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O modo como entendemos a Metodologia vai depender do modo como vamos entender
o direito. Assim sendo, Método quer dizer percurso que nós seguimos para atingir um
determinado objetivo, uma determinada meta, utilizando para tal todos os recursos que estejam
disponíveis. Podemos também definir método como o conjunto de regras, procedimentos,
técnicas, instrumentos ou mesmo conceitos instrumentais.
Já a Metodologia será a ciência que se vai aplicar a todas as áreas do saber, não sendo
por isso exclusiva do direito. No contexto jurídico, Metodologia Jurídica designa aquilo que se
faz e se segue dentro do direito. Dividindo a palavra: Método + logos(razão), ou seja,
metodologia é a incidência da razão do estudo científico do método e é a pretensão de análise
racional do método.
Em 1637, com Déscartes e o seu “O Discurso do Método”, que tem o subtítulo de
“Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência”,
vem exaltar a importância do método na revelação da ciência moderna e é por esta altura que
se vai consagrar uma racionalidade jurídica própria. A ideia é de que o recurso e a obediência
a um determinado método se torne indispensável para alcançar o conhecimento jurídico. Portanto,
a Metodologia Jurídica preocupa-se com certas práticas jurídicas com uma determinada e
possível reflexão que essas mesmas práticas devem desenvolver. No mundo do direito, estas
práticas são as práticas jurisdicionais que correspondem ao tratamento e resolução dos casos
concretos pelos aplicadores do direito. O que quer dizer que esta se ocupa com uma reflexão
sobre o método que deverá ser seguido pelo julgador quando mobiliza os vários materiais
jurídicos que têm ao seu dispôr para resolver o caso sub iudite.
O objetivo da Metodologia Jurídica é tratar e resolver problemas concretos da vida,
através de um juízo decisório a imitir pelo realizador do direito, porque a escola do
Castanheira Neves diz que o direito se realiza. Segundo a perspectiva deste autor serão três as
questões-problema, segundo uma visão meto-dogmática, que vão ocupar o jurista ou o realizador
do direito. Respetivamente: o porquê do Direito?; o para quê do Direito?; e de que modo
Direito?. Aqui iremos revisitar o papel do jurista no momento da reconstrução, isto é, da acessão
à especificação estruturante de uma interpelação que se vai requerer e que se faz ao jurista
e que ele depois reverte nestas três questões-problema.
Em traços amplos relativamente à primeira questão, trata-se aqui de uma interrogação
filosófico-jurídica. Prende-se com o problema do fundamento do direito, de qual a sua validade,
acentuando-se aqui a tónica nas exigências, nas valorações, nas aspirações, nas expectativas e
interesses que distinguem o direito no seu todo. Por exemplo, Castanheira Neves vem dizer que
o direito tem como aspiração a institucionalização de uma comunidade de sujeitos-pessoas. Esta
pergunta abre a possibilidade e oportunidade de nos reencontrarmos com a ordem de
validade enquanto projeto de ser, tratando-se de uma manifestação decisiva de auto-
transigência interrogante de uma prática e de uma prática que inventa e cuja realização
responsabiliza o próprio ser-pessoa.
Quanto à segunda questão, esta ligada com o papel que o direito desempenha no
mundo, sendo certo que encontraremos tantas respostas quantos os contextos histórico-sociais
em que o analisamos. E a propósito desta questão-problema, entende-se que o direito está ligado
a uma função humano-social, esperando-se assim que estabeleça limites ao exercício do
poder e às dinâmicas das próprias práticas económicas. Assim, ao fazermos esta pergunta,
vai-se invocar o problema da função humano-social do jurídico, o que nos vai expor à exigência
de assumir, criticamente, a realização histórico-concreta da ideia de direito enquanto projeto
comunitário. Dizendo-se não a uma lei injusta, que em princípio só a função jurisdicional estará
em condições de garantir(ler Karl Marx), levando-se assim a sério os compromissos vitais de uma
autêntica consciência ética quando o não o projeta de um verdadeiro estado jurisdicional.
Quanto à terceira questão, esta é a questão metadogmática e nuclear para o problema
metodológico do direito. Não se trata aqui da vertente filosófico-jurídica que encontramos na
primeira questão, nem da vertente funcional que encontramos na segunda. Para dar resposta a esta
questão, não nos podemos desligar de um determinado sentido de direito e do modo como o
vemos, o que vai depender da racionalização que se mobiliza, ou seja, se fazemos uma análise
económica, uma análise jurisprudencialista, uma análise histórica. Esta questão reconduz-nos
ao problema metodológico da racionalização do direito e de reconhecer o verdadeiro prius
metódico de um fundamentado constituído, reconhecido este como um noético(atividade
intelectual) normativo. Por outras palavras, com a implicação decisiva de, no esquema metódico
a desenvolver, se excluir deste modo uma possível descontinuidade entre três momentos: o
Momento da Interpretação, o Momento da Aplicação e o Momento da Integração.
Reconhece-se então na decisão judicativa concreta uma nova e irrepetível síntese de jurisdicidade,
isto é, uma nova assimilação jurídico-judicativa da realidade, mobilizando critérios
normativos que, embora referidos através da norma, transcendem a própria norma.
A Metodologia é ou propõe-se a ser a razão intencional de um método. A
Racionalidade ou o Pensamento sobre tal método e isto é o Livro de Castanheira Neves:
Metodologia Jurídica.
E podemos pensar nesta relação segundo três tipos fundamentais: uma relação de
exterioridade construtiva; uma relação de imanência constitutiva; e, por fim, uma relação de
construção crítico-reflexiva. Na primeira temos um logos prescritivo. Na segunda temos um
logos descritivo. E na última relação temos um logos crítico-reflexivo.
Neste último caso, a razão não prescreve à priori um método à prática e também não o
descobre apenas à posteriori na descrição de uma prática metódica e ao mesmo tempo antes da
razão. O que acontece na relação de construção crítico-reflexiva é que, assumindo-se
intencionalmente uma determinada prática, a mesma vai reconduzir-se numa atitude
criticamente reflexiva relativamente aos seus sentidos fundamentantes. Por outro lado, se o
direito se diferencia universalmente ao constituir e a realizar uma específica ordem de validade
em que o ser-pessoa se reconhece com uma irredutível dimensão ética, então o sentido concreto
da validade que constitui e realiza, podemos sempre dizer que vai variar historicamente. Ou
seja, os pensamentos jurídicos revelam-se entidades culturalmente históricas. São assim
função da própria conceção de direito e dos objetivos práticos, específicos, pelos quais ele se
orienta em cada época e em cada sistema jurídico. E ainda são função do sentido fundamental
da cultura englobante e, por isso, não podemos estranhar que os pensamentos jurídico-romanos,
medievais, moderno-iluminista e atual se não confundam, pois são diferentes na sua
intencionalidade, na sua modalidade metódica, na sua índole racional e no seu tipo específico de
juízo.
Na atual situação problemática do direito, a prática judicativo-decisória impõe-se como
problema para uma orientadora reflexão crítica e assim a Metodologia Jurídica não se propõe
apenas a construir sem mais um método, nem simplesmente a conhecer o método praticado. O
que pretende atualmente é refletir o problema da realização do direito, o seu sentido, os seus
pressupostos, as suas intenções para criticamente, ou seja, racional e fundamentadamente a
orientar no seu juízo decisório. A índole intencional da metodologia jurídica não será prescritiva,
nem será de índole descritiva(típica dos pensamentos jurídicos romanos e medievais), mas sim
criticamente normativa visando a realização reflexivo-criticamente fundada do próprio
dever-ser do direito, assumindo o sentido realizando do próprio direito, sendo assim uma
dinâmica crítico-reflexiva.
Aula 13 de Outubro
Aula 20 de Outubro
O Problema da Racionalidade
Aula 27 de Outubro
Pensar a racionalidade e optar só pelo jusnaturalismo ou só pelo positivismo não faz mais
sentido, atualmente há uma certa convergência entre ambas.
Contra o jusnaturalismo entendemos, compreendemos e defendemos que o direito é
competência da autonomia cultural do homem. O jusnaturalismo tem por fundamentos
manifestação do ser natureza. Mas o direito, tanto no seu sentido, quanto na normatividade é uma
resposta humana ao problema controverso, tal problema qual é humano e que surge da
convivência no mesmo mundo e num certo espaço histórico-cultural.
Contra o positivismo jurídico, nega-se que o direito seja tão só e apenas o resultado
duma voluntas(vontade), simplesmente orientada para uma finalidade de oportunidade e que o
direito seja apenas expressão de compromissos político-sociais. Esses argumentos desde logo,
porque a prática histórico-cultural e particularmente a prática jurídica, convocam relativamente
a esta normatividade, certos valores e princípios que pertencem tanto a dimensão ethos(tem a
ver com a moral, da origem a palavra ética) e dimensão episteme(conhecimento prático) duma
certa cultura e numa certa época.
Assim, estes valores e princípios, não os podendo negar a historicidade, nem podendo
ignorar a responsabilidade da autonomia cultural humana vão impôr-se como pressuposições
fundamentantes e constitutivas diante dos positivismos normativistas que se apresentam
numa determinada época. Não podemos deixar de dizer que há uma convergência de valores e
princípios meta-positivos, deste modo, fundamentando uma auto-transcendência ou uma
transcendentalidade cultural-política, reconhecendo-se simultaneamente os fundamentos de
validade e os normativos da sua constituição.
Terceira Via
Por isso se afirma que no domínio prático-jurídico, a posição exata é de um tertium genus
(terceira posição). Aqui encontramos vários pensadores:
Quanto à posição neokantiana, de uma ideia de direito e ideia de justo, temos os seguintes
autores: Stamler, Max Mayer, Radbruch.
Ainda temos uma outra corrente, que é o sentido do direito natural existencial, em que
temos os autores: Batista Machado, Reyhofen, Fechamen.
Ainda temos também uma recompreensão da hermenêutica do direito, em que temos:
Kaufmann, Batista Machado.
Ainda há aqueles que fazem uma explicitação e sistematização dos princípios do direito
justo. Em que temos: Larenz.
Quanto Dworkin, chama-se atenção para os direitos das pessoas e os princípios
jurídicos distintos dos programas e critérios políticos(chamados polices), enquanto
fundamentos normativamente constitutivos da ordem e sistemas jurídicos positivos e onde o juiz
deverá procurar diretamente os seus últimos critérios judicativamente decisórios, sobretudo
nos hard-case(casos difíceis).
Quanto a Bydninsky, chama-se atenção para a aceitação dos princípios jurídicos
fundamentais que são indispensáveis e fundamentantes da dimensão ética jurídica do
direito. O reconhecimento dum princípio normativo da juridicidade em que se objetiva a
consciência jurídica geral duma certa comunidade histórico-cultural constituída por princípios
jurídicos fundamentais e por um sentido axiológico último do direito nessa mesma
comunidade(Castanheira Neves).
Essa terceira via, compreende o direito como uma validade axiológico-normativa, da
realização problemática e em que o pensamento jurídico é chamado a resolver problemas
práticos através duma atitude prático-prudencial.
Perspectivas teórico-normativas, jusnaturalismo, positivismo normativo ou jurídico,
certamente se propõe cada um deles a perceber a expressão de validade na prática jurídica.
No entanto, como a vêm como objeto, acabam por de certa forma apagar, tornar irrelevante o
verdadeiro sentido normativo, a verdadeira intencionalidade teorética. O que leva a que não
compreendam que uma validade normativa, enquanto tal, convoca necessariamente a sua
histórica realização concreta e que essa validade normativa não é cumprida apenas e só pela
força dos enunciados linguísticos ou pela características da sua generalidade.
Antes exigem sempre, uma mediação judicativa na solução dos problemas que a
solicitam. Então, obtendo o direito a sua consagração enquanto sentido, através duma realização
que assume judicativo-decisóriamente uma específica problematicidade normativa. Ou seja, o
crucial é entender o direito como problema duma validade problemático-judiciativamente
em realização realizando. Que vem solicitar um pensamento prático-prudencial(C.Neves).
Excluídas as racionalidades tanto puramente lógicas, como puramente teoréticas, diz C.
neves, que nos situamos no domínios da racionalidade prática lato sensu. Isto porque há várias
racionalidades práticas. Temos a racionalidade prática de índole material ou de índole processual.
Quanto à racionalidade prática material, podemos dizer que a mesma não fica impossibilitada
pela compreensão do fundamento material antes referido. Ou seja, é inegável tanto extensiva
como intensivamente, a insuficiência duma racionalidade meramente prática, na medida em que
quanto a extensiva é lacunosa, porque é demasiado saber, quanto intensiva, ela nos conduz a
uma indeterminação normativa e mesmo a uma variedade linguística.
O que se pretende, em último, é afirmar uma concreta decisão jurídica como resultado
de uma opção entre as várias alternativas mobilizáveis. Que só se vão decidir no próprio
processo judicativo, daí que se convoca uma racionalidade prática tópico-retórico. Hoje se
convoque mais uma racionalidade prático-argumentativa.
Traduzindo-se acentuações diferentes da racionalidade prática de índole material que em
uma última apreciação são elas próprias racionalidade e procedimentais, de índole procedimental.
A perspectiva tópico-retórica baseia-se num pensamento dialético de controvérsias práticas.
Problemas esse que mobiliza referências culturais defendidas pelos membros dumas comunidade
história e tipo por esses membros como critérios relevantes e adequados para a resolução de
problemas concretos(chamados locci communi ou topoi). Em ordem a operar com esse critérios,
segundo uma argumentativa dialética inveniendi(em construção, inovação) pragmática, onde
vão participar todos os interessados na resolução do problema com o objetivo da solução de
um consenso-solução que essa dialética vai possibilitar.
A perspectiva argumentativa tem por base a teoria da argumentação de Perelman, a teoria
do discurso prático Habermas, as reflexões da razão prática de Kriele e a filosofia linguística de
sentido pragmático de Wittgenstein. Essa perspectiva vai acentuar a estrutura discursiva, as
condições e princípios da regra de argumentação para encontrar a melhor concretização do
direito. O certo é que as duas perspectivas(tópico retórica e argumentativa) acabam por
converger.
Quando sustentava que o juízo jurídico era tópico-retórico e quando agora se afirma o
juízo jurídico como um discurso argumentativo, estamos hoje perante uma global racionalidade.
Ou seja, ela converge e encontramos uma racionalidade tópico-argumentativa.
Apesar de tudo, Castanheira Neves vem contrariar essa tese de convergência,
apresentando 4 argumentos:
1º argumento - tópico-retórico argumentativo: visa com fundamento para as suas opções um
consenso persuasivo encontrado a posteriori, ao passo que o decidir jurídico pressupõe e encontra
fundamento a priori uma validade normativa vinculante
2º argumento - tópico retórica argumentativa: os tópicos e os argumentos são entre si
equivalentes e a sua diferença de força conclusiva e persuasiva é apenas função de concreta
concludência da argumentação, sendo certo que no universo jurídico, as objetivação da sua
normatividade tem uma índole dogmática e sistematicamente vinculante que vão proferir
relativamente a qualquer argumentos invocados.
3º argumento - tópico-retórica: a discussão e único momento onde há controle, é única instância
de controle, já no jurídico-decisório com a consequente realização judicativa a instância de
controle é o terceiro imparcial que pode e deve ser instruído com as apresentações contraditórias,
com as argumentações das partes, mas que tem efetivamente autonomia judicativa.
4º argumento: O juízo alcançado não terá de ser apenas racional-argumentativamente concludente
e sim normativamente fundado numa validade normativa-dogmática do sistema jurídico vigente.
Ou seja, o juízo final não vai obedecer às regras de um discurso da razão prática, mas vai ter
também de realizar a concreta válida jurídica.
Por tudo o que foi dito, o que a racionalidade jurídica judicativo decisória ou da
normativa realização do direito se concluem que o que se encontra é uma racionalidade de
fundamentação e uma racionalidade material.
Aula 3 de Novembro
Normativismo
Funcionalismo(s) Sistemético
Jurisprudencialismo
Comente: “O Direito Natural foi sempre pensado numa dupla intenção: numa intenção filosófica
de compreensão essencial e absoluta do direito pela explicitação dos seus constitutivos
fundamentos ontológicos(no ser) que logo se projectava(valores absolutos e princípios) numa
intenção normativa que se traduzia na determinação de uma normatividade válida por si mesma
porque, referida àquele fundamento ontológico(porque esta normatividade tem por base os
valores absolutos, universais e astóricas, sendo essa normatividade é válida por si mesma) e
filosófico-especulativamente explicitado” de Castanheira Neves em “Um Curso de Filosofia do
Direito”. PENSAR E ESMIOSSAR ESTE COMENTÁRIO, ESCREVENDO AS NOSSAS
IDEIAS SOBRE ELE PARA COMENTARMOS NA PRÓXIMA AULA.