Você está na página 1de 2

Ficha da leitura correspondente à aula nº8

"O Desenvolvimento da criança é um processo temporal por excelência" (PIAGET; 1883, p. 211).
Com essa afirmação, o biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço Jean William Fritz Piaget adianta o eixo
de sua tese a respeito do começo do desenvolvimento humano.
Para uma melhor exposição, o autor decide desenvolver dois pontos: o primeiro trata-se de uma
afirmação que trata sobre o papel do tempo no círculo vital, qual seja, "Todo desenvolvimento -
psicológico como biológico - supõe a duração, e a infância dura tanto mais quanto mais superior for a
especie". O segundo é um questionamento: Existem possibilidades de aceleração ou de diminuição
desse desenvolvimento temporal?
Limitando seu estudo ao desenvolvimento propriamente intelectual, cognitivo, Piaget propõe
distinguir dois aspectos principais deste. Por um lado, “o que podemos chamar o aspecto psico-social,
quer dizer tudo o que a criança recebe do exterior, aprende por transmissão familiar, escolar, educativa
em geral" (PIAGET; 1883, p. 211) e, por outro, o desenvolvimento que denomina de espontâneo ou
psicológico, “que é o desenvolvimento da inteligência mesma: o que a criança aprende por si mesma, o
que não lhe foi ensinado, mas o que ela deve descobrir sozinha; e é isso o que essencialmente leva
tempo" (PIAGET; 1883, p. 211).
Dentro desses aspectos, o epistemólogo suíço considera que o desenvolvimento psicossocial
está subordinado ao desenvolvimento espontâneo ou psicológico, já que este último o antecede no
tempo e permite que o primeiro aconteça.
No que pertine ao tempo, Piaget, com base em seus estudos em Genebra, faz duas
constatações, distinguindo no tempo dois aspectos fundamentais: “por um lado a duração, depois a
ordem de sucessão dos acontecimentos por outro" (PIAGET; 1883, p.213). Então, o tempo é necessário
como duração já que a criança, em média, precisa esperar 8 anos para a noção de conservação da
substância; 10 anos para a noção do peso e 12 anos para a noção do volume.
Essa sucessão de idades despertou uma dúvida num colaborador do Piaget, o psicólogo
norueguês, Jan Smerdslund, que questionou se é possível acelerar tal evolução pela aprendizagem e
concluiu que existe sim aprendizagem do resultado (caso específico) mas que a criança não pode obter
aprendizagem com relação a transitividade (formar uma lógica necessária para a construção de tal
resultado).
A respeito da outra constatação fundamental, que é a ordem de sucessão dos acontecimentos,
Piaget observa que "atingimos uma hierarquia de estruturas que se constroem numa certa ordem de
integração" (PIAGET; 1883, p. 215), pelo que só é possível observar que primeiro se aprende a noção de
conservação, depois a de peso e por último a de volume, mas nunca se altera essa ordem.
Essa ordem pode ser entendida em estágios que começam no período da inteligência sensório-
motora, a qual o mestre suíço define como uma inteligência antes da linguagem, antes do pensamento.
Esse estágio dura até os 18 meses, para logo dar passo ao período da representação pré-operatória.
No período da representação pré-operatória, o qual se estende até os 7 anos de idade, "aparece
a capacidade de representar alguma coisa por meio de outra coisa, o que chamamos a função simbólica.
A função simbólica é a linguagem" (PIAGET; 1883, p. 218).
Depois dessa idade a criança chegará ao nível das operações concretas, no qual "ela se torna
capaz de uma certa lógica; ela se torna capaz de coordenar operações no sentido da reversibilidade, no
sentido do sistema de conjunto" (PIAGET; 1883, p. 220). O autor dá dois exemplos de sistema de
conjunto, a seriação e a classificação.
Por volta dos 12 anos, a criança entra no estágio das operações formais, que "trata-se da última
etapa, durante a qual a criança torna capaz de raciocinar e de deduzir (...) se torna capaz de lógica e de
raciocínios dedutivos, sobre hipóteses, sobre preposições." (PIAGET; 1883, p. 222). Cada uma dessas
etapas é necessária para a conquista da seguinte.
Referências

OS PENSADORES. Jean Piaget. Trad. Nathanael C. Caixeiro. São Paulo. Abril Cultural, 1883.

Você também pode gostar