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Universidade Licungo

Faculdade de Letras e Humanidade

Curso de Direito

Princípios do Direito Civil

O presente trabalho é de caractér


avaliativo, pertecente a cadeira de
Direito Civil I, como requisito de
obtenção de Licenciatura.

Orientadora, dr: Minora Tape

Layd Luis Germano

Quelimane
2024
Introdução

O presente trabalho, pertecente a cadeira de Teoria Geral de Direito Civil I é de caractér


avaliativo.

O Direito Civil, enquanto sistema, não constitui um simples somatório de normas jurídicas.
Bem pelo contrário, por maior que seja a sua dispersão formal, um ramo de Direito existe
como tal, quando seja possível fixar uma série de princípios comuns, que constituam linhas
dominantes de todas as suas normas, transformando-as num todo harmonioso e sistemático.

Embora as considerações anteriores o deixem já perceber, não está aqui em causa uma
ordenação formal de normas, mas uma ordenação material ou substancial, segundo certos
valores. Assim, a descoberta e a enunciação desses princípios, plasmados em institutos
fundamentais do sistema, permitem surpreender a essência e os fundamentos do regime
dimanado de certo conjunto de normas. Em suma, esses princípios explicam também o seu
conteúdo.
Desenvolvimento

Principios do Direito Civil

Com a análise de princípios fundamentais, precisamente por eles tocarem o cerne do Direito
Civil, alcança-se uma visão mais perfeita do sentido deste ramo de Direito. Por duas ordens
de razões, a um primeiro exame contraditório: por um lado, eles permitem reconduzir a um
esquema lógico comum os vários institutos de Direito Civil e facultam, assim, uma melhor
visão de conjunto da matéria; por outro lado, ao enunciá-los, obtém-se uma compreensão
mais profunda de cada um desses mesmos institutos, porquanto passam a ser considerados à
luz dos princípios que lhes dão sentido e dominam a sua própria função.

Quando nos referimos aos Princípios do Direito Civil o autor Luis Carvalho Fernandes faz
menção de nove princípios: "Personificação jurídica do Homem; Reconhecimento dos
direitos da personalidade; Consagração da igualdade dos homens perante a lei;
Reconhecimento da família como instituição fundamental; Reconhecimento da personalidade
colectiva; Consagração da autonomia privada; Consagração da responsabilidade civil;
Reconhecimento da propriedade privada; Reconhecimento do fenómeno sucessório" (2012).

O esquema proposto não se afasta substancialmente do defendido por Mota Pinto, embora se
possam identificar algumas diferenças que, num caso ou noutro, não são meramente formais.
O ponto de afastamento mais saliente resulta da inclusão do princípio da igualdade.

É certo que o professor Mota Pinto também se lhe referia, mas sob a perspectiva do papel das
normas constitucionais como fonte de comandos com validade no domínio das relações
jurídicas privadas. Todavia, sobretudo na formulação do actual texto constitucional, esse
princípio tem significativas projecções em domínios importantes do Direito Civil, fazendo
sentido dar-lhe o realce de incluir entre os princípios informadores deste ramo de Direito.

São os seguintes os princípios fundamentais do Direito Civil, segundo o professor Mota


Pinto: o reconhecimento da pessoa humana e dos direitos de personalidade; o princípio da
autonomia privada; a responsabilidade civil; a boa-fé; a concessão da personalidade
jurídica às pessoas colectivas; a propriedade privada; a relevância jurídica da família e o
fenómeno sucessório (ob. cit., pág. 97).
Personificação jurídica do Homem

Segundo o professor Luis Fernandes "O princípio da personificação jurídica do Homem,


com o inerente reconhecimento da qualidade de pessoa jurídica a todos os Homens, bem
merece ser apontado como o primeiro dos princípios do Direito Civil, e não por simples
ordem de sistematização. Nesta ordenação da matéria domina uma hierarquia de valores e,
com a simples colocação deste princípio no topo de todos os demais, pretende-se afirmar a
ideia de o Homem ser a figura central de todo o Direito (e, por maioria de razão, do Direito
Civil), o «mais imprescritível dos valores» que o dominam”. (2012).

O princípio segundo o qual todos os homens são pessoas jurídicas não sofre hoje contestação
no Direito. Quando muito, poderá dizer-se que ele não tem de iure condito, uma manifestação
tão explícita como seria desejável, embora deva ser tida como exagerada a crítica a tal
respeito feita ao Código Civil, quando se afirma não se conter esse princípio, apertis verbis,
na lei, condenando-se que a sua consagração só «pudicamente se devolva ao mero campo do
implícito». A afirmação da qualidade jurídica do Homem como pessoa é, de resto, imposta no
ordenamento jurídico português por razões de ordem múltipla, algumas das quais serão
retomadas ao tratar esta mesma matéria a propósito, quer da personalidade singular, quer da
colectiva.

Caio Mario assenta que a personalidade exprime a faculdade jurídica conferida ao


indivíduo, como ser humano, para que seja, à luz do Direito, sujeito de relações jurídicas.
Por outro lado, alerta para o fato de que a personalidade, inobstante mesma, pois o próprio
ordenamento reconhece, por meio da personalidade, direitos a ais como as sociedades,
associações às fundações. p. 181.

Por outra avança Francisco Amaral, os direitos da personalidade podem ser divididos em três
dimensões, uma vez que destinados à tutela da integridade física, abarcando a proteção
jurídica da vida e do próprio corpo (incluídos tecidos e órgãos), o cadáver, a liberdade de
submeter-se ou não a tratamento médico; à tutela da integridade, protegendo o foro
subjetivo da pessoa, tal como a sua honra, intimidade, privacidade, imagem e nome; e à
tutela da integridade intelectual, aí integrando os direitos do autor, tanto no âmbito moral,
quanto patrimonial. , p. 253-254.

A igualdade dos homens perante a lei


Segundo o professor Luis Fernandes "os princípios consignados nos números anteriores
consagram a imanente dignidade da pessoa humana e dão-lhe sentido jurídico útil ao
estabelecer um núcleo fundamental de direitos inerentes a todos os Homens. O princípio da
igualdade reconhece essa dignidade como comum e igual para todos os Homens. Por isso se
situa no seguimento daqueles, de que constitui mero complemento, ou até uma aplicação, do
seu conteúdo" ( 2012).

Neste momento, resultam mais claras as razões que levaram a destacar este princípio e a
incluí-lo na lista das regras fundamentais do Direito Civil. Inicia-se a sua análise com a
fixação do respectivo conteúdo; aqui interessa averiguar a sua formulação no Direito
positivo.

A personalidade colectiva

Segundo o professor Luis Fernandes "o princípio que impõe a atribuição da qualidade de
pessoa jurídica a toda a pessoa humana não tem, já ficou dito, carácter exclusivista. Isto
prende-se com considerações antes esboçadas, que convém retomar neste momento. Na
verdade, há, neste, como em outros problemas de técnica jurídica, que distinguir diferentes
perspectivas para os encarar. A personificação jurídica, enquanto meio técnico, é uma
criação do Direito, que a configura segundo certos modelos orientados para determinados
fins, impostos pelo enquadramento jurídico da vida de relação social"(2012)

Isto explica que, no mundo jurídico, os diversos institutos não sejam arbitrariamente criados,
pois os condiciona essa característica de meios postos ao serviço de fins e valores, que
ordenam o próprio Direito. No caso concreto de personalidade jurídica, agindo o Direito, no
tratamento dos interesses humanos, pela atribuição de direitos e pela adstrição a deveres, a
sua imputação a entes jurídicos autónomos funciona como um meio expedito de realização
daquele fim.

A família como instituição fundamental

Segundo o professor Luis Fernandes "O reconhecimento da família como instituição


fundamental da sociedade é um dos princípios caracterizadores da maneira de ser do Direito
Civil. Deste ponto de vista, a família é tratada como a célula social básica em que se
desenvolve primariamente a vida dos homens na sociedade moderna; e, se se tomar no
sentido da chamada pequena família (composta dos pais e filhos), pode ser configurada
como o cadinho onde se forma a mentalidade das gerações que asseguram a continuidade da
vida social. Esta há-de vir a ser, em muitos aspectos, o que, em cada momento, for à vida no
seio da Família. Por isso, o Direito, antes de se ocupar da definição das regras que regem a
vida na sociedade familiar, preocupa-se em estabelecer as grandes linhas que a
caracterizam como instituição” (2012).

A autonomia privada

Segundo o professor Luis Fernandes "Os efeitos jurídicos são, enquanto fenómenos de
direito, uma criação do Direito e produzem-se na justa medida em que ele o admite ou prevê.
Ainda assim, em particular no Direito Privado e no Civil, por especial razão, fica reservado
um relevante papel à vontade individual na produção desses efeitos, como instrumento da
realização de certos interesses. São, pois, os particulares admitidos a auto-regulamentar os
seus interesses. Bem se compreende que esse poder tenha a sua expressão máxima no Direito
Civil, por este ser o campo onde as pessoas realizam nas suas relações recíprocas, em
plenitude, a liberdade individual, como expressão natural da sua personalidade. Deste modo,
a autonomia privada é um princípio característico do Direito Civil, tal como ele é entendido
em sistemas jurídicos com as características do, sem prejuízo de encontrar manifestações
noutros ramos de Direito Privado” (2012).

Daí poder também afirmar-se que a maior ou menor relevância reconhecida à vontade
individual na auto-ordenação da vida social privada seja, ao mesmo tempo, um dos traços
reveladores da fisionomia própria de cada sistema jurídico. O princípio da autonomia privada
é, por seu turno, expressão de um princípio mais amplo o princípio da liberdade , segundo o
qual é lícito tudo o que não é proibido; a este se contrapõe o princípio da competência, em
função do qual só é lícito o que é permitido, dominante no Direito Público.

Nesta esteira, Pedro Pais de Vasconcelos salienta, “quanto à liberdade de celebração de


negócios jurídicos, que o elemento central reside na livre e desimpedida decisão do agente
em querer vincular-se à determinada situação jurídica, em assumir dever e obrigações”. E
mais à frente, quanto à liberdade de estipulação, assevera a importancia do "criterio de
negociabilidade" à sua estruturação, reforçando, ainda mais, a essencialidade da autonomia
privada. (2015).

O campo de aplicação do princípio da autonomia privada é, em geral, fixado em função da


chamada liberdade de contratar; contudo, o princípio projecta-se também no domínio dos
direitos subjectivos.
Assim, Francisco Amaral "aremeta que a autonomia privada e o poder que os particulares
têm de regular, pelo exercicio da sua propria vontade, as relacoes de que participam,
estabelecendo lhes o conteudo e respectivas disciplinas juridica". p. 335.

Em matéria de direitos subjectivos prevalece, no direito civil, um princípio de grande


relevância da vontade individual. Os direitos subjectivos são um dos instrumentos através dos
quais se realizam os interesses de cada um, no domínio das relações sociais entre particulares;
razoável é, portanto, reconhecer à sua titular liberdade de exercê-los ou não exercer, de dispor
deles, de pura e simplesmente renunciar aos seus direitos. A autonomia se expressa, pois,
aqui, no poder de livre exercício dos direitos pelo seu titular.

A responsabilidade civil

Segundo o professor Luis Fernandes "O modelo de reparação dos danos causados a outrem
pela actuação (ilícita) das pessoas é outro dos traços distintivos de um sistema jurídico civil.
Ao longo dos séculos, assistiu-se, nesta matéria, a uma profunda evolução, ainda em curso,
vivendo-se, mais recentemente, um tempo de nova e significativa viragem. O problema, na
sua configuração moderna e nas suas linhas gerais, pois não é aqui lugar para grandes
desenvolvimentos, coloca-se nos seguintes termos. A actuação (jurídica) das pessoas pode
atingir o interesse de outrem, causando-lhe danos; quando tal aconteça, o causador do dano
deve reparar o mal sofrido pela vítima nisto consiste a responsabilidade civil"(2012).

A evolução que conduziu a este sistema não é estranha a da própria garantia do Direito, de
formas de tutela privada para formas de tutela pública que, naquilo que aqui especialmente
interessa, se traduziu no afastamento de medidas de vindicta privada, nomeadamente o
responder ao mal com outro mal, e na sua substituição por uma reparação a cargo do
responsável, i.e., do causador do mal, sem prejuízo da intervenção do Estado, quando a
natureza da ofensa seja de molde a afectar a colectividade nos seus interesses gerais e a pôr
em causa a paz pública (distinção entre responsabilidade civil e penal).

A propriedade privada

Segundo o professor Luis Fernandes “A polissemia da palavra propriedade, mesmo na


linguagem jurídica, impõe um esclarecimento prévio sobre o campo de referência da matéria
em análise”. No plano da Teoria Geral e dos princípios fundamentais do Direito Civil
interessa, fundamentalmente, o seu sentido técnico-jurídico específico de direito real de gozo
máximo. Não pode, contudo, desconhecer-se a circunstância de, no texto constitucional, a
palavra propriedade ser usada, sobretudo para identificar todos os direitos patrimoniais
“(2012)”.

Na mesma senda, O direito de propriedade, como direito fundamental, possui um âmbito de


proteção mais alargado que o vetusto conceito "civilista-estrito" uma vez que defende Gilmar
Ferreira Mendes, "não abarca apenas a ideia estrita de propriedade e utilidade individual,
mas igualmente todos os aspectos patrimoniais que circundam a vida individual em
sociedade, ou seja, valores outros de igual cariz patrimonial, como os próprios direitos
reais, depósitos bancários, pretensões salariais, participações societárias, valores
mobiliários, direitos do autor, marcas, patentes, dentre outros".(2012).

O fenómeno sucessório

Segundo o professor Luis Fernandes "O último dos princípios fundamentais do Direito Civil
acima enunciado situa-se no domínio específico do Direito das Sucessões, manifestando-se
no reconhecimento do fenómeno da sucessão mortis causa, e concretiza-se na feição que este
reveste no sistema jurídico português. O reconhecimento da sucessão proprio sensu, como
instituto orientado para a atribuição dos direitos e vinculações de cada pessoa singular,
após a sua morte, decorre, na ordem jurídica portuguesa, como corolário lógico, do
reconhecimento da propriedade privada, com as características analisadas no número
anterior. Tem-se, na verdade, como assente que aí reside o fundamento último do fenómeno
sucessório” (2012).

Deste modo, mesmo em sistemas onde o instituto da propriedade aparecia sob outra
configuração a propriedade pessoal dos direitos socialistas, para além de algumas tentativas
históricas, próprias de períodos mais extremistas, que conduziram à abolição da sucessão em
favor das pessoas particulares, veio a ser admitida a sucessão por morte. Porventura, só num
sistema comunista puro, de apropriação colectiva de todos os bens, a sucesão deixaria de ter
sentido; mas tal sistema não foi até hoje realizado no Mundo.
Conclusão

Princípios são elementos básicos que compõem a estrutura fundante de um determinado


sistema, tornando-o coerente e harmônico, conferindo-lhe diretrizes e servindo sempre de
parâmetro interpretativo à execução das respectivas funções de seus componentes. Ao
falarmos nos princípios fundamentais do Direito Civil, em verdade, estamos a tratar dos
institutos que lhe formam a base, a essência, que constituem seu leitmotiv e seu guia de
operacionalização.

Não olvidemos que o Direito, como ciência de ramificação social, ainda que de cunho
normativo, está sempre sujeito aos influxos das mutações operadas e suscitadas pelo recorte
fde realidade que se quer regular, e, neste sentido, tal não escapa ao Direito Civil, posto que,
ao tratar das relações jurídicas inter˗privados, submete-se e adequa-se às exigências do
âmbito social.

Assim, tratamos hoje de um Direito Civil vivo, e, acima de tudo, e tornando-se cada vez mais
permeável às vicissitudes de uma sociedade que tem por base a eticidade, a boa-fé, a
solidariedade e o respeito ao próximo. Seja nos direitos da personalidade, na seara
obrigacional ou contratual, na propriedade, na família, no direito sucessório, o Direito Civil,
hoje Direito Civile atuará numa dinâmica equacionada à base da dignidade humana, liberdade
e autonomia privada de um lado, e sociabilidade (função social) do outro.
Referencias Bibliográficas

FERNANDES, Luís Alberto Carvalho Teoria geral do direito civil: introdução, pressupostos
da relação jurídica / Luís Alberto Carvalho Fernandes. – 6ª ed. – Lisboa, Editora:
Universidade Católica, 2012.

VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 8.ª ed. Coimbra: Almedina,
2015.

PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria Geral do Direito Civil. 4.ª ed. Coimbra: Coimbra
Editora, 2005.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao direito civil,
teoria geral de direito civil. 27.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução. 4.ª ed, rev. e atual. São Paulo: Renovar,
2002.

MENDES, Gilmar, BRANCO Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 7.ª ed. rev. e
atual. São Paulo: Saraiva. 2012.

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