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2017 - 01 - 30

Revista de Direito Constitucional e Internacional


2016
RDCI VOL.95 (ABRIL-JUNHO 2016)
DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITOS HUMANOS
3. ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS DEVERES FUNDAMENTAIS: UMA PERSPECTIVA JURÍDICA

3. Elementos para uma teoria dos deveres fundamentais: uma


perspectiva jurídica

Elements for a theory of fundamental duties: a legal


perspective
(Autor)

JULIO PINHEIRO FARO HOMEM DE SIQUEIRA

Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV).
Diretor Secretário-Geral da Academia Brasileira de Direitos Humanos (ABDH). Pesquisador nos Grupos de
Pesquisa “Direito, Sociedade e Cultura”, do Programa de Pós-graduação stricto sensu (Mestrado/Doutorado) da
FDV e “Constituição Federal Brasileira e sua Concretização pela Justiça Constitucional” do Departamento de
Direito Público da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Servidor Público Federal na Seção
Judiciária do Estado do Rio de Janeiro. julio.pfhs@gmail.com

Sumário:

1 Introdução
2 A distinção entre deveres e obrigações
3 Classificações dos deveres fundamentais
4 Espécies de deveres fundamentais
5 Regime, natureza e conceito de deveres fundamentais
6 Considerações finais
7 Referências bibliográficas

Área do Direito: Constitucional

Resumo:

Trata-se de uma revisão de literatura com o propósito de formular elementos para uma teoria dos deveres
fundamentais, a partir de uma perspectiva jurídica. A partir disso, a proposta inicia com a distinção entre
deveres e obrigações, a fim de que se possa, em seguida, tratar sobre a classificação e as espécies de
deveres, para, ao final, fazer considerações que permitam delinear seu regime jurídico, natureza e
conceito. Utiliza-se uma metodologia baseada na revisão de literatura e no uso de argumentação dialética
para a construção de conclusões. Ao final, são feitas duas pontuações conclusivas. A primeira é a de que o
tema não é tão esquecido como alguns autores têm suposto, o que lhe falta é uma sistematização teórica. A
segunda é de que como deveres não são obrigações, o que falta é uma teoria que abranja os deveres em
sentido amplo.

Abstract:

This article proposes a literature review to formulate elements for a theory of the fundamental duties,
since a legal perspective. From this, the proposal starts with the distinction between duties and obligations,
followed by the duties classification and species, as well as some considerations about their legal regime,
nature and concept. The methodology follows the literature review and the use of dialectical
argumentation to construct conclusions. It offers two conclusions: first, this is not a forgotten topic, as some
authors suppose, but lacks a theoretical systematization; second, as duties are not obligations, the theory
that is lacking is the one that covers duties in broad sense.

Palavra Chave: Direito constitucional - Teoria do Direito - Deveres fundamentais - Direitos fundamentais
- Regime jurídico dos deveres fundamentais - Espécies de deveres fundamentais - Classificação dos
deveres fundamentais - Conceito de deveres fundamentaisConstitutional law
Keywords: Constitutional law - Legal theory - Fundamental duties - Fundamental rights - Legal regime of
fundamental duties - Species of fundamental duties - Classification of fundamental duties - Concept of
fundamental duties

1. Introdução

"Quando 1 aparece uma nova instituição ou um novo campo científico, nem sempre se tem, imediatamente,
a dimensão do que está surgindo e nunca se sabe aonde as mudanças produzidas vão nos levar". 2 É
exatamente esse o momento pelo qual passa o tema dos deveres fundamentais. Por ser uma temática
relativamente nova, não há como dizer em que direção os ventos sopram. Porém, é possível soprar, a partir
do que já se tem e abrir novos caminhos. Construir novas perspectivas. Promover mudanças positivas no
comportamento da sociedade. E, por que não, no modo de encarar a concretização dos direitos
fundamentais?

A revisão de literatura aqui proposta, além de ser uma novidade no campo jurídico, tem um objetivo um
pouco diferente das revisões habituais. 3 Normalmente, o objetivo é o de mostrar os caminhos possíveis,
apontar as mudanças e se manifestar criticamente. A intenção, neste trabalho, é esclarecer que deveres
fundamentais não é um tema esquecido; mas, talvez pouco enfrentado, se comparado com os direitos
fundamentais. É, também, mostrar os caminhos possíveis, pois, há, sim, desenvolvimento teórico, embora
não haja muitas tentativas de organização e de sistematização do que já foi produzido. 4

Não que se vá trazer tudo o que já se produziu sobre o tema escolhido, mas, sim, uma parte. Claro, com
análise crítica. E a finalidade disso? Tentar conduzir as pesquisas sobre os deveres fundamentais a traçar
os possíveis caminhos, a plantar as mudanças futuras e a criar os traços teóricos, para que a temática se
mantenha em constante renovação até o momento em que começarem a se formar sólidos consensos.
Nesse sentido, a revisão de literatura proposta é útil para todos, inclusive para o autor. O motivo? Ela
permite ter um conhecimento geral sobre o tema, saber quem tem se debruçado sobre ele e o que
produziu. Ou seja, ela funciona como uma fonte para construir caminhos e, por que não, teorias. Trata-se,
portanto, de um trabalho científico de preparação para outro, mais profundo e concentrado. O resultado
pretendido? A construção científica do saber, mas de um ponto de partida que inviabiliza suposições
infundadas e desinformadas. Isso faz com que haja uma necessidade de revisão para organizar e
sistematizar a literatura existente sobre deveres fundamentais.

Se a tese acerca de seu esquecimento é falsa, não se pode dizer o mesmo daquela que diz ser um tema
pouco desenvolvido. Mesmo porque os autores até fazem referência aos deveres, mas normalmente apenas
de passagem. 5 Ou, então, como um adorno ou recurso de retórica. 6 Isso acontece porque há certa
preferência pelo tema dos direitos. Alguns vão afirmar que esse fato se deve à herança do Estado liberal; 7
mas, na verdade, a herança é resultado da natureza humana e social, especialmente naquelas sociedades
em que predominam o individualismo - que é apenas uma das características do liberalismo e, mesmo
assim, foi substituída aos poucos por novas perspectivas liberais - e o subjetivismo, que marcaram a
sociedade a partir do constitucionalismo dos séculos XVII e XVIII. 8 Essa questão, mais filosófica que
jurídica, não cabe, no entanto, nesta revisão.

A opção, aqui, é o caminho jurídico, com foco no ramo constitucional e na teoria geral do Direito. Dessa
perspectiva, a revisão inicia com a distinção entre deveres e obrigações, a fim de que se possa, em seguida,
tratar a classificação e as espécies de deveres, para, ao final, fazer considerações delineadoras sobre seu
regime jurídico, a natureza e conceito, fechando-se com breves considerações conclusivas.

2. A distinção entre deveres e obrigações

Para que se possa chegar às considerações conclusivas de uma revisão de literatura sobre um tema
relativamente novo no campo constitucional, é necessário justificar a razão pela qual se opta pela
expressão dever invés de obrigação. De início, cabe apontar certa divergência sobre essa opção. Isso porque
há autores que parecem entender inexistir distinção entre um e outro termo, utilizando-os como
sinonímias. 9 Em geral, os autores entendem haver distinção, no entanto, divergem quanto à maneira que
ela se apresenta. Nesse sentido, é possível identificar os seguintes posicionamentos: (a) a diferença depende
do uso dos termos, que podem assumir formas jurídicas ou morais; 10 (b) deveres se referem a situações
jurídicas pessoais, ao passo que as obrigações dizem respeito a relações patrimoniais, determinando o
comportamento apenas dos contratantes e de seus herdeiros; 11 (c) o termo dever não tem, em sua origem,
significado moral, mas jurídico, estabelecendo uma relação pela qual alguém detém algo de outrem, quer
dizer, um debitum, diferenciando-se do significado moral, que advém do latim officia, que se refere àquilo
que as pessoas devem fazer, ou como devem se comportar, distinguindo-se, também, de obrigação,
derivado do latim obligatio, que tem significado jurídico apenas; 12 (d) deveres são apenas morais,
enquanto as obrigações podem ser jurídicas ou morais; 13 (e) os deveres assumem sentido amplo,
circunscrevendo deveres em sentido estrito, que levam em consideração interesses gerais e objetivos, e as
obrigações, que dizem respeito a interesses individuais e subjetivos, sendo possível existir deveres para
cujo cumprimento se estabeleça obrigações. 14 Analisando-se as teses listadas, o mais sensato parece dizer
que há distinção.

Todavia, não se pode afirmar que um ou outro termo se refira tão somente a uma questão jurídica ou
moral. Até porque, atos tidos como devidos são atos tidos, de acordo com certa perspectiva, como
obrigatórios, isto é, o que se espera seja feito ou realizado, 15 um comportamento esperado. Então, há
deveres jurídicos e deveres morais, e há obrigações jurídicas e obrigações morais. A diferença é como essas
obrigações e esses deveres são determinados: ou por normas jurídicas, ou por normas morais. Nesse passo,
como a revisão de literatura volta-se ao campo jurídico, o foco recai sobre normas jurídicas que
estabelecem deveres e obrigações. Logo, sempre que aqui se falar, a partir de agora, em deveres e
obrigações, há que se ter em mente que tais termos se referem à espécie jurídica. Cumpre, assim,
diferenciar um e outro termo.

Apesar de o conceito de dever ser originariamente um conceito moral, seu uso no âmbito jurídico está
consolidado, fato o qual revela uma conexão entre Direito e Moral, 16 o que enveredaria a análise para o
campo da Filosofia Moral e desvirtuaria a proposta. Portanto, afasta-se a explicação etimológica, adotando-
se, então, como ponto de partida o seguinte: tanto deveres quanto obrigações são condutas determinadas por
normas jurídicas.

É comum dizer: o Direito é um instrumento que se propõe organizar a vida social. Como o Direito é
essencialmente linguagem, ele se revela em texto prescritivo, ou, ainda, em discurso prescritivo,
exprimindo uma diretiva, um modelo de agir ou se comportar. 17 O que se extrai desses textos prescritivos
são as normas, isto é, enunciados prescritivos que se referem àquilo que é normal, a algo que deve ou
costuma acontecer, enfim, a uma regra. 18 Portanto, normas jurídicas são regras, 19 uma estrutura
sintático-condicional, dotada de um antecedente (causa, hipótese, descritor) e de um consequente (efeito,
resultado, prescritor): o primeiro descreve uma situação hipotética, o segundo prescreve o efeito esperado
com a ocorrência da hipótese.

O que esses enunciados normativos significam (visão semântica) ou como são utilizados (visão pragmática)
deixa-se, aqui, de lado. A preocupação é saber de qual maneira se pode identificar, a partir da
interpretação literal de um texto normativo, ou seja, da primeira etapa da formação da norma jurídica,
quais normas estabelecem deveres e quais fixam obrigações. Para isso, é necessário conhecer as estruturas
possíveis de uma norma jurídica que prescreve uma conduta; e elas são basicamente duas: normas
jurídicas às quais se agregam sanções jurídicas e aquelas às quais não se agregam sanções jurídicas. Além
disso, convém dizer que ao determinarem padrões de comportamento, as normas jurídicas podem gerar
obrigações (ordens ou proibições) e faculdades (autorizações ou permissões). Portanto, em resumo, uma
norma jurídica pode: ordenar, proibir ou permitir/autorizar; e, ainda, fixar ou não, para a conduta
contrária à esperada, uma sanção.

Intuitivamente, normas que estabelecem obrigações devem ser normas que ou ordenam ou proíbem, pois
ambas expressam um mandato, positivo, no primeiro caso, negativo, no segundo caso, sendo, por isso,
denominadas normas imperativas. 20 A princípio, portanto, as normas que não estabelecem um imperativo
não estatuem obrigações; normas desse tipo são as permissivas, as quais fixam uma faculdade ou dão um
consentimento para que o indivíduo se comporte ou não de alguma maneira, e as potestativas, as quais
expressam um poder ou competência, que autoriza ou habilita determinado sujeito a criar normas ou a
fazer funcionar mecanismos que respaldem a exigência do cumprimento de deveres jurídicos. 21 No
entanto, mesmo normas permissivas e potestativas expressam um dever-ser, prescrevem (impõem) uma
conduta, ou, em outros termos, quando uma norma autoriza (dá poder) ou permite (dá consentimento)
para um indivíduo se comportar de determinada maneira, ela, indiretamente, pode lhe impor que se
comporte observando limitações, porque, do contrário, poderá incorrer em uma proibição. 22

Logo, uma norma jurídica pode estabelecer dois tipos de condutas devidas (duas espécies de dever-ser), de
modo que alguém: (a) tem de se comportar (norma imperativo-positiva, obrigação de fazer, ou apenas
obrigação); (b) tem de não se comportar (norma imperativo-negativa, obrigação de não fazer/se
abster/tolerar, ou apenas proibição/vedação), estando autorizado a (norma autorizativa, de competência,
potestativa ou poder) ou podendo (norma permissiva, ou faculdade) se comportar de outra maneira.

Toda norma estabelece uma dessas espécies de dever-ser. É dizer, toda norma primária de conduta
estabelece um dever-ser, cuja carga semântica é diferente daquela suportada pelo termo dever, o qual aqui
se procura distinguir de obrigação. Qualquer uma dessas espécies de dever-ser pode estabelecer um dever
ou uma obrigação. Assim, não é clara, a partir apenas da análise da norma primária, em que se distinguem
essas duas palavras.

É, portanto, necessário analisar também a norma secundária de conduta, a qual estabelece uma sanção
para o caso de descumprimento de uma norma primária. A norma sancionadora tem, igualmente,
estrutura sintático-condicional, possuindo um antecedente (a negativa do consequente da norma fixadora
da conduta) e um consequente (a sanção propriamente dita). Comumente, define-se a sanção como um ato
constritor cujo fim é inibir o descumprimento da norma primária de conduta por seus destinatários. 23 Em
outros termos, a sanção é uma técnica de controle que legitima a possibilidade de emprego da força estatal,
resultando na privação de um bem. Todavia, nem todo descumprimento de uma norma primária de
conduta terá como consequência a aplicação de uma sanção, até porque há normas que expressam um
dever-ser, mas não preveem ou não preveem diretamente uma sanção. Assim, a sanção não é elemento
essencial da norma jurídica. 24

Fala-se na existência de normas de conduta com e sem sanção. Dentre aquelas que admitem sanção estão
normas perfeitas, independentes e completas - aquelas em que a norma primária e a secundária são
extraídas do mesmo texto normativo - e normas imperfeitas, dependentes e incompletas - aquelas em que a
norma primária e a secundária são extraíveis de textos normativos distintos. Entre as que inadmitem
sanção estão normas imperfeitas, independentes e completas, que são imperfeitas por não prever uma
sanção, pois esta é inútil ou inaplicável diante do tipo de conduta estabelecida, daí serem, também,
completas e independentes.

É essa dualidade entre normas que admitem ou não sanção que permite distinguir entre deveres jurídicos e
obrigações jurídicas. Embora a prescrição de sanção não seja elemento essencial da norma jurídica, pode-se
afirmar o seguinte: em geral, as normas imperativas contam com a previsão de uma sanção para o
descumprimento da conduta por elas prescrita, enquanto as normas permissivas e as potestativas não
contam com esse tipo de previsão, salvo quando esbarram em alguma limitação, que é estabelecida por
uma norma imperativa.

Disso resulta, de um lado, em normas com sanção ou normas imperativas, as quais devem ser observadas,
pois, se descumpridas, resultam na aplicação de uma sanção; e, de outro lado, em normas sem sanção ou
normas permissivas/potestativas, as quais podem ser observadas, já que, se descumpridas, resultam em um
ônus para o sujeito. A questão, então, é saber qual desses grupos se refere à obrigação jurídica e qual deles
se refere ao dever jurídico.

A dificuldade em se diferenciar obrigação de dever, e vice-versa, provavelmente esteja no fato de a palavra


dever, ao menos em português, ser tanto um nome quanto um verbo. 25 Quando o termo dever assume
função de verbo, torna-se sinonímia da expressão verbal estar obrigado a, ou ter de. Isso faz com que se
confunda o nome obrigação, o qual se refere à forma verbal estar obrigado a ou ter de, com o nome dever, o
qual não necessariamente se refere à forma verbal dever. Em outros termos, ter um dever (nome) pode
significar ter uma obrigação (estar obrigado a fazer ou a não fazer), mas também pode significar ter uma
não obrigação, quer dizer, pode se referir a uma autorização ou a uma permissão. Dois são os resultados
advindos disso: (1) o nome dever é mais amplo e abrange o termo obrigação; (2) o descumprimento de uma
obrigação enseja a aplicação de sanção, enquanto o não exercício de uma não obrigação (autorização ou
permissão) faz com que se suporte um ônus.

Assim, as relações jurídicas baseadas em uma obrigação podem ser diferentes daquelas fundadas em um
dever. O critério de distinção é este: quando ao dever jurídico se contrapuser um direito subjetivo, a relação
jurídica será obrigacional, já que o descumprimento do dever resultará na violação do direito (subjetivo),
cuja proteção poderá ser objeto de uma pretensão e poderá ensejar na aplicação de sanção. De outro modo,
quando não há essa contraposição, mas, sim, a existência de um poder (potestade) ou de uma faculdade
(permissão), o indivíduo tem dever apenas em relação a si próprio, pois no caso de não exercê-lo, abre mão
de um possível direito (subjetivo) que teria, não violando direito algum, apenas suportando um ônus que
ele próprio escolheu; esse fato não gera, então, uma pretensão.

A conclusão é de que há uma diferença entre o comportamento conforme o dever (onde entraria o conceito
de obrigação) e aquele pelo dever: no primeiro a conduta é devida em razão de um vínculo relacional, ou
seja, é sempre condicional; no segundo a conduta é devida por seu valor intrínseco, isto é, é sempre
incondicional. 26 Ou, ainda, pode-se dizer que o dever supõe a vontade como fim em si, ao passo que a
obrigação supõe a vontade como meio para se atingir um fim imposto pelo ordenamento. 27

Por isso, os deveres (jurídicos) se relacionam com normas não imperativas, permitindo ao indivíduo se
conduzir conforme sua vontade, suportando, sozinho, quando de suas escolhas, o ônus que lhe é
autoatribuído, isto é, o sujeito assume o controle de sua vontade, suportando um ônus, que não pode senão
ser referido como uma autossanção. Já as obrigações (jurídicas) se relacionam com normas imperativas, as
quais determinam o indivíduo a se conduzir de acordo com o ordenamento (jurídico), suportando, sozinho,
quando de suas escolhas, a sanção que lhe é heteroatribuída, ou seja, a vontade do sujeito é controlada.

Como antes se argumentou, os deveres podem ser vistos por uma perspectiva ampla, podendo se referir a
obrigações e a deveres propriamente ditos (deveres em sentido estrito). Também se arguiu que as
obrigações supõem um vínculo entre pelo menos dois sujeitos, estabelecendo uma correlação entre o
direito (subjetivo) de um e o dever de outro, ao passo que os deveres não necessariamente pressupõem
essa correlação direito-dever, ou seja, apenas no caso dos deveres em sentido estrito não há deveres
correlativos a direitos. 28 Confirma-se isso na impossibilidadejurídica de se ter uma pretensão em face do
descumprimento de um dever propriamente dito, em razão da inexistência de um direito que se tenha
violado e que se busque tutelar, ou seja, não há como aplicar uma sanção jurídica diante do
descumprimento de um dever jurídico propriamente dito. Em outros termos, como os deveres em sentido
estrito dizem respeito a normas jurídicas não imperativas (faculdades e autorizações), não há como obrigar
alguém a cumprir o comando normativo, mesmo porque ele não é obrigatório (ou proibitório), bem como é
inadequado falar-se em pretensão, pois inexiste direito subjetivo de outrem vinculado ao dever estrito de
um; os deveres em sentido estrito são inexigíveis.

Portanto, os deveres jurídicos têm um forte componente moral, enquanto no caso das obrigações jurídicas
esse componente é jurídico. E, como tipo de dever jurídico, os deveres fundamentais, humanos e
constitucionais seguem a mesma linha. Assim, a explicação mais plausível e razoável para o uso jurídico de
uma expressão com carga mais moral que jurídica talvez seja a intenção de justificá-los ou lhes dar maior
força emotiva, o que contribuiu para a consolidação de seu uso no âmbito jurídico, sendo ilógico, portanto,
seu abandono. 29 Logo, emprega-se, neste trabalho, a expressão deveres fundamentais em sentido amplo,
advertindo-se que a maioria desses deveres será obrigações, e poucos deveres propriamente ditos.

3. Classificações dos deveres fundamentais

Fala-se, pois, em deveres fundamentais por força de um costume já arraigado. Isso é assim porque a
linguagem é uma herança cultural à qual ninguém pode renunciar, por exemplo: apesar da revolução
copernicana, ainda se utiliza a terminologia ptolomaica de que o sol nasce e o sol se põe. 30 Não se propõe
deixar de utilizar a expressão deveres fundamentais, mas conhecer seu real significado, mesmo porque há
autores que preferem utilizar nomenclaturas como deveres constitucionais, deveres do homem ou deveres
humanos. 31

De um modo geral, pode-se afirmar que os deveres jurídicos em sentido amplo podem ser classificados,
utilizando o entendimento sobre a fundamentalidade dos direitos, 32 da seguinte maneira: (a) deveres
formalmente constitucionais: previstos no texto constitucional tão só no catálogo específico dos deveres,
topograficamente indicado; (b) deveres tanto formal quanto materialmente constitucionais: previstos no
texto constitucional, no rol específico ou fora dele; (c) deveres materialmente constitucionais: previstos nos
textos infraconstitucionais, mas que por seu conteúdo e sua importância, por estarem ligados ao regime e à
principiologia adotados pela Constituição, equiparam-se aos deveres formal e materialmente
constitucionais.

Inexiste, pois, distinção prática entre deveres constitucionais e deveres fundamentais, 33 já que estes
podem ser tanto direta quanto indiretamente constitucionais, possuindo, portanto, uma maior amplitude
em relação àqueles. Distinção talvez com maior conteúdo prático se dê entre as expressões deveres
fundamentais e as duas seguintes: (a) deveres do homem, que é utilizada entre os francófonos normalmente
substitutiva de deveres humanos; (b) deveres humanos, que são aqueles previstos em textos e em
documentos internacionais (deveres internacionais, em contraposição aos constitucionais) e que têm
natureza moral (o que os distingue dos deveres fundamentais), referindo-se a critérios morais, não fazendo
parte, pois, do Direito, salvo quando ingressam no ordenamento jurídico nacional. 34

Essa distinção entre, basicamente, as expressões deveres fundamentais e deveres humanos é importante
para se compreender a relevante relação entre Direito e Moral, 35 que influencia bastante a, já discutida,
diferença entre deveres e obrigações. Além disso, determina a questão taxonômica, a qual não se refere,
aqui, aos deveres humanos (ou do homem), mas tão somente aos deveresfundamentais, que podem se
apresentar ou como obrigações ou como deveres propriamente ditos, ambos previstos no texto
constitucional ou a ele referentes.
Nesse passo, na literatura jurídica sobre o tema pode-se encontrar diversas classificações, dentre elas:

a) Deveres específicos e deveres genéricos. Deveres genéricos são aqueles que necessitam de obrigações
específicas para serem cumpridos. 36 Considerando-se a distinção aqui proposta entre deveres em sentido
estrito e obrigações, essa classificação somente faz sentido ao se assumir sua validade apenas para as
obrigações, que seriam deveres específicos em relação aos deveres em sentido amplo (genéricos).

b) Deveres autônomos e deveres não autônomos (correlatos ou relacionados a direitos fundamentais, direitos-
deveres). Alguns autores afirmam que os deveres autônomos mantêm uma relação de integração com os
direitos, enquanto os deveres não autônomos mantêm uma relação de exclusão (deveres coligados a
direitos) ou delimitação (deveres conexos a direitos) dos direitos. 37 Entende-se, no entanto, que a distinção
entre esses dois grupos é a característica da autonomia, que pode ser assumida ou não por determinados
deveres em sentido amplo, isto é, se os deveres existem por si sós ou se sua existência pressupõe uma
correlação com direitos fundamentais. 38

A distinção aqui feita entre os deveres e as obrigações permite apontar que os deveres não autônomos ou
correlatos (a direitos) dizem respeito às obrigações, pois estas são relacionais, condicionadas; e, por isso,
integram a figura dos direitos fundamentais. 39 Nem sempre, então, a existência de um dever
necessariamente acarretará a de um direito, direta ou indiretamente, que lhe seja correlativo, 40 embora
possa legitimar a existência de competências estatais, para supervisionar e fiscalizar o seu cumprimento. 41

Em geral, os deveres não autônomos, ou, com maior exatidão, as obrigações derivam ou são reflexo dos
direitos subjetivos fundamentais. 42 Por isso a denominação, genérica, de direitos-deveres ou deveres-
direitos, dependendo da primazia assumida (no primeiro caso, os direitos, no segundo, os deveres), 43
revelando, por um lado, deveres e, por outro, direitos, ainda que os seus conteúdos sejam diferentes. 44
Partindo dessa consideração sobre derivação ou reflexo, há quem afirme que o estudo dos deveres
implícitos não tem importância teórica, pois apenas repetiria o que foi dito em relação ao direito
fundamental o qual espelha. 45

Ainda dentre os deveres não autônomos, que se correlacionam a direitos subjetivos, pode-se distinguir
entre deveres de dimensão positiva, um fazer, ou negativa, um não fazer, tolerar ou omitir. 46 Isso é
importante, pois esses deveres não subsistem por si só, articulando-se com posições de caráter
pretensivo, 47 o que quer dizer que são deveres exigíveis.

No que se refere aos deveres autônomos (deveres propriamente ditos), há autores que incluem os "deveres
autônomos dos particulares", argumentando se tratar de dever que obriga os particulares a adotarem um
comportamento positivo, voltado para a concretização de direitos fundamentais de terceiros, sem que estes
tenham o direito fundamental de exigir o cumprimento de tais deveres. 48 Perspectiva essa que, aliás,
condiz com e é essencial para a diferenciação aqui adotada.

Passível de crítica nessa classificação é a nomenclatura deveres implícitos, a qual parece revelar a
possibilidade de, por meio de interpretação, colher-se de um texto normativo ou de uma situação jurídica
uma obrigação que não se encontra expressamente fixada. 49 Talvez seja melhor dizer, então, que a
classificação se dê entre deveres autônomos (independentes ou puros) e deveres não autônomos
(dependentes dos/correlatos aos direitos, direitos-deveres).

Uma tipologia claramente relacionada com a distinção quanto à autonomia dos deveres é aquela proposta
por alguns autores, que os divide em deveres relacionais e deveres para consigo próprio. 50 De acordo com
essa classificação, os deveres relacionais podem vincular o cidadão ao Estado (deveres cívicos), os
indivíduos à coletividade a que pertencem, ou as pessoas umas às outras, sendo, portanto, obrigações;
enquanto deveres para consigo próprio, às vezes chamados de autoobrigações, são deveres propriamente
ditos.

c) Deveres individuais e deveres coletivos. Distinguem-se por serem realizados por um único indivíduo, para
si ou para outrem, ou por uma coletividade. 51 Essa classificação pode se aplicar aos deveres em sentido
estrito, que são normalmente autointeressados, mas podem ser heterointeressados, ou seja, não revelam
uma relação ou uma condição para serem realizados, nem a existência de uma correlação com algum
direito que possa ser exigível; e também cabe para as obrigações, que são sempre relacionais e
condicionais, além de correlacionadas com direitos exigíveis.

d) Deveres positivos e deveres negativos. A princípio, a distinção é feita entre o que se deve (ordem) ou não
(proibição) fazer. Nesse sentido, ambos limitam o comportamento dos indivíduos, estabelecendo uma
imposição positiva, uma ordem, ou negativa, uma proibição ou vedação, 52 a sua inobservância resulta na
violação de um direito de outrem, fato o qual enseja tanto uma exigência de cumprimento, mediante a
formulação de uma pretensão, quando a possibilidade de se aplicar uma sanção. No entanto, essa
classificação também se pode aplicar aos deveres propriamente ditos, que não se correlacionam aos
direitos de outrem. 53 Portanto, a distinção proposta se dá entre condutas positivas ou negativas que podem
ser autolimitadoras ou heterolimitadoras da liberdade individual.

e)Deveres imperfeitos e deveres perfeitos. A distinção tem a ver com a ocorrência ou não de uma situação
para o indivíduo (ou grupo de indivíduos) se comportar de certa maneira.

No grupo dos deveres imperfeitos são geralmente posicionadas as obrigações. Neste caso, a conduta só
existe quando a situação já aconteceu. O dever existe e é exigível ante uma situação concreta, podendo ser
individual (somente pode ser exigido de um indivíduo) ou compartilhado (pode ser exigido de mais de um
indivíduo). A exigibilidade do cumprimento permite um retorno aos deveres individuais, exigíveis
individualizadamente, e coletivos, exigíveis coletivamente. A diferença de exigibilidade diz com a
possibilidade, no caso dos deveres coletivos, de haver o descumprimento do dever por um ou alguns
indivíduos, gerando o efeito carona, salvo se for estabelecido algum tipo de sanção, 54 efeito este que não
existe no caso de deveres individuais, pois impossível que o descumprimento passe despercebido. O fato de
serem exigíveis liga essa classificação com aquela de direitos-deveres, deveres não autônomos, 55
implicando o fato de que os titulares dos direitos correspondentes poderão ser determinados ou não, o que
para alguns autores impossibilitaria a exigibilidade, 56 enquanto para outros não. 57 Se da exigibilidade
desse tipo de dever resultar ao agente algum prejuízo, este deverá ser suportado na medida da respectiva
capacidade pessoal - aqui o dever será mais que imperfeito.

Diante da exigibilidade intrínseca às obrigações, pode-se subclassificar tais deveres em deveres de conduta
pessoal (exigíveis dos indivíduos), social (exigíveis da coletividade) ou estatal (exigíveis do Estado). Alguns
autores se referem a essa distinção pelo par: deveres específicos e deveres genéricos, assumindo que estes
não se relacionam a um direito subjetivo de uma pessoa específica, mas a um direito amplo e genérico,
enquanto aqueles mantém uma relação desse tipo. 58

No grupo dos deveres perfeitos estão, usualmente, os deveres propriamente ditos. Aqui, a conduta existe
independente da ocorrência de uma situação. O indivíduo age, sabendo que sua ação poderá ajudar
outrem, despreocupadamente (ou desinteressadamente). Não se pode, nesse caso, falar em exigibilidade,
ante a não obrigatoriedade de conduta por inexistência de um direito correspondente, o que dá à pessoa
autonomia para escolher como se comportar. 59 Embora não haja exigibilidade nessa hipótese, pode ser
que o indivíduo se comporte de uma maneira que lhe traga prejuízos significativos, como nos casos de atos
heroicos, também denominados superrogatórios, por, exatamente, não possibilitarem a aplicação de uma
sanção diante de uma inexecução - aqui o dever será mais que perfeito. 60 Tais deveres não podem ser
confundidos com as obrigações funcionais em que do agente se pode exigir um ato heroico, podendo ser
aplicada a ele uma sanção caso não se comporte como o esperado.

Essa classificação leva a discussão aos limites do cumprimento de deveres, ou seja, a se apurar qual o nível
de sacrifício que um indivíduo pode suportar para cumprir seus deveres. 61 A resposta que parece ser mais
plausível é de que um indivíduo deve cumprir seus deveres, no caso de eles poderem ser exigíveis, com
base em sua própria capacidade, ou, no caso de não poderem ser objeto de exigibilidade, com base em suas
próprias escolhas, isto é, com base em sua autonomia. 62

f) Deveres de função pública e deveres de prestação particular. Essa classificação diz respeito a obrigações de
conduta positiva, ou seja, ao que deve ser feito (ordens), podendo pertencer a órgãos públicos, no primeiro
caso, ou a particulares, no segundo caso. 63 Deveres de prestação podem, por sua vez, subdividir-se em
deveres de prestação geral, válidos para todos, e em deveres de prestação especial, válidos para
determinadas classes de pessoas. 64

g) Deveres gerais e deveres particulares. Essa tipologia se parece, mas é diferente da anterior. Os autores
que a apontam, o fazem a partir do entendimento de que os deveres gerais são aqueles que todos têm
dentro de um mesmo Estado ou comunidade/sociedade, enquanto os particulares são aqueles que apenas
alguns indivíduos têm em virtude de uma posição ou função que desempenham dentro do Estado,
comunidade/sociedade. 65

h) Deveres naturais e deveres positivos. A distinção se refere ao modo como os deveres são reconhecidos,
isto é, se eles resultam da positivação ou da natureza do indivíduo como ser social. Alguns autores chamam
os deveres naturais de deveres nacionais, 66 faz mais sentido falar em deveres nacionais com base no
conjunto de deveres que os nacionais ou cidadãos têm em relação à nação à qual estão vinculados. 67

i) Deveres recíprocos e deveres unilaterais. Essa tipologia é apontada apenas em relação aos deveres
recíprocos, isto é, dos indivíduos para o Estado ou sociedade, e destes em relação àqueles. 68 Mas também
se pode acrescentar, formando um par tipológico, deveres unilaterais, aqueles cumpridos em uma única
direção. Além disso, há que se observar que os deveres recíprocos não determinam, necessariamente, a
existência de uma contraprestação.

j) Deveres legais e deveres judiciais. Essa classificação adota um critério simples, quem criou os deveres, se
um órgão legislativo ou um órgão judicial. 69 Usualmente, o legislativo é competente para criar deveres em
sentido amplo, enquanto o judiciário apenas pode criar obrigações. Pode-se ampliar essa tipologia para
fazer referência à distinção entre deveres legais, criados pelo legislador ordinário e, por isso, previstos na
legislação infraconstitucional, e deveres constitucionais em sentido amplo, criados pelo constituinte,
originário ou derivado, e se referem tanto aos deveres formalmente quanto aos materialmente
constitucionais.

4. Espécies de deveres fundamentais

Considerando as diversas classificações dos deveres fundamentais, têm-se listado as mais várias espécies. O
número varia conforme se entenda que o rol de deveres é aberto, 70 como no caso dos direitos, ou
fechado. 71 Dizer que a lista é aberta significa afirmar que há deveres não apenas no catálogo específico,
indicado topograficamente na Constituição pelo constituinte, mas também fora dele e, ainda, fora do
próprio texto constitucional. Esse, como já adiantado, é o entendimento aqui adotado, e a partir dele se
propõe uma lista de espécies de deveres contidos no ordenamento jurídico brasileiro.

A proposta do rol é feita com base na distinção entre deveres e obrigações e sua posição no texto
constitucional; sua utilidade é ajudar a pensar o regime jurídico geral e o conceito dos deveres
fundamentais em sentido amplo. Não se busca aprofundar cada espécie, mas algumas sobre as quais se tem
encontrado trabalhos, alguns dos quais são indicados, para se colaborar para o futuro desenvolvimento de
cada uma delas e de uma teoria geral dos deveres.

Na Constituição da República de 1988 ( CF/1988), o primeiro capítulo (dos direitos e deveres individuais e
coletivos) do segundo título (dos direitos e garantias fundamentais) constitui-se como o rol específico de
deveres individuais e coletivos. Dele podem ser extraídas algumas obrigações constitucionais expressas,
que se juntam a outras, implícitas, ambas correlatas a direitos reconhecidos no mesmo rol e decorrentes de
um dever geral de cumprir e de respeitar a Constituição, a lei e os direitos alheios, o qual é um dever jurídico
propriamente dito, 72 não expresso. Entre as obrigações jurídicas expressas pode-se listar:
a) Obrigação de reunião pacífica. Pode-se extrair do art. 5.º, XVI, da CF/1988, a obrigação de as
pessoas, ao se reunir, fazê-lo pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, com prévio aviso à
autoridade competente e sem frustrar outra reunião que tenha sido anteriormente convocada para o
mesmo local.

b) Obrigação de representação expressamente autorizada. Do art. 5.º, XXI, da CF/1988, é possível


extrair a obrigação das entidades associativas possuírem expressa autorização para representar seus
filiados, judicial ou extrajudicialmente.

c) Obrigação de dar função social à propriedade. Extraível do art. 5.º, XXIII, da CF/1988, bem como dos
arts. 182 a 191. 73

d) Obrigação de trabalhar a pequena propriedade rural. O art. 5.º, XXVI, da CF/1988, fixa que a família
tem de trabalhar a pequena propriedade rural, assim definida em lei, para que não seja objeto de penhorar
para o pagamento de débitos advindos de sua atividade produtiva. Além disso, podem ser encontradas
regras sobre a função social da pequena propriedade rural familiar entre os arts. 184 e 191 da
CF/1988.

e) Obrigação de não violar os direitos e as liberdades fundamentais. Essa obrigação está presente de maneira
geral no art. 5.º, XLI, da CF/1988, mas pode ser encontrada também nos incs. XLII, LXVII a LXIX, LXXI
a LXXIII e LXXV.

São, portanto, poucos os deveres (em sentido amplo) no rol específico estabelecido pelo constituinte. A
maioria dos deveres constantes do texto constitucional encontra-se fora desse rol ou mesmo, como é mais
comum, na legislação infraconstitucional. Na sequência, são listados e comentados os que se tem mais
frequentemente encontrado na literatura:

f) Deveres organizatórios, 74 relativos à organização do Estado e distribuição de seu poder, 75 bem como à
sua defesa e à de suas instituições. Podem ser chamados, também, de deveres procedimentais ou
instrumentais do Estado de Direito, por acompanharem a própria concepção de seu sistema jurídico
político. 76 Na CF/1988, esses deveres podem ser encontrados, principalmente, entre os arts. 17 a 144 e
163 a 250, podendo-se extrair também dos arts. 1.º, I e parágrafo único, 2.º e 14. Esse conjunto de deveres se
refere, portanto, à forma de governo (República) e de Estado (Federação), ao sistema (Presidencialismo, o
qual pressupõe a independência e a harmonia dos poderes) e ao regime (Democracia) de governo, além da
defesa do Estado e das instituições democráticas (segurança pública e estado de exceção), das relações
entre as entidades federadas e suas competências, da distribuição de funções e atividades entre Legislativo,
Executivo e Judiciário, das funções essenciais à justiça e à democracia (Ministério Público, Advocacia
Pública de Estado, Advocacia e Defensoria Pública), das finanças públicas e das ordens econômico-
financeira e social. A maioria dos deveres que se pode extrair dessa extensa lista é de obrigações, pois para
vários deles há sanções como aquelas decorrentes da improbidade administrativa, da declaração de
inconstitucionalidade e da intervenção federal ou estadual, dentre outras.

g) Deveres de cidadão. Trata-se de um grupo amplo que inclui: (1) o dever de defender a pátria, o qual é um
dever em sentido estrito (ou próprio) autônomo, que não possui registro expresso no texto constitucional,
advindo especialmente da necessidade de manutenção da soberania (unidade externa) do Estado
brasileiro, bem como de suas instituições; invoca-se aí o patriotismo, 77 o sentimento de pertencer a um
Estado ou nação; (2) a obrigaçãode prestar serviço militar, em relação à qual há trabalhos que exploram a
questão da perspectiva da obrigação dos médicos prestarem serviço militar; 78 também há trabalhos que
exploram a questão da objeção de consciência; 79 (3) a obrigação de prestar serviços civis, 80 como, por
exemplo, a de atuar como mesário em eleições ou a de servir como jurado em tribunais, e, também a de
comparecer perante os poderes públicos quando intimado e com eles colaborar; trata-se de casos de
cumprir atos impositivos, normas imperativas, decisões judiciais e convocações feitas pelos órgãos
públicos; (4) a obrigação de votar, 81 que se pode extrair, principalmente, do art. 14, § 1.º, da CF/1988.

h) Obrigação de contribuir com a manutenção dos gastos públicos de acordo com sua capacidade. Esse talvez
seja um dos mais tratados deveres em sentido amplo. 82 Não há um dispositivo constitucional específico,
mas um sistema constitucional tributário inteiro, que se liga fortemente à legislação infraconstitucional.
Trata-se de uma obrigação, já que diante do descumprimento da prestação respectiva liga-se a aplicação de
uma sanção. Além disso, como têm demonstrado os trabalhos desenvolvidos, a respectiva prestação
direciona-se a financiar a maquinaria estatal e a concretizar direitos fundamentais, independente de haver
especificação sobre a destinação da verba arrecadada. Essa obrigação pode ser extraída dos arts. 145 a 162,
194, 195 e 201 a 204, da CF/1988.

i) Deveres de família. É um conjunto de deveres em sentido amplo, mas restrito a relações intrafamiliares; 83
há, nesse sentido, quem os aluda como deveres de proteção da família, 84 estando previstos na CF/1988
entre os arts. 226 e 230. Nesse grupo, podem ser identificados, por exemplo, os seguintes deveres em
sentido amplo: (1) obrigações dos cônjuges; (2) obrigações entre ascendentes e descendentes, as quais
incluem obrigações dos pais com os filhos, destes com aqueles e, por vezes, também incluem obrigações em
que são partes outros parentes. Em geral, os trabalhos tratam sobre a obrigação dos pais de dar assistência
aos filhos, a qual tem por contrapartida o direito dos filhos de usufruírem dessa assistência. 85 Há
desenvolvimentos sobre o tema voltados para a questão da alienação parental, 86 do dever de dar afeto. 87
Também há notícias de trabalhos que tratam sobre a assistência inversa: dos filhos aos pais. 88 Como se
verifica, são deveres não autônomos, pois decorrentes de direitos que os próprios cônjuges, ascendentes e
descendentes têm uns em relação aos outros.

j) Dever de trabalhar. Trata-se de um dever em sentido estrito, pois não há uma relação e a contrapartida de
um direito, quer dizer, até existe o direito ao trabalho, mas o indivíduo que tem o direito é o mesmo que
tem o dever; portanto, inexistente o elemento relacional, não se trata de uma obrigação. Além disso, não há
uma sanção ao seu não exercício, e sim um ônus à pessoa que decide não trabalhar. Portanto, não se trata
de uma obrigação, embora o sistema de produção atualmente vigente estabeleça o contrário. 89 Os
elementos relacional e condicional existem entre o direito ao trabalho e o dever do Estado e da sociedade
de criar postos de trabalho para os quais o indivíduo esteja e se mantenha capacitado, e sua manutenção
neste trabalho, salvo justa causa para sua dispensa. 90 Isso quer dizer que se, de um lado, as pessoas podem
exigir a oferta de postos de trabalho, pois têm o direito ao trabalho, mas, de outro lado, elas têm o dever de
se capacitar para trabalhar, cumprindo com os afazeres do posto ofertado. Alguns autores apontam uma
afinidade entre o dever de trabalhar e o dever de se educar, sob o argumento de que o aumento de
conhecimentos permite capacitação e melhor desempenho na vida social, aumentando as oportunidades
do indivíduo. 91 Assim, para a obrigação do Estado e da sociedade de criar (postos de) trabalho e não violar
os direitos dos trabalhadores há, especialmente, os arts. 6.º a 11 da CF/1988; enquanto que o dever
propriamente dito pode ser extraído do dever geral, muito mais moral que jurídico, de o indivíduo
contribuir para a sua própria dignidade.

k) Dever de se educar. Assim como o dever de trabalhar, o de se educar é um dever em sentido estrito, não
se constituindo como obrigação devido à ausência de elemento relacional e condicional, além de seu não
exercício gerar um ônus, não a aplicação de uma sanção. 92 A obrigação é, outra vez, do Estado, que deve
oferecer o ensino básico obrigatório e gratuito, bem como da sociedade e da família, os quais devem
oportunizar a possibilidade das pessoas de cursar esse ensino. Essa obrigação pode ser encontrada na
CF/1988 nos arts. 6.º e 205 a 224. O dever propriamente dito pode ser extraído do dever geral, muito mais
moral que jurídico, de o indivíduo contribuir para a sua própria dignidade e formação. Relaciona-se com o
dever de se educar, por identidade de finalidade, o dever de conhecer a língua pátria, ou, ao menos, a língua
adotada oficialmente pelo país em que vive, quando houver mais de uma, 93 ou quando for o caso de
estrangeiro vivendo noutro país; esse dever se pode extrair do art. 13 da CF/1988 e do dever geral de
promover a própria formação e desenvolvimento humano.
l) Deveres sanitários. Esse conjunto de deveres parece ser um dos mais genéricos no tema, ligando-se ao
desenvolvimento e dignidade das pessoas, bem como sua integridade física e psíquica. Pode se dividir em
dois grandes grupos: (1) dever em sentido estrito de cuidar da própria saúde, que se relaciona ao direito de
exigir do Estado a execução de políticas sociais e econômicas que visem reduzir o risco de doenças e de
outros agravos, além de proporcionar o acesso universal igualitário às ações e aos serviços para sua
promoção, proteção e recuperação; (2) obrigação de não prejudicar a saúde alheia, vedando-se, por
exemplo, a tortura e os tratamentos desumanos ou degradantes, 94 ou mesmo a disseminação de doenças
contagiosas. Tais deveres podem ser extraídos dos arts. 6.º e 196 a 200, da CF/1988.

m) Dever de conservar o meio ambiente. Em geral, os autores que se ocupam desse tipo de dever se referem
à proteção do meio ambiente. 95 Evitando-se a discussão sobre qual termo seria melhor (conservar ou
proteger), esse dever se relaciona fortemente ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
tendo, pois, como estabelece expressamente o art. 225 da CF/1988, o Estado e a sociedade o dever de
defendê-lo e de preservá-lo para as gerações presentes e futuras. Isso quer dizer que o dever de conservar
ou proteger o meio ambiente é uma obrigação, a qual se relaciona com o direito ao meio ambiente sano
(elemento relacional e também condicional), sendo passível de sanção o descumprimento dessa obrigação.
Há quem coloque em dúvida a existência de um direito ao meio ambiente, apontando-o como um falso
direito; 96 no entanto, não há como se concordar com esse posicionamento, já que se pode exigir o
cumprimento da obrigação baseado na existência de um direito, e aplicar-se uma sanção caso este seja
violado. Também se incluem dentro dessa espécie de deveres, aqueles de proteção aos animais não
humanos. 97

n) Dever fundamental de personalidade. Esse dever advém diretamente do fundamento dos Estados
democráticos de direitos, garantias e deveres, que é a dignidade humana (art. 1.º, III, da CF/1988).
Assim, o dever de personalidade refere-se ao dever, jurídico e moral, de todas as pessoas de promover a
dignidade humana. 98 Nesse sentido, a maioria (senão todos) os deveres em sentido amplo se relacionam
com essa espécie.

5. Regime, natureza e conceito de deveres fundamentais

Depois de esclarecida a distinção entre deveres em sentido estrito e obrigações como classes de deveres em
sentido amplo, a qual permitiu uma melhor visualização da tipologia dos deveres e suas espécies presentes
no texto constitucional brasileiro, passa-se à discussão sobre o regime jurídico, a natureza e o conceito dos
deveres fundamentais. Também no que pertine a estas três questões, a diferenciação entre dever
propriamente dito e obrigação é essencial. Isso porque, constitucionalmente, parte do regime dos deveres
fundamentais é comum ao dos direitos fundamentais, 99 especialmente devido ao fato de vários desses
deveres se constituírem como obrigações, para as quais também há uma regulação infraconstitucional bem
estabelecida, e já consolidada quanto a vários de seus institutos; mas não só, também há desenvolvimentos,
ainda que no campo Moral, sobre os deveres em geral. Tudo isso deve ser adequadamente aproveitado nas
formulações sobre o regime jurídico, a natureza e o conceito dos deveres fundamentais.

Apesar de existir considerável literatura sobre deveres fundamentais, o tratamento jurídico que lhes é dado
está longe de um tratamento minimamente comparável àquele dispensado aos direitos fundamentais. 100
Esse fato sobressai especialmente diante da falta de identificação pelo constituinte de quais seriam os
deveres fundamentais e da ausência de regime constitucional próprio. Tudo o que se desenvolveu até aqui
nesta revisão, pode-se considerar como um esforço em torno da construção de um regime desse tipo, da
identificação da natureza e da formulação de um conceito, com o intuito de melhor compreender o tema
dos deveres fundamentais.

Enquanto tipo de deveres jurídicos, os deveres fundamentais são apontados como uma categoria jurídico-
constitucional. 101 Uma categoria é um tipo de coleção de informações, as quais satisfazem determinadas
propriedades, 102 relacionadas a objetos e a funções, podendo ser construída a partir de categorias
existentes, permitindo, em muitos casos, serem herdadas importantes propriedades e resultados, isto é, o
regime ao qual se submetem. 103 A diferença entre categoria e conjunto é, em síntese, a amplitude:
categoria é mais ampla que conjunto, permitindo uma maior interseção entre domínios, o que significa
poder traduzir problemas de um domínio para outro, resolvê-los e transportar os resultados para o
domínio originário; ou seja, as categorias se ocupam das propriedades entre conjuntos, de maneira que as
teorias das categorias são mecanismos de comunicação entre as áreas de um ramo do conhecimento, já os
conjuntos se ocupam dos objetos em si, e as teorias dos conjuntos estudam estes objetos. 104

Transportando isso para o ramo jurídico, os deveres não se constituem como um conjunto, muito menos
como uma categoria, e sim como um elemento ou objeto jurídico-constitucional, assim como, por exemplo,
os direitos e as garantias, pertencente a um conjunto, podendo ser enquadrado em uma categoria. Como o
objeto "deveres fundamentais" se relaciona a diversas áreas (domínios ou conjuntos) do Direito, o seu
estudo pode ser feito tanto a partir da teoria dos conjuntos, quando o objeto em si é estudado dentro de um
determinado conjunto, quanto a partir da teoria das categorias, quando o objeto é transportado para outro
conjunto, para que se possa recolher propriedades e resultados que o conjunto originário não lhes
conferia. Logo, o objeto "deveres fundamentais" pode ser estudado a partir de conjuntos e de categorias,
mas não se confunde com estes. É exatamente isso que se tem feito nos trabalhos sobre os deveres
fundamentais: relacioná-los com deveres e obrigações, jurídicos ou morais, e com direitos. O propósito,
embora não seja algo concertado, tem se direcionado à formação de um regime jurídico dos deveres
fundamentais.

Boa parte desse regime jurídico já existe, uma vez que vários dos deveres previstos no texto constitucional
se qualificam como obrigações e não como deveres em sentido próprio. Isso permite o aproveitamento dos
regimes jurídicos das obrigações e dos direitos, bem como dos desenvolvimentos sobre os deveres e as
obrigações morais. Esse aproveitamento deve ser parcial, pelo fato de os deveres não se constituírem, como
os direitos, em poderes ou, por vezes, em privilégios, e também pelo fato de as obrigações contarem com
regimes jurídicos diferenciados nas várias áreas jurídicas. Em outros termos, devido à natureza dos
deveres fundamentais, não se pode esperar que os regimes de outros institutos (ou objetos) jurídicos
necessitem apenas ser transplantados para que funcionem plenamente. É necessário fazer adaptações.

E essas adaptações dependem do estudo aprofundado dos regimes jurídicos que possam ser aproveitados,
quer dizer, daqueles referentes aos direitos fundamentais e às obrigações jurídicas em geral, bem como de
um aprofundamento acerca de questões como solidariedade, fraternidade, cooperação e valores sociais,
temas os quais revelam que, no fundo, todo o debate sobre deveres fundamentais se refere à conexão e à
relação entre Direito e Moral. 105 Esse tipo de análise demanda esforços (objeto de outro estudo em
andamento), que levariam a presente revisão a caminhos diversos do proposto, embora colaborem para a
construção de uma teoria dos deveres fundamentais. Portanto, somente se vislumbra a possibilidade de se
construir um regime jurídico consistente dos deveres fundamentais e delimitar sua natureza a partir dessa
mais aprofundada análise. 106

O resultado da inexistência de uma análise desse tipo já é conhecido. Isto é, a ausência de uma teoria dos
deveres fundamentais leva à constante comparação entre a importância dada, pelo constitucionalismo
ocidental, aos direitos e àquela direcionada aos deveres. A literatura já vem a algum tempo argumentando
que a ausência dos deveres anda ao lado da inflação dos direitos: há muitos direitos, mas poucos são
efetivamente usufruídos. 107 E esse protagonismo dos direitos é prejudicial à sua própria concretização. 108
Portanto, a falta de uma análise mais concertada da temática, direcionada a uma sistematização das
diversas questões que influem no seu entendimento, permitiria a construção de uma teoria dos deveres
fundamentais, não apenas no ramo das obrigações ou dos deveres em sentido estrito, mas, principalmente,
no ramo dos deveres em sentido amplo. Por isso se pode dizer que não faltam desenvolvimentos sobre o
tema, 109 o que falta é uma teoria própria para os deveres, a qual permita aquilatar e dimensionar a sua
relação com os direitos, 110 bem como o seu desenvolvimento autônomo.

Ao se construir as bases do regime jurídico dos deveres fundamentais, suas características são
inevitavelmente apontadas e, com elas, sua natureza. Assim, também para identificar a natureza do
instituto é necessário um conhecimento aprofundado sobre o domínio geral dos deveres, tanto no que se
refere às obrigações jurídicas quanto no que diz respeito aos deveres e obrigações morais. Nesse sentido, e
apenas muito superficialmente, pode-se afirmar que a natureza dos deveres fundamentais está
fundamentada em noções como responsabilidade, solidariedade, fraternidade, cooperação, valores e, talvez
principalmente, alteridade. Quer dizer, o real sentido da existência dos deveres está em como cada pessoa
percebe o seu papel na sociedade e como se relaciona com as outras pessoas. Se em uma sociedade as
pessoas só dão valor às outras quando elas contribuem para o desenvolvimento de sua felicidade e seu
bem-estar, então a exaltação do eu destaca uma precedência dos direitos sobre os deveres, 111 firmando a
existência de uma crise de valores nesta sociedade. E isso porque, ainda que os direitos possam ser um
instrumento de solidariedade, eles são normalmente utilizados, no mundo ocidental, como trunfos, 112 isto
é, deveres somente serão exercidos quando direitos tiverem sido concretizados, fato que traduz a
perspectiva solipsista (individualista extremada), a qual faz os indivíduos e a sociedade sabotarem-se,
revelando uma crise de valores. Isso é assim porque enquanto decorrentes dos valores, ou seja, das
diretrizes para a manutenção da ordem social, são os deveres que determinam o comportamento dos
poderes, quer dizer, como os impulsos e as necessidades dos indivíduos, isto é, seus direitos, serão exercidos
(realizados ou concretizados), não o contrário.

Seguindo o mesmo raciocínio, a formulação de um conceito de dever fundamental deve decorrer também
de um debate mais aprofundado, embora inicialmente possa ser formulado para servir como ponto de
partida, designando, abstratamente, aquilo que, em um primeiro momento, não se conhece a fundo, mas
que vai, paulatinamente, sendo explicitado. 113 Logo, é destacada a importância dos conceitos prévios, pois
eles ajudam a direcionar o estudo de um instituto, podendo, ao final, serem confirmados, melhorados ou
completamente modificados.

Esse foi, aliás, o caminho adotado nesta revisão, partindo-se de um conceito coletivamente formulado, pelo
qual dever fundamental é uma categoria jurídico-constitucional fundada na solidariedade e que impõe
condutas ponderadas àqueles submetidos a uma determinada ordem política, passível ou não de sanção,
com a finalidade de promover os valores sociais e os direitos fundamentais e ele (cor)relacionados. 114 Alguns
dos pontos desse conceito foram aqui desenvolvidos, enquanto outros não, por ser imprescindível um
estudo mais profundo sobre o tema das obrigações jurídicas e dos deveres e obrigações morais.

Dentre os pontos que foram aqui desenvolvidos, pode-se propor um conceito novo, que funcione como
ponto de partida para novas ponderações sobre o tema: dever fundamental é um objeto jurídico-
constitucional, que, sob uma perspectiva ampla, se funda nos valores de solidariedade, cooperação,
fraternidade, responsabilidade e alteridade de uma ordem social, com o propósito de promovê-los,
podendo se manifestar tanto em condutas impostas, as quais se denominam obrigações, passíveis de
sanção jurídica em virtude de seu descumprimento, quanto em condutas permitidas, chamadas deveres em
sentido estrito, cujo descumprimento não enseja aplicação de sanção jurídica.

6. Considerações finais

Diante dessas breves considerações e ponderações sobre os deveres fundamentais, pode-se extrair ao menos
duas conclusões. A primeira é que não se trata de um tema tão esquecido como alguns autores supõem, o
que lhe falta é a construção de uma teoria e pesquisas sobre suas características, regime, natureza e
relações com outros institutos, sejam estes jurídicos ou não. A segunda é que pelo fato de os deveres se
distinguirem das obrigações, a teoria faltante refere-se aos deveres fundamentais em sentido amplo, que
abrangem os deveres fundamentais em sentido próprio, cuja relação com a teoria moral dos deveres e
obrigações é muito grande, e as obrigações fundamentais, as quais se relacionam fortemente com a teoria
das obrigações e a teoria dos direitos fundamentais. Isso quer dizer que para a construção de uma teoria
geral dos deveres fundamentais é imprescindível o conhecimento das discussões travadas no campo
jurídico (obrigações e direitos), bem como daquelas desenvolvidas nos domínios sociais não jurídicos em
geral (moral, religioso, político, por exemplo).
Assim, é possível dizer em que direção os ventos sopram e alguns dos possíveis caminhos para a
construção de perspectivas sobre os deveres fundamentais. Acredita-se que com os desenvolvimentos
sobre esse tema seja possível promover mudanças positivas na maneira como a sociedade se comporta,
especialmente no modo de encarar a concretização de direitos fundamentais, para as gerações presentes e
futuras.

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Pesquisas do Editorial

DEVERES COMO CONDIÇÃO PARA A CONCRETIZAÇÃO DE DIREITOS, de Julio Pinheiro Faro -


RDCI 79/2012/167

OS DEVERES E A CONSTITUIÇÃO, de Eduardo Silva Costa - RDCI 29/1999/48

© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

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