Observando o Princípio da Legalidade na Elaboração do Decreto
Regulamentador da Lei Complementar 187/2021
Sem pretender atacar novamente a Lei Complementar, não podemos deixar de
destacar que, nem mesmo essa Lei poderia realizar aquilo que a Constituição Federal de 1988 não realizou. Ou seja, o legislador ordinário, constituinte, pretendendo e conhecendo da incapacidade do Estado em atender à população com serviços essenciais de educação, saúde e assistência social, em toda a extensão territorial do país, vetou à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios de instituírem tributos sob as atividades sem fins de lucro ou econômicas. Assim, o legislador constituinte trouxe as imunidades dos impostos e as contribuições sociais na Constituição Federal de 1988, e não as isenções. Não obstante, cumpre-nos destacar que as imunidades constitucionais não poderiam sofrer quaisquer alterações, nem mesmo pelo poder legislador derivado, pois estamos tratando de direitos fundamentais da população. Nesse sentido, o legislador constituinte garantiu às instituições sem fins econômicos, as imunidades tributárias, uma verdadeira vedação ao poder de tributar direta ou indiretamente a essas instituições que vem em auxílio ao Estado para garantir os direitos fundamentais da educação, da saúde e assistência social. No sentido posto, as imunidades não poderiam sofrer qualquer tipo de exigência de contrapartidas econômicas, pois é vetado aos poderes: executivo na forma direta e ao legislativo na forma indireta de instituírem tributos sobre as atividades sem fins econômicos. A Lei Complementar 187/2021, eivada por inconstitucionalidade, trouxe em seu texto vinte seis vezes a expressão “regulamento”, acompanhada de outras como: determinado no...; nos termos do...; estabelecido nos ... entre outros. Assim, uma vez que estamos tratando de regulação de uma lei, que em nosso entender é inconstitucional, não podemos agora deixar de tratar de outro princípio, qual seja, o da legalidade, um dos fundamentos do Estado de Direito que tem sua aplicação no âmbito do Direito Administrativo. Parece até um paradoxo tratarmos em um texto de regulação de uma lei viciada de inconstitucionalidade, pois deveríamos estar tratando de uma Ação de Inconstitucionalidade – ADI. Contudo, devemos esperar por aqueles que têm legitimidade para dispor de tal ação. Enquanto isso não acontece, e estando diante de um manicômio jurídico, não podemos deixar, neste momento, de dispor dos atos da Administração Pública, que devem ser realizados com respaldo em lei. Ou seja, os atos da administração pública não podem acrescentar ou restringir direitos e, portanto, devem observar para explicar o que a lei autoriza expressamente. Dessa forma, qualquer ação governamental que não esteja prevista em norma legal é considerada ilegal, portanto, passível de anulação ou invalidação. Diante desse contexto, o Direito Administrativo brasileiro traz o culto ao princípio da legalidade dos atos celebrados pela Administração Pública, sejam eles normativos, como decretos, ou mesmo portarias, instruções normativas, entre outros. Assim, é necessário que o decreto regulamentador traga à baila e explique aos Ministérios, em especial, o da Educação, que a lei complementar não restringiu ou distinguiu instituições de educação, podendo estas serem regular, autorizadas com cursos regulares, ou cursos livres de línguas que cumpram com a Constituição Federal e critérios da lei complementar. Diante do exemplo, passemos às conclusões: 1 – que o decreto regulador deve deixar claro que a lei complementar não realizou qualquer distinção entre escolas, seja de ensino autorizado, seja de cursos livres que cumpram com os ditames da Constituição e da Lei Complementar. 2 - com referência ao decreto, é necessário também que a regulamentação traga, de forma clara e explícita, que os protocolos de renovação do CEBAS, realizados de forma tempestiva, obrigue aos Ministérios expedirem certidão de validade do CEBAS até a decisão final ou transitada do pedido de renovação. 3 – que a regulamentação traga também, de forma clara e explícita, que os protocolos de recurso, no caso de indeferimento, realizados de forma tempestiva, obrigue aos Ministérios a expedirem certidão de validade de CEBAS até a decisão final ou transitada do pedido de renovação, promovendo o efeito suspensivo aos recursos, preservando o princípio da eficiência do poder público. 4 - que a regulamentação obrigue aos Ministérios a publicarem anualmente relatório de deferimentos e indeferimentos do período, com o fim de que as instituições tenham conhecimento do período cronológico que será avaliado no ano seguinte, visando garantir transparência das informações processuais ou procedimentais do pedido de renovação. Por: Dr. Ricardo Furtado – Consultor Jurídico da Confenen – Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - 29/07/2023
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