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Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................7
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 97
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Conhecendo o Professor
mento já produzido, mas que ele também tenha a capacidade de produzir novos conheci-
mentos. Foi nesta pe rspectiva que fiz o curso de doutorado na Universidade Federal
Sul.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Apresentação
Para nós, futuros historiadores, é importante conhece r os nossos próprios instr umen-
tos de trabalho, a leitura dos textos é a base para a nossa formação, quanto mais leitura
fizermos, mais qualificados seremos. Os textos históricos consti tuem a nossa base, a partir
deles entramos no mundo dos historiadores, e a partir deles, vamos nos familiarizando com
uma linguagem específica que caracteriza a nossa própria profissão, o que podemos chamar
de ofício do historiador.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Unidade 1
Nesta unidade você vai estudar algumas idéias iniciais sobre o trabalho do historiador,
como ele constrói o conhecimento histórico e o que diferencia o conhecimento his tórico do
conhecimento comum.
recorremos a um tipo específico de escrita, que é a narrativa, desta forma você vai conhecer
com detalhes o que realmente se constitui como uma narrativa histórica.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 1.1
O Ofício do Historiador
ria. Para tanto, durante a realização do curso de história você está se preparando para ser
um historiador, podendo escolher uma das três funções ou exercer as três, ao mesmo tempo.
Não devemos ter a idéia de que ser historiador é somente pesquisar e escrever, pois além de
aprender a ensinar vamos exercitar a tarefa de pesquisa e escrita da história, para enfim nos
O historiador tem uma relação próxima com a produção do conhecimento e esta tarefa
é bem sofisticada, pois para produzir conhecimento é preciso dominar alguns conceitos que
são próprios desta atividade. Produzir conhecimento não significa escrever um amontoado
de coisas sem ordenação e sentido, é preciso construir um certo sentido para aquilo que
O historiador escreve a partir daquilo que ele pesquisa, e esta é a primeira tarefa para
a produção do conhecimento em história, num certo sentido é preciso provar aquilo que se
Os documentos são sempre a nossa matéria-prima, a primeira tarefa é fazer uma leitu-
ra destes, é preciso fazer “perguntas” ao mat erial que temos em mãos realizando um traba-
lho de crítica interna e externa. Para a realização desta tarefa é preciso conhecer teorias e
metodologia de pesquisa histórica, isto requer uma certa formação, o que significa que seu
que já desenvolvemos uma série de leituras que nos habilitam a exercer a nossa profissão de
forma correta.
Para a produção do conhecimento é sempre preciso uma série de reflexões que nos
auxilia a ir muito além da mera observação de um fenômeno, é preciso superar esta etapa,
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
no é uma tarefa que qualquer observador pode fazer, a descrição é a apresentação de seus
aspectos visíveis, aquilo que todos nós vemos em uma primeira impressão, não precisa ser
Alguns trabalhos que nos apresentam como obras históricas são meras descrições, são
O objeto de pesquisa é realmente aquilo que o historiador escolhe para pesquisar, é preciso
Os objetos de pesquisa são escolhas livres por parte do h istoriador, cada um tem a
liberdade de aprofundar aquilo que realmente lhe interessa e que traga uma contribuição
estou dando um direcionamento para a minha pesquisa e este é o primeiro passo que eu
tenho que dar. Após fazer isto, deve-se procurar saber se eu tenho fontes de pesquisa, ou
seja, se existem documentos para realmente comprovar aquilo que eu desejo de monstrar,
partir daí uma relação entre o pesquisador (historiador) e seu objeto de pesquisa.
O objeto é sempre uma escolha do historiador, pois ele não é obrigado a fazer aquilo
que não lh e interessa. O historiador é um sujeito subjetivo, isto quer dizer que ele tem seus
próprios valores, suas idéias, sua forma de pensar que é singular, suas ideologias, seu imagi-
nário, enfim devemos considerar que ele é um sujeito pensante que tem uma de terminada
sensibili dade. Naquilo que o historiador escrever vai ficar gravado o que ele pensa, a sua
sensibili dade e sua visão de mundo, por isso podemos dizer que ele é um sujeito s ubjetivo,
O historiador, além de ter a liberdade de e scolha de seu objeto de pesquisa, tem tam-
bém a liberdade para escolher uma determinada teoria e metodologia para a construção do
conhecimento histórico. Quando o historiador escolhe uma teoria que vai orientar a cons-
trução de sua pesquisa, ele já está se posicionando por uma determinada visão da história,
isto significa que o conhecimento que ele vai produzir não é qualquer conhecimento, mas já
possui um certo direcionam ento, um balizamento que a teoria pode proporcionar, ou seja,
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
não é uma mera descrição do fenômeno, é essencialmente uma análise mais detalhada que
vai buscar as relações do foco escolhido com o contexto daquela sociedade que ele deseja
conhecer.
É fundamental perceber que os objetos de pesquisa não estão soltos por aí, mas que
fazem parte de um determinado contexto histórico, têm relações com a sociedade e descortinar
Seção 1.2
Mas em que sentido a teor ia pode nos auxiliar nesta tarefa de produção de conheci-
estabeleça relações de seu objeto com a sociedade a ser analisada, saindo do estágio inicial
de mera descrição do objeto, sendo assim é possível que ele conheça o que está por trás das
meras aparências.
A partir do uso da teoria é possível dizer que estamos construindo conhecimento cien-
ções da ciência. Isto quer dizer, de imediato, que o conhecimento produzido a partir da
teoria se diferencia daque le construído sem o uso da mesma. Alguns autores afirmam que
este conhecimento sem qualquer baliza teórica pode ser entendido como um resultado vul-
gar.
A utilização da teoria científica permite que o historiador explique, ainda que de uma
pesquisa. A teoria pode ser entendida como uma mediação entre o pesquisador e a realidade
a ser estudada, neste sentido é importante observar que este papel vai permitir que se regule
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
ceitos e categorias que balizam seu trabalho, permitindo que ele pense de forma consistente
pela formação histórica de uma determinada sociedade, pois o conhecimento circula e atua
utilizam? Esta é uma importante interrogação para a nossa disciplina que trata especifica-
mente de teorias. Nós podemos começar a responder a questão a partir de algumas conside-
rações:
têm uma formação acadêmica, que conhecem as escolas históricas e os diversos métodos de
histórico, pois a sua experiência permitiria uma reflexão mais profunda acerca de um conhe-
cimento que passaria da m era descrição para a análise de uma determinada sociedade.
de amadores, pois são pessoas que produzem algum tipo de conhecimento que qualificam
são simplesmente apresentados alguns fatos de forma totalmente descritiva. Temos ainda o
caso de profissionais de outras áreas que se apresentam como historiadores e dizem que o
Como vimos, nestes dois casos apresentados, os historiadores que utilizam a teoria e a
cado. Esta passagem de um estágio para o outro significa que o uso adequado da teoria
permite que o historiador conheça não apenas a mera aparência do fenômeno estudado mas
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
ção do conhecimento, permitiu avançar na busca das relações que os fenômenos desenvol-
vem com o próprio mundo social, desta forma pode-se dizer que a teoria possibilitou adentrar
objeto de pesquisa proposto. Sendo assim, est e referencial teórico que todo o historiador
deve utilizar para a construção do conhecimento serve como uma baliza, para transformar
çar pelo trabalho empírico (trabalho de pesquisa), perpassando pela teoria até o seu produto
final, que é o texto propriamente dito. O texto expressa toda a subjetividade do historiador,
controlada pelo uso da teoria, pois esta é um diferencial que o orienta na direção a ser
tomada, durante o processo construtivo, onde se apresenta o resultado de toda a sua pes-
quisa.
Acreditamos que é importante observar que o texto não deve ser um am ontoado de
coisas sem lógica ou racionalidade, ele deve expressar de forma clara as idéias norteadoras
que nos fazem entender o processo histórico de um determinado objeto escolhido pelo histo-
para aquilo que nele expressamos. Isto significa que o historiador deve construir uma série
expressa.
O texto perpassa por uma discussão sobre a sua forma de expressão, e geralmente nós,
os historiadores utilizamos a narrativa, pois de certa forma estamos contando de forma ana-
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 1.3
A Narrativa Histórica
O cinema também busca no referente ligar as suas tramas aos acontecimentos históri-
cos, mas convém salientar que quando o roteirista de cinema cria um roteiro histórico não é
necessariamente com a mesma visão do historiador, é uma forma de situar a sua produção
num determinado contexto, muitas vezes alguns personagens são meramente fictícios. O
cinema pode aproximar a his tória da ficção, o historiador tem que aproximar do referente,
ou seja, de uma determinada realidade.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A obra do historiador é diferente da literatura por trabalhar com dados que fazem parte
de um det erminado referente , ou seja, ele sempre remete a uma realidade a algo que real-
mente aconte ceu. O historiador pode utilizar-se de sua imagi nação para a construção do
texto histórico, uma imaginação criativa que lhe permita tornar o seu texto mais acessível
ao público leitor, uma obra, digamos, de fácil compreensão, isto é um verdadeiro desafio
para quem escreve história.
Os textos devem ser apresentados de uma forma que qualquer pessoa que os leiam
consiga compreender, ou seja, que não precise ser um especialista naquela área para enten-
der o que está sendo dito. O historiador deve escrever para um grande público, a sua obra
deve estar ao alcance de t odos, neste sentido estaríamos fazendo certa popularização do
conhecimento histórico.
A teoria aparece para fornecer uma visão mais aprofundada sobre a realidade que
pretendemos investigar, pois passamos deste papel meramente descritivo do conhecimento
histórico para uma visão aprofundada de uma determinada realidade. A teoria é este ele-
mento instrumental, ela serve para dar subsídios ao historiador, para que ele realmente co-
nheça como se produz um conhecimento de qualidade, pois este conhecimento meramente
descritivo qualquer um pode fazer.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Assim, é fundamental construirmos certa crítica a este conhecimento descritivo, pois ele
não nos serve em vista que necessitamos de uma formação mais sólida, embasada em um
estudo que nos faça compreender os acontecime nt os de forma mais aprofundada.
Neste sentido, podemos afirmar que sempre há uma necessidade de renovação destes
saberes, para que sirvam de instrumento para a elaboração de uma crítica do mundo social.
Os proble mas de cada época são os maiores desafios dos historiadores, pois eles procuram
dar respostas para a problemática de cada pe ríodo, e naturalmente procuram as origens e
causas destes problemas, com isto podemos afirmar, como dizem os estudiosos da Escola
dos Annales, que a história não deve ser uma mera descrição de um acontecimento ou de
uma experiência.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O h istoriador não possui uma máquina do tempo para poder voltar ao passado e
reconstituí-lo de forma tal qual aconteceu, ele sempre chega perto da realidade , pois as
fontes nos permitem uma visão do passado, uma visão totalme nte fragmentada e, ele faz
uma conexão destes pequenos fragmentos, que são os indícios, e constrói um texto na pers-
pectiva de trazer à tona uma articulação coere nte destas pequenas partes.
SÍNTESE DA UNIDADE 1
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Unidade 2
Nesta unidade você vai conhecer com mais detalhes o que podemos chamar de
mento hi stórico.
O te rmo hi storiografia deve fazer parte do nosso conhecimento cotidiano para nos
apresentarmos como historiadores, pois quanto mais a conhecermos, mais habilitados esta-
que a verdadeira história é a científica, portanto, vamos discutir estes princípios que defi-
nem a história como uma ciência. Por outro lado, encontramos também historiadores que
defendem a idéia de que a história não deve se apresentar como uma ciência.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 2.1
A Historiografia
Este exercício é uma prática historiográfi ca na perspectiva de que ele está buscando
nas obras importantes para a sua pesquisa referências para situar o seu objeto de pesquisa.
O historiador sempre recorre à historiografia, seja para situar os seus objetos de pesquisa,
seja para escolher uma teoria e uma metodologia para dar conta do andamento de seu
tr abalho.
A historiografia também permite ao historiador fazer uma crítica mais detalhada sobre
o seu trabalho, pois na medida em que vamos conhecendo as obras dos demais hi storiado-
res, dese nvolvemos a capacidade de realizar comparações sobre o conhecimento histórico.
Nesta per spectiva é possível afirmar que conhecer a historiografia é adentrar num campo
muito vasto e, ao mesmo tempo, complexo, de um conhecimento específico sobre determina-
do tema.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
mais conh ecemos a historiografia, pois cada um deles contribui de alguma forma para a
produto cultural.
Os historiadores seguem teorias que os aproximam das escolas históricas e, cada uma
delas, representa um legado cultural que é orientado por um conjunto teórico e metodológico
pois alguns trabalhos são tão inéditos e inovadores que são capazes de constituir uma nova
tendência, uma nova forma de produzir conhecimento histórico. Estas novas tendências são
história sobre múltiplos olhares, e assim é i mportante salient ar que é salutar entender a
O conhecime nto deve sempre passar por diferentes fases, a cada nova fase costuma-
mos dizer que a própria historiografia é renovada, pois isto significa que a escrita da história
também passa por renovações. Neste sentido, pode-se afirmar que cada geração de historia-
pois quando o historiador escreve, está fazendo uma escolha específica de uma determinada
teoria e metodologia para orientar o seu trabalho. A escolha da teoria é uma ação livre, ou
seja, ele não é obrigado a escolher esta ou aquela teoria, a sua escolha reflete a sua subjeti-
vidade, ele vai escolher uma teoria por acreditar que esta possa lhe dar condições de melhor
A escolha de uma teoria é uma ação que reflete a sua posição em relação à história,
pois pode revelar as suas preferências pessoais de trabalhar uma tendência e não outra
qualquer. Quando escolhemos uma teoria estamos nos posicionado pessoalmente , estamos
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Atualmente est amos cada vez mais nos especializando, e esta tendência também che-
gou à história, agora temos especialistas em áreas específicas, que pesquisam e publicam
artigos e livros expressando o seu saber em uma determinada área do conhecimento históri-
co. A especialização situa o profissional em uma tendência específica do conhecimento, isto
permite o seu aprofundamento, mas devemos cuidar para não perdermos a possibilidade de
um conhecimento mais geral que vai permitir ao historiador entender questões significativas
do contex to histórico, ou seja, de termos um conhecimento que nos situe num campo mais
vasto da historiografia.
No século 20 este campo torna-se cada vez mais complexo, sendo possível situar as
pesquisas em várias divisões e subdivisões, podemos observar trabalhos em história das men-
talidades, história do cotidiano, da vida privada, de gênero, da sexualidade, da loucura, dos
jovens, enfim uma infinidade de classificações. Nesta perspectiva podemos observar que a
historiografia torna-se cada vez mais complexa e dividida em compartimentos.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A cultura não é mais trabalhada como uma dimensão separada do mundo social, pois
antigamente a cultura era quase como algo decorativo, que ficava à margem dos estudos
dos historiadores, agora a cultura é pensada como algo vivido, que faz parte da realidade
como algo integrante, ou seja, ao lado da economia, do social e do político ela participa
integralmente do mundo das pessoas.
A historiografia é responsável pela nossa própria atualização, pois a mesma é uma das
expressões da cultura que nos propicia o entendimento dos diversos movimentos do homem
na sociedade, tanto nas sociedades mais distantes, quanto na sociedade contemporânea.
Neste sentido a historiografia serve como um instrumento de crítica do próprio mundo soci-
al, pois ela nos oferece os instrumentais necessários para a formação do nosso pensamento,
nos proporcionando conteúdos sobre a vida do homem e do movimento das sociedades.
Sendo assim, é possível adentrar em um universo de conhecimento histórico, que forneça
base para a reflexão, pois é importante conhecermos as coisas e situações para poder formu-
lar a nossa crítica, caso contrário nossa crítica ficaria esvaziada de sentido.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Os discursos dos historiadores nos aproximam de certa verdade histórica, pois de ime-
diato podemos pensar que a escrita da história reflete de uma maneira mais direta aquilo
que realmente aconteceu, não é uma mera suposição, este é o sentido da verdade, um dis-
curso daquilo que aconteceu. Os historiadores produzem vários discursos, os quais refletem
a sua própria maneira de entendimento das sociedades estudadas, todos estes configuram
para a construção das representaçõe s e da memória.
Os discursos são representações daquilo que aconteceu, certa maneira de ver as coisas
e que fica registrado com o texto histórico. O texto sintetiza tudo o que o historiador pensa
sobre a história, pois é uma forma resumida de apresentar tudo aquilo que ele acredita ser
uma verdade.
A historiografia comporta este conjunto de textos, nos permitindo entender tudo o que
realmente os historiadores escrevem, neste sentido podemos pensar que a partir disto pode-
mos entender a plenitude da própria sociedade . Nesta perspectiva, é fundamental salientar
que quanto mais nós conhecermos a historiografia, mais estaremos entendendo como funci-
onam as sociedades que temos a intenção de estudar.
Ao escolher os textos que vamos trabalhar com nossos alunos, estamos trabalhando
com historiografia, pois a escolha do material adequado é fundamental para que o ensino
realmente seja de qualidade. No momento de seleção de textos para nossos alunos é impor-
tante que este material represente o que há de mais inovador na historiografia, pois não
adiantaria de nada termos um belo discurso sobre a história, se o material que escolhemos
para ensinar seja conservador.
Somente o conhecimento da teoria da história vai permitir ao professor fazer uma aná-
lise mais detalhada do conteúdo dos textos selecionados. Toda a linguagem que o historia-
dor utiliza ao escrever os seus textos, expressa de certa forma a sua opção por uma determi-
nada teoria, pois no texto podemos encontrar os conceitos e categorias que identificam de
forma clara a teoria utilizada. A teoria é um traço marcante na escrita de um texto.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Mas realmente é no século 20 que a historiografia realmente acontece como uma expressão
da cultura, pois neste longo século ela passou por diferentes fases, marcando de forma deci-
siva a influência das teorias que os historiadores europeus desenvolveram para a escrita da
história.
1
No final do século 19 e começo do século 20 temos na Eu-
ropa a influência decisiva da Es cola Metódica e do Positivismo,
ambas as correntes são tomadas como referência pelos historiado-
res para escrever a história. A Escola Metódica nasce na Alemanha
com o historiador Leopoldo Von Ranke, e logo os historiadores fran-
ceses trazem para a França, desta forma tendo uma influência sig-
nificativa na produção historiográfica. Esta escola era marcada mais
por um método de leitura documental, do que por uma teoria pro-
priamente dita.
2
O Positivismo nasceu na França, também no século 19, a
partir da doutrina de August Comte, que estabe lece algumas leis
para a construção do conhecimento histórico e se aproxima mais
de uma teoria.
seus heróis e fatos históricos, o que le vava os alunos a decorar o nome dos heróis e os “princi-
1
Disponível em: <http://ger manhistorydocs.ghi-dc.org/images/334 4-Leopold%20von%20Ranke%20@%20530.jpg>. Acesso em: 3
set. 2008.
2
Disponível em: <http://records.viu.ca/~mcneil/jpg/comte.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
pais fatos ocorridos com a humanidade”, era uma história muito descritiva, que não incen-
tivava o aluno a desenvolver o seu senso críti co. Felizmente, esta corrente historiográfica
está totalmente superada.
3
O marxismo foi uma outra corrente teórica e metodológica,
que nasceu também no século 19, fruto de todo um trabalho de pes-
quisa e observação a partir das idéias de Karl Marx, que desenvol-
veu a concepção teórica e explicativa sobre a sociedade de sua época,
e que viria a ser utilizada para muito além de suas origens, influen-
ciando a construção do conhecimento no decorrer do século 20.
Karl Marx foi um atento observador dos problemas da sociedade, dessa forma demons-
trava em suas obras a importância de se pensar a sociedade e seus conflitos, ou seja, as lutas
de classe como motor da história e, neste sentido, as suas concepções de história apontam
para uma perspectiva da história-problema. Os historiadores vão buscar no marxismo a pos-
sibilidade de se pensar o conhecimento onde a história é pe nsada com uma pe rspectiva
singular, denominada de materialismo histórico.
3
Disponível em: <http://portrait.kaar.at/Verschiedene%2019.Jhd/images/karl_marx.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
dos Annales, criada na França no final da década de 1920 e continua atuante até a atuali-
dade, cada vez ganhando mais espaço entre os historiadores do mundo inteiro. A Escola dos
forma.
A história tornou-se interdisciplinar, ou seja, teve aproxim ações com as demais disci-
plinas das ciê ncias sociais, permitindo um ganho explicativo extraordinário. Os objetos de
pesquisa passaram a ser extremamente variados, começando a pensar a história sobre dife-
rentes perspectivas e permitindo conhecê-la a partir do cotidiano, das mentalidades, da vida
privada, das mulheres, dos jovens, dos velhos e dos atores sociais considerados excluídos. O
tempo passou a ser pensado em diferentes fases, como a curta duração, a média duração e a
longa duração.
A Escol a dos Annales não se uti li za de um a t eor ia úni ca, m as d e v árias te ori as e
met odologias, q ue vão d ecisivamente rev olucionar a produção do conhe cim ent o his tó-
rico.
Seção 2.2
Para a Escola Metódica Positivismo, Marxismo e Escola dos Annales, a história deve
ser pensada e construída a partir de teorias e métodos, isto significa que história é uma
ciência. A noção de ciência na história prevê a utilização de uma teoria e de um método,
isto significa que pode ser pensada a partir de algum parâmetro científico.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
4
A história como ciência é defendida por Jörn Rüsen4 em seu
livro Razão histórica, nesta obra o historiador alemão desenvolve seus
argumentos na defesa da ciência histórica. Ele é implacável ao dizer
que o conhecimento verdadeiro e com sentido é o científico.
O autor salienta que os métodos de pesquisa constituem o terceiro fator dos funda-
mentos da ciência da história. Sendo importante salientar que para a efetiva realização do
ofício do historiador, é preciso, após selecionar a sua fonte de pesquisa, buscar na teoria a
construção de métodos de investigação para os dados fornecidos, pois é ele que t ransforma
as fontes em documentos para a construção de um conhecimento racional e com sentido.
4
Disponível em: <http://www.kupoge.de/kongress/2005/referenten/ruesen.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
5 – A teoria da história contribui para formar a capacidade de reflexão, sem a qual não se
pode solucionar o problema posto pela necessidade de conciliar, num trabalho científico
de fôlego, os requisitos científicos e a economicidade do trabalho. Ela exerce aqui uma
função de seleção e fundamentação.
do uso da teoria, construir certa objetividade necessária para qualquer trabalho científico. A
teoria é tão valorizada por este historiador a ponto dele afirmar que a mesma é necessária
para os estudiosos construir em sua futura prática profissional. Nesta perspectiva, podemos
5
Rüsen, Jörne. Razão histórica: Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: UnB, 2001. Op. cit. p. 38-41.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
afirmar, segundo as obser vações do autor, que o conhecimento científico somente é formu-
lado a partir da utilização da teoria da história, e que ela constitui a base para o trabalho do
historiador, inclusive para a definição de sua própria profissão.
O mesmo autor continua suas observações, afirmando que as histórias com pretensões
científicas teriam validade e que, de alguma forma, estariam garantidas perante uma formu-
lação particularmente bem estruturada, ou seja, baseadas em uma teoria da história que
garantiri a uma certa regulamentação metódica. O método é elaborado sempre a partir da
aplicabilidade de uma determinada teoria, somente desta forma seria possível construir um
conhecimento histórico-científico com uma determinada pretensão de verdade.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A história como ciência é uma afirmativa feita por vários h istoriadores de diferentes
escolas, pois acreditam que para se construir o conhecimento histórico é preciso que o pes-
quisador conheça teorias e métodos e, desta forma, apresentam uma concepção de história
mais próxima de algumas normas e regras.
6
Ainda nesta perspectiva, podemos situar a posição de Marc
Bloch, que foi um dos fundadores da Escola dos Analles, em seu
livro Apologia da história ou o ofício do historiador,7 ele discute de
forma sistemática a sua concepção de ciência da história. Bloch
afirma que história é a ciência dos homens no tempo, esta afirma-
ção confirma a sua posição que reflete também a própria Escola
dos Annales, de que pensar o tempo e o conhecimento histórico
significa pensá-los sobre a ótica da ciência e sua temporalidade.
Marc Bloch, ao discutir o problema da observação histórica, retoma novame nte a sua
posição em relação à ciência da história, afirmando que uma ciência não se define apenas
pelo seu objeto de estudo, é preciso pensar nos limites estabelecidos pelo próprio historiador.
O autor também discute a natureza dos métodos, ou seja, que é sempre necessário o empre-
go destes para o desenvolvimento da pesquisa e da narrativa histórica, confirmando desta
forma o emprego da ciência para a construção do conhecimento.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
mos afirmar que Bloch foi um defensor da hist ória como ciência, pois o autor afirma em seu
livro “Apologia da História” que é preciso o emprego de métodos e técnicas de pesquisa para
a construção do conhecimento.
Os autores que defendem a história como ciência são vários. Aqui apresentamos ape-
nas dois casos para melhor i lustrar o nosso texto, mas têm autores, em todas as escolas, que
acreditam que para se construir o conhecimento histórico é preciso a utilização de uma
teoria e de métodos especí ficos no processo da pesquisa e na construção da narrativa.
Assim, a história como conhecimento pode passar pelo crivo da ciência e constituir-se
como um conhecimento racional em busca de uma razão, com direcionamentos precisos,
capazes de transmitir de forma ordenada e seqüencial os argumentos e proposições elabora-
dos pelos historiadores, ou seja, não é apenas um mero relato das coisas que ocorreram, mas
é sim uma narrativa histórica, problematizada, capaz de nos traduzir a experiência que os
homens e as sociedades viveram em um determinado tempo.
Seção 2.3
Por outro lado, temos os historiadores que não acreditam que a história possa configu-
rar-se como uma ciência, pois aclamam que esta não tem teorias e métodos precisos para a
sua constituição, portanto não pode apresentar-se como tal. Temos neste direcionamento
dois grupos bem específicos, aqueles historiadores que constroem conhecimento histórico
sem o uso das teorias e os que aproximam a história da arte e da literatura. São grupos bem
distintos!
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O historiador Paul Veyne em sua clássica obra Como se escreve a história, afir ma que a
história não pode configurar-se como uma ciência, e define a história como uma narrativa de
eventos reais que tem o homem como ator. O autor observa que esta nar rativa difere-se da
literária porque busca a construção da verdade, o que difere a história das demais disciplinas.
Paul Veyne define que a ciência é muito pobre e restrita e que a história não caberia no
reducionismo desta e, portanto, é muito mais ampla do que se pode imaginar. Neste sentido,
o autor observa que:
Não somente nenhum acontecimento, mas, ainda, as leis que vêm interf erir no curso de um
acontecimento não explicarão, nunca, senão uma pequena parte dele. O sonho espinosista de um
determinismo completo da história não passa de um sonho; a ciência não será, jamais, capaz de
explicar o romance da humanidade tornando-o por capítulos inteiros ou, mesmo, por parágra-
fos; tudo o que ela pode fazer é explicar algumas palavras isoladas, sempre as mesmas, que
retornam em muitas páginas do texto, e suas explicações são, por vezes, úteis para a compreen-
são, outras vezes, não passam de glosas inúteis.
A razão desse divórcio entre a história e a ciência está em que a história tem por princípio tudo
o que é digno dela: não tem o direito de escolher, de se limitar ao que é suscetível de uma
explicação científica, do que resulta que, em comparação com a história, a ciência é muito pobre
e repete-se terrivelmente8.
A partir das idéi as explicitadas pelo autor, podemos observar que a ciência não daria
conta de toda a comple xidade que é o conhecime nto histórico, pois as teori as científicas
pode riam reduzir a h istória a algo totalmente simplificador, não oferecendo ex plicaçõe s
plausíveis para o ente ndim ento das sociedades. Nesta perspectiva, fica destacado que é
8
Paul, Veyne. Como se escreve a história; Focault revoluciona a história. Brasília: UnB, 1995. Op. cit. p. 128.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
fragmentos, pois a sua fragmentação perderia o sentido da própria narrativa. O autor desta-
ca a importância de se pensar em um certo divórcio entre a história e a ciência, pois a
primeira tem como principio trabalhar com um conhecimento mais abrangente, o qual não
caberia neste certo reducionismo da ciência, e finaliza destacando que a segunda ciência é
9
Outro autor a conside rar a história como não-ciê ncia é
Hayden White, ele defende a proposição de que a história estaria
mais próxima da literatura do que da ciência. O autor afirma que
os historiadores comentam que a história ocupa uma área interme-
diária entre a ciência e a arte e, podemos observar que não se cons-
titui como uma negação da ciência mas uma possibilidade de apro-
ximação da história com a arte.
9
Disponível em: <http://www.staff.amu.edu.pl/~ewa/Hayden%20White%20American%20Academy%20in%20Berlin.jpg>. Acesso em:
3 set. 2008.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O autor afirma que a discussão entre história ciência e não-ciência é uma problemáti-
ca aberta entre os historiadores, e destaca que é necessário defender suposições conscientes
e inconscientes. Desta forma, podemos observar que a discussão sobre o próprio estatuto da
história é um problema que o historiador deve enfrentar.
A história como ciência ou como não-ciência é uma longa discussão que perpassa
pela historiografia ainda no século 21, pois os historiadores estão divididos quanto as suas
posições, ainda perpassamos por novas concepções sobre o conhecimento a partir de alguns
modelos como, por exemplo, pela modernidade e pós-modernidade, modelos que discutem a
produção do conhecimento como um todo, não simplesmente o conhecimento histórico.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
construção do texto do historiador. A tese levantada por esta corrente é de que o texto do
historiador não é diferente do texto criado por autores de ficção, portanto a narrativa histó-
rica não teria diferença da narrativa ficcional.
Esta afirmação dos pós-modernos narrativistas acaba com a noção que funda a ciên-
cia da hi stória, que postula que para a construção do conhecime nto histórico é preciso que
a pós-modernidade contesta muitas coisas, mas não oferece outras para pôr no lugar, desta
for ma f ica e vide nte que e sta corre nte não contri bui muito para a história e par a a
historiografia.
riador uma verdadeira reflexão sobre as regras e normas precisas para a sua confecção,
sendo possíve l perceber que é necessário que o historiador seja um sujeito bem informado. É
importante salientar que o historiador deve conhecer as teorias da história para se posicionar
como um sujeito produtor de conhecimento, pois como acabamos de ver existem várias cor-
rentes que discutem o estatuto do texto histórico.
Esta discussão sobre a história como ciência ou como não-ciência é uma problemáti-
ca que perpassa as teor ias, isto quer dizer que não é uma discussão encerrada, ela continua
aberta para ser encarada pelos diferentes historiadores em suas escolas históricas. Os argu-
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
mentos que os historiadores utilizam para defender a ciência ou para negá-la, pertencem às
diversas correntes teóricas, e por isso é fundamental que esta discussão esteja presente no
ofício do historiador, pois o conhecimento é uma das atividades para o sujeito apresentar-se
como tal.
Podemos observar que ainda existem pessoas que se apresentam como historiadores
que estão na margem de qualquer discussão sobre o conhecime nto histórico, que não co-
nhecem nenhuma teoria da produção do conhe cimento, nem sequer os métodos e as regras
a serem utilizadas para a construção da história. Produzem um conhecimento a-teórico e se
apresentam como historiadores, mesmo não tendo nenhuma formação na área específica.
O conhecimento que eles produzem não podemos classificar como científico ou não-
científico, apenas podemos classificá-lo como conhecimento vulgar, aqui vulgar não tem
uma conotação pejorativa, mas significa um conhecimento sem a utilização de qualquer
discussão teórica. O que podemos afirmar de imediato é que todo o conhecimento tem o seu
valor, seja científico ou não-científico, mas o que podemos nos interrogar é sobre uma deter-
minada noção de verdade que este conheciment o pode representar, pois ainda acredita-se,
pelo menos os modernos, que o conhecimento histórico ainda tem um dever de trabalhar
com uma verdade.
ou seja, em teorias, métodos, regras e normas, acreditando que a história deva ser construída
a partir de alguns princípios fundamentais que a regem. Mas, por outro lado, estes historia-
dores são muito rigorosos, pois criticam veementemente qualquer outro tipo de conheci-
Os historiadores que não acreditam que a história possa configurar-se como uma ciên-
cia fazem uma aproximação com a literatura e com a arte, alguns inclusive acreditam que a
história é muito ampla é que não cabe na estreiteza de uma determinada ciência. Mas há os
que acreditam que a história é realmente uma arte, portanto subjetiva demais para ser uma
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
ciência, e sua construção perpassaria pela confecção de um texto mais livre, sem as regras
mais rígidas exigidas pela ciência, portanto o seu estatuto estaria mais próximo da literatu-
ra ou também da ficção.
SÍNTESE DA UNIDADE 2
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Unidade 3
Nesta unidade você vai começar a conhecer as escolas históricas, suas características
na concepção de historiografia, pois esta m uda de acordo com cada uma. Cada uma destas
escolas entende a história de uma forma, ou seja, possui a sua própria concepção. Desta
forma, é fundamental que você conheça as escolas para saber o que cada uma delas propõe,
Para iniciar, você vai conhecer a Escola Metódica, também conhecida como Positivista, mas
na medida em que for lendo vai descobrir que estas duas tendências são bem diferentes, pois
cada uma delas entende a história de uma maneira diferente. Leia o texto e descubra você
mesmo.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 3.1
As Escolas Históricas
Cada uma das escolas históricas representa uma corrente historiográfica, que congre-
ga uma série de historiadores, que pensam a história de uma forma especifica, dando singu-
laridade e caracterização a cada uma das tendências. As escolas históricas estão alocadas
em certo período histórico, neste sentido representam o pensamento de uma de terminada
época, como por exemplo as escolas do século 19 possuem um conjunto de idéias e concep-
ções que dizem respeito a como a história era pensada e construída naquele período.
É importante observar que as escolas são compostas por historiadores e são eles que
incorporam as idéias sobre o fazer histórico. Cada uma das escolas é melhor representada
pelas obras de seus historiadores, são eles que seguem os pressupostos e idéias que cada
uma delas acredita ser importante na reflexão histórica. Como as obras dos historiadores
são reflexos das idéias das escolas, elas compõem um grande acervo que chamamos de
historiografia.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 3.2
As idéias e concepções sobre a história de Leopoldo Von Ranke parecem serem funda-
mentais para a configuração da perspectiva que denominamos de Escola Metódica, pelo
menos suas manifestações na Alemanha, que mais tarde se expandem para a França e de-
mais países europeus, bem como também influenciam na historiografia brasileira.
É preciso destacar as concepções sobre a h istória nas reflexões de Ranke, pois estas
são fundamentais para entendermos a expansão desta escola histórica que fez parte do
cenário historiográfico no século 19 e parte de século 20. Ranke foi um historiador singular
para a época que viveu, pois além de escrever uma obra muito vasta, também fez uma refle-
xão sobre a própria história.
Leopoldo Von Ranke nasceu em 1795 e morreu em 1886, ou seja, vivenciou o século
19 na Alemanha. Foi um historiador do mundo moderno e escreveu sobre a modernidade.
Concebia a história como aquilo que realmente aconteceu, e afirmava que a história atribui
a si mesma a função de julgar o passado e de instruir as narrativas em benefício das gera-
ções futuras. Nesta perspectiva o autor observa que a história tem esta função de compro-
metimento com o futuro, de informar sobre o passado, e sobre aquilo que realmente aconte-
ceu. Isto fica evidente em suas obras, pois Ranke sempre afirmou que a história deveria
preocupar-se com “o que de fato aconteceu”, uma certa visão objetiva da história.
Ranke designava que os historiadores devem sempre tentar oferecer uma representa-
ção factual do passado desprovida de seus pontos de vista e isso nos leva a acredi tar em um
posição que colocaria o historiador como um sujeito neutro, que não deveria intervir direta-
mente em seu objeto de pesquisa, mas sim deveria trabalhar com os fatos de uma maneira
em que manteria uma separação entre o historiador e seu objeto.
O trabalho deveria ser embasado a partir dos documentos, os quais deveriam ser ana-
lisados de uma forma crítica e metódica. Atri bui-se a Ranke a criação de um método crítico
que se tornou modelo de investigação histórica no século 19 na Alemanha e em diversos
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
países, posteriormente. Este método crítico de análise dos documentos desvincula a história
de qualquer filosofia e a coloca num patamar científico de análise detalhada de seu método
de investigação, sendo assim, a história para Ranke é essencialmente científica.
Ranke seguia alguns princípios que estabelecem o seu método, alguns deles podemos
observar a seguir:
1 – o historiador não é juiz do passado, não deve instruir os contemporâneos, mas apenas dar
conta do que realmente se passou;
3 – a história – res getare – não existe em si, objetivamente, e se oferece através de documentos;
4 – a taref a do historiador consiste em reunir um número significativo de fatos, que são substân-
cias dadas através dos documentos purificados, restituídos à sua autenticidade externa e interna;
5 – os fatos, extraídos dos documentos rigorosamente criticados, devem ser or ganizados em uma
seqüência cronológica, na ordem de uma narrativa; toda a reflexão teórica é nociva, pois intro-
duz a especulação filosóf ica, elementos a priori subjetivos;
1 Bourdé, G.; Martan, H. Les écoles historiques. Paris: Seuil, 1993. Apud Reis, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. Belo
Horizonte: Autêntica, 2004. Op. cit. p. 17.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
As observações de Ranke de finem o seu próprio perfil como historiador que vai fazer
escola na Alemanha e tem muitos seguidores no próprio país e fora dele também. Suas
afirmações deixam muito claras a forma de pensar sobre o historiador, seu ofício de ser fiel
ao recuperar aquilo que realmente aconteceu, não emitindo opiniões a respeito do passado.
A tarefa do historiador seria realmente trabalhar com os fatos, que deveriam ser reuni-
dos em forma cronológica, estes frutos do trabalho com os documentos, a partir da seleção
destes o historiador os organiza com a narrativa histórica. A perspectiva de trabalhar com os
pressupostos teóricos não existe para Ranke, e le inclusive salie nta que a reflexão teórica é
nociva ao trabalho do historiador, pois estar ia caminhando para uma total subjetividade da
história, e sua história científica seria construída apenas com a aplicação de um método. A
história enquanto ciência seria a verdadeira por ser considerada objetiva, vencendo a subje-
tividade, tão comum no trabalho do historiador.
Para a escola metódica alemã a história deveria ser a científica, ou seja, capaz de
comprovar com as normas e regras da ciência o conhecimento objetivo. O sujeito produtor
do conhecimento deveria sempre se manter neutro, desta forma o que realmente interessa é
o seu objeto de pesquisa, poi s suas opiniões não valeriam absolutamente nada.
O conhecimento produzido por este sujeito neutro não perpassaria por sua crítica,
portanto seria desvinculado de qualquer formulação de hipóteses, ele apenas re uniria os
fatos e os narraria de uma maneira cronológica. Neste sentido, a história não apresentaria
qualquer tipo de problematização, os fatos deve riam ser recuperados tais como acontece-
ram, desta forma, mantendo a pretensão de se atingir uma verdade objetiva.
Os fatos mais importantes para os historiadores seriam os que estavam ligados aos
acontecimentos políticos, administrativos, diplomáticos e religiosos, os demais aconteci-
mentos de uma sociedade não tinham importância para esta corrente histórica. Es ta escola
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A Revista Histórica foi criada por G. Monod e G. Fagniez, estes historiadores busca-
vam constituir uma escola histórica com intenção de acolher os trabalhos considerados mais
sérios com certa diversidade ideológica. A referida revista tinh a a intenção de publicar os
trabalhos históricos originais sobre as diversas dimensões da história, tanto trabalhos do
exterior quanto os trabalhos franceses. Os membros efetivos da revista eram quase todos
professores universitários, e a maioria trabalhava no conceituado Colégio de França, uma
instituição universitária de grande prestígio acadêmico até a atualidade, tendo inclusive
arquivistas e bibliotecários.
A revista tinha uma preocupação ética, e o editor G. Monod afirmava que deveria
haver uma solidariedade que ligasse os homens do presente aos homens do passado. Os
artigos publicados evidenciavam a história francesa, marcando desta forma as diferentes
posições dos colaboradores. A Revista Histórica que primava pela história com métodos ci-
entíficos vai marcar o início da escola metódica na França.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
do conhecimento histórico, pois estes historiadores afirmavam que o importante seria a cons-
trução de um método e não de uma teoria para a sua elaboração.
É importante observar que as teorias não tinham importância para a escola metódica,
pois o que importava era a elaboração de uma seqüência cronológica de fatos, muitas vezes,
sem nenhuma articulação entre eles, pois não havia este fio condutor entre os acontecimen-
tos. A história adquire com eles um método, afastando-se da arte e da literatura e, portanto,
primando pela objetividade absoluta, contra qualquer subje tividade.
mais áreas consideradas subjetivas, pois a objetividade era a meta a ser alcançada. Este
método, empregado para construir o conhecime nto histórico, vai propiciar que a história
torne-se uma atividade profissional, sendo uma atividade conhecida e respeitada pela soci-
edade francesa. Para tanto, foram criados vários cursos universitários, incentivando a cole-
A Escola Metódica francesa vai atingir o seu ponto culminante com a publicação de
um manual que vai definitivamente estabelecer as bases científi cas da historiografia metó-
dica, reforçando a sua identidade. O manual Introdução aos Estudos Históricos, publicado
em 1898 pela editora Hache tte, de autoria de Charles-Vitor Langois e Charles Seignobos,
introduz as regras aplicáveis à disciplina de história, dando uma contribuição decisiva para
pode m os c ons ide r ar que e s te s h i stor iadore s re alizar am uma ve rd ad e ir a rup tura
epistemológica, isto é, a possibilidade de reflexão filosófica na construção do conhecimento.
A história para eles não passa da aplicação dos documentos, pois afirmam no manual de
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
que sem documentos não há história. Em francês podemos assim escrever: pas de document,
pas d’historie, afirmando a importância do tratamento dos documentos, que são a matéria-
prima para a construção do conhecimento h istórico.
A primeira tarefa a ser executada era a crítica externa (também conhecida como erudi-
ção), seria a primeira fase de sua análise, o h istoriador deveria localizar a fonte que produ-
ziu o docume nto, em seguida examinar se tratava-se de um documento original, de uma
cópia ou de uma falsificação. Depois, a análise do document o deveria ser feita em uma
ficha, onde ficariam registrados todos os dados, ficando mais fácil ao historiador manusear a
ficha do que o documento original, que não poderia sair do arquivo ou do museu ou mesmo
das bibliotecas.
A segunda tarefa seria a crítica interna, que consistia em resumir os dados contidos no
documento, sendo que todos estes dados deveriam estar na fich a. Segundo os autore s, esta
tarefa dividia-se em duas partes: 1ª – análise do que o autor quis dizer; 2ª a análise das
condições e m que o documento foi produzido.
As duas t arefas a serem realizadas para a analise dos documentos significa a constru-
ção de um método de investigação, em que a história realme nte parte dos documentos.
Estes deveriam ser analisados criteriosamente para a sua aplicação, e somente depois desta
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
análise seria feita a verdadeira construção da história. Para isto deveria o historiador reali-
zar um ce rto agrupamento dos fatos em uma ordem cronológica, para então f inalmente
realizar a escritura do tex to histórico propriamente dito, ou seja, é um método bem exato
para ser aplicado pelo historiador em seu ofício de construção do conhecimento histórico.
O manual Introdução aos Estudos Históricos, vai incentivar o ofício da pesquisa histó-
dor do positivismo), que pregava algumas leis universais para a história. O que temos que
ter bem claro é que o positivismo oferecia certa teoria para a construção do conhecimento
histórico, e a Escola Metódica não oferecia teoria nenhuma, sendo tão somente um método.
ciência que estuda os principais fatos ocorridos com a humanidade. Esta afirmativa atesta a
influência que a Escola Metódica obteve na h istoriografia, pois na França esta tendência
permeou a historiografia, até aproximadamente 1945 e, no Brasil, esta influência ocorreu
Esses historiadores metódicos tinham como ponto inicial de reflexão para a produção
do conhecime nto de que a única forma de construção da história seria a científica,
estabelecida a partir de um rígido método para a análise documental, portanto estabelecen-
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
ção. Enfim, o importante era ter muita erudição para a construção do conhecimento, pois
ele deveria ter bases muito sólidas para realmente tornar-se verdadeiro.
não significa que eram positivistas propriamente ditos, pois ao contrário do que propagava
August Comte (que a história tinha determinadas leis), para os metódicos estas leis não
O historiador Fustel de Coulanges, que afirmava que a história era realmente uma
ciência, foi considerado o primeiro historiador francês a realizar uma obra realmente cientí-
fica, com todos os critérios, normas e regras indispensáveis para ser considerada como tal.
Para o referido historiador, a história não necessitava de filosofias, era construída apenas a
partir de métodos bem definidos, sendo para e le importante a crítica das fontes históricas
para então produzir o conhecimento. Também pregava que através da história seria capaz
de atingir uma verdade objetiva. Um das obras mais conhecidas deste historiador é o livro La
cité antique (A cidade antiga), sendo obr a referência para os historiadores que pesquisam
como metódicos. Em primeiro lugar eles defendiam este espírito positivo, pois acreditavam
que os eventos históricos e ram estudados em sua superfície e que não se ria possível alcan-
çar a sua profundidade, ou seja, que era quase impossível de se chegar a este estágio.
Para os metódicos o fato histórico deveria ser pensado como algo totalmente objetivo,
contexto o historiador tinha um importante papel, que era de se manter como sujeito passi-
vo, que simplesmente tirava os fatos dos documentos, que seriam os grandes eventos políti-
cos e não os pequenos acontecimentos do cotidiano. Esta dimensão não aparecia nos estu-
dos históricos. A história se apresentava como uma ciência isolada, sem influência de qual-
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
No começo do século 20, h avia uma verdadeira confusão entre os historiadores consi-
positivistas eram os seguidores de August Comte (seguiam uma teoria formulada por este
pensador).
3 – a sua herança: a crítica textual e a sua exigência de rigor, de dúvida, de certeza, de verdade.
Esses três elementos, para Chartier e Revel, teriam como resultado um conheci mento considera-
do positivo; uma imagem a mais próxima possível daquela que teria dado a observação direta do
fato do passado. 2
2
Revel, J.; Chartier, R. L. Febvre et les sciences sociales. In: Historiens et Géographes. n. 272. Paris: APHGEP, fév. 1979. Apud Reis,
José Carlos. A história ente a filosofia e ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Op. cit. p. 28.
51
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
conhecimento não poderia opinar sobre absolutamente nada, e le, no caso o historiador,
teria como função coletar os fatos que estavam nos documentos.
Seção 3.3
início de século 20, pois em sua grande maioria eram os metódicos propriamente ditos. Na-
turalment e existiam os positivistas, ou seja, os que eram seguidores de August C omte, que
Louis Boudeau definiu a autêntica história positivista, trazendo uma determinada fi-
losofia para a reflexão da produção do conhe cimento. Para este pensador a história seria
uma ciência do desenvolvimento da razão, ou seja, para os positivistas a história também é
definida como uma ciência (m esma posição dos metódicos).
52
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A história teria como objetivo estudar a universalidade dos fatos que a razão dirige ou
de que sofre a influência. Esta afirmação nos leva a pensar que o uso de uma de terminada
teoria, tr aria para a história a reflexão filosófica sobre a razão, isto significa que para a
produção do conhecimento é necessário existir alguma refle xão anterior aos fatos propria-
mente ditos.
Podemos obser var que os objetos de pesquisa eram bem variados para a época e real-
mente com uma aproximação da sociologia, pois naquele período o interesse dos historia-
dores era trabalhar com os grandes fatos históricos, ligados à política e às relações diplo-
máticas. Enfatizando a questão do nacionalismo, os positivistas realmente foram bem ino-
vadores para o seu período.
Em seu livro, Louis Bourdeau realmente vai definir a história numa perspectiva cientí-
fica, sendo muito fiel ao pensamento de August Comte, para o qual a história teria a função
de investigar as leis que presidem o desenvolvimento da espécie humana. Assim a história
trabalharia com as leis e estas seriam responsáveis pelo desenvolvimento, podendo-se perce-
ber que estaria numa perspectiva de trabalhar com a noção de progresso.
Ainda nesta perspectiva segundo Bourdé e Martan (2003), estas leis da história seriam
as seguintes: 1. as leis da ordem, que mostram a semelhança das coisas; 2. as leis de relação
que fazem com que as mesmas originem os mesmos efeitos; 3. a lei suprema, que re gula o
53
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
curso da história. Na exposição das leis podemos perceber que a história deveria ser produ-
zida seguindo este percurso, isto significa que foi criada uma determinada filosofia que ori-
Nesta breve exposição sobre o positivismo podemos perceber que eles eram bem dife-
rentes dos historiadores da Escola Metódica, pois os positivistas tinham uma de terminada
filosofia que seguiam rigidamente e os metódicos tinham um método que também seguiam
rigidamente. Por isso, nós não podemos mais confundir os metódicos com os positivistas,
Os metódicos não tinham nada a priori, pois a história estava ali nos documentos,
uma teoria que eles se baseavam para a produção do conhecime nto e para orientá-los com
algumas leis expressas em uma deter minada filosofia. Também os objetos de pesquisas eram
bem diferentes, os metódicos eram mais tradicionais, geralmente trabalhavam com os fatos
na história.
O que é importante observar é que nós te mos que ter bem claro que a Escola Metódica
não era composta pelos posit ivistas, esta escola trabalhava com o “espírito positivo”, ape-
nas, pois aqueles tinham a sua própria filosofia. Aqui no Brasil as pessoas confundem a
Escola Me tódica com os positivistas, na França já há muito tempo foi feito esta distinção
radical, pois é preciso entendê-los em sua singularidade, onde cada um deles pensa a histó-
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
SÍNTESE DA UNIDADE 3
55
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Unidade 4
Nesta unidade você vai conhecer uma Escola Histórica que iniciou no século 19, mas
foi realmente no século 20 que ela conseguiu uma grande repercussão, podendo ser consi-
derada como uma verdadeira teoria revolucionária, vindo a influenciar também os grandes
internacional.
mento, trazendo para a história as próprias idéias de Karl Marx. O Marxismo pode ser con-
siderado como uma teoria social, pois vários movimentos sociais, partidos políticos e sindi-
catos vão se basear no Marxismo como uma bandeira de luta para conquistar os se us direi-
tos, buscando uma sociedade mais justa. Os historiadores vão seguir com maior ênfase o
materialismo histórico, que é uma noção mais e specífica para se pensar a história e a cons-
trução do conhecimento.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 4.1
A história nunca mais seria a mesma depois de Karl Marx, pois este autor a concebeu
como uma força matriz, geradora das mudanças nas sociedades, e seria basicamente uma
história-problema, pois os historiadores deveriam começar a analisar e escrevê-la a partir
dos problemas vividos por uma determinada sociedade. Marx foi um autor extremamente
atuante, era formado em filosofia e fez doutorado também nesta área, concluindo o curso
em 1841. No entanto, não conseguiu lugar nas universidades para lecionar por suas posi-
ções revolucionárias, passando a trabalhar de jornalista, escrevendo muito para jornais e
revistas e também seus livros.
Dedicou a sua vida a escrever e ter uma militância política. Por isso, a maioria de suas
obras reflete os problemas vividos na sociedade capitalista, ou seja, a sociedade era o pró-
prio laboratório em que Marx se inspirava para escrever e, acima de tudo, para lutar por
uma transformação. O espírito revolucionár io de Marx fez com que ele não conseguisse
melhorar a sua condição de vida, vivendo entregue as suas paixões de escritor, crítico social
e militante, portanto, com uma vida de privações, e, no entanto, foi uma pessoa integral-
mente dedicada aos seus ideais.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Marx morou em vários lugares, nasceu na Alemanha onde fez os seus estudos, mas
não encont rava lá as possibilidades necessárias para divulgar as suas idéias. Para isso mu-
dou para Paris onde escrevia para jornais, e podia melhor ex plorar as suas idéias políticas,
econômicas e históricas. Em Paris conheceu Friedrich Engels, um pensador que também se
interessava pela filosofia de Hegel. Juntamente com Marx escreveu importantes obras.
Marx se mudou para Londre s onde viveu o resto de sua vida, e trabalhou para impor-
tantes jornais, escrevendo também sua obra chave para o entendimento de seu pensamento,
intitulada de “O Capital”, que foi publicada somente depois da sua morte. Esta obra reflete
toda a sua concepção sobre a formação e desenvolvimento do capitalismo. Marx e seu ami-
go Engels participaram em 1847 da criação da Liga dos Comunistas em Londres e, a partir
daí, escr eviam sobre o movimento comunista na Europa, resultando em uma importante
obra denominada de “O Manifesto Comunista”.
Marx foi um excelente filósofo e sua obra é lida inclusive nos dias atuais, mas suas
concepçõe s sobre a sociedade o colocam também como um historiador, diga-se de passa-
gem, muito perspicaz e capaz de desvendar a sociedade em sua totalidade.
Esta visão o coloca como um historiador que explica os mecanismos que envolvem
uma determinada sociedade. Nesta perspectiva, podemos dizer que Marx realizou um tra-
balho que pode ser també m considerado como uma teoria da história, pois tinha como pre-
tensão o entendimento da sociedade como um todo. Marx já esclarecia em suas obras que
não era possível o entendi mento da sociedade apenas pela aparência das coisas, mas sim
era preciso o entendimento de algumas estruturas que relacionavam com a reali dade con-
creta a intenção de conhecimento.
Karl Marx foi um pensador que formulou um pressuposto de categorias que iriam
servir como base para a construção do conhecimento histórico. Portanto, podemos afirmar
que ele propôs um enunciado de pressupostos capazes de produzir os objetos te óricos da
história. Em suas obras fica evidente a sua tendência em postular uma certa construção de
métodos capazes de configurar realmente o trabalho científico. Ele procurou aproximar o
movimento aparente da sociedade ao movimento da realidade, portanto, estabelecendo pres-
supostos t eóricos para a sua explicação o mais plausível possível. Logo, é possível afirmar
que Marx também se apresentou como um historiador.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Para Karl Marx o que podemos estudar na história é um conjunto de matérias que
pode estar estruturado e naturalme nte pode ser pensável. Cienti fi camente poderá ser
penetrável como uma determinada realidade, portanto o caráter científico da produção de
conhecimento fica sempre evidente no marxismo.
Nas obser vações de Pierre Vilar,1 um grande estudioso do marxismo, o autor afirma
que um dos objetivos do marxismo realmente seria a criação de uma ciência da história, na
qual seria possível encontrar um determinado esquema teórico para a produção do conheci-
mento, este referido esquema daria conta da totalidade da sociedade, portanto, uma teoria
capaz de dar conta de todo o movimento, a própria dinâmica das sociedades. Para o mesmo
autor, a história apresenta-se como uma ciência racionalmente estruturada e possível de ser
pensada e estudada em seus mais íntimos detalhes, ou seja, em sua totalidade.
Segundo as obser vações de Vilar, Karl Mar x criou uma teoria geral do movimento das
sociedades, pois fica evidente em todos os pressupostos teóricos que para o marxismo a
sociedade deverá ser compreendida em sua dinâmica e totalidade. Nesta referida teoria ge-
ral fica evidente que é possível observar que:
1
Vilar, P. Histoire marxiste, historie en construction. Paris: Seuil, 1982. Apud Reis, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência.
Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
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EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
2 – as classes sociais, cuja luta constitui a própria trama da história , não se def iniram pela
capacidade de consumo e pela renda, mas por sua situação no proces so produtivo;
Marx afirma que as classes sociais constituem o próprio motor da história, portanto, é
necessário estar atento as suas lutas e movimentos para então perceber a dinâmica da pró-
pria soci edade, pois as lutas de classes acontecem para comprovar as contradições sociais.
Se estas contradições forem resolvidas, então teremos algumas mudanças. As forças produ-
tivas e relações de produção são conceitos fundamentais dentro da teoria marxista, mas o
conceito chave da teoria é realmente o de modo de produção, pois este é a base teórica para
a construção do conhecimento histórico.
Os conceitos que dão base para o marxismo estão em várias obras de Marx, dentre
elas pode mos citar as mais importantes, que são: Ideologia Alemã (1845-46), no Prólogo a
contribuição à Crítica da Economia Po lítica (1859) e no 18 Brumário (1841-1852). Estas
obras condensam os principais conceitos do marxismo, dando base para que possamos en-
tender os princípios norte adores da teoria. Naturalmente em outras obras o próprio Marx
desenvolveu estes estudos de forma a dar explicações e aplicabilidade aos conceitos. As
obras de Karl Marx expressam de forma extremamente significativa toda a dinâmica do
capitalismo, demonstrando com clareza a importância deste modo de produção para a pró-
pria história. Existe, inclusive, correntes dentro da teoria marxista que declaram que o capi-
talismo foi uma ruptura fundamental dentro do processo histórico, outra linha afirma que o
capitalismo foi uma continuação dos demais modos de produção.
A síntese geral da teoria marxista está em afirmar que as sociedades devem ser pensa-
das em sua totalidade, pois consiste em pensar que existem e struturas que basicamente são
formadas por determinadas relações sociais. O marxismo trabalha com a noção de sujeitos
2
Idem, ibidem, p. 52-53.
61
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
sociais, ou seja, determina o papel específico que os homens ocupam em uma de terminada
sociedade, portanto, estabelece que os homens permaneçam em uma luta constante com a
natureza para poder subsistir. Nesta luta permanente são estabelecidas determinadas rela-
ções, o que se costumou chamar de relações de produção, pois são cotidianas e todos os
homens estão sujeitos a estabelecer, sendo as sociedades estruturadas a partir delas.
A sociedade para o marxismo é complexa, mas pode ser explicada e analisada cientifi-
camente, pois existem mecanismos que a estruturam, pois como já vimos, a base pode ser
dada a partir das relações de produção e das forcas produtivas. É importante observar que o
desenvolvimento das forças produtivas econômicas também se estende às relações extra-
econômicas que vão se tornando cada vez mais complexas a partir do domínio do homem
sobre a natureza.
O marxismo faz uma análise bem detalhada do papel das classes sociais nas diferentes
sociedades, e isto é importante para o entendimento do papel de cada classe principalmente
no modo de produção capitalista. Neste sentido, é formulada um conjunto de idéias, que
tentam justificar o poder da classe dominante , como um poder legítimo na sociedade, desta
forma, os seus interesses parecem ser os mesmos dos das demais classes sociais.
62
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Para isto ocorrer é necessário uma ideologia, que formula um conjunto de justificati-
vas e idéias, capazes de tornar o poder legítimo e aceitável por todas as classes sociais que
pois esta transmite a sua ideologia em todas as instâncias da sociedade, ou seja, na impren-
culam as diversas instâncias de uma determinada sociedade, que podemos destacar: a eco-
estrutura e superestrutura. Este conjunto sofisticado de conce itos está dentro do modo de
produção e, com isso, podemos afirmar que realmente constitui a chave de entendimento de
forma ocupando uma posição destacada na teoria marxista. Esta posição está se ndo muito
discutida pelos neo-marxistas (novos marxistas), pois a explicação histórica de acordo com
ção por outro, tornou-se uma explicação típica do marxista e conomicista (economicistas
menos com a infra-estrutura econômica. Também fazem uma leitura determinista do proces-
produção, a revolução não só é possível, mas inevitável”. Mas podemos observar que nem
sempre este ditado dá certo na prática, pois com o êxito da revolução na Rússia atrasada e
63
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
3
Louis Althusser, marxista, estruturalista francês, procurou
1 – negação da autonomia;
3
Disponível em: <http://lh3.ggpht.com/_EZAx5pqksvc/RoB9uetFPUI/AAAAAAAAAkQ/TjCOmpSw0BI/Louis+Althusser.jpg>. Acesso
em: 3 set. 2008.
64
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
4
O historiador inglês Eduard P. Thompson também defen-
de a idéia de totalidade presente no marxismo, e procurou explicar
o materialismo histórico como referencial dotado de capacidade de
responder i mportantes questões abertas na sociedade , não sendo
necessário criar várias disciplinas para isso e não descartando a
possibilidade de consultar as disciplinas próximas da história, como
por exemplo, a antropologia.
4
Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/history/trail/htd_history/historians/images/talk_epthompson.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
65
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O que deve ficar claro é que não existe nenhuma teoria capaz de responder todas as
interrogações, pois a realidade é muito mais rica e complexa do que qualquer teoria. A
teoria marxista, como as demais, possui alguns espaços de indefinição, ficando abertos muitos
modo de produção para outro; bem como uma dificuldade de aplicação destes modos de
As teorias da produção do conh ecimento estão suje itas aos movimentos da própria
sociedade e, como estes vão se transformando, as teorias também vão perdendo a sua capa-
cidade de explicação, pois neste processo percebemos os seus próprios limites. No marxismo
também encontramos os seus limites, pois os novos movimentos da história podem ficar fora
da abrangência da teoria, mas não podemos negar que este influenciou significativamente
a produção do conhecime nto histórico, pois foi também um instrumento poderoso nas prá-
ticas políticas.
mente por uma nova leitura, pois a história como um todo está passando por profundas
blemas históricos, todos estes procurando novos referenciais teóricos para dar conta de seu
processo de análise. Estas novas temáticas podem nos aux iliar a melhor compreender a
totalidade, pois as tentativas das grandes sínteses (metanarrativas) estão dando lugar a
historiadores agora aparecem com evidência, como por exemplo: história das mulheres, dos
negros, dos índios, dos grupos considerados como marginali zados. Ou mesmo temas que
não eram abordados pela historiografia mais tradicional, como a sexualidade, o misticismo,
a resistência à dominação e outras formas do micro-poder, agora são tratados como temas
66
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A teoria marxista ainda não conseguiu resolver suas áreas de indefinição, pois muitos
cientistas marxistas segue m tendências bem definidas dentro do próprio marxismo. Pode-
mos destacar duas tendências marcantes, que Alvin Goldner assim classifica:
2ª – o grupo que se orienta pelos ensaios do Marx mais maduro, por exemplo, os que
seguem mais os ensinamentos expressos em “O Capital” (estes podemos considerar que se-
da teoria, bem como as for mas como aplicam seus conceitos e categorias para a produção
ções entre o sujeito e a estrutura, pois para Marx o homem faz parte da totalidade das
Seção 4.2
O Marxismo Vulgar
uma forma de analisar a sociedade e entendê-la como uma totalidade. Porém, é preciso
ficarmos atentos para as formas como foram utilizadas a teoria. Alguns pesquisadores tra-
balham com o marxismo de uma forma muito parcial chegando inclusive a enfatizar somen-
definir esta tendência como “Marxismo Vulgar ”, pois pode ser caracterizado pelas seguintes
perspectivas de abordagem:
67
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
2 – Modelo de base e superestrutura – usado em sua maior parte para explicar a história das
idéias. Esse modelo foi geralmente interpretado como uma simples relação de dominância
e dependê ncia entre a base econômica e superestrutura;
6 – Temas específicos de investigação derivados não tanto de Marx, mas de interesse dos
movimentos associados a e ssa teoria, como por exemplo, movimentos das classes opri-
midas;
5
Hobsbawn, Eric. O que os historiadores devem a Karl Marx? In: Hobsbawn, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras,
1998. Op. cit. p. 159-160.
68
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
ligação e dependência dos fenômenos em relação à economia, não permitiu que os pesqui-
sadores procurassem analisar a profundidade dos fenômenos, fazendo uma série bem signi-
ficativa de abordagens supe rficiais sem suas inter-relações com o contexto histórico, por-
O economicismo pode ser confundido com a própria teoria marxista, afirmando que
modo decisivo o marxismo da ciência burgue sa mas sim o ponto de vista da totalidade.
Outro ponto fundamental que nos auxilia a entender a prática do marxismo vulgar
pode decorrer do fato de que muitos historiadores estavam ligados aos movimentos sociais,
Essas análises podem pecar por vários moti vos, dentre eles, o perigo das ge neraliza-
ções das experiências européias aplicadas ao contexto da América Latina. Também pode-
mos destacar o fato de tentar reduzir estes movimentos às condições econômicas, deixando
de lado a questão cultural e a consciê ncia de classe, questões estas que deveríamos conside-
rar em qualquer tipo de análise para se ter uma visão mais aprofundada do objeto de pesqui-
sa estudado.
6
O historiador Perry Anderson, um marxista britânico, faz
6
Disponível em: <http://globetrotter.berkeley.edu/Elberg/Anderson/images/Anderson3big.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
69
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O materialismo histórico como um corpo racional de pensamento, dando f orma a uma prática
controlada de transformação, sofreu de várias maneiras com seu próprio predomínio no univer-
so intelectual do socialismo. Como teoria pode-se dizer que foi poderoso demais para seu pró-
pri o be m. 7
As afirmações de Perry Anderson nos indicam que o materialismo histórico tem os seus
próprios limites, assim como as demais teorias de produção do conhecimento, mas especial-
mente o marxismo, que foi utilizado como orientação para os partidos políticos e demais
organizações de classes e sindicatos. Neste sentido, podemos observar que a prática do
marxismo ocasionou vários e quívocos teóricos, ou seja, a teoria não foi utilizada de uma
forma racional e objetiva, mas sim dogmática.
7 Anderson, Perry. A crise da crise do marxismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. Op. cit.101.
8
Disponível em: <http://www.great-victory1945.r u/stalin_victory.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
70
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
múl tiplas te ndências, m ui tas ve zes caiu num tot al re ducioni smo, de te rmi ni smo e
economicismo, sendo alvo de constantes críticas dos cientistas conscientes da ne cessidade
de uma reformulação na teoria. Um dos pontos fundamentais que Hobsbawn analisa é a
vivências nas sociedades e também abrindo espaços para estudar o individual, o cotidiano,
aspectos estes considerados até a pouco tempo como não importantes. A revisão do marxis-
mo foi feita dentro desta própria teoria.
Mas a própria expansão do marx ismo esteve muito ligada à divulgação do marxismo
vulgar e que, segundo Hobsbawn, é muito difícil de separá-los, o que acentuou, ao mesmo
tempo, a divulgação de uma teoria acompanhada de seus própri os limites. Neste sentido,
podemos afirmar no caso do marxismo vulgar, que este acentuou a limitação da teoria,
71
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
tanto no nível teórico, quanto nas práticas sociais da teoria marxista. O marxismo apresen-
tou-se durante o final do século 19 e praticamente todo o século 20, como uma teoria da
ação social, ou seja, contribuiu na prática par a o incentivo das ações sociais e políticas de
para a historiografia, pois compreende uma nova visão da história onde a sociedade é perce-
bida em sua totalidade. É importante observar que o marxismo sempre se apresentou como
1 – enf ati za o papel das contradições, priorizando o estudo dos conf litos sociais. Hobsbawn
considera que essa hipótese é a mai s original de Marx, a contribuição específ ica de Marx à
historiograf ia, pois as teorias históricas anteriores priorizam a harmonia, a unidade, a continui-
dade, entre as diversas esferas sociais (Hobsbawn, 1998);
2 – o marxismo foi uma das primeiras teorias estruturais da sociedade. Ele é um estruturalismo
genérico, que afi rma a contradição presente na estrutura, que levará à transição a outra estrutu-
ra. Assim, abandonou a ênf ase no evento e abriu o caminho da história científica. O conhecimen-
to da sociedade deixou de ser o conhecimento das atividades individuais e coletivas em si, decla-
radas explicitamente, organizadas em discursos universalizantes, legitimadores, expressas em
eventos transitórios. A verdade de uma sociedade não está em seu aparecer, intencional e f actual,
mas na inserção do aparente, visível, explícito, em uma estrutura e conômico-social que não é
mais o espírito, mas uma correspondência entre forças produtivas e relações de produção. Essa
estrutura econômi co-social, invisível e abstrata, mas real, é o objeto da históri a da ciência, que
a apreende conceitualmente;
3 – mesmo sem o saber, mas podendo vir a sabê-lo, os homens f azem a história e não são suporte
de qualquer sujeito metafísico. Pela práxis, pela intervenção, livre e condicionada na e pela
estrutura econômico-social, os homens transfo rmam o mundo e a si mesmos. Sua ação se dá no
contexto de uma luta, sua intervenção é sempre um golpe numa luta, seja contra a classe adversária,
seja contra a natureza. Entretanto, parece haver, nesse contra o outro social e natural, certa
astúcia da lógica dessa luta, pois os ataques contra as posições particulares constroem a unidade
universal. A emancipação da humanidade seria o resultado dessas lutas particulares, de classes
contra classes, de homens contra a natureza. O motor do desenvolvimento histórico em direção
à emancipação da humanidade não é o espírito, mas a energia natural-humana investida e
despendida em um processo de luta interna. 9
9
Reis, Carlos José. A história entre a filosofia e a ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Op. cit. p. 55-57.
72
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Nas observações de José Carlos Reis, podemos observar que o marxismo é realmente
uma teoria complexa, pois é capaz de explicar o desenvolvimento da sociedade como uma
totalidade, rompendo com o imobilismo, pois propõe trabalhar essencialmente com as con-
afirmar que o marxismo propõe uma história-problema, trabalhando com o conflito, as con-
tradições presentes nas diferentes sociedades, bem como os relacionamentos entre os diver-
mais a estudos que levam em consideração o papel da cultura na sociedade. Sendo assim,
podemos afirmar que o marxismo é uma teoria geral sobre a sociedade, que foi interpretado
sobre diferentes pontos de vista, formando várias correntes dentro da própria teoria, o que a
tor na cada vez mais complexa e difícil de entender, pois muitas destas correntes são contra-
uma possibilidade para a construção do conhecimento histórico, pois constituem uma refe-
rência teórica capaz de balizar os métodos utilizados pelos historiadores para pensar a his-
Com o marxismo foi possível pensar a história com outros parâmetros, pois a teoria
propõe pensar a sociedade e conhecimento como sendo uma perspectiva dinâmica, estando
atento para todos os movimentos que indicam a mudança, a contradição vivida em uma
marxismo a história nunca mais foi a mesma, pois as propostas dos historiadores, seguidores
73
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
SÍNTESE DA UNIDADE 4
74
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Unidade 5
Nesta unidade você vai conhecer com detalh es toda a história da Escola dos Annales,
É importante assimilar que esta escola surgiu a partir de 1929 e continua até a atua-
lidade como um grande centro sobre a reflexão da história e da produção do conhecimento
histórico, ou seja, da historiografia.
A Escola dos Annales é dividida em várias gerações, pois a cada um destes períodos se
acrescentam novas refle xões sobre a história, e também os historiadores que passaram pela
escola produziram uma variada gama de obras que confi gura toda uma concepção de
historiografia, o famoso jeito francês de produzir o conhecimento histórico. Nas diferentes
gerações você vai descobrir como os historiadores trabalham com os diversos temas, alguns
bem diferentes daqueles que nós estamos acostumados a ler.
75
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Seção 5.1
Depois da Escola dos Annales a história nunca mais foi a mesma, pois ela comporta
todas as dimensões de vivê ncia dos homens na sociedade, ela é essencialmente plural, ou
se ja, comporta um a variedade bem significativa de ex pe ri ências. A h istória t ornou-se
interdisciplinar aproximando-se das ciências sociais, buscando nas outras disciplinas res-
ponder as velhas questões que os historiadores tinham dúvidas, neste sentido, pode-se afir-
mar que a h istória procurou interagir com as demais ciências.
A Escola dos Annales ficou conhecida a partir de 1929, com o lançamento de uma
nova revista histórica na França, intitulada de Les Annales d’Historie Economique et Sociale
(Os Anais de História Econômica e Social), este periódico tinha o propósito inicial de apre-
sentar uma nova forma de construção do conhecimento histórico, e de contestar os antigos
dogmas difundidos pela Escola Metódica. Com o lançamento do primeiro número da revista
ficava claro que a sua proposta era:
3 – criar uma comunidade das ciências sociais. A revista também prometia uma nova forma
de construção do conh ecimento histórico, ampliando a noção de f onte documental, per-
mitindo o uso dos documentos escritos e imagéticos ou não-verbais, como também um
diálogo promissor com as demais ciências sociais.
76
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
1
A revista dos Les Annales d’Histoire Economique et Sociale estava
sob a direção de dois historiadores franceses, Marc Bloch e Lucien Febvre,
os dois se conheceram quando trabalhavam na cidade de Estrasburgo, uma
cidade que també m pertenceu à Alemanha, mas com o fim da Primeira
Guerra Mundial ela retornou para o domínio da França. Bloch e Febvre
trabalhavam na Universidade de Estrasburgo, onde tinham e ncontros diários, o que favore-
ceu o movime nto dos Annales, a universidade era ponto de encontro de profe ssores de dife-
rentes áre as criando um ambiente interdisciplinar, pois diferentes profissionais, principal-
mente das ciências humanas, atuavam juntos e colaborando para o sucesso da revista.
Seção 5.2
77
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Um dos objetivos de Marc Bloch e Lucien Febvre era a constituição de uma história
com uma visão global, recusando a história mais fragmentada, pois pretendiam e ntender o
homem em sua totalidade, e este objetivo era uma das características fundamentais da Es-
cola dos Annales, pelo menos na primeira e segunda geração.
Marc Bloch nasceu em 1886 e foi morto fuzilado na Segunda Guerra Mundial em
1944. Teve uma vida dedicada à história e participou das duas guerras mundiais dedicando-
se à libertação da França durante o Nazismo. Bloch era descendente de uma família de
judeus, est udou na Escola Normal Superior e depois na Sorbonne, também estudou um
tempo na Alemanha, nas universidades de Leipzig e de Berlim. Depois de formado retorna à
França para ensinar história nos liceus de Montpellier e de Amiens até o ano de 1914.
Combateu na Primeira Guerra Mundial como oficial. Depois do fim da guerra, Bloch é con-
vidado para trabalhar na Universidade de Estrasburgo onde permanece de 1919 a 1936,
neste período conhece Lucien Febvre e começam os debates para a criação da Escola dos
Annales.
Bloch escreveu muitos artigos científicos discutindo a história e sua aproximação com
a ciência, ao contrário do que pensavam os historiadores metódicos, o autor discute que a
utilização dos documentos para a construção do conhecimento histórico deve se r bem di-
versificado, pois os metódicos acreditavam somente nos documentos escritos.
Bloch acreditava que era preciso utilizar documentos bem diversificados tais como:
arqueológicos, artísticos, numismáticos, etc., salientava que era preciso investigar as crôni-
cas, as cartas, a arqueologia funerária e o estudo dos nomes próprios, bem como as imagens
pintadas e esculpidas, a disposição e o mobiliário dos túmulos, dentre outros. Nesta pers-
78
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
pectiva o autor sinaliza para a possibilidade de ampliação da noção de fonte histórica, pois
tradicionalmente na França os documentos utilizados para a construção do conhecimento
histórico eram os escritos, sendo assim desde o princípio da Escola dos Annales, já temos a
possibilidade de pensar nesta diversificação dos documentos.
Uma das obras mais importantes da carreira de Marc Bloch é intitulada Les rois
thaumatuges (Os reis taumaturgos), publicada em 1933. Esta obra foi totalmente inovadora
para a historiografia da década de 1920, pois o autor já mostrou a tendência de trabalhar de
uma forma interdisciplinar, mostrando na obra a compreensão de medicina, psicologia,
iconografia e antropologia.
A obra discutia qual a origem para que as pessoas, na Inglaterra e na França, acredi-
tassem que o toque do rei nos súditos poderia curar doenças, principalmente o milagre de
curar a escrófula, que era uma doença infecciosa nos gânglios linfáticos do pescoço. Na
obra “Os Reis Taumaturgos”, o autor se aproxima mais da psicologia, pois procurou enten-
der os sentimentos e a fé das pessoas que seriam curadas com o toque dos reis, pois consa-
gravam para os reis não somente o poder militar, político e jur ídico mas também o poder de
fazer milagres. Nesta obra o autor já trabalhou com os conceitos de consciência coletiva e
também de representações mentais, que serão seguidos por outras gerações da Escola dos
Annales.
79
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
A obra La societé féodale (A sociedade feudal) é também uma das mais marcantes
obras de Marc Bloch, editada em 1939. Esta obra abrange um período muito amplo da
história do período feudal e compreende quatro séculos de história européia, pois vai de 900
a 1300.
É possível perceber que Bloch estava interessado em trabalhar também com a psicolo-
gia histórica, pois fica claro na obra as considerações sobre os modos de sentir e de pensar.
Nesta obra também se encontra um capítulo sobre a memória coletiva, marcando a influên-
cia de seu amigo Maurice Halbwachs, que escreveu um livro sobre este tema. O livro “A
Sociedade Feudal” é ainda hoje considerado como uma contribuição fundamental para o
entendimento daquela sociedade.
80
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Aos poucos, o grupo dos Annales foi reconhecido pela seriedade de seus trabalhos e
pela inovação do método hi stórico, pois estes historiadores se propunham a defender um
novo tipo de história, onde era praticado a interdisciplinaridade, objetivando uma história
problema, defendiam uma história das sensibilidades, das representaçõe s sociais. Aos pou-
cos os Annales foram conquistando mais adeptos, principalmente os historiadores mais jo-
vens que acreditavam nas proposições de Bloch e Febvre. Dentre eles, podemos destacar
Fernand Braudel, Pierre Goubert, Maurice Agulhon, George s Duby e outros.
Com a decretação da Segunda Guerra, o grupo dos Annales sofre um retrocesso, Marc
Bloch já estava com 53 anos, mas alistou-se no exército para defender a França da invasão
da Alemanha. Como Bloch era um judeu, ele sofreu várias perseguições, tendo que deixar
Paris. Mudou-se para a zona livre ou desocupada, foi novamente trabalhar na Universidade
de Estrasburgo e depois na Universidade de Monpellier, mas com o anti-semitismo declara-
do pelos ale mães, Bloch fugiu para Fourgéres.
Estas vár ias mudanças impediram Bloch de levar a sua biblioteca e os seus cadernos
de anotações, mas ele, mesm o assim, continuou escrevendo. Bloch foi executado pelos sol-
dados alemães em 16 de junho de 1944, sendo acusado de ter participado do Movimento
Unidos da Resistência (MUR).
Bloch deixou uma obra inacabada que se intitula Apologie pour l’historie ( Apologia
da história: ou o ofício do historiador), publicada somente em 1949, ou seja, cinco anos
após sua morte. É uma obra singular, na qual o autor explica o método histórico aplicado
por ele e seu entendimento sobre o trabalho do historiador.
Estabelece na obra a sua visão sobre a história adquirida em toda a sua vida de histo-
riador. No começo do livro, Bloch tenta responder uma pergunta de um de seus filhos, que o
indaga para que serve a história e na obra fica claro a importância do seu papel, que é de
difundir e esclarecer o conhecimento históri co, também cabendo-lhe o papel de libertar a
história da opressão, tor nando-a instrume nto da própria cidadania.
Lucien Febvre nasceu em 1878 e foi um historiador reconhecido na França por ser um
dos fundadores da Escola dos Annales. Embora tenha um grande reconhecimento na socie-
dade francesa, ele não é muito reconhecido no exterior. Foi, juntamente com Marc Bloch,
81
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
um historiador que renovou os métodos de fazer a história, trazendo para este campo todo
um conjunto de reflexões sobre as novas abordagens, novos objetos e novos problemas para
o campo da historiografia. Febvre iniciou a sua formação de historiador na cidade francesa
de Nancy, depois continuou em Paris na conceituada Escola Normal Superior e também na
Universidade de Sorbonne.
Na época em que Febvre começou seus estudos o que vigorava, no campo da história,
era a escola metódica, que propagava a preocupação com a erudição, privilegiando a histó-
ria política e os acontecime ntos históricos. Febvre foi um historiador autodidata, estudava
seguir uma história mais interdisciplinar, neste sentido, aproximando-se das proposições
dos geógrafos, antropólogos, sociólogos, economistas e filólogos.
Esta visão o inspirou a fazer a sua tese de doutoramento, que foi um estudo sobre uma
região da França chamada de Franche-Comté, no período em que esta região era dominada
pelo rei da Espanha Felipe II, no século 17. Em sua tese de doutorado ele analisou a revolta
dos holandeses contra Felipe II e também sobre a Reforma. Em sua abordagem está relatado
as características sociogeográficas da região, e a luta econômica, política e emocional entre
a nobreza em decadência e a burguesia em ascensão. A sua obra realmente é o que se pode
o resto de sua vida, ambos compartilhavam da visão de uma teor ia da história mais ampla e
mais humana, combatendo desta forma uma história fragmentada proposta pela escola me-
tódica.
82
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
logo C. Blondel, o sociólogo G. le Brás e demais colegas abertos à troca entre as disciplinas.
Nos primeiros anos de trabalho em Estrasburgo Febvre publica a sua obra La terre et l’evolution
a história e a geografia.
Febvre dedicou atenção especial aos estudos das idéias francesas sobre a Renascença
e a Refor ma, e discutiu as suas posições em vários artigos e conferências, defendendo suas
posições mais pessoais, contestando idéias já consagradas. Desta forma procurou afirmar a
O autor dedicou parte de suas pesquisas para discutir a Reforma religiosa, marcando
sua presença nos estudos sobre a história da religião. Em seus estudos destacou que a histó-
ria da religião não deveria estar baseada nas instituições religiosas mas deveria ser levado
em conta as idéias religiosas das pessoas, bem como suas emoções e tendências. Considera-
va que a Reforma ocorreu em virtude da burguesia emergente que pretendia ver uma igreja
transparente, humana e fraternal. Lebvre, em 1928, escreveu uma biografia de Martin Lutero,
o incentivador da Reforma Protestante e, nesta obra, afirmou que este não teve apoio de
No ano de 1933, Febvre de ixa Estrasburgo e vai para Paris assumir um posto no
renomado Collège de France (Colégio da França), que embora tivesse o nome de colégio,
era uma renomada universidade onde trabalham os professores mais destacados da França.
Logo após assumir o seu cargo no Collège de France ele foi convidado para ser o presidente
83
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
Neste mesm o período, Febvre continuou o seu trabalho na Revista dos Annales. A
influência de Febvre pode ser destacada no volume da enciclopédia dedicada ao te ma da
“outillage mental” (aparato mental), na qual os autores escreveram sobre o aparato mental
ou conceitual dos indivíduos e das sociedades.
Neste período Febvre escreveu um de seus mais famosos livros intitulado Le problème
de L’incroyance au XVIe siècle: la Religion de Rabelais, publicado em 1942 (O problema da
descrença no século XVI: a religião de Rabelais). Esta obra foi extremamente significativa
para a sua carreira, pois foi o resultado de pesquisas que ele vinha desenvolvendo há muito
tempo.
Depois do final da Segunda Guerra Mundial Febvre foi convidado para fazer a reorga-
nização de uma importante instituição francesa de ensino, a École Pratique de Hautes Études
(Escola Prática de Altos Estudos) fundada em 1884. Neste período Febvre foi eleito como
membro da escola e também foi convidado pela Unesco para exercer a atividade de delegado
francês, sendo organizador da coleção sobre a “História Cultural e Científica da Humanida-
de”. As múltiplas atividades de Febvre o impediram de continuar com suas pesquisas, desta
forma ele publicou algumas obras com outros historiadores.
84
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
pois neste período já contava com inúmeros colaboradores como Fernand Braudel, Charles
Escola dos Annales. Com a morte de Febvre termina a primeira geração da Escola dos Annales,
e a segunda geração começou com o comando de Fernand Braudel.
Seção 5.3
A segunda geração da Escola dos Annales foi decisivamente marcada pela presença
de Fernand Braudel. Foi ele que prosseguiu com a direção da Revista dos Annales, mas não
estava sozinho nesta geração, embora sua presença tenha sido fundamental para a sua
organização e divulgação a partir do fim da Segunda Guerra Mundial.
A se gunda geração foi adiante com a idéia de produzir uma história total, ou seja,
avançou na perspectiva de se pensar o conhecimento histórico em uma perspectiva de tota-
lidade, considerando todas as dimensões importantes para entender as sociedades. É válido
destacar que também se trabalhou com a história quantitativa e com as noções de região e
regionalização, com a demografia histórica e com a história serial, todas estas perspectivas
podem ser constatadas nos historiadores desta geração. Mas o historiador com maior desta-
que foi realmente Fernand Braudel, que conseguiu criar uma identidade para esta fase dos
Annales.
O historiador Fernand Braudel foi um especialista nos estudos sobre a Europa Moder-
na, sua formação acadêmica foi influenciada pelas idéias de Marc Bloch e Lucien Febvre,
ou seja, um herdeiro nato da Escola dos Annales. O historiador nasceu em agosto de 1902
num povoado denominado Luméville-en-Ornois. Muito cedo se mudou para Paris, onde
85
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
No início de sua vida profissional Braudel começou a pesquisar para a sua tese de
doutoramento que foi sobre o rei Felipe II e o Mediterrâneo, esta pesquisa foi feita muito
lentamente, pois ele trabalhava e fazia o doutoramento ao m esmo tempo. No começo dos
anos de 1930 ele retorna a Paris e trabalharia no Liceu Condorcet e no Liceu Henrique IV.
Ainda na década de 1930 ele aceitou o convite para trabalhar no Brasil, na Universi-
dade de São Paulo (USP), e permaneceu no Brasil de 1935 a 1937. O autor definiu este
período como um dos mais felizes de sua vida. Na sua volta para a França ele conheceu
pessoalmente Lucien Febvre, o que vai influenciar decisivamente na elaboração de sua tese
de doutoramento.
Com a decretação da Segunda Guerra Mundial, Braudel foi prisioneiro num campo
perto de Lübeck, neste período ele aproveitou para fazer a sua tese, pois tinha a pesquisa
anotada e m cadernos de rascunho, ele escrevia a tese e a enviava a Febvre para revisar. A
tese somente ficou pronta em 1947, ano em que foi defendida, em 1949 foi publicada, com o
título La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II (O Mediterrâneo
e o mundo mediterrâneo à época de Felipe II). Esta obra foi fruto do trabalho i ntenso de
Braudel desde 1929, ou seja, praticamente vinte anos de pesquisa e redação para completar
a obra. A primeira edição foi publicada em 1949 e mais tarde ele corrigiu alguns dados e foi
feita uma segunda versão para a publicação em 1966.
Este livro é uma obra monumental, realmente um grande livro, apresenta uma verda-
deira inovação metodológica, um livro muito extenso, de 1160 páginas na primeira edição,
e 1222 páginas na segunda edição. Este modelo de tese apresentada por Braudel foi seguido
de exemplo para a formulação de teses de vári as gerações de historiadores, principalmente
os seguidores da Escola dos Annales.
86
EaD T EORI A E MÉTODOS DA HISTÓRIA I
O Mediterrâneo de Braudel é uma obra que reflete o espírito da Escola dos Annales,
pois o autor segue os princípios de uma história total. Na obra o destaque não é para Felipe
II, mas sim para o mar Mediterrâneo, ou seja, não é um personagem humano, mas simples-
mente, para um espaço marítimo.
Braudel se inspirou em vários geógrafos para formular a sua obra, e teve a influência
das lições da geografia humana, citando as obras de P. Vidal de la Blanche, R. Blachard, J.
bém as obras de geografia e história de Lucien Febvre. A obra de Braudel foi considerada
como um monumento majestoso da historiografia do século 20, dada a dimensão da obra
A obra é dividida em três partes, cada uma delas contém um prefácio explicativo. A
primeira parte trata da história quase sem tempo, ou seja, a longa duração da história,
estudando a relação do homem com o ambiente ; a segunda parte, a história da estrutura
econômica, social e política; a terceira parte trata da história dos aconte cimentos.
A primeira parte constitui-se como uma história quase imóvel, tratando do homem nas
relações com o meio que o rodeia, uma história lenta de passar e se transformar, é percebida
a partir de regressos insistentes, de ciclos que sempre recomeçam, nesta parte é apresentado
um verdadeiro ensaio de geo-história, ele analisa tanto a parte física como os habitantes
que povoam as regiões analisadas, ou seja, o espaço mediterrâneo.
A segunda parte apresenta uma história lentamente ritmada, ou seja, uma história
estrutural, bem como uma história social, a dos grupos e agrupamentos, sendo analisado o
nível de duração cíclica. Braudel estudou nesta parte a conjuntura do mediterrâneo em
Na terceira parte, a história segue uma dimensão não do homem mas do indivíduo, ou
(que na época era dominado pelos espanhóis) e o oriental dominado pelos turcos. Esta
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dedicada às ciências sociais, onde fica hospedada a Escola dos Annales, ou onde trabalham
seus principais adeptos.
Em 1956 com a morte de Febvre, Braudel assume a direção da revista dos Annales,
dando-lhe uma nova ordenação. Em 1963 criou uma nova entidade dedicada à pesquisa
Claude Lévi-Strauss e Pierre Boudier, realizando mais trocas interdisciplinares. Braudel foi
um homem de grande respeitabilidade e de personalidade dom inante, incentivou jovens
historiadores estrangeiros a conhecer o estilo francês de fazer história, oferecendo bolsas de
pesquisas para estes estrangeiros.
Braudel dedicou parte de seu tempo para escrever outra obra magnífica juntamente
com Lucien Febvre, mas este morre em 1956 não terminando de escrever a sua parte. Braudel
terminou a obra entre 1967 e 1979, sob o título de Civilization matérielle et capitalisme
(Civilização material e capitalismo), e que pode ser considerada como uma obra também
monumental, pois abrange um período muito longo da história. Na primeira parte aborda a
história econômica, ou seja, a civilização material.
seja, realmente uma história da civilização mate rial em todos os seus detalhes. Em 1980, a
obra é novamente publicada em uma versão mais ampla, com o título: Civilização material,
economia e capitalismo do século XV ao século XVII.
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A segunda geração da Escola dos Annales também teve influência de outros historia-
anos de 1950 a 1970. Podemos encontrar vários historiadores trabalhando com esta história
quantitati va, inclusive Braudel se utilizou de ste método, que foi mais aplicado nos estudos
de caso de história econômica, de uma tendência econômica foi para a história social e
Ernest Labrousse, que pesquisou temas relaci onados com a história econômica, trabalhan-
do com estatísticas e história dos preços, estes trabalhos já tinham espaço na França desde
o século 19, e retornam na década de 1930. Labrousse foi influenciado pela idéias de Marx
e Jaurès, mas também aceitou as idéias de Marc Bloch e Lucien Febvre. Trabalhou na
e amplos espaços e de longa duração. As obras de Labrousse não se limitam a uma história
serial apenas em sua dimensão econômica, mas também a uma dimensão social.
artigos que tratam esta temática. Em 1946, com a publicação do artigo de Jean Mouvret,
mostrou que a má colheita originava uma crise acentuada dos preços dos cereais, causando
fome na população, bem como a queda dos casame ntos e da natalidade. De st a forma foi
possível percebe r que as questões demográficas são oriundas de questões sociais e econô-
micas.
1739, na qual o autor elaborou um modelo para avaliar o movimento da população. A obra
de Goubert é dividida em duas partes, pois o autor usou os termos estrutura e conjuntura, e
89
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3
Podemos ainda citar outros autores importantes desta ge-
ração, tal como Georges Duby que escreveu sobre a propriedade,
a estrutura social e a questão da família nos séculos 11 e 12, e foi
considerado como um dos grandes medievalistas, escrevendo tam-
bém para a clássica coleção História da Vida Privada.
4
Ainda nesta geração, podemos con-
tar com Emmanuel Le Roy Ladurie, con-
siderado um dos mais brilhantes discípu-
los de Braudel, autor de dicou-se a pesquisa sobre o meio físico,
escreveu um estudo comparativo da história do clima na longa
duração, seguindo os passos de seu mestre, e destacando-se por
produzir e studos regionais no círculo da Escola dos Annales.
Alguns historiadores da segunda geração dos Annales conseguiram romper com algu-
mas determinações implantadas por Fernand Braudel, que pretendia construir uma história
total. Como exemplo podemos destacar a obra de Emmanuel Le Roy Ladurie, que inova em
termos de método, abordagem e tratamento de seu objeto de pesquisa, conseguindo em suas
obras trabalhar com história quantitativa e e conômica, com história política, religiosa e
psicológica, em um trabalho verdadeiramente interdisciplinar. É importante observar que
estes autores conseguem romper com algumas perspectivas elaboradas por Braudel, modifi-
cando a forma de construção do conhecimento h istórico.
3
Disponível em: <http://www.boerverlag.de/Bilder/DUBY-P.JPG>. Acesso em: 3 set. 2008.
4
Disponível em: <http://p hoto.maapar1.agriculture. gouv.fr/galler y2/main.php?g2_view=core.DownloadItem&g2_itemId=8338&g2_
serialNumber=2>. Acesso em: 3 set. 2008.
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Seção 5.4
A terceira geração dos Annales iniciou após 1968. Este ano foi emblemático para os
europeus, pois ocorreram grandes protestos e m que os estudantes pediam reformas signifi-
cativas no sistema de ensino. Em Paris, maio de 1968 foi marcado por uma série de protes-
tos, onde os estudantes foram para as ruas protestar sobre todas as formas de conservadorismo
que havia no sistema educacional francês.
As mudanças ocorridas após 1968 repercutiram também na Escola dos Annales, que a
partir deste período começou a incorporar novos direcionamentos na sua forma de construir
a história. Nesta terceira geração não existia apenas um nome de consenso como existiu na
primeira e na segunda, esta geração é bem mais diversificada, contando com a pr esença de
5
Nesta terceira geração tivemos a presença importante de jo-
É import ante também destacar as mulhe res desta geração, tais como: Chris tiane
Klapisch, Arlette Farge, Mona Ozout e Michele Perrot, depois foram associando-se outras.
Esta geração teve uma influência decisiva de idéias vindas do ex terior, pois alguns dos his-
toriadore s dos Annales foram morar nos Estados Unidos e trouxeram idéias novas, princi-
5
Disponível em: <http://www.vivercidades.org.br/publique222/media/cidMedieval_LeGoff.jpg>. Acesso em: 3 set. 2008.
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Um dos mais comentados ditados para designar esta geração é “do porão ao sótão”,
pois realmente as mudanças foram bem significativas, acrescentando novas dimensões para
se pensar o conhecimento histórico. Algumas dimensões que não eram trabalhadas pelas
gerações anteriores dos Annales, foram evidenciadas nesta geração como, por exemplo, o
interesse pela história das mentalidades e pela história cultural, ambas ficaram na ordem do
dia para os historiadores que passaram do interesse pela base econômica para os inte resses
da superestrutura cultural, ou seja, como diz o single do porão ao sótão.
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Le Goff já no começo dos anos de 1960 tem publicações sobre as mentalidades, e pode-
se destacar sua importante obra sobre histór ia das mentalidades e imaginário medieval, o
Georges Duby trabalhou juntamente com Robert Mandrou na construção de uma his-
tória cultural da França. O autor trabalhou também com a história das ideologias, da repro-
dução cultural e do imaginário social. Duby de dicou parte de suas obras para discutir a
ção em Althusser, que definiu ideologia como uma relação imaginária dos indivíduos com
as condições reais de sua existência. Neste sentido, podemos destacar que as mentalidades
foram um ponto forte de atenções por parte desta geração dos Annales.
A história serial também aparece como uma tendência significativa para esta geração.
cia na obra de Pierre Chaunu, mas é importante salientar que desde as obras de Lucien
Febvre já se utilizavam das estatísticas, como também nas pesquisas de Ernest Labrousse,
onde o quantitativo apareciam como um terceiro nível. Ne ste período também podemos
citar as pesquisas sobre a história da prática religiosa, estudos que se baseavam nos dados
estatísticos.
Nesta tendência pode-se situar a obra de Michel Vovelle, que trabalhou com o proble-
ção à morte. Podemos destacar também os estudos sobre a história cultural, nas pesquisas
tatísticos.
Nesta terceira geração, as fontes de pesquisa são bem diversificas, pois trabalham com
as escritas, imagéticas e orais, introduzindo-se assim novas fontes como a fotografia, o cine-
ma, a pintura, a arqueologia, os jornais, os inqué ritos policiais e demais documentos, todos
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A antropologia teve uma relação especial com os historiado-
res desta geração, principalmente os que trabalham com a história
cultural. Esta aproximação já começou com as gerações anterio-
res, mas é na terceira geração que tornou-se quase que como um
casamento da história com a antropologia e este encontro pode-
mos chamar de antropologia histórica ou de etno-história. Estas
tendências são encontradas nas obras de Roger Chartier 6 e outros
historiadores que trabalham com história cultural e representações
sociais, principalmente a aproximação com a antropologia simbólica. Também a aproxima-
ção com a sociologia foi evidente, pois alguns historiadores se interessavam em trabalhar
com as noções de capital simbólico, evidenciando em alguns trabalhos que estudam a histó-
ria do consumo, esta influência da Sociologia é dada principalmente pela obra do sociólogo
Pierre Bourdieu, que introduziu os conceitos de estratégia e de habitus. Outra tendência é
trabalhar com a relação entre a história e psicanálise, neste sentido podemos encontrar as
obras de Michel de Certeau, um especialista em história da religião. A obra deste escritor
também reflete as preocupações sobre a escrita da história.
Um dos historiadores mais destacados desta terceira geração dos Annales é Roger
Chartier, cuja obra é muito vasta e continua influenciando até h oje várias gerações de his-
toriadore s que se interessam por trabalhar com história cultural. Chartier dedica parte de
suas pesquisas para investigar a questão dos livros e da leitura, principalmente na socieda-
de moderna, é considerado como um especialista em história da alfabetização, sendo visto
pelos his toriadores como antropólogo histórico, por se utilizar amplamente da antropologia
para suas reflexões teóricas. Seus trabalhos seguem a direção da antropologia cultural.
Chartier é considerado um dos maiores expoentes da história cultural francesa, seus traba-
lhos discutem a questão das representações e das apropriações, refletindo igualmente as
práticas culturais dos diversos grupos sociais.
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para a me mória e parte simbólica dos lugares . Sua importância para a sociedade francesa
está no f ato de que esta obra tem influência das reflexões de Maurice Halbwachs, que foi
um precursor nos debates sobre a memória coletiva, também reflete a influência da antropo-
logia.
Os estudos sobre a política retornam nesta terceira geração, pois no geral a Escola dos
Annales não trabalhava com a história política. Mas a política aparecia de uma forma não
determinante inclusive nas obras de Marc Bloch e de Lucien Febvre, como também na obra
de Braude l, embora convém salientar que esta não era uma dimensão determinante das
relações sociais, portanto, não era uma preocupação central nestas obras da primeira e da
segunda geração dos Annales.
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Alguns historiadores dos Annales também escrevem para os principais jornais france-
ses, como os famosos: Le Figaro, Le Monde, L’Express e Le Nouvel Obser vater. Esta partici-
pação nos jornais permitiu uma certa popularização da história, pois o povo que não tinha
acesso aos livros podia ler importantes artigos e entrevistas nos jornais e ouvir nas rádios e
na televisão. Nesta perspectiva de popularização da história, alguns livros foram publicados
pelas grandes editoras francesas, o que barateou ainda mais o seu preço, ou seja, tornando
ainda mai s acessível para que a população em geral tivesse acesso a esta nova história.
A Escola dos Annales iniciou com a publicação de uma revista em 1929 e continua
até hoje como uma escola i mportantíssima para a reflexão do conhecimento histórico. É
uma escola extremamente dinâmica, a cada geração que passa, agora já estamos na sua
quarta geração, tornando-se mais conhecida no m undo todo.
A Escola dos Annales recebe historiadores do mundo todo para a discussão de seus
projetos de pesquisas, pois existem muitos professores credenciados que orientam estes tra-
balhos e ensinam o jeito francês de construi r o conhecime nto histórico. A influência da
Escola dos Annales na historiografia é decisiva para se pensar nas novas perspectivas de
abordagens, objetos e dimensões que configuram o conhecimento histórico. Como afirma
Peter Burke, a Escola dos Annales é a verdadeira Revolução Francesa da historiografia.
SÍNTESE DA UNIDADE 5
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Referências
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MALERBA, Jurandir (Org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo:
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REIS, Carlos José. A história entre a filosofia e a ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
ZAIDAN, Michel Filho. A crise da razão histó rica. Campinas: Papirus, 1989.
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