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Unidade 6
Unidade 6
Material Teórico
Problemas Metafísicos Contemporâneos
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Problemas Metafísicos Contemporâneos
• Introdução
• Época de Crise ou Transformação Profunda de Época?
• Problemas Societários Contemporâneos
• Problemas Contemporâneos de Sentido e de Ordem Ética
• Referências
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar níveis distintos de problemas e contextualizar o alcance
dos diferentes planos da crise da sociedade contemporânea como
crise de época, ou seja, como época de profundas transformações
humanas e societárias que demandam nova postura diante do
projeto civilizatório até aqui desenvolvido pela humanidade.
· Introduzir o aluno no conhecimento dos múltiplos problemas que
estão implicados no avanço e uso da tecnologia, sobretudo daqueles
que se dão na área da informação e da revolução digital.
· Aprofundar novos problemas societários e tendências da sociedade
globalizada atual à luz dos princípios fundamentais do pensamento
crítico filosófico e metafísico.
ORIENTAÇÕES
Olá!
A presente Unidade sobre Problemas Metafísicos Contemporâneos, como
o próprio nome anuncia, traz temas de relevância em nossos dias. O mais
importante agora é você exercitar sua capacidade de distinguir problemas através
dos diferentes modos de analisá-los e interpretá-los.
Você vai notar que Metafísica é um modo de tratar não apenas novos problemas
com novos conteúdos. Os problemas, na maioria das vezes são os mesmos que
são objetos de outras ciências. O enfoque é que varia. Por isso, a Unidade vai
iniciar com uma tipologia de problemas. A proposta é perceber modos diferentes
de nos aproximar e interpretar a natureza dos problemas que nos afetam.
Procure pensar metafisicamente, isto é, buscando sempre princípios, origens e
causas abrangentes para os problemas atuais e você estará no caminho certo
para entender a lógica que determinou a seleção dos temas dessa Unidade.
Faça um bom estudo e aproveite para rever como representante de nosso tempo
o caminho civilizatório que a humanidade tem feito até aqui e o que de fato
deve ser mudado para legar algo de verdadeiramente humano para as futuras
gerações... É esse o grande tema dessa Unidade. E convenhamos, o desafio não
é pequeno e também não é apenas teórico.
UNIDADE Problemas Metafísicos Contemporâneos
Contextualização
Leia o artigo “A percepção e o comportamento ambiental dos universitários em
relação ao grau de educação ambiental” dos seguintes autores: Loreni Teresinha
Brandalise Geysler Rogis Flor Bertolini Cláudio Antonio Rojo Álvaro Guilhermo
Rojas Lezana Osmar Possamai. Trata-se da descrição dos resultados de uma
pesquisa feita com estudantes universitários comparando o grau de educação
ambiental daqueles que tiveram em seus currículos uma disciplina de consciência
ambiental com aqueles que não a tiveram. O instrumento utilizado foi adaptado do
modelo VAPERCOM. O estudo contribui à medida que avalia o comportamento
do consumidor considerando sua percepção em relação à variável ambiental,
fornecendo subsídios à gestão organizacional no planejamento de ações de acordo
com as expectativas e avaliação dos consumidores.
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Introdução
Por uma metafísica desde os problemas cotidianos e societários
Problemas cotidianos
Os problemas mais imediatos também são coletivos, mas o consideramos
individuais no sentido de que estão presentes de forma muito perceptível e
concreta nas vidas das pessoas como sujeitos singulares, com nome, endereço e
história bem particular. São problemas que enfrentamos em casa junto à família, no
trabalho ou na escola. Há problemas pessoais que se devem a relacionamentos mal
resolvidos; há os de natureza financeira e os de natureza exclusivamente pessoal
que guardamos para nós mesmos e às vezes os compartilhamos com os mais
íntimos. São aqueles problemas que podem variar de pessoa para pessoa, incluem
dificuldades com o corpo, a saúde, a comida, dependência, compulsão, trauma e
outras dificuldades de aceitação de si mesmo ou qualquer outro desafio ainda não
superado e que perturba a vida.
Problemas societários
O segundo tipo de problema são aqueles que, embora sejam muito objetivos,
visíveis e objeto de permanente incômodo, são abstrações coletivas de situações
que afetam a sociedade como um todo ou alguns setores, grupos ou classes sociais
em particular. Eles não são necessariamente distintos dos primeiros no sentido
do conteúdo que eles apresentam, mas sim na forma de percebê-los. O problema
do desemprego é um problema desse tipo. É problema macrossocial e afeta
muita gente, sobretudo, as classes mais vulneráveis da sociedade, mas é também
problema imediato e individual quando o indivíduo se vê nessa situação. Note bem,
o problema é o mesmo, mas a forma como é percebido e se torna objeto de análise
ou de vivência prática é distinta. Um é realidade presente na vida do indivíduo e
a outra, sem excluir a primeira, é realidade coletiva, macrossocial, problema cuja
abstração permite analisar sua gênese, a forma como ocorre, porque se dá com
tanta frequência e quais podem ser as soluções para superá-lo.
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UNIDADE Problemas Metafísicos Contemporâneos
Problemas metafísicos
Embora nenhum desses problemas sejam diretamente objeto e conteúdo
imediato da Metafísica, qualquer que seja o problema sempre há uma ligação com
ela. A ideia de que tudo está interligado não é só um bordão da física quântica
ou da filosofia holística. Para a reflexão metafísica importa recuperar a visão do
todo e a unidade que liga todos os seres a uma ordem cuja lógica compreende
conexões causais que precisam ser descobertas, mesmo que nem sempre seja tão
óbvias e transparentes.
Filosofia holística é a tendência ou corrente de pensamento que propõe uma visão do todo
Explor
Por isso, não é demais admitir que todo problema, por menor, cotidiano e
mais individual que seja tem um aspecto metafísico, pois como fato, fenômeno
ou situação real é como tal um ente que evoca, direta ou indiretamente, o ser
em geral. Neste sentido, todo problema de certo ponto de vista, o da metafísica,
exige que sua descrição ultrapasse o nível das aparências imediatas e chegue ao
da compreensão de suas causas, princípios, e o de seu sentido e ligação com os
demais fenômenos da realidade.
Sendo assim, podemos agora admitir que a crise de múltiplos aspectos que
vivemos em nosso tempo não só merece como exige um tratamento metafísico.
Eis a proposta dessa Unidade: tratar os problemas e desafios fundamentais da
sociedade contemporânea à luz da reflexão metafísica, a saber, à luz de uma busca
por compreender as razões que dão origem, fundam e explicam o sentido que tem
o que estamos chamando de crise de época.
O programa para essa Unidade passa então por três grandes momentos. O
primeiro deve esclarecer em que sentido se pode falar da contemporaneidade
como (1) época de crise e de grandes mudanças ou se na verdade trata-se mais
propriamente de uma mudança de época. Em seguida, o segundo momento
será dedicado à apresentação de um conjunto de problemas que são provocados
pelo desenvolvimento do (2) modelo econômico produtivo e tecnológico
predominante e suas implicações societárias. Depois, serão levantados (3)
problemas de ordem ética e do sentido maior da existência numa época em
que as responsabilidades humanas se projetam para muito além de nós mesmos e
do tempo presente em que vivemos.
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Época de Crise ou Transformação Profunda
de Época?
Que estamos vivendo uma época de crise em vários setores da vida planetária
não há dúvida. A questão que interessa à reflexão metafísica é saber se há um eixo
causal a partir do qual se entenda as diversas manifestações de crise e o que elas de
fato significam no arranjo do todo.
A palavra crise tem origem no vocábulo grego “krísis” que significa “julgamento,
seleção, resultado de uma avaliação” derivada do verbo “krinein, “separar, decidir,
julgar, discriminar, distinguir, peneirar”. Crise é palavra que tem um parentesco
com o substantivo “crisol”, recipiente utilizado para apurar e purificar a prata e
outros metais preciosos. Os médicos antigos usavam a palavra num sentido bem
particular: quando o doente, depois de medicado, entrava em crise, era sinal de
que haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa separação, decisão
e definição de seu quadro. Este é o caso do momento que estamos passando
desde a primeira guerra mundial no século XX e, sobretudo, depois da segunda
que alterou profundamente o quadro das relações entre Estados, nações e povos,
provocando um processo de desenvolvimento ainda maior de produção, consumo
e tecnologia, mas também de desigualdade, miséria, doenças e novos conflitos
em nível local potencializando outros que já haviam no passado. Veja como se
pronunciam em relatório publicado por especialistas da Organização das Nações
Unidas a esse respeito:
Apesar de muitas transições ao longo da história da Terra, nada desta
natureza tinha acontecido durante a história humana. Nunca a humanidade
tinha experimentado uma mudança tão radical na sua dimensão em tão
pouco tempo e numa tal escala. É provável que a nossa espécie nunca mais
venha a passar por uma mudança tão profunda (CIPQV1, 1998, p. 2).
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Dos objetos que se tornam obsoletos passamos com muita facilidade a rotular
pessoas como obsoletas. Algumas frases que você já deve ter ouvido pressupõem
como essa é uma realidade: “O que, você ainda não tem WhatZapp? Não entrou no
Face?” “Não tem Face?” “O que é Face?” “O Facebook?” “Assim não dá, se liga!”
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problemas locais em verdadeiras demandas globais. O inverso também é verdadei-
ro: as demandas globais tornam-se exigências de mudança local. O primeiro desses
problemas é a crise ecológica que é no fundo uma crise ambiental.
Problema ecológico
A crise ecológica não é apenas uma crise entre outras. Trata-se de um problema
que coloca em risco a sobrevivência da própria espécie humana no Planeta e já
comprovadamente compromete a qualidade de vida inúmeras populações, além
de extinguir a vida de outras espécies mais frágeis. Desmatamento, poluição do ar,
aquecimento global, degradação de rios e mananciais de água potável e o uso de
matriz energética com base fóssil ou nuclear com graves riscos à saúde e segurança
planetária continuam a exigir mudanças profundas e atitudes pontuais nem sempre
fáceis de serem adotados. As dificuldades de acordos internacionais e consenso
entre as nações mostram o quanto estamos longe para adequar atitudes práticas de
transformação de nosso comportamento às reais urgências que o problema exige
que sejam feitas.
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ao invés de diminuir e a concentração de renda nas mãos de pouco ainda é o
maior desafio da humanidade naquilo que se refere ao relacionamento entre os
iguais de sua própria espécie. E o problema se agrava ainda mais quando se vê
que os Estados estão subordinados e fragilizados diante do que se considera como
processo natural como se não dependesse das decisões humanas.
Mais do que nunca, as desigualdades sociais, econômicas políticas e
culturais estão lançadas em escala mundial. [...] O mesmo processo de
globalização que debilita o Estado-Nação, ou redefine as condições de
sua soberania, provoca o desenvolvimento de diversidade, desigualdades
e contradições em escala nacional e mundial (IANNI, 1996, p. 50).
O trabalho, como apontou Otávio Ianni também tem sofrido alterações que se
sucedem num ritmo cada vez mais crescente de aceleração. Mas isso nos remete
ao problema do avanço tecnológico.
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A reflexão filosófica metafísica impõe a atualização da análise do fenômeno
do avanço tecnológico e as implicações na esfera da ética e do comportamento
humano. É preciso se posicionar diante da visão de mundo em transformação
implicada na dinâmica do avanço tecnológico e refletir o alcance que isso provoca
para as novas gerações que estão sob o seu impacto. Dagnino tem razão em alertar
que será preciso mobilização e muito esforço para alterar os rumos da tecnologia
centrada e subordinada ao direcionamento econômico e se isso não acontecer o
risco do desequilíbrio social permanece:
Isto é uma tarefa que depende da mobilização de um grande número de
atores e pode ser difícil para a esquerda, dado a distância entre a ciência
que tem como único objetivo a maximização do lucro e da economia
de mão-de-obra e aquela que pretende atender aos anseios de toda a
sociedade e visualizar uma alternativa. Mas é um desafio que não podem
deixar de lado, sob pena de limitar o avanço na construção de uma
sociedade mais democrática e equilibrada social e ambientalmente, pela
inexistência de desenvolvimentos científicos e tecnológicos que atendam
a estes objetivos (DAGNINO, 2002).
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Qual deve ser o limite de nossa tolerância? Não deve haver limite? Como então
tratar o fenômeno da violência? Como compreendê-lo? É um fenômeno inato e
tendência natural do ser humano ao ser privado de suas necessidades básicas? É
produto da desigualdade e da miséria ou da ganância humana? Como entender
a violência no Brasil? Os números mostram que nos últimos anos a fome e a
miséria foram contidas, o número de pobres diminuiu, mas a violência aumentou.
Isso significa que a pobreza não pode ser alegada como razão direta da violência.
Gente abastada e poderosa também não é violenta? O sistema jurídico, criminal e
prisional tem sido suficientes para conter a violência?
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O problema da violência humana entre indivíduos, grupos, sociedades e países,
culminando em conflitos e guerras parecem presidir a lógica do desenvolvimento
histórico de nossa espécie. Muitos autores já dedicaram seus esforços para decifrar
esse mistério. Psicanalistas, cientistas sociais e filósofos. Destaco alguns deles,
Hobbes, Rousseau, Marx, Freud e Girard, entre outros, formularam hipóteses para
explicar esse fenômeno.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
A política da mudança climática
GIDDENS, Anthony. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 314p.
Trata-se de uma obra de um dos maiores pensadores sociais da atualidade. Nesse
trabalho, ele procurou mostrar a gravidade e urgência do problema das mudanças
climáticas provocadas pelo aquecimento global e algumas situações que dificultam, mas
também exigem que posições políticas e de governança tanto local como planetária
devem ser tomadas se a humanidade não quiser sofrer riscos ainda mais catastróficos
à vida no planeta.
Meio ambiente no século 21
TRIGUEIRO, André (Coord). Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 367p.
Consulte e leia o que puder da obra Meio ambiente no século 21 coordenada por
André Trigueiro com artigos de 21 especialistas de áreas diferentes propondo uma
abrangente reflexão sobre o problema ambiental.
Vídeos
A História das Coisas (versão brasileira)
Asssista com atenção ao Vídeo “A história das coisas”.
Disponível em: https://goo.gl/lTMBJA
Acesso em 23/10/2015 às 14h42.
Lenine - Paciência (Acústico)
Ouça e preste atenção na letra de pura crítica e poesia da música “Paciência” do
cantor e compositor Lenine. Observe como temas sociais, éticos e do cotidiano
contemporâneo são apresentados numa dimensão metafísica, pois questionam o
sentido da vida como um todo:
Para ouvir acesse: https://goo.gl/oTBbPH
Acesso em 23/10/2015
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Referências
ACÃO EDUCATIVA. Relatório da ONU afirma que mais de 1.2 bilhões de pessoas
ainda vivem em extrema pobreza. Site Ação Educativa. Postado em Fevereiro de
2014. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/em-acao/52-
acao-em-rede/10004878-relatorio-da-onu-afirma-que-mais-de-12-bilhoes-de-
pessoas-ainda-vivem-em-extrema-pobreza Acesso em 17/10/2015 às 14h12
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SARAMAGO, José. Discurso pronunciado por José Saramago no dia 10 de
dezembro de 1998 no banquete do Prémio Nobel. Site da Fundação José
Saramago. Postado em 2014. Disponível em: http://www.josesaramago.org/
discurso-pronunciado-por-jose-saramago-no-dia-10-de-dezembro-de-1998-no-
banquete-premio-nobel/ Acesso em 17/10/2015 às 17h17
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