Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade 1
Unidade 1
Material Teórico
Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Princípios lógicos da Semiótica
contemporânea
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Relacionar áreas do conhecimento filosófico e distinguir seus
formalismos e suas relações com as teorizações da lógica contem-
porâneas.
ORIENTAÇÕES
Nesta unidade, daremos início aos estudos de um importante ramo da ciência,
a Semiótica. Considerada a ciência dos signos, a ciência de toda e qualquer
linguagem. Para entender as suas diversas aplicações, principalmente o estudo
dos signos e como eles se relacionam, é preciso um olhar mais verticalizado
e situar no tempo e no espaço as ações processuais que possibilitaram a
constituição desse enorme campo do saber.
Contextualização
Atualmente, as formas de comunicação e todo o processo de aquisição e
incorporação de linguagem vêm progredindo de forma acelerada. É possível
verificar que a vida moderna é regrada por artefatos tecnológicos de ponta de
diversas naturezas que, além de povoarem todo o universo da vida contemporânea,
promovem, a cada dia de nossas vidas, um aumento significativo de palavras,
consequentemente, um aumento de novas mensagens, novos sentidos, novas
formas de se comunicar e novos significados.
6
Princípios lógicos da semiótica contemporânea
As fronteiras entre a semiologia, as linhas semióticas, a lógica, a
filosofia analítica e a filosofia da linguagem
Para falar da Semiótica, assim como conceituá-la na ordem do dia, não basta
apenas recorrer à etimologia da palavra ou pontuar uma simples definição.
É preciso, além de buscar um horizonte mais amplo, menos limitado, entender a
sua aplicabilidade, a sua relação no contexto atual e na prática do nosso dia a dia.
Também é válido dizer que, se fossemos, a fim de verificar as fronteiras, identificar
as linhas divisórias entre a semiologia, a semiótica, a lógica, a filosofia analítica e a
filosofia da linguagem, não seria possível chegar a um único viés conceitual, a uma
linha singular para cada uma dessas áreas do conhecimento. Isso porque, mesmo que
essas disciplinas tenham seus constructos teóricos amplamente enviesados, o que é
muito natural no estudo da ciência, elas estão interligadas, pois, em algum momento,
seja no fomento, na mobilidade ou nas articulações conceituais de uma pesquisa,
há notórias transgressões. Ou seja, as áreas se cruzam numa notável relação híbrida
e, por serem intercambiáveis, asseguram a vitalidade e a riqueza de todos os campos
de exploração do conhecimento. Esse é um fator determinante para entender a
semiótica, pois a semiologia, a matemática, a lógica, a filosofia analítica, a filosofia
da linguagem etc. são eixos do conhecimento que se cruzam e fornecem uma base
dinâmica para contemplar as investigações científicas. Entretanto, é preciso entender
que essa linha de raciocínio, ou seja, essa forma de abordagem e todas essas relações
não procuram delimitar uma determinada semiótica, muito menos especificar o seu
precursor ou seu teórico. Pelo contrário, a intenção, neste primeiro momento, é
compreender a semiótica na sua amplitude, bem como entender não só as suas
fronteiras, mas, principalmente, verificar como se deu a sua evolução.
Semiótica lógica
A semiótica, postulada no mundo grego, procurou por uma identidade entre
linguagem e pensamento. Estudos da semiótica na esfera platônica e aristotélica
foram objeto de controvérsia entre estoicos e epicuristas, mas tudo isso possibilitou
uma larga contribuição no campo do debate de ideias. Por exemplo, na Antiguidade,
Platão (427 a.C.-347 a.C.) foi considerado o primeiro pensador a organizar a
estrutura triádica do signo, pois, no diálogo Crátilo (ou Justeza dos Nomes), ele
sistematizou essa relação com a denominação de “nome”, “ideia” e “coisa”.
atribuídos aos seres por convenção, doutrina que era estabelecida em Atenas no V século
a.C. (PLATÃO. Crátilo. Tradução Palmeira, Dias, Livraria Sá Costa Ed. 1994 p. LXIX)
7
7
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
Platão Aristóteles
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons
SIGNO
Afirmando que a verdade dita por palavras, mesmo que esta denote certa
semelhança com as coisas às quais se reportam, seria sempre inferior ao
conhecimento direto, não intermediário, das coisas. Essa observação de Platão
permite inferir que o mundo das ideias é apenas um mundo convencional, um
mundo de representações, pois, segundo ele, as palavras são independentes dessas
representações. Platão, com esse modelo, já no século IV a. C, prenunciava as
bases do que seria, bem mais tarde, denominado semiótica.
8
de o signo como uma premissa que conduz a uma conclusão. Esse modelo descrito
por Aristóteles remonta à questão do “argumento” , cuja função das premissas é
possibilitar o caminho da conclusão. Portanto, a partir de várias linhas de estudo e
desenvolvimento das implicações, Aristóteles apresenta um modelo lógico, ou seja,
seu modelo de signo linguístico é concebido de forma composta. Primeiramente, ele
nomeia o signo linguístico de “símbolo”, symbolon, e, em seguida, o definiu como
sendo signo convencional das “afecções” da alma pathémata; depois, detalhou
essas afecções e estabeleceu-os como sendo “retratos” das coisas, prágmata.
SIGNO
SIGNO
9
9
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
SIGNO
SEMAÍON TYGCHÁNON
(significante) (objeto)
Santo Agostinho
Fonte: Wikimedia Commons
10
base de sua linha conceitual do signo, formalizou-se aos estoicos, destacando a
ação de interferência mental no desenvolvimento da semiose; distinguiu signos
naturais e signos convencionais. Para ele, os signos naturais não foram criados na
intenção de uso como signo. Mas eram signos que existiam na natureza: a fumaça
como índice de fogo, por exemplo, era entendido como um signo natural. Já os
signos convencionais ajustavam-se sob uma convenção, por isso foram criados
para estabelecer a comunicação. Santo Agostinho ainda se aprofunda nos estudos,
diferenciando “signos” e “coisas” e amplia os estudos dos signos não verbais. Por
exemplo, Santo Agostinho conseguiu desvendar e esclarecer a relação entre signo
e coisa. Segundo ele, o signo é uma coisa simplesmente pelo fato de estar no lugar
de outra coisa, ou seja, se o signo não fosse uma coisa, logo, não existiria. Com
isso, Santo Agostinho constituiu um modelo de signo que, mais tarde, iria delinear
os caminhos da doutrina dos signos ou a ciência do signo. Ou seja, ele forneceu as
bases para o estudo não só para um modelo específico de signo, mas um estudo
da semiótica que possibilite investigar qualquer tipo de comunicação e que abarque
toda a extensão das linguagens.
11
11
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
12
O modelo de signo diádico (séculos XVII-
XVIII) – semiótica racionalista
A semiótica, neste momento, sofre uma forte influência do racionalismo na
Europa, seu percurso compreende a adesão de três grandes correntes filosóficas do
século XVII e XVIII: o racionalismo, o empirismo e o iluminismo. René Descartes
(1596-1650), representante máximo do racionalismo cartesiano, formulou a
teoria das três ideias inatas: a primeira, ideias adventícias, chegam à mente a
partir do sentido; a segunda, ideias fictícias, são produzidas pela imaginação; e, a
terceira, ideias inatas, são ideias essenciais que existem na mente sem auxílio de
um histórico. Com isso, a semiótica de Descartes lança por terra o signo com seu
caráter referencial. Ou seja, o modelo triádico de signo torna-se obsoleto frente
ao modelo diádico da semiótica racionalista. Versão difundida amplamente pela
abadia de Port-Royal, a ideia da coisa representada corresponde ao significado
do signo. Vejamos a proposta racionalista cartesiana:
SIGNO
Pois Locke discordava das “ideias inatas” proferidas por Descartes. Segundo ele,
não existiriam princípios inatos na mente. Locke afirmava que as ideias são signos
que representam as coisas na mente do interlocutor, as palavras representam as
ideias e elas não podem ser separadas.
13
13
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
SIGNO
PALAVRA IDEIA
Essa relação estabelecida por Locke tornou-se objeto central para a abertura
de dois caminhos importantes na esfera dos estudos do signo: Ferdinand Saussure
(1857-1914), semiótica estrutural ou semiologia, e Charles Sanders Peirce (1939-
1914), semiótica peirceana.
Saussure
Fonte: Wikimedia Commons
Saussure (1857-1914)
Em Saussure, vamos encontrar uma linha de exploração de grande contribuição,
pois os princípios científicos e metodológicos da linguística, segundo ele, são regidos
por regras e princípios comuns a todas as línguas. Por exemplo, nos estudos da
ciência verbal, vamos nos deparar como uma explicação de que a “língua” não é
14
o mesmo que a linguagem, ela é multiforme e demanda uma abordagem física,
fisiológica e psíquica, atua no individual e no social. Por isso, a língua é social, ela é
adotada no corpo social, sendo um conjunto puramente de convenções. Saussure
ainda vai nos dizer que a união entre palavras e coisas não tem uma correspondência,
uma relação entre si, mas ambos formam uma unidade linguística. Ambos são
termos “psíquicos”, ou seja, o signo linguístico não une uma coisa e uma palavra,
mas um conceito e uma imagem acústica – tal combinação é denominada de signo.
O conceito é denominado de significado e a imagem acústica, de significante.
Ou seja:
SIGNO
SIGNIFICADO SIGNIFICANTE
SIGNIFICANTE
Imagem acústica,
aspecto material,
desenho, som etc.
Signo Linguístico
(Convencional)
(c + a + v + a + l + o)
SIGNIFICADO
Conceito: animal mamífero,
da família dos equídeos, com
cauda e crina longa etc.
15
15
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
Peirce (1939-1914)
Peirce
Fonte: Wikimedia Commons
Peirce vem propor uma nova fase do conhecimento, e é o mais importante dos
fundadores da semiótica moderna. Tornou-se cada vez mais familiar nos meios
intelectuais, pois, ao dar destaque e elaborar um estudo da filosofia, matemática
e da lógica, consegue, a partir do legado grego e da Idade Média, fundamentar a
doutrina dos signos. Peirce, com sua noção de interpretante, permite enxergar
mais longe do que a dicotomia proposta por Saussure langue/parole. Razão
pela qual a semiótica peirciana é utilizada como ferramenta para aprimorar e
promover pesquisas em várias esferas culturais, sociais e acadêmicas, como,
por exemplo, nas artes visuais, na dança, arquitetura, matemática, medicina,
engenharia etc. Para entender por que hoje há uma abrangência de estudos a
partir da semiótica peirceana, é preciso atentar a uma classificação didática e
metodológica, em três momentos:
a) No primeiro momento, quando surgem as primeiras obras dos estudos
peirceanos, os comentadores, os críticos e os pesquisadores se limitam a
fomentar e aplicar seus estudos apenas na esfera filosófica tradicional, dando
total vazão apenas a esse viés do conhecimento;
b) No segundo momento, há uma tímida expansão, pois os estudiosos
peirceanos pontuam mais os aspectos matemáticos e lógicos, destacando
certo formalismo com relação à lógica;
c) No terceiro momento, há um volume de estudos em vários setores, a
semiótica ganha total relevo, principalmente ao se inserir nos contextos
literários, críticos, culturais, artísticos, linguísticos etc.
16
da semiótica peirceana, os leitores e comentadores reconhecem e recorrem à sua
obra máxima: Os collected papers of Charles S. Peirce, publicado em 1931, seria
a fonte disponível para qualquer leitura e aprofundamento.
Peirce utilizou o mesmo termo semiótica já usado por John Locke no final do século
Explor
XVIII, cuja raiz vem da língua grega, semeion, que quer dizer signo. A ciência dos signos.
O signo em Peirce
Peirce, ao buscar uma fundamentação na tradição inaugurada pela lógica
aristotélica, epicurista, estoica e a lógica escolástica, sofre todas essas influências
na formulação de sua doutrina geral dos signos, a semiótica. Vejamos: Peirce
constrói uma base muito sólida ao afirmar que todo o processo de pensamento
é um processo de transformação de signos, cuja descrição se faz em termos de
semiótica. Torna-se evidente que Peirce não tinha interesse em estudar uma classe
particular de coisas que seriam signos, em oposição às coisas que não o seriam,
mas sim estudar qualquer coisa que quisermos considerar como signo, ou seja,
objeto do pensamento. Portanto, ser signo, para Peirce, é incorporar a noção de
relação triádica.
Então temos:
(2) Signo
(boi)
17
17
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
(1) Nome
(objeto)
18
Criança (nome)
interpretante dinâmico
(intérprete)
in ime
te
ed to
rp dia
to
im bje
re to
ia
ta
o
nt
e
objeto fundamento
dinâmico interpretante em si
Fonte: SANTAELLA (1983, p, 59)
Três interpretantes Dinâmico (aquilo que o significado efetivamente produz na sua mente)
19
19
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Semiótica
Perguntas e respostas sobre semiótica.
https://goo.gl/PVSdbm
Livros
O que é semiótica.
SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Escritos coligidos. Seleção de Armando Mora D´Oliveira.
PEIRCE, Charles Sanders. Escritos coligidos. Seleção de Armando Mora
D´Oliveira. Trad. Oliveira e Sérgio Pomerangblum. In: Os pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1983.
Vídeos
Open Learning: Semiótica Peirceana
https://goo.gl/qT0TnL
Leitura
Comunicação e Semiótica:
Visão geral e introdutória à Semiótica de Peirce
https://goo.gl/rhVMkj
21
21
UNIDADE Princípios lógicos da Semiótica contemporânea
Referências
ARISTÓTELES. A arte retórica e arte poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho.
São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1959.
22