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DIREITO ADMINISTRATIVO

A LEI DE RESPONSABILIDADE
FISCAL E A LIMITAÇÃO
DA DESPESA NA
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA FEDERAL
Rubens Luiz Murga da Silva

RESUMO

Trata da questão do controle dos gastos públicos da União frente às disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal, analisando-a em conjunto com as
Leis Orçamentárias Anuais e as de Diretrizes Orçamentárias; dos problemas decorrentes da frustração no desempenho da arrecadação (queda de
receita) e do aumento da despesa.
Demonstra a importância dos instrumentos criados pela LRF, identifica o poder quase absoluto do Executivo frente ao Judiciário, Legislativo e
Ministério Público da União na questão orçamentária, apontando um caminho para a gerência dos gastos públicos com responsabilidade e respeito
à autonomia dos Poderes.

PALAVRAS-CHAVE
Receita Pública; Lei Complementar n. 101/2000 – art. 9º; contingenciamento; planejamento; controle; responsabilidade, gestão fiscal; Orçamento
Público da União; Direito Administrativo.

R. CEJ, Brasília, n. 26, p. 69-78, jul./set. 2004 69


1 INTRODUÇÃO ção da necessidade de aumentar o dos, dos municípios e do Distrito Fe-

O
superávit primário para fazer face ao deral. A segunda, até a Constituição
controle dos gastos públicos incremento de despesas obrigatórias. de 1988, quando foram criadas as
é, desde o século XIX, um A discussão da legalidade da- Leis dos Planos Plurianuais e das Di-
dos mais graves, se não o quele procedimento – contingencia- retrizes Orçamentárias em conjunto
maior de todos os problemas do Es- mento em função do aumento de des- com a Lei Orçamentária Anual; a ter-
tado Brasileiro e ainda constitui um pesas – e do poder quase absoluto ceira, até a sanção da Lei Comple-
desafio para o gestor público. exercido pelo Executivo na elabora- mentar n. 101, de 4 de maio de 2000,
Neste trabalho, abordar-se-á a ção, controle e execução dos orça- a chamada “Lei de Responsabilida-
importância da sanção da Lei de Res- mentos da União constituirão o cerne de Fiscal”. A quarta fase corresponde
ponsabilidade Fiscal – Lei Comple- deste trabalho. aos dias atuais na vigência das refe-
mentar n. 101, de 4 de maio de 2000, ridas normas.
da filosofia que se pretende implan- 2 HISTÓRICO DO PROCESSO A consagração do Sistema de
tar no País, bem como da gestão fis- ORÇAMENTÁRIO DA UNIÃO Planejamento Orçamentário Integrado
cal com responsabilidade, que inclui veio com a Constituição Federal de
as atividades de planejar e controlar O Orçamento Público da União 19881, materializado no art. 165, que
a execução orçamentária e prevenir é, seguramente, o principal instru- tornou obrigatórios o Plano Plurianual
os possíveis desvios tempestiva- mento de curto prazo para a imple- e as Diretrizes Orçamentárias.
mente. mentação das políticas públicas Infelizmente, a promulgação
O tema central é a discussão requeridas pela sociedade. Desse da Constituição não teve o condão de
do art. 9º da LRF, in verbis: Se verifi- modo, é crucial que o Estado dispo- extinguir o processo inflacionário que
cado, ao final de um bimestre, que a nha de elementos confiáveis para a assolava o País há vários anos, atin-
realização da receita poderá não com- sua elaboração, acompanhamento e gindo níveis insuportáveis no início da
portar o cumprimento das metas de execução. década de 90, com elevado grau de
resultado primário ou nominal estabe- É de conhecimento geral que dificuldade para o processo de ela-
lecidas no Anexo de Metas Fiscais, as leis orçamentárias fixam despesas boração, acompanhamento e execu-
os Poderes e o Ministério Público pro- e estimam receitas. Sua elaboração ção orçamentária.
moverão, por ato próprio e nos mon- pode, de início, ser dividida em duas E o que faltava? Para respon-
tantes necessários, nos trinta dias grandes tarefas: fixar despesas e der a essa questão, é necessário o
subseqüentes, limitação de empenho estimar receitas. resumo do processo orçamentário.
e movimentação financeira, segundo A fixação de despesas deve Aprovadas as leis do plano
os critérios fixados pela lei de diretri- estar embasada em um levantamen- plurianual com vigência para quatro
zes orçamentárias. to criterioso dos gastos fixos (relati- anos, de maneira a abranger três anos
Da leitura do mencionado arti- vos à manutenção das atividades do de um governo e o primeiro do sub-
go verifica-se a preocupação com o Estado), dos projetos que dizem res- seqüente, e a de diretrizes orçamen-
controle dos gastos públicos na Ad- peito aos investimentos no crescimen- tárias para o exercício seguinte, pas-
ministração Pública Federal, durante to do aparato estatal e de despesas sa-se à discussão da lei orçamentá-
a execução orçamentária. obrigatórias como, por exemplo, os ria anual, seguindo os preceitos es-
O problema a ser tratado diz gastos com pessoal e o serviço da tabelecidos nas referidas normas.
respeito à limitação do empenho e da dívida externa. O órgão central do sistema or-
movimentação financeira (contingen- A segunda tarefa refere-se à çamentário, a Secretaria de Orçamen-
ciamento de despesas) na situação estimativa das receitas que o Estado to Federal do Ministério de Planeja-
não-prevista no referido art. 9º da LRF, espera auferir durante o exercício. mento e Orçamento, de um lado, fixa
ou seja, quando não há frustração de No Brasil, a solução da equa- limites de despesas para todos os
receitas, mas sim necessidade de ção orçamentária assume um grau de órgãos setoriais, incluindo os do Ju-
acréscimo de despesas. complexidade ainda mais elevado diciário, do Legislativo e o Ministério
A hipótese a ser testada refe- quando se sabe que o Estado, ao tem- Público da União, de maneira a cum-
re-se à possibilidade de contingenciar po em que busca a implementação prir as metas governamentais (supe-
despesas quando comprovada a ne- de políticas que propiciem o desen- rávit primário) e, de outro, realiza as
cessidade de aumentar as despesas volvimento econômico sustentado, estimativas de receita para o mesmo
obrigatórias, embora não haja frustra- preservando o meio ambiente, luta período.
ção de receita, com base na preva- com problemas crônicos, como o dé- Inserida a despesa na lei or-
lência do interesse público. ficit do setor público e o pagamento çamentária anual, cada unidade ti-
Em 2001 e 2002, os dois pri- da dívida externa, e com sérios pro- nha, em princípio, autorização para
meiros anos de sua vigência, foi efe- blemas de caixa da Previdência So- empenhar a despesa, solicitando, em
tivada a limitação de empenho e da cial. Tudo isso em um contexto que seguida, recursos financeiros para o
movimentação financeira no âmbito nos coloca como um dos países que seu pagamento. Entretanto, uma con-
dos três Poderes e do Ministério Pú- exigem a maior carga tributária de juntura de inflação elevada, masca-
blico da União, em decorrência de frus- seus cidadãos. rando os números inseridos no orça-
tração na realização da receita, nos A elaboração das propostas mento, obrigava o governo federal a
estritos termos do referido art. 9º. orçamentárias conheceu, claramente, adotar medidas de força, bloquean-
Em 2003, passado o primeiro quatro etapas. A primeira delas du- do sistematicamente a liberação de
bimestre do exercício, o Poder Exe- rou até a edição da Lei n. 4320, de 17 recursos financeiros, o que caracteri-
cutivo exigiu dos demais Poderes e de março de 1964, que estatuiu “nor- zava o contingenciamento forçado
do MPU o contingenciamento de des- mas gerais de direito financeiro” para dos gastos públicos. Ou seja, os ór-
pesas em decorrência não da frustra- a elaboração e controle dos orçamen- gãos integrantes do três Poderes da
ção de receitas, mas, sim, em fun- tos e balanços da União, dos esta- União e o MPU podiam até possuir

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dotação orçamentária, mas estavam De fato, um cenário indicativo balanço patrimonial, demonstração de
impedidos de utilizá-la em virtude da da falência do Estado brasileiro, alia- fluxo de caixa e demonstração de
limitação da transferência de recursos do aos já mencionados problemas passivos contingentes e de obriga-
financeiros imposta pelo Executivo. relativos aos déficits constantes, má- ções, evidenciando a composição e
Tal contexto de dificuldades, administração e impunidade genera- características da dívida pública.
além de encobrir as responsabilida- lizada, criou condições que exigiram
des pelas decisões do que e quando o estabelecimento de rigorosa norma 3.2 A CONSTITUCIONALIDADE DA
contingenciar, estendido às três es- de controle da gestão dos recursos LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL
feras de governo, municipal, estadual públicos.
e federal, impedia a realização dos Embora não faltassem motivos A LRF tem previsão nos arts.
planos governamentais. internos para o estabelecimento de 163, 169 e 250 da Constituição Fe-
Faltava um instrumento que norma do porte da LRF, o Brasil so- deral.
combatesse a irresponsabilidade dos freu fortíssimas influências externas, Em relação à sua constitucio-
gestores de recursos públicos, que dentre as quais a doutrina é unânime nalidade, dois aspectos merecem re-
servisse de instrumento para colabo- em apontar o Código de Boas Práti- gistro. O primeiro diz respeito à even-
rar com o saneamento das contas cas 4 para transparência fiscal, edita- tual violação dos princípios federati-
públicas e, ao mesmo tempo, funcio- do pelo FMI, que estabelece requisi- vos, em virtude da sua aplicação nos
nasse como instrumento catalisador tos para a implantação de um padrão três níveis da Administração Pública
da atividade de planejamento, ao pro- geral de transparência fiscal; o Trata- – União, Estados e Municípios. O se-
porcionar maior transparência na ges- do de Maastricht 5, da Comunidade gundo aspecto refere-se à eventual
tão econômico-financeira do Estado. Econômica Européia, destinados aos invasão do Poder Executivo na auto-
Tal instrumento surgiu com a países signatários, o qual fixou limi- nomia dos Poderes Legislativo e Ju-
edição da Lei Complementar n. 101, tes para a dívida pública, combate diciário e do MPU. Tal fato será con-
de 4 de maio de 2000, a Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal.

3 A LEI DE RESPONSABILIDADE
FISCAL

3.1 A ORIGEM DA LRF Com a vigência da LRF, ficou afastada a possibilidade de se


efetuar o contingenciamento da forma como vinha sendo
O conjunto de fatores que pro-
piciou a implantação do modelo de feito. Se, por um lado, a LRF forneceu ao Poder Executivo a
gestão preconizado pela LRF é o que, base legal para exercitar o contingenciamento de despesas
com muita propriedade, Ives Gandra
da Silva Martins chamou de “era dos
com vistas ao cumprimento de metas fiscais, por outro,
consensos”2, ao constatar como recor- exigiu maior transparência e clareza na definição dos
rente o da falência do modelo vigente critérios e dos montantes a serem contingenciados, uma vez
de Estado. Nesse mesmo raciocínio,
Carlos Maurício Figueiredo3 transcre- submetidos à sua rígida disciplina.
ve observação originária do extinto
Ministério da Administração e Refor-
ma do Estado sobre o modelo das
“organizações sociais” criado pela Lei
Federal n. 9.637, de 15/5/1998:
(...) a redefinição do papel do aos déficits governamentais e pata- siderado fator relevante de discussão
Estado é tema de alcance universal mares de juros de longo prazo; o no capítulo deste estudo destinado
nos anos 90. No Brasil, essa questão Budget Enforcement Act 6 – EUA –, ao contingenciamento de despesas
adquiriu importância decisiva, tendo cujas principais características são públicas na administração federal, e
em vista o peso da presença do Esta- a fixação pelo Congresso de metas na conclusão.
do na economia nacional. Tornou-se, de superávit e mecanismos de con- Por outro lado, não é demais
conseqüentemente, inadiável o equa- trole de gastos. Vem do BEA a inspi- ressaltar que os aspectos mais polê-
cionamento da questão da reforma ou ração trazida para a LRF, relativa à micos e que de fato representavam
da reconstrução do Estado que, se por limitação do empenho e à compen- risco para a implementação da LRF
um lado já não consegue atender com sação orçamentária (qualquer ato que já foram examinados pelo Supremo
eficiência a sobrecarga de demandas provoque aumento de despesas deve Tribunal Federal, quais sejam:
a ele dirigidas, sobretudo na área so- ser compensado pela redução de — em 28 de setembro de 2000,
cial, por outro lado já dispõe de um outras despesas ou aumento de re- o STF decidiu pela constitucionalidade
segmento da sociedade, o terceiro ceitas). Naquele país, contemplou da lei como um todo;
setor, fortalecendo-se institucional- apenas o governo federal. Outra in- — em 11 de outubro de 2000,
mente para colaborar de forma cada fluência reconhecida é a do Fiscal foi mantido o art. 20, que estabelece
vez mais ativa na produção de bens Responsibillity Act – Nova Zelândia7, limites de despesa total com pessoal,
públicos. A reforma do estado não é, em que se ressalta a importância da por Poder, em cada ente da federa-
assim, um tema abstrato: ao contrário transparência mediante a adoção de ção;
é algo cobrado e iniciado pela socie- uma série de relatórios contábeis — em 22 de fevereiro de 2001,
dade que vê frustrada as suas deman- gerenciais, dos quais podem-se des- foram mantidos dispositivos sobre
das e expectativas. tacar: demonstração de resultados, demonstrativo de metas fiscais

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anuais e sobre anexo específico a ser Os mencionados capítulos re- 4 A RECEITA DA UNIÃO E O
apresentado no encaminhamento do lativos à despesa e à receita estão CONTINGENCIAMENTO DE
projeto da Lei de Diretrizes Orçamen- inseridos no contexto da atividade DESPESAS
tárias pela União. de controle do Orçamento Público.
A atividade de prevenção é consoli- 4.1 A RECEITA CORRENTE LÍQUIDA
3.3 A LRF E O CONTROLE DE dada no art. 9º da LRF.
GASTOS PÚBLICOS O art. 11 da LRF estabelece
3.4 A LRF E A LEI DAS DIRETRIZES como requisito essencial de respon-
Não há dúvida de que a es- ORÇAMENTÁRIAS sabilidade na gestão fiscal a institui-
sência da filosofia de responsabili- ção, previsão e efetiva arrecadação
dade fiscal da LRF pode ser tradu- Com o advento da LRF, as de todos os tributos de competência
zida em três verbos: planejar, con- LDOs ganharam novas competências constitucional do ente da federação.
trolar e prevenir. que, além de reforçarem o comando Tratada em capítulo específico,
A consolidação do regime de constitucional, alargaram, em muito, a novidade mais relevante trazida pela
responsabilidade fiscal, em que a o seu campo de atuação, conforme LRF, quanto à receita, diz respeito ao
LRF é o elemento mais visível, exige estabelecido nos arts. 4º, 5º, 14, 16, conceito de “Receita Corrente Líqui-
controle, planejamento e disciplina 20, 22, 45 e 61 da LRF, todos eles da”, constante no inc. IV do art. 2º da
na realização tanto da despesa tendo como ponto central o controle LRF, e traduz o montante de recursos
quanto da receita. dos gastos públicos. de que dispõe cada ente da federa-
O Capítulo II – Do Planejamen- O exame dos artigos transcri- ção para fazer face às despesas in-
to – contém orientações específicas tos não deixa dúvidas quanto ao seu cluídas na lei orçamentária. Adicional-
para a Lei de Diretrizes Orçamentá- objetivo principal, qual seja, o equi- mente a LRF estabeleceu a Receita
rias (art. 4º) e para a Lei Orçamentá- líbrio entre receitas e despesas; mas Corrente Líquida como parâmetro para
ria Anual (art. 5º). Considerando que para que tal desiderato não se trans- a limitação de gastos públicos com
essas leis, de acordo com o previs- formasse em letra morta, veio acom- pessoal, a teor de seu art. 19.
to no art. 165 da Constituição Fe- panhado de medidas garantidoras
deral, devem estar em consonância da sua concretização, a serem apli- 4.2 O CONTINGENCIAMENTO
com a Lei do Plano Plurianual, a no- cadas em um contexto de planeja- DA DESPESA
vidade que a LRF trouxe foi atribuir, mento estratégico observado com a
principalmente à LDO, a responsa- criação dos Anexos de Metas Fis- Antes da LRF, havia, por assim
bilidade pela manutenção da ativi- cais. dizer, uma tradição de aguardar, após
dade de planejamento global do Es- Nesse ponto, merece ser tra- a publicação do orçamento da União,
tado. zido à baila o comentário de Carlos a expedição de decreto fixando limi-
Nos capítulos que abrangem Maurício Figueiredo8: O planejamen- tes para movimentação, empenho e
do art. 15 ao art. 42, estão estabe- to é o mecanismo que pode atenuar pagamento das dotações orçamentá-
lecidas as regras gerais para autori- a miopia social da LRF. É através rias (Decreto n. 3.473, de 18/5/2000).
zação de despesas, cabendo des- dele que, observando o controle fis- Tal procedimento tornou-se conheci-
tacar os arts. 19 e 20, que cuidam cal rígido imposto pela lei, os do como contingenciamento de des-
da despesa total com pessoal; o art. gestores públicos poderão distinguir pesas.
24, que trata das despesas com a nitidamente o que é importante, o Com a vigência da LRF, ficou
seguridade social; os arts. 30 e 31, que é mais importante, o que é afastada a possibilidade de se efetuar
versando sobre os limites da dívida prioritário e o que é imprescindível, o contingenciamento da forma como
pública e das operações de crédito, para alocar da melhor maneira os vinha sendo feito. Se, por um lado, a
além de outros, como os arts. 71 e recursos disponíveis e não incorrer LRF forneceu ao Poder Executivo a
72, que impõem limitações às des- na necessidade de interromper base legal para exercitar o contin-
pesas com pessoal e serviços de ter- abruptamente, de cortar linearmen- genciamento de despesas com vis-
ceiros. te ações e despesas de interesse tas ao cumprimento de metas fiscais,
No campo da receita, o novo social imediato. por outro, exigiu maior transparência
modelo contempla, no Capítulo III – Planejar passa a ser instru- e clareza na definição dos critérios e
Da Receita Pública —, a necessida- mento fundamental para o gestor fis- dos montantes a serem contingen-
de de prever e demonstrar detalha- cal responsável. Os comandos da ciados, uma vez submetidos à sua
damente a execução da receita. Nes- LRF para que o planejamento se faça rígida disciplina.
se tópico merece destaque o § 1º do com base nas Leis de Diretrizes Or-
art. 12, que só admite a reestimativa çamentárias e Orçamentária Anual, 4.2.1 CONTINGENCIAMENTO EM
de receita por parte do Poder Legis- na verdade, repetem o art. 165 da 2001 E 2002
lativo no caso de comprovado erro Constituição, porém estabelecem dis-
ou omissão de ordem técnica ou le- positivos complementares sobre a Nesses exercícios, o contin-
gal, afastando a prática de outrora, execução orçamentária e o cumpri- genciamento de despesas foi realiza-
que consistia em inflar artificialmen- mento de metas. Não basta estabe- do de acordo com os critérios previs-
te a receita para que o orçamento lecer diretrizes e elaborar o orçamen- tos nas respectivas leis de diretrizes
agasalhasse despesas voltadas ao to, é necessário acompanhar sua orçamentárias, a teor do art. 9º da LRF,
atendimento do interesse específico execução. com base na frustração das receitas
de parlamentares. Fica clara a preo- De fato, as novidades trazidas estimadas nas respectivas leis orça-
cupação, não só com os critérios de pela LRF, no concernente à ativida- mentárias anuais.
previsão e arrecadação, mas, tam- de de planejamento, estão materiali- Com relação a esses contin-
bém, com a evolução da Receita zadas nos Anexos de Metas Fiscais genciamentos, vale registrar a obser-
Pública. e de Riscos Fiscais. vação contida na Nota Técnica Con-

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junta n. 7/20019, das consultorias de xou a limitação de empenho em cada Tal contingenciamento não foi
orçamento da Câmara dos Deputados um dos Poderes e no MPU, devida- realizado por frustração de receita,
e do Senado Federal, segundo a qual mente acompanhado do relatório pre- mas sim pelo expressivo aumento
os dados de receita não se encontra- visto no § 3º do art. 67 da Lei n. dos gastos obrigatórios em relação
vam registrados conforme as normas 10.524, de 25/7/2002 (LDO 2003), ou às dotações da Lei Orçamentária
vigentes sobre a classificação das seja, o contingenciamento de despe- Anual, cabendo discutir sua legali-
receitas orçamentárias, determinada sas, em obediência ao art. 9º da LRF, dade em face do art. 9º da LRF, quan-
pela Lei n. 4.320/64 e seus anexos objetivando o alcance da meta de re- do recomenda: Se verificado, ao fi-
atualizados, o que dificulta a análise sultado primário estabelecida. nal de um bimestre, que a realiza-
daqueles. O mencionado relatório, previs- ção da receita poderá não compor-
Os decretos de contingencia- to no § 3º do art 67 da LDO, da lavra tar o cumprimento das metas de
mento referiram-se ao denominado dos Secretários de Orçamento Federal resultado primário nominal esta-
grupo “Outras Despesas de Custeio (MPO) e do Tesouro Nacional (MF), belecidas no Anexo de Metas Fiscais
e Capital” - ODCC, por se restringi- não deixa dúvidas de ter o con- (...).
rem aos gastos com “outras despe- tingenciamento em questão ocorrido Como se vê, no 3º ano de vi-
sas correntes”, “investimentos” e “in- em virtude da necessidade de revi- gência conjunta da LRF e da LDO,
versões financeiras”. são da meta de superávit primário observa-se que o Poder Executivo, de
O critério da proporcionalidade estabelecida na LDO. Vale transcre- certo modo, aperfeiçoou os critérios
adotado na distribuição do contin- ver parte do item 7 do relatório: para efetuar o contingenciamento,
genciamento trouxe enormes dificul- Em cumprimento ao disposto mantendo, assim, o controle absolu-
dades para o Legislativo e, sobretu- no § 3º do art. 67 da LDO 2003, cabe to na distribuição e execução dos or-
do, para o Judiciário e o Ministério ao Poder Executivo, nesta data, infor- çamentos na Administração Pública
Público da União. O primeiro sempre mar aos demais Poderes e ao Minis- Federal.
pode valer-se de créditos adicionais,
que serão por ele mesmo apreciados.
Já o segundo e o terceiro têm, com
efeito, significativos prejuízos, pois o
critério linear os penaliza, sobretudo
na sua manutenção.
A comparação entre os artigos O critério da proporcionalidade adotado na distribuição do
que cuidam do contingenciamento nas contingenciamento trouxe enormes dificuldades para o
LDOs de 2001 e 2002 mostra, clara-
mente, uma preocupação maior da
Legislativo e, sobretudo, para o Judiciário e o Ministério
segunda com a transparência e o Público da União. O primeiro sempre pode valer-se de
detalhamento das informações relati- créditos adicionais, que serão por ele mesmo apreciados. Já o
vas ao contingenciamento das des-
pesas, pela inserção nessa última do segundo e o terceiro têm, com efeito, significativos prejuízos,
nível de detalhe requerido pelos de- pois o critério linear os penaliza, sobretudo na sua
mais Poderes e pelo MPU, para ob-
servarem a limitação de seus empe- manutenção.
nhos.
De qualquer modo, o contin-
genciamento foi tido como necessá-
rio em face da frustração de receita –
a queda na receita corrente líquida.
Ao final daqueles exercícios, as do- tério Público da União o montante de Ao comentar o art. 9º da LRF,
tações orçamentárias foram parcial- limitação de empenho e de movimen- Flávio C. de Toledo Jr. 10 assim se
mente recompostas. tação financeira que cada um deverá manifesta:
promover. Ressalta-se que a referida A nosso ver, gestão fiscal res-
4.2.2 CONTINGENCIAMENTO EM limitação obedece a todas as regras ponsável pauta-se sobretudo no
2003 contidas na LDO 2003. Assim, uma princípio da prudência contábil. Dis-
vez que a nova estimativa global de ponível, uma sobra orçamentária
De início, observa-se um aper- despesa é superior à estimada na pode ser empenhada a qualquer mo-
feiçoamento constante das LDOs a proposta orçamentária, não estão li- mento, redundando, destarte, em
cada ano, sem dúvida na busca da mitadas as atividades dos Poderes desequilíbrio futuro, posto que para
transparência esperada dos adminis- Legislativo e Judiciário e do Ministé- ela, a sobra, não haveria, de ante-
tradores públicos. Com efeito, a rio Público da União, até o valor da mão, cobertura de caixa. Nesse art.
implementação dos códigos identi- proposta orçamentária de 2003, con- 9º o legislador foi bastante claro, não
ficadores permitirá um melhor acom- forme disposto no § 1º, inc. II, b, do deixou margem à dúvida: o dirigen-
panhamento da realização das despe- art. 67 da LDO para 2003. te deve limitar empenhos quando a
sas e maior transparência na apresen- Para o exercício de 2003, ao realização da receita, e não a exe-
tação dos demonstrativos exigidos contrário dos anos anteriores, a limi- cução da despesa, comprometer as
pela CF (art. 165, § 3º), pela LRF (arts tação não se deu em razão da frus- metas fiscais avençadas em anexo
52 a 55) e pela LDO (arts. 14 e 15). tração das receitas. A receita realiza- da LDO, ou seja, arrecadação abai-
A Mensagem n. 92, de 21 de da no primeiro bimestre de 2003, se- xo do esperado é a única condição
março de 2003, do Excelentíssimo gundo o já citado relatório, ficou que legitima a restrição em comen-
Senhor Presidente da República, fi- 0,87% acima da prevista. to.

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Pela observação, vê-se que o mais de cada unidade orçamentária. exemplo, aquelas ainda dependentes
respeitado autor não admite a possi- Por outro lado, deve ser ressaltado de aprovação de norma legal ou de
bilidade de contingenciamento por que, em muitos casos, existem pro- eventos incertos, como a privatização
outro motivo que não seja a frustra- jetos em andamento, em relação aos de ativos.
ção de receita. quais o contingenciamento pode ocor- Considerando ser o equilíbrio
A legalidade do contingen- rer em momentos como, por exem- entre despesas e receitas um dos
ciamento de 2003 constitui, de fato, plo, final de obra, extremamente des- pilares em que se assenta a gestão
o cerne deste trabalho. favoráveis, assim entendidos aque- fiscal responsável, a frustração pode
les em que o custo da paralisação ser definida como a ausência de rea-
4.3 REGRAS GERAIS PARA O pode ser maior que a economia es- lização de qualquer item de receita
CONTINGENCIAMENTO DE perada. previsto na LOA.
DESPESA Desse modo, salvo melhor
juízo, o critério do que contingenciar 5.1 DA LIMITAÇÃO DO EMPENHO
O contingenciamento de des- deve ser transferido às unidades or- QUANDO NÃO HÁ FRUSTRAÇÃO DE
pesas é o instrumento básico da pre- çamentárias de cada Poder e do RECEITA
venção do equilíbrio orçamentário pre- MPU. Evidentemente, espera-se um
visto pela LRF. Indiscutível sua vali- procedimento baseado na gestão or- O exame do caput do art. 9º
dade para o estabelecimento de um çamentária com responsabilidade. da LRF indica que deve ser aguarda-
padrão de gestão orçamentária res- Tecnicamente, poder-se-ia dis- do, ao menos, o final de um bimestre
ponsável. cutir, também, o critério linear da para verificar-se o comportamento da
Dois aspectos são fundamen- proporcionalidade para a repartição realização da receita.
tais para o estabelecimento de regras dos montantes a serem contingen- Em nenhum momento a norma
gerais quanto ao contingenciamento ciados, porém entende-se não haver ora examinada menciona a necessi-
de despesas. O primeiro diz respeito outra solução, por ausência de crité- dade de avaliação do desempenho
a quando contingenciar; o segundo, rios objetivos e transparentes que de- das despesas, sejam elas de caráter
ao que deve ser contingenciado. finam prioridades. Seria inviável a obrigatório, ou não. Desse modo, o
No que concerne a quando busca de um consenso entre os Po- contingenciamento de despesas rea-
contingenciar, em princípio, a norma deres e o MPU quanto às prioridades lizado e ainda em vigor no corrente
(art. 9º da LRF) é bastante clara, quan- da Administração Pública Federal, ano teria sido concretizado ao arre-
do se refere ao acompanhamento pelo menos no momento de se reali- pio da lei.
bimestral da realização da receita, zar o contingenciamento. Na vigência do regime demo-
determinando-o no caso de frustra- Nesse contexto, pode-se dizer crático de Direito, o titular do Poder
ção. que o Poder Executivo definirá quan- Executivo tem legitimidade para pro-
Em 2003 o Executivo inovou, do contingenciar. Em relação ao que por as medidas que entender benéfi-
contingenciando pelo acréscimo de contingenciar, recomenda-se deixar cas ao País. Entretanto, no caso em
despesas obrigatórias. Até a presen- que as respectivas unidades orça- tela, dois aspectos merecem regis-
te data, não se tem notícia de mentárias apresentem suas propos- tro: a falta de informações consisten-
questionamento formal, em âmbito tas, dentro dos limites estabelecidos tes quanto à real necessidade de
judicial, quanto a esse procedimen- na lei. acréscimo das referidas despesas e
to. Assim, além das limitações em a ausência de previsão legal para a
termos de teto orçamentário, o Poder 5 DA LIMITAÇÃO DO EMPENHO E medida adotada.
Central poderia, a qualquer momen- DA MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA Sobre a falta de informações,
to, impor aos demais Poderes e ao será apresentada no próximo capítu-
MPU o contingenciamento, restringin- Previsto de maneira taxativa no lo sugestão que pode, no futuro, sa-
do-lhes a execução orçamentária, ou caput do art. 9º da LRF, o contin- nar o problema.
seja, reduzindo-lhes os recursos apro- genciamento das despesas quando E a falta de previsão legal?
vados na Lei Orçamentária Anual. Tal houver frustração de receita é caso Antes de responder a essa questão,
fato demonstra a ausência de um cri- claro de atitude preventiva e neces- deve-se atentar para o fato de ser
tério concreto em relação ao momen- sária. Nesse contexto, é importante absolutamente inviável para o Brasil
to em que se deve realizar o contin- discutir o conceito de “frustração de deixar de cumprir os compromissos
genciamento de despesas, pois o receita” da dívida externa. Infelizmente, nós,
Executivo pode, em tese, alegar a Seja porque periodicamente a como muitos outros países, estamos
necessidade de aumentar despesas carga tributária aumenta, seja porque nas mãos de nossos credores. Em
obrigatórias. são aperfeiçoados os métodos de tempos de economias globalizadas,
Em relação ao que contin- combate à sonegação, seja ainda não pode o País se fechar e deixar
genciar, as LDOs dos últimos três anos porque o País vem tendo um desem- de manter relações comerciais bila-
transitam desde critérios que prevê- penho admirável no aumento de suas terais com o ditos “países do 1º mun-
em apenas o contingenciamento dos exportações, o fato é que a receita do”, as quais têm como pressuposto
montantes relativos aos projetos da União tem crescido, só se vislum- básico o cumprimento das nossas
(obras e investimentos) àqueles que brando possibilidade de queda no obrigações. Por outro lado, outras
permitem também contingenciar ati- caso de significativas crises econô- despesas obrigatórias existem, como
vidades (gastos com manutenção micas, de origem interna ou externa. as de pessoal, que podem, eventual-
das unidades). Assim, a frustração de receita mente, por força de decisões judici-
Em princípio, parece ser reco- só acontece, como ocorreu em 2001 ais, sofrer acréscimos não-previstos.
mendável o contingenciamento de e 2002, se o orçamento aprovado es- A LRF e a LDO especificam quais as
projetos, pois desse modo não esta- tiver artificialmente inflado por recei- despesas de caráter obrigatório e por
riam prejudicadas as atividades nor- tas de difícil realização, como, por isso mesmo prioritárias. Consideran-

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do que a LDO tem origem em uma Norberto Bobbio, no texto do citado no bem do todo, está incluído o bem
proposta do Executivo e é obrigatori- magistrado: 12 O bem comum se dis- de cada uma das partes. Daí que se
amente examinada e aprovada pelo tingue do bem individual e do bem deva preferir o bem comum ao bem
Congresso Nacional, integrado por público. Enquanto o bem público é próprio. E daí também que, quando
representantes do povo legitimamen- um bem de todos por estarem uni- amamos o bem em toda a sua
te eleitos, não há como questionar a dos, o bem comum é dos indivíduos integralidade é quando melhor nos
classificação das despesas quanto à por serem membros de um Estado; amamos a nós mesmos.
prioridade de sua realização, pois tais trata-se de valor comum que os indi- Segundo o eminente ministro,
prioridades devem refletir o interesse víduos podem perseguir somente em a expressão negritada é da lavra de
maior do povo brasileiro, o interesse conjunto, em concórdia. Além disso, São Tomás de Aquino, em Summa
público. com relação ao bem individual, o Theologiae.
Assim, entende-se como cor- bem comum não é um simples No rumo dos respeitáveis au-
reta a decisão adotada pelo Executi- somatório destes bens; não é tam- tores, fica claro que, quando é uma
vo, no início de 2003, ao determinar o pouco a negação deles; ele se colo- comunidade que busca um bem, está-
contingenciamento de despesas dis- ca unicamente como sua própria ver- se diante do denominado “interesse
cricionárias em favor da realização de dade ou síntese harmoniosa, tendo público”, o qual deve ser manifesta-
despesas obrigatórias, em função da como ponto de partida a distinção do e deferido ordinariamente pelo Es-
prevalência do interesse público. entre indivíduo, subordinado à comu- tado. O interesse público é, nos ter-
Contingenciar despesas discri- nidade, e à pessoa, que permanece mos da Constituição Federal, defen-
cionárias significa deixar de realizar o verdadeiro e último fim. Toda ativi- dido não só pelo Estado, como tam-
gastos com projetos ou atividades. dade do Estado quer política, quer bém por cidadãos, ou mesmo por
Que tipo de gastos? São dispêndios econômica, deve ter como objetivo entidades não-estatais (art. 5º, incs.
quase sempre decorrentes de contra- criar uma situação que possibilite aos LXXI e LXXIII, por exemplo).
tos firmados com a iniciativa privada
para a realização de obras e/ou for-
necimento de materiais e serviços, os
quais, se forem contingenciados, im-
plicarão ou o seu adiamento ou a sua
não-realização. A lei é clara e sábia
no sentido de que serão limitados em- Não se pretende retirar do Poder Executivo uma competência
penhos e movimentações financeiras;
em momento algum a lei trata do tema que, de fato, é sua no planejamento global da atividade
“cancelar empenhos”. econômica do País. Contudo, seguindo a trilha dos comandos
5.2 DA PREVALÊNCIA DO
da LRF, o que se espera é a mais absoluta transparência em
INTERESSE PÚBLICO seus procedimentos relativos à elaboração, acompanhamento e
Cabe agora examinar a aplica-
execução do orçamento, juntamente com o devido respeito à
ção do consagrado princípio da autonomia dos Poderes Legislativo e Judiciário e do MPU.
prevalência ou supremacia do interes-
se público ao problema em questão.
O conceito de interesse públi-
co está intimamente ligado ao de
bem comum. Desnecessário discor-
rer sobre interesse, pois se trata de
conceito básico do Direito, do qual cidadãos desenvolverem suas qua- Ao bem comum se opõe o
decorrem diversas categorias jurídi- lidades como pessoas; cabe aos in- bem próprio (individual), da mesma
cas como direito subjetivo e preten- divíduos, singularmente impotentes, forma que, em confronto com o inte-
são. De qualquer modo, vale citar buscar solidariamente em conjunto resse público, está o privado. A dis-
Nagib Slaibi Filho em O interesse este fim comum. ciplina que estuda esses aparentes
como fundamento do Direito11 : A o Com relação à primazia do bem antagonismos é o Direito Administra-
buscar assegurar sua existência e o comum sobre o bem particular, é opor- tivo. Aliás, essa é a opinião da con-
desenvolvimento, o indivíduo volta seu tuno trazer à colação manifestação do sagrada administrativista Maria Sylvia
interesse aos bens que possam su- eminente Ministro Ives Gandra da Sil- Zanella di Pietro em Discriciona-
prir suas necessidades. Bem é, as- va Martins Filho em O princípio ético riedade Administrativa na Constitui-
sim, tudo aquilo que possa suprir uma do bem comum e a concepção jurídi- ção de 198814: Já realçamos esse
necessidade e interesse é a exigên- ca do interesse público13. aspecto em outra oportunidade, quan-
cia que o indivíduo faz de determina- Se, por um lado, o bem comum do afirmávamos que o Direito Admi-
do bem. é a potencialização do bem particu- nistrativo nasceu e desenvolveu-se
Na trilha do respeitável magis- lar, por outro, tem primazia sobre o baseado em duas idéias opostas: de
trado, só se pode compreender o bem particular, pois o bem de muitos um lado, a da proteção aos direitos
conceito de interesse público por é melhor do que o bem de um só. individuais diante do Estado de Di-
meio da idéia de bem comum. A Assim, se cada componente da co- reito; de outro lado, a necessidade de
esse respeito, é bastante esclare- munidade é bom, o conjunto desses satisfação de interesses públicos, que
cedora a citação de Nicola Mateucci componentes é ótimo, uma vez que conduz à outorga de prerrogativas e
no verbete que elaborou para o Dicio- acresce ao bem particular de cada um privilégios para a Administração Pú-
nário de Política, coordenado por a perfeição do conjunto. Isto porque, blica, quer para limitar o exercício dos

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direitos individuais em benefício do te do caso concreto; a sua liberdade, curso Ordinário em Habeas Corpus n.
bem-estar coletivo (poder de polícia), nesse caso, nunca é total na escolha 13.360-PR, do Superior Tribunal de
quer para a prestação de serviços dos meios de ação, pois estará limi- Justiça.
públicos. tada não apenas por normas legais Resta, por fim, examinar se os
Tal conceituação, importante sobre competência, finalidade e for- conceitos apresentados se aplicam à
pela clareza de sua perspectiva his- ma, como também pelos princípios situação-problema que nos ocupa,
tórica, está em parte ultrapassada da razoabilidade, moralidade, motiva- qual seja, o contingenciamento de
nos dias atuais, pela própria evolu- ção: a autoridade competente deve- despesa quando inexiste frustração
ção dos Estados. Por exemplo, já é rá demonstrar, mediante a necessá- da arrecadação. A resposta só pode
aceito, praticamente sem contesta- ria motivação, que a sua escolha aten- ser positiva, pois a questão suscita-
ção, que os Estados democráticos de a este ou àquele interesse públi- da tem sua origem no art. 9º da Lei
devem ser também Estados sociais. co. A discricionariedade que, aparen- de Responsabilidade Fiscal. Todos os
No caso do Brasil, talvez não exista temente, é ampla, pode reduzir-se autores estudiosos de tal legislação
verdade mais cristalina, em face das sensivelmente diante do caso concre- manifestam-se de forma unânime no
enormes desigualdades sociais com to. É o que afirma Dalmo de Abreu sentido de que os objetivos da cita-
as quais somos obrigados a convi- Dallari: “perante uma situação real, da Lei, extraídos do § 1º do seu art.
ver. num contexto específico, tenho mui- 1º, pressupõem ação planejada e
Continuando na boa doutrina to mais possibilidades de concluir a transparente, equilíbrio das contas
de Maria Sylvia Zanella di Pietro15 : respeito do que é o interesse públi- públicas (mediante controle de des-
Com o Estado Social, o interesse pú- co”. E é também o que demonstra pesas e monitoramento da receita),
blico a ser alcançado pelo Direito com muita clareza Celso Antônio Ban- bem como a prevenção dos riscos
Administrativo humaniza-se, na me- deira de Mello; ele parte da idéia de capazes de afetar o cumprimento das
dida em que passa a preocupar-se que, se a lei dá à Administração cer- metas de resultados entre receitas e
não só com os bens materiais que a ta margem de discricionariedade, é despesas.
liberdade de iniciativa almeja, mas precisamente porque quer que ela Se, por um lado, os fatos apon-
com valores considerados essenciais escolha, para cada caso concreto, a tados nos capítulos que trataram do
à existência digna; quer-se liberdade solução mais adequada para atingir contingenciamento de despesas nos
com dignidade, o que exige maior os objetivos fixados pelo legislador; anos de 2001, 2002 e 2003 indicam
intervenção do Estado para diminuir “é a certeza de que os objetivos al- uma tendência ou, pelo menos, uma
as desigualdades sociais e levar a mejados, para serem efetivamente intenção do Poder Executivo de man-
toda coletividade o bem-estar social. atendidos em concreto, dependeriam ter o controle total do processo orça-
O interesse público, considerado sob de um juízo mais acertado das cir- mentário (elaboração e execução), em
o aspecto jurídico, reveste-se de um cunstâncias fáticas, aquilo que leva detrimento da autonomia dos demais
aspecto ideológico e passa a confun- a lei – em nome destes mesmos ob- Poderes e do MPU, não se pode ne-
dir-se com a idéia de bem comum. jetivos – a deferir discricionariedade”. gar o fato de que a LDO vem aperfei-
(...) Então, ocorre que a discriciona- çoando os mecanismos de controle
O princípio do interesse públi- riedade existente, em abstrato, na da gestão pública federal.
co está presente tanto no momento norma legal, não corresponde à mes- Em tempos de economias
da elaboração da lei, como no da sua ma amplitude de discricionariedade globalizadas, nas quais existem em-
execução em concreto pela Adminis- no caso concreto; “perante as cir- presas transnacionais mais podero-
tração Pública. Ele inspira o legisla- cunstâncias fáticas reais esta liberda- sas do que muitos Estados, os capi-
dor e vincula a autoridade adminis- de será sempre muito menor e pode tais fluem de uma economia para ou-
trativa em toda a sua atuação. até desaparecer. Ou seja, pode ocor- tra com muita rapidez. Aos primeiros
Não há dúvida de que a inspi- rer que ante uma situação real, exi- sintomas de instabilidade, é eviden-
rada manifestação da ilustre doutrina- gente de pronúncia administrativa, só te que o Poder Público Federal deve
dora encontra-se perfeitamente um comportamento seja, a toda evi- dispor de mecanismos capazes de
inserida em um contexto moderno e dência, capaz de preencher a finali- prevenir quaisquer situações econo-
atual de um Estado democrático e dade legal”. micamente indesejáveis, na defesa do
social de Direito, no qual se espera Daí a idéia de que o interesse interesse público.
que a Administração Pública tome público, ao invés de implicar, neces- A propósito, merece registro
sempre as medidas adequadas, vol- sariamente, discricionariedade admi- excerto extraído da lavra de Floriano
tadas à consecução do bem comum nistrativa, constitui um dos princípios Peixoto de Azevedo Marques Neto17:
e à redução das desigualdades so- limitadores dessa discricionariedade. Em suma, estamos diante da neces-
ciais. Não só a doutrina reconhece sidade de se preservar o caráter polí-
Nesse contexto, não se pode o princípio da prevalência do interes- tico do Estado. Ou – como defende
deixar de consignar o posicionamento se público sobre o particular, tam- Paul Singer – encetar uma “globa-
dessa autora16: Ainda que a lei não bém a jurisprudência tem sido farta lização politicamente conduzida”, na
use expressamente a expressão in- em posicionamentos, nos mais diver- qual “em determinadas conjunturas
teresse público, sabe-se que, em sos tipos de feitos, cujas decisões tende a prevalecer o interesse da
toda a atividade administrativa, deve vêm lastreadas nesse princípio. So- maioria representada pelo governo
ele ser observado. Quando a ativida- mente a título de exemplo, pode-se democraticamente eleito”.
de é vinculada, o legislador já defi- citar: Agravo de Instrumento n. Situações recentes, como a cri-
niu, na norma jurídica, os meios de 2001.02.01.004669-0/ES, do Tribunal se da Argentina, o atentado de 11 de
ação aptos ao atendimento adequa- Regional Federal da 2ª Região; Agra- setembro, a crise dos “tigres asiáti-
do daquele objetivo. Porém, quando vo Regimental em AI n. cos”, a crise nas economias japone-
o legislador não faz essa opção, cabe 2003.04.01.003197-3/SC, do Tribunal sa e russa, além de problemas locali-
à Administração Pública fazê-lo dian- Regional Federal da 4ª Região, e Re- zados, como a falência fraudulenta de

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algumas grandes empresas america- bal da atividade econômica do País. res que forem acrescidos ao projeto
nas, são exemplos claros da impor- Contudo, seguindo a trilha dos co- inicial durante a tramitação da propos-
tância da existência de instrumentos mandos da LRF, o que se espera é a ta orçamentária no Congresso Nacio-
que permitam resposta ágil e rápida mais absoluta transparência em seus nal.
às ameaças à nossa economia. procedimentos relativos à elaboração, d) criar relatórios demonstrati-
Acredita-se, com tais conside- acompanhamento e execução do or- vos detalhados para as despesas
rações, ter-se demonstrado não só a çamento, juntamente com o devido obrigatórias. Referidas despesas são
legitimidade, como também a obriga- respeito à autonomia dos Poderes aquelas cujo incremento, por motivos
toriedade do procedimento adotado Legislativo e Judiciário e do MPU. relevantes, implicam o contingen-
no exercício de 2003 (caso concreto), Assim, as sugestões apresen- ciamento de outras (discricionárias),
quando foi determinado o contingen- tadas a seguir obedecem à filosofia mesmo não havendo frustração de
ciamento de despesas discricionárias da gestão fiscal responsável ao tra- receita. Com essa sugestão, espera-
em benefício da realização de des- tar o problema orçamentário tecnica- se maior conhecimento das causas
pesas obrigatórias, em situação de mente e respeitar, por outro lado, a que justifiquem o eventual contingen-
inexistência de frustração de arreca- autonomia de cada Poder: ciamento adotado.
dação. Sugere-se, entretanto, a a) criar códigos identificadores Tais sugestões, complementa-
implementação das medidas apre- das receitas auferidas pela União. Tal res aos procedimentos da LDO em
sentadas no capítulo seguinte, volta- procedimento visa eliminar as rubri- vigor, concorrerão para o aperfeiçoa-
das para a maior transparência dos cas do tipo “outras receitas”, “recei- mento da atividade de planejamento,
procedimentos que vierem a ser tas administradas”, de modo que possibilitando o fácil acompanhamen-
adotados em quaisquer situações que qualquer profissional da área de or- to da receita e maior clareza dos de-
demandem o contingenciamento de çamento e fiscalização financeira monstrativos já elaborados em obe-
despesas, como também que o Con- tenha condições de avaliar, da mes- diência à Constituição, à LRF e à LDO,
gresso Nacional exerça, em sua ple- ma maneira que os técnicos do Exe- o que contribui para maior transpa-
nitude, a tarefa de fiscalização que cutivo, o desempenho da receita cor- rência do Executivo e, por que não
lhe é cometida pela LRF. rente líquida, afastando-se com isso dizer, para sua credibilidade.
eventual tentativa de omissão de re-
6 PROPOSTA DE REGRAS GERAIS ceitas no orçamento; 7 CONCLUSÃO
PARA O CONTINGENCIAMENTO b) criar códigos identificadores
das prioridades para execução. Tais A LRF prevê, no art. 9º, a ne-
Conforme já demonstrado, é le- códigos, aplicáveis aos projetos e cessidade de contingenciamento de
gal o contingenciamento de despesas, atividades, permitirão o conhecimen- despesa quando houver frustração na
seja por frustração de receita, seja por to dos gastos prioritários no momen- arrecadação.
incremento das despesas obrigatórias to da aprovação da LOA. Evidente- No exercício de 2003, ampara-
(serviço da dívida externa). mente que tal papel cabe ao Congres- do na LRF, o Poder Executivo deter-
Já se mencionou por várias ve- so Nacional, embora as proposições minou o contingenciamento de des-
zes neste trabalho que a LRF é um iniciais venham das unidades orça- pesas discricionárias no âmbito dos
instrumento importantíssimo no pla- mentárias específicas e do Poder três Poderes e do Ministério Público
nejamento da gestão fiscal responsá- Executivo. Esse procedimento condiz da União, sob a alegação de que a
vel. Não há dúvida de que o País vem com a atividade de planejamento e, necessidade conjuntural exigia o au-
mudando para melhor nessa seara, além de evitar o comportamento da mento do superávit primário, situação
embora ainda se note uma tendência realização de cortes lineares, em vi- não prevista na LRF, nem em seus ins-
do Poder Executivo de impor suas gor, permite aos demais Poderes se- trumentos correlatos (LDO e LOA). As-
prioridades aos demais Poderes e ao guir uma linha de planejamento de co- sim, discutiu-se neste trabalho a le-
MPU. Com efeito, há um momento nhecimento geral. Toda a sociedade gitimidade de tal procedimento, tra-
apropriado para tudo. Para discutir se ficará sabendo o que é de fato impor- zendo à baila, também, a constante
um projeto ou obra deve ou não ser tante para cada órgão público que tentativa do Poder Executivo de con-
implementado, o foro adequado é o recebe recursos do Tesouro Nacional; trolar rigidamente os orçamentos dos
Congresso Nacional. Caso aprovado, c) priorizar a execução das demais Poderes e do MPU.
é porque é relevante, prioritário. Tal despesas incluídas no projeto da Tratando-se de situação nova,
raciocínio vale para todos os tipos de LOA. Cabendo ao Executivo fixar os decorrente da sanção da Lei Comple-
gastos autorizados pelo Legislativo. montantes a serem contingenciados, mentar n. 101/2000 – LRF, conside-
Depois dessa fase, não cabe mais é evidente que as despesas incluí- rou-se necessário apresentar um his-
discutir se uma obra ou atividade de das no projeto da LOA devem ter pri- tórico do processo orçamentário bra-
duração continuada deve ou não re- oridade sobre quaisquer outras, sen- sileiro, indicando sua evolução até os
ceber dotações orçamentárias. O Po- do as últimas a serem contingen- dias atuais e os principais desvios
der Legislativo deve exercer a sobe- ciadas. Afinal, é a Secretaria de Or- que estão sendo combatidos e sana-
rania que dele se espera e não se çamento Federal, do Ministério de Pla- dos na vigência da mencionada Lei,
comportar como um mero “ratificador” nejamento, Orçamento e Gestão que embora ainda persista uma tentativa
do Executivo, sob pena de conviver- tem a responsabilidade de consolidar de, durante a tramitação do projeto
mos por muito tempo com as maze- e preparar o encaminhamento da pro- da LOA, inflar artificialmente a esti-
las decorrentes de tal postura, já re- posta orçamentária ao Congresso mativa de receita.
latadas neste trabalho, direta ou indi- Nacional. Assim, é de se esperar se- Por se tratar de matéria ainda
retamente. jam essas as principais prioridades em fase de consolidação no âmbito
Não se pretende retirar do Po- do País. Se adotada tal proposta, o da Administração Pública Federal,
der Executivo uma competência que, Executivo obrigatoriamente contin- considerou-se indispensável demons-
de fato, é sua no planejamento glo- genciará, em primeiro lugar, os valo- trar as situações que ocorreram nos

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contingenciamentos de despesas de 7 NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Lei
2001, 2002 e 2003. O do último ano, Complementar n. 101/2000: entendendo
conforme já relatado, foi efetivado sem a LRF. Brasília: ESAF, 2002.
8 FIGUEIREDO, op. cit., p. 63.
que houvesse frustração de receita,
9 Nota Técnica Conjunta n. 7/2001, Consul-
o que ensejou a discussão objeto torias de Orçamento e Fiscalização
deste trabalho. Financeira – CD e Orçamento, Fiscalização
A problemática de como con- e Controle – SF, de 3/4/2001, p. 6.
trolar os gastos na Administração 10 TOLEDO JUNIOR, Flávio C. Da lei de
Pública Federal durante a execução responsabilidade fiscal: comentada artigo
orçamentária na situação não-previs- por artigo. 2. ed. São Paulo: NDJ, 2002. p.
80.
ta no art. 9º da LRF, ou seja, quando 11 SLAIBI FILHO, Nagib. O interesse como
não houver frustração de receitas, mas fundamento do Direito. Rio de Janeiro:
sim necessidade de acréscimo das Forense, 1991. p. 1-2.
despesas obrigatórias (fato ocorrido 12 Idem, p. 7.
em 2003), constituiu-se no ponto cen- 13 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. O
tral da discussão. Em estudo las- princípio ético do bem comum e a
treado na prevalência do interesse concepção jurídica do interesse público.
Revista do Tribunal Superior do Trabalho,
público, concluiu-se não só pela pos- Brasília: Síntese, n. 2, p. 38, abr./jun. 2000.
sibilidade da implementação de me- 14 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricio-
didas de contingenciamento de des- nariedade administrativa na Constituição de
pesas discricionárias em benefício da 1988. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 7.
realização de despesas obrigatórias, 15 DI PIETRO, op. cit., p. 8.
mas também pela obrigação que tem 16 Idem, p. 230 e 231.
17 MARQUES NETO, Floriano Peixoto de
a Administração Pública Federal de
Azevedo. Regulação estatal e interesses
assim proceder na defesa do interes- públicos. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 170.
se maior da coletividade.
Tendo sido identificada a inten-
ção do Poder Executivo de subme- BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ter, em questões orçamentárias, os
Poderes Legislativo e Judiciário e o
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários
Ministério Público da União, principal- à Lei Complementar Fiscal. São Paulo: Saraiva,
mente em razão da omissão de infor- 2001.
mações, apresentou-se, no capítulo NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Entendendo
anterior, uma lista de sugestões que a Lei de Responsabilidade Fiscal. 2. ed. Brasília:
visam dar maior transparência aos ESAF, 2002.
atos do Poder Central que cuidarem
do contingenciamento de despesas. Artigo recebido em 26/4/2004.
Em suma, reconhece-se como
legítimo, e mais do que isso, como ABSTRACT
obrigatório, o ato do Poder Executivo
que determina o contingenciamento
de despesas, seja por frustração de The author refers to the issue of the Union
government expenditures control before the
receitas, seja por necessidade de
resolutions of the Fiscal Responsibility Law,
acréscimo de despesas obrigatórias analyzing it together with the Annual Budgetary
(definidas na LDO), sempre na defe- Laws and the Budget Guidelines. Furthermore,
sa do interesse público, que deve he mentions the problems resulting from the
sempre nortear os atos da Adminis- frustration in the collection performance (revenue
tração Pública. Espera-se, entretan- decrease) and from the expenditure increase.
to, que tais atitudes tenham a clare- He demonstrates the importance of the
tools created by the Fiscal Responsibility Law
za e a transparência necessárias ao and identifies the nearly absolute power of the
conhecimento da real situação do Executive in relation to the Judiciary, Legislative,
País. and the Department of Public Prosecution
concerning the budgetary issue. The author
shows a way for managing government
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
expenditures not only with responsibility, but also
with respect for the autonomy of the Powers.

1 BRASIL, Constituição (1988). Brasília: KEYWORDS – P ublic Revenue;


Senado Federal, 2001. Complementary Law n. 101/2000; article 9th;
2 MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Estado contingency; planning; control; responsibility;
do futuro. São Paulo: Pioneira, 1988. p. fiscal management; Union Public Budget;
23. Administrative Law.
3 FIGUEIREDO, Carlos Maurício. Comen-
tário à lei de responsabilidade fiscal. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
p.15-16.
4 FIGUEIREDO, op. cit., p. 18. Rubens Luiz Murga da Silva é Diretor-
5 Idem, p. 20. Geral do Tribunal Regional Federal da
6 Idem, p. 22. 1ª Região.

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