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Carlos Augusto Serbena e Rafael Rafaelli publicaram um artigo em 2003

discorrendo sobre os problemas epistemológicos e ideológicos da alma para a


psicologia. Os autores descrevem a necessidade de revisão sobre a definição
da palavra Psicologia, que consideram voltada para o mito e o cientificismo.

Serbena e Rafaelli apontam que a Psicologia é a segunda ciência a surgir


da Filosofia, tendo o primeiro conceito a ser estudado a physis (natureza), que
para Aristóteles seria uma alma com o corpo vivo. Para os autores, a
Psicologia ainda é vista como um “ramo da Filosofia”, mas é sabido que foi
preciso os estudos nessa área serem afastados do campo filosófico, pois a
psicologia não era aceita como ciência. Portanto passou a ter uma busca pela
Psicologia científica, deixando de lado a noção de alma por ser subjetivo.

Carlos e Rafael apontaram outros autores com suas definições sobre a


Psicologia como McDougall, Keller , Schoenfeld e Skinner, todos afirmavam
que ela poderia ser explicada como “comportamentalista” ou “ciência do
comportamento”. Japiassu defende que ela está entre dois campos, mas se for
definida como disciplina humana deixa de ser científica, assim como o contrário
também aconteceria.

A falta de diálogo entre as escolas psicológicas levou o afastamento da


psicologia da alma, gerando consequências para os futuros estudantes e os da
época. Houve uma divisão da psicologia no campo da Psicanálise, levando
Adler, Reich, Jung, Rank, Perls, Lacan e outros a criarem suas próprias
terminologias, todas referentes a subjetividade e a alma. Isso pode explicar a
crítica dos autores quando cita que Freud não aceitava qualquer opinião
referente a psicanálise, tanto que atualmente ela passou por vários processos
de atualização do método.

Foi comum os fundadores das escolas psicológicas terem um uma certa


irrelevância quanto as críticas, o que infelizmente ocasionou as teorias ficarem
como um discurso fechado, segundo os autores, não é possível ser algo da
realidade, portanto um mito.

Os autores não veem o mito como algo negativo, consideram até


fundamental, porque também é uma forma de conhecimento, mas o fato de não
poder ser reconhecido pelo indivíduo o torna algo ruim, ele é vivido, somente o
mito vivido por outras pessoas pode ser estudado. O pensamento moderno
passou a ter características do mito, logo, o conhecimento científico e a ciência
também. Gusdorf, autor citado no texto acredita que os mitos são combatidos
com outros mitos, de modo geral, o cientificismo é o próprio mito da ciência.
Assim, a Psicologia ignora a subjetividade fazendo com que fique prisioneira do
mito, apesar de achar que está chegando mais perto da verdade.
Logo surge a necessidade de abordagem dos mitos dentro da Psicologia,
considerando-os metáforas do relacionamento do homem consigo mesmo. Ela
substitui os antigos mitos por novos com característica ideológicas, portanto
passa a ser um discurso verdadeiro sem metáforas, um discurso científico.
Mostrando os elementos que direcionam o pensamento para a fantasia e essas
podem ser a realidade.

A questão sobre a psicologia como ciência da alma retornam ao texto quando


os autores ressaltam que a psique pode ser considerado uma metáfora, pois
boa parte dos discursos psicológicos estudam essa metáfora. Os autores
acreditam que deve ser recuperado o estudo da alma ou da subjetividade,
criando um discurso simbólico mas racional e objetivo, desse modo a
objetividade não se descola da subjetividade.

O Iluminismo considera o único discurso verdadeiro o científico, o único que


pode ser provado, portando a subjetividade e a alma não podem ser provadas.
Freud usa muito do mito para explicar o comportamento porque seria o primeiro
conhecimento que o homem adquire. Mas a subjetividade não é eliminada por
completo, apenas suprimida.

Com o tempo modificam-se os conceitos, emergindo novas características do


desenvolvimento tecnológico e reflexão sobre as Ciências Humanas. Esse
paradigma considera que todo conhecimento científico-natural é
necessariamente científico-social, podendo criar contato com outros saberes
ampliando o objeto.

Das diversas formas de abordagem da Psicologia, entende-se que há várias


formas de conhecimento, que o alcance da racionalidade implica na forma de
diálogo com o outro. Os juízos de valores, a metafísica e o sistema de crenças
fazem parte da explicação cientifica e da sociedade e da natureza. Ao ser
percebido isso toma-se valor aquele que produziu o conhecimento.

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