Você está na página 1de 5

QUESTÃO 1 – A ADI 6357, relatada pelo Ministro Alexandre de Moraes, foi uma ação movida

perante o Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de conferir interpretação conforme à
Constituição a alguns dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e da Lei de Diretrizes
Orçamentárias de 2020 (LDO/2020). Esses dispositivos exigiam a demonstração de adequação
e compensação orçamentárias para a criação ou expansão de programas públicos durante a
emergência em Saúde Pública e o estado de calamidade pública decorrentes da COVID-19.

O STF concedeu uma liminar ad referendum, ou seja, uma decisão provisória sujeita a
confirmação posterior pelo plenário, que afastou temporariamente a exigência de adequação e
compensação orçamentárias. Essa medida teve como objetivo permitir que os programas
públicos voltados para o enfrentamento da crise sanitária e econômica causada pela COVID-19
pudessem ser implementados sem as restrições fiscais impostas pelos dispositivos
questionados.

No entanto, durante o trâmite da ação, foi promulgada a Emenda Constitucional do


Orçamento de Guerra, que incluiu no seu artigo 3º exatamente a mesma interpretação contida
no mérito da ADI. Com isso, o STF referendou a liminar, estendendo sua aplicação aos Estados
e Municípios e, em razão dessa superveniência, a ação foi extinta por perda do objeto, ou seja,
não havia mais necessidade de decidir sobre o mérito da questão.

A motivação dos dispositivos afastados durante a calamidade, tanto pelo STF quanto
pela Emenda Constitucional do Orçamento de Guerra, está relacionada aos princípios do
Direito Financeiro, principalmente os mandamentos de responsabilidade fiscal. Esses
dispositivos normalmente exigem a demonstração de que os programas públicos sejam
compatíveis com a situação financeira do Estado, garantindo o equilíbrio das contas públicas a
médio e longo prazo.

No contexto da emergência em Saúde Pública e do estado de calamidade pública


decorrentes da COVID-19, o afastamento dessas exigências teve como objetivo permitir uma
resposta rápida e efetiva por parte do poder público no combate à crise, sem as amarras
orçamentárias que poderiam retardar ou impedir a implementação de medidas necessárias.

Quanto à pertinência do "relaxamento" das regras fiscais, é uma questão que pode ser
objeto de debate. Por um lado, o relaxamento temporário dessas exigências possibilitou uma
maior flexibilidade na utilização dos recursos públicos para o enfrentamento da crise,
permitindo a implementação ágil de programas e ações necessárias para garantir a saúde e o
bem-estar da população.

Por outro lado, é importante ressaltar que a responsabilidade fiscal é um princípio


fundamental para a sustentabilidade das finanças públicas. O relaxamento dessas regras deve
ser temporário e excepcional, aplicado apenas durante períodos de crise, como a pandemia da
COVID-19, e acompanhado de mecanismos de controle e transparência para evitar abusos e
desequilíbrios financeiros.

Portanto, a pertinência do relaxamento das regras fiscais durante a calamidade está


relacionada à necessidade de resposta rápida e efetiva do poder público, mas é importante
garantir que os princípios de responsabilidade fiscal sejam preservados, buscando um
equilíbrio entre as demandas emergenciais e a sustentabilidade das finanças públicas a longo
prazo.

QUESTÃO 2 – A fim de analisar a corretude da legislação mencionada, é necessário examinar


os princípios constitucionais aplicáveis à espécie. No contexto de legislação orçamentária,
alguns princípios são especialmente relevantes:

. Princípio da Legalidade: O princípio da legalidade estabelece que a atuação do Estado deve


estar respaldada por lei. Assim, a lei orçamentária federal é o instrumento adequado para
determinar os investimentos e os incentivos fiscais. Portanto, a legislação orçamentária federal
é necessária para autorizar a realização de investimentos não elencados na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) ou na Lei do Plano Plurianual (PPA).

Princípio da Igualdade: O princípio da igualdade assegura que todos os cidadãos devem ser
tratados de forma igual perante a lei, sem discriminação arbitrária. No caso mencionado, se a
legislação estabelece que os incentivos fiscais são concedidos apenas para empresas instaladas
na região de São Paulo, isso pode violar o princípio da igualdade, a menos que haja uma
justificativa razoável e objetiva para essa diferenciação, como, por exemplo, promover o
desenvolvimento de uma região específica.

Princípio da Publicidade e Transparência: A Constituição estabelece o princípio da publicidade


e transparência nos assuntos públicos, o que implica a divulgação clara e acessível das
informações relacionadas aos gastos públicos. Assim, a legislação orçamentária deve ser
transparente, permitindo que os cidadãos compreendam as alocações de recursos e os
critérios utilizados na concessão de incentivos fiscais.

Princípio da Eficiência: O princípio da eficiência estabelece que a administração pública deve


atuar de forma eficiente, buscando alcançar os melhores resultados com os recursos
disponíveis. Nesse sentido, a legislação orçamentária deve ser pautada pela eficiência na
alocação dos recursos públicos, considerando critérios técnicos e objetivos para determinar os
investimentos e os incentivos fiscais.

Considerando esses princípios constitucionais, a legislação mencionada levanta


algumas questões: A autorização de investimentos não elencados na LDO ou no PPA pode ser
questionada em relação ao princípio da legalidade, pois esses instrumentos são estabelecidos
para orientar e planejar as ações do governo, sendo importante que os investimentos estejam
em consonância com essas diretrizes. A concessão de incentivos fiscais exclusivamente para
empresas instaladas na região de São Paulo pode suscitar questionamentos em relação ao
princípio da igualdade, a menos que exista uma justificativa objetiva para essa diferenciação,
como uma política de desenvolvimento regional específica.

Em suma, a corretude da legislação em referência dependerá da análise desses


princípios constitucionais e da coerência da norma com esses preceitos. É fundamental que a
legislação orçamentária seja elaborada de forma transparente, objetiva, respeitando a
igualdade entre os cidadãos e buscando a eficiência na alocação dos recursos públicos.

QUESTÃO 3 – a) Em casos em que a Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício seguinte não
tenha sido aprovada até o início do novo exercício financeiro, o chefe do Poder Executivo pode
executar despesas necessárias para o regular funcionamento da Administração por meio de
duodécimos. Essa medida é baseada no princípio da continuidade do serviço público,
garantindo que as despesas essenciais sejam realizadas até que a LOA seja efetivamente
aprovada. O duodécimo consiste na divisão do orçamento do exercício anterior em parcelas
mensais, sendo utilizado como base de gastos até que a nova LOA seja aprovada. Dessa forma,
o chefe do executivo poderá utilizar os recursos disponíveis para a manutenção das atividades
essenciais da Administração durante o período de espera pela aprovação da nova LOA.
b) A utilização de medida provisória para regulamentar a LOA é possível, mas existem
limitações quanto a essa opção. A medida provisória é um instrumento com força de lei,
utilizado pelo chefe do Poder Executivo em casos de relevância e urgência. No entanto, a
Constituição Federal estabelece que a medida provisória não pode tratar de matérias
orçamentárias.

Quanto à delegação da LOA, o chefe do executivo não pode delegar a elaboração da lei
orçamentária. A competência para elaborar e aprovar a LOA é do Poder Legislativo, não
podendo ser transferida para o Poder Executivo. Em resumo, diante da morosidade do
processo legislativo na aprovação da LOA, o chefe do Poder Executivo pode executar despesas
necessárias por meio do duodécimo, garantindo o funcionamento regular da Administração.
No entanto, a utilização de medida provisória para tratar de matérias orçamentárias não é
possível, e a delegação da elaboração da LOA também não é permitida.
REFERÊNCIAS:

Você também pode gostar