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ESTUDO DO
DIREITO
ISBN 978-85-9502-219-5
Introdução
A sociedade está em constante transformação, e é fundamental acompa-
nhar as transições sociais sob o prisma jurídico, que pretende promover
a convivência social de forma ordenada e equilibrada.
Entender o Direito como meio de regulação social e compreender
as suas definições basilares contribuem para a assimilação dos diversos
ramos em que se divide e permitem a percepção da abrangência da
sua aplicabilidade na vida social, além de colaborar no entendimento do
quanto a linguagem é importante para a correta incidência das normas.
Neste capítulo, você vai identificar qual é o objeto e a finalidade do
estudo do Direito, bem como reconhecer a importância dos conceitos
introdutórios da área para os diversos ramos do Direito e de que forma
a linguagem jurídica contribui para a aplicação e o desenvolvimento
das leis.
de limites à ação de cada um dos seus membros. Assim, quem age de con-
formidade com essas regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto.
Direção, ligação e obrigatoriedade de um comportamento, para que possa
ser considerado lícito, parece ser a raiz intuitiva do conceito de Direito. A
palavra lei, segundo a sua etimologia mais provável, refere-se a ligação, liame,
laço, relação, o que se completa com o sentido nuclear de jus, que invoca a
ideia de jungir, unir, ordenar, coordenar.
Podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde
à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois ne-
nhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e
solidariedade. É a razão pela qual um grande jurista contemporâneo, Santi
Romano, cansado de ver o Direito concebido apenas como regra ou comando,
concebeu-o antes como “realização de convivência ordenada”.
De “experiência jurídica”, só podemos falar onde e quando se formam
relações entre os homens, por isso denominadas relações intersubjetivas, por
envolverem sempre dois ou mais sujeitos. Daí a sempre nova lição de um antigo
brocardo: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade, está o Direito). A recíproca
também é verdadeira: ubi jus, ibi societas, não se podendo conceber qualquer
atividade social desprovida de forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra
jurídica que não se refira à sociedade.
O Direito é, por conseguinte, um fato ou fenômeno social; não existe senão
na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Uma das características da
realidade jurídica é, como se vê, a sua socialidade, a sua qualidade de ser social.
Considerando que as formas mais antigas de vida social já implicavam um
esboço de ordem jurídica, é necessário desde logo observar que, durante milênios,
o homem viveu ou cumpriu o Direito, sem se propor o problema do seu significado
lógico ou moral. É somente em um estágio bem maduro da civilização que as
regras jurídicas adquirem estrutura e valor próprios, independentemente das
normas religiosas ou costumeiras e, por consequência, é só então que a huma-
nidade passa a considerar o Direito como algo merecedor de estudos autônomos.
Vejam, por exemplo, o que ocorre com a palavra “competência” — adjetivo: competente.
Quando dizemos que o juiz dos Feitos da Fazenda Municipal é competente para julgar
as causas em que a Prefeitura é autora ou ré, não estamos absolutamente apreciando
a “competência” ou preparo cultural do magistrado. Competente é o juiz que, por
força de dispositivos legais da organização judiciária, tem poder para examinar e
resolver determinados casos, porque competência, juridicamente, é “a medida ou a
extensão da jurisdição”.
no âmbito jurídico, deve ser exato, claro e conciso a fim de evitar sutilezas
semânticas e dubiedades na interpretação e na aplicação das leis.
Contudo, alguns estudiosos do Direito contestam que a tecnicidade e re-
buscamento da linguagem jurídica sejam prejudiciais em algum aspecto. O
argumento utilizado quase sempre é o de que o Direito é ciência (assim como a
medicina, a matemática e outros ramos do conhecimento) e, por isso, tem as suas
peculiaridades linguísticas que se limitam ao conhecimento dessa “elite jurídica”.
O Direito, entre os diversos campos do conhecimento especializado, é um
dos que mais interessam à sociedade, uma vez que é a ordem jurídica que proíbe,
obriga ou permite certas ações, penalizando aqueles que não se comportam
conforme o estabelecido. Contudo, não se pode confundir a linguagem técnica
do Direito com o chamado “juridiquês”, que é uma das maiores críticas ao
Direito — sendo um ramo do conhecimento que interessa tanto a sociedade,
além de “conduzi-la” à ordem social, alguns autores argumentam sobre a
necessidade de uma democratização do discurso.