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Preparação P-Fólio Introdução ao Direito

➢ Perceber o que é e o que não é direito e os modos como se manifesta.


O direito é uma realidade que está presente nos nossos dias, sem nos apercebermos disso,
nomeadamente na maioria das ações praticadas diariamente por nós, em sociedade.
Este pode ser definido como um conjunto de regras de conduta social (Direito Objetivo);
ou pode ser definido como sinónimo de poder ou faculdade sobre bens (Direito
Subjetivo).
O Direito manifesta-se através da Norma. E norma no sentido aqui utilizado é lato
sensu, isto é, diz respeito a diversos meios de manifestação do direito: a legislação, o
costume jurídico, a jurisdição e os negócios jurídicos.
O direito é universal, existindo em todas as sociedades, embora não se revele da mesma
forma e seja uniforme nas normas em todas elas; este é necessário para promover a
solidariedade de interesses e para resolver os conflitos de interesse-
O direito tem uma linguagem própria – de imposição ou proibição – possui a sua própria
delimitação da realidade, embora nem sempre seja fácil delimitar com exatidão as
fronteiras do direito e não-direito.
O principal símbolo do direito é a balança, que simboliza a equidade, a ponderação, o
equilíbrio, a justeza das decisões na aplicação da lei. Juntamente com a balança também
a espada, que representa a força, prudência, ordem, regra e aquilo que a consciência e a
razão ditam, é um símbolo do direito.
Dentro do próprio direito, vamos encontrar outras categorias – o direito público e direito
privado, direito objetivo e subjetivo, pessoas físicas e pessoas coletivas, coisas móveis e
coisas imóveis – a cada uma dessas categorias correspondem diferentes regimes jurídicos.

➢ Aprender a procurar manifestações concretas do direito na vida política e


social.
O direito tem origem nos conflitos de interesse, que existem em todas as sociedades, é
deste modo um instrumento de resolução de conflitos e de controlo social.
O direito é o instrumento de organização da sociedade, ele +e importante para a
manutenção da ordem social, aqui estamos presentes a uma manifestação do direito.
Outra forma de manifestação do direito concreta, é a existência de regras e condutas
sociais, as leis que visam organizar a vida no meio social, ou seja manifesta-se como um
sistema de controlo social.

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Vivemos num estado de direito democrático, “baseada na soberania popular, no
pluralismo, de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia
de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência
de poderes” (art.2.º da CRP).
Ora vejamos, dentro do estado de direito democrático, existe um estado de direito – de
direito porque subordinam o seu funcionamento à lei e o direito por si só – e existe uma
democracia – participação dos cidadãos na vida política –.
O estado de direito e a democracia estão ligados entre si, não existindo um sem o outro.
Viver em democracia é viver em regime ditado pelo povo numa sociedade com leis e
direitos iguais. Para que tais leis sejam cumpridas e tais direitos respeitados tem de existir
autoridade, no entanto, ter autoridade não é ser autoritário; autoridade baseia-se no
reconhecimento e no respeito, e não pelo uso da força ou de qualquer tipo de violência.
Democracia, poder e autoridade andam “de mão dada”, ou seja, as três acabam por se
interligar entre si; a democracia é um regime político, onde o poder político é exercido
pelo povo através de sufrágio universal, tendo como uma das principais funções a
proteção dos direitos humanos fundamentais; para essa proteção acontecer é necessário
haver autoridade.
Esta relação entre Democracia e Autoridade, nem sempre é fácil, mas a autoridade na
democracia é necessária, tem é de ser adequada e proporcional a cada situação.
A democracia é uma conquista diária, onde o poder e a autoridade, cada um à sua maneira;
assume um papel essencial e necessário.

➢ Compreender o direito como realidade científica, cultural e espiritual.


O direito como ciência, valoriza, qualifica, atribui consequências a um comportamento.
Não em função de critérios filosóficos, religiosos ou subjetivos, mas em função da
utilidade social. Para o direito, a conduta é o momento de uma relação entre pessoas, e
não o momento da relação entre pessoas e divindade e entre pessoa e sua consciência, ou
seja, o direito não se limita apenas na verificação simples dos atos ou dos acontecimentos,
muito pelo contrário, eles são analisados pelas consequências que produzem.
O direito é um elemento da cultura de um povo e produto de sua evolução histórica. Ele
não é uma imposição da natureza, que se aplica ao homem contra a sua vontade, tal como
as outras manifestações culturais, o direito é a criação do espírito humano e varia com o
tempo e no espaço, de acordo com as vivências, as conceções e os valores essencialmente
definido pelos diferentes agrupamentos humanos.

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Sendo um produto cultural, ele nasce de e aplica-se a uma sociedade em concreto, com a
sua maneira de ser, de estar e de pensar, aplica-se a uma cidade com uma determinada
mentalidade, com um determinado nível de desenvolvimento econômico, social, cultural,
político.
Mas a sociedade não é estática, ela não permanece sempre igual ao longo dos tempos, ela
está em contante mudança, e em evolução. Nesse sentido, o direito pode ser considerado
como verdadeira prática social que se desenvolve no curso da história de um povo para
realizar valores que fundamentam e legitimam a ordem jurídica. O direito revela-se,
portanto, como um processo de solução de conflitos.
O direito configura-se, portanto como uma realidade que somente se compreende quando
referida a uma cultura e como um produto de determinada história. Conhecer a cultura de
um povo e o seu processo de evolução histórica é, portanto, indispensável á formação do
jurista. Dependendo sempre do espaço e tempo-
“O Direito é sempre o direito do momento e do lugar” – Professor Marcelo Rebelo de
Sousa –
A Realidade Espiritual é no fundo a realidade cultural, ambas têm o mesmo significado.
Depende muito da cultura e dos valores que estão em causa e de que se acredita… aqui
podemos confundir espiritualidade com religião.
Segundo Miguel Realle, o Direito compreende três óticas simultâneas e complementares:
a normativa, “o Direito como ordenamento e a sua respetiva ciência”, a fática, “o Direito
como fato ou em sua efetividade social e histórica”, e a axiológica, “o Direito como valor
da Justiça”. (p.357).
Miguel Realle, afirma ainda, que estas óticas fazem parte integrante do Direito e “não
existem separadamente” umas das outras, “mas coexistem numa unidade concreta”. (apud
Stacciorini, 2007, p.357).
Estamos desta forma perante a Teoria tridimensional do Direito, esta é fundamental ao
Direito. A presente “teoria vem superar o antigo dualismo abstrato entre ser e dever-ser,
as quais eram apenas deduzidas pela lógica, a priori, como puro fato e pura norma”.
(Realle apud Stracciorini, 2007, p. 359).

➢ Compreender os conceitos de interdisciplinaridade e pós-disciplinaridade e


o seu alcance prático no estudo do Direito.
A interdisciplinaridade constitui uma articulação de várias disciplinas em que o foco é o
objeto, o problema ou o tema complexo, para o qual não basta a resposta de uma área só.

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O produto final da interdisciplinaridade, que inclui triangulação de perspetivas e métodos,
chamamos transdisciplinaridade; ou seja, a ação da transdisciplinaridade é a resultante da
capacidade que nós temos de ultrapassar as fronteiras das disciplinas pelo investimento
articulado e a contribuição das diferentes disciplinas em jogo, num processo de
investigação que inclui articulação de teorias e conceitos, métodos e técnicas e, não menos
importante, do diálogo entre as pessoas
A função da interdisciplinaridade nas Ciências Jurídicas é ligar várias áreas/disciplinas
do conhecimento na finalidade de construir e possibilitar um ensino de maior abrangência
para a aplicação prática e solução real dos problemas na sociedade.
A transdisciplinaridade exige que o investigador jurídico não se limite ao estudo aturado
de todas as obras jurídicas que existem sobre uma determinada matéria. Ter-se-á de ir
mais longe. Ter-se-á de procurar analisar todas as vertentes de uma determinada matéria.
Esse trabalho poderá implicar deslocação a laboratórios e orientação de cientistas de
outras disciplinas, mas só assim se poderá aprender um pouco mais sobre a nossa maneira
de estar no Mundo.
O Direito recontextualiza-se no novo espectro da ciência, enriquecendo-se
metodologicamente, sem se descaracterizar enquanto estrutura, enquanto disciplina,
estamos perante ao Pós -disciplinaridade.

➢ Perceber as relações entre as diferentes disciplinas jurídicas e outras


disciplinas.
O estudo do direito permite-nos um estudo sobre várias outras ciências como: filosofia
do direito, sociologia do direito e entre outras (Direito Comparado (ou Comparação do
Direito, ou Geografia Jurídica) e a História do Direito), e assim apresenta as ligações do
direito com outras formas de conhecimento. Essas outras formas de conhecimento são as
ciências afins ou disciplinas jurídicas. Para compreendermos o direito e as disciplinas
jurídicas, temos que estudar o homem e a sociedade de antigamente, para termos um
parâmetro de como surge à sociedade e com ela o direito.
A Sociologia Jurídica ou Sociologia do Direito, olha o Direito como um facto social, na
sua realidade fenoménica, no que ele é e faz realmente, ou seja, estuda o fenómeno direito.
Esta estuda situações particulares para chegar a uma lei generalizada, e analisa casos
universais para solucionar um caso particular. A sociologia tem por objeto a sociedade
nas suas finalidades e estruturas e não em elaborar normas para a sociedade, mas sim
analisar como a vida social vai reagir às regras e como as regras vão interferir na

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sociedade, e vai analisar o porquê de quando uma lei é criada, mas não é cumprida ou
aceita pela sociedade.
A Filosofia do Direito, ou Filosofia Jurídica, põe em causa esse ser e procura pensar o
dever ser do Direito, sendo particularmente tocada pelo problema da Justiça. Ou seja, vai
tentar encontrar respostas a indagações como: qual o sentido das transformações do
direito? O que o direito consiste? Entre outras. Essas indagações são algo fundamental
para que possamos entender e aprofundar sobre os fundamentos do direito e sua reflexão.
De uma forma simplista, a filosofia da Jurídica busca compreender o fundamento do
direito.
O Direito comparado olha a realidade normativo-Jurídica nas diferentes ordens jurídicas
espalhadas sobre o planisfério; ou seja, em por objeto o estudo comparativo de
ordenamentos jurídicos de diferentes Estados, com o propósito de revelar as novas
conquistas alcançadas em determinado ramo jurídico e que podem orientar legisladores.
O efeito prático do Direito Comparado é o aproveitamento, por um Estado, das
experiências jurídicas de outro.
A História do Direito preocupa-se com a evolução deste ao longo dos tempos.
A Etnologia Jurídica (ou Antropologia Jurídica) estuda o Direito como manifestação
cultural do homem, havendo porem, quem pense, tratar-se tão-só de uma variante da
Sociologia Jurídica.
A política Legislativa é uma disciplina dirigida ao aperfeiçoamento do Direito através de
reformas, no entanto o seu caracter científico pode questionar-se.
A estas disciplinas, ou ciências, jurídicas humanísticas também recebem o nome de
ciências jurídicas gerais.
O Direito também possui ciências, ou disciplinas, complementares, entre as quais, a
medicina legas, que auxilia o Direito Penal; a Psicologia Jurídica, que é a parte da
psicologia ao serviço judicial que se serve dos resultados dos estudos sobre processos
psicológicos, visando descobrir falsos testemunhos e os autores dos delitos; a
Criminologia, que estuda o criminoso e o crime e a forma como são estabelecidos.

➢ Perceber as relações entre Direito e Justiça e as várias teorias existentes sobre


essa matéria.
Direito e Justiça são conceitos que se entrelaçam, a tal ponto de serem considerados uma
só́ coisa pela consciência social. Fala-se no Direito com o sentido de Justiça e vice-versa.
Sabemos todos, entretanto, que nem sempre eles andam juntos. Nem tudo que é direito é

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justo e nem tudo que é justo é direito. Por que isso acontece?
Isso acontece porque a ideia de Justiça engloba valores inerentes ao ser humano,
transcendentais, tais como a liberdade, igualdade, fraternidade, dignidade, equidade,
honestidade, moralidade, segurança, enfim, tudo aquilo que vem sendo chamado de
direito natural desde a antiguidade. O Direito, por seu turno, é uma invenção humana, um
fenómeno histórico e cultural concebido como técnica para a pacificação social e a
realização da justiça. Em suma, enquanto a Justiça é um sistema aberto de valores, em
constante mutação, o Direito é um conjunto de princípios e regras destinado a realizá-la.
E nem sempre o Direito alcança esse desiderato, quer por não ter acompanhado as
transformações sociais, quer pela incapacidade daqueles que o conceberam, e quer, ainda,
por falta de disposição política para implementá-lo, tornando-se por isso um direito
injusto.
Creio ser possível dizer que a Justiça está para o direito como o horizonte está para cada
um de nós. Quanto mais caminhamos em direção ao horizonte - dez passos, cem passos,
mil passos - mais ele se afasta de nós na mesma proporção. Nem por isso o horizonte
deixa de ser importante porque é ele que nos permite caminhar. Pois também o Direito,
na permanente busca da Justiça, está sempre caminhando, em constante evolução.
Para muitos Juristas a Justiça é o fim e o Princípio do Direito, mas não o único, pois a
Segurança, os Direitos do Homem e o Bem Comum também o são, pelo que não devem
desassociar-se uns dos outros.

➢ Saber o que é a Filosofia Jurídica.


A Filosofia do Direito, ou Filosofia Jurídica, põe em causa esse ser e procura pensar o
dever ser do Direito, sendo particularmente tocada pelo problema da Justiça. Ou seja, vai
tentar encontrar respostas a indagações como: qual o sentido das transformações do
direito? O que o direito consiste? Entre outras. Essas indagações são algo fundamental
para que possamos entender e aprofundar sobre os fundamentos do direito e sua reflexão.
De uma forma simplista, a filosofia da Jurídica busca compreender o fundamento do
direito.
Esta transcende o plano meramente normativo, para questionar o critério de justiça
adotado nas normas jurídicas, preocupa-se com o dever ser, com o melhor Direito, com o
Direito justo. O objeto da Filosofia do Direito envolve uma pesquisa lógica, pela qual se
investiga o conceito do Direito em seus aspetos mais variados e complexos e outra de

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natureza axiológica que desenvolve a crítica às instituições jurídicas, sob a ótica dos
valores de justiça e segurança.

➢ Saber que é a Semiótica Jurídica.


O significado do direito pode ser compreendido pela análise dos símbolos e das palavras
que estão associados ao mesmo; no entanto essas investigações devem ser feitas com
cuidado, pois ao longo do tempo os símbolos foram perdendo o seu significado inicial.
As imagens alusivas à justiça e à Lei são muitas vezes apresentadas em simultâneo. O
principal símbolo do direito é a balança, que simboliza a equidade, a ponderação, o
equilíbrio, a justeza das decisões na aplicação da lei. Juntamente com a balança também
a espada, que representa a força, prudência, ordem, regra e aquilo que a consciência e a
razão ditam, é um símbolo do direito. Outra simbologia é a deusa de olhos vendados, que
pode significar o desejo de nivelar o tratamento de todos por igual, sem distinção, tem o
propósito da imparcialidade e da objetividade. A ausência de venda, que pode ser
interpretada como a necessidade de ter os olhos bem abertos, para que nenhum pormenor
relevante para a aplicação da lei seja descurado, é outra simbologia do direito. Pode então
afirmar-se que o direito, está cheio de símbolos e independentemente do seu significado,
pode se dizer que os símbolos formam e são formados na linguagem jurídica.

➢ Conhecer as dimensões e funções do Direito (dinâmica jurídica).


A dimensão Jurídica constitui muitas vezes um reino fantástico de invulgares
acontecimentos e factos. A variedade de visões sobre o Direito comparte numa unidade.
Uma das Explicações para tal é a sua tridimensionalidade fenoménica e funcional.
Enquanto fenoménica o Direito é facto, valor e norma. É as três coisas e cada uma delas.
Avançou-se mais tarde um quarto elemento fenoménico, num caso remetendo para a
Justiça, e noutro caso para o facto de que o Direito será sempre texto – oral ou escrito.
Assim o Direito seria norma, facto, valor e texto. Contudo, o texto é um veículo, um
suporte, dos outros três elementos.
Trata-se de uma dupla tridimensionalidade, apresentada pelo Brasileiro Miguel Reale.
Na perspetiva fenoménica, o Direito é um facto. É uma realidade social, cultural e
espiritual. Mas não é uma pura construção abstrata da mente Humana. No fundo, liga
factos “não tratados juridicamente” a factos com consequências jurídicas.
O Direito é um facto, lida com factos, cria factos, pressupõe factos.

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Ao conceder ao mundo dos factos um sentido, o Jurídico é Valor, mede, valora, com um
diapasão axiológico.
O Direito deve ter em conta os valores da Liberdade, Igualdade, Paz, Segurança, Ordem,
Etc., subordinados ao valor fim, a Justiça. É com vista nesse fim que o Direito trata os
dados, os factos.
Depois da análise dos factos e da sua valorização, surgira, naturalmente a norma, que
normalmente é escrita nos nossos dias.

Funções e valores fundamentais do Direito


A ordenação da vida social expressa-se através de um conjunto de normas, de entre as
quais relevam as normas jurídicas, ou seja, regras de conduta imperativas, gerais e
abstratas, adotadas e impostas de forma coerciva pelo Estado, através de órgãos ou
autoridades competentes. É através das normas jurídicas que o Direito cumpre a sua
missão ordenadora da vida social. A ordem jurídica, instituída pelo Direito, tem assim,
uma intenção normativa: procura regular a realidade social de acordo com os valores que
constituem a consciência ética da sociedade.

➢ Conhecer e distinguir entre fundamentos, fins e princípios (fundamentais) do


Direito (axiologia jurídica).
A Justiça, é ao mesmo tempo, princípio (ou fundamento) do Direito e a sua finalidade ou
fim. A justiça é valor e virtude.
Embora se diga que a justiça é o valor fundamental, não é de facto o único, juntando-se a
este a Segurança e a Proteção dos Direitos Humanos.
Os fins da Segurança, do equilíbrio, da ordem, da paz social, etc., são fins do Direito que
são finalidades parciais ou instrumentais da Justiça.
Os princípios podem ser definidos como a base, o fundamento, a origem, a razão
fundamental sobre a qual se discorre sobre qualquer matéria. Trata-se de proposições mais
abstratas que dão razão ou servem de base e fundamento ao Direito.
Princípio da Igualdade – a justiça impõe não só que se trate igualmente o que é igual, mas
também que se trate desigualmente o que é substancialmente diferente
Princípio da Proporcionalidade – cada regra de direito tem que escolher os meios
adequados ao fim que pretende atingir, e que justificou o seu aparecimento, não podendo
optar por meios excessivos ou desajustados para a alcançar

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Princípio da Imparcialidade – o direito em todas as suas fases, nomeadamente na sua
aplicação coerciva e ao dirimir conflitos não deve pautar-se por critérios de
desfavorecimento individual
Podemos concluir que os Princípios Gerais do Direito são ideias basilares e fundamentais
do Direito, que lhe dão apoio e coerência, que são respaldados pelo ideal de Justiça, de
liberdade, igualdade, democracia, dignidade, etc., seriam ideias fundamentais de caráter
geral dentro de cada área de atuação do Direito.

➢ Conhecer, do ponto de vista linguístico, as diferentes aceções da palavra


Direito/direito.
Direito pode ser definido como um conjunto de regras de conduta social (Direito
Objetivo); ou pode ser definido como sinónimo de poder ou faculdade sobre bens (Direito
Subjetivo).
A distinção entre direito objetivo e direito subjetivo é bastante visível no direito anglo-
saxónico, nomeadamente correspondendo-lhes diferentes termos:

- “right” – direito subjetivo

- “law” – direito objetivo

Também podemos distinguir o Direito Objetivo do direito Subjetivo, pela forma de


escrita, o objetivo é escrito com letra maiúscula enquanto que o subjetivo é escrito com
minúscula.

➢ Conhecer as fontes do Direito (metodologia jurídica)


Cada regra jurídica corresponde um modo de formação/revelação que são as fontes de
direito, são esses modos de formação/revelação de normas jurídicas.

Fontes do Direito em sentido Histórico


As fontes históricas do Direito indicam a gênese das modernas instituições jurídicas: a
época, local, as razões que determinaram a sua formação

Fontes do Direito em sentido Político


Quando se fala em fontes em sentido político ou orgânico, estamos perante a formação
concreta de uma norma. Ou seja, São os órgãos políticos que aprovam/emanam as leis.

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Fontes do Direito em Sentido Sociológico (Material)
Todos os aspetos da vida social que estão na origem da criação da norma jurídica. São
fontes materiais todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que influenciam a
criação do direito em determinada sociedade.

Fontes do Direito em sentido Filosófico


Com claras atinências com os sentidos histórico e sociológico se encontra o sentido
filosófico das fontes do Direito. Em ambos haverá que considerar-se uma inspiração
filosófica das normas e dos sistemas.

Fontes de Direito em sentido Técnico-jurídico (também chamado o sentido formal)


São os modos de formação e revelação das normas jurídicas, evidencia a maneira como
é criada e se manifesta socialmente a norma jurídica. São considerados a lei, o costume,
a jurisprudência e a doutrina.

Fontes Ideacionais ou conceituais vs. Fontes Institucionais ou Legais (Elenco


abstrato ou hipotético das fontes do Direito)
Com base nos modos historicamente conhecidos de formação e revelação do Direito,
elaborou-se um catálogo de fontes do Direito, mas não unanime entre os autores.
De entre esta lista de possíveis fonte, cada ordem jurídica concreta elegeu aquelas que lhe
parecem deverem ser acolhidas, e estabeleceu entre elas prioridades de atendibilidade, de
aplicação, enfim, hierarquizou-as. Vamos, pois, sucessivamente observar as fontes em
abstrato, com a sua fortuna relativa em vários tempos e lugares, e as fontes em concreto,
à luz dos textos legais.

Fontes Voluntárias e não voluntárias


As fontes voluntarias derivam da vontade de o serem: um propósito dos seus criadores
em que sejam elas fontes. As não voluntárias são não intencionais.
O caso mais patentente de entre estas últimas, seria o do costume.

Fontes imediatas e medianas


Fontes Imediatas do Direito, as que têm força vinculativa própria, sendo, portanto, os
verdadeiros modos de produção do Direito. (Lei e Costume, embora no nosso
ordenamento jurídico apenas seja considerada a Lei)
Costume, também designado por Direito costumeiro ou consuetudinário traduz-se numa
prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade. Apresenta dois elementos: o

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elemento material que é a prática social reiterada e o elemento psicológico que é a
consciência de que aquela prática é imperativa e obrigatória.
Fonte Mediata do Direito, são as que não têm força vinculativa própria, mas influenciam
o processo de formação e revelação das normas jurídicas.

Doutrina – Equivale às opiniões dos jurisconsultos, nomeadamente professores que


ensinam nas universidades e que estudam o Direito de forma científica. Corresponde a
um estudo científico de Direito. Em Portugal, a Doutrina não é fonte de Direito, mas
muitas das decisões dos tribunais são fundadas em estudos científicos feitos por juristas
conceituados. A Doutrina é fundamentalmente um conjunto de opiniões transmitidas,
designadamente, em livros, artigos, estudos, pareceres, monografias, etc. pode
determinar a criação de novas normas de Direito.

A Lei e o seu Imperio


São leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes.
Pressupostos da lei:
• Uma autoridade competente;
• Observância das formas previstas para essa atividade;
• Introdução de um preceito genérico.

Lei em Sentido Formal é todo o ato normativo emanado de um órgão com competência
legislativa, quer contenha ou não uma verdadeira regra jurídica.
Lei em Sentido Material é todo o cato normativo, emanado de um órgão de Estado,
mesmo que não incumbido da função legislativa, desde que contenha uma verdadeira
regra jurídica.
Lei em Sentido Amplo abrange qualquer norma jurídica.
Lei em Sentido Restrito compreende apenas os diplomas emanados pela Assembleia da
República.
Lei em Sentido Latíssimo significa norma jurídica.
Lei em Sentido Intermédio, abrange as leis da AR e os decretos-lei do Governo.

Fontes não legais


PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO - São postulados que procuram fundamentar todo
o sistema jurídico, não tendo necessariamente uma correspondência positivada
equivalente. São ideias jurídicas gerais que sustentam, dão base ao ordenamento jurídico
e não necessariamente precisam estar escritos para serem válidos.
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Costume, também designado por Direito costumeiro ou consuetudinário traduz-se numa
prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade. Apresenta dois elementos: o
elemento material que é a prática social reiterada e o elemento psicológico que é a
consciência de que aquela prática é imperativa e obrigatória.
Jurisprudência – Corresponde ao conjunto de decisões que exprimem a opinião e as
orientações dos tribunais superiores, como sejam os Supremos Tribunais e os Tribunais
da Relação. Em Portugal, a jurisprudência não é fonte de Direito, existe o princípio da
independência dos juízes que apenas estão sujeitos à lei. Apesar de não ser fonte de
Direito em Portugal, pode ter consequências jurídicas importantes.

Outras Fontes
Usos, correspondem a uma prática social sem caráter de obrigatoriedade. Comportam o
mesmo elemento material que o costume, mas dispensam o elemento psicológico. Estão
previstos no Art.º 3º do CC onde se indica que somente são fontes de Direito quando a
lei o indicar, o que significa que são fontes de Direito mediatas.

Equidade – Com esta fonte atende-se às características do caso concreto e é usual


defini-la como um critério de decisão que assenta na justiça do caso concreto e afasta
qualquer outro critério para decidir sobre um determinado caso controvertido. Fonte de
Direito mediata. Art.º 4º.

Em suma, admite-se como fontes do direito todas as referidas anteriormente, menos a


Equidade e o negocio jurídico. E mesmo a equidade caba por se admitir como exceção
prática, ou deixam margem para que tal se pense.

➢ Conhecer os ramos do Direito.


O direito enquanto ordem normativa é uno, mas para efeitos de sistematização de estudo,
pode ser dividido em diversos ramos.

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A) Direito Internacional Público


• Regula as relações estabelecidas na comunidade internacional entre dois ou mais
Estados e outros sujeitos de Direito Internacional.
• Direito da União Europeu ou Direito Comunitário – sucede e abarca o Direito das
Comunidades Europeias.
• As normas e princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte
integrante do direito português-
• As normas constantes de convenções internacionais ratificadas ou aprovadas
vigoram no nosso ordenamento jurídico.

B) Direito Nacional ou Interno


• Regula as relações jurídicas que se desenvolvem dentro de um Estado.
• Na ordem jurídica interna, existe o Direito Internacional Privado que reúne as
normas de conflitos e que é um sub-ramo do Direito Privado.
• O Direito Internacional Privado regula as situações jurídicas que entram em contato
com diferentes ordens jurídicas (diferentes países); indica qual a ordem jurídica

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competente para disciplinar juridicamente cada caso concreto. Soluciona conflitos de
leis. Ex. O senhor A, português, é casado com a senhora B, italiana, tiveram um filho
na Bélgica.

C) Direito Público VS Direito Privado


O Direito Público Inclui o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, os
Direitos Processuais Civil e Penal, o Direito Penal e o Direito Fiscal.
O Direito Privado inclui o Direito Civil e, dentro deste, o Direito das Obrigações, o
Direito da Família, o Direito das Sucessões e o Direito das Coisas ou Direitos Reais.

Distinção entre Direito Público e Direito Privado:


• Critério de Interesse – satisfação de interesses públicos ou privados. O Direito
Público reúne todos os sub-ramos do Direito com vista à defesa e satisfação do
interesse público; o Direito Privado inclui os sub-ramos que visam a defesa e
satisfação de interesses particulares. Por vezes, concorre no mesmo sub-ramo a defesa
de ambos os interesses
• Critério da qualidade do sujeito – tutelam relações jurídicas em que intervém o
Estado ou qualquer outro ente público ou apenas relações jurídicas particulares.
• Critério da Posição dos Sujeitos – critério mais fiável para distinguir os dois ramos
do Direito. O Estado é dotado de ius imperii, ou de um poder de superioridade e a
paridade não existe. No Direito Privado, nenhuma relação jurídica é dotada de
supremacia. Os poderes do sujeito público são, em regra, mais fortes do que os do
ente privado.

D) Novo Ramo – Direito Social


Engloba o Direito da Segurança Social, o Direito dos Consumidores, o Direito do
Trabalho

Sub-Ramos do Direito Privado

E) Direito das Obrigações


Regula a relação obrigacional. A obrigação “é o vínculo jurídico por virtude do qual
uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação”. Tem a ver
com as relações contratuais.

F) Direito das Coisas


Regula os direitos reais – direito de propriedade, posse e usucapião

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G) Direito da Família
Regula as relações familiares cujas fontes são o casamento, a afinidade e o parentesco

H) Direito das Sucessões


Regula as relações mortis causa (morte)

I) Direito do Trabalho
Regula as relações bilaterais que surgem no âmbito do contrato individual do trabalho

J) Direito Comercial
Engloba o Direito Empresarial e o Direito Societário

Sub-Ramos do Direito Público

K) Direito Constitucional
Ordena e consagra o estatuto jurídico do poder político cujo diploma essencial é a
CRP, padrão de referência para o restante Direito ordinário e todas as Leis
Constitucionais que resultam das diversas revisões constitucionais.

L) Direito Administrativo
• Regula a organização e a atividade administrativas e consagra as garantias dos
particulares. • Regula em grande medida a atividade da Administração Pública
portuguesa e reúne um conjunto amplo de normas jurídicas que regulam e disciplinam
toda a organização do Estado enquanto Administração Públicas e restantes entidades
públicas.
• Contém normas orgânicas, materiais e garantísticas.
• É ramificado:
➢ Direito Administrativo Militar
➢ Direito Administrativo Cultural
➢ Direito Administrativo Social
➢ Direito Administrativo Judiciário

M) Direito Financeiro
É dedicado às Finanças Públicas, com os sub-ramos dos Direitos Orçamental e Fiscal
que incidem sobre o Orçamento do estado e sobre os impostos, contribuições, taxas e
relações tributárias.

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N) Direito Penal ou Criminal


• Prevê as condutas criminais e respetivas sanções.
• Reúne um conjunto de normas que regulam a tutela de determinados valores
considerados importantes para a nossa comunidade.
• As condutas humanas criminosas podem ocorrer por ação ou omissão
• A lei tem de prever antecipadamente que determinada conduta é criminosa (não há
crime sem lei e não há pena sem lei)

O) Direito de Mera Ordenação Social


• Prevê um conjunto de condutas ilícitas menos gravosas que não são consideradas
crimes, mas contraordenações.
• As sanções são administrativas e pecuniárias, aplicadas sob a forma de coimas

P) Direitos Processuais Constitucional, Administrativo, Civil e Penal


Regulam a operacionalização pelos diferentes tribunais da administração da justiça e
dos litígios ou outras ações que os particulares ou MP levam ao conhecimento para
dirimição.

➢ Ter uma noção clara de Geografia Jurídica.


A expressão Geografia Jurídica ainda não é muito conhecida, mas entra na disciplina da
Comparação de direitos como é assim a chamado Direito Comparado.
Há certas categorias que poderiam ser conjugadas tais como a História, a Sociologia, a
Antropologia e a Filosofia do Direito, isto tudo, poderia ser a chamada Geografia Jurídica.
Existem países que desagregaram o regime comunista e modificaram o sistema jurídico,
mas é certo que ainda há alguns aspetos jurídicos do regime anterior ainda permanecem
no sistema. O caso de Hungria, por exemplo, os valores, os princípios democráticos da
União Europeia não são compatíveis com autocracias sem liberdades ou com elas
visivelmente musculadas.
China e Cuba seguiam a ideologia marxista-leninista, foram sofrendo umas
transformações e têm entre diferenças apreciáveis, mas a dúvida em relação à família
soviética ainda se mantém hoje em dia.

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Família Jurídica Ocidental
➢ Especificidade da assimilação de legados da Grécia e da Roma clássicas,
Cristianismo, Revoluções Liberais e dos prodígios da Ciência.
➢ Autonomia, liberdade e dignidade
➢ Laicismo
➢ Humanismo

Família Jurídica Soviética


➢ Ideologia Marxista-Leninista
➢ Perda de especificidade e autonomia do Direito
➢ Comunismo e sociedades sem classes
➢ Direito em princípio estritamente legalista (alguns casos, existem lacunas da lei
integrados por princípios da política).
Após da queda da URSS
➢ Proscrição do uso da analogia
➢ Incriminação penal
➢ Ampliação dos direitos de propriedade pessoal
➢ Alargamento da possibilidade de sucessão por morte

Subsistemas Romano-Germânico e da Common Law


➢ Partilham os mesmos princípios civilizacionais (embora haja diferenças culturais)
mas separa-as uma metodologia jurídica diversa.
➢ Ordens jurídicas mistas e hibridas
➢ Direito Romano
➢ Em Inglaterra, o Direito Romano durou pouco tempo. Anglos e Saxões tinham
direitos diferentes.
➢ Direitos costumeiros e por via jurisdicional, uma lei comum, a chamada Common
Law.

➢ Saber o que é a Sociologia do Direito.


A sociologia é uma ciência que tem como objetivo descrever as relações existentes dentro
de um grupo social (entre os seus membros, instituições etc.), mostrando como uma
comunidade efetivamente se organiza. Como o direito é um fenômeno que somente ocorre
em sociedade, as estruturas jurídicas de uma comunidade são profundamente
condicionadas pelas demais instituições sociais. Por isso, tem grande relevância a

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sociologia jurídica, que é a disciplina que aplica o método sociológico ao direito,
investigando o seu papel no contexto dos processos sociais, as condições do seu
surgimento e vigência dentro de um determinado grupo, a sua eficácia, o seu poder e
impotência. Tomando como referência a teoria tridimensional do direito, poderíamos
dizer que a sociologia estuda primordialmente o direito enquanto fato. Tal como acontece
com relação à história, as reflexões sociológicas normalmente conduzem a uma crítica
das instituições jurídicas atuais, o que ressalta a sua perspetiva eminentemente zetética.
Ao questionar-se sobre o efetivo modo de organização social, muitas vezes a sociologia
mostra quão longe está da prática o ideal de organização jurídica de uma sociedade.
Embora o Estado pretenda ter o monopólio da criação de normas jurídicas, há certos
espaços sociais em que ele não tem penetração e outros em que as suas regras são
aplicadas juntamente a normas definidas por outros atores sociais. Embora o direito
estatal pretenda que todas as suas normas sejam aplicadas, há uma série de regras que têm
muito pouca (ou nenhuma) eficácia. Embora o direito atual pretenda ser um instrumento
democrático, ele é muitas vezes utilizado como uma mera forma de opressão e
dominação. Embora as leis sejam normalmente criadas para atingir finalidades
socialmente valiosas, muitas vezes a sua aplicação gera resultados contrários aos
pretendidos pela sociedade. Todas essas contradições são evidenciadas e analisadas pelos
estudos sociológicos, o que caracteriza a sociologia como uma das disciplinas zetéticas
mais importantes para fundamentar os estudos críticos sobre o direito e a ciência do
direito atuais

➢ o que é a Ciência Jurídica.


A ciência do direito é uma ciência complexa que estuda o fenômeno jurídico em todas
as suas manifestações e momentos.
A ciência do direito não pode ser confundida com a chamada dogmática jurídica. Esta,
destina-se ao "estudo sistemático das normas ordenando-as segundo princípios e tendo
em vista a sua aplicação".
Segundo Miguel Reale, a dogmática jurídica é o momento exato da aplicação da ciência
do direito. Este momento ocorre quando o jurista se eleva ao plano teórico de princípios
e conceitos indispensáveis à sistematização do ordenamento jurídico.
O objeto da ciência jurídica é o conhecimento do direito. O jurista desenvolve o seu
estudo em torno do conhecimento do direito.

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➢ Conhecer as principais classificações de normas jurídicas.
As Normas Jurídicas destinam-se a produzir os seus efeitos num determinado território e
que são reveladas de forma geral e abstrata, pelo que não se destinam a um indivíduo em
concreto, mas a todos os que se coloquem numa determinada situação ou pratiquem
determinado ato.

Imperatividade

Generalidade

Plano Externo Abstração

Coercibilidade

Caracteristicas da
Violabilidade
Norma Juridica

Proibição do Abuso
do Direiro

Plano Interno Limitação do uso


Juris praecepta do direito

Imposição do
Respeito pelos
direitos dos Outros

Características da Norma Jurídica

Plano Externo – O mais comummente referido na doutrina; relativo à forma e valor


externo;
✓ Imperatividade – não se limitam a aconselhar uma determinada conduta elas
impõem uma conduta, são um comando.
✓ Generalidade – característica das normas jurídicas de se aplicarem sempre a um
grupo mais ou menos amplo de pessoas, e não a uma única pessoa em particular

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✓ Abstração – característica das normas jurídicas de se aplicarem sempre a um
número abstrato de casos, ou de situações e não a casos ou situações concretas,
individualizadas.
✓ Coercibilidade – é a característica das normas jurídicas que indica que a ordem
jurídica pode recorrer à força para impor o cumprimento da norma (a
coercibilidade não é uma característica de cada norma jurídica per si, mas sim da
ordem jurídica).
✓ Violabilidade – sendo as normas jurídicas uma criação do homem, de em última
analise, e usando a sua liberdade, pode vir a viola-las, tendo, no entanto, de se
sujeitar a sofrer sanções, maneira como o direito reage contra quem viola as
normas.

Plano Interno (os júris praecepta)– O mais fundante (embora não podendo prescindir
do primeiro, o externo), na medida em que se trata do elemento efetivamente
caracterizador do Direito enquanto tal, a sua autêntica diferentia specifica.
✓ Proibição do abuso do direito – honeste vívere – não abusar dos seus poderes.
✓ Limitação do Uso do Direito – alterum non laedere – não prejudicar ninguém.
✓ Imposição do respeito pelos direitos dos outros – suum cuique tribuere – atribuir
a cada um o que é seu.

Categoria Das Normas


Universais São aquelas que se aplicam em todo o território nacional.
Gerais Aplicam-se a todo o género de relações jurídicas.

Locais São aquelas que se aplicam no território de uma autarquia local (posturas e regulamentos locais).

Interesse Regulam os altos interesses sociais, como é o caso da norma que impedem os pais de casarem com
NORMAS

Público as filhas, sob pena de nulidade, não podendo a sua aplicação ser afastada pelos particulares.
Interesse Regulam interesses dos particulares, podendo ser afastadas pelos interessados – por exemplo a lei
Privado diz onde se deve cumprir certo contrato, mas as partes podem fixar um lugar diferente do indicado
na lei para o efeito.
Especiais Aplicam-se apenas a alguns tipos de relações jurídicas de um determinado universo,
particularizando um determinado regime jurídico
Excecionais São normas que constituem uma oposição ao regime regra.
Imperativa São obrigatórias
s POSITIVAS OU PERCETIVAS – impõem uma conduta. NEGATIVAS OU PROIBITIVAS –
proíbem uma conduta.

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Facultativa As normas facultativas são aquelas que regulamentando embora certas situações, não se impõem
s obrigatoriamente, limitando-se a conceder certas faculdades ou contendo um comando que os
particulares podem livremente afastar.
Éticas Existem normas lato sensu que não são normas éticas, nem normas técnicas como é o caso das

Técnicas normas permissivas.


A norma ética é norma stricto sensu: em face da situação x deve adotar-se a conduta y, porque a
ordem jurídica o comanda; o ato que a ordem jurídica comanda surge como um dever para o
destinatário da norma, sendo o ato contrário a esse comando ilícito, em regra geral cominado com a
consequente sanção jurídica.
Estatuição Normas projetam o seu comando sobre a vida social: a sua estatuição reporta-se a atos dessa vida,
Material como por exemplo não matar, entregar o achado.

Estatuição Normas lato sensu cujo conteúdo se esgota no plano jurídico – normas de estatuição jurídica -, e que
Jurídica reflexamente se vão traduzir em normas de estatuição ou conteúdo material.
Inovadoras Alteram o quadro jurídico existente.
Interpretat Destinam-se a interpretar um ato normativo anterior, fixando um sentido autêntico de uma norma
ivas jurídica.

Principais São as normas mães, e são a partir destes que logicamente se inferem novas regras.

Derivadas São Normas derivadas de outras normas.

Autónomas Normas que por si só tem um sentido completo.


Não Normas, que por si só não têm um sentido completo (falta-lhe toda a parte da previsão, toda a parte
autónomas da estatuição).

Completas São aquelas que podem produzir efeitos jurídicos só por si e contêm em si uma valoração jurídica
imperativa ou permissiva.
Incompleta São aquelas que não produzem efeitos só por si, tendo que ligar-se a outras normas.
s
Diretas São as normas cujos destinatários têm intervenção na vida social, aplicando-se à resolução de
problemas da vida.
Indiretas Também designadas por normas instrumentais, são as normas que se destinam aos que têm como
função aplicar as normas jurídicas e resolver questões de direito, aplicando-se em concreto à
resolução de problemas jurídicos, com carácter específico.

➢ Saber o que é a Hermenêutica Jurídica.


A hermenêutica jurídica, pode ser definida como o segmento da hermenêutica
tradicional que tem a finalidade de interpretar as normas e leis jurídicas, determinando
métodos para o entendimento legal.

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A hermenêutica jurídica é baseada na argumentação e pode ser considerada um sistema
humanístico de pesquisa.
O advogado, utilizando o círculo hermenêutico, compara elementos que estão contidos
no texto e elementos extratextuais para chegar a um entendimento completo da questão.

Características da hermenêutica jurídica


A hermenêutica jurídica apresenta as seguintes características:
• Ela se manifesta por meio da linguagem e através dela constrói a interpretação do
texto jurídico. A linguagem é, portanto, um instrumento que possibilitará ao
jurista a compreensão do texto.
• É necessário que todos os elementos contidos na norma jurídica sejam analisados
na compreensão do texto jurídico. Em grande parte das vezes, a doutrina dispõe
de processos, métodos, formas ou elementos de interpretação para se referir às
ferramentas hermenêuticas.
• Ao analisar o texto legal, é preciso buscar a compreensão do sentido que ele
expressa, dentro de um argumento lógico.
• O uso da hermenêutica está relacionado a busca do significado e o alcance das
normas jurídicas. Com a hermenêutica, o jurista pode encontrar a solução que
mais se adequa à aplicação do direito, além de lhe possibilitar argumentos válidos
para a embasar sua decisão.
• Toda lei e todos os fatos podem sofrer interpretações, uma vez que são
considerados fenômenos sociais e jurídicos. A compreensão deste conjunto de
ideias que idealiza a interpretação do Direito simboliza a evolução de sua história.

Tipos de interpretação textual jurídica


A interpretação do texto jurídico pode acontecer de três maneiras:
• Interpretação autêntica: é a interpretação oriunda da própria pessoa que redigiu a
regra. A interpretação autêntica apresenta no texto legal a mens legis (espírito do
legislador) que serviu de inspiração para o dispositivo legal.
• Interpretação doutrinária: é a interpretação oriunda da doutrina, isto é, pelos
estudiosos do direito. Tais estudiosos inserem os dispositivos legais em diversos
contextos, como no escopo histórico, no entendimento jurisprudencial, entre
outros.

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• Interpretação jurisprudencial: é aquela que é resultado do conjunto de acórdãos,
súmulas, sentenças e enunciados pronunciados e que são baseados no argumento
legal ou litígio que se reflete na regra a ser compreendida.

Resultados da aplicação das ferramentas de hermenêutica


A aplicação das ferramentas hermenêuticas pode ter os seguintes resultados:
• Ab-rogante: quando o texto da Lei se prova inconstitucional ou foi revogado
secretamente e, por isso, não pode ser aplicado.
• Restritivo: o texto da lei delimita a disposição legal (verba legis).
• Extensivo: é quando a intenção da Lei é mais conclusiva que seu texto. Nesses
casos, o significado literal é ampliado para que se obtenha o efeito prático.
• Declarativo: ocorre quando o texto da Lei e seu sentido são compatíveis (in claris
cessat interpretativo).

A hermenêutica jurídica é de importância fundamental


As ferramentas que possibilitam a aplicação da hermenêutica para que a transmissão
fidedigna das normas, leis e jurisprudências favoreçam e facilitem o emprego do Direito
para a garantia da paz e justiça da sociedade.

Em suma, hermenêutica é a ciência filosófica voltada para o meio de interpretação de um


objeto. No caso do Direito, trata-se de técnica específica que visa compreender a
aplicabilidade de um texto legal.
Em palavras mais simples: quando uma lei entra em vigor, assim como toda e qualquer
literatura, se requer uma compreensão de seu conteúdo. Se não houvesse regras
específicas para tal interpretação (e é disso que trata a hermenêutica jurídica), cada qual
poderia (quer juízes, quer advogados) entender a lei da maneira que melhor lhe conviesse.
Logo, a Hermenêutica traz para o mundo jurídico uma maior segurança no que diz
respeito à aplicação da lei, e, ao mesmo tempo, assegura ao legislador uma antevisão de
como será aplicado o texto legal, antes mesmo que entre em vigor.
Segundo Carlos Maximiliano, "É a hermenêutica que contém regras bem ordenadas que
fixam os critérios e princípios que deverão nortear a interpretação. Hermenêutica é a
teoria científica da arte de interpretar, mas não esgota o campo de interpretação jurídica
por ser apenas um instrumento para sua realização."

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Preparação para o p-folio – Introdução ao Direito


(Manuais)

Teoria Geral do Direito


➢ O Direito como Fenómeno e como Ciência
1. Complexidade do fenómeno jurídico
O Direito é uma disciplina (episteme mais que ciência pura) híbrida: artística, científica
e técnica, mas com uma lógica própria, não a formal, mas racionante, adaptável e
simbólica, mitológica, permeável a elementos não estritamente racionais – tal como
homem não é uma mera equação ou simples algoritmo. No conjunto dos aspectos do
jurídico, deve imperar não a lógia, o carácter lógico-científico (menos ainda a técnica)
mas sobretudo e muito especialmente a teleologia, a finalidade, o fim de justiça (de
atribuir a cada um o que é seu), razão de ser de tudo o mais. E hoje está cada vez mais
apercebido quão são os diálogos do Direito com a Arte.

2. O Direito como disciplina (episteme) social e normativa


Quando se trata de problemas de pessoas em situação, em interação social, parece
integrar-se o Direito, no âmbito de Ciências Sociais ou humanas. Pode ser tratado como
ciência – pois também será um mito, arte, técnica, poder… mais rigorosamente se dirá
que é uma disciplina ou episteme, que verdadeira ciência, expressão com conotações
cientistas, em geral… Sem sair da vertente “científica”, pode ser deparada com agudos
problemas de classificação. É que enquanto ciências sociais normais, se não quiserem
transformar-se na feitiçaria dos tempos modernos hão de normalmente sobretudo
descrever Homem em sociedade, no plano histórico, demográfico, sociológico,
económico, etc., deixando para a política, neles baseada (se tivermos sorte), a prescrição
das medidas de transformação social, o Direito é diferente. O Direito não se ocupa
simplesmente com um estudo descritivo ou informativo das instituições e institutos
jurídicos e das concretas leis vigentes. O Direito tem de ter o maior cuidado em não
pretender mais do que as pessoas podem fazer, ou dar. Tem o Direito que exigir das
pessoas apenas comportamentos razoáveis, sob pena ser de ser ele próprio um fomentador
da sua violação.

3. Normatividade, vocação prática


O problema do carácter científico do Direito é o seguinte: ele existe no mundo do espírito,
e da cultura, mas não prescinde de uma extraordinariamente vivida existência real,
quotidiana. É uma disciplina em ação. Sendo a técnica, é mais que isso: é, como com

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agudeza se apercebe o leigo, também imperativo e coerção. E sendo-o no bom sentido,
tem uma repercussão social e mesmo ética muito importantes. Há mesmo uma mensagem
moral nas imposições justas do Direito. E se não forem justas, a mensagem será imoral…
há que saber separar as aguas do direito, da Moral, da Religião, da política, etc. Há em
geral um pressuposto da justeza e etnicidade do Direito. Como ciência de rigor que é, o
Direito usa métodos que se aproximam tantas vezes da lógica, da própria matemática.
Como arte, vemo-lo ornado da retórica, do estilo literário, burilado, até belo, na doutrina
mais requintada, e, em especial, no discurso forense de maior brilho. Mas, antes disso,
que faz o jurista? Antes de compor belas frases ou de engrenar na mecânica do silogismos,
que pretende? Conhecer o Justo, e aplica-lo. Aplicá-lo através da interpretação – de leis,
sentenças, de costumes, etc. Ora o trabalho hermenêutico, essencial e próprio ao jurista,
aproxima a arte jurídica das disciplinas que fazem exegese, análise textual, hermenêutica,
no limite das filologias, das linguísticas e das semióticas, que procuram desvendar textos,
sinais. A hermenêutica jurídica, não é inócua, é interessada. E procura ler Justiça em cada
linha. Mesmo quando a norma não é clara ou não pareça tão justa assim.

➢ O Direito no mundo da Cultura


1. Uma disciplina omnipresente
A Especificidade do trabalho dos juristas, e o facto da sua tarefa ser complexa, estranha,
como que uma magia, levam, como vimos, a uma ideia estranha sobre a realidade social
do jurídico. E também lhe conferem um lugar particular no mundo da cultura.
O lugar do Direito na “cultura geral” das pessoas é mínimo. Chegou a ser introduzido nos
curricula do Ensino Secundário, mas como disciplina de opção, durante apenas um ano,
e muitas vezes prelecionado por não-juristas. A par desta Iniciativa, as únicas outras que
visam o conhecimento pelo grande publico de uma matéria imprescindível à sua corrente
foram alguns espaços de consultas jurídicas concretas nos media, mas que sobretudo
prendem a atenção dos interessados diretos, e um programa televisivo em que encenavam
alguns casos. No entanto isso parece estar já muito longe, não terá sido grande sucesso.
Seria importante estudar cidadania, direitos humanos, e a constituição, mas não são
matérias consensuais, evidentemente.
Os juristas não têm grande critério social real, e o que ainda lhes vai valendo são os
Direitos Humanos, que realmente forçaram o repensar do paradigma tardo-medieval do
direito subjetivo, em que ainda vivemos, mas tudo indica poderemos sair para um

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horizonte mais benévolo, solidário e fraterno – embora tal implique ainda muitas e
significativas mudanças.
Em geral, esquece -se que o jurídico é um campo onde muitas disciplinas e matérias se
entrelaçam entre si.

2. Oficiais do ofício jurídico e sua presença na cultura


Ainda não morreram todos aqueles homens probos que, se não usavam o computador
jurídico, eram capazes de se orientar na selva dos mais diversos ramos de Direito,
perseguindo a solução justa, e, simultaneamente, conseguiam ainda ter ócios, e ocupa-los
não apenas na apreensão e ponderação das artes, das letras e ate das ciências do se tempo,
como mesmo na criação e na investigação. Há muitos prodígios de juristas que se
notabilizaram não só na política, mas também nas Letras, e também há muitos nomes de
Relevo nas Artes.

Filósofos – Leinbiz, Montesquieu;


Economistas – Adam Smith, Marx, Hayek;
Sociólogos – Max Weber, Tocqueville;
Dramaturgos – Corneille, Racine:
Poetas – Novalis, Goethe
Todos eles cursaram direito e ensinaram-no mesmo nas universidades.

Muitos, começaram pelo Direito, sem chegarem a concluir os seus estudos, mas dele
colhendo boa parte da sua formação, tais como: Voltaire e Rousseau.

Outros, mesmo não tendo formação especificamente jurídica, sentiram se atraídos por
estes problemas, e vieram a produzir obras basilares para o pensamento jurídico, como
por exemplo os filósofos Platão e Aristóteles.

Nas belas artes, é inegável que algumas das maiores criações tem como motivo o Direito.
Também na escultura, música, teatro, cinema e poesia o direito esta presente nas mais
diversificadas formas.

➢ Especificidade espiritual do pensamento jurídico


1. Direito e Arte: dois reinos da liberdade
O Direito orientado para a justiça, e sendo esta impensável, inconcebível, sem a liberdade
de expressão, e a liberdade em geral, clara analogia tem o jurídico com o artístico, que só
floresce completamente num tal clima de descompressão, tolerância e pluralismo. A
liberdade, condição do Direito, é também condição de Arte. Mas convém distinguir-lhe

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dois sentidos: uma é radical liberdade individual, que um ser livre pode ter mesmo no
mais negro de cárceres; outra liberdade social e política, geral, à qual o Direito não pode
deixar de estar ligado – não por exigência política, mas por decorrência do seu próprio
modo de ser. Dar cada um o que é seu, é também permitir o livre desenvolvimento de
cada personalidade, e bem assim da artística – a suprema individualidade, a subjetividade
feita universalidade. Direito é liberdade do Homem comum. A Arte a Liberdade do
Homem excecional.

2. Cultura não artística


➢ Margens do Direito: Ciências Jurídicas Humanísticas e Disciplinas
Complementares

1. Sentido da metáfora “margens do Direito”

2. Ciências Jurídicas Humanísticas

O estudo do direito permite-nos um estudo sobre várias outras ciências como: filosofia
do direito, sociologia do direito e entre outras (Direito Comparado (ou Comparação do
Direito, ou Geografia Jurídica) e a História do Direito), e assim apresenta as ligações do
direito com outras formas de conhecimento. Essas outras formas de conhecimento são as
ciências afins ou disciplinas jurídicas. Para compreendermos o direito e as disciplinas
jurídicas, temos que estudar o homem e a sociedade de antigamente, para termos um
parâmetro de como surge à sociedade e com ela o direito. A Sociologia Jurídica ou
Sociologia do Direito, olha o Direito como um facto social, na sua realidade fenoménica,
no que ele é e faz realmente, ou seja, estuda o fenómeno direito. Esta estuda situações
particulares para chegar a uma lei generalizada, e analisa casos universais para solucionar
um caso particular. A sociologia tem por objeto a sociedade nas suas finalidades e
estruturas e não em elaborar normas para a sociedade, mas sim analisar como a vida social
vai reagir às regras e como as regras vão interferir na sociedade, e vai analisar o porquê
de quando uma lei é criada, mas não é cumprida ou aceita pela sociedade. A Filosofia do
Direito, ou Filosofia Jurídica, põe em causa esse ser e procura pensar o dever ser do
Direito, sendo particularmente tocada pelo problema da Justiça. Ou seja, vai tentar
encontrar respostas a indagações como: qual o sentido das transformações do direito? O
que o direito consiste? Entre outras. Essas indagações são algo fundamental para que
possamos entender e aprofundar sobre os fundamentos do direito e sua reflexão. De uma

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forma simplista, a filosofia da Jurídica busca compreender o fundamento do direito. O
Direito comparado olha a realidade normativo-Jurídica nas diferentes ordens jurídicas
espalhadas sobre o planisfério; ou seja, em por objeto o estudo comparativo de
ordenamentos jurídicos de diferentes Estados, com o propósito de revelar as novas
conquistas alcançadas em determinado ramo jurídico e que podem orientar legisladores.
O efeito prático do Direito Comparado é o aproveitamento, por um Estado, das
experiências jurídicas de outro. A História do Direito preocupa-se com a evolução deste
ao longo dos tempos. A Etnologia Jurídica (ou Antropologia Jurídica) estuda o Direito
como manifestação cultural do homem, havendo porem, quem pense, tratar-se tão-só de
uma variante da Sociologia Jurídica. A política Legislativa é uma disciplina dirigida ao
aperfeiçoamento do Direito através de reformas, no entanto o seu caracter científico pode
questionar-se. A estas disciplinas, ou ciências, jurídicas humanísticas também recebem o
nome de ciências jurídicas gerais.

3. Disciplinas complementares
O Direito também possui ciências, ou disciplinas, complementares, entre as quais, a
medicina legas, que auxilia o Direito Penal; a Psicologia Jurídica, que é a parte da
psicologia ao serviço judicial que se serve dos resultados dos estudos sobre processos
psicológicos, visando descobrir falsos testemunhos e os autores dos delitos; a
Criminologia, que estuda o criminoso e o crime e a forma como são estabelecidos.

➢ Interdisciplinaridade e Pós-Disciplinaridade: Paradigmas Jurídicos. Novos


paradigmas
1. Evolução dos Diálogos:
Transdisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Pós-Disciplinaridade
A interdisciplinaridade constitui uma articulação de várias disciplinas em que o foco é o
objeto, o problema ou o tema complexo, para o qual não basta a resposta de uma área só.
O produto final da interdisciplinaridade, que inclui triangulação de perspetivas e métodos,
chamamos transdisciplinaridade; ou seja, a ação da transdisciplinaridade é a resultante da
capacidade que nós temos de ultrapassar as fronteiras das disciplinas pelo investimento
articulado e a contribuição das diferentes disciplinas em jogo, num processo de
investigação que inclui articulação de teorias e conceitos, métodos e técnicas e, não menos
importante, do diálogo entre as pessoas A função da interdisciplinaridade nas Ciências
Jurídicas é ligar várias áreas/disciplinas do conhecimento na finalidade de construir e
possibilitar um ensino de maior abrangência para a aplicação prática e solução real dos
problemas na sociedade. A transdisciplinaridade exige que o investigador jurídico não se

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limite ao estudo aturado de todas as obras jurídicas que existem sobre uma determinada
matéria. Ter-se-á de ir mais longe. Ter-se-á de procurar analisar todas as vertentes de uma
determinada matéria. Esse trabalho poderá implicar deslocação a laboratórios e
orientação de cientistas de outras disciplinas, mas só assim se poderá aprender um pouco
mais sobre a nossa maneira de estar no Mundo. O Direito recontextualiza-se no novo
espectro da ciência, enriquecendo-se metodologicamente, sem se descaracterizar
enquanto estrutura, enquanto disciplina, estamos perante ao Pós -disciplinaridade.

2. Paradigmas Jurídicos. Novos Paradigmas Jurídicos


O estudo dos paradigmas jurídicos auxilia na demonstração da evolução que o estudo do
Direito sofreu no decorrer da história, tanto no que tange ao seu conceito quanto no
pertinente às suas funções.
Depois do Paradigma do direito objetivo romanista e do direito subjetivo idealista e
burgues, esta a nascer, ainda com manifestação não totalmente coordenadas, mas esta a
ganhar terreno, o paradigma do Direito Fraterno Humanista, que é ou que se procura que
venha a ser a nova tradução das exigências de Justiça no Direito, para o nosso tempo e
para o futuro, pelo menos não muito distante.
Manifestação evidente dessa aspiração universal é o movimento pela criação de um
Tribunal Constitucional Internacional.

➢ O Direito e as Normas
1. O Direito para alem da Norma
O Direito, não se trata de uma realidade exclusivamente composta por normas jurídicas,
porque nem todas as normas são jurídicas, mas também porque o Direito vive não apenas
de regulamentações, mas também de decisões, atos e teorias, de muito diverso tipo de
agentes, a que hoje se gosta chamar “operadores jurídicos”.
Os Atos Administrativos são Direito e, contudo, não são normas, tal como as sentenças
pronunciadas pelos Tribunais e a doutrina elaborada pelos jurisconsultos. A teoria
tridimensional do Direito igualmente nos fala de outras realidades além da norma: os
factos e os valores. Falamos já, também, na importância do texto como realidade de
suporte do Direito. Tudo isto nos dá a ideia de um Direito em ação, plural, partícipe de
múltiplas formas e usando diversas vias de manifestação e concretização.
Importa, assim, compreender que o Direito está para além da Norma. Mas perante tantas
ameaças à legalidade, tantas violações mesmo, que têm aparentemente crescido nos
nossos dias, cabe legitimamente sublinhar que ao mesmo tempo há que fazer uma defesa
da legalidade. Não de um legalismo estrito, estreito, tacanho. Mas tem de se compreender

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que o respeito pelas leis é ainda o grau zero do Estado de Direito. Se não se respeitam as
normas, se as próprias entidades públicas e jurídicas não derem esse exemplo, caímos na
barbárie.

2. Importância e sentido da Norma e da sua Teoria Geral


As Normas Jurídicas destinam-se a produzir os seus efeitos num determinado território e
que são reveladas de forma geral e abstrata, pelo que não se destinam a um indivíduo em
concreto, mas a todos os que se coloquem numa determinada situação ou pratiquem
determinado ato.
As normas não podem ser descuradas. Decorrendo de valores que se reportam a factos e
visando factos sob a influência de valores, as normas têm uma função reguladora
primordial.

3. Estrutura das normas jurídicas


A norma jurídica pura é normalmente composta de duas partes distintas: a previsão (ou
hipótese ou ainda tipo legal) e a estatuição que, uma vez juntas, permitirão compor o
silogismo judiciário.
a) A previsão – é um modelo abstrato de situação, um exemplo de uma situação de
facto, uma situação típica da vida, um comportamento, uma ocorrência cuja
verificação desencadeia a consequência prevista na estatuição. Os factos contidos
na previsão podem ser factos jurídicos, conceitos de direito (contrato, posse,
prédio, etc.)
b) A estatuição – é a consequência jurídica da verificação da previsão

4. Características da norma jurídica


Plano Externo – O mais comummente referido na doutrina; relativo à forma e valor
externo
Plano Interno (os júris praecepta)– O mais fundante (embora não podendo prescindir do
primeiro, o externo), na medida em que se trata do elemento efetivamente caracterizador
do Direito enquanto tal, a sua autêntica diferentia specifica.

5. Elementos das normas jurídicas – Plano externo


✓ Imperatividade – não se limitam a aconselhar uma determinada conduta elas
impõem uma conduta, são um comando.
✓ Generalidade – característica das normas jurídicas de se aplicarem sempre a um
grupo mais ou menos amplo de pessoas, e não a uma única pessoa em particular

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✓ Abstração – característica das normas jurídicas de se aplicarem sempre a um
número abstrato de casos, ou de situações e não a casos ou situações concretas,
individualizadas.
✓ Coercibilidade – é a característica das normas jurídicas que indica que a ordem
jurídica pode recorrer à força para impor o cumprimento da norma (a
coercibilidade não é uma característica de cada norma jurídica per si, mas sim da
ordem jurídica).
✓ Violabilidade – sendo as normas jurídicas uma criação do homem, de em última
analise, e usando a sua liberdade, pode vir a viola-las, tendo, no entanto, de se
sujeitar a sofrer sanções, maneira como o direito reage contra quem viola as
normas.

6. Elementos das normas jurídicas. Plano interno: os júris praecepta


✓ Proibição do abuso do direito – honeste vívere – não abusar dos seus poderes.
✓ Limitação do Uso do Direito – alterum non laedere – não prejudicar ninguém.
✓ Imposição do respeito pelos direitos dos outros – suum cuique tribuere – atribuir a
cada um o que é seu.

➢ Classificação das Normas Jurídicas: Classificação de normas: dificuldades e


precauções
1. Normas (propriamente) jurídicas e normas exteriormente jurídicas
Não bastam as características externas, mas deverá do conteúdo da norma desprender-se
uma clara significação jurídica, de Justiça.
Assim, haverá, sem dúvida, certo tipo de normas, gerais, abstratas, coativas, imperativas,
violáveis ..., adaptadas segundo os trâmites legalmente prescritos, mas para as quais se
não encontra uma base justa em que deveriam vigorar. Perante estas normas que, se
fossem jurídicas, estariam obviamente sujeitas a toda a malha de classificações
juridicamente aceite, haverá apenas que qualificá-las como falsamente jurídicas, ou
aparentemente jurídicas, normas afinal dotadas de simples juridicidade externa. Chamar-
lhes-emos normas exteriormente jurídicas.

2. Carácter não substancial das classificações


Trata-se de saber, de entre as diversíssimas focalizações possíveis, quais as que
efetivamente interessam. Há, antes de mais, que prevenir-se quanto ao carácter não
substancial das divisões deste tipo. Primeiro está a norma, com o seu fim, a sua razão, o

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seu texto. Depois, num trabalho ulterior de catalogação, de aproximação de normas por
semelhanças e diferenças, só depois é que vêm as classificações.

3. Critério ou focalização predominante


Toda a norma jurídica é suscetível de ser classificada de acordo com vários critérios, que
valorizam em especial dada ou dadas características que possua. Tal facto, atesta o
carácter não substancial das classificações, tornando óbvio que a mesma norma pode ser
alvo de diversas qualificações simultâneas. Contudo, muitas vezes sucede que, numa
norma, ressalta em especial um aspeto, o qual deixa na sombra os demais, e com estes as
correlativas classificações.

4. Norma única ou varias normas?


Na problemática geral das qualificações de normas, há ainda a observar um último
cuidado: o facto de se individualizar um artigo de um diploma legal, ou até um número
ou parágrafo, ou mesmo alínea de entre este, não quer automaticamente dizer que
estejamos perante uma única norma jurídica; não raro mais que uma norma se encontra
nessas singulares disposições. Importa, pois, ao classificar uma norma jurídica, antes de
mais, ver se ela o é, e depois, certificarmo-nos de que se trata de uma única norma. O
critério-regra a ter presente quanto a esta última questão parece-nos não poder deixar de
ser o da estrutura da norma jurídica. Deste modo, e nos limites da razoável, sempre que,
ao invés de uma hipótese e de uma estatuição, tenhamos diante de nós várias hipóteses e
várias estatuições, parece que, em princípio, teremos tantas normas completas quantos os
pares em presença.

5. Norma completa ou incompleta (hoc sensu)


Nem sempre estes elementos estruturais e naturais da norma jurídica se nos apresentam
pela forma expressa; uma boa dose de interpretação é aqui requerida — especialmente
para subentender o que figure tão-só de forma tácita. Se na individualização do objeto de
análise "norma jurídica" houve de fazer este recurso à estrutura da norma, também na
malha classificatória das normas, naturalmente se terá de apelar para um outro elemento
prévio e basilar que com a classificação tem não despiciendo relacionamento. Trata-se,
com efeito, dos atributos ou características das normas jurídicas.

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➢ Classificações segundo as características
1. Sentido da enfatização teórica desta relação
Algumas classificações irão debruçar-se em particular sobre a generalidade e a abstração,
outras sobre a coercibilidade ou a violabilidade, outras sobre a imperatividade, etc. Com
estas ou aquelas roupagens designatórias, o que sempre acaba por se visar é o grau e o
tipo de fidelidade de cada norma aos paradigmas estabelecidos pelas suas características
definidoras. Tendo-se detetado esta preocupação, torna-se secundária a polémica sobre as
designações classificatórias, as quais passam a ser tidas como simples aproximações,
tentativas de captação dessas situações de diversificada adequação da norma aos seus
arquétipos definitórios.

2. Esquema Geral da Relação Características/Critérios


I - Características ligadas ao lado externo das normas jurídicas:
1. Características de generalidade e abstração:
a) - critérios do âmbito espacial de vigência
b) - critérios dos interesses predominantemente tutelados
c) - critérios do âmbito de frequência e normalidade

2. Características de imperatividade
d) - critérios da força vinculativa (autónoma ou heterónoma) no conjunto da ordem
jurídica

3. Características de coercibilidade e violabilidade


e) - critérios quanto às consequências da violação

II — Características relacionadas com o lado interno das normas jurídicas:


f) - critérios quanto à fonte de Direito causante (que pode ser plúrima e não
exclusivamente legal)
g) - critérios quanto à eticidade ou juridicidade imediata das normas (sem integrar nas
normas a norma injusta, mas fazendo apelo apenas a normas prima facie não éticas, v.g.
os sentidos do trânsito; distinguindo as prescrições materiais das jurídicas).
h) - critérios quanto à inovação trazida pelas normas

III — Características relacionadas com a completude (presença simultânea da totalidade


das características jurídicas numa norma) das normas:
i) - critérios quanto à importância e causação das normas entre si

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j) - critérios quanto à autonomia, completude ou transferência normativas.

3. Designações mais frequentes


a) Âmbito espacial de vigência: normas universais, gerais e locais
b) Interesses predominantemente tutelados: normas de interesse (e ordem) pública ou
privada
c) Âmbito de frequência e normalidade no conjunto da ordem jurídica: normas gerais,
especiais e excecionais
d) Força vinculativa: normas imperativas (ou injuntivas) e normas facultativas (ou
dispositivas hoc sensu)
e) Consequências da violação: normas plus quam perfectae, perfectae, minus quam
perfectae, imperfectae.
f) Fonte de Direito causante: normas consuetudinárias, jurisprudenciais, "doutrinárias (ou
científicas)", legais e negociais.
g) Eticidade ou juridicidade imediata: normas éticas e normas técnicas; normas de
estatuição material e normas de estatuição jurídica.
h) Inovação normas inovadoras e normas interpretativas
i) Importância e causação relativas: normas principais e normas derivadas (ou primárias
e secundárias)
j) Autonomia, completude ou transferência: normas autónomas e não autónomas, normas
completas e incompletas, normas diretas e indiretas (v.g. as remissivas)

4. O perigo conceptualista, relatividade e falibilidade classificatórias


Quanto mais longe, quanto mais pormenorizadamente, se levar a estrutura classificatória,
maior o perigo de conceptualismo, de distanciamento do real para se entrar no reino do
puro pensar catalogador.
É preciso, pois, novamente chamar a atenção para a limitação das classificações, e
particularmente agora assinalar que, em vários casos, não apenas as categorias por vezes
se revelam inaptas a abarcar a totalidade das situações, como também podem suceder
emaranhados classificatórios.

➢ Categorias
1. Normas universais, gerais e locais
✓ Universais - São aquelas que se aplicam em todo o território nacional.
✓ Gerais - Aplicam-se a todo o género de relações jurídicas.

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✓ Locais - São aquelas que se aplicam no território de uma autarquia local (posturas
e regulamentos locais).

2. Normas de interesse (e ordem) publica ou privada


✓ Interesse Público - Regulam os altos interesses sociais, como é o caso da norma
que impedem os pais de casarem com as filhas, sob pena de nulidade, não podendo
a sua aplicação ser afastada pelos particulares.
✓ Interesse Privado - Regulam interesses dos particulares, podendo ser afastadas
pelos interessados – por exemplo a lei diz onde se deve cumprir certo contrato,
mas as partes podem fixar um lugar diferente do indicado na lei para o efeito.

3. Normas gerais, especiais e excepcionais


✓ Gerais - Aplicam-se a todo o género de relações jurídicas.
✓ Especiais - Aplicam-se apenas a alguns tipos de relações jurídicas de um
determinado universo, particularizando um determinado regime jurídico
✓ Excecionais - São normas que constituem uma oposição ao regime regra.

4. Normas imperativas (ou injuntivas) e facultativas (ou dispositivas hoc sensu)


✓ Imperativas - São obrigatórias POSITIVAS OU PERCETIVAS – impõem uma
conduta. NEGATIVAS OU PROIBITIVAS – proíbem uma conduta.
✓ Facultativas - As normas facultativas são aquelas que regulamentando embora
certas situações, não se impõem obrigatoriamente, limitando-se a conceder certas
faculdades ou contendo um comando que os particulares podem livremente
afastar.

5. Normas “plus quam perfectae”, perfectae”, “minus quam perfectae”,


“imperfectae”
A distinção entre normas "plus quam perfectae", "perfectae", "minus quam perfectae" e
"imperfectae" é uma distinção muito antiga, e que visa agrupar as normas consoante as
sanções que cominam para a sua infração.
✓ "Mais que perfeitas" (plus quam perfectae) são as normas que, no topo da escala,
piores ou mais gravosas consequências acarretam para os seus violadores. Por um
lado, os efeitos e consequências, de uma hipotética dimensão jurídica do ato
violador do Direito ficam apagados juridicamente da ordem jurídica. Por outro
lado, não se fica por aqui: cumulativamente, impõe-se uma sanção da índole da
pena.

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✓ "Perfeitas" (perfectae) são as normas que, impondo a nulidade do ato violador,
contudo prescindem da imposição de uma pena. Aqui se encontra a maioria das
nulidades de Direito Civil.
✓ As normas "menos que perfeitas" (minus quam perfectae) são normas que, ao
contrário das últimas, se impõem uma pena, deixam ainda válido (não nulo ou
anulável) o ato violador.
✓ As normas "imperfeitas" (imperfectae), que alguns creem dever questionar se
serão verdadeiras normas jurídicas, estão desprovidas de todo o elemento
sancionatório, não estatuindo nem pena nem invalidade do ato. Mas podem
realmente ser consideradas jurídicas, porque o Direito não implica
necessariamente sanções. Pode ser apenas uma direção, um comando, ou até
mesmo uma recomendação ou indicação persuasiva pelo peso pedagógico da
ordem jurídica (o Direito tem essa função ainda, não pode é ser um anti-Direito).

6. Normas consuetudinárias, jurisprudenciais, doutrinais (ou científicas), legais e


negociais
As normas serão consuetudinárias se a sua origem direta for o costume, jurisprudenciais
se tiverem causa próxima nas decisões dos tribunais.
a doutrina não origina diretamente normas, que requerem contributo de outras fontes para
virem à vida. Há, porém, muitas normas doutrinais, mas não no nosso sentido: normas de
lege ferenda, de jure constituendo, isto é, direito que ainda não é, mas se pretende que
venha a ser, no fundo, projetos, propostas de normas; e normas de outro tipo, de índole
sistemática, construtiva, regras ou leis "científicas" do Direito, vigente ou não, mas mais
gerais ou abrangentes.

7. Normas éticas e normas técnicas: normas de estatuição material e normas de


estatuição jurídica
✓ Éticas/Técnicas - Existem normas lato sensu que não são normas éticas, nem
normas técnicas como é o caso das normas permissivas. A norma ética é norma
stricto sensu: em face da situação x deve adotar-se a conduta y, porque a ordem
jurídica o comanda; o ato que a ordem jurídica comanda surge como um dever
para o destinatário da norma, sendo o ato contrário a esse comando ilícito, em
regra geral cominado com a consequente sanção jurídica.

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✓ Estatuição Material - Normas projetam o seu comando sobre a vida social: a sua
estatuição reporta-se a atos dessa vida, como por exemplo não matar, entregar o
achado.
✓ Estatuição Jurídica - Normas lato sensu cujo conteúdo se esgota no plano jurídico
– normas de estatuição jurídica -, e que reflexamente se vão traduzir em normas
de estatuição ou conteúdo material.

8. Normas inovadoras e normas interpretativas


✓ Inovadoras - Alteram o quadro jurídico existente.
✓ Interpretativas - Destinam-se a interpretar um ato normativo anterior, fixando um
sentido autêntico de uma norma jurídica.

9. Normas principais e normas derivadas


✓ Principais - São as normas mães, e são a partir destes que logicamente se inferem
novas regras.
✓ Derivadas - São Normas derivadas de outras normas.

10. Normas autónomas e não autónomas - normas completas e incompletas: normas


diretas e indiretas
✓ Autónomas - Normas que por si só tem um sentido completo.
✓ Não autónomas - Normas, que por si só não têm um sentido completo (falta-lhe
toda a parte da previsão, toda a parte da estatuição).
✓ Completas - São aquelas que podem produzir efeitos jurídicos só por si e contêm
em si uma valoração jurídica imperativa ou permissiva.
✓ Incompletas - São aquelas que não produzem efeitos só por si, tendo que ligar-se
a outras normas.
✓ Diretas - São as normas cujos destinatários têm intervenção na vida social,
aplicando-se à resolução de problemas da vida.
✓ Indiretas - Também designadas por normas instrumentais, são as normas que se
destinam aos que têm como função aplicar as normas jurídicas e resolver questões
de direito, aplicando-se em concreto à resolução de problemas jurídicos, com
carácter específico.

11. Objetivos da categorização ensaiada


1) não ter simplificado abusivamente o que é vasto e não linear;

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2) não ter complicado, pela via da banalização, tornando o tema árido e apenas apto à
memorização;
3) ter sugerido a relacionação da matéria com diversas outras, do maior interesse;
4) dar uma panorâmica geral das questões e da sua razão de ser;
5) fornecer os instrumentos teóricos imprescindíveis a uma consciente e raciocinada
aplicação prática, que saiba as fraquezas e forças do seu instrumentarium conceitual.

Desvendar do Direito
Capítulo I
Escolhos Autognóticos da Juridicidade
Perante as múltiplas artimanhas que se tecem em torno do seu estatuto e praxis ético-
epistémica, a condição do Direito é complexa e vulnerável. A fachada de importante
ciência, consagrada de ética e armada de poder, tem obviamente pés de barro, e oculta
uma “retaguarda” ou um “miolo” de crise e crítica.
Bastaria recordar o que sucede no terreno jurídico com o que para algumas epistemai seria
o principium sapientiae: a própria questão de uma definição, descrição, conceito ou noção
de direito. Como é sabido, as mais canónicas das definições ou processos enunciativos
delimitadores similares estão em profunda crise, até pelo facto de que todos os traços
pretensamente caracterizadores do Direito comportarem significativas exceções – pelo
menos.
E a alternativa aproximação à essência da juridicidade por via da Justiça, considerando
que o Direito é o seu objeto e, como dizia uma glosa medieval, dela deriva como um filho
de sua mãe, insistindo no constans et perpetua voluntas suum cuique tribuere – que é uma
proposição cheia de potencialidades – não deixa de comportar também os seus escolhos,
sobretudo pela banda do titularismo jurídico, quando reduz o suum de cada um a uma
lista apenas um pouco mais vasta de fontes de direito que a lei.
Esta dificuldade de base em delimitar-se e compreender-se por parte do Direito em geral
ganha significado também numa outra questão autognótica qualificativa muito simples,
mas muito significativa: que tipo de episteme é o Direito? Os mais tradicionalistas,
conservadores, tanto os rigidamente agelastas quanto os menos reflexivos, inclinam-se
para que o Direito seja uma ciência. Mas há os que o consideram uma arte. Certamente
poderá haver elementos de uma e de outra, e também de técnica. Mas a questão é saber o
que o Direito será mais... para o que ele preferencialmente tenderá. Temos sérias dúvidas
que se possa considerar ciência um saber não só tão radicalmente atravessado pela

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ideologia, como sobretudo tão dependente do virtuosismo teórico-prático dos seus
intérpretes. A hermenêutica jurídica, hoje cada vez mais e justamente vista como
interpretação-criação-aplicação do Direito, parece-nos ter na interpretação musical o seu
modelo, e por vezes interpretação mais livre, como a de Jazz. Em vez de uma definição
rigorosa e rígida de Direito, teremos certamente duas tópicas jurídicas: uma tópica
ontológica para o sollen, e uma tópica sociológica para o sein, sendo que esta última será
certamente a mais usada. Em lugar de um Direito brilhando ao sol com a sua couraça
científica, um Direito mais noturno e lunar, com as vestes mais modestas da arte, e arte
muitas vezes de artífice, que tem de comportar o rasgo do virtuosismo, mas também o
ostinato rigore de que falava Leonardo Da Vinci. Digamos que múltiplas focalizações ou
perspetivações do Direito nos levam para um seu entendimento como pensamento débil
fazendo-se forte, uma razão institucional que no fundo em muitos casos é razão crítica, e
convoca mesmo, quiçá, até o ácido cínico.

Capítulo II
Interdisciplinaridade(s)
Desde logo, recordaremos, sem desenvolver, que interdisciplinaridade não é
multidisciplinaridade, nem transdisciplinaridades, que funcionam como pontes de certas
disciplinas para certas outras, sem que verdadeiramente nenhuma saia do seu casulo,
funcionando o “outro” epistemológico em grande medida como um pretexto de menor
rigor na própria casa do saber, ou, quiçá mais frequentemente ainda, como uma flor na
botoeira sem reais consequências. A instrumentalização ou manipulação da
interdisciplinaridade, funciona como álibi para alguns dos mais perversos processos de
amputação universitária: em nome dela se fundem cadeiras, se hibridizam centros de
pesquisa, se criam cursos de banda não se sabe mais se larga se afinal estreita. Mas se há
interdisciplinaridades falsas e superficiais e interdisciplinaridades perversas, de mero
pretexto institucional, umas e outras fenómenos recuperadores de um paradigma
revolucionário e essencial para os saberes, que não mais podem funcionar de costas
voltadas uns para os outros, como membra disjecta, também há interdisciplinaridades
fecundas, que potenciam as capacidades heurísticas e alargam os limites das epistemai:
que somam, que multiplicam, que problematizam, e assim fazem o mundo “pular e
avançar” como na Pedra Filosofal de Manuel Freire.

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Capítulo III
Interdisciplinaridade e Direito
1. Justaposição de saberes
O Direito é, em si mesmo, filosofia prática, e tradução universal. Não sendo em si muito
interdisciplinar, na sua versão positivista ainda muito difundida e dominante no ensino, o
que constitui um contrassenso clamoroso, é, contudo, suscetível de com alguma facilidade
poder convocar saberes-outros. Os que relevam do conhecimento da sociedade ou de
ciências imediatamente “auxiliares” ou, melhor dito, complementares, dos diversos ramos
jurídicos são os mais bem aceites, ainda que não tenham frequentemente expressão
significativa nos curricula escolares. Todas as disciplinas ganham com o estudo
sociológico, geral e particular, do setor ou setores da sociedade que com elas mais
convivem (ou vice-versa).

2. Hibridização de Saberes
O triunfo da interdisciplinaridade no Direito passa por outros caminhos ainda, sem
prejuízo deste, que vimos referir, dever ser cultivado e aprofundado. Não há, pois, guerra
entre dimensões interdisciplinares, mas complementaridade, e graus de aprofundamento.
Uma importante modalidade interdisciplinar, no Direito, é que decorre criação de
disciplinas jurídicas (na maior parte dos casos jurisfilósoficas, ou associadas
normalmente à Filosofia do Direito). Transportam consigo boa parte da racionalidade e
da ideologia dominante nas áreas do Direito pode ser acusada algum economicismo, tal
como os estudos de Direito & Literatura normalmente serão críticos, e não há como deixar
de encontrar feminismo na Jurisprudência (ou Filosofia do Direito) Feminista.

3. Perspetivação Jurídica Holística


Resulta do pensar o Direito, tanto na sua dimensão filosófica como na criação e critica do
direito positivo, com os instrumentos de análise provindos de todos os saberes que temos
á nossa disposição. Não é um processo de agravar a “impureza” do direito: o Direito
nunca foi puro (as tentativas de Kelsen, tais como os anelos dos realistas clássicos, tão
diferentes entre si, mas confluentes na busca dessa miragem, foram votadas ao fracasso,
precisamente para uns e outros pudesse, - e legitimamente – salvar os respetivos pontos
de vista de fundo). Do que se trata é de simplesmente não fechar os olhos e os ouvidos a
tudo o que pode instruir o Direito sobre a realidade (em todas as múltiplas dimensões),
ajudá-lo a aperfeiçoar-se a melhor cumprir o seu fim de caminho para a efetivação da
Justiça.

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Estamos perante a opção pela inserção do Direito na vastíssima República do Saber (não
apenas República das Letras).
A perspetivação interdisciplinar holística em Direito implica que ele considere todas as
fontes possíveis (e credíveis) para a sua própria construção problemática e crítica,
pluralista.

4. Interdisciplinaridade Jurídica Critica


Não se trata de um fenómeno, este holismo interdisciplinar tem de ser exato simétrico dos
procedimentos recuperadores, e forma de superação do conservadorismo jurídico.
Pode efetivamente haver práticas pseudo-interdisciplinares superficiais recuperadoras,
conservadoras, solidárias de um discurso legitimador do ilegítimo. Mas o próprio
conceito de interdisciplinaridade que propomos, uma interdisciplinaridade madura e
plena, implica o holismo e a crítica.

5. Interdisciplinaridade exógena e Interdisciplinaridade Endógena


Existe dois tipos de interdisciplinaridade: a primeira – interdisciplinaridade endógena – é
baseada na produção de novos conhecimentos com o objetivo, mais ou menos explícito,
de realizar a unidade da ciência, a partir da própria comunidade científica; a segunda –
interdisciplinaridade exógena – surge em resposta a uma crescente requisição pela
interdisciplinaridade fora da universidade, com origem nos problemas “reais” da
comunidade, fertilizando e questionando a primeira.

Parte III
Teorias sobre Mudança de Paradigma em Direito

1. Interdisciplinaridade e Mudança. Paradigmática


A Interdisciplinaridade Endógena afigura-se-nos como um dos pilares sobre que poderá
repousar uma futura mudança de paradigma no Direito.
Há vários indicadores de que essa mudança de idade se pode estar a operar, embora estes
fenómenos sejam lentos, e não seja fácil ao participante na Historia ser seu correto
julgador e sequer objetivo observador. O Direito pode ser, obviamente, encarado por
diversas facetas, e assim se podem nele encontrar diferentes cortes temporais, que
corresponderiam a diversos paradigmas. Procuramos assinalar algumas propostas de
seguida, sabendo que praticamente toda a démarche histórica geral, mesmo para um pais
ou região particulares, não deixa, normalmente, de avançar periodizações. Contudo, nem
todas são efetivamente ruturas paradigmáticas. Essa diferença conta muito.

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2. Direito Estatutário e Direito Contratual e outras teorias


O direito das sociedades primitivas e essencialmente estatutário e repressivo, é um Direito
do Grupo e para o Grupo. Em contraposição, na sociedade moderna o Direito é contratual
e retributivo, é um Direito do Individuo e para o Individuo.

3. Direito Objetivo e Direito Subjetivo


A distinção entre direito objetivo e subjetivo é extremamente sutil na medida em que
estes correspondem a dois aspetos inseparáveis: o direito objetivo permite-nos fazer algo
porque temos o direito subjetivo de fazê-lo. Ou seja, o Direito objetivo é o conjunto de
normas que compõem o ordenamento jurídico de um país, e estabelecem as regras pelas
quais se regem as condutas e as relações humanas no contexto social, e o Direito
subjetivo é o direito atribuído a uma pessoa, que dele é titular e pode, por isso, exigir seu
cumprimento.
Enquanto o primeiro é a norma abstratamente considerada, o segundo é o interesse de
uma pessoa juridicamente tutelado, ao qual a norma atribui proteção, e que por isso
pode ser tutelado pelo Estado-juiz, através de provocação do interessado.

Capítulo II
Novos Paradigmas, Novos Nomes

Os Direitos Humanos dinamitaram as certezas da relação jurídica, alter ego do direito


subjetivo. Das reais dificuldades teóricas de os integrar nos moldes da dialética entre
sujeito ativo passivo de uma relação corrente, especificamente privatística (a relação
jurídica teve a sua glorificação nesse direito que alguns pretenderam ser purificado e não
político, nessa mistificação tendo ate embarcado agudos espíritos críticos, a seu modo,
como Michel Villey) se deu conta por exemplo Gomes Canotilho. Num tempo em que
outros punham em causa a própria juridicidade ou juridicidade plena dos Direitos
Humanos, e muito em especial dos Direitos Sociais.
Com o transcorrer da história, surgem novidades, alternativas e novos nomes. O Direito
passa a ser adjetivado com as mil e uma cores de um arco-íris que se quer a mudança,
mas sempre numa afirmação de mais justiça. Assim, fala-se em direito pós-moderno,
critico, alternativo, pluralista, achado na rua, social, hoc sensu, altruísta, humanista, etc...
Assim no futuro, poderá encontrar uma confluência ou plataforma entre essas varias
novas abordagens do Direito, algumas realmente militantes ate, ou se a nova realidade
teorética do Direito será, precisamente, marcada pela pluralidade. Essas perspectivas e

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movimentos virão a ter um papel sobretudo alternativo, mas marginal e apenas
contestatário, com as influências marcadas por tal contexto, ou se um dia poderão, ainda
que metamorfoseadas, passar a falar pelo próprio Direito “oficial”. Tudo parece ainda em
aberto.
Alguns dos interlocutores são ativistas, estão nas ruas, nos presídios, na política. E,
portanto, o Direito oficial, canónico, tem pela vez primeira, a concorrência de vozes que
se querem fazer ouvir alternativamente…

Capítulo III
O Caso da Pós-Modernidade. Um Paradigma paradigmático

1. Primeiros Passos Pós-modernos em Direito


Uma das primeiras expressões e elaborações teóricas no âmbito dos anúncios e
prenúncios de uma mudança de idade no Direito, e com naturais vizinhanças, como é
óbvio, com os pensamentos críticos, foram a pós-modernidade jurídica, o direito pós-
moderno e afins. Esta expressão surge no âmbito das Artes, e especificamente das Belas
Artes, foi ganhando interesse noutras áreas, com teorizações que viriam tornar-se
clássicas, como a de Lyotard. A breve trecho, apareceriam no Direito, reivindicando-se,
mais claramente ou menos, da pós-modernidade, autores que vinham do tradicionalismo
ou do conservadorismo, ao mesmo tempo que autores que vinham do marxismo, a par,
evidentemente, de outros, mais originais… Essa confluência poderia ate ser sinal de uma
regeneração ou superação, para os mais crédulos. Contudo, revelou, em grande medida o
enorme mal-entendido que uma tal “moda” (neste caso devemos tratar do fenómeno
enquanto moda) suscitou.
A sombra dessas designações, foi florescendo um pensamento critico e renovador, que
não pode ser ligado completamente as venturas e desventuras da real mudança de
paradigma (que não ocorreu, entretanto, pelo menos ao nível macro-jurídico), com muitos
pontos importantes e que serão outras tantas sementes de futuro.

2. Pós-modernidade e Sentido. George Steiner e Umberto Eco


O testemunho de George Steiner, sobre o pós-modernismo em Direito, é mais critico,
enquanto Umber Eco danos alguma esperança.
O sopro pós-moderno talvez deva ser sobretudo entendido como uma inspiração e um
estilo. Não especificamente próprios de um tempo, que seria o nosso. Mas de todos os
tempos.

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3. Pós-modernidade em Direito: Espírito, não Tempo


Em Direito poder-se-á, assim (se considerarmos o espírito e não muito concretas
propostas, novas cartilhas), ser pós-moderno, quando se pensa o Direito e se atua em
conformidade; e poder-se-á ser maneirista hoc sensu, sofista, positivista ou agelasta,
quando se usa a jurisprudência mecânica , de pesadas rodas dentadas, que ainda não
inventou a maquina de vapor, e muito menos sequer o caído critico.
Talvez, nesse sentido, que corresponde a uma certa forma de pensamento débil, pós-
modernidade, atravessada por tantas teorias contraditórias, encontre um lugar na Historia
do pensamento jurídico: não como mudança de idade, mas como catalisador para que tal
se venha a produzir.
O pensamento jurídico moderno e pré-moderno é positivista (monista), normativista e
dogmático, enquanto o pensamento jurídico pós-moderno seria a confluência dialética de
pensamentos pluralistas, jurisprudencialistas e problemáticos (tópicos).

Capítulo IV
Novo Paradigma, Novo Caminho para a Justiça
Dizíamos que a interdisciplinaridade Endógena seria essencial para a mudança de
Paradigma Jurídico. É que nesta mudança tem de estar muito bem pensada a mudança de
rumo no caminho da Justiça.
O que ocorre é que para se persistir nesse caminho para a Justiça não bastam boas
intenções, nem preconceitos ideológicos ultrapassados. É precisa a prudentia, virtude
tradicionalmente feita de muitas virtudes. E a qual, como se sabe, implica o conhecimento
dos pertinentes dados de facto para formar o juízo. Sem eles, a própria justiça não teria
como esclarecidamente decidir. Seria uma justiça certamente preconceituosa, certamente
tanto mais inflexível quanto mais cega às realidades, dessas pseudo-justiças que fariam
parecer o mundo…
Ora a Interdisciplinaridade Engódega parece ser a garantia de que esse conhecimento
estará presente na decisão do Direito.

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Capítulo V
Algumas teses para um novo paradigma

1. Direito sem Vendas


O Direito foi, durante séculos, frequentemente “do aço frio das espadas” (como diria
Teixeira de Pascoaes) e as vendas que as deusas Themis Diké e Ivstitia afinal nunca
tiveram cegaram-no bem a bem visíveis iniquidades à sua volta. Queria ser imparcial,
mas mesmo quando o fosse intimamente, como o poderia realmente ser na prática,
perscrutando realidades mais complexas e esquivas, se não via sequer o que estava à sua
frente?

2. Germinação de um Novo Paradigma Jurídico


Após a longa vigência do direito objetivo romano e do direito subjetivo burgues, sente-
se estarmos num momento cultural e civilizacional propicio ao surgir de uma nova época,
que traga a esperança de um reencontro do filho Direito com a sua perdia mãe, a Justiça.

3. Paladinos da Justiça
O Direito pode ser um dos catalisadores dessa mudança, e os juristas cavaleiros andantes
para efetivação da Justiça.
Numa sociedade tão agónica e tão egoísta como a que esta a crescer à nossa volta (a
trituradora crise e as politicas dela fomentadoras geram a luta de todos contra todos, talvez
mais que a necessária e inteligente solidariedade), parece que de novo, como nos tempos
do Quixote, a esperança da Justiça pode residir em quem tenha circunstancialmente as
armas para a defender (como v.g., os Tribunais Constitucionais, e os Tribunais em geral,
que não dependem – pelo menos ainda- a do poder politico e do poder económico: se
virem a depender será a ditadura, o despotismo, sem separação dos poderes).

4. Novas Propostas, Novos Nomes


Com o correr da história, surge novos nomes que revelam muito mais ideias e ideais
ainda: direito social, altruísta, humanista, fraterno, pós-moderno, alternativo, critico,
pluralista, etc.

5. Atualidade dos Valores da Revolução Francesa


A concretização da Fraternidade
Liberdade, Igualdade e Fraternidade pode ser um lema rotinizado, tornado apenas timbre
oficial, mas a verdade é que, e que cada vez mais, sintetiza valores que, por estarem

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surpreendentemente a ser postos de novo em risco, se revelam não como adquiridos, mas
como, de novo, altos ideais por que lutar. Valem a pena.
A liberdade ainda vai apesar de tudo sendo teoricamente aceite por muitos (embora, na
verdade, seja, no limite, apenas a Liberdade para alguns, mais afoitos, já dizem
abertamente não querer (mesmo que não saibam realmente o que ela é). Recusam-no
mesmo, cuidando assim em muitos casos afirmar a sua virilidade de pessoas
independentes e futuras ou atuais gentes “de sucesso” (ou seja: trucidadores impiedosos
de quem lhes passe pelo caminho até uma qualquer vã gloria).
Há várias Fraternidades, apesar de ser o valor menos falado e prezado, e aquele que mais
exige da cultura e da sensibilidade das Pessoas e dos Povos. A Fraternidade Humanista é
Fraternidade com Liberdade e com Igualdade.

6. Fazer Justiça
Um novo paradigma para a juridicidade tem que implicar que sempre se possa tomar
efetiva administração da Justiça não só em nome do Povo como no seu pleno interesse e
com a sua ativa e ponderada participação.
A primeira, é da luta contra a burocracia. Ela não é apenas um objetivo jurídico, mas para
toda a sociedade.
Uma outra dimensão a encarar é a dos estrangulamentos, disfunções, contradições no seio
do ordenamento jurídico. Há tanta normatividade, tanta legislação, que o honesto
funcionário público, mesmo ao mais alto nível, muitas vezes não sabe para que lado se
virar. Não se sabe, em grande medida, em que a lei se vive. É urgente uma simplificação
e codificações sintetizadoras dos vários ramos do Direito.
Mas não chega. Tal como com a instituição dos tribunos da plebe em Roma, tal como os
visitadores dos carceres na Espanha medieval, parece que são precisos ainda novos
magistrados com poderes excecionais. Que consigam cortar o nó górdio de situações de
círculo vicioso, de flagrante injustiça, etc. Há situações, pelo mundo fora, normalmente
em casos limite, em que não há como ser-se justo senão cometendo ilegalidades. Ora seria
preciso uma magistratura que pudesse apreciar estes casos limite. Não para criar situações
de exceção, não para introduzir privilégios, mas com o reconhecimento de que é preciso
reduzir a complexidade, e a complexidade hodierna criou puzzles jurídicos, becos sem
saída…
E para situações de defesa da Justiça, sobretudo para os pobres e sem proteção, seria
preciso que nos países que a não têm, como Portugal, fosse instituída uma Defensoria

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Pública (ou afim). Já Eça de Queiroz não entendia que não houvesse escritórios públicos
para a Justiça…

7. Fazer Direito
Um novo paradigma para a juridicidade tem que implicar que sempre se possa tomar
efetiva administração da Justiça não só em nome do Povo como no seu pleno interesse e
com a sua ativa e ponderada participação.
A primeira, é da luta contra a burocracia. Ela não é apenas um objetivo jurídico, mas para
toda a sociedade.
Uma outra dimensão a encarar é a dos estrangulamentos, disfunções, contradições no seio
do ordenamento jurídico. Há tanta normatividade, tanta legislação, que o honesto
funcionário público, mesmo ao mais alto nível, muitas vezes não sabe para que lado se
virar. Não se sabe, em grande medida, em que a lei se vive. É urgente uma simplificação
e codificações sintetizadoras dos vários ramos do Direito.
Mas não chega. Tal como com a instituição dos tribunos da plebe em Roma, tal como os
visitadores dos carceres na Espanha medieval, parece que são precisos ainda novos
magistrados com poderes excecionais. Que consigam cortar o nó górdio de situações de
círculo vicioso, de flagrante injustiça, etc. Há situações, pelo mundo fora, normalmente
em casos limite, em que não há como ser-se justo senão cometendo ilegalidades. Ora seria
preciso uma magistratura que pudesse apreciar estes casos limite. Não para criar situações
de exceção, não para introduzir privilégios, mas com o reconhecimento de que é preciso
reduzir a complexidade, e a complexidade hodierna criou puzzles jurídicos, becos sem
saída…
E para situações de defesa da Justiça, sobretudo para os pobres e sem proteção, seria
preciso que nos países que a não têm, como Portugal, fosse instituída uma Defensoria
Pública (ou afim). Já Eça de Queiroz não entendia que não houvesse escritórios públicos
para a Justiça…

8. Ensinar Direito
O Ensino do Direito, na vigência de um novo paradigma, não pode ser uma transladação
de artigos e arestos mortos ou moribundos, e o treino de técnicos especializados em
obedecer e fazer obedecer, mas uma sensibilização para pensar e repensar o Direito e ser
capaz de o adaptar às necessidades das Pessoas e aos desafios do Futuro.

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9. Entender a Justiça
A Justiça, no novo contexto (mais ideal que real ainda), e retirando todas as vendas, a
permanente sede de respeito pela Dignidade da Pessoa, pelos seus Direitos Humanos e
Fundamentais, naturais e inalienáveis.
É também justiça a reta atribuição do seu a seu dono, não numa perspetiva simplesmente
proprietarista e coisificadora, mas harmónica e progressiva.
É ainda Justiça a justa partilha por todos dos frutos da Civilização e o direito individual
de cada um a poder livremente desenvolver a sua Personalidade, o que implica sermos
todos credores, face à sociedade, desde logo de um mínimo de subsistência material,
cultural e espiritual. O direito à educação básica e à educação para os Direitos, desde logo
os constitucionais e humanos.
É imprescindível o respeito do Estado pelos descontos dos trabalhadores, que devem
assegurar pensões e auxílios na velhice, invalidez, no desemprego. Tudo direitos postos
em causa recentemente pela ganância e tentáculos.
E também todos somos devedores de justos tributos à sociedade, desde logo de trabalho
e participação cívica e política.

10. Direito e Conflito


E o Direito acabará por ser o lugar de dialética, mesmo de conflito, entre o justo e o
injusto. Podendo haver, assim, Direito injusto, que o não será, em rigor, ontologicamente,
mas efetivamente o é (ou de tal faz as vezes) socialmente, fenomenicamente.

11. Estado Constitucional e Social Avançado


Um novo paradigma jurídico pressupõe a aquisição, estabilidade, irreversibilidade e
perfetibilidades do Estado Constitucional, ou seja, do Estado de Direito democrático,
social e de cultura. E a irradiação deste Constitucionalismo contemporâneo para todos os
ramos do Direito, com a sua capacidade transformadora. Pressupõe, portanto, não apenas
eficazes constituições políticas: mas mais vastas e profundas Constituições das
Repúblicas, ou seja, constituições não apenas do Estado, mas também das sociedades. As
quais se querem livres, justas, solidarias, fraternas e sem preconceitos.

12. Direito com Princípio


O Direito Justo deve ser determinado por valores jurídico-políticos constitucionais –
desde logo a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade (e para esta caminham a
Solidariedade, a Justiça e a Humanidade, que por vezes são seus quase sinónimos). Estes

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valores dão origem a princípios, tao diversos, mas confluentes, como os da separação de
poderes, do pluralismo político, da unidade da Constituição e da sai interpretação
holísticas, da sua máxima efetividade, da proibição do retrocesso e da reserva do possível,
do nullum crimen sine legge, pacta sunt servanda, etc. todos estes princípios valem mais
que as leis e menos que os valores. Mas atualizam e consubstanciam valores.

13. Direito com Valores e com Virtudes


O triunfo de um novo paradigma jurídico será o triunfo não apenas de um sistema de
valores, que se poderiam tornar abstratos. Ele implica uma ação prática, vivida, uma
constante e perpetua luta pela aplicação concreta da Justiça. Ora esta luta implica que
cada agente jurídico tenha um compromisso com os valores ético-jurídico-políticos mais
altos, e atue com virtudes republicanas.

14. Direito sem Ilusões, mas com Sonho


O novo Paradigma jurídico é um Direito lúcido, consciente da Historia do direito e do
Poder, e conhecedor das vias ínvias e das memórias negras da normatividade e das penas,
assim como do seu caracter de discurso legitimador. Acreditar, porem, que é possível um
outro Direito. Sem ilusões quanto a muito foi e tem sido, como conivente a ate braço
armado de injustiças, multisseculares ou recentes, mas com esperança na constante e
perpétua vontade de uma Justiça mais profunda, mais sentida, mais eficaz que o simples
policiamento do “teu” e do “meu” numa perspetiva quietista.
O Direito tem potencialidades para ser um instrumento de Progresso, de Paz e de Justiça
social. Os juristas não são todos fiéis serventuários das ordens, venham de onde vierem.
Há quem tenha demandado o curso de Direito para que se “fizesse mais Justiça no
Mundo”. É esse ideal que tantos acalentamos quando decidimos cursar Direito que precisa
ser recordado e posto em prática. Para ser jurista, é fundamental ter compromisso não
com o carreirismo e Mamon, mas com os outros, e uma sociedade harmónica, livre,
igualitária e fraterna, em que a Pessoa livremente possa realizar-se. Sem ilusões, mas com
sonho.

Perguntas de Exames e P-fólios:

1) Em que consiste o “carácter vinculativo” da ordem jurídica?


O caráter vinculativo da ordem jurídica manifesta-se no facto de os critérios jurídicos
serem obrigatórios para os cidadãos e empresas. Revestida de legitimidade democrática,

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a ordem jurídica subordina os cidadãos que lhe devem obediência. Tal autoridade (poder
organizado e institucionalizado) manifesta-se no facto de os órgãos por ela instituídos
(por exemplo, tribunais, entidades administrativas, polícias) serem titulares de um poder
autoritário - o poder de impor, de mandar, de executar - exercido no contexto do Estado.
A obrigatoriedade não equivale a arbitrariedade. As normas são elaboradas por quem tem
legitimidade para tanto e de um modo, também ele, legitimado. Ou seja, as instituições
funcionam no respeito por regras que são legitimadas democraticamente. Considerem-se,
por exemplo, as normas elaboradas no âmbito do poder legislativo da Assembleia da
República (arts. 164.° e 165.° da CRP), seguindo o processo legislativo consagrado
constitucionalmente. Sendo tais normas obrigatórias para cidadãos e empresas, elas são
legitimadas democraticamente. A composição da Assembleia da República resulta de
uma eleição democrática e, por isso, as normas elaboradas por este órgão de soberania
(art. 110.° da CRP) são fundadas em legitimidade democrática. Frequentemente, no
âmbito do processo legislativo, há também consultas obrigatórias aos cidadãos afetados
pelas leis, através de organizações representativas (por exemplo, associações de
consumidores, ordens profissionais, associações sindicais).

2) Enuncie e explique quais os ramos de direito público


O direito Público é o ramo do direito que regula as relações jurídicas entre o Estado
e os cidadãos, em que o Estado intervém com o seu poder de autoridade, ou poder
soberano.
São Ramos do Direito Publico:

Direito Constitucional
Ordena e consagra o estatuto jurídico do poder político cujo diploma essencial é a CRP,
padrão de referência para o restante Direito ordinário e todas as Leis Constitucionais que
resultam das diversas revisões constitucionais.

Direito Administrativo
• Regula a organização e a atividade administrativas e consagra as garantias dos
particulares. • Regula em grande medida a atividade da Administração Pública
portuguesa e reúne um conjunto amplo de normas jurídicas que regulam e disciplinam
toda a organização do Estado enquanto Administração Públicas e restantes entidades
públicas.
• Contém normas orgânicas, materiais e garantísticas.

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• É ramificado:
➢ Direito Administrativo Militar
➢ Direito Administrativo Cultural
➢ Direito Administrativo Social
➢ Direito Administrativo Judiciário

Direito Financeiro
É dedicado às Finanças Públicas, com os sub-ramos dos Direitos Orçamental e Fiscal que
incidem sobre o Orçamento do estado e sobre os impostos, contribuições, taxas e relações
tributárias.

Direito Penal ou Criminal


• Prevê as condutas criminais e respetivas sanções.
• Reúne um conjunto de normas que regulam a tutela de determinados valores
considerados importantes para a nossa comunidade.
• As condutas humanas criminosas podem ocorrer por ação ou omissão
• A lei tem de prever antecipadamente que determinada conduta é criminosa (não há
crime sem lei e não há pena sem lei)

Direito de Mera Ordenação Social


• Prevê um conjunto de condutas ilícitas menos gravosas que não são consideradas
crimes, mas contraordenações.
• As sanções são administrativas e pecuniárias, aplicadas sob a forma de coimas

Direitos Processuais Constitucional, Administrativo, Civil e Penal


Regulam a operacionalização pelos diferentes tribunais da administração da justiça e dos
litígios ou outras ações que os particulares ou MP levam ao conhecimento para dirimição.

3) Tendo em conta a matéria lecionada na Unidade Curricular de Introdução


ao Direito, distinga “Direito Público” de “Direito Privado”.
Distinção entre Direito Público e Direito Privado:
• Critério de Interesse – satisfação de interesses públicos ou privados. O Direito Público
reúne todos os sub-ramos do Direito com vista à defesa e satisfação do interesse público;
o Direito Privado inclui os sub-ramos que visam a defesa e satisfação de interesses
particulares. Por vezes, concorre no mesmo sub-ramo a defesa de ambos os interesses

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• Critério da qualidade do sujeito – tutelam relações jurídicas em que intervém o Estado
ou qualquer outro ente público ou apenas relações jurídicas particulares.
• Critério da Posição dos Sujeitos – critério mais fiável para distinguir os dois ramos do
Direito. O Estado é dotado de ius imperii, ou de um poder de superioridade e a paridade
não existe. No Direito Privado, nenhuma relação jurídica é dotada de supremacia. Os
poderes do sujeito público são, em regra, mais fortes do que os do ente privado.

4) Diga quais são os diferentes tipos de normas jurídicas e distinguia-os.


Universais São aquelas que se aplicam em todo o território nacional.
Gerais Aplicam-se a todo o género de relações jurídicas.

Locais São aquelas que se aplicam no território de uma autarquia local (posturas e regulamentos locais).

Interesse Regulam os altos interesses sociais, como é o caso da norma que impedem os pais de casarem com
Público as filhas, sob pena de nulidade, não podendo a sua aplicação ser afastada pelos particulares.
Interesse Regulam interesses dos particulares, podendo ser afastadas pelos interessados – por exemplo a lei
Privado diz onde se deve cumprir certo contrato, mas as partes podem fixar um lugar diferente do indicado
na lei para o efeito.
Especiais Aplicam-se apenas a alguns tipos de relações jurídicas de um determinado universo,
particularizando um determinado regime jurídico
Excecionais São normas que constituem uma oposição ao regime regra.
NORMAS

Imperativa São obrigatórias


s POSITIVAS OU PERCETIVAS – impõem uma conduta. NEGATIVAS OU PROIBITIVAS –
proíbem uma conduta.
Facultativa As normas facultativas são aquelas que regulamentando embora certas situações, não se impõem
s obrigatoriamente, limitando-se a conceder certas faculdades ou contendo um comando que os
particulares podem livremente afastar.
Éticas Existem normas lato sensu que não são normas éticas, nem normas técnicas como é o caso das

Técnicas normas permissivas.


A norma ética é norma stricto sensu: em face da situação x deve adotar-se a conduta y, porque a
ordem jurídica o comanda; o ato que a ordem jurídica comanda surge como um dever para o
destinatário da norma, sendo o ato contrário a esse comando ilícito, em regra geral cominado com a
consequente sanção jurídica.
Estatuição Normas projetam o seu comando sobre a vida social: a sua estatuição reporta-se a atos dessa vida,
Material como por exemplo não matar, entregar o achado.

Estatuição Normas lato sensu cujo conteúdo se esgota no plano jurídico – normas de estatuição jurídica -, e que
Jurídica reflexamente se vão traduzir em normas de estatuição ou conteúdo material.
Inovadoras Alteram o quadro jurídico existente.

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Interpretat Destinam-se a interpretar um ato normativo anterior, fixando um sentido autêntico de uma norma
ivas jurídica.

Principais São as normas mães, e são a partir destes que logicamente se inferem novas regras.

Derivadas São Normas derivadas de outras normas.

Autónomas Normas que por si só tem um sentido completo.


Não Normas, que por si só não têm um sentido completo (falta-lhe toda a parte da previsão, toda a parte
autónomas da estatuição).

Completas São aquelas que podem produzir efeitos jurídicos só por si e contêm em si uma valoração jurídica
imperativa ou permissiva.
Incompleta São aquelas que não produzem efeitos só por si, tendo que ligar-se a outras normas.
s
Diretas São as normas cujos destinatários têm intervenção na vida social, aplicando-se à resolução de
problemas da vida.
Indiretas Também designadas por normas instrumentais, são as normas que se destinam aos que têm como
função aplicar as normas jurídicas e resolver questões de direito, aplicando-se em concreto à
resolução de problemas jurídicos, com carácter específico.

5) Diga o que entende por coercibilidade


Coercibilidade é a suscetibilidade de aplicação de sanções com expressão física, onde
assenta também a capacidade do Estado punir um agente criminoso pela violação de uma
norma de Direito, privando-o de um bem que pode ser pecuniário ou, até mesmo entre
outros, a própria liberdade.
Atualmente continua a ser uma manifestação de força, coação e autoridade do Estado e
dos seus órgãos. É o Estado que tem o monopólio da coercibilidade, sendo o seu uso
regulado por normas jurídicas.
A suscetibilidade de aplicação de sanções com expressão física é apenas afeta aos órgãos
do poder político, por isso, a tutela do Direito é de ordem pública, não sendo lícito a
ninguém fazer justiça pelas “suas próprias mãos”.

6) Desenvolva, com profundidade: “As Fontes de Direito.”


Cada regra jurídica corresponde um modo de formação/revelação que são as fontes de
direito, são esses modos de formação/revelação de normas jurídicas.

Fontes do Direito em sentido Histórico


As fontes históricas do Direito indicam a gênese das modernas instituições jurídicas: a
época, local, as razões que determinaram a sua formação

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Fontes do Direito em sentido Político


Quando se fala em fontes em sentido político ou orgânico, estamos perante a formação
concreta de uma norma. Ou seja, São os órgãos políticos que aprovam/emanam as leis.

Fontes do Direito em Sentido Sociológico (Material)


Todos os aspetos da vida social que estão na origem da criação da norma jurídica. São
fontes materiais todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que influenciam a
criação do direito em determinada sociedade.

Fontes do Direito em sentido Filosófico


Com claras atinências com os sentidos histórico e sociológico se encontra o sentido
filosófico das fontes do Direito. Em ambos haverá que considerar-se uma inspiração
filosófica das normas e dos sistemas.

Fontes de Direito em sentido Técnico-jurídico (também chamado o sentido formal)


São os modos de formação e revelação das normas jurídicas, evidencia a maneira como
é criada e se manifesta socialmente a norma jurídica. São considerados a lei, o costume,
a jurisprudência e a doutrina.

Fontes Ideacionais ou conceituais vs. Fontes Institucionais ou Legais (Elenco


abstrato ou hipotético das fontes do Direito)
Com base nos modos historicamente conhecidos de formação e revelação do Direito,
elaborou-se um catálogo de fontes do Direito, mas não unanime entre os autores.
De entre esta lista de possíveis fonte, cada ordem jurídica concreta elegeu aquelas que lhe
parecem deverem ser acolhidas, e estabeleceu entre elas prioridades de atendibilidade, de
aplicação, enfim, hierarquizou-as. Vamos, pois, sucessivamente observar as fontes em
abstrato, com a sua fortuna relativa em vários tempos e lugares, e as fontes em concreto,
à luz dos textos legais.

Fontes Voluntárias e não voluntárias


As fontes voluntarias derivam da vontade de o serem: um propósito dos seus criadores
em que sejam elas fontes. As não voluntárias são não intencionais.
O caso mais patentente de entre estas últimas, seria o do costume.

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Fontes imediatas e medianas


Fontes Imediatas do Direito, as que têm força vinculativa própria, sendo, portanto, os
verdadeiros modos de produção do Direito. (Lei e Costume, embora no nosso
ordenamento jurídico apenas seja considerada a Lei)
Costume, também designado por Direito costumeiro ou consuetudinário traduz-se numa
prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade. Apresenta dois elementos: o
elemento material que é a prática social reiterada e o elemento psicológico que é a
consciência de que aquela prática é imperativa e obrigatória.
Fonte Mediata do Direito, são as que não têm força vinculativa própria, mas influenciam
o processo de formação e revelação das normas jurídicas.

Doutrina – Equivale às opiniões dos jurisconsultos, nomeadamente professores que


ensinam nas universidades e que estudam o Direito de forma científica. Corresponde a
um estudo científico de Direito. Em Portugal, a Doutrina não é fonte de Direito, mas
muitas das decisões dos tribunais são fundadas em estudos científicos feitos por juristas
conceituados. A Doutrina é fundamentalmente um conjunto de opiniões transmitidas,
designadamente, em livros, artigos, estudos, pareceres, monografias, etc. pode
determinar a criação de novas normas de Direito.

A Lei e o seu Imperio


São leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes.
Pressupostos da lei:
• Uma autoridade competente;
• Observância das formas previstas para essa atividade;
• Introdução de um preceito genérico.

Lei em Sentido Formal é todo o ato normativo emanado de um órgão com competência
legislativa, quer contenha ou não uma verdadeira regra jurídica.
Lei em Sentido Material é todo o cato normativo, emanado de um órgão de Estado,
mesmo que não incumbido da função legislativa, desde que contenha uma verdadeira
regra jurídica.
Lei em Sentido Amplo abrange qualquer norma jurídica.

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Lei em Sentido Restrito compreende apenas os diplomas emanados pela Assembleia da
República.
Lei em Sentido Latíssimo significa norma jurídica.
Lei em Sentido Intermédio, abrange as leis da AR e os decretos-lei do Governo.

Fontes não legais


PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO - São postulados que procuram fundamentar todo
o sistema jurídico, não tendo necessariamente uma correspondência positivada
equivalente. São ideias jurídicas gerais que sustentam, dão base ao ordenamento jurídico
e não necessariamente precisam estar escritos para serem válidos.
Costume, também designado por Direito costumeiro ou consuetudinário traduz-se numa
prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade. Apresenta dois elementos: o
elemento material que é a prática social reiterada e o elemento psicológico que é a
consciência de que aquela prática é imperativa e obrigatória.
Jurisprudência – Corresponde ao conjunto de decisões que exprimem a opinião e as
orientações dos tribunais superiores, como sejam os Supremos Tribunais e os Tribunais
da Relação. Em Portugal, a jurisprudência não é fonte de Direito, existe o princípio da
independência dos juízes que apenas estão sujeitos à lei. Apesar de não ser fonte de
Direito em Portugal, pode ter consequências jurídicas importantes.

Outras Fontes
Usos, correspondem a uma prática social sem caráter de obrigatoriedade. Comportam o
mesmo elemento material que o costume, mas dispensam o elemento psicológico. Estão
previstos no Art.º 3º do CC onde se indica que somente são fontes de Direito quando a
lei o indicar, o que significa que são fontes de Direito mediatas.

Equidade – Com esta fonte atende-se às características do caso concreto e é usual


defini-la como um critério de decisão que assenta na justiça do caso concreto e afasta
qualquer outro critério para decidir sobre um determinado caso controvertido. Fonte de
Direito mediata. Art.º 4º.

Em suma, admite-se como fontes do direito todas as referidas anteriormente, menos a


Equidade e o negocio jurídico. E mesmo a equidade caba por se admitir como exceção
prática, ou deixam margem para que tal se pense.

7) O que é o Direito?

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O homem é um ser social gregário pelo que é indispensável a existência de um conjunto
de regras que regule ou paute as condutas sociais. Existe assim, uma ordem jurídica que
reúne, organizadamente, um conjunto de normas que regulam a sociedade humana, que é
dotada da característica da coercibilidade.
O Direito é uma ordem social normativa, porque comporta um conjunto de normas que
incidem sobre relações sociais, ou seja, consubstancia-se num conjunto de regras cuja
incidência é o comportamento humano e a vida sociável em sociedade. Sua principal
finalidade é alcançar a justiça. A par do Direito, existem outras ordens normativas como:
a Moral, a Religião, a Natureza. Todas as ordens normativas são imperativas, no entanto,
o que distingue o Direito é o fato de ser a única com caráter de coercibilidade.
O modo normal de revelação do Direito é através da lei – a regra jurídica escrita (começou
por ser através do costume, mas com a complexificação das sociedades, tornou-se
necessário ficar por escrito).
As vantagens do Direito escrito, em relação ao consuetudinário fizeram que este o
substituísse quase inteiramente, por isso é a lei como fonte geradora do Direito que, em
geral, regula toda a organização jurídica das coletividades modernas.
Aos modos de formação e revelação de Direito costumamos chamar fontes de Direito. A
lei obedece a determinadas formas estabelecidas e emana dos órgãos estaduais
competentes.

8) Apresente as características da Ordem Jurídica.


O Direito é uma realidade multisecular, complexa e em permanente renovação, apesar
desta diversidade encontra-se organizado em uma ordem, a ordem jurídica, que tendo em
conta os elementos que a compõem, “pode ser caracterizada como o sistema constituído
por princípios fundamentais, normas jurídicas, pensamento jurídico e instituições.
A ordem jurídica apresenta características de natureza sistemática (os vários elementos
que integram a ordem jurídica organizam-se em um sistema), de vocação comunitária
(a ordem jurídica é um sistema de controlo social, onde condiciona escolhas,
comportamentos e decisões de cidadãos e empresas, pois a vida em sociedade e a
pluralidade de relações e interações, torna necessária a regulação da comunidade social),
a objetividade (a existência e a aplicação de normas não depende imediatamente do
acordo ou aceitação pessoal dos membros na comunidade individualmente considerados)
e o seu caracter vinculativo (através da legitimidade democrática, a ordem jurídica
manifesta-se no fato dos critérios jurídicos serem obrigatórios para os cidadãos e as

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empresas, onde subordina os cidadãos que lhe devem obediência, manifestado pelos
órgãos por ela instituídos.
9) O “Costume Jurídico” é uma Fonte do Direito Português? Explique.
Apesar de não constar nas listas de fonte de direito no CC e proibir o costume contrário
a lei, quando determina que a lei só deixa de vigorar por caducidade ou revogação,
existem outras normas da ordem jurídica portuguesa que reconhecem o costume como
fonte de direito. O costume “consiste na observância constante e uniforme de
determinadas regras de conduta por membros de uma determinada comunidade social
com a convicção de obrigatoriedade”, e é uma fonte de direito quando desse costume se
torne passível a extração de uma norma que seja considerada válida pelo ordenamento
jurídico.
Ainda que se levantem dúvidas em relação ao tempo que vivemos, tendo em conta a
rápida sucessão de acontecimentos, o costume deve ser considerado fonte de direito.

10) Distinga Direito Público de Direito Privado.


Nesta distinção há vários critérios, como a natureza dos interesses, a qualidade dos
sujeitos e a posição dos sujeitos na relação jurídica. Na posição dos sujeitos caracteriza-
se nas relações de subordinação e desigualdade entre os entes públicos e os particulares,
disciplinando essas relações em que uma entidade pública tem poderes de autoridade
sobre os cidadãos. Enquanto o direito privado regula as relações jurídicas entre sujeitos
que estão em posição de igualdade, o direito público exerce poderes de autoridade pública
sobre cidadãos e empresas.
O direito público e privado subdividem-se em sistemas mais circunscritos de normas
jurídicas: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Fiscal e
Direitos Processuais no que dizem respeito aos ramos de Direito Público e no Direito
Privado, o Direito Civil, Direito Comercial, Direito Internacional Privado e o Direito do
Trabalho. Existindo outros ramos de Direito considerados mistos, pois combinam normas
de direito público e direito privado.

11) Explique analiticamente a hierarquia das fontes de direito


Ao ordenar verticalmente, segundo o seu valor as fontes de direito, estamos a hierarquiza-
las.
Para além de arrumar e sistematizar os elementos que integram a ordem jurídica, esta
hierarquia serve para: a) decidir que fontes podem interpretar, revogar e substituir outras;

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b) resolver conflitos entre normas. Quando estas se encontram em pé de igualdade podem
mutuamente interpretar-se, revogar-se, não se devendo entre si qualquer precedência.
Existindo fontes de direito diferentes na posição hierárquica, apenas a fonte superior pode
interpretar, substituir ou revogar a inferior. Quando há contradição entre as fontes, são as
normas da fonte de posição superior hierarquicamente que prevalecem.
Podemos e devemos dividir a ordem jurídica portuguesa em fontes de direito interno e
fontes de direito internacional. Em relação às fontes de direito interno dividem-se
hierarquicamente em quatro níveis. A Constituição da República Portuguesa ocupa o topo
da hierarquia, seguindo-se as leis e decretos-leis, os decretos legislativos regionais
ocupam o terceiro patamar, relegando para o último os regulamentos.
Como já vimos, também as fontes de direito internacional são partes integrantes das
normas jurídicas portuguesas. Resta-nos agora tentar perceber qual a sua posição
hierárquica.
Existe quem defenda que as fontes de direito internacional estão no topo da hierarquia,
mas também há quem sustente que estas são superiores às leis, mas inferiores à nossa
Constituição.
Esta questão é bastante complexa e é resolvida de maneira diferente pelas diferentes
jurisdições constitucionais. Assim, existem tribunais constitucionais que dão primazia ao
direito constitucional europeu sobre o direito constitucional português, e há tribunais
constitucionais que ao contrário dos anteriores, colocam o direito constitucional
português no topo da hierarquia.

12) Descreva os diversos ramos de direito público.


São 5 os ramos de direito público:
1) Direito Constitucional que se compõem por um sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento dos poderes do Estado, asseguram a proteção
efetiva da constitucionalidade das leis e dos direitos fundamentais dos cidadãos, definem
as tarefas essenciais do Estado, bem como os grandes objetivos da governação pública.
É fonte de normas de direito constitucional, mas não a única, a CRP que foi aprovada em
2 de Abril de 1976 e que já sofreu 7 revisões. Estas revisões são operadas pelas leis
constitucionais.
2) Direito Administrativo que se constitui pelo sistema de normas jurídicas que regulam
a organização e o funcionamento da Administração Pública, bem como as relações por

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elas estabelecidas com outros sujeitos de direito no exercício da atividade de gestão
pública.
3) Direito Penal que é o sistema de normas jurídicas que definem crimes e estabelece as
correspondentes penas e medidas de segurança. O direito penal lida com comportamentos
particularmente graves (por exemplo, homicídio, furto, burla, insolvência fraudulenta) e
envolve a aplicação de penas limitadoras dos direitos dos cidadãos (prisão, pena de multa
etc.).
4) O Direito Fiscal que é o ramo de direito público constituído pelo sistema de normas
jurídicas que definem os impostos e o respetivo montante a pagar pelos cidadãos e pelas
empresas ao Estado e aos entes públicos menores, e que asseguram a proteção dos direitos
dos contribuintes perante a administração tributária, e desta perante eles.
5) O Direito Processual que é constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam
os procedimentos jurídicos a seguir em tribunal, nos processos que visam obter do poder
judicial a administração da justiça.

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