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Teoria do Estudo
diferentes épocas, para que possamos
compreender o desenvolvimento dessa ciência e
da História
leitor uma compreensão acerca da dinâmica e das
diversas possibilidades de escrever a História ao
longo das décadas, e como podemos
usufruir de técnicas e teorias para
produzir a historiografia atual.
w w w. u n i s u l . b r
Universidade Sul de Santa Catarina
Teoria do Estudo
da História
UnisulVirtual
Palhoça, 2019
Copyright © UnisulVirtual 2019
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Professor conteudista Projeto Gráfico e Capa
Felipe Leão Mianes Equipe UnisulVirtual
Designer Instrucional Diagramação
Marcelo Tavares de Souza Campos Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Revisão Ortográfica
Diane Dal Mago
M56
Mianes, Felipe Leão
Teoria do estudo da história : livro didático / Felipe Leão Mianes. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2019.
90 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
Teoria do Estudo
da História
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2019
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Historiografia tradicional: discutindo conceitos e
delimitando campos | 9
Capítulo 2
Uma nova história: ideologia e Escola dos
Annales | 35
Capítulo 3
Tendências históricas do século XX e XXI | 61
Considerações Finais | 85
Referências | 87
Veremos que essas modificações não foram uniformes e nem lineares, tão pouco
apagaram ou fizeram deixar de existir os modos de fazer e pensar a História do
século XIX. Elas apenas antecederam outras metodologias e teorias que foram
propostas e colocadas como diretrizes possíveis para a produção na historiografia
moderna.
Introdução
O surgimento da historiografia considerada moderna é fruto, principalmente,
do historicismo de Hegel e seu pensamento de que a História deve refletir a
verdade e de que o historiador deveria exercer a neutralidade, sendo apenas o
meio divulgador dos fatos que deviam ser contados “como aconteceram”, sem
nenhum tipo de análise.
1 MIANES, Felipe Leão. Historiografia tradicional: discutindo conceitos e delimitando campos. Teoria do Estudo
da História. [Material didático]. Design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. Revisão Diane Dal Mago.
Diagramação Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro. Palhoça: UnisulVirtual, 2019.
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Capítulo 1
Seção 1
Primeiros ensaios da História como ciência
Esse talvez tenha sido o primeiro questionamento que acendeu a centelha do que
hoje conhecemos como a ciência da História. Afinal, para que serve o passado?
Como contá-lo? Por muitos séculos as tradições eram mantidas pela oralidade,
pelos hábitos e estratificações sociais vigentes.
Desde que Heródoto construiu as primeiras bases para essa ciência Histórica,
a intenção inicial era a de permanência do status quo e não de rupturas. Diante
desse contexto, podemos considerar que a História surgiu para a manutenção
de certos status e conhecimentos de um determinado grupo de pessoas a fim de
que elas pudessem manter e ampliar os conhecimentos já obtidos, e manter a
ordem social até então vigente.
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Teoria do Estudo da História
Vale destacar que até o século XVIII, a imensa maioria das áreas do conhecimento
científico que temos hoje ainda não existiam. Assim, a explicação para fenômenos
que nos fazem ser e estar no mundo não acontecia conforme regras e diretrizes
metodológicas atuais e se baseavam em parâmetros religiosos, místicos e de
outras ordens transcendentais.
A História, portanto, resumia-se à reprodução de narrativas contadas oralmente
ou em documentos escritos tidos como oficiais, por meio dos quais se conhecia
os fatos não “como aconteceram”, mas como se queria que ficassem registrados
para as gerações seguintes.
Nesse sentido, ao pensarmos as bases fundadoras da História como ciência,
devemos relativizar o contexto dos acontecimentos. Não podemos cair em uma
armadilha fácil de se deixar levar que é refletir o passado com os valores que
temos atualmente. À época, a busca pela verdade suprema e absoluta era um
objetivo da ciência, em que os instrumentos para sua obtenção, bem como as
formas de se fazer eram diferentes das que hoje temos.
Por isso, precisamos diferenciar a História como prática e como ciência antes e
depois do século XIX. Até então, o objetivo principal era a exposição dos grandes
heróis, dos fatos grandiosos, das batalhas, das narrativas muitas vezes contadas
sem que houvesse comprovação material.
História e o Positivismo
O primeiro grande momento em que a História se viu inserida em um contexto
científico foi no positivismo. Esse movimento tinha como premissa que a Ciência
deveria ser analisada com métodos e pesquisas com a intenção de contar as
coisas “como elas aconteceram”.
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Capítulo 1
Isso não significa que antes a História não existia ou que os historiadores
não produziam materiais historiográficos de qualidade, mas que é a partir do
positivismo que os estudos, pesquisas e análises de cunho científico passaram
a ser feitas de maneira contínua e com propósitos alinhados com aqueles que
produzimos atualmente.
Cabe destacar que estudar a História e suas correntes teóricas são de extrema
importância para entendermos como podemos produzi-la de maneira rigorosa,
tendo alicerces teóricos sólidos e o fundamento científico como pilar para erigir
novas formas de conhecimento.
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Teoria do Estudo da História
Diante desse contexto, o profissional que atua nessa área passou a ser mais
do que aquele que relata os fatos como eles aconteceram. Passou também a
demandar conhecimentos, habilidades e competências muito especializadas
para produzir História, ou para realizar investigações que contribuam com a
historiografia atual ou futura.
É interessante notar que por bastante tempo o ensino da História, bem como as
pesquisas realizadas estiveram diretamente ligadas a pensamentos tidos como
antagônicos no campo historiográfico. Inclusive, é possível afirmar que ocorreu
uma batalha pelos significados, fontes e verdades históricas de acordo com a
linha teórica seguida por um ou outro historiador.
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Capítulo 1
Ademais, o Historicismo traz a ideia de que a História existe para que possamos
aprender com os erros do passado e não repeti-los no futuro. Em virtude disso, é
de fundamental importância que uma sociedade conheça a si mesma.
Tendo como premissa o ser humano como protagonista de seu próprio destino,
desvinculado de questões religiosas, a Ciência da História entende que cada
sociedade possui suas próprias heranças, com as quais precisará lidar no futuro,
sendo o passado a chave para rever, repensar e desenvolver cada povo. Existiria,
assim, um ponto de partida e um ponto de chegada do desenvolvimento social,
no qual apresentar o passado é uma forma de seguir adiante.
2 Escola dos Annales é o movimento historiográfico do século XX, o qual propunha que a História deveria se
ocupar de outros elementos que não apenas a história pelo viés político, econômico e dos grandes personagens.
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Teoria do Estudo da História
Um dos primeiros pensadores a estudar a História com esse olhar citado até aqui
foi Hegel, um pensador alemão que influenciou uma geração inteira de filósofos,
cientistas sociais e cientistas políticos diante de sua maneira de propor uma nova
forma de historicidade.
Para entendermos como pensava Hegel e sua relação com a História, segue, na
sequência, um trecho extraído da obra de Hartman (2001), o qual ilustra a forma
que Hegel pensava a História como ciência, e como ele revolucionou os modos
de fazer da História.
A influência de sua filosofia confirma sua tese de que, através dos homens, a Razão
universal molda a história. O destino desta filosofia presta testemunho à sua forma
dialética. [...] Este fato concreto corresponde à situação abstrata. A força da filosofia
de Hegel está antes em sua forma, em vez de seu conteúdo ainda que o conteúdo
seja esmagador em sua amplitude enciclopédica, e que as transições de fato para
fato, seguindo os elos da concatenação dialética, sejam às vezes forçadas e os
“fatos” reunissem pouco factual. Por outro lado, o brilho e a perspicácia que a
filosofia tem e a própria universalidade de seu alcance são devidos ao método — a
lógica dialética — que levou Hegel sempre adiante, abrangendo cada vez mais
fenômenos, em regiões mais amplas de conhecimento, dentro de sua moldura
sistemática.
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Capítulo 1
ideal de “antes da criação do mundo”, distinta de toda existência, mas, uma vez que
há um mundo existente, como emanando dele e sendo parte dele.
O certo é que para Hegel a história não se encerrou com o Estado prussiano, como
já se disse muitas vezes. Os leitores das Lições sobre a filosofia da História que
as acompanham até o fim descobrirão que ele via na América “a terra do futuro”.
O estado presente da história, o de sua época, era para ele o fim relativo, e não
o fim absoluto do processo histórico mundial. No final das Lições encontramos
a afirmação: “Neste ponto a consciência surgiu”. O que ele quer dizer é que o
autodesenvolvimento da Consciência surgiu no ponto do presente de Hegel. [...]
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Teoria do Estudo da História
O indivíduo histórico é tanto para ele como para Hegel apenas o expoente de
forças históricas: ele não faz a história, ele a executa. Para Hegel, a força que
move a história é a dinâmica da Ideia; para Marx, é a dinâmica do desenvolvimento
econômico que dialeticamente dá origem a uma série de classes que lutam pela
posse do Estado. Dessa maneira, Marx tomou de Hegel a ideia de processo, a
ideia de progresso (o curso teleológico da história), o método dialético, o poder
supraindividual da história, a primazia do coletivo sobre o individual, a ausência da
ética individual. Ele rejeitou o conteúdo teológico, metafísico e qualquer conteúdo
ético que o sistema tenha, suas tendências pan-psíquicas, a identidade da lógica e
do ser — e traduziu a dialética em um princípio de revolução econômica e política.
(HARTMAN, 2001, p. 16-20).
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Capítulo 1
Seção 2
O Positivismo e a História como busca pela verdade
Estado teológico
No estado teológico, a sociedade está voltada para suas crenças religiosas, e que
pouco tem a ver com o caráter científico, explicando os fenômenos naturais e
humanos por meio de sentenças centradas na concepção de que forças divinas é
que atuam para o sucesso ou o insucesso de cada um e de todos.
Estado metafísico
No estado metafísico, ainda existe certo caráter religioso, porém, as explicações
sobre o mundo e seus fenômenos são buscadas não apenas nas doutrinas,
mas em outras ordens, como a científica, por exemplo. É o estágio em que a
sociedade busca suas origens históricas e naturais, sua organização ainda que
não inteiramente voltada para a ciência, mas em termos gerais, é o caminho para
que isso se efetive. Para Comte, o estado metafísico é o estágio intermediário,
que evoluiu do estado teológico para o estado Positivo, o ápice da sociedade
positiva.
Estado positivo
No estado positivo, a sociedade não se preocuparia mais sobre a origem e
o destino dos fenômenos naturais e sociais, mas sim, com tudo aquilo que é
observável e que, portanto, está fora da metafisica. Assim, mais do que buscar a
origem das coisas, seria preciso pesquisar as relações entre elas.
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Teoria do Estudo da História
O estado positivo seria o mais alto estágio da razão intelectual, a análise das mais
importantes questões humanas sem a interferência de fatores metafísicos. Em um
estado positivo, a ciência teria a primazia dos discursos, das significações e das ações
em cada sociedade.
Historiografia positivista
A História como ciência deveria respeitar os preceitos do positivismo, e com
isso seu estudo passou a ser baseado na concepção de que se deveria contar
a “verdade dos fatos como elas aconteceram”. Isso, claro, tendo sempre em
vista que o método de rigor à comprovação dos fatos fez com que algumas
características da historiografia positivista ficassem em evidência.
Com isso, o positivismo tornou-se uma história “oficial”, baseada também nos
grandes heróis das nações, em quem a população deveria se espelhar, e por meio
dos quais eram possíveis a realização dos grandes feitos e do desenvolvimento
de cada sociedade. Em virtude dessa concepção, a população em geral foi
“como que esquecida” em detrimento das narrativas que se deveria contar sobre
os fatos e conquistas dos grandes homens de uma nação.
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Capítulo 1
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Teoria do Estudo da História
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Capítulo 1
Para que um povo tenha identidade nacional é preciso que haja uma nação
forte, com personagens e heróis icônicos e de grandes conquistas. Muitas
dessas histórias precisaram ser inventadas – não no sentido ficcional, mas no de
construção de uma narrativa. Nesse caso, a historiografia positivista contribuiu
bastante para que esse processo fosse efetivo e, ao mesmo tempo, alimentasse
esse desejo de construir a história das grandes nações.
Havia ainda uma imbricação direta entre causa e efeito, na medida em que se
acreditava que cada fato sucedido ocasionava o seguinte, por isso deveriam ser
analisados não em termos mais amplos, e sim de seu contexto muito específico, num
espaço e tempo muito curtos.
Isso significa dizer, por exemplo, que para a historiografia positivista as causas
da Revolução Russa limitar-se-iam às dificuldades econômicas de compra e
venda de produtos em uma Europa em guerra, bem como das dificuldades de
articulação política dos czares que vinham se enfraquecendo.
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Teoria do Estudo da História
Seção 3
Materialismo Histórico – o historiador como
agente da mudança
Tal fenômeno evidencia que a nobreza campesina já não possuía mais as rédeas
da sociedade inglesa e da grande maioria dos estados Europeus. Esses agora
tinham como seus principais financiadores a classe burguesa formada pelos
artesãos, mercadores e industriários.
É nesse contexto que o jornalista Karl Marx passa a estudar filosofia, economia
e sociologia, acreditando que não há separação possível entre teoria e prática. A
partir de então o pensamento filosófico intensificará o processo de mudanças no
status social vigente. A materialidade está acima do plano abstrato e a sociedade
vive em constante movimento, transformação ou rearranjo social, conforme cada
período.
Vale ressaltar que os estudos de Marx são quase todos voltados para a questão
das relações sociais no campo do trabalho, por meio das quais os movimentos
econômicos de exploração dos meios e modos de produção causam a
desigualdade e acumulação de capital por parte da burguesia.
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Capítulo 1
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Teoria do Estudo da História
Isso quer dizer que as relações de poder são decorrentes da materialidade, dos
bens e meios de produção, em nome de um domínio da operacionalização de
um modelo econômico, e uma luta entre campos ou como dizem os marxistas,
“classes” sociais.
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Capítulo 1
É preciso ressaltar, também, que a base do estudo de Marx era o contexto inglês,
cujos postulados posteriormente seriam replicados a outras regiões do mundo.
Sendo assim, sua obra demandou algumas adequações por parte de seus
adeptos.
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Teoria do Estudo da História
Esse modelo de ensino estaria associado com tudo aquilo que os grupos
dominantes desejam que a sociedade aprenda. Desse modo, caso as classes
dominantes desejarem que os trabalhadores sejam dóceis e preparados para o
mundo do trabalho, as escolas trabalhariam no sentido de preparar estudantes
para que essas condições sejam atendidas de pronto.
Outro exemplo bastante citado por Marx diz respeito às religiões, que por meio de
suas doutrinas e discursos conseguem alcançar o objetivo de dominar e tutelar o
pensamento dos trabalhadores. Esse domínio ocorre sem que eles percebam que
não estão pensando por si mesmos, ou, como Michel Foucault diria: o governo
dos governados.
Pensamento Marxiano
O pensamento historiográfico, empregado por Marx em seus estudos, apesar
de possuir significado e impacto de extrema importância no contexto histórico
das relações sociais, econômicas, culturais etc. foi no decorrer dos tempos
descaracterizado, não tendo atualmente o sentido original.
Dessa forma, tudo que estudamos até aqui, resumindo um pouco sobre as ideias
de Marx deve-se ao fato da historiografia ter sido diretamente influenciada por
esses elementos, principalmente, a partir da segunda década do século XX. Se
outrora a História era investigada como ciência apenas sob o ponto de vista
positivista, que valorizava os grandes personagens e nações, bem como a história
oficial, a historiografia marxista coloca-se no vértice oposto.
Isso não quer dizer que sejam completamente diferentes uma da outra, mas
que o ponto de partida e o de chegada o são. Em comum, ambas acreditam
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Capítulo 1
Na primeira metade do século XX, com o fim da Primeira Guerra Mundial, a eclosão
da Revolução Russa e das novas relações de trabalho impulsionada pelas inovações
tecnológicas existentes levou a uma modificação na relação entre aqueles que
detinham os meios de produção e a classe trabalhadora.
Esse período histórico também ficou marcado pelo ingresso dos trabalhadores e
seus filhos nas universidades, os quais passaram a ter acesso aos meios técnicos
e intelectuais. A partir de então esses representantes de segmentos sociais
passaram a propor novas possibilidades de se pensar a sociedade europeia,
nesse caso, a partir do ponto de vista daqueles que durante muito tempo não
tiveram voz na sociedade.
Todo esse “clima” de reconstrução da sociedade europeia fez com que essas
ideias de sociedade europeia prosperassem rapidamente e não demorou muito
para que os estudos sobre História tivessem sido atingidos por esses novos ares.
Isso não significa que desde o século XIX não houvesse historiadores marxistas,
mas que de maneira geral seus estudos passaram a ter mais ressonância e a
ser em maior número depois da segunda década do século XX, não por acaso,
período do pós-guerra e da intensa disputa global entre regimes capitalistas e
socialistas.
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Teoria do Estudo da História
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Capítulo 1
Seção 4
Materialismo histórico e a construção da
historiografia marxista
A construção da historiografia marxista foi feita por diversos historiadores,
conforme veremos na sequência.
Para esse autor, vozes que eram caladas, precisavam vir à tona diante da necessidade
de se demonstrar as percepções dos trabalhadores sobre suas vidas, conflitos sociais,
desigualdades existentes e de que maneira seria possível transformá-los.
David Harvey
David Harvey é um dos historiadores mais conhecidos no campo marxista,
que também se destaca por trabalhar com a história de conceitos, como o de
ideologia ao longo dos séculos. Harvey estudou ainda a história dos espaços
urbanos e os problemas causados pela industrialização.
Eric Hobsbawn
Hobsbawn aliou os preceitos marxistas a uma história de abordagem mais
sociocultural, estudando as organizações populares e suas percepções e
reivindicações durante todo século XIX. Esses estudos desenvolveram-se, em
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Teoria do Estudo da História
especial, na trilogia “Era das Revoluções (1789-1948)”, “Era dos Impérios (1875-
1914)” e “Era dos Extremos (o breve século XX)”.
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Capítulo 1
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Teoria do Estudo da História
Tiradentes foi tido como um ícone nacional, que lutou em nome do progresso
e pela independência de um país ainda colonizado. E, ainda que visto nos
documentos oficiais da monarquia como um rebelde e traidor, no período
republicano, com o revisionismo histórico e com o regime republicano criando –
ainda que artificialmente seus heróis – houve a oportunidade de contar a história
que os vencedores queriam que fosse contada, a do Tiradentes como mártir do
povo em nome de um Brasil livre.
Muito poderia ser dito sobre aquele período, outras formas de divisão poderiam
ser feitas, mas não foi ao acaso que essas escolhas foram feitas. Apenas
nas últimas décadas é que outros aspectos do período colonial vêm sendo
estudados, como a produção artística, a vida cotidiana e privada das pessoas
comuns, por exemplo.
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Capítulo 1
absoluto sobre qual é melhor ou pior, isso vai depender de que matiz o historiador
resolve adotar, de seus valores e do contexto inserido.
Mas isso não significa dizer que não há pontos de contato ou que qualquer uma
delas deva ser deixada de lado ou tornada inválida de acordo com as convicções
de quem escreve a História. Seja o “escrever” no sentido dos personagens que
protagonizam os fatos, quanto daqueles que produzem a História como ciência.
Por fim, é preciso dizer que muito poderia ser dito e analisado, ainda assim o
que trouxemos aqui foi um quadro geral dos acontecimentos e possibilidades de
estudo dentro das historiografias abordadas. Muitas lacunas ficaram e sempre
ficarão, pois a História e a historiografias não são estanques, estão sempre em
construção e desconstrução.
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Capítulo 2
Introdução
O conceito de ideologia e sua transformação diante do uso de diversas correntes
historiográficas até chegar ao uso atual desviou-se daquele proposto inicial.
Em virtude disso, torna-se necessária uma reflexão sobre como utilizá-lo na
atualidade, a fim de transformar o modo de pensar a História.
1 MIANES, Felipe Leão. Historiografia tradicional: discutindo conceitos e delimitando campos. Teoria do Estudo
da História. [Material didático]. Design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. Revisão Diane Dal Mago.
Diagramação Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro. Palhoça: UnisulVirtual, 2019.
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Capítulo 2
Seção 1
Ideologia e os equívocos das narrativas vigentes
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Teoria do Estudo da História
Em primeiro lugar, porque ninguém “ensina” quem quer que seja a ter uma
orientação sexual, seja ela qual for, dado que conforme diversos estudos
comprovaram que a orientação sexual não é uma questão de escolha do
indivíduo.
Vale ressaltar que muitas outras questões tidas como ideológicas, na verdade
dizem respeito a valores morais ou a conceitos. No entanto, são tratadas sob o
viés ideológico dado o cunho negativo que o valor ou conceito possui no contexto
do discurso mais circulante socialmente.
Embora esse estereótipo de ideologia como sendo algo ruim esteja associado
ao discurso atual da extrema direita brasileira, seu emprego para designar algo
depreciativo a um pensamento, tipificando como ideológico, remonta ao final do
século XVIII.
Seção 2
Ideologia: manipulação ou identidade de pensamento
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Capítulo 2
O filósofo Antonie Desttut de Tracy, ou Conde de Tracy, ao criar o conceito que chamou
de “ideologia” tinha como objetivo fazer o estudo das ideias, ou seja, tudo aquilo que
tratasse as ideias como um modo de relação entre os homens, os fenômenos naturais
e sociais.
Cabe destacar que a postura adotada por Napoleão possui alguma semelhança
com a conjuntura social e política da sociedade brasileira contemporânea, em
especial pelo uso de narrativas sem compromisso com a verdade dos fatos.
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Teoria do Estudo da História
De acordo com Marx, a ideologia burguesa faz com que o funcionário de uma fábrica
se sinta plenamente responsável pelo sucesso ou fracasso da empresa, fazendo com
que ele “acorde cedo, utilize ônibus lotado, faça hora extra” e muitos outros sacrifícios
baseados numa “consciência de responsabilidade e zelo pelo trabalho”.
Isso significa que numa realidade forjada pela ideologia e com funcionamento
adequado, um proletário aja do modo como o patrão desejar, e melhor, que o
faça imaginando que essa ideia provém estritamente de sua vontade pessoal
e subjetiva. Essa “vontade própria” faz com que as classes dominantes sigam
controlando os meios de produção com custos financeiros e morais cada vez
mais otimizados.
Talvez por isso, quem possui uma leitura aprofundada em ideologia marxista, ou
desconhece completamente o uso que Marx fazia do termo, ou tenta fazer uma
adaptação incompatível dele com as ideias marxistas, isso seria quase como
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Capítulo 2
tentar matar uma cobra com soro antiofídico. Marx afirmava que uma sociedade
atingiria sua plenitude quando estivesse livre da ideologia, ao menos, daquela
praticada pelas classes dominantes.
Por outro lado, poderíamos pensar que a ideologia esteve sempre em debate
e que sua construção e usos foram transformando-se ao longo das décadas,
conforme a difusão do conceito foi sendo executada. Se for assim, inclusive
os marxistas podem lançar mão de ideologias, já que conforme veremos mais
adiante, ela passou a ter outras conotações e sentidos.
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Teoria do Estudo da História
No Brasil, um exemplo claro disso é quando uma ideologia nos faz crer que a
concepção de propriedade privada é igual em todos os lugares do mundo. E
que essa concepção deve tratada como um valor absoluto e universal, devendo
sempre ser pensado e aplicado da mesma maneira, sem considerar quaisquer
outras possibilidades.
Outro exemplo brasileiro a ser destacado sobre como a ideologia pode ser uma
estratégia de naturalização, é a ideia de que no Brasil, os problemas estruturais
e de desigualdade social têm como causa as classes menos favorecidas. Nesse
caso, essas classes são constituídas em sua maioria por negros, mestiços e
outras raças tidas como inferiores.
2 Lutas por poder no sentido foucaultiano, que entende por poder não só as relações verticais de dominantes e
dominados, mas de microrrelações de poderes horizontalizadas e em todos os atos e relações sociais.
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Capítulo 2
Por meio dessa ideologização, acreditava-se que o papel dos negros era de
fato seguir vivendo nas senzalas, estruturas que marcaram o período imperial,
as quais, transpondo ao período contemporâneo, equivalem aos conjuntos
habitacionais que chamamos de favelas.
Essa é uma prática muito comum em tempos das redes sociais virtuais, em que,
independente da ideologia, há certo tensionamento do debate e até um processo
de luta discursiva em torno do que é a “verdade”.
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Teoria do Estudo da História
Diante desse contexto, e com base na ideia de que a história poderia ser muito
mais do que uma narrativa de fatos centrada na ciência história, nos fatos e
fontes oficiais, surge a chamada Nova História, ou, como ficou mais conhecida, a
Escola dos Annales.
Seção 2
Escola dos Annales: a história cultural e de
longa duração
A ideologia foi uma importante força motriz para a corrente historiográfica que
revolucionou o século XX, a Escola dos Annales. Os historiadores dessa Escola
tratavam de temas e objetos diferentes, mas de alguma maneira tinham como
objetivo estudar o conjunto de ideias de um ou mais grupos sociais, sejam seus
aspectos em comum ou aqueles pelos quais se diferenciam.
Nesse sentido, Burke (1992, p. 88) define ideologia dentro desse campo de
pensamento:
43
Capítulo 2
Quando Burke faz referência a “mentalidades” nos sinaliza que os Annales têm
caminhos diferentes a trilhar do que a historiografia positivista ou marxista. E,
vejam, estamos falando em diferentes, sem atribuir juízo de valor, não é nem
melhor e nem pior do que esses outros.
Isso significa dizer que de uma abordagem histórica, política, econômica e oficial,
passou-se para uma abordagem dos modos de vida, das percepções sociais
individuais e coletivas, daquilo que pensavam determinados grupos em um
espaço e tempo delimitado, assim:
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Teoria do Estudo da História
Todo fenômeno, seja ele físico, químico, social, econômico, cultural etc., tem seu
ponto inicial, todavia, nem sempre é somente um fato que gera o surgimento de
um movimento tão importante como a Escola dos Annales. Dessa forma, explicar
esse fenômeno baseado apenas em personagens, seria um reducionismo, ir
contra, inclusive, as linhas mestras que movimentam essa corrente historiográfica.
Todavia, mesmo com a mudança de enfoque, e agora convidado para ser o editor,
Pirenne recusa novamente o convite e os dois historiadores resolvem assumir a
editoria da revista chamada: “Annales d’histoire économique et sociale” (Anais de
História econômica e social).
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Capítulo 2
46
Teoria do Estudo da História
Antes de falarmos sobre a segunda geração dos Annales, precisamos fazer uma
importante reflexão.
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Capítulo 2
Uma característica central da nouvelle histoire francesa foi seu foco em “novos
objetos”, para citar o título de um volume que explica e exemplifica o movimento
(cf. Le Goff & Nora, 1974, 1). A história da cultura material (civilisation matérielle),
por exemplo, foi investigada por Fernand Braudel na década de 60 (cf. Braudel,
1967; Burke, 1981). Os seguidores de Braudel continuaram seus estudos sobre
alimentação, habitação, vestuário e assim por diante (cf. Hemandiquer, 1970; Bardet
et alii, 1971; Ladurie, 1975; Roche,1989).
De qualquer modo, seu estudo sobre a infância, assim como aquele posterior
sobre a morte, reflete o interesse na história das “mentalidades coletivas” associada
à escola ou ao grupo dos Annales. Seu livro é admirável pelo uso da evidência
iconográfica e pela preocupação com a cultura material (notadamente roupas e
brinquedos), enquanto expressões de mudanças nas atitudes dos adultos para com
as crianças (cf. Ariès, 1960).
Entretanto, como se sabe, todos esses tópicos foram discutidos em uma geração
antes por Gilberto Freyre, especialmente em seus estudos sobre o Brasil colonial. A
principal razão para seu interesse na arquitetura vernacular foi explicada por Freyre
em alguns artigos de jornal da década de 20. “Há casas cujas fachadas indicam
todo um gênero de vida nos seus mais íntimos pormenores. Todo um tipo de
civilização. O ‘bungalow’ americano é assim” (Freyre, 1979, p. 315) “Os homens e
os livros muitas vezes mentem. A arquitetura quase sempre diz a verdade através de
seus sinais de dedos de pedra” (Freyre, 1935, p. 82).
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Teoria do Estudo da História
Falta apenas que alguém atualize sua história social com estudos da história social
da favela, do condomínio e talvez do shopping. Os conteúdos da casa tampouco
foram negligenciados. Na década de 60, Braudel escreveu passagens famosas
sobre a história social de cadeiras e mesas. Na década de 30, Freyre refletiu sobre a
história cultural da rede e da cadeira de balanço, símbolos da voluptuosa ociosidade
que os brasileiros em geral – ele sugeriu – herdaram dos colonos de Pernambuco
(cf. Freyre, 1933;1937, p. 219).
Tópicos como esses, que haviam sido considerados superficiais ou triviais, foram
vistos por ambos historiadores como chaves para as estruturas subjacentes às
diferentes culturas. A história da alimentação é outro tema recorrente – para não
dizer obsessão – nos ensaios de Freyre, que frequentemente tecem elogios às
tradições culinárias de Pernambuco, especialmente seus doces. Ele dedicou até
mesmo uma pequena monografia ao assunto, combinando uma lista de receitas
com reflexões sobre “etnografia, história e sociologia” de seus doces favoritos (cf.
Freyre, 1925; 1939).
Ele também tinha algo a dizer acerca das crianças. Em 1921, o jovem confidenciou
a seu diário sua ambição. “O que eu desejaria era escrever uma história como
suponho ninguém ter escrito com relação a país algum: a história do menino
brasileiro – da sua vida, dos seus brinquedos, dos seus vícios –, desde os tempos
coloniais até hoje”. Entre1921 e 1930, a versão publicada do diário de Freyre refere-
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Capítulo 2
se ao projeto da história da criança no Brasil não menos do que sete vezes. Quatro
dos artigos que escreveu para o Diário de Pernambuco nos anos 20 tratavam da
infância, das crianças e seus livros e brinquedos. A história da criança atraiu seu
interesse por si mesma, como uma desculpa para discutir sua própria infância, e
como um microcosmo da cultura brasileira. [...]
Ele tinha familiaridade com a tradição sociológica de Comte, Marx e Spencer, via
Durkheim, até Max Weber, Georg Simmel e Vilfredo Pareto (cf. Freyre, 1975, p.
5, 12, 44, 79, 147, 225). Uma das mais conhecidas características da biografia
intelectual de Freyre é sua descoberta do trabalho do antropólogo alemão-
americano Franz Boas sobre raça e cultura, sem esquecer a cultura da cozinha
(cf. Freyre, 1933, prefácio à primeira edição; 1939 ou 1969, p. 99-100; 1975, p.
88 e 147; Lima, 1989, p. 195 ss). Ele também citou outros antropólogos, entre
eles Edward Tylor, Bronislaw Malinowski, A. R. Radcliffe-Brown (acerca de quem
escreveu um ensaio) e Melville J. Herskovits (que foi seu colega de estudos em
Columbia e compartilhou seu interesse nas culturas afro-americanas) (cf. Freyre,
1942). (BURKE, 1997, p.4).
50
Teoria do Estudo da História
Braudel inova ao conceber uma história de “longa duração”, pela qual propunha
uma análise dos acontecimentos a partir da ideia de que só é possível entender
o passado em um tempo mais amplo, e que determinada estrutura social era
mantida e rompida ao longo da História. Por exemplo, para estudarmos os
processos da Revolução Industrial, não deveríamos nos deter somente nos
acontecimentos que levaram ao abandono dos campos e a construção das
fábricas nas grandes cidades.
Quando falamos que a Idade Média foi a “idade das trevas”, embora isso não seja
exatamente uma verdade, trata-se de uma mentalidade formulada por aqueles
que contaram a história desse período. Por sua vez, essa concepção corresponde
a uma análise de alguns séculos e de que movimentos sociais foram acontecendo
para a permanência e transformação da Europa.
Diante desse contexto, não é possível afirmar que um fato histórico está isolado e
independente de uma conjuntura e de uma estrutura que o envolvem, do qual são
causa e ao mesmo tempo consequência. Portanto, não é adequado, ao menos
para a corrente historiográfica da Escola dos Annales, estudar a História a partir
apenas dos fatos, narrar os acontecimentos do passado de maneira cronológica e
linear.
É necessário também entender que os fatos não ocorrem por si mesmos, mas
pertencem a um conjunto de mentalidades que tornam possíveis suas existências
e execuções. Por exemplo, se não houvesse uma mentalidade em torno de
um novo regime, jamais teria acontecido a queda da Bastilha, muito menos a
Revolução Francesa.
51
Capítulo 2
52
Teoria do Estudo da História
53
Capítulo 2
Outro ponto crucial para essa geração, que ao contrário das demais não teve uma
liderança destacada, foi uma espécie de retorno à história narrativa. Não que os
historiadores dos Annales tivessem descartado tudo que fora produzido antes,
apenas entenderam que não era preciso negar completamente os modos de fazer
história do século XIX.
Em meados dos anos 1970, Jacques Le Goff, um dos expoentes da Nova História
passou a usar o termo “História das mentalidades” para conceituar sua forma
de investigar a História. Como excelente medievalista que foi, o referido autor
estudou de que maneira alguns costumes medievais foram se transformando ao
longo dos tempos, conforme a sociedade feudal ia ruindo.
54
Teoria do Estudo da História
sempre repetir e reforçar certas ideias para trabalhadores camponeses que viviam
isolados dos grandes centros.
Isso fica evidente quando batemos três vezes na madeira para “isolar’ algo que não
queremos ou o fato de muitas pessoas não falarem palavras como “azar”, “morte”
ou “demônio”, pois o simples ato de pronunciar a palavra faria com que “a coisa” se
manifestasse.
Esse comportamento social era comum na Idade Média, um pouco pela cultura
do misticismo à época, outra pela dificuldade em identificar os fenômenos
científicos ainda desconhecidos naquele período, e essas formas de agir tinham
muito a ver com o modo de vida e a cultura medieval.
Por outro lado, houve uma acentuada ampliação sobre os objetos de estudo
da História. Desde então, passou-se a fazer História de outras áreas do
conhecimento, como da literatura, da música, da publicidade, das comunicações,
das artes e outras abordagens relacionadas a artefatos culturais, outrora
historicamente irrelevantes.
55
Capítulo 2
Em muitos casos, o poder desse inquisidor poderia ser impactado pela influência
da nobreza, ou os interesses financeiros poderiam fazer com que os comerciantes
fossem menos importunados do que outras classes. Ou ainda, a astúcia de algum
integrante da plebe poderia fazer com que suas decisões não fossem tomadas de
maneira absoluta. Afinal, por mais constituído que seja um poder, ele está sempre
vulnerável à influência de outros tantos, que se não os fazem mudar os rumos, ao
menos os obrigam a mudar os caminhos.
Seção 3
História problema e a consolidação da
historiografia moderna
Uma questão interessante, que perpassou as três gerações dos Annales, foi
a modificação da história como uma narrativa de fatos do passado para uma
“História Problema”. Nesse caso, o problema está associado mais a uma questão
do que com uma dificuldade a ser encontrada e transposta. Deixou-se de crer
que fazer história resumia-se em consultar os documentos da época e contar os
fatos exatamente como eles aconteceram.
56
Teoria do Estudo da História
Mais do que fazer perguntas, caberia ao historiador elaborar algumas hipóteses que
pudessem responder às questões propostas por ele. Tais hipóteses poderiam ou
não serem confirmadas, mas ajudariam na estruturação da pesquisa, nos caminhos
escolhidos pelos historiadores, bem como nos métodos e documentos que seriam
usados para responder a cada pergunta.
A herança da Escola dos Annales ainda se faz sentir até os dias atuais, com
muitos historiadores trilhando os mesmos caminhos metodológicos construídos
e pavimentados por essa corrente historiográfica. Sobre sua herança para o fazer
histórico, Burke (1992, p.126) comenta:
57
Capítulo 2
Mais do que isso, a ampliação dos espaços em que a Nova História foi produzida
teve grande importância para esse desenvolvimento. Mesmo porque, a História
produzida na França não é a mesma produzida no Brasil, dado que os contextos
sociais e culturais são distintos, bem como as temáticas investigadas e as
conclusões obtidas serão diferenciadas.
Com isso, passou a abranger todas as suas camadas sociais, não mais como
exaltação de uma identidade nacional, mas como a demonstração da diferença
entre certos grupos, da segurança e ao mesmo tempo da volatilidade de
identidades que foram se formando.
58
Teoria do Estudo da História
Esse panorama geral traz uma breve síntese da corrente historiográfica que mais
influenciou os historiadores do século XX. Isso não significa que outras correntes
historiográficas tenham sido deixadas de lado, mas que a Nova História tem
adquirido cada vez mais adesões entre os historiadores ao redor do mundo
ocidental.
Essa adesão ocorre mesmo em tempos nos quais a História vem sendo
frequentemente contestada diante de apelos da Pós-verdade, das notícias falsas
e das armadilhas apresentadas pelos usuários de redes sociais.
59
Capítulo 3
Seção 1
Historiografia contemporânea
A origem do pensamento historiográfico remonta ao século XIX e XX, o qual
influenciou de maneira marcante a produção de História até os dias de hoje.
Esse movimento transita do historicismo, passando pelo positivismo e marxismo,
chegando até a Escola dos Annales.
1 MIANES, Felipe Leão. Historiografia tradicional: discutindo conceitos e delimitando campos. Teoria do Estudo
da História. [Material didático]. Design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. Revisão Diane Dal Mago.
Diagramação Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro. Palhoça: UnisulVirtual, 2019.
61
Capítulo 3
Para exemplificar essa teoria, seria, em sentido análogo, como entender o porquê
de a sociedade brasileira ainda manter algumas características da sociedade
escravocrata, que perdurou por mais de três séculos, mesmo tendo abolido essa
prática há mais de um século. De que maneira algumas formas de pensar e agir
socialmente ainda são semelhantes aos daquele período.
Por fim, faremos uma análise sobre o ofício do historiador e seus desafios diante
das novas tecnologias, modos de pensar e fazer da sociedade brasileira. Essa
abordagem nos ajudará a refletir sobre como realizar estudos em História, bem
como ministrar aulas diante das novas demandas da escola e do perfil dos
estudantes brasileiros.
62
Teoria do Estudo da História
Seção 2
Estruturalismo como forma de pensamento
O Estruturalismo como forma de pensamento surge na segunda década do
século XX e tem expressiva repercussão no contexto científico por mais de
cinquenta anos. Surgiu na área da linguística, com os estudos realizados por
Saussure, o qual afirmava que a língua era um sistema de valores que se
opunham uns aos outros, e que faziam parte de conjuntos de significados
homogêneos e padronizados, que eram atribuídos por uma sociedade.
Essa concepção de pensamento de estrutura logo passou a ser adotada por outras
ciências, como a matemática e a filosofia, bem como a antropologia. Nesta última
área, o principal nome foi Claude Levy Strauss que – de uma maneira um tanto
sinuosa – fez com que a questão estruturalista fosse analisada por Fernand Braudel.
Para a corrente estruturalista, todos os processos sociais devem ser analisados a partir
de processos mais amplos do que os acontecimentos e eventos que se sucedem na
sociedade.
63
Capítulo 3
Para Strauss, muitas maneiras de agir poderiam ser universais. Seja numa
civilização europeia ou em uma tribo indígena situada no interior da Amazônia, as
estruturas sociais tinham pontos semelhantes, mesmo que o espaço, o tempo e
as circunstâncias fossem diferentes. Isso significa que algumas práticas do ser
humano, quando agrupado em uma sociedade, repetiam-se independentemente
do contexto em que fossem pesquisadas.
Outro fato que ilustraria essa dificuldade da abordagem estruturalista diz respeito
à necessidade da pesquisa histórica sobre o conceito de família. No pensamento
estruturalista, a família seria um conceito básico para a existência dos seres
humanos, que agrupados sob o critério de parentesco, desenvolveram núcleos
64
Teoria do Estudo da História
Por outro lado, o estruturalismo também tinha como diretriz principal a ideia
de que havia comportamentos humanos que poderiam ser apontados como
universais a todos os indivíduos da espécie humana. Todavia, apesar de
historicamente muitos povos terem comportamentos e ações similares entre si,
mesmo que sequer tenham tido algum tipo de contato cultural mais prolongado,
não é possível afirmar que alguma ação humana seja plenamente universal.
Isso não significa que sua importância para ciência da história seja desprezível,
muito pelo contrário. Afinal, suas ideias de estruturas de longa duração e de uma
visão mais holística das sociedades foram fundamentais para diversos estudos da
Escola dos Annales, e ainda hoje reverberam nas pesquisas históricas.
65
Capítulo 3
Seção 3
Pós-estruturalismo
Ao contrário do que pode parecer, o pós-estruturalismo não é uma corrente de
pensamento que surgiu a partir do estruturalismo ou sequer tem o objetivo de
sucedê-lo. Essa corrente de pensamento também não postula ser uma tentativa
de negar uma influência direta ou indireta estruturalista.
Além disso, o discurso não é encontrado apenas na escrita – oficial ou não. Ele
também diz respeito a um conjunto de valores sociais apresentados das mais
diversas formas, seja nos artefatos culturais, nas posturas sociais, nas decisões
políticas, nas posturas individuais e coletivas. No campo da historiografia isso
significa dizer que os objetos de estudo foram imensamente ampliados.
66
Teoria do Estudo da História
67
Capítulo 3
Com base nessa premissa, Foucault analisou de que forma, ao longo dos
tempos, a noção de sujeito foi sendo modificada, e para tanto, quais elementos,
instrumentos e enunciados foram utilizados para fazer com que o sujeito estivesse
sempre sob controle. Se antes o objeto de estudo eram as estruturas, com
Foucault o centro do debate se desloca para o sujeito e suas relações de poder
como um meio de mudança e manutenção social.
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Teoria do Estudo da História
Por isso, o referido filósofo dedicou grande parte de sua obra a exercitar uma
genealogia do sujeito, a partir de uma metodologia arquegenealógica de produzir
história. Esse método consiste em analisar tanto o tempo passado e suas
implicações para o tempo presente, quanto a superfície atual de nossa sociedade,
como uma herança do passado.
Esse controle se verifica por meio das leis, dos dogmas religiosos, dos discursos
da medicina ou mesmo dos costumes de um povo. Desse modo, é crucial
investigar o todo da sociedade e cada parte dela com o mesmo detalhamento.
Esses elementos são encontrados com bastante facilidade nas obras de Foucault, tais
como: “O nascimento da clínica”, “Vigiar e punir”, “História da loucura” e outras que
trazem detalhadamente a análise dessas formas de poder por meio do qual os sujeitos
eram submetidos a outrem, sejam reis, imperadores e, posteriormente, os donos das
fábricas.
69
Capítulo 3
Nessa conjuntura, a relação de poder não se dava mais por meios coercitivos
como as leis, as punições etc. Emerge, nesse período, a concepção de que cada
sujeito deveria conduzir a si mesmo, a partir de um senso de responsabilidade
individual, de sucesso ou fracasso como um fenômeno totalmente ligado à
vontade do indivíduo.
A partir de então, o que passou a vigorar foi o imperativo de que “se você quer,
você pode”, dos ideais da “meritocracia” mesmo que cada indivíduo esteja
associado a uma origem e pertença cultural, econômica e social distinta. Desse
modo, desconsiderados esses fatores basilares, todos estariam livres e em
“condições paritárias” para o sucesso, sendo responsabilidade exclusiva de quem
não obtém a do próprio fracasso.
Nesse ato de conduzir-se a si mesmo, a lógica é de que o sujeito faça aquilo que
se quer que ele faça, remetendo à ideia de que essa é uma vontade autônoma
e individual de cada um. Isso significa que o sujeito age conforme sua própria
subjetividade e seus desejos, porém, essas são devidamente controladas para
que ele queira aquilo que se quer que ele queira.
Esse entendimento decorre do fato de que a ciência está imersa em uma série
de discursos, os quais ajudam a moldar, por exemplo, a produção historiográfica
conforme o período de tempo em que ela fora realizada.
70
Teoria do Estudo da História
Todavia, se Foucault afirma que todos nós estamos imersos nas relações de
poder, se seu objeto de estudos é o sujeito, podemos afirmar que o método
historiográfico foucaultiano está mais associado as suas próprias análises do que
podemos imaginar.
Seção 4
História Cultural
A Escola dos Annales propunha que a História deveria se ocupar de outros
elementos que não apenas a história pelo viés político, econômico e dos
grandes personagens. Isso quer dizer que além de sua relação com o tempo ter
se tornado de longa duração, os olhares precisariam ser redirecionados para
temáticas outrora esquecidas, como os processos históricos relacionados à
cultura, bem como a utilização de artefatos culturais para a escrita da história.
71
Capítulo 3
Essa mesma lógica foi utilizada para separar o que era considerada alta e baixa
cultura no contexto de uma mesma nação. Nesse caso, haveria a cultura dos
nobres, da burguesia e dos mais ricos, aquela que deveria preponderar e dominar
as culturas populares tomadas, até aquele momento, como menores ou numa
posição hierárquica inferior.
No entanto, essa concepção foi sendo dissolvida com o surgimento das novas
formas de pensar sobre a cultura. Essas teorias buscavam demonstrar em suas
pesquisas que a cultura era múltipla e, portanto, seria preciso falar em culturas –
no plural.
72
Teoria do Estudo da História
73
Capítulo 3
deixaram essas práticas de lado para fazerem suas festas reunidos nos
requintados clubes sociais.
A partir dessa análise foi possível, por exemplo, entender as condições que
tornaram possível o carnaval a se consagrar, em especial no Brasil, na dimensão
cultural que temos hoje, uma festa popular de dimensões continentais. Contudo,
no decorrer desse processo, houve diversos atravessamentos, resistências, lutas
de poder e outros processos que ficariam silenciados caso a cultura ainda não
estivesse na centralidade dos debates.
Lynn Hunt (1990), em sua obra “Nova História Cultural”, apresenta uma
importante análise sobre História Cultural. Essa obra apresenta um copilado de
diferentes textos, em que na primeira parte são discutidas, nos artigos, questões
teóricas sobre a História Cultural e suas implicações para a historiografia atual.
74
Teoria do Estudo da História
Burke (1992), ao falar sobre os estudos de Roger Chartier, traz uma outra
abordagem interessante:
75
Capítulo 3
Seção 5
Pós-modernidade e a história em tempos
líquidos
O termo “pós-modernidade” figura cada vez mais nas obras científicas e
nos debates conceituais sobre as formas atuais de fazer ciência e produzir
conhecimento. É assim denominada com o objetivo de demonstrar a superação e
a transformação do mundo moderno para outra configuração.
Hoje qualquer pessoa pode “criar” uma notícia, distribuir para aqueles que estão
de acordo com suas convicções e/ou que pertencem ao mesmo grupo social ou
de interesses. A História tem sido constantemente “revisada” conforme interesse
daqueles que decidem por reinterpretar os fatos para moldá-los conforme suas
necessidades, interesses ou desejos.
Isso quer dizer que os fatos importam menos do que as verdades que são criadas
para legitimar opiniões, muitas delas bastante discutíveis do ponto de vista das
76
Teoria do Estudo da História
Por outro lado, as grandes narrativas têm sido cada vez mais esquecidas em
nome de outras formas de se pensar a História, utilizadas não mais como forma
de contar os fatos do passado exatamente como eles ocorrem. A forma de contar
o passado assume o ponto de vista possível, não o único e nem o melhor, mas
aquele que oportuniza a voz a quem antes não a tinha, como, por exemplo, os
estudos das culturas populares.
Em sua obra “A modernidade líquida”, Zygmunt Bauman faz uma síntese do que é
viver na pós-modernidade. Bauman afirma que ao contrário do que acontecia no
passado, o sujeito agora está livre para fazer suas próprias escolhas, ser quem ele
sempre quis, livre de fronteiras, de posições sociais definidas e outros elementos
que o prendiam a lugares e tempos específicos. Não se apoia mais nas narrativas
das grandes instituições que o tutelavam, que o controlavam e delimitavam o que
e como cada um poderia agir.
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Capítulo 3
Seção 6
A Micro-História
No decorrer de nossos estudos, verificamos que movimentos e correntes teórico-
metodológicas, na área da História, não necessariamente se sucederam de
maneira cronológica. Um exemplo disso é o que chamamos de Micro-História,
cujo surgimento e desenvolvimento ocorreu a partir da terceira geração dos
Annales, mesmo que não diretamente ligada a esse movimento.
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Teoria do Estudo da História
O objetivo do autor era analisar, a partir dessa história, como eram as relações
sociais e econômicas na Itália do século XVII. Levy buscava entender de que
maneira estavam estruturadas as relações familiares, bem como as transferências
das propriedades privadas e as transações econômicas nesse período da
sociedade italiana. Assim, por meio da história exótica de um personagem
em uma pequena localidade italiana, busca-se analisar diversos aspectos das
relações sociais da época.
79
Capítulo 3
Nesse caso, verificamos situações pouco comuns para aquele período histórico,
configurando-se em uma exceção. A primeira situação diz respeito ao fato de um
moleiro ser letrado, algo que era bastante raro para época. A segunda, refere-se ao
fato desse mesmo moleiro possuir uma vasta quantidade de livros em sua posse.
O fato de ser uma exceção tão instigante inspirou Ginzburg a analisar o processo
inquisitorial de Domenico. Por meio dessa história, o autor analisa os sistemas de
crença da Itália do século XVI, bem como o acesso ao conhecimento e à literatura
pelas classes populares. Mostra por meio de uma exceção, que os processos
de afastamento do letramento das classes populares não eram exatamente
homogêneos, que tinham rupturas e resistências.
“No que tange à busca dos historiadores por novas formas de contar a história
das classes subalternas ou populares”, Ginzburg escreveu:
80
Teoria do Estudo da História
[...] Muitas vezes vimos aflorar, através das profundíssimas diferenças de linguagem,
analogias surpreendentes entre as tendências que norteiam a cultura camponesa
que tentamos reconstruir e as de setores mais avançados da cultura quinhentista.
Explicar essas, como mera difusão de cima para baixo significa aderir a tese -
insustentável - segundo a qual as ideias nascem exclusivamente no âmbito das
classes dominantes.
Por outro lado, a recusa dessa tese simplista implica uma hipótese muito mais
complexa sobre as relações que permeavam, nesse período, as duas culturas: a
das classes dominantes e a das classes subalternas, é mais complexa e, em parte,
impossível de demonstrar.
Uma cultura quase exclusivamente oral como a das classes subalternas da Europa
pré-industrial tende a não deixar pistas, ou então deixar pistas distorcidas. Portanto,
há um valor sintomático num caso-limite como o de Menocchio. Ele repropõe,
com um problema cuja importância só agora se dá a perceber: as raízes populares
de grande parte da alta cultura europeia, medieval e pós-medieval. - Figuras
como Rabelais e Bruegel não foram, provavelmente, notáveis. Todavia, fecharam
uma época caracterizada pela rede de fecundas trocas subterrâneas, em ambas
as direções, entre a alta cultura e a cultura popular. O período subsequente, ao
contrário, foi assinalado tanto por uma distinção cada vez mais rígida entre cultura
das classes dominantes e cultura artesanal e camponesa como pela doutrinação
das massas populares, vinda de cima.
81
Capítulo 3
82
Teoria do Estudo da História
castigo sirva de exemplo para outros por essas partes. Não deixe de executar tudo
à risca e com o rigor de espírito que a importância do caso exige. E esse e o desejo
expresso por Sua Santidade". O chefe supremo dos católicos, o papa em pessoa,
Clemente VIII, se inclinava para Menocchio, que se tornara um membro infectado do
corpo de Cristo, exigindo sua morte”.
Resistir a pressões dos fortes era impossível e depois de pouco tempo Menocchio
foi executado. Temos certeza disso pelo depoimento de um tal Donato Serotino,
que em 16 de julho de 1601 disse ao comissário do inquisidor do Friuli ter estado
em Pormenone pouco depois de haver "sido justiçado pelo Santo Oficio o
Scandella", e ter se encontrado com uma taverneira que lhe contara que "numa
certa vila, um certo homem chamado Marcato, ou Marco, dizia que, morto o corpo,
a alma também morria". Sabemos muita coisa sobre Menocchio de Marcato ou
Marco - e de tantos outros como eles, que viveram e morreram sem deixar rastro.
(GINZBURG, 2001, p.97).
Podemos verificar, por meio dessa narrativa, uma contestação à ideia de que os
membros das classes populares apenas seguiam as linhas de pensamento da
Igreja Católica, que eram incapazes de pensar por si ou de agir de modo diferente
dos padrões estabelecidos.
83
Capítulo 3
Certamente outras doutrinas circulavam nesse período, mas todas elas ligadas
às crenças de um determinado povo, com uma história bastante consistente que
tivesse base de sustentação, como o judaísmo e o islamismo, por exemplo. Mas,
no caso de Menocchio, suas crenças e percepções não estavam alinhadas nem a
esses pensamentos nem a nenhum outro naquele contexto.
Apesar dessa expansão e detalhamento quanto aos fatos e narrativas históricas não foi
e dificilmente será possível detalhar toda a historiografia moderna, suas semelhanças
e peculiaridades, rupturas e manutenções. No entanto, construiu-se um panorama
geral que possibilita compreender as trajetórias das correntes de pensamento que
influenciaram e influenciam a produção historiográfica.
84
Considerações Finais
Caro(a) estudante
85
essa corrente de pensamento, ainda em seu princípio, utilizava de conceitos e
temporalidades marxistas, enfocando mais processos econômicos do que as
mentalidades – termo construído por Le Goff – e os processos culturais de todas as
camadas sociais como igualmente importantes para os acontecimentos históricos.
As fontes passaram a ser ampliadas, os fatos passaram a ser analisados de
maneira menos rígida e como parte de contextos e conjunturas mais amplas do
que acontecimentos isolados capazes de decidir os rumos de uma sociedade.
Assim, com novas fontes como a literatura, a oralidade, os escritos das classes
populares, as fotografias e outros artefatos passaram a ser tratados como
documentos históricos.
Diante disso, sabemos que a prática de produção historiográfica passa por
um momento delicado, ou seja, o que importa é o futuro, e o presente quase
inexiste. O passado fica quase que como descartável em tempos líquidos. Assim,
precisamos fazer história de modos diferentes, capturar estudantes, leitores e
adeptos da Ciência História de outras formas, usando outras linguagens, valendo-
nos das novas tecnologias e estando sempre atentos aos modos de como falar
do passado em um país que não o valoriza.
Uma das alternativas fundamentais é obter a base conceitual e teórica sólida,
como procuramos estabelecer nessa Unidade de Aprendizagem, e que será
primordial para a formação de estudiosos e pensadores da História. Pois,
conhecendo a base teórica e os caminhos para a construção da História, teremos
mais segurança para trilhar essa estrada, para analisar os objetos, fatos, sujeitos,
contextos e situações de nossas pesquisas.
Portanto, a profissão de historiador tem nos oferecido inúmeros desafios, que
serão ultrapassados com os conhecimentos adquiridos, bem como a adequação
a essas novas linguagens e formas de pensar, usar novas ferramentas, elaborar
novas perspectivas, de modo a estarmos conectados com os estudos e o rigor
teórico, sem perder de vista o contato com a comunidade em que estamos
inseridos. Dessa forma, busca-se valorizar narrativas e histórias capazes de
promover um olhar atento da sociedade para a História, para que cada um de nós
se reconheça dentro desse processo.
Assim, cabe-nos contar a história dos grandes acontecimentos, dos heróis,
dos contextos, das culturas e de sua influência em diversos aspectos de nossa
cultura. Mas também nos cabe dar atenção às histórias de vida dos moleiros,
dos pobres, dos anônimos e de tantos outros que até meados do século XX
sequer poderiam ser vistos na produção historiográfica, e que agora temos a
oportunidade de trazê-los à tona.
Sucesso em seus estudos!
Professor Felipe Leão Mianes
Referências
___________. Gilberto Freyre e a nova história. Tempo Social; Rev. Sociol. USP,
S. Paulo, n. 9, V.2, outubro de 1997.
HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes; 1990.
VEYNE, Paul. Como se escreve a História. São Paulo: Edições 70: 2008.
87
88
Sobre o Professor Conteudista
89
Teoria do Estudo da História
Os conteúdos reunidos neste livro seguem uma
abordagem teórica, metodológica e prática sobre Universidade do Sul de Santa Catarina
o estudo das teorias da História. Especificamente,
por meio de três capítulos, você estudará teorias
clássicas e contemporâneas sobre a composição
do cenário e do pensamento historiográfico em
Teoria do Estudo
diferentes épocas, para que possamos
compreender o desenvolvimento dessa ciência e
da História
leitor uma compreensão acerca da dinâmica e das
diversas possibilidades de escrever a História ao
longo das décadas, e como podemos
usufruir de técnicas e teorias para
produzir a historiografia atual.
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