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A d il s o n A breu D allari
Professor Titular na PUC-SP.
Resumo : A lei orçamentária anual decorre de um A bsitíact: The annual budget bíll derives from s
(Hpcesso de planejamento, que tem por objetivo planning process, which has as objectives defining
definir prioridades governamentais e políticas pú priorities and public policies, reason why the
blicas, motivo pelo qual as dotações orçamentá budget altocation has its authoritative nature, being
rias são de caráter impositivo. sendo obrigatória a mandatory the project's and programs execution
©SCCUÇâo dos projetos e programas em função dos according the budget allocation. Those allocations
quais foram definidas as dotações, as quais não aren't sim ply cxpenditute commitments, having
tnais são simples autorizações de despesas, mas binding characteristics, w hich the noncom pliance
[iõHSuem caráter vinculante, cujo descumprimento could rise judicial responsibility over de public
pode ensejar a responsabilidade do agente público. agent.
P alavhas- chave : Orçamento im positivo - Orça- K eywords: Authoritative budget - Legally binding
áiento vinculante - Execução do orçam ento - Pla budget - Budget execution - Budget planning -
nejamento orçamentário - Orçamenta e políticas Budget and public policies.
..públicas,
1. O r i g e m E EVOLUÇÃO
Desde sua origem até os dias de hoje, o orçamento público sofreu uma série cie
inovações técnicas, aproximando-se cada vez mais de um processo de planejamen
to, chegando agora ao que se chama de orçamento-programa, que é a tradução etn j
dotações ou verbas orçamentárias de um programa anual de governo. 1
José Afonso da Silva, dando um passo adiante, em sua notável monografia apon
ta com o função básica do orçamento a coordenação dos m eios (receitas e despesas)
com os fins das finanças públicas, sempre vinculadas à satisfação das necessidades
da comunidade e, em seguida, evidencia a distinção entre o orçamento tradicional
e o atual orçamento por programas, ou orçamento-programa, que é um instru
mento do planejamento das atm dades governamentais, dizendo; “N a verdade, o
orçamento-programa não é apenas uma peça financeira, é, antes de tudo, um ins
trumento de execução de planos e projetos de realização de obras e serviços, visan
do ao desenvoh im ento da comunidade” .-
1. L'mn iiitríiíJiição it cíõiciti das fh n in ia s . 10. ecl. Rio de Janeiro; Foren.se, 1Ú6Ó. p. 396.
2. O ommietiio-pmgramti no B n is il. São Paulo: Ed. RT, 1972. p. 40-41.
3. Idem, p. 104 e ss.
O R Ç .A M E N T O IM PO SITIV O 31 1
Para sc chegar a essa concepção, um longo caminho foi percorrido. O antigo Có-
Contabilidade da União (Dec. Leg. 4.536/1922) ao disciplinar o orçamento
disia estimava a receita e autorizava a despesa, dentro dos limites de
jida dotação. Ou seja, em síntese, tendo obtido na lei orçamentária uma auioriza-
'■ para gastar até detenninado montante em uma definida área (.saúde, educação,
Li^nsporte etc.) caberia ao Executivo, erapiricamente. ao longo do exercício finan
ceiro, decidir com o e onde efetuar as despesas correspondentes.
Ma vigência das Cartas Constitucionais de 1967 e 1969, o projeto da lei orça-
nientária anual era elaborado pelo chefe do Poder Executivo e enviado ao Legis
lativo para exame. Entretanto, a própria carta constitucional já estabelecia que o
Legislativo não poderia fazer qualquer alteração, devendo aprová-lo até o fim do
ano. Se o Legislativo náo o aprovasse expressamente, ele estaria automaticamente
aprovado, por decurso de prazo. Na verdade, o Legislativo não tinha qualquer par
ticipação. O chefe do Executivo decidia livrem ente sobre prioridades a ações go
vernamentais, abrindo ensejo para a mais deslavada corrupção, especialmente no
campo das obras públicas, pois a aplicação dos recursos públicos era cUtada pelos
interesses pessoais, econôm icos ou políücos do chefe do Executivo.
A Constituição Federal promulgada em 1988 democratizou o processo legislati
vo do orçamento, conferindo posição sobranceira ao Poder Legislativo. Atualm en
te, quem estabelece as prioridades que vão condicionar a elaboração do projeto da
lei orçamentária anual é o Poder Legislativo, por m eio de uma lei de diretrizes or
çamentárias. A iniciativa dessa lei é do Executivo, que deve observar as indicações
contidas no plano plurianual, mas ela deve ser votada pelo Legislativo aiê o fim do
primeiro semestre do ano, para que o Executivo possa, com base nela e coin obser
vância de suas prioridades, preparar e apresentar, no segundo semestre, o projeto
da lei orçamentária para o exercício seguinte.
Conforme se verá dc maneira mais detaUiada logo adiante, no exame do projeto
da lei de diretrizes orçamentárias o Legislativo tem ampla liberdade de emendar,
inclusive m odificando as prioridades indicadas pelo Executivo, além de estabelecer
condicionamentos para os orçamentos do Legislativo e do Judiciário.
Tudo isso, toda essa articulação, todo o detalhamento desse conjunto dc medi-
a disciplina completa desse sistema de planejamento e orçamento, incluindo o
processo legislativo de cada docum ento legal e, m uito especialmente, a disciplina
da execução orçamentária deveriam estar disciplinados por uma lei complem entar
Pre\4sta no art. 163 e por leis especificas previstas no art. 165 da CE
Lameniavelmcnte, porém , na prática, o orçam ento não é tratado com a devida
^Portância. Os preceitos constitucionais não são rigorosamente obedecidos e a
legislação, adequada ao novo tratamento constitucional, não foi editada. As-
sendo, a elaboração do orçamento anual e sua execução, precipuamentc quanto
aspectos contábeis, continua sendo regida pela Lei 4.320, de 17.03.1964, que.
'Piamente, não se ajusta plenamente à Constituição Federal em vigor e nunca foi
'^§orosamente observada.
j 12 I o r ç a m e n t o s p ú b l ic o s e d ir e it o f in a n c e ir o
Conform e foi dito acima, o art. 165 da CF determina que leis de iniciativa do
Poder Executivo, cm todas as esferas dc governo, estabeleçam o plano plurianual
de investim entos (norm alm ente designado com o P P A ) , a lei de diretrizes orçam en
tárias (conhecida com o E D O ) e os orçamentos anuais, que são três: o orçamento
fiscal; 0 orçamento dc investimentos das empresas estatais; e o orçamento da segu
ridade social.
Todos esses orçamentos são sistematicamente articulados, para assegurar uma
ação estatal planejada, podendo-se afirmar, com segurança, que os orçamentos são
instrumentos de planejamento nos quais os valores das dotações estão umbilical-
niente ligados a ações a serem empreendidas.
Assim é que, nos termos do § 1.° do art. 165, o plano plurianual estabelecerá
“diretrizes, objetivos e metas” da administração pública, no tocante a despesas de
capital e a programas dc duração continuada, dando m aior concreção a essa ideia
de atuação governamental baseada no planejamento, a m édio e a curto prazo, coin
únia projeção, no m ínim o, para os próxim os três anos.
O que SC pretende é, cm síntese, vincular recursos para projetos a serem exe
cutados em prazo superior ao do exercício financeiro anual e para programas de
4. S.VNOirs. O sw alclit M a ld o n a ilo . D irin iu iriti d c orçam ciifu . p lan cicim n ilo c ã m is a fin s . B ra sília ;
1 — 1<•I» I
314 O R Ç A M E N T O S Pt.iBLICOS E D IR E ITO n N A N C U IR O
3. 0 O R Ç A M EN T O -P R O G R A M A
5. C.ONTi, J o sc M iu u ic io . ,4 n iiia iio iM iii/ in a iicrira tln Poí/ei jiiílic id r ío . São P a u lo : M P E d iion i.
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N o va A d m in is t r a ç ã o P ública
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318 [ orcam hntos Pünucos e d ir e it o f in a n c e ir o
8. F err,\z , Séfgkv. D.Ai.iAtti, Adilson Ahrcii. Piocc.sso üdiníni.slnilivii. São Paulo: .Malheiros.
2000. n. 77-78.
r .
O R Ç A M E N T O IM PO SITIV O
6. O rç a m e n to participativo
menor. Nas pequenas comunas, onde os conflitos políticos são maiores, pode havg
a manipulação, seja na discussão, seja na decisão, para que a real vontade do po
não chegue ao governante. É o caso de líderes associativos que recebam propij^J
ou dc cabos eleitorais tendenciosos que com ponham uma maioria fictícia e deem,j_
ordens, É, pois, im perioso, que se identifique uma forma de erilar a manipulaça^
da voniade popular.
7. P rocesso legislativo do o r ç a m e n t o
Enquanto, conform e foi dito, a form a de participação popular não tem disci-
ilina uniform e, ao contrário, o processo legislativo do orçam ento tem raízes no
Tóprio texto da Constituição Federal (art. 166 e seguintes).
Com pete ao chefe do Poder Executivo (nos termos do art. 84, X X llI, da CF)
ncaminhar ao Poder Legislativo o p rojeto da lei orçamentária para o exercício
iguinte. Após haver enviado o projeto, ainda pode o Executivo em endá-lo, mas
2. OuvLiiíA. Rcgis Fernandes de. Cur.so de dl rei (t* /iiuineeim, 3. cd. São Paulo: Ed. RT, 2010. p-
393.
O R Ç A M E jN T O IM PO SITIV O | 323
*5. Torres, R itaulo l.obo. O orccmiviilu tui Cdii.ílitiiicãe. Rio dc Janeiro: Renovar, 1995. p.
326 O R Ç A M E N T O S PLIBLICOS E D IR E ITO F IN A N C E IR O
“ Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada
impla divulgação, inclusive em m eios eletrônicos de acesso público; os plainos, or-
;aniemos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo
larecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relaiiório de
Tesião Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.