Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CDD: 907
Ficha Catalográfica elaborada pelo Serviço de Catalogação da Universidade Estadual do Piauí -UESPI
Nayla Kedma de Carvalho Santos (Bibliotecária) CRB 3a Região / 1188
PROBLEMATIZANDO A CONSCIÊNCIA
HISTÓRICA: CRÍTICAS CULTURAIS E PÓS-
COLONIAIS ÀS TEORIAS DE JÖRN RÜSEN
Fernando Bagiotto Botton
Introdução
58
Todas as referidas dissertações podem ser acessadas pelo site:
https://profhistoria.com.br/articles?page=2&sort=title%3AASC&t
erms=consci%C3%AAncia+hist%C3%B3rica
ocorrem transformações e
deformações. Assim, quando um
livro, uma teoria, uma tendência
estética, ultrapassam as fronteiras
(espaciais, temporais e virtuais)
entre espaços culturais distintos,
sua significação, subtendida por
seu contexto (intelectual e
histórico), modifica-se pelo
simples fato da defasagem (em
geral, temporal) da
transferência. Logo, os objetos
de análise são os mais distintos
possíveis: os processos de
seleção, de mediação, de
recepção, de mestiçagem, de
tradução, de migração, de
intercâmbio etc (RODRIGUES,
2010, p,208)
Portanto, as consequências dessas traduções foram
pouco mensuradas ou estrategicamente empregadas em
nome da tentativa de uma tradução praticamente literal,
acrítica, ou a mais próxima da originalidade possível.
Isso não significa que esse viés apropriativo não tenha se
desenvolvido, quando lemos alguns textos
absolutamente partidários da teoria e da conceituação de
interpretação da história é
extremamente relevante não
como “verdade absoluta”, mas
como “pensamento único” do
homem ocidental
contemporâneo, orientando suas
ações e repercutindo fortemente
sobre a legislação e as produções
culturais. As ações militares do
Ocidente têm seu discurso de
justificativa em Hegel [...] o
Ocidente se representa da forma
mais potente e radicaliza sua
conquista do mundo. (REIS,
2013, p. 70-71).
José Carlos Reis não mede palavras para atestar o
caráter eurocêntrico e etnocêntrico do conceito de razão,
tal como formulado por Hegel e seguido por toda
tradição historicista, e neo-historicista, que lhe deu
sequência. A razão não pode se autojustificar como uma
verdade última já que registra o modo de pensar do
europeu, e justifica toda expansão colonialista
oitocentista uma vez que institui uma dicotomia
valorativa: separa aqueles que possuem razão, daqueles
que são desprovidos dela. O resultado disso é a pura
expressão de um racismo teórico em que o pensamento
e sabendo, ou se estamos
tratando de um nível específico
de saber que não é
imediatamente característico de
toda a humanidade, e portanto é
uma forma de conhecer à qual é
preciso chegar, no sentido de
tomada de consciência. Nesse
segundo caso, haveria em
contraposição à consciência
histórica uma inconsciência ou
uma alienação histórica (CERRI
2007, p. 96)
Há aqui uma cisão dicotômica e excludente entre
aqueles que possuem a consciência e aqueles que ainda
tateiam nas trevas da inconsciência. O historiador, tal
como o professor de História, seria aquele feixe
iluminista que traria o esclarecimento, a conscientização
e a civilização àqueles sujeitos inaptos a localizarem-se
temporalmente ou incapazes de compreender a relação
passado-presente-futuro. Mas nesse sentido, quem
seriam as pessoas que predispunham à consciência
histórica? O filósofo Hans-Georg Gadamer esclarece a
questão: “A consciência histórica que caracteriza o
homem contemporâneo é um privilégio, talvez mesmo
um fardo que jamais se impôs a nenhuma geração
Estado-Nação moderno, o
progresso, a separação clara
entre o passado e o presente, a
racionalidade científica – e não a
outros, tais como a magia e os
deuses, contra os quais ela foi de
fato definida (SETH, 2013,
p.177)
São nesses pressupostos que se baseia a
consciência histórica, ao postular que o fardo do
historiador, e, especialmente do professor de história,
residiria em levar essa conscientização (carregada de
todos seus valores em anexo) para aqueles alunos ainda
indoutos, indisciplinados, inconscientes, despreparados
para compreender as estruturas corretas do tempo, de
pensar na mesma formatação institucional ao qual o
europeu pensa
A categoria básica para a
compreensão da aprendizagem
histórica é a consciência
histórica. A sua definição mais
ampla ressoa como se segue: a
atividade mental da
interpretação do passado para
compreender o presente e
esperar o futuro. Assim,
Considerações finais
Com esse brevíssimo e ensaístico texto não
objetivamos compreender a teoria rüseniana a partir de
estereótipos, enquanto eurocêntrica, etnocêntrica e
imperialista. Antes disso, buscamos compreender que
toda teoria possui um lugar de fala, sob nossa perspectiva
Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma
história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019
ASSIS, Arthur Alfaix. A didática da história de J. G.
Droysen: constituição e atualidade. Revista Tempo,
v20, 2014, p. 1 -18.
BAROM, Wilian Cipriani. Didática da História e
consciência histórica: pesquisas na pós-graduação
brasileira (2001-2009). Dissertação (Mestrado em