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Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial

METODOLOGIA
DO ENSINO DE
HISTÓRIA
4º Semestre

2015
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Prof. Genivaldo Gonçalves Pinto (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Transferência Técnológica | UFSM)
Desenvolvimento
das Normas de Redação Projeto de Ilustração
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk (Curso Prof. André Krusser Dalmazzo
de Comunicação Social | Jornalismo) Coordenação
Coordenação Vinícius de Sá Menezes
Profa. Maria Medianeira Padoin Técnico
Professora Pesquisadora Colaboradora Vanessa Pinheiro Reyes
Danúbia Matos Acadêmica Colaboradora
Iuri Lammel Marques
Acadêmicos Colaboradores Fotografia da Capa
Prof. Genivaldo Gonçalves Pinto
Revisão Pedagógica e de Estilo
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Projeto Gráfico, Diagramação
Profa. Cleidi Lovatto Pires e Produção Gráfica
Profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Eunice Maria Mussoi Prof. Volnei Antonio Matté
Comissão Coordenação

Revisão Textual Clarissa Felkl Prevedello


(Curso de Letras | Português) Técnica
Bruna Lora
Profa. Ceres Helena Ziegler Bevilaqua Borin da Silva
Coordenação Acadêmicos Colaboradores
Marta Azzolin
Acadêmica Colaboradora Impressão
Gráfica e Editora Pallotti

* o texto produzido é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

P659 Pinto, Genivaldo Gonçalves


Metodologia do ensino de história : 4º semestre / [elaboração do conteúdo
prof. Genivaldo Gonçalves Pinto ; revisão pedagógica e de estilo profa. Ana Cláudia
Pavão Siluk... [et al.]].- 1. ed. - Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Pró-
Reitoria de Graduação, Centro de Educação, Curso de Graduação a Distância
de Educação Especial, 2015.
64 p. : il. ; 30 cm.

1. História 2. Ensino I. Siluk, Ana Cláudia Pavão II. Universidade Federal de Santa
Maria. Pró-Reitoria de Graduação. Centro de Educação. Curso de Graduação a
Distância de Educação Especial. III. Título.

CDU: 94:37

Ficha catalográfica elaborada por


Maristela Eckhardt CRB-10/737
Biblioteca Central - UFSM
Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro da Educação

Prof. Ronaldo Mota


Secretário de Educação a Distância

Profa. Cláudia Pereira Dutra


Secretária de Educação Especial

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Paulo Jorge Sarkis Coordenação da Graduação


Reitor a Distância em Educação Especial

Prof. Clóvis Silva Lima Prof. José Luiz Padilha Damilano


Vice-Reitor Coordenador Geral

Prof. Roberto da Luz Júnior Profa. Vera Lúcia Marostega


Pró-Reitor de Planejamento Coordenadora Pedagógica e de Oferta

Prof. Hugo Tubal Schmitz Braibante Profa. Andréa Tonini


Pró-Reitor de Graduação Coordenadora dos Pólos e Tutoria

Profa. Maria Medianeira Padoin Profa. Vera Lúcia Marostega


Coordenadora de Planejamento Acadêmico Coordenadora da Produção do Material do Curso
e de Educação a Distância

Prof. Alberi Vargas Coordenação Acadêmica do Projeto de


Pró-Reitor de Administração Produção do Material Didático - Edital MEC/
SEED 001/2004
Sr. Sérgio Limberger
Diretor do CPD Profa. Maria Medianeira Padoin
Coordenadora
Profa. Maria Alcione Munhoz
Diretora do Centro de Educação Odone Denardin
Coordenador/Gestor Financeiro do Projeto
Prof. João Manoel Espinã Rossés
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas Lígia Motta Reis
Assessora Técnica
Prof. Edemur Casanova
Diretor do Centro de Artes e Letras Genivaldo Gonçalves Pinto
Apoio Técnico

Prof. Luiz Antônio dos Santos Neto


Coordenador da Equipe Multidisciplinar de Apoio
Sumário
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 05

UNIDADE A
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS 07
1. A História, as Fontes de Construção da História (documentos históricos) 09
2. O Fato Histórico 12
3. O Tempo Histórico 14

UNIDADE B
AS TEORIAS E METODOLOGIAS DA HISTÓRIA 21
1. O Positivismo 23
2. O Historicismo 26
3. O Marxismo 27
4. A História dos Annales 29
5. A Nova História Cultural 31
6. A Micro-História 32
7. A História Regional 34
8. A Pós-Modernidade e a História 35

UNIDADE C
O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES E CONCEITOS DE HISTÓRIA 37
1. O Desenvolvimento de Habilidades Sociais 39
2. Desenvolvimento de Conceitos de Tempo, Memória e Relações Sociais 43

REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 53

4
Apresentação
da Disciplina
METODOLOGIA
DO ENSINO DE
HISTÓRIA
4º Semestre

A disciplina de História não está no contexto das mais atrativas


pelos estudantes brasileiros e muito menos pelos pensadores
responsáveis por difundir a educação neste país. Sua carga-horária é
tímida e em muitos casos os professores se utilizam de metodologias
conservadoras e ineficazes, tornando a aula um processo de
sofrimento e desinteresse acentuados.
Mesmo assim, devemos insistir em viver o ensino/aprendizagem
de História como um processo de auto-conhecimento e de pesquisa
de nosso próprio passado, como uma necessidade incansável de dar
mais luz à cultura que nos permitiu estar no pleno exercício de nossas
capacidades de gerar inteligência, trabalho e motivação para
seguirmos adiante.
O exercício do ensino/aprendizagem da História não se faz
somente pela memorização de datas e fatos importantes,
reconhecendo o destaque dos heróis e dos anti-heróis vistos na
maioria das vezes de forma míope. O ensino/aprendizagem da
História deve suscitar um preito de gratidão pelos homens e mulheres
que nos legaram nossas tradições, nossos sentimentos de dor e
alegria. Viver o ensino/aprendizagem de História requer a curiosidade
de um sábio, a destreza de um cientista e a paixão de um artista.
Para finalizar esta pequena introdução, convido a todos os
alunos a conhecer este Caderno Didático e, a colocá-lo a serviço de
suas necessidades e possibilidades de tornar o conhecimento uma
prática mais saudável e mais feliz.
Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária
de trinta (30) horas/aula.
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6
UNIDADE

INTRODUÇÃO AOS
ESTUDOS HISTÓRICOS

Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, espera-se que o aluno seja
capaz de:
- Identificar e caracterizar os objetivos da História.
- Identificar como nasceu o estudo da História.
- Verificar como interpretar o fato e o tempo históricos.

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Introdução
Nesta unidade verificaremos a importância que nas feições e alma humanas, e a História, sua
o estudo da História teve na preservação dos guardiã eterna, registra e conserva essas
feitos da humanidade ao longo dos tempos, transformações. Aqui será mostrado também,
servindo de arcabouço moral e social na como a ciência histórica interpreta esses
construção da identidade de uma nação. O acontecimentos e, como são classificados
tempo transforma a paisagem e produz marcas didaticamente de acordo com a temporalidade.

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UNIDADE A

1 A História, as Fontes de
Construção da História
(documentos históricos)
Do grego historía, "história" significa lhes novo tratamento e imprimir-lhes noções
investigação, informação, narração. É a ciência ou juízos de valor. Somos e vivemos em função
que se ocupa de estudar e registrar o passado das heranças materiais e não-materiais do
em todos os campos desse saber. passado mais recente ao mais remoto, como
Em seu nascedouro grego, têm-se entre que um resultado de todos os conflitos e de

Vinícius de Sá Menezes
outros baluartes dessa ciência: Hecateu de todas as contradições, um passado construído
Mileto (550 - 474 a.C.), que resolveu escrever e destruído, reconstruído e novamente
sobre os gregos por acreditar que as lendas não destruído por um sem número de vezes. Homero é tido como
autor de Ilíada e
condiziam com a verdade; Heródoto de O resultado da pesquisa do historiador é Odisséia, duas das
Halicarnasso (490? - 420 a.C.), considerado o através desse encontro com o passado, uma mais clássicas obras da
literatura mundial.
pai da "História" por ser o primeiro a empregar reconstrução, uma recriação, uma invenção Ilíada, narra a história
da Guerra de Tróia e
o termo com o sentido de investigação/ daquele passado objeto de pesquisa. Não se Odisséia narra as
pesquisa, estudioso da guerra entre Persas e volta ao passado muito menos se reproduz o aventuras do herói
grego Ulisses, rei de
Gregos; Tucídides (Atenas, 460 - Trácia, 390 passado, o que se faz é a sua recriação muito Ítaca e um dos
comandantes militares
a.C.) e um dos mais famosos, Homero (Jônia, próxima de uma invenção, podendo constituir- no ataque grego a
Tróia. Essas duas
850 a.C. - ?), possível autor de dois dos maiores se conforme diz Pinto (2005, p. 113) "em um histórias estão
clássicos da literatura mundial, "Ilíada e exercício de prazer ou de dor" porque, nessa disponíveis em livros
ofertados pelo mercado
Odisséia". viagem pelo tempo pode-se viver através da editorial, com os
mesmos títulos aqui
O passado de que se encarrega o documentação, momentos de alegria, louvor ou referidos.
pesquisador, nem de longe se liga à coisa morta. de desespero e lamentações.
Todos os fatos e dados do passado estão de Quanto às fontes de pesquisa e reconstrução
alguma maneira adormecidos a espera de histórica, baseiam-se em dois tipos:
alguém que possa vê-los, decifrá-los, a) Documentos Primários. O tema poderá ser
visto também em:
desenterrá-los, tirá-los do esquecimento e dar- b) Documentos Secundários.
BORGES, Vavy Pacheco.
O Que é História. São
Paulo: Brasiliense,
1980.

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Figura A.1: Como exemplo de fonte primária, aqui temos o Fac-símile das considerações (um pequeno trecho) sobre
a Guerra do Paraguai, do próprio punho de D. Pedro II, escrito em 14 de janeiro de 1868.
Fonte: Arquivo Histórico do Museu Imperial em Petrópolis, RJ.

Os documentos primários são documentos portanto nas mãos do pesquisador, deverão ser
originais, aqueles produzidos pelos atores dos avaliados sobre a condição do seu autor, a
fenômenos, no próprio tempo e local da ação. posição que tinha, que papel desempenhava, a
Quanto aos documentos secundários são os que grupo social pertencia e mais. Os
resultantes ou elaborados a partir dos documentos são via de regra fragmentos do
documentos primários, como por exemplo, uma tempo e do espaço, numa privilegiada condição
dissertação, uma tese, um livro etc. de testemunhas. Mesmo nesta condição esses
Os documentos são parte fundamental para documentos não falam por si só, necessitam
a compreensão do passado. Isto significa dizer do pesquisador atento, curioso e investigador a
que podem eles não terem sido produzidos para inspecioná-los para que então revelem a sua
o registro daquele momento histórico e, mensagem.

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UNIDADE A

Outra tarefa que às vezes parece árdua e ficasse imóvel por cerca de um minuto, tempo
em outros momentos parece fácil, é o necessário para a gravação da imagem no filme.
estabelecimento do que vem a ser documento. Se houvesse um movimento por menor que
De maneira geral, tudo pode ser considerado fosse, a imagem mostraria um certo
documento: material manuscrito e impresso, embaçamento, um tremor típico de fotos em
assinaturas, fotografias, filmes, livros, eletro- movimento. Hoje, as câmeras possuem
domésticos, eletro-eletrônicos, discos de vinil, obturadores de maior velocidade e, capturam
partituras musicais, peças de roupas e imagens de extrema nitidez sem os problemas
acessórios, móveis, objetos de decoração, de tempo de exposição.
gravações de áudio, vídeos, músicas, imóveis, O segundo exemplo sobre como se
objetos de uso pessoal, cartas, jóias, restos de comportar diante de um documento, é quanto
alimentos, restos humanos, sinais do corpo ao ferro de passar roupas, aquecido por brasas.
humano deixados em utensílios, paisagens, Ao estudá-lo o historiador dentre tantas outras
relatos orais, ferramentas e utensílios de informações possíveis, poderá inferir que a
trabalho pessoal industrial e comercial, casas pessoa que o utilizava deveria ter um controle
comerciais, meios de transporte, meios de grande da temperatura para não danificar o
comunicação, mapas e cartas geográficas, tecido. Deveria ser mantido um fogo
plantas arquitetônicas, templos religiosos, provavelmente em fogão à lenha, enquanto se
cemitérios, cardápios, jornal, revista, material preparava algum alimento concomitantemente,
de demolição, calendário, agenda, diário, atas, para não desperdiçar o fogo. Tem-se também
receitas médicas, documentos de identificação que as roupas deveriam ser feitas por um tecido
pessoal e funcional, utensílios domésticos, mais grosso e resistente que os de hoje.
provas, documentos produzidos por todos os Também se deduz que a passadeira deveria ter
níveis de governo etc. braços não muito fracos, porque seu peso
Para cada um dos itens listados existem requeria força e habilidade.
certos cuidados a serem observados no
momento de fazer sua leitura, porém, não cabe
aqui realizar considerações a respeito de todas,
mas a título de ilustração, falaremos de dois Pesquise em arquivos da Prefeitura ou
deles, sendo o primeiro, a fotografia do século outras fontes de documentos históricos
XIX, principalmente na sua segunda metade de seu Município, documentos primários
aqui no Brasil. Naquele momento, a fotografia que tenham ligação direta com a história
era uma atividade muito elitizada e somente de sua cidade. Em seguida busque
os mais afortunados tinham acesso a ela, encontrar os documentos secundários,
embora muitas fotos mostrassem pessoas livros por exemplo, tratando do mesmo
simples e escravos. tema, qual seja, a história de seu Município.
Para fotografar, era preciso que o objeto

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2 O Fato Histórico
O acontecimento, o fato histórico, são os Um exemplo prático é o de se buscar
vestígios do pretérito perseguidos pelos pesquisar no Arquivo Histórico do Rio Grande
historiadores ou estudantes. O fato histórico do Sul, em Porto Alegre, a Passagem de
Ponto de Inflexão: escolhido é um destaque, a escolha de um Humaitá - ponto de inflexão da Guerra da
momento em que há
determinado objeto de seu interesse, ligado a Tríplice Aliança Conta o Governo do Paraguai.
uma profunda mudança
nos rumos de uma um evento político, um conflito, uma Deveremos pedir ao profissional do arquivo os
guerra (ou de qualquer
ação) provocada por comemoração de caráter isolado, de documentos sobre a Guerra do Paraguai e
algum sucesso, algum
acontecimento de
importância regional, nacional ou internacional. dentro deles procurar pela batalha de interesse.
suma importância. Pode também estar ligado à arte, a religião, ao E mais, ao procurar com mais rigor, levando-se
governo, a aprovação ou negação de uma nova em conta o tempo suficiente para a tarefa, e
lei, ao trabalho, às crianças, às mulheres, aos também o fator sorte, descobre-se os
negros, às pessoas de nações indígenas, enfim, documentos denominados por "Autoridades
há um leque vasto de motivos. São, portanto, Militares - Diversos (1863-1888) - 1868
ações humanas que podem ter alterado Guerra do Paraguai - Cartas dos Combatentes",
substancialmente a vida coletiva, ou terem agido contendo a carta de um comandante de unidade
pela sua manutenção. do exército brasileiro, tecendo comentários
Segundo Le Goff (1992, p. 524) ao invés sobre o episódio.
A Passagem pela de "fato", deve ser dada maior ênfase ao "dado" Interpretando dessa forma, descobrimos
Fortaleza de Humaitá
localizada no Rio histórico - utilizado pelos historiadores com dentro de um fato histórico, alguns dados. Isso
Paraguai, ocorrida em sendo "tema" -, principalmente na metodologia porque todo fato histórico, ainda que trazido
19 de fevereiro de
1868, proporcionou da arquivística. Pelo que observamos sob o na sua singularidade temática, não está isolado
uma mudança
significativa nas ponto de vista dos arquivos no momento da do contexto de sua época dos acontecimentos
condutas de guerra em
favor dos aliados.
pesquisa, se posta em prática, sua idéia auxiliaria que o circundam. A Guerra do Paraguai, por
sobremaneira ao pesquisador, exigindo dos exemplo, é um fato histórico repleto de dados
arquivos uma nova visão de conformação de extrema relevância, pondo à mostra, portanto
espacial do mesmo conteúdo arquivístico. inúmeros temas para estudo e pesquisa.

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UNIDADE A

Figura A.2: Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai (1865 - 1870). Ataque na região do Boquerão
visto de Potrero Piris.
Fonte: FÈVRE, Fermín. Cándido López. Buenos Aires: Bifronte, 2000.

Pesquise em arquivos particulares dados que


comprovem determinados acontecimentos
importantes na história de sua cidade. Esses
vestígios podem ser verificados por álbuns
de fotografias, por exemplo. As chances de
se fazer descobertas interessantes são muito
grandes.

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3 O Tempo Histórico
Um dos grandes mistérios sobre o Planeta Terra conceito de aproximação que o de exatidão.
é sem dúvida, qual a sua idade, há quanto tempo Essa resposta envolta em hipóteses está
ele existe. A humanidade desenvolveu uma série ancorada nas geociências, através de um
de artifícios - processos físicos e químicos inves- trabalho denso. As pesquisas dessas ciências
tigados em laboratório - com vistas a responder encarregadas de medir a idade da Terra
essa pergunta, não indo além da hipótese de chegaram à conclusão de que a evolução de
que há pelo menos uns quatro ou cinco bilhões tudo o que ocorreu nela do período mais remoto
de anos. Embora seja um número expressivo, até o atual, pode ser interpretado didaticamente
não é conclusivo, por representar mais um da seguinte forma:

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UNIDADE A

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extrema relevância, base de muitas outras


formas de se contemplar a vida e/ou a morte.
O entendimento de "Tempo Histórico"
está ligado à contagem das épocas ou eras da
História - tempo cronológico -, contemplando
as concepções temporais de algumas ciências
e de algumas culturas, mas acima de tudo, é
um conjunto de referências que dá suporte às
homenagens das ações humanas e de suas
divindades.
O que se pode constatar é que existem
inúmeras maneiras de se contar o tempo e,
portanto existem inúmeras concepções de
tempo. Apesar disso, temos hoje consagrado
como métrica temporal universal um calendário
cristão, ocidental, inspirado nas tradições
romanas, conhecido por calendário gregoriano
por ter sido idealizado por ordem do Papa
Figura A.3: Samambaia, evolução das Pteridófitas (do Gregório XIII em 1582. Alguns dos calendários
grego vegetal com asas), gigantescas árvores de que se tem conhecimento são: maia, juliano,
pertencentes ao período Siluriano da Era Paleozóica. hebreu, chinês e muçulmano, sendo que os três
últimos existem concomitantemente ao
O tempo é a mais antiga companhia do ser gregoriano.
humano e neste paradigma natural estão Temos hoje didática e historicamente
contidas outras categorias de mensuração tais consagrada a divisão temporal da evolução da
como, o dia, a noite, os ventos, a chuva, o frio, humanidade baseada em uma cultura ocidental
o calor, as estações e as gerações. Através dele em detrimento da oriental, principalmente da
olha-se para uma época que passou que se vive chinesa, da seguinte forma:
ou que se pretende passar. É uma medida de

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UNIDADE A

Embora este quadro traduza pontualmente datações pelos diversos profissionais da área.
datas e acontecimentos principais, é uma Um exemplo disso é a invenção da escrita tida
cronologia um pouco abstrata, inexata, primeiro por alguns como tendo ocorrida em torno do
porque os vários fatores da evolução humana ano 5.000 a.C. Contudo, aqui está uma idéia
não aconteceram em todos os lugares da Terra aproximada, não conflitante, entre as várias
ao mesmo tempo, e segundo porque existem metodologias de mensuração da cultura
algumas diferenças na metodologia de suas humana.

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UNIDADE A

No quadro anterior, verificamos as duas Assim pensando, pode-se ter outra data para
grandes divisões abrangidas pelo estudo da essa divisória como, por exemplo, 50.000 anos
História. Importante de assinalar que a divisão atrás, porque têm-se pelo mundo afora, muitos
entre História e Pré-História se dá em função registros de inscrições rupestres.
do surgimento da escrita. Na medida em que De qualquer forma, a arte rupestre é uma
se descobrem escritas mais antigas, esse marco forma de se registrar nas paredes rochosas parte
cronológico vai sendo deslocado. do cotidiano da vida humana primitiva. Não
É também importante de se notar, que a pode ser vista só como uma exposição de artes
escrita é algo muito importante nessa métrica, feitas por nossos ancestrais. É uma forma de
mas também algo sujeito a interpretações comunicar aos demais, o que de fato acontecia
difusas. na vida do grupo que vivia naquele lugar.
O primeiro grande ponto para se discutir é
o que se entende por escrita. A partir de então,
pode-se verificar que se encontram fora desse
entendimento, por exemplo, as pinturas Participe de viagens a lugares como museus
rupestres. Pode-se ou não interpretá-las como e/ou parques temáticos, onde possam ser
uma forma de escrita? Alguns defendem que vistos os sinais que o tempo deixou.
não e outros pesquisadores que sim. Deixamos como sugestão, conhecer o
Particularmente acreditamos que se pode ter Município de Mata, região central no Estado
nas pinturas rupestres, os traços embrionários do Rio Grande do Sul onde são inúmeros
da escrita, uma forma original nas mãos de uma os vestígios da Era Paleozóica.
inteligência que no fundo, entre outras
intenções, dissertava sobre o que acontecia à
sua volta, registrava a sua vida e sua história. Arte Rupestre:
Desenhos e Pinturas
realizadas pelos nossos
ancestrais nas paredes
rochosas das cavernas.
Usando entre outras
substâncias, argila,
sangue e excrementos
para imprimir as
figuras, podem ser
vistos como um diário
em que relatam
acontecimentos
especiais, a rotina do
dia-a-dia ou mesmo
significar uma forma de
comunicação.
Vinícius de Sá Menezes

Figura A.4: Arte Rupestre em parede rochosa de

caverna
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20
UNIDADE

AS TEORIAS E
METODOLOGIAS
DA HISTÓRIA

Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, espera-se que o aluno seja
capaz de:
- Reconhecer diferentes teorias da História e suas
contribuições para a educação.
- Refletir e debater sobre a importância dos
conteúdos da História na formação da identidade de
novos sujeitos históricos.
- Proporcionar a utilização de diferentes métodos de
pesquisa e produção de textos históricos.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Nesta unidade, serão mostradas as teorias mais conseguiram estabelecer critérios rígidos.
populares no seio do pensamento científico Portanto, é um método que não dispensa a
para a interpretação da História. Mesmo que a mobilidade ou flexibilidade, de modo que dois
tentativa seja a de transcrever as idéias estudiosos poderão executar classificações
principais que diferenciam uma da outra, será diferentes um do outro sobre o mesmo objeto
possível verificar - e não houve tentativa de de estudo, sem que isso constitua erro.
ocultar - na prática que, as classificações não

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UNIDADE B

1 O Positivismo
Doutrina filosófica surgida na segunda metade ciências e o espírito humano desenvolviam-se
do século XIX, através do seu principal teórico, através de três fases: a teológica, a metafísica
Auguste Comte (Montpellier, 1798 - Paris, e a positiva.
1857), e sua pioneira utilização tendo ocorrida Na fase teológica a imaginação desempenha
por Claude Henri de Rouvroy, Conde de Saint- um papel fundamental. Ao ver-se frente à
Simon (Paris, 1760 - Paris, 1825). grandiosidade e multiplicidade da Natureza, o
Segundo o próprio Comte, os fundamentos homem não consegue explicá-la a não ser pela
do pensamento positivista já existiam em alguns existência de pessoas e do sobrenatural,
gregos clássicos estudiosos de cosmologia, e portanto deuses e espíritos, o que redunda em
mais recentemente por Francis Bacon (Londres, possibilidade de normatização moral. Tais
1561 - Londres, 1626), Galileo Galilei (Pisa, princípios são o campo fértil para a existência
1564 - Arcetri, 1642) e René Descartes (Haia, da monarquia e sua estrutura militar.
atual Descartes,1596 - Estocolmo, 1650) como Encontra-se subdividida essa fase da seguinte
os fundadores da filosofia positiva. forma: fetichismo, politeísmo e monoteísmo.
Ao Positivismo fez-se uma analogia direta No fetichismo a vida espiritual tal qual acontece
ao verdadeiro espírito científico, prendendo-se com o homem é atribuída aos seres naturais.
aos significados do real, evidente, indubitável, No politeísmo os seres naturais não possuem
vivenciado pela experiência (empírico) e dela espiritualidade, mas uma vida sustentada pelas
extraindo as relações existentes. Os defenso- divindades pertencentes ao mundo superior. No
res dessa vertente histórica pretendiam que ela monoteísmo as divindades estão reunidas em
pautasse sua metodologia nas exigências da uma só divindade - deus único - tornando o
exatidão científica, devendo para tanto homem mais distante daquele plano superior,
preocupar-se em simplesmente prender-se ao estando na transição para o metafísico.
relato das causas e efeitos dos fatos tal como Na fase metafísica o concreto é substituído
aconteceram, deixando para a sociologia a pelo abstrato e a imaginação pela argumentação
preocupação em interpretá-los. A exatidão - idéias tomando o lugar da vontade divina, onde
deveria ser a obsessão. o homem e a natureza não estariam mais
Contrapunha-se, portanto ao Negativo, subjugados ao sobrenatural -, havendo, portanto
constitutivo até então de teorias, fábulas, uma dissociação da fase teológica, embora
idealismo, intuição, não se apresentando como ambas as fases primem pela busca da explicação
fenômeno. Assim expressando-se, Comte, da origem, destino e de como são produzidas
contemporâneo de uma época em que era as coisas. Assim sendo esse pensamento influiria
moda as idéias estarem pautadas na no campo político a ponto de primar pela
investigação científica como forma modelar de substituição do juízo real pelo juízo dos juristas,
organização do raciocínio, acreditava que as encontrando-se a sociedade ordenada por um
23
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

contrato com base no povo soberano diante Auguste Comte


do Estado. Filósofo e matemático francês nasceu em
Na fase positiva a imaginação e a Montpellier a 19 de janeiro de 1798, e faleceu
argumentação estão subordinadas à observação em Paris em 1857, tornando-se o principal
- presença marcante de sábios e cientistas -, teórico do Positivismo. Com dezesseis anos
tornando impossível a explicação dos ingressou na Escola Politécnica de Paris fundada
fenômenos pelos argumentos de divindades, em 1794. Nessa escola que resultou da
natureza ou algo que o valha. Os fatos, Revolução Francesa e do desenvolvimento da
fenômenos, antecedem e motivam um ciência e da técnica fomentadores da Revolução
enunciado de forma positiva. Não são mais Industrial, estudou por apenas dois anos.
importantes as causas, mas fundamental a Considerava-a a primeira comunidade
pesquisa das leis que os motivam, bem como verdadeiramente científica devendo servir de
as relações entre outros fenômenos. modelo a toda educação superior. Era uma
É, segundo Comte, uma fase de ações época e ambiente de significativa influência no
intelectuais coletivas e, portanto promotora da seu pensamento. Escreveu inúmeras obras
fraternidade, locus fértil da união entre teoria dentre as quais: Curso de Filosofia Positiva;
e prática. Tomando-se por base a comunhão Discurso sobre o Espírito Positivo; Política
intelectual voltada para a observação dos Positiva ou Tratado de Sociologia Instituindo a
fenômenos e o conhecimento do mecanismo Religião da Humanidade; Catecismo Positivista
de suas relações, a fase positiva acredita poder ou Exposição Sumária da Religião Universal. Foi
existir num estado de previsibilidade científica. contemporâneo de intelectuais expressivos e
Partindo do seu lema, "ver para prever", viver- influentes em seu pensamento quer por ter
se-ia num estado de progresso científico vivido com eles, que por ter sido seu aluno ou
positivo pautado na produção industrial. por ter estudado suas obras, dente tantos, os
seguintes: Lagrange (1736 -1813); Pierre Simon
de Laplace (1749-1827); Saint-Simon (1760 -
1825), de quem foi secretário e de quem
recebeu influências decisivas; John Stuart Mill
(1806-1873); Adam Smith (1723 - 1790) e
Vinícius de Sá Menezes

David Hume (1711 - 1776). No Brasil, lugar


onde os textos positivistas tiveram um campo
fertilíssimo inspirou personalidades ilustres,
Figura B.1: Auguste Comte dentre as quais o General Benjamin Constant
(1836 - 1891), herói da Guerra da Tríplice
Aliança contra o Governo do Paraguai, ideólogo
e um dos promotores da República. O lema
"Ordem e Progresso" inscrito em nossa Bandeira
é um dos lemas do Positivismo comteano.
24
UNIDADE B

Claude Henri de Rouvroy,


Conde de Saint-Simon
Nasceu em Paris em 17 de outubro de Em nossa Bandeira Nacional existe uma
1760, e faleceu na mesma cidade em 19 de faixa branca com a inscrição "ORDEM E
maio de 1825. Escritor, ativista político e PROGRESSO" em letras verdes, uma frase
economista, mas acima de tudo um idealista, de inspiração positivista. Pesquise sobre as
foi também militar desde os 17 anos, tendo razões e os significados que essa intenção
combatido ao lado dos americanos na sua sugere.
Guerra de Independência em 1781. De volta a
França, abdicou de seu título nobiliárquico
aderindo à Revolução Francesa. Combateu na
Guerra dos Cem Dias (em 1815) sob o comando
de Napoleão Bonaparte, passando-se a opositor
dos Bourbons logo em seguida. Publicou dentre
tantas, as seguintes obras: Cartas de um
Habitante de Genebra a seus Contemporâneos;
Memórias Sobre a Ciência do Homem; O
Sistema Industrial e Opiniões Literárias,
Filosóficas e Industriais.

25
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 O Historicismo
Esta doutrina defende a idéia de que para a inspiradores, o filósofo alemão Georg Wilhelm
compreensão da ação humana e a plenitude Friedrich Hegel (Stuttgart 1770 - Berlim 1831).
das implicações sociais e políticas de que é Toda ação humana é, por si só, um feito
composta, deve ser visto, em cada ação, um histórico porque está carregada de significados
fenômeno dinâmico resultante da ação do importantes para a sua vida. Tudo é história,
tempo e, por isso mesmo, componente de um todos fazem história por mais ativo ou por mais
Dialética: de acordo
com Hegel, é a todo maior em constante evolução. inativo que seja a pessoa.
presença da natureza
da contradição, da O Historicismo pensa a história de forma
oposição, nos radical. Faz crer que somente a história é que
fenômenos, ou seja, o
exame dos fenômenos possui todos os instrumentos adequados para
em sua totalidade,
como afirmação e se pensar e analisar a realidade e o ser humano,
negação. Para Marx, o
mundo material não é
uma vez que sua essência está no saber e na
reflexão. Assim sendo, a realidade, o cotidiano, Vinícius de Sá Menezes
o reflexo da "Idéia
Absoluta", mas as
idéias é que são o são o fruto de uma evolução histórica e a razão
reflexo do mundo
material. - ação da essência humana - é o motor da
história, conforme pensava um dos seus Figura B.2: Georg Wilhelm Friedrich Hegel

26
UNIDADE B

Alienação: segundo
Marx, processo em que
as pessoas quando

3 O Marxismo separadas de alguns


aspectos de sua
existência, ficam
sujeitas ao controle de
forças externas a sua
vontade. No capitalis-
mo, essas pessoas ao
Conjunto de doutrinas de ordem econômica, a mantê-lo pobre e alienado. Nessa condição alienarem sua força de
trabalho e ao verem o
política e social formuladas pelos alemães Karl contraditória de exploração da classe que lhe produto de seu traba-
lho alienado, tornam-se
Heinrich Marx (Trier 1818 - Londres 1883) e mantém - a trabalhadora -, o capitalismo fornece
também alienados.
Friedrich Engels (Barmen 1820 - Londres os meios de sua própria destruição ao fomentar
Burguesia: Classe
1895), entre 1848 e 1867. o acirramento da luta de classes a um ponto tal social nascida do
desenvolvimento
Marx e Engels inspiraram-se no idealismo que o proletariado (trabalhadores) acabaria por comercial e urbano dos
alemão de Friedrich Hegel (1770-1831), no se unir derrotando a burguesia (capitalistas) e burgos (cidades)
europeus na Baixa
materialismo filosófico francês do século XVIII fazendo surgir o comunismo. Idade Média (séculos
XI ao XV). Exerce papel
e na economia política inglesa do começo do fundamental no proces-
so de acumulação de
século XIX. No marxismo, a principal
riqueza e no financia-
característica de qualquer sociedade está no mento da Revolução
Industrial. Torna-se,
modo de produção que segundo uma ótica então, proprietária do
capital e dos meios de
evolucionista, passaria pelas etapas escravista, produção, dominando
os setores econômico,
Vinícius de Sá Menezes

feudal, capitalista, socialista e comunista,


social e político das
constituindo a própria História e sendo sociedades ocidentais.

determinada pelas relações de produção. O Capitalismo: sistema


econômico caracteriza-
processo produtivo proporciona aos homens a Figura B.3: Karl Heinrich Marx
do pela propriedade e
produção de suas próprias condições materiais iniciativa privadas dos
meios de produção,
de existência, e em razão disso a História seria Karl Marx exploração do trabalho
livre assalariado e
a interminável luta entre classes sociais Economista, filósofo e socialista alemão, nasceu acumulação de capital
através do lucro.
antagônicas pelos mais variados interesses. em Trier em 5 de Maio de 1818 e morreu em
Segundo o marxismo, esse conflito só Londres a 14 de Março de 1883. Estudou Classe Social: cada
um dos grupos confor-
desapareceria com a instalação da sociedade Filosofia nas Universidades de Berlim e formou- madores da sociedade.
No capitalismo e
comunista, forma de convivência mais igualitária se na de Iena. Em 1842, suas publicações à segundo Marx, estavam
e justa, onde o Estado inexistiria e onde não frente da redação de um jornal em Colônia irrita divididos em proprie-
tários dos meios de
haveria divisão social nem exploração do as autoridades e é forçado a mudar-se para Paris produção (burguesia) e
assalariados
trabalho humano e cada indivíduo receberia as em 1843, conhecendo no ano seguinte (proletários).
condições materiais de existência conforme a Friedrich Engels, seu companheiro de todas as
Comunismo - sistema
sua capacidade e necessidade. horas para o resto da vida. No mesmo ano e econômico-social
baseado na
Segundo o marxismo, o capitalismo é o lugar, rompe com um grupo de intelectuais a propriedade coletiva
dos meios de
modo de produção em que a burguesia que estava ligado, e, em 1845 foi expulso da produção (o Estado
concentra o seu capital e os seus meios França passando a viver em Bruxelas. Em 1848, inexiste), onde o
interesse comum da
produtivos (equipamentos, instalações, publica o Manifesto Comunista - teoria sociedade se sobrepõe
ao dos indivíduos.
utensílios e matérias-primas), com o objetivo revolucionária - em parceria com Engels.
de explorar o trabalho do proletariado, de forma Tempos depois retorna a Paris mas, expulso pela
27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Comunismo Marxista:
segunda vez fixa residência em Londres, onde Friedrich Engels
O Manifesto Comunis- estuda História e Economia e sobrevive Filósofo e socialista alemão (Barmen 1820 -
ta escrito em 1848,
pelos pensadores escrevendo para a imprensa. Ajuda a fundar o Londres 1895), filho mais velho de um rico
alemães Karl Marx e
Friedrich Engels, movimento pró-socialista 1ª Internacional, a industrial alemão, teve uma experiência de
afirma que o comunis-
Associação Internacional dos Operários (1864) significativa influência em sua vida ao conhecer
mo seria o estágio
final da organização e o Partido Social-Democrático alemão. Em uma fábrica de sua família na cidade inglesa de
político-econômica
humana. A sociedade 1867, é publicado o primeiro volume de sua Manchester, onde pode presenciar a vida
viveria num coletivis-
mo, sem divisão de
obra mais importante, "O Capital", livro com miserável dos operários e dos cidadãos em geral
classes nem a presen- predominância de temas econômicos, resultado do lugar. Em 1844 conheceu Karl Marx, editor
ça de um Estado
coercitivo. Para chegar dos estudos no British Museum, em que trata de um Jornal "Franco-Germano" em Paris,
ao comunismo, os
marxistas prevêem da teoria do valor, da mais-valia e da compartilhando com este desde então muitas
um estágio interme-
diário de organização,
acumulação do capital entre outros assuntos, idéias muito trabalho intelectual e de
o socialismo, que sendo os demais volumes publicados após sua mobilização social revolucionária, consagrando
instala uma ditadura
do proletariado para morte. naquele momento os termos burguesia e
garantir a transição.
Essa ditadura promove proletariado, duas classes sociais conflitantes e
a destruição completa antagônicas. Devido aos problemas financeiros
da burguesia, abole as
classes sociais e que afligiram Marx durante muito tempo, Engels
desenvolve as forças
de produção, de ajudava-o com dinheiro regularmente. Embora
modo que cada
indivíduo contribui
tenha escrito muitas obras em parceria com seu
Vinícius de Sá Menezes

segundo a sua capaci- inseparável amigo Marx, também produziu


dade e recebe segun-
do suas necessidades. sozinho várias obras dentre as quais destaca-
Estratificação Social: se: A Evolução do Socialismo de Utopia a Ciência
formação em classes
Figura B.4: Friedrich Engels e A Origem da Família, da Propriedade Privada
ou camadas sociais.
e do Estado.
Ideologia: termo de
significado difícil, pode
em alguns casos signi-
ficar o conjunto de
crenças que determi-
na a ação de um
grupo social ou
político em determi-
nado período na
busca da satisfação de
seus interesses. A
ideologia ou as ideo-
logias encontram
terras férteis nos
meios político, econô-
mico, religioso, social
e profissional, mesma
arena das principais
ações humanas.

28
UNIDADE B

Materialismo: no
marxismo este conceito

4 A História dos Annales


está ancorado na
concepção materialista
da história denominada
por materialismo
histórico segundo
Engels, pela qual a
história do homem é a
A Escola francesa de produção de história a da luta entre as
diferentes classes
partir de uma revista chamada Annales, surgiu sociais, determinada
pelas relações
em 1929, sendo reconhecida desde então pelo econômicas do seu
tempo.
mesmo nome da revista que teve seu primeiro

Vinícius de Sá Menezes
número editado em 15 de janeiro de 1929. Sistema Econômico:-
conjunto de princípios
Seus fundadores, os franceses Lucien Febvre que disciplinam a
produção de bens.
(Nancy, 1878 - Saint-Amour, 1956) e Marc
Bloch - Marc Lâeopold Benjamim Bloch - (Lyon, Figura B.6: Fernand Braudel Sistema Social:
conjunto de princípios
1886 - Saint-Didier-de-Formans, 1944), destinados a orientar e
regular o
desejavam promover uma nova abordagem da Também desejavam que houvesse um comportamento dos
indivíduos numa
história, substituindo a narrativa então intercâmbio com outras áreas do conhecimento, determinada sociedade.
tradicional dos acontecimentos - história dos como por exemplo: geografia, sociologia,
Socialismo: mais
grandes homens e de grandes batalhas - por psicologia, economia, antropologia social, identificado com os
aspectos econômicos
uma "história-problema", em que fosse lingüística e outros, com a nobre finalidade de que com os políticos,
enfocada a história da humanidade em todos dar conta de uma história com mais riqueza e está centrado na
propriedade coletiva
os seus campos da atividade - história mais completude sob o ponto de vista da dos instrumentos de
produção. Portanto o
totalizante, como já o desejavam Hegel e Marx natureza das informações. capital é uma
propriedade coletiva
-, e não tão somente dos aspectos políticos ou Quando se fala em Annales, é comum que que tem como
militares, comum a Escola Positivista. a ela se refiram como sendo uma "Escola" ou representante máximo
o Estado. Prega a
uma "Nova Escola", contudo, os mais cautelosos abolição total dos
meios de produção,
preferem denominá-la como "O Movimento dos bens de capital, e não
da propriedade privada.
Annales".
Embora o desejo de
O Movimento dos Annales pode ser progresso econômico e
bem-estar social sejam
caracterizado pelo traço personalístico de suas um desejo e
necessidade coletivos,
Vinícius de Sá Menezes

lideranças e conseqüências políticas de gestão estes serão


em três fases: proporcionados pela
administração central, o
Estado.

Figura B.5: Marc Bloch

29
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

30
UNIDADE B

5 A Nova História Cultural


A Nova História Cultural nasce por evolução ou entre a cultura das classes dominantes e a
em oposição à "História das Mentalidades" por cultura das classes subalternas em uma
esta ter se mostrado inconsistente e vaga em dimensão sociocultural.
sua metodologia, quer seja por sua ambigüidade,
quer seja por sua imprecisão, contudo B- Roger Chartier
mantendo ainda alguma importância do mental Valoriza a interpretação da cultura no viés de
como objeto de estudo. classes sociais principalmente quanto a
A Nova História Cultural também advém da produção e consumo culturais. Para o francês
"História da Cultura", ampliando seu raio de Chartier, a cultura deve ser vista como uma
ação ao demonstrar interesse pelas prática através das categorias da representação
manifestações culturais e o papel de todas as e da apropriação.
classes sociais, com especial atenção ao popular Representação é o sentido que remete a
e seus conflitos com as classes de outra algo ausente, passado, fazendo-o ser lembrado
estratificação, o que mostra uma nova forma e, a apropriação, é a interpretação remetida à
de abordagem do tema. determinação essencial de uma certa classe
Vainfas (1997) utiliza três importantes pelo social, institucional e acima de tudo pelo
historiadores como paradigmas da Nova História cultural.
Cultural para traçar algumas características dessa
corrente, quais sejam: C- Edward Thompson
Quanto às classes populares, sua identidade
A- Carlo Ginzburg social é construída na luta, em um processo de
Ancorado em sua noção de cultura popular auto-reconhecimento consciente e não
como sendo todas as formas de expressão, necessariamente revolucionário. Portanto, o
modo de viver e sentir a vida, próprios das inglês Thompson reconhece as lutas de classe
classes subalternas, o italiano Ginzburg prioriza com base na cultura de cada um dos atores
o estudo do conflito gerado por esse embate num permanente processo de transformação.

31
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6 A Micro-História

Carta: representação
de uma dada
superfície, em escala
média ou grande.

Escala: Relação
proporcional entre as
dimensões dos
elementos
representados em um
mapa, carta, fotografia
ou imagem e as do
terreno.
Vanessa Pinheiro Reyes

Escala Cartográfica:-
Relação matemática
entre as dimensões
dos elementos no
desenho e no terreno. Figura B.7: Paleontólogo diante de um fragmento de osso que, provavelmente pertence a uma criatura pré-histórica

Escala Gráfica:
representação gráfica Pertencente a terceira geração dos Annales, uma abordagem baseada na redução da escala
da escala numérica sob
a forma de uma linha a micro-história instrumentaliza o historiador à de observação. Uma vez que o método de
graduada, onde se
mostra a relação entre procura de objetos mais reduzidos e, portanto explicação está calcado na geociência (escala
as distâncias reais e as
representadas nos
menos visíveis em uma primeira análise quanto gráfica), esclareçamos os equívocos.
mapas, cartas ou outros ao seu grau de exposição, sem, no entanto Primeiro equívoco: se estamos dizendo que
documentos
cartográficos. É perder de vista o seu contexto, permitindo, reduzimos a escala para observar o objeto eleito,
representada por um
segmento de reta segundo a natureza das fontes, uma pesquisa dizemos na verdade que estamos observando
escalar, indicando uma
mais profunda e consequentemente mais rica. o mesmo objeto por um tamanho reduzido,
escala gráfica e sua
correspondência real, Embora seja um procedimento simples o redundando em prejuízo, pois se passa a
podendo ser vista na
Legenda ou na parte entendimento dessa teoria, as explicações perceber menos detalhes, contrariando o
inferior direita da
representação.
utilizadas, ainda que bem intencionadas, pretendido.
comportam métodos equivocados. Para a Segundo equívoco: quando se diz que é
explicação do que vem a ser a micro-história uma escala reduzida, na verdade deve ser dito
utiliza-se o conceito de escala. Diz-se que é que é uma escala maior, pois só assim se observa
32
UNIDADE B

melhor o objeto pequeno. Diante de um mapa Primeiro exemplo: o historiador diante de Escala Numérica: É a
escala de um
do Rio Grande do Sul na escala 1:12.000.000 uma floresta decide concentrar sua pesquisa
documento cartográfico
(um por doze milhões - definida como uma elegendo como objeto de estudo apenas e tão (Mapa, Carta ou Planta)
expressa por uma
escala pequena porque mostra poucos detalhes, somente uma única árvore. No decorrer de sua fração ou proporção,
em que se correlaciona
reduzidos), só conseguimos perceber algumas pesquisa o historiador embora esteja a unidade de distância
cidades, uns poucos rios, as Lagoas dos Patos e concentrado naquela árvore, não poderá perder do documento à
distância medida na
Mirim. Ao contrário, quando vemos o mapa do de vista que ela pertence a floresta e portanto mesma unidade no
terreno.
mesmo Estado na escala 1:240.000 (um por deve mantê-la conectada ao seu coletivo. Ex 1: 1:100.000 - lê-se
1 por 100.000.
duzentos e quarenta mil - definida como uma Segundo exemplo: recorrendo a
O número "1"
escala média e, maior que a anterior porque paleontologia, uma ciência de extrema representa o tamanho
natural ou real. O
mostra pequenos detalhes de forma mais visível, contribuição à história, quando o pesquisador número "100.000"
indica quantas vezes o
ampliados), percebemos mais e melhor a descobre um esqueleto (ou parte dele) de um "1" (tamanho real) foi
hidrografia, a delimitação geográfica de cada ser do período Triássico, ele concentra em um reduzido.
Ex 2: 25:1 - lê-se 25
Município, os pequenos lagos, etc. primeiro momento naquele indivíduo, e por 1.
O número "25"
Desfeitos esses equívocos, utilizaremos descobre sua idade, as prováveis causas de sua representa quantas
vezes o número "1" foi
outros dois exemplos para a fixação do conceito morte, todas as suas dimensões, sua dieta, seu
aumentado. Aplicação:
de micro-história. estilo de vida, seus predadores e, em um projeto de uma peça
de relógio de pulso.
segundo momento, traça as características do Significa que 1cm no
documento equivale a
mundo em que vivia. 100.000 cm no
terreno, ou seja,
1000m ou 1Km.
Classificação Quanto a Natureza da Representação
Mapa: representação
no plano, em escala
pequena, dos aspectos
geográficos, naturais,
culturais e artificiais de
uma dada superfície.

Planta: tipo de carta


representando uma
área muito restrita e,
com escala muito
grande. Ex: planta de
um terreno, com escala
de 1:50.

33
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7 A História Regional
Inaugurada com a tese intitulada "Beauvais et estudo sobre o modo de vida e a estrutura
le Beauvaisis" de Pierre Goubert em 1960, tributária local.
esse estilo de abordagem da história, comporta A obra permite também traçar um paralelo
perfeitamente o espírito dos Annales, por entre a vida rural e a vida urbana que possuem
dedicar-se a investigar os ambientes políticos, entre si limites muito tênues, denunciando que
econômicos pertinentes àquela delimitação naquele tempo de Luís XIV, havia um contraste
geográfica específica, sem, contudo, deixar de muito grande, vendo-se de um lado o esplendor
perceber entrelaçamentos com o seu entorno. e de outro um quadro de miséria e de fome.
Sua obra vista hoje como clássica, é um dos O conjunto de obras desse viés produzido
exemplos de pesquisa econômica e social, em nas décadas de 60 e 70, portanto transpassando
que trata de verificar com profundidade na Vila a segunda e a terceira gerações dos Annales,
de Beauvais - pertence hoje ao Departamento exerceu elevada importância, inspirando o
francês de Oise, ha cerca de 60 Km ao norte retorno de pesquisas ligadas aos temas das
de Paris - a vida de seus habitantes e seu "Províncias" francesas em diversas universida-
trabalho, entre 1600 e 1730. des regionais.
Através do trabalho dos beauvaisis - Quanto ao emprego de "Região" pode-se
habitantes de Beauvais - que se dedicavam a associar o entendimento geográfico constitutivo
agricultura e manufaturas de um modo geral, o de uma pequena localidade, uma cidade, um
autor confere importância tanto aos pequenos país, uma região composta por várias cidades
operários e lavradores, quanto aos grandes ou por vários países.
produtores, os fazendeiros, permitindo um

34
UNIDADE B

8 A Pós-Modernidade
e a História
Antes de abordarmos os entendimentos de Pós- desse espírito humano, terrestre e consciente,
Modernidade e a posição da História nesse houve represálias e tentativas de esvaziamento
contexto, parece-nos muito salutar relembrar desse processo por parte daqueles que se
algumas idéias construtoras do entendimento intitulavam guardiões do regrado mundo divino,
de Modernidade. soberano do mundo terrestre, a igreja católica.
Por Modernidade, podemos entender o O infeliz resultado alcançado, fruto daquele
processo e o progresso científicos processo, é o de termos a ciência a favor do
experimentados pela humanidade a partir do progresso, mas, ao contrário do que se pensava,
século XVI, indo até uma boa parte do século sem influir positivamente na valorização do ser
XX, quando ousando explorar o inexplorado - humano em seu lócus social e cultural.
aqui fixando no século XVI -, uma reedição do No século XX, a modernidade alcançou sua
"fruto proibido", muitos homens aventuraram- fase mais vigorosa e mais abrangente. Houve
se pelo Oceano Atlântico com os seguintes transformações na política, nas artes, na
propósitos: arquitetura, nos meios de transporte, na
1º) Encontrar outros caminhos para as suas medicina do corpo e da parte invisível do corpo,
metálicas necessidades comerciais. no sexo, nas profissões, na ciência, nos estilos,
2º) Satisfazer a necessidade de descobrir a nos valores, nas ideologias, nas teorias sociais,
que lugares lhes levariam ao perseguirem o na filosofia, nas formas de subjugação humana,
horizonte. nas comunicações, nas telecomunicações, na
3º) Provar as teorias a respeito da informação etc.
esfericidade terrestre. Todo esse conjunto de atividades vivia uma
É bem verdade que muitos outros o fizeram época de profunda profusão do gênio humano,
muito antes desse período, mas, não foi um e embora negasse uma boa parte do que herdou
momento tão espetacular, tão necessário do passado, significa uma fórmula nova
quanto o que parecia ser aquele de muitos motivada por uma tentativa de superar e negar
Colombos e de muitos Cabrais tão presentes e aquele mesmo passado. Essa negação assumia
tão oportunos. um contexto de renovação da alma humana,
Iniciava-se uma época a partir da qual o como que fazendo provar o surgimento de um
espírito humano desafiaria o espírito divino e novo tempo, um novo período histórico, uma
declararia que a técnica e a ciência em favor nova época histórica, mais longilíneo, mais
da produtividade favoreceriam o encontro com direto, mais simples e, portanto sem os
a felicidade e o progresso, ao promover uma acessórios do período passado.
vida de abundância e realizações. E por causa O ser humano deixou de ser transportado
35
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Por "Pós-Moderno"
podemos entender
como tendo, entre
outros, os seguintes
significados: valorização
da mistura e do
hibridismo; presença por hipomóveis para os automóveis. Explorou obrigatoriamente estrutural na sociedade. Não
constante da proviso-
riedade, da indetermi- as profundezas dos mares e dentro do sistema é a supremacia militar dos EUA no início do
nação, da incerteza e da
transformação. solar explorou humana e mecanicamente alguns século XXI que será definitivamente
dos seus astros. Deixou de viver na arquitetura determinante para uma reacomodação das
Categoria: é um con-
ceito elementar para se horizontal de outrora para viver na verticalizada, demais forças. Não são os resultados de uma
pensar a realidade em
seus aspectos gerais e novo símbolo do conglomerado, do imponente, eleição que eliminarão ou darão início a
adquire valor maior
quando serve de parâ-
do importante e magistral. minimização de todos os males até então
metro para uma dada No final do século XX, surgiu o interesse ou construídos pelos governantes brasileiros em
realidade social concre-
ta em qualquer tempo a necessidade da reconstrução ou remodelação toda a sua história.
ou lugar.
da alcunha da grande fase cronológica e laboral Pensa-se assim porque também não foram
Cultura - é o conjunto
conhecida por "modernidade" - termo que até os revolucionários bolcheviques de 1817 que
de comportamentos
representativos de de- então não conhecia as fronteiras da maturidade devolveram ao povo russo a justiça, a igualdade
terminado grupo social,
comportamentos esses ao mostrar-se sempre novo, sempre atual -, e e a liberdade. Não foi o nazismo que em
estruturados a partir da
forma como são organi-
encontrou-se um outro que alguns o repelem detrimento de seu poder militar, levou a ordem,
zadas as idéias e tam- ou o combatem por vê-lo como esdrúxulo, mas a justiça e o progresso ao mundo. Não foi o
bém da forma como a
vida material acontece. A que enquanto isso é o mais sonoro, tido por golpe de 1964 no Brasil que o salvou do caos
organização dessas
idéias produz um en- "Pós-Modernidade". e da desordem. Em cada um desses exemplos,
tendimento de mundo e
instrui sobre como se
Provavelmente têm influência nessas seus principais atores não levaram outra coisa
deve nele interagir. A características, as novas tecnologias de além da morte e injustiça aos seus adversários.
partir desses enten-
dimentos, podemos informação e comunicação, responsáveis pelo A vida, a história continua a sua marcha
deduzir, de forma mais
ampliada, que cultura alcance inimaginável de pessoas em tempo real ininterrupta, progressiva e regular independente
compreende tudo o que de âmbito intercontinental, e, uma rapidez de do rumo e do tempo que lhe caiam à face.
existe, quer seja por
ação da natureza, quer igual magnitude no ambiente comercial,
seja por ação da
inteligência humana, e fazendo com que haja ao menos em alguns
por isso mesmo não
contempla uma estru-
aspectos, algum grau de homogeneização no
tura estática, mas sim, comportamento e na forma de pensar de As informações contidas nesta unidade
uma forma dinâmica em
que se permite, com o inúmeras comunidades de diferentes estruturas poderão ser melhor estudas nas seguintes
decorrer do tempo,
algumas modificações. sócio-culturais. obras: BURKE, Peter (Org.). A Escrita da
Diante de fenômenos como esses, é História: novas perspectivas. São Paulo:
Fenômeno: tudo,
absolutamente tudo o importante que os profissionais da história Unesp, 1992; BURKE, Peter. A Escola dos
que acontece na
natureza. estejam atentos para percebê-los e entendê- Annales (1929 - 1989): a revolução

Locus: contempla a
los, sem que percam de vista que em última francesa da historiografia. São Paulo: Unesp,
idéia de lugar. análise, tudo é história. A História como ciência 1997 e CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS,
Paradigma: modelo, e/ou como arte, é uma "encruzilhada" por onde Ronaldo (Orgs.). Domínios da História:
padrão, referência.
passam todos os caminhos. Tão inútil quanto ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Viés: esguelha; través;
buscar o início da história, é tentar imaginar o Janeiro: Campus, 1997, todas disponíveis
linha de interpretação;
abordagem metodológica. fim da história. Não é a queda de muros como na biblioteca do Pólo.
o de "Berlim" que provocará uma mudança
36
UNIDADE

O DESENVOLVIMENTO
DE HABILIDADES E
CONCEITOS DE HISTÓRIA

Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, espera-se que o aluno seja
capaz de:
- Possibilitar a identificação de atributos a serem
desenvolvidos pelas pessoas, a fim de aperfeiçoar a
vida em sociedade.
- Verificar e entender o complexo mundo das
necessidades especiais através de suas
características básicas.
- Verificar como se dá a noção de tempo em
algumas culturas, como se constrói e se firma as
diversas marcas do passado, e como as relações
sociais acompanham a evolução da humanidade.
37
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
Nesta unidade, serão trazidas aos profissionais classificação feita pelo MEC das várias
da área de ensino algumas competências do necessidades especiais como forma de
conjunto das que são necessárias ao novo introdução nesta demanda pedagógica. Por fim
paradigma de educação, a inclusiva, que tem a serão abordados os temas pertinentes à
pretensão de servirem de ferramentas em uma construção das referências temporais, da
melhor condução da vida, tanto em sala de aula memória individual e coletiva, e das relações
quanto fora dela. Verificar-se-á para tanto, a sociais.

38
UNIDADE C

1 O Desenvolvimento de
Habilidades Sociais
disseminar a política de educação inclusiva
Por habilidades sociais ou competências, pode- nos municípios brasileiros e apoiar a
se entender o conjunto de comportamentos formação de gestores e educadores para
atuar como multiplicadores no processo de
que possui uma pessoa ou grupo de pessoas transformação dos sistemas educacionais em
para agir ou interagir com outras pessoas em sistemas educacionais inclusivos.
situações normais ou diante daquelas de
comprovada violação dos direitos individuais e Ressalta-se que a educação inclusiva não
coletivos que, lhe exija solução ou resposta deve estar circunscrita somente ao ambiente
imediata, de forma a apresentar resultados escolar. É um comportamento a ser praticado
apaziguadores ou de cooperação na busca da em todos os ambientes e para personagens das
justiça social, tendo como meio mais eficiente mais variadas naturezas, estejam no local de
a educação ou a reeducação daqueles que se trabalho, de lazer ou outro qualquer.
mostrem mais refratários. As necessidades especiais ocorrem pelos
O ser humano é por excelência um ser seguintes motivos: por questões de natureza
global, ou seja, dotado de capacidade de genética (congênita) natal ou pós-natal;
exercitar um conjunto vasto de habilidades em decorrentes de acidentes; decorrentes de
todos os campos do comportamento ou da envelhecimento ou por alguma disfunção
intelectualidade. orgânica. Essas necessidades especiais podem
Com o desenvolvimento/evolução da ser de natureza cognitiva, física e/ou emocional.
sociedade - o que pode ser visto neste aspecto A seguir, elencamos alguns dos atributos
como um bom exemplo de evolução humana - julgados de interesse para a modelação do perfil
está sendo exigido o exercício de certo de profissional ideal, em obediência ao novo
aprimoramento da participação humana voltada paradigma de necessidades educacionais
para o coletivo, extrapolando, portanto as especiais, com uma pequena descrição acerca
fronteiras da individualidade, direcionado para de cada um deles. Estes são uma amostra de
as pessoas portadoras de necessidades comportamentos que devem ser apresentados
especiais, quer estejam na escola ou fora dela. e desenvolvidos principalmente em profissionais
Assim sendo, vai-se ao encontro dos que estarão em contato com os portadores de
objetivos do MEC traduzidos no "Programa necessidades especiais, que também serão
Educação Inclusiva: direito à diversidade", tanto quanto seus professores, responsáveis
conforme divulgado em seu sítio eletrônico, pela difusão dessa visão aperfeiçoada de novo
www.mec.br/seesp que visa: modelo de sociedade, mais justa e mais
humana:

39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

A. Auto-avaliação G. Dedicação
Deve-se estar em constante análise de si É a firmeza e concentração em uma tarefa até
mesmo auxiliado por outros ou não, para a sua conclusão.
conseguir determinar se as ações ou
pensamentos estão compatíveis com os H. Demonstração de afeto
objetivos propostos. É o comportamento típico das pessoas sensíveis
e que por isso mesmo percebem que o outro
B. Capacidade de trabalho ou de necessita de um cuidado, uma atenção especial
desempenhar tarefas em momentos também especiais.
É importante conhecer o seu potencial
produtivo para concluir uma tarefa, I. Diálogo
possibilitando assim definir se é hábil o O diálogo pressupõe a existência de
suficiente e se necessita de ajuda para o comunicação e a instalação de redes alternativas
encargo. de encaminhamento de questões e de
soluções.
C. Confiança
É de extrema importância a certeza no resultado J. Divisão de tarefas
final para si e para os que dependem de outros. A capacidade do desenvolvimento de tarefas
deve estar aliada à capacidade de descobrir o
D. Cooperação que se deve fazer, e de descobrir quais as
Talvez seja uma das principais ferramentas para pessoas mais habilitadas ao desempenho de
a vida em sociedade, a capacidade de executar cada uma delas. Tarefas compartilhadas
tarefas em conjunto. promovem melhor utilização do tempo.

E. Coragem física e moral K. Flexibilidade


A coragem física é o exercício de permitir expor- Significa a capacidade de aceitar mudanças
se a perigos, e a coragem moral é o exercício tanto na concepção original de um projeto
de manter-se defensor dos seus princípios quanto no seu desenvolvimento, desde que os
independente do que lhe venha a afrontar. Em objetivos sejam mantidos.
algumas situações, exigem-se da pessoa as duas
coragens. L. Honestidade
Talvez seja a qualidade que mais se deseja e
F. Criatividade que mais falte no ser humano. É a natureza das
É a capacidade de improvisar e encontrar pessoas dispostas a agir com correção e lisura,
respostas, saídas ou alternativas até então capazes de manterem-se fiéis às suas tarefas,
impensadas. sem se desviarem por motivos fraudulentos.

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UNIDADE C

M. Organização Q. Vontade de aprender


É a capacidade de se manter sempre correto Esse deve ser um dos principais "motores" do
na disposição de suas condutas e na de seus mundo do conhecimento, o mundo mais vasto
utensílios, o que pressupõe asseio e métodos e mais rico de que se tem notícia.
bem estruturados.
R. Capacidade de relacionar-se com
N. Responsabilidade pessoas conhecidas e estranhas
É uma qualidade que nunca saiu de moda, Deve-se ter sempre o espírito disposto a fazer
sempre esteve associada a qualquer outra contatos e, não temer a abordagem de pessoas
condição. Uma pessoa responsável possui todas com as quais nunca conversou.
as garantias para a execução ou gerenciamento
de uma tarefa com qualidade e eficiência. S. Capacidade de ensinar e de aprender
Deve-se ter em mente que a vida é uma
O. Solidariedade permanente oportunidade de ensinar e
Essa talvez seja a atribuição mais falada e mais aprender, independente da condição de ser
propagada nesse momento de retomada da aluno, professor ou outra situação qualquer.
valorização da vida e da ética. São ações
destinadas a ajudar pessoas em situação de T. Capacidade de Administrar conflitos
risco provocado por algum sinistro ou não. Este A convivência em grupo experimenta entre
atributo pode ser desempenhado por pessoas outras situações, as que são de conflito. Para
isoladas ou em grupo, por órgãos municipal, esses casos se deseja pessoas com habilidades
estadual ou federal, ou organizações não- suficientes para a contemporização.
governamentais.
U. Capacidade de perceber e aceitar as
P. Tomada de decisão dificuldades nas outras pessoas
As pessoas estão em permanente estado de Capacidade de entender que cada pessoa tem
comunicação, relacionando-se pelos mais seus limites e possibilidades, independente de
diversos motivos, pelas mais diversas formas. sua natureza profissional ou qualquer outra.
Assim sendo, a todo momento vive-se a Contudo, mesmo que se perceba em alguém
oportunidade de ter que decidir e não raro uma mais limitações que possibilidades, essa pessoa
ou mais pessoas são qualificadas ou indicadas certamente será capaz de contribuir de alguma
para essa escolha, decisão. Não se pode deixar forma.
de fazê-lo, e de preferência no momento mais
adequado e da forma também a mais adequada. V. Equilíbrio emocional
diante de situações adversas
Capacidade de manter-se estável e controlado
ante o inusitado.

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W. Ouvir as pessoas e suas As habilidades que por ventura venham a


reclamações ou simplesmente as suas ser vistas como ideais para o contexto da
histórias ou seus desabafos Educação Especial na modalidade de ensino a
Capacidade de dar ouvidos, escutar, dar atenção distância, são na verdade mais universais, mais
às emoções humanas. Há sempre alguém abrangentes ou se deseja que assim sejam.
necessitado de falar e ser ouvido, ter em alguém Por conta disso, a Secretaria de Educação
uma parte do tempo do mundo a seu dispor. É Especial tem como prioridades: "assegurar aos
um exercício de manutenção da vida por parte alunos que apresentem necessidades
do falante, e um exercício de atenção por parte educacionais especiais, as condições para ter
do ouvinte. É também um ritual de passagem, acesso e permanência na escola, desenvolvendo
Para melhor pois deve-se sempre acreditar que naquela as suas potencialidades em todos os níveis,
compreensão, verificar
no sítio eletrônico conferência valores serão descobertos e etapas e modalidades da educação, na
www.mec.br/seesp, os
objetivos Específicos
difundidos. perspectiva de construir uma educação
do Programa Educação inclusiva", conforme consta do Programa
Inclusiva: direito à
diversidade, X. Humor Educação Inclusiva: direito à diversidade.
informando sobre os
conceitos da Educação É sempre muito revigorante o exercício da
Especial e quais os
tipos de atendimento.
alegria e da descontração pelo riso e por outras
formas de satisfação.

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UNIDADE C

2 Desenvolvimento de Conceitos de
Tempo, Memória e
Relações Sociais
A) Tempo acontecimentos e criações humanos do que o
Do latim "tempu", significa unidade de medida tempo.
de duração da vida e das coisas. Para a Os cristãos estarão comemorando em 25
interpretação de "tempo", requer situar o de dezembro de 2005, dois mil e cinco anos
conceito conforme a cultura que, por sua vez, do nascimento de Jesus de Nazaré, que havia
está determinada por fatores geográficos, forma sido anunciado pelo Antigo Testamento.
de quantificação, bem como de sua Os judeus acreditam que estão vivendo o
identificação. ano 5761, contado desde a criação do homem,
O tempo pode designar a medida que 6º dia, conforme o Livro Gênesis da Bíblia Cristã
contém a observação do dia e da noite Católica Apostólica Romana.
representados pelo sol e pela lua que, derivará Segundo Santos (1998, p. 83), "O tempo
na contagem e identificação das estações, que se dá pelos homens. O tempo concreto dos
por sua vez possibilitará a contagem de períodos homens é a temporização prática, movimento
que derivarão os anos e todos os seus múltiplos. do mundo dentro de cada qual e, por isso,
Embora possam conviver em um mesmo interpretação particular do tempo por cada
contexto social e geográfico várias culturas, cada grupo". Cada sociedade constrói o seu
uma delas poderá conter um modo diferente entendimento de tempo conforme seus desejos
de contagem do tempo. Essa forma diferente e suas necessidades.
de contagem do tempo é sempre construída Não se pode esquecer, porém, que a
conforme seus modelos míticos que, neste caso natureza possui a sua dimensão de tempo
estão ligados à religião. funcionando a revelia do tempo da humanidade.
Independente do modelo de religião que A natureza é na verdade que deveria ser o
inspira o espírito de mensuração do tempo há relógio de todos os relógios, a medida de todas
sempre na amplitude de seu contexto, a história as coisas, mas lamentavelmente não é.
de uma civilização, seu passado, seu presente Na construção do conceito 'tempo' é
e seu futuro. Funciona como um marco necessário estabelecer uma relação entre o
regulador de todas as formas de pensar e agir tempo cronológico, o tempo social (vivido) e o
no seio daquela cultura. É, portanto um tempo histórico. Conhecer o conceito 'tempo'
exercício das relações que se pode traçar entre demarcado em seqüência linear, dia, meses e
cronologia, convivência social e história. Nada anos é fundamental para o entendimento
mais importante como referência dos buscado. O tempo, o espaço e a humanidade
43
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são partes indissociáveis. A partir destes três B) Memória


elementos verifica-se a história. Memória, aqui estudada não somente como o
Durante uma boa parte da Idade Média, a conjunto de lembranças das pessoas, remete
Europa vivia sob a forte dominação material e ao acontecido, ao que já foi construído, por
espiritual da igreja Católica. Período em que se onde já houve a intervenção da humanidade
tinha a compreensão do "Tempo de Deus". O ou de maneira mais complexa, vestígios da
Tempo de Deus era o período compreendido própria natureza. É, portanto, a eternização da
entre o término das atividades humanas no fim passagem do tempo verificando-se a produção
do dia e o início de suas atividades na manhã humana e sua paisagem.
seguinte. Pode-se dizer que era a parte noturna Tudo que existe é resultado de ações
do dia. Nesse tempo destinado ao senhor era passadas e, portanto o exercício de identificação
proibido o exercício de qualquer atividade por mais individual que seja, é no fundo, uma
lucrativa como, por exemplo, a especulação ação de valor plural.
financeira - ganhar dinheiro aplicando juros pelo A atividade de memória está nos mais
período de vinte e quatro horas por dia. simples gestos no cotidiano das pessoas. Ao se
Outro acontecimento importante na história fazer um cadastro, por exemplo, em um banco
da contagem do tempo foi quando do qualquer, devem ser citados pelo interessado,
surgimento do relógio tal qual conhecemos seu nome todo, filiação, número da identidade,
hoje, em que os donos das fábricas adiantavam número do CPF, endereços residencial e
o relógio próximo a hora de entrada dos profissional, duas pessoas de seu relacionamento
funcionários e atrasava-o à saída - manipulação que sirvam de referência, entre outras
do tempo -, como forma de ganhar maior exigências. Todas essas informações são a
produtividade de seus funcionários por aumento memória de uma única pessoa e nessa memória
absoluto na jornada de trabalho, sem a serão verificadas ou conferidas:
Estes acontecimentos equivalente remuneração. Isso foi possível - A que família pertence, sua genealogia.
poderão ser mais bem
estudados na obra LE
porque naquele tempo o relógio era um objeto - Informações nos órgãos da administração
GOFF, Jacques. A Bolsa muito caro e, portanto somente poucos o estadual.
e a Vida: a usura na
Idade Média. São possuíam. O relógio revolucionou os costumes - Informações contábeis (bens, dívidas e
Paulo: Brasiliense,
1989. e fez com que a métrica temporal tomasse outra renda) diante da administração federal.
dimensão. - Referências geográficas.
Todas as demais tecnologias desenvolvidas - Pessoas que podem relatar ao banco
pela humanidade no século XX e neste início informações de idoneidade moral e financeira
de XXI, impuseram uma nova compreensão de sobre o interessado e, ao mesmo tempo
tempo que até então não se tinha vivenciado. garantir àquele estabelecimento, a sua própria
As distâncias entre as pessoas ficaram menores idoneidade moral e financeira, em uma forte
e ao invés de produzir mais conforto, produziu alusão a um velho ditado popular cuja autoria
mais exigências em função de se não querer desconhecemos, onde consta que, "diga-me
"perder tempo". com quem andas e te direi quem és".
44
UNIDADE C

A memória, que tem sua fundação no árvore; ter um filho homem e conhecer Roma.
indivíduo, num fato analisado de forma isolado, Excetuando as condições de gênero e outras
extrapola essa possibilidade principalmente em tão polêmicas incrustadas nesta frase e que não
função da condição precípua de que, todos os são de nosso interesse tratar delas, são todas
acontecimentos estão intimamente conectados essas ações, formas de se eternizar, de se tornar
de alguma forma. memorável, de se evitar a morte. Pelo livro fica
A humanidade construiu a eternização de uma inscrição a ser lida por inumeráveis pessoas
sua passagem pelos lugares através das mais em qualquer tempo ou lugar; plantar uma
variadas formas. Encontramos essa memória nas árvore é uma atitude de dar vida eterna ao
inscrições rupestres, nas pirâmides, nos templos, planeta Terra, nossa morada; o filho homem,
nos livros e em infinitas outras formas, das mais garante ao menos na cultura ocidental
simples às mais avançadas. Mais que um ritual, tradicional, a continuação do nome da família,
é uma cultura que está na gênese de todos os imortalidade de sua geração, e ir a Roma
seres, portanto, tem fundo voluntário ou não. (poderia ser Grécia, China, Japão, Peru, México
Existe um pensamento cujo autor e outros), é ver a memória de uma civilização
desconhecemos que, fala da necessidade de que ainda sobrevive em todos nós em função
se fazer quatro coisas de importância do seu legado cultural.
fundamental: escrever um livro; plantar uma

Memorial Mallet - Mausoléu do Marechal Emílo


Luiz Mallet (Barão de Itapevi), patrono da Artilharia brasileira

Figura C.1: Este Mausoléu, que abriga os restos mortais do insigne patrono e da Baronesa de Itapevi, localiza-se no
interior do 3º Grupo de Artilharia de Campanha Auto-Propulsado, Regimento Mallet , em Santa Maria, RS, Brasil.
Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista em novembro de 2004, disponível em Pinto (2005).
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Entrada Principal do Regimento Mallet

Figura C.2: Portão Principal do 3º Grupo de Artilharia de Campanha Auto-Propulsado (3º GAC AP) Regimento Mallet,

um dos abrigos imortais de bravos sul-rio-grandenses participantes da Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do
Paraguai e uma das Organizações Militares mais tradicionais do Exército Brasileiro. Em seu mastro vê-se hasteada ad
eternum a insígnia do seu imortal comandante durante a campanha do Paraguai, o Marechal Mallet.

Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista em novembro de 2004, disponível em Pinto (2005).

Pesquise em sua região, os monumentos,


bustos, nomes de ruas, edificações e
quartéis. Certamente encontrará uma
grande coleção de vestígios memoriais de
ordem pessoal ou coletiva.

46
UNIDADE C

C) Relações Sociais vez será influenciada pela erupção das idéias


É o conjunto de atitudes e comportamentos das pessoas, e, dentre essas formas em eterna
adotados individual ou coletivamente para o movimentação, estão as tecnologias da
estabelecimento de canais de comunicação informação e comunicação que, interagem com
entre as pessoas. essas estruturas de modo tão profundo que,
Esses comportamentos podem estar permitem o surgimento de outras formas de
normatizados segundo critérios específicos relações sociais dignas de atenção e estudo.
impostos pelos ambientes de trabalho, de Atualmente em que o computador e sua
religião, de família, de escola, de conexão com a rede mundial de comunicação,
entretenimento ou outros quaisquer, com a a internet, estão muito presentes na vida de
destinação precípua de servirem como muitas pessoas, experimenta a humanidade
instrumento de regulação do comportamento relações sociais muito diferenciadas das formas
de seus componentes. até então vividas. São pessoas que exercem sua
Os seres humanos por excelência têm sua sociabilidade através dessa ferramenta, e em
natureza voltada à socialização, à vida em grupo, muitos casos esquecem-se das outras formas
a viverem em sociedade. É, portanto, em um de expressão e comunicação, podendo
contexto de intercâmbio que se criam as desenvolver patologias importantes.
possibilidades do estabelecimento de estatutos, Diante do exposto, argumenta-se que a
regras de convivência social. construção da História se dá no dia-a-dia, ontem,
A soma de todos esses ambientes e seus hoje e em função do que a natureza nos
regimentos define os hábitos, tradições e proporciona. Acredita-se, diferentemente dos
costumes, dotando o grupo de uma cultura que historiadores tradicionais - que não concebem
lhe caracteriza diante de outros. Estão, portanto, a História como um instrumento relacionado
as relações sociais estruturadas dentro de um com futuro, mas que a percebem meramente
conjunto de outras relações, sendo que dentre como um acúmulo de conhecimentos
todas, as de poder tem presença determinante. registrados em papel ou em memória,
Quando se refere às relações sociais em um referentes ao passado - que ela, a História, deva
contexto cultural, está implícito que é uma propiciar uma melhor compreensão das
estrutura de extrema dinamicidade sofrendo a relações sociais passadas, presentes e também
influência do tempo e do espaço, que por sua futuras.

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Figura C.3: Nesta imagem, notam-se vários tipos de relações sociais. Exemplo: comerciais; conversa com amigos e
desconhecidos; namoros; vendedores ambulantes; comércio de idéias pelos políticos e não-políticos; comércio de
estética e de vaidades pela exposição aos olhares e muito mais.

Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista no "Calçadão de Santa Maria" (1ª quadra da Rua Dr. Bozano).

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UNIDADE C

Figura C.4: Nesta imagem, vê-se o prédio da Câmara de Vereadores de Santa Maria-RS, local onde ocorrem vários
tipos de relações sociais.
Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista.

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Figura C.5: Nesta imagem, vê-se a Prefeitura de Santa Maria-RS, local onde ocorrem vários tipos de relações sociais.
Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista.
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UNIDADE C

Figura C.6: Nesta imagem, vê-se o portão de acesso à Universidade Federal de Santa Maria, local privilegiado onde se
verificam inúmeros tipos de relações sociais.
Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista.

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Figura C.7: Nesta imagem, nota-se parte das relações sociais vivenciadas na Educação a Distância, implementada
pela interação por meio do computador e da internet.
Fonte: Fotografia realizada pelo conteudista em uma das salas da Educação a Distância.

As relações sociais estão também na


gênese da humanidade. Certifique-se disso
em sua escola, e em todos os outros locais
por onde existem atividades de intercâmbio
humano, principalmente em repartições
públicas.

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REFERÊNCIAS

Referências
Referências Bibliográficas CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas

e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.


BARROSO, Vera Lúcia Maciel. O Ensino de História:
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relações do império do Brasil e a República do Paraguai

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