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1
Ferreira dos Reis, A. (1990). Pessoas Coletivas e Sociedades Comerciais. A Sua Representação.
Porto: Ecla Editora.
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Pais deVasconcelos, P.(2006). Direitosde Personalidade.Coimbra:Almedina.
concreta do ser humano e o Direito permite regular a atividade do ser humano na
prossecução de interesses e na realização de determinados fins. Estes fins ou
interesses podem ser individuais ou coletivos, ou seja, podem respeitar ao ser humano
individualmente considerado, ou ser comum aos membros de uma sociedade. Sendo a
personalidade jurídica a qualidade de ser pessoa no Direito, este acaba por diferenciar
a personalidade jurídica em singular e em coletiva.
Nas pessoas singulares, ela é uma exigência do Direito em relação ao respeito e à
dignidade que se deve reconhecer a todos os indivíduos. Por outro lado, nas pessoas
coletivas, trata-se de um processo técnico de organização das relações jurídicas
conexionadas com um dado empreendimento colectivo.
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Pereira de Sousa,D.(2013).Noções Fundamentaisde Direito.Coimbra:Coimbra Editora.
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Oliveira Ascensão, J. (2000). Direito Civil –Teoria Geral, vol.I – Introdução,as Pessoas,os Bens. 2ª
ed.,Coimbra:Coimbra Editora
AS PESSOAS COLETIVAS
ORIGENS HISTÓRICO-DOGMÁTICAS.
A perspetiva coletiva apresenta uma relevância jurídica bastante actual, de forma que
o termo pessoas coletivas, devido a este interesse crescente, tem vindo a ser alvo de
debate ao longo da história do pensamento jurídico nacional e internacional. Contudo,
a natureza da pessoa coletiva divide a doutrina, havendo mesmo autores que negam a
existência de uma personalidade coletiva, enquanto instituto autónomo.
A ideia de entidade coletiva é antiga e tem vindo a sofrer inúmeras mudanças,
consoante a dogmática dominante em cada tempo histórico e também consoante o
poder que os entes coletivos foram criando para si mesmos em confronto com o poder
político dominante (Meireles, 2006)5
A ideia de pessoa coletiva que permita integrar em si mesma outra realidade que não a
pessoa humana é relativamente recente, tendo surgido com o pós jusracionalismo de
Pufendorf. Esta ideia permitiu a Savigny, no século XIX, avançar com uma noção de
personalidade coletiva assente na teoria da ficção, que,como será abordado
adiante,considera que a pessoa coletiva corresponde a uma ficção artificial da ordem
jurídica.
Uma outra orientação teórica foi desenvolvida por Hans Kelsen, a designada teoria do
Normativismo Formalista. Para esta teoria, ao contrário dos ficcionistas, a
personalidade, tanto singular como coletiva, é uma construção da ordem jurídica. A
pessoa, como suporte de deveres jurídicos e de direitos subjetivos, não é algo
diferente dos deveres jurídicos e dos direitos subjetivos dos quais ela se apresenta
portadora. Para Kelsen, a pessoa física ou jurídica que tem deveres jurídicos e de
direitos subjetivos é um complexo de deveres jurídicos e de direitos subjetivos cuja
unidade é figurativamente expressa no conceito de pessoa e a pessoa é tão somente a
personificação dessa unidade.
Furtado (2001) acrescenta que a personalidade coletiva está longe de ser um mito, ou
um mero símbolo incompleto, e nem sequer será apenas uma simples realidade
normativa, mas, verdadeiramente, uma realidade complexa de facto e de Direito. Na
construção normativa, não pode sequer haver ficção, nem relativamente ao suporte
factual em que assentam as pessoas coletivas, que não são um produto da fantasia,
mas têm existência real.
Segundo Pais de Vasconcelos (2010)6 parece claro que, quando se está a falar em
personalidade jurídica e em direitos de personalidade, só a pessoa humana tem
dignidade própria originária, autónoma e suprajurídica, que não é criada pelo Direito e
este se limita a reconhecer, tem o dever de respeitar e tem por missão defender.A
personalidade coletiva é algo que não pode ser confundido com a personalidade
singular, nem posto no mesmo plano, embora seja pelo Direito construída à sua
imagem e semelhança. Por tudo isto, não parecem fundadas as construções monistas
que põem no mesmo plano a personalidade singular e a personalidade coletiva, nem
as ficcionistas que negam toda a substância à personalidade coletiva.
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Pais deVasconcelos, P.(2006). Direitosde Personalidade.Coimbra:Almedina.
personalidade coletiva é, seguramente, personalidade jurídica e, assim sendo, é uma
realidade jurídica, não se tendo avançado na determinação da sua natureza.
Um outro autor que critica abertamente o realismo é Sendin (1997). Na sua obra, o
autor considera que a pessoa coletiva deve compreender-se não como um sujeito
jurídico com entidade própria, substituindo-se às pessoas singulares e fazendo-as
desaparecer, mas apenas como um centro de imputação jurídica em que são os
próprios membros que são unificados.
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(1996). Teoria Geraldas Obrigações. 3ª edição.Coimbra:Almedina.
A correta utilização do termo “pessoa coletiva” apenas permite identificar as
entidades coletivas que sejam dotadas de personalidade jurídica (Meireles, 2006).
Possuem património próprio, separado do das pessoas singulares ligadas à pessoa
coletiva, são titulares de direitos e destinatárias de deveres jurídicos e adquirem
direitos e assumem obrigações através da prática de atos jurídicos, realizados em seu
nome pelos seus órgãos (Mota Pinto & Pinto Monteiro, 2005).
Atualmente, de acordo com Menezes Cordeiro (2010a 8), pessoa singular refere-se ao
ser humano, enquanto que a pessoa coletiva se refere a toda aquela que não possa ser
reconduzida a um ser humano, o que demonstra que o termo pessoas coletivas parece
ser o mais correto, já que estas são organizações constituídas por uma colectividade
de pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou
coletivos, às quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica. São organizações
integradas essencialmente por pessoas ou bens, que constituem centros autónomos de
relações jurídicas (Mota Pinto & Pinto Monteiro, 2005).
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Menezes Cordeiro, A. (2000). O Levantamento da Personalidade Coletiva: no Direito Civil e
Comercial.Coimbra:Almedina.
O substrato é o elemento de facto, essência e base; trata-se da realidade, lógica e
cronologicamente anterior ao segundo elemento, este é também designado por
elemento material.
O reconhecimento é o elemento que faz entrar aquela realidade extrajurídica no
mundo dos entes jurídicos, das pessoas jurídicas. É por isso, o elemento de Direito,
investe de personalidade jurídica. AMARAL (2006).
Substrato
É o conjunto de elementos da realidade extrajurídica, elevado à qualidade de sujeito
jurídico pelo reconhecimento.
O substrato é imprescindível para a existência da Pessoa Colectiva.
No substrato destacam-se quatro subelementos, sendo estes:
Pessoal;
Patrimonial;
Teleológico;
Organizatório.
a) Elemento pessoal
Traduz-se no conjunto de pessoas reunidas na pessoa colectiva coerentemente
mobilizadas a um fim comum.
Não é elementos essencialmente constitutivos nas fundações, apenas se verificando
nas associações ou corporações, pelo que é em sentido próprio o conjunto dos
associados.
b) Elemento patrimonial
Este, intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o fundador afectou à
consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se habitualmente por
dotação.
Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer negócio jurídico (art. 280º
CC). Assim, deve o fim da Pessoa Colectiva ser determinável, física ou legalmente,
não contrária à lei ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons costumes (art. 280º
CC).
Deve se comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades.
Quanto às Associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados não
há preceito expresso, formulando a sua exigência, mas esta deriva da razão de ser do
instituto da personalidade colectiva. Quanto às Fundações a exigência deste requisito
não oferece dúvidas estando excluída a admissibilidade duma Fundação dirigida a um
fim privado do fundador ou da sua família; com efeito, dos art. 157º e 188º/1 CC,
resulta a necessidade de o escopo fundacional de ser de interesse social.
Põe-se, por vezes, o problema de saber se o fim das Pessoas Colectivas deve ser
duradouro ou permanente.
c) Elemento organizatório
Conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo
fim que se procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Colectiva,
sendo assim que a Pessoa Colectiva consegue exteriorizar a sua vontade (colectiva).
É o instrumento jurídico através do qual se organizam as vontades individuais que
formam e manifestam a vontade colectiva e final da associação. São o elemento
estrutural, não tendo realidade física.
“É através dos órgãos que a Pessoa Colectiva, conhece, pensa e quer”.
Os actos dos órgãos da Pessoa Colectiva têm efeitos meramente internos para a
satisfação dos fins dessa Pessoa Colectiva.
É o centro de imputação de poderes funcionais com vista à formação e manifestação
da vontade juridicamente imputável à Pessoa Colectiva, para o exercício de direitos e
para o cumprimento das obrigações que lhe cabem. Não tem todos os poderes e nem
todos os direitos que cabem à Pessoa Singular, só tem Capacidade de Exercício para
aquilo que lhe é especificamente imposto.
A cada órgão são atribuídos poderes específicos segundo uma certa organização
interna, que envolve a determinação das pessoas que os vão exercer. Os titulares são
os suportes funcionais atribuídos a cada órgão, o qual denomina-se competência do
órgão.
Órgão individual – decide;
Órgão deliberativo – delibera.
Os órgãos podem ser singulares ou colegiais.
Esta distinção resulta do suporte do órgão ser constituído por uma (singular) ou várias
(colegial) pessoas.
Reconhecimento
De acordo com Mário (1884), o reconhecimento é a atribuição pela ordem jurídica, ao
substrato, da personalidade jurídica.
Assim, só com o reconhecimento a organização de facto pode ascender a pessoa
jurídica, ser susceptível de direitos e deveres; ou seja, a pessoa jurídica nasce,
constitui-se de Direito, apenas com o reconhecimento.
O reconhecimento pode assumir as seguintes formas fundamentais:
Reconhecimento normativo;
Reconhecimento individual (por concessão).
Reconhecimento Normativo
A Personalidade Jurídica da Pessoa Colectiva é atribuída por uma norma jurídica a
todas as entidades que preenchem certos requisitos inseridos nessa norma jurídica.
Este pode ainda ser:
Incondicionado: quando a atribuição da Personalidade Jurídica só depende da
existência de um substrato completo. Não são necessárias mais exigências.
Condicionado: quando a ordem jurídica, já pressupõe certos requisitos de
personificação.
Reconhecimento Individual
nstituição – reconhecimento individual
Para que o reconhecimento tenha lugar, é necessário que o substrato esteja
constituído.
Resultando o substrato, nas fundações, da vontade do fundador, o seu regime legal é
orientado por esta. Assim, é o fundador que constitui a fundação por acto intervivo ou
por testamento (segundo prevê o artigo 185. o do CC), ai determinando desde logo, o
fim que a fundação deverá exclusivamente prosseguir.
A instituição intervivos terá de revestir a forma de escritura pública.
Os elementos essenciais da instituição são apenas dois, nos termos do art. 186. o/1 do
CC:
1. A determinação do fim: uma vez que não poderá ser reconhecida a fundação cujo
fim não for considerado de interesse social pele autoridade administrativa potente.
2. A especificação dos bens que constituem a dotação: dado que também não
poderá ser reconhecida a fundação para a qual forem afectados bens que se mostrem
insuficientes para a prossecução daquele fim, nem se verifiquem justificadas
expectativas de suprimento desta insuficiência.
Já a determinação da sede, da organização e do funcionamento, podem apenas constar
dos estatutos. Estatutos que caso não existam ainda, ou se apresentem incompletos no
momento do reconhecimento, devem ser providos pela autoridade competente para
este reconhecimento.
Se a falta ou a insuficiência de estatutos acontecer em função instituída por
testamento, os executores desta poderão elabora-los até um ano após abertura da
sucessão.
O reconhecimento duma fundação só pode ser negado com fundamento nas duas
verificações apontadas: fim de interesse não social e insuficiência de bens necessários
a prossecução deste fim.
Pessoas colectivas de direito público e pessoas colectivas de direito privado
Segundo Pinto (2005)9 há que distinguir entre pessoas colectivas públicas e pessoas
colectivas privadas. Serão pessoas colectivas públicas aquelas que disponham de
competências de poder publico, traduzidas numa posição de supremacia. Posição esta
manifestada na susceptibilidade de recurso imediato a formas de protecção coactiva
estadual para submeter os particulares das suas normas ou decisões.
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PINTO, Carlo Alfredo da Mota. Teoria geral do Direito Civil. 4ª Edição. Coimbra Editora. Março,
2005.
Serão pessoas de Direito privado, por exclusão todas as que não disponham de
poder publico.
Pessoas colectivas de Direito público.
Na visão de Telles (2001)10 são pessoas de Direito Público, aquelas que se encontram
vinculadas e cooperam com o Estado num conjunto de funções públicas específicas,
isto é, são entidades constituídas por iniciativa publica, para assegurar a prossecução
de interesses públicos, e detentoras, em regra, de puderes de autoridade exercidos em
nome próprio. Estes ocupam uma posição de supremacia em relação aos particulares,
que tem de lhes obedecer. Agem sob a égide do Direito público; mas podem actuar, e
por vezes actuam nos termos próprios do Direito privado.
Constituição das pessoas colectivas
O início da sua personalidade resulta de um acto que geralmente se analisa em, três
momentos distintos:
Organização do substracto da Pessoa Colectiva;
Reconhecimento da Pessoa Colectiva;
Registo da Pessoa Colectiva.
Organização do substracto da pessoa colectiva
TELLES, Inocêncio Galvão. Introdução ao estudo do Direito. Volume 2. 10ª Edição. Coimbra
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A lei estabelece ainda para as sociedades comerciais e para as civis sob forma
comercial a escritura pública, que tem de abranger o pacto social.
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Código civil de Mocambique 2023.
2. Conclusão
Após uma profunda e exaustiva pesquisa, pudemos concluir que, pessoas
colectivas podem ser definidas como organizações constituídas por uma
colectividade de pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos a realização de
interesses comuns, às quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou
essencialmente ou bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas
– autónomos mesmo em relação aos seus membros ou às que actuam como seus
órgãos.
A personalidade coletiva é, assim, um mecanismo técnico-jurídico, justificado
pela ideia de, com maior comodidade e eficiência, organizar a realização dos
interesses coletivos e duradouros.
Para o Direito Moçambicano adquire-se Personalidade Jurídica quando há vida,
independentemente do tempo que se está vivo. A durabilidade não tem importância
para a Personalidade Jurídica, geralmente, o “ponto” de referência para o começo da
Personalidade Jurídica é a constatação da existência de respiração. Isto porque a
respiração vem significar o começo de vida.
Referencias Bibliograficas