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Caderno de

novidades
legislativas

julho 2021
SUMÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.059/2021 – Prorroga o período de
aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional
1.1. Ficha normativa................................................................................................................4
1.2. Comentário.......................................................................................................................4
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................5

LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL EXTRAVAGANTE


1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa................................................................................................................7
1.2. Comentário.......................................................................................................................7
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................9

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


1. Lei nº 14.190/2021 – Inclui no Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19 outros grupos como prioritários
1.1. Ficha normativa................................................................................................................12
1.2. Comentário.......................................................................................................................12
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................13

Caderno de novidades legislativas


SUMÁRIO

DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Lei nº 14.181/2021 – Lei do Superendividamento
1.1. Ficha normativa................................................................................................................15
1.2. Comentário.......................................................................................................................16
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................21
2. Lei nº 14.186/2021 - Altera a Lei nº 14.046/2020, para dispor sobre
medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da
pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura
2.1. Ficha normativa...............................................................................................................24
2.2. Comentário......................................................................................................................25
2.3. Questão inédita comentada.....................................................................................29

DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa................................................................................................................32
1.2. Comentário.......................................................................................................................33

Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.059/2021 – Prorroga o período de
aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional
1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.059/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas
excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de
bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e comunicação, de
comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.
Data de publicação: 30.07.2021

Início de vigência: 30.07.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1059.htm>
Destaque:
• Prorroga o período de aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional.

1.2. Comentário

No dia 30.07.2021, foi publicada e entrou em vigor a MP nº 1.059/2021, que prorroga o período
de aplicação da Lei nº 14.124. Conforme ementa da MP, o novel texto legislativo modifica “a Lei nº
14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de
vacinas e de insumos e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e
comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”.

A Lei nº 14.124/2021 entrou em vigor em 10.03.2021, com o objetivo de auxiliar o enfrentamento


da pandemia. Como medida excepcional, a lei autoriza a dispensa de licitação para aquisição
de vacinas, insumos para vacinação e para contratação de bens e serviços necessários para
implementação da vacinação.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Além da dispensa de licitação, o art. 13, § 3º, da Lei nº 14.124/2021 autoriza a compra, distribuição
e aplicação de vacinas contra a Covid-19 por estados, Distrito Federal e municípios, caso a União “não
realize as aquisições e a distribuição tempestiva de doses suficientes para a vacinação dos grupos
previstos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.”

Para que tais medidas possam ser tomadas, a Lei nº 14.124/2021 trouxe uma série de requisitos,
como a limitação temporal – no sentido de que seus dispositivos somente seriam aplicáveis “aos
atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até 31 de julho de 2021,
independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações” (redação anterior do art. 20).

Tendo em vista que a pandemia não foi controlada até 31.07.2021, a MP nº 1.059/2021 precisou
ser editada, prorrogando o período de aplicação da Lei nº 14.124/2021, nos termos da nova redação
do art. 20:

Esta Lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos e instrumentos


congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em
saúde pública de importância nacional, independentemente do seu
prazo de execução ou de suas prorrogações. (Redação dada pela Medida
Provisória nº 1.059, de 2021.)

Ou seja, a partir da publicação da MP nº 1.059/2021, a Lei nº 14.124/2021 passa a ser aplicável aos
atos praticados e aos contratos e instrumentos congêneres firmados enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional, o que independe do prazo de execução ou
de prorrogação dos contratos firmados nos seus termos.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.124/2021, julgue a seguinte assertiva:

Esta lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até
31.07.2021, independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está errado.

Há erro na parte final da assertiva, nos termos do art. 20 da Lei nº 14.124/2021 com a redação
dada pela MP nº 1.059/2021:

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Esta Lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos e instrumentos
congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em saúde
pública de importância nacional, independentemente do seu prazo de
execução ou de suas prorrogações. (Redação dada pela Medida Provisória
nº 1.059, de 2021.)

Caso referida MP não tivesse alterado o dispositivo, a assertiva estaria correta.

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LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
EXTRAVAGANTE

1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento


da violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.

Data de publicação: 29.07.2021


Início de vigência: 29.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14188.htm>
Destaques:
• A lei define o Programa de Cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como mais uma medida de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher, acirrada nos tempos da pandemia da Covid-19, estabelecendo intercâmbio entre
as instituições públicas e privadas e órgãos de segurança pública integrantes do sistema
de assistência e segurança à vítima.

• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.

• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.

• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal(CP).

1.2. Comentário

Em 28.07.2021, foi editada a Lei nº 14.188 como mais uma medida de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher, prevista na Lei nº 11.340/2006. Destacam-se as
diversas alterações legislativas que a Lei nº 11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”) sofreu no período da

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pandemia e que podem ser cobradas nos concursos públicos de diversas carreiras jurídicas, dada a
transversalidade do assunto.

A inovação legislativa reforça a necessidade de cooperação entre o Poder Executivo, Poder


Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público, órgãos de segurança pública e entidades privadas
na assistência e defesa da mulher vítima da violência doméstica e familiar, prevista nos arts. 3º, § 1º, 8º,
I, e 9º da Lei nº 11.340/2006.

Nesse sentido, conclama tais instituições para cooperarem entre si e efetivarem o programa
Sinal Vermelho por meio de canais de comunicação em todo o país para viabilizar assistência à
vítima. Para tanto, é definido um código “sinal em formato X”, feito preferencialmente na mão e na
cor vermelha. Veja as disposições legais relacionadas:

Art. 2º Fica autorizada a integração entre o Poder Executivo, o Poder


Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os órgãos de
segurança pública e as entidades privadas, para a promoção e a realização
do programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como medida de
ajuda à mulher vítima de violência doméstica e familiar, conforme os incisos
I, V e VII do caput do art. 8º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Parágrafo único. Os órgãos mencionados no caput deste artigo deverão


estabelecer um canal de comunicação imediata com as entidades privadas
de todo o País participantes do programa, a fim de viabilizar assistência e
segurança à vítima, a partir do momento em que houver sido efetuada a
denúncia por meio do código “sinal em formato de X”, preferencialmente
feito na mão e na cor vermelha.

Noutro giro, a lei em comento também promoveu alterações no Código Penal relacionadas ao
tema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Inicialmente, recrudesceu a pena do tipo penal da lesão corporal se praticada em detrimento


da mulher por razões do sexo feminino, in verbis:

Art. 4º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),


passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 129. (...)

§ 13 Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do


sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:

Pena — reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

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E, finalmente, o legislador estabeleceu o novo tipo penal denominado “violência psicológica


contra a mulher”, incluído no CP, art. 147-B, a seguir transcrito:

Art. 4º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),


passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Violência psicológica contra a mulher

Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe


seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem,
ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação:

Pena — reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não


constitui crime mais grave.”

Por fim, a lei alterou a redação do art. 12-C da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria
da Penha), para incluir o risco à integridade psicológica como um ato que permite o imediato
afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:

Redação antes da Lei nº 14.188 Redação após a Lei nº 14.188


Verificada a existência de risco atual ou iminente Verificada a existência de risco atual ou iminente
à vida ou à integridade física da mulher em à vida ou à integridade física ou psicológica da
situação de violência doméstica e familiar, mulher em situação de violência doméstica e
ou de seus dependentes, o agressor será familiar, ou de seus dependentes, o agressor
imediatamente afastado do lar, domicílio ou será imediatamente afastado do lar, domicílio
local de convivência com a ofendida. ou local de convivência com a ofendida. (Grifos
nossos.)

Verifica-se, pois, importantes alterações legislativas que podem ser alvo de provas de concursos
públicos, nas mais diversas carreiras jurídicas, que abordem o tema da violência doméstica e familiar
contra a mulher.

1.3. Questão inédita comentada

A pandemia do novo Coronavírus estabeleceu profundas alterações legislativas nos mais


diversos setores da economia e da saúde para o seu enfrentamento, entre elas, a Lei nº 11.340/2006.

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Dessa forma, julgue os itens que se seguem e assinale a alternativa correta:

I – Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica


da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, deve a autoridade
policial representar à autoridade judicial para que haja o afastamento do lar.

II – Não há previsão penal acerca da violência psicológica à mulher vítima de violência


doméstica e familiar, estando sua proteção apenas prevista nas medidas protetivas previstas na Lei
nº 11.340/2006 ou nos crimes contra a honra ou a integridade física da legislação penal.

III – O Programa de Cooperação Sinal Vermelho é exclusivo das instituições públicas, a fim
de estabelecer um melhor intercâmbio de informações relacionadas às medidas protetivas e
assistenciais da mulher vítima de violência doméstica e familiar.

IV – O Programa de Cooperação Sinal Vermelho constitui um código em sinal no formato “X”,


preferencialmente feito na mão e na cor preta.

A) I, II e III

B) I e II

C) Todas as alternativas estão incorretas.

D) II e III

E) I, II e IV

Alternativa correta: letra C (responde as demais alternativas).

I – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 determinou que nos casos de risco atual ou iminente no contexto
da violência doméstica e familiar contra a mulher, o agressor será imediatamente afastado do lar, não
dependendo de prévia representação. Tal afastamento prioritariamente deverá se dar pela autoridade
judicial, e, não sendo possível, poderá se dar pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de
comarca ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia, sendo que estas duas últimas hipóteses deverão ser comunicadas ao juiz em
até 24 horas, que decidirá sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada pelo delegado ou pelo
policial. Redação do art. 12-C da Lei nº 11.340/2006, alterado seu caput pela Lei nº 14.188/2021, in verbis:

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LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
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Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou


à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente
afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida.

II – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 expressamente alterou o Código Penal para prever o tipo da
violência psicológica contra a mulher como mais uma medida de proteção, nos termos do art. 147-B do CP:

Violência psicológica contra a mulher

Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe


seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não


constitui crime mais grave.

III – Incorreto. O Programa Sinal Vermelho, trazido pela Lei nº 14.188/2021, abrange não
somente instituições públicas como também privadas, nos termos do art. 2º do referido ato normativo:

Art. 2º Fica autorizada a integração entre o Poder Executivo, o Poder


Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os órgãos de
segurança pública e as entidades privadas, para a promoção e a realização
do programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como medida de
ajuda à mulher vítima de violência doméstica e familiar, conforme os incisos
I, V e VII do caput do art. 8º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

IV – Incorreto. Nos termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 14.188/2021, o Programa Sinal
Vermelho é um código em formato de X, na cor vermelha e não na cor preta. Quanto à sua localização,
sim, preferencialmente na mão. Nesse sentido, o referido dispositivo legal:

Art. 2º (...)

Parágrafo único. Os órgãos mencionados no caput deste artigo deverão


estabelecer um canal de comunicação imediata com as entidades privadas
de todo o País participantes do programa, a fim de viabilizar assistência e
segurança à vítima, a partir do momento em que houver sido efetuada a
denúncia por meio do código “sinal em formato de X”, preferencialmente
feito na mão e na cor vermelha.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Lei nº 14.190/2021 – Inclui no Plano Nacional de Operacionalização


da Vacinação contra a Covid-19 outros grupos como prioritários
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.190/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, para determinar a inclusão como
grupo prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19 de gestantes, puérperas e lactantes, bem como de crianças e adolescentes
com deficiência permanente, com comorbidade ou privados de liberdade.

Data de publicação: 30.07.2021


Início de vigência: 30.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14190.htm>
Destaques:
• A lei estabelece grupos prioritários para vacinação contra a pandemia da Covid-19 com
reflexos indiretos e secundários na legislação de proteção à criança e ao adolescente e no
Estatuto da Pessoa com Deficiência.

• Referido ato normativo coloca as gestantes, puérperas e lactentes, com ou sem


comorbidades, no Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, tendo reflexos
indiretos no Estatuto da Criança e do Adolescente no que estabelece a defesa do direito
à vida da mãe e do nascituro, constituindo mais uma lei dentro do arcabouço legislativo
que foi construído para o enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus e que pode
ter incidência em provas de concursos públicos em caráter transversal e multidisciplinar.

• A lei estabelece ainda como grupo prioritário na imunização contra o novo Coronavírus
as crianças e adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade.

1.2. Comentário

Em 30.07.2021, como mais um ato normativo integrante do arcabouço legislativo para o


enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus, foi publicada a Lei nº 14.190, com vigência na
data de sua publicação.

12 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera a Lei nº 14.124, de 10.03.2021, sobre
a aquisição de vacinas e insumos destinados à vacinação contra a Covid-19 e seu respectivo Plano
Nacional de Vacinação, para incluir gestantes, puérperas e lactantes com ou sem comorbidades,
bem como crianças, adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade como grupos prioritários para fins de imunização.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19,


cuja abordagem em provas pode ser cobrada em temas transversais relacionados aos direitos
humanos, criança e adolescente, pessoas com deficiência.

Lei curta e objetiva apenas para estabelecer tais pessoas como grupos prioritários, não havendo
temas a serem aprofundados, bastando mera ciência da referida lei.

1.3. Questão inédita comentada

Em 11.03.2020, a Organização Mundial de Saúde caracterizou a infecção provocada pelo novo


Coronavírus, SARS-CoV2, como pandemia (Covid-19).

Nesse sentido, vários atos normativos foram editados no Brasil com o intuito de enfrentar os
reflexos da pandemia nos mais diversos setores da economia e da saúde. A partir do ano de 2021, o
Brasil iniciou o Plano Nacional de Imunização, estabelecendo diversos grupos prioritários para que a
vacinação pudesse controlar a disseminação do vírus.

Dessa forma, sobre o Plano de Imunização é correto afirmar que as gestantes, lactantes,
independentemente da existência de comorbidades, bem como crianças e adolescentes privados
de liberdade, foram incluídos como pessoas de interesse prioritário na imunização da pandemia
da Covid-19.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está certo.

A Lei nº 14.190/2021 expressamente estabeleceu tais pessoas como grupos prioritários para a
imunização contra a pandemia da Covid-19 em seu art. 1º, o qual acrescenta os §§ 4º e 5º do art. 13 da
Lei nº 14.124/2021.

13 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 1º O art. 13 da Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, passa a vigorar


acrescido dos seguintes §§ 4º e 5º:

“Art. 13. (...)

§ 4º As gestantes, as puérperas e as lactantes, com ou sem comorbidade,


independentemente da idade dos lactentes, serão incluídas como grupo
prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19, nos termos do regulamento.

§ 5º As crianças e os adolescentes com deficiência permanente, com


comorbidade ou privados de liberdade serão incluídos como grupo
prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19, nos termos do regulamento, conforme se obtenha registro ou
autorização de uso emergencial de vacinas no Brasil para pessoas com
menos de 18 (dezoito) anos de idade.” (NR)

14 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Lei nº 14.181/2021 – Lei do Superendividamento
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.181/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor),
e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento.
Data de publicação: 02.07.2021
Início de vigência: 02.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14181.htm>
Destaques:
• Insere na Política Nacional das Relações de Consumo princípios para educação e prevenção
ao superendividamento do consumidor, bem como institui mecanismos extrajudiciais e
judiciais para buscar uma solução para essas situações.

• Institui novos direitos básicos para proteger o consumidor do superendividamento,


modificando o art. 6º da Lei Federal nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor -
CDC).

• Obriga os fornecedores a prestar informações adicionais prévias, de forma clara e resumida,


quando da contratação de operação de crédito ou de venda a prazo.

• Estabelece que a desobediência às exigências dos arts. 52 a 54-C do CDC poderá ensejar
a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação do
prazo de pagamento previsto no contrato para que o consumidor pague a dívida, conforme
a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades financeiras do consumidor.

• Determina que são conexos, coligados ou interdependentes o contrato de fornecimento


de produtos ou serviços e o contrato acessório de crédito para a aquisição daqueles,
determinando que o exercício do direito de arrependimento ou a inexecução do fornecedor
de qualquer dos contratos implica a resolução do outro.

• Estabelece a possibilidade de o consumidor contestar compra realizada pelo cartão de


crédito, à qual, durante o período da resolução da contestação, fica vedado ao fornecedor
cobrar o valor contestado, podendo, inclusive, ser realizado crédito de confiança na fatura,
em favor do consumidor.

15 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
• Institui o procedimento de conciliação no superendividamento pelo qual o consumidor
poderá requerer ao juiz o início do processo de repactuação de dívidas, apresentando
proposta de pagamento com prazo máximo de cinco anos. No processo, a ausência
injustificada do fornecedor na audiência de conciliação acarreta a suspensão da
exigibilidade do débito, a interrupção dos encargos da mora e a sujeição compulsória ao
plano de pagamento apresentado pelo consumidor.

• Institui o processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e


repactuação de dívidas, espécie de “recuperação judicial” do consumidor, no qual o juiz
fixa plano judicial compulsório para pagamento das dívidas do consumidor, sendo os
credores chamados para participar do processo.

1.2. Comentário

Em função de relevantes discussões sobre o problema do superendividamento no Brasil


e fundando-se na necessidade de se garantir o mínimo existencial e a dignidade humana, foi
promulgada a Lei nº 14.181/2021, que “altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código
de Defesa do Consumidor), e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para
aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento”.

A denominada “Lei do Superendividamento” modifica substancialmente o Código de Defesa


do Consumidor (CDC) ao adicionar novos princípios à Política Nacional das Relações de Consumo,
ao impor novos direitos básicos do consumidor e ao estabelecer diversos critérios específicos a
serem seguidos pelos fornecedores, no que tange às operações de crédito, bem como ao criar um
novo tratamento processual compulsório para a repactuação de dívidas do consumidor.

Nesse sentido, a lei adiciona os incisos IX e X ao art. 4º do CDC, colocando como princípios
da Política Nacional das Relações de Consumo o “fomento de ações direcionadas à educação
financeira e ambiental dos consumidores” e a “prevenção e tratamento do superendividamento
como forma de evitar a exclusão social do consumidor”. Por sua vez, adiciona ao art. 5º do
Código dois novos instrumentos para efetivação da Política Nacional das Relações de Consumo,
quais sejam: a “instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do
superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural” e a “instituição de núcleos de
conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento”.

No que se relaciona aos conhecidos direitos básicos do consumidor, há, agora, especificamente
os seguintes direitos adicionados ao art. 6º do CDC:

16 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Art. 6º (...)

XI — a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira


e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento,
preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio
da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;

XII — a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação,


na repactuação de dívidas e na concessão de crédito;

XIII — a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida,
tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o
caso.

Como se verifica, os incisos adicionados são direitos básicos eminentemente protetivos que
visam à educação financeira do consumidor com vista a evitar as situações de superendividamento
e a garantir o mínimo existencial para que o consumidor não tenha seu orçamento mensal
inteiramente comprometido por dívidas contratadas, ficando impossibilitado de adquirir o básico
para sua subsistência.

Outrossim, cabe destacar o conceito de superendividamento positivado pela lei, por meio do
novo art. 54-A, § 1º, do CDC: “entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de
o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis
e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação”. Nessa
esteira, é possível identificar alguns requisitos para o enquadramento do consumidor na condição
de “superendividado” para que possa ter acesso aos benefícios trazidos pela legislação.

Portanto, apenas se enquadram no tratamento específico da lei o consumidor pessoa natural


e que agiu com boa-fé na realização dos negócios jurídicos que, por infortúnio, o fizeram ficar em
situação de impossibilidade de pagar as suas dívidas de consumo. O § 3º do referido art. 54-A exclui
expressamente do tratamento especial conferido pela lei os consumidores cujas dívidas tenham
sido contratadas mediante fraude, má-fé ou oriundas de contratos celebrados, desde o início,
sem a verdadeira intenção de adimplemento ou que decorram da aquisição ou contratação de
produtos e serviços de luxo de alto valor.

Visando à educação do consumidor e trazendo uma responsabilidade específica aos


fornecedores para que colaborem com os novos princípios da Política Nacional das Relações de

17 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Consumo, a lei estabeleceu, no art. 54-B do CDC, obrigações específicas, as quais os fornecedores
devem seguir quando fornecerem crédito ou realizarem venda a prazo aos consumidores. Dentre
essas obrigações, destaca-se o dever de informar o consumidor, prévia e adequadamente, no
momento da oferta, sobre:

I — o custo efetivo total e a descrição dos elementos que compõem a


operação de crédito;

II — a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros de mora e o total
de encargos, de qualquer natureza, previstos para o atraso no pagamento;

III — o montante das prestações e o prazo de validade da oferta, que deve


ser, no mínimo, de 2 (dois) dias;

IV — o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, do fornecedor;

V — o direito do consumidor à liquidação antecipada e não onerosa do


débito, nos termos do § 2º do art. 52 do CDC e da regulamentação em vigor.

Essas disposições visam a dar ao consumidor clareza da operação de crédito que está sendo
realizada para que tenha ciência do custo total que envolve a contratação com a concessão do
crédito e sem a concessão do crédito, possibilitando um melhor cálculo do consumidor e, em
especial, daqueles mais vulneráveis, acerca do que está sendo contratado.

Ressalta-se que o art. 54-C da lei estabelece a vedação de algumas práticas comuns
que têm o potencial de prejudicar o consumidor, como: a realização de oferta de crédito e
financiamento indicando que ela pode ser realizada sem consulta aos cadastros de proteção
ao crédito, o que facilita que um consumidor já endividado contrate nova dívida, dando ases
ao superendividamento; o assédio ou pressão a consumidores idosos, analfabetos, doentes
ou em estado de vulnerabilidade agravada para que contratem produto, serviço ou crédito;
e o condicionamento de atender demandas do consumidor, como a própria renegociação de
dívidas, por exemplo, à desistência de demandas judiciais e/ou ao pagamento de honorários
advocatícios e a realização de depósito judicial.

18 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Caso os fornecedores não cumpram as obrigações estabelecidas entre os arts. 52 e 54-C
do CDC, ficarão sujeitos a uma decisão judicial que poderá determinar a redução compulsória
de juros, dos encargos e de eventuais outros acréscimos ao valor principal, bem como a dilação
do prazo o qual o consumidor teria para pagar o débito. Esses ônus estão positivados pelo art.
54-D do CDC, o qual também estabelece, em seu inciso I, a obrigação de o fornecedor informar
detalhadamente o consumidor sobre a modalidade de crédito que foi oferecida, bem como sobre
todos os custos e as consequências em caso de inadimplemento.

Interessante disposição da lei que já é bastante tratada na doutrina diz respeito aos contratos
coligados. Desse modo, a lei considerou que são conexos, coligados ou interdependentes o contrato
principal de fornecimento de produtos ou serviços e o contrato de concessão de crédito para a
aquisição dos respectivos produtos ou serviços. Nesse contexto, o novo art. 54-F do CDC determina
que serão considerados conexos/coligados/interdependentes o contrato principal e o de crédito
quando o fornecedor de crédito:

Art. 54-F. São conexos, coligados ou interdependentes, entre outros, o


contrato principal de fornecimento de produto ou serviço e os contratos
acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento quando o
fornecedor de crédito:

I — recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a


preparação ou a conclusão do contrato de crédito;

II — oferecer o crédito no local da atividade empresarial do fornecedor de


produto ou serviço financiado ou onde o contrato principal for celebrado.

Dessa forma, por exemplo, quando uma instituição financeira atua em parceria com o
fornecedor de produtos ou serviços, dentro de uma loja online ou física, para possibilitar a aquisição
dos produtos ou serviços vendidos na loja, por meio de financiamento dirigido ao consumidor,
o contrato de crédito será considerado coligado ao contrato principal.

Isso implica que, por exemplo, caso o consumidor deseje exercer o direito de arrependimento
sobre qualquer um dos dois contratos, o outro será diretamente afetado por essa decisão, sendo
ambos os contratos resolvidos de pleno direito. Ademais, na hipótese de inexecução das obrigações
do fornecedor de produto ou serviço, o consumidor poderá requerer a rescisão do contrato também
contra o fornecedor de crédito. Assim, o inadimplemento da obrigação de entregar um bem, por
exemplo, confere o direito de o consumidor rescindir tanto o contrato principal, da compra do bem,
quanto o contrato de crédito, do financiamento concedido para a aquisição do bem (art. 54-F e seus
§§ 1º e 2º, do CDC).

19 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Destaca-se, ainda, uma conduta que já era administrativamente realizada por várias operadoras
de cartão de crédito, mas que, agora, está positivada no CDC em benefício do consumidor. O novo
art. 54-G, I, do CDC, determina que quando o consumidor contestar uma compra realizada por
meio do cartão de crédito, o fornecedor do produto ou serviço fica proibido de realizar ou proceder
à cobrança do valor em sua fatura enquanto não for solucionada a controvérsia.

Para isso, o consumidor deve notificar a administradora do cartão de crédito com, ao menos,
10 dias de antecedência da data do vencimento da fatura. Ainda, caso o consumidor só reconheça
parcialmente o valor cobrado, deverá ser permitido que ele realize o pagamento parcial do valor
indicado na fatura. Ademais, é facultado ao emissor do cartão lançar um “crédito de confiança” na
fatura do consumidor de valor idêntico ao da transação contestada enquanto não for encerrada a
apuração administrativa da contestação realizada.

Por fim, destaca-se o estabelecimento de um procedimento judicial específico para tratar dos
litígios que envolvam o superendividamento.

Nesse contexto, o art. 104-A do CDC traz o direito de o consumidor requerer ao juízo a
instauração de um processo de repactuação de dívidas. Em uma primeira abordagem, esse
processo pode estabelecer a realização de uma audiência de conciliação inicial com a presença de
todos os credores de dívidas do consumidor. Para essa conciliação, o consumidor deve apresentar
um plano inicial para pagamento de suas dívidas com prazo máximo de cinco anos, preservando
um valor mínimo para sua subsistência, considerando seus rendimentos. Importante notar que o
pedido realizado pelo consumidor não importa na declaração de insolvência civil e somente pode
ser realizado novamente após o prazo de dois anos contados da liquidação das obrigações previstas
no plano de pagamento homologado.

Além disso, nos termos do art. 104-C do CDC, não só o juízo, mas também todos os órgãos
públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor poderão realizar a fase
conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas. Poderá ocorrer dentro desses
órgãos, como, por exemplo, nos PROCONs, audiência global de conciliação com todos os
credores. Ressalta-se que quando for firmado o acordo perante esses órgãos deverá ser indicada
a data na qual o consumidor terá seu nome excluído dos órgãos de proteção ao crédito e que isso
estará condicionado ao consumidor se abster de praticar condutas que agravem a sua situação de
superendividamento, em especial, a de contrair novas dívidas.

20 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Nesse processo de repactuação de dívidas, cabe destacar que não podem ser inclusas dívidas
oriundas de contratos de crédito com garantia real, de financiamento de imóveis e de crédito
rural. Também ficam excluídos do processo contratos nos quais se demonstre que o consumidor os
pactuou, desde o início, sem o objetivo de adimpli-los.

Na impossibilidade de conciliação, o art. 104-B do CDC cria o “processo por superendividamento


para revisão e integração dos contratos e repactuação de dívidas”. Trata-se quase de uma
“recuperação judicial” do consumidor. Por meio desse processo, o juízo estabelece um plano judicial
compulsório para o pagamento das dívidas do consumidor. Os credores do consumidor ficam
obrigados a aceitar o plano, mas lhes é garantido o recebimento de, ao menos, o valor principal
devido, atualizado monetariamente por índices oficiais. O plano judicial compulsório não pode
estabelecer prazo maior que cinco anos para o pagamento das dívidas e a primeira parcela deve ser
paga no prazo máximo de 180 dias, contado da data da homologação do plano.

1.3. Questão inédita comentada

Durante vários anos, Geraldo trabalhava em uma boa empresa, que lhe pagava um salário
razoável. Nesse contexto, durante a sua vida, contraiu alguns financiamentos e obteve empréstimos
junto a cinco diferentes instituições financeiras. O primeiro financiamento é o de sua casa, o segundo,
de seu carro, ambos em alienação fiduciária em garantia. Os outros três empréstimos foram obtidos
na modalidade CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para pagar diversas despesas do cotidiano,
como a escola de seus filhos, despesas de saúde, entre outras. Ao longo de vários anos, Geraldo
pagou adequadamente as prestações de seus financiamentos e empréstimos. Contudo, devido a
uma forte crise ocorrida, que afetou as atividades da empresa em que trabalhava, Geraldo foi demitido
e apenas conseguiu um outro emprego que lhe pagava um salário muito inferior ao anterior. Diante
dessa situação, Geraldo ficou sem poder arcar regularmente com os financiamentos e empréstimos
obtidos sem que isso prejudicasse suas despesas domésticas básicas.

Considerando a situação de Geraldo, assinale a alternativa INCORRETA:

A) Geraldo pode ser considerado superendividado nos termos da lei, por ser consumidor, pessoa
natural, de boa-fé, que está com impossibilidade manifesta de pagar as suas dívidas de consumo.

B) Caso na contratação de quaisquer dos empréstimos e financiamentos obtidos por Geraldo o


fornecedor do crédito não o tiver informado e esclarecido adequadamente sobre a natureza e a
modalidade do crédito oferecido e os custos incidentes, ele poderá obter a redução judicial dos
juros, encargos e de outros acréscimos, bem como dilação do prazo para pagar a dívida.

21 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
C) Por meio do processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e
repactuação de dívidas, Geraldo poderá obter Plano Judicial para o pagamento de todos os seus
financiamentos, cuja aceitação é compulsória para os credores.

D) O Plano Judicial instituído pelo processo por superendividamento para revisão e integração
dos contratos e repactuação de dívidas é compulsório para os credores e poderá prever medidas
de dilação de prazo para pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor.

E) Caso Geraldo realize o pedido de instauração de processo de repactuação de dívidas e seja


homologado o plano de pagamento, apenas poderá realizar novo pedido após decorridos dois anos,
contados da data da liquidação das obrigações previstas no plano.

Alternativa incorreta: letra C. Em que pese as dívidas dos empréstimos na modalidade


“Crédito Direto ao Consumidor” de Geraldo poderem fazer parte do plano para repactuação de
dívidas, o art. 104-A, § 1º, do CDC, exclui expressamente do processo as dívidas com garantia real
e de financiamentos imobiliários, as quais Geraldo possui relativas ao seu carro (garantia real) e à sua
casa (financiamento imobiliário).

Art. 104-A. (...)

§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que


decorrentes de relações de consumo, oriundas de contratos celebrados
dolosamente sem o propósito de realizar pagamento, bem como as dívidas
provenientes de contratos de crédito com garantia real, de financiamentos
imobiliários e de crédito rural.

Demais alternativas:

Alternativa A. Correta. Nos termos do art. 54-A do CDC: “entende-se por superendividamento
a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.”

22 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Alternativa B. Correta. O parágrafo único do art. 54-D do CDC determina que o
descumprimento de qualquer dos deveres impostos nos arts. 52 e 54-C do CDC poderá acarretar
judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação
do prazo de pagamento previsto no contrato original. Dentre os deveres a serem cumpridos pelo
fornecedor, destaca-se o previsto no art. 54-D, I, de “informar e esclarecer adequadamente o
consumidor, considerada sua idade, sobre a natureza e a modalidade do crédito oferecido, sobre
todos os custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52 e 54-B deste Código, e sobre as
consequências genéricas e específicas do inadimplemento”.

Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o fornecedor ou


o intermediário deverá, entre outras condutas:

I - informar e esclarecer adequadamente o consumidor, considerada sua


idade, sobre a natureza e a modalidade do crédito oferecido, sobre todos os
custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52 e 54-B deste Código, e
sobre as consequências genéricas e específicas do inadimplemento;

(...)

Parágrafo único. O descumprimento de qualquer dos deveres previstos


no caput deste artigo e nos arts. 52 e 54-C deste Código poderá acarretar
judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo
ao principal e a dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original,
conforme a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades
financeiras do consumidor, sem prejuízo de outras sanções e de indenização
por perdas e danos, patrimoniais e morais, ao consumidor.

Alternativa D. Correta. Da leitura conjunta dos arts. 104-A e 104-B do CDC, verifica-se que
o plano judicial para pagamento dos débitos é compulsório para o credor e pode prever “medidas
de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida” (art. 104-A, § 4º, I). Ademais,
destaca-se que no plano judicial compulsório deve ser assegurado aos credores, no mínimo,
o valor do principal devido corrigido monetariamente por índices oficiais e o prazo máximo para
liquidação do débito em até cinco anos, contados da data da homologação (art. 104-B, § 4º).

Alternativa E. Correta. O § 5º do art. 104-A, do CDC, estabelece que “o pedido do consumidor


a que se refere o caput deste artigo não importará em declaração de insolvência civil e poderá ser
repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado da liquidação das obrigações
previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual repactuação”.

23 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2. Lei nº 14.186/2021 - Altera a Lei nº 14.046/2020, para dispor sobre
medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da
pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.186/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da Covid-19
nos setores de turismo e de cultura.
Data de publicação: 16.07.2021
Início de vigência: 16.07.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Lei/L14186.htm>
Destaques:
• Fica prorrogado para o dia 31.12.2022 o prazo para que o consumidor utilize o crédito
disponibilizado pelo prestador de serviços em caso de adiamento ou cancelamento de
reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, que estavam marcados para ocorrer
entre os dias 01.01.2020 e 31.12.2021.

• A restituição dos valores aos consumidores, por parte das sociedades empresárias ou
prestadores de serviço deverá ser efetuada até o dia 31 de dezembro de 2022 apenas na
hipótese em que não seja possível oferecer a remarcação dos serviços ou disponibilizado
crédito.

• Os artistas, palestrantes e outros profissionais, incluindo-se aqueles contratados para


shows, rodeios e espetáculos de música e arte e outros eventos que ocorreriam entre
01.01.2020 e 31.12.2021 não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores dos
serviços ou cachês, desde que o evento seja remarcado até o dia 31.12.2022.

• Ficam anuladas as multas impostas em decorrência de cancelamento dos contratos


de palestrantes, artistas e outros profissionais, que tratam o art. 4º da lei, desde que o
cancelamento tenha ocorrido em razão da pandemia de Covid-19.

24 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2.2. Comentário

Em função de ter emergido a pandemia de Covid-19, que acometeu todo o mundo, com
relevante impacto nos setores de turismo e cultura, foi promulgada e publicada, no dia 26.03.2021,
a Lei nº 14.046/2020.

A referida lei dispõe sobre medidas afetas ao direito do consumidor e ao direito civil para atenuar
as repercussões econômicas da pandemia nos setores de turismo e cultura. Assim, em decorrência
do amplo cancelamento ou adiamento de viagens e eventos, os prestadores de serviços, como hotéis,
empresas aéreas, casas de shows e até mesmo alguns profissionais autônomos, como palestrantes,
cantores e artistas, se viram em uma situação de, eventualmente, ter de devolver imediatamente a
todos os consumidores e contratantes valores já recebidos, antecipadamente, pelos serviços que
seriam prestados. Caso isso fosse levado a cabo, provavelmente, haveria grande quebra generalizada
de muitos dos prestadores de serviços, uma vez que não havia qualquer previsibilidade para a
ocorrência de um fato tão peculiar no planeta como a Covid-19 e suas consequências.

Nesse contexto, o ponto principal da lei foi estabelecer que, quando cancelados os contratos,
não era obrigatória, por parte dos prestadores de serviços, a devolução em dinheiro aos consumidores
e outros contratantes dos valores eventualmente já recebidos. Para isso, os prestadores de serviço
deveriam disponibilizar aos consumidores um crédito a ser utilizado até as datas estabelecidas na lei
ou a remarcação para data posterior das reservas e dos eventos adiados.

A Lei Federal nº 14.046/2020 foi resultado da conversão da Medida Provisória nº 948/2020,


publicada no dia 08.04.2020. Com o passar do tempo e a manutenção da pandemia, foram
necessárias algumas atualizações na lei para que os prazos inicialmente estabelecidos pudessem
ser prorrogados e a lei mantivesse sua eficácia, de acordo com a verdadeira situação que permeia
a sociedade. Desse modo, foi publicada no dia 18.03.2021 a Medida Provisória nº 1.036/2021, que,
por conseguinte, foi convertida na Lei nº 14.186/2021, publicada no dia 16.07.2021. Conforme a
ementa desta lei, ela “altera a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de
turismo e de cultura.”

25 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
A primeira mudança que a Lei nº 14.186/2021 trouxe para a Lei nº 14.046/2021 foi prorrogar
para o dia 31.12.2022 o prazo para que o consumidor utilize o crédito disponibilizado pelo prestador
de serviços em caso de adiamento ou cancelamento de reservas e de eventos, incluídos shows e
espetáculos, que estavam marcados para ocorrer entre os dias 01.01.2020 e 31.12.2021. A redação
inicial da lei, ao fazer referência ao Decreto Legislativo nº 06/2020, estabelecia que o prazo era até
o dia 31.12.2020.

Agora, por exemplo, caso o consumidor tenha tido uma viagem ou evento cancelado ou adiado
em decorrência da pandemia, poderá utilizar o seu crédito para marcar uma nova viagem ou participar
de um evento até o dia 31.12.2022. A prorrogação da data aplica-se, inclusive, para casos em que
o evento ou viagem já havia sido remarcado em razão da pandemia, mas, pela sua manutenção no
tempo, teve de ser novamente adiado. Ademais, o referido prazo passa também a ser o limite para
que o prestador de serviço reembolse o consumidor em dinheiro quando o prestador não consiga
oferecer a remarcação ou o crédito para ser posteriormente utilizado.

Vejamos a nova redação dos parágrafos e incisos alterados pela lei, grifados:

Art. 2º Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de
2020 a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19,
o prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:

I — a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou

II — a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de


outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

§ 1º As operações de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo


adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

§ 2º Se o consumidor não fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo


no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias, por motivo de falecimento,
de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito da
parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato
impeditivo da solicitação.

26 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
§ 3º O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento
se o consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não
estiver enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput deste artigo poderá ser


utilizado pelo consumidor até 31 de dezembro de 2022.

§ 5º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, serão


respeitados:

I — os valores e as condições dos serviços originalmente contratados; e

II — a data-limite de 31 de dezembro de 2022 para ocorrer a remarcação


dos serviços, das reservas e dos eventos adiados.

§ 6º O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverão restituir


o valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente
na hipótese de ficarem impossibilitados de oferecer a remarcação dos
serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II
do caput deste artigo.

§ 7º Os valores referentes aos serviços de agenciamento e de intermediação


já prestados, tais como taxa de conveniência e/ou de entrega, serão
deduzidos do crédito a ser disponibilizado ao consumidor, nos termos do
inciso II do caput deste artigo, ou do valor a que se refere o § 6º deste artigo.

§ 8º As regras para adiamento da prestação do serviço, para disponibilização


de crédito ou, na impossibilidade de oferecimento da remarcação dos
serviços ou da disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II
do caput deste artigo, para reembolso aos consumidores, aplicar-se-ão
ao prestador de serviço ou à sociedade empresária que tiverem recursos a
serem devolvidos por produtores culturais ou por artistas.

§ 9º O disposto neste artigo aplica-se aos casos em que o serviço, a reserva


ou o evento adiado tiver que ser novamente adiado, em razão de não terem
cessado os efeitos da pandemia da covid-19 referida no art. 1º desta Lei
na data da remarcação originária, e aplica-se aos novos eventos lançados
no decorrer do período sob os efeitos da pandemia da covid-19 que não
puderem ser realizados pelo mesmo motivo.

§ 10 Na hipótese de o consumidor ter adquirido o crédito de que trata


o inciso II do caput deste artigo até a data de publicação da Medida
Provisória nº 1.036, de 17 de março de 2021, o referido crédito poderá ser
usufruído até 31 de dezembro de 2022. (Grifos nossos.)

27 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Um ponto importante da lei diz respeito aos palestrantes, profissionais e artistas que já haviam
sido contratados e pagos para realização e apresentação em eventos cancelados ou adiados também
em razão da pandemia. Nesses casos, ficou prorrogado para o dia 31.12.2022 o prazo para que
os eventos sejam remarcados e realizados ou que esses profissionais reembolsem os contratantes se
o evento não for remarcado até a referida data.

Uma outra alteração relevante relaciona-se com o cancelamento das multas atinentes aos
contratos de prestação de serviços desses profissionais, palestrantes e artistas. O § 2º do art. 4º
da Lei nº 14.046/2020, também foi alterado para indicar que serão anuladas as multas impostas
pelo cancelamento desses contratos até o dia 31.12.2021. Desse modo, mesmo que prevista multa
contratual para o cancelamento do contrato de prestação de serviços, essa multa não poderá ser
aplicada caso o contrato tenha sido cancelado em razão dos efeitos da Covid-19.

Vejamos, portanto, em negrito, as novas alterações realizadas no art. 4º da lei:

Art. 4º Os artistas, os palestrantes ou outros profissionais detentores do


conteúdo contratados de 1º de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2021
que forem impactados por adiamentos ou por cancelamentos de eventos em
decorrência da pandemia da covid-19, incluídos shows, rodeios, espetáculos
musicais e de artes cênicas, e os profissionais contratados para a realização
desses eventos não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores
dos serviços ou cachês, desde que o evento seja remarcado, respeitada a
data-limite de 31 de dezembro de 2022 para a sua realização.

§ 1º Na hipótese de os artistas, os palestrantes ou outros profissionais


detentores do conteúdo e os demais profissionais contratados para a
realização dos eventos de que trata o caput deste artigo não prestarem
os serviços contratados no prazo previsto, o valor recebido será
restituído, atualizado monetariamente pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), até 31 de dezembro de 2022,
observadas as seguintes disposições:

I — o valor deve ser imediatamente restituído, na ausência de nova data


pactuada de comum acordo entre as partes; e

II — a correção monetária prevista neste parágrafo deve ser aplicada de


imediato nos casos delimitados no inciso I deste parágrafo em que não for
feita a restituição imediata.

§ 2º Serão anuladas as multas por cancelamentos dos contratos de que


trata este artigo, que tenham sido emitidas até 31 de dezembro de 2021,
na hipótese de os cancelamentos decorrerem das medidas de isolamento
social adotadas para o combate à pandemia da covid-19. (Grifos nossos.)

28 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2.3. Questão inédita comentada

Helena e sua família possuíam uma viagem de férias para a Europa, marcada com bastante
antecedência, para o dia 30.08.2020. Todavia, no início do ano de 2020, a pandemia de Covid-19
acometeu diversos países, fazendo com que ficasse inviável a realização de passeios turísticos.
Assim, no dia 20.02.2020, Helena foi comunicada sobre o cancelamento de suas reservas. Diante da
situação, Helena entrou em contato e pediu para a Passeios Turísticos Ltda. o reembolso imediato do
valor de R$ 15.000,00 que havia desembolsado com a compra das passagens e hospedagem.

Considerando a situação, assinale a alternativa CORRETA.

A) Em razão da impossibilidade da prestação de serviços e das disposições do Código de Defesa


do Consumidor (CDC), a Passeios Turísticos Ltda. deverá reembolsar Helena integralmente e
imediatamente o valor total pago.

B) A Passeios Turísticos Ltda. poderá se recusar a realizar o reembolso imediato do valor pago por
Helena, desde que lhe ofereça um crédito no mesmo valor que poderá ser utilizado por ela até o dia
31.12.2022.

C) Helena poderá requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe conceda um crédito a ser utilizado até
o dia 31.12.2022, desde que faça o pedido até o dia 20.07.2020.

D) Caso a Passeios Turísticos Ltda. não possa disponibilizar a Helena o crédito no mesmo valor pago
ou a possibilidade de remarcar a viagem, terá até o dia 31.12.2023 para realizar a restituição do valor
integral pago por Helena.

E) Se Helena tivesse optado por remarcar a viagem para o dia 30 de agosto de 2021 e a viagem tivesse
de ser novamente adiada, em razão da pandemia, a Passeios Turísticos Ltda. ficaria desobrigada de
realizar o reembolso ou disponibiliza crédito para Helena.

Alternativa correta: letra B. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020:

Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas


e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de 2020
a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados

29 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:
I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou II - a
disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de outros
serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Portanto, uma vez que a viagem de Helena ocorreria no dia 30.08.2020, a Passeios Turísticos
Ltda. não estava obrigada a reembolsar Helena em dinheiro e imediatamente, desde que lhe
concedesse o crédito, no mesmo valor pago, que poderia ser utilizado até o dia 31.12.2022, conforme
prevê o § 4º do mesmo dispositivo: “§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput deste artigo
poderá ser utilizado pelo consumidor até 31.12.2022”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020:

Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas


e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de 2020
a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:
I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou II - a
disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de outros
serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Portanto, desde que a Passeios Turísticos Ltda. disponibilizasse a Helena crédito a ser utilizado
ou a remarcação da viagem a ser efetuada até o dia 31.12.2022, não fica a fornecedora de serviços
obrigada a restituir a Helena o valor pago.

Alternativa C. Incorreta. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020, de fato, Helena poderia
requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe concedesse um crédito a ser posteriormente utilizado, até o
dia 31 de dezembro de 2022. Todavia, os §§ 1º e 3º do art. 2º da lei assim dispõem, respectivamente, que:

As operações de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo


adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes e o
fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento se o
consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não estiver
enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

30 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Dessa forma, tendo Helena sido comunicada do cancelamento de suas reservas no dia
20.02.2020, tinha até o dia 19.06.2020 para realizar o pedido do crédito ou da remarcação da viagem.
Tendo realizado o pedido somente do dia 20.07.2020, a Passeios Turísticos Ltda. fica desobrigada de
realizar qualquer ressarcimento, como a disponibilização do crédito, a Helena.

Alternativa D. Incorreta. O art. 2º, § 6º, da Lei nº 14.046/2020, assim dispõe: “o prestador
de serviço ou a sociedade empresária deverão restituir o valor recebido ao consumidor até 31 de
dezembro de 2022, somente na hipótese de ficarem impossibilitados de oferecer a remarcação dos
serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II do caput deste artigo”. Nesses
termos, o prazo para restituir o valor recebido do consumidor na hipótese de impossibilidade de a
Passeios Turísticos Ltda. oferecer o crédito ou a remarcação do serviço é até o dia 31.12.2022 e não
31.12.2023.

Alternativa E. Incorreta. O art. 2º, § 9º, da Lei nº 14.046/2020, dispõe que:

O disposto neste artigo aplica-se aos casos em que o serviço, a reserva ou


o evento adiado tiver que ser novamente adiado, em razão de não terem
cessado os efeitos da pandemia da covid-19 referida no art. 1º desta Lei
na data da remarcação originária, e aplica-se aos novos eventos lançados
no decorrer do período sob os efeitos da pandemia da covid-19 que não
puderem ser realizados pelo mesmo motivo.

Portanto, caso Helena tivesse remarcado sua viagem para o dia 30.08.2021 e, novamente, em
razão da pandemia, a viagem tivesse de ser cancelada ou adiada, Helena teria novo direito ao crédito
ou à remarcação da viagem, nos termos da lei.

31 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento
da violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.

Data de publicação: 29.07.2021


Início de vigência: 29.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14188.htm>
Destaques:
• A lei define o Programa de Cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como mais uma medida de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher, acirrada nos tempos da pandemia da Covid-19, estabelecendo intercâmbio entre
as instituições públicas e privadas e órgãos de segurança pública integrantes do sistema
de assistência e segurança à vítima.

• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.

• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.

• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal.

32 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1.2. Comentário

Em relação ao Direito Penal, a Lei nº 14.188 recrudesce a pena do crime de lesão corporal,
prevista no art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino,
e estabelece novo tipo penal previsto no art. 147-B do Código Penal.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Legislação Penal e Processual Penal Extravagante.

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