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RESENHA 05

TEXTO RESENHADO: SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa


humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.
Luís Guilherme Nascimento de Araujo

A conhecida obra de Sarlet aborda diversos aspectos conceituais e


jurisprudenciais da dignidade humana que, em grande parte dos sistemas
jurídicos hodiernos, tem sido erigida como princípio e valor constitucional
fundamental. Partindo de um panorama conceitual rico e, amiúde, complexo, o
autor afirma a importância de se ter claro que a dignidade se constitui como um
dispositivo - no caso brasileiro, um dispositivo constitucional expresso - capaz
de conter normas e posições jurídicas de conteúdos materiais plurais.
Sublinha-se, com isso, o fato de que um dispositivo não corresponde
diretamente à norma, sendo que esta, geralmente, carrega significados que
transcendem a literalidade do texto que incialmente a previu.
O autor adentra, a partir disso, na discussão acerca das dimensões
objetiva e subjetiva do princípio da dignidade da pessoa humana, consolidando
que não se refere a esta como um direito fundamental propriamente dito, que é
capaz de gerar pretensões subjetivas imediatas. Consequentemente, não se
trata de um direito subjetivo, justicializável, mas de uma espécie de fonte
normativa e axiológica a partir da qual as posições jurídicas subjetivas dos
indivíduos decorrem, tanto em sentido ou função defensiva quanto
prestacional. Os direitos fundamentais, desse modo, são materializações que
correspondem às exigências de concretização da dignidade da pessoa
humana.
Diante desse quadro, do fato de que não se trata de um direito subjetivo
não se pode concluir apressadamente a impossibilidade de serem extraídos do
princípio da dignidade posições jurídicas vinculantes, isto é, direitos subjetivos
de fato e, nessa toada, judicializáveis. Isso decorre do caráter materialmente
aberto do princípio da dignidade humana, que, para além de justificar direitos
fundamentais específicos, sistematizados pela Constituição, pode, ainda, servir
de base para novas demandas que se relacionem com a sua proteção.
Ademais, são ressaltados ao longo do texto alguns desafios que a
proteção da dignidade demanda das institucionalidades. Isso é sublinhado
quando do destaque que o autor realiza das dimensões negativa e positiva
desse princípio. O que que se infere dessas dimensões é que, quanto à
primeira, não são aceitáveis violações, pois esta se consolida como um direito
de defesa, sendo passível de relativização apenas por meio da ponderação nos
casos concretos, e, quanto à segunda, tem-se que há uma certa margem de
liberdade das instituições estatais, vez que estas, para além de não violar, têm
de proteger a dignidade da pessoa.
Considera-se que a dignidade humana, para além de um princípio e
valor normativo, fundamental, de proporções jurídicas, deve ser tido como um
norte também político. Deve-se tê-la como baliza principal para a atuação
estatal e não somente como eixo hermenêutico para a solução de lides
concretas. Isto é, sublinha-se que a dignidade não se resume a uma
ferramenta jurídica, mas como uma necessidade humana última, que não pode
estar sujeita às contingências de governo, mas encarada como um efetivo
compromisso de Estado.

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