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A PESSOA JURÍDICA
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “pessoas jurídicas são entidades a que
a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e
obrigações” (GONÇALVES, 2017). Pessoa jurídica, então, é aquele conjunto de
pessoas ou bens destinados a uma finalidade comum que, constituído na forma da
lei, tem sua própria personalidade jurídica. Vale destacar que tal personalidade é
conferida ao grupo e é distinta da de cada um dos seus membros, não se
confundindo com a personalidade individual dos integrantes. As pessoas jurídicas,
assim, atuam na vida social em nome próprio, não importando o indivíduo que
esteja por trás, salvo em casos específicos que serão abordados mais à frente.
Diante disso, antes de dar prosseguimento e entender o caso de exceção a
essa individualização patrimonial, vale lançar uma maior luz ao instituto da pessoa
jurídica em suas variadas facetas.
Quanto à natureza jurídica da pessoa jurídica, há grande discussão
doutrinária. Há teóricos inclusive que negam a existência dessa modalidade de
personalidade (teorias negativistas), não aceitando que uma coletividade possa ser,
por si mesma, sujeito de direitos e obrigações. A grande maioria da doutrina, porém,
entende e estuda esse fenômeno (teorias afirmativistas), dividindo-se em
defensores da teoria da ficção e da teoria da realidade.
A teoria da ficção é aquela que afirma que a pessoa jurídica não teria
existência real, antes, seria uma ficção criada pela lei, para aqueles que defendiam
ficção legal, ou pela intelecção dos juízes, para os defensores da ficção doutrinária.
Esta corrente doutrinária, porém, é problemática pois trata como ficção, por
conseguinte, a existência do próprio Estado como pessoa jurídica, tornando também
ficção todo o Direito. Sendo assim, este pensamento não costuma mais ser
acolhido.
Já a teoria da realidade considera as pessoas jurídicas como indivíduos em
si, com existência clara, não abstrata. Divide-se em teoria da realidade objetiva,
realidade jurídica e realidade técnica. A teoria da realidade objetiva afirma que a
pessoa jurídica existe por imposição da força social, simplesmente pela vontade
colocando o Estado como mero espectador. A da realidade jurídica também dá
ênfase ao aspecto sociológico, mas considera que as pessoas jurídicas não nascem
de uma vontade antes simplesmente a partir da associação para um ideia
socialmente útil.
Por fim, a teoria da realidade técnica afirma que a personificação seria um
atributo de ordem técnica, isto é, produto da técnica jurídica pois se trata de um jeito
encontrado pelo Direito de reconhecer os grupos que se unem para a persecução
de um fim. A personificação, assim, é dada a grupos que tenham vontade e
objetivos próprios, tendo em vista requisitos técnicos. Apesar de ser uma concepção
positivista que carece de critérios materiais, esta foi a teoria adotada pelo Código
Civil de 2002.
As pessoas jurídicas podem ser de Direito Público ou de Direito Privado. São
pessoas jurídicas de Direito Público Interno a União, os Estados, o Distrito Federal,
os Territórios, os Municípios, as autarquias, inclusive as associações públicas e as
demais entidades de caráter público criadas por lei. Já as de Direito Público Externo
são as diversas nações existentes no mundo, bem como organizações
internacionais (ONU, OEA, Unesco, etc.). A existência das pessoas jurídicas de
Direito Público, no entanto, não se dá da mesma forma que as de Direito Privado,
pois elas, em regra, não são regidas pelo Código Civil, e sim pelo próprio direito
público. Podem advir, portanto, da lei, de fatores históricos, da própria Constituição,
dentre outras hipóteses.
Já as de Direito Privado são reguladas pelo Código Civil e tem suas espécies
também lá destacadas: são as associações, as sociedades, as fundações, as
organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de
responsabilidade limitada.
No que tange às espécies do Direito Privado, então, para que elas sejam
formadas, é preciso que sejam conjugados elementos materiais, quais sejam, uma
multiplicidade de pessoas ou bens e uma finalidade certa, além do elemento formal,
a saber, ter ela um ato constitutivo registrado no órgão competente. Carlos Roberto
Gonçalves resume em 4 pontos:
CONCLUSÃO
Destarte, diante do supracitado, resta evidente a importância do instituto da
pessoa jurídica enquanto unidade coletiva que atua como um sujeito de direito e
representa as coletividades que já se dão na vida social, na realidade, de modo
mais prático e dinâmico. A pessoa jurídica pode ser de direito público ou privado,
sendo apenas os últimos regulados pelo código civil. Ademais, ela tem requisitos
definidos para que exista, em especial o registro, sem o qual não inicia a sua
existência.
Ocorre, porém, que mesmo com os todos os requisitos preenchidos, pode
ocorrer de alguns abusarem dos direitos reconhecidos a essa coletividade enquanto
sujeito de direitos e obrigações próprias. Não obstante a isso, pelo princípio do
abusus non tollit usum, o abuso deste instituto por alguns não proíbe o seu uso, e
mais, fortalece a sua existência no Direito visto que este irá se adaptar.
Nesse diapasão foi instituída a hipótese da desconsideração da
personalidade jurídica, na qual, numa exceção ao princípio da autonomia
patrimonial, pode-se atingir os bens do sócio para sanar uma demanda creditícia.
No Código Civil Brasileiro de 2002, foi adotada a teoria maior quanto a
desconsideração, devendo ela ser declarada apenas quando preenchidos os
requisitos legais do artigo 50 do mesmo diploma legal. Por fim, vimos que é também
possível a desconsideração da personalidade jurídica inversa, na qual a
personalidade da empresa é afastada para atingir os bens de uma pessoa natural.
Por fim, pode-se concluir que o instituto da pessoa jurídica de fato foi fortalecido e
hoje o ordenamento tem condições de lidar com abusos e ilegalidades na questão
por causa da estudada desconsideração.
BIBLIOGRAFIA
https://www.culturagenial.com/o-homem-e-um-animal-politico/
Gonçalves, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral / Carlos
Roberto Gonçalves. – 15. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017
https://educalingo.com/pt/dic-de/abusus-non-tollit-usum
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10722/Desconsideracao-da-personalidad
e-juridica-contorno-ao-principio-da-autonomia-patrimonial
https://celsoaires.jusbrasil.com.br/artigos/444700271/a-desconsideracao-da-persona
lidade-juridica
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-91/breve-analise-sobre-a-importancia-d
o-precedente-britanico-salomon-v-salomon-para-o-direito-empresarial/
https://economia.ig.com.br/colunas/defesa-do-consumidor/2020-09-04/a-desconside
racao-da-personalidade-juridica-no-codigo-civil-e-no-cdc.html
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/25082021-Teoria-
menor-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica-prevista-no-CDC-nao-atinge-a
dministrador-nao-socio-da.aspx#:~:text=Prevista%20pelo%20artigo%2028%2C%20
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