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PEDAGOGIA

Formação Geral 1
PEDAGOGIA

2 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

PEDAGOGIA
Programa de Formação de Professores
em Exercício, para a Educação Infantil, para
as Séries Iniciais do Ensino Fundamental
e para a Gestão Educacional

Educação e Linguagem

Formação Geral 3
PEDAGOGIA

Unesp – Universidade Estadual Paulista

Pró-Reitoria de Graduação
Rua Quirino de Andrade, 215 - CEP 01049-010 - São Paulo – SP
Tel. (11) 5627.0245
www.unesp.br

IEP3 – Instituto de Educação e Pesquisa em Práticas Pedagógicas


Rua Dom Luis Lasagna 400 – CEP 04266-030 – São Paulo – SP
Tel. (11) 2066.5801
https://www2.unesp.br/portal#!/iep3

Atualização
Sonia Maria Coelho

Revisão, normalização e preparação


Antonio Netto Junior
Fábio Arlindo Silva

Projeto gráfico, arte e diagramação


André Neri

ESTA COLETÂNEA DE TEXTOS É DE USO EXCLUSIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA,


MODALIDADE A DISTÂNCIA, UNESP 2021

Os textos aqui apresentados são aqueles utilizados durante a última edição deste curso,
de 2016 a 2019.

©2022, dos organizadores. Todos os direitos reservados.


Os textos tem como origem os Cadernos de Formação destinado ao Curso de Graduaçãoem Pedagogia
(programa de formação de professores em exercício, para a Educação Infantil, para Séries Iniciais do Ensino
Fundamental e para a Gestão da Unidade Escolar), desde sua primeira edição, em 2010, por concessão
da Fundação UNIVESP à UNESP, CAPES (Sistema Universidade Aberta do Brasil) e Prefeitura Municipal
de São Paulo. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e gravação)
ou arquivado em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do titular do direito autoral.

4 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Coordenação de Gestão


Reitor Andreza Marques de Castro Leão
Pasqual Barretti Coordenação Pedagógica
Vice-Reitora Maria da Graça Mello Magnoni
Maysa Furlan Coordenação Editorial
Chefe de Gabinete Maria Candida Soares Del-Masso
Cesar Martins Tecnologia da Informação
Pró-Reitora de Graduação Ana Paula Souza Nascimento
Celia Maria Giacheti André Luís Rodrigues Ferreira
Pró-Reitora de Pós-Graduação Fabiana Aparecida Rodrigues
Maria Valnice Boldrin Produção Pedagógica
Pró-Reitor de Pesquisa Andréia Lopes de Carvalho
Edson Cocchieri Botelho Fábio Arlindo Silva
Pró-Reitor de Extensão Universitária Soellyn Elene Bataliotti
e Cultura Assessoria Técnica Administrativa
Raul Borges Guimarães Anne Carolina Gonçalves de Aguiar
Pró-Reitor de Planejamento Estratégico Carolina da Silva Maeda
e Gestão Celia Aparecida Gomes Fernandes Gavaldão
Estevão Tomomitsu Kimpara Fabiana Lohani de Sousa Vieira
Secretário Geral Roseli Aparecida da Silva Bortoloto
Erivaldo Antonio da Silva Revisão
Antonio Netto Junior
Comunicação
Instituto de Educação e Pesquisa André Neri
em Práticas Pedagógicas
Unesp Profª. Adriana Chaves
São Paulo
Coordenação IEP3-Unesp
Alessandra de Andrade Lopes
Vice-coordenação IEP3-Unesp
Marcus Vinicius Maltempi
Coordenação IEP3-Unesp São Paulo
Marcus Vinicius Maltempi
Coordenação IEP3-Unesp Bauru
Alessandra de Andrade Lopes

Formação Geral 5
PEDAGOGIA

DISCIPLINA D3 – EDUCAÇÃO E LINGUAGEM

Juvenal Zanchetta Junior (in memoriam)


Professor autor e organizador

Livre-docente em Educação. Doutor em Educação. Mestre em Educação. Graduado em Letras.


Professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus
de Assis, SP. Tem experiência nas áreas de Linguística, Comunicação e Educação, com ênfase
em Prática de Ensino de Língua Portuguesa, nas relações entre Mídia e Educação, e em Políticas
Educacionais.

Sonia Maria Coelho


Professora autora convidada

Doutora em Educação. Mestra em Educação. Especialista em Orientação Educacional.


Pedagoga. Tem experiência na área de Educação, ênfase em Alfabetização, atuando com
alfabetização, leitura e literatura infantil, educação de jovens e adultos, formação de professores,
psicologia histórico-cultural e prática pedagógica. Professora aposentada na Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Câmpus de Presidente Prudente, SP.

6 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

SUMÁRIO

0. Visão Geral da Disciplina - Educação e Linguagem ------------------------------------------------------------------------ 8

1. Síntese: Linguagem, Educação e Formação de Professores ----------------------------------------------------------- 10

2. Linguagem e Língua ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 14

3. As Funções da Linguagem ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 16

4. Registros de Linguagem e Gêneros Textuais ------------------------------------------------------------------------------ 18

Formação Geral 7
PEDAGOGIA

VISÃO GERAL DA DISCIPLINA

Educação e Linguagem
Caros estudantes,
A disciplina Educação e Linguagem tem como pressuposto básico que os processos
educativos e linguísticos estabelecem o eixo central do ensino na própria concepção do que a
história secular da escola estabeleceu. É nessa instituição que, obrigatoriamente, serão feitos
estudos que abordem ensinamentos nos processos educacionais como prática social e que serão
definidos a partir da Linguagem, principalmente a verbal.
Nenhuma outra instituição fará esse trabalho. E aqui estamos falando da linguagem verbal
em sua vertente de prestígio, também denominada padrão que pode ser encontrada nos jornais
e documentos a serem lidos, com possibilidade de entendimento em qualquer parte do país por
utilizarem aspectos fundantes da própria linguagem. Ela pode ser escrita ou oral, mas tem uma
forma de apresentação que respeita formas concebidas como “corretas” e que são aprendidas na
escola. Isso tem gerado a desvalorização da linguagem oral e dos registros populares como sendo
de menor valor.
Linguagem é a prática de interlocução que permite a interação social verificada na Educação
que pode ser entendida como um processo social e histórico que baliza-se em ações concretas
também assim compreendidas. O pressuposto da educação é fazer com que o educando participe
de diversas ações de forma interlocutiva, ou seja, que se expresse nos processos de conhecimento,
de forma a utilizar uma linguagem que possa ser compreensível ao maior número de pessoas
possível.
Este livro texto busca a discussão da relação necessária entre educação e linguagem de
forma a que possa delinear práticas para a formação de professores. É isso que encontraremos
no primeiro texto, baseado nas concepções da professora Maria de Fátima Barbosa Abdalla:
“Linguagem, Educação e formação de professores”. Afinal, o que a escola deve ensinar sobre
a linguagem?
No segundo texto, “Linguagem e Língua”, o professor Juvenal Zanchetta Junior estabelece
a diferença entre Linguagem e Língua, destacando que a manifestação mais complexa desenvolvida
pela humanidade é a Linguagem Verbal. Aqui serão analisados aspectos em que a Língua se
apresenta em seu caráter vibrante em constantes modificações.
No próximo texto, “As funções da linguagem”, o professor Juvenal Zanchetta Junior
aborda as diferentes funções da linguagem, apresentadas aqui, com caráter didático, que o código
verbal assume na comunicação humana.

8 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

Em “Registros de Linguagem e gêneros textuais”, último texto, também do professor


Juvenal Zanchetta Junior, sua condição de ensino é analisada nas diferentes possibilidades de uso.
As características próprias da linguagem oral e escrita e os fatores de segregação decorrentes das
diversas formas de utilização serão colocados em discussão.
No decorrer das próximas duas semanas, ao final de cada texto, uma agenda indicará
que atividades devem ser realizadas, prazos de entrega, assim como sugestões de leituras que
acrescentarão possibilidades de entendimento sobre o assunto. Destaque-se, também, a temática
sobre linguagem inclusiva e considerações feitas sobre a mesma, a partir do Parecer do Instituto
de Estudos da Linguagem da Unicamp sobre o Projeto de Lei nº 10/2021.
Enfim, nesta disciplina, se ressaltam os desafios da educação escolar na superação de
preconceitos linguísticos e nas possibilidades de ensino para o uso adequado dos registros formais,
informais, intermediários (em termos de escrita) e coloquiais (em termos de fala), “transitando”
entre eles conforme necessário.

Sonia Maria Coelho


Professora autora convidada
Doutora em Educação. Mestra em Educação. Especialista em Orientação Educacional.
Pedagoga. Tem experiência na área de Educação, ênfase em Alfabetização, atuando com
alfabetização, leitura e literatura infantil, educação de jovens e adultos, formação de professores,
psicologia histórico-cultural e prática pedagógica. Professora aposentada na Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Câmpus de Presidente Prudente, SP.

Formação Geral 9
PEDAGOGIA

SÍNTESE: LINGUAGEM, EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO


DE PROFESSORES

Maria de Fátima Barbosa Abdalla


Doutora em Educação. Mestra em Educação. Graduada em Letras, Música
e Pedagogia. Professora e pesquisadora na Universidade Católica de
Santos, Programa de Pós-Graduação em Educação, Santos-SP.

O texto de Abdalla, ao refletir sobre a formação de professores de língua portuguesa e rever,


em relação ao português, algumas das práticas mais comuns de seu ensino, propõe-se a pensar
criticamente a relação Educação e Linguagem.
Na base dessa relação, salientam-se aspectos comuns que envolvem uma e outra. Educação
(prática social e histórica concreta – prática educacional – forma de discurso pedagógico, que se
exprime mediante ações concretas que comportam um sentido) e Linguagem (prática interlocutiva,
forma de interação social) se interpenetram como expressão de experiências vividas nas relações
sociais, que constituem sujeitos, geram a formação de professores. Uma relação que se sustenta
pelas interações nas quais professores e alunos são vistos como sujeitos sociais e históricos,
humanos, produtores de linguagem e de humanidade.
Nessa medida, a formação de professores, na reflexão sobre a educação, suscita
questionamentos acerca, sobretudo, da natureza da relação que os professores têm com a
linguagem ao trabalhá-la em sala, o que gera desacertos de conteúdos e metodologias de ensino,
dificultando construir com os alunos uma prática social produtora de linguagem e a levá-los a serem
sujeitos ativos, criadores e recriadores de sentido.
Como forma de interação, a linguagem possibilita questões de educação (prática social) em
que professores e alunos refletem a cultura e contextos sociais e se constituem como sujeitos e
constroem sua própria cultura.
São implicações éticas advindas da relação linguagem e educação: 1. estigmatização das
variedades linguísticas (o professor considera as de menor prestígio como erradas); 2. associação
das variedades linguísticas à variedade culta presa à tradição gramatical, objeto do processo de
ensino voltado para a gramática tradicional. Na verdade, seria necessário ao professor mostrar as
diferenças e respeitá-las e introduzir situações que permitam o acesso ao dialeto padrão e ao seu
domínio. E para construir uma prática social transformadora, que desperte uma consciência crítico
reflexiva, uma prática produtora de linguagem e de humanidade, ele deve intervir neste processo
de dominação, combatê-lo, desvelando-o e negando-lhe a legitimidade, deve assumir um papel de
professor-produtor (produz e motiva o aluno à construção do conhecimento).

10 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

Um caminho para o professor-produtor seria o seu envolvimento, enquanto educador,


na leitura e na produção de escrita na e para a coletividade, atribuir importância às práticas de
leitura e escrita partilhada e coletiva (o conteúdo possibilita integrar aluno e professor, desmitificar
estereótipos, propiciar processo de reflexão).
Ao combinar as duas práticas, de leitura e de produção de textos, retomam-se questões de
oralidade e de escrita, como: 1. a das variedades linguísticas usadas pelos alunos (desprestigiadas)
na escola, cuja meta é levar o aluno ao domínio da norma padrão; ou 2. a dos problemas da
oralidade na escrita, em que o professor enfatiza os erros e não os explica, dificultando, para os
alunos, a compreensão dos desvios na passagem de uma para a outra modalidade (na fase em que
eles estão se apropriando dos recursos linguísticos).
Para lidar com as implicações da oralidade na escrita, convém lembrar que é o texto (unidade
básica de ensino) que dará sentido às interações de sala de aula. A partir do texto trabalha-se
com a língua oral e a escrita em sua dimensão discursiva (pragmática, as condições da situação
contextual) e semântica (valorizando o modo como se apresenta e organiza a realidade, para se
falar dela). Ao cruzar ambas as dimensões, vale se lembrar do conhecimento que o aluno traz
consigo, sem fazer deste conhecimento um estereótipo (para a compreensão efetiva da leitura e
para as condições de produção).
Outro ponto a se considerar, no trabalho com a linguagem oral e escrita, nas dimensões
discursiva e semântica, diz respeito aos aspectos cognitivos que fazem parte do processo de leitura/
produção de textos (escritos ou falados, dependem, além das dimensões que possam ter e das
interações do autor, na multiplicidade de funções, do esforço do leitor/ouvinte em criar um sentido
– este, por sua vez, depende do conhecimento prévio daquele leitor/ouvinte – na compreensão e
produção).
Interagir com o aluno/leitor para recuperar seu conhecimento prévio (sem menosprezá-lo)
qualifica o trabalho do professor, tornando-o produtor de ações pedagógicas capazes de motivar
os alunos a uma aprendizagem consciente, crítica, reflexiva. Ao levar em conta o conhecimento do
aluno, o professor revaloriza o seu conhecimento linguístico (sobre o uso da língua); ativa o seu
conhecimento textual; resgata o seu conhecimento de mundo.
O texto falado ou escrito constitui-se, assim, pela interação dos interlocutores. Isso
desencadeia uma reflexão sobre a experiência e uma experiência sobre a reflexão (quando o autor
produz experiência, o leitor a reconstrói, produzindo conhecimento, e não consumindo informações.
O professor faz seu papel de mediador). Na troca de experiências (autor/leitor, professor/aluno,
autor/professor/aluno), o processo de leitura concretiza a “pedagogia da reinvenção” (produzida na
busca e na troca, no diálogo, na contextualização do mundo).
Para se ampliar a capacidade de produzir e interpretar textos, a prática de análise linguística
(que leva à reflexão) não pode se prender à tradição gramatical, à língua padrão, isto é, não se
pode ter um ensino de metalinguagem deslocado da realidade do aluno, de suas necessidades e
expectativas.

Formação Geral 11
PEDAGOGIA

É preciso implementar uma atividade epilinguística (a reflexão, no desenvolvimento da


linguagem, sobre o material linguístico em que operamos, está voltada para o uso da linguagem). A
partir dessa reflexão transformamos este material para o reconstruir. No próprio interior da construção
do texto tomamos consciência do seu propósito, antecipamos a imagem dos interlocutores a
que nos dirigimos, relacionamos e comparamos recursos mais expressivos e argumentos mais
convincentes.
A prática de análise inclui, também, além das atividades epilinguísticas, as metalinguísticas
– análise voltada para a descrição, por meio da categorização e sistematização dos elementos
linguísticos. Atividade exterior e posterior ao uso efetivo da linguagem (atividade linguística) e aos
processos de reflexão sobre este uso (atividade epilinguística).
O problema é que o Ensino de Língua Portuguesa enfatiza essa fala da e sobre a linguagem
como se fosse um conteúdo em si, não como meio para melhorar a qualidade da produção. A
gramática é ensinada de forma descontextualizada, o conteúdo é memorizado para fins avaliativos.
No Ensino Fundamental, as atividades devem girar em torno do ensino da língua, recorrendo-
se à metalinguagem somente quando a descrição da língua for um meio para alcançar o seu
domínio (variedade padrão). Trabalhar com noções gramaticais e sua nomenclatura, substituindo
atividades de interpretação e produção, ocorre só em níveis mais altos de escolaridade e mesmo
assim quando contextualizadas.
Ao se reconsiderarem todas essas questões, somos levados a repensar a formação de
professores. Formação que se sustenta na relação educação e linguagem, e que não se dá sem
o outro, incluindo aí os próprios alunos. Formação que precisa ser contínua, rompendo com
obviedades comuns, com práticas habituais, que distanciam cada vez mais os alunos do prazer
da leitura e do uso da palavra. Formação que faz uma reflexão pensante sobre quais saberes são
necessários à prática educativa, crítica e transformadora.
Nessa direção, é o professor “que tem que compreender o funcionamento do real e articular
sua visão crítica dessa realidade com suas pretensões educativas, as quais define e reformula em
relação com contextos específicos”. É ele que tem que abrir espaços para que questões de linguagem
se misturem com as de educação, vivificando as experiências em sala de aula, reinventando-as.
É na troca de experiências, na interação do dia a dia, que as diferenças práticas (de leitura,
de produção e de análise linguística como reflexão sobre a língua) permitem formar continuamente
professor e aluno, tecendo seus textos de vida – verdadeiros espaços de criação de linguagem e
de humanidade, fazendo da palavra algo que realmente signifique.

12 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

Como citar e referenciar este texto:

ABDALLA, Maria de Fátima Barbosa. Síntese: Linguagem, Educação e Formação de Professores.


In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA [UNESP]; UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO
DE SÃO PAULO [UNIVESP] (org.). Caderno de formação: formação de professores: introdução
à educação. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de
Graduação, 2010. v. 2. 110 p. ISBN 978-85-7983-045-7. Disponível em: https://acervodigital.unesp.
br/bitstream/123456789/23/4/D05_Sintese_Linguagem_Educacao%20_Formacao_Professores_.pdf.
Acesso em: 9 fev. 2022. (Texto complementar, Educação e Sociedade, Caderno de formação n. 2,
bloco 1, módulo 2).

Formação Geral 13
PEDAGOGIA

LINGUAGEM E LÍNGUA
Juvenal Zanchetta Junior
Livre-docente em Educação. Doutor em Educação. Mestre em Educação.
Graduado em Letras. Professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Assis, SP.

Uma significação básica para o termo linguagem é a de um conjunto de signos devidamente


estruturados para o propósito da comunicação. Assim, linguagem não se limita ao aspecto verbal,
compreendendo também outros campos, como o da imagem, do som, do tato etc. Dentro de
cada um desses campos, há ainda um sem-número de linguagens específicas. Quando se fala
em linguagens relacionadas à imagem, por exemplo, pode-se pensar na linguagem da televisão;
quanto à televisão, pode-se pensar na linguagem da telenovela, dos documentários, dos programas
de auditório, dos seriados, da propaganda e assim por diante.
Um conjunto de signos passa a ser chamado de linguagem quando os usuários desses
signos compartilham significações para os mesmos fenômenos. Na linguagem dos programas
esportivos da televisão, por exemplo, são comuns as seguintes características, entre outras: 1. o
jogo ser mostrado como se o campo estivesse caindo (pois a câmera precisa ficar a uma distância
relativamente grande dos jogadores, para que o espectador possa ter ideia do jogo como um todo);
2. o locutor narrar a história do jogo, passo por passo, mesmo sabendo-se que o espectador está
vendo as imagens do jogo ao mesmo tempo em que o locutor; 3. o locutor costuma narrar de forma
mais vibrante as jogadas que potencialmente podem resultar em gol.
Aqueles procedimentos, entre outros, têm sua significação compartilhada entre o canal que
apresenta e o espectador que assiste à partida: os torcedores sabem, por exemplo, que os jogadores
não vão cair porque o gramado é mostrado em declive. Essas considerações parecem óbvias, mas
não tanto. Imagine a apresentação de um gol, numa transmissão televisiva. As câmeras tendem a
mostrar a reação daquele marcador (do gol), seguida da recepção calorosa dos companheiros de
equipe; a prostração dos adversários; a alegria ou a tristeza da torcida. Mas e se, logo depois do
gol, em lugar daquela sequência de imagens, a televisão exibisse imediatamente as reações das
mães dos jogadores do time que acaba de tomar o gol ou do presidente do clube que está perdendo.
Provavelmente, haveria estranhamento entre os espectadores, exceto se os apresentadores
prevenissem a audiência de que isso seria feito. Mesmo assim, é pouco provável que a exibição de
mães e presidentes desgostosos com o gol tomado se torne uma prática recorrente – ou venha a
fazer parte da linguagem do futebol pela televisão.
São os costumes, as práticas comuns observadas numa determinada sociedade (em
outras palavras, a cultura) os fatores determinantes para se compor as diversas linguagens nessa
comunidade. A manifestação de linguagem mais complexa desenvolvida pela humanidade é a
linguagem verbal. Esta, por seu turno, também se apresenta de diversas maneiras: a linguagem

14 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

formal (utilizada pelo jornalismo, pela medicina etc.), a linguagem popular, a linguagem familiar,
entre outros registros (que veremos mais adiante). É importante frisar que a Língua conta com
regras determinadas para seu uso, nas diversas modalidades em que ela se apresenta. Mas a
Língua está longe de ser um código fixo, rígido, que se pode prender num bom livro de gramática. A
Língua é um fenômeno vibrante, que se modifica constantemente, graças à capacidade cognitiva,
à criatividade e à interação entre seus falantes:

Língua é um fenômeno cultural, histórico, social e cognitivo que varia ao longo do


tempo e de acordo com os falantes: ela se manifesta no uso e é sensível ao uso. [...]
A Língua é uma atividade constitutiva com a qual podemos construir sentidos; é uma
forma cognitiva com a qual podemos expressar nossos sentimentos, ideias, ações e
representar o mundo; é uma forma de ação pela qual podemos interagir com nossos
semelhantes (MARCUSCHI, 1996, p. 71-72).

Note-se, portanto, que, a Língua é uma forma de linguagem cujas características são tão
ou mais dinâmicas do que a linguagem da televisão ou dos sinais de trânsito, por exemplo. A
história secular da escola, com trabalho reduzido à questão formal da Língua escrita, disseminou
preconceitos diversos em relação à linguagem verbal, como a desvalorização da linguagem oral e
dos registros populares, entre outros.

Como citar e referenciar este texto:

ZANCHETTA JUNIOR, Juvenal. Linguagem e língua: verbete de introdução ao tema. In:


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA [UNESP]; UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO
DE SÃO PAULO [UNIVESP] (org.). Caderno de formação: formação de professores: introdução
à educação. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de
Graduação, 2010. v. 2. p. 121-22. ISBN 978-85-7983-045-7. (Educação e linguagem, Caderno
de formação n. 2, bloco 1, módulo 1). Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/
unesp/337930/1/caderno-formacao-pedagogia_2.pdf. Acesso em: 9 fev. 2022.

Referências
MARCUSCHI, L. A. Exercícios de compreensão ou copiação nos manuais de ensino de língua? Em
Aberto, Brasília, n. 69, p. 71-72, jan./mar. 1996.

Formação Geral 15
PEDAGOGIA

AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Juvenal Zanchetta Junior
Livre-docente em Educação. Doutor em Educação. Mestre em Educação.
Graduado em Letras. Professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Assis, SP.

A linguagem ou as linguagens, em seus diversos códigos, apresenta os signos de maneira


variada. Mas, embora muito rica e diversa, a linguagem tem como um dos seus componentes
básicos justamente a organização dos signos para se atingir determinados objetivos, por meio da
comunicação. Trataremos mais de perto da linguagem verbal, posto ser o código de maior prestígio
social e aquele que atravessa a maior parte das relações humanas, mesmo nos dias de hoje, em
que a imagem parece predominar. Assistir, por exemplo, a um capítulo de novela ou a um telejornal,
sem ouvir a fala das pessoas (volume zero), implica considerável risco de se compreender bem
pouco daquilo que está sendo proposto.
De forma esquemática, as funções que a linguagem – e neste caso estaremos falando mais
de perto do código verbal – pode assumir na comunicação humana são as seguintes:

• Função informativa ou referencial: o interesse está em tornar a mensagem clara para o


leitor, de modo a transmitir informações com o máximo de precisão possível. A linguagem
dos livros técnicos, dos manuais de produtos eletrônicos, das bulas de remédios (embora
sejam até certo ponto ilegíveis para muita gente), das receitas de bolo;
• Função fática: trata-se do uso da linguagem para manter contato com outra pessoa
ou outras pessoas. O interesse concentra-se basicamente em prender a atenção do
outro. A função fática pode ser observada nas conversas entre casais que ensaiam
um relacionamento, por exemplo, ou então na gravação de secretárias eletrônicas de
empresas: enquanto você aguarda para ser atendido, ouve, do outro lado da linha, fala
do tipo “Aguarde um instante. Sua ligação é muito importante para nós.” Boa parte da
comunicação realizada por meio digital, em suportes como o MSN, o Orkut e o telefone
celular, tende apenas a travar e preservar contatos entre as pessoas;
• Função emotiva: trata-se do uso da linguagem para transmitir sentimentos, como a
alegria e a tristeza, a dor e a compaixão. Canções românticas que reportam a dor pela
perda da mulher amada são um bom exemplo da função emotiva da linguagem;
• Função persuasiva ou conativa: a linguagem é utilizada para convencer o outro sobre
alguma coisa. Grande parte da propaganda utiliza a linguagem com esse objetivo, ainda
que por vezes de forma disfarçada. O slogan “Beba Coca Cola” pode parecer suave,
em meio a imagens de jovens alegres, saudáveis e dinâmicos, mas a frase sugere uma
ordem: você deve optar por aquele refrigerante e não por outro;
• Função metalinguística: neste caso, a linguagem é utilizada para tratar dela mesma. O

16 Educação e Linguagem
PEDAGOGIA

exemplo mais contundente de uso da função metalinguística é o dicionário: as palavras


(os verbetes) procuram explicar os sentidos e os usos de outras palavras, daquela ou de
outra língua;
• Função poética: a linguagem é utilizada com vistas a testar novas possibilidades
de uso do código, buscando novas significações para as próprias palavras ou novas
maneiras de se perceber o próprio mundo (por meio das palavras). O verbo tecer está
convencionalmente ligado à área de produção têxtil. A imagem de um galo, por seu
turno, remete à figura de uma ave, em geral representada num espaço campestre. Essas
palavras, em termos denotativos (função referencial), podem se combinar numa frase
como “O galo canta enquanto a mulher, sentada na varanda, tece a roupa da criança”.
Entretanto, é possível explorar bem mais esses dois termos. No verso de João Cabral de
Melo Neto, por exemplo, elas criam uma metáfora requintada: “Um galo sozinho não tece
a manhã” (extraído do poema Tecendo a Manhã).

Essas funções aparecem distintas apenas para efeito didático. Na comunicação humana, as
funções estão imbricadas umas nas outras, muitas vezes de forma indissociável. As lágrimas e as
palavras de lamento de um jovem apaixonado, diante da mulher amada que está prestes a abandoná-
lo, evidenciam o uso da função emotiva, da função persuasiva e da função fática: as lágrimas do
rapaz mostram sua tristeza, mas também acabam por tentar convencer a garota do contrário. A
mesma situação serve ainda para dar algum fôlego a mais para a conversa (função fática). O cartaz,
geralmente encontrado em hospitais, em que se representa uma mulher fazendo, com o dedo
indicador levado à altura da boca, o gesto alusivo à ideia de silêncio, sugere o uso predominante da
função referencial: informa-se que naquele determinado local o silêncio é necessário. Mas o fato de
se utilizar a imagem de uma mulher com vestes típicas de uma enfermeira, para produzir um cartaz
endereçado a hospitais, sugere também as funções fática (as roupas brancas estão de acordo com
a etiqueta de um hospital) e emotiva (a imagem carrega carga positiva, pois a figura da enfermeira
lembra atenção, cuidado, tolerância etc., para com os pacientes).

Como citar e referenciar este texto:

ZANCHETTA JUNIOR, Juvenal. As funções da linguagem: verbete de introdução ao tema. In:


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA [UNESP]; UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO [UNIVESP] (Org.). Caderno de formação: formação de professores: introdução
à educação. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de
Graduação, 2010. v. 2. p. 119-20. ISBN 978-85-7983-045-7. (Educação e linguagem, Caderno
de formação n. 2, bloco 1, módulo 1). Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/
unesp/337930/1/caderno-formacao-pedagogia_2.pdf. Acesso em: 9 fev. 2022.

Referências
JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1969.

Formação Geral 17
PEDAGOGIA

REGISTROS DE LINGUAGEM E GÊNEROS TEXTUAIS


Juvenal Zanchetta Junior
Livre-docente em Educação. Doutor em Educação. Mestre em Educação.
Graduado em Letras. Professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Assis, SP.
Embora a Língua Portuguesa, no Brasil, tenha vários dialetos, a história sempre privilegiou
a linguagem escrita culta. A escola pública, por exemplo, fez esse trabalho desde o seu
desenvolvimento, no século 19, ignorando a linguagem oral (onde se verificam marcadamente as
diferenças dialetais) e insistindo na padronização do código, tendo como base um registro escrito
considerado culto, proveniente do centro-sul do país (onde estão os estados mais ricos da nação).
Apenas mais recentemente, as orientações escolares estão mais atentas à questão da
linguagem oral e do respeito à diversidade linguística observada no país. Ao se valorizar a linguagem
e o conhecimento dos alunos, pretende-se preservar os dialetos e revalorizar a Língua Portuguesa
como um todo, e não apenas um só registro. A Língua, no entanto, não se divide apenas em dialetos
ou então entre linguagem oral e linguagem escrita. Entre o oral e o escrito, há uma gradação de
prestígio social, que pode ser descrita do seguinte modo, segundo Vanoye (1979):

Linguagem formal: trata-se da linguagem de maior prestígio, cuja base é a escrita,


relacionada às diversas áreas da ciência, como a física, a química, o direito, a economia
e assim por diante. Uma bula de remédio tradicional, por exemplo, é plenamente
compreensível apenas para médicos ou especialistas. A linguagem dos processos
jurídicos é compreensível, em boa parte, apenas aos iniciados naquela área.

Linguagem intermediária: trata-se de um registro menos formal, que torna acessíveis


conteúdos a públicos mais amplos. É o caso da linguagem jornalística. Um comentarista
da área de economia precisa “traduzir” conceitos e conteúdos de sua área para o
espectador que não domina essa área. As notícias, por sua vez, são apresentadas de
maneira mais acessível, para facilitar a compreensão dos leitores.

Linguagem coloquial: trata-se da linguagem predominantemente falada, que se


observa no cotidiano das pessoas, nos momentos de integração social. Em repartições,
bancos, hospitais, entre outras instituições, é preciso guardar certos elementos
formais, mas a comunicação é menos formal. O apresentador de um telejornal, por
exemplo, em diversos momentos, comunica-se com o público por meio desse registro.

Linguagem popular: é a linguagem utilizada na fala distensa do dia-a-dia, entre


pessoas conhecidas; é a linguagem usada nas feiras livres, carregada de frases feitas,
clichês, gírias. A comunicação não depende apenas da palavra, como nos registros
formal e intermediário, mas complementa-se com os gestos, com a performance
individual.

Linguagem familiar: trata-se do registro utilizado entre pessoas que se conhecem


mais profundamente. Embora faça uso da palavra, a linguagem familiar se dá também

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PEDAGOGIA

com fatores não verbais, como os gestos, as atitudes, mas compartilhados por menos
pessoas do que no caso da linguagem popular. A filha que pede ao pai para passear
à noite com colegas pode receber a resposta com um sinal feito com a cabeça. Esse
sinal pode não só indicar autorização ou não, mas também dizer o que o pai pensa
a respeito do pedido da filha, como a filha deve portar-se, se ele dará dinheiro a ela
para o passeio e assim por diante.

Não há gradação de importância entre os registros. Cada um deles apresenta características


próprias e situações específicas de uso. O problema central está no preconceito: a linguagem
popular tende a ser menosprezada ou ser considerada menor por aqueles que dominam os registros
mais formais. Um dos grandes desafios da escola é fazer com que os indivíduos dominem o registro
intermediário (em termos de escrita) e o registro coloquial (em termos de fala), que contam com
maior prestígio social, possibilitando ao aluno transitar por outros registros, de acordo com suas
necessidades.
Mas estudos linguísticos contemporâneos consideram frágil a divisão da Língua em registros.
Há críticas diversas, mas basta observar um exemplo para se verificar isso. Tome-se o caso dos
apresentadores de stand up comedy, na televisão, no teatro e na internet. Em suas piadas, eles
utilizam diversos registros simultaneamente, enfatizam o registro popular, e, ainda assim, contam
com enorme prestígio (ou audiência). Nas próximas linhas, trataremos do uso da Língua por
outro ângulo, utilizando referência teórica presente nas orientações curriculares nacionais para as
primeiras séries do Ensino Fundamental (BRASIL, 2012a; 2012b).
A perspectiva adotada por tais orientações está próxima daquela comumente conhecida
como Interacionismo Sociodiscursivo (ISd), que tem em Bakhtin (1992), Bronckart (1999),
Schneuwly e Dolz (2004) seus principais representantes. Para tais autores, a Língua é um fenômeno
profundamente social e tem papel decisivo no desenvolvimento psíquico e na própria atividade
humana. A linguagem verbal e mesmo as outras formas de comunicação entre os homens, por esse
prisma, são sempre construídas historicamente e dependem da relação entre as pessoas para se
formarem e evoluírem.
A Língua, portanto, não é um código pronto e externo ao homem, do qual ele se utiliza quando
precisa, mas sim uma construção histórica dos homens, em permanente evolução. A comunicação
verbal não ocorreria por meio da combinação de palavras, mas por meio de textos (ainda que um
texto possa ser construído com uma só palavra, como na expressão utilizada por alguém, diante de
um incêndio repentino: Fogo!). Os textos, por sua vez, também não estão prontos, em algum lugar
da mente ou de um ponto exterior ao homem. Os textos são enunciados históricos, produzidos
por um sujeito que tem uma história específica, está num contexto determinado, tem intenções
determinadas e se volta a um receptor (ouvinte ou leitor, por exemplo) também determinado.
Mas o homem não cria novos textos o tempo todo. Ele utiliza estruturas já desenvolvidas
pela sociedade na qual ele está inserido e as adapta às suas intenções. Essas estruturas são

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PEDAGOGIA

chamadas gêneros textuais. Segundo Marcuschi (2008, p. 155, grifos do autor), em definição sobre
gênero textual próxima de Bakhtin, do ISd e das orientações oficiais:

Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas


recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por
composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados
na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. [...] Alguns
exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta
pessoal, romance, bilhete, reportagem, aula expositiva, reunião de condomínio,
notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras,
cardápio de restaurante, instruções de uso, inquérito policial, resenha, edital de
concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo
por computador, aulas virtuais e assim por diante. Como tal, os gêneros são formas
textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.

Os gêneros não são apenas estruturas das quais nos utilizamos quando preciso. Eles
também compreendem expectativas para a leitura. Quando lemos uma bula de remédio sabemos
que, em algum espaço destacado, estão presentes informações como: a) os efeitos esperados
do medicamento; b) os efeitos colaterais possíveis; c) as doses recomendadas. Se uma dessas
informações não estiver presente, alguma coisa está errada!
Os gêneros textuais, por outro lado, também não se colocam de forma solta. Eles fazem
parte de domínios discursivos determinados e cada um deles tem suas características sociais,
também desenvolvidas a partir da experiência humana. No domínio religioso, gêneros textuais
como o sermão e a oração tem em comum a evocação de um ser divino e o tom prescritivo, por
exemplo.
No domínio discursivo familiar, há um sem-número de gêneros possíveis, que utilizam
registros os mais variados, desde um mero gesto de carinho com os olhos até a participação do
casal em uma audiência formal, para discussão de termos de um processo de divórcio!
As noções de texto e de gênero serão tratadas com mais detalhe na disciplina voltada ao
ensino de língua materna. Neste momento, tais noções são importantes para se observar não só
o papel social da Língua, mas, principalmente, a responsabilidade da escola em tratar, com os
estudantes, do maior número possível de gêneros, para que o estudante conheça e saiba dialogar
com textos dos mais diversos domínios discursivos.

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PEDAGOGIA

Como citar e referenciar este texto:

ZANCHETTA JUNIOR, Juvenal. Registros de linguagem: verbete de introdução ao tema. In:


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA [UNESP]; UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO [UNIVESP] (Org.). Caderno de formação: formação de professores: introdução
à educação. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de
Graduação, 2010. v. 2. p. 123-24. ISBN 978-85-7983-045-7. (Educação e linguagem, Caderno
de formação n. 2, bloco 1, módulo 1). Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/
unesp/337930/1/caderno-formacao-pedagogia_2.pdf. Acesso em: 9 fev. 2022.

Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: o trabalho
com diferentes gêneros textuais em sala de aula: diversidade e progressão escolar andando juntas.
Brasília: MEC/SEB, 2012a. (Ano 3, unidade 5).

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: o
trabalho com gêneros textuais em sala de aula. Brasília: MEC/SEB, 2012b. (Ano 2, unidade 5).

BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo


sociodiscursivo. São Paulo: EDUC, 1999.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola, 2008.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquin. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita


– elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: DOLZ, Joaquin;
SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo:
Martins Fontes, 1979.

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