Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial
METODOLOGIA
DO ENSINO
DA LÍNGUA
PORTUGUESA I
4º Semestre
1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Profa. Jane Dalla Corte Monari Transferência Técnológica | UFSM)
Professoras Pesquisadoras (Conteudistas)
Projeto de Ilustração
Marta Azzolin (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Acadêmica Colaboradora
Prof. André Krusser Dalmazzo
Ana Paula Bopp Leke Coordenação
Carla Marli Adiers Stefanello
Professoras Colaboradoras Paulo César Cipolatt de Oliveira
Técnico
CDU: 806.90:37
Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro da Educação
UNIDADE A
AS TEORIAS LINGÜÌSTICAS E DE APRENDIZAGEM:
DA CONCEPÇÃO MECANICISTA À INTERACIONISTA 07
1. A concepção mecanicista 09
2. Teoria Inatista 11
3. Teoria Interacionista 13
4. Estudos psicolingüísticos 14
5. Modelos Interacionistas de leitura I e II 22
UNIDADE B
HABILIDADES BÁSICAS DA COMUNICACAO
LINGUÍSTICA: FALAR, OUVIR, LER E ESCREVER 31
1. Falar 33
2. Ouvir 39
3. Ler 41
4. Escrever 44
UNIDADE C
CONTEÚDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA E SUAS METODOLOGIAS:
LEITURA, PRODUÇÃO TEXTUAL E ANÁLISE LINGUÍSTICA 47
1. Leitura 49
2. Produção Textual 53
3. Análise Linguistica 60
REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 70
4
Apresentação
da Disciplina
METODOLOGIA
DO ENSINO
DA LÍNGUA
PORTUGUESA I
4º Semestre
AS TEORIAS LINGÜÌSTICAS
E DE APRENDIZAGEM:
DA CONCEPÇÃO
MECANICISTA À
INTERACIONISTA
Objetivos da Unidade
- Estudar as diferentes teorias lingüísticas e de
aprendizagem.
- Conhecer e aplicar os modelos interacionistas de
leitura.
7
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
As teorias lingüísticas sempre estiveram aborda os estudos psicolingüísticos, numa visão
juntas com as teorias de aprendizagem. Ao que abarca os fatores neuropsicológicos e psico-
estudar o interacionismo, enquanto teoria de socio-afetvos da aprendizagem. Por fim, dá
aprendizagem, não é difícil imaginá-lo, enquanto destaque aos modelos interacionistas de leitura.
teoria lingüística, pois ambas as abordagens Ao longo do tempo, o homem foi
consideram a interação com o meio, como encontrando formas de explicar a aquisição da
parte da aquisição da linguagem. linguagem. Diversas teorias foram elaboradas
Desse modo, essa unidade irá tratar da com o intuito de explicar como os seres
relação entre as Teorias lingüísticas e de humanos aprendem ou adquirirem habilidades
aprendizagem, considerando a evolução dos para ler e escrever. Essas teorias estão divididas
estudos que partiram de uma visão mecanicista, em três grupos: a mecanicista, a inatista, a
à teoria inatista, até a interacionista. Para tal, interacionista.
8
UNIDADE A
1 A concepção mecanicista
A concepção mecanicista, também chamada de
controle e da previsão. São nas palavras de Didáticos das disciplinas Psicologia da Educação I e III.
atribuía exclusivamente
à experiência e ao
condicionamento do
comportamento.
COBRA, R.Q. 20/04/
Figura A.1: Skniner
2003 Disponível em
http://
www.cobra.pages.nom.br/
ec-watson.html Acesso
em 22 de novembro
de 2005.
9
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Deste modo, a criança aprende a língua pela que fazem com que a criança internalize a forma
imitação e pela formação de hábitos, ou seja, correta de tanto fazer a mesma coisa. A
ela ouve os sons, as palavras, gestos etc. e os aprendizagem é repetitiva e mecânica, e
imita. Dependendo da reação do adulto - acontece através do treino.
positiva ou negativa - ela continua ou não Na visão behaviorista, o ensino da gramática
praticando, formando ou não hábitos. Para os acontece com ênfase nos exercícios repetitivos
behavioristas, o simples imitar e memorizar e na recapitulação da matéria, exigindo uma
formas "corretas" de linguagem faz com que a atitude receptiva e mecânica do aluno. Os
criança aprenda a língua-alvo. É o caso dos conteúdos são organizados pelo professor, numa
exercícios fechados - ou fórmulas fixas, seqüência lógica, e a avaliação é realizada
geralmente apresentados em um curso de através de provas escritas e exercícios de casa.
língua, seja materna ou não, e que solicitam o Desse modo, é possível dizer que, embora
preenchimento de lacunas com respostas óbvias a teoria behaviorista seja muito criticada nos
que se repetem várias vezes. Cita-se, por dias atuais, ela continua viva nos bancos
exemplo: escolares, sendo responsabilidade do professor
"Nice to _____ you!" conhecer as teorias de aprendizagem para
"Nice to _____ you too!". escolher o método mais adequado a ser usado
Nessa perspectiva são apresentados em sala de aula.
exercícios fechados e exaustivamente repetidos,
10
UNIDADE A
2 Teoria Inatista
Contrapondo-se ao behaviorismo, surge contribui decisivamente para o arranque da
Chomsky, que desenvolveu sua teoria baseada revolução cognitiva, no domínio das ciências
na concepção Inatista, ou seja, o saber é inato, humanas. Além da sua investigação e ensino
o homem já nasce com o conhecimento. De no âmbito da Lingüística, Chomsky é também
um modo geral, a visão inatista defende que as muito conhecido pelas suas posições políticas
capacidades básicas do ser humano (como de esquerda e pela sua crítica da política externa
personalidade, formas de pensar, dos Estados Unidos da América. Chomsky
comportamentos) são inatas, isto é, já se descreve-se a si mesmo como um socialista
encontram prontas no momento do nascimento. libertário havendo quem o
Com referência a aquisição da linguagem,
os inatistas defendem que as crianças já vêm
ao mundo programadas para falar. A linguagem
se desenvolve naturalmente como outras
funções biológicas (andar, ouvir). Até os sete Outras publicações que
fazem referência ao
anos sabe-se que as crianças dominam
Guilherme Escosteguy
Inatismo:
completamente a linguagem materna. O CHOMSKY, Noam.
Linguagem e mente.
ambiente apenas contribui com a capacidade Brasília: Universidade
de Brasília, 1998.
Figura A.3: Chomsky lingüística do ser humano, criando novas FARIA, Núbia Rabelo
Bakker. Buscando os
situações que proporcionam novas
limites do dado na
Avram Noam Chomsky (7 de dezembro de possibilidades de expressão. aquisição da linguagem.
Disponível em <http://
1928) é professor de Lingüística no Instituto Na visão de Richter (2000, p.25) os sw.npd.ufc.br/abralin/
anais_con2nac_tema014.pdf>.
de Tecnologia de Massachusetts (MIT, das argumentos positivos referentes ao inatismo são: PINKER, Steven. O
iniciais em inglês). O seu nome está associado - virtualmente todas as crianças aprendem instinto da linguagem:
como a mente cria a
à criação da gramática ge(ne)rativa sua língua materna em uma idade em que linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
transformacional, abordagem que revolucionou dificilmente seriam capazes de aprender algo SCARPA, Ester Mirian.
Aquisição da
os estudos no domínio da lingüística teórica. É tão complicado; linguagem. In:
também o autor de trabalhos fundamentais - as crianças aprendem bem sua língua MUSSALIM, Fernanda;
BENTES, Ana Cristina.
sobre as propriedades matemáticas das materna, quer num ambiente estimulante e Introdução à lingüística:
domínios e fronteiras.
linguagens formais, sendo o seu nome culto, quer num ambiente desumano e bocal. São Paulo: Cortez,
associado à chamada Hierarquia de Chomsky. As diferenças ficam por conta do vocabulário, 2001. v.2.
SOUZA, Solange Jobim
Os seus trabalhos, combinando uma abordagem criatividade, refinamento dos usos, etc. Mas as e. Infância e
Linguagem: Baktin,
matemática dos fenômenos da linguagem com estruturas da língua falada serão sempre as Vygotsky e Benjamin. 6.
ed. São Paulo: Papirus,
uma crítica radical do behavio(u)rismo, em que mesmas; 2001.
a linguagem é conceitualizada como uma - a linguagem ouvida pelas crianças só
propriedade inata do cérebro/mente humanos, consegue exemplificar parte das regras
11
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
gramaticais que elas acabam dominando; - nenhum outro animal, mesmo treinado,
- as crianças produzem enunciados bem- consegue manipular um sistema de símbolos
formados mesmo que nenhum adulto lhes tão complexo como a linguagem de uma criança
aponte os "corretos" e os "incorretos"; de três ou quatro anos.
Paulo César Cipolatt de Oliveira
3 Teoria Interacionista
A teoria interacionista nasceu como um maneira isolada, a parte da cognição humana.
contraponto ao inatismo, uma vez que os seres As crianças adquirem a linguagem fazendo
humanos são seres sociais, interagem com o relações com experiências concretas anteriores.
meio e agem cooperativamente. Os Complementando esta idéia, Duarte Junior
interacionistas que mais se destacaram foram: (1982) enfatiza que todo processo de
Jean Piaget e Lev Seminovitch Vygostsky. aprendizado se processa sobre dois fatores: as
Para os interacionistas, desde o nascimento, vivências (o que é sentido) e as simbolizações
as crianças estão interagindo com os adultos e que se manifestam através das palavras (o que A teoria interacionista e
seus principais
com o meio, e ativamente incorporam novos é pensado).
pesquisadores foram
conhecimentos, novas informações a sua Em qualquer língua, o aprendizado estudados nas
disciplinas Psicologia da
bagagem de vida. semântico depende dos símbolos e dos Educação I e III.
13
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
4 Estudos psicolingüísticos
A psicolingüística estuda as conexões entre a foi promovido pela insistência com que o
linguagem e a mente, pois ensina sobre a lingüista Noam Chomsky defendeu, naquela
natureza e os processos de trabalho do cérebro, época, que a lingüística precisa ser encarada
permitindo o entendimento de que o espírito como parte da psicologia cognitiva, mas há
humano trabalha por razões econômicas através também outros fatores, notadamente o
de estruturas mentais. Enquanto disciplina interesse crescente pela questão da aquisição
A linguagem diz autônoma começou a destacar-se nos anos da linguagem pelas crianças.
respeito a um sistema
1950. Em alguma medida, seu aparecimento
constituído por
elementos que podem
ser gestos, sinais, sons,
símbolos ou palavras,
que são usados para
representar conceitos
de comunicação,
idéias, significados e
pensamentos. Nesta
acepção, linguagem
aproxima-se do
conceito de língua.
Numa outra acepção,
linguagem refere-se à
função cerebral que
permite a qualquer ser
humano adquirir e
utilizar uma língua. Por
extensão, chama-se
linguagem de
programação ao
conjunto de códigos
usados em
computação. O estudo
da linguagem é
chamado lingüística,
uma disciplina
acadêmica introduzida
por Ferdinand de
Saussure, no início do
século XX, e depois
Paulo César Cipolatt de Oliveira
desenvolvida como
ciência.
14
UNIDADE A
15
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Os autores citados formularam alguns palavra mesmo com a falta de algumas letras.
princípios baseados nos estudos Então, também se pode entender uma frase
psicolingüísticos, segundo os quais devem se onde há palavras cujo sentido se desconhece,
processar o ensino de uma segunda língua. sabendo administrar o desconhecido. Isto é,
sempre haverá uma palavra, uma expressão que
Deve apresentar-se sempre o material
lingüístico em situação para que se perceba não dá para entender na frase, mas focalizando
os conjuntos lingüísticos desconhecidos o geral, concentrando o entendimento para o
através da estrutura de conjuntos conhe-
cidos, lingüísticos ou outros. Além do mais, que já é conhecido, pela dedução e
se esta situação for relacionada com certas conhecimento prévio se entenderá o todo,
necessidades dos alunos, este procedimen-
to criará uma certa motivação, muito favorável relegando para o segundo plano o resto sem
à aprendizagem. Deve-se fazer a comprometimento no entendimento global do
apresentação segundo o método estruturo-
global, isto é, deve-se ligar cada conjunto
texto. E, isto se faz geralmente com o
lingüístico, fonético ou sintático a um hemisfério direito do cérebro.
conjunto conceitual de maneira a constituir
No entanto, percebe-se que são muitos os
uma mensagem autêntica. Isto implica que
a apresentação não pode, em hipótese fatores que interferem na aquisição da
alguma, se limitar a fenômenos isolados nem
linguagem, e que fazem parte dos estudos
a palavras isoladas. (Id. Ibidem., p.49)
psicolingüísticos, complementando-os, podendo
Desse modo, por meio de estudos ser destacados em dois grupos: os
psicolingüísticos é possível compreender Neuropsicológicos e os Psico-Sócio-Afetivos.
porque, muitas vezes, se consegue ler uma
16
UNIDADE A
Fatores Neuropsicológicos
de criar, a partir do que lhe foi ensinado. Desse podendo-se constatar que fatores psico-sócio-
modo, a inibição relaciona-se com o medo de afetivos influenciam diretamente sobre a
exposição e com a auto-estima do sujeito, aprendizagem do indivíduo.
21
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
5 Modelos Interacionistas
de leitura I e II
Como e por que duas relações ou comuni-
No percurso da história, podemos classificar a dades sociais anteriormente semelhantes
existência de três modelos de leitura, que chegaram a uma organização social bastante
diferente do uso da língua e comportamento
acompanham as teorias lingüísticas e de com relação à língua (FISHMAN, 1972, apud
aprendizagem: a Comportamentalista (estrutura- BRAGGIO, 1992, p. 28).
permanente interação social, a psicologia cogni- Para o autor, os esquemas podem ser vistos
tiva, ao que se refere ao estudo da leitura, en- como blocos de construção do conhecimento,
controu na Teoria dos Esquemas alguns signifi- que são os elementos sobre os quais os dados
cados importantes para explicar como o conhe- lingüísticos e não lingüísticos são interpretados,
cimento é adquirido, organizado, armazenado sendo construídos por meio de interações. Todo
e representado na memória ao longo do tempo. ser humano interage com o ambiente, dentro
Para Rumelhart (1981, apud BRAGGIO, de um contexto sóciocultural, isto é, todas as
1992, p. 42) a Teoria dos Esquemas pode ser pessoas possuem esquemas baseados em suas
definida como uma teoria sobre o conhecimento. experiências sócioculturais.
Na Teoria dos Esquemas, a leitura tem como
Um esquema, então, é uma estrutura de
dados para representar os conceitos objetivo principal em sua análise, a interação
genéricos armazenados na memória. Há entre o leitor e o texto. Adams e Collins (1985,
esquemas representando nosso
conhecimento sobre todos os conceitos: apud BRAGGIO, 1992, p. 43) argumentam que
aqueles subjacentes a objetos, situações, essa interação visa: "especificar como o
eventos, seqüências de eventos, ações e
seqüências de ações. Um esquema contém, conhecimento do leitor interage e molda a
como parte de sua especificação, uma cadeia informação sobre a escrita e como aquele
de inter-relações que normalmente
acreditamos serem mantidos entre os
conhecimento deve ser organizado para
constituintes em questão. corroborar a interação."
Bruno da Veiga Thurner
Verifica-se, então, que uma criança ao ler Na prática de ensino destacam-se duas
um texto desconectado de sua realidade cultural, correntes, tendo como base a teoria de
não compreenderá, por inteiro, a mensagem esquemas. A primeira argumenta que as
emitida pelo escritor. Isso decorre que, para crianças chegam à escola com alguns esquemas
compreendermos um texto, além do prontos, baseados em suas experiências de vida,
conhecimento da língua e das interpretações os quais poderão ser transformados e ampliados.
subjacentes à sua visão de mundo, a criança A segunda corrente aponta que, desde o início
utiliza-se de outras estratégias cognitivas no ato da alfabetização, o texto em sua totalidade, é o
da leitura. Essas estratégias estão diretamente principal objeto a ser trabalhado, pois pequenos
ligadas à Teoria dos Esquemas fazendo com que fragmentos de língua, ou seja, frases curtas,
o leitor aprenda, a partir do estabelecimento soltas e fora do contexto, tornam o processo
de relações, com o contexto em que vive, de inferenciamento mais difícil.
inferindo sobre o que está escrito. Tendo como base essas correntes, Braggio
Para fazer inferência, o leitor precisa trazer (1992), recomenda que a criança deve interagir
em sua bagagem algum conhecimento sobre o e ser exposta a diferentes tipos de textos,
conteúdo tratado no texto, as características contextualizados ou não; conhecer outras
sócio-culturais são levadas em conta, no normas culturais, que não as suas; compreender
momento de estabelecer as relações sobre os no texto as relações de causa e efeito; ser
fatos. aclarado sobre assuntos desconhecidos no texto;
Portanto, dentro de uma concepção utilizar conhecimentos prévios para dar
interacionista de leitura, é através do processo significado ao texto e para produzir novos
de inferenciamento, que ocorre a compreensão textos; e, ser incentivado a fazer inferências .
da leitura.
Modelo Interacionista
de Leitura II
Uma das conseqüências da utilização de O Modelo Interacionista de Leitura II se
experiências e conhecimentos passados e fundamenta nos prescritos de Goodman e
de inferências para compreender um texto Goodman, onde comunicação e função são as
é de que existe mais de que uma leitura referências chaves do ato de ler e escrever. Os
do texto, isto é, uma reprodução o texto autores deixam claro a necessidade de visualizar
que pode ser menos fidedigna ao escritor. a linguagem escrita sobre o ponto de vista da
O texto pode ser modificado e novos comunicação. Para os Goodman (1976, apud
elementos podem ser neles introduzidos. BRAGGIO, 1992, p.57) "é o propósito
Logo, várias interpretações de um texto são comunicativo que motiva o desenvolvimento
possíveis (BRAGGIO, 1992, p. 45). da linguagem e que move as crianças em
direção à língua que as circunda".
24
UNIDADE A
27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
29
30
UNIDADE
HABILIDADES
BÁSICAS DA
COMUNICACAO
LINGUÍSTICA: FALAR,
OUVIR, LER E
ESCREVER
Objetivos da Unidade
- Estudar as quatro habilidades básicas da
comunicação lingüística: falar, ouvir, ler e escrever.
- Fornecer sugestões de atividades para o
desenvolvimento das quatro habilidades lingüísticas.
31
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
Para que ocorra a aprendizagem de uma língua comunicação lingüística têm influência decisiva
no ensino regular, é sobremaneira importante nos índices escolares negativos como a evasão
que o aluno seja estimulado a desenvolver as e a repetência.
quatro habilidades básicas da comunicação É através do desenvolvimento das
lingüística. De nada adianta ensinar gramática, habilidades básicas que o indivíduo poderá
se o aluno não sabe falar e escrever, por outro expressar-se com clareza, compreender as
lado, ele também não saberá se comunicar, se mensagens recebidas, atribuir significado,
as habilidades lingüísticas de ouvir e ler não comunicar-se mais ampla e eficazmente dentro
forem desenvolvidas. Considerando as do grupo social. Através do domínio da
particularidades que poderão ser encontradas linguagem oral e escrita pode-se compreender
nas salas de aula, o educador especial deverá o povo, e valorizar a diversidade da cultura
ter condições de atender os alunos e encontrar brasileira.
meios de auxiliá-lo a comunicar-se, senão com O professor, ao procurar estimular e
as quatro habilidades lingüísticas, de outro modo desenvolver as habilidades básicas da criança,
que julgue apropriado. não deve adotar uma atitude preconceituosa,
Portanto, essa unidade irá apresentar as uma vez que a linguagem que a criança carrega
quatro habilidades básicas da comunicação consigo, significa a sua visão de mundo. Mundo
lingüística, procurando oferecer sugestões de significa o acervo de conceitos e conhecimentos
atividades que deverão ser adaptadas a cada que cada indivíduo possui, ou seja, quanto mais
realidade. palavras se conhece, quanto mais conceitos se
Para compreender qualquer idioma é pode articular, maior é o mundo, maior é o
necessário desenvolver as quatro habilidades alcance e a amplitude da consciência (DUARTE
básicas da comunicação lingüística: falar, ouvir, JUNIOR, 1982). Cabe ao professor
ler e escrever. Ensinar a criança a ler, a escrever compreender estes significados, as "limitações"
e a se expressar de maneira satisfatória na língua culturais e sociais, e encontrar formas de
portuguesa é um grande desafio para o estimular e desenvolver a fala, a audição, a
professor. Com certeza, as dificuldades com a leitura e a escrita.
32
UNIDADE B
1 Falar
A criança já chega à escola falando. Neste
sentido, Chomsky (1966) afirma que o falante A lingüística pode e deve contribuir muito
sabe instintivamente sua língua e só precisa ser mais à prática dos professores de português.
ajudado a desenvolver-se nela por meio de Sobretudo, deve ensejar a compreensão de
prática e de exercícios agradáveis. que a língua constitui um instrumento de
Sabe-se, no entanto, que o domínio oral, comunicação destinado a cobrir uma grande
tanto da criança quanto do adulto, está diversidade de necessidades humanas -
diretamente ligado ao contexto de comunicação comunicação racional, afetiva,
em que o indivíduo vive. No Brasil, é normal argumentativa, informativa, etc.
observarmos na fala das pessoas a falta de Esta compreensão permitirá que o
consonância com a dita norma culta. Exemplo professor de português não caia na tentação
disso, segundo Carboni (2003) é o próprio de transformar as aulas de expressão
Presidente da República do Brasil, Lula, e seus lingüísticas em lições de ortografia, de
"deslizes" ao verbalizar o português padrão. gramática normativa ou, o que é pior, de
Frequentemente ele usa palavras do tipo "acho nomenclatura lingüística e enfatize, ao
de que", "percas", "menas" e costuma nos contrário, o desenvolvimento da
discursos suprimir a vogal "s" do plural. competência textual dos alunos, para o
De acordo com os Parâmetros Curriculares maior número possível de necessidades
Nacionais da Língua Portuguesa (BRASIL, 1999), comunicativas e discursivas.
O desenvolvimento da capacidade de
expressão oral do aluno depende considera-
velmente de a escola constituir-se num
Isto posto, é de fundamental importância
ambiente que respeite e acolha a vez e a
voz, a diferença e a diversidade. Mas, sobre- que a escola crie um espaço onde o aluno não
tudo, depende de a escola ensinar-lhe os
tenha medo de expor suas dúvidas, possa
usos da língua adequados a diferentes situa-
ções comunicativas. De nada adianta aceitar compartilhar idéias, seja incentivado a falar.
o aluno como ele é mas não lhe oferecer No entanto, para que o aluno aprenda outras
instrumentos para enfrentar situações em
que não será aceito se reproduzir as formas formas de falar, de maneira especial à língua
de expressão próprias de sua comunidade. padrão, somente estas oportunidades não são
É preciso, portanto, ensinar-lhe a utilizar
adequadamente a linguagem em instâncias suficientes. É de fundamental importância criar
públicas, a fazer uso da língua oral de forma diversificadas situações onde seja necessário o
cada vez mais competente.
aluno falar.
Mas afinal, o que a escola pode fazer para Neste caso, o planejamento da ação
ensinar o aluno usar adequadamente a língua? pedagógica, de forma a garantir, escuta e
Para responder esta pergunta, tem-se como reflexão sobre a língua, é de grande relevância.
pressuposto a assertiva de Carboni (2003): Propor situações didáticas, através das quais os
33
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
34
UNIDADE B
Bruno da Veiga Thurner
Todas as atividades descritas acima requerem complementar para conferir sentido aos textos.
preparação pelo professor, explicando Como sugestão a avaliação pode ser feita
previamente aos alunos quais os objetivos de através da gravação das exibições dos alunos,
cada atividade, as anotações que devem ser onde posteriormente se usará a mesma para
feitas, o tempo necessário para realização da discutir com os alunos os pontos fortes e fracos,
tarefa e as dificuldades que por ventura possam e fazer um comparativo da linguagem usada.
aparecer, Acredita-se que estes tipos de atividades são
Em atividades desse tipo, é possível dar potencializadoras para ajudar o aluno a se
sentido e função ao trabalho com aspectos expressar corretamente, fazendo disso, o
como entonação, dicção, gesto e postura que, verdadeiro e correto uso da fala.
no caso da linguagem oral, têm papel
35
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
nunca tiveram contato entre si e com as línguas morfossintático, como nos níveis semântico e
de sinais já conhecidas. Existem estudos que pragmático.
demonstram as características morfológicas. É de fundamental importância que os efeitos
A capacidade de comunicação lingüística da língua oral portuguesa sobre a cognição não
apresenta-se como um dos principais sejam supervalorizados em relação ao
responsáveis pelo processo de desempenho do portador de surdez,
desenvolvimento da criança surda em toda a dificultando sua aprendizagem e diminuindo
sua potencialidade, para que possa suas chances de integração plena. Faz-se
desempenhar seu papel social e integrar-se necessário, por conseguinte, a utilização de
verdadeiramente na sociedade. alternativas de comunicação que possam
Entre os grandes desafios para pesquisadores propiciar um melhor intercâmbio, em todas as
e professores de surdos situa-se o de explicar e áreas, entre surdos e ouvintes. Essas alternativas
superar as muitas dificuldades que esses alunos devem basear-se na substituição da audição por
apresentam no aprendizado e uso de línguas outros canais, destacando-se a visão, o tato e
orais como é o caso da Língua Portuguesa. movimento, além do aproveitamento dos restos
Sabe-se que, quanto mais cedo tenha sido auditivos existentes.
privado de audição e quanto mais profundo for Face ao exposto, pode-se concluir que o
o comprometimento, maiores serão aquelas portador de surdez tem as mesmas
dificuldades. No que se refere à Língua possibilidades de desenvolvimento que a
Portuguesa, a grande maioria das pessoas surdas, pessoa ouvinte, precisando, somente, que
já escolarizada, continua demostrando tenha suas necessidade especiais supridas, visto
dificuldades tanto nos níveis fonológico e que o natural do homem é a linguagem.
38
UNIDADE B
2 Ouvir
Ensinar a Língua Portuguesa passa pela expansão diretamente relacionado às habilidades de falar
das possibilidades do uso da linguagem. Para e ouvir, não podendo estar desconectadas uma
tanto, é necessário desenvolver as quatro habili- da outra.
dades lingüísticas básicas, dentre elas o ouvir. Para produzir e compreender um texto, é
Os conteúdos de Língua Portuguesa, no importante saber ouvir. Quando o aluno está
ensino fundamental, são selecionados em escutando alguém ler, um colega falar, ou um
função do desenvolvimento dessas habilidades programa de rádio e televisão, ele está adquirin-
e organizados em torno de dois eixos básicos, do e armazenando um conjunto de informações
de acordo com os Parâmetros Curriculares que serão fundamentais para a produção de
Nacionais: o uso da língua oral e escrita e a textos. Essas informações ajudam o aluno a criar
análise e reflexão sobre a língua. sua bagagem de vida, atribuindo significado às
Deste modo, o uso da linguagem oral está coisas.
André Schmitt da Silva Mello
40
UNIDADE B
3 Ler
sem descaracterizá-la. Isso significa trabalhar
Um dos maiores problemas enfrentados pela com a diversidade de textos e de
combinações entre eles. Significa trabalhar
escola é a dificuldade de ensinar as crianças a
com a diversidade de objetivos e
ler e escrever. Os índices de 30% de alunos modalidades que caracterizam a leitura, ou
reprovados na primeira série, segundo dados seja, os diferentes "para quês" - resolver um
problema prático, informar-se, divertir-se,
disponíveis no INEP (ARAÚJO e LUZIO, 2003), estudar, escrever ou revisar o próprio texto -
reforçam essa assertiva. No entanto, e com as diferentes formas de leitura em
função de diferentes objetivos e gêneros:
especialistas em dificuldades de aprendizagem, ler buscando as informações relevantes, ou
afirmam que as crianças têm desempenho o significado implícito nas entrelinhas, ou
dados para a solução de um problema.
cognitivo real, com grande capacidade para (BRASIL, 1999).
aprender (SOLIGO, 2003).
Se as crianças têm capacidade para aprender, Desse modo, o aluno é capaz de De acordo com o INEP
- Instituto Nacional de
será que não é a escola que não está sabendo compreender o texto e não apenas decodificá-
Estudos e Pesquisas
ensinar? Talvez este seja um dos maiores lo, e a escola deve oferecer material de leitura Educacionais Anísio
Teixeira, um terço dos
desafios da prática de ensino: buscar o melhor de qualidade, diversidade de textos, que estudantes brasileiros
da primeira série do
método para ensinar a ler e escrever. abarquem novos horizontes, possibilitando ensino fundamental,
A leitura é um processo no qual o leitor mostrar outras realidades, um novo mundo. As em 2003, foi
reprovado, ou
realiza um trabalho ativo de construção do situações de descobertas vão requer do aluno abandonou o sistema
escolar. Leia mais no
significado do texto, a partir dos conhecimentos reflexão, inferência sobre novas possibilidades, artigo Fracasso aos sete
anos? de Carlos
pré-existentes, Leitura não é apenas e, portanto, o aprendizado.
Henrique Araújo e
decodificação de texto. Trata-se de uma ação A intervenção do professor é fundamental. Nildo Luzio, disponível
em:http://www.inep.
que envolve os sentidos, a compreensão, e Além da seleção do material para leitura, gov.br/imprensa/
artigos/
interesses próprios. professor deve agrupar os alunos de forma a artigo_02_05.htm
Para a leitura ser interessante, as crianças socializar as informações, oportunizando o
devem encontrar nos textos algo desafiador, ser debate, a troca, a descoberta do novo proposto
uma conquista capaz de dar autonomia e pelo texto. A heterogeneidade da turma,
independência. pedagogicamente bem explorada, pode ser um
De acordo com os Parâmetros Curriculares facilitador da aprendizagem.
Nacionais, para que a leitura se torne um objeto De modo interativo, o professor levará o
de aprendizagem, é necessário que faça sentido aluno a perceber os sentidos do texto, pois, "a
para o aluno: leitura incide sobre a palavra do outro, onde o
leitor pode descobrir outras formas de pensar
A atividade de leitura deve responder, do
seu ponto de vista, a objetivos de realização que, contrapostas, poderão levar à construção
imediata. Como se trata de uma prática social de novas formas, fazendo da leitura uma
complexa, se a escola pretende converter a
leitura em objeto de aprendizagem deve
verdadeira atividade de produção dos sentidos"
preservar sua natureza e sua complexidade, (GERALDI, 1993, p.171).
41
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
43
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
4 Escrever
Apesar de estar sendo tratado leitura e escrita intenções, ações, idéias e
de forma separada, é importante salientar que sentimentos(VYGOTSKY, 2000).
estas duas habilidades são correlatas: a escrita Para Barbosa (2001), o ensino da
transforma a fala e, por outro lado, se adquire linguagem escrita vem sofrendo uma série de
o domínio da linguagem escrita muito mais pela reestruturações e tentando respeitar a
leitura, do que pela própria escrita. funcionalidade da linguagem num primeiro
A escrita é o principal instrumento de momento, para depois poder preocupar-se com
aprendizagem, que os alunos necessitam se a correção da forma, tanto no sentido gramatical
apropriar, para poder apreender o mundo e todo quanto ortográfico e caligráfico Esta
o conhecimento que nele se produz e se funcionalidade se refere à capacidade da
produziu. Portanto, para ensinar a escrever é: linguagem de prestar alguns serviços como, por
exemplo, comunicar; registrar fatos, dados,
... preciso oferecer aos alunos inúmeras
informações importantes; e eternizar
oportunidades de aprenderem a escrever
em condições semelhantes às que descobertas, inventos, criações, etc. Enfim, a
caracterizam a escrita fora da escola. É preciso principal função da linguagem escrita é a de
que se coloquem as questões centrais da
produção desde o início: como escrever, permitir ao ser humano fazer e registrar a
considerando, ao mesmo tempo, o que história, fato este que o diferencia de outros
pretendem dizer e a quem o texto se destina
- afinal, a eficácia da escrita se caracteriza animais.
pela aproximação máxima entre a intenção Dada à relevância da escrita, é dever das
de dizer, o que efetivamente se escreve e a
interpretação de quem lê. É preciso que
metodologias de ensino buscar alternativas para
aprendam os aspectos notacionais da escrita ensinar o aluno a escrever bem e cada vez
(o princípio alfabético e as restrições
melhor. Para tanto, apresentam-se algumas
ortográficas) no interior de um processo de
aprendizagem dos usos da linguagem escrita. referências para produção de textos:
É disso que se está falando quando se diz
- a leitura diária de diversos textos, com
que é preciso "aprender a escrever,
escrevendo". (PARÂMETROS CURRICULARES diferentes gêneros, é fundamental para produzir
NACIONAIS) textos de qualidade;
- o professor deve ler para seus alunos.
Produzir textos bem escritos depende da Quanto mais os alunos ouvirem, maior a
diversidade de textos apresentados aos alunos capacidade de produção de textos;
e, também das possibilidades que o professor - o professor deve ajudar na organização e
dispõe para o aluno refletir e discutir sobre o revisão do texto;
ato de redigir. - incentivar o aluno a produzir textos mesmo
O professor ao ensinar escrever, deve ter que ele não saiba escrever;
claro que a língua é viva, que possui uma função - é importante que outras pessoas leiam o
social de informar, comunicar, expressar texto produzido e critiquem-no;
44
UNIDADE B
- para redigir bem, é importante guardar os por exemplo: transformar uma história infantil
textos produzidos, e depois de algum tempo, em uma história em quadrinhos;
realizar uma revisão crítica, verificando o que - criar projetos onde os alunos possam
pode ser alterado; produzir textos de forma contextualizada, por
- as primeiras produções de textos devem exemplo, narrar a história de vida da pessoa
buscar subsídios em outros textos; mais velha do bairro. Elaborar uma cartilha sobre
- a produção do texto deve acontecer dentro a coleta seletiva do lixo;
de um contexto, com uma função (a quem se - produzir textos a partir de outros já
dirige) e com significado; conhecidos pelos alunos, por exemplo, uma
mensagem de alerta sobre os riscos de dirigir
alcoolizado;
- dar o início de um texto para que os alunos
A leitura é condição básica para a escrita. escrevam de forma criativa o meio e o final;
- planejar coletivamente o texto, para,
posteriormente, cada aluno escrever a sua
Sugestões de atividades: versão;
- propor aos alunos reescreverem textos - escrever e reescrever textos em parceria,
conhecidos através da leitura; podendo utilizar personagens e acontecimentos
- transformar os gêneros dos textos, como de histórias vivenciadas pelos alunos.
André Schmitt da Silva Mello
46
UNIDADE
CONTEÚDOS DE LÍNGUA
PORTUGUESA E SUAS
METODOLOGIAS: LEITURA,
PRODUÇÃO TEXTUAL
E ANÁLISE LINGUÍSTICA
Objetivos da Unidade
Fornecer ao aluno bases teóricas e práticas para que
estabeleça e desenvolva relações de metodologias
de ensino para conteúdos de língua portuguesa, tais
como: leitura, produção textual e análise lingüística.
47
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
Há constantemente uma preocupação, por o meio em que o aluno está inserido. Desse
parte dos educadores especiais, em encontrar modo, essa unidade irá apresentar a leitura,
metodologias de ensino que possam ser entendendo-a como base para a escrita, e, por
utilizadas com alunos portadores de deficiência. conseguinte, da aprendizagem; a produção
Em se tratando do ensino da Língua Portuguesa, textual, abordando os aspectos referentes ao
há que se ter claro, que nesse ou em qualquer texto e à textualidade e; por fim a análise
outro contexto em que o educador especial irá lingüística.
atuar, deve levar em consideração, a cultura e
48
UNIDADE C
1 Leitura
Quando se fala sobre metodologias, abordagens, subconscientemente, e passam a integrar o
modelos de leitura, os professores costumam vocabulário, o qual foi adquirido, em um
se preocupar com a melhor forma de se processo iniciado na infância, de forma contínua
apresentar o texto e este ser compreendido, e através da observação do ambiente,
preferencialmente na sua grande maioria, pelo observando outras pessoas falar, prestando
receptor. atenção nas palavras utilizadas em determinadas
Primeiramente, o processo de leitura de um situações e também através da leitura.
texto deve ocorrer como um enigma a ser Para que a informação seja retida pelo
desvendado. Todos os leitores possuem alguns leitor, é preciso situá-la dentro de um
elementos familiares, as palavras que referencial de conhecimentos. A informação
conhecem, e outras desconhecidas. Deve-se nova precisa se integrar à visão do mundo, à
concluir, por meio de conhecimentos anteriores, experiência prévia do leitor. Apenas deste modo,
o que as palavras desconhecidas podem pode-se esperar que o conhecimento adquirido
significar. Para que se possa compreender um seja duradouro.
texto, não se deve preocupar com todas as Para que se possa garantir uma boa leitura
palavras, mas apenas com aquelas que de um texto, Abaurre et al (2004) estabelecem
desempenhem um papel importante no texto. alguns passos a serem seguidos:
No entanto, como saber quais são elas? Se 1-identificar o tema do texto
uma palavra está presente com relativa Qual o foco principal, do que se trata, qual
freqüência em um texto, ela certamente o grau de conhecimento que se tem sobre o
desempenha um papel importante na tema.
compreensão do todo. Ao contrário, se uma 2-elaborar uma síntese do texto
palavra ocorre apenas uma vez, muito Ao elaborar a síntese, faz-se uma seleção e
provavelmente não deve se preocupar com ela. organização dos elementos mais importantes
O que se observa é que essa prática não é muito do texto, sendo necessário o estabelecimento
bem aceita por alguns professores e até mesmo, de critérios de relevância.
por alunos. Como é possível, ignorar uma palavra 3-organizar as próprias idéias com relação
e seguir a leitura como se nada houvesse aos elementos relevantes
acontecido? Por outro lado, não se tem o hábito A partir do estabelecimento de critérios de
de procurar no dicionário cada palavra que se relevância, o leitor irá se posicionar frente às
desconhece, pois o conhecimento na língua informações do texto, confrontando-as com
materna permite um entendimento geral do àquelas que já possuía.
que se esta tratando no texto. As palavras 4-estabelecer relações entre os elementos
desconhecidas são intuídas, quase que relevantes e/ou entre eles e outras informações
49
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
www.jb.com.br
50
UNIDADE C
52
UNIDADE C
2 Produção textual
O processo de produção e recepção de textos como do lugar e do momento em que o leitor
envolve dois principais participantes: o escritor faz a sua leitura, sobre a interpretação que ele
e o leitor. O escritor, embora tenha um papel faz do sentido do texto.
social definido em seu grupo, tem de trocar de Na escola, é de fundamental importância
papel várias vezes ao dia. Por exemplo, uma que o professor leve em consideração os
determinada criança vem de um grupo social elementos que fazem parte dos processos de
específico, mas tem de desempenhar, produção e recepção textual. A história do aluno,
dependendo das circunstâncias, o papel de sua posição social, os objetivos da leitura e da
aluno, o de filho, o de consumidor, o de jogador prática textual e o conhecimento prévio do
do time da escola; portanto, sua atitude pode assunto a ser abordado não podem ser
igualmente variar, dependendo das situações a desconsiderados.
que tiver de responder (hostil, amável,
indiferente). Ao pertencer a um grupo social Texto e fatores
definido, utiliza um modo de vida e uma de textualidade
linguagem específica. Suas produções são É sabido que, conforme a perspectiva teórica,
influenciadas, de alguma maneira, pela sua o mesmo objeto de estudo pode ser concebido
história, seu passado sociocultural. de diversas maneiras. Isso acontece no campo
As relações que o escritor mantém com seu da linguagem, com o conceito de texto.
leitor influenciam o seu discurso, uma vez que Seguem-se as concepções de Koch (1992),
seu objetivo é atingi-los. Para isso, procura fazer Costa Val (1991) e Fiorin & Savioli (1997),
uma imagem de seu público alvo, utilizando respectivamente.
marcas próprias, que transparecem através de Texto é uma manifestação verbal constituída
suas intervenções no próprio discurso. Além de elementos lingüísticos intencionalmente
disso, ele preocupa-se com o lugar de onde selecionados e ordenados em seqüência,
escreve, o momento em que escreve e, durante a atividade verbal. De modo a permitir
principalmente, "de que" ou "de quem" deve aos parceiros, na interação, não apenas a
falar em seu texto. depreensão dos conteúdos semânticos, em
O leitor é importante no papel de receptor: decorrência da atividade de processos e
a sua própria história, as suas hipóteses sobre o estratégias de ordem cognitiva, como também
sentido do texto e a maneira como se projeta a interação (ou atuação) de acordo com as
no texto influenciam igualmente o processo de práticas socioculturais (KOCH, 1992).
leitura. Ao se produzir um texto, não se pode
Texto é uma ocorrência lingüística falada ou
negligenciar a influência do tipo referente e, escrita, de qualquer extensão, dotada de
sobretudo, dos conhecimentos anteriores ao unidade sociocomunicativa, semântica e
formal (COSTA VAL, 1991, p. 3).
leitor, de sua experiência de mundo, assim
53
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
54
UNIDADE C
Referência são itens da língua que se deixa-se de dizer alguma coisa que pode ser
relacionam a outros elementos necessários à subentendida; a substituição tem uma relação
sua interpretação e não são interpretados em com a palavra e a referência é mais semântica,
nível semântico pelo seu próprio sentido, com relação ao significado.
podendo ser situacional (exófora) ou textual A conjunção é um item coesivo que tem
(endófora). É a propriedade que alguns itens relações significativas específicas que se
da língua têm de ser interpretados estabelecem entre as orações dentro de um
semanticamente não por si mesmos, mas em período, entre os períodos dentro do parágrafo
referência a outros. Os elementos de referência e entre os parágrafos, no interior do texto.
indicam que a informação deve ser procurada Permitem estabelecer relações entre partes da
em outro momento do texto. oração, orações, períodos e parágrafos. Entre
A referência pessoal é feita por meio da os principais elementos conjuntivos estão os
categoria de pessoa do discurso, representada advérbios, locuções adverbiais, conjunções
por pronomes pessoais e possessivos; a coordenativas e subordinadas, locuções
referência demonstrativa é representada pelo conjuntivas preposições, locuções prepositivas
uso dos pronomes demonstrativos e advérbios e itens continuativos, como seguir, e daí.
que indicam lugar; a referência comparativa se A coesão deve colaborar no sentido de que
faz através de identidades. haja compreensão entre os interlocutores,
A referência textual anafórica permite a servindo para que o texto seja um veículo de
interpretação de um item pela relação com algo interação, garantindo a relação entre as partes
que o precede no texto, podendo fazer do texto.
referência a todo o enunciado anterior. A Todas essas formas lingüísticas coesivas têm
referência catafórica depende do que se segue papel muito importante para a construção do
no texto. As referências devem ser "esqueleto" do corpo dissertativo: conjunções,
estabelecidas no texto de maneira adequada locuções conjuntivas, palavras denotativas
para se evitar ambigüidades. constituem-se nos operadores argumentativos,
Através da substituição, um substituto é que têm por função indicar a força
usado em lugar da repetição de um item argumentativa dos enunciados, a direção para
particular. Pode ser nominal ou de ordem o qual apontam. Cabe ao professor, ao trabalhar
genérica. As substituições feitas por meio de com textos dissertativos, conduzir o aluno à
pronomes, numerais indefinidos, classificam-se observação dessas marcas lingüísticas,
como substituição nominal. analisando o efeito que os itens coesivos
A elipse consiste em omitir um item lexical provocam no sentido geral do texto.
que pode ser recuperado pelo contexto. Ela O aluno adquire a capacidade de dissertar
ocorre quando algo deixa de ser dito, mas isto através da prática cotidiana de analisar a produzir
não impede a sua compreensão. textos, orientado por um mestre preocupado
A distinção entre elipse, substituição e em fazer com que ele se estude e analise as
referência, é a seguinte: quando ocorre elipse, formas lingüísticas em textos oferecidos à ele.
55
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Coerência
A coerência envolve aspectos lógicos,
semânticos, cognitivos e pragmáticos. E não
Coerência deve ser entendida como se pode esquecer de que o texto não tem
unidade do texto. Um texto coerente é um um significado em si mesmo, por conta
conjunto harmônico, em que todas as própria. Segundo Costa Val (1991, p.6), "seu
partes se encaixam de maneira sentido é construído não só pelo produtor,
complementar de modo que não haja nada como também pelo recebedor, que precisa
destoante, nada ilógico, nada contraditório, deter os conhecimentos necessários à sua
nada desconexo. No texto coerente, não interpretação".
há nenhuma parte que não se solidarize
com as demais ( FIORIN & SAVIOLI, 1996,
p.261). O autor ainda apresenta como requisitos
principais para coerência textual a continuidade,
que é a retomada de conceitos durante o
O professor deve mostrar ao aluno, através desenvolvimento do texto, para que seja
de exemplificações e atividades, como se preservada a unidade textual; a progressão, que
empregam os mecanismos que favorecem o é a apresentação de novas idéias ao texto; a
desenvolvimento do texto, para que não se não-contradição, em que é observada a coerên-
perca o fio condutor da idéia a ser defendida. cia através do que é escrito no texto, sendo
O sentido de um texto vai muito além das este de acordo com a realidade a que se refere
palavras, expressões lingüísticas e frases que e, também, que as informações apresentadas
compõem a sua superfície. A coerência está não se contradigam ao decorrer do texto.
ligada ao nível da conexão conceitual e A articulação é considerada pela autora com
estruturação do sentido do texto. Dá conta do outro princípio básico, pois ela afirma que, para
processamento cognitivo do texto e fornece as um texto ser coerente, é necessário que
categorias que permitem a análise do nível mais estabeleça uma relação de pertinência entre
profundo, os fatores que estabelecem as os elementos que fazem parte do texto.
relações causais, pressuposições, implicações A coerência se estabelece em diversos
de alcance suprafasal, o nível argumentativo e níveis. Pode ser semântica, sintática, estilística
os modelos cognitivos globais. A coerência e pragmática. A coerência semântica se refere
textual se dá quando há uma unidade de sentido à relação entre significados dos elementos das
que permite estabelecer relação entre os frases em seqüências em um texto ou entre os
componentes de um texto. É uma compreensão elementos de um texto como um todo.
global que ocorre pela continuidade dos A coerência sintática se dá através da relação
sentidos. Tem a ver com boa formação em adequada entre os termos que se coordenam
termos de interlocução comunicativa. ou subordinam. Entre eles está o uso dos
conetivos, pronomes, sintagmas nominais
56
UNIDADE C
57
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
58
UNIDADE C
Em linhas gerais, são esses os sete fatores com texto em sala de aula. A leitura e produção
que constituem um texto. Portanto, um texto é textual não podem ser desvinculadas de um
muito mais que uma seqüência de frases. contexto. O aluno deve saber os motivos e o
Envolve um produtor e suas intenções, um destinatário de sua atividade. Deve receber
leitor receptivo, um contexto imediato de instruções sobre a maneira de organizar as
comunicação, e sua inserção num contexto de informações recolhidas de diversas fontes e de
cultura, uma base em textos anteriores, uma escolher as estruturas lingüísticas mais
organização de conteúdo, de informação e de adequadas para expressar o que deseja. Essas
expressão lingüística. atividades pressupõem uma análise de variados
Todos esses elementos devem ser levados tipos de texto previamente elaborados que
em consideração pelo professor que trabalha fazem parte de sua cultura.
59
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
3 Análise lingüística
Análise lingüística consiste de reflexões sobre Esses fatores devem ter como objetivo
os textos, re-leituras e auto-correções. As melhorar a capacidade de compreensão e
atividades de análise lingüística consideram expressão dos alunos, em situações de
determinados objetos da linguagem para comunicação oral e escrita. Fundamentando
reflexão e análise e, segundo os Parâmetros essas atividades está o texto, considerado a
Curriculares Nacionais (PCN), estão apoiados matriz das ações lingüísticas, que consiste tanto
em dois fatores: em objeto de leitura, quanto de produção
textual (XAVIER, 1998).
- a capacidade humana de refletir, analisar,
pensar sobre os fatos e os fenômenos da Para Geraldi (1993) o texto significa um
linguagem; e produto de uma atividade discursiva, pois
- a propriedade que a linguagem tem de
poder referir-se a si mesma, de falar sobre a
alguém diz algo a alguém, utilizando uma
própria linguagem. (BRASIL, 1999). seqüência verbal escrita, que forma um todo,
acabado, definido e publicado. Para tanto, o
Desse modo, a análise lingüística refere-se planejamento de atividades de análise
a atividades que podem ser classificadas em lingüística deve considerar o trabalho com
epilingüísticas e metalingüísticas. Ambas são diversos tipos de texto, da bula de
atividades de reflexão sobre a língua, mas medicamento, ao manual de instruções,
diferenciam-se nos seus fins. literatura, etc.; privilegiar formas variadas de
leitura, nas quais se possam realizar
antecipações, inferências e explorações de
Nas atividades epilingüísticas, a reflexão está recursos expressivos; provocar a escrita para
voltada para o uso, no próprio interior da leitores reais, não escrever só o "faz-de-conta";
atividade lingüística em que se realiza. Já e propiciar a reescrita de textos, por meio de
as atividades metalingüísticas estão trabalhos dialógicos e cooperativos.
relacionadas a um tipo de análise voltada
para a descrição, por meio da categorização
e sistematização dos elementos lingüísticos.
60
UNIDADE C
André Schmitt da Silva Mello
61
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
O mesmo pode ser observado na escrita de elementos que os validam ou não. Dessa forma,
textos, em que a análise lingüística pode revelar a recepção ativa tem relação com a produção
conhecimentos "escondidos" dos alunos, oral e a leitura, e permite discutir sobre
permitindo, com isso, uma reelaboração, que diferentes tipos de textos veiculados, sobretudo
de acordo com os PCN, nos meios de comunicação de massa. Essa
"implica uma atividade permanente de prática, além disso, permite o leitor a defrontar-
formulação e verificação de hipóteses sobre se com linguagens e interpretações críticas das
o funcionamento da linguagem que se realiza
por meio da comparação de expressões, da
mensagens, ou ainda, a identificação de
experimentação de novos modos de elementos não lingüísticos, como imagens e
escrever, da atribuição de novos sentidos a
sons. A compreensão crítica depende
formas lingüísticas já utilizadas, da observação
de regularidades (no que se refere tanto ao exclusivamente da recepção ativa, ou seja, a
sistema de escrita quanto aos aspectos
capacidade de mais do que ouvir/ler com
ortográficos ou gramaticais) e da exploração
de diferentes possibilidades de atenção, trabalhar mentalmente com o que se
transformação dos textos (supressões, ouve ou se lê. Trata-se de uma atividade de
ampliações, substituições, alterações de
ordem, etc.)(BRASIL, 1999). produção de sentido que pressupõe analisar e
relacionar enunciados, fazer deduções e
A produção de textos orais mais bem produzir sínteses: uma atividade privilegiada de
elaborados, utilizando vocabulário variado, é reflexão sobre a língua (BRASIL, 1999).
propiciada pela prática de explicitação, que Dessa forma, o estabelecimento da relação
muitas vezes, os alunos a utilizam ser saber de entre elementos não lingüísticos com a fala,
Recepção ativa está que e como fazem, centrando-se sobre os através da recepção ativa, identifica os aspectos
sendo usada aqui aspectos da linguagem. A comparação é uma possivelmente importantes aos propósitos e
como referência
simultânea tanto à das formas de falar utilizadas em situações intenções de quem produz o texto ou infere a
escuta ativa como à
leitura (BRASIL, 1999). diversas, em que o aluno, tenha como finalidade intencionalidade implícita.
a apropriação de diferentes registros. A sugestão para análise lingüística, a partir
Atualmente, os Parâmetros Curriculares de textos orais, prevê a gravação em áudio ou
Nacionais abordam a questão da Análise vídeo - de uma exposição oral, ao vivo, como
Lingüística, atribuindo enorme importância para por meio do rádio ou da televisão, de um
o aprendizado da linguagem oral e escrita. Desse debate, um pronunciamento, uma entrevista,
modo, este Caderno Didático, ao que se refere etc. -, pois permite observar com atenção coisas
a essa questão, terá como apoio fundamental que não seriam possíveis apenas a partir da
essa obra, como referencial bibliográfico. escuta direta e voltar sobre elas, seja da fala do
Outro fator abordado na linguagem oral é a outro ou da própria fala.
diversidade lingüística, pois o que é facilmente Isso permite que se parta da fala para a
observável evidencia-se pelo contraste. As análise da linguagem, e não o contrário, como
atividades de leitura são sobremaneira costuma acontecer, pois, a partir de então,
importantes porque propõem discutir sobre busca-se a adequação da fala ou da escrita
diferentes sentidos dados aos textos e sobre os própria e alheia, a avaliação sobre a eficácia e
62
UNIDADE C
exemplo, que os verbos não aparecem etc. Assim, o manejo do dicionário precisa ser
flexionados, que o significado da palavra orientado, pois requer a aprendizagem de
procurada é um critério para verificar se procedimentos bastante complexos.
determinada escrita se refere realmente a ela,
André Schmitt da Silva Mello
Textualização: Ver
capítulo "linguagem,
atividade discursiva e
Pontuação se agrupam tipograficamente em parágrafos. A textualidade".
O ensino da pontuação tem-se confundido com pontuação aparece sempre em posições que Processamento da
leitura: A prática de
o ensino dos sinais de pontuação. A uma indicam fronteiras sintático-semânticas. Aliás, é leitura silenciosa
disseminou-se a partir
apresentação do tipo "serve para" ou "é usado principalmente para isso que ela serve: para
da produção de livros
para" segue-se uma exemplificação cujo objetivo separar. em escala industrial.
Até então o ato de ler
é servir de referência ao uso. Desse momento Aprender a pontuar é aprender a partir e a se confundia com o ato
de recitar o texto em
em diante costuma-se esperar que os alunos reagrupar o fluxo do texto de forma a indicar voz alta.
incorporem a pontuação a seus textos. ao leitor os sentidos propostos pelo autor,
Forma moderna de ler
A partir da compreensão de que o obtendo assim efeitos estilísticos. O escritor O estudo de textos
antigos mostra que
procedimento de pontuar é parte da atividade indica as separações (pontuando) e sua natureza quem pontuava o texto
não era o escritor e
de textualização, essa abordagem se mostra (escolhendo o sinal) e com isso estabelece sim o leitor. Ele lia,
inadequada e indica a necessidade de rever formas de articulação entre as partes que estabelecia a sua
interpretação e
algumas idéias, nem sempre explícitas, sobre afetam diretamente as possibilidades de sentido. preparava a leitura em
voz alta marcando de
as quais esta didática se apóia. A primeira delas A única regra obrigatória da pontuação é a próprio punho as
é que a pontuação serviria para indicar as que diz onde não se pode pontuar: entre o pausas que considerava
necessárias ao bom
pausas na leitura em voz alta e a segunda é sujeito e o verbo e entre o verbo e seu entendimento pelos
ouvintes. Hoje, quando
que o que se pontuam são as frases. complemento. Tudo o mais são possibilidades. o texto impresso é
formado para ser lido
A história da pontuação é tributária da história Por isso - ao contrário da ortografia - na diretamente pelo olho,
das práticas sociais de leitura. O costume de pontuação a fronteira entre o certo e o errado sem precisar passar
pela sonorização do
ler apenas com os olhos, que caracteriza a forma nem sempre é bem definida. Há, quase sempre, que está escrito, esta
função, de estreitar o
moderna de ler, incorporou ao texto um aparato mais de uma possibilidade de pontuar um texto, campo das
possibilidades de
gráfico cuja função é indicar ao leitor unidades a ponto de alguns gramáticos (ALMEIDA, 1994,
interpretação indicando
para o processamento da leitura. Na página apud PCN) apresentarem-na como "a arte de graficamente as
unidades de
impressa, a pontuação - aí considerados os dividir, por meio de sinais gráficos, as partes do processamento e sua
hierarquia interna,
brancos da escrita: espaços entre parágrafos e discurso que não têm entre si ligação íntima, e pertence ao escritor.
alíneas - organiza o texto para a leitura visual de mostrar do modo mais claro as relações que
Alíneas: Usou-se o
fragmentando-o em unidades separadas de tal existem entre essas partes". termo "alínea" para
designar o recurso da
forma que a leitura possa reencontrar, na Aprender a pontuar não é, portanto, aprender linha no início dos
parágrafos.
articulação visual da página, as conexões um conjunto de regras a seguir e sim aprender
Texto escrito - Convém
intelectuais ou discursivas do raciocínio. um procedimento que incide diretamente sobre lembrar que, se é
verdade que sempre
Não se trata, portanto, de indicar pausas para a textualidade. Um procedimento que só é que há uma vírgula (no
escritor) há uma pausa
respirar, pois, ainda que um locutor possa usar possível aprender sob tutoria, isto é, fazendo (no oral), o contrário
a pontuação para isso, não é essa sua função juntamente com quem sabe: não é verdadeiro. É
comum, por exemplo,
no texto escrito. - conversando sobre as decisões que cada fazer uma pausa (no
oral) entre o sujeito e
O texto não é uma soma de frases, é um um tomou ao pontuar e por quê; o predicado de uma
oração, o que seria
fluxo contínuo que precisa ser dividido em - analisando alternativas tanto do ponto de inconcebível por
partes frase que podem ou não conter partes vista do sentido desejado quanto dos aspectos escrito.
também - os apostos, por exemplo. Frases que estilísticos e escolhendo a que parece melhor
67
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
para a resolução das questões que se colocam oral, é preciso organizar o trabalho educativo
como problemas, de busca de alternativas, de nessa perspectiva.
verificação de diferentes hipóteses, de Sendo assim, ainda que os conteúdos
comparação de diferentes pontos de vista, de relacionados a esse tipo de prática estejam
colaboração entre os alunos para a resolução organizados num bloco separado, eles devem
de tarefas de aprendizagem. O princípio didático remeter-se diretamente às atividades de uso
básico das atividades não apenas deste bloco, da linguagem. Mais do que isso, devem estar a
mas de todos os outros, é sempre o mesmo: seu serviço.
partir do que os alunos já sabem sobre o que
se pretende ensinar e focar o trabalho nas
questões que representam dificuldades para
que adquiram conhecimentos que possam
melhorar sua capacidade de uso da linguagem. Tendo como base os conteúdos estudados,
Nesse sentido, pretende-se que o aluno evolua apresente exemplos de metodologias de
não só como usuário, mas que possa assumir, ensino para o ensino da Língua Portuguesa,
progressivamente, o monitoramento da própria especificamente leitura, produção textual
atividade lingüística. e análise lingüística, voltadas à Educação
Se o objetivo é que os alunos utilizem os Especial. As orientações acerca dessa
conhecimentos adquiridos por meio da prática atividade serão fornecidas pelo professor
de reflexão sobre a língua para melhorar a da disciplina e estarão disponíveis no
capacidade de compreensão e expressão, tanto ambiente virtual.
em situações de comunicação escrita quanto
69
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Referências
Referências Bibliográficas COBRA, R.Q. Educação e Comportamento:
www.inep.gov.br/imprensa/artigos/artigo_02_05.htm
Acesso em 06/08/05. COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e
textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
1982.
BRASIL, Ministério da Educação - Secretaria de
Educação Média e Tecnológica - Parâmetros DUCROT, Oswalde e TODOROV, Tzvetan. Dicionário
Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: 1999. Enciclopédico das Ciências da Linguagem. São
Paulo: Editora Perspectiva, 1988.
CARBONI. Florence. Fale que te direi quem és!
Revista espaço Acadêmico. Ano II, n 23. Abril 2003. FARIA, Anália Rodrigues de. O Pensamento e a
Disponível on line em: http:// Linguagem da Criança Segundo Piaget. São Paulo:
www.espacoacademico.com.br/023/23ccarboni.htm Ática, 1997.
Acesso em 23/07/2005.
FARIA, Núbia Rabelo Bakker. Buscando os limites do
CHOMSKY, Noam. Aspectos da teoria e da sintaxe. dado na aquisição da linguagem. 1975. Disponível
FÁVERO. L. L. Coesão e coerência textuais. São MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia Funcional. Rio
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e PEÑALOSA, F. Chicano sociolinguistics: A brief
redação. São Paulo: Ática, 1999. introduction. Rowley, MA: Newbury House Publishers,
1981.
FIORIN, José Luiz. (org.) Introdução à lingüística:
objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. PIAGET, J. Da lógica da criança à lógica do
adolescente: Ensaio sobre a construção das
FÁVERO. L. L. e KOCH, I. Coesão e coerência estruturas. São Paulo: Pioneira, 1970.
Worldmaking. The Havester Press, Sussex, 1978. Theoretical Issues in Reading Comprehension:
Perspectives and cognitive psychology, linguistics,
GOULART, Cecília. Letramento e polifonia: um intelligence, and education. New Jersey, Lawrence
estudo de aspectos discursivos do processo de Erlbaum Associates, 1980.
conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, Paulo: Martins Fontes, 2000.
1986.
71
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
www.geocities.com/centpsimw/psicling1.htm. Acesso
em 17/04/2004.
v. 1, n.2, 1998.
72
A N OTA Ç Õ E S
73
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
74
A N OTA Ç Õ E S
75
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
76
A N OTA Ç Õ E S
77
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
78
A N OTA Ç Õ E S
79
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
80