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Vice-Reitor
Mario Sérgio Alves Carneiro
Chefe de Gabinete
2 Domenico Mandarino
Rede:
www.revistasobreontes.site
Coordenador
José Maria Neto
Ficha Catalográfica
Por sua vez, Geraldo Rosolen Junior dedicou metade do texto A narrativa
em Walter Benjamin e as transformações da identidade cristã na Primeira
Idade Média através dos Sermões sobre a Queda de Roma ao debate
teórico entre Benjamin e Arendt principalmente, cotejado com outros
autores como Carr, Le Goff, Ricoeur e Skinner, no intuito de pensar o
impacto das memórias nas produções de narrativas e identidades. Em
seguida, o autor refletiu sobre os sermões de Agostinho dedicados aos
ataques e saques que Roma sofreu no início do século V sob um viés
hegeliano, isto é, da dialética entre indivíduo, seus discernimentos e a
sociedade circundante. Neste ínterim, sob a retórica do Hiponense, a
maleabilidade das identidades cristã e romana convergiu até ser formatada
em uma única expressão identitária.
Por fim, a pesquisa de Wesley Andretta, sob o título O conto do Graal e sua
descrição sobre a cavalaria francesa da segunda metade do século XII,
propôs uma análise da cavalaria francesa entre c.1150-1200, com foco no
Conto do Graal conforme a obra de Chrétien de Troyes. O autor dialogou 11
com a historiografia do tema para refletir sobre o ideário cavaleiresco. O
conjunto de representações culminou, conforme o autor, na inclusão de um
objeto místico (o Santo Graal) no conjunto de produções daquele tempo
que compõem a Matéria da Bretanha.
Fonte: https://www.facebook.com
[Optamos por preservar a identidade do autor].
Nas imagens, notamos que a identidade política bolsonarista estava calcada
na admiração do passado medieval. Tal admiração tomou uma dimensão
tão grande que, alguns órgãos midiáticos, decidiram entrevistar
medievalistas a fim de compreenderem a conexão estabelecida entre a
Idade Média e Jair Bolsonaro/Extrema-Direita. Nesse sentido, o blog
Agência Pública divulgou, em abril de 2019, uma reportagem intitulada
Deus vult: uma velha expressão na boca da extrema direita, na qual Paulo 13
Pachá, Professor de História Medieval da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) comentava sobre o assunto. Para ele, a Extrema-Direita
manipulou ideologicamente o passado no intuito de criar uma sociedade
idealizada – ficcional – que era, em sua maioria, branca, cristã e patriarcal.
Por conseguinte, essa sociedade trazia discursos preconceituosos de como
racismo, homofobia, islamofobia e machismo. Vejamos as palavras do
entrevistado:
“No Brasil, essa referência cruzadista tem sido utilizada por bolsonaristas na
esteira da direita alternativa norte-americana, também conhecida como alt-
right. ‘Está decretada a nova cruzada. Deus vult!’, comemorou no Twitter o
analista político Filipe Garcia Martins quando da vitória de Bolsonaro. Aluno
de Olavo de Carvalho e atual assessor para assuntos internacionais da
Presidência da República, Martins escreveu durante a posse: ‘A nova era
chegou. É tudo nosso! Deus vult!’. Além dele, outros apoiadores
bolsonaristas têm feito uso da expressão. ‘Precisamos de um São Bernardo
de Claraval [abade encarregado pelo papa de pregar a Segunda Cruzada]
para animar novas Cruzadas. CHEGA’, escreveu o tuiteiro e youtuber
Bernardo P. Küster, após ataques de terroristas muçulmanos contra cristãos
no Sri Lanka em 21 de abril deste ano” [Oliveira; Rudnitzki; 2019].
Feudalismo
O conceito de Feudalismo é a origem maior dos equívocos. Há um
desconhecimento sobre o fato de que a Idade Média e o Feudalismo são
construções históricas, fabricadas posteriormente por pessoas que tentaram
impor suas ideologias aos eventos.
Cristianismo
Chevitarese [2006] argumenta que a gênese do cristianismo não teve nada
de excepcional. Classificado como superstitio, e não como religio licita por
Tácito e Dião Cássio, o culto cristão era só mais um dentre vários existentes 15
na Antiguidade politeísta.
Podemos dizer, então, que entre os séculos VIII a IX, a Igreja não só era
detentora de terras como também os seus líderes – os bispos – exerciam
dominação senhorial, comandando juridicamente diversos territórios e
explorando a mão de obra camponesa, através da cobrança do dízimo nas
vilas e nas cidades e da cobrança das taxas do comércio.
A Cavalaria
Comentados os conceitos de Feudalismo e Cristianismo, falemos sobre o
conceito de Cavalaria. A primeira observação concerne às leituras que a
consideram como um resquício da herança bárbara, um resquício, porém,
cristianizado e civilizado pela Igreja. Os pesquisadores preferem dizer que
ao invés de ter existido um processo de cristianização dos bárbaros houve
uma militarização do cristianismo.
Considerações Finais
Nesse pequeno texto, vimos que as ordens militares foram utilizadas pelos
clérigos para a inserção do cristianismo dentro de um comportamento
bélico. Ou seja, as ordens militares já eram cristãs e bélicas. Mas, os
clérigos queriam usá-las para promoverem o comportamento cristão bélico,
de luta contra o infiel. Para isso, a Igreja criou uma imagem quixotesca dos
cavaleiros, como se o único papel deles na sociedade fosse lutar contra os
infiéis. Todavia, os cavaleiros eram homens do seu tempo, que
participavam da lógica social e que se viam mais como protetores dos
peregrinos. Portanto, cabe concluir dizendo que a leitura bolsonarista do
passado é completamente equivocada, estando mais interessada em
levantar uma bandeira política do que em compreender os eventos
históricos.
Referências biográficas:
Ana Lucia Santos Coelho é doutoranda em História Antiga na Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP). Atualmente, trabalha como professora de
Metodologia Científica e de Estágio Supervisionado em História na
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). E-mail:
ana.scoelho@hotmail.com
Ygor Klain Belchior é doutor em História Antiga pela Universidade de São
Paulo (USP). Atualmente, é professor de História Antiga, História Medieval e
História da Arte da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG –
Campanha). Email: ygorklain@gmail.com
Referências:
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18
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O CINEMA E O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL: REFLEXÕES E
PROPOSTAS
Flávia Amaral
História e cinema
A relação entre história e cinema é umbilical. Um dos primeiros filmes
exibidos, ainda pelos irmãos Lumière, em 20 de novembro de 1898 foi A
execução de Joana d’Arc.
“Na oposição entre julgar o filme nos seus mínimos detalhes em busca de
suas “falhas históricas” – algo presente numa tradição de análise desse
gênero – ou considerá-lo uma ficção, num sentido quase pejorativo, que
pouca relação tem com o passado, pois tudo não passaria de invenções
exóticas de um artista, proponho um caminho alternativo que venho
trilhando, que envolve a exibição de filmes que tratem temas
historiográficos – ou, podemos dizer, os tradicionais filmes históricos (com
critérios de seleção que se equilibrem entre o público, a qualidade do filme
e a intencionalidade do professor) – e a comparação com as tradições
historiográficas às quais o filme faz referência. A essa altura do
campeonato, na qual a cultura visual e virtual está impregnada nas nossas
vidas (professores e alunos), não parece fazer nenhum sentido julgar filmes
históricos a partir do binômio falso/verdadeiro” [Fonseca, 2016, p. 416].
Propostas de análise
Referências
Flávia Amaral realizou pós-doutorado em História pela Unicamp; é doutora
em História pela Universidade de São Paulo e Professora de História Antiga
e Medieval na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Nos últimos anos o medievo tem sido alvo nas mídias, nos discursos
lugares-comum e de personalidades políticas. Se de um lado observamos o
crescimento do que Umberto Eco chamou de “Idade Média sonhada”, por
outro há a adoção de narrativas que reforçam as representações negativas
sobre o período, cercada de juízos de valores e tornando ainda mais difícil
desconstruí-las. Jérôme Baschet, na Introdução do seu livro A civilização
feudal: Do ano mil à colonização da América, afirma que a imagem sobre a
Idade Média é ambígua, pois, simultaneamente à simpatia pelos castelos,
pela literatura sobre a Távola Redonda, o deslumbramento pelas catedrais
góticas, denota também o obscurantismo, o atraso e a barbárie. [2006, p.
23-24]
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Em linhas gerais, os estudos pós-colonialistas correspondem ao apelo e ao
compromisso ético em se “desocidentalizar” e “deseuropeizar” às
perspectivas de mundo e as formas de saber, lembrando que as ideologias
presentes nos modelos pré-existentes e nas representações tendem a
naturalizar a subalternidade, a exclusão e o estatuto periférico, impondo
uma expressiva carga darwinista e juízos de valores e estéticos. [Mata,
2014, p. 30] Sua importância reside justamente no fato de desconstruir e
desnaturalizar tais estereótipos, trazendo a discussão mais ampla de como
as estruturas do saber estão vinculadas a aspectos ideológicos e,
consequentemente, servindo também a estruturas de poder.
Nos últimos vinte e cinco anos, muito tem se discutido sobre novos
arcabouços metodológicos e conceituais para o estudo da história, dos quais
História Cruzada, Histórias Conectadas, História Transnacional e História
Global são apenas alguns desses exemplos. No caso específico da História
Global, uma série de obras, seminários, grupos de pesquisas e periódicos
organizaram suas pesquisas a partir desse novo paradigma historiográfico.
Em síntese, pode-se afirmar que a História Global baseia-se em duas
principais características: superar o nacionalismo metodológico como
principal forma de análise das sociedades e evitar o
eurocentrismo/ocidentalismo. [Santos Júnior; Sochaczewski, 2017,p. 491]
No entanto, o que essa modalidade historiográfica traz de novo em
comparação com a chamada História Universal? Em seu artigo Experiências
do tempo: da história universal à história global?, o historiador francês
François Hartog afirma que enquanto a primeira tendeu a naturalizar ou
absolutizar a história da Europa – a ponto de transformá-la num parâmetro
narrativo para toda uma história da humanidade – a segunda privilegia a
busca por conexões, numa espécie de rede, na qual não há,
consequentemente, uma visão única a seu respeito. [Hartog, 2013, p. 170]
A ideia de uma História Universal, que caminha inevitavelmente para o
futuro, centrada na concepção de progresso, tal como pensavam os
intelectuais do século XVIII, não faz mais sentido nos dias de hoje. Não
obstante, a história não poderia ser apenas uma mera soma de diversas
conexões, como uma colcha de retalhos, prontos a serem costurados e
formar um desenho, numa espécie de quebra-cabeça. Não há um roteiro ou 31
um manual prévio o qual consultar, pois é o próprio historiador que
(re)organiza essas conexões, a partir de seus objetivos, objetos, recorte,
teoria, metodologia, conferindo novas formas de interpretação. Logo, a
perspectiva da História Global ultrapassa a simples ideia da busca por
conexões entre culturas e sociedades, contribuindo com um novo olhar
sobre as sociedades como objeto de estudo e para a tessitura de novas
interpretações e narrativas.
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Na introdução da obra organizada pelo acadêmico estadunidense Jeffrey
Jerome Cohen, The Postcolonial Middle Ages [Palgrave Macmillan,
2000], o autor questiona em que e com o que os estudos medievísticos
podem contribuir dentro da abordagem pós-colonialista. Como uma Idade
Média colonizada, que corresponde a um tempo longínquo - se comparada
com o próprio fenômeno do neocolonialismo no século XIX - pode auxiliar
nos estudos pós-colonialistas dentro do Ensino de História?
A concepção de mapa que adotamos nos nossos dias não está pautada nos
mesmos elementos para o homem medieval. A cartografia não existia
enquanto uma ciência ou uma disciplina no período e a produção de mapas
estava diretamente vinculada a aspectos do universo clerical. Os mappae
mundi não tinham por objetivo apenas a descrição do espaço ou determinar
a localização de um território, mas, antes de tudo, correspondia a uma
representação de mundo, seguindo regras muito particulares, com
informações geralmente oriundas de obras dos padres da Igreja, da
narrativa bíblica e de fragmentos de informações da Antiguidade. [Deus,
2001, p. 178] Os mappae mundi tendem a ser identificados como narrativas
para fins didático e simbólico, representando a fé a partir versões morais
situadas entre a Criação e o Juízo Final, enquanto que as instruções de
Ptolomeu quanto à compilação dos mapas eram estritamente prática e mais
racionais.
Considerações finais
Atividades de pesquisa e ensino não vêm dissociadas. As investigações
sobre a medievística refletem nossa forma de pensar a história e as teorias
e ferramentas de que dispomos em nosso fazer historiográfico. O caminho
para o medievalista desconstruir os pré-conceitos e estereótipos dentro da
sua disciplina é árduo, pois, se a Idade Média não foi uma Era de Ouro,
tampouco foi um período de trevas. É preciso estudá-lo a partir dos objetos
recortados e dos objetivos acadêmicos os que se almeja alcançar.As
reflexões advindas dos estudos pós-colonialistas reforçam o olhar cuidadoso
acerca dos objetos de investigação do medievo, da importância de uma
análise a partir de dinâmicas próprias e desnaturalizando conceitos
cristalizados na medievalística.
Contudo, é inegável que aquilo que o período de que denominamos de
Medievo não correspondia a espaços fechados, ausentes de conexões e
trocas das mais diversas naturezas. Tampouco o mundo medieval estava
restrito apenas ao continente europeu, sobretudo à sua porção ocidental.
Tomar consciência dessa dimensão espacial mais ampla permite vislumbrar
uma Idade Média a partir das conexões entre Europa, Oriente e África, bem
como considerar que esses elos não devem ser analisados de uma 37
perspectiva eurocêntrica. Nesse aspecto, os pressupostos teórico-
metodológicos da História Global endossam quanto à observação das trocas
culturais, rompendo o paradigma ocidental e eurocêntrico e relativizando os
conceitos de Oriente e Ocidente.
Referências
Isabela Albuquerque é Professora Adjunta do Curso de História da
Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns e Doutora em História
Comparada pela Universdade Federal do Rio de Janeiro. E-mail para
contato: isabela.albuquerque@upe.br
Como bem destacou José Rivair de Macedo, “um filme tem mais a dizer
sobre o momento em que foi produzido do que a época que pretende
narrar” [2004, p.119]. Logo, o cinema pode e deve ser utilizado pelo
professor como uma ferramenta para estimular os alunos a refletirem sobre
algumas questões referentes às aulas, promovendo também um momento
de entretenimento e descontração no ambiente escolar.
Segundo Nei Nordin, “é preciso que todo professor tenha consciência de que
não vai para a sala de aula formar historiadores” [2013, p.181]. Logo, a
metodologia de ensino, não só de História, pode sofrer alterações para se
adequar ao perfil de alunos de hoje. Sem desrespeitar as orientações da
equipe pedagógica e o material didático utilizado no espaço escolar,
podemos colaborar para estimular a criatividade e o interesse em nossos
alunos. Notamos que, basicamente, todos os exemplos que citamos até
aqui, sejam de filmes ou de jogos, tornaram-se populares devido as suas
cenas de batalhas ou pelo armamento tático que compunha o figurino dos
personagens.
Considerações finais
Assim como na antiguidade e no medievo, a encenação de “paredes de
escudos” serve para fortalecer os laços de amizade e respeito entre os
participantes, favorecendo o espírito de trabalho em equipe. Preparar uma
batalha campal, seja no Ensino Superior ou na Educação Básica, requer
horas de planejamento e de preparação. Afinal:
Sem falar que a própria elaboração das ferramentas possui uma dupla ação
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benéfica: primeiro, porque “a memória adquire vínculos maiores com
aqueles conhecimentos que foram preparados e pensados pelo próprio
aluno” [Nordin, 2013, p.183]; e em segundo, o objeto construído por ele
cria um elo entre o passado e o presente através da recordação de eventos
marcantes para a história da humanidade.
Referências
Marcio Felipe Almeida da Silva é Doutor em História pela Universidade
Federal Fluminense, Pesquisador do Translatio Studii e professor do Centro
Universitário Abeu (UNIABEU).
Conclusão
A Idade Média europeia é uma realidade geográfica e sociocultural 51
anacrônica ao Brasil, muitos historiadores ainda discutem a necessidade de
estudar algo tão distante, como escreve Ronaldo Amaral no artigo “O
Medievalismo no Brasil”. Ele continua que a Idade Média pode ser
encontrada nas estruturas elementares da civilização ocidental, o que inclui
a brasileira. Podem ser encontradas nas estruturas interiores como as
crenças, o imaginário, ideais conectados à ética e moral, direito, religião,
política, expressões e sensibilidades. Estas nuances que podem ser
utilizadas dentro da sala de aula para que os estudantes alcancem uma
proximidade com o período e queiram estudá-lo a fundo, buscando mais
informações do que lhes é passado na sala de aula.
Mesmo que seja anacrônico, pode ser percebido ligações com a Inquisição e
a ditadura civil militar, por exemplo. Fatos que aconteceram no Brasil e que
os estudantes podem refletir sobre as influências de uma na outra. Como o
mecanismo de tortura, a “Coroa de Cristo”, método usado na ditatura que
consiste em um torniquete que esmaga o crânio do indivíduo.
Referências
Adrienne Cardoso é graduada em Licenciatura em História pela Universidade
Federal do Pampa e membro do Laboratório de Pesquisa e Estudo de
História Medieval (Lapehme) da mesma universidade.
Dessa forma, a questão diz respeito à forma como a religião coloca-se fora
do campo epistemológico da historicidade e, de certa forma, da própria
história. Após expor o problema da temporalização, esse autor apresenta
diferentes autores cujos trabalhas, grosso modo, corroborariam a
inviabilidade de pensar a religião por meio da teoria do medievalism.
Já no começo do texto, Mons. João Clá apresenta alguns topos dos santos
medievais como a virgindade, a humildade, a precocidade intelectual,
sobretudo, a forma extemporânea em que os santos são, pela Providência,
apresentados às suas missões terrenas, entre outros. Todavia, além disso,
ele faz questão de demarcar o período em que a vida e os feitos da santa
ocorrem, isto é: a idade média. Neste momento, o autor afirma que a
Inglaterra dominava o território francês e que Joana foi a escolhida por
Deus para libertar a França. Sendo, inclusive, conduzida por vozes do
Espírito, a “donzela”, a “imaculada” e a “santa” Joana apresenta-se ao rei
Carlos VII a fim de revelá-lo a visão e a missão que Deus lhe havia
conferido. Esse, sem acreditar na missão entregue à jovem esconde-se em
meio aos seus súditos, disfarçando-se de nobre e colocando uma outra
pessoa em seu trono para confundir Joana. Contudo, confirmando sua
eleição, Joana dirige-se imediatamente ao rei, embora não o tivesse
conhecido preteritamente.
56
Ora, tanto a primeira, quanto a segunda interferência do autor,
demonstram, por um lado, a concepção que este tem sobre a idade média,
especialmente a França, bem como a relação com o presente. Aqui, o
presente é acionado não apenas como forma de facilitar a compreensão por
parte do leitor, mas também como operação narrativa, isto é, o passado
está sendo lido pelo olhar do presente e é para este que aquele interessa,
por meio do recurso à exemplaridade, tanto da santa, quanto do período
que o autor tem por “verdadeiro”.
“Deus, que estivera tão presente em todos os combates dela, agora fazia-se
ausente. Na manhã da morte, vestem-na com uma túnica infamante e a
conduzem numa carreta, de pé, com mãos amarradas às costas, como se
fosse malfeitora, em direção ao local do suplício. O povo enche as vias por
onde ela passa, e no caminho era lido a sentença, toda feita de infames e
falsas acusações. Continuando seu trajeto, a carreta chega à praça onde
está armada a fogueira. Santa Joana d’Arc desce e caminha em sua direção.
Pode-se bem imaginar a perplexidade que invafia(sic) sua alma: “Mas,
então, aquelas vozes não eram verdadeiras? Aquelas vozes teriam mentido?
Meu Deus, será que minha vida não foi senão um engano? É a Inquisição
que me condena! É um tribunal eclesiástico, dirigido por um Bispo,
composto por teólogos e por homens de lei… Será que eu não me enganei,
ó meu Deus?!”” [Dias, 2020]
De meados da década de 1960 até os inícios dos anos 80, a História tinha
que ser “engajada”. Não era bem visto que, em plena ditadura militar, o
historiador ou historiadora estudassem temáticas, tempos e espaços tão
60
exóticos. De que serviria isso para a superação o quadro político nacional?
“No máximo, permitiam-se incursões à Idade Média inspiradas por aquelas
que tinham sido feitas por Marx e Engels” [Coelho, 2006, p. 29]. No
binarismo corrente entre revolucionários e conservadores dentro dos cursos
de História, os medievalistas eram colocados do lado direito do espectro
político. Estudar a longa duração usando chaves interpretativas de ordem
cultural, por exemplo, era totalmente contrário ao materialismo histórico
dialético que postulava uma História que somente avançava por meio de
rupturas. Dessa forma, o Medievo circunscreveu-se ao modo de produção
feudal, como bem ilustra a leitura comunista de um semifeudalismo
brasileiro ainda em vigor na metade do século XX [Mendes, 2013, p. 204].
Soma-se a isso que neste contexto poucos eram os profissionais com
formação na área, ficando a disciplina acadêmica ao encargo dos
professores de História Moderna, Contemporânea e do Brasil, não sendo
estranho, por isso, a caricatura da Idade Média como Feudalismo.
Não obstante, foi apenas nos idos de 1990 que institucionalizou-se o campo
de estudos medievais. A criação da ABREM, em 1996, de grupos de trabalho
dentro da Associação Nacional dos Professores Universitários de História
(ANPUH), a partir de 1998, e de uma série de núcleos de estudos,
independentes ou institucionais, a partir dos 2000. Nesse momento,
importante ter claro que boa parte dos professores especializados no
assunto tiveram alguma formação em universidades europeias, daí a
predominância, por exemplo, de pesquisas sobre a Península Ibérica
(proximidade do idioma, facilidade em se ler as fontes, etc.). Outro aspecto
relevante é a concentração no sul e sudeste dessa primeira geração de
medievalistas brasileiros, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os grandes
epicentros. É apenas no decorrer da primeira década do século XXI que
pulveriza-se para o interior do país espaços de pesquisa e programas de
pós-graduação que contemplassem o Medievo.
Conforme Jerome de Groot falou ao blog Café História, aquilo que motivou-
o a desenvolver trabalhos na área da História Pública foi a percepção
Referências
Eduardo Leite Lisboa, mestrando do Programa de Pós-graduação em
História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5428506342272992.
E-mail: eduardolisboa.his@gmail.com.
Introdução
Entre as inúmeras influências do movimento feminista para a conquista de 65
direitos das mulheres, sabe-se que a reivindicação de uma escrita que
desse maior protagonismo às mulheres nas narrativas oficiais foi
fundamental para o fortalecimento do campo historiográfico da História das
Mulheres, que surge na segunda metade do século XX.
Foi por meio desse processo de se pensar e escrever uma história que
trouxesse representatividade para milhares de mulheres silenciadas ao
longo dos séculos que a Idade Média foi ganhando novos enfoques e as
condições femininas no Medievo desencadearam debates historiográficos
que expandiram ainda mais as pesquisas sobre as realidades dessas
mulheres. Sabe-se que a Idade Média esteve influenciada sob o domínio
religioso da Igreja Católica, que tinha enorme impacto na vida pública e
privada das mulheres, sendo a principal responsável pela criação de
padrões de comportamentos femininos no Medievo.
Ainda de acordo com Joan Scott, a autora descreve que: “na gramática, o
gênero é compreendido como uma forma de classificar fenômenos, um
sistema socialmente consensual de distinções e não uma descrição objetiva
de traços inerentes” [Scott, 1995, p.72], ou seja, a ideia de que existe ou
deva existir uma história voltada apenas para homens ou apenas para
mulheres é contrária à ideia que é proposta pela própria gramática, onde os
direitos femininos ou masculinos devem ser voltados a um ser humano de
forma natural e não de forma sexual:
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“É verdade que não existe nenhuma unanimidade entre aqueles/as que
utilizam o conceito de classe. Alguns/mas pesquisadores/as se servem de
noções weberianas, outros utilizam a classe como um dispositivo heurístico
temporário. Entretanto, quando invocamos a classe, trabalhamos com ou
contra uma série de definições que, no caso do marxismo, implicam uma
ideia de causalidade econômica e uma visão do caminho ao longo do qual a
história avançou dialeticamente. Não existe nenhuma clareza ou coerência
desse tipo para a categoria de raça ou para a de gênero. No caso do
gênero, seu uso implicou uma ampla gama tanto de posições teóricas
quanto de simples referências descritivas às relações entre os sexos”.
[Scott, 1995, p.73].
Assim, foi difundida pela Igreja no Medievo, a ideia de que Eva por
representar o pecado original, acaba sendo o oposto de Maria, que segundo
a Igreja, é o modelo religioso ideal para toda mulher, colaborando com a
ideia de uma virgindade em busca de valorização carnal. Essa ideia de
pureza e bondade vivida pela “Santa Mãe de Jesus”, é vista pelos cristãos
como modelo de adequação do mundo feminino e eclesiástico no âmbito
medieval.
Porém, o autor destaca que ainda assim houveram mulheres que foram
elevadas a um estado superior ao de todos os outros seres humanos: A
Santidade. De acordo com Le Goff [2013, p. 11]: “Talvez o acontecimento a
manifestar com a maior profundidade uma real promoção da mulher tenha
sido o formidável desenvolvimento, a partir do século XII, do culto a Virgem
Maria”. Portanto, esse maniqueísmo difundido pela Igreja sobre os papéis
de Eva e Maria durante a Idade Média, foi responsável por cristalizar os
modelos de feminilidade a serem seguidos ou repudiados por mulheres:
“O Gênesis mostra que Deus teria criado Eva a partir de Adão, o que
justificava, para a Igreja, a submissão da mulher ao homem, e, tendo sido
criada a partir de um osso curvo da costela de Adão, o espírito da mulher
revelava esse desvio, sendo traiçoeiro desde a sua origem. Eva, com seu
desejo abrasador de conhecimento do Bem e do Mal, ao consentir ser
seduzida pelo Diabo, leva Adão consigo, tornando-se responsável pela
perdição moral do homem”.
É possível apontar que isso se reflete nas gravuras que representam Maria,
sempre mostrando feições serenas e bondosas, mais iluminada e em alguns
casos intercedendo por humanos. Uma dessas gravuras, foi feita por
William de Brailes, artista que viveu na Inglaterra do século XIII, e chama-
nos a atenção por retratar Maria golpeando o diabo com um soco.
71
“Os papéis sociais de gênero foram determinados por uma moral edificada
na definição do corpo feminino, de acordo com a ótica da Igreja Católica.
Isso fez surgir, nos discursos da História Medieval, a figura de Eva, a
pecadora, vista como a grande vilã da humanidade;[e] a Virgem-Maria, a
santa, a pura, um exemplo a ser copiado[..] Dessa forma, a representação
da mulher transmitia práticas e virtudes quanto à pureza, sujeição, maneira
de proceder e obediência aos princípios fundamentais da Igreja”. [Gevehr;
Souza, 2014, p. 121].
Referências
Esteffane Vianna Felisberto é graduada em Licenciatura em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
Marcos de Araújo Oliveira é graduado em Licenciatura em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
74
A IDADE MÉDIA E O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL À LUZ
DA HISTÓRIA PÚBLICA: O SITE THE PUBLIC MEDIEVALIST
George Araújo
Introdução
Nas últimas décadas têm havido um recrudescimento das discussões sobre
a História Pública em todo o mundo. Polêmico campo de trabalho, os 75
debates envolvendo a História Pública chegaram ao Brasil um tanto quanto
tardiamente, embora tenham rapidamente adquirido grande importância.
Com a difusão cada vez maior da História Pública, nenhum período histórico
ficou imune às pressões advindas tanto daqueles que se dedicam à
produção de História Pública quanto daqueles que consistiriam seu público-
alvo potencial.
Embora a definição do que seja história pública seja algo genérica, alguns
elementos-chave costumam estar presentes tanto em seu discurso quanto
em sua prática, ainda que nominalmente. São eles: o uso de métodos da
história-disciplina; a ênfase na utilidade do conhecimento histórico para
além dos propósitos acadêmicos ou antiquários; a ênfase no treinamento e
prática profissionais; o objetivo de “aprofundar” a conexão do público com o
passado.
Por outro lado, é certo que no Brasil a discussão sobre a História Pública
tem sido muito pautada pelo debate em torno da autoridade para falar
sobre história, a qual é reivindicada pelos historiadores acadêmicos como
seu “monopólio”.
Desejando trazer o debate sobre a Idade Média para a “esfera pública,” The
Public Medievalist utiliza o sistema de revisão por pares e ressalta não ser
um blog, mas uma publicação “séria”. Embora deixe explícito que não adota
nenhuma posição político-partidária, posiciona-se de forma veementemente
contrária à propagação de discursos de ódio, discriminatórios, sexistas ou
racistas.
Considerações finais
Com este pequeno texto buscamos ilustrar de maneira breve com o
exemplo prático do site The Public Medievalist como a Idade Média e o
Ensino de História Medieval têm sido e podem ser transformados pelas
novas tecnologias disponíveis, assim como pela difusão da História Pública.
Referências
Dr. George Araújo é Professor Colaborador no Departamento de História da
UDESC, lecionando as disciplinas de História Medieval, História Moderna e
História Contemporânea.
Introdução
O ano de 2020 está sendo marcado pelo avanço da pandemia do Covid-19, 81
conhecido popularmente como coronavírus. Surgida na China no final de
2019 essa doença se expandiu e vem infectando milhares de pessoas em
todos os continentes, provocando muitas vítimas, especialmente idosos. No
Brasil, a doença chegou nos primeiros meses de 2020, gerando medo na
população e ações das autoridades como a decretação de quarentena,
suspensão das aulas nas escolas e proibição do funcionamento de comércios
para evitar a aglomeração de pessoas.
Hilário Franco Júnior identifica o período conhecido como Idade Média como
uma matriz da civilização ocidental cristã. Concordamos com o autor,
quando diz que “Diante da crise atual da civilização, cresce a necessidade
de se voltar às origens, de refazer o caminho, de identificar os problemas.
Enfim, conhecer a Idade Média para conhecer melhor os séculos XX-XXI.”
[Franco Júnior, 2006, p.155]. A crise atual provocada pela pandemia do
coronavírus é uma razão bastante significativa para voltarmos nossos olhos
para a Idade Média para conhecer os nossos próprios desafios.
A situação chegou a tal gravidade que, segundo Duby, não se sabia mais
onde enterrar os mortos e nem havia mais madeira para fazer os caixões.
[Duby, 1999, p.85]. Le Goff e Truong apontam que os cortejos e as
cerimônias tradicionais de luto tiveram de ser proibidos em numerosas
cidades. Os mortos eram empilhados diante das portas das casas, o
enterro, se fosse possível, era sumário, e o ritual reduzido ao mínimo. [Le
Goff; Truong, 2014, p.106].
Por outro lado, Hilário Franco Júnior diz que a peste era “democrática e
igualitária”, atingindo indiferentemente a todos: “Ricos e pobres,
organismos bem e mal alimentados, eram igualmente suscetíveis à peste.”
Alguns grupos eram mais expostos devido a razões profissionais, como
coveiros, médicos e padres. A única possibilidade de salvação era manter-se
afastado dos locais tocados pela peste. [Franco Júnior, 2006, p.30].
Assim, Delumeau aponta que a peste negra eclodiu “em uma atmosfera já
carregada de antissemitismo”. [Delumeau, 2009, p.205]. Os judeus logo
são considerados culpados pela disseminação da doença e das tragédias
decorrentes dela. Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, em livro que traz
vários documentos sobre a história da Idade Média, apresenta um em que
se comenta um boato muito difundido: o de que a peste negra era resultado
de ações dos judeus que haviam envenenado os poços. Isso gerou grande
perseguições aos judeus, com queima de suas casas e massacres:
87
Referências
Geraldo Magella de Menezes Neto é Professor de História da Secretaria
Municipal de Educação de Belém (SEMEC) e Professor de História e Estudos
Amazônicos da Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC).
Atualmente é doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade
Federal do Pará (UFPA).
Patrick Geary [2005] afirma ter ocorrido uma aderência das identificações
cristãs e romanas na Primeira Idade Média em decorrência da maleabilidade
de suas identidades, visto que, para ele, os cristãos compartilhavam um
mesmo princípio de constitucionalidade, tal como os romanos; isto é, “Em
poucas palavras [...] os constitucionais, [estavam] baseados em leis e na
lealdade e criados por um processo histórico” [Geary, 2005, p.59]
Evidenciando assim a existência de diretrizes identitárias entre cristãos e
romanos, que se comportavam de modo similar, pois ambos atuavam sob
um código de leis que permite a assimilação de qualquer indivíduo para seu
meio, sem distinções étnicas, como nas palavras do apóstolo Paulo: “Nisto
não há judeus nem grego: não há servo nem livre: não há macho nem
fêmea; portanto todos vós sois um em Cristo Jesus [Gl 3,28]. O povo de
Deus, portanto, une-se sem distinções.” [Geary, 2005, p.71, grifo nosso].
Ao afirmar que não haveriam distinções entre os povos unidos pela doutrina
cristã, o apóstolo foi profundamente utilizado pela Igreja para apoiar a
cidadania romana, negligência todo aparato ideológico, cultural e identitário
étnico na tentativa de apresentar que os valores cristãos poderiam e
deveriam ser universalizados. Portanto, ao relacionar isto as instituições
imperiais, estas promoviam o ideário de que, o respeito a cidadania e a
constitucionalidade estaria acima de qualquer expressão e desejo particular,
local ou regional. Deste modo, a Igreja Católica utiliza das premissas
apresentadas acima, para integrar parte da identidade romana e, que torna
tão compreensível a aflição de tantos clérigos pela ‘destruição de um mundo
cristão e civilizado’
95
Agostinho de Hipona teve imprescindível autoridade como reformulador das
identidades assumidas pela cristandade e pela Igreja após o século V, pois
as transformações ocasionadas pelas migrações dos povos bárbaros
contribuíram para a desagregação identitária entre cristãos e romanos,
buscando delimitá-los como incompatíveis e não mais como equivalentes.
Evidenciando uma narrativa que impõe uma constante perspectiva de
dualidade opositora, entre bárbaros e cristãos, entre santos e pecadores,
entre sagrado e profano, entre o mundo e o reino dos céus:
Quando ouvimos no livro do santo Jó que, tendo perdido os seus bens, seus
filhos e que mesmo o seu corpo, a única coisa que lhe restava, pôde salvar,
posto que foi atingido por uma chaga terrível da cabeça aos pés,
permanecia na imundície, apodrecendo em ferida, a escorrer pus, coberto
de vermes, torturado pelo terrível suplício das dores; se nos dissessem que
a cidade inteira estava assim, sem nada de são, numa chaga horrenda, e
que os seus homens eram consumidos pelos vermes em vida, como se
estivessem mortos, não era isto pior que aquela guerra? Penso que é mais
fácil sofrer no corpo o golpe da espada do que os vermes, mais suportável
escorrer o sangue das feridas do que o pus da putrefação [Agostinho, 2016,
p.45].
Referências bibliográficas
Geraldo Rosolen Junior é mestrando em História pela Universidade Federal
de São Paulo com bolsa da CAPES; é pesquisador do Laboratório de Estudos
Medievais (LEME/UNIFESP) e também do Núcleo de Estudos Bizantinos
(NEB/UNIFESP).
Considerações finais
Pensar a consciência histórica e seus múltiplos usos durante o tempo traz
uma perspectiva multiforme em relação às possibilidades que o discurso
opera sobre a concepção do Homem em meio à experiência da realidade. A
análise dos historiadores sobre as concepções criadas na representação do
passado demonstra grande fruto de análise para entendimento das
realidades materiais e imateriais sobre o passado. Ao analisar as
significações e como seriam concebidas em seu próprio tempo [o peso que
as palavras possuem em seu contexto de utilização] possibilita um aparato
intelectual de sensibilidade histórica que permite a crítica e a avaliação de
valores impostos no discurso na experiência e sensação do tempo e do
passado. Pensar a historiografia medieval, neste sentido, possui o peso de
se pensar a ação humana e suas consequências multiformes sobre a
vivência perante a imposição do poder na história, e isso é muito mais do
que pensar a história como um acúmulo de fatos aglomerados pela
permanência da cultura material através dos séculos. É dialogar, com
auxílio da pesquisa daquilo que foi selecionado e legado pelo passado, às
expressões humana em contato com sua experiência de viver e sofrer na
história.
Referências
Guilherme Tavares Lopes Balau é graduando em História pela Universidade
Estadual de Londrina e é orientado em sua pesquisa de TCC pelo professor
Drº Lukas Gabriel Grzybowski.
Outro ponto que merece ser relatado, diz respeito á experiência vivenciada
pela monitoria, que ao colocar em prática no ensino superior os
ensinamentos adquiridos a partir da metodologia empregada pela
professora responsável pela disciplina, propiciou aos monitores um
crescimento tanto profissional, quanto pessoal na medida em que eram
exigidas competências como concentração, responsabilidade, argumentação
e domínio dos conteúdos, para fazer intervenções em sala, criando assim,
novas práticas pedagógicas.
Conclusões
É evidente que as práticas de ensino passam por ressignificações. Nesse 109
processo, as tecnologias podem servir como ferramentas para incentivar as
pessoas a desenvolverem o seu potencial criativo. Podem funcionar,
segundo Gomes [2015], como amplificadores da curiosidade, pois permitem
a produção de mídias com muita plasticidade e facilidade, e além disso,
podem ainda funcionar como um elemento que nos permite compartilhar,
aprender mais rápido, no nosso próprio passo, ritmo e estilo de
aprendizagem.
Referências
Jefson Bezerra de Azevedo Filho é Graduando em História pela UFRN;
Vanessa Spinosa é professora de História na UFRN, e professora no
Mestrado Profissional de Ensino de História (PROFHistória).
114
Vivenciando um período do que, para a extrema-direita nacional, é a
demonstração clara da promiscuidade e da devassidão humana, o
conservadorismo brasileiro entende um risco (irreal) corrido pela moral e os
bons costumes cristãos. Assim, não é de se espantar que as Cruzadas
tenham servido como um dos modelos norteadores de referência.
Não obstante, não é a primeira vez que estas readequações são feitas no
sentido de estabelecimento de um imaginário próprio acerca das cruzadas.
Durante o período de forjadura das identidades nacionais na Europa, a
partir do final do século XVIII, algo semelhante ganhou forma e força. É
exatamente devido a isso, pois, que a historiografia europeia menos recente
é tão marcada pela valorização dos homens que travaram contra os adeptos
do islamismo uma sangrenta guerra santa.
Confrontando um conflito: a primeira cruzada
Mais de uma vez, o entendimento das Cruzadas – e aqui vale um adendo: o
termo “Cruzada”, tal como utilizado em nossa contemporaneidade, tem seu
uso datado a partir de uma historiografia posterior a Idade Média. Durante
o período medieval, as expedições militares/religiosas eram muitas vezes
referidas como “o caminho do Santo Sepulcro” ou “a viagem de Jerusalém”
[Morrison, 1984] – isto é, a ideia de uma simples resposta defensiva da 115
Cristandade diante da expansão violenta do islamismo foi refutada. Desde
os estudos do historiador inglês Jonathan Riley-Smith (1938-2016), cuja
vida foi dedicada à busca pela compreensão mais crítica acerca evento, até
uma visitação aos escritos mais tradicionais deste lado do Atlântico a cabo
do Jean Flori (1936-2018), é possível traçar uma lógica que nos leve a
perceber o fenômeno em suas múltiplas realidades.
Além das pilhagens, a exagerada violência física também era uma realidade
vivenciada por aqueles que eram postos na posição de alvos da
Cristandade. O que pode se tirar como resquício da nobreza cristã de
alguém como, por exemplo, Emico de Flonhein? O líder cruzado, que tinha
sob sua custódia um poderoso exército, massacrou a população judaica das
cidades de Spira, Mogúncia, Colônia, Trier e Worms, mesmo quando seus
senhores demostravam resistência [Falbel, 2001]. Existia, também, um
esforço considerável da Igreja na tentativa de impedir a proliferação de atos
como estes, mas nem mesmo as ameaças de excomunhão surtiram efeito,
116
como mostra, por exemplo, outro assassinato em massa de judeus em
Praga por ordens do padre Volkmar.
Diante disso, fui levado a crer que em época foi preciso produzir um inimigo
externo que materializasse a batalha entre as hostes celestiais e os
verdugos do inferno. Entrementes, devemos compreender que não havia
razões para que o papa endossasse genocídios apenas em nome da fé, da
virilidade ou de riquezas. Para não avançar em questões de cunho
teológico, é possível avançar na ideia que as Cruzadas não ilustravam uma
batalha entre bons e maus, como têm se apressado a colocarem os
revisionistas conservadores. O presente trabalho, desta forma, não tem a
intenção de subverter ou inverter concepções heróicas ou vilanescas, mas
demonstrar que esses parâmetros foram muitas vezes idealizados e
instrumentalizados em prol de certos fins. O que havia, sem qualquer
dúvida, era um evento complexo que envolvia não somente questões de fé,
mas também tópicos culturais e, acima de tudo, políticos.
Considerações finais
A Idade Média, mesmo em um cenário de retomada romântica e idealizada,
apresenta, em seu sentido mais historiográfico, um forte estigma ligado ao
princípio de distanciamento da realidade contemporânea. Este problema,
amplificado devido aos questionamentos de uma massa leiga acerca das
razões práticas do estudo e ensino da História, concede ao período uma
imensa possibilidade de ser moldado às necessidades de um tempo
presente, sem que suas falácias sejam amplamente denunciadas.
Vivemos talvez o momento ideal para que a Idade Média, em sua percepção
diversificada, ganhe espaço na compreensão pública: a popularidade,
mesmo que de imaginários e representações ficcionais, somadas a uma
ampla nova historiografia que abrange diálogos múltiplos, garante-nos
inúmeras ferramentas para que possamos demonstrar o período em seus
aspectos mais complexamente reais, além das possibilidades de diálogo
com outros campos e problemas.
Referências
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aterroriza-muculmanos-em-todo-o-mundo/. Acesso em 11 abr. 2020.
LITERATURA ESCANDINAVA NO ENSINO DE HISTÓRIA
MEDIEVAL
Lucas Pinto Soares
O uso destas sagas como fonte primária ganha adeptos pelo impacto que
elas certamente causavam no povo e marcou na história da cultura. Desta
maneira, também vale a afirmação de que uma obra que beira a ficção –
contos nórdicos – pode ser usada como prática discursiva para se apoiar ou
confrontar hegemonias de ideologias existentes, e esta observação deve
sempre caminhar com os limites dos estudos históricos e literários.
[Quintana, 2013, p.178]
Por fim, este breve texto tem como objetivo salientar a importância dos
escritos literários na construção do conhecimento medieval e no ensino de
história. Como dito anteriormente, há um tempo vem ocorrendo a
ampliação de objetos de estudos para pesquisas, problematizações,
conteúdos e fontes históricas, especialmente quando tratamos de temas
medievais e de história antiga.
Referências
Lucas Pinto Soares é Graduado em História Bacharel e Licenciatura pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e mestrando em História Política
e Cultural no Programa de Pós-Graduação – UERJ.
Fonte
THORDSON, Jon; THORHALSON, Magnus. Norna-Gestr Saga. Séc. XIV.
Tradução para o inglês por Nora Kershaw. Germanic Mythology. 1921.
Disponível em:
http://www.germanicmythology.com/FORNALDARSAGAS/NornaGestrSagaK
ershaw.html Acesso em 10/04/2020.
HELOÍSA: O CONHECIMENTO POR TRÁS DAS EPÍSTOLAS
Luciana Alves Maciel
Argenteuil
Fundado no século VII, o monastério de Santa Maria D’Argenteuil sofreu
com as invasões normandas entre os séculos IX e X. No século XI, foi
restaurado por interferência de Adelaide de Aquitânia [c. 945-1004], a
então esposa de Hugo Capeto [c.940-996], e se tornou um monastério
feminino. Foi neste monastério que Heloísa teve seus primeiros
ensinamentos. Ela sai de Argenteuil por volta dos 16 anos e vai viver com
seu tio Fulbert, já reconhecida por sua inteligência Heloísa falava latim de
maneira fluente e fora treinada nos clássicos com conhecimento de letras e
retórica, além do hebraico e do grego.
“[...] vocês têm um líder e professor em sua mãe [Heloísa], que pode
responder a qualquer necessidade, tanto como um exemplo de virtude
como professor de letras. Pois ela não é apenas aprendida na literatura
latina, bem como em hebraico e grego, mas, aparentemente sozinha nesta
era, ela goza de um comando das três línguas [...]”. [Pedro Abelardo,
Epístola, 1133-1137]
Foram estes atributos que fizeram com que Abelardo induzisse Fulbert a
contratá-lo como mestre de Heloísa. Como tal, era esperado que ele
aprimorasse sua leitura, assim como seu modo de se expressar e recitar as
escrituras. Mas os dois acabam por se apaixonar e viver um romance que
durou aproximadamente dois anos. Uma vez descoberto o relacionamento,
Heloísa foge grávida para Bretanha onde deu à luz a Astrolábio. Após o
nascimento, voltou a Paris para se casar com Abelardo em segredo, à
época, um filósofo não poderia se dedicar ao mesmo tempo à filosofia e a
mulher. Casados ele a envia para viver novamente em Argenteuil.
Afastado de Heloísa, Abelardo se instalou na abadia de Saint-Denys, onde
recebeu o hábito monástico. Heloísa permaneceu em Argenteuil, fez seus
votos e por eleição, tornou-se priora. Em 1129 ela e as monjas são
expulsas do convento e acolhidas no monastério do Paracleto, com o
assentimento do Papa Inocêncio II († c.1143). Foi no monastério que
Heloísa teve contato com a Historia Calamitatum – redigida por Abelardo.
126
Na tentativa de alentar seu esposo e irmão em Cristo, Heloísa redige a
Consolation. A carta de consolo é a primeira das duas mais analisadas ao
longo de décadas como lamento de amor. Sem desacreditar do sentimento
por trás das palavras, mas levando em consideração: o conhecimento
adquirido, as condições necessárias para que ela ocupasse a posição de
abadessa e sua capacidade de corresponder com autoridades sobre
assuntos do claustro – ao mesmo tempo em que corresponde com Abelardo
– é que analiso suas epístolas.
Paris
É em Paris nos arredores da Ilha-de-Cité e do cloître de Notre Dame,
próximo à catedral, onde as “escolas de mestres” – de dialética soberana –
se desenvolveram com mais efervescência que encontramos Heloísa. É
neste ponto de convergência que os cônegos construíam suas moradias,
estimulando o desenvolvimento das escolas sob o controle de
estabelecimentos religiosos como: mosteiros, a própria catedral ou
colegiado, enfim, todos dependentes dos moldes instituídos pela Igreja.
Nesse espaço reconhecido por Jacques Le Goff como sendo “o espaço da
palavra”:
Nos dois anos que passa ao lado de Abelardo, em Paris, Heloísa gravitou em
uma das regiões mais urbanizadas da cristandade. Ela é o que chamo de
“campo de observação privilegiado” para analisar o processo acumulador de
conhecimento de um período às voltas com suas transformações. O que
está em análise não é tão somente a Heloisa esposa, mas uma jovem de
conhecimento, uma adulta apaixonada por seu sábio mestre e uma
abadessa – senhora de sua existência.
Sobre Bruxos
Ao analisar os bruxos nos filmes de Harry Potter, procuramos observar
como estes eram vistos por aqueles que não detinham a possibilidade de
fazer magia (“trouxas”). Durante a série de filmes é possível observar em
diversas cenas a ideia dos bruxos como alguém fora do padrão, considerado
esquisito e anormal, no entanto não necessariamente ligado às trevas,
podemos ver com bastante clareza essa imagem através do convívio de
Harry Potter com sua família, já que durante o período que estava afastado
da escola ele era impedido de ter qualquer comunicação com o mundo
mágico e até mesmo de pronunciar o nome da escola, sem ser censurado
por seu Tio Valter, para não mencionar sua “anormalidade” sobre o teto dos
Dursleys. Escolhemos uma cena que ilustra de forma bem clara essa ideia
de anormalidade e estranheza.
136
Ao tratarmos da imagem de bruxas e bruxos construída no imaginário
popular da sociedade na Idade Média, é necessário que entendamos o
processo de construção, que teve início na própria Era Medieval, mas teve
sua consolidação no início da Era Moderna, essa fortificação desse
imaginário se deu através da publicação do livro Malleus Maleficarum
publicado originalmente em 1487 e escrito pelos inquisidores Kramer e
Sprenger. Viana, que escreveu um ensaio sobre a imagem das bruxas nesta
obra, mencionou que a demonização da prática é evidente, como podemos
observar na citação a seguir:
138
Portanto, é válido dizer que com o conhecimento histórico serve como base
contextual do elemento a ser analisado, com ele o profissional do ensino
pode entender melhor as pretensões, bem como as representações que
determinada película carrega, afinal: o filme enquanto releitura do passado,
pode ser analisado pelo historiador, entendido em seus propósitos e
questionado em suas metáforas [Souza Neto, 2019].
140
BASCHET, Jérôme. A Civilização Feudal: Do ano Mil à Colonização da
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ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL, ESQUEMATISMO E
TELEOLOGIA
Manoel Adir Kischener e Everton Marcos Batistela
Introdução
Ao buscar tratar de perspectiva que adote e valorize a complexidade da 141
sociedade medieval, mesmo nas salas de aula de História da Educação
Básica, se valoriza o aluno. Também é valorizar a si próprio enquanto
professor, se sempre aberto a aspectos outros e a formação constante e
inacabada.
Como resolvê-la?
Mesmo que essa disputa tenha sido vista como finalizada, os seguidores de
Guimarães [1963], que no Brasil se notabilizou por esta linha de
pensamento, só aumentam entre os integrantes dos movimentos sociais no
país, como o MST.
Mais recentemente, um outro debate, e com não menor espanto, a respeito
da existência de campesinato além do espaço geográfico e tempo histórico
europeu, sugerem para a atualidade brasileira a permanência de tal
categoria em sua agricultura que é altamente tecnificada na maior parte das
regiões.
Compreende-se seu uso apenas enquanto potencialidade política na voz dos 143
movimentos sociais, mas provavelmente, é de difícil apreensão analítica na
realidade social por parte de cientistas sociais.
Nesta mesma linha, Ponce [2010] afirma que “[...] o feudalismo conhecia
três ‘variedades’ sociais: os bellatores, ou guerreiros, os oradores, ou
religiosos, e os laboratores, ou trabalhadores” (Ponce, 2010, p. 86, ênfase
no original).
Sob outra perspectiva, Burbank e Cooper (2019) afirmam que “Os reinos
não se mantinham unidos por laços de semelhança, mas por conexões
verticais entre desiguais”; para os autores estas se davam entre “[...] reis e
senhores, senhores e vassalos, vassalos e camponeses” [Burbank; Cooper,
2019, p. 116].
Possibilidades
Para se iniciar, uma questão que já foi feita ao primeiro autor e,
provavelmente também a outros professores, é idêntica ao exposto por
Macedo [2007]:
Pode-se, então, buscar mais sentido com a relação com a Península Ibérica,
como será revelado mais adiante no texto. Mas, antes talvez se deva
valorizar o exposto por Caimi [2006], que é outro dilema, que também é
próprio dos professores da Educação Básica, pois 145
Por outro lado, conforme Vieira [2013, p. 28] “[...] ainda existe em nossa
sociedade um grande preconceito em relação à Idade Média”.
146
Se assim corroborar o professor de História e, de tal modo se valer deste
uso equivocado e esquemático, este acabará por praticar o exposto por
Almeida e Silva [2011] quanto ao período medieval. Afirmam os autores
que,
“No campo do saber histórico tem cabido à Idade Média o papel não
confessado de tabula rasa sobre a qual conteúdos vários podem ser
adaptados. Torna-se, assim, de forma mais marcada que outros períodos
históricos, terreno livre para a apropriação ou a transposição oportunista de
sentido histórico, porque excluído da zona de continuidade histórica. [...]
como uma zona de sombras aparece em sua negação como Idade das
Trevas, mas igualmente em sua hiperidealização como ‘lenda dourada’”
[Almeida; Silva, 2011, p. 13, ênfase no original]
E talvez possam considerar a escrita de Toro Vial [2015]. Este autor expõe
que “Ao longo de toda a Idade Média constatamos a existência de um tipo
particular de crônicas. [...] são relatos que pretendem abarcar toda a
história da humanidade, desde a criação do mundo até a época do seu
autor” [Toro Vial, 2015, p. 158].
Mas que também, para além das proximidades possíveis, das possibilidades
que o intercâmbio entre as áreas sugere, deve-se considerar que
“As sociedades portuguesa moderna e a brasileira colonial [...] não
formavam um corpo orgânico e único, mas debaixo das aparências que
precisavam ser mantidas afloravam clandestinamente expressões de
descontentamento, revolta, incompreensão, medo e dúvidas. Não
formavam uma unidade religiosa, como se pregou. Havia manifestações
adaptadas do Judaísmo, de Protestantismo e de Islamismo, como do próprio
ceticismo” [Ribeiro, 2015, p. 48]. 147
“O Brasil não foi de fato uma terra de ninguém que pouco interesse
despertou nos europeus. Ao contrário, para alguns portugueses de origem
judaica, era a própria ‘terra prometida’, vista, como um lugar de maiores
possibilidades de ascensão social” [Ribeiro, 2015, p. 61].
Vieram para cá porque perseguidos por lá. Muitos outros não o eram e
vieram também, e dela não queriam voltar, tal como exposto na canção
“Notícias da Terra Brasilis” de Vasconcellos e César [2017]:
Para o autor, o confisco de terras dos nobres, que antes as haviam recebido
do monarca como recompensa pelos feitos militares, desde a Lei Mental de
D. Duarte, os tornou como clientes do rei “[...] beneficiando-se de
empregos e rendas públicas” e, com a instituição do padroado desde o
século XIII, “[...] formou-se uma sociedade cujo equilíbrio orgânico pendia
inteiramente da cúpula, em vez de se fundar na base” (Comparato, 2018, p.
37-38)].
Quanto a estas interpretações, dentre outras, que abrem brechas nas ideias
monolíticas a respeito do período medieval que vêm sendo criticadas, a
busca de sentido no ensino a respeito da Idade Média em Portugal, do que
148
pode se valer o professor de História em seu contraponto aos
esquematismos que o induzem ao reducionismo e relacionar ao Brasil, este
talvez possa beneficiar-se, além de Rucquoi [1995], dos textos de uma
mesma coletânea: Mattoso [2000], Coelho [2000] e Moreno [2000].
Na mesma obra, quanto aos estudos no Brasil, Arruda [1999, p. 81] afirma
que estes têm se originado especialmente a partir da temática “[...] das
relações entre a Metrópole e a Colônia”.
Considerações finais
O intento foi mostrar, a partir de algumas obras que há, que talvez tenham
contribuído sobremaneira aos professores da Educação Básica, para o uso
de esquematismo e teleologia no ensino de História sobre a Idade Média.
Por outro lado, enquanto alternativa a este costume, buscou-se mostrar que
há renovação, constante e significativa na temática. Que a historiografia
tem adentrado mais na relação entre Brasil e Portugal, da metrópole e a
colônia, o que traz possibilidades de significar e aproximar mais o ensino
aos alunos.
Referências
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Desenvolvimento Regional e Doutorando em História pela Universidade
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Acesso em 19/03/2020.
O FENÔMENO “BOLENA”: PROTAGONISMO FEMININO E NOVAS
REPRESENTAÇÕES DE ANA BOLENA (1501-1536), A “RAINHA
DE MAIO”
Marcos de Araújo Oliveira
Introdução
É possível apontar que com o protagonismo feminino cada vez mais 151
presentes nos discursos históricos, mulheres emblemáticas ganham
destaques nas mais diversas narrativas historiográficas. Tendo em vista
esses fatores, nota-se uma forte ressignificação da imagem da rainha
inglesa Ana Bolena (1501-1536). A mesma marcou a história da Inglaterra
por ter sido grande influência para o surgimento do Anglicanismo na corte
do rei Henrique VIII (1491-1547), já que era adepta de ideias reformadores
e influenciou o rei a aderir a Reforma.
Para ficar com Ana Bolena, Henrique buscou desquitar-se de sua esposa
Catarina de Aragão (1485-1533), o que o levou a romper sua aliança com a
Igreja Católica e a casar-se secretamente com Ana em 1533. Em 1534
através do Ato de Supremacia, ele foi proclamado Chefe da Igreja da
Inglaterra. Porém Ana só conseguiu dar uma filha ao rei, Elizabeth, e após
reinar por cerca de mil dias, foi condenada à morte em maio de 1536.
Chamada de “rainha de maio”, pois no mesmo mês de sua execução, três
anos antes foi o da sua coroação, ela foi acusada de conspirar contra o rei,
adultério e incesto, porém historiadores como Tapioca Neto [2013] apontam
que sua morte não passou de um plano do rei para livrar-se de Ana, casar-
se com outra e obter um herdeiro homem para o trono.
“No ano de 1949, a escritora Simone de Beauvoir lança o seu polêmico livro
intitulado O Segundo Sexo, que discutia as desigualdades sexuais sob uma
perspectiva voltada para o existencialismo e materialismo-histórico. Fora
nessa obra em que a referida autora lançara as primeiras bases para a
posterior definição do conceito de “gênero”, ao escrever que “ninguém
nasce mulher, torna-se mulher” (ibidem)”. [Tapioca Neto, 2013, p. 53]
“Com efeito, a mulher casada, que antes era concebida como uma espécie
de apêndice do marido começou a desejar maior liberdade e autonomia em
suas decisões. Desse modo, surgira na sociedade ocidental um novo tipo de
família, na qual elas desempenhavam o papel de chefe da casa. Em muitos
casos, a presença masculina era deixada de lado, e a mulher passa a
assumir tanto as funções de pai, quanto a de mãe”. [Tapioca Neto, 2013, p.
53]
Essa figura histórica, antes tão vilanizada no imaginário inglês do século XVI
e apontada como a manipuladora concubina de Henrique VIII em narrativas
oficias da historiografia, vem destacando-se no Brasil através das pesquisas
de autores como Flávia Adriana Andrade [2013] e Renato Drummond
Tapioca Neto [2013], que em suas produções tentam amenizar esse olhar
negativa sobre Ana Bolena, apresentando aspectos que quebram esses
estereótipos depreciativos, mas permitem uma maior alteridade com esta
mulher, que ousava transformar a sua realidade, condicionada pela
opressão ao seu gênero.
Essa “Nova História” proposta pela Escola dos Annales impulsionou também
um maior diálogo com os romances históricos, reconhecendo suas
potencialidades e abrindo novas possibilidades de pesquisa com este
gênero. A figura de Ana Bolena que já obtinha sucesso após a Segunda
Mundial, foi assim consagrada no gênero literário, este que após sofrer
influências das próprias lutas feministas, buscou assim fazer com o
ressurgir de Ana, um maior protagonismo a sua figura:
“Até o século XIX, Ana Bolena havia sido representada como uma
concubina, amante do rei e causadora dos males da Inglaterra. Contudo, a
partir do século XX nota-se um reparo em sua imagem, e a literatura
assumiu um grande papel nessa questão. Romancistas como Jean Plaidy em 155
Muder Most Royal [1949], Norah Lofts em The Concubine [1963] e mesmo
Robin Maxwell em The Secret Diary of Anne Boleyn [1997] optaram por
mostrar ao público uma Ana diferente daquela registrada pela crônica do
século XVI, denotando na mesma características que a tornavam simpática
aos olhos modernos, especialmente para as mulheres, que se tornariam
uma das principais defensoras desta personagem”.[Tapioca Neto, 2013,
p.57]
Ana Bolena também já foi interpretada por Helena Boham Carter no filme
de 2003, Henry VIII, e na série da BBC “The Tudors” [2007-2010] coube a
Natalia Dorner dá vida a personagem. A atriz Natalie Portman também
interpretou a filha de Thomas Bolena, no polêmico filme “A outra” de 2008,
que divide opiniões por uma representação de uma Ana mais vilanizada.
Considerações Finais
Andrade [2013] em sua análise sobre o protagonismo que Ana Bolena vem
ganhando na contemporaneidade, explica que as percepções sobre Ana
dependem do contexto no qual está inserida sua representação, seja no 157
século XVI, XX ou até na contemporaneidade. A autora também aponta que
essas representações possuem também as implicações ideológicas e a
alteridade do seu autor. Sendo assim, uma imagem de Ana é formulada
enquanto uma personagem que atenda os anseios desse autor e funcione
dentro de sua obra.
Referências
Marcos de Araújo Oliveira é graduado em Licenciatura em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
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uma retomada do processo liberatório da mulher. 2007. 179f. Dissertação
(Mestrado em Direito). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2007.
PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.
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158
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discurso feminista em The Secret Diary of Anne Boleyn (1997). Monografia
de conclusão de curso (História) – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Ilhéus, 2013. 62 p.
A IMPORTÂNCIA DE MARTINHO LUTERO NO ENSINO DE
HISTÓRIA MEDIEVAL
Marcos Vinícius da Silva Ramos
Introdução
Um dos grandes problemas dos livros didáticos de História é a insistência
em periodizações, pois estabelece rupturas bruscas, dividindo a história em 159
grandes épocas como antiguidade, idade média, moderna e contemporânea.
Assim, é proposta uma “explicação” que ignora as permanências e
continuidades contidas nos diversos processos históricos. Não cabe a nós
criticar o livro didático em si, mas como alguns deles apresentam aos
alunos a dicotomia entre idade média x idade moderna, dando a entender
que os dois períodos são exclusivamente antagônicos. Além disso, existem
problemas relacionados à pré-conceitos que se perpetuam e partem dos
pressupostos pejorativos, como trevas e atraso. Como nos traz Sônia
Siquelli e Álvaro Ribeiro, “essas características representam alguns dos
elementos que são reproduzidos em sala de aula e que levam o aluno a
construir uma visão negativa do período medieval”. [Ribeiro; Siquelli, 2017]
“[...] essa Longa Idade Média é dominada pela luta, no homem ou em volta
do homem, das duas grandes potências, por pouco não iguais – se bem que
uma delas esteja teoricamente subordinada à outra, que são Satanás e
Deus. A longa Idade Média feudal é a luta do diabo com o senhor Deus.
Satanás nasce e morre nos dois extremos deste período”. [Le Goff, 1994,
p.39].
Por fim, no terceiro livro, sobre a rápida difusão dos ideais do reformador
alemão, lemos:
Tal perspectiva apresentada nesse livro não diverge muito das outras. Há,
entretanto, uma preocupação em reafirmar não só o caráter inovador de
Lutero, mas também a peculiaridade iconoclasta que caracterizou a Reforma
Protestante. Essa “natureza iconoclasta” associada à Reforma é
amplamente arrogada pelos estudos confessionais e, infelizmente,
influenciam materiais didáticos, como vimos. Felizmente, tal caráter vem
sendo revisado e criticado. Um estudo recente defende um tipo de
“hagiografia protestante” baseada em “O Livro dos Mártires” de Jean
Crespin, publicado inicialmente em Genebra, 1554, e reeditado até 1619.
De acordo com João Rangel:
Conclusão
Como tratado em todo texto, acreditamos que Martinho Lutero não é um
“desbravador da modernidade”. O reformador alemão não é, muito menos,
alguém que rompe com a lógica do medievo e inaugura, em alguma
medida, o dito pensamento moderno. Por mais que o agostiniano tenha
trazido novas concepções e formas de enxergar o cristianismo, sobretudo,
com sua específica hermenêutica, vê-lo deslocado de sua cultura e tradição
é um equívoco, pois isso faz com que a linha tênue entre o caráter
fenomenológico da reforma e o desprezo intencional, prosélito e desonesto
pelo medievo rompa. Infelizmente, tais ideias acabam influenciando
materiais didáticos e faz com que pessoas aprendam e reproduzam os
períodos Históricos como bruscas rupturas sem considerar a continuidades
das mentalidades. Sem perceber, isso gera uma bola de neve que acaba
perpetuando estigmas e pré-conceitos epistemológicos sobre nossa
disciplina e aqui não me refiro somente à história medieval, mas à História.
Fizemos uma análise do caráter puramente religioso, deixando de lado
questões do interesse econômico, apesar de criticá-los. É certo que não 165
proponho aqui que os livros didáticos sobre história medieval foquem no
aspecto estritamente religioso e ignore os outros. Se com a frágil
epistemologia de nossa disciplina tais análises mostram-se árduas, picotar o
período medieval em caixas como “cultura”, “religião” e “economia”
empobreceria demasiadamente qualquer análise séria. Mas, como
mostrado, alguns temas religiosos ainda têm sido tratados de maneira
relaxada. E isso não é falta de produção acadêmica séria, com toda certeza.
Não incentivo, também, obviamente, que tema provavelmente sensíveis a
estudantes (como a figura do diabo e a representação do mal, por exemplo)
sejam tocados de forma empedernida, mas com todo o rigor metodológico
que nos cabe.
Martinho Lutero pode ser pensado por meio da “longa idade média” graças
à contribuição de Jacques Le Goff, pois exemplifica que os processos
históricos são complexos e labirínticos. Neles, achamos rupturas, mas
também continuidades, sem que necessariamente um se sobreponha ao
outro. Por mais que tentemos decifrar os códigos, palavras e conceitos,
podemos perceber que, no fundo, existem questões que a documentação
não responderá. Descobrimos, também, que a História é feita das próprias
divisões que nós mesmos criamos e naturalizamos.
Referências
Marcos Vinícius da Silva Ramos
Graduando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsista
de Iniciação Científica com o prof. Dr. Clinio de Oliveira Amaral, e integrante
do LABEP (Laboratório de Estudo dos Protestantismos) e Linhas (núcleo de
estudos sobre narrativas e medievalismos).
Esta doença matou 1/3 da população europeia a partir do século XIV, sendo
com absoluta certeza a maior e mais funesta epidemia registrada pela
história. As manchas escuras que apareciam na pele dos infectados deram
origem ao nome desta doença. Ela teve suas origens na Ásia Central,
espalhando-se por terra e pelo mar. No ano de 1334 foram registradas
cinco milhões de mortes na região do norte da China e na Mongólia. A peste
seguiu matando em lugares como a Mesopotâmia e Síria, onde suas
estradas ficaram cobertas de cadáveres daqueles que tentavam fugir das
cidades. Em Alexandria os mortos permaneciam insepultos e na cidade do
Cairo eram atirados em valas comuns. Só no Oriente, o número de mortos
chegou a 24 milhões.
Nos anos seguintes, ainda no século XIV, a epidemia seguiu deixando seu
rastro de morte pela Criméia [1347] e no ano de 1348 chegou a Marselha
na França, graças ao ancoro de embarcações genovesas. A doença dizimou
a maioria da população de Marselha em apenas um ano. Em 1349 a peste
alcançou a região central e norte da Itália e dali se desdobrou por toda a
Europa. Enquanto avançava, a Peste espalhava desolação e morte tanto nos
campos, quanto nas cidades, a ponto de povoados inteiros virarem
cemitérios [Lopes, 1969, p.172].
No trecho acima fica evidente que, para o Papa, o ato de heresia, ou seja,
de seguir em desacordo com as leis da Igreja Católica e com os
mandamentos de Deus, deveriam ser censurados e “cortados pela raiz”.
Aquele pego em desacordo com os ensinamentos passaria por um tribunal
responsável por julgar seus atos e lhes aplicar punições, se necessário. Isto
certamente permitiu que no decorrer de seis séculos, a Inquisição
trabalhasse de maneira impiedosa, atingindo as camadas políticas,
econômicas, sociais e culturais da sociedade medieval e moderna. O
suspeito da prática de heresia muitas vezes era investigado por pessoas
nomeadas pelo Santo Ofício antes de ser julgado por três inquisidores no
tribunal, onde um deles era o inquisidor-mor, responsável pela sentença
final.
A Igreja parece ter dado “um tiro no próprio pé”, já que com o massacre de
gatos devido a crenças religiosas infundadas, houve um enorme aumento
da população de ratos em toda a Europa, e como estes roedores eram
ótimos hospedeiros para as pulgas, não é leviano pensar que as bactérias
Yersinia pestis [ainda não conhecidas no medievo], tenham encontrado,
sem esforços, transmissores em larga escala da mais devastadora
pandemia da história da humanidade, que matou aproximadamente 200
milhões de pessoas na Idade Média. Os Inquisidores acabaram então,
cavando a própria cova.
O médico da peste com maior prestígio teria sido Guy de Chauliac [1300-
1368]. Ele estudou Medicina em Toulouse antes de ir para Montpellier, de
onde seguiu para Paris, onde viveu entre 1315 e 1320 e em 1325 tornou-se
mestre de Medicina e Cirurgia. Com a conclusão de seus estudos no reino
da França, foi para Bolonha estudar a anatomia onde recebeu os
ensinamentos de Nicolau Bertuccio [?-1347], com quem possivelmente
aprendeu técnicas cirúrgicas. Com o crescimento de sua fama, foi convidado
para a corte papal em Avinhão, para servir como médico pessoal do Papa
Clemente VI [1291-1352]. Mais tarde, tornou-se médico pessoal do Papa
Inocêncio VI [1282-1362], e do Papa Urbano V [1310-1370] [Thevenet,
172
1993, p. 208].
Nas linhas seguintes a este trecho, Guy afirma que o mundo nunca havia
visto uma doença tão poderosa como esta: nem a que surgiu região da
Trácia, ou a relatada por Hipócrates em sua obra Epidemias, ou a que
aconteceu no tempo de Galiano abordada no livro De euchimia, ou ainda,
aquela da cidade de Roma no tempo de Gregório. As razões para sua
aparição, segundo Chauliac, seria de natureza universal (posição de
Saturno, Júpiter e Marte, em 24 de março de 1345, no 14º grau de Aquário,
indicando grandes mortandades) e particular (disposição dos corpos, o
enfraquecimento e o fechamento dos poros, levando à morte a populaça, os
laboriosos e os que viviam mal) [Chauliac, 1363, p. 167-170].
Em relação aos tratamentos, os físicos da peste praticavam sangria e
prescreviam diversos tipos de medicamentos e técnicas, como colocar rãs
ou sanguessugas nas ínguas para reequilibrar os humores. A interação com
o paciente era limitada já que havia a possibilidade de propagação da
doença, estando eles também sujeitos a quarentena (Byfield, 2010, p. 37;
Gottfried, 1983, p. 126]. Segundo Chauliac, os métodos preventivos
incluíam: 173
“[...] fugir da região antes de ser infectado; purgar-se com pílulas aloéticas,
diminuir o sangue por flebotomias, purificar o ar pelo fogo, confortar o
coração com teriaga, com frutos, com coisas de bom cheiro, confortar os
humores com bolo armênio e resistir à putrefação com coisas ácidas [...]”
[Chauliac, 1363, p. 170].
Em suma, a peste foi absolutamente uma das doenças mais mortais de toda
história da humanidade e por isto, desperta bastante interesse dos
trabalhos acadêmicos. No entanto, fatores importantes são deixados de
lado, como é o caso das bulas emitidas durante a Inquisição e sua possível
relação com peste. Percebe-se, que apesar de não condenar explicitamente
os gatos, o documento emitido por Gregório IX em Junho de 1233 com
absoluta certeza serviu de pretexto para a caça deste animal. Sua morte em
larga escala, provocou em médio e longo prazo o aumento do número de
ratos e possibilitou a proliferação da peste. Esta doença mudou os rumos da
sociedade medieval e abriu caminho para outra profissão: os médicos da
peste. Nomes como Guy de Chauliac conseguiram destaque e deixaram um
importante registro para as futuras gerações de físicos e cirurgiões que
ainda teriam um longo e mortífero período até o controle de tal pestilência.
Referências
Mauricio Ribeiro Damaceno é professor efetivo de História pela SEDUC-MT,
graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás, Mestrando em
História pela Universidade Federal de Goiás, e Especialista em Ensino de
História pela Faculdade Única de Ipatinga-MG.
Fontes:
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Nicaise. Paris: Bibliothèque Nationale de France. 1890.
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http://www.doctorsreview.com/history/doctors-black-death/.
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In: Annals of Vascular Surgery. vol. 7, n. 2, p. 208-212.
ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL, EUROCENTRISMO E BNCC
(2015-2018): UM DEBATE RECENTE?
Renan Marques Birro
“O que hoje deve ser enfatizado é que as pesquisas que tratam de tópicos
cuja relevância é dada a priori não são nem piores nem melhores do que as
que tratam de tópicos cuja relevância é dada a posteriori. O que é melhor
é simplesmente pesquisar melhor” [Ginzburg, 2002. O grifo é meu].
Para ilustrar ainda melhor ambas as questões, Richard Utz atestou certa vez
que:
Referências
Renan Marques Birro é professor de História Medieval e Ensino de História
Medieval da Licenciatura em História (presencial e EAD) da Universidade de
Pernambuco/Campus Mata Norte (UPE/MN), além de professor permanente
do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da UPE/MN.
renan.birro@upe.br. Aproveito o espaço para agradecer ao Prof. Dr. Carlile
Lanzieri Júnior (UFMT) pela indicação do texto de Carlo Ginzburg.
Introdução
A cristianização da Escandinávia é tema recorrente nas produções
184 acadêmicas realizadas no Brasil, especialmente nos últimos anos. As
abordagens vão desde os primeiros bispos missionários à conversão dos
reis, processo que atravessa mais de dois séculos. O tema a ser discutido
neste trabalho é a presença de cristãos na Escandinávia medieval antes do
corpo eclesiástico católico lá haver se consolidado, portanto, comunidades
cristãs sem igreja. Para tais fins, foram escolhidas duas fontes textuais, a
Vita Anskarii de Rimbert e a Gesta Hammaburgensis de Adam de Bremen,
que possibilitassem a análise do tema sob prismas, autores e contextos
temporais diferentes. Objetiva-se compreender como esses autores
perceberam e significaram esses cristãos prévios à consolidação da
cristianização em seus textos.
Base metodológica
O que difere as fontes escolhidas são sua tipologia, a Vita Anskarii sendo
uma hagiografia e a Gesta Hammaburgensis, uma obra de historiografia.
Quanto a isso, é necessário analisar algumas especificidades da abordagem
de um texto hagiográfico, por motivos metodológicos que se alinham à
metodologia principal, a Vorstellungsgeschichte. As obras hagiográficas do
medievo oferecem rica fonte de análise quando as entendemos em sua
completude documental, como defendeu Néri de Barros Almeida. Segundo a
autora,
Portanto, o uso dos documentos vai além da sua função de fonte, como
chama Almeida, em informar o factual – datas e eventos –, abrangendo
também o que a autora chama de documental, compreendendo o
documento, assim, em sua totalidade. Ainda, guiado pelas orientações de
Marc Bloch [2001], direciono meus esforços ao que as fontes podem
responder quando interrogadas, “sobre as maneiras de viver ou de pensar
particulares às épocas em que foram escritas, todas as coisas que o
hagiógrafo não tinha o menor desejo de nos expor” [Bloch, 2001, p. 78].
Tais definições buscam trazer luz sobre a mão do autor e suas percepções,
visões de mundo, opiniões, cargas institucionais e tudo que vem junto de
sua pena.
Para Winroth, por exemplo, Adam de Bremen relata apenas o que sabia e o
que via a respeito da cristianização dos escandinavos, o que é verdade, mas
tomada pelo medievalista como um problema de insuficiência documental.
Winroth se propôs a contrariar a perspectiva do cônego bremense a partir
das fontes arqueológicas. Eis um problema, dado que o papel do historiador
não é preencher as lacunas do passado com fontes de outra matriz, mas
entendê-las em suas diferentes especificidades temporais e espaciais. O que
interessa aqui é saber o que pensavam Adam e Rimbert a respeito da
cristianização da Escandinávia, uma vez que esse trabalho não se lança aos
“aspectos tangíveis do passado, mas centra-se nas ideias que os indivíduos
do passado tinham de seu meio, suas visões de mundo.” [Grzybowski,
2012, p. 156].
Amparando sua análise em termos gerais, Thompson afirma que “se uma
comunidade cristã fosse encontrada além da fronteira [da cristandade], a
igreja consagraria um bispo para administrá-la.” [Thompson, 1957, p. 9].
Tanto havia resistências entre os pagãos, quanto havia cristãos vivendo e
praticando sua fé antes da institucionalização da igreja na Escandinávia, e
as fontes escolhidas importam-se em abordar esse motivo em sua
construção narrativa.
A Vita Anskarii
A Vita Anskarii foi composta por Rimbert poucos anos depois da morte de
seu mestre, Ansgar, que faleceu em 865. O texto hagiográfico foi composto 187
em Latim, tendo como objetivo principal santificar a pessoa de Ansgar.
Narra a vida de Ansgar, sua relação com o bispado de Bremen e o rei Luís,
o Piedoso, e suas incursões à Escandinávia, onde evangelizou na
Dinamarca, em Hedeby e Ribe, e na Suécia, em Birka.
Quanto aos cristãos prévios, Mellor trouxe em seu texto uma das
interpretações possíveis, pensada por Carl F. Hallencreutz, que teorizou que
tanto a igreja quanto os francos eram contra a escravidão, naquele
momento, e isso é um dos motivos narrativos presentes na hagiografia.
Segundo Hallencreutz, na leitura de Mellor, “embora a igreja possa ter
condenado a escravidão, foi a mudança do império franco da escravidão
para a servidão que moldou a economia e a política regionais" [Mellor,
2008, p. 47]. Tanto Mellor quanto Hallencreutz enxergam um caráter
político na Vita Anskarii de Rimbert; seja a menção aos cristãos de cunho
político ou não, elas têm como primeiro objetivo incentivar a junção desses
cristãos à cristandade.
A Gesta Hammaburgensis
O texto historiográfico, escrito pelo cônego Adam de Bremen nos fins do
século XI, tem como base diversas obras que estavam disponíveis ao autor
naquele tempo, a partir de sua pesquisa, além de inúmeros relatos orais, de
modo que Adam nomeia várias de suas fontes e faz releituras de algumas
delas ao incrementá-las ao seu texto. Quanto ao trecho aqui abordado,
trata-se de uma releitura da Vita Rimberti, hagiografia anônima de Rimbert. 189
Considerações finais
Essas menções e a percepção dos autores a respeito das comunidades
cristãs prévias à institucionalização do corpo eclesiástico na Escandinávia
são um argumento em favor da existência desse corpo eclesiástico. A
retórica desses autores gira em torno de fundamentar as bases da
conversão de almas e da consolidação da igreja católica na Escandinávia
medieval, além de funcionar como legitimadora das ações da arquidiocese
de Hamburgo-Bremen. Quando Rimbert fala dos escravos cristãos em Birka,
na Suécia, pretende reforçar o argumento de que as ações missionárias
precisavam existir em função da reintegração desses cristãos “perdidos”.
Quando Adam de Bremen fala dos escravos cristãos em Schleswig, na
Dinamarca, reitera a ação milagrosa de Rimbert em função de elevar o
papel da ação missionária.
Desde os primeiros esforços conversores no início do século IX à fase
institucional com a conversão dos reis escandinavos no século XI, a
presença de não-conversos é sempre registrada, o que justifica a
manutenção de tais argumentos nos documentos estudados. Como outros
exemplos, há o relato do diplomata árabe Ibrahim ibn Yakub al-Turtushi,
190
que visitou a cidade de Hedeby, na Dinamarca, no século X, e contou que
ela era “habitada tanto por pagãos quanto por cristãos” [WINROTH, 2012,
p. 89]. Ainda depois da conversão dos reis, persiste material hagiográfico
que reverbera a necessidade conversora numa tradição literária, como a
Passio et Miracula beati Olavi, hagiografia do rei Olavo II da Noruega,
escrita no século XI, na qual em dado momento o rei, após converso, desce
de seus estrados para pregar. “Não contente com a sua própria salvação,
ele [Santo Olavo] se esforçou em incansável urgência para converter as
pessoas a quem ele fora nomeado pela providência divina para governar.”
[Eysteinn Erlendsson, 2001, p. 27].
Referências bibliográficas
Rodrigo Kmiecik é graduando em História pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL), orientado pelo professor Dr. Lukas Gabriel Grzybowksi.
Introdução
A Cavalaria, além de ser título de diversas obras literárias, é um conceito
amplamente debatido na historiografia. Nomes como Georges Duby, Jean
Flori e Dominique Barthélemy se sobressaem. Todos eles utilizam de
diversas fontes, entre elas os textos literários, para a análise e a construção
do seu entendimento sobre os guerreiros a cavalo que existiram na França
no decorrer da Idade Média. Segundo a concepção sobre a Cavalaria de
Barthélemy:
“A Cavalaria clássica, com seus torneios e suas festas, com sua literatura, é
– mais do que a “pré-Cavalaria” da alta Idade Média – da ordem da ficção e
do artifício. Ela é frequentemente a poeira nos olhos que esconde as
decepções inéditas da classe dos Cavaleiros ou os esforços sub-reptícios os
para torná-los militares no sentido estrito, a serviço do Estado (a partir de
João de Salisbury). No entanto, ela terá por muito tempo uma função social
real, pois representa um estilo que fascina famílias de novos-ricos, e eles
perenizam tendendo em direção a ela todos os seus esforços. Ela
representa também um autêntico comportamento guerreiro que impregnará
por muito tempo (pela metade, imperfeitamente) as guerras, inclusive
cristãs e nacionais. ” (Barthelémy, 2010, p. 588]
A obra foi escolhida, entre as demais obras de Chrétien, por fazer parte de
um novo momento na vida do autor, a partir de um evento que alterou
consideravelmente o conteúdo de seus poemas. Entre os anos de 1170 a
1181 Chrétien de Troyes desenvolve seus poemas longe dos assuntos
políticos. Ele se debruça sobre problemas dos seus cavaleiros em relação ao
amor cortês, uma vez que reside na corte de Maria de Champanhe e tem os
seus poemas, e sua temática, encomendados pela condessa. O Conto do
Graal é o primeiro e único poema escrito por Chrétien quando o mesmo
estava a serviço do Conde de Flandres, esse que acabara de regressar da
chamada Segunda Cruzada, onde esteve em peregrinação. O novo patrono
certamente foi, conscientemente ou não, responsável pela alteração do
conteúdo moral e político da escrita de Chrétien de Troyes [Abílio, 2002, p.
250]. Com a nova perspectiva adotada por Chrétien, suas obras ganham
mais elementos cristãos, como o próprio Graal, e ocorre a exposição de
outros problemas da Cavalaria, como por exemplo, sobre a relação entre o
cavaleiro com o senhor e com a Igreja.
Para o desenvolvimento desta análise, é utilizado uma tradução feita por
Rosemary Costhek Abílio, publicada pela Martins Fontes no ano de 2002, já
em sua segunda edição. Tal tradução foi feita sobre a versão escrita por
William Roach, que a transcreveu segundo o manuscrito número 12576 da
Biblioteca Nacional da França, sendo publicado pela primeira vez em 1959.
194
O poema original foi escrito em francês antigo, seguindo o formato de
epopeia, com a métrica octossilábica. Ele é estruturado em capítulos e
divido em versos, ao todo são 18 capítulos e 9.234 versos. [Megale, 2001,
p.48].
Para além das informações que estão dispostas nas fontes, as disposições
políticas que buscaremos podem ser compreendidas na mudança entre as
obras que foram feitas em cada uma das duas cortes que o poeta esteve e
quais as implicações que elas causaram em seus poemas.
Discussão historiográfica
Para que seja possível analisar o conceito de Cavalaria de Chrétien de
Troyes, serão utilizados textos de autores que discorrem sobre as funções
das cavalarias, suas atribuições e as características que as diferenciam.
Outra obra relevante para este estudo é A Cavalaria: a origem dos nobres
guerreiros da Idade Média escrita por Jean Flori. O autor destaca os
caracteres básicos dos guerreiros a cavalo, como o seu armamento, a sua
armadura e, obviamente, sobre a montaria. Discorre sobre as funções
atribuídas a este grupo por parte dos costumes e da Igreja, os códigos de
cavalarias e como esta instituição religiosa consegue infringir tanta
influência sobre da elite guerreira, a chamada cristianização da Cavalaria,
percebido em vários documentos, como por exemplo, nos romances
arturianos.
Uma das obras mais amplas sobre o tema da Cavalaria pertence a
Dominique Barthélemy, intitulada A Cavalaria: Da Germânia Antiga à França
do século XII. Ela apresenta uma perspectiva diferenciada sobre as
possíveis origens da Cavalaria. Barthélemy utiliza vários tipos de fontes
históricas, entre elas estão os contos literários. Ele relaciona a literatura
cortês com registros documentais propriamente da aristocracia guerreira,
provenientes da produção burocrática, militar e política. O autor 195
desenvolve, pelo menos, quatro capítulos direcionados a Chrétien de
Troyes. São eles: A aventura literária de Chrétien de Troyes, o Itinerário de
Perceval, A moral de Estevão de Fougéres e a de Chrétien de Troyes e Em
busca do Graal. Barthélemy não descreve quem foi Chrétien, dado a falta de
informações sobre o mesmo, sequer busca descrever qual a concepção de
Cavalaria para o poeta. Nos capítulos mencionados ele apresenta as
principais obras do poeta e as utiliza para compreender os problemas
atrelados ao ideário cavaleiresco expresso nas obras, como o amor cortês.
Tais informações são muito pertinentes para pensar qual a concepção de
Cavalaria para Chrétien, uma vez que possibilita analisar as informações na
obra O conto do Graal segundo as definições de Cavalaria proposta por
Barthélemy na França do século XII, espaço e período em que a obra foi
escrita.
Deste modo, se torna necessário buscar qual sua relação com os diferentes
espaços de produção das obras, que correspondem às cortes que o poeta
frequenta no momento de produção de cada obra. O primeiro conjunto de
obras de Chrétien, que compreende Erec, Cligès, Le Chevalier à la charrete,
foi escrito entre os anos de 1160 e 1181 na corte de Maria de Champanhe
[Spina, 2007, p. 24]. A partir do ano de 1181, Chrétien de Troyes se
estabelece na corte de Felipe de Flandres e desenvolve uma única obra
Perceval ou O Conto do Graal. É nessa primeira etapa que buscaremos
estabelecer qual influência teórica e literária é visível no trabalho de
Chrétien de Troyes. Sabe-se que é provável que pelo menos duas obras
chegaram ao poeta: Policrático de João de Salisbury [Barthélemy, 2010,
p.568] e Historia Regum Britanniae de Geoffrey de Monmouth [Abílio, 2002,
p. 250]. É através dessas informações sobre a conjectura literária do século
XII que buscaremos entender a percepção de Chrétien de Troyes perante a
Cavalaria.
Conclusão
A partir das discussões sobre o conceito de Cavalaria e suas distintas
representações na literatura faz se necessário a reflexão sobre cada uma
em partilhar. Aqui apresentamos a proposta de análise do O Conto do Graal
como uma das formas de compreender a diferença e as semelhanças com
outras obras e textos do período através dos debates historiográficos. A
concepção de que a Cavalaria não é única e que atua de formas distintas
em cada território deve ser elucidada cada vez que é tratado tal assunto,
principalmente, em sala de aula. Isso é dado pelo compromisso que o
historiador tem com a veracidade dos fatos. Além de que, como o conceito
de ideário cavaleiresco, proposto pela historiografia, foi criado a partir da
análise da literatura, de documentos litúrgicos e de obras que buscavam
moralizar a Cavalaria – como o texto de Ramon Llull O livro da Ordem da
Cavalaria [Zierer; Bragança Júnior, 2017 p.152] – se faz necessário a
reflexão de como ele se altera em cada obra segundo a moral de cada
autor, tempo e espaço. Em outras palavras é imprescindível deixar claro
que não existiu um modelo único a ser seguido.
Referências
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Federal da Fronteira Sul (UFFS) [wesleyandretta@hotmail.com]
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entre a história e a literatura. Maringá: Eduem, 2017.
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