Você está na página 1de 4

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo, 6 de maio de 2023

Faculdade de Direito

Introdução ao Estudo do Direito I

Daniela Totoli Donnini DIR-MG1

“Clássicos da Teoria do Direito” capítulo: “COMENTÁRIOS A RONALD


DWORKIN”

(Adrian Sgarbi)

Bibliografia: SGARBI, Adrian. Clássicos da Teoria do Direito. Rio de Janeiro, Lumen


Juris, 2009.

O autor de “Levando os Direitos a Sério”, Ronald Dworking, é o sucessor e ex-


aluno de Herbert Hart. Atualmente é um dos principais representantes da teoria jurídica
anglo-saxônica, e conhecido como um crítico do positivismo e enaltecedor do sistema
americano. A proposta de Ronald é a de que não há como se alcançar uma solução correta
para cada caso. Além de criticar o modelo de Hart, em relação a separação entre direito e
moral, e a necessidade de se identificar as normas pertencentes ao conjunto normativo.

Para Ronald Dworking, o positivismo jurídico tradicional simplifica o direito, o


descrevendo como um conjunto de regras válidas ou invalidas, com respeito a um critério
de pertencimento ou pedigree formal. Portanto, afirma que o direito é composto por um
conjunto de regras jurídicas e de princípios morais. Ao passo que as regras são aplicáveis
na forma “ou tudo ou nada”, já que apenas surgem as condições que elas próprias fixam.
Não obstante, os princípios não firmam uma consequência jurídica precisa, mas
expressam considerações de justiça e equidade, ou seja, não estabelecem uma solução
unívoca.

Destarte, o autor diferencia os “argumentos de política”: justificam uma decisão


política, comprovando que a decisão protege um objetivo coletivo; dos “argumentos de
princípio”: justificam uma decisão política, mostrando que a decisão garante um direito
individual ou coletivo. E, para agregar essa diferenciação ao seu modelo, Ronald refere-
se aos “ casos difíceis”: com peculiaridades apresentadas em juízo, não é trivial identificar
a regra que o solucione. Para tanto, apresenta o caso “SSAL vs. M&Co”, e argumenta
que se deve aplicar um princípio, já que são argumentos destinados a estabelecer um
direito individual e exigem uma “consistência distributiva”.

Entretanto, deve-se esclarecer a margem possível de discricionariedade judicial e


a disparidade de decisões dela decorrentes. Dworking, Se refere a 3 significados de
discricionariedade: O sentido fraco - a decisão não pode ser mecânica, mas exige o uso
da capacidade de julgar; O que expressa as situações as quais alguém tem o poder de
tomar uma decisão definitiva; E o sentido forte – inexiste um modelo que deva ser
seguido, apenas há uma decisão a tomar. A interpretação de que o poder discricionário
decide o caso de uma maneira ou de outra, é considerada por ele inadequada, inclusive
agregada a falta de percepção da importância dos princípios. Dessa forma, o autor nega
existir discricionariedade em sentido forte e crítica a teoria de Hart.

Portanto, o autor se coloca na defesa de sempre haver uma solução correta para os
casos jurídicos, e que essa solução é preexistente a atividade interpretativa do juiz. Dessa
forma, traz a ideia de “direitos jurídicos”: quando juízes decidirem os casos, devem tomar
decisões suportados pelos “direitos” afirmados; e do “juiz Hércules”: um juiz filósofo de
capacidade e sabedoria sobre-humanas, que desenvolve teorias sobre a intenção
legislativa e os princípios jurídicos requeridos para solucionar casos. Portanto, a tarefa de
Hércules para não incidir no problema de “criar direito” como ocorre com os juízes do
modelo de regras, é a de encontrar princípios aplicáveis que façam parte do direito
vigente, e que justifiquem a história jurídica da comunidade. Ademais, uma vez que a
teoria apresentada pelo juiz está sujeita a discussão o autor assinala 2 dimensões distintas
de avaliação, a dimensão de adequação e a dimensão da justificação.

Além disso, o juiz Hércules deve construir um esquema de princípios abstratos e


concretos que forneça uma justificação coerente a todos os presidentes do direito
costumeiro. Portanto, deve ser justificado com uma ordenação vertical: fornecida por
diferentes estratos de autoridade; E uma horizontal: requer que os princípios devam ser
justificados em consistência com a justificação oferecida para outras decisões do mesmo
nível. Dessa forma, não abre qualquer campo novo como alguns teóricos sugeriram. Ou
seja, não é o caso de qualquer incidência de uma “textura aberta” e de discricionariedade
forte, como propõe Hart.
Vale ressaltar que, a teoria de Dworkin sofreu ao longo dos anos aprimoramento.
As modificações terminológicas e os desenvolvimentos da compreensão do direito como
uma prática interpretativa, estão presentes no livro “O Império do Direito”. Nessa obra,
o autor discutir sobre os “desacordos no direito” e crítica teorias que concebem o direito
como uma questão de fato, pois dessa forma não seria possível entender a razão pela qual
ocorrem os conflitos interpretativos. O “desacordo” faz referência à defesa de enunciados
contraditórios, que dependem de uma base comum a partir da qual ambos se posicionam.

Ademais, os desacordos jurídicos são classificados em 3: Os sobre fatos, que


surgem quando os juízes divergem quanto aos fatos concretos envolvidos na controvérsia;
Os morais, acerca do que é certo ou errado em termos morais; E os de direito, que não
são tão simples, pois os juízes e advogados discrepam em relação ao direito aplicável e a
quem está correto. Ronald afirma que não basta apontar documentos legislativos como
resposta do que é o direito. Dessa forma, disserta que as teorias atadas pelo “aguilhão
semântico”: continuar na busca de critérios convergentes que tornam verdadeiras ou
falsas as proposições jurídicas , dado que se pressupõe bastar a existência desses critérios
, quando descobertos, para que se realize uma mesma prática jurídica , entendendo direito
somente como uma questão de discordância de convenção social, devem ser
abandonadas, pois elas não permitem a apreensão desse aspecto peculiar das disputas
jurídicas.

Ronald Dworkin defende que o direito não pode ser identificado com as
prescrições de conduta encontradas a partir de alguma regra de identificação das normas,
pois o direito é uma prática social de característica argumentativa. Portanto, o papel do
teórico do direito é de interpretar essa prática. Para tanto, diferencia “conceito”: núcleo
do discurso, de “concepção”: as várias interpretações.

No entanto, para que sua teoria não seja apenas semântica, diferencia a
interpretação em 4: a conversacional, a científica, a artística ou literária e a construtiva.
Esta última é a concepção de interpretação do autor, já que se preocupa essencialmente
com o propósito e não com a causa. Para transformar essa interpretação em um
instrumento ao estudo do direito enquanto prática social, o autor a separa em 3 etapas: A
“pré-interpretativa”, tratando do problema da identificação do direito; A “interpretativa”,
buscando um significado para o direito; E a “pós-interpretativa”, processando a busca da
melhor interpretação.
Além disso, outro ponto é decisivo para a compreensão do direito como uma
prática social interpretativa, a ideia do “romance em cadeia”. É uma analogia a complexa
situação do intérprete no momento de aplicar uma norma a qual não é autor. Portanto,
afirma o critério da coerência textual que deve estar presente na interpretação jurídica, ou
seja, da cadeia de precedentes que deve ser continuada.

Concomitantemente, Ronald apresenta o problema da relação entre as concepções


de direito e os seguintes pontos: Justificação da força, finalidade e responsabilidade
jurídica concreta dos indivíduos. A esses 3 pontos podem ser referidas 3 concepções:
Convencionalista, pois deixa em aberto o flanco da discricionariedade forte; Pragmática,
pois resulta em um ceticismo; E a do direito como integridade, para solucionar as
parcialidades citadas anteriormente. Os aspectos mais destacados dessa concepção são:
Adequação da interpretação; E os cânones interpretativos. Isto é, o direito como
integridade implica ser congruente com um todo assumido como coerente. A integridade
requer que os legisladores criem um direito que seja coerente com a estrutura dos
princípios que fundamentam a existência desta prática social.

Dessarte, o autor estabelece algumas exigências de integridade: A equidade, que


expressa o princípio de organização e participação na vida política; A justiça, em
conformidade com o modelo ideal de justo; E o devido processo legal adjetivo, em
respeito à retidão legal na atividade jurisdicional.

Por fim, para Ronald do Working a teoria do direito tem o objetivo de explicar
qual é o sentido das proposições de direito e determinar a verdade e a falsidade dessas
proposições. Sendo que esta proposição é uma leitura da prática jurídica que são
verdadeiras se constam os princípios de justiça, equidade e devido processo legal.

Você também pode gostar