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A LEI DE RESPONSABILIDADE
FISCAL E A LIMITAÇÃO
DA DESPESA NA
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA FEDERAL
Rubens Luiz Murga da Silva
RESUMO
Trata da questão do controle dos gastos públicos da União frente às disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal, analisando-a em conjunto com as
Leis Orçamentárias Anuais e as de Diretrizes Orçamentárias; dos problemas decorrentes da frustração no desempenho da arrecadação (queda de
receita) e do aumento da despesa.
Demonstra a importância dos instrumentos criados pela LRF, identifica o poder quase absoluto do Executivo frente ao Judiciário, Legislativo e
Ministério Público da União na questão orçamentária, apontando um caminho para a gerência dos gastos públicos com responsabilidade e respeito
à autonomia dos Poderes.
PALAVRAS-CHAVE
Receita Pública; Lei Complementar n. 101/2000 – art. 9º; contingenciamento; planejamento; controle; responsabilidade, gestão fiscal; Orçamento
Público da União; Direito Administrativo.
O
superávit primário para fazer face ao deral. A segunda, até a Constituição
controle dos gastos públicos incremento de despesas obrigatórias. de 1988, quando foram criadas as
é, desde o século XIX, um A discussão da legalidade da- Leis dos Planos Plurianuais e das Di-
dos mais graves, se não o quele procedimento – contingencia- retrizes Orçamentárias em conjunto
maior de todos os problemas do Es- mento em função do aumento de des- com a Lei Orçamentária Anual; a ter-
tado Brasileiro e ainda constitui um pesas – e do poder quase absoluto ceira, até a sanção da Lei Comple-
desafio para o gestor público. exercido pelo Executivo na elabora- mentar n. 101, de 4 de maio de 2000,
Neste trabalho, abordar-se-á a ção, controle e execução dos orça- a chamada “Lei de Responsabilida-
importância da sanção da Lei de Res- mentos da União constituirão o cerne de Fiscal”. A quarta fase corresponde
ponsabilidade Fiscal – Lei Comple- deste trabalho. aos dias atuais na vigência das refe-
mentar n. 101, de 4 de maio de 2000, ridas normas.
da filosofia que se pretende implan- 2 HISTÓRICO DO PROCESSO A consagração do Sistema de
tar no País, bem como da gestão fis- ORÇAMENTÁRIO DA UNIÃO Planejamento Orçamentário Integrado
cal com responsabilidade, que inclui veio com a Constituição Federal de
as atividades de planejar e controlar O Orçamento Público da União 19881, materializado no art. 165, que
a execução orçamentária e prevenir é, seguramente, o principal instru- tornou obrigatórios o Plano Plurianual
os possíveis desvios tempestiva- mento de curto prazo para a imple- e as Diretrizes Orçamentárias.
mente. mentação das políticas públicas Infelizmente, a promulgação
O tema central é a discussão requeridas pela sociedade. Desse da Constituição não teve o condão de
do art. 9º da LRF, in verbis: Se verifi- modo, é crucial que o Estado dispo- extinguir o processo inflacionário que
cado, ao final de um bimestre, que a nha de elementos confiáveis para a assolava o País há vários anos, atin-
realização da receita poderá não com- sua elaboração, acompanhamento e gindo níveis insuportáveis no início da
portar o cumprimento das metas de execução. década de 90, com elevado grau de
resultado primário ou nominal estabe- É de conhecimento geral que dificuldade para o processo de ela-
lecidas no Anexo de Metas Fiscais, as leis orçamentárias fixam despesas boração, acompanhamento e execu-
os Poderes e o Ministério Público pro- e estimam receitas. Sua elaboração ção orçamentária.
moverão, por ato próprio e nos mon- pode, de início, ser dividida em duas E o que faltava? Para respon-
tantes necessários, nos trinta dias grandes tarefas: fixar despesas e der a essa questão, é necessário o
subseqüentes, limitação de empenho estimar receitas. resumo do processo orçamentário.
e movimentação financeira, segundo A fixação de despesas deve Aprovadas as leis do plano
os critérios fixados pela lei de diretri- estar embasada em um levantamen- plurianual com vigência para quatro
zes orçamentárias. to criterioso dos gastos fixos (relati- anos, de maneira a abranger três anos
Da leitura do mencionado arti- vos à manutenção das atividades do de um governo e o primeiro do sub-
go verifica-se a preocupação com o Estado), dos projetos que dizem res- seqüente, e a de diretrizes orçamen-
controle dos gastos públicos na Ad- peito aos investimentos no crescimen- tárias para o exercício seguinte, pas-
ministração Pública Federal, durante to do aparato estatal e de despesas sa-se à discussão da lei orçamentá-
a execução orçamentária. obrigatórias como, por exemplo, os ria anual, seguindo os preceitos es-
O problema a ser tratado diz gastos com pessoal e o serviço da tabelecidos nas referidas normas.
respeito à limitação do empenho e da dívida externa. O órgão central do sistema or-
movimentação financeira (contingen- A segunda tarefa refere-se à çamentário, a Secretaria de Orçamen-
ciamento de despesas) na situação estimativa das receitas que o Estado to Federal do Ministério de Planeja-
não-prevista no referido art. 9º da LRF, espera auferir durante o exercício. mento e Orçamento, de um lado, fixa
ou seja, quando não há frustração de No Brasil, a solução da equa- limites de despesas para todos os
receitas, mas sim necessidade de ção orçamentária assume um grau de órgãos setoriais, incluindo os do Ju-
acréscimo de despesas. complexidade ainda mais elevado diciário, do Legislativo e o Ministério
A hipótese a ser testada refe- quando se sabe que o Estado, ao tem- Público da União, de maneira a cum-
re-se à possibilidade de contingenciar po em que busca a implementação prir as metas governamentais (supe-
despesas quando comprovada a ne- de políticas que propiciem o desen- rávit primário) e, de outro, realiza as
cessidade de aumentar as despesas volvimento econômico sustentado, estimativas de receita para o mesmo
obrigatórias, embora não haja frustra- preservando o meio ambiente, luta período.
ção de receita, com base na preva- com problemas crônicos, como o dé- Inserida a despesa na lei or-
lência do interesse público. ficit do setor público e o pagamento çamentária anual, cada unidade ti-
Em 2001 e 2002, os dois pri- da dívida externa, e com sérios pro- nha, em princípio, autorização para
meiros anos de sua vigência, foi efe- blemas de caixa da Previdência So- empenhar a despesa, solicitando, em
tivada a limitação de empenho e da cial. Tudo isso em um contexto que seguida, recursos financeiros para o
movimentação financeira no âmbito nos coloca como um dos países que seu pagamento. Entretanto, uma con-
dos três Poderes e do Ministério Pú- exigem a maior carga tributária de juntura de inflação elevada, masca-
blico da União, em decorrência de frus- seus cidadãos. rando os números inseridos no orça-
tração na realização da receita, nos A elaboração das propostas mento, obrigava o governo federal a
estritos termos do referido art. 9º. orçamentárias conheceu, claramente, adotar medidas de força, bloquean-
Em 2003, passado o primeiro quatro etapas. A primeira delas du- do sistematicamente a liberação de
bimestre do exercício, o Poder Exe- rou até a edição da Lei n. 4320, de 17 recursos financeiros, o que caracteri-
cutivo exigiu dos demais Poderes e de março de 1964, que estatuiu “nor- zava o contingenciamento forçado
do MPU o contingenciamento de des- mas gerais de direito financeiro” para dos gastos públicos. Ou seja, os ór-
pesas em decorrência não da frustra- a elaboração e controle dos orçamen- gãos integrantes do três Poderes da
ção de receitas, mas, sim, em fun- tos e balanços da União, dos esta- União e o MPU podiam até possuir
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FISCAL