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Ficha da leitura correspondente à aula nº9

Mijaíl Bakhtin foi um historiador, critico literário e filósofo da União Soviética que contribuiu
para o estudo das filosofias da linguagem. Por sua formação marxista, propôs que se chegasse a uma
filosofia da linguagem nova por meio de um embate entre duas orientações principais, quais sejam, o
"subjetivismo idealista" e o "objetivismo abstracto".
Para simplificar a relação dialética que existe entre ambas as orientações, decidiu estabelecer o
"subjetivivimo idealista" como tese e defini-lo em quatro pontos principais, que são:
"As posições fundamentais da primeira tendência, quanto à lingua
podem ser sintetizadas nas quatro seguintes proposições:
1. A lingua é uma atividade, um processo criativo ininterrupto de
consturção ('energia'), que se materializa sob a forma de atos individuais de
fala.
2. As leis da criação lingüística são essencialmente as leis da psicologia
individual.
3. A criação lingüística é uma criação significativa, análoga à criação
artística.
4. A língua, enquanto produto acabado ('ergon'), enquanto sistema
estável (léxico, gramática, fonética) apresenta-se como depósito inerte, tal
como a lava fria da criação lingüistica, abstratamente construída pelos
lingüistas com vistas à sua aquisição prática como instrumento pronto para ser
usado." (BAKHTIN 2006, p.72).
Em seguida, apresentou como antítese o "objetivismo abstrato" e o descreveu também em
quatro pontos principais, da seguinte forma:
"Nós podemos sintetizar o essencial das considerações da segunda
orientação nas seguintes proposições:
1. A lingua é um sistema estável, imutável, de formas lingûistas
submetidas a uma norma fornecida tal qual à consciência individual e
peremtória para esta.
2. As leis da língua são essencialmente leis lingüísticas específicas, que
estabelecem ligações entre os signos lingüisticos no interior de um sistema
fechado. Estas leis são objetivas relativamente a toda consciência subjetiva.
3. As ligações lingüisticas específicas nada têm a ver com valores
ideológicos (artísticos, cognitivos ou outros). Não se encontra, na base dos
fatos lingüísticos, nenhum motor ideológico. Entre a palavra e seu sentido não
existe vínculo natural e compreensível para a consciência, nem vínculo
artístico.
4. Os atos individuais de fala constituem, do ponto de vista da língua;
simples refrações ou variações fortuitas ou mesmo deformações das formas
normativas. Mas são justamente estes atos individuais de fala que explicam a
mudança histórica das formas da língua; enquanto tal, a mundaça é, do ponto
de vista do sistema, irracional e mesmo desprovida de sentido. Entre o sistema
da língua e sua história não existe nem vínculo nem afinidade de motivos. Eles
são estranhos entre si." (BAKHTIN 2006, p.83).
Depois de haver resumido em que consiste a tese e a antítese, explicou que, numa relação
dialética, a verdade não se encontra no meio termo, agradando ambas as posturas. Ela encontra-se mais
longe, especificamente na recusa tanto da tese como da antítese, permitindo a constituição de uma
síntese dialética. Para isso, decidiu expor as principais contradições que deram à luz a sua original
síntese, do seguinte modo:
"Ao considerar que só o sistema lingüístico pode dar conta dos fatos da
língua, o objetivo abstrato rejeita a enunciação, o ato de fala, como sendo
individual. Como dissemos, é esse o proton pseudos, a 'primeira mentira', do
objetivismo abstrato. O subjetivismo individualista, ao contrário, só leva em
consideração a fala. Mas ele também considera o ato de fala como individual e
é por isso que tenta explicá-lo a partir das condições da vida psíquica individual
do sujeito falante. E esse é o seu proton pseudos." (BAKHTIN 2006, p.111).
Após a denúncia dessas contradições intrínsecas, começou a elucidar sua síntese e filosofia da
linguagem, afirmando que:
"Na realidade, o ato de fala, ou mais exatamente, seu produto, a
enunciação, não pode de forma alguma ser considerado como individual no
sentido estrito do termo; não pode ser explicado a partir das condições
psicofisiológicas do sujeito falante. A enunciação é de natureza social."
(BAKHTIN 2006, p.111).
Proposta a nova síntese superadora, decidiu explicar-la, desta vez em cinco pontos principais,
quais sejam:
"Vamos tentar formular nosso próprio ponto de vista com as seguintes
proposições:
1. A língua como sistema estável de formas normativamente idênticas
é apenas uma abstração científica que só pode servir a certos fins teóricos e
práticos particulares. Essa abstração não dá conta da maneira adqueada da
realidade concreta da língua.
2. A lingua constitui um processo de evolução ininterrupto, que se
realiza através da interação verbal social dos locutores.
3. As leis da evolução lingüística não são de maneira alguma as leis da
psicologia individual, mas também não podem ser divorciadas da atividade dos
falantes. As leis da evolução lingüística são essencialmente leis sociológicas.
4. A criatividade da língua não coincide com a criatividade artística nem
com qualquer outra forma de criatividade ideológica específica. Mas, ao
mesmo tempo, a criatividade da língua não pode ser compreendida
independentemente dos conteúdos e valores ideológicos que a ela se ligam. A
evolução da língua, como toda evolução histórica, pode ser percebida como
uma necessidade cega de tipo mecanicista, mas, também pode tornar-se 'uma
necessidade de funcionamento livre', uma vez que alcançõu a posição de uma
neessidade consciente e desejada.
5. A estrutura da enunciação é uma estrutura puramente social. A
enunciação como tal só se torna efetiva entre falantes. O ato de fala individual
(no sentido estrito do termo 'individual') é uma contradicto in adjecto."
(BAKHTIN 2006, p.130).

Referências

MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM, Bakhtin Mikhail. São Paulo. Hucitec, 2006.

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