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A técnica não consegue dialogar com o cliente e contribuir para coloca-lo num modo de ser que
permita a vivência ontológica, que permita a criatividade, a superação e com isso a regeneração.
Concluíram que era preciso trocar as técnicas pela própria relação humana entre o terapeuta
e o cliente e, então, começa a surgir o que chamamos de “TERAPIA DA RELAÇÃO” (ou Terapias
Existencialista, Humanistas ou Fenomenológicas) , enquanto paradigma oposto ao paradigma
técnico.
Na Psicologia da Relação (que teve entre outros, a expressiva figura de Rogers e Pearls) o
terapeuta busca interagir globalmente com o cliente enquanto ser humano, busca se relacionar
enquanto pessoa e não simplesmente como um técnico.
Na relação é possível que se desenvolva a vivência, e a interação nessas vivências
fenomenológicas existenciais, tanto do cliente quanto do terapeuta.
BUBER esclarece o sentido do termo “relação”. Ele utiliza especificamente este termo, para
o modo fenomenológico de sermos, que ele chama de modelo EU-TU. Relação entre o eu e um
diferente, no qual o EU se relaciona com uma alteridade, que é eminentemente vivida enquanto
possibilidade, enquanto ação, no modo fenomenológico existencial.
Essa esfera pode ser entendida como dialógica, que é a esfera de vivencia da lógica, de
sentido compartilhado, por ser a esfera de vivencia e desdobramento de possibilidades de ação.
Na sua ontologia antropológica, Buber designa e descreve os dois modos humanos de ser:
NOTA: Um EGÓTICO é mais do que um egoísta. Pessoas egoístas enxergam o próximo, mas
escolhem a si próprios. Egóticos sequer enxergam os outros, de tão obcecados com a própria
pessoa.
É quando surge o egótico que o EU-TU se separa, visando uma experienciação do ISSO (do
outro) como objeto e utilidade.
A PESSOA surge quando nos relacionamos com outras pessoas, através do EU-TU. É a forma da
vinculação, da presença e da participação.
O EU do EU-TU é o devir de um ser (é o ser do devir), no qual ele participa. Ele é ator, mas
não controla, não se apropria.
O TU, numa visão fenomenológica, faz parte de uma relação dialógica (interação com o
outro) e se encontra no modo de sermos anterior à dicotomia Sujeito-Objeto.
A interação “individual”, para Buber, é entre aspas porque ela é sempre relação. Ao
interagimos criamos uma esfera que BUBER chamava de “esfera do ente”.
Tanto o EU, quanto o TU, inclusive o EU-TU, sem que estejam em relação, não são nem
objeto e nem sujeito, porque são Sujeitos-Objetos, são afastados da ação, da relação.
O modo EU-ISSO é o modo do FATO, do feito, dos objetos, dos usos, da causalidade, o
modo coisa. Um modo que não é lógico (logos significa sentido), não é do sentido e nem da
compreensão.
O FATO continuamente precisa retornar ao modo de ser do diálogo, onde ele é feito, é criado.
Assim que, de todo um EU-ISSO, pode-se resgatar um EU-TU.
- SAÚDE EXISTENCIAL: Alternância do EU-TU com o EU-ISSO, de modo dialógico e do modo
factual de sermos.
BUBER – AUTOCONTRADIÇÃO
A nossa saúde, a nossa qualidade de sermos é a alternância entre o modo EU-TU e o modo
EU-ISSO.
Quando há uma redução da vivência no modo EU-TU, isso significa fatalidade, perda da
liberdade, perda da capacidade de construirmos nosso próprio destino. O EU não se joga, não se
coloca na relação com o TU no mundo, não interage com esse mundo, não se abre para o mundo.
Quando nos limitamos ao mundo EU-ISSO, nós não nos oferecemos à vivência, ao encontro.
Nessa limitação, é quando esse EU se limita ao modo EU-ISSO de ser, se remete a si próprio,
busca uma relação consigo mesmo, o EU se volta para o EU, numa relação EU-ISSO, que se
remete a um EU-COISA.
Esse voltar-se do EU-ISSO para o EU COMO UM ISSO, nessa volta não estará presente as
principais características do EU-TU, a presença e a atualidade.
Essa é a contradição de um EU inerte que se relaciona com outro EU inerte, relação de coisa
com coisa que apenas potencializa progressivamente a frustração num labirinto da não–presença,
no labirinto da coisificação.
- Eventualmente, esta relação do EU com o ISSO pode assumir formas sofisticadas, empoladas,
pode adquirir, por exemplo, uma caracterização religiosa ou uma caracterização intelectual, um
EU que remete a um EU, numa suposta vida interior que é o modo EU-ISSO de ser, sem presença,
sem emoção, sem superação, sem regeneração, será um EU que se frustrará da possibilidade da
relação com o diferente, com o outro.