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A.F.

O | Marcelo Adriano

Conceitos Introdutórios

1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

Mas o que vem a ser orçamento?

A palavra orçamento possui origem italiana, do vocábulo “orzare”, que


significa “fazer cálculos”.

Mas fazer cálculos de quê?

Calcular dois elementos fundamentais para a manutenção da estrutura


“financeira” de qualquer entidade:

1) Despesas que devem ser realizadas, e

2) Receitas que devem ser obtidas para fazer frente a estas despesas,
ou seja, a origem dos recursos.

Assim, para elaborar um orçamento, precisa-se calcular receitas e


despesas, confrontando-as.

Apesar de poder ser tão singelamente conceituado, o Orçamento


Público tem conotação muito mais ampla, pois este envolve a Atividade
Financeira do Estado, constituindo-se em uma ferramenta governamental
por meio da qual o governante elabora seu plano de trabalho, anunciando
para a sociedade as suas opções para alcançar o bem comum, ou seja, quais
ações serão realizadas para suprir as necessidades públicas e os meios
necessários para o seu financiamento. Ademais, por meio deste
documento, torna-se possível controlar a execução dessas ações, bem
como avaliar o grau de sucesso em suas operações.

Sociedade e Estado e, consequentemente, sua atividade financeira, são


produtos de um processo natural (concepção naturalista – Hobbes, Locke
e Rousseau) e histórico (concepção Marxista – Materialismo Histórico) da
evolução do ser humano enquanto ser gregário, sendo meros resultados

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das interações que a necessidade humana de viver em comunidade


provoca.

• Sociedade
Segundo o Dicionário Aurélio, sociedade é:

1) Agrupamento de seres que vivem em Estado gregário.

2) Grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob normas


comuns: comunidade.

3) Grupo de pessoas que, submetidas a um regulamento, exercem


atividades comuns ou defendem interesses comuns; grêmio,
associação, agremiação.

4) Meio humano em que o indivíduo está integrado.

• Estado
O Estado é uma estrutura complexa que surge com o fim de garantir o
bem comum, responsável por suprir as necessidades públicas, e que, para
se manter, demanda recursos dos mais diversos. Esses recursos, que devem
ser disponibilizados, via de regra, pela própria comunidade, servem para
viabilizar os serviços públicos definidos como responsabilidade do Estado.

Modernamente, pode-se entender o Estado como uma instituição


organizada politicamente, socialmente e juridicamente, ocupando um
território definido e dirigido por um governo que possui soberania
reconhecida tanto interna como externamente. Ele é responsável pela
organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o
monopólio legítimo do uso da força (coerção, especialmente a legal)
sendo, por isso, o guardião da ordem social. O Estado surge como
resultado de um processo histórico formado por basicamente três
elementos: povo; território e soberania (alguns autores incluem o elemento
finalidade).

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2. CONCEITO DE ORÇAMENTO PÚBLICO

1) Documento que expressa receitas e despesas estatais de


determinado ente federativo.

2) Documento legal que contém as receitas e despesas de determinado


ente governamental para um período determinado de gestão. O
Orçamento Público, instrumento que discrimina as despesas dos
programas governamentais segundo sua natureza, enfatiza os fins
almejados de modo a demonstrar o alvo e a finalidade dos gastos
públicos bem como identificar o responsável pela execução destes
programas.

3) Em um sentido instrumental, pode-se definir orçamento público


como o instrumento pelo qual o Governo elabora, expressa, executa,
controla e avalia o cumprimento de suas atividades em cada período
de gestão, refletindo as escolhas ideológicas feitas pelo partido
político ou pelo grupo político que se encontra no poder.

4) O orçamento constitui, nas finanças públicas, a peça por meio da qual


se administram as receitas, as despesas e a dívida dos poderes
públicos.

5) É o instrumento que discrimina as despesas dos programas


governamentais segundo sua natureza, enfatiza os fins almejados de
modo a demonstrar o alvo e a finalidade dos gastos públicos bem
como identificar o responsável pela execução desses programas.

6) “A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de


forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de
trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade,
universalidade e anualidade” (art. 2º da Lei nº 4.320/64).

7) É o instrumento de gestão que se torna em plano de governo


expresso em forma de lei, que faz a estimativa de receita a arrecadar
e fixa a despesa para um período determinado de tempo, em geral
de um ano, chamado exercício financeiro, em que o governante não
está obrigado a realizar todas as despesas ali previstas, porém não
poderá contrair outras sem a prévia aprovação do Poder Legislativo.

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8) Conforme Baleeiro (1998 apud PASCOAL, 2009, p.15) 1,“É o ato pelo
qual o Poder Executivo prevê e o Poder Legislativo lhe autoriza, por
certo período, e em pormenor, a execução das despesas destinadas
ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados pela
política econômica ou geral do país, assim como a arrecadação das
receitas já criadas em lei”.

9) Segundo Bastos 2, a finalidade última do orçamento “é de se tornar


um instrumento de exercício da democracia pelo qual os particulares
exercem o direito, por intermédio de seus mandatários, de só verem
efetivadas as despesas e permitidas. O orçamento é, portanto, uma
peça jurídica, visto que aprovado pelo legislativo para vigorar como
lei cujo objeto disponha sobre a atividade financeira do Estado, quer
do ponto de vista das receitas, quer das despesas. O seu objeto,
portanto, é financeiro”.

10) “Orçamento é um plano de trabalho governamental expresso em


termos monetários, que evidencia a política econômico-financeira do
Governo e em cuja elaboração foram observados os princípios da
unidade, universalidade, anualidade, especificação e outros” (SILVA,
1996, p. 37) 3.

ENTRA IMAGEM

1
. PASCOAL, Valdecir. Direito Financeiro e Controle Externo. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2009., p. 15.
2
. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 74
4
3
. SILVA, Lino Martins da. Contabilidade Governamental: Um Enfoque Administrativo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996, p. 37..

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OBSERVAÇÃO:
Fique atento, pois, as características do orçamento (lei ordinária,
temporária, formal, especial) são, invariavelmente, inseridas dentro do
conceito. Posteriormente, retomaremos essas características de forma
mais aprofundada em um tópico específico.

3. ASPECTOS DO ORÇAMENTO PÚBLICO

3.1. Aspecto Político

Reflete o controle do Poder Legislativo sobre os gastos realizados pelo


Estado e que foram planejados, em regra, pelo Poder Executivo. Diz
respeito à sua característica de Plano de Governo ou Programa de Ação do
grupo ou facção partidária que detém o poder. O Orçamento Público
constitui, em boa medida, o reflexo das escolhas ideológicas feitas pelo
partido político ou pelo grupo político que se encontra no poder.

3.2. Aspecto Jurídico (legal)

É o que define a Lei Orçamentária no conjunto de leis do país.

A aplicação do Princípio da Legalidade no Brasil determina que os


Instrumentos orçamentários sejam veiculados por lei, onde há uma
verdadeira “reserva legal”, pois, essa veiculação só pode ocorrer, em regra,
por lei em sentido estrito, cuja iniciativa é privativa e indelegável do Chefe
do Poder Executivo. Sendo lei, o gestor fica adstrito a ela, não podendo
executar gastos que não estejam nela autorizados.

Apresenta o mesmo fundamento do Princípio da Legalidade aplicado à


Administração Pública, segundo o qual cabe ao Poder Público fazer
somente aquilo que a lei expressamente autorizar, ou seja, subordina-se
aos ditames da lei. A Constituição Federal de 1988, no art. 37, estabelece
os princípios da Administração Pública, dentre os quais o da Legalidade e,
em seu art. 165, estabelece a necessidade de formalização legal das leis
orçamentárias.

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Dessa forma, a despesa pública, por exemplo, somente poderá ser


realizada, em regra, se houver autorização em lei.

Em razão de ser um tema extremamente sensível para o Estado e para a


sociedade, a Atividade Financeira do Estado está, em regra, sistematizada
no arcabouço jurídico dos países, ou seja, as regras estão definidas em suas
constituições e leis.

Neste contexto, surgem ramos do Direito ligados diretamente a essa


atividade, como o Direito Financeiro e Tributário. Direito Financeiro é o
ramo do direito público que tem por objeto a disciplina jurídica da
atividade financeira do Estado e abrange receitas, despesas e créditos
públicos.

Direito Tributário é o ramo do direito público formado por um conjunto


de princípios, leis e outros normativos regulamentadores da arrecadação
dos tributos, bem como de sua fiscalização. Regula as relações jurídicas
estabelecidas entre o Estado e o contribuinte no que se refere à
arrecadação dos tributos.

3.3. Aspecto Econômico

A Economia de qualquer país é dinâmica e complexa tendo por


principais agentes econômicos as empresas, as famílias e o Governo. O
fluxo econômico representado abaixo retrata como a economia se
movimenta, demostrando como os agentes econômicos transacionam
entre si na busca por atingir seus objetivos e, ainda, proporcionar o
equilíbrio da economia como um todo.

3.4. Aspecto Financeiro

Caracterizado pelo fluxo monetário das entradas (receita) e das saídas


(despesas) de recursos financeiros, meio efetivo e normal da execução
orçamentária.

3.4.1. Quadro resumo sobre os aspectos do Orçamento

ASPECTOS REFERÊNCIAS

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• Controle do Poder Legislativo sobre os


gastos realizados pelo Poder Executivo.
• Plano de Governo ou Programa de Ação
do grupo ou facção partidária que detém
Político
o poder.
• Reflexo das escolhas ideológicas feitas
pelo partido político ou pelo grupo
político que se encontra no poder.

• Define a Lei Orçamentária no conjunto de


leis do país.
• Orçamentos Públicos veiculados por lei.
• Princípio da legalidade aplicado à
Jurídico (legal)
Administração Pública.
• Atividade Financeira do Estado está, em
regra, sistematizada no arcabouço
jurídico dos países.

• Demonstrativo orgânico da economia


pública, representando o retrato real da
vida do Estado.
• Importante instrumento de distribuição
de renda e de alocação de recursos.
Econômico
• Possibilita a comparação entre diversas
funções e programas de Governo entre si,
além de facilitar o exame da função total
do Governo e de seu custo em relação ao
setor privado da economia.

• Fluxo monetário das entradas (receita) e


Financeiro das saídas (despesas) de recursos
financeiros.

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4. ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO

1) Estado totalitário

Estado autoritário, arbitrário e intrusivo, marcado pela ausência de


legalidade, publicidade e sem qualquer garantia. O financiamento da
máquina estatal ocorria, em sua maior parte, com recursos retirados
arbitrariamente de seus cidadãos e a aplicação desses recursos era
realizada da forma que melhor convinha a quem detinha o poder, sem
qualquer compromisso em atender as necessidades públicas. Nesse tipo
de Estado, o orçamento, enquanto documento, quando existia, não era
democrático.

2) Estado liberal (partir do século XVIII)

Estado cujo fundamento está na legalidade e na mínima intervenção


econômica. Seu orçamento é ferramenta para garantir apenas as
necessidades públicas fundamentais (justiça, segurança, defesa externa) e
suprir as falhas de mercado. O Estado e, consequentemente, o Orçamento
Público não estão voltados para a regulação econômica, prevalecendo a,
denominada por Adam Smith, “mão invisível do mercado”.

3) Estado socialista (de 1917 a meados da década de 90)

Estado total, máximo, interventor, garantindo todas às necessidades


públicas, atuando em todos os setores econômicos com Orçamento
Público máximo, envolvendo toda a atividade econômica.

OBS.:
Atente-se que os Estados socialistas, por serem monopartidários, em
regra, não tinham um Poder legislativo independente e seus dirigentes
detinham poderes de verdadeiros imperadores, retirando, em grande
medida, o caráter efetivamente democrático dos orçamentos.

4) Estado do Bem-Estar Social ou Estado-providência (segunda


metade do século XX)

Estado que intervém ativamente na economia, principalmente em


períodos de recessão econômica, quando atua para fomentar o

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desenvolvimento, visando melhorar índices de emprego e a renda.


Também é responsável por disponibilizar um conjunto de garantias sociais
mínimas ao cidadão. O orçamento é uma ferramenta de política fiscal, com
vistas à estabilização, à expansão ou à retração da atividade econômica, é
utilizado como instrumento de políticas anticíclicas.

5) Estado Neoliberal

Neste modelo, o Estado reduz sua interferência na economia,


descentralizando serviços e privatizando parte de suas atividades. Porém,
com um aparato administrativo (agências reguladoras, por exemplo), o
Estado se mantém regulando as áreas mais importantes, como energia,
saúde, transportes, etc. O Orçamento permanece como instrumento de
política fiscal, com vistas à estabilização, à expansão ou à retração da
atividade econômica e é utilizado como instrumento de políticas
anticíclicas, porém, com intensidade menor.

Com a evolução do orçamento como instrumento de planejamento,


ampliaram-se as atribuições econômicas governamentais voltadas para a
promoção de ajustamentos na alocação de recursos, na distribuição de
renda e na manutenção da estabilidade econômica.

5. FUNÇÕES ECONÔMICAS DO ESTADO

5.1. Função Alocativa

No desempenho desta função, o Governo atua ajustando a alocação dos


recursos produtivos na economia para minimizar, as chamadas por Adam
Smith, “Falhas de Mercado” e prestar serviços públicos que a iniciativa
privada não tem poder, condições financeiras ou legitimidade, como a
defesa externa por intermédio das forças armadas. Assim, a Função
Alocativa do orçamento se justifica nos casos de provisão de bens públicos.

As falhas de mercado podem ocorrer quando a realização de obras, a


produção de bens ou a prestação de serviços importantes deixam de ser
realizados pela iniciativa privada por falta de interesse (lucratividade baixa,
dispêndio muito alto ou risco altos) ou por impossibilidade técnica ou

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econômica, deixando parcela da população interessada sem os benefícios


referentes a estas obras, bens e serviços. Neste caso, o Governo utiliza as
ferramentas que tem à disposição para suprir essas necessidades
diretamente ou estimular a iniciativa privada por intermédio de
subvenções, subsídios, renúncia fiscal etc.

Agindo assim, o Estado está utilizando recursos gerados em regiões


mais prósperas, setores mais lucrativos ou com riscos menores, alocando
esses recursos com o fim de desenvolver regiões menos prósperas ou em
setores com menor lucratividade ou com risco muito alto. É o Governo
quem toma a iniciativa de, por exemplo, construir estradas, hidroelétricas,
ferrovias, portos, aeroportos, enfim, grandes obras de infraestrutura ou,
ainda, tributar as atividades mais lucrativas, desonerar atividades menos
lucrativas, etc. Os investimentos em infraestrutura exigem elevados
recursos financeiros e longo período para retorno, o que desestimula o
envolvimento da iniciativa privada, sendo compreensível que se
transformem em áreas de competência estatal.

Com relação aos bens e serviços essenciais, tais como segurança, saúde
e educação, é também o Governo quem assume o compromisso de prover
a sociedade, isso porque alguns não são delegáveis e outros podem ter
altos custos no setor privado, o que pode torná-los inacessíveis para a
grande maioria da população.

5.2. Função Distributiva

Obter renda é uma necessidade, afinal, é com ela que as pessoas


adquirem bens e serviços indispensáveis à sobrevivência e à satisfação
pessoal. Para que haja desenvolvimento em todos os aspectos e uma
consequente paz social, é indispensável que todos tenham uma renda que
supram as suas necessidades. Porém, a distribuição dessa renda não é
equânime, pois, nesse processo, são favorecidos aqueles que controlam os
meios de produção, os recursos financeiros e as atividades, ficando, estes,
com a parcela maior da renda.

Em uma economia de mercado capitalista, o lucro é o grande objetivo


da maioria dos particulares que nela atuam. Os excedentes gerados são, de

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uma forma ou de outra, apropriados por parte dos agentes econômicos. O


Governo fica com tributos, os empregados (famílias) com salários, o
empresário (empresas) com o lucro, etc. Assim, para que haja o almejado
desenvolvimento, não basta gerar riquezas, é necessário também as
distribuir, pois, do contrário, a insatisfação pode gerar instabilidades que,
por sua vez, podem levar ao rompimento da ordem social.

O Governo é o responsável pela redistribuição da renda e, para tanto,


utiliza-se de ferramentas que propiciem o ajustamento necessário para
“retirar” recursos de quem tem mais e distribuir a quem tem menos. A
política tributária e os programas sociais de transferências de renda, como
bolsa escola, são exemplos de mecanismos de distribuição de renda.

Porém, seguindo esta linha de pensamento, a cobrança de todo tributo


não geraria então a distribuição de renda com eficiência?

A resposta é NÃO!

Levando em consideração a classificação doutrinária em relação à


distributividade, existem três espécies de tributos:

1) Tributo progressivo: aqueles que, em regra, incidem sobre a renda e


o patrimônio, com alíquotas diferenciadas e progressivas, cobrando
um percentual maior de quem ganha mais, etc.

O Imposto de Renda, no Brasil, é um bom exemplo de imposto


progressivo. Existem faixas de tributação que vão desde a isenção até
a tributação de 27,5%, segundo faixas de rendimento onde quem
ganha mais é tributado com uma alíquota mais alta e quem ganha
“pouco” não paga nada. Assim o Estado “retira” de forma
desproporcionalmente maior de quem ganha mais, reduzindo a
concentração de renda.

A prestação de serviços públicos, como construção de escolas e


hospitais públicos, acaba se constituindo também em uma forma de
se fazer essa redistribuição de renda, dos mais favorecidos para as
camadas mais pobres da sociedade, afinal, o governo recebe mais de
quem tem mais e redistribui para quem tem menos por intermédio
de serviços públicos e programas de redistribuição de renda.

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2) Neutro: tributo que não agrava o desequilíbrio, mas, também, não


contribui diretamente para reduzi-lo. Normalmente cobrado com
percentual único para todos os cidadãos.

Imagine que o Imposto de Renda fosse cobrado em alíquota única


(10%), independentemente da renda. Quem ganha R$ 1.000 pagaria
R$ 100 e quem ganha R$ 5.000 pagaria R$ 500. Como se infere, o
valor exigido de quem ganha menos terá um impacto proporcional
a quem ganha mais, não gerando concentração nem distribuição de
renda, o que sobra também permanece com uma diferença
proporcional.

3) Regressivo: tributo cujo quanto a ser pago é estipulado em valor


igual para todas as pessoas, independente de renda. Esse tipo de
tributo promove a concentração da riqueza disponível nas mãos de
quem ganha mais. Exemplos de tributos regressivos são os imposto
sobre o consumo (IPI, ICMS) por tributarem igualmente, em um
mesmo valor, todos os contribuintes, sem distinção, sem diferenciar
quem tem mais ou quem tem menos.

Imagine um produto vendido em um supermercado cujo valor venal


é R$100, com incidência de ICMS cuja alíquota é 25%. Veja que, se
não houvesse tributação, o produto seria vendido por R$ 75. Isso
quer dizer que quem compra acaba pagando R$ 25 de tributação.
Como não há diferenciação no momento da venda entre os
compradores, independentemente da renda, todos pagarão o
mesmo valor pela tributação ao adquirir o produto. Quem ganha R$
1.000 pagaria R$ 25 e quem ganha R$ 5.000 pagaria R$ 25, tornando
ainda mais desproporcional o valor que sobra, fazendo aumentar a
desigualdade, promovendo concentração de renda.

5.3. Função Estabilizadora

A paz social é o grande objetivo do Estado e, para que ela aconteça, as


pessoas devem ter suas necessidades atendidas. O atendimento dessas
necessidades pode ocorrer, basicamente, de duas formas: parte por
intermédio do Governo, que disponibiliza bens e serviços públicos aos

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cidadãos e parte no “mercado”, onde as pessoas, com recursos próprios,


adquirem bens e contratam serviços.

Para que seja possível ao Estado obter recursos para disponibilizar bens
e serviços públicos aos seus cidadãos, é imprescindível o desenvolvimento
econômico onde é gerado mais tributos para financiar essas necessidades.
Da mesma forma, para que as pessoas obtenham renda suficiente para
adquirir bens e contratar serviços, é fundamental também que haja
desenvolvimento econômico que gere riqueza e emprego. Por sua vez,
para que haja desenvolvimento, o ambiente econômico deve permanecer
estável, havendo controle de variáveis, como inflação, taxa de juros, níveis
de emprego, crescimento econômico, consumo, câmbio dentre outros. O
Governo desenvolve um papel fundamental na manutenção favorável
desses índices, para tanto, ele deve utilizar as ferramentas (taxa de juros,
política tributária, política monetária, despesa pública, financiamento,
execução orçamentária, regulação do mercado etc.) que possui para zelar
por eles, assumindo um papel de monitoramento da conjuntura.

No cumprimento da função Estabilizadora, o Governo é o responsável


pelo gerenciamento econômico, agindo de forma a influenciar direta ou
indiretamente nestas variáveis. Quando, por exemplo, é necessário
aumentar o nível da atividade econômica para melhorar os níveis de
emprego, o Governo pode adotar medidas expansionistas, como a redução
de tributos sobre o consumo, ou a redução da taxa básica de juros. Tais
medidas reduzem o preço de determinados produtos fazendo seu
consumo aumentar e, consequentemente, aquecendo a economia com
reflexos positivos sobre o emprego. Porém, uma expansão no consumo
sem outras medidas de bases econômicas pode gerar inflação que corrói o
poder de compra dos salários. Assim, de forma diversa, quando é
necessário reduzir o nível de atividade econômica, para conter os níveis de
inflação, por exemplo, o Governo pode adotar medidas contracionista
como a tributação sobre determinada atividade ou o aumento da taxa
básica de juros.

Como agente econômico de peso e grande consumidor, o Governo


também pode interferir na Economia por intermédio de suas compras.

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Comprando mais se expande o nível de atividade econômica, se a compra


é menor, provoca certa redução no nível geral da economia. Em função
desta importância, a participação do Governo no PIB – Produto Interno
Bruto – dos principais países do mundo, inclusive do Brasil, tem crescido
consideravelmente, principalmente após a segunda Guerra Mundial.

Diante do exposto, pode-se ter noção do quão complexo é o papel do


Estado na economia de um país. É neste contexto que entra o papel do
Orçamento Público. Ele é a principal ferramenta do Governo no
desenvolvimento de todas essas atividades, provendo recursos e
otimizando a sua aplicação na busca do bem comum.

5.4. Quadro resumo sobre funções do Estado

FUNÇÃO REFERENCIA

• Governo atua ajustando a alocação dos


recursos produtivos na economia, para
minimizar as Falhas de Mercado.
• Justifica-se nos casos de provisão de bens e
serviços pelo Estado.
• O Governo utiliza as ferramentas como,
Alocativa
financiamento, subvenções, subsídios,
renúncia fiscal, etc.
• Atividade empresarial por parte do Estado.
• O Governo é quem toma a iniciativa de, por
exemplo, construir estradas, hidroelétricas,
ferrovias, portos, aeroportos etc.

• O Governo é o responsável pela redistribuição


da renda.
• Distribuir a quem tem menos.
Distributi
• Ferramentas: política tributária, criando
va
impostos progressivos sobre a renda e através
de sua política de gastos, programas sociais de
transferências de renda, entre outras.

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• Ações que busquem garantir a estabilidade


econômica.
• O ambiente econômico deve permanecer
estável.
• Controle de variáveis como inflação, taxa de
Estabiliza juros, níveis de emprego, crescimento
dora econômico, consumo, dentre outros.
• Governo é o responsável pelo gerenciamento
macroeconômico.
• Utiliza o Orçamento Público com uma das
principais ferramentas para implementar
medidas estabilizadoras.

6. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

A atividade financeira do Estado pode ser resumida em dois principais


elementos:

• Atividades voltadas para obtenção de Receita Pública:


É o conjunto de todas as atividades que, de alguma forma, culminem na
obtenção de recursos financeiros que possam ser utilizados pelo Estado.
São várias fontes das quais podem advir recursos financeiros, como:
tributos, multas e outros valores cobrados das pessoas em razão de
atividades desenvolvidas, exploração de patrimônio, obtenção de rendas,
dentre outras; a de operações de crédito, obtidas por meio de empréstimos
e financiamentos; a produtiva, derivada da atividade do Estado enquanto
“empresário”; a patrimonial, derivada da exploração do patrimônio estatal;
venda, alienação de bens e direitos.

• Atividades voltadas para o dispêndio público (Despesa Pública):


É o dispêndio dos recursos obtidos por parte do Estado que deve
ocorrer visando o bem comum.

Levando em consideração a arrecadação de receitas, a fixação de


despesas e a necessidade de endividamento, a equação fundamental no

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âmbito da Gestão Fiscal, ou seja, da gestão das finanças públicas, fica assim
representada:

Resultado = Receita – Despesa

Essa equação pode assumir três configurações distintas, conforme a


relação entre os dois elementos da atividade financeira do Estado gerando
as seguintes situações:
1) Receita < Despesa – Déficit Fiscal. Essa situação leva a um aumento
da Dívida Pública.
2) Receita = Despesa – Situação de Equilíbrio Fiscal.
3) Receita > Despesa – Superávit Fiscal.
A situação ideal é aquela em que o Governo apresente um resultado de
equilíbrio.

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