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Origem1
Maior parte de autores considera que as primeiras aproximações do Orçamento Público ou
Orçamento do Estado surgiram na Inglaterra. Consta que já no século XIII, em consequência da
luta contra o poder absoluto da monarquia, os senhores feudais impuseram ao Rei a Magna
Carta, da qual constava o que é conhecido como primeiro orçamento da história, subordinando o
poder do Rei, no domínio tributário, ao consentimento de um Conselho de Nobres.
No final do século XVIII, com a revolução francesa de 1789, termina a monarquia absoluta e
inicia a democracia que se desenvolve no sentido de separação de poderes. Nestes moldes,
consagra-se o Orçamento do Estado um instrumento de controlo da actividade financeira do
Estado, definindo princípios orçamentais que delimitavam a acção do estado.
A revolução francesa ocorre dois anos depois da proclamação da Constituição nos Estados
Unidos da América (1787).
Por estes factos, podemos afirmar que o Orçamento do Estado é um ganho das democracias
parlamentares mais concretamente do pensamento económico liberal dos séculos XVIII e XIX.
Conceito2
A ideia de orçamento não começa e nem se limita ao nível institucional. Na verdade, a ideia do
orçamento, que nos remete à disciplina na busca de recursos financeiros e na realização de
despesas, aplica-se também na esfera individual. Por isso, o conceito genérico de orçamento é
de um plano de acção expresso em termos financeiros, pois indica o que um indivíduo ou
organismo vai fazer com os recursos que obtém de fontes identificadas.
O orçamento público influencia o quadro macroeconómico, sendo por ele também influenciado.
Os recursos financeiros aplicados, por exemplo, nas transferências sociais para as famílias, na
melhoria das condições remuneratórias dos trabalhadores da Função Pública ou em grandes
projectos de investimento público afectam positiva e directamente grandes agregados
macroeconómicos (rendimento disponível das famílias, consumo privado e investimento) e, por
consequência o ritmo de crescimento económico.
A propósito desta dimensão, o orçamento é entendido como o espelho da vida do Estado. Pelas
cifras se conhecem os detalhes do seu processo, de sua cultura e da sua civilização. (Angélico,
1995:19)
Anualidade
De acordo com este princípio, o Orçamento do Estado deve referir-se a um período temporal de
um ano, o que significa a aprovação em cada ano e execução dentro de um ano. Este princípio
implica a votação/aprovação anual do orçamento pela Assembleia da República, uma execução
anual das despesas e receitas públicas, e uma fiscalização anual das mesmas pela Assembleia
da República. As competências de aprovação e de fiscalização do Orçamento do Estado em
Moçambique são garantidas à AR pela Constituição da República.
O princípio de anualidade do orçamento é criticado por duas razões principais. Primeiro pelo
facto de dificultar o cumprimento de muitas das decisões políticas do governo que não são
financeiramente realizáveis dentro de um ano, como por exemplo, investimentos públicos em
infra-estruturas (pontes, aeroportos, etc.). Uma saída a este constrangimento orçamental é a
inscrição de planos plurianuais de investimento público. No caso de Moçambique, o nº 2 do
indiscriminadamente os dois termos, conquanto que o nosso legislador designa regras e princípios orçamentais de
princípios. Para detalhes sobre diferenças entre princípios e regras ver Waty, 2004:96.
A Unidade orçamental determina que o conjunto das receitas e das despesas deve ser
apresentado num único documento, isto é, o orçamento deve ser único ou unitário. Esta regra
atribui coesão ao orçamento, constituindo meio eficaz para que na fase de preparação do
orçamento, se diligencie com método, clareza e simplicidade, que as contas públicas sejam
transparentes, acessíveis e tão simples que toda a gente as possa entender. Há, no entanto
excepções à regra. O Orçamento do Estado não inclui receitas e despesas de órgãos
descentralizados e instituições que gozam de autonomia financeira, administrativa e patrimonial,
como é o caso das autarquias e do sector público empresarial cujos orçamentos são elaborados,
aprovados e executados autonomamente.
A Universalidade determina que todas as receitas e todas as despesas sejam na sua globalidade
inscritas no orçamento para não defraudar a função fiscalizadora do orçamento. As vantagens
decorrentes do princípio da universalidade consistem em assegurar que todos (eleitos, eleitores
e a administração pública) possam conhecer as fontes de financiamento do orçamento e o
destino que é dado aos dinheiros públicos, situação que seria impossível de controlar se não
houvesse a obrigatoriedade de inscrever todas as receitas e todas as despesas. Adicionalmente,
a inscrição de todas as despesas no orçamento facilita o controlo interno (exercido pela
Inspecção Geral de Finanças) e externo (exercido pelo Tribunal Administrativo).
Não Compensação
Este princípio designa-se também por princípio de orçamento bruto. Ele pretende facilitar o
controlo orçamental na medida em que determina que as receitas e as despesas sejam inscritas
pelos seus valores ilíquidos, isto é, sem qualquer dedução de eventuais despesas (encargos de
cobrança) e de eventuais receitas (ganhos originados pela realização de despesas) que lhe
estejam associados.
Especificação
Segundo este princípio, as receitas e as despesas devem ser individualizadas/especificadas de
forma suficiente mas não exaustiva. Resultam deste princípio os classificadores económico,
territorial e por fontes das receitas e classificadores económico, orgânico, funcional e territorial
das despesas. Este princípio desempenha, assim, um papel importante no acto da aprovação do
A dotação provisional constitui uma excepção à regra e não uma violação do princípio em si, pois
com a utilização da dotação, os gastos não previstos deverão ser especificados. Outra excepção
a este princípio, no caso de Moçambique, é constituído no nº 3 do artigo 13 da Lei nº 9/2002, de
12 de Fevereiro.
Algumas justificações por volta de não consignação de receitas apontam que poderia ser
desmotivante para os contribuintes de um certo tipo de imposto se fossem capazes de saber que
o resultado da sua contribuição é afecto a uma actividade que não lhes beneficia directamente.
Por exemplo, saber que o produto do imposto sobre veículos automóveis não é destinado ao
melhoramento das vias públicas, provavelmente desencorajaria aos contribuintes deste imposto.
Outra justificação é de que, se houvesse consignação, seria impossível a realização plena
daquelas despesas cujas receitas consignadas fossem insuficientes na sua arrecadação ou
então, montantes extras de algumas seriam inaplicáveis para quaisquer outras despesas.
Contudo, a consignação de uma determinada receita pode ser entendida, desde que
devidamente fundamentada como uma vantagem, na medida em que constitui uma garantia de
realização de uma despesa considerada essencial. No caso de Moçambique, o nº 2 do artigo 13
da Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro exceptua o princípio da não consignação das receitas
orçamentais (ex. receitas provenientes de créditos públicos, de doações, heranças ou legados)
(ver Quadro 3.2).
(f) Publicidade
O princípio da publicidade compreende a obrigatoriedade da publicação e da publicitação do
Orçamento do Estado. O orçamento, sendo uma lei, a sua validade é condicionada à sua
publicação logo após a aprovação, normalmente em boletim oficial do Estado. No nosso caso o
Orçamento do Estado é publicado no Boletim da República.
(g) Equilíbrio
Este é, devido a sua importância e alcance na economia, o princípio mais discutido e que mais
transformações observou no tempo. Antes, porém, importa ter presente que o princípio de
equilíbrio determina que todo e qualquer orçamento deve ter total de receitas públicas igual ao
total de despesas públicas. Significa que se verifica sempre um equilíbrio orçamental. Assim, o
orçamento é elaborado, aprovado e executado. Se o orçamento apresentasse receitas totais
menores que as despesas totais (défice) poderia significar incapacidade do Estado exigir mais
sacrifício aos seus cidadãos quer pela utilização de instrumentos de política fiscal de que dispõe,
ou de fixação de preços, quer pelo recurso a outras fontes. De contrário, receitas totais maiores
que as despesas totais (superávit), o Estado poderia estar a exigir sacrifício inútil aos seus
cidadãos, uma vez que estaria a disponibilizar meios em demasia relativamente às
necessidades. Claramente que estas situações abrem espaço para muitas e profundas
interpretações. O défice orçamental pode ter várias origens que vão para além da simples
incapacidade/ineficiência arrecadatória do Estado. Estados em tempos de guerra ou com base
económica fraca apresentam, normalmente, orçamentos deficitários. Um défice orçamental pode,
inclusivamente ser programado para atingir certos objectivos macroeconómicos.
O critério do equilíbrio antes dos donativos pretende medir, através do saldo resultante da
diferença entre as receitas próprias (fiscais e não fiscais) e as despesas totais, a dependência
externa já que os donativos e os créditos, no nosso caso, são fundamentalmente (apenas
fundamentalmente) externos. Portanto, isso não significa que o Estado não possa ter donativos
ou créditos internos. Por exemplo, a primeira versão do Orçamento do Estado de 2007 (quadro
3.3) o Estado não prevê contrair nenhum empréstimo interno.
O processo orçamental pode ser visto em duas perspectivas. Uma em que a definição de
objectivos e metas está orientada para espaço de tempo mais alargado (médio e longo prazos) e
outra com orientação para curto prazo (anual).
No ultimo dia do ano económico cessa a vigência do orçamento em respeito aos princípios da
anualidade e da especialização do exercício. O resultado da execução, em termos de todas as
receitas obtidas e de todas as despesas pagas durante o exercício devem ser apresentadas na
Conta Geral do Estado, cujo âmbito e estrutura são estabelecidos em regra pela lei orçamental.
A Conta Geral do estado apresenta, naturalmente, um âmbito similar ao do OE abrangendo a
actividade financeira de todos os serviços e organismos dos subsectores do Estado, instituições
do Estado com autonomia financeira, patrimonial e administrativa e segurança social.