
se revelou possuidor de excelentes qualidades para a liderança dos mo-
ços. Posteriormente, outros jovens serviram nesse posto, também com
grande eficiência. Figs. 159 e 160
Como foi dito no capítulo anterior, a mocidade de Varpa foi a ala-
vanca principal na promoção cio trabalho missionário já descrito. O tri-
nômio Oração-Bíblia-Ação era seu lema. Infelizmente alguns jovens se
afastaram desse nobre alvo, dando preocupações e mesmo tristeza à igre-
ja. O número desses, porém, foi tão reduzido que não chegou a influen-
ciar a juventude verdadeiramente despertada para uma vida consagrada
a Deus. Como amostra desta dedicação vale a pena transcrever um

383
trecho de uma notícia enviada por um jovem a um dos periódicos batis-
tas da Letônia em 1935:
O nosso alvo principal no Brasil é a obra missionária. Ul-
timamente, em Varpa e sua redondeza, foram construídas di-
versas Casas de Oração e um belo prédio para a Escola Missio-
nária, em que se preparam jovens para o trabalho de evangeli-
zação, orientados pelos irmãos Karlis Grigorowitsch, Arvido
Eichmann, João Lukass, João Korps e Carlos Kraul.
O trabalho missionário que realizamos aqui no Brasil não
é tão fácil como o é na Letônia, onde os missionários saem pelas
igrejas e pregam em sua língua materna. Entre os brasileiros
essa obra é diferente. Nós temos que aprender primeiramente
a sua língua, para os compreendermos e nos fazermos compre-
endidos. Isto requer muita paciência, bem como sabedoria e
poder do Espírito Santo, que deseja de nós 100% para Cristo,
além de muita oração.
Conquanto o trabalho aqui no Brasil seja difícil, os irmãos
vão avançando, passo a passo, alegres e diligentes, no amor de
Cristo e no poder do Espírito, que é o mesmo ontem, hoje e
eternamente. As nossas metas e veredas missionárias estão
nas densas matas virgens. De quando em vez nos ameaçam os
habitantes das matas e serpentes venenosas que espreitam as
suas presas. Os missionários da Colônia Varpa, porém, ca-
minham confiantes na graça, proteção e bênção do Senhor.
Glória e louvor ao Salvador Jesus Cristo, que tem aben-
çoado sobejamente esta obra através do trabalho dos irmãos
mencionados, dos cantores e dos músicos, reunindo centenas e
milhares de ouvintes em torno da Palavra de Deus. Já consti-
tuem uma verdadeira multidão aqueles que foram batizados
em nome de Jesus Cristo e que agora são nossos irmãos na fé,
herdeiros das mesmas promessas. ( 44 )
Os pastores que estiveram à frente da Igreja Batista Central de
Varpa depois do Pastor André Pincher — portanto, nos últimos 38 anos
— foram os seguintes: Carlos Kraul, Otto Vebers (interinamente), Ar-
vido Eichmann, André Ceruks (imigrado depois da II Guerra Mundial),
Alberto Eichmann, Nicolau Kwasche, Carlos Stroberg, Hugo Alnis (tam-
bém imigrado após a II Guerra Mundial) e João Augstroze. Cada um
deles teve seu mérito no exercício do pastorado, valendo-se Deus de
todos eles para o crescimento da sua obra, a despeito do decréscimo nu-
mérico de membros na última década motivado pelo êxodo da geração
jovem para centros maiores e pelo natural declínio da geração idosa.
Figs. 161, 162, 163 e 164
No que concerne à cooperação financeira, a Igreja Batista Central
de Varpa sempre respondeu com liberalidade às necessidades que lhe
eram apresentadas, chegando a estabelecer, em certa época, um calen-

(44) Vitols, E., -Brazilija Sveiceeni un wehstijumi" (Brasil Saudações e Notícias),


Kristigs Wehstnesis (O Mensageiro Cristão), periódico religioso leto, editado e redigido
pelos Pastores Williams Fleters e Roberts Fleters, Riga, a° 10, outubro de 1935.

384
dário financeiro para levantamento de ofertas na seguinte ordem: ja-
neiro — para a Associação das Igrejas Batistas da Alta Paulista; feve-
reiro — para a Missão Sertaneja; março — para Evangelização Esta-
dual (Convenção Batista Paulistana) ; abril — para Missões Nacionais
(Convenção Batista Brasileira) ; maio — para o Curso de Extensão em
Palma; junho — para Missões Estrangeiras (Convenção Batista Brasi-
leira) ; dezembro — para as Sociedades Bíblicas. (45 ) Desde 1936 havia
também na igreja uma "Sociedade de Amigos de Missões Nacionais",
cujos sócios sustentavam, com suas ofertas mensais, um missionário da
Junta de Missões Nacionais no Estado de Goiás, ( 46) e em 1938 a igreja
resolveu contribuir mensalmente com 30 mil réis para o Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, a pedido do seu Reitor, Dr. Djalma
Cunha. ( 47 )
Possuindo, até bem pouco tempo atrás, um dos maiores templos ba-
tistas do interior do Estado de São Paulo e o maior das regiões da Alta
Paulista e Alta Sorocabana, a Igreja Batista Central de Varpa tem co-
operado, igualmente, no sentido de acolher e hospedar diversos institu-
tos regionais, assembléias e acampamentos de mocidade, retiros e, já
há mais de duas décadas, de quatro em quatro anos, no mês de julho,
vem hospedando o Congresso Anual da Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil, ocasião em que há sempre grande afluência de irmãos
letos a Varpa. Fig. 165
A maior contribuição, porém, que essa igreja vem fazendo à obra
batista no Brasil, é o grande número de obreiros dela procedentes e que
se dedicaram ou ainda se dedicam ao trabalho em igrejas e instituições
brasileiras em diversos Estados. Incluindo nesse número todos os pas-
tores, evangelistas e missionários derivados dos imigrantes letos de Var-
pa com as respectivas esposas, participantes do ministério de seus es-
posos, e mais as esposas letas de obreiros brasileiros ou de outras nacio-
nalidades, também originárias dos imigrantes de Varpa, chegamos a mais
de uma centena de nomes. Somando-se a esses os regentes e composi-
tores que atuaram e ainda atuam no campo da música sacra no Brasil —
e que igualmente procederam ou descenderam dos batistas letos de Var-
pa — teremos nada menos de uma centena e meia de obreiros que trouxe-
ram a sua contribuição à obra batista no Brasil. Num dos próximos
capítulos mencionaremos esses nomes, acompanhados, quase todos, de
algumas informações muito sucintas.
Significativa e insuspeita foi a opinião do Dr. João F. Soren —
emitida por ocasião de sua visita a Varpa quando das comemorações
do 42° aniversário da colônia, em novembro de 1964 — fruto de sua ob-
servação de líder batista nacional e internacional, pois que ao tempo se
achava na investidura da presidência da Aliança Batista Mundial. De-
clarou o referido obreiro batista brasileiro que do número relativamente
pequeno de batistas letos que imigraram no Brasil, procede um número

(45) Id., Atas, Ata de 21 de dezembro de 1949.


(46) Id., Atas, Ata de 22 de novembro de 1936. Livro IT. D. 137.
(47) Id., Atas, Ata de 23 de janeiro de 1938, Livro II, p. 148.

385
de obreiros proporcionalmente muito maior do que de outras nacionali-
dades. ( 48 )
Entre esses obreiros, referência especial fazemos ao Pastor João
Pupols e sua esposa, D. Alida Pupols, pioneiros de Varpa, cujo trabalho,
iniciado há 26 anos no litoral paranaense, vem desde o princípio polari-
zando as atenções da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil,
que o adotou como seu campo missionário. O desafio dessa região, a
mais difícil e primitiva de todo o Estado do Paraná, vem sendo aceito
por jovens letos ou de descendência leta. Dentre cerca de 14 obreiros
que ali operam ou já operaram, 11 são letos, sendo que 9 destes proce-
dem dos imigrantes de Varpa. A este setor da obra missionária dos
batistas letos ainda voltaremos mais adiante, neste mesmo capítulo,
quando enfocarmos o trabalho da Associação das Igrejas Batistas Letas
do Brasil.
Numericamente a Igreja Batista Central de Varpa vem decrescendo
ao longo de sua história, já de cinqüenta anos. Em abril de 1923 —
quando foi fundada — contava com 1.750 membros; em 1972, com ape-
nas 231. ( 49 ) Entretanto, ela diminuiu, porque se multiplicou. Em 1932
organizou a Igreja Batista de Pitangueiras e a Igreja Batista Russa de
Varpa; em 1934, a Igreja Batista de Picadão (Palma), a Igreja Batista
Unida do Rio do Peixe (Quatá) e a Igreja Batista Leta de São Paulo,
Capital. Em 1941, ainda que por uma cisão, organizou-se a II Igreja
Batista de Varpa, que, depois de organizar a Igreja Batista Brasileira
de Varpa, voltou, em 1960, com todo o seu patrimônio ao seio da igreja
de origem. Somando-se essas igrejas, seus membros e seu patrimônio ao
número de igrejas por elas organizadas e de obreiros que delas saíram
e se engajaram no trabalho batista brasileiro nos seus múltiplos setores
e em vários deles até exercendo a liderança, pode-se dizer que a Igreja
Batista Central de Varpa ou Igreja Batista Leta de Varpa (como era
conhecida nos seus primórdios) forma ao lado das igrejas batistas mais
prósperas e influentes do Brasil. Figs. 166, 167, 168, 169 e 170.
As comemorações do Cinqüentenário da Colônia Varpa, celebradas
a 11 e 12 de novembro de 1972 no templo da Igreja Batista Central de
Varpa, refletiram bem a influência referida, pois que a história da co-
lônia se confunde com a da igreja. Nessa oportunidade estiveram pre-
sentes cerca de seiscentos visitantes, em sua maioria antigos imigrantes
de Varpa ou seus descendentes, representando inúmeras igrejas de di-
versos Estados da Federação onde vêm atuando, além das três dezenas de
pastores e outro tanto de professores, músicos, regentes e profissionais
liberais — médicos, odontólogos, advogados, engenheiros, industriais e
outros, quase todos ocupando posições de liderança nas suas respectivas
igrejas. Cartas e telegramas de igrejas e entidades batistas brasileiras
foram enviadas aos irmãos letos de Varpa, afirmando a realidade dessa
influência. Dentre as cartas, destaca-se a do Seminário Teológico Ba-

(48) Dobelis, Girts, "Varpas 42 gada svetkos Pardomas" (42° Aniversário de Varpa —
Reflexões), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12, dezembro de 1964, p. 8. O grifo
é nosso.
(49) Apse, Fernando, loc. cit.

386
tista do Sul do Brasil, firmada pelo seu Reitor, Dr. David Malta Nasci-
mento, que vale a pena transcrever:
À COLÔNIA BATISTA LETA DE VARPA
Prezados irmãos: Saudações fraternais e cristãs.
Ao comemorardes o cinqüentenário de fundação da Colô-
nia Varpa, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil as-
socia-se ao jubilo de que estais possuídos.
O feito histórico dos vossos antepassados representa, sem
sombra de dúvida, uma notável página de heroísmo e fé. Com
a visão do alto, eles caminharam, dir-se-ia, rumo ao desconhe-
cido, pela certeza de que Deus os guiava com segurança e fir-
meza. O acontecimento reveste-se, pois, do mais alto sentido,
não só por seus motivos históricos, mas, também, pelas razões
espirituais em que se inspirou. A fé, aliada a uma corajosa
compreensão de quanto pode o amor, deu exemplo magnífico
do que é capaz uma comunidade verdadeiramente cristã.
A experiência que realizastes há de ficar inscrita, com a
grandeza dos feitos épicos, nos anais da história. Os frutos da
ousada aventura aí estão. Eles se espelham, muito bem, no
permanente testemunho da vossa pregação. E ainda mais: na
vida e obra de vossos filhos. A Denominação Batista vos é
grata e o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil em par-
ticular, pela inestimável colaboração que, através dos anos,
tem recebido daqueles que da vossa comunidade saíram.
Recebei, pois, nesta hora festiva e de gratidão, o apreço e
reconhecimento de que vos tomastes credores. Que Deus, o
Senhor da Glória, derrame sobre vós, hoje, como no passado
imorredouro, as suas misericordiosas bênçãos. Este é o voto
ardente do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, pela
Colônia Varpa, exaltado símbolo de fé e amor!
Guanabara, 10 de novembro de 1972
Ass. David Malta Nascimento — Reitor. (50 )
O Jornal Batista, em sua edição de 5 de novembro de 1972, também
deu o seu testemunho concernente à influência dos batistas letos de Var-
pa, através da seguinte saudação, publicada na primeira página: "O
JORNAL BATISTA SAÚDA COMOVIDO E CORDIALMENTE OS IR-
MÃOS BATISTAS LETOS POR OCASIÃO DAS COMEMORAÇÕES DO
CINQÜENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA COLÔNIA VARPA E LHES
MANIFESTA A GRATIDÃO DOS BATISTAS BRASILEIROS PELO
MUITO QUE FIZERAM NA OBRA GIGANTESCA DA EVANGELIZA-
ÇÃO DE NOSSA PÁTRIA. QUE AS MAIS PURAS ALEGRIAS CELES-
TIAIS LHES ENCHAM O CORAÇÃO NO DECURSO DESSAS COME-

(50) Cópia fornecida pela Reitoria do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e que
se encontra nos arquivos do Museu Batista da mesma instituição.

387
MORAÇÕES TÃO JUSTAS, BEM COMO A TRANQÜILA CERTEZA DE
QUE DERAM BOA CONTA DE SUA MORDOMIA."
A esta altura, mister se faz mencionar também a parte que cabe a
Varpa no que diz respeito à contribuição feita no campo da música sa-
cra. De lá saiu o maior número de regentes e o próprio autor do maior
hinário para coros evangélicos — "Coros Sacros" — o Prof. Arthur
Lakschevitz. Porém desta matéria trataremos mais adiante.
Sobre a influência cultural, social, econômica, moral e espiritual dos
batistas letos de Varpa manifestou-se no cinqüentenário da colônia, em
primeiro lugar, o Sr. Prefeito do Município de Tupã, Dr. Walter Pimen-
tel, que, num improviso muito feliz e eloqüente, afirmou que Varpa, sen-
do a primeira comunidade do atual Município de Tupã, trouxe àquelas
paragens, ainda em mata virgem, as primeiras luzes do progre:so eco-
nômico, cultural e espiritual, razão por que o governo municipal não
poderia omitir-se por ocasião da passagem do 500 aniversário da funda-
ção da colônia. Por igual manifestaram-se também algumas casas legis-
lativas do País, fazendo inserir em seus anais, requerimentos, votos e
discursos congratulatórios alusivos à efeméride. Assim, à base de in-
formações colhidas em cópias do artigo escrito e distribuído pelo autor
da presente dissertação, intitulado "Cinqüentenário da Colônia Varpa,
Estado de São Paulo" — depois publicado em O Jornal Batista, n° 45,
de 5 de novembro de 1972 — manifestaram-se: 1) a Câmara Federal em
Brasília, através de um discurso do Deputado Federal Lisâneas Maciel,
publicado no Diário do Congresso Nacional; ( 51 ) 2) a Assembléia Le-
gislativa do Estado da Guanabara, por um voto de congratulações com a
Colônia Varpa, encaminhado à Mesa pela la Vice-Presidente, Hilza Mau-
rício da Fonseca; (52 ) e 3) a Assembléia Legislativa do Estado de São
Paulo, também através de um voto de congratulações, requerido pelo
Deputado Gioia Júnior, 10 Vice-Presidente daquela casa legislativa. (53 )
Não há como negar que a Igreja Batista Central de Varpa foi de
todas as igrejas batistas letas do Brasil a que maior influência exerceu
em vários aspectos e especialmente em todos os setores da vida batista,
tanto no que diz respeito restritamente à área do trabalho leto, como na
obra batista brasileira, e nesta, principalmente, através da música sacra
e dos obreiros oriundos de Varpa que permearam e ainda permeiam quase
todas as camadas da Denominação Batista no Brasil.

2.2 — Igreja Batista de Porto União — Estado de Santa Catarina


(1925)
As origens dessa igreja, cronologicamente a décima quinta igreja
batista leta no Brasil, prendem-se à mudança do casal João Rudzit e o
jovem Matias Nikowski da Colônia Leta de Rio Branco, em Santa Ca-
tarina, para uma nova área, a ser colonizada por imigrantes de diversas
nacionalidades, chamada Colônia de Santa Maria, a 24 km da cidade de

(51) Anexo VI.


(52) Anexo VTT.
(53) Anexo VIII.

388

"1\ 4- 1\T; e-smcdri ,1.


Porto União, no Estado de Santa Catarina. Isso ocorreu em fins de
1918. Durante os dois anos seguintes, ainda outras famílias da Colônia
Rio Branco se transferiram para a mesma localidade, inclusive a de
Eduardo Inke, pai do conhecido pastor Jacó R. Inke. Acostumados a
uma vida religiosa ativa, logo organizaram uma União de Mocidade e
uma Escola Bíblica Dominical em casa do irmão João Rudzit. Pouco
depois, passaram a realizar também cultos. A princípio corria tudo em
língua leta, passando depois para o uso do português.
Em 1921, desiludidos da propaganda de fertilidade das terras da
Colônia Santa Maria para o cultivo específico de trigo, os batistas letos
— cerca de sete famílias — mudaram-se para os arredores de Porto
União, onde adquiriram chácaras e se dedicaram à produção de leite. A
esta altura, chegaram alguns letos de Nova Odessa. Logo organizaram
uma Congregação, com Escola Bíblica Dominical, União de Mocidade e
Coro. Na liderança achavam-se João Rudzit, Matias Nikowski e Eduar-
do Inke. O primeiro, o mais abastado, ofereceu um terreno, no períme-
tro da cidade, para se construir um templo para a futura igreja, cons-
trução que ocorreu em 1927. Correspondendo-se com o missionário A.
B. Deter, em Curitiba, este imediatamente visitou o grupo e passou a
dar-lhe a assistência necessária. Porém, como a maior parte dos imi-
grantes letos não entendesse o português, os cultos eram realizados em
leto e os demais trabalhos — como a Escola Bíblica Dominical e as reu-
niões da mocidade — em português. A mocidade, ainda que em número
reduzido, tomou a si os cultos de domingos à noite para fazer a evange-
lização dos brasileiros, cantando e pregando em português. Em pouco
tempo a Congregação já reunia para mais de 50 pessoas.
Em 28 de novembro de 1925, com a presença do Secretário-Corres-
pondente do Campo Batista Paraná—Santa Catarina, Dr. A. B. Deter e
a do Pastor Carlos Leimann, foi organizada a Igreja Batista de Porto
União, com 16 membros, todos letos, ( 54 ) sendo seu moderador João
Rudzit e Vice-Moderador Matias Nikowski, dois leigos que por muitos
anos continuaram na liderança da igreja, especialmente nos períodos lon-
gos quando esta se achava sem pastor efetivo. Figs. 171 e 172
O Pastor Carlos Leimann, sendo o evangelista do campo na ocasião,
passou a visitar a novel igreja de quando em vez, pois que, dada a ex-
tensão do seu trabalho, não lhe era possível dar uma assistência regular.
A partir de 1926, porém, a igreja elegeu como seu primeiro pastor o
irmão Carlos Stroberg, o qual se achava em Curitiba, estudando no Co-
légio Batista. Com as visitas regulares desse obreiro, o trabalho foi se
estendendo e se firmando cada vez mais. Em 1929, o Pastor Carlos
Stroberg mudou-se, com a família, para Porto União, onde abriu tam-
bém uma escola anexa à igreja, permanecendo ali até 1933, quando vol-
tou a Curitiba para assumir o cargo de Secretário-Correspondente e Te-
soureiro da Convenção Batista Paraná—Santa Catarina, que incluía tam-
bém uma região do sul do Estado de São Paulo. Em seu pastorado, a
Igreja de Porto União chegou a possuir 100 membros e a Escola Bíblica
(54) Rudzit, João, ''No Portunionas" (De Porto União), Kristigs Draugs (O Amigo Cris-
tão), n9 6, junho de 1958, p. 11.

389
Dominical funcionava com cerca de 200 alunos. A despeito do caráter
absorvente da nova função do Pastor Carlos Stroberg, este continuou à
frente da igreja até 1943, visitando-a regularmente. (55) Fig. 173
Depois os pastores Carlos Kraul e João Lukass, ambos de Varpa,
também prestaram valiosa cooperação com diversas visitas, em que rea-
lizavam trabalhos especiais, bem como o obreiro eslavo Gregório Bre-
dritschuk, da Missão Sertaneja de Varpa, que, ao lado do seu trabalho
entre os eslavos da região, também dirigia a igreja.
Aos poucos, porém, os letos foram se dispersando pelas zonas no-
vas do Estado, transformando-se a igreja em uma comunidade nitida-
mente brasileira e servida por obreiros brasileiros. Assim, em 1950, de
90 membros que a igreja possuía, apenas 6 eram letos. Contudo, a lide-
rança ainda continuava em mãos dos batistas letos. (56 )
A Igreja Batista de Porto União, como se vê, não resultou do mo-
vimento imigratório de 1922/23, mas das constantes migrações inter-
nas em demanda de zonas novas do interior dos Estados, à procura de
melhores condições econômicas de vida. Entretanto, até certo ponto de
sua história, os pastores que lhe serviram eram procedentes do referido
movimento, recebendo, desta forma, a forte influência que este vinha
exercendo. E assim, mais uma igreja, em suas origens sendo leta, trans-
formou-se em uma igreja brasileira, que continua a dar o seu testemu-
nho no seio desta nação.

2.3 — Igreja Batista de Areias — Estado de São Paulo (1930)


Em 1923 o irmão Rodolfo Fritzsons, um leigo ativo da Igreja Ba-
tista Leta de Rio Branco, em Santa Catarina, adquiriu uma fazenda em
Areias, município de Limeira, localidade que dista de Nova Odessa cer-
ca de 16 km e de Americana 9 km, à margem direita do rio Atibaia.
Outros letos, de Nova Odessa e Varpa, batistas e luteranos, foram atraí-
dos para aquela região, onde havia facilidade de se arrendar terras cul-
tivadas. (57) Assim surgiu a Colônia de Areias, a décima sétima colônia
leta no Brasil.
Em 1924, quando ali já se contavam cerca de 250 letos, a I Igreja
Batista Leta de Nova Odessa estabeleceu uma congregação na sede da
fazenda de Rodolfo Fritzsons, deixando-a aos cuidados do venerando
Pastor Pedro Veidmann (progenitor do saudoso Pastor Emílio Veid-

(55) Stroberg, Carlos, Carta endereçada ao autor, firmada em Americana, S.P., a 26 de


março de 1966.
(56) Nikowski, Matias, Entrevista com o autor em Curitiba, a 19 de fevereiro de 1967;
Rudzit, João, "No União Vitória, uz Paranas un Santa Katarinas schtatu robezcham- (De
União de Vitória, nas fronteiras dos Estados de Paraná e Santa Catarina), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n° 12, dezembro de 1932, pp. 196 a 198; Id., "No Porto União pilsetas
Santa Katarinas pavalsti" (Da cidade de Porto União, Estado de Santa Catarina), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n9 8, agosto de 1958, p. 13; Id., "No Portunionas" (De Porto
União), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 3, março de 1962, pp. 10 e 11.
(57) Krasnais, Vilberts, Latviesu Kolonijas (Colônias Letas), Editora União Nacional da
juventude Leta, Riga, 1938, p. 515.

390
mann), o qual depois foi auxiliado e substituído pelo pregador leigo Pe-
dro Luzins. (58)
Como resultado da ação dinâmica do Pastor Carlos Kraul, na época
pastor da Igreja Batista Leta de Nova Odessa, e a atuação dos obreiros
responsáveis, especialmente o presidente da União de Mocidade, Frede-
rico Birznieks, e dos próprios crentes, a congregação se desenvolveu a
ponto de se organizar em Igreja Batista de Areias no dia 27 de maio de
1930 com 43 membros, sendo a maioria constituída de batistas imigran-
tes de Varpa, via Nova Odessa. (59) Era a décima sexta igreja batista
leia fundada no Brasil.
Durante os primeiros 10 anos de sua existência, a igreja experimen-
tou um progresso apreciável. Em 20 de janeiro de 1931, ocorreu o seu
ingresso na Convenção Batista Paulistana, por ocasião da assembléia
anual que se realizou na Igreja Batista em Rio Claro. Em 1933 já o seu
número de membros foi para além de 60. Em 1939, a igreja inaugurou
o seu templo, elegeu e ordenou como seu pastor o jovem evangelista
Emílio Veidmann, que em pouco tempo conquistou muitas almas, que
foram adicionadas ao rebanho, à cuja frente ele permaneceu até 1945.
Desenvolveram-se a Escola Bíblica Dominical, o Coro, a União de Mo-
cidade e Sociedade Feminina, organizações que cooperaram com eficiên-
cia no trabalho de evangelização dos brasileiros da vizinhança, especial-
mente na cidade de Limeira. Aos poucos os letos foram deixando a co-
lônia, razão por que foi se extinguindo o uso da língua leta nos cultos,
pois que a maioria dos membros da igreja passou a ser de brasileiros.
Com o desenvolvimento da indústria diversificada nas cidades pró-
ximas, começou o êxodo da população daquela região agrícola que vivia
do trabalho em terras arrendadas, porque os grandes proprietários não
as vendiam. Com a mudança dos batistas letos e de muitos brasileiros e
transferência do obreiro para a área da Missão Sertaneja de Varpa, a
igreja entrou em declínio, dependendo o prosseguimento do trabalho ba-
tista em Areias de visitas de pastores das igrejas vizinhas ou de obreiros
itinerantes regionais ou estaduais. Além dos pastores letos de Nova
Odessa, nos últimos anos, a igreja vem sendo assistida por alguns pas-
tores brasileiros, como Alcides Marçola e Lauro Barros Campos. Men-
ção especial merecem dois obreiros leigos, veteranos de Varpa, que se
notabilizaram ao longo da história da Igreja Batista Leta de Areias:
Carlos Kugurens, como líder da mocidade por muitos anos, e João Muce-
nieks, como diácono e moderador da igreja quase todo o tempo da exis-
tência desta. (6°)

(58) Id. ibid., loc. cit.


(59) Igreja Batista Leta de Nova Odessa, Ata n° 266.
(60) Gertner. Arnaldo, "Dazshi soli Nova Odesas apkahrtnê" (Alguns passos pelas vizi-
nhanças de Nova Odessa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n, 4, abril de 1933, p. 62;
também Tiss, Gunars, Questionário de pesquisa respondido em 9 de dezembro de 1968, o
qual se acha em nosso arquivo.

391
2.4 — Igreja Batista de Pitangueiras, Colônia Varpa — Estado de São.
Paulo (1932)
De acordo com o que foi dito no Capítulo VIII, no contexto da obra,
missionária desenvolvida pela Igreja Batista Leta de Varpa, a Igreja.
Batista de Pitangueiras surgiu em torno da escola primária daquele
bairro da Colônia Varpa, escola cujo prédio, construído pela colônia,
também acolhia para os cultos aos domingos e nas noites da semana as
pessoas mais idosas da vizinhança, cujas moradias distavam 5, 6 e até
7 km da sede da igreja. Dentro de um ano e meio desenvolveu-se uma
forte congregação sob os cuidados do Pastor Alberto Eichmann, dando-
-se a organização da igreja em 10 de abril de 1932. Foi a décima sétima
igreja batista leta fundada no Brasil.
Tornando-se pequeno o prédio da escola em que foi organizada a
igreja, com a cooperação da igreja-mãe, foi construído, ao lado do pri-
meiro, um belo templo, com galerias, tendo capacidade para 350 pessoas
assentadas. A igreja, que se organizou com pouco mais de meia centena
de membros, dentro em pouco dobrou o seu número, desenvolvendo tam-
bém, como já foi dito, um bom trabalho missionário entre os brasileiros
que moravam pelas fazendas, sítios e novas comunidades para além das
fronteiras ocidental e norte da Colônia Varpa. Figs. 174, 175, 176 e 177
Afora o obreiro já citado, serviram à igreja mais os pastores se-
guintes: Nicolau Kwasche, Hugo Alnis, Augusto Lakschevitz e Arvido
Grikis, que ainda se encontra à frente da mesma. Entre os leigos desta-
caram-se Rodolfo Brandts, João Jansons, os irmãos Hermano e João
Skuya, os irmãos Ricardo e Hermano Adams, Roberto Klavin, João Al-
dins, André Klava e outros, dos quais a maioria chegou ao diaconato.
Particularmente notória foi a atuação da mocidade da Igreja Batista
de Pitangueiras, em cuja União contavam-se mais de 40 jovens, sob a
direção de Hermano Skuya e depois Roberto Klavin e outros. Os obrei-
ros da Escola Bíblica Dominical eram, em sua quase totalidade, elemen-
tos da mocidade. O coro, com mais de 30 vozes, também em sua grande
maioria composto de jovens, e com um jovem, Nicolau Aldins, à frente,
tendo outros dois músicos moços como auxiliares, os irmãos Ricardo e
Hermano Adams, era outra grande expressão da presença da mocidade
no trabalho da igreja. Aliás, o referido maestro e seus coadjutores há,
mais de 40 anos servem nessa capacidade. Também uma orquestra, com
cerca de 20 figuras, e uma banda com 15, todas jovens, sob a regência de
Janis Roberto Jansevskis (o conhecido Pastor Roberto Jansevskis, que
há mais de 25 anos vem operando em diversas igrejas brasileiras), por
vários anos era mais outro setor de ação da mocidade. Por ocasião das
grandes datas da colônia, comemoradas na Igreja Batista Central de
Varpa, a orquestra, a banda e o coro de Pitangueiras eram peças indis-
pensáveis na composição dos chamados "coros unidos" e das "orquestras
unidas".
Porém fatores econômicos e outros reduziram o número de mem-
bros dessa igreja para 38 em 1972, funcionando, como organizações in-
ternas permanentes, apenas a Escola Bíblica Dominical, sob a direção
do seu superintendente de longos anos, Ricardo Adams, e a Sociedade
392
Feminina, sob a presidência de D. Alma Kempis, também veterana no
posto.
Embora reduzido o seu número de membros, a igreja toma parte
ativa em todos os movimentos missionários locais, os da Associação das
Igrejas Batistas Letas do Brasil, bem como da obra batista brasileira,
especialmente em missões e beneficência. Já de há muito a Escola Bí-
blica Dominical da Igreja Batista de Pitangueiras funciona em portu-
guês, enquanto as demais atividades, em língua leta. (61)

2.5 — Igreja Batista de Palma, Colônia Varpa — Estado de São Paulo


(1934)
A décima oitava igreja batista leta fundada no Brasil foi a de Pal-
ma, cuja história já foi relatada em quase toda a sua extensão no Capí-
tulo VII, no contexto da vida religiosa da Corporação Evangélica Palma
e de sua influência missionária, pois que nesses aspectos a Corporação
se confundia com a igreja, como, aliás, vem acontecendo até o presente.
Aqui apenas trataremos da complementação da história já relatada e
de alguns fatos novos ocorridos nos últimos anos.
Quanto ao pastorado da igreja, seu primeiro pastor foi o grande
líder João Inkis em cooperação com o Pastor Arvido Eichmann, e depois
o pastor Girts Dobelis, ajudado pelo Pastor André Klavin, o gerente da
Corporação, e pelo Pastor Jacó R. Inke, cuja área principal vinha sendo
o trabalho externo, ou seja, a obra da evangelização, na qual era aju-
dado por diversos outros irmãos. Nessa igreja nunca houve, como não
há até hoje, o problema de sustento ou residência pastoral, pois que seus
pastores sempre foram elementos da própria corporação, que funciona,
como já foi historiado, sob o regime de um cooperativismo sui generis.
Também o templo da igreja era propriedade da corporação, construído
para abrigar a Escola Missionária, onde vinha funcionando também o
Curso de Extensão. Sendo a Corporação uma entidade fechada, não
ocorriam novas adesões e por isso também ficou limitado o crescimento
da igreja. Com o êxodo de alguns e morte dos que iam envelhecendo,
juntamente com o declínio da Corporação, vai declinando também a igre-
ja, que em 1972 acusou o seu rol apenas 39 membros, ( 62 ) sendo que
alguns deles são pessoas das famílias dos campeiros do Acampamento
Batista de Palma. Não diminuiu, porém, a sua contribuição financeira
para a obra batista brasileira e para a Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil, que, por sua vez, também resulta em evangelização de
brasileiros e bolivianos. Esta, pelo contrário, tem crescido proporcio-
nalmente. Assim é que, segundo o relatório publicado em 1972, do mo-

(61) Adams. Ricardo, "Divdesmit Tresais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas
Kongress" (Vigésimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Bra-
sil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), ri' 9, setembro de 1972, p. 18, Relatório da Igreja
Batista de Pitangueiras.
(62) Samoilovics, Alexandre, "Divdesmit Tresais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvie-
nibas Kongress" (Vigésimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do
Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), ri' 8, agosto de 1972, p. 18, Relatório da Igreja
Batista Lata de Palma.

393
vimento anual de quase doze mil cruzeiros, 78% foram gastos em mis-
sões entre brasileiros e bolivianos, através da Missão Sertaneja, Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil e as Convenções Batistas
Paulistana e Brasileira, sendo as duas últimas as mais contempladas —
com cerca de 44% do total. (63 ) Fig. 178
Os cultos da Igreja Batista de Palma são realizados em leto e em
português, porém a Escola Bíblica Dominical, exclusivamente em portu-
guês. Não há coro, por falta de vozes, pois a quase totalidade dos so-
breviventes da Corporação são pessoas acima de setenta anos de idade.
O maior ministério dessa igreja atualmente é o da intercessão e da im-
pressão e distribuição do periódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão),
que, por motivos já referidos em um dos capítulos anteriores, passou da
responsabilidade da Corporação à da Igreja Batista de Palma. E assim
o pequeno pugilo de crentes batistas letos já idosos, ainda atua, com ale-
gria e visão, na obra da evangelização a que se propôs desde os primeiros
dias da existência da Corporação e da respectiva igreja.

2.6 — Igreja Batista de Urubici — Estado de Santa Catarina (1934)

Os primeiros batistas letos fixaram-se em Urubici em 1924/25. Eram


as famílias de Pedro Bruvers e Gustavo Grikis, procedentes da Colônia
de Rio Novo e membros da Igreja Batista Leta de Rio Novo. Até 1933,
já seis famílias dessa igreja haviam se transferido para Urubici, no
alto da Serra Geral, a cerca de 130 km a noroeste de Rio Novo, não mui-
to distante da cidade de São Joaquim. Começaram a afluir letos para
Urubici também das colônias de Ijuí, Rio Branco e Varpa. O clima bem
semelhante ao da Letônia e a possibilidade de se cultivar o trigo com
facilidade, bem como diversas frutas européias, foram as grandes atra-
ções desse lugar para os letos. Dentro de pouco tempo já se contavam
quase três dezenas de batistas letos em Urubici. (64 )
A congregação elegeu como seu dirigente o irmão João Sahlit, rea-
lizando os cultos nas casas dos irmãos Gustavo Grikis e Oscar Karps.
Verificou-se, porém, que vários irmãos dessa congregação, inclusive da
liderança passaram a esposar idéias pentecostais. Quando se falava em
organizar ali uma igreja batista, alegavam alguns que, para não haver
constrangimento para ninguém, devia-se fundar uma "Igreja Evangéli-
ca", não sectarista, que permitisse cada qual manter as suas convicções,
e que se não filiasse a nenhuma Convenção. As agitações pentecostistas
foram amainadas com as visitas do Pastor Carlos Stroberg durante o
ano de 1933, na qualidade de Secretário-Correspondente da Convenção
Batista Paraná—Santa Catarina. Os principais agitadores pentecostair,
começaram, então, a se reunir à parte, ficando na congregação os mais
diplomatas, especialmente os da diretoria. Em 25 de agosto de 1934,
sob a direção do Pastor Carlos Stroberg e do diácono Oswaldo Auras, da

(63) Cálculos feitos na base dos dados constantes do relatório acima referido.
(64) Cf. Frischenbruder, J., "Manas wehsturigas atminas sahkot no Rio Novas un Urubisijr
(As Minhas Memórias Históricas desde Rio Novo até Urubici), manuscrito inédito que :e
encontra no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro,
pp. 1 a 4.

394
Igreja Batista Leta de Rio Novo, foi organizada, com cerca de 40 mem-
bros, a Igreja Batista de Urubici, (65) sendo essa a décima nona igreja
batista leta fundada no Brasil.
Pouco tempo depois de organizada a igreja, os problemas em torno
da questão doutrinária recrudesceram; mas, com a chegada do irmão
João Legzdins, em 1935, imigrante de Varpa, pregador leigo de espírito
apaixonadamente evangelístico, os ânimos serenaram, e tempos de refri-
gério e prosperidade chegaram à nova grei. Foi quando todos, inclusive
os pentecostais, puseram mãos à obra para construir um templo num
terreno doado por um certo irmão. Quando, porém, a bela construção de
madeira estava pronta, a partir do próprio dia da inauguração — 25 de
agosto de 1937 — voltou tudo a tumultuar-se. É que o doador do terre-
no — imóvel este cuja escritura ainda não havia sido passada em nome
da igreja — aderiu aos pentecostais, juntamente com alguns outros ele-
mentos, tentando constranger a maioria batista a aderir também. De-
pois de malogradas diversas tentativas de uma solução democrática e
justa, em 29 de novembro de 1939, um grupo de 35 irmãos, constituindo
a grande maioria, por meio de um abaixo-assinado, declarou-se a legí-
tima igreja Batista de Urubici, que se retirava do templo de que se
apossara indevidamente a minoria não batista. (66 )
A igreja então passou a reunir-se provisoriamente na residência do
irmão Rodolfo Klawa, sendo João Legsdins seu moderador. Duas se-
manas depois do ocorrido, visitaram a igreja dois líderes batistas, Pas-
tor Paulo Gailit e o missionário A. Ben Oliver. Examinando a situação
e não logrando nenhum resultado o entendimento por eles empreendido,
esses obreiros reconheceram a legitimidade da posição doutrinária da
igreja, que pouco depois foi recebida na Convenção Batista Paraná—San-
ta Catarina. (67)
Novo e ingente esforço foi feito para a construção de um outro
templo, em terreno doado por um dos irmãos, que logo passou a proprie-
dade em nome da igreja. Construindo com seus próprios recursos e ha-
bilidades, a Igreja Batista de Urubici inaugurou o novo templo — mais
confortável e de melhor acabamento que o primeiro — no dia 25 de
agosto de 1940. Mais tarde, os pentecostais ofereceram uma indenização
à Igreja Batista de Urubici pelos prejuízos que lhes foram causados em
material e mão-de-obra da primeira construção, mas esta não a aceitou
declarando que já havia perdoado a dívida. (68) Fig. 179
Além do problema doutrinário que a igreja enfrentou desde os seus
primórdios e a luta na construção de dois templos, ela sofreu sérias di-
ficuldades também no que diz respeito ao ministério, isto é, no sentido
de encontrar um obreiro residente que desenvolvesse o trabalho. Por

(65) Id., ibid., p. 4.


(66) Lakschevitz, Augusto, Carta a V. Lustins, firmada em 4 de março de 1959, em Tubarão,
Santa Catarina, a qual se acha nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(67) Frischenbruder. J.. Op. cit.
(68) Lakschevitz, Augusto, Op. cit.

395
alguns anos serviu-lhe o Pastor Carlos Stroberg como pastor visitante.
Além deste, contam-se outros obreiros letos, que ajudaram à Igreja Ba-
tista de Urubici em diferentes épocas e em diversos aspectos do trabalho
— como pastorado interino, campanhas evangelísticas, institutos bíblicos
e outros. Seus nomes são: Paulo Gailit, Carlos Ukstin, Carlos Kraul,
Emílio Veidmann, João Lukass, João Pupols, Teófilo Purens, Osvaldo
Ronis, o evangelista e depois pastor Laimon Klava e o leigo Arvido
Leiasmeier. Com excessão de Carlos Ukstin, os demais são obreiros pro-
cedentes do movimento imigratório de Varpa. De igual forma registra-
mos a assistência que a igreja tem recebido em diversas ocasiões de vá-
rios pastores brasileiros do campo batista catarinense e dos missioná-
rios, como A. Ben Oliver e Adriano Blankenship, e posteriormente de
alguns outros. (69 )

Depois de 15 anos de existência, o primeiro pastor residente da


igreja foi Augusto Lakschevitz, formado pelo Seminário Batista de Ri-
ga, na Letônia, e imigrado no Brasil, pela segunda vez, depois da II
Guerra Mundial. Nos dois períodos do seu pastorado em Urubici — que
totalizaram quase seis anos — a igreja construiu a casa pastoral; re-
formou e ampliou o templo; elevou seu número de membros para quase
uma centena; e matriculou como alunos na Escola Bíblica Dominical
para mais de uma centena de pessoas; desenvolveu uma União de Moci-
dade com quatro dezenas de jovens; um coro com quase 30 figuras e por
algumas vezes hospedou a Convenção Batista Catarinense. ( 70 ) Duran-
te mais de duas décadas a Igreja Batista de Urubici foi a maior e a mais
forte de todas as igrejas do Estado de Santa Catarina, e vários de seus
obreiros, pastores e leigos, tiveram assento na Junta Executiva Estadual.

Do seio da mocidade da Igreja Batista de Urubici, Deus tem chamado


obreiros para a sua seara. Entre eles, registramos aqui os seguintes:
Alfredo Auras, falecido prematuramente, Alfon Kruklis, Lívia Klava e
Miguel Jacó Klava.

A Igreja Batista de Urubici começou como uma igreja batista leta e


assim continua a caracterizar-se, inclusive por pertencer também à As-
sociação das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Tem, porém, um bom
número de membros brasileiros e de outras nacionalidades, realizando o
seu trabalho em duas línguas, sendo que os cultos em leto são destinados
à geração mais velha, enquanto os trabalhos da mocidade e da Escola
Bíblica Dominical decorrem em português. Continua sendo uma das igre•
jas mais fortes do Estado, com cerca de 80 membros e estando na lide-
rança no que diz respeito à cooperação financeira. É uma da3 igrejas
letas que mais influência tem recebido do movimento imigratório de ba-
tistas letos em 1922/23.

(69) Legzdins, João, Carta a V. Lustins, firmada em 12 de março de 1959, em 1.1rubici;


também Lakschevitz, Augusto, Entrevista com o autor em 11 de janeiro de 1969, em Monte
Verde, Sul de Minas.
(70) Lakschevitz, Augusto, Entrevista com o autor em 11 de janeiro de 1969, em Monte
Verde, Sul de Minas.

396
2.7 — Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital — Estado de São Paulo
(1934)
A Igreja Batista Leta de São Paulo teve suas origens na congrega-
ção da Igreja de Varpa, que se formou na capital bandeirante por volta
dos últimos meses de 1923, consoante referências já feitas em outros
contextos nos capítulos VI e VIII da presente dissertação.
Nessa primeira fase de sua vida até meados de 1926 a congrega-
ção já contava com cerca de 100 membros e se reunia nas dependências
da Primeira Igreja Batista de São Paulo. Teve como dirigentes os ir-
mãos: Klavs Andulis, Martinho Krikis, Paulo Ceipe, João Augstroze e
Ricardo Ozolins. As suas atividades então se limitavam aos cultos do-
minicais, cultos verpertinos de oração durante a semana e ensaios de
um coro feminino regido pelo irmão João Lakstigal. (71)
Verificando-se, porém, as dificuldades referidas no capítulo VIII,
a partir de meados de 1926, essa congregação passou a ter sua sede no
templo da Igreja Presbiteriana Independente, na Rua 24 de Maio, me-
diante aluguel, onde os irmãos letos de São Paulo permaneceram durante
16 anos, daí saindo para o seu templo próprio.
Nos primeiros sete meses da segunda fase de atividades da congre-
gação a Igreja Batista Leta de Varpa enviou, alternadamente, os se-
guintes pastores para dar-lhe a assistência espiritual necessária: João
Inkis, Otto Vebers, André Pincher e Alberto Eichmann. (72 ) Em feve-
reiro de 1927, a pedido da congregação de São Paulo, a Igreja de Varpa
elegeu o Pastor Carlos Rodolfo Andermann para pastoreá-la em caráter
permanente. ( 73) Fig. 180
Tendo recebido da igreja plena autonomia de ação e sustentando seu
próprio obreiro, a congregação batista leta de São Paulo desenvolveu-%e
rapidamente. Dentro de pouco tempo já estava em plena atividade o
trabalho de mocidade, sob a direção de João Inkis Jr., depois de Olga
Svare e de Arnaldo Gertner; foram fundadas Escolas Bíblicas Domini-
cais domiciliares na residência de D. Ana Zakis, na Rua Oscar Freire,
na do próprio Pastor Carlos Rodolfo Andermann, na Rua Cesário Mota,
e, em 1928, também para os adultos letos na sede da congregação. Cedo
a mocidade compreendeu a sua missão e a necessidade do seu testemu-
nho na grande cidade. Crescendo o número de jovens que eram capazes
de se expressar razoavelmente em português, multiplicaram-se as Esco-
las Bíblicas Dominicais domiciliares, que reuniam nada menos de uma
centena de crianças brasileiras e de outras nacionalidades. A Escola
Bíblica Dominical que se desenvolveu na Rua Santa Isabel, onde muito
trabalharam Olga Sverns, Arnaldo Gertner, Arvido Leiasmeier, João
Sprogis e Carlos Gruber, mais tarde foi entregue à Primeira Igreja Ba-
tista de São Paulo. Outras escolas funcionavam em Itaim, Perdizes,

(71) Andermann, Carlos Rodolfo, "S. Paulas Latviesu Baptistu Draudzes sakums" (Começos
da Igreja Batista Leta de S. Paulo), in: S. Paulas Latviesu Baptistu Draudze 20 Gados
(A Igreja Batista Leta de São Paulo em 20 anos), Edição da Igreja Batista Leta de S. Paulo,
pp. 7 e 8; também Sverns, Olga, "Draudzes koris" (O Coro da Igreja), ibid., p. 27.
(72) Andermann. Carlos Rodolfo. /oc cit.
(73) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas, Livro 2,.p. 270, sessão de 27 de fevereiro de 1927.

397
Jardim Europa, Jardim Paulista, Jabaquara — que posteriormente pas-
sou à Igreja Batista de Vila Mariana — e, mais tarde, já na década dos
50, Ferreiras, Alto de Boa Vista, Santo Amaro e Caxingui, que depois de
constituída em congregação foi entregue a uma igreja brasileira.
Outro aspecto da participação dessa congregação na obra da evan-
gelização foi através das atividades do coro, que tomava parte nas reu-
niões evangelísticas do missionário Karlis Grigorowitsch entre os esla-
vos da Capital paulista e que freqüentemente se estendiam também aos
brasileiros. O coro cooperou também em campanhas evangelísticas de
igrejas brasileiras, auditórios de colégios e, posteriormente, também em
programas radiofônicos. Também não tardaram solicitações de diversas
igrejas brasileiras, batistas e presbiterianas, para dar-lhes orientação
na organização e treinamento de coros — que na época eram uma rari-
dade — no que vários jovens regentes letos foram prestativos. Mais
tarde a influência leta na música sacra em São Paulo se tornou notória
através da ação de maestros, como João Lakstigal, Arthur Lakschevitz,
Arvido Leiasmeier e principalmente Carlos Gruber, que formaram e trei-
naram muitos coros em igrejas batistas e presbiterianas brasileiras de
São Paulo e Santos.
A partir de 1931, a mocidade da congregação batista leta de São
Paulo passou a participar, com as suas contribuições, na obra da Missão
Sertaneja, sustentando, durante 10 anos, o seu primeiro obreiro assala-
riado, Pastor João Lukass, e contribuindo para a construção das casas de
oração das congregações e igrejas daquele campo missionário.
Ainda outro setor importante do trabalho a que se dedicaram a
Congregação e especialmente o pastor, foi o da beneficência. Além dos
grupos de imigrantes batistas letos e eslavos que vinham desembarcando
nos portos de Santos e Rio de Janeiro, também diversas levas de imi-
grantes menonitas, fugindo do comunismo, procedentes do sul da Rússia,
precisavam de ser recebidos e ajudados em muitos aspectos em terra e
circunstâncias estranhas, sem remuneração, em nome do amor cristão. A
esse grande trabalho acresceu ainda o da assistência aos enfermos que
vinham da Colônia Varpa à Capital do Estado, em busca de recursos
médicos. Centenas desses eram encaminhados aos consultórios e aos hos-
pitais, onde o Pastor Carlos Rodolfo Andermann, com a sua diplomacia,
seu tato e sua cortesia peculiar, sempre encontrava portas abertas para
o atendimento imediato. (74 )
Em 21 de outubro de 1934, no templo da Igreja Presbiteriana Inde-
pendente, na Rua 24 de Maio, São Paulo, com a presença de obreiros re-
presentando diversas igrejas letas, russas e brasileiras, sendo estas a
Primeira Igreja Batista de Santos e a Igreja Batista Paulistana„ foi or-
ganizada a Igreja Batista Leta de São Paulo com 166 membros, (75) dos

(74) Cf. Andermann, Carlos Rodolfo, Op. cit., pp. 7 a 9; também Sverns, Olga, loc. cit.;
Abolins, Jacá, "Svetdienas skola" (A Escola Bíblica Dominical), Op. cit.; Karklins, Gotfrids,
"S. Paulas Latviesu Baptistu Jaunatne" (A Mocidade Batista Leta de S. Paulo), Op. cit.,
p. 14.
(75) Andermann, Carlos Rodolfo, loc. cit.

398
quais 160 procedentes da Igreja Batista Leta de Varpa. ( 76 ) Era a vigé-
sima igreja batista leta fundada no Brasil.
Tendo fixado residência em São Paulo muitas famílias batistas letas
procedentes das diversas colônias e verificando-se uma estabilidade de
vida da maioria dos membros da igreja, o Pastor Carlos Rodolfo Ander-
mann cogitou da aquisição de uma propriedade para o futuro templo
próprio, a fim de lançar, assim, bases firmes para um trabalho permanen-
te dos batistas letos na Capital bandeirante. A iniciativa de levantamento
de recursos para a compra de uma propriedade partiu da mocidade,
recebendo, algum tempo depois, adesões dos demais membros da igreja.
Em 1937 foi adquirido, então, o terreno da Rua Major Natanael, 171,
local em que mais tarde — já no pastorado de Nicolau Kwasche — foi
construído o atual templo, com residência pastoral. Fig. 181
A Igreja Batista Leta de São Paulo ingressou na Convenção Batista
Paulistana em janeiro de 1936, integrando-se assim na família batista
brasileira e cooperando com todos os seus fins. Os mensageiros da igre-
ja que levaram o seu pedido àquele conclave convencional foram Dr. João
Sprogis e Carlos Gruber, ambos muito conhecidos nos círculos batistas
brasileiros.
Os obreiros que estiveram à frente do pastorado dessa igreja foram
os seguintes: Carlos Rodolfo Andermann, Alberto Eichmann, Nicolau
Kwasche, João Lukass, Hugo Alnis e André Arajs, sendo todos de Var-
pa, exceto os dois últimos que imigraram depois da II Guerra Mundial.
O pastorado mais intenso, ainda que não o mais extenso, foi o do Pastor
João Lukass (1944-1952). Durante esse pastorado, a maior ênfase foi
dada à evangelização através das Escolas Bíblicas Dominicais domicilia-
res para crianças e adultos brasileiros, sendo que uma delas, a do bairro
de Ferreiras, de iniciativa de Frederico Vandzberg e sua esposa D. Lina,
tornou-se uma congregação forte para a qual a Igreja Batista Leta de
São Paulo comprou um terreno e ali construiu um templo, vindo a ser or-
ganizada em igreja no ano de 1957, com 95 membros, sendo o seu pri-
meiro pastor o irmão João Lukass, que desde 1952 vinha se dedicando ao
desenvolvimento daquele trabalho. Deixando mais tarde o pastorado da
Igreja Batista de Ferreiras — igreja brasileira com diversos membros de
origem leta — o Pastor João Lukass entregou-se ao desenvolvimento de
uma das congregações desta em Embu, que em 1969 também foi or-
ganizada em igreja, tendo o seu templo construído e contando com cerca
de cem membros, tornando-se, assim, um prolongamento do trabalho da
Igreja Batista Leta de São Paulo. Figs. 182, 183, 184 e 185
Outro aspecto de importância do pastorado de João Lukass, que
continuou nos subseqüentes, foi o da Assistência Social. Para atender
aos velhos, a doentes em convalescença, às domésticas que não tivessem
seu lar onde passar férias, aos irmãos letos que lá estivessem de passa-
gem, aos missionários e outros obreiros em férias ou em tratamento de
saúde, construiu-se a "Casa de Repouso Betânia". Só nos primeiros três

(76) Igreja Batista Leta de Varpa, Atas, Livro II, p. 114, sessão de 7 de outubro de 1934;
também Gruber, Carlos, "Draudzes Dibinasana S. Paulâ" (Fundação da Igreja em S. Paulo),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12, dezembro de 1934, p. 216.

399
anos de funcionamento desse serviço foram atendidos 1.750 hóspedes.
A casa funciona desde 1951. Além disso, foi realizado, junto aos refu-
giados da II Guerra Mundial, um trabalho de assistência, recepcionan-
do-os nos portos e nas hospedarias de imigrantes, como, por exemplo, a
de Campo Limpo, procurando-lhes emprego e moradia, tratando de seus
documentos, cuidando de assistência médica e outros atendimentos, sem
qualquer remuneração ou discriminação religiosa. ( 77)

Particularmente notório na Igreja Batista Leta de São Paulo foi o


desenvolvimento da música sacra. Com a afluência da juventude leta
das colônias para a Capital do Estado, dezenas deles se dedicaram à
música, quer com fins culturais, quer profissionais. De início, a maioria
desses jovens se dedicava ao estudo de teoria e violino, mas pouco depois
muitos outros passaram a estudar canto, piano, composição, regência e
alguns instrumentos de sopro em diversos conservatórios de São Paulo.
Além do coro da igreja, cujo número de vozes chegou a ultrapassar a
casa dos 60, organizou-se um coro da mocidade com nada menos de cinco
dezenas de vozes, uma orquestra com quase três dezenas de músicos e
um conjunto de bandolins e violões, com cerca de duas dezenas de figu-
ras. O primeiro regente do coro geral da igreja, como foi dito no início
deste tópico, foi João Lakstigal, sucedendo-o Arthur Lakschevitz. A fun-
dadora e primeira regente da orquestra foi a professora de música Ilga
Leiasmeier Reis, seguida por André Janson e outros. ( 7S) Em toda a
sua história, a Igreja Batista Leta de São Paulo teve nada menos de
duas dezenas de regentes de coros e orquestras, que serão mencionados
mais adiante num registro de obreiros. Os corais e orquestras dessa
igreja freqüentemente eram solicitados — como o são até o presente —
a se apresentarem em igrejas, congressos, concentrações evangelísticas,
bem como em programas de televisão. Fig. 186

As demais organizações dessa igreja — como a Escola Bíblica Do-


minical, a União de Mocidade, União de Adolescentes e Sociedade de
Senhoras — igualmente prosperaram sob a liderança de diversos obrei-
ros. Entre eles, mencionamos os seguintes que por serem os primeiros
ou por servirem durante períodos longos, merecem destaque: Arvido
Leiasmeier — primeiro Superintendente da Escola Bíblica Dominical
quando da organização da igreja, seguido por Olga Sverns, Gotfrids Kar-
klins, Jacó Abolins e outros. Na presidência da União de Mocidade, que
em 1953 contava com 140 unionistas, destacaram-se Arnaldo Gertner,
primeiro presidente logo após a organização da igreja, Arnaldo Janaitis e
o Dr. João Sprogis, que serviu nessa capacidade por diversos períodos
(Fig. 187) ; na direção da União de Adolescentes — Rolando Lukass,
Arnaldo Sverns Jr. e outros. Na presidência da Sociedade de Senhoras,
fundada em 1940, serviram Lucija Krikis, Valija Dobelis, Emília Linde

(77) Abolins, Jacó, "Sociala palidziba" (Assistência Social), in: S. Paulas Latviesu Baptistu
Draudze 20 Gados (A Igreja Batista Leta de São Paulo em 20 anos), Edição da Igreja
Batista Leta de São Paulo, 1954.
(78) Sverns, Olga, Op. cit., pp. 27 a 35; Jansons, André, "Muzikas orkestris un jaunatnes
koris" (Orquestra e Coro da Mocidade), Op. cit., pp. 54 a 58.

400
Fig. 166. Vista interna do templo da Igreja Batista Central de Var-
pa, em uma das reuniões do Jubileu de Ouro de Varpa em
1972.

Fig. 167. Os três pastores remanescentes dos obreiros pioneiros de


Varpa, em 1972. Da esquerda para a direita: João Augstroze,
Carlos Rodolfo Andermann e Nicolau (Nikolajs) Kwasche.
Fig. 168. Pastores letos presentes às comemorações do cinqüentená-
rio de Varpa, inclusive o primeiro brasileiro batizado, hoje
Pastor Lázaro Jorge de Camargo.

•-•••
4waiiawair

Fig. 169. Coral do Jubileu de Ouro de Varpa (1972).


Fig. 170. Orquestra do Jubileu de Ouro de Varpa (1972).

Fig. 171. Primeiros componentes da Congregação Batista Leta de


Porto União, SC, na casa de João Rudzit, em 1925.
Fig. 172. Membros fundadores da Igreja Batista de Porto União,
SC, com o Pastor Carlos Stroberg ao centro.

Fig. 173. Inauguração do templo da Igreja Batista de Porto União,


SC, em 1927.
Fig. 174. Pastor Alberto Eichmann e esposa,
D. Lilija.

Fig. 175. Templo da Igreja Batista de Pitangueiras, Colônia Varpa,


SP.

Fig. 176. Pastor Nicolau


Kwasche.
Fig. 177. Pastor Augusto Lakschevitz e esposa, D. Milda.

Fig. 178. Templo da Igreja Batista de Palma, Colônia Varpa, SP.


Fig. 179. Templo da Igreja Batista de Urubi-
ci, SC.

Fig. 180. Pastor Carlos Rodolfo Andermann e


esposa, D. Marta.
Fig. 181. Templo da Igreja Batista Leta de
São Paulo (Capital).

Fig. 182. Pastor João Lukass e esposa, D. Al-


ma, em 1972.
Fig. 183. Pastor Hugo
Alnis.

Fig. 184. Escola Bíblica Dominical de Ferreira nos seus primórdios.


Fig. 185. Templo da Igreja Batista em Embu, SP.

Fig. 186. Coro da Igreja Batista Leta de São Paulo (Capital), em


1954.
Fig. 187. Mocidade da Igreja Batista Leta de São Paulo (Capital),
1949.

Fig. 188. Pastor André (Andrejs) Arajs e esposa, D.


Ausma.
Fig. 189. Templo da II Igreja Batista de Nova Odessa, SP.

ias ás

Fig. 191. Pastor André Ce-


ruks, da II Igreja
de Nova Odessa,
Fig. 190. Pastor Verner Kri- SP.
ger.
Fig. 192. Coro da II Igreja Batista de Nova Odessa, SP.

Fig. 193. Templo da Igreja Batista em


Renascença, PR.
Fig. 194. Mensageiros das Igrejas Batistas Letas do Brasil à 15.a As-
sembléia da Associação das Igrejas Batistas Letas no Bra-
sil, reunida em Nova Odessa, em 1964, quando da visita do
Dr. João F. Soren (X).
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NA BOLÍVIA Gaitiét:

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Fig. 195. Mapa da posição geográfica da Missão Batista Leta em


Rincón del Tigre e da Congregação Batista Leta de Roboré,
na Bolívia.
Fig. 196. Pastor André Klavin, de partida de
Palma para a Bolívia, em viagem de
observação.

Fig. 197. A lancha "Palma", encalhada no Rio


Paraguai, com os "espias" a bordo.
e Lídia Ozolin. (79) Muitos desses obreiros, em sua quase totalidade jo-
vens, se dispersaram mais tarde pelas igrejas brasileiras de São Paulo
e outros centros e com seus dons e dinamismo ocuparam postos de ser-
viços na causa comum. Menção especial fazemos dos jovens que saíram
dessa igreja em busca de preparo específico para servir na seara do
Mestre. São eles: Pastores Artur Stefenberg, que depois de ter servido
na II Igreja Batista de Nova Odessa, presentemente é pastor de uma
igreja batista leta nos Estados Unidos; missionárias Ruth Lidaks Jan-
son, Klaudia Lidaks Kilmeier, e Velta Kagis atuando na Bolívia; e ProP
Ingrida Veiss, servindo, por vários anos, no Colégio Batista do Rio de
Janeiro, e ultimamente em São Paulo, no campo de música e educação
religiosa.
A média do número de membros da Igreja Batista Leta de São
Paulo, durante a sua história, tem oscilado em torno de 370, sendo que
em 1955 chegou a possuir 409 em seu rol. Em 1972, o seu relatório,
apresentado no último Congresso da Associação das Igrejas Batistas Le-
tas do Brasil, acusou 261 membros, à cuja frente encontra-se, já há 11
anos, o Pastor André Arajs. Fig. 188

2.8 — Segunda Igreja Batista de Nova Odessa — Estado de São Paulo


(1936)
Foi em 1923 que principiou o trabalho batista na Estação de Nova
Odessa, hoje cidade e sede de município. Eram os batistas letos residen-
tes da redondeza que durante a semana se congregavam para oração, pri-
meiramente na residência da família Orman e depois na da família Pau-
zer, dada a distância que os separava da sede de sua igreja em Fazenda
Velha — a Igreja Batista Leta de Nova Odessa. (80 )
O primeiro trabalho organizado foi a Escola Bíblica Dominical, que
teve início em 13 de novembro de 1923, numa dependência do armazém
do Sr. Ekis, negociante leto luterano. (81) Crescendo a assistência, es-
pecialmente a dos brasileiros, os trabalhos da Escola Bíblica Dominical
e da congregação foram transferidos para o salão de um clube extinto, e
depois para o prédio antigo e já inadequado do cinema local. (82 ) Os
primeiros professores dessa Escola Bíblica Dominical, que principiou com
30 crianças, foram os irmãos Carlos Burse, Roberto Sprogis, Otília Per-
kon, Emília Janson, Ansis Jekabson e Lina Andermann, que dirigia a
classe das crianças e jovens brasileiros. Em dezembro de 1924 foi orga-
nizado o coro da congregação, sob a regência de Carlos Burse, que se
apresentou pela primeira vez no programa de Natal daquele ano. O Pas-

(79) Cf. Abolins, Jacó, "Svetdienas skola" (A Escola Dominical), in: S. Paulas Latviesu
Baptistu Draudze 20 Gados; também Karklins, Gotfrids, "S. Paulas Latviesu Baptistu Jau-
natnes Biedriba" (A União de Mocidade da Igreja Batista Leta de São Paulo), ibid.; Krikis,
Lucija. "Masu Darbs" (O Trabalho das Irmãs), ibid.
(80) Kraul, Carlos. "No Nova Odesas" (De Nova Odessa), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n° 3, março de 1933, p. 46.
(81) Minka, Oswaldo, "Otra Nova Odesas Latviesu Baptistu Draudze 25 Gados" (Segunda
Igreja Batista Leta de Nova Odessa em 25 anos), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 7,
julho de 1961, p. 10.
(82) Kraul. Carlos, loc. cit.

401
tor Carlos Kraul era o líder e dinamizador de todas essas atividades,
(83) tendo a visão de uma futura igreja ali.
Nessa perspectiva os irmãos João Karklis e sua esposa, Anlize, doa-
ram um excelente terreno, em ponto não menos excelente, para a cons-
trução do templo da futura igreja. A 14 de fevereiro de 1933 foi lançada
a pedra fundamental na presença de autoridades municipais e represen-
tantes do trabalho batista brasileiro — Pastor Dr. Paulo C. Porter e o
evangelista Lindolfo Arruda. (84 )
A construção prosseguiu em ritmo acelerado, ocorrendo a inaugura-
ção do templo — de linhas sóbrias, belo e amplo (para 350 pessoas) —
em 6 de agosto de 1933 com grandes festividades em dois programas —
um pela manhã e outro à noite — participando, como oradores, o Dr. Ri-
cardo J. Inke, do Rio de Janeiro, o Pastor Antônio Ernesto da Silva, da
Igreja Batista do Brás, São Paulo, e o Pastor Dr. Paulo C. Porter, da
Segunda Igreja Batista de Campinas. Estiveram presentes, ainda, os
pastores Luís de Assis, da Primeira Igreja Batista de Campinas, Karlis
Grigorowitsch, da Igreja Batista Russa da Moóca, São Paulo, Alberto
Eichmann, da Igreja Batista de Pitangueiras, em Varpa, e Nicolau Kwas-
che, da Igreja Batista Leta de Ijuí. — Linha 11, do Rio Grande do Sul. A
obra do templo custou apenas 31 contos de réis, sendo que muito mate-
rial e mão-de-obra foram oferecidos pelos irmãos da Igreja Batista Leta
de Nova Odessa. (85)
Em 23 de maio de 1934 foi organizada a União de Mocidade da Con-
gregação de Nova Odessa (Estação), com 22 jovens valorosos e a pre-
sença do novo pastor da Igreja Batista Leta de Nova Odessa, André
Pincher, vindo de Varpa. Seu primeiro presidente foi o irmão Carlos
Burse. (86 )
Finalmente, em 6 de janeiro de 1936, foi organizada a Segunda Igre-
ja Batista de Nova Odessa, em ordem cronológica, a vigésima primeira
igreja batista leta fundada no Brasil, com 189 membros, todos proceden-
tes da Igreja Batista Leta de Nova Odessa em Fazenda Velha. Estando,
na ocasião, a igreja-mãe sem pastor, pois que meses antes havia falecido
o Pastor André Pincher, o ato foi presidido pelo Dr. Ricardo J. Inke, que
na oportunidade estava gozando férias na Colônia de Nova Odessa, es-
tando presente também o Dr. Paulo C. Porter. A primeira diretoria
ficou assim constituída: Moderador e Pregador — Dr. André Leekning;
Secretário — Dr. Ernesto Sprogis, auxiliar — Frederico Puke; Tesou-
reiro — Gustavo Peterlevitz, auxiliar — Roberto Rozenberg e mais 7
diáconos: Zanis Eksteins, Carlos Burse, Roberto Bembers — pregadores

(83) Minka, Oswaldo, loc. cit.


(84) Kraul, Carlos. loc. cif.
(85) A. B., "Jauna lugsanas nama atversana Nova Odesá" (Inauguração do Novo Templo
em Nova Odessa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 9, setembro de 1933, pp. 142 e
143.
(86) Minka, Oswaldo, Op. cit., p. 14.

402
auxiliares, Teodoro Janjons, Martinho Arajs, Janis Preiss e Hansis
Strautmann. (87) Fig. 189
Dias depois, estando reunida em Campinas a Convenção Batista Pau-
listana, a novel igreja ingressou na família batista brasileira, com a qual
vem cooperando lealmente desde então.
O primeiro trabalho sistemático e intensivo de estudos especiais foi
realizado no mês de fevereiro de 1936 pelo Pastor Dr. Reynaldo Purim,
pastor da Igreja Batista de Bangu, Guanabara, e que depois veio a ser
Professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Como re-
sultado, foram realizados 25 batismos e o obreiro citado foi eleito, por
unanimidade, pastor da igreja; entretanto, não lhe foi possível aceitar
o pastorado, dadas as suas múltiplas atividades no Rio de Janeiro. (88)
O primeiro pastor efetivo da igreja foi o Pastor Alberto Eichmann,
de Varpa, que a pastoreou durante 10 anos (1938-1948), ajudado pelos
evangelistas Emílio Veidemann, também integrante dos imigrantes de
Varpa, e Roque Monteiro de Andrade ( 89 ) — na época estudante do
Seminário Presbiteriano de Campinas e hoje professor do Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil — aos quais coube a principal respon-
sabilidade do evangelismo externo. Foi um pastorado de lançamento de
bases, abertura de visões, amalgamento da massa heterogênea da con-
fraria e também de grande expansão missionária. (90)
Sucederam-lhe os seguintes pastores: Artur Stefenberg (1949-1955),
imigrado após a II Guerra Mundial; Carlos Stroberg (1955-1961), oriun-
do de Varpa; Verner Kriger (1961-1968), filho de Varpa; e André Ce-
ruks (1968- ), também imigrado depois do último conflito mundial.
Na marcha do progresso ascendente da igreja, coube a cada um tarefas
e realizações marcantes. (91) Figs. 190 e 191
A grande ênfase da igreja foi a evangelização e a participação na
obra missionária tanto da Associação das Igrejas Batistas Letas do
Brasil como da Convenção Batista Brasileira. Particularmente notável
foi a sua ação na evangelização local e arredores. Desde o princípio o
trabalho individual e os cultos de evangelização domiciliar, complemen-
tados pela Escola Bíblica Dominical, constituíram a base da ação mis-
sionária da igreja. (92)
Na cidade de Americana, onde os irmãos de Nova Odessa já haviam
iniciado uma Escola Bíblica Dominical em 1930, a igreja comprou uma
propriedade, construiu um templo e, em 8 de outubro de 1939, organizou
a 1 Igreja Batista de Americana com 38 membros. (93)

(87) Minka. Oswaldo, Op. cit.. p. 5; também Ceruks. André, Pesquisa em arquivos da II
Igreja Batista de Nova Odessa, enviada ao autor em 14 de dezembro de 1968, que se encon-
tra nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro, GB.
(88) Id. ibid., loc. cit.
(89) Id. ibid., pp. 6 e 7.
(90) Id. ibid.,, loc. cit.
(91) Minka, Oswaldo, "Otra Nova Odesas Latviesu Baptistu Draudze 25 Gados" (Segunda
Igreja Batista Leta de Nova Odessa em 25 anos), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 8,
agosto de 1961, pp. 5 a 10; também Ceruks, André, Op. cit.
(92) Minka, Oswaldo, Op. cit., p. 6.
(93) Ceruks, André, loc. cit.

403
Na cidade de Pirassununga, onde moravam alguns batistas letos de
Nova Odessa, foi organizada uma congregação, adquirida e ligeiramente
remodelada uma capela católica para servir de templo para a Igreja Ba-
tista de Pirassununga, que foi fundada em 20 de junho de 1943 com 24
membros, todos demissoriados da II Igreja Batista Leta de Nova Odes-
sa. (94 )
Na cidade de Sumaré (antiga Rebouças), onde desde 1931 funcio-
nava uma Escola Bíblica Dominical, que se desenvolveu numa congrega-
ção, a igreja em foco comprou um terreno, construiu um templo e orga-
nizou a Igreja Batista de Sumaré, em 4 de setembro de 1949, com 33
membros. (95)
Em 31 de dezembro de 1950 foi organizada a III Igreja Batista de
Nova Odessa, com 31 membros, quase na sua totalidade brasileiros, de-
missoriados da II Igreja Batista de Nova Odessa, cujo pastor de então,
recém-chegado como refugiado da II Guerra Mundial e, por conseguinte,
desconhecedor do nosso idioma, não podia dispensar os necessários cui-
dados a esses irmãos. (96 )
Em 1948, a II Igreja Batista de Nova Odessa passou a cuidar do tra-
balho batista na cidade de Araras, iniciado um ano antes pelo Dr. Paulo
C. Porter com as famílias dos irmãos Miguel Lacis e Alexandre Osis, le-
tos de Nova Odessa, mas imigrados com o movimento de 1922/23. A
congregação, crescendo e já contando com a cooperação de obreiros como
J. Guizelini e João Augstroze, passou a reunir-se no templo da igreja
presbiteriana, que havia encerrado temporariamente as suas atividades
ali. Em 1953, a igreja comprou, nessa cidade, um terreno, mais tarde
construiu um templo e, em 7 de setembro de 1964, organizou a Igreja
Batista de Araras, com 45 membros. (97 )
Nas cidades de Carioba e Pederneiras também foram estabelecidas
congregações pela II Igreja Batista de Nova Odessa, sendo que na últi-
ma, onde moravam diversas famílias batistas letal de Nova Odessa e
algumas procedentes de Varpa via Nova Odessa, mais tarde veio a se
organizar a Igreja Batista de Pederneiras, sob os auspícios da 1 Igreja
Batista de Bauru.
Dentre outras importantes realizações da igreja — como aquisição
da casa pastoral em 1938, remodelação do templo em 1952 e construção
de um edifício para educação religiosa em 1958 — destacamos três:
1) A atuação da Sociedade Feminina, organizada em 1939, que tem
realizado um inestimável serviço de beneficência local junto aos nossos
orfanatos e nos campos missionários. Papel saliente pertence, nesse
campo, às presidentes: Lilija Eichmann, que durante os 10 primeiros
anos geriu os destinos da organização, Olga Strauss, Griselda Stroberg e
nos últimos anos, Marta Deglav, cuja ação tem sido excepcionalmente
apreciada;

(94) Id. ibid., loc. cit.


(95) Id. ibid., loc. cit.
(96).1d. ibid., loc. cit.; também Minka, Oswaldo, Op. cit., p. 19.
(97) Id. ibid., loc. cit.; também Minka, Oswaldo, Op. cit., p. 19.

404
2) O trabalho da União de Adolescentes, fundada em 1959, à cuja
frente esteve como líder, por vários anos, além de outros obreiros, D.
Afina Bediks, tendo conseguido um rendimento incomum na formação e
treinamento dos adolescentes em termos de número de jovens que pas-
saram pela organização e que hoje são colunas do trabalho na sua
igreja e em outras;
3) Desenvolvimento da música sacra na igreja, como resultado do
estímulo que ofereceram diversos cursos especiais de música para a mo-
cidade, ministrados especialmente pelo maestro Gunars Tiss, professor
de renome e pastor. Muitos jovens da igreja fizeram seus estudos em
conservatórios de Campinas, resultando isto em enriquecimento da igre-
ja com cantores, pianistas, compositores e regentes, que mobilizam a
mocidade e formam conjuntos e coros que participam das diferentes ati-
vidades do povo de Deus, para a glória do Senhor. ( 98 ) Fig. 192
Quanto ao número de membros, durante vários anos a igreja tem
se mantido em torno de 320, subindo, em 1972, para 345, sendo no mo-
mento a maior igreja batista leta no Brasil, seguida pelas de São Paulo
e Central de Varpa, com 261 e 231 membros, respectivamente. ( 99 )

2.9 — Segunda Igreja Batista de Varpa — Estado de São Paulo (1941)

Em fins de 1941, eclodiu uma crise na Igreja Batista Central de


Varpa em torno de questões de administração e de orientação pastoral,
particularmente acerca do setor brasileiro que aparentemente estava ab-
sorvendo todo o tempo e interesse do obreiro. Agravando-se a situação,
aproximadamente 50 irmãos, inclusive o pastor — que na oportunidade
era o Pastor Carlos Kraul — preferiram afastar-se, organizando outra
igreja em Varpa. Assim, em 14 de dezembro de 1941 foi constituída a
II Igreja Batista de Varpa, a vigésima segunda igreja batista leta no
Brasil.
Esses irmãos adquiriram um terreno e construíram um templo de
madeira e casa pastoral. A Escola Bíblica Dominical e os cultos eram
realizados em duas línguas — leto e português — e o Pastor Carlos
Kraul desenvolveu um amplo trabalho entre os brasileiros da redondeza.
Diversos sítios e fazendas tiveram sua Escola Bíblica Dominical, ou
mesmo congregação, sendo os novos convertidos arrolados na II Igreja
Batista de Varpa. Alguns irmãos da Igreja Batista de Pitangueiras tam-
bém passaram a cooperar com essa igreja. Ao celebrar o seu décimo
aniversário, a igreja contava com 127 membros, dos quais 46 eram bra-
sileiros. (100)

(98) Cf. Minka, Oswaldo, Op. cit., pp. 10 a 15; Tiss, Gunars, Respostas ao questionário de
pesquisa, dadas em 13 de agosto de 1968, que se acham nos arquivos do Museu Batista do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil; também diversos noticiários no periódico
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão).
(99) "Divdesmit Tresais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas Kongress" (Vi-
gésimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), ri. 9, p. 18 e 4' capa, e ri° 10. D. 18.
(100) Lustins, Vilis, "Varpas II draudzes gada svetki" (O Aniversário da II Igreja de
Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 1, janeiro de 1952, pp. 17 e 18.

405
As relações de fraternidade com a Igreja Batista Central de Varpa
normalizaram-se pouco depois e a cisão ocorrida foi de todo esquecida.
A II Igreja Batista de Varpa logo filiou-se à Convenção Batista Paulis-
tana e posteriormente à Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil,
cooperando com lealdade e interesse em todos os aspectos. Desenvolve-
ram-se as organizações internas, como a Escola Bíblica Dominical, Coro,
União de Mocidade e Sociedade Feminina. Merece registro um grupo de
leigos, as colunas da igreja em diversos setores, principalmente no da
pregação, superintendência da Escola Bíblica Dominical, Coro, União de
Mocidade e Sociedade Feminina. Seus nomes são: Evaldo Bokums, Fre-
derico Grinberg, ( 101 ) Frederico Bumbiers, João Karsons, Hermano Skuya,
Lídia Lustin e Valija Lustin.
Em 25 de setembro de 1955 a II Igreja Batista de Varpa, atendendo
ao pedido de seus membros brasileiros, organizou a Igreja Batista Brasi-
leira de Varpa. Considerando que tal passo possuía uma significação es-
pecial para a colônia, a solenidade de organização foi realizada no templo
da Igreja Batista Central, com um programa amplo, em que tomaram
parte as três igrejas letas de Varpa. Além destas, estavam representadas
as seguintes igrejas: Igreja Batista Russa de Varpa, Igreja Batista de
Herculândia, I Igreja Batista de Tupã, Igreja Batista Central de Tupã,
Igreja Batista de Bandeiras e Igreja Batista de Quatá. A novel igreja
foi organizada com 37 membros, dentre os quais havia alguns letos que
se dispunham a cooperar com os irmãos brasileiros. Para os três primei-
ros cargos da Diretoria, logo foram eleitos irmãos letos: Pastor — Carlos
Kraul; Secretária — Lídia Lustin; e Tesoureiro — Emílio Trejans. (102)
No ano seguinte já a igreja contava com 55 membros.
Desejando dedicar-se inteiramente ao trabalho entre os brasileiros,
o pastor Carlos Kraul exonerou-se do pastorado da II Igreja Batista de
Varpa. Para substituí-lo, foi eleito o Pastor João Simis, um dos refugia-
dos da II Guerra Mundial, que, em 15 de fevereiro de 1959, por sua vez,
passou o pastorado às mãos do Pastor Alberto Eichmann. (103)
Dado o reduzido número de membros, a igreja em foco manifestou o
desejo de voltar ao seio da igreja de onde havia saído. Feitos os entendi-
mentos, em 1960, depois de 19 anos de existência e de trabalho abençoado
a que se propôs, qual seja o de evangelizar o povo brasileiro, a II Igreja
Batista de Varpa encerrou as suas atividades, voltando seus 45 membros,
com o patrimônio adquirido, ao seio da Igreja Batista Central de Var-
pa. (104)

(101) Progenitor dos irmãos Teófilo Grinberg, João Grinberg e Arvido Grinberg, cirurgiões-
-dentistas e professores conhecidos no meio evangélico do Rio de Janeiro, São Paulo e Ri-
beirão Preto.
(102) Vanaga, Carolina, "Varpas Braziliesu Draudzes Dibinasana" (Fundação da Igreja
Batista Brasileira de Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 11, novembro de 1955,
P. 9.
(103) "Draudzu Dzive" (Vida das Igrejas), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 3,
março de 1959, 2' capa.
(104) "Paskaidrojums par Varpas draudzu apvienosanos" (Explicação sobre a união das
Igrejas de Varpa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 7, julho de 1962, p. 12.

406
2.10 — Igreja Batista de Renascença — Estado do Paraná (1951)
A Igreja Batista de Renascença (ex-Vargem Bonita) foi organizada
em 27 de maio de 1951, com 12 membros, todos letos, procedentes de Uru-
bici, em Santa Catarina, tendo à frente o Pastor Mikelis Zegelnieks, re-
fugiado da II Guerra Mundial. (106 ) Foi a vigésima terceira igreja batis-
ta leta fundada no Brasil. Poucos anos antes esses irmãos haviam se
fixado ali em busca de melhores condições de vida material estabelecendo
logo a congregação batista leta sob a direção do leigo Teodoro Bumbiers.
Despertada para as grandes necessidades e oportunidades de evangeli-
zação em seu redor, a congregação se organizou em igreja, mesmo que
o pastor recém-chegado da Europa, Mikelis Zegelnieks, ainda não tives-
se condições de pregar em português. O zelo dos leigos, entretanto, su-
pria a falta do pastor na ação evangelística. O trabalho prosperou, e
foram abertos alguns pontos de pregação na redondeza e uma congre-
gação na cidade de Pato Branco, a 60 km de Renascença. Sobrevindo,
porém a enfermidade, conseqüente dos sofrimentos por que passou na
última guerra, o pastor Mikelis Zegelnieks ficou incapacitado para o
trabalho, vindo a falecer em 1968. De alguns anos a esta parte, Eleonoro
Klawa — irmão dos já referidos pastores João Klawa e Eduardo Klawa
— vem se dedicando ao trabalho de evangelização no campo da igreja, o
que tem proporcionado boas perspectivas para o futuro. Em janeiro de
1972, foi inaugurado um belo templo de madeira com capacidade para
cerca de 200 pessoas, solenidade a que esteve presente o Dr. Silvino Ber-
tolini, Prefeito Municipal. (106 ) Fig. 193
Ultimamente todos os trabalhos da igreja são realizados somente em
português. Embora já não seja mais considerada como uma igreja leta,
as grandes responsabilidades financeiras e de liderança continuam pe-
sando sobre os ombros dos irmãos letos. Recentemente, um missionário
da Sociedade Missionária Batista de Londres, Frank Vaughan, fixou re-
sidência na cidade de Francisco Beltrão, assumindo também o pastorado
da Igreja Batista de Renascença, fundada por batistas letos. (107)
3. Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil
3.1 — Primeiras iniciativas
A idéia de unir as forças batistas letas do Brasil vem desde 1902,
quando na Igreja Batista Leta de Jacu-Açu, Santa Catarina, foi fundada
a Associação das Igrejas Batistas Letas da Região de Joinvile e Blume-
nau. Dadas as enormes distâncias que separavam as igrejas dessa região
das demais que se encontravam no extremo sul do país, a adesão destas
ao novo organismo cooperativo não se efetivou de pronto. Devido a uma

(105) Bumbiers, Teodoro, "No Paranas dienvidiem" (Do Sul do Paraná), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), 119 1, janeiro de 1951, p. 10; também Butler, Guilherme, "Latviesi Pa-
ranas dienvidos" (Letos no Sul do Paraná), ibid., n' 1, janeiro de 1952, p. 19.
(106) Klawa, Eleonoro, "Renasensas draudzes jaunais lugsanas nams" (O Novo Templo
da Igreja de Renascença), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 4, abril de 1972, pp. 16
e 17.
(107) Id. ibid., Op. cit., p. 16.

407
epidemia de febre amarela que grassou no ano seguinte, também as igre-
jas da própria região atrás referida não tiveram condições de se repre-
sentarem na época prevista. E, por fim, o subseqüente êxodo dos batistas
letos dessa região para as novas colônias do Estado de São Paulo, foi a
principal razão da falta de êxito da recém-formada Associação. (los)
Um novo empenho de unir essas forças, começou pela mocidade, em
1928, quando da organização da União da Juventude Batista Leta do
Brasil, cuja existência também foi breve. (109 ) Alimentava-se mais da
correspondência através do periódico Jaunais Lihdumneeks (O Jovem
Desbravador) e dos encontros e estudos da Diretoria do que de contatos
da própria mocidade em assembléias, e isto pela razão das grandes dis-
tâncias que separavam as Uniões e a escassez de recursos naqueles dias
de pioneirismo. Contudo, a publicação do citado periódico manteve o
vínculo por alguns anos, inspirando e instruindo os jovens, bem como
algumas viagens de obreiros com fins de aproximação da juventude das
igrejas batistas letas do Brasil.
Mais adiante, como que motivada pela expansão da obra missionária,
em 25 de julho de 1935 foi organizada a União Missionária Batista Leta
do Brasil, ( 110 ) entidade esta cujo trabalho foi interrompido em 1942,
devido as restrições às atividades de estrangeiros em tempo de guerra.
(111)

3.2 — Situação das igrejas depois da II Guerra Mundial


Durante o período da II Guerra Mundial os batistas letos do Brasil
não tiveram condições de se reunir em assembléias ou congressos. En-
tretanto, os obreiros das diversas igrejas letas do Estado de São Paulo
mantinham contatos através de encontros em que eram estudadas ques-
tões pertinentes ao trabalho dessas igrejas. Na época, tais igrejas eram
sete: Central de Varpa, II de Varpa, Pitangueiras, Palma, I de Nova
Odessa, II de Nova Odessa e Leta de São Paulo. Embora as outras igre-
jas fossem também convidadas a participar, tal não acontecia geralmente
devido à distância ou falta de obreiros. (112)
Terminada a guerra, as observações dos obreiros revelaram a se-
guinte situação reinante nas igrejas letas: 1) o nível espiritual não era
satisfatório; 2) os obreiros de modo algum poderiam suprimir, nas igre-
jas, o uso da língua leta sem prejudicar a grande maioria de seus mem-
bros; 3) o afluxo de batistas letos refugiados da II Guerra Mundial —
e entre eles diversos obreiros — reforçava ainda mais a necessidade de se
conservar nas igrejas as características culturais letas; 4) a urgência de
unir as forças para levantar recursos para os crentes letos que na Letônia

(108) Ver Capítulo VI, tópico "Aspectos Cooperativos das Igrejas Batistas Letas do Brasil".
(109) Ver Capitulo VIII, tópico "Campos Étnicos de Atividades Missionárias".
(110) Idem, idem, tópico "União Missionária Batista Leta do Brasil".
(111) Lukass, João, citado em "Trispatsmitais Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvie-
nibas Kongress" (Décimo Terceiro Congresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do
Brasil), n' 8, agosto de 1962, p. 14.
(112) Latviesu Baptistu Konference Brasilijã, 1950 g. 26 un 27 junijã, Palma' (Conferência
Batista Leta, 26 a 27 de junho de 1950, Palma), Suplemento do Amigo Cristão, p. 7; também
Ceruks, André, Carta ao autor, firmada em 14 de dezembro de 1968, em Nova Odessa.

408
e em outras partes da Europa — como deslocados ou refugiados — esta-
vam padecendo necessidades; 5) a conveniência de se manter relações
com os batistas letos dos Estados Unidos da América do Norte; 6) a
necessidade de produzir a literatura religiosa em idioma leto, para a ge-
ração mais velha, ainda numerosa, especialmente no campo da música
(hinários para congregações e para coros) que já não era possível enco-
mendar da Letônia dado o regime ali dominante; e 7) carência de uma
reestruturação no trabalho missionário, que as limitações impostas pelo
estado de guerra haviam deixado muito restringido. (113)
Era evidente, pois, que a solução para essas questões só poderia ser
dada por uma conjugação de esforços dos próprios batistas letos do
Brasil.

3.3 — Primeira Conferência Missionária


No que diz respeito a uma obra missionária organizada, quase nada
havia àquela altura dos acontecimentos. As duas igrejas de Nova Odessa
faziam o seu trabalho de evangelização cada uma no seu campo, por sinal
com muito bons resultados. As igrejas de Varpa continuavam a manter,
embora muito restrito, o trabalho entre os brasileiros através da sua
Missão Sertaneja, cuja obra antes da guerra já havia redundado em or-
ganização de igrejas brasileiras que desenvolviam a sua própria ação
evangelizadora. A Missão Sertaneja nesse tempo limitava-se a ajudar no
sustento do obreiro de uma pequena igreja brasileira nas vizinhanças de
Varpa e a desenvolver uma de suas congregações, a manter um obreiro
na Alta Paulista e a cuidar de diversas Escolas Bíblicas Dominicais nas
redondezas da colônia.
Dois novos campos missionários, porém, estavam surgindo como ver-
dadeiras motivações para o reavivamento do espírito missionário entre
os batistas letos do Brasil depois da II Guerra Mundial: 1) Missão Ba-
tista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia — que um pequeno grupo de
irmãos de Palma haviam iniciado sem qualquer ajuda organizada na re-
taguarda, mas inteiramente confiante no cuidado de Deus, e 2) o litoral
norte-paranaense, onde já por alguns anos estava trabalhando o Pastor
João Pupols com sua esposa, D. Alida, ambos pioneiros de Varpa.
Finalmente, com a revogação das restrições do estado de guerra,
reuniram-se a 25 de março de 1950, os obreiros das igrejas letas do Esta-
do de São Paulo no templo da Igreja Batista Central de Varpa, a fim de
reorganizar as bases para a rearticulação do trabalho cooperativo entre as
igrejas batistas letas do Brasil, à luz das necessidades constatadas. A
reunião contou com os seguintes irmãos: pastores João Inkis, Arvido Ei-
chmann, Alberto Eichmann, Jacó R. Inke, Karlis Grigorowitsch, Carlos
Kraul, Girts Dobelis, João Lukass, André Klavin, André Ceruks, Artur
Stefenberg e Hugo Alnis (Os três últimos recém-chegados da Europa
como refugiados da guerra) e os leigos Arvido Leiasmeier e João Muce-
nieks.
(113) Ceruks. André. loc. cit.

409
Sentindo a necessidade de uma reunião mais ampla, em que, além
dos pastores, estivessem as igrejas representadas também através dos
lideres de suas organizações internas, aqueles obreiros resolveram con-
vocar para os dias 26 e 27 de junho de 1950 uma Conferência Missionária,
cujo caráter deveria ser mais doutrinário, inspirativo e devocional que
deliberativo, com vistas ao que chamaram "missões internas". Isto é,
antes de se empreender qualquer trabalho missionário externo, era mister
rever a situação interna das igrejas à luz dos fundamentos bíblicos, con-
fissão e humilhação perante Deus pela oração, buscando o poder do Alto
e unidade em amor. A conferência se realizou na data marcada na Igreja
Batista de Palma, deixando satisfeitos os seus participantes.
Impressionante e decisivo foi o impacto produzido pela tese apresen-
tada à Conferência pelo Pastor Hugo Alnis sobre "Problemas da Moci-
dade Batista Leta do Brasil". Após uma análise meticulosa do assunto
sob as perspectivas social, psicológica e pedagógica, o referido pastor
procedeu ao exame da questão do ponto de vista da responsabilidade
missionária. Eis alguns trechos da tese:
Com todos os recursos possíveis, necessitamos encaminhar
a nossa mocidade na obra missionária junto aos brasileiros. Sei
de experiência própria, dos dias da minha mocidade na igreja
de Jelgava, que os momentos mais belos da minha vida foram
aqueles quando, como jovem, com os demais moços, participei
dos grupos que saíam em visita às missões, cantando, decla-
mando, testemunhando e vendo almas sedentas aceitando a
Cristo. Se em minha vida faltasse esse período, sentir-me-ia
como um homem que não conheceu a mocidade e a sua bele-
za... Entendo que um grande vazio existe no coração e na
vida da juventude que não conhece as alegrias e as bênçãos
do trabalho de evangelização. Tal juventude é comparada a
homem precocemente envelhecido, tronco de árvore oco, flor
sem perfume, pássaro sem canto... Quão grandes são as pos-
sibilidades e as oportunidades de a nossa mocidade realizar
um trabalho de evangelização junto aos brasileiros! Mas tam-
bém vemos quão poucos são os jovens que tomam parte nesse
trabalho! Nossa tarefa comum é encontrar caminhos e meios
como orientar a mocidade nessa tarefa. Nos primórdios da
Colônia Varpa, dizem que houve pastores que, saindo para o
trabalho missionário entre os brasileiros, levavam consigo jo-
vens para cantar, declamar e testemunhar. Agora, em Varpa,
conhecemos um único pastor que continua fazendo esse tra-
balho com os jovens de sua igreja... As igrejas cujo pastor
não tem condições de fazer esse trabalho junto aos brasileiros,
devem, com muita oração, escolher um instrutor de missões
— um para cada igreja ou para cada duas ou três igrejas me-
nores — que seja um irmão capacitado, com conhecimento su-
ficiente da língua portuguesa e possuidor do dom da evangeli-
zação, o qual então poderia aplicar-se com todo o esforço no
encaminhamento da mocidade no trabalho missionário. É ta-

410
refa urgente e inadiável educar e orientar a nossa mocidade
toda no trabalho da evangelização, de modo que não haja um
só jovem nas nossas Uniões que não seja capaz de dar o tes-
temunho de sua salvação. Portanto, a nossa primeira tarefa
é fazermos de todos os nossos jovens evangelistas leigos...
Em segundo lugar, com espírito de oração devemos pre-
parar e enviar jovens do nosso meio como obreiros que dedi-
quem o seu tempo integralmente ao trabalho missionário. Pre-
sentemente, há 40 pregadores letos que, em igrejas letas e bra-
sileiras, se dedicam à evangelização. Isto representa apenas
2% dos 2.000 batistas letos existentes no Brasil. Já fiz men-
ção do fato de que dos 40 obreiros apenas 3 ou 4 têm menos
de 35 anos de idade, o que prova que a mocidade propriamente
dita ainda muito pouco se dispõe a colocar-se nas fileiras dos
obreiros de dedicação integral. Os veteranos estão encanecendo
e tornam-se cansados. Quem vai substituí-los? Õ mocidade
querida, inflamemo-nos a nós e inflamemos também os outros
em favor da grande obra do reino de Deus na terra! Há di-
versas circunstâncias que nos constrangem a nos consagrar-
mos inteiramente ao trabalho do Senhor:
1. O Amor de Cristo nos constrange. Jovem, acaso não
ouves essa voz de amor?... O amor de Cristo está te desper-
tando e te chamando para trabalhar na Sua seara.
2. Os campos maduros constrangem... Olha para os
campos brancos, ouve o clamor das almas no teu coração e
responde: "Eis-me aqui, envia-me a mim..."
3. O sol se encaminha para o ocaso. "A noite vem, quan-
do ninguém pode trabalhar".
4. Deus nos tirou da "escravidão do Egito" no sentido es-
piritual e também material. Temos meditado por que razão
fomos salvos de todos os horrores e agora estamos vivendo em
condições de liberdade e paz? Qual é o nosso sacrifício de
gratidão que trazemos ao Senhor? E mesmo que sacrificásse-
mos 100% da nossa vida, tanto quantitativa como qualitativa-
mente, ainda seríamos servos indignos!
Admitamos o seguinte: A terceira guerra mundial está em
plenas chamas. O dragão da guerra mastiga calmamente mi-
lhões de vidas e quantidades imensas de valores materiais e
culturais. 70 — 100% da mocidade estão a seu serviço, sem
contar as vidas já sacrificadas. Rios de sangue correm em to-
das as direções dos sacrifícios que sob o império da força são
oferecidos ao demônio da guerra. impossível conceber tudo
isto. Mas nós o experimentamos na II Guerra Mundial. Quando
formos forçados, então serviremos a Satanás com tudo que pos-
suímos, inclusive derramando nosso sangue no seu altar; mas
agora, estando livres, pelo amor e gratidão ao nosso querido
Salvador Jesus Cristo por sua eterna salvação, temos dificul-
dades de sacrificar a décima parte dos nossos proventos. — É

411
assim que nós amamos a Cristo? Assim podemos nos cha-
mar seus cooperadores, seus irmãos? É assim que nos torna-
mos dignos da maravilhosa salvação espiritual e material que
Ele nos dispensou trazendo-nos para este país. (114)
No mesmo conclave cogitou-se da necessidade de uma organização
mais consistente e permanente, que coordenasse os esforços cooperativos
das igrejas e os canalizasse para as suas expressões práticas, surgindo,
então, a idéia da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Entre-
tanto, nenhuma deliberação foi tomada neste sentido. Elegeu-se, porém,
uma Comissão de Missões, com poderes para estudar como e onde as igre-
jas batistas letas poderiam realizar um trabalho missionário, quando e
onde realizar a próxima conferência, e preparar a agenda e o programa
da mesma. (115)
3.4 — Segunda Conferência Missionária
A Segunda Conferência Missionária realizou-se com a I Igreja Ba-
tista de Nova Odessa nos dias 13 a 15 de agosto de 1951, com mensagei-
ros enviados pelas sete igrejas batistas letas do Estado de São Paulo, já
mencionadas, tendo caráter mais deliberativo. Representando a Conven-
ção Batista Paulistana, esteve presente o Dr. Paulo C. Porter, Secretário-
-Correspondente do Campo, o qual expressou o reconhecimento dos ba-
tistas brasileiros pela contribuição dos batistas letos na evangelização da
pátria brasileira e no campo da música sacra. Compareceu também um
representante dos batistas letos dos Estados Unidos da América do Nor-
te, Pastor Adolfs Klaupiks, então redator do periódico Kristiga Balss (A
Voz Cristã) e Coordenador do Serviço de Assistência aos Refugiados de
Guerra da Aliança Batista Mundial. A sua presença nesse conclave teve
grande significação no que concerne ao estabelecimento de relações com
os batistas letos da América do Norte. A primeira visita de intercâmbio
de obreiros letos do Brasil com os das terras norte-americanas havia
ocorrido no ano anterior com a viagem de João Sprogis e esposa, sendo
pois, a do Pastor Adolfs Klaupiks uma retribuição àquela. Daí por dian-
te, esse intercâmbio, quase que anual, vem resultando em uma coopera-
ção estreita e proveitosa para ambos os grupos batistas em diversos as-
pectos. Entre estes, destaca-se a realização da obra missionária no Bra-
sil e na Bolívia pelos batistas letos do Brasil com a cooperação dos batis-
tas letos da América do Norte, expressa em recursos materiais. (116)
3.5 — Organização da Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil
Sentindo-se o desafio missionário nos dois campos — do litoral nor-
te-paranaense no Brasil e da selva de Rincón dei Tigre na Bolívia — e ao

(114) Alnis, Hugo, "Brazilijas latviesu baptistu jaunatnes problemas (Os problemas da Mo-
cidade Batista Leta do Brasil), Latviesu baptistu konterence Brazilija 1950 g. 26 a 27 junijã,
Palmã (Conferência Batista Leta no Brasil, 26 a 27 de junho de 1950, Palma), Suplemento
de Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), pp. 35 e 36.
(115) Ceruks, André, loc. cit.
(116) 'Brazilijas S. Paulo Stata Latviesu Baptistu Draudzu Misiones Konference" (A Con-
ferência das Igrejas Batistas Letas do Estado de São Paulo, Brasil), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), n° 10, outubro de 1951, pp. 15 e 16.

412
mesmo tempo a inconsistência de uma estrutura como a de uma confe•
rência para a realização prática de tal obra, a segunda Conferência Mis-
sionária Batista Leta aprovou uma proposta do Pastor Karlis Grigoro-
witsch no sentido de que fosse organizada a Associação das Igrejas Ba-
tistas Letas do Brasil por ocasião da Conferência Missionária do ano
seguinte, sendo antes elaborado e divulgado entre as igrejas o respectivo
Estatuto. Foram levantadas diversas indagações se tal passo não criaria
separação entre os batistas letos do Brasil e a Convenção Batista Brasi-
leira, às quais foram dadas respostas esclarecedoras e tranqüilizadoras,
citando-se diversos exemplos. (117 )
A Conferência Missionária seguinte foi convocada para os dias 25 a
27 de junho de 1952, em Palma, mas transformou-se em Primeiro Con-
gresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil, visto que foi
reafirmada a resolução da conferência anterior pelos 53 mensageiros das
7 igrejas representadas e aprovado o Estatuto da Associação, elaborado
pela respectiva comissão. O primeiro presidente da nova organização foi
o Pastor André Ceruks. Foi ratificada a escolha do evangelista itineran-
te, Pastor João Lukass, feita pela Comissão Missionária da conferência
do ano anterior, tendo o mesmo já realizado uma viagem pelo campo mis-
sionário
sionário do Pastor João Pupols no litoral paranaense. k ) Elegeu-se
também um Conselheiro para o trabalho da Mocidade, Pastor Hugo Alnis,
a quem foi atribuída a tarefa de constituir uma Comissão de Mocidade
que coordenasse as atividades cooperativas da juventude batista leta das
igrejas da Associação. No congresso tomou parte ativa também o Pastor
Arvido Eichmann, Diretor da Missão Batista Leta de Rincón del Tigre,
na Bolívia, dando informações sobre o trabalho da mesma e apresentan-
do estudos bíblicos e palestras inspirativas que só um coração apaixonado
pelas almas perdidas sabe oferecer. Nos dois congressos subseqüentes fo-
ram criadas também a Comissão do Trabalho de Senhoras e a Comissão
dos Coros, com os respectivos relatores, Elizabeth Rudzajs e André Jan-
sons.

3.6 — Fins, constituição, recursos, direção e ação do novo órgão coope-


rativo
Sobre esses aspectos o Estatuto da Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil reza assim:
Artigo I, § 29 — Os fins da Associação são os seguintes:
a) Desenvolvimento do trabalho batista leto pela cooperação e har-
monia de todas as forças, tendo em conta que as igrejas letas têm suas
necessidades peculiares, objetivando a realização de diversos cursos, pro-
dução de literatura e o trabalho das Escolas Bíblicas Dominicais, Uniões
de Mocidade e Coros.
b) Promover a obra missionária junto aos povos, fora dos templos
das nossas igrejas.

(117) Ibid.. p. 18.


(118) "Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas Kongress" (Congresso da Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n, 8, agos-
to de 1952, p. 8.

413
c) Realizar a obra de beneficência junto aos necessitados patrícios
como de qualquer outra nação.
Nota: A Associação se orienta pelos princípios batistas, livres, de-
mocráticos e bíblicos; não intervindo na vida interna das igrejas, nem
nas suas relações com as Convenções Batistas do país e nem do seu tra-
balho missionário particular.
Quanto à Constituição da Associação:
Artigo II, § — A Associação franqueia o ingresso em seu seio a
qualquer igreja batista leta do Brasil.
§ 29 — As igrejas-membros da Associação participam dos trabalhos
desta através de seus mensageiros, que constituem a Assembléia ou Con-
gresso.
Com referência às fontes de recursos materiais para a execução da
obra da Associação, assim diz o Estatuto:
Artigo III, § 1° — Os recursos materiais necessários, a Associação
recebe das igrejas, outras organizações religiosas ou pessoas, através de
coletas, doações ou ofertas particulares e outros meios, desde que se coa-
dunem com as tradições batistas e a Palavra de Deus.
§ 29 — A Associação conta apenas com os recursos que lhe são entre-
gues, e em hipótese alguma contrai dívidas.
Sob a direção da Associação, reza o Estatuto:
Artigo IV, § 1° — A direção da Associação ou Conselho-Diretor
(Junta Executiva, O.R.) compõe-se de 12 membros, eleitos anualmente
pelo Congresso, fazendo parte do mesmo a Diretoria do Congresso.
§ 39 — As atribuições do Conselho Diretor são: interessar as igrejas
na evangelização interna e externa e na obra de beneficência; cuidar do
levantamento de recursos e sua aplicação; admitir e demitir obreiros;
convocar os Congressos da Associação, prestar relatórios financeiros e
suas atividades da Associação e cuidar do desenvolvimento da obra co-
operativa.
Nota: Os membros do Conselho Diretor eleitos por um ano podem ser
reconduzidos ao seu mandato.
Inicialmente a Associação se compunha de sete igrejas batistas letas,
a saber: Central de Varpa, II de Varpa, Palma, Pitangueiras, Leta de São
Paulo, I de Nova Odessa e II de Nova Odessa. A estatística apresentada
no Segundo Congresso da Associação, em junho de 1953, acusava os se-
guintes dados:
1. Igrejas arroladas na Associação
2. Número de membros nas igrejas da Associação 1.482
3. Escolas Bíblicas Dominicais 7
4. Alunos nas Escolas Bíblicas Dominicais 777
5. Coros 7
6. Coristas 213
7. Orquestras 6
414
8. Músicos nas Orquestras 134
9. Uniões de Mocidade 7
10. Unionistas 276
11. Sociedades Femininas 5
12. Sócias 162

No seu primeiro ano de atividades a Associação das Igrejas Batistas


Letas do Brasil havia recebido das respectivas igrejas a quantia de Cr$
73.719,10, tendo despendido, com o trabalho da missão leta na Bolívia,
Cr$ 7.350,00, com a obra de alguns missionários batistas letos na índia,
Cr$ 7.092,00 e com o socorro aos letos deslocados da guerra, Cr$ 2.500,00.
(119 ) Àquela altura o trabalho missionário do Pastor João Pupols no
litoral norte-paranaense ainda não figurava no orçamento da Associa-
ção, o que passou a ser feito a partir de 1955, quando esta assumiu a
responsabilidade de sustentar financeiramente como seu obreiro o Pastor
João Veidemann, que havia decidido trabalhar naquele campo.
Em 1958 filiou-se à Associação também a Igreja Batista de Urubici,
Estado de Santa Catarina, elevando para oito o número de igrejas coope-
rantes. Dois anos depois, porém, a II Igreja Batista de Varpa deixou de
existir, para fundir-se com a Igreja Central de Varpa, e, a partir de
1967, a Igreja Batista de Urubici deixou de figurar no rol das igrejas
pertencentes à Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil, ficando
reduzido a seis o número de igrejas cooperantes. Assim, em 1972, das
oito igrejas batistas letas existentes, a Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil conta com seis em seu rol, a saber: Central de Varpa,
Palma, Pitangueiras, I de Nova Odessa, II de Nova Odessa e Leta de São
Paulo — Capital, com um total de 1.072 membros. Em virtude das gran-
des distâncias e a falta de obreiros letos à sua frente, a Igreja Batista de
Urubici e a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, não fazem parte da
Associação, porém, não raro, enviam suas ofertas para ajudar a obra
missionária realizada por esta. O número total de membros nessas duas
igrejas é de, aproximadamente, uma centena.
Algumas igrejas batistas brasileiras e russas dirigidas por pastores
letos, e diversos batistas letos integrados em igrejas nacionais, espalha-
das pelo centro e sul do país, cooperam financeiramente com a obra da
Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Menção especial mere-
ce a Igreja Batista Boas Novas, São Paulo, que até 1972 vinha sendo di-
rigida pelo Pastor Carlos Grigorowitsch e que nos últimos dez anos vem
participando do trabalho missionário da Associação, corno se dela fizesse
parte integrante, inclusive assumindo a responsabilidade de sustentar in-
tegralmente alguns obreiros nos campos missionários. Atitude semelhan-
te, em diversas oportunidades, tiveram também outras igrejas.
Os pastores que por mais tempo ocuparam a presidência da Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil nesses 20 anos de sua exis-

(119) Cf. "Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvienibas Kongress" (Congresso da Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 8, agosto
de 1953, pp. 11 a 15.

415
tência foram André Ceruks e André Arajs, sendo que nos últimos quatro
anos a entidade vem sendo presidida pelo Pastor Gunars Tiss. Os três
obreiros vieram às terras brasileiras como refugiados da II Guerra Mun-
dial.
Além das contribuições de igrejas, instituições e indivíduos no Bra-
sil, a Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil tem recebido uma
crescente cooperação da Associação das Igrejas Batistas Letas da Amé-
rica do Norte, que considera privilégio seu participar da obra missio-
nária em nossa terra e na Bolívia. Em termos de recursos financeiros,
nos primeiros 15 anos essa participação, em números redondos, foi a
seguinte: em 1954 — 800 dólares anuais; em 1969 — 8.000 dólares
anuais. (12°) Trata-se de uma Associação de apenas 7 igrejas, com um
total de, aproximadamente, 500 membros. Além do auxílio em dinheiro,
aqueles irmãos têm ajudado também em espécie, enviando à Missão em
Rincón del Tigre um trator com todos os implementos agrícolas, uma
lavadeira elétrica de grande capacidade e outras utilidades. Diversos pas-
tores e leigos batistas letos da América do Norte têm visitado as igrejas
batistas letas do Brasil e os campos missionários da Associação, entre
os quais destacamos o já referido Pastor Adolfo Klaupiks, Pastor Fre-
derico Chukurs, presidente da Associação das Igrejas Batistas Letas dos
Estados Unidos da América do Norte, Pastor Pauis Odins, tesoureiro da
mesma Associação, Pastor Rudolfs Eksteins, redator do mensário da
Associação, Kristiga Balss (A Voz Cristã), Dr. J. Plostnieks, Pastor
Janis Zeltins, Pastor Rudolfs Ukstins e Carlos Augstroze, filho do Pas-
tor João Augstroze, muito conhecido no Brasil. Menção à parte deve ser
feita ao Pastor Carlos Gruber, que coopera com a Convenção Batista do
Sul dos Estados Unidos, tendo deixado o Brasil em 1937 para estudar no
Seminário Batista de Fort Worth, Texas. Terminando o curso, ficou nos
Estados Unidos para trabalhar pelo mundo inteiro em campanhas de
evangelização, jamais esquecendo, porém, dos campos missionários letos
do Brasil, nos quais participa com seus bens materiais e para onde ca-
naliza as ofertas de amigos que por seu intermédio passam a conhecer
a obra, e freqüentemente visita os Congressos dos batistas letos do
Brasil.
Uma avaliação razoável do movimento financeiro, em termos de
volume e de variedade de fontes, pode ser feita ao longo de um exame
dos relatórios anuais da Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil.
O mais recente desses relatórios revela-nos a apreciável soma de Cr$
107.728,15 aplicada na obra missionária no Brasil e na Bolívia. (121)
Ocasião auspiciosa para os irmãos letos deste país foi a da visita,
em julho de 1964, do Dr. João F. Soren, então Presidente da Aliança Ba-
tista Mundial, ao 15° Congresso Anual da Associação das Igrejas Batistas
Letas no Brasil, que se realizou na I Igreja Batista de Nova Odessa. (Fig.
194) Na oportunidade, sendo o orador oficial do conclave, referiu-se à
imigração de batistas letos no Brasil como uma grande bênção para a
sua pátria. E explicou:

(120) Ceruks. André. loc. cit.


(121) Ver Anexo XII.

416
"Vejo a imigração batista leta no Brasil não somente como
um fenômeno social e economicamente benéfico para minha
terra, mas como um fenômeno de alta significação religiosa e
teológica. Há alguns sinais, há algumas características pecu-
liares que distinguem a imigração batista leta no Brasil de
outros movimentos semelhantes. Entre estas, destaca-se a ca-
racterística teológica. Os batistas letos aqui se tornaram uma
força na obra da evangelização e missões. Um dos melhores
conhecedores da vida e da história dos batistas do Brasil de-
clarou que eles aqui constituem a terceira força no trabalho
batista. Só a eternidade poderá revelar a verdadeira significa-
ção da cooperação dos irmãos letos na evangelização deste país
e na obra missionária. Nesta oportunidade não me é possível
mencionar todos os nomes dos obreiros letos. Também não
posso vos dizer se a participação direta das igrejas batistas
letas na obra da evangelização e missões é maior que a sua
participação e influência indireta na obra batista no Brasil.
A verdade é que a cooperação e ação dos batistas letos são
encontradiças em todos os setores do trabalho batista neste
país... A vida dos batistas letos do Brasil é uma das mais
brilhantes e abençoadas epopéias de toda a história do povo
que se chama batista. Por esta razão, eu tenho a satisfação
de saudar esta Associação em nome da Junta Executiva da
Convenção Batista Brasileira, na qual tenho a honra de servir
como seu presidente. Mas lembro também que, aos batistas
letos do Brasil, não somente não tem faltado a visão que abran-
ge a evangelização e missões no Brasil, mas que em seus obje-
tivos e sua extensão esta visão é universal, abrangendo o
mundo inteiro. São poucos os agrupamentos batistas no mun-
do que têm demonstrado tanto interesse e prazer na obra da
Aliança Batista Mundial, e a tem avaliado com tanta precisão,
como é o caso dos batistas letos do Brasil. Por este motivo
também tenho grande prazer de saudar esta Associação em
nome da Aliança Batista Mundial." (122)
comum ver-se, nos congressos anuais da Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil, pastores e leigos letos que estão trabalhando
com igrejas brasileiras; sendo que vários deles têm sido convidados para
proferirem as mensagens oficiais desses conclaves. Esta vinculação tem
contribuído consideravelmente para a manutenção de um clima salutar
de fraternidade e cooperação entre batistas letos e brasileiros.
De quando em vez ouvem-se indagações quanto à justificação da
existência de uma entidade de igrejas batistas letas no panorama da obra
batista nacional da atualidade. Embora os batistas letos sempre tenham
tido interesse na promoção da obra missionária geral no Brasil junta-
mente com os batistas brasileiros — e a prova deste fato está no apoio
(127) Soren, João F., "Vispasaules Baptistu Savienibas presidenta Dr. J. F. Sorena tuna"
(A Fala do Presidente da Aliança Batista Mundial, Dr. J. F. Soren), Kristigs Draugs (O
Amigo Cristão), n° 9, setembro de 1964, pp. 1 e 2.

417
que as igrejas letas vêm dando às Convenções e Juntas brasileiras —
isto, todavia, não satisfaz plenamente aos anseios da geração mais velha
dos batistas letos no Brasil. Esses irmãos desejam contatos mais fre-
qüentes e mais chegados com os obreiros; querem conhecer bem pessoal-
mente os missionários, conversar com eles, sentir os seus problemas, ano-
tar suas necessidades e saber dos frutos do trabalho para o qual contri-
buem e das condições em que a obra está sendo realizada nos respectivos
campos. Encontros com missionários que não falam o idioma desses
irmãos, para a grande maioria deles, deixam muito a desejar, pois a in-
terpretação não substitui o meio espontâneo e natural da linguagem
direta. Este é naturalmente, o motivo principal que justifica a existên-
cia da Associação referida, e o progresso do trabalho desta o confirma:
o número de obreiros letos tem aumentado; as igrejas têm multiplicado
as suas ofertas; particulares têm doado recursos e equipamentos, que
vêm redundando em maior rendimento do esforço missionário; e a nova
geração, que, provavelmente, melhor se expressaria em português, atra-
vés do interesse missionário, de tal modo fica envolvida nas atividades
da Associação que não faz nenhuma objeção ao uso do idioma leto, nem
alimenta qualquer diferença entre as duas gerações.

418
CAPITULO X

EXPANSÃO DA OBRA MISSIONARIA DOS BATISTAS LETOS


DO BRASIL

1. Missão Evangélica Batista Leta de Rincón del Tigre,


na Bolívia
1.1 — Primórdios da História da Missão
1.2 — Acampamento de Gaíba — Estado do Mato Grosso
1.3 — Fazenda de Rincón del Tigre — Bolívia
1.3.1 — Aquisição e ocupação da fazenda
1.3.2 — Surgimento da Escola
1.3.3 — Iglesia Evangélica Bautista de Rincón del Tigre
1.3.4 — Dificuldades iniciais e a providência divina
1.3.5 — Acampamento dos índios AIORÉS
1.3.6 — Novos obreiros para a frente missionária
1.3.7 — Obreiros da retaguarda
1.3.8 — Ambulatório
1.3.9 — Templo
1.3.10 — Agricultura, pecuária e indústria da Missão
1.3.11 — Panorama atual do trabalho da Missão
1.3.12 — Reconhecimento da obra pelas autoridades oficiais
1.3.13 — Reconhecimento da Obra pela Denominação Batista na Bo-
lívia
1.3.14 -- Liderança atual da Missão
2. Missão Batista Leta no Litoral e na Região Serrana
do Estado do Paraná — Brasil
2.1 — Pastor João Pupols e o início de uma nova fase do trabalho batis-
ta no litoral norte-paranaense
2.2 — Pastor João Weidemann e a Missão Batista Leta no litoral norte-
-paranaense
2.3 — Outros obreiros letos no campo missionário do litoral norte-pa-
ranaense
2.4 — Novo campo missionário na região serrana do Rio Pardo, Estado
do Paraná

420
CAPITULO X
EXPANSÃO DA OBRA MISSIONÁRIA DOS BATISTAS LETOS
DO BRASIL

1. Missão Evangélica Batista Leta de Rincón del Tigre,


na Bolívia
1.1 — Primórdios da História da Missão
As restrições impostas aos estrangeiros no Brasil durante a II Guer-
ra Mundial atingiram também os batistas letos. Era proibido o uso de
língua estrangeira nos cultos, exceto para leituras bíblicas, cânticos e
orações. Em Varpa, por exemplo, um policial brasileiro acompanhava os
cultos. Também a editora nada podia publicar em outro idioma, senão
em português. Por essa razão, interrompeu-se a publicação do periódico
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), editado em Palma, fato de que
muito se ressentiram os batistas letos do Brasil e de outras áreas do
mundo em que esse era o único veículo de informação, educação religiosa
e edificação espiritual em língua leta. O gerente da editora de Palma
chegou a ser preso durante certa diligência em que um policial encontrou
uma página de prova antiga, julgando tratar-se de uma evidência do
funcionamento da impressora, em idioma leto, e, portanto, transgressão
da lei. Em tais condições não havia esperanças para a continuação do
trabalho da editora. (1)
Por esse tempo, Júlio Malves, antigo colonizador leto a que já nos
referimos capítulos atrás, morava no Estado de Mato Grosso, em uma
gfande área, de sua propriedade, às margens do Lago Gaíba, a 300 km
ao norte de Corumbá, na faixa limítrofe do Brasil com a Bolívia, local a
que denominou Rumo-ao-Oeste. Preocupado sempre com os problemas
dos imigrantes, escreveu ele a alguns líderes de Palma a respeito da li-
berdade que nessa época desfrutavam os estrangeiros na Bolívia, alvi-
trando a possibilidade de transferência da editora de Palma para aquele
(1) Eichmann, Arvido, "Dazas atzimes par Latviesu Baptistu izcelosanu uz Brasiliju 1922/23
gados" (Alguns apontamentos sobre a emigração de batistas letos para o Brasil nos anos de
1922/23), p. 5, narrativa firmada em 10 de maio de 1965, gue se encontra nos ,,arguivos do
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de 'Janeirb, GB.

42r
país vizinho. (2 ) O Pastor André Klavin, gerente da Corporação Evan-
gélica Palma, fez uma visita a Júlio Malves em Rumo-ao-Oeste, voltando
com a idéia de transferir a impressora para a Bolívia. (3) Figs. 195 e
196
Ademais, milhares de cidadãos das diversas repúblicas novas da Eu-
ropa, inclusive da Letônia, a essa altura do conflito mundial, já haviam
preferido abandonar o seu torrão natal e peregrinar, como refugiados
pelo mundo, a cair sob o poder arbitrário e ateu do comunismo russo.
Entre esses, havia muitos batistas letos. Suas esperanças estavam vol-
tadas para o continente americano. Em virtude das restrições impostas
aos estrangeiros residentes no Brasil e das informações recebidas de
Júlio Malves quanto à liberdade existente na Bolívia, surgiu entre alguns
batistas de Palma a hipótese de encontrar nesse país vizinho lugar para
fixar uma parte desses refugiados batistas letos e descobrir uma oportu-
nidade de levar a mensagem do evangelho ao povo boliviano. ( 4)
Com tais objetivos em vista, preparou-se uma expedição para obser-
vação e estudo da área em torno do Lago Gaíba, especialmente do lado
boliviano. A Corporação Evangélica Palma construiu uma embarcação
de tamanho regular, com propulsão a motor e vela, à qual denominaram
"Palma", que foi transportada pela Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
até Porto Esperança, no Rio Paraguai. Doze homens, procedentes de
Palma e de Varpa, navegaram rio acima, passando pelos lagos Uberaba
e Gaíba, até a fazenda de Júlio Malves, chegando depois ao território da
Bolívia, junto ao Posto Militar de Gaíba. Embora não tivessem condições
de penetrar mais no interior boliviano, colheram impressões e informa-
ções suficientes para concluir que o clima daquela região era por demais
inadequado para populações procedentes de zonas frígidas. Devido à
distância e à falta de transporte e comunicação regulares com aquela
região da Bolívia, também acharam inconveniente a transferência da
impressora de Palma. Porém, a idéia da evangelização da Bolívia arrai-
gou-se no coração de alguns dos "espias". (5) Figs. 197 e 198

1.2 — Acampamento de Gaíba — Estado do Mato Grosso


Em fevereiro de 1944, depois de muita oração e busca da vontade de
Deus, um grupo de doze irmãos batistas de Palma, composto de cinco
homens e sete mulheres, partiu para as margens do Lago Gaíba, a fim
de aguardar a oportunidade que Deus lhes desse de penetrar na Bolívia e
lá estabelecer uma Missão. Seus nomes: Ernesto Dundurs, o líder, com
sua esposa Paula e filha Ruth (depois Malves), Jacó Liger e esposa
Libe, João Cukurs e esposa Mia, João Lukenieks, Fritzis Romisch, Her-
mine Asplinte, Alvine Saurele e Emma Mizer. Pouco depois juntaram-se
a esses, Carlos Poletais e esposa e os pais de Ernesto Dundurs, estes den-
tre os sitiantes de Varpa. Exceto a jovem Ruth, todos já eram de meia

(2) Eichmann, Alida, "Rinkona Misijas isa vesture" (Breve História da Missão de Rincón),
manuscrito que se acha em nosso arquivo, p. 3, e que será traduzido e publicado à parte.
(3) Eichmann. Arvido. /oc. cit.
(4) Eichmann, Alida, Op. cit., p. 4.
(5) Id. ibid., loc. cit.
422
idade e alguns acima desta. Em Varpa as opiniões a respeito do grupo
se dividiram. (6)
Esses pioneiros fizeram o seu acampamento em terras de Júlio Mal-
ves, à margem do Lago Gaíba. Derrubaram matas, levantaram ranchos,
plantaram e colheram. Organizando-se em uma comunidade nos moldes
, da de Jerusalém, segundo Atos 2:44 — "E todos os que criam estavam
juntos, tinham tudo em comum", suportavam as deficiências com resig-
nação e fé, na qual se fortaleciam mutuamente. Aliás, tal modo de vida
não lhes era estranho, pois já o haviam provado na Corporação Evan-
gélica de Palma, de onde procediam. Estavam certos de que Deus tinha
uma tarefa para eles e a aguardavam pacientemente.
Logo após o término da guerra, Júlio Malves concebeu um plano de
fundação de diversas colônias para os refugiados na Bolívia, em locais
onde as condições pareciam bastante favoráveis. Visando especialmente
aos refugiados letos, constituiu a Comissão de Estudos para Imigração
Leta na América do Sul, constante dos seguintes letos de Rumo-ao-Oeste
e Acampamento de Gaíba: Júlio Malves, Roberto Zebers (engenheiro-to-
pógrafo e inspetor de colonização na região de Roboré, na Bolívia), Er-
nesto Dundurs, Kuno Dundurs, que mais tarde tornou-se o líder de uma
pequena colônia leta em Roboré, e Jacó Liger. (7) Contava Júlio Malves
também com quatro líderes de Varpa, mas que, aparentemente, não se
integraram na mencionada Comissão. Ernesto Dundurs foi enviado, por
Júlio Malves, a Varpa, para interessar a liderança no projeto, inclusive
sugerindo que se formasse um grupo de homens que se transferisse para
a Bolívia a fim de preparar lugar para um grande acampamento que
pudesse receber os irmãos na fé que viriam da Europa devastada. O
apelo, entretanto, não encontrou resposta positiva, pois a ninguém era
possível abandonar os labores agrícolas de que dependia o sustento de
suas famílias. (8) Fig. 199
A idéia, porém, não morreu de todo. Júlio Malves continuou bus-
cando caminhos novos para execução do seu projeto. Em junho de 1946,
entrou em contato com a General Colonization Board, em New York,
pleiteando transporte gratuito para os refugiados letos dos portos da
Europa para a Bolívia, tarefa na qual muito ajudou o Pastor Carlos
Gruber, que naquele tempo era o pastor da Igreja Batista Leta de New
York e coordenador de um grande movimento de socorro aos letos refu-
giados. A referida organização deu esperanças de que o transporte seria
dado, dependendo de informações mais detalhadas do projeto. (9) Em
virtude de outras dificuldades, surgidas depois, como as conclusões da
referida organização em considerar contra-indicados o clima e o ambien-
te cultural da região para imigrantes europeus das zonas frias, a idéia
(6) Id. ibid., loc. cit.
(7) Cf. "Tautas vertigaka speka Saglabsana" (O Salvamento das Forças Mais Preciosas
de uma Nação), Drauga Vests (A Mensagem do Amigo), New York, n° 57, 1946, pp. 16
a 21.
(8) Eichmann, Arvido, loc. cit.
(9) Bataille, Emile, C., presidente da General Colonization Board, carta firmada em 10 de
junho de 1946, em New York, que se encontra nos arquivos do Museu Batista do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

423
de fundar uma colônia para os refugiados letos foi definitivamente aban-
donada, ficando entre os irmãos do acampamento de Gaíba somente o
pensamento da fundação de uma obra missionária, que realmente foi
a sua motivação principal. (10 ) Esta também parece bem nítida, nas se-
guintes palavras de um dos componentes do grupo:
"Quando nos transferimos de Palma para Gaíba e depois
para Rincón del Tigre, pelas estradas da Letônia e da Alema-
nha, multidões de refugiados se dirigiam, quais ondas de uma
inundação, para o ocidente. Também nosso rumo era para o
ocidente, não para fugir da destruição de uma guerra, mas
para buscar os perdidos em lugares onde muitos não andam,
onde o homem ferido pelo pecado jaz à margem da estrada,
para levar-lhes a mensagem da Cruz." (11)
1.3 — Fazenda de Rincón del Tigre — Bolívia
1.3.1 — Aquisição e ocupação da fazenda — Depois de três anos
de permanência no acampamento provisório de Gaíba, esse grupo de
batistas letos recebeu, por intermédio de Júlio Malves, a notícia de que
do outro lado do lago, a 75 km para dentro da selva boliviana, estava à
venda a fazenda de criação de gado denominada "Rincón del Tigre".
Imediatamente Ernesto Dundurs e Júlio Malves, acompanhados do co-
mandante e alguns soldados do posto militar boliviano de fronteira, par-
tiram para aquela fazenda. Depois de dois dias de marcha pela picada que
havia anos os homens da famosa Coluna Prestes haviam aberto para se
asilarem no território boliviano, a expedição chegou à estância de Rin-
cón del Tigre, cujo dono, Sr. José Velasco, já de alguma idade e bastante
adoentado, estava de fato decidido a vender as benfeitorias, algum gado
e a chamada posse da fazenda com área de 8.000 alqueires, pelo preço
de Cr$ 120.000,00 (cento e vinte mil cruzeiros velhos). Diga-se, de pas-
sagem, que, segundo as leis bolivianas, as terras desse país pertencem
ao Estado e não podem ser vendidas, senão as benfeitorias e a posse
sobre determinada área requerida ao governo e devidamente documen-
tada. (12 ) Figs. 200 e 201
Diante do preço, considerado bom, e acertadas condições vantajosas
de pagamento, Ernesto Dundurs partiu para Varpa, São Paulo e Campi-
nas, no Brasil, a fim de propor aos amigos da causa abraçada pelos ir-
mãos do acampamento de Gaíba a compra da posse da fazenda. Entre
esses amigos, o Pastor João Augstroze merece destaque pela sua libera-
lidade e empenho em efetuar imediatamente a transação, indo ele mesmo,
junto com Ernesto Dundurs, a Puerto Suarez, para ali cumprir, no res-
pectivo departamento, todas as formalidades legais que o ato exigia.
Entrementes, o grupo de Gaíba levantou acampamento (novembro de
1946) e partiu para Rincón del Tigre, acompanhado do Pastor Arvido

(10) Eichmann, Arvido, loc. cit.


(11) Lukenieks, João, "Rinkoná" (Em Rincón), Kristiga Balss (A Voz Cristã), n9 6, junho
de 1955, p. 71.
(12) Ronis, Osvaldo, "Rincón del Tigre, um Milagre na Selva Boliviana", O Jornal Batista,
Ano LXIX, n9 40, p. 6.

424
Eichmann, pastor da Igreja Batista Central de Varpa, que na ocasião
havia feito uma visita a esses irmãos e que desejava ter um encontro
pessoal com o Sr. José Velasco. (13 )
Em poucos dias estava constituída a Misión Evangélica Bautista
Leta de Rincón del Tigre, que alguns anos depois acrescentava no seu
papel timbrado de correspondência: "Campamento selvícola, Escuda con
Internado y Instituto Biblico." Fig. 202
De início, a Missão já possuía algumas cabeças de gado, uns poucos
cavalos, ovelhas, uma casa de adobe de tamanho razoável e uma outra,
menor, que em algum tempo havia servido a uma pequena escola. Faziam
parte do "inventário" da fazenda duas famílias de campeiros bolivianos
e um menino índio, da tribo aioré, por nome Ramón, que havia sido cap-
turado na selva quando ainda pequeno e já falava o espanhol e depois
aprendeu também o idioma leto. (14 ) Mais tarde este veio a ser o pri-
meiro a descer às águas batismais, constituindo-se em elemento muito
útil no entendimento com os índios daquela região e na transmissão do
evangelho a estes.
1.3.2 — Surgimento da Escola — Derrubando-se as matas, para
ampliação da área agrícola, e feito o plantio de diversos cereais, raízes,
leguminosas, árvores frutíferas, etc., começaram a chegar a Rincón del
Tigre — que os irmãos letos passaram a chamar simplesmente de "Rin-
kons" e os próprios bolivianos de "Rincón" — alguns dos moradores ra-
ros e dispersos pela vasta região, em busca de serviço. Semanas depois,
estes foram buscar suas famílias, sem qualquer entendimento prévio. A
Missão recebeu isto como uma providência divina, entendendo que assim
Deus estava lhe entregando nas mãos a tarefa a ser cumprida — conquis-
tar, pelo testemunho, as almas perdidas. E a Missão logo teve que cons-
truir casas de pau-a-pique para abrigar essas famílias.
Um dia, o pai de um menino pediu à Missão que ensinasse seu filho
a ler e escrever. Em conseqüência, dentro de poucas semanas já estava
funcionando uma classe de alfabetização de crianças na varanda da casa
da Missão, sob a direção da antiga professora de Palma, Emma Mizer.
Espalhando-se a notícia de que em Rincón havia uma escola, pais de
lugares distantes — até de 100 km — chegavam, pedindo que seus filhos
fossem aceitos na escola da Missão. Foi preciso, então, construir casas
para internatos masculino e feminino e ampliar as plantações, a fim de
que houvesse provisão suficiente para toda a Missão. O povo era muito
pobre e não podia pagar nada pela pensão das crianças. No fim do se-
gundo ano de existência da Missão, já havia 50 alunos no internato, em
plena selva, constituindo, assim, estes e as suas respectivas famílias, o
primeiro campo de ação missionária. Daí por diante a escola passou a
chamar-se Escuela Particular Mixta de Rincón del Tigre, tendo sido de-
vidamente registrada e recebendo a inspeção do respectivo departamento
sediado em Roboré. Importante é destacar que em todas as aulas ia
junto uma dose do evangelho, regada, antes e depois, com lágrimas nos
corações de toda a Missão. Figs. 203 e 204

(13) Eichmann, Alida, Op. cit., p. 6.


(14) Ronis, Osvaldo, loc. cit.
425
Lançadas as bases da escola, estavam estabelecidas também as bases.
de toda a obra missionária desse grupo de batistas letos na Bolívia. (15)
1.3.3 — Iglesia Evangélica Bautista de Rincón del Tigre — Em
fevereiro de 1948, logo após o pagamento da última prestação ao Sr. José
Velasco, transferiram-se para Rincón del Tigre também o Pastor Arvido
Eichmann e sua esposa, Alida, deixando o pastorado da Igreja Batista.
Central de Varpa. Este casal, já desde o princípio da idéia de uma obra
missionária na Bolívia, havia-se colocado ao lado do grupo. A esposa
foi um reforço para a escola e o pastor tornou-se o líder e presidente da
Missão, o pastor e o evangelizador da redondeza mais distante, princi-
palmente ao longo da Estrada de Ferro Brasil — Bolívia e Rio Paraguai.
(16 ) Com eles, juntou-se ao grupo a irmã Berta Biernis. Um ano depois,
mais duas irmãs ingressaram na Missão: Jidá. Ostniek e Anna Urban. A
primeira, de Palma, e as duas últimas, de Varpa. (17)
Com a chegada do Pastor Arvido Eichmann, o grupo, que possuía
todas as características de uma igreja, considerou-se como Iglesia Evan-
gélica Bautista de Rincón del Tigre, sem um ato formal, porém de fato,
porque a Comunidade (Missão) funcionava como uma igreja — tendo o
seu presidente-pastor, diáconos, e celebrando a ceia e os batismos — e
as demais igrejas batistas encontravam-se a grandes distâncias. (18 )
Figs. 205 e 206
1.3.4 — Dificuldades iniciais e a providência divina — A região de
Rincón del Tigre, onde se instalou a Missão, não é convidativa. O clima
é quente, com mudanças bruscas, provocadas pelos ventos frios dos An-
des. As colheitas freqüentemente são perdidas por causa das secas. O
povo é bastante arredio quanto ao evangelho. Alguns anos antes, um
grupo de índios aiorés havia massacrado, naquelas imediações, cinco mis-
sionários das Missões de Novas Tribos. Mas esses aspectos negativos
não impressionavam os missionários de Rincón del Tigre. Todos cum-
priam com alegria os deveres que lhes cabiam na comunidade, gratos a
Deus pela sua direção. Para os cultos, reuniam-se no aposento do pas-
tor. Depois de algum tempo, quando já haviam aprendido o castelhano,
passaram a realizar cultos também para os bolivianos, mas estes não
demonstravam grande interesse no evangelho. Era preciso antes con-
quistar a confiança do povo pelo serviço de amor.
O problema do abastecimento era sério, principalmente depois das
grandes secas. O Centro Comercial mais acessível era a cidade brasileira
de Corumbá. Mas o caminho era longo e difícil. Primeiramente era
preciso percorrer 75 km em carro de boi, até o Lago Gaíba, prosseguindo
pelo Rio Paraguai mais 300 km, ficando os viajantes acampados à mar-
gem do rio por vezes uma semana inteira, lutando com terríveis nuvens
de mosquitos, até que surgisse uma embarcação com destino a Corumbá.
(15) Id. ibid., loc. cit.
(16) Id. ibid., loc. cit.
(17) Eichmann, Alida, Op. cit., p. 7.
(18) Kruklis, João, Carta enviada ao autor, firmada em Rincón del Tigre a 25 de outubro
de 1969; encontra-se nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

426
Para o interior da Bolívia não havia caminho algum. Só em 1949 é que
o engenheiro-topógrafo leto de Roboré, Sr. Roberto Zebers, com um
grupo de trabalhadores de Rincón del Tigre, abriu uma picada de 86 km
pela selva, sem nenhuma habitação humana, até a estação de El Carmen,
na Estrada de Ferro Brasil — Bolívia. Depois um batalhão militar alar-
gou a picada, para que a Missão tivesse acesso à via férrea e as viaturas
do exército boliviano pudessem passar em direção ao Posto Militar de
Gaíba, na fronteira com o Brasil, sem a necessidade de fazê-lo via Puerto
Suarez e Corumbá. O governo militar boliviano da época foi, na provi-
dência de Deus, de grande valia para a Missão. Os caminhões militares
de vez em quando traziam víveres adquiridos pela Missão em El Carmen.
Os soldados em trânsito eram hospedados vários dias na Missão, saindo
de lá sempre alimentados física e espiritualmente. O comandante geral
do exército boliviano de então, General Torres, diversas vezes hospedou-
-se em Rincón del Tigre, sendo que numa das ocasiões o fez acompanhado
de sua esposa. Por sua ordem, um caminhão militar transportou de El
Carmen até Rincón a caldeira de vapor doada pelo grande amigo da obra
missionária, Verner Grinberg, para movimentar a serraria e a bomba
dágua, o gerador e mais tarde outras máquinas necessárias à comunida-
de. De igual forma, a Administração da Estrada de Ferro, atrás referida,
foi muito atenciosa em servir a Missão. Foi um dos seus caminhões que
levou até Rincón del Tigre os grandes tanques de fabricação de açúcar,
ofertados pelo irmão Dr. Arvido Leiasmeier, outro amigo de missões. O
Departamento de Adauana de La Paz deu carta de recomendação para o
Administrador Distrital de Puerto Suarez para liberar a mercadoria de
uso da Missão de todas as taxas e impostos, mostrando, assim, boa von-
tade para com aquela obra. Também o Comando da 5a Divisão Militar de
Roboré deu seu voto de apoio e garantia, mediante um ofício dirigido a
Missão. (19 ) Fig. 207
Naquele tempo os simpatizantes da Missão de Rincón del Tigre fo-
ram se multiplicando, tanto no Brasil como em outros lugares. Os irmãos
letos também prepararam um bom campo de pouso para o avião de Ver-
ner Grinberg, que anualmente levava — como ainda leva — visitantes
à Missão, cujo testemunho do valor da obra tem despertado apoio e aju-
da ao trabalho que se realiza ali. (20 ) Também táxis aéreos de Corumbá
e aviões militares bolivianos têm pousado no campo de Rincón del Tigre,
freqüentemente para ajudar a Missão em algum aspecto ou para servir-se
desta para algum fim específico. Assim, por exemplo, em uma das brus-
cas mudanças de orientação política, o novo governo "exilou" para Rin-
cón um certo senador. Ao desembarcar do avião militar, o comandante
o entregou ao administrador da Missão, Ernesto Dundurs, dizendo: "Dei-
xo-o aos seus cuidados". O bom homem ali permaneceu alguns meses,
ajudando no ensino da escola, lendo a Bíblia, assistindo aos cultos e pe-
dindo esclarecimentos sobre a salvação da alma. Quando partiu de lá,
(19) Eichmann, Alida, Op. cit., pp. 9 e 10; também Roca, Andres. "La Obra en Rincón del
Tigre'', p. 3, cópia datilografada da narrativa que se encontra no Museu Batista do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(20) Eichmann, Alida, loc. cit.

427
havia se afeiçoado tanto à Missão e aos alunos que teve de esconder as
lágrimas de emoção na despedida. (21)
1.3.5 — Acampamento dos índios Aiorés — Em suas viagens evan-
gelísticas ao logo da Estrada de Ferro Brasil — Bolívia em construção, o,
missionário Pastor Arvido Eichmann havia observado as relações hostis
existentes entre os civilizados e os índios. Algumas missões — conforme
referência já feita — haviam sido dizimadas, em conseqüência dessas
hostilidades. Não muito distante de Rincón, já por diversas vezes haviam
sido encontradas evidências da presença dos índios. A crueldade da tribo
aioré — a mais encontradiça na região — era notória. Os trabalhadores
bolivianos de Rincón a qualificavam como sendo "muito satânica", ao
que o missionário Arvido Eichmann havia respondido que "deverá ser
vencida por uma tribo muito cristã. ..". (") O homem dos transportes
e comunicações da Missão, João Lukenieks, com alguns ajudantes — e
por vezes sozinho — continuamente se achava ou no caminho do Lago
Gaíba ou no de El Carmen. Também o Pastor Arvido Eichmann percor-
ria os mesmos caminhos no cuidado das almas e das necessidades da
Missão. Diante do perigo a que estavam expostos esses irmãos, as inter-
cessões dos demais companheiros da Missão se tornavam cada vez mais
fervorosas.
Na tarde de 22 de novembro de 1951 aconteceu uma tragédia em
Rincón del Tigre: os índios aiorés atacaram um pequeno grupo de traba-
lhadores na roça, perto das habitações, e mataram a esposa do Sr. Lo-
renzo Barba, D. Lúcia, e o menino Agostinho, irmão desta. Conseguiram
escapar, milagrosamente o Sr. Lorenzo — que chegou a revidar o ataque
— e o diácono Jacó Liger. Os bolivianos de Rincón e redondeza ensaia-
ram uma expedição de vingança pela selva a dentro, contando, como
medida de segurança, com o apoio da Missão, em cujo poder achavam-se
alguns fuzis e munição, deixados pelos militares a título de defesa contra
eventuais ataques dos silvícolas. Os ânimos estavam tensos e a situação
tornou-se grave. Era verdade que o exército havia confiado à Missão
armas para a preservação de vidas, mas também era verdade que Deus lhe
havia confiado a mensagem do evangelho da paz. Portanto, segundo os
missionários de Rincón, aqueles índios deveriam ser procurados em seus
caminhos na selva não para uma vingança, mas para uma conquista de
sua confiança e comunicação da mensagem do amor de Deus. (23) Era o
vislumbre de um novo campo de ação missionária.
A Missão de Rincón tinha conhecimento de um acampamento indí-
gena da "Missão das Novas Tribos" em Tobité, além do Roboré, a mais
de 250 km de Rincón, cujos missionários eram especialistas em estabele-
cer contatos com os índios aiorés e conheciam a sua língua. O Pastor
Arvido Eichmann se pôs a caminho de Tobité, onde conseguiu a colabo-
ração do missionário Harschell Dunn, mais conhecido como Don Haime.
(Fig. 208) Este, em companhia de dois índios auxiliares, fez diversas

(21) Ronis, Osvaldo, loc. cit.


(22) Eichmann, Arvido, "Bolivijas Sertona Misione" (Missões do Sertão Boliviano), Kris-
tigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 2, fevereiro de 1952, 3' capa.
(23) Id. ibid., p. 17; também Eichmann, Alida, Op. cit., p. 12.

428
incursões na selva, conseguindo, finalmente, depois de dois anos de es-
forços, trazer 28 índios à Missão de Rincón del Tigre, onde permaneceram
por alguns dias, convencendo-se do amor e do perdão dos brancos apesar
das mortes que lhes haviam causado. Com auxílio desses, o missionário,
algum tempo depois, trouxe mais 50 índios. Foi instalado para eles o
acampamento Campo Nuevo, a 12 km de Rincón. Com isto aumentaram
os encargos da Missão. Dadas as enfermidades de que foram acometi-
dos, os aiorés abandonaram o acampamento, mudando-se para Tobité,
mas pouco depois voltaram todos a Rincón, de onde não desejavam mais
sair. Agora era preciso alimentar os silvícolas, tratar de seus enfermos
e ensinar a preparar e plantar as suas próprias roças. Novo e difícil
ministério para a Missão. Instalou-se, assim, o acampamento dos índios
aiorés de Rincón, a cerca de duas centenas de metros apenas de distância
do conjunto residencial da Missão. Logo, outros grupos de silvícolas fo-
ram deixando a mata e com suas famílias acamparam-se em Rincón,
construindo suas choças de folhas de coqueiros. Assim, pouco mais de
dois anos apenas depois da tragédia atrás referida, já havia mais de
cem índios aiorés no acampamento silvícola de Rincón, provando o amor
de Deus demonstrado pelos irmãos da Missão e convencidos da ausência
de qualquer sentimento de vingança. (24 ) Em 1969 já havia 52 famílias
de silvícolas no acampamento de Rincón, somando, aproximadamente,
280 pessoas. Um jovem aioré convertido, Homoné, do acampamento mis-
sionário de Tobité, servia como intérprete nos cultos que os missionários
letos de Rincón realizavam para os índios, nos contatos diários e na ins-
trução dos missionários nos rudimentos da língua aioré. Figs. 209 e 210
A integração dos silvícolas na vida econômica da Missão foi bas-
tante trabalhosa. De início, eles não entendiam o valor do trabalho agrí-
cola contínuo e persistente. Mas quando alguns, mais acessíveis, foram
trabalhar e receberam o soldo com que puderam adquirir açúcar, sal e
pão à vontade, outros também se dispuseram a trabalhar. A seguir, a
Missão deu o segundo passo: delimitou-lhes uma certa área de mato para
derrubar e plantar, prometendo comprar o produto. Ao colherem o fruto
do seu trabalho, venderam toda a colheita à Missão, e, com o dinheiro
ganho, no mesmo dia, começaram a comprar, pelo mesmo preço, o que
haviam vendido, para o consumo do dia seguinte. Esse foi o método
que os missionários encontraram para ensinar aos índios o valor do tra-
balho, razão esta por que atualmente eles já não pesam tanto para a
Missão. (25)
Método semelhante foi aplicado para ensinar aos pais a autoridade
sobre os filhos, pois que esses eram totalmente indiferentes ao que diz
respeito ao envio das crianças à escola. Para assegurar assistência re-
gular às crianças indígenas nas classes, adotou-se pagar aos pais 10 bo-
livianos semanais pelos filhos que comparecessem à escola. Para rece-
ber o dinheiro, os pais passaram a mandar os filhos à escola, e os filhos
aprenderam a obedecer, pois entre os aiorés o pai normalmente não
exerce autoridade sobre os filhos e estes nem são ensinados a obedecer
(24) Cf. Eichmann, Alida, Op. cit., pp. 13 a 16.
(25) Janson, Hari, Entrevista com o autor em Rincón del Tigre, em 19 de julho de 1969.

429
aos pais. Por esse método tem-se verificado progresso neste sentido e
os meninos silvícolas começam a demonstrar interesse em estudar para
saber ler e escrever como as demais crianças da escola. (26)
Assim a Missão de Rincón del Tigre vem atingindo seu objetivo com
relação ao índio, que é conduzi-lo a Cristo pelo exemplo, pelo serviço e
pela pregação. Como coadjuvantes na consecução desse alvo: despertar-
-lhe a noção da valorização do trabalho, fortalecer o sentido de unidade
da família e habilitar a nova geração — através da instrução e educação
— a buscar nas Escrituras Sagradas o caminho para Deus e os funda-
mentos para uma vida pacífica com os seus semelhantes. Em 1968 ha-
via 26 alunos silvícolas na escola, (27) sendo que o número total de crian-
ças índias que já passaram pelo estabelecimento e foram, ao menos, al-
fabetizadas ascende a meia centena. Figs. 211 e 212
Com respeito à evangelização dos índios aiorés, nos últimos anos,
depois de um longo e paciente trabalho de cerca de três lustros, tem-se
verificado um despertamento espiritual notável entre eles. Até julho de
1969 havia 25 aiorés convertidos e batizados; (28 ) um ano depois esse
número elevou-se para mais de 50. (29) Entre eles há alguns exemplos
extraordinários de transformação pelo poder de Deus merecedores de
destaque. Assim, por exemplo, os índios Jochaide, Soniané e Echsaiude
são três dos que mataram os cinco missionários americanos em 1943 na
região de Santo Corazón, nas montanhas de Sunsa. Hoje são nossos ir-
mãos, convertidos e batizados. Sudabi e o cacique Gatura, homens de
mãos igualmente manchadas de sangue em numerosos ataques aos civi-
lizados, também foram transformados pelo poder do evangelho e já per-
tencem à igreja. Porai, um dos aiorés que em 1951 participaram do ata-
que aos trabalhadores da Missão de Rincón del Tigre, em que perderam
a vida D. Lúcia Barba e seu irmão Agostinho, em julho de 1968 desceu
às águas do batismo juntamente com o viúvo da vítima, Sr. Lorenzo
Barba. (30 ) Ademais, diversos índios morreram crentes antes de rece-
berem o batismo. Figs. 213 e 214
1.3.6 — Novos obreiros para a frente missionária — Com o cres-
cimento da escola e o surgimento do acampamento silvícola, o grupo pio-
neiro da Missão de Rincón del Tigre sentiu a premente necessidade de
novos obreiros. Mas a Missão não tinha recursos para oferecer salário
a ninguém, pois os próprios obreiros que a compunham viviam sem sa-
lário, tendo apenas o que comer e com que se vestir, cuidando que hou-
vesse o sustento para os alunos da escola e os índios, que constituíam o

(26) Janson, Ruth Lidaks, Entrevista com o autor em Rincón del Tigre, em 19 de julho de
1969.
(27) Roca, Andres, Lista de Nominas del Alumnado de la Escuela Particular Mixta de
Rincón del Tigre del Ano 1968.
(28) Janson. Ruth Lidaks, loc. cit.
(29) Eichmann, Alida, Questionário de Pesquisa respondido em 14 de junho de 1970, que
se encontra com o autor.
(30) Janson, Ruth Lidaks, loc. cit., Id., "Kristibas dievkaplojums Rinkona" (Culto de Ba-
tismos em Rincón), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 11, novembro de 1968, p. 20;
também Kruklis, João, "Garigais darbs Rinkonã" (A Obra Espiritual em Rincón), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n9 12, dezembro de 1971, p. 14.

430
campo missionário imediato que Deus lhes havia posto nas mãos. De
modo que, do trabalho de um grupo de menos de duas dezenas de pessoas,
dependia o sustento de mais de uma centena que se achava à sombra
da Missão. Aparentemente, era absurdo esse método de trabalho. Mas
aqueles irmãos haviam orado para que Deus lhes mostrasse qual a obra
que deveriam fazer naquele lugar. E aí estava a resposta de Deus. Dian-
te da necessidade de mais obreiros, novamente subiram orações ao Se-
nhor da Seara, desta vez para que Ele enviasse obreiros.
O primeiro reforço ao trabalho dos pioneiros letos da Missão partiu
dos próprios bolivianos, em 1953, na pessoa do irmão Fernando Justi-
niano, Juiz de Paz e responsável pelo registro de nascimentos e óbitos da
região, um dos primeiros convertidos pelo testemunho daqueles irmãos.
Integrado na vida da comunidade, assumiu a direção da escola, ajudando
também no setor silvícola.
Em março de 1954, chegou à Missão a jovem filha da Colônia Varpa,
Ruth Lidaks (depois Janson), que havia se preparado numa escola teoló-
gica no Canadá e recebido a chamada divina para se entregar ao tra-
balho missionário em Rincón del Tigre. Assumiu as funções de profes-
sora principal da escola e auxiliar no trabalho com os aiorés, à cuja
frente se encontrava D. Alida Eichmann. Como o seu sustento vinha dos
batistas letos dos Estados Unidos da América do Norte, através da As-
sociação das Igrejas Batistas Letas do Brasil, foi com a sua integração
na obra de Rincón que se deu também o início da participação dessas
Associações nessa obra missionária. (31) Figs. 215 e 216
Em 1955 chegou à Missão o moço Hari Janson, também filho de
Varpa, dotado de múltiplas capacidades na área mecânica, àquela altura
tão necessário à Missão quanto um professor. Foi quem montou um ver-
dadeiro parque industrial, que multiplicou a capacidade de produção da
comunidade. Pouco depois ele consorciou-se com a professora Ruth Li-
daks, dedicando-se ambos àquela obra até o presente (1972). (32)
Crescendo o número de bolivianos convertidos, principalmente den-
tre os jovens da escola, a Missão começou a procurar um obreiro nativo
que estivesse à altura de ajudar, especialmente nesse setor espiritual.
Novamente o problema foi posto nas mãos de Deus pela oração e em
1956 veio de Roboré um jovem Chiquitano, que havia se preparado no
Instituto Bíblico de Santiago, da Bolivian Indian Mision, Andres Roca.
Trabalhou inicialmente como evangelista, professor da escola e depois
como Vice-Diretor, sendo ordenado pastor da igreja poucos anos depois.
Tem sido um obreiro dos mais valiosos para a Missão. O seu sustento
inicialmente vinha da Missão, passando depois esta responsabilidade, em
grande parte, para a Igreja.
As visitas de diversos obreiros e leigos letos e as respectivas descri-
ções publicadas nos periódicos letos, bem como as centenas de transpa-
rências (slides) projetadas em todas as igrejas Tetas e a russa de Boas

(31) Eichmann, Alida. "Rinkona Misijas isa vesture" (Breve História da Missão de Rincón),
manuscrito, pp. 19 e 20.
(32) Id. ibid.; também Kruklis, João, Carta firmada em Rincón del Tigre, em 25 de outubro
de 1969.

431
Novas de São Paulo, fizeram conhecidas as lutas, as vitórias, as bênçãos
e as necessidades dessa obra. Tudo isto Deus usou para falar ao coração
dos que estavam auscultando a vontade divina para as suas vidas, e esses
foram respondendo à "soberana vocação". Assim, de 1958 até 1972 —
que é o período de expansão do trabalho missionário de Rincón — a
Missão recebeu os obreiros abaixo mencionados, sendo que alguns deles
serviram durante períodos limitados, por circunstâncias diversas, en-
quanto outros continuam operando até o presente: Constância Janson e
Lize Kruklis, ambas da Colônia Varpa, para os serviços gerais da Mis-
são; Artur Kilmeier, da II Igreja Batista de Nova Odessa, mas filho de
imigrantes de Varpa, foi para a superintendência do setor agrícola; Cláu-
dia Lidaks (depois Kilmeier) , irmã de Ruth Lidak Janson, também de Var-
pa, preparada no Instituto Bíblico Brasileiro de São Paulo, casada com
o missionário Artur Kilmeier, dedica-se ao magistério e ajuda na evan-
gelização dos índios aiorés; João Kruklis, nascido em Varpa, formado
pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, professor da escola e
do Instituto Bíblico de Rincón, depois Vice-Diretor e Diretor da escola,
dirigente do trabalho entre os aiorés, em cuja língua prega corretamente,
e já por alguns anos co-pastor da igreja; casal João e Odete Janson,
sendo ele descendente de imigrantes de Varpa e ela de família brasileira,
ambos voltados para o trabalho da escola; Elza Justiniano Kruklis, boli-
viana, esposa de João Kruklis e filha do antigo cooperador, Fernando
Justiniano, trabalhando como professora; Velta Kagis, filha de Varpa,
que se dedica ao magistério na escola da Missão; Alexandre Ansons (um
dos doze "espias" que em 1943, com a lancha "PALMA", empreenderam
a viagem até o Lago Gaíba), outro imigrante de Varpa, responsável pela
caldeira a vapor — depois da morte de Fritzis Romich — que fornece
toda a energia e luz elétrica à comunidade de Rincón del Tigre, sendo
também um dos dirigentes dos cultos do grupo leto e diácono da igreja;
Jacó Garais, que construiu a primeira lancha da Missão para o transpor-
te entre Gaíba e Corumbá, vindo a falecer pouco depois; João Arajs, ir-
mão do Pastor André Arajs da Igreja Batista Leta de São Paulo, refu-
giado da II Guerra Mundial no Canadá, de onde veio para servir na selva
da Bolívia em diversos setores industriais da Missão; e Vera Meleshko,
de descendência russa, da Igreja Batista Boas Novas de São Paulo, que
foi servir na capacidade de professora e outras responsabilidades na es-
cola. (33 ) Ultimamente, mais uma jovem professora de origem russa,
Sônia Mamazur, e o casal Wilson de Oliveira, brasileiros, todos da Igreja
Boas Novas, entregaram-se às atividades da escola, que é o grande ce-
leiro de grãos amadurecidos pelo trabalho paciente de longos anos da
Missão de Rincón. (34 ) Figs. 217, 218, 219, 220, 221 e 222
No que diz respeito à promoção da obra, transcrevemos aqui um tre-
cho de um apelo original para dedicação de vidas à obra missionária em
Rincón del Tigre, feito pelo Diretor da Missão, Pastor Arvido Eichmann,
em 9 de setembro de 1961:

(33) Cf. Eichmann, Alida, Op. cit., pp. 20 a 25.


(34) Kruklis, João, "Garigais darbs Rinkoná" (A Obra Espiritual em Rincón), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n9 12, dezembro de 1971, pp. 13 e 14.

432
Fig. 198. Onça pintada caçada na região
de Rumo-a-Oeste, às margens do
Lago Gaíba.

Fig. 199. Congregação Batista Leta de Roboré, Bolívia.


Fig. 200. Missionários Ernes- Fig. 201. Sede da Fazenda de Rincón del Ti-
to e Paula Dun- gre, Bolívia.
durs.

Fig. 202. O grupo de pioneiros da Missão Ba-


tista Leta que se estabeleceu em
Rincón del Tigre, Bolívia.

Fig. 203. Uma classe da Escola da Missão de


Rincón del Tigre.
Fig. 204. A Escola da Missão em Rincón del
Tigre em dia de festa nacional.

Fig. 205. Missionário Pastor


Arvido Eichmann e
esposa, D. Alida,
por ocasião do 80.°
aniversário do pri-
meiro em 1965.

Fig. 206. Primeiros batismos na Missão de


Rincón del Tigre.
Fig. 207. Vista aérea da Missão de Rincón del
Tigre em 1969, vendo-se à esquerda
o campo de pouso para aviões e à
direita o acampamento dos índios.

Fig. 208. Missionário Don Haime Fig. 209. Missionária Anna


com os primeiros índios Urban, uma das
aiorés que deixaram a primeiras obreiras
mata para fixarem seu da Missão, a quem
acampamento em Rincón cabia o cuidado dos
del Tigre. índios enfermos. Ao
centro, o jovem ín-
dio Homoné, o in-
térprete.
Fig. 210. Missionário Don Haime e o Pastor Alberto Eichmann num
grupo de índios aiorés em Rincón del Tigre.

Fig. 211 Batismos de bolivianos e índios aio-


rés em 1968 na Missão de Rincón del
Tigre. O último à direita, na 2.a fila,
e o pastor boliviano Andres Roca.
Fig. 212. Batismos dos índios aiorés, em 1969,
vendo-se à direita os pastores João
Kruklis, Arvido Eichmann e Andres
Roca.

Fig. 213. índio que assistiu à


matança dos mis-
sionários america-
nos em Monte Su-
na, na Bolívia, em
1943, e que hoje é
um crente conver-
tido pelo trabalho
da Missão de Rin-
cón del Tigre.
Fig. 214. Um dos índios que
tomaram parte no
massacre de mis-
sionários, converti-
do ao evangelho,
posando com a mis-
sionária Ruth Li-
daks Janson.
Fig. 215. As missionárias ir-
mãs Ruth Lidaks
Janson e Cláudia
Lidaks Kilmeier.

Fig. 216. Grupo de estudantes da Escola de


Obreiros da Missão de Rincón del
Tigre com os professores.
Fig. 217. Diácono Verner Grinberg (1) e o
Pastor Alberto Eichmann (2), numa
das visitas à Missão de Rincón del
Tigre em 1959. À direita o índio Ho-
moné (3) o intérprete para os aio-
rés.

Fig. 218. Pastor André Ceruks, presidente da


Associação das Igrejas Batistas Le-
tas no Brasil em 1969, cumprimen-
tando o veterano missionário Arvido
Eichmann, na visita feita à Missão
naquele ano.
Fig. 219. Um índio "cantador" sola para os
visitantes, pastores André Ceruks
(1) e Osvaldo Ronis (2).

Fig. 220. Pastor Pauls Odins, representante


dos batistas letos da América do
Norte, com a missionária Cláudia
Lidaks Kilmeier, ao chegar à Mis-
são de Rincón del Tigre, em 1969.
Fig. 221. Missionário Pastor Fig. 222. Missionário Ale -
João Kruklis. xandre Ansons jun-
to à caldeira de
vapor em Rincón
del Tigre.

Fig. 223. João e Ruth Malves.


Fig. 224. Valdis e Letônia Riekstins.

Fig. 225. Diácono Verner Grinberg e esposa,


D. Emilia.
Fig. 226. Templo da Igreja Batista em Rincón del Tigre, Bolívia.

Fig. 227. Primeiros batismos no templo com


batistério, em 1970, na Missão de
Rincón del Tigre.
Fig. 228. Distribuição de serviços aos índios,
bolivianos e letos, feita pelo missio-
nário Hari Janson, administrador,
que se vê assinalado.

Fig. 229. Dois dos missionários, João Luke-


nieks e Alexandre Ansons, respecti-
vamente os responsáveis pelo trans-
porte e produção de força e luz ao
acampamento da Missão de Rincón
del Tigre.

Fig. 230. A nova lancha da


Missão, "Boas No-
vas".
Fig. 231. Vista geral do acampamento da Mis-
são de Rincón del Tigre em 1972.

Fig. 232. Os alunos da Escola da Missão em marcha para o templo


em Rincón del Tigre.
Fig. 233. Alunos da Escola Bíblica Dominical, em Rincon del Tigre,
em 1969.
Fig. 235. Pastor João Pupols e esposa, D. Alida.

Fig. 236. Pastor João A.


Veidmann.
Fig. 237. Pastor Alfredo Klawa e esposa, D.
Mirdza.

Fig. 238. Pastores missionários João Pupols e Alfredo Klawa com um


grupo de batizandos na Ilha Rasa, litoral norte do Estado
do Paraná.
Fig. 239. A lancha do missionário Pastor Al-
fredo Klawa, com instalações para
moradia.

Fig. 240. Missionário Prof. Reinaldo


Snikers.
Fig. 241. O missionário Reinaldo Snikers junto à residência de
uma família onde ele iniciou a Escola Elementar na
região do Rio Pardo, PR.

ãe
Fig. 242 Templo e ambulatório em Indaiatu-
ba, região do Rio Pardo, PR.
Fig. 243. Templo Batista de Quatro
PR.

Fig. 244. Paulo e Ludmilla


Osis.
Fig. 245. Dr. Arvido e Ludmilla Leiasmeier.

Fig. 246. Grupo de missionários batistas letos


presentes ao 19.° Congresso da As-
sociação das Igrejas Batistas Letas
no Brasil, em 1968.
Fig. 247. Coro da Igreja Batista de Bastos, SP.

Fig. 248. Templo da Igreja Batista de Bastos,


SP, em 1946.
Fig. 249. Primeiro templo batista (à direita) e escola primária (à
esquerda) de Inúbia Paulista, SP.

Fig. 250. Templo definitivo da Igreja Batista de Inúbia Paulista.


Fig. 251. Evangelista Eduardo Sieplin, falando na solenidade de inau-
guração do templo batista em Regente Feijó, SP, em 1967.

Fig. 252. Templo batista em Monte Verde, MG.


\"'
Fig. 253. Sociedade Estudantil Leta "ATVASE", Rio de Janeiro, em
1934.

Fig. 254. Estudantes batistas letos no Seminário Teológico Ba-


tista do Sul do Brasil em 1957: da esquerda para a di-
reita — Ilgonis Janait, Ruben Andermann, Raini Pe-
terlevitz e João Kruklis.
Fig. 255. Estudantes letos no Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil em
1961: da esquerda para a direita, pri-
meira fila — Gonardo Bember, Rita
Lívia Klawa, Ingrida Veiss, João
Carlos Keidann; segunda fila na
mesma ordem — João Reinaldo Pu-
rim, Adhemar Paegle, Verner Cerpe,
Alfon Kruklis.
Fig. 256. Professores e estudantes letos no Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil em 1965: da esquerda para a direita —
Daltro Keidann, Verner Cerpe, Gonardo Bember, Prof. Ar-
naldo Gertner, Prof. Reinaldo Purim, Prof. Osvaldo Ronis,
Adhemar Paegle, João Carlos Keidann e João Reinaldo Pu-
rim.

Fig. 257. Pastor Carlos Leimann e esposa, D. Luiza, e filhos.


Fig. 258. Pastor Frederico Fig. 259. Família Eduar-
Freymann. do Iciawa. Em pé,
Pastor David Kla-
wa e Dra. Ruth
Klawa.

Fig. 261. Pastor Carlos Ukstin e família.


Fig. 260. Pastor Emílio
Keidann.
Fig. 262. Prof.a Olívia Nancy Fig. 263. Pastor Dr. Pedro
Daniel. Tarsier.

Fig. 264. Pastor Arnaldo


Gertner.

Fig. 265. Prof.a Tabita Kraule


Miranda Pinto.
Fig. 267. Alfredo Bediks e esposa, D. Selma.

Fig. 266. Pastor Ilgonis Ja-


nait.

Fig. 267-A. João Frischenbruder. Fig. 268. Maestro Hermanis


Janait.
Fig. 270. Maestro Ar t hur
Fig. 269. Maestro Dr. Arthur Garancs.
Lakschevitz.

Fig. 271. Maestro Emílio


Kriger
Fig. 272. Maestro Hari Ruks.
Fig. 273. Maestro Car- Fig. 274. Maestro João
los Gruber. Bokums.

Fig. 275. Maestro André


Fig. 276. M a e s t r o, Prof. e
Janson.
Pastor Gunars Tiss.
Fig. 277. Orquestra composta de elementos das três igrejas batistas
de Nova Odessa, SP, que sob a regência de Gunars Tiss
apresenta-se em igrejas e campanhas evangelísticas em di-
versos Estados do Brasil.
COLONIAQ IGREJAS
BATISTAS LUTAS
Arem das colôniAs1
NO SHASI L VARPA e LETÔNIA

O V• Área da colónia'
em NOVA EUROPA

Área da colónia eml


co JORGE TIBIRIOÁ
'

Área da ee1,11a1
em AREIAS

I,B.lota de
Soo Paulo Área da colónia
de NOVA (DESSA

IC.F.de
Renascença

Área da colónia em
SAO JOSÉ DOS CAMPOS
4
ares da colônia eia
4 PARSQUERA—AcO

Área das col8nlas


de ALTO—GUARANI,
JACU—AçU, PONTA
COMPRIDA, TERRA
DE ZIMERHANN,
ti ERUEDERTALE e
LINHA TELEGRÁFICA

.
(e Área das colóalas
de RIO NOVO, RIO
oRArcuo e RIO
MàE LUZIA

Ares da colónia I
de IJUI

Legenda:

fl CoL3mIRs cum as respccllraa is,rejs

O IsrQl,s rm c ■
clada's

Fig. 278. Mapa das colônias e igrejas batistas letas no Brasil.


Fig. 279. Pastor Dr. Reynal-
do Purim.

Fig. 280. Pastor Jacob


R. Inke.
Fig. 281. Ato de Inauguração do Acampamento Batista de Palma.
Da esquerda para a direita — Dr. Victor Davis, João Krumins
e Dr. Nilson do Amaral Fanini.
c•mmos qus tcv•i 1 p•Lx•
Or

Fig 282. Caminhos que levam à Palma.


Aqueles que desejam servir na obra missionária devem
saber quem os envia e em quem confiarão nos momentos de
provação no meio de condições de vida inteiramente novas.
Quem sai para o trabalho missionário tem que renunciar
às comodidades da vida. Janelas com vidraças e quarto for-
rado ele não encontrará aqui. Também freqüentemente poderá
faltar farinha de trigo e açúcar refinado, dadas as dificulda-
des de transporte e as grandes distâncias. Em caso de enfer-
midade, nem sempre estará ao alcance uma consulta médica.
Em Rincón conseguimos instalar apenas um pequeno ambu-
latório, em condições muito primitivas. Ali os alunos do Ins-
tituto Bíblico aprendem a cuidar das feridas do povo; ali
também há algo para o serviço dentário e esperamos que al-
gum irmão dentista venha encaminhar o atendimento como
deve ser feito. Enfermaria ainda não temos; é uma grande
necessidade, especialmente por causa dos índios, que, na en-
fermidade e na morte, sempre vêem o mau espírito, pelo que
deixam o moribundo sozinho. E, se alguém morre em seu ran-
cho, então este é demolido, sem deixar vestígio.
Também quanto ao trabalho, freqüentemente o obreiro te-
rá de estender as mãos... para fazer tarefas simples nas quais
terá dificuldades de identificar a função missionária na sua
concepção usual. Dos conhecimentos bíblicos todos necessitam
ao saírem para a obra missionária, mas antes cada um tem
de viver na conformidade com eles. Os silvícolas irão observar
muito mais as tuas obras do que ouvir as tuas palavras...
Segundo o mundo, os seus grandes são servidos pelos humildes;
mas, segundo a lei de Deus, grande é aquele que serve aos ou-
tros... O caminho do serviço é estreito e espinhoso...
Os conhecimentos teológicos são necessários na obra mis-
sionária, pois que o obreiro terá de defrontar-se com ensina-
mentos antibíblicos. E o problema não será tão simples como,
por exemplo, dirigir uma classe de Escola Bíblica Dominical.
Entretanto, com freqüência o obreiro tem que tirar a beca teo-
lógica para cingir-se com o avental de servo. E, quem preten-
de o magistério, deve preparar-se devidamente. É preciso co-
nhecer bem a tarefa. Mas também deve habilitar-se no uso da
agulha de costura e na arte de lavar roupa. Finalmente, cada
um por sua vez terá de aprender a montar em bois, pois que
na selva boliviana esse é o único meio de transporte em que se
pode confiar em qualquer tempo.
Por tudo isto não acenamos a ninguém que venha, e nem
desejamos solicitar que alguém contribua para a obra de Rin-
cón; porém a todos solicitamos: "Rogai ao Senhor da seara
que mande trabalhadores para a sua seara." ( 35)
(35) Eichmann, Arvido, "Sveiciens misiones draugiem" (Saudação aos Amigos da Missão),
Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 9, setembro de 1961, pp. 9 e 10.

433
1.3.7 — Obreiros da retaguarda — Há alguns irmãos letos e suas
famílias que, embora não residindo em Rincón, ocupam-se intensamente
na obra da Missão Batista Leta de Rincón del Tigre. Estão atuando na
retaguarda das posições avançadas. São obreiros voluntários, que ser-
vem com seus recursos, habilidades, residências, tempo e tudo mais que
podem dedicar àquela obra. Fig. 223
A primeira dessas famílias é a de João Malves, filho de Júlio Mal-
ves, em Gaíba, ou Rumo-ao-Oeste. Esse irmão é casado com D. Ruth
Dundurs, filha do líder do grupo pioneiro de Rincón, Ernesto Dundurs,
Administrador Geral da Missão. Sob os cuidados e pilotagem de João
Malves esteve durante uma década a primeira lancha da Missão, de
2.500 kg de carga, na qual ele percorreu perto de 100.000 km a serviço
daquela obra, mantendo mensalmente comunicação com a cidade de Co-
rumbá e outras localidades, levando e trazendo obreiros, visitantes, cor-
respondência, medicamentos, suprimentos de víveres, etc., sendo a sua
residência em Gaíba a hospedaria sempre preparada para os que vão a
Rincón ou voltam de lá. Também a nova embarcação da Missão, esta
bem maior, mais confortável e mais veloz, é pilotada pelo irmão João
Malves. Os dias e os recursos consumidos nessa já longa colaboração
graciosa qualificam o casal João e Ruth Malves como legítimos missio-
nários da Missão Batista Leta de Rincón del Tigre.
Outra família dessa mesma categoria é a do irmão Waldemar Rieks-
tins e sua esposa D. Letônia, filha de Júlio Malves, residente em Corum-
bá. Vem ela hospedando, com amor e solicitude, gratuitamente, desde
1944, todos os obreiros e visitantes que se destinam a Rincón por via
fluvial ou aéreas, bem como cuidando da internação dos enfermos graves
da Missão e sua convalescença; também recebendo e despachando a cor-
respondência da Missão, seus valores nos Bancos da cidade, sua merca-
doria, fardos de roupas usadas que chegam por via terrestre, medica-
mentos enviados por numerosas igrejas e particulares. O investimento
que, há quase 30 anos, essa família faz no seu ministério à causa da
Missão de Rincón, em termos de tempo e recursos, em todas essas provi-
dências necessárias e indispensáveis, vai muito além de qualquer cálculo
humano. Fig. 224
Há também, o casal, Pastor Carlos Rodolfo Andermann e sua esposa
D. Marta, que desde longa data — a princípio de São Paulo e depois de
São José dos Campos — vem servindo à Missão de Rincón em suas va-
riadas necessidades, principalmente na aquisição de medicamentos raros,
recebimento e câmbio de valores, desembarque e embarque de visitantes
e obreiros em São Paulo, freqüentemente acompanhando-os até a cidade
de Bauru, para garantir-lhes uma baldeação tranqüila para a Estrada
de Ferro Noroeste do Brasil com destino a Corumbá. Nessa função, qua-
lificado como Secretário da Missão em São Paulo, ( 36 ) o Pastor Carlos
Rodolfo Andermann vem servindo há duas décadas, dispondo de seus re-
cursos e tempo, visitando o campo diversas vezes e participando de todos
os problemas da obra.

(36) Eichmann, Arvido, "Rinkona Misiones Lidstradniekiem" (Aos Cooperadores da Missão


de Rincón), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12, dezembro de 1964, 4• capa.

434
Menção especial merece o diácono Verner Grinberg e sua esposa D.
Emília, de Monte Verde, Minas Gerais, que, de todos os obreiros de reta-
guarda da Missão de Rincón del Tigre, são os que a maior contribuição
têm feito. Além de somas avantajadas em ofertas e maquinaria para o
parque industrial da Missão, Verner Grinberg já fez no seu avião parti-
cular 27 viagens a Rincón, levando obreiros do Brasil, missionários en-
fermos, medicamentos e peças diversas para as máquinas sem aceitar um
só centavo por qualquer desses serviços prestados, na certeza de que o
faz para o Senhor da Seara. Fig. 225
Outros obreiros da retaguarda, esses mais distantes, mas nem por
isso menos atuantes, são os pastores Carlos Gruber e Karlis Zingers,
ambos nos Estados Unidos da América do Norte. Eles têm interessado
diversos amigos na obra missionária que se realiza em Rincón, contri-
buindo também com seus próprios recursos para a manutenção de certos
setores da Missão e obtendo facilidades para aquisição e importação de
tratores e implementos agrícolas. Especialmente o primeiro, Carlos Gru-
ber, tem tido uma participação notória e crescente em todos os empreen-
dimentos da Missão inclusive tendo feito diversas visitas a Rincón del
Tigre.
Merecem ser destacados também os dentistas letos, como Alberto
Eichmann, Teófilo Grinberg e João Augstroze, que em períodos diversos,
têm estado em Rincón, prestando assistência dentária inteiramente gra-
tuita aos obreiros da Missão, aos alunos da escola, aos silvícolas, aos
empregados ou campeiros e à população da redondeza, que ultimamente
tem aumentado naquela região. Particularmente valiosa tem sido a atua-
ção do último, isto é, do Pastor João Augstroze, que já doou o seu gabi-
nete dentário à Missão, instalando-o ali definitivamente, e tem permane-
cido em Rincón durante meses, juntamente com a esposa, D. Hilda, ofe-
recendo seus serviços profissionais e também cooperando nos mais di-
versos setores do trabalho, inclusive no púlpito e no aconselhamento da
Missão.
Também técnicos letos de diversas especialidades têm consagrado
parte do seu tempo em diversas instalações, assim facilitando o trabalho
da Missão no cumprimento do seu ministério. Entre eles, mencionamos o
irmão Arvido Maurmann, diácono da Igreja Batista de Adamantina, que
ofereceu e instalou o primeiro gerador de eletricidade; e Augusto Li-
daks, da Igreja Batista Leta de São Paulo, que instalou um novo e mo-
derno fogão para a cozinha da Missão, onde se prepara alimentação para
mais de 200 pessoas diariamente durante o período das aulas.
1.3.8 — Ambulatório — Em toda a redondeza de Rincón del Tigre
não há um médico, uma farmácia ou um posto sanitário sequer. Fre-
qüentemente os casos mais graves são encaminhados pela própria Mis-
são a El Carmen ou a Corumbá, em busca de recursos médico-hospitala-
res. A distribuição de medicamentos de acordo com a prática e conheci-
mentos adquiridos por algumas das professoras e do Pastor Andres Ro-
ca, bem como as pequenas intervenções e curativos, com a graça de
Deus, têm produzido grandes benefícios à população. Inúmeras tem sido
as oportunidades em que a cura do corpo tem conduzido ao médico das
almas, Jesus, para a cura do coração pecaminoso.
435
1.3.9 — Templo — Em 1969 foi construído o primeiro templo da
igreja, porquanto até então os trabalhos eram realizados no refeitório da
Missão, que é um barracão de tábuas. O templo é uma bela construção
de madeira com capacidade para 300 pessoas assentadas e batistério,
totalmente pintado pelos irmãos Leopoldo Peterlevitz e Eduardo Karklis,
da I Igreja Batista de Nova Odessa. Na sua inauguração esteve presente
o missionário batista brasileiro, Pastor Daniel Machado, de Santa Cruz
de La Sierra, que já visitou a Missão por duas vezes, realizando campa-
nhas de evangelização. Figs. 226 e 227
1.3.10 — Agricultura, pecuária e indústria da Missão — Sendo que
à Missão cabe, por determinação de Deus, exercer uma obra missionária
num ponto retirado da civilização, os setores materiais do seu trabalho
são tão importantes quanto o espiritual que se desenvolve na escola e
junto dos índios. Assim, para a manutenção da obra, é necessário cuidar
do cultivo de cereais, da criação do gado e da industrialização dos pro-
dutos para o auto-abastecimento. Em 1969, por exemplo, o consumo anual
da comunidade de Rincón, que era de aproximadamente, 400 pessoas,
acusava os seguintes dados: 1.400 sacos de milho, 600 sacos de arroz,
200 sacos de feijão, 500 sacos de açúcar, 80 cabeças de gado e 80 porcos.
Quando porém, ocorrem as secas e a terra não produz o que requer o con-
sumo, então é necessário comprar mantimentos a grandes distâncias —
em El Carmen, Roboré ou Corumbá — o que, por sua vez, requer meios
de transporte. Naquele ano a Missão cultivava cerca de 100 alqueires
de Terra, contando com dois tratores e diversos arados; possuía, apro-
ximadamente, 1.000 cabeças de gado, criação de aves e uma regular
apicultura. No setor industrial, a Missão contava com bom número de
pequenas máquinas, como torno, debulhadora de milho, trilhadoras de
arroz e de feijão, fabricadas pelos próprios missionários. Outras máqui-
nas maiores, como caldeira a vapor, serraria, moinho, turbina de açúcar,
beneficiadora de arroz, dínamo e outros, foram doadas por diversos ami-
gos de diferentes lugares, que, vendo a necessidade e a importância da
obra, não mediram sacrifícios em favor da mesma. No que diz respeito
a transportes, possuía carros de boi, um caminhão de 5.000 kg e uma
lancha de 2.500 kg de capacidade de carga, (37) sendo recentemente cons-
truída uma outra, de casco de ferro com 12 m de comprimento, 8.000 kg
de carga, e motor de 20 H.P., reduzindo a apenas 24 h a viagem, que antes
durava no mínimo 36 h, entre Corumbá e o Lago Gaíba. (38 ) Figs. 228,
229, 230 e 231
1.3.11 — Panorama atual do trabalho da Missão — Um extrato do
último relatório da Missão de Rincón del Tigre, apresentado no 23° Con-
gresso da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil, reunido na I
Igreja Batista de Nova Odessa nos dias 9 a 11 de julho de 1972, oferece
o seguinte panorama: Obreiros — Dos pioneiros restam apenas 6; dos
que chegaram alguns anos depois, 3; os obreiros mais jovens que vieram
e permaneceram por todos esses anos, 7; novos obreiros recebidos, 3,

(37) Tanson. Hari. loc. cit.


(38) Augstroze, João, "Misijas jaunã laiva" (A Nova Lancha da Missão), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), no 1, janeiro de 1972, p. 19.

436
sendo uma professora da Igreja Batista Boas Novas de São Paulo e dois
jovens bolivianos. Igreja — Batismos realizados durante toda a exis-
tência da Missão: 163, dos quais 66 são índios aiorés. Em Rincón resi-
dem 96 dos 151 membros da igreja. Os pastores da igreja são: Andres
Roca, para o trabalho em castelhano, e João Kruklis, para os aiorés e os
letos, sendo que para estes é auxiliado pelo diácono Alexandre Ansons.
A Escola Bíblica Dominical funciona em dois grupos gerais: o castelha-
no e o aioré. O coro, ainda incipiente, canta nos cultos aos domingos à
noite e em ocasiões especiais. Também já existe um conjunto instrumen-
tal, cujos instrumentos foram ofertados pela Igreja Batista Boas Novas,
São Paulo. Escola — funciona com 7 classes, e está sob a direção do
Pastor João Kruklis e 7 professores, contando com 168 alunos matricula-
dos em 1972, sendo 42 filhos dos índios aiorés. No ensino religioso, o
livro texto é a Bíblia. Aiorés — No acampamento há 88 famílias desses
silvícolas. Ambulatório — Sob a direção competente do jovem Otaciano
Roca, o ambulatório atende, em média a 30 pessoas por dia, vindas até
de longas distâncias, em busca de socorro. (39) Figs. 232 e 233
1.3.12 — Reconhecimento das autoridades oficiais — Numerosos
têm sido os pronunciamentos favoráveis à ação da Missão Batista Leta
de Rincón del Tigre, tanto da parte das autoridades escolares, como al-
fandegárias e militares. Um dos primeiros documentos militares, resul-
tante de investigações procedidas mediante certa denúncia de origem ca-
tólica, tem o seguinte texto:
Roboré, 14 de outubro de 1966.
Do Comando Militar da 5a Região
Ao Sr. Ernesto Dundurs,
Chefe do Grupo Leto,
Rincón del Tigre.
Como Chefe do Comando da 5a Região, tenho a honra de
enviar a V.S. e os demais missionários, a prova da mais pro-
funda gratidão pelo trabalho profícuo que estais realizando
nesta importante região fronteiriça da Bolívia. Os resultados
dessa obra são particularmente significativos para as forças
militares do nosso povo que superintendem esta região. Por
essa razão, este comando deseja expressar a toda a comuni-
dade missionária a sua gratidão, apreciação e testemunho de
sua amizade, prometendo, ao mesmo tempo, o seu apoio e a
garantia de segurança como reconhecimento pelo grande ser-
viço patriótico que tendes realizado.
Neste sentido, desejamos também que participeis, aos
membros aiorés da vossa comunidade, que o Governo da Bo-
lívia os considera como cidadãos de pleno direito deste país,
(39) Cf. Janson, Ruth Lidak, "Rinkona darbibas parskats" (Relatório do Trabalho de Rin-
con), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n' 9, setembro de 1972, pp. 14 a 16; também
Ansons, A.. "Rinkona Misijas darba parskats" (Relatório da Missão de Rincón), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n° 8, agosto de 1971, p. 8.

437
graças à formação e educação que receberam nessa comuni-
dade. A tais cidadãos o governo garante as prerrogativas pre-
vistas em lei. Solicitamos a gentileza de comunicar esta in-
formação aos aiorés. Em interesse particular, espero em breve
visitar a Vossa Missão.
Saúda-vos cordialmente,
Tcnl. Dem. Alberto Luna Pizarro,
Comandante da 5a Região. (4°)
Também o Sr. Presidente da Bolívia, S. Excia. o Coronel Hugo Ban-
zer, conhece a Missão de Rincón del Tigre desde longa data. Deste fato
ele deu testemunho em abril de 1972 quando, em viagem para Corumbá,
onde iria se encontrar com o Sr. Presidente do Brasil, discursou em Ro-
boré. O chefe do Governo boliviano, naquela oportunidade, citou o tra-
balho da Missão de Rincón como um exemplo de pacificação e catequese
dos índios e expressou o seu reconhecimento pela obra patriótica que
realiza. Quando, meses depois, devido à seca, a Missão chegou a uma
situação crítica no que diz respeito ao suprimento de víveres para a
população de cerca de 500 pessoas da comunidade, o Alcaide de Roboré,
também conhecedor do trabalho de Rincón, intercedeu junto ao Sr. Pre-
sidente da Bolívia no sentido de que o transporte militar boliviano su-
prisse a Missão da subsistência necessária. Este deu ordens expressas
para que o avião militar fizesse tantas viagens quantas fossem necessá-
rias para o abastecimento de Rincón. E assim o enorme aparelho, como
verdadeiro "corvo de Elias", fez três viagens para levar alimento à Mis-
são de Rincón. ( 41)
1.3.13 — Reconhecimento da obra pela Denominação Batista na
Bolívia — Reinam as mais cordiais relações entre a Missão de Rincón
e as duas Convenções Batistas operantes na Bolívia, embora ainda não
esteja integrada em nenhuma delas. Os seus obreiros de mais destaque
têm visitado a Missão e feito as mais encomiásticas referências ao tra-
balho ali realizado. Como já foi dito, o missionário Daniel Machado,
Reitor do Seminário Teológico Batista de Santa Cruz de La Sierra, este-
ve na Missão de Rincón duas vezes, cooperando com o trabalho entusias-
ticamente. Também o Pastor da III Igreja Batista de Santa Cruz de
La Sierra, Claros Mercado, visitou mais de uma vez Rincón del Tigre,
realizando abençoados trabalhos evangelísticos. O Secretário-Geral da
União Batista Boliviana (Altiplano), Pastor Jaime Goytia, por igual
fez uma visita à referida Missão, fazendo uma grata e minuciosa des-
crição numa publicação da União. (42)
1.3.14 — Liderança atual da Missão — A 1° de setembro de 1969
entrou "no gozo do seu Senhor" o missionário Pastor Arvido Eichmann

(40) Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 2, fevereiro de 1967, p. 9.


(41) Janson, Ruth Lidaks, "Rinkona Sveiciens" (A Saudação de Rincón), Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n° 8, agosto de 1972, p. 11.
(42) Goytia, Jaime, "La Misión Bautista Letona de Rincón del Tigre" Centinela Boliviano,
outubro de 1966, pp. 31 a 34; também "Rincón del Tigre", El Bautista Boliviano, Afio II, n°
1, enero-mar. 1968, pp. 16 e 20; Roca, Andres, "Rincón del Tigre", El Bautista Boliviano.
Aiio II, n° 4, julio-agosto 1968, pp. 8 e 25.

438
ou Arvids Eichmanis — como assinava oficialmente os documentos, se-
gundo a grafia em língua leta. Era ele o Presidente ou Diretor da Mis-
são, uma sociedade religiosa juridicamente constituída. Faleceu aos 83
anos de idade, tendo gasto no ministério 50 anos de sua vida, dos quais
em atividades missionárias nos sertões do Brasil, 26 e nas selvas boli-
vianas, 21. Após a sua morte, a Missão elegeu para a sua Presidência
a missionária Ruth Lidaks Janson, que, da geração jovem, é a obreira
mais antiga, atuando em Rincón desde 1954; 14 secretária, Cláudia Li-
daks Kilmeier; Secretário-Correspondente, João Kruklis; Tesoureiro, Ar-
tur Kilmeier. (43)

2. Missão Batista Leta no Litoral e na Região Serrana


do Estado do Paraná — Brasil
O trabalho batista no litoral paranaense não é novo; e, desde os
seus primórdios, obreiros letos tiveram nele participação marcante. Pri-
meiramente, aparece a figura do Pastor Carlos Leimann por volta de
1921. Depois, os pastores Carlos Stroberg, Guilherme Butler, Paulo Gai-
lit e Carlos Ukstin. Todos eles como obreiros de igrejas e Convenções
brasileiras, ao lado de outros tantos pastores e evangelistas nacionais e
missionários norte-americanos, evangelizaram, doutrinaram e fundaram
algumas poucas igrejas batistas no litoral paranaense. Dada, porém, a
natureza inóspita da maior parte da região, falta de meios de comuni-
cação e infestação de doenças endêmicas, aparentemente nenhum obreiro
fixou residência nessa região, além das cidades de Paranaguá e Anto-
nina, centros de maiores recursos. Por algum tempo essa área sofreu
grande falta de obreiros, o que preocupava os líderes do trabalho batista
paranaense, pois que o êxodo dos crentes para as cidades maiores amea-
çava de extinção algumas igrejas. Fig. 234

2.1 — Pastor João Pupols e o início de uma nova fase no trabalho ba-
tista do litoral do Estado do Paraná
Em 1939, João Pupols e sua esposa, D. Alida, imigrantes batistas
letos fundadores da Colônia Varpa, depois de alguns anos de profícuos
labores em sua propriedade agrícola na Colônia Letônia, resolveram fazer
uma viagem em visita às colônias e igrejas batistas letas do Estado de
Santa Catarina, na qual foram gastos dois meses e meio. Na ida, pas-
sando por Curitiba, visitaram o velho amigo Pastor Carlos Stroberg,
que, na ocasião, era o Secretário-Correspondente e Tesoureiro do campo.
Impressionaram-se com a extensão do trabalho daquele servo de Deus.
Foram convidados a descer até o litoral e visitar algumas igrejas que
estavam sob os cuidados do Pastor Carlos Stroberg, mas o itinerário da
viagem não o permitiu. ( 44 ) Fig. 235
Visitando a igreja leta em Urubici, que na oportunidade estava sem
pastor, João Pupols foi constrangido a permanecer por mais tempo ali,

(43) Kruklis, João, Carta ao autor firmada em Rincón del Tigre em 25 de outubro de 1969.
(44) Pupols, João, "Autobiografia", manuscrito enviado ao autor em 15 de fevereiro de
1968, p. 6.

439
ocupando o púlpito por diversas vezes. No programa de despedida, to-
cante, por sinal, quando toda a congregação estava de joelhos, orando,
esse irmão recebeu nitidamente a chamada divina para dedicar o resto
de sua vida à pregação do evangelho, pois já era homem de 46 anos de
idade. Participando a sua experiência à esposa, esta recebeu tudo com
profundo temor e sujeição à vontade de Deus. (45)
O casal passou a orar a Deus para que lhe encaminhasse um com-
prador para a propriedade e indicasse o campo de trabalho. Seis anos
depois, em 1945, esses irmãos resolveram fazer uma outra viagem de
visita aos batistas letos do sul do Brasil, presumindo que Deus poderia
lhes indicar o local de trabalho. Estando novamente com o Pastor Carlos
Stroberg em Curitiba, João Pupols o informou dos seus planos. Ambos
foram imediatamente à casa do missionário Dr. A. Ben Oliver, onde en-
contraram também o Pastor João Henck. Os três pastores fizeram um
apelo a João Pupols para que aceitasse o trabalho de evangelização do
litoral paranaense. Temendo, porém, a sua grande insuficiência de co-
nhecimento da língua portuguesa, evitou dar uma resposta, julgando que
talvez o seu lugar estivesse em uma das igrejas letas. Entretanto, apesar
dos convites das igrejas letas que recebeu naquela viagem, nenhum deles
encontrou eco no seu coração. (46)
Após o regresso a sua casa na Colônia Letônia, João Pupols recebeu
novo convite do Pastor Carlos Stroberg para visitar o campo do litoral
paranaense. Durante o mês de junho de 1945, visitou as igrejas de Ita-
qui, Tagaçaba, Açungui e Serra Negra, terminando por se decidir a
aceitar o trabalho, pois que a necessidade daquele povo o tocara profun-
damente. (47) Foi o início de uma nova fase no trabalho batista do li-
toral paranaense.
Em 1946, João Pupols ingressou no Curso de Extensão do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil que funcionava em Palma, terminan-
do-o em 1950. De 1945 a 1950, serviu como evangelista das igrejas de
Itaqui, Tagaçaba, Serra Negra, Açungui, Cedro e Eufrazina. Concluído
o curso, a Igreja Batista de Itaqui o convidou para ser o seu pastor e
solicitou à Igreja Batista Central de Varpa a sua ordenação, o que ocor-
reu em 26 de junho de 1950. Durante algum tempo pastoreou simulta-
neamente as seis igrejas mencionadas, no que foi ajudado muito pela sua
consorte, D. Alida. João Pupols também organizou coros em todas as
igrejas sob seus cuidados e em algumas congregações. De quando em
quando reunia esses coros para ajudá-los nas campanhas evangelísticas
ou para apresentações em assembléias associacionais e convencionais.
Havendo grande falta de recursos nas igrejas para fazer frente ao
sustento pastoral, João Pupols, durante vários anos, era o obreiro que
se mantinha por conta própria, valendo-se do produto da venda de sua
propriedade na Colônia Letônia. A dedicação com que se entregou à
obra, vencendo uma por uma as condições extremamente primitivas de
vida na região, granjeou-lhe uma admiração irrestrita do povo e da li-

(45) Id., ibid., loc. cit.


(46) Id., ibid.., p. 7.
(47) Id., ibid., loc. cit.

440
derança do campo. Não tendo uma embarcação motorizada para o seu
trabalho, a princípio valia-se de canoas alugadas de pescadores, até que
um dia recebeu de presente, do missionário Dr. A. Ben Oliver, um caíque
velho, "Zé-Zé", de 5 m de comprimento, no qual, com as suas próprias
mãos, procedeu a uma reforma rigorosa. Nascido numa aldeia de pes-
cadores às margens do Báltico, não lhe eram estranhas as lides maríti-
mas. Remando horas a fio pelas baías de Paranaguá, Antonina e Laran-
jeiras e pelos rios acima, cumpria alegremente o seu ministério difícil,
visitando igrejas, congregações, aldeias sem trabalho evangélico e casas
isoladas de pescadores e lavradores sem Cristo. Embora o seu "Zé-Zé"
estivesse munido também de uma vela, o tipo da embarcação não era de
um veleiro o que tornava o recurso de pouca valia. Para melhorar o
caíque, comprou, com seus próprios recursos, um motor de popa, dando,
asim, mais rendimento ao seu trabalho. Quando, em fins de 1950, o Dr.
Arvido Leiasmeier e sua esposa, D. Ludmila, visitaram o casal Pupols
no seu campo de trabalho e sentiram a fragilidade do "Zé-Zé" em meio
às ondas do mar agitado, fizeram o propósito de oferecer uma embarca-
ção maior, coberta, em que o obreiro pudesse viajar com mais seguran-
ça e levar em sua companhia grupos corais para ajudá-lo no trabalho.
Alguns meses depois João Pupols recebeu a surpresa de uma grande
lancha, que lhe foi entregue pelo casal acima referido, à qual ele deu o
nome de AR-LUD (composto das primeiras sílabas dos prenomes dos
doadores). Recebeu-a como presente de Deus, pois foi a resposta às suas
orações. (48)
Com a nova embarcação, João Pupols deu asas ao seu espírito pio-
neiro, avançando cada vez mais, em busca de novos campos, e batizando
dezenas e dezenas de novos crentes. Visitou também diversas igrejas
letas, principalmente as de Nova Odessa, falando da extensão do campo
do litoral paranaense, da falta de obreiros — pois ele se encontrava so-
zinho em toda aquela vasta região; dizia também da pobreza do povo,
da precariedade das condições de saúde, do analfabetismo, da falta de
templos e das grandes oportunidades que ali se ofereciam para evange-
lização. As suas publicações no periódico leto Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), que já vinham informando os batistas letos desde 1948 sobre
o trabalho que se realizava no litoral paranaense ou "beira-mar", torna-
vam cada vez mais conhecida essa obra, que era um verdadeiro desafio
à mocidade batista leta do Brasil. Dentro de pouco, dois jovens constru-
tores, filhos de imigrantes de Varpa, Hari Janson e Paulo Osis, oferece-
ram-se para construir gratuitamente o templo de madeira para a grande
congregação de Guaraqueçaba. Mais tarde, Paulo Osis, estabelecido com
sua firma construtora em Curitiba, construiu outros oito templos, três
escolas e uma casa pastoral no litoral paranaense nas mesmas condições,
e, em alguns casos, até dando parte do material necessário, enquanto
Hari Janson se integrou no grupo missionário de Rincón del Tigre, na
Bolívia. Diversas igrejas letas e numerosos particulares começaram a
participar da obra missionária do Pastor João Pupols, do qual, anos de-

(48) Id., ibid., loc. cit.

441
pois, escreveu, um dos líderes batistas brasileiros, os seguintes concei-
tos: "... Pastor João Pupols, incontestavelmente é um continuador e
êmulo de Samuel de Mello, com aquela mesma coragem, aquela tenaci-
dade incansável, perseverança e aquela fé sem limites." ( 49)

2.2 — Pastor João Weidman e a Missão Batista Leta do Litoral


Norte-Paranaense
João Weidman, filho de imigrantes batistas letos que fundaram a
Colônia Varpa e depois se mudaram para Santa Bárbara D'Oeste e pos-
teriormente para Areias, no Estado de São Paulo, converteu-se e foi ba-
tizado aos 14 anos de idade. Com 17 anos ingressou no Curso de Exten-
são do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil em Palma, e o ter-
minou em 1950. Durante cinco anos, trabalhou como evangelista na re-
gião da Alta Paulista, ajudando seu tio, Pastor Emílio Weidman, no
campo da Missão Sertaneja de Varpa. Em princípios de 1955, aceitou
o convite da Associação das Igrejas Batistas Letas no Brasil, para aju-
dar o Pastor João Pupols no litoral do Paraná, onde chegou em março
do mesmo ano. A pedido da Igreja Batista de Itaqui, foi ordenado ao
Ministério da Palavra em 20 de julho de 1955 na II Igreja Batista de
Nova Odessa, passando a trabalhar como pastor-evangelista da Igreja
de Itaqui, e a partir do ano seguinte também das igrejas de Tagaçaba e
Potinga. Foi, portanto, com a nomeação do Pastor João Weidman como
seu obreiro em 1955, que principiou a participação sistemática da Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas no Brasil na evangelização do litoral
paranaense. (50 ) Fig. 236
Com os recursos doados pelos batistas letos em diversas igrejas,
João Weidman, possuído do mesmo espírito pioneirista de João Pupols,
adquiriu uma boa lancha, e depois uma outra maior, que, com suas aco-
modações, era uma verdadeira casa flutuante. Nessas embarcações o mis-
sionário, juntamente com sua família, singrava as águas das baías e dos
rios do litoral norte do Paraná durante 15 anos consecutivos, levando a
mensagem do evangelho a centenas de almas sedentas. A sua esposa,
D. Neide, que é brasileira, muito o ajudou, e continua ajudando com efi-
ciência, na obra que realiza.
Em Tagaçaba, o missionário João Weidman, além de exercer o pas-
torado da igreja e cuidar do grande campo que lhe era atribuído, organi-
zou uma escola primária anexa à igreja, e, em 1964, o DISPENSÁRIO
BOM SAMARITANO, oferecendo assistência de enfermagem, distribui-
ção de medicamentos e também serviço dentário, quando alguns dentis-
tas letos se ofereciam para tanto durante algumas semanas de suas fé-
rias. Em todo o Município de Guaraqueçaba, o DISPENSÁRIO BOM
SAMARITANO era o único serviço de pronto socorro existente e com

(49) Assumpção, Xavier, "Sete de Setembro", Batista Paranaense, Ano XLVII, n9 9 e 10,
setembro-outubro de 1966, p. 1.
(50) Cf. Weidman, João, "Narrativa sobre os Trabalhos dos Batistas Letos no Litoral Pa-
ranaense", manuscrito inédito que se encontra no arquivo do Museu Batista do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB. p. 3.

442
funcionamento contínuo, com enfermeira residindo no próprio prédio,
para atendimento a qualquer hora. O volume desse atendimento variava
entre 5 a 6 mil pessoas anualmente. As duas professoras, Ilga Muceniek
e Ana Muceniek, recebiam uma pequena parte de sua manutenção da
Prefeitura de Guaraqueçaba, enquanto a parte maior procedia da Asso-
ciação das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Quanto à enfermeira, Selma
Ruth, de origem alemã e que depois casou com um missionário de origem
leta, essa recebia parte do seu salário da Associação acima referida e
parte da Junta Executiva da Convenção Batista Paranaense. (51)
2.3 — Outros obreiros letos no campo missionário do litoral norte-pa-
ranaense
A presença dos missionários João Pupols e João Weidman na região
difícil do litoral norte do Paraná, o crescimento da obra por eles pro-
movida, o seu exemplo de extrema dedicação ao trabalho, as descrições
numerosas das atividades dos missionários e das necessidades do campo
no periódico Kristigs Draugs e os relatórios nos congressos anuais da
Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil foram os fatores que
Deus usou para chamar outros obreiros para o campo do litoral e para
a região serrana do Rio Pardo no Estado do Paraná.
Na função de missionárias-professoras de origem leta, nas diversas
escolas fundadas e mantidas pelos batistas letos no litoral norte do Pa-
raná, servindo algumas põr tempo reduzido, enquanto outras já por mui-
tos anos, temos os seguintes nomes: Aldona Maurmann (depois Silva) e
Ilga Muceniek nas escolas anexas às igrejas em Potinga e Tagaçaba;
Ana Muceniek e Solveiga Muceniek na escola de Tagaçaba; Elza Kar-
klis na escola de Tromomó e depois na Ilha Rasa; Ruth Murniek na es-
cola de Guaraqueçaba, mantida pela Junta Executiva da Convenção Ba-
tista Paranaense; e Lídia Sônia Klawa, na escola anexa à Igreja Batista
de Itaqui. (52 ) No trabalho da missão leta havia também duas profes-
soras brasileiras, Maura Caetano Campos e Terezinha Campaner, atuan-
do nas escolas de Tagaçaba e Itaqui, respectivamente.
Alfredo Klawa e esposa, D. Mirdza, da III Igreja Batista de Nova
Odessa, sentindo-se vocacionados por Deus para entregar suas vidas à
pregação do evangelho, depois de algumas visitas ao campo missionário
leto do litoral paranaense, fixaram-se na Ilha Rasa em 31 de março de
1967. O irmão Alfredo é da grande família Klawa da colônia leta de Rio
Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina, enquanto sua esposa imigrou da
Letônia em 1922, com apenas nove meses de idade, juntamente com seus
pais, fundadores da Colônia Varpa. Durante dois anos o citado obreiro
foi evangelista da Igreja Batista de Itaqui, nas congregações de Ilha
Rasa, Tromomó, Medeiros e Prainha, tendo aberto e desenvolvido pontos
de pregação em Saco de Tambarutaca, Patos, Medeiros de Cima e Almei-
da. Em 13 de março de 1969, Alfredo Klawa foi ordenado ao ministério
da Palavra de Deus na II Igreja Batista de Nova Odessa, a pedido da

(51) Id., ibid., pp. 7, 8 e 9.


(52) Id., ibid., p. 5.

443
Igreja de Itaqui. (53) Onze meses depois, a 15 de fevereiro de 1970, com
142 membros das congregações já mencionadas, foi organizada a Igreja
Batista de Ilha Rasa, que desde essa data vem sendo pastoreada pelo
missionário Pastor Alfredo Klawa. ( 54 )
Durante três anos esse obreiro utilizava-se de uma lancha que ele
construiu com suas próprias mãos. Em 1970, porém, com a cooperação
das igrejas letas, foi adquirida uma embarcação nova para o seu traba-
lho, mais veloz, mais confortável e menos perigosa, com instalações e
acomodações que permitem fazer viagens longas, com capacidade para
mais de uma dezena de pessoas, à qual deu o nome de "Boas Novas".
Tal recurso multiplicou as possibilidades do obreiro para atender aos
clamores pelas suas visitas em ilhas e ilhotas do litoral norte do Paraná,
bem como para socorrer os doentes, levando-os ao dispensário de Taga-
çaba ou ao hospital em Paranaguá. Figs. 237, 238 e 239
Em princípios de 1970, após 25 anos de atividades do Pastor João
Pupols, 15 anos de trabalho do Pastor João Weidman, 3 anos do Pastor
Alfredo Klawa e cerca de 7 anos das professoras e enfermeira, os dados
que conseguimos compilar de diversas fontes apresentavam o seguinte
quadro: Igrejas existentes no início do trabalho do Pastor João Pupols
— 6, em Cedro, Eufrazina, Itaqui, Tagaçaba, Serra Negra e Açungui,
Congregações: da Igreja Batista de Itaqui — 3: Medeiros, Guaraque-
çaba e Ilha Rasa; da Igreja Batista de Açungui — 1: em Potinga. Fo-
ram realizados pouco mais de 400 batismos de novos crentes, organiza-
das 3 novas igrejas: em Potinga, Guaraqueçaba e Ilha Rasa; fundadas
3 novas congregações: em Prainha, Tromomó e Morato; abertos 17 pon-
tos de pregação: em Bromado, Trancado, Tagaçaba de Cima, Barra do
Potinga, Siriri, Pedra Chata, Ipanema do Norte, Rio dos Patos, Barra de
Laranjeiras, Ibicanga, Almeida, Boa Vista, Borrachudo, Medeiros de Ci-
ma, Pastos, Taquanduva, e Saco de Tambarutaca. Foram construídos,
com recursos procedentes dos batistas letos, 8 templos, 3 escolas e 1 dis-
pensário. (55 ) Em setembro de 1969 havia ao todo 13 obreiros letos no
campo missionário do litoral paranaense. ( 56)
Um dos obreiros brasileiros da liderança no Paraná, Pastor Fran-
cisco Rodrigues de Melo, escrevendo sobre o trabalho que se desenvolvia
no litoral daquele Estado, assim se expressou a respeito da participação
dos batistas letos no mesmo:
Os irmãos letos, aqueles mesmos que criaram o centro de
evangelização que se chama Varpa-Palma, que espalharam o
evangelho no avanço da Estrada de Ferro Sorocabana, de Ou-
rinhos a Porto Epitácio, de onde se originou a maior parte das

(53) Dobelis, Girts, "Alfreda Klavas ordinacija" (Ordenação de Alfredo Klawa), Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), n° 5, maio de 1969, p. 15.
(54) Klawa, Alfredo, "Kristibas dievkalpojums Lezena Sala, Paranas jurmalâ" (Batismos na
Ilha Rasa, no Litoral do Paraná), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 7, julho de 1970,
p. 18.
(55) Cf. Pupols, João, Op. cit.; Weidman, João, Op. cit.
(56) Garancs, Arthur, "20 gadskartejais BLBD kongress S. Paulo" (Vigésimo Congresso
Anual da Associação das Igrejas Batistas Leias do Brasil em São Paulo), Kristigs Draugs
,(0 Amigo Cristão), n° 9, setembro de 1969, p. 9.

444
igrejas da Alta Sorocabana, estenderam as suas vistas para
o Litoral Paranaense. Olhem que é preciso mesmo ter olho
comprido, visão alargada, mas tiveram e mandaram para esta
região difícil alguns elementos que aqui aportaram, com sim-
plicidade, com propósitos humildes, mas cheios de amor às
pobres almas perdidas deste vasto litoral. João Pupols, João
Weidman e, por último, Alfredo Klawa, trabalharam de dia,
construindo suas próprias embarcações e nelas faziam viagens
à noite, para levar a semente do evangelho às vilas, aldeias,
ilhas e pequenos povoados da região. Há trabalhos estabele-
cidos em Itaqui, Guaraqueçaba, Tagaçaba, Serra Negra, Açun-
gui, Tromomó, Saco de Tambarutaca, Ilha Rasa, Laranjeiras,
Medeiros, Potinga, Prainha, Morato e muitos outros lugares.
O Pastor João Pupols está no litoral desde junho de 1945; é
um verdadeiro lobo do mar. Cremos que nunca o trabalho es-
teve tão promissor como o verificamos agora..." (57)
Diversas vezes foram dirigidas, à Associação das Igrejas Batistas
Letas do Brasil, cartas de agradecimento da Junta Executiva da Con-
venção Batista Paranaense, firmadas pelo seu Secretário-Correspondente,
Pastor Avelino Ferreira, qualificando o trabalho dos batistas letos como
uma "valiosíssima contribuição na implantação, extensão e solidificação
da Obra Batista no, nosso Estado". (58)
2.4 — Novo Campo Missionário na Região Serrana do Rio Pardo, Es-
tado do Paraná
Em princípios de 1968, um jovem, Reinaldo Snikers, da II Igreja
Batista de Nova Odessa, filho de imigrantes fundadores da Colônia Var-
pa, ouvindo o missionário João Weidman, atendeu ao apelo de Deus para
ir e iniciar um novo trabalho na região montanhosa do Rio Pardo, Mu-
nicípio de Adrianópolis, abrangendo também parte do Estado de São
Paulo, do outro lado do Rio Pardo. Enviado pela sua igreja e logo depois
aceito como obreiro da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil,
o Prof. Reinaldo Snikers abriu uma escola primária em Rio Pardo a 7 de
abril de 1968, devidamente registrada pela municipalidade, que também
providenciou as respectivas carteiras e o material escolar. (59 ) Dentro
em pouco, o novo obreiro estava pregando não só no local da escola,
como também na redondeza, visitando ranchos e casebres habitados por
um povo que jamais ouvira falar do evangelho de Cristo. No ano seguin-
te o jovem professor missionário casou-se com a enfermeira missionária
de Tagaçaba, Selma Huth, tendo aberto um ambulatório em Rio Pardo,
que em 1971 já estava atendendo a cerca de 5.000 casos por ano. Dada

(57) Melo, Francisco Rodrigues de, "O Grande Litoral Paranaense", O Jornal Batista, Ano
LXIX, n° 43, 26 de outubro de 1969, p. 6.
(58) Ferreira, Avelino, Cópia da missiva enviada à Associação das Igrejas Batistas Letas
do Brasil em 4 de março de 1970.
(59) Tiss, Gunars, "Musu misionaru upuri un panakumi Paranas-Jurmala" (Os sacrifícios
e as Vitórias dos Nossos Missionários no Litoral do Paraná), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n9 6, junho de 1968, p. 12, citando "João Weidman.

445
a extrema pobreza da região, o casal vem ampliando o seu trabalho, com
distribuição de agasalhos e assistência a viúvas e órfãos na medida em
que recebe os recursos das igrejas letas e de outras que estão se dis-
pondo a cooperar. (60 ) O patrocínio desse trabalho pertence à II Igreja
Batista de Nova Odessa. No mesmo ano mudou-se também para a região
de Rio Pardo, cidadezinha de Araçaíba, o irmão Oswaldo Lourenço Pinto,
missionário da Igreja Batista de Tagaçaba, então pastoreada pelo Pastor
João Weidman. Esse irmão, com sua família, desenvolve um grande tra-
balho de evangelização naquela região, que é seu torrão natal, preten-
dendo ingressar no Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, em Curitiba,
para estudos teológicos. (61) Figs. 240, 241 e 242
Em fevereiro de 1970 transferiu-se da mesma região, para a pequena
cidade de Quatro Barras, nas nascentes dos rios Nhundiaquara, Iguaçu e
Rio Pardo, a cerca de 100 km de Curitiba, o missionário Pastor João
Weidman, depois de 15 anos de permanência no litoral. Vendendo a sua
lancha, comprou uma Kombi, com a qual atinge apenas algumas das lo-
calidades e choças escondidas nas montanhas e vales da região, de vez
que não há estradas senão trilhos para seu acesso, vencendo grandes dis-
tâncias a pé. Em cerca de seis meses de atividades, o missionário João
Weidman já havia estabelecido 10 pontos de pregação no seu novo campo,
dos quais ele menciona como os mais importantes: Quatro Barras, Cam-
pina Grande do Sul, Bocaiúva do Sul e Adrianópolis, sedes de municípios,
e Borda do Campo, Ribeirão Preto e Palmital, localidades menores. Mais
tarde foram abertos ainda pontos de pregação em Campinho, Estrada do
Tigre e Santa Rita de Cássia, onde também coopera ativamente a profa
Ilga Muceniek Gomes. A Igreja Batista da Vila Parolin, em Curitiba —
cujo pastor, Verner Kriger, é filho da Colônia Varpa — vem dando co-
bertura ao trabalho da missão leta na região do Rio Pardo sob a orien-
tação do missionário João Weidman, arrolando como seus membros todos
os novos crentes que ali são batizados, até que se organizem as respecti-
vas igrejas, e também cooperando em outros aspectos, como seja a com-
pra do terreno em Quatro Barras para o futuro templo, excursões evan
gelísticas, etc. ( 62 ) Por outro lado, também a Junta Executiva da Con-
venção Batista Paranaense vem dando a sua contribuição, tendo já de-
signado certa verba para a construção de uma capela batista num acam-
pamento de delinqüentes nas montanhas de Quatro Barras, onde o Pas-
tor João Weidman já desenvolve um trabalho promissor. (63) Fig. 243
Em seu relatório anual, apresentado ao 23° Congresso da Associação
das Igrejas Batistas Letas do Brasil, realizada em Nova Odessa nos dias

(60) Snikers, Reinaldo, "Lidzdalijums par darbu Rio Pardo" (Informação sobre o trabalho
em Rio Pardo), Krisfigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 9, setembro de 1972, pp. 10 e 11.
(61) Tiss, Gunars, loc. cit.
(62) Cf. Weidman, João, "Atvertas durnis" (Portas Abertas), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n° 11, novembro de 1970, pp. 1 a 4; idem, "Kvatro Barras Misijas lauka zinojums"
(Informações do Campo Missionário de Quatro Barras), Kristigs Draugs (O Amigo Cris-
tão), n° 11, novembro de 1972, pp. 4 a 8; também Tiss, Gunars, "BLBD Apvienibas darbiba
un zinojumi" (Atividades e comunicações da Associação das Igrejas Batistas Letas do Bra-
sil), Krisfigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 3, março de 1972, p. 14.
(63) Ferreira, Avelino, Entrevista com o autor em 12 de março de 1973, Rio de Janeiro, GB.

446
9 a 11 de julho de 1972, o missionário João Weidman informou que du-
rante o ano realizou 195 cultos evangelísticos no campo de Quatro Bar-
ras; fez 68 viagens a Curitiba, para conduzir, em sua Kombi, enfermos
e acidentados que necessitavam recursos médicos e hospitalares inadiá-
veis no Hospital Evangélico da Capital paranaense, considerando esse
trabalho como excelente oportunidade para abrir muitas portas para o
testemunho do evangelho; recebeu diversas visitas de grupos de membros
da Igreja Batista de Vila Parolin e seu pastor, que realizaram programas
evangelísticos em alguns dos pontos de pregação do seu campo, bem
como visitas de obreiros brasileiros da liderança batista do Paraná e de
professores e estudantes do Instituto Bíblico Batista de Curitiba, salien-
tando a atuação do jovem Reginaldo Kruklis, candidato ao ministério
batista e neto de imigrantes do movimento de 1922/23, que tem feito,
repetidas vezes, trabalhos evangelísticos naquele campo missionário. ( 64)
Concluindo o retrospecto sobre o trabalho missionário dos batistas
letos no Estado do Paraná, ainda temos a notar a cooperação que tam-
bém nesse campo prestam diversos obreiros de retaguarda e que freqüen-
temente se tornam lutadores da vanguarda. Entre esses, merecem men-
ção o casal Paulo Osis e sua esposa, D. Ludmila, e o Pastor Verner Kri-
ger com sua consorte D. Alice. Residindo em Curitiba, esses irmãos pres-
tam serviços diversos no encaminhamento de valores, roupas e medica-
mentos aos obreiros letos tanto do litoral como da região serrana do
Rio Pardo; no atendimento e hospedagem dos obreiros quando em tra-
tamento de saúde ou em trânsito; na recepção, hospedagem e encaminha-
mento de visitantes — obreiros e leigos — que se destinam às duas áreas
do campo missionário leto no Estado do Paraná; e na construção de
templos, escolas, ambulatórios e residências para os missionários, ser-
viço que se deve especialmente ao irmão Paulo Osis, cuja liberalidade e
prontidão nesse setor tem sido de um verdadeiro missionário. Fig. 244
Ainda há outros nomes na retaguarda missionária dignos de men-
ção e que pelo seu próprio esforço e dedicação, bem como pela promoção
da obra entre igrejas, organizações e amigos, procuram suprir os obrei-
ros nos campos com os recursos e equipamentos diversos necessários ao
desempenho da sua missão. São eles: Dr. Arvido Leiasmeier e esposa
D. Ludmila, já referidos, que vêm ajudando o trabalho no litoral para-
naense de diversas maneiras (Fig. 245) ; Pastor Carlos Gruber, cuja
contribuição em favor dessa obra é constante desde os seus primórdios,
especialmente no que diz respeito ao sustento de alguns obreiros; D.
Marta Deglav, por muitos anos presidente da Sociedade Feminina da II
Igreja Batista de Nova Odessa, que tem feito diversas viagens ao campo
do litoral, levando medicamentos, roupas e literatura evangelística, ma-
terial preparado e angariado entre igrejas e amigos de Nova Odessa;
Arvido Bedik e sua esposa, D. Afina, também da II Igreja Batista de
Nova Odessa, que por diversos anos consecutivos carregaram a sua ca-
mioneta com presentes, para levá-los às crianças das igrejas e congre-

(64) Weidman, João, "Kvatro Barras Misijas lauka zinojums" (Informações do Campo
Missionário de Quatro Barras), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 11, novembro de
1972, p. 8.

447
gni:5es do litoral nas proximidades do Natal de Cristo; e Carlos Rekis,
que juntamente com alguns irmãos, forneceram o material e congtrucran,
a usina geradora de energia elétrica para o templo, escola e casa pastoral
da Igreja Batista de Itaqui, no litoral paranaense. Fig. 246.
Assim temos concluído urna descrição da obra cooperativa missio-
nária dos batistas letos do Brasil, que vem sendo realizada em sua se-
gunda fase, ou seja, depois da II Guerra Mundial, contando também com
a cooperação dos batistas letos da América do Norte.

448
CAPITULO XI
MISSÕES BATISTAS LETAS PROVENIENTES
DE INICIATIVAS PARTICULARES

1. Na cidade de Anhumas — Estado de São Paulo


2. Na cidade de Monte Mor — Estado de São Paulo
3. Na cidade de Bastos — Estado de São Paulo
4. Na cidade de Inúbia Paulista — Estado de São Paulo
5. Na cidade de Regente Feijó — Estado de São Paulo
6. Na Vila Monte Verde — Estado de Minas Gerais
7. Na cidade de Pederneiras — Estado de São Paulo
8. O significado das missões de iniciativa particular
CAPITULO XI

MISSÕES BATISTAS LETAS PROVENIENTES


DE INICIATIVAS PARTICULARES

A par do trabalho cooperativo de igrejas batistas letas na evangeli-


zação do povo brasileiro, merece registro a obra feita por iniciativa par-
ticular de famílias letas que moravam longe de suas respectivas igrejas.
Em diversos lugares missões batistas letas desse tipo se desenvolveram,
resultando na organização de igrejas batistas brasileiras, que contribuí-
ram e continuam contribuindo para o progresso da causa batista no
Brasil e no estrangeiro. Faltando dados de todas as missões desse ca-
ráter, alistaremos aqui, em ordem cronológica, apenas as mais conhe-
cidas.

1. Na cidade de Anhumas — Estado de São Paulo

As origens do trabalho batista em Anhumas, cidade localizada ao


sul de Regente Feijó, na região da Alta Sorocabana, no Estado de São
Paulo, prendem-se ao testemunho e esforço de um batista leto dos mais
dinâmicos, Eduardo Sieplin, imigrado em 1908 e já mencionado no con-
texto das atividades de batistas letos em Nova Europa, Pariquera-Açu
e São José dos Campos. Estabelecendo-se ali, em 1927, com a sua in-
dústria de madeira — Serraria Excelsior — Eduardo Sieplin iniciou logo
uma Escola Bíblica Dominical em sua casa, realizou cultos regulares,
convidou diversos pastores — como João Klawa, Salvador Farina Filho,
Emídio Pinheiro e outros — que realizaram séries de conferências, e prb-
moveu outras atividades evangelísticas, tais como visitas aos sítios, fa-
zendas e à cidade de Regente Feijó.
Em 16 de maio de 1933, com a presença do Pastor João Klawa, da
Igreja Batista de Presidente Prudente, foi organizada a Igreja Batista
de Anhumas, sendo eleito Eduardo Sieplin seu moderador, pregador e
regente do coro. Alguns anos depois, o Pastor Frederico Vitols, da Igre-
ja Batista de Assis, e um dos jovens imigrantes de Varpa, que recente-
mente havia se formado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, assumiu o pastorado da igreja em Anhumas, em caráter de pas-
tor-visitante, quando o trabalho recebeu maior impulso, tendo sido or.

451
ganizada também uma congregação no Norte do Paraná, que mais tarde
se mudou para Londrina, dando início ao trabalho batista naquela ci-
dade nova e próspera do Estado vizinho. (1)
Com o êxodo dos crentes para o Norte do Paraná, em busca de me-
lhores oportunidades de trabalho, e a transferência do evangelista Eduar-
do Sieplin, com a sua indústria, para a cidade de Regente Feijó, em 1947,
a Igreja Batista de Anhumas ficou com cerca de seis crentes no local, o
que motivou também a mudança de sua sede para Regente Feijó, pas-
sando a chamar-se Igreja Batista de Regente Feijó.
Os 20 anos de atividades do trabalho batista em Anhumas produzi-
ram muitos frutos, que ingressaram em outras igrejas, especialmente do
Norte do Paraná.
2. Na cidade de Monte Mor — Estado de São Paulo
Um dos integrantes do movimento de imigração de batistas letos no
Brasil em 1922/23, Martin Plepis, deixou a Colônia Varpa logo nos seus
primórdios, fixando-se em Nova Odessa. Não satisfeito ali, transferiu-se
depois, com toda a família, para Monte Mor, cidade não muito distante
de Nova Odessa, no caminho entre Campinas e Capivari, em cujas ime-
diações desenvolveu atividades agrícolas. Logo de início, mesmo com
dificuldades em se expressar em português, procurou dar o testemunho
de sua fé reunindo os vizinhos para os cultos. Pertencendo à I Igreja
Batista de Nova Odessa, de quando em vez o seu pastor — que na época
era o Pastor Carlos Kraul — visitava o trabalho, bem como alguns dos
obreiros brasileiros de Campinas, cidade que ficava bem mais próxima
que Nova Odessa.
Passando, mais tarde, às atividades comerciais e sendo bem relacio-
nado na cidade, Martin Plepis muito contribuiu, com sua consagração e
liberalidade, para o desenvolvimento da congregação, que alguns anos
depois foi organizada em Igreja Batista de Monte Mor, sob o patrocínio
da I Igreja Batista de Campinas. Perfeitamente integrada como igreja
brasileira, vem ela cumprindo a sua missão, sendo seus principais susten-
táculos os filhos do fundador do trabalho, falecido em 1965. (3)
3. Na cidade de Bastos — Estado de São Paulo
Bastos, localidade situada a 35 km de Varpa, surgiu como colônia
japonesa alguns anos depois da fundação desta última. Com o desenvol-
vimento que experimentou durante a década de 30, tornou-se uma cidade.
Nessa fase de crescimento, houve muito consumo de madeira de lei, ma-
terial de fácil aquisição para construções na cidade, como nos sítios.

(1) Sieplin, Eduardo, narrativa biográfica firmada em Regente Feijó em 29 de outubro


de 1969, a qual se acha nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(2) Id., ibid.
(3) Tiss, Gunars, correspondência firmada em Americana, em 2 de janeiro de 1969, que se
encontra nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB.

452
Verner Grinberg, membro da Igreja Batista Central de Varpa e madei-
reiro de profissão, por volta de 1936 instalou em Bastos um depósito de
madeira serrada em sua indústria montada em São Luís, não muito
distante de Bastos, pouco depois fixando ali também a sua residência.
Para a superintendência do depósito convidou, de Varpa, o seu cunhado
Arvido Maurmann e o seu sogro João Leiasmeier, este diácono e vice-
-moderador por muitos anos da Igreja Batista Central de Varpa, que
também passaram a residir em Bastos com as respectivas famílias.
Impossibilitados de freqüentarem a sua igreja em Varpa — devido à
distância — esses irmãos realizavam os seus cultos ali mesmo em Bas-
tos, em língua leta, sob a direção do diácono João Leiasmeier. Dentro de
pouco tempo surgiu uma classe bíblica para as crianças brasileiras, diri-
gida pelas irmãs Emilia Grinberg e Melânia Maurmann, respectivamente
esposas de Verner Grinberg e de Arvido Maurmann, ambas filhas do
mencionado diácono. Poucos anos depois juntaram-se ao grupo a famí-
lia Guilherme Krievin e alguns crentes batistas de Marília. Desse núcleo
desenvolveu-se uma Escola Bíblica Dominical sob a liderança de Arvido
Maurmann. Em 1943 mudou-se para Bastos também o sócio e cunhado
de Verner Grinberg, Dr. Arvido Leiasmeier, pregador e regente, com sua
esposa, Prof.' Ludmilla.
Não tardaram as visitas dos pastores Carlos Kraul, Arvido Eich-
mann, João Korps, Ângelo Farina, este da Igreja Batista de Marília, e
outros, que eram convidados para pregar. Alguns lenhadores crentes,
membros da Igreja Batista de Bandeiras, dirigida pelo Pastor Carlos
Kraul, que trabalhavam nas cercanias de Bastos, também filiaram-se à
congregação batista de Bastos. Houve trabalho intenso, conversões e
batismos realizados pelo Pastor Ângelo Farina. Entrementes, Verner
Grinberg já havia doado um terreno e, juntamente com o sócio, grande
parte do material para a construção de um templo de tijolos. Outros
irmãos cooperaram também com material elétrico e mão-de-obra e em
1942 foi organizada a Igreja Batista de Bastos, com mais de três deze-
nas de membros, uma Escola Bíblica Dominical e coro, e em 1945 inau-
gurado o templo para 200 pessoas. (4 ) Serviram-na, como pastores-visi-
tantes em diversos períodos, os seguintes obreiros letos: Arvido nich-
mann, Osvaldo Ronis e João Korps. Depois de cerca de 22 anos de ati-
vidades batistas em Bastos, a igreja dissolveu-se, por força do êxodo de
seus membros. Recentemente, porém, ressurgiu ali uma nova congre-
gação batista, sob os auspícios da Igreja Batista de Tupã, filha da obra
missionária dos batistas letos de Varpa, organizando a nova Igreja Ba-
tista de Bastos em 1969. Figs. 247 e 248

4. Na cidade de Inúbia Paulista — Estado de São Paulo

Por volta de 1944, Verner Grinberg, o industrial batista leto men-


cionado no tópico anterior, transferiu a sua serraria para Innbia, — de-

(4) Grinberg, Verner, Entrevista com o autor em 11 de janeiro de 1969, em Monte Verde,
Sul de Minas.

453
pois denominada Inúbia Paulista — pequena localidade situada entre as
cidades de Oswaldo Cruz e Lucélia, à margem da estrada de rodagem
que acompanhava o traçado da Companhia Paulista de Estradas de Fer-
ro em direção do Estado de Mato Grosso, a 65 km da cidade de Tapa,
onde na época chegava a ponta de trilhos da referida ferrovia. O pe-
queno povoado compunha-se, então, de três ou quatro casas de tábua
muito humildes, sendo uma delas um bar, de que se serviam os trabalha-
dores da estrada acampados a pouca distância. ( 5)
Sendo uma região ainda coberta de matas, com grande abundância
de madeira de lei, Verner Grinberg, com sua visão, senso atilado e espí-
rito pioneiro, comprou diversos lotes de terra na projetada cidade, am-
pliou a capacidade de produção de sua indústria, construiu residências
para a sua família e a do seu sócio Dr. Arvido Leiasmeier, uma dúzia de
casas para os empregados, um templo provisório para o trabalho de
evangelização e preparou uma pista de pouso para o seu avião, recen-
temente adquirido.
Os primeiros batistas a fixarem residência em Inúbia Paulista em
1944, foram o irmão Dr. Arvido Leiasmeier e sua esposa, que logo deram
início a uma Escola Bíblica Dominical para as famílias dos empregados
da serraria e outras que vinham chegando ao então novo distrito do
Município de Lucélia. Seguiu-lhe o irmão Arvido Maurmann com sua
família. Crescendo a população local e com ela a assistência à Escola
Bíblica Dominical, foi dada ao trabalho uma estrutura mais consistente
— a de uma congregação filiada à Igreja Batista de Bastos, tendo a sua
própria tesouraria, seus cultos, suas reuniões de negócios, seu coro etc.
A direção geral dos cultos e a regência do coro estavam sob a responsa-
bilidade do Dr. Arvido Leiasmeier, cuja atuação, ainda mais tarde, per-
durou por alguns anos na capacidade de vice-moderador. Foram também
convidados alguns pastores — como João Lukass, Arvido Eichmann e
outros — para trabalhos especiais de evangelização, em que diversas
pessoas se converteram e foram batizadas. ( 6 )

Dadas as perspectivas para um bom crescimento do trabalho batista


ali, em meados de 1946 foi convidado o Pastor Osvaldo Ronis para pas-
torear a Igreja de Bastos e a congregação em Inúbia Paulista, fixando
residência nesta última localidade com vistas à organização de uma igre-
ja. O referido pastor, atendendo ao convite, mudou-se para lá em agosto
de 1946, desenvolvendo logo um intenso trabalho de evangelização e, já
em abril de 1947, promovendo a organização da Igreja Batista de Inúbia
Paulista, com 27 membros, que no fim do ano já eram 68.
A par desse trabalho, o Pastor Osvaldo Ronis fundou também, ane-
xa à igreja, a Escola Batista, de nível primário, incluindo aulas de Es-
tudos Bíblicos. Nesse empreendimento o pastor contou com a irrestrita
colaboração de Verner Grinberg e Arvido Leiasmeier, sócios-proprietá-

(5) Id.. ibid., loc. cit.


(6) Id.„ ibid., loc. cit.

454
rios da citada indústria madeireira, que se prontificaram a assumir o
ônus da manutenção da escola, além da construção de um prédio para
esse fim, que no fim do ano já estava abrigando 100 alunos em 4 classes.
A escola era dirigida pelas professoras Alice Matos (depois Inke) e Es-
meralda Souto, filha do saudoso médico batista, Dr. Bernardino Souto
Filho, as quais o pastor foi buscar no Rio de Janeiro, tendo elas desem-
penhado um trabalho magnífico de instrução, relacionamento com o po-
vo e evangelização. Não menos importante foi a atividade da ProfQ. Si-
dália Assis dos Santos, na mesma escola, que veio colaborar pouco de-
pois. Foi a primeira escola de Inúbia Paulista, devidamente registrada,
que só veio a extinguir-se cerca de cinco anos depois, com a instalação
do Grupo Escolar. Fig. 249

Outrossim, em conseqüência da troca de correspondência do obreiro


mencionado com o jovem médico batista, filho da Bahia, Dr. Antonino
Barbosa Reis, este veio fixar residência em Inúbia, abrindo ali o seu
consultório. Foi ele o primeiro médico a dar assistência à população local
e de uma imensa área das circunvizinhanças, atendendo aos enfermos sem
recursos com a mesma solicitude dispensada aos demais. Fiel ao seu ideal
de servir ao próximo, com os proventos do seu intenso trabalho, foi ad-
quirindo alguns lotes de terras em Inúbia Paulista, formando uma grande
chácara, na qual construiu diversos prédios e fundou o Instituto de Previ-
dência Social "Providência", instituição evangélica particular de amparo
aos órfãos, à qual se dedica juntamente com sua esposa, Ilga Leiasmeier
Reis, irmã do Dr. Arvido Leiasmeier, que ele encontrou na igreja batista
local. O casal acha-se também na liderança da Igreja Batista de Inúbia
Paulista e a chácara do Instituto vem servindo anualmente aos retiros da
mocidade batista da região da Alta Paulista.
Há cerca de 18 anos a igreja vem sendo dirigida pelo Pastor Jacó
R. Inke, ora como residente, ora como visitante, a qual vem dando o seu
testemunho naquela cidade e redondezas, tendo também hospedado, por
diversas vezes, as assembléias anuais da Associação das Igrejas Batistas
da Alta Paulista, congressos, retiros e outras reuniões do trabalho co-
operativo da região. Menção especial merece a construção do magnífico
templo, inaugurado em 1949, que até hoje figura entre as mais belas
edificações da cidade. Por algum tempo serviram à igreja também os
pastores Antônio Abuchaim e Guilherme Kalutran, este interinamente.
Fig. 250

5. Na cidade de Regente Feijó — Estado de São Paulo

Regente Feijó, cidade da Alta Sorocabana na região de Presidente


Prudente, já desde 1927 recebeu o evangelho anunciado pelo testemunho
de batistas de várias nacionalidades — letos, russos, brasileiros — que
por ali passaram, mas não estabeleceram trabalho permanente. Só a
partir de 1947, quando o batista leto Eduardo Sieplin, moderador e evan-
gelista da Igreja Batista de Anhumas, alugou ali um salão por sua pró-
pria conta e começou a realizar pregações regulares é que teve inicio o

455
trabalho batista em Regente Feijó. Verificado o êxodo da quase totali-
dade dos membros da Igreja Batista de Anhumas para o Norte do Pa-
raná, motivado por questões de ordem econômica, e ocorrendo a mudança
da indústria madeireira de Eduardo Sieplin para Regente Feijó, também
os remanescentes daquela igreja — que eram menos de uma dezena —
resolveram mudar a sede de sua igreja para esta última cidade, denomi-
nando-a Igreja Batista de Regente Feijó. (7 )
Continuando à frente da pequena igreja, Eduardo Sieplin se desdo-
brou em esforços para evangelizar a cidade e suas vizinhanças, levando
à conversão muitas pessoas, e convidando diversos pastores, como Fran-
cisco Rodrigues de Melo, Lester C. Bell, Haroldo Bertrand e outros para
realizar conferências evangelísticas. Os primeiros batismos ali foram
realizados pelo Pastor Francisco Rodrigues de Melo, na ocasião evange-
lista itinerante da Alta Sorocabana. Por algum tempo o Pastor Haroldo
Bertrand serviu à igreja como pastor-visitante, continuando, porém, sem-
pre na liderança Eduardo Sieplin, cuja atividade, desembaraço e consa-
gração valeram-lhe o título de "pastor". Na verdade, por mais de uma
vez a igreja e os obreiros da região insistiram na sua ordenação ao mi-
nistério pastoral; entretanto, intimamente não se sentia vocacionado
para tal, entendendo ser a de evangelista a sua verdadeira vocação. (8)
Em 1967, assumiu o pastorado da Igreja Batista de Regente Feijó,
como pastor-visitante, o missionário Daniel H. Burt Jr., de Presidente
Prudente, a cujo empenho a igreja deve a vitória da construção de um
templo que foi inaugurado em 6 de agosto do mesmo ano. (9 ) Embora
já quase octogenário, continuou Eduardo Sieplin à frente da Igreja Ba-
tista de Regente Feijó até a sua morte em 1973, substituindo o pastor no
púlpito, visitando, pregando nas congregações, ao ar livre e nos progra-
mas radiofônicos, sempre fiel à sua vocação de evangelista. Fig. 251
6. Na Vila Monte Verde — Minas Gerais
Monte Verde é um distrito do Município de Camanducaia, no extre-
mo sul do Estado de Minas Gerais, escondido na Serra da Mantiqueira,
nas proximidades do Pico do Selado, a 1.600 m de altitude, por trás das
montanhas que ladeiam pelo leste a Rodovia Fernão Dias à altura do
quilômetro 140 de São Paulo e 480 de Belo Horizonte, no vale do Ribei-
rão do Cadete, dos chamados "Campos do Jaguari", a 33 km da sede do
município.
Em 1938, Verner Grinberg, o já citado batista leto, adquiriu na-
quele vale uma área de terras virgens de, aproximadamente, 450 alqueires
paulistas. Seu desejo era encontrar um outro local semelhante a Campos
do Jordão, onde seu pai era madeireiro, como de fato o encontrou nos
Campos do Jaguari, ainda que menos denso de pinheiros em compara-
ção com aquele. Quando, juntamente com a esposa, D. Emília, ali pene-

(7) Sieplin, Eduardo, Op. cit.


(8) Id., ibid.
(9) Id., ibid.

456
trou a cavalo, através de picadas na mata, para ver suas terras, o casal
ficou encantado com a natureza do local. (1°)
Em julho de 1949, Carlos Kempis, batista leto de Varpa e velho ami-
go de Verner Grinberg, buscando um clima de maior altitude, ali se fixou
com sua família e mais um parente. Pouco tempo depois, quando já se
falava do projeto de uma rodovia asfaltada que passaria pela cidade de
Camanducaia, ligando São Paulo a Belo Horizonte, o casal Grinberg teve
a idéia de lotear parte da gleba. O irmão Verner preparou ali uma pista
de pouso e um hangar para seu avião e meteu mãos à obra. Aos poucos,
diversos letos, interessados por um clima que se assemelhasse ao euro-
peu, adquiriram seus lotes, construíram suas residências e começaram a
formar seus pomares em Cadete, nome primitivo do lugar, por eles em-
prestado do ribeirão que serpenteia pelo vale. Ainda no mesmo ano,
1949, Carlos Kempis começou a reunir aqueles letos e com eles realizar
cultos em sua própria língua. (11)
Atraídos pela oferta de trabalho nos serviços do loteamento e nas
construções, surgiram também diversas famílias brasileiras. Por volta
de 1951, durante uma temporada que passou naquelas montanhas o casal
Dr. Arvido Leiasmeier, D. Ludmilla Leiasmeier começou a reunir as
crianças da localidade, dando, assim, início a uma Escola Bíblica Domi-
nical; enquanto seu marido, Dr. Arvido Leiasmeier, realizava alguns
cultos de pregação do evangelho em português para os adultos. Reti-
rando-se o casal, o irmão Carlos Kempis, crente zeloso e dotado de di-
versas habilidades, continuou e ampliou o trabalho iniciado no verná-
culo. Algum tempo depois, o casal Grinberg trouxe da escola de Inúbia
Paulista a Profa Sidália Assis dos Santos, para ali abrir uma escola pri-
mária. A ação missionária da jovem dentro e fora da escola, junto das
famílias dos moradores do lugar e suas redondezas, constituiu, por al-
guns anos, a maior semeadura do evangelho, cuja colheita depois foi
abundante. Carlos Kempis, liderando, ensaindo conjuntos de vozes de
crianças e de adultos, pregando e em tudo contando com a colaboração
da professora e do casal Grinberg, em pouco tempo conseguiu reunir os
moradores, próximos e distantes, em cultos regulares. Os pastores André
Ceruks e João Lukass, respectivamente, de Nova Odessa e de São Paulo,
eram convidados com freqüência a realizar trabalhos especiais, como sé-
ries de conferências e outros, que sempre representavam grande auxílio
no crescimento da obra do evangelho naquele lugar. (12 )
Inicialmente, o grupo batista leto estava filiado à Igreja Batista
Central de Varpa, à qual pertencia o seu líder Carlos Kempis. Devido à
distância porém, a esta era totalmente impossível dar àqueles irmãos
qualquer assistência. Conseqüentemente, ao assumir o grupo feições e
estrutura de uma congregação, essa responsabilidade a referida igreja
passou à Igreja Batista Leta de São Paulo, cujo pastor, em apenas 5 ho-
(10) Grinberg, Verner, Op. cit.
(11) Id., ibid.
(12) Id., ibid.
457
ras de viagem por terra ou 20 minutos pelo ar, poderia prestar os cui-
dados pastorais à congregação. Assim o Pastor João Lukass passou a
visitar bimestralmente a congregação. (13 )

Vencidas as primeiras dificuldades e feitas algumas edificações —


como residência para a família, uma pequena serraria e uma olaria —
em 1953 o casal Grinberg com sua filha, Gaida, mudou-se definitivamen-
te de Inúbia Paulista para o seu loteamento em Minas Gerais, registran-
do-o sob o nome de Vila Monte Verde, tradução do seu próprio nome —
Grinberg — que em português quer dizer monte verde.

Em 29 de novembro de 1953 o Pastor João Lukass realizou, em


Monte Verde, os três primeiros batismos, seguindo-se outros depois. Em-
bora se verificassem conversões em número animador, verificavam-se
também mudanças — característica do nosso povo interiorano — de
modo que outras igrejas eram enriquecidas com o trabalho de evangeli-
zação em Monte Verde.

Em 18 de março de 1956 foi organizada a Igreja Batista de Monte


Verde, com 10 membros, quase todos letos. Na Diretoria, apenas um
membro era brasileiro — a Superintendente da Escola Bíblica Dominical,
Profa Sidália Assis dos Santos; os demais, todos letos e procedentes de
Varpa: Moderador — Carlos Kempis; Secretário — Edgar Osins, nas-
cido em Varpa; e Tesoureiro — diácono João Leiasmeier. Estava pre-
sente nesse ato, por especial empenho do irmão Verner Grinberg, o Se-
cretário Geral do Campo Mineiro, Dr. S. S. Stover, que foi o orador da
ocasião. Os demais pastores que compunham o concílio eram todos letos:
Carlos Grigorowitsch — presidente; João Lukass — secretário; e André
Ceruks, que fez a oração de dedicação da novel igreja a Deus. As igrejas
batistas brasileiras representadas no ato eram: a I Igreja Batista de
Belo Horizonte, Igreja Batista de Bragança Paulista — a mais próxima
— e a Igreja Batista de Vila Mariana, São Paulo, pelo casal Dr. Arvido
e Ludmilla Leiasmeier. Como pastor da Igreja Batista de Monte Verde
foi eleito João Lukass, para visitá-la pelo menos uma vez em cada dois
meses. (14 ) Fig. 252
Dois anos depois de organizada, a igreja contava já com 30 mem-
bros, e a 13 de julho de 1958 inaugurou seu belo templo no centro da
Vila Monte Verde, bem como a casa pastoral, ao lado deste, tendo já o
seu obreiro residente, Pastor Cornélio F. Vieira. A essa altura a popu-
lação do local já havia crescido, havendo cerca de 50 casas, das quais
metade pertencia a letos. Estes constituíam a população permanente,
enquanto os proprietários das demais casas, pertencentes à gente abas-
tada de São Paulo — brasileiros, alemães, suíços, húngaros, ingleses, que

(13) Id., ibid.; também Janaitis, Arnaldo, "Monte Verdes draudzes gada svetki" (Aniversá-
rio da Igreja de Monte Verde), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 5, maio de 1961,
p. 13.
(14) Ceruks, A., "fauna draudze" (Nova Igreja), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n°
5, maio de 1956, p. 13.

458
ali passavam os seus fins de semana — formavam a população flutuante.
Porém os caseiros das luxuosas mansões e operários em construção de
outras, constituíam o grande campo da igreja. Não raro, gente ilustre
assistia — como ainda assiste — aos cultos na Igreja Batista de Monte
Verde, levada por seus servidores humildes em exercício fiel de sua
mordomia. Cinco anos depois de constituída a igreja, ela já contava com
43 membros, (15 ) integrada na família batista brasileira, com seu pastor
local, seu templo, escola — aliás, a única do lugar, embora o maior peso
de responsabilidade financeira da igreja freqüentemente fosse assumida
pelo diácono Verner Grinberg, fundador de Monte Verde e o maior pro-
motor do seu desenvolvimento material e social, bem como do crescimento
do reino de Deus ali.
A esta altura, mister se faz registrar a atuação de um dos batistas
letos leigos de maior projeção social, que foi o Prof. Arnaldo Janaitis,
um dos integrantes do movimento imigratório de 1922/23, e que fez o
seu curso de Ciências e Letras no Colégio Batista do Rio de Janeiro.
Depois de sua aposentadoria como professor e como funcionário catego-
rizado da Estrada de Ferro Sorocabana, mudou-se, por volta de 1960,
para Monte Verde, onde se empenhou, juntamente com Verner Grinberg,
em projetos de desenvolvimento do lugar emprestando a sua colaboração
à escola atrás mencionada e fundando a Sociedade Amigos de Monte
Verde, sendo eleito seu presidente. Na Igreja Batista de Monte Verde,
Arnaldo Janaitis exerceu por algum tempo as funções de Superintenden-
te da Escola Bíblica Dominical, diácono e moderador, e, com a saída do
pastor, assumiu também as responsabilidades de pregador. Quando se
cogitava de sua ordenação ao ministério, a morte o colheu, aos 56 anos
de idade, em 1962.
Além dos obreiros mencionados, merecem referência o Pastor Au-
gusto Lakschevitz, que em determinados períodos tem ajudado na dire-
ção da igreja, e o Pastor Messias Lopes, brasileiro, que recentemente foi
ali ordenado e empossado no pastorado.
A Igreja Batista de Monte Verde continua dando o seu testemunho
em meio a uma população de, aproximadamente, 1.800 habitantes de
várias nacionalidades e diferentes níveis sociais, que, naquele "acampa-
mento de alto luxo", passa os seus dias ou suas férias e fins de semana,
do qual um batista leto — Verner Grinberg — no dizer da imprensa
secular, "é o fundador, o xerife, o consultor, o conselheiro, o serralheiro,
o mecânico, o anfitrião, o delegado, o benfeitor, o dono — o fac-totum
— da Vila, sem ter nenhum destes títulos", (16 ) e também um dos maio-
res promotores do desenvolvimento da obra do evangelho no local e fora
dele. Com os lucros do seu empreendimento, esse irmão tem contribuído
(15) Janaitis, Arnaldo, Op. cit., p. 14.
(16) Cf. "Monte Verde Não Está no Mapa", Turismo, Suplemento do Estado de São Paulo,
n° 111, 9-8-68, pp. 1, 3, 4, 5; também "Monte Verde é um Paraíso", Jornal do Brasil, cader-
nos de Automóveis e Turismo, 18 de agosto de 1971, pp. 1 e 4; "Monte Verde Parece
Acampamento de Luxo", O Globo, Caderno de Turismo, 9 de setembro de 1971, pp. 1 e 6.

459
muito para a promoção do trabalho batista no Brasil em todos os seto-
res: sustentando obreiros, edificando templos, abrindo e mantendo es-
colas, ajudando orfanatos, fazendo grandes doações à obra missionária..
Entre estas últimas, merecem destaque as viagens aéreas em seu avião,
inteiramente gratuitas, aos campos missionários mais distantes, levando
os secretários gerais, presidentes, pastores, missionários, professoras e
material de toda natureza, como peças de máquinas, mudas diversas e
até colmeias de abelhas, para proporcionar aos missionários o seu sus-
tento. Assim, por exemplo, Verner Grinberg já fez duas grandes viagens
pelos campos missionários da Junta de Missões Nacionais com o Dr. L.
M. Bratcher, o saudoso Secretário-Geral dessa Junta; fez outras três
viagens pelos mesmos campos e pela Amazônia mais recentemente, com
o atual Secretário, Pastor Samuel Mitt; e 28 viagens à Missão Batista
Leta de Rincón del Tigre na Bolívia, perfazendo um total de 70.000 km,
ou seja uma distância equivalente a quase duas vezes a volta do globo
terrestre. (17) São incalculáveis os benefícios, principalmente em termos
de promoção, que tal contribuição tem trazido à obra missionária.

7. Na cidade de Pederneiras — Estado de São Paulo


Por volta do ano de 1952, algumas famílias batistas letas de Nova
Odessa e de Varpa mudaram-se para os arredores de Pederneiras, cidade
situada junto à ferrovia Cia. Paulista de Estradas de Ferro, nas proxi-
midades de Bauru, logo começando a realizar os cultos, tanto em leto
como em português. O chefe da família mais numerosa, diácono e pre-
gador Roberto Bember, um dos fundadores da Colônia Varpa, passou a
liderar o grupo. Ainda que filiados à I Igreja Batista de Bauru, esses
irmãos passaram a constituir uma congregação autônoma, ativa, evan-
gelizadora, em que os membros das famílias Bember e Gruntman reveza-
vam-se na liderança. Os jovens Laimon Bember e Gonardo Bember, que
mais tarde tornaram-se pastores batistas, ali tiveram a sua chamada
para a obra do Senhor. Foram ganhas algumas almas para Cristo e, a
10 de fevereiro de 1955, foi organizada a Igreja Batista de Pederneiras,
com 21 membros, sendo 14 letos ou de origem leta. A sua primeira di-
retoria foi constituída totalmente de letos: Moderador — Artur Grunt-
mann; Secretário — Wilis Harijs Sturmis; e tesoureiro — Miervaldo
Bember. Presidiu o concílio organizador o pastor Luiz Rizzaro, servindo
como secretário o Pastor Fausto Vasconcelos. O primeiro pastor da
novel igreja foi o obreiro leto Janis Roberto Jancevskis. (18)
O trabalho em Pederneiras, nos seus primórdios, foi extremamente
difícil, dado o tradicionalismo católico dominante. Porém diversas cam-
panhas empreendidas, a operosidade e o dinamismo da mocidade, que
constituía a maioria da igreja, e a liberalidade de seus membros — entre
os quais diversos davam 20, 30 e até 40% de sua renda para implantação

(17) Grinberg, Verner, Carta dirigida ao autor, firmada em Monte Verde, sul de Minas, em
2 de setembro de 1971.
(18) Cf. "Ata da organização da Igreja Batista de Pederneiras", O Jornal Batista, Ano LV,
n° 10, 10 de março de 1955, p. 10.

460
do trabalho batista ali — fizeram com que a igreja se firmasse e poste-
riormente progredisse a contento. (19)
8. O significado das missões de iniciativa particular
Encerrando este breve capítulo sobre missões batistas letas de ini-
ciativa particular, isto é, não promovidas por igrejas ou agências co-
operativas de igrejas, devemos assinalar o seu significado prático para
o desenvolvimento da obra do evangelho. Esse método está bem mais
próximo do método apostólico, em que a iniciativa de evangelizar o mun-
do pertencia ao indivíduo. Tal exemplo temos nos crentes primitivos,
que, impelidos pela perseguição, anunciaram o evangelho em diversos
lugares, sendo que em Antioquia da Síria chegou a se estabelecer uma
igreja, bem assim na casa de Ãquila e Priscila. (20) A aplicação desse
método requer, naturalmente, muito mais sacrifício e desprendimento
que qualquer outro. A sua eficácia, entretanto, é indiscutível na pro-
moção da obra do Senhor.

(19) Jancevskis, J. Roberto, "Evangehja darbs Pederneirãs" (A Obra do Evangelho em


Pederneiras), Kristigs Draugs, n9 9, setembro de 1955, p. 12.
(20) Atos 11:19-24; I Cor. 16:19.

461
CAPITULO XII

OBREIROS BATISTAS LETOS NO BRASIL

1. Batistas Letos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil


e Outras Instituições Denominacionais

2. Obreiros Batistas Letos no Brasil nas Áreas do Ministério das


Igrejas, Evangelização e Missões e Educação Religiosa
2.1 — Obreiros procedentes dos grupos imigrados antes da
I Guerra Mundial
2.2 — Obreiros originários do movimento imigratório de 1922/
23
2.3 — Obreiros imigrados após a II Guerra Mundial

3. Obreiros Batistas Letos no Brasil no Campo da Música Sacra


3.1 — Regentes oriundos dos grupos imigrados antes da I Guer-
ra Mundial
3.2 — Regentes originários dos imigrantes de 1922/23
3.3 — Regentes imigrados após a II Guerra Mundial
CAPITULO XII

OBREIROS BATISTAS LETOS NO BRASIL

Entre as contribuições dos batistas letos à causa da extensão do


Reino de Deus no Brasil e além fronteiras, conta-se a dos obreiros pro-
cedentes das várias camadas desses imigrantes. Os próprios letos consi-
deram esse fato uma vocação e uma graça especiais, reveladoras de um
propósito superior que Deus teve na sua imigração no Brasil, notada-
mente com referência ao movimento principal de 1922/23. Levando em
conta o número bastante reduzido de batistas letos no Brasil, proporcio-
nalmente, há muito mais obreiros batistas de origem leta nesse país do
que os de qualquer outra nacionalidade, fato este já referido por eminen-
tes líderes da Convenção Batista Brasileira e a cujas referências já alu-
dimos antes na presente dissertação. Ainda de acordo com as mesmas
referências, a atuação de obreiros letos no Brasil tem estado presente
em todos os setores da vida batista deste país: evangelização, missões,
pastorado de igrejas, educação religiosa, educação secular, educação teo-
lógica, música sacra, literatura periódica e permanente e serviço social.
É a contribuição do elemento humano de origem leta no desenvolvimento
da obra batista no Brasil.

1. Batistas Letos no Seminário Teológico Batista do Sul


do Brasil e Outras Instituições Denominacionais
Antes de enumerarmos os obreiros letos que atuaram ou ainda vêm
atuando na obra batista em nossa terra, cremos oportuno fazer referên-
cia aos estudantes batistas letos que procuraram o Colégio e Seminário
Batista do Rio de Janeiro — hoje instituições separadas — e outros edu-
candários denominacionais em busca de um preparo adequado à sua vo-
cação e seus ideais de ministério e magistério cristãos. Os obreiros letos
que já vieram como tais do seu país de origem eram poucos. A grande
maioria Deus chamou do seio das igrejas dos imigrantes e dentre seus
descendentes nascidos no Brasil. Desses, um número considerável estu-
dou em instituições batistas brasileiras.
A esta altura, convém esclarecer que na década dos 20 houve no
meio batista brasileiro uma ênfase simultânea no ministério e no magis-
tério cristãos, pois que a educação batista em nosso país já estava alcan-

465
çando um desenvolvimento notável, necessitando cada vez de maior nú-
mero de docentes crentes, tendo em vista os ideais missionários que os
educandários batistas possuíam naquele tempo. Prova disto temos, por
exemplo, num trecho de um editorial de Theodoro Rodrigues Teixeira,
então redator de O Jornal Batista, que aqui transcrevemos:
É de notar que o grande impulso do trabalho batista no
Brasil começou justamente quando os nossos educandários co-
meçaram a lançar nos campos moços preparados para evan-
gelizar e pastorear igrejas, e moços e moças para dirigir colé-
gios. O ideal é que todos os batistas sejam educados nos prin-
cípios e espírito batistas; e que a evangelização batista, por
meio da educação, atinja a todas as camadas da sociedade do
Brasil, desde as mais humildes às mais elevadas. Para isso
necessitamos ter um corpo ministerial e magisterial cada vez
mais numeroso e mais solidamente preparado. E o nosso povo
necessita concorrer larga e generosamente, em cooperação com
os nossos seminários e colégios, para chegarmos a este desi-
deratum. Deus chama os obreiros, imprime-lhes na alma aque-
la fome e sede de exercer as menos rendosas, materialmente
falando, das profissões, mas mais nobres e ricas de frutos ce-
lestiais — ministério e magistério — mas deixou-nos a honro-
sa incumbência de prepará-los. Sejamos dignos sócios de
Deus. (1)
Numerosos outros apelos antes já haviam sido dirigidos aos jovens
batistas do Brasil para dedicarem suas vidas também ao magistério,
como o faziam tantos outros com relação ao ministério. (2 ) E diversos
moços e moças batistas letos escolheram o magistério para servirem à
causa do evangelho. Segundo dados publicados pelo então seminarista
Frederico Link, presidente da Associação dos Estudantes Letos do Rio
de Janeiro, de 1908 a 1926 haviam passado pelo Colégio e Seminário Ba-
tista do Rio de Janeiro 31 jovens letos, destinando-se ao ministério da
palavra de Deus e ao magistério, embora nem todos chegassem a atingir
seu objetivo. Eis os seus nomes: 1) Roberto Sprogis, 2) Carlos Lei-
mann, 3) Frederico Freymann, 4) André Leekning, 5) Eduardo Alksch-
birze, 6) Frederico Puke, 7) Wilis Klawa, 8) Frederico Janowskis, 9)
Arthur Sichmann, 10) Reynaldo Purim, 11) Arnaldo Janaitis, 12) Eduar-
do Sichmann, 13) Emília Sichmann, 14) João Klawa, 15) Eduardo Kla-
wa, 16) Frederico Link, 17) Frederico Grinberg, 18) Carlos Liepin, 19)
Elza Liepin, 20) Carlos Liger, 21) Eduardo Liger, 22) Pedro Tarsier,
23) Carlos Hartmann, 24) Pedro Kalupnieks, 25) Paulo Alexandre Kla-
vin, 26) Selma Klavin, 27) Waldemar Janaitis, 28) João Sprogis, 29)

(1) Teixeira, Theodoro Rodrigues, "Número Especial de Educação", O Jornal Batista. Ano
XXIX, n° 44, 31 de outubro de 1929, p. 3. (Os grifos são nossos)
(2) Vieira, Carlos, "A Escola Normal Batista e a Sua Missão", O Jornal Batista, Ano XX,
ri° 44, 4 de novembro de 1920, p. 6; também Berry, W. H., et all, "Mensagem do Corpo
Docente do Colégio Batista de Curitiba às Igrejas Batistas do Campo Paraná—Santa Cata-
rina", O Jornal Batista, Ano XXIV, n° 45, 6 de novembro de 1924, pp. 7 e 8; e Laneston,
A. B., "Os Planos da Junta de Educação", O Jornal Batista, Ano XXVI, n° 44, 4 (1^ no-
vembro de 1926, p. 5.

466
João Inkis Jr., 30) João Pinko, 31) Oscar Karps. Diversos desses estu-
dantes não chegaram a completar o seu curso no Rio, vindo a fazê-lo
mais tarde em outras instituições; outros estudaram somente um ou
dois anos, visando apenas o aprendizado de português, para poderem
servir como pregadores leigos ou evangelistas, e uns poucos desistiram
dos estudos por motivos de enfermidade ou falta de recursos. ( 3) Den-
tre os acima citados, 8 tornaram-se pastores, 10 professores, 3 odonto-
logistas e 3 médicos. Tanto os professores como os médicos e os odon-
tologistas atuaram em suas igrejas na qualidade de leigos ativos e de-
dicados ao trabalho na causa batista.
De 1927 a 1972 os arquivos do Colégio e Seminário Batista do Rio
de Janeiro e Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil registraram
em seus cursos — Colegial, Escola Normal, Escola de Obreiras, Bacha-
rel em Ciências e Letras, Bacharel em Teologia, Bacharel em Música Sa-
cra, Abreviado em Teologia, Curso de Extensão e Escola de Verão — a
passagem de 51 estudantes letos, ou de origem leta, com vistas ao mi-
nistério ou magistério cristãos, que são os seguintes: 1) Cornélia Ba-
lod, 2) Arthur Lakschevitz, 3) Jacó R. Inke, 4) Frederico Vitols, 5)
André Janson, 6) Martinho Albino Janson, 7) Emílio Keidann, 8) Ema
Keidann (depois Seitz), 9) Carlos Ukstin, 10) Carlos Renato Leimann,
11) Osvaldo Ronis, 12) Arnaldo Gertner, 13) Alfredo T. Rusins, 14)
Ilga Leiasmeier (hoje Reis), 15) Nora Eichmann, 16) Alberto Silenieks,
17) Rubens Andermann, 18) Tabita Janson, 19) Janis Roberto Jan-
sevskis, 20) Raini Peterlevitz, 21) Filipe Peterlevitz, 22) João Kruklis,
23) Alfon Kruklis, 24) Ilgonis Janait, 25) Gonardo Bember, 26) Teófilo
Purens, 27) Verner Cerpe, 28) João Reinaldo Purim, 29) Carlos Kei-
dann, 30) Benjamim Keidann, 31) Daltro Miguel Keidann, 32) Carlos
Ricardo Strautmann, 33) Ademar Paegle, 34) Bruno Teodoro Seitz, 35)
Ivo Augusto Seitz, 36) 1ngrida Weiss, 37) Naida Hartmann, 38) Davi
Klawa, 39) Lídia Ester Janson, 40) Elza Lakschevitz (depois Xavier
Assumpção) , 41) Marli Ronis (depois Queiroz), 42) João Pupols, 43) João
Veidemann, 44) Verner Kriger, 45) Laimon Bember, 46) Laimon David
Klawa, 47) Ernesto Sprogis, 48) Elza Sprogis, 49) João Lukass, 50)
Osvaldo Bumbiers, 51) João Korps. ( 4)
Alguns desses estudantes não concluíram seus cursos por motivos
diversos, inclusive morte, e três deixaram a carreira depois de vários
anos de trabalho; todos, porém, contribuíram ou continuam contribuin-
do com uma parcela considerável para o desenvolvimento de algum se-
tor da obra batista no Brasil. Assim, dentre os acima citados, 32 in-
gressaram no ministério batista; um exerceu atividades de evangelista
por vários anos; outro tornou-se missionário-professor no campo da Mú-
sica Sacra; 6 dedicaram-se ao magistério, 6 ao ministério e magistério
da Música Sacra nas igrejas e nossas instituições de ensino; 2 falece-

(3) Link, Frederico, "Latweeschi Riodeshaneiras Baptistu Zeminarã" (Letos no Seminário


Batista do Rio de Janeiro), Kristiga Balss (A Voz Cristã), n° 2, 1926, p. 43.
(4) Cf. Arquivos do Colégio Batista Shepard, Ginásio Batista Brasileiro, e Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil, todos no Rio de Janeiro, GB.

467
ram antes de concluírem seus cursos e 4 abraçaram outras profissões
após alguns anos de atividades evangelísticas e magisteriais.
Como se vê pelos números acima, foram ao todo 82 os estudantes
de origem leta que se valeram dos cursos do Colégio Batista do Rio e do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil para sua formação e habi-
litação ao serviço da causa batista no Brasil, sendo que 40 ingressaram
no ministério Batista, 16 no magistério, 6 no ministério e magistério da
música sacra e 20 dedicaram-se a outros misteres.
Neste ponto também é mister que se registre a fundação, no Rio de
Janeiro, da Sociedade Estudantil Leta "ATVASE" (Renovo), em 1934,
por iniciativa do Pastor João Inkis, quando de sua passagem pelo Rio
de Janeiro, cem destino à Letônia, a convite dos batistas desse país. A
referida Sociedade se reunia na residência do Dr. Ricardo J. Inke, seu
presidente de honra. Tanto essa como a anterior — Associação dos Es-
tudantes Letos do Rio de Janeiro — tiveram uma existência relativa-
mente curta, dada a flutuação do número de sócios. Figs. 253, 254, 255
e 256
Além do Colégio Batista Shepard, o Ginásio Batista Brasileiro (an-
tigo Departamento Feminino do Colégio Batista do Rio de Janeiro) e o
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, estudaram jovens batis-
tas letos em outras instituições batistas, a saber:
Seminário Teológico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, fundado
e dirigido pelo Missionário Carlos Roth: 1) João Nettenberg, 2) Frede-
rico Leimann, 3) Ricardo J. Inke e 4) Guilherme Leimann.
Instituto Batista de Educação Religiosa (antigo Instituto de Trei-
namento Cristão — ITC), Rio de Janeiro, de 1949, quando iniciou as
suas atividades, até 1972: 1) Valtônia Riekstin, 2) Anita Arais, 3) Ana
Augstroze (depois Rutter), 4) Lívia Rita Klawa, 5) Nelly Bond Ronis e 6)
tngrida Weiss. (5)
Colégio Batista de Curitiba: 1) Carlos Stroberg e 2) Ernesto Mar-
tinson, que veio a falecer cedo.
Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, sediado em Curitiba, até 1969
recebeu os seguintes moços de descendência leta: 1) Alfredo Auras, 2)
Arvido Auras, 3) Venício Paegle, 4) Nanci Bumbiers, 5) Geni Bumbiers,
6) Jacó Miguel Klawa (presentemente pastor no movimento chamado Re-
novação), 7) Naime Lourdes Kruklis, 8) Ludmilla Osis, 9) Rasma Sy-
billa Slengmann, 10) Miriam Tabita Janson, 11) Lídia Sônia Klawa, 12)
Jaci Korn, 13) Ana Muceniek, 14) Reginaldo André Kruklis. ( 6 ) Tam-
bém outros jovens letos estudaram nessa instituição teológica e depois
concluíram o curso no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
cujos nomes já constam do respectivo quadro. Dos acima relacionados, 3
ingressaram no ministério pastoral, um faleceu pouco depois de concluir
os estudos, um é evangelista, duas moças serviram como obreiras itine-
rantes por diversos anos, duas são missionárias-professoras e as demais

(5) Cf. Arquivos do Instituto Batista de Educação Religiosa, GB.


(6) Cf. Damon, William J., Diretor Interino do Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, carta
firmada em 13 de fevereiro de 1969, com base na pesquisa nos arquivos da referida insti-
tuição.

468
são líderes de trabalho evangelístico e de Educação Religiosa em igre-
jas locais.
Seminário Teológico Betel, GB: Tabita Kraule (depois Miranda Pin-
to), sendo ela, presentemente, a Reitora dessa instituição, que grandes
serviços tem prestado na educação teológica do ministério batista no
Brasil.
Numerosos jovens de origem leta formaram-se também no Colégio
Batista Brasileiro de São Paulo e no Colégio Batista de Porto Alegre.
Esses buscaram especialmente o Curso Normal para servirem no campo
da educação. Outros tantos cursaram instituições não batistas e depois
ingressaram no ministério batista, na obra missionária, no magistério
ou prosseguiram em busca de preparo universitário.

2. Obreiros Batistas Letos no Brasil nas Áreas de Ministério


das Igrejas, Evangelização e Missões e Educação Religiosa

Desejando oferecer uma visão panorâmica dos obreiros batistas le-


tos ou de origem leta que de 1892 a 1972 atuaram no Brasil e assim
tiveram parte na promoção da obra batista em nossa terra, apresentamos
a seguir a relação nominal dos mesmos — admitindo prováveis omissões
— com referências gerais às suas principais atividades nas áreas de mi-
nistério das igrejas, evangelização e missões e educação religiosa. Nesta
relação incluímos também as esposas letas dos pastores letos, bem como
aquelas que se consorciaram com obreiros de outras nacionalidades. A
ordem da citação obedecerá a uma seqüência mais ou menos cronológica,
aparecendo primeiramente os nomes dos obreiros mais antigos, depois
os da época intermediária, e por fim os que surgiram em anos mais re-
centes. Outrossim, alistaremos os obreiros em tela nas seguintes cate-
gorias: pastores, esposas de pastores, evangelistas, missionários, líderes
de atividades femininas da Denominação Batista, professores, diáco-
nos e leigos que tiveram atuação marcante no trabalho das igrejas, es-
pecialmente no ministério da pregação, deixando para um tópico à parte
os regentes de coros, dado o escopo de sua contribuição no campo da
música sacra. Ainda mais, para uma apresentação melhor desse quadro,
seguiremos a divisão cronológica, observada na descrição dos movimen-
tos imigratórios, isto é, antes e depois da I Guerra Mundial, agrupando,
numa terceira lista, os que vieram ao Brasil depois da II Guerra Mun-
dial. ( 7)

(7) Cumpre assinalar que as fontes dos dados referidos nas relações de nomes que seguem
são Atas de Igrejas, publicações no periódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), depoi-
mentos, entrevistas, narrativas e respostas aos questionários enviados e o conhecimento pes-
soal do autor desta dissertação a respeito de algumas pessoas e fatos mencionados nos
tópicos do presente capitulo. Os respectivos documentos encontram-se nos nossos arquivos
ou nos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

469
2.1 — Obreiros procedentes dos grupos imigrados antes da I Guerra
Mundial
1) Fritzis Karps — pastor leigo, primeiro pastor da primeira igreja
batista leta fundada no Brasil (1892), a de Rio Novo, Estado de Santa
Catarina.
2) Joaquim Makevitz — também pastor leigo, o primeiro a pasto-
rear a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Estado do Rio Grande
do Sul.
3) Alexandre Klavin — ordenado a 10 de julho de 1904 na Igreja
Batista de Porto Alegre (alemã), quando estudante do Seminário Teo-
lógico de Porto Alegre, dirigido pelo missionário Carlos Roth, para ser-
vir no pastorado da Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do
Sul, tendo servido antes, por alguns anos, como pastor leigo na Igreja
Batista Leta de Rio Novo, Estado de Santa Catarina.
4) Kat Klavin — esposa do Pastor Alexandre Klavin.
5) João Nettenberg — pastor da Igreja Batista de New Würtenberg
(hoje Panambi) e da Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, ambas no
Estado do Rio Grande do Sul.
6) Frederico Leimann — pastor com curso do Seminário Teológico
de Porto Alegre, pastoreou a Igreja Batista de Linha Formosa (alemã)
e, interinamente, a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, quando foi
também professor da Escola Anexa; foi missionário da chamada "Junta
Alemã", fundador da Convenção Batista do Rio Grande do Sul (hoje
Convenção Batista Pioneira) e seu presidente por diversos anos, o pri-
meiro e o maior incentivador da obra evangelística entre os brasileiros
e pastor durante mais de 40 anos na Argentina e Uruguai, principalmen-
te entre as igrejas das colônias alemãs desses países, cabendo-lhe a pri-
mazia do trabalho batista alemão e leto na cidade de Buenos Aires.
7) Cristina Leimann — consorte de primeiras núpcias do Pastor
Frederico Leimann.
8) Guilherme Leimann — (também conhecido como Willy Leimann)
— preparou-se na mesma escola teológica em que estudou o seu irmão
Frederico, acima mencionado, e pastoreou a Igreja Batista Leta de Ijuí
— Linha 11, Rio Grande do Sul, durante três lustros, bem como diversas
igrejas teuto-brasileiras, sendo um dos obreiros letos de maior paixão
missionária operantes no Brasil. Foi também professor da Escola Anexa
da mesma igreja.
9) Lúcia Leimann — esposa do primeiro matrimônio do Pastor
Guilherme Leimann, tendo estudado dois anos na Letônia para servir à
causa batista no Brasil.
10) Carlos Leimann — pastor da Igreja Batista Leta de Rio Novo,
Estado de Santa Catarina e missionário da Junta de Missões Nacionais
da Convenção Batista Brasileira no mesmo Estado; fundador e pastor
de muitas igrejas nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Espírito San-
to, desbravador intimorato de regiões difíceis que era. Ocupou também
uma vez a presidência da Convenção Batista Paraná—Santa Catarina
(1921), e foi Secretário-Correspondente da Convenção Batista Capixaba,
campo ao qual dedicou a maior parte dos seus 56 anos de ministério,

470
repletos de raro ardor missionário e ação doutrinadora. Fundou diver-
sas escolas anexas às igrejas, exercendo nelas o magistério. Fig. 257
11) Luiza Leimann — esposa de primeiras núpcias do Pastor Carlos
Leimann.
12) Dr. Guilherme Butler ou William Butler — veio da Letônia
como professor para servir na Escola Anexa da Igreja Batista Leta de
Rio Novo, Santa Catarina. Depois formou-se pela Academia Alemã de
Rochester, The Newton Theological Institution e Universidade de Co-
lúmbia, todas nos Estados Unidos da América do Norte. Pastoreou a
Igreja Batista Leta de Rio Novo, Santa Catarina e Primeira Igreja Ba-
tista de Curitiba, Paraná. Também foi professor no Colégio Batista do
Rio de Janeiro e no Colégio Batista de Curitiba e Ginásio Estadual de
Curitiba, sendo o magistério cristão a ocupação principal de sua vida.
13) Marta Butler — consorte do Pastor Dr. Guilherme Butler.
14) Jekabs (Jacó) Inkis — progenitor dos pastores João Inkis e
Ricardo J. Inke, tendo chegado ao Brasil já em idade provecta, foi um
dos pastores das igrejas batistas letas de Jacu-Açu e Nova Odessa, res-
pectivamente Estados de Santa Catarina e São Paulo.
15) Pedro Graudins — pastor da Igreja Batista Leta de Jacu-Açu,
Estado de Santa Catarina e outras da redondeza. Posteriormente aderiu
ao pentecostismo.
16) Genny Paulina Graudins — esposa do Pastor Pedro Graudins.
17) Kristaps Vanags — evangelista na colônia leta da Terra de
Zimmermann, no Estado de Santa Catarina, emigrando, em 1905, para
a Argentina. Na República vizinha dedicou-se por muitos anos à evan-
gelização de imigrantes da difícil região de Misiones, onde era conhecido
como "Pastor Cristóbal Vanag". (8)
18) Anss Araium — primeiro pastor da Igreja Batista de Rio Mãe
Luzia, um dos pastores da Igreja Batista Leta de Jacu-Açu, no Estado
de Santa Catarina, e o primeiro pastor da Igreja Batista de Nova Odes-
sa, Estado de São Paulo.
19) Karlis Andermanis — veio da Letônia especialmente convidado
para pastorear a Igreja Batista de Rio Novo, Santa Catarina, à qual deu
uma grande visão missionária para o desenvolvimento do trabalho evan-

(8) Transcrevemos do livro Los Bautistas en las Repúblicas del Plata, publicação da Junta
de Publicaciones de la Convención Evangélica Bautista de las Repúblicas del Plata, 1930,
Buenos Aires, p. 208, os seguintes parágrafos, única informação existente desse valoroso
obreiro do Senhor:
"En el lejano territorio de misiones, al Nordeste de la República Argentina, en sus
imensas selvas, trabaja el pastor Cristóbal Vanag, especialmente entre los grupos de extranje-
ros que trabajam en las picadas de la selva, en los yarbales, en las plantaciones de tabaco,
etc. Es una obra sumamente difícil e que exige toda classe de sacrifícios, abnegación personal
y heroismo.
El trabajo principal del serior Vanag es ele de visitar los distintos grupos de colonos y
obreros, celebrar reuniones de evangelización y de edificación espiritual en distintos idiomas.
Como es una población cosmopolita tiene de ser un ministério poligloto. No es como una obra
estable en una ciudad o pueblo. Hay que estar de viaje continuamente. No obstante, hay
iglesias formadas que cooperan con la Convención, siendo una de elas la de Esperanza en la
localidad de Picada Sueca y otra la de Carrillo Viejo.
El pastor Vanag es natural de Latvia. Se convertia en Rusia en mayo de 1898."

471
gelístico entre brasileiros da redondeza próxima e distante. Depois de
alguns anos passou para as fileiras do pentecostismo. Também serviu
como professor da escola anexa da igreja local.
20) Emitia Andermanis — esposa do Pastor Karlis Andermanis e
professora da Escola Anexa da Igreja Batista Leta de Rio Novo.
21) André Gailis — primeiro professor da Escola da colônia leta
de Ijuí, Rio Grande do Sul, anexa à igreja batista leta local, então a
única em uma vasta região.
22) Ansis Elberts — professor nas escolas anexas das igrejas letas
em Rio Novo, Santa Catarina, e Ijuí, Rio Grande do Sul, poeta, pregador
e moderador de grande capacidade de liderança.
23) Janis Liepin — pastor leigo da Igreja Batista Leta de Brueder-
tal, Estado de Santa Catarina.
24) Jacob Malva — moderador e pregador da Igreja Batista de
Rio Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina.
25) Juris Frischenbruder — professor, pregador e moderador na
Igreja Batista Leta de Rio Novo e na Igreja de Urubici, Estado de Santa
Catarina.
26) Frederico Freymann — pastor da Primeira Igreja Batista de
Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, tendo servido como evan-
gelista da Primeira Igreja Batista de Niterói durante seus estudos no
Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, onde foi o primeiro alu-
no a terminar os cursos completos da nossa "casa de profetas" e o pri-
meiro a receber o grau de Mestre em Teologia. Fig. 258
27) Dr. Ricardo J. Inke — ocupou os pastorados das seguintes igre-
jas: I de Nova Odessa e I de Campinas, Estado de São Paulo; Méier e
Cascadura, Estado da Guanabara (então Distrito Federal) ; e I de Pe-
trópolis, Estado do Rio de Janeiro. Foi Secretário-Correspondente da
Convenção Batista Paulistana (1916/17) ; Secretário-Correspondente da
Junta de Escolas Dominicais da Convenção Batista Brasileira (1919/21) ;
Presidente da Convenção Batista Federal (depois Guanabara) (1921) ; e
professor do Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro durante
cerca de 20 anos, onde lecionou as disciplinas seguintes: Inglês, Alemão,
Velho Testamento, História Eclesiástica, História Sagrada, Psicologia,
Pedagogia, Sociologia e Evangelismo. Foi também professor no Colé-
gio D. Pedro II. Exerceu as funções de Diretor do Internato Masculino
do Colégio Batista do Rio de Janeiro, Superintendente de Cultura Reli-
giosa (Capelão) do mesmo educandário e Deão do Seminário do Rio.
Foi membro e presidente de diversas juntas batistas. Escreveu um com-
pêndio de Teologia Sistemática em língua leta, editado na Letônia e três
livros didáticos — "The Handbook of English Exercises", "Pedagogia
Simplificada" e "Sociologia Simplificada", sendo que os dois últimos fi-
caram em manuscritos, pois a morte o colheu antes de poder publicá-los.
Escreveu ainda cerca de 200 artigos para jornais denominacionais do
Brasil, Argentina, Estados Unidos da América do Norte e Letônia em
6 línguas: português, inglês, castelhano, leto, russo e alemão, bem como
para a imprensa secular do Rio de Janeiro, especialmente para os jor-
nais: A Razão, O Pais e O Jornal. Possuindo também o dom poético, es-
creveu ou traduziu vários hinos, dos quais alguns constam do Cantor

472
Cristão, como veremos num capítulo adiante. Dentre os obreiros letos
militantes no Brasil até 1936 — quando faleceu — foi o mais conhecido
pelos batistas brasileiros, evangelista ungido pelo Espírito de Deus, sem-
pre solicitado para realização de campanhas evangelísticas. De sua vida
de um grande servo de Deus, o Dr. Ricardo J. Inke deu também 5 anos
— os primeiros do seu ministério — à evangelização dos alemães e ar-
gentinos da Província de Entre Rios, à frente da Igreja Batista de
Ebenézer, onde foi ordenado, na República Argentina, e 2 anos à evan-
gelização dos russos, no campo da Junta de Missões Nacionais da Con-
venção Batista do Norte dos Estados Unidos da América do Norte.
28) Sophia Wisul Inke — esposa do Pastor Dr. Ricardo J. Inke,
formada pelo The Gordon Bible Institute de Boston, Estados Unidos.
Foi professora do Colégio Batista (Departamento Feminino) e Redatora
do Suplemento de O Jornal Batista, "A Família". Com sua voz privile-
giada, foi a grande colaboradora do seu esposo nas campanhas evange-
lísticas em diversos Estados da Federação, cantando solos e freqüente-
mente duetos com ele. Também escreveu ou traduziu diversos hinos
para o seu repertório, tanto em português como em leto.
29) João Diener — colportor e evangelista por vários anos no Es-
tado de São Paulo, líder da mocidade paulistana, regente do coro da
Primeira Igreja Batista de São Paulo por volta de 1910 e autor de al-
guns hinos do Cantor Cristão.
30) Júlio Malves — Um dos leigos de maior folha de serviços pres-
tados à causa batista leta do Brasil, conforme tivemos ocasião de relatar
capítulos atrás. Não era pregador, mas um fecundo escritor, de vasta
cultura teológica e não teológica, adquirida pelo autodidatismo, amigo
da obra missionária e um dos seus propugnadores.
31) Dr. André Miguel Leekning — evangelista e moderador das I, II
e III Igrejas Batistas de Nova Odessa e da I Igreja Batista de Americana,
e conferencista nas igrejas e congregações da região de Campinas—Jun-
diaí—Rio Claro, no Estado de São Paulo. Logo após a conclusão dos
cursos de Bacharel em Ciências e Letras e Bacharel em Teologia no
Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, em 1916, ingressou no
magistério do Colégio Batista Brasileiro de São Paulo, ónde exerceu
também por algum tempo as funções de Vice-Diretor. Nessa época tam-
bém colaborava com a Primeira Igreja Batista de São Paulo, na quali-
dade de diácono, e com a Igreja Batista da Liberdade. Mais tarde foi
professor em diversos outros educandários e fez curso de Odontologia,
sempre, porém, militando na obra da evangelização com um verdadeiro
zelo pastoral.
32) Dr. Eduardo Alkschbirze (também Alksbirze) — evangelista
do campo paulistano e pastor de várias igrejas brasileiras do Rio Gran-
de do Sul, onde também serviu no magistério. Formado pelo Colégio e
Seminário Batista do Rio de Janeiro e pela antiga Faculdade de Filo-
sofia do Rio de Janeiro, pela qual graduou-se Doutor em Filosofia.
33) Olga Alkschbirze — esposa do Pastor Dr. Eduardo Alkschbirze.
34) Arthur Leimann — pastor formado pelo Seminário Batista de
Buenos Aires, Argentina, irmão mais moço dos pastores Frederico e Gui-

473
lherme Leimann. Pastoreou algumas igrejas na Argentina e depois no
Brasil — em Bananal, São Francisco, Joinvile e Porto União, no Es-
tado de Santa Catarina.
35) Dr. Frederico Link — pastor com curso do Colégio e Seminário
Batista do Rio de Janeiro, doutorando-se pela antiga Faculdade de Filo-
sofia do Rio de Janeiro. Pastoreou a Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha
11, no Rio Grande do Sul e diversas igrejas brasileiras, tendo exercido
também a presidência da Convenção Batista do Rio Grande do Sul e o
magistério cristão nas escolas anexas e no Colégio Batista de Porto Ale-
gre. Ultimamente estava militando nos arraiais da Assembléia de Deus.
36) Alina Link — consorte do Pastor Dr. Frederico Link.
37) Ernesto Martinsons — evangelista da Igreja Batista Leta do
Rio Branco (ex-Jacu-Açu) e em Curitiba durante os estudos, não lo-
grando concluí-los devido à morte que o colheu cedo.
38) Frederico Janovskis — desde 1920 evangelista aos brasileiros
nos campos das igrejas batistas letas em Rio Branco e Rio Novo, no
Estado de Santa Catarina, depois, 6 anos, no campo batista paranaense,
e finalmente no da Missão Sertaneja de Varpa, no Estado de São Paulo.
39) Dr. Reynaldo Purim — foi pastor das igrejas batistas em Pi-
lares, Universidade Rural, II de Magalhães Bastos, Padre Miguel e há
mais de 40 anos é o pastor da I Igreja Batista de Bangu, Guanabara,
tendo concluído os seguintes cursos: Bacharel em Ciências e Letras,
pelo Colégio Batista do Rio de Janeiro; Bacharel em Teologia, pelo Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil; Mestre em Teologia pelo
mesmo Seminário; Bacharel em Artes, pelo Georgetown College, Ky.,
USA; Mestre em Teologia, pelo Seminário Teológico Batista de Louis-
ville, Ky., USA; e Doutor em Filosofia, pelo Seminário Teológico Batista
de Louisville Ky., USA. Ensinou nos seguintes Ginásios e Colégios do
Rio de Janeiro: Pri',aneu Militar (hoje extinto), Ginásio Hebreu. Brasi-
leiro, Ginásio Méier, Instituto Rabelo, Colégio Sílvio Leite, Colégio Pedro
II, Ginásio Copacabana, Ginásio Batista Brasileiro e Colégio Batista.
Ensina, há muitos anos, no Seminário Batista do Sul do Brasil, tendo
também lecionado no Seminário Teológico Betel. As disciplinas que o
Dr. Reynaldo Purim tem ministrado nessas instituições, são as que se-
guem: Inglês, Geografia, Filosofia, Lógica, Teologia Sistemática, Velho
Testamento, Teologia do Novo Testamento, Teologia do Velho Testa-
mento, Religiões, Seitas, História Eclesiástica, Hebraico, Apologética,
Filosofia da Religião Cristã, Cristianismo e Cultura Contemporânea, Me-
todologia Teológica, História da Filosofia e Metafísica.
40) Dr. Carlos Otto Daniel — pastor de diversas igrejas batistas
brasileiras em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tendo ocupado alguns
cargos nas diretorias da Convenção Batista do Rio Grande do Sul e o
de professor em vários colégios da Capital do grande Estado sulino.
41) Nadia Daniel — esposa do Pastor Dr. Carlos Otto Daniel.
42) João Garros — professor e pregador na Colônia de Ijuí, Rio
Grande do Sul.
43) João Daniel — professor e pregador da Igreja Batista Leta de
Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.

474
44) João Hartmann — moderador e pregador por muitos anos na
Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
45) João Arais — pregador, líder da mocidade e moderador da
Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
46) Wilis Mazversitis — professor da Escola Anexa da Igreja Ba-
tista Leta de 'jul. — Linha 11, Rio Grande do Sul.
47) Ana Karklin — professora e obreira ativa da Igreja Batista
Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
48) Ana Ukstin Garros — professora da Escola Anexa e obreira da
Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
49) Tália Grimm — professora da Escola anexa da Igreja Batista
de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
50) Dra. Flávia Kronberg — professora e obreira da Igreja Batista
Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul, formando-se, posteriormente,
em Medicina.
51) Alice Ukstin — professora da Escola Anexa da Igreja Batista
Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul, e ativa obreira no trabalho
de evangelização.
52) Waldemar Garros — pregador e obreiro da Igreja Batista Leta
de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul; durante vários anos dirigente prin-
cipal do trabalho realizado em português, sendo também moderador da
igreja em vários períodos.
53) Klaudy Garros — filha de Waldemar Garros, formada em Pe-
dagogia; professora universitária no Estado do Rio Grande do Sul; pro-
fessora no Colégio Batista de Porto Alegre; líder da mocidade batista
gaúcha.
54) João Klawa — pastor formado pelo Colégio e Seminário Batista
do Rio de Janeiro, pastoreou as igrejas batistas de Assis, Lapa, Bra-
gança Paulista e outras no Estado de São Paulo, tendo também lecionado
em diversos educandários paulistas.
55) Eduardo Klawa — pastor, irmão do pastor João Klawa, também
com curso do Colégio e Seminário Batista do Rio de Janeiro, vem pasto-
reando, há longos anos, a Igreja Batista de Cascadura, Estado da Gua-
nabara. Fig. 259
56) João Rudzit — um dos pregadores, moderadores e diáconos que
maior serviço prestou à Igreja Batista de Porto União, Estado de Santa
Catarina, da qual foi o fundador.
57) Mathias Nikovskis — também pregador e evangelista da Igreja
Batista de Porto União, Estado de Santa Catarina, tendo estendido as
suas atividades por uma vasta redondeza dessa cidade e do município.
58) Jacob R. Inke — pastor formado pelo Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, pastoreou a I Igreja Batista de Nova Odessa,
Igreja Batista de Palma e, há quase duas décadas, acha-se à frente da
Igreja Batista de Inúbia Paulista, todas no Estado de São Paulo. Há vá-
rios anos que exerce também as funções de Diretor-Auxiliar do Acam-
pamento Batista de Palma, em Varpa, no mesmo Estado.
59) Emílio Keidann — pastor que por muitos anos dirigiu a Igreja
Batista da Floresta, na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande

475
do Sul. Tendo sido também por várias vezes eleito Presidente da Con-
venção Batista do Rio Grande do Sul, Secretário Executivo da mesma
Convenção /2 redator do seu órgão oficial — O Batista Gaúcho. Formou-
-se pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, bem como pela
Faculdade de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Sul. Exerceu o magistério em diversos educandários particulares e ofi-
ciais da Capital gaúcha e por algum tempo ensinou também no Instituto
Bíblico Batista do Rio Grande do Sul. Fig. 260
60) Rodolpho Keidann — primo do Pastor Emílio Keidann; pastor
das Igrejas do Salto e Itu, no Estado de São Paulo, e de Uruguaiana, Rio
Grande e Fragata (Pelotas) no Estado do Rio Grande do Sul, integran-
do também diversas Juntas do trabalho batista brasileiro.
61) Carlos Ukstin — pastor com curso do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, pastoreou diversas igrejas nos Estados de Santa
Catarina, Paraná, Mato Grosso e São Paulo, tendo exercido a presidência
da Convenção Batista Catarinense e cargo de evangelista nos Estados
mencionados. Fig. 261
62) Olga Strelniek — professora por longos anos no Colégio Batista
Brasileiro de São Paulo, líder da mocidade na I Igreja Batista de Nova
Odessa e em diversas igrejas batistas brasileiras da Capital do Estado de
São Paulo.
63) Carlos Liepin — professor na Escola Anexa da I Igreja Batista
de Nova Odessa e diversos colégios e ginásios de Campinas, Jundiaí, Ara-
ras, Americana e outras cidades do Estado de São Paulo, e pregador ati-
vo no campo das igrejas de que fez parte.
64) Cornélia Balod — professora por muitos anos no Colégio Ba-
tista do Rio de Janeiro, Departamento Feminino, mais tarde denominado
Ginásio Batista Brasileiro, e ativa no campo da Primeira Igreja Batista
do Rio de Janeiro.
65) Dr. Paulo Alexandre Klavin — médico e professor no Colégio
Batista do Rio de Janeiro e diversos outros educandários do Estado da
Guanabara, pregador e diácono da Primeira Igreja Batista do Rio de
Janeiro.
66) Selma Klavin — professora por longos anos do Ginásio Batista
Brasileiro do Rio de Janeiro, irmã do Dr. Paulo Alexandre Klavin —
ambos filhos da colônia leta de Rio Novo, Santa Catarina.
67) Eduim Harim Keidann — professor universitário no Rio Gran-
de do Sul, membro ativo da mocidade batista gaúcha, filho do Pastor
Rodolpho Keidann.
68) Arthur Sichmann — professor em Bananal e outras cidades de
Santa Catarina; pregador e moderador dinâmico nas igrejas onde tem
feito parte.
69) Emitia Sichmann — professora durante vários anos na Escola
Anexa da Igreja Batista Leta de Rio Novo e obreira ativa no campo
daquela igreja.
70) Emílio Andermann — professor na Escola Anexa da Igreja
Batista Leta de Rio Novo, Santa Catarina, e outras colônias letas onde
tem fixado residência, e pregador eloqüente ao tempo de sua juventude.

476
71) Ludmilla Lieknin — professora em Nova Odessa, Estado de
São Paulo, e outras cidades da redondeza; líder do trabalho de evangeli-
zação de crianças.
72) Dra. Marta Helena Leekning — professora universitária no Es-
tado de São Paulo, filha do Dr. André Leekning.
73) Ernesto Araium — diácono, pregador, moderador e regente do
coro, primeiramente na Igreja Batista Leta de Rio Branco, Estado de
Santa Catarina, e depois, por longos anos, na I Igreja Batista de Nova
Odessa, Estado de São Paulo, líder natural em quem as referidas igrejas
confiavam e cujo comando acatavam.
74) Wilis Lieknins — o pioneiro na evangelização de brasileiros nas
adjacências da Colônia de Nova Odessa, Estado de São Paulo; obreiro
que por muitos anos dedicou-se a esse mister, abrindo novas frentes para
a expansão do trabalho de sua igreja.
75) Frederico Puke — evangelista da I Igreja Batista de Nova
Odessa e nas redondezas dessa colônia e iniciador do trabalho batista
leto na Capital paulista. Em suas férias de estudos no Colégio e Semi-
nário Batista do Rio de Janeiro, dedicava-se intensamente ao trabalho de
evangelização nas vizinhanças de Nova Odessa.
76) Roberto Kreplin — foi diácono, moderador, evangelista e pre-
gador dos mais antigos da I Igreja Batista de Nova Odessa, Estado de
São Paulo.
77) Leopoldo Peterlevitz — um dos leigos mais dinâmicos da I Igre-
ja Batista de Nova Odessa, líder da mocidade e do trabalho de evangeli-
zação; mais tarde diácono e moderador da igreja.
78) Dr. Ernesto Sprogis — dentista de profissão e evangelista por
vocação durante muitos anos nas áreas de Nova Odessa, Campinas,
Areias, Limeira e Rio Claro, no Estado de São Paulo, tendo falecido às
vésperas da conclusão do Curso de Extensão do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil e quando já se cogitava de sua ordenação ao minis-
tério para a Igreja Batista de Urubici, Estado de Santa Catarina.
79) Elza Sprogis — consorte do evangelista Ernesto Sprogis, a qual
concluiu o Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, em Palma, Varpa, Estado de São Paulo.
80) Dr. João Sprogis — odontologista em sua vida secular, porém
pregador, evangelista e moderador de diversas igrejas batistas letas e
congregações brasileiras, mormente da Igreja Batista Leta de São Pau-
lo, Capital, exercendo por muitos anos também a liderança da mocidade
leta. 2. membro da Diretoria e do Conselho da Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil desde a sua fundação.
81) Oswaldo Auras — foi pregador, evangelista e moderador da
Igreja Batista de Urubici, Estado de Santa Catarina, tendo sido seu diá-
cono desde a sua fundação.
82) Alfredo Auras — evangelista da Igreja Batista de Urubici e de
algumas igrejas de Curitiba durante os seus estudos no Instituto Bíblico
Batista A. B. Deter. Faleceu antes de ser ordenado ao ministério.

477
83) Arvido Hamar Auras — evangelista em Santa Catarina e Pa-
raná, tendo feito seus estudos no Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, em
Curitiba.
84) Lídia Korn Gailit — esposa do Pastor Dr. Paulo Gailit.
85) Lívia Slengmann Bember — consorte do Pastor Laimon Bem-
ber, este descendente de imigrantes de Varpa.
86) Daltro Miguel Keidann — filho do Pastor Emílio Keidann, exer-
ceu o pastorado da Igreja Batista de Monte Serrat, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, sendo líder da mocidade batista gaúcha. Formou-se Ba-
charel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
tendo feito também cursos no Seminário Teológico Batista de Rüshlikon,
na Suíça.
87) Alfredo Klawa — Pastor da Igreja Batista da Ilha Rasa, no li-
toral paranaense e missionário da Associação das Igrejas Batistas Letas
do Brasil na mesma região.
88) David Klawa — foi pastor da Igreja Batista de Araraquara e
presentemente está à frente da de Lapa, Estado de São Paulo e é pro-
feesor no Instituto Bíblico Batista de Bauru.
89) Jacob Miguel Klawa — pastor no norte do Estado do Paraná,
atualmente filiado ao movimento chamado "Renovação Espiritual".
90) Ludmilla Araium Leiasmeier — líder da União Feminina Mis-
sionária no Estado de São Paulo, tendo ocupado durante quase uma dé-
cada o cargo de Secretária-Correspondente da referida entidade, e espe-
cialista em evangelização de crianças, atividade que tem exercido como
pioneira ao lado do seu esposo Dr. Arvido Leiasmeier — imigrado com
o movimento de 1922/23 — na fundação de diversas congregações, até
serem estas organizadas em igrejas. Foi também professora no Colégio
Batista de Belo Horizonte, Minas Gerais.
91) Anita Arais — líder batista de descendência leta, formada pelo
Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER), onde veio a exercer o
magistério e de igual modo no Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, em
Curitiba, Paraná. Mais tarde liderou o trabalho da União Feminina Mis-
sionária Batista do Estado do Rio Grande do Sul.
92) Olívia Nancy Daniel — formada pelo Colégio Batista de Porto
Alegre; Bacharel em Artes pela Universidade de Baylor, em Waco, Te-
xas; Mestre em Educação Religiosa pelo Southwestern Baptist Theologi-
cal Seminary em Fort Worth, Texas, USA. Essa obreira, filha do Pastor
Dr. Carlos Otto Daniel, é professora do Seminário de Educadoras Cristãs
(SEC) do Recife, dedicando-se integralmente à preparação de moças
batistas para a obra do evangelho. Fig. 262
93) Lívia Rita Klawa — missionária da Junta de Missões Nacionais
da Convenção Batista Brasileira e ex-Diretora do Internato do Colégio
Batista Brasileiro de São Paulo, formada pelo Instituto Batista de Edu-
cação Religiosa do Rio de Janeiro.
94) Lídia Sônia Klawa — missionária-professora no campo missio-
nário dos batistas letos no litoral do Estado do Paraná, na cidade de
Itaqui, diplomada pelo Instituto Bíblico Batista A. B. Deter, em Curitiba.

478
95) Elza Karkle — missionária-professora da Associação das Igre-
jas Batistas Letas do Brasil no litoral paranaense, em Tromomó e Ilha
Rasa.
96) Benjamim William Keidann — é filho do Pastor Rodolpho Kei-
dann. Formado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, foi
pastor em Pelotas e da Igreja Batista em Santa Maria, no Estado do Rio
Grande do Sul. É figura atuante na liderança da mocidade batista gaú-
cha, ultimamente cooperando com o Departamento da Mocidade da Con-
venção Pioneira.
97) Dr. João Carlos Keidann — também filho do Pastor Rodolpho
Keidann, é professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e
exerce o pastorado da Igreja Batista de Madureira, no Estado da Gua-
nabara. Tendo feito diversos cursos teológicos, recebeu os seguintes
graus: Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil e Bacharel em Divindades, Mestre em Teologia e Doutor em
Teologia pelo Seminário Teológico Batista de Louisville, Ky, USA. Tem
lecionado no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil as seguintes
matérias: Teologia Patrística e Protestante, Velho Testamento, Teologia
Bíblica do Velho Testamento, Teologia Contemporânea, Cristianismo e
Cultura Contemporânea, e Introdução à Filosofia.
98) Adhemar Paegle — formado pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil e com especialização em Capelania de Hospitais nos
Estados Unidos da América do Norte, exerce a capelania hospitalar em
Fortaleza, Ceará, tendo também pastoreado a Igreja Batista de Ipameri,
Estado de Goiás, e Primeira Igreja Batista de Fortaleza, Estado do Ceará.
99) João Reinaldo Purim — pastoreou a Igreja Batista de Arapon-
gas, no Estado do Paraná, e presentemente é pastor da Igreja Batista de
Senador Camará, Guanabara, tendo feito o seu curso teológico no Semi-
nário Teológico Batista do Sul do Brasil.
100) Eugênio Skolmeister — pastor e professor no Rio Grande do
Sul e em Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro.
101) Arthur Ignovskis — pastor da Igreja Batista Brasileira de
Varpa, São Paulo, com curso completo do Instituto Bíblico do Brasil.
102) Rubens Andermann — formado pelo Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, foi pastor da Igreja Batista de Brás de Pina, Gua-
nabara, depois pastor-auxiliar da 'grei') Batista Leta de São Paulo, Capi-
tal, tendo emigrado para os Estados Unidos da América do Norte, onde
por algum tempo pastoreou a Igreja Batista Leta de Chicago.
103) Raini E. Peterlevitz — pastor das igrejas batistas de Sumaré
e Suzano, Estado de São Paulo, Diretor do Acampamento Batista Eli-
zabeth Vaughan, Sumaré, Estado de São Paulo, e professor no Instituto
Bíblico de Bauru, SP. Formou-se Bacharel em Teologia pelo Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil.
104) Felipe Peterlevitz — pastor por muitos anos da Igreja Batista
de Santa Bárbara d'Oeste e co-pastor da I Igreja Batista de Nova Odes-
sa, ambas no Estado de São Paulo, tendo estudado no Curso de Extensão
do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em Palma, Varpa, Es-
tado de São Paulo.

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105) Carlos Ricardo Strautmann — pastor com curso teológico do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, tendo sido um dos obreiros
fundadores da Primeira Igreja Batista de Americana, Estado de São
Paulo, e já durante muitos anos vem pastoreando a Igreja Batista de
Itapema, no mesmo Estado.
106) Bruno Teodoro Seitz — formado pelo Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, vem ocupando alguns pastorados no campo batista
gaúcho — ultimamente em Canoas — e exercendo liderança no mesmo.
107) Eduardo Sieplin — foi evangelista, moderador e regente de
coros em diversas igrejas letas e brasileiras no Estado de São Paulo,
como Piraquera-Açu, Nova Europa, Anhumas e Regente Feijó.
108) Dra. Ruth Klawa — filha do Pastor Eduardo Klawa, profes-
sora universitária, cientista no campo da Engenharia Nuclear e líder da
mocidade batista brasileira e da do Estado da Guanabara.
109) Dr. Sadi Sérgio Grimm — professor universitário no Estado
do Rio Grande do Sul e membro ativo no trabalho batista gaúcho.
110) Dr. Walter Schause — pregador e líder da mocidade batista
no Estado do Paraná.
111) Dayse Liepin Calmon — filha do Professor Carlos Liepin e
neta do Pastor Carlos Kraul — este imigrado com o movimento de 1922/
/23 — professora no Instituto Batista de Educação Religiosa, Rio de
Janeiro, líder da obra social dos batistas do Estado da Guanabara e
membro da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista. Brasileira.
112) Dra. Lívia Ludmilla Liepin — também filha do Professor Car-
los Liepin e neta do Pastor Carlos Kraul, médica no Rio de Janeiro.
113) Elizabeth Peterlevitz — jovem obreira da I Igreja Batista de
Nova Odessa que está se preparando numa das instituições teológicas do
Estado de São Paulo para servir na obra missionária.
114) Ilona Peterlevitz Tikerpe — uma das líderes do trabalho das
senhoras batistas do Estado de São Paulo, e também das atividades ba-
tistas femininas no âmbito nacional.
115) Eleonoro Klawa — pregador, evangelista e moderador da Igre-
ja Batista de Renascença e vizinhanças, no Estado do Paraná.
116) Carlos Burse — foi diácono, pregador, superintendente de di-
versos departamentos de Educação Religiosa e grande regente de coros,
bandas e orquestras na I e na II Igreja Batista de Nova Odessa, Estado
de São Paulo, também moderador e responsável pelo púlpito em diversos
períodos de vacância do pastorado.
117) Dr. Loide Jacobson — advogado, por muitos anos obreiro ati-
vo na liderança da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Estado do Pa-
raná.
118) Venício Paegle — pregador e professor em São Paulo, Capital.
119) Dorval Paegle — pregador leigo e moderador, presentemente
(1973) dirige a Igreja Batista de Criciúma, Estado de Santa Catarina.
120) Edmundo Bruno Paegle — pregador leigo e professor do curso
médio, obreiro atuante nas igrejas batistas de Florianópolis, Estado de
Santa Catarina.

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121) Edmundo Paegle Filho — engenheiro, professor e pregador em
Florianópolis, Estado de Santa Catarina.
122) Sigismundo Paegle — pregador leigo e líder da Igreja Batista
de Orleães, Estado de Santa Catarina.
123) Carlos Ademar Purim — professor da Escola Técnica de Curi-
tiba, Estado do Paraná.
124) João Mauerberg — um leigo de extraordinário dinamismo que
se dedicou, por muitos anos, à evangelização de Suzano, Mogi das Cruzes
e adjacências, tendo exercido cargos de liderança nas igrejas de que fez
parte no Estado de São Paulo.
125) Walter Frischenbruder — evangelista em São Paulo.
126) Pedro Libert — imigrou no Brasil em 1900, emigrando depois,
com seus pais, para a República Argentina, onde pastoreou a Iglesia
Bautista de Echesortu, na Província de Rosario e outras.
127) Dr. Samuel Libert — filho do Pastor Pedro Libert, obreiro
amplamente conhecido na Argentina e com projeção internacional, é ou-
tra contribuição dos batistas letos do Brasil na evangelização dos povos.
128) Adolfo Libert — irmão do Pastor Pedro Libert, foi pastor por
muitos anos em uma das igrejas argentinas da Província de Rosario.

2.2 — Obreiros originários do movimento imigratório de 1922/23


1) João Inkis — pastor da Igreja Batista Leta de Varpa e da I Igre-
ja Batista de Nova Odessa, líder do movimento imigratório de 1922/23,
escritor, poeta, hinólogo, redator e principal incentivador da obra mis-
sionária batista leta no Brasil.
2) Marta Inkis — esposa do Pastor João Inkis e sua cooperadora no
ministério.
3) Otto Vebers — pastor da Igreja Batista Leta de Varpa, um dos
líderes do movimento de imigração leta no Brasil em 1922/23, juntamen-
te com o Pastor João Inkis.
4) Emilia Vebers — consorte do Pastor Otto Vebers; ativa na li-
derança do trabalho das senhoras da igreja.
5) André Pincher — pastor da Igreja Batista Leta de Varpa e da
I Igreja Batista de Nova Odessa e um dos obreiros teologicamente mais
preparados da obra batista leta no Brasil, tendo concluído, em 1914 o
curso no Seminário Batista de Hamburgo, na Alemanha.
6) Júlia Pincher — esposa do Pastor André Pincher e líder do tra-
balho feminino.
7) Carlos Kraul — pastor da I Igreja Batista de Nova Odessa, da
I Igreja Batista de Varpa, da II Igreja Batista de Varpa, da Igreja Ba-
tista Brasileira de Varpa e da Igreja Batista de Bandeiras; um dos
obreiros letos de maior visão e paixão missionárias e o líder principal
da integração dos batistas letos no trabalho batista brasileiro.
8) Júlia Kraul — esposa do segundo matrimônio do Pastor Carlos
Kraul, compartilhando com o povo o mesmo ardor missionário do seu
marido.
9) Arvido Eichmann — Pastor da I Igreja Batista de Varpa e da
Igreja Batista de Quatá, no Estado de São Paulo; pioneiro da obra mis-
481
sionária da Missão Leta de Varpa (ou Missão Sertaneja de Varpa),
onde trabalhou por mais de duas décadas, e Diretor da Misión Bautista
Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia, onde também deu mais de vinte
anos de labor. Foi fundador da imprensa batista leta do Brasil, escritor
e redator, bem como professor da Escola Missionária de Palma.
10) Alida Eichmann — consorte do Pastor Arvido Eichmann, mis-
sionária ativa no Brasil desde 1926, operando ainda no sertão da Bolí-
via, tendo dado também uma grande parte de sua vida à imprensa ba-
tista leta de Palma.
11) Alberto Eichmann — pastor que serviu às seguintes igrejas
batistas letas: Central de Varpa, Pitangueiras, São Paulo (Capital) e II
Igreja de Nova Odessa, todas no Estado de São Paulo, foi também o
professor responsável pelo setor de educação nos princípios da Colônia
Varpa. Foi o poeta sacro leto do Brasil mais apreciado e de maior acer-
vo.
12) Lilija Eichmann — esposa do Pastor Alberto Eichmann, uma
das primeiras líderes do trabalho das senhoras batistas letas junto à
Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil.
13) Peteris Fokrots — evangelista, cuja permanência no Brasil foi
relativamente breve, visto que se transferiu para os Estados Unidos da
América do Norte por volta de 1926; contudo, deu a sua contribuição à
edificação das igrejas letas de Varpa e de Nova Odessa, tendo sido tam-
bém o primeiro a angariar recursos entre crentes letos das terras nor-
te-americanas em favor da obra missionária dos batistas letos do Brasil.
Mais tarde passou às fileiras pentecostistas.
14) André Klavin — um dos pastores dos dias primitivos da Igreja
Batista Leta de Varpa e da Igreja Batista de Palma; gerente da Corpo-
ração Evangélica Palma; membro permanente da Diretoria da Associa-
ção das Igrejas Batistas Letas do Brasil; obreiro de grande visão mis-
sionária e pregador que freqüentemente acompanhava as equipes evan-
gelísticas do campo missionário da Missão Sertaneja de Varpa.
15) Carlos Rodolfo Andermann — pastor da Igreja Batista Leta
de São Paulo (Capital), articulista na imprensa batista leta e grande in-
centivados do trabalho missionário dos letos no Brasil e na Bolívia. Já
completou 60 anos de ordenação ao ministério.
16) Marta Andermann — esposa do Pastor Carlos Andermann e co-
laboradora incansável no trabalho do seu esposo.
17) Karlis Grigorowitsch — foi pastor e missionário leto entre os
eslavos e brasileiros nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do
Sul, redator, regente de coros e orquestras, Diretor e professor da Escola
Missionária de Palma.
18) Ana Augstroze Grigorowitsch — esposa do Pastor Karlis Gri-
gorowitsch, cujo ministério foi grandemente enriquecido pela dedicação
da esposa.
19) João Augstroze — missionário das redondezas de Palma nos
alvores da Missão Sertaneja e pastor das Igrejas de Presidente Prudente,
Sumaré, Lucélia, Cambuí e Central de Varpa, sendo um dos maiores
amigos e colaboradores da obra missionária leta na Bolívia.

482
20) Hilda Augstroze — consorte do Pastor João Augstroze; dinâmi-
ca ajudadora em todos os setores do trabalho do seu marido.
21) Emma Vikmann — a primeira professora que se dedicou ao
magistério na Colônia Varpa e sob cuja orientação diversos jovens ti-
veram a visão missionária, que os levou ao preparo para o ministério da
Palavra de Deus.
22) Maria Mellenberg — missionária-professora voluntária de Pal-
ma, Varpa, sendo uma das primeiras — quiçá a primeira — a iniciar o
trabalho de evangelização nas redondezas de Varpa. Com a ampliação
do campo missionário da Missão Sertaneja de Varpa, a sua ação se es-
tendeu por toda a região da Alta Paulista, desde a cidade de Marilia até
a barranca do Rio Paraná, por cidades, aldeias, fazendas e ranchos isola-
dos em todas as direções. Mais de quatro décadas de atividades missio-
nárias tornaram-na a missionária mais conhecida entre as igrejas e con-
gregações daquela região.
23) Erna Horbaczyk — esposa do Pastor Simon (Simão) Hor-
baczyk, este de nacionalidade polonesa, dinâmica companheira no mi-
nistério do seu marido em diversas igrejas batistas brasileiras do Estado
de São Paulo.
24) João Inkis Júnior — filho do Pastor João Inkis, um dos primei-
ros pregadores batistas letos do movimento imigratório de 1922/23, de
vez que, tendo chegado um ano antes do primeiro grupo, já havia adqui-
rido o conhecimento suficiente do idioma nacional para se expressar. A
sua atuação, embora relativamente breve, teve por cenário a cidade de
Dourados e a fazenda próxima a esta, em que um grupo de batistas letos
de Palma estava trabalhando no cultivo do café, ao mesmo tempo ten-
tando começar a evangelização dos brasileiros da redondeza. Algum
tempo depois cooperou também na congregação leta de São Paulo, quan-
do o coro e a mocidade desta emprestava sua colaboração ao missionário
Karlis Grigorowitsch, que havia iniciado a evangelização dos eslavos na
Capital paulista. Identificando-se mais tarde com o trabalho batista
brasileiro, deu muito do seu dinamismo à pregação do evangelho no cam-
po da Igreja Batista da Liberdade, da qual é diácono há longos anos.
25) Dra. Elza Aviekste (depois Pacio) — integrante dos primeiros
grupos de jovens que dominicalmente se espalhavam pelas adjacências
da Colônia Varpa para levar o evangelho aos brasileiros e imigrantes
que iam se fixando ali.
26) Emma Inkis Kreplin — filha do Pastor João Inkis, foi a jovem
de Palma que melhor conhecia a língua portuguesa nos tempos primiti-
vos da Colônia Varpa e que com grande interesse se dedicou à evangeli-
zação das vizinhanças da colônia integrando também as primeiras equi-
pes missionárias.
27) Peteris Veidemann — pastor imigrado da Letônia já em idade
avançada, foi, todavia, um baluarte nos primeiros anos de existência da
Igreja de Areias, Estado de São Paulo, encaminhando um de seus filhos,
Emílio Veidemann, ao ministério da palavra de Deus.
28) Girts Dobelis — missionário leto entre os eslavos; pastor da
Igreja Batista Russa de Varpa por longos anos, da Igreja Batista de
483
Palma, da Igreja Batista Brasileira de Varpa e da Igreja Batista de Ban-
deiras, todas no Estado de São Paulo. Durante um quarto de século vem
sendo o Redator do Periódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão) e um
dos líderes influentes da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil.
29) Jacó Schmith — um dos primeiros evangelistas da Missão Ser-
taneja de Varpa que desenvolveu uma grande obra abrindo novos pontos
de pregação e congregações.
30) Carlos Stroberg — pastor que, no seu quase meio século de mi-
nistério, tem servido em diferentes épocas a várias igrejas batistas letas
do Brasil e a muitas igrejas batistas brasileiras, entre as quais citação
especial merecem as de Rio Novo, Rio Mãe Luzia, Laguna, Rio Branco,
Orleães e Porto União — no Estado de Santa Catarina; Londrina, Rio
Negro, Itaqui e Roseira — no Estado do Paraná; Central de Varpa, II de
Nova Odessa, 1 de Americana e Assis — no "Estado de São Paulo. Na
liderança da obra batista no Brasil, o Pastor Carlos Stroberg foi, dos
obreiros letos, o mais notado, sendo Secretário-Correspondente e Tesou-
reiro da Convenção Batista Paranaense durante 17 anos consecutivos.
31) Adolfo Kaktins — pastor da Igreja Batista Leta de Ijuí — Li-
nha 11, Rio Grande do Sul, à qual serviu apenas por um ano e meio, tendo
abandonado o ministério alguns anos depois.
32) Dr. Pedro Tarsier — formado pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, curso de Bacharel em Teologia, e pela Faculdade de Fi-
losofia do Rio de Janeiro, na qual colou grau de Doutor em Filosofia;
durante 9 anos foi missionário da Junta de Missões Nacionais da Con-
venção Batista Brasileira aos imigrantes russos que aportavam ao Rio
Grande do Sul; alguns anos foi pastor da Igreja Batista de Boa Vista
e por 42 anos pastor da Primeira Igreja Batista Brasileira de Porto Ale-
gre, no Estado do Rio Grande do Sul. Juntamente com alguns missio-
nários norte-americanos, foi fundador e professor do Seminário Sul Bra-
sileiro, de vida efêmera; professor no Colégio Batista de Porto Alegre;
fundador da Igreja Batista Russa — hoje Igreja Evangélica Batista de
Cristo — fruto do seu trabalho entre os imigrantes — e da Igreja Ta-
bernáculo da Boa Vontade, atualmente conhecida como Igreja Batista
em Monte Serrat. Diversas vezes foi presidente da Convenção Batista
do Rio Grande do Sul. Publicou dois livros de pesquisa histórica — "A
História das Perseguições Religiosas no Brasil" e "Roma, Jesuitismo e
a Constituinte". Foi colaborador assíduo de O Jornal Batista. Fig. 263
33) Emilia Tarsier — consorte do Pastor Dr. Pedro Tarsier.
34) João Lukass — missionário da Missão Sertaneja de Varpa, cur-
sou alguns anos a Escola de Verão do Colégio e Seminário Batista do Rio
de Janeiro, dedicando-se depois ao autodidatismo e, por fim, diploman-
do-se em dois cursos por correspondência do Instituto Moody, de Chicago,
Estados Unidos da América do Norte. Pastoreou as igrejas batistas de
Quatá, Assis, Leta de São Paulo (Capital), Ferreira e Embu, no Estado
de São Paulo e diversas outras em caráter de interinidade. Foi evange-
lista da Convenção Batista Paulistana e da Associação das Igrejas Ba-
tistas Letas do Brasil. Durante alguns anos, logo após a II Guerra Mun-
dial, foi Presidente do Comitê de Auxílio aos Refugiados (organização
484
batista leta), quando centenas de letos, de todos os credos, receberam
os benefícios do ministério do Pastor João Lukass. Fez diversas viagens
pelo sul do Brasil, visitando as igrejas batistas letas e brasileiras, e vi-
sitou duas vezes as igrejas batistas letas dos Estados Unidos da América
do Norte. Ultimamente vem fazendo a sua contribuição também à lite-
ratura evangélica como escritor, tendo produzido, até o presente, três
livros preciosos: "Evangelismo Eficiente", "Buscai e Vivei" e "Pelos Ca-
minhos e Atalhos", sendo o último uma autobiografia em forma de no-
vela. A sua longa experiência de quase 45 anos na conquista de almas,
os seus pastorados tranqüilos e eficientes e o seu saber ungido pelo Es-
pírito de Deus o vêm recomendando como preletor de institutos locais e
regionais e professor do Instituto Bíblico Batista de Bauru. Tem inte-
grado também diversas Juntas das Convenções Estadual e Nacional.
35) Alma Lukass — esposa do Pastor João Lukass, à qual pertence
grande parte do ministério do seu marido, pela consagração, abnegação
e amor com que tem se dedicado ao trabalho na Seara do Senhor.
36) João Korps — evangelista da Missão Sertaneja de Varpa e de-
pois pastor da Igreja Batista de Tupã, Igreja Batista de Vila Prudente
e outras no Estado de São Paulo. Dos autores letos foi o mais produtivo,
tendo publicado cerca de 20 livros, de porte reduzido, todos em portu-
guês, assim contribuindo para evangelização, doutrinamento e inspiração
do povo batista no Brasil. Também escreveu muitos artigos para O Jor-
nal Batista, todos de caráter doutrinário.
37) Lídia Korps — consorte do Pastor João Korps e ativa colabo-
radora no ministério do seu marido.
38) Alexandre Abolins — pastor batista leto de Varpa que ali fun-
dou uma igreja dissidente, de existência relativamente breve, mas cujos
frutos posteriormente vieram a enriquecer as igrejas letas da colônia.
39) Matilde Abolins — esposa do Pastor Alexandre Abolins, cuja
atuação constituiu uma grande ajuda moderadora no trabalho encetado
pelo casal.
40) Nicolau Kwasche — pastor da Igreja Batista de Pitangueiras,
da Igreja Batista Central de Varpa, e da Igreja Batista Leta de São
Paulo (Capital), grande amigo e incentivador da obra missionária.
41) Arthur Abolins — evangelista voluntário que deu sua colabo-
ração em diversas épocas nos campos de algumas igrejas batistas letas,
especialmente as de Varpa, Estado de São Paulo.
42) Dr. Paulo Gailit — pastor das Igrejas Batistas em Rio Negro,
Antonina, Morretes, Cedro, Cajuru (20 anos), Rio Branco do Sul, Capão
do Imbuia e Betel — no Estado do Paraná; e Laguna, Rio Novo, Orleães
e Criciúma — no Estado de Santa Catarina. Foi também evangelista da
Convenção Batista Paraná — Santa Catarina, por diversos anos, com re-
sidência em Laguna. Por muitos anos ocupou a Presidência da Ordem dos
Ministros Batistas do Brasil — Seção do Estado do Paraná — e da Junta
Executiva da Convenção Batista Paranaense, tendo sido também o 10
Presidente dessa Convenção, servindo nessa capacidade por duas vezes.
Formou-se em Direito e exerceu o magistério em diversos educandários
curitibanos. Notável foi o seu programa radiofônico "Ondas de Evan-

485
gelismo", por muitos anos mantido na emissora Rádio Clube Paranaense
de Curitiba, apresentando a mensagem de salvação semanalmente em se-
te línguas: português, castelhano, russo, ucraniano, alemão, polonês e
leto. Também colaborou com seus artigos em O Jornal Batista.
43) João Krumin — atual gerente da Corporação Evangélica Pal-
ma, diácono e integrante de vários grupos e equipes missionárias aos
eslavos e brasileiros das redondezas de Varpa.
44) Anna Krumin — esposa do diácono João Krumin, igualmente
ativa nos dias primitivos da obra missionária nas redondezas de Varpa e
Palma.
45) João Grikis — um dos integrantes das equipes de evangelização
das redondezas de Varpa e Palma que por muitos anos dedicou-se espe-
cialmente ao cuidado dos enfermos e necessitados de socorro, sempre fa-
zendo a sua tarefa como um ministério ao Senhor da Seara.
46) João Leiasmeier — progenitor do conhecido obreiro leigo Dr.
Arvido Leiasmeier, por longos anos moderador da Igreja Batista de Var-
pa, pregador auxiliar de diversos pastores dessa igreja, líder dos grupos
fetos de igrejas brasileiras servidas por pastores brasileiros ou letos e
grande cooperador na evangelização do Brasil.
47) Gustavo Narkevitz — foi diácono, líder da mocidade, por 20
anos superintendente da Escola Bíblica Dominical e pregador apreciado
da Igreja Batista de Varpa, Estado de São Paulo; membro das primei-
ras Comissões de Missões da Igreja Batista de Varpa e Tesoureiro do
Centro Missionário da Missão Sertaneja de Varpa; exerceu grande
influência sobre diversos jovens letos que mais tarde vieram a ser obrei-
ros na causa batista brasileira. Foi também Juiz de Paz do Distrito de
Varpa durante diversos anos.
48) Martin Plepis — foi pregador leigo, fundador e por muitos anos
moderador da Igreja Batista de Monte-Mor, no Estado de São Paulo.
49) Pedro Luzin — evangelista em Areias, Limeira e outras locali-
dades do interior de São Paulo, exercendo verdadeiras funções pastorais
à frente de algumas igrejas.
50) Hermanis Janait — pai do Pastor Ilgonis Janait, além das ati-
vidades no campo da música, foi por muitos anos pregador-auxiliar e su-
perintendente da Escola Bíblica Dominical da I Igreja Batista de Nova
Odessa, Estado de São Paulo.
51) Frederico Vitols — formado pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, foi pastor das igrejas batistas em Assis, Anhumas, Bau-
ru, Água Branca e outras no Estado de São Paulo, fundador do trabalho
batista no Norte do Estado do Paraná, em Ibiporã, Londrina e outras
cidades daquela região. Por muitos anos vem ensinando na Faculdade
Teológica Batista de São Paulo e na Faculdade Teológica da Igreja Me-
todista Livre, sediada na capital paulista.
52) Guilherme Vitols — jovem integrante das equipes missionárias
voluntárias da Missão Sertaneja de Varpa, pregador e regente de con-
juntos e coros, que por vários anos atuou naquele campo e depois em
diversas igrejas brasileiras.

486
53) Eduardo Kuplens — diácono, moderador, dirigente de cultos,
pregador e obreiro ativo no trabalho de evangelização nas redondezas da
Colônia Varpa, tendo colaborado também com o trabalho batista brasi-
leiro no norte do Estado do Paraná.
54) Rodolfo Kivits — um dos obreiros de maior destaque na lide-
rança da Educação Religiosa da I Igreja Batista de Nova Odessa e que
por mais tempo serviu, ao lado dos pastores dessa igreja, na formação
cristã de urna geração inteira. O seu dinamismo e tirocínio especialmen-
te à frente da Escola Bíblica Dominical, ensejaram o preparo de diversos
obreiros para a própria igreja e despertaram algumas vocações para o tra-
balho do Senhor fora dela.
55) Dr. Arnaldo Bruver — foi professor e secretário do Colégio
Batista do Rio de Janeiro na década dos 20. Veio da Letônia já com
curso superior iniciado, tendo completado seus estudos na Faculdade de
Filosofia do Rio de Janeiro, graduando-se Doutor em Filosofia. Teve
grande penetração nas camadas altas da sociedade brasileira como pro-
fessor de inglês do Corpo Diplomático. Por muitos anos exerceu o ma-
gistério em diversos educandários cariocas de nível médio e superior,
inclusive na Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Foi tam-
bém apreciado como conferencista e articulista na imprensa carioca. A
sua influência evangélica foi notória ao tempo em que participava da
administração do Colégio Batista do Rio de Janeiro.
56) Olga Svern — uma das primeiras professoras da Colônia Var-
pa, integrante das equipes missionárias, dinâmica no evangelismo nas
Escolas Bíblicas Dominicais da Igreja Batista Leta de São Paulo (Ca-
pital), espalhadas pelas residências de batistas letos da grande cidade,
bem como em muitas outras atividades.
57) Alfredo Rusins — evangelista que trabalhou com diversas igre-
jas brasileiras, como Liberdade, na Capital Paulista; Pelotas (1a), no Rio
Grande do Sul; Petrópolis (1a ), no Estado do Rio de Janeiro; e, durante
diversos períodos de férias, com a Missão Sertaneja de Varpa, Estado de
São Paulo. Foi pregador eloqüente e apreciado, levando muitas almas a
Cristo. Formou-se, posteriormente, em Filosofia e em Direito.
58) Frederico Grinberq — leigo, diácono e moderador da II Igreja
Batista de Varpa, sendo obreiro de destaque também na I Igreja Batista
de Varpa, e na administração do trabalho da Missão Sertaneja de Varpa,
Estado de São Paulo.
59) Dr. Frederico Grinberg — jovem estudante no Colégio e Semi-
nário Batista do Rio de Janeiro na década dos 20, evangelista em diver-
sas igrejas, mais tarde formou-se em Medicina.
60) Martinho Albino Janson — formado pelo Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil, tendo exercido no nosso país atividades de
evangelista da Quarta Igreja Batista do Rio de Janeiro (então Igreja
Bati-' a de São Cristóvão). Transferindo-se para os Estados Unidos da
América do Norte, diplomou-se Mestre em Teologia pelo Southwestern
Theological Seminary, em Fort Worth, Texas, depois completando o Cur-
so de Doutor em Teologia pelo mesmo Seminário, deixando, porém, para
ocasião posterior a apresentação de sua tese. Exerceu diversos pasto-

487
rados em igrejas batistas de origem portuguesa e mexicana nos Estados
Unidos da América do Norte e atividades de rádio-missionário em por-
tuguês e leto, na H. C. J. B., "Voz dos Andes", no Equador.
61) André Janson — irmão do Pastor Martinho Albino Janson, pro-
fessor, maestro e pregador no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
62) Arnaldo Gertner — pastor com curso teológico do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil e estudos de especialização nos Esta-
dos Unidos da América do Norte. Por 25 anos é pastor da Igreja Batista
de Ricardo Albuquerque, Estado da Guanabara, tendo exercido por igual
período as funções de Ecônomo do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, onde também foi professor de Missões e Administração Ecle-
siástica. Ultimamente assumiu cargo de responsabilidade na direção das
oficinas da Casa Publicadora Batista no Rio de Janeiro. Fig. 264
63) Carlos Gruber (ou Carlos Purgailis) — um dos primeiros inte-
grantes — quando ainda adolescente — das equipes missionárias da Mis-
são Sertaneja de Varpa, Estado de São Paulo, como violinista, cantor e
regente de conjuntos e coros, onde teve início a sua carreira de evange-
lista, que há mais de duas décadas vem alcançando dimensões internacio-
nais, pois que em cerca de 30 países tem participado de campanhas evan-
gelísticas como "singer evangelist". Depois de completar seus estudos
em Campinas e São Paulo, em 1937 seguiu para os Estados Unidos, co-
lando grau de Bacharel em Teologia pelo Southwestern Baptist Theologi-
cal Seminary, em Fort Worth, Texas. Arrebentando a II Guerra Mun-
dial, não teve condições de voltar ao Brasil em caráter permanente, pois
àquela altura ainda era cidadão da Letônia. Foi pastor durante seis
anos da Igreja Batista Leta de New York e redator da revista Drauga
Vests (Mensagem de Amigo), que era enviada aos letos espalhados pelo
mundo devido à guerra, e cujo ideal era manter viva a chama de espe-
rança por uma Letônia independente e cristã. Dada a ocupação comu-
nista desse país e as privações por que passava o povo leto dentro do
seu território e fora dele como refugiado, Carlos Gruber coordenou, por
diversos anos, um serviço de socorro aos seus compatriotas, em que cerca
de 30 mil letos foram beneficiados. Sobre a sua contribuição no campo
da Música Sacra no Brasil trataremos mais adiante.
64) Osvaldo Ronis — Bacharel em Teologia pelo Seminário Teoló-
gico Batista do Sul do Brasil (1940) e Bacharel em Pedagogia — com
especialização em Orientação Educacional — pela Universidade Gama
Filho (1972), Estado da Guanabara, foi pastor das igrejas batistas em
Barra do Pirai, Mendes e Paulo de Frontin — Estado do Rio de Janeiro;
Bastos, Inala Paulista, Tupã (Central) e Lucélia (interino) — Estado
de São Paulo; Bonsucesso (interino), Tijuca e Penha (1a) — Estado
da Guanabara, permanecendo até o presente nesta última, à cuja frente
se encontra desde 1965. Em 1961 ingressou no magistério teológico,
sendo desde então professor do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil e do Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER). Nessas
instituições denominacionais tem lecionado as seguintes matérias: Ve-
lho Testamento, Novo Testamento, Geografia Bíblica, Arqueologia Bí-
blica, Introdução Bíblica (noções de Arqueologia, Crítica e Hermenêuti-

488
ca. bíblicas), Evangelismo e Sociologia. Também é professor universitá-
rio na Guanabara. No Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil
exerceu também as funções de Curador do Museu Batista e Diretor do
Internato dos Casados. Foi coordenador do programa "Batistas em Mar-
cha" da Comissão de Rádio e Televisão da Convenção Batista Brasileira,
primeiro presidente da Junta de Rádio e Televisão da Convenção Batista
Brasileira; membro, durante 15 anos, da Junta de Missões Nacionais da
Convenção Batista Brasileira; membro integrante das diretorias de di-
versas outras Juntas estaduais e nacionais e diretorias de Convenções;
presidente de duas Associações regionais em que exercia o pastorado
(Associação Batista Sul-Fluminense e Associação Batista da Alta Pau-
lista), presidente por vários anos da União dos Ministros Batistas do
Distrito Federal (depois Guanabara) e da Ordem dos Ministros Batistas
do Brasil — Seção do Estado da Guanabara; colaborou por alguns anos
na redação de diversos trimestres de lições da "Revista de Jovens e Adul-
tos" da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista
Brasileira; é autor do livro "Geografia Bíblica", e colaborador antigo
de O Jornal Batista. É casado com D. Evangelina Rocha Pombo Bond
Ronis, de nacionalidade brasileira, a quem pertence uma grande parte do
seu ministério.
65) Tabita Kraul Miranda Pinto — filha do Pastor Carlos Kraul,
esposa do Pastor Dr. José de Miranda Pinto, o qual foi líder denomina-
cional, e atual Reitora do Seminário Teológico Betel, onde fez o seu cur-
so teológico. n professora na instituição que dirige, tendo colado grau
de Bacharel em Pedagogia na Universidade Gama Filho, Rio de Ja-
neiro. Vem exercendo grande influência no preparo de jovens para o
ministério da Palavra de Deus. Fig. 265
66) Ilgonis Janait — pastor com curso de Bacharel em Teologia
pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, tendo pastoreado as
seguintes igrejas: Igreja Batista de Itacuruçá e Quarta Igreja Batista
do Rio de Janeiro, GB, Igreja Batista do Brás, na Capital paulista
e presentemente dirige uma das de São José dos Campos, São
Paulo. Tem curso de Professor de Educação Musical pelo Conserva-
tório de Canto Orfeônico "Maestro Julião" nas então Faculdades Cam-
pineiras, hoje Universidade de Campinas; curso de Canto pelo Conser-
vatório "Gomes Cardim", também de Campinas, Estado de São
Paulo; curso Básico em Televisão Educativa — Universidade do Estado
da Guanabara, com estágio no Instituto de Pesquisas Espaciais do Con-
selho Nacional de Pesquisas, em São José dos Campos. Tem lecionado
no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil e Instituto Batista de Educação Religiosa, as
seguintes disciplinas: Teologia Sistemática, Velho Testamento, Novo
Testamento, Evangelismo, Eclesiologia, Teologia Pastoral, Educação Re-
ligiosa, Evangelismo e Missões, Jornalismo, Geografia Bíblica, Arqueo-
logia Bíblica e Administração Recreativa. Foi o primeiro Curador do
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, membro
integrante de diretorias de diversas Juntas batistas estaduais e nacio-
nais, Coordenador do Departamento da Mocidade da Junta Executiva da

489
Convenção Batista Paulistana, responsável pela Divisão de Vocações e
Departamento de Vocações e Preparo Ministerial da mesma Junta e pre-
sidente da Junta de Evangelismo da Convenção Batista Brasileira. Exer-
ceu, ainda, as funções de Capelão e Diretor do Internato dos Casados do
Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, Diretor do Departamen-
to de Promoção e Relações Denominacionais do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil e Redator de Publicações da Junta de Evangelismo
da Convenção Batista Brasileira. Também há muito vem colaborando
com seus artigos em O Jornal Batista, e é também escritor. Fig. 266
67) João Kruklis — pastor formado pelo Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, evangelista em algumas igrejas batistas no Brasil
e missionário da Misión Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
68) Alfon Kruklis — pastor com o curso de Bacharel em Teologia
pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, tendo pastoreado a
Igreja Batista de Blumenau, Estado de Santa Catarina, Igrejas Batistas
de Araguari, no Estado de Minas Gerais e presentemente é pastor no
Distrito Federal. Vem integrando também várias juntas batistas esta-
duais e nacionais.
69) Arvido Maurmann — diácono; desde a adolescência professor e
superintendente da Escola Bíblica Dominical; pregador e grande incenti-
vador da obra missionária dos batistas letos do Brasil. Nas igrejas ba-
tistas brasileiras de Bastos, Inúbia Paulista e Adamantina, Estado de
São Paulo, tem atuado sempre na liderança com dedicação e dinamismo
de um pastor. progenitor de duas esposas de pastores brasileiros.
70) Marta Gailis — uma das primeiras missionárias-professoras
que no campo da Missão Sertaneja de Varpa se entregou ao trabalho
entre os imigrantes eslavos.
71) Elza Strauss — também missionária-professora entre os esla-
vos de Varpa e suas vizinhanças.
72) Alexandre Samoilovic — evangelista no campo missionário es-
lavo da Missão Sertaneja de Varpa, regente de coros e conjuntos vocais
e tipógrafo que dedicou toda a sua vida à imprensa de Palma, cuja pu-
blicação principal tem sido o periódico Kristigs Draugs (O Amigo Cris-
tão), que vem sendo editado até o presente (1973), e Drudjeskoie Slovo
(A Palavra Amiga), periódico batista russo.
73) Matilde Samoilovic — esposa do evangelista Alexandre Samoi-
lovic, igualmente empenhada por muitos anos na obra missionária como
professora, tendo sido uma das mestras da Escola Anexa de Varpa nas
décadas de 20 e 30.
74) Carolina Vanag — integrante das equipes missionárias da Mis-
são Sertaneja de Varpa desde o início desse trabalho. Dedicou-se espe-
cialmente ao ensino nas Escolas Bíblicas Dominicais daquele campo.
75) Geny Graikste — obreira da Igreja Batista de Varpa, professo-
ra da Escola Anexa e integrante de diversas equipes missionárias em
épocas diferentes.
76) Valija Lustin — professora e obreira voluntária, que há muitos
anos vem atuando entre eslavos e brasileiros de Varpa e suas redondezas.

490
77) Lídia Lustin — professora e Diretora do Grupo Escola "João
Brediks", em Varpa, obreira da Igreja Batista Brasileira de Varpa e
atuante na obra missionária daquela igreja e da Missão Sertaneja.
78) Jacó Rosenberg — poeta, escritor, pregador, por muitos anos
gerente da Casa Publicadora Palma (editora da Corporação Evangélica
Palma) e líder muito popular da mocidade batista leta do Brasil.
79) João Bukmanis — poeta, prosador e escritor, integrante das
equipes missionárias de Palma nos dias primitivos da colônia Varpa,
Estado de São Paulo, tipógrafo e companheiro de Jacó Rosenberg na
gerência da Casa Publicadora Palma.
80) Carlos Siders — obreiro leigo ativo na área da Educação Reli-
giosa das diversas igrejas batistas brasileiras de que tem feito parte,
pregador e regente de música.
81) Lúcia Kraul — esposa do Pastor Carlos Kraul em terceiras núp-
cias, cooperadora dos últimos anos do ministério desse obreiro que viveu
uma vida intensamente voltada para a evangelização dos brasileiros.
82) Janis Roberto Jansevskis — pastor das igrejas batistas seguin-
tes: I de Nova Odessa, Pederneiras, Penápolis, Central de Tupã, III de
Santos, Santa Bárbara d'Oeste, São José do Rio Pardo, Alto Alegre e
Boturuçu, todas no Estado de São Paulo. Foi também evangelista da
Convenção Batista Paulistana nas regiões da Noroeste e da Alta Pau-
lista. n formado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, ten-
do cooperado, durante o tempo de seus estudos, como evangelista da
Igreja Batista Central do Rio de Janeiro. Mantém uma organização so-
cial, de aprendizado e orientação profissional. Notável tem sido tam-
bém a sua atuação como regente de coros e conjuntos instrumentais.
83) Zeltite Janaitis Jansevskis — consorte do Pastor Janis Roberto
Jansevskis, cooperadora no ministério do seu marido.
84) João Pupols — evangelista e pastor há quase três décadas no
litoral paranaense, e dinâmico promotor também da obra social naquela
região, até há pouco esquecida dos poderes públicos, tendo recebido ul-
timamente do Exmo. Sr. Gen. Cmt. da 5' RM e 5a DI o seguinte CERTI-
FICADO "O Exmo. Sr. Cmt. da 5a RM e 5a DI outorga ao Sr. Pastor
JOÃO PUPOLS o presente Certificado pelos relevantes serviços presta-
dos às Comunidades do Paraná e de Santa Catarina na Ação Social
ACISO 72, contribuindo de forma destacada para a Integração Nacional.
Curitiba, agosto de 1972. (a) Gen. N. Tourinho — Gen. Cmt. 51 RM/5'
DI." (9 ) Seus pastorados são referidos no capítulo anterior, quando da
descrição do trabalho missionário dos batistas letos no litoral do Estado
do Paraná.
85) Alida Pupols — esposa do Pastor João Pupols, companheira di-
nâmica no ministério desse obreiro.
86) Verner Kriqer — pastor formado no Curso de Extensão do Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil, tendo pastoreado as igrejas
batistas em Urupés, Nova Odessa (II) e outras no Estado de São Paulo,
estando de alguns anos a esta parte à frente da Igreja Batista da Vila

(9) Batista Paranaense, Ano LVI, n° 2 e 3, fevereiro e março de 1973, p. 3.

491
Parolim, em Curitiba, no Estado do Paraná. Aprofundando-se nos co-
nhecimentos bíblicos, tem ensinado matérias teológicas em diversos cur-
sos e institutos bíblicos.
87) Alice Kriger — consorte do Pastor Verner Kriger, cujo auxílio
no ministério do seu marido tem sido de grande valia.
88) Emílio Veidmann — foi evangelista e pastor em Nova Odessa,
Areias, Pirassununga, Americana, Osvaldo Cruz e Adamantina — Es-
tado de São Paulo, tendo sido também um dos obreiros do campo da
Missão Sertaneja de Varpa, numa grande região do extremo da Alta
Paulista. Fez o Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil, sediado em Palma. Possuía extraordinário espírito de pio-
neirismo e grande facilidade de comunicação, dons de Deus que lhe de-
ram condições excelentes de abrir sempre novas frentes missionárias ao
redor das igrejas que pastoreava e das congregações que ia fundando.
89) Emma Veidmann — irmã do Pastor Emílio Veidmann, que mui-
to se sacrificou para cuidar do seu mano solteiro. Imbuída do mesmo
ideal do seu irmão, esforçou-se com dedicação em ajudá-lo nas congre-
gações mais próximas no trabalho local, quando ele estivesse em viagens.
Esse casal de irmãos solteiros dedicou-se inteiramente à promoção do
Evangelho.
90) João Veidmann — sobrinho do Pastor Emílio Veidmann, que o
encaminhou nos primeiros passos de pregador do Evangelho. Foi evan-
gelista na Alta Paulista por algum tempo, dedicando, porém, a maior
parte de sua vida à obra missionária no litoral do Estado do Paraná e
na região serrana de Quatro Barras, no mesmo Estado, como pastor e
missionário da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Tem o
Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em
Palma, Varpa.
91) Ernesto Dundurs — foi diácono e pregador, primeiro líder do
grupo que se transferiu de Varpa para as margens do lago Gaíba, Es-
tado do Mato Grosso, depois missionário e Diretor Administrativo da
Misión Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia, à qual dedicou
sua vida desde 1946.
92) Paula Dundurs — esposa do missionário Ernesto Dundurs.
93) Jacó Liger — um dos mais destacados líderes da Misión Bau-
tista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia; seu primeiro Superintendente
de Serviços Agrícolas, diácono e pregador da congregação leta da Mis-
são.
94) Libe Liger — esposa do missionário Jacó Liger.
95) Alexandre Ansons — missionário da Misión Bautista Leta de
Rincón del Tigre, na Bolívia, responsável pelo Setor Industrial da mes-
ma, diácono e pregador.
96) João Lukenieks — foi missionário da Misión Bautista Leta de
Rincón del Tigre em terras bolivianas, encarregado dos transportes e
abastecimento. Poeta e cronista que usou os seus dons na divulgação do
espírito missionário que deve presidir a vida de cada crente.

492
97) Fritzis Romich — foi evangelista aos lituanos de São Paulo e
um dos primeiros integrantes da Misión Bautista Leta de Rincón del
Tigre, na Bolívia.
98) Emma Mizere — missionária-professora em Palma e redonde-
zas, e depois em Rincón del Tigre, na Bolívia.
99) Ana Urban — também integrante da Missão acima referida.
100) Berta Biernis — obreira da Misión Bautista de Rincón del Ti-
gre, na Bolívia.
101) Constância Janson — por alguns anos integrante da Missão
dos Batistas Letos da Bolívia, já citada.
102) João Cukurs — obreiro integrante do grupo missionário que
fundou a Misión Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
103) Júlia Cukurs — esposa de João Cukurs e fundadora da Missão
referida.
104) Hermine Asplinte — igualmente fundadora da Misión Bautista
Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
105) Julia Ostniek — integrante da Misión Bautista Leta de Rincón
del Tigre, na Bolívia.
106) Alvine Saurule — uma das primeiras integrantes da Misión
Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
107) Roberto Bember — pai dos pastores Laimon e Gonardo Bem-
ber, diácono, pregador e moderador, tendo exercido funções pastorais na
Letônia. No Brasil, foi um dos pregadores auxiliares da Igreja Batista
Leta de Varpa em seu primeiro decênio de existência, depois em Nova
Odessa e especialmente em Pederneiras, Estado de São Paulo, onde sua
liderança tem sido notória à frente da igreja batista brasileira desde a
sua fundação.
108) Ana Brediks Keidann — consorte do Pastor Rodolpho Kei-
dann e progenitora do Dr. João Carlos Keidann, do Pastor Benjamim
William Keidann e do Prof. Eduin Harrim Keidann.
109) Dr. Eduardo Liger — médico formado no Rio de Janeiro; por
muitos anos obreiro ativo na liderança do setor de Educação Religiosa
da Igreja Batista Central de Varpa, particularmente como superinten-
dente da Escola Bíblica Dominical e preletor em diversos cursos e insti-
tutos sobre assuntos culturais e religiosos.
110) Arvido Narkevitz — farmacêutico de profissão, filho de Gus-
tavo Narkevitz — já referido — foi destacado obreiro leigo à frente de
diversos setores do trabalho da Igreja Batista Central de Varpa, presi-
diu por vários anos a União da Juventude Batista Leta das Igrejas de
Varpa e posteriormente, mudando-se para a Capital do Estado de São
Paulo, ocupou a superintendência da Escola Bíblica Dominical da Igreja
Batista de Vila Mariana.
111) Kuno Dundurs — diácono, pregador, moderador e evangelista
que, depois de 25 anos de residência no Brasil, Colônia Varpa, emigrou
com outros batistas letos para a Bolívia, fixando-se na cidade de Ro-
boré, onde organizou uma congregação batista leta, que mais tarde in-
tegrou-se na igreja batista boliviana local, com tarefa específica de evan-
gelização do grande número de operários brasileiros ocupados na cons-

493
trução da Estrada de Ferro Brasil—Bolívia, quer nas grandes oficinas
em Roboré, quer nas diversas turmas ao longo do traçado da linha fér-
rea.
112) Naira Dundurs — filha do evangelista Kuno Dundurs, pro-
fessora, que, além das atividades evangelísticas ao lado de seu pai, exer-
ceu o magistério da escola missionária mantida pelos batistas canaden-
ses na cidade de Santiago.
113) Alfredo Dagis — outro evangelista da congregação de Roboré,
o qual durante quase uma década foi obreiro da Junta de Missões Nacio-
nais da Convenção Batista do Oriente Boliviano (campo missionário de
Missões Estrangeiras da Convenção Batista Brasileira), nas cidades de
Santa Cruz de La Sierra e Portachuelo, mais tarde atuando por conta
própria nos numerosos acampamentos das companhias petrolíferas, nu-
ma das quais ocupou cargo de responsabilidade.
114) João Legsdins — evangelista voluntário na região de Urubici,
Estado de Santa Catarina, que, por muitos anos e com grandes sacrifí-
cios pessoais, entregou-se à obra da evangelização.
115) Arvido Grikis — pastor leigo da Igreja Batista de Pitanguei-
ras, na Colônia Varpa, Estado de São Paulo.
116) Hari Janson — missionário, Superintendente Geral de Serviços
da Misión Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia, onde já se en-
contra há quase duas décadas, tendo cooperado antes também com o
trabalho missionário leto no litoral do Estado do Paraná.
117) Ruth Lidak Janson — esposa do missionário Hari Janson, que
foi a primeira missionária-professora — quando solteira ainda — a ser
enviada pela Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil ao campo
missionário de Rincón del Tigre, na Bolívia, depois de ter recebido o seu
preparo no Praire Bible Institute, no Canadá. Há duas décadas vem se
dedicando a esse trabalho, sendo, desde a morte do missionário Arvido
Eichmann, a Diretora da Missão em tela. O seu trabalho abnegado, a sua
vida totalmente entregue àquela obra e a sua profunda espiritualidade
qualificam-na como uma das grandes missionárias dos tempos atuais.
118) Noemia Lidak de Jesus — irmã de Ruth Lidak Janson, mis-
sionária por vários anos da Junta de Missões Nacionais da Convenção
Batista Brasileira em Xique-Xique, Estado da Bahia. Tendo se consor-
ciado com o pastor brasileiro Aurélio Santos de Jesus, trabalhou ao lado
do seu marido em uma das igrejas da cidade de Salvador, posteriormente
em Dracena e nos últimos tempos vem atuando nas cidades de Panora-
ma e Tupi Paulista, Estado de São Paulo.
119) Arthur Kilmeier — missionário da Misión Bautista Leta de
Rincón del Tigre, na Bolívia, responsável pelos serviços agropecuários da
mesma e diácono da igreja local.
120) Cláudia Lidak Kilmeier — esposa do missionário Arthur Kil-
meier, outra irmã da missionária Ruth Lidak Janson, missionária-pro-
fessora-enfermeira, com curso do Instituto Bíblico de São Paulo, Aliança
Pró-Evangelização da Criança e de Enfermagem. Cláudia, como as suas
irmãs acima referidas, antes de partir para a Bolívia, fez parte de di-
versas equipes de evangelização da Igreja Batista Leta de São Paulo

494
(Capital). Há três lustros essa missionária — que também é a Tesourei-
ra da Missão — vem se dedicando àquele trabalho.
121) Velta Kagis — missionária-professora da Misión Bautista Le-
ta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
122) João Jansons — um dos integrantes de Misión Bautista Leta
de Rincón del Tigre.
123) Rasma Osis — missionária-professora por diversos anos da
Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, tendo como
seus campos de atividades principalmente as cidades de Ipupiara, Estado
da Bahia e Porangatu, Estado de Goiás.
124) Zênia Birzniek — missionária-enfermeira da Junta de Missões
Nacionais da Convenção Batista Brasileira desde 1957. Embora prepa-
rada especificamente para o ministério da enfermagem e da evangeliza-
ção das crianças, tem sido uma dessas obreiras polivalentes que tem de-
senvolvido verdadeiras atividades pastorais à frente de congregações e
igrejas, abrindo novas frentes de trabalho e promovendo a obra social.
Os seus principais campos de atividades tem sido as cidades de Ipupia-
ra, no Estado da Bahia, e Japaratuba, no Estado de Sergipe, onde tem
recebido reconhecimento e homenagens das autoridades municipais e do
povo em geral. Com seus parcos recursos também custeou os estudos se-
cundários e superiores de um jovem inteligente, mas pobre, do seu cam-
po de trabalho, que em 1970 terminou o curso de Bacharel em Teologia
no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, no Recife, e em 1972,
Mestre em Teologia, na mesma Instituição, contribuindo assim também
para o crescimento do ministério batista brasileiro. Trata-se do Pastor
Prof. Mário Ribeiro Martins, mestre no Seminário Teológico Batista do
Norte do Brasil, Recife, escritor e professor universitário na capital per-
nambucana.
125) Teófilo Purens — pastor com curso do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil; pastoreou a Igreja Batista de Blumenau, Es-
tado de Santa Catarina, a II Igreja Batista de Jundiaí, Estado de São
Paulo, e outras nos dois Estados citados. Foi também Secretário Exe-
cutivo da Convenção Batista Catarinense, quando diversas igrejas esti-
veram sob seus cuidados interinamente.
126) Dr. Arvido Leiasmeier — cirurgião-dentista; um dos leigos de
maior folha de serviços prestados à denominação batista no Brasil, quer
como músico e maestro, quer como pregador e como professor de música.
Diversas igrejas batistas brasileiras e letas da Capital e do interior dos
Estados de São Paulo, Paraná e do extremo sul de Minas Gerais têm re-
cebido a influência de sua atuação como obreiro do Senhor; entre essas,
mencionamos a Igreja Batista Leta de São Paulo, a de Bastos, Inúbia
Paulista, Monte Verde, Vila Mariana, Redenção (Americana) e III Igreja
de Nova Odessa. Por alguns anos foi professor de música no Curso de
Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em Palma, e
professor no Instituto Missionário Peniel, em Jacutinga, sul de Minas
Gerais.
127) Laimon Bember — pastor com Curso de Extensão do Seminá-
rio Teológico Batista do Sul do Brasil; exerce o pastorado da igreja ba-
495
tista de Blumenau, Estado de Santa Catarina (1973) ; tendo sido pastor
em Pederneiras, Guararapes e Valparaíso, Estado de São Paulo.
128) Gonardo Bember — irmão do Pastor Laimon Bember, tendo
feito seu curso teológico no Seminário Teológico Batista do Sul do Bra-
sil. Pastoreou diversas igrejas batistas brasileiras no Estado da Gua-
nabara e ultimamente vem atuando no Estado do Rio de Janeiro.
129) Verner Cerpe — pastor formado pelo Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, tendo exercido o pastorado das igrejas batistas de
Bragança Paulista, Redenção (Americana) e outras no Estado de São
Paulo.
130) Laureta Cerpe — esposa do Pastor Verner Cerpe.
131) Osvaldo Bumbiers — pastor com curso do Seminário Teológico
Batista do Sul do Brasil; sendo por alguns anos evangelista e depois pas-
tor na Igreja Batista de Bandeiras, Estado de São Paulo; posteriormente
deixou o ministério.
132) Ana Augstroze Rutter — esposa do Patsor Ronald Rutter,
tendo concluído o curso de Bacharel em Educação Religiosa pelo Insti-
tuto de Educação Religiosa do Rio de Janeiro e Bacharel em Música Sa-
cra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. A sua atuação
em diversas capacidades e diferentes setores na igreja local tem sido um
grande auxílio no ministério do seu esposo.
133) Traina Neuza Ozolin — professora, líder da mocidade de sua
igreja, com curso do Instituto Bíblico do Brasil, São Paulo, é obreira
voluntária na evangelização através das Escolas Bíblicas Dominicais do-
miciliares da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
134) Alda Rasma Ozolin — irmã de Iraina, professora, com curso
especial de evangelização de crianças, igualmente obreira no trabalho de
evangelização que a sua igreja realiza através da rede de Escolas Bíbli-
cas Dominicais em domicílios de seus membros.
135) Arnolds Gailit — filho do Pastor Dr. Paulo Gailit, pregador e
líder da mocidade batista paranaense, militando também no magistério.
136) Nancy Bumbiers — jovem que por alguns anos serviu no tra-
balho de itinerância no Estado do Paraná, tendo recebido o preparo no
Instituto Batista A. B. Deter, em Curitiba, Paraná.
137) Miriam Tabita Janson — também com curso do Instituto Bí-
blico Batista A. B. Deter, de Curitiba, primeira a concluir o curso de
Bacharel em Teologia por essa Instituição, vem se dedicando à evange-
lização no Estado do Paraná nos campos de diversas igrejas batistas
brasileiras.
138) Isa Paulina Janson — missionária-enfermeira voluntária e au-
tônoma no Hospital São Paulo, na capital paulista, tendo feito seus cur-
sos no Instituto Bíblico do Brasil, São Paulo, e na Escola de Enferma-
gem "Florence Nightingale" de Anápolis, Goiás.
139) Laimon David Klava — formado no Curso de Extensão do
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, ministrado em Palma, e
Instituto Bíblico Batista de Bauru. Foi evangelista nas redondezas de
Varpa, São Paulo e na Igreja Batista de Urubici, Estado de Santa Ca-
tarina, e há vários anos é Pastor das Igrejas Batistas em Mafra, Papan-

496
duva e Canoinhas, Estado de Santa Catarina e Roseiras, Estado do Pa-
raná.
140) Ruth Murniek — missionária-professora no litoral do Estado
do Paraná, mantida pela Convenção Batista Paranaense.
141) João Washington Inkis — filho de João Inkis Júnior, foi um
dos mais assíduos cooperadores nas equipes evangelísticas da Igreja Ba-
tista da Liberdade, bem como do movimento de evangelização de rua,
promovido pela organização "Mocidade para Cristo". É oficial da re-
serva do Exército Brasileiro, professor e engenheiro mecânico do Insti-
tuto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
142) Dr. Arnaldo Svern Júnior — profissionalmente, cirurgião-den-
tista, por diversos anos foi obreiro autônomo de um trabalho de evangeli-
zação de rua em pontos de grande movimento no centro da Capital pau-
lista, que incluía pregação, colportagem e entrevistas religiosas em plena
via pública durante horas seguidas. Fez parte das equipes de evangeli-
zação da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital, e cooperou com al-
gumas igrejas brasileiras nas áreas de evangelismo e de música sacra,
mormente com a Igreja Batista de Santo Amaro, São Paulo.
143) Aina Lúcia Svern — irmã do evangelista Dr. Arnaldo Svern
Júnior, portadora de diploma de Engenharia Química, uma das obreiras
mais dedicadas à evangelização através da rede de Escolas Bíblicas Do-
minicais domiciliares da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
144) liga Margô Svern — outra irmã do Dr. Arnaldo Svern Júnior,
também formada em Química e de igual modo consagrada ao trabalho de
evangelização, com verdadeiro espírito e idealismo missionários.
145) Lucy Inara Skuya — obreira integrante dos grupos missioná-
rios voluntários da Missão Sertaneja de Varpa e professora pública, que
habilmente sabe fazer do seu trabalho pedagógico uma ponte para che-
gar ao coração da infância e da adolescência que estão em suas classes.
146) Jacob Abolins — filho do Pastor Alexandre Abolins, publicis-
ta, por longos anos um dos obreiros mais dinâmicos da Igreja Batista
Leta de São Paulo, Capital, superintendente da rede das Escolas Bíblicas
Dominicais, que tinham por objetivo formar novas congregações brasi-
leiras.
147) Rute Eichmann Peterlevitz — filha do Pastor Alberto Ei-
chmann e esposa do Pastor Filipe Peterlevitz.
148) Zigrida Kivit Peterlevitz — consorte do Pastor Raini Peter-
levitz.
149) Noemia Jurevic — missionária-professora na Ilha de Marajó,
Estado do Pará.
150) Ausma Grikis — radiomissionária da organização "Palavra
da Vida", em São Paulo.
151) Cap. Roberto Pontuska — evangelista, pregador e assistente
do pastor da Igreja Batista Leta de São Paulo, tendo atuado por vários
anos também em igrejas brasileiras, principalmente na Igreja Batista de
Quitaúna, São Paulo, da qual foi fundador, evangelista e moderador.
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152) Arnaldo Janaitis — professor de diversos educandários de São
Paulo, evangelista, pregador, moderador de igrejas batistas e preletor
em curso de obreiros.
153) Dr. Arthur Laksehevitz — professor de Música, Química e Fí-
sica e outras disciplinas em diversos colégios da cidade do Rio de Ja-
neiro, Doutor em Filosofia pela antiga Faculdade de Filosofia do Rio de
Janeiro. Obreiro leigo dos mais destacados nas igrejas de que tem sido
membro, integrando também as várias Juntas do trabalho Batista do
Estado da Guanabara, sendo, porém, o seu campo maior o da Música
Sacra.
154) Ausma Korps Baldassarre — filha do Pastor João Korps e es-
posa do evangelista José Baldassarre, cujo trabalho intenso na Alta
Paulista e subúrbios de São Paulo levou muitas almas à salvação em
Cristo.
155) .Renata Korps Marinho — também filha do Pastor João Korps
e esposa do Pastor Artur Marinho, obreiro no Estado de São Paulo.
156) Lídia Korps Martines — outra filha do Pastor João Korps, es-
posa do Pastor Salvador Martines, ministro batista em São Paulo, Ca-
pital.
157) Roberto Vavers — poeta, líder da mocidade batista leta do
Brasil; mais tarde diácono, regente de coros e grande incentivador da
obra missionária.
158) Nelly Bond Ronis — filha do Pastor Osvaldo Ronis, formada
pelo Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER), tendo dado sua
colaboração como professora ao Ginásio Batista de Campo Grande, Es-
tado de Mato Grosso, Instituto Bíblico Batista d'Oeste, Estado de Mato
Grosso e posteriormente, por vários anos, à Junta de Educação Religiosa e
Publicações da Convenção Batista Brasileira, em diversos setores do De-
partamento de Treinamento e Departamento de Escolas Dominicais.
159) Marli Ronis Queiroz — também filha do Pastor Osvaldo Ronis
e esposa do Pastor Luiz Thomaz de Queiroz, licenciado em Filosofia e
Bacharelando em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, obreiros da Igreja Batista Nova Canaã, Estado da Guanabara.
160) Mirdza Klava — esposa do Pastor Alfredo Klava, missionário
da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil no litoral do Estado
do Paraná, cujo trabalho ao lado do seu marido é de uma autêntica mis-
sionária, que entregou a sua vida à obra do evangelho. Seu esposo des-
cende dos primeiros imigrantes batistas letos no Brasil.
161) Aldona Maurmann da Silva — consorte do Pastor Anastácio
José da Silva, da Igreja Batista de Adamantina, Estado de São Paulo,
onde a sua atuação ocupa lugar de destaque no ministério do seu marido
brasileiro. Antes do seu casamento, cooperou por um breve período como
missionária-professora no litoral paranaense.
162) Laila Maurmann Chagas — esposa do Pastor Samuel Chagas e
que muito ajudou o seu marido nos pastorados em Adamantina, Tupã e
Bauru, no Estado de São Paulo, e no de Fonseca (Niterói), no Estado do
Rio de Janeiro. Hoje ambos militam no movimento renovacionista.

498
163) Ilga Leiasmeier Reis — esposa do médico Dr. Antonino Bar-
bosa Reis, diretores do Instituto de Assistência Social "Providência", em
'naja Paulista, Estado de São Paulo, no qual D. Ilga, há quase duas
décadas, vem sendo verdadeira mãe para menores, que ali recebem não
só os cuidados materiais, mas, sobretudo, a formação intelectual e pro-
fissional, moral e espiritual.
164) Frederico Vansberg — um dos leigos mais ativos na evangeli-
zação através das Escolas Bíblicas Dominicais domiciliares da Igreja
Batista Leta de São Paulo, Capital. As origens da próspera Igreja Ba-
tista de Ferreira, na capital paulista, acham-se no trabalho persistente
e sacrificial desse servo de Deus e sua esposa.
165) Lina Vansberg — esposa do irmão Frederico Vansberg, cuja
atuação à frente da Escola Bíblica Dominical de Ferreira resultou na or-
ganização da congregação que, por sua vez, originou a igreja acima
referida.
166) Ana Muceniek — missionária-professora no litoral do Estado
do Paraná.
167) Aina Muceniek — irmã de Ana, igualmente missionária-pro-
fessora no litoral paranaense.
168) Ilga Muceniek Gomes — outra irmã das duas anteriores, mis-
sionária-professora no litoral e na região serrana de Quatro Barras, no
Estado do Paraná.
169) Solveiga Muceniek — missionária-professora no litoral para-
naense e irmã das três acima referidas.
170) Ingrida Weiss — professora, com curso de Educação Religiosa
do Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER), Rio de Janeiro, e
curso de Música Sacra do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Por vários anos teve a seu cargo a orientação religiosa do internato do
Colégio Batista do Rio de Janeiro. Atualmente exerce o ministério da
Música Sacra em uma das igrejas batistas de São Paulo, bem como o
magistério no campo da música.
171) Vinifreda Samoilovic Payrit — professora, com curso univer-
sitário, obreira ativa no trabalho de evangelização na cidade de Assis e
adjacências, Estado de São Paulo.
172) Pedro Miltuzs — um dos mais ativos evangelistas da nova ge-
ração na vizinhança da Colônia Varpa, campo da Missão Sertaneja de
Varpa.
173) _g/vira Brediks Miltuzs — esposa do evangelista Pedro Miltuzs,
a qual vem atuando no trabalho missionário nas adjacências de Varpa
como professora e regente de música nas congregações e pontos de pre-
gação.
174) Marta Berzin Kalutran — consorte do Pastor Guilherme Ka-
lutran — este de descendência sueca — operante na Igreja Batista de
499
Osvaldo Cruz, no Estado de São Paulo. É fiel ajudadora em todos os
setores do ministério do seu marido.
175) Reinaldo Snikers — evangelista e professor da Associação das
Igrejas Batistas Letas do Brasil na região serrana do Rio Pardo, divisa
do Estado do Paraná com o de São Paulo.
176) Reginaldo André Kruklis — evangelista com curso teológico
do Instituto Bíblico Batista A. B. Deter de Curitiba, que vem colaborando
nos campos missionários dos batistas letos em Rio Pardo e Quatro Bar-
ras, Estado do Paraná.
177) Alfredo Bediks — industrial em Tupã e Americana, Estado
de São Paulo, foi um dos leigos versáteis nas Igrejas Batistas: Central
de Varpa, Assis, Tupã, Central de Tupã e II de Nova Odessa, todas no
Estado de São Paulo, sendo que na última foi, por diversos anos, mo-
derador e pregador-auxiliar do pastor. Fig. 267
178) Jodo Brediks — industrial de Varpa, construtor, pregador e
diácono da Igreja Batista Central de Varpa, leigo de grande folha de
serviços prestados à causa batista em diversos setores.
179) Marta Deglau — líder do trabalho das Senhoras da Associa-
ção das Igrejas Batistas Letas do Brasil e grande incentivadora da obra
missionária dessa entidade.
180) Teodoro Bumbiers — diácono, pregador leigo e moderador na
Igreja Batista de Urubici, Estado de Santa Catarina e na Igreja Batista
de Renascença, Estado do Paraná.
181) Lolita Narkevitz — professora universitária e psicóloga de
prestígio em São Paulo, filha de Arvido Narkevitz, ativa no testemunho
cristão na sua igreja e no meio social em que exerce as suas atividades
profissionais.
182) Zanis Eksteins — diácono e pregador eloqüente que foi nas
três igrejas batistas de Nova Odessa, demonstrou especial interesse em
levar o povo brasileiro ao conhecimento de Cristo como Salvador. Quan-
do em Nova Odessa foi fundada a III Igreja Batista, Zanis Eksteins fez
questão de unir-se a ela só para poder estar em contato permanente com
o povo brasileiro a quem amava profundamente. Mesmo enfermo, jamais
media sacrifícios, pregando o evangelho até os últimos momentos de sua
vida.
183) Paulo Ceipe — foi um dos evangelistas da União das Igrejas
Batistas da Letônia; pregador eloqüente, que muito ajudou nos primór-
dios da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital, e mais tarde nos tra-
balhos das igrejas batistas de Varpa. Não se engajou no trabalho entre
os brasileiros, porém entendeu que a sua tarefa era ganhar os jovens
letos da colônia para que estes se entregassem à obra missionária.
184) Elizabeth Vansberg da Rocha — filha do casal de obreiros
Frederico e Una Vansberg, esposa do Pastor Elias Rodrigues da Rocha,
atuando no campo paulistano.

500
2.3 — Obreiros imigrados após a II Guerra Mundial
Os obreiros letos que imigraram em nosso país como refugiados da
II Guerra Mundial constituíram um novo sangue no ministério das igre-
jas letas do Brasil, pois que, por razões óbvias, não tiveram condições
de se integrarem logo no trabalho batista brasileiro. A sua atuação, po-
rém, foi marcante na estruturação do trabalho batista leto, principal-
mente no Estado de São Paulo, para sua continuidade mais coesa e ob-
jetiva. Seguem agora os seus nomes:
1) André Ceruks — pastor com curso do Seminário Batista de Ri-
ga, Letônia, foi por diversos anos pastor da Igreja Batista Central de
Varpa, da I Igreja Batista de Nova Odessa e da II Igreja Batista de
Nova Odessa, onde permanece ainda até o presente (1973). Foi o obrei-
ro que mais trabalhou pela organização da atual Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil e foi seu presidente por mais tempo; grande
incentivador do trabalho missionário dos batistas letos no Brasil e na
Bolívia.
2) Velta Ceruks — esposa do Pastor André Ceruks, ajudadora ativa
e eficiente no ministério do seu marido.
3) Hugo Alnis — pastor com formação teológica adquirida no Se-
minário Batista de Riga, Letônia, tendo pastoreado no Brasil: Igreja
Batista de Pitangueiras, Varpa, São Paulo; Igreja Batista Leta de São
Paulo, Capital; e Igreja Batista Central de Varpa. Durante o seu mi-
nistério de nove anos, na Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital, seis
jovens foram separados para a obra missionária, e preparados nos res-
pectivos institutos bíblicos.
4) Ana Alnis — consorte do Pastor Hugo Alnis, sempre ativa ad-
jutora nos diversos setores das igrejas em que o esposo exerceu o mi-
nistério.
5) André Arajs — pastor com preparo teológico adquirido na Uni-
versidade de MacMaster, em Hamilton, Canadá. Foi pastor durante vá-
rios anos na Igreja Batista Central de Varpa e já por mais de uma dé-
cada pastoreia a Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital. Por diversos
períodos foi presidente da Associação das Igrejas Batistas Letas do Bra-
sil e é o gerente de uma nova editora religiosa leta que organizou em
São Paulo, tendo impresso livros e hinários em idioma leto.
6) Ausma Arajs — esposa do Pastor André Arajs, adjutora no tra-
balho do seu marido.
7) Mikelis Zegelnieks — pastor com curso teológico concluído no
Seminário Batista de Riga, Letônia, em 1925. Teve, no Brasil, um minis-
tério relativamente curto. Após alguns anos de atividades à frente da I
Igreja Batista de Nova Odessa, adoeceu, ainda em conseqüência dos pa-
decimentos na II Guerra Mundial e nas peregrinações como refugiado;
501
serviu também por algum tempo à Igreja Batista de Renascença, no
Estado do Paraná, vindo a falecer em Curitiba, em 2 de setembro de
1968.
8) Augusto Lakschevitz — irmão do conhecido maestro Arthur
Lakschevitz, tendo adquirido a sua cultura teológica no Seminário Ba-
tista de Riga, Letônia. Pastoreou a Igreja Batista de Pitangueiras, Var-
pa, e a Igreja Batista de Barbosa, Estado de São Paulo; a Igreja. Batista de
Urubici, Igreja Batista de Tubarão, Igreja Batista de Orleães e Igreja
Batista de Rio Novo, no Estado de Santa Catarina. Teve também atua-
ção marcante na liderança da mocidade das igrejas batistas letas de
Varpa, Estado de São Paulo.
9) Milda Lakschevitz — esposa do Pastor Augusto Lakschevitz, es-
teve sempre ativa à frente dos trabalhos de grupos femininos e de ou-
tros setores das igrejas em que o casal tem servido.
10) Elizabeth Rudzajs — dinâmica líder do trabalho das senhoras
batistas letas da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil durante
vários anos.
11) Arthur Stefenberg — pastor com curso teológico feito no Se-
minário Batista de Riga, Letônia. Pastoreou por diversos anos a II Igre-
ja Batista de Nova Odessa, tendo emigrado para os Estados Unidos da
América do Norte, a convite de uma igreja leta daquele país.
12) Dora Stefenberg — consorte do Pastor Arthur Stefenberg.
13) Janis Lejasmeier — pregador, tendo estudado no Curso de Ex-
tensão de Palma. Exerceu por algum tempo as atividades de evangelista
entre algumas igrejas e congregações batistas da Alta Paulista, Estado
de São Paulo.
14) Gunars Tiss — pastor da I Igreja Batista de Nova Odessa, no
Estado de São Paulo, desde 1966. A partir de 1970, vem ocupando tam-
bém a presidência da Associação das Igrejas Batistas Letas do Brasil.
Desde que chegou ao Brasil, em 1949, o seu campo de ação tem sido,
porém, o da música sacra como veremos no tópico respectivo nas pági-
nas adiante.
15) Mirdza Tiss — consorte do Pastor Gunars Tiss, ativa ajudadora
no ministério do seu esposo.
16) Janis Arajs — missionário que trabalhou por alguns anos na
Misión Bautista Leta de Rincón del Tigre, na Bolívia.
17) Janis &mis — pastor que durante algum tempo atuou à frente
da II Igreja Batista de Varpa.
Concluindo este tópico, cremos ser oportuno apresentar um quadro
estatístico geral dos obreiros batistas letos do Brasil que se destacaram
nas áreas do ministério das igrejas, evangelização e missões e educação
religiosa.

502
QUADRO ESTATÍSTICO DE OBREIROS
BATISTAS LETOS DO BRASIL ATUANTES NAS ÁREAS
DE MINISTÉRIO DE IGREJAS, EVANGELIZAÇÃO E MISSÕES
E EDUCAÇÃO RELIGIOSA

Pastores Esposas Evange- Profs. Total


de listas e e leigos
pastores Missio-
Oriundos da nários
imigração anterior
à I Guerra Mundial

43 11 19 54 127

Oriundos da
imigração posterior
à I Guerra
Mundial (1922/23) 42 34 72 36 184

Oriundos da
imigração posterior
à II Guerra
Mundial 8 6 2 1 17

Totais 93 51 93 91 328

3. Obreiros Batistas Letos do Brasil no Campo da


Música Sacra
Neste tópico apresentaremos os obreiros batistas letos que tiveram
atuação especial no campo da música sacra no Brasil, seguindo o mesmo
critério usado no tópico anterior quanto à ordem de citação e agrupa-
mento dos nomes. Uma apreciação da contribuição dos batistas letos no
campo da música sacra será feita no capítulo seguinte, quando da ava-
liação geral do trabalho batista leto neste país. Outrossim, devemos
declarar que nestas relações de nomes não entram, infelizmente, os dos

503
acompanhantes, organistas e pianistas, que são em grande número, da-
das as dificuldades de obtermos informações suficientes para tanto. Da-
remos aqui os nomes apenas dos regentes batistas letos ou de origem leta,
que tiveram direta ou indiretamente participação no desenvolvimento da
música sacra no Brasil — tanto nas igrejas brasileiras como nas letas, in-
tegradas na obra batista nacional.

3.1 — Regentes oriundos dos grupos imigrados antes da I Guerra


Mundial

1) Juris Frischenbruder — um dos primeiros regentes do coro da


Igreja Batista Leta de Rio Novo, Santa Catarina. Fig. 267A
2) Karlis Maschs — também pioneiro na área de regência na mes-
ma igreja acima referida, bem como no campo brasileiro em seu redor.
3) Thomaz Ukstin — o primeiro regente do coro da Igreja Batista
Leta de Ijui — Linha 11, Rio Grande do Sul, posto em que permaneceu
durante trinta anos consecutivos. Sob sua orientação o coro dessa igre-
ja tornou-se uma das grandes motivações para a expansão missionária
da mesma. Também foi com a sua ajuda que mais tarde surgiram outros
regentes, que tiveram atuação marcante no desenvolvimento da música
na Escola Bíblica Dominical (Coro Juvenil), na União de Mocidade (Co-
ro de Jovens) e nas congregações brasileiras.
4) Augusto Miguel Frederico Keidann — também regente dos gru-
pos corais da Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
5) Ernesto Araium — regente de longa experiência nas igrejas le-
tas das colônias de Jacu-Açu, Estado de Santa Catarina, e Nova Odes-
sa, Estado de São Paulo; especialmente nesta última, desenvolveu um
coro que foi muito solicitado nas Convenções que se realizavam no Es-
tado de São Paulo durante vários anos. Mais tarde dirigiu os coros nas
igrejas batistas em Nova Europa e Pirassununga, no mesmo Estado.
6) David Altmanis — regente do coro da Igreja Batista Leta de
Alto Guarani, Estado de Santa Catarina.
7) Augusto Kalnins — regente do coro da Igreja Batista Leta de
Brüedertal, Estado de Santa Catarina.
8) Pedro Kalnins — durante vários anos regente do coro da Igreja
Batista Leta de Linha Telegráfica, Estado de Santa Catarina.
9) João Diener — primeiro regente batista leto a organizar e dirigir
um coro em uma igreja batista brasileira, que foi o da Primeira Igre-
ja Batista de São Paulo. Também é autor de sete hinos do Cantor Cris-
tão.
10) Eduardo Sieplin — foi regente dos coros das Igrejas Batistas
em Pariquera-Açu, Nova Europa, Anhumas e Regente Feijó, Estado de
São Paulo.
11) Ernesto Viegsdins — por vários anos regente do coro da Igreja
Batista de Rio Branco (antes denominada Igreja Batista Leta de Jacu-
-Açu), Estado de Santa Catarina.
12) Henrique Jacobson — também regente do coro da Igreja Ba-
tista de Rio Branco, Santa Catarina.

504
13) André Garros — regente do coro da Igreja Batista Leta de
Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul, em diversos períodos de sua história.
14) Wilis Lieknims — regeu o coro da Igreja Batista Leta de Nova
Odessa (Hoje I Igreja Batista de Nova Odessa) durante vários anos em
diferentes épocas.
15) Carlos Burse — grande regente de coros, bandas e orquestras
nas igrejas batistas de Nova Odessa, Estado de São Paulo, cuja atuação
enérgica e eficiente se prolongou por mais de quarenta anos no minis-
tério da música sacra.
16) Gustavo Grikis — regente dos coros das igrejas de Rio Novo
e de Urubici, Estado de Santa Catarina.
17) Zigismundo Andermann — dirigiu durante muitos anos o coro
da Igreja Batista de Rio Mãe Luzia, Estado de Santa Catarina.
18) Frederico Link — quando seminarista no Colégio e Seminário
Batista do Rio de Janeiro, foi regente do coro da Igreja Batista do
Méier, Guanabara, e depois em algumas igrejas no Rio Grande do Sul.
19) Bernardo Arais — regeu os coros das igrejas batistas: Leta de
Ijuí — Linha 11, e Brasileira de Ijuí, no Estado do Rio Grande do Sul.
20) Henrique Arais — regente de coros em diversas igrejas batis-
tas brasileiras de Porto Alegre, principalmente o da Central da Capital
gaúcha.
21) Gustavo Arais — regente do coro da Igreja Batista Leta de
Ijuí — Linha 11, Rio Grande do Sul.
22) Martins Felberg — foi regente do coro da Igreja Batista de
Areias, Estado de São Paulo, por muitos anos.
23) Arthur Alkschbirze — regeu o coro da Igreja Batista Leta de
São José dos Campos e da Igreja Congregacional da mesma cidade, Es-
tado de São Paulo.
24) Carlos Ukstin — foi regente do coro da Igreja Batista do Méier,
Guanabara, e depois em diversas outras igrejas brasileiras dos seus cam-
pos de trabalho nos Estados do sul do país.
25) Osvaldo Auras — regente do coro da Igreja Batista de Urubi-
ci, Estado de Santa Catarina.
26) Samuel Auras — filho de Osvaldo Auras, também regente do
coro da mesma igreja acima referida.
27) Edgar Matrevitz — um dos regentes que por mais tempo ser-
viu à frente do coro da I Igreja Batista de Nova Odessa, Estado de São
Paulo.
28) Ernesto Sprogis — regeu o coro da III Igreja Batista de Nova
Odessa, Estado de São Paulo.
29) Rodolfo Strautmann — foi regente por muitos anos do coro da
III Igreja Batista de Nova Odessa.
30) Laura Steinberg — por vários anos foi regente do coro da Igre-
ja Batista de Assis, Estado de São Paulo.
31) Eizens Leekning — regeu alguns grupos corais das igrejas ba-
tistas de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
32) Ester Peterlevitz Sims — por diversos anos regeu o coro da
Igreja Batista em Santa Bárbara d'Oeste, Estado de São Paulo.

505
33) Helena Karklis — foi regente de vários grupos corais da I Igre-
ja Batista de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
34) Dra. Helen Butler — médica, filha do Pastor e Professor Dr.
Guilherme Butler, foi regente por diversos anos do coro da Primeira
Igreja Batista de Curitiba, Estado do Paraná e outros grupos corais.
35) Dr. Walter Schause — engenheiro, regente de grupos corais da
juventude batista de Curitiba, Estado do Paraná.
36) Teófilo Peterlevitz — regente do coro da I Igreja Batista de
Nova Odessa, Estado de São Paulo.
37) Ralf Klavin — regeu o coro da II Igreja Batista de Nova Odes-
sa.
38) Visvaldo Burse — regente do coro e orquestra da II Igreja Ba-
tista de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
39) Rodolfo Alkschbirze — foi regente da I Igreja Batista de Nova
Odessa, Estado de São Paulo.
40) Reynaldo Alkschbirze — também regente de grupos corais da
I Igreja Batista de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
41) Arnaldo Albrecht — igualmente regente na I Igreja Batista de
Nova Odessa.
42) Beatriz Albrecht — outra regente de grupos corais da I Igreja
Batista de Nova Odessa.
43) Naida Hartmann — formada no curso de Música Sacra do Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil, exerce o magistério da mú-
sica e regência em algumas igrejas batistas da cidade de São Paulo.
44) Ivo Seitz — missionário, professor de música sacra e regente
no campo de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, for-
mado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
45) Rolando Peterlevitz — maestro do coro da II Igreja Batista de
Nova Odessa, com diversos cursos de especialização em piano, compo-
sição e regência pelos conservatórios de Campinas, Estado de São Paulo.
É um dos compositores da nova geração batista leta.
46) Ruth Klawa — regente do coro da Igreja Batista de Cascadu-
ra, GB.

3.2 — Regentes originários dos imigrantes de 1922/23

1) Hermanis Janaitis — um dos primeiros regentes do grande coral


de 200 vozes da Igreja Batista Leta de Varpa (hoje conhecida como
Igreja Batista Central de Varpa), Estado de São Paulo. Mais tarde di-
rigiu, em diferentes épocas, também o coro da I Igreja Batista de Nova
Odessa, no mesmo Estado. Fig. 268
2) Dr. Arthur Lakschevitz — maestro que também foi um dos in-
tegrantes da equipe de regentes do coral da igreja acima mencionada
e da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital. Alguns anos antes de
chegar ao Brasil já era regente de coros em sua terra natal, Letônia,
tendo participado de diversos cursos de regência. Em 1926 ingressou no
Colégio Batista do Rio de Janeiro, onde fez o seu curso de humanidades,
mais tarde doutorando-se em Filosofia pela antiga Faculdade de Filoso-
506
fia do Rio de Janeiro. Tem sido organizador e ensaiador de inúmeros
coros nas igrejas batistas e presbiterianas no Rio de Janeiro. A sua
obra monumental foi a compilação do maior hinário para coros que o
Brasil evangélico já teve — Coros Sacros, cuja edição, desde 1932, já
ultrapassou de 240.000 exemplares. Durante 14 anos consecutivos foi
regente do coro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro e diversos
anos regeu os coros das igrejas batistas do Méier e Itacuruçá, na mesma
cidade. Houve épocas em que Arthur Lakschevitz dirigia cinco coros
ao mesmo tempo, tão grande foi a extensão do seu campo de trabalho
na área da música sacra. Foi professor de música no Colégio Batista
Shepard e diversos outros colégios do Rio de Janeiro, bem como du-
rante vários anos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Também teve papel de destaque na organização e apresentação do gran-
de coral de 3.000 vozes do 10° Congresso da Aliança Batista Mundial
no Rio de Janeiro em 1960. n também professor de Química, Física e
outras disciplinas, que tem lecionado em diversos colégios da cidade do
Rio de Janeiro. Outrossim, Arthur Lakschevitz tem integrado as várias
Juntas do trabalho Batista do Estado da Guanabara, assim participan-
do das atividades denominacionais em todos os setores. Fig. 269
3) Arthur Garancs — Com diversos cursos feitos na Letônia, é um
dos mais competentes maestros letos do Brasil, e há 50 anos vem regen-
do o coral da Igreja Batista Central de Varpa (antes conhecida como
Igreja Batista Leta de Varpa) , embora não fosse o seu único regente.
Foi também o fundador e maestro da orquestra da mesma igreja, vio-
linista e professor de música e violino. Por vários anos colaborou no
ensino da música no Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil que por duas décadas funcionava em Palma. Sob a sua
batuta, o Coral da Igreja Batista Central de Varpa, bem como a orques-
tra apresentaram-se diversas vezes em audições especiais na cidade de
São Paulo e em algumas emissoras de rádio, cantando e tocando para a
glória de Deus. Além dessas atividades no campo da música sacra, o
maestro Arthur Garancs também exerceu as funções de guarda-livros da
Colônia Varpa nos seus primórdios, de agente municipal, de Juiz de
Paz e outras. Nos últimos anos vem cooperando também como guarda-
-livros do Acampamento Batista de Palma. Fig. 270
4) Emílio Kriger — progenitor do Pastor Verner Kriger, também
um dos primeiros regentes do coro da Igreja Batista Central de Varpa,
violinista, violoncelista e professor de violino e violoncelo, por cujas
mãos passaram numerosos jovens da Colônia Varpa que se tornaram re-
gentes e músicos, integrando as diversas orquestras e conjuntos instru-
mentais. Foi poeta e compositor, tendo deixado 42 obras de sua lavra
no campo da música sacra, sendo 7 composições para instrumentos de
corda, 6 hinos completos (letra e música) , 17 composições para hinos
com letra de outros autores, 9 arranjos ou orquestrações para hinos e 3
letras para hinos. Seu preparo no campo da música se deu na Rússia
durante os 3 anos de prestação do serviço militar, embora desde criança
já tivesse aprendido a tocar violino pelo autodidatismo. Seu mestre foi
o grande Maestro Teodoro Reiter, em São Petersburgo (hoje Leningra-

507
do), com quem aprendeu harmonia e composição. Mais tarde, estudou
com outros mestres famosos. Integrou também duas orquestras sinfô-
nicas — a de São Petersburgo, na Rússia, e a de Riga, Letônia. As suas
músicas e poesias são de uma sensibilidade ímpar, tendo recebido diver-
sos reconhecimentos internacionais referentes aos seus trabalhos. Fig.
271
5) Karlis Grigorowitschs — também um dos primeiros regentes do
coral da Igreja Batista Central de Varpa, depois da Igreja Batista de
Palma e da orquestra de bandolins desta última. Como pastor da Igreja
Batista Boas Novas, São Paulo, organizou também a orquestra de ban-
dolins em sua igreja.
6) João Augstroze — outro entre os regentes • do coro da Igreja
Batista Central de Varpa nos seus primórdios.
7) João Gause — também regente do coro da Igreja Batista Cen-
tral de Varpa e do coro feminino da mesma igreja.
8) João Lakstigals — o primeiro regente do coro da Congregação
Batista Leta de São Paulo, Capital, e depois de coros de algumas igrejas
brasileiras no interior do Estado.
9) Hari Ruks — foi um dos primeiros regentes do Coro da Igreja
Batista de Palma, na Colônia Varpa, ao lado de Karlis Grigorowitsch.
Teve um grande interesse de encaminhar jovens ao estudo de regência
e dar-lhes oportunidade de dirigir o coro da igreja, o da mocidade e o
da Escola Bíblica Dominical. Cooperou muito também com o trabalho
missionário das vizinhanças de Varpa, ensinando música, ensaiando con-
juntos vocais e ajudando em outros setores do trabalho. Fig. 272
10) Augusto Vanags — regeu por diversos períodos o coro da Con-
gregação Batista Leta de Dourado, Estado de São Paulo, onde um grupo
de batistas letos de Palma, Varpa, estava trabalhando alguns anos e tes-
temunhando ao povo brasileiro.
11) Waldemar Snikers — igualmente regeu o coro da congregação
acima, mas a sua contribuição maior foi no preparo da letra — original
e tradução — para numerosos hinos da grande coleção de música coral
— Coros Sacros.
12) Carlos Sider — outro regente da congregação de Dourado já
referida e mais tarde de coros de diversas igrejas batistas brasileiras de
que fez parte.
13) Carlos Rodolfo Andermann — pastor que dirigiu o coro da
Igreja Batista Leta de São Paulo em seus dias primitivos e depois inte-
rinamente, quando se verificava a falta de outros regentes.
14) João Karsons — foi regente do coro da Igreja Batista Central
de Varpa e da II Igreja Batista de Varpa.
15) Karlis Jansons — maestro do coro e banda da Igreja Batista
de Pitangueiras, Colônia Varpa, Estado de São Paulo, compositor, ar-
ranjador e orquestrador de diversos hinos, todos em idioma leto.
16) João Vital — foi regente do coro da mocidade da Igreja Ba-
tista Central de Varpa, maestro da orquestra da mocidade da mesma
- igreja e um dos mais dedicados auxiliares do Maestro Arthur Garancs

'508
na regência do coro e da orquestra da Igreja Batista Central de Varpa
desde longa data.
17) João Dzenis — regeu o coro da Igreja Batista de Palma e coope-
rou no trabalho missionário com seus dons musicais.
18) Nicolau Aldins — regente do coro da Igreja Batista de Pitan-
gueiras, Colônia Varpa, Estado de São Paulo, posto que vem ocupando
há mais de três décadas.
19) Hermanis Skuya — durante diversos períodos regeu o coro mas-
culino da Igreja Batista Central de Varpa e posteriormente o coro da
II Igreja Batista de Varpa.
20) Carlos Rekis — foi regente do coro da Congregação Leta da
Colônia Letônia, limítrofe da Colônia Varpa, e do coro da Igreja Batista
Leta de São Paulo. Fez alguns cursos de especialização em conservató-
rios de São Paulo e era apreciado violinista e professor de violino.
21) Alberto Silenieks — foi regente durante diversos anos em al-
gumas igrejas batistas de Campinas, São Paulo.
22) Carlos Gruber — (antes conhecido como Carlos Purgailis) —
foi o maestro batista leto mais conhecido nas cidades de Campinas, São
Paulo e Santos. Sua carreira musical, como regente, violinista e cantor,
começou em Palma, Colônia Varpa, com os maestros Karlis Grigorowi-
tchs, Emílio Kriger e Arthur Garancs. Dirigiu em Varpa diversos gru-
pos corais, principalmente o coro da mocidade de Palma, integrou a
grande' orquestra da Igreja Batista Central de Varpa e cooperou ativa-
mente no trabalho missionário da Missão Sertaneja de Varpa. Por me-
diação do Pastor Dr. Paulo C. Porter, em 1932 seguiu para Campinas
a fim de estudar. Lá dirigiu por um ano o coro da Primeira Igreja Ba-
tista de Campinas. Quando esse coro se apresentou na Assembléia Anual
da Convenção Batista Paulistana, além de muitos outros convites, Car-
los Gruber recebeu um do Diretor do Colégio Batista Brasileiro, Dr. A.
R. Morgan, para dirigir o coro daquele educandário e ensinar violino.
Foi quando os batistas da Capital paulista passaram a conhecer o di-
nâmico regente leto. Dirigiu nessa época o coro da Primeira Igreja Ba-
tista de Santos, o da Igreja Batista de Vila Mariana, o da Igreja Batista
Leta de São Paulo, Capital, o da Primeira Igreja Presbiteriana Indepen-
dente de São Paulo e o Orfeão das Escolas Dominicais das igrejas evan-
gélicas da cidade de São Paulo. Preparou e executou um grande concerto
coral na cidade de São Paulo (1937), reunindo os coros letos de Varpa
e de Nova Odessa, num total de 200 vozes, apresentando-se em igrejas
batistas, presbiterianas e metodistas, e nos auditórios do Colégio Batista
Brasileiro e do Colégio Mackenzie. Tal movimento foi outro grande im-
pulso que estimulou a organização de diversos coros nas igrejas batistas
brasileiras. Ao lado de seus estudos no Colégio Batista Brasileiro e as
atividades intensas na área da regência, Carlos Gruber dedicou-se tam-
bém aos estudos de aperfeiçoamento no violino com mestres famosos da
cidade de São Paulo — Haselbauer, Frank Smith e M. Modern. Outros-
sim, fez concurso para o coro do Teatro Municipal de São Paulo, lo-
grando aprovação. Cantou diversas vezes nesse coro, regido pelo Maes-
tro Camargo Guarnieri. A atuação deCarlos'Gruber deu um; grande": in-

509
cremento à música sacra nas igrejas evangélicas de Campinas, Santos e
São Paulo. Em 1937, terminando o curso ginasial, convidado pelo Dr.
Scarborough, então em visita ao Brasil, seguiu para o Seminário Batista
de Fort Worth, Texas, nos Estados Unidos, onde se formou Bacharel em
Teologia, dedicando-se à evangelização, consoante o que já foi dito pá-
ginas atrás. Fig. 273
23) Valdemar Janaitis — regente dos coros da 1 Igreja Batista de
Nova Odessa e da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital, por alguns
anos.
24) Dr. Arvido Leiasmeier — um dos regentes do coral da Igreja
Batista Leta de Varpa e depois do coro da Igreja Batista Leta de São
Paulo, Capital. Deu ênfase especial na participação do coro leto de São
Paulo nos trabalhos de evangelização que o missionário Karlis Grigoro-
witschs havia iniciado entre os eslavos da grande cidade, e na ajuda a
igrejas batistas brasileiras, em cujo seio a música sacra, especialmente
o canto coral, ainda era raridade. Mais tarde o maestro Arvido Leias-
meier dedicou-se a par de sua profissão de cirurgião-dentista e depois
industrial — ao trabalho de organização e treinamento de coros em di-
versas igrejas batistas brasileiras, como sejam, nas de Indaiatuba, Bas-
tos e Inúbia Paulista — no Estado de São Paulo, na de Monte Verde —
Estado de Minas Gerais, e Vila Mariana e outras — na Capital paulista.
Arvido Leiasmeier é também exímio solista e compositor. Outrossim,
em 1960, integrou a equipe de regentes do grande coral do 10° Congresso
da Aliança Batista Mundial, que se realizou no Rio de Janeiro. Ultima-
mente vem dirigindo os coros da Igreja Batista Redentor, em America-
na, e da III Igreja Batista de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
25) Dr. Arnaldo Svern — cirurgião-dentista de profissão, outro re-
gente dinâmico do coro da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital,
tendo se destacado em traduções de diversos hinos do leto para o portu-
guês, e vice-versa, bem como na composição de novas letras para diversas
músicas antigas. Outrossim, importante foi o seu papel em dinamizar
a participação do coro nos trabalhos de evangelização, subdividindo-o em
quartetos e quartetos duplos, para cantar nas Escolas Bíblicas Domini-
cais filiais da igreja, cooperar nos cultos de evangelização da Igreja Ba-
tista Russa da Moóca (hoje Boas-Novas) e da Igreja Batista do Brás e
outras, na Capital paulista. Em seu tempo (1930) foi realizado um
grande concerto de coros da Igreja Batista Leta de São Paulo e da Igre-
ja Batista Leta de Varpa, que durou 10 dias consecutivos, em favor do
socorro aos flagelados da I Guerra Mundial na Rússia. Algumas emis-
soras de rádio disputavam a presença do grande coral, que então teve
uma extraordinária oportunidade de repetidas vezes cantar a mensagem
do evangelho a milhares de ouvintes.
26) Félix Darkevitz — regeu o coro da Igreja Batista Leta de São
Paulo, Capital, durante vários anos, sendo também um pianista e orga-
nista de alto gabarito artístico.
27) Janis Roberto Jansevskis — foi durante vários anos o regente
da orquestra da Igreja Batista de Pitangueiras, na Colônia Varpa, Es-
tado de São Paulo e de vários grupos corais fetos e brasileiros.

510
28) André Janson — foi regente do coro da Igreja Batista de São
Cristóvão (hoje Quarta Igreja Batista do Rio de Janeiro), Estado da
Guanabara.
29) João Pupols — regeu o coro da congregação batista alemã da
Colônia Letônia, nas vizinhanças de Varpa, e mais tarde diversos coros
de igrejas brasileiras no litoral do Estado do Paraná, seu campo mis-
sionário.
30) Carlos Arajs — um dos regentes do coro da II Igreja Batista
de Nova Odessa que por mais tempo serviu naquele posto.
31) Ricardo Adams — durante muitos anos foi um dos regentes do
coro da Igreja Batista de Pitangueiras, Colônia Varpa, Estado de São
Paulo.
32) Karlis Ozols — regeu por alguns anos o coro da Igreja Batista
Leta de São Paulo, Capital, e vários grupos corais na Igreja Batista de
Palma.
33) Jacó Zalits — igualmente regente de diversos coros na Igreja
Batista Leta de São Paulo, Capital.
34) Alfredo Milberg — também foi um dos regentes do coro da
Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
35) João Bokums — iniciou sua carreira musical em Varpa, na
Igreja. Batista de Pitangueiras, onde regeu o coro da Escola Bíblica Do-
minical e depois o coro da igreja. Foi um dos discípulos do maestro
Emílio Kriger e integrante da orquestra da Igreja Batista de Pitanguei-
ras e mais tarde da Orquestra Unida das igrejas batistas letas da Co-
lônia Varpa. Estudou canto com o Prof. Juri Vanamegi e outros mestres.
Durante doze anos foi regente do coral da Igreja Batista Leta de São
Paulo, Capital (1942-1954), período em que este alcançou o seu maior
desenvolvimento tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo.
Ainda na mesma igreja regeu, em diversos períodos, o coro da Escola
Bíblica Dominical e a orquestra. Posteriormente, assumiu a regência do
coro da Igreja Batista de Ferreira, na cidade de São Paulo, quando da or-
ganização desta pela Igreja Batista Leta de São Paulo. Há quase duas
décadas vem regendo o coro da igreja supracitada, bem como diversos ou-
tros grupos corais e de instrumentos de cordas. É dos mais competentes
e dinâmicos regentes batistas letos no Brasil. Fig. 274
36) Eugênio Samoilovics — regeu o coro da mocidade da Igreja
Batista de Palma e depois diversos coros em igrejas batistas brasileiras
de que veio a fazer parte.
37) Alexandre Samoilovics — regente de longa data do coro da
Igreja Batista de Palma, Colônia Varpa, Estado de São Paulo.
38) liga Leiasmeier Reis — professora de música, com curso espe-
cializado de violino; é exímia violinista e compositora; foi a primeira
regente da orquestra da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital, à cuja
frente esteve durante vários anos. Mais tarde, assumiu a regência
do coro da Igreja Batista de Lábia Paulista, posto em que se encontra
há quase duas décadas.

511
39) Roberto Vaver — regeu por vários anos diversos grupos corais
da I Igreja Batista de Nova Odessa, especialmente o coro feminino, bem
como o da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
40) Felipe Vaver — filho de Roberto Vaver, regente do coro da
mocidade e da Orquestra da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital,
e diversos outros corais e conjuntos vocais e instrumentais integrados
por batistas letos e brasileiros de diversas igrejas da cidade de São
Paulo.
41) Gunars Vaver — outro filho do regente Roberto Vaver, que por
alguns anos regeu grupos corais da Igreja Batista Leta de São Paulo,
Capital.
42) Dr. Arnaldo Svern Júnior — filho do regente Arnaldo Svern,
já mencionado, exerceu a regência do coro da mocidade da Igreja Ba-
tista Leta de São Paulo durante alguns anos, tendo cooperado também,
por algum tempo, como regente de coros de algumas igrejas batistas
brasileiras, como Igreja Batista de Santo Amaro, na Capital paulista,
e outras.
43) Arnaldo Baltruks — outro regente do coro da mocidade e de-
pois do coral da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
44) André Janson — primo do Prof. André Janson, este muito co-
nhecido entre os batistas do Rio de Janeiro na década dos 30 e já refe-
rido, foi regente que se dedicou à música sacra nas igrejas batistas letas
durante 40 anos. Estudou Regência com Valdemar Janaitis — que já
veio com sua cultura musical da Letônia — e depois com os mestres
Prof. Germany Benencasse e Prof. Juri Vanamegi; Canto, com os cantores
de ópera Egido Aranha e Tirelli; Análise Músical e Curso de Instrumen-
tos, com o Prof. F. Francesquine; Estética Musical e Interpretação, com
a famosa Prof9 Magda Tagliaferro; e Harmonia e Composição, com Emí-
lio Kriger. O Maestro André Janson foi regente de diversos grupos co-
rais da I Igreja Batista de Nova Odessa, do coro da orquestra da II
Igreja Batista de Nova Odessa e durante quase três décadas do coro e
orquestra da Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital. Compilou uma
coleção de mais de 100 novos hinos para coros de igrejas letas, ainda
inédita. Foi integrante da Comissão de Coros da Associação das Igre-
jas Batistas Letas do Brasil, servindo em alguns períodos como seu
Secretário Geral. Participou ativamente no preparo do Grande Coral
da Aliança Batista Mundial, quando do seu 10° Congresso realizado no
Rio de Janeiro. Regeu também o coro da Cruz Vermelha Leta, bem como
o coro misto e o coro masculino da Associação Leta de São Paulo, levan-
do a efeito diversos concertos na Capital paulista e cidades do interior
em benefício dos letos flagelados da II Guerra Mundial e refugiados
na Alemanha. Também encaminhou diversos jovens da Igreja Batista
Leta de São Paulo na arte da regência, alguns dos quais servem em igre-
jas batistas brasileiras. Fig. 275
45) Guilherme Vitols — regeu diversos grupos corais das equipes
evangelísticas nos arredores de Varpa, em cooperação com a Missão
Sertaneja de Varpa, e depois o coro da Igreja Batista de Assis, Estado
de São Paulo, e de outras igrejas de que fez parte.

512
46) Ilgonis Janait — regeu durante vários anos o coro da III Igreja
Batista de Nova Odessa, Estado de São Paulo, tendo sido o seu primeiro
regente. Posteriormente exerceu regência de diversos grupos corais de
conferências, de congressos e de concentrações. A partir do seu ingresso
para o ministério batista e magistério teológico, deixou as atividades de
regente.
47) João Kaplers — um dos músicos integrantes de diversas orques-
tras nas igrejas batistas letas de Varpa e de Nova Odessa, tendo feito
seu curso de especialização de violino no Instituto Musical Gomes Car-
dim, em Campinas, Estado de São Paulo. Regeu o coro da Escola Bíblica
Dominical da Igreja Batista Central de Varpa e posteriormente outros
grupos vocais. Vem se dedicando, ultimamente, ao ensino de violino a
jovens batistas letos e brasileiros.
48) Frederico Bumbiers — durante vários anos foi regente do coro
da II Igreja Batista de Varpa e do coro da I Igreja Batista de Tupã, Es-
tado de São Paulo.
49) Prof. Dr. Teófilo Grinberg — cirurgião-dentista e professor uni-
versitário na área de Odontologia em Ribeirão Preto, Estado de São
Paulo; desde os dias de sua adolescência tem se dedicado à música sa-
cra. É violinista exímio e tem regido diversos coros em igrejas batistas
brasileiras de que tem feito parte, tanto no interior como na Capital do
Estado de São Paulo.
50) Elza Lakschevitz Xavier Assumpção — filha do maestro Prof.
Arthur Lakschevitz, de quem herdou o talento musical. Diplomada pela
Escola Nacional de Música em Curso de Piano (1957) , Pós-graduação de
Piano (1961) , Harmonia e Orgão (1964), Composição e Regência (1965)
e diversos outros cursos, é detentora do prêmio "Medalha de Ouro" do
Curso de Piano da Escola Nacional de Música e outras distinções.
professora de música em diversas instituições oficiais e particulares —
como Instituto de Educação, Instituto Villa-Lobos, Instituto Batista de
Educação Religiosa e outros. É regente do coro da Igreja Batista de
Itacuruçá, Estado da Guanabara, do coro feminino da mesma igreja,
de um orfeão de alunos de escolas oficiais e outros conjuntos e coros.
51) Nestor Janjons — regente de alguns conjuntos e grupos corais
da I Igreja Batista de Nova Odessa, Estado de São Paulo.
52) Aina Alida Maurmann — filha de Arvido Maurmann — obrei-
ro leigo da Igreja Batista de Adamantina, Estado de São Paulo, é pro-
fessora de música e já há vários anos possui sua própria instituição de
cultura musical — "Conservatório Musical Villa-Lobos de Adamantina",
na cidade de Adamantina, onde ensina piano, harmônio, acordeão, vio-
lão e violino. É regente de longa data do coro da Igreja Batista de Ada-
mantina e diversos outros grupos vocais.
53) Velta Pontuska — regente de diversos grupos corais nas igre-
jas batistas de Nova Odessa e leta de São Paulo, Capital.
54) Suely Pontuska — filha da regente Velta Pontuska, vem re-
gendo diversos coros de jovens na Igreja Batista Leta de São Paulo e em
outras igrejas.
513
55) Ana Muceniek — jovem missionária que exerce também a re-
gência dos coros e congregações das igrejas batistas brasileiras do lito-
ral paranaense, seu campo missionário, assim contribuindo também para
a educação musical do povo simples dessa região.
56) Ingrida Weiss — formada em Música Sacra, com grau de Ba-
charel, pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, foi regente
do coro da Igreja Batista de Copacabana, Guanabara, e diversos outros
coros. Exerce o magistério de música sacra no Estado de São Paulo,
regendo também os coros de algumas igrejas na Capital paulista.
57) Ana Augstroze Rutter — filha do Pastor João Augstroze, ba-
charelanda em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, tendo regido diversos coros em igrejas do Estado de São Paulo
e Guanabara, onde seu esposo, Pastor Prof. Ronald Rutter, tem exer-
cido o pastorado.
58) Ausma Augstroze Aguiar — outra filha do Pastor João Augs-
troze, regente durante muitos anos dos coros da I Igreja Batista de
Santos, Igreja Batista do Calvário (Santos), Igreja Batista Nova Jeru-
salém (Santos) e Igreja Batista de São Vicente, todos no Estado de
São Paulo.
59) Elvira Brediks Miltuzs — regente de diversos conjuntos vocais
na Colônia Varpa, mormente os que integram as equipes missionárias
das redondezas daquela colônia. É também professora de música e pia-
no de diversos jovens de descendência leta que se destinam ao ministé-
rio da música em suas respectivas igrejas e regente da orquestra da
Igreja Batista Central de Varpa.

3.3 — Regentes imigrados após a II Guerra Mundial


1) Gunars Tiss — regente, com curso do Conservatório Musical de
Venspils, Letônia, e do Instituto Musical Gomes Cardim, de Campinas,
Estado de São Paulo, onde permaneceu trabalhando como professor du-
rante 8 anos. Na mesma instituição ainda fez o Curso de Aperfeiçoa-
mento em Piano e no Conservatório Maestro Julião, anexo à Universi-
dade Católica de Campinas, o curso de Canto Orfeônico. Em 1958 in-
gressou, por concurso, no magistério oficial Secundário e Normal do
Estado de São Paulo. Nessa área tem ensinado: no Conservatório Mo-
delo de Jundiá — Piano, Harmonia e Análise Harmônica e Canto Orfeô-
nico (1955-1959) ; no Ginásio Estadual e Escola Normal de Pacaembu
Paulista e no Ginásio Estadual de Irapuru — Canto Orfeônico e Inglês
(1959-1960) ; no Colégio Estadual de Adamantina — Canto Orfeônico
(1960-1963) ; e no Instituto de Educação Presidente Kennedy, de Ame-
ricana — Canto Orfeônico (1954- ). De 1960 a 1963 também foi
Diretor e proprietário da Escola de Música Mário de Andrade, em Ame-
ricana. Desde quando chegou ao Brasil (1949), vem dirigindo coros e
orfeões e ensinando música sacra em institutos de igrejas batistas. Ape-
nas quatro meses depois de desembarcar no porto de Santos dirigiu-se a
Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo, onde passou a reger o co-
ro da I Igreja Batista local, a convite do Dr. Walter Kaschel, então pas-

5 14
tor da referida igreja. De 1955 a 1959 dirigiu o coral da Igreja Batista
Boas-Novas, na Capital do Estado de São Paulo. Na mesma igreja, ain-
da, deu um curso de Teoria e Solfejo a um grupo de jovens, organizou
um coro de adolescentes, coro masculino e orquestra. Deu, também, di-
versas aulas de regência aos obreiros da igreja mencionada. Os coros
e a orquestra de Igreja Batista Boas-Novas apresentaram numerosas au-
dições em congressos de mocidade batista, campanhas evangelísticas e
festividades especiais de diversas igrejas. De 1959 a 1963, o Maestro
Gunars Tiss foi regente do coro da Igreja Batista de Adamantina, inte-
rior do Estado de São Paulo; daí mudou-se para Americana, no mesmo
Estado, quando passou a cooperar como regente e professor de música
sacra nas igrejas batistas de Nova Odessa. Como pastor da I Igreja
Batista de Nova Odessa, desde 1966 vem desenvolvendo um intenso pro-
grama de desenvolvimento de coros graduados e orquestras, envolvendo,
praticamente, toda a mocidade e os adolescentes. A orquestra tem aceito
convites para tomar parte em campanhas evangelísticas e comemora-
ções outras de igrejas e convenções próximas e distantes. Figs. 276 e
277
2) Oliver Tiss — filho do Maestro Gunars Tiss, vem ocupando o
posto de regente do coro da mocidade e orquestra de jovens da I Igreja
Batista de Nova Odessa, tendo, ultimamente, também assumido a regên-
cia do coral da igreja.
3) Frederico Redins — por alguns anos foi regente do coral da
Igreja Batista Leta de São Paulo, Capital.
Segue abaixo um quadro estatístico dos regentes batistas letos que
têm contribuído para o desenvolvimento da música sacra nas igrejas ba-
tistas letas e brasileiras:
REGENTES BATISTAS LETOS NO BRASIL
Oriundos da imigração anterior à I Guerra Mundial 46
Oriundos da imigração posterior à I Guerra Mundial 59
Oriundos da imigração posterior à II Guerra Mundial 3
Total 108

515
PARTE V
CONTRIBUIÇÃO DOS BATISTAS LETOS PARA
O PROGRESSO DO BRASIL
CAPITULO XIII

CONTRIBUIÇÃO PARA A VIDA


RELIGIOSA E CULTURAL

1. Contribuição para a Vida Religiosa


1.1 — Estabelecimento de igrejas
1.2 — Extensão da obra de evangelização e missões
1.3 — Aumento do Ministério Batista
1.4 — Ensino teológico
1.5 — Doutrinamento de igrejas
1.6 — No campo da Música Sacra
1.7 — Transferência de Palma para a Convenção Batista Brasileira

2. Contribuição para a Vida Cultural


2.1 — Estabelecimento de escolas
2.2 — Exercício do magistério
2.3 — Cultura profissional liberal:
2.3.1 — No campo da Medicina
2.3.2 — No campo Jurídico
2.3.3 — No campo da Engenharia
2.3.4 — No campo da Odontologia
2.3.5 — Na área da Enfermagem
2.3.6 — Na área da Assistência Social
2.3.7 — No campo da Economia e Administração
2.3.8 — Na área da Ordem e Segurança Nacional

3. Conclusão
CAPITULO XIII

CONTRIBUIÇÃO PARA A VIDA


RELIGIOSA E CULTURAL

O presente capítulo tem por objetivo apresentar, de modo sucinto,


as contribuições que os batistas letos ofereceram e ainda oferecem, em-
bora modestamente, para o desenvolvimento religioso e cultural do Bra-
sil, decorrentes da atuação focalizada nos capítulos anteriores, com acrés-
cimo de alguns aspectos na área cultural. Fig. 278

1. Contribuições para a Vida Religiosa

As maiores contribuições dos batistas letos que imigraram no Bra-


sil ocorreram — como ainda ocorrem — no campo religioso. Seu teste-
munho e seu empenho em corresponder ao que entenderam ser sua vo-
cação e tarefa neste país, fizeram com que do número relativamente pe-
queno dos imigrados desde 1890 até 1973 — ao todo cerca de 3.000 pes-
soas — se desenvolvesse uma força considerável na extensão da obra do
evangelho no Brasil e até além-fronteiras. Nesse campo as contribuições
dos batistas letos no Brasil podem ser vistas sob os seguintes aspectos:

1.1 — Estabelecimento de Igrejas — Como ficou dito nos capítulos an-


teriores, houve no Brasil 23 igrejas batistas letas, (1) sendo que uma
delas, a de Varpa, em 1923 era a maior de toda a América do Sul, com
1.750 membros, e nessa posição permaneceu por vários anos. Todas essas
igrejas, exceto quatro, cuja existência foi relativamente breve por causa
das mudanças de seus membros — integraram-se na obra batista bra-
sileira, umas logo ao se organizarem, enquanto outras pouco depois. Até
o momento foi o maior contingente batista estrangeiro a incorporar-se
na Denominação Batista Brasileira. Embora não hajam estatísticas exa-
tas, somados os imigrantes com seus descendentes, estima-se em cerca
de 8.000 o número de batistas letos ou de origem leta que já integraram
a Denominação Batista no Brasil. No que diz respeito às proporções
numéricas, temos informações de que em 1910 os batistas letos repre-

(1) Ver o Capítulo VIII.

521
sentavam 12% de todos os batistas do sul do Brasil ( 2) e que em 1941
havia um batista leto para cada trinta e cinco batistas brasileiros no
país. (3) Com as crescentes dificuldades na área de imigração no Brasil,
o desaparecimento natural das gerações mais velhas, a dispersão das ge-
gerações novas em busca de melhores condições de vida e a assimilação
sócio-cultural, as igrejas batistas letas no Brasil foram se extinguindo.
Atualmente permanecem em atividade apenas nove dessas igrejas.
Outrossim, neste contexto ainda cabe dizer que os batistas letos
constituem o grupo étnico que menos dificuldades tem apresentado no
processo de sua integração na vida brasileira em geral e no trabalho
batista em particular. Embora conservando em diversos aspectos as ba-
ses culturais próprias, ao mesmo tempo eles se identificaram com os
meios e modos da vida batista brasileira.
1.2 — Extensão da Obra de Evangelização e Missões — É difícil abran-
ger toda a extensão da contribuição dos batistas letos no setor de evan-
gelização e missões. Nas seis décadas deste século, algumas centenas de
pontos de pregação e congregações foram abertos e mantidos por esses
irmãos em diversas partes dos Estados do sul do Brasil. Falando apenas
da contribuição dos batistas da Colônia Varpa nesse setor, assim se ex-
pressou o Prof. José dos Reis Pereira, catedrático de História Eclesiás-
tica e História dos Batistas no Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil e Diretor de O Jornal Batista:
. .. Salta aos olhos a diferença entre os colonos letos de
Varpa e os colonos norte-americanos de Santa Bárbara. En-
quanto estes formavam a sua igreja de língua inglesa e a ela
limitavam suas atividades religiosas, aqueles formaram a sua
igreja de língua leta, mas logo trataram de evangelizar a re-
gião em redor, usando a língua portuguesa. Estabeleceram em
Varpa um foco missionário que irradiou poderosa luz em tor-
no. Numa das fotografias que coletamos para este número,
mas não pudemos publicar, vêem-se treze casas de oração que,
no seu ímpeto missionário, os irmãos de Varpa construíram
em menos de doze anos de atividade, pois a fotografia é de
1934. Aquela gente tinha profundo amor no coração pelos ha-
bitantes da nova pátria que escolheram. E não se conformava
em ficar tratando apenas de suas terras e progredindo mate-
rialmente: sentia o sagrado impulso de levar o evangelho ao
maior número. Não nos será possível calcular quantos mora-
dores daquele interior de São Paulo ouviram o evangelho pre-
gado pelos irmãos letos, mas não exageraremos se falarmos em
dezenas de milhares. (4)

(2) Southern Baptist Convention, Annual, 1911, p. 108, citado por Bell, Lester Carl, em sua
tese "Factors Infuencing Doctrinal Developments Among the Brazilian Baptists", apresentado
à Faculdade de Teologia do Southwestern Baptist Theological Seminary, Fort Worth, Texas,
EUA, 1957, p. 206 a 213.
(3) Taylor, W. C., loc. cit.
(4) Reis Pereira, J., "A Glória de Varpa", O Jornal Batista, Ano LXXII, n' 45, 5 de no-
vembro de 1972, p. 3.

522
A esta altura parece-nos válido inserir uma avaliação do mais anti-
go dos obreiros vivos da Missão Sertaneja de Varpa, Pastor Girts Do-
belis, publicada por ocasião da passagem do 399 aniversário da Colônia
Varpa, o que vale dizer das igrejas batistas letas de Varpa:
A Igreja de Varpa foi fundada na mata virgem, quando
ali não havia ainda nenhum campo lavrado e nem moradias
adequadas. E na vida de muitos essa situação inicial ainda
perdura. É que a primazia está sendo dada ao que é espiri-
tual. Essa igreja não surgiu de um crescimento numérico pau-
latino de seus membros, mas, em alguns meses, já se conta-
vam cerca de 1.800 membros. Conquanto as necessidades pes-
soais no início fossem forçadas, essa multidão, com o ardor de
sua fé e o seu trabalho valoroso, superou tudo. Essa gente tem
podido servir nessa região como verdadeira multidão de pio-
neiros em diversos campos.
Transformando a mata virgem em uma colônia habitada,
esses irmãos foram ali os pioneiros de cultura. Varpa é mais
antiga que algumas das grandes cidades dessa região, como
Marília, Tupã, Osvaldo Cruz e outras.
Varpa também tem podido servir como pioneira no cam-
po da instrução elementar. Quando ainda não havia escolas
nessa região, crianças eram ensinadas nas Escolas Bíblicas Do-
minicais não só no que diz respeito aos conhecimentos bíblicos,
mas também na leitura, escrita e aritmética. Havia também
escolas particulares.
Mas a maior graça conferida aos adentrantes foi o privi-
légio de serem os pioneiros das boas-novas nessa região. Cer-
ca de 50 igrejas foram fundadas pelo trabalho da Missão Ser-
taneja de Varpa na vizinhança próxima e distante. ( 5)
A esse trabalho da Missão Sertaneja de Varpa deve-se acrescentar a
obra de evangelização feita pelos batistas letos imigrados antes da I
Guerra Mundial e seus descendentes, notadamente nos campos de influên-
cia das igrejas letas de Ijuí — Linha 11, no Estado do Rio Grande do
Sul, de Rio Novo e Rio Branco, no Estado de Santa Catarina, e de Nova
Odessa, no Estado de São Paulo. De igual forma mister se faz somar as
atividades evangelísticas e missionárias das igrejas letas, como II de No-
va Odessa, de Areias e de São Paulo, Capital, no Estado de São Paulo,
Porto União, no Estado de Santa Catarina, e Renascença, no Estado do
Paraná, bem como dos campos missionários da Associação das Igrejas
Batistas Letas no litoral do Estado do Paraná e na Bolívia e das igrejas
fundadas por iniciativa missionária particular. Toda essa obra já foi
abordada em detalhes nos capítulos anteriores desta dissertação e cujo
quadro demonstrativo pode ser visto no Anexo IX. (6)
Além das 75 igrejas que direta ou indiretamente resultaram do tra-
balho dos batistas letos do Brasil e que aparecem no quadro acima refe-

(5) Dobelis, Girts, "Varpas draudzu 39 gados svetki" (399 Aniversário das Igrejas de Var-
pa), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n9 12, dezembro de 1961, p. 8.
(6) Ver Anexo IX

523
rido, deve-se tomar ainda em consideração o número elevado de congre-
gações dos campos missionários da Missão Sertaneja de Varpa entre es-
lavos, brasileiros, lituanos e alemães; as numerosas congregações e igre-
jas dos dois campos missionários da Associação das Igrejas Batistas Le-
tas do Brasil; e, ainda, a grande rede de evangelização estendida pelos
cerca de 434 obreiros letos ou de descedência leta (pastores e suas espo-
sas, esposas de pastores de outras nacionalidades, evangelistas, missioná-
rios e missionárias, leigos, professores, mestres de música e regentes de
coros), que se dedicam ou se dedicaram à obra do evangelho, parcial ou
exclusivamente, em igrejas brasileiras. Esse trabalho atingiu cerca de
1.000 localidades em 6 Estados do sul do Brasil e oriente boliviano —
cidades, vilas, povoados e distritos — às quais os letos têm estendido a
sua cooperação na expansão do reino de Deus, fazendo-o em 7 idiomas:
português, leto, russo, lituano, alemão, castelhano e aioré.

1.3 — Aumento do Ministério Batista — No tópico anterior já foi men-


cionado o fato de que cerca de 434 obreiros letos ou de origem leta têm
se dedicado, parcial ou exclusivamente, ao trabalho religioso em igrejas
brasileiras. Os demais tiveram o seu campo limitado às igrejas letas,
russas e alemãs. Estando, porém, essas igrejas integradas no trabalho
batista brasileiro, por conseguinte, também seus obreiros têm sido consi-
derados cooperadores na causa comum.
Do ponto de vista restritamente ministerial, entretanto, contam-se no
Brasil, até o presente, 93 pastores letos ou de origem leta. Desde o Es-
tado do Rio Grande do Sul, até Mato Grosso, Minas Gerais e o Distrito
Federal o trabalho batista brasileiro tem contado com a participação
efetiva de ministros batistas letos ou de descendência leta nos pastorados
de igrejas brasileiras, na composição de todas as juntas nacionais e sete
juntas estaduais da Denominação, na presidência e outros postos de li-
derança de diversos órgãos das convenções estaduais e da Convenção
Batista Brasileira, e até na própria presidência de quatro das conven-
ções dos Estados do Sul do Brasil.
A propósito do ministério batista leto no Brasil, convém recordar o
depoimento do missionário Dr. W. C. Taylor, já citado no prefácio da
presente dissertação, e registrar dois outros, também de líderes de des-
taque. Segundo o Dr. W. C. Taylor, havia em 1941, em cada sete pastores
batistas no Brasil um de procedência leta, o que representava, em rela-
ção ao número de igrejas letas, uma contribuição cinco vezes maior do
que a média das igrejas brasileiras. (7)
O Dr. Tertuliano Cerqueira, por mais de quatro décadas pastor da
Primeira Igreja Batista de São Paulo, assim se referiu aos pastores ba-
tistas letos:
Durante os 41 anos que estou em São Paulo, conheço os
pastores letos. Quero dizer que todos eles, com raríssimas ex-
ceções, são homens piedosos e de grande valor. Verdadeiros
pioneiros e de grande visão. Em 1930 estive e preguei em
Varpa e de lá voltei impressionado com o trabalho batista rea-

(7) Ver p. 8.

524
lizado por eles. É pena que aqueles gigantes pioneiros do pas-
sado estejam fora do combate com a sua transferência para a
pátria celestial. (8)
Dr. John Leslie Riffey, Diretor do Curso de Extensão do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, missionário norte-americano de lon-
ga experiência no trabalho batista brasileiro fez as seguintes afirma-
ções:
Conheço os irmãos batistas letos de Varpa e de Palma des-
de o ano de 1938... Foi na capacidade de Diretor do Curso de
Extensão que os conheci. Depois de alguns anos de comunhão
com eles, eu me senti um com eles, e assim fui também aceito
por eles. Também como pregador fiquei conhecendo os irmãos
letos. Com o Pastor Girts Dobelis como intérprete, não sei
quantas vezes tenho pregado no refeitório da Corporação
Evangélica de Palma e na igreja russa de Varpa; e, com o
irmão Pastor Carlos Kraul, visitei as igrejas de Varpa, Pitan-
gueiras, Bandeiras e muitos pontos de pregação na roça, sem-
pre pregando... Durante os anos em que trabalhei entre os
irmãos letos fiquei conhecendo muitos dos seus obreiros, pas-
tores e leigos. Passo a mencionar alguns: Pastores Girts Do-
belis, Arvido Eichmann e sua esposa D. Alida, Carlos Kraul,
Hugo Alnis, Osvaldo Ronis, Reynaldo Purim, João Lukass,
João Inkis, Jacó R. Inke, João Korps, João Pupols, João Vei-
demann, Emílio Weidemann, Arnaldo Gertner, Osvaldo Bum-
biers, André Klavin e os irmãos João Krumin, Arvido Leias-
meier, Arthur Garancs e D. Maria Mellenberg. Todos batistas
fiéis e dedicados. (9)

1.4 — Ensino Teológico — os batistas letos têm feito também uma con-
tribuição significativa ao ensino teológico no Brasil. Este fator pode ser
apreciado sob dois aspectos — A Escola Missionára de Palma e outros
cursos, e o magistério teológico.
O Dr. Lester C. Bell, missionário e ex-Secretário da Junta Executiva
da Convenção Batista Brasileira, assim se expressou sobre a Escola Mis-
sionária de Palma, na Colônia Varpa:
Começaram uma escola na Colônia Varpa em 1935 com o,
fim de preparar leigos e pastores para a evangelização de le-
tos e brasileiros. Mas não prosseguiram no plano de manter
uma escola isolada dos órgãos denominacionais dos batistas
brasileiros. A escola de Varpa tornou-se uma parte do Curso,
de Extensão orientada pelo Seminário Teológico Batista do

(8) Cerqueira, Tertuliano, Carta firmada em 18 de março de 1971, em São Paulo, enviada
ao autor, a qual se encontra em nossos arquivos.
(9) Riffey, John Leslie, Carta enviada ao autor, firmada no Rio de Janeiro, em 27 de julho.
de 1970, a qual encontra-se nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

525
Sul do Brasil, no Rio. Deram o seu apoio às escolas e aos ór-
gãos educativos da denominação batista brasileira. (10)
Sobre a influência da Escola Missionária de Palma ou Escola Missio-
nária do Sertão, remetemos o leitor ao Capítulo VIII deste volume que tem
em mãos, e de igual modo no que se refere ao citado Curso de Extensão.
Entretanto, desejamos aqui trazer os depoimentos de alguns obreiros que
bem traduzem o significado da obra teológica realizada pelos batistas
letos de Varpa.
Vejamos, em primeiro lugar, como os próprios letos encaravam a
oportunidade de servir com a manutenção do Curso de Extensão. Assim
se expressou o Pastor Arvido Eichmann, líder principal da Missão Ser-
taneja de Varpa, lá pelo ano de 1941:
Deus outorgou aos imigrantes batistas letos vastas opor-
tunidades de servir na obra da evangelização do Brasil, como
também concorrer para o desenvolvimento de sua vida cultu-
ral. Muitos dos jovens letos têm alcançado instrução superior,
formando-se em teologia, medicina, etc. Agora surge outra
oportunidade de servir. A União Missionária Leta do Brasil
convidou a Junta Batista Paulistana a realizar o "Curso de
Extensão" do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
em Varpa, concorrendo a União com todas as despesas. O
curso realizar-se-á em Palma durante o mês de maio e será
dirigido pelos professores Paulo C. Porter e W. C. Taylor. (11)
Depois de nove anos de funcionamento do referido Curso em Palma,
o Dr. Paulo C. Porter escreveu, em artigo enviado ao periódico Kristigs
Draugs (O Amigo Cristão), o seguinte:
Há nove anos que se realiza em Palma, no mês de maio
de cada ano, o Curso de Extensão do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil. Quantas vezes se tem subido e descido
a escada que leva do refeitório à Casa da Missão! Quantas
vezes foi posta a mesa rica diante de nós! Quantas camas fo-
ram arrumadas e que quantidade de roupa foi lavada e sempre
melhor lavada que em qualquer outra parte! Quanto trabalho
abnegado, sem qualquer recompensa visível! Será que o Curso
se provou suficientemente útil para o continuarmos? Verifi-
quemos alguns resultados visíveis e até alguns invisíveis.
Todos os alunos do Curso têm recebido muitos benefícios,
inclusive aqueles que não lograram terminar o Curso e receber
o seu diploma... Aqui eles têm aprendido como viver em
amor e harmonia fraternal. Como é agradável ver as irmãs
trabalhando com alegria e sorriso. Algumas das verdades das
Escrituras Sagradas os alunos chegaram a compreender aqui

(10) Bell, Lester Carl, Factors Influencing Doctrinal Developments Among the Brazilian
,Baptists, apresentada à Faculdade de Teologia do Southwertern Baptist Theological Seminary,
Fort Worth, Texas, E.U.A., 1957, p. 209.
(11) Eichmann, Arvido, "O Curso de Extensão do Seminário Batista do Rio", Kristigs Draugs
(O Amigo Cristão), n° 3, março de 1940, p. 79.

526

mu..., • ucas
pela primeira vez. Muitos deles têm feito o propósito de servir
melhor ao seu Senhor e Salvador.
Os irmãos de Palma, sem dúvida, muito se sacrificaram
nesses nove anos nos meses de maio. Nada eles têm recebido
por isso, senão a boa consciência de que serviram ao próximo
e que ajudaram a preparar ceifeiros para a seara do Senhor.
Sem dúvida, Deus lhes dará a recompensa, pois "mais bem-
-aventurada coisa é dar do que receber".
Mas as maiores bênçãos não nos é possível medir nem
ver, pois que são as almas, as muitas almas, que foram leva-
das a Cristo pelo trabalho dos irmãos que se prepararam neste
Curso. Espalhados por todos os Estados do Brasil, os pastores
de igrejas e evangelistas pregam o evangelho, visitam os
doentes e fracos e ensinam o Caminho da Verdade. Eu acredita
piamente que muitas almas, semanalmente, pela influência des-
ses obreiros, são salvas do pecado e da perdição. Só a eterni-
dade dirá quão abençoado tem sido e ainda há de ser o tra-
balho que realizam Palma e outras igrejas letas de Varpa sus-
tentando este Curso de Extensão.
Os professores têm recebido mais do que se pode expres-
sar. Receberam uma alegria indizível, que o mundo desconhe-
ce; amizade, e mais que amizade — amor de irmãos, pais e
filhos, pleno regozijo cristão, um antegozo da felicidade celes-
tial.
O mês de maio deste 1948 foi um dos melhores. Foram
matriculados no Curso 22 alunos, e somente um por motivos
de força maior, teve que retirar-se antes do fim do mês. Esses
22 procedem de 12 nacionalidades, mas vivem e trabalham
juntos de modo a não sentirem a menor diferença entre eles...
No ano passado, no curso de música, começou a ensinar o
Prof. Arvido Leiasmeier e neste ano continuou com resultados
ainda melhores. Poucas são as instituições de ensino, colégios
ou seminários que têm privilégio como o nosso — aprender
sob a orientação de um maestro tão capaz e paciente como é o
irmão Arvido Leiasmeier.
Queira Deus abençoar essa grande obra e permitir que ela
continue ainda por muitos anos. (12)
Finalmente, registramos o testemunho do próprio Diretor do Curso
de Extensão, Dr. John Leslie Riffey, que em seu depoimento assim se ex-
pressou:
Achamos Palma lugar agradável para a sede do Curso de
Extensão em São Paulo. A comunidade de Palma tinha recur
sos: lugar para as aulas, refeitório e dormitórios. Estava na
roça, e, portanto, sem as distrações da cidade. A vida religio-
sa era sincera, bíblica, profunda, convincente e cheia de boas
obras. A sinceridade dos irmãos letos teve grande influência
(12) Porter. Paulo C., "Curso de Extensão em Palma", Kristigs Draugs (O Amigo Cristão).
n' 6, junho de 1948, P contracapa.
527
na vida dos alunos do Curso de Extensão. A religião deles
abrange a vida toda; assim como é professada, revela-se nos
seus atos. Os irmãos faziam tudo para o bem dos alunos do
Curso. As irmãs lavavam e consertavam as roupas dos alunos,
forneciam remédios, consertavam e limpavam seus sapatos,
traziam frutas, arrumavam seus quartos. Fizeram tudo por
eles gratuitamente, julgando que assim estavam fazendo a
vontade de Deus e estendendo o seu reino aqui na terra.
A influência da colônia leta de Varpa, e particularmente de
Palma, é nacional e internacional. Da sua Escola Missionária,
e depois através do Curso de Extensão, a sua influência esten-
deu-se através de todos os Estados do Brasil, indo além das
fronteiras — à Bolívia; e, pela imprensa de. Palma a literatura
evangélica está indo ainda a outros países. E essa influência
ainda continuará através da doação de Palma à Convenção
Batista Brasileira que ali instalou o seu Acampamento Nacio-
nal. (13)
Outra contribuição dos batistas letos à obra batista brasileira é a
do magistério teológico. Diversos dos obreiros letos têm se dedicado ao
ensino teológico nos nossos seminários e outras instituições do gênero no
Brasil. Por exemplo, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil já
por longos anos vem recebendo colaboração de diversos professores de
procedência das colônias batistas letas do Brasil no preparo de obreiros
para as igrejas batistas brasileiras. Esta é a influência que através de dé-
cadas talvez tenha sido a mais extensa e profunda. As centenas de alunos
que já passaram pelas instituições teológicas dos batistas brasileiros e
que já serviram ou ainda servem à causa do evangelho em nossa pátria
tiveram como seus mestres diversos obreiros letos. Cremos ser interes-
sante declinar os seus nomes neste contexto específico do magistério teo-
lógico, embora já tenham sido referidos no capítulo anterior na relação
geral: 1) Dr. Guilherme Butler — Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil; 2) Dr. Ricardo J. Inke — Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil e Escola de Obreiras do Colégio Batista do Rio de Janeiro; 3)
Sophia W. Inke — Escola de Obreiras do Colégio Batista do Rio de Janei-
ro; 4) Dr. Reynaldo Purim — Seminário Teológico Batista do Sul do Bra-
sil e Seminário Teológico Betel, Rio de Janeiro; 5) Arnaldo Gertner —
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil; 6) Osvaldo Ronis — Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil e Instituto Batista de Educa-
ção Religiosa; 7) Ilgonis Janait — Seminário Teológico Batista do Norte
do Brasil, Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e Instituto Ba-
tista de Educação Religiosa; 8) Tabita Kraul Miranda Pinto — Seminário
Teológico Betel, Rio de Janeiro; 9) Dr. Arthur Lakschevitz — Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil; 10) Dr. João Carlos Keidann — Se-
minário Teológico Batista do Sul do Brasil; 11) Karlis Grigorowitsch, —
Escola Missionária de Palma, em Varpa, Estado de São Paulo; 12) Arvido

(13) Riffey, John Leslie, Entrevista em 24 de julho de 1970, no Rio de Janeiro. Acha-se a
cópia nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio
de Janeiro, GB. Os grifos são nossos.

S28
Eichmann — Escola Missionária de Palma, em Varpa, Estado de São
Paulo; 13) Carlos Kraul — Escola Missionária de Palma, em Varpa, Es-
tado de São Paulo; 14) Arthur Garancs — Escola Missionária de Palma,
em Varpa, e Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, em Palma, Varpa, Estado de São Paulo; 15) Dr. Arvido Leiasmeier
— Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
em Palma, Varpa, Estado de São Paulo; 16) Jacó R. Inke — Curso de
Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em Palma,
Varpa e Instituto Bíblico Batista de Bauru, Estado de São Paulo; 17)
Frederico Vitols — Faculdade Teológica Batista de São Paulo; 18) Anita
Arais — Instituto Batista de Educação Religiosa, Rio de Janeiro; 19)
Dayse Liepin Calmon — Instituto Batista de Educação Religiosa, Rio de
Janeiro; 20) Olívia Nancy Daniel — Seminário de Educadoras Cristãs no
Recife, Estado de Pernambuco; 21) Dr. Pedro Tarsier — Seminário Sul
Brasileiro e Instituto Teológico W. C. Harrison, Estado do Rio Grande
do Sul; 22) Emílio Keidann — Instituto Teológico W. C. Harrison, Esta-
do do Rio Grande do Sul; 23) Ivo Seitz — Instituto Batista de Carolina,
Estado do Maranhão; 24) João Lukass — Instituto Bíblico Batista de
Bauru, Estado de São Paulo; 25) Raini Peterlevitz — Instituto Bíblico
Batista de Campinas, Estado de São Paulo; 26) Verner Kriger — Institu-
to Bíblico Batista de Campinas, Estado de São Paulo.
Significativo é o testemunho do Pastor José dos Reis Pereira, pro-
fessor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil durante um quarto
de século, quando fala sobre a influência dos batistas letos na educação
teológica no Brasil:
Vejam a relação dos nomes que ensinaram e ensinam em
nossas instituições superiores de teologia: Butler, Inke, Purim,
Ronis, Gertner, Vitols, Janait, Keidann. Mas além desses há
outros grandes mestres que doutrinaram e doutrinam o povo,
dentre os quais podemos citar como exemplo, Grigorowitsch e
Lukass. E Kraul também, cuja filha dirige com mão firme e
doutrina segura o grande Seminário Betel, primeira mulher
reitora do Brasil. Dentre os elementos constitutivos dessa ba-
se teológica sólida em que repousa o progresso dos batistas bra-
sileiros, é de valor inestimável a contribuição dos mestres le-
tos. (14 )
1.5 — Doutrinamento das Igrejas — Além dos numerosos pastores ba-
tistas letos à frente de igrejas brasileiras e de professores letos em nos-
sas instituições teológicas, cujos púlpitos e cátedras têm constituído fa-
tores relevantes na instrução religiosa do povo batista no Brasil, men-
ção à parte merece o doutrinamento em dimensão nacional que muitos
desses obreiros exerceram e ainda vêm exercendo através da página im-
pressa.
Entre os mais destacados doutrinadores letos nesse setor salienta-se
a figura do Dr. Ricardo J. Inke. Mais de 140 artigos doutrinários publi-
cados em O Jornal Batista, O Batista Federal (órgão dos batistas do

(14) Reis Pereira, J., Op. cit., os grifos são nossos.

529
antigo Distrito Federal) e O Batista Paulistano, dezenas de lições para
as diferentes revistas da nossa estrutura de educação religiosa — como
da Escola Bíblica Dominical, da Escola de Treinamento, da então União
Geral de Senhoras Batistas do Brasil e outras, e ainda, os numerosos ar-
tigos religiosos na imprensa secular do Rio de Janeiro, (15 ) constituem
a grande produção doutrinária de caráter geral que esse obreiro deixou
no vernáculo. Muitos outros artigos o Dr. Ricardo J. Inke produziu em
leto, russo e inglês. (16)
Outro doutrinador, que há mais de 50 anos vem exercendo sua in-
fluência formadora sobre o povo batista em nosso país, é o Dr. Reynaldo
Purim. Ainda está por ser levantado o vasto acervo de produção de ar-
tigos doutrinários na literatura periódica batista brasileira, especialmen-
te na área de lições da Escola de Treinamento e Escola Bíblica Domini-
cal, tanto nas revistas da antiga Junta de Escolas Dominicais e Moci-
dade, como da atual Junta de Educação Religiosa e Publicações e das
Edições Brasil Batista. Também merece menção O Expositor Batista,
órgão de iniciativa particular que o Dr. Reynaldo Purim e os professores
Moysés Silveira e Arthur Lakschevitz editaram por alguns anos (1947-
1949) e cujo escopo foi basicamente doutrinário. Fig. 279
A respeito dos dois doutrinadores citados, convém transcrever a
opinião abalizada do Dr. Lester C. Bell, referido páginas atrás:
Ricardo J. Inke, um batista leto que recebeu preparo espe-
cial no Seminário Batista em Rochester, New York, ganhou des-
taque, tanto no Brasil como nos Estados Unidos da América do
Norte. Viajou bastante pelas Américas e pela Europa, e foi
professor no Colégio Batista do Rio por muitos anos. Seus
escritos nos periódicos do Brasil e dos Estados Unidos fizeram
muito para levar os batistas letos à filiação com a Convenção
Batista Brasileira. (17 )
Outro educador de origem leta que contribuiu muito para
o desenvolvimento da vida cultural e doutrinária do Brasil Ba-
tista, foi Reynaldo Purim. Depois de receber o Grau de Ph.D.
pelo Seminário Batista de Louisville, no Sul dos Estados Uni-
dos, iniciou uma longa e ilustre carreira de ensino no Colégio
Batista e no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no
Rio de Janeiro. Ambos esses líderes, conservadores na sua
teologia, têm ajudado a formar a posição doutrinária dos ba-
tistas do Brasil. (18)
Há ainda outros obreiros batistas letos que neste contexto merecem
referência. Na ordem quantitativa de produção de literatura doutriná-

(15) Inke, Sophia, notas biográficas enviadas ao autor, as quais se acham nos arquivos do
Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.
(16) Três álbuns de recortes doados pela viúva do Dr. Ricardo J. Inke, D. Sophia Inke, que
se encontram sob a guarda do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Bra-
sil, Rio de Janeiro, GB.
(17) Bell, Lester C., Op. cit., citando Home and Foreing Fields, XV, outubro, 1931, p. 17
e 18.
(18) Id. ibid., p. 213.

530

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ria periódica vem Osvaldo Ronis, Ilgonis Janait, João Carlos Keidann,
Pedro Tarsier, Emílio Keidann, Paulo Gailit e Frederico Vitols.
No que diz respeito à literatura permanente, destacam-se os pasto-
res João Korps, com 16 livros de pequeno porte produzidos principal-
mente sobre assuntos escatológicos; João Lukass, com 3 livros na área
de Evangelismo; Pedro Tarsier, com 2 livros no campo histórico-crítico
de Religiões Comparadas; Osvaldo Ronis, com 2 livros — um no campo
da Introdução Bíblica e outro no da História dos Batistas (que é a pre-
sente dissertação) ; e Ilgonis Janait, com um livro, na área Doutrinária.
Outrossim, de 1944 até 1967 os pastores batistas letos haviam apre-
sentado 40 trabalhos teológicos nos 23 Retiros Espirituais da Ordem dos
Pastores Batistas do Estado de São Paulo, dos quais 16 são da autoria
do pastor e professor Frederico Vitols. (19 )
Sobre a contribuição doutrinária dos batistas letos ainda mais uma
vez trazemos o depoimento do Dr. Lester C. Bell:
Os batistas letos têm sido conhecidos, por longos anos,
pela sua espiritualidade, ênfase que deixou a sua influência so-
bre toda a vida batista no Brasil. W. C. Taylor ficou profun-
damente impressionado pela qualidade piedosa de seus cultos e
descreveu as orações de Ricardo J. Inke como uma intimidade
como se ele estivesse a falar com o seu Senhor. Depois de sua
visita à Varpa, Taylor disse que ouviu orações caracterizadas
pela "unção, graça, súplicas, adoração e intercessão sacerdotal,
daquele sacerdócio que pertence a todos os crentes, sem o as-
pecto do traje e do altar." (20)
Mas adiante, diz o mesmo autor:
Notam-se certas ênfases doutrinárias na vida dos batistas
letos no Brasil. Em linhas gerais, a posição dos letos tem sido
quase idêntica à da Convenção Batista Brasileira. Todavia, os
letos têm acentuado certos pontos doutrinários que se deve
notar. Os batistas letos têm sido perturbados, às vezes, por
influências pentecostistas. J. H. Rushbrooke indicou que estas
tendências surgiram entre eles antes da sua emigração para o
Brasil (J. H. Rushbrooke, Some Chapters of European Baptist
History, London, Kingsgate Press, 1929, p. 66... ). Mas, con-
vém apontar que estas influências não modificaram a posição
doutrinária, nem dos letos e nem das igrejas batistas brasilei-
ras, quanto aos pontos fundamentais. Outrossim, tais influên-
cias não trouxeram grandes afastamentos cismáticos das igre-
jas. Não foram os letos que forneceram a força para a dissi-
dência na denominação promovida pela "Renovação". Os le-
tos, aparentemente, se opuseram às práticas fanáticas e aos
objetivos dos "Renovacionistas". Por outro lado, as influên-
cias mencionadas acima entre os letos batistas na Letônia e no
Brasil trouxeram resultados benéficos. As tendências se ex-

(19) Ordem dos Pastores Batistas do Estado de São Paulo, Livro do Jubileu Edição da Or-
dem, 1967, p. 29 a 49.
(20) Id., ibid.

531
pressaram em formas piedosas de culto e de vida particular.
Os batistas letos, governados por um sistema rígido e puri-
tano de ética cristã, geralmente desejam uma forma muito mais
estrita de disciplina na igreja, do que aquela que procuram os
seus irmãos batistas brasileiros. (21)
Assim, igrejas batistas letas no Brasil, igrejas brasileiras fundadas
pelo trabalho missionário das igrejas letas, igrejas brasileiras pastorea-
das por pastores letos e igrejas brasileiras influenciadas por crentes ba-
tistas letos nelas integrados têm contribuído, ainda que modestamente,
para o aprimoramento doutrinário e ético da Denominação Batista do
Brasil.

1.6 — No Campo da Música Sacra — A contribuição dos batistas letos


no campo da música sacra no Brasil, particularmente do canto coral,
mereceria um capítulo à parte — quiçá um livro — pela extensão e pro-
fundidade de sua influência no meio evangélico. Alguns autores e cro-
nistas, que têm abordado aspectos históricos da música sacra no Brasil,
aparentemente não tiveram ao seu alcance fontes suficientes para pes-
quisar o assunto também do ponto de vista da contribuição leta.
Mister se faz lembrar, inicialmente, do pendor natural que o povo
leto tem pela música, notadamente pelo canto coral, fato a que já alu-
dimos no princípio desta dissertação. Para tanto concorreram, histórica
e psicologicamente, em grande parte, os sete séculos de opressão sofrida
por esse povo. Em meio de tais circunstâncias os sentimentos e as as-
pirações dessa gente encontraram a sua expressão na música.
Os grupos batistas letos que aportaram às terras brasileiras trou-
xeram consigo, em sua bagagem cultural, uma experiência já de várias
décadas no campo da música sacra, vivida em sua terra natal. Coros e
regentes que imigraram e outros que se formaram aqui, cedo chamaram
a atenção dos batistas brasileiros e igrejas de outras denominações para
o papel importante da música coral e instrumental no culto evangélico.
Antes mesmo de vir a ser fundada a primeira igreja batista leta no
Brasil, foi organizado, em 1891, o primeiro coro batista leto, na Colônia
de Rio Novo, Estado de Santa Catarina, para cantar nos cultos da con-
gregação dos imigrantes letos ali fixados. Alguns anos depois foi o co-
ro da Igreja Batista Leta de Rio Novo que na cidade de Orleães começou
a anunciar a mensagem do evangelho pelos cânticos, enquanto Guilher-
me Butler, Carlos Leimann e outros tentavam testemunhar pela prega-
ção. O mesmo aconteceu com as igrejas letas das colônias de Ijuí, no
Rio Grande do Sul, Jacu-Açu, no Estado de Santa Catarina, Nova Odes-
sa, no Estado de São Paulo. Esses coros geralmente cantavam em três
idiomas — leto, alemão e português — para atingir a população toda das
colônias e suas vizinhanças.
O primeiro regente batista leto a dirigir o coro de uma igreja batista
brasileira — a Primeira Igreja Batista de São Paulo — foi João (Janis)
Diener, de Nova Odessa, a partir do ano de 1910. O primeiro coro leto
a apresentar-se em diversas igrejas evangélicas e assembléias de uma

(21) Id., ibid. O grifo é nosso.

5 32
convenção batista foi o da Igreja Batista Leta de Nova Odessa, depois
denominada I Igreja Batista de Nova Odessa, por volta de 1916, ao tem-
po do pastorado do Dr. Ricardo J. Inke. A partir de 1928 o coro da
Congregação Batista Leta de São Paulo, Capital (mais tarde Igreja
Batista Leta de São Paulo), chamou as atenções das igrejas brasileiras,
batistas e de outras denominações evangélicas, onde começou a apre-
sentar-se. No mesmo ano Arthur Lakschevitz projetou-se no Rio de Ja-
neiro como organizador de coros, regente — chegando a dirigir 5 a 6
coros simultaneamente — arranjador, tradutor de hinos do vasto reper-
tório leto e compilador de músicas para coros mistos, masculinos e femi-
ninos, lançando, pouco depois, o primeiro caderno da grande coletânea
denominada COROS SACROS. Em 1930, o coro da Igreja Batista Leta
de Varpa (hoje Igreja Batista Central de Varpa) realizou a sua pri-
meira excursão de 10 dias à cidade de São Paulo, onde, em conjunto
com o coro da Congregação Batista Leta de São Paulo, pertencente a
essa igreja, apresentou-se em diversas igrejas, colégios e emissoras de
rádio, acompanhado de orquestra de mais de duas dezenas de figuras.
A essa altura, diversas igrejas batistas brasileiras da Capital paulista
solicitaram auxílio dos irmãos letos no campo da música e o grande coro
da Congregação Batista Leta de São Paulo se dividiu em grupos corais
menores para cantar nos cultos dessas igrejas e motivar nelas a orga-
nização de seus próprios coros. (22)
A partir de 1932, Carlos Gruber (então conhecido como Carlos Pur-
gailis) surgiu em Campinas, São Paulo e Santos como o maior e o mais
dinâmico líder no campo da música sacra entre os evangélicos, notada-
mente batistas e presbiterianos. Ele organizou coros em diversas igre-
jas; regeu cinco desses coros ao mesmo tempo e mais um grande orfeão;
ensinou música no Colégio Batista Brasileiro, em diversas igrejas, e a
grupos de interessados em regência; promoveu e levou a efeito audições
especiais, despertando interesse em todos os arraiais evangélicos, e im-
pregnou de música de superior qualidade as assembléias convencionais
dos batistas do Estado de São Paulo. Por esse tempo diversas igrejas
brasileiras de São Paulo já contavam com a colaboração de regentes
letos à frente de seus coros e no ensino de música, e mais tarde assisti-
ram ao surgimento de alguns valores do seu próprio meio.
A propósito, inserimos aqui mais um testemunho do já citado histo-
riador, Pastor José dos Reis Pereira, quando fala das contribuições dos
batistas letos na obra denominacional em nosso país:
... Em segundo lugar, há o que fizeram na música. Há
dias estávamos tentando descobrir quando surgiram os pri-
meiros coros nas igrejas batistas brasileiras. Não conseguimos
chegar a resultados em nossa busca superficial, mas iremos
voltar à carga. Não vamos dizer que os coros começaram com
os batistas letos, mas estamos certos de que eles exerceram
extraordinária influência na implantação e no melhoramento

(22) Sverns, Olga, "Draudzes Koris" (Coro da Igreja), in S. Paulas Latviesu l3aptistu
Draudze 20 Gados, 1934-1954 (A Igreja Batista Leta de S. Paulo em 20 anos, 1934-1954),
Edição da Igreja Batista Leta de São Paulo, 1954, p. 29.

533
dessa parte hoje considerada imprescindível em nossos cultos.
Dos dias de nossa adolescência em São Paulo, vem-nos a lem-
brança dos primeiros coros que ouvimos. Eram formados de
letos, quando não conhecíamos ainda nenhum coro brasileiro.
E lembramos, naturalmente, do primeiro coro de que tivemos
a honra de participar, o primeiro que se formou na Igreja Ba-
tista de Vila Mariana. O regente chamava-se Carlos Purgailis.
Hoje seu nome é Carlos Gruber e vive nos Estados Unidos: é
um extraordinário evangelista-cantor e músico... Como Car-
los Gruber, quantos irmãos letos, nos quais a música parece um
dom natural, estiveram e estão à frente de coros brasileiros,
aprimorando-lhes a apresentação? (23)
Na mesma época desenvolveu-se uma intensa atividade musical nas
colônias letas de Nova Odessa e Varpa, onde se multiplicaram coros e
orquestras e um grande número de jovens se dedicou ao estudo de mú-
sica, muitos deles mais tarde assumindo a regência de diversos grupos
corais e conjuntos instrumentais em congregações e igrejas brasileiras,
como ficou exposto no capítulo anterior em que tratamos dos obreiros
letos em diversas atividades das igrejas letas e brasileiras. Menção es-
pecial merece a juventude batista de Varpa, que, a despeito das enormes
dificuldades e trabalhos pesados durante seis dias por semana, demons-
trou uma energia inesgotável e uma determinação incomum em vencer
os óbices e progredir no campo da música sacra, tanto vocal como ins-
trumental, percorrendo longas distâncias por estradas arenosas, para
tomar aulas com seus mestres e participar dos ensaios dos corais e das
orquestras, executando peças de compositores clássicos, como Beetho-
ven, Haendel, Schuber, Mozart, Cherubini, Corelli e outros. Os instru-
mentos que compunham a orquestra eram: violinos, violas, violoncelos,
contrabaixos, flautas, clarinetes, pistões, trombones, piano e bandolins,
todos exigindo técnica apurada para se conseguir resultados satisfató-
rios. (24) Alcançar rendimento e interpretação a contento nesses ins-
trumentos tocados por mãos calejadas e dedos grossos de trabalhadores
cujas ferramentas eram o machado, a foice e a enxada, não era tarefa
fácil para o maestro Arthur Garancs e seus auxiliares. Porém a paciên-
cia deste e a persistência daqueles, conseguiram resultados surpreenden-
tes.
Outra contribuição importante dos batistas letos no campo da mú-
sica sacra no Brasil ocorreu na área do repertório. Essa começou pelo
Cantor Cristão. Há, em nosso hinário batista, 11 hinos de três autores
letos, contribuições anteriores ao ano de 1920. O primeiro desses autores
letos foi João Diener (1889-1963), de cuja autoria são os seguintes hi-
nos: 245 — tradução; 249 — tradução; 259 — autor da letra e música;
372 — letra (autor) ; 493 — adaptação; 501 — tradução; 566 — letra
(autor). O segundo foi Ricardo Jacob Inke (1880-1936), que contribuiu

(23) Reis Pereira, J., Op. cit. Os grifos são nossos


(24) Garancs, Arthur, Carta ao autor, firmada em Varpa, aos 20 de novembro de 1968.
Encontra-se no Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Ja-
neiro, GB.

534
com a tradução de três hinos, cujos números são: 300, 342 e 430. O ter-
ceiro autor foi Frederico Freymann (1889-1922), que produziu a letra
do hino 228, atualmente alterada. (25)
A maior contribuição nesse setor, porém, pertence ao Prof. Arthur
Lakschevitz. Trata-se, em primeiro lugar, de sua grande coletânea de
190 músicas para coros, a primeira e a mais volumosa em português,
chamada COROS SACROS, conhecida em todo o Brasil, Portugal e suas
colônias onde há trabalho evangélico. Desde 1931, quando foi lançado
o primeiro dos 8 cadernos que constituem a coletânea, já foram publi-
cados mais de 240.000 exemplares. (26) São músicas para coros mistos,
masculinos e femininos, em sua quase totalidade procedentes de hinários
letos. A letra desses cânticos em sua grande maioria é tradução do pró-
prio compilador, Arthur Lakschevitz, e de alguns colaboradores outros,
como Waldemar Snikers — tradutor e poeta leto de Nova Odessa; Adol-
fo Penno — professor e economista de progenitora leta; Egydio Gióia
— pastor batista, cantor e regente brasileiro de origem italiana que por
muitos anos operou no campo batista paulistano; e Mattathias Gomes
dos Santos — pastor presbiteriano brasileiro, de renomada cultura, que
muitos e relevantes serviços prestou ao Prof. Arthur Lakschevitz na
preparação e publicação das primeiras coleções.
Além de COROS SACROS, Arthur Lakschevitz publicou também um
hinário especial para crianças — CÂNTICOS JUVENIS, em várias edi-
ções, bem como dois outros — MÚSICA PARA TODOS e HINOS PARA
TODOS. Para o ensino da música em nível ginasial, publicou TEORIA
MUSICAL, com aceitação geral nas escolas do Rio de Janeiro. Somados
todos os hinos sacros das coletâneas de Arthur Lakschevitz, seu número
aproxima-se de 400. Com exceção da la edição do primeiro caderno de
COROS SACROS, as demais publicações foram editadas pela Casa Pu-
blicadora Batista do Rio de Janeiro. (27 )
Para uma avaliação mais acurada da contribuição leta na música
sacra no que diz respeito ao repertório, convém transcrever algumas re-
ferências de pessoas abalizadas do meio evangélico. Em primeiro lugar,
citamos a opinião do Rev. Mattathias Gomes dos Santos:
O Prof. Arthur Lakschevitz lançou, em 1931, à luz da pu-
blicidade, o primeiro livro de músicas sacras, compiladas entre
o que de melhor existe em certos meios evangélicos europeus,
particularmente na Látvia (Letônia). Foi tão grande e entu-
siástica a aceitação com que as igrejas evangélicas de todas as
denominações acolheram o recomendável trabalho do nosso
nobre irmão, que ele se animou a prosseguir e hoje oferece ao
público religioso cristão do Brasil o segundo volume. (28)

(25) Seitz, Ivo, Pesquisa no Departamento de Música da Junta de Educação Religiosa e


Publicações da Convenção Batista Brasileira, a pedido do autor, cujo original encontra-se
em nossos arquivos.
(26) Lakschevitz, Arthur, Entrevista com o autor em 17 de fevereiro de 1972, Rio de Janeiro.
(27) Id., ibid.
(28) Santos, Mattathias Gomes dos, Prefácio de Coros Sacros II, 6' edição, Casa Publica-
dora Batista, Rio de Janeiro, 1951, p. 3.

535
Mais tarde, escreveu o Dr. Manuel Avelino de Souza, autor de diver-
sos hinos do Cantor Cristão e relator da Comissão que preparou o hiná-
rio batista :
Muito grato é para nós o privilégio de apresentar ao pú-
blico evangélico em geral e batista em particular o sexto vo-
lume dos COROS SACROS, da autoria do irmão Dr. Arthur
Lakschevitz. Este prezado irmão tem prestado um serviço ines-
timável e de muito alcance para o mundo evangélico no Brasil,
com as suas produções musicais. Ele assim está enchendo as
nossas bocas de cânticos espirituais e harmoniosos e enrique-
cendo os coros das nossas igrejas com hinos maviosos e be-
los... Merece o nosso apoio e admiração este irmão por des-
pertar interesse na música sacra e fornecer mais uma coleção
de hinos neste campo que ainda está muito escasso no Brasil,
isto é, os Coros nas igrejas... Decerto o Dr. Arthur Laksche-
vitz não pingou o ponto final na abençoada série de "Coros Sa-
cros" que em tão boa hora começou com os melhores resulta-
dos. (29)
Em 1949, o Pastor Pedro Gomes de Melo, então pastor da Igreja Ba-
tista em São Cristóvão (hoje Quarta Igreja Batista do Rio de Janeiro)
— à qual pertencia, na época o maestro Arthur Lakschevitz — ao apre-
sentar ao público já o VII volume de COROS SACROS, assim se expres-
sou:
O Prof. Arthur Lakschevitz, um dos maiores cultores da
música sacra no Brasil, autor de Coros Sacros, em seis volu-
mes, Teoria Musical, Cânticos Juvenis, Música para Todos, Hi-
nos para Todos, oferece, agora, às igrejas evangélicas o sétimo
volume de Coros Sacros.
Felicitamos os que cantam e amam a música sacra.
Há poucos anos, os batistas eram paupérrimos no cântico;
hoje, porém, basta haver em cada igreja um servo de Deus,
consagrado, que se dedique ao estudo de música sacra, dotado
de boa voz, ei-lo dirigindo um bom conjunto musical, um coro,
um orfeão.
A quem se deve tão grande felicidade? Aos professores
como o autor de o Sétimo Volume de Coros Sacros, que não
poupam sacrifícios para servirem à causa de Jesus Cristo.
O Prof. Arthur Lakschevitz, por sua elevada capacidade e
competência jamais contestadas, tornou-se portador de justos
encômios por parte daqueles que apreciam e valorizam os com-
pêndios musicais.
E esta grandiosa cultura artística faz com que o autor de
Teoria Musical seja considerado pelos crentes e não crentes o
primos inter pares da música sacra no Brasil.

(29) Souza, Manuel Avelino de, "Uma Palavra Prefaciar, Coros Sacros VI, 2, edição, Casa
Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1951, p. 4. O grifo é nosso.

536
Em se tratando de um livro da autoria de Lakschevitz, po-
demos dizer, mesmo sem abri-lo, que ali estão integradas pági-
nas sacras de valor inestimável.
A nossa palavra ao autor de tão grande tesouro musical:
prossiga ajudando às igrejas, capacitando-as a servir melhor
ao Reino de Deus, através dos cânticos maviosos, verdadeiras
mensagens evangélicas, que levam pecadores obstinados aos
pés de Cristo, aceitando-o como seu único Salvador. (30)
Ao ser lançado o oitavo volume da coletânea de COROS SACROS,
em 1955, o seu prefaciador, Dr. J. J. Cowsert, então Diretor do Departa-
mento de Produção da Casa Publicadora Batista, escreveu o seguinte:
O irmão Arthur Lakschevitz tem contribuído grandemente,
oferecendo às igrejas os valiosos livros como Coros Sacros.
Novos coros têm sido organizados nas igrejas e os já existen-
tes melhoram as músicas apresentadas por intermédio destes
hinos, cujas palavras e música ajudam o crente a expressar os
mais profundos sentimentos religiosos.
É, pois, com imenso prazer que apresentamos o oitavo vo-
lume de Coros Sacros às igrejas evangélicas, como outra jóia
de nossa coletânea musical. Certamente estas músicas desper-
tarão muitos crentes a chegarem mais perto de Deus, como
também aos descrentes a confiarem em Cristo como seu Sal-
vador. (31)
O Diretor do Departamento de Música da Junta de Educação Reli-
giosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, Pastor Bill Ichter,
ao publicar o seu livro Vultos da Música Evangélica no Brasil, em pri-
meiro lugar apresenta o maestro Arthur Lakschevitz, dizendo :
O nome de Arthur Lakschevitz — é sinônimo de música
sacra no Brasil. Pioneiro da música sacra da Denominação Ba-
tista no Brasil, sua coleção de hinos Coros Sacros tem sido por
muitos anos a coleção de hinos mais usada pelos coros das
igrejas evangélicas brasileiras. Nós, batistas, temos grande
dívida para com este dedicado servo de Deus e aqui vai a nossa
palavra sincera de apreciação e reconhecimento pelo muito que
ele realizou no terreno da música sacra em terras brasilei-
ras. (32 )
E, por fim, o mais recente testemunho a respeito da contribuição de
Arthur Lakschevitz, na área de repertório para os coros evangélicos no
Brasil. É o do Pastor José dos Reis Pereira:
Salta, naturalmente, à nossa lembrança, nesse particular,
a figura ímpar de Arthur Lakschevitz, cuja atuação deu início
a uma nova era na história da música batista e evangélica do

(30) 1VIello, Pedro Gomes de, "Prefácio", Coros Sacros VII, Casa Publicadora Batista, Rio
de Janeiro, 1949, p. 3. O grifo é nosso.
(31) Cowsert, J. J., 'Prefácio", Coros Sacros VIII, Casa Publicadora Batista, Rio de Ja-
neiro, 1955, p. 3.
(32) Ichter, Bill, "Autor de Coros Sacros", em: Vultos da Música Sacra no Brasil, Casa
Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1967, p. 11. Os grifos são nossos.

537
Brasil. Seus "Coros Sacros" continuam a ser, o que existe de
mais lindo em música coral usada em nossas igrejas. ( 33)
Há, ainda, muitas outras traduções e produções originais de autores
letos que circulam em forma de trabalhos avulsos, geralmente de uso
restrito nas atividades evangelísticas de igrejas letas ou igrejas brasi-
leiras dirigidas por obreiros letos. Diversos pastores e músicos — como
o Pastor João Korps, maestros Arnaldo Sverns (senior), Arvido Leias-
meier e outros — deixaram de dar maior divulgação às suas produções
por uma questão de modéstia ou por motivos econômicos. Entretanto,
essas contribuições foram valiosas na promoção do reino de Deus em
terras brasileiras, razão por que delas fazemos menção.

1.7 — Transferência de Palma para a Convenção Batista Brasileira —


Desde 1960, o gerente da Corporação Evangélica Palma, Pastor André
Klavin, vinha se preocupando com o destino da sua comunidade, à vista
do declínio do elemento humano da Corporação pelo envelhecimento e
morte de seus membros. Homem previdente que era em tempo começou a
estudar a destinação da grande propriedade com todas as suas benfei-
torias e gado, fruto do trabalho diligente e heróico daqueles que funda-
ram a Corporação e de alguns que nela ingressaram em anos posterio-
res, cheios de fé e visão de contribuírem — por aquela forma de vida
coletiva abnegada — para o desenvolvimento do Reino de Deus na ter-
ra. Depois de prestados inestimáveis serviços à causa de Deus no Bra-
sil e na Bolívia, indagava o Pastor André Klavin: Com quem ficaria
aquele patrimônio constituído pela fé e para a divulgação da fé? Como
seria possível perpetuar aquela propriedade para que continuasse a ser
uma bênção para a causa do evangelho? (34)
Com estas e outras inquirições em mente, esse obreiro pedia a Deus
direção que o conduzisse a uma solução aceitável do problema. Foi en-
tão que, em 1962, depois de consultar-se com o seu amigo Pastor Arnaldo
Gertner no Rio de Janeiro, entabulou conversações com a Junta de Be-
neficência, da qual o último era membro na oportunidade. Acertados os
planos preliminares, levou-os à Corporação. Com algumas modificações
ligeiras nesses planos, ficou estabelecido oferecer a propriedade à Junta
de Beneficência, que naquela altura estava projetando um grande Fundo
de Mordomia. Eis o que diz o Relatório daquela Junta referente ao ano
de 1962 dentro do tópico "Fundo de Mordomia":
Devemos incluir nestas considerações o oferecimento feito
pelos irmãos letos da Colônia Palma, S. Paulo. Trata-se da
entrega da sua propriedade, avaliada atualmente em mais de
Cr$ 1.000.000.000,00, com a condição de a Junta pagar um
salário mínimo a cada sobrevivente até que se extinga o atual
grupo composto de 60, mais ou menos, sendo o mais moço de
65 anos e o mais velho de 96. A Sociedade é fechada. Ninguém
mais entra na corporação, e os componentes vão desaparecen-
do naturalmente. Metade desta soma, seria mais que o sufi-

(33) Reis Pereira, J., Op. cit. Os grifos são nossos.


(34) Klavin, André, Entrevista com o autor em 9 de dezembro de 1962.

538
ciente para pagar o salário mínimo regional a todos os atuais
componentes. Esta é uma notícia muito alvissareira para os
batistas em geral. (36)
Entretanto, com o decorrer do ano de 1962, o Pastor André Klavin
sentiu que não havia escolhido o melhor caminho. Percebeu que a even-
tual venda da propriedade pela Junta de Beneficência e construção de
uma vila fora da mesma para os remanescentes membros de Palma aca-
barem os seus dias — como era o plano da Junta — ia lhes causar um
abalo psicológico e por certo um estado de melancolia por muito tempo,
quiçá vendo a propriedade transformar-se em pasto para bois de algum
grande fazendeiro, ainda que o valor da venda fosse investido para be-
neficiar instituições batistas do Brasil. Demonstrou esta sua apreen-
são aos pastores Arnaldo Gertner, Osvaldo Ronis, Reynaldo Purim e
maestro Arthur Lakschevitz em 10 de dezembro de 1962, por ocasião das
comemorações do 40° aniversário de fundação da Colônia Varpa.
Em 13 de fevereiro de 1963, o Pastor André Klavin escreveu uma
carta ao Prof. Arthur Lakschevitz — que logo foi entregue ao Secre-
tário Geral da Junta Executiva da Convenção Batista Brasileira, Dr.
Lester C. Bell — na qual, depois de uma série de considerações históri-
cas, dizia o seguinte com referência ao futuro de Palma:
Peço ao irmão sondar e investigar, junto aos irmãos de
destaque na denominação batista brasileira, como melhor po-
deríamos ainda servir para conduzir o povo brasileiro aos pés
de Cristo. Agora, quando o vigor da nossa vida física estre-
mece e empalidece, mas nossa fé e espírito estão prontos para
servir de toda maneira na Causa do Senhor; caso haja inte-
resse da parte dos irmãos, estamos prontos para quaisquer en-
tendimentos neste sentido. (36)
A esta altura, a Convenção Batista Brasileira já estava cuidando de
um acampamento nacional. Na reunião da Junta Executiva da Conven-
ção Batista Brasileira com a Comissão Inter-Missões, realizada por oca-
sião da 45a Assembléia da Convenção Batista Brasileira, em Vitória,
Espírito Santo, em janeiro de 1963, havia surgido a idéia da constitui-
ção de uma comissão representativa de quatro entidades batistas —
Junta Executiva, Junta de Escolas Dominicais e Mocidade, União Fe-
minina Missionária Batista do Brasil e a Comissão Inter-Missões — para
estudar a questão de um acampamento nacional para os batistas. Con-
sultadas as entidades, a composição dessa comissão se tornou a seguin-
te: José Lins de Albuquerque, Osvaldo Ronis e Ernâni Freitas — da
Junta Executiva; Celso de Oliveira, David Malta do Nascimento e Neu-
tel Bastos — da Junta de Escolas Dominicais e Mocidade; Sophia Nichols,
Dirce Kaschel e Edna Pinto de Morais — da União Feminina Missioná-
ria Batista do Brasil; Lester C. Bell, Barry Mitchel e Vance Vernon —
das Missões da Junta de Richmond no Brasil. ( 37) O Pastor Osvaldo
(35) Convenção Batista Brasileira, Atas, Relatórios, Pareceres . .. da Quadragésima Quin-
ta Assembléia Anual. Relatório Anual da Junta de Beneficência da C. B. B., p. 61.
(36) Id., Junta Executiva. Arquivo. Ver texto na íntegra no Anexo X.
(37) Id., Atas, Relatórios, Pareceres ... da Quadragésima Sexta Assembléia Anual. Re-
latório da Junta Executiva, p. 113 e 114.

539
Ronis comunicou o fato ao Pastor André Klavin e este, então, dirigiu-se,
por carta firmada em 22 de março de 1963, à Junta Executiva da Con-
venção Batista Brasileira, nos seguintes termos:
Vindo ao nosso conhecimento que a Junta está cogitando
escolher local para organizar Acampamento para fins recreati-
vos da nossa Denominação, achamos por bem chamar a pre-
ciosa atenção de V.V. S.S., por meio desta, para o local que é a
nossa propriedade.
A comunidade da Corporação Evangélica "Palma", desde
a sua organização, tem existido na função de ser útil à Causa
do Reino de Deus e teria grande prazer se sua área, de 290 al-
queires paulistas, de boa topografia, boas pastagens, abundan-
te água e com as benfeitorias existentes, fosse adquirida por
entidade que preservasse para a finalidade pela qual temos vi-
vido e trabalhado.
Está situada a 20 km da cidade de Tupã, Alta Paulista,
Estado de São Paulo.
Caso haja interesse por parte de V.V. S.S., neste particular,
estamos às ordens para receber visita da comissão de perita-
gem que a Junta enviar, a fim de tomar informações necessá-
rias in loco. (38)
A 26 de abril de 1963, o Dr. Lester Carl Bell, Secretário da Junta
Executiva da Convenção Batista Brasileira, respondeu ao Pastor André
Klavin:
Tem a presente o fim de acusar o recebimento da sua
carta de 22 de março referente ao vosso interesse na aquisi-
ção, por parte da Convenção Batista Brasileira, de vossa pro-
priedade em Palma, com o fim de montar um acampamento
recreativo e espiritual para a denominação.
A Junta Executiva, ao apreciar a comunicação em foco,
achou por bem vos escrever, agradecendo profundamente esse
gesto de vossa parte. Ao mesmo tempo, queremos externar a
nossa sincera gratidão pelo muito que os amados irmãos têm
feito durante os anos em prol da evangelização pátria.
Há uma comissão especial da denominação que está estu-
dando o caso do acampamento, e terá reunião nos dias 7 e 8
de maio aqui no Rio. Logo depois, no dia 9 ou 10 do mesmo
mês, a comissão deseja visitar Palma a fim de tomar as infor-
mações necessárias. (39)
Depois de visitar duas outras propriedades em perspectiva, a Co-
missão de Acampamento esteve em Palma na data prevista, inspecionan-
do as suas propriedades e instalações e tomando conhecimento do real
desejo daqueles irmãos de deixar para uso perpétuo da Denominação
Batista do Brasil a Fazenda Palma "de quase 300 alqueires de extensão,

(38) Id., junta Executiva. Arquivo.


(39) Id., ibid., Xerocópia da carta que se acha nos arquivos do Museu Batista do Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, GB.

540
com mais de 400 cabeças de gado bovino, 30 de gado eqüino, 4.000 ga-
linhas de raça, 1 trator, 3 caminhões, uma represa com gerador hidro-
elétrico, serraria completa, um motor diesel, oficina mecânica e carpin-
taria completas, indústria de laticínios e mais de 50 construções, etc."
(40)
Nos dias 14 e 15 de setembro de 1963, a mesma comissão fez a se-
gunda visita a Palma, à qual compareceram também os convidados es-
peciais, missionários Dale Carter, agrônomo do Instituto Batista Indus-
trial da cidade de Corrente, Piauí; Bruce Oliver, piloto que levou o pri-
meiro a Palma no avião de sua Missão, e o casal Fred e Maryruth Haw-
kins, do Rio de Janeiro, este particularmente interessado no projeto do
acampamento. Depois de dois dias de demorados estudos quanto à via-
bilidade do projeto, examinados alguns aspectos estatutários, feitos di-
versos encontros com a Gerência e a Diretoria da Corporação, apreciado
o parecer favorável do agrônomo e acordadas as condições em que se
daria a doação, por proposta do Dr. José Lins de Albuquerque a Comis-
são do Acampamento votou, unanimemente, a aprovação do acordo pre-
parado e a execução do projeto, para, depois do assunto estudado pela
Junta Executiva, ser o mesmo encaminhado, em forma de parecer, à
Convenção Batista Brasileira, em sua Assembléia de janeiro de 1964, em
Recife. ( 41)
Na reunião regular da Junta Executiva, realizada no Rio de Ja-
neiro em 7 de outubro de 1963, depois de minuciosas informações dadas
pela respectiva Comissão e discussão ampla do projeto do Acampamento
Batista Nacional de Palma, este foi aprovado por unanimidade de vo-
tos. (42)
Na 10a sessão da 461 Assembléia da Convenção Batista Brasileira,
realizada na manhã do dia 27 de janeiro de 1964 no santuário da Pri-
meira Igreja Batista da Capunga, no Recife, Estado de Pernambuco, ao
ensejo da apresentação do Relatório da Junta Executiva pelo seu presi-
dente, Dr. João Filson Soren, foi apresentado ao plenário o Pastor André
Klavin, gerente da Corporação Evangélica Palma. Falando à Assem-
bléia fez esse irmão, de viva voz e em nome da Corporação o ofereci-
mento das propriedades de Palma à Convenção Batista Brasileira para
instalação de um acampamento de âmbito nacional, depois de ter his-
toriado, em breves e comoventes palavras, quais têm sido os ideais dessa
entidade. Do relatório em foco, transcrevemos os trechos a seguir, por
julgá-los relevantes neste contexto da nossa dissertação de cunho his-
tórico:
(1) A Comissão sobre Acampamento é de parecer que se-
ria muito viável e oportuna a instalação de um Acampamento
Nacional em vista dos grandes benefícios que traria para a
(40) Hawkins Jr., Fred L., Narrativa enviada ao autor, firmada em 12 de marco de 1966;
encontra-se nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Rio de Janeiro, GB.
(41) Convenção Batista Brasileira, Junta Executiva, Arquivo de Atas e Documentos da
Comissão de Acampamento.
(42) Convenção Batista Brasileira, Arquivos da Junta Executiva, Ata da reunião realizada
em 7 de outubro de 1963.
541
vida denominacional nos setores de treinamento, fraternidade,
despertamento de vocações e missões, inspiração e recreação
cristã, etc. A situação atual requer que façamos algo de espe-
cial para a nossa mocidade. Outros já passaram em nossa
frente com tais empreendimentos e estes são de caráter inter-
denominacional. Devemos, portanto, providenciar os nossos
próprios acampamentos, que serão de orientação puramente
batista.
(2) Devemos ter dois acampamentos, um no norte e ou-
tro no sul, e isso em função das grandes distâncias que sepa-
ram os batistas do Brasil...
Acampamento para o Sul do Brasil. Na procura de um
lugar onde se pudesse instalar o acampamento do sul do país, a
Comissão visitou a Colônia Palma, no Estado de S. Paulo. A
convite dos irmãos letos, proprietários da "Corporação Palma",
a Comissão visitou todas as propriedades e instalações de Pal-
ma e, numa reunião com a gerência da Corporação, ficou ciente
dos desejos dos irmãos letos de Palma de que suas proprieda-
des ficassem para o uso perpétuo da Denominação. Especifi-
camente, a Corporação oferece as propriedades para a instala-
ção de um Acampamento.
1. Depois de outras visitas à Colônia e após estudos pro-
longados, é de parecer que seja instalado em Palma, Estado de
São Paulo, o acampamento para o sul do país.
2. A Comissão justificou o seu parecer do seguinte modo :
a) Localização geográfica. A Colônia Palma, no mu-
nicípio de Tupã, fica mais ou menos no centro geográfico do
Sul do país, facilitando, assim, o acesso de todos os recantos do
Sul. Tupã é servida de aviões, da Estrada de Ferro Paulista
e duma estrada asfaltada que liga a cidade de S. Paulo a Mato
Grosso. Ainda mais, Tupã fica perto de diversas estradas, já
prontas ou projetadas, que ligam os grandes centros de Goiás,
Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e pon-
tos do Paraná e do Sul.
b) Instalações favorecidas. A Comissão achou que a
fazenda Palma vai oferecer grandes vantagens para a instala-
ção do acampamento, em virtude de sua topografia, abundân-
cia de águas, bosques, benfeitorias já existentes, grande área
da fazenda composta de 300 alqueires paulistas, etc.
c) Sustento próprio. A fazenda fornece sustento para
os 48 sócios da Corporação, através da criação de gado, fábri-
ca de manteiga, granja, lavoura, etc. Há, também, na fazenda,
luz própria, moinho, serraria. Com o aumento da produção dos
setores acima mencionados, haverá meios de dar ao menos uma
boa parte de sustento do acampamento, não se tornando ele,
portanto, um peso para a Denominação.
d) Nota histórica. A Colônia de Palma tem um fundo
histórico de grande significação na vida batista do Brasil. Os
542
irmãos da Colônia vieram da Letônia em 1922, com o grande
ideal de se estabelecerem aqui, para melhor servir ao Senhor
e cooperar na evangelização do Brasil. O total dos que vieram
inicialmente foi de dois mil. Um grupo se instalou em Varpa,
em pequenos sítios próprios. Os demais, um bom grupo, for-
maram a Corporação Palma, Sociedade Cooperativa, com fins
estritamente evangélicos. Logo organizaram sua igreja ba-
tista e desenvolveram sua vida econômica, social e religiosa.
A vida que eles conseguiram estabelecer e o ambiente criado é
coisa inédita em nossos dias e empolga a quantos chegam a
Palma, tanto pela eficiência entre eles notada, pelo espírito
cristão que ali se cultiva e pelos ideais que motivam e gover-
nam todo o seu empreendimento.
Grandes têm sido as contribuições desta Colônia para a
evangelização do nosso país. Além da influência do seu teste-
munho, tomaram a iniciativa de organizar diversas igrejas na
região onde está localizada a fazenda. As contribuições finan-
ceiras para a obra batista no Brasil têm sido muito liberais
durante esses anos todos. Funcionou na Colônia uma pequena
Escola Missionária, sustentada pela mesma Colônia. Nessa es-
cola se prepararam vários obreiros e leigos para melhor servi-
rem à Causa. Mais tarde o Curso de Extensão do nosso Semi-
nário funcionou na Colônia. Isto durou uns vinte anos. Vários
pastores e obreiros hoje em atividade na causa procedem da-
quela Colônia. A Colônia Palma tem um fundo histórico na-
cional e até mesmo internacional. Isso bastaria para que os
batistas brasileiros cuidassem de preservar o patrimônio de
Palma para a posteridade, através do projeto pretendido.
3. Acordo com a Corporação de Palma. Uma vez aceito o
parecer da Comissão pela Convenção Batista Brasileira, todas
as propriedades de Palma passariam à Convenção Batista Bra-
sileira, sem qualquer ônus para a Convenção a não ser as des-
pesas da escritura, etc. A doação inclui as terras de quase 300
alqueires paulistas, todas as benfeitorias, maquinaria, gado,
etc. O acordo permitiria aos irmãos de Palma permanecerem
em suas residências, como colônia, no mesmo local, em pe-
quena área delimitada. Enquanto vivessem, os 48 co-proprie-
tários de Palma (a maioria já de 65 a 93 anos) receberiam o
equivalente a um salário mínimo, vigente na região por pes-
soa, reajustado na forma da lei. Tratando-se de uma sociedade
fechada, não haverá, portanto, compromissos com herdeiros ou
descendentes destes irmãos letos. (43)
A Comissão de Parecer sobre o Relatório da Junta Executiva, no
item "c" do seu parecer fez a seguinte recomendação à Convenção:
Quanto ao Acampamento para o Sul do Brasil, a Comis-
são é de parecer que se envidem todos os esforços para a sua
(43) Id., Atas, Relatórios, Pareceres. . . da Quadragésima Sexta Assembléia Anual, Casa
Publicadora Batista, 1964, pp. 114 e 115.
543
instalação em Palma, onde a Colônia Leta, no mais nobre es-
pírito de fraternidade, fizera à Convenção Batista Brasileira
uma doação de uma propriedade de quase 300 alqueires, inclu-
sive benfeitorias, gado, maquinário, etc. (44)
Aprovado o parecer supra pelo plenário, registra a Ata da 10'.1 ses-
são da 46a Assembléia Anual da Convenção Batista Brasileira o seguinte
parágrafo:
Gratidão aos irmãos letos. O Pr. Jabneel Silva propõe que
a Junta Executiva nomeie Comissão para agradecer à Corpo-
ração Evangélica Palma a oferta feita à Convenção, bem como
para expressar-lhe nossa apreciação pela obra dos batistas le-
tos no Brasil. Ficando de pé, o plenário vota favoravelmente
à proposta. Ora o Pr. Osvaldo Ronis. A congregação canta o
hino 379. Falando em leto, e sendo interpretado pelo Pr. Os-
valdo Ronis, o Pr. André Klavin agradece a homenagem que a
Convenção presta aos seus irmãos e patrícios. O Pr. José Bit-
tencourt propõe que a Junta de Escolas Dominicais e Mocida-
de seja convidada a editar uma obra que conte a história dos
batistas letos do Brasil, utilizando a matéria dessa obra para
lições nas revistas de treinamento. A proposta é aprovada. O
Pr. H. Victor Davis propõe que a Junta Executiva estude a
possibilidade de levantar um monumento na Colônia Palma,
que imortalize os feitos desses verdadeiros heróis — proposta
que é aprovada. ( 45 )
Em 20 de agosto de 1964, no Cartório do 2° Ofício da cidade de Tupã,
Estado de São Paulo, foram assinados e registrados os documentos de
transferência da Fazenda Palma para a Convenção Batista Brasileira,
respectivamente, a Escritura de Doação e o Contrato de Comodato, este
garantindo à Corporação Evangélica Palma "o direito de habitar uma
área de oito alqueires da propriedade e uma mensalidade em dinheiro
equivalente a um salário mínimo para cada sócio remanescente." (46)
O Jornal Batista, em artigo de "torre" da edição de 4 de outubro de
1964, publicou, em detalhes e com regozijo, a notícia da transferência da
histórica propriedade, inclusive o Contrato de Comodato em sua íntegra.
( 47 ) Foi assim que o órgão oficial dos batistas brasileiros se manifestou
a respeito do acontecimento:
No dia 20 de agosto do corrente ano, em emocionante so-
lenidade, a Fazenda Palma iniciou o processo de sua transfe-
rência para a posse da CBB.. . Para ocupar o cargo de Diretor
Geral, Deus retirou do Departamento de Escolas Dominicais o
irmão Fred Lee Hawkins, que logo foi considerado "the right
man in the right place" ... Graças aos irmãos da Corporação

(44) Id., ibid., pp. 175 e 176.


145) Id., ibid., p. 30.
(461 Id., Atas, Relatórios, Pareceres... da Quadragésima Sétima Assembléia Anual, reali-
zada de 23 a 30 de janeiro de 1965, na Igreja Batista de Niterói, Estado do Rio de Janeiro,
Editora Dois Irmãos Ltda., p. 89.
(47) Ver Anexo XI.

544
Evangélica Palma, os Batistas do Sul do Brasil resolveram o
problema de localização do seu Acampamento. (48)
Plantas de urbanização e de arborização, medidas técnicas para me-
lhoria dos pastos e do plantei do gado leiteiro e outras providências
foram tomadas pelo Diretor Geral, missionário Fred Lee Hawkins, coad-
juvado pelo seu auxiliar, Pastor Jacó R. Inke e depois pelo agrônomo Ro-
bert Erwin, enviado pelos batistas do Sul dos Estados Unidos da América
do Norte. Em princípios de 1965 foram iniciadas as construções, com as
doações da Missão Batista do Sul do Brasil, e em 14 de outubro de 1970
foi oficialmente inaugurado o Acampamento Batista Palma, sob os aus-
pícios da Junta Executiva e presidência do Pastor Dr. Nilson do Amaral
Fanini, solenidade que reuniu uma representação ampla de batistas bra-
sileiros, letos e norte-americanos. (49 ) Figs. 280 e 281
Por decisão da Convenção Batista Brasileira, reunida em sua 53a As-
sembléia Anual na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, em ja-
neiro de 1c71, o Acampamento Batista Palma, a partir do mês de abril
do mesmo ano, passou a ser administrado pela Junta de Educação Reli-
giosa e Publicações (JUERP), órgão especializado da mesma Convenção,
não sofrendo o seu desenvolvimento qualquer solução de continuida-
de. (5°)
Até princípios de 1971 o Acampamento Batista Palma já havia re-
cebido nada menos de uma dúzia de conclaves batistas, como Retiro de
Pastores de algumas regiões do Estado de São Paulo, Retiros de Moci-
dade, Concentrações do Grupo de Atividades Missionárias (GAM), Acam-
pamento de Sociedades de Moças, Conferências de Líderes Nacionais da
União Feminina Missionária Batista do Brasil, II Conferência Geral de
Relações Cooperativas e grupos de outros órgãos denominacionais. Nos
seus quatorze dormitórios, um refeitório e cozinha, um salão para reu-
niões, duas salas para grupos menores e outras dependências concluídas
até 1971, o Acampamento já oferecia condições bastante confortáveis para
receber até 150 acampantes de uma só vez, mas, segundo as previsões do
seu diretor, dentro de pouco tempo essa capacidade será duplicada. Além
disso, consoante projetos já aprovados pelo respectivo departamento do
governo estadual, duas novas auto-estradas tornarão ainda mais acessí-
vel a Fazenda Palma, (51) a maior propriedade dos batistas brasileiros,
contribuição dos batistas letos para o desenvolvimento do reino de Deus
em nossa terra; contribuição esta cujo alcance, em termos de instrução
e formação religiosa, inspiração, vocações e consagração de vidas, jamais
alguém poderá medir. Fig. 282

(48) "Palma Passa às Mãos da Convenção Batista Brasileira'', O Jornal Batista, Ano LXIV,
IV 40, 4 de outubro de 1964, pp. 1 e 6.
(49) Janait, Ilgonis, "O Brasil Batista Participou da Inauguração do Acampamento Batista
de Palma", O Jornal Batista, Ano LXX, n° 44, 1 de novembro de 1970, pp. 1 e 5.
(50) Convenção Batista Brasileira, Anais da 54' Assembléia, Realizada em São Paulo, SP,
de 19 a 26 de janeiro de 1972, p. 96.
(51) Id., Anais da 52' Assembléia Anual, Salvador, janeiro de 1970, p. 254; "Acampamento
Batista Palma", Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira,
avulso promocional: Klavin, André, Carta a Dr. Lester C. Bell, datada de Palma, em 18
de junho de 1963; Quatro Rodas, Brasil-Mapa Rodoviário, 1971.

545
2. Contribuições à Vida Cultural
A Ação dos batistas letos imigrados no Brasil também teve seus as-
pectos culturais, conforme referências já feitas nesta dissertação em ou-
tros contextos. Neste tópico, o nosso objetivo é resumir e complementar
o que foi dito, para oferecer uma perspectiva específica das contribuições
culturais desses imigrantes.
2.1 — Estabelecimento de Escolas. Na preocupação de não deixar seus
filhos no analfabetismo, os letos cedo começaram a estabelecer suas es-
colas elementares, geralmente com currículos e programas mais amplos
e avançados do que aqueles que norteavam o ensino primário no Brasil.
Houve escolas que ofereciam o ensino até de três línguas — leto, portu-
guês e alemão, ministrando também álgebra, literatura e geometria. As
principais escolas desse nível eram as seguintes: No Estado de Santa
Catarina — Escola Leta de Rio Novo e Escola Leta de Rio Branco, ane-
xas às respectivas igrejas; no Estado do Rio Grande do Sul — a Aula
Leta, da Colônia de Ijuí — Linha 11; no Estado de São Paulo — Escola
Elementar de Nova Odessa, junto à I Igreja Batista de Nova Odessa, em
cujos terrenos mais tarde foi construído o Grupo Escolar oficial; e Escola
Elementar de Varpa, Escola Elementar de Pitangueiras (Varpa) e Es-
cola Elementar de Palma (Varpa), posteriormente reunidas no Grupo
Escolar de Varpa "João Brediks". Todas essas escolas, a princípio des-
tinadas aos filhos dos imigrantes, dentro de pouco tempo passaram a re-
ceber também em número cada vez maior, as crianças brasileiras, dada
a falta de escolas primárias oficiais na redondeza, as quais surgiram so-
mente anos depois.
Outro fator significativo na área cultural foi o estabelecimento de
escolas em seus campos missionários. Entre as escolas missionárias do
campo da Missão Sertaneja de Varpa, do litoral do Estado do Paraná, do
oriente boliviano e das missões de iniciativa particular, cerca de três
dezenas de escolas, mantidas e em sua quase totalidade dirigidas por
batistas letos, já difundiram a luz do conhecimento intelectual a alguns
milhares de brasileiros. O maior alcance neste sentido provavelmente ti-
veram as escolas da Missão Sertaneja de Varpa, ministrando o ensino
inclusive aos adultos, com funcionamento somente aos domingos. Cen-
tenas de crianças e adultos espalhados pelos casebres isolados nas matas,
pelos sítios e pelas fazendas, recebiam, dominicalmente, durante cerca de
duas décadas, aulas de leitura, escrita, aritmética, noções de higiene, mo-
ral, canto, ensino bíblico e educação cívica dos obreiros letos que se de-
dicavam à obra missionária.
2.2 — Exercício do Magistério. Em vista da menção já feita de profes-
sores letos ou de origem leta em outros contextos desta dissertação, neste
tópico nos limitaremos apenas a alguns aspectos gerais da obra dos edu-
cadores dessa origem, que em diferentes níveis deram a sua contribuição
cultural em diversas áreas do conhecimento humano em algumas regiões
do Sul do Brasil.
Assim, por exemplo, no nível primário, contam-se, aproximadamente,
duas centenas de professores de origem leta, que têm trabalhado e ainda

546
vem trabalhando na instrução da juventude brasileira. Nada menos de
oito dezenas têm exercido o magistério no até há pouco chamado "nível
médio". E ultimamente vários mestres letos têm atuado também em
algumas universidades do Brasil, principalmente nos Estados de São
Paulo, Rio Grande do Sul e Guanabara. (52 )
Alguns desses mestres, como Dr. Guilherme Butler, Dr. Ricardo J.
Inke, Dr. Paulo Gailit, Dr. Paulo Alexandre Klavin, Dr. Arnaldo Bruver,
Dr. Arthur Lakschevitz, Dr. Reynaldo Purim, Dr. André Leekning, Prof'
Olga Strelniek, Profa Selma Klavin, Profa Cornélia Balod e Prof. Arnaldo
Janaitis deram trinta e quarenta anos à causa da educação no nosso país
no nível médio e superior.
2.3 — Cultura Profissional Liberal. Ainda que contando com dados es-
cassos, desejamos oferecer também uma visão da contribuição dos batis-
tas letos na área das profissões liberais.

2.3.1 — No Campo da Medicina


1) Dr. Frederico Grinberg. Formou-se em Medicina no Rio de Ja-
neiro depois de interromper o curso do Seminário, tendo clinicado na
mesma cidade durante vários anos, falecendo prematuramente. 2) Dr.
Paulo Alexandre Klavin — igualmente formado em Medicina no Rio de
Janeiro, onde reside e se dedica principalmente ao magistério. 3) Dr.
Eduardo Liger — também formado no Rio de Janeiro, com mais de 30
anos de clínica na Colônia Varpa e cidade de Dracena, Estado de São
Paulo. 4) Dra. Elza Aviekste Pacio — formou-se no Rio de Janeiro, onde
exerceu a profissão por algum tempo, tendo se transferido para Espanha,
terra natal do seu marido, onde continua clinicando. 5) Dr. Olavo Nar-
kevitz — formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, especializou-se em cirurgia. Após alguns anos de atividades no
Hospital das Clínicas em São Paulo, há quase três lustros está radicado
na cidade paulista de Rio Claro, à frente do Hospital Evangélico, sendo
largamente conhecido numa vasta região do Estado bandeirante pelos
seus dotes de caráter e eficiência profissional. 6) Dra. Helen Butler —
formou-se em Curitiba, Paraná, onde por muitos anos vem gozando de
um prestígio notável no exercício de sua profissão. 7) Dr. Arnaldo Mier-
valdo Kalupnieks — formado no Rio de Janeiro, é pediatra de renome em
São Paulo. 8) Dra. Flávia Kronberg — exerce com sucesso a sua profis-
são no Rio Grande do Sul. 9) Dra. Lívia Ludmilla Liepin — médica de
prestígio em diversos setores de saúde do Rio de Janeiro. 10) Dra. Margô
Anderson — formada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Riga,
Letônia e revalidado o seu diploma, depois de longo estágio e comple-
mentação, pela Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia, foi a
médica leta mais popular em Varpa e suas redondezas, fixando-se, mais

(52) Listas fornecidas pelo Pastor Rodolpho Keidann e Sr. Waldemar Garros sobre pro-
fessores de Ijui; Prof. Selma Klavin e Prof. Arthur Lakschevitz sobre professores de Rio
Novo e Rio de Janeiro; Prof. André Leekning sobre professores de Nova Odessa (entrevista
em 1966); S. Jacó Abolin, em diversos artigos no periódico Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão); narrativas e entrevistas outras.

547
tarde, na cidade de Tupã, Estado de São Paulo. Embora não pertencesse
formalmente a nenhuma igreja batista — dadas as suas origens lutera-
nas, veio para o Brasil a fim de servir na Colônia Varpa, constituída de
batistas, através da qual projetou-se no meio brasileiro, sempre honran-
do as suas convicções evangélicas. 11) Dr. Nelson Narkevitz — formado
pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, vem exer-
cendo com proficiência as suas atividades profissionais no Hospital das
Clínicas de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, exercendo também o
magistério no Curso Pré-Médico na mesma cidade. 12) Dra. Elfrida Za-
rins — obstetra de renome na Capital paulista.

2.3.2 — No Campo Jurídico

1) Dr. Paulo Gailit — conhecido líder do trabalho batista no Brasil


no Estado do Paraná. 2) Dr. Loid Jacobson — diácono e líder na Pri-
meira Igreja Batista de Curitiba, Paraná. 3) Dra. Ana Yolanda Hart-
mann — foi profissional eficiente e cooperadora ativa em diversas igre-
jas batistas brasileiras, colhida pela morte prematuramente. 4) Dr. Ade-
mar Jansevskis — advogado militante em São Paulo e fiel colaborador
em diversas igrejas batistas. 5) Dr. Alfredo Zarins Jr. — delegado na
cidade de Cosmópolis, Estado de São Paulo, e ativo nos trabalhos de sua
igreja em Campinas. 6) Dr. Ariel Zarins — atuante no foro de Campi-
nas, Estado de São Paulo, e cooperador eficiente na Igreja Batista Cen-
tral de Campinas. 7) Dra. Irene Araium Luz — advogada em Americana,
Estado de São Paulo.

2.3.3 — No Campo da Engenharia

1) Dr. Eduardo Sahlit — arquiteto civil e militar de grande clien-


tela no Rio de Janeiro. 2) Dr. Walfrido Stroberg — engenheiro-agrôno-
mo atuante no interior do Estado do Paraná. 3) Dra. Marta Helena
Leekning — engenheira-química, dedica-se principalmente ao magisté-
rio universitário em São Paulo. 4) Dr. Artur Lakschevitz Jr., — enge-
nheiro-químico com especialização na Inglaterra, integrante do corpo de
engenheiros do Centro Técnico Aéro-espacial de São José dos Campos,
Estado de São Paulo. 5) Dr. Erics Bediks — engenheiro-mecânico-ele-
tricista, diretor técnico da firma de instrumentos de precisão "Kron"
S.A. e alto funcionário do Departamento de Energia do Estado de São
Paulo. É membro da Primeira Igreja Batista de São Paulo. 6) Dr. Ri-
cardo Pusaudze — engenheiro em São Paulo e membro ativo da Igreja
Batista Leta de São Paulo, Capital. 7) Dr. Walter Schause — engenhei-
ro em Curitiba, Paraná. 8) Dr. Samuel Schause — irmão do anterior,
também atuante em Curitiba, Paraná. 9) Dr. Eduardo Klawa Jr. — en-
genheiro da Embratel, Rio de Janeiro. 10) Dra. Ruth Klawa — forma-
da em Engenharia Nuclear e cientista da Comissão Nacional de Enge-
nharia Nuclear, no Rio de Janeiro, obreira atuante da Igreja Batista
de Cascadura, Guanabara. 11) Dr. João Washington Inkis — engenhei-
ro-mecânico com diversos cursos de pós-graduação, exercendo a sua pro-
fissão, bem como o magistério específico, no Instituto de Pesquisas Tec-

548
nológicas do Estado de São Paulo. 12) Dr. João Berkis — engenheiro
arquiteto em São Paulo e diácono da Igreja Batista Leta de São Paulo,
Capital. 13) Dr. Donaldo Schause — engenheiro eletrônico no Paraná.
14) Dr. Leslie Inke — engenheiro arquiteto no Rio de Janeiro e em São
Paulo, filho do Dr. Ricardo J. Inke. 15) Dr. Wilson Zichmann — enge-
nheiro agrônomo nos Estados de Paraná e São Paulo.
2.3.4 — Na Área Odontológica
Diversos são os batistas letos ou de origem leta que tem abraçado
essa profissão. Na impossibilidade de obtermos dados referentes a to-
dos, alistaremos neste tópico apenas aqueles que conhecemos, acrescen-
tando aos nomes o lugar onde tem exercido ou ainda exercem a sua pro-
fissão e influência cristã.
1) João Sprogis — São Paulo; 2) Ernesto Sprogis — Nova Odes.
sa, Estado de São Paulo; 3) Arnaldo Sverns — São Paulo; 4) Arnaldo
Sverns Jr. — São Paulo; 5) João Forstmann — Colônia Varpa e cidade
de Tupã, Estado de São Paulo; 6) Rodolfo Klawa — Urubici, Estado de
Santa Catarina; 7) João Augstroze — Presidente Prudente, Sumaré e
Campinas, Estado de São Paulo; 8) Arthur Leimann — Bananal e Join-
vile, Estado de Santa Catarina e Porto União, Estado do Paraná; 9)
Teófilo Grinberg — Ribeirão Preto, Estado de São Paulo; 10) Arvido
Leiasmeier — São Paulo e Indaiatuba, Estado de São Paulo; 11) Ondina
Marta Kreplin — Americana, Estado de São Paulo; 12) Carlos Liger --
São Paulo; 13) Arvido Grinberg — São Paulo; 14) João Grinberg —
São Paulo; 15) André Janson — São Paulo; 16) André Miguel Leekning
— Nova Odessa, Estado de São Paulo; 17) Emitia Salms — São Paulo;
18) Lucilla Vitols — São Paulo.
2.3.5 — Na Área da Enfermagem
1) Miriam Kalnin Berkis — São Paulo; 2) Helena Bumbiere — San-
tos, São Paulo; 3) Ausma Augstroze Aguiar — Santos, São Paulo; 4)
Isa Paulina Janson — São Paulo; 5) Milda Eglit — São Paulo; 6) Nan-
cy Benol Ronis — Rio de Janeiro, Gb; 7) Astrida Tiss — São Paulo.
2.3.6 — No Campo da Assistência Social
1) Dayse Liepin Calmon — Rio de Janeiro; 2) Joana Kivitz — San-
tos, São Paulo.
2.3.7 — No Campo da Economia e Administração
1) Augusto Korps — São Paulo; 2) Teofils Cerps — São Paulo e
Tupã, Estado de São Paulo; 3) Nilo Roberto Janson — São Paulo; 4)
Nelson Carlos Brediks — São Paulo; 5) Astrogilda Zarins Veidemann
— Estado de São Paulo.
2.3.8 — Na Área da Ordem e Segurança Nacional
1) Roberto Pontuska e 2) Reinaldo Klavin, ambos capitães da for-
ça ativa do Exército Brasileiro, enquanto diversos outros atrás mencio-

549

etson uartos Isreaucs — bao ramo; o) Astroaucta Zarins


nados são oficiais da reserva. Também na Força Aérea Brasileira há
oficiais batistas de origem leta, dos quais não nos foi possível obter
dados por motivos alheios à nossa vontade.
Neste ponto é mister declarar que nem todos os nomes de batistas
letos, que, na área profissional liberal, contribuíram para o desenvolvi-
mento do Brasil, aqui são mencionados. Apresentamos somente aqueles
de cujas atividades nos foi dado tomar conhecimento. Há, ainda, um
grande número de técnicos que tem o seu quinhão neste particular.
Também é justo que se mencione a influência de caráter geral que
diversas colônias letas exerceram como contribuição no campo da agri-
cultura das respectivas regiões. O cultivo racional da terra, o tratamen-
to específico do gado leiteiro e as técnicas européias da horticultura, por
exemplo, ajudaram consideravelmente as populações próximas e distan-
tes das referidas colônias a prosperarem e se fixarem ao solo que lhes
deu subsistência mais satisfatória.

Conclusão
Pelo exposto, o observador, mediante uma análise criteriosa, irá
avaliar o escopo das contribuições positivas dos batistas letos à vida re-
ligiosa e cultural do povo brasileiro. Evidentemente não é algo vultoso,
razão por que elas escapam aos registros comuns dos movimentos do
destaque quantitativo, entretanto, trata-se de contribuições valiosas, da-
da a sua natureza intrínseca e representativa.

550
CAPITULO XIV
UMA AVALIAÇÃO GLOBAL E CONCLUSIVA DA OBRA
BATISTA LETA NO BRASIL

1. Avaliação sob o Aspecto Teológico


2. Avaliação sob o Aspecto Eclesiológico
3. Avaliação da Metodologia na Obra Missionária
4. Avaliação da Cooperação dos Letos com os Batistas Brasileiras
5. Avaliação sob o Aspecto Cultural e Sociológico
6. Avaliação da Expansão Missionária
7. O Futuro Previsível e o Imprevisível
CAPITULO XIV

UMA AVALIAÇÃO GLOBAL E CONCLUSIVA DA OBRA


BATISTA LETA NO BRASIL

No presente capítulo faremos uma avaliação analítica e prática da


obra batista leta no Brasil, depois de termos enumerado, objetivamente
no capítulo anterior, as contribuições que os batistas letos têm oferecido
à vida religiosa e cultural do povo brasileiro. A importância dessa ava-
liação está no destaque dos fatores que explicam esses movimentos de
imigração leta no Brasil e sua ênfase religiosa sob uma perspectiva ob-
jetiva e prática, e revelam as implicações teológicas, sociológicas e psi-
cológicas presentes aqui e acolá. A validade das lições dessa epopéia de
fé certamente dependerá de um conhecimento mais amplo dessa obra que
tentamos apresentar nesta dissertação rigorosamente dentro da perspec-
tiva histórica.

1. Avaliação sob o Aspecto Teológico


Em primeiro lugar apreciemos o aspecto doutrinário ou teológico
da obra. Dadas as origens dos batistas letos, isto é, fortemente permea-
das pela influência pietista das congregações dos Irmãos Morávios, (1)
desenvolveu-se entre eles uma ênfase considerável na doutrina do Espí-
rito Santo, saturada de um iluminismo religioso, que determinou um tipo
de culto em que se buscava um alto grau de espiritualidade. Nem sem-
pre essa busca atingiu o alvo, mas, mesmo assim, contribuiu para o de-
senvolvimento de um padrão de vida cristã em que a dependência de
Deus constituiu sua base prática e real.
Com essa herança teológica, os batistas letos do Brasil permearam o
seu trabalho, e o da Denominação Batista nas áreas de sua influência, de
um sentido espiritual elevado, nitidamente neotestamentário, capaz de
garantir maior permanência dos frutos colhidos nos esforços evangelís-
ticos e missionários.
Outrossim, foi exatamente a ênfase referida que, diante de diversas
circunstâncias, psicológicas, políticas e outras, motivou um dos movi-
mentos emigratórios mais originais, que foi o de 1922/23, com destino

(1) Ver Cap. II.

553
ao Brasil. Esse movimento, visto numa retrospectiva sócio-político-reli-
giosa, revela a evidente direção de Deus na imigração leta no Brasil, in-
clusive daquela ocorrida antes da I Guerra Mundial, que, nos propósitos
divinos, teve um papel preparatório para o grande afluxo de batistas
letos ao Brasil em 1922/23, (2 ) cujo aspecto religioso foi caracterizado
precisamente pela fé na direção do Espírito Santo na vida do crente.
Conforme as diversas referências feitas na presente dissertação, esse
movimento redundou em bênçãos para os próprios letos imigrados, pois
foram poupados da catástrofe da II Guerra Mundial e da devastação de
sua Pátria pelo comunismo ateu. Redundou em bênçãos, também, para os
batistas brasileiros, dando-lhes igrejas operosas, alguns milhares de cren-
tes zelosos, numerosos obreiros e outros tantos milhares de almas salvas
para o bem do país e maior glória de Deus.

2. Avaliação sob o Aspecto Eclesiástico

Importante é observar que apesar de as igrejas batistas letas no


Brasil, em quase a sua totalidade, não terem à sua frente pastores for-
mados em instituições teológicas, permaneceram coesas, dinâmicas e dis-
ciplinadas. Percorrendo as atas dessas igrejas, nota-se a grande preocupa-
ção com os problemas éticos, pois entendiam que sem uma conduta coerente
com os princípios do cristianismo na vida prática, os esforços missioná-
rios não teriam valor. Nas questões mínimas entre os irmãos nas suas
relações de vizinhança das propriedades agrícolas e até nos problemas
íntimos do lar e dos cônjuges, era solicitada a intervenção e aguardado o
julgamento da igreja. Esta, por sua vez, atenta para o que diz a Bíblia
e confiante na ação do Espírito Santo e nos critérios e pareceres do Con-
selho de Anciãos ou Junta Executiva da igreja, procurava dar a solução
mais adequada a cada caso. Houve freqüente aplicação da disciplina ex-
trema ou exclusão, mas também freqüentes eram as reconciliações, pois
que os claudicantes acabavam por reconhecerem a justiça aplicada pela
igreja. E convém assinalar que as reconciliações não eram fáceis. Do
arrependido era exigida uma retratação pública e o reparo de seu erro.
Tais critérios em grande parte constituíram a herança teológica e
eclesiológica trazida da Letônia, onde a formação do povo batista a prin-
cípio não contou com muitos homens preparados em instituições teoló-
gicas, circunstância esta que levou numerosos leigos piedosos à liderança
das igrejas e constrangeu os crentes a zelarem muito pela sua fé e con-
duta na base de suas próprias pesquisas bíblicas. Assim, por força da
necessidade, desenvolveu-se um autodidatismo bíblico e dependência pes-
soal maior do Esp..írito Santo na busca da verdade em matéria de fé e
prática do cristianismo.
Por outro lado, também a mesma situação ensejou o desenvolvimen-
to de um individualismo exagerado na interpretação do cristianismo prá-
tico e objetivo, bem como a polarização de atenções em líderes mais
dotados, carismáticos, cuja palavra merecia o acatamento total. Entre-

(2) Inkis, João, "Latviesi Brazilijã" (Os Letos no Brasil), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), fevereiro de 1948, pp. 10 e 11.

554
tanto, ainda que ocorresse a necessidade de ajustes e reajustes internos
nesse aspecto, as igrejas letas no Brasil pouco sofreram de cisões; e
quando estas aconteciam, não tardava a volta dos cismáticos.
Com todas as deficiências que houvessem em tais circunstâncias, o
saldo foi altamente positivo. As igrejas, em sua maioria, desenvolve-
ram em seus membros o senso de responsabilidade pessoal, o crescimento
da consciência da mordomia da vida, resultando esta em numerosos
obreiros dedicados à causa do evangelho, e aprimoraram o seu conceito
de sacerdócio universal dos crentes. Tudo isto determinou, ainda, uma
elasticidade na área institucional, facilitando iniciativas individuais ou
de grupos na promoção da obra, enquanto, por outro lado, saturou de
rigidez a área da disciplina comportamental do indivíduo membro da
igreja. Outrossim. os problemas internos resultantes do individualismo
— aliás, um dos traços culturais e psicológicos dos letos — com fre-
qüência levaram as igrejas a reexaminarem a sua situação à luz da Bí-
blia, atitude esta que, por sua vez, resultava em uma nova harmoniza-
ção de pontos de vista e novos avanços na promoção da obra do evan-
gelho.

3. Avaliação da Metodologia na Obra Missionária


A rigor, as igrejas batistas letas no Brasil não se organizaram es-
truturalmente para dar início a uma obra missionária neste país; isto é,
não criaram primeiramente estruturas ou juntas, para depois realizarem
a obra. As estruturas só vieram depois, para coordenar a obra que já
estava em andamento. A própria dinâmica do evangelho as levou a tan-
to. Era a ação do Espírito Santo nos moldes apostólicos que impelia nu-
merosos indivíduos e grupos de jovens a testemunharem do evangelho
aos brasileiros e aos imigrantes de outras nacionalidades que aportavam
à nossa terra e cujos idiomas os letos conheciam. Graças à ênfase da
mordomia da vida, os letos, ao chegarem ao Brasil, em pouco tempo se
aperceberam da oportunidade que Deus havia posto diante deles, isto é,
de exercerem a influência evangélica e testemunharem de Cristo aos di-
versos grupos étnicos em seu redor. As estruturas lhes pareciam dispen-
diosas demais, limitando-as ao mínimo indispensável, pelo que com pou-
cos recursos puderam promover uma obra relativamente extensa em com-
paração com o número de batistas letos existentes no Brasil. Ademais,
convém notar que as igrejas letas do sul do país, oriundas da imigração
anterior à I Guerra Mundial, cuidaram do trabalho missionário isolada-
mente, não tendo logrado maior êxito a Associação das Igrejas Batistas
Letas da Região de Blumenau e Joinvile, (3) no Estado de Santa Cata-
rina, dadas as distâncias que as separavam e a falta de meios de comu-
nicação.
Também as igrejas batistas letas não esperaram primeiramente
ajuntar recursos, para então começar o trabalho missionário. Particular-
mente no que diz respeito às igrejas de Varpa, os obreiros apresenta-
vam-se voluntariamente, sem nomeações ou salários. E, à medida que a

(3) Ver Cap.

555
obra crescia, foram surgindo recursos do seio das igrejas e de amigos
dessa obra, tanto no Brasil como no estrangeiro. Houve casos em que
até pastores que tardavam a ter uma visão missionária foram como que
arrastados por suas igrejas e impelidos pelos leigos a entrarem pelas por-
tas das oportunidades abertas diante de si.
Também as congregações possuíam uma autonomia plena de inicia-
tiva, de ação, de finanças, de observação das ordenanças e até de disci-
plina, supervisionadas pelos obreiros indicados pelas igrejas. Isto res-
ponsabilizou cedo as congregações pelo seu próprio trabalho, capacitan-
do-as para uma dinâmica mais produtiva na expansão da obra, recebendo
somente de quando em quando, o apoio financeiro das igrejas na cons-
trução de casas de oração e assistência do obreiro, quando se tratava de
missionário remunerado.
Seguindo tais métodos, os campos missionários foram se emanci-
pando cedo, assumindo as novas igrejas grande parte da responsabili-
dade no cuidado das congregações e pontos de pregação em seu redor,
integrando-se nos esquemas da obra batista nacional e sustentando seus
pastores e evangelistas.
Especialmente produtivo na área da evangelização foi o método da
rede de pequenas escolas ou classes bíblicas criadas e mantidas em do-
micílios dos membros de diversas igrejas letas, o que aumentava o al-
cance do povo e trouxe à luz vocações missionárias no seio da juventude
crente. Ademais, desses pequenos núcleos de evangelização, que inicial-
mente visavam à infância, formaram-se numerosas congregações e não
poucas igrejas. Foi uma estratégia de extensão sistemática da ação
evangelizadora da igreja através dos domicílios dos membros das igrejas.

4. Avaliação da Cooperação dos Batistas Letos


com os Batistas Brasileiros

É compreensível que as igrejas de imigrantes, com traços culturais


diversos dos do povo da terra, apresentassem problemas peculiares. As-
sim aconteceu com as igrejas batistas letas no Brasil. As colônias esta-
belecidas no interior, a grandes distâncias dos centros populosos, abran-
gendo número elevado de imigrantes com problemas e interesses comuns,
falando uma língua comum, não poderiam deixar de organizar as suas
igrejas nos moldes e costumes da terra de origem. Algumas dessas fei-
ções peculiares das igrejas letas, especialmente na prática do culto mais
eivado de emotividade, causaram espécie em alguns observadores brasi-
leiros. Somada essa observação a alguns extremos ocasionais que as pró-
prias lideranças admitiram mais tarde, criou-se, por parte dos letos, um
clima de reservas quanto à oportunidade da integração dos letos nos
esquemas batistas nacionais, preferindo-se entregar ao tempo a tarefa
de aparar as arestas surgidas. Assim, alguns anos após o estabelecimento
das igrejas e mediante a atuação de obreiros como Guilherme Butler,
Ricardo J. Inke, Salomão L. Ginsburg, Carlos Kraul, Antônio Ernesto da
Silva, Paulo C. Porter e outros, as dificuldades se diluíram e as igrejas
letas foram recebidas, sem reservas, no convívio batista brasileiro.

556
Posteriormente à II Guerra Mundial, foi organizada a Associação
das Igrejas Batistas Letas do Brasil. Aparentemente, isto poderia su-
gerir divisão de forças, separatismo das igrejas letas ou uma idéia de
concorrência na obra missionária no Brasil e na Bolívia. Entretanto, o
trabalho que os batistas letos vêm realizando através de sua Associação,
de modo algum tem perturbado a obra missionária brasileira. Existem
as melhores relações entre os obreiros, as igrejas e agências cooperativas
batistas nacionais e letas. Conseqüentemente, a Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil, longe de ser uma agência de cultivo de um na-
cionalismo estranho e incabível ou um movimento separatista e preten-
cioso, é, na verdade, uma necessidade das igrejas formadas pelos imi-
grantes letos e um recurso a mais na promoção da obra do evangelho no
Brasil e além-fronteiras. (4 )
Outro fator positivo na área da cooperação é a participação dos ba-
tistas letos da América do Norte na evangelização do Brasil e da Bolívia
por meio de ofertas generosas que enviam através da União das Igrejas
Batistas Letas da América do Norte e Canadá à Associação das Igrejas
Batistas Letas do Brasil para serem aplicadas na obra promovida por
esta. (5)

5. Avaliação sob o Aspecto Cultural e Sociológico


Analisada a obra batista lata do Brasil sob o aspecto cultural e so-
ciológico, verifica-se a presença de fatores diversos que resultaram em
elevação do bem-estar das populações em diversas áreas de sua influên-
cia.
Em primeiro lugar, deve ser mencionado o fato de que os batistas le-
tos não contribuíram para o analfabetismo no Brasil, de vez que entre
eles não havia analfabetos e nem consentiram que seus filhos crescessem
na ignorância das letras, alfabetizando-os nos lares e estabelecendo cedo
escolas anexas às igrejas. Além disso, dentro de poucos anos, em suas
escolas estavam sendo admitidos filhos de colonos de outras nacionali-
dades e de brasileiros da vizinhança. Mais tarde ocorreram doações de
terrenos ao governo por parte de igrejas letas e de pessoas, para insta-
lação de Grupos Escolares ou Escolas Rurais, construção dos respectivos
prédios e em grande parte a oferta do elemento humano — o magisté-
rio — para o funcionamento desses estabelecimentos de ensino. Muitos
homens públicos, profissionais liberais, professores, técnicos e comer-
ciantes que já atuaram ou ainda atuam na sociedade brasileira nos Es-
tados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, foram
guiados nos seus primeiros passos no conhecimento humano nessas es-
colas.
A obra cultural e social das escolas missionárias teve uma penetra-
ção ainda mais extensa e profunda, porque abrangeu também a popula-

(4) Ceruks, André, Brazilijas Latviesu Baptistu Draudzu Apvieniba (Associação das Igre-
jas Batistas Letas do Brasil), Súmula histórica datilografada e enviada ao autor, que se acha
nos arquivos do Museu Batista do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de
Janeiro, GB.
(5) Ver Anexo XII

557
ção adulta, prolongou-se por cerca de duas décadas, incluiu aspectos ele-
mentares da cultura musical, noções de higiene e saúde, absolutamente
ausentes das zonas rurais da época naquelas regiões, e a assistência so-
cial, expressa no atendimento aos enfermos e desprovidos de recursos.
Igualmente significativo nesse campo foi o papel da Escola Missionária de
Palma e o Curso de Extensão do Seminário Teológico Batista do Sul do
Brasil, oferecido em Palma e mantido, financeiramente, pelos letos por
mais de duas décadas, com todas as implicações sociais que a Corporação
Evangélica Palma apresenta com seu sistema cooperativo sui generis.
Também receberam grande atenção dos batistas letos os problemas
sociais relativos à orfandade, à velhice e à assistência hospitalar. Nos
orçamentos das igrejas letas do sul, por exemplo, figuravam dotações
para orfanatos, asilos e hospitais municipais. As igrejas letas do Estado
de São Paulo e muitos irmãos em caráter particular, fizeram, durante
longos anos, doações em moeda corrente e em espécie aos orfanatos evan-
gélicos desse Estado, particularmente para os da Denominação Batista.
As Igrejas de Varpa construíram um hospital na colônia que serviu a
uma vasta área do oeste de São Paulo, na época desprovida de recursos
hospitalares.
Ainda outro valor cultural e social a mencionar é a assimilação de
numerosos elementos letos pelo casamento com brasileiros, transmitindo
à sua prole traços e características psicológicas, freqüentemente deter-
minantes na sua formação.
Registre-se também a imprensa de Palma, com suas publicações em
português, para suprir as necessidades do campo missionário da Missão
Sertaneja. A vasta semeadura da publicação para crianças, A Boa Se-
mente, constituiu, por longos anos, a única literatura de formação moral,
cívica e religiosa a fazer cobertura à população infantil naquela área,
tendo também alcance nas igrejas dirigidas por obreiros letos em diver-
sos pontos do país.
O maior mérito da obra dos batistas letos do Brasil sob o aspecto
cultural e sociológico, porém, pertence ao grande contingente de pastores,
professores, missionários, profissionais liberais e técnicos procedentes
de suas colônias e igrejas. As multidões a que eles serviram ou ainda
servem, e as gerações de brasileiros por eles beneficiados cultural, espi-
ritual, e socialmente, dão testemunho da energia, da tenacidade, do senso
prático e da capacidade de trabalho com que vêm contribuindo para o
progresso do Brasil em seus respectivos setores de atividade.

6. Avaliação da Expansão Missionária


Ao finalizarmos este capítulo, com que chegamos à conclusão desta
dissertação, forçoso é nos referirmos mais uma vez ao trabalho missio-
nário realizado pelos imigrantes letos no Brasil, dada a prioridade que
ele desfruta no contexto histórico dessa imigração. Pergunta-se: Qual
teria sido a razão desse fenômeno? — Evidentemente, a única resposta
e explicação é que, o Deus que trouxe esses imigrantes de modo incomum
ao Brasil, também teve um plano especial de utilizá-los na sua obra neste

558
país. Esta é a interpretação autêntica e verídica dos fatos, feita à luz da
história que está diante de todos, quer letos, quer brasileiros.
A esta altura, parece-nos útil e mesmo necessário transcrever a ava-
liação dessa obra feita, em 1946, pelo Pastor Girts Dobelis, um dos líde-
res batistas letos, por ocasião do 42° Aniversário da Colônia Varpa. Re-
fletindo sobre as palavras de reconhecimento à obra batista leta no Bra-
sil ditas pelo Dr. João Filson Soren, presente à referida comemoração
e que já havia falado no mesmo sentido meses antes no 159 Congresso da
Associação das Igrejas Batistas Metas do Brasil realizado em Nova Odes-
sa, assim escreveu o Pastor Girts Dobelis, por longos anos redator do pe-
riódico Kristigs Draugs (O Amigo Cristão) :
... Que as palavras do Dr. Soren não visaram mero elo-
gio, ficou claro e patente ao ouvirmos seus discursos sérios e
profundos. O que ele disse continha o mesmo sentido e a mes-
ma significação que encontramos nas palavras do apóstolo
Paulo em II Tim. 1:6, isto é, recordar ("reassoprar a chama"
— é a tradução do texto em idioma leto — O.R.) o dom mise-
ricordioso e reassoprar a sua chama para que a nossa geração
jovem também participe, com amor e alegria, da nossa voca-
ção comum.
As palavras que ouvimos levaram este articulista a uma
série de reflexões sobre os diversos valores com que foram
dotados os imigrantes de Varpa, pelos quais estes se tornaram
conhecidos e até importantes. Sabemos que cada colônia teve
seus valores e méritos. Os nossos (de Varpa) mencionamos
aqui não para nossa exaltação, mas para que agora, depois de
um bom número de anos aqui vividos, verifiquemos qual deles
foi o mais importante e valioso, e, se possível, tentemos desen-
volvê-lo ainda mais.
1. Bem nos primórdios, os estranhos que nos rodeavam
maravilhavam-se como tão grande multidão em circunstâncias
tão difíceis podia viver em paz e harmonia sem nenhum poli-
cial. 'Éramos conhecidos como uma colônia de crentes, como
um povo que teme Deus...
2. Na vida difícil de desbravadores e colonos, aparece-
ram as capacidades dadas por Deus ao nosso povo: senso prá-
tico e resistência no trabalho. A virtude do trabalho dos letos,
especialmente a que tem por fundamento o temor de Deus, é
bem verdade que é largamente conhecida. Entretanto, as qua-
lidades, como paciência, resistência e outras, ressurgiram re-
vestidas de particular beleza no trabalho missionário no litoral
do Paraná, em Rincón del Tigre e na obra de Missões Nacio-
nais...
3. A Igreja de Varpa, a certa altura, era a maior igreja
do Estado de São Paulo e quiçá da América do Sul. Isto real-
mente constitui uma graça e honra. Esta graça agora, porém,
é vista sob uma outra forma, de que falaremos depois.

559
4. O nosso coro era o maior e o melhor em todo o Estado.
No Coro Unido contavam-se 200 vozes. Os cantores e os mú-
sicos de Varpa eram conhecidos e respeitados nas mais longín-
quas partes do Estado. Desde aqueles tempos, a música sacra
tem se desenvolvido muito nas igrejas brasileiras. A situação
agora apresenta-se mudada. O número de cantores na colônia
tem diminuído. Deus porém, proveu um meio, pelo qual o "ta-
manho" do coro — não só no que diz respeito ao número de
coristas, mas também no sentido da extensão do serviço que
presta — tornou-se maior do que nos primórdios. Como foi
isto? Veremos logo mais adiante.
5. Começou o trabalho de evangelização entre brasileiros
e eslavos. Naquele tempo certamente nenhum de nós, os obrei-
ros mais jovens, imaginava que lugar e que significação essa
obra teria para as nossas vidas. A necessidade desse trabalho
de evangelização compreendeu, primeiramente, o Pastor João
Inkis com alguns outros companheiros. E nós, orientados pelos
irmãos mais experimentados, intimamente vocacionados e pela
necessidade solicitados, saímos ensinando crianças e adultos,
pregando o evangelho, fundando Escolas Bíblicas Dominicais,
batizando novos convertidos, organizando igrejas, estabelecen-
do escolas primárias, etc. Grandes serviços prestaram os ir-
mãos de Varpa à obra do Senhor, hospedando o Curso de Ex-
tensão durante 22 anos, no qual se prepararam muitos obrei-
ros. Obedecendo à chamada divina, moços e moças partiram
para os campos de trabalho — alguns para servirem na cha-
mada Missão Sertaneja, outros nas igrejas da Convenção Ba-
tista Brasileira e mais outros nos campos de Missões Nacionais
da Convenção Batista Brasileira.
E agora, 42 anos depois, qual desses valores se nos apre-
senta mais permanente, mais "lucrativo", mais importante?
Qual deles tem produzido mais frutos?
Nós mesmos, parece, já o percebemos e entendemos; mas,
se não, outros vem no-lo declarar: o chamamento para a obra
de evangelização e missões é a maior graça que nos foi dada
por Deus. Os demais valores são passageiros. A obra da evan-
gelização e missões, entretanto, é talento que pode frutificar
dez e até cem vezes mais.
Ainda uma outra questão importante: nos frutos da evan-
gelização e missões ficam preservados, multiplicados e conti-
nuados outros valores, como, por exemplo, o tamanho da igre-
ja. É fato que decresce cada vez mais o número de membros
de igreja na colônia; porém, na vizinhança próxima e distante,
pela pregação do evangelho de Cristo pelos imigrantes, surgi-
ram algumas dezenas de igrejas brasileiras e eslavas. Nelas
é que vemos o tamanho atual da igreja dos imigrantes, fato
para o qual o ilustre visitante chamou a nossa atenção.

560
O número de coristas também vai diminuindo na colônia;
mas, de igual modo, o coro primitivo continua, e até se multi-
plica, no amplo serviço dos coros das igrejas já referidas nos
campos de evangelização. Nos cursos de música, canto e re-
gência, dirigidos pelo maestro A. Garantis e seus auxiliares,
em Varpa, São Paulo e outros lugares, formaram-se regentes
e se desenvolveram coros. Ali a soma dos coristas é muito
maior do que no coro primitivo da colônia.
Como se vê, a obra da evangelização e missões tem sido
aquela em que a graça e misericórdia do Senhor nos tem usado,
trazendo para nós mesmos muitos benefícios.
Que diremos nós sobre tudo isso? Até aqui isso tem acon-
tecido quase sem que os próprios imigrantes pensassem no as-
sunto. Agora, porém, Deus tem persuadido o Dr. João F. So-
ren e o Pastor Osvaldo Ronis a lembrar-nos essa vocação di-
vina e despertar em nós uma consideração especial para com
ela daqui para o futuro. Que significação tem essa lembrança
em nossa vida e em nosso trabalho?
I. O orador atestou — e nós mesmos já o começamos a
entender — que o trabalho mais importante dos imigrantes ba-
tistas letos em favor desta terra tem sido a pregação do evan-
gelho. Esta é a vocação principal desses imigrantes, por cuja
razão Deus os trouxe a este país em épocas diferentes. Esse
é o campo no qual eles podem produzir muitos frutos. O obje-
tivo de tal testemunho é convencer os imigrantes desta ver-
dade, a fim de que permaneçam nessa vocação.
II. O orador lembrou aos imigrantes batistas letos a gra-
ça que lhes fora dada — a de serem cooperadores de Deus.
Isto tem significados diversos.
— Isto desperta em nós uma profunda gratidão e um
reverente temor: Quem somos nós, Senhor, para usares de tão
grande misericórdia para conosco? "Os povos trabalham para
o fogo e os homens se cansam pela vaidade", mas a nós foi
dado viver em paz e entregar os nossos bens para uma obra
de valor eterno.
— Isto desperta em nós gratidão a Deus por esta terra
amada — Brasil — em que a possibilidade e a necessidade de
nossa colaboração na obra espiritual são tão vastas.
— Isto nos assegura que temos andado caminho certo
(ao obedecermos ao chamamento divino para emigrarmos da
Letônia para o Brasil. Trad.).
— Isto ainda constitui um reconhecimento pelo esforço
empreendido na Causa de Deus, as dificuldades sofridas no
trabalho e as críticas suportadas nos primeiros anos.
III. O objetivo da lembrança foi também — de acordo
com II Tim. 1:6 — renovar (reassoprar) a chama do dom dado
pela misericórdia de Deus. O uso desse dom, a nós concedido
pela graça de Deus, manifesta-se de duas maneiras: 1. As

561
igrejas mantêm um trabalho no litoral do Paraná e em Rincón
del Tigre, Bolívia; 2. Do seio das famílias das igrejas Deus
chama jovens para a sua obra em outros campos.
A chamada pertence a Deus. Nós, os homens, porém, so-
mos responsáveis pelo ambiente no qual são moldados os futu-
ros obreiros. A vida nos lares e nas igrejas tem de se tornar
pura e santificada por Deus. A chama que se faz mister asso-
prar, é o primeiro amor.
IV. Nessa lembrança podemos identificar um desafio para
os crentes. Dizemos desafio, porque a obra espiritual não é
apenas uma ocupação agradável, mas uma luta. O espírito
mundano e o pecado lutam com grande poder e muita pressa.
Porventura não percebeis os seus terríveis ataques até nos
vossos próprios lares? Eles desafiam o povo de Deus para
uma luta sem misericórdia, em que ninguém é poupado. Só
enfrentando esse desafio no poder de Deus é que podemos nós
mesmos permanecer firmes e ajudar também os outros.
Mais algumas razões porque a vocação se torna um de-
safio:
— A grande falta de obreiros por toda parte.
— Os dias (tempo) de trabalho podem ser bem curtos.
— n um desafio aos pais, e especialmente às mães, de
consagrarem seus filhos e filhas, em oração, ao Senhor, entre-
gando-os ao seu serviço. Neste sentido elas bem podem seguir
o exemplo da progenitora de Samuel e dos pais de Sansão.
— É um desafio às igrejas. A obra do evangelho fre-
qüentemente requer das igrejas a entrega dos obreiros mais
capazes, como aconteceu na igreja em Antioquia, da qual Deus
chamou Barnabé e Saulo ou Paulo.
— É um desafio às tesourarias das igrejas e à economia
dos membros das igrejas. A obra requer muitos recursos.
— É um desafio à mocidade que tem que escolher seguir
a carreira difícil, mas abençoada, do obreiro do Senhor, ou ca-
minhar pela vereda dos bens temporais, úteis tão-somente à
carne.
V. A lembrança chama a nossa atenção para os possíveis
empecilhos e mesmo perigos. "Guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa" diz o Espírito Santo por intermé-
dio de João à igreja em Filadélfia.
Provavelmente, na realização futura dessa honrosa voca-
ção haverá mais impedimentos do que até aqui.
A vida calma do agricultor sempre foi propício ao desen-
volvimento espiritual do crente. Mas essa vida tem mudado
muito na colônia e futuramente mudará ainda mais. A vida
moderna oferece grandes possibilidades, mas arrasta o homem
no torvelinho da pressa, que toma todo o seu tempo. Os acon-
tecimentos políticos do mundo prendem a sua atenção, de modo
a exigir muito poder espiritual e visão celestial para perceber

562
como age o Eterno, e segui-lo. O falso nacionalismo também
impede que muitos se dediquem à obra da evangelização.
O articulista, entretanto, acredita que os imigrantes batis-
tas letos ficarão fiéis à sua vocação principal e que Deus tam-
bém, no futuro, lhes dará trabalho — talvez dada a urgência da
obra — chamando ainda mais obreiros do seu meio. E tenho
o desejo também de pedir e crer que para cada chamada : "A
quem enviarei, e quem irá por nós?" eles possam responder,
com humildade, mas decididamente, ao Senhor da seara: "Eis-
-me aqui; envia-me a mim!" (6 )

7. O Futuro Previsível e o Imprevisível


O trabalho batista leto no Brasil, como obra organizada, já entrou
em declínio pelo desaparecimento natural das gerações mais velhas e as-
similação das gerações novas pelo meio sócio-cultural em que está inse-
rida a sua atuação por força de circunstâncias inevitáveis. ( 7 ) O número
de membros das igrejas batistas letas no Brasil está decrescendo pelos
motivos referidos acima e novos contingentes de além-mar não chegam,
porque na Letônia ninguém tem mais o direito de emigrar. A não ser
que acontecimentos imprevistos no cenário mundial venham a ocorrer,
capazes de modificar quaisquer previsões, novos imigrantes batistas le-
tos no Brasil não são esperados.
Apesar disso, porém, a influência dos irmãos letos ainda há de per-
durar por algumas décadas. O centenário da fundação da primeira igreja
batista leta neste país — que ocorreu a 23 de março de 1892 — certa-
mente há de ser comemorado com vibração pelos descendentes dos letos,
sob a direção de alguns anciãos ainda vivos e que assistiram ao flores-
cimento da obra batista leta no Brasil. Os efeitos perpétuos dessa obra,
entretanto, não pertence ao homem prever ou julgar, pois que ela é de
Deus, embora realizada pela instrumentalidade humana. Os batistas le-
tos são agradecidos a Deus pelo privilégio a eles concedido, e que ainda
vem concedendo, de trabalhar e cooperar na redenção do povo brasileiro.

(6) Dobelis, Girts, "Varpas 42 gadu svetkos Pardomas" (42° Aniversário de Varpa
Reflexões), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 12, dezembro de 1964, pp. 8 a 11. Os
grifos são nossos.
(7) Ceruks, André "Musu Situacija" (A Nossa Situação), Kristigs Draugs (O Amigo
Cristão), n° 12, dezembro de 1970, pp. 3 a 6; também Lukass, João, "Kâ pacelt gurdenàs
rokas un nespecigos celus?" (Como Levantar as Mãos Cansadas e os Joelhos Desconjun-
tados?), Kristigs Draugs (O Amigo Cristão), n° 9, setembro de 1971, pp. 1 a 5.

563
ANEXOS
ANEXO I

Augusts Meters, Piezimes par mano dzivi ("Anotações Sobre a Mi-


nha vida"), EUA, 1950 (Mimeografado), p. 110-115
Em 1940 as forças armadas da Rússia ocuparam a Letônia, quando
em nossa vida ocorreram algumas mudanças. i verdade que eu cumpria
as minhas obrigações no trabalho da União, mas elas só poderiam ser
consideradas como ocupações secundárias. Agora, nos dias de semana
como aos domingos, eu tinha o dever de trabalhar na construção do ae-
ródromo de Vainode, juntamente com milhares de outros. Trabalhando
aos domingos, percebia que alguns companheiros cantavam, balbuciando
a velha canção popular que dizia : "Bargi kungi darbu deva, nedev' sveta
vakara" ("Senhores cruéis davam-nos trabalho, mas não davam o santo
descanso"). Esta canção, tão freqüentemente cantada entre o nosso povo,
agora — ninguém ousava cantar audivelmente.
Chegou o ano de 1941, quando ocorreu mudança de poderes, pois que,
em lugar das forças armadas russas, foram as alemãs que ocuparam a
Letônia, forçando as primeiras à retirada. Os primeiros dias foram bas-
tante inseguros. Entendemos que seria melhor que durante a noite um
de nós ficasse de vigília. Durante a noite, pela janela, pudemos perceber
os movimentos de soldados alemães no nosso quintal. Pela manhã veri-
ficamos que durante a noite eles haviam levado o nosso cavalo. Também
os cavalos do vizinho haviam sido levados. Só mais tarde, quando a fren-
te de lutas se afastou da nossa região, é que pudemos voltar a uma rela-
tiva normalidade.
Com o correr do tempo o poder hitlerista alemão foi se aproximando
do seu fim. Chegou o ano 1944. Muitos dos cidadãos letos já haviam
sido convocados à Legião Leta. A 5 de agosto, por ordem rigorosa, foi
convocado também o nosso filho Laimon, de 19 anos de idade. A situação
era tal que, pelo ideal de liberdade de sua terra, os letos patriotas esta-
vam prontos a formar entre os lutadores, embora neste caso os legioná-
rios fossem forçados a submeter-se ao comando alemão. Freqüentemen-
te ouvia-se soldados letos cantarem: "Mes sitisim tos sarkanos, pec tam
tos zili pelekos" (Nós bateremos os vermelhos, depois os cinza-azulados).
A canção revelava a atitude anti-alemã dos legionários. Os alemães, não
ignorando essa atitude, cuidaram que os soldados letos não ficassem con-
centrados num só lugar. Uma divisão leta ficou na Letônia, mas uma

567
outra foi transferida para a Polônia, na região de Danzig, onde se en-
contrava o nosso filho.
Com o recuo dos alemães da fronteira russa e a aproximação da
frente de batalha da Letônia, a vida dia a dia tornava-se mais anormal.
Não havia nem mesmo informações claras quanto à verdadeira posição da
linha de fogo. Os alemães recuavam por todas as estradas e os russos
já se encontravam em Jelgava. Parte da população era evacuada para a
Alemanha, sob força, e parte mobilizada para abertura de trincheiras. A
8 de outubro também nós tivemos que deixar a nossa moradia, em Sku-
dras, onde tanta coisa bela havíamos experimentado. Passamos os olhos
mais uma vez sobre as estantes da biblioteca e outros objetos de valor
que deixamos em nossa casa, e saímos pela porta a fora. Já estava es-
curecendo quando saímos do quintal. Foi nesta ocasião que vimos o
nosso vizinho mais próximo chorar; era a nossa despedida. Sobre o des-
tino da nossa casa recebemos uma carta em 1946, quando nos encontrá-
vamos na Alemanha, que dizia: "Lá onde antigamente ficavam as casas
Skudras (pequena propriedade agrícola, trad.) restam apenas pedras e
algumas árvores do pomar".
Seguimos por terra, rumo à Alemanha. Éramos quatro pessoas —
eu, minha esposa e a nossa filha Martinha com seu esposo. Em duas
carroças de quatro rodas, puxadas por um cavalo cada uma, arrumamos
principalmente roupas, alimentos para nós e ração para os cavalos. Sa-
bíamos que dirigindo-nos para a Alemanha estávamos nos dirigindo para
a terra que em matéria de víveres era então a mais pobre do mundo, e,
além disto, a mais ameaçada com respeito às operações de guerra. Mas
era aquela a única direção possível de tomar. Cruzando a fronteira da
Letônia, demos adeus à terra natal, guardando no coração um ardente
desejo de voltar a ela como terra livre, assim que isto fosse possível
Havíamos viajado a noite inteira, quase sem parar, e mais o dia
e a noite seguintes, e só por volta do meio-dia do terceiro dia de viagem
é que chegamos perto de Memel. O tempo conservava-se muito bom. A
estrada estava cheia de refugiados e de forças armadas em retirada.
Repentinamente surgiram 24 aparelhos bombardeiros que despejaram
toda a sua carga de bombas sobre nós. Não tínhamos onde nos esconder,
pelo que nos lançamos ao chão ali mesmo à beira da estrada. Os petar-
dos explodiam em nosso redor e cobriam-nos com terra e fios da linha
telefônica. Nós quatro não sofremos ferimento algum, embora feridos e
mortos — homens, mulheres e cavalos — e caminhões incendiados hou-
vesse em toda a extensão da estrada. Nessa confusão verificamos que
um dos nossos cavalos e a respectiva carruagem já não se encontravam
no lugar. Também não puderam ser achados ali por perto. Com os aviões
roncando no ar, era impossível permanecer naquele local, razão por que
desistimos de procurá-los. A estrada estava tão avariada pelas bombas
que já não era possível trafegar por ela. Atravessando a vala, dirigimo-
-nos com o nosso transporte restante por sobre o campo arenoso e mon-
tões de dunas. As rodas da carroça afundavam na areia e era preciso
jogar fora parte da preciosa carga. Dirigimo-nos para o pinheiral da
beira-mar que estava cheio de refugiados letos, lituanos e estonianos.

568
Soubemos que a população de Memel já fora evacuada e que a estrada
além de Memel estava cortada devido às operações de guerra. Já estava
anoitecendo, e nós, extremamente cansados, entregamo-nos ao sono so-
bre as dunas, fosse lá o que acontecesse na manhã seguinte.
No dia seguinte fomos informados de que nos restava um único
caminho para prosseguimento da nossa fuga: atravessar o braço de mar
em balsa para as dunas de Kursi e de lá seguir pela orla marítima, co-
berta de uma estreita faixa de dunas, para Kantz, a 100 km de distância.
Esse caminho, diziam os informantes, ainda estava livre. Tentamos, en-
tão, entrar com a nossa carroça na fila da balsa. Descobrimos, porém,
que o número de carruagens e carroças era tão grande que seriam neces-
sárias algumas semanas para chegar a nossa vez. Entre os fugitivos en-
contrava-se também o Pastor Barbins, que se desdobrava ao máximo
em nos ajudar e aos outros fugitivos, dentro daquelas circunstâncias tão
difíceis. O tempo estava nublado e de quando em vez caía uma chuvinha,
pelo que não havia motivo para temer um ataque aéreo; entretanto,
quem poderia garantir como seria o dia seguinte? A cidade próxima
estava sendo bombardeada pela artilharia e vários petardos explodiam
relativamente perto de nós. Ficamos ali o dia inteiro e então entendemos
que mais prudente seria deixarmos o nosso último cavalo e a preciosa
carga de víveres e roupas ali mesmo ao destino, prosseguindo a pé com
aquilo que cada um pudesse carregar consigo, pois a travessia para os
pedestres era bem mais fácil. O caminho pela faixa de dunas realmente
foi péssimo e os que viajavam em suas carroças tiveram que defrontar-se
com dificuldades muito sérias. Nós tivemos a sorte de encontrar umas
vagas num caminhão de transporte militar e mais tarde num ônibus des-
tinado a transporte de refugiados.
Na Alemanha a nossa primeira moradia encontramos em Veicen-
rodov, a 50 km de Breslau, onde achamos um pequeno cômodo na modesta
casa de um operário de uma refinaria de açúcar. Visitando Breslau pela
primeira vez tivemos oportunidade de ver o aspecto de uma concentra-
ção de refugiados letos. Numa sala de ginástica de uma escola achavam-
-se instaladas mais de 200 pessoas. Ali em camas-beliches dormiam in-
distintamente, homens, mulheres e crianças. O espaço entre as camas
era tão escasso que só com muita dificuldade duas pessoas poderiam pas-
sar uma pela outra. Ali achava-se também um pequeno grupo de batis-
tas. Dirigimo-nos ao pastor da Igreja Batista local para tentar um en-
tendimento no sentido de obtermos permissão de realizar em seu templo
cultos para os batistas letos. Descobrimos que sem uma licença especial
de Berlim isto era impossível.
Em janeiro de 1945 fomos forçados a nos deslocar mais algumas
centenas de quilômetros para o ocidente, devido à aproximação da linha
de fogo. Mudamos para Kemnitz. Encontramos um pequeno cômodo num
subúrbio. Aqui encontramos o pastor Fr. Cukurs (pronuncia-se Tchu-
kurs, trad.), o presidente da União Batista da Letônia, Pastor R. Vitols,
e o pastor A. Stefenberg. Moravam ali também o Dr. Ed. Bastiks e mais
outros batistas. Ali se encontrava agora o centro batista leto. Foram
recolhidas informações sobre os refugiados batistas letos na Alemanha.

569
Neste sentido muito se deve ao Pastor Cukurs. A Igreja Batista alemã
local o havia eleito seu pastor. Aproveitando a situação, ele realizava
também cultos para os letos. Conseguiu-se a permissão para 8 pastores
letos cuidarem da vida espiritual dos batistas letos refugiados na Ale-
manha. Entre eles também eu me encontrava. A resposta do respectivo
Departamento demorou, mas finalmente a minha permissão chegou. Esta
foi uma notícia agradável, embora do ponto de vista prático não tivesse
nenhuma significação. Aproximava-se a primavera e com ela a frente de
batalha de várias direções. Viajar pela estrada de ferro já não era mais
possível. Até mesmo dentro da cidade já não se podia realizar cultos. A
cada instante sobrevoavam-na bombardeiros do inimigo, despejando a sua
carga. Cada cidadão achava mais prudente ficar junto do porão de sua
casa, para abrigar-se rapidamente.
Aqui viemos a conhecer bem de perto o que são os bombardeios aé-
reos de uma cidade. No princípio, a população não levava muito a sério
os avisos das sirenes de alarma. Mas quando alguns daqueles ataques
aéreos haviam tornado irreconhecível a feição da cidade e dezenas de
milhares de homens, mulheres e crianças morreram, ficaram aleijados ou
foram enterrados vivos pelos escombros, então cada revoada seguinte
inspirava pavor. Em alguns dias ocorreram até dez ataques aéreos. Al-
gumas vezes os bombardeiros que sobrevoavam a cidade destinavam-se a
outros objetivos, mas o pavor já tomava conta de todos nós. A popula-
ção toda parecia andar sonolenta, pois que mal adormecia à noite, come-
çavam a uivar as sirenes e, segundo as ordens expressas, era preciso ime-
diatamente procurar o porão de cada casa para o abrigo. Em cada ata-
que surgiam 800 a 1.000 aviões bombardeiros, que levavam cerca de uma
hora para concluir sua tarefa sinistra. Num desses bombardeios foi des-
truído o edifício da Igreja Batista alemã da cidade. Na ocasião, entre
muitos outros, encontraram a morte, soterradas no porão daquele edifí-
cio de quatro andares, Emília Cukurs e Elza Tilim, respectivamente irmã
e sogra do pastor Fr. Cukurs. A esposa do Pastor Vitols, irmã Vitols,
depois de algumas horas de trabalhos de remoção dos escombros, foi sal-
va da morte. Os familiares das falecidas solicitaram-me que dirigisse a
cerimônia fúnebre no crematório da cidade. Porém isto não foi possível,
uma vez que o número dos mortos era muito grande e a cada momento
poderia surgir um novo bombardeio, razão pela qual as autoridades não
permitiam mais a realização de cerimônias fúnebres. Em sobrevôos pos-
teriores também o crematório e o depósito das urnas das cinzas dos cre-
mados transformaram-se em escombros. Porém a falta mais pesada que
sentimos ali foi a de alimentos.
Com a entrada das forças americanas, acabaram os ataques aéreos;
a falta de alimentos continuava. O atestado que me dava direito de rea-
lizar cultos, agora já era caduco. Além disso, ele poderia trazer-me com-
plicações aos olhos dos americanos, pois que a licença poderia ser inter-
pretada como prova de que eu teria sido pessoa de confiança dos alemães.
Porém, como os americanos não intentavam ocupar definitivamente to-
das as áreas conquistadas, e, sim, entregar parte delas aos russos, para
não cairmos nas mãos dos russos, nós, os refugiados, tentamos partir

570
ainda mais para o ocidente, embora isto fosse muito difícil e para muitos
até impossível, pois que as estradas de ferro estavam paralisadas e de
transportes terrestres nem se poderia falar. Ademais, existia uma ordem
militar pela qual estava proibido o deslocamento de refugiados. Restava
apenas uma solução — partir a pé, a despeito da proibição. E assim pro-
cedemos. Todos os caminhos estavam repletos de fugitivos e, apesar da
reação dos guardas militares nas estradas, nada conseguiu deter a onda
dos civis.
Assim caminhamos a pé 300 km, aproximadamente, chegando a Bam-
berg, na Baviera. Como o nosso filho Laimon havia se incorporado à
Legião Leta e nós recebemos informações de que os soldados letos haviam
sido aprisionados e concentrados ao norte da Alemanha, na zona ocupada
pelos ingleses, naturalmente tivemos o desejo de nos dirigir para aquela
região, tentando uma comunicação ou um encontro com nosso filho. Ca-
minhamos juntamente com a família Cukurs e muitos outros refugiados,
ora a pé ora em cargueiros de carvão, cerca de 600 km, chegando a Her-
ford, na Vestfália.
Ali começamos a procurar o nosso filho. Visitamos vários centros
de refugiados, campos de concentração de prisioneiros de guerra, pro-
curando seu nome em listas de vivos e de mortos. Encontramos soldados
que em janeiro de 1945 o haviam visto, mas agora ninguém sabia nada
a seu respeito. Só em janeiro de 1946, quando nos encontrávamos no
acampamento de refugiados de Greven, obtivemos informações seguras
e fidedigmas de testemunhas oculares de que em 28 de janeiro de 1945
o nosso filho havia tombado, com crânio partido, numa batalha perto de
Imenheim, povoado próximo à cidade de Nakel. De todas as experiências
e golpes daqueles tempos o mais pesado e doloroso foi esse.

571
ANEXO II

William Fetler, carta a The Wathman-Examiner, New York, ci-


tada na seção de "O Reino de Cristo no Mundo", O Jornal Batista,
Rio de Janeiro, Ano XV, n° 9, 4 de março de 1915, p. 5, 2a col.
Ao ouvirmos as declarações do czar da Rússia, nas quais manifestou
os melhores desejos para com os judeus e batistas, nutrimos a doce es-
perança de que ia raiar uma nova aurora de liberdade e paz para os povos
desse império. Notícias mais recentes trazem-nos grande desapontamen-
to, mormente em relação aos batistas, cuja perseguição lhes é movida
agora, com mais intensidade, pela feroz e retrograda igreja oficial, a
Igreja Ortodoxa Grega, da qual o czar é o chefe nominal, mas de que o
chefe de fato é uma outra espécie do "papa negro" da Igreja Católica. A
carta que a seguir publicamos do Rev. William Fetler, o grande campeão
batista na Rússia, e que ele enviou ao The Watchman-Examiner, de Nova
York, explica suficientemente a situação:
"Ilmo. Sr. Redator do The Watchman-Examiner: Permiti-me que
pelo vosso jornal peça aos meus amigos na América do Norte que não
dirijam mais a minha correspondência para Petrogrado (ou S. Peters-
burgo), mas, até ulterior aviso, ao cuidado do Dr. A. C. Dixon, Metropo-
litan Tabernacle, Newington Butts, Londres, S. E., Inglaterra. O fato
é que durante os últimos dois ou três meses tem se levantado na Rússia
muita oposição ao trabalho evangélico. O velho nome stundista que
andou no passado muito relacionado com o exílio, e que já por anos an-
dava esquecido na Rússia, foi mais uma vez ressuscitado pela imprensa
clerical reacionária. Os batistas, infundadamente têm sido acusados de
ligação com a Alemanha, e de receberem dinheiro da Alemanha. Os jor-
nais afirmam abertamente que o imperador alemão tem estado susten-
tando, à sua própria custa, um jornal russo, para espalhar na Rússia as
idéias alemãs! Especialmente eu, nestes últimos tempos, tenho sido cons-
tantemente atacado pela imprensa reacionária de Petrogrado e Moscou.
Isto resultou, primeiro, em um decreto do governo intimando-me a deixar
Petrogrado durante todo o tempo da guerra. Indagando eu da culpa que
pesava sobre mim, nada de positivo foi alegado, a não ser umas indica-
ções vagas de não ser eu pessoa desejável na capital por causa da minha
pregação, e que eu era afastado dela por motivo de ordem política. Como
eu nunca tivesse tendências políticas a favor da Alemanha ou de outro

573
qualquer país, sendo sempre um súdito leal de Sua Majestade, o Czar,
fiquei muito surpreendido com a acusação tão infundada e esperava que
fosse revogada. Ao invés disto, em 5 de dezembro, durante nosso sábado
de oração, na Dom Evangelia, fui repentinamente preso por ordem do
governador militar e levado à prisão para ser imediatamente exilado
para a Sibéria com outros acusados de vários crimes. A minha igreja
orou a Deus, e como resultado fui deixado em liberdade, mas com uma
intimação escrita para em três dias partir para a Sibéria à minha pró-
pria custa. Durante este tempo apelei para o Ministro do Interior, ro-
gando que em atenção à pouca saúde de minha esposa e a ter uma crian-
ça de três meses, aos quais o rigoroso clima da Sibéria seria talvez fatal,
me permitisse exilar-me para qualquer parte do estrangeiro. Esta peti-
ção foi apresentada ao Conselho de Ministros, sendo despachada favora-
velmente; e é assim que me acho exilado do meu amado país e afastado
do trabalho de Deus ali. Deixei Petrogrado com orações pela Rússia, e
louvo a Deus por me achar digno de sofrer pelo meu amado Senhor e
Salvador. Meus assistentes estão continuando o trabalho, e eu muito
desejava que todos os filhos de Deus orassem por eles e por todo o tra-
balho evangélico. Não guardemos amargura contra aqueles que nos con-
sideram mal, mas provemos-lhes pelo amor que lhes temos, quais são as
nossas intenções. Se o Senhor o permitir, espero escrever mais acerca
da presente situação quando me achar mais desembaraçado. Atualmente
exerço uma breve missão entre os lapps, no norte da Suécia, segundo
propus em meu coração logo que transpus a fronteira russa, de pregar
a estes nossos irmãos necessitados. Orai por mim.
William Fetler

Lulea, Norte da Suécia, dezembro 23, de 1914"

574
ANEXO III

Clamor Pelo Socorro

Carta de um pastor luterano leto refugiado na Suécia, escrita em


1945 ao Dr. J. Daugmanis, residente nos Estados Unidos da América
do Norte, Drauga Vests (A Mensagem de Amigo), ns. 45/46, julho/
agosto de 1945, p. 10.

Cordiais saudações de um patrício.


Parece que aprouve ao destino espalhar ou mesmo exterminar o povo
leto. Nós, 5.000 patrícios, para não cairmos vítimas do terror russo e
não sermos deportados para a Sibéria como escravos, fugimos em em-
barcações leves para a Suécia livre. Cerca de 2.000 morreram afogados
no mar devido os ataques de submarinos inimigos. A orla marítima das
proximidades de Venspils está semeada de cadáveres. Os social-demo-
cratas fogem junto conosco para Suécia. O alvo do imperialismo russo
é exterminar o povo leto. O mesmo propósito tem a Alemanha. Sem
qualquer julgamento pessoas simplesmente desaparecem de casa e não
é possível saber onde se encontram. A TCHECA trabalha com processos
modernos de martirização, à semelhança da inquisição dos tempos me-
dievais.
O saque e o roubo, a que se dá o nome de "nacionalização", prosse-
guem a plena força. O homem é um escravo sem quaisquer direitos. Não
há liberdade de palavra, de culto, nem de imprensa. Vota-se no que é di-
tado. A pátria para os letos tornou-se em cemitério de irmãos.
Os nacionalistas autênticos lutam como podem contra os russos e os
alemães. Seus familiares são assassinados e suas propriedades incendia-
das. No lugar onde se encontra a nossa pátria acha-se o inferno na face
da terra; mas ninguém acredita nisso. Fazei tudo que puderdes em favor
do nosso povo; senão, esse povo desaparecerá da superfície terrestre.
As cidades de Resekne e Daugavpils, são montões de ruínas. Mi-
lhares buscam refúgio na Alemanha onde trabalham sob as chuvas de
bombas, comendo nabo cru e folhas de repolho.
Nós trabalhamos nas matas da Suécia. Os russos desejam levar-nos
para o seu país como cidadãos do mesmo, mas ninguém se apresenta.

575
Somos gente de todas as classes: agricultores, pescadores, técnicos, in-
telectuais, clérigos.
Os templos da Letônia agora silenciam e grandes colunas de gente
são levadas a pé para Sibéria como "voluntários", mas atrás estão as
metralhadoras da TCHECA.
Salvai-nos e ajudai ao povo leto que está sendo exterminado porque
os russos querem a nossa terra e os nossos portos. Tudo que estou es-
crevendo é verdade. Se Deus ainda reina no céu, será que Ele vai con-
sentir que tal injustiça continue a prevalecer?!
Fraternalmente,
J. P., pastor evangélico luterano

A "Liberdade Religiosa" na Letônia dos Soviets

Carta do Pastor Roberts Tarsier, da Igreja Batista de Golgota (Le-


tônia), escrita de Suécia (1945) a respeito da "liberdade religiosa"
sob o regime bolschevista, Drauga Vests (A Mensagem de Amigo),
n° 47, set. 1945, p. 8.
"A tão propalada liberdade religiosa da Constituição stalinista nos
foi acentuada pelo comissário especial Vischinski e pelo seu preposto, V.
Lacis, mas que na prática revelou-se algo exatamente oposto. Não so-
mente fomos despojados dos nossos templos e de todo seu equipamento,
como houve até o confisco de hinários e aparelhos da ceia do Senhor. O
que foi encontrado na tesouraria da igreja simplesmente foi despejado
nas pastas dos comissários. Nos casos em que foi permitido o uso das
casas de oração unicamente para a realização dos cultos, o aluguel era
insuportável, inteiramente fora de quaisquer possibilidades da igreja o
que simplesmente a constrangeu a desistir do uso de seu templo. Pela
energia elétrica as igrejas tinham que pagar 25 vezes mais caro que os
demais usuários da mesma.
Eu tive que procurar uma ocupação secular; porém, em toda parte
eu era rejeitado, pois no passado havia "servido ao culto". Finalmente
encontrei trabalho num manicômio. Também ali fui perseguido porque
neguei-me a executar as ordens comunistas no sentido de interromper
totalmente as minhas atividades de pregador da Palavra de Deus. Fui
preso e tornei-me uma das incontáveis vítimas da TCHECA (polícia po-
lítica bolschevista) . Fui martirizado moral e fisicamente. Os terríveis
interrogatórios se estendiam das 19,30 hs até às 6 hs da manhã. Somente
pela misericórdia de Deus não ocorreu uma desorganização mental e foi
preservada a minha vida.
Na noite de 13 para 14 de junho de 1941 só da Igreja Batista do
Golgota foram deportadas 20 pessoas para os acampamentos de escravos.
Entre eles, o pastor que me auxiliava no ministério e sua esposa.
Quando se deu a invasão dos alemães, esses saquearam tudo que os
russos não haviam conseguido levar na fuga. Entretanto, temos de re-

576
conhecer que os alemães não perturbaram os nossos cultos e nos conce-
deram unia relativa liberdade religiosa. A atuação da GESTAPO na Le-
tônia assemelhava-se à sua atuação na Noruega e na Dinamarca. O que
aos dinamarqueses e noruegueses era insuportável no terror alemão, para
os letos era coisa insignificante em comparação com o que havíamos
sofrido durante a ocupação russa.
Temos informações seguras de que o terror vermelho que presente-
mente domina a Letônia é superior ao que nós sofremos na primeira
ocupação russa. Na Letônia agora não há liberdade de palavra, nem
liberdade religiosa, nem política e nem de movimento. Num só grupo
foram mandadas para a Rússia 40 mil famílias de camponeses, para que
muito além dos montes Urais se perdessem para sempre na escravidão.
Os bolschevistas enterraram vivo o meu pai em 1919, a despeito de
um dos seus filhos servir no exército vermelho.
Como refugiado sirvo aqui na Suécia aos refugiados letos tanto quan-
to está nas minhas forças. Redijo o mensário "A Voz do Pastor", que é
enviado gratuitamente aos leitores e cuja tiragem é de 2.000 exemplares.
Mas, como uma verdadeira sombra de morte martiriza o pensamento dos
letos a idéia de uma eventual repatriação que os russos podem requerer.
Isso, aliás, eles já tentaram, diplomaticamente, mas sem resultados. Os
refugiados letos desejam fugir para mais longe, para Inglaterra ou Amé-
rica.

577
ANEXO IV

João Inkis, carta dirigida à Igreja Batista Leta de Ijuí, escrita de


Desterro (Florianópolis) em 11 de maio de 1899, diz o seguinte:
Caros irmãos em Ijuí:
Cheguei bem a Desterro e hoje mesmo seguirei para Laguna. No
porto do Rio Grande fui obrigado a permanecer dois dias. Mas isto tor-
nou-se em uma grande bênção. Achava-se atracado no porto um navio
da Letônia — "PITANS", de Ainazchi, porto da costa da Widzeme. O
capitão do navio havia saído de bordo para visitar seu colega de um
outro navio leto que se achava fundeado ao largo. Era domingo. Reuni
toda a literatura que ainda possuía e dei como presente aos marujos.
Ainda bem que vós não comprastes toda ela. A seguir sugeri que cele-
brássemos um culto. Eles se alegraram muito com isto. Um deles che-
gou a deixar a sua tarefa na cozinha para estar conosco na adoração.
Entre os marujos encontrei três hinários, dos quais passamos a cantar. O
Senhor esteve conosco com a sua bênção. Os corações dos marujos esta-
vam emocionados por este encontro com o evangelho em terra estranha,
mas em sua língua materna. Alguns me conheciam de nome. Contei-lhes
a respeito da vida nas colônias letas do Brasil, pelo que alguns exclama-
ram: Logo que chegarmos à nossa casa, voltaremos ao Brasil para ficar.
Em Desterro recebi a correspondência dos meus familiares dizendo
que não virão para o Brasil. É que o irmão mais moço transtornou-lhes o
pensamento para emigrarem para América do Norte. Tal notícia para
mim foi de todo inesperada. Eu havia pensado que, se os meus pais vies-
sem para fixar-se no Brasil, então também eu estaria mais preso ao Bra-
sil, como o vosso professor por meio de sua família acha-se preso a Ijuí.
Mas o destino está trabalhando contra tudo isso. Há um certo precon-
ceito ou prevenção contra o Brasil no seio do povo e é difícil destruí-lo.
Somente os letos do Brasil, pela sua conduta e sua vida organizada e
unida, podem fazer muito pela divulgação da boa fama deste país. Se os
letos do Brasil não se afastarem de sua honradez então eu poderei, de
volta à minha pátria, contar ao povo que aqui tudo é bom, o que, com o
tempo, despertará as melhores opiniões a respeito da vida no Brasil. Ca-
so então ocorra um refluxo de imigração para aqui, podeis crer que re-
cebereis novos reforços. Eu digo: vale a pena derramar suor na prepa-
ração de unia nova pátria para os letos; isto é mais compensador do que
579
servir aos estranhos na Báltia, isto é, aos alemães e russos. Somente
uni-vos em torno deste grande alvo, e não vos devoreis uns aos outros
por questiúnculas insignificantes, o que não traz o menor bem a quem
quer que seja. Falai de modo a não ofender o próximo, porém, se assim
não sabeis falar, então é melhor calar. Lembrai-vos sempre de que sois
"um povo especial", povo de Deus, que não tem o direito de dar liberdade
à carne, e, sim, o dever de crucificá-la. Então Deus vos abençoará tanto
material como espiritualmente.
Saudações cordiais a todos vós.
O Vosso,
J. Inkis

João Inkis, carta à Igreja Batista Leta de Ijuí, escrita do Rio de


Janeiro em 28 de agosto de 1899:
Caros companheiros na obra missionária em Ijuí:
Em viagem de regresso à pátria, sou forçado a permanecer uma se-
mana na Capital do Brasil, até a partida do meu navio que me levará
através do oceano. Ontem foi domingo. Visitei os batistas brasileiros do
Rio de Janeiro. Uma edificação bem bonita, à beira da rua, é o local de
suas reuniões. Em lugar de bancos, estão filas de cadeiras. À frente,
junto ao púlpito, acha-se um harmônio com que são acompanhados os
cânticos. Por trás do salão de cultos há uma sala para as sessões da
igreja. O culto teve início às 11 h. Em lugar da reunião matutina de
oração, é realizado um estudo bíblico. Quando cheguei, este último já
estava iniciado. O pastor é um missionário da América do Norte que por
vários anos trabalha no Brasil. Tendo organizado uma igreja na Bahia,
veio para o Rio. Ele fala um português agradável. Seu nome é William
Buck Bagby.
Depois do estudo bíblico, o pastor anunciou que a igreja acaba de
receber a visita de um certo caixeiro-viajante, que irá pregar. Na cáte-
dra, ao lado do pastor, assentou-se um homem ainda jovem, bem vestido,
de olhos e cabelos negros, segundo a aparência um brasileiro autêntico.
Ele anunciou um hino cujo texto era um convite para o céu. A melodia
para mim era desconhecida. Experimentei uma emoção que me levou
às lágrimas ao ver que negros idosos ao lado de mulatas jovens e de
brasileiros claros de cerrados bigodes, todos juntos cantavam, com o
coração, louvores ao Senhor. Senti uma brisa maravilhosa de amor so-
prar sobre a reunião e derreter o meu coração; eu me senti no meio de
meus irmãos e minhas irmãs. O pregador falou sobre Moisés, apresen-
tando-o como homem de Deus e herói da fé.
Após o culto, foi realizada uma sessão da igreja na sala mencionada.
Quatro novos membros foram recebidos por profissão de fé: um brasi-
leiro, um espanhol, um negro idoso e uma jovem negra. Em seguida, en-
quanto todos cantavam o hino "O que belos hinos cantam lá no céu",

580
cada membro da igreja passava pelos quatro que se achavam na frente,
para lhes dar a mão fraternal. Depois o pastor me apresentou à igreja
como missionário leto que está de volta do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Eu pedi que fosse enviado algum pregador do evangelho para
pregar em português nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul
e disse que nós, os letos, ajudaríamos no seu sustento com um conto de
réis por ano. Isto alegrou muito os presentes. Portanto, trabalhai, ir-
mãos, com bastante coragem. Pode acontecer que cedo tenhamos que
cumprir a nossa promessa, e assim alcançaremos a oportunidade de tra-
balhar pelas missões internas. No Brasil contam-se agora 23 igrejas com
cerca de 1.600 membros. Esta obra missionária é promovida pelos ba-
tistas da América do Norte. Agora falta o necessário elemento humano
para ser enviado para Santa Catarina. Oremos para que o Senhor o es-
colha. Pena é que vós, os ijuienses, estais morando tão longe dos outros
letos. Não nos é possível estender tanto a nossa obra missionária que
os nossos recursos sejam absorvidos só em viagens. O grupo dos letos
de Blumenau cresce cada vez mais. Em poucos anos ali teremos uma
grande colônia. Eu também estou pensando insistentemente, se for da
vontade de Deus, depois de dois anos, voltar para fixar-me em Blumenau.
Mas por isto, porque vos achais tão distantes, não vos canseis. Traba-
lhai quanto estiver em vossas forças, pois Deus, que contempla a cada
um de seus filhos, há de vos abençoar.

Cordialmente, vosso cooperador na vinha de Cristo,

J. Inkis

581
ANEXO V

Júlio Malves — "A LOCALIZAÇÃO DOS BATISTAS LETOS NO


BRASIL"
O Jornal Batista, Ano XVI, n9 27, 13 de julho de 1916, p. 12
Lamento que, por motivos independentes da minha vontade e por
não ser prevenido há mais tempo, não posso hoje apresentar sequer um
breve retrospecto do movimento nas igrejas letas no Brasil, mas ao mes-
mo tempo forçoso é reconhecer que realmente pouca coisa poderíamos
apresentar que fosse de valor e digna de menção, e que pudesse servir
de estímulo para outros empreendimentos.
Evidentemente ressalta a falta de método, bem como a falta de uma
organização adequada. Muita coisa de um tal retrospecto histórico só
nos podia ensinar como não devem ser feitas certas coisas no nosso meio.
Em conseqüência, torna-se mister não nos preocuparmos muito com as
coisas que já passaram, mas, sim, não negligenciando o presente, traçar
planos para que com mais utilidade possamos aproveitar as oportunida-
des que nos trouxer o futuro.
Abordarei, portanto, mau grado a minha incompetência, um assunto
que mais de perto me afeta. Sinto profundamente, se com isto vou exibir
a minha pessoa, porque por índole sou bastante retraído, e, se ora o faço,
é porque me vejo convencido da dura realidade de que "uma só ando-
rinha não faz verão".
Todos sabem que uma das minhas principais ambições é a coloniza-
ção, para a qual não tenho medido os mais pesados sacrifícios pessoais, e
cujos reais resultados já há muito são palpáveis.
Uma obra da história das igrejas letas, recentemente publicada na
Rússia, dá a minha pessoa como mentor da imigração leta para o Estado
de S. Paulo. Quase todos estes imigrantes são nossos irmãos na fé e
foram trazidos do Estado de Sta. Catarina. Com o êxodo dos irmãos
desse Estado, contraí muita inimizade com os outros irmãos que ficaram
no Sul, e que entendiam que os letos não deviam mudar de localidade,
bem como entendiam que eu fomentasse esse êxodo movido por certo
interesse pessoal. Hoje está evidente que os irmãos não só materialmen-
te lucraram com esta mudança, mas que também com isto a causa ba-
tista lucrou bastante. A aproximação dos nossos irmãos letos aos irmãos
brasileiros já tem trazido seus benefícios e muito maiores ainda promete

583
trazer futuramente. Estou muito convencido de que, se os Tetos desde
o princípio da sua localização no Brasil, que já data de há mais de uns
25 anos atrás, tivessem podido cooperar com as igrejas brasileiras, todos
teriam lucrado reciprocamente; e, assim, não foi erro nenhum deslocar
uma parte deles dos Estados Sulistas.
Isto de passagem e a título ilustrativo. O grosso das forças letas
está por vir ainda.
Caberá à pavorosa hecatombe mundial a incumbência de reforçar as
nossas fileiras no Brasil. Embora ainda seja prematuro emitir opiniões
sobre o modo pelo qual vai terminar este cataclismo da humanidade con-
temporânea, uma coisa, porém, é certa que haverá um êxodo batista em
escala ainda não atingida. Seja qual for o desfecho final desta luta, po-
demos contar como certo que os ambientes ainda por muito tempo se con-
servarão carregados. E embora os olhos da fé vejam através desses
ambientes a visão de um novo e melhor futuro, todavia, será muito na-
tural que muitos procurarão escapar das novas tribulações que sobre-
virão, e demandarão às plagas sul-americanas.
Afora estes, haverá muitos outros motivos para que muitos aban-
donem aquelas terras: lares desfalcados; muitos reduzidos à completa
miséria; escassez de trabalho; incerta e dúbia situação política interna;
horrível impressão e lembrança dos acontecimentos que presenciaram, e
outros mais sem conta.
A nossa pobre Letônia tem sofrido horrivelmente. Já vai um ano
que metade dela acha-se invadida pelas hostes aguerridas de um inimigo
que não conhece misericórdia ou compaixão para com o nosso povo. Em
virtude de todas estas calamidades, começará o êxodo em grandes pro-
porções, logo que as vias de comunicação estejam mais ou menos resta-
belecidas.
Já há muito tempo antes da guerra, era o pensamento das nossas
igrejas ali que, em qualquer eventualidade que viesse perturbar a segu-
rança dos crentes, estes não deixariam de se refugiar no Brasil. A guer-
ra, todavia, precipitou-se tão repentinamente que esses planos, como to-
dos sabemos, de forma alguma podiam ser postos em prática. Tenho em
mãos muitas correspondências interessantes sobre este assunto, mas se-
ria demasiado longo citá-las aqui.
O que constitui agora a nossa principal preocupação, são os muitos
inditosos que não se acham em condições de poderem à sua própria conta
fazer a travessia do oceano. Devido à situação em que foram metidos
nestes últimos tempos, haverá muitos que de modo algum poderão pagar
as despesas de viagem. Fiquei imensamente satisfeito quando, há pou-
cos dias, foi revogada no Estado de S. Paulo a suspensão da restituição
das despesas que os imigrantes fazem com as suas passagens, e cuja
suspensão fora decretada no princípio da guerra. Em virtude desta re-
vogação é garantido aos imigrantes agricultores o reembolso total das
despesas das suas passagens, uma vez localizados na lavoura aqui.
Não é minha intenção apresentar agora à Convenção um plano para
constituir fundos de viagens aos imigrantes; desejo apenas que os irmãos
fiquem a par destas coisas.

584
Se, entretanto, houver alguns irmãos mais favorecidos pela fortuna,
não seria desacertado o prestar algum auxílio aos outros que estão em
aflição. Este auxílio poderia ser feito a título de um empréstimo para
despesas de viagens, que seria reembolsado logo que o governo fizesse a
restituição das despesas.
Em virtude dos tempos calamitosos que correm, a humanidade se vê
obrigada a exercer mais caridade do que nos tempos quando ainda as
paixões bélicas não eram tão desencadeadas como hoje. Hoje, quando
tudo reclama e implora caridade e socorro, presenciamos também atos os
mais heróicos por parte de muitos que outrora eram tidos como inaptos
para semelhantes sacrifícios. Indivíduos e coletividades hoje convergem
seus esforços para minorar o pranto e a dor. Há instituições que dantes
empregaram seus esforços para muitas obras produtivas, hoje com des-
dobrada abnegação os empregam somente em socorro aos atingidos pela
terrível catástrofe em que o mundo se debate. As igrejas que aí larga-
mente contribuíram para a evangelização e outros misteres, hoje somen-
te podem ter por objetivos prestar o seu auxílio às mais urgentes necessi-
dades oriundas da assombrosa guerra, sendo ainda longe de poder fazer
face a todos que reclamam imediato auxílio.
E não pode haver um gesto mais nobre, neste mundo perdido, do que
sacrificar-se para suavisar a dor de outrem...
Cumpre que nós, os crentes, não fiquemos inteiramente alheios ao$
grandes acontecimentos da atualidade. É evidente que no fundo esses
acontecimentos nos tocam muito mais do que os de fora, e nós devemos
fazer jus ao tempo em que vivemos. Ignorar e negligenciar estas coisas,
redunda em prejuízo. Cumpre, portanto, não descurar as lições e obriga-
ções que a grande atualidade nos traz, e cumpre abraçar as oportunidades
que se apresentam.
Com a emigração da Rússia não temos nada que perder. É este um
elemento assaz recomendável ao Brasil.
A prova disto temos os nossos letos, num lugar de destaque o nosso
irmão Salomão, que é também originário daquele país e que, sem dúvida,
vale por um grande exército contra as forças armadas das trevas.
A grande vantagem da nossa gente consiste em seu amor ao traba-
lho; e como o trabalho aqui é bem remunerador, eles forçosamente irão
galgando posições materiais mais satisfatórias. E à medida que isto
sucede, eles dia a dia irão contribuindo mais para a evangelização da
nova pátria adotada e para nossa causa comum.
A objeção de que a Rússia também precisa ser evangelizada e que por
isto ela não pode dispensar os crentes, em nosso caso absolutamente não
pode servir de argumento.
Atentas certas circunstâncias ali, sabemos que muitos dos nossos
irmãos podem ser considerados ali, por assim dizer, como inválidos, po-
rém que em outras circunstâncias podiam prestar o melhor serviço. Com
a vinda dos crentes para cá, a Rússia não deixará de ser evangélica. O
grande plano da salvação da Rússia se efetuará com todo o esplendor.
Nos planos divinos da salvação do mundo está incluído também o Brasil;
e se o grande General destaca algumas unidades dos seus exércitos para
585
cá, isto, certamente, é feito por motivos de ordem estratégica. E esta não
será a primeira vez que pequenos núcleos de crentes, quase expulsos, de-
mandam novas terras para aí plantar o seu estandarte e conquistar essas
terras para o seu comandante.
A história dos crentes está cheia de casos análogos, e qualquer um
dos nossos ministros nos poderá contar a esse respeito.
Terminando estas linhas, feitas às carreiras, congratulo-me com os
irmãos reunidos na Convenção pelo fato de que os batistas têm sabido
alargar os seus horizontes, não deixando avassalar-se pelo pessimismo,
mas, confiados na sua missão, estão ansiosos para enfrentar tenazmente
os maiores empreendimentos, para a mais breve vinda e glória do Reino
de Deus!

São José dos Campos, 22/6/1916

Júlio Malves

586
ANEXO VI

Diário do Congresso
Nacional (Seção I) Brasília,
28 de outubro de 1972, p. 4645

O SR. LISANEAS MACIEL:

(Explicação pessoal — Sem revisão do orador) — Sr. Presidente,


neste tranqüilo fim de semana não quero deixar de registrar um aconteci-
mento dos mais auspiciosos, o cinqüentenário de uma colônia de imi-
grantes que se instalou em São Paulo. Comemora-se o 19 de novembro,
uma data das mais significativas, que, se de um lado comprova a ine-
gável utilidade que a boa imigração traz para o país, de outro, testemu-
nha a formação moral e espiritual destes imigrantes, fundamental para
os que os acolhem.
Agora que a Europa se debate entre crises diversas de pequenos paí-
ses e minorias são continuamente atingidas, é-nos grato salientar que
este país, promissor e prenhe de oportunidades, deve estar atento para
acolher estas minorias dignas, estes imigrantes, estes refugiados que
querem contribuir para a grandeza do Brasil e sobretudo para adorar o
Cristo vivo com plena liberdade.
A 19 de novembro de 1922 foi fundada, no interior do Estado de São
Paulo, uma das maiores e mais prósperas colônias de imigrantes estran-
geiros do Brasil — A Colônia Varpa. Eram cerca de 2.500 europeus,
quase todos evangélicos batistas, vindos da Letônia, um dos países bálti-
cos que mais havia sofrido as devastações da I Guerra Mundial, depois
de 700 anos de domínio estrangeiro. Ainda que em 1918 tivesse alcan-
çado, a muito custo, a sua independência política, pressentia-se que no-
vas ameaças de conflitos armados surgiam no horizonte, aos quais o
pequeno país não teria condições de resistir, dadas as pretensões das duas
grandes potências, Alemanha e Rússia, entre cujos territórios a Letônia
se situa.
Cumpre salientar, Sr. Presidente que o sucedido com aquele pequeno
país ocorreu com muitos países. As decisões tomadas nesses pequenos
países muitas vezes não têm relevância para seus problemas internos, pois
são em função de dois imperialismos. Cercados por duas nações imperia-
listas, muitos pequenos países se debatem, tentam se reafirmar, tentam

587
dirigir seus próprios destinos e estabelecer as diretrizes para o seu de-
senvolvimento. De maneira que o que ocorreu com a Letônia, naquela
época, é um exemplo que, infelizmente, não é singular; acontece diutur-
namente.
Assim é que, entre fins de 1922 e meados de 1923, formou-se na Le-
tônia um grande movimento de emigração de pessoas ansiosas por um
clima de liberdade de pensamento, de crença e de trabalho. Essas pes-
soas escolheram o Brasil como sua nova Pátria.
Fixaram-se esses imigrantes letos (ou letões) numa área de terra
de 2.000 alqueires (quase 50 km2 ) por eles adquirida, coberta de uma
densa mata virgem, à margem direita do Rio do Peixe, a 650 km da Ca-
pital de São Paulo e 32 km da Estação de Sapezal, que então era a pe-
núltima parada dos trens da Estrada de Ferro Sorocabana, no Município
de Campos Novos, Comarca de Assis. Seu espírito empreendedor, sua
vontade indômita de vencer todos os óbices, sua tradição eminentemente
agrícola e seu zelo religioso transformaram, em poucos anos, aquela vas-
ta área de mata virgem em sítios e pomares primorosamente tratados,
semeados de belas residências, escolas e templos, abrindo estradas por
conta própria e construindo um hospital, assim levando as primeiras lu-
zes de progresso material, intelectual, moral e espiritual aos sertanejos
de uma região de mais de 5.000 km2, ao tempo sem assistência de qual-
quer espécie, através de sua obra de evangelização e alfabetização.
Hoje, Varpa é um dos Distritos mais prósperos do Município de
-Tupã, depois de ter pertencido aos Municípios de Campos Novos, Marília
e Pompéia, que receberam os tributos de Varpa para o seu desenvolvi-
mento. Da geração jovem de Varpa saíram dezenas de pastores evangé-
licos, professores e professoras de todos os níveis, diretores de empresas,
músicos, industriais e técnicos que, integrados na vida nacional — prin-
cipalmente nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Guanabara — contribuem para o progresso do Brasil.
Que o exemplo da Colônia Varpa seja observado atentamente pelas
autoridades e justifique um benefício deste país e da difusão do evan-
gelho que ela pratica. (Muito bem.)

588
ANEXO VII

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA GUANABARA

REQUERIMENTO

Requeiro à Mesa Diretora, na forma regimental, um voto de congra-


tulações com a colônia letoniana radicada em Vila Varpa, Município de
Tupã, Estado de São Paulo, pelo cinqüentenário de sua vinda para o
nosso País e cuja efeméride será comemorada nos dias 11 e 12 de no-
vembro do corrente ano, promovida pela Igreja Batista Central de Var-
pa. Sala das Sessões, em 27 de setembro de 1972. — Hilza Maurício da
Fonseca.

Justificação
A 10 de novembro de 1922 foi fundada, no interior do Estado de São
Paulo, uma das maiores e mais prósperas colônias de imigrantes estran-
geiros — a Colônia Varpa. Eram cerca de 2.500 imigrantes europeus,
vindos da Letônia, um dos países bálticos que mais havia sofrido as de-
vastações da I Guerra Mundial depois de 700 anos de domínio estran-
geiro. Pressentindo novas ameaças de conflitos armados, houve naquele
país, entre 1922 e 1924, grandes movimentos emigratórios, motivados
pela ansiedade por um clima de liberdade de pensamento de crença e de
trabalho. Os letos (ou letões), então, escolheram o Brasil como sua
nova Pátria.
Fixaram-se esses imigrantes numa área por eles adquirida de 2.000
alqueires (quase 50 km2 ) cobertos de uma densa mata virgem, à mar-
gem direita do Rio do Peixe, a 650 km da Capital de São Paulo e 32 km
da Estação de Sapezal, que então era a penúltima parada dos trens da
Estrada de Ferro Sorocabana, no Município de Campos Novos, Comarca
de Assis. Seu espírito empreendedor, sua tradição eminentemente agrí-
cola transformaram, em poucos anos, aquela área de mata virgem em
sítio e pomares primorosamente tratados, abrindo estradas por conta
própria, fundando escola e um hospital, assim levando as primeiras luzes
de progresso intelectual, moral, espiritual e material aos sertanejos de
uma região de mais de 5.000 km2, através da obra de evangelização e
alfabetização. Hoje, Varpa é um dos distritos mais prósperos e rendosos

589
do Município de Tupã, na Alta Paulista, região que, nos primórdios da-
quela colônia, era totalmente inabitada. Da geração jovem de Varpa
saíram dezenas de pastores evangélicos, professores de todos os níveis,
engenheiros, médicos, dentistas, advogados, diretores de empresas e téc-
nicos que, integrados na vida nacional, contribuem para o progresso do
Brasil, terra que lhes serviu de berço e que acolheu hospitaleiramente
os seus pais.

590
ANEXO VITI

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO

REQUERIMENTO N° 497, DE 1972


A Colônia Varpa, Município de Tupã, estará assinalando no próximo
dia 1' de novembro o seu jubileu de ouro. Sua fundação se deve a 2.500
imigrantes europeus oriundos da Letônia, um dos países bálticos mais
sacrificados no primeiro conflito mundial.
Intranqüilos ante as ameaças de novos conflitos armados, os letões
promoveram entre 1922 e 1924 grandes movimentos migratórios, em bus-
ca de países que lhes pudessem proporcionar um melhor clima de liber-
dade de pensamento, de crença, de trabalho e, sobretudo, de segurança
e tranqüilidade. Os integrantes de um desses movimentos viram no Bra-
sil a terra prometida, que eles adotariam como sua nova pátria.
Constituindo uma leva de 2.500 imigrantes, aqui aportaram eles no
ano de 1922, indo fixar-se em área de 2.000 alqueires de densas matas,
que adquiriram na margem direita do Rio do Peixe, a 650 km da Capital
e a 32 km da Estação de Sapezal, naquela época a penúltima parada dos
trens da Estrada de Ferro Sorocabana. O território pertencia, então, ao
Município de Campos Novos, Comarca de Assis.
O espírito empreendedor daqueles homens e mulheres, aliado à sua
tradição agrícola e ao zelo religioso evangélico, transformaram, em pou-
cos anos, aquela área em sítios e pomares dadivosos. Abriram estradas
por sua própria conta, fundaram escolas e um hospital, assim levando as
primeiras luzes do progresso intelectual, moral, espiritual e material aos
sertanejos de uma região 'de mais de 5.000 km2, através da obra de evan-
gelização e alfabetização.
Da geração jovem de Varpa saíram dezenas de pastores evangélicos,
professores de todos os níveis, engenheiros, médicos, dentistas, advoga-
dos, diretores de empresas e técnicos inteiramente identificados com a
vida nacional, contribuindo para o progresso do Brasil, terra que lhes
serviu de berço, após haver acolhido de forma hospitaleira aos seus pais
e avós.
A absorção e integração de mais esse núcleo de colonização na vida
nacional é motivo de orgulho para todos nós, filhos desta terra dadivosa,
591
acolhedora e sem preconceitos ou limitações, em oue o estranp.eirn eh ena
e espontânea e rapidamente se integra em esplêndida confraternização.
Varpa é hoje um dos mais prósperos distritos do Município de Tupã,
na Alta Paulista. As comemorações do cinqüentenário da sua fundação
será motivo de intenso júbilo para os letos evangélicos. Muito justo, pois,
que esta Casa transmita à população de Varpa as suas mais entusiásticas
congratulações.
Ante o exposto,
Requeremos seja consignado na ata dos nossos trabalhos um voto de
congratulações com a Colônia Varpa, de Tupã, ao ensejo das comemora-
ções, no dia 1° de novembro próximo, do 50° aniversário da sua fundação,
dando-se ciência do deliberado às autoridades locais.

Sala das Sessões, em 10-10-72

a) Gióia Júnior

592
ANEXO IX

IGREJAS ORIGINARIAS DO TRABALHO BATISTA LETO


NO BRASIL

Campo da 1. Igreja Batista Leta de Rio Novo (SC)


Igreja Batista Leta 2. Igreja Batista Leta de Rio Oratório (SC)
de Rio Novo (SC): 3. Igreja Batista Alemã, Rio Novo (SC)
4. Igreja Batista de Rio Mãe Luzia (SC)
5. Igreja Batista de Pedras Grandes (SC)
6. Igreja Batista de Orleães (SC)
7. Igreja Batista de Laguna (SC)
8. Igreja Batista de Urubici (SC)
Campo da 9. Igreja Batista Leta de Ijuí — Linha 11 RS)
Igreja Batista Leta 10. Igreja Batista das Invernadas (RS)
de Ijuí — Linha 11 (RS) : 11. Igreja Batista da Colônia Guarani (RS)
12. Igreja Batista da Linha 10, Ijuí (RS)
13. Igreja Batista de Alto Uruguai (RS)
14. Igreja Batista da Linha 18, Ijuí (RS)
15. Igreja Batista de Ramadas (RS)
16. Igreja Batista de Santiago (RS)
17. Igreja Batista de Cruz Alta (RS)
Campo da 18. Igreja Batista Leta de Jacu-Açu ( mais
Igreja Batista Leta tarde Rio Branco) (SC)
de Jacu-Açu (SC): 19. Igreja Batista do Alto Guarani (SC)
20. Igreja Batista de Brüedertal (SC)
21. Igreja Batista de Ponta Comprida (SC)
22. Igreja Batista da Linha Telegráfica (SC)
23. Igreja Batista da Terra de Zimmermann
(SC)
24. Igreja Batista de Porto União (SC)
25. Igreja Batista de Itaperiú (SC)
26. Igreja Batista de Bananal (SC)
27. Igreja Batista de Guaramirim (SC)
28. Igreja Batista de Joinvile (SC)
593
Campo da 29. I Igreja Batista de Nova Odessa (SP)
I Igreja Batista 30. Igreja Batista de Areias (SP)
de Nova Odessa (SP): 31. II Igreja Batista de Nova Odessa (SP)
32. Igreja Batista de Santa Bárbara d'Oeste
(SP)

Campo da 33. Igreja Batista de Americana (SP)


II Igreja Batista 34. Igreja Batista de Sumaré (SP)
de Nova Odessa (SP): 35. Igreja Batista de Pirassununga (SP)
36. III Igreja Batista de Nova Odessa (SP)
37. Igreja Batista de Araras (SP)

Campo da 38. Igreja Batista Leta de Varpa (ou Central


Igreja Batista Leta de Varpa) (SP)
de Varpa (ou Central de 39. Igreja Batista de Pitangueiras (SP)
Varpa) (SP): 40. Igreja Batista de Palma (ou Picadão)
(SP)
41. Igreja Batista Russa de Varpa (SP)
42. Igreja Batista Leta de São Paulo (Capital)
43. II Igreja Batista de Varpa (SP)
44. Igreja Batista Brasileira de Varpa (SP)

Campo da 45. Igreja Batista de Ferreira (SP)


Igreja Batista Leta 46. Igreja Batista de Campo Limpo (SP)
de São Paulo (Capital): 47. Igreja Batista de Embu (SP)

Campo da 48. Igreja Batista de Quatá (ou Igreja Batista


Missão Sei Caneja Unida de Rio do Peixe) (SP)
de Varpa (SP): 49. Igreja Batista de Bandeiras (hoje Cam-
pinho) (SP)
50. Igreja Batista de Tupã (SP)
51. Igreja Batista de Herculândia (ou Sant'
Ana) (SP)
52. Igreja Batista de Paraguaçu (SP)
53. Igreja Batista de Rancharia (SP)
54. Igreja Batista Russa de Moóca (hoje Boas-
-Novas), São Paulo (Capital)
55. Igreja Batista de Esperança (SP)
56. Igreja Batista de Vera Guarani (SC)
57. Igreja Batista de Varna (SP)
58. Igreja Batista de Aurora (SP)
59. Igreja Batista de Oswaldo Cruz (SP)
60. Igreja Batista de Adamantina (SP)

Campo da 61. Igreja Batista de Rincón del Tigre, Bolívia


Associação das Igrejas 62. Igreja Batista de Ilha Rasa (PR)
Batistas Letas do Brasil: 63. Igreja Batista de Guaraqueçaba (PR)
64. Igreja Batista de Quatro Barras (PR)

594
Igrejas de 81, 11)707 .Batista de Monte Mor (SP)
iniciativa missionária 66. Igreja Bat.thá de Anhumas, (SP)
particular: 67. Igreja Batista de Regente Fede') (SP)
68. Igreja Batista de Bastos (SP)
69. Igreja Batista de Inala Paulista (SP)
70. Igreja Batista de Monte Verde (MG)
Igrejas surgidas sem 71. Igreja Batista de Nova Europa (SP)
iniciativa de outras 72. Igreja Batista de Corumbatai (ou Jorge
igrejas Tetas: Tibiriçá) (SP)
73. Igreja Batista de Pariquera-Açu (SP)
74. Igreja Batista Leta de São José dos Cam-
pos (SP)
75. Igreja Batista de Renascença (PR)

595
ANEXO X
CARTA DIRIGIDA PELO PASTOR ANDRÉ KLAVIN
AO PROFESSOR ARTHUR LAKSCHEVITZ

Palma, 13 de fevereiro de 1963


Prezado irmão Artur Lakschevitz:
Depois de orarmos e meditarmos sobre o futuro de Palma, em nosso
encontro de 10 de dezembro de 1962, desejo escrever-lhe o seguinte com
respeito a este assunto:
Considerando que no avivamento espiritual há 45 anos na Letônia,
nós, um grupo de crentes batistas, fomos impulsionados pelo Espírito
Santo a servirmos ao nosso Mestre com tudo que tínhamos — bens ma-
teriais e espirituais, e o próprio ser — colocando o coração incondicional-
mente no altar divino, sentimos no íntimo que devíamos ir para um lugar
desconhecido, mas indicado pela inspiração do Espírito Santo, e que este
lugar seria o Brasil;
Considerando, ainda, que este grupo prontamente atendeu ao cha-
mado divino, confiando na direção do Espírito Santo, abandonou tudo;
seu povo, parentes, pais, irmãos, amigos, terra amada e querida, com
hábitos e costumes já tradicionais e outras atrações, para seguirmos
cegamente a vontade do amado Jesus, e ir a uma terra e povo desconhe-
cidos, de costumes e hábitos estranhos e de clima tão diferente, e levar
a luz gloriosa do Evangelho da Cruz de Cristo àqueles que ainda jaziam
nas densas trevas do pecado neste Brasil;
Considerando, mais, que depois de 40 anos de labor exaustivo, depois
de termos enviado de nosso meio mais de 100 obreiros para os campos do
Brasil, o nosso desejo robusteceu-se no sentido de servir mais e com maior
ardor ao povo brasileiro — tão hospitaleiro e acolhedor e que tornou-se
sobremodo querido e amado em nosso coração;
Peço ao irmão sondar e investigar, junto aos irmãos de destaque
na denominação batista brasileira, como melhor poderíamos ainda servir
para conduzir o povo brasileiro aos pés de Cristo. Agora, quando o vigor
da nossa vida física estremece e empalidece, mas a nossa fé e espírito
estão prontos para servir de toda maneira na Causa do Senhor, caso haja
interesse da parte dos irmãos, estamos prontos para quaisquer entendi-
mentos neste sentido.
André Klavin
597
ANEXO XI
CONTRATO DE COMODATO FIRMADO ENTRE A
CORPORAÇÃO EVANGÉLICA E A JUNTA EXECUTIVA DA CBB

CONTRATO DE COMODATO
Pelo presente instrumento de Contrato de Comodato, firmado entre
a Corporação Evangélica Palma e a Junta Executiva da Convenção Ba-
tista Brasileira, adiante sempre chamadas, respectivamente, Corporação e
Junta, representadas por seus bastantes procuradores, fica convenciona-
do, a partir de hoje, 20 de agosto de 1964, perante as testemunhas tam-
bém abaixo assinadas e para os efeitos internos e particulares, o seguin-
te: — Art. I — São responsabilidades da Corporação para com a Junta:
1) — Outorgar escritura de doação pura e simples do imóvel com a área
de 711,59,62 Has., denominado "Fazenda Palma", sendo 619.7862 Has.,
localizados no Município de Tupã, e 91,81 Has., localizados no Município
de Quintana, no Estado de São Paulo, juntamente com todas as benfei-
torias, veículos, animais, móveis, máquinas e utensílios compreendidos
como propriedade da Corporação Evangélica Palma. 2) — Pagar todos
os impostos territoriais e outras dívidas, acertar com os empregados as
questões trabalhistas ou outras legais e deixar a propriedade livre de
quaisquer ônus para a Junta Executiva. 3) — Continuar a administração
da "Fazenda Palma" até a data estipulada em artigo a seguir. 4) —
Zelar da melhor forma pela propriedade a ser ocupada por ela, da assi-
natura do presente contrato até a entrega total da administração à Jun-
ta, bem como pela parte da propriedade a ser ocupada por ela nos ter-
mos do número IV (4), digo, número IV, digo, número 4 (quatro) do
artigo II (segundo) deste contrato. 5) — Providenciar para os seus só-
cios garantia de condigna substência, digo, subsistência, inclusive para
despesas médicas e funerárias e outras necessidades para a sobrevivên-
cia da comunidade. Art. II — São responsabilidades da Junta para com
a Corporação: 1) — Aceitar a escritura da doação pura e simples da
propriedade acima especificada. 2) — Estabelecer naquela propriedade
um Retiro Espiritual, que se denominará "Acampamento Batista Palma".
3) — Assumir a administração da Fazenda Palma até 20 de agosto de
1965, ou seja, até um (1) ano após a assinatura da doação da proprie-
dade. 4) — Permitir à Corporação o direito de estabelecer-se e manter-se
599
dentro da propriedade, ocupando a área de aproximadamente 8,281 al-
queires paulistas indicados no mapa anexo e que faz parte integrante
deste comodato, devidamente assinado pelas partes contratantes, permi-
tindo ainda à Corporação, de acordo com a administração da Junta, o
uso de certas benfeitorias, veículos, animais, móveis, máquinas e utensí-
lios para o bem-estar e conforto dos sócios. 5) — Melhorar, à medida
do possível, as moradias dos sócios da corporação. 6) — Permitir à Cor-
poração o uso de água, força elétrica e lenha, conforme as necessidades
e possibilidades. 7) — Pagar à Corporação, dentro dos dez (10) primei-
ros dias de cada mês, a quantia correspondente a um salário mínimo vi-
gente na região para cada sócio remanescente da mesma. 8) — São con-
siderados sócios remanescentes da Corporação nos termos do presente
contrato e de acordo com os Estatutos em vigor, devidamente rubricados
pelas partes, os quais integram também o presente instrumento, e que
não podem ser modificados, em tempo algum, quanto à entrada de novos
sócios, direito de sucessão, etc., os seguintes corporados: Girts Dobelis,
Marta Gailis, Lucija Ozols, Emilia Lus, Kristine Dzenis, Olga Liepa, Maia
Grikis, Minna Eglitis, Anna Oseneek, Peteris Sture, Maria Ozols, Katrina
Pikel, Alexandre Samoylovitch, Matilde Samoylovitch, Kristine Ozols,
Milda Kalejs, Laviza Punga, Elza Diss, Anna Indrikson, Anna Bukmann,
Anna Zvirgsdin, Karlina Vanags, Anna Brunovski, Ernests Gulbis, Janis
Likums, Maiga Rateneek, Anna Leitis, Emilija Plost, Manja Mellemberg,
Minna Krieg, digo, Minna Krigers, Anna Tunseit, Manja Finster, Janis
Krumins, Anna Krumin, Elma Purvin, Hilda Berkis, André Klavin, Anna
Dziedataj, Luize Klawa, Ziedite Ozolins, Ieva Grinic, Janis Grikis, Mikels
Rimsha, Minna Rimsha, Lizete Indrikson, Late Sniker, Anna Dravniek
e Efminia Semeniuk. 9) — As mensalidades aqui estipuladas iniciar-se-ão
no mês imediato à transferência da administração geral da Fazenda Pal-
ma consoante indica o número 3 (três) do Artigo 11 deste Contrato. 10)
— Reestudar o Contrato com os remanescentes da Corporação quando for
necessário, devido à impossibilidade desta entidade continuar como or-
ganização independente. Art. III — Isenção de responsabilidades: 1) —
A Junta não se responsabiliza por qualquer dívida, entendimentos, con-
tratos ou processos anteriores feitos com relação à propriedade ou à
Corporação. 2) — A Corporação não se responsabiliza por qualquer dí-
vida, entendimentos, contratos ou processos posteriores, relativos à pro-
priedade, ao Acampamento Batista "Palma" ou à Junta. 3) — A Corpo.
ração e o Acampamento Batista "Palma" pretendem ocupar a proprie-
dade em harmonia, em cooperação e em paz, para o bem da Causa de
nosso Senhor Jesus Cristo. Assim acordadas as partes, mandaram dati-
lografar o presente instrumento em três vias de igual teor, ficando uma
em poder de cada contratante, depois de devidamente assinadas inclusive
pelas testemunhas que a tudo presenciaram. (seguem-se as assinaturas.)

600
ANEXO XII

OFERTAS DAS IGREJAS BATISTAS LETAS NO BRASIL


E DE AMIGOS PARA A OBRA MISSIONÁRIA

De 30 de junho de 1972 a 1 de julho de 1973


Entradas Cr$
Saldo do ano anterior 12 . 914,00
P/Fundo de Sustento de Obreiros
União das Igrejas Batistas Letas dos EUA 14 . 996,00
II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 9 . 997,00
I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 4 . 540,00
Igreja Batista de Palma 3 . 000,00
Igreja Batista Leta de São Paulo 2 . 486,00
Saldo do jubileu das Igrejas Batistas Letas de Varpa 1 . 500,00
Igreja Batista Boas-Novas, São Paulo 1 . 390,00
Livia Tiluks 1.160,00
A. M. e N. Preiss 1.160,00
Vilis Sturms 1 . 000,00
Igreja Batista Leta Central de Varpa 955,00
Vanilda e Loyd Jacobson 800,00
Soc. Fem. II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 564,00
Carlos Frischenbruder 300,00
Alfredo Zarins 200,00
Zelma Klavin 200,00
Ida Zvirgsdin 100,00
Janis Tupess 100,00
Anna Mellum 30,00

Total 44.478,00
P/ Trabalho Missionário
Igreja Batista Boas-Novas, S. Paulo 7 . 680,00
Soc. Fem. da Igreja Batista Leta de Filadélfia, EUA 2 . 030,00
Igreja Batista Leta de Toronto, Canadá 1 . 624,00
Vilma Brady, Greensboro 1.180,00
Livia Tiluks 1.160,00

601
Entradas Cr$
André Pusplatais 500,00
E.B.D. da I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 425,00
Milda Keck, Detroit, EUA 338,00
M. Zegelnieks 300,00
Usufruto de Eduardo Tois 300,00
Alma e H. Jacobson 200,00
John V. Vecherok, Modesto, Chile 180,00
Theodor Kainin, Londres 163,00
Anônimos 160,00
Igreja Batista Leta de Toronto, Canadá 120,00
União das Igrejas Batistas Letas dos EUA 120,00
Anna Anstips, Greensboro 118,00
E.B.D. da II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 115,15
Eliza Z. Mazurenko 100,00
Emília Salms 100,00
Júlia Luters, W. Salem 88,50
O. Veidmann 60,00
Igreja Batista Leta Central de Varpa 60,00
Ida Zvirgsdin 50,00
S. F. 50,00
Natália Mucenieks 50,00
J. Leiasmeier 40,00

Total 17.931,65
P/Ambulatório do Rio Pardo
Vilma Brady, Greensboro 295,00
I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 275,00
E.B.D. da I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 250,00
Emília Salms 100,00
J. Leiasmeier 30,00

Total 950,00
P/Templo em Quatro Barras
Peters Sture 2.000,00
Coleta do Congresso de N -va Odessa 1 . 770,00
Coleta do aniversário da ii Igreja Batista Leta de Nova
Odessa 1.577,00
Igreja Batista Leta de São Paulo 1 . 363,00
Do "Livro de Ouro" 1 . 350,00
Igreja Batista Leta de Palma 1 . 300,00
I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 1 . 050,00
Soc. Fem. da Igreja Batista Leta de S. Paulo 1 . 000,00
M. e K. Abol 1 . 000,00
Carlos Frischenbruder 1 . 000,00
A. M. S. 1 . 000,00
Soc. Fem. de Cleveland, EUA 750,00
Soc. Fem. da II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 500,00

602
Entradas C4
A. e P. Gutmann 300,00
A. Kupse 300,00
Emilia Salina 300,00
Diversos 265,00
Lizete e Maria Grinberg 200,00
John V. Vecherok, Modesto, Chile 180,00
Igreja Batista Leta Central de Varpa 150,00
Valdis e Austra Dreimann 120,00
Jekabs Cerpe 100,00
Eduardo Jurkis 100,00
Milia Tupess 100,00
Alfreds Lapins 100,00
Eleonoro Klava 100,00
Milda Preiss 70,00
Soc. Fem. Igreja Batista Leta Central de Varpa 50,00
Soc. Fem. I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 50,00
Pedro Miltuzs 50,00
L. Gaidukas, Oxnard 47,50
A. Murnieks, Chicago 36,00

Total . ... 18.278,50


P/Obreiros (Designadas)
Igreja Batista de Palma 1.100,00
Soc. Fem. II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 800,00
Congregação Batista Leta de Milcov, EUA 720,00
M. Zegelnieks 600,00
Gunars Tiss 200,00
A. Kupse 120,00
Igreja Batista Leta de Toronto, Canadá 120,00
Otília Bastik 118,00
Eliza Z. Mazurenko 100,00
Ida Zvirgsdin 50,00
Igreja Batista Boas-Novas, S. Paulo 50,00
Natália Muceniek 30,00
Olga Strauss 10,00
Total . . 4.078,00
P/Natal dos Obreiros:
Soc. Fem. II Igreja Batista Leta de Nova Odessa 1 . 600,00
Soc. Fem. I Igreja Batista Leta de Nova Odessa 1 . 000,00
Soc. Fem. Igreja Batista Leta de S. Paulo 900,00
Família Blumit 600,00
André Pusplatais 500,00
Soc. Fem. da Igreja Batista Leta Central de Varpa 380,00
Igreja Batista Leta de Toronto, Canadá 330,00

603
Emilia Salms 160,00
Sônia Busch, EUA 90,00

Total 5.560,00
Venda de Livros de História de Rincón:
Osvalds Vitols, Austrália 140,00
A. Usis, EUA 228,00

Total .... 368,00


P/Acampamento dos Presidiários:
Peters Sture 600,00
P/Igreja Batista de Embu:
A. P. Gutmans 360,00
P/Igreja Batista de Vila Parolin:
A. P. Gutmans 360,00
A. Kupse 300,00
P/Seminaristas:
Igreja Batista Leta de Toronto, Canadá 900,00

TOTAL GERAL DA RECEITA C/ SALDO


DO ANO ANTERIOR 107 . 728,15

Despesas Cr$
Sustento dos Obreiros 44.252,00
Construção do Templo em Quatro Barras 18.479,50
Trabalho Missionário 16 . 410,15
Natal dos Obreiros 5.560,00
P/Obreiros (Designadas) 4.078,00
Viagens 1 . 846,00
P/Jipe do missionário Reinaldo Snikers 1 . 050,00
Correspondência 983,00
Ambulatório do Rio Pardo 600,00
Acampamento dos Presidiários 600,00
P/Seminaristas 600,00
P/Jubileu da Varpa 550,00
P/Igreja Batista de Vila Parolin 660,00
P/Igreja Batista de Embu 360,00

TOTAL GERAL DE DESPESAS 96.378,65

Saldo p/próximo ano 11.349,50


Ponta Grossa, 30 de junho de 1973
Tesoureiro — Carlos Stroberg

604
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