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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

8ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CARIRI DO OESTE – ESTADO DO


PERNAMBUCO

Processo: nº 0001234-56.2022.8.26.999

EUGENIE LALANDE, devidamente qualificada nos autos da ação em epígrafe,


por seu advogado infra-assinado, através de instrumento de procuração e
substabelecimento em anexo, com endereço profissional na Rua xxx, xxx, xxx,
xxx, CEP: xxxx vem à presença de Vossa Excelência, mui respeitosamente,
apresentar
CONTESTAÇÃO

Na Ação de Despejo com Pedido Liminar de Desocupação do Imóvel c/c


Cobrança de Alugueis, proposta por AUGUSTE DUPIN, já qualificado nos
autos em epígrafe, pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor.

1. DOS FATOS

O autor, Auguste Dupin, é proprietário do imóvel residencial urbano


localizado à Rua Morgue, s/n, no Município de Cariri do Oeste, Estado do
Pernambuco.
A locatária ora ré encontra-se no imóvel desde 13 de março de 2020,
quando foi feito o contrato de Locação do referido imóvel com o autor da ação,
pelo valor R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais) mensais.
Ocorre que, por um lapso de memória, a locatária, como estava sempre
muito ocupada, em plantões, não pagou os valores referentes aos alugueis dos
últimos 3 (três) meses.
A parte autora alega que a parte ré não pagou os alugueis dos últimos 3
(três) meses, sem apresentar qualquer justificativa, deixou de arcar com os
alugueis, que seriam a única fonte de renda do autor da ação.
Ocorre Vossa Excelência, que a Sra. Eugenie Lalande, ré na presente
ação, é uma jovem mãe solteira e exerce a profissão de enfermeira. Como está
sempre muito ocupada, em plantões, não pagou os valores por um lapso de
memória de sua parte, mas desde já registra que possui plenas condições de
arcar com os débitos em questão e deseja continuar residindo no imóvel
localizado à Rua Morgue, s/n, no Município de Cariri do Oeste, Estado do
Pernambuco, por ser próximo ao seu trabalho.
É, importante mencionar, que a ré não notou a falta dos pagamentos por
não ter sido cobrada em momento algum pelo autor.

2 . PURGAÇÃO DA MORA

A ré foi citada do teor da ação e cientificada da concessão da liminar,


onde constou que deve deixar o imóvel no prazo de 15 dias, na data de
(xx/xxx/xxxx).
Desta forma, a ré, dentro do prazo previsto em lei, manifesta sua
intenção de PURGAR A MORA e realizar o pagamento do numerário contido
no pedido exordial, qual seja, R$ 7.300,00 (sete mil e trezentos reais), referente
aos aluguéis vencidos, os encargos, multa, juros, custas e honorários
advocatícios.
Neste sentido, dispõe o caput e o inciso II do artigo 62, da Lei 8.245/91,
in verbis:
“Art. 62. Nas ações de despejo fundadas na falta de pagamento de aluguel
e acessórios da locação, de aluguel provisório, de diferenças de aluguéis,
ou somente de quaisquer dos acessórios da locação, observar-se-á o
seguinte: (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)
I - o pedido de rescisão da locação poderá ser cumulado com o pedido de
cobrança dos aluguéis e acessórios da locação; nesta hipótese, citar-se-á o
locatário para responder ao pedido de rescisão e o locatário e os fiadores
para responderem ao pedido de cobrança, devendo ser apresentado, com a
inicial, cálculo discriminado do valor do débito; (Redação dada pela Lei nº
12.112, de 2009)
II - o locatário e o fiador poderão evitar a rescisão da locação
efetuando, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da citação, o
pagamento do débito atualizado, independentemente de cálculo e
mediante depósito judicial, incluídos: (Redação dada pela Lei nº
12.112, de 2009)
a) os aluguéis e acessórios da locação que vencerem até a sua
efetivação;
b) as multas ou penalidades contratuais, quando exigíveis;
c) os juros de mora;
d) as custas e os honorários do advogado do locador, fixados em dez
por cento sobre o montante devido, se do contrato não constar
disposição diversa;
III - efetuada a purga da mora, se o locador alegar que a oferta não é
integral, justificando a diferença, o locatário poderá complementar o
depósito no prazo de 10 (dez) dias, contado da intimação, que poderá ser
dirigida ao locatário ou diretamente ao patrono deste, por carta ou
publicação no órgão oficial, a requerimento do locador; (Redação dada pela
Lei nº 12.112, de 2009)
IV - não sendo integralmente complementado o depósito, o pedido de
rescisão prosseguirá pela diferença, podendo o locador levantar a quantia
depositada; (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)
V - os aluguéis que forem vencendo até a sentença deverão ser
depositados à disposição do juízo, nos respectivos vencimentos, podendo o
locador levantá - los desde que incontroversos;
VI - havendo cumulação dos pedidos de rescisão da locação e cobrança
dos aluguéis, a execução desta pode ter início antes da desocupação do
imóvel, caso ambos tenham sido acolhidos.
Parágrafo único. Não se admitirá a emenda da mora se o locatário já
houver utilizado essa faculdade nos 24 (vinte e quatro) meses
imediatamente anteriores à propositura da ação. (Redação dada pela Lei nº
12.112, de 2009)”

Assim, requer que seja expedida guia para pagamento do valor


supracitado, com a intimação do LOCADOR para que se pronuncie sobre o
referido depósito e promova seu levantamento. E, assim, seja suspensa a
execução forçada da ordem de despejo.
Desde já, registra seu total interesse em permanecer no imóvel.

3 DA INEXISTÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DE


DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO.

A parte autora não notificou extrajudicialmente a parte ré para efetuar os


pagamentos dos alugueres em atraso e tampouco para desocupar o imóvel no
prazo de 30 dias, desrespeitando a regra prevista nos artigos 6º e 46 §2º da Lei
8245/91.
A previsão obrigatória da notificação extrajudicial tem a finalidade de
reduzir os impactos negativos que necessariamente surgem com a efetivação
do despejo, segundo o julgado do STJ a seguir exposto:
“RECURSO ESPECIAL. CIVIL. LOCAÇÃO RESIDENCIAL.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. AÇÃO DE DESPEJO. DENÚNCIA
VAZIA. NOTIFICAÇÃO PREMONITÓRIA. AUSÊNCIA.
OBRIGATORIEDADE. EXTINÇÃO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
1. Ação ajuizada em 11/04/2016. Recurso Especial interposto em
23/03/2018 e atribuído a este gabinete em 31/11/2019.
2. O propósito recursal diz respeito à necessidade de notificação
premonitória como pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e
regular do processo.
3. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como
violados, não obstante a interposição de embargos de declaração impede o
conhecimento nessa parte do recurso especial.
4. Mesmo de forma indireta, o STJ já apontava para obrigatoriedade
da ocorrência da notificação premonitória, ao denominá-la de
“necessária” ou mesmo de “obrigatória”.
5. A necessidade de notificação premonitória, previamente ao
ajuizamento da ação de despejo, encontra fundamentos em uma série
de motivos práticos e sociais, e tem a finalidade precípua de reduzir os
impactos negativos que necessariamente surgem com a efetivação do
despejo.
6. “Caso a ação de despejo seja ajuizada sem a prévia notificação,
deverá ser extinto o processo, sem a resolução do mérito, por falta de
condição essencial ao seu normal desenvolvimento. “
7. Recurso especial parcialmente conhecido, e nessa parte não provido.”
(REsp 1812465 MG 2018/0315577-3. TERCEIRA TURMA. DJe 18/05/2020.
Ministra NANCY ANDRIGHI) (grifei).

Da mesma forma é a lição de Sylvio Capanema de Souza ao afirmar a


obrigatoriedade da notificação premonitória e apontar a conseqüência sem a
sua ocorrência, qual seja a extinção sem resolução do mérito:
“Caso a ação de despejo seja ajuizada sem a prévia notificação, deverá
ser extinto o processo, sem resolução do mérito, por falta de condição
essencial ao seu normal desenvolvimento.
A notificação dispensa solenidade especial, podendo se revestir de
qualquer forma, desde que inequívoca.
A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja
surpreendido pelo ajuizamento da ação de despejo, o que ainda lhe poderá
acarretar o pagamento do ônus sucumbenciais.
Por outro lado, o aviso permitirá ao locatário prepara-se para a
desocupação e obtenção de um novo imóvel onde possa se instalar.
Reveste-se, portanto, a exigência de importante finalidade social, para não
se agravar, ainda mais, o prejuízo que a mudança certamente causará ao
locatário.”
DE SOUZA, SYLVIO CAPANEMA. A lei do inquilinato Comentada. Rio de
Janeiro: GEN Forense, 9ª edição, 2014, página 195.

Não houve no caso em apreço a notificação premonitória o que dificulta


a preparação da parte ré para a desocupação do imóvel. Foi-lhe tolhida esse
tempo razoável.
Destarte, por violar frontalmente o artigo 46§ 2 da lei do inquilinato, a
jurisprudência, e a doutrina especializada, o processo deve ser extinto sem
resolução do mérito por inexistência de pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo. Nos termos do artigo 485,
inciso IV do Código de Processo Civil.

4. DO MÉRITO

A Ré impugna todos os fatos articulados na inicial o que se contrapõem


com os termos desta contestação, esperando a IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO
PROPOSTA, pelos seguintes motivos:
A Ré sempre honrou com o pagamento das cotas locatícias
regularmente, mas como está sempre ocupada, em plantões, não pagou os
valores por um lapso de memória de sua parte, mas possui plenas condições
de arcar com os débitos conforme já mencionado e deseja continuar residindo
no imóvel, por ser próximo ao seu trabalho, uma vez que contribui muito para a
ré conseguir trabalhar e cuidar de sua filha.
É de notório conhecimento que, em razão da pandemia do vírus SARS-
CoV-2 ("coronavírus"), causador da doença COVID-19, os enfermeiros foram
expostos a um risco maior de infecção, além da exposição direta à
contaminação pelo vírus, também sofreram os impactos psicossociais
decorrentes do contexto, tendo sobrecarga de trabalho, o que contribui para o
esquecimento dos valores referente aos alugueis. Como o autor se manteve
inerte, não tendo cobrado nenhuma vez que seja a Ré, a mesma acreditou que
havia pago os devidos alugueres.
Como se vê, Vossa Excelência, o que houve foi uma falta de
comunicação entre o autor e a Ré. Assim, na busca de resolver da melhor
maneira possível o caso, a ré se compromete a pagar todos os débitos em
atraso com os devidos encargos, multa, juros, custas e honorários
advocatícios.
É sabido que o contrato não é mero acordo de vontades e “lei entre as
partes”. Esta visão parcial da relação contratual deve ser completada pelos
aspetos sócio-econômicos que revelam ser o contrato uma decorrência direta
do contato social, instrumento fundamental de realização de interesses
patrimoniais e existenciais das pessoas.
Desta forma, verifica-se que o contrato de locação residencial cuida, de
um lado, do legítimo interesse econômico do locador, que, no exercício de seu
direito de propriedade, busca extrair os frutos civis do imóvel. De outro lado, há
o direito fundamental de moradia do locatário.
Sobre o direito de moradia, expressamente incluído no rol dos direitos
sociais elencados no art. 6º, caput da Constituição Federal através da Emenda
nº. 26, de fevereiro de 2000, cabe destacar que sua proteção está diretamente
relacionada à própria tutela da dignidade humana, princípio constitucional
basilar e norteador de todo o ordenamento jurídico:
“Art. 6º-São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.”
O direito fundamental à moradia assegura a todos a garantia de uma
sobrevivência com dignidade.
Ocorre que, o despejo da Ré implicará na gravíssima situação de
colocar ela e sua filha para morar na rua, uma vez que não possui tempo hábil
para encontrar outro imóvel para fazer a mudança e, a localização do imóvel
contribui para que a Ré consiga trabalhar e cuidar de sua filha.
Relembro mais uma vez que, durante um longo período, a Ré, honrou
com pontualidade o pagamento dos alugueis. Porém, neste momento de
extrema pressão no trabalho, do auto impacto psicológico que vem sofrendo,
não percebeu que não havia arcado com sua obrigação de pagar os alugueis e,
como o autor se manteve inerte, não tendo cobrado nenhuma vez a Ré os
alugueis em atraso, a mesma acreditou que havia pago os devidos alugueres.
Portanto, pede que seja declarada totalmente improcedente os pedidos
ventilados na inicial, razão pela qual conduz à sua imediata extinção.

5. DOS PEDIDOS

Diante o exposto requer a Vossa Excelência:


a) Que seja expedida guia para pagamento do valor R$ 7.300,00 (sete mil e
trezentos reais), referente aos aluguéis vencidos, os encargos, multa,
juros, custas e honorários advocatícios, com a intimação do LOCADOR
para que se pronuncie sobre o referido depósito e promova seu
levantamento. Assim, seja determinada a imediata baixa do processo, com
o respectivo arquivamento dos autos;
b) A extinção do processo por inexistência de pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo, isto é, ausência de
notificação premonitória do despejo.

Ultrapassada essa parte e, entendendo Vossa Excelência para o


prosseguimento do feito, requer a título de mérito:
1. A produção de todos os meios de prova admitidos em direito, em
especial a oitiva das partes e de testemunhas;
2. A parte ré tem interesse na designação de audiência especial de
conciliação, conforme o artigo 3º §3º, do CPC.
3. A total improcedência dos pedidos da parte autora e sua condenação
em custas e honorários sucumbenciais no valor de 20% do valor da
causa.

Nesses termos,
pede deferimento
Local e data,
ADVOGADO
OAB/UF XXXXX

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