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O SEQUESTRO ORÇAMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Tal caráter autorizativo decorre da própria natureza do mesmo o qual, ao invés de ser
uma norma impositiva, é um prognóstico do futuro, sujeito à falibilidade, dotado, assim, de
flexibilidade, sendo, basicamente, o limitador, não o alvo, da atuação dos entes públicos.
Portanto, quanto ao princípio da legalidade, corolário do Estado Democrático de Direito, o
orçamento tem apenas a forma de lei, sendo a sua natureza de ato administrativo, a saber, de
efeitos concretos – voltados a um sujeito (administração pública) num espaço de tempo
(exercício financeiro) determinado.
A medida, no entanto, foi verificando-se ao longo dos anos como complicada pois é
quase impossível que haja um ano em que o orçamento é integralmente executado. Diante
disso, instituiu-se o impedimento de ordem técnica, segundo o qual a impossibilidade de
cumprimento da emenda impositiva permitia a sua substituição.
O ORÇAMENTO SECRETO
Ademais, o atual presidente Jair Bolsonaro alega não distribuir cargos para ganhar
favores do Congresso, porém há quem aponte que essa ampliação sem precedentes das
emendas de relator em seu governo, transferindo o controle de bilhões de reais para
parlamentares seria a moeda de troca de seu governo. A diferença é a total falta de
transparência, em lesão a toda a sociedade brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O orçamento, portanto, tem caráter autorizativo, e por sua natureza material de ato
administrativo, é de iniciativa do poder executivo. O legislativo, porém, no exercício dos
freios e contrapesos, analisará tal orçamento, podendo apresentar emendas. Tais emendas
podem ser individuais ou de bancada (as quais são impositivas) ou podem ser de relator, as
quais são chamadas de orçamento secreto por ser difícil de identificar quem está por trás das
propostas e como de fato se dão, à medida que são feitas por transferência direta.
Portanto, apesar de haver a posição de que, antes, o executivo tinha maior
discricionariedade, antes também os parlamentares viam-se obrigados a adquirir cargos ou
ficar à mercê do outro poder para conseguir os recursos que necessitam para o exercício de
suas funções. Nesse sentido, viu-se que, a partir das emendas do relator, as fraudes poderiam
ser mais sutis, pela falta de transparência. Decerto, se as emendas do relator tiverem critério
igual dos individuais, será o fim do que resta de discricionariedade ao executivo. Contudo, o
modo como vem-se dando o orçamento secreto, não tem tido qualquer razão de ser
republicana e democrática, sendo, ao contrário, prejudicial à higidez das contas públicas e da
democracia.
Pelo seu volume e danos, provavelmente irreversíveis, à sociedade brasileira através
da alocação de recursos totalmente política, ou melhor, apolítica nas emendas de relator, mais
do que uma captação, o orçamento secreto é um sequestro de recursos orçamentários. Caso
não haja uma efetiva mudança desse sistema, o “resgate” pode ser alto demais.
REFERÊNCIAS
ABRAHAM, Marcus. Curso de Direito Financeiro Brasileiro. Barueri: Grupo GEN, 2020.
E-book. ISBN 9788530990596. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530990596/. Acesso em: 04 dez. 2022.
BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1997.
PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro. Barueri: Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN
9786559772995. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559772995/. Acesso em: 04 dez. 2022.