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FACULDADE DE DIREITO

LÓGICA E HERMENÊUTICA
JURÍDICA
O DIREITO COMO UM
SISTEMA LÓGICO

Nº: 30727
PERÍODO: MANHÃ
NOME: AGUINALDO ANDERSON PENZA
CURSO: LICENCIATURA EM DIREITO

O DOCENTE:
_________________________________

LUANDA/DEZEMBRO/2020
LÓGICA E HERMENÊUTICA
JURÍDICA
FICHA DE LEITURA

Livro: Roteiro de Lógica e Hermeneutica Jurídica


Autor: Fábio Ulhoa Coelho
Editóra: Editóra Saiva Ano da 1ª Edição: 1992,
5ª Edição atual revisada São Paulo 2004
Páginas: 87, 88,89

Falar de um sistema, é primeiramente falar de organição, logo a sistematização


presupõe organização.
Já o Direito é definida como um conjunto de normas e princípios jurídicos que
regulam e estabelecem as regras de convivência entre os homens em uma determinada
sociedade.
Na minha umilde opinião o presente artigo trata das relações entre a Lógica e o
Direito, partindo da problematização das ideias de que o Direito seria um sistema lógico
e de que a aplicação das leis a um caso concreto seria uma simples operação lógico-
dedutiva. Defende-se a adoção de um conceito ampliado de lógica, que inclua não só a
lógica formal, mas também os raciocínios não-dedutivos, de forma a possibilitar a
superação da polêmica a cerca da existência de uma lógica jurídica, evidenciando sua
existência como um ramo do saber com um objeto mais amplo do que o da lógica formal,
abarcando, além dos processos estritamente lógico-formais, como a dedução e a indução,
métodos extra-lógicos de justificação das decisões judiciais, como a analogia e a
argumentação retórica. Em seguida, analisa-se o papel dos princípios ou leis da lógica
jurídica.
De acordo com esse modelo lógico-formal, o Direito, ou mais especificamente, o
raciocínio jurídico, seria construído a partir de normas que se vinculam por inferência
lógica, de sorte que seria possível fazer-se um encadeamento racional das normas, desde
uma norma geral e abstrata, de hierarquia superior e na qual se fundam as demais, até a
mais concreta e específica, diretamente aplicável ao caso concreto, formando-se assim
uma pirâmide normativa cujo ápice seria ocupado.
Depois de ter analisado as páginas já mencionadas, o sistema jurídico não pode
ser um sistema lógico, ora porque não existem congruencia nos seus variados sector,
chamando aqui os três princípios da lógica nomeadamente o princípio da não contradição,
terceiro excluido e o princípio da identidade. Se o sistema jurídico não abarcar estás
referências logo ela não será um sistema lógico, e muitas das vez em questões dos
sistemas jurídicos são abordados os princípios da não contradição( ou seja, ou é ou não
é) apesar desses termos também serem usados no ramo jurídico ainda assim não abarca
todos os requisitos para ser considerado como uma sistema lógico, logo o meu ponto de
vista deixa cair por terra a ideia de ser um sistema lógico.
Em suma o sistema jurídico não é lógico.

ÍNDICE

Introdução.........................................................................................................................5
O ctivo deontico.................................................................................................................6
A lógica..............................................................................................................................7
Lógica jurídica..................................................................................................................8
Direito e lógica em hans kelsen.......................................................................................10
O papel da lógica no direito............................................................................................12
A unidade do direito........................................................................................................13
Silogismo jurídico............................................................................................................13
Lacunas............................................................................................................................13
Conclusão........................................................................................................................14
Referências bibliográfica.................................................................................................15
PROBLEMA
O presente artigo trata das relações entre a Lógica e o Direito, partindo da
problematização das ideias de que o Direito seria um sistema lógico e de que a aplicação
das leis a um caso concreto seria uma simples operação lógico-dedutiva.

JUSTIFICATIVA
O motivo da escolha do tema, deveu-se aos diversos factos. Defende-se a adoção de
um conceito ampliado de lógica, que inclua não só a lógica formal, mas também os
raciocínios não-dedutivos, de forma a possibilitar a superação da polêmica acerca da
existência de uma lógica jurídica, evidenciando sua existência como um ramo do saber
com um objeto mais amplo do que o da lógica formal, abarcando, além dos processos
estritamente lógico-formais, como a dedução e a indução, métodos extra-lógicos de
justificação das decisões judiciais, como a analogia e a argumentação retórica. Em
seguida, analisa-se o papel dos princípios ou leis da lógica jurídica nos processos de
justificação racional das decisões judiciais na teoria pura do Direito de Kelsen, na lógica
do razoável de Recaséns Siches e na teoria da argumentação de Robert Alexy.

HIPÓTESE
1. Para muitos filósofos do direito (Kelsen,1960:132/127), existe uma grande
diferença entre natureza das proposições formuladas pelos cientistas em geral e
das formuladas pelos estudiosos das normas jurídicas.
2. Por outro lado segundo essa perspectiva, quando um fisíco, biológo, ou sociologo
estabelecem relações entre dois dados pertinentes ao seu objecto de estudo,
tornam um deles como causa do outro.

OBJECTIVOS GERAIS
Compreender as transformações, ou seja adinâmica que podem ocorrer nos dois
ramos do saber nomeadamente: o Direito e a lógica.

OBEJECTIV ESPECÍFICO
O presente trabalho tem por objectivo especifíco o seguinte: Identificar os sistemas
do Direito nos campos da lógica, os seus paradoxos, e as suas dinâmicas.

METODOLOGIA
A metodologia é um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela
ciência para formular e resolver problemas de aquisição objectiva de conhecimento, de
uma maneira sistemática.
No presente trabalho utilizou-se a técnica de pessquisa:
 Qualitativa,
 Bibliográfica e a documentária.
INTRODUÇÃO

É muito difundida a ideia de que o Direito guarda íntima ligação com a Lógica, e
que nas relações estabelecidas entre as diversas normas que formam o ordenamento
jurídico-positivo, bem como na aplicação dessas normas aos casos concretos, devem ser
obedecidos os princípios da lógica.
Lee Lowwvinger afirma que a “lógica, ou razão tem sido reivindicada por filósofos
igualmente como propriedade especial e como fundamento principal do Direito, desde
pelo menos o tempo de Aristóteles” (apud Kelsen 1986, p. 434). Para a maioria dos leigos
e grande parte dos juristas, assim, o Direito é um fenômeno estritamente lógico, cabendo
ao juiz, ao aplicar a lei a um caso concreto, deduzir logicamente a sentença a partir do
silogismo entre as leis gerais e os fatos. Daí ter W. F. Maitland, historiador do Direito
inglês, afirmado que os juristas “são os mediadores entre a vida e a lógica” (apud
KELSEN, 1965, p. 275).
O CTIVO DEONTICO
Com efeito, é comum os operadores do direito sustentarem a necessidade de uma
“aplicação lógica” das leis ou defenderem a “argumentação lógica” na sua atuação
diária. Neste sentido, Aldisert, Clowney e Peterson (2007, p. 100/102) afirmam que:
De acordo com esse modelo lógico-formal, o Direito, ou mais especificamente, o
raciocínio jurídico, seria construído a partir de normas que se vinculam por inferência
lógica, de sorte que seria possível fazer-se um encadeamento racional das normas, desde
uma norma geral e abstrata, de hierarquia superior e na qual se fundam as demais, até a
mais concreta e específica, diretamente aplicável ao caso concreto, formando-se assim
uma pirâmide normativa cujo ápice seria ocupado pela Constituição[2]. Além desssa
relação entre normas, haveria também uma relação lógica de inferência entre as normas
e o fato posto em julgamento, de tal modo que a conclusão, isto é, a sentença, seria o
produto de um ato racional de aplicação lógica.
Neste modelo, que teve suas bases estruturadas a partir do liberalismo do século
XVIII, a atividade judicial é tida como meramente declaratória da norma legal aplicável
ao caso concreto, cabendo ao juiz unicamente fazer um silogismo lógico-dedutivo em que
a premissa maior seria a norma e a premissa menor seria o fato, decorrendo daí uma única
solução possível, que deveria ser a adotada. O papel a ser desempenhado pelo juiz, assim,
seria o de mero aplicador da lei, cabendo-lhe tão-somente “dizer a lei do caso concreto”,
extraída a partir da lei genérica e abstrata. Por isso é que Montesquieu (1997, p. 203)
afirmava que os juízes “(...) não são mais do que a boca que pronuncia as palavras da lei;
seres inanimados que não podem moderar-lhe nem a força nem o rigor”. Em virtude dessa
visão, como afirma Kantorowicz (apud Prado, 1995, p. 62),
Imaginava-se o jurista ideal como um funcionário de certa categoria, sentado diante
de sua escrivaninha, armado de um código e de uma máquina de pensar da mais fina
espécie. Diante de um caso qualquer, podia esse funcionário, com o auxílio da lei e da
máquina, chegar à solução pretendida pelo legislador no código, com uma exatidão
absoluta.
No mesmo sentido, tornando explícita a forma como a ligação entre a lógica e o direito
era vista, afirmou Beccaria (1995, p.17) que:
O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A maior deve ser a lei geral; a menor, a ação
conforme ou não à lei; a conseqüência, a liberdade ou a pena. Se o juiz for constrangido
a fazer um raciocínio a mais, ou se o fizer por conta própria, tudo se torna incerto e
obscuro.
Ocorre, entretanto, que vários fatores, entre os quais a crescente positivação de
direitos fundamentais, não só relacionados aos direitos civis e políticos, mas também aos
chamados direitos econômicos, sociais e culturais, além do reconhecimento da
Constituição como verdadeira norma impositiva e cogente, e não mais a mera “folha de
papel” de Lassalle (HESSE, 1995), geraram um crescimento do grau de
jurisdicionalização da vida social e política que redundou numa profunda alteração do
papel desempenhado pelo Poder Judiciário nas democracias modernas, onde não mais é
possível validamente sustentar-se a correção da concepção liberal-legal clássica.
Tais fatores, aliados ao reconhecimento da existência de lacunas e antinomias no
ordenamento, bem como do caráter vago e impreciso das normas, tornaram evidente que
em muitos casos as decisões judiciais não são meros produtos do raciocínio lógico-
dedutivo de aplicação de normas válidas e enunciados empíricos comprovados. Como
afirma Alexy (2001, p. 17), a constatação feita por Larenz de que atualmente ninguém
mais pode afirmar seriamente que a aplicação das normas jurídicas nada mais é do que
uma subsunção lógica sob premissas maiores formuladas abstratamente “é um dos poucos
pontos em que há unanimidade dos juristas na discussão da metodologia contemporânea”.
Com efeito, a relação entre o direito e a lógica, pelo menos nessa forma estrita
defendida pelo modelo formalista, está longe de ser pacífica, como bem demonstra a
célebre frase do Justice Holmes, para quem “a vida do Direito não tem sido lógica, mas
experiência”. No mesmo sentido, afirmou Taine que “as sociedades humanas são um
escândalo para a razão pura, pois elas não são obra da Lógica, mas da história” (apud
FRANCO MONTORO, 1995, p. 20).
A LÓGICA
Além dos inúmeros pontos de tensão existentes na relação entre o Direito e a Lógica,
há ainda uma grande dificuldade decorrente da falta de unidade terminológica. Não raro
nos discursos jurídicos o termo “lógica” é utilizado sem muito rigor, como um adjetivo
ligado à coerência do discurso. Mesmo quando os juristas se referem à Lógica enquanto
ciência, nem sempre estão se referindo a uma mesma coisa. Como afirmou Chaim
Perelman (1973, p. IX),
Assim, antes de se iniciar uma discussão acerca das relações entre a Lógica e o
Direito (e à questão relativa á própria existência de uma Lógica Jurídica), é necessário
que se delimite aquilo a que nos referimos quando falamos de lógica. Neste aspecto,
como Fabio Ulhoa Coelho (2009, p. 04), temos que por lógica deve-se entender uma
maneira específica de pensar, ou melhor, de organizar o pensamento, ou, como afirma
Cezar Mortari “lógica é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, tendo o
objetivo principal de determinar em que condições certas coisas se seguem (são
conseqüência), ou não, de outras” (apud CARNEIRO, 2010, p. 1).
Por seu turno, a validade do raciocínio lógico é conferida pela obediência a algumas
leis ou princípios fundamentais da lógica, que garantem a correção formal do pensamento.
Estes princípios ou leis, derivados da forma típica do racionalismo ocidental, que
propugnava conhecer algo através da razão, são os princípios da identidade, do terceiro
excluído e da não-contradição.
Pelo princípio da identidade, entende-se que “o que é, é”, ou seja, que todo objeto é
idêntico a si mesmo. Como afirma Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 6), “no interior do
pensamento lógico, as coisas não podem ser entendidas como um complexo de múltiplos
fatores contraditórios. Uma árvore é uma árvore, e não o vir a ser de uma semente”.
Por seu turno, o princípio da não-contradição decorre do princípio da identidade e
significa que nenhum objeto pode ser ao mesmo tempo ele e não-ele, ou seja, um
determinado objeto A não pode ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, não-A, de
modo que se dois enunciados contraditórios sobre o mesmo objeto não podem ser
simultaneamente verdadeiros. Decorre daí o princípio do terceiro excluído, pelo qual se
afirma que se dois enunciados são contraditórios, um deles será verdadeiro e o outro falso
(embora nada se afirme quanto a qual deles é o verdadeiro). Daí que, nos casos de
proposições contraditórias, verificada a veracidade de uma delas, a outra será
necessariamente falsa, e vice-versa. Por isso é chamado de terceiro excluído, já que não
há uma terceira opção, ou seja, ou as proposições são verdadeiras ou falsas.
De se ressaltar, ainda, que tais princípios da lógica formal não guardam nenhuma
relação com a veracidade ou validade do conteúdo da argumentação lógica. Como afirma
Coelho (2009, p. 7),
O argumento pode ser lógico, mas isso não quer dizer que sua conclusão seja
necessariamente verdadeira, isto é, corresponda à realidade. Muito pelo contrário, a única
garantia que o raciocínio lógico oferece é a de que, sendo verdadeiras as premissas e
válida a inferência, a conclusão será verdadeira. Em outros termos, há duas condições
para que o raciocínio lógico nos conduza à verdade: a veracidade das premissas e a
correção do próprio raciocínio. Os lógicos se ocupam dessa segunda condição apenas, já
que da veracidade das premissas cuidam os cientistas (biólogos, matemáticos, físicos,
sociólogos, psicólogos, etc.).
Ocorre, entretanto, que o termo lógica, como assinalado por Kalinowski (1973, p.
30), é suscetível de pelo menos três sentidos: o mais restrito, segundo o qual a lógica seria
apenas a lógica formal dedutiva, a ciência das estruturas formais do pensamento; um
sentido amplo, que designa não só a lógica formal, mas também a lógica não dedutiva,
que estuda os esquemas e regras dos raciocínios não-dedutivos (como os redutivos e
analógicos), e, por fim, um sentido ainda mais ampliado, que incluiria a metalógica, isto
é, a parte da lógica que estuda também as propriedades e os componentes dos sistemas
lógicos.
O sentido restrito é o mais utilizado quando se trata da Ciência da Lógica[4]. É
neste sentido que, como anotado por Franco Montoro (1995, p. 16), posicionam-se, entre
outros, Ulrich Klug (“por Lógica, deve-se entender sempre a lógica formal”), Carnap
(“lógica não-formal é um contradictio in adjeto”) e Lourival Vilanova (“Lógica, tout cort,
é lógica formal”).
LÓGICA JURÍDICA
Apesar do sentido restrito de lógica ser o mais difundido, no presente trabalho
adotaremos o segundo dos sentidos supra apontados, opção que, além de ser mais
apropriada para lidar com as relações entre lógica e direito, objeto deste estudo, também
tem a vantagem de permitir superar a polêmica e complexa questão relativa à existência
da lógica jurídica. É que aqueles que defendem a inexistência de uma lógica
especificamente jurídica têm como pressuposto a noção de que a lógica seria unicamente
a lógica formal (sentido restrito).
Ora, de fato, ao se entender a lógica unicamente como a lógica formal, que analisa
as inferências necessárias entre as proposições, resta evidente que a aplicação da lógica
ao direito não configuraria uma nova disciplina, mas seria antes a mera aplicação de
postulados universais a um ramo específico do saber, de modo que não seria possível
falar-se em lógica jurídica, posto que, como afirma Chaim Perelman (1998, p. 5),
Se identificarmos “lógica pura e simples” com a lógica formal, não apenas esta
última expressão se torna pleonástica, mas é ridículo falar de lógica jurídica, como seria
ridículo falar de lógica bioquímica ou lógica zoológica quando utilizamos as regras da
lógica formal em um tratado de bioquímica ou zoologia
Em contraponto, a adoção de um conceito mais amplo de lógica, que inclua também
as operações não dedutivas, como a argumentação retórica e a analogia, faz com que se
evidencie a existência autônoma de uma lógica jurídica. Neste sentido, o lógico polonês
Kalinowski (1973, p. 33), que inicialmente combatia a idéia da existência da lógica
jurídica, ao justificar sua mudança de entendimento, afirmou que:
A lógica jurídica, pois, deve ter reconhecida sua cidadania científica e
epistemológica, dotada de um objeto mais amplo que o da lógica formal, posto que inclui
também os elementos racionais não dedutivos ou extra-lógicos identificáveis nas decisões
judiciais. Essa visão acentua a íntima relação entre a Lógica jurídica, a teoria da
argumentação e a metodologia do Direito, na medida em que a possibilidade de existência
de justificações racionais para as decisões jurídicas é um dos mais basilares pressupostos
para a qualificação do direito como ciência. Com razão, portanto, Karl Engish (1965, p.
7-8), quando afirma que:
A lógica do jurista é uma lógica material que, com fundamento na lógica formal e
dentro dos quadros desta, por um lado, e em combinação com a metodologia jurídica
especial, por outro lado, deve mostrar como é que nos assuntos jurídicos se alcançam
juízos "verdadeiros", ou "justos" (correctos), ou pelo menos "defensáveis". Uma lógica e
metódica do jurista assim entendida não é uma "técnica" que ensine artifícios conceituais
com cujo auxílio se possam dominar do modo mais expedito possível as tarefas de
pensamento que se deparam ao estudioso do direito. Ela também não é psicologia ou
sociologia da heurística jurídica, a qual indaga como se conduzem de facto as pessoas na
prática quotidiana ao adquirirem pontos de vista jurídicos. Constitui antes reflexão sobre
o processo de conhecimento jurídico especificamente correcto, o que não é coisa de fácil
penetração. Ela esforça-se por alcançar (nos limites do que ao conhecimento humano é
possível) a meta de descobrir a "verdade" e emitir juízos conclusivamente fundados.
A Lógica jurídica, pois, estuda todas as formas racionais de justificação de uma
proposição normativa, incluindo-se aí não só aquelas que assumem a forma de raciocínios
dedutivos ou indutivos, objeto da lógica formal, mas também aquelas justificações
fundadas na analogia, na argumentação e na retórica. Questão tormentosa daí decorrente
é a relativa a saber como as leis e princípios da lógica são (ou devem ser) aplicáveis ao
direito, ou, em outros termos, quais são as os princípios ou leis da lógica jurídica e qual
o seu papel nos processos de justificação racional de uma decisão jurídica.
Evidentemente não há consenso no âmbito da filosofia jurídica e da teoria do direito
sobre o tema. Ao contrário, neste campo, as divergências doutrinárias são grandes e
profundas, até em virtude de sua íntima relação com o conceito de Direito, outro tema
também dado a insuperáveis controvérsias. Por isso, provavelmente a melhor forma de
se trabalhar a questão seja fazendo uma incursão sobre algumas das mais influentes
teorias acerca da relação entre lógica e direito, a saber, a teoria pura do Direito de Kelsen,
a lógica do razoável de Recaséns Siches e a teoria da argumentação de Robert Alexy.
Ressalte-se que a escolha desses autores deveu-se não só ao elevado grau de aceitação
que suas teorias tiveram na doutrina e jurisprudência brasileiras, mas também, e
fundamentalmente, em razão do fato de que as diferenças entre as abordagens de cada um
deles permite analisar de uma perspectiva diferente as relações do Direito e da lógica[7].
DIREITO E LÓGICA EM HANS KELSEN
Hans Kelsen é provavelmente o mais influente dos teóricos do direito do século XX,
a tal ponto do espanhol Luis Legazy Lacambra ter afirmado que o pensamento jurídico
do século XX teria de ser um permanente diálogo com Kelsen (apud FERRAZ JÚNIOR,
1995, p. 14). Uma das principais características do pensamento kelseniano é o seu rigor
metodológico, fundado na permanente busca pela identificação do objeto e método
específicos do Direito, objetivando a construção de uma teoria do direito depurada de
elementos extra ou meta-jurídicos, ou seja, “uma teoria jurídica pura, isto é, purificada de
toda a ideologia política e de todos os elementos de ciência natural, uma teoria jurídica
consciente da sua especificidade porque consciente da legalidade específica do seu
objeto.” (KELSEN, 1999, p. VII).
A Teoria kelseniana parte de um radical corte epistemológico que, mesmo sem
desconhecer o caráter transdisciplinar do fenômeno jurídico e a importância dos outros
saberes para sua compreensão, aponta como objeto e método precípuo da ciência do
direito o estudo das normas. Kelsen, partindo da divisão entre o mundo do ser (próprio
das ciências naturais e fundado no princípio da causalidade) e o mundo do dever-ser
(próprio das ciências normativas, fundando-se no princípio da imputação), faz uma
distinção entre normas e proposições jurídicas.
As normas seriam os atos de vontade emitidos pela autoridade competente, isto é, o
legislador ou o administrador, nos casos das leis e regulamentos gerais, ou o juiz, no caso
da sentença (valendo ressaltar que na teoria kelseniana a atividade judicial não é
meramente declaratória, mas criadora de norma individual). Para Kelsen (1986, p. 1/2),
Com o termo [norma] se designa um mandamento, uma prescrição, uma ordem.
Mandamento não é, todavia, a única função da norma.Também conferir poderes, permitir,
derrogar são funções de normas. “Norma” dá a entender a alguém que alguma coisa deve
ser ou acontecer, desde que a palavra “norma” indique uma prescrição, um mandamento.
Sua expressão lingüística é um imperativo ou uma proposição de dever-ser.
Por seu turno, as proposições jurídicas, isto é, as proposições da ciência do Direito
(doutrina) não configurariam atos de vontade, mas sim atos de pensamento, na medida
em que a doutrina não cria normas, mas tão-somente descreve as normas existentes. As
proposições da Ciência do Direito, pois, não seriam prescritivas, mas descritivas. Assim,
para Kelsen,
A Ciência do Direito contém proposições que são enunciados sobre normas jurídicas.
Ela expõe normas jurídicas, descreve normas jurídicas. Essas proposições não são
propriamente normas, mas enunciados sobre normas. Como Ciência, a Ciência do Direito
apenas pode conhecer e descrever normas a ela dadas, e não estabelecer normas.
Essa distinção entre as normas e as proposições feitas pela doutrina sobre as normas
é essencial para a compreensão das teses de Kelsen acerca das relações entre a Lógica e
o Direito, posto que na teoria kelseniana a Ciência do Direito, assim como qualquer outra
ciência, tem como pressuposto o respeito às regras da lógica nas suas proposições. Por
outro lado, no que se refere às normas, que não são atos de pensamento, mas atos de
vontade, não haveria qualquer lógica interna, já que as autoridades simplesmente editam
as normas, no exercício de suas competências, sem qualquer compromisso com o rigor
lógico. Como afirma Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 51),
Em Kelsen, as autoridades, sem qualquer preocupação sistemática ou lógica, editam
normas gerais ou individuais, enquanto os cientistas do Direito recuperam esse material
bruto (como os astrônomos recolhem do céu o movimento errático das estrelas) e dão-lhe
forma lógica indispensável ao seu conhecimento científico. A ordem jurídica, em Kelsen,
não é lógica; a ciência jurídica é que deve descrevê-la como tal.
Tem-se, assim, que na teoria kelseniana cabe à doutrina a obrigação de seguir as
regras e leis da lógica na elaboração de suas proposições a partir da ordem jurídica posta,
para poder construir a partir dela o sistema jurídico (este sim, de natureza descritiva e
sujeito às regras da lógica), uma vez que
A aplicabilidade de princípios lógicos à Ciência do Direito geralmente não é problema
porque os princípios da Lógica são aplicáveis a todas as Ciências. Que, se existe algo
assim como “legal thinking”, pensamento jurídico, os princípios da lógica são aplicáveis
a esse pensamento, ou mais corretamente: ao sentido dos atos de pensamentos jurídicos,
é evidente. Mas o problema é se eles são aplicáveis a normas, que não são sentidos de
atos de pensamento, senão o sentido de atos de vontade. (KELSEN,1986, p. 240/315),
Por outro lado, Kelsen contrapõe-se veementemente à possibilidade de aplicação dos
princípios lógicos da não contradição e da inferência (conclusão) às normas. Ele parte da
idéia de que a análise lógica pode apenas dizer respeito a enunciados que são verdadeiros
ou falsos e verificáveis, e que as normas não são verdadeiras ou falsas, e sim válidas ou
inválidas.
Essa distinção entre uma norma e uma asserção se torna evidente quando se
compara, por exemplo, a norma que dispõe que o homicídio deve ser punido com reclusão
de 6 a 20 anos, com a asserção de que “todo homem é mortal”. A asserção tem a estrutura
de um ato de conhecimento que, a depender da adequação de seu conteúdo à realidade,
pode ser qualificado como verdadeiro ou falso, enquanto na norma verifica-se um ato de
vontade editado pelo legislador e dirigido abstratamente à conformação da conduta de
todos os cidadãos, que devem se abster de praticar o ato incriminado. A norma não pode
ser qualificada como verdadeira ou falsa, mas sim de válida ou inválida. Nas palavras de
Kelsen, (1965, p. 276/277)
A partir dessa constatação, Kelsen afirma não ser possível aplicar-se às normas o
princípio lógico da não contradição, que somente teria sentido quando aplicado a
asserções. Isso porque, quando se trabalha com asserções, a existência de duas afirmações
contraditórias sobre um mesmo objeto implica que um deles seja falso (princípio da não-
contradição). Assim, se é afirmado que “todo homem é mortal” e que “o homem José é
imortal”, uma das asserções é falsa.
Quando se trata de normas, todavia, a existência de um conflito não pode ser
resolvido por princípios lógicos, mas unicamente por uma terceira norma que derrogue
uma das normas conflitantes. A validade de uma norma não implica necessariamente que
outra norma que a ela seja contraditória seja inválida. As fórmulas tradicionalmente
utilizadas para a solução de conflitos normativos, tais como as proposições de que as
normas hierarquicamente superiores derrogam as inferiores, que a norma posterior
derroga a anterior ou de que a norma especial derroga a norma geral, não configuram
aplicação de princípios lógicos, mas aplicação de normas jurídicas existentes no direito
positivo, ainda que não prevista expressamente na lei, sendo apenas pressuposta pelo
legislador (KELSEN, 1986, p. 263 e ss.).
Defende Kelsen, ainda, a tese de que os silogismos não são aplicáveis direta ou
indiretamente às normas. Para ele, o silogismo normativo não pode ser admitido porque
as premissas não têm o mesmo caráter lógico, já que a premissa maior é uma norma geral
hipotética (ex. aquele que cometer homicídio deve ser punido com reclusão de 6 a 20
anos) e a premissa menor (ex. João cometeu homicídio) é uma asserção, um enunciado
sobre um fato, de modo que não há relação lógica possível entre ambas e, portanto, não é
possível extrair-se a validade da norma individual (a conclusão do silogismo, a sentença)
da norma geral à qual ela corresponde.
O PAPEL DA LÓGICA NO DIREITO
Sistema é o resultado de uma relação específica estabelecida entre os elementos de
seu repertório. Um sistema de idéias relacionadas entre si, com estrita observância dos
princípios da identidade, da não-contradição e de terceiro excluído, é um sistema lógico.
Para que o direito possa ser entendido como um sistema lógico, ele deve atender a essa
condição. Contudo, a possibilidadede antinomias reais e de lacunas num conjunto
sistemático de normas jurídica caracteriza a desconsideração de princípios lógicos e
inviabiliza, por isso, o empreendimento teórico de ser tratar o direito sob o ponto de vista
da lógica.
Em suma, o sistema jurídico não é lógico.
Mas também não é aleatório. Os integrantes da comunidade jurídica não podem
formular livremente a norma que desejarem em seu pensamento e pretedê-la vigente.
O sistema jurídico tem uma congruência, uma unidade. Se os elementos de seu repertório
( as normas, as proposições, as súmulas etc.) não se encontram relacionados logicamente,
com certeza eles mantêm uma relação de natureza diversa. Uma relação que, poe outro
lado, também não de natureza diversa. Uma relação que, por outro lado, também não
poderia ser considerada ilógica, porque se pretende lógica, se apresenta como tal. Assim,
proponho que se considere de cráter pseudológico a conguência do sitema do sistema .
Em suma, o sistema jurídico não é lógico, mas retórico.
A UNIDADE DO DIREITO
para ser um sistema lógico, o direito deve ter unidade, consistência e completude,
condições ligadas respectivamente aos princípios da lógica da identidade, não contradição
e terceiro excluíd o. Já foram examinadas as duas últimas, concluindo-se que o sistema
jurídico não pode ser considerado estritamente lógico, tendo em vista as antinomias
(norms conflitantes) e lacunas ( ausência de normas). A questão de unidade: se o sistema
jurídico não for unitário, saber o que é e o que não é direito tornar-se-á questão disputável.
SILOGISMO JURÍDICO
Os profissionais do direito ( advogado, juiz, procuradores,) no seu cotidiano,
organizam argumentos para fundamentarem seus pontos de vista em peças processuais,
pareceres ou decisões. Para os lógicos, seria possível traduzirem-se estes diversos
arrazoados ( a petição inicial do advogado, o libelo acusatório. Fabio Ulhoa Coelho
(2009,p.78).
LACUNAS
As lacunas são definidas como a ausência de lei para um caso concreto. Os
elaboradores dos textos legais, com certeza, não podem antever todas as situações que a
realidade irá oferecer e por isso surge a questão acerca de como resolver, jurídicamente,
os casos não previstos. O direito positivo, habitualmente, consagra a regra da analogia,
apelo aos princípios gerais,como a forma de decidir as pendências para as quais inexista
norma específica. Fabio Ulhoa Coelho (2009,p.65).
CONCLUSÃO

Admitir a existência de uma verdade no Direito significa admitir a existência da lógica


jurídica e não simplesmente da argumentação.
Costumo conceituar a lógica como a ciência das inferências necessárias. De uma maneira
simplificada, podemos dizer que a lógica é a ciência que estuda as estruturas do
raciocínio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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