Você está na página 1de 7

DIREITO

FINANCEIRO

A modulação da
legislação orçamentário
financeira
A modulaçãopara o
da legislação
combate aos efeitos da
orçamentáriofinanceira para o combate
aos efeitos da Covid-19
Covid-19
Considerações iniciais: paradigma normativo e
contexto do Direito Financeiro da Crise

O Estado é instrumento essencial e estratégico para o


combate aos efeitos negativos da pandemia, como
sustentáculo de medidas de enfrentamento do grave
problema sanitário e das suas muito sensíveis consequências
econômicas. É natural, pois, o aumento de dispêndios
públicos para dar a cobertura orçamentário-fiscal necessária
à confrontação dos efeitos da Covid-19. Isso é verificado à
saciedade nos últimos meses, em face da abertura de
inúmeras ações orçamentárias com o intuito de atender à
ampliação da estrutura de assistência pública à saúde e às
políticas públicas de enfrentamento das consequências
econômicas da pandemia.
; Ações orçamentárias com o intuito de atender à ampliação da estrutura de assistência pública à saúde e às
políticas públicas de enfrentamento das consequências econômicas da pandemia.​


Medidas Provisórias (MPs) nos 924, de 13/3/2020, 940, de 2/4/2020, e 969,
de 20/5/2020 (BRASIL, 2020f, 2020h, 2020i), que abriram créditos
extraordinários na casa de dezenas de bilhões de reais para atender a políticas de
assistência à saúde e enfrentar a emergência decorrente da Covid-19​


MP no  937, de 2/4/2020 (BRASIL, 2020g), que abriu crédito extraordinário
no importe de 98 bilhões de reais para dar cobertura ao pagamento do
Auxílio Emergencial de Proteção Social a Pessoas em Situação
de Vulnerabilidade, Devido à Pandemia da Covid-19, instituído pela Lei no  13.982,
de 2/4/2020 (BRASIL, 2020e).​
A crise orçamentário-financeira e as etapas de
superação
A superação da crise orçamentário-financeira no contexto do combate aos efeitos da

Covid-19 mediante três fatos relacionados .


• O reconhecimento da calamidade pública para fins do art. 65 da LC no 101/2000. A LC no  101/2000, comumente
denominada “Lei de Responsabilidade Fiscal” (LRF), teve como finalidade disciplinar o disposto nos arts. 163 e 169
da CRFB, a fim de dar uniformidade federativa quanto a finanças públicas, regras de endividamento e concessão de
garantias, limites para a celebração de operação de créditos, transparência contábil e limites à despesa de pessoal.
Firmada tal consideração, inexistiam dúvidas de que o cenário derivado da Covid-19 seria perverso na economia
nacional, uma vez que as medidas de controle da enfermidade gerariam a necessidade de largo gasto público. Vide
 art . 65 da LC no 101/2000.

Na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Assembléias
Legislativas, na hipótese dos Estados e Municípios, enquanto perdurar a situação:
I - serão suspensas a contagem dos prazos e as disposições estabelecidas nos arts. 23, 31 e 70;
II - serão dispensados o atingimento dos resultados fiscais e a limitação de empenho prevista no art. 9o.

Do que se conclui, existir autorização temporária, pelo tempo que perdurar a calamidade, para o ente descumprir o teto
de gastos com pessoal sem a incidência das consequências legais de recondução.
A concessão da Medida Cautelar na ADI no 6.357​
O Presidente da República do Brasil, através da Advocacia Geral da União (AGU), ajuizou, em 27/03/2020, ADI
com pedido Medida Cautelar, com o objetivo de: 
“[...] conferir interpretação conforme à Constituição aos arts. 14, 16, 17 e 24 da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), e ao art. 114, caput, in fine, e § 14, da Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano de 2020 (LDO/2020).”
Argumentou que o afastamento temporário do rigor de algumas normas da LRF se faz necessário ante a pandemia
de Covid-19 que atingiu o país e que a inteira aplicação das normas de equilíbrio fiscal à situação de
excepcionalidade vivida no Brasil impediria o governo de tomar medidas necessárias para combater de modo
eficaz a disseminação da doença.

Portanto, o Congresso Nacional não autorizou o descumprimento de todas as regras da LRF, mas apenas as
referidas no inciso II do artigo 65, ou seja, o atingimento dos resultados fiscais da LDO 2020 e da limitação de
empenho bimestral decorrente da potencial queda na receita. Com isso a União, no âmbito dos programas públicos
relacionados ao combate do Covid-19, não precisa, para criação ou expansão de despesa pública, amparar
suas decisões (1) em impacto orçamentário-financeiro no ano em que deva entrar em vigor e nos dois
subsequentes, (2) na declaração do ordenador de despesa de que o aumento de gasto tem sustentação na Lei
Orçamentária Anual.
Como terceiro alicerce da sistemática do Direito Financeiro da Crise, aponta-se a promulgação da EC no
 106/2020, que estruturou um regime extraordinário fiscal com o intuito de implementar uma
maior flexibilização para o combate aos efeitos econômicos e sanitários oriundos da Covid-19.
A EC 106/2020 tem vigência temporária.
O art. 11 da emenda prevê expressamente que a EC 106/2020 “ficará automaticamente revogada na data
do encerramento do estado de calamidade pública reconhecido pelo Congresso Nacional.”
Durante a vigência do estado de calamidade pública nacional reconhecido pelo Congresso Nacional em razão da
pandemia do coronavírus, a União adotará regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para atender
às necessidades dele decorrentes.
Esse regime extraordinário somente deverá ser adotado naquilo em que, em virtude da urgência, não for possível
ser cumprido com o regime regular
. Processos simplificados de contratação (art. 2º da EC)
O Poder Executivo federal, no âmbito de suas competências, fica autorizado a
adotar processos simplificados para a:
• contratação de pessoal, em caráter temporário e emergencial; e para a
• contratação de obras, serviços e compras.
Vale ressaltar, no entanto, que esse processo simplificado de contratação deve assegurar, quando
possível, competição e igualdade de condições a todos os concorrentes.
Esses processos simplificados somente poderão ser realizados com propósito exclusivo de enfrentamento
do contexto da calamidade e de seus efeitos sociais e econômicos, no seu período de duração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Sem dúvidas, no primeiro semestre de 2020 confrontaram-se os limites da estrutura jurídico-orçamentária brasileira
que motivaram soluções dentro da institucionalidade. A proposta de solução de uma crise acaba ensejando a natural
ampliação dos poderes da função executiva de governo. Há necessidade de autorização das respectivas
Assembleias Legislativas para reconhecimento da calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19 no
território do ente solicitante.

Você também pode gostar