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MONTHLY NEWSLETTER

Trazemos a opinião da professora Os produtos educacionais nesta


Priscila Lanferdini, que atua na rede edição são de autoria de quatro Quais corpos habitam na sala de aula
estadual de educação no Paraná, alunos e ex-alunos da graduação em de língua inglesa? Uma reflexão
sobre o ensino à distância Língua Inglesa na UEL. sobre identidades por Alex Egido.
"emergencial" proposto pelo estado.

Palestra de
abertura do
evento
Dr. Douglas A.
Consolo (UNESP)

Teacher language
education and
assessment in the
age of technology

Associação de Professores de Língua Inglesa do Estado do Paraná


Av. Higienópolis, 290, CEP: 86020-080 - Centro, Londrina-PR
A edição do mês de julho da Newsletter Apliepar tem o prazer de recepcionar textos que se voltam
para o tema da identidade. Pretendemos trazer à tona discussões e semear questionamentos que
reflitam sobre a imensa diversidade de corpos que habitam nossas salas de aula. Consideramos este
tema, pois vivemos em um período complexo: por um lado, termos a percepção de haver mais
espaço para a representatividade de vozes minorizadas, que eram silenciadas; por outro lado,
pululam também os discursos contrários à igualdade e que tentam se justificar por valores de
violência e repressão. Com este tema para nossa edição, temos o intuito de convidar professores de
língua inglesa à autorreflexão de sua práxis. Temos em mente que os profissionais, que hoje lidam
com as repentinas mudanças na forma como desenvolvem seu trabalho, são o elemento-chave para
a transformação e para a mudança. Sendo assim, a edição de julho da Newsletter Apliepar, com
imensa gratidão, traz o artigo de opinião, na seção Speak Up, da professora Priscila Lanferdini; o
texto de Alex Egido, presidente da APLIEPAR, na coluna Learning in Focus sobre identidades e LI; e
a entrevista conduzida pela professora convidada, Giuliana C. Brossi (UEG), sobre saúde mental e
psicanálise. Além destes textos, o leitor encontrará sugestões de sequências didáticas, na seção Just
a Hint; indicações de séries em Take Your Time; e mais informações sobre o evento APLIEPAR
English Immersion. Esperamos que todos possam desfrutar e aproveitar esta edição.

OMBUDSMAN
O v.2 da Newsletter publicada pela APLIEPAR em junho de 2020 focou na temática do Ensino
Crítico de Língua Inglesa. Acertou no alvo! Estamos envoltos em um cenário de tentativas de
desmerecimento da ciência, da educação e da docência (como mencionou Duboc na seção SPEAK
UP), sendo que, o letramento crítico de nossos estudantes me parece o caminho que deve ser
trilhado.
Da mesma forma, considero extremamente pertinente a apresentação de produtos educacionais
produzidos por professores para contextos reais de ensino/aprendizagem. De fato, sugiro que esta
seção seja mantida e ampliada para outros contextos de produção de materiais educacionais para o
ensino de Línguas estrangeiras.
Mantendo a postura crítica proposta, sugiro que novas edições da revista foquem nas soluções
encontradas pelo governo do Paraná para este momento histórico de pandemia e de ensino remoto.
Proponho expor o discurso governamental contrastando-o com relatos de professores de línguas

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estrangeiras que estejam atuando neste novo contexto. Já é hora de analisar os resultados obtidos
até então e para repensar os direcionamentos dos investimentos que estão sendo feitos.
Reflexões de uma professora de Língua Inglesa
Priscila Lanferdini é professora de Língua Inglesa da rede pública de
ensino do estado do Paraná e do Programa Multicultural de Línguas
(PROMUL) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO).
Mestre e doutora pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da
Linguagem da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

No dia 30 de janeiro de 2020, o diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Dr. Tedros
Adhanom Ghebreyesus, declarou situação de emergência de saúde pública de importância internacional
em decorrência da pandemia causada pelo novo Corona vírus (Covid-19). No Brasil, no momento em que
escrevo este artigo de opinião, o vírus já infectou 1.884.967 pessoas e matou 72.833[1]. A medida mais
eficaz contra a propagação do vírus indicada até agora, por autoridades científicas e governamentais em
todo o mundo, é o distanciamento físico.
Diante de tal indicação, parte privilegiada da sociedade passou a se adequar ao trabalho em casa
(home office). Desde então, a interação mediada pelas novas tecnologias digitais apresentou crescimento
expressivo, causando mudanças significativas em nossas vidas. Na área da educação, as instituições de
ensino (escolas, universidades, institutos, etc.), por geralmente concentrarem uma grande quantidade de
pessoas, foram obrigadas a suspender suas atividades presenciais. Da noite para o dia, professores, das
redes pública e privada de todas as modalidades de ensino, viram-se forçados a preparar e ministrar
aulas por meio de diferentes recursos digitais, tendo suas rotinas de trabalho totalmente modificadas.
No estado do Paraná, a Secretaria do Estado da Educação e do Esporte (SEED) suspendeu as aulas em
todas as escolas estaduais no dia 20 de março de 2020. Apenas duas semanas depois, passou a
implementar um regime especial de atividades escolares na forma de aulas não presenciais[2] para os
cerca de 1 milhão alunos da rede. De acordo com informações divulgadas pela própria SEED[3], o ensino
remoto emergencial tem como objetivo evitar possíveis prejuízos aos processos de ensino e
aprendizagem decorrentes da suspensão das aulas presenciais. A proposta do governo apresenta como
carro chefe um suposto “protagonismo do professor” no desenvolvimento das ações de ensino, embora
não explique de que forma(s) isso se daria.
O ensino não presencial oferta aulas remotas aos alunos da rede por meio de canais de TV aberta[4],
pelo aplicativo para smartphones “Aula Paraná”[5] e pelo YouTube, além de atividades didáticas
implementadas por meio do Google Classroom (aplicativo do Google). As aulas transmitidas pela TV são
preparadas e ministradas por professores da rede selecionados pela SEED. A grade curricular seguida é
similar a da maioria das escolas estaduais, contando com duas aulas semanais de Língua Inglesa, com
duração de 45 a 50 minutos. Paralelamente às aulas, todos os professores devem acompanhar suas
turmas no desenvolvimento de atividades didáticas no Google Classroom. As atividades são postadas
pela SEED e enfocam conteúdos trabalhados nas aulas. Os professores são incentivados a produzirem
outras atividades e a postar materiais complementares[6]. Para os alunos que não têm acesso a nenhum
dos recursos citados são disponibilizadas, quinzenalmente, atividades impressas pelas escolas[7].
A proposta de ensino não presencial do Paraná tem sido divulgada amplamente pela SEED como um
modelo exemplar para o período de quarentena, contudo na prática, ela tem apresentado uma série de

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problemas sob os quais procuro refletir neste artigo.
O mais grave deles, em minha opinião, é processo A demanda de trabalho dos professores também
de ensino excludente que tem ocasionado, uma vez tem sido exaustiva, embora haja uma tentativa por
que muitos alunos não têm acesso a recursos parte da SEED de automatização de tarefas com o
tecnológicos e à internet. Nos meus 15 anos de uso de robôs para postagem e correção de atividades.
trabalho na Educação Básica do Paraná (9 anos como Os docentes devem acompanhar as aulas
professora de Língua Inglesa), ouvi muitos relatos de transmitidas e estar a par dos conteúdos trabalhados,
alunos que não possuem acesso à água encanada, luz produzir e revisar atividades online, selecionar e
elétrica, televisão, etc. Tenho testemunhado as adaptar atividades para serem impressas, preencher
dificuldades enfrentadas por muitas famílias para o Livro de Registro de Classe Online (LRCO),
prover alimentação adequada e vestimenta às suas organizar as salas do Google Classroom,
crianças e/ou adolescentes. Como esperar, então, atender/interagir com alunos e pais (os quais têm
que esses estudantes possuam os recursos feito contato pelas mais diversas formas: WhatsApp,
tecnológicos necessários às aulas remotas? Mesmo Facebook, telefone, e-mail, Google Classroom, etc.),
que eles estejam sendo atendidos por meio de participar de uma infinidade de lives de formação e
atividades impressas, a qualidade do ensino ofertado de reuniões remotas, etc.
estaria sendo a mesma para todos?
Faz-se necessário mencionar também a falta de "O ensino não presencial foi
planejamento para implementação de uma proposta
de ensino dessa dimensão. O ensino não presencial
implementado 'a toque de
foi implementado “a toque de caixa”, não havendo caixa', não havendo debate
debate com as comunidades escolares e com a
sociedade em geral. Uma possível discussão da com a sociedade e com as
proposta poderia ter possibilitado a inclusão de
demandas locais, bem como dado lugar à proposição
comunidades escolares."
de alternativas mais democráticas.
Outro fato que preocupa é a participação dos
Um outro problema é a falta de formação
alunos nas atividades propostas. Segundo dados
antecipada para realização de ensino remoto. Alunos
divulgados pela SEED, em maio, apenas cerca de 40%
e professores não receberam formação anterior à
dos estudantes havia acessado as ferramentas digitais
implementação da proposta, fator que tem
disponibilizadas pelo governo[9]. Além disso, em
interferido no desenvolvimento das ações de ensino.
minhas turmas, tenho percebido que muitos dos
Muitas têm sido as dificuldades enfrentadas no uso
alunos, que têm acesso aos aplicativos, apresentam
das ferramentas adotadas, tanto por parte dos
dificuldades em acompanhar os conteúdos
discentes quanto dos docentes. Além disso, saber
propostos. Ademais, apesar do esforço exemplar dos
usar os recursos tecnológicos não significa saber dar
profissionais da escola para atender/incluir todos os
aulas e aprender com eles. Acredito que uma
estudantes, alguns deles ainda não realizaram
preparação anterior teria minimizado as dificuldades
nenhuma das atividades ofertadas.
enfrentadas.
A porcentagem de acessos aos aplicativos parece
Os alunos têm recebido instruções de uso das
estar incomodando a SEED, que, insatisfeita com os
ferramentas por meio de tutoriais produzidos por
resultados, pressiona os professores para que o
técnicos dos NRE e por professores, divulgados pelo
ensino remoto funcione. Recentemente, fomos
WhatsApp e por outras redes sociais. Algumas
orientados a acessar e interagir com os alunos no
tentativas de reuniões remotas também têm
Google Classroom em nossos horários de aula, sob
ocorrido. Já a formação para os professores tem sido
ameaça de levar faltas e ter descontos em nossos
ofertada por meio de lives transmitidas pelo Youtube
salários. A ideia é que nós professores estejamos
no canal “Canal do Professor”[8].
disponíveis nos ambientes virtuais nos horários de
Há também muitas queixas de alunos e
aula, ao tempo que ainda temos que desenvolver
professores quanto à sobrecarga de trabalho. Os
todas as outras tarefas que nos foram dadas. É
alunos reclamam quanto à grande quantidade de
preciso mencionar também que, estamos sendo
atividades e aulas. Parece haver uma tentativa de
obrigados a utilizar nossos próprios equipamentos
reprodução do ambiente escolar de forma online,
pessoais. Não houve nenhum questionamento sobre
com o estabelecimento de quadros de horários e
se temos os recursos tecnológicos necessários ao
disciplinas, sem se considerar as especificidades do
ensino remoto emergencial e nem a oferta de auxílios
ensino remoto, o qual é bastante diferente do

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nesse sentindo.
presencial, que os estudantes estavam acostumados.
A última questão, mas não menos importante, é o que, na retomada das aulas, após o período de
montante de recursos financeiros destinados à tal quarentena, haja uma reorganização do calendário
iniciativa. A implementação do ensino remoto escolar garantindo o cumprimento da carga horária
emergencial custou inicialmente R$ 22 milhões aos mínima anual de 800 horas exigidas pela Lei nº.
cofres públicos. Só o contrato com a TV aberta custa 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
em torno de R$ 600 mil por mês[10]. Dispensada de Nacional (LDB).
licitação em função da pandemia, a aplicação dos Apesar da proposta da App-sindicado se mostrar
recursos destinados à implementação da proposta mais sensível ao momento vivenciado, ao meu ver, ela
está claramente priviligiando determinadas empresas ainda não se mostra bem definida. Não fica claro, por
privadas. Como é de conhecimento geral, o exemplo, o que seria feito se a quarenta se prolongar
secretário de educação do Paraná, Renato Feder, é por muito mais tempo. Ademais, penso que devido ao
empresário do ramo tecnológico e apresenta tempo de implementação e aos recursos financeiros
interesses políticos voltados a esse mercado. já despendidos, abortar as ações já realizadas não
seria um bom caminho. Em minha opinião, a proposta
"Que aqueles invisíveis aos da SEED precisa ser urgentemente readequada. Em

olhos do governo não sejam especial, é preciso incluir alternativas que atinjam de
forma mais efetiva os alunos que possuem acesso
também invisíveis aos restrito ou não têm nenhum acesso aos meios
tecnológicos. Saber quem são eles e do que precisam
nossos olhos." neste momento poderia ser um primeiro passo.
Por fim, exponho uma última reflexão. Nos últimos
Ainda não sabemos quais os reflexos que o ensino dias, temos sido bombardeados por lives de formação
remoto emergencial poderá causar em nossas vidas e profissional. Quantas delas têm enfocado alternativas
na sociedade. A grande quantidade de horas em de ensino voltadas aos estudantes que apresentam
frente às telas de computadores, celulares e televisão dificuldades de acesso aos meios tecnológicos e
pode ser prejudicial à saúde, pois está havendo um digitais, quer seja nas escola ou nas universidades? A
grande desgaste físico e mental para todos. Além maioria das lives que pude assistir objetivaram a dar
disso, a evasão escolar pode aumentar drasticamente dicas de como utilizar recursos digitais (ou seja, para
este ano. A proposta de ensino remoto da SEED não melhorar o ensino daqueles que já têm acesso) ou
demonstra consciência sobre as possíveis enfocaram questões téoricas e metodológicas já
consequências desses fatos e apresenta pouca discutidas anteriormente à pandemia. Pensando
sensibilidade em relação ao momento complexo que nisso, sem retirar as responsabilidades das
vivemos. autoridades governamentais (pois entendo que a elas
Diante disso, cabe-nos alguns questionamentos. cabem apresentar soluções), convido a todos
Com o valor aplicado à proposta da SEED poderia ter (professores, pesquisadores, especialistas, alunos-
sido possível desenvolver outras ações mais professores, etc.) a compartilharem
democráticas de ensino? Que outras alternativas alternativas/sugestões de ensino potenciais de
poderiam ter sido implementadas? Afinal, não se alcançar os estudantes mais vulneráveis à pandemia.
pode negar que, mesmo com seus muitos problemas, Que aqueles invisíveis aos olhos do governo não
as ações de ensino desenvolvidas têm sido um alento sejam também invisíveis aos nossos olhos. Desejo a
para muitas famílias neste momento. [1] Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em 14 de julho de 2020, no
todos muita saúde!
site: https://covid.saude.gov.br/; [2] A Resolução da SEED n.º 1.106 de 03
Recentemente, o Sindicato dos Trabalhadores em de abril de 2020 estabelece em regime especial atividades escolares na
Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) forma de aulas não presenciais no estado do Paraná; [3] Notícia divulgada
pela SEED no site: https://tinyurl.com/ur67tcf/; [4] Tratam-se de canais
apresentou, para debate com a sociedade digitais vinculados à emissora RIC afiliada da Rede Record; [5] O aplicativo
paranaense, uma proposta de ensino em contra- “Aula Paraná” foi desenvolvido para o ensino remoto emergencial do
Paraná pela empresa IP.TV; [6] As informações sobre a nova organização
partida à implementada pela SEED. A proposta da do ensino têm sido repassadas aos professores por meio de lives com
App-sindicato engloba uma série de atividades técnicos da SEED e da Google. Localmente, os Núcleos Regionais de
pedagógicas não obrigatórias para o período de Educação (NRE) e as escolas têm repassado informações por e-mail, pelo
WhatsApp, por meio de tutoriais e reuniões remotas; [7] No que se refere
quarentena[11]. Tais atividades não enfocariam aos atendimentos especializados, no dia 17 de abril de 2020, as aulas
conteúdos ainda não estudados pelos alunos, mas se passaram a ter tradução simultânea em Libras, contudo outras demandas
das escolas como alternativas para a educação profissional, especial, do
constituíriam de atividades lúdicas que campo, indígena e quilombola ainda não foram satisfatóriamente
contruibuíssem para a superação da ansiedade e do contempladas; [8] Canal do Professor:
https://www.youtube.com/channel/UCFPIwM0tgqzhSlm0U78AOxQ/;
estresse, assim como apresentariam orientações para

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[9] Dados divulgados no site: https://tinyurl.com/y9l4nrue; [10] Veja
o período de pandemia. informações nos sites: https://tinyurl.com/yax3fdof e
https://tinyurl.com/u48ugw6.
A proposta da App-sindicato sugere que seja [11] As atividades didáticas propostas pela App-Sindicato encontram-se
oferecida atividades formativas aos professores como disponilizada no site: https://tinyurl.com/yasegdpm
cumprimento de jornada de trabalho. Propõe ainda
Materiais e recursos didáticos de teachers para teachers
WOMEN EMPOWERMENT: Unidade
didática desenvolvida e pilotada, no ano
de 2017, com alunos de segundo e de
terceiro anos do ensino médio em uma
escola pública do município de Londrina.
Produção supervisionada pela Profª. Drª.
Denise Ismênia Bossa Grassano Ortenzi,
na disciplina de estágio do quarto ano do
curso de Letras Inglês da Universidade
Estadual de Londrina (UEL).

(https://f2b18779-27c9-4a9c-8b72-ebecf0033040.filesusr.com/ugd/1bc29e_2d97de53fd34467689b56e1bf5e156ad.pdf)

DIVERSITY: Unidade didática foi desenvolvida com


o propósito de promover pensamento crítico aos
alunos sobre o tema da diversidade. A temática é
abordada por meio de atividades que se centram em
uma perspectiva multimodal de ensino de línguas.
Este material foi desenvolvido na disciplina “Leitura
em Língua Inglesa: Aspectos teóricos”, no ano de
2019, ministrada pelo Prof. Me. Alex Egido, no curso
de Letras-Inglês, da Universidade Estadual de
Londrina (UEL).

(https://f2b18779-27c9-4a9c-8b72-

.5
ebecf0033040.filesusr.com/ugd/1bc29e_4e69dc1fcccc44c381711249b
97a9899.pdf)
Tornemos visíveis os corpos que sempre existiram. Coloquemos no palco da
vida e das oportunidades aqueles que sempre foram silenciados e
posicionados backstage. Como, enquanto professores de língua inglesa,
podemos contribuir para a visibilidade desses corpos?

A discussão sobre identidades e sobre os corpos que as materializam


acontece tanto de modo planejado quanto inesperado, em nossas aulas de
língua inglesa. Neste breve relato, ilustramos os contextos de produção das
duas unidades didáticas apresentadas na seção just a hint, que bem ilustram
a abordagem desta temática de modo planejado em um curso de formação
de professores.

Por um lado, a produção do material didático assinado pelas professoras


Bárbara Garcia e Rafaela Mazuquin ilustra o planejamento da unidade. A
escolha do tema demonstra o que é caro a elas, quando refletem sobre o
ensino da língua inglesa na educação básica.

Por outro lado, a produção do material didático assinado por Fernando


Yamaguchi e Natasha Dynczuki é um rico exemplo de como questões
voltadas às identidades podem ser introduzidas e tornarem-se o centro da
discussão, mesmo quando não previstas inicialmente pelo professor
formador. Esta unidade didática foi produzida como trabalho final da
disciplina “Leitura em Língua Inglesa: aspectos teóricos”, em que foi
requerido a elaboração de material didático que, com base nas perspectivas
de leitura crítica e de letramento crítico, contemplasse um tema social.
Felizmente, Fernando e Natasha, bem como outros colegas seus, voltaram-
se às identidades.

Nestas duas experiências de professores em formação, notamos as escolhas


deles em contemplar tal tema. Nosso papel de professores de língua inglesa
é intrinsecamente político. A pergunta que precisamos nos fazer é: Minhas
aulas são palcos que colocam todos os corpos em cena ou deixa alguns
invisíveis atrás das cortinas?

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São muitos os desafios que pessoas e famílias têm vivenciado nos últimos tempos, em
decorrência da Pandemia de COVID-19. Sobre isso, conversei com Juliana Aguiar de Melo
Prado, que é analista praticante, participante da Escola Brasileira de Psicanálise. Para Juliana,
não há dúvidas de que o convívio familiar é a maior dificuldade e também o maior desafio
relatado em consultório com o confinamento. Com a pandemia as pessoas têm ficado em casa
favorecendo assim o encontro dos entes desse núcleo. A psicanalista afirma que a maioria das
questões que causam conflitos familiares já estava em curso e com o confinamento há um
escancaramento e uma dificuldade de evitar determinados cenários. Ela aponta ainda que,
com 3 meses de pandemia no Brasil, já é possível observar o aumento da violência doméstica,
casamentos desfeitos, e outros efeitos desse convívio. O medo da doença e a potencialização
de fobias sociais são desafios que aparecem na sequência, levando ao excesso de leituras de
noticiários que fomentam grande desgaste psíquico.

Seu conselho é: busque diferenciar medo, angústia e ansiedade. O medo é um dispositivo


importante e trabalha bem para a manutenção da vida, e requer um objeto de ameaça real. É
necessário que se tenha alguma cota de medo uma vez que a situação da Covid-19 oferece
risco real a vida, sem o medo estaríamos cínicos e com a presença do medo nos cuidamos,
ficamos atentos para medidas protetivas para manutenção da própria vida, do corpo. A
ansiedade, por outro lado, é produzida diante do novo, do saber o destino, o que está por vir,
é um efeito de todo ser humano, porem em casos graves é necessária intervenção médica e às
vezes auxilio medicamentoso. A angústia é relativa a algum tema que provavelmente já estava
em curso para aquele sujeito e que a pandemia o presentifica e traz à baila questões familiares
já conhecidas, neuroses que já existiam e se intensificam, entre outros. Quando se sabe um
pouco sobre essas condições consegue-se pelo menos endereça-las melhor a um tratamento
possível, também podem produzir mais responsabilização, consentimento (sobretudo no caso
dos medos), implicação e saídas inventivas, lúcidas e singulares para cada pessoa de acordo
com sua condição incluindo as pré-existentes.

A psicanálise concebe o conceito de estrutura psíquica como condição de ser de cada sujeito.
A estrutura psíquica é arquitetada desde o nascimento e é formada ali no romance familiar de
cada sujeito. Portanto, segundo Juliana, cada sujeito pode expressar seus efeitos durante a
pandemia. Os fóbicos sociais podem se valer muito bem dessa situação uma vez que já
ficavam isolados, ou podem ainda intensificar suas fobias. Os sujeitos histéricos podem
dramatizar, ironizar, exacerbar esse momento. Os neuróticos obsessivos com suas manias de
limpezas e rituais podem consolidar seus sintomas. Os de estrutura psicótica podem sentir
ainda mais desagregados. Estes são efeitos que já se pode notar e colher na prática clínica em
consultório, porém não se pode fazer disso uma cartilha ou condição universal generalizada.
Dessa forma, a psicanalista afirma que o melhor caminho para quem está se sentindo
ameaçado e/ou vulnerável diante de toda essa situação que vivemos ainda é o exercício da
prática da análise.

Juliana Aguiar de Melo Prado Atua na linha da Psicanálise de Orientação Lacaniana. Ela
também é professora da Pós-graduação em Psicanálise da Faculdade Anhanguera - Anápolis.
tel.: 062. 991652981

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Sex education (2019): ambientada
em uma pequena cidade no
interior da Inglaterra, apresenta
o cotidiano de um grupo de
Esse mês indicamos jovens de uma escola e aborda
três séries que nos com leveza, originalidade e muita
fazem refletir, de diversão temas importantes
sobre sexualidade sob a ótica dos
maneiras diversas,
adolescentes. A série inglesa foi
sobre o tema de ganhando espaço e angariando
identidades. As três um público estrondoso depois de
produções são uma estreia discreta em stream,
originais do serviço ganhou notoriedade com o boca
“vermelhinho” a boca dos fãs, ao ponto de ter se
de stream que se tornado uma das séries mais
popularizou no Brasil. assistidas da plataforma, ao lado
de gigantes como “Stranger
Things”. A segunda temporada
não decepcionou os fãs –
manteve toda a irreverência e a
naturalidade ao abordar os mais
diversos temas sobre sexo na
adolescência, mas também
ampliou suas bases e deu mais
profundidade a seus
personagens.

Atypical (2017): conta a história


de Sam, um jovem de 18 anos que
Tales of the city (2019): com vive dentro do espectro do
roteiro doce que prioriza as autismo. Ainda no ensino médio,
jornadas pessoais de cada Sam decide que é hora de dar
personagem, a série é um drama uma chance para o amor e,
cativante com uma mensagem enquanto lida com questões
positiva. Em ‘Crônicas de San comuns a qualquer um de nós,
Francisco’ companhamos a acaba despertando em toda a sua
ressignificação da família a vontade de movimento e
palavra queer conforme o termo mudanças. A série discute
deixa de ter um tom pejorativo e diversos aspectos sobre o
vira sinônimo de todas as espectro autista, tema muito
nuances da comunidade gay, pouco abordado em produções
dando uma verdadeira mainstream. Além disso, traz a
abrangência para a sigla LGBTQ+. tona debates delicados como, por
Esta versão, atualmente exemplo, a paternidade e a
disponível em stream, é maternidade idealizadas, o que é
um revival que dá continuidade a o amor e como sobreviver às
três minisséries que foram ao ar descobertas da adolescência.
na TV americana: ‘Tales of the Essas são apenas algumas das
City’ (1993), ‘More Tales of the questões apresentadas por meio
City’ (1998) e ‘Further Tales of the do gênero comédia dramática
City’ (2001). Em cada uma delas que acerta no equilíbrio entre
assistimos aventuras de Mary- momentos cômicos e momentos
Ann Singleton (Laura Linney). mais sérios por utilizar um

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Nesta nova versão vemos Mary formato com episódios mais
Ann retornando a San Francisco curtos e temporadas ágeis com
para focar em sua carreira. poucos episódios.
Alex A. Egido
Presidente da Apliepar na Gestão: 2020-2021

Giuliana C. Brossi
Professora da Universidade Estadual de Goiás

Mariana Furio
Vice-Presidente da Apliepar na Gestão: 2020-2021

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