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Guia definitivo

como cobrar a

Administração

Pública
Tudo o que você precisa saber no âmbito

das Leis Nº 8.666/93 e Nº 14.133/21

Por Pedro Lombardo e Aniello Parziale


A ntes de falar sobre como cobrar a Administração Pública em razão de
uma dívida devida no âmbito de um contrato administrativo é essencial
compreender como funcionam as finanças brasileiras, já que seu
mecanismo é completamente diferente das empresas privadas.
Primeiramente, você deve ter em mente que todos os recursos públicos
são obtidos pela Administração através do recolhimento de taxas,
impostos, contribuições e outras fontes incorporadas ao patrimônio do
Poder Público. A partir daí os recursos necessários são destinados para
fazer frente nas contratações públicas, que devem ser provisionados de
forma coordenada.
Toda contratação depende de receita presente em reserva orçamentária.
A Lei nº 8.666/93, bem como a Lei fed. nº 14.133/21, detém mecanismos
para prevenir a inadimplência, prevendo diversos limitadores para que a
Administração não celebre contratos sem a previsão de recursos
orçamentários.
Tais reservas são originadas de um modelo de gestão criado pela
Constituição Federal de 1988. Sendo assim, antes de pensar em gastar ou
investir qualquer recurso, a Administração deve planejar e gerir as
finanças.

Gestão Financeira da

Administração Pública
Espera-se que o  Chefe do Executivo – quer seja presidente, governador
ou prefeito – cumpra todas as promessas feitas durante a campanha
eleitoral. Só que, para isso acontecer, há a necessidade de
planejamento e uma boa gestão financeira dos recursos.

A gestão financeira da Administração Pública brasileira, nesse sentido,


está planejada e organizada através da criação de planos plurianuais,
fixação anual de diretrizes orçamentárias e edição de Leis
orçamentárias anuais.

Tal organização ou planejamento é realizado por meio da criação de


projetos de leis feitas pelos chefes do executivo (Presidente,
Governador ou Prefeito) que, posteriormente, são aprovadas pelo
legislativo (Senadores, Deputados ou Vereadores). 

Vale a pena falar um pouco dessas peças orçamentárias que organizam


o Estado brasileiro.
Planejamento Plurianual (PPA)

O PPA é o ponto de partida. De forma ampla e


abrangente ele estabelecerá todas as metas e
objetivos que serão perseguidos nos próximos quatro
anos de gestão. Sendo, portanto, estratégico, de modo
que estabeleça onde o Governo pretende chegar nos
próximos 4 anos de gestão. 

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

Com o PPA pronto, elabora-se a LDO que trará as


diretrizes necessárias para viabilizar a estratégia
definida no PPA. Assim, determina-se quais serão as
prioridades e o que poderá ser executado diante do
planejamento definido. Diferente do PPA, que
contempla o planejamento de quatro anos, a LDO é
feita anualmente.

Lei Orçamentária Anual (LOA)

Assim como a LDO, a LOA também tem seu projeto de


lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo e tem
vigência anual e nela é previsto detalhadamente todos
os gastos do governo, possibilitando que as estratégias
definidas no PPA e a diretrizes da LDO se concretizem.

Para maior compreensão deste assunto,

sugerimos que assista o vídeo elaborado pela AGU


– Advocacia Geral da União –, que explica de forma
simples e didática o que são o PPA, LDO e LOA.

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Origem da

Inadimplência
Como explicado no tópico anterior, qualquer gasto do poder público
deve estar previsto na gestão financeira. Este mecanismo serve
essencialmente para que não ocorra a inadimplência.

A Lei Geral de Licitações (8666/93) estabeleceu que o planejamento e a


gestão financeira são indispensáveis, justamente para evitar atrasos ou
falta de pagamentos. Vejamos alguns dispositivos:

Art. 7º. (…)

(...)

§ 2o  As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:

(...)

III – houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o


pagamento das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem
executadas no exercício financeiro em curso, de acordo com o respectivo
cronograma;”

Art. 14. Nenhuma compra será feita sem a adequada caracterização de seu
objeto e indicação dos recursos orçamentários para seu pagamento, sob
pena de nulidade do ato e responsabilidade de quem lhe tiver dado causa.

Art. 57.  A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à
vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos
relativos:

(...)

I – aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas


estabelecidas no Plano Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se
houver interesse da Administração e desde que isso tenha sido previsto no
ato convocatório;

Não é diferente no âmbito da Nova Lei de Licitações (Lei fed. nº 14.133),


cujo teor fixou outros mecanismos para garantir que a Administração
Pública honre os seus compromissos contratuais. Vejamos alguns
dispositivos:

Art. 92.

São necessárias em todo contrato cláusulas que estabeleçam:

(...) VIII - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da


classificação funcional programática e da categoria econômica;

Art. 105.

A duração dos contratos regidos por esta Lei será a prevista em edital, e
deverão ser observadas, no momento da contratação e a cada exercício
financeiro, a disponibilidade de créditos orçamentários, bem como a
previsão no plano plurianual, quando ultrapassar 1 (um) exercício
financeiro.

(...)

II - a Administração deverá atestar, no início da contratação e de cada


exercício, a existência de créditos orçamentários vinculados à contratação
e a vantagem em sua manutenção;

III - a Administração terá a opção de extinguir o contrato, sem ônus, quando


não dispuser de créditos orçamentários para sua continuidade ou quando
entender que o contrato não mais lhe oferece vantagem.

Art. 150.

Nenhuma contratação será feita sem a caracterização adequada de seu


objeto e sem a indicação dos créditos orçamentários para pagamento das
parcelas contratuais vincendas no exercício em que for realizada a
contratação, sob pena de nulidade do ato e de responsabilização de quem
lhe tiver dado causa.
Assim, seguindo a lógica e o rigor da lei, não faz sentido que os
fornecedores sejam pagos com atraso ou (pior ainda) sejam obrigados a
acionar o Poder Judiciário para que a Administração Pública honre seus
compromissos haja vista o lastro orçamentário e a necessidade de
planejamento administrativo que, inclusive, é princípio da licitação, conforme
observa-se da leitura do art. 5º da Nova Lei de Licitações.

Art. 5º

Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legalidade, da


impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do interesse
público, da probidade administrativa, da igualdade, do planejamento, da
transparência, da eficácia, da segregação de funções, da motivação, da
vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança jurídica, da
razoabilidade, da competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da
economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as
disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Infelizmente, o texto legal não reflete o que acontece no mundo real. Este é

um paradoxo difícil de lidar e muito frustrante para nós, operadores do

direito.

A prática nos ensinou que de nada adianta a previsão legal se não houver

capacitação dos servidores envolvidos nesse processo, bem como

planejamento e fiscalização adequados.

Podemos afirmar, com convicção, que a inadimplência existe pela

ausência destes três pilares, importantíssimos:

Capacitação planejamento fiscalização

Perceba que os Tribunais de Contas cobram comportamento ativos dos

gestores públicos para que tais pilares sejam respeitados.

Não temos dúvidas que a falta de pagamento, além de ilegal é imoral. É

inaceitável que o fornecedor tenha seu direito de recebimento cerceado

diante da má gestão dos recursos públicos.

Com efeito, a Administração Pública deve atuar de modo a garantir

previsibilidade do comportamento estatal e segurança jurídica nas suas

contratações para que, cada dia mais, novos particulares acudam ao seu

chamado para participar de licitações. 

19, 20 e 21 de julho em São Paulo

A Nova Era das

Compras Públicas
A Necessária
Observância da
Ordem Cronológica
dos Pagamentos

Um dos principais motivos da inadimplência pela Administração Pública é


a frequente quebra da ordem cronológica dos pagamentos.

De forma objetiva, podemos dizer que a quebra da ordem cronológica, em


geral, ocorre quando há o pagamento prioritário aos “amigos”, em
flagrante violação ao princípio da impessoalidade e moralidade,
expressamente previstos no art. 37, caput, da CF/88.

A lei define que quem executa primeiro o contrato deve receber primeiro.
Isso porque o direito de receber nasce no momento em que se comprova
que o contrato foi fielmente executado, fase da liquidação da despesa
pública. Burlar essa regra é uma atitude criminosa e merece reprimenda.

Como regra, o contrato sempre deve especificar qual crédito


orçamentário suportará a despesa (dotação orçamentária) daquela
contratação. O Tribunal de Contas da União é categórico em suas
decisões:
“Nos contratos administrativos é necessário incluir cláusula que
discrimine o crédito orçamentário que suportará a despesa,
mencionando as respectivas classificação funcional-
programática e categoria econômica e, nos casos em que forem
indicados mais de um crédito, informando o valor alocado a cada
um.” Acórdão: 475/2007 – Plenário. Data da sessão: 28/03/2007.
Relator: Raimundo Carreiro

A dotação orçamentária será específica e isso é um ponto importante a


ser compreendido, pois a dotação orçamentária para execução de uma
obra, por exemplo, não será a mesma para a aquisição de medicamentos.
Então para diagnosticar se houve quebra da ordem cronológica é
necessário confirmar a específica fonte de recursos.

Ou seja, a ordem cronológica não é a mesma de todos os pagamentos,


pois são separadas por fonte de recursos e cada uma tem sua lista. Não
se misturam. É o que consta atualmente na Nova Lei de Licitações,
conforme observa-se da leitura do seu art. 141. Vejamos:

Art. 141.

No dever de pagamento pela Administração, será observada a ordem


cronológica para cada fonte diferenciada de recursos, subdividida nas
seguintes categorias de contratos:

I - fornecimento de bens;

II - locações;

III - prestação de serviços;

IV - realização de obras.

Para melhor compreensão sugiro que assista o


vídeo elaborado pela AGU – Advocacia Geral da
União que explica a ordem cronológica dos
pagamentos:
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A ordem

cronológica é a regra!
Em raríssimas exceções ela pode ser quebrada. Para que isso ocorra
deve existir razões de interesse público e ser previamente justificativa
pela autoridade competente pela ordem dos pagamentos, devendo tal
expediente ser publicizado, conforme exige a Nova Lei de Licitações.
Fique atento ao que estabelece o art. 114, §3º, da Nova Lei de Licitações.

Art. 141.

No dever de pagamento pela Administração, será observada a ordem


cronológica para cada fonte diferenciada de recursos, subdividida nas
seguintes categorias de contratos:

I - fornecimento de bens;

II - locações;

III - prestação de serviços;

IV - realização de obras.
Como cobrar a

Administração Pública
Sabemos que a inadimplência estatal ocorre mesmo com determinações
claras e precisas na lei. Como o empresário deve proceder diante destes
casos?

O primeiro ponto a ser observado é que para cobrar de forma exitosa a


Administração Pública você precisa ser estratégico e adaptado ao modo
que ela funciona. Se você utilizar o mesmo processo utilizado no setor
privado, como por exemplo protestar a dívida, em nada adiantará.

Isto funciona no setor privado porque as consequências de um protesto


são negativas e trarão dificuldades de ordem financeira ao particular.  A
empresa ou pessoa que possui um protesto em seu nome encontrará
dificuldade em obter crédito na praça.

Já a Administração Pública não sofrerá nenhuma consequência. Lembre-


se que os recursos da Administração Pública são oriundos da
arrecadação de impostos, taxas e afins. Logo, não haverá menor
arrecadação por conta de um protesto.

Neste sentido, os instrumentos de cobrança perante a Administração


devem ocorrer através de-
* Cobrança Administrativa
* Representação aos Órgãos de Controle
* Suspensão da execução contratual
* Pleito Judicial.

Todos estes instrumentos devem ser

utilizados no momento correto,

conforme demonstraremos

detalhadamente a seguir.

Passo 1

Cobrança Administrativa

Esse é o primeiro passo a ser dado no momento em que a Administração


Pública deixa de realizar o pagamento conforme previsto no edital e
contrato. Nesta etapa o particular deve demonstrar o débito existente e
exigir o pagamento conforme fixado no ato convocatório.

Um ponto importante a ser observado são as regras OBRIGATÓRIAS


estabelecidas pelo edital em caso de inadimplência. Isto porque a Lei de
Licitações determina que todo edital deve estabelecer:

Πo prazo de pagamentox
Œ o cronograma de desembolso máximo por períodox
Œ o critério de atualização financeira dos valores a serem pagos, desde
a data final do período de adimplemento de cada parcela até a data
do efetivo pagamento; ~
Œ as compensações financeiras e penalizações, por eventuais atrasos.

Observe o que estabelece alguns incisos do art. 92 da Nova Lei de


Licitações:

Art. 92.

São necessárias em todo contrato cláusulas que estabeleçam:

(...)

V - o preço e as condições de pagamento, os critérios, a data-base e a


periodicidade do reajustamento de preços e os critérios de atualização
monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo
pagamento;

VI - os critérios e a periodicidade da medição, quando for o caso, e o prazo


para liquidação e para pagamento;
Ocorre que nem sempre o edital contempla todas essas informações. Na

prática é importante que haja impugnação ao edital quando restarem

ausentes qualquer uma das informações elencadas.

Mas, ainda que não tenha havido a impugnação das cláusulas

obrigatórias, a cobrança deve ser realizada dando ciência da observância

das regras para que não haja o  enriquecimento ilícito por parte do Poder

Público. 

Aliás, o pagamento não deve ocorrer de qualquer forma, em caso de

atraso, deverá tal encargo ser honrado devidamente corrigido, conforme

regras do edital. Ilustrando, assim vem determinando os Tribunais de

Contas e Judiciário.

Inclusive, o eg. STJ firmou entendimento nesse sentido:

4- No mesmo sentido, firmou-se a jurisprudência desta Corte nas

hipóteses de pretensão de incidência de correção monetária

sobre as diferenças pagas administrativamente, com atraso, pela

Administração Pública. Tem-se, pois, que a lesão ao direito ocorre

no momento em que a Administração realizou o pagamento da

respectiva parcela, em valor menor do que seria efetivamente

devido. (AgRg no AREsp 290.162/DF, Rel. Ministra ASSUSETE

MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe

22/08/2014)
Tal necessidade ocorre, ainda, quando o edital e contrato não prevê os

critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das

obrigações e a do efetivo pagamento. Veja o que o eg. STJ trata da

questão:

“3. Esta Corte tem pacífico entendimento no sentido de ser devida

a correção monetária em razão do pagamento de parcelas em

atraso pela Administração, independente de expressa previsão

contratual nesse sentido.” (STJ - Resp nº 1178903/DF - Relatoria

Ministra Eliana Calmon -  DJE: 03/05/2010)

“2. No que diz respeito a correção monetária, conquanto a

jurisprudência consagre a possibilidade de sua incidência mesmo

sem previsão contratual, a autora não fez prova suficiente dos

atrasos de pagamento e correspondentes valores de atualização

monetária. Na fase de especificação de provas, não houve

requerimento de perícia contábil, que seria a prova adequada à

espécie, cujo ônus era da autora uma vez que a fazenda pública

não se sujeita à pena de revelia em sentido estrito. 6. Apelações a

que se nega provimento.” (Processo: AC 2001.34.00.031205-4/DF;

Apelação Cível - Relatoria: Des. Fed. João Batista Moreira - Órgão

Julgador: 5º T- Publicação: 18/12/2008 e-DJF1 p.495)

Para tanto, você poderá utilizar o modelo

que criamos, adaptando ao seu caso

específico:

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Realização:

Assista a palestra do mentor

Murilo Jacoby sobre


“Como cobrar a

administração pública”

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Passo 2

Representação aos

órgãos de controle

Se a cobrança administrativa não surtir efeito, você pode apresentar


representação aos órgãos de controle, considerando que cabe a eles a
fiscalização da correta aplicação da Lei.

Os órgãos de controle deveriam estar mais atentos a essa situação,


exigindo o cumprimento do caput do art. 113º da Lei nº 8.666/93, que
determina:

Art. 113. 

O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos


regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas competente, na
forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da
Administração responsáveis pela demonstração da legalidade e
regularidade da despesa e execução, nos termos da Constituição e sem
prejuízo do sistema de controle interno nela previsto.

§ 1o  Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica poderá


representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de
controle interno contra irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins
do disposto neste artigo.

Deveriam inclusive, responsabilizar os agentes administrativos


envolvidos, não só administrativamente, mas também em caráter penal
quando fosse o caso, assim como determina o art. Art. 337-H do Código
Penal Brasileiro:
Art. 337-H.

Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem,

inclusive prorrogação contratual, em favor do contratado, durante a

execução dos contratos celebrados com a Administração Pública, sem

autorização em lei, no edital da licitação ou nos respectivos instrumentos

contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica

de sua exigibilidade:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa

O acompanhamento e a fiscalização dos contratos é um PODER-DEVER

da Administração Pública que deve assegurar a execução satisfatória de

todas as suas obrigações no tempo e no modo estabelecido pelas

cláusulas contratuais.

Como (na prática) esse controle não é rigoroso e presente como deveria

ser, o interessado deve entrar com um pedido de  representação aos

órgãos de controle, exigindo a aplicação estrita das regras normativas.

Como sugestão segue modelo que poderá

ser apresentado aos respectivos tribunais

de contas competentes:

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Passo 3
Suspensão da

Execução Contratual
Um excelente mecanismo para exigir o pagamento é a suspensão da
execução do contrato, a ser solicitado pelo contratado, pois, certamente,
tal situação forçará o pagamento, mas cuidado, pois existem fatores
importantes a serem considerados. 

Todavia, é preciso ter prudência  para evitar que uma prerrogativa


autorizada por lei não se torne uma vilã, pois já presenciamos casos em
que a suspensão de um contrato se tornou um pesadelo na vida do
contratado.

Detalhes fazem a diferença, por isso, considere-os.

De acordo com o art. 78, inc. XV da Lei fed. nº 8.666/93, o fornecedor


poderá suspender a execução do contrato somente no caso da
Administração Pública atrasar o pagamento por mais de 90 dias. Já no
âmbito da Lei fed. nº 14.133/21, observa-se a redução do prazo que o
particular deve suportar a inadimplência do Poder Público contratante,
que hoje é de 60 dias, conforme denota-se da leitura do art. 137, §2º, inc.
IV, da Nova Lei de Licitações.

Portanto, tal atitude será possível somente para aqueles contratos de


execução continuada ou parcelada, e deverá ocorrer judicialmente,
devendo tal pedido ocorrer por meio de um advogado especializado.

Um fato curioso que nos deparamos frequentemente é a


alegação de alguns órgãos ou entidades de que eles possuem
até 90 dias para pagar. Tal afirmação é um verdadeiro absurdo!
O prazo em questão serve apenas para autorizar o fornecedor a
suspender a execução contratual diante da falta de pagamento por parte
da Administração, haja vista a necessidade da Administração recompor o
capital do contratado para que este continue a execução do objeto
contratado. Sabe-se que como a regra não é a antecipação de
pagamento no âmbito dos contratos administrativos, o contratado deve
iniciar a execução com recursos próprios.

Portanto, vale repetir: você pode suspender a execução do contrato


somente se a Administração Pública atrasar mais de 60 (em contratos
com arrimo na nova lei de licitações) ou 90 dias (em contratos com
arrimo na lei de licitações a ser revogada). Mas, dependendo do objeto
contratual, ainda que tenha superado os 90 dias, sugerimos tomar certos
cuidados.

Se a interrupção de determinado fornecimento ou serviço resultar em


prejuízos e danos irreversíveis ao órgão público (especialmente aos
cidadãos) é de bom tom que, antes da paralisação, o interessado recorra
ao Judiciário, demonstrando a inviabilidade de prosseguir com a
execução contratual diante da inadimplência.  

Tal precaução é necessária porque a relação contratual entre o particular


e o público não é igualitária, como em um contrato privado. 

Nos contratos administrativos prevalecem as necessidades e o interesse


público, por isso há tantas cláusulas em prol do contratante. Dito isso, se
a suspensão de determinado serviço resultar em danos irreversíveis ao
órgão público, poderão ocorrer punições severas à empresa, ainda que
haja autorização no texto legal! 

Portanto, lembre-se disso, antes de suspender, buscar o aval do Poder


Judiciário, pois é mais seguro agir assim!

Exemplos de contratos que devem ter maior cautela ao suspender a


execução: Fornecimento de merenda escolar, medicamentos para
tratamento cuja interrupção resulte em severos danos à saúde, translado
e remoção de pacientes. 

Perceba que a consequência da interrupção dos objetos citados como


exemplo, trará prejuízos irreversíveis. Nestes casos, será necessário a
autorização judicial para que não ocorram penalidades ao contratado.

Cuidado ao interromper

contrato originado de uma

Ata de Registro de Preços!

Édiferente
importante que você compreenda que a Ata de Registro de Preços é
de um contrato administrativo!

A Ata de Registro de Preços é uma espécie de compromisso prévio à


contratação. Ao assinar a ARP sua empresa está firmando o compromisso
que, se necessário pela Administração Pública, executará o contrato pelo
preço vitorioso na licitação durante o período estabelecido, que agora no
âmbito da Nova Lei de Licitações poderá vigorar por até 2 anos.

Desse compromisso firmado resulta o contrato. Ocorre que geralmente


não há a emissão de um contrato propriamente dito, pois frequentemente
o contrato é substituído por Autorização de Fornecimento ou AF, Nota de
Empenho ou Ordem de Serviço ou Fornecimento que, tecnicamente,
chamados de instrumentos contratuais simplificados – o que confunde o
licitante, por não associar esse documento como o momento da
contratação. Ou seja, quando sua empresa recebe o empenho de uma
ARP é o momento em que o contrato está sendo firmado. 

E por que é tão importante saber disso?

É importante ter esta afirmação em mente para que, ao suspender a


execução do serviço, você considere cada empenho ou ordem de serviço
isoladamente. Na prática dificilmente você poderá suspender a execução
de um empenho!

É muito comum os licitantes interpretarem que os noventa dias valem a


partir do primeiro empenho, usando este como referência para
contabilizar o atraso de 90 dias, mas esse prazo deve corresponder a
cada empenho.

No entanto, a interrupção precisa da autorização judicial, isso porque a


interrupção de ofício (sem necessidade de autorização judicial) só
poderia ocorrer diante do atraso superior a 90 dias.
Neste caso, a empresa deverá amparar seu pleito ao Judiciário com base

na teoria geral dos contratos, já que a Lei Geral de Licitações e Contratos

prevê que:

Art. 54. 

Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se pelas suas

cláusulas e pelos preceitos de direito público, aplicando-se-lhes,

supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições

de direito privado.

Nesse sentido, o Código Civil, por sua vez, estabelece que:

Art. 476.

Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a

sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

 Art. 477.

Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes

diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a

prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que

lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia

bastante de satisfazê-la.

Assim, uma vez obtida a autorização judicial para a suspensão do

contrato, sua empresa estará segura e a Administração Pública não

poderá aplicar nenhuma penalidade ao contratado.


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Passo 4

Cobrança através

da via Judicial

O pleito ao Poder Judiciário acerca da inadimplência por parte da


Administração Pública deve ser uma atitude sempre analisada com
cautela antes de ser tomada.

Infelizmente o Poder Judiciário não é  eficiente. Quem já ajuizou uma


ação e precisou esperar anos para ter seu direito garantido sabe bem do
que estamos falando. 

Nosso judiciário já é naturalmente moroso, mas a demora é ainda maior


quando se trata de pagamentos provenientes dos recursos estatais.
Estamos falando de anos e até décadas para ter o efetivo pagamento,
haja vista a necessidade do pagamento ocorrer por meio de precatório,
como regra. Vejamos:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – COBRANÇA – Crédito oriundo de


contrato administrativo inadimplido e reconhecido judicialmente
– O pagamento das dívidas da Fazenda Pública, decorrentes de
sentenças judiciárias, qualquer que seja sua natureza, está
submetida a regime de precatórios – Inteligência do artigo 100 da
Constituição Federal - Exequente que almeja o sequestro de
verba para satisfação da dívida – Impossibilidade – Débito
público sujeito ao regime de precatório – Requisição de pequeno
valor, nos termos do art. 910 do CPC. Decisão mantida. Recurso
negado.” (TJSP;  Agravo de Instrumento
2200708-71.2019.8.26.0000; Relator (a): Danilo Panizza; Órgão
Julgador: 1ª Câmara de Direito Público; Foro de Presidente
Epitácio - 1ª Vara; Data do Julgamento: 12/11/2019; Data de
Registro: 12/11/2019)
Opte sempre em contratar um advogado especializado neste tipo de
demanda, pois a experiência no trâmite de pagamento da Administração
Pública é indispensável para uma atuação segura e assertiva.

Algo que não deve ser ignorado é o valor da inadimplência, pois, a


depender disto, pode-se realizar uma requisição de pequeno valor. Este é
um bom caminho, pois é um trâmite mais rápido.

Requisições de pequenos valores (RPV)

A Requisição de Pequeno Valor, ou RPV, é uma modalidade de requisição


judicial de pagamento para montantes considerados como de pequeno
valor. É importante observar qual o teto definido como limite no ente
federativo em que será ajuizada a ação, pois podem existir patamares
diferentes.

O artigo 87, I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,


estabeleceu que, enquanto os entes federativos não editarem lei
regulamentando o valor para RPV, no âmbito da Fazenda dos Estados e
do Distrito Federal, é considerado pequeno valor o equivalente a 40
salários mínimos, e para os municípios, 30 salários mínimos.

No caso do Distrito Federal, a Lei Distrital 3.624/2005 fixou em 10 salários


mínimos o patamar máximo da requisição de pequeno valor, por autor.
Acima dessa quantia, o pagamento será feito mediante precatório.

Cabe ressaltar que a Lei 10229/2001, que instituiu os Juizados Especiais


Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, estabeleceu que, na
Justiça Federal, é considerado como pequeno valor o equivalente a 60
salários mínimos.

Neste caso o pagamento é mais rápido porque ao término da ação não


haverá a emissão de precatório em que a fila de espera é enorme,
conforme demonstraremos nos tópicos seguintes.

Em resumo, a atuação na esfera Judicial nestes casos é bem-vinda, já


que será mais rápida comparado aos casos com montante maior, em que
necessariamente deverá ocorrer por precatório.
Cobrança judicial de valores em

patamares maiores aos admitidos na RPV

Neste momento, a análise para ingressar com a cobrança deve ser bem
definida e dependerá, obviamente, de TODAS as peculiaridades do caso
concreto. Repetimos: opte sempre pela atuação de um advogado
especialista para auxiliá-lo na tomada de decisão mais eficiente.

Dependendo do caso, a única alternativa será através de uma ação


ordinária de cobrança ou ação monitória (um tipo de procedimento
judicial especial de cobrança).

Tanto na Ação de Cobrança Ordinária quanto na Ação Monitória, assim


que houver a decisão favorável reconhecendo o valor devido, será
emitido um título executivo, conhecido como precatório.
Precatório

Opúblico
s precatórios são instrumentos utilizados para requisitarem do poder
o pagamento de dívidas decorrentes de processo judicial
transitado em julgado.

Assim que a Justiça condenar o ente federativo a pagá-lo, será expedido


um documento endereçado ao Presidente do Tribunal de Justiça.  Ele, por
sua vez, autorizará o início do processo de precatório,  formado a partir
das informações prestadas pela vara que estiver tramitando o processo, e
que passará a ter andamento na Coordenadoria de Conciliação de
Precatórios, unidade vinculada à Presidência.

A requisição é materializada em documento encaminhado pelo


Presidente do Tribunal ao ente público devedor, que deve incluir o valor
devido em seu orçamento e realizar o repasse de recursos para
pagamento.

As contas em que são depositados os recursos destinados ao pagamento


de precatórios são administradas pelo Tribunal, que realiza o pagamento
aos credores segundo uma lista cronológica organizada de acordo com a
data de apresentação do precatório – uma espécie de fila organizada.

E é neste momento que o Credor “senta e espera”. 

Não é exagero, a demora é considerável!

Por que o pagamento de um precatório demora tanto?


A dívida pública é muito alta e pagar todos seus credores de uma vez
afetaria a execução dos serviços essenciais. Deste modo, na gestão
financeira o órgão prevê uma reserva para pagar seus credores –este
valor é previsto na LOA. 

Claro que esta reserva é insuficiente para pagar todos os credores e por
este motivo demora tanto para receber um precatório. Anualmente, é
separado uma parte do valor arrecadado para pagar os credores que
recebem em ordem cronológica organizada pelo Judiciário, conforme
explicado no tópico anterior.

Ordem cronológica como direito líquido e certo

Dependendo do caso concreto, uma boa alternativa é evitar utilizar as


ações de cobrança, pois, como explanado, o resultado será a obtenção
de um precatório e consequentemente uma demora considerável para
receber da Administração Pública.

Um caminho inteligente a ser perseguido, quando identificado que a


Administração não está observando o pagamento dentro da ordem
cronológica, é pleitear que este seja efetuado mediante a correta ordem. 

Esse caminho será muito mais célere, Isso porque será realizado através
de um Mandado de Segurança, remédio constitucional que tramita mais
rápido do que uma ação ordinária e não resultará na obtenção de um
precatório, mas, sim, obrigará que administração realize o pagamento
seguindo o que determina a lei, pagando quem executou primeiro, sem
privilégios para contratos pretéritos.
Considerações

finais
Esse conteúdo buscou trazer informações importantes para que você
compreenda como funciona a Administração Pública de modo que
consiga criar procedimentos para evitar que a inadimplência do Poder
Público resulte em prejuízos irreversíveis.

Seguindo essas dicas e diretrizes, certamente, você encontrará


mecanismos eficazes para receber o que é seu por direito.

É importante ressaltar que, após realizado todos os procedimentos


administrativos sem o resultado esperado, você procure um
especialista para realizar a cobrança perante o poder judiciário.
Certamente sua empresa terá grandes chances de receber o
pagamento e minimizar os prejuízos advindos da sua falta.
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e sua empresa alcancem o próximo nível e deixe os concorrentes para
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 Gabriela Pércio-  Medidas preventivas para um contrato de sucesso  '
 Tatiana Camarão  - Revisão e Reajuste da Ata de Registro de Preços:
garantia de acerto em um futuro incerto'
 Jacoby Fernandes -  Garantias aos contratados pela Administração
Pública na Lei 14.133/2021 e na Lei 13.303/2016'
 Viviane Mafissoni - Sanções Administrativas das Leis 14.133/21 e
13.303/16: não fique fora do jogo '
 Aniello Parziale  -  Os 3 R's do Contrato Administrativo: Reajuste,
Repactuação e Revisão - a utilização de um inviabiliza o outro?'
 Ronny Charles - Transição da lei 8.666/93 para 14.133/21: como ficam
os contratos vigentes?
Está esperando o que para vencer no mercado de licitações?

Produzido por:

Pedro Lombardo
É advogado e Diretor

Jurídico do Conlicitação

Aniello Parziale
É advogado e Consultor técnico jurídico do Conlicitação.

É professor de Direito Administrativo da Pós-Graduação da

Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em Direito

Econômico pelo Mackenzie. Pesquisador da PUC/SP e Mackenzie


Realização:

19, 20 e 21 de julho em São Paulo

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Compras Públicas

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Um grande abraço e ótimos negócios!

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