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julho 2021
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.059/2021 – Prorroga o período de
aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional
1.1. Ficha normativa................................................................................................................4
1.2. Comentário.......................................................................................................................4
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................5
DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Lei nº 14.181/2021 – Lei do Superendividamento
1.1. Ficha normativa................................................................................................................15
1.2. Comentário.......................................................................................................................16
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................21
2. Lei nº 14.186/2021 - Altera a Lei nº 14.046/2020, para dispor sobre
medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da
pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura
2.1. Ficha normativa...............................................................................................................24
2.2. Comentário......................................................................................................................25
2.3. Questão inédita comentada.....................................................................................29
DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa................................................................................................................32
1.2. Comentário.......................................................................................................................33
MP Nº 1.059/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas
excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de
bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e comunicação, de
comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.
Data de publicação: 30.07.2021
1.2. Comentário
No dia 30.07.2021, foi publicada e entrou em vigor a MP nº 1.059/2021, que prorroga o período
de aplicação da Lei nº 14.124. Conforme ementa da MP, o novel texto legislativo modifica “a Lei nº
14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de
vacinas e de insumos e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e
comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”.
Para que tais medidas possam ser tomadas, a Lei nº 14.124/2021 trouxe uma série de requisitos,
como a limitação temporal – no sentido de que seus dispositivos somente seriam aplicáveis “aos
atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até 31 de julho de 2021,
independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações” (redação anterior do art. 20).
Tendo em vista que a pandemia não foi controlada até 31.07.2021, a MP nº 1.059/2021 precisou
ser editada, prorrogando o período de aplicação da Lei nº 14.124/2021, nos termos da nova redação
do art. 20:
Ou seja, a partir da publicação da MP nº 1.059/2021, a Lei nº 14.124/2021 passa a ser aplicável aos
atos praticados e aos contratos e instrumentos congêneres firmados enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional, o que independe do prazo de execução ou
de prorrogação dos contratos firmados nos seus termos.
Esta lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até
31.07.2021, independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações.
CERTO ( ) ERRADO ( )
Há erro na parte final da assertiva, nos termos do art. 20 da Lei nº 14.124/2021 com a redação
dada pela MP nº 1.059/2021:
LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.
• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.
• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.
• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal(CP).
1.2. Comentário
Em 28.07.2021, foi editada a Lei nº 14.188 como mais uma medida de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher, prevista na Lei nº 11.340/2006. Destacam-se as
diversas alterações legislativas que a Lei nº 11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”) sofreu no período da
pandemia e que podem ser cobradas nos concursos públicos de diversas carreiras jurídicas, dada a
transversalidade do assunto.
Nesse sentido, conclama tais instituições para cooperarem entre si e efetivarem o programa
Sinal Vermelho por meio de canais de comunicação em todo o país para viabilizar assistência à
vítima. Para tanto, é definido um código “sinal em formato X”, feito preferencialmente na mão e na
cor vermelha. Veja as disposições legais relacionadas:
Noutro giro, a lei em comento também promoveu alterações no Código Penal relacionadas ao
tema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Por fim, a lei alterou a redação do art. 12-C da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria
da Penha), para incluir o risco à integridade psicológica como um ato que permite o imediato
afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
Verifica-se, pois, importantes alterações legislativas que podem ser alvo de provas de concursos
públicos, nas mais diversas carreiras jurídicas, que abordem o tema da violência doméstica e familiar
contra a mulher.
III – O Programa de Cooperação Sinal Vermelho é exclusivo das instituições públicas, a fim
de estabelecer um melhor intercâmbio de informações relacionadas às medidas protetivas e
assistenciais da mulher vítima de violência doméstica e familiar.
A) I, II e III
B) I e II
D) II e III
E) I, II e IV
I – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 determinou que nos casos de risco atual ou iminente no contexto
da violência doméstica e familiar contra a mulher, o agressor será imediatamente afastado do lar, não
dependendo de prévia representação. Tal afastamento prioritariamente deverá se dar pela autoridade
judicial, e, não sendo possível, poderá se dar pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de
comarca ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia, sendo que estas duas últimas hipóteses deverão ser comunicadas ao juiz em
até 24 horas, que decidirá sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada pelo delegado ou pelo
policial. Redação do art. 12-C da Lei nº 11.340/2006, alterado seu caput pela Lei nº 14.188/2021, in verbis:
II – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 expressamente alterou o Código Penal para prever o tipo da
violência psicológica contra a mulher como mais uma medida de proteção, nos termos do art. 147-B do CP:
III – Incorreto. O Programa Sinal Vermelho, trazido pela Lei nº 14.188/2021, abrange não
somente instituições públicas como também privadas, nos termos do art. 2º do referido ato normativo:
IV – Incorreto. Nos termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 14.188/2021, o Programa Sinal
Vermelho é um código em formato de X, na cor vermelha e não na cor preta. Quanto à sua localização,
sim, preferencialmente na mão. Nesse sentido, o referido dispositivo legal:
Art. 2º (...)
LEI Nº 14.190/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, para determinar a inclusão como
grupo prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19 de gestantes, puérperas e lactantes, bem como de crianças e adolescentes
com deficiência permanente, com comorbidade ou privados de liberdade.
• A lei estabelece ainda como grupo prioritário na imunização contra o novo Coronavírus
as crianças e adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade.
1.2. Comentário
De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera a Lei nº 14.124, de 10.03.2021, sobre
a aquisição de vacinas e insumos destinados à vacinação contra a Covid-19 e seu respectivo Plano
Nacional de Vacinação, para incluir gestantes, puérperas e lactantes com ou sem comorbidades,
bem como crianças, adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade como grupos prioritários para fins de imunização.
Lei curta e objetiva apenas para estabelecer tais pessoas como grupos prioritários, não havendo
temas a serem aprofundados, bastando mera ciência da referida lei.
Nesse sentido, vários atos normativos foram editados no Brasil com o intuito de enfrentar os
reflexos da pandemia nos mais diversos setores da economia e da saúde. A partir do ano de 2021, o
Brasil iniciou o Plano Nacional de Imunização, estabelecendo diversos grupos prioritários para que a
vacinação pudesse controlar a disseminação do vírus.
Dessa forma, sobre o Plano de Imunização é correto afirmar que as gestantes, lactantes,
independentemente da existência de comorbidades, bem como crianças e adolescentes privados
de liberdade, foram incluídos como pessoas de interesse prioritário na imunização da pandemia
da Covid-19.
CERTO ( ) ERRADO ( )
A Lei nº 14.190/2021 expressamente estabeleceu tais pessoas como grupos prioritários para a
imunização contra a pandemia da Covid-19 em seu art. 1º, o qual acrescenta os §§ 4º e 5º do art. 13 da
Lei nº 14.124/2021.
LEI Nº 14.181/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor),
e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento.
Data de publicação: 02.07.2021
Início de vigência: 02.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14181.htm>
Destaques:
• Insere na Política Nacional das Relações de Consumo princípios para educação e prevenção
ao superendividamento do consumidor, bem como institui mecanismos extrajudiciais e
judiciais para buscar uma solução para essas situações.
• Estabelece que a desobediência às exigências dos arts. 52 a 54-C do CDC poderá ensejar
a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação do
prazo de pagamento previsto no contrato para que o consumidor pague a dívida, conforme
a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades financeiras do consumidor.
1.2. Comentário
Nesse sentido, a lei adiciona os incisos IX e X ao art. 4º do CDC, colocando como princípios
da Política Nacional das Relações de Consumo o “fomento de ações direcionadas à educação
financeira e ambiental dos consumidores” e a “prevenção e tratamento do superendividamento
como forma de evitar a exclusão social do consumidor”. Por sua vez, adiciona ao art. 5º do
Código dois novos instrumentos para efetivação da Política Nacional das Relações de Consumo,
quais sejam: a “instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do
superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural” e a “instituição de núcleos de
conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento”.
No que se relaciona aos conhecidos direitos básicos do consumidor, há, agora, especificamente
os seguintes direitos adicionados ao art. 6º do CDC:
XIII — a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida,
tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o
caso.
Como se verifica, os incisos adicionados são direitos básicos eminentemente protetivos que
visam à educação financeira do consumidor com vista a evitar as situações de superendividamento
e a garantir o mínimo existencial para que o consumidor não tenha seu orçamento mensal
inteiramente comprometido por dívidas contratadas, ficando impossibilitado de adquirir o básico
para sua subsistência.
Outrossim, cabe destacar o conceito de superendividamento positivado pela lei, por meio do
novo art. 54-A, § 1º, do CDC: “entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de
o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis
e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação”. Nessa
esteira, é possível identificar alguns requisitos para o enquadramento do consumidor na condição
de “superendividado” para que possa ter acesso aos benefícios trazidos pela legislação.
II — a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros de mora e o total
de encargos, de qualquer natureza, previstos para o atraso no pagamento;
Essas disposições visam a dar ao consumidor clareza da operação de crédito que está sendo
realizada para que tenha ciência do custo total que envolve a contratação com a concessão do
crédito e sem a concessão do crédito, possibilitando um melhor cálculo do consumidor e, em
especial, daqueles mais vulneráveis, acerca do que está sendo contratado.
Ressalta-se que o art. 54-C da lei estabelece a vedação de algumas práticas comuns
que têm o potencial de prejudicar o consumidor, como: a realização de oferta de crédito e
financiamento indicando que ela pode ser realizada sem consulta aos cadastros de proteção
ao crédito, o que facilita que um consumidor já endividado contrate nova dívida, dando ases
ao superendividamento; o assédio ou pressão a consumidores idosos, analfabetos, doentes
ou em estado de vulnerabilidade agravada para que contratem produto, serviço ou crédito;
e o condicionamento de atender demandas do consumidor, como a própria renegociação de
dívidas, por exemplo, à desistência de demandas judiciais e/ou ao pagamento de honorários
advocatícios e a realização de depósito judicial.
Interessante disposição da lei que já é bastante tratada na doutrina diz respeito aos contratos
coligados. Desse modo, a lei considerou que são conexos, coligados ou interdependentes o contrato
principal de fornecimento de produtos ou serviços e o contrato de concessão de crédito para a
aquisição dos respectivos produtos ou serviços. Nesse contexto, o novo art. 54-F do CDC determina
que serão considerados conexos/coligados/interdependentes o contrato principal e o de crédito
quando o fornecedor de crédito:
Dessa forma, por exemplo, quando uma instituição financeira atua em parceria com o
fornecedor de produtos ou serviços, dentro de uma loja online ou física, para possibilitar a aquisição
dos produtos ou serviços vendidos na loja, por meio de financiamento dirigido ao consumidor,
o contrato de crédito será considerado coligado ao contrato principal.
Isso implica que, por exemplo, caso o consumidor deseje exercer o direito de arrependimento
sobre qualquer um dos dois contratos, o outro será diretamente afetado por essa decisão, sendo
ambos os contratos resolvidos de pleno direito. Ademais, na hipótese de inexecução das obrigações
do fornecedor de produto ou serviço, o consumidor poderá requerer a rescisão do contrato também
contra o fornecedor de crédito. Assim, o inadimplemento da obrigação de entregar um bem, por
exemplo, confere o direito de o consumidor rescindir tanto o contrato principal, da compra do bem,
quanto o contrato de crédito, do financiamento concedido para a aquisição do bem (art. 54-F e seus
§§ 1º e 2º, do CDC).
Para isso, o consumidor deve notificar a administradora do cartão de crédito com, ao menos,
10 dias de antecedência da data do vencimento da fatura. Ainda, caso o consumidor só reconheça
parcialmente o valor cobrado, deverá ser permitido que ele realize o pagamento parcial do valor
indicado na fatura. Ademais, é facultado ao emissor do cartão lançar um “crédito de confiança” na
fatura do consumidor de valor idêntico ao da transação contestada enquanto não for encerrada a
apuração administrativa da contestação realizada.
Por fim, destaca-se o estabelecimento de um procedimento judicial específico para tratar dos
litígios que envolvam o superendividamento.
Nesse contexto, o art. 104-A do CDC traz o direito de o consumidor requerer ao juízo a
instauração de um processo de repactuação de dívidas. Em uma primeira abordagem, esse
processo pode estabelecer a realização de uma audiência de conciliação inicial com a presença de
todos os credores de dívidas do consumidor. Para essa conciliação, o consumidor deve apresentar
um plano inicial para pagamento de suas dívidas com prazo máximo de cinco anos, preservando
um valor mínimo para sua subsistência, considerando seus rendimentos. Importante notar que o
pedido realizado pelo consumidor não importa na declaração de insolvência civil e somente pode
ser realizado novamente após o prazo de dois anos contados da liquidação das obrigações previstas
no plano de pagamento homologado.
Além disso, nos termos do art. 104-C do CDC, não só o juízo, mas também todos os órgãos
públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor poderão realizar a fase
conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas. Poderá ocorrer dentro desses
órgãos, como, por exemplo, nos PROCONs, audiência global de conciliação com todos os
credores. Ressalta-se que quando for firmado o acordo perante esses órgãos deverá ser indicada
a data na qual o consumidor terá seu nome excluído dos órgãos de proteção ao crédito e que isso
estará condicionado ao consumidor se abster de praticar condutas que agravem a sua situação de
superendividamento, em especial, a de contrair novas dívidas.
Durante vários anos, Geraldo trabalhava em uma boa empresa, que lhe pagava um salário
razoável. Nesse contexto, durante a sua vida, contraiu alguns financiamentos e obteve empréstimos
junto a cinco diferentes instituições financeiras. O primeiro financiamento é o de sua casa, o segundo,
de seu carro, ambos em alienação fiduciária em garantia. Os outros três empréstimos foram obtidos
na modalidade CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para pagar diversas despesas do cotidiano,
como a escola de seus filhos, despesas de saúde, entre outras. Ao longo de vários anos, Geraldo
pagou adequadamente as prestações de seus financiamentos e empréstimos. Contudo, devido a
uma forte crise ocorrida, que afetou as atividades da empresa em que trabalhava, Geraldo foi demitido
e apenas conseguiu um outro emprego que lhe pagava um salário muito inferior ao anterior. Diante
dessa situação, Geraldo ficou sem poder arcar regularmente com os financiamentos e empréstimos
obtidos sem que isso prejudicasse suas despesas domésticas básicas.
A) Geraldo pode ser considerado superendividado nos termos da lei, por ser consumidor, pessoa
natural, de boa-fé, que está com impossibilidade manifesta de pagar as suas dívidas de consumo.
D) O Plano Judicial instituído pelo processo por superendividamento para revisão e integração
dos contratos e repactuação de dívidas é compulsório para os credores e poderá prever medidas
de dilação de prazo para pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor.
Demais alternativas:
Alternativa A. Correta. Nos termos do art. 54-A do CDC: “entende-se por superendividamento
a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.”
(...)
Alternativa D. Correta. Da leitura conjunta dos arts. 104-A e 104-B do CDC, verifica-se que
o plano judicial para pagamento dos débitos é compulsório para o credor e pode prever “medidas
de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida” (art. 104-A, § 4º, I). Ademais,
destaca-se que no plano judicial compulsório deve ser assegurado aos credores, no mínimo,
o valor do principal devido corrigido monetariamente por índices oficiais e o prazo máximo para
liquidação do débito em até cinco anos, contados da data da homologação (art. 104-B, § 4º).
LEI Nº 14.186/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da Covid-19
nos setores de turismo e de cultura.
Data de publicação: 16.07.2021
Início de vigência: 16.07.2021
• A restituição dos valores aos consumidores, por parte das sociedades empresárias ou
prestadores de serviço deverá ser efetuada até o dia 31 de dezembro de 2022 apenas na
hipótese em que não seja possível oferecer a remarcação dos serviços ou disponibilizado
crédito.
Em função de ter emergido a pandemia de Covid-19, que acometeu todo o mundo, com
relevante impacto nos setores de turismo e cultura, foi promulgada e publicada, no dia 26.03.2021,
a Lei nº 14.046/2020.
A referida lei dispõe sobre medidas afetas ao direito do consumidor e ao direito civil para atenuar
as repercussões econômicas da pandemia nos setores de turismo e cultura. Assim, em decorrência
do amplo cancelamento ou adiamento de viagens e eventos, os prestadores de serviços, como hotéis,
empresas aéreas, casas de shows e até mesmo alguns profissionais autônomos, como palestrantes,
cantores e artistas, se viram em uma situação de, eventualmente, ter de devolver imediatamente a
todos os consumidores e contratantes valores já recebidos, antecipadamente, pelos serviços que
seriam prestados. Caso isso fosse levado a cabo, provavelmente, haveria grande quebra generalizada
de muitos dos prestadores de serviços, uma vez que não havia qualquer previsibilidade para a
ocorrência de um fato tão peculiar no planeta como a Covid-19 e suas consequências.
Nesse contexto, o ponto principal da lei foi estabelecer que, quando cancelados os contratos,
não era obrigatória, por parte dos prestadores de serviços, a devolução em dinheiro aos consumidores
e outros contratantes dos valores eventualmente já recebidos. Para isso, os prestadores de serviço
deveriam disponibilizar aos consumidores um crédito a ser utilizado até as datas estabelecidas na lei
ou a remarcação para data posterior das reservas e dos eventos adiados.
Agora, por exemplo, caso o consumidor tenha tido uma viagem ou evento cancelado ou adiado
em decorrência da pandemia, poderá utilizar o seu crédito para marcar uma nova viagem ou participar
de um evento até o dia 31.12.2022. A prorrogação da data aplica-se, inclusive, para casos em que
o evento ou viagem já havia sido remarcado em razão da pandemia, mas, pela sua manutenção no
tempo, teve de ser novamente adiado. Ademais, o referido prazo passa também a ser o limite para
que o prestador de serviço reembolse o consumidor em dinheiro quando o prestador não consiga
oferecer a remarcação ou o crédito para ser posteriormente utilizado.
Vejamos a nova redação dos parágrafos e incisos alterados pela lei, grifados:
Uma outra alteração relevante relaciona-se com o cancelamento das multas atinentes aos
contratos de prestação de serviços desses profissionais, palestrantes e artistas. O § 2º do art. 4º
da Lei nº 14.046/2020, também foi alterado para indicar que serão anuladas as multas impostas
pelo cancelamento desses contratos até o dia 31.12.2021. Desse modo, mesmo que prevista multa
contratual para o cancelamento do contrato de prestação de serviços, essa multa não poderá ser
aplicada caso o contrato tenha sido cancelado em razão dos efeitos da Covid-19.
Helena e sua família possuíam uma viagem de férias para a Europa, marcada com bastante
antecedência, para o dia 30.08.2020. Todavia, no início do ano de 2020, a pandemia de Covid-19
acometeu diversos países, fazendo com que ficasse inviável a realização de passeios turísticos.
Assim, no dia 20.02.2020, Helena foi comunicada sobre o cancelamento de suas reservas. Diante da
situação, Helena entrou em contato e pediu para a Passeios Turísticos Ltda. o reembolso imediato do
valor de R$ 15.000,00 que havia desembolsado com a compra das passagens e hospedagem.
B) A Passeios Turísticos Ltda. poderá se recusar a realizar o reembolso imediato do valor pago por
Helena, desde que lhe ofereça um crédito no mesmo valor que poderá ser utilizado por ela até o dia
31.12.2022.
C) Helena poderá requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe conceda um crédito a ser utilizado até
o dia 31.12.2022, desde que faça o pedido até o dia 20.07.2020.
D) Caso a Passeios Turísticos Ltda. não possa disponibilizar a Helena o crédito no mesmo valor pago
ou a possibilidade de remarcar a viagem, terá até o dia 31.12.2023 para realizar a restituição do valor
integral pago por Helena.
E) Se Helena tivesse optado por remarcar a viagem para o dia 30 de agosto de 2021 e a viagem tivesse
de ser novamente adiada, em razão da pandemia, a Passeios Turísticos Ltda. ficaria desobrigada de
realizar o reembolso ou disponibiliza crédito para Helena.
Portanto, uma vez que a viagem de Helena ocorreria no dia 30.08.2020, a Passeios Turísticos
Ltda. não estava obrigada a reembolsar Helena em dinheiro e imediatamente, desde que lhe
concedesse o crédito, no mesmo valor pago, que poderia ser utilizado até o dia 31.12.2022, conforme
prevê o § 4º do mesmo dispositivo: “§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput deste artigo
poderá ser utilizado pelo consumidor até 31.12.2022”.
Demais alternativas:
Portanto, desde que a Passeios Turísticos Ltda. disponibilizasse a Helena crédito a ser utilizado
ou a remarcação da viagem a ser efetuada até o dia 31.12.2022, não fica a fornecedora de serviços
obrigada a restituir a Helena o valor pago.
Alternativa C. Incorreta. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020, de fato, Helena poderia
requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe concedesse um crédito a ser posteriormente utilizado, até o
dia 31 de dezembro de 2022. Todavia, os §§ 1º e 3º do art. 2º da lei assim dispõem, respectivamente, que:
Alternativa D. Incorreta. O art. 2º, § 6º, da Lei nº 14.046/2020, assim dispõe: “o prestador
de serviço ou a sociedade empresária deverão restituir o valor recebido ao consumidor até 31 de
dezembro de 2022, somente na hipótese de ficarem impossibilitados de oferecer a remarcação dos
serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II do caput deste artigo”. Nesses
termos, o prazo para restituir o valor recebido do consumidor na hipótese de impossibilidade de a
Passeios Turísticos Ltda. oferecer o crédito ou a remarcação do serviço é até o dia 31.12.2022 e não
31.12.2023.
Portanto, caso Helena tivesse remarcado sua viagem para o dia 30.08.2021 e, novamente, em
razão da pandemia, a viagem tivesse de ser cancelada ou adiada, Helena teria novo direito ao crédito
ou à remarcação da viagem, nos termos da lei.
LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.
• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.
• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.
• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal.
Em relação ao Direito Penal, a Lei nº 14.188 recrudesce a pena do crime de lesão corporal,
prevista no art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino,
e estabelece novo tipo penal previsto no art. 147-B do Código Penal.
Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Legislação Penal e Processual Penal Extravagante.