Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasil
Ano 14 - no 1
ISSN 1518-9740
PILATES
• Aderência no Pilates solo
SAÚDE DA MULHER
• Fotobiomodulação no tratamento
de traumas mamilares
TRAUMATO
• Fratura do tornozelo
• Avaliação funcional de acidentados
de trânsito
NEUROFUNCIONAL
• Dança e hemiparesia
MR
• Acidente vascular cerebral e escalas
de funcionalidade 14 anos
www.atlanticaeditora.com.br
Março / Abril de 2013
Brasil
Ano 14 - no 2
ISSN 1518-9740
14 anos
ESTÉTICA
• Visão feminina sobre o fibro edema gelóide
• Valores buscados na fisioterapia
dermatofuncional
NEUROFUNCIONAL
• Mobilidade em pacientes hemiparéticos por AVC
• Qualidade de vida de sujeitos pós-
-acidente vascular encefálico
MR
SAÚDE DA MULHER
• Disfunção do trato urinário
inferior em gestantes
www.atlanticaeditora.com.br
Maio / Junho de 2013
Brasil
Ano 14 - no 3
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation
14 anos
DERMATO
• Dermotonia e colecistectomia laparotômica
TRABALHO
• Fadiga laboral em trabalhadores de frigorífico
CARDIORRESPIRATÓRIO
• Função pulmonar e paralisia cerebral
TRAUMATO
• Fricção transversa profunda
• Flexibilidade dos músculos posteriores
da coxa em motorciclistas
• Diástase dos músculos retoabdominais
no pós-parto
Representante Exclusivo
MR
www.atlanticaeditora.com.br
Julho / Agosto de 2013
Brasil
Ano 14 - no 4
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation
14 anos
EQUILÍBRIO
• Nintendo e treinamento de idosos
NEUROFUNCIONAL
• Dor em adolescentes
• LED infravermelho e dor neuropática em ratos
• Destreza manual e esclerose múltipla
PROFISSÃO
• Atuação dos fisioterapeutas em Santa Maria/RS
Representante Exclusivo
MR
www.atlanticaeditora.com.br
Setembro / Outubro de 2013
Brasil
Ano 14 - no 5
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation
14 anos
ORTOPEDIA
• Análise comparativa da marcha com três joelhos
protéticos diferentes
• Disfunção do músculo tibial posterior
NEUROFUNCIONAL
• Equilíbrio dinâmico em idosos ativos e sedentários
• Imagética motora e controle postural
ESCOLA
• Peso da mochila escolar
VASCULAR
• Corrente de alta voltagem em úlceras venosas
Representante Exclusivo
MR
www.atlanticaeditora.com.br
Novembro / Dezembro de 2013
Brasil
Ano 14 - no 6
ISSN 1518-9740
DERMATO-FUNCIONAL
• Fotoenvelhecimento e fotoproteção na percepção
de idosos
• Laserterapia e drenagem linfática em úlceras de pele
PSICOLOGIA
• Vínculo materno e objeto transicional no sono
de crianças com deficiência visual
NEUROFUNCIONAL
• Equilíbrio postural e ataxia
• Avaliação postural estática em idosos
DIABETES
• Treinamento de força e glicemia em ratos
• Risco de desenvolvimento de úlceras nos pés 14 anos
www.atlanticaeditora.com.br
4 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 1 janeiro/fevereiro 2013 - 1~80)
EDITORIAL
Engolindo pedras e outras coisas, Marco Antonio Guimarães da Silva........................................................................................... 6
ARTIGOS ORIGINAIS
Análise da resistência do incentivador respiratório em indivíduos jovens, Maria do Socorro Luna Cruz,
Shirley Gabriélle Galvão de Morais Pinheiro, Thaianna Luíza de Lima Rodrigues, Melissa Pinto Gurgel,
Paula Roquetti Fernandes, José Fernandes Filho, Fernando Policarpo Barbosa.................................................................................. 8
Comparação dos determinantes de risco para o desenvolvimento infantil entre pré-escolares
de escola pública e particular na cidade do Recife/PE, Rebeca de Oliveira Silva,
Cristiana Maria Macedo Brito, Ana Karolina Pontes de Lima, Cláudia Fonseca de Lima................................................................ 14
Fotobiomodulação como uma nova abordagem para o tratamento de traumas mamilares:
um estudo piloto, randomizado e controlado, Angélica Rodrigues de Araújo,
Ana Luiza Valério do Nascimento, Juliana Moreira Camargos, Fernanda Souza da Silva,
Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria....................................................................................................................................... 20
Análise cinemática da passada normalizada e frequência da marcha de idosos com gonartrose
após mobilização pelo conceito Maitland, Alan Lopes de Oliveira, Thiago Rebello da Veiga,
Chang Che Yuan, Fabiano Gaspar da Silva Affonso Pereira, Marcello Paz Soares Felicio, Andre Custodio da Silva......................... 27
Prevalência das principais patologias consideradas doenças osteomusculares relacionadas
ao trabalho no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Araçatuba/SP,
Amanda Cristina Gonçalves, Julye Kellen Carvalho da Silva, Fernando Henrique
Alves Benedito, Simone Galbiati Terçariol...................................................................................................................................... 33
Avaliação funcional dos acidentados de trânsito atendidos em um serviço de fisioterapia,
Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia,
Samila Sousa Vasconcelos, José Gomes Bezerra Filho...................................................................................................................... 38
Comparação da função pulmonar no pré e pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia
cardíaca aberta de revascularização do miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/BA,
Cassio Magalhães da Silva e Silva, André Raimundo França Guimaraes, Ivana Oliveira DeLamonica Freire,
Abner Portugal Tavares, Quétla Damiane Teles de Oliveira, Rebeca Santos Sampaio...................................................................... 44
Aderência de pessoas no Pilates solo, Eliana Cristina Pereira, Rafaela Liberali, Charles Ricardo Lopes,
Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Maria Ines Artaxo Netto, Helena Brandão Viana, Gustavo Ribeiro da Mota........................ 49
Efeito da dança sênior no equilíbrio e no risco de quedas em hemiparéticos pós acidente vascular
encefálico, Lucas Andreo Dias dos Santos, Patrícia Cristina de Carvalho, Soraia Micaela Silva,
Silvia Sper Cavalli, João Carlos Ferrari Corrêa, Fernanda Ishida Corrêa.......................................................................................... 56
REVISÕES
Tratamento fisioterapêutico no pós-operatório de fratura do tornozelo, Diogo Carvalho Felicio,
Valnez de Alcantara Halfeld, George Schayer Sabino, Daniele Sirineu Pereira,
Alexandra Miranda Assumpção, Barbara Zille de Queiroz.............................................................................................................. 61
Acidente vascular cerebral e sua correlação com escalas de funcionalidade,
Fernanda Cechetti, Priscila Stuani, Renata Paniz............................................................................................................................ 72
NORMAS DE PUBLICAÇÃO............................................................................................................................................78
EVENTOS............................................................................................................................................................................80
6 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Editorial
Interrompo a revisão que faço do que já escrevi do meu profícuos, milhares de livros.
quinto romance para atender a um telefonema do editor Já que falamos de tempo (me perdoem se volto a fazer
executivo da revista Fisioterapia Brasil. Com seu acento pro- uma digressão), aproveitarei a mitologia para fazer a minha
nunciadamente francês, ele me cobra o editorial. leitura sobre a eleição de um senhor para a presidência do
Já há algum tempo não escrevo para a revista, e, para fazê- Senado, que a minha memória, muito seletiva, recusa-se a
-lo novamente, preciso tomar alguns cuidados; afinal, como lembrar, e que eu, por comodidade, também não me esforço
escritor ficcionista, sou escravo de minhas próprias mentiras, para descobrir, apesar das facilidades oferecidas pelo Google.
mas aqui não me é permitido inventar histórias, contando Conta a história que Cronos, rei dos Titãs, ao saber que
verdades que não são verdadeiras. um de seus filhos o mataria, resolvera engoli-los tão logo
Aqui não poderei ceder à força da ficção e deixar que a nasciam. Zeia, sua mulher, cansada de ver o marido exter-
imaginação voe alto. Tampouco poderei, como faço em meus minar seus filhos, resolve enganá-lo, envolvendo uma pedra
livros, exercitar a minha especulação silenciosa e egoisticamen- na manta do seu sexto filho, Zeus. Ele cresce e resolve vingar
te individual, ferramenta imprescindível a qualquer escritor. os irmãos, combate e vence Cronos, reinando supremo em
Também não terei tempo de escrever através da linha todo o Universo.
do tempo; o prazo que me foi dado não vai permitir, caso Pois bem, analogias à parte e guardadas as devidas pro-
haja algum arrependimento do tipo querer voltar atrás para porções, soube que esse senhor engoliu as milhares de assi-
reescrever alguma coisa, seja para buscar uma sonoridade naturas feitas para evitar a sua posse, sem dar sinais de que
melhor para uma ou outra palavra do texto, seja para mudar lhe pudessem causar qualquer tipo de distúrbio digestivo.
de opinião, ou até mesmo – como dizia Clarice Lispector – Engoliu-as e sorriu, talvez porque soubesse que a lealdade
para impedir que as palavras esmaguem as entrelinhas. Porque de seus pares e subordinados não o trairia. Engolia também,
se fizer isso, volto atrás e conserto as coisas. Esse talvez seja o naquele momento, a democracia, paradoxalmente pensando
maior instrumento que um escritor possui: ser senhor absoluto que os milhares de votos que recebera de seus incautos elei-
do tempo, retornar nesse tempo e ter o poder de desdizer tores o credenciavam a tomar tal atitude. Incautos eleitores
amanhã o que disser hoje. que, por sinal, são em número muito maior do que podemos
Mas aqui, nada de ficção. Já recebi indultos mais do que imaginar, a julgar pela quantidade de congressistas atrelados
suficientes por parte da editoria executiva da revista, que me às barras da lei que elegeram em outras instâncias.
tem permitido escrever crônicas que fogem do objeto da Oxalá apareça uma Zeia da contemporaneidade, que
revista e, ousadamente, à luz de pobres conceitos filosóficos consiga enganá-los e que consiga igualmente fazê-los engolir
e antropológicos, analisar a conduta de nossa sociedade, algo que os faça vomitar toda e qualquer vontade de se dedicar
sociedade essa cujo comportamento nos oferece material à vida pública.
suficiente para escrever uma centena ou talvez, para os mais
Artigo original
*Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdades de Ciências Médicas - FCM/PB, Mestre em Ciências da Motricidade Humana
pela UCB/RJ e Doutoranda pela Universidad Pedro de Valdivia-UPV/Chile, **Graduada pela Universidade Potiguar/UnP e Fisio-
terapeuta da FISIOAR, **UFRN, ****Doutora do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, *****Professor da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro/URFJ e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, ******Professor Doutor
da Faculdades Integradas de Patos-FIP/PB, Professor Coordenador do Facisa em Movimento da Faculdade de Ciências Médicas-
-FCM/PB e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ
Resumo Abstract
A inspirometria de incentivo técnico na fisioterapia, que promo- Incentive spirometry is a physical therapy technique that pro-
ve o aumento da resistência nas vias aéreas, é comumente utilizada motes resistance in the air track has been commonly used in the
na recuperação e reabilitação da função pulmonar. O estudo teve recovery and rehabilitation of pulmonary functions. The present
por objetivo investigar a resistência gerada através da pressão inspi- study investigated the resistance generated through maximum
ratória máxima (PImáx) no momento da execução da terapêutica inspiratory pressure during therapy sessions with flow-oriented
do incentivador respiratório a fluxo, nos níveis do equipamento R0, incentive spirometry, the equipment operating on levels R0, R1,
R1, R2, R3 em 71 voluntários de ambos os sexos, idade entre 18 e R2, R3 in 71 volunteers from both genders, aging between 18 and
35 anos. Foram divididos em subgrupos, utilizando índice de massa 35. They were divided into subgroups, utilizing body mass index
corpórea (IMC) como variável determinante, obtendo-se subgrupos (BMI) as the determinant variable, obtaining male subgroups G1
masculinos G1 (IMC = 22,48m/kg2; n = 10) e o G2 (IMC = 26,71 (BMI = 22.48m/kg2; n = 10) and G2 (BMI = 26.71 m/kg2; n =
m/kg2; n = 20) e os subgrupos femininos G3 (IMC = 20,86 m/kg2; 20) and the female subgroups G3 (BMI = 20.86 m/kg2; n = 26)
n = 26) e o G4 (IMC = 25,15 m/kg2; n = 15). Foram realizadas três and G4 (BMI = 25.15 m/kg2; n = 15). Three MIP measurements
mensurações de PImáx, e após cada medida o voluntário identificava were obtained, after which the volunteer identified the effort level
o nível de esforço pela escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) by Borg’s Rating of Perceived Exertion (RPE).Statistics applied
de Borg. A estatística aplicada foi descritiva e inferencial, análise were descriptive and inferential, Cluster analysis, T test, Post Hoc
de Cluster, teste t, Post Hoc de Bonferone e Kolmogorov-Smirnov. Bonferone and Kolmogorov-Smirnov. This study concluded that the
Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro de incentivo intensity generated by incentive spirometry is light to moderate on
é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3, podendo atingir inten- levels 1, 2, and 3, possibly reaching intensity higher than 80% for
sidades superiores a 80% em indivíduos com sobrepeso. over-weight individuals.
Palavras-chave: inspirometria, manuvacuometria, adulto jovem. Key-words: spirometry, manometer, young adult.
O delineamento deste estudo foi do tipo analítico corre- Para estabelecer as relações entre as variáveis de estudo
lacional exploratório de corte transversal, no qual se buscou foi aplicada estatística descritiva e inferencial, seguida dos
estabelecer a relação entre as variáveis de estudo sem que seguintes tratamentos: para formar os subgrupos aplicou-
10 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
-se a análise de Cluster tendo como variável determinante > 0,05 (Tabela I). O ponto de relevância para as diferenças
o índice de massa corpórea (IMC); seguida da análise da observadas nas variáveis MC e IMC foi permitir e analisar a
curva de normalidade das medidas antropométricas e das possível influência dessas variáveis sobre os valores e padrões
medidas de esforço por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. das pressões inspiratórias máximas para os subgrupos.
A comparação das médias entre os subgrupos, masculino e Na Tabela II são apresentados os valores médios para as
feminino, para as variáveis foi por meio do teste t para medidas variáveis respiratórias. Tanto a PImáx como a PEmáx do G1
independentes. As diferentes resistências geradas pelo inspi- foram significativamente diferentes quando comparadas ao
rômetro de incentivo (R0, R1, R2 e R3) foram analisadas pelo G2 (t = 3,884; p = 0,001 e t = 2,854; p = 0,01) respectiva-
teste de medidas repetidas com Post Hoc de Bonferone [11] mente. Os valores para a PImáx do G3 e G4 não apresentaram
quando observada diferenças significativas entre as médias. O diferença significativa quando comparados (t = -1,337; p
nível de significância adotado foi de p < 0,05 para o aceite das =0,19). Comportamento similar foi observada para a PEmáx
diferenças. Os resultados serão descritos por meio da média quando comparados os G3 e G4 (t = -1,285; p = 0,21).
e de dispersão desvio padrão (média ± DP). A comparação das médias para os níveis de resistência
gerados R0, R1, R2 e R3 pelo incentivador respiratório indicou
Figura 1 e 2 - Descrição da adaptação do manovacuometro para que o nível de esforço gerado pelas esferas do inspirômetro
a determinação dos diferentes níveis resistência no inspirometro de de incentivo apontou padrões significativamente diferentes
incentivo. (Wilks’Λ; F(3; 3,401) = 7,000; p = 0,04) entre o nível R1 com
o R3 no G1, para um poder observado de 51,2%. No G2 a
diferença significativa ocorreu entre as mesmas resistências R1
e R3 (Wilks’Λ; F(3; 21,267) = 17,000; p = 0,001), no entanto,
o poder observado foi superior 98,1% (tabela II). No subgrupo
G3 a análise comparativa apontou que houve diferenças signi-
ficativas (Wilks’Λ; F(3; 26,600) =23,000; p = 0,001); para um
poder de 98,8%; entre todos níveis de resistência, o que indica
aumentos constantes no esforço para esse subgrupo. O G4 se
observou diferenças significativas entre o nível R2 e R3 (Wilks’Λ;
F(3; 12,227)=12,000; p = 0,001), para o poder de 99,5%.
Resultados Os resultados expostos confirmam que tanto no subgrupo
masculino como no feminino o inspirômetro de incentivo pro-
A partir do IMC como variável determinante obteve-se porciona estímulos diferenciados o que podem ser confirmados
pela análise de Cluster os subgrupos, masculinos G1 (n = 10) pelo nível da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) obtido em
e G2 (n = 20) e femininos G3 (n = 26) e G4 (n = 15) tabela cada resistência. No G1 a média para a R0 = 10,60 ± 1,26 e
I; a curva de normalidade dos dados para todas as variáveis 11,30 ± 1,16; 12,90 ± 1,52 e 13,90 ± 2,38 para R1, R2 e R3 res-
apresentou distribuição normal p < 0,05. Os valores médios pectivamente. Os valores para a PSE no G1 denotam diferença
para o IMC do G2 e G4 caracterizou os subgrupos com significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,301) = 17,000; p = 0,015) entre
sobrepeso sendo observada diferença significativa (t = 6,118; a PSE da R1 com a PSE de R2 e R3. A PSE no G2 apresentou
p = 0,001) para os seus respectivos pares G1 e G3 (Tabela I). diferença significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,322)=18,000; p =
A comparação da massa corporal (MC) entre os subgru- 0,001) entre todas as resistências: R0 = 9,25 ± 1,97; R1 = 10,80
pos masculinos apontou diferença significativa para a massa ± 1,85; R2 = 12,25 ± 1,97 e R3 = 13,90 ± 2,29. A percepção é
corporal (t = 4,793; p = 0,001). Comportamento similar foi compatível com o valor do delta percentual (Δ%) tanto no G1
observado para os subgrupos femininos (t = -4,584; p = 0,001 como no G2. No G1 o R0 correspondeu a 65,49% da PImáx
e t = -9,736; p = 0,001) respectivamente. No entanto, a média enquanto no G2 essa correspondeu a 43,13%. O Δ% R1 =
de idade e a estatura tanto nos subgrupos masculinos como 74,15%; R2 = 79,81% e R3 = 89,84%. Os valores respectivos
nos femininos não apresentaram diferenças significativas p do Δ% no G2 foram 53,15%; 61,20% e 68,14%.
Tabela I - Valores médios e o desvio padrão (DP) para as variáveis antropométricas de adultos jovens de ambos os sexos submetidos à análise
das pressões estáticas máximas (PImáx e PEmáx).
Masculino Feminino
G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15)
Idade (anos) 25,50 ± 3,21 24,60 ± 3,76 23,88 ± 3,09 25,13 ± 4,14
Estatura (m) 1,73 ± 0,05 1,73 ± 0,05 1,63 ± 0,08 1,61 ± 0,06
Massa corporal (kg) 67,16 ± 5,73* 80,30 ± 7,64 55,43 ± 7,57* 65,58 ± 5,26
IMC (kg/m2) 22,48 ± 1,88* 26,71 ± 1,74 20,86 ± 1,25* 25,15 ± 1,52
* = p < 0,05 entre os grupos; IMC = índice de massa corporal.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 11
Tabela II - Valores médios e desvio padrão para pressões estáticas máximas (PImáx; PEmáx) e para as resistências observadas pelo incentivador
respiratório em indivíduos jovens.
Masculino Feminino
G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15)
PImáx -102,50 ± 22,88* -150,00 ± 34,94 -94,81 ± 24,35 -108,00 ± 39,00
PEmáx 108,00 ± 30,48* 146,00 ± 36,08 84,04 ± 24,62 95,67 ± 33,00
R0 64,00 ± 24,59 64,00 ± 25,83 51,35 ± 15,85 50,33 ± 18,07
R1 74,00 ± 22,46* 78,50 ± 21,47* 57,69 ± 14,78* 54,33 ± 16,99
R2 80,00 ± 23,09 89,75 ± 17,51* 63,85 ± 13,44* 66,67 ± 13,58*
R3 90,00 ± 21,86 99,50 ± 14,59* 67,50 ± 14,02* 67,00 ± 16,88*
* = p < 0,05; PImáx = Pressão Inspiratória Máxima ; PEmáx = Pressão Expiratória Máxima ; R0 = PImáx no grau 0 do IR ; R1 = PImáx no grau 1 do IR;
R2 = PImáx no grau 2 do IR; R3 = PImáx no grau 3 do IR.
A PSE nos subgrupos G3 e G4 apresentaram comporta- Embora não seja o objeto de estudo, os resultados obser-
mento similar aos observados para os subgrupos masculinos, vados passam a ter uma importância para a compreensão das
sendo que no G3 houve diferença (Wilks’Λ; F(3; 25,208) resistências geradas ou a força necessária para utilização do
= 23,000; p = 0,001) para PSE em todos os momentos: R0 incentivador respiratório. Os valores para a PImáx e PEmáx
= 9,92 ± 2,13; R1 = 11,77 ± 1,86; R2 = 13,46 ± 177 e R3 = comportaram-se de forma similar aos apontados por Teixeira
15,00 ± 1,90 e para o G4 respectivamente PSE foram signi- et al. [14] porque obtiveram valores superiores para a PImáx
ficativamente diferentes (Wilks’Λ; F(3; 25,569) = 12,000; p e PEmáx em indivíduos de ambos os sexos, classificados
= 0,001) R0 = 10,87 ± 1,60 com R2 = 13,53 ± 1,68 e R3 = com grau II e III de obesidade com média de idade de 38,1
14,60 ± 19,2; a R1 = 11,93 ± 1,62 foi diferente de R2 e R3 e a ± 9,6 anos, quando comparados, os valores em média foram
R3 apresentou diferença com todos os momentos. Os valores superiores em 6,7% e 39,2% respectivamente aos padrões
médios para a PSE corresponderam ao Δ% no G3 de R0 = normativos para a idade.
55,92%; R1 = 63,32%; R2 = 70,73% e R3 = 74,33%. No O comportamento observado no presente estudo assim
G4 os valores foram 48,84%; 53,05%; 65,58% e 66,74% como os resultados apresentados por Teixeira et al. [14] são
respectivamente. Os valores observados indicam uma pro- divergentes dos descritos no estudo de Rasslan et al. [15] que
gressão na resistência, caracterizando alteração no estímulo relata uma redução nos volumes respiratórios em indivíduos
gerado. No entanto, nota-se que essa progressão não apresenta obesos de ambos os sexos. No entanto, cabe ressaltar que Rass-
uma proporção lógica no incremento da resistência gerada lan et al. [15] não estudaram o comportamento da PImáx e da
pelo equipamento. O que poderá gerar uma falha dentro do PEmáx o que impossibilita uma comparação dessas variáveis
procedimento terapêutico, já que não se pode estabelecer um de forma mais precisa. Embora não sejam apresentados de
ajuste do esforço de forma precisa. forma direta os valores para as pressões respiratórias estáti-
cas máximas nos resultados de Rasslan et al. [15], os dados
Discussão apresentados indicam uma redução na PImáx e na PEmáx
em decorrência do aumento do IMC. Convergindo para o
Os valores médios para o IMC dos subgrupos foram comportamento descrito por Parameswaran, Todd e Soth [6]
caracterizados a partir da amostra como: indivíduos jovens em estudo de revisão, no qual os dados indicam a redução da
18,5 a 24,9 kg/m2 G1 e G3 e com sobrepeso 25 e 29,9 kg/ complacência e na força da musculatura respiratória, indican-
m2 G2 e G4 [12] (Tabela I). Os valores mensurados para as do assim, menores valores para as pressões estáticas máximas
pressões estáticas máximas são divergentes para os indivíduos em indivíduos obesos.
com sobrepeso G2 e G4, nesses subgrupos os valores tanto da Os resultados antropométricos do G2 caracterizam uma
PImáx como da PEmáx foram superiores e significativamente condição de sobrepeso, o que poderia ser interpretado com
diferente entre os homens quando comparados aos valores uma variável morfológica a ser estudada, já que o aumen-
normativos descritos por Neder et al. [13], que descrevem to da massa gorda pode ser um estímulo positivo sobre a
valores para a PImáx em homens de -116,78 ± 14,02 cmH2O. musculatura respiratória [12], enquanto a obesidade grau I,
Enquanto para as mulheres os valores foram superiores mais II e III apresenta maiores restrições à força e complacência
sem apresentar diferença significativa para os valores norma- respiratória [6]. A hipótese levantada quanto ao sobrepeso
tivos -86,53 ± 8,76 cmH2O [13]. ser um estímulo positivo sobre as pressões estáticas, ganha
A diferença observada para PEmáx entre o G1 e o G2 sustentação pelos valores observados para a força gerada pelo
foram similares aos da PImax, porém o G1 encontra-se fora inspirômetro de incentivo no G2 (Tabela II).
dos valores normativos para o sexo masculino 126,30 ± 14,19 O inspirômetro de incentivo utilizado na investigação foi
cmH2O. No grupo das mulheres os valores encontram-se den- do tipo a fluxo, que tem por objetivo melhorar as respostas
tro da normalidade 85,88 ± 10,90 cmH2O para o sexo [13]. ventilatórias do paciente em suas atividades diárias, pro-
12 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
movendo estímulos para o fortalecimento da musculatura são superiores em media (57,42 cmH2O) observados para o
respiratória. Para tanto, a musculatura respiratória deve ser Threshold IMT descritos no estudo de Alves e Brunetto [20]
submetida a estímulos que possibilitem alterar o limiar de 9,6 cmH2O para as cargas iniciais. Os autores procuraram
força da musculatura, o que favorece o aumento na PImáx a a resistência em cmH2O gerada pelo Threshold conforme a
partir da resistência gerada. Os resultados obtidos no presente massa das esferas e o diâmetro, indicando, assim, pressão
estudo demonstram que há aumentos no estímulo (intensi- inicial necessária para abertura da válvula do Threshold.
dade) gerado pelo inspirômetro de incentivo. Observou-se A massa das esferas do inspirometro de incentivo apre-
diferentes níveis de resistência, do menor esforço (grau 0) sentou uma variação irregular, sendo a segunda esfera com
para o maior esforço (grau 3), com diferenças significativas a maior massa (1,1153 g) e a primeira e terceira com as res-
entre as intensidades geradas pelos respectivos níveis R0, R1, pectivas massas (0,8785 g e 0,9178 g). A determinação da
R2 e R3, indicando aumento gradativo na resistência para os resistência gerada pelo diâmetro dos tubos do inspirometro
indivíduos dos subgrupos. Entretanto, a variação observada de incentivo não foi determinada no presente estudo, o que
para a resistência não segue uma linearidade ou proporção caracteriza uma limitação nos resultados obtidos inviabilizan-
entre as diferentes intensidades de esforço. do estabelecer de forma concreta as pressões geradas por cada
Pelos resultados pudemos observar com relação aos ní- esfera como descrito em estudo anterior [20]. O motivo para
veis R1, R2 e R3, no grupo amostral dos homens, que eles não ser levada em consideração a medida do diâmetro dos
necessitam aumentar a força absoluta e relativa em cada grau tubos do inspirometro de incentivo é pelo fato do sistema de
quando comparado às mulheres, o que condiz com as carac- regulagem do fluxo apresentar uma escala de graduação de 0
terísticas fisiológicas entre os sexos, o que provavelmente é a 3, o que inviabilizaria a coleta dos dados.
resultante das características das fibras musculares que apesar O nível de esforço gerado pelo inspirometro de incentivo
de apresentarem certa semelhança em homens e mulheres, o permite explicar os resultados apresentados por estudos com
volume de cada fibra é maior nos homens, conferindo maior Cruz et al. [4] e de Villiot-Danger [19], os quais obtiveram
força muscular [16,17]. melhoras significativas para pressões respiratórias estáticas
Pela a análise do Delta percentual (∆%) correspondente ao máximas, corroborando as recomendações apresentadas no
esforço necessário para movimentar as esferas, nota-se que na R0 American Thoracic Society, European Respiratory Society. ATS/
o G1 foi superior ao do G2 quando analisados os valores relati- ERS [21] para o fortalecimento da musculatura respiratória
vos, seguindo a mesma tendência nas outras resistências. O G1 de indivíduos acometidos de doenças obstrutivas crônicas.
teve o Δ% mais baixo que os demais grupos mostrando que este Os resultados obtidos no estudo de Cruz et al. [4] indicam
utilizou menor porcentagem da sua força inspiratória máxima na ganhos significativos nas capacidades pulmonares e força
manobra com o inspirometro de incentivo, coincidindo com o muscular respiratória de indivíduos obesos, indicando que
fato de que este grupo apresentou a maior média de PImáx e, em- este método terapêutico contribui para a recuperação da
bora não tenham sido observadas alterações significativas no Δ% mecânica respiratória.
entre os níveis de esforço nos subgrupos femininos, observou-se
que com o aumento dos níveis de esforço houve um acréscimo Conclusão
gradativo no Δ%, assim como nos subgrupos masculinos. A
redução observada para o Δ% poderia explicar a capacidade de Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro
mobilização da musculatura acessória por parte do indivíduo no de incentivo é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3
momento do uso do inspirometro de incentivo, o que explicaria podendo atingir intensidades superiores a 80% no nível 3
a ineficácia da mobilização das esferas [18]. em indivíduos com sobrepeso. As variações observadas para a
Villiot-Danger [19], em estudo comparativo da alteração massa das esferas explicam as diferenças significativas obtidas
das forças inspiratórias e expiratórias entre jovens saudáveis e entre os diferentes níveis de esforço para indivíduos jovens de
idosos sedentários submetidos ao treinamento por 5 semanas ambos os sexos. Recomenda-se investigações em outras faixas
como frequência semanal de 3 vezes, concluiu que houve etárias e em grupos de características morfológicas diferentes.
aumento da força da musculatura respiratória dos idosos, no Ademais há necessidade de implementar estudos de adequação
entanto, não ocorreu melhorias significativa para os jovens, dos protocolos para cada grupo de população específico como,
considerando-se que para estes haveria a necessidade de uma por exemplo, para obesos, visto que treinamento muscular
carga adicional devido a integridade do sistema respiratório. respiratório específico pode contribuir para melhora funcional
O que parece ser intrigante, já que no presente estudo a desses indivíduos.
resistência do nível de esforço R0 pode ser considerada de
leve a moderada, uma vez que, se encontra entre 40 e 60% Referências
da PImáx da amostra e nos níveis R1, R2 e R3 de moderada
para vigorosa, nota-se que na R3 do G2 = -89,84% da PImáx. 1. Overend TJ, Anderson CM, Lucy SD, Bhatia C, Jonsson BI,
Os valores correspondentes aos percentuais da PImáx ou Timmermans C. The effect of incentive spirometry on posto-
intensidade de esforço no uso da inspirometria de incentivo perative pulmonary complications: a systematic review. Chest
2001;120(3):971-8.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 13
2. Domingos-Benicio NC, Gastaldi AC, Perecin JC, Avena KM, 12. Rucker D, Padwal R, Li SK, Curioni C, Lau DC. Long term
Guimaraes RC, Sologuren MJJ, et al. Body weight influence on pharmacotherapy for obesity and overweight: updated meta-
respiratory pressures on sitting, supine and upright positions. -analysis. BMJ 2007;335(7631):1194-9.
Rev Bras Fisioter 2003;7(3):217-22. 13. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LE. Reference values
3. Sharma S, Brown B. Spirometry and respiratory muscle function for lung function tests. II. Maximal respiratory pressures and
during ascent to higher altitudes. Lung 2007;185(2):113-21. voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res 1999;32(6):719-27.
4. Cruz MSL, Fernandes PR, Sonehara E, Reis VM, Policarpo FB, 14. Teixeira CA, Santos JE, Silva GA, Souza ES, Martinez JA.
Fernandes JF. Effects of respiratory therapeutics and physical Prevalence of and the potential physiopathological mechanisms
activity in maximal respiratory pressures of obese womem. involved in dyspnea in individuals with class II or III obesity. J
Revista Motricidade 2010;6(2):15-21. Bras Pneumol 2007;33(1):28-35.
5. Giacomazzi CM, Lagni VB, Monteiro MB. Postoperative 15. Rasslan Z, Saad Junior R, Stirbulov R, Fabbri RMA, Lima CAC.
pain as a contributor to pulmonary function impairment in Evaluation of pulmonary function in class I and II obesity J Bras
patients submitted to heart surgery. Rev Bras Cir Cardiovasc Pneumol 2004;30(6):508-14.
2006;21(4):386-92. 16. Davis JS, Epstein ND. Mechanistic role of movement and
6. Parameswaran K, Todd DC, Soth M. Altered respiratory phy- strain sensitivity in muscle contraction. Proc Natl Acad Sci USA
siology in obesity. Can Respir J 2006;13(4):203-10. 2009;106(15):6140-5.
7. Romanini W, Muller AP, Carvalho KA, Olandoski M, Faria- 17. Chinali C, Busatto HG, Mortari DM, Rockenbach CWF, Legui-
-Neto JR, Mendes FL et al. The effects of intermittent positive samo CP. Inspirometria de incentivo orientada a fluxo e padrões
pressure and incentive spirometry in the postoperative of myo- ventilatórios em pacientes submetidos a cirurgia abdominal alta.
cardial revascularization. Arq Bras Cardiol 2007;89(2):94-110. Rev Consc Saúde 2009;8(2):203-10.
8. Caruso P, Denari SD, Ruiz SA, Bernal KG, Manfrin GM, 18. Jacome GM, Lago ST, Paiva GE, Freitas FGA, Sousa BS. Influen-
Friedrich C et al. Inspiratory muscle training is ineffective in ce of neck circumference on respiratory endurance and muscle
mechanically ventilated critically ill patients. Clinics (Sao Paulo) strength in the morbidly obese. Obes Surg 2011;21(8):1250-6.
2005;60(6):479-84. 19. Villiot-Danger JC, Villiot-Danger E, Borel JC, Pepin JL,
9. Vilaró J, Resqueti VR, Fregonezi GAF. Clinical assessement of Wuyam B, Verges S. Respiratory muscle endurance training in
exercise capacity in patients with chronic obstructive pulmonary obese patients. Int J Obes (Lond) 2011;35(5):692-9.
disease. Rev Bras Fisioter 2008;12(4):249-59. 20. Alves LA, Brunetto AF. Adaptation of Threshold IMT for
10. 1SBPT SBdPeT. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J endurance test on inspiratory muscles. Rev Bras Fisioter
Pneumol 2002;28(Suppl 3):S2-S237. 2006;10(1):105-12.
11. Xavier L, Dias C. Acurácia do modelo univariado para análise 21. ATS/ERS Statement on respiratory muscle testing. Am J Respir
de medidas repetidas por simulação multidimensional. Scientia Crit Care Med 2002;166(4):518-624.
Agricola 2001;58(2):241-50.
Assine já!
Fisioterapia Brasil
Artigo original
*Universidade Católica de Pernambuco, **Professora assistente 1 da Universidade Católica de Pernambuco do Curso de Fisioterapia,
***Professora Auxiliar da Universidade Católica de Pernambuco, ****Professora Assistente da Universidade Católica de Pernambuco
Resumo Abstract
Objetivo: Comparar os determinantes de risco entre pré-escolares Objective: To compare the determinants of risk among pres-
de escola pública e particular na cidade do Recife. Método: Foi utiliza- chool children in public and private schools in the city of Recife.
do um questionário, aplicado aos pais ou responsável legal da criança Method: A questionnaire was used, which was applied to parents or
por meio de entrevista para identificar os fatores socioeconômicos e legal guardian of the child by means of questioning, to identify the
demográficos das crianças que frequentam a escola da rede pública socio-economic and demographic factors of children who attend
municipal e privada. Foram incluídas no estudo todas as crianças, public and private school. The study included all children of both
de ambos os gêneros, na faixa etária de quatro a seis anos, que fre- genders, aged four to six years, attending school regularly, from April
quentavam regularmente a escola, no período de abril a agosto de to August 2010, and excluded children who had some neurological
2010; e excluídas as que apresentavam diagnósticos neurológicos ou injury or osteoarticular deformities, vision or hearing deficiency.
que eram portadoras de deformidades osteoarticulares, deficiência The sample had 40 children, composed by 20 from public schools
visual, auditiva ou cognitiva. Participaram da amostra 40 crianças, and 20 from particular ones. Results: The children in public school
sendo 20 da escola pública municipal e 20, da particular. Resultados: were more exposed to the risk determinants for child development
As crianças da escola pública apresentaram-se mais expostas aos than those in private schools. Conclusion: Therefore, it is stressed the
determinantes de risco para o desenvolvimento infantil que aquelas importance of the presence of health professionals with the school
da escola particular. Conclusão: Sendo assim, salienta-se a impor- staff in order to identify very early these determinants and preventive
tância da presença do profissional de saúde junto à equipe escolar, actions for the normal development of the child.
a fim de identificar de forma precoce esses determinantes para que Key-words: child development, risk factors, school health, child
sejam tomadas medidas preventivas que visem o desenvolvimento preschool, school health services.
neuropsicomotor adequado na infância.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, fatores de risco, saúde
escolar, pré-escolar, serviços de saúde escolar.
O desenvolvimento infantil pode ser definido como Trata-se de um estudo do tipo corte transversal descritivo,
mudanças de novos comportamentos, provocando transfor- o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
mações no organismo, onde cada etapa é pré-requisito para Humanos do IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor
a seguinte [1]. Porém, a forma como a criança utiliza seu Fernando Figueira) sob CAAE – 0295.0.099.096-09.
potencial pode sofrer influência de fatores biológicos, gene- A pesquisa foi realizada no período de abril a agosto de
ticamente determinados e de circunstâncias ambientais [2]. 2010, em uma escola da rede pública municipal e uma escola
Atualmente, já se considera que os fatores de risco para o da rede privada. Na qual foram incluídas todas as crianças, de
desenvolvimento infantil podem estar presentes na própria ambos os gêneros (feminino e masculino), na faixa etária de
criança (componentes biológicos, temperamento e a própria quatro a seis anos, que frequentavam regularmente as escolas,
sintomatologia), na família (história parental e dinâmica fa- durante o período de realização da pesquisa e cujos pais ou
miliar) ou no ambiente (nível socioeconômico, suporte social, responsável legal assinaram o Termo de Consentimento Livre
escolaridade e contexto cultural) [3]. Contudo, apesar de distin- e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas as crianças que apre-
tos, esses fatores não são excludentes, definindo a característica sentavam alguma lesão neurológica ou que eram portadoras
multifatorial dos atrasos do desenvolvimento infantil [4]. de deformidades osteoarticulares, deficiência visual, auditiva
Na infância, os principais vínculos, cuidados e estímulos ou cognitiva.
necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança O tamanho inicial esperado da amostra era de 100 crian-
são fornecidos pela família. É ela o primeiro universo de ças, sendo 50 de uma escola pública municipal e 50 de uma
relações sociais da criança, sendo talvez, das formas de rela- escola particular. Porém, das crianças solicitadas, apenas 40
cionamento a mais complexa e de ação mais profunda sobre compuseram a amostra, visto que os pais ou responsáveis legais
o desenvolvimento humano, fato esse que é agravado quando pelas demais crianças se recusaram a assinar o TCLE, de forma
essas famílias apresentam baixo nível socioeconômico [5,6]. que a amostra foi constituída de 20 crianças provenientes da
Isso porque as dificuldades associadas à pobreza prejudicam rede pública e 20 da rede privada.
não só o bem-estar psicológico dos pais, como também o Inicialmente, realizou-se um primeiro contato com a
ambiente interpessoal da casa, afetando o desenvolvimento coordenação pedagógica das escolas, no qual foi verificado
dessas crianças, que pode se refletir em sua vida adulta [7]. É o interesse das instituições em participar da pesquisa. Em
nesse ambiente, portanto, que a criança tanto pode receber seguida, foi feito o contato pessoal, nas escolas, com os pais
proteção, quanto conviver com os riscos [5]. ou responsável legal pela criança, no qual foram fornecidas as
Nas últimas décadas, o interesse pelo acompanhamento devidas explicações sobre o projeto e solicitado à assinatura do
do desenvolvimento integral da criança vem aumentando, TCLE, os quais foram informados de que a participação da
devido ao reconhecimento de que a prevenção de problemas criança era de caráter voluntário, podendo haver desistência
durante a infância exerce efeitos duradouros na constituição a qualquer momento.
do ser humano [8]. Contudo, apesar da prática preventiva A identificação dos fatores de risco para o desenvolvimen-
ainda não ser uma realidade totalmente instalada nas culturas to infantil foi feita através da aplicação de um questionário
ocidentais, já existem projetos voltados à prevenção primária, impresso em papel aos pais ou responsável legal pela criança,
destinados aos pré-escolares [1]. cujos itens diziam respeito às condições socioeconômicas
As instituições que se destinam a educar e cuidar das crian- (quantidade de pessoas que trabalham na casa; valor da renda
ças são as creches, que atendem a faixa etária de 0 a 3 anos, e mensal); demográficas (tipo de residência; número de morado-
as pré-escolas, que abordam a faixa etária de 4 a 6 anos [9]. res); e ambientais das famílias (escolaridade do pai/mãe; sabe
No Brasil (2002), apesar dos pré-escolares corresponderem a ler e/ou escrever). Na rede pública municipal, o questionário
13,3% do total de habitantes, esse grupo é carente de procedi- foi aplicado pessoalmente pela pesquisadora nas dependências
mentos adequados que garantam o desenvolvimento integral da da escola, a qual anotava as respostas diretamente na folha
criança, fazendo com que ela entre na estrutura de ensino sem do questionário em virtude de muitos pais ou responsáveis
as mínimas condições intelectuais e motoras necessárias [10]. legais não saberem ler e/ou escrever. Já na escola particular, o
Diante disso, há uma crescente preocupação em se investigar questionário foi enviado, junto à agenda das crianças, aos pais
a dinâmica e o nível socioeconômico das instituições que se que responderam em casa, e posteriormente encaminharam
destinam a matricular crianças pré-escolares [11]. Nesse sentido, para escola. Esse questionário foi elaborado com base no
quanto mais cedo uma dificuldade ou limitação for constatada, estudo de Maciel [15].
maiores serão as chances de um retorno funcional da criança ao A apresentação das variáveis mensuradas foi feita através
seu ambiente escolar, familiar e social [12-14]. Dessa forma, o de tabelas, incluindo também o uso de algumas medidas
presente estudo tem como objetivo comparar os determinantes descritivas, como média e desvio padrão. Para testar a supo-
de risco em pré-escolares de uma escola pública municipal com sição de normalidade das variáveis envolvidas no estudo foi
relação aqueles de uma escola privada da cidade do Recife. aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov. As análises compa-
16 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
rativas das proporções foram realizadas utilizando-se o teste Tabela IV - Escolaridade dos pais da amostra estudada.
exato de Fisher. A comparação entre as médias obtidas nos Escolaridade do Pai Públicas Privadas Valor-p*
dois grupos foi realizada utilizando-se o teste t-student para 1° Grau Incompleto 15 (75,0) 0 (0,0) 0,00
amostras independentes. Todas as conclusões foram tomadas 3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48
ao nível de significância de 5% e os softwares utilizados foram 3° Grau Completo 0 (0,0) 18 (80,0) 0,00
o GraphPad Prism versão 4.0 e Microsoft Office Excel 2007. Não soube informar 5 (25,0) 0 (0,0) 0,05
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
Resultados de Fisher.
A amostra foi composta de crianças de ambos os gêneros, A caracterização da amostra estudada quanto à execução
não sendo observadas diferenças significativas entre os grupos de atividade laboral pelos pais e mães encontra-se na Tabela
(p = 0,68), quanto à idade (4 a 6 anos). V, não sendo observada diferença significativa entre os grupos.
As Tabelas I e II apresentam o estado civil das mães e pais
ou responsável legal das crianças avaliadas, observando-se um Tabela V - Caracterização da amostra estudada quanto à execução
número significativamente maior de mães e pais solteiros no de atividade laboral pelos pais e mães.
grupo de crianças de escolas públicas (p = 0,00) e de mães Genitor Públicas Privadas Valor-p*
e pais casados no grupo de crianças de escolas privadas (p = Mãe 9 (45,0) 19 (95,0) 0,21
0,00 e p = 0,03, respectivamente). Pai 7 (35,0) 20(100,0) 0,07
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
Tabela I - Estado civil das mães da amostra estudada. de Fisher.
Estado civil da mãe Públicas Privadas Valor-p*
Solteira 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 A Tabela VI apresenta a caracterização da amostra quanto
Casada 4 (20,0) 20 (100,0) 0,00 à renda mensal dos responsáveis pelas crianças. É possível ob-
Falecida 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 servar que uma maior proporção de responsáveis pelas crianças
Não soube informar 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 das escolas privadas não informaram sua renda mensal (p =
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato 0,02) ou possuem renda superior a dez salários mínimos (p =
de Fisher. 0,00). Já no grupo de crianças de escolas públicas, uma maior
proporção dos responsáveis recebe menos de um salário ou de
Tabela II - Estado civil dos pais da amostra estudada. um a dois salários mínimos mensais (p = 0,00).
Estado civil do pai Públicas Privadas Valor-p*
Solteiro 10 (50,0) 0 (0,0) 0,00 Tabela VI - Caracterização da amostra quanto à renda mensal dos
Casado 6 (30,0) 20 (100,0) 0,03 responsáveis pelas crianças.
Falecido 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 Renda mensal (salá- Públicas Privadas Valor-p*
Não soube Informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 rios mínimos)
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato Não informado 0 (0,0) 6 (30,0) 0,02
de Fisher. <1 9 (45,0) 0 (0,0) 0,00
1a2 10(50,0) 0 (0,0) 0,00
As Tabelas III e IV apresentam, respectivamente, o nível de 2a3 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00
escolaridade das mães e pais dos grupos analisados. É possível 5 a 10 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48
observar uma maior proporção de mães e pais com 1° grau > 10 0 (0,0) 12(60,0) 0,00
incompleto no grupo de crianças de escola pública, além de Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
uma maior proporção de mães e pais com 3° grau completo de Fisher.
no grupo de crianças de escolas privadas (p = 0,00).
Discussão
Tabela III - Escolaridade das mães da amostra estudada.
Escolaridade da Mãe Públicas Privadas Valor-p* No que se refere aos fatores de risco ambientais para o
1° Grau Incompleto 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 desenvolvimento infantil, Rohenkohl e Castro [5] relatam
1° Grau Completo 2 (10,0) 0 (0,0) 0,48 que os pais constituem o primeiro núcleo social da criança,
2° Grau Completo 1 (5,0) 2 (10,0) 1,00 sendo, portanto, natural que a figura dos pais, bem como as
3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48 práticas parentais adotadas tenha grande influência no pro-
3° Grau Completo 0 (0,0) 16 (80,0) 0,00 cesso de desenvolvimento da criança. Segundo esses autores
Não soube informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 a relação entre pais e filhos tem atuado como importante
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
fator para a qualidade de vida das famílias, influenciando
de Fisher.
diretamente nos cuidados com os filhos. No entanto, esses
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 17
mesmos laços familiares que protegem podem também di- bem-estar das crianças. Para esses autores crianças cujos pais
ficultar o desenvolvimento da criança e provocar problemas tinham até 8 anos de escolaridade apresentaram risco de 4,63
no seu ajustamento social [5]. vezes maior de apresentarem desempenho suspeito de atraso
Segundo Lucena et al. [2], crianças cujos pais eram se- em habilidades de locomoção. Corroborando esses achados,
parados estavam mais predispostas a apresentarem algum Carneiro [15] verificou que a escolaridade paterna igual ou
tipo de alteração psicomotora. Para ele isso ocorre porque inferior a 8 anos de estudos influenciou o desenvolvimento
o divórcio é considerado um evento estressor, que modifica infantil, visto que 27,91% das crianças avaliadas apresentaram
a estrutura familiar, alterando a dinâmica das relações fa- risco para o desenvolvimento.
miliares e, consequentemente, o ajustamento das crianças. No que diz respeito a esse aspecto, no presente estudo, foi
Sendo assim, em seu estudo todas as crianças cujos pais eram possível observar uma maior proporção de mães e pais com 1°
separados apresentaram algum tipo de alteração psicomotora, grau incompleto nas crianças da escola pública, além de uma
sugerindo ser este um fator implicado no desenvolvimento maior proporção de mães e pais com 3° grau completo nas
motor primário dos escolares. crianças da escola privada. Esse dado sugere que as crianças
Defilipo et al. [13], em estudo com 239 lactentes com da escola pública apresentam mais chance de apresentarem
idade entre três e 18 meses, residentes no município de Juiz atrasos no desenvolvimento, quando comparadas a população
de Fora/MG, em 2010, verificaram que o fato de a maioria da escola particular.
das famílias serem formadas predominantemente por uniões Paiva et al. [17], que avaliaram uma amostra de 136
estáveis apresentaram oportunidades mais favoráveis ao de- crianças entre 9 e 12 meses de vida, verificaram, dentro do
senvolvimento motor. contexto de pobreza, as condições socioeconômicas desfavo-
Corroborando o estudo anterior, o presente trabalho, ráveis, expressas através do desemprego materno e paterno,
observou que a maioria dos pais da rede privada apresentou o qual teve um impacto negativo em diferentes aspectos do
união estável, quando comparados aos da rede pública, que desenvolvimento. Segundo esses autores a instabilidade eco-
na maioria eram solteiros, sugerindo que as crianças da escola nômica em casa, resultante de desemprego, e consequente
particular estariam menos expostas aos fatores de risco para redução na renda familiar, constitui um importante fator de
o desenvolvimento. risco para o desenvolvimento. Nessa situação de desempre-
Dentro desse aspecto, a presença paterna também constitui go, os pais tornam-se mais punitivos, menos comunicativos
um fator de proteção para os atrasos do desenvolvimento, o que e sensíveis às necessidades da criança, comprometendo seu
foi evidenciado pelo estudo de Rohenkohl e Castro [5]. Para desenvolvimento [17].
Delfilipo et al. [13] isso ocorre porque a presença do pai no Ainda em relação à atividade laboral dos pais, Maria-
ambiente familiar garante maior segurança no desempenho da -Mengel e Linhares [18] relatam que quanto maior o nível
função materna, contribuindo para o desenvolvimento saudável de escolaridade, melhor poderá ser o emprego dos pais. Ao
de seus filhos. Porém, o estudo de Amorim et al. [8] teve resultado avaliar escolaridade, o nível ocupacional e a renda das famí-
oposto, observando que crianças que tiveram maior tempo com lias das 120 crianças, de 6 a 44 meses, do Núcleo da Saúde
seus pais, apresentaram percentuais mais elevados de atraso na da Família em São Paulo, Maria-Mengel [19] verificou que
persistência motora. Para os autores isso pode estar atrelado ao o nível escolar predominante foi de 1° completo, com a
fato da própria concepção paterna de ser apenas provedor, caben- maioria dos pais exercendo trabalho não-qualificado ou de
do os cuidados corporais da criança exclusivamente as mulheres. níveis semiqualificados, com renda familiar média de 500
Outro fator que pode trazer influência significativa para reais. Para essa autora, os poucos recursos de escolarização e
o desenvolvimento infantil é a escolaridade dos pais. Para a baixa qualificação dos pais são elementos intrínsecos que
Defilipo et al. [13] o maior grau de escolaridade da mãe está acabam por provocar riscos psicossociais importantes no
associado a melhores oportunidade de estímulos ambientais. E ambiente da criança.
isso pode ser explicado pelo fato de as mães com maior grau de Já no que se refere ao presente estudo, apesar de não
instrução apresentarem maior acesso a informações e melhor ter sido verificada diferença significativa importante entre
conhecimento sobre o processo de desenvolvimento dos seus os grupos, sugere-se que as crianças da escola particular,
filhos, contribuindo de forma positiva nas oportunidades de cujos pais apresentaram empregos mais qualificados,
estimulação disponíveis no domicílio [14]. estariam menos expostas aos fatores de risco para o de-
Entretanto, Carneiro [15] detectou em seu estudo que das senvolvimento.
25,58% crianças que apresentaram risco de atraso no desen- Entretanto, ao avaliar o nível socioeconômico das famílias,
volvimento, 16,28% são filhas de mães com menos 8 anos o presente estudo encontrou diferença significante entre as
de estudo. Nesse sentido, Nascimento et al. [16] verificaram duas populações. Segundo Halpern et al. [6] crianças cujas
que a baixa escolaridade materna pode sim ser considerada famílias apresentam menor renda, estão mais predispostas
fator de risco para atraso do DNPM. a terem atrasos no desenvolvimento. Para Mistry et al. [20]
Segundo Santos et al. [7], bem como a escolaridade ma- isso ocorre porque crianças em situação de pobreza enfren-
terna, a paterna também interfere de forma significativa no tam, muitas vezes, múltiplos riscos, como: condições de vida
18 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
inadequadas, poucos recursos materiais, acesso limitado a Entretanto, é importante enfatizar que os resultados das
cuidados de saúde, entre outros problemas. análises realizadas mostram apenas indícios de associação
Veleda et al. [21] ao avaliarem uma amostra de crianças entre as variáveis, não sendo, portanto, conclusivos, e a sua
entre 8 a 12 meses de idade indicadas como de risco ao nascer extrapolação deve ser vista com cautela, explorando ainda
no município do Rio Grande, Rio Grande do Sul. Verificaram mais as relações de causa e efeito.
que crianças pertencentes às famílias com renda menor que
dois salários mínimos apresentaram duas vezes mais riscos de Conclusão
terem suspeita de atraso no desenvolvimento. Ainda segundo
esses autores crianças mais pobres apresentam 50% mais Foi possível observar que as crianças da escola pública,
risco de terem um suspeita de atraso. Para Santos et al. [7], por apresentarem precárias condições socioeconômicas e
isso acontece porque as condições de pobreza amplificam a demográficas apresentaram-se mais expostas aos fatores de
vulnerabilidade biológica da criança, levando a resultados risco para o desenvolvimento.
desfavoráveis no desenvolvimento. Sendo assim, salienta-se a importância da presença do
Paiva et al. [17] constataram numa amostra de 136 crianças profissional de saúde junto à equipe escolar, priorizando as
entre 9 e 12 meses de vida, em quatro Unidades de Saúde da populações mais expostas aos fatores de risco para o desenvol-
Família do Distrito Sanitário IV da cidade do Recife. O efeito vimento infantil, no sentido de identificar de forma precoce
negativo mais importante da pobreza no desenvolvimento os principais problemas. E assim, estabelecer programas de
das crianças estudadas foi na área da comunicação receptiva. intervenção que visem à estimulação do desenvolvimento
Isso porque famílias com um nível socioeconômico maior neuropsicomotor normal da criança. Além disso, é de grande
leem mais para seus filhos, engajando-os num rico discurso, importância a orientação da família e dos educadores nesse
à medida que proveem estratégias verbais mais complexas. processo de desenvolvimento da criança.
Além do impacto direto na saúde e bem-estar da criança,
a renda familiar associa-se também com as condições de vida Agradecimentos
e o acesso aos bens e serviços, estando relacionada a diferentes
condições de risco para saúde materno infantil tais como, Às escolas, pela permissão dada para que a coleta de dados
maior frequência de baixo peso ao nascer e déficit ponderal fosse realizada em suas dependências.
em recém-nascidos [21]. Desta forma percebe-se que a renda Às famílias das crianças que compuseram a amostra do
familiar, à medida que proporciona melhores condições gerais estudo pela confiança e por terem compartilhado um pouco
de vida para a família, está diretamente relacionada com as dos seus contextos de vida.
oportunidades de desenvolvimento e com a qualidade de À Maria Elisa, a qual participou como colaboradora na
vida da criança. pesquisa de campo, auxiliando na coleta de dados em diversas
Por outro lado, diferentemente do presente estudo, fases da pesquisa.
Amorim et al. [8] investigaram a associação de atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor com possíveis fatores de Referências
risco biológicos, ambientais e socioeconômicos, observaram
que a renda per capita não mostrou ser um fator de risco 1. Zilke R, Bonamigo ECB, Winkelmann ER. Desenvol-
para atraso no desenvolvimento, o que pode ser justificado vimento neuropsicomotor de crianças de 2 a 5 anos que
pelo fato de a amostra estudada apresentar-se relativamente frequentam escolas de educação infantil. Fisioter Mov
2009;22(3):439-47.
homogênea em relação aos níveis de renda.
2. Lucena NMG, Aragão POR, Andrade SMMS, Lucena LC, Melo
Uma limitação do presente foi a dificuldade relaciona-
LGB, Rocha TV. Estudo do desenvolvimento motor primário de
das à falta de colaboração de algumas famílias na resposta crianças em idade escolar submetidas à avaliação psicomotora.
do questionário, as quais foram fatores determinantes na Arq Ciênc Saúde 2009;16(3):120-26.
redução da amostra, limitando as análises realizadas e a 3. Braga AKP, Rodovalho JC, Formiga CKMR. Evolução do
interpretação dos resultados. Todavia, as perdas amostrais crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor de crianças
sofridas durante a execução do trabalho não se constituem pré-escolares de zero a dois anos do município de Goiânia (GO).
num fato isolado. Na literatura atual, há relatos de perdas Rev Bras Cresc Desenv Hum 2011;21(2):230-9.
de 40%, por razões bastante semelhantes às vivenciadas por 4. Custódio ZAO, Crepaldi MA, Cruz RM. Desenvolvimento
estes autores [18]. de crianças nascidas pré-termo avaliado pelo teste de Denver-
-II: revisão da produção científica brasileira. Psicol Reflex
Embora considerando as dificuldades vivenciadas durante
Crit 2012;25(2):400-6.
o desenrolar da pesquisa de campo e as limitações do estudo, 5. Rohenkohl MIA, Castro EK. Afetividade, conflito familiar
os resultados das associações sugerem que o ambiente, sobre- e problemas de comportamento em pré-escolares de famílias
tudo, de crianças que vivem em contextos de desigualdades, de baixa renda: visão de mães e professoras. Psicol: Ciênc Prof
acaba por interferir de forma importante no desenvolvimento, 2012;32(2):438-51.
podendo atuar como um fator protetor ou de risco. 6. Halpern R, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS, Victora CG,
Barros FC. Developmental status at age 12 months according to
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 19
birth weight and family income: a comparison of two Brazilian 13. Defilipo EC, Frônio JS, Teixeira MTB, Leite ICG, Bastis ICG,
birth cohorts. Cad Saúde Pública 2012;24(3): S444-S450. Bastos RR et al. Oportunidades do ambiente domiciliar para o
7. Santos DCC, Tolocka RE, Carvalho J, Heringer LRC, Almeida desenvolvimento motor. Rev Saúde Pública 2012;46(4):633-41.
CM, Miquelote AF. Gross motor performance and its association 14. Aslam M, Kingdon GG. Parental education and child health -
with neonatal and familial factors and day care exposure among understanding the pathways of impact in pakistan. World Dev
children up to three years. Rev Bras Fisioter 2009;13( 2):173-9. 2012;40(10):2014-32.
8. Amorim RCA, Laurentino EGC, Barros KMFT, Ferreira ALPR, 15. Carneiro AMC. Avaliação do desenvolvimento de lactentes em
Filho AGM, Rapouso MCF. Programa de saúde da família: unidades básicas de saúde no município de Itaquera: Aplicação
proposta para identificação de fatores de risco para o desenvolvi- do Denver II [dissertação]. Guarulhos: Universidade de Gua-
mento neuropsicomotor. Rev Bras Fisioter 2009;13(6):506-13. rulhos; 2008.
9. Rezende MA, Beteli VC, Santos JLF. Follow-up of the child’s 16. Nascimento R, Madureira VSF, Agne J. Avaliação do desenvol-
motor abilities in day-care centers and pre-schools. Rev Lati- vimento neuropsicomotor de crianças em Centros de Educação
noam Enferm 2005;13(5):619-25. Infantil em Concórdia. Revista Neurociências 2008;16(4):
10. Campos MM, Füllgraf J, Wiggers V. A qualidade da educação 284-91.
infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cad Pesq 17. Paiva GS, Lima ACVMS, Lima MC, Eickmann SH. The effect
2006;36(127):87-128. of poverty on developmental screening scores among infants.
11. Burger K. How does early childhood care and education affect São Paulo Med J 2010;128(5):276-83.
cognitive development? An international review of the effects 18. Maria-Mengel MRS, Linhares MBM. Fatores de risco para o de-
of early interventions for children from different social back- senvolvimento infantil. Rev Latinoam Enferm 2007;15:837-42.
grounds. Early Child Res Q 2010;25:140-65. 19. Maria-Mengel MRS. “Vigilância de desenvolvimento” em
12. Curi AZ, Menezes-Filho NA. A Relação entre educação pré- Programa de Saúde da Família: triagem para detecção de risco
-primária, salários, escolaridade e proficiência escolar no Brasil. para problemas de desenvolvimento em crianças [Dissertação].
Est Econ 2009;39(4):811-50. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 2007.
20 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Artigo original
*Professora do curso de Fisioterapia da PUC Minas, **PUC Minas, ***Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais (FCMMG), ****Especialista em Fisioterapia aplicada à Neurologia
Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a eficácia de um dispositivo fototerápico Objective: To evaluate the effectiveness of a specifically designed
desenvolvido especificamente para o tratamento dos traumas ma- device for phototherapy treatment of nipple trauma. Methods: Four
milares. Material e métodos: Quatro puérperas foram aleatoriamente women were randomly assigned to two groups: control (n = 4 bre-
alocadas em dois grupos: controle (n = 4 mamas) e experimental asts) and experimental (n = 4 breasts). The control group received
(n = 4 mamas). O grupo controle recebeu somente orientações de only the guidelines of the breast care and appropriate techniques
cuidados com as mamas e sobre técnicas adequadas à amamentação. for breastfeeding. The experimental group (n = 4 breasts) received
O grupo experimental (n = 4 mamas) recebeu, além das orientações, guidelines care and phototherapy applications through luminous
as aplicações fototerápicas por meio do protótipo fotobiomodulador prototype (880-904 nm and fluence of 4 J/cm²) for 6 weeks. The
(varredura de 880-904 nm e fluência de 4 J/cm²) durante 6 sema- area of nipple injury, pain (Visual Numerical Scale) and quality of
nas. Foram avaliados: a área da lesão mamilar, a dor (Escala Visual life (SF-36) were assessed. Results: The participants of nipple injuries
Numérica) e a Qualidade de Vida (SF-36). Resultados: As lesões were classified as small and medium size. In the control group 50%
mamilares das participantes foram inicialmente classificadas como of the lesions healed completely and the others reduced in size. In
fissuras pequenas e médias. No grupo controle, 50% das lesões the experimental group the percentage of healing was 100%. The
cicatrizaram completamente; as demais reduziram de tamanho. percentage reduction in the size of nipple trauma was 54.5% in the
No grupo experimental, o percentual de cicatrização foi de 100%. control group and 74.1% in the experimental group. The difference
O percentual de redução no tamanho das lesões mamilares foi de between groups was statistically significant (p = 0,036). Pain inten-
54,5% no grupo controle e de 74,1% no grupo experimental. A sity satisfactorily reduced in both groups. The average reduction in
diferença observada entre os grupos foi estatisticamente significativa pain intensity in the control group was 73.6% and 81.5% in the
(p = 0,036). A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente em am- experimental (p = 0,116).
bos os grupos. A média da redução da intensidade da dor no grupo Key-words: breast diseases, breast feeding, phototherapy, wound
controle foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (p = 0,116). healing.
Conclusão: Os resultados deste estudo demonstraram que o protótipo
fotobiomodulador foi eficaz no tratamento dos traumas mamilares.
Palavras-chave: doenças mamárias, aleitamento materno,
fototerapia, cicatrização.
foi constituído pelas mulheres que receberam, além das orien- auxílio de uma gaze. Para evitar a exposição direta da luz aos
tações, aplicações fototerápicas por meio de um dispositivo olhos, óculos de proteção foram utilizados pelas participan-
desenvolvido especialmente para o tratamento de traumas tes e pelo terapeuta durante todo o período de aplicação do
mamilares. Ambos os grupos foram acompanhados por seis dispositivo luminoso.
semanas consecutivas.
Todas as participantes foram submetidas a uma avaliação Figura 1 - Dispositivo fotobiomodulador utilizado para o trata-
inicial, realizada por um profissional cego quanto aos grupos mento de traumas mamilares: aplicação em uma das participantes
de tratamento. A avaliação teve como objetivos caracterizar a do estudo.
participante (idade, cor, número de filhos, escolaridade, tipo
de parto, experiência prévia com amamentação, tempo de
puerpério) e, especialmente, o mamilo (cor e tipo – protuso,
semiprotuso, invertido, pseudoinvertido ou hipertrófico).
Após a avaliação, as participantes eram encaminhadas para
dar início às intervenções, conforme seu grupo de tratamento.
Orientações
passar para a mama contralateral; colocar a ponta do dedo Bull e classificadas, no início e no término do estudo de acordo
mínimo no canto da boca do bebê para auxiliar a retirada com Pereira et al. [25]. Segundo os autores, o mamilo pode
do mesmo da mama. ser considerado quanto a sua integridade como íntegro ou
As informações foram passadas verbalmente e reforçadas fissurado. Nesse último caso, a fissura pode ser classificada
por um folder educativo na avaliação inicial, na 3a e na 6a como pequena (menor ou igual a 3 mm), média (menor ou
semanas do estudo, sempre por um mesmo profissional, cego igual a 6 mm) ou grande (maior que 6 mm).
quanto ao grupo de tratamento da participante. As medidas e a classificação das fissuras foram realizadas
por um pesquisador previamente treinado para a realização
Fototerapia dos procedimentos.
A idade média das mulheres participantes do estudo foi A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente nos grupos
de 28 anos (mínima de 18 anos; máxima de 35 anos). O controle e experimental. A média da redução no grupo con-
tempo de puerpério variou de 9 a 90 dias. O tipo de mamilo trole foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (Wilcoxon’s
apresentado foi predominantemente protuso e a maioria Test: p = 0,116). Na Figura 4 é possível visualizar os valores
das puérperas (3) relataram ter experiência prévia com a médios da intensidade da dor nos grupos controle e experi-
amamentação. mental, no início e no fim dos tratamentos.
As lesões mamilares das participantes foram inicial-
mente classificadas como fissuras pequenas e médias. A Figura 4 - Intensidade média da dor (EVN) nos grupos controle e
média pré-tratamento do tamanho das fissuras no grupo experimental, pré e pós-tratamentos.
controle foi de 3,6 ± 2,6 mm e de 3,8 ± 1,7 mm no grupo
experimental. No grupo controle, 50% das lesões (2/4) 7,0
evoluíram para cicatrização completa; as demais reduziram 6,0
Intensidade da dor
Figura 2 - Tamanho médio das fissuras mamilares (mm) nos grupos Grupo controle Grupo experimental
controle e experimental, pré e pós-tratamento.
Os domínios avaliados pelo SF-36 estão representados
Tamanho das lesões mamilares (mm)
redução no tamanho das lesões mamilares. Entretanto os As ações da luz sobre os tecidos humanos são mediadas
resultados encontrados foram significativos apenas para o pela absorção da energia luminosa (fótons) no citocromo
grupo em que o dispositivo luminoso foi aplicado. A melhora mitocondrial. Uma vez absorvida a luz, eventos fotoquímicos
observada no grupo controle pode ser justificada pela adesão e fotofísicos primários irão ocorrer na mitocôndria, promo-
às orientações de cuidado com a mama. Essa intervenção vendo reações bioquímicas e/ou biofísicas. Alguns dos efeitos
possibilita a retirada de fatores que predispõem à ocorrência gerados na mitocôndria em resposta à absorção da luz são
de fissuras mamilares, principalmente o posicionamento e mudanças no estado redox e aceleração na transferência de
a pega inadequados do lactente [1,3,4]. Os melhores re- elétrons, aumento da produção de superóxido e a geração de
sultados observados no grupo experimental em relação ao oxigênio molecular [23,30,33].
processo de cicatrização das lesões mamilares devem-se à Diversos estudos demonstram que a terapia com luz é
aplicação da fototerapia. Segundo a literatura, a luz na faixa eficaz também na promoção de analgesia [21,22,29,33]. O
espectral do vermelho ao infravermelho é capaz de favorecer estímulo à microcirculação local e as alterações induzidas sobre
o reparo tecidual [16-20,26]. Esse benefício é consequente as aferências nociceptivas e sobre o sistema nervoso central são
aos efeitos fisiológicos da luz, dentre os quais se destacam: algumas das principais justificativas fisiológicas para o uso de
o estímulo à síntese de ATP e de fatores de crescimento, o dispositivos luminosos na modulação da dor [34]. Segundo a
aumento da proliferação de fibroblastos e da produção de literatura, a luz é capaz de induzir a aumentos dos níveis de
colágeno [27]. B-endorfina no fluido espinhal e da excreção urinária de gli-
cocorticóides e serotonina [29,33]. A diminuição da liberação
Figura 5 - Domínios avaliados pelo Questionário SF-36 nos grupos de substâncias alogênicas tais como bradicinina, acetilcolina
controle e experimental, pré e pós-tratamentos. e prostaglandina-2, e um complexo mecanismo de bloqueio
100,0 eletrolítico das fibras nervosas são propostos como teorias
Scores SF-36
dade de vida em ambos os grupos. Essa melhora pode estar 2. Rezende J. Obstetrícia. 9a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
relacionada à diminuição da intensidade da dor e do tama- Koogan; 2002.
nho das lesões mamilares, visualizados nos grupos controle 3. Freitas F, Martins-Costa SH, Ramos JGL, Magalhães JA. Rotinas
e experimental. No grupo controle, a melhora da qualidade em obstetrícia. 3a. ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
4. Biancuzzo M. Sore nipples: preventions and problems solving.
de vida, entretanto, não reflete a cura das fissuras. Nesse
Herndon: WMC Worldwide Publishing; 2000.
grupo apenas 50% das lesões mamilares evoluíram para uma 5. Linhares E. Mamas, lactação, obstetrícia. 3a. ed. Rio de Janeiro:
cicatrização completa. Potter [9] relata que apesar do melhor Guanabara Koogan; 1974.
tratamento para as lesões mamilares ainda ser a prevenção, 6. Snowden HM, Renfrew MJ, Woolridge MW. Treatments for
estratégias que sejam efetivas em tratá-las também são de breast engorgement during lactation. Cochrane Database Syst
extrema importância, pois quanto mais rápido ocorrer a Rev CD000046, 2001.
cicatrização, maiores serão as chances de retorno à prática 7. Cotterman KJ. Reverse pressure softening: a simple tool to
da amamentação e menores serão os riscos de complicações prepare areola for easier latching during engorgement. J Hum
maternas secundárias a estas lesões, como, por exemplo, o Lact 2004;20(2):227-37.
8. Riordan JM, Nichols FHA. Descriptive study of lactation
desenvolvimento da mastite e dos abscessos. Nesse contex-
mastitis in long-term breastfeeding women. J Hum Lact
to, o tratamento fototerápico utilizado no presente estudo
1990;6(2):53-8.
destaca-se das orientações por ter favorecido o fechamento 9. Potter B. Women’s experiences of managing mastitis. Commu-
completo das fissuras mamilares em todas as participantes nity Pract 2005;76(6):209-12.
do grupo experimental. 10. Lawrence RA, Lawrence RM. Management of the mother-infant
O protótipo desenvolvido para o tratamento das lesões nursing couple. In: Breastfeeding: A guide for the medical
mamilares mostrou-se prático, pois foi confeccionado respei- profession. 5ª ed. St Louis: Mosby; 1999.
tando o formato anatômico para encaixe na mama humana 11. Buchko BL, Pugh LC, Bishop BA, Cochran JF, Smith LR, Lerew
feminina. O conforto oferecido à paciente e ao terapeuta, a DJ. Comfort measures in breastfeeding, primiparous women. J
facilidade de manipulação e a higienização do equipamento, Obstet Gynecol Neonatal Nurs 1994;23(1):46-52.
12. McLachlan Z, Milne EJ, Lumley J, Walker BR. Ultrasound
a acoplagem adequada à área de tratamento e a facilidade de
treatment breast engorgement: a randomized double blind trial.
transporte e acomodação no ambiente terapêutico dinâmico, Aust J Physioter 1991;37:23-8.
juntamente com os resultados positivos encontrados neste 13. Ziemer MM, Cooper DM, Pigeon JG. Evaluation of a dressing
estudo sugerem que esse dispositivo é uma alternativa promis- to reduce nipple pain and improve nipple skin condition in
sora para o tratamento das fissuras e rachaduras do mamilo. breast-feeding women. Nurs Res 1995;44(6):347-51.
Novos estudos são, entretanto, necessários para avaliar a 14. Giugliani ERJ. Falta embasamento científico no tratamento dos
reprodutibilidade dos resultados observados em uma amostra traumas mamilares. J Pediatr (Rio J) 2003;79(3):197-8.
de tamanho maior e validar a eficácia do dispositivo fotobio- 15. Gonçalves RV, Novaes RD, Matta SL, Benevides GP, Faria
modulador para o tratamento das fissuras mamilares. FR, Pinto MV. Comparative study of the effects of gallium-
-aluminum-arsenide laser photobiomodulation and healing
oil on skin wounds in Wistar rats: a histomorphometric study.
Conclusão Photmed Laser Surg 2010;28(5):597-602.
16. Peplow PV, Chung TY, Baxter GD. Laser photobiomodulation
Os resultados do presente trabalho sugerem que o protó- of wound healing: a review of experimental studies in mouse and
tipo emissor de ondas eletromagnéticas na faixa espectral do rat animal models. Photmed Laser Surg 2010;28(3):291-325.
infravermelho próximo, desenvolvido especificamente para o 17. Krynica I, Rutowski R, Staniszewska-Kus J, Fugiel J, Zaleski A.
tratamento de traumas mamilares, foi um instrumento eficaz The role of laser biostimulation in early post-surgery rehabilita-
para o tratamento clínico das lesões mamilares das puérperas tion and its effect on wound healing. Ortop Traumatol Rehabil
participantes deste estudo. A aplicação deste protótipo pro- 2010;12(1):67-79.
porcionou a aceleração do processo de cicatrização nas lesões 18. Hussein AJ, Alfars AA, Falih MA, Hassan AlNA. Effects of a
low level laser on the acceleration of wound healing in rabbits.
das lactentes que foram submetidas a esta aplicação.
N Am J Med Sci 2011;3(4):193-7.
19. Dadpay M, Sharifian Z, Bayat M, Bayat M, Dabbagh A. Effects
Agradecimentos of pulsed infra-red low level-laser irradiation on open skin
wound healing of healthy and streptozotocin-induced diabetic
Agradecemos à equipe do Laboratório de Bioengenharia rats by biomechanical evaluation. J Photochem Photobiol B
da UFMG, em especial Sara Del Vecchio e Maurício Ferrari 2012;111:1-8.
Santos Corrêa, e à Bios Serviços e Comércio pelo auxílio no 20. Fiório FB, Silveira Junior L, Munin E, de Lima CJ, Fernandes
desenvolvimento do protótipo luminoso. KP, Mesquita-Ferrari RA, et al. Effect of incoherent LED radia-
tion on third-degree burning wounds in rats. J Cosmet Laser
Ther 2011;13(6):315-22.
Referências
21. Chung H, Dai T, Sharma SK, Huang YY, Carrol JD, Hamblin
MRH. The nuts and bolts of low-level laser (light) therapy. Ann
1. Giugliani ERJ. Common problem during lactation and their
Biomed Eng 2012;40(2):516-33.
management. J Pediatr (Rio J) 2004;80:147-54.
26 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
22. Cauwels RG, Martens LC. Low level laser therapy in oral mu- 29. Siqueira FCHN, Reinert TC, Correa KP, Kotz JC, Bertolini
cositis: a pilot study. Eur Arch Paediatr Dent 2011;12:118-23. GRF. Uso de laser de baixa intensidade AsALGa, 830nm,
23. Alekseenko AV, Palianitsa SI, Tarabanchuck VV, Seniutovich em pacientes portadores de úlceras de pressão. Reabilitar
RV, Stoliar VF. Treatment of suppurative mastitis with the use 2004;23:10-5.
of laser radiation and direct electric current. Vestn khir Im I I 30. Karu TI. Photobiology of low power laser effects. Health Phys
Grek 1987;139:54-7. 1989;56:691-704.
24. Kovalev MI. Prevention of lactation mastitis using low-intensity 31. Franek A, Krol P, Kucharzewski M. Does low output Laser
laser irradiation. Akush Ginekol (Mosk) 1990;2:51-61. stimulation enhance the healing of crural ulceration? Some
25. Pereira MJB, Reis MCG, Shimo AKK, Nakano AMS, Heck AR. critical remarks. Med Eng Phys 2002;24:607-15.
Manual de procedimentos: prevenção e tratamento das inter- 32. Sousa APC, Santos JN, Reis JA, Ramos TA, Souza J, Can-
corrências mamárias na amamentação. Programa Aleitamento gussu MCT, Pinheiro ALB. Effect of LED phototherapy of
Materno - SMS (Secretaria Municipal da Saúde), NALMA three distinct wavelengths on fibroblasts on wound healing:
(Núcleo de Aleitamento Materno da EERP-USP), SUS; 1998. a histological study in a rodent model. Photomed Laser Surg
26. Siqueira CPCM, Filho DOT, Lima FM, Silva FP, Durante H, 2010;28(4):547-52.
Dias IFL, et al. Efeitos biológicos da luz: aplicação de terapia de 33. Ortiz MC, Carrinho PM, Santos AAS, Gonçalves RC, Pari-
baixa potência empregando LEDs (Light Emitting Diode) na zzotto NA. Laser de baixa intensidade: efeitos sobre os tecidos
cicatrização da úlcera venosa: relato de caso. Semina: Ciências biológicos – Parte II. Fisioter Bras 2001;2:337-52.
Biológicas e da Saúde 2009;30(1):37-46. 34. Simunovic E, Ivankovich AD, Depolo A. Wound healing of
27. Ortiz MC, Carrinho PM, Santos AAS, Gonçalves RC, Parizotto animal and human body sport and traffic accident injuries using
NA. Laser de baixa intensidade: princípios e generalidades – low-level Laser therapy treatment: a randomized clinical study
Parte I. Fisioter Bras 2001;2:221-40. of seventy-four patients with control group. J Clin Laser Med
28. Lucas C, van-Gemert MJ, de Haan RJ. Efficacy of low level Surg 2000;18:67-73.
LASER therapy in the management of stage III decubitus ulcers: 35. Flemming K, Cullum NA. Laser therapy for venous leg ulcers
a prospective, observer-blinded multicenter randomised clinical (Review). The Cochrane Collaboration. The Cochranne Library
trial. Lasers Med Sci 2003;18:72-7. 2009; Issue 1.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 27
Artigo original
*Residente em Fisioterapia Neurofuncional pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Pós-graduado em Terapia Manual e Biomecânica Clínica pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO),
**Pós-graduado em Terapia Manual e Biomecânica Clínica pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Mestrando em
Ciências da Reabilitação pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), ***Discente de Fisioterapia pelo Centro Universi-
tário Serra dos Órgãos (UNIFESO), ****Docente de Fisioterapia pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Labora-
tório de Biomecânica e Comportamento Motor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LaBiCoM/UERJ), Fisioterapeuta da
Clínica Escola de Fisioterapia da UniverCidade Campus Praça XI
Resumo Abstract
Introdução: Disfunções na marcha de idosos são problemas Introduction: Gait disorders in elderly people are problems re-
quanto ao risco de quedas e do ato motriz, modificações estas lated to risk of falling and movement of the act, and these changes
acentuadas por doenças crônico-degenerativas como a gonartrose. increases with chronic degenerative diseases such as gonarthrosis.
A Mobilização Articular (MA) consiste numa prática comum para The Joint Mobilization (JM) is a common practice to restore joint
restauração da função, entretanto, poucos dados comprovam sua function; however, there are few data demonstrating its effective-
eficácia, principalmente acerca da amplitude da passada e frequência ness, especially on the amplitude and frequency of stride gait in
da marcha em idosos com gonartrose. A normalização da marcha elderly patients with gonarthrosis. The normalization of gait aims
tem como intuito minimizar os efeitos das variáveis massa e altura at minimizing the effects of varying mass and height in homoge-
em amostras não homogêneas. Objetivos: O presente estudo teve neous samples. Objectives: The objective of this study was to analyze
por objetivo analisar quantitativamente as alterações do tamanho da quantitatively, with standardized measures of walking, the changes in
passada com medidas normalizadas e frequência da marcha, através stride length and frequency, using the kinematics, in elderly patients
da cinemetria, em indivíduos idosos com gonartrose, submetidos à with gonarthrosis who performed joint mobilization. Methods: The
mobilização articular. Materiais e métodos: A amostra foi composta sample consisted of five elderly aged 60-70 years, diagnosed with
por cinco idosos entre 60-70 anos, com diagnóstico de gonartrose bilateral gonarthrosis, grades I and II. This was an experimental,
bilateral, graus I e II. Tratou-se de um estudo experimental, lon- longitudinal, prospective, blinded study, with individual control.
gitudinal, prospectivo e cego, sendo cada indivíduo controle de si The kinematic data were obtained and digitized using Skillspector®
mesmo. Os dados cinemáticos foram obtidos pela videometria e software video program. Accessory joint mobilization was perfor-
digitalizados pelo software Skillspector®. A mobilização articular aces- med in grade IV, according to Maitland, to the knee joint to the
sória foi realizada no grau IV, segundo Maitland, para a articulação anterior-posterior and posterior-anterior for 45 days, twice weekly.
do joelho nos sentidos ântero-posterior e póstero-anterior durante The results were analyzed using descriptive statistics and Student t
45 dias, duas vezes semanalmente. Os resultados foram submetidos test, considering significant p < 0.05. Results: Data of stride length
à análise descritiva e estatística através do teste t student, considera- measurement was 1.24 m and 1.42 m before and after normalization,
dos significativo p < 0,05. Resultados: Para o tamanho da passada, respectively. The initial frequency was 0.87 Hz and 1.02 Hz after
obteve-se 1,24 m e 1,42 m para os dados pré e pós-normalização, the MA. Conclusion: JM tended to optimize the values for stride
respectivamente. A frequência inicial foi de 0,87 Hz e 1,02 Hz após a length and frequency of gait, however, the small sample size used
MA. Conclusão: A MA tendeu a otimizar os valores para tamanho da in this study may be considered a limitation.
passada e frequência da marcha, todavia, admitimos como limitação Key-words: biomechanics, Maitland concept, gonarthrosis, gait,
do estudo o número pequeno da amostra. aged.
Palavras-chave: biomecânica, conceito Maitland, gonartrose,
marcha, idoso.
Material e métodos maior do fêmur, côndilo lateral, maléolo lateral, região lateral
do calcâneo, epífise distal do quinto metatarso, região medial
Amostra do calcâneo e epífise distal do primeiro metatarso, de acordo
com o citado por Batista [12]. Os pontos anatômicos descritos
A amostra foi composta por 5 pacientes atrelados a Clí- são confiáveis e localizados através da anatomia palpatória,
nica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Serra caso contrário a captura de dados estaria propensa a erros
dos Órgãos (UNIFESO), no ambulatório de Geriatria, dos de perspectiva. Em função de perspectivas de investigação
quais, 4 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Os pacientes o modelo foi composto por sete segmentos através da união
incluídos deveriam apresentar idade entre 60-70 anos, aco- das estrutras descritas.
metidos por gonartrose. A coleta de dados foi realizada no Para este estudo foram utilizados marcadores esféricos de
UNIFESO, Teresópolis, Rio de Janeiro. O presente trabalho isopor, com diâmetro de 25 mm fixados em circunferências
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da instituição de PVC preto, com 40 mm de diâmetro. Tais marcadores
segundo o protocolo 413-09. apresentaram bom contraste e, por serem esferas pequenas,
Para o presente estudo adotou-se os seguintes critérios comprometeram o mínimo possível a precisão da digitalização
de inclusão: a) idade compreendida entre 60-70 anos; b) dos pontos no caso de deslocamentos no plano transverso.
gonartrose bilateral confirmada por diagnóstico clínico; c) Utilizou-se para calibragem do sistema de registro de
evidência radiológica de gonartrose graus I e II; d) marcha imagem um cubo ou um quadrado de 0,50cm de lado, o
independente, sem o uso de dispositivos de auxílio; e) con- qual foi colocado no campo de visão de forma que um de
sentimento informado e concordância com a participação seus lados alinhados ficasse ajustado com o plano de captura.
no estudo. O software Skillspector® foi utilizado para processar a imagem
Não puderam fazer parte deste estudo os indivíduos que que tomou um dos vértices do quadrilátero como origem do
apresentavam: a) alterações neurológicas que afetassem o sistema de referência global.
controle motor; b) aumento do grau de valgismo ou varismo Os participantes caminharam sobre uma pista de 10 m
do joelho, determinado através de cálculo angular; c) próteses de comprimento em um piso plano. Aos sujeitos fora per-
de joelho; d) discrepância entre um membro inferior e outro mitido uma familiarização com a pista antes que os dados
superior a 20 mm ou 2,0 cm, pois, segundo Gurney [21] experimentais fossem coletados. O tamanho da mesma pos-
a marcha submetida a partir dessa assimetria compromete sibilitou aceleração suficiente e tempo de desaceleração fora
os momentos articulares; e) déficit cognitivo que impedia a do intervalo onde ocorrera a captura dos dados.
compreensão das tarefas propostas neste estudo. Os pacientes foram submetidos ao conceito Maitland
duas vezes na semana (terças e sextas-feiras), durante 45 dias
Procedimento experimental (12 sessões). As avaliações quanto ao status cinemático da
marcha, através da cinemetria, foram realizadas no primeiro
Os pacientes admitidos foram avaliados e seus exames e no quadragésimo quinto dia. A mobilização articular atra-
complementares analisados a fim de identificar a patologia vés do conceito Maitland fora realizada no grau IV, ou seja,
e, depois de confirmado o diagnóstico de gonartrose, foram oscilações de pequena amplitude até a segunda resistência já
convidados a participar do estudo. Utilizou-se uma fita métri- que os pacientes apresentavam um SIN (Severidade, Irrita-
ca da marca Easy Read Cateb para mensuração dos membros bilidade e Natureza da Lesão) baixo ou não-irritáveis, sendo
inferiores, realizada de duas formas: do trocânter maior até o cinco repetições, com um minuto de mobilização seguida
chão [13], medida esta utilizada para normalização dos dados por trinta segundos de repouso, tanto nos sentidos ântero-
e, da espinha ilíaca ântero-superior até o maléolo medial, -posterior quanto no póstero-anterior. O tempo necessário
medida utilizada com a finalidade de excluir as amostras de mobilização foi marcado por um cronômetro da marca
que apresentaram assimetria igual ou maior a 2,0cm. Uma Herweg®.
filmadora da marca Sony modelo HDR-SR10 HD e o sof- Por se tratar de uma articulação enquadrada na segunda
tware Skillspector® foram utilizados com o intuito de ajudar lei do côncavo-convexo, o deslizamento nas mobilizações da
no processo temporal e espacial da marcha. articulação do joelho foi realizado no mesmo sentido dos
Para análise dos parâmetros cinemáticos da marcha foi movimentos angulares. A mobilização articular pelo conceito
utilizada a técnica de videometria, definida por Batista [12]. Maitland foi realizada pelo mesmo pesquisador, evitando-
As imagens foram capturadas no plano sagital, pois segundo -se, assim, variações de força interexaminadores durante a
Vaughan, Davis & O’Connor [22], este é o plano mais im- execução da mesma.
portante na marcha, porque nele se manifesta a maior parte
do movimento. Tratamento estatístico
Para a conduta motora utilizada neste estudo, no caso
a marcha, foi necessária a utilização de pontos situados em Os resultados do presente estudo foram submetidos à
regiões anatômicas específicas, como: crista ilíaca, trocânter análise descritiva e à análise estatística através do teste t de
30 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
student pareado e bicaudal. Os resultados foram expressos No Gráfico 2 observamos a diferença entre as médias das
em média ± desvio padrão e p < 0,05 foi considerado estati- passadas naturais normalizadas antes e após a mobilização
camente significativo. articular, onde valor de p < 0,05.
Para verificar a homogeneidade da amostra foi utilizado o
software Statdisk© versão 11.1.0, e empregado o Ryan-Joiner Gráfico 2 - Médias para tamanho da passada natural normalizada
Test para averiguação de normalidade das mesmas. Foi consi- antes [TP(N)] e após submissão ao método Maitland [TPN(MA)],
derada rejeitada quando < 0,05. Sendo assim, todas as amos- em metros (m).
tras demonstraram ser homogêneas. Para análise estatística e Médias TP (Natural) x TP (Normalizada) p<0,0001
2.0
construção gráfica foi empregado o programa GraphPad 5.0.
1.5 1,42
1,24
Resultados
m
1.0
Dezoito pacientes com diagnóstico clínico de gonartrose
bilateral que estavam em tratamento fisioterapêutico na 0.5
Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFESO foram pré-
-selecionados, porém somente cinco pacientes preencheram 0.0
TP (N) TP N (MA)
todos os critérios de inclusão e exclusão, constituindo assim
a amostra final. Dos cinco pacientes, quatro foram do sexo
feminino e um do sexo masculino, com idade média de 67 ± Discussão
3 anos. Outros cinco pacientes tiveram seus dados colhidos
e estes analisados por um segundo examinador, sem que este O objetivo do presente estudo foi analisar quantitativa-
soubesse quais pacientes pertenciam ao grupo experimental, mente as alterações do tamanho da passada com medidas
bem como sem saber as quais imagens pertenciam aos mo- normalizadas e frequência da marcha, através da cinemetria,
mentos pré e pós-intervenção, caracterizando assim o estudo em indivíduos idosos com gonartrose, submetidos à mobili-
como cego. zação articular pelo conceito Maitland.
Na Tabela I, observam-se os dados descritivos sobre as O emprego da mobilização articular pelo método Mai-
características da amostra. tland consiste numa prática comum empregada na fisioterapia
para redução da dor e restauração da função, no entanto, exis-
Tabela I - Característica da amostra (N = 5). tem poucos dados experimentais comprovando sua eficácia,
Média Desvio padrão principalmente ao que tange à população idosa acometida
Massa 82,68 ±13,34 por gonartrose.
Estatura 159,40 ±5,32 Quanto ao aspecto da frequência da marcha, foram encon-
IMC 32,50 ±4,93 trados estudos que a utilizaram para controlar o ato motor,
Comprimento CMMII 79,01 ±4,85 tais como Danion et al. [23], que controlaram a marcha
através de diferentes frequências. O estudo referido teve como
Valores médios e desvio padrão (±) para massa em quilo- objetivo constatar a existência da correlação entre as variáveis
gramas (kg), estatura em centímetros (cm), índice de massa tamanho da passada, com o aumento da frequência da marcha,
corporal (IMC) em quilogramas por metro quadrado (kg/m2) e em indivíduos saudáveis de ambos os sexos. A frequência da
comprimento dos membros inferiores (CMMII) em centímetros. marcha foi determinada por um metrônomo e convertida
Na associação das variáveis de interesse, encontra-se no em velocidade, com auxílio de uma esteira ergométrica. As
gráfico 1 a diferença entre as médias oriundas para a frequ- diferentes frequências utilizadas pelos autores foram de: 0,75;
ência da marcha, antes e após a submissão da técnica, sendo 0,90; 1,15; 1,45 Hz. Em nosso estudo, o que diferiu foi a for-
p < 0,05. ma que os autores estimaram a frequência, a qual foi adotada
pelo ritmo do metrônomo e pela esteira ergométrica, bem
Gráfico 1 - Médias para frequência natural [F (N)] e após submissão como diferiu a idade dos sujeitos pertencentes às amostras.
ao método Maitland [F (MTL)], em hertz (Hz). Nosso estudo foi similar, na forma em que a marcha foi de-
1.5 Médias para a frequência (p=0,0199) terminada, ao estudo de marcha de Custódio & Batista [24].
1,02 Os autores utilizaram a mesma metodologia para determinar
1.0
0,87 a frequência da marcha, em duas velocidades (velocidade de
deslocamento autoselecionada e velocidade de deslocamento
Hz
presença de indivíduos saudáveis na mesma, pois os sujeitos Os resultados obtidos no presente trabalho proporcionam
apresentavam gonartrose bilateralmente. um maior conhecimento sobre os efeitos da mobilização
Quando analisada a amplitude média da passada, Cristo- articular, segundo o conceito Maitland, no que tange aos
poliski et al. [25] encontraram um valor médio de 0,93 ± 0,12 aspectos cinemáticos da marcha nos sujeitos acometidos por
m para medidas não normalizadas. Outros trabalhos analisam gonartrose. Os resultados da nossa pesquisa podem alicerçar
as médias para o tamanho do passo, como feito por Farinatti a prática clínica do fisioterapeuta acerca da utilização do
& Lopes [26] e Elbaz et al. [27]. No primeiro, a amplitude conceito Maitland como ferramenta importante na reabili-
média do passo em 28 sujeitos, fisicamente independentes tação da marcha em idosos, em especial aqueles acometidos
com idades entre 60 e 86 anos, tendo como valor médio para por gonartrose.
o passo 0,70 ± 0,09 m. No segundo estudo, os valores médios A compreensão destes resultados nos leva à busca de um
de 0,56 ± 6,9 e 0,55 ± 7,3 m para os indivíduos mais e me- novo modelo de análise da marcha, recomendando-se, para
nos afetados pela gonartrose em medidas não normalizadas, uma análise mais criteriosa, a necessidade de normalizá-
respectivamente e, 0,69 ± 0,08 m para ambos, mais e menos -la, tendo como parâmetros o comprimento do membro
comprometidos, após a normalização. Em ambos os trabalhos inferior e a amplitude média da passada. Não há indícios
as medidas foram corrigidas de acordo com o comprimento na literatura sobre a utilização de dados normalizados para
dos membros inferiores. No entanto, Hof [13] postula que tratar a deambulação de indivíduos com comprometimento
preferencialmente sejam analisados os valores médios para o musculoesquelético, sendo assim, os dados oriundos deste
tamanho da passada, já que, segundo o mesmo, o passo tende estudo podem contribuir para o aperfeiçoamento acerca da
a sofrer maior variabilidade. reabilitação da marcha em indivíduos idosos acometidos por
Diante da possibilidade de uma amostra heterogênea, gonartrose bilateralmente.
constatamos a necessidade de normalizar a marcha pela
relação entre o tamanho da passada e a altura trocantérica Referências
(que representa o comprimento do membro inferior), com o
intuito de obter dados mais precisos. Esta estratégia foi ado- 1. Ramos LR. Determinant factors for healthy aging among senior
tada baseando-se nas propostas de normalização da marcha citizens in a large city: the Epidoso Project in Sao Paulo. Cad
descritas por Hof [13], Sutherland [28] e Zijlstra, Prokop & Saúde Pública 2003;19(3):793-8.
2. Rodrigues MAP, Facchini LA, Thumé E, Maia F. Gender and
Berger [29]. Os referidos autores elucidam nos seus estudos
incidence of functional disability in the elderly: a systematic
que analisar a marcha sem normalizá-la é inviável pelo motivo
review. Cad Saúde Pública 2009;25(Sup3):464-76.
da interveniência de variáveis antropométricas, tais como: 3. Kubinski AJ, Higginson JS. Strategies used during a challenging
massa, estatura e comprimento do membro inferior. Hof & weighted walking task in healthy adults and individuals with
Zijlstra [30] discutem ainda que existem diferenças entre a knee osteoarthrits. Gait & Posture 2012;35:6-10.
marcha normalizada pela altura trocantérica e a normalização 4. Maki BE. Gait changes in older adults: predictors of falls or
feita a partir dos valores da estatura e peso como ocorre em indicators of fear? J Am Geriatr Soc 1997;45(3):313-20.
outros estudos. Isso se justifica porque o comprimento da 5. Chamberlin ME, Fulwider BD, Sanders SL, Medeiros JM. Does
perna aumenta proporcionalmente mais do que a relação da fear of falling influence spatial and temporal gait parameters in
altura total do corpo humano. Constatou-se que o compri- elderly persons beyond changes associated with normal aging?
J Gerontol A Biol Sci Med 2005;60(9):1163-7.
mento do passo, preferencialmente quando normalizado pelo
6. Kaufman KR, Hughes C, Morrey BF, Morrey M. Gait cha-
comprimento da perna, é essencialmente constante dos 3,5 racteristics of patients with knee osteoarthritis. J Biomech,
anos de idade até a fase adulta. 2001;34(7):907-15.
7. Amatuzzi MM. Joelho: articulação central dos membros infe-
Conclusão riores. Rio de Janeiro: Roca; 2004.
8. Chang A, Hayes K, Dunlop D, Song J, Hurwitz D, Cahue
Baseado nos fatos comprovados através de tratamento S, et al. Hip abduction moment and protection against me-
estatístico, por meio de uma avaliação quantitativa, conclu- dial tibiofemoral osteoarthritis progression. Arthritis Rheum
ímos que a mobilização articular pelo conceito Maitland 2005;52(11):3515-9.
9. Maly MR, Costigan PA, Olney SJ. Mechanical factors relate to
tendeu a apresentar uma eficácia quanto ao aspecto motriz,
pain in knee osteoarthritis. Clin Biomech 2008;23:796-805.
no caso a marcha. Tal efeito foi comprovado na melhora
10. Senna ER, Barros AL, Silva EO, Costa IF, Pereira LV, Ciconelli
dos aspectos cinemáticos da marcha analisados, sendo estes: RM, et al. Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study
frequência e amplitude da passada. Em virtude do tamanho using the COPCORD approach. J Rheumatol 2004;31(3):594-7.
da amostra, o presente estudo caracterizou-se como piloto, 11. Landry SC, McKean KA, Hubley-Kozey CL, Stanish WD, De-
sendo assim, recomendamos que estudos posteriores possam luzio KJ. Knee biomechanics of moderate OA patients measured
verificar o efeito do processo manipulativo aumentando o during gait at a self-selected and fast walking speed. J Biomech
contingente amostral, e também, utilizá-lo em diferentes 2007;40:1754-61.
faixas etárias. 12. Batista LA. Introdução à Biomecânica Aplicada. Rio de Janeiro:
LaBiCoM/UERJ, 2004.
32 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
13. Hof AL. Scaling gait data to body size. Gait and Posture 23. Danion F, Varraine E, Bonnard M, Pailhous J. Stride variability
1996;4:222-3. in human gait: the effect of stride frequency and stride length.
14. Maitland GD. Princípios das técnicas. In: Maitland GD, ed. Gait Posture 2003;18:69-77.
Maitland’s Vertebral Manipulation. 6. ed. London: Butterworth 24. Custódio AS, Batista LA. Estudo cinemático, com medidas
Heinemann; 2001. p.171-82. normalizadas e não normalizadas, de marchas realizadas em di-
15. Denegar CR, Hertel J, Fonseca J. The effect of lateral ankle ferentes velocidades [Dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade
sprain on dorsiflexion range of motion, posterior talar glide, Castelo Branco; 2010. 88f.
and joint laxity. J Orthop Sports Phys Ther 2002;32:166-73. 25. Cristopoliski F, Cristopoliski F, Sarraf TA, Dezan VH. Efei-
16. Green T, Refshauge K, Crosbie J, Adams R. A randomized to transiente de exercícios de flexibilidade na articulação
controlled trial of a passive accessory joint mobilization on do quadril sobre a marcha de idosas. Rev Bras Med Espor-
acute ankle inversion sprains. Phys Ther 2003;81(4):984-94. te 2008;14(2):139-44.
17. Pellow JE, Brantinghan JW. The efficacy of adjusting the 26. Farinatti PTV, Lopes LNC. Amplitude e cadência do passo e
ankle in the treatment of subagude and chronic grade I and componentes da aptidão muscular em idosos: um estudo correla-
grade II ankle inversion sprains. J Manipulative Physiol Ther cional multivariado. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):389-94.
2001;24(1):17-24. 27. Elbaz A, Mor A, Segal G, Debbi E, Harim A. APOS therapy
18. Norkin C, Levangie P. Joint structure and function: a com- improves clinical measurements and gait in patients with knee
prehensive analysis. 2a ed. Philadelphia: FA Davis; 1992. osteoarthritis. Clin Biomech 2010;25(9):920-5.
19. Hsu A, Ho L, Chang J, Chang G. Characterization of tissue 28. Sutherland DH. Dimensionless gait measurements and gait
resistance during a dorsally directed translation mobilization of maturity. Gait Posture 1996;4:209-11.
the glenohumeral joint. Arch Phys Med Rehabil 2002;83:360-6. 29. Zijlstra W, Prokop T, Berger W. Adaptability of leg movements
20. Cook CE. Effectiveness of visual perceptual learning on interthe- during normal treadmill walking and split-belt walking in chil-
rapist reliability of lumbar spine mobilization. The Internet Jour- dren. Gait Posture 1996;4:212-21.
nal of Allied Health Sciences & Practice, 2003;1(2):1540-80. 30. Hof AL, Zijlstra W. Comment on normalization of temporal-
21. Gurney B. Leg length discrepancy. Gait and Posture -distance parameters in pedriatric gait. J Biomechanics
2002;15:195-206. 1997;30:299.
22. Vaughan CL, Davis BL, O’Connor JC. Dynamics of human
gait. 2a. ed. Cape Town: Kiboho Publishers; 1999.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 33
Artigo original
Resumo Abstract
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteo- Repetitive Cumulative Trauma (RCT) or Work Related Mus-
musculares Relacionados ao Trabalho (DORT) traduzem quadros culoskeletal Disorders (WRMD), correspond to clinical pictures
clínicos de origem ocupacional decorrentes de distúrbios funcionais, of occupational origin resulting from functional disorders, causing
provocando afecções de nervos, músculos, tendões, sinóvias, fáscias affections of nerves, muscles, tendons, synovia, fasciae and ligaments.
e ligamentos. Este trabalho foi realizado com o objetivo de verificar This study has been performed with the objective of verifying the
a prevalência das principais LER/DORT no Centro de Referência main RCT/WRMD prevalent in the Reference Center in Worker’s
em Saúde Trabalhador de Araçatuba/SP no período de dezembro Health of Araçatuba/SP from December 2009 to December 2010,
de 2009 a dezembro de 2010, e destacar dentre todas a patologia and highlighting among all pathologies the most prevalent as well
de maior prevalência como também sexo, idade e profissão. Foram as gender, age and profession. 284 medical records were analized
analisados 284 prontuários, no qual 60 prontuários apresentavam and 60 showed RCT/WRMD diagnosis. The results showed high
diagnóstico de LER/DORT. Os resultados mostraram que a pato- incidence of supraspinatus pathology with 26,6 % cases, the female
logia de maior prevalência foi à tendinite do supraespinhoso com gender was the most affected, in the group 43-55 years old, and
26,6% dos casos, no geral o sexo feminino foi o mais acometido, technical and general services were the categories most affected. We
na faixa etária entre 43 e 55 anos e atingindo principalmente as concluded that the prevalence of RCT/WRMD in the Reference
categorias de serviços técnicos e serviços gerais. Conclui-se que a Center in Worker’s Health of Araçatuba/SP has not been incidencial.
prevalência de LER/DORT no Centro de Referência em Saúde do Key-words: occupational diseases, repetitive strain injury,
Trabalhador não foi incidencial. prevalence.
Palavras-chave: doenças ocupacionais, esforço repetitivo,
patologias, prevalência.
Gráfico 1- A prevalência das principais LER/DORT. Gráfico 3 - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas à idade.
16 17 55
49 48 51 50
43
9
6
5 4 3
g ia
ia
rvain e
ose
as
ia
oso
Queinovite d
icalg
atalg
pinhdo
Outr
ar
oartr
Lomb
suprendinite
g ia
Cerv
ia
rvain e
ia
ose
boci
oso
Queinovite d
Oste
icalg
atalg
a-es
pinhdo
ss
ar
oartr
Lom
Teno
Lomb
suprendinite
T
Cerv
boci
Oste
a-es
ss
Lom
Teno
Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em
T
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009
a dezembro de 2010. Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009
Gráfico 2 - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas a dezembro de 2010.
ao sexo.
Masculino Feminino Tabela I - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas à
10
profissão.
6
4 5 5 4 4 2 1 Categorias Profissões
1 1 0
Do Lar, Doméstica, Faxineira, Lavadeira,
Limpeza
a
ia
uerv de
ose
argi
talgi
icalg
pinhdo
ain
Deqsinovite
oartr
ocia
Lom
Cerv
Lom
Teno
Escritório
T
Balconista, Comerciante
Técnico Eletrônico, Técnico em Telecomuni-
Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em Serviço Téc-
cação, Operador de Som e Luz, Mecânico de
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009 nico
Manutenção
a dezembro de 2010.
Saúde Auxiliar de Enfermagem, Atendente de Farmácia
Educação Professora, Estudante
No Gráfico 3, observa-se a prevalência em relação à idade,
Transporte Motorista, Guincheiro
onde a média de idade foi de 49 anos para a tendinite do
Estoque Almoxarife
supraespinhoso, 48 anos para a cervicalgia, 43 anos para a
Aposentado Aposentado
tenossinovite de Quervain, 55 anos para a lombalgia, 51 anos
Fonte: Pesquisa dos autores.
para a lombociatalgia e 50 anos para a osteoartrose. No geral
a faixa etária afetada foi dos 43 aos 55 anos.
Na Tabela II se encontram as categorias e as patologias
Nas Tabelas I e II, observam-se as principais LER/DORT
apresentadas em cada uma delas.
relacionadas com as profissões acometidas por elas.
Na Tabela I se encontram todas as profissões que apre-
Tabela II - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas
sentaram algum tipo de LER/DORT que se encaixavam
às profissões.
dentre as seis principais patologias apresentadas neste estudo,
Categorias Patologias
separadas por categorias, que são limpeza (do lar, doméstica,
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
faxineira, lavadeira, auxiliar de limpeza de cemitério), servi-
Limpeza Tenossinovite de Quervain, Lombalgia, Lom-
ços gerais (auxiliar de serviços gerais, costureira, jardineiro,
bociatalgia
pedreiro, alfaiate de tapeçaria), escritório (assistente contábil,
Serviços Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
vendedora, atendente, balconista, comerciante), serviço
Gerais Lombociatalgia
técnico (técnico eletrônico, técnico em telecomunicação,
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
operador de som e luz, mecânico de manutenção), saúde Escritório
Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose
(auxiliar de enfermagem, atendente de farmácia), educação
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
(professora, estudante), transporte (motorista, guincheiro), ServiçoTécnico
Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose,
estoque (almoxarife), e aposentado (aposentado).
Saúde Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose
Educação Cervicalgia, Lombalgia, Lombociatalgia
36 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia, do que foi encontrado no presente estudo, cuja prevalência
Transporte em relação à idade no geral foi dos 43 aos 55 anos, ou seja a
Lombalgia.
Estoque Tendinite do supraespinhoso idade mínima foi 43 anos, contradizendo também Ksam [5]
Aposentado Lombalgia que afirma que as LER/DORT em países industrializados é
Fonte: Pesquisa dos autores. a principal causa de incapacidade dos indivíduos com idade
inferior a 45 anos. Merlo et al. [11] constataram em seu estudo
Discussão que a prevalência de LER/DORT é maior na faixa etária dos
34 aos 51 anos.
A prevalência de LER/DORT vem apresentando um Profissões que submetem os trabalhadores a jornadas
aumento significativo com o passar dos anos. excessivas de trabalho, execução de grande quantidade de
Augusto et al.[3] em seu estudo destaca que a cada 7 casos movimentos repetitivos em grande velocidade, sobrecarga de
de afastamento do trabalho, 5 são por algum tipo de LER/ determinados grupos musculares, ausência de controle sobre
DORT. No presente estudo foram analisados 284 prontuá- modo e ritmo de trabalho e ausência de pausas aumentam a
rios, dos quais apenas 60 apresentavam diagnóstico de LER/ prevalência de LER/DORT [10,13].
DORT, ou seja, 21% dos casos, uma prevalência relativamente Maciel et al. [12] destaca a grande prevalência de LER/
baixa se comparado ao estudo citado, mas sem comprovação DORT atingindo principalmente tronco e membros superio-
de afastamento. res em trabalhadores que desenvolvem trabalhos domésticos e
Ksam [5] afirma que as lombalgias tem sido a principal de serviços gerais como, por exemplo, jardinagem, costureiras,
causa de incapacidade, atingindo cerca de 50 a 90% dos in- tricotar, além dos músicos. Santos [6] também destaca um
divíduos adultos, já em nosso estudo a lombalgia representou comprometimento maior em membros superiores e tronco
apenas 8,30% dos casos. em profissões como: auxiliar de produção industrial, digita-
Merlo et al. [11] realizaram um estudo no Ambulatório de dor, operador de caixa, telefonista, costureiras e empregadas
Doenças do Trabalho do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, domésticas. Assim como no presente estudo, as categorias
onde as LER/DORT foram responsáveis por 70% dos casos, limpeza e serviços gerais apresentaram patologias no tronco
sendo que a síndrome do túnel do carpo representa mais da e nos membros superiores.
metade desses casos. Regis Filho e Michels [1], em estudo Brito et al. [13] analisaram os tipos de trabalho que mais
com cirurgiões dentistas, também destacaram alta prevalência oferecem riscos para o desenvolvimento das lombalgias.
da patologia síndrome do túnel do carpo, contradizendo o Encontraram que os de maior índice foram as atividades em
presente estudo, no qual a patologia não está nem entre as pé com carga e aquelas em que é mantida a posição sentada
de maior prevalência. por um longo período de tempo. As atividades de maior
A prevalência em relação ao sexo apresentou um percentual prevalência foram: donas de casa, estudantes, professores,
com pequena diferença, o sexo feminino representa 60% dos cabeleireiros, motoristas, padeiros e manicures.
casos e o sexo masculino 40%. Oliveira [14] em seu estudo com um grupo de digitadores
Regis Filho e Michels [1] consideram o sexo feminino mostra uma maior prevalência de LER/DORT em extremi-
como sendo o mais facilmente afetado, talvez devido à dades superiores. Assim como Regis Filho e Michels [1] que
acumulação da jornada doméstica, menor número de fibras em seu estudo destacaram o acometimento de punho e mão
musculares, menor capacidade de armazenar e converter o em intérpretes de linguagem de sinais, devido à quantidade de
glicogênio em energia útil, e por serem destinadas a elas na movimentos repetitivos, gerando estresse biomecânico sobre
empresa, as atividades mais repetitivas e que exigem maior as extremidades superiores.
habilidade. Santos [9] em seu estudo também relatou a maior Recomenda-se a realização de mais estudos sobre o tema
prevalência do sexo feminino, já que as mulheres foram res- abordado com o objetivo de aprofundar o conhecimento nas
ponsáveis por 76% dos casos. principais patologias consideradas LER/DORT.
Porém, nos prontuários analisados para a realização do
estudo, embora a prevalência tenha sido maior no sexo femi- Conclusão
nino, quase não houve diferença, o sexo feminino representou
60% dos casos e o sexo masculino 40%. Por outro lado Ksam Conclui-se que a prevalência de LER/DORT no Centro
[5] em seu estudo sobre as LER/DORT relata que a ocorrência de Referência em Saúde do Trabalhador de Araçatuba foi
parece ser igual entre homens e mulheres. Somente após os 60 relativamente baixo no período de dezembro de 2009 a
anos houve uma queixa maior no sexo feminino, acredita-se dezembro de 2010, sendo a tendinite do supraespinhoso
que por conta da menopausa. a patologia de maior prevalência com 26,6% dos casos, no
Santos [9] em seu estudo verificou que dos pacientes geral o sexo feminino foi o mais acometido, na faixa etária
atendidos que apresentavam diagnóstivo de LER/DORT a entre 43 e 55 anos e atingindo principalmente as categorias
média de idade foi dos 20 aos 40 anos de idade, ao contrário de serviços técnicos e serviços gerais.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 37
Artigo original
*Especialista em cardiovascular e pneumofuncional – UNIFOR, Especialista em terapia manual e postural – CESUMAR, Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – UFPI, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da
Universidade Federal do Ceará, **Especialista em cardiovascular e pneumofuncional – UNIFOR, Especialista em terapia manual
e postural – CESUMAR, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piaui - UFPI, Coordenador do Projeto de
Extensão em Saúde do Idoso – PROSI, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da Universidade Federal do Ceará,
Doutorando em Cirurgia pela UFC, ***Mestranda em Educação pela Universidade Lusófona, pós-graduanda em Educação pelas
Faculdades INTA, Coordenadora do setor de Fisioterapia do Centro de Reabilitação de Sobral e Preceptora de estágio supervisiona-
do em Fisioterapia das Faculdades INTA, ****Estatístico pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Orientador do Mestrado em
Saúde Pública - UFC e Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da Universidade Federal do Ceará
Resumo Abstract
As causas externas vêm adquirindo grande magnitude, produzin- External causes are acquiring great magnitude, resulting in many
do inúmeras vítimas, tornando-se um desafio a ser enfrentado pelo victims, and is a challenge for the health sector. Among the causes,
setor saúde. Dentre as causas, destacam-se os acidentes de trânsito the traffic accidents are the major public health problems. Therefore,
como principais agravos à saúde da população. Portanto, objetivou- the objective was to analyze the epidemiological and functional
-se analisar o perfil epidemiológico e funcional dos acidentados profile of car crash victims treated at a physical therapy service in
de trânsito atendidos em um serviço de fisioterapia de Fortaleza. Fortaleza. This was a quantitative and cross-sectional study develo-
Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, desenvolvido ped from May to November 2009, in ABCR-center. The Functional
de maio a novembro de 2009, na ABCR-Centro. Para coleta dos Independence Measure (FIM) and Social Participation Scale (SPS)
dados, utilizou-se a Medida de Independência Funcional (MIF) were used to collect data. We evaluated 53 men and four women,
e a Escala de Participação Social (EPS). Avaliou-se 53 homens e 37 ± 14 years old. The fractures were predominant (73.7%) and the
quatro mulheres, com idade média de 37 ± 14 anos. As fraturas lower limbs were the most affected (60%). Most patients had com-
foram predominantes (73,7%) e os membros inferiores, as regiões plete independence for FIM (54.4%), motor (42.1%) and cognitive
mais acometidas (60%). A maioria dos pacientes apresentou inde- (86%). Locomotion was the subdomain that showed the highest
pendência completa para a MIF total (54,4%), motora (42,1%) e levels of dependence. Regarding social participation, (28.1%) had
cognitiva (86%). A locomoção foi o subdomínio que apresentou severe restriction. The social participation multivariate analysis was
os maiores graus de dependência. Quanto à participação social, a carried out using FIM motor, length of stay and marital status. We
maioria (28,1%) apresentou grave restrição. Na análise multivaria- observed predominance of functional independence, with severe
da da participação social, entraram no modelo explicativo a MIF restriction in social participation; and that FIM motor, length of
motora, o tempo de internação e o estado civil. Concluiu-se que stay and marital status explained social participation.
predominaram os indivíduos que apresentavam independência Key-words: functionality, external cause, Physical therapy.
funcional, com grave restrição da participação social; e que a MIF
motora, o tempo de internação e o estado civil foram explicativos
da participação social.
Palavras-chave: funcionalidade, causa externa, Fisioterapia.
às perguntas, se assim o paciente concordasse); concordar em realizado, o mais relatado foi o cirúrgico, tendo sido necessário
participar da pesquisa, através da assinatura do termo de con- em 77,2% dos pacientes. Apenas um paciente necessitou da
sentimento livre e esclarecido. Foram excluídos da pesquisa os utilização de prótese.
pacientes que possuíssem alguma alteração física (congênita ou Neste estudo, o escore médio obtido para MIF total foi
adquirida) antes do evento (acidente de trânsito) mais recente. 104 ± 17,8; para MIF motora, obteve-se o valor de 71,9 ±
Os dados foram coletados através de um roteiro de en- 15,2; e, para MIF cognitiva, o escore 32,5 ± 3,6. Nota-se,
trevista elaborado pelos pesquisadores, contemplando dados portanto, que as maiores restrições relacionavam-se ao do-
relativos à caracterização dos pacientes e do acidente, do mínio motor, destacando-se os subdomínios locomoção e
instrumento MIF e da escala de participação social. Para mobilidade, fato influenciado pelo perfil lesional encontrado
uma maior padronização dos resultados solicitou-se que, afetando predominantemente os membros inferiores.
durante a aplicação da MIF e da escala de participação social, Ao realizar a comparação das médias da MIF total de acor-
os pacientes respondessem os questionamentos tendo como do com a região do corpo atingida pelo acidente, com o teste
referência a condição em que se encontravam no momento de Kruskal-Wallis, foi encontrada diferença estatisticamente
que ingressaram no tratamento fisioterápico. significante entre esses grupos, com p < 0,01 (Tabela I).
As variáveis estudadas foram: idade, sexo, escolaridade,
estado civil, situação trabalhista, tipo de acidente, veículo en- Tabela I - MIF média, desvio padrão e número de pacientes, clas-
volvido, região do corpo acometida, tipo de lesão, MIF total, sificados de acordo com a região do corpo acometida pelo acidente,
MIF motora, MIF cognitiva e escore da Participação Social. referentes aos acidentados de trânsito atendidos na ABCR, de maio
A análise estatística dos dados foi realizada através do a novembro de 2009.
software SPSS, versão 15.0, utilizando-se estatística descritiva Região do corpo MIF Desvio N
e analítica (t’Student para amostras independentes, Exato de acometida média padrão
Fisher, McNemar, Kruskal-Wallis, Mann-Whitney e Regressão MMSS 117,7 5,6 10
Múltipla). Considerou-se significância estatística quando p ≤ MMII 106,8 13,9 34
0,05 (apenas na análise de regressão se aceitou significância CABEÇA 87,4 23,7 7
estatística de p ≤ 0,1). MMSS E MMII 85 17,5 6
A pesquisa foi aprovada previamente pelo Comitê de Ética Fonte: dados da pesquisa
da Universidade Federal do Ceará, através do protocolo de
número 123/ 09. Ao comparar esses grupos dois a dois, para melhor espe-
cificação dessa diferença, através do teste de Mann-Whitney,
Resultados houve diferença estatisticamente significante (p < 0,01) para
os grupos: MMSS / MMII, MMSS / MMSS e MMII, MMSS
Participaram do estudo 57 pacientes, 53 homens e 4 mu- / cabeça, e, MMII / MMSS e MMII.
lheres, com idade mediana de 33 anos, tendo variado de 18 a A participação social foi mensurada inicialmente pelo seu
86 anos. O estado civil predominante foi casado ou em união escore total, e em seguida os pacientes foram classificados
consensual (49,1%), seguido por solteiro (40,4%). Quanto de acordo com seu grau de restrição, conforme o próprio
ao grau de escolaridade, a maioria (42,1%) possuía o ensino instrumento já preconiza. O escore médio obtido foi de
fundamental completo. 26,8, tendo variado de 4 a 59 nos pacientes entrevistados. A
Analisou-se a situação trabalhista anteriormente ao aci- classificação de acordo com os graus de restrição encontra-se
dente e no momento da avaliação. Observou-se que 80,7% na Tabela II.
dos pacientes se encontravam empregados quando sofreram o
acidente; entretanto, na situação atual, sobressaíam-se os que Tabela II - Participação Social categorizada, de acordo com o grau
estavam em licença provisória (52,6%). Ao realizar a compa- de restrição dos acidentados de trânsito atendidos na ABCR, de maio
ração entre esses dois grupos, através do teste de McNemar, a novembro de 2009.
obteve-se significância estatística (p < 0,01). Frequência Frequência
Graus de Restrição
Quanto ao perfil das lesões, predominaram as que envol- Absoluta Relativa (%)
viam os membros, dentre as quais 60% dos avaliados tiveram Nenhuma Restrição 9 15,8
comprometimento dos membros inferiores e 18% dos mem- Leve Restrição 15 26,3
bros superiores; 12% apresentaram comprometimento da Moderada Restrição 13 22,8
região da cabeça. Os tipos de lesões mais relatados foram as Grave Restrição 16 28,1
fraturas (73,7%), apontando para a gravidade desses acidentes. Extrema Restrição 4 7
Em decorrência dessas lesões mais graves, observou-se que Fonte: dados da pesquisa.
a maioria dos pacientes (82,5%) necessitou de internação
hospitalar e que 15,8% desses precisaram de atendimento Os dados referentes à participação social apontam para
em Unidade de Terapia Intensiva. Quanto ao tratamento um grande número de pacientes que apresentaram algum
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 41
tipo de restrição (84,2%), destacando-se os que exibiam grave mulher) e dos 30 aos 39 anos (6,4). Contudo, as mulheres
restrição (28,1%). morrem mais do que os homens nos atropelamentos e no
Para melhor detalhamento da variável Participação meio de transporte como condutora de automóvel [12,13].
Social, resolveu-se considerá-la como variável dependente Neste estudo encontrou-se também uma predominância
e realizou-se o teste de Regressão Múltipla. Inicialmente das lesões de extremidades, fato já evidenciado na literatu-
testou-se a normalidade dessa variável, tendo esta sido con- ra. O Relatório Global de Lesões, através de estimativas da
firmada pela análise gráfica (histograma) e pelos testes de proporção de lesões de extremidades por quedas e acidentes
Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, com hipótese nula de de transporte, encontrou que nos países subdensenvolvidos,
normalidade, obtendo-se os valores de p = 0,2 e de p = 0,11, como é o caso do Brasil, essas lesões acontecem cerca de 2 a
respectivamente. 5 vezes mais frequente do que nos países desenvolvidos [14].
Uma vez confirmada a normalidade dessa variável, Uma pesquisa realizada no Paraná divulgou resultados seme-
partiu-se para a segunda etapa, quando testada a influência lhantes ao do presente estudo, concluindo que os membros
de algumas variáveis sobre a Participação Social, mediante destacam-se como as regiões mais frequentemente lesionadas
teste de regressão linear múltipla. Obteve-se como resultado nos acidentes de trânsito [8].
o modelo descrito na Tabela III, o qual incluiu as variáveis Para determinação do prognóstico dessas lesões, há
MIF motora, tempo de internação e estado civil. que se considerar a influência de uma série de fatores, tais
como: idade, condição de saúde antes do acidente, tempo
Tabela III - Análise de regressão múltipla das variáveis explicativas decorrido entre o evento e a assistência, tipo e gravidade
para a Participação Social dos acidentados de trânsito atendidos na das lesões [15].
ABCR, de maio a novembro de 2009. Um estudo realizado em Fortaleza, enfocando o perfil dos
Erro- pacientes vítimas de trauma, atendidos na rede pública da
Variável B Β P
-padrão cidade, corrobora os achados do presente estudo, ao descrever
Intercepto 36,019 10,726 como lesões mais frequentes as fraturas (48%), as entorses
MIF motora -0,298 0,117 -0,33 0,013 (25%) e as contusões (17%). É válido ressaltar a predomi-
Tempo de Internação 3,025 1,155 0,338 0,011 nância de lesões sérias (fraturas) quanto comparadas às lesões
Estado Civil 3,366 1,097 0,182 0,094 mais leves [16]. Isto pode justificar a situação de deficiência,
R2 = 0,394, desvio-padrão residual = 0,97. Fonte: dados da pesquisa. temporária ou não, gerada nos pacientes que após a alta hos-
pitalar, escoam para os serviços de reabilitação.
O pequeno número de variáveis que compuseram este A aplicabilidade da MIF como preditora da funcionali-
modelo foi influenciado pelo tamanho reduzido da amostra dade em diversas condições patológicas que comprometem
deste estudo, entretanto, o resultado encontrado é muito as funções motoras e cognitivas já foi bastante fundamentada
relevante, uma vez que permite perceber a importante relação em diversos estudos [17-20].
entre essas três variáveis independentes e a Participação Social. Ainda persiste, porém, a dificuldade de serem elaborados
Uma análise de variância realizada após o modelo multi- pontos de corte para classificação dos escores gerais obtidos,
variado confirmou que as variáveis independentes poderiam portanto, atualmente, analisam-se os dados fornecidos por
explicar os escores da Participação Social (p < 0,01). Com essa escalam separando-se igualmente as categorias de clas-
suporte nesses resultados, foi realizada uma análise de multi- sificação.
colinearidade entre as variáveis independentes, pelo Variance O subdomínio da MIF que apresentou graus mais eleva-
Inflation Factor (VIF), tendo-se obtido valores de 1,46 para dos de dependência nesta pesquisa foi a locomoção. É válido
MIF motora, 1,46 para tempo de internação e 1 para estado ressaltar que o aspecto mais comprometedor desse subdo-
civil, indicativos de multicolinearidade aceitável. mínio foi a tarefa “escadas”. Tal achado se faz importante,
uma vez que já foi relatado na literatura que a locomoção é o
Discussão subdomínio que mais se relaciona à qualidade de vida [20].
Há que se destacar ainda, que existem críticas na literatura
Os resultados obtidos neste estudo estão de acordo com sobre a avaliação desse subdomínio pela MIF, uma vez que a
diversas pesquisas realizadas no âmbito internacional e nacio- mesma só considera o deslocamento horizontal em terrenos
nal, no que diz respeito à caracterização geral dos acidentados. planos, desconsiderando as barreiras arquitetônicas, tipo
O perfil da morbimortalidade por acidentes de trânsito no de solo e inclinações [21]. Apesar de esse subdomínio ter
Brasil caracteriza-se por uma maior ocorrência desses eventos se apresentado como o mais comprometido nos pacientes
nas faixas etárias mais jovens, geralmente afetando a população avaliados neste estudo, é possível supor que a real dificuldade
que se encontra em idade economicamente ativa [11]. No de locomoção seja ainda maior do que a mensurada por tal
trânsito brasileiro, os homens são as principais vítimas, sendo instrumento.
de 4,4 a razão de risco da sobremortalidade masculina em Ao comparar os escores da MIF de acordo com a região
2003. Ela é maior nas faixas dos 25 aos 29 anos (6,6 homem/ corporal acometida, foram encontradas diferenças significa-
42 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
tivas, apontando para a constatação de que, a depender da tação ou mesmo como um dos maiores empecilhos nesse
região lesionada, são produzidas limitações distintas de fun- processo [26].
cionalidade. Sob esse aspecto, é válido ressaltar a importância Ramos assegura que o acidente de trânsito, em virtude
de considerar as deficiências em seu aspecto mais amplo, das suas repercussões físicas, psicológicas e econômicas, pode
onde estas superam a perda de função de uma estrutura do desencadear um desajuste nas relações familiares e sociais,
corpo, tendo adquirido um caráter político e sociológico in- portanto, uma família bem consolidada representa o susten-
dependente do resultado do diagnóstico biomédico de uma táculo no enfrentamento desse evento [27].
alteração física [22]. Outro aspecto que interfere no grau de restrição da partici-
A participação social das pessoas com alguma forma de pação social é a própria estrutura ambiental, onde tal estrutura
deficiência, a qual envolve autopercepção, trabalho, lazer, pode ser fator decisivo na evolução de uma deficiência para
educação, habitação e bem-estar geral, está intrinsecamente uma incapacidade [28].
relacionada com as redes sociais com as quais essas pessoas É válido ressaltar que as dificuldades impostas diariamente
podem contar, bem como com as condições de acessibilidade aos indivíduos que convivem com algum tipo de deficiência
e comportamentos e atitudes não discriminatórios [23]. se apresentam constantemente sob os mais variados aspectos.
É importante ressaltar a importância dos resultados Assim, por maior que sejam as redes de suportes desses
obtidos neste estudo com o uso da Escala de Participação pacientes, o profissional da reabilitação se configura como
Social para uma melhor análise do impacto que o acidente e um agente essencial para contribuir com a melhoria do nível
suas sequelas exerceram sobre as vidas desses pacientes. Apesar de saúde e qualidade de vida desses indivíduos.
de se apresentarem de forma geral com um bom grau de Por fim, ressalta-se a relevância dos resultados obtidos nes-
independência, percebe-se um grave comprometimento de sua te estudo, pois fornecem uma descrição do perfil do acidenta-
funcionalidade geral, e é com esse instrumento que se torna do de trânsito que se encontra sob tratamento de reabilitação.
possível mensurar o real comprometimento e as limitações O conhecimento deste perfil, não só sociodemográfico, mas
que ocorreram na vida desses pacientes. também funcional, além da associação deste com algumas
Embora seja possível supor que exista uma relação entre características do acidente, possibilita uma visão mais clara
o estado funcional e a participação social, poucos estudos da situação, tanto por parte do profissional que trabalha com
mensuraram tal associação, implicando uma lacuna acerca a reabilitação quanto dos gestores.
desse aspecto. Martínez-Martín e colaboradores referem-se
à funcionalidade como importante determinante da partici- Conclusão
pação social e da qualidade de vida de um indivíduo, sendo
ambas representativas da real situação de saúde dele [24]. O perfil sociodemográfico aponta uma maior vulnerabi-
Neste estudo, encontrou-se uma correlação significativa lidade para a ocorrência de acidentes de trânsito dos adultos
entre os valores obtidos na MIF e na Escala de Participação jovens, homens, casados, com nível escolar razoável e que se
Social. Fato semelhante foi visto por Ostir et al. que, ao encontravam em sua maioria em fase produtiva.
compararem a MIF com a qualidade de vida, relataram que Os membros inferiores foram as regiões mais acometidas,
cada ponto ganho na escala MIF interfere diretamente sobre havendo predominância das fraturas, o que resultou na neces-
a melhoria da qualidade de vida, entretanto ressalta que essa sidade de internação da maioria dos acidentados entrevistados,
relação ainda recebe influência de uma série de fatores, tais uma vez que precisaram de intervenção cirúrgica.
como as estruturas de apoio social, os recursos ambientais e Ao avaliar a independência funcional dos participantes do
econômicos, dentre outros. É possível realizar a comparação estudo, constatou-se maior comprometimento do domínio
entre esses estudos, uma vez que a avaliação da qualidade de motor, especialmente nos quesitos locomoção e mobilidade, o
vida envolve diversos aspectos semelhantes aos avaliados na que pode ser justificado pelo perfil das lesões mais recorrentes
Escala de Participação Social [20]. na amostra do estudo.
A relação entre maiores tempos de internação e maiores Quanto à participação social, a maioria dos avaliados apre-
restrições na participação social pode decorrer do fato de que sentou algum tipo de restrição, dentre os quais houve destaque
o tempo de internação está diretamente relacionado com a para os que apresentaram grave restrição. Considerando-se
gravidade e a extensão das lesões, e, uma vez que essas sejam ainda a Participação Social como variável dependente, notou-
maiores, provavelmente tenham produzido maior impacto -se que a MIF motora, o tempo de internação e o estado civil
sobre as atividades funcionais e sociais do indivíduo aciden- dos avaliados mostraram-se como seus fatores determinantes.
tado [25].
No ensaio ora relatado, evidenciou-se ainda a relação Agradecimentos
entre a participação social e o estado civil dos pacientes. É
importante considerar essa variável, uma vez que a família À CAPES pelo incentivo através da bolsa de Mestrado;
representa a principal rede social dos indivíduos, podendo aos pacientes pela sua contribuição.
configurar-se como um grande parceiro durante a reabili-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 43
Referências 16. Braga MBBJ, Chagas Neto FA, Porto MA, Barroso TA, Lima
ACM, Silva SM et al. Epidemiologia e grau de satisfação do
1. Minayo MCS, Souza ER. Violência sob o olhar da saúde – a paciente vítima de trauma músculo esquelético atendido em
infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: hospital de emergência da rede pública brasileira. Acta Ortop
Fiocruz; 2003. Bras 2005;13(3):137-40.
2. Ministério da Saúde. Redução da morbimortalidade por aciden- 17. Choo B, Umraw N, Gomez M, Cartotto R, Fish JS. The utility
tes de trânsito: mobilizando a sociedade e promovendo a saúde. of the functional independence measure (FIM) in discharge
Brasília: Ministério da Saúde; 2001. planning for burn patients. Burn 2006; 32(1):20-3.
3. Gawryszewski VP, Koizumi MS, Mello-Jorge MHP. As causas 18. Grilli L, Feldman DE, Majnemer A, Couture M, Azoulay L,
externas no Brasil no ano 2000: comparando a mortalidade e a Swaine B. Associations between a functional independence mea-
morbidade. Cad Saúde Pública 2004;20(4):995-1003. sure and the pediatric quality of life inventory in young children
4. World Health Organization (WHO). World health statistics with physical disabilities. Qual Life Res 2006;15:1023-31.
2008. Geneva: WHO; 2008. 19. Lundgren-Nilsson A. Tennant A, Grimby G, Sunnerhagen KS.
5. Peden M. World report on Road traffic injury prevention. Cross-diagnostic validity in a generic instrument: an example
Non serial publication. Geneva: World Health Organization from the Functional Independence Measure in Scandinavia.
Publisher; 2004. Health Qual Life Outcomes 2006;4(55).
6. IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Impactos 20. Ostir GV, Berges IM, Smith PM, Smith D, Rice JL, Ottenbacher
sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias KJ. Does change in functional performance affect quality of
brasileiras. Brasília: IPEA; 2006. life in persons with orthopaedic impairment. Social Indicators
7. DETRAN – CE - Departamento de Trânsito do Ceará. Esta- Research 2006;(77):70-93.
tísticas – 2008. Fortaleza: Detran; 2008 21. Riberto M, Pinto PPN, Sakamoto H, Battistella LR. Indepen-
8. Organização Panamericana de Saúde. SABE – Saúde, Bem-Estar, dência funcional de pacientes com lesão medular. Acta Fisiatr
Envelhecimento – o projeto SABE no município de São Paulo: 2005;12(2):61-6.
uma abordagem inicial. Brasília: OPS; 2003. 22. Diniz D, Medeiros M, Squinca F. Reflexões sobre a versão em
9. Riberto M, Miyazaki MH, Jorge Filho D, Sakamoto H, Battis- português da Classificação Internacional de Funcionalidade,
tella LR. Reprodutibilidade da versão brasileira da Medida de Incapacidade e Saúde. Cad Saúde Pública 2007;23(10):2507-10.
Independência Funcional. Acta Fisiatr 2001;8(1):45-52. 23. Barreyre JY, Bouquet C, Fiacre P, Makdessi Y, Peintre C. Les
10. Van Brakel WH, Anderson AM, Multatkar RK, Bakirtzief Z, coûts de la participation sociale de personnes ayant des incapa-
Nicholls PG, Raju MS, et al. The Participation Scale: Mea- cités. Réflexions à partir d’observations de terrain. Alter, Revue
suring a key concept in public health. Disabil Rehabil 2006; Européenne de Recherche sur le Handicap 2008;2(1):65-81.
28(4):193-203. 24. Martínez-Martín P, Fernández-Mayoralas G, Frades-Payo B,
11. Freitas ED, Paim JS, Silva LMV, Costa MCN. Evolução e Rojo-Pérez F, Petidier R, Rodrígues-Rodrígues V, et al. Vali-
distribuição espacial da mortalidade por causas externas em dación de la Escala de Independencia Funcional. Gac Sanit
Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública 2000;16(4):1059-70. 2009;23(1):49-54.
12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 25. Itami LT. Causas externas e seu impacto sobre a independência
Departamento de Análise de Situação em Saúde. Brasil, 2005: funcional em adultos com fraturas [dissertação]. São Paulo (SP):
uma análise da situação de saúde, Brasília: Ministério da Saúde; Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2008
2005. 26. Bomfim AC, Bastos AC, Carvalho AMA. A família em situações
13. Deslandes SF, Silva CMFP. Análise da morbidade hospitalar por disruptivas provocadas por hospitalização. Rev Bras Crescimento
acidentes de trânsito em hospitais públicos do Rio de Janeiro, Desenvolv Hum 2007;17(1):84-94.
RJ, Brasil. Rev Saúde Pública 2000;34(4):367-72. 27. Ramos CS. Caracterização do acidente de trânsito e gravidade
14. World Health Organization (WHO). The burden of muscu- do trauma: um estudo em vítimas de um hospital de urgência
loskeletal conditions at the start of the new millennium. Geneva: em Natal/RN [Dissertação]: Natal (RN): Universidade Federal
WHO; 2003. do Rio Grande do Norte; 2008.
15. Carvalho AO, Bez Junior A. Caracterização das vítimas de 28. Clarke P, Ailshire JA, Bader M, Morenoff JD, House JS. Mobility
trauma assistidas por um serviço de atendimento pré-hospitalar. disability and the urban built environment. Am J Epidemiol
Einstein 2004;2(3):199-205. 2008;168(5):506-13.
44 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Artigo original
*Docente em Fisioterapia da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Fisioterapeuta da UTI do Hospital Português – Salvador/BA,
Mestrando em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social – FVC e Orientador da pesquisa Fisioterapeuta, Graduado
Faculdade Nobre de feira de Santana, **Diretor e Médico Cirurgião Cardíaco do Instituto Cardíaco de Feira de Santana (INCAR-
DIO) – Bahia, ***Vice-diretora e Médica Cirurgiã Cardíaca do Instituto Cardíaco de Feira de Santana (INCARDIO) – Bahia,
****Pós-graduada em Fisioterapia cardio-pneumofuncional pela Faculdade Nobre de Feira de Santana/BA, *****Pós-graduada em
fisioterapia cardio-pneumofuncional pela Faculdade Nobre de Feira de Santana – Bahia e residente em Fisioterapia pediátrica Hos-
pital Estadual da Criança (HEC) – Feira de Santana
Resumo Abstract
Introdução: A cirurgia cardíaca aberta de revascularização do Introduction: Open heart surgery and myocardial revasculariza-
miocárdio (RM) por ser um procedimento muito invasivo e de tion (MR) is a very invasive procedure that predisposes patients to
grande porte, predispõe o paciente a muitas complicações pul- many pulmonary complications and causes impact on lung func-
monares as quais causam impacto na função pulmonar. Objetivo: tion. Objective: To evaluate and compare the pre and postsurgical
Avaliar e comparar a função pulmonar no pré e pós-operatório de pulmonary function in patients undergoing open heart surgery of
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca aberta de revascularização myocardial revascularization in a philanthropic hospital in Feira de
do miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/ Santana/BA. Methods: Was performed a prospective cohort study in
Bahia. Material e métodos: Foi realizado um estudo de caráter coorte the Intensive Care Unit and ambulatory of a philanthropic hospital
prospectivo na Unidade de Terapia Intensiva e no ambulatório de in Feira de Santana. We evaluated 9 patients with mean age 62.44 ±
um hospital filantrópico de Feira de Santana. Foram avaliados 9 10.69 years, weight 12.5 ± 62.55 kg, height 161.4 ± 1.075 cm, BMI
pacientes com média de idade 62,44 ± 10,69 anos, peso 62,55 ± 23.41 ± 3.55 kg/m2 in the preoperative period and the 1st DPO.
12,5 kg, altura 161,4 ± 1,075 cm, IMC 23,41 ± 3,55, no período Clinical and functional evaluation was performed with anamnese
pré-operatório e no 1º DPO. Foi realizada avaliação clínica e fun- and spirometry tests (pulmonary and muscle strength). Results: The
cional com anamnese e testes espirométricos, de ventilometria e de results showed that there was significant loss, with reduced FEV1,
força muscular. Resultados: Os resultados demonstraram que houve FVC and VC (p < 0.0005) when compared to preoperative values
perda significativa, com redução do VEF1, da CVF e da CV (p < with the 1st POD, while the other variables of muscle strength, VE
0,0005) quando comparados os valores pré-operatórios com os do and VT showed no statistically significant difference in the study
1º DPO, enquanto que as demais variáveis de força muscular, VE period. Conclusion: MR surgery is associated with decrease in lung
e VT não apresentaram diferença estatística significativa no período function in all patients, showing significant reduction in FEV1,
avaliado. Conclusão: A cirurgia de RM associa-se a um decréscimo FVC and VC.
na função pulmonar em todos os pacientes, apresentando redução Key-words: cardiac surgery, spirometry, myocardial
importante nos valores de VEF1, da CVF e da CV. revascularization.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca, espirometria, revascularização
do miocárdio.
A avaliação CVF e VEF1 foi realizada com o espirômetro calculados através do programa Microsoft Excel For Windows
PLUS MS-01 de bolso, eletrônico. A avaliação do VEF1 foi (2007) e auxílio do programa Statistical Package for Social
realizada com o paciente sentado, cabeça neutra, confortável, Science - SPSS, versão 9.0
sendo solicitada uma inspiração máxima e profunda até a Os resultados obtidos no estudo a partir do teste t de
capacidade pulmonar total seguida de uma expiração forçada Student foram expressos por médias e desvio padrão das mé-
e rápida durante 6 a 8 segundos com o bocal acoplado a boca dias. A avaliação do teste foi realizada através do critério do
sem escape e com clip nasal. Para a avaliação da CVF, foi p-valor, sendo que este critério baseia-se na probabilidade de
solicitado ao paciente na mesma posição que realizasse uma ocorrência de valores iguais ou superiores ao assumido pela
expiração total até o volume residual seguido de acoplação estatística de teste (5%). O nível de significância considerado
do bocal e solicitado uma inspiração também rápida de 6 a 8 foi de p < 0,05.
segundos, continuamente dentro do bocal, que não poderia
estar ocluído com os dentes, nem com a língua, seguindo o Resultados
comando de voz do avaliador. O procedimento foi repetido
três vezes, para que o aparelho colhesse a melhor curva, e A amostra foi composta por 6 pacientes do gênero fe-
utilizou-se um clip nasal para evitar que o paciente tivesse minino e 3 pacientes do gênero masculino com tempo de
escape de ar pelas narinas. CEC menor que 150 min em todos os casos. Com valores
A Força Muscular Respiratória foi mensurada com o apa- antropométricos das médias da idade, peso, altura e IMC
relho manovacuômetro de diâmetro 100 mm (4 polegadas), foram respectivamente idade 62,44 ± 10,69 anos, peso 62,55
mostrador branco com números pretos rosca 1/2 bsp, saída ± 12,5 kg, altura 161,4 ± 1,075 cm, IMC 23,41 ± 3,55 kg/cm2
vertical caixa de aço estampado internos e rosca em latão. (Tabela I) . Destes 33% ex-tabagista e 67% nunca fumaram
Os valores de PImáx e PEmáx foram avaliados por três vezes, conforme gráfico I.
em cada um dos diferentes momentos, sendo considerado
para análise estatística o maior valor obtido em cada um dos Tabela I - Parâmetros antropométricos da população estudada.
parâmetros. A mensuração da PImáx foi realizada a partir Local: Feira de Santana / BA. Set/Dez 2010.
do volume residual, solicitando uma inspiração máxima, e a Parâmetros Média Desvio Padrão
mensuração da PEmáx a partir da capacidade pulmonar total, Idade (anos) 62,44 10,69
solicitando uma expiração máxima, ambas com o paciente Peso (kg) 62,55 12,5
acoplado ao bocal do aparelho e com uso de clip nasal. Altura (cm) 1,614 1,075
Para os testes de ventilometria e medida do VT, VE e CV, IMC (Kg/cm2) 23,41 3,55
foi utilizado o ventilômetro MARK 8 que incorpora dois Resultados expressos em média e desvio padrão
mostradores para mensuração de volumes com mostrador IMC – índice de massa corpórea
pequeno 100 L, 1 L/resolução, Mostrador grande de 100 L,
100 L/resolução, Conexões de entrada/saída de 22 mm, diâ- Gráfico I - Percentual dos pacientes fumantes.
metro Dial: 35 mm e peso de 140 g. Para as mensurações foi 7 67%
acoplado à mascara e adaptado a face do paciente, incluindo 6
nariz e boca. Os testes também foram realizados com o pa- 5
ciente sentado do mesmo modo como descrito para o teste 4
33%
espirométrico. O volume minuto e a frequência respiratória 3
foram coletados durante cinco minutos, e a cada um minuto o 2
ventilômetro era zerado e eram anotados os valores do volume 1
minuto e da frequência respiratória. A frequência respiratória 0%
0
foi contada durante um minuto completo com cronômetro.
Os dois primeiros minutos da coleta foram considerados Ex-Fumante Fumante Nunca fomou
como um período de adaptação do paciente à máscara e os Valores expressos em porcentagem
três últimos, utilizados para obtenção dos dados, fazendo-se a
média do volume minuto (VE) em mL, e da FR em ciclos por A partir dos testes espirométricos, foi possível mensurar
minuto, obtendo-se através da divisão destes respectivamente CVF e o VEF1, e comparar, entre os períodos avaliados, a
o volume corrente. Assim, a CV foi avaliada com o mesmo perda da função pulmonar após a CRM, assim, verificou-se
aparelho solicitando ao paciente que realizasse uma inspiração uma queda significativa da CVF e VEF1 quando comparados
máxima até a capacidade pulmonar total seguida de uma os valores nos dois períodos. A média do CVF inicialmente
expiração sem esforço atéoa volume residual com o paciente foi de 2,3 L enquanto que no pós-operatório a média foi de
acoplado a máscara facial e com uso de válvula unidirecional. 0,9 L. O mesmo ocorreu com o VEF1 que no pré-operatório
Realizou-se uma análise descritiva dos dados, utilizando apresentou média de 1,8 L e no pós-operatório média de 0,8
gráficos e tabelas para apresentação dos dados estatísticos, L, confirmado este declínio através também do cálculo do
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 47
Artigo original
*Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, Graduação em Educação Física pela Faculdade de Educação Física De
Santo André – FEFISA, **Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, ***Docente no Programa de Mestrado em
Educação Física - FACIS/UNIMEP, Piracicaba/SP, Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, Hortolândia/SP, ****Pós-
-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, *****Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, Hortolândia/SP,
******Departamento de Ciências do Esporte, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM, Uberaba/MG
Resumo Abstract
Objetivo: Verificar o perfil de aderência de mulheres com idade Objective: To verify the adherence profile of women between
entre 34 e 70 anos que praticam o método Pilates solo em uma aca- 34-70 years who practice ground Pilates method in a Gym in Santo
demia em Santo André/SP. Material e métodos: Foi caracterizada uma André/SP. Methods: A sample of 10 women was selected, all partici-
amostra de 10 indivíduos, gênero feminino, participantes do método pants of ground Pilates. The instrument was an adapted adherence
Pilates solo. O instrumento utilizado foi um questionário adaptado quiz. Data was analyzed in a descriptive way and to the variables
de aderência. Os dados foram analisados de forma descritiva e para analysis the test qui-adherence square (proportions). The significance
análise das variáveis utilizou-se o teste qui-quadrado de aderência level adopted was p < 0.05. Results: The qui-square test showed
(proporções). O nível de significância adotado foi p < 0,05. Resul- significant differences regarding health improvement in general,
tados: O teste qui-quadrado demonstrou diferenças significativas no quality of life, stress, welfare and pleasure levels were also included
que diz respeito a melhora da saúde em geral, qualidade de vida, nível as one of the motivational factors in adhering to the practice of the
de stress, bem-estar e prazer também incluídos como um dos fatores Sport due to the benefits that Pilates provides to practitioners, leisure
motivacionais, adesão a prática da modalidade pelos benefícios que o activities prevailing usually on weekends. Conclusion: The adherence
método Pilates proporciona ao praticante prevalecendo as atividades to ground Pilates method is attributed not only to the benefits it
de lazer geralmente nos finais de semana. Conclusão: A aderência provides, but as the first pre-requirement as quality of life, welfare
à prática do método Pilates solo não se dá apenas pelos benefícios and health improvement in general.
que proporciona, mas ao primeiro pré-requisito como melhora da Key-words: Pilates, health, quality of life, health promotion.
saúde em geral, qualidade de vida e bem-estar.
Palavras-chave: Pilates, saúde, qualidade de vida, promoção de
saúde.
Além de promover ganho na flexibilidade, postura, resistência, atual, modificações na saúde quanto à prática na modalidade
força, condicionamento físico, ajuda na prevenção de lesões pesquisada, nível de stress, opção de lazer, motivos que as
e reabilitação [8]. levam a prática desta modalidade e seus benefícios, caracterís-
Muitas modalidades vem buscando, baseadas no método ticas sócio-ambientais e comportamentais, o motivo da adesão
Pilates, uma melhor eficácia e aprimoramento na qualidade a essa modalidade e sua permanência (Anexo I).
de movimentos. O Pilates na Água ou Water Pilates é uma As alunas após serem convidadas a participar da pesquisa
delas, que propõe a integração do método ao meio líquido e estarem cientes de todo o processo de evolução chegaram
realizado por exercícios da hidroginástica executados por à aula, assinaram o formulário e depois preencheram o
meio de acessórios e molas ou apenas pela propriedade física questionário. Este instrumento foi respondido individu-
da água, focando o condicionamento físico baseado nos almente, sem a presença de um interlocutor, para que não
princípios do método [9]. houvesse interferência nas respostas. As alunas responderam
Nos últimos anos o número de pessoas que buscam ati- um questionário com 17 perguntas referente à escolha da
vidades físicas para melhorar a qualidade de vida, a saúde e modalidade e local, profissional e motivos que as levaram a
que satisfaçam suas necessidades tem aumentado cada vez praticar uma atividade física em especial a modalidade por
mais [10-12]. O estilo de vida contemporâneo ocasionado elas escolhida.
pelo crescimento frenético da tecnologia vem acentuando A análise descritiva dos dados serviu para caracterizar a
o sedentarismo, a má alimentação e situações de stress que amostra, com a distribuição de frequência (n,%), cálculo de
interferem no desempenho das atividades de vida diária tendência central (média) e de dispersão (desvio padrão).
[13,14]. Para análise das variáveis categóricas utilizou-se o teste qui-
O objetivo do estudo foi demonstrar o perfil de aderência -quadrado de aderência (proporções). O nível de significância
de mulheres que fazem aula de Pilates solo, com idade entre adotado foi p < 0,05.
34 a 70 anos, praticantes do método Pilates em uma academia
de Santo André. Resultados
Tabela I - Valores do perfil da amostra sobre saúde e lazer. (10%) melhor qualidade de vida (saúde) e (10%) indicação
N % P fisioterapeuta.
Saúde atual comparada ao início da Na análise do perfil sobre a prática do Pilates solo, o teste
0,00**
prática (n = 10) qui-quadrado demonstrou diferenças significativas, mas
Regular 01 10% observa-se que a grande maioria permanece fazendo a ativida-
Bom 06 60% de pelo prazer, porque gostam. O maior benefício apontado
Excelente 03 30% foi melhora da saúde no geral e permanecem praticando por
Modificações na saúde atual na parti- causa da melhora da qualidade de vida e da saúde, demons-
ns
cipação do Pilates solo (n = 10) trado na Tabela III.
Concordo 10 100%
Atividades de lazer (n = 31) 0,05** Tabela II - Valores do perfil da amostra sobre o ingresso na prática
Encontro com amigos 06 19,35% do Pilates solo.
Assistir filmes 06 19,35% n % p
Leitura 05 16,12% Fatores que facilitam a participação
0,00**
Praia 05 16,12% no Pilates solo (n = 40)
Restaurantes 04 12,95% Profissionais 08 20%
Trabalhos manuais 02 6,45% Localização 08 20%
Igreja 01 3,22% Horário 07 17,5%
Shows 01 3,22% Orientação 05 12,5%
Teatro 01 3,22% Característica da atividade 05 12,5%
Tempo dedicado as atividades de lazer Preço 04 10%
0,03**
(n = 30) Indicação médica 02 5%
Final de semana 11 36,7% Influência da família 01 2,5%
1 a 2 x semana 06 20% Influência na escolha do local para
0,02**
Verão 05 16,66% a atividade (n = 29)
Diariamente 02 6,66% Profissionais 09 31,06%
Menos de 1 x semana 02 6,66% Localização 08 27,58%
3 x mês 02 6,66% Preço 07 24,13%
1 a 2 x mês 01 3,33% Atividades oferecidas 03 10,34%
3 x semana 01 3,33% Indicação médica 02 6,89%
c2 = P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns = Há quanto tempo frequenta as
não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui-quadrado
0,04**
aulas de Pilates solo (n = 10)
de aderência (proporções) (% x categorias) Menos de 6 meses 02 20%
De 6 meses a 1 ano 02 20%
Na análise do perfil sobre a prática do Pilates solo, o teste De 1 a 2 anos 03 30%
qui-quadrado demonstrou diferenças significativas, mas obser- De 2 a 3 anos 03 30%
va-se que a grande maioria aponta como fator de ingresso no Frequência nas aulas 0,02**
Pilates e escolha da academia, a qualidade dos profissionais e a 1 x semana 06 60%
localização da academia, praticam de 1 a 3 anos, com frequência 2 x semana 04 40%
1 x na semana, conforme demonstrado na Tabela II. c2= P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns =
Na pergunta “o que o fez procurar essa modalidade em não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui-quadrado
especial?” as repostas são bem variadas, prevalecendo: (10%) de aderência (proporções) (% x categorias)
a academia que frequento colocou o Pilates como parte das
atividades, (10%) higiene mental, principalmente postu-
ra, (10%) melhorar postura, resistência física, respiração, Tabela III - Valores do perfil da amostra sobre a prática do Pilates solo.
equilíbrio, (10%) necessidade/vontade, postura corporal, n % p
alongamento, força muscular, conhecimento funcional do Por que permanece fazendo a ativi-
0,05**
corpo, consciência corporal, (10%) identificação com tipo de dade (n = 15)
prática, sem ritmo acelerado, sem música, poucas repetições, Prazer, porque gosta e é bom 06 40,02%
trabalha postura, respiração, harmonia corporal, (10%) não Saúde e faz bem 04 26,66%
procurei, conheci por acaso, por causa do profissional gostei Necessidade 03 20%
e gostaria de praticar com mais frequência, (10%) hérnia de Rotina 01 6,66%
disco na coluna lombar, contribuição para melhoria da saúde, Aconselhamento médico 01 6,66%
estou mais flexível e forte, (10%) aconselhamento médico,
52 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
subestimam os benefícios que ela pode obter de uma prática 15. Liberali R. Metodologia Científica Prática: um saber-fazer
de exercícios regular e especificamente os benefícios que o competente da saúde à educação. Florianópolis: Postmix; 2008.
16. Araújo AS, Pimenta FHR, Baraúna MA, Novo Júnior JM, Silva
Pilates pode proporcionar [29]. ALS, Pinto MVM et al. Fatores motivacionais que levam as
Muitos estudos sobre Pilates têm o foco voltado para os pessoas a procurarem por academias para prática de exercício
benefícios que esta atividade traz aos seus participantes, mas físico. EFDeportes 2007;12:115.
não encontramos pesquisas verificando o que leva o indivíduo 17. Monteiro ZJ, Scalon RM. Treinamento psicológico e téc-
nicas para a melhora da motivação de atletas. EFDeportes
a optar por essa modalidade [30-33]. 2008;12:118.
18. Pitanga FJG. Epidemiologia da atividade física, exercício físico
Conclusão e saúde. São Paulo: Phorte; 2010.
19. Martins MO. Estudo dos fatores determinantes da prática de
atividadefísica de professores universitários [Dissertação]. Flo-
Portanto, fazem-se necessárias novas pesquisas para verifi- rianópolis: UFSC; 2000.
car o motivo da adesão de pessoas, na faixa etária intermediá- 20. Kruchelski S, Rauchbach R. Programa Curibativa – perfil de
ria, à prática do método Pilates, que diferem das que aderem saúde e aptidão física da população curitibana. Ação e Movi-
à musculação por serem mais novas, bem como incluir fatores mento 2004;3:167-74.
21. Abrami MCR, Santos FG, Toledo R. Condicionamento físico
voltados a saúde e bem-estar como primeiro pré-requisito e e mental. [citado 2008 Mar 30]. Disponível em URL: www.
depois a estética. xenicare.com.br
Este estudo teve como limitação o baixo número de parti- 22. Picarelli J. Prevalência de obesidade em ingressantes de acade-
mia de musculação [Monografia]. Florianópolis: Universidade
cipantes, pela dificuldade de ter uma amostra maior de pessoas Estadual de Santa Catarina; 2003.
com as mesmas características, como, por exemplo, tempo de 23. Fiamoncini RE. Aderência de musculação supervisionada. Mo-
adesão e frequência semanal, frequentando a mesma moda- nografia. Pós–graduação em treinamento desportivo e personal
lidade e ainda que concordassem em participar da pesquisa. trainer na universidade do estado de Santa Catarina/UDESC.
Florianópolis: Santa Catarina/UDESC; 2002.
24. Silva GV, Muller TS. A busca pela qualidade de vidados prati-
Referências cantes de musculação da academia do Cefid/Udesc. In: Anais
do 3º. Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde. Flo-
1. Gallagher SP, Kryzanowska R. O método Pilates de condicio- rianópolis; 2001. p.116.
namento físico. São Paulo: The Pilates Studio Brasil; 2000. 25. Tahara KA, Silva KA. A prática de exercícios físicos na promoção
2. Camarão T. Pilates no Brasil: corpo e movimento. São Paulo: de um estilo de vida ativo. EFDeportes 2003;9:61.
Elsevier; 2004. 26. Organização Mundial de Saúde (OMS). Doenças crônico-dege-
3. Lima AP. Os efeitos do método Pilates em mulheres na faixa nerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação ali-
etária de 25 a35 anos com lombalgia crônica [Monografia]. mentação saudável, atividade física e saúde. Brasília: OMS; 2003.
Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso; 2006. 27. Myamoto GC. The efficacy of the addition of the Pilates me-
4. Craig C. Abdominais com bola. São Paulo: Phorte; 2006. thod over a minimal intervention in the treatment of chronic
5. Pires DC, Sá CKC. Pilates: notas sobre aspectos históricos, nonspecific low back pain: a study protocol of a randomized
princípios, técnicas e aplicações. EFDeportes 2005;10:91. controlled trial. J Chiropr Med 2011;10:248-54.
6. Panelli C, Marco A. Método Pilates de condicionamento do 28. Phrompaet S. Effects of Pilates training on lumbo-pelvic stability
corpo. 2ª ed. São Paulo: Phorte; 2009. and flexibility. Asian Journal of Sports Medicine 2011;2 (1):16-22.
7. Pilates JH. Your Health: a corrective system of exercising that 29. Ruby MB, Dunn EW, Perrino A. The invisible benefits of
revolutionizes the entire field of physical education. New York: exercise. Health Psychol 2011;30(1):67-74.
Presentation Dynamics, 1998. 30. Wells C, Kolt GS, Bialocerkowski A. Defining Pilates exercise: A
8. Stone J. The Pilates method. Athl Ther Tod 2000;5(2):56. systematic review. Complement Ther Med 2012;20(4):253-62.
9. Melo A. Método Pilates na água. São Paulo: Phorte; 2010. 31. Cakmakçi O. The effect of 8 week Pilates exercise on body com-
10. Pereira MMF. Academia! Estrutura técnica e administrativa. Rio position in obese women. Coll Antropol 2011;35(4):1045-50.
de Janeiro: Sprint; 1996. 32. Wajswelner H, Metcalf B, Bennell K. Clinical Pilates versus
11. Guiselini M. Total Fitness: força, resistência, e flexibilidade. 2a general exercise for chronic low back pain: randomized trial.
ed. São Paulo: Phorte; 2001. Med Sci Sports Exerc 2012;44(7):1197-205.
12. Kotler P. Marketing. São Paulo: Compacta, 1996. 33. Bird ML, Hill KD, Fell JW. A randomized controlled study
13. Monteiro A. Ginástica aeróbica: estrutura e metodologia. Lon- investigating static and dynamic balance in older adults after
drina: CID; 1996. training with Pilates. Arch Phys Med Rehabil 2012;93(1):43-9.
14. Saba F. Aderência: a prática do exercício físico em academias.
São Paulo: Manole; 2001.
ANEXO I
Dados demográficos e informações pessoais
Nome: _________________________________________________________________________
Idade: ______________________________________________________________
Sexo: [ ] feminino [ ] masculino
Telefone: _______________________________________
E-mail: __________________________________________
54 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Estilo de vida
1) Como você classifica o seu estado de saúde atual comparando ao início da prática de atividade física?
[ ]1 Excelente [ ]2 Bom [ ]3 Regular [ ]4 Ruim
2) Considerando a sua participação no programa de Pilates no Solo , você acha possível que tenha acontecido modificações no seu
estado de saúde atual ?
[ ]1 Concordo fortemente [ ]2 Concordo [ ]3 Não concordo [ ]4 Não sei responder
4) De acordo com as opções, cite em ordem de importância (1a, 2a,3a) três atividades de lazer de sua preferência. Sendo 1 a de
maior importância, 2 a de mediana importância e 3 a de menor importância.
[ ]1 Assistir filme [ ]2 Teatro [ ]3 Shows [ ]4 Encontro com amigos [ ]5 Igreja [ ]6 Clubes [ ]7 Praia [ ]8 Trabalhos manuais [
]9 Leitura [ ]10 Restaurantes
1ª________________ 2ª__________________3ª_______________
5) Considerando as atividades de lazer que você citou na questão 4 (1ª, 2ª ,3ª ).Indique o tempo dedicado a estas. Sendo 1ª a de
maior importância, 2ª a de mediana importância e 3ª a de menor importância.
1ª ATIVIDADE 2ª ATIVIDADE 3ª ATIVIDADE
[a]1Menos de uma vez por mês [a]1Menos de uma vez por mês [a]1Menos de uma vez por mês
[b]2 1-2 vezes por mês [b]2 1-2 vezes por mês [b]2 1-2 vezes por mês
[c]3 3 vezes por mês [c]3 3 vezes por mês [c]3 3 vezes por mês
[d]4 Finais de semana [d]4 Finais de semana [d]4 Finais de semana
[e]51-2 vezes por semana [e]51-2 vezes por semana [e]51-2 vezes por semana
[f]6 Verão [f]6 Verão [f]6 Verão
[g]7Diariamente [g]7Diariamente [g]7Diariamente
7) Considerando o nível de estresse em sua vida (questão 6). Responda cada afirmação abaixo considerando a influência do Pilates no
Solo e as escalas abaixo:
[1] Concordo fortemente [2] concordo [3] Não concordo [4] Não sei responder
[ ] Permanece igual [ ] Diminui [ ] Aumentou
8) ATENÇÃO! Cite em ordem de importância (1ª ,2ª,3ª,4ª,) os fatores que facilitam a sua participação no Pilates no Solo. Sendo 1 a
de maior importância, 2 a de mediana importância, 3 a de relevante importância e 4 a de menor importância.
[ ]1 Horário [ ]2 Localização [ ]3 Profissionais [ ]4 Preço [ ]5 Orientação [ ]6 Característica da atividade [ ]7 Indicação médica
[ ]8 Incentivo da família [ ]9 Amizades
9) O que mais influenciou na escolha do local para atividade ? Numere 3 em ordem de importância (1ª, 2ª,3ª ). Sendo 1ª a de maior
importância,2ª a de mediana importância e 3ª a de menor importância.
10) Leia com atenção e avalie cada um dos motivos abaixo, analisando o nível de importância destes motivos para a prática regular
de atividade física.
15-Qual o benefício físico de maior relevância que você observou ter adquirido com a prática do Pilates no Solo?
[ ]1Melhora da saúde em geral [ ]2Maior disposição em geral [ ]3Melhora do estresse [ ]4Emagrecimento [ ]5Aumento da auto-
-estima [ ]6 Melhora na qualidade de vida
16-Qual a principal razão que o levou a permanecer frequentando as aulas de Pilates no Solo?
[ ]1Manutenção da forma física [ ]2Prazer [ ]3Motivação [ ]4Melhora na qualidade de vida e saúde [ ]5Aumento da autoestima
[ ]6Melhor disposição
Artigo original
*Graduando de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo, SP, **Mestranda em Ciências da Reabilita-
ção, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), ***Docente do Curso de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE),
****Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), *****Docente
do Curso de Fisioterapia, Profa. colaboradora do Mestrado em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE)
Resumo Abstract
Introdução: A dança pode proporcionar melhora no equilíbrio Introduction: The dance can provide improvement in balance and
e diminuir o risco de quedas em idosos, porém, não há relatos do reduce the risk of falls in older adults, however, no reports were found
efeito da dança sênior em pacientes hemiparéticos em decorrência on the effect of senior dance in hemiparetic patients after stroke.
do Acidente Vascular Encefálico (AVE) Objetivo: Avaliar o equilíbrio Objective: To evaluate the static and dynamic balance and fear of
estático e dinâmico e o risco de quedas em indivíduos hemiparéticos, falling in hemiparetic subjects, before and after therapy with senior
antes e após terapia com dança sênior. Material e métodos: Avaliou- dance. Methods: We evaluated the functional balance (Berg Scale)
-se o equilíbrio funcional (escala de Berg) e estático (plataforma de and static (force platform), and fear of falling (FES-I-Brazil), of six
força), além do medo de cair (FES-I-Brasil), de seis hemiparéticos, hemiparetic before and after therapy with dance, which lasted three
antes e após terapia com dança, que teve duração de três meses, duas months, twice / week, one hour, totaling 24 sessions. The statistical
vezes/semana, com uma hora de duração, totalizando 24 sessões. A analysis was performed using the Wilcoxon test. Results: The scores
análise estatística foi realizada pelo teste Wilcoxon. Resultados: Os anterior posterior displacement of the force platform were lower
escores de deslocamento ântero-posterior da plataforma de força after treatment (p = 0.02), however, no statistically significant for
foram menores pós-tratamento (p = 0,02), contudo, não houve mediolateral displacement (p = 0.24), as to balance performance and
diferença estatisticamente significante para o deslocamento médio- fear of falling, we can observe a statistically significant difference in
-lateral (p = 0,24), quanto ao equilíbrio funcional e medo de cair, the scores of both questionnaires before and after therapy with the
pode-se observar diferença estatisticamente significante nos escores senior dance, p = 0, 02 and p = 0.03, respectively. Conclusion: The
de ambos os questionários antes e após terapia com a dança sênior, Senior Dance was effective for reduction of anterior-posterior, to
sendo p = 0,02 e p = 0,03, respectivamente. Conclusão: A dança improve functional balance and decreased fear of falling, thereby
sênior mostrou-se eficaz para diminuição dos deslocamentos ântero- contributing to improving the balance of hemiparesis after stroke.
-posteriores, para melhora do equilíbrio funcional e diminuição do Key-words: physical therapy modalities, balance, stroke.
medo de cair, contribuindo dessa forma, para melhora do equilíbrio
de hemiparéticos após AVE.
Palavras-chave: fisioterapia modalidades, equilíbrio postural,
acidente vascular cerebral.
sociais graduadas numa escala de quatro pontos. Os escores Tabela I - Características demográficas dos voluntários do estudo.
variam de16 a 64 pontos, sendo o escore de 64 indicativo Variável Média ± DP
de muita preocupação a respeito da possibilidade de cair Indivíduos (n) 6
quando realizando cada atividade; os itens avaliados abran- Homens 3
gem tarefas relacionadas ao controle postural, exigindo Mulheres 3
maior grau de dificuldade, e outras básicas, instrumentais Idade (anos) 61,1±6,1
e de socialização, que envolvem menor demanda física. A Tempo pós AVE (anos) 4,1±3,5
FES-I apresenta excelente consistência interna e confiabi- Dados expressos como frequência e média e desvio padrão (DP).
lidade teste-reteste e é sensível a diferentes características
demográficas e fatores de risco relacionados a quedas [16]. Os seis pacientes com AVE que participaram da dança
sênior foram avaliados na plataforma de força e apresentaram
Procedimentos escores de deslocamento ântero-posterior, pós-tratamento
(Md = 3,66), menores, quando comparados aos escores pré-
Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, foi -tratamento (Md = 3,83) (W = -2,20; p = 0,02), resultados
iniciada a triagem dos pacientes, de acordo com critérios significantes. Contudo, essa diferença não se mostrou estatis-
inclusão e exclusão e em seguida os pacientes assinaram ticamente significante quando comparamos o deslocamento
o termo de consentimento livre e esclarecido; logo após médio-lateral pré (Md = 3,83) e pós-tratamento (Md = 2,47)
os dados antropométricos, demográficos e clínicos foram (W = -1,15; p = 0,24). A figura 1 ilustra a distribuição dos
submetidos à avaliação do equilíbrio dinâmico por meio escores nos dois deslocamentos, pré e pós-tratamento.
da escala de BERG, equilíbrio estático com a plataforma
de força da marca TekScan e o risco de quedas pela FES-I- Figura 1 - Diagrama (Box-plot) de extremos e quartis dos escores
-Brasil ) realizadas por um examinador cego, denominado de deslocamento ântero-posterior (A) e médio-lateral (B), dados
avaliador 1. em centímetros.
Em seguida, foi iniciada a terapia, que teve duração 6,00
de três meses, duas vezes por semana, com 60 minutos de
Deslocamento Ântero-Posterior
Resultados 3,00
Tabela I - Resultados da avaliação de BERG pré e pós-tratamento Após as 24 sessões com a dança sênior observou-se dife-
com dança sênior. rença significante na avaliação do equilíbrio funcional, cor-
BERG BERG p roborando estudos prévios [9,18], que relataram que a dança
Antes da Depois da pode ser um recurso terapêutico para melhora do equilíbrio,
Paciente dança dança pois as coreografias estimulam a ativação neuromuscular,
1 36 43 motricidade, coordenação motora, auxiliando o equilíbrio e
2 42 44 postura corporal. Quanto ao equilíbrio estático foi observada
3 42 44 0,02 melhora no deslocamento ântero-posterior, corroborando
4 48 48 estudo [19] que demonstra que crianças que praticam dança
5 45 47 apresentam o equilíbrio estático melhor em detrimento ao
6 36 42 grupo controle.
BERG: Berg Balance Scale. Análise estatística realizada com o teste No entanto, vale ressaltar que a amostra deste estudo foi
Wilcoxon. composta por indivíduos na fase crônica pós-AVE, o que pode
ter influenciado este resultado, visto que a cronicidade do pro-
Tabela II - Resultados da avaliação do FES-I-Brasil pré e pós- cesso leva a algumas adaptações e estratégias compensatórias
-tratamento com dança sênior. que podem manter o centro de gravidade dentro dos limites
Paciente FES-I Antes FES-I Depois p da base de suporte [20]. De acordo com Belgen et al. [14],
1 35 33 pessoas com AVE crônico podem aprender a adaptar-se a suas
2 45 40 limitações de equilíbrio e evitar situações comprometedoras
3 35 33 0,03 que aumentariam o risco de quedas.
4 29 18 Com relação à FES-I-Brasil, deve-se salientar que ela não
5 21 20 constitui um instrumento preditivo para quedas, porém,
6 42 41 pode ser indicador de sua possível ocorrência, devendo fazer
FES-I: Falls Efficacy Scale-International. Análise estatística realizada com parte de uma avaliação mais ampla e, assim, estabelecer os
o teste Wilcoxon. riscos de queda para cada indivíduo dentro de seu contexto
de vida [17]. Em relação aos resultados obtidos neste estudo,
Discussão observou-se que a maioria dos indivíduos apresentou alta
preocupação com a ocorrência de quedas e após a terapia
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da dança sênior com a Dança Sênior houve diminuição no escore total do
sobre o equilíbrio e risco de quedas em pacientes com sequela questionário, demonstrando diminuição do medo de cair.
de AVE, com intuito de confirmar cientificamente se esta pode Os efeitos benéficos reportados neste estudo podem ser
ser uma alternativa de tratamento para estes indivíduos, já que explicados pelas características da dança sênior, que foi de-
a dança estimula a mobilidade articular, motricidade, coorde- senvolvida para idosos, com intuito de trabalhar os aspectos
nação motora, ativação neuromuscular, postura e equilíbrio físico, psíquico e social, sendo assim, seu principal efeito é a
[8], que são normalmente, comprometidos após AVE. Após geronto-ativação, ou seja, movimentação na velhice, as co-
análise dos resultados pode-se observar que houve diminuição reografias podem ser realizadas em ortostase ou sedestação,
do deslocamento ântero-posterior e aumento do escore total ambas proporcionam a manutenção da amplitude de movi-
da escala de BERG, evidenciando melhora do equilíbrio es- mento, aumentam a flexibilidade, mobilidade e agilidade. As
tático e funcional, e também houve diminuição do risco de coreografias estimulam ainda a memória recente, a atenção e a
quedas, já que foi observada diminuição do escore da FES-I. concentração, podendo evitar o isolamento e proporcionando
Para avaliar o efeito da dança sênior no equilíbrio e medo a socialização, com encontro de novas amizades, alegria, mo-
de cair de hemiparéticos após AVE, optou-se por coreografias tivação, descontração, divertimento e o bem estar.
que estimulassem o equilíbrio, embora outros aspectos tam- No entanto, deve-se considerar a limitação deste estudo,
bém fossem trabalhados ao mesmo tempo, como coordenação, que por tratar-se de uma série de casos, tem um número li-
memória, mobilidade e adequação de tônus. Na coreografia mitado de indivíduos avaliados, além disso, este trabalho tem
Blues na Roda era trabalhado o deslocamento latero-lateral como delineamento um estudo quase-experimental (before
com os movimentos de roda, na Casatschok havia maior and after), e portanto, não há um grupo controle.
trabalho de tronco, pois os pacientes realizavam a marcha Entretanto, salienta-se que apesar da limitação apontada,
com os braços cruzados, portanto, não tinham o auxílio os resultados aqui obtidos são de extrema relevância para a
dos membros para manter o centro de gravidade na base de área da Fisioterapia e da Reabilitação por mostrar um novo
suporte, além de alongamento da musculatura paravertebral, recurso adicional à terapia convencional, que promova melho-
em alguns momentos da Vilma Stomp os pacientes realiza- ra estatisticamente significante do equilíbrio de hemiparéticos
vam apoio unipodal, e na dança do moinho foi trabalhada a em decorrência do AVE.
transferência de peso.
60 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Revisão
Resumo Abstract
Introdução: As fraturas de tornozelo referem-se à fratura do ma- Introduction: Ankle fractures refer to medial malleolus fracture or
léolo medial ou lateral da tíbia ou da fíbula. O principal propósito lateral tibia or fibula. The primary purpose of physical therapy is to
do tratamento fisioterapêutico é recuperar a funcionalidade para que restore normal function for the return to activities of daily life. Ob-
o paciente possa retornar às suas atividades de vida diária. Objetivo: jective: To perform a systematic review of literature with the objective
Realizar uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de of verifying the characteristics of physical therapy interventions used
verificar as características das intervenções fisioterapêuticas utilizadas for ankle fracture. Methods: This study used databases Medline and
para a fratura de tornozelo. Material e métodos: A pesquisa utilizou as PEDro. We used the following key-words: rehabilitation, physical
bases de dados Medline e PEDro. Foram utilizadas as seguintes pala- therapy, ankle fracture, distal tibial fracture, distal fibula fracture.
vras chaves: rehabilitation, physical therapy, ankle fracture, distal tíbia Were selectioned articles published since 2000 in English. The
fracture, distal fíbula fracture. Foram priorizados artigos atuais sobre selected studies were analyzed based on methodological quality,
o tema publicados a partir de 2000 na língua inglesa. Os estudos according to the PEDro scale score. Results: We found 11 articles
selecionados foram analisados quanto a sua qualidade metodológica, in PEDro database and 108 articles in Medline. Ten articles met
segundo a pontuação na escala PEDro. Resultados: Na base de dados the eligibility criteria and were included for analysis. Conclusion:
PEDro foram encontrados 11 artigos e no Medline 108 artigos. Dez There are several interventions used by physical therapist in posto-
artigos cumpriram os critérios de elegibilidade e foram incluídos perative fracture of the ankle, which are categorized according to
para análise. Conclusão: Diversas são as intervenções utilizadas pelo their objectives: a period of immobilization, fracture healing, joint
fisioterapeuta no pós-operatório de fratura do tornozelo, as quais são mobility and edema control.
categorizadas de acordo com seus objetivos: período de imobilização, Key-words: ankle joint, rehabilitation, Physical Therapy.
consolidação da fratura, mobilidade articular e controle do edema.
Palavras-chave: articulação do tornozelo, reabilitação,
Fisioterapia.
Caschman et
- 1 1 1 0 0 0 0 0 1 1 5
al.[19]
Nilsson et al.
- 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 8
[20]
da presente revisão foi compilar as evidências a respeito das atividades funcionais [23,24]. Dessa forma, alguns autores
abordagens fisioterapêuticas na fratura de tornozelo para que têm implementado conduta diferente intitulada tratamento
possam fundamentar a tomada de decisão na prática clínica. funcional.
Com base nos estudos encontrados, categorizamos as A base teórica que estimula o tratamento funcional na
intervenções em quatro grandes grupos com relação a seus prática ortopédica é o fato de que encorajar a descarga de peso
objetivos, sendo: 1) tratamento durante o período de imobi- precoce e evitar a imobilização completa do membro afetado,
lização; 2) consolidação da fratura; 3) manutenção e ganho pode facilitar a restauração da amplitude de movimento das
da mobilidade articular e 4) edema [1,3]. articulações lesadas, além de reduzir o desenvolvimento de
Primeiramente, em relação ao período de imobilização, atrofias [25,26]. Siddique et al. [11] propuseram mobilização
não foram encontrados artigos que abordassem intervenções ativa precoce sem o uso do gesso, Honigmann et al. [12] o
exclusivamente fisioterapêuticas, pois envolve concomitante- uso de uma órtese dinâmica com sistema a vácuo, Simanski
mente o uso da imobilização prescrita pelo ortopedista, bem et al.[13] órtese removível com descarga de peso precoce
como técnicas de descarga de peso e cinesioterapia realizadas e Lehtonen et al. [14] o uso de uma órtese dinâmica. Os
pelo fisioterapeuta. Quatro artigos da presente revisão tra- resultados são conflituosos. Simanski et al. [13] concluíram
taram do tema [11-14]. Tradicionalmente, após fratura da que os resultados da movimentação ativa precoce são satisfa-
articulação do tornozelo, tem-se utilizado imobilização com tórios para um grupo restrito de pacientes que tenham como
gesso abaixo do joelho de 3 a 6 semanas sem descarga de características tornozelo estável, motivação, compreensão da
peso no membro inferior lesado [22]. Porém, alguns estudos abordagem terapêutica e que não possuam fatores de risco
sugerem que essa conduta predisponha aos efeitos deletérios da adicionais como uso abusivo de álcool e cigarro, osteoporose
imobilização como hipotrofia muscular, rigidez da articulação e fraturas abertas. Lin et al. [27] ressaltam que há necessidade
do tornozelo, trombose venosa profunda, lesão da cartilagem de avaliar cada caso, pois existe a probabilidade de ocorrerem
articular, diminuição da massa óssea e dificuldade para realizar resultados adversos como alterações na sensibilidade, retardo
Tabela II - Características dos estudos. 64
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Siddique et Avaliar se mobilização Pacientes com fratura GE: não foi utilizado o gesso no Amplitude de Movimento *Amplitude de movimento: com 6 semanas de follow up
al. [11] ativa precoce no pós- do tornozelo Weber B pós-operatório e era permitido (goniometria); satisfação o GE apresentou maior ADM para o movimento de fle-
-operatório de fratura isolado ou bimaleolar. movimentação ativa precoce com o tratamento; dor xão dorsal (p = 0,01) e flexão plantar (p < 0,01). Com
Nota PEDro: do tornozelo melhora o com membro fraturado. Descar- (escala visual analógi- 12 semanas de follow up a diferença entre os grupos
3 prognóstico funcional GE: n = 22 ga de peso parcial a partir da ca); avaliação funcional não foi estatisticamente significativa para flexão dorsal (p
em relação à imobili- GC: n = 22 4ª semana e evolução conforme (Questionário Olerud & = 0,07) e para flexão plantar (p = 0,32).
zação tradicional com tolerado. Molander); raio-x. *Satisfação com o tratamento: pacientes no GE ficaram
gesso. Idade pacientes: mais satisfeitos na primeira semana (p = 0,04). Nas demais
Entre 16 e 60 anos. GC: no pós-operatório foi utili- avaliações não houve diferença significativa entre os grupos.
zado gesso abaixo do joelho por Dor: Não houve diferença entre os grupos. No segundo
6 semanas. Descarga de peso dia (p = 0,36), na primeira semana (p = 0,14) e na
parcial a partir da 4ª semana e sexta semana (p = 0,95).
evolução conforme tolerado. Avaliação funcional: não houve diferença estatística
entre os grupos. Na 6ª semana (p = 0,29) e na 12ª
semana (p = 0,76).
Raio-x: não houve diferença entre os grupos.
Honigmann Verificar se o uso de Pacientes com IMC < GE: os voluntários utilizaram Avaliação funcional Avaliação funcional: GE = 42 e GC = 42,5 (p = 0,46)
et al. [12] uma órtese dinâmica 35, com fratura maleolar uma órtese dinâmica com (Questionário Olerud após seis semanas e GE = 69 e GC = 72 (p = 0,55)
associado a descarga tipo Weber A ou B. sistema a vácuo que permite os & Molander); edema após 10 semanas.
Nota PEDro: de peso total precoce movimentos de flexão plantar e de tornozelo; uso de *Edema de tornozelo: a diferença na circunferência
6 obtém melhores resul- GE: n = 23 flexão dorsal por 10 semanas. muletas; amplitude perimaleolar do GE reduziu significantemente de 2cm no
tados funcionais em GC: n = 22 Nas duas primeiras semanas de movimento; atro- baseline para aproximadamente 1cm com 10 semanas
relação ao tratamento realizaram descarga de peso fia (circunferência da de follow up (p < 0,008).
convencional com en- Média idade: parcial e a partir da segunda se- panturrilha); qualidade *Muletas: utilizadas em média, GE = 32 dias e GC =
faixamento e descarga GE: 42,5 anos e GC: mana foi estimulado a descarga de vida (SF-12); segu- 44,5 dias (p = 0,007).
de peso parcial. 38,1 anos. de peso total. Após três semanas rança e satisfação com o *Amplitude de movimento: o GC apresentou uma média
foi permitido deambular sem tratamento (escala visual de 2,5° a mais de flexão plantar (p = 0,05) e 10° a mais
muletas. analógica); tempo para de inversão com seis semanas de follow up.
retornar ao trabalho. Atrofia: não foi observado atrofia com 10 semanas de follow up.
GC: os voluntários utilizaram *Qualidade de vida: uma diferença de seis pontos a
um enfaixamento ao redor do favor do GC foi observado no escore do SF-12 no domí-
tornozelo. Realizaram descarga nio de saúde mental (p = 0,01), após 6 semanas.
de peso parcial com o uso de *Segurança e satisfação com o tratamento: GC com 10
muletas por seis semanas. semanas de follow up apresentou resultados mais satisfa-
tórios (p = 0,02).
Tempo para retornar ao trabalho: Pacientes do GE retorna-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
gesso e o uso de órtese submetidos a interven- seis semanas. Uso de muletas nas do tornozelo fraturado e Hipotrofia panturrilha (mm): GE = -6 GC = -8 na 12ª
Nota PEDro: dinâmica no tratamen- ção cirúrgica. 2 primeiras semanas, descarga não fraturado); hipo- semana pós-operatório.
6 to pós- cirúrgico de de peso parcial até a 4ª semana trofia dos músculos da Amplitude de movimento: Flexão plantar no GE = 54º
fraturas de tornozelo. GE: n = 50 e descarga de peso total a partir panturrilha (diferença e GC = 61º, dorsiflexão no GE = 11º e GC = 11º na
GC: n = 50 da 4ª semana. Os voluntários na circunferência 10 cm 12ª semana pós-operatório.
foram estimulados a realizarem abaixo da tuberosidade Avaliação funcional: Orelud & Molander no GE = 75
Média idade: exercícios diários de ADM passiva anterior da tíbia do tor- e GC = 75, escala de Kaikkonen no GE = 59 e GC =
GE: 41 anos e e ativa de tornozelo sem a órtese. nozelo fraturado e não 57 na 12ª semana de pós-operatório.
GC: 41 anos. fraturado); amplitude Tempo retorno trabalho: GE = 65 dias GC = 63 dias.
GC: Imobilização com ges- de movimento ativo do
so abaixo do joelho por seis tornozelo (goniômetro);
semanas. Uso de muletas nas 2 avaliação funcional
primeiras semanas, descarga de (Questionário Olerud &
peso parcial até a 4ª semana e Molander e escala de
descarga de peso total a partir Kaikkonen); tempo de
da 4ª semana. retorno trabalho.
Após as seis semanas os parti-
cipantes dos dois grupos foram
instruídos a realizar cinesioterapia.
65
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados 66
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Leung et al. Avaliar se o ultrassom Pacientes com fratura GE: ultrassom pulsado, 1.5MHz, Exame clínico; raio-x; *Exame clínico: desaparecimento de ponto doloroso no
[15] pulsado pode melhorar exposta e cominutiva da 200µs, 30mW, aplicado dire- conteúdo mineral ósseo local da fratura no GE = 6,1 e GC = 7,9 semanas (p <
e acelerar a recupera- tíbia. tamente no local da fratura da e fosfatase alcalina. 0,05). Descarga de peso total GE = 9,3 e GC = 15,5
Nota PEDro: ção de fraturas tibiais. superfície ântero-medial da tí- semanas (p < 0,05). Tempo para remover o fixador
5 GE: n = 15 bia, 20 minutos por dia durante externo GE = 9,9 e GC = 17,1 semanas (p < 0,05).
GC: n = 13 90 dias. *Raio-x: aparecimento de calo ósseo no GE ocorreu
antes do GC (p < 0,05).
Média idade: 35,3 anos. GC: ultrassom placebo. *Conteúdo mineral ósseo: maior aquisição conteúdo
mineral ósseo no GE (p < 0,05). *Fosfatase alcalina:
maior atividade da fosfatase alcalina no GE (p < 0,05).
Handolin et Investigar os efeitos Pacientes com fratura de GE: ultrassom pulsado (SAFHS Exame clínico (cicatri- Exame clínico: com 18 meses pós-operatório os torno-
al. [16] do ultrassom pulsa- maléolo lateral Weber B. 2A Exogen, NJ, USA), aplicado zação, amplitude de zelos fraturados estavam cicatrizados e estáveis. Três
do a longo prazo na diretamente sobra a linha da movimento, estabilida- pacientes, 2 do GC e 1 do GE apresentaram restrição
Nota PEDro: morfologia óssea, na GE: n = 8 fratura, 20 minutos por dia, por de); avaliação funcional moderada na flexão dorsal.
6 densidade mineral GC: n = 8 6 semanas, iniciando com 2 (Questionário Olerud Avaliação funcional: pré-operatório GE = 99,4 e GC
óssea e os resultados semanas de pós-operatório. & Molander); exames = 98,8, 18 meses pós-operatório GE = 95,0 e GC =
clínicos em fraturas de Média idade: complementares (raio-x, 96,3. Não houve diferença entre os grupos.
maléolo lateral fixadas GE: 43,3 anos e GC: ultrassom placebo. tomografia computado- Raio-x e Tomografia computadorizada: não houve dife-
com parafusos bioab- GC: 41,8 anos. rizada e absorciometria rença significativa entre os grupos após 18 meses.
sorvíveis. de feixe duplo - DEXA). DEXA: após 18 meses de pós-operatório GE = 0,529 g/
cm² e GC = 0,571 g/cm² (p = 0,322).
Moseley et al. Comparar eficácia Pacientes com fratura de Tratamento durou 4 semanas. Funcionalidade (Ques- Não houve diferença estatisticamente significativa entre
[17] do alongamento tornozelo tratados com As 5 primeiras sessões foram tionário Lower Extremity os grupos ao se avaliar os resultados primários.
passivo de curta e de imobilização em gesso feitas com o fisioterapeuta e as Functional Scale); Flexão
Nota PEDro: longa duração com a com ou sem fixação demais através de orientações dorsal passiva com o
8 cinesioterapia para o cirúrgica que apresenta- domiciliares. joelho fletido e esten-
manejo da contratu- ram pelo menos 5o de dido. Foram utilizados
ra em flexão plantar redução de flexão dorsal 1º GE: Alongamento de curta outros 19 instrumentos
decorrente da imobi- quando comparado com duração (6 minutos por dia) e para avaliar resultados
lização com gesso em o tornozelo contralateral. exercícios do GC. secundários.
pacientes com fratura
de tornozelo. 1º GE: n = 49 2º GE: Alongamento de longa
2º GE: n = 51 duração (30 minutos por dia) e
GC: n = 50 exercícios do GC.
na consolidação, infecções, bolhas e revisão cirúrgica. Uma fratura, é uma resposta adaptativa à imobilização que dura em
questão instigante é que não foram encontradas evidências média de três a seis semanas. Estudos em animais indicam que
científicas a respeito de mobilização articular adjacente ao quando uma articulação é imobilizada, ocorre encurtamento
foco da fratura e condicionamento global que são estratégias muscular, perda de sarcômeros em série, alterações morfoló-
de intervenção rotineiramente utilizadas na prática clínica gicas no tecido conectivo intramuscular, encurtamento do
do fisioterapeuta. tendão e o tecido conectivo periarticular perde extensibilidade
Com relação à consolidação da fratura, ela deve ser en- [39-41]. Em humanos, evidências apontam que a limitação
fatizada, pois é pré-requisito para a evolução na reabilitação. na amplitude de movimento do tornozelo, após um trauma,
Dois estudos abordaram o assunto [15,16] e utilizaram como pode estar associada a uma subluxação anterior do tálus [42].
proposta de intervenção o ultrassom (US) pulsado. Após a Dois estudos enfatizaram técnicas fisioterapêuticas com
introdução do conceito de piezoeletricidade do osso, por intuito de aumentar a amplitude de movimento (ADM)
Fukada e Yasuda, em 1957 [28], alguns estudos começaram [17,18]. Moseley et al. [17] compararam a eficácia do alon-
a preconizar seu uso para estimular a osteogênese e acelerar gamento passivo de curta e de longa duração com a cinesio-
o processo de consolidação de fraturas [29]. terapia para o tratamento da contratura em flexão plantar
Os mecanismos pelos quais o US pulsado favorece a decorrente da imobilização com gesso em pacientes com
consolidação de fraturas ainda não estão bem elucidados. fratura de tornozelo. Não houve diferença estatisticamente
Postula-se que o US é capaz de promover um aumento na significativa entre os grupos. Os autores especulam que não
proliferação celular, na atividade de fosfatase alcalina e no houve sobrecarga suficiente através do alongamento passivo
conteúdo de cálcio [30,31]. Além disso, favorece a síntese de capaz de promover adaptações a longo prazo na estrutura
genes relacionados à produção de proteínas que participam do tecido.
da diferenciação celular e a mineralização [32]. Mediadores No estudo de Lin et al. [18] foi realizado um ensaio clínico
importantes para indução da formação óssea como o óxido aleatório e utilizado o deslizamento ântero-posterior do tálus
nítrico e as prostaglandinas também parecem estar aumenta- grau 3 para aumentar a ADM. Após o tratamento, apenas a
dos após a estimulação com US [33]. Ademais, Yang et al. em variável qualidade de vida diferiu entre os grupos (p = 0,04).
2005 [34] demonstraram que o US promoveu a reorganização Poucas pesquisas investigaram o efeito da terapia manual após
do citoesqueleto de osteoblastos, além de aumentar a síntese fratura de tornozelo. Em 1991, Wilson et al. [43], em uma
de integrinas, que tem um papel fundamental de sinalização amostra com 10 indivíduos, verificaram que adicionar terapia
na superfície celular e participa da construção da rede de manual a um programa de exercícios não melhorou a função,
matriz de colágeno. mas aumentou a ADM de flexão dorsal (média de 4,2o, 95%
Pesquisas anteriores demonstraram o efeito do US na CI = 0,9-7,5). A literatura atual sugere que adicionar alon-
consolidação de fraturas. Heckman et al. [35], em um estudo gamento ou terapia manual a um programa de exercícios não
randomizado e duplo cego, avaliaram o efeito do US pulsado melhora os resultados, o que direciona a intervenção para um
na consolidação de fraturas tibiais. Ao término do tratamento, programa de cinesioterapia estruturado e progressivo.
encontraram diferenças estatisticamente significativas favo- Em relação ao edema, ele é um dos sinais mais importantes
ráveis ao grupo submetido ao US com relação ao tempo de na presença de processo inflamatório agudo após as lesões
cicatrização (p = 0,01) e a evolução clínica e radiológica dos de tornozelo [44]. O inchaço sugere reação inflamatória
pacientes (p = 0,0001). Dos estudos incluídos nessa revisão, nos tecidos, alteração na dinâmica normal dos capilares e
Leung et al. [15] também encontraram resultados satisfa- comprometimento do funcionamento no mecanismo de
tórios e estatisticamente significativos ao utilizar o US em bombeamento do sistema venoso e linfático [45]. Gabriel et
pacientes com fratura exposta e cominutiva da tíbia. Impor- al. [46] relatam que, caso o edema não seja reparado, poderá
tante destacar que uma das variáveis analisadas foi a fosfatase levar a incapacidade funcional pela limitação da elasticidade
alcalina óssea que tem sido considerada um bom marcador muscular, redução da ADM, encurtamento de aponeuroses,
bioquímico de atividade osteoblástica [36]. No entanto, no e em alguns casos, necrose tecidual.
estudo de Handolin et al. [16] não houve diferenças entre os Um estudo desta revisão aprofundou a respeito do tema.
grupos. Salienta-se que o tamanho da amostra neste estudo Caschman et al. [19] avaliaram a eficácia de um compressor
era pequena (n = 16) aumentando a probabilidade de erro pneumático intermitente na redução do edema no pré-
tipo 2. Mais evidências são necessárias para avaliar o papel -operatório de fratura do tornozelo. Encontraram resultados
do US pulsado na consolidação de fraturas de tornozelo. Não estatisticamente significativos a favor do grupo experimental
foram encontradas outras condutas eletrotermoterapêuticas. nas variáveis circunferência do tornozelo (p < 0,003), duração
Quanto à manutenção e ganho da mobilidade articular, da hospitalização (p < 0,005) e lesões na pele (p = 0,007). A
Chesworth et al. [37] encontraram 77% de contratura em disfunção venosa tem sido reportada como uma sequela da
flexão plantar imediatamente após a remoção do gesso após fratura do tornozelo [47]. Desde que Gardner e Fox [48] des-
fratura de tornozelo e Pun et al. [38] 22% após um ano de creveram o mecanismo fisiológico de bombeamento do sangue
retirada do gesso. A contratura não é causada diretamente pela venoso, dispositivos mecânicos têm sido desenvolvidos para
70 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
estimular diretamente esse bombeamento. Os dispositivos têm 14. Lehtonen H, Järninen TLN, Honkonen S, Nyman M, Vihto-
mostrado estimular o retorno venoso em membros inferiores nen K, Järninen M. Use of a cast compared with a functional
de forma mais eficaz que a caminhada. ankle brace after operative treatment of an ankle fracture.
A prospective, randomized study. J Bone Joint Surg Am
2003;85:205-11.
Conclusão
15. Leung KS, Lee WS, Tsui HF, Liu PPL, Cheung WH. Complex
tibial fracture outcomes following treatment with low-intensity
As estratégias de intervenção após uma fratura de tornozelo pulsed ultrasound. Ultrasound Med Biol 2004;30:389-95.
podem ser categorizadas com relação a seu período de aplica- 16. Handolin L, Kiljunen V, Arnala I, Kiuru MJ, Pajarinen J, Partio
ção ou a seus objetivos em: tratamento durante o período de EK, Rokkanen P. No long-term effects of ultrasound therapy
imobilização, consolidação da fratura, manutenção e ganho on bioabsorbable screw-fixed lateral malleolar fracture. Scand
de mobilidade articular e controle do edema. Os resultados J Surg 2005;94:239-42.
apontam que em programas fisioterapêuticos para fratura de 17. Moseley AM, Herbert RD, Nightingale EJ, Taylor DA, Evans
tornozelo é importante abordar ultrassom pulsado para acele- TM, Robertson GJ, et al. Passive stretching does not enhance
outcomes in patients with plantarflexion contracture after cast
rar a consolidação da fratura; controle do edema com disposi-
immobilization for ankle fracture: a randomized controlled trial.
tivos para estimular o retorno venoso em membros inferiores
Arch Phys Med Rehabil 2005;86:1118-26.
e cinesioterapia com critérios de progressão adequados. 18. Lin CW, Moseley AM, Refshauge KM. Rehabilitation for ankle
fractures in adults. Cochrane Database Syst Rev 2008;16(3):1-
Referências 114.
19. Caschman J, Blagg S, Bishay M. The efficacy of the A-V impulse
1. Whittle PA, Wood GW. Fractures of lower extremity. In system in the treatment of posttraumatic swelling following
Campbell’s operative orthopaedics. Philadelphia: Mosby; 2003. ankle fracture: A prospective randomized controlled study. J
p.2725-72. Orthop Trauma 2004;18:596-601.
2. Van Staa TP, Dennison EM, Leufkens HG, Cooper C. Epide- 20. Nilsson GM, Jonsson K, Ekdahl CS, Eneroth M. Effects of
miology of fractures in England and Wales. Bone 2001;29:517- a training program after surgically treated ankle fracture: a
22. prospective randomised controlled trial. BMC Musculoskel
3. Vander Griend R, Michelson JD, Bone LB. Instructional Course Dis 2009;10:118.
Lecture, American Academy of Orthopaedic Surgeons. Fractures 21. Herbert RD, Sherrington C, Maher C, Moseley AM. Evidence-
of the ankle and the distal part of the tibia. J Bone Joint Surg -based practice: imperfect but necessary. Phys Theor Prac
Am 1996;78:1772-83. 2001;17:203-11.
4. Court-Brown CM, McBirnie J, Wilson G. Adult ankle fractures 22. Van Laarhoven CJHM, Meeuwis JD, van der Werken C. Pos-
- an increasing problem? Acta Orthop Scand 1998;69(1):43-7. toperative treatment of internally fixed ankle fractures. A pros-
5. Lauge-Hansen N. Ligamentous ankle fractures. Diagnosis and pective randomised study. J Bone Joint Surg Br 1996;78:395-9.
treatment. Acta Chir Scand 1949;97:544-50. 23. Ahl T Dalen N, Selvik G. Mobilisation after operation of ankle
6. Danis R. Les fractures malleolaires in Danis R: Théorie et fractures, good results of early motion and weightbearing. Acta
pratique de l’ostéosynthèse. Paris: Masson; 1949. p.133-65. Orthop Scand 1988;59:302-6.
7. Weber BG. Die Verletzungen des oberen Sprung-gelenkes. 2nd 24. Wilson FC. Fractures of the ankle: pathogenesis and treatment.
ed. Bern, Stuttgart, Wien: Verlag Hans Huber; 1972. J South Orthop Assoc 2000;9:105-15.
8. Donatto KC. Ankle fractures and syndesmosis injuries. Orthop 25. Järvinen M, Kannus P. Current concepts review. Injury of an
Clin North Am 2001;32:79-90. extremity as a risk factor for the development of osteoporosis.
9. Brink O, Staunstrup H, Sommer J. Stable lateral malleolar J Bone Joint Surg Am 1997;79:263-76.
fractures treated with aircast ankle brace and Don Joy R.O.M.- 26. Kalish SR, Pelcovitz N, Zawada S, Donatelli RA, Wooden MJ,
-Walker brace: a postoperative randomized study. Foot Ankle Castellano BD. The Aircast Walking Brace versus conventional
Int 1996;17:679-84. casting methods. A comparison study. J Am Podiatr Med Assoc
10. Centro de Fisioterapia Baseada em Evidências (CEBP). [citado 1987;77:589-95.
2011 Jan 30]. Disponível em URL: http://www.pedro.org.au/ 27. Lin CWC, Moseley AM, Haas M, Refshauge KM, Herbert RD.
portuguese/about-us/cebp/. Manual therapy in addition to physiotherapy does not improve
11. Siddique A, Prasad CVR, O’Connor D. Early active mobili- clinical or economic outcomes after ankle fracture. J Rehabil
zation versus cast immobilization in operatively treated ankle Med 2008;40:433-9.
fractures. Eur J Trauma 2005;31:398-400. 28. Fukada E, Yasuda I. On the piezoelectric effect of bone. J Phys
12. Honigmann P, Goldhahn S, Rosenkranz J, Audigé L, Geiss- Soc Japan 1957;12:121-8.
mann D, Babst R. After treatment of malleolar fractures follo- 29. Duarte LR. The stimulation of bone growth by ultrasound. Arch
wing ORIF-functional compared to protected functional in a Orthop Trauma Surg 1983;101:153-9.
vacuum-stabilized orthesis: a randomized controlled trial. Arch 30. Naruse K, Takagaki YM, Azuma Y, Ito M, Oota T, Kameyama
Orthop Trauma Surg 2007;127:195-203. K, et al. Anabolic response of mouse-marrow-derived stromal
13. Simanski CJP, Maegele MG, Lefering R, Lehnen DM, Kawel cell clone ST2 cells to low-intensity pulsed ultrasound. Biochem
N, Riess P et al. Functional treatment and early weightbearing Biophys Res Commun 2000;268:216-20.
after an ankle fracture: A Prospective Study. J Orthop Trauma 31. Yang KH, Parvizi J, Wang SJ, Lewallen DG, Kinnick RR, Gre-
2006;20(2):108-14. enleaf JF et al. Exposure to low-intensity ultrasound increases
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 71
aggrecan gene expression in a rat femur fracture model. J Orthop 39. Tabary JC, Tabary C, Tardieu C, Tardieu G, Goldspink G.
Res 1996;5:802-9. Physiological and structural changes in the cat’s soleus muscle
32. Naruse K, Miyauchi A, Ito T, Yamashita A, Wakita M, Nishi- due to immobilization at different lengths by plaster casts. J
saka T. High-intensity pulsed laser irradiation accelerates bone Physiol 1972;224:231-44.
formation in metaphyseal trabecular bone in rat femur. J Bone 40. Herbert RD, Crosbie J. Rest length and compliance of nonim-
Miner Metab 2003;21:169-78. mobilised and immobilised rabbit soleus muscle and tendon.
33. Reher P, Harris M, Whiteman M, Hai HK, Meghji S. Ultra- Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1997;76:472-9.
sound stimulates nitric oxide and prostaglandin E2 production 41. Akeson WH, Woo SL, Amiel D, Matthews JV. Biomechanical
by human osteoblasts. Bone 2002;31:236-41. and biochemical changes in the periarticular connective tissue
34. Yang RS, Lin WL, Chen YZ, Tang CH, Huang TH, Lu BY, et during contracture development in the immobilized rabbit knee.
al. Regulation by ultrasound treatment on the integrin expres- Connect Tissue Res 1974;2:315-23.
sion and differentiation of osteoblasts. Bone 2005;36:276-83. 42. Mulligan BR. Manual therapy NAGS, SNAGS, MWMS, etc.
35. Heckman JD, Ryaby JP, McCabe J, Frey JJ, Kilcoyne RF. Acce- 4th ed. Wellington: Plane View Services; 1999.
leration of tibial fracture-healing by non-invasive, low-intensity 43. Wilson F. Manual therapy versus traditional exercises in mo-
pulsed ultrasound. J Bone Joint Surg 1994;76:26-34 bilisation of the ankle post-ankle fracture: a pilot study. NZ J
36. Leung KS, Fung KP, Sher AH, Li CK, Lee KM. Plasma bone- Physiother 1991;19:11-6.
-specific alkaline phosphatase as an indicator of osteoblastic 44. Siegler S, Liu W, Sennett B, Nobilini RJ, Dunbar D. The three-
activity. J Bone Joint Surg 1993;75B(2):288-92. -dimensional passive support characteristics of ankle braces. J
37. Chesworth BM, Vandervoort AA. Comparison of passive stiff- Orthop Sports Phys Ther 1997;26:299-309.
ness variables and range of motion in uninvolved and involved 45. Devore GL, Hamilton GF. Volume measuring of the severely
ankle joints of patients following ankle fractures. Phys Ther injured hand. Am J Orthop Trauma 1968;12:16-8.
1995;75:253-61. 46. Gabriel MRS, Petit JD, Carril MLS. Fisioterapia em traumato-
38. Pun WK, Chow SP, Fang D, Ip FK, Leong JC, Ng C. A study logia, ortopedia e reumatologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.
of function and residual joint stiffness after functional bracing 47. Tierney S, Burke P, Fitzgerald P. Ankle fracture is associated
of tibial shaft fractures. Clin Orthop 1991;267:157-63. with prolonged venous dysfunction. Br J Surg 1993;80:36-38.
48. Gardner AM, Fox RH. The venous pump of the human foot - a
preliminar report. Bristol Med Chir J 1983;98:109-112.
72 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Revisão
*Docente pela UCS – Universidade de Caxias do Sul, Doutorado pela UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
**Acadêmicas da Faculdade de Fisioterapia da UCS
Tabela I - Escalas referentes à avaliação do individuo com acidente vascular cerebral em relação ao membro superior.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Morlin et al. Teste de Habilidade Habilidade funcio- Resolução de 13 tarefas durante as Pontuada com escores de 0 a 5,
[12] Motora de Membro nal e qualidade do atividades da vida diária, como: cortar onde 5 é considerado normal e
Superior – THMMS movimento carne, comer sanduiche, beber em 0 é igual a movimento ineficaz.
caneca, pentear o cabelo, abrir a jarra,
dar nó em cadarço,...
Pereira et al. Wolf Motor Func- Qualidade do mo- Com 17 tarefas que envolvem o uso das É dado pela medida do tempo e
[13] tional Test – WMFT vimento do membro articulações do membro superior como: pela qualidade do movimento.
superior antebraço na mesa, mão na mesa e na
caixa, força de preensão,...
Tabela II - Escalas sobre as atividades da vida diária relacionadas à avaliação de pacientes acometidos pelo acidente vascular cerebral.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Benvegnu et Medida de Inde- Dependente ou Funções dentro dos cuidados pessoais, Escores de 1 a 7 e divisão de
al. [9] pendência funcio- independente locomoção, comunicação,... maneira aritmética.
nal – MIF
Bénaim et al. Sickness Impact Atividades cotidianas Contêm 136 questões agrupadas em O paciente responde “eu posso”
[14] Profile – SIP 136 12 como: fadiga/ sono, ocupações na ou “eu não posso”.
casa e jardim, andar,...
Hilari et al. SAQOL-39 Pacientes afásicos e São 39 questões como: fazer trabalhos Respostas: “não posso fazer” até
[15] a qualidade de vida domésticos, falar de forma clara no “realizo sem dificuldade”.
telefone,...
Andrade et A Classificação Padronizar a lingua- Promover ações de saúde em diferentes Escores de 0 (nenhuma dificul-
al.[16] Internacional de gem internacional. dimensões; abrangendo itens: aprendi- dade) a 4 (dificuldade completa)
Funcionalidade, zagem e aplicação do conhecimento,...
Incapacidade e
Saúde – CIF
Araujo et al. Índice de Barthel Independência do Abrange dez AVD como: comer, higiene Varia de 0 (dependência) a 100
[17] paciente pessoal, uso dos sanitários, vestir e (independência).
despir,
Tabela III - Escalas referentes à avaliação do acidente vascular encefálico quanto à qualidade de vida.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Lima et al. Escala de Qua- Qualidade de vida Contém 49 itens distribuídos em 12 Os escores podem ser de 5
[18] lidade de Vida do paciente domínios: energia, papel familiar, lin- a 1 e a soma final poderá ter
específica para o guagem, mobilidade, humor, personali- resultados entre 49 que é maior
AVE – EQVE-AVE dade, autocuidado do paciente,... dependência e 245 mostrando
independência
Fleck [19] World Health Or- Qualidade de vida e É formada por 100 perguntas em 6 Respostas através de escala do
ganization Quality sua saúde domínios: físico, psicológico, nível de tipo Likert.
of Life – WHOQOL independência, relações sociais, meio
ambiente e espiritualidade,...
Teixeira- Perfil de Saúde de Qualidade de vida O questionário é constituído por 38 Respostas “sim” ou “não”. Com
-Salmela [20] Nottingham – PSN em portadores de itens que englobam: dor, reações emo- valores de 1 ou 0, totalizando
hemiplegia cionais, sono, interação social,... uma pontuação máxima de 38
pontos.
Karlsson, et Escala National Recuperação motora Contém 15 itens para avaliação da O escore 0 é normal.
al. [21] Institutes of Health e independência consciência, linguagem, negligência
Stroke – NIHSS funcional. ataxia, disartria, perda sensitiva,...
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 75
Na categoria qualidade de vida encontramos a Escala de tingham (PSN)[20] e Escala de Equilíbrio de Berg[24] são
Qualidade de Vida específica para o AVE – EQVE-AVE [18]; utilizadas tanto para avaliação de idosos como para pacientes
Escala World Health Organization Quality of Life – WHO- que apresentam alguma hemiplegia ou disfunção motora. Ao
QOL [19]; Perfil de Saúde de Nottingham – PSN [20] e mesmo tempo, as outras escalas citadas neste estudo são de
Escala National Institutes of Health Stroke – NIHSS [21], lis- uso especificamente para pacientes após AVE: Avaliação de
tadas na tabela abaixo (Tabela III) para melhor compreensão: desempenho de Fulg Meyer [25], Escala de Avaliação Postural
No que se refere à avaliação postural foi encontrada a para pacientes após Acidente Vascular Encefálico (EAPA) [22],
Escala de avaliação Postural para pacientes após acidente National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) [21], Escala
vascular encefálico – EAPA [22], e escala de Comprometi- de Qualidade de Vida Específica para o AVE (EQVE- AVE)
mento de Tronco (ECT) [23] listada na tabela IV para melhor [18], Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapa-
compreensão. cidade e Saúde (CIF) [16] e Teste de Habilidade motora de
No quesito equilíbrio, foram encontradas a Escala de Membro Superior (THMMS) [12].
Equilíbrio de Berg [24] e a Avaliação de Desempenho de No dia a dia as atividades realizadas pelos seres humanos
Fulg-Meyer [25], que estão listadas na tabela V para melhor envolvem movimentos complexos dos membros superiores,
compreensão. seja ao apanhar e soltar objetos, de diferentes formas, texturas,
pesos ou tamanhos, ao levá-lo até determinado local. Após
Discussão o acidente encefálico os pacientes podem apresentar apenas
uma leve dificuldade ao realizarem atividades motoras, po-
Os resultados obtidos no presente estudo demonstram rém esta dificuldade pode ser resolvida ao encontrar de fato
uma ampla variedade de escalas referentes à avaliação da fun- o real comprometimento muscular, sendo pela contração
cionalidade em âmbito geral. Ao ser classificado em diferentes ineficiente [26]. As escalas Teste de Habilidade Motora do
categorias, o estudo foi guiado com o âmbito de caracterizar Membro Superior (THMMS) e a Wolf Motor Functional
todas as escalas encontradas. Dentre as categorias traçadas, Test abrangem a habilidade motora do membro superior,
estão escalas sobre o membro superior, atividades da vida avaliando os movimentos do ombro até os dedos; as mesmas
diária, qualidade de vida, postura e equilíbrio. corroboram que quanto maior o escore encontrado, mais
Após uma primeira análise dos dados, cabe ressaltar que harmônico será o movimento e, o pior escore indica o déficit
algumas das escalas utilizadas não se restringem somente ao motor do membro [12,13]. As escalas foram desenvolvidas
paciente após-AVE. Por exemplo, as escalas Wolf Motor Func- com objetivos diferentes, na escala THMMS há a caracteri-
tion Test (WMFT) [13], Medida de Independência Funcional zação de aspectos quantitativos e qualitativos nas atividades
(MIF) [9], Sickness Impact Profile (SIP 136) [14], SAQOL da vida diária, abrangendo o membro superior de pacientes
139 [15], Índice de Barthel [17], World Heal Organization após AVE, testando habilidade motora do membro superior
Quality of Life (WHOQOL) [19], Perfil de Saúde de Not- deste indivíduo [12]. Já a WMFT inicialmente verificava os
Tabela V - Escalas referentes à categoria equilíbrio aplicadas ao paciente pós acidente vascular encefálico.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Silva et al. Escala de equilíbrio Equilíbrio em indi- 14 itens comuns do dia a dia como: po- Pontuação máxima de 56. Cada
[24] de Berg víduos acima de 60 sição sentada para em pé, permanecer item com um escore de 0 a 4
anos. em pé sem apoio, transferências,... pontos, quanto mais pontos
melhor o equilíbrio.
Cacho et al. Avaliação de Forma padronizada Avalia cinco dimensões do comprometi- Com uma pontuação ordinal de
[25] Desempenho de e objetiva da reabi- mento como: controle motor, amplitude de 3 em cada item.
Fulg-Meyer litação do paciente movimento articular, dor, sensibilidade da
hemiplégico. extremidade superior e inferior, e equilíbrio.
76 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
efeitos da terapia de contensão induzida em pacientes que Em relação à avaliação postural que é de suma importân-
apresentavam hemiparesia, sofrendo modificações; atualmen- cia, esta não pode ser esquecida pelos profissionais da área da
te, é considerada uma escala de grande aplicabilidade, testando saúde ao lidarem com um paciente hemiparético. Na literatu-
a realização de tarefas de forma organizada, de proximal para ra, geralmente as avaliações são voltadas para o desempenho
distal, e das habilidades amplas para as finais [13]. dos membros após-AVE; poucos estudos concentram-se no
Em relação à categoria atividades da vida diária, as sequelas comprometimento postural e de tronco [22]. A Escala de
do AVE geram dificuldades para realizá-las, podendo com- Avaliação Postural para pacientes após Acidente Vascular
prometer sua independência funcional como alimentar-se, Encefálico (EAPA) avalia as três posturas fundamentais: decú-
banhar-se, vestir-se, deambular, na higiene pessoal entre outras bito, sedestação e ortostase, mantendo a postura e realizando
[16]. Quanto às escalas descritas, as mesmas avaliam a capa- a mudança da mesma. Se o paciente atingir uma nota alta
cidade funcional do paciente e fornecem informações sobre a significa que o mesmo apresenta uma boa função motora, já
qualidade e a melhora ou não do indivíduo. Das cinco escalas ao contrário o mesmo será classificado como um portador de
encontradas, a Classificação Internacional de Funcionalidade, deficiência no controle postural. Esta escala é considerada uma
Incapacidade e Saúde (CIF) [16] refere-se ao AVE pediátrico derivação do Protocolo de Fulg Meyer, mas se diferencia por
e as demais, Índice de Barthel [17], SAQOL-39 [15], Sickness não ter itens de reação de proteção [22]. Diferente da Escala
Impact Profile (SIP 136) [14] e Medida de Independência de Comprometimento de Tronco que os principais itens de
Funcional (MIF) [9] são aplicadas em adultos. avaliação são as reações de proteção e endireitamento [23].
Dessas escalas, a CIF classifica maior dependência do Lima et al. [23] enfatizam que o controle de tronco é uma
paciente quando este consegue um maior escore, [16] já os habilidade motora básica indispensável a execução de muitas
outros autores desta categoria classificam o paciente como de- tarefas funcionais, função esta que encontra-se deficitária em
pendente quando o resultado do escore for mais aproximado pacientes após lesão cerebral. Os mesmos autores relatam a
ao escore mínimo do teste [9,14,15,17]. A MIF mede a real escassez de informações na literatura nacional e internacional
capacidade do indivíduo na realização das atividades, tendo de escalas que avaliam quantitativamente o comprometimen-
sua aplicabilidade mais voltada à avaliação de três domínios: to de tronco destes pacientes; algo que não condiz com sua
mobilidade, cognição e atividades diárias [9]; já o Índice de importância funcional.
Barthel se destaca por sua fidelidade quando aplicado em Existem também instrumentos que avaliam o equilíbrio
pacientes com AVE, conseguindo avaliar o nível de inde- que é um processo difícil, dependente da união da visão, sen-
pendência deste paciente [17]. A SAQOL-39 é a adaptação sação vestibular, dos comandos centrais e da ação neuromus-
do SS-QOL com aplicação para a inclusão de pessoas com cular. Para melhorar o equilíbrio o paciente deve restabelecer
dificuldade na fala, compreensão, dificuldade com a resolução seu centro de massa corporal dentro dos limites da estabilidade
de decisões, e o impacto de problemas de linguagem sobre a [24]. Sendo assim descrevemos as escalas de equilíbrio de Berg
vida familiar e social [15]. Com o mesmo propósito a SIP-136 e a avaliação de desempenho de Fulg Meyer que avaliam o
é aplicada a pessoas com afasia e testa qualidade de vida em comprometimento do desempenho motor de indivíduos pós
pessoas de 20 a 80 anos com déficits de AVE, capaz de com- AVE [24,25]. A avaliação é baseada em itens comuns do dia
preender as questões para a realização do questionário [14]. a dia que requerem força, equilíbrio dinâmico e flexibilidade,
Ligada diretamente com as atividades da vida diária, a quantificando o desempenho motor do indivíduo. A escala de
mensuração da qualidade de vida relaciona-se com o bem equilíbrio de Berg refere-se à avaliação de indivíduos acima
estar físico e mental do paciente. Nesta categoria, as escalas: de 60 anos com maior propensão a quedas também podendo
EQVE-AVE [18], WHOQOL [19], Perfil de Saúde de Not- ser utilizado como um teste de equilíbrio comum, com sua
tingham (PSN) [20] e National Institutes of Health Stroke aplicação principalmente no equilíbrio estático e dinâmico
Scale (NIHSS) [21] abordam este assunto, cujos questioná- do sujeito; já a escala de Fulg Meyer especificamente tem por
rios possuem aplicabilidade sobre a capacidade de realizar objetivo verificar indivíduos com sequelas de AVE, sendo
o autocuidado, o papel social, o humor, a religiosidade e a descrita como a primeira escala avaliativa da recuperação desta
interação com o meio ambiente, mensurando também a maior patologia, e a mais conhecida e usada na pesquisa e na prática.
qualidade de vida ao atingir escores mais elevados. O PSN
foi desenvolvido com intuito de avaliar a qualidade de vida Conclusão
em pacientes portadores de doenças crônicas, e os itens do
questionário estão baseados na classificação de incapacidade, Através da busca de escalas aplicadas aos pacientes pós-
delineada pela OMS [20]. A WHOQOL enquadra como -AVE, foi encontrado na literatura um vasto acervo de artigos
qualidade de vida a realização de domínios físicos, psicoló- voltados a este assunto, não abrangendo somente um público
gicos, independência, relações sociais, interação com o meio específico, mas também outras populações que manifestam
ambiente e as crenças individuais, avaliando a qualidade de sinais e sintomas semelhantes ao paciente pós-AVE.
vida dentro de uma visão internacional diferenciando os A escolha da utilização de um instrumento deve ser cri-
pacientes nos seus diferentes países e culturas [19]. teriosa, a fim de achar a melhor conduta de avaliação para
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 77
posterior tratamento do indivíduo afetado, já que a literatura 14. Bénaim C, Pélissier J, Petiot S, Bareil M, Ferrat E, Royer E,
nos propicia a isto. O uso de avaliações relacionadas aos indi- Milhau D, Hérisson C. Un outil francophone de mesure de la
víduos com sequelas desta afecção forneceria um perfil integral qualité de vie de l’aphasique : le SIP-65. Annales de Réadaptation
das reais condições funcionais, psicossociais e expectativa de et de Médecine Physique 2003;46(1):2-11.
15. Hilari K, Byng S, Lamping DL, Smith SC. Stroke and aphasia
vida, podendo guiar o processo de reabilitação aos objetivos
quality of life scale-39 (saqol-39): evaluation of acceptability,
específicos do tratamento. Sendo assim os profissionais da área reliability, and validity 2003;34:1944-50.
da saúde têm a sua disposição um bom suprimento de ma- 16. Andrade PMO, Ferreira FO, Haase VG. O uso da CIF através
teriais, auxiliando sua avaliação com o paciente neurológico, do trabalho interdisciplinar no AVC pediátrico: relato de caso.
direcionando suas condutas nas reais necessidades do paciente. Contextos Clínicos 2009;2(1):27-39.
17. Araújo F, Ribeiro JLP, Oliveira A, Pinto C. Validação do Índice
Referências de Barthel numa amostra de idosos não institucionalizados.
Revista Portuguesa Saúde Pública 2007;25(2):59-66.
1. Moreira RP, Araújo TL, Cavalcante TF, Guedes NG, Lopes 18. Lima RCM, Teixeira-Salmela LF, Magalhaes LC, Gomes-Neto
MVO, Costa AGS, Chaves DBR. Acidente vascular encefálico: M. Propriedades psicométricas da versão brasileira da escala de
perfil de indicadores de risco. Rev RENE 2010:11(2):121-8. qualidade de vida específica para acidente vascular encefálico:
2. OMS. Acidente Vascular Cerebral. Brasília: OMS; 2003. aplicação do modelo Rasch. Rev Bras Fisioter 2008;12(2):149-
3. Motta E, Natalino MA, Waltrick PT. Intervenção fisioterapêu- 156.
tica e tempo de internação em pacientes com acidente vascular 19. Fleck MPA. O instrumento de avaliação de qualidade de vida
encefálico. Revista Neurociências 2008:16(2):118-23. da OMS (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciênc
4. Umphred DA. Reabilitação neurológica. 5ª .ed. Barueri: Ma- Saúde Coletiva 2000;5(1):33-8.
nole; 2009, p.1119. 20. Teixeira-Salmela, LF, Magalhães LC, Souza AC, Lima MC, Lima
5. Arantes NF, Vaz DV, Mancini MC, Pereira MSDC, Pinto FP, RCM, Goulart F. Adaptação do Perfil de Saúde de Nottingham:
Pinto TPS. Efeitos da estimulação elétrica funcional nos múscu- um instrumento simples de avaliação da qualidade de vida. Cad
los do punho e dedos em indivíduos hemiparéticos: uma revisão Saúde Pública 2004;20(4):905-14.
sistemática da literatura. Rev Bras Fisioter 2007;11(6):419-27. 21. Karlsson KE, Wilkins JJ, Jonsson F, Zingmark PH, Karlsson
6. Bernau A. Derrame: Manual do recomeço.1a ed. São Paulo MO, Jonsson EN. Modeling disease progression in acute stroke
:Manole; 2008. p. 57. using clinical assessment scales. AAPS J 2010;12(4):683-91.
7. Costa AM, Duarte E. Atividade física e a relação com a qualidade 22. Yoneyama SM, Roiz RM, Oliveira TM, Oberg TD, Lima
de vida, de pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral. NMFV. Validação da versão brasileira da escala de avaliação
Rev Bras Ciênc Mov 2002;10(1):47-54. postural para pacientes após acidente vascular encefálico. Acta
8. Farias N, Buchalla CM. A Classificação Internacional de Fun- Fisiatr 2008;15(2):96-100.
cionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial 23. Lima NMFV, Rodrigues SY, Fillipo TM, Oliveira R, Oberg TD,
da Saúde: Conceitos, Usos e Perspectivas. Rev Bras Epidemiol Cacho EWA. Versão brasileira da Escala de Comprometimento
2005:8(2):187-93. do Tronco: um estudo de validade em sujeitos pós-acidente
9. Benvegnu AB, Gomes LA, Souza CT, Cuadros TBB, Pavao LW, vascular encefálico. Fisioter Pesq 2008;15(3):248-53.
Avila SN. Avaliação da medida de independência funcional de 24. Silva A, Gustavo JM, Cassilhas RC, Cohen M, Peccin MS, et
indivíduos com sequelas de acidente vascular encefálico (AVE). al. Equilíbrio, coordenação e agilidade de idosos submetidos à
Rev Ciênc Saúde 2008;1(2):71-7. prática de exercícios físicos resistidos. Rev Bras Med Esporte
10. Duarte YAO, Andrade CL, Lebrao ML. O Índex de Katz na 2008;14(2)88-93.
avaliação da funcionalidade dos idosos. Rev Esc Enferm USP 25. Cacho EWA, Melo FRLV, Oliveira R. Avaliação da recupe-
2006;41(2):317-25. ração motora de pacientes hemiplégicos através do protocolo
11. Goulart F, Pereira LX. Uso de escalas para avaliação da doença de desempenho físico Fugl-Meyer. Revista Neurociência
de Parkinson em fisioterapia. Fisiot Pesq 2006;11(2):49-56. 2004;12(2):94-102.
12. Morlin ACG, Delattre AM, Cacho EWA, Oberg TD, Oliveira R. 26. Fuzaro AC, Fuzaro AC, Guerreiro CT, Galetti FC, Jucá RB,
Concordância e tradução para o português do teste de habilidade Araújo JE. Modified constraint-induced movement therapy
motora do membro superior - THMMS. Revista Neurociências and modified forced-use therapy for stroke patients are both
2006;14(2):6-9. effective to promote balance and gait improvements. Rev Bras
13. Pereira ND, Michaelsen SM, Menezes IS, Ovando AC, Lima Fisioter 2012;16(2):157-65.
RCM, Teixeira-Salmela LF. Confiabilidade da versão brasileira
do Wolf Motor Function Test em adultos com hemiparesia. Rev
Bras Fisioter 2011;15(3):257-65.
78 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Agradecimentos • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
Referências • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na • Telefones de contato do autor correspondente.
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
antes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
e-mail com o envio do artigo). cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor ex- para sua adequada formatação.
ecutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Atlantica Editora - artigos@atlanticaeditora.com.br
80 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
Agenda
2013
Março 29 e 30 de abril
Fórum Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto-
7 a 9 de março Sensu em Fisioterapia
VII Encontro Internacional Fisioterapia Dermato Rio de Janeiro RJ
Funcional Informações: abrapg-ft.org.br
Hotel Mércure BH Lourdes, Belo Horizonte MG
Informações: www.dermatofuncional2013.com.br/ Maio
Abril 15 a 18 de maio
IV CIRNE - Congresso Internacional de Reabilitação
3 de abril Neuromusculoesquelética e Esportiva
30º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado Rio de Janeiro
do Rio de Janeiro. Informações: www.cirne2013.com.br/
Jornada Socerj de Fisioterapia em Cardiologia
Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro RJ Outubro
Informações: 30congresso.socerj.org.br
13 a 16 de outubro
18 a 21 de abril Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
Reatech – XII Feira Internacional de tecnologias em Florianópolis SC
Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade Informações: http://cbto2013.com.br
Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo SP
Informações: www.reatech.tmp.br 16 a 19 de outubro
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Fortaleza CE
Informações: www.jzkenes.cpm
90 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 2 março/abril 2013 - 81~160)
EDITORIAL
Carioca não gosta de sinal fechado, Marco Antonio Guimarães da Silva...................................................................................... 92
ARTIGOS ORIGINAIS
As novas demandas da atenção à saúde: estamos preparados para mudanças na formação
profissional? Lina Faria, Elirez Silva............................................................................................................................................... 93
Bem estar: a visão feminina sobre o fibro edema gelóide, Josenilda Malveira Cavalcanti,
Denilson de Queiroz Cerdeira, Thaís Teles Veras Nunes, Samile Ferreira Costa............................................................................ 100
Assistência fisioterapêutica em recém-nascidos prematuros internados em UTI neonatal
pública, Flavya Kassia Smider Pedro, Cássia Valeska Torati, Raquel de Matos Lopes Gentilli,
Luciana Carrupt Machado Sogame.............................................................................................................................................. 106
Relação da qualidade de vida com fatores clínicos, sociodemográficos e familiares de sujeitos
pós-acidente vascular encefálico, Nadiesca Taisa Filippin, Larissa Gasparini da Rocha,
Livia Rossato Dias, Caren Schlottfeldt Fleck................................................................................................................................ 113
Sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior em gestantes de um município
do interior do estado de São Paulo, Ana Carolina Sartorato Beleza, Mariana Chaves Aveiro,
Maria Elis Sylvestre Silva.............................................................................................................................................................. 119
Cuidadores de instituições de longa permanência para idosos: dor, ansiedade e depressão,
Renata Antunes Lopes, Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho,
Natália Corradi Drumond Mitre.................................................................................................................................................. 124
Fortalecimento isotônico concêntrico e excêntrico no músculo supra-espinhal: ensaio clínico
randomizado, Marlon Francys Vidmar, Luiz Fernando Bortoluzzi de Oliveira,
César Antônio de Quadros Martins, Marcelo Faria Silva, Gilnei Lopes Pimentel,
Carlos Rafael de Almeida............................................................................................................................................................. 129
Exame quali-quantitativo da marcha de pacientes paralisados cerebrais diplégicos espásticos,
Igor Carvalho, Jomilto Praxedes, Gustavo Leporace, Fabrício Cardoso, Heron Beresford,
Luiz Alberto Batista...................................................................................................................................................................... 135
Ângulo quadricipital e postura do retropé em membros inferiores com síndrome
da dor patelofemoral, Dálleth Quitéria de Moura, Danilo Machado de Matos,
Luiz Antônio Mendes, Katy Andrade Monteiro Zacaron.............................................................................................................. 142
Avaliação da mobilidade funcional em pacientes hemiparéticos por acidente vascular cerebral,
Alessandra Caroline Baumer, Bianca Gorri Pareja Evangelista, Elaine Cristine Budal Arins de Lima,
Carla Heloisa Moro, Noe Gomes Borges Junior, Antonio Vinicius Soares, .................................................................................. 148
Critérios de escolha do consumidor: um estudo dos valores buscados na fisioterapia
dermatofuncional, Ludmila Bonelli Cruz, Luiz Antônio Antunes Teixeira,
Jersone Tasso Moreira Silva........................................................................................................................................................... 154
EVENTOS.................................................................................................................................................................................. 160
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
Centro 01037-010 São Paulo SP Cristiana Ribas
Administração e vendas cristiana@atlanticaeditora.com.br
Atendimento Antonio Carlos Mello Diretor de Marketing e Publicidade
(11) 3361 5595 / 3361 9932 mello@atlanticaeditora.com.br Rainner Penteado
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br rainner@atlanticaeditora.com.br
Editor executivo
Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 jeanlouis@atlanticaeditora.com.br release@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Editorial
Há poucos dias encontrei no Jardim Botânico, bairro da totalmente triturado por um ônibus que avançou o sinal, foi
zona sul do Rio de Janeiro,um amigo que não via há quase dado como “perda total pelo seguro”. Até hoje não sei como
quinze anos. Seus negócios, primeiro na Europa e depois nos escapei ileso. Vieram também à tona alguns acidentes mais
Estados Unidos, provocaram um verdadeiro desarranjo nos recentes, um com o ônibus que tombou em um viaduto na
nossos eventuais encontros aqui no Rio e jogaram para o ar avenida Brasil, fazendo 7 vítimas mortais e outras tantas
os bate-papos que tínhamos. feridas, por causa de uma briga entre motorista e passageiro.
Embora ambos estivéssemos com pressa, paramos para nos Pelo que foi noticiado, o passageiro, um jovem estudante de
cumprimentar e marcar um novo dia para conversarmos com engenharia, teria desacordado o motorista com um chute no
mais calma. Pelo menos era essa a nossa intenção. Estávamos rosto. O motorista, por sua vez, com recorde de infrações no
na rua Jardim Botânico, principal artéria daquele bairro, trânsito, recusou-se a parar em um ponto, o que teria gerado
que escoa a maioria dos ônibus e automóveis que vêm e vão toda a confusão. Li também na imprensa que outro ônibus,
para a Barra da Tijuca e outros bairros da zona oeste. Por em alta velocidade, invadiu um posto de gasolina, matando
um momento interrompemos os cumprimentos para notar e provocando amputação bilateral de pernas em uma mulher
a desembalada carreira dos ônibus, que, como verdadeiros de trinta e poucos anos.
bólidos desenfreados, passavam diante de nós. O episódio Inevitavelmente avançamos para as comparações. As re-
despertou a ira do meu amigo, e o que deveria ser uma rápida ferências paradigmáticas de nossa conversa, que nos serviram
conversa tornou-se um longo e verdadeiro atode indignação para essas comparações, foram as cidades na Europa onde cos-
pelo que víamos. A partir daí, passamos a analisar a conduta tumamos passar uma longa temporada todos os anos. Não são
dos cariocas, como condutores e conduzidos, os quais, de um um paraíso, têm lá seus problemas, mas nada que se compare
modo ou de outro, somos todos nós.“É, meu amigo, carioca à violência da nossa urbe, manifestada não só nesses exemplos
não gosta de sinal fechado.” “E não se esqueça que também que acabei de dar, como também demonstradas em outras
são sacanas”, disse-me ele. É pena que a musicalidade e poesia inúmeras situações. Lá no outro continente, diferentemente
da música cantada por Adriana Calcanhoto tenha nos servido daqui, os problemas estão minimamente controlados. Temos
de âncora para uma nada simpática avaliação do caráter que a real percepção de que ao sairmos de casa, salvo raríssimas
começamos a traçar do cidadão que vive nessa cidade, que exceções, voltaremos vivos e sem nenhuma amputação de
um dia já foi maravilhosa. Deixando de lado o lado meta- membro. Aqui, essa percepção transfigura-se em uma ilusão,
fórico da letra da música (se é que ele existe), fixei-me na a ilusão de acharmos que nada nos acontecerá, que estamos
sua literalidade para me lembrar de um acidente do qual fui blindados aos “cariocas que não gostam de sinal fechado”;
vítima em Ipanema, no ano de 1972: meu carro, um fuscão, “aos cariocas que são sacanas.”
Artigo original
*Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus GV, Minas Gerais, **Coordenador do
Curso de Fisioterapia da Universidade Gama Filho (UGF), Rio de Janeiro RJ
Resumo Abstract
Introdução: Em função de uma trajetória profissional curativa Introduction: Due to a professional training that emphasizes
e reabilitadora, os fisioterapeutas encontram-se frente ao desafio da a curative and rehabilitation model, physical therapists face the
adaptação de sua formação curricular para atender às novas deman- challenge of adopting a different common core curriculum that
das da saúde pública brasileira. Objetivo: Verificar a necessidade de addresses the new demands of Brazilian public health. Objective: To
adequação das grades curriculares dos cursos de fisioterapia aos pro- verify the needs to adapt the cross-curricular teaching in the field
pósitos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) na formação to the national guidelines, in search of training professionals with
de profissionais fisioterapeutas com perfil humanista e generalista. a humanist and generalist profile. Methods: Thirty-three curricular
Material e métodos: Foram analisadas 33 grades curriculares de cur- fields in physical therapy courses, all officially recognized by the
sos de fisioterapia, reconhecidos pelo MEC, nas cidades do Rio de Brazilian Ministry of Education, were examined in the cities of
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, para verificar se os conteúdos Rio de Janeiro, São Paulo and Belo Horizonte, to verify if their
programáticos atendem às mudanças preconizadas. Resultados: programmatic content met the anticipated changes in curriculum
Em treze cursos o modelo de ensino ainda é o tradicional, tendo development. Results: Thirteen courses still followed a traditional
como referência o “saber técnico”. Nove cursos buscam se adaptar pedagogical model, based on, or prioritizing, “technical” knowledge.
às propostas das Diretrizes. Onze integram disciplinas e estágios Nine courses sought to conform to the new proposals and guideli-
supervisionados que atendem às mudanças. Conclusão: Os projetos nes. Eleven other courses fully attended to such proposals through
pedagógicos revelam a necessidade de mudanças na educação, de the integration of courses and supervised training. Conclusion: The
modo que o processo de formação se paute por uma atuação com pedagogical projects indicate the need for educational changes, so
foco na prevenção e promoção da saúde. that the process of education may reach the objectives of health
Palavras-chave: atenção primária à saude, educação em saúde, promotion and health education.
prática profissional, classificação internacional de funcionalidade, Key-words: primary health care, health education, professional
incapacidade e saúde. practice, international classification of functioning, disability and
health.
dos acadêmicos. As propostas de mudança na formação dos siderou: o tempo de integralização; a adequação da carga
profissionais de saúde, apoiadas pelo Ministério da Saúde, horária; as grades curriculares; as disciplinas que as integram
sugerem que o profissional leve em conta a realidade social e seu ordenamento.
para prestar atenção humana e de qualidade, transformando Elegemos as seguintes disciplinas que buscam uma forma-
o modelo de assistência, fortalecendo a promoção e a pre- ção e atuação profissional que atendam ao sistema de saúde
venção [3]. vigente no país e que enfatizam, no nível primário de atenção
Dois passos são importantes nesta direção: em primeiro à saúde, processos de ensino-aprendizagem direcionados para
lugar, mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos [1,18]:
fisioterapia para que correspondam adequadamente aos Introdução à Saúde Coletiva; Fisioterapia Preventiva; Fisio-
propósitos das Diretrizes Curriculares Nacionais, que pro- terapia Aplicada à Atenção Básica à Saúde; Fisioterapia na
jetam profissionais aptos a desenvolver ações de prevenção, Saúde da Família; Promoção e Prevenção da Saúde do Idoso;
promoção e recuperação da saúde, tanto em nível individual Prevenção e Promoção da Saúde da Criança, Prevenção e Pro-
quanto coletivo. Um segundo passo diz respeito à aplicação moção na Saúde da Mulher, Fisioterapia em Saúde Pública,
de parâmetros de atuação que possibilite melhor compreensão Educação e Promoção da Saúde; Inclusão Social; Políticas
do processo de reabilitação. Públicas e Inclusão Social, Epidemiologia e Saúde Pública,
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapaci- Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência.
dade e Saúde (CIF), nomenclatura proposta pela Organização O estágio faz parte dos projetos pedagógicos dos cursos
Mundial da Saúde, em 2001 [15,16], embora pouco divulga- de graduação e deve envolver troca de informações entre os
da, discutida e aplicada na prática clínica do fisioterapeuta, profissionais. É um período de prática para efeito de aprendi-
se constitui em ferramenta de mudança para a intervenção zagem e aprimoramento profissional, objetivando o desenvol-
profissional. A adoção deste parâmetro possibilitaria ao fisio- vimento do aluno para a vida cidadã e profissional [19]. Neste
terapeuta, em seus procedimentos, identificar as capacidades sentido, foram selecionados estágios supervisionados em áreas
e as limitações específicas para cada indivíduo e planejar um consideradas estratégicas pelo Ministério da Saúde para atua-
programa de recuperação, prevenção e promoção centrado na ção das equipes multiprofissionais na atenção primária à saúde
capacidade funcional do paciente e não somente na patologia. [1]: Estágio Supervisionado em Atenção Básica; Estágio de
A CIF visa à formulação de uma linguagem uniforme Fisioterapia em Saúde Comunitária e Atenção Básica; Estágio
para as categorias da saúde, para facilitar a comunicação entre Supervisionado Profissionalizante em Fisioterapia Aplicada à
os vários profissionais e superar as dificuldades de diálogo já Saúde da Comunidade e do Trabalhador; além de Vivência
sublinhadas [17]. A utilização deste parâmetro pode ser um Profissional em Saúde Coletiva e Práticas Investigativas em
caminho para suscitar discussões e estudos sobre os temas Saúde da Família.
da funcionalidade, da atuação fragmentada da equipe e da O Estágio Supervisionado em paciente crítico em am-
inclusão e/ou participação social do paciente. biente domiciliar, também é importante para a formação
Neste sentido, o objetivo deste estudo de revisão é verificar generalista que se espera hoje do profissional de saúde. O
a necessidade de adequação das grades curriculares dos cur- atendimento domiciliar multiprofissional compreende uma
sos de fisioterapia aos propósitos das Diretrizes Curriculares das várias atividades da atenção em saúde e deve ser estru-
Nacionais na formação de profissionais fisioterapeutas com turado levando-se em consideração as condições clínicas do
perfil humanista e generalista. paciente, o grau de dependência para as atividades funcionais,
as condições sociais e econômicas. Freitas [5] aponta que o
Material e métodos atendimento domiciliar está relacionado “ao maior apelo para
a justificativa da atuação” do fisioterapeuta. Está em jogo a
Foram selecionados e analisados 33 cursos de fisioterapia, busca de um maior contato com os pacientes e o estabeleci-
reconhecidos pelo MEC, nas cidades do Rio de Janeiro, São mento de vínculos que permitam conhecer suas realidades.
Paulo e Belo Horizonte, via Internet, o que representa 66% De acordo com o Ministério da Saúde, a assistência domiciliar
do total de cursos (50) nestas cidades. deve “responder às necessidades de assistência de pessoas que,
Existem na cidade do Rio de Janeiro 16 instituições reco- de forma temporária ou permanente, estão incapacitadas para
nhecidas pelo MEC que oferecem cursos de fisioterapia. Na deslocarem-se aos serviços de saúde. Em seu desenvolvimento
cidade de São Paulo são 24 instituições e em Belo Horizonte, intervêm de forma diferenciada todos os componentes da
10 instituições. As 17 instituições que não participaram do equipe de saúde, estando a resolutividade relacionada com a
estudo não tinham disponíveis em suas páginas institucionais composição da mesma e as condições proporcionadas à equipe
o projeto pedagógico do curso e/ou a grade curricular. Todos pelo doente, família e domicílio” [20,21].
os coordenadores foram contatados por e-mail, no intuito Foram analisadas as grades curriculares e os projetos
de se evitar a inserção de viés amostral. Como critério para pedagógicos, nos seus conteúdos programáticos. Para fins de
verificação dos cursos que estão se adequando aos princípios análise, adotamos categorias analíticas denominadas: Atende
propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, se con- Totalmente, Atende Parcialmente e Não Atende, para verificar
96 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
em que medida os cursos de fisioterapia estão contemplando SC significa sem conceito (sem CPC) no Exame Nacional
os aspectos destacados nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Desempenho dos Estudantes.
do Curso de Graduação em Fisioterapia. Os dados numéricos Dos 33 cursos acessados via Internet, 30 estavam com a
serão apresentados como porcentagens, médias e desvios- carga horária mínima de 4.000 horas estabelecida pela Reso-
-padrão. lução CNE/CES 4, de 6 de abril de 2009. As três instituições
que não cumpriam a Resolução são privadas. Consideremos
Resultados agora as instituições que cumprem a Resolução CNE/CES:
nestes 30 cursos, a carga horária média foi de 4.352 ± 286
O Conceito Preliminar de Curso (CPC) tem como base: horas. O curso com menor carga horária, acima das 4 mil
o desempenho dos estudantes no Exame Nacional de Desem- regulamentares, foi de 4.021 horas e o com maior foi de 5.180
penho dos Estudantes (Enade), o quanto o curso agrega de horas. Quatro cursos (13%) são oferecidos por instituições
conhecimento ao aluno (IDD) e variáveis de insumo - corpo públicas. Vinte e seis cursos (86%) são oferecidos por institui-
docente, infraestrutura e organização didático-pedagógica. ções privadas. Entre os 30 cursos pesquisados que atendiam
Tabela I - Organização Acadêmica, Carga Horária, Tempo de Integralização e Avaliação Enade dos Cursos de Fisioterapia nas cidades do
Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
Cursos
à Resolução, dezessete cursos (57%) têm carga horária de até é o indicador mais adequado para direcionar a assistência à
4.340 horas e treze cursos (43%) têm carga horária na faixa população. O impacto das consequências das doenças na fun-
mais elevada, entre 4.400 horas horas e 5.180 horas. Dos 30 cionalidade suscitou a elaboração, em 2001, da Classificação
cursos com carga horária mínima de 4.000 horas, 14 cursos Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, pela
(47%) integralizam em 5 anos; 4 cursos (13%) integralizam Organização Mundial da Saúde [24].
em 4 anos e 6 meses; 12 cursos (40%) integralizam em 4 anos. A CIF propõe uma abordagem com enfoque pautado
Considerando agora as Diretrizes Curriculares Nacionais na realidade social e nas condições de saúde da população,
foi possível constatar que, dos 33 cursos, treze (todos ofere- identificando o que uma pessoa pode ou não pode fazer na sua
cidos por instituições privadas) não atendem aos propósitos vida diária [24]. Esta classificação valoriza a funcionalidade
das DCN. O modelo de ensino ainda é o tradicional, tendo como um componente essencial da saúde e considera o meio
como referência o “saber técnico”. Nove cursos (um público ambiente como facilitador ou obstáculo para o desempenho
e oito privados) atendem parcialmente às mudanças e onze de ações e tarefas. A CIF codifica domínios que nos ajudam a
cursos (três públicos e oito privados) integram, em suas grades compreender as modificações que se operam nas funções e na
curriculares, disciplinas e estágios supervisionados que aten- estrutura do corpo, do ponto de vista da execução de tarefas
dem às orientações, estando preparados para uma formação e da participação social do indivíduo [24,25].
generalista, com enfoque pautado na realidade social e nas É uma classificação universal de funcionalidade, inca-
necessidades de saúde da população. Destes onze cursos, 75% pacidade e saúde para ser utilizada nos setores da saúde e
oferecidos por instituições públicas e apenas 31% oferecidos naqueles relacionados ao campo, como, por exemplo, a área
por instituições privadas atendem totalmente às Diretrizes. da educação [24]. A nova classificação busca superar algumas
limitações do modelo tradicional de reabilitação, de conside-
Discussão rar a questão da incapacidade centrada apenas na estrutura
anátomo-fisiológica [26-29]. Isso significa não apreender as
O aparente desgaste do modelo tradicional de formação necessidades mais específicas do paciente.
acadêmica, a tímida inserção do fisioterapeuta nos programas e Na perspectiva da OMS, funcionalidade é a capacidade
políticas de saúde do governo, a proposição de um novo perfil do indivíduo realizar tarefas relevantes da rotina diária e de
profissional, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais e a interagir socialmente no trabalho, na família, na escola e
mudança de abordagem no processo saúde-doença, que passa com os amigos. A CIF busca assegurar ao indivíduo tirar o
a observar a funcionalidade, de acordo com a proposição da máximo proveito de sua capacidade física, com a finalidade de
Classificação Internacional de Funcionalidade vêm estimular se tornar colaborador ativo dentro da sua comunidade [30].
os projetos pedagógicos para o ensino da fisioterapia nos Neste sentido, representa uma mudança de abordagem para
tempos atuais [16,22]. pensar e trabalhar a assistência, constituindo um instrumen-
A complexidade do processo de cuidar demanda uma to importante para avaliação das condições de vida e para a
nova abordagem por parte dos profissionais de saúde. Requer promoção de políticas de inclusão social [15,24,27,28].
a superação do modelo centrado na doença, para construir A funcionalidade é um instrumento para a intervenção
um pensar e um fazer sustentado na funcionalidade, dentro fisioterapêutica. Está diretamente relacionada aos aspectos
de uma nova lógica de trabalho em saúde, com enfoque na positivos do paciente, captados durante a avaliação e a ana-
prevenção, na promoção e na humanização da atenção. Os mnese. Ela nos permite estabelecer metas a serem atingidas
preceitos de intervenção precoce estão impulsionando a ao longo do processo terapêutico. Partindo deste princípio,
mudança de perfil do profissional de saúde. Em relação ao devem-se levar em consideração as possibilidades funcionais
fisioterapeuta, este profissional não está limitado a garantir do paciente, suas representações culturais e atitudes em
sobrevida, mas principalmente a qualidade de vida [23]. A relação à doença, construídas paralelamente à sua trajetória
qualidade de vida está relacionada à capacidade funcional, que de vida, influenciadas, por conseguinte, pelo contexto social
permitirá a realização de tarefas e atividades básicas de vida em que vive.
diária e, consequentemente, a inclusão social do indivíduo. Esta perspectiva, presente na psicologia comunitária, desde
Mas, para que tal processo seja viabilizado, deve haver uma meados dos anos de 1960, enfatiza a pesquisa participante,
modificação profunda nos projetos pedagógicos e grades “na qual o pesquisador [fisioterapeuta] e o sujeito da pesquisa
curriculares dos cursos de graduação na área da saúde, com [paciente] trabalham juntos na busca de explicações para os
atualizações que correspondam às expectativas da nova saúde problemas colocados, e no planejamento e execução de pro-
pública brasileira. gramas de transformação da realidade vivida” [31].
O fisioterapeuta, como profissional que participa do pro- Mas, há obstáculos que se referem à atuação profissional.
cesso de reabilitação, objetiva em sua atuação prática tornar Para muitos fisioterapeutas, cuidar do paciente representa
possível a participação social do indivíduo. Faz-se, portanto, uma rotina, cujo atendimento está direcionado apenas para
fundamental aproximar a área da fisioterapia das demandas a solução das restrições físicas. As percepções sobre o impacto
da população. Diante desta perspectiva, a funcionalidade da doença no seu dia-a-dia e as expectativas diante da limi-
98 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
zation; 2001. [citado 2012 jun 15]. Disponível em URL: http:// da Saúde: conceitos, usos e perspectivas. Rev Bras Epidemiol
www.who.int/classifications/en. 2005;8(2):187-93.
16. Organização Mundial da Saúde. CIF: Classificação Interna- 25. Battistella LR, Brito CMM. Tendência e Reflexões: Classi-
cional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: ficação Internacional de Funcionalidade (CIF). Acta Fisiátr
Edusp; 2003. 2002;9(2):98-101.
17. Feuerwerker LCM. Educação dos profissionais de saúde hoje: 26. Allen CM, Campbell WN, Guptill CA, Stephenson FF, Cam-
problemas, desafios, perspectivas e as propostas do Ministério pbell KE. A conceptual model for interprofessional education:
da Saúde. Rev Abeno 2003;3(1):24-27. the international classification of functioning, disability, and
18. Starfield B. Atenção primária. Equilíbrio entre necessidades health (ICF). J Interprof Care 2006;20:235-45.
de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco: Ministério da 27. Sampaio RF, Mancini MC, Gonçalves GGP, Bittencourt NFN,
Saúde; 2002. Miranda AD, Fonseca ST. Aplicação da Classificação Internacio-
19. Araújo FRO, Caldas MAJ, Batiston AP, Neto EM, Ribeiro nal de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) na prática
KSQS, Rocha VM, Santos MLM. Estágio curricular para os clínica do fisioterapeuta. Rev Bras Fisioter 2005;9(2):129-36.
cursos de graduação em fisioterapia: recomendações da Aben- 28. Bernardes JM, Pereira Júnior AA. A Classificação Internacional
fisio. Fisioter Bras 2010;11(5):12-5. de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e suas contri-
20. Lopes JMC, ed. Manual de assistência domiciliar na atenção buições para a Fisioterapia. Fisioter Bras 2010;11(6):58-64.
primária à saúde. Porto Alegre: Ministério da Saúde; 2003. 29. Rauch A, Cieza A, Stucki G. How to apply the International
21. Feuerwerker LCM, Merhy EE. Contribuição da atenção do- Classification of Functioning, Disability and Health (ICF)
miciliar para a configuração de redes substitutivas de saúde: for rehabilitation management in clinical practice. Eur J Phys
desisntitucionalização e transformação de práticas. Rev Panam Rehabil Med 2008;44(3):329-42.
Salud Pública 2008;24(3):180-8. 30. Organização Mundial da Saúde. A incapacidade: prevenção e
22. Marães VRFS, Martins EF, Junior GC, Acevedo AC, Pinho reabilitação no contexto do direito ao gozo do grau máximo
DLM. Projeto pedagógico do curso de Fisioterapia da Univer- de saúde que se possa conseguir e outros direitos correlatos.
sidade de Brasília. Fisioter Mov 2010;23(2):13-17. Washington: OMS; 2006.
23. Rodriguez MR. Análise histórica da trajetória profissional do 31. Campos RHF, ed. Psicologia social comunitária: Da solidarie-
fisioterapeuta até sua inserção nos Núcleos de Apoio à Saúde dade à autonomia. Rio de Janeiro: Vozes; 1996.
da Família (NASF). Comun Ciênc Saúde 2010;21(3):261-66. 32. Canto CREM, Simão LM. Relação fisioterapeuta-paciente e a
24. Farias N, Buchalla CM. A Classificação Internacional de Fun- integração corpo-mente: um estudo de caso. Psicol Cienc Prof
cionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial 2009;29(2):306-17.
100 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
*Orientadora, Docente dos Cursos de Fisioterapia e Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e dos Cursos de
Cosmetologia e Estética e Farmácia da Fametro, Professora da disciplina de Fisioterapia Dermato Funcional da FCRS, **Co-orien-
tador, Docente dos Cursos de Fisioterapia e Psicologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do Curso de Fisioterapia
do Instituto Superior de Teologia Aplicada – INTA, ***Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão –
FCRS,****Graduada do Curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS
Resumo Abstract
Buscou-se conhecer a visão feminina sobre o Fibro Edema This study aimed at knowing female concern about cellulite
Gelóide (FEG), traçando o perfil das mulheres portadoras, desve- and to describe profile of women with FEG and the influence on
lando a influência do mesmo no bem estar feminino. Tratou-se de women well-being. This is an exploratory, descriptive and qualitative
pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa com dez mulheres com research involving ten women with cellulite, carried out at the School
diagnóstico de FEG, realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da of Physical Therapy of Faculdade Católica Rainha do Sertão, from
Faculdade Católica Rainha do Sertão, no período de Agosto/2010 a August 2010 to June 2011, using a physical therapy evaluation and
Junho/2011, através de uma avaliação fisioterapêutica em Dermato- Functional Dermatology semi structured interview with guiding
funcional e entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras. questions. Data were analyzed based on Bardin content analysis
Os dados foram analisados através da Análise de Bardin e agrupados and grouped into categories. We verified that mean age was 24 years
em categorias. Verificou-se que a idade média era de 24 anos, estado old, unmarried (9 participants), eight mulatto woman and income
civil solteiro (9 participantes), sendo oito pardas/mulatas e renda of five minimum wages, level II of cellulite (5 women). Bardin
financeira de cinco salários míninos, grau do FEG predominou o analysis showed four categories: Stay well with me and with my body,
grau II (5 mulheres). Sobre a Análise de Bardin apresentou quatro related to self-esteem and well-being; Self-assurance, it is our own
categorias: Estar bem comigo mesma e com meu corpo, relaciona a self-approval; I’m sad about my body, refers to feel discomfort with
autoestima e o bem-estar; Autoconfiança em si mesmo, desvela a the body; I’m ashamed because it is ugly, showed body dissatisfaction.
aceitação de si; Estou triste com meu corpo, refere-se à sensação de Most participants who have cellulite showed lower self-esteemed. We
desconforto com o corpo; e Eu tenho vergonha porque é feio, expressa concluded that further studies should be done regarding this theme.
a insatisfação corporal. A maioria das participantes expressa uma Key-words: Physical therapy, aesthetics, women, streaks.
baixa autoestima devido à presença do FEG. Diante dessa relação,
viu-se a necessidade de novos estudos a respeito da temática.
Palavras-chave: Fisioterapia, estética, mulher, estrias.
observando então a ausência de problemas quanto à aplicação Todas as participantes da pesquisa foram avaliadas por
dos mesmos por um fisioterapeuta (pesquisador), visto que um único pesquisador que seguiu rigorosamente a meto-
o pesquisador tinha conhecimento e treinamento suficiente dologia escolhida, a ficha de avaliação fisioterapêutica em
para aplicação dos mesmos. Dermatofuncional e a entrevista semiestruturada com ques-
A fonte de coleta de dados foi primária, junto às mulheres tões norteadoras, elaboradas para a investigação científica.
que procuravam atendimentos em Dermatofuncional na Após a fase de coleta de dados, foi procedido a organização
instituição escolhida no período estabelecido, seguindo os dos dados da ficha de avaliação fisioterapêutica em Dermato-
critérios de inclusão e exclusão do inquérito. Foi utilizado funcional e das falas das participantes da pesquisa, referente
um termo de consentimento livre esclarecido da participante, à entrevista semi estruturada.
que apresentava as informações sobre a confidencialidade dos Os depoimentos foram analisados segundo a análise de
dados e anonimato das participantes, conforme preconiza a conteúdo de Bardin, a qual se baseia em operações de des-
Resolução 196 / 96 do CONEP [11], que seriam identifi- membramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os
cados apenas pelo nome Mulher e a idade. Este trabalho foi diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação
enviado, juntamente com o termo de consentimento e livre e, posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes
esclarecido e com o termo de solicitação para entrada no ou categorias [13].
campo da pesquisa, ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Na apresentação dos dados, as participantes foram de-
Humanos (COÉTICA) da Faculdade Católica Rainha do nominadas por Mulher 1, Mulher 2... Mulher 10, ou seja,
Sertão – FCRS, com parecer de aprovação número 20100251 seguindo as regras e normas escolhidas para a pesquisa, portan-
para a sua realização. to, os seus nomes reais foram omitidos. Ressaltou-se também
O termo de consentimento livre esclarecido da participan- que, juntamente com a denominação dada as participantes
te esclarecia que as informações coletadas seriam utilizadas da pesquisa, foi inserida a sua idade.
na pesquisa, que a participante teria a liberdade de desistir a Para a organização dos depoimentos, utilizou-se a aborda-
qualquer momento do inquérito, que as informações ficariam gem de Bardin [13], que se refere a análise do conteúdo como
em sigilo e o anonimato das participantes seria preservado, e a um conjunto de técnicas de análises de comunicação. Dessa
mesma não teria ônus financeiro para participar do inquérito. forma, a apreciação do conteúdo do discurso foi útil para se
A autorização do uso do gravador foi solicitada, e, em caso lidar com a conversação que se pretende compreender além
de desconforto provocado pela utilização do gravador, as infor- dos significados imediatos.
mações seriam coletadas a partir de anotações realizadas pela Seguindo a proposta de Bardin [13], foi procedido a
própria pesquisadora, e que sua participação seria de extrema apreciação e agregação das respostas convergentes, utili-
importância para o esclarecimento sobre a relação existente zando o tema como unidade de registro. Em seguida, foi
entre o FEG, a imagem corporal e o bem estar feminino. Tal realizada a classificação e o agrupamento dos elementos
termo foi assinado em duas vias ficando uma com o participante que constituem cada unidade temática, extraída dos de-
do inquérito e outra com o pesquisador responsável. As infor- poimentos das participantes acerca da relação existente
mações coletadas durante o estudo foram arquivadas em fitas entre a imagem corporal, o FEG e o bem estar a partir da
e fichas de anotações sob a tutela do pesquisador responsável. interpretação dos dados colhidos, por analogia, e organi-
Dos itens avaliados na ficha de avaliação fisioterapêutica zando-os por categorias, ou seja, através da parte comum
em Dermatofuncional foi enfatizado o perfil sócio demográfi- dos dados existentes.
co e clínico das participantes, e a partir daí seriam submetidas Os dados coletados nesta pesquisa foram tabulados, orga-
à entrevista semiestruturada. Segundo Spink [12] é por meio nizados e comparados com estudos e bibliografias nacionais e
da utilização de entrevistas que o pesquisador tem a possibi- internacionais referidas sobre o assunto em questão.
lidade de acessar o universo do entrevistado e, consequente- Informações e depoimentos foram arquivados em
mente, obter informações necessárias e precisas para o estudo. fitas e fichas de anotações sob a tutela da pesquisadora
As entrevistas foram realizadas em um local reservado da responsável.
instituição, onde não existia transito de pessoas nem barulho.
Esse encontro foi face a face, que proporcionou uma pro- Resultados e discussão
fundidade maior dos dados coletados, e também favoreceu
o encontro de uma das características do estudo qualitativo, Neste momento, apresentam-se as 10 mulheres aborda-
que é mesmo trabalhar com menos sujeitos, mas com dados das obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão. É sem-
pautados na profundidade das informações. pre difícil apresentar e caracterizar alguém, principalmente
Na entrevista, foi empregado um roteiro que foi orienta- quando se trata de um ser fragmentado pelas circunstâncias
do pela pesquisadora, que deixou a participante expressar-se impostas pela vida e/ou existir no mundo. Foi enfatizada
livremente sobre as questões norteadoras da pesquisa, através a apresentação das participantes, fazendo-se uma relação
das perguntas, tais como: 1) O que você entende por autoestima? com os assuntos referente à visão feminina sobre o FEG e
2) A celulite tem alguma influência na sua autoestima? o bem estar.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 103
Características sociodemográficas O estar bem consigo mesmo é algo que precisa ser avalia-
do e alimentado cotidianamente. A inconstância no humor,
Nesta pesquisa participaram 10 mulheres acadêmicas. De os episódios diários e as modificações ditadas pelo tempo
acordo com o questionário sociodemográfico constatou-se tornam-se responsáveis pelo desequilíbrio do bem-estar [14].
que a faixa etária das participantes variou entre 21 e 29 anos, França [15] fomenta dizendo que a “verdadeira” auto-
com uma idade média de 24 anos. Quanto ao estado civil, 9 estima está ligada intimamente com nossa personalidade
eram solteiras e apenas 1 casada. Com relação à cor da pele 8 funcionando assim, como uma sensação, e não como um
consideravam-se ser pardas/mulatas e 2 da cor branca. Quanto sentimento que possa ser exposto verbalmente ou ensinado,
à renda mensal, 3 apresentavam de 03 a 4 salários mínimos, e 5 é um sinal difícil de distinguir e identificar, porque nunca
de 5 a 6 salários mínimos, e 2 com mais de 6 salários mínimos. deixa de estar presente, pois ela exerce função simplesmente
Acerca do histórico de saúde, todas relatavam o FEG nos como um pano de fundo de todas as outras sensações que
antecedentes familiares. Nove relataram que os antecedentes interpõem o sujeito, funcionando então como um contexto
patológicos familiares predominantes eram hipertensão e pro- básico ou como defesa de todas as reações. De acordo com
blemas circulatórios. Não foi corroborado nenhum distúrbio Teixeira e Giacomani [16] a autoestima diz respeito à avaliação
circulatório e emocional. que o sujeito faz de si mesmo com relação o gostar de si ou
Quando identificado o uso de medicamentos, observou-se sentir-se satisfeito consigo.
que apenas 6 faziam uso de hormônios esteróides. Nenhuma
era tabagista, e 5 praticavam atividade física. “Autoconfiança em si mesmo”
Todas as participantes apresentaram estrias e adiposidade
localizada nos glúteos e coxas, sendo que 8 apresentavam Para algumas das entrevistadas o que se entende por au-
depressões presente à contração muscular e 2 presentes ao re- toestima está relacionado com a aceitação de si mesmo, em
pouso. Nenhuma apresentou edema, apenas 5 visualizavam-se sentir-se confiante. Haydu [17] asseverou que a autoestima
microvarizes, e do total apenas 3 com flacidez muscular. Em 3 depende dos indivíduos e da convivência entre eles, se ela é
participantes evidenciou-se a presença de aderência tecidual. definida como sendo os pensamentos, os sentimentos e as
Todas continham temperatura local normal, sendo que em condutas que temos e que são relacionados a nós mesmos,
3 participantes identificou-se FEG dura e em 7 FEG mista. envolvendo o autoconceito, a autovalorização e a autocon-
Quanto ao grau do FEG, classificou-se da seguinte forma: 03 fiança.
(três) grau I, 5 grau II, 2 grau III. A autoconfiança é assim entendida como a confiança que
é colocada nos próprios atos. De modo que quanto mais a
Categorias constituídas segundo Bardin (2002) pessoa se conhece é que é possivelmente ela se aceitar, e a par-
tir daí começa a amar-se e confiar em si mesma. Freire-Maia
Os resultados apresentados para análise do conteúdo, [18] relata que se percebe o quanto esses sentimentos têm
segundo Bardin [13] constam com o total de 4 temas iden- poder sobre uns aos outros, permitindo o estabelecimento
tificados, categorizados em: “Estar bem comigo mesma e com saudável de uma boa autoestima. Como descreve uma das
meu corpo”, “Autoconfiança em si mesmo”, “Sim, muita. Porque participantes:
estou triste com meu corpo” e “Eu tenho vergonha porque é feio”.
Os temas são compostos por categorias constituídas de acordo “É a autoconfiança em si mesmo, é você fazer uma avaliação de
com o seu significado, que serão mostrados a seguir. você mesmo, é estar de bem com a vida, com meu intelecto e meu
corpo” (Mulher 8 – 23anos).
“Estar bem comigo mesma e com meu corpo”
Mosquera e Stobaus [5] diz que autoestima não é o que
A autoestima sempre foi uma necessidade psicológica de o outro sente e pensa sobre outra pessoa, mas o que se pensa
um enorme valor para o homem, desde que os indivíduos e sente sobre nós mesmos. É a adição da autoconfiança, com
expandiram sua capacidade de autoconhecimento. Ultima- o autorrespeito, é a habilidade de lidar com as surpresas da
mente, a autoestima obtém grande importância comparada vida, e de sentir-se digno da felicidade. O autor referencia-
ao passado, tornando-se uma necessidade pessoal. do anteriormente, no ano de 2003, expressa dizendo que a
Analisando as falas, percebe-se que a maioria das participantes autoconfiança é alimentada ou aniquilada conforme somos
relaciona a autoestima ao sentimento de bem-estar, ou seja, está respeitados, valorizados e encorajados a confiar em nós mes-
ligada diretamente com o estado de espírito do ser humano e com mos [19]. Cunha et al. corroboram dizendo que a segurança e
o sentimento de autoaceitação [14] como podemos ver neste relato: a confiança em si mesmo, são traços do que seria autoestima,
sempre buscando a felicidade, reconhecendo as qualidades
“Autoestima significa você sentir-se bem consigo mesma e com seu sem maiores vaidades [20].
corpo, sentindo-se equilibrada tanto fisicamente como emocional-
mente” (Mulher 3 - 27anos). “Sim, muita. Porque estou triste com meu corpo”
104 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Neste estudo, constatou-se que a maior parte das entrevis- A autoaceitação, que não está vinculada a uma imagem
tadas sentia que alguma parte do corpo estava incomodando, de perfeição, e sim à autoestima, e que concretiza como pré-
trazendo uma sensação de desconforto e, com isso, propor- -condição para a modificação, não estará instigada, colocando
cionando sentimentos de insatisfação. o indivíduo fora da realidade [25].
Ferraz e Serralta [14] declaram que muitas vezes o sen- O corpo é uma decorrência do que cada sociedade gera
timento de pertencimento ao padrão social é tão procurado para os seus membros, possibilitando afirmar que o corpo é
que, quando não obtido, é causa de aflição e tristeza. O ideal um esboço reflexivo, estando esta opinião incluída como uma
e o real tornam-se tão distanciados que o sujeito se perde na das características da sociedade moderna. A reflexibilidade é
sua própria imagem, o que ocasiona detrimentos emocionais, uma forma de agrupar os procedimentos e as condutas que
comportamentais, cognitivos e produtivos. imanam de cada sociedade [26].
A baixa autoestima provoca autorrejeição, autoinsatisfa- Deste modo, a autoimagem é somente um dos componen-
ção, autodesprezo. A pessoa manifesta por ela própria falta de tes integrantes do conceito de autoestima, e não o conceito
respeito. A autoimagem que tem de si é incômoda e faz com em si. Discorrer sobre autoestima significa falar de uma visão
que almeje que a mesma fosse diferente [21]. vasta, abrangente e totalizante do indivíduo.
“Sim muita. Hoje eu não tenho tanta autoestima com antes, estou Conclusão
triste com meu corpo, muito insatisfeita, tenho vergonha e raiva”
(Mulher 2- 25 anos). Através da presente investigação, pode-se concluir que
a maioria das participantes apresenta uma baixa autoestima
Muitas pessoas rejeitam o próprio corpo em virtude devido à presença do FEG. Pode-se afirmar que a presença de
da imagem que fazem deles, produzindo sentimento de FEG influência significativamente no bem estar dessas mu-
autodesvalorização e de baixa autoestima [22]. Os autores lheres, pois a imagem corporal atualmente é de fundamental
referenciados anteriormente fomentam dizendo que a per- importância para se ter uma boa autoestima, visto que está
cepção da aparência resume-se como o indivíduo avalia o relacionada a uma autoconfiança em si mesmo.
seu próprio aspecto, podendo ser do corpo inteiro ou de uma Diante da dificuldade que encontramos a respeito da
parte específica. Pode haver contradição entre a realidade física autoestima e FEG, vimos a necessidade de novos estudos
e a percepção da aparência. O grau de valor que a imagem a respeito da temática, a fim de proporcionar tratamentos
corporal tem em relação à própria autoestima é a importância não só físicos, mas também acompanhamento emocional,
que ele faz da aparência. Algumas pessoas não incluem a sua visto que nesse estudo a autoestima está ligada a confiança
aparência física com autoestima, dando assim pouco valor. em si.
Não há como negar o valor da representação do corpo na
“Eu tenho vergonha porque é feio” mente humana. É fundamentada em tal representação que
acontecem as relações, a produção cognitiva e emocional. Por
Investigando as respostas encontradas, a autoestima está meio das transformações corporais, os sentimentos também
ligada com a satisfação ou a insatisfação com a imagem corpo- vão mudando e alterando comportamentos.
ral, e a sua forma multidimensional é culpada por alterações Em relação ao perfil sociodemográfico das mulheres parti-
positivas ou negativas na imagem corporal. Não se pode esque- cipantes da pesquisa, percebeu-se que tal aspecto tem grande
cer que a imagem corporal tornou-se centro da vida moderna, influência na autoestima, sendo relatado pelas participantes
pelo culto da beleza física, que é uma preocupação coletiva as dificuldades em custear o tratamento estético.
do nosso tempo e não apenas uma aflição individual [23].
Dando evidência ao relato de Cash [24], o corpo compõe Agradecimentos
uma incontestável e inevitável fonte de todos os sentimentos
humanos, estados de medo, ansiedade, vergonha e culpa até Os autores agradecem a colaboração e a disponibilidade
orgulho, estima e harmonia. da professora da disciplina de Fisioterapia em Dermatofun-
O corpo é capaz de comunicar-se através de nossas cional, bem como a direção da Clínica Escola de Fisioterapia,
emoções e traduzir os nossos pensamentos e vontades. O a Coordenação do curso de Fisioterapia pela autorização e a
movimento corporal fala, expressa e desvenda os mais íntimos realização deste estudo científico e as mulheres que concor-
anseios. É por meio dele e com ele que descobrimos o mundo daram em participar da pesquisa.
e as sensações. No entanto, nosso corpo, em certas ocasiões,
revela algo que não desejamos mostrar ou ainda é diferente e Referências
não satisfaz às nossas expectativas [14].
1. Meyer PF, Lisboa FL, Alves MCR, Avelino MB. Desenvol-
“Sim. Eu tenho vergonha porque é feio, não me sinto a vontade em usar vimento e aplicação de um protocolo de avaliação fisiotera-
biquíni, fico me achando inferior às outras pessoas” (Muller 6 – 26 anos). pêutica em pacientes com fibro edema gelóide. Fisioter Mov
2005;18(1):75-83.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 105
2. Pieri PP, Brongholi KA. Utilização da drenagem linfática manual 15. França BRC. Auto-estima, importante fator emocional no
no tratamento do fibro edema gelóide [online]. Revista Cereus mundo das organizações. Recife: Universidade Católica de
2011(6). 2012 Pernambuco; 2007.
3. Moura C. Adeus celulite. Porto Alegre: Faculdade de Educação, 16. Teixeira MAP, Giacomani CH. Autoconceito: da preocupação
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2006. com o si mesmo ao constructo psicológico. Psico (Porto Alegre)
4. Sant’Ana EMC, Marquetil RC, Leite VL. Fibro Edema Gelói- 2002;33(2):363-84.
de (celulite): Fisiopatologia e tratamento com endermologia. 17. Haydu VB. Auto-estima, algumas questões comuns. Tribuna
Fisioterapia Especialidades 2007;1(1). do Vale do Paranapanema 2005;1198(7).
5. Mosquera JJM, Stobas DS, Auto-imagem, auto-estima e auto- 18. Freire-Maia T. Auto-estima na infância. Braga: Universidade
-realização: qualidade de vida na universidade. Rev Psicologia, do Minho; 2004.
Saúde & Doenças 2006;7(1):83-88. 19. Mosquera JJM, Stobaus CD, Jesus SN, Hermínio CI. Univer-
6. Guareschi PA, Jacques MGC, Strey MN, Bernardes MG, Car- sidade: auto-imagem, auto-estima e auto-realização. Unirevista
los AS, Fonseca TMG, eds. Psicologia social contemporânea. 2006;1(2):1-13.
Petrópolis: Vozes; 1991. 20. Cunha ES, Cirino IF, Teles KS, Peixoto FS. Intervenção fisiote-
7. Moscovici S. Prefacio. In: Guarechi P, Jovchelovitch S. Textos rapêutica no tratamento de fibro edema gelóide [online]. [citado
em representações sociais. Petrópolis: Vozes; 1994. 2010 Dez 12]. Disponível em URL: www.fisioweb.com.br
8. Jodelet D. In: Farr R, Moscovici S. Les representations socia- 21. Carvalho MFT. Avaliação da auto-estima nos portadores de
les: um domaine en expansion. Paris: Presses Universitaires de prótese dentária removível [Tese]. Porto: Universidade Fernando
France; 1989. Pessoa, Faculdade de Ciências da Saúde; 2009.
9. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22. Chaim J, Izzo H, Sera CTN. Cuidar em saúde: satisfação com
Petrópolis: Vozes; 2004. imagem corporal e autoestima de idosos. O Mundo da Saúde
10. Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem por Saturação 2009;33(2):175-81.
em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad 23. Grande N. O corpo no fim do século. In: Anatomias Contem-
Saúde Pública 2004;24(1):17-27. porâneas – O corpo na Arte Portuguesa dos Anos 90 – Catálogo.
11. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 196 / 96. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras; 1997. p. 19-22.
Decreto Nº 93.933 de Janeiro de 1987. Estabelece critérios sobre 24. Cash TF. Body image: Past, present, and future. BodyImage
Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Bioética 1996;4(2):15- 2004;1(1):1-54.
25b. 25. Cozin KS. Idosos e Florais de Bach: em busca do restabeleci-
12. Spink MJ. Psicologia Social e Saúde: saberes e sentidos. Petró- mento da auto-estima [Tese]. São Paulo: Universidade de São
polis: Vozes, 2003. Paulo; 2009.
13. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2002. 26. Santos MFJ. Auto-percepções, auto-estima, ansiedade físico-
14. Ferraz SB, Serralta FB. O impacto da cirurgia plástica na auto- -social e imagem corporal [Tese]. Coimbra: Faculdade de
-estima. Estud Pesqui Psicol 2007;7(3):557-69. Ciências do Desporto e Educação Física; 2006.
Assine já!
Fisioterapia Brasil
Artigo original
*Fisioterapeuta, **Docente e Supervisora de estágio do Módulo Saúde da Criança e do Adolescente da Escola Superior de Ciências
da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), ***Assistente Social, Docente do Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas e Desenvolvimento Local da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), ****Do-
cente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Escola Superior
de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)
Resumo Abstract
Introdução: A prematuridade é considerada um problema de Introduction: Preterm birth is considered a public health pro-
saúde pública, e, nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, a blem, and in the Neonatal Intensive Care Units, physical therapy
fisioterapia atua prevenindo e tratando complicações respiratórias e works by preventing and treating respiratory and neurological
neurológicas. Objetivos: Verificar a atuação da fisioterapia na Unidade complications. Objectives: To investigate the role of physical therapy
de Terapia Intensiva Neonatal, perfil das mães e dos prematuros, in the Neonatal Intensive Care Unit, the profile of mothers and
morbidades respiratórias e neurológicas. Material e métodos: Estudo infants, respiratory illnesses and neurological disorders. Method:
observacional de coorte retrospectivo, realizado no ano de 2008, que Observational retrospective cohort study, conducted in 2008, using
utilizou uma análise estatística descritiva dos dados, com média e a descriptive statistical analysis of data, mean and standard deviation.
desvio padrão. Resultados: Dos 172 prontuários analisados, verificou- Results: Of the 172 records analyzed, it was found that the average
-se que a idade média das mães foi de 24 ± 7 anos, 81% realizou age of mothers was 24 ± 7 years old, 81% held prenatal care, 21%
pré-natal, sendo 21% com 6 ou mais consultas. Com relação aos with six or more visits. With regard to newborns, 58% were female,
recém-nascidos, 58% eram do sexo feminino, 44% apresentaram 44% had respiratory morbidity and 24% neurological. The physical
morbidades respiratórias e 24% neurológicas. O atendimento therapy was performed in 63% of them, the most used techniques
fisioterapêutico foi realizado em 63% dos mesmos, as técnicas were thoracoabdominal rebalancing by 100% and sensorimotor
mais utilizadas foram o reequilíbrio toracoabdominal em 100% e stimulation in 97%. Conclusion: The therapy was performed in
a estimulação sensório-motora em 97%. Conclusão: A fisioterapia most newborn infants, there is a connection between the motor
foi realizada na maioria dos recém-nascidos internados, havendo and breathing techniques, showing that, as a premature birth is
associação entre as técnicas respiratórias e motoras, demonstrando one of the causes of infant morbidity, physical therapy has become
que, como o nascimento prematuro representa uma das causas de increasingly necessary.
morbidades infantis, a atuação fisioterapêutica tem se tornado cada Key-words: premature, physical therapy, intensive care neonatal,
vez mais necessária. public health.
Palavras-chave: prematuro, fisioterapia, terapia intensiva
neonatal, saúde pública.
assistência fisioterapêutica, foi verificado o número de sessões reanimação utilizadas descritas na Tabela III. Quanto à
e as técnicas utilizadas. Foi realizada uma análise estatística incidência de morbidades, 44% desenvolveram morbidades
descritiva dos dados, com média e desvio padrão. Este estudo respiratórias e 24% neurológicas. Os tipos de morbidades
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do respiratórias e neurológicas estão descritos nas Tabelas IV
Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, sob o parecer e V respectivamente. Quanto à assistência fisioterapêutica
consubstanciado 18/2010. neonatal, 37% dos 172 bebês não realizaram fisioterapia
durante o período de internação e os 63% que realizaram
Resultados foram submetidos a duas sessões diárias. Os recém-nascidos
receberam fisioterapia conforme suas necessidades e rotina
Em relação ao perfil materno, dos 172 prontuários ana- do serviço, o que justificou a não realização deste tratamen-
lisados, verificou-se que a média da idade materna foi de 24 to em 37% dos prematuros. As técnicas fisioterapêuticas
± 7, com variação de 14 a 43 anos, 89% tiveram gravidez utilizadas encontram-se relatadas na Tabela VI. O óbito
única e 17% realizaram aborto. 81% das mães fizeram foi verificado em 9% dos RN. Dos 156 prematuros que
pré-natal, porém, apenas 21% destas realizaram 6 ou mais obtiveram alta hospitalar, 58% foram encaminhados para
consultas. O parto mais frequente foi a cesárea em 59% acompanhamento ambulatorial (follow-up). E, no que tange
dos casos. O corticoide antenatal foi administrado em 15% ao encaminhamento dos RN com morbidades respiratórias,
das puérperas e os fatores de risco gestacionais encontrados foi constatado que, dos 61 bebês que receberam alta, 87%
estão descritos na Tabela I. Em relação ao perfil neonatal, foram encaminhados a esse ambulatório, e desses, somente
58% dos prematuros eram do sexo feminino e 88% tiveram um não foi atendido pela fisioterapia durante o período de
apresentação cefálica. A idade gestacional variou entre 25 a internação hospitalar. Em relação aos 38 RN com morbida-
36,5 semanas e o peso ao nascimento variou de 600 a 4070 des neurológicas que receberam alta, todos (100%) foram
gramas. As frequências observadas das variáveis peso e idade atendidos pela fisioterapia durante o período de internação
gestacional ao nascimento, adequação peso/idade e índice de hospitalar e todos foram encaminhados ao follow-up.
Apgar no primeiro e quinto minutos de vida, encontram-se
descritas na Tabela II. Tabela II - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo
com o peso e a idade gestacional ao nascimento, adequação peso/idade
Tabela I - Distribuição das gestantes de acordo com o fator de risco e índice de Apgar no primeiro e quinto minutos de vida (n=172),
gestacional (n=160), em um Hospital Público, Serra/ES, 2008. em um Hospital Público, Serra/ES, 2008.
Variável Número % Perfil Neonatal Número %
Tipo de fator de risco gestacional Peso ao nascimento
DHEG* 50 31% ≤ 1000 gramas 16 9%
ITU** 31 19% 1001-1500 gramas 27 16%
DPP*** 19 12% 1501-2500 gramas 96 56%
DHEG + DPP 13 8% > 2500 gramas 33 19%
DHEG + ITU 10 6% Idade Gestacional ao nascimento
ITU + DPP 7 4,5% ≤ 30 semanas 15 9%
DHEG + Hipertensão arterial 6 4% 31-34 semanas 83 48%
crônica 35-36,6 semanas 74 43%
Diabetes 6 4% Adequação peso/idade gestacional
Natimorto prévio 6 4% Pequeno para a idade gestacio- 19 11%
Tabagismo 3 2% nal
Drogas ilícitas 3 2% Adequado para a idade gesta- 148 86%
Tabagismo + Alcoolismo + cional
Drogas ilícitas 3 2% Grande para a idade gestacio- 5 3%
Tabagismo + Alcoolismo 2 1% nal
Desnutrição 1 0,5% Índice de Apgar do 1º minuto de vida
*Doença Hipertensiva Específica da Gravidez; **Infecção do Trato Apgar de 0 a 3 17 10%
Urinário; *** Descolamento Prematuro da Placenta Apgar de 4 a 7 128 74%
Apgar > 7 27 16%
Em relação ao diagnóstico inicial dos prematuros, 66% Índice de Apgar do 5º minuto de vida
apresentaram a doença da membrana hialina e, dos 172, Apgar de 0 a 3 1 0,6%
21% receberam surfactante exógeno e 82% necessitaram Apgar de 4 a 7 43 25%
de reanimação na sala de parto, estando às manobras de Apgar > 7 128 74,4%
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 109
Tabela III - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo Tabela VI - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo
com as manobras de reanimação recebidas na sala de parto (n=141), com as técnicas fisioterapêuticas recebidas (n=109), em um Hospital
em um Hospital Público, Serra/ES, 2008. Público, Serra/ES, 2008.
Perfil Neonatal Número % Perfil Neonatal Número %
Manobras de Reanimação na Sala Técnicas Fisioterapêuticas
de Parto RTA*+AFE**+Aspiração+ESM*** 15 14%
Oxigênio Inalatório 47 33% RTA+Aspiração+ESM 16 15%
Oxigênio Inalatório + Máscara 41 29% RTA+AFE+ESM 1 1%
Oxigênio Inalatório + Máscara + RTA+AFE+Aspiração 1 1%
Entubação Orotraqueal 51 36% RTA +Aspiração 2 2%
Oxigênio Inalatório + Máscara + RTA+ESM 74 67%
Entubação Orotraqueal + Massa- *Reequilíbrio toracoabdominal; **Aumento do fluxo expiratório; ***Esti-
gem Cardíaca 2 2% mulação sensório-motora
hipertensivos que ocorrem após a vigésima semana de gestação, abdome dos prematuros, melhorando a justaposição entre
são as complicações médicas de maior relevância durante o o diafragma e as costelas, aumentando o tônus e a força dos
período gravídico-puerperal, predispondo a partos prematuros. músculos respiratórios. Além disso, utiliza a movimentação
Com relação às características neonatais, a média da fina e qualitativa do tórax e a normalização da tonicidade
idade gestacional ao nascimento foi de 33,6 semanas, abdominal, podendo ser utilizada também para desobstrução
aproximando-se dos estudos de Melo et al. [21] e Trotman brônquica [15]. Rangel e Farias [29] realizaram pesquisa em
[22]. Em relação ao peso de nascimento, a maioria dos 60 RN na UTIN do Hospital Santa Casa de Misericórdia de
RN foi classificada como de baixo peso. Cabe ressaltar Vitória, dos quais 47% foram atendidos pela fisioterapia, e
que o baixo peso ao nascer é motivo de preocupação para a técnica fisioterapêutica mais utilizada também foi o RTA.
os profissionais da área de saúde, por se associar à maior A estimulação sensório-motora foi utilizada em 97%
morbimortalidade neonatal e infantil [23]. Em relação ao dos prematuros. Segundo Gama, Ferracioli e Corrêa [30] a
índice de Apgar do 1º minuto de vida, 84% dos prematuros morbidade dos RN de risco pode ser diminuída ou ameni-
obteve índice insatisfatório (menor ou igual a 7), explicando zada consideravelmente pela intervenção precoce, propor-
a maior necessidade de reanimação na sala de parto. Já no cionando a base para o desenvolvimento motor. Mathai
5º minuto de vida, 74,4% apresentaram Apgar entre 8 e 10, [31] ao estudar os efeitos da estimulação tátil-cinestésica
demonstrando que a maioria respondeu de forma satisfatória em prematuros internados em um hospital universitário
às manobras de reanimação neonatal. concluiu que a mesma tem efeito benéfico no crescimento
Quanto às manobras de reanimação, a maioria necessitou e desenvolvimento comportamental. Também há registros
de oxigênio inalatório, ventilação sob máscara e entubação de aumento significante no ganho de peso de prematuros
orotraqueal. Segundo Eusébio e Fernandes [24], a entubação com a intervenção motora [32].
traqueal é um procedimento frequente nas UTIN, onde a Uma vez que a prematuridade e o baixo peso ao nascer são
maioria dos RN abaixo de 1000 gramas, devido a sua limitada preditores de morbidades neonatais, entre elas, a paralisia cere-
expansão pulmonar, acaba sendo entubado na sala de parto. bral, é necessário que se faça um acompanhamento desses RN
Os resultados obtidos em nosso estudo apontam que dos 16 de risco após a alta hospitalar. Esse acompanhamento previne,
RN que apresentaram peso ao nascer menor ou igual a 1000 minimiza ou corrige os desvios no desenvolvimento, evitando
gramas, 88% foram entubados na sala de parto, apontando assim que sequelas mais graves que venham no futuro, limitem
a mesma tendência da literatura. as atividades funcionais [33]. Neste estudo, a maioria dos be-
Dos 172 prematuros, 44% apresentaram morbidades res- bês com morbidades respiratórias e todos os com morbidades
piratórias durante o período de internação hospitalar e 24% neurológicas foram encaminhados ao ambulatório de follow-up.
neurológicas. Segundo Pérez et al. [25], as doenças respira- Segundo Miranda, Resegue e Figueiras [34], os prematuros
tórias predominam no período neonatal, sendo responsáveis podem ter uma vida normal, mas precisam ser acompanhados
por elevada taxa de morbimortalidade. Assim como no estudo em programas de follow-up multiprofissional, nos quais serão
de Zhao; Gonzalez e Mu [26], que relatam a apneia como avaliados e receberão, junto com suas famílias, todo o suporte
sendo o problema mais comum em prematuros, ocorrendo necessário para favorecer seu crescimento e desenvolvimento,
devido à imaturidade do centro respiratório, em nosso estudo, desde a infância até a adolescência.
essa patologia também esteve presente na maioria dos bebês. Baroni e Almeida [35] relatam que as indicações de in-
Quanto às morbidades neurológicas, a mais presente foi a tervenção fisioterapêutica variam de acordo com o Hospital
hemorragia peri-intraventricular. Esse dado também está de e com a necessidade do paciente. Existem locais em que a
acordo com a literatura, que a refere como sendo a afecção indicação da fisioterapia é determinada pelo médico e locais
neurológica mais frequente em prematuros, podendo ocasio- em que todos os pacientes internados na UTIN recebem
nar graves sequelas motoras e intelectuais [27]. atendimento fisioterapêutico. Uma vez que a atuação desse
Em relação à assistência fisioterapêutica, dos RN aten- profissional pode prevenir ou minimizar a incidência de
didos pela fisioterapia, 3% realizaram apenas fisioterapia complicações, o presente estudo propõe que a assistência
respiratória e 97% realizaram fisioterapia respiratória fisioterapêutica seja estendida a todos os RN pré-termo
e motora, o que corrobora a literatura, uma vez que a internados na UTIN (salvo as contraindicações), visto que a
prematuridade pode levar a complicações respiratórias prematuridade por si só já é um indicador para a realização
e neurológicas, indicando a necessidade de atendimento da mesma. Esse fato seria conveniente para o sistema de saúde
fisioterapêutico global. Cavenaghi et al. [28] afirmam que por reduzir despesas hospitalares e garantir rotatividade de
a fisioterapia preventiva realizada em prematuros minimiza leitos para pacientes mais graves [36].
complicações respiratórias e neurológicas, proporcionando Uma das dificuldades do estudo foi a impossibilidade de
um melhor prognóstico. acesso a alguns prontuários por questões administrativas. Vale
Dentre as técnicas fisioterapêuticas, o reequilíbrio tora- a pena questionar a importância do controle dessa documen-
coabdominal (RTA) foi utilizado em 100% dos RN. Essa tação, a qual possibilita o conhecimento de inúmeros casos,
técnica objetiva recuperar o sinergismo entre o tórax e o sendo fonte dos mais diversos dados estatísticos.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 111
24. Eusebio M, Fernandes E. O uso de pré-medicação na intubação 32. Lemos RA, Frônio JS, Neves LAT, Ribeiro LC. Estudo da
traqueal não emergente do recém-nascido em Portugal. Acta prevalência de morbidades e complicações neonatais segundo
Pediatr Port 2008;39(1):3-7. o peso ao nascimento e a idade gestacional em lactentes de um
25. Pérez L, Corchado Z, Rodríguez M, García D, Medina L, Vicens serviço de follow-up. Rev APS 2010;13(3):277-290.
A et al. Respiratory illness in late preterm infants during the 33. Formiga, CKMR, Pedrazzani ES, Tudella E. Desenvolvimento
first six months of life. Bol Asoc Med P R 2010;102(1):18-20. motor de lactentes pré-termo participantes de um programa
26. Zhao J, Gonzalez F, Mu D. Apnea of prematurity: from cause de intervenção fisioterapêutica precoce. Rev Bras Fisioter
to treatment. Eur J Pediatr 2011;170(9):1097-105. 2004;8(3):239-45.
27. Marinho RS, Cardoso LA, Idalgo GF, Jucá SSH. Hemorragia 34. Miranda LP, Resegue R, Figueiras ACM. A criança e o adoles-
periventricular, intraventricular e mecanismos associados à lesão cente com problemas do desenvolvimento no ambulatório de
em recém-nascidos pré-termos. Acta Fisiatr 2007;14(3):154-8. pediatria. J Pediatr 2003;79(1):33-42.
28. Cavenaghi S, Moura SCG, Silva TH, Venturinelli TD, Ma- 35. Baroni JD, Almeida SRM. Estudo observacional da intervenção
rino LHC, Lamari NM. Importância da fisioterapia no pré fisioterapêutica sobre a variação do período de assistência ventila-
e pós-operatório de cirurgia cardíaca pediátrica. Rev Bras Cir tória em recém-nascidos portadores da Síndrome do desconforto
Cardiovasc 2009; 24(3):397-400. respiratório [TCC]. Escola Superior de Ciências da Santa Casa
29. Rangel FR, Farias TM, Sogame LCM. Fisioterapia e compli- de Misericórdia de Vitória, Curso de Fisioterapia; 2005.
cações pulmonares em recém-nascidos internados na Unidade 36. Antunes LCO, Silva EG, Bocardo P, Daher DR, Faggiotto RD,
de Terapia Intensiva. Rev Bras Fisioter 2008; 12(supl):58-59. Rugolo LMSS. Efeitos da fisioterapia respiratória convencional
30. Gama D, Ferracioli F, Corrêa SMP. Estimulação sensório-motora versus aumento do fluxo expiratório na saturação de O2, fre-
nos bebês de risco em hospitais. Reabilitar 2004;6(23):45-50. quência cardíaca e frequência respiratória, em prematuros no
31. Mathai, EAL. Effects of tactile-kinesthetic stimulation in pre- período pós-extubação. Rev Bras Fisioter 2006;10(1):97-103.
term: a controlled trial. Indian Pediatr 2002;4:401-10.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 113
Artigo original
*Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, Grupo de Pesquisa: Promoção da
saúde e tecnologias aplicadas à Fisioterapia, **Aluna da Residência Multiprofissional em Saúde, Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre/RS, ***Fisioterapeuta da Clínica Geriátrica Nossa Senhora de Lurdes, Santa Maria/RS
Resumo Abstract
A qualidade de vida (QV) está relacionada às condições de saúde Quality of life (QOL) is related to health condition of the
do sujeito. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a QV subject. Therefore, the purpose of this study was to evaluate the
correlacionando-a com características clínicas, sociodemográficas e QOL and to correlate with clinical, sociodemographical and family
familiares de sujeitos com sequelas de acidente vascular encefálico characteristics of stroke subjects. The sample was composed of 22
(AVE). Participaram voluntariamente do estudo 22 sujeitos, de voluntaries, both gender and aged 49 to 78 years old. An interview
ambos os gêneros, com idades entre 49 e 78 anos. Realizou-se uma about clinical, sociodemographical and family aspects of the subjects
entrevista que englobava aspectos clínicos, sociodemográficos e fa- and an evaluation of the QOL using the Stroke-Specific Quality
miliares dos sujeitos e uma avaliação da QV por meio da aplicação of Life were performed. According to the results, the SSQOL sho-
da Escala de Qualidade de Vida Específica para AVE (EQVE-AVE). wed low score, what indicate a reduced QOL. Familiar and social
De acordo com os resultados, a EQVE-AVE apresentou baixo roles, work, energy and, mobility were the most affected domains.
escore, indicando uma QV reduzida. Papéis familiares e sociais, Significant correlations among QOL and the following evaluated
trabalho/produtividade, energia e mobilidade foram os domínios characteristics were observed: cognitive function, age of the first
mais afetados. Foram observadas, ainda, correlações estatisticamente stroke, age, gender, education level, income, number of people at
significativas entre QV e as seguintes características avaliadas: fun- the residence and, presence of a caregiver. However, to consider
ção cognitiva, idade do primeiro AVE, idade, gênero, escolaridade, more than physical factors in the planning, monitoring and guiding
renda, número de pessoas na residência e presença de um cuidador. of the physical therapy intervention is necessary. Besides caring of
Diante disso, é preciso considerar mais do que fatores físicos quando disease it is also important enhancing the subjects’ quality of life.
se busca realizar o planejamento, acompanhamento e direcionamen- Key-words: quality of life, stroke, health status.
to da intervenção fisioterapêutica, pois além de cuidar da doença é
importante garantir a QV destes sujeitos.
Palavras-chave: qualidade de vida, acidente vascular encefálico,
nível de saúde.
Escores
Tabela I - Características clínicas, sociodemográficas e familiares 14
dos sujeitos entrevistados (n=22). 12
10
Mediana 8
Média (±DP) 6
Variáveis (Mínimo –
ou Frequência 4
Máximo) 2
Características clínicas 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
MEEM (pontos) 23,32 (±3,64) 22,50 (18-30) Domínios
Membro acometido (D/E) 12/10 - (1= energia, 2= papéis familiares; 3= linguagem; 4= mobilidade;
Tempo de AVE (meses) 59,00 (±61,90) 38,50 (3-276) 5= humor; 6= personalidade; 7= auto-cuidado; 8= papéis sociais;
Idade do 1º AVE (anos) 58,09 (±8,80) 58,00 (42-73) 9= memória e concentração; 10= função de MMSS; 11= visão; 12=
Quantidade de AVE 1,23 (±0,43) 1,00 (1-2) trabalho/produtividade).
Tipo AVE (IS/HM) 20/2 -
Faz fisioterapia (S/N) 22/0 - Todos os domínios apresentaram correlação com o escore
Tempo de fisioterapia total da QV, com exceção da visão (r = 0,32; p = 0,16). O
42,27 (±39,48) 36,00 (1-132)
(meses) domínio com maior correlação foi o de mobilidade (r = 0,90;
Características sociodemográficas p = 0,00), seguido respectivamente pelos subitens: trabalho
Idade (anos) 62,91 (±8,07) 63,00 (49-78) e produtividade (r = 0,87; p = 0,00), função de MMSS (r =
Gênero (M/F) 12/10 - 0,83; p = 0,00), autocuidado e energia (r = 0,80; p = 0,00),
Escolaridade (A/FI/FC/ humor (r = 0,77; p = 0,00), linguagem (r = 0,69; p = 0,00),
4/6/3/7/2 - papéis familiares (r = 0,67; p = 0,00), papéis sociais (r = 0,61;
MC/SP)
Estado civil (SOL/C/DIV) 3/17/2 - p = 0,00), memória (r = 0,56; p = 0,00), personalidade (r =
Renda (salários mínimos) 2,55 (±2,44) 1,00 (1-8) 0,53; p = 0,01).
Número de pessoas na As correlações entre a QV e as características clínicas, so-
3,00 (±1,07) 3,00 (1-5) ciodemográficas e familiares dos sujeitos estão representadas
residência
Mora em área rural (S/N) 2/20 - na Tabela II.
Etnia (BR/NE) 20/2 -
Características familiares Tabela II - Correlação entre os escores da QV e as características
Apoio familiar (S/N) 20/2 - clínicas, sociodemográficas e familiares dos sujeitos avaliados (n=22).
Conflito familiar (S/N) 4/18 - Variáveis Valor Valor
Mudanças estrutura de r de p
11/11 -
familiar (S/N) Características clínicas
Cuidador (S/N) 18/4 - QV x MEEM 0,65 0,00*
Cuidador familiar (S/N) 15/7 - QV x Membro acometido - 0,01 0,95
DP= desvio padrão; MEEM= Mini Exame do Estado Mental; MMSS= QV x Tempo de AVE (meses) -0,01 0,96
membros superiores; MMII= membros inferiores; AVE= acidente QV x Idade em que ocorreu o 1º AVE (anos) -0,62 0,00*
vascular encefálico; D= direito; E= esquerdo; IS= isquêmico; HM= QV x Quantidade de AVE -0,21 0,36
hemorrágico; S= sim; N= não; B= boa; R= ruim; M= masculino; F= QV x Tipo AVE 0,09 0,70
feminino; A= analfabeto; FC= fundamental completo; FI= fundamental QV x Tempo de fisioterapia (meses) 0,01 0,96
incompleto; MC= médio completo; SP= superior; SOL= solteiro; C= Características sociodemográficas
casado; DIV= divorciado; BR= branco; NE= negro. QV x Idade -0,48 0,02*
QV x Gênero 0,50 0,02*
A condição profissional atual de todos os sujeitos era de QV x Escolaridade 0,52 0,01*
afastamento, desemprego ou aposentadoria devido ao AVE. QV x Estado civil 0,20 0,36
Foi identificado que a maioria dos sujeitos fazia uso regular QV x Renda 0,48 0,02*
de algum tipo de medicamento. QV x Número de pessoas na residência 0,49 0,02*
O escore total da EQVE-AVE para os sujeitos avaliados QV x Mora em área rural -0,26 0,24
foi de 151,36 (±43,89). O Gráfico 1 representa os valores QV x Etnia 0,12 0,58
de média e desvio-padrão em cada domínio da EQVE-AVE.
116 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Características familiares [25]. Rachpukdee et al. [21] relatam que 48% dos sujeitos do
QV x Apoio familiar -0,11 0,62 seu estudo eram cuidados por seu cônjuge e 52% por filhos,
QV X Conflito familiar -0,01 0,97 parentes ou viviam sozinhos. Haley et al. [18] também des-
QV x Mudanças na estrutura familiar 0,27 0,23 tacam que 27% dos seus avaliados viviam sozinhos.
QV x Cuidador 0,42 0,05* Todos os sujeitos avaliados realizavam fisioterapia, no
QV x Cuidador familiar 0,18 0,43 entanto, somente metade deles iniciou o tratamento na fase
QV= qualidade de vida; MEEM= mini exame do estado mental; aguda da doença. Dos estudos mais recentes encontrados,
MMSS= membros superiores; MMII= membros inferiores; AVE= aci- apenas o de Fróes et al. [20] avaliou a realização de fisioterapia
dente vascular encefálico; * p≤ 0,05. por parte dos sujeitos, relatando apenas não haver associação
entre qualidade de vida e a participação em algum programa
Todas as correlações estatisticamente significativas foram de reabilitação.
diretamente proporcionais, à exceção dos itens idade e idade Em relação à avaliação da QV, observou-se um baixo escore,
do primeiro AVE, que mostraram correlação inversamente o que implica em uma percepção ruim dos sujeitos sobre sua
proporcional com a QV. QV. Papéis familiares e sociais, trabalho/produtividade, energia
e mobilidade foram os domínios mais afetados. Os menos
Discussão afetados foram visão, memória e linguagem. Um estudo de
Cordini, Oda, Furlanetto [25], utilizando a mesma escala do
A maior parte da amostra foi composta por sujeitos acima dos presente estudo, mostrou que os domínios mais prejudicados na
60 anos de idade (média de 62,91 (± 8,07) anos) e, em relação avaliação da QV foram os da energia, do trabalho, da função de
ao gênero, houve distribuição semelhante da amostra. Diferentes MMSS e dos papéis sociais. Os domínios menos afetados foram
estudos sobre qualidade de vida no AVE têm avaliado amostra os da visão, humor, do comportamento e de papéis familiares,
semelhante ao do presente estudo no que diz respeito à idade e o que concorda em parte com os resultados do presente estudo.
gênero [17-21]. Em relação à escolaridade, a presente amostra No estudo de Gunaydin et al.[19], também utilizando a escala
mostrou grau intermediário, com pouco mais da metade da EQVE-AVE, os domínios da QV mais afetados foram mobili-
amostra com ensino fundamental completo, ensino médio ou dade, autocuidado, papel social e trabalho/produtividade para
superior. No estudo de Fróes et al. [20], a maioria da amostra os idosos e, energia, autocuidado, função de MMSS e trabalho/
foi composta por sujeitos com ensino fundamental completo ou produtividade para os não idosos. Segundo este último estudo,
incompleto, assim como no estudo de Rachpukdee et al. [21]. para os idosos avaliados, todos os domínios e, especificamente,
Já, nos estudos de Cerniauskaite et al. [22] e Haley et al. [18], a os domínios relacionados à função física foram negativamente
maioria dos participantes apresentaram ensino médio ou supe- afetados pelo AVE e o principal determinante para a QV foi o
rior. Ainda, a maioria dos sujeitos avaliados no presente estudo estado funcional. Já, para Carod-Artal, Egido [11], o bem-estar
eram casados, o que se assemelha aos estudos de Fróes et al. [20], físico e psicossocial estão fortemente afetados nos sujeitos pós-
Rachpukdee et al. [21], Cerniauskaite et al. [22]. -AVE e seus cuidadores. O estudo de Haley et al. [18], utilizan-
O fato de a maioria dos nossos sujeitos serem aposentados do a escala SF-12, aponta que tanto os domínios relacionados
pode ser justificado pela idade e/ou pelo fato de que as sequelas à saúde física quanto mental são afetados pelo AVE.
do AVE muitas vezes são incapacitantes e prejudicam ou até No presente estudo, todos os domínios apresentaram
mesmo impossibilitam o retorno ao trabalho, ocasionando correlação com o escore total da QV, com exceção da visão.
aposentadorias precoces [23]. A renda dos sujeitos avaliados O domínio com maior correlação foi o de mobilidade e o de
mostrou-se baixa, o que pode estar relacionado com a situação menor correlação o da personalidade. De qualquer maneira,
de aposentadoria. O estudo de Fróes et al. [20], também rea- as correlações apresentaram-se de moderadas a altas. Isso
lizado com brasileiros, mostrou uma renda de até um salário significa que tanto aspetos físicos quanto sociais e cognitivos
mínimo para a maioria dos sujeitos avaliados. influenciaram na baixa percepção sobre a QV dos sujeitos,
Em relação ao tempo do AVE, a média foi de 59 meses, ou demonstrando a importância de se avaliar de forma ampla o
seja, grande parte dos sujeitos encontrava-se na fase crônica impacto da doença cerebrovascular sobre o sujeito, conside-
da doença. Os estudos de Fróes et al. [20] e Cerniauskaite rando o contexto no qual está inserido.
et al. [22] também envolveram sujeitos, em sua maioria, em Quando correlacionadas as características sociodemográfi-
fase crônica. Isso indica longo período de cuidado e atenção cas, clínicas e familiares com a QV pode-se observar correlações
por parte dos cuidadores e/ou familiares. Por isso, a saúde do significativas entre algumas variáveis. Uma melhor função
cuidador atualmente também vem merecendo destaque. No cognitiva, verificada pelo MEEM, está correlacionada com uma
presente estudo, a maioria relatou ter apoio familiar, sendo melhor QV. De acordo com Carod-Artal et al. [26], estados
que a maioria tem cuidador e este é familiar. Apesar disso, cognitivos alterados podem configurar fatores contribuintes
muitos destacam a mudança na estrutura familiar. Estes para a pobre percepção da QV em sujeitos com sequela de AVE.
aspectos podem interferir na qualidade de vida do sujeito No presente estudo, houve correlação entre idade e QV,
acometido pelo AVE como também do cuidador e familiares sendo que quanto menor a idade do sujeito, melhor sua per-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 117
cepção sobre a QV. Segundo Jönsson et al. [27], a idade é um que influenciam negativamente na QV. Laurent et al. [10]
dos mais importantes determinantes da qualidade de vida após descrevem que adequado suporte social pode ser importante
um AVE. Singhpoo et al. [28] também descrevem a relação para a recuperação da independência. Conforme Petrea et al.
entre essas duas variáveis. Por outro lado, Gunaydin et al.[19] [30] e Hinojosa, Rittman, Hinojosa [34], o suporte social é
relatam que a idade não influencia na QV, conforme estudo uma variável promissora em predizer os resultados pós-AVE
comparando idosos e não idosos após AVE. Para esses autores, e explicar a diferença de gêneros. Haley et al. [18] destacam
os estudos que investigaram os efeitos da idade na QV são que a pior percepção das mulheres sobre sua QV pode estar
contraditórios e isso pode estar relacionado com a diferença relacionada com a falta de um cuidador. Ainda, no estudo
entre o desenho dos estudos, características dos sujeitos e o de Fróes et al. [20] houve correlação significativa entre vida
uso de diferentes escalas de avaliação da QV. social ativa e domínios da função física, saúde geral, vitalidade,
Em relação à idade do primeiro AVE também foi observa- saúde emocional e mental da QV. Esses estudos demonstram
do que quanto menor a idade de ocorrência do AVE, melhor a importância da presença de um cuidador, seja ele formal
a QV do sujeito. A idade é um dos fatores que influenciam ou informal, a necessidade de apoio/suporte para o paciente
a recuperação funcional após lesões, portanto, indivíduos e seus familiares e cuidadores, bem como, a relevância da
mais jovens podem apresentar melhor estado geral e melhor participação social dos sujeitos após o AVE para sua QV.
percepção sobre a QV. Já, o tempo de lesão não apresentou A correlação entre QV e tempo de fisioterapia não se mos-
correlação significativa com a QV, ou seja, a QV independe trou estatisticamente significativa. No estudo de Fróes et al.
da fase da doença (aguda ou crônica) em que o sujeito se [20], a QV não esteve associada à participação dos sujeitos em
encontra. Do contrário, no estudo de Fróes et al. [20], os su- algum programa de reabilitação prévio. O tempo após a lesão e
jeitos com maior tempo de lesão, mais jovens e independentes o tempo de fisioterapia dos sujeitos avaliados no presente estudo
apresentaram melhor QV. foi bastante variável, assim como as características individuais
Quanto ao gênero, no presente estudo, a QV apresentou e clínicas, isso, talvez, possa ter influenciado os resultados.
melhores índices em sujeitos do gênero masculino. Diversos Deve-se considerar que, além dos aspectos físicos, normalmente
estudos apontam a relação entre pior percepção da QV e sexo enfatizados no tratamento fisioterapêutico, outros fatores mos-
feminino [8,20,29-31]. Por outro lado, Haley et al. [18] não traram interferência na QV dos sujeitos avaliados. Segundo
encontraram diferenças entre os gêneros. Almborg et al. [8], para pacientes com AVE, a recuperação das
Os sujeitos com maior escolaridade e renda apresentaram atividades e participação social na comunidade, normalmente,
melhor QV neste estudo, concordando com o estudo de Singh- é mais importante que a recuperação das funções físicas.
poo et al. [28]. Já, para Fróes et al. [20], o nível educacional não Para Fraas, Calvert [35] muitos aspectos podem contri-
está associado à QV. Conforme Chagas e Monteiro [32], pessoas buir para a percepção do sucesso da recuperação, estilo de
de classes sociais mais baixas e baixa escolaridade são frequente- vida produtivo e QV positiva, entre eles, o desenvolvimento
mente acometidas por enfermidades crônicas que influenciam efetivo de estratégias de enfrentamento para direcionar os
as AVDs e a QV, já que possuem menor acesso à informação, à resultados físicos e psicológicos. Conforme Algurén et al.
alimentação adequada e atividades físicas. O fato de a maioria [12], fatores relacionados com a QV variam com o tempo e
dos sujeitos avaliados estarem aposentados pode contribuir para refletem mudanças nos padrões internos, valores e expectativas
uma renda mais baixa e uma pior percepção da QV, pois, con- influenciadas pelo processo de recuperação. Diante disso,
forme Cerniauskaite et al. [22] pessoas empregadas apresentam torna-se importante guiar a reabilitação considerando-se o
mais alta QV por estarem engajadas em uma atividade laboral. contexto biopsicossocial de cada sujeito.
Não houve correlação entre QV e estado civil, concordando
com o estudo de Fróes et al. [20]. No entanto, foi observada Conclusão
uma relação direta com o número de pessoas na residência do
sujeito e sua QV, ou seja, quanto maior o número de pessoas, O estudo forneceu uma ideia geral das condições clínicas,
melhor a QV. Ainda, a ação/presença do cuidador mostrou-se sociodemográficas e familiares de sujeitos pós-AVE e de sua
diretamente relacionada com a QV dos sujeitos avaliados. Para percepção sobre a QV. Os resultados indicaram que aspectos
Haley et al. [18], pessoas que vivem sozinhas reportam um grande como papéis familiares e sociais, trabalho/produtividade,
aumento de sintomas depressivos após o AVE quando compara- energia e mobilidade foram os domínios mais afetados, no
dos com aqueles que moram com a família ou amigos, sendo o entanto todos os domínios avaliados mostraram correlações
isolamento social um conhecido fator de risco para a depressão e moderadas a altas com a QV, exceto a visão. Além disso, a
pior percepção da QV. De acordo com o estudo de Rachpukdee QV está relacionada, principalmente como estado cognitivo,
et al. [21], ser solteiro ou viúvo configura um preditor de QV renda, idade do primeiro AVE, idade, gênero, escolaridade,
insatisfatória, possivelmente porque esposa e filhos podem prover número de pessoas na residência e presença de cuidador. Isso
cuidado informal, incluindo suporte mental e material. indica que é preciso considerar mais do que fatores físicos
Para Almborg et al. [8], Carod-Artal, Egido [11] e Muus, quando se busca realizar o planejamento, acompanhamento
Petzold, Ringsberg [33], a falta de suporte emocional e social, e o direcionamento da atuação fisioterapêutica, embora os
principalmente familiar, dentre outros aspectos são fatores resultados do presente estudo não possam ser generalizados.
118 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Diante disso, é preciso cuidar da doença, mas, sobretudo 14. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli R, Bertolucci PHF, Okamoto
garantir a QV destes sujeitos. IH. Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no
Brasil. Arq Neuro-Psiquiatr 2003;61(3-B):777-81.
As principais limitações do estudo foram o tamanho 15. Lökk J. Caregiver strain in Parkinson´s disease and the impact
amostral, a heterogeneidade dos sujeitos e a ausência de um of disease duration. Eur J Phys Med Rehabil 2008;44:39-45.
acompanhamento longitudinal. Além disso, deve-se conside- 16. Martínez-Martín P, Forjaz MJ, Rusinõl AB, Fernández-García
rar que muitos dos estudos que avaliaram a qualidade de vida JM, Benito-León J, Arillo VC, et al. Caregiver burden in
Parkinson´s disease. Mov Disord 2007; 22(7):924-31.
de sujeitos pós-AVE utilizaram escalas genéricas, o que pode 17. Barclay-Goddard R, Lix LM, Tate R, Weinberg L, Mayo NE.
dificultar e interferir na comparação dos resultados. Portanto, Health-related quality of life after stroke: does response shift oc-
torna-se importante a realização de novos estudos para melhor cur in self-perceived physical function? Arch Phys Med Rehabil
compreender a relação das variáveis analisadas, além de rela- 2011;92(11):1762-9.
18. Haley WE, Roth DL, Kissela B, Perkins M, Howard G. Quality
cionar a QV com outros fatores que possam estar prejudicados of life after stroke: a prospective longitudinal study. Qual Life
por manifestações provocadas pelo AVE, contribuindo, assim, Res 2011;20:799-806.
para a melhora da atenção voltada a esses sujeitos. 19. Gunaydin R, Karatepe AG, Kaya T, Ulutas O. Determinants
of quality of life (QoL) in elderly stroke patients: A short-term
follow-up study. Arch Gerontol Geriatr 2011; 53:19-23.
Agradecimentos 20. Fróes KSSO, Valdés MTM, Lopes DPLO, Silva CEP. Factors
associated with health-related quality of life for adults with
Agradecemos os participantes do estudo e seus familiares stroke sequelae. Arq Neuropsiquiatr 2011;69(2-B):371-6.
pela atenção e disponibilidade e a colega Márcia Guedes pela 21. Rachpukdee S, Howteerakul N, Suwannapong N, Tang-Aroon-
sin S. Quality of life of stroke survivors: a 3-month follow-up
colaboração no recrutamento dos sujeitos. study. J Stroke Cerebrovasc Dis 2012. In press.
22. Cerniauskaite M, Quintas R, Koutsogeorgou E, Meucci P,
Referências Sattin D, Leonardi M, Raggi A. Quality-of-life and disability
in patients with stroke. Am J Phys Med Rehabil 2012;91(2
Suppl):S39-S47.
1. Pereira S, Coelho FB, Barros H. Acidente vascular cerebral – hospita-
23. Scalzo PL, De Souza ES, Moreira AGO, Vieira DAF. Qualidade
lização, mortalidade e prognóstico. Acta Med Port 2004;17:187-92.
de vida em pacientes com Acidente Vascular Cerebral: clínica de
2. Mendez-Otero R, Giraldi-Guimarães A, Pimentel-Coelho PM,
fisioterapia Puc Minas Betim. Rev Neurocien 2010;18(2):139-44.
Freitas GR. Terapia celular no acidente vascular cerebral. Rev
24. Cramm JM, Strating MMH, Nieboer AP. Satisfaction with
Bras Hematol Hemoter 2009;31(7):99-103.
care as a quality-of-life predictor for stroke patients and their
3. Terroni LMN, Mattos PF, Sobreiro MFM, Guajardo VD,
caregivers. Qual Life Res 2012;21:1719-25.
Fráguas R. Depressão pós-AVC: aspectos psicológicos, neurop-
25. Cordini KL, Oda EY, Furlanetto LM. Qualidade de vida de
sicológicos, eixo HHA, correlato neuroanatômico e tratamento.
pacientes com história prévia de acidente vascular encefálico:
Rev Psiquiatr Clin 2009;36(s3):100-8.
observação de casos. J Bras Psiquiatr 2005; 54(4):312-7.
4. Gupta A, Deepika S, Taly AB, et al. Quality of life and psycho-
26. Carod-Artal FJ, Egido JA, Gonzalez JL, Varela de Seijas E. Qua-
logical problems in patients undergoing neurological rehabili-
lity of life among stroke survivors evaluated 1 year after stroke:
tation. Ann Indian Acad Neurol 2008;11(4):225-30.
experience of a stroke unit. Stroke 2000; 31(12):2995-3000.
5. Franceschini M, La Porta F, Agosti M, Massucci M. Is health-
27. Jönsson AC, Lindgren I, Hallström B, Norrving B, Lindgren
-related-quality of life of stroke patients influenced by neurolo-
A. Determinants of quality of life in stroke survivors and their
gical impairments at one year after stroke? Eur J Phys Rehabil
informal caregivers. Stroke 2005;36:803-8.
Med 2010;46(3):389-9.
28. Singhpoo K, Charerntanyarak L, Ngamroop R, Hadee N, Chan-
6. Fraas MR. Enhancing quality of life for survivors of stroke
tachume W, Lekbunyasin O. Factors related to quality of life of
through phenomenology. Top Stroke Rehabil 2011;18(1):40-6.
stroke survivors. J Stroke Cerebrovasc Dis 2012;21(8):776-81.
7. Oliveira MR, Orsini M. Escalas de avaliação da qualidade de
29. Leach MJ, Gall SL, Dewey HM, Macdonell RAL, Thrift AG.
vida em pacientes brasileiros após acidente vascular encefálico.
Factors associated with quality of life in 7-year survivors of
Rev Neurocienc 2009;17(3):255-62.
stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2011; 82:1365-71.
8. Almborg AH, Ulander K, Thulin A, Berg S. Discharged after
30. Petrea RE, Beiser AS, Seshadri S, Kelly-Hayes M, Kase CS, Wolf
stroke - important factors for health-related quality of life. J
PA. Gender differences in stroke incidence and poststroke disa-
Clin Nurs 2010;19(15-16):2196-206.
bility in the Framingham Heart Study. Stroke 2009;40:1032–7.
9. Gosman-Hedström G, Claesson L, Blomstrand C. Consequen-
31. Reeves M J, Bushnell CD, Howard G, Gargano JW, Duncan
ces of severity at stroke onset for health-related quality of life
PW, Lynch G, et al. Sex differences in stroke: Epidemiology,
(HRQL) and informal care: a 1-year follow-up in elderly stroke
clinical presentation, medical care, and outcomes. Lancet Neurol
survivors. Arch Gerontol Geriatr 2008;47:79-91.
2008;7:915-26.
10. Laurent K, De Sèze MP, Delleci C, Koleck M, Dehail P,
32. Chagas NR, Monteiro ARM. Educação em saúde e família: o
Orgogozo JM, Mazaux JM. Assessment of quality of life
cuidado ao paciente, vítima de acidente vascular cerebral. Acta
in stroke patients with hemiplegia. Ann Phys Rehabil Med
Sci Health Sci 2004;26:193-204.
2011;54(6):376-90.
33. Muus I, Petzold M, Ringsberg KC. Health-related quality of life
11. Carod-Artal FJ, Egido JA. Quality of life after stroke: the importan-
among Danish patients in 3 and 12 months after TIA or mild
ce of a good recovery. Cerebrovasc Dis 2009; 27(Suppl 1):204-14.
stroke. Scand J Caring Sci 2010; 24:211-8.
12. Algurén B, Fridlund B, Cieza A, Sunnerhagen KS, Christensson
34. Hinojosa MS, Rittman M, Hinojosa R. Informal caregivers and
L. Factors associated with health-related quality of life after
racial/ethnic variation in health service use of stroke survivors.
stroke: a 1-year prospective cohort study. Neurorehabil Neural
J Rehabil Res Develop 2009;46:233-41.
Repair 2012;26:266-74.
35. Fraas M, Calvert M. The use of narratives to identify charac-
13. van Mierlo ML, van Heugten CM, Post MW, Lindeman E,
teristics leading to a productive life following acquired brain
de Kort PL, Visser-Meily JM. A longitudinal cohort study on
injury. Am J Speech Lang Path 2009;18:315-28.
quality of life in stroke patients and their partners: Restore Stroke
Cohort. Int J Stroke 2012. In press.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 119
Artigo original
*Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, Departamento de Ciências do Movimento
Humano, **Faculdades Integradas Fafibe – Bebedouro
Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivo verificar a presença de sinais The aim of this study was to verify the presence of signs and
e sintomas de disfunção do trato urinário inferior em gestantes. symptoms of lower urinary tract dysfunction in a group of pregnant
Trata-se de uma pesquisa de campo, de corte transversal, realizada women. This was a field research and cross-sectional developed at
em Unidades Básicas de Saúde no interior do Estado de São Paulo. Basic Health Units of a town in the State of São Paulo. The sample
A amostra foi composta por primigestas, que realizavam acompa- was composed of primiparous performing prenatal care on Health
nhamento pré-natal em Unidades Básicas de Saúde. Foi aplicado Public System. A questionnaire was used to collect data about the
um questionário com questões sobre o funcionamento do trato functioning of the lower urinary tract. The data was collected du-
urinário inferior. A coleta ocorreu durante junho e julho de 2008. ring the months of June and July 2008. 18 women were evaluated
Foram avaliadas 18 gestantes e 100% apresentava algum sinal ou and 100% of them had signs or symptoms of lower urinary tract
sintoma de disfunção do trato urinário. Nove (50%) relataram dysfunction. Nine (50%) reported losing urine in any situation, and
perder urina em alguma situação, das quais 6 (66,7%) apresenta- 6 (66.7%) had stress urinary incontinence. In 5 (55.5%) women
ram incontinência urinária aos esforços. Em 5 (55,5%) gestantes in the study, urinary incontinence began in the second trimester
do estudo, a incontinência urinária teve início no 2º trimestre de of pregnancy. We concluded that all pregnant women in this study
gestação. Conclui-se que todas as gestantes avaliadas apresentaram showed signs and symptoms of lower urinary tract dysfunction in
sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior a partir do the second trimester of pregnancy, half of them had involuntary
segundo trimestre de gestação, das quais metade apresentava perda loss of urine, mainly on effort.
involuntária de urina, principalmente, aos esforços. Key-words: urinary incontinence, pregnancy, Physical Therapy.
Palavras-chave: incontinência urinária, gravidez, Fisioterapia.
Tabela I - Sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior idade em gestantes. Os resultados da sua pesquisa mostraram
entre as gestantes. (Bebedouro/SP, 2008). que apenas no grupo de gestantes mais jovens, com idade
Sinais e Sintomas da IU nº de Gestantes entre 15 e 24 anos, houve um aumento de risco para desen-
(n=18) volvimento de incontinência urinária. Estudos realizados na
n % Austrália e na Noruega sugerem forte associação em mulheres
Esforço 1 5,5 jovens (18 e 23 anos), associação moderada em mulheres de
Esforço+Noctúria+Urgência 2 11,2 45 a 50 anos e ausência de associação nas mais idosas (70 a
Esforço+Urgência 1 5,5 75 anos) [14]. A média de idade das gestantes do presente
Esforço+Noctúria 1 5,5 estudo (20,9 ± 3,86) encontra-se na fase de forte associação.
Urge-Incontinência+Noctúria 2 11,2 Vale destacar que se optou neste estudo pelo critério da pri-
Esforço+Urge- 2 11,2 miparidade para que não existisse interferência de gestações
-Incontinência+Noctúria e partos anteriores para o desenvolvimento de incontinência.
Noctúria 7 38,7 O sintoma de perda involuntária de urina foi relatado
Noctúria+Urgência 2 11,2 por 9 (50%) das gestantes, das quais uma já havia perdido
Total 18 100 urina antes da gestação. Chiarelli e Campbell [11] relatam
que 3% das mulheres com IU na gestação já apresentavam
Seis gestantes (66,7%) relataram perder urina após a esse sintoma antes de estarem grávidas.
realização de algum esforço, uma (11,2%) apresentou perda Hojberg et al. [13] realizaram uma pesquisa referente à
após sentir urgência em urinar, e 2 (22,1%) relataram ter IU com 7795 gestantes. Destas, 4136 eram primigestas, das
perdido urina aos esforços e após urgência. Diante de tais quais 3-9% relataram IU. Já em um estudo realizado com
sinais e sintomas, verificou-se que 6 (66,7%) das gestantes 304 gestantes, Chiarelli e Campbell [11] encontraram 194
possuíam sinais e sintomas de incontinência por esforço, uma (64%) mulheres com IU, Spellacy [12] encontrou 31 (62%)
(11,2%) por instabilidade do detrusor e 2 (22,1%) inconti- gestantes com IU, o total de mulheres estudadas foram 50.
nência urinária mista. Nesses dois últimos estudos não havia diferenciação entre
Dentre as 9 gestantes com queixa de perda urinária, 3 primigestas e multíparas. Martins et al. [15] encontraram
(33,3%) relataram perder urina em jato, enquanto 6 (66,7%) uma prevalência de 63,8% de mulheres com incontinência
em gotas, 5 (55,5%) relataram perda urinária diária, e, 4 urinária entre 500 mulheres gestantes, tanto nulíparas, quanto
(44,5%) como rara. O início da perda urinária ocorreu, segun- multíparas assistidas em clínica pré-natal no interior do Brasil,
do o relato, em sua maioria no 2º trimestre de gestação. Das e a multiparidade apresentou associação significativa com o
gestantes entrevistadas, 5 (55,5%) tiveram o início da perda desenvolvimento de incontinência urinária.
no 2º trimestre, e 4 (44,5%) no terceiro trimestre de gestação. Durante a gestação, modificações anatômicas e funcionais
Ainda, 5 (55,5%) gestantes referiram sentir-se incomodadas, do trato urinário inferior possivelmente alteram os mecanis-
e 4 (44,5%) referiram não se importar com as perdas. mos envolvidos com a continência urinária desencadeando
O tratamento fisioterapêutico para prevenir e atuar na sintomas urinários [3,16,17]. A etiologia precisa da IU
incontinência urinária era conhecido por 2 (11,2%) das ges- na gestação ainda não está totalmente esclarecida, porém,
tantes, enquanto 16 (88,8%) desconheciam qualquer atuação acredita-se que há grande interferência de fatores hormonais
da fisioterapia nessa área. e mecânicos no desenvolvimento da mesma [18]. Acredita-se
que a variação dos níveis hormonais, que ocorre paralelamente
Discussão ao desenvolvimento da gestação, possa influenciar no mecanis-
mo de continência [16,19,20]. Wijma et al. [21] observaram
A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade que altos níveis de progesterona levam à hipotonicidade das
Internacional de Continência (ICS) e pela Associação Inter- estruturas do assoalho pélvico, influenciando o desencadea-
nacional de Uroginecologia (IUGA) como sendo uma perda mento de sintomas urinários no início da gestação. O’Boyle et
involuntária de urina [9,10], sendo considerada uma epide- al. [22] observaram um aumento significativo da mobilidade
mia silenciosa que atinge muito mais às mulheres do que aos uretral em gestantes primigestas, sugerindo que as alterações
homens. A incontinência é um sintoma que leva a situações fisiológicas no assoalho pélvico podem ser objetivamente
embaraçosas e restrição de atividades [11]. demonstradas antes do parto.
Além disso, existem efeitos psicossociais associados com a Do ponto de vista mecânico, a IU decorre da elevação da
perda involuntária de urina, incluindo desconforto, embaraço pressão intra-abdominal, pelo aumento do volume uterino,
e frustração que agravam a disfunção. A incontinência urinária que se transmite à bexiga e pela mudança no posicionamento
reduz a autoestima, leva ao isolamento social e redução da da porção proximal da uretra, que dificulta a transmissão dessa
atividade sexual [12]. pressão intra-abdominal à uretra [23]. O tamanho e o peso
Hojberg et al. [13] não encontraram aumento do risco de do útero e seu conteúdo geram uma pressão crucial sobre a
desenvolvimento de incontinência urinária com o aumento da bexiga, podendo causar redução da capacidade vesical [24].
122 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013
No presente estudo, um maior número de gestantes referiu e Campbell [11] 8% das mulheres iniciam com os sintomas
sinais e sintomas relacionados à incontinência urinária aos de IU no 1º trimestre, aumentando para 18% no segundo
esforços, no entanto apenas uma apresentou sinais e sintomas trimestre e 47% no 3º trimestre. Ainda para esses autores,
relacionados à incontinência por instabilidade do detrusor, 20% das gestantes incontinentes começaram a perder urina
e duas relacionados a incontinência urinária mista. Apenas em uma gestação anterior, 6% após o primeiro parto e 3%
uma gestante referiu enurese noturna, que é definida como sempre tiveram IU.
perda urinária durante o sono [23]. Todos os tipos de incontinência urinária aumentaram com
Hojberg et al. [13] concluíram após a aplicação de um o curso da gestação no estudo de Brown et al. [25], porém a
questionário para verificação da prevalência IU em gestantes incontinência urinária aos esforços foi mais prevalente tanto
que, das 163 primigestas com incontinência urinária, 76 no início da gestação 70,4% (88/125) quanto no final 73,9%
(46,7%) apresentavam IU aos esforços; 26 (16%) apre- (396/536).
sentavam incontinência por instabilidade do detrusor; 38 A incontinência urinária causa grande constrangimento
(23,3%) incontinência mista. Em relação à enurese noturna, e incômodo em gestantes jovens. A IU limita a mobilidade,
em um total de 130 gestantes primigestas, o sintoma foi aumenta o estresse, leva a situações embaraçosas e reduz a
diagnosticado em 4 (3,1%) das gestantes entrevistadas em qualidade de vida [26]. Porém, no presente estudo, apenas 5
um estudo realizado por Scarpa et al.[5]. No estudo de Brown (55,5%) das gestantes se sentiam incomodadas com a perda
et al. [25], também, a incontinência urinária por esforço e urinária.
a incontinência urinária mista foram mais prevalentes que a A noctúria, definida como o ato de levantar uma ou mais
urge-incontinência sozinha. vezes à noite para urinar foi encontrada no presente estudo
Em relação à sensação de esvaziamento, 38,9% gestantes em 16 (88,8%) das mulheres entrevistadas, sendo um sintoma
relataram não sentir que a bexiga se esvaziou completamente comum na gestação. Em um grupo de 130 primigestas, Scarpa
após a micção. A dificuldade miccional ocorre em até 1/3 et al. [27] encontraram 77,7% de gestantes com noctúria, o
das mulheres grávidas, com redução do jato urinário e esva- que corrobora este estudo.
ziamento vesical incompleto, os quais podem se estender do A atuação da fisioterapia na prevenção e tratamento da
início ao final da gestação [14]. IU, além da sua atuação no pré e pós-parto, era conhecida
Quanto à forma de perda urinária, a grande maioria por apenas 2 (11,2%) gestantes, o restante (n = 16, 88,8%)
(66,7%) das gestantes perdia urina em gotas, enquanto que não tinha ideia do que a fisioterapia podia lhes proporcionar.
33,3% em jato. Em um estudo realizado por Chiarelli e Esses dados demonstram que a fisioterapia em uroginecologia
Campbell [11], com 304 gestantes, 64% eram incontinentes. e obstetrícia é uma área ainda pouco divulgada, pois tanto os
Dessas 25% perdiam urina em gotas, 57% perdiam uma pacientes como os médicos não conhecem o grande poten-
quantidade suficiente de urina para molhar sua roupa íntima cial desta especialidade. A Fisioterapia em Saúde da Mulher
ou absorvente, e 18% perdiam uma quantidade severa de reconhecida apenas no ano de 2009.
urina, deixando sua roupa íntima ou absorvente úmidos, o De acordo com Wijma et al. [21], o desenvolvimento de
que não foi encontrado no presente estudo. incontinência urinária na gestação é um fator de risco para
Dentre as gestantes incontinentes no presente estudo, 5 manutenção dessa incontinência no puerpério. Morkved et
(55,5%) perdiam urina diariamente, enquanto 4 (44,5%) al.[28] reportam que exercícios da musculatura do assoalho
disseram ser rara a perda. Os vazamentos diários foram pélvico em gestantes nulíparas podem prevenir o desencade-
relatados no último trimestre da gestação por uma grande amento de sintomas urinários na gestação e após o parto. O
proporção das mulheres com incontinência urinária aos conhecimento de uma alta prevalência de sintomas urinários
esforços e incontinência urinária mista, 7,8% e 17,3%, na gestação pode trazer um argumento favorável para a
respectivamente, comparada com apenas 2,3% das mulhe- implementação de uma intervenção preventiva na gestação,
res com apenas urge-incontinência [25]. Já Hojberg et al. como um programa intensivo de exercícios da musculatura
[13] encontraram entre as 163 primigestas incontinentes, do assoalho pélvico.
10,5% com perda urinária diária, 26% pelo menos uma vez
na semana, 54,5% menos do que uma vez na semana, 9% Conclusão
das gestantes não responderam a questão sobre a frequência
da perda urinária. A partir dos resultados apresentados, conclui-se que as
Em relação ao período de gestação, a literatura científica gestantes assistidas em Unidades Básicas de Saúde de uma
reporta que a prevalência para desenvolvimento de IU no cidade no interior do Estado de São Paulo eram jovens e
1º trimestre é de aproximadamente 15%, aumentando para apresentavam sinais e sintomas de disfunção do trato urinário
35% no 2º trimestre e 40% no 3º trimestre [13]. No presente inferior a partir do segundo trimestre de gestação. Ainda,
estudo foi encontrado que 5 (55,5%) das gestantes desen- metade delas apresentava perda involuntária de urina, prin-
volveram os sintomas de disfunção do trato urinário inferior cipalmente, aos esforços.
no 2º trimestre, e 4 (44,5%) no 3o trimestre. Para Chiarelli
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 123
Referências 15. Paula GP, Krahe C, Carvalho RL. Infecção urinária na gestação.
Femina 2005; 33(3):209-13.
1. Santos PC, Mendonça D, Alves O, Barbosa AM. Prevalência e 16. Martins G, Soler ZASG, Cordeiro JA, Amaro JL, Moore KN.
impacto da incontinência urinária de estresse antes e durante a Prevalence and risk factors for urinary incontinence in healthy
gravidez. Acta Med Port 2006;19(1):349-56. pregnant Brazilian women. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dys-
2. Wesnes SL, Rorveit G, Bo K, Hunskaar S. Urinary incontinence funct 2010;21(10):1271-7.
during pregnancy. Obstet Ginecol 2007;109(4):922-28. 17. Thorp JM, Norton PA, Wall LL, Kuller JA, Eucker B, Well
3. Nel JT, Diedericks A, Joubert G., Arndt K. A prospective clinical E. Urinary incontinence symptoms in pregnancy and the
and urodynamic study of bladder function during and after preg- puerperium: a prospective study. Am J Obstet Gynecol
nancy. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2002;12(1):21-6. 1999;18(1):266-73.
4. Wesnes SL, Hunskaar S, Bo K, Rortveit G. Urinary incontinence 18. Chaliha C, Stanton SL. Urological problems in pregnancy. BUJ
and weight change during pregnancy and postpartum: a cohort Int 2002;89(5):469-76.
study. Am J Epidemiol 2010;172(9):1034-44. 19. Hivdman L, Foldspang A, Mommsen S, Nielsen B. Correlates
5. Scarpa KP, Herrmann V, Palma PCR, Ricetto CLZ, Morais SS. of urinary incontinence in pregnancy. Int Urogynecol J Pelvic
Prevalence and correlates of stress urinary incontinence during Floor Dysfunct 2002;13(5):278-83.
pregnancy: a survey at Unicamp medical school, São Paulo, Bra- 20. Chaliha C, Khular V, Stanton SL, Monga ASH, Sultan AH.
zil. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2006;17(3):219-23. Urinary symptoms in pregnancy: are they useful for diagnosis?
6. Hermann V, Palma PR. Incontinência urinária. In: Netto NJ, BJOG 2002;109(10):1181-3.
Wroclawski ER. Urologia: Fundamentos para o clínico. Uro- 21. Aslan D, Aslan G, Yamazhan M, Ispahi C, Tinar S. Voiding
logia: Fundamentos para o clínico. São Paulo: Sarvier; 2001. symptoms in pregnancy: An assessment with international pros-
7. Thomason AD, Miller JM, Delancey JO. Urinary incontinence tate symptom score. Gynecol Obstet Invest 2003; 55(1):46-9.
symptoms during and after pregnancy in continent and in- 22. Wijma J, Potters AEW, Tinga DJ, Aarnoudse JG. The diagnosis
continent primiparas. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct strength of the 24-h pad test for self-reported symptoms of
2007;18(2):147-51. urinary incontinence in pregnancy and after childbirth. Int
8. Wijma J, Potters AEW, Wolf BTHM, Tinga DJ, Aarnoudse JG. Uroginecol J Pelvic Floor Dysfunct 2008;19(1):525-530.
Anatomical and functional changes in the lower urinary tract 23. O’Boyle AL, O’Boyle JD, Ricks RE, Patience TH, Calhoun
during pregnancy. BJOG 2001;108(7):726-32. B, Davis G. The natural history of pelvic organ support
9. Haylen BP, Ridder D, Freema RM, Swift SE, Berghmans B, Lee during pregnancy. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct
J, et al. An International urogynecological association (IUGA)/ 2003;14(1):46-9.
International Continence Society (ICS) joint report on the 24. Baracho, E. Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia. Rio
terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol de Janeiro: Médica e Científica; 2002.
Urodyn 2010; 29(1):4-20. 25. Brown SJ, Donath S, MacArthur C, McDonald EA, Krastev AH.
10. Abrams P, Andersson KE, Birder L, Brubaker L, Cardozo L, Urinary incontinence in nulliparous women before and during
Chapple C, et al. Fourth International Consultation on In- pregnancy: prevalence, incidence and associated risk factors.
continence Recommendations of the International Scientific Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2010;21(2):193-202.
Committee: Evaluation and treatment of urinary incontinence. 26. Brummen HHV, Bruinse HW, Pol GV, Heintz APM, Vaart
Pelvic organ prolapse and fecal incontinence. Neurourol Urodyn CHVD. What is the effect of overactive bladder symptoms on
2010;29(1):213-40. woman’s quality of life during and after first pregnancy? BJU
11. Chiarelli P, Campbell E. Incontinence During Pregnancy. Pre- Int 2006;92(2):296-300.
valence and opportunities for continence promotion. Aust N 27. Scarpa KP, Herrmann V, Palma PCR, Zanettini CL, Morais
Z J Obstet Gynaecol 1997;37(1):66-73. S. Prevalência de sintomas urinários no terceiro trimestre de
12. Spellacy E. Urinary incontinence in pregnancy and the puer- gestação. Rev Assoc Med Bras 2006;52(3):153-6.
perium. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs 2001;30(6):634-41. 28. Morkved S, Bo K, Schei B, Salvesen KA. Pelvic floor muscle
13. Hojberg KE, Salving JD, Winslow NA, Lose G, Secher NJ. training during pregnancy to prevent urinary incontinence:
Urinary incontinence: prevalence and risk factors at 16 weeks a single-blind randomized controlled trial. Obstet Gynecol
of gestation. BJOG 1999;106(8):842-50. 2003;101(2):313-9.
14. Bruschini H, Truzzi JC, Srougi, M. Distúrbios urológicos na
gravidez. São Paulo: Manole; 2006.
124 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
*Professora do Curso de Fisioterapia, Universidade de Itaúna UFMG, **Coordenadora e Professora do Curso de Fisioterapia, Uni-
versidade de Itaúna, Mestre em Cultura e Organizações Sociais – FUNEDI, Divinópolis/MG,***Preceptora das Clínicas Integradas
de Fisioterapia, Universidade de Itaúna, UFMG
Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a frequência de sintomas osteomusculares, Objectives: To assess the frequency of musculoskeletal symptoms,
sintomas depressivos e ansiedade entre os cuidadores das insti- anxiety and depression among caregivers of long-stay institutions for
tuições de longa permanência para idosos (ILPI) de Itaúna/MG. elderly (LSIE) in Itaúna/MG. Methods: All caregivers, who helped
Métodos: Foram incluídos todos os cuidadores que auxiliavam os the elderly in performing basic or instrumental activities of daily
idosos na realização das atividades básicas ou instrumentais de vida living, were included. Assessments: Sociodemographic Questionnaire,
diária. Avaliações: Questionário sociodemográfico, Questionário Nordic Musculoskeletal Questionnaire, Beck Depression Inventory
Nórdico de Sintomas Osteomusculares, Inventário de Depressão and the State-Trait Anxiety Inventory. Results: Were interviewed 25
de Beck e Inventário de Ansiedade Traço-Estado. Resultados: Foram caregivers, mostly female, married and with incomplete primary
entrevistados 25 cuidadores, a maioria do sexo feminino, casados education. The average age of caregivers was 46 years. The average
e com ensino fundamental incompleto. A média de idade dos cui- monthly salary was R$598.04. We observed high frequency of mus-
dadores foi de 46 anos. A média de remuneração mensal foi de R$ culoskeletal symptoms, especially in shoulders and lumbar spine.
598,04. Percebeu-se alta frequência de sintomas osteomusculares, The frequency of depressive symptoms was 48% and anxiety ranged
destacando-se nos ombros e na coluna lombar. 48% dos cuidadores from 64% to 92%. Conclusion: Leaders of LSIE should be attentive
apresentaram sintomas depressivos e os níveis de ansiedade variaram to the health support and social care to caregivers, optimizing elderly
de 64% a 92% entre os cuidadores. Conclusão: É importante que os care, by offering them better quality of life.
dirigentes das ILPI estejam atentos ao suporte de saúde e assistência Key-words: caregivers, homes for the aged, pain, anxiety,
social aos cuidadores, otimizando, assim, a assistência ao idoso, depression.
oferecendo-lhes melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: cuidadores, instituição de longa permanência
para idosos, dor, ansiedade, depressão.
A presença de sintomas depressivos foi investigada pelo Tabela II - Frequência e porcentagem de presença de problemas (dor/
Inventário de Depressão de Beck (IDB). Esse instrumento desconforto/ dormência), considerando os últimos sete dias em cada
foi desenvolvido por Beck [22] e validado no Brasil por Go- região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
renstein e Andrade [23]. A escala consiste em 21 itens, cada Presença de Problemas
um contendo quatro afirmativas com graus de intensidade n %
variando de 0 a 3, sendo que quanto maiores os escores finais, Pescoço 10 40
maior a presença de sintomas depressivos [23]. Ombros 14 56
A presença de ansiedade foi pesquisada pelo Inventário Cotovelos 1 4
de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). Traduzido e validado Antebraços 5 20
para o Brasil por Biaggio [24], o IDATE é uma escala de Punhos/mãos/dedos 8 32
autorrelato que depende da reflexão consciente do estado Região dorsal 11 44
de ansiedade. A escala mede dois elementos que compõem Região lombar 17 68
a ansiedade: o estado, que se refere a um estado emocional Quadris ou coxas 5 20
transitório; e o traço, que se refere a diferenças individuais, Joelhos 4 16
relativamente estáveis, na tendência a reagir a situações Tornozelos e/ou pés 11 44
percebidas como ameaçadoras com elevados níveis de an-
siedade [24]. Tabela III - Frequência e porcentagem de presença de problemas
Na análise estatística, foi realizada distribuição de frequ- (dor/desconforto/ dormência), causando impedimento na realização
ência e porcentagem das variáveis sociodemográficas e das das atividades normais considerando os últimos doze meses em cada
variáveis sintomas osteomusculares, sintomas depressivos e região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
ansiedade. O pacote estatístico Statistical Package for Social Presença de Problemas
Sciences (SPSS 13.0, Chicago, IL, USA) foi utilizado para N %
a preparação do banco de dados assim como para a análise Pescoço 6 24
estatística. Ombros 8 32
Cotovelos 1 4
Resultados Antebraços 2 8
Punhos/mãos/dedos 3 12
A amostra foi composta por 25 cuidadores. A média de Região dorsal 6 24
idade dos cuidadores foi de 46,32 ± 8,72 anos e a média de Região lombar 8 32
remuneração mensal foi de R$ 598,04 ± 111,73. A maioria Quadris ou coxas 4 16
era do gênero feminino (88%), casados (52%) e com ensino Joelhos 2 8
fundamental incompleto (52%). A frequência de sintomas Tornozelos e/ou pés 3 12
osteomusculares nos principais segmentos corporais nos
12 meses anteriores à entrevista, nos 7 dias anteriores e Segundo o IDB, 52% dos cuidadores não apresentaram
afastamento das atividades diárias nos 12 meses anteriores sintomas depressivos, 40% apresentaram sintomas depressi-
está exposta nas Tabelas I, II e III, respectivamente. vos leves, 4% sintomas depressivos leves a moderados, 0%
sintomas depressivos moderados a severos e 4% sintomas
Tabela I - Frequência e porcentagem de presença de problemas depressivos severos.
(dor/desconforto/ dormência), considerando os últimos doze me- Segundo o IDATE-traço, 12% dos cuidadores apresenta-
ses em cada região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas ram nível alto de ansiedade, 80% nível médio de ansiedade e
Osteomusculares. 8% nível baixo de ansiedade. Segundo o IDATE-estado, 4%
Presença de Problemas apresentaram nível alto de ansiedade, 60% nível médio de
n % ansiedade e 36% nível baixo de ansiedade.
Pescoço 12 48
Ombros 16 64 Discussão
Cotovelos 2 8
Antebraços 6 24 O perfil dos cuidadores dos idosos das instituições de longa
Punhos/mãos/dedos 10 40 permanência de Itaúna/MG é representado, em sua maioria, por
Região dorsal 14 56 profissionais do sexo feminino (88%), casados (52%), com ensino
Região lombar 18 72 fundamental incompleto (52%), com média de idade de 46,32
Quadris ou coxas 7 28 anos e remuneração mensal média de R$ 598,04. A descrição
Joelhos 8 32 da amostra confirma a feminização do cuidado, que pode ser
Tornozelos e/ou pés 13 52 explicada pelas raízes históricas e culturais do cuidado [5-7,13,25].
Além disso, foi constatado o baixo nível de escolaridade dos cui-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 127
dadores, assim como a média de idade equivalente à idade adulta são entre os cuidadores de idosos pode estar associada ao tempo
e remuneração mensal pouco mais alta que um salário mínimo despendido com os cuidados aos idosos, assim como aumento na
(R$ 510,00 no ano de 2010). Esses fatores podem causar a baixa demanda de cuidados ao longo do tempo. Além disso, o estado
qualidade do cuidado e aumento da sobrecarga física, levando a mental e funcional dos pacientes influencia na saúde do cuidador
prejuízos na qualidade de vida dos cuidadores [5,14,18,19,25-27]. [11,12]. Desordens comportamentais, limitações funcionais,
Quanto à frequência de sintomas osteomusculares, destacam-se déficit cognitivo e sintomas depressivos, comuns entre idosos
as regiões: ombros (64%), região dorsal (56%), região lombar de ILPI, tendem a influenciar negativamente a saúde psíquica
(72%) e tornozelos/pés (52%) nos 12 meses anteriores; ombros dos cuidadores [6,11,12]. Doentes deprimidos frequentemente
(56%) e região lombar (68%) nos sete dias anteriores à entrevista; queixam-se de dor crônica, muitas vezes em vários segmentos
e ombros (32%) e região lombar (32%) causando impedimento do corpo na ausência de lesões e, geralmente consultam vários
na realização das atividades normais considerando os últimos doze profissionais sem, no entanto, obterem melhora satisfatória, o
meses anteriores à entrevista. É importante salientar que todos que gera sobrecarga física e emocional no seu cuidador [30].
os cuidadores avaliados referiram sintomas osteomusculares em Segundo Hung et al. [30], os sintomas depressivos agravam a
pelo menos um segmento corporal. No estudo de Carneiro et funcionalidade social e ocupacional dos indivíduos com dor,
al.[5], em que cuidadores de ILPI foram avaliados com o mesmo além de influenciar a vivência e o controle da sintomatologia
instrumento, foi encontrada menor prevalência de sintomas oste- álgica. Esses achados apontam para a possível coexistência da dor,
omusculares. Entretanto, as regiões mais frequentemente afetadas ansiedade e depressão e que a necessidade dos cuidadores vai além
foram coincidentes. Em estudo de Gucer et al. [15], 79% dos do tratamento físico preventivo/reabilitador através da fisioterapia
cuidadores reportaram sintomas osteomusculares relacionados ao [30]. Recomenda-se que os cuidadores recebam orientações de
trabalho. Em amostra de cuidadores de crianças com limitações fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes
funcionais, Tong et al. [28] encontraram prevalência de dor lom- sociais, além de melhoria de suas condições de trabalho [13]. Sales
bar igual a 71,1%, sendo que a dependência dos pacientes para et al. [9] pontuaram que, além de os cuidadores exercerem uma
transferências estava diretamente associada a maior dor lombar no atividade muito desgastante do ponto de vista físico e emocional,
cuidador. Uma explicação para a geração de tamanha sobrecarga sua ocupação exige dedicação e atenção irrestritas, sem incentivos
é a qualificação inadequada para o exercício profissional [29]. de promoção ou reconhecimento. Esses resultados confirmam
Segundo Ribeiro et al. [6], há uma tendência de pior formação que os sintomas são multifatoriais e devem ser abordados por uma
dos profissionais de instituições filantrópicas. A importância equipe multidisciplinar integrada e consciente dos problemas
da formação de cuidadores de idosos é amplamente discutida enfrentados pelos cuidadores [13,14].
na literatura, pois por mais que o cuidado seja ontológico, ele No presente estudo, foi demonstrado que 92% dos cui-
demanda especificidades que precisam ser consideradas à luz do dadores apresentaram níveis médios a altos de ansiedade pelo
exercício profissional, sob risco de geração de iatrogenias e prejuízo IDATE-traço e 64% pelo IDATE-estado. Rezende et al. [16]
para a qualidade de vida do próprio cuidador [6]. Além disso, a mostraram que ansiedade e depressão apresentam grandes
remuneração por esse serviço nas instituições filantrópicas é baixa, chances de serem concomitantes, assim como relatam Mora
necessitando complementação salarial com outro tipo de serviço. e Vidal [7]. No estudo de Ferrara et al. [25], o grau de ansie-
Esse excesso de atividades contribui para geração de sintomas dade e depressão esteve associado à severidade da doença de
osteomusculares, depressivos e ansiedade [5,9,19]. No estudo de Alzheimer do indivíduo cuidado.
Tomioka et al. [14], a atividade “transferir indivíduos pesados” Tais evidências reforçam a ideia de que o processo de cui-
foi correlacionada positivamente com dor lombar. É importante dar é bastante complexo, influenciando e sendo influenciado
salientar que a sobrecarga do cuidador reflete na qualidade do pelo contexto do adoecer e do morrer. Assim, justifica-se, a
cuidado prestado [25,30]. Em estudo realizado com cuidadores preocupação crescente de estudar o impacto do cuidar na
de indivíduos com sequela de acidente vascular encefálico, Hung saúde do cuidador [7,16].
et al. [30] concluíram que, quando o cuidador apresenta sintomas Analisando os dados obtidos, pode-se supor a existência
osteomusculares e depressivos, tende a avaliar de maneira distor- de um ciclo vicioso: o cuidador, em condições físicas e sociais
cida a dor de seus pacientes e, por conseguinte, não oferecer-lhe desfavoráveis, apresenta sintomas osteomusculares, sintomas
o cuidado adequado. Além disso, os cuidadores que apresentam depressivos e de ansiedade, provavelmente interferindo na sua
dor crônica, como vários do presente estudo, tendem a apresen- qualidade de vida. De forma retrógrada, o cuidador, com a
tar altos níveis de estresse psicológico e efeitos adversos no seu qualidade de vida prejudicada, perpetua uma condição de cui-
bem-estar, constituindo-se um grupo de saúde vulnerável, com dado e trabalho inadequados, prejudicando mais sua qualidade
níveis de ansiedade e sintomas depressivos não condizentes com de vida e dos idosos [30]. Segundo alguns autores [13,30], é
as demandas impostas pelo trabalho prestado [11]. imprescindível a elaboração de um programa de apoio aos
A partir dos dados apresentados, percebe-se alta frequência de cuidadores, visando a melhora da qualidade de vida deles e dos
sintomas depressivos entre os cuidadores (48%). Mora e Vidal [7] idosos. Intervenções psicoterapêuticas, programas de recicla-
encontraram sintomas de depressão em 55% da amostra de seu gem, apoio de fisioterapeutas e assistentes sociais parecem ser
estudo. Segundo Resende e Dias [4], a alta prevalência de depres- eficazes em melhorar a qualidade de vida dos cuidadores [29].
128 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
*Mestrando em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS, **Universidade de
Passo Fundo/RS, ***Médico Ortopedista, Instrutor de Residência Médica em Ortopedia e Trauma do Hospital Ortopédico de Passo
Fundo/RS, docente do Curso de Medicina e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS, ****Docente do Programa de Pós-Gra-
duação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS, *****Docente do Curso de
Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS, ******Mestrando em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo/
RS, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS
Resumo Abstract
O músculo supra-espinhal é importante na articulação do The supraspinatus muscle is important to articular shoulder, due
ombro, pela estabilização anterior e inferior da articulação glenou- to anterior and inferior stabilization of the glenohumeral joint. The
meral. O objetivo foi avaliar a resposta do músculo supra-espinhal aim of this study was to evaluate the response of isotonic concentric
ao programa de fortalecimento muscular isotônico concêntrico e and eccentric program exercise to strengthen the supraspinatus
excêntrico em indivíduos saudáveis. A amostra foi composta por muscle in healthy individuals. The sample was composed of female
acadêmicas (n = 20), as quais foram alocadas aleatoriamente em students (n = 20), divided randomly into 2 groups, concentric and
2 grupos, fortalecimento concêntrico e excêntrico. Foi realizada eccentric strengthening. Dynamometric method of evaluation was
avaliação dinamométrica computadorizada na velocidade de 30o/s e performed at 30o/s and 60o/s, before and after muscular strengthe-
60o/s, pré e pós-programa de fortalecimento muscular. O protocolo ning program. The protocol of strengthening was 3 series with 15
do programa de fortalecimento foi de 3 séries com 15 repetições repetitions each, 2 times per week during 6 weeks, the resistance
cada, 2 vezes por semana durante 6 semanas, sendo a resistência imposed was a pulley and the load corresponding to 40% of a peak
imposta por uma polia e a carga correspondendo a 40% do pico de of torque obtained in the previous evaluation. Statistical analysis
torque atingido na avaliação prévia. A analise estatística foi realizada was performed using the paired Test t-student (p ≤ 0.05). When
através do Teste t-student pareado (p ≤ 0,05). Quando comparado compared intra-groups between left shoulder (LS) and right upper
intragrupos o membro superior esquerdo (MSE) com o direito no limb before and after strengthening program regarding proposed
pré e pós-programa de fortalecimento nas velocidades angulares speeds, there was no significant difference. The relation intra-groups
propostas, não houve diferença significativa. Na relação intragrupos before and after strengthening program showed significant increase
pré e pós-programa de fortalecimento somente verificou-se aumento in the peak of torque in the LS at 30o/s (p = 0.02) in the concentric
significativo do pico de torque no MSE a 30o/s (p = 0,02*) no grupo group. The concentric strengthening program of supraspinatus mus-
concêntrico. O programa de fortalecimento concêntrico para o cle is more effective to increase peak torque in healthy individuals.
músculo supra-espinhal mostrou-se mais efetivo no incremento do Key-words: rotator cuff, exercise therapy, muscle strength
pico de torque em indivíduos saudáveis. dynamometer.
Palavras-chave: bainha rotadora, terapia por exercício,
dinamômetro de força muscular.
As disfunções do ombro são causas importantes de mor- Critérios de inclusão foram: indivíduos do sexo feminino,
bidade e incapacidade. Desses distúrbios, têm-se as desordens com idade entre 18 e 25 anos, sem alterações musculoesque-
do manguito rotador (MR) como as mais comuns, sendo léticas nos ombros ao exame clínico e que assinaram o Termo
responsável por até 70% dos episódios de dor no ombro [1]. de Consentimento Livre e Esclarecido, após informação sobre
Atualmente, estudos têm atribuído grande importância ao todas as etapas do estudo.
treinamento de força na população em geral e para a reabilitação Já os critérios de exclusão eram indivíduos do sexo
de pacientes com lesão de MR, sendo esta responsável por 27% masculino, com idade <18 e >25 anos, que apresentassem
dos afastamentos do trabalho, resultando em custos ao sistema alterações musculoesqueléticas e/ou dor em um dos ombros
previdenciário e, também, problemas sociais, como dificuldade ao exame clínico.
de reinserção no mercado de trabalho [2]. Em seguida os indivíduos elegíveis foram listados e
A estabilidade da articulação glenoumeral está diretamente alocados aleatoriamente em dois grupos por meio de um
relacionada ao manguito rotador e secundariamente aos liga- sorteio (moeda), Grupo I (G-I) – Concêntrico e Grupo II
mentos. O MR contribui para a estabilidade dinâmica desta (G-II) – Excêntrico. Os investigadores e os indivíduos foram
articulação, rodando e comprimindo a cabeça umeral contra cegados durante a alocação dos grupos, tendo em vista que
a cavidade glenóide. Os movimentos repetitivos do membro a alocação foi realizada por um indivíduo que não estava
superior acima da cabeça resultam em aumento do estresse envolvido no estudo.
nas estruturas da articulação e aumento no potencial de lesão,
como a laceração do manguito rotador [3]. Avaliação dinamométrica computadorizada
O músculo supra-espinal (SE) é um dos quatro músculos
que compõem o manguito rotador, sendo o músculo mais Para a avaliação do pico de torque dos músculos abdutores
utilizado no complexo articular do ombro, pois exerce uma dos ombros pré e pós-programa de fortalecimento muscular,
importante função de estabilizador anterior e inferior da foi utilizado um dinamômetro computadorizado da marca
articulação glenoumeral, além de auxiliar no movimento de Biodex™ Multi Joint System 3 Pro. Antes de cada avaliação,
abdução. O déficit de força do SE predispõe a desenvolver realizou-se a calibração do dinamômetro computadorizado
lesões ocupacionais. de acordo com as especificações contidas no manual do fabri-
Sem força adequada do músculo SE, a linha de força quase cante [5]. Com o intuito de reduzir o efeito da desaceleração
vertical do músculo deltóide em contração tende a comprimir do membro na repetição seguinte, o movimento do braço de
ou empurrar a cabeça do úmero superiormente contra o arco resistência no final da amplitude foi ajustado para o menor
coracoacromial, impedindo assim a abdução completa. O ten- nível Hard durante o procedimento do teste [6].
dão do músculo SE é especialmente vulnerável à degeneração Em seguida, cada indivíduo foi posicionado através das
se associado com um comprometimento relacionado à idade referências e orientações do fabricante do equipamento [5],
no seu suprimento sanguíneo. Essa condição é frequentemente orientando o dinamômetro a 0° (orientação neutra), com
denominada síndrome do manguito rotador [4]. uma inclinação do mesmo de 10°, com o assento orientado a
Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo 75° e inclinação do encosto entre 70 e 85°. Para uma maior
avaliar a resposta muscular do SE ao programa de fortalecimen- estabilidade e a fim de minimizar movimentos extracorpóreos
to muscular isotônico concêntrico e excêntrico em indivíduos que possam influenciar na avaliação [7], utilizou-se um par de
saudáveis. cintos de ombro, que inicia da parte superior traseira da cadeira,
estendendo-se anteriormente ao tronco até a lateral da base do
Material e métodos assento, já na parte anterior do tronco utilizou-se um cinto
pélvico. O eixo de rotação do dinamômetro foi alinhado com
Tipo de estudo o eixo da articulação do ombro, como demonstra na Figura 1.
O presente estudo caracteriza-se como prospectivo, ran- Foto 1 - Avaliação dinamométrica computadorizada.
domizado, controlado e duplo cego, no qual foi avaliada a
efetividade de um programa de fortalecimento muscular iso-
tônico concêntrico e excêntrico no músculo SE em indivíduos
saudáveis, recrutados por conveniência em uma universidade
do interior do estado do Rio Grande do Sul. Este estudo esteve
de acordo com as normas do Comitê de Ética e Pesquisa –
UPF, sob registro CEP 046/2008. Não foram feitas alterações
ao delineamento metodológico ao longo do estudo.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 131
A correção da gravidade foi obtida medindo-se o torque Já no G-II foi realizado um programa de fortalecimento
exercido pelo braço de resistência e o membro superior do excêntrico de abdução do ombro. O indivíduo iniciou em
avaliado (relaxada) na posição de abdução intermediária. posição ortostática, com o MS posicionado em abdução a 30o
Através deste dado os valores das variáveis isocinéticas são pelo fisioterapeuta, realizando 3 séries com 15 repetições, com
automaticamente ajustados para gravidade pelo programa repouso de 1 minuto a cada série, sendo que a resistência foi
Biodex Advantage Software. imposta por uma polia colocada distalmente ao antebraço,
Posteriormente, cada indivíduo realizou uma familiariza- como mostra a Figura 3.
ção com o aparelho e um aquecimento prévio da musculatura
envolvida com movimentos ativos de abdução e adução do Foto 3 - Posicionamento inicial para o programa de fortalecimento
ombro, em uma única série de 10 repetições no dinamômetro, excêntrico.
na velocidade angular de 240°/s.
Depois, cada participante foi submetido a uma avaliação
dinamométrica computadorizada que utilizou o protocolo de
avaliação concêntrico/concêntrico bilateral para a musculatura
abdutora e adutora dos ombros, nas velocidades angulares de
30 e 60°/s [8], por cinco repetições cada, respectivamente,
com intervalo de repouso de 30 segundos [9] e amplitude
de movimento de 0 a 30o de abdução do ombro [10]. No
momento da avaliação foi solicitado a cada participante força
máxima, através de feedback visual (por meio do monitor do
computador do Biodex) e verbal [11]. O avaliador foi cegado
durante as avaliações.
Foto 2 - Posicionamento inicial para o programa de fortalecimento No presente estudo 20 indivíduos foram avaliados quan-
concêntrico. to à elegibilidade, no entanto 2 indivíduos foram excluídos
por apresentarem início de quadro álgico no ombro e 18
indivíduos foram randomizados. Desses 9 indivíduos foram
alocados e analisados no G – I e 9 no G – II. Um fluxograma
das inclusões, exclusões e o número final dos participantes
são ilustrados na Figura 4.
132 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Figura 4 - Fluxograma do processo de recrutamento e alocação dos cular de abdução do ombro nas velocidades angulares de
participantes. 30 e 60o/s.
Alocação para A Tabela III apresenta a análise intragrupos do pico de
elegibilidade torque (N/m) referentes à avaliação pré e pós-programa de
(n=20) fortalecimento de abdução do ombro no membro superior
direito e no esquerdo, nas velocidades angulares de 30 e 60o/s.
Excluídos (n=2)
Início de quadro
Discussão
algico no ombro
Tabela II - Relação intragrupos do pico de torque (N/m) dos músculos abdutores do ombro no lado direito e esquerdo no pré e pós-programa
de fortalecimento.
Pré Pós
Grupo Direito Esquerdo p Direito Esquerdo P
COM 39,79 ± 11,08 38,36±10,09 0,11 42,08±11,76 42,83±10,98 0,12
30º/s
EXC 36,80±6,20 34,36±8,61 0,57 37,72±5,38 32,81±5,51 0,88
COM 35,76±10,89 33,63± 9,97 0,07 36,42±10,63 39,27±13,19 0,07
60º/s
EXC 32,18±5,63 28,79±5,98 0,26 33,30±4,09 29,42±5,88 0,33
Valores expressos em média e desvio padrão; t-student pareado (p ≤ 0,05); COM = concêntrico e EXC = excêntrico
Tabela III - Relação intragrupos entre o pico de torque (N/m) dos músculos abdutores do ombro ipsilateral no pré e pós-programa de forta-
lecimento.
Concêntrico Excêntrico
Lado Pré Pós p Pré Pós P
D 39,79 ± 11,08 42,08 ± 11,76 0,17 36,80 ± 6,20 37,72 ± 5,38 0,35
30º/s
E 38,36 ± 10,09 42,83 ± 10,98 0,02* 34,36 ± 8,61 32,81 ± 5,51 0,94
D 35,76 ± 10,89 36,42 ± 10,63 0,33 32,18 ± 5,63 33,30 ± 4,09 0,30
60º/s
E 33,63 ± 9,97 39,27 ± 13,19 0,06 28,79 ± 5,98 29,42 ± 5,88 0,20
Valores expressos em media e desvio padrão; t-student pareado (p ≤ 0,05); D = direito E = esquerdo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 133
diminuir. O ganho de força depende, então, da otimização que o estimado para a otimização das adaptações neurais e
dessas adaptações durante o treinamento [19]. morfológicas de um treinamento que visa o ganho de força
Robinson & Mackler [20] reportaram atividade eletro- muscular. Porém, obtivemos resultados satisfatórios. E mes-
miográfica (EMG) mais alta para trabalhos concêntricos de mo com uma amostra pequena demonstramos dados com
uma dada carga em comparação com exercícios excêntricos, um poder de 95%, analisando os efeitos de um programa de
porém foi observado que um número maior de unidades fortalecimento muscular isotônico concêntrico intragrupos.
motoras precisa ser recrutado para controlar a mesma carga
concêntrica do que excentricamente. Conclusão
Já outros estudos relatam que quando um músculo se
contrai excentricamente é capaz de produzir mais força que O programa de fortalecimento concêntrico por seis sema-
um músculo que se contrai concentricamente. [21]. Dados nas para o músculo supra-espinhal mostrou-se mais efetivo
que não observamos em nosso estudo, já que obtivemos no incremento do pico de torque em indivíduos saudáveis,
maior incremento do pico de torque no grupo de realizou o que não conseguimos verificar no programa de fortaleci-
exercício concêntrico. mento excêntrico. Os resultados deste estudo destacam a
Ambos os tipos de ação muscular são geralmente desem- importância de novos estudos para elucidação dos fatores em
penhados com intensidades similares, no entanto uma carga outras populações.
40-50% maior pode ser implementada durante o trabalho ex-
cêntrico máximo quando comparado ao concêntrico [22,23]. Referências
Alguns autores descrevem o dano causado nas miofibrilas
decorrentes do exercício excêntrico, resultando em dor muscu- 1. Almeida JS, Carvalho Filho G, Pastre CM, Lamari NM, Pastre
lar tardia, diminuição da força muscular e déficit na amplitude EC. Afecção do tendão supra-espinal e afastamento laboral.
de movimento pós-treinamento [24-30]. Segundo Nogueira Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(2):517-22.
2. Americano MJ. Lesões por esforços repetitivos (LER)/ distúrbios
et al. [31], o nível de lesão aos tecidos moles causados pelo
osteomúsculares relacionados ao trabalho. Instituto Nacional de
treinamento excêntrico medido através da concentração de
Prevenção às LER/DORT. [citado 2012 Mar 20]. Disponível
substâncias na urina é maior nesta modalidade de treinamento em URL: http://www.2.uol.com.br/prevler/oquee.html
quando comparado ao concêntrico. 3. Busso GL. Proposta preventiva para laceração no manguito
Parr et al. [32] demonstraram em seu estudo que o exer- rotador de nadadores. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12(3):39-45.
cício excêntrico quando realizado isoladamente ocasionou 4. Neumann DA. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
maiores déficits funcionais quando comparados a protocolos fundamentos para a reabilitação física. Rio de Janeiro: Guana-
que utilizam a combinação de exercícios excêntricos e concên- bara Koogan; 2006.
tricos. Esta combinação de exercícios desencadeia um menor 5. Biodex system 3 pro. Manual - Aplications/Operations 2002.
dano as miofibrilas, e consequentemente uma menor resposta p.32-35
6. Taylor NA, Sanders RH, Howick EI, Stanley SN. Static and
inflamatória e dor ao tecido muscular.
dynamic assessment of the biodex dynamometer. Eur J Appl
Symons et al. [33] ao realizar treinamento concêntrico Physiol Occup Physiol 1991;62(3):8-180.
e excêntrico dos músculos extensores do joelho durante 12 7. Weir JP, Evans SA, Housh ML. The effect of extraneous move-
semanas, com indivíduos idosos, encontraram nos grupos ments on peak torque and constant joint angle torque-velocity
que efetuaram treinamento concêntrico e excêntrico uma curves. J Orthop Sports Phys Ther 1996;23(5):8-302.
considerável elevação do pico de torque excêntrico, sendo que 8. Dvir Z. Isocinética - avaliações musculares, interpretações e
no grupo que realizou somente treinamento concêntrico tal aplicações clínicas. Barueri: Manole; 2002.
elevação foi maior, indicando a especificidade do treinamento. 9. Bottaro M, Russo A, Oliveira RJ. The effects of rest interval
Achados que estão de acordo com os resultados encontrados on quadriceps torque during an isokinetic testing protocol in
elderly. J Sports Sci Med 2005;4:90-285.
no nosso estudo, no qual observamos um aumento no pico
10. Behnke RS. Anatomia do movimento. Porto Alegre: Artmed;
de torque dos abdutores do ombro no grupo que foi subme-
2004.
tido ao exercício excêntrico, porém no grupo concêntrico o 11. Vidmar MF, Vianna GR, Scapini PR, Pimentel GL, Bona CC.
aumento foi maior. Efeito do feedback visual e encorajamento verbal na contração
Já outros estudos relatam que o treinamento com a inclu- isométrica do quadríceps. In: XIV Congresso Brasileiro de
são do exercício concêntrico e excêntrico é mais eficaz para o Biomecânica, 2011, Ribeirão Preto. Anais do XIV Congresso
ganho de força e hipertrofia [34-37]. Sugerindo a realização Brasileiro de Biomecânica. Ribeirão Preto; 2011. p.147
de novos estudos que implementam um programa de forta- 12. Halliday D, Resnick R, Walker J. Fundamentos de Física 1 –
lecimento para o músculo supra-espinhal através do exercício Mecânica. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 2003.
isotônico concêntrico e excêntrico, e não somente com uma 13. Takeda Y, Kashiwaquchi S, Endo K, Matsuura T, Sasa T. The
most effective exercise for strengthening the supraspinatus
das ações musculares.
muscle. Am J Sports Med 2002;30(3):374-381.
O presente estudo apresenta limitações que podem gerar 14. Lustosa LP, Michel DJS, Martelli GS, Janaina IM, Neiva
discussão. O período do programa de fortalecimento é menor RLS. Benefícios dos exercícios excêntricos e concêntricos
134 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
dentro do programa de fortalecimento muscular. Fisioter Bras 26. Gleeson N, Eston R, Marginson V, McHugh M. Effects of
2007;8(4):283-7. prior concentric training on eccentric exercise induced muscle
15. Coury HJ, Brasileiro JS, Salvini TF, Poletto PR, Carnaz L, damage. Br J Sports Med 2003;37(2):119-25.
Hansson GA. Change in knee kinematics during gait after 27. Chapman D, Newton M, Sacco P, Nosaka K. Greater muscle
eccentric isokinetic training for quadriceps in subjects submit- damage induced by fast versus velocity eccentric exercise. Im J
ted to anterior cruciate ligament reconstruction. Gait Posture Sports Med 2006;27(8):591-8.
2006;24(3):370-4. 28. Borsa PA, Liggett CL. Flexible magnets are not effective in
16. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: decreasing pain perception and recovery time after muscle
energia e nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: micro-injury. J Athl Train 1998;33(2):150-5.
Guanabara Koogan; 1998. 29. Cheung K, Hume PA, Maxwell L. Delayed onset muscle sore-
17. Bacurau RF, Navarro F, Uchida MC, Rosa LFBPC. Treina- ness. Treatment strategies and performance factors. Sports Med
mento de força, hipertrofia e hiperplasia: fisiologia, nutrição e 2003;33(2):145-64.
treinamento do crescimento muscular. São Paulo: Phorte; 2001. 30. Lieber RL, Fridén J. Morphologic and mechanical basis of
18. Mont MA, Cohen DB, Campbell KR, Gravare K, Mathur SK. delayed-onset muscle soreness. J Am Acad Orthop Surg
Isokinetic concentric versus eccentric training of shoulder ro- 2002;10(1):67-73.
tators with functional evaluation of performance enhancement 31. Nogueira AC, Vale RG, Gomes AL, Dantas EH. The effect of
in elite tennis players. Am J Sports Med 1994;22(4):513-7. muscle actions on the level of connective tissue damage. Res
19. Moritani T, Vries HA. Neural factors versus hypertrophy Sports Med 2011;19(4):259-270.
in the time course of muscle strength gain. Am J Phys Med 32. Parr JJ, Yarrow JF, Garbo CM, Borsa PA. Symptomatic and
1979;58(3):115-30. functional responses to concentric-eccentric isokinetic versus
20. Robinson AJ, Mackler L. Eletrofisiologiaclínica. 2a ed. Porto eccentric-only isotonic exercise. J Athl Train 2009;44(5):462-8.
Alegre: Artmed; 2001. 33. Symons T, Vandervoort AA, Rice CL, Overend TJ, Marsh GD.
21. Mcginnis PM. Biomecânica do esporte e exercício. Porto Alegre: Effects of maximal isometric and isokinetic resistance training
Artmed; 2002. on strength and functional mobility in older adults. J Gerontol
22. Dudley G, Tesch PA, Miller BJ, Buchanan P. Importance of ec- A Biol Sci Med Sci 2005;60:777-81.
centric actions in performance adaptations to resistance training. 34. Colliander EBT. Effects of eccentric and concentric muscle ac-
Aviat Space Environ Med 1991;62(6):543-550. tions in resistance training. Acta Physiol Scand 1990;140(1):31-
23. Yarrow JF, Borsa PA, Borst SE, Sitren HS, Stevens BR, 39.
White LJ. Neuroendocrine responses to an acute bout of 35. Hather BM, Tesch PA, Buchanan P, Dudley GA. Influence of
eccentric-enhanced resistance exercise. Med Sci Sports Exerc eccentric actions on skeletal muscle adaptations to resistance
2007;39(6):941-47. training. Acta Physiol Scand 1991;143(2):177-85.
24. Kaminski TW, Wabbersen CV, Murphy RM. Concentric versus 36. Farthing JP, Chilibeck PD. The effects of concentric and con-
enhanced eccentric hamstring strength training clinical impli- centric training at different velocities on muscle hypertrophy.
cations. J Athl Train 1998;33(3):216-21. Eur J Appl Physiol 2003;89(6):578-86.
25. Fitzgerald GK, Rothstein JM, Mayhew TP, Lamb RL. Exercise- 37. Higbie EJ, Cureton KJ, Waren GL, Prior BM. Effects of con-
-induced muscle soreness after concentric and eccentric isoki- centric and eccentric training on muscle strength, cross-sectional
netic contractions. Phys Ther 1991;71(7):505-13. area, and neural activation. J Appl Physiol 1996;81:2173-81.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 135
Artigo original
*Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor (IEFD / UERJ), **Programa de Neurobiologia, Instituto de Biofísica Carlos
Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), ***Coordenador do Laboratório de Temas Filosóficos em Conhecimento Aplicado, IEFD, UERJ,
****Coordenador do Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor (IEFD/UERJ)
Resumo Abstract
O paralisado cerebral manifesta variabilidade no comportamento Individuals with cerebral palsy (CP) express a gait pattern highly
da marcha, demandando um exame individualizado e instrumenta- variable, demanding an individualized and instrumentalized test.
lizado. O exame biomecânico da marcha em laboratório, embora de Biomechanical gait test in laboratory has its use in clinical practice
comprovada eficiência, tem sua utilização afastada na prática clínica away from small to medium institutions, due to the high operational
das instituições de pequeno e médio porte, em função do alto custo cost of these systems. The aim of this study was to investigate the
operacional destes sistemas. O objetivo deste estudo foi investigar a feasibility of a low cost gait analysis system to test the walking of
exequibilidade de um sistema de análise de marcha de baixo custo, children with cerebral palsy. Three individuals with spastic diplegia
para o exame da marcha de crianças com PC. Foram examinados were tested. For image capture, a commercial video camera was
3 indivíduos com 12 anos de idade, diagnosticados com paralisia used. A lower limb body segment model, composed by 6 points,
cerebral diplégica espástica. Para a coleta das imagens utilizou-se was developed and passive reflexive markers used to estimate the
uma câmera de vídeo comercial. Elaborou-se um modelo corporal sagittal plane center of rotation of lower limbs. The images were
de 6 pontos, sendo utilizados marcadores passivos e reflexivos para processed by the software Skillspector 1.2.4. We found similar results
determinar as extremidades dos segmentos da cadeia biocinemática with those presented in the literature, mainly for spatial-temporal
dos membros inferiores. As imagens foram processadas por meio variables and the use of the instrument showed feasible. The system
do software Skillspector 1.2.4. Obtivemos resultados similares aos showed a good cost-benefit relationship and showed technical qua-
descritos na literatura, principalmente para as variáveis espaço- lity, although it requires more time to acquire and process the data
-temporais, e o uso do instrumento na prática mostrou-se viável. than gold standard motion analysis systems. Despite the weakness
O sistema apresentou boa relação custo-benefício e demonstrou discussed, incorporation of the strategy described above into the
qualidade técnica suficiente, embora demande maior tempo de therapeutic assessment can contribute to a better patient care.
obtenção e processamento dos dados que os sistemas mais robustos Key-words: spastic diplegia, gait analysis, feasibility, low cost.
e de maior custo. Apesar dos pontos fracos a serem melhorados,
a incorporação da estratégia descrita na prática terapêutica pode
contribuir com um melhor atendimento ao paciente.
Palavras-chave: paralisia cerebral, análise da marcha,
exequibilidade, baixo custo.
a uma frequência de captura de 25 Hz, o que possibilitou Quanto às imagens, estas foram processadas por meio do
a captura de 50 quadros por segundo no modo de análise software Skillspector versão 1.2.4 que permitiu a digitalização
entrelaçado. Para avaliação do comportamento cinemático manual das coordenadas dos pontos de interesse em cada
das articulações dos membros inferiores no plano sagital, a quadro e posterior processamento das informações.
câmera foi posicionada de forma que seu eixo óptico inci- Na descrição dos componentes temporais, espaciais e espa-
disse perpendicularmente ao plano sagital de deslocamento ço-temporais da marcha, foi adotada a terminologia proposta
dos examinados, a uma distância de 3 metros do mesmo, no por Perry [31], sendo utilizados os seguintes eventos: tempo
centro da distância total de deslocamento. de apoio, tempo de balanço, duração do ciclo da marcha,
Utilizou-se uma representação esquemática de 6 pontos frequência de passada, velocidade da marcha, comprimento do
para reprodução dos membros inferiores, o que, no caso da passo, comprimento da passada e variação angular, no plano
videometria, entende-se como modelo da estrutura a ser ana- sagital, das articulações do quadril, joelho, tornozelo, sendo a
lisada. Para a elaboração desse modelo, foram identificados os descrição da marcha de cada criança apresentada em separado.
componentes da cadeia biocinemática dos membros inferiores A exequibilidade do sistema de análise em questão
por meio de marcadores passivos e reflexivos fixados nas se- foi examinada por meio da comparação dos dados
guintes regiões anatômicas dos testados: eixos de movimento obtidos com aqueles dispostos na literatura.
dos quadris, joelhos, tornozelos, nos calcanhares e também nas
extremidades dos pés. Os referidos marcadores foram posicio- Resultados
nados a saber: quadril, crista ilíaca e 0,3 cm distal da epífise
trocanteriana; joelho, 2,6 cm proximal da linha articular do Os dados cinemáticos das articulações do quadril, joelho e
joelho; tornozelo, 1,3 cm distal do maléolo tibial; calcanhar, tornozelo direito no plano sagital da criança 1 estão expressos
parte posterior do calcâneo; pé, cabeça do 5º metatarso [28]. na Figura 1. No contato inicial, o quadril está flexionado a
De forma a aumentar o contraste entre marcadores e ambien- 34,4°, o joelho flexionado a 40,3° e o tornozelo 15,6° de
te, o fundo do espaço de captura foi recoberto com tecido extensão. O apoio terminal ocorre aos 53,1% do ciclo, coinci-
opaco de cor preta simulando um fundo infinito. dindo com o pico de extensão do quadril, que está flexionado
Do ponto de vista processual, os marcadores devem ser a 15,3°. Ainda no apoio terminal, o joelho está flexionado a
grandes o suficiente para serem vistos na imagem e pequenos 46,9° e o tornozelo estendido a 1,6°. O balanço inicial ocorre
o suficiente para não comprometerem a precisão no ato de aos 68,7% do ciclo. Neste momento, o quadril está flexionado
digitalização manual. Neste estudo, foram utilizados mar- a 26,9°, o joelho flexionado a 73,5° e o tornozelo estendido a
cadores de 25 mm de diâmetro modelo LaBiCoM/mr25®, 15,4°. O fim do balanço terminal ocorre os 96,8% do ciclo
fixados em um círculo negro de PVC de 5 mm de espessura, com o quadril flexionado a 40,6°, o joelho flexionado a 41,8°
desenvolvido no LaBiCoM/UERJ. Esse tipo de marcador e o tornozelo estendido a com 12,1º.
possibilita a redução da quantidade de luz incidente na lente A variação angular do quadril, joelho e tornozelo esquerdo
da câmera, permitindo que as capturas de imagens sejam no plano sagital da criança 1 está representada na Figura 1.
realizadas em ambiente com claridade natural. Durante este ciclo, a criança 1 apresentou, no contato inicial,
A qualidade do processo de calibragem de um sistema de o quadril flexionado a 29,7°, o joelho flexionado a 40,5°, en-
registro de imagem constitui ação de fundamental importân- quanto o tornozelo estendido a 11,6°. O apoio terminal ocorre
cia, uma vez ser determinante que, durante o processamento aos 51,6% do ciclo, o quadril está estendido a 15,3°, o joelho,
das informações, a proporcionalidade das dimensões corporais neste instante, flexionado a 43,6° e o tornozelo estendido a
nas imagens capturadas seja mantida. No presente trabalho, 15,3°. O início do balanço inicial ocorre aos 68,7% e, nesse
para a realização da calibragem, foi utilizada uma estrutura instante, o quadril está flexionado a 22,4°, o joelho flexionado
com quatro pontos não colineares dispostos nas extremidades a 58,7° e coincide com o pico de extensão do tornozelo, que é
de um quadrilátero com lados iguais (50 cm), confeccionado de 42,2°. Ao final do balanço terminal, que ocorre aos 96,8%
com hastes de alumínio, posicionado no espaço de execução, do ciclo, o quadril está flexionado a 38,3, o joelho flexionado
em paralela ao plano de captura. a 42,7° e o tornozelo estendido a 18,6°.
Já os indivíduos, trajando apenas sunga, foram orientados Analisando o membro inferior direito, durante o ciclo da
a realizar a marcha habitual em velocidade confortável, sobre marcha da criança 2 (Figura 2), observou-se que, no contato
uma pista de 10 metros de comprimento e 1,5 m de largura, inicial, o quadril está flexionado a 45,3°, o joelho flexionado
disposta em piso plano, regular e horizontal. No que diz a 41,5° e o tornozelo estendido a 5,9°. O apoio terminal
respeito à familiarização quanto ao exame, os participantes ca- ocorre aos 52,9% do ciclo quando o quadril está posicionado
minharam sobre a pista de teste completando 6 voltas [29,30]. em 21,6° de flexão, o joelho flexionado a 69,2° e o tornozelo
Foi utilizado 1 ciclo da marcha realizado nos 6 metros centrais estendido a 8,2°. O balanço inicial ocorre aos 67,6% do ciclo,
da pista, de forma a evitar o efeito retroativo introduzido por coincidindo com o pico de extensão do tornozelo que é de
possíveis acelerações de valor importante presentes no início 24,2°, o quadril está flexionado a 28,0°, joelho flexionado a
e final do percurso. 74,1°. O final do balanço terminal ocorre aos 97% do ciclo
138 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
com o quadril flexionado a 46,5°, o joelho flexionado a 42,9° No que diz respeito à variação angular do membro
e o tornozelo estendido a 10,3°. inferior esquerdo da criança 2 (Figura 2), o contato inicial
aponta uma angulação de 33,1° de flexão para o quadril,
Figura 1 - Variação angular das articulações da cadeia cinemática 43,6° de flexão para o joelho e 0,9° de extensão para o
dos membros inferiores da criança 1 no decurso da marcha. tornozelo. O apoio terminal acontece aos 48,4% do ciclo
Normal com o quadril flexionado a 11,8°, o joelho flexionado a
Suj 1 - Direita 50,3° e o tornozelo estendido a 2,1°. O balanço inicial
Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+)
tensão do tornozelo com 7,2°. O balanço inicial ocorre aos No que diz respeito aos valores máximos de deslocamento,
69,6% do ciclo quando o quadril está flexionado a 26,1°, o Toro et al. [32] encontraram pico de 35,68º ± 6,41 para a
joelho flexionado a 49° e o tornozelo estendido a 29,8°. Ao flexão do quadril. A criança 2 do presente estudo apresentou
final do balanço terminal, que ocorre aos 96,9% do ciclo, o 35,1º no quadril esquerdo. Para a flexão do joelho, Toro et
quadril está flexionado a 44,6°, o joelho flexionado a 30° e o al. [32] identificaram pico de 64,32° ± 5,31º, Carriero et al.
tornozelo estendido a 16°. [24] 59,77° ± 8,66º. Na presente pesquisa, as crianças 1 e 2
apresentaram resultados semelhantes para o joelho esquerdo
Discussão e a criança 3 em ambos os membros analisados. Em relação
ao pico de extensão do tornozelo, Toro et al. [32] observaram
Este estudo piloto teve como propósito verificar a exequi- média de 9,58° ± 5,9º e, em nosso estudo, os valores obtidos
bilidade de aplicação de uma análise de marcha instrumentada pelas crianças 2 e 3 são correspondentes à literatura.
em crianças diplégicas espásticas na prática clínica, estimando Observando o balanço terminal, Cooney et al. [21]
a validade e a praticabilidade administrativa de sua utilização. identificaram o joelho em 25° ± 5,7º de flexão e em nosso
Para que a validade do sistema fosse comprovada, compa- estudo somente a criança 3 apresentou resultados de acordo
ramos os resultados obtidos neste estudo com os apresentados com os autores.
em estudos da mesma natureza que utilizam outros sistemas No que diz respeito aos valores espaço-temporais, Mackey
de análise videogramétrica em três dimensões, no qual o custo et al. [34] observaram uma média de 49 ± 12 cm, Carriero
é elevado e a validade já demonstrada. et al. [24] 48 ± 12 cm e Prosser et al. [35] 55 ± 12 cm para
Acerca da variação angular das articulações da cadeia o comprimento do passo. Em nosso estudo, os resultados de
cinemática dos membros inferiores analisados, no contato todos os membros analisados estão de acordo com os autores,
inicial, Toro et al. [32] identificaram, em estudo, uma média como mostra a Tabela 2.
de 29,8°± 4,84° para flexão do quadril e Redekop et al. [33] Em relação ao comprimento da passada, Steinwender et al.
média de 30,5º ± 9,1º. Estes achados estão em acordo com [36] encontraram média de 94,6 ± 11 cm, Cooney [21] 90,8
os resultados apresentados pelas crianças 1 e 2 com o quadril ± 14 cm, Mackey et al. [34] 98 ± 13 cm e Carriero et al. [24]
esquerdo. 96 ± 24 cm. Nesta pesquisa, os dados coletados referentes a
Em relação ao joelho, ainda no contato inicial, Toro et esta variável estão de acordo com a literatura.
al. [32] observaram uma média de 48,49° ± 7,44º de flexão Referente à cadência do passo, Carriero et al. [24] obser-
do joelho. Em nosso estudo, as crianças 1 e 2 apresentaram varam 133,3 ± 17,7 passos por minuto, contudo apenas a
resultados similares ao estudo citado, ao passo que, na criança criança 1 obteve resultados de acordo com a literatura.
3, observaram-se valores menores, os quais estão de acordo Em relação à velocidade da marcha, Cooney [21] encon-
com os apresentados por Carriero et al. [24], que identificaram trou 9,59 ± 1,9 m/s, Carriero et al. [24] 1,07 ± 0,3 m/s. No
média de 20,90º ± 17,82º para a flexão do joelho. presente estudo, a maioria dos dados referente aos membros
Observando a variação angular do tornozelo, nenhuma analisados corrobora os achados dos autores citados, exceto
das crianças analisadas apresentou resultados similares aos para o membro inferior direito das crianças 2 e 3.
das pesquisas que serviram de orientação para este estudo. A No que diz respeito à variação angular das articulações
diferença observada pode ser oriunda do tipo de tecnologia analisadas, para alguns eventos, os valores encontrados não
utilizada por nós ou das características morfológicas dos são exatamente iguais àqueles dispostos na literatura. Cons-
paralisados cerebrais que fizeram parte deste estudo. Devido tatamos, entretanto, que estudos nos quais foram utilizados
ao desenho de investigação e aos propósitos perspectivados sistemas mais robustos também produziram valores discre-
para esta pesquisa, não nos foi possível estimar qual das duas pantes entre si. Em relação às variáveis temporais, tempo de
causas aludidas é, provavelmente, a mais importante. apoio, porcentagem de apoio em relação ao tempo total de
ciclo, tempo de balanço e porcentagem de balanço em relação 2. Bax MC, Flodmark O, Tydeman C. Definition and classification
ao tempo total de ciclo, não constatamos dados compatíveis of cerebral palsy. From syndrome toward disease. Dev Med Child
com os poucos valores dispostos na literatura. Por não serem Neurol Suppl 2007;109:39-41.
variáveis usualmente investigadas, não foi possível, por com- 3. Ubhi T, Bhakta BB, Ives HL, Allgar V, Roussounis SH. Ran-
domized double blind placebo controlled trial of the effect of
paração, verificar se a discrepância de valores originou-se dos
botulinum toxin on walking in cerebral palsy. Arch Dis Child
diferentes tipos de instrumentos utilizados. No que tange as 2000;83(6):481-87.
variáveis espaciais, comprimento do passo e comprimento 4. Blair E, Stanley F. Issues In the classification and epidemio-
da passada, assim como as espaço-temporais, velocidade da logy of cerebral palsy. Mental Retard Devel Disab Res Rev
marcha, cadência do passo, os resultados obtidos mostraram- 1997;3:184-93.
-se em acordo com os recorrentes na literatura. Assim sendo, 5. Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Bax M, Damiano D, Dan
neste estudo, de caráter piloto, pôde-se observar que, de uma B, Jacobsson B. A report: The definition and classification of ce-
forma geral, o procedimento utilizado permitiu obter resul- rebral palsy. Dev Med and Child Neurol Suppl 2007;109:8-14.
tados semelhantes aos, atualmente, relatados na literatura. 6. Gage JR. Gait analysis in cerebral palsy. New York: Mac Keith; 1991.
7. van der Krogt MM, Doorenbosch CA. Becher JG, Harlaar J.
O instrumento de análise de marcha utilizado neste estudo
Walking speed modifies spasticity effects in gastrocnemius and
mostrou-se acessível e de relativo baixo custo, uma vez que
soleus in cerebral palsy gait. Clin Biomech 2009;24:422-28.
foi utilizada uma câmera de vídeo comercial para a captura 8. Massaad F, Dierick F, van den Hecke A. Influence of gait
das imagens e um software de captura e processamento que pattern on the body’s centre of mass displacement in children
é obtido gratuitamente na internet, diferente dos sistemas with cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 2004;46:674-80.
usualmente utilizados em pesquisas, geralmente de alto custo. 9. Bell KJ, Õunpuu S, DeLuca PA, Romness MJ. Natural pro-
gression of gait in children with cerebral palsy. J Pediatr Orthop
Conclusão 2002;22:677-82.
10. Rose J, McGill KC. The motor-unit in cerebral palsy. Dev Med
O sistema de análise da marcha examinado neste estudo Child Neurol 1998; 40:270-7.
11. Baddar A, Giwnata K, Damiano DL, Carmines DV, Blanco
apresentou uma boa relação custo-benefício e demonstrou
JS, Abel MF. Ankle and knee in patients with spastic diplegia:
qualidade técnica suficientemente adequada à mensuração effects of gastrocnemius soleus lengthening. J Bone Joint Surg
de variáveis cinemáticas da marcha de crianças paralisadas 2002;84:736-44.
cerebrais diplégicas. Assim sendo, sua utilização na prática 12. Novacheck TF, Gage, JR. Orthopedic management of spasticity
clínica pode contribuir positivamente com o cumprimento in cerebral palsy. Childs Nerv Syst 2007;23:1015-31.
das etapas de avaliação, planejamento e execução de inter- 13. Sutherland DH, Davids JR. Common gait abnormalities of the
venção terapêutica de forma mais precisa e científica, além de knee in cerebral palsy. Clin Orthop Rel Res 1993;288:139-47.
viabilizar o registro documental dos estados da marcha dos 14. Boyd RN, Graham HK. Objective measurement of clinical fin-
pacientes nos diferentes momentos do processo terapêutico. dings in the use of Botulinum toxin type A for the management
of children with cerebral palsy. Eur J Neurol 1999;6(4):23-35.
Infelizmente ele demanda maior tempo de obtenção e
15. Dobson F, Morris ME, Baker R, Graham HK. Gait classification
processamento dos dados que outros sistemas, mais robustos e
in children with cerebral palsy: A systematic review. Gait &
mais caros, utilizados na análise de marcha, decorrente de seu Posture 2007;25:140-52.
baixo grau de automação. No entanto, tal deficiência pode ser 16. DeLuca PA. Gait analysis in the treatment of the child with
atenuada por meio de rigoroso treinamento dos técnicos que cerebral palsy. Clin Orthop 1991;264:65-75.
irão operar o sistema, notadamente na etapa de digitalização 17. Bower E, McLellan DL. Assessing motor skill acquisition in
dos marcadores. No que diz respeito ao n amostral reduzido, four centers for the treatment of children with cerebral palsy.
este configura como uma limitação deste estudo. Dev Med Child Neurol 1994;36:902-9.
Apesar dos pontos fracos apontados, a incorporação da 18. Haley D, Tomie J. An assessment of gait analysis in the rehabi-
estratégia descrita na prática terapêutica tem, a nosso ver, o litation of children with walking difficulties. Disability Rehabil
2000;22(6):275-80.
mérito de permitir um melhor atendimento ao paciente, além
19. Maathuis KGB, van der Schans CP, van Iperen A, Rietman
de possibilitar o treinamento de fisioterapeutas no uso opera- HS, Geertzen JHB. Gait in children with cerebral palsy:
cional da análise de marcha como procedimento corrente na observer reliability of physician rating scale and Edinburgh
prática clínica. Perspectivamos também que o uso constante Visual Gait Analysis Interval Testing scale. J Pediatr Orthop
da mesma na prática clínica desencadeará a necessidade da 2005;25(3):268-72.
melhora operacional de todo o sistema. 20. Baker R. Gait analysis methods in rehabilitation. Journal of
NeuroEngineering and Rehabilitation 2006;3:13-24.
Referências 21. Cooney KM, Sanders J, Concha MC, Buczek FL. Novel
biomechanics demonstrate gait dysfunction due to hamstring
1. Pakula AT, Braun K, Yeargin-Allsopp M. Cerebral Palsy: Clas- tightness. Clin Biomech 2006;21:59-66.
sification and Epidemiology. Phys Med Rehabil Clin N Am 22. Steinwender G, Saraph V, Scheiber S, Zwick EB, Uitz C, Hackl
2009;20:425-52. K. Intrasubject repeatability of gait analysis data in normal and
spastic children. Clin Biomech 2000;15:134-39.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 141
23. Westwell M, Õunpuu S, DeLuca P. Effects of orthopedic in- 29. Chester V, Tingley M, Biden E. A comparison of kinetic gait pa-
tervention in adolescents and young adults with cerebral palsy. rameters for 3-13 year olds. Clin Biomech 2006;21(7):726-32.
Gait & Posture 2009;30:201-6. 30. Ganley K, Powers C. Gait kinematics and kinetics of 7-year-old
24. Carriero A, Zavatsky A, Stebbins J, Theologis T, Shefelbine S. children: a comparison to adults using age-specific anthropo-
Determination of gait patterns in children with spastic diplegic metric data. Gait & Posture 2005;21(2):141-45.
cerebral palsy using principal components. Gait & Posture 31. Perry J. Análise de Marcha: Marcha Normal. São Paulo: Ma-
2009;29:71-75. nole; 2005.
25. Harvey A, Gorter JW. Video gait analysis for ambulatory chil- 32. Toro B, Christopher JN, Pauline CF. Cluster analysis for the
dren with cerebral palsy: Why, when, where and how! Gait & extraction of sagittal gait patterns in children with cerebral palsy.
Posture 2011;33:501-3. Gait & Posture 2007;25:157-65.
26. McLean SG, Walker K, Ford KR, Myer DG, Hewett TE, van 33. Redekop S, Andrysek J, Wright V. Single-session reliability of
den Bogert AJ. Evaluation of a two dimensional analysis method discrete gait parameters in ambulatory children with cerebral
as a screening and evaluation tool for anterior cruciate ligament palsy based on GMFCS level. Gait & Posture 2008;28:627-33.
injury. J Sports Med 2005;39:355-362. 34. Mackey AH, Stott NS, Walt SE. Reliability and validity of an
27. Nicolas G, Bideau B. A kinematic and dynamic comparison activity monitor (IDEEA) in the determination of temporal–
of surface and underwater displacement in high level monofin spatial gait parameters in individuals with cerebral palsy. Gait
swimming. Human Movement Science 2009; 28:480-93. & Posture 2008;28:634-39.
28. Leporace G, Praxedes J, Pereira GR, Pinto SM, Chagas D, 35. Prosser L, Lauer R, Vansant AF, Barbe MF, Lee, SCK. Variability
Metsavaht L, Chame F, Batista LA. Influence of a preventive and symmetry of gait in early walkers with and without bilateral
training program on lower limbs kinematics and vertical jump cerebral palsy. Gait & Posture 2010;31:522-26.
height of male volleyball athletes. Physical Therapy in Sport 36. Steinwender G, Saraph V, Zwick EB, Steinwender C, Linhart
2012;1-9. W. Hip locomotion mechanisms in cerebral palsy crouch gait.
Gait & Posture 2001;13:78-85.
142 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
*Discente do curso de Fisioterapia, Faculdade Estácio de Juiz de Fora (FESJF), **Docente do curso de Fisioterapia, Faculdade Está-
cio de Sá de Juiz de Fora (FESJF) e Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (FCMSJF)
Resumo Abstract
Introdução: Síndrome da dor patelofemoral (SDPF) é a patologia Background: Patellofemoral pain syndrome (PFPS) is the most
mais comum do joelho, porém sua etiologia permanece obscura. common knee pathology, however its etiology remains obscure.
Objetivos: Comparar as medidas do ângulo Q e do retropé em joelhos Objectives: To compare the Q angle and the rearfoot measures in
com e sem SDPF. Analisar a associação entre o ângulo Q e do retropé knees with PFPS and to analyze the association between Q angle
com SDPF. Métodos: A amostra constitui-se de 24 participantes com and the rearfoot with the PFPS. Methods: The sample includes 24
SDPF unilateral (12-30 anos). Os mesmos foram separados em subjects with unilateral PFPS (12-30 years). They were separated
grupos de joelhos com dor patelofemoral (DPF+) e sem dor pate- into groups of knees with patellofemoral pain (PFP+) and without
lofemoral (DPF-). O alinhamento do retropé e do ângulo Q foram patellofemoral pain (PFP-). The rearfoot alignment and Q angle
avaliados através da goniometria. A escala visual análoga numérica were evaluated by goniometry. The visual analog numerical scale
de dor (EVN) foi utilizada para o registro da dor usual no joelho. (VAS) was used to register the usual knee pain. We applied the t-
Foram empregados teste t-Student para comparar as variáveis ângulo -Student’s test to compare the variables Q angle and rearfoot angle
Q e ângulo do retropé entre os grupos DPF+ e DPF- e coeficientes between the groups PFP and WPFP and Person’s correlation’s
de correlação de Pearson para verificar a associação entre ângulo Q coefficients in order to verify the association between the variables
e ângulo do retropé com SDPF. Resultados: Tanto o valgismo do of the two angles. Results: Both the rearfoot valgus as the Q angle
retropé quanto o ângulo Q apresentaram-se significantemente maior have presented significantly higher (p ≤ 0,02) in the PFP+ group.
(p ≤ 0,02) no grupo DPF+. Não houve associação entre a SDPF e as No association was observed between the SPFP and the variables
variáveis ângulo do retropé e do ângulo Q. Conclusão: As medidas rearfoot angle and the Q angle. Conclusion: The measures of the Q
do ângulo Q e do valgismo do retropé, embora superiores no grupo angle and the rearfoot, although higher in the PFP+ group, did not
DPF+, não demonstraram associação com a SDPF. show association with the PFPS.
Palavras-chave: síndrome da dor patelofemoral, condromalácia Key-word: Patellofemoral pain syndrome, chondromalacia patellae,
da patela, deformidade do pé, alinhamento patelar e ângulo Q. foot deformities, patellar alignment and Q angle.
Tabela I - Valores médios, desvio padrão, máximo e mínimo do Segundo o teste de correlação de Pearson, o presente
ângulo Q e do ângulo do retropé expresso em graus obtidos da estudo demonstrou não haver associação entre presença de
goniometria (n = 24). dor patelofemoral e as variáveis ângulo do retropé e ângulo
Ângulo Q Ângulo do Retropé Q (r ≤ 0,2; p ≥ 0,4).
Média (± Mín - Média (± Mín -
Grupo
DP)* Máx DP)* Máx Discussão
17,5 6,0 – 10,3 6,0 –
DPF+
(± 5,1) 26,0 (± 3,2) 18,0 O principal intuito desta pesquisa foi investigar a associa-
15,6 6,0 – 7,9 2,0 – ção do ângulo Q e do alinhamento do retropé com a SDPF.
DPF-
(± 4,1) 22,0 (± 3,8) 16,0 Considerando indispensável a confiabilidade dos dados de
DPF+: com dor patelofemoral, DPF-: sem dor patelofemoral, * Desvio uma pesquisa, as mensurações das variáveis foram efetuadas
padrão por um único examinador que estabeleceu previamente
teste-retestes de confiabilidade considerados bom a excelente
Houve diferença estatisticamente significante nas medidas para todas as medidas [19]. A amostra do presente estudo
de ângulo Q (teste t-Student), entre os grupos DPF+ e DPF- foi composta 70,8% pelo sexo feminino. A prevalência deste
(p = 0,01) (figura 3). sexo também pode ser encontrada em outros estudos com a
temática na SDPF o que, provavelmente, deve-se a uma taxa
Figura 3 - Análise dos valores do ângulo Q entre os joelhos com dor de incidência maior desta síndrome no sexo feminino. Isto
patelofemoral e os sem dor patelofemoral. tem sido atribuído a vários fatores como o aumento no ângulo
20 Q, no ângulo de rotação interna do quadril e no momento
* adutor do quadril, além do déficit na força dos músculos
dos membros inferiores apresentado no sexo feminino em
15
Ângulo Q (graus)
9
de zero a dez, estes dados mostram a existência de um nível
8
7
de dor “moderado” nos portadores de SDPF, reafirmando a
6 importância de abordagens terapêuticas que aliviem o des-
5 conforto de quem a possui.
4 Em relação à variável ângulo Q, os valores médios obtidos
3 foram de 17,5º e 15,6º para grupo DPF+ e DPF- respectiva-
2 mente, o que demonstrou diferença estatística significante (p
1 = 0,01). Corroborando este achado, Herrington, Lankhorst et
0 al. e Massada et al. também encontraram aumento significante
Com dor Sem dor entre o ângulo Q, tanto em homens quanto mulheres com
SDPF, em comparação com os que não possuíam esta afecção
P*=0,02
146 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
[6,24,25]. Teoricamente, um ângulo Q aumentado exacerba similares, revelando aumento na pronação e consequente
o deslocamento lateral da patela e seu contato contra o côn- postura valga do retropé dos portadores de SDPF, também
dilo femoral lateral, contribuindo para SDPF [5,24,25]. Não foram verificados em tarefas como descer escadas [11] e
obstante, Song et al., com o intuito de identificar mecanismos agachamento unipodal [12]. Em contrapartida, Pohl et al.
potenciais para SDPF, realizaram uma revisão de artigos rela- não encontraram diferença estatística no ângulo do retropé
tivos às diferenças entre patelas sintomáticas e assintomáticas, entre corredoras durante o trote em esteira [34]. Refutando
e concluíram que as evidências dos mesmos sugerem que as os achados do presente estudo, resultados de Powers et al.
patelas sintomáticas não demonstram diferenças consistentes sugerem que o varismo aumentado no retropé pode ser um
no mau alinhamento ou trajetória lateral [28]. fator contribuinte na SDPF [4].
A despeito da diferença, com significância estatística, obti- Apesar de a maioria dos dados indicarem a coexistência de
das nas medidas do ângulo Q entre os joelhos com e sem SDPF, aumento do valgismo do retropé e SDPF, o presente estudo
o presente estudo não verificou associação entre estas variáveis. não verificou correlação entre ângulo de retropé e SDPF,
Uma possível explicação para esta ausência de associação, talvez mesmo tendo verificado uma diferença estatística significante
seja o fato de, embora superior no DPF+, o valor médio do entre os joelhos com e sem SDPF. Corroborando este achado,
ângulo Q neste grupo (17,5º) não alcançou magnitude sufi- a metanálise da revisão sistemática de Lankhorst et al. também
cientemente grande para gerar esta associação. Este pressuposto não detestou associação entre a postura do retropé e SDPF [6].
se apóia no estudo de Rauh et al. que analisou dez medidas Não foi encontrado registro de valores limítrofes, a partir
anatômicas em 748 mulheres, afirmaram haver uma associação do qual o valgismo associa-se à SDPF, portanto especula-se
positiva entre ângulo Q igual ou maior que 20º e a SDPF [22]. a possibilidade dos valores médios de valgismo do retropé
Outros autores, porém, consideraram que a magnitude do ân- alcançados nesta pesquisa não serem altos o suficiente para
gulo Q para tornar-se excessiva e predisponente a um quadro estabelecer esta associação. Ademais, uma vez que os testes de
patológico permanece incerta [24,25,29]. Analisando os dados correlação são sensíveis ao tamanho da amostra [35], talvez
do presente estudo, verifica-se que a amostra apresentou algu- uma amostragem maior pudesse demonstrar esta correlação.
mas medidas de ângulo Q igual ou superior a 20 graus, porém
sua média foi inferior a este valor. Outra provável explicação Conclusão
para esta falta de correlação, quiçá se deva ao fato da medida
do ângulo Q no presente estudo ter sido realizada em condição De acordo com os resultados deste estudo conclui-se
estática. Esta suposição baseia-se no estudo de Massada et al. que as medidas do ângulo Q e do valgismo do retropé dos
que verificou uma maior correlação entre o ângulo Q dinâmico indivíduos analisados são significantemente superiores nos
do que o estático com a SDPF [24]. Além disto, a ausência de joelhos DPF+, porém não foi demonstrada associação entre
descarga de peso também pode ter interferido neste resultado, as medidas supracitadas e a SDPF.
uma vez que recente revisão sistemática constatou associação Diante destas conclusões, este estudo sugere a inserção
entre ângulo Q com descarga de peso e a SDPF, através da destas medidas na rotina clínica de fisioterapeutas e ortope-
metanálise com nove estudos [6]. distas e futuras pesquisas para esclarecer a associação entre as
Park et al., por sua vez, concluíram que o ângulo Q au- variáveis ângulo Q e ângulo do retropé com a SDPF constando
mentado pode não ser um fator de risco para SDPF, uma vez de ampliação da amostra, bem como almejando o estabeleci-
que obtiveram uma correlação negativa entre esta variável e mento de valores limítrofes para estas variáveis e investigando
a magnitude do pico de torque abdutor no joelho [30]. Ade- a relação de causa e efeito entre as mesmas e a SDPF.
mais, embora o ângulo Q seja considerado como indicativo
de subluxação lateral da patela, o estudo de Sheehan et al. Referências
suportam uma correlação entre ângulo Q e deslocamento
medial da patela [31]. 1. Pagenstert GI, Bachmann M. Clinical examination for patello-
No presente estudo o grupo de joelhos DPF+ apresentou femoral problems. Orthopade 2008;37(9):890-903.
2. Nguyen AD, Boling MC, Levine B, Shultz SJl., Relationships
um valgismo com descarga de peso unipodal significantemen-
between lower extremity alignment and the quadriceps angle.
te maior que o DPF-. Este fenômeno promove uma redução Clin J Sport Med 2009;19(3):201-6.
do arco plantar em função da pronação subtalar agregada, 3. Davis IS, Powers CM. Patellofemoral pain syndrome: proximal,
e permite maior mobilidade ao pé [8]. De forma análoga, distal, and local factors, an international retreat. J Orthop Sports
McPoil et al. verificaram que indivíduos com SDPF estão Phys Ther 2010;40(3):11-6.
quatro vezes mais sujeitos a ter uma redução significante na 4. Powers CM, Maffucci R, Hampton S. Rearfoot posture in
altura do arco plantar entre as condições com ausência e pre- subjects with patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther
sença de descarga de peso, quando comparado com o grupo 1995;22(4):155-60.
controle [13]. Em consonância com este achado, Barton et 5. Waryasz GR, McDermott AY. Patellofemoral pain syndrome
(PFPS): a systematic review of anatomy and potential risk
al. e Aliberti et al. concluíram que indivíduos com SDPF
factors. Dyn Med 2008;7:9.
possuem pés hipermóveis e mais pronados [10,32,33]. Dados
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 147
6. Lankhorst NE, Bierma-Zeinstra SM, van Middelkoop M. Fac- in an adolescent female: a case report. J Strength Cond Res
tors associated with patellofemoral pain syndrome: a systematic 2011;25(10):2828-34.
review. Br J Sports Med 2013;47(4):193-206. 22. Rauh MJ, Macera CA, Trone DW, Reis JP, Shaffer RA. Selected
7. Powers CM. The influence of abnormal hip mechanics on knee static anatomic measures predict overuse injuries in female
injury: a biomechanical perspective. J Orthop Sports Phys Ther recruits. Mil Med 2010;175(5):329-35.
2010;40(2):42-51. 23. Boling MC, Padua DA, Marshall SW, Guskiewicz K, Pyne S,
8. Magee DJ. Avaliação Musculoesquelética. Manole: São Paulo; Beutler A. A prospective investigation of biomechanical risk
2010. factors for patellofemoral pain syndrome: the joint undertaking
9. Salsich GB, Perman WH, Patellofemoral joint contact area is to monitor and prevent ACL injury (JUMP-ACL) cohort. Am
influenced by tibiofemoral rotation alignment in individuals J Sports Med 2009;37(11):2108-16.
who have patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther 24. Massada, M, R Aido, C Magalhães, N Puga. Dynamic quadri-
2007;37(9):521-8. ceps angle: a comparison of female elite volleyball players with
10. Barton CJ, Bonanno D, Levinger P, Menz HB. Foot and ankle and without patellofemoral pain syndrome. Br J Sports Med
characteristics in patellofemoral pain syndrome: a case control 2011;45:533-49.
and reliability study. J Orthop Sports Phys Ther 2010;40(5):286- 25. Herrington L. Does the change in Q angle magnitude in uni-
96. lateral stance differ when comparing asymptomatic individuals
11. Aliberti S, Costa MS, Passaro AC, Arnone AC. Medial contact to those with patellofemoral pain? Phys Ther Sport; 2012:1-4.
and smaller plantar loads characterize individuals with patello- 26. De-hui DH Zhang, Zheng-qing ZQ Wu, Xin-cheng XC Zuo,
femoral pain syndrome during stair descent. Phys Ther Sport Jian-wei JW Li, Chang-lin CL Huang. Diagnosis and treatment
2010;11(1):30-4. of excessive lateral pressure syndrome of the patellofemoral
12. Levinger P, Gilleard WL, Sprogis K. Frontal plane motion of the joint caused by military training. Orthop Surg 2011;3(1):35-9.
rearfoot during a one-leg squat in individuals with patellofemo- 27. Song CY, Lin YF, Wei TC, Lin DH, Yen TY, Jan MH. Surplus
ral pain syndrome. J Am Podiatr Med Assoc 2006;96(2):96-101. value of hip adduction in leg-press exercise in patients with
13. McPoil TG, Warren M, Vicenzino B, Cornwall MW. Variations patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled trial.
in foot posture and mobility between individuals with patello- Phys Ther 2009;89(5):409-18.
femoral pain and those in a control group. J Am Podiatr Med 28. Song CY, Lin JJ, Jan MH, Lin YF. The role of patellar alignment
Assoc 2011;101(4):289-96. and tracking in vivo: the potential mechanism of patellofemoral
14. Ribeiro ACSG, Foerster DB, Candolo B, Monteiro CPV. pain syndrome. Phys Ther Sport 2011; 12(3):140-7.
Avaliação eletromiográfica e ressonância magnética do joelho 29. Haim A, Yaniv M, Dekel S, Amir H. Patellofemoral pain syn-
de indivíduos com síndrome da dor femoropatelar. Rev Bras drome: validity of clinical and radiological features. Clin Orthop
Fisioter 2010;14(3):221-28. Relat Res 2006;451:223-8.
15. Piva SR, Fitzgerald GK, Irrgang JJ, Fritz JM, Wisniewski S, 30. Park SK, Stefanyshyn DJ. Greater Q angle may not be a risk
McGinty GT, et al. Associates of physical function and pain in factor of patellofemoral pain syndrome. Clin Biomech (Bristol,
patients with patellofemoral pain syndrome. Arch Phys Med Avon) 2011;26(4):392-6.
Rehabil 2009;90(2):285-95. 31. Sheehan FT. Q-angle and J-sign: indicative of maltracking
16. Crossley KM, Bennell KL, Cowan SM, Green S. Analysis of ou- subgroups in patellofemoral pain. Clin Orthop Relat Res
tcome measures for persons with patellofemoral pain: which are 2010;468(1):266-75.
reliable and valid? Arch Phys Med Rehabil 2004;85(5):815-22. 32. Aliberti S, Costa MSX, Campos A. Influence of patellofemoral
17. Mendonca LDM, Macedo LG, Fonseca ST, Silva A. Compa- pain syndrome on plantar pressure in the foot rollover process
ração do alinhamento anatômico de membros inferiores entre during gait. Clinics (São Paulo) 2011;66(3):367-72.
indivíduos saudáveis e indivíduos com tendinose patelar. Rev 33. Barton CJ, Levinger P, Crossley KM, Webster KE, Menz HB.
Bras Fisioter 2005;9:101-107. Relationships between the foot posture index and foot kinema-
18. Torburn L, Perry J, Gronley JK. Assessment of rearfoot motion: tics during gait in individuals with and without patellofemoral
passive positioning, one-legged standing, gait. Foot Ankle Int pain syndrome. J Foot Ankle Res 2011;4:4-10.
1998;19(10):688-93. 34. Pohl MB. Are foot kinematics associated with patellofe-
19. Shultz SJ, Nguyen AD, Levine BJ. The relationship between moral pain in female runners? Med Science Sports Exercise
lower extremity alignment characteristics and anterior knee 2011;43(5):119-23.
joint laxity. Sports Health 2009;1(1):54-60. 35. Filho ACL, Toebe SJ, Silveira M, Schwantes IA.Tamanho de
20. Lankhorst NE, Bierma-Zeinstra SM, van Middelkoop M. Risk amostra para estimação do coeficiente de correlação de Pear-
factors for patellofemoral pain syndrome: a systematic review. J son entre caracteres de Crambe abyssinica. Rev Ciênc Agron
Orthop Sports Phys Ther 2012; 42(2):81-94. 2011;42(1):149-58.
21. Frounfelter GG, Stutzriem DE. Patellofemoral knee pain tre-
atment using neuromuscular retraining of the hip musculature
148 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
*Acadêmica do Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade Guilherme Guimbala - FGG da Associação Catarinense de Ensi-
no – ACE, **Supervisora e Professora do Curso de Terapia Ocupacional da FGG/ACE, Joinville/SC, Especialista em Reabilitação
do Membro Superior, ***Médica Neurologista, Coordenadora da Unidade de AVC do Hospital Municipal São José, Joinville/SC,
****Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano do Centro de Ciências da Saúde e do Es-
porte – CEFID da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, *****Especialista em Reabilitação Neurológica, Professor
do NUPEN – Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação da FGG/ACE, Joinville/SC
Resumo Abstract
Objetivo: Verificar a possível correlação entre o teste de mo- Objective: To verify possible correlation between test functio-
bilidade funcional – Timed Up & Go Test (TUGT) e a Medida nal mobility – Timed Up & Go Test (TUGT) and The Canadian
Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM). Métodos: Occupational Performance Measure (COPM). Methods: This was a
Estudo descritivo do tipo exploratório. Participaram do estudo 40 descriptive exploratory study. Forty stroke patients, both gender, 28
indivíduos com diagnóstico de acidente vascular cerebral, de ambos to 85 years old, participated in the study. Functional mobility using
os sexos, com idade entre 28 a 85 anos. Foi avaliada a mobilidade TUGT and COPM were evaluated. Results: This study did not find
funcional utilizando o TUGT e o desempenho ocupacional através significant correlation between TUGT and COPM. In relation to
da COPM. Resultados: Neste estudo, não foi encontrado correlação the risk of falling, we noticed that during hospitalization is (50%)
significativa entre o TUGT e a COPM. O risco de quedas na fase higher than im outpatients (18.2%). Conclusion: The study showed
hospitalar é maior (50%) do que nos pacientes que se encontram na that risk of falling in hospitalized patients is higher than those in
fase ambulatorial (18,2%). Conclusão: O estudo mostra que o risco outpatients services, which is moderate. We suggest that new studies
de quedas em pacientes na fase hospitalar é alto, e em pacientes na should be carried out using the professional evaluation and not only
fase ambulatorial é moderado. Sugere-se que sejam realizados novos self-evaluation as COPM.
estudos utilizando avaliações feitas pelo próprio profissional e não Key-words: stroke, accidental falls, Canadian Occupational
somente autoavaliativa como a COPM. Performance Measurement.
Palavras-chave: acidente vascular cerebral, acidentes por queda,
medida canadense de desempenho ocupacional.
Dos pacientes encontrados na fase hospitalar do AVC, ereta instável com comprometimento da base de apoio e com
nenhum deles sofreu algum tipo de queda, porém, dos pa- tendência a cair para frente, do lado enfraquecido. O apare-
cientes encontrados na fase ambulatorial, 59,1% já sofreram cimento de déficit visual e lesão viso-espacial decorrentes do
algum tipo de quedas. AVC são bastante comuns e podem influenciar o equilíbrio
Na figura 2 é possível verificar os resultados obtidos do idoso e a mobilidade segura [14]. Observamos esse fato
através da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional em nosso estudo, no qual 59,1% dos pacientes em fase am-
em pacientes na fase ambulatorial e fase hospitalar. Pode-se bulatorial já sofreram algum tipo de queda depois do AVC.
destacar que na fase hospitalar não foram relatados déficits nas Os pacientes idosos são de risco para queda, sendo que
tarefas domésticas como limpeza, lavagem de roupas e louça, 53% delas ocorrem em pacientes com idade superior a 65
preparação de refeições; na recreação ativa, esportes e passeios anos. Nas unidades de neuroclínica/neurocirurgia a idade
e na independência fora de casa, compras, finanças. Nenhum não interfere no risco de quedas. O risco de queda é maior
dos pacientes, tanto em fase hospitalar como na fase ambu- nas unidades de psiquiatria, neuroclínica e/ou neurocirurgia.
latorial relataram problemas relacionados ao brincar/escola. Nessas unidades, os pacientes possuem vários fatores de risco,
tais como alterações no nível de consciência, mobilidade
Figura 2 - Distribuição conforme resultados da Medida Canadense prejudicada, hipotensão ortostática, distúrbios vesicais ou
de Desempenho Ocupacional em fase ambulatorial e hospitalar. intestinais, déficits sensoriais e história prévia de quedas. As
50% 47%
44,3% quedas entre pacientes da neurologia ocorrem duas vezes mais
45%
40% do que em outras unidades [16].
35% 33% Os resultados do TUGT são classificados em três grupos:
30%
25% a) menos de 20 segundos para realização, correspondendo a
20% 18,6% baixo risco para quedas; b) de 20 a 29 segundos, a moderado
15% 14,3%
10% 11% risco para quedas; c) 30 segundos ou mais, a alto risco para
10% 7%
4,3% 4,3% 2,8% 1,4%
5% 0% 0% 0%0% 2% 0% quedas [12]. Uma característica marcante da marcha após um
0%
AVC é a diminuição da velocidade [17].
Mobilidade Funcional
Recreação Tranqüila
Tarefas Domésticas
Cuidados Pessoais
Recreação Ativa
Independência
fora de casa
Brincar/Escola
Trabalho(remunerado
/não-remunerado)
Socialização
11. Law M, Baptiste S, Carswell A, McColl MA, Polatajko H, 16. Diccini S, Pinho PG, Silva FO. Assessment of risk and inci-
Pollock N. Medida Canadense de Desempenho Ocupacional dence of falls in neurosurgical inpatients. Rev Latinoam Enferm
(COPM). Belo Horizonte: UFMG; 2009. p.9-63. 2008;16:752-7.
12. Alfieri FM, Teodori RM, Montebelo MIL. Mobilidade funcional 17. Giriko CH, Pereira JDAS, Oliveira TLR, França AC, Carvalho
de idosos submetidos a intervenção fisioterapêutica. Saúde em AC. Avaliação da marcha e do risco de queda de hemiplégicos
Revista 2004;6:45-50. [online]. [citado 2010 Set 16]. Disponível em URL: http://
13. Lopes KT, Costa DF, Santos LF, Castro DP, Bastone AC. Preva- www.inicepg.univap.br.
lência do medo de cair em uma população de idosos da comu- 18. Ribeiro M, Miyazaki MH, Jucá SSH, et al. Validação da Versão
nidade e sua correlação com mobilidade, equilíbrio dinâmico, Brasileira da Medida de Independência Funcional. Acta Fisiatr
risco e histórico de quedas. Rev Bras Fisioter 2009;13:223-9. 2004;11:72-6.
14. Menezes RL, Bachion MM. Estudo da presença de fatores de 19. Oliveira DLC, Goretti LC, Pereira LSM. O desempenho de
risco intrínsecos para quedas, em idosos institucionalizados. idosos institucionalizados com alterações cognitivas em ati-
Ciênc Saúde Coletiva 2008;13:1209-18. vidades de vida diária e mobilidade: estudo piloto. Rev Bras
15. Ribeiro PR, Souza ER, Atie S, Souza AC, Schilithz AO. A Fisioter 2006;16:91-6.
influência das quedas na qualidade de vida de idosos. Ciênc 20. Almeida MS, Araújo RCT. Resultados da intervenção de tera-
Saúde Coletiva 2008;13:1265-73. pia ocupacional no cuidado ao paciente após acidente vascular
encefálico. [citado 2010 Out 5]. Disponível em URL:http://
prope.unesp.br
154 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Artigo original
Resumo Abstract
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de iden- The aim of this study was to identify what values are sought by
tificar os valores que o cliente busca ao escolher um tratamento clients when choosing an aesthetic treatment specifically in dermato-
estético, especificamente na fisioterapia dermatofuncional. Optou- -functional physical therapy. The basis of the study was the consumer
-se, como base para este estudo, pelas tipologias que enfocam o value types proposed by Holbrook (1982). Factorial analysis was
valor para os consumidores, nos processos de aquisição de bens e the statistical method used in this study. Former physical therapy
serviços, apoiando-se com mais ênfase nos valores propostos por dermato-functional patients were surveyed and a quantitative analy-
Holbrook (1982). A metodologia adotada é de natureza quantita- sis was performed. The questionnaire was available on a website and
tiva com aplicação do modelo de análise fatorial. Foi desenvolvido 142 subjects responded. The data collected allowed us to analyze
e aplicado um questionário com clientes que já fizeram tratamento the acceptance of a new service, preference and intent of purchase
com fisioterapia dermatofuncional. O questionário utilizado para as well as choice and value criteria. The results also indicate for each
a pesquisa foi disponibilizado por meio de um site, tendo sido of the Holbrook a strong presence when selecting a treatment with
obtido retorno de 142 respondentes. Os dados recolhidos per- dermato-functional physical therapy. The most significant values
mitiram analisar a aceitação de um novo serviço pelo cliente, sua were efficiency, fun and esteem. Status and spirituality were not
preferência, sua intenção de consumo, seus critérios de escolha e evaluated in this study.
seus valores. Os resultados encontrados indicaram uma presença Key-words: Dermato-functional physiotherapy, choice Criteria,
mais forte dos valores Eficiência, Diversão e Estima e menor presença consumer behavior, Holbrook values.
para Excelência e Estética no processo de escolha do tratamento da
fisioterapia dermato-funcional. Os valores Status e Espiritualidade
foram construtos não validados neste estudo.
Palavras-chave: Fisioterapia dermato-funcional, critérios de
escolha, comportamento do consumidor, tipologia dos valores de
Holbrook.
Quadro I - Tipologia de valor para o consumidor. quanto à questão do status agregado ao tratamento estético.
Extrínseco Intrínseco Acredita-se que esse tipo de tratamento pode ser comparado
(conveniência) (Prazer)
a outras formas de consumo de bens simbólicos, coerentes
REATIVO ATIVO REATIVO ATIVO
Econômico
Excelência Hedônico com os valores de troca simbólica, orientada pela dinâmica do
(qualidade) Estética
(beleza) consumidor. As questões orientadoras deste trabalho podem
AUTO-
Social
Estima Altruísta
Espiritualidade escolha? Seria apenas um ato de mudança de estilo de vida?
ALTER-
A técnica de análise escolhida para o tratamento dos dados Para avaliar a consistência interna de cada um dos cons-
foi à análise fatorial. A escolha da análise fatorial se faz im- trutos, verificou-se a confiabilidade deles, bem como a uni-
portante por permitir que variáveis envolvidas em construtos dimensionalidade a eles inerente. A primeira grandeza foi
como preço, qualidade, fidelidade, influências externas, con- avaliada segundo o Alfa de Cronbach, cuja medida varia de 0
fiabilidade, experiências pregressas possam ser condensadas de a 1. Quanto mais próximo de 1 é o Alfa de Cronbach, maior
forma a encontrar aquelas que mais representem a dimensão é a indicação de confiabilidade do construto. A indicação de
da imagem que o consumidor estudado possui da fisioterapia Malhotra [22] é de que esses valores devem ser superiores a 0,60.
dermatofuncional.
Realizou-se dois testes estatísticos para indicar a adequação Resultados
dos dados para a realização da análise fatorial, são eles: Teste
KMO e o Teste de Esfericidade Bartlett. O teste Kaiser-Meyer- Os testes estatísticos KMO e Bartlett indicam que em
-Olkin (KMO) é uma estatística que indica a proporção todos os casos reportados abaixo as amostras foram adequadas
da variância dos dados que pode ser considerada comum a para a aplicação de análise fatorial com KMO maior do que
todas as variáveis, ou seja, que pode ser atribuída a um fator 0,6 e Bartlett com rejeição de hipótese nula. Contudo, os
comum, então: quanto mais próximo de 1 (unidade) melhor testes indicaram que os construtos Status e Espiritualidade não
o resultado, ou seja, mais adequada é a amostra à aplicação atingiram os níveis de aceitação conforme patamar indicado
da análise fatorial. pela literatura.
O Teste de Esfericidade de Bartlett testa se a matriz de Como podem ser observadas na Tabela I, as dimensões
correlação é uma matriz identidade, o que indicaria que não Status e Espiritualidade foram as únicas que não atingiram o
há correlação entre os dados. Dessa forma, procura-se para patamar proposto por Malhotra [22], cujo valor de Alfa de
um nível de significância assumido em 5% rejeitar a hipótese Cronbach é inferior a 0,60. No caso dos construtos Eficiência,
nula de matriz de correlação identidade. Estética, Excelência, Diversão, Estima e Ética mostraram-se
158 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
confiáveis e consistentes, sendo o primeiro o mais relevante As Tabelas III e IV indicam a caracterização da amostra
com valor de Alfa de Cronbach de 0,770. estudada quanto a sexo e faixa etária.
Diante dos resultados de adequação da amostra para Quanto à caracterização da amostra, a maior parte dos
utilização da análise fatorial, esta foi avaliada com os itens respondentes são mulheres com 96,5% de participação, contra
de cada construto. O objetivo era que os itens dentro de apenas 3,5% de homens (Tabela III).
cada construto originassem apenas um fator. Segundo Hair
et al.[23], a variância extraída do fator resultante deve ser a Tabela III - Sexo.
maior possível, preferencialmente acima de 50%. Frequência Percentual
No que tange à variância extraída, todos os construtos Masculino 5 3,5%
(com exceção do construto Status) apresentaram valores acima Feminino 137 96,5%
do proposto por Hair et al. [23]. Total 142 100,0%
Como a escala do valor Status já havia mostrado baixo valor Fonte: Dados da Pesquisa.
de Alfa de Cronbach, ou seja, inadequado para a análise fatorial
com baixo valor de variância extraída, tal construto não foi A maior concentração, no que tange à faixa etária, está
validado e sugere-se sua reconstrução em estudos posteriores. entre 30 e 39 anos com 39,4% de participação (Tabela IV).
Considerando a abordagem metodológica adotada neste 3. Hoff TMC. Imaginado na publicidade. Caderno de Pesquisa
trabalho, torna-se importante apontar algumas limitações ESPM 2005;1(1):23-39.
como a necessidade de um aumento da amostra e de uma 4. Fongaro ML, Sebatiani RW. Roteiro de avaliação psicológica
pesquisa com um corte longitudinal maior, bem como com aplicada ao Hospital Geral. In: Fongaro ML, et al. E a psicologia
entrou no hospital... São Paulo: Cortez; 1995. p.5-64.
um maior tempo de resposta para o questionário. Também é
5. Sgreccia E. Manual de bioetica: fundamentos e ética biomedica.
possível que os resultados pudessem ser mais bem compreen- São Paulo: Loyola; 1996.
didos, caso o âmbito geográfico da pesquisa não se limitasse 6. Holbrook MB, Hirschman EC. The experiential aspects of
apenas ao município de Belo Horizonte. consumption: consumer fantasies, feelings and fun. Journal of
O presente estudo tem caráter inédito uma vez que não Consumer Research 1982;9(2):132-40.
foram encontradas tais análises tanto na área de Fisioterapia, 7. Sheth JN, Gardner DM, Garrett DE. Marketing Theory: evo-
quanto na literatura sobre comportamento do consumidor, lution and evaluation. New York: John Wiley & Sons; 1988.
abordando a prestação desse tipo de serviço. Ressalta-se, assim, 8. Blackwell RD, Miniard PW, Engel JF. Comportamento do
a importância de novos estudos sobre serviços de fisioterapia consumidor. 8a ed. São Paulo: Thompson; 2000.
9. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre
e comportamento do cliente.
as origens da mudança cultural. 6 ed. São Paulo: Loyola, 1996.
Sugerem-se estudos com outras escalas e valores, buscando
10. Cova B. The postmodern explained to managers: implications
criar instrumentos que melhor avaliem as dimensões dos va- for marketing. Business Horizons 1996;39(6):15-23.
lores propostos neste estudo. Sugere-se, ainda, a realização de 11. Karsaklian E. Comportamento do consumidor. 2a ed. São
outras pesquisas sobre o tema, inclusive de caráter qualitativo, Paulo: Atlas; 2004.
para que o problema em questão seja abordado da maneira 12. Solomon MR. O comportamento do consumidor: comprando,
mais abrangente. possuindo e sendo. 5a ed. Porto Alegre: Bookman; 2002.
13. Kotler P. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar
Conclusão e dominar mercados. 11a ed. São Paulo: Futura; 2002.
14. Mowen JC, Minor MS. Comportamento do consumidor. São
Paulo: Prentice Hall; 2003.
Pretendeu-se, nesta pesquisa, identificar as preferências dos
15. Lipovestsy G. Os tempos hipermodernos. Traduzido por: Mário
consumidores que procuram a fisioterapia dermatofuncional Vilela. São Paulo: Barcarolla; 2004.
como tratamento estético relevante para a reconstituição 16. Zaltman G. Afinal, o que os clientes querem. Rio de Janeiro:
corporal, buscando compreender que valores influenciam a Campus; 2003.
escolha do consumidor ao procurar essa especialidade como 17. Holbrook MB, Hirschman CH. Consumption experience,
tratamento. customer value, and subjetive personalintrospection: An
Os dados recolhidos permitiram analisar a aceitação de illustrative photographic essay. Journal of Business Research
um novo serviço, a preferência do consumidor, sua intenção 2006;59:714-25.
de consumo, seus critérios de escolha e seus valores. Neste 18. Zeithaml VA. Consumer perceptions price, quality and value:
a means-end model and synthesis of evidence. Journal of Ma-
estudo, os resultados encontrados para cada um dos valores
rketing 1998;52:2-22.
de Holbrook apresentados indicaram uma presença forte
19. Holbrook MB. The nature of customer value: an axiology of
desses valores no processo de escolha do tratamento por meio services in the consumption experience. In: Rust RT, Oliver
da Dermatofuncional, sendo os valores mais significativos a RL, ed. Service quality. Thousand Oaks: Sage; 1994. p. 21-71.
Eficiência, a Diversão e a Estima. Os valores Status e Espiri- 20. Vergara SC. Projeto e relatório de pesquisa em Administração.
tualidade foram construtos não validados neste estudo. 3a ed. São Paulo: Atlas; 2000.
21. Likert R. A technique for the measurement of attitudes. Archives
Referências of Psychology 1932;22(140):1-55.
22. Malhotra NK. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada.
1. Castro AL. Culto ao corpo: identidades e estilos de vida. In: VIII Porto Alegre: Bookman; 2001.
Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 8., 2004, 23. Hair JF, Anderson RE, Tatham RL, Black WC. Análise multi-
Coimbra. Anais. Coimbra: Universidade de Coimbra; 2004. variada de dados. 5a ed. Porto Alegre: Bookman; 2005.
2. Goldenberg M, Ramos MS. A civilização das formas: o corpo 24. Holbrook MB. Customer value – a framework for analysis
como valor. In: Goldenberg M, ed. Nu & vestido: dez antropó- and research. Advances in Consumer Research, Minnesota
logos revelam a cultura do corpo carioca. 2a. ed. Rio de Janeiro: 1996;23:138-42.
Record; 2007.
160 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013
Agenda
2013
Maio 21 e 22 de junho
II Jornada de Fisioterapia em Oncologia
1 a 5 de maio Hotel Deville, Porto Alegre, RS
III Congresso Brasileiro de Fisioterapia Aquática Informações: http://www.icmd2013.com.br/php/index.php
Centro de Convenções de Curitiba, PR
Informações: http://www.congressofisioterapiaaquatica.com/ Agosto
4 a 6 de maio 8 a 11 de agosto
7º Congresso Científico Brasileiro de Estética 21º Congresso Científico Internacional de Estética
Centro de Convenções Sul América, Rio de Janeiro, RJ Parque Anhembi, São Paulo, SP
Informações: http://www.esteticainrio.com.br/2013/default. Informações: http://www.congressoestetica.com.br/estetika/
asp feira
15 a 18 de maio
IV CIRNE - Congresso Internacional de Reabilitação Outubro
Neuromusculoesquelética e Esportiva
13 a 16 de outubro
Rio de Janeiro, RJ
Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
Informações: www.cirne2013.com.br/
Florianópolis, SC
16 a 19 de maio Informações: http://cbto2013.com.br
CONEFISIO - Congresso Nordestino de Fisioterapia
16 a 19 de outubro
Hotel Oásis Atlântico, Fortaleza, CE
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Informações: http://www.conefisio.com.br/
Fortaleza, CE
16 a 19 de maio Informações: www.jzkenes.cpm
2º Congresso de Fisioterapia do Centro-Oeste
Universidade Salgado de Oliveira, Goiânia, GO Novembro
Informações: http://conexaobrasilsaude.com.br/
14 a 17 de novembro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de
Junho
Fisioterapia Esportiva - SONAFE
18 a 20 de junho Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP
Trabalho, Stress e Saúde: promovendo a saúde total do Informações: www.sonafe.org.br
trabalhador – da teoria à ação
Centro de Eventos Plaza São Rafael, Porto Alegre, RS
Informações: stress@ismabrasil.com.br
168 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 3 maio/junho 2013 - 161~240)
EDITORIAL
Sua excelência, Marco Antonio Guimarães da Silva..................................................................................................................... 170
ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos da dermotonia na dor e no edema de pacientes submetidas à colecistectomia laparotômica,
Andréa Vasconcelos Machado, Valdinaldo Aragão de Melo, Indira Paula Teixeira Lopes, Kelen Gomes Leite............................... 171
Nível de conhecimento sobre a incontinência urinária e tratamento fisioterapêutico no município
de Cidade Ocidental/GO, Aline Teixeira Alves, Fernanda Gadia, Christiane Rocha,
Raquel Henriques Jacomo, Ruth Losada Menezes, Margô de Oliveira Karnikowiski.................................................................... 177
Diástase dos músculos retoabdominais no pós-parto vaginal imediato, Mariana Tirolli Rett,
Lívia Gabriela Fonseca Melo, Lícia Dultra Linhares, Eliana Pereira de Melo,
Thaiane Aragão de Oliveira.......................................................................................................................................................... 183
Avaliação do desenvolvimento neuromotor de crianças nascidas a termo e pré-termo
nos primeiros seis meses de vida, Maria do Carmo Pinto Lima, Aline Silva Santos Sena,
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Câmara, Rodrigo Marinho Falcão Pinto,
Elanne Dantas Melo, José Eulálio Cabral Filho............................................................................................................................ 188
Função pulmonar, força muscular respiratória e capacidade funcional em crianças
com paralisia cerebral – um estudo piloto, Luciana Carnevalli Pereira,
Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Carla Malaguti, Danila Vieira Baldini,
Alessandra Gasparello Viviani....................................................................................................................................................... 193
Influência da música e do relaxamento na ansiedade de mães de recém-nascidos internados
na unidade intermediária neonatal, Cassia Fernandes Marques, Emily Cristiani Zanella,
Camila Ribeiro Leal, Leila Foerster Merey.................................................................................................................................... 198
Avaliação da flexibilidade dos músculos posteriores da coxa em policiais militares motociclistas
da cidade de São Paulo, Patrícia Rodrigues Vieira, Artur Herbst de Oliveira,
Carlos Bandeira de Mello Monteiro, Mauricio Correa Lima......................................................................................................... 204
Efeito do laser em baixa intensidade sobre a proliferação de osteoblastos cultivados em modelo
de simulação de infecção, Tabata Santos de Oliveira,Victor Perez Teixeira, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari,
José Antonio Silva Jr., Sandra Kalil Bussadori, Kristianne Porta Santos Fernandes, Marcelo Betti Mascaro................................... 211
Perfil clínico e epidemiológico de pacientes com traumatismo raquimedular,
Roseane Araújo dos Santos, Mônica Lajana Oliveira de Almeida, Mario Ferreira da Silva............................................................. 215
Percepção da fadiga laboral em trabalhadores de frigorífico, Luis Ferreira Monteiro Neto,
Airton Camacho Moscardini, Olavo Egídio Alioto, Allison Gustavo Braz..................................................................................... 221
REVISÕES
Fricção transversa profunda nas disfunções musculoesqueléticas: uma síntese da literatura,
Aline Buffon Lopes, Sergio Guida, Julio Guilherme Silva............................................................................................................. 226
Fisioterapia no Brasil: aspectos sociohistóricos da sua identidade, Adriana de Lima Pimenta,
Andréia Catine Cosme, Maria de Lourdes de Souza..................................................................................................................... 231
EVENTOS..........................................................................................................................................................................236
NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................237
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
Centro 01037-010 São Paulo SP Cristiana Ribas
Administração e vendas cristiana@atlanticaeditora.com.br
Atendimento Antonio Carlos Mello Diretor de Marketing e Publicidade
(11) 3361 5595 / 3361 9932 mello@atlanticaeditora.com.br Rainner Penteado
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br rainner@atlanticaeditora.com.br
Editor executivo
Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 jeanlouis@atlanticaeditora.com.br release@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Editorial
Sua excelência
Egídio Romano nasceu no ano de 1246, morreu em 1346 defendido por Egídio Romano. Em contrapartida, os pode-
e deixou, em especial, uma obra cuja releitura, guardadas as res antes concentrados em poucas pessoas se multiplicaram,
devidas proporções, pode ser aplicada aos nossos dias. Em exatamente como no milagre dos pães, criando mais algumas
seus tratados metafísicos, se mostra como um teólogo inde- castas. E, ao que parece, aí vem mais uma. Se já me causava
pendente e profundo conhecedor da filosofia islâmica. Mas a estranheza ter que me referir aos juízes como “Sua Excelência”,
obra que nos convém, no momento, foi a que dedicou a seu qual não foi o meu espanto quando soube que a câmara de
discípulo, Felipe o belo, futuro rei da França. O terceiro dos deputados (grifo e letras minúsculas propositais) nos obriga,
três livros que compõem esse seus escritos trata da teoria dos a partir desse momento, a dispensar aos delegados de policia
poderes. Ainda que esteja claro a influencia de Aristóteles e o mesmo tratamento dado aos juízes. Diante de tal decisão,
Santo Tomás (de quem foi aluno), nesse livro, a teoria central o que fica é a impressão de que estamos sendo, mais uma vez,
deriva, em sua essência, de Santo Agostinho. colonizados, não por um país estrangeiro, mas, o que é pior,
Segundo o que escreveu à época, havia somente dois pode- por um exército de algumas centenas de cidadãos, eleitos
res: o poder do Papa e o poder do rei, mas ambos os poderes para justamente defender os direitos dos que os puseram
não atuavam em condições de igualdade: o poder temporal naquela casa.
(do rei) estava submetido ao poder espiritual ( do Papa). “Se o Quando Egídio mediou o conflito entre o rei e o Papa
poder terrenal se equivoca deve ser julgado pelo poder espiritual, (citado acima), ele tomou partido do Papa, afirmando que,
seu superior, mas se o poder espiritual, especialmente o poder do da mesma maneira que o corpo está submetido ao poder da
Sumo Pontífice age equivocadamente somente pode ser julgado alma, o poder temporal deve estar submetido ao poder espi-
por Deus”. Essa tese de supremacia papal sobre o imperador ritual. Continua ele: “non ad usum, sed ad nutum” ( não para
teve marcada influência no conflito histórico entre Felipe IV brandi-la, senão para mandar). O que ele queria dizer é que
da França e o Papa Bonifácio VIII. apesar de a igreja ter a espada material, ela não deveria usá-la.
Mas, história à parte, passemos ao tema central dessa Resta-nos saber se a tal lei não legitimará mais uma espada
crônica que nos interessa no momento. De lá para cá muita para os que já detém o poder e que, com isso, podem utilizá-lo
coisa mudou, sabemos todos. Alguns reinados (dentre os prepotentemente. Se assim o for, só nos resta rezar para que
poucos que ainda restam) têm nos oferecido péssimos exem- uma outra espada, a de Dâmocles, tal qual a lenda, paire sobre
plos de conduta, e o nosso recém eleito Papa Francisco, que as suas cabeças e os faça agir com imparcialidade e justiça.
tenta agora pôr ordem na própria casa, já não tem o poder
Artigo original
Resumo Abstract
A formação de cálculos na vesícula biliar é uma das doenças mais The formation of gallstones is one of the most common digestive
frequentes do aparelho digestivo. Através desse estudo procurou-se tract diseases. Through this study, the effects of dermotonia in the
obter respostas sobre os efeitos da dermotonia no pós-operatório da postoperative of cholecystectomy were investigated. Dermotonia
colecistectomia. Dermotonia é uma técnica indolor e não invasiva is a painless and noninvasive technique applied in a continuous
aplicada de forma contínua ou pulsada para descongestionar os or pulsed way, in order to decongest tissues and stimulate areas of
tecidos estimulando as zonas dermálgicas. Trata-se de um ensaio pain. This is a not randomized trial with 10 patients that performed
clínico, não randomizado, com 10 pacientes que foram submetidos this surgery at the University Hospital in Aracaju in the period of
a esta cirurgia no Hospital Universitário de Aracaju no período de July to October, 2010. They were divided into two groups: group
julho a outubro de 2010. Foram divididos em dois grupos: grupo A (treatment) and group B (control). Pain was measured through
A (tratamento) e grupo B (controle). A dor foi mensurada através the Analogue Pain Scale, applied before each intervention, and the
da Escala Analógica da Dor, aplicada antes de cada intervenção, e a abdominal circumference was tested before the first and after the
cirtometria abdominal foi verificada antes da primeira e após a última last session. We observed a significant difference in the circumfe-
sessão. Obteve-se diferença significativa da cirtometria na análise in- rence when the groups were analyzed, with a significant increase in
tragrupos, havendo um relevante aumento desta no grupo controle. the control group. In contrast, there was a significant reduction of
Em contrapartida, no grupo tratamento houve significante redução edema in the treatment group. Regarding the pain, there was no
do edema. Quanto à dor, não houve resultado significativo devido significant result because of the subjectivity of the evaluation method
à subjetividade do método avaliativo utilizado. Conclui-se que a which was used. We concluded that the dermotonia technique, in
técnica de dermotonia, no presente estudo, mostrou-se eficiente na this study, proved to be effective in reducing post-traumatic edema,
redução do edema pós-traumático, porém sem resultados para a dor. but with no results for pain.
Palavras-chave: dermotonia, edema, colecistectomia. Key-words: pain, edema, cholecystectomy.
utilizados os testes não paramétricos U de Mann-Whitney feminino, afirmaram que a drenagem linfática aplicada a partir
para a verificação das possíveis similaridades intergrupos do segundo pós-operatório causa uma grande redução tanto
e o teste de Friedman de maneira a observar as diferenças do edema como da dor.
intragrupos. Em todas as análises utilizou-se nível de sig- Ceolin e Rosas [18] estão de acordo com o estudo
nificância de 5% (p < 0,05). anterior, quando afirmam, em seu trabalho, que na ava-
liação do edema e da dor após a drenagem linfática no
Resultados e discussão pós-operatório imediato, os sintomas do pós-operatório
podem ser reduzidos através da fisioterapia, utilizando-se a
Para este estudo foram selecionadas 10 pacientes subme- drenagem linfática. Ressaltam ainda que pode ser observada
tidas à cirurgia de colecistectomia laparotômica. A idade das uma rápida diminuição do edema e do hematoma, bem
mulheres variou de 20 a 60, com média de 51,8 anos. Todas como a redução da dor, com favorecimento da neofor-
as pacientes foram do sexo feminino, pois, de acordo com mação vascular e nervosa, além de prevenir e minimizar
Costa et. al. [15], este é o gênero mais acometido, sendo, a formação de cicatrizes hipertróficas ou hipotróficas,
portanto um dos fatores de risco para o desenvolvimento de retrações e queloides.
cálculos biliares. Para Ferreira [19], com a realização das manobras
padronizadas de drenagem linfática no pós-operatório
Tabela I - Comparação cirtométrica intragrupos da média de consegue-se um bom resultado para redução do edema e da
aumento e redução do edema. dor comparando-se com pacientes que fazem tratamento de
Variáveis Controle Tratamento rotina hospitalar.
t (p) t (p) Tanto Soriano [20] como Borges [13] justificam o
10 cm acima da CU -4,00 (0,016) 3,16 (0,034) resultado encontrado em reduzir o edema, pelo fato de o
5 cm acima da CU -6,33 (0,003) 6,00 (0,004) uso das ventosas fortalecerem os vasos sanguíneos, pois os
Cicatriz umbilical -2,14 (0,099) 4,81 (0,009) capilares e linfáticos reagem à pressão negativa das ven-
5 cm abaixo da cicatriz 0,000 (1,00) 1,64 (0,18) tosas, expandindo-se e contraindo-se frente à aplicação
umbilical antes de massagem de vácuo rolamento. Esta vasoconstricção
Fonte: Dados da pesquisa, 2010. momentânea, ao colocarmos a ventosa e posterior nor-
malização do calibre do vaso ao retirá-las, faz uma espécie
Na Tabela I podemos observar um aumento significativo de “ginástica circulatória”. Sua aplicação na pele baseia-se
do edema nos primeiros dias de pós-operatório nas pacien- na lei de trocas gasosas, eliminando os gases estagnados
tes que compõem o grupo controle, corroborando Guirro e no corpo e promovendo a limpeza do sangue, pelo uso
Guirro [5] quando afirmam que a fase aguda da inflamação da pressão negativa produzida pelo vácuo. Devido a esta
dura cerca de 72 horas após a lesão inicial, apresentando os modificação de permeabilidade capilar, a ventosa ativa o
seguintes sinais flogísticos: calor, rubor, edema, dor e perda de intercâmbio gasoso entre tecidos capilares e a drenagem
função. O edema ocorre pela exsudação de líquido decorrente do líquido extracelular.
do processo inflamatório, favorecendo uma dilatação e ingur- Na Tabela II foram apresentados os valores médios e
gitamento dos capilares e arteríolas na região lesionada, com desvio padrão para a idade das pacientes de cada grupo, as
os vasos distendidos e o acúmulo de hemácias nos tecidos do cirtometrias antes e após o tratamento de dermotonia em
foco inflamatório, estes vão ficando afastados e acumulando cada uma das medidas pré-estabelecida e os valores do teste de
cada vez mais líquido. comparação intergrupos, no qual se verificou que não houve
A inflamação é um complexo de alterações sequenciais no diferença significativa. Isso se deu devido à amostra da pesqui-
tecido, em resposta à lesão. Quando acontece a lesão tecidu- sa ter sido muito pequena, gerando um desvio padrão muito
al, como no caso do trauma cirúrgico, ocorre a liberação de alto para mínimas diferenças entre as pacientes pesquisadas,
grandes quantidades de histamina, serotonina, bradicinina e provocando um t(p) maior que 0,05. Porém contrastando
outras substâncias pelos tecidos lesados nos líquidos circun- com este resultado, na Tabela I, podemos observar que houve
dantes [16]. eficácia no tratamento desenvolvido com as pacientes, obteve-
Em contrapartida, ainda na Tabela I, verifica-se que as -se um t(p) menor que 0,05.
pacientes do grupo de tratamento que se encontravam no Embora a redução do edema seja fator certo na redução
mesmo período pós-operatório das pacientes do grupo con- álgica, conforme foi mostrado em vários estudos citados an-
trole, ou seja, 72 horas e que, portanto, também deveriam ter teriormente, durante a pesquisa não foi obtido um resultado
apresentado um aumento no edema, tiveram uma relevante satisfatório para este dado, conforme o observado na Figura
redução deste. Concordando com este princípio, Schwuchow 3. Ressaltando ainda que as pacientes faziam uso de dipirona
et al. [17] em um trabalho que teve como objetivo verificar e cetoprofeno, que são drogas analgésicas, o que poderia ter
o efeito da drenagem linfática na redução da dor e do edema influenciado na redução da dor.
no pós-operatório de lipoaspiração em pacientes do gênero
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 175
Figura 3 - Valores médios observados a partir da EVA para avaliação que a interpretação da dor por parte de cada indivíduo
da dor após cada intervenção. dependerá de informações prévias, podendo ser descritas
8 respostas diferentes em um mesmo indivíduo em momen-
7 tos distintos. Além disso, a escala de 0 a 10 analisa apenas
quantitativamente a dor do indivíduo, negligenciando-a
6
qualitativamente e afetivamente.
5
4 Conclusão
3
Conclui-se que a dermotonia, no grupo pesquisado,
2 obteve resultado satisfatório no tratamento pós-traumático,
1 proporcionando significante redução do edema em todas as
pacientes e apresentando nível de acerto de 95% para todas
0
as medidas, exceto a 5 cm abaixo da cicatriz umbilical, por se
1aval 2aval 3aval 4aval 5aval
tratar de uma região distante da incisão cirúrgica. Com relação
Controle Experimental
à redução do quadro álgico, não houve resultado significativo
tanto para o grupo controle quanto para o tratamento, embora
Para Rossetti [12], o tratamento das zonas dermálgicas re- várias literaturas tenham mostrado que a redução do edema
flexas alivia o quadro álgico, pois é função do sistema nervoso acarreta na redução da dor.
central a vasoconstricção permanente. Isso devido às fibras É importante ressaltar a escassez de literatura sobre o
simpáticas transmitirem a unidade neuro microcirculatória assunto, o que dificulta a pesquisa sobre este tema. É de
este estado. Mediante o trauma, existirá o extravasamento de grande importância a realização de mais estudos para que haja
líquido, e consequentemente de proteína no meio intersticial, a confirmação dos efeitos da Dermotonia no tratamento dos
ocorrendo uma elevação do sinal nos mecanorreceptores, pro- mais diversos tipos de pós-operatório.
duzindo dor local. Com a aplicação da técnica de dermotonia,
consegue-se desfazer este estado de vasoconstricção. Referências
Também discordando com o resultado encontrado neste
estudo, Lucena [21] afirma que a dermalgia pode ser de- 1. Mélaga JM, Zanini AS, Psillakir JM. Cirurgia plástica reparadora
sencadeada por diversos fatores associados, sendo uma das e estética. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1992.
causas a compressão pelo edema. Quando esta ocorre sobre 2. Ramos CA, Sallett JÁ, Lombardi MM, Tanikawa DYS, Martino
as terminações livres, causará grande desconforto para a pa- RB, Zilberstein B. Colecistectomia laparoscópica em regime
ambulatorial. Rev Col Bras Cir 1998;25(1):5-8.
ciente. Além disso, o edema acabará comprimindo também
3. Coelho JCU. Aparelho digestivo: clínica e cirurgia. 2ª ed. Rio
pequenas arteríolas de tecidos circunvizinhos, gerando um
de Janeiro: Medsi; 1996.
micro processo de isquemia, aumentando a lesão e gerando 4. Rego REC, Campos T, Moricz A, Altenfelder et al. Tratamento
mais dor. Assim, a redução do processo edematoso irá aliviar cirúrgico da litíase vesicular no idoso: análise dos resultados ime-
as compressões teciduais diminuindo o quadro álgico. diatos da colecistectomia por via aberta e vídeo laparoscópica.
A falta de resultados relevantes para a investigação da Rev Assoc Med Bras 2003;3(49):293-9.
dor pode ser explicada por se tratar de um fenômeno in- 5. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamen-
dividual e subjetivo, sendo o indivíduo autoridade sobre tos, recursos e fundamentos. 3ª ed. São Paulo: Manole; 2002.
sua dor, explicam Pimenta e Teixeira [22]. Afirmam ainda 6. Mendonça MTP. Cicatrização: Uma revisão dos quelóides
(Monografia). Aracaju; Universidade Federal de Sergipe; 2003.
176 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
7. Mandelbaum SH, Di Santis E, Mandelbaum MHS. Publicação 15. Costa SRP. Avaliação dos efeitos da circulação extracorpórea na
oficial da Sociedade Brasileira de dermatologia. Cicatrização: formação de cálculos biliares. Rev Bras Cir Card 2006;2(1):50-
conceitos atuais e recursos auxiliares. Anais Brasileiros de Der- 54.
matologia 2003;78(4). 16. Guyton ACMD. Fisiologia Humana 6ª ed. Rio de Janeiro:
8. Rossetti R. In: Borges FS. Dermato-funcional: modalidades Guanabara Koogan; 1988.
terapêuticas nas disfunções estéticas. Dermotonia. São Paulo: 17. Schwuchow LS. Estudo do uso da drenagem linfática manual
Phorte; 2006. no pós operatório da lipoaspiração de tronco em mulheres. Re-
9. Bernadin D, Karagozian S, Guasti M. Les effets de la dermotonie vista eletrônica da PUCRS. Tubarão, RS. [citado 2010 Nov11].
dans le traitement des cicatrices et des oedèmes postoperatoi- Disponível em URL: http:www. revistaseletronicas.pucrs.br
res. La Revue de Chirurgie Esthétique de Langue Française 18. Ceolin MM, Rosas RF. Efeitos da drenagem linfática manual no
1998;23(91):19-27. pós-operatório imediato de lipoaspiração no abdome. Tubarão:
10. Rossetti RA. Dermotonia: uma nova técnica em fisioterapia. UNISUL; 2006.
Revista Fisio e Terapia 1998;2(10):21. 19. Ferreira TRR. Drenagem linfática manual no pós-operatório de
11. Karagosian S. La Dermotinie. Volence: École Internacionale de enxerto ósseo alveolar: uma nova abordagem para a redução do
Dermotonie et Palper-Rouler Analytique; 1995. p.36. edema facial. Bauru: USP; 2010.
12. Rossetti RA. Avaliação da aplicabilidade do aparelho à vácuo 20. Soriano MCD, Pérez SC, Baqués MIC. Electroestética profis-
pelo método de Dermotonia em mulheres durante o climatério. sional aplicada: teoria e prática. 1ª ed. Barcelona: Sorisa; 2000.
Revista Kinesia 2009;1(2). 21. Lucena ACT. Hiper e hipo termoterapia. 1ª ed. Curitiba:
13. Borges FS. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas Lovize; 1991.
disfunções estéticas. 1ª ed. São Paulo: Phorte; 2006. 22. Pimenta CAM, Teixeira MG. Questionário de dor Mc Gill:
14. Rossetti RA. Dermotonia: aplicabilidade nos protocolos de proposta de adaptação para língua portuguesa. Rev Esc Enf
quelóides e cicatrizes hipertróficas. Revista Up to date Magazine USP 1996;30(3):473-83.
2002;46:56-8.
Fisioterapia Brasil
artigos@atlanticaeditora.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 177
Artigo original
*Doutoranda em Ciências da Saúde – UnB, Professora Assistente do Curso de Fisioterapia – UnB (FCE), **Especialista em Fisioterapia
na Saúde da Mulher pelo CETREX, ***Mestranda em Ciências Médicas - UnB, Fisioterapeuta do Serviço de Urologia do Hospital
HOME, ****Professora Adjunta do Curso de Fisioterapia – UnB (FCE), *****Farmacêutica, Professora Adjunto – UnB (FCE)
Resumo Abstract
Objetivos: Verificar o nível de conhecimento sobre a incontinên- Purpose: To evaluate the level of knowledge about urinary in-
cia urinária (IU) e sobre o tratamento fisioterapêutico na população continence and physical therapy on the population of the Cidade
do município de Cidade Ocidental/GO. Material e métodos: Estudo Ocidental/GO. Material and methods: This was a cross-sectional-
transversal, descritivo, de base populacional, que incluiu 120 ho- -population-based study that included 120 men and women over
mens e mulheres acima de 50 anos. Foi utilizado um questionário 50 years. We used a questionnaire previously validated for the
específico, previamente validado, para o conhecimento sobre a IU. knowledge about the UI. The authors added three statements
Três afirmativas acerca do conhecimento sobre fisioterapia urológica about the knowledge on urologic physical therapy. Results: Most of
foram adicionadas pelos autores ao questionário original. Resulta- the claims showed high rates of error. Only four probes hit scored
dos: Maior parte das afirmativas evidenciou altos índices de erro. higher than 70%. Individuals with more advanced age and lower
Somente 4 assertivas obtiveram escores de acerto maior que 70%. education level showed a lower level of knowledge. Conclusion: The
Indivíduos com idade mais avançada e grau de escolaridade mais results show high population of misinformation about the UI and
baixo apresentaram menor nível de conhecimento. Conclusão: Os physical therapy, showing the need of education to the population.
resultados do estudo comprovam elevada desinformação da popu- Key-words: urinary incontinence, knowledge, physical therapy,
lação estudada sobre a IU e sobre o tratamento fisioterapêutico, pelvic floor.
mostrando a necessidade de intervenções educativas à população.
Palavras-chave: incontinência urinária, conhecimento,
fisioterapia, assoalho pélvico.
estavam no grupo etário entre 50-59 anos e apenas 5,8% Os índices de acerto para as causas da IU variaram de
possuíam ensino superior (completo ou incompleto). 77,5% e 29,2% para a afirmativa de que as mulheres têm
Quanto às características clínicas da população, observa- maior probabilidade de desenvolver a incontinência urinária
-se que apenas 4 (4,5%) das mulheres não referiram partos. e que muitos medicamentos de uso comum podem causar a
Cirurgias ginecológicas e próstata foram citadas por 73% das IU, respectivamente.
mulheres e 16,1% dos homens, respectivamente. A presença Quando perguntada sobre a relação entre envelhecimen-
de incontinência urinária foi referida por 31 (34,8%) das to e IU, foi observado baixo índice de acerto para as duas
mulheres e 12 (38,7%) dos homens. (Tabela I) assertivas.
A resposta “não sei” obteve frequência mais elevada do que
Tabela I - Características demográficas e clínicas da população. as respostas erradas nas assertivas relacionadas aos tratamen-
Características tos para incontinência urinária. Quando avaliado apenas a
demográficas e N (%) fisioterapia como tratamento, 30,83% responderam “não sei”.
clínicas A letra que aparece após as afirmativas se refere à catego-
Sexo F 89 74,2 ria em que as mesmas foram agrupadas. T = Tratamentos e
M 31 25,8 feitos da IU; C = causas; R = Relação entre idade e IU; D =
Idade 50-59 59 49,2 Discussão paciente-médico sobre a IU.
60-69 38 31,7
70-79 20 16,7 Discussão
80 ou + 3 2,5
Escolaridade Analfabeto 6 5,0 Existe uma grande variação no número de pacientes que
Fundamental 73 60,8 procuram tratamento para os sintomas do trato urinário
Médio 34 28,3 inferior em homens e mulheres. A gravidade dos sintomas,
Superior 7 5,8 incômodo, idade e impacto na qualidade de vida têm sido
Estado Civil Com parceiro 68 56,7 consistentemente identificados como determinantes potentes
Sem parceiro 52 43,3 dos que procuram tratamento. Conselhos de outras pessoas e
Nº Partos 0 4 4,5 da mídia, vergonha, crenças e atitudes em relação à utilização
1a3 42 47,2 de fraldas, saúde e bem-estar são apenas alguns dos determi-
4a6 32 36,0 nantes psicossociais que podem influenciar a decisão de um
7a9 7 7,9 paciente a procurar o médico [5].
10 ou + 4 4,5 Porém, quando falamos no número de mulheres que
Cirurgia procuram ajuda para fazer suas queixas, a proporção se ele-
Ginecológica Prévia Sim 65 73,0 va. As mulheres demoram a procurar atendimento médico
Não 24 27,0 precoce e os motivos estão relacionados à desvalorização do
Tipo de Cirurgia Perineoplastia 31 47,7 sintoma, como se a perda urinária fosse uma ocorrência na-
Histerectomia 14 21,5 tural do avançar da idade e fizesse parte dos problemas que
Outras 40 61,5 as mulheres têm que aceitar ao aproximar-se da velhice [6].
Cirurgia de Próstata Sim 5 16,1 Confirmando esse senso comum, os resultados demonstram
Não 26 83,9 que praticamente metade das pessoas entrevistadas (48,3%)
Perda Urinária Sim 31 34,8 concordou com a afirmativa 13 que dizia que a incontinência
Feminina Não 58 65,2 urinária é um resultado normal do envelhecimento, e mais
Perda Urinária Sim 12 38,7 da metade (54,2%) concordaram com a afirmativa de que a
Masculina Não 19 61,3 maioria das pessoas irá perder o controle de urina quando
atingirem 85 anos.
Como pode ser visualizado na Tabela II, um total de Apesar disso, 72,5% das pessoas apresentaram discor-
81,7% dos entrevistados responderam corretamente a per- dância da assertiva 1, no que diz respeito às pessoas que têm
gunta número dois e 33,3% dos entrevistados acertaram a incontinência urinária viverem vidas normais. Apresentando
discordância da afirmativa número sete. assim, uma distorção dos resultados, já que para a maioria dos
A respeito do conhecimento dos entrevistados sobre o entrevistados, a perda de urina na velhice é normal, porém os
tratamento para a incontinência urinária, 60,8% dos entre- pacientes incontinentes não podem viver uma vida normal.
vistados consideraram a cirurgia o melhor tratamento para o O impacto que a incontinência causa na vida social pro-
problema; 38,3% responderam “não sei” a afirmativa de que voca restrições que estão intimamente ligadas à percepção
a fisioterapia pode ser um tratamento eficaz para tratar a IU; individual que estas pessoas têm frente à severidade, tipo,
18,3% discordaram e 28,3% não sabiam dizer se existem quantidade da perda urinária e contexto cultural de cada
exercícios capazes de ajudar no controle de urina. indivíduo, prejudicando a qualidade de vida e fazendo com
180 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
que os mesmos não tenham vidas normais [6,9]. Por este nos referimos a idosos acima de 80 anos, estudo mostra que
motivo, não concordamos com o questionário original, que não há diferença na qualidade de vida de pacientes inconti-
considera a assertiva 1 como correta, e consideramos uma nentes quando comparamos homens e mulheres [11]. Porém,
falha na resposta do instrumento utilizado. no nosso estudo não podemos concluir que entre os pacientes
Ainda a respeito da assertiva 1, quando comparamos os entrevistados, os que apresentam perda de urina, apresentam
grupos: homens que relataram perda de urina e o grupo das pior qualidade de vida, pois não foi aplicado um questionário
mulheres que relataram a IU, observamos concordância com específico para esta avaliação.
a afirmativa de que a maioria das pessoas que atualmente têm Os resultados do estudo mostram que a população estu-
incontinência urinária vivem vidas normais de 8,3% e 28,1% dada necessita agregar mais conhecimento acerca da IU, suas
respectivamente, demonstrando que os homens apresentam causas e possíveis tratamentos. A maior parte das assertivas
atitude mais negativa em relação à IU quando comparados obteve altos índices de erro, corroborando estudos previa-
com as mulheres. Esse dado foi ao contrário de outros estudos mente publicados [12].
que mostram que as mulheres apresentam pior impacto na Dentre as assertivas que obtiveram altos índices de
qualidade e vida em pacientes acima de 65 anos [10]. Quando acerto, podemos destacar a afirmativa 5, em que 77,5%
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 181
das pessoas entrevistadas concordaram com a maior proba- da incontinência urinária. Este tipo de proteção foi reconhe-
bilidade feminina de desenvolver a IU, demonstrando um cido por 28,3 % das pessoas entrevistadas em nosso estudo,
possível conhecimento de alguns fatores de risco, dentre eles demonstrando mais uma vez o profundo desconhecimento
o hipoestrogenismo e a multiparidade. Dessa forma, a alta acerca dos possíveis tratamentos para o problema. Em geral,
prevalência de IU observada nas mulheres participantes do 40% das mulheres com sintomas de perda urinária fazem o uso
estudo (65,2%) pode ser explicada por fatores de risco como deste tipo de proteção [18]. Frente a um paciente com relato
o estado menopausal relacionado com a idade avançada, de perda urinária, o emprego de fraldas e medicação era quase
cirurgias ginecológicas prévias, número e tipo de partos [13]. sempre a primeira opção escolhida, demonstrando a nítida
O tratamento da IUE pode ser cirúrgico ou conservador, necessidade de se melhorar o conhecimento por parte dos
embora no Brasil a abordagem cirúrgica prevaleça. A percep- profissionais de saúde sobre as opções terapêuticas disponíveis
ção de que a cirurgia é a melhor opção terapêutica foi demons- e sua efetividade. Esses profissionais somente estarão aptos
trada por 60,8% das pessoas entrevistadas, o que pode ser um a motivar os pacientes a seguir um tratamento conservador
fator causal para não procura precoce por tratamento [5]. se conhecerem e acreditarem nos benefícios advindos de tais
Quando questionadas quanto aos medicamentos como tratamentos [19].
fator causal da IU, apenas 29,2% acertaram a afirmativa 6, Em relação à escolaridade e ao esclarecimento da po-
tendo porcentagem semelhante de erro ou escolha da opção pulação sobre o assunto, pode-se afirmar que as pessoas
“não sei”, demonstrando o desconhecimento de que alguns com menores níveis de escolaridade (analfabeto e nível
medicamentos de uso comum, como relaxantes do músculo fundamental) obtiveram escores mais baixos em pratica-
liso e depressores do sistema nervoso central podem causar a mente todas as assertivas quando comparadas às pessoas
incontinência urinária. Ressalta-se ainda que muitos desses que possuem nível médio e superior de ensino. Outros
medicamentos, ao dispensarem prescrição médica podem estudos realizados no Brasil também vão ao encontro de
ser usados indiscriminadamente, em uma sociedade onde a nossos achados [20].
automedicação é uma prática corriqueira [14]. Quando analisamos a idade dos participantes e o conhe-
Entretanto, o tratamento cirúrgico envolve procedimen- cimento sobre o problema, observou-se que os indivíduos
tos invasivos que podem ocasionar complicações, além do entre 50 e 59 anos mostraram mais esclarecimento sobre o
alto custo. A ICS recomenda que o tratamento conservador assunto quando comparados com os de idade mais avançada.
seja considerado como primeira opção de intervenção nas Comparando os participantes do gênero masculino que rela-
mulheres incontinentes [1]. Os exercícios fisioterapêuticos, taram perda de urina e aqueles que não relataram, o grupo dos
visando fortalecimento do assoalho pélvico, têm apresentado que apresentaram a incontinência urinária mostrou menor
resultados expressivos para a melhora dos sintomas de IU em conhecimento no tocante à existência de tratamentos para
até 85% dos casos, inclusive na população mais velha. Um dos IU, demonstrando o pouco acesso à variedade de opções
principais objetivos do tratamento é a melhora da força e da terapêuticas disponíveis. Entre as mulheres participantes do
função desta musculatura, a fim de evitar as perdas urinárias estudo, que relataram perda urinária e aquelas que não rela-
através de uma contração consciente e efetiva nos momentos taram o problema, não houve diferença quanto ao nível de
de aumento da pressão intra-abdominal. Também colaboram esclarecimento sobre a existência de tratamentos disponíveis.
positivamente na melhora do tônus e das transmissões de A literatura, no entanto, é escassa no que diz respeito ao
pressões uretrais [15,16]. conhecimento frente à incontinência urinária. Não encontra-
Embora a fisioterapia se mostre como uma opção tera- mos nenhum artigo recente que tivesse utilizado o mesmo
pêutica eficaz para o tratamento da incontinência urinária questionário, o que nos impossibilitou de uma comparação
[7], a população estudada demonstra desinformação sobre mais aprofundada.
o assunto, quando na assertiva 15, 38,3% das pessoas não Hoje, sabemos que a incontinência urinária é uma con-
sabiam informar se a fisioterapia poderia ser um tratamento dição que afeta muito a qualidade de vida dos pacientes,
efetivo para tratar a IU. Além disso, diante da alternativa 3, inclusive na produtividade deste pacientes, podendo ter
que dizia que existem exercícios capazes de ajudar no controle consequências tão ruins quanto um paciente com asma ou
urinário, 18,3% das pessoas discordaram e 28,3 % responde- artrite reumatóide [21]. Por isso, a importância de se saber
ram “não sei”, resultado semelhante ao encontrado em estudos mais sobre o assunto e sobre o tratamento desses pacientes.
anteriores, em que a população estudada expressou profundo A falta de esclarecimento sobre o assunto pode ser um fator
desconhecimento sobre alternativas terapêuticas disponíveis decisivo para a não procura por tratamento.
para o tratamento da IU [12]. O número de pacientes que são
encaminhados para a fisioterapia é pequeno, apenas 2,76% Conclusão
das pacientes com incontinência urinária são encaminhadas
para esse tipo de serviço [17]. A população deste estudo mostrou ter um baixo nível de
O emprego de fraldas, absorventes e cateteres ainda são conhecimento sobre a incontinência urinária, assim como o
vistos como uma única opção disponível para o tratamento seu tratamento através da fisioterapia.
182 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Artigo original
*Professora Adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), **Especialista em Uroginecologia – Gama
Filho/RJ, ***Especialista em Uroginecologia e Obstetrícia – Faculdade Redentor/RJ, ****Especialista em Reabilitação e Pilates –
HIB
Resumo Abstract
Introdução: A diástase dos músculos retoabdominais (DMRA) é Introduction: The diastasis of the rectus abdominis muscles
definida como o afastamento entre as bordas mediais destes músculos (DRAM) is defined as separation between rectus abdominis and can
e pode estar presente na gestação e puerpério. Objetivos: Comparar be present in pregnancy and postpartum. Objectives: To compare
a DMRA na região supra e infraumbilical no pós-parto imediato the DRAM in the region above and below the umbilicus at the
em primíparas e multíparas, e correlacionar com variáveis materno- immediate postpartum period in primiparous and multiparous,
-fetais. Métodos: Foi realizado um estudo transversal envolvendo and to correlate with maternal and fetal variables. Methods: A cross-
puérperas submetidas ao parto vaginal. A DMRA foi avaliada por -sectional study involving postpartum women submitted only to
um paquímetro na região supraumbilical e infraumbilical (4,5 cm vaginal delivery. The DRAM was evaluated by a caliper at 4.5 cm
acima e abaixo da cicatriz umbilical). Resultados: Das 183 puérperas, above and below umbilicus. Results: Out of 183 mothers, 81 were
81 eram primíparas e 102 multíparas. A DMRA na região supraum- primiparous and 102 multiparous. The DRAM above umbilicus
bilical foi 1,93 (± 0,89) cm nas primíparas e 2,09 (± 0,75) cm nas were 1.93 cm (± 0.89) in primiparous and 2.09 cm (± 0.75) in
multíparas (p = 0,186). Na região infraumbilical foi 1,11 (± 0,75) multiparous women (p=0.186). Below the umbilicus, was found
cm nas primíparas e 1,09 (± 0,50) cm nas multíparas, também sem 1.11 cm (± 0.75) in primiparous, whereas in multiparous 1.09 cm
diferença (p = 0,847). Na região supraumbilical foi significativamen- (± 0.50), showing no difference between groups (p = 0.847). In both,
te maior em ambos os grupos (p < 0,001). Foi encontrada correlação the DRAM above umbilicus was significant higher than below (p
significativa entre a DMRA supra e infraumbilical e o peso do RN < 0,001). A significant correlation was found between the DRAM
em ambos os grupos. Não foram observadas correlações com as and newborn weight. Regarding the other variables, there were no
outras variáveis. Conclusão: Não foram observadas diferenças entre significant correlations with DRAM. Conclusion: There were no
DMRA supra e infraumbilical nas primíparas e multíparas, mas na statistical difference between the DRAM above and below umbilicus
região supraumbilical foi significativamente maior em ambos os between primiparous and multiparous, but above umbilicus, the
grupos. Somente o peso do RN apresentou correlação significativa DRAM was higher in both groups. Only newborn weight showed
com a DMRA em ambos os grupos. significant correlation with DRAM.
Palavras-chave: período pós-parto, diástase, reto do abdome, Key-words: postpartum, diastasis, rectus abdominis,
fisioterapia, parto. physiotherapy, childbirth.
O período pós-parto, também chamado de puerpério, Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal,
inicia-se após a saída da placenta, prolonga-se por 6 a 8 sema- na Maternidade Santa Isabel na cidade de Aracaju/SE, no
nas e termina quando os órgãos da reprodução retornam ao período de abril a outubro de 2010. Foram incluídos dados
estado não-gravídico. Didaticamente, admitem-se 3 etapas: de puérperas primíparas (somente um parto) e multíparas
puerpério imediato (até o 10º dia), puerpério tardio (entre o (no mínimo 2 partos) submetidas exclusivamente ao parto
11º e o 45º dia) e o puerpério remoto (além do 45º dia) [1,2]. vaginal. As mesmas foram abordadas dentro de um período
Durante a gestação as alterações hormonais acompanhadas de 24 horas, mas respeitando-se um mínimo de 6 horas após
do crescimento uterino levam ao estiramento dos músculos o parto. Foram excluídos os dados daquelas que tivessem sido
abdominais e anteversão pélvica seguida de uma hiperlordose submetidas a cirurgias abdominais anteriores (cesárea), parto
lombar. Essas alterações podem contribuir para a diminuição prematuro (antes de 37 semanas) e que a ficha estivesse incom-
na força de tensão destes músculos e facilitar o aparecimento pleta. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
da diástase dos músculos retoabdominais (DMRA), que é o em Pesquisa da Universidade Tiradentes (CAAE: 200410) e as
afastamento entre as bordas medias destes músculos [1,3,4]. puérperas foram esclarecidas quanto aos objetivos da pesquisa
No decorrer da gravidez, a DMRA pode causar uma e em seguida, orientadas quanto à assinatura do Termo de
diminuição na capacidade da musculatura abdominal de Consentimento Livre e Esclarecidas (TCLE).
controlar a pelve e a coluna lombar podendo produzir quei- Foram coletadas nos prontuários informacões como:
xas musculoesqueléticas como dor lombar e/ou sacral. Além idade, estado civil, profissão, tabagismo, etilismo, idade gesta-
disso, em casos de separações mais graves podem influenciar cional (IG), tempo de trabalho de parto (TTP), antecedentes
nas alterações posturais, dificuldades respiratórias, progressões obstétricos e o peso do recem-nascido (RN).
de hérnias viscerais abdominais e diminuição do suporte A DMRA foi mensurada com a puérpera em decúbito
abdominal [4,5]. dorsal, com o quadril fletido e joelhos flexionados a 90º, pés
O aparecimento da DMRA é comumente observado apoiados no leito e membros superiores estendidos paralelos
no terceiro trimestre gestacional e nos pós-parto imediato, ao corpo. Nesta posição, foi solicitada a flexão anterior do
apresentando diminuição no pós-parto tardio. Tal situação tronco em direção aos joelhos até que as espinhas das es-
pode regredir espontaneamente, mas em alguns casos pode cápulas saíssem do leito. Dois pontos foram utilizados como
ser permanente, o que pode levar a incapacidades temporá- referência para medir a DMRA: 4,5 cm acima e 4,5 abaixo da
rias nas gestações subsequentes, além de aumentar o risco de cicatriz umbilical. Os dedos do avaliador foram introduzidos
desenvolver lombalgias crônicas [5,6]. de maneira perpendicular às bordas mediais dos músculos
Embora não haja consenso sobre a sua prevalência, du- retoabdominais e o mesmo foi repetido com o paquímetro
ração e possíveis complicações a curto/longo prazo, alguns em centímetros (cm). Utilizou-se paquímetro analógico da
fatores podem estar relacionados à sua ocorrência, como: marca Vonder® de material plástico com medida: 150 mm- 6”
obesidade, multiparidade, gestações múltiplas, macrossomia e Escala 0,05 mm – 1/128” (em cm). A DMRA foi conside-
fetal, poliidrâmnio, flacidez da musculatura abdominal pré- rada presente e relevante quando houvesse um afastamento
-gravídica [3,4]. Clinicamente, observa-se que a DMRA na >2 cm entre as bordas mediais dos retoabdominais na região
região supraumbilical é maior do que na infraumbilical [7]. supra umbilical e > 1 cm na região infraumbilical [7].
A atuação do fisioterapeuta na área de obstetrícia demanda Os dados foram coletados por dois pesquisadores princi-
cada vez mais informações sobre a avaliação e identificação pais e os mesmos foram devidamente treinados pelo docente
da DMRA, pois isso contribui para o desenvolvimento de responsável. Para o cálculo amostral, foi utilizado o software
estratégias de prevenção e tratamento no período gravídico- EPIINFO 6.0, e foi calculada uma amostra aleatória simples
-puerperal. Um dos objetivos da fisioterapia aplicada no para estudos de prevalência. Considerando os critérios de
pós-parto imediato é promover uma estimulação da mus- inclusão e um universo de 350 mulheres, precisão desejada
culatura, em particular abdominal e pélvica, para melhorar de 3%, prevalência estimada de 66% [9] e nível de confiança
a sua tonicidade [7,8]. Como na literatura nacional são de 95%, a amostra estimada foi de 180 mulheres. Para análise
escassas investigações que correlacionam a DMRA com descritiva dos dados, foram realizadas medidas de tendência
variáveis maternas e obstétricas, especialmente de puérperas central (média), dispersão (desvio-padrão), frequência e por-
submetidas exclusivamente ao parto vaginal, o objetivo deste centagem. Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para
estudo foi comparar a DMRA na região supraumbilical e verificar a normalidade dos dados. Para comparar a média de
infraumbilical no pós-parto vaginal imediato de primíparas DMRA entre as primíparas e multíparas, adotou-se o teste t de
e multíparas, além de correlacionar a DMRA com a idade Student para as variáveis independentes e para correlação das
materna, tempo de trabalho de parto, idade gestacional e peso variáveis utilizou-se o teste de correlação de Pearson [10]. Para
do recém-nascido. comparação de proporções, adotou-se o teste Qui-quadrado.
Os dados foram analisados com o programa SPSS 13.0 e
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 185
considerou-se o nível de significância de p < 0,05 em todas que nas multíparas 1,09cm (± 0,50), (p = 0,847). Contudo,
as análises. em ambos os grupos, a DMRA na região supraumbilical foi
significativamente maior do que na região infraumbilical (p
Resultados < 0,001), (Figura 2).
Foram avaliadas 185 puérperas, porém duas foram ex- Figura 1 - Comparação da DMRA supra e infraumbilical nos grupos
cluídas (informações incompletas da ficha de avaliação). Ao de primíparas (n = 81) e multíparas (n =102).
final foram selecionadas 183 puérperas, sendo 81 primíparas 2,5
2,09
e 102 multíparas. Na Tabela I, pode ser observado que a idade 1,93
2
materna foi significativamente maior nas multíparas, a a IG
foi semelhante entre os grupos e o TTP foi significativamente 1,5
maior nas primíparas. A maioria das puérperas (65,6%) era 1,11 1,09
1
solteira e proveniente da região metropolitana de Aracaju
(74,3%), incluindo os municípios de Barra dos Coqueiros, 0,5
Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. Quanto à ocupação, 0
68,8% eram do lar, 10,4% eram estudantes e 20,8% tinham
Supraumbilical
outras atividades. Em relação aos hábitos sociais somente 18,1%
Infraumbilical
relataram etilismo e 7,65% tabagismo.
Primíparas Multíparas
tado por autores que adotaram critérios semelhantes [7,8]. tidas à redução cirúrgica da DMRA que obtiveram um alívio
Também considerando apenas mulheres submetidas ao parto significativo da lombalgia [16].
vaginal, Rett et al.[7] encontraram prevalência similares. Além Dessa forma, os resultados deste estudo chamam a atenção
disso, é comumente observado na prática clínica um maior não só para a avaliação e a ocorrência da DMRA no pós-parto,
afastamento e maior prevalência de DMRA em multíparas e mas também para a necessidade de orientar essas mulheres,
na região supraumbilical. A literatura aponta que a paridade já que a prevalência da DMRA foi considerável. Enfatizar a
pode interferir na DMRA, sendo as multigestas mais pro- realização de exercícios abdominais (especialmente transverso
pensas a apresentarem um maior afastamento dos retoabdo- abdominal), tanto de maneira preventiva quanto terapêutica
minais [6,7]. Isso se deve à estrutura da parede anterolateral é uma ação do fisioterapeuta. Mesquita et al. [8] observaram
do abdômen ser sucessivamente distendida pelas gestações diminuição significativa da DMRA, após um programa de
apresentando uma tendência à flacidez que é maior a cada exercícios no puerpério imediato. Já Chiarello et al. [12]
novo parto, visto que o aumento da elasticidade do tecido demonstraram que gestantes submetidas a um protocolo
conjuntivo é maior nestas mulheres [12]. de exercícios abdominais exibiu uma DMRA significativa-
Contudo, não foi observada diferença significativa entre os mente menor que as gestantes sedentárias. Como nem todos
grupos quando comparadas as médias e prevalências de DMRA. os casos de DMRA são resolvidos espontaneamente após o
Entretanto, na região supraumbilical os valores foram significa- parto [17], isto justifica e reforça a importância da avaliação
tivamente superiores quando comparados com a infraumbilical, criteriosa da DMRA, para o planejamento adequado da
assim como em outro estudo nacional [7]. Este achado pode conduta terapêutica.
ser justificado pela própria característica morfológica da região. Fica exposta a necessidade de a DMRA ser devidamente
A faixa tendinosa do reto, conhecida como linha alba, é mais avaliada para que, na sua presença, sejam recomendados
forte abaixo da cicatriz umbilical por causa da aponeurose de exercícios específicos na tentativa de evitar problemas futuros,
todos os quatros músculos da parede abdominal anterior que como, por exemplo, piora da DMRA em uma próxima gesta
cruzam na frente do músculo retoabdominal. Os dois lados do ção ou até comprometimento de funções uroginecológicas [9].
reto lembram um “v” quando se aproximam de sua inserção Acredita-se que os resultados do presente estudo contribui-
no púbis juntamente com os outros músculos, reforçando essa rão na elaboração de estratégias de prevenção e tratamento
área e amenizando sua distensão [11,15]. da DMRA e suas repercussões, porém delineamentos mais
Adicionalmente, foi observada correlação significativa rigorosos serão importantes para a comunidade envolvida,
e positiva da DMRA tanto supra quanto infraumbilical profissionais engajados na assistência obstétrica e para a hu-
com o peso do RN, ou seja, quando aumenta o peso do manização do atendimento nas maternidades.
RN, aumenta a DMRA. Sousa et al. [6] observaram que
o peso do RN teve influência de 11,47% sobre a diástase, Conclusão
também apresentando correlação significativa, positiva e
fraca entre DMRA e o peso do RN (p = 0,067). Isso reforça Não foram observadas diferenças estatísticas entre a
a hipótese que as mulheres com bebês mais pesados têm DMRA supra e infraumbilical das primíparas e multíparas.
probabilidade de apresentar uma DMRA maior. Acredita-se Contudo, a DMRA supraumbilical foi significativamente
que esta relação deve-se a um maior estiramento da parede maior do que na região infraumbilical em ambos os grupos. O
anterolateral do abdômen e da linha alba pressionadas pelo peso do RN apresentou correlação significativa com a DMRA
útero e seu conteúdo. em ambos os grupos e, idade materna, tempo de trabalho de
Com relação às outras variáveis estudadas, como a idade parto e idade gestacional não apresentaram correlações.
materna, TTP e IG, não foram observadas correlações sig-
nificativas, assim como em estudo anterior [7]. São escassos Referências
na literatura estudos com este delineamento, o que limita
nossas inferências. 1. Rezende J, Montenegro CAB. O ciclo gestatório normal. In:
No decorrer da gravidez, a DMRA pode causar uma Rezende J, Montenegro CAB, eds. Obstetrícia fundamental.
diminuição na capacidade da musculatura abdominal de 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 206-21.
2. Corrêa MCM, Corrêa MD. Puerpério. In: Corrêa MD, Melo
controlar a pelve e a coluna lombar podendo produzir
VH, Aguiar RAP. Noções práticas de obstetrícia. Belo Horizonte:
queixas musculoesqueléticas [5,11]. Embora controverso
Coopmed; 2004. p.95-104.
na literatura, acredita-se que afastamentos maiores do que 2 3. Machado AV. Puerpério. In: Baracho E, ed. Fisioterapia aplicada
cm são considerados relevantes [5] e maior do que 3 cm está à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4ª ed. Rio
acima do padrões de normalidade, podendo trazer maiores de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. p.224-40.
complicações como lombalgia, limitações funcionais e her- 4. Polden M, Mantle J. O período pós-natal. In: Fisioterapia em
niações das vísceras lombares [4]. O prejuízo da estabilização Ginecologia e Obstetrícia. 2ª ed. São Paulo: Santos; 2002.
lombar pode predispor ao desenvolvimento de dor lombar, 5. Konkler CJ, Kisner C. Princípios de exercícios para a paciente
conforme demonstrado em um estudo com mulheres subme obstétrica. In: Kisner C, Coldy LA, eds. Exercícios terapêuti-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 187
cos: fundamentos e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998. 12. Chiarello CM, Falzone LA, McCaslin KE, Patel MN, Ulery KR.
p.581-613. The effects of as exercise program on diastasis recti abdominis
6. Souza CAAR, Oliveira RA, Lima ACG. Diástase dos músculos in pregnant women. Journal of Women’s Health Phys Ther
reto abdominais em puérperas na fase hospitalar. Fisioter Bras 2005;29(1):11-6.
2009;10(5):333-38. 13. Turan V, Colluoglu C, Turkyilmaz E, Korucuoglu U. Preva-
7. Rett MT, Braga MD, Bernardes NO, Andrade SC. Prevalência lence of diastasis recti abdominis in the population of young
de diástase dos músculos reto-abdominais no puerpério imedia- multiparous adults in Turkey. Ginekol Pol 2011;82(11):817-21.
to: comparação entre primíparas e multíparas. Rev Bras Fisioter 14. Boissonnault JS, Blaschak MJ. Incidence of diastasis recti ab-
2009;13(4):275-280. dominis during the childbearing year. Phys Ther 1988;68:1082-
8. Mesquita LA, Machado AV, Andrade AV. Fisioterapia para re- 6.
dução da diástase dos músculos retos abdominais no pós-parto. 15. Moore KL. O abdome. In: Moore KL, editor. Anatomia orien-
Rev Bras Ginecol Obstet 1999;21(5):267-72. tada para clínica. 3a.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
9. Spitznagle TM, Leong FC, Van Dillen LR. Prevalence of diastasis 1994. p.117-23.
recti abdominis in a urogynecological patient population. Int 16. Toranto IR. The relief of low back pain with the WARP
Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2007;18(3):321-8. abdominoplasty: a preliminary report. Plas Reconstr Surg
10. Norman GR, Streiner DL. Biostatistics, the bare essentials. 2nd 1990;85(4):545-55.
ed. London: Hamilton; 2000. 17. Hsia M, Jones S. Natural resolution of rectus abdominis diasta-
11. Coldron Y, Stokes MJ, Newham DJ, Cook K. Postpartum sis. Two single case studies. Aust J Physiother 2000;46:301-07.
characteristics of rectus abdominis on ultrasound imaging. Man
Ther 2008;13:112-21.
Anuncie!
Fisioterapia Brasil
Artigo original
*Docente do Departamento de fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas, Campina Grande/PB, **Docente do Departamento
de fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife/PE, ***Discente do Departamento de fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife/
PE, ****Docente Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Recife/PE
Resumo Abstract
Introdução: Os avanços nos cuidados intensivos neonatais Background: The increase in survival of infants born at preterm
têm proporcionado elevação da sobrevivência de recém-nascidos has raised the risk of developmental delay in the first year of life.
pré-termos, aumentando o risco de atraso no desenvolvimento Thus, studies that follow these children are needed in an attempt
no primeiro ano de vida. Sendo assim, estudos que acompanhem to enable special intervention in this crucial period for brain deve-
estas crianças são necessários para que intervenções especializadas lopment. Objectives: To compare infant neuromotor development
sejam realizadas neste período em que as experiências vividas são (IND) of children born at term and preterm during the first six
decisivas para o desenvolvimento cerebral e para aquisições evolu- months. Methods: A prospective cohort, consisting of two groups of
tivas posteriores. Objetivos: O objetivo deste estudo foi comparar o 19 children each, of both sexes, born in the Institute of Integrated
desenvolvimento neuromotor infantil (DNI) de crianças nascidas Medicine Prof. Fernando Figueira in Recife/Brazil. The preterm
a termo e pré-termo nos seis primeiros meses de vida. Métodos: O group had, at birth, gestational age (GA) between 29-36 weeks and
estudo foi uma coorte prospectiva de crianças avaliadas do primeiro weighted between 1000-2500 grams. The full-term group had GA
ao sexto mês, constituído por dois grupos, de 19 crianças cada, between 37-40 weeks and weighted more than 2,500 grams. To
de ambos os sexos, nascidas no Instituto de Medicina Integral evaluate the IND was used the second version of the Bayley Scale
Prof. Fernando Figueira em Recife/PE. O grupo pré-termo tinha of Infant Development, according to its Index Score (IS) and its
ao nascimento idade gestacional entre 29-36 semanas e peso ao corresponding classification of the IND in the following categories:
nascer entre 1000-2500 gramas. O grupo a termo tinha IG entre accelerated, within normal limits, slightly late and very late. Results:
37-40 semanas e peso ao nascimento superior a 2500 gramas. Para We found a decrease in the IS in the preterm group in all months (p
avaliação do DNI foi utilizada a segunda versão da Escala Bayley < 0.05) except for the third month. The difference between groups
de Desenvolvimento Infantil, conforme seu Index Score (IS) e sua in the last three months was much higher than in the first three.
classificação de desenvolvimento em: acelerado dentro dos limites The IND has tended to be accelerated in the term group and late
de normalidade, levemente atrasado e muito atrasado. Resultados: in the preterm infants. Conclusion: The neuromotor vulnerability
Encontrou-se uma diminuição estatisticamente significante (p < of children born at preterm is aggravated until the sixth month of
0,05) do DNI no grupo pré-termo em todos os meses, exceto no life, suggesting a reduced operational functionality of the nervous
terceiro mês. Conclusão: A vulnerabilidade neuromotora de crianças system in this age group.
pré-termo é intensificada até os seis meses, sugerindo uma reduzida Key-words: psychomotor performance, infant, premature,
funcionalidade do seu sistema nervoso nesta faixa etária. neuropsychological tests.
Palavras-chave: desempenho psicomotor, prematuro, testes
neuropsicológicos.
Os dados registrados eram transcritos e armazenados nos Ao se comparar o DNI, através das médias dos IS, entre
moldes de arquivo para o banco de dados do programa os dois grupos encontrou-se uma diminuição estatística do
computacional SPSS (Statistical Package for Social Sciences) grupo pré-termo em todos os meses (p < 0,05) exceto no
versão 10.0. Ao término da coleta de dados, as crianças terceiro mês (Tabela I).
eram enquadradas no grupo específico segundo suas IG e Embora todas as crianças pré-termo tenham apresentado
peso ao nascer. desenvolvimento classificado como normal (85 ≤ IS ≤ 114)
para esta faixa etária, as crianças a termo tiveram valores
Análise estatística médios de IS mais altos nos dois primeiros meses, o que
pode ser confirmado pela parcela de crianças (quatro) deste
Preliminarmente foi feita a verificação das características grupo com desenvolvimento classificado como acelerado no
amostrais das distribuições dos dados. Estas se mostraram primeiro mês (IS ≥ 115) (Tabela II).
normais para todos os meses (teste de Kolmogorov-Smirnoff) No terceiro mês, todas as crianças a termo apontaram DNI
e com variâncias homogêneas em ambos os grupos (teste dentro da normalidade, enquanto 15,8% (3/19) das crianças pré-
de Levene). Assim foi utilizado o teste “t” de Student para -termo mostraram um leve atraso (70 ≤ IS ≤ 84) (Tabelas II e III).
amostras independentes, na comparação em cada mês entre Quatro crianças no quarto mês e cinco no quinto mês
as crianças a termo e as pré-termo. O erro a para rejeição da mostraram atraso no DNI. Já entre as crianças a termo,
hipótese nula foi p<0.05 quatro apresentaram desenvolvimento acelerado no quinto
mês (Tabelas II e III).
Resultados Quanto à classificação do desenvolvimento do grupo
pré-termo no sexto mês, verificou-se recuperação de quatro
As crianças pré-termo apresentaram IG média de 34,08 crianças cujo desenvolvimento estava atrasado no quinto mês
semanas e peso médio ao nascer de 1035,3 gramas, enquanto e melhora no desempenho de uma das que anteriormente
que as crianças a termo apresentaram 38,67 semanas e peso tiveram DNI classificado como normal. Em quatro crianças
de 3027,6 gramas. Entre estas médias foi observada diferença a termo houve manutenção do desenvolvimento acelerado já
estatística (para IG, p < 0,05; para peso, p < 0,001). observado no mês anterior (Tabelas II e III).
Tabela I - Valores das médias do Index Score (IS) do 1º ao 6º mês em crianças pré-termo e a termo de acordo com a subescala motora da BSDI-II.
Valores médios IS 1 IS 2 IS 3 IS 4 IS 5 IS 6
Pré-termo 101,79b 95,68b 91,47ª 91,21b 94,00b 99,16b
A termo 107,74a 103,16a 95,00a 100,95a 106,37ª 109.16ª
Diferença entre médias 5,95 7,48 3,53 9,74 12,37 10,00
Valor p* 0,003 0,001 0,10 0,001 0,02 0,006
Fonte: dados da pesquisa, 2008; * Teste “t” Student
Tabela II - Classificação do DNI de acordo com IS da subescala motora da BSDI-II em crianças pré-termo.
Desenvolvimento Meses
(IS) 1 2 3 4 5 6
n % n % n % n % n % n %
Acelerado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,0
Dentro dos limites normais 19 100,0 19 100,0 16 84,2 15 78,9 14 73,7 17 89,5
Levemente atrasado 0 0,0 0 0,0 3 15,8 4 21,1 5 26,3 1 5,3
Muito atrasado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: dados da pesquisa, 2008.
Tabela III - Classificação do DNI de acordo com IS da subescala motora da BSDI-II em crianças a termo.
Desenvolvimento Meses
(IS) 1 2 3 4 5 6
n % n % n % n % n % n %
Acelerado 4 21,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 4 21,0 4 21,0
Dentro dos limites normais 13 68,4 19 100,0 19 100,0 18 94,7 14 73,7 15 79,0
Levemente atrasado 2 10,5 0 0,0 0 0,0 1 5,3 1 5,3 0 0,0
Muito atrasado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: dados da pesquisa, 2008.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 191
Ademais, pode-se verificar que, comparado ao grupo pré- de risco ambientais ou estimulação adequada podem levar a
-termo, o grupo a termo demonstrou diferenças de médias um melhor ou pior DNI [20-23]. Portanto, mesmo crianças
de IS muito superiores nos últimos três meses (variando de biologicamente normais, poderão apresentar pequenos atrasos
9,74 a 12,37) do que nos primeiros três meses (variação de motores pela falta de estimulação ambiental adequada e diária
3,53 a 7,48) (Tabela I). [24,25], o que poderia explicar o atraso de algumas crianças
a termo desta amostra.
Discussão Diante do exposto, constata-se que a prematuridade
determina fatores intrínsecos menos favoráveis às mudanças
O desempenho mais fraco do grupo pré-termo quanto e exigências motoras de cada idade cronológica. Embora os
aos IS, nos primeiros seis meses de vida, poderia ser explicado estudos comparando o DNI entre grupos a termo e pré-termo
pelo fato destas crianças ainda não possuírem uma maturidade não sejam unânimes, a maioria deles mostra, igualmente,
do sistema nervoso central e dos demais sistemas orgânicos superioridade do desenvolvimento das crianças a termo com
capaz de influenciar as reações posturais, de equilíbrio e de relação às pré-termo [26,27].
proteção, as mudanças no tônus muscular e a substituição dos Há evidências de que os fatores extrínsecos são muito
movimentos primitivos, não favorecendo assim a aquisição de importantes para o desenvolvimento da criança e que a sua
habilidades motoras nestas faixas etárias [10,11,15]. influência não pode ser negligenciada [26]. Tais fatores não
Além disto, várias crianças a termo mostraram desenvol- foram objeto deste estudo, mas poderiam esclarecer o fato de
vimento acelerado no primeiro, quinto e sexto mês, ou seja, algumas crianças, mesmo prematuras, conseguirem no fim
acima do esperado para crianças biologicamente normais do sexto mês superar o desenvolvimento considerado normal
nestas idades cronológicas, fato que indica melhores condições para esta fase. Contudo, se faz necessário o desenvolvimento
funcionais e estruturais de adequação motora. de outros estudos que permitam aprofundar a compreensão
Todas as crianças pré-termo apresentaram DNI dentro da dos resultados aqui encontrados.
normalidade nos dois primeiros meses de vida, o que poderia
ser explicado pelas IG (média 34,8 semanas) muito próxima Conclusão
da IG a termo (37 semanas). Conforme Ayache e Mariani
Neto [8] a IG ao nascimento só determina desenvolvimento Este estudo apresentou várias limitações que precisam
atrasado quando extremamente reduzidas. ser consideradas. Da amostra inicial, várias crianças não
Algumas crianças pré-termo, contudo, apresentaram atraso realizaram as seis avaliações propostas, havendo perdas de
no DNI a partir desta idade, o que poderia ser justificado pelo seguimento na coorte e assim a quantidade de prematuros
baixo tônus encontrado, característica diferente das crianças estudada, 19 pré-termo e 19 a termo, foi menor do que
a termo nesta idade [16,17]. O déficit de controle de cabeça a esperada. O tamanho da amostra pode, portanto, ter
e tronco superior e a ausência de sinergia dos músculos da influenciado os resultados, pelo menos em parte, devendo
cintura escapular e pélvica dificultam o deslocamento de peso, uma amostra maior ser considerada em estudos futuros.
de membros superiores e os movimentos no plano sagital. Além disto, as Escalas Bayley ainda não foram padroniza-
No quarto, quinto e sexto meses advêm normalmente das para a população brasileira nem para crianças nascidas
mudanças intensas após uma fase de reorganização postural prematuras.
e motora no desenvolvimento infantil [18,19]. Assim, dois Por fim outro aspecto limitante do estudo foi o não
aspectos observados neste período merecem destaque. Um acompanhamento do estado nutricional das crianças ao
aspecto é a grande diferença aqui mostrada entre pré-termos longo dos seis meses de avaliação, não sendo possível assim
e a termos, aqueles mostrando um aumento de casos na classe excluir a influência de outros fatores além da prematuridade
de levemente atrasados enquanto estes, um aumento de casos no desenvolvimento motor das crianças.
de desenvolvimento acelerado. O outro aspecto é o fato de as
diferenças nos IS entre os grupos tornarem-se muito superiores Referências
nos três últimos meses.
O sexto mês é considerado como um período de variabili- 1. Fleuren KM, Smit LS, Stijnen T, Hartman A. New reference
dade e transição, no qual a obtenção de habilidades somente values for the Alberta infant Motor scale to be established. Acta
é possível quando os ganhos anteriores forem aprendidos Paediatr 2007;96:424-7.
2. Souza CT, Santos DCC, Tolocka RE, Baltieri L, Gibim NC,
[18,19]. Sendo assim, as crianças a termo deste estudo podem
Habechian FA. Avaliação do desempenho motor global e em
ter aprimorado o controle postural e fortalecido as reações
habilidades motoras axiais e apendiculares de lactentes freqüen-
de retificação corporal e de equilíbrio, que permitiram a tadores de creche. Rev Bras Fisioter 2010;14(4):309-15.
realização de movimentos de rotações, mudanças de postura 3. Bouwstra H, Dijk-Stigter GR, Grooten HM, Janssen-Plas FE,
e arrasto. Koopmans AJ, Mulder CD, et al. Prevalence of abnormal ge-
Durante o desenvolvimento da criança, aspectos biológi- neral movements in three-month-old infants. Early Hum Dev
cos e sociais se influenciam mutuamente de modo que fatores 2009;85:399-403.
192 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
4. Nobre FSS, Costa CLA, Oliveira DL, Cabral DA, Nobre GC, 17. Magalhães LC, Catarina PW, Barbosa VM, Mancini MC, Pai-
Caçola P. Análise das oportunidades para o desenvolvimento xão ML. Estudo comparativo sobre o desempenho perceptual
motor (affordances) em ambientes domésticos no Ceará – Brasil. e motor na idade escolar em crianças nascidas pré-termo e a
Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum 2009;19(1):9-18. termo. Arq Neuro-Psiquiatr 2003;61(2):250-5.
5. Santos LM, Santos DN, Bastos ACS, Assis AMO, Prado MS, 18. Santos DCC, Gabbard C, Gonçalves VMG. Motor development
Barreto ML. Determinants of early cognitive development: during the first six months: the case of Brazilian infants. Infant
hierarchical analysis of a longitudinal study. Cad Saúde Pública and Child Development 2000;9:161-66.
2008;24(2):427-37. 19. Santos DCC, Campos D, Gonçalves VMG, Mello BBA, Cam-
6. Lahood A, Bryant CA. Outpatient Care of the Premature Infant. pos TM, Gagliardo HGRG. Influência do baixo peso ao nascer
Am Fam Physician 2007;76:1159-6. sobre o desempenho motor de lactentes a termo no primeiro
7. Yang H, Einspiler C, Shi W, Marschik PB, Wang Y, Cao Y, Li semestre de vida. Rev Bras Fisioter 2004;8(3):261-66.
H, Liao YG, Shao XM. Cerebral palsy in children: Movements 20. Nobre FSS, Lima MSC, Bandeira PFR, Nobre GC. Intervenções
and postures during early infancy, dependent on preterm vs. full motoras como fator determinante no desenvolvimento motor:
term birth. Early Hum Dev 2012;88(10):837-43. estudo comparativo e quase experimental. Rev Acta Bras Mov
8. Ayache MG, Mariani Neto CM. Considerações sobre o Hum 2012;2(2):76-85.
desenvolvimento motor do prematuro. Temas Desenvolv 21. Corbetta D, Snapp-Childs W. Seeing and touching: the role
2003;12(71):5-9. of sensory-motor experience on the development of infant
9. Manacero S, Nunes ML. Avaliação do desempenho motor reaching. Infant Behav Dev 2009;32:44-58.
de prematuros nos primeiros meses de vida na Escala Motora 22. Gaspardo CM, Martinez FE, Linhares MBM. Cuidado ao
Infantil de Alberta. J Pediatr 2008;84(1):53-59. desenvolvimento: intervenções de proteção ao desenvolvi-
10. Vieira LF, Teixeira CA, Silveira JM, Teixeira CL, Oliveira Filho mento inicial de recém-nascidos pré-termo. Rev Paul Pediatr
A, Rorato WR. Crianças e desempenho motor: um estudo 2010;8(1):77-85.
associativo. Motriz 2009;15(4):804-9. 23. Zajonz R, Muller AB, Valentini NC. A influência de fatores
11. Woythaler MA, McCormick MC, Smith VC. Late Preterm ambientais no desempenho motor e social de crianças da
Infants Have Worse 24-Month Neurodevelopmental Outcomes periferia de Porto Alegre. Revista de Educação Física/ UEM
than Term Infants. Pediatr 2011;127(3):622-9. 2008;19(2):159-71.
12. Almeida KM, Dutra MVP, Mello RR, Reis ABR, Martins 24. Castro AG, Lima MC, Aquino RR, Eikmann SH. Desenvol-
OS. Validade concorrente e confiabilidade da Alberta Infant vimento do sistema sensório motor oral e motor global em
Motor Scale em lactentes nascidos prematuros. J Pediatr lactentes pré-termo. Pró-Fono 2007;19:29-38.
2008;84(5):442-8. 25. Arias AV, Gonçalves VMG, Campos D, Santos DC, Goto MMF,
13. Bayley N. Manual – Bayley Scales of infant development. United Zanellli TMC. Recém-nascido pequeno para idade gestacional:
States: the Phychological Corporation; 1993. repercussão nas habilidades motoras finas. Rev Paul Pediatr
14. Vieira MEB, Ribeiro FV, Formiga CKMR. Principais instru- 2011;29(1):21-8.
mentos de avaliação do desenvolvimento da criança de zero a 26. Espirito Santo JL, Portuguez MW, Nunes ML. Status cognitivo-
dois anos de idade. Rev Mov 2009;2:23-31. -comportamental de prematuros de baixo peso ao nascimento
15. Restiffe AP, Gherpelli JLD. Differences in walking attainment em idade pré-escolar que vivem em país em desenvolvimento.
ages between low-risk preterm and healthy full-term infants. Arq J Pediatr 2009;85(1):35-41.
Neuro-Psiquiatr 2012;70(8):593-8. 27. Lubsen J, Vohr B, Myers E, Hampson M, Lacadie C, Schneider
16. Goto MMF, Gonçalves VMG, Netto NA, Morcillo AM, Moura- KH, Constable RT, Ment RL. Microstructural and functional
-Ribeiro MVLM. Neurodesenvolvimento de lactentes nascidos connectivity in the developing preterm brain. Semin Perinatol
a termo pequenos para a idade gestacional no segundo mês de 2011;35(1):34-43.
vida. Arq Neuropsiquiatr 2005;63(1):75-82.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 193
Artigo original
*Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho, São Paulo, **Doutoranda em Ciências da Reabilitação pela Uni-
versidade Nove de Julho e Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho, São Paulo,***Doutora em Ciências pela
Universidade Federal de São Paulo, SP, 2ª secretária da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, ****Professora de Ensino
Superior da Universidade Nove de Julho, *****Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho
Resumo Abstract
Introdução: As alterações da capacidade funcional dos encefalo- Introduction: Changes on the functional capacity of children
patas são conhecidas e pouco valorizadas. A desordem neuromotora with cerebral palsy are known and little valued. Neuromotor disor-
proveniente da lesão cerebral pode promover alterações no sistema der resulting from brain injury can promote changes at the level of
respiratório, motor e cardiovascular. Objetivo: Avaliar a função pul- the respiratory system, cardiovascular and motor skills. Objective:
monar a força muscular respiratória e a capacidade de exercício em To evaluate the pulmonary function, respiratory muscle strength
crianças com paralisia cerebral. Métodos: Foram avaliadas 6 crianças, and exercise capacity in children with cerebral palsy. Methods: We
sendo 5 do sexo masculino com idade de 7 a 12 anos. Todas foram evaluated 6 children, 5 males aged from 7 to 12 years. All were
submetidas ao teste de caminhada de seis minutos (TC6), espiro- submitted to six minutes walk test (6mwt), spirometry, manova-
metria e manovacuometria e avaliação GMFCS. Resultados: Todas as cuometry and GMFCS evaluation. Results: All children walked
crianças percorreram menor distância no TC6 do que o valor predito less distance in TC6 than the predicted value (256.63 ± 100.25
(256,63 ± 100,25 x 605,24 ± 109,05, p = 0,006), apresentaram me- x 605.24 ± 109.05, p = 0.006), had smaller respiratory pressure
nores pressões respiratórias do que os valores preditos (Pimáx-36,66 than the predicted values (Pimáx -36.66 ± 24.18 x -62.91 ± 0.028
± 24,18 x-62,91 ± 8,65 p = 0,028 e Pemáx 40,66 ± 27,87 x 84,36 and Pemáx 40,66 ± 27,87 x 84,36 ± 13,22 p = 0,020), restrictive
± 13,22 p = 0,020), distúrbio restritivo com menor CVF e VEF1/ disorder with less FVC and normal VEF1/CVF and strong negative
CVF normal e correlação forte Pimáx x GMFCS (r =-0,90 e p = correlation Pimáx x GMFCS (r-0.90 and p 0.01) Conclusion: The
0,01) Conclusão: A força muscular respiratória e o teste de cami- respiratory muscle strength and the walk test are significantly below
nhada encontram-se significativamente abaixo dos valores preditos the values predicted by the literature and disturbance in restrictive
pela literatura e distúrbio restritivo na prova de função pulmonar. pulmonary function.
Palavras-chave: paralisia cerebral, Fisioterapia, teste de Key-words: cerebral palsy, Physical Therapy, walking test.
caminhada.
PEmáx os indivíduos inspiraram no bocal até a capacidade como GMFCS III apenas diferia das demais por necessitar
pulmonar total e em seguida, um esforço máximo expiratório de órtese MMII anti-equino.
contra uma via aérea ocluída foi gerado. Durante essa última As crianças apresentaram VEF1 normal com CVF dimi-
medida, os indivíduos seguraram com as mãos a musculatura nuído, Tiffeneau normal e PEF normal, caracterizando um
perioral da face para evitar vazamento e acúmulo de ar na distúrbio de natureza restritiva. A distância percorrida no
região lateral da cavidade oral. TC6 e as pressões respiratórias máximas foram muito abaixo
Nesse estudo, os valores de PImáx e PEmáx encontrados dos valores preditos.
serão comparados com os valores preditos pelas equações
descritas por Wilson et al. [10]. Figura 1 - Distância predita do TC6 e a distância desenvolvida
pelos pacientes com PC.
Análise estatística Distância caminhada prevista TC6 x Obtida Depois
900
Para a análise dos dados foi utilizado o teste de aderência 800
à curva de Gauss Kolmogorov-Smirnov, as variáveis para-
Distância do TC6
700
métricas estão expressas em média e desvio padrão, para a
comparação dos valores obtidos com o previsto foi utilizado 600
o teste t de student pareado e para as correlações foi utilizado 500
Pearson e considerado significante o valor de (p < 0,05) o 400
software utilizado foi o Minitab 14.
300
Resultados 200
100
A média de idade das crianças e adolescentes avaliados 1 2 3 4 5 6
Pacientes
foi de 9,66 anos e o GMFCS foi de II, ou seja, as crianças
Variable TC6 TC6PC
eram capazes de andar nos espaços internos e externos e
subir escadas segurando-se no corrimão, mas apresentavam O gráfico mostra que todas as crianças avaliadas andaram
limitações ao andar em superfícies irregulares e inclinadas e menor distância do que os valores preditos.
em espaços lotados ou restritos. A única criança classificada
Figura 2 - Correlação entre o GMFCS e a pressão inspiratória foram significativamente abaixo dos valores preditos por
máxima. Wilson et al. [10].
Depois Comumente o portador de PC realiza a inspiração
PiMax vs GMFCS
pela boca, o que conduz uma respiração torácica supe-
75 P=0,014 R=-0,90 rior. Geralmente essas crianças não sabem realizar uma
70 respiração profunda ou usar tipos de respiração diferentes,
de acordo com as necessidades fonatórias. Casanova [16]
65
PiMax
Conclusão 11. Scanlan CL, Wilkins RL, Stoller JK. Fundamentos da Teoria
Respiratória de Egan. São Paulo: Revinter; 1999.
Pode-se concluir que crianças e adolescentes portadores 12. Rodrigues JC, Cardieri JMA, Bussamra MHCF, Nakaie CMA,
Almeida MB, Silva Fº LVF, et al. Provas de função pulmonar em
de PC diplégicas com GMFCS I a III apresentam redução
crianças e adolescentes. J Pneumol 2002;28(3):207-21.
da força muscular respiratória, baixa capacidade de exercício 13. Barbosa S. Fisioterapia respiratória: encefalopatia crônica da
e distúrbio respiratório restritivo. infância. Rio de Janeiro: Revinter; 2002.
14. Vijayasekaran S, Unal F, Schraff AS, Johnson RF, Rutter MJ.
Referências Salivary gland surgery for chronic pulmonary aspiration in
children. J Pediatr Otorhinolaryngol 2007;71(1): 119-123.
1. Rotta NT. Paralisia cerebral, novas perspectivas terapêuticas. J 15. Tabith A Junior. Foniatria: disfonias, fissuras labiopalatais,
Pediatr 2002;78(1):28-49. paralisia cerebral. São Paulo: Cortez; 1995. p. 51-17.
2. Borges MBS, Galigali AT, Assad RA. Prevalência de distúrbios 16. Casanova JP. Manual de Fonoaudiologia. 2a ed. Porto Alegre:
respiratórios em crianças com paralisia cerebral na clínica escola Artes Médicas; 1992. 383 p.
de fisioterapia da universidade católica de Brasília. Fisioter Mov 17. Pires MG, Francesco RCD, Grumanch AS, Junior JFM. Avalia-
2005;18(1):37-47. ção da pressão inspiratória em crianças com aumento do volume
3. Slutzky LC. Fisioterapia Respiratória nas enfermidades neuro- de tonsilas. Rev Bras Otorrinolaringol 2005;71(5):598-602.
lógicas. Rio de Janeiro: Revinter; 1997. 18. Marinho APS, Souza MAB, Pimentel AM. Desempenho funcio-
4. Piovesana AMSG, Moura-Ribeiro VL, Zanardi VA, Gonçalves nal de crianças com paralisia cerebral diparéticas e hemiparéicas.
VMG. Hemiparetic cerebral palsy: etiological risk factors and Revista de Ciências Médicas Biológicas 2008;7(1):57-66.
neuroimaging. Arq Neuropsiquiatr 2001;59(1):29-34. 19. Alegretti AL, Manchini MC, Schwartzman JL. Estudo do de-
5. Priesnitz CV, Rodrigues GH, Stumpf CS, Viapiana G, Ca- sempenho funcional de crianças com paralisia cerebral diparética
bral CP, Stein RT, et al. Reference values for the 6-min walk espástica utilizando o Pediatric evaluation of disability inventory
test in healthy children aged 6-12 years. Pediatr Pulmonol PEDI. Temas Desenvolv 2002;11(64):5-11.
2009;44:1174-9. 20. Leunkeu AN, Shephard RJ, Ahmaidi S. Six-Minute Walk Test
6. Maher CA, Williams MT, Olds TS. The six-minute walk test for in children with cerebral palsy GMFCS level I and II: repro-
children with cerebral palsy. Int J Rehabil Res 2008;31(2):185-8. ducibility, validity and training effects. Arch Phys Med Rehabil
7. ATS Statement: guidelines for six-minutes walk test. Am J Resp 2012;93(12):2333-39.
Crit Care Med 2002;166:111-7. 21. Gorter JW, Noorduyn SG, Obeid J, Timmons BW. Accelerome-
8. Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Ti- try: a feasible method to quantify physical activity in ambulatory
siologia. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J Pneumol and nonambulatory adolescents with cerebral palsy. Int J Pediatr
2002;28(Suppl 30):1-238. 2012;2012:329284.
9. Pereira FW, Gerstler JG, Nakatani J. Valores de referência para 22. Mattern-Baxter K, Bellamy S, Mansoor JK. Effects of intensive
a espirometria em uma amostra da população brasileira adulta. locomotor treadmill training on young children with cerebral
J Pneumol 1992;18:10-22. palsy. Pediatr Phys Ther 2009;21(4):308-18.
10. Wilson SH, Cooke NT, Edwards RH, Spiro SG. Predicted
normal values for maximal respiratory pressures in Caucasian
adults and children. Thorax 1984;39(7):535-8.
198 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Artigo original
*Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), **Docente pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Resumo Abstract
Introdução: A utilização de música dentro das unidades de terapia Introduction: The use of music therapy within units is becoming
vem sendo cada vez mais frequente como forma de humanizar a more common as a way of humanizing the care of premature in-
assistência de recém-nascidos prematuros Objetivo: Avaliar a influ- fants. Objective: To evaluate the influence of music and relaxation
ência da música e do relaxamento nos fatores emocionais em mães on emotional factors in mothers with premature infants in the
com prematuros internados na Unidade Intermediária Neonatal. Neonatal Intermediate Unit. Methods: It was conducted a clinical
Métodos: Foi realizado um ensaio clínico quantitativo, formando um trial quantitative, forming a single group of ten mothers, being
único grupo de dez mães, sendo acompanhadas durante oito dias followed for eight consecutive days, were the variables examined
consecutivos. As variáveis observadas foram: frequência cardíaca, were: heart rate, respiratory rate, blood pressure and saturation of
frequência respiratória, pressão arterial e saturação das mães antes mothers before and after the music session. Anxiety was assessed
e depois da sessão de música. A ansiedade foi avaliada antes da before the intervention in the first and eighth day, using the Hamil-
intervenção no primeiro e oitavo dia, pela escala de ansiedade de ton anxiety scale. Results: When comparing the values of variables
Hamilton. Resultados: Na comparação entre os valores das variáveis before and after the song, we observed a decrease in heart rate and
antes e depois da música, observamos redução significativa nas va- respiratory variables, diastolic blood pressure on the seventh day,
riáveis frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial diastólica and oxygen saturation with p <0.05. Conclusion: Music therapy
no sétimo dia e saturação de oxigênio com p < 0,05. Conclusão: A contributed to reduce mothers anxiety and stress during preterm
musicoterapia contribuiu para a diminuição da ansiedade e estresse infants hospitalization.
nas mães de recém-nascidos prematuros internados. Key-words: maternal health services, music, anxiety.
Palavras-chave: serviços de saúde materno, música, ansiedade.
resultados, mas o chamado efeito Mozart continuou a ser dows, na versão 3.06. Em todos os testes utilizados foram
bastante divulgado na mídia, apesar de ser alvo de inúmeras consideradas estatisticamente significantes as diferenças
controvérsias na literatura [7]. em que o valor de p foi menor que 0,05.
A intervenção foi realizada no período vespertino, con-
forme a rotina do serviço. Imediatamente após o término da Resultados
sessão as mães tiveram novamente as variáveis FC, FR, PA,
SatO2 mensuradas e foram acompanhadas pela pesquisadora A idade das mães variou entre 18 e 31 anos, sendo a média
até a entrada da unidade. de 24,80 anos e o desvio padrão da média de 2,83 anos. A
A Escala de Ansiedade de Hamilton [8], compreende 14 média de idade gestacional das crianças foi de 32,30 ± 2,12
itens distribuídos em dois grupos, sendo o primeiro grupo, meses (media ± desvio padrão da média). Foi significativa a
com 7 itens, relacionado a sintomas de humor ansioso e o diferença entre os valores referentes aos sinais vitais aferidos
segundo grupo, também com 7 itens, relacionado a sintomas no momento inicial (anterior a terapia com música) e entre o
físicos de ansiedade – o que possibilita obter escores parciais, momento final (após a terapia com música), exceto quanto à
ou seja, separadamente para cada grupo de itens. pressão arterial diastólica mensurada no 1º dia de terapia (p =
O escore total é obtido pela soma dos valores em graus 0,06; teste t student pareado), conforme descrito na tabela I.
atribuídos em todos os 14 itens da escala, cujo resultado Não foi observada diferença significativa em relação à
varia de 0 a 56. São utilizados valores de 0 a 4 que quan- comparação da média das diferenças entre nenhum dos sinais
tificam a intensidade de cada um dos sintomas, onde: 0 = vitais coletados no momento inicial e entre o momento final
ausência de qualquer sintoma; 1 = intensidade ligeira; 2 = da terapia com música, no 1º e no 7 º dia de tratamento
intensidade média; 3 = intensidade forte; 4 = intensidade (Tabela II).
máxima/incapacitante. A somatória destes valores é utili- No 1º dia anteriormente ao da terapia com música, 20%
zada para quantificar o estado de ansiedade do paciente. das mães do GT apresentavam classificação normal quanto
As faixas de pontuação para esta escala obedecem aos aos escores obtidos na Escala de Ansiedade de Hamilton,
seguintes critérios: 0 a 17 - ansiedade normal; 18 a 24 - 50% delas demonstraram nível leve e 30% um moderado
ansiedade leve; 25 a 29 - ansiedade moderada; acima de nível de ansiedade. O nível de ansiedade avaliado no dia
30 - ansiedade severa. seguinte a última sessão de terapia (8º dia) demonstrou
A Escala foi aplicada no primeiro dia de estudo antes uma mudança para 60% das mães com níveis normais de
da sessão de música e relaxamento e aplicado novamente ansiedade, 40% nível leve e nenhuma delas apresentou
no oitavo dia. A mãe não recebeu a música no oitavo dia, moderado nível de ansiedade. Foi significativa a diferença
somente respondeu à escala. Esta mensuração foi necessária entre estes dois momentos de coleta indicando queda nos
para que pudéssemos verificar se a música e o relaxamento níveis de ansiedade das mães após intervenção terapêutica
realizado interferiram na ansiedade destas mães. Os dados (p = 0,015; Teste de Wilcoxon) conforme demonstrado na
coletados foram anotados pelas pesquisadoras em um Ins- Figura 1.
trumento de Coleta de Dados, pré-elaborada para o estudo As mães pertencentes ao GC responderam à Escala de
e calculados em média ± desvio padrão da média. Para a Ansiedade de Hamilton no dia anterior ao início do controle
comparação entre os dias avaliados foi realizado o teste t e após 7 dias em que seu filho permaneceu internado na UTI
student pareado. A comparação entre os escores da escala neonatal ou unidade intermediária e seus valores não mos-
de Hamilton nos diferentes dias de avaliação foi feita pelo traram diferença significativa (p = 0,37; Teste de Wilcoxon),
teste não paramétrico Wilcoxon. Os resultados analisados caracterizando uma manutenção dos níveis de ansiedade neste
estatisticamente pelo software Graphpad InStat para Win- grupo sem intervenção terapêutica.
Tabela I - Relação entre momentos antes e após sessão de terapia com música, relacionadas às variáveis frequência cardíaca, frequência respi-
ratória, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e saturação de oxigênio. Campo Grande – 2010 (n=10).
Momento da coleta
Variáveis 1º dia (n = 10) 7º dia (n = 10)
Antes Após Valor de p(1) Antes Após Valor de p(1)
Frequência cardíaca 89,3±17,3 80,1±12,4 0,005 Sig.(3) 87,1±11,5 78,0 ± 8,1 0,001 Sig.(3)
Frequência respiratória 15,6 ± 1,9 12,0 ± 1,3 0,0004 Sig.(3) 16,2 ± 2,7 12,8 ± 2,3 0,003 Sig.(3)
Pressão arterial sistólica 119 ± 8,8 114 ± 5,2 0,01 Sig. (3)
117 ± 4,8 109 ± 5,7 0,01 Sig.(3)
Pressão arterial diastólica 74,0 ± 14,3 67,0 ± 13,4 0,06 NS(2) 74,0 ± 5,2 67 ± 6,7 0,02 Sig.(3)
Saturação de oxigênio 97,2 ± 1,5 98,5 ± 1,1 0,01 Sig.(3) 96,3 ± 1,1 98,1 ± 1,0 0,01 Sig.(3)
(1)
Teste t de student pareado; (2)NS = Diferença não significativa; (3)Sig.= Diferença significativa, α = 5%. Valores expressos em Média ± Desvio padrão
da média.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 201
Tabela II - Comparação entre a média das diferenças entre as variáveis frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial sistólica,
pressão arterial diastólica e saturação de oxigênio coletados no momento inicial e no momento final da terapia com música, no 1º e no 7 º
dia. Campo Grande – 2010 (n=10)
Médias das diferenças entre momento Inicial e Final de coleta
Variavéis
1º dia (n = 10) 7º dia (n = 10) Valor de p(1)
Frequência cardíaca 9,2 ± 7,9 9,1 ± 6,5 0,78 NS(2)
Frequência respiratória 3,6 ± 2,1 3,4 ± 2,7 1,0 NS(2)
Pressão arterial sistólica 5,0 ± 5,3 8,0 ± 7,9 0,34 NS(2)
Pressão arterial diastólica 7,0 ± 10,6 -7,0 ± 8,2 0,24 NS(2)
Saturação de oxigênio -1,3 ± 1,4 -1,8 ± 10 0,94 NS(2)
(1)
Teste t de student pareado; (2) NS = Diferença não significativa, α = 5%; Valores expressos em Média ± desvio padrão da média.
Figura 1 - Gráfico ilustrando o percentual de mães de crian- Em um adulto normal em repouso a FC varia de 60 a 100
ças prematuras internadas em berçário patológico, classificados de bpm, é regulada pelo sistema nervoso autônomo, constituído
acordo com a Escala de Hamilton, coletados antes da primeira pelo sistema nervoso simpático (aumenta a FC) e pelo sistema
terapia com música e um dia após a última terapia. Campo nervoso parassimpático (diminui a FC). O sistema nervoso
Grande – 2010 (n=10). simpático supre o coração com uma rede de nervos, o plexo
70 simpático. Já o sistema parassimpático supre o coração através
60%
p = 0,015* de um único nervo, o nervo vago. A FC também é influen-
60
ciada por hormônios circulantes do sistema simpático – a
50%
Percentual de Mães (%)
(PAD), pode-se observar que a PAS teve uma ligeira queda, nossa pesquisa que observou a redução da FC, FR e aumento
apresentando-se estatisticamente significativa no primeiro e da SatO2 [13].
no sétimo dia, após a sessão de música e relaxamento, já a Uma FC menor pode levar a um menor consumo de oxi-
PAD foi expressiva somente no sétimo dia após a intervenção, gênio pelo miocárdio, como foi descrito no estudo de Volpe
em que podemos observar uma diminuição. [18], o qual sugere que o consumo de oxigênio aumenta
No estudo realizado por Zanini [15], no qual o efeito da linearmente com o aumento da frequência cardíaca.
música foi avaliado, levando em consideração a qualidade Em relação à ansiedade materna, observamos uma dimi-
de vida dos participantes assim como um fator de risco pré- nuição. Karst [5], em seu estudo, coletou através de gravações
-existente (pressão arterial) dos pacientes selecionados, pode-se de áudio depoimentos de mães de RN internados na UTI ne-
observar uma queda significativa da PAS, PAD e pressão arte- onatal que relataram que após as sessões de música sentiam-se
rial média (PAM). Estes achados estão em concordância com menos ansiosas no momento da visita ao seu filho no setor.
os resultados obtidos em nosso estudo, apesar da existência Fracalossi [19] observou através de depoimentos a impor-
de algumas particularidades da amostra. tância da música nas mães de prematuros, percebendo que
Em um estudo realizado por Lima [10], os dados en- houve uma melhora da qualidade de vida na visita das mães
contrados evidenciaram uma diminuição em dois graus de que interagiram melhor com os RN e sentiram-se acolhidas.
mercúrio na PA, sugerindo que a música exerce influência Há diversas escalas para avaliar a ansiedade entre elas está
significativa, por promover um relaxamento corporal. White a de Hamilton que, ao longo do tempo, passou a ser empre-
[9] também estudou o efeito da música em algumas variáveis gada também em pacientes não internados. Assim como para
como a PAS e pôde observar uma tendência a diminuição, avaliação da ansiedade de mães de RNPT, adotando os pontos
porém não foram significativas. de corte classificatórios. Ainda há alguns questionamentos
A PA normal varia de 120mmhg por 80 mmhg. A ansieda- relativos à falta de padronização na aplicação [20]. Por isso,
de altera a PA uma vez que ativa o sistema nervoso simpático em nosso estudo apenas uma pesquisadora aplicou as escalas.
que por sua vez aumenta a FC e provoca uma vasoconstrição A padronização da pontuação da escala de Hamilton é
periférica levando a um aumento da PA [13]. bastante utilizada por pesquisadores do mundo, para fins
Cook [16] demonstrou que a música afeta o lado direito do clínicos e acadêmicos. Apesar de diversas escalas para ava-
cérebro e pode causar a liberação de endorfina pela glândula liação da ansiedade, muitas delas foram construídas como
pituitária levando ao alívio da dor. O nível de catecolaminas modificações da de Hamilton [20].
diminui, causando redução da pressão sanguínea. A importância da musicoterapia na medicina tem seu pon-
Acreditamos que a alteração na PA observada em nosso to máximo na redução do stress, da ansiedade e da sensação de
trabalho pode ter ocorrido em função do descanso da mãe, isolamento. Este objetivo é atingido, porque a música é uma
em posição confortável, uma vez que o ambiente foi repro- atividade de lazer, que ajuda o paciente a focar sua atenção,
duzido, lembrando um quarto de bebê, com a utilização de que antes estava voltada para dor e ansiedade, em alguma
lençóis, travesseiros, cortina, além dos ursinhos de pelúcia, coisa mais prazerosa [17].
tornando um ambiente agradável, com objetivo de promover No ambiente hospitalar deve-se pensar na produção de
o relaxamento, fugindo do ambiente hospitalar. cuidados e práticas humanizadoras, levando-se em conta as
Zanini [15] pesquisou a influência da música em pacien- especificidades desse labor que envolve a utilização intensiva
tes hipertensos e os resultados sinalizaram que a música e a de capacidades físicas e psíquicas, intelectual e emocional,
diminuição do estresse contribuem para o controle da pressão incluindo troca de afetos e de saberes [21]. A música atua de
arterial e para a melhoria da qualidade de vida do paciente. forma benéfica diminuindo a ansiedade materna, podendo
Hatem [17] cita que a música através de um efeito psicosso- melhorar até mesmo a relação interpessoal entre a mãe e
mático pode inibir estímulos que resultam em aumento da equipe responsável pelo RNPT.
pressão arterial.
A música envolve a transformação dos estímulos sonoros Conclusão
em fenômenos elétricos e químicos, os únicos que podem
circular no interior do cérebro. O ouvido capta o som, que Concluímos que a música clássica e o relaxamento influen-
faz vibrar os tímpanos. Iniciam-se fenômenos fisiológicos ciaram na ansiedade materna das mães de RNPT internados
que passam pelas vias nervosas acústicas, as quais modificam na Unidade Intermediária Neonatal, diminuindo os escores
suas qualidades físicas e químicas, devido a intervenção de de ansiedade. Esta atividade representa um reforço na abor-
vários agentes intercerebrais até chegar às estruturas centrais, dagem terapêutica em programas de atendimento às mães e
que percebem consciente ou inconscientemente os sons sugerimos que ambas as práticas possam fazer parte das ações
musicais [10]. e estratégias da Política Nacional de humanização. Foram ob-
Os dados disponíveis relacionados a esta variável ainda servadas repercussões fisiológicas de forma imediata nos sinais
são discretos, mas sabemos que a FR, o débito cardíaco e a vitais, não apresentando efeito acumulativo. Sugerimos que
FC influenciam nas trocas gasosas justificando o resultado de novas pesquisas científicas sejam realizadas, a fim de garantir
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 203
uma terapêutica segura até que dados contundentes sejam 9. White JM. Effects of relaxing music on cardiac autonomic ba-
disponibilizados na literatura. lance and anxiety after acute myocardial infarction. Am J Crit
Care 1999;8(4):220-30.
Referências 10. Lima E, Iwamoto E. Musicoterapia durante o processo cirúrgico
e cirurgias vasculares. Em Extensão 2010;9(1):46-54.
11. Franco M, Rodrigues AB. A musica no alívio de dor em pacientes
1. Vasconcelos MGL, Leite AM, Scochi CGS. Significados atribu-
oncológicos. Einstein 2009;7(2):147-51.
ídos à vivência materna como acompanhante do recém-nascido
12. Júnior JDS. A utilização da música com objetivos terapêuticos:
pré-termo e de baixo peso. Rev Bras Saúde Matern Infant
interfaces com a bioética. Goiânia: Universidade Federal de
2006;6(1):47-57.
Goiás; 2008.
2. Fraga DA, Linhares MBM, Carvalho AEV, Martinez FE. De-
13. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. Rio
senvolvimento de bebês prematuros relacionados a variáveis
de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996.
neonatais e maternas. Psicologia em Estudo 2008;13(2):335-
14. Clellan R. O poder terapêutico da música. São Paulo: Siciliano;
44.
1994.
3. Correia LL, Linhares MBA. Ansiedade Materna nos períodos
15. Zanini CRO, Jardim PCBV, Salgado CM, Nunes MC, Urzêda
pré e pós-natal: revisão da literatura. Revista Latinoam Enferm
FL, Carvalho MVC. O efeito da musica na qualidade de vida
2007;15(4):677-83.
e na pressão arterial do paciente hipertenso. Arq Bras Cardiol
4. Tavares GR, Mota JAC, Magro C. Visão sistêmica da prema-
2009;93(5):534-40.
turidade: as intervenções entre a família e equipe de saúde do
16. Cook JD. Music as an intervention in the oncology setting.
recém-nascido pré-termo em UTI neonatal. Rev Paul Pediatria
Cancer Nurs 1986;9(1):23-28.
2006;24(1):27-34.
17. Hatem TP, Lira PI, Matos SS. The therapeutic effects of music
5. Karst TL, De Sá C. Musicoterapia com mães de recém-nascido
in children following cardiac surgery. J Pediatr 2006;82:186-92.
internados em UTI neonatal. XII Simpósio Brasileiro de
18. Volpe JJ. Intraventricular hemorrhage and brain injury in the
Musicoterapia Pesquisa,VI Encontro Nacional de Pesquisa em
premature infant: neuropathology and pathogenesis. Clin Pe-
Musicoterapia, 06 a 09 de set 2006 – Goiânia/GO.
rinat 1999;16:361-86.
6. Ballard JL, Khoury JC, Wedig K, Wang L, Eilers-Walsman BL, et
19. Fracalossi RDP. A música que embala o canto que alimenta: A
al. New Ballard Score, expanded to include extremely premature
musicoterapia com mães e seus bebês prematuros [monografia].
infants. Pediatr 1991;119(3):417-23.
Rio de Janeiro: Conservatório Brasileiro de Música; 2003.
7. Psiqweb. A música e o cérebro [online]. [citado 08 nov 2010].
20. Jatobá JDVN, Bastos O. Depressão e ansiedade em adolescentes
Disponível em URL: http://www.psiqweb.med.br.
de escolas públicas e privadas. J Bras Psiquiatr 2007;56(3):171-9.
8. Amban. Ambulatório do Estudo da Ansiedade. Tradução da
21. Henninhton EA. Gestão dos processos de trabalho e humaniza-
Escala de Ansiedade de Hamilton. São Paulo: Amban; 1985.
ção em saúde: reflexões a partir da ergologia. Rev Saúde Pública
2008;42(3):555-61.
Assine já!
Fisioterapia Brasil
Artigo original
*Fisioterapeuta, São Paulo/SP, **Graduando do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP, São Paulo/SP, ***Professor
do Curso de Ciências da Atividade Física da EACH – Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo –
USP, ****Professor Especialista do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP, São Paulo/SP
Resumo Abstract
Os músculos posteriores da coxa são responsáveis pelos movi- The hamstrings muscles are responsible for knee flexion and
mentos de flexão de joelho e extensão do quadril. Sua elasticidade hip extension. Their elasticity is important in postural balance, for
é importante no equilíbrio postural, na manutenção completa de maintenance of knee and hip range of motion, as well as injury pre-
amplitude de movimento do joelho e do quadril, além da prevenção vention and optimization of musculoskeletal function. The objective
de lesões e otimização da função musculoesquelética. O objetivo of this study was to evaluate the elasticity of the hamstring muscles
deste estudo foi avaliar a flexibilidade dos músculos posteriores da in the military police motorcyclists in the city of São Paulo. Twenty-
coxa em policiais militares motociclistas da cidade de São Paulo. -five policemen without previous disease diagnosis, who used any
Foram avaliados 25 policiais sem doença prévia diagnosticada, que medication or were practitioners of sports activity as a professional,
fizessem uso de qualquer medicação ou que fossem praticantes were evaluated. With respect to flexibility, we applied the bank of
de atividade desportiva em caráter profissional. Para avaliação da Wells of sit-and-reach test and universal goniometer. Descriptive
flexibilidade foram utilizados o banco padrão (de Wells) do teste statistics were used for data description of the subjects and to analyze
sentar-e-alcançar e o goniômetro universal. Estatística descritiva foi the differences between the averages was applied the Student t test.
utilizada para descrição dos dados dos sujeitos, e para análise das The Pearson correlation test was used for correlation of the results
diferenças entre as médias obtidas foi aplicado o teste t de Student. of the test sit-and-reach and verification of the popliteal angle. The
O teste de Correlação de Pearson foi utilizado para correlação dos police motorcyclists evaluated in this study showed a decrease in
resultados obtidos do teste sentar-e-alcançar e verificação do ângulo flexibility of the hamstrings, with moderate to strong correlation
poplíteo. Os policiais motociclistas avaliados neste estudo apresenta- of values obtained in tests.
ram diminuição da flexibilidade dos músculos posteriores da coxa, Key-words: motorcycles, evaluation, police.
com correlação de moderada a forte dos valores obtidos nos testes.
Palavras-chave: motocicletas, avaliação, polícia.
Foi utilizado o banco do teste sentar-e-alcançar (banco Tabela I - Dados antropométricos dos voluntários (média ± desvio
de Wells), que consistiu em uma caixa de madeira medindo padrão).
30,5 cm x 30,5 cm x 30,5 cm, com um prolongamento de Idade
Massa (kg) Altura (m) IMC
23 cm para o apoio dos membros superiores dos sujeitos (anos)
avaliados. No local do apoio plantar, na caixa, foi construída 84,64 ± 1,78 ± 27,28 ±
N= 25 36,6 ± 5,8
uma abertura (porta) de 27 cm de altura x 27 cm de largura, 11,65 0,05 3,44
que possibilita eliminar a influência dos músculos gastroc-
nêmios durante o teste [20]. Os sujeitos foram posicionados Em relação ao tempo diário de permanência sentado
sentados sobre a região isquiática, de frente para o banco, sobre a motocicleta, 24% dos sujeitos avaliados relataram
joelhos em extensão com a face plantar dos pés apoiadas trabalhar 8h/dia na posição sentada, 20% 9h/dia, 16%
na face perpendicular do banco; os membros superiores 6h/dia, 12% 10h/dia, 8% 7h/dia, 8% 4h/dia, 4% 5h/dia,
alinhados com a fita métrica do banco, com as palmas das 4% 2h/dia e 4% 25 minutos sobre a motocicleta por dia
mãos voltadas para baixo e uma mão sobreposta à outra. Foi (Figura 1).
solicitado aos voluntários que realizassem flexão do tronco
com a intenção de alcançar a máxima distância possível em Figura 1 - Percentual de sujeitos por tempo de permanência sentado
direção aos pés [4,25-29], de forma lenta e rítmica; o alcance sobre a motocicleta por dia de trabalho.
máximo dos dedos médios determina a pontuação do teste
de sentar e alcançar.
0,24
Após um intervalo de repouso de cinco minutos, os 0,16 0,2
0,12
sujeitos foram posicionados em decúbito dorsal horizontal 0,04 0 0,04 0
0,08
0,04
0,08
com o quadril e joelho do membro inferior a ser testado em
1h a
2h a
3h ia
4h ia
5h ia
6h ia
7h a
8h ia
9h ia
10 dia
a
flexão de 90°, mantendo o membro inferior contralateral em
i
i
di
/d
/d
/d
/d
/d
/d
/d
/d
/d
/
h/
in
extensão completa sobre a mesa de exame. Em seguida o joe-
m
25
policiais
lho testado foi estendido e o quadril fletido passivamente até
o ponto de resistência média dos músculos ao alongamento, No que diz respeito à carga horária semanal de trabalho
com o pé em flexão plantar; neste ponto foi feita a medição (Figura2), os seguintes dados foram obtidos: 68% dos indi-
do ângulo de flexão do joelho com um goniômetro plástico víduos relataram trabalhar 48 h/semana, 8% 60 h/semana,
universal da marca CARCI, sendo calculado em seguida 8% 44 h/semana, 8% 40 h/semana, 4% 42 h/semana, 4%
o ângulo complementar que somado ao primeiro obtido, 36 h/semana.
alcançaria os 180 graus. O goniômetro foi posicionado no
eixo de perna e no prolongamento do eixo da coxa ao fazer Figura 2 - Percentual de sujeitos por carga horária semanal de
a extensão passiva da perna, com o paciente em decúbito trabalho sentado sobre a motocicleta.
dorsal horizontal, quadril a 90 graus de flexão e membro 0,68
contralateral em extensão, conforme descrição da técnica
de Bleck [17].
Utilizou-se a estatística descritiva para caracterização dos 0,04 0,08 0,04 0,08 0,08
resultados em média, porcentagem e desvio-padrão, e para
verificação da diferença dos parâmetros mensurados, o Teste t
a
a
an
an
an
an
an
an
em
em
em
em
em
/s
/s
/s
/s
/s
/s
hs
hs
hs
hs
hs
36
40
42
44
48
60
Tabela II - Distribuição das médias e desvios-padrão das avaliações A relação entre o ângulo poplíteo do membro esquerdo
do ângulo poplíteo (AP) direito e esquerdo e do teste sentar-e-alcançar com o SA porta aberta se mostrou forte (r = 0,83) e estatisti-
(SA) com a porta aberta e porta fechada. camente significativa (p < 0,0001) (Figura 5).
AP direito AP esquer- SA porta SA porta
(ângulo/ do (ângu- aberta fechada Figura 5 - Correlação dos dados obtidos nos testes de verificação do
graus) lo/graus) (cm) (cm) ângulo poplíteo esquerdo e sentar-e-alcançar com a porta aberta.
P 40
N = 25 60,4 ± 62,8 ± 14 16,28 ± 12,28 ±
14,57 8,95 8,43
30
A relação entre o ângulo poplíteo do membro direito com
o SA porta aberta se mostrou moderada (r = 0,56) e estatis-
ticamente significativa (p = 0,0032) (Figura 3). 20
0
30 50 60 70 80 90 100
30 AP esquerdo x SA porta aberta (p<0,0001)
paração da avaliação do ângulo formado pela articulação do Neste grupo de voluntários avaliados 52% dos sujeitos
quadril, mensurado pelo ângulo de inclinação do sacro e da apresentaram a mesma medida em graus do ângulo poplíteo
pelve em relação ao solo, e o SA, descreveram que a inter- bilateralmente, os restantes não demonstraram relação com
ferência determinada pela abdução escapular, mobilidade o lado dominante, diferindo de outros estudos [36,6], nos
da coluna e fatores antropométricos no resultado do SA quais o membro dominante apresentou melhor desempenho.
mostrou valores de 3 a 5 cm de diferença no resultado final. Na avaliação do SA, a amostra apresentou menor amplitude
Na literatura é encontrada uma classificação desse teste, em de movimento alcançada ao final do teste, quando o proce-
que até 11 cm a flexibilidade do sujeito é considerada fraca, dimento foi realizado com flexão dorsal dos pés a 90° (pés
de 12 a 13 regular, de 14 a 18 média, de 19 a 21 boa e acima fixos contra a porta fechada do banco) devido ao estiramento
de 22 cm excelente [32]. Em estudo de Cardoso et al. [25], a dos músculos gastrocnêmios, sendo um fator limitante para
média do resultado do SA foi 28,2 cm com a porta fechada e a continuidade deste teste, conforme descrição de alguns es-
32,5 cm com a porta aberta, e os resultados encontrados no tudos [16,21,29]. A correlação dos valores obtidos nos testes
estudo de Kawano et al. [29] demonstraram uma média de demonstrou-se moderada para o membro inferior direito, e
29,0 cm com a porta fechada e 33,4 cm com a porta aberta, forte para o membro esquerdo, havendo significância entre
portanto, ambos os resultados foram bem maiores do que todas as correlações, indicando que quanto maior a medida
os obtidos no presente estudo (12,28 com a porta fechada e do ângulo poplíteo, menores as medidas obtidas dos poste-
16,28 com a porta aberta), caracterizando menor flexibilidade riores da coxa, havendo concordância nas respostas dos testes,
dos posteriores da coxa no grupo de policiais avaliados. conforme descrito no estudo de Chertman et al [37].
A dor lombar foi observada e relacionada com a pos- A alta incidência de dor lombar presente neste estudo está
tura de dirigir pelos autores em estudo realizado com 400 citada e correlacionada em estudo realizado com motoristas
profissionais que trabalham com motocicletas e automóveis de ônibus no qual os autores [7] verificaram que na posição
através da aplicação de um questionário. Observou-se que sentada, além da dor lombar também ocorrem dores no pes-
a prevalência de dor lombar ocorreu em 60% do total dos coço, costas, joelhos e coxas entre os motoristas com jornada
motociclistas estudados, com ênfase na postura como origem de trabalho de 9 a 10 h/dia durante cinco dias da semana. O
das queixas [30]. Em estudo realizado na Inglaterra com tempo de condução é um agravante, pois os profissionais que
policiais, os resultados demonstraram que em profissionais trabalham por mais horas na posição sentada evidenciaram um
que trabalham sentados e dirigindo a dor lombar está mais fator desencadeante de lombalgia conforme descrito [7], não
presente do que em policiais que trabalham na posição havendo nenhum estudo publicado que comprove estas alte-
sentada mas não dirigem, ou do que aqueles que trabalham rações em motociclistas. Em um levantamento de estudos de
em pé. Em policiais motociclistas há uma alta prevalência Souza et al.[38], os autores concluíram que a postura lombar
significativa de queixas nos ombros em relação aos policiais em flexão adotada pela maioria das pessoas para a realização
motoristas de automóveis [31]. das atividades de vida diária mostra-se um considerável fator
Em relação ao ângulo poplíteo não foram encontrados na para o desenvolvimento de lombalgias, e que os músculos
literatura valores ideais e absolutos para compararmos nossa estabilizadores profundos da coluna vertebral têm uma grande
amostra, porque a medida do ângulo poplíteo apresenta gran- importância na prevenção da ocorrência destas queixas.
de variabilidade, não nos permitindo estabelecer um valor de Vários testes confiáveis estão
disponíveis para se avaliar
normalidade [34]. A média dos valores obtidos em relação ao comprimento dos músculos posteriores da coxa, no entanto
ângulo poplíteo foi maior no membro inferior esquerdo (62,8 a validade dos testes como uma medida de comprimento
graus) em relação ao direito (60,4 graus), sugerindo menos destes músculos tem sido questionada. O teste de sentar-e-
flexibilidade dos isquiosurais à esquerda, sugerindo relação -alcançar é amplamente utilizado também em sua relação
com a localização do pedal do câmbio, que nas motocicletas com outras variáveis, como, por exemplo, no estudo de An-
se localiza à esquerda. loague et al. [39] em que os autores avaliaram a flexibilidade
Os valores médios do ângulo poplíteo encontrados neste dos posteriores da coxa com o uso teste de sentar-e-alcançar,
estudo foram similares aos de Filho e Navarro [35], que ob- em função da relação da flexibilidade dos membros inferiores
tiveram valores para o ângulo poplíteo que variaram de 120 e tronco com a extensibilidade dos tecidos moles na rotação
graus a 180 graus, pela técnica de Vernieri [17], cuja medida lateral do ombro de atletas lançadores de beisebol. Verifi-
é tomada pela extensão máxima partindo do joelho em flexão, caram uma forte relação entre a ADM rotacional do braço
diferentemente da técnica utilizada neste estudo, em que a dominante e o teste de sentar-e-alcançar. Outro exemplo é
medida foi verificada pela distância complementar que faltava observado no estudo de Chen et al. [40], no qual o teste de
para atingir os 180º esperados. Achados de Polachini et al. sentar-e-alcançar foi aplicado como uma dentre outra vari-
[6] apresentaram médias de 156 ± 11 graus no lado direito e áveis de capacidade física que poderiam indicar resistência
151 ± 12 graus no lado esquerdo, já os de Lucareli et al. [36] à insulina em indivíduos com pelo menos um fator de risco
obtiveram médio AP no lado direito (146,3 ± 9,3 graus) e no de diabetes juntamente com um questionário. Phrompaet et
esquerdo (143 ± 7,63 graus). al.[41] avaliaram o efeito do treinamento pelo método Pila-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 209
tes na melhora da estabilidade e flexibilidade lombo-pélvica, como alternativa para a medida de flexibilidade de crianças e
utilizando o teste de sentar-e-alcançar e concluíram que o adolescentes. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2009;14:190-6.
Pilates pode ser utilizado como método auxiliar para ganho 3. Alexandre NMC, Moraes MAA. Modelo de avaliação
de estabilidade e flexibilidade do segmento lombo-pélvico. físico-funcional da coluna vertebral. Rev Latinoam Enferm
2001;9(2):67-75.
Kordi et al. [42] realizaram uma pesquisa com mulheres sau-
4. Lamari N, Marino LC, Cordeiro JA, Pellegrini AM. Flexi-
dáveis no Teerã entre 20 e 60 anos, avaliaram a diminuição bilidade anterior do tronco no adolescente após o pico da
da aptidão física em relação à idade, e descobriram que a velocidade de crescimento em estatura. Acta Ortop Bras
variável flexibilidade não se alterou com o envelhecimento, 2007;15:25-9.
através do uso do teste de sentar-e-alcançar. No estudo de 5. Lamari NM, Chueire AG, Cordeiro JA. Analysis of joint
Yamamoto et al. [43] o teste de sentar-e-alcançar foi aplicado mobility patterns among preschool children. São Paulo Med J
para verificação da flexibilidade, e os autores observaram 2005;123(3):119-23.
que pouca flexibilidade está associada a uma maior rigidez 6. Polachini LO, Fusazaki L, Tamaso M, Tellini GG, Masiero D.
arterial relacionada com a idade, determinando que a flexi- Estudo comparativo entre três métodos de avaliação do encur-
tamento de musculatura posterior de coxa. Rev Bras Fisioter
bilidade pode ser um preditor da rigidez arterial.
2005;9(2):187-93.
Em estudo realizado por Davis et al.[44] os autores exa-
7. Marques NR, Hallal CZ, Gonçalves M. Características biome-
minaram 4 testes clínicos usados para medir o comprimento cânicas, ergonômicas e clínicas da postura sentada: uma revisão.
dos músculos posteriores da coxa, o teste do ângulo de exten- Fisioter Pesq 2010;17(3)270-6.
são do joelho (KEA), o ângulo sacral, o teste de elevação da 8. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl D. Cinesiologia Clínica de
perna reta e o teste de sentar-e-alcançar (SA). Com base nos Brunnstrom. 5a ed. Barueri: Manole; 1997.
resultados desta pesquisa, estes testes não devem ser utilizados 9. Zapater AR, Silveira DM, Vitta A, Padovani CR, Silva JCP.
de forma comparativa ao avaliar comprimento dos músculos Postura sentada: a eficácia de um programa de educação para
isquiosurais. Apesar de não ter sido estabelecido um teste escolares. Ciênc Saúde Col 2004;9(1):191-9.
padrão ouro para verificação do comprimento dos posteriores 10. Almeida ICGB, Sá KN, Silva M, Baptista A, Matos MA, Lessa
I. Prevalência de dor lombar crônica na população da cidade de
da coxa, os autores recomendam a adoção do KEA (verificação
Salvador. Rev Bras Ortop 2008;3(43):96-102.
do ângulo poplíteo) como o mais confiável. 11. Hall SJ, Biomecânica básica. 5° ed. Barueri: Manole; 2009.
Na medida da flexibilidade dos músculos posteriores da 12. Kapandji AI. Fisiologia articular. 5ª ed. São Paulo: Panameri-
coxa algumas outras variáveis não analisadas neste estudo cana; 2000.
devem ser também levadas em consideração, como as diferen- 13. Boldrini CM, Tomé F, Moesch J, Mallmann JS, Oliveira LU,
ças de proporção entre os membros superiores e inferiores, a Roberti NF. Avaliação da confiabilidade intra e interavaliadores
mobilidade da coluna vertebral, abdução escapular, além da e intertécnicas para três instrumentos que mensuram a exten-
mobilidade do tecido conjuntivo neural. Estas variáveis não sibilidade dos músculos isquiostibiais. Fitness & Performance
estudadas podem interferir nos resultados obtidos. 2009;8(5):342-8.
14. Brasileiro JS, Faria AF, Queiroz LL. Influência do resfriamento
Sabe-se da influência da coluna lombar na rotação da
e do aquecimento local na flexibilidade dos músculos isquios-
pelve e consequente interferência na flexibilidade dos mús-
tibiais. Rev Bras Fisioter 2007;11(1):57-61.
culos posteriores da coxa durante a flexão do quadril [45]. A 15. Marr M, Baker J, Lambon N, Perry J. The effects of the Bowen
postura e a mobilidade da coluna lombar não são levadas em technique on hamstring flexibility over time: a randomised
consideração na execução do teste sentar-e-alcançar. controlled trial. J Bodyw Mov Ther 2011;15:281-290.
16. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos: provas e
Conclusão funções. São Paulo: Manole; 1995.
17. Pereira LF. Ângulo poplíteo: avaliação em 590 crianças de 6 a
Os policiais motociclistas avaliados neste estudo apresen- 14 anos [monografia]. Florianópolis: Universidade Federal de
taram diminuição da flexibilidade dos músculos posteriores Santa Catarina; 2004.
18. Wells KF, Dillon EK. The sit and reach. A test of back and leg
da coxa, com correlação de moderada a forte dos valores
flexibility. Res Q Exerc Sport 1952;23:115-8.
obtidos nos testes. Futuros estudos com observação e controle 19. Sacco ICN, Aliberti S, Tessuti V, Costa MSX, Gomes DR,
de variáveis que não foram abordadas nesta pesquisa devem Hamamoto AN. Influência de uma única intervenção ins-
ser realizados, colaborando para obtenção de resultados mais trutiva fisioterapêutica na flexibilidade global e amplitude
fidedignos. angular do quadril durante a flexão do tronco. Rev Fisiot Pesq
2006;13(3):14-23.
Referências 20. Baltaci G, Un N, Tunay V, Besler A, Gerçeker S. Comparison
of three different sit-and-reach test for measurement of hams-
1. Farinatti PTV. Flexibilidade e esporte: uma revisão da literatura. tring flexibility in female university students. Br J Sports Med
Rev Paul Educ Fís 2000;14(1):85-96. 2003;37:59-61.
2. Moreira RP, Bergmann GG, Lemos AT, Cardoso LT, Nina 21. Barlow A, Clarke R, Johnson N, Seabourne B, Thomas D, Gal J.
GLD, Machado DT et al. Teste de sentar e alcançar sem banco Effect of massage of the hamstring muscle group on performance
of the sit-and-reach test. Br J Sports Med 2004;38:349-51.
210 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
22. George JW, Tunstall AC, Tepe RE, Skaggs CD. The effects of 33. Kiss MAPD. Esporte e exercício: avaliação e prescrição. São
active release technique on hamstring flexibility: a pilot study. Paulo: Roca; 2003.
J Manipulative Physiol Ther 2006;29:224-7. 34. Malheiros DS, Cunha FM, Lima CLFA. Análise da medida do
23. O’Sullivan K, Murray E, Sainsbury D. The effects of active ângulo poplíteo em crianças de sete a 13 anos de idade. Rev
release technique on hamstring flexibility: a pilot study. J Ma- Bras Ortop 1995;30:693-8.
nipulative Physiol Ther 2006;29:224-7. 35. Filho AAA, Navarro RD. Avaliação do ângulo poplíteo
24. Hallal PC, Simões E, Reichert FF, Azevedo MR, Ramos LR, em joelhos de adolescentes assintomáticos. Rev Bras
Pratt M et al. Validity and reliability of the telephone-adminis- Ortop 2003;37:461-6.
tered international physical activity questionnaire in Brazil. J 36. Lucareli PRG, Galvani NB, Rocha FBS, Lima MO, Gimenes
Phys Activ Health 2010;7:402-9. RO, Lucareli JGA et al. A influência do músculo íliopsoas na
25. Cardoso JR, Azevedo NCT, Cassano CS, Kawano MM, mensuração do ângulo poplíteo. Fisioter Bras 2009;10(1):38-42.
Âmbar G. Confiabilidade intra e interobservador da análise 37. Chertman C, Santos HMC, Pires L, Wajchenberg M, Martins
cinemática angular do quadril durante o teste sentar e alcançar DE, Puertas EB. Estudo comparativo do arco de movimento
para mensurar o comprimento dos isquiotibiais em estudantes da coluna lombar em indivíduos praticantes e não praticantes
universitários. Rev Bras Fisioter 2007;11(2):133-8. de esporte. Rev Bras Ortop 2010;45(4):389-94.
26. Jones CJ, Rikli RE, Max J, Noffal G. The reliability and validity 38. Souza NS. A influência da estabilização segmentar vertebral
of a chair sit-and-reach test as a measure of hamstring flexibility no tratamento da lombalgia por disfunção postural em flexão.
in older adults. Res Q Exerc Sport 1998;69:338-43. Fisioterapia Ser 2010;5(3):180-3.
27. Hui SS, Yuen PY. Validity of the modified back-saver sit-and 39. Anloague PA, Spees V, Smith J, Herbenick MA, Rubino J. Gle-
reach test: a comparison with other protocols. Med Sci Sports nohumeral range of motion and lower extremity flexibility in
Exerc 2000;32(9):1655-9. collegiate-level baseball players. Sports Health 2012;4(1):25-30.
28. Lemmink KA, Kemper HC, de Greef MH, Rispens P, Stevens 40. Chen CN, Chuang LM, Wu YT. Clinical measures of physical
M. The validity of the sit-and-reach test and the modified sit- fitness predict insulin resistance in people at risk for diabetes.
-and-reach test in middle-aged to older men and women. Res Phys Ther 2008;88(11):1355-64.
Q Exerc Sport 2003;74:331-7. 41. Phrompaet S, Paungmali A, Pirunsan U, Sitilertpisan P. Effects
29. Kawano MM, Âmbar G, Oliveira BIR, Boer MC, Cardoso of Pilates training on lumbo-pelvic stability and flexibility. Asia
APRG, Cardoso JR. Influence of the gastrocnemius muscle on J Sports Med 2011;2(1):16-22.
the sit-and-reach test assessed by angular kinematic analysis. 42. Kordi MR, Fallahi AA, Sangari M. Related physical fitness and
Rev Bras Fisioter 2010;14(1):10-5. normative data in healthy women, Theran, Iran. Iranian J Publ
30. Akinbo SR, Odebiyi DO, Osasan AA. Characteristics of back Health 2010;39(4):87-101.
pain among commercial drivers and motorcyclists in Lagos, 43. Yamamoto K, Kawano H, Gando Y, Lemitsu M, Murakami H.
Nigeria. West Afr J Med 1998:27(2):87-91. Poor trunk flexibility is associated with arterial stiffening. Am J
31. Gyi DE, Porter JM. Musculoskeletal problems and driving in Physiol Heart Circ Physiol 2009:297:1314-8.
Police officers. Occup Med 1998;48:153-60. 44. Davis DS, Quinn RO, Whiteman CT, Williams JD, Young
32. Cornbleet S, Woolsey N. Assessment of hamstring muscle length CR. Concurrent validity of four clinical tests used to measure
in school-aged children using the sit-and-reach test and the incli- hamstring flexibility. J Strength Cond Res 2008;22(2):583-8.
nometer measure of hip joint angle. Phys Ther 1996;76:850-5. 45. Norris CM. Spinal stabilisation – muscle imbalance and the
low back. Physiotherapy 1995;81(3):20-31.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 211
Artigo original
*Aluno do curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE, São Paulo/SP, **Professor
do curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo/SP, ***Professor do curso
de Odontologia da UNINOVE, São Paulo/SP
Resumo Abstract
A destruição tecidual associada aos quadros de osteomielite está The tissue destruction associated with bone infection is related
relacionada aos constituintes e aos produtos dos microorganismos to the constituents of infectious microorganisms, their products and
infectantes e à ativação de células do próprio tecido e do sistema the activation of secretory cells of the tissue itself and the immune
imunológico. O lipopolissacarídeo (LPS), componente da parede system. The lipopolysaccharide (LPS), wall component of gram-
de bactérias gram-negativas, é um potente indutor de reabsorção -negative bacteria, is a potent inducer of bone resorption. On the
óssea. Por outro lado, o laser em baixa intensidade (LBI) tem sido other hand, the low level laser therapy (LLLT) has been used in bone
utilizado em tecidos ósseos com o intuito de acelerar o processo de tissue in order to accelerate the repair process. The present study
reparo. Este estudo avaliou os efeitos do LBI sobre a proliferação de evaluated the effects of LLLT (AsGaAl 780 nm, 3 J/cm2, 10 mW,
osteoblastos cultivados em situação de simulação de infecção. Para beam spot of 0.04 cm2, total energy 0.12 J) on the proliferation of
tanto, osteoblastos da linhagem OSTEO-1 (derivados de calvária osteoblasts cultured in the presence of LPS. The MTT method was
de ratos), cultivados na presença LPS (E.coli), foram irradiados com employed to evaluate cell proliferation after 1, 3 and 5 days. The
LBI (Ga-Al-As, 780 nm, 10 mW, 12s, 0,12 J, 3 J/cm2) e submetidos results showed no statistically differences in relation to cell prolife-
a ensaios de proliferação em períodos de 1, 3 e 5 dias (MTT). Os ration between the groups. In these parameters, neither LLLT nor
resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes LPS were able to change the proliferation of osteoblasts cultured
entre os grupos em relação à proliferação celular. Nos parâmetros in a infection simulation model, suggesting that other cells types
e períodos avaliados, o LPS e o LBI não foram capazes de alterar a maybe involved in the processes of bone resorption and of bone
proliferação de osteoblastos cultivados em situação de simulação de repair linked to infection and the to LLLT.
infecção, sugerindo que outros tipos celulares devem estar envolvidos Key-words: osteomyelitis, low level laser therapy, osteoblasts.
nos processos de reabsorção e de reparo ósseo ligados a infecções e
a utilização do LBI.
Palavras-chave: osteomielite, terapia a laser de baixa
intensidade, osteoblastos.
Figura 1 - Proliferação celular mensurada pelo método MTT como Assim, buscamos comparar nossos resultados aos obtidos
densidade óptica (DO), das culturas de células OSTEO-1 do grupo por autores que utilizaram o mesmo diodo emissor, a mesma
controle e dos grupos experimentais tratadas com diferentes concen- intensidade e o mesmo comprimento de onda utilizados em
trações de LPS, após 1, 3 e 5 dias de cultivo. Não houve diferença nosso estudo, encontramos os artigos de Fujihara et al. [31]
estatisticamente significante entre os grupos (p ≥ 0,05). e de Petri et al. [32]
0,25 Fujihara et al. [31] cultivaram osteoblastos da linhagem
OSTEO-1 em situação de carência nutricional (5% SFB) e
0,2
observaram que, nesta situação experimental, a irradiação
laser nos mesmos parâmetros utilizados por nós acarretou
um aumento na proliferação celular após 3, 5 e 7 dias de
D.O. (nm)
novos estudos que possam estabelecer se recurso terapêutico laser therapy on proliferation, differentiation, and adhesion of
pode ou não exercer um papel importante na modulação do steroid-treated osteoblasts. Lasers Med Sci 2012;27(6)1189-93.
processo de reparo na presença de infecções ósseas e qual seria 16. Almeida-Lopes L, Rigau J, Zãngaro RA, Guidugli-Neto J, Jaeger
MM. Comparison of the low level laser therapy effects on cultu-
seu mecanismo de ação. red human gingival fibroblasts proliferation using different irra-
diance and same fluence. Lasers Surg Med 2001;29(2):179-84.
Agradecimentos 17. Fujihara NA. Estudo da adesão, proliferação e síntese de
proteínas por osteoblastos cultivados e submetidos à ação do
Agradecemos a Profa. Dra. Márcia Marques Martins da laser de baixa potência [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de
Odontologia da Universidade São Paulo; 2002.
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo 18. Ferreira MP, Ferrari RA, Gravalos ED, Martins MD, Bussadori
(FOUSP) pela doação da linhagem celular OSTEO-1. SK, Gonzalez DA, Fernandes KP. Effect of low-energy gallium-
-aluminum-arsenide and aluminium gallium indium phosphide
Referências laser irradiation on the viability of C2C12 myoblasts in a muscle
injury model. Photomed Laser Surg 2009;27(6):901-6.
1. Deller-Quinn M, Perinpanayagam, H. Osteoblast expression of 19. Teixeira VP, Ferrari RAM, Bussadori SK, Mascaro MB, Fernandes
cytokines is altered on MTA surfaces. Oral Surg Oral Med Oral KPS. Efeito do lipopolissacarídeo de Escherichia coli sobre a pro-
Pathol Oral Radiol Endod 2009;108(2):302-7. liferação de osteoblastos. Conscientiae Saúde 2011;10(2):210-4.
2. Jung WK, Park IS, Park SJ, YEA SS, Choi YH, Oh S, Park SG, Choi 20. Wang LY, Wang HY, Ouyang J, Yu L, Chen B, Qin JQ, Qiu XZ.
IW. The 15-deoxy-Delta12,14-prostaglandin J2 inhibits LPS-stimu- Low concentration of lipopolysaccharide acts on MC3T3-E1 os-
lated AKT and NF-kappaB activation and suppresses interleukin-6 teoblasts and induces proliferation via the COX-2-independent
in osteoblast-like cells MC3T3E-1. Life Sci 2009;85(1-2):46-53. NFkappaB pathway. Cell Biochem Funct 2009;27(4):238-42.
3. Hausmann E, Raisz LG, Miller WA. Endotoxin: stimulation 21. Ozawa Y, Shimizu N, Kariya G, Abiko Y. Low-energy laser
of bone resorption in tissue culture. Science 1970;168:862-4. irradiation stimulates bone nodule formation at early stages
4. Nair SP, Meghji S, Wilson M, Reddi K, White P, Henderson of cell culture in rat calvarial cells. Bone 1998;22(4):347-54.
B. Bacterially induced bone destruction: mechanisms and mis- 22. Khadra M, Lyngstadaas SP, Haanaes HR, Mustafa K. Effect of
conceptions. Infect Immun 1996;64(7):2371-80. laser therapy on attachment, proliferation and differentiation
5. Katono T, Kawato T, Tanabe N, Tanakab H, Suzuki N, Kitami of human osteoblast-like cells cultured on titanium implant
S, Morita T, Motohashi M, Maeno M. Effects of nicotine and material. Biomaterials 2005;26(17):3503-9.
lipopolysaccharide on the expression of matrix metalloprotei- 23. Stein A, Benayahu D, Maltz L, Oron U. Low-level laser irra-
nases, plasminogen activators, and their inhibitors in human diation promotes proliferation and differentiation of human
osteoblasts. Arch Oral Biol 2009;54(2):146-55. osteoblasts in vitro. Photomed Laser Surg 2005;23(2):161-6.
6. Martinez MEM, Pinheiro AL, Ramalho LM. Effect of IR laser 24. Arisu HD, Türköz E, Bala O. Effects of Nd:Yag laser irradiation
photobiomodulation on the repair of bone defects grafted with on osteoblast cell cultures. Lasers Med Sci 2006;21(3):175-80.
organic bovine bone. Lasers Med Sci 2008;23(3):313-7. 25. Pires Oliveira DA, de Oliveira RF, Zangaro RA, Soares CP. Eva-
7. Nicola RA, Jorgetti V, Rigau J, Pacheco MT, dos Reis LM, luation of low-level laser therapy of osteoblastic cells. Photomed
Zângaro RA. Effect of low-power GaAlAs laser (660 nm) on Laser Surg 2008;26(4):401-4.
bone structure and cell activity: an experimental animal study. 26. Xu M, Deng T, Mo F, Deng B, Lam W, Deng P, Zhang X, Liu
Lasers Med Sci 2003;18(2):89-94. S. Low-intensity pulsed laser irradiation affects RANKL and
8. Takeda Y. Irradiation effect of low-energy laser on alveolar bone OPG mRNA expression in rat calvarial cells. Photomed Laser
after tooth extraction: experimental study in rats. Int J Oral Surg 2009;27(2):309-15.
Maxillofac Surg 1988;17(6):388-91. 27. Chellini F, Sassoli C, Nosi D, Deledda C, Tonelli P, Zecchi-or-
9. Carrillo JS, Calatavud J, Manso FJ, Barberia E, Martinez JM, landini S, Formigli L, Giannelli M. Low pulse energy Nd:YAG
Donado M. A randomized double-blind clinical trial on the laser irradiation exerts a biostimulative effect on different cells
effectiveness of helium-neon laser in the prevention of pain, of the oral microenvironment: ‘‘an in vitro study’’. Lasers Surg
swelling and trismus after removal of impacted third molars. Med 2010;42(6):527-39.
Int Dent J 1990;40(1):31-6. 28. Renno AC, Mcdonnell PA, Parizotto NA, Laakso EL. The
10. Fernando S, Hill CM, Walker R. A randomised double blind effects of laser irradiation on osteoblast and osteosarcoma cell
comparative study of low level laser therapy following surgical proliferation and differentiation in vitro. Photomed Laser Surg
extraction of lower third molar teeth. Br J Oral Maxillofac Surg 2007;25(4):275-80.
1993;31(3):170-2. 29. Saracino S, Mozzati M, Martinasso G, Pol R, Canuto RA, Muzio
11. Freitas IGF, Baranauskas V, Cruz-HO”Fling MA. Laser effects G. Superpulsed laser irradiation increases osteoblast activity via
on osteogenesis. Appl Surf Sci 2000;154-155:548-54. modulation of bone morphogenetic factors. Lasers Surg Med
12. Pinheiro AL, Gerbi MEM. Photobioengineering of the bone 2009;41(4):298-304.
repair process. Photomed Laser Surg 2006;24(2):169-78. 30. Stein E, Koehn J, Sutter W, Wendtlandt G, Wanschitz F, Thur-
13. Deboni NCZ. Obtenção e caracterização de linhagem de células nher D, Baghestanian M, Turhani D. Initial effects of low-level
osteoblásticas [Tese]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da laser therapy on growth and differentiation of human osteoblast-
Universidade de São Paulo; 1995. -like cells. Wien Klin Wochenschr 2008;120(3-4):112-7.
14. Shoji M, Tanabe N, Mitsui N, Tanaka H, Suzuki N, Takeichi 31. Fujihara NA, Hiraki KR, Marques MM. Irradiation at 780
O, Sugaya A, Maeno M. Lipopolysaccharide stimulates the pro- nm increases proliferation rate of osteoblasts independently of
duction of prostaglandin E2 and the receptor Ep4 in osteoblasts. dexamethasone presence. Lasers Surg Med 2006;38(4):332-6.
Life Sci 2006;78(17):2012-8. 32. Petri AD, Teixeira LN, Crippa GE, Beloti MM, de Oliveira PT,
15. Nogueira GT, Mesquita-Ferrari RA, Souza NH, Artilheiro PP, Rosa AL. Effects of low-level laser therapy on human osteoblastic
Albertini R, Bussadori SK, Fernandes KP. Effect of low-level cells grown on titanium. Braz Dent J 2010;21(6):491-8.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 215
Artigo original
*Fisioterapeuta residente com ênfase em terapia intensiva, **Especialista em Fisioterapia Respiratória, Supervisora do Serviço de Fi-
sioterapia da Unidade de Terapia Intensiva do HospitalGeral do Estado da Bahia, Docente da Faculdade Social da Bahia e Coorde-
nadora da Pos Graduacao do curso de Fisioterapia, ***Mestre em medicina e saúde humana pela EBMSP
Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi identificar o perfil clínico e epide- The aim of this study was to identify the clinical and epide-
miológico dos pacientes adultos com traumatismo raquimedular miological profile of adult patients with spinal cord injury (SCI)
(TRM) em um centro de referência em traumas na Bahia. Trata-se de in a reference center for trauma in Bahia. This was a cross sectional
um estudo transversal dos prontuários de pacientes com diagnóstico study of medical records of patients diagnosed with SCI, conducted
de TRM, realizado no período de outubro a dezembro de 2011. from October to December 2011. Were analyzed 30 medical records
Foram analisados 30 prontuários, nos quais encontramos uma média and found an average age of 37.1 years, and observed that 83.3%
de idade de 37,1 anos, sendo 83,3% deles do gênero masculino. of them were male. When we analyzed patients origin, we found
Quando analisada a procedência dos pacientes, observou-se que that most were not from Salvador city (73.3%). Regarding marital
a maioria não era proveniente da capital, perfazendo um total de status most were single (63.3%) and those who commonly have
73,3%. Quanto ao estado civil, 63,3% eram solteiros e os que mais SCI had low level of education (86.7%). Motor vehicle accident was
comumente apresentaram TRM possuíam baixo grau de escolari- the most common cause of injury (33.4%) when associated car and
dade totalizando 86,7%. O mecanismo de trauma mais frequente motorcycle accident, followed by fall from high altitude (33.3%).
foi o acidente automobilístico (33,4%) quando associava acidente The distribution of SCI is as follows: thoracic (43%), cervical (30%
de moto e carro, seguidos por queda de altura com 33,3%. A dis- and lumbar (26.7%). Regarding the complications that occurred at
tribuição do TRM, quanto à localização, foi: torácico, com 43%; the moment of trauma, spinal cord was present in 60% of the cases.
cervical 30 % e lombar 26,7%. A respeito das complicações ocorridas In relation to complications occurring after SCI, the most common
no momento do trauma, a fratura de vértebras esteve presente em was pressure ulcers and paraparesis, both occurred in 20% of cases.
60% dos casos. Em relação às complicações ocorridas após TRM, as Was concluded that the SCI in this center was usually caused by car
mais encontradas foram as úlceras de pressão e a paraparesia, ambas accidents and falls, affecting mainly male young adults in economi-
estiveram presentes em 20% dos casos. Conclui-se que o TRM neste cally active age, showing the seriousness and importance to know
centro foi geralmente ocasionado por acidente automobilístico e the complexity of this association. It is suggested the creation of
queda de altura, atingindo principalmente pacientes adultos jovens rationalized interventions of high impact-prevention and to provide
do gênero masculino, em idade economicamente ativa, evidenciando resources for treatment of these patients.
a gravidade e importância do conhecimento da complexidade desta Key-words: spinal cord, spine, epidemiology profile, wounds and
associação. Sugere-se a criação de intervenções racionalizadas de injuries.
caráter preventivo com maior impacto e disponibilização de recursos
para o tratamento das ocorrências.
Palavras-chave: medula espinhal, coluna vertebral, perfil
epidemiológico, ferimentos e lesões.
Discussão
gênero e a faixa etária, não há dúvida que o gênero masculino por quedas de laje em uma amostra de 100 casos na cidade
e a idade entre 30 a 40 anos sejam o grupo de risco predo- Santo André, SP. No estudo de Cunha et al. [11], o meca-
minante, a incidência referente ao gênero masculino varia de nismo de lesão mais frequente foi a queda de altura, com
81% a 94% [1,4-8,19]. Estes índices podem ser justificados 57,4% dos casos, seguida do acidente automobilístico, com
pela maior exposição destes indivíduos a acidentes, seja no 23,4%. Estes dados condizem com um estudo [7] realizado
trabalho, nos esportes ou pela violência. Em relação à etnia no Departamento de Neurocirurgia do Hospital Heliópolis,
pela dificuldade na definição, os indivíduos foram categoriza- São Paulo com 100 indivíduos, concordante com o estudo
dos em brancos e outras etnias, perfazendo um percentual de de Souza [5], na Região Norte do Brasil, as casuísticas mais
30% e 70% respectivamente, divergindo do estudo realizado comuns foram quedas em 40% e 41,25% respectivamente,
em São Paulo [20], em que 68,1% eram brancos, esta oposição seguidas de acidentes automobilísticos em 25% e 23,75%
ocorreu devido à miscigenação presente no estado da Bahia. respectivamente, e exclusivamente no primeiro estudo citado
Em relação à procedência dos indivíduos neste estudo [7] a queda de laje teve incidência de 23%, o PAF foi de 7%,
73,3% eram do interior, Cunha [11] em Belo Horizonte mergulho em águas rasas e agressões 3%.
observou uma incidência de 61,7% de pacientes da região Diferente da maioria dos estudos nacionais, um estudo
metropolitana e interior, outro estudo [5] realizado em Belém realizado por Graells et al.[12] apontou como as causas mais
constatou também uma maior incidência de indivíduos do frequentes com 45,45% o PAF e 33,33% sofreram algum tipo
interior com 53,75%, estando de acordo com um estudo de colisão automobilística. Estes fatos podem ser justificados
recente realizado no mesmo estado por Magalhães [19] totali- pela disparidade cultural e social no Brasil, onde a etiologia do
zando 64,3 %. Esses resultados podem ser justificados devido traumatismo, geralmente, varia em função das características
aos hospitais atenderem pela rede pública, a precariedade de cada região e tipo de atividade da população estudada.
dos serviços de saúde no interior, além disso, este estudo foi Quanto ao nível neurológico, obtivemos uma maior
realizado em um centro de referência em traumas da Bahia. incidência de lesão na região torácica 43,3%, seguido pela
De acordo com as estatísticas do estudo, os pacientes que cervical com 30% e lombar 26,7%, divergindo da maioria
mais frequentemente apresentaram TRM possuem baixo dos estudos publicados, mas ratificado pelo estudo de Anderle
grau de escolaridade (86,7%), sendo similar a outros dois et al.[1], pois a região que expressou uma maior incidência
estudos, que demonstraram uma incidência de 53,7% [5] e foi a toracolombar 40,5, seguido por cervical com 36%. Em
63,3% [17], refletindo assim o pouco acesso à educação que outro estudo [20], a lesão do segmento cervical da medula
a população destas regiões em geral possui, representando um foi observada em 50% dos casos.
obstáculo para campanhas na busca de um comportamento A literatura [22] justifica esta maior incidência de lesão na
que evite exposição a situações de risco. No entanto esses transição da região toracolombar, cervical e lombar, devido
autores não descreveram como foi categorizada a graduação, a grande mobilidade desta região, instabilidade, propiciando
fato este que pode causar viés em relação aos valores, quando fraturas com consequente lesão medular. Os resultados do
confrontados com outros estudos. presente estudo poderiam ser justificados, se entre os obje-
Os mecanismos mais frequentes foram as quedas de várias tivos do estudo estivesse incluída a correlação da etiologia
naturezas com 36,6%, seguido por acidente automobilístico do trauma associada ao nível medular acometido, sendo
33,4% e PAF com 26,7%, corroborando o estudo de Chiu possível a correlação de PAF com lesão torácica. No entanto
et al [8], que comparou a epidemiologia da lesão medular em esta se constitui como uma limitação do estudo, pois estudos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Concluiu-se que [13] mostram que quando o principal fator etiológico é o
os acidentes de trânsito é a principal causa de lesões nos países ferimento por arma de fogo o principal nível acometido é o
desenvolvidos, enquanto as quedas são as principais causas nos torácico, podendo ser justificado por possuir maior número
países em desenvolvimento, como foi exposto neste estudo. de vértebras, aumentando a probabilidade de acometimento
Diante do exposto acima, De Vivo et al [9], em 1997, por projétil de arma de fogo.
afirmaram que as principais causas de lesão medular nos Es- De forma geral as internações prolongadas contribuem
tados Unidos da América (EUA) são acidentes com veículos para complicações clínicas, levando a morbidade como in-
35,9%, violência 29%, 20,3% quedas e 7,3% causados por fecção respiratória, UP, infecção urinária e trombose venosa
esportes. Estudo [10] realizado com 588 pacientes com lesão [13]. As complicações mais comumente encontradas neste
medular traumática em 37 centros hospitalares na Itália e a estudo foram as UP e paraparesia, ambas com 20%, seguido
etiologia mais comum foi acidente automobilístico 35,2%, por paraplegia (17%), corroborando os estudos de Paz et al. e
motocicletas 15%, bicicletas 3,6%, esportes 8,2%, outras Nogueira et al. [4,20], que têm como principal intercorrência
causas 33%. clínica as UP, variando segundo o estudo de Greve [23], em
Em contrapartida, em diferentes cidades do Brasil, o 1997, de 2,7% a 29,5%, divergindo de dois estudos poste-
principal fator etiológico é a queda de forma geral. Gonçal- riores [24,25], os quais afirmam que as UP incidem em 30%
ves [21], no período de 2007, apresentou como o principal a 56%, que pode ser justificada pela falta de uniformização
fator etiológico as quedas de várias naturezas, sendo 25% nas descrições dos prontuários.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 219
Em um estudo multidisciplinar realizado por Cardenas ponibilização de recursos para o tratamento das ocorrências.
et al. [26], no qual avaliaram as principais causas de reinter- Portanto, a melhor conduta é a prevenção na ação primária
nação nos portadores de TRM, observou-se que as principais que pode ser efetiva quando o foco é na etiologia do TRM,
causas são as infecções urinárias recorrentes e doenças do trato daí o grande valor da realização de estudos epidemiológicos.
respiratório, quando com lesões altas; já nos pacientes com
lesões baixas, como neste estudo, as complicações por UP Referências
foram mais frequentes.
As UP advêm quando os pacientes são mantidos em uma 1. Anderle DV, Joaquim AF, Soares MS, Miura FK, Silva FL, Veiga
posição estática por um longo período de tempo, sendo agra- JCE et al. Avaliação epidemiológica dos pacientes com trauma-
vadas se a cabeceira da cama for elevada para um ângulo maior tismo raquimedular operados no Hospital Estadual “Professor
Carlos da Silva Lacaz”. Coluna/Columna 2010;9(1):58-61.
do que 30 graus, pois se sabe que a pressão de fechamento
2. Meyer F, Vialle LR, Vialle EM, Bleggi-Torres LF, Rasera E,
capilar é de 32 mm / Hg, e que quando o grau de compressão
Leonel I. Alterações vesicais na lesão medular experimental em
é superior a esta pressão ocorre isquemia, causando danos ratos. Acta Cir Bras 2003;18(3):203-8.
nos tecidos e quebra da integridade da pele evidenciada pela 3. Masini M. Estimativa da incidência e prevalência de lesão me-
UP. No entanto abaixo de 30º a mecânica do diafragma fica dular no Brasil. J Bras Neurocirurg 2001;12:97-100.
desfavorável, culminando para o aumento de complicações 4. Paz AC, Beraldo PS, Almeida MC, Neves EG, Alves CM, Khan
respiratórias [19]. P. Traumatic injury to the spinal cord. Prevalence in Brazilian
A incidência de TVP encontrada foi baixa (3,0%), corro- hospitals. Paraplegia 1992;30(9):636-40.
borando o estudo de Gaspar [27], que obteve uma incidência 5. Souza Junior MF, Bastos BPR, Jallageas DN, Medeiros AAA.
de 1,6%, apesar de esta ser considerada a maior complicação Perfil epidemiológico de 80 pacientes com traumatismo raqui-
medular, internados no hospital do Pronto-Socorro Municipal
na lesão medular aguda. Sendo esta informação justificada,
de Belém, PA, no período de janeiro a setembro de 2002. J Bras
devido ao elevado número de informações que não puderam Neurocirurg 2002;13:92-8.
ser incluídas pela falta de dados nos prontuários. Diante disto 6. Zaninelli EM, Graells XS, Orli JN, Dau L. Avaliação epide-
é preciso uniformizar as anotações médicas e normatizar o miológica das fraturas da coluna torácica e lombar de pacientes
preenchimento dos prontuários. atendidos no Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador da
Em contraposição ao presente estudo, a pesquisa de Feng UFPR de Curitiba – Paraná. Coluna/Columna 2005;4:11-15.
et al [17] trouxe como principal acometimento após TRM 7. Campos MF, Ribeiro AT, Listik S, Pereira CAB, Sobrinho JA,
a tetraparesia (59,4%), seguido por tetraplegia com 22,6%, Rapoport A. Epidemiologia do traumatismo da coluna vertebral.
devido à alta incidência de lesão em nível cervical (82,0%), Rev Col Bras Cir 2008;35(2):88-93.
8. Chiu WT, Lin HC, Lam C, Chu SF, Chiang YH, Tsai SH.
divergindo deste estudo que apresentou como principal nível
Review paper: epidemiology of spinal cord injury: comparisons
acometido o torácico, justificando a incidência elevada de
between developed and developing. Asia Pac J Public Health
paraplegia e paraparesia. Em relação às complicações ocor- 2010;22(1):9-18.
ridas no momento do trauma, a fratura de vértebras esteve 9. De Vivo MJ. Causes and costs of spinal injury in the United
presente em 60% dos casos, bem como foi exposto no estudo States. Spinal Cord 1997;35(12):809-13.
de Zaninelli et al. [6], no qual as lesões mais comuns foram 10. Aito S. Complications during the acute phase of traumatic spinal
as fraturas (29,3%). cord lesions. Spinal Cord 2003;41(11):629-35.
11. Cunha FM, Menezes CM, Guimarães EP. Lesões traumáticas
Conclusão da coluna torácica. Rev Bras Ort 2000;35,17-22.
12. Graells XS, Zaninelli EM, Collaço IA, Nasr A, Cecílio WAC,
Borges GA. Lesões torácicas e traumatismo da coluna: uma
A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o TRM
complexa associação. Coluna/Columna 2008;7(1):8-13.
neste centro foi geralmente originado por acidente automobi- 13. Lourenço LJO, Alves EM, Andrade AF. Lesões raquimedulares
lístico e queda de altura, atingindo principalmente pacientes associadas ao traumatismo crânio-encefálico grave ou moderado.
adultos jovens do gênero masculino, em idade economica- Coluna/Columna 2008;7(2):143-5.
mente ativa, acometendo principalmente a região torácica. 14. DeVivo MJ, Fine PR, Maetz HM, Stover SL. Prevalence of spi-
As internações prolongadas culminaram com aumento de nal cord injury: A reestimation employing life table techniques.
morbidades, sendo as complicações mais comumente encon- Arch Neurol 1980;37(11):707-8.
tradas neste estudo as UP e paraparesia. 15. Sartori NR, Melo MRAC. Necessidades no cuidado hospitalar
Após expressão desses resultados, surge a necessidade de do lesado medular. Medicina (Ribeirão Preto) 2002;35(2):151-
9.
novos estudos associando a etiologia do TRM com o gênero
16. Berlly M, Shem K. Respiratory management during the first five
e idade, bem como a associação do nível medular acometido
days after spinal cord injury. J Spinal Cord Med 2007;30(4):309-
com o gênero, idade e complicações associadas no momento 18.
do trauma, para melhor identificação do perfil epidemiológico 17. Feng HY, Ning GZ, Feng SQ, Yu TQ, Zhou HX. Epidemiologi-
desses pacientes, o qual permite a criação de intervenções cal profile of 239 traumatic spinal cord injury cases over a period
racionalizadas de caráter preventivo com maior impacto e dis- of 12 years in Tianjin. J Spinal Cord Med 2011;34(4):388-94.
220 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
18. Blanes L, Lourenço L, Carmagnani MIS, Ferreira LM. Clinical 23. Greve JM. Traumatismos raquimedulares nos acidentes de
and socio-demographic characteristics of persons with trauma- trânsito e uso de equipamentos de segurança: Diagnóstico e
tic paraplegia living in São Paulo, Brazil. Arq Neuropsiquiatr Tratamento 1997;2(1):10-13.
2009;67(2B):388-90. 24. Umphred DA. Reabilitação Neurológica. Barueri: Manole;
19. Magalhães MO, Sousa ANB, Costa LOP, Pinto DS. Avaliação 2004. p.507-56.
em pacientes com traumatismo raquimedular: um estudo 25. Rowland, LP. Merrit: Tratado de neurologia. 11a ed. Rio de
descritivo e transversal. ConScientiae Saúde 2011;10:69-76. Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
20. Nogueira PC, Caliri MHL, Haas VJ. Profile of patients with spi- 26. Cardenas DD, Hoffman JM, Kirshblum S, McKinley W. Etio-
nal cord injuries and occurrence of pressure ulcer at a university logy and incidence of rehospitalization after traumatic spinal
hospital. Rev Latinoam Enferm 2006;14(3):372-7. cord injury: a multicenter analysis. Arch Phys Med Rehabil
21. Gonçalves AMT, Rosa LN, D`Angelo CT, Savordelli CL, Bonin 2004;85:1757-63.
GL, Squarcino IM, et al. Aspectos epidemiológicos da lesão 27. Gaspar, AP, Ingham SJM, Vianna PCP, Santos FPE, Chamlian
medular traumática na área de referência do Hospital Estadual TR, Puerta EB. Avaliação epidemiológica dos pacientes com
Mário Covas. Arq Med ABC 2007;32(2):64-6. lesão medular atendidos no Lar Escola São Francisco. Acta
22. Garcia SB. Primeiros Socorros: Fundamentos e prática na Fisiátr 2003;10(2):73-77.
comunidade, no esporte e ecoturismo. São Paulo: Atheneu;
2005. p.137-9.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 221
Artigo original
*Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, **Departamento de Pós-Graduação,
Faculdade Método de São Paulo, ***Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Goiás
Resumo Abstract
A demanda de maior produtividade vem exigindo cada vez mais The demand for higher productivity is increasingly demanding
fisicamente e psicologicamente dos trabalhadores, sem necessaria- physically and psychologically on the workers, without necessarily
mente considerar sua saúde. O objetivo deste trabalho foi analisar considering their health. The objective of this study was to analyze
a percepção de trabalhadores de uma indústria frigorífica pelo the perception of boning sector workers, using a bipolar question-
questionário bipolar e comparar com sua concentração de lactato naire, and compare with their blood lactate concentration. Eighteen
sanguíneo. Foram avaliados 18 trabalhadores de uma indústria frigo- workers responsible for boning operations of a meatpacking industry
rífica no setor de desossa durante sua jornada de trabalho de 8 horas were evaluated during their 8-hour work day in 3 distinct stages:
em 3 momentos distintos: A1 = amostragem ao início do trabalho; A1 = sampling when work day start; A2 = sampling after 3 hours of
A2 = amostragem após 3 horas de trabalho e A3 = amostragem work and A3 = sampling after 90-minute break. The blood lactate
após uma macro-pausa de 90 minutos. A concentração de lactato concentration increased progressively in the three samples, and
sanguíneo aumentou progressivamente nas 3 coletas e as respostas bipolar questionnaire answers got worse during workday, especially
do questionário bipolar foram piorando no decorrer da jornada the indicators relating to the upper limbs. The boning sector workers
de trabalho, principalmente os indicadores relativos aos membros of the meatpacking industry reported an increased fatigue during
superiores. Trabalhadores do setor de desossa da indústria frigorífica work, even with 90-minute lunch break.
relatam aumento da fadiga no decorrer do trabalho, mesmo com a Key-words: workers, fatigue, rest.
opção de macro-pausa para o almoço.
Palavras-chave: trabalhadores, fadiga, descanso.
tados 25 µl de sangue arterial em cada coleta em capilares da fadiga ao longo da jornada. Para o comportamento do
de vidro heparinizados e calibrados. O sangue foi imedia- grupo avaliado foi utilizada a análise de variância pelo teste
tamente transferido para microtúbulos tipo Eppendorff de de ANOVA. Os dados foram tabulados e tratados com o
1,5 ml contendo 50 µl de fluoreto de sódio (NaF a 1%) e programa Stat 6.0.
então armazenado em gelo para posterior determinação da Na Tabela I encontram-se os dados da média, desvio
concentração de lactato sanguíneo no lactímetro eletroquí- padrão e diferença percentual do teste bipolar de fadiga e
mico da Yellow Spring Instruments (YSI), modelo 1500 Sport indicadores (A1 e A2) do grupo de trabalhadores. Pode-se
(OH, EUA). Os valores das concentrações de lactato foram observar aumento significativo em praticamente todas as
expressos em mM. variáveis avaliadas pelo questionário entre os períodos de
A1 e A2, apenas as variáveis nervosismo, dor nas coxas,
Figura 1 - Esquema da coleta do lactato sanguíneo e questionário dor nas pernas e dor nos pés não apresentaram diferenças
bipolar durante a jornada de trabalho dos indivíduos. significativas. As duas variáveis que apresentaram maior
diferença foram cansaço (154,54%) e dor nos braços
(178,57%).
Na Tabela II encontram-se descrita e comparada a média,
desvio padrão e diferença percentual do teste bipolar de fadiga
e indicadores (A1 e A3) do grupo de trabalhadores. Pode-se
observar aumento significativo em praticamente todas as
variáveis avaliadas pelo questionário entre os períodos de A1
(A1 = primeira amostragem; A2 = segunda amostragem; A3 = terceira
e A3, apenas as variáveis dor nas coxas, dor nas pernas e dor
amostragem).
nos pés não apresentaram diferenças significativas. As duas
variáveis que apresentaram maior diferença foram cansaço
Antes da coleta o lóbulo da orelha foi esterilizado com (254,54%) e dor nos braços (357,13%).
álcool 70%, bem como para tirar o coágulo formado entre O mesmo indicativo, a partir do lactato coletado pode ser
uma coleta e outra. Para estancar o sangue e proteger o local, observado, no qual os funcionários apresentaram aumento da
era colocado um pequeno pedaço de algodão hipoalergênico média de lactato, de acordo com o aumento do trabalho, como
sobre o local lancetado. Todo o procedimento do lactato foi pode ser observado no gráfico da Figura 2. O lactato aumenta
realizado na sala de treinamento, a fim de evitar contamina- sua concentração de acordo com o maior esforço exercido pelo
ção com a carne, sendo a distância padronizada para todas indivíduo, indicando então aumento da atividade muscular
as coletas de lactato. durante o trabalho.
Os grupos de coleta de lactado apresentaram os seguin-
Resultados tes resultados: grupo A1 0,7 ± 0,24 mM; grupo A2 0,93 ±
0,16 mM e grupo A3 1,20 ± 0,31 mM. Todos os grupos
Para o questionário bipolar de fadiga as variáveis quan- apresentaram diferenças estatisticamente significantes, como
titativas foram apresentadas nas formas de média aritmética observado na Tabela III.
e desvio-padrão, podendo verificar o aumento da percepção
Tabela I - Tabela comparativa do questionário bipolar entre os períodos da jornada de trabalho inicial (A1) e após 3 horas de trabalho (A2).
Variáveis de Fadiga A1 A2 ANOVA
X ± SD X ± SD *p ∆%
Cansaço 1,1 ± 0,3 2,8 ± 0,5 <0,001 154,54
Concentração 1,0 ± 0,0 1,8 ± 0,4 <0,001 80
Nervosismo 1,3 ± 0,5 1,3 ± 0,5 ns 0
Produtividade 1,0 ± 0,0 1,6 ± 0,5 < 0.001 60
Cansaço visual 1,0 ± 0,0 2,0 ± 0,3 < 0.001 100
Dor no pescoço e ombros 1,7 ± 0,5 2,9 ± 0,3 < 0.001 70,6
Dor nas costas 1,2 ± 0,4 2,4 ± 0,7 < 0.001 100
Dor na lombar 1,3 ± 0,5 2,4 ± 0,5 < 0.001 84,61
Dor nas coxas 1,1 ± 0,3 1,5 ± 0,6 0,06 36,36
Dor nas pernas 1,1 ± 0,3 1,4 ± 0,5 0,05 27,27
Dor nos pés 1,1 ± 0,3 1,3 ± 0,5 0,14 18,18
Dor de cabeça 1,2 ± 0,4 2,0 ± 0,0 < 0.001 66,66
Dor nos braços 1,4 ± 0,5 3,9 ± 1,0 < 0.001 178,57
224 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Tabela II - Tabela comparativa do questionário bipolar entre os períodos da jornada de trabalho inicial (A1) e após a macro-pausa (A3).
Variáveis de Fadiga A1 A3 ANOVA
X ± SD X ± SD *p ∆%
Cansaço 1,1 ± 0,3 3,9 ± 0,7 <0,001 254,54
Concentração 1,0 ± 0,0 3,9 ± 0,9 <0,001 290
Nervosismo 1,3 ± 0,5 2,6 ± 0,5 <0,001 100
Produtividade 1,0 ± 0,0 3,1 ± 0,5 < 0.001 210
Cansaço visual 1,0 ± 0,0 2,6 ± 0,7 < 0.001 160
Dor no pescoço e ombros 1,7 ± 0,5 3,9 ± 0,9 < 0.001 129,41
Dor nas costas 1,2 ± 0,4 3,4 ± 1,1 < 0.001 183,33
Dor na lombar 1,3 ± 0,5 3,6 ± 0,9 < 0.001 176,92
Dor nas coxas 1,1 ± 0,3 1,3 ± 0,5 0,06 18,18
Dor nas pernas 1,1 ± 0,3 1,1 ± 0,3 0,05 0
Dor nos pés 1,1 ± 0,3 1,1 ± 0,3 0,14 0
Dor de cabeça 1,2 ± 0,4 2,8 ± 0,4 < 0.001 133,33
Dor nos braços 1,4 ± 0,5 6,4 ± 0,6 < 0.001 357,13
Figura 2 - Média do lactato sanguíneo (mM) dos voluntários nos tas alterações negativas, como, por exemplo, dificuldades no
diferentes períodos de coleta. despertar do indivíduo, favorecem o aumento da fadiga física
2.0 e mental, e dificuldades de concentração, podendo favorecer
acidentes e lesões. Existem alguns trabalhos que relacionam
alguns fatores, tal como a excessiva carga de trabalho, com a
1.5
fibromialgia e também com distúrbios do sono [9].
Lactate mM
Essas pausas são necessárias e importantes para a recupera- extensora do antebraço. Mesmo após uma macro-pausa de
ção física e mental dos trabalhadores, mas é importante observar trabalho, essa fadiga continua a aumentar nos trabalhadores,
que não é possível estabelecer pausas específicas com emprego por isso são necessários novos estudos para observar a eficácia
global para os diversos tipos de trabalho e postos dentro de de outras maneiras de pausa.
um mesmo trabalho, já que essas pausas são dependentes das
especificidades demandadas por cada posto de trabalho, pela Referências
carga em cada posto, sem esquecer-se da individualidade fisio-
lógica e antropométrica de cada um. Todos esses fatores atre- 1. Åkerstedt T, Nordin M, Alfredsson L, Westerholm P, Kecklund
lados causam efeitos em curto prazo, indicando a necessidade G. Predicting changes in sleep complaints from baseline values
de recuperação e repouso [11]. Esses fatores de curto prazo, and changes in work demands, work control, and work preoc-
cupation. The WOLF-project Sleep Medicine 2012;13:73-80.
somados ao longo da vida do indivíduo podem repercutir de
2. Enoka RM, Stuart DG. Neurobiology of Muscle Fatigue. J Appl
maneira positiva ou negativa na saúde e bem estar do próprio.
Physiol 1992;72(5):1631-48.
A evidência da importância das pausas entre as atividades 3. Filus R, Okimorto ML. The effect of job rotation intervals on
demandas por esforço físico fica ampliada na utilização do muscle fatigue – lactic acid. Work 2012;41:1572-81.
esporte como linha base. Como observado no trabalho desen- 4. Pereira CCDA, López RFA, Lima VA. Efeitos de um programa
volvido por Silva et al. [12], relacionando repetições máximas de ginástica laboral sobre os níveis de fadiga em trabalhadores
com a pausa, observou-se que quanto menor a pausa, maior a de confecção. Revista Digital - Buenos Aires. 2009; 14(133).
percepção do esforço e fadiga. Mas é importante salientar que o 5. Gell N, Werner RA, Hartigan A, Wiggermann N, Keyserling
trabalho é realizado sob um escopo produtivista e economicista, WM. Risk Factors for lower extremity fatigue among assembly
e não como lazer, como acontece no esporte. Essa produtivi- plant workers. Am J Ind Med 2011;54:216-23.
6. Rissén D, Melin B, L Sandsjö, Dohns I, Lundberg U. Surface
dade pode gerar demandas emocionais que colaboram com a
EMG and psychophysiological stress reactions in women during
exacerbação da fadiga e todos os outros problemas já discutidos. repetitive work. U Eur J Appl Physiol 2000:83(2-3):215-22.
As micro-pausas ativas podem ser mais interessantes de se 7. Åkerstedt T, Knutsson A, Westerholm P, Theorell T, Alfreds-
realizar comparadas às ativas, já que pela própria contração son L, Kecklund G. Sleep disturbances, work stress and work
muscular, pode ocorrer o aumento da circulação local e assim hours - A cross-sectional study. J Psychosomatic Research
acelerar a remoção de metabólitos da atividade muscular 2002;53:741-8.
realizada [13]. Portanto, ao invés de serem realizadas pausas 8. Åkerstedt T, Knutsson A, Westerholm P, Theorell T, Alfredsson
prolongadas durante o trabalho, talvez atividades recreacionais L, Kecklund G. Mental fatigue, work and sleep. J Psychosomatic
lúdicas, as quais mantenham os trabalhadores ativos, podem Research 2004;57:427-33.
9. Zurowski M, Shapiro C. Stress, fibromyalgia, and sleep. J
ser mais interessantes que as pausas passivas, tal como obser-
Psychosomatic Research 2004; 57:415-16.
vado em nosso estudo, no qual, mesmo após a pausa A3, o
10. Østensvik T, Veiersted KB, Nilsen P. A method to quantify
nível de lactato continuou a aumentar e o SME a diminuir. frequency and duration of sustained low-level muscle activity
Taylor e Bronks [14] analisaram as mudanças na atividade as a risk factor for musculoskeletal discomfort. J Electromyogr
EMG dos membros inferiores de atletas durante a corrida em Kinesiol 2009;19:283-94.
esteira rolante e as mudanças na EMG foram relacionadas ao 11. Sluiter JK, de Croon EM, Meijman TF, Frings-Dresen MHW.
limiar do lactato. Quando um músculo exibe fadiga localizada Need for recovery from work related fatigue and its role in the
após contrações repetidas, as unidades motoras disparam em development and prediction of subjective health complaints.
velocidades crescentes para compensar a queda da força de Occup Environ Med 2003;60(Suppl I):62-70.
contração das fibras fadigadas na tentativa de manter o nível 12. Silva MS, Silva TS, Mota MR, Damasceno VO, Martins da Silva
F. Analysis of the effect of different intensities and rest interval on
de tensão ativa, sendo evidentes em contrações submáximas
the perceived exertion of athletes. Motricidade 2011; 7(1):3-12.
[15,16]. Esse decréscimo de força pode causar lesões osteo- 13. Samani A, Holtremann A, Søgaard K, Madeleine P. Active pauses
musculares nos trabalhadores, pois os mesmos acabam levando induce more variable electromyographic pattern of the trapezius
seu corpo a grande desgaste e muitas vezes sem interrupção muscle activity during computer work. J Electromyogr Kinesiol
para compensar a fadiga instalada. 2009;19(6):430-7.
14. Taylor AD, Bronks R. Correlações eletromiográficas da transição
Conclusão do metabolismo aeróbio para o anaeróbio na corrida em esteira.
Eur J Appl Physiol 1994;69:508-15.
Foi possível relacionar o lactato e o questionário bipolar 15. Bigland-Ritchie B, Lippold OCJ. The relation between force,
velocity and integrated electrical activity in human muscles. J
como metodologia de análise de fadiga para avaliar traba-
Phys 1954;123:214-24.
lhadores do setor de desossa de uma indústria frigorífica,
16. Devries HA. Method for evaluation of muscle fatigue and
sendo que há o aparecimento e aumento da fadiga muscular endurance from electromyographic fatigue curves. American J
geral percebida e fisiológica, principalmente da musculatura Phys Med 1968;47(3):125-35.
226 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Revisão
*Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopédica pela Universidade Gama Filho (UGF)-SC, **Coordenador do Curso de Especia-
lização Lato-sensu em Fisioterapia Traumato-ortopédica UGF, Professor Assistente do Depto. Anatomia Humana – UGF, ***Pro-
fessor do Mestrado em Ciências da Reabilitação Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM-RJ), Prof. Adjunto do Curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenador do Curso de Especialização Lato-sensu em Fisioterapia
Traumato-ortopédica e Fisioterapia Neurofuncional da UGF
Resumo Abstract
A Fricção Transversa Profunda (FTP) é uma técnica usada no The Deep Transverse Friction (DTF) is a technique used in
tratamento de disfunções musculoesqueléticas. Essa intervenção musculoskeletal disorders treatment. This intervention promotes a
promove um movimento terapêutico transverso das fibras do tecido cross-fiber friction of the injured tissue that results in restoration of
lesionado que resulta na restauração da mobilidade de forma indo- mobility painlessly. Furthermore, the DTF prevents the formation
lor. Além disso, a FTP previne a formação de aderências na cicatriz of scar adherences making it flexible and functional. Although wide
tornando-a flexível e funcional. Mesmo com a grande utilização da use of DTF clinically, there are few studies that discuss their effec-
FTP no âmbito clínico, existem poucos estudos na literatura que tiveness and elucidate their mechanisms of action. The aim of this
discutem sua efetividade e elucidam os seus mecanismos de ação. study was to discuss the latest evidence of deep transverse friction
O objetivo deste estudo foi discutir as últimas evidências da fricção in musculoskeletal disorders, through an update study. The research
transversa profunda nas disfunções musculoesqueléticas, através de was carried out from February 2012 to June 2012 in Science Direct,
um estudo de atualização. A investigação foi realizada no período EBSCO Full Text, Ovid, PEDro, CINAHL and Cochrane Library
de fevereiro de 2012 até junho de 2012 nas bases de dados Science databases. We selected articles that had only the use of the technique
Direct, EBSCO Full Text, Ovid, PEDro, CINAHL e Cochrane in musculoskeletal disorders. Studies found the DTF was applied in
Library. Foram selecionados os artigos que apresentavam apenas a disorders such as adhesive capsulitis, patellar tendinopathy, trigger
utilização da técnica em disfunções musculoesqueléticas. Nos estu- point and lateral epicondylitis. However, only in one study the
dos encontrados a FTP foi aplicada em disfunções como capsulite DTF was used alone. This fact makes it difficult to compare the
adesiva, tendinopatia patelar, trigger point e epicondilite lateral. Po- results of research and analysis of its effects, especially the scarcity
rém apenas em um estudo a FTP foi utilizada isoladamente. Tal fato of research with clinical trials. Despite the wide applicability and
dificulta a comparação dos resultados de pesquisas e análise de seus use in physical therapy practice, studies did not show that DTF is
efeitos, especialmente pela escassez de pesquisa com ensaios clínicos. an effective therapy. So there is a need for further research on this
Apesar da ampla aplicabilidade e da grande utilização na prática issue, particularly clinical trials to elucidate the actual mechanisms
fisioterápica, os trabalhos apresentam baixo poder para comprovar of action and prove the effectiveness of DTF used alone.
substancialmente sua efetividade. Portanto, há uma necessidade de Key-words: deep transverse friction, cyriax, Physical Therapy.
maiores investigações sobre o tema, principalmente ensaios clínicos
para elucidar os reais mecanismos de ação e comprovar a eficácia da
FTP utilizada sozinha.
Palavras-chave: fricção transversa profunda, cyriax, fisioterapia.
Figura 1 - Forma de aplicação da Fricção Transversa Profunda – traumática [3-4, 6,10,12,13,16]. O melhor alinhamento das
(a) realizada com o polegar; (b) realizada com o dedo médio sobre fibras do tecido conjuntivo e quebra de aderências cicatriciais
o indicador. representam efeitos já mais solidificados na literatura, em
especial as propriedades biomecânicas dos tecidos e o efeito
piezoelétrico nos tecidos moles (fáscias, ligamentos, tendões)
[2-4,6,8,10,12,15-17].
Na prática clínica é comum que a aplicação da FTP desen-
cadeie uma redução imediata da dor. Autores como Dutton
[6], Clayton [13] e Goats [18] atribuem a grande parte do
efeito analgésico a “teoria das comportas”, que ocorre através
Esta técnica é indicada para lesões agudas, subagudas, da modulação de impulsos nociceptivos a nível da medula
crônicas e aderências sendo que sua intensidade depende do espinal. A condução destes impulsos é inibida e ultrapassada
estágio [8,6]. Em comprometimentos mais recentes, a fricção pela estimulação dos mecanorreceptores presentes no mesmo
tem função preventiva, já que as fortes pontes cruzadas e tecido [2,6,8-9,11-13,18]. Apesar da neurofisiologia da dor
aderências teciduais ainda não se formaram, além de manter respeitar muito o conceito do portal da dor, novos conceitos
a mobilidade do tecido. Neste caso, a digitopressão deve ser como memória nociceptiva, neurotransmissores e mecanis-
mais suave devido a possível dor e sensibilidade excessiva. mos inibitórios e excitatórios da dor tem sido discutidos
Nas lesões crônicas, a pressão deve ser mais forte, sempre no fortemente na literatura, ampliando as discussões sobre os
ponto de tolerância do paciente para que ocorra a quebra das efeitos da FTP [2].
aderências. Autores defendem que a pressão deve ser mais leve A FTP também causa hiperemia traumática local, prova-
nas primeiras sessões e ao decorrer do tratamento, aumentar velmente por existir uma perfusão local isquêmica, levando
a intensidade da pressão [6,8,9,13]. De acordo com os nos- a uma vasodilatação e melhora de suprimentos sanguíneo e
sos resultados, somente o estudo de Lee et al. [5] citou que nutrientes no local da lesão [3,4,6,10,12,16]. Autores sugerem
utilizou um sensor de pressão para mensurar a intensidade da que este efeito pode resultar em remoção de irritantes quími-
pressão durante a aplicação da Fricção Transversa Profunda. cos, liberação de opiáceos endógenos e aumento da velocidade
Quanto ao tempo da realização da técnica, a literatura da destruição da substância P – que, em grande quantidade,
é bastante controversa. Enquanto Cyriax e Cyriax [11] causa isquemia e dor, sendo assim um recurso interessante
descrevem que a duração é de 20 minutos pelo menos, nas disfunções musculoesqueléticas [3,4,6,8,10-12,16,17].
outros autores apenas citam que a sessão deve durar de 3 a Outro efeito descrito frequentemente na literatura é a
20 minutos, dependendo da sensibilidade e dor do paciente prevenção na formação de aderências num estágio inicial de
[3,5-6,8,10,12,18,22]. Chamberlain [3] e Ombregt et al. reparo da lesão, e quebra das aderências formadas em uma
[8] ainda indicam que, em uma lesão aguda, a fricção pode lesão crônica, através do movimento terapêutico da FTP,
ser de curta duração como 1 a 2 minutos. A técnica obteve a estimulando o realinhamento e o alongamento das fibras
reputação de ser dolorosa, porém a dor durante a FTP sugere cicatriciais, devolvendo, então, a mobilidade normal e indo-
uma indicação inadequada para um determinado paciente, lor da estrutura [3,4,6,8,11,13,16]. Entretanto, o estudo de
digitopressão exacerbada e aplicação incorreta. Caso aplicada Walker [7] contradiz manuscritos mais recentes sobre a FTP.
corretamente, os estudos apontam para um efeito analgésico Este estudo teve como objetivo observar histologicamente
na área tratada mesmo que alguns sujeitos relatem um certo o efeito da técnica na cicatrização do ligamento colateral
desconforto logo após a aplicação da técnica[8,9]. medial distendido em coelhos. Os resultados deste estudo
De acordo com os nossos dados, os estudos não discri- não apoiam a hipótese de que a FTP promove o reparo de
minam o desconforto e essa sensação subjetiva poder ser ligamentos distendidos nem que previne o depósito aleatório
distinguida entre sensibilidade e dor. Por isso, tanto nos de novas fibras colágenas.
processos de incomodo ou sensibilidade e dor após a FTP Quanto à aplicação da técnica no tratamento de disfunções
podem persistir por algum tempo em alguns indivíduos [3,8]. musculoesqueléticas, a maioria dos estudos selecionados para
Assim, é indicado que a FTP seja utilizada dia sim, dia não ou esta revisão bibliográfica abordou a capsulite adesiva, tendi-
com um intervalo de 48 horas [8,10,22]. Se a sensibilidade nopatia patelar, trigger points e epicondilite lateral. Destes,
continuar, o intervalo de aplicação da técnica deve ser maior, apenas um estudo utilizou a Fricção Transversa Profunda
porém a quantidade da digitopressão não deve diminuir [8]. sozinha [21]. As demais pesquisas associaram o uso da técnica
Até o momento, nenhum estudo científico que esclareça os a outras modalidades terapêuticas, dificultando a comparação
mecanismos de ação da FTP foi publicado. Porém, embora o entre elas e a análise da sua verdadeira eficácia.
exato modo de ação não seja conhecido, autores como Cham- Uma das indicações da FTP é na Capsulite Adesiva. Nosso
berlain [3] e Stasinopoulos e Johnson [9] apresentam algumas levantamento apenas constatou uma pesquisa que teve como
explicações teóricas. Então, sem uma forte evidência científica, objetivo comparar os efeitos iniciais entre 2 abordagens de
é hipotetizado que a técnica promove alívio da dor, hiperemia tratamento fisioterapêutico para tal disfunção. A amostra foi
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 229
constituída de 40 pacientes divididos em dois grupos: (A) rece- et al. [21] comparou o efeito imediato após o tratamento do
beu a FTP e manipulação no ombro, em uma sessão de 1 hora, trigger point com a compressão isquêmica com a Fricção
3 vezes por semana; (B) calor superficial por 20 minutos – com Transversa Profunda. Com apenas uma aplicação das técnicas,
bolsas quentes – e calor profundo por 20 minutos – com ondas foi encontrada uma redução significante na intensidade da
curtas, todos os dias. Os participantes de ambos os grupos dor para ambos os grupos, mas não houve diferença estatis-
realizaram alongamento ativo e exercício pendular após cada ticamente significativa entre os grupos [21]. Este foi o único
sessão e foram instruídos a realizar um programa de exercício encontrado no qual realizou a Fricção Transversa Profunda
em casa que consistia em amplitude de movimento passivo sozinha.
e exercícios pendulares todos os dias. Os tratamentos foram Pela heterogeneidade das pesquisas não é possível confron-
realizados durante 2 semanas e foram mensuradas, através da tar resultados e afirmar a eficácia da FTP na intervenção nos
Escala Análoga Visual, a dor espontânea, dor noturna e dor ao trigger points, embora os estudos tenham mostrado resultados
movimento, e a amplitude de movimento passiva de flexão, positivos. Estudos de revisão (sistemática e não-sistemática)
abdução, rotação interna e externa utilizando um goniôme- – nos quais analisam os tratamentos disponíveis dos triggers
tro. Este estudo mostrou que, ao final da segunda semana, point, também apontam para a falta de evidências quanto à
95% dos que realizaram o tratamento com a abordagem de efetividade da Fricção Transversa Profunda e Terapia Manual
Fricção Transversa Profunda e manipulação alcançaram 80% [27,28].
da amplitude de movimento considerada normal para o om- Nas epicondilites, Cyriax & Cyriax [9] recomendam o
bro, assim como tiveram diminuição da dor ao movimento, uso da FTP por 10 minutos e imediatamente após realizar
mostrando uma diferença significativamente maior para este a Manipulação de Mill. Apesar da forma de intervenção
grupo quando comparado ao grupo que realizou apenas calor supracitada, não há qualquer razão para a utilização das
superficial e profundo [23]. Não foi encontrada nenhuma duas manobras combinadas e não há qualquer evidência na
outra pesquisa que mencionou o uso da Fricção Transversa literatura. Não se sabe qual a razão para esta recomendação,
Profunda no tratamento da capsulite adesiva. já que para outras disfunções indica-se apenas o uso da FTP
Outro ponto interessante para aplicação consiste nas ten- [2,10,15,22]. Nagrale et al. [2] realizaram uma pesquisa, a
dinopatias. Stasinopoulos & Stasinopoulos [24] fizeram um qual comparou a dor, força de preensão livre de dor e o esta-
estudo na tendinopatia patelar crônica com uma amostra de do funcional de pacientes com epicondilite lateral através de
30 pacientes, divididos em 3 grupos: no primeiro grupo foi dois grupos: no primeiro grupo foi realizado fonoforese e um
realizado um programa de exercício excêntrico e alongamento programa de exercícios supervisionados; e no segundo grupo
e repouso; no segundo grupo foi realizado ultrassom pulsado foi realizada a Fisioterapia Cyriax. Os resultados mostraram
e repouso; e, por fim, no terceiro grupo foi realizado a Fricção que a fisioterapia de Cyriax foi superior após 4 e 8 semanas
Transversa Profunda e repouso. Os tratamentos foram reali- do tratamento comparado ao outro grupo.
zados 3 vezes por semana durante 4 semanas. A avaliação da Stasinopoulos & Stasinopoulos [24] pesquisaram o efeito
dor foi feita ao final das 4 semanas de tratamento, após 1 mês da Fisioterapia Cyriax, um programa de exercícios supervisio-
(8 semanas) e após 3 meses (16 semanas). O resultado obtido nados e laser na epicondilite lateral. Esse estudo apontou que
foi de que o grupo que realizou o programa de exercícios ex- as três abordagens foram eficazes na redução da dor. Porém,
cêntricos e alongamento teve uma melhora significativamente o grupo que realizou programa de exercícios supervisionados
maior que os outros dois tratamentos ao final das 4 semanas, produziu um efeito maior em curto, médio e longo prazo
após 1 e 3 meses [19]. Esses dados estão de encontro com [24]. Este resultado está em consonância com a pesquisa de
os resultados encontrados por Cook et al. [25] e Pfefer et Viswas et al. [15] que compararam a eficácia da técnica de
al.[17] que relataram em seus estudos que, apesar da FTP ser Cyriax com exercícios supervisionados na redução da dor e
utilizada amplamente na prática clínica e, teoricamente, se na melhora da função de pacientes com epicondilite lateral.
beneficiar dos estímulos mecânicos das fricções, as evidências Tanto o programa de exercícios supervisionados como o
são limitadas para apoiar o uso da técnica na tendinopatia. Cyriax apresentou melhora significativa na dor e na função
Outra indicação da FTP no campo musculoesquelético é após 4 semanas de tratamento. Na comparação entre as duas
o trigger point. Gam et al. [26] realizaram um estudo no qual abordagens, o grupo que realizou exercícios supervisionados
dividiu a população em 2 grupos sendo (1) Ultrassom, FTP e obteve melhores resultados e estatisticamente significativos
exercício; (2) Ultrassom placebo, FTP e exercício e comparou para todas as variáveis em comparação ao grupo que foi
com o grupo controle que não recebeu nenhuma interven- submetido ao Cyriax [9].
ção, durante 4 semanas, 2 sessões por semana. Nenhuma
diferença significativa na intensidade da dor entre os grupos Conclusão
foi encontrada, porém foi notada uma redução significante
nas características do trigger point em ambos os grupos que Embora a FTP seja utilizada amplamente na prática clí-
realizaram exercícios e Fricção Transversa Profunda [26]. nica e a maioria dos estudos aponte resultados favoráveis na
Um estudo piloto realizado por Fernández-de-las-Peñas aplicação em determinadas disfunções musculoesqueléticas,
230 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
não foi possível comprovar sua efetividade, especialmente 15. Viswas R, Ramachandran R., Anantkumar PK. Comparison of
pela escassez de estudos do tipo ensaio clínico. Por se tratar effectiveness of supervised exercise program and Cyriax physio-
de uma técnica de terapia manual de fácil e rápida aplicação therapy in patients with tennis elbow (lateral epicondylitis): a
e com possibilidade de reverter processos de dor nas estru- randomized clinical trial. The Scientific World Journal 2012:1-8.
16. Stratford PW, Levy DR, Gauldie S, Miseferi D, Levy K. The
turas musculoesqueléticas, novos estudos acerca do FTP
evaluation of phonophoresis and friction massage as treatments
tornam-se necessários, principalmente para elucidar os reais for extensor carpi radialis tendinitis: a randomized controlled
mecanismos, indicações e contraindicações mais precisas e a trial. Physiotherapy Canada 1989;41(2):93-9.
real eficácia da FTP. 17. Pfefer MT, Cooper SR, Uhl NL. Chiropratic management
of tendinopathy: a literature synthesis. J Manip Physiol Ther
Referências 2009;32(1):41-52.
18. Goats GC. Massage – The scientific basis of an ancient art:
1. Bialosky JE, Bishop MD, Price DD, Robinson ME, George part 1. The techniques. Br J Sports Med 1994;28(3):149-152.
SZ. The mechanisms of manual therapy in the treatment of 19. Stasinopoulos D, Stasinopoulos I. Comparison of effects of
musculoskeletal pain: A comprehensive model. Man Ther exercise programme, pulsed ultrasound and transverse friction
2009;14:531-8. in the treatment of chronic patelar tendinopathy. Clin Rehabil
2. Nagrale AV, Herd CR, Ganvir S, Ramteke G. Cyriax Physiothe- 2004;18:347-52.
rapy versus phonophoresis with supervised exercises in subjects 20. Bisset L, Paungmali A, Vicenzino B, Beller E. A systematic re-
with lateral epicondylalgia: A randomized clinical trial. J Man view and meta-analysis of clinical trials on physical interventions
Manip Ther 2009;17:171-8. for lateral epicondyalgia. Br J Sports Med 2005;39:411-22.
3. Chamberlain GJ. Cyriax’s friction massage: a review. J Orthop 21. Fernández-de-las-Peñas C, Blanco CA, Carnero JF, Page JCM.
Sports Phys Ther 1984;4(1):16-22. The immediate effect of ischemic compression technique and
4. Callaghan MJ. The role of massage in the management of the transverse friction massage on tenderness of active and latent
athlete: a review. Br J Sp Med 1993;27(1):28-33. myofascial trigger points: a pilot study. J Bodyw Mov Ther
5. Lee HM, Wu SK, You JY. Quantitative application of transverse 2006;10:3-9.
friction massage and its neurological effects on flexor carpi 22. Stasinopoulos D, Stasinopoulos I. Comparsion of effects
radialis. Man Ther 2009;14:501-7. of Cyriax physiotherapy, a supervised exercise programme
6. Mark D. Fisioterapia Ortopédica – Exame, Avaliação e Inter- and polarized polychromatic non-coeherent light (Bioptron
venção. Porto Alegre: Artmed; 2006. light) for the treatment of lateral epicondylitis. Clin Rehabil
7. Walker JM. Deep transverse frictions in ligament healing. J 2006;20:12-23.
Orthop Sports Phys Ther 1984;6(2):89-94. 23. Guler-Uysal F, Kozanoglu E. Comparsion of the early response
8. Ombregt L, Bisschop P, Veer HJ. A system of orthopaedic me- to two methods of rehabilitation in adhesive capsulitis. Swiss
dicine. 2a ed. New York: Churchill Livingstone; 2003. Med Wkly 2004;134:353-8.
9. 20. Cyriax JH, Cyriax P. Manual Ilustrado de Medicina Orto- 24. Stasinopoulos D, Johnson MI. It may be time to modify the
pédica. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001. Cyriax treatment of lateral epicondylitis. J Bodyw Mov Ther
10. Stasinopoulos D, Johnson MI. Cyriax physiotherapy for tennis 2007;11:64-67.
elbow/lateral epicondylitis. Br J Sp Med 2004;38:675-7. 25. Cook JL, Khan KM, Purdam CR. Conservative treatment of
11. Cyriax JH. Text-book of orthopaedic medicine: diagnosis of patellar tendinopathy. Physical Therapy in Sport 2001;2:54-65.
soft tissue lesions. London: Cassel; 1962. 26. Gam AN, Warming S, Larsen LH, Jensen B, Hoydalsmo O,
12. Gregory MA, Deane MN, Mars M. Ultrastructural changes in Allon I, Andersen B, et al. Treatment of myofascial trigger-points
untraumatised rabbit skeletal muscle treated with deep transverse with ultrasound combined with massage and exercise – a ran-
friction. Physiotherapy 2003;89(7):408-15. domized controlled trial. Pain 1998;77:73-79.
13. Clayton P. The use of deep transverse frictions in the treatment 27. Rickards LD. The effectiveness of non-invasive treatments for
of acute and chronic soft tissue injuries. SportEX Dynamics active myofascial trigger point pain: a systematic review of
2009;22:21-24. the literature. International Journal of Osteopathic Medicine
14. Goats GC. Massage – the scientific basis of an ancient art: 2006;9:120-36.
part 2. Physiological and therapeutics effects. Br J Sports Med 28. Bueno IS, Gómez CM, Roldán OV, Pons AA. Terapia manual
1994;28:153-6. y terapia combinada en el abordaje de puntos gatillo: revisión
bibliográfica. Fisioterapia 2009;31(1):17-23.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 231
Revisão
*Aluna do Curso de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Enfermagem e membro do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confor-
tando da Universidade Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC e C&C/UFSC), Bolsista CAPES, **Professora da Universidade do
Sul de Santa Catarina, ***Enfermeira, Coordenadora Geral da Rede de Promoção ao Desenvolvimento da Enfermagem (Repensul),
Colaboradora do Programa de Pós Graduação em Enfermagem e do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confortando da Universidade
Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC e C&C/UFSC)
Resumo Abstract
Introdução: A fisioterapia no Brasil tem como marco para o seu Introduction: The professional recognition of physical therapy
reconhecimento profissional o Decreto-Lei 938 do ano 1969. A in Brazil is marked by the law 938/1969. The legal definition of the
definição legal da profissão e seu reconhecimento social refletem um profession and its social recognition reflects a historical process in
processo histórico em movimento. Objetivo: O texto foi composto motion. Objective: This text was composed in order to reflect on the
visando refletir sobre a identidade profissional do fisioterapeuta no professional identity of physiotherapist in Brazil. Methods: The the-
Brasil. Método: Foi realizado um ensaio adotando como referencial oretical support is the sociology of professions, in Freidson. Results:
teórico a Sociologia das Profissões, em Freidson. Resultados: A The current professional identity of the physiotherapist keeps the
identidade profissional do fisioterapeuta da atualidade guarda carac- characteristics of its origin, and seeks to overcome the deficiency of
terísticas de sua origem e busca superar a deficiência de autonomia technical and socioeconomic autonomy. Conclusion: Among other
técnica e socioeconômica. Conclusão: Dentre outras estratégias é strategies, there is a need to rescue, systematize and disseminate the
preciso resgatar, sistematizar e difundir o conhecimento científico scientific knowledge produced by the physiotherapist, to face pro-
produzido pelo fisioterapeuta, enfrentar os monopólios profissionais fessional monopolies and achieve the affirmation of their social role.
e conquistar a afirmação do seu papel social. Key-words: Physical Therapy specialty, professional practice,
Palavras-chave: Fisioterapia, prática profissional, história, history, sociology.
sociologia.
desse Parecer carregava uma derrota em suas linhas: a definição “(...) uma forma de ajudar as pessoas (...)”, denotando que o
do fisioterapeuta como auxiliar médico, denominado Técnico desempenho da profissão é “(...) quase um sacerdócio (...)” e
em Fisioterapia [9]. não uma atividade profissional qualificada [14:94-95].
Os serviços de Fisioterapia, desde os anos 50, não pararam No perfil do fisioterapeuta, ainda segundo aquela pesquisa,
de se multiplicar. Na década de 60 as associações profissionais há um número muito maior de profissionais do sexo feminino
tiveram seu período de florescimento [10]. do que do sexo masculino (72,4% de mulheres e 27,6% de
O surgimento de uma nova profissão no campo da saúde homens), concordando com o resultado de outros estudos
não interessava para alguns setores da classe médica. Tanto o que corrobora a ideia corrente de que a Fisioterapia seria uma
Conselho Federal de Educação quanto a Comissão de Saúde profissão de mulher [14:54-55].
do Congresso Nacional tinham cargos estratégicos ocupados A identidade profissional do fisioterapeuta pode ser
por médicos representantes desses setores. A regulamentação visualizada no reconhecimento do Estado e da sociedade
da Fisioterapia não lhes interessava e manobras políticas e o materializado nas configurações do mercado de trabalho para
poder dos cargos foram utilizados para estabelecer limites à este profissional, conforme pode ser observado nos dados
autonomia do fisioterapeuta em relação ao médico. A pri- do I Censo dos Fisioterapeutas do Estado de São Paulo ano
meira batalha travada estabeleceu-se no âmbito da reserva 2008, que concentra o maior número desses profissionais
de conhecimento, com a comissão mutilando o currículo do país: 31,7%, ou 25.147. Dos 13.712 fisioterapeutas que
mínimo da graduação reduzindo o número de matérias pela responderam aos questionários, 70,5% destes trabalham no
metade, “resumidas ao indispensável” [11:204]. Em 1964, o setor privado, 15,2% no serviço público, 4,3% em instituições
MEC aprova o Parecer 388/63; e a Fisioterapia conquista sua mistas e 10% em instituições filantrópicas [1].
inclusão no contexto universitário. Apesar desta conquista os Além disso, os dados do Instituto Nacional de Estudos e
profissionais continuaram a ser denominados de Técnicos [9]. Pesquisas Educacionais (INEP) demonstram a expansão dos
Em 1964, o Brasil mergulha num período turbulento: cursos de Fisioterapia no Brasil: em 1969 havia 6 cursos de
o presidente João Goulart é deposto por um golpe militar, graduação e em 2005 esse número havia subido para 462.
com o apoio político e estratégico do governo americano Com o crescimento do número de cursos houve um au-
[7]. Enquanto isso, a Fisioterapia floresce: a regulamentação mento no contingente de formandos prontos a se lançarem
da profissão foi decretada pela Junta Militar que, em 1969, no mercado de trabalho a cada ano. Em 1991, os 48 cursos
presidia o Brasil. Um ano antes havia sido decretada a refor- formaram 1.951 fisioterapeutas. Em 2004, os 339 cursos
ma do ensino superior, que visava essencialmente garantir a formaram 13.631 novos profissionais [1].
submissão da sociedade a um poder político autoritário [12]. Por outro lado, temos uma nova proposta curricular re-
O governo militar brasileiro faz uma parceria com os EUA gulamentada em 2002: são as Novas Diretrizes Curriculares
operacionalizada entre o Ministério da Educação e Cultura Nacionais do Curso de Graduação de Fisioterapia. Segundo
(MEC) e a United States Agency of Internatinonal Development elas, os cursos de Fisioterapia devem contemplar em seus
(USAID) para desenvolver no Brasil a reforma educacional currículos conteúdos relacionados ao processo saúde-doença
baseada nos moldes americanos. A meta era estruturar uma do indivíduo, da família e da comunidade. Os objetivos são
política educacional como estratégia de hegemonia, funda- ampliados nessa nova proposta e há uma orientação para a
mentada no enfraquecimento da capacidade reflexiva e crítica, integralidade das ações de cuidar do fisioterapeuta, devendo
voltada para uma formação escolar pouco consistente baseada este estar integrado à realidade epidemiológica e profissional
no treinamento para inserção nos processos produtivos [13]. [3]. As Novas Diretrizes trazem o desafio de reformular a
Os primeiros cursos superiores de Fisioterapia no país foram identidade da Fisioterapia, pautada na função reabilitadora,
concebidos nos padrões exigidos pela ditadura militar. O que atua apenas nos níveis secundários e terciários da atenção,
sistema educacional brasileiro foi modificado adequando-se inserindo-a também no campo da prevenção e promoção da
aos interesses desenvolvimentistas dos militares e a educação saúde que caracteriza o nível primário da atenção [2].
tornou-se utilitarista e acrítica. No entanto, esses elementos Outro estudo contendo análise de periódicos nacionais
convergiram para a concretização do projeto de regulamen- publicados entre 1996 e 2009 revela que a produção científica
tação do currículo mínimo do curso de Fisioterapia e regula- em Fisioterapia tem crescido: nos anos de 1995/96 identi-
mentação da profissão [10]. ficaram 12 publicações e nos anos de 2008/09 esse número
foi de 264. O número de doutoramentos também aumentou,
A identidade do fisioterapeuta no Século passando de 57 para 573 fisioterapeutas com esta titulação
XXI no período de 1998 a 2008 [15].
surgido após a Revolução Industrial, acarretando formas de Contextualizada histórica e sociologicamente, analisamos
divisão do trabalho que se expressam nas diferentes profissões a identidade profissional do fisioterapeuta brasileiro à épo-
existentes nos dias de hoje. Essa nova organização do trabalho ca da regulamentação da profissão constituindo-se pelas
tomou tal importância que mereceu a atenção dos estudiosos seguintes características: a reabilitação como objeto de
da Sociologia [16]. trabalho, o tecnicismo, a prática acrítica e a subalternidade,
Os primeiros teóricos das Profissões, seguindo a tradição haja vista que a profissão surgiu em resposta à demanda de
funcionalista da Sociologia americana, caracterizam profissão reabilitação para uma nova ordem social que exigia que
com os seguintes critérios: a formação de nível superior, o trabalhadores retomassem mais rapidamente às linhas de
ideal de serviço (ideal de serviço seria a disponibilidade dos produção. Além disso, os surtos de poliomielite no Brasil
profissionais como vocação para ‘servir’, isto é, os profissio- também contribuíram para que a profissão definisse a sua
nais teriam, acima de suas próprias necessidades materiais, o vocação de reabilitação [8].
compromisso de atender a demanda das necessidades sociais Os primeiros currículos mínimos dos cursos de
[17]) e controle por normas coletivas impostas por associações graduação foram definidos a partir de uma disputa de
de classe [15]. monopólio de conhecimento que garantiram a definição
Na Sociologia americana há uma vertente que defende do fisioterapeuta como auxiliar médico e atendiam aos
uma análise crítica e sistemática dos pressupostos sobre as padrões exigidos pela política educacional do regime
profissões, definindo-as como ocupações organizadas, de- militar vigente no Brasil, isto é, profissionais tecnicistas
tentoras de um saber específico e complexo obtido através sem fundamentação para o pensamento crítico e reflexivo,
de uma formação de nível superior, que obtém o monopólio legados à subalternidade [12].
sobre a realização do seu trabalho, o direito de controlar o Quanto à identidade do fisioterapeuta na atualidade, bus-
treinamento e o acesso a ele e de avaliar como o trabalho é camos refletir sobre elementos extraídos da produção científica
realizado. Essa vertente desmistifica a crença de que uma de pesquisadores da Fisioterapia para contextualizá-la. A fala
formação altamente especializada e o ideal de serviço seriam dos fisioterapeutas entrevistados denota a dualidade do termo
as principais características da profissão e aponta para a au- “vocação sacerdotal” utilizado por eles próprios para designar
tonomia como seu elemento essencial [6,17]. a profissão: identifica o fazer da Fisioterapia como prática de
Na construção da legitimidade profissional não basta o altruísmo, o que de certa forma garante-lhes algum prestí-
saber, a habilidade, a competência. A autoridade da expertise gio, mas não reforça suas conquistas como conhecimento e
se estabelece através do reconhecimento social, que se constitui práticas dentro dos rigores dos métodos científicos, nublando
mediante a identidade profissional. A identidade é atribuída o reconhecimento do seu caráter profissional. O número de
ao indivíduo, é sustentada e é transformada através de atos mulheres muito superior ao de homens exercendo a profissão
de reconhecimento social [18]. Para consolidar a identidade suscita a reflexão sobre as relações de gênero e trabalho. As
profissional é fundamental o reconhecimento por parte da diferenças salariais por gênero são ainda uma questão que
sociedade sobre a legitimidade dos profissionais. A autoridade marca profundamente os mercados de trabalho na atualidade
da expertise se estabelece pela conquista do reconhecimento e não podemos deixar de apontar para este elemento como
social [6]. constituinte da identidade profissional e sua valoração econô-
Essa crítica sociológica sustenta a reflexão sobre as re- mica no mercado [20]. Além disso, a predominância feminina
lações entre o surgimento do profissionalismo brasileiro e carreia à profissão as características histórica e ideologicamente
a consolidação do projeto de nação. No Brasil existiu uma instituídas como “qualidades femininas”: doação, afetividade
relação de mútua influência entre a constituição do Estado e submissão, reforçando seu caráter original [14].
e o surgimento das profissões: a autoridade da expertise dos Nas propostas contidas nas Diretrizes Curriculares do
grupos profissionais legitimou as ações do Estado e este por Curso de Graduação em Fisioterapia de 2002 identificamos o
sua vez estabeleceu uma legislação, garantindo assim um reconhecimento da ampliação do conhecimento e da prática
monopólio de mercados de serviços. Os grupos profissionais, do fisioterapeuta como profissional apto a lidar com a saúde
no processo de construção de sua identidade e do seu lugar em todos os níveis da atenção [2].
social, foram elementos essenciais na configuração do padrão No entanto parece haver um desencontro entre o pro-
de relações sociais dominantes no Brasil. As primeiras profis- jeto político que fundamentou as escolhas das Diretrizes
sões a buscarem reconhecimento do Estado brasileiro foram Curriculares de 2002 e as políticas atuais de Saúde Pública
a Medicina, a Engenharia e a Advocacia. A forma como elas que definem a abertura de vagas para profissionais da saúde
se constituíram como profissões estabeleceu parâmetros para que compõem as equipes multidisciplinares em hospitais e
a regulamentação de tantas outras [19]. postos de saúde, nos âmbitos municipal, estadual e federal.
A Fisioterapia no contexto brasileiro profissionalizou-se Aqui visualizamos um descompasso entre o reconhecimento
alicerçada por projetos nascidos da parceria Brasil/Esta- social da identidade profissional do fisioterapeuta, ampliada
dos Unidos, acompanhando o projeto político de nação e valorizada nas linhas das Diretrizes Curriculares de 2002 e
instaurado no período em que vigorou o regime militar. ausência de reconhecimento social dessa mesma identidade
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 235
refletida na presença irrisória desses profissionais no serviço têm respondido com avanços na sua produção científica, na
público. Além disso, o fato da profissão ainda ter pouca par- aplicação do conhecimento e melhora dos resultados na clíni-
ticipação no Sistema Único de Saúde contribuiria para não ca. No entanto o mercado de trabalho de um profissional da
oportunizar a sua visibilidade social [21]. saúde é diretamente mediado pelo Estado para que seja aces-
Esses elementos podem revelar a intencionalidade em sível à totalidade da população, pois dependente de espaços
preservar espaços públicos conquistados por outras pro- públicos para a efetivação de seu trabalho. O Estado brasileiro
fissões e a conivência do Estado com uma possível reserva em suas políticas públicas atuais disponibiliza número restrito
de mercado, haja vista o relacionamento dessas profissões de vagas para fisioterapeutas no setor público, negligenciando
com o poder em sua luta pela manutenção dos monopólios a acessibilidade a este serviço. Esse posicionamento do Estado
profissionais [17]. pode se dever, entre outros determinantes, à influência de seto-
A autonomia técnica, isto é, a possibilidade do controle res profissionais na luta pela manutenção de seus monopólios,
sobre a prática profissional, só se efetiva na organização mas é preciso superar os interesses de classe quando estes não
social e econômica do trabalho. O baixo percentual de fi- caminham junto aos interesses e demandas da sociedade. Por
sioterapeutas trabalhando no setor público denota que esta fim, reflexões acerca da identidade profissional da Fisioterapia
categoria profissional ainda não estabeleceu uma parceria da atualidade apontam para problemas na autonomia técnica
com o Estado para o diálogo sobre as decisões políticas na e socioeconômica, apesar das conquistas da profissão. A Fi-
gestão de questões fundamentais para a garantia da autono- sioterapia no contexto brasileiro deve resgatar, sistematizar e
mia da profissão [6]. Um quadro mais amplo se configura: difundir o seu conhecimento científico de modo a conquistar
a formação profissional alicerçada no tecnicismo e carente legitimidade da identidade profissional e expansão da sua
de aprofundamento em disciplinas que propõem o exercício autonomia. Além disso, é fundamental que os fisioterapeutas
do pensamento crítico desprepara o fisioterapeuta para o participem da discussão, implementação e controle da quali-
enfretamento de situações que não sejam estritas à ordem dade dos cursos de graduação e pós-graduação em Fisioterapia.
técnica. No processo histórico da profissão, a construção da
autonomia, a subalternidade e o tecnicismo se mantiveram Referências
constantemente presentes. Mesmo com os avanços, tanto na
produção de conhecimento, quanto na implementação desse 1. Almeida ALJ. O lugar social do fisioterapeuta [Tese]. Presidente
conhecimento na clínica, a Fisioterapia continuou vinculada Prudente: Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências
ao saber técnico, alheia às questões filosóficas, sociológicas e e Tecnologia; 2008.
2. Teixeira CB. Diretrizes curriculares nacionais do curso de gra-
políticas. A formação do profissional deve instrumentalizá-
duação em fisioterapia: o perfil do fisioterapeuta [Dissertação].
-lo a pensar criticamente ou este não será capaz de gerir
Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná; 2004.
questões que estejam além das demandas técnicas, nem de 3. Conselho Nacional de Educação (BR). Resolução CNE/CES 4,
empreender novos rumos para a profissão [2]. de 19 de fevereiro de 2002. Institui diretrizes curriculares nacio-
Por outro lado, a busca da qualificação científica identifica- nais do Curso de Graduação em Fisioterapia. DOU; 2002 Mar
da no cenário de publicações de fisioterapeutas em periódicos 4 [acesso em 2011 Abr 20];1:11. Disponível em URL: http://
nacionais e a ampliação do número de doutoramentos, mostra portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES042002.pdf
um caminho que já vem sendo trilhado pelos profissionais da 4. Demo P. A força sem força do melhor argumento: ensaio sobre
Fisioterapia. A comunicação e disseminação dos resultados “novas epistemologias Virtuais”. Brasília: Ibict; 2010.
científicos direcionam a profissão para melhores resultados 5. Toledo LA, Loures CA. Organizações Virtuais. Cadernos EBA-
PE 2006;4(2):1-17.
em sua prática e a conquista da legitimidade.
6. Freidson E. Renascimento do profissionalismo: teoria, profecia
A redefinição do enfoque da Fisioterapia voltada para a e política. São Paulo: Edusp; 1998.
atenção primária da Saúde, como quer os termos das Novas 7. Oliveira VRC. A história dos currículos de fisioterapia: a cons-
Diretrizes Curriculares de 2002, também desafia a profissão trução de uma identidade profissional [Dissertação]. Goiânia:
a reestruturar seus paradigmas. Esta ainda é uma tendência a Universidade Católica de Goiás; 2002.
ser estabelecida, pois muitos conflitos precisam ser superados 8. Barros FBM. Poliomielite, filantropia e fisioterapia: o nasci-
para se levar a cabo esta redefinição. Porém a materialização mento da profissão de fisioterapeuta no Rio de Janeiro dos anos
textual e a regulamentação das Diretrizes despontam como 1950. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(3):941-54.
resultado da organização e das conquistas da categoria, num 9. Caldas MAJ. O processo de profissionalização do fisioterapeuta:
o olhar em Juiz de Fora [Tese]. Rio de Janeiro: Universidade do
insurgir estratégico para a reformulação dos monopólios
Estado do Rio de Janeiro; 2006.
profissionais e para afirmação de seu papel social.
10. Barros FBM. A formação do fisioterapeuta na UFRJ e a pro-
fissionalização da fisioterapia [Dissertação]. Rio de Janeiro:
Conclusão Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2002.
11. Barros FBM. Fisioterapia, poliomelite e filantropia: a ABBR e
A redefinição do papel do fisioterapeuta é resultante das a formação do fisioterapeuta no Rio de Janeiro (1954-1965)
demandas da própria sociedade, para a qual estes profissionais [Tese]. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz; 2009.
236 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
12. Assis LAO. Rupturas e permanências na história da educação 17. Barbosa MLO. Renascimento do profissionalismo: teoria, pro-
brasileira: do regime militar à LDB/96. Praxis 2006;3(4). fecia e política. Rev Bras Ci Soc 1999;14(39):186-90.
13. Correia WF. A educação, moral e cívica do regime militar 18. Berger PL. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística.
brasileiro, 1964-1985: a filosofia do controle e o controle da Rio de Janeiro: Vozes; 1983.
filosofia. Eccos Rev Cien 2007;9(2):489-500. 19. Coelho EC. As profissões imperiais: medicina, engenharia e
14. Batista DA. O ser fisioterapeuta: desenvolvimento profissional advocacia no Rio de Janeiro 1822-1930. Rio de Janeiro: Re-
e qualidade de vida no trabalho [Dissertação]. Goiânia: Facul- cord; 1999.
dades ALFA; 2010. 20. Madalozzo R, Martins SR, Shiratori L. Participação no mercado
15. Virtuoso JF, Haupenthal A, Pereira ND, Martins CP, Knabben de trabalho e no trabalho doméstico: homens e mulheres têm
RJ, Andrade A. A produção de conhecimento em fisioterapia: condições iguais? Estud Fem 2010;18(2):547-66.
análise de periódicos nacionais (1996 a 2009). Fisioter Mov 21. Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC,
2011;24(1):173-80. Figueiredo IM. A profissionalização da fisioterapia em Minas
16. Barbosa MLO. As profissões no Brasil e sua sociologia. Dados Gerais. Rev Bras Fisioter 2006;10(2):241-7.
2003;46(3):593-607.
Agenda
2013
Junho Outubro
18 a 20 de junho 13 a 16 de outubro
Trabalho, Stress e Saúde: promovendo a saúde total do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
trabalhador – da teoria à ação Florianópolis, SC
Centro de Eventos Plaza São Rafael, Porto Alegre, RS Informações: http://cbto2013.com.br
Informações: stress@ismabrasil.com.br
16 a 19 de outubro
21 e 22 de junho XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
II Jornada de Fisioterapia em Oncologia Fortaleza, CE
Hotel Deville, Porto Alegre, RS Informações: www.jzkenes.cpm
Informações: http://www.icmd2013.com.br/php/index.php
Novembro
Agosto
14 a 17 de novembro
8 a 11 de agosto VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de
21º Congresso Científico Internacional de Estética Fisioterapia Esportiva - SONAFE
Parque Anhembi, São Paulo, SP Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP
Informações: http://www.congressoestetica.com.br/estetika/ Informações: www.sonafe.org.br
feira
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 237
Physical Therapy Brazil is indexed in LILACS (Literatura Latinoamericana e Format: The text of original research article is divided into Abstract (Portu-
do Caribe em Ciências da Saúde), CINAHL, LATINDEX guese and English), Introduction, Material and Methods, Results, Discus-
Abbreviation for citation: Fisioter Bras sion, Conclusion, Acknowledgments and References.
Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length
Physical Therapy Brazil (PTB) is a bimonthly journal and promotes clini- 30,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables,
cal and basic studies, original researches and literature reviews related to figure legends and spaces).
Physical Therapy. Our readership includes physical therapist clinicians, Maximum number of Tables: 6 (Excel ou Word)
researchers, educators, students and all health care professionals interested Maximum number of Figures and Figure Legends: 8 (.tif or .gif )
in rehabilitation sciences. Maximum number of References: 50
PTB endorses the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to
Biomedical Journals put forth by the International Committee of Medi- 3. Review
cal Journal Editors (ICMJE), with the main specifications below. The This is a critical analysis of the current state of knowledge in any of the
complete text in English of theses Uniform Requirements is available on areas related to Physical Therapy. Literature review consists in analysis,
the website of the International Committee of Medical Journal Editors synthesis and assessment of original papers already published in scientific
(ICMJE), www.icmje.org, in the current version of October 2007 (the journals. Preference will be given to systematic reviews, or, when impos-
complete text is also available in pdf on the website of Atlântica Editora, sible, the author should justify the choice for the methodology employed.
www.atlanticaeditora.com.br) Reviews will focus principally on topics of contemporary interest. Over-
Articles published in PTB may also be published in the electronic version views of history, diagnostic strategies, and treatment approaches could be
of the Journal (Internet, CD-ROM), as well as other electronic support included.
that arise in the future. By authorizing the publication in the journal, the
authors agree with theses conditions. Format: The review contains Abstract (Portuguese and English), Introduc-
Articles should be sent by e-mail to the executive editor (artigos@atlan- tion, Methods, Results (divided in topics if necessary), Discussion, Con-
ticaeditora.com.br). The publication is an editor decision. All the manu- clusion and References.
scripts received that raise interest editorial will be submitted to anonymous Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length
peer-review. 30,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables,
According to the Health National Council of Brazil, resolution 196/96, figure legends and spaces).
for all the studies involving human beings, the author should attach to the Maximum number of Tables: 6 (Excel ou Word)
article the Ethics and Research Committee agreement, independently of Maximum number of Figures and Figure Legends: 8 (.tif or .gif )
the study design (observational, experimental or case study). The author Maximum number of References: 50
should include the agreement register from the Ethics and Research Com-
mittee of the Hospital or University. This Committee must be registered 4. Case Report
by the Health National Council of Brazil. Descriptive data of one or more clinical or treatment cases with similar
characteristics. Only will be accepted reports of cases unusual, or rare dis-
All submissions accepted for peer review are privileged communications. eases or changes with not expected evolution. The Case Report contains
Author identity is kept confidential from reviewers, unless otherwise in- Abstract (Portuguese and English), Introduction, Case Report, Results,
dicated. Discussion, Conclusion and References.
Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length
PTB reviews and considers a manuscript for exclusive publication with 10,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables,
the understanding that the manuscript - including any original research figure legends and spaces).
findings or data reported in it - has not been published previously and is Maximum number of Tables: 2 (Excel ou Word)
not under consideration for publication elsewhere, whether in print or Maximum number of Figures and Figure Legends: 2 (.tif or .gif )
electronic form. Maximum number of References: 20
Authors agree to execute copyright transfer as requested during the sub-
mission process. Manuscripts published in PTB become the property of 5. Opinion
Atlantica Editora and may not be published elsewhere, in whole or in part, This section publishes short articles, which express the personal opinion of
in print or electronic form, without the written permission of Atlantica the authors: recent advances, health policy, new scientific ideas, critic of
Editora, which has the right to use, reproduce, transmit, derivate, pub- original studies and proposals for alternative interpretations, for example.
lish, and distribute the contribution, in PTB or otherwise, in any form The publication is subject to evaluation of the editors.
or medium. Format: The text of Opinions is free format, without abstract.
Text: 5.000 characters.
1. Editorial Figures and Tables: 1
The editorial comments recent events, technological innovations, or high- References: 20
light important works published in the journal. It is written by editors, or
invited experts. The editors can also invite experts to publish Opinions 6. Letters
about recent or controversy subjects. This section publishes correspondence received, necessarily related to ar-
ticles published in PTB or to the editorial line of the Journal. Other con-
2. Original research article tributions should be addressed to the Opinion section. The authors of
They are works resulting from scientific research data showing original articles cited in letters will be informed and will have right of reply, which
findings of experience or observation, in studies with animals or human will be published simultaneously. The publication is subject to evaluation
beings. of the editors.
240 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013
Exemples:
Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyperten-
sion: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York:
Raven Press; 1995.p.465-78.
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
Res 1994;54:5016-20.
(see complete specifications in www.atlanticaeditora.com.br or www.ic-
mje.org)
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
Centro 01037-010 São Paulo SP Cristiana Ribas
Administração e vendas cristiana@atlanticaeditora.com.br
Atendimento Antonio Carlos Mello Diretor de Marketing e Publicidade
(11) 3361 5595 / 3361 9932 mello@atlanticaeditora.com.br Rainner Penteado
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br rainner@atlanticaeditora.com.br
Editor executivo
Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 jeanlouis@atlanticaeditora.com.br release@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
EDITORIAL
De sopas e imóveis, Marco Antonio Guimarães da Silva.............................................................................................................. 246
ARTIGOS ORIGINAIS
Efeito do tempo de aplicação da pressão positiva expiratória sobre a depuração pulmonar
do 99mTc-DTPA, Gabriela Feltez, Dulciane Nunes Paiva, Janice Luisa Lukrafka Tartari,
Dannuey Machado Cardoso, Isabella Martins de Albuquerque..................................................................................................... 247
A influência da Kinesio® Taping na correção da protrusão de ombro avaliado por meio
da biofotogrametria computadorizada, Renner Silva de Oliveira Filho,
Thiago Vilela Lemos, Franassis Barbosa de Oliveira...................................................................................................................... 252
A representação social e os significados dos docentes sobre a síndrome de Burnout
na dimensão da exaustão emocional, Catarina Costa Fernandes,
Denilson de Queiroz Cerdeira, Thais Teles Veras Nunes, Francilena Ribeiro Bessa,
Alexandre Carvalho de Lima, Francisca Darliana Almeida Torres................................................................................................. 257
A utilização do Nintendo Wii® no treinamento de equilíbrio de idosos institucionalizados:
estudo piloto, Enaile Cristina Soares Andrade, Wanderly dos Melo,
Patrícia de Deus Dini, Hudson Azevedo Pinheiro........................................................................................................................ 264
Prevalência de dor em adolescentes escolares, Angelica Castilho Alonso,
Joseane Lima da Anunciação, Rosana de Oliveira......................................................................................................................... 268
Estudo da emissão de luz por diodo infravermelho na dor neuropática em ratos,
Glauce Regina Pigatto, Jones Eduardo Agne, Liliane de Freitas Bauermann,
Juliano Ferreira, Gabriela Trevisan dos Santos, Robson Borba de Freitas, Fernanda Rosa.............................................................. 274
Força de pinça trípode e destreza manual em pacientes portadores de esclerose múltipla
forma remitente-recorrente, Marcos Moço Nascimento, Sônia Beatriz Félix Ribeiro,
Sabrina Martins Barroso, Cátia Silva, João Batista Ribeiro, Fabrizio Antonio Gomide Cardoso.................................................... 283
Avaliação do ultrassom sobre a hiperalgesia e o edema em joelhos de rato Wistar e interferências
de um inibidor de opioides endógenos, Cintia Cristina Santi Martignano, Lígia Inez da Silva,
Anamaria Meireles, Bruno Pogorzeski Rocha, Camila Thieimi Rosa, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................... 289
A inserção e a atuação dos fisioterapeutas concursados da rede municipal
de Santa Maria/RS, Sinara Porolnik, Andriele Gasparetto........................................................................................................... 294
Intervenção fisioterapêutica orientada aos idosos baseada no nível de conhecimento
e atitudes sobre diabetes mellitus, Viviane Rech, Maria Manuela Martins, Hugo Tourinho Filho.............................................. 301
REVISÕES
Repercussões pressóricas do frio local: a crioterapia deve ser administrada
com precaução em pacientes hipertensos? Isaac Brunno de Meneses Mamede Silva,
Allan Cavalcante Oliveira, Rômulo da Silva Brito, Marcelo Coertjens.......................................................................................... 306
Prematuridade e lesão pulmonar induzida pela ventilação pulmonar mecânica,
Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Adriane Pires Batiston, Arthur de Almeida Medeiros,
Leila Simone Foerster Merey, Elis Regina da Silva Ferreira, Durval Batista Palhares...................................................................... 312
NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................318
EVENTOS..........................................................................................................................................................................320
246 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Editorial
De sopas e imóveis
Zé da pipa já havia assumido o seu posto quando cheguei Não se sabe se ele daria ou não um jeitinho para acabar com
ao bar do Joaquim, nosso ponto de encontro dominical. a LBV e faria valer o novo estatuto, abocanhando tudo que
Eram 10 da manhã; ambos estávamos fora dos nossos habi- construíra em nome da caridade, porque ele morreria três anos
tuais horários. Eu, muito atrasado, e o Zé, excessivamente depois. Bem, como não houve abocanhamento algum, melhor
adiantado. Depois fiquei sabendo que viera direto da noite; invocar o beneficio da dúvida e pensar que o finado filantropo
aportara por lá às 5 da manhã e dormira até às 8. A julgar não arranjaria o fim involuntário da Legião da Boa Vontade,
pelo número de cartelas espalhadas sobre a mesa, ele já havia mesmo que conseguisse esticar a sua permanência por aqui.
entornado cinco chopes e, se o conhecia bem, deveria estar O Zarur que aparece hoje nos noticiários do jornal é
em estado etílico pré-beligerante, pronto a desafiar o primeiro outro, se chama Dahas Zarur. É um pouquinho mais novo,
que ousasse discordar de suas opiniões —Você já viu isso? mas começou a elucubrar as sacanagens que aprontaria em
perguntou-me ele, brandindo no ar a primeira página do sua vida no mesmo ano em que o seu xará fundava a LBV.
jornal. Com receio de que ele iniciasse ali um longo discurso, Pelas informações que você e eu tivemos pelos jornais, parece
o qual acabaria com palavrório e gestos inapropriados para o que esse Zarur também andou fazendo uma caridade, a de
horário, assumi a palavra e lhe disse: tal e qual você, também distribuir gratuitamente aos parentes (porque ele não é bobo,
estou indignado. Um absurdo, Zé da Pipa, um verdadeiro ab- nem nada, de colocar algo em seu nome) vários imóveis que
surdo. Funcionou. A faísca que alimentaria o seu verborrágico pertenciam à Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
espírito incendiário se apagou; dele ouvi apenas: — pois é, Você viu a foto dele no jornal? É a cara do Mr. Magoo, aquele
um absurdo. Esse sujeito não era o tal que dava sopa para os velhinho do desenho animado criado em 1949. Um pouco
pobres? continuou ele, agora em tom mais calmo. — Não, mais alto e mais magro, mas se parece com ele, se parece, sim
Zé, não senhor; possuem o mesmo sobrenome, mas não são senhor. E acho até que ele tem, como o velhinho do desenho,
a mesma pessoa, respondi. Você fez uma baita confusão. O uma baita deficiência visual. Talvez seja por isso que não
da sopa se chamava Alziro Zarur, e distribuía, gratuitamente, enxergou o que estava escrito nos papeis que assinou e que
pratos de comida para os pobres da periferia do Rio de Janeiro. transferia para os pobres parentes as dezenas de imóveis, todos
Criou no inicio da segunda metade do século 20 a famosa situados no Leblon, com um dos metros quadrados mais caros
Legião Brasileira da Boa Vontade (LBV). O fato de alimentar do mundo. E o pior, sabe o que é o pior, Zé da Pipa, estou
milhares de bocas famintas deu-lhe grande popularidade, e aqui a imaginar o que o cara irá dizer quando for chamado
o tornou uma espécie de celebridade dos desassistidos. O para prestar contas disso tudo. Fará uma maquiagem do mal
cara já morreu, Zé da Pipa. Se fosse vivo, estaria hoje com que cometeu, um tipo de terapia estética das suas tramoias.
98 anos. E digo mais. Quando completou 61 anos, um de Isso mesmo; ele vai metamorfosear as suas sacanagens e criar
seus principais assessores o sequestrou e baixou-lhe o cacete. uma justificativa descafeinada para as mesmas, digamos assim;
O sequestro e a surra foram justificados pelo agressor. Este mais permissiva com as doações que fez e que até agora ainda
alegou que Zarur havia alterado o estatuto da instituição que são proibidas. E você o que acha disso tudo? — Zé da Pipa,
criara, o qual passava, a partir de então, a lhe dar posse dos Zé da Pipa, você tá dormindo? Acorda, seu fdp, acorda Zé da
bens da organização, no caso de que a mesma fosse extinta. Pipa. E pensar que gastei todo esse meu latim à toa.
Artigo original
*Mestranda, Ciências da Reabilitação, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre/RS,
**Professora Adjunta, Curso de Fisioterapia, Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul/RS, *** Professora
Assistente, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre/RS,
****Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS, ****Professora Adjunta do Departa-
mento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Resumo Abstract
Introdução: A taxa de depuração pulmonar do 99mTcDTPA Introduction: The pulmonary clearance rate of 99mTc-DTPA is
constitui um índice da permeabilidade pulmonar. A aplicação da index of lung permeability. The application of expiratory positive
pressão positiva expiratória (EPAP), um recurso fisioterapêutico, airway pressure (EPAP), a physical therapy tool, promotes increase
promove aumento da expansão pulmonar, entretanto são escassos in pulmonary volume, however there are few studies addressing
os estudos abordando a associação entre o tempo de aplicação deste the association between the application time of this resource and
recurso e a permeabilidade pulmonar. Objetivo: Comparar o tempo lung permeability. Objective: To compare the time of 99mTc-DTPA
de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA no 15º e 30º minuto de lung clearance in the 15º and 30º minute of EPAP at pressures 10
aplicação da EPAP nas pressões de 10 e 15 cmH2O. Hipotetiza-se cmH2O and 15 cmH2O. It is hypothesized that the application
que a aplicação de apenas 15 minutos da técnica já poderia influen- of 15 minutes of EPAP could positively influence the increase in
ciar positivamente o aumento do volume pulmonar. Material e mé- pulmonary volume. Methods: We measured the pulmonary clearance
todos: Mensurou-se a taxa de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA rate of 99mTc-DTPA in a sitting position in healthy individuals (n
na posição sentada em indivíduos hígidos (n = 20) respirando sob o = 20) breathing under the effect of 10 and 15 cmH2O of EPAP,
efeito de 10 e 15 cmH2O de EPAP, após avaliou-se o comportamento after that we evaluate the behavior of T1/2 at 15º and 30º minute.
do T1/2 no 15º e 30º minuto. Resultados: Observou-se o aumento Results: We observed an increase in clearance rate with 15 cmH2O
da taxa de depuração quando 15 cmH2O de EPAP foi aplicada (p EPAP (p = 0,012), but there was no change with 10 cmH2O (p
= 0,012), porém não houve alteração com 10 cmH2O (p = 0,064). = 0,064). There was no statistically significant difference in T1/2 of
Não houve diferença estatisticamente significativa no T1/2 do 99mTc- 99m
Tc-DTPA in the 15º minute (p = 0,182) to the 30º minute (p =
-DTPA do 15º minuto (p = 0,182) para o 30º (p = 0,489). Conclusão: 0,489). Conclusion: The results demonstrated the effect of 15 cmH2O
Os resultados demonstraram o efeito de 15 cmH2O da EPAP no EPAP in the increase of the pulmonary clearance of 99mTc-DTPA
aumento da depuração pulmonar do 99mTc-DTPA sugerindo não suggesting no difference between 15º and 30º minutes.
haver diferença entre o 15º e 30º minuto. Key-words: blood air-barrier, technetium Tc 99m pentetate,
Palavras-chave: barreira alveolocapilar, pentetato de tecnécio Tc positive-pressure respiration.
99m, respiração com pressão positiva.
A barreira alvéolo-capilar, também chamada de barreira Trata-se de um estudo transversal retrospectivo realizado a
gás-sangue (BGS), por sua espessura extremamente fina e partir de um banco de dados pré-existente do estudo intitula-
delgada, é um excelente meio de separação entre o ar alveolar do: “Efeito da EPAP na depuração pulmonar do 99mTcDTPA
e o sangue dos capilares pulmonares, permitindo de forma em indivíduos hígidos” [15].
rápida e eficiente a troca dos gases respiratórios e dificultando Foram incluídos no estudo 20 indivíduos hígidos, adultos
a difusão de partículas hidrossolúveis em suspensão no ar jovens com idade superior ou igual a 18 anos, não-tabagistas
alveolar. Trata-se de uma grande área de superfície susceptível ou que tivessem abandonado a prática tabágica nos 30 ou
a lesões por agentes químicos, físicos ou biológicos [1,2]. mais dias precedentes ao estudo. Foram excluídas gestantes
A integridade dessa barreira é de fundamental importância ou mulheres com atraso menstrual, mulheres em lactação,
na manutenção da homeostase pulmonar. A BGS, além de indivíduos com pneumopatias crônicas ou sintomas respira-
prover uma grande área de superfície (50-100 m2), é uma tórios agudos. O protocolo deste estudo foi aprovado pelas
estrutura extremamente fina, devendo ainda prover grande Comissões Científicas e de Radioproteção do Hospital de
resistência às tensões aplicadas à sua superfície, como durante Clínicas de Porto Alegre (HCPA) com o no. 04-418, tendo
o exercício intenso, que produz elevadas pressões de capilar sido obtido consentimento pós-informado de todos os indi-
pulmonar e também em situações de hiperinsuflação pulmo- víduos incluídos no estudo.
nar quando a parede alveolar sofre tensão longitudinal [3].
A permeabilidade epitelial pulmonar pode ser avaliada pela Protocolo do estudo
taxa de depuração pulmonar do radioaerossol de dietilenotria-
minopentacético marcado com Tecnécio-99m (99mTc-DTPA) Todos os voluntários foram submetidos à cintigrafia pul-
expresso por seu tempo de meia vida (T1/2) [4]. Tal técnica é monar com radioaerossol 99mTc-DTPA em respiração espon-
não-invasiva, relativamente de baixo-custo, baixa radiação e tânea e sob EPAP (RHDSON Vital Signs®, New Jersey, EUA).
de fácil execução [5]. O sistema EPAP utilizado foi composto por máscara facial
Nos últimos anos, a pressão positiva expiratória nas vias siliconizada, contendo válvula unidirecional adaptada a um
aéreas (EPAP) tem sido amplamente utilizada em diversas gerador de PEP (positive expiratory pressure) ajustável a 10 e
situações clínicas, como em pacientes com fibrose cística, com 15 cmH2O. O vedamento máscara/face foi realizado através
o propósito de auxiliar na eliminação de muco, incrementar de presilhas flexíveis o que impediu o escape do fluxo de gás.
volumes pulmonares e aumentar a saturação periférica de
oxigênio [6,7], assim como em pacientes submetidos à cirurgia Avaliação da função pulmonar
de revascularização miocárdica com o objetivo de reduzir as
perdas da função pulmonar e a incidência de complicações A avaliação da função pulmonar através do teste espiromé-
pulmonares no pós-operatório [8]. trico serviu para atestar a normalidade da função ventilatória
Estudos em ovelhas [9] e cães [10,11] que avaliaram o pulmonar. O teste foi realizado utilizando o espirômetro
efeito da pressão positiva expiratória final (PEEP) sobre o T1/2 Jaeger, v 4.31a (Jaeger®, Wuerzburg, Germany). Os parâmetros
do 99mTc-DTPA sugeriram que somente níveis elevados de estudados foram: o volume expiratório forçado no primeiro
PEEP levariam à clearance pulmonar do composto. segundo (VEF1) e a capacidade vital forçada (CVF) e a rela-
Em humanos hígidos, onde não há alteração na permea- ção VEF1/CVF. Todas as medidas foram realizadas por um
bilidade da BGS, também há aumento na remoção pulmonar técnico credenciado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia
do 99mTc-DTPA [12,13], e muito embora esses mecanismos e Tisiologia, cegado para o estudo. Os valores obtidos foram
não estejam bem esclarecidos, parece ser necessária acentuada expressos de acordo com as normas da American Thoracic
hiperdistensão pulmonar para ocorrer aceleração na remoção Society [16].
de solutos intra-alveolares [14].
Diversos estudos evidenciam os efeitos da pressão posi- Cintigrafia pulmonar
tiva expiratória final (PEEP) sobre o T1/2 do 99mTc-DTPA,
demonstrando aumento na taxa de depuração deste soluto O 99mTc-DTPA foi preparado através da adição do 99mTc-
com a aplicação concomitante de PEEP [12-14]. Entretanto, -pentecnetato (99mTc-O4- IPEN-TEC, São Paulo, Brasil) ao
estudos que avaliam o efeito do tempo de aplicação da EPAP DTPA (DTPATEC-S, Sorin Biomedica S.p.A., Saluggia,
sobre o T1/2 do 99mTc-DTPA são escassos. Italy) em 5 mL de soro fisiológico. A qualidade cromatográfica
Devido a importância clínica do uso da EPAP, o objetivo do complexo foi controlada testando-se cada lote de solução
do estudo foi comparar o tempo de depuração pulmonar do do DTPA a ser nebulizada. A cromatografia em camada fina
99m
Tc-DTPA no 15º e 30º minuto de EPAP nas pressões de foi realizada com cromatofolhas de alumínio sílica gel 60
10 e 15 cmH2O. (Merck®, Darmstadt, German), usando-se acetona como sol-
vente. A contagem foi realizada através de um espectrômetro
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 249
(Contador Gamma de Poço para RIA/IRMA, modelo MN média e desvio padrão. Inicialmente a normalidade da amostra
2000 EIP-Injetron Electronica, Buenos Aires, Argentina). foi teste através do teste de Shapiro-Wilk. Foi utilizado o Teste
A ligação do 99mTc-O4- ao DTPA, na preparação resultante, t de Student para amostras independentes para comparar
deveria ser superior a 98%. as variáveis antropométricas e função pulmonar e, para o sexo,
O radio aerossol foi administrado por aparelho portátil o teste de qui-quadrado. A análise de covariância (ANCOVA)
específico para inalação pulmonar de aerossóis radioativos foi utilizada para comparar os grupos em relação ao T1/2 final
(Aerogama®, Medical, Porto Alegre, RS, Brasil). Utilizou-se ajustado pelo T1/2 basal e, a influência do tempo de aplicação
um fluxo contínuo de 9 L/min de oxigênio. O material ne- da EPAP (15 e 30 min) sobre o T1/2 entre os grupos, através da
bulizado foi constituído de 20mCi de 99mTc-DTPA diluído Análise de Variância (ANOVA Two-way), com comparações
em 5mL de solução fisiológica. A nebulização teve duração múltiplas de Bonferroni. Considerou-se o nível de significân-
de três minutos e foi realizada com o indivíduo em posição cia estatística de 5% (p < 0,05).
sentada, respirando em volume de ar corrente. Durante a
realização das nebulizações, os indivíduos permaneceram Resultados
sob supervisão, possibilitando a constatação do desempenho
correto das manobras inalatórias e a correção de eventuais A Tabela I mostra que do total da amostra, 8 indivíduos
erros de técnicas na inalação do radiofármaco. eram do sexo masculino. O Grupo 1 utilizou EPAP 10
Após o término da nebulização, cada indivíduo foi en- cmH2O (n = 10) e o Grupo 2 EPAP 15 cmH2O (n = 10).
caminhado imediatamente à sala de exames para aquisição
das imagens sequenciais do tórax através de gama-câmara Tabela I - Características antropométricas e da função pulmonar
tipo Anger (Starcam 4000i®, GE, EUA), a cada 20 segundos, dos indivíduos avaliados.
durante período total de exame de 30 minutos. Todos os vo- Grupo 1 Grupo 2
Valor
luntários foram examinados na posição sentada. A aquisição Variáveis EPAP 10 EPAP 15
de p
foi acoplada a um sistema de processamento de dados (Star- cmH2O cmH2O
cam 4000i®, GE, EUA). As regiões de interesse (ROI) foram Sexo (M/F) 6/4 2/8 0,069
definidas criando-se um retângulo o mais próximo possível Idade (anos) 27,70 ± 5,14 30,40 ± 5,97 0,294
dos limites da atividade radioativa em cada pulmão. A altura Peso (kg) 70,70 ± 13,69 60,45 ± 5,26 0,078
dos retângulos foi determinada pelos pontos mais laterais e Altura (cm) 173 ± 7,72 165,50 ± 5,50 0,182
mais mediais de cada pulmão. Assim, foi possível visibilizar IMC (kg/m2) 23,45 ± 2,86 22,07 ± 1,59 0,527
a distribuição do radioaerossol em ambos os campos pulmo- CVF (%predito) 99,5 ± 15,97 97,04 ± 17,88 0,360
nares. A taxa de depuração pulmonar foi então, calculada a VEF1 (%predito) 97,82 ± 12,35 99,38 ± 12,61 0,625
partir do ajuste monoexponencial da curva tempo-atividade IMC: Índice de massa corporal; CVF: Capacidade vital forçada; VEF1:
de cada uma das regiões previamente definidas. Os valores Volume expiratório no primeiro segundo. Valores descritos em média
obtidos foram expressos através da meia-vida de transferência e desvio padrão e comparados pelo Teste t de Student para amostras
(T1/2), em minutos, para cada pulmão e para a média dos independentes, exceto sexo (Qui-quadrado). Valores significativos com
dois pulmões. p < 0,05.
Figura 1 - Comportamento do T1/2 do 99mTc-DTPA em EPAP de o tempo que o paciente necessita de ventilação não-invasiva
10 cmH2O e 15 cmH2O. com pressão positiva [19]. Outro estudo recente demostrou a
120 p = 0,012 eficácia da utilização da EPAP nasal como opção terapêutica
no tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
100
(SAOS) [20].
80 Apesar de sua larga utilização, discute-se, ainda, qual
nível pressórico é o mais adequado para promover suficiente
T1/2(min)
20
a efeitos expressivos na complacência pulmonar, aumentando
15 a capacidade residual funcional e assim facilitando o processo
de difusão de solutos [26,27].
10 No que diz respeito ao efeito do tempo de aplicação da
EPAP sobre a depuração pulmonar, não houve diferença
5
significativa do 15º minuto para o 30º minuto. De acordo
com esse achado, hipotetiza-se que a aplicação de 15 minutos
10 cmH2O 15 cmH2O
da técnica associada a níveis pressóricos de 15 cmH2O pode
15 min 30 min influenciar positivamente o aumento do volume pulmonar. A
Valores descritos em média e desvio padrão e comparados pela Análise literatura atual não traz dados consistentes a respeito do tempo
de Variância (ANOVA Two-way). Valores significativos para p < 0,05. ideal de aplicação da EPAP. Em recente estudo, Cardoso et
al. constataram que 25 minutos são necessários para reduzir
Discussão a atividade elétrica dos músculos acessórios da respiração em
pacientes com DPOC [28]. O emprego do tempo adequado
O presente estudo descreveu pela primeira vez a compara- desta técnica merece atenção especial, pois pode determinar
ção entre o tempo de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA no a redução de sintomas ou a otimização de tratamentos nas
15º e 30º minuto de EPAP nas pressões de 10 e 15 cmH2O. mais diversas situações clínicas.
Os resultados demonstraram o efeito de 15 cmH2O da É importante mencionar uma importante limitação do
EPAP no aumento da depuração pulmonar do 99mTc-DTPA, estudo na qual requer discussão, como o reduzido número
sugerindo não haver diferença entre os tempos de 15º e 30º amostral. Outra questão importante foi a não avaliação, por
minuto. Não se observou alteração significativa na taxa de meio da técnica de pletismografia, do comportamento do
depuração quando 10 cmH2O de EPAP foi aplicada. volume pulmonar, pois dessa forma teríamos um método
O uso da EPAP sob respiração espontânea foi descrita mais fidedigno de avaliação desse volume perante a aplicação
inicialmente em 1981, quando a mesma foi empregada na dos níveis pressóricos.
asma induzida pelo exercício [17]. A difusão desta modalidade Os achados do presente estudo reforçam os efeitos da pres-
terapêutica ocorreu em 1984, sendo utilizada para o tratamen- são positiva no aumento da depuração pulmonar do 99mTc-
to de portadores de mucoviscidose [18]. Os mesmos autores -DTPA, bem como sugerem que a aplicação de 15 minutos
denominaram esta modalidade de tratamento de PEP-mask, de EPAP já é suficiente para promover o aumento do volume
também conhecida como EPAP. pulmonar. As implicações clínicas dos mesmos são evidentes,
Um estudo mostrou que a EPAP aplicada em portadores principalmente, em virtude de o recurso terapêutico EPAP
de DPOC, além de auxiliar na remoção de muco, diminui ser considerado um método de simples utilização e de baixo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 251
custo, além de poder ser realizado sem supervisão direta; 12. Cooper JA, Van Der Zee H, Line BR, Malik AB. Relationship
estudos nos quais respaldem a sua utilização são importantes. of end-expiratory pressure, lung volume and 99mTc-DTPA
clearance. J Appl Physiol 1987;63: 1586-90.
Conclusão 13. Rinderknecht J, Shapiro L, Krauthammer M, Taplin G, Wasser-
man K, Uszler JM, et al. Accelerated clearance of small solutes
from the lungs in interstitial lung disease. Am Rev Respir Dis
Os resultados do estudo sugerem que a pressão ofertada 1980;121:105-17.
e o tempo de aplicação da EPAP podem ter influência direta 14. Paiva DN, Spiro BL, Masiero PR, Albuquerque, IM, Menna-
nos resultados terapêuticos no que tange o tratamento de -Barreto SS. Estudo da permeabilidade do epitélio pulmonar
diversas enfermidades respiratórias. através do radioaerossol dietilenotriaminopentacético (DTPA)
A grande variedade encontrada na literatura para determi- com o uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
nar a oferta de pressão e o tempo adequados para a utilização [tese]. Porto Alegre: UFRGS; 2005.
da EPAP pode levar à subutilização da técnica. 15. Albuquerque IM. Efeitos da pressão positiva expiratória sobre a
Assim, mais investigações devem ser realizadas com o permeabilidade pulmonar [recurso eletrônico]. Santa Cruz do
Sul: EDUNISC; 2012.
propósito de definir os limites de pressão e tempo de aplicação
16. American Thoracic Society. ATS/ERS Standardization of Spi-
visto que a EPAP de um modo geral é um recurso fisiotera-
rometry. Eur Respir J 2005;26:319-38.
pêutico cada vez mais utilizado na prática clínica. 17. Wilson BA, Jackson PJ, Evans J. Effects of positive end-
-expiratory pressure breathing on exercise-induced asthma. Int
Referências J Sports Med 1981;2:27-30.
18. Falk M, Kelstrup M, Andersen JB, Kinoshita T, Falk P, Stovring
1. West JB. Thoughts on the pulmonary blood-gas barrier. Am J S, et al. Improving the ketchup bottle method with positive
Physiol Lung Cell Mol Physiol 2003;285:501-13. expiratory pressure, PEP, in cystic fibrosis. Eur J Respir Dis
2. Maina JN, West JB. Thin and strong! The bioengineering di- 1984;65:423-32.
lemma in the structural and functional design of the blood-gas 19. Darbee JC, Kanga JF, Ohtake PJ. Physiologic evidence for
barrier. Physiol Rev 2005;85: 811-44. high-frequency chest wall oscillation and positive expiratory
3. Budinger GR, Sznajder JI. The alveolar-epithelial barrier: a pressure breathing in hospitalized subjects with cystic fibrosis.
target for potential therapy. Clin Chest Med 2006;27:655- Phys Ther 2005;85:1278-9.
69. 20. Walsh JK, Griffin KS, Forst EH, Ahmed HH, Eisenstein RD,
4. Menna-Barreto S, Carvalho PA, Ludwig EB. Avaliação do fluxo Curry DT, et al. A convenient expiratory positive airway pres-
sanguíneo pulmonar regional com macroagregados Revista sure nasal device for the treatment of sleep apnea in patients
HCPA 1984;4:25-8. non-adherent with continuous positive airway pressure. Sleep
5. Smith RJ, Hyde RW, Waldman DL, Freund GG, Weber DA, Med 2011;12:147-52.
Utell MJ,Morrow PE. Effect of pattern of aerosol inhalation 21. McCool FD, Rosen MJ. Nonpharmacologic Airway Clearance
on clearance of technetium-99m-labeled diethylenetriamine Therapies: ACCP Evidence-Based Clinical Practice Guideline.
pentaacetic acid from the lungs of normal humans. Am Rev Chest 2006:129 Suppl 1:250-59.
Respir Dis 1992;145:1109-16. 22. American Association for Respiratory Care. Use of positive
6. Darbee JC, Ohtake PJ, Grant BJ, Cerny FJ. Physiologic eviden- airway pressure adjuncts to bronchial hygiene therapy. Clinical
ce for the efficacy of positive expiratory pressure as an airway practice guidelines. Respir Care 1993;38:516-21.
clearance technique in patients with cystic fibrosis. Phys Ther 23. Dalcin PTR, Sessegolo RF, Menna-Barreto SS, Cunha RD, Brenol
2004;84:524-37. JCT, Marroni BJ. Permeabilidade epitelial pulmonar no lúpus
7. Lagerkvist AL, Sten GM, Redfors SB, Lindblad AG, Hjalmar- eritematoso sistêmico através da taxa de depuração pulmonar do
son O. Immediate changes in blood-gas tensions during chest radioaerossol de 99mTc-DTPA. J Pneumol 1995;21:287-94.
physiotherapy with positive expiratory pressure and oscillating 24. Chadda K, Annane D, Hart N, Gajdos P, Raphael JC, Lofaso
positive expiratory pressure in patients with cystic fibrosis. Respir F. Cardiac and respiratory effects of continuous positive airway
Care 2006;51:1154-61. pressure and non-invasive ventilation in acute cardiac pulmonary
8. Haeffner MP, Ferreira GM, Barreto SS, Arena R, Dall’Ago P. edema. Crit Care Med 2002;30:2457-61.
Incentive spirometry with expiratory positive airway pressure re- 25. Wright J, Johns R, Watt I, Melville A, Sheldom T. Health effects
duces pulmonary complications, improves pulmonary function of obstructive sleep apnea and the effectiveness of continuous
and 6-minute walk distance in patients undergoing coronary positive airway pressure: a systematic review of the research
artery bypass graft surgery. Am Heart J 2008;156:900. evidence. BMJ 1997;314:851-69.
9. O‘Brodovich H, Coates G, Marrin M. Effect of inspiratory 26. Finucane KE, Panizza JA, Singh B. Efficiency of the nor-
resistance and PEEP on 99mTc-DTPA clearance. Appl Physiol mal human diaphragm with hyperinflation. J Appl Physiol
1986;60:1461-5. 2005;99:1402-11.
10. Rizk NW, Luce JM, Hoeffel JM, Price DC, Murray JF. Site of 27. Silva LCC. Condutas em Pneumologia. Rio de Janeiro: Re-
deposition and factors affecting clearance of aerosolized solute vinter; 2001.
from canine lungs. J Appl Physiol 1984;56:723-9. 28. Cardoso DM, Paiva DN, Albuquerque IM, Jost RT, Paixão AV.
11. Oberdorster G, Utell JM, Weber DA, Ivanovich M, Hyde RW, Efeitos da pressão positiva expiratória nas vias aéreas sobre a
Morrow PE. Lung clearance of inhaled 99mTc-DTPA in the atividade eletromiográfica da musculatura acessória da inspira-
dog. J Appl Physiol 1984;57: 589-95. ção em portadores de DPOC. J Bras Pneumol 2011;37:46-53.
252 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Artigo original
*Universidade Estadual de Goiás (UEG), **Docente do curso de Fisioterapia na UEG e Universo (Goiânia),
Instrutor Internacional do Método Kinesio Taping® e Doutorando em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Uni-
versidade de Brasília (UnB-FCE), ***Docente do curso de Fisioterapiana Universidade Estadual de Goiás – UEG,
Doutorando em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília (UnB-FCE)
Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar o efeito da aplicação da bandagem KinesioTa- Objective: To evaluate the effect of Kinesio Taping® in scapular
ping® na postura da cintura escapular em pacientes com protrusão waist posture in patients with protruding shoulders. Methods: The
de ombros. Material e métodos: A amostra foi constituída por 30 sample consisted of 30 female volunteers, aged 18 to 23, who had
voluntárias do gênero feminino, idade entre 18 e 23 anos, que apre- protruding shoulders, students attending Physical Therapy course
sentavam protrusão de ombros, acadêmicas do curso de fisioterapia of State University of Goiás, ESEFFEGO, in Goiânia/GO. Four
da Universidade Estadual de Goiás, pólo ESEFFEGO, em Goiânia/ evaluations were done by photogrammetry, analyzed by Postural As-
GO. Foram realizadas quatro avaliações por meio da Biofotograme- sessment Software (SAPo), the first was carried out before applying
tria, analisadas pelo Software de Avaliação Postural (SAPo), sendo a the bandage, after five days was held reassessment and reapply the
primeira antes da aplicação da bandagem, depois de cinco dias foi bandage, staying for five days, and then another reassessment. The
realizada nova avaliação e reaplicação da bandagem, ficando por mais last evaluation was performed ten days after the withdrawal of the
cinco dias, seguido de nova avaliação. A última avaliação foi realizada second application to check the chronic effect. Results: There was a
após dez dias da retirada da segunda aplicação para verificar o seu significant improvement in posture protrusion shoulders after first
efeito crônico. Resultados: Houve melhora significativa na postura bandage, after the second only in relation to inferior distances, and
de protrusão de ombros após a primeira aplicação, após a segunda after ten days without the bandage, also showed significant improve-
somente em relação às distâncias inferiores e, após dez dias sem a ments in postural correction. Conclusion: Kinesio Taping® bandage
bandagem, também houve melhoras significantes na correção pos- showed positive influence on mechanical correction of protruding
tural. Conclusão: A bandagem KinesioTaping® apresentou influência shoulder posture immediately, also maintaining that improvement
positiva na correção mecânica da postura de protrusão de ombro de after ten days.
forma imediata, também mantendo essa melhora após os dez dias. Key-words: shoulder protrusion, kinesio taping, fotogrametry,
Palavras-chave: protrusão de ombro, kinesiotaping, posture.
biofotogrametria, posture.
realizada por meio do cálculo das distâncias entre a intersec- Gráfico I - Evolução das médias ao longo da pesquisa.
ção da margem medial e a espinha da escápula até o mesmo 108 107,044
ponto na escápula esquerda, sendo a distância superior, e a 106 105,4
distância entre os ângulos inferiores das escápulas, sendo a 104 102,308 102,5832
distância inferior. Este cálculo foi adquirido pela função de 102 100,644
100 99,496
mensuração de distâncias disponibilizada pelo Software de 97,25
98
Avaliação Postural (SAPo). 96
96,18
O programa estatístico utilizado foi o SPSS – Statisti- 94
cal Package for the Social Science Statistics for Windows 92
versão 15.0 para a análise de variância ANOVA – One Way 90
com o objetivo de avaliar a significância da diferença das 1ª 2ª 3ª Após
Avaliação Avaliação Avaliação 10 dias
médias, considerando-se um nível de significância de 1% e Distância Superior Distância Inferior
5%. O teste pos hoc utilizado foi o Teste Bonferroni.
Fonte: Pesquisa do autor, 2011.
Resultados
Discussão
Inicialmente, foram selecionadas 30 voluntárias para
participar da amostra, porém 5 foram excluídas desta por Estudos sobre o uso do KinesioTaping® são escassos e
perda da bandagem. Não foi observado nenhum caso de recentes na literatura internacional. Trata-se de uma técnica
alergia à bandagem. inovadora que foi criada especialmente para tratar de lesões
Quando comparadas as médias da distância superior das ortopédicas decorrentes do esporte, que vem sendo utilizada
diferentes avaliações realizadas durante a pesquisa, como mos- para fins terapêuticos na reabilitação de diferentes tipos de
tra a Tabela I, podemos observar que ao nível de significância pacientes. Vale ressaltar que este é um dos primeiros estudos
de 1% a segunda e a quarta avaliação em relação à primeira a utilizar a KinesioTaping® na correção postural de ombro
apresentaram melhora na postura de ombro, enquanto que a [4,6,11-16].
terceira em comparação a primeira não apresentou melhora Neste estudo observou-se que houve uma melhora es-
ao mesmo nível de significância. tatisticamente significativa com confiabilidade de 99% na
A mesma análise quando feita em relação à distância entre abdução das escápulas, e consequentemente uma melhora
os ângulos inferiores da escápula, dita distância inferior, como da protrusão do ombro [10], que relacionaram a protrusão
pode ser observada na Tabela II, a comparação das médias de ombro com a abdução escapular.
realizadas durante a pesquisa, confere que as suas diferenças Os motivos que levaram a exclusão de 5 participantes
foram significativas ao nível de 1% de significância. foram devidos a não fixação da bandagem pelo período de 5
O Gráfico I nos revela a melhora da postura de ombro no dias estipulado pelo protocolo proposto. Não se sabe ao certo
período em que os indivíduos permaneciam com a bandagem, o que realmente interferiu para que não tivesse boa aderência
e perda, mesmo que pequena, da melhora apresentada após os da bandagem com a pele. Possivelmente a sudorese elevada e a
dez dias que não se fez o uso da bandagem, além de mostrar oleosidade da pele são fatores que poderiam diminuir a eficácia
com maior evidência que após a segunda aplicação apresentou da cola, facilitando, assim, o descolamento da bandagem e
melhora significante em relação à primeira aplicação. consequentemente a sua perda terapêutica.
Acredita-se que a KinesioTaping® aumente a proprio- Levando em consideração o que foi apresentado e a técnica
cepção normalizando o tônus muscular, reduzindo a dor, proposta pelo estudo, pode-se associar os resultados positivos
corrigindo os posicionamentos inapropriados e estimulando aos estímulos somatossensoriais (proprioceptivo, cutâneo e
a ação de receptores cutâneos [17]. O aumento da entrada receptores articulares) aferentes, junto com os estímulos me-
proprioceptiva pela estimulação sensorial, resultante da aplica- cânicos promovidos pela percepção da nova postura adotada,
ção da KinesioTaping®, pode reforçar o controle postural [6]. após a aplicação da bandagem, que são percebidos em nível
A KinesioTaping® ajuda a desenvolver a função muscular cortical, produzindo assim uma resposta motora para manter
e da fáscia [7]. esse alinhamento postural, justificando assim a melhora da
O controle postural se baseia no monitoramento da protrusão do ombro. Corroborando estudo realizado sobre a
representação interna da postura, o esquema corporal, que aplicação da bandagem no músculo vasto medial em vinte e
é uma representação geométrica do corpo, permitindo a sete indivíduos saudáveis, obteve-se um aumento estatistica-
comparação da atual postura com a postura esperada e mente significativo de recrutamento das unidades motoras e
quando ocorre discrepância entre essas posturas surgem os atividade bioelétrica muscular, após 24 horas da aplicação, e
ajustes posturais [18]. a manutenção do seu efeito por 48 horas após a sua remoção
A propriocepção é a capacidade de sabermos nossa posição e efeito menor por até 72 horas [14].
exata e de perceber os movimentos dos membros e do corpo A KinesioTaping® na propriocepção de tornozelo aumenta
em geral, mesmo de olhos fechados. As informações geradas as habilidades proprioceptivas nas entorses laterais em posições
nos receptores musculares e articulares são conduzidas até o sem descarga de peso, na amplitude média de movimento, na
córtex cerebral, onde se transformam em percepções cons- qual os mecanorreceptores ligamentares estão inativos [15].
cientes, e também são utilizadas para gerar respostas e ajustes Os efeitos da bandagem funcional aplicada a coluna
motores [11]. lombar em 8 indivíduos do sexo masculino, com idade de
Acredita-se que a KinesioTaping® estimule mecanorrecep- 19 ± 1,2 anos, 68 ± 10,3 kg, 1,74 ± 0,07 m, concluiu que
tores cutâneos, melhorando a propriocepção. Embora a fun- a bandagem interfere no alinhamento postural e se mantém
ção desses receptores ainda seja bastante estudada, acredita-se após 48 horas da retirada da bandagem. Os autores con-
que sua ativação contribua para a detecção do movimento e da sideraram que a sensibilidade à bandagem pode ser uma
posição articular, resultado da tensão sobre a pele nos extremos contraindicação relativa, que é consequência da permanência
de amplitude. Atribui-se à aferência cutânea a habilidade de da bandagem em contato com a pele [15]. O que difere da
transmitir as movimentações articulares através do padrão de KinesioTaping®, que apresenta propriedades específicas, a fim
tensão da pele [6,12]. de inibir os efeitos adversos de sensibilidade das bandagens
A KinesioTaping® pode facilitar ou inibir a função muscular, comuns, características estas que tornam o uso imperceptível
manter o posicionamento articular, reduzir a dor e fornecer e mais tolerável [16,21].
feedback proprioceptivo para obter e manter alinhamento cor- A análise da rotação de tronco após a aplicação da técnica
poral [19]. A bandagem sendo colada na pele permite estímulos de bandagem circular em 8 indivíduos do sexo masculino,
somatossensoriais aferentes, estímulos mecânicos constantes e com idade de 19 ± 1,2 anos, 68 ± 10,3 kg, 1,74 ± 0,07 m,
duradouros que são percebidos em nível cortical que produzem concluiu que a bandagem interfere no alinhamento postural
resposta motora. Estes estímulos no sistema tegumentar podem de rotação de tronco e se mantém após 48 horas [22]. E que
auxiliar na neuroplasticidade do sistema nervoso [17]. devido à bandagem manter contato com a pele, esta esti-
O Sistema Nervoso Central (SNC) deve organizar as mula os receptores de tato e pressão, aumentando a relação
informações vindas dos receptores sensoriais de todo o entre estes sistemas e a eficácia a partir da integração destes
corpo antes de determinar a posição do corpo no espaço. mecanismos. A bandagem KinesioTaping®, ao contrário do
Essas informações vindas do sistema visual, somatossensorial esparadrapo, é capaz de promover uma força constante de
(proprioceptivo, cutâneo e receptores articulares) e vestibular tração sobre a pele na qual é aplicada [6,23].
detectam o movimento e a posição do corpo no espaço, em Quando considerados os resultados positivos da melhora
relação à gravidade e ao ambiente. Cada um deles fornece uma postural de ombros deste estudo, pode-se levar em conside-
diferente estrutura de referência para o controle postural, pois ração que estejam relacionados à propriocepção do estímulo
cada um fornece informações específicas sobre a posição e o contínuo da bandagem e ao próprio reposicionamento arti-
movimento do corpo [13]. cular, não se podendo desvincular as duas hipóteses.
A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SN
possui em alterar algumas de suas propriedades morfológi- Conclusão
cas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. A
aprendizagem pode ocorrer a qualquer momento na vida do Verificou-se que o método KinesioTaping® foi eficaz na
indivíduo, seja criança ou idoso, pois a qualquer momento se melhora do alinhamento e da postura do complexo do ombro
pode aprender alguma coisa nova e alterar o comportamento em indivíduos com protrusão de ombro. Por ser uma terapêu-
de acordo com o que foi aprendido [20]. tica relativamente recente, é necessária a realização de mais
256 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
pesquisas, com maior número de indivíduos, investigando 10. Subotnick SI. Sports medicine of the lower extremity. 2nd ed.
diferenças entre gêneros, com maior tempo de terapêutica, New York: Elsevier Churchill Livingstone; 1999. 781p.
com grupo controle, randomizado, a fim de avaliar se o ga- 11. Lent R. Cem milhões de neurônios: conceitos fundamentais de
nho adquirido pode ser permanente e não apenas por curto neurociência. São Paulo: Atheneu; 2001.
12. Yoshida A, Kahanov L. The effect of kinesio taping on lower
período de tempo.
trunk range ofmotions. Sports Med 2007;15:103-12.
13. Shumway-Cook A, Woollacott MH. Controle motor: teoria e
Referências aplicações práticas. 2ª. ed. Barueri: Manole; 2003. 592p.
14. Stupik A, Duwornik M, Bialoszewski D, Zych E. Effect of Kine-
1. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos, provas e sio Taping on bioelectrical activity osvastusmedialis muscle: pre-
funções. 5a ed. São Paulo: Manole; 2007. liminary report. Rev Ortop Traumatol Rehabil 2007;9:644-51.
2. Knoplich J. A Coluna Vertebral da Criança e do Adolescente. 15. Murray H, Husk L. Effect of kinesio TM taping on propriocep-
São Paulo: Panamed, 1985. tion in the ankle. J Orthop Sports Phys Ther 2001;31:33-37.
3. Pereira VCG, Fornazari LP, Seibert SN. O rastreamento de 16. Kahanov L. Kinesio Taping®, Part I: an overview of its use in
alterações posturais nas escolas como ferramenta ergonômica athletes. Athletic Therapy Today 2007;12(5):17-19.
na prevenção de afecções da coluna vertebral. Curitiba: 14º 17. Slupik A, Dwornik M, Bialoszewski D, Zych E. Effect of kinesio
Congresso Brasileiro de Ergonomia; 2006. taping on bioelectrical activity of vastusmedialis muscle. Ortop
4. Thelen MD, Dauber JA, Stoneman PD. The clinical efficacy of Traumatol Rehabil 2007;9:644-51.
kinesio tape for shoulder pain: a randomized, double-blinded, 18. Mochizuki L, Amadio CA. As funções do controle postu-
clinical trial. J Orthop Sports Phys Ther 2008;38(7):395. ral durante a postura ereta. Rev Fisioter Univ São Paulo
5. Gonzales J, Fernandez C, Cleland J, Huijbregts P, Rosario M. 2003;10,(1):7-15.
Short-term effects of cervical KinesioTaping on pain and cer- 19. Zaraczewska E, Long C. Kinesio taping in stroke: improving
vical range ofmotion in patients with acute whiplashinjury: A functional use of the upper extremity in hemiplegia. Top Stroke
randomized trial. J Orthop Sports Phys Ther 2009;39:515-21. Rehabil 2006;13:31-42.
6. Halseth T, McChesney JW, De Beliso M, Vaughn R, Lien J. 20. Oliveira CEN, Salina ME, Annunciato NF. Neuroplasticidade:
The Effects of kinesio taping on proprioception at the ankle. J fundamentos para a reabilitação do paciente neurológico adulto.
Sports Sci Med 2004;3:1-7. Fisioter Mov 2002;14(2):11-20.
7. Gloth M. Handbock of pain relief in older adults: an evidence 21. Salvat A, Salvat L. Efectos inmediatos del kinesio taping en la
based approach. Totowa: Human; 2004. 264p. flexión lumbar I. Fisioterapia 2010;32(2):57-65.
8. Barauna MA, Duarte F, Sanchez HM, Canto RST, Malusa 22. Fornasari CA, Aguiar RG, Carnevalli TB, Sacilotto MCB. Es-
S, Campelo SCD, et al. Avaliação do equilíbrio estático em tudo dos efeitos da técnica bandagem funcional para o tronco
indivíduos amputados de membros inferiores através da biofo- no alinhamento da postura lombar. Anuais da IX Congresso de
togrametria computadorizada. Rev Bras Fisioter 2006;10:83-90. Iniciação Científica da Uimep; 2001. p.91-4.
9. Lemes TV, Matheus JPC, Lucas LB, Assis BR. Kinesio Taping 23. Osterhues DJ. The use of kinesio taping in the management of
e força muscular: uma revisão crítica da literatura. Fisioter Bras traumatic patella dislocation. A case study. Phys Theory Practice
2012;12(3):35-44. 2004;20:267-70.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 257
Artigo original
*Orientadora, Docente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana-UNILA, **Co-Orientador, Docente dos Cursos
de Fisioterapia, Odontologia e Psicologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do Curso de Fisioterapia do Instituto
Superior de Teologia Aplicada (INTA), ***Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do
INTA, ****Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS), *****Coordenador do Núcleo de
Apoio a Saúde da Família do município de Tamboril/CE, ******Graduanda do Curso de Psicologia da FCRS
Resumo Abstract
A Síndrome de Burnout (SB) é um processo de cronificação The Burnout Syndrome (SB) is the process of becoming chronic
emocional do estresse laboral. A Representação Social (RS) é a forma emotional stressed in work settings. The Social Representation
como a sociedade expressa a sua realidade. Buscou-se conhecer o (RS) is the way in which society expresses its reality. We sought
perfil sociodemográfico e a representação social dos docentes com to understand the socio-demographic and social representation of
SB, na dimensão da Exaustão Emocional (EE). Tratou-se de estudo teachers with SB, through the dimension of Emotional Exhaus-
exploratório e qualitativo com 06 docentes com diagnóstico de SB na tion (EE). It was an exploratory and qualitative research with 06
dimensão da EE. Utilizou-se o questionário de Maslach (MBI–Ed) teachers diagnosed with SB inside the scope of EE. We used the
e entrevista semiestruturada com questões norteadoras, no período questionnaire Maslach (MBI-Ed) and semi-structured interviews
de outubro a dezembro de 2010 com aprovação 276/2009 do Co- with leading questions, from October to December 2010 with
mitê de Ética da UNIFOR. Constam os resultados: 05 docentes do approval 276/2009 of the Ethics Committee at UNIFOR. The
sexo masculino e 01 sexo feminino; sendo 03 casados, 02 solteiros results consist of: 05 male teachers and 01 female, being married
e 01 divorciado; a idade média de 37,8 anos; o tempo de docência 03, 02 single and 01 divorced, the average age 37.8 years-old; time
9,1 anos e a escolaridade foi mestre (04 docentes). A análise dos teaching and schooling was about 9.1 years, Masters degree (04
significados identificou 04 categorias: Relacionamento, expressa as teachers). The analysis identified 04 categories for the results: Re-
relações interpessoais; Tempo, relata a dificuldade de administração; lationship expresses interpersonal relationships; Time, describes the
Atividade Profissional, expressa o ato de ser professor; e Estresse, difficulties of administration; Professional Activity expresses the act
expressa os efeitos da docência. Observou-se uma relação direta of being a teacher, and stress, the effects of explicit teaching. There
com os professores e o reconhecimento de uma realidade desco- was a direct relationship with the teachers and the recognition of
nhecida, sujeitando-os a dificuldades no diagnóstico e tratamento an unknown reality, subjecting them to adversities for the diagnosis
da síndrome, requerendo ações e medidas de prevenção e educação and treatment of the syndrome, requiring actions and measures for
junto aos docentes e a IES. prevention and education among teachers and IES.
Palavras-chave: docentes, esgotamento profissional, Fisioterapia. Key-words: teachers, burnout, Physical therapy.
• Falta de Tempo (08%) “A meu ver a atividade profissional ela é sempre uma fonte de
Muitos dos docentes realizam outras atividades além da prazer ... e a sensação inicial de prazer é muito motivadora ...”
docência, como forma de complemento à renda mensal: (Professor 05 – 05 anos de docência)
“... não tem muitas queixas não, só aquelas coisas normais mesmo, “Eu particularmente gosto do trabalho com os últimos semestres,
falta de tempo, a gente não é só professor, né?” (Professor 01 – 08 né? Porque é quando você vê que uma parte significativa dos
anos de docência) alunos conseguiu captar o que você passa, o que os colegas passam
e começam a demonstrar que aprenderam e que provavelmente
“... como eu faço um trabalho administrativo nesse período (manhã serão bons profissionais ...” (Professor 01 – 08 anos de docência)
e tarde) e leciono no outro período, isso vem a ficar um tempo
muito apertado para que eu possa elaborar as minhas aulas, para • Trabalho (28%)
que eu possa acompanhar os alunos ...” (Professor 02 – 16 anos A docência é expressa como atividade laboral, fonte de
de docência) prazer, de energia afetiva, emocional e motivadora, mesmo
àqueles que realizam outras atividades:
Muitos professores fazem a associação da atividade pro-
fissional, tempo e produção: “... quando no magistério, na minha atividade profissional eu penso
sempre no prazer na sala de aula, de discutir novas ideias, de dar
“... eu sinto possuir muito por um espaço de tempo reduzido, essa elementos novos aos alunos e conviver com a interação daquilo...”
relação volume de atividade pouco tempo me traz essa sensação de (Professor 05 – 05 anos de docência)
exaustão ...” (Professor 05 – 05 anos de docência)
Administração (05%), Planejamento (04%), Produtivida-
Vários autores têm tentado explicar a SB em professores de (04%), Experiência (02%) e Docência (05%), são ideias
a partir de diversas perspectivas. Woods [13] parte de um significativas do trabalho laboral docente, e estão baseadas em
modelo sociológico e aponta fatores desencadeantes da sinto- metas e produtividade para o ano letivo. Prova (05%), Aula
matologia clínica. À medida que a economia capitalista avan- (11%), Pesquisa (05%) e Semestre (07%), transmitem a ideia
ça, há uma preocupação em manter e promover a eficiência. significativa das atividades docentes, que são programadas no
Nesta concepção há uma redução da amplitude de atuação início de cada semestre letivo.
do trabalho, as tarefas de alto nível são transformadas em
rotinas, existindo uma maior subserviência a um conjunto “Nos momentos das provas é o estresse dos alunos com professor, e
de burocracias. Também há menos tempo para executar o final de semestre é sempre estressante para ambos ...” (Professor
trabalho, para atualização profissional, lazer e convívio social 06 – 06 anos de docência)
e poucas oportunidades de trabalho criativo.
Embora muitas pessoas possam deixar o trabalho em “... como eu faço um trabalho administrativo nesse período (ma-
consequência da SB, outras podem ficar. Entretanto, a pro- nhã e tarde) e leciono no outro período... [...] ... por conta dessa
dutividade fica abaixo do real potencial, subaproveitando a atividade complementar que eu faço, porém a gente tem que se
qualidade do trabalho e o compromisso profissional [14]. desdobrar, utilizar outros horários como final de semana...” (Pro-
Altos níveis da SB fazem com que os profissionais fiquem fessor 02 – 16 anos de docência)
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 261
A atividade profissional em excesso leva ao estresse, à EE, professores utilizavam a sala dos professores como “momento
correspondendo a uma diminuição da produção diária do de descontração”. Um espaço onde eles poderiam respirar
trabalho docente: um pouco e “jogar conversa fora”. Contar algumas histórias,
piadas, rir um pouco, relaxar e se preparar para o segundo
“... atividade profissional? Infelizmente a atividade profissional tempo de sua jornada de trabalho.
leva ao estresse né? Então isso aí vai causar um déficit muito grande Codo [2] ressalta que por mais que os professores acredi-
no seu trabalho...” (Professor 06 – 06 anos de docência) tem que os resultados possam ser diferentes, pouco ou nada
lhes é reconhecido:
Considerando a análise de conteúdo dos discursos so-
bre a atividade profissional, ficou evidente que os sujeitos “Estressante (silêncio), de cobrança, sem retorno de um trabalho
constroem representações sociais de motivação, prazer e bem feito.” (Professor 06 – 06 anos de docência)
produção para atuar na atividade docente. A motivação está
relacionada ao gosto pela docência, que se manifesta através Codo [2] afirma que não é desprezível considerar o fato
da representação de uma profissão que busca resgatar algo de que essa representação de público, ancorada de vários
perdido no passado: a imagem do educador valorizado no elementos do que falta ter, do que falta fazer, funciona como
imaginário social. negação sempre presente, do não reconhecimento de ações
Segundo Codo [2], no passado, a cognominação “eu sou importantes para a melhoria das condições de ensino. Não é
professora (a)” trazia à tona uma identidade carregada de por acaso que, ao se exaurirem, os professores desenvolvam
orgulho profissional. A valorização da profissão conduzia ao um sentimento de decepção, desânimo e solidão, como se
importante papel atribuído à educação na integração social nada pudesse ser diferente, gerando uma atmosfera pouco
e nos esforços destinados à produção de uma identidade receptiva a inovações.
nacional.
Ter que cumprir uma tarefa supõe um compromisso de Categoria 04 – Estresse
caráter moral para quem a realiza. Contreras [16] ressalta que
este compromisso ou obrigação moral confere à atividade do Foram encontradas as subcategorias: Cansaço (29%),
professor um caráter que se situa acima de qualquer obrigação Saúde (18%), Problema (13%), Ajuda Profissional, Irrita-
contratual que possa ser estabelecida na definição de emprego. ção, Sono todos com (08%) cada, Emocional e Tolerância
Por isso, as unidades Vida (05%), Dedicação (07%), Prazer ambos com (06%) cada um e Inquietação (04%). Esta
(04%) e Motivador (08%) foram importantes nos discursos categoria expressa os efeitos que a atividade profissional
dos entrevistados, pois o professor está comprometido e pode proporcionar ao docente, visto que a SB, em especial a
abraçado com sua profissão, dando sentido ao seu trabalho e EE, acomete principalmente os profissionais que trabalham
se sentindo responsável por seus alunos, mesmo sabendo que com o público.
isso costuma causar tensões, dilemas e decepções. Irritação (08%), Emocional (06%), Cansaço (29%),
Este aspecto moral do ensino está muito ligado à dimensão Inquietação (04%), Tolerância (06%) e Sono (08%). Nestas
emocional presente em toda relação educativa. Contreras subcategorias os participantes relataram o que sentem durante
[16] complementa que sentir-se compromissado ou obrigado o trabalho desenvolvido, fazendo referência e relação ao que
moralmente reflete este aspecto emocional na vivência das é produzido durante a sua atividade profissional.
vinculações com o que considera valioso.
O gosto pela profissão consiste numa unidade de signifi- “... a minha produção, quando estou cansada, não tem produção,
cação estruturante na construção da representação social. O então ou eu descanso ou não tenho produção, não adianta, eu
núcleo de significação determina a natureza dos elos, fazendo não vou pra frente, acho que isso é básico ...” (Professor 03 – 05
conexão entre os outros elementos de representação, ou seja, anos de docência)
por gostar da profissão, o indivíduo sente uma obrigação
moral de apegar-se e realizar-se. “... fico sem paciência, cansaço mental, sono, estresse mesmo,
Há uma dicotomia entre o trabalho idealizado e o trabalho sintomas do estresse, cansaço muscular, cansaço cognitivo, sem
realizado pelo professor, gerando uma expectativa negativa pensamento...” (Professor 06 – 06 anos de docência)
com relação à situação vivida. Para o professor, sentimentos
contrários já ocupam espaços relevantes em sua concepção “Sintomas: irritabilidade, paciência muito reduzida para
e trabalho. O docente passa a conviver com a satisfação e o enfrentamento, os níveis de tolerância com as dificuldades
com a decepção e, ao mesmo tempo, com a ideia de que ser do dia a dia começam a se tornar baixo, e a sensação de ter
professor não compensa mais. muita coisa a ser resolvida em pouco tempo dá uma certa apre-
O trabalho do docente é solitário, individualizado, frag- ensão, uma certa inquietação para resolução dos problemas
mentado. Cada qual em sua sala de aula com seus dilemas cotidianos, a irritabilidade seria o mais notório.” (Professor
e dificuldades. Observou-se durante as entrevistas que os 05 – 05 anos de docência)
262 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
As subcategorias Saúde (18%), Ajuda Profissional (08%) tura, conforto e a possibilidade de crescimento profissional
e Problema (13%) mostram que os professores conseguem entre outros que podem ser considerados como etiológicos
identificar e diagnosticar a SB, em especial a EE, frente as da sintomatologia de EE.
dificuldades percebidas em seu ambiente de trabalho com Esta relação do estresse com o trabalho docente observado
relação a produtividade. nesta categoria pode ser encontrado no trabalho de Codo [2],
que comenta que o dinheiro pode não determinar saúde ou
“Essa pesquisa me pegou saindo de um problema emocional muito doença mental, mas está presente na rede de determinações
grande né? Por questões pessoais, então em alguns momentos a vida que acompanha qualquer vida saudável, doença e sofrimento.
da gente prega algumas peças ... essa sua pesquisa me pegou saindo A apresentação da pesquisa provocou uma surpresa para
de um estresse emocional que estava afetando as minhas ativida- a grande maioria dos profissionais entrevistados, pois os mes-
des profissionais, inclusive aqui na docência ... mas eu cheguei a mos não sabiam sobre a existência da Síndrome de Burnout
precisar de ajuda profissional, mas não foi por conta do trabalho e do que tratava tal síndrome patológica, fato que também
não, foi mais por questão de vida, problema de saúde ou doença me surpreendeu, pois não imaginava tal desconhecimento
na família né? Falecimento de uma pessoa muito próxima, depois, na classe docente.
um ano depois o falecimento de uma outra né?...” (Professor 01 O desconhecimento revelou-se uma constante. O profes-
– 08 anos de docência) sor 03 ao saber o tema da pesquisa, disse para o professor 06
que não conhecia tal síndrome e que iria ler sobre o assunto
Codo [2] reitera que o desgaste mental do professor é antes de fazer parte da pesquisa, mesmo quando o pesqui-
um ponto amplamente abordado na literatura. É claramente sador reforçou que explicaria tudo sobre o assunto e sobre a
relatado como sintomatologia clínica da SB, em especial a pesquisa e seus objetivos. Após a explicação dos objetivos da
EE. Ressalva-se que a pesquisa foi realizada num período de pesquisa, tal professor 06 se comprometeu a participar da
final de ano letivo, época de maior desgaste, onde os docentes pesquisa no dia seguinte (fato que não aconteceu até o final
elaboram e corrigem provas finais, fazem lançamento de notas, da pesquisa científica).
frequências e outras atividades institucionais [8]. No início da pesquisa, na apresentação do trabalho,
Travers e Cooper [17] também citam vários trabalhos so- questionando se todos conheciam a Síndrome de Burnout, a
bre a dinâmica do estresse em professores durante o transcorrer resposta que tivemos foi o silêncio. No final, todos assumem o
do ano letivo. Um estudo canadense sobre a SB registrou, desconhecimento sobre a síndrome selecionada para o estudo.
efetivamente, uma maior incidência de estresse ao final de cada O professor 02 fez o seguinte comentário: “Eu também não
semestre e ao final do ano escolar. Tal fato vem ao encontro conhecia, mas acho que não tenho isso não...”.
dos achados da pesquisa, pois os professores apresentam ou Este questionamento foi checado com os docentes a
conhecem a sintomatologia da EE. quem tivemos acesso na apresentação individual da pesquisa.
Tais docentes estão predispostos a desencadear os sintomas Compreendemos como significativa essa informação para
da SB pelo fato de trabalharem com o público e apresentarem o entendimento do quanto esse tema ainda é novo para a
outras atividades fora da docência. Cifuentes [18], em estudos classe docente e para a instituição de ensino superior, o que
realizados sobre o estresse em mulheres chilenas, observou nos faz refletir sobre certo descaso ao cuidado com a saúde
maior prevalência da sintomatologia da SB, pelo fato de dessa categoria.
muitas delas desenvolverem atividades na instituição escolar
e no seu lar. Em outras categorias profissionais, as mulheres Conclusão
também apresentaram maiores prevalências de sintomas psi-
cológicos, sugerindo que outros aspectos além do trabalho se Perceberam-se, a partir de suas falas, como eles constru-
associam com a saúde psíquica da mulher, como as questões íram as formas de EE, fazendo relação à organização do seu
hormonais. trabalho e a jornada de trabalho. O professor, de fato, dá
A dupla jornada de trabalho que muitos professores fazem significado ao seu trabalho à medida que se apropria dele.
com o objetivo de melhorar a renda salarial, tem-se colocado Refletindo sobre a condição humana e as três dimensões que
como possível explicação desta sintomatologia referida. A envolvem o trabalho docente: labor, poesis e práxis, afirma-se
saúde física e mental aparece com duas dimensões interligadas que é mais que sobrevivência biológica (labor), tal trabalho.
e são classificadas dentro do grupo de “problemas psicossomá- Observou-se que o professor, envolvido com a sua tarefa,
ticos ou relacionados à saúde mental”. O trabalho repetitivo, não deixou de denunciar as exigências impostas pela organiza-
o indicador de controle, o ritmo acelerado de trabalho, e o ção do trabalho na instituição de ensino superior, verificou-se
indicador de demanda psicológica também estavam associados que apesar de todo esforço desenvolvido por cada um deles,
ao estresse em professores. muito precisa ser recompensado e realizado.
Codo [2] afirma que não é só de salário que vive o trabalho Compreendeu-se que o professor se submete a um traba-
e o trabalhador. Existem outros aspectos importantes como lho que é composto por demais e marcado pelas interações
o reconhecimento social, condições de trabalho, a infraestru- cotidianas entre professores e alunos, exigindo do professor
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 263
Artigo original
*Graduada do curso de fisioterapia pelo Centro Universitário EuroAmericano de Brasília, **Fisioterapeuta da Secretaria de Saúde do
Distrito Federal, ***Fisioterapeuta da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e docente do curso de fisioterapia do Centro Universi-
tário EuroAmericano de Brasília
Resumo Abstract
Introdução: A realidade virtual a partir do lúdico torna a fi- Introduction: Virtual reality, because of its playful approach,
sioterapia agradável, proporcionando uma reabilitação a partir de makes physical therapy pleasant, providing rehabilitation with
movimentos que ajudam a reconquistar equilíbrio, resistência, coor- movements that help to regain balance, resistance, coordination,
denação, força muscular e, além desses fatores, é um modo atrativo muscle strength and beyond these factors is an attractive way of
do paciente aderir ao tratamento. Objetivo: O objetivo é avaliar e patient adherence to treatment. Objective: The objective was to
verificar a utilização do Nintendo Wii no treino de equilíbrio em evaluate and verify the use of Nintendo Wii in training balance for
idosos. Métodos: A amostra foi composta por 10 indivíduos dividida the elderly. Methods: The sample was composed by 10 individuals
em dois grupos aleatoriamente cada um com cinco idosos. Um gru- randomly divided into two groups, each one with five elderly people.
po recebeu tratamento com fisioterapia convencional e outro com One group has received conventional physical therapy treatment and
Nintendo Wii num período de 10 semanas. A Escala de Equilíbrio the other with Nintendo Wii, during 10 weeks. The Berg Balance
de Berg (EEB) foi realizada antes e após intervenção. Resultados: Scale (BBS) was performed before and after the intervention. Results:
Ao avaliar o escore obtido no EEB antes e depois do tratamento After analysis of BBS score, we observed a significant difference (p
com Wii, foi encontrada uma diferença significativa (p = 0,03). = 0.03). Conclusion: The results showed that the intervention of
Conclusão: Os resultados demostraram que a intervenção do treino balance training in elderly using Nintendo Wii improved balance
de equilíbrio em idosos com o Nintendo Wii melhorou o equilíbrio of elderly who participated in this study.
de idosos que participaram do presente estudo. Key-words: balance, elderly, falls, videogames.
Palavras-chave: equilíbrio, idosos, quedas, jogos de vídeo.
Material e métodos
Figura 2 - Exemplo de exercício realizado no protocolo de interven- antes e depois do tratamento com Wii, foi encontrada uma
ção: o avatar pinguim deve permanecer estável sobre o bloco de gelo. diferença de 1,2 ± 0,84 pontos, estatisticamente significativa
O paciente sobre a plataforma deve oscilar seu centro de pressão nos (p = 0,03). A diferença encontrada no grupo FC, de 0,8 ±
sentidos AP ou ML para esse fim. 0,84 pontos, não foi estatisticamente significativa (p = 0,1).
Os escores estão apresentados na Tabela II.
Tabela II - Escores obtidos no EEB nos grupos FC e Wii, antes e depois do tratamento.
Antes do tratamento Depois do tratamento Diferença Significância
BBS
Grupo FC 42,2 ± 6,38 43 ± 6,44 0,8 ± 0,84 P = 0,1
Grupo WII 50,8 ± 2,77 52 ± 2.92 1,2 ± 0,84 P = 0,03*
Dados expressos como média ± desvio padrão; EEB = Escala de Equilíbrio de Berg; FC = fisioterapia convencional; *estatisticamente significativo (p <
0,05).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 267
Artigo original
Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dores mus- The objective of this study was to determine the prevalence of
culoesqueléticas em adolescentes escolares. Participaram da pesquisa musculoskeletal pain among adolescent students. The participants
487 adolescentes de ambos os gêneros, (288 gênero feminino e 199 were 487 adolescents of both genders (288 females and 199 males),
gênero masculino), com idade entre 14 e 18 anos de uma escola da aged 14-18 years, who attended a school from the East zone of São
zona leste da cidade de São Paulo. A pesquisa baseou-se no Ques- Paulo city. The research was based on the Nordic Musculoskeletal
tionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares e composta por 12 Questionnaire and consisted of 12 questions. The prevalence of pain
perguntas. A prevalência de dor em adolescentes foi grande (71,7% in adolescents was higher (71.7% of total) and the most common
do total), sendo a região cervical mais afetada. O grupo feminino area affected was the cervical region. Females referred more pain
referiu mais dor (80%), prevalecendo a região cervical (11,2%), (80%), prevailing the cervical region (11.2%), dorsal region (8.5%)
região dorsal (8,5%) e ombro direito (7,6%). Afirmam que a dor and right shoulder (7.6%). They reported that pain does not interfere
não interfere em suas atividades cotidianas e não são deflagradas por in their daily activities and are not triggered by any situation or ac-
nenhuma situação ou atividade em especial. A maioria delas sente tivity in particular. Most of them feel pain during activities of daily
dor durante a realização das atividades do dia a dia (30,7%), quando life (30.7%), when they were standing (41.3%) and believed that
estão em pé (41,3%) e acreditam que a postura inadequada seja a improper posture is the leading cause (33.8%). Only 59 (25.7%)
principal causa (33,8%). Apenas 59 (25,7%) procuram assistência girls seeking medical care and only 8.7% were referred to physical
médica e somente 8,7% foi encaminhada a fisioterapia. No grupo therapy. Regarding the male group, 60% reported feeling pain, and
masculino, 60% referem sentir dor, a área mais acometida são os the most affected area were the knees (left and right 11.6% 11.1%),
joelhos (direito 11,6% e esquerdo 11,1%), a região dorsal (9,7%) the dorsal region (9.7%) and hip and/or thigh right (8.3 %). Most
e quadril e/ou coxa direito (8,3%). A maioria costuma sentir dor often feel pain during physical activity (33.5%) when they were
durante a prática de atividade física (33,5%); quando estão em standing (46.5%) and believed that poor posture is a major cause
pé (46,5%) e acreditam que a postura inadequada seja a principal of pain (30.4%). Only 24.4% of boys sought medical assistance
causa de dor (30,4%). Apenas (24,4%) deles procuraram assistência and only 5% were referred for physical therapy.
médica e somente 5% foram encaminhadas para a fisioterapia. Key-words: prevalence, pain, adolescents.
Palavras-chave: prevalência, dor, adolescentes.
aparecem frequentemente nos joelhos (22,2%) e região dorsal Tabela III - Momento em que sente dor.
(16,3%) e sempre em quadris e/ou coxas e joelhos (22,2%) e Momento Total Feminino Masculino
pés e tornozelos (16,7%) (Tabela II). F % F %
Na escola, período de
98 73 21,5 25 15,8
Tabela I - Localização da dor. aula.
Região Total Feminino Masculino Depois da aula 83 65 19,2 18 11,4
F % F % Durante atividades do
144 104 30,7 40 25,3
Cervical 127 96 11,2 31 8,6 dia a dia
Ombro direito 87 65 7,6 22 6,1 Durante realização de
114 61 17 53 33,5
Ombro esquerdo 79 62 7,2 17 4,7 atividade física
Cotovelo direito 9 4 0,5 5 1,4 Indiferente 26 16 4,7 10 6,3
Cotovelo esquerdo 9 5 0,6 4 1,1 Outros 32 20 5,9 12 7,6
Antebraço direito 30 24 2,8 6 1,7 Total 497 339 100 158 100
Antebraço esquerdo 21 17 2 4 1,1 Legenda: F- frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem
Punho/ mão/ dedos 78 63 7,3 15 4,2 dor, não fazem parte da avaliação estatística desta tabela.
direito
Punho/ mão/ dedos 70 53 6,2 17 1,1 Em relação à postura em que mais sentem dor, normal-
esquerdo mente meninas e meninos sentem dor quando estão em pé
Região dorsal 108 73 8,5 35 9,7 41,3% e 46,5%, respectivamente (Tabela IV).
Região lombar 83 63 7,3 20 5,5
Quadril e/ou coxa 90 60 7 30 8,3 Tabela IV - Posição em que sente dor.
direito Feminino Masculino
Posição Total
Quadril e/ou coxa 90 61 7,1 29 8 F % F %
esquerdo Sentado 160 112 34,8 48 31
Joelho direito 106 64 7,5 42 11,6 Deitado 62 44 13,7 18 11,6
Joelho esquerdo 92 52 6,1 40 11,1 Em pé 205 133 41,3 721 46,6
Pé e tornozelo direito 70 41 4,8 29 8 Outras 1 0 0 1 0,6
Pé e tornozelo esquerdo 64 38 4,9 26 7,2 Nenhuma 49 33 10,2 16 10,3
Outros 20 18 2,1 2 0,6 Total 477 322 100 155 100
Total 1233 859 100 374 100 F = frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem dor, não
F = frequência.
fazem parte da avaliação estatística desta tabela.
Em relação ao momento que sentem dor, 30,7% das me- As causas da dor segundo as meninas são: postura ina-
ninas sentem dor durante as atividades do dia a dia, enquanto dequada 33,9% e material pesado (mochila) 20,9%; e os
33,5% dos meninos durante a realização de atividade física meninos postura inadequada 30,4% e prática de atividade
(Tabela III). física 23,2% (Tabela V).
Tabela V - Causas da dor na opinião dos adolescentes. rem tenham que fazer uma flexão maior da região cervical e
Causas Total Feminino Masculino torácica, causando muitos incômodos.
F % F % As dores aparecem frequentemente na região cervical
Postura inadequada 202 147 33,8 55 30,4 (14,8%) e sempre nos ombros e punhos/ mãos/ dedos
Material escolar pesado (14,7%) no gênero feminino; frequentemente nos joelhos
117 91 20,9 26 14,4
(mochila) (22,2%) e sempre em quadris e/ou coxas e joelhos (22,2%)
Prática de atividades no grupo masculino. Não foram encontrados estudos que
81 39 9 42 23,2
físicas averiguassem a frequência das dores, no entanto, esta
Atividades diárias 68 52 12 16 8,8 prevalência de membros inferiores no grupo masculino
Uso de computador 82 64 14,7 18 9,9 pode estar relacionada às atividades físicas, em especial ao
Uso de videogame 23 13 3 10 5,5 futebol, e ao estirão de crescimento que ocorre nesta fase
Indiferente 13 9 2,1 4 2,2 e é muito ascendente nos meninos. Meinhart et al. [7]
Outros 30 20 4,6 10 5,5 observaram que as dores musculoesqueléticas são muito
Total 616 435 100 181 100 frequentes, em 73,5% dos casos foi relatada sua presença
F = frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem dor, não entre 1 e 7 dias.
fazem parte da avaliação estatística desta tabela. A maioria dos adolescentes, 182 meninas (63%) e 103
meninos (52%), afirmou que as dores não interferem na rea-
Os adolescentes atribuíram uma nota para a intensidade lização de suas atividades cotidianas, no entanto esta situação
de sua dor, em uma escala de 0 a 10 (0 – ausência de dor e pode causar transtornos futuros, como demonstram Rebolho
10 – dor extrema). A média obtida por meio da resposta das et al.[8] em estudo que observou que o aumento de dor nas
meninas foi 5,3(2,1) e 4,4(2,0) dentre os meninos. costas evoluiu com a idade, Kjaer et al. [9] compartilham
Procuraram assistência médica, 59 (27,5%) meninas e 29 desta opinião e Meinhart et al. [7] apuraram que a média de
(24,4%) meninos. Tiveram indicação para a fisioterapia 8,7% interferência nas atividades diárias foi de 3,8 em uma escala
das meninas e 5% dos meninos. de 0 a 10 e que as meninas são mais afetadas.
Quanto à prática e atividade física fora das aulas de educa- O grupo masculino acredita que atividades esportivas,
ção física da escola, 101 (44%) das meninas afirmam praticar carregarem peso, permanência em uma posição por muito
e a maioria dos meninos 93 (78%). tempo e estresse deflagram um quadro doloroso; acreditam
que a dor aparece não só após a prática esportiva e sim durante
Discussão a prática da mesma (33,5%). Sugere-se que isto ocorra pelo
fato de os meninos realizarem mais atividades físicas que as
Dentre os adolescentes que responderam a pesquisa meninas. De Vitta et al.[6] apontam em seus estudos que
adequadamente, 349 (71,7%) afirmaram sentir dor, reve- escolares que permaneciam muito tempo em uma posição ou
lando índice maior no gênero feminino 230 (80%). Estes a prática de esportes são fatores predisponentes ao apareci-
números nos remete a importância de dar atenção a este mento de um quadro álgico, o que pode justificar um índice
quadro observando a possibilidade de prevenir ou evitar tão elevado de dor.
o seu agravamento [5,6], sejam por meio de informações, O grupo feminino relata que o quadro álgico não costu-
atividades preventivas, adequação do mobiliário escolar ma iniciar após a realização de alguma atividade ou situação
entre outras. Um dos fatores que pode estar associado ao especificas, mas referem sentir durante a realização das ativi-
número de dores maior em meninas é o fato de realizaram dades do dia a dia (30,7%). Isto ocorre por que muitas delas
menos atividade física 56% das meninas contra 22% dos realizam serviços domésticos. Graup et al. [5] dizem que a dor
meninos. Hoje as aulas de educação física têm um aspecto (lombar) pode ser provocada por fatores relacionados situações
muito mais educativo e informativo do que promotor de como o gênero (feminino), obesidade, sedentarismo, níveis
atividade física. baixos ou elevados de atividade física, flexibilidade reduzida
No geral a região cervical foi a mais afetada (127 ado- e hábitos posturais.
lescentes), o grupo feminino refere dor nas regiões cervical A maioria dos adolescentes questionados sente dor quando
(11,2%) e dorsal (8,5%); e o grupo masculino, nos joelhos estão em pé (41,3% das meninas e 46,5% dos meninos) e
direito e esquerdo (11,6% e 11,1%) e na região dorsal sentados (34,8% das meninas e 31% dos meninos). De Vitta
(9,7%), diferente de outros estudos em que a dor lombar et al. [6] e Graup et al. [5] constataram em seus respectivos
prevaleceu [5,6]. Esta diferença em relação aos outros estudos estudos que os adolescentes costumam sentir dor quando
provavelmente se explica por estudarmos um grupo mais passam muitas horas sentados. Sentir dor quando sentado
velho (adolescente do ensino médio) e, portanto, mais alto, por muito tempo justifica-se pelo fato deste jovem passar
que utilizam carteiras com a mesma altura das crianças do seis horas nesta posição, tendo apenas um intervalo de 20
ensino fundamental e a mesma altura para todos, não importa minutos neste período, o que não é suficiente para compensar
a estatura do adolescente, este fato faz com que para escreve- o período passado em sedestação.
272 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Segundo o grupo pesquisado, as causas da dor por eles que deve se iniciar investimentos nesta parcela da população,
apresentada no geral são: postura inadequada (202 no geral; com medidas de prevenção e educação objetivando a chegada
33,8% das meninas e 30,4% dos meninos), material escolar à idade adulta com saúde.
pesado (mochila) para 20,9% das meninas e prática de ativi- Não é possível saber se os adolescentes que apontaram
dades físicas para 23,2%. Martelli e Traebert [10] e Detsch a postura inadequada como motivo do quadro álgico por
et al. [11] constataram uma alta incidência de adolescentes eles apresentado, sabiam de fato se esta era a causa, mas a
com alterações posturais (hiperlordose e hipercifose), uma das opinião deles de certa forma combina com o diagnóstico
possíveis causas seria o fato de sentarem-se incorretamente. emitido pelos médicos, demonstrando que alguns deles têm
Rebolho et al. [10] observaram em crianças com até 11 a consciência de que seu corpo está posicionado de forma
anos, que uma das causas de dor nas costas foi o transporte inadequada, o que já seria um passo para inserção de um
de mochila escolar pesada. Como não foi feita uma análise profissional que pudesse orientá-los quanto as possíveis
postural, não é possível saber se os participantes deste estudo correções posturais.
apresentam algumas destas alterações. Fernandes et al. [16] defendem que o fisioterapeuta pode
No grupo feminino a dor é mais intensa com escore auxiliar com medidas preventivas e educacionais junto aos
médio de 5,3. Jannini et al. [12] relatam que na literatura adolescentes e a família, pode promover hábitos posturais
médica consta que a percepção feminina em relação a saudáveis e mudança nos hábitos referentes à utilização
dor e a forma em lidar com ela é diferente, apresentando adequada de mochilas e até mesmo na diminuição da carga
ainda limiar e tolerância menores, além de apresentar uma transportada por eles.
prevalência maior em todas as faixas etárias. De Vitta et al. Gomes e Horta [17] abordam a necessidade da ampliação
[6] apresentam algumas suposições sobre estas diferenças do programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF), com
de dor entre os gêneros, uma das hipóteses é relacionada a ações e intervenções voltadas aos jovens e lembram ainda do
força física que é menor no gênero feminino, levando a um período quando os médicos visitavam a escola.
maior gasto energético, aumentando o risco de sobrecarga; Torna-se necessária a realização de novos trabalhos
a outra está relacionada ao fator psicossocial, acredita-se abordando esta temática, não apenas em forma de pesquisa
que a mulher se queixe mais e relate com frequência a com um questionário, mas com uma avaliação física deste
presença de dor, talvez por socialmente ser mais aceita a adolescente que refere um quadro álgico e também verificar a
queixa feminina. eficácia de um plano de tratamento ou de prevenção voltado
O mais preocupante foi o baixo índice de procura por um exclusivamente a este público.
médico em busca da causa real das dores, dentre os adoles-
centes que sentem dor, 59 (25,7%) meninas e 29 (24,4%) Conclusão
meninos procuraram o serviço de saúde. Ferrari et al. [13]
relataram que segundo a percepção de médicos e enfermeiros A prevalência de dor em adolescentes é grande (71,7% do
das equipes de Saúde da Família sobre a atenção a saúde do total), sendo a região cervical mais afetada.
adolescente, o atendimento a este público pode, em alguns O gênero feminino refere mais dor (80%), as regiões mais
casos, depender da demanda. No entanto isto varia de unidade afetadas foram: a cervical (11,2%) seguida pela região dorsal
para unidade, enquanto em algumas unidades existem poucos (8,5%) e ombro direito (7,6%). Este grupo afirma que a dor
atendimentos, em outras a procura é maior devido ao grande não interfere em suas atividades cotidianas e não são deflagra-
número de adolescentes grávidas. das por nenhuma situação ou atividade em especial; a maioria
Dentre os adolescentes que buscaram um serviço clínico, delas sente dor durante a realização das atividades do dia a
os principais diagnósticos médicos encontrados foram: dor dia (30,7%), quando estão em pé (41,3%) e acreditam que a
do crescimento, postura inadequada, tendinite (tornozelo, postura inadequada seja a principal causa (33,8%). Apenas 59
joelho, punho e ombro), escoliose, excesso de atividade (25,7%) das meninas procuram assistência médica e somente
física, desgaste ósseo e sobrepeso, semelhantes a outros 8,7% foi encaminhada a fisioterapia.
estudos [5,10-12,14]. Dentre os participantes do grupo masculino 60% refere
Foram encaminhados para a fisioterapia apenas 8,7% das sentir dor, a área mais acometida foram os joelhos direito
participantes do gênero feminino e 5% dos participantes do (direito 11,6% e esquerdo 11,1%), região dorsal (9,7%) e
gênero masculino. Esta baixa procura/ indicação não ocorre quadril e/ou coxa direito (8,3%). Acreditam que algumas
só em São Paulo, em estudo epidemiológico realizado em situações ou atividades podem proporcionar um quadro
Pernambuco (Camaragibe) ficou claro que a procura também álgico; costumam sentir dor durante a prática de atividade
é pequena em crianças e adolescentes, sendo maior a busca física (33,5%); quando estão em pé (46,5%) e acreditam que
pelo gênero masculino [15]. a postura inadequada seja a principal causa de dor (30,4%).
Os estudos pesquisados para a realização deste estudo e os Apenas 29 (24,4%) meninos procuraram assistência médica
resultados obtidos com a aplicação do questionário evidencia- e somente 5% foram encaminhadas para o tratamento fisio-
ram que a maioria dos adolescentes sente dor, demonstrando terapêutico.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 273
Artigo original
*Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, **Professor da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ***Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Toxicológica,
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ****Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Far-
macêuticas, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, *****Acadêmica do curso de Farmácia da Universi-
dade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS
Resumo Abstract
Introdução: A lesão nervosa periférica pode causar alterações Introduction: The peripheral nerve injury can cause sensory and
funcionais tanto sensitivas quanto motoras, podendo promover motor functional changes, promoting important damages, especially
importantes comprometimentos, especialmente a dor neuropática. neuropathic pain. The use of monochromatic light of low intensity,
Dentre os vários tratamentos propostos está o emprego da luz mo- such as light-emitting diode (LED) is among different treatments
nocromática de baixa intensidade, como o diodo de emissão de luz options. Objective: This study proposes an evaluation of analgesic
(LED). Objetivo: Avaliar o efeito analgésico do LED no espectro effect of LED in the infrared spectrum in experimental model of
infravermelho em modelo experimental de dor neuropática por neuropathic pain induced by constriction of the sciatic nerve in rats.
constrição do nervo ciático em ratos. Material e métodos: Foram Methods: We used 24 male Wistar rats randomized into 4 groups (n
utilizados 24 ratos machos Wistar, randomizados em 4 grupos (n = = 6). Group I: neuropathic animals, treated with LED; group II:
6). Grupo I: animais neuropáticos e tratados com LED; grupo II: neuropathic animals, treated with LED (placebo); group III: Sham
animais neuropáticos e tratados com o LED desligado (placebo); animals treated with LED, group IV: Sham animals treated with
grupo III: animais Sham e tratados com LED; grupo IV: animais LED turned off (placebo). We used nociception parameters such
Sham e tratados com LED desligado (placebo). Para avaliar a eficácia as static mechanical allodynia, thermal (cold) dynamics, thermal
do tratamento, foram empregados parâmetros de nocicepção como (heat) hyperalgesia and spontaneous nociceptive in order to evalu-
alodínia mecânica estática, dinâmica e térmica ao frio; hiperalgesia ate treatment efficacy. Results: All animals developed neuropathic
térmica ao calor e nocicepção espontânea. Resultados: Os animais allodynia and hyperalgesia to mechanical stimulation, thermal and
neuropáticos desenvolveram alodínia e hiperalgesia ao estímulo spontaneous nociception in 7 days (time 0), starting on induction
mecânico, térmico e nocicepção espontânea em 7 dias (Tempo 0) of neuropathy, maintaining these conditions until the 14th day.
contados a partir da indução da neuropatia, mantendo essas manifes- Conclusion: Continuous LED treatment with infrared spectrum
tações até o 14º dia. Conclusão: O tratamento contínuo com LED no promotes analgesic effect in experimental model of neuropathic pain
espectro infravermelho promoveu efeito analgésico em um modelo in rats. The results of this study suggest that this treatment may be
experimental de dor neuropática em ratos. Os resultados obtidos used to treat patients with neuropathic pain.
neste estudo sugerem que esse recurso físico pode ser utilizado no Key-words: Pain, neuropathy, light-emitting diode.
tratamento de pacientes com dor neuropática.
Palavras-chave: dor, neuropatia, diodo de emissão de luz.
Para as aplicações de LED, foi utilizado o aparelho Ano- A alodinia térmica ao frio foi mensurada usando uma
dyne®, diodo de luz infravermelha calibrado a 890 nm de modificação do método da gota de acetona descrito por Choi
acordo a escala de ROHS, GaAIAs de Hetero Duplo”, com et al. [18]. Depois de os animais serem ambientados, uma
potência de 780 mW. Os animais receberam uma potência de gota de acetona (50 µL) foi colocada na superfície da pele da
390 mW equivalendo a densidade de energia de 124,8 J/cm2. pata esquerda. As respostas comportamentais para a gota de
acetona foram ranqueadas de acordo com a seguinte escala
Testes comportamentais de escores: 0 = nenhuma resposta; 1= retirada rápida, batida
ou tremor da pata (menor que 1 segundo); 2= repetição da
Durante os processos nociceptivos prolongados, a batida, tremor ou elevação da pata (menor que 3 segundos);
sensibilização central e periférica pode levar o organismo 3= comportamentos de suspensão ou de lambedura de pata
a perceber de forma exagerada estímulos nocivos, caracte- (por mais que 3 segundos); 4= comportamentos de suspensão
rizando um estado de hiperalgesia a estímulos térmicos e e por lambedura de pata (por mais de 3 segundos). Um ponto
mecânicos [14]. Para avaliar esse evento foram realizados adicional foi acrescentado se ocorresse alguma vocalização.
os testes para observar o desenvolvimento de alodínia
mecânica estática, alodínia mecânica dinâmica, alodínia Avaliação de hiperalgesia térmica ao
térmica ao frio, hiperalgesia térmica ao calor e nocicepção calor
espontânea. Para isso, primeiramente os animais foram
testados para avaliar o limiar basal aos diversos estímulos. Os animais foram submetidos ao teste plantar (Ugo
E após o tratamento com LED o potencial analgésico deste Basile, modelo 7371), descrito por Hargreaves et al. [19].
foi observado nos períodos de setes dias pós-operatório Brevemente, os animais foram habituados no local de ob-
(PO, tempo 0), vinte quatro horas pós-tratamento (tempo servação. Em seguida, cronometrou-se o tempo necessário
1) e 7º, 14º e 21º dia PO. para o animal retirar a pata esquerda do estímulo com feixe
de luz infravermelha emitido por uma lâmpada de 60 W e
Avaliação de alodínia mecânica estática considerou-se como índice de nocicepção (latência de retirada,
em segundos). Uma diminuição significativa dessa latência sig-
A alodínia ao estímulo mecânico foi avaliada segundo nificou um aumento da sensibilidade a um estímulo aversivo
Chaplan et al. [15], utilizando o método de “Up-and-Down” térmico, caracterizando um quadro de hiperalgesia térmica.
descrito por Dixon [23], utilizando filamentos de Von Frey. Em diferentes tempos, novas medidas foram realizadas.
Os animais foram brevemente aclimatados em caixas de vidros
elevadas, com fundo formado por uma tela de metal, permi- Avaliação de nocicepção espontânea
tindo ao experimentador livre acesso às patas do animal. Em
cada pata traseira esquerda foram utilizados filamentos com Para verificação da presença de nocicepção espontânea, em
intensidade de 6, 8, 10, 15, 26, 60 e 100g. Primeiramente, todos os tempos observados, os animais foram classificados
foi utilizado o filamento de 15 g. Caso o animal apresentasse conforme seu comportamento de apoiar a pata esquerda em
um comportamento de retirada de pata, era feita uma nova uma escala de nocicepção espontânea (sem a necessidade de
estimulação com o próximo filamento de intensidade menor. estímulo) que varia de 0 a 4, conforme Butler et al. [20], com
Caso não retirasse, era realizada uma nova estimulação com o algumas modificações. Nesta escala considera-se 0 para peso
próximo filamento, agora, de maior intensidade, completando do corpo distribuído normalmente sobre as quatro patas, 1
um total de seis estimulações ou quatro estimulações para para peso do corpo ligeiramente depositado sobre a ponta
menos ou para mais consecutivamente. O limiar de retirada da pata, 2 para peso do corpo levemente depositado sobre a
de pata é expresso em gramas e calculado como descrito pata posicionada de lado e, 3 para pata totalmente recolhida.
previamente por Dixon [16].
Análise estatística
Avaliação de alodínia mecânica dinâmica
Após a determinação de todos os parâmetros experi-
Os ratos foram colocados em caixas de vidro para uma mentais citados anteriormente, calculou-se as médias e erros
ambientação prévia (20 minutos). A avaliação foi realizada padrões das médias de cada grupo. Na análise estatística foi
com o auxílio de um pincel chato número 4 sendo utilizado utilizado o software GraphPad Prisma, versão 5.0 (GraphPad
como indicativo de alodínia dinâmica. O contato do pincel Software, San Diego, Califórnia, EUA). Foi realizada a aná-
foi realizado em toda a superfície plantar da pata esquerda lise de variância de duas vias (two-way ANOVA) com o teste
no tempo máximo de 15 segundos [17]. complementar de Bonferroni. Diferenças estatísticas foram
consideradas para um p < 0,05.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 277
B 20 Neuropatia/placebo Neuropatia/LED
10
15 *
* #
Limiar (s)
10
1 # # # # #
Basal 0 1 7 14 21 #
5 #
Tempo após tratamento (dias)
B 100
Neuropatia/placebo Neuropatia/LED 0
Basal 0 1 7 14 21
***
Tempo após tratamento (dias)
Limiar 50% (g)
Limiar (s)
15
10
1
5
0 0
Basal 0 1 7 14 21 Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias) Tempo após tratamento (dias)
# #
2 # 15 #
Limiar (s)
## # # #
# # # # 10
1
***
5
0 0
Basal 0 1 7 14 21 Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias) Tempo após tratamento (dias)
A – Não foram obervadas difenças significativas entre os grupos A - **Diferença significativa entre Sham/placebo e Sham/LED no
B - # Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo 14º dia para p < 0,01. B- # Diferença significativa entre os grupos
e Neuropatia/LED no tempo 0 e no 1, 7º e 14º dia p < 0,05. Neuropatia/placebo e Neuropatia/LED no tempo 0, 1º, 7º e 14º dia em
***Diferença significativa entre o grupo Neuropatia/placebo e o comparação ao basal para p < 0,05. ***Diferença significativa entre os
Neuropatia/LED no 14º p < 0,001. Os dados foram expressos em grupos Neuropatia/placebo e Neuropatia/LED no 7º e 14º dia para p
média ± DV. < 0,001. Os dados foram expressos em média ± DV.
Observou-se que os animais neuropáticos apresentaram Os animais neuropáticos apresentaram o escore de no-
uma redução no limiar caracterizando o desenvolvimento de cicepção espontânea em relação ao comportamento da pata
hiperalgesia ao calor com feixe de luz infravermelha emitido no tempo 0, tempo 1, 7º e 14º dia. Quanto as respostas
por uma lâmpada de 60 W no tempo 0, tempo 1, 7º e 14º dia, terapêuticas com LED, observou-se uma diminuíção do
não sendo obervadas diferenças significativas entre os grupos limiar para níveis de pré-operatório (Basal) após 7 e 14 dias
III e IV (Sham). Com referência as respostas terapêuticas de tratamento, relativos à sétima e décima quarta aplicação
com LED observamos um aumento do limiar para níveis de (Figura 5). Os animais sham não apresentaram nocicepção
pré-operatório (Basal) no 14º dia para o grupo Sham tratado espontânea em nenhum dos tempos observados (dado não
com LED e após 7 e 14 dias de tratamento para os animais mostrado).
neuropáticos, relativos à sétima e à décima quarta aplicação
(Figura 4).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 279
e IV (Sham) não foi observado. Com referência as respostas dos nervos e também é importante para o crescimento de
terapêuticas com LED, foi observado um aumento do limiar novos vasos sanguíneos e células da pele necessária para a
quando comparado ao nível Basal (Figura 2). Souza [31] cicatrização de feridas [36].
avaliou a ação do LASER de baixa potência em 16 pacientes Os grupos de animais neuropáticos apresentaram o escore
na recuperação dos tecidos neurossensoriais após cirurgias de de nocicepção espontânea em relação ao comportamento da
lateralização do nervo alveolar inferior. Foram realizados dois pata esquerda. Com referência as respostas terapêuticas com
tipos de avaliações mecânicas, sendo a primeira por toque/ LED, observamos uma diminuição do limiar para níveis relati-
pressão através de monofilamentos de nylon com diâmetro de vos ao período Basal (Figura 5). O sistema nociceptivo é capaz
2,5 mm descrita para alodínia mecânica estática e a segunda de sofrer alterações nos mecanismos de percepção e condução
avaliação descrita alodínia mecânica dinâmica realizada com dos impulsos, denominados neuroplasticidade a qual pode
pincel nº 6. Essas avaliações foram executadas nas regiões aumentar a magnitude da percepção da dor e pode contribuir
posteriores, médias e anteriores da mucosa gengival, lingual para o desenvolvimento de síndromes dolorosas crônicas
e vestibular, lábio e região externa do mento. Os resultados [37]. A hipersensibilidade é a principal característica da dor
mostraram melhoria do retorno neurossensorial e redução patológica e resulta de alterações denominadas plasticidade
parestesia. do sistema nervoso, é um fenômeno que acontece periferi-
A presença da alodínia térmica ao frio foi constatada nos camente por redução do limiar de ativação dos nociceptores,
animais neuropáticos, não sendo observada entre os grupos bem como centralmente, pela responsividade aumentada
III e IV (Sham). Com referência as respostas terapêuticas com da medula espinhal aos estímulos sensoriais [38,39]. Reis et
LED, notou-se uma diminuição do limiar entre o nível Basal al. [40] verificaram o efeito do LASER em ratos com ICC
(Figura 3). Kayser e Christensen [32] verificaram que ratos quanto à hiperalgesia e nocicepção espontânea, durante 12
com lesão por constrição unilateral do nervo ciático exibiram semanas. Os animais tratados com LASER apresentaram uma
claramente sensibilidade anormal para a dor, com diminuição diminuição nas alterações quanto ao limiar térmico ao calor
do limiar para a vocalização para estímulo mecânico e redu- e o comportamento de apoiar a pata já na primeira semana
ção da latência em resposta ao estímulo térmico pelo frio (a de tratamento, já que, na 12ª semana, houve recuperação
uma temperatura de 10ºC). Frost et al. [33] citaram em seus total dos movimentos. Um dos mecanismos propostos para
estudos que alodínia ao frio é um sintoma característico de a melhora do quadro de ICC é que luz de baixa intensida-
dor neuropática, sendo particularmente resistente às inter- de aplicada sob o nervo parece normalizar a velocidade de
venções farmacológicas. As respostas terapêuticas com LED transmissão do impulso nervoso que é alterada pelo edema
evidenciaram resultados satisfatórios no estudo em questão e inflamação. Estudos como de Nicolau [41] expressam a
o que remete para novas investigações que possam elucidar eficácia da radiação LASER em diferentes tecidos biológicos
a sua ação. e comprova a existência do seu efeito sobre a transmissão
Observou-se que os animais neuropáticos apresentaram neuromuscular, e que este efeito é fortemente dependente do
uma redução no limiar de resposta térmica caracterizando o comprimento de onda e da dose. O efeito do LASER de baixa
desenvolvimento de hiperalgesia ao calor produzido por uma potência na regeneração neurovascular pode acontecer pela
lâmpada de 60 W, não sendo observadas entre os grupos III ação direta em diferentes componentes intra e extracelulares,
e IV (Sham). Porém com referência as respostas terapêu- assim como em ação indireta nos tecidos inervados pelas
ticas com LED, observamos aumento do limiar quando fibras neurovasculares que estão em reparação [42]. Outros
comparados ao nível Basal tanto no grupo Sham como nos estudos também relataram efeitos positivos do LASER de
animais neuropáticos (Figura 4). A aplicação do LASER de baixa intensidade, especialmente na promoção dos processos
baixa potência tem efeito de bioestimulação sobre as fibras de reparação do nervo periférico, aumentando o fator de cres-
neurovasculares e de analgesia nos pontos de hiperalgesia, cimento vascular endotelial (VEGF) e fator de crescimento
devendo ser utilizada no trajeto dos feixes com transtornos (NGF) [43,44]. A analgesia pode também ser creditada a
neurossensoriais [34]. Outro estudo demonstrou o efeito do diminuição na sensibilização nociceptiva dentro do processo
LASER com 780nm sobre a inibição da hiperalgesia induzida inflamatório, ou mesmo a uma redução dos mediadores
na pata de ratos por injeção de carragenina, quando usaram inflamatórios, tais como PGE233 [45,46]. Estudos clínicos
duas irradiações sobre a região inflamada imediatamente sobre a síndrome do túnel do carpo também apresentou me-
antes e depois da injeção [35]. Um possível mecanismo lhora significativa da dor e condução nervosa em pacientes
sobre o aumento do limiar de resposta térmica dos grupos submetidos ao LASER de baixa intensidade sobre a área do
Sham e neuropático poderá ser através da luz monocromática túnel do carpo [47]. Nobel et al. [48] realizaram um estudo
infravermelha, a qual tem como finalidade a liberação do da condução do nervo mediano em humanos para avaliar os
Óxido Nítrico (ON). Este promove o relaxamento dos vasos efeitos neurofisiológicos da irradiação na pele que recobre o
sanguíneo e consequentemente aumenta a circulação local, nervo usando irradiação infravermelha monocromática de
o suprimento de nutrientes, a oxigenação e a diminuição da diodos (890 nm). Os resultados sugerem que o LED emitido
dor. A versão localizada de óxido nítrico melhora a função pelo sistema anodyne pode produzir efeitos neurofisiológicos
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 281
como o aumento da velocidade de condução do nervo me- 9. Agne JE. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti; 2009.
diano. Harkless et al. [49] avaliaram 2239 pacientes com o 10. Chow RT, Johson MI, Lopes-Martins RA, Bjodal JM. Efficacy of
diagnóstico de neuropatia periférica após o tratamento com o low-level laser therapy in the management of neck pin: a syste-
MIRE, sendo que 93% apresentaram perda de sensibilidade matic review and meta-analysis of randomized placebo or active-
-treatment controlled trials. Lancet 2009;374(9705):1897-908.
e 70% de dor neuropática. Os resultados pós-tratamento
11. Hagiwara S, Iwasaka H, Hasegawa A, Noguchi T. Pre-Irradiation
mostraram que 66% dos pacientes não apresentavam mais of blood by gallium aluminum arsenide (830 nm) low-level laser
perda de sensibilidade. enhances peripheral endogenous opioid analgesia in rats. Anesth
De acordo com Hagiwara et al. [18], a redução da dor cau- Analg 2008;107:1058-63.
sada pelo LASER de 830 nm pode resultar de efeitos sobre a 12. Bennett GJ, Xie YK. A peripheral mononeuropathy in rat that
liberação de opioides endógenos. Tanto no grupo neuropático produces disorders of pain sensation like those seen in man.
placebo como no neuropático tratado houve uma diferença Pain 1988;33:87-107.
significativa da sintomatologia dolorosa antes de iniciar o 13. Fernandes KCBG, Polacow MLO, Guirro RRJ, Campos GER,
tratamento, e a diferença persistiu pelo menos até a sétima Somazz, MC, Pinto VF, et al. Análise morfométrica dos tecidos
muscular e conjuntivo após desnervação e estimulação elétrica
aplicação do LED. Alterações estas que são fundamentais
de baixa freqüência. Rev Bras Fisioter 2005;9(2):235-41.
para a compreensão dos mecanismos da dor neuropática e
14. Loeser JD, Treede RD. The Kyoto protocol of IASP Basic Pain
identificação de novos alvos analgésicos. Quando comparados Terminology. Pain 2008;31:473-77.
os grupos placebos e experimental, encontrou-se um aumento 15. Chaplan SR, Chaplan SR, Bach FW, Pogrel JW, Chung JM,
do limiar de dor, o que corrobora alguns estudos na obtenção Yaksh TL. Quantitative assessment of tactile allodynia in the
dos efeitos analgésicos [17,50]. rat paw. J Neurosci Meth 1994;53:55-63.
16. Dixon WJ. Efficient analysis of experimental observations. Annu
Conclusão Rev Pharmacol Toxicol 1980;20:441-62.
17. Weissman-Fogel I, Dashkovsky A, Rogowski Z, Yarnitsky D.
O LED no espectro infravermelho promoveu efeito anal- An animal model of chemotherapy-induced vagal neuropathy.
Muscle Nerve 2008;38:1634-37.
gésico em modelos experimentais submetidos à constrição
18. Choi Y, Yoon YW, Na HS, Kom SH. Behavioral signs of ongoing
do nervo ciático, observado através dos testes de alodínia pain and cold allodynia in a rat model of neuropathic pain. Pain
mecânica e térmica ao frio, hiperalgesia térmica ao calor e 1994;59:369-76.
nocicepção espontânea. Os resultados obtidos com nosso 19. Hargreaves KM, Troullos ES, Dionne RA, Schmidt EA, Schafer
estudo sugerem que esse recurso físico pode ser utilizado no SC, Joris JL. Bradykinin is increased during acute and chronic
tratamento de pacientes com dor neuropática. inflammation: therapeutic implications Clin Pharmacol Ther
1988;44:613-21.
Referências 20. Butler SH, Godefroy F, Besson JM, Weil-Fugazza J. A limi-
ted arthritic model for chronic pain studies in the rat. Pain
1. Bouhassira D, Lanteri-Minet M, Attal N, Laurent B, Touboul 1992;48:73-81.
C. Prevalence of chronic pain with neuropathic characteristics 21. Cox JM. Dor lombar: mecanismo, diagnóstico e tratamento.
in the general population. Pain 2008;136:380-7. São Paulo: Manole; 2002.
2. Dieleman JP, Kerklaan J, Huygen FJ, Bouma PA, Sturkenboom 22. Bennett GJ. An animal model of neuropathic pain: a review.
MC. Incidence rates and treatment of neuropathic pain condi- Muscle Nerve 1993;16:1040‑8.
tions in the general population. Pain 2008;137:681-8. 23. Deleo JA. Basic science of pain. J Bone Joint Surg 2006;88:58-
3. Huang J, Zhang X, McNaughton PA. Inflammatory pain: 62.
the cellular basis of heat hyperalgesia. Curr Neuropharmacol 24. Bennett GJ, Chung JM, Honore M, Seltzer Z. Models of neu-
2006;4:197-206. ropathic pain in the rat. Curr Protoc Pharmacol 2003;9(9)14.
4. Bourassira D, Attal N, Fermanian J, Alchaar H, Gautron, Mas- 25. Pisera D. Fisiologia da dor. In: Dor avaliação e tratamento em
quelier E, et al. Development and validation of the neuropathic pequenos animais. Otero PE. São Paulo: Interbook; 2005. p.
pain symptom inventory. Pain 2004; 108(3):248-57. 30-74.
5. Dworkin RH, O’Connor AB, Backonja M, Farrar JT, Finnerup 26. Schaible HG. Pathophysiology of pain. Orthopade 2006;36(1):8-
NB et al. Pharmacologic management of neuropathic pain: 16.
evidence-based recommendations. Pain 2007;132:237-51 27. Dworkin RH, Backonja M, Rowbotham MC, Allen RR,
6. Fare JC, Nicolau RA. Clinical analysis of the effect of laser Argoff CR et al. Advances in neuropathic pain: diagnosis,
photobimodulation (GaAs – 904nm) on temporomandibular mechanisms, and treatment recommendations. Arch Neurol
joint dysfunction. Rev Bras Fisioter 2008;12(1):37-42. 2003;60:1524-34.
7. Shin DH, Lee E, Hyun JK, Lee SJ, Chang YP, Kim JW et al. 28. Woolf CJ, Ma Q. Nociceptors-noxious stimulus detectors.
Growth-associated protein-43 is elevated in the injured rat Neuron 2007;55:353-64.
sciatic nerve after low-power laser irradiation. Neurosci Lett 29. Yueh-Ling H, Li-Wei C, Pei-Lin C, Chen-Chia Y, Mu-Jung K,
2003;344:71-4. Chang-Zern H. Low-level laser therapy alleviates neuropathic
8. Endo C, Barbieri CH, Mazzer N, Fasan VS. Low-power laser pain and promotes function recovery in rats with chronic
therapy accelerates peripheral nerves regeneration. Acta Ortop constriction injury-possible involvements in hypoxia-inducible
Bras 2008;16(5):305-10. factor 1α (HIF-1α). J Comp Neurol 2012;520(13):2903-16.
282 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
30. Volkert W, Hassan A, Hassan MA, Smock VL, Connor JP, thic pain-like syndrome in rats submitted to a peripheral nerve
Mcfee B, et al. Effectiveness of monochromatic infrared photo constrictive lesion. Revista Dor 2007;8(2):1000-9.
energy and physical therapy for peripheral neuropathy: Changes 41. Nicolau RA. Efeito do laser de baixa potência em diferentes
in sensation, pain, and balance – A preliminary, multi-center biossistemas [Tese]. São José dos Campos: Univap; 2004.
study. Phys Occup Ther Geriatr 2006;24(2). 42. Pogrel MA, Thamy S. Permanent nerve involvement resulting
31. Souza AMA. O uso do laser de baixa potência na recuperação fron inferior alveolar nerve blocks. Jada 2000;131:901-7.
neurossensorial de pacientes submetidos à cirurgia de lateraliza- 43. Rochkind S, Geuna S, Shainberg A. Phototherapy in peripheral
ção do nervo alveolar inferior [Dissertação]. IPEN: São Paulo; nerve injury: effects on muscle preservation and nerve regene-
2009. 89p. ration. Int Rev Neurobiol 2009;87:445-64.
32. Kayser V, Christensen D. Antinociceptive effect of systemic 44. Gigo-Benato D, Russo TL, Tanaka EH, Assis L, Salvini TF,
gabapentin in mononeuropathic rats depends on stimulus Parizotto NA. Effects of 660 and 780 nm low-level laser therapy
characteristics and level of test integration. Pain 2000;88:53-60. on neuromuscular recovery after crush injury in rat sciatic nerve.
33. Frost SA, Raja SN, Campbell JN. Does hyperalgesia to cooling Lasers Surg Med 2010;42:673-82.
stimuli characterize patients with sympathetically maintained 45. Ferreira DM, Zângaro RA, Villaverde AB, Cury Y, Frigo L,
pain (reflex sympathetic dystrophy)? In: Dubner R, Gebhart GF, Picolo G. Analgesic effect of He-Ne (632.8 nm) low-level laser
Bond MR. Pain Research and Clinical Management. Amster- therapy on acute inflammatory pain. Photomed Laser Surg
dam: Elsevier; 1988:151-6. 2005;23:177-81.
34. Genovese WJ. Laser de baixa intensidade - Aplicações terapêu- 46. Mizutani K, Musya Y, Wakae K, Kobayashi T, Tobe M, Taira
ticas em odontologia. São Paulo: Lovise; 2000. K, Harada T. A clinical study on serum prostaglandin E2 with
35. Honmura A, Ishii A , Yanase M, Obata J, Haruki E. Analge- low-level laser therapy. Photomed Laser Surg 2004;22:537-9.
sic effect of Ga-Al-As diode laser irradiation on hyperalgesia 47. Ekim A, Armagan O, Tascioglu F, Oner C, Colak M. Effect
in carrageenin-induced inflammation. Lasers Surg Med of low level laser therapy in rheumatoid arthritis patients with
1993;13(4):463-9. carpal tunnel syndrome. Swiss Med Wkly 2007;137:347-52.
36. Yeh NG, WU C, Cheng TC. Light-emitting diodes - their po- 48. Noble J, Gareth LAS, Baxter GD. Monochromatic infrared
tential in biomedical applications. Renewable and Sustainable irradiation (890 nm): effect of a multisource array upon con-
Energy Reviews 2010;14:2161-6. duction in the human median nerve. J Clin Laser Med Surg
37. Petersen-Felix S, Curatolo M. Neuroplasticity – an impor- 2001;19(6):291-5.
tant factor in acute and chronic pain. Swiss Medical Weekly 49. Harkless LB, DeLellis S, Carnegie DH, Burke TJ. Improved
2002;132(21-22):273-8. foot sensitivity and pain reduction in patients with peripheral
38. Tranquilli WJ. Fisiologia da dor aguda. In: GREENE, S. A. neuropathy after treatment with monochromatic infrared photo
Segredos em anestesia veterinária e manejo da dor. Porto Alegre: energy - MIRE. J Diabetes Complications 2006;20(2)81-7.
Artmed; 2004. p. 399-402. 50. Bjordal JM, Lopes-Martins RA, Joensen J, Couppe C, Ljun-
39. Schaible HG. Pathophysiology of pain. Orthopade 2006;36(1):8- ggren AE, Stergioulos A. A systematic review with procedural
16. assessments and meta-analysis of low level laser therapy in lateral
40. Reis LM, Lopes JAM, Brisola ML, Santos MM, Bittencourt JC, elbow tendinopathy (tennis elbow). BMC Musculoskelet Disord
Vasconcelos LAP. The influence of asalga laser on the neuropa- 2008;29:9-75.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 283
Artigo original
*Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba/MG, **Docente Associado da Disciplina de Neurologia da UFTM,
Uberaba/MG, ***Docente assistente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba/MG, ****Assistente Social na UFTM
– Uberaba/MG, *****Docente assistente do curso de Psicologia da UFTM, Uberaba/MG, ******Docente adjunto do Curso de
Fisioterapia da UFTM, Uberaba/MG
Resumo Abstract
Esclerose múltipla é uma doença desmielinizante do sistema Multiple Sclerosis is a demyelinating disease of the central
nervoso central, podendo provocar alterações de força e destreza nervous system and may cause changes in strength and manual
manual. A força do movimento de pinça trípode pode ser quanti- dexterity. The strength of movement of the tripod pinch can be
ficada por dinamômetro. A destreza manual pode ser quantificada measured by dynamometer. Manual dexterity can be quantified
através do teste de Caixa e Blocos que consiste em uma caixa de through the Box and Blocks test that consists of a wooden box
madeira com 150 blocos. Este estudo objetivou descrever e analisar with 150 blocks. This study aimed to describe and analyze muscu-
a força muscular e destreza manual e verificar se há correlação entre lar strength and manual dexterity and verifying correlation among
elas, Expanded Disability Status Scale (EDSS) e idade. Realizamos them, Expanded Disability Status Scale (EDSS) and age. We carried
o teste de caixa e blocos e a análise de força de pinça trípode em 18 out the box and block test and analysis of tripod pinch strength in
indivíduos da forma remitente-recorrente. Para o teste de caixa e 18 patients. The Box and Blocks test showed for the right hand an
blocos os resultados foram 35,38 blocos/min para a mão direita e average of 35.38 packs / min and for the left hand 36.66 packs/
36,66 blocos/min para a mão esquerda. A força de pinça foi de 6,86 min. The pinch strength was 6.86 kgf for the right hand and 6.54
kgf para a mão direita e 6,54 kgf para a mão esquerda. Média de kgf for the left hand. EDSS average 2.86 and 46.39 years old. The
EDSS de 2,86 e idade 46,39 anos. Os pacientes analisados apresen- patients studied showed changes in manual dexterity, but showed no
taram alterações na destreza manual, mas não apresentaram alteração change in pinch strength. The age is not correlated with the study
da força de pinça. A idade não se correlaciona com as variáveis do variables, and EDSS only with manual dexterity.
estudo, e o EDSS somente com a destreza manual. Key-words: multiple sclerosis, motor skills, pinch strength.
Palavras-chave: esclerose múltipla, destreza motora, força de
pinça.
A aplicação dos testes seguiu-se na ordem: 1) orientação do lado contra lateral ao membro que foi analisado, porém
de todo o procedimento; 2) orientação do teste de força; 3) estes deveriam ser transportados para o lado oposto da caixa
teste de força de pinça trípode na mão dominante; 4) intervalo que se iniciou vazia. O mesmo avaliador contou o número
de três minutos no qual o paciente foi orientado de como de blocos e valores acima de 60 blocos/minuto garantem a
realizar o teste de Caixa e Blocos e realizou por 15 segundos integralidade funcional dos membros superiores.
o aprendizado do movimento com a mão dominante; 5) O avaliador que realizou o teste de força de pinça trípode
realização do teste de Caixa e Blocos com a mão dominante; foi o mesmo que aplicou o teste de Caixa e Blocos.
6) orientação do teste de força muscular; 7) realização do teste As análises estatísticas foram realizadas através do pro-
de força na mão não dominante; 8) intervalo de três minutos grama Statistical Package for the Social Sciences versão 17.0
com orientação de como realizar o teste de caixa e blocos e (SPSS) para Windows. Inicialmente foi realizada análise
15 segundos de treino com a mão não dominante; 9) teste descritiva para caracterização da amostra, em termo de por-
de Caixa e Blocos com a mão não dominante. centagem e médias. O teste de Correlação de Spearman e o
Para realizar o teste de força de pinça trípode, o paciente Teste t de Wilcoxon foram utilizados para analisar as variáveis
sentou-se em uma cadeira que possuía descanso de braço do estudo.
bilateral, permaneceu na posição sentada com as pernas
paralelas e com uma angulação de 90º nas articulações do Resultados
tornozelo, joelho e quadril. As costas mantiveram-se apoiadas
no encosto da cadeira, braços na lateral do corpo em posição Os dados foram coletados no período de maio de 2008 a
neutra, cotovelo fletido a 90º e antebraço em posição neutra junho de 2010. Analisaram-se vinte e um pacientes e, foram
e apoiado no descanso lateral da cadeira. O punho pôde ficar excluídos do estudo três portadores por apresentarem esclerose
de 0º a 30º de extensão e os dedos em semiflexão. O paciente múltipla secundariamente progressiva ou tendinite bilateral
recebeu orientação de como realizar o movimento dos dedos de ombro ou parestesia em membro superior direito.
com uma breve demonstração do aplicador do teste. Após o Dos dezoito participantes, cinco (27,8%) eram homens
posicionamento do paciente, este recebeu estimulo verbal do e treze (72,2%) mulheres. Em relação ao lado dominante,
terapeuta para iniciar a máxima contração possível. Foram dezesseis (88,9%) eram destros e dois (11,1%) sinistros. A
coletadas três tomadas de força com intervalo de 15 segundos média de idade foi de 46,39 anos. A média no EDSS foi de
entre elas. A leitura do dinamômetro foi realizada sempre pelo 2,86 pontos. A força de pinça trípode da mão direita apresen-
mesmo examinador e os valores anotados por um segundo tou média de 6,48 kgf e a mão esquerda 6,54 kgf. A média
avaliador. O valor considerado foi a média aritmética simples de blocos transportados pela mão direita foi de 36,83 blocos/
dos três valores. A unidade utilizada é a quilogramas-força min e a mão esquerda 36,67 blocos/min. Estes dados estão
(kgf ) [26,29]. demonstrados nas Tabelas I e II.
O teste de Caixa e Blocos realizou-se com o paciente O teste de correlação de Spearman mostrou que o resultado
sentado com as pernas paralelas e com uma angulação de do teste de Caixa e Blocos da mão esquerda e direita apresentam
90º nas articulações do tornozelo, joelho e quadril. A caixa uma correlação de -0,677 e -0,782 (respectivamente) com a
é posicionada à frente do paciente de modo que este perma- EDSS dos pacientes e p = 0,002 e p = 0,000 (respectivamente).
neça com o braço em leve flexão e manteve a articulação do Quando comparados os resultados do teste de Caixa e Blocos
cotovelo próximo de 90º durante a realização do exercício. da mão direita com a mão esquerda, se obtém os resultados
Os 150 blocos de madeira permaneceram dentro da caixa r = 0,875 e p = 0,000. O teste de força de pinça com a mão
Tabela IV - Teste de correlação de Sperman no teste de caixa e blocos e força de pinça trípode.
Média da força de pinça
Teste CB mão direita Teste CB Mão esquerda
direita
r P r P r p
Teste CB mão direita - - 0,875 0,000 0,666 0,003
Teste CB Mão esquerda 0,875 0,000 - - - -
Média da força de pinça direita 0,666 0,003 - - - -
Média da força de pinça esquerda - - 0,525 0,025 0,643 0,004
A força de pinça de trípode, a destreza manual e a EDSS às outras pesquisas com resultado de 62,7 blocos/min e desvio
foram correlacionadas com a idade dos participantes no dia padrão de 12,7.
de cada coleta e, percebeu-se então, que ela não se correlacio- Paltamaa et al. [34] analisaram o teste de caixa e blocos
nou significativamente com nenhum dos parâmetros, indi- mais de uma vez em um mesmo grupo e o menor valor encon-
cando que o tempo de vida dos pacientes pertencentes a este trado por eles foi uma média de 56,7blocos/min para a mão
grupo não interfere diretamente no grau de incapacidade. direita e 57,8 blocos/min para a mão esquerda. Goodkin et
A variação do EDSS destes pacientes foi de 1,0 a 6,5 al. [35] aplicaram o mesmo teste em 301 pacientes com escle-
com média de 2,8 e mediana de 2,25. Estes resultados são rose múltipla, entretanto, metade usava imunomoduladores
semelhantes aos de Paltamaa et al. [32] que houve variação (interferon-β1a) e os resultados encontrado por eles também
de 0 a 6,5 com mediana de 2,0 e 2/3 do grupo apresentaram foram valores maiores que os nossos, mesmo avaliando em
um escore abaixo de 4,0. Mendes et al.[21] estudaram 95 lado dominante e não dominante, com média aproximada
pacientes com EMRR e encontraram uma média de EDSS de 62 blocos/min para o lado dominante e 59,2 blocos/min
de 2,2, dos quais 78,1% dos indivíduos apresentaram um para o lado não dominante.
valor menor que 3,5. No presente estudo observou-se que A força de pinça trípode da mão direita foi correlacionada
77,78% dos pacientes tinham um escore de EDSS menor com a força de pinça trípode da mão esquerda através do
que 3,5. Arruda et al. [33] em um estudo retrospectivo, em teste de correlação de Spearman e, para analisar as amostras,
Curitiba, com 200 portadores de esclerose múltipla, relataram o Teste t de Wilcoxon foi utilizado. O primeiro teste mostra
que 61% apresentavam escore menor que 3,5 pontos, 22,5% haver correlação entre as duas forças e que os achados fo-
tinham escore entre 3,5 e 5,5 e 16,5% escore maior ou igual ram significativos. Com o Teste t de Wilcoxon foi possível
a 6,0. Neste trabalho encontrou-se que 16,67% obtinham determinar que a força de pinça trípode do lado direito não
um escore do EDSS maior ou igual a 6,0. apresenta diferença significativa quando comparada com o
Os resultados apresentados pelos indivíduos do presente lado esquerdo, tornando a hipótese nula verdadeira. Nossos
grupo para a correlação entre o teste de caixa e blocos e o achados assemelham-se aos valores encontrados no estudo
EDSS para a mão direita apresentou valores de r= 0,782 e p= de Araújo et al. [29] que realizaram um estudo populacional
0,000 e o para a mão esquerda r= 0,677 e p= 0,002. Os testes na cidade São Paulo para quantificar a força de pinça trípode
de destreza manual não apresentaram correlação significativa em indivíduos saudáveis. Participaram da pesquisa trezentas
dos dados comparados com a idade dos pacientes. Embora e quinze pessoas com variação de idade entre 15 e 74 anos,
os valores do EDSS tenham sido relativamente baixos no sendo vinte destes, canhotos. O valor médio encontrado para
grupo, indicando pequeno grau de incapacidade, os valores a pinça trípode dos homens foi de 8,47 kgf, já em nosso grupo
de 35,38blocos/min para mão direita e 36,66 blocos/min para variou de 7,24 kgf a 7,85 kgf e para as mulheres a média de
a mão esquerda no teste de Caixa e Blocos indicaram existir força foi de 6,0 kgf e para nós a média variou de 6,26 kgf a
incapacidade de membros superiores, pois segundo Lopes 6,48 kgf. No estudo observaram também, através da análise de
et al. [31] valores maiores que 60 blocos/min garantem a variância, que não houve diferença significativa entre as forças
integridade física dos membros estudados. de pinça das varias faixas etárias, fator que confirma nosso
De acordo com o estudo de Mendes et al. [25], os resultados achado que a idade não foi relacionada com a força de pinça.
obtidos pelos nossos pacientes estão abaixo dos valores obtidos Conforme já foi visto, o teste de caixa e blocos em nosso
de pessoas sem patologias, pois eles apresentaram uma amostra grupo indicou existir incapacidade nos membros superiores
de 239 mulheres normais e um valor médio de 65,9 blocos/min e, consequentemente, déficit na destreza manual, porém os
para a mão direita e 64,1 blocos/min para a mão esquerda. Os dados do teste de força de pinça trípode não indicaram redu-
207 homens normais apresentaram resultados de 66,2 blocos/ ção da força destes pacientes mesmo existindo correlação entre
min para a mão direita e 64,7 blocos/min para a mão esquerda. as análises. Um fato relevante desta pesquisa foi a correlação
Nesta mesma pesquisa eles incluíram a avaliação de 91 mulheres realizada entre a força de pinça que está próximo a valores de
e 26 homens todos portadores da forma Remitente Recorrente pessoas saudáveis com o EDSS dos pacientes que indicam
da EM e os resultados encontrados foram superiores aos nossos. baixa incapacidade física. Era esperado encontrar correlação
Nas mulheres a média de blocos transportados foram 56,1 entre a força de pinça trípode e o EDSS, contudo os dados en-
blocos/min para mão direita e 54,3 blocos/min para a mão contrados para a força da mão direita e EDSS demonstraram
esquerda, nós encontramos 36,92 blocos/min para a mão direita correlação de r =0,484, e valor estatisticamente significante
e 38 blocos/min para a mão esquerda, para os homens os valores (p = 0,042), e correlação de r = 0,087 e significância de p =
de 51,9 blocos/min para a mão direita e 51,3 blocos/min para a 0,731 para a força da mão esquerda e o EDSS.
mão esquerda. Já o grupo de homens de nosso estudo, mesmo
tendo uma amostragem pequena, apresentou valores de 36,6 Conclusão
blocos/min para a mão direita e 33,2 blocos/min para a mão
esquerda. Paltamaa et al. [32] realizaram o teste somente com Os pacientes do grupo estudado apresentaram alteração na
a mão dominante e obtiveram os maiores valores comparados destreza manual, mas com padrões de força muscular de pinça
288 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
trípode semelhantes as encontradas na literatura, assim como o the treatment of tremor in multiple sclerosis: review and case
EDSS. Há correlação entre a destreza manual e o EDSS, entre o reports. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003;74(10):1392-7.
17. Thoumie P, Mevellec E. Relation between walking speed and
teste de Caixa e Blocos e a força de pinça trípode, porém, a força
muscle strength is affected by somatosensory loss in multiple
muscular não possui correlação com a escala de incapacidade. sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;73(3):313-5.
A idade destes pacientes não mostrou correlação com as outras 18. Piras MR, Magnano I, Canu EDG, Paulus KS, Satta WM, Soddu
variáveis deste estudo. Mesmo apresentando incapacidade de A, et al. Longitudinal study of cognitive dysfunction in multiple
membros superiores, os pacientes apresentaram EDSS de baixo sclerosis: neuropsychological, neuroradiological, and neurophysio-
logical findings. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003;74(7):878-85.
valor devido a esta escala enfocar a análise da marcha e membros
19. Rammohan KW, Rosemberg JH, Lynn DJ, Blumenfeldet AM,
inferiores. Com base nos valores descritos anteriormente é possí- Pollak CP, Nagaraja HN. Efficacy and safety of modafinil (Provi-
vel dizer que os pacientes deste estudo apresentam incapacidade gil®) for the treatment of fatigue in multiple sclerosis: a two centre
funcional de membros superiores havendo, portanto, a necessi- phase 2 study. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;72(2):179-83.
dade de orientá-los a realizarem treino das habilidades manuais. 20. Lebre AT, Mendes MF, Tilbery CP,Almeida AL, Neto AS. Rela-
ção entre fadiga e distúrbios autonômicos na esclerose múltipla.
Arq Neuropsiquiatr 2007;65(3A):663-8.
Referências 21. Mendes MF, Tilbery CP, Balsimelli S, Felipe E, Moreira MA,
Barão-cruz MA. Fadiga na forma remitente recorrente da escle-
1. Peterson JW, Trapp BD. Neuropathobiology of multiple scle- rose múltipla. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2B):471-5.
rosis. Neurol Clin 2005;23:107-29. 22. Mendes MF, Tilbery CP, Felipe E. Fadiga e esclerose múltipla.
2. Lucchinetti CF, Parisi J, Bruck W. The pathology of multiple Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2B):467-70.
sclerosis. Neurol Clin 2005;23:77-105. 23. Kurtzke JF. Rating neurologic impairment multiple sclero-
3. O’Sullivan SB. Esclerose múltipla. In: O’Sullivan SB, Schmitz sis: an expanded disability status scale (EDSS). Neurology
TJ, ed. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 4a ed. Barueri: 1983;33:1444-52.
Manole; 2004. p.715-46. 24. Felipe E, Mendes MF, Moreira MA, Tilbery CP. Análise compa-
4. Lublin FD, Reingold SC. National multiple sclerosis society rativa entre duas escalas de avaliação clínica na esclerose múltipla.
(USA) advisory committee on clinical trials of new agents in Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2A):300-3
multiple sclerosis. Defining the clinical course of multiple sclero- 25. Mendes MF, Tilbery CP, Balsimelli S, Moreira MA, Cruz AMB.
sis: results of an international survey. Neurology 1996;46:907-11. Teste de destreza manual da caixa e blocos em indivíduos nor-
5. Andersson PB, Waubant E, Gee L, Goodkin DE. Multiple mais e em pacientes com esclerose múltipla. Arq Neuropsiquiat
sclerosis that is progressive from the time of onset. Arch Neurol 2001;59(4):889-94.
1999;56(9);1138-42. 26. De Araújo PMP. Avaliação Funcional. In: Freitas PP, ed. Reabi-
6. Moreira MA, Felipe E, Mendes FA, Tilbery CP. Esclerose múl- litação da Mão. São Paulo: Atheneu; 2006. p. 35-54.
tipla: estudo descritivo de suas formas clínicas em 302 casos. 27. Magee DJ. Antebraço, punho e mão. In: Magee DJ, ed. Ava-
Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2B):460-6. liação musculoesquelética. 4a ed. Barueri: Manole; 2005. p.
7. Tremlett H, Zhao Y, Joseph J, Devonshire V. Relapses in mul- 353-421.
tiple sclerosis are age- and time dependent. J Neurol Neurosurg 28. Nogueira LAC, Nóbrega FR, Lopes KN, Thuler SCL, Alvarenga
Psychiatry 2008;79(12):1368-75. RMP. The effect of functional limitations and fatigue on the
8. Ebers GC. Natural history of multiple sclerosis. J Neurol Neu- quality of life in people with multiple sclerosis. Arq Neuropsi-
rosurg Psychiatry 2001;71(suppl 2): ii16-ii19. quiatr 2009;67(3B):812-7.
9. Morris ME, Cantwell C, Vowels L, Dodd K. Changes in gait 29. De Araújo MP, De Araújo PMP, Caporrino FA, Faloppa F, Alber-
and fatigue from morning to afternoon in people with multiple toni WM. Estudo populacional das forças das pinças polpa-a-pol-
sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;72(3):361-5. pa, trípode e lateral. Rev Bras Ortop 2002;37(11/12):496-504.
10. Brostrom S, Frederiksen JL, Jennum P, Lose G. Motor evoked 30. Murphy N, Confavreux C, Haas J, König N, Roullet E, Sailer M.
potentials from the pelvic floor in patients with multiple scle- Quality of life in multiple sclerosis in France, Germany, and the
rosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003;74(4):498-500. United Kingdom. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1998;65(4):460-6.
11. Fowler CJ, Panicker JN, Drake M, Harris C, Harrison SCW, Kirby 31. Lopes KN, Nogueira LAC, Nòbrega FR, Alvarenga-filho H,
M et al. A UK consensus on the management of the bladder in mul- Alvarenga RMP. Limitação funcional, fadiga e qualidade de
tiple sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2009;80(5):470-7. vida na forma progressiva primária da esclerose múltipla. Rev
12. Wiesel PH, Norton C, Roy AJ, Storrie JB, Bowers J, Kamm Neurocenc 2010;18(1):13-17.
MA. Gut focused behavioural treatment (biofeedback) for 32. Paltamaa J, Sarasoja T, Leskinen E, Wikstrom J, Mälkiä E. Mea-
constipation and faecal incontinence in multiple sclerosis. J suring deterioration in international classification of functioning
Neurol Neurosurg Psychiatry 2000;69(2):240-3. domains of people with multiple sclerosis who are ambulatory.
13. Fowler CJ, Miller JR, Sharief MK, Hussain IF, Stecher VJ, Phys Ther 2008;88(2):176-90.
Sweeney M. A double blind, randomised study of sildenafil 33. Arruda WO, Scola RH, Teive HAG, Werneck LC. Report on
citrate for erectile dysfunction in men with multiple sclerosis. 200 cases from Curitiba, Southern Brazil and comparison with
J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76(5):700-5. other Brazilian series. Arq Neuropsiquiatr 2001;59(2-A)165-70.
14. Siegert RJ, Abernethy DA. Depression in multiple sclerosis: 34. Paltamaa J, West H, Sarasoja T, Wikström J, Mälkiä E. Relia-
a review. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76(4):469-75. bility of physical functioning measures in ambulatory subjects
15. Feys P, Helsen W, Liu X, Mooren D, Albrecht H, Nuttin B, Ke- with MS. Physiother Res Int 2005;10(2):93-109.
telaer P. Effects of peripheral cooling on intention tremor in mul- 35. Goodkin DE, Priore RL, Wende KE, Campion M, Bourdette
tiple sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76(3):373-9. DN, Herndon RM et al. Comparing the ability of various
16. Wishart H, Roberts DW, Roth RM, McDonald BC, Coffey compositive outcomes to discriminate treatment effects in MS
DJ, Mamourian AC, et al. Chronic deep brain stimulation for clinical trials. Mult Scler 1998;4(6):480-6.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 289
Artigo original
*Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica, **Acadêmicos de Fisioterapia, Universidade Estadual do Oeste do Para-
ná (UNIOESTE), ***Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE)
Resumo Abstract
Dentre os tratamentos para a osteoartrite o ultrassom terapêu- Among the osteoarthritis treatments the therapeutic ultrasound
tico é utilizado, apesar de resultados controversos. O objetivo desta it’s been used, although conflicting results. The aim of this study
pesquisa foi avaliar os efeitos da utilização do ultrassom em joelhos, was to evaluate the ultrasound effects in knees of rats, irritated
de ratos Wistar, irritados quimicamente, analisando a nocicepção chemically, analyzing the nociception and swelling, and if these
e edema, e se esses efeitos sofrem interferências pela aplicação de effects suffer interference from the naloxone application. Twenty
naloxone. Foram analisados 21 ratos Wistar, divididos em: GC one Wistar rats were analyzed, split into: GC – hyperalgesia but
– hiperalgesia e não tratados; GU – hiperalgesia e tratados com not treated; GU – hyperalgesia and treated with ultrasound;
ultrassom; e GUN – hiperalgesia, com prévia injeção de naloxone and GUN – hyperalgesia, with prior injection of naloxone and
e posterior ultrassom. A hiperalgesia foi induzida com 100μl de subsequent ultrasound. The hyperalgesia was induced with 100
formalina 5%, no espaço tibiofemoral direito. Nos animais do GUN μL of 5% formalin in the right tibiofemoral space. In the GUN
foi injetado 1μg de cloridrato de naloxone no espaço tibiofemoral animals naloxone 1 μg was injected in the right tibiofemoral space,
direito 15 minutos antes da hiperalgesia. O tratamento consistiu em 15 minutes prior to the hyperalgesia. The treatment consisted of
2 aplicações de ultrassom. Para avaliação da hiperalgesia foi utilizado two ultrasound applications. For hyperalgesia assessment Von Frey
o filamento de Von Frey Digital, e para o edema um paquímetro Digital filament was used and metallic caliper for the edema. The
metálico. As avaliações foram realizadas: pré-lesão (AV1); após 15 evaluations were performed: pre-injury (EV1), after 15 (EV2), 30
(AV2), 30 (AV3), 60 (AV4) e 120 (AV5) minutos da hiperalgesia. Os (EV3), 60 (EV4) and 120 (EV5) minutes of hyperalgesia. The results
resultados mostraram aumento no diâmetro do joelho e diminuição showed an increasing in knee diameter and threshold decreasing
do limiar aos estímulos nociceptivos em todos os grupos, sendo que to nociceptive stimuli in all groups, and only for GU nociception
apenas para a nocicepção GU apresentou aumento do limiar em showed a threshold increase in the EV5. It is concluded that ultra-
AV5. Conclui-se que a analgesia do ultrassom sofreu interferência sound analgesia suffered interference with naloxone.
com a naloxone. Key-words: pain measurement, edema, physical therapy
Palavras-chave: medição da dor, edema, modalidades de modalities.
fisioterapia.
Foi realizada a análise intragrupos com o teste de ANOVA O ultrassom contínuo vem sendo usado como intuito de
com medidas repetidas e unidirecional para comparação entre aquecer os tecidos, diminuir a dor, a inflamação, a rigidez
os grupos, com pós-teste de Tukey. Em todos os casos o nível articular, o espasmo muscular, facilitar o estiramento das fibras
de significância foi de 5%. de colágeno e aumentar o fluxo sanguíneo [11].
Tabela I - Valores observados para o teste de retirada do membro, para os diferentes grupos (GC – grupo controle; GU – grupo ultrassom;
GUN – grupo ultrassom + naloxone), nos diferentes momentos de avaliação (AV). Dados apresentados em média e desvio-padrão.
AV1 AV2 AV3 AV4 AV5
GC 193,4 ± 18,93 86,84 ± 15,94* 81,73 ± 18,45* 93,13 ± 17,27*Ф 108,8 ± 19,09*Ф
GU 212,3 ± 38,98 90,41 ± 26,34* 79,60 ± 26,28* 131,9 ± 11,62* 143,3 ± 27,66*●
GUN 180,1 ± 30,26 93,54 ± 19,77* 74,17 ± 16,37* 95,87 ± 17,68*Ф 109,5 ± 21,33*Ф
*diferença significativa ao comparar com o valor de AV1; ● diferença significativa ao comparar com o valor de AV2. Ф diferença significativa na compa-
ração com GU, no mesmo momento de avaliação.
Tabela II - Valores observados para a medida do diâmetro dos joelhos, para os diferentes grupos (GC – grupo controle; GU – grupo ultrassom;
GUN – grupo ultrassom + naloxone), nos diferentes momentos de avaliação (AV).
GC GU GUN
Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo
AV1 1,32 ± 0,23Ф 1,23 ± 0,06Ф 1,07 ± 0,05Ф 1,13 ± 0,04Ф 1,20 ± 0,06 1,17 ± 0,05
AV2 1,60 ± 0,24* 1,21 ± 0,08● 1,64 ± 0,11*Ф 1,16 ± 0,04● 1,39 ± 0,09*Ф 1,10 ± 0,04●
AV3 1,69 ± 0,13* 1,14 ± 0,07●Ф 1,67 ± 0,07* 1,12 ± 0,04● 1,61 ± 0,16* 1,17 ± 0,06●Ф
AV4 1,66 ± 0,14* 1,17 ± 0,05● 1,60 ± 0,13* 1,13 ± 0,05● 1,69 ± 0,13* 1,16 ± 0,06●
AV5 1,76 ± 0,12* 1,16 ± 0,05● 1,68 ± 0,10* 1,15 ± 0,05● 1,62 ± 0,14* 1,15 ± 0,08●
*Diferença significativa ao comparar com o valor obtido em AV1 (ipsilateral); ● diferença significativa ao comparar com o contra-
lateral. Ф diferença significativa entre grupos no mesmo lado.
292 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
O presente estudo avaliou os efeitos da utilização do Ressaltam-se como limitações deste estudo, a não realiza-
ultrassom nas alterações sobre a dor e o edema em joelhos de ção de análises bioquímicas e histológicas que poderiam de
rato Wistar, e se esses efeitos poderiam sofrer interferências forma mais fidedigna apontar os mecanismos envolvidos na
pela aplicação de um inibidor de opioides endógenos, como analgesia e formação de edema, sendo assim sugestões para
a naloxone. Para este intento foi utilizado um modelo de ir- futuros estudos.
ritação articular, por injeção de formalina, que apresenta uma
fase de latência, por volta do 5º ao 10º minuto [15], assim, Conclusão
preferiu-se realizar a segunda avaliação após 15 minutos da
irritação química, evitando-se tal fase. O tratamento com ultrassom terapêutico apresentou di-
Com os parâmetros utilizados foi possível vislumbrar minuição na nocicepção, mas, antagonizado com aplicação
efeitos analgésicos após 2 aplicações, visto que houve um au- de naloxone. Para a formação do edema não houve efeitos
mento do limiar após 120 minutos, quando comparado com pronunciados da terapia.
a avaliação ocorrida 15 minutos após injeção de formalina,
fato que não ocorreu para nenhum dos outros grupos. Além Referências
disso, também se encontrou diferenças significativas entre GU
com GC e GUN para as avaliações ocorridas após 60 e 120 1. International Association for the Study of Pain. IASP taxonomy.
minutos, sendo que em todos os casos os valores apontados [citado 2012 Mai 10]. Disponível em URL: http://www.iasp-
para GU apresentaram maiores limiares à pressão. -pain.org
2. Lana CA, Paulino CA, Gonçalvez ID. Influência dos exercícios
O efeito analgésico do ultrassom é relatado em experi-
físicos de baixa e alta intensidade sobre o limiar de hipernoci-
mentos com animais [16-18] e em humanos [19]. Contudo,
cepção e outros parâmetros em ratos. Rev Bras Med Esporte
não há total consenso, tanto de seu efeito analgésico [20-26], 2006;12(5):248-54.
quanto da forma que o mesmo produz seus efeitos. Uma das 3. Resende MA, Pereira LSM, Castro MSA. Proposta de um mo-
possíveis ações é a hipertermia, mas, segundo Watson [10] delo teórico de intervenção fisioterapêutica no controle da dor
a temperatura deve ser elevada a cerca de 40-45º C por ao e inflamação. Fisioter Bras 2005;6(5):268-71.
menos 5 minutos, desta forma no presente estudo descarta- 4. Silva ALP, Imodo DM, Croci AT. Estudo comparativo en-
-se tal possibilidade. Ainda, efeitos terapêuticos do ultrassom tre a aplicação de crioterapia, cinesioterapia e ondas curtas
podem ocorrer devido aos chamados efeitos não térmicos, no tratamento da osteoartrite de joelho. Acta Ortop Bras
principalmente por ativação celular com alterações na perme- 2007;15(4):204-9.
5. Suri P, Morgenroth DC, Hunter DJ. Epidemiology of os-
abilidade de membrana [10]. No presente estudo observou-se
teoarthritis and associated comorbidities. PM R 2012;4(5
que a ação de um antagonista opioide, naloxone, eliminou a Suppl):S10-9.
ação analgésica que o mesmo havia apresentado. Hagiwara 6. Douglas RJ. Corticosteroid injection into the osteoarthritic
et al. [27] mostram que o laser produz liberação por parte de knee: drug selection, dose, and injection frequency. Int J Clin
leucócitos de seus conteúdos de opioides endógenos, assim, Pract 2012;66(7):699-704.
acredita-se que o ultrassom, com seus efeitos não térmicos, 7. De Luigi AJ. Complementary and alternative medicine in
pode produzir resultados semelhantes, por sua ativação de osteoarthritis. PM R. 2012;4(5 Suppl):S122-33.
leucócitos circulantes no local da lesão, visto que a dose e via 8. Gazi MCB, Issy AM, Sakata RK. Estudo comparativo da anal-
de administração de naloxone utilizadas apresentam caracte- gesia entre bupivacaína e morfina intra-articular em osteoartrite
de joelho. Rev Bras Anestesiol 2005;55(5):491-9.
rísticas de ação periféricas [28]. Tal fato corrobora os estudos
9. Grayson CW, Decker RC. Total joint arthroplasty for persons
de Meireles et al. [14] e Serra et al. [28], realizados com o uso
with osteoarthritis. PM R 2012;4(5 Suppl):S97-103.
associado de naloxane e laser de baixa potência. 10. Watson T. Ultrasound in contemporary physiotherapy practice.
Na avaliação para a variável edema no membro posterior Ultrasonics 2008;48(4):321-9.
direito do animal foi observada a presença significativa do 11. Bishop S, Draper DO, Knight KL, Feland JB, Eggett D. Human
mesmo em todos os grupos logo após a indução da lesão. tissue-temperature rise during ultrasound treatments with the
De forma semelhante Franco et al. [29] avaliaram o efeito aquaflex gel pad. J Athl Train 2004;39(2):126-31.
do ultrassom terapêutico em edema e não conseguiram con- 12. Daudt AW, Hadlich E, Facin MA, Aprato RMS, Pereira RP.
firmar a eficácia do mesmo na resolução de edema induzido Opióides no manejo da dor — uso correto ou subestima-
por carragenina em pata de ratos, mesmo utilizando técnicas do? Dados de um hospital universitário. Rev Ass Med Bras
1998;44(2):106-10.
(subaquático e contato) e doses diferentes (0,3 W/cm2). Deve-
13. Gozzani JL. Opioides e antagonistas. Rev Bras Anestesiol
-se levar em consideração que os efeitos clínicos parecem ser 1994;44(1):65-73.
dose-dependente da intensidade [10] e, assim, a intensidade 14. Meireles A, Rocha BP, Rosa CT, Silva LI, Bonfleu ML, Bertolini
usada pode ter sido incapaz de promover os efeitos, já que pelo GRF. Avaliação do papel de opioides endógenos na analgesia
momento agudo de aplicação da terapia, poder-se-ia imaginar do laser de baixa potência, 820 nm, em joelho de ratos Wistar.
um aumento do mesmo após a aplicação terapêutica, visto as Rev Dor 2012;13(2):152-5.
ações pró-inflamatórias deste recurso.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 293
15. Martins MA, de Castro Bastos L, Tonussi CR. Formalin injec- 23. Loyola-Sánchez A, Richardson J, MacIntyre NJ. Efficacy of
tion into knee joints of rats: pharmacologic characterization ultrasound therapy for the management of knee osteoarthritis:
of a deep somatic nociceptive model. J Pain 2006;7(2):100-7. a systematic review with meta-analysis. Osteoarthritis Cartilage
16. Ciena AP, Cunha NB, Moesch J, Mallmann JS, Carvalho 2010;18(9):1117-26.
AR, Moura PJ, et al. Efeitos do ultrassom terapêutico em 24. Calis HT, Berberoglu N, Calis M. Are ultrasound, la-
modelo experimental de ciatalgia. Rev Bras Med Esporte ser and exercise superior to each other in the treatment of
2009;15(6):424-7. subacromial impingement syndrome? A randomized clinical
17. Ciena AP, Oliveira JJJ, Cunha N B, Bertolini GRF. Ultra-som trial. Eur J Phys Rehabil Med 2011;47(3):375-80.
terapêutico contínuo térmico em modelo experimental de 25. Fiore P, Panza F, Cassatella G, Russo A, Frisardi V, Solfrizzi V, et
ciatalgia. Fisioter Pesqui 2009;16(2):173-7. al. Short-term effects of high-intensity laser therapy versus ultra-
18. Demir H, Menku P, Kirnap M, Calis M, Ikizceli I. Comparison sound therapy in the treatment of low back pain: a randomized
of the effects of laser, ultrasound, and combined laser + ultra- controlled trial. Eur J Phys Rehabil Med 2011;47(3):367-73.
sound treatments in experimental tendon healing. Lasers Surg 26. Santamato A, Solfrizzi V, Panza F, Tondi G, Frisardi V, Leggin
Med 2004;35(1):84-9. BG, et al. Short-term effects of high-intensity laser therapy
19. Ay S, Doğan SK, Evcik D, Başer OC. Comparison the efficacy versus ultrasound therapy in the treatment of people with su-
of phonophoresis and ultrasound therapy in myofascial pain bacromial impingement syndrome: a randomized clinical trial.
syndrome. Rheumatol Int 2011;31(9):1203-8. Phys Ther 2009;89(7):643-52.
20. van den Bekerom MP, van der Windt DA, Ter Riet G, van der 27. Hagiwara S, Iwasaka H, Hasegawa A, Noguchi T. Pre-Irradiation
Heijden GJ, Bouter LM. Therapeutic ultrasound for acute ankle of blood by gallium aluminum arsenide (830 nm) low-level laser
sprains. Eur J Phys Rehabil Med 2012;48(2):325-34. enhances peripheral endogenous opioid analgesia in rats. Anesth
21. van der Windt DA, van der Heijden GJ, van den Berg SG, Analg 2008;107(3):1058-63.
ter Riet G, de Winter AF, Bouter LM. Ultrasound thera- 28. Serra AP, Ashmawi HA. Influência da naloxona e metisergida so-
py for musculoskeletal disorders: a systematic review. Pain bre o efeito analgésico do laser em baixa intensidade em modelo
1999;81(3):257-71. experimental de dor. Rev Bras Anestesiol 2010;60(3):302-10.
22. Shanks P, Curran M, Fletcher P, Thompson R. The effectiveness 29. Franco AD, Pereira LE, Groschitzi M, Aimbire F, Martin
of therapeutic ultrasound for musculoskeletal conditions of the RABL, Carvalho RA. Análise do efeito do ultra-som no ede-
lower limb: A literature review. Foot 2010;20(4):133-9. ma inflamatório agudo: estudo experimental. Fisioter Mov
2005;18(2):19-24.
294 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Artigo original
*Especializanda em Reabilitação Físico Motora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, **Docente do Instituto
Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC-Porto) e membro do grupo Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas à
Fisioterapia (UNIFRA)
Resumo Abstract
No decorrer da história, ocorreram evoluções do conceito de Health conception has evolved throughout history leading to
saúde, levando a revisão das estratégias dos sistemas de saúde e revising strategies of health care system and professional practice.
atuação dos profissionais, entre eles o fisioterapeuta. O objetivo It includes the physiotherapist. The aim of this survey was to study
desta pesquisa foi investigar a inserção e a atuação dos fisiotera- insertion and practice of municipal physiotherapists at Santa Maria
peutas concursados que atuam no SUS em Santa Maria (RS). De – RS. This is a cross-sectional and quantitative study and included
caráter quantitativo e delineamento transversal, ocorreu com 16 sixteen municipal physiotherapists. Nine of them (56,25%) works
fisioterapeutas do município, sendo excluídos os prestadores de for the municipality and seven (43,75%) for hospitals. Outsourced
serviços terceirizados. Destes, 9 (56,25%) trabalham pela Prefeitura service providers were excluded. When asked about the type of work
Municipal e 7 (43,75%) na área hospitalar. Questionados sobre o performed, thirteen (81,25%) answered rehabilitation or cure of
tipo de atuação realizado no local de trabalho, 13 (81,25%) citaram diseases or injuries. The positive points of National Health System
reabilitação/cura de patologias ou agravos. Os pontos positivos do were the network of health centers, the diversity of professionals
SUS mais descritos foram a rede de UBS, a diversidade de profis- and gratuity of service. The negative points most reported were
sionais atuantes e gratuidade dos serviços. Em relação aos pontos small number of professionals, lack of organization of municipal
frágeis as respostas mais reproduzidas foram o pouco número de health, lack of infrastructure and incentives for training, and few
profissionais atuantes no Sistema, a falta de organização da rede de health units / beds. We observed that municipal physiotherapists
saúde municipal, falta de infraestrutura e de incentivo para capa- from Santa Maria working practices were developed at several places
citações, além de poucas unidades de saúde/leitos. Percebeu-se que but mainly in hospitals. We also noted that interest of working at
os fisioterapeutas concursados de Santa Maria atuam em diversos public health services is small. This fact can be changed by graduating
locais de abrangência do município, mas com forte predominância professionals under the current Brazilian Curriculum Guidelines.
hospitalar. Ainda, o interesse em trabalhar no SUS mostrou-se pe- Allied to strong management and satisfactory organization of health
queno, o que pode ser mudado com a formação dos novos egressos care, they may motivate incoming of novel professionals at public
da profissão sob respaldo das Diretrizes Curriculares Brasileiras que, health care.
aliado a uma gestão forte e organização de rede de saúde satisfatória Key-words: health service, physical therapy, national health
motivará o ingresso de novos profissionais na área de Saúde Pública. system, professional practice location.
Palavras-chave: serviços de saúde, fisioterapia, sistema único de
saúde, área de atuação profissional.
Com esta etapa cumprida, o instrumento de coleta de relação a cursos de especialização 15 (93,75%) realizaram e 1
dados foi entregue aos trabalhadores que aceitaram participar (6,25%) não possui, e destes 15, 4 (26,66%) estão relaciona-
do estudo, ficando a pesquisadora à disposição para esclareci- dos à Saúde Pública/Coletiva. Em relação à formação Strictu
mentos, mas sem influenciar as respostas. As atividades desta Senso, 8 (50%) responderam que não possuem mestrado, 5
pesquisa foram desenvolvidas nos meses de março, abril e (31,25%) disseram que fizeram e 3 (18,75%) não responde-
maio de 2011. ram a questão. Já com doutorado, 11 (68,75%) responderam
Os dados foram analisados e apresentados mediante esta- que não possuem, 4 (25%) não responderam a questão e 1
tística descritiva simples, sendo utilizados gráficos e tabelas. (6,25%) respondeu que possui. Nenhum mestrado ou dou-
A pesquisa respeitou os preceitos éticos das atividades em torado está ligado à área acima especificada.
pesquisa envolvendo seres humanos preconizados pela Reso-
lução nº196/1996 [16]. Teve a aprovação do Comitê de Ética Figura I - Local de trabalho dos fisioterapeutas dentro do município.
em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário 8
Número de fisioterapeutas
Franciscano (UNIFRA) sob parecer número 369.2010.2. 7
6
5
Resultados 4
3
2
Do total de 17 fisioterapeutas concursados no Municí- 1
0
pio, foram entrevistados 16, sendo que 1 (5,88%) estava em Área Centro de Serviço Escola de Secretaria Unidade
hospitalar apoio municipal educação municipal básica
licença saúde e não pôde participar da pesquisa. psicossocial de especial de saúde de saúde
fisioterapia
Quanto ao perfil profissional dos sujeitos, 12 (75%) são
do sexo feminino, 14 (87,5%) possuem 10 ou mais anos de
formação e 15 (93,75%) se graduaram em Instituição Pública. Em relação à aproximação com a Saúde Pública na
Quanto ao tempo de trabalho, 9 (56,25%) têm 10 ou mais formação acadêmica, 11 (68,75%) relataram que ocorreu
anos no setor (Tabela I). Ainda, a média de idade foi de 44,4 nas atividades práticas desenvolvidas e 1 (6,25%) não teve
anos (mínima de 33 e máxima de 53 anos). nenhuma aproximação, salienta-se que esta alternativa dava
a opção de marcação de mais de uma alternativa (Tabela II).
Tabela I – Perfil dos profissionais fisioterapeutas de Santa Maria
(RS). Tabela II - Aproximação com a Saúde Pública durante a sua
n % formação acadêmica.
Sexo n %
Feminino 12 75 Aproximação com a Saúde Pública
Masculino 4 25 No contato teórico desenvolvido 9 56,25
Tempo de formação Nas atividades práticas desenvolvidas 11 68,75
1 a 5 anos 1 6,25 Na relação com profissionais de equipe de
4 25
6 a 10 anos 1 6,25 saúde do local onde estagiou
11 ou mais anos 14 87,5 Na integração com acadêmicos/profissio-
3 18,75
Local de graduação nais de outras áreas do conhecimento
Pública 15 93,75 Nas atividades práticas desenvolvidas dire-
6 37,5
Privada 1 6,25 tamente com a comunidade
Tempo de trabalho neste setor público Não teve nenhuma aproximação 1 6,25
1 a 5 anos 4 25
6 a 10 anos 3 18,75 Quando questionados sobre o interesse em trabalhar no
11 ou mais anos 9 56,25 SUS após a formação, 9 (56,25%) responderam que não,
6 (37,5%) disseram que sim, e 1 (6,25%) não respondeu a
Quanto ao local de trabalho, 9 (56,25%) atuam pela Pre- questão. Dos 9 que responderam negativamente, 4 relataram
feitura Municipal alocados em diferentes setores e 7 (43,75%) o interesse em trabalhar em clínica e hospital após a formação,
na área hospitalar como demonstrado na Figura I. Esses como pode ser comprovado na fala abaixo:
profissionais desempenham cargas horárias diferentes, pois
10 (62,5%) participantes atuam 30 horas, 4 (25%) 40 horas, “Na época de final de minha formação, o pensamento de todos
1 (6,25%) 10horas e 1 (6,25%) não respondeu a questão. nós formandos era o de atuar em nível ambulatorial particular”
Quanto aos cursos de aperfeiçoamentos (com mais de 180 (Profissional 1).
horas), 11 (68,75%) responderam ter realizado, 4 (25%) não
e 1 (6,25%) não respondeu a questão. Destes 11 somente 4 Indagados sobre a atuação dentro do SUS, 10 (62,5%)
(36,36%) estão relacionados a Saúde Pública/Coletiva. Em relataram que não se sentiram preparados para atuar no
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 297
sistema vigente e 6 (37,5%) sim. Destes 6, 4 (66,66%) cita- Em relação ao SUS na forma como está implantado no
ram experiências na formação e dos 10 que não se sentiram município, 14 (87,5%) responderam que precisa de algumas
preparados todos afirmaram falta de experiência ou conhe- melhorias, 1 (6,25%) relatou estar bem e 1 (6,25%) afirmou
cimento na área. Quanto a inserção no SUS, 11 (68,75%) que necessita ser totalmente reestruturado. Nessa questão,
responderam que não tiveram dificuldades em se inserir, 4 vários profissionais fizeram referência quanto ao funciona-
(25%) relataram que sentiram dificuldade e 1 (6,25%) não mento da rede de saúde desta cidade, enfrentando dificuldades
respondeu. Um desses 4 afirmou: na atenção primária e sobrecarga na terciária. Além disso, a
melhora de capacitação dos profissionais e valorização de
“Por não compreender o contexto onde estava inserida. Não havia trabalho também foram pontuadas.
propriedade sobre o sistema e o modelo de formação não contemplou
esta necessidade” (Profissional 9). “O SUS precisa ser mais específico na saúde básica com pessoal
treinado para atividades afins e condutas nas especialidades em
Na sequência foi perguntado por que procurou o SUS que a demanda é grande e o número de consultas não é suficiente”
para atuar, 10 (62,5%) disseram que foi por ser um emprego (Profissional 11).
que traz segurança profissional, 10 (62,5%) por oportunida-
de, 1 (6,25%) por acreditar na Saúde Púbica Brasileira, e 3 Quanto aos pontos positivos do SUS, diversas foram as
(18,75%) citaram outros. Além disso, 13 (81,25%) afirmaram respostas, porém as mais destacadas foram a rede de UBS por
que o SUS abre perspectivas para a carreira profissional e 3 3 fisioterapeutas, diversidade de profissionais atuantes por 4 e
(18,75%) não. gratuidade dos serviços, campanhas de vacinação e a presença
Foi questionado também sobre o tipo de atuação que os de hospital de alta complexidade por 2 profissionais.
fisioterapeutas realizam no local de trabalho e 13 (81,25%) Sobre os pontos frágeis do SUS, os sujeitos da pesquisa
responderam reabilitação/cura de patologias ou agravos, sendo pontuaram pelo menos 45 respostas, as mais reproduzidas
demonstrado na Figura II, (esta alternativa proporcionava foram o pouco número de profissionais atuantes no Sistema
mais de uma marcação de resposta). por 7 participantes, a falta de organização da rede de saúde
municipal por 5, falta de infraestrutura, incentivo à capa-
Figura II – Tipo de atuação que os fisioterapeutas possuem em seu citações e poucas unidades de saúde/leitos por 3, além da
trabalho. grande demanda de serviços por 2, dificuldade de acesso a
90% 81,25% especialidades por 2, e desestruturação do Programa Saúde
80%
70% da Família (PSF) por 2.
60% 50,00%
50% 50,00%
40% Discussão
30% 31,25%
20% 18,75%
10% Nesta pesquisa, a maioria dos participantes (12 - 75%)
0% é do gênero feminino, corroborando um estudo de Trelha,
Reabilitação Educação Prevenção Promoção Gestão
cura de em de doenças da Gutierrez e Cunha [17] sobre perfil demográfico dos fisiote-
patologias ou saúde ou agravos saúde
agravos rapeutas da cidade de Londrina/PR onde as fisioterapeutas
representaram 80%. Chevan e Chevan [18] constataram que
Quanto às atividades desenvolvidas, 12 (75%) realizam as mulheres apresentavam papel predominante nesta profissão
consultas/atendimento a clientela (questão com opção de nos Estados Unidos de 1980 e 1990.
mais de uma marcação) (Figura III). Dentro dos 25% de Pode-se também perceber que todos os fisioterapeutas
outros, surgem atividades como escolas, grupos, segurança apresentaram idade superior aos 30 anos, discordando com
do trabalhador e internação hospitalar. o estudo de Badaró e Guilhem [19] sobre perfil sociode-
mográfico e profissional de fisioterapeutas e origem de suas
Figura III – Atividades desenvolvidas pelos fisioterapeutas em seus inserções, no qual os autores acharam 40,7 % tendo idade de
locais de trabalho. até 30 anos. Já na pesquisa de Delai e Wisniewski [20] sobre a
80% 75,00% inserção do fisioterapeuta no PSF realizado em Erechim/RS,
70% os autores acharam 83,34% entre 23 e 30 anos.
60%
50% 50,00% Sobre o tempo de formação, 14 (87,5%) profissionais
40% 31,25%
30% 31,25% 25,00% já estão formados há mais de 10 anos. Altamiranda [21]
20% no estudo sobre perfil do fisioterapeuta no estado de Santa
10%
0% Catarina, encontrou uma média dos anos de formação da
Consultas Palestras Coordenação Visitas Outras classe de 6 anos, sendo que 43,3% dos fisioterapeutas têm
atendimentos e e domiciliares
a clientela grupos supervisão até 3 anos de formação. Badaró e Guilhem [19] perceberam
que a partir dos anos 2000 houve um expressivo aumento de
298 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
fisioterapeutas formados, ocorrendo superação de formação rem na indicação, já os que não tinham indicação tiveram
nesta área em relação aos anos 90. dificuldade de inserção, e muitas vezes necessitaram em um
Ainda sobre a formação, a maioria dos profissionais primeiro momento realizar trabalhos voluntários para adqui-
cursou-a em instituição pública (93,75%), mesmo existindo rirem experiências.
um número elevado de particulares no Brasil e especificamente O tempo de trabalho da maioria dos profissionais é acima
em Santa Maria. Isso pode estar relacionado ao tempo de de 10 anos (9 - 56,25%), corroborando Weigelt [4], que em
formação dos pesquisados (10 anos ou mais) e o tempo das seu estudo envolvendo profissionais de diversas áreas viu que o
escolas privadas que são mais recentes. Em pesquisa de Santa tempo de serviço destes é o mesmo (44,1%). Em pesquisa de
Catarina, Altamiranda [21] identificou que o percentual de Londrina/PR [17] observou-se que 58,9% dos fisioterapeutas
graduados em instituições privadas foi de 70,8% , dado ex- possuíam tempo de atuação menor que 9 anos.
plicado pela existência de um único curso público em todo O local de trabalho ainda tem maior representatividade
o Estado. dentro da área hospitalar, pois dos 16 profissionais, 7 (43,7%)
Em relação aos cursos de aperfeiçoamentos, 11 (68,75%) atuam nesta área, e 9 (56,3%) nas demais. Segundo dados do
responderam ter participado em cursos com mais de 180 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) [26], a
horas, mas somente 4 (36,36%) estão relacionados a Saúde população residente no município é de 261.031 habitantes,
Pública/Coletiva. Acerca dos cursos de especialização, esses e para este dado populacional se tem praticamente 17 profis-
demonstram um número elevado de profissionais (15 - sionais concursados, o que significa um número exacerbante
93,75%), e destes apenas 4 (26,66%) estão relacionados à para cada fisioterapeuta, 15.354. Destes, apenas 1 trabalha
Saúde Pública/Coletiva. Para Machado et al. [22], os profis- em UBS, e no mínimo 6 na atenção secundária. Delai e Wis-
sionais tendem a ser mais especialistas e em muitas situações niewski [20] acharam 58,33% dos fisioterapeutas atuando na
se deparam com questões cujo conhecimento técnico não atenção primária e 87,5% na secundária daquele município.
dá suporte a solução do paciente. Na pesquisa de Silva e Da No estudo sobre o perfil social do fisioterapeuta [27] percebeu-
Ros [23], o uso exacerbado de especialização e de tecnologia -se um distanciamento nos serviços de Saúde Pública, sendo
não apresenta um perfil adequado para o SUS. Ainda na assim há uma menor quantidade destes profissionais atuando
formação acadêmica, a aproximação com a Saúde Pública no SUS, pois isso requer uma confirmação do papel social,
ocorreu para 11 (68,75%) fisioterapeutas no contato com bem como o fisioterapeuta deve ter nítida a sua ação no papel
as atividades práticas desenvolvidas e 1 (6,25%) não teve da Atenção Básica. Para Schwingel [28], os profissionais que
nenhuma aproximação durante a graduação. No estudo sobre trabalham na Saúde Coletiva/Pública ainda são reduzidos,
a inserção de profissionais de fisioterapia [23], em Tubarão, e menor ainda o número destes que influenciam na gestão
alguns alunos relataram que o contato é insuficiente durante através de atividades organizacionais do Sistema de Saúde.
a graduação. Na Carta de Vitória [24] explicita-se que o Além disso, nesta pesquisa, os pesquisados desempenham
fisioterapeuta deve atuar nos três níveis de atenção de forma cargas horárias diferentes, sendo que 10 (62,5%) atuam 30
equilibrada, e as experiências práticas dos acadêmicos devem horas. A carga horária dos profissionais é conforme o con-
iniciar precocemente para que estes possam se preparar para curso público, por isso é variável de 30 a 40 horas, mas hoje
os estágios e para sua formação. o fisioterapeuta deve atuar no máximo 30 horas semanais
Sobre o interesse em trabalhar no SUS após a formação, conforme Lei 8.856/94 [29].
9 (56,25%) responderam que não possuíam, fato que pode Referente ao local de trabalho, foi questionado o tipo de
ser relacionado com o motivo da procura deste serviço, que atuação que os profissionais realizam e 13 (81,25%) respon-
foi em busca de segurança profissional (62,5%). Além disso, deram reabilitação/cura de patologias ou agravos, sendo con-
10 (62,5%) relataram não se sentirem preparados para atuar firmado o perfil de formação baseado na reabilitação e cura.
no SUS. Para Silva e Da Ros [23], a formação acadêmica Ainda, 12 (75%) realizam consultas/atendimento a clientela
não deve contemplar somente as atividades curativas e re- quando questionados sobre suas atividades. O Ministério da
abilitadoras, mas sim englobar a atuação do fisioterapeuta Educação [30] destaca, nas Diretrizes Curriculares Nacionais
no Sistema, e assim desenvolver ações no modelo integral do Curso de Graduação em Fisioterapia, que o profissional
proposto pelo SUS, participando ativamente de sua cons- deve ter formação geral, ser crítico, reflexivo e humano, bem
trução, e com isso despertando os alunos ao interesse em como estar capacitado a atuar em todos os níveis de atenção
atuar na Saúde Pública. a saúde, e respeitar o indivíduo tanto em seus princípios
Quanto à inserção no SUS, 11 (68,75%) responderam culturais quanto éticos. Conforme o estudo da atuação do
que não tiveram dificuldades, ou seja, mesmo não estando fisioterapeuta [31], as Diretrizes Curriculares da Fisioterapia
preparados para atuarem, os profissionais não sentiram difi- de 2002, incentivaram o desempenho no campo da atenção
culdade em se inserir no Sistema. Estudo de Juiz de Fora [25], básica. Em Sobral/Ceará [6], somente 24% das atividades
sobre o processo de profissionalização do fisioterapeuta, estão relacionadas ao modelo individual e curativo e 67%
mostrou que os primeiros não sentiram dificuldade em se estão relacionadas à promoção da saúde, prevenção de doenças
inserir no mercado de trabalho devido aos médicos intervi- ou estão sendo realizadas de maneira coletiva. Isso mostra um
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 299
percentual significativo de ações coletivas e promotoras de O interesse em trabalhar no SUS mostrou-se pequeno pro-
saúde, as quais são prioridades no sistema atual. vando que através da formação dos novos egressos sob respaldo
Ao longo dos anos a fisioterapia atuou no nível terciário, das Diretrizes Curriculares Nacionais pode-se mudar esse
no qual a reabilitação e a cura de enfermidades eram destaque, conceito que, aliado a uma gestão forte e organização de rede
e o fisioterapeuta dirigia seu trabalho individualmente após de saúde satisfatória motivará o ingresso de novos profissionais
já estar instalada a doença. Com as devidas alterações nas na área de Saúde Pública. Acredita-se que a profissão está em
Diretrizes Curriculares e as demandas da população mudando, processo crescente de desenvolvimento, conquistando cada vez
outros níveis de atenção precisaram receber atenção e ocorre- mais espaço na área da saúde. No setor público, a Fisioterapia
ram mudanças na área da fisioterapia, e esta não poderia mais apresenta ainda desafios que podem ser vencidos pela atuação
ser fundamentada nas práticas exclusivamente reabilitadoras. desses profissionais e formação dirigida a esse setor.
Precisaram-se buscar atuações que transformassem as neces- Salienta-se, ainda, que não existe um número expressivo
sidades coletivas redimensionando o objeto de intervenção de pesquisas na área de atuações da Fisioterapia, o que acaba
aproximando a promoção da saúde e consequentemente o por não caracterizar o processo de trabalho desses profissionais
movimento de saúde coletiva sem abandonar as competências a nível municipal, estadual e nacional. Precisa-se conhecer
ligadas à reabilitação [32]. onde atuam e como estão inseridos os profissionais para aí
Na condição em que o SUS está implantado no município, sim se ter uma configuração concisa do profissional. Neste
14 (87,5%) responderam que precisa de algumas melhorias, estudo conclui-se que dos 74 fisioterapeutas que atuam no
concordando com estudo de Santa Cruz do Sul/RS [4] , o Município, apenas 17 são concursados.
qual verificou que 60,5% dos pesquisados acreditam que
o SUS local necessita de melhorias e que estas devem estar Referências
relacionadas ao planejamento e integração dos serviços, nos
recursos físicos e materiais, e na política pessoal e de salários. 1. Scliar M. História do conceito de saúde. Physis: Rev Saúde
Referindo se ao Sistema, os fisioterapeutas discordaram Coletiva 2007;17(1):29-41.
de outras pesquisas afirmando que o SUS abre perspectivas 2. Buss PM, Pellegrini Filho A. A saúde e seus determinantes
sociais. Physis: Rev Saúde Coletiva 2007;17(1):77-93.
para uma carreira profissional (13 - 81,25%). Para Weigelt
3. Brasil. Relatório Final da 8º Conferência Nacional de Saúde.
[4], 79% dos profissionais acreditam que o sistema atual não
Brasília: SUS; 1986.
apresenta perspectiva na carreira profissional, e Caldas [25], 4. Weigelt LD. O SUS e os profissionais da saúde de nível universi-
informa no seu estudo, que não são oferecidos pelos serviços tário da rede pública de Santa Cruz do Sul, RS: um estudo sobre
públicos municipais e estaduais um mercado de trabalho recursos humanos no SUS, através das representações sociais.
prometedor. Série Conhecimento 6. Santa Cruz do Sul: Edunisc; 2001.
Em relação aos pontos positivos e frágeis analisados pelos 5. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde: o desafio
sujeitos, presume-se que apesar da diversidade de profissionais, de construir e implementar políticas de saúde - relatório de
o número destes ainda é inferior ao que a demanda do mu- gestão 2000-2002. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
nicípio necessita. Além disso, a rede municipal foi apontada 6. Brasil ACO, Brandão JAM, Silva MON, Gondim Filho VC.
O papel do fisioterapeuta do programa saúde da família do
com necessidade de ajustes para que o serviço da saúde possa
município de Sobral-Ceará. Revista Brasileira Promoção Saúde
ser mais bem organizado. 2005;18(1):3-6.
7. Lima NT, Gerscheman S, Edler FC, ed. Saúde e democracia:
Conclusão história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2005.
8. Bispo Junior JP. Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e no-
Os fisioterapeutas concursados da cidade de Santa Maria vas responsabilidades profissionais. Ciênc Saúde Coletiva
constituem-se predominantemente pelo gênero feminino, 2010;15(Supl 1):1627-36.
com idade acima de 30 anos, atuando em diversos locais de 9. Rocha VM, Caldas MAJ, Araújo FRO, Ragasson CAP, Santos
abrangência do município, mas ainda com forte predomi- MLM, Batiston AP. As diretrizes curriculares e as mudanças
na formação de profissionais fisioterapeutas. Fisioter Bras
nância hospitalar. Na atenção básica, apenas um profissional
2010;11(5):4-8.
está inserido.
10. Barros FBM. O fisioterapeuta na saúde da população: atuação
Apesar de a maioria dos fisioterapeutas terem contato transformadora. Série fisioterapia e sociedade. Rio de Janeiro:
com a Saúde Pública nas práticas durante a formação acadê- Fisiobrasil; 2002.
mica, pode-se perceber que na atuação profissional as ativi- 11. Neuwald MF, Alvarenga, LF. Fisioterapia e educação em saú-
dades exercidas ainda são baseadas na reabilitação e cura de de: investigando um serviço ambulatorial do SUS. Bol Saúde
patologias e agravos, apresentando um perfil reabilitador ao 2005;19(12):73-82.
qual está associado ao surgimento da Fisioterapia. Evidenciou- 12. Teixeira CF, Paim JS, Vilasbôas AL. SUS modelos assistenciais e
-se que a percepção dos fisioterapeutas quanto ao SUS pode vigilância da saúde. Inf. Epidemiol. SUS (IESUS) 1998;7(2):07-
ser considerada positiva, porém apresentam fragilidades 27.
13. Brasil. Ministério da Saúde. Situação da base de dados nacional
consideráveis em seu funcionamento.
- DATASUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
300 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
14. Gasparetto A. A promoção da saúde na prática educacional de 24. Carta de Vitória. Padrão mínimo de qualidade na formação do
fisioterapeutas docentes dos cursos de fisioterapia do estado do Fisioterapeuta; 2004.
Rio Grande do Sul, Brasil [Dissertação]. Rio Grande: Univer- 25. Caldas MAJ. O processo de profissionalização do fisioterapeuta:
sidade Federal do Rio Grande; 2008. 132p. o olhar em Juiz de Fora [Tese]. Rio de Janeiro: Universidade
15. Turato ER. Métodos qualitativos e quantitativos na área da do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social;
saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev 2006. 118p.
Saúde Pública 2005;39(3):507-514. 26. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Ins-
16. Conselho Nacional de Saúde - CNS. Resolução nº 196 de 10 tituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE. Cidades.
de outubro de 1996. Dispõe sobre as diretrizes e normas regu- Rio Grande do Sul; 2011.
lamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: 27. Almeida ALJ. O lugar social do fisioterapeuta [Tese]. Presidente
Conselho Nacional de Saúde; 1996. Prudente: Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências
17. Trelha CS, Gutierrez PR, Cunha ACV. Perfil demográfico e Tecnologia; 2008. 166p.
dos fisioterapeutas da cidade de Londrina/PR. Salusvita 28. Schiwingel G. A fisioterapia na Saúde Pública – Um agir técnico,
2003;22(2):247-56. político e transformador. In: Barros FBM. O fisioterapeuta na
18. Chevan J, Chevan A. A statistical profile of physical therapists, saúde da população – atuação transformadora. Rio de Janeiro:
1980 and 1990. Phys Ther 1998;78(3):301-12. Fisiobrasil; 2002.
19. Badaró AFV, Guilhem D. Perfil sociodemográfico e profissional 29. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia ocupacional - CO-
de fisioterapeutas e origem das suas concepções sobre ética. FFITO. Lei no 8.856, de 1º de março de 1994.
Fisiter Mov 2011;24(3):445-54. 30. Brasil. Ministério da Educação. Resolução CNE/CES4, de 19
20. Delai KD, Wisniewski MSW. Inserção do fisioterapeuta no de Fevereiro de 2002 - Institui Diretrizes Curriculares Nacionais
Programa Saúde da Família. Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(Supl do Curso de Graduação em Fisioterapia. Brasília: Ministério da
1):1515-23. Educação; 2002.
21. Altamiranda EEF. Perfil do fisioterapeuta no estado de Santa 31. Portes LH, Caldas MAJ, Paula LT, Freitas MS. Atuação do fisio-
Catarina [Dissertação]. Florianópolis: Universidade Federal de terapeuta na Atenção Básica à Saúde: uma revisão da literatura
Santa Catarina; 2003. 91p. brasileira. Rev Atenc Primária Saúde 2011;14(1):111-9.
22. Machado D, Carvalho M, Machado B, Pacheco F. A Formação 32. Bispo Junior JP. Formação em fisioterapia no Brasil: reflexões
Ética do Fisioterapeuta. Fisioter Mov 2007;20(3):101-5. sobre a expansão do ensino e os modelos de formação. História,
23. Silva DY, Da Ros MA. Inserção de profissionais de fisioterapia Ciências, Saúde 2009;16(3):655-68.
na equipe de saúde da família e Sistema Único de Saúde: desa-
fios na formação. Ciênc Saúde Coletiva 2007;12(6):1673-81.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 301
Artigo original
*Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida (Universidade de Passo Fundo – UPF, Rio Grande do Sul), Doutoranda em
Ciências do Desporto (Universidade de Trás-os-Montes e Alto D’Ouro – UTAD, Vila Real, Portugal), Programa de Pós Graduação
Stricto sensu em Ciências do Desporto, Exercício e Saúde – Doutorado, ** Escola Superior de Enfermagem do Porto, *** Escola de
Educação Física e Esporte - Campus Ribeirão Preto – EEFERP, Universidade de São Paulo – USP
Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários com The objective of this study was to characterize patients with
diabetes mellitus tipo 2, segundo variáveis sociodemográficas e type 2 diabetes mellitus, according to sociodemographic and cli-
clínicas, e analisar os escores de conhecimento e atitude em relação nical variables, and to analyze scores of knowledge and attitudes
à doença. Participaram 1919 idosos atendidos em um serviço de regarding the disease. The participants were 1919 users attended at
atenção básica à saúde de dezembro de 2009 a dezembro de 2011. a primary health care service, from December 2009 to December
Para a obtenção dos dados, foram utilizados os Questionários de 2011. The Diabetes Mellitus Knowledge (DKN-A) and Attitude
Conhecimento (DKN-A), e de Atitudes Psicológicas do Diabetes (ATT-19) questionnaires were used for data collection. The majority
(ATT-19). A maioria da população caracterizou-se por idosos com of the population was ≥ 65 years old. Most were literate (62%);
idade a partir de 65 anos; predominantemente do sexo feminino female (1705) and overweighted. About knowledge on the disease,
(1705), alfabetizados (62%) e com sobrepeso. Quanto ao conheci- the patients obtained scores > 8, indicating satisfactory results on
mento da doença, obtiveram-se escores superiores a oito, indicando self-care. Scores obtained regarding attitudes showed difficulties to
resultado satisfatório quanto ao autocuidado. Os escores obtidos em cope with the disease. Results evidence the need to adopt a Diabetes
relação às atitudes mostram dificuldades para o enfrentamento da Education Program at the studied units.
doença, apontando os resultados para a necessidade de implantação Kew-words: diabetes mellitus, aged, physiotherapy, attitude to
de Programa de Educação em Diabetes às Unidades de Estudo. health.
Palavras-chave: diabetes mellitus, idoso, fisioterapia, atenção
primária à saúde.
controle da glicemia capilar no domicílio, e as comorbidades, Desse modo, avaliar o conhecimento e a atitude, relacio-
como a hipertensão arterial sistêmica [1,2]. nadas à saúde de idosos acometidos por diabetes, fornecerá
A educação para o autocuidado é um aspecto funda- subsídios para compreender as dificuldades próprias a lidar
mental do tratamento ao idoso com diabetes mellitus e sua com a doença e, consequentemente, melhorar o controle
importância é reconhecida em diversos estudos realizados em metabólico. Aos profissionais de saúde, particularmente
comunidades com diferentes características socioeconômicas fisioterapeutas, cabe desenvolver habilidades e ferramentas
e culturais [1]. Para efetivar a educação em diabetes mellitus que direcionem as intervenções de fisioterapia aos idosos com
é necessário habilidades e competências pedagógicas, conhe- DMII em nível de atenção à saúde primária, diminuindo a
cimento específico, capacidade de comunicação e de escuta necessidade de atenções de saúde secundária e terciária.
ao público referido, compreensão e o desenvolvimento de As dificuldades encontradas diariamente pelos idosos
negociações pela equipe de saúde [1,2]. Ao considerar a com diabetes mellitus fomentaram a investigação de qual
complexidade do tratamento e as comorbidades associadas, é o conhecimento que eles têm em relação à doença e a sua
os administradores têm procurado fomentar a educação presteza para enfrentar os desafios para o seu controle, o que
estruturada e programas de intervenção para que o idoso constituiu o objeto da presente investigação.
com diabetes mellitus alcance e mantenha sua qualidade de Diante do exposto, o objetivo da presente pesquisa é ca-
vida, pois educação em diabetes tem se constituído uma das racterizar os idosos com DMII, praticantes de atividade física
principais bases para o manejo e o controle da doença [3]. de um Centro de Atenção Integral à Saúde, segundo variáveis
Desenvolver atividades educativas de saúde e, conse- sociodemográficas e clínicas, além de analisar os escores de
quentemente, a promoção de práticas de exercícios físicos, conhecimento e atitude em relação à doença.
direcionadas ao idoso com diabetes mellitus e à sua família,
centradas na condição do conhecimento e atitude frente à Material e métodos
doença, está combinada à prevenção de complicações da
doença, o que possibilita o idoso a conviver melhor com sua O delineamento da pesquisa foi do tipo descritivo,
condição [4]. A educação para o automanejo é uma maneira analítico e de coorte. A amostra compreendeu 1919 idosos
de ensinar o idoso e sua família a administrar a doença. As com diagnósticos de diabetes mellitus II (DMII), conforme
metas da educação em diabetes consistem em melhorar o critérios médicos e utilizavam os serviços dos CAIS (Centros
controle metabólico, prevenir as doenças associativas agudas de Atenção Integral da Saúde do Município) no período de
e crônicas, e melhorar a qualidade de vida. No entanto, há dezembro de 2009 a dezembro de 2011.
um déficit significativo de conhecimento e de habilidade em Foram incluídos no estudo os idosos de idade igual ou
50 a 80% dos indivíduos acometidos por esta doença [5]. superior a 60 anos, ambos os sexos, nível cognitivo, auditivo
Durante o processo educativo, o idoso deve, junto à equipe e visual preservados. Todos possuíam condições de efetuar as
multiprofissional de saúde, buscar estratégias efetivas para o atividades propostas e não poderiam apresentar fatores que in-
manejo da doença. Esse é dos mais significativos investimentos terferissem nas coletas dos dados, a saber: não-colaboração e os
que a sociedade pode oferecer, já que os custos da saúde dos que não haviam disponibilidade para realização das orientações.
idosos, associados ao desencadeamento de complicações pela O termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido
doença, são muito altos [6]. de cada indivíduo, e a pesquisa foi aprovada pela Secretaria
Os programas de saúde, de forma geral, são propostos a Municipal de Saúde e pelo Comitê de Ética e Pesquisa locais
reduzir o número de doenças, suas complicações, evitando (parecer nº 257/2009).
o óbito precoce. As intervenções educativas visam oferecer Os participantes selecionados foram submetidos à
orientações e capacitar o idoso diabético para alcançar um aplicação dos questionários “Diabetes Knowledge Scale
bom controle metabólico a partir da compreensão da doença Questionnaire”(DKN-A) e “Attitudes Questionnarie”(ATT-19)
e do autocontrole do tratamento, buscando a mudança de de DMII. Os dados referentes às características da amostra
comportamento e o que, consequentemente, fará diferença foram registrados em uma ficha de avaliação específica, e as
no cuidado com a doença [7]. mensurações foram sempre realizadas pelos mesmos avaliadores,
Os profissionais de saúde devem envolver o idoso com os quais receberam equivalente treinamento.
diabetes mellitus em todas as fases do processo orientativo, O programa de intervenção fisioterapêutica educativo-
pois, para assumir a responsabilidade do papel terapêutico, -assistencial compreendeu orientações, segundo a Sociedade
o idoso precisa ter clareza acerca daquilo que necessita, Brasileira de Diabetes Mellitus. Criou-se um ambiente
valoriza e almeja em sua vida [8]. Para tanto, cabe à equipe qualificado à aprendizagem dos idosos para as questões de
multiprofissional, além de disponibilizar ao idoso todas as formação de hábitos saudáveis e conhecimento a respeito
informações necessárias referentes a sua doença, acompanhá- de suas doenças; fomentando maiores autocuidados nas
-lo por determinado período de tempo com o fim de ajudá-lo atividades de vida diária. Os indivíduos que se ausentaram
na tomada de decisões, frente às inúmeras situações que a do programa por qualquer motivo foram automaticamente
doença impõe. excluídos da amostra.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 303
Neste estudo, os idosos selecionados foram submetidos a cunferência abdominal que apresentou uma média de 101,51 ±
uma avaliação clínica para ingresso no programa de atividades 20,12 cm pré-intervenção e 98,10 ± 19.47cm pós-intervenção.
físicas (AF) e orientações. Previamente às AF, os voluntários Com relação aos valores da pressão arterial sistólica foi
foram adaptados aos exercícios com duração de duas semanas, detectada uma redução significativa (p < 0,0001) de 131,44
para aprendizado e correta execução dos movimentos. ± 20,54mmHg pré e 127,23 ± 15,52 mmHg pós. Já para a
As AF e as orientações foram realizadas num período de média da pressão arterial diastólica não foi possível identificar
dois anos, com uma frequência semanal de duas vezes em diferenças significativas entre o pré e pós-teste com valores
dias alternados, sempre no período vespertino. Desenvolveu- médios de 79,54 ± 12,20 mmHg e pós 79,10 ± 17,65 mmHg
-se alongamentos corporais globais, atividades aeróbicas (p = 0,235). Neste estudo os idosos tinham desde 6 meses de
(caminhadas, danças, jogos e atividades em circuitos) e de evolução da doença até 26 anos de evolução.
fortalecimento (membros superiores e inferiores), fomentando
maiores autocuidados nas atividades de vida diária e nível de Tabela I - Características clínicas e antropométricas da amostra
independência físico-funcional (cada sessão compreendia o estudada.
tempo de 1 hora e 30 minutos). Caracterís- Pré Pós P
Durante a execução dos movimentos, os pacientes foram ticas (n = 1919) (n = 1919)
orientados a respirarem de forma adequada e continuamen- IMC 28,7 ± 5,2 27,7 ± 4,8 0,0001
te durante cada exercício, expirando durante a contração CA 101,5 ± 20,1 98,1 ± 19,4 0,0001
concêntrica e inspirando durante a contração excêntrica, e, PAS 131,4 ± 20,5 127,2 ± 15,5 0,0001
dessa forma, reduzindo a chance de realizarem a manobra de PAD 79,5 ± 12,2 79,1 ± 17,6 0,235
Valsalva. Antes das AF os participantes realizavam cinco minu- As variáveis estão descritas em média e desvio-padrão, respectivamen-
tos de aquecimento, por meio de caminhada leve, seguida de te. IMC = Índice de Massa Corporal; CA = Circunferência Abdominal;
autoalongamento dos principais músculos solicitados, o qual PAS = Pressão Arterial Sistólica; PAD = Pressão Arterial Diastólica; Inter
foi previamente orientado. Após cada sessão de AF, repetia-se Pré = grupo intervenção pré DMII; Inter Pós= grupo intervenção pós
os exercícios de autoalongamento. DMII; p = Teste t de Student.
Para verificar a normalidade da amostra, foi realizado
o Teste de Kolmogorov-Smirnov. Para testar diferença das Para a Tabela II, verificam-se através de média e desvio-
médias do grupo verificadas nos pré e pós-intervenção foi -padrão uma redução significativa no grupo intervenção pré
utilizado o teste “t” de Student. A Correlação de Pearson foi 53 ± 5,9 e pós 52,1 ± 5,9 no que se refere à atitude frente ao
utilizada para correlacionar o grupo pré e pós-intervenção. DMII (ATT-19) (p = 0,004). Quanto à escala de conhecimen-
Para a consistência interna dos mesmos testes, foi utilizado to de DMII (DKN-A) houve p = 0,008, intervenção pré 6 ±
o Teste Alpha de Crombach. Os dados foram analisados 3,9 e pós 8,5 ± 2,5; constatando que o nível de entendimento
no programa estatístico SPSS, versão 20.0. O intervalo de sobre a DMII aumentou após as atividades educativas, no
confiança adotado foi de 95%, sendo considerado signifi- período de 2 anos, para ambos os grupos.
cativo p < 0,05.
Tabela II - Tabela de correlação do nível de conhecimento e atitude
Resultados dos idosos frente a diabetes mellitus tipo 2 no pré e pós intervenção
fisioterapêutica.
Dos 1919 (100%) idosos investigados, a idade apresentou Características Pré Pós r
um valor médio de 68,73 ± 6,99. A maioria tinha 65 anos (n = 1919) (n = 1919)
ou mais; houve predomínio do sexo feminino 1705 para 214 ATT-19 53 ± 5,9 52,1 ± 5,9 0,004
do sexo masculino. DKN-A 6 ± 3,9 8,5 ± 2,5 0,004
Sobre o nível de instrução, 1184 (62%) eram alfabetizados As variáveis estão descritas em média e desvio-padrão, respectivamente.
e 735 (38%) analfabetos, sendo que 826 (43%) estudaram ATT-19 = atitudes do idoso frente ao diabetes mellitus; DKN-A = escala
até 8 anos de escola regular. de conhecimento sobre a diabetes mellitus; Pré = grupo intervenção pré
A renda familiar mensal dos idosos (70%) era em média DMII; Pós = grupo intervenção pós DMII; r = Correlação de Pearson.
até 3 salários mínimos.
Na Tabela I, relação ao índice de massa corporal a média Na Figura 1, verifica-se a dispersão dos escores obtidos em
pré-intervenção fisioterapêutica foi 28,79 ± 5,27, e 27,74 ± relação às atitudes de enfrentamento apresentadas pelos idosos
4,89 pós-intervenção, indicando na média o sobrepeso dos com diabetes mellitus, quando da aplicação do questionário
participantes, entretanto para o grupo intervenção foi possível ATT-19, pré e pós-intervenção. O escore mínimo é de 19
verificar uma redução significativa (p < 0,0001) para esses pontos e o máximo de 95 pontos. Escores maiores que 70
valores ao final do estudo. indicam atitude positiva frente à doença [9]. Quanto aos es-
Também para o grupo intervenção foi possível observar cores de atitude, obteve-se que 1151 (60%) dos participantes
uma redução significativa (p < 0,0001) para os valores de cir- apresentaram escores entre 35 a 78 pontos. No entanto, ainda
304 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
indicando baixa prontidão para o aprendizado da doença. investigou os fatores de risco cardiovasculares, relacionados
Cabe destacar que apenas 95 (5%) dos idosos obtiveram à atividade física e/ou nutrição de pacientes com hipertensão
escores maiores que 70 pontos. arterial, mostrou que mudanças no estilo de vida, combi-
nadas a hábitos alimentares saudáveis e regular prática de
Figura 1 - Escores obtidos pelos idosos com diabetes mellitus tipo 2, exercícios físicos constituem aspectos importantes a serem
no questionário ATT- 19 em relação às atitudes de enfrentamento considerados nas intervenções voltadas ao controle desta
da doença pré e pós orientações fisioterapêuticas. doença [16]. Portanto, a hipertensão arterial está geralmente
80 associada a outros fatores de risco, ora tardios, cardiovasculares
70
e metabolicamente associada à dislipidemia, à intolerância
à glicose, à obesidade central e ao índice de massa corporal
60 elevado. Estudos têm demonstrado que, na maioria dos
ATT pós
vida para obtenção de um bom controle metabólico. Por outro 2. Rotter DL, Hall JA, Merisca R, Nordstrom B, Cretin D, Svarstad
lado, é preciso considerar que nem sempre o conhecimento leva B. Effectiveness of interventions to improve patient compliance:
a meta analysis. Med Care 1998;36(8):1138-61.
a mudança de atitude dos idosos diabéticos perante as demandas 3. Liao D, Asberry PJ, Shofer JB. Improvement of BMI, body
diárias que o tratamento impõe no cotidiano. composition, and body fat distribution with lifestyle modifi-
Estudo que comparou as atitudes de pacientes com DMII cation in Japonese Americans with impaired glicose tolerance.
com as dos profissionais de saúde em relação ao manejo da do- Diabetes Care 2002;25(9):1504-10.
4. Funnell MM, Brown TL, Childs BP, Haas LB, Hosey GM,
ença mostrou que atitude e opinião dos usuários diabéticos são Jensen B, et al. National standards for diabetes self-management
critérios determinantes para o seu cuidado e controle. Assim, education. Diabetes Care 2008;31Suppl1:S97-104.
a atitude ao diabetes mellitus apresenta íntima relação com a 5. Clement S. Diabetes self-management education. Diabetes Care
conduta adotada pelo profissional de saúde no cuidado [21]. 1995;18(8):1204-14.
6. Torres HC. Avaliação de um programa educativo em diabetes
Os programas educativos em DMII devem ser baseados mellitus com indivíduos portadores de diabetes tipo 2 em Belo
em postura na troca do saber, promovendo o intercâmbio Horizonte, MG [Tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de
entre o saber científico e o popular, sendo que ambos, pro- Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz; 2004.
fissionais e diabéticos, têm muito que ensinar e aprender. 7. Franz MJ, Warshaw H, Daly AE, Green-Pastors J, Arnold MS,
Bantle J. Evolution of diabetes medical nutrition therapy. Pos-
Já para os idosos com baixo conhecimento e atitude em tgrad Med J 2003;79(927):30-3.
relação ao diabetes, deve-se implementar estratégias buscando 8. Rocha RM, Zanetti ML, Santos MA. Comportamento e co-
modificar essa percepção com vistas ao melhor ajustamento nhecimento: fundamentos para prevenção do pé diabético. Acta
Paul Enferm 2009;22(1):17-23.
emocional, físico e social [22]. 9. Torres HC, Hortale VA, Schall VT. Validação dos questionários
Diante dessa constatação, seria também interessante que de conhecimento (DKN-A) e atitude (ATT-19) de Diabetes
os fisioterapeutas pudessem assumir o papel de articuladores Melittus. Rev Saúde Pública 2005;39(6):906-11.
do processo orientativo dentro da equipe multiprofissional de 10. Malerbi DA, Franco LJ; The Brazilian Cooperative Group on the
Study of Diabetes Prevalence. Multicenter study of the prevalence of
saúde, encorajando os idosos com diabetes mellitus a tomar diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urban Brazi-
suas próprias decisões acerca da doença, do tratamento, os lian population aged 30-69 yr. Diabetes Care 1992;15(11):1509-16.
aspectos emocionais e físicos, considerando a proximidade 11. Teixeira CRS, Zanetti ML. Custos de consultas médicas em
e o tempo dispendido durante a consulta fisioterapêutica. pessoas com diabetes mellitus durante um programa educativo.
Rev Baiana Saúde Pública 2006;30(2):261-71.
12. Otero LM, Zanetti ML, Teixeira CRS. Características sócio demo-
Conclusão gráficas e clínicas de portadores de diabetes em um serviço de aten-
ção básica à saúde. Rev Latinoam Enferm 2007;15(n.esp):768-73.
Conclui-se que quanto ao conhecimento da doença os ido- 13. Gimenes HT, Zanetti ML, Haas VJ. Factors related to patient
adherence to antidiabetic drug therapy. Rev Latinoam Enferm
sos apresentaram escores satisfatórios quanto ao autocuidado, 2009;17(1):46-51.
após a intervenção fisioterapêutica; e os escores obtidos em 14. Feldstein AC, Nichols GA, Smith DH, Stevens VJ, Bachman
relação à atitude mostram dificuldades para o enfrentamento K, Rosales AG, et al. Weight change in diabetes and glycemic
da doença. Esses resultados apontam para a participação efeti- and blood pressure control. Diabetes Care 2008;31(10):1960-5.
15. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Tratamento e acompa-
va da equipe multiprofissional de saúde, conforme atribuições nhamento do diabetes mellitus: diretrizes da Sociedade Brasileira
e competências próprias. A dificuldade dos idosos para a de Diabetes. São Paulo: SBD; 2007.
emissão de respostas, devido à baixa escolaridade e a escassez 16. Piovesana PM, Colombro RCR, Gallani MCB J. Hypertensive
de literatura nacional para comparação dos dados, constituiu patients and risk factors related to physical activity and nutrition.
Rev Gaúcha Enferm 2006;27(4):655-7.
uma limitação do estudo. Fomenta-se o desenvolvimento de 17. Torquato MTCG, Montenegro RM, Viana LAL, Souza RAHG,
outros estudos, no Brasil, para futuras comparações. Lanna JCB, Durin CB, et al. Prevalência do diabetes mellitus,
Recomenda-se que os profissionais de saúde, particular- diminuição da tolerância à glicose e fatores de risco cardiovascu-
mente os fisioterapeutas, utilizem este espaço de atendimento lar em uma população urbana adulta de Ribeirão Preto. Diabetes
Clin 2001;5(3):183-9.
para a educação em diabetes visando minimizar as dificuldades 18. Dailey G, Kim MS, Lian JF. Patient compliance and persistence
encontradas em relação ao conhecimento e atitude dos idosos with antihyperglycemic drug regimens: evaluation of a medicaid
para o adequado manejo da doença no dia a dia. patient population with type 2 diabetes mellitus. Clin Ther
2001;23(8):1311-20.
19. Otero LM, Zanetti ML, Ogrizio MD. Conhecimento do
Agradecimentos paciente diabético acerca de sua doença, antes e depois da
implementação de um programa de educação em diabetes. Rev
Em especial agradecimento Amanda Sachetti, Caroline Latinoam Enferm 2008;16(2):231-7.
20. Ribeirão Preto. Secretaria Municipal da Saúde. Protocolo de
Fontana, Sara Romano, Álison Martins, Joceléia Graeff. atendimento em hipertensão e diabetes [Internet]. Ribeirão
Preto; 2006 [citado 2009 Jun 16]. Disponível em: URL: http://
Referências www.ribeiraopreto.sp.gov.br
21. Clark M, Hampson SE. Comparison of patients’ and healthcare
1. Sousa VD, Zauszniewski JA. Toward a theory of diabetes selfcare professionals’ beliefs about and attitudes towards type 2 diabetes.
Diabetes Med 2003;20(2):152-4.
management. J Theory Constr Test 2005;9(2):61-7. 22. Salvetti MG, Pimenta CAM. Dor crônica e a crença de autoe-
ficácia. Rev Esc Enferm USP 2007;41(1):135-40.
306 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Revisão
*Universidade Federal do Piauí,Campus Parnaíba/PI, **Professor Assistente, Curso de Fisioterapia, Universidade Federal do Piauí,
Campus Parnaíba/PI
Resumo Abstract
Introdução: A crioterapia é um recurso que diminui a tempera- Introduction: Cryotherapy is a procedure that decreases the local
tura corporal local com finalidades terapêuticas. Uma importante body temperature for therapeutic purposes. A major consequence is
repercussão é a vasoconstrição local, que seria o desencadeador de um local vessel constriction, which is the trigger of a possible increase in
possível aumento na pressão arterial (PA). Entretanto, não existem the blood pressure (BP). However, there are no studies that testify
trabalhos que comprovem essa suposição. Nossa hipótese é que os this assumption. Our hypothesis is that the results of the Cold
resultados das pesquisas de Cold Pressor Test (CPT) avaliando PA Pressor Test (CPT) researches analyzing BP have eventually laid
acabaram historicamente fundamentando as precauções da criotera- the foundation of cryotherapy precautions regarding hypertensive
pia em relação a pacientes hipertensos. Objetivo: Realizar uma revisão patients. Objective: Literature review about cryotherapy precaution
de literatura a respeito das pesquisas que sustentam a precaução da on hypertensive patients and its relation with studies that used
crioterapia em indivíduos hipertensos e verificar sua relação com CPT. Methods: This was a literature review with online database
estudos que utilizaram o CPT. Material e métodos: Trata-se de uma research on Medline, Scielo, Lilacs and Google Scholar. Results:
revisão de literatura que utilizou as bases de dados online Medline, Although not unanimous, different researches, using CPT found
Scielo, Lilacs e Google Acadêmico para a realização da pesquisa. a significant increase of the muscular sympathetic nervous activity
Resultado: Apesar de não serem unânimes, diversas pesquisas que and the BP in normotensive and hypertensive individuals. We did
utilizaram o CPT encontraram significativos aumentos da atividade not find, however, studies that have proved significant BP responses
nervosa simpática muscular e da PA em normotensos e hipertensos, with cryotherapy use, especially in hypertensive patients. Conclu-
entretanto não encontramos estudos que tenham comprovado res- sion: There is no scientific evidence that supports the cryotherapy
postas significativas de PA com o uso da crioterapia, principalmente, precaution in hypertensive patients. Moreover, CPT studies are
em hipertensos. Conclusão: Não existem evidências científicas que not unanimous regarding pressure increase in normotensive and
comprovem a precaução da crioterapia em indivíduos hipertensos. hypertensive individuals.
Além disso, os estudos com CPT não são unânimes em relação aos Key-words: cryotherapy, hemodynamics, hypertension, blood
aumentos pressóricos em indivíduos normotensos e hipertensos. pressure.
Palavras-chave: crioterapia, hemodinâmica, hipertensão, pressão
arterial.
no tratamento e reabilitação de lesões musculoesqueléticas atingir a temperatura recomendada para analgesia. Podemos
agudas [2-7], atenuando os sinais e sintomas inflamatórios considerar que o resultado obtido por Leventhal et al. [7], de
característicos (dor, edema, calor e rubor) [16]. Consiste numa que a bolsa de gel foi mais eficaz para o resfriamento superficial
técnica que utiliza a aplicação de modalidades de frio, promo- cutâneo, possa ser explicado pela mesma hipótese levantada
vendo uma redução na temperatura cutânea para valores entre por Dykstra et al. [26], sobre a capacidade da modalidade em
18,3°C e 0°C [3], levando a respostas locais e sistêmicas, que se moldar ao corpo.
podem estar relacionadas com a temperatura da modalidade, Kanlayanaphotporn e Janwantanakul [4] compararam
a duração e a superfície expostas ao tratamento [6]. a redução da temperatura da pele, frente às aplicações de
Para Swenson et al. [8], no entanto, os efeitos da crio- bloco de gelo, bolsa com mistura de água e álcool, bolsa de
terapia seriam induzidos apenas localmente sem interferir gel e ervilhas congeladas em 50 mulheres submetidas a 20
nos tecidos circundantes. Neste sentido, uma das principais min de aplicação. Neste estudo, o arrefecimento cutâneo foi
repercussões do frio no sistema circulatório seria a diminui- superior com o bloco de gelo e a mistura de água e álcool,
ção do fluxo sanguíneo local, contribuindo no controle da bem como somente estas duas modalidades produziram
hemorragia intratecidual inicial e limitando a extensão da efeito analgésico (temperatura média da superfície da pele
lesão através da vasoconstrição local [12]. Além disso, pro- foi inferior a 13,6ºC), quando comparadas com as demais.
porciona a redução do metabolismo tecidual e da resposta Este estudo contraria Leventhal et al. [7], pois a aplicação da
inflamatória [4,23], contribuindo de forma direta ou indireta bolsa de gel não produziu efeito terapêutico analgésico, uma
no mecanismo de analgesia. vez que a temperatura média atingida pela superfície da pele
Quando corretamente indicada e utilizada, a crioterapia foi superior a 13,6°C durante a aplicação dessa modalidade,
pode inibir o processo álgico [24]. Entretanto esta analgesia sendo observada a necessidade de uma maior duração da
está dentro de uma abordagem complexa, já que a temperatura aplicação para produzir analgesia. Analisando assim os
ideal para obtenção das respostas terapêuticas ainda estão trabalhos anteriores fica claro que quanto maior for a queda
rodeadas de algumas contradições dentro da literatura. Para da temperatura cutânea, maior será a eficácia terapêutica.
Starkey [3] estes benefícios terapêuticos com a aplicação do Em uma revisão realizada por Auley [25], foi afirmado
frio ocorrem quando a temperatura cutânea atinge 13,8°C, existir poucas evidências do efeito da gordura subcutânea
diminuindo assim o fluxo sanguíneo local e a 14,4°C ocor- sobre a temperatura intramuscular, mas que a mesma deve
reria à analgesia. Enquanto Bugaj apud Kanlayanaphotporn ser considerada durante a aplicação da crioterapia. Myrer
e Janwantanakul [4] afirma que a analgesia começa quando a et al. [27] avaliaram o efeito da gordura subcutânea sobre
temperatura diminui para 13,6°C, Leventhal et al. [7] e Auley o resfriamento da temperatura local, aplicando pacotes de
[25] defendem que o objetivo da crioterapia está em reduzir gelo triturado em indivíduos sadios, divididos em grupos de
a temperatura do local aplicado para 10 a 15°C. acordo com a espessura da gordura subcutânea: menor ou
Dykstra et al. [26] analisando a temperatura intramuscular igual a 8 mm, 10 a 18 mm e 20 mm. Os autores monitoraram
e cutânea de 12 indivíduos utilizaram três modalidades de a temperatura intramuscular a 1 e 3 cm abaixo da gordura
crioterapia: cubos de gelo, gelo moído e gelo úmido, este subcutânea da perna esquerda dos pesquisados. Os valores
último sendo constituído por cubos de gelo adicionados a 300 de diminuição da temperatura para 1 cm de profundidade
ml de água. Diante dos resultados encontrados na pesquisa, foram de 14,4°C para espessuras menores ou iguais a 8 mm,
os autores verificaram que o gelo úmido gerou maior dimi- de 9°C para espessura de 10 a 18 mm e de 5°C para 20 mm,
nuição na temperatura intramuscular (6°C) e na superfície enquanto que para a profundidade de 3 cm as reduções na
(17°C), quando comparada às outras modalidades que tiveram temperatura foram de 6,2°C, 3,8°C e 2,4°C, respectivamente.
decréscimo, respectivamente, de 4,3°C e 15°C para o gelo Com isso, verificaram que a quantidade de tecido adiposo no
moído e de 4,8°C e 14,1°C para os cubos de gelo. Os autores local da terapia foi um fator importante na mudança dessa
levantaram a hipótese de que a maior eficácia do gelo úmido temperatura, tanto durante como após a aplicação da técni-
possa ser devido ao maior contato entre a modalidade e a pele, ca, pois valores de temperatura significativamente diferentes
bem como da sua capacidade de se moldar as superfícies da foram observados entre os grupos. De uma forma geral, na
área de tratamento. prática a maioria das pesquisas com crioterapia relatam seus
Leventhal et al. [7], comparando a eficiência do resfria- resultados sem levar em conta a heterogeneidade das carac-
mento cutâneo durante 20 min por três modalidades - bolsa terísticas antropométricas e das propriedades físicas de suas
de gelo, bolsa de gel e bolsa com mistura de água e álcool - modalidades [4], o que faz com que seus efeitos fisiológicos
para obtenção de analgesia de 32 puérperas, verificaram que sejam tema de discussões quanto às dificuldades para explicar
nos três grupos, a partir do 5o até o 20o min, as médias das os mecanismos envolvidos sobre os diferentes tecidos e suas
temperaturas superficiais do local aplicado ficaram entre 3,5°C respostas celulares [8].
e 8°C. Neste estudo a bolsa de gel obteve o menor valor e, por- Do ponto de vista científico, a crioterapia é uma técnica
tanto, maior eficiência para redução da temperatura cutânea, com pouco embasamento teórico por parte da maioria dos
embora as demais modalidades também tenham conseguido fisioterapeutas [12]. Por exemplo, existem relatos que afirmam
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 309
que não existem evidências para apontar qual modalidade, decorrentes da aplicação do frio. No entanto, embora na prática
duração ou frequência são considerados ideais para o trata- clínica não haja relatos do uso do CPT para fins terapêuticos e
mento das lesões [6] levando a maioria dos profissionais de sim como preditor de HA [18], Swenson et al. [8] consideram-
saúde a se basearem, principalmente, em evidências clínicas -no, também, como uma modalidade de crioterapia, que utiliza
e empíricas [8] e em poucas pesquisas científicas. a imersão de um segmento corporal em água, com temperaturas
Um dos aspectos que ainda não foram totalmente escla- entre 1 a 5°C, durante 1 a 6 minutos [19-21].
recidos são as repercussões hemodinâmicas. Na literatura é Garg et al. [30] avaliaram as respostas da pressão arterial
perceptível a carência de pesquisas apropriadas e específicas diastólica (PAS) e da pressão arterial diastólica (PAD) com o
ao assunto, gerando evidências insuficientes para elucidar os uso do CPT em 200 indivíduos, sendo 100 cujos pais eram
mecanismos fisiológicos intrínsecos às adaptações provocadas hipertensos e 100 de pais normotensos com faixa etária
com o uso dessa técnica. Além disso, não existe um consenso entre 16 a 24 anos. Os indivíduos foram classificados em
em relação aos resultados dos estudos que avaliaram variáveis hiperreatores (PAS e PAD elevando-se mais de 22 mmHg
hemodinâmicas sistêmicas, bem como um número reduzido e 18 mmHg, respectivamente) e em normorreatores (PAS e
de trabalhos que analisaram essas variáveis a partir de aplica- PAD elevando-se abaixo desses valores). Antes da aplicação
ções de modalidades crioterápicas. do teste as médias da PAS e PAD dos filhos de normotensos
Dentro dessa abordagem e atualmente considerado um eram de 112 ± 9 mmHg e 75 ± 8 mmHg, respectivamente.
significante problema de saúde pública [28], a hipertensão Após a imersão passaram para 133 ± 11,5 mmHg e 88 ± 10
arterial sistêmica (HAS) aparece como uma das afecções mmHg. Já no grupo de filhos de hipertensos as médias da
correlatas às implicações provocadas pela crioterapia, visto PAS e PAD pré-teste estavam em 113 ± 11 mmHg e 75 ± 9
que a técnica exerce influência sobre a fisiologia vascular mmHg e atingiram no pós teste os valores de 139 ± 14 mmHg
[23]. Relatos de problemas decorrentes ao uso da crioterapia e 92 ± 12 mmHg. A PAS e PAD após a imersão mostrou
são raros, entretanto alguns autores afirmam ser necessária aumento estatisticamente significativo em ambos os grupos,
cautela na aplicação desta técnica em pacientes hipertensos entretanto os filhos de pais hipertensos apresentaram valores
[7,14] enquanto outros a consideram contraindicada apenas significativamente maiores em comparação aos filhos de pais
para hipertensos graves [17]. normotensos. No grupo dos filhos de hipertensos, 64% fo-
Existem estudos que verificaram aumentos pressóricos ram hiperreatores e no de normotensos somente 31%. Desta
significativos e por curto prazo, induzido pela crioestimulação forma, o CPT desencadeou respostas pressóricas maiores nos
de corpo inteiro (-100 º C a -160 ° C) em indivíduos normo- indivíduos com histórico de hipertensão na família.
tensos [29], porém não existem informações científicas rele- Neste sentido, é possível propor que o CPT seja, realmen-
vantes que corroborem que a crioterapia local possa ser vista te, um relevante preditor de HA, podendo estes achados serem
como uma técnica de precaução para indivíduos hipertensos reforçados pelo trabalho de Wood et al. [18], que realizaram
diante das alterações circulatórias verificadas. Um dos poucos um estudo longitudinal com duração de 45 anos. Nesta pes-
trabalhos que avaliaram as respostas circulatórias induzidas quisa composta por 142 indivíduos inicialmente investigados
pela crioterapia foi o de Waylonis apud Swenson et al. [8] o com o CPT, 48 mostraram-se hiperreatores, sendo desses 34
qual não encontrou mudanças na frequência cardíaca (FC), (71%) desencadearam hipertensão a longo prazo e dos 94
na pressão arterial (PA) e no eletrocardiograma utilizando normorreatores, somente 18 (19%) se tornaram hiperten-
massagem com gelo sobre a região da panturrilha durante sos. Foi encontrada, dessa forma, uma correlação entre as
5-10 min em seus pacientes. Esses resultados poderiam estar respostas geradas pelo CPT e o desenvolvimento de HA nos
supostamente relacionados à forma como foi realizada a apli- anos subsequentes.
cação da modalidade, o que por influência do emprego de Em um estudo formado por 25 indivíduos normotensos,
movimentos circulares e longitudinais, feitos geralmente em com idades de 18 a 30 anos e utilizando o CPT durante 2
pequenas áreas, não proporcionasse uma queda da tempera- min, foram avaliadas a FC, a PA e a ANSM [22]. O valor
tura cutânea e no fluxo sanguíneo significativo. médio da pressão arterial média (PAM) no fim do período
Outros autores realizaram pesquisas para avaliar repercus- de controle foi de 93 ± 2 mmHg elevando-se para 113 ± 2
sões hemodinâmicas em condições semelhantes à crioterapia. mmHg ao final do CPT, a FC que estava em torno de 63 ±
Neste sentido, o CPT aparece como um teste padrão utilizado 2 bpm no período de controle passou para 70 ± 3 bpm no 1o
para avaliar a atividade nervosa simpática sistêmica e medir a min do CPT e decaiu no 2o min do teste para 66 ± 3 bpm e
resposta da PA e da FC ao estímulo do frio. Além disso, por a atividade total da ANSM ao final do período de controle foi
conta da sua capacidade de provocar vasoconstrição arteriolar de 230 ± 27 impulsos/min para 574 ± 73 impulsos/min no
o mesmo tem sido utilizado para prever o risco subsequente de 2o min do teste [22]. Em suma, nesta pesquisa o CPT gerou
hipertensão em normotensos [20]. Frente à carência de estudos um aumento da PA e da ANSM de forma significativa, sem,
avaliando adaptações hemodinâmicas durante a utilização contudo provocar relevantes alterações na FC.
da crioterapia, os estudos com CPT acabam servindo como Cavalcante et al. [31] estudaram a diferença do compor-
associação para compreender os fenômenos hemodinâmicos tamento da PA em 32 adolescentes divididos em grupos de
310 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
filhos de normotensos e hipertensos (13 a 18 anos), frente isquêmico por meio da redução adicional do fluxo sanguíneo
a estímulos de um teste de exercício aritmético mental, de e desencadear fenômenos vasoespásticos [32]. Para esses casos,
um CPT e de um teste de exercício isométrico. Verificaram sem dúvida, algumas precauções ou contraindicações devem
que com o uso do CPT nos filhos de normotensos, a PAS e ser tomadas, como em indivíduos crioglobulinêmicos, que
a PAD basais que eram de 99 e 54 mmHg elevaram-se para podem sofrer isquemia ou gangrena em baixas temperaturas
116 e 70 mmHg, respectivamente. Nos filhos de hipertensos em função de níveis proteicos anormais no sangue [33], ou
também ocorreram acréscimos nas PAS e PAD basais de 103 em indivíduos com vasculopatias ateroscleróticas e disfunções
e 56 mmHg para 123 e 74,5 mmHg, respectivamente. Com vasoespásticas (Fenômeno de Raynaud) [34,35].
relação aos valores basais não houve diferença significativa
entre os grupos. Ambas as aferições finais foram feitas ime- Conclusão
diatamente após a aplicação do estímulo de modo que a PA
repercutiu aumentando em ambos os grupos, sendo maior Diante dos resultados das repercussões do CPT e da
em filhos de hipertensos. No entanto, o estímulo do CPT não crioterapia nas variáveis hemodinâmicas, desejamos levantar
gerou respostas pressóricas significativas em ambos os grupos. discussão a respeito dessas técnicas na prática clínica diária.
Alterações significativas foram encontradas apenas na PAD Em primeiro lugar, não existem, atualmente, evidências
após o teste do exercício aritmético mental. científicas robustas comprovando alterações hemodinâmi-
Mourot et al. [21] estudaram 39 indivíduos, utilizando o cas significativas durante procedimentos crioterápicos. Em
CPT com imersão da mão esquerda na água com temperatura segundo, apesar de existirem algumas comprovações que o
de 0 a 1ºC durante 3 min. Os grupos foram divididos em CPT possa alterar valores hemodinâmicos basais, seus resul-
CPTi (grupo cujos participantes sofreram aumento susten- tados não são unânimes e nem todos constataram diferenças
tado da FC durante o teste, 20 indivíduos) e CPTd (grupo no comportamento pressórico entre indivíduos normoten-
cuja FC reduziu mais de 5 bpm após um aumento inicial, 19 sos e hipertensos. Além disso, as pesquisas analisadas que
indivíduos). As principais variáveis hemodinâmicas analisadas verificaram aumento estatisticamente significativo da PA
foram FC, PAS, PAD e resistência periférica total (RPT). As não se preocuparam em discutir se estas alterações podem
variáveis pressóricas e a RPT apresentaram aumento significa- gerar repercussões significativas durante um tratamento, a
tivo ao longo do teste em ambos os grupos sem apresentarem ponto de tornar as terapias que promovam arrefecimento
diferenças significativas. cutâneo local um fator de risco a pacientes com alterações
Lafleche et al. [19] realizaram um trabalho composto por hemodinâmicas.
10 pacientes hipertensos limítrofes com idades entre 21-58 Vale ressaltar ainda, que os procedimentos que caracteri-
anos e 10 normotensos com idades entre 28-45 anos. Os zam o CPT, objetivam por meio de uma desordem fisiológica
autores analisaram o comportamento da PAS, PAD, PAM, fazer uma avaliação de variáveis hemodinâmicas e não o
pressão de pulso (PP) e da FC com a utilização do CPT du- tratamento, tal como verificado na crioterapia. Deste modo,
rante 5 min. Por decorrência do uso do CPT aumentaram-se por não existir um embasamento científico que comprove um
todas as variáveis pressóricas em ambos os grupos, sem alterar prejuízo hemodinâmico significativo durante a aplicação de
a FC durante o teste. A PAS aumentou desde o 1o min até modalidades crioterápicas, fica claro a necessidade de uma
o final do teste em ambos os grupos, a PP apenas em indiví- discussão entre a comunidade científica e os profissionais da
duos normais e na PAD, o aumento foi observado somente área a respeito da relação dos riscos e benefícios dessas técnicas
até o 2o min em pacientes hipertensos e no 3o min no grupo em protocolos de tratamento de pacientes hipertensos ou com
controle. Na pesquisa os valores basais da PAS em indivídu- comprometimento cardiovascular.
os normotensos e hipertensos eram de 113 ± 10 e 144 ± 8
mmHg, respectivamente, passando para 126 ± 13 e 154 ± 9 Referências
mmHg com o CPT. Na PAD os valores basais desses grupos
foram de 68 ± 6 e 83 ± 7 mmHg para 72 ± 7 e 88 ± 9 mmHg 1. Antunes PA, Antunes AP, Silva PV. Papel da criocirurgia no
após a imersão. O aumento da PA em função do CPT foi tratamento das neoplasias cutâneas do segmento cabeça e pes-
significativo em ambos os grupos, sendo que esse aumento foi coço: análise de 1900 casos. Rev Col Bras Cir 2006;33:112-5.
2. Myrer JW, Measom G, Fellingham GW. Temperature changes
significativamente maior nos hipertensos limítrofes.
in the human leg during and after two methods of cryotherapy.
Com base nos assuntos supracitados fica clara a complexi-
J Athl Train 1998;33:25-9.
dade do tema, cercada pela necessidade de pesquisas que escla- 3. Starkey C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. 2ª ed. São
reçam de forma direta as respostas do frio local nas variáveis Paulo: Manole; 2001.
hemodinâmicas, em especial a PA. Essa discussão não objetiva 4. Kanlayanaphotporn R, Janwantanakul P. Comparison of skin
levantar dúvidas quanto ao uso criterioso da crioterapia. Pelo surface temperature during the application of various cryo-
contrário, é indispensável que o terapeuta deva estar atento therapy modalities. Arch Phys Med Rehabil 2005;86:1411-5.
para afecções que comprometam parâmetros hemodinâmicos, 5. Sandoval RA, Mazzari AS, Oliveira GD. Crioterapia nas lesões
pois a crioterapia pode, por exemplo, agravar um quadro ortopédicas: revisão. Rev Digital Buenos Aires 2005;10(81).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 311
6. Bleakley CM, Mcdonough SM, Macauley DC. Cryotherapy 22. Victor RG, Leimbach WN, Seals DR, Wallin BG, Mark AL.
for acute ankle sprains: a randomized controlled study of two Effects of cold pressor test on muscle sympathetic nerve activity
different icing protocols. Br J Sports Med 2006;40:700-5. in humans. Hypertension 1987;9:429-36.
7. Leventhal LC, Bianchi RC, Oliveira SMJV. Ensaio clínico 23. Nadler SF, Weingand K, Kruse RJ. The physiologic basis and
comparando três modalidades de crioterapia em mulheres não clinical applications of cryotherapy and thermotherapy for the
grávidas. Rev Esc Enferm USP 2010;44:339-45. pain practitioner. Pain Physician 2004;7:395-9.
8. Swenson C, Swärd L, Karlsson J. Cryotherapy in sports medi- 24. Moreira NB, Artifon EL, Meireles A, Silva LI, Rosa CT, Bertolini
cine. Scand J Med Sci Sports 1996;6:193-200. GRF. A influência da crioterapia na dor e edema induzidos por
9. Hubbard TJ, Denegar CR. Does cryotherapy improve outcomes sinovite experimental. Fisioter Pesq 2011;18:79-83.
with soft tissue injury? J Athl Train 2004;39:278-9. 25. Auley DCM. Ice therapy: how good is the evidence? Int J Sports
10. Philley LM. The effects of cold, electrical stimulation, and com- Med 2001;22:379-84.
bination cold and electrical stimulation on sensory perception. 26. Dykstra JH, Hill HM, Miller MG, Cheatham CC, Michael TJ,
2011 [Thesis of Master of Science]. Ohio: College of Health Baker RJ. Comparisons of cubed ice, crushed ice, and wetted
Sciences and Professions of Ohio University; 2011. ice on intramuscular and surface temperature changes. J Athl
11. Prentice WE. Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas. 2ª Train 2009;44:136-41.
ed. Porto Alegre: Artmed; 2004. 27. Myrer JW, Myrer KA, Measom GJ, Fellingham GW, Evers
12. Guirro R, Abib C, Máximo C. Os efeitos fisiológicos da criote- SL. Muscle temperature is affected by overlying adipose when
rapia: uma revisão. Rev Fisioter Univ São Paulo 1999;6:164-70. cryotherapy is administered. J Athl Train 2001;36:32-6.
13. Sunitha J. Cryotherapy - a review. J Clin Diagn Res 28. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hi-
2010;4:2325-9. pertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Bra-
14. Kitchen S. Eletroterapia - prática baseada em evidencias. 11ª sileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010;95 (supl.1):1-51.
ed. São Paulo: Manole; 2003. 29. Lubkowska A, Szyguła Z. Changes in blood pressure with
15. Gonzaga CC, Sousa MG, Amadeo C. Fisiopatologia da hi- compensatory heart rate decrease and in the level of aerobic
pertensão sistólica isolada. Rev Bras Hipertens 2009;16:10-4. capacity in response to repeated whole-body cryostimulation
16. Rosa GMV, Nunes CB, Oliveira JS. Efeitos fisiológicos da crio- in normotensive, young and physically active men. Int J Occup
terapia na inflamação aguda causada por traumatismo fechado Med Environ Health 2010;23:367-75.
– uma revisão. Reabilitar 2002;14:16-22. 30. Garg S, Kumar A, Singh KD. Blood pressure response to cold
17. Cluzeau C. La Cryotherapie Gazeuse Hyperbare: Conception, pressor test in the children of hypertensives. Online J Health
validation, observations cliniques d’une nouvelle technique de Allied Scs 2010;9:1-3.
cryotherapie. 2010 [These de Doctorat Sciences de la Vie et de 31. Cavalcante JWS, Cavalcante LP, Pacheco WS, Menezes MGF,
la Santé]. Franche Comte: Ecole Doctorale Homme Environ- Filho CGG. Comportamento da pressão arterial em filhos de
nement Santé de L’Universite de Franche Comte; 2010. normotensos e filhos de hipertensos submetidos a estímulos
18. Wood DL, Sheps SG, Elveback LR, Schirger A. Cold pressor pressóricos. Arq Bras Cardiol 1997;69:323-6.
test as a predictor of hypertension. Hypertension 1984;6:301-6. 32. Branco PS, Martelo D, Constantino H, Lopes M, José R, Tomás
19. Lafleche AB, Pannier BM, Laloux B, Safar ME. Arterial response R, et al. Temas de reabilitação: agentes físicos. 1ª ed. Porto:
during cold pressor test in borderline hypertension. Am J Physiol Medesign; 2005.
Heart Circ Physiol 1998;275:409-15. 33. Silveira DWS, Boery EN, Boery RNSO. Reflexões acerca da
20. Chen J, Gu D, Jaquish CE, Chen CS, Rao DC, Liu D, et al. crioterapia na fase aguda da artrite reumatóide e suas correlações
Association between blood pressure responses to the cold pressor com a crioglobulinemia. Rev Saúde Com 2006;2:153-60.
test and dietary sodium intervention in a Chinese population. 34. Silva P, Loureiro T, Almeida I, Mansilha A, Almeida R, Vas-
Arch Intern Med 2008;168:1740-6. concelos C. Fenômeno de Raynaud. Rev Bras Angiol Cir Vasc
21. Mourot L, Bouhaddi M, Regnard J. Effects of the cold pressor 2011;7:13-20.
test on cardiac autonomic control in normal subjects. Physiol 35. Knight KL. Crioterapia no tratamento das lesões esportivas. 1ª
Res 2009;58:83-91. ed. São Paulo: Manole; 2000.
312 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Revisão
*Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, **Universidade de Cuiabá, ***Universidade Católica Dom Bosco, ****Médico neo-
natalogista, pós-doutorado, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Resumo Abstract
Introdução: Há fortes evidências de que a exposição do pulmão Introduction: There is strong evidence that exposure of the lung
do recém-nascido, principalmente do prematuro, à ventilação of the preterm infant to mechanical ventilation and oxygen can
pulmonar mecânica e ao oxigênio podem prejudicar o processo de disrupt the process of developing pulmonary and non-pulmonary
desenvolvimento pulmonar e não-pulmonar do prematuro. Objetivo: premature. Objective: To review the literature and present the main
Revisar a literatura e apresentar os principais mecanismos de lesão mechanisms of lung injury induced by mechanical ventilation
pulmonar induzida pela ventilação pulmonar mecânica em recém- in preterm infants. Methods: This systematic review included the
-nascidos prematuros. Metodologia: Realizou-se uma pesquisa siste- literature on MedLine, Lilacs and SciElo database published in the
mática dos artigos incluídos na MedLine, Lilacs e SciElo dos últimos last 13 years, using the subject descriptors: “Prematurity”, “Acute
13 anos, utilizando-se os descritores de assunto: “Prematuridade”, Lung Injury”, “Mechanical Ventilation” and “Bronchopulmonary
Lesão Pulmonar Aguda”, “Ventilação Mecânica” e “Broncodisplasia Dysplasia”. Results: Mechanical ventilation and oxygen produce
Pulmonar”. Resultados: A ventilação mecânica e o oxigênio, embora various biochemical and mechanical stimuli that induce lung in-
fundamentais para a sobrevida dos prematuros, produzem estímulos jury. The main mechanisms of ventilator-induced lung injury are:
mecânicos e bioquímicos diversos que induzem à lesão pulmonar. Os barotrauma, aletectrauma, rheotrauma and biotrauma. Conclusion:
principais mecanismos de lesão pulmonar induzida pela ventilação The mechanisms responsible for ventilator-induced lung injury
são: volutrauma, aletectrauma, rheotrauma e biotrauma. Conclusão: should be well understood to avoid or minimize the adverse effects
Os mecanismos responsáveis pela lesão pulmonar induzida pelo of mechanical ventilation and supplemental oxygen.
ventilador devem ser bem entendidos para evitar ou atenuar os Key-words: prematurity, mechanical ventilation, acute lung injury,
efeitos adversos da ventilação pulmonar mecânica e do oxigênio bronchopulmonary dysplasia.
suplementar.
Palavras-chave: prematuridade, ventilação mecânica, lesão
pulmonar aguda, broncodisplasia pulmonar.
vez que se observavam, macroscopicamente, os escapes de ar animais ventilados com elevados picos de pressão inspiratória,
para fora das vias aéreas, mais frequentemente o pneumotó- mas com a distensão pulmonar limitada pela restrição do
rax e o enfisema intersticial. Somente recentemente outros movimento inspiratório tóraco-abdominal [3].
mecanismos desencadeadores de alterações fisiológicas e No volutrauma pode ocorrer tanto o rompimento físico
morfológicas durante a VPM têm sido descritos [8,13], como das células, clinicamente identificado pelos escapes de ar e
o volutrauma, atelectrauma, rheotrauma e biotrauma [15]. aumento da permeabilidade alveolocapilar, quanto alterações
As forças mecânicas aplicadas durante a VPM podem mais sutis [16]. Em nível molecular e microscópico, implica
danificar o pulmão em duas maneiras: pelo rompimento em danos em células alveolares epiteliais, proliferação de pro-
físico de tecidos e células, com aumento da permeabilidade teínas para os alvéolos, alteração do fluxo linfático, formação
endotelial e epitelial, e também pela ativação de respostas de membrana hialina, e proliferação de células inflamatórias,
citotóxicas ou pró-inflamatórias [16]. O rompimento físico além de reduzir a complacência pulmonar e alterar a estrutura
é mais facilmente identificado, uma vez que as manifestações e função do surfactante [2,7].
clínicas são prontamente detectadas, como os escapes de ar. Na VPM com elevados volumes observa-se expressão de
As alterações mais sutis são evidenciadas por meio da micros- genes que estimulam a proliferação de células inflamatórias
copia eletrônica, e as consequências constatadas clinicamente [17]. Há evidências de que, após o nascimento, somente
[13,16]. poucas respirações com elevados volumes podem reduzir a
Tais alterações e suas repercussões são determinadas por complacência pulmonar e diminuir a resposta ao surfactante
diferentes mecanismos de lesão, os quais são descritos indi- exógeno em cordeiros com deficiência de surfactante [18].
vidualmente, porém, atuam sinergicamente [13]. Esses dados sugerem que as alterações em nível molecular
e microscópico decorrentes da agressão pela ventilação mecâ-
Barotrauma nica podem afetar a estrutura e a função pulmonar, e bastam
poucos movimentos respiratórios para que a lesão ocorra
O Barotrauma é definido como a lesão devido a altos picos [6,7]. Esse mecanismo de lesão tem sido considerado uma
de pressão inspiratória. O desenvolvimento de um gradiente importante causa da LPIV, pois está fortemente associado
de pressão entre os alvéolos e a bainha broncovascular adjacen- à lesão bioquímica e liberação de mediadores inflamatórios
te pode permitir que o gás extravase para o interstício, tecido durante a VPM [2,17].
subcutâneo, espaços pleural, pericárdico e peritoneal [16]. No caso específico dos prematuros, inúmeros fatores au-
Até pouco tempo se acreditava que a pressão excessiva mentam a suscetibilidade do pulmão ao volutrauma, como a
em vias aéreas provocava o Barotrauma, entretanto, hoje há disfunção do surfactante, alta complacência da caixa torácica,
evidências contundentes de que para ocorrer o “Barotrauma” é sistema antioxidante imaturo e ineficiente, nutrição inade-
necessário que a pressão transpulmonar (pressão alveolar me- quada, entre outros. Paralelamente, essa população apresenta
nos a pressão pleural) eleve-se, com consequente mobilização condições limitadas de recuperação da lesão. Outro aspecto
de altos volumes e hiperdistensão alveolar [3]. a ser ressaltado é o pequeno volume pulmonar dos prema-
Assim, a pressão absoluta nas vias aéreas, por si só, não turos, que é ainda mais reduzido na vigência da Síndrome
acarreta lesão. Tal afirmação já foi documentada por Bouhuys, do Desconforto Respiratório (SDR), com as atelectasias e
em 1969, ao estudar a fisiologia respiratória de músicos trom- edema[2]. Por se tratar de uma doença que compromete os
petistas. As pressões em vias aéreas dos músicos, ao tocarem pulmões de maneira heterogênea, em muitos casos apenas
o instrumento, atingem aproximadamente 150 cmH2O, um terço do pulmão está recrutado, e uma ventilação com
centenas de vezes ao dia, sem evidências de lesão pulmonar volume corrente de 10ml/kg é equivalente a 20 ou 30ml/
[3]. Slutsky [17] explicou que a contração abdominal durante kg, o que certamente repercutirá na hiperdistensão alveolar
a execução do instrumento eleva a pressão pleural, impedindo das áreas preservadas e, consequentemente, na LPIV [2,13].
que a pressão transpulmonar se eleve e, consequentemente,
evita o barotrauma. Atelectrauma
Sendo assim, constata-se que é a distensão em vias aéreas
causada pelo aumento excessivo das pressões transpulmonares Assim como o excessivo volume corrente é deflagrador
a responsável pelo desencadeamento da LPIV. É nesse con- da LPIV, a abertura e fechamento alveolar cíclicos, ou recru-
texto que o mecanismo de lesão volutrauma foi descrito [17]. tamento e colapso de vias aéreas distais, ductos e unidades
alveolares a cada ciclo respiratório, também é considerado
Volutrauma um potencial mecanismo de desenvolvimento da LPIV, de-
nominado atelectrauma [2,9,11,13,17]. Mediante movimento
O volutrauma é a lesão decorrente da hiperdistensão alveo- cíclico de colapso e reabertura de unidades alveolares pode
lar devido ao volume corrente exagerado. Animais submetidos haver no local um estressee de cisalhamento aumentado,
a elevados picos de pressão inspiratória e elevados volumes afetando a membrana alveolar e levando a ruptura epitelial.
corrente evidenciaram lesão pulmonar, fato não observado em Grandes forças são necessárias para reexpandir uma via aérea
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 315
colapsada, e o estresse do atrito tecidual, gerado por forças Os mecanismos exatos de como os sinais bioquímicos se
mecânicas de estiramento e colapso pode repercutir em dano iniciam mediante os estímulos mecânicos permanecem
cumulativo, especialmente se tal fato ocorrer repetidamente desconhecidos [16,20].
a cada ciclo respiratório [16]. Os mecanismos de lesão podem acontecer isoladamente,
Desse modo, tanto a VPM com parâmetros que levem à porém, o volutrauma, o atelectrauma e o rheotrauma podem
hiperdistensão alveolar por excessivo volume corrente, quanto levar ao biotrauma, que atualmente tem sido apontado como
com PEEP (pressão positiva expiratória final) insuficiente o mais importante mecanismo de desenvolvimento da LPIV
para manter os alvéolos abertos ao final da expiração são [13].
mecanismos deflagradores da LPIV. Estudos experimentais
mostraram que a magnitude do volume corrente - o volu- Toxicidade do oxigênio
trauma - está mais intimamente associada à LPIV do que a
PEEP [3]. Porém, em pulmões imaturos o atelectrauma ainda A toxicidade do oxigênio e o estresse oxidativo são ou-
é pouco estudado [7]. tros importantes fatores no mecanismo de lesão pulmonar
Sendo assim, a VPM deve ser empregada de modo a evitar e evolução para a DBP [8,21]. O recém-nascido prematuro
tanto a hiperdistensão, quanto o colapso/reabertura cíclicos é muito susceptível ao estresse oxidativo por mais de uma
das vias aéreas distais [2,7,9,13]. razão. Primeiro, eles são frequentemente expostos a elevadas
frações inspiradas de oxigênio devido à imaturidade pulmonar
Rheotrauma e deficiência de surfactante. Segundo, processo inflamatório
é comum no pulmão prematuro, e o estresse oxidativo está
O Rheotrauma é uma complicação da VPM que se refere aumentado pela ativação dos neutrófilos respiratórios na
às lesões causadas pelo inapropriado fluxo aéreo [2,9,15]. vigência da inflamação. Terceiro, no prematuro o sistema
Embora relatado com menos frequência na literatura, é de antioxidante está imaturo e é ineficiente, com habilidade
extrema importância, especialmente em se tratando da VPM reduzida para ativação das enzimas antioxidantes durante
em neonatologia e pediatria. O fluxo aéreo, se insuficiente, o período da toxicidade do oxigênio [21]. Em relação ao
pode levar à “fome de ar”, aumento de trabalho respiratório e último aspecto abordado, os prematuros extremos são ainda
hipoxemia. Entretanto, se excessivo, leva à turbulência, com mais vulneráveis, já que o sistema antioxidante desenvolve-se
PEEP inadvertida, hiperinsuflação pulmonar e inadequada durante o último trimestre da gestação [13].
troca gasosa [9]. O fluxo inspiratório elevado proporciona A toxicidade do oxigênio ocorre pela produção de radicais
transmissão de energia cinética para as estruturas subjacentes, tóxicos, como superóxido, peróxido de hidrogênio e radicais
distorcendo o parênquima, deformando a superfície endotelial livres de oxigênio [21,22]. Trata-se de moléculas altamente re-
e levando à LPIV [19]. ativas que, em contato com tecidos vivos, podem causar danos
oxidativos em muitos deles, alterando a estrutura e função de
Biotrauma proteínas, lipídeos e DNA [21]. Tais radicais são dismutados
pelos sistemas antioxidantes, que aumentam progressivamen-
A teoria do biotrauma propõe que forças biofísicas alte- te desde a gestação. Conforme já apontado anteriormente,
ram a fisiologia normal das células pulmonares, levando ao em prematuros há um desequilíbrio entre a produção de
aumento local dos níveis de mediadores inflamatórios [9,16]. oxirradicais e os sistemas antioxidantes, estando este último
O processo inflamatório é desencadeado pela liberação de em desvantagem. A consequência dessa inefetividade dos
mediadores pró-inflamatórios, em nível local e sistêmico, sistemas antioxidantes é a alteração da estrutura molecular
mediante a aplicação de forças mecânicas nos pulmões pela do tecido pulmonar e recrutamento de polimorfonucleares
ventilação mecânica, sem a ocorrência de lesão celular estru- pulmonares, desencadeando um processo inflamatório. As
tural prévia aparente [16,20]. citocinas decorrentes do processo inflamatório desencadeado
A liberação de tais mediadores está associada à conver- favorecem a formação de radicais livres e acentuam o estresse
são de um estímulo mecânico em alterações bioquímicas oxidativo [8,23,24].
e moleculares em nível celular e tecidual. A VPM produz Os pulmões estão muito expostos à toxicidade do oxigênio
um estímulo mecânico, o qual ocorre pela hiperdistensão devido a sua interface com a atmosfera[21]. Sendo assim, a
e colabamento cíclicos alveolar e endotelial, gerando forças exposição a elevadas concentrações de oxigênio, e consequente
de tensão, deformação, estiramento e fricção. Essas forças produção de radicais tóxicos, podem saturar o sistema antio-
são convertidas em alterações bioquímicas e moleculares xidante, inibir a síntese de proteínas e de DNA, diminuir a
em nível celular e tecidual. A conversão é denominada síntese de surfactante, induzir ao processo inflamatório e à
Mecanotransdução, e pode ocorrer por meio de três me- lesão alveolar difusa [25], assim como interromper a septação
canismos: canais sensíveis ao estiramento, mudanças na alveolar de pulmões que estão na fase sacular de desenvolvi-
integridade da membrana plasmática e uma troca direta da mento e diminuir o crescimento pulmonar, conforme tem
conformação entre as moléculas associadas à membrana. sido demonstrado em modelos animais [21].
316 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Atualmente, o processo inflamatório deflagrado por to- exposição também são determinantes para a intensidade da
dos esses mecanismos de trauma é considerado o principal agressão e, consequentemente, da LPIV.
fator responsável pela LPIV e pelo desenvolvimento da DBP É difícil determinar quais complicações são inerentes às
[7,13,21]. Os estímulos mecânicos e a toxicidade do oxigê- intervenções em um pulmão extremamente vulnerável, sem
nio induzem à liberação de mediadores inflamatórios para o confundi-las com iatrogenia ou erros de julgamento nas esco-
interstício pulmonar e vias aéreas. Esta reação inflamatória é lhas das práticas pelos profissionais. Há algum tempo fortes
caracterizada por acúmulo de neutrófilos e macrófagos, au- evidências demonstram que as complicações da VPM podem
mento das citocinas e outros mediadores, pela lesão oxidativa e prejudicar a evolução do quadro pulmonar e não-pulmonar
pelo aumento da permeabilidade alveolocapilar. Esse processo de neonatos e lactentes. Os mecanismos mais recentemente
repercute diretamente nas estruturas pulmonares, afetando a identificados e apontados neste artigo são frutos de investiga-
integridade celular [23,26,27]. ções científicas relativamente recentes, porém, contundentes.
Mesmo a mínima exposição ao oxigênio e à ventilação Considerando a complexidade do tema, é extremamente
mecânica pode ser suficiente para contribuir para lesão pul- importante que os profissionais da saúde se apropriem dos
monar [6], que pode se iniciar ainda na sala de parto [28]. conhecimentos referentes à VPM, aos mecanismos de LPIV,
Segundo Monte et al. [22], a resolução do processo infla- aos conhecimentos das especificidades morfofisiológicas e
matório desencadeado pela ventilação mecânica pode seguir funcionais dos recém-nascidos e lactentes e das estratégias
dois caminhos: reparação das estruturas pulmonares com terapêuticas para evitar e/ou minimizar os efeitos deletérios
restauração da função pulmonar normal, ou fibrose, com da VM.
prejuízos na função respiratória. Vários fatores interferem na Finalmente, vale ressaltar que é improvável que interven-
tendência de seguir um ou outro caminho, como a nutrição, ções específicas e individuais tenham impacto positivo no
fatores genéticos, processo inflamatório, sistema antioxidante, desfecho clínico de tais crianças, sendo necessário o cuidado
entre outros. Sweet; Halliday e Warner [21] e Schibler [11], atento e integral de toda a equipe, com a adoção de práticas
entretanto, destacaram que no processo de reparação e re- que, enquanto tratam, protejam o recém-nascido em toda
modelamento observados nos prematuros extremos, a fibrose a sua complexidade. Espera-se que esta discussão estimule
não é tão evidente, mas observa-se um pulmão atípico, com maior reflexão por parte dos profissionais de saúde quanto à
interrupção do desenvolvimento alveolar, deposição anormal importância da mínima exposição dos pulmões prematuros
de elastina e desenvolvimento anormal vascular: a “nova” à VPM, com a implementação de protocolos de estratégias
Displasia Broncopulmonar. Há indicações, portanto, de que a protetoras visando evitar ou minimizar os danos causados pela
LPIV interfere no desenvolvimento anatômico pulmonar nor- ventilação mecânica. Em neonatologia, a ventilação “gentil”,
mal, impedindo o crescimento e desenvolvimento pulmonar. com parâmetros reduzidos e baixas concentrações de oxigê-
nio, é atualmente preconizada [8,12,25,28-30], objetivando
Conclusão promover o suporte ventilatório, minimizar e/ou prevenir
a LPIV e, consequentemente, um melhor desenvolvimento
Atualmente, o processo inflamatório deflagrado por todos pulmonar no neonato prematuro [8,9,31,32].
esses mecanismos de trauma é considerado o principal fator
responsável pela LPIV, e pelo desenvolvimento de relevantes Referências
afecções da atualidade, como DBP no prematuro.
A exposição do pulmão do recém-nascido à VPM e ao 1. Sinha SK, Donn SM. Newer forms of conventional ventilation
oxigênio podem alterar o processo de desenvolvimento for preterm newborns. Acta Paediatr 2008;97(10):1338-43.
pulmonar. Isso acontece porque a ventilação mecânica e 2. Clark RH, Gerstmann DR, Jobe AH, Moffitt ST, Slutsky AS,
Yoder BA. Lung injury in neonates: Causes, strategies for preven-
o oxigênio, embora fundamentais para a sobrevida dessas
tion, and long-term consequences. J Pediatr 2001;139(4):478-
crianças, produzem estímulos mecânicos e bioquímicos di-
86.
versos, já discutidos anteriormente, podendo repercutir em 3. Rotta AT, Steinhorn D M. Ventilação mecânica convencional
lesões, cujas consequências são o desenvolvimento anormal em pediatria. J Pediatr 2007;83(2):S100-108
do pulmão. 4. Jobe AH, Bancalari E. Bronchopulmonary Dysplasia. Am J
Em síntese, os pulmões de crianças, especialmente das Respir Crit Care Med 2001;163:1723-9.
nascidas prematuramente, são extremamente vulneráveis, 5. Greenough A, Premkumar M, Patel D. Ventilatory strategies
e qualquer lesão aguda na fase inicial da vida repercutirá for the extremely premature infant. Paediatric Anesthesia
negativamente no desenvolvimento pulmonar. O processo 2008;18:371-7.
da doença primária impõe a necessidade de suporte respira- 6. Kinsella J, Greenough A, Abman S. Bronchopulmonary dys-
plasia. The Lancet 2006;367:1421-31.
tório e de oxigênio suplementar, infligindo lesões adicionais
7. Miller JD, Carlo WA. Pulmonary complications of mechanical
ao pulmão imaturo. As consequências da VPM serão mais ventilation in neonates. Clin Perinatol 2008;35:273-281.
importantes quanto mais imaturas forem as crianças que 8. Zoban P, Cerný M. Immature lung and acute lung injury.
dela necessitam. A magnitude dos parâmetros e o tempo de Physiol Res 2003;52:507-16.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 317
9. Donn SM, Sinha SK. Minimising ventilator induced lung in- 22. Monte LFV, Silva Filho LVF, Miyoshi MH, Rozov T. Displasia
jury in preterm infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal 2006; Broncopulmonar. J Pediatr 2005; 81:99-110.
91:226-30. 23. Nascimento SD. Displasia Broncopulmonar. In: Kopelman
10. Moss TJM. Respiratory Consequences of Preterm Birth. Clin BI, Santos AMN, Goulart AL, Almeida MFB, Miyoshi MH,
Exp Pharmacol Physiol 2006;33:280-4. Guinsburg R. Diagnóstico e tratamento em neonatologia. São
11. Schibler A. Physiological consequences of early-life insult. Paulo: Editora Atheneu; 2004. p.115-26.
Paediatr Respir Rev 2006;7(2):103-9. 24. Saugstad OD. Bronchopulmonary dysplasia-oxidative stress and
12. Ambalavanan N, Carlo WA. Lung-protective ventilation strate- antioxidants. Semin Neonatol 2003;8(1):39-49.
gies in neonatology. Semin Perinatol 2006;30(4):192-9. 25. Suguihara C, Lessa AC. Prevenção da lesão pulmonar no pre-
13. Attar MA, Donn SM. Mechanisms of ventilator-induced lung maturo extremo. J Pediatr 2005; 81(1):S69-S78.
injury in premature infants. Semin Neonatol 2002;7:353-60. 26. Lukkarinen HP, Laine J, Kaapa PO. Lung Epithelial Cells Un-
14. Donn SM, Sinha SK. Can mechanical ventilation strategies dergo Apoptosis in Neonatal Respiratory Distress Syndrome.
reduce chronic lung disease? Semin Neonatol 2003;8(6):441-8. Pediatric Research 2003; 53(2):254-9.
15. Christou H, Brodsky D. Lung Injury and Bronchopulmo- 27. Speer CP. Inflammation and bronchopulmonary dysplasia.
nary Dysplasia in Newborn Infants. J Intensive Care Med Semin Neonatol 2003;8:29-38.
2005;20(2):76-87. 28. Eichenwald EC, Stark AR. Management and Outcomes of Very
16. Santos CC, Slutsky AS. The contribution of biophysical lun- Low Birth Weight. N Engl J Med 2008; 358:1700-11.
ginjury to the development of biotrauma. Annu Rev Physiol 29. Viana MEG, Sargentelli GA, Arruda ALM, Wiryawan B, Rotta
2006;68:585-618. AT. O impacto de estratégias de ventilação mecânica que mi-
17. Slutsky A. Ventilator-induced lung injury: from barotrauma to nimizam o atelectrauma em um modelo experimental de lesão
biotrauma. Respir Care 2005; 50(5):646-59. pulmonar aguda. J Pediatr 2004; 80(3):189-96.
18. Ingimarsson J, Björklund LJ, Curstedt T, Gudmundsson S, 30. Birenbaum HJ, Dentry A, Cirelli J, Helou S, Pane MA, Starr K,
Larsson A, Robertson B, et al. Incomplete protection by pro- et al. Reduction in the Incidence of Chronic Lung Disease in
phylactic surfactant against the adverse effects of large lung Very Low Birth Weight Infants: Results of a Quality Improve-
inflations at birth in immature lambs. Intensive Care Med ment Process in a Tertiary Level Neonatal Intensive Care Unit.
2004;30(7):1446-53. Pediatrics 2009;123(1):44-50.
19. Garcia CSB, Abreu S, Lassance R, et al. Mechanical stress caused 31. Payne NR, LaCorte M, Karna P, Chen S, Finkelsteim M, Gol-
by high inspiratory airflow in normal lungs. Proc Am Thorac dsmith JP, et al. Reduction of Bronchopulmonary Dysplasia
Soc 2006;3:378. After Participation in the Breathsavers Group of the Vermont
20. Ventrice EA, Marti-Sistac O, Gonzalvo R, Villagrá A, López- Oxford Network Neonatal Intensive Care Quality Improvement
-Aguilar J, Blanch L. Mecanismos biofísicos, celulares y modula- Collaborative. Pediatrics 2006; 118:S73-S77.
ción de la lesión pulmonar inducida por la ventilación mecánica. 32. Burch K, Rhine W, Baker R, Litman F, Kaempf JW, Schwarz
Med Intensiva 2007;31(2):73-82 E, et al. Implementing Potentialy Better Practices to Reduce
21. Sweet DG, Halliday HL, Warner JA. Airway remodelling in Lung Injury in Neonates. Pediatrics 2003;111(4):e432-e436
chronic lung disease of prematurity. Paediatr Respir Rev 2002;
3:140-6.
318 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Agradecimentos • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
Referências • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na • Telefones de contato do autor correspondente.
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
antes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
e-mail com o envio do artigo). cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor ex- para sua adequada formatação.
ecutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Atlantica Editora - artigos@atlanticaeditora.com.br
320 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013
Agenda
2013 Dezembro
Outubro 6 a 8 de dezembro
1º Congresso Internacional sobre Saúde da Pessoa com
13 a 16 de outubro Deficiência
Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO) Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília, DF
Florianópolis, SC Informações: www.cispod.com.br/
Informações: http://cbto2013.com.br
16 a 19 de outubro 2014
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Fortaleza, CE 13 a 15 de fevereiro
Informações: www.jzkenes.cpm VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato-
funcional
Belo Horizonte, MG
Novembro
Informações: http://dermatofuncional2014.com.br
14 a 17 de novembro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de 21 a 23 de fevereiro
Fisioterapia Esportiva - SONAFE XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Londrina, PR
Informações: www.sonafe.org.br Informações: http://posturologiaclinica.com.br
14 a 16 de novembro
45° CBOT - Congresso Brasileiro de Ortopedia e Abril
Traumatologia 30 de abril a 3 de maio
Universidade Positivo Curitiba, PR VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Informações: http://www.cbot2013.com.br III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
14 a 16 de novembro João Pessoa, PB
II Congresso Nordestino de Fisioterapia Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva congresso/
- II CONEFIR
Hotel Praiamar, Natal, RN
Informações: www.assobrafir.com.br
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
Centro 01037-010 São Paulo SP Cristiana Ribas
Administração e vendas cristiana@atlanticaeditora.com.br
Atendimento Antonio Carlos Mello Diretor de Marketing e Publicidade
(11) 3361 5595 / 3361 9932 mello@atlanticaeditora.com.br Rainner Penteado
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br rainner@atlanticaeditora.com.br
Editor executivo
Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 jeanlouis@atlanticaeditora.com.br release@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
EDITORIAL
Sobre leituras, Marco Antonio Guimarães da Silva...................................................................................................................... 326
ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos da fisioterapia aquática na qualidade de vida de idosas, Alecsandra Pinheiro Vendrusculo,
Géssica Bordin Viera, Carla Simone Pessota Ribeiro, Anyelle Fabres Alvares da Cunha,
Luana de Barros Munhoz, Cadi Caroline da Rocha Tassinari, Eliane Leão Witte.......................................................................... 327
Análise comparativa da marcha com três joelhos protéticos diferentes, em amputado transfemoral
esquerdo, Jaqueline Stançani, Lara Ponce da Silva, Ana Beatriz de Lima Poloni Teixeira,
Ana Paula do Prado Marques Ferreira, Cleber Ricardo Cavalheiro, Luis Henrique Simionato,
Geraldo Marco Rosa Junior, Carlos Henrique Fachin Bortoluci................................................................................................... 331
Aplicação de um programa de exercício físico em gestantes diabéticas, Leila Simone Foerster Merey,
Cassia Fernandes Marques, Danielle Chadid Warpechowski, Hérica Maiara de Matos, Taisa Guimarães...................................... 338
Mochila escolar: investigação quanto ao peso carregado pelas crianças, Amabile Vessoni Arias,
Andréia Cristina de Oliveira Silva, Mayara Costa de Camargo..................................................................................................... 376
REVISÕES
Abordagem cinesioterapêutica na disfunção do músculo tibial posterior,
Patricia Parizotto, Daniela Parizotto, Sergio Guida, Julio Guilherme Silva.................................................................................... 388
NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................398
EVENTOS..........................................................................................................................................................................400
326 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Editorial
Sobre leituras
“Quando lemos uma boa obra de ficção, descobrimos reflexões ouvintes da França e da Alemanha não seria a mesma que a
nossas que havíamos desprezado; verdades e mentiras que havíamos do meu público daqui do Brasil. Isto, porque lá fora sabiam
omitido e um mundo de sentimentos que havíamos desdenhados, e que eu era alguém egresso da área da saúde, que começava a
que agora descobrimos com a leitura que fazemos”. invadir a área literária. Diante deles, fisioterapeutas brasileiros,
M. Proust não haveria espaços para equívocos, já que dediquei 35 anos
de minha carreira à investigação dentro dessa área. Desafio
Depois que me aposentei da UFRRJ, deixei de lado a vida aceito, lembrei-me, para resolver a situação, de um conselho
acadêmica e passei a escrever romances. Tinha prometido a que dava aos meus orientandos de doutorado: se querem
mim mesmo, e espalhado aos quatro cantos, que o divorcio fazer uma boa pesquisa, aprendam a fazer uma boa pergunta.
que acabara de decretar com a academia seria definitivo. Elaborei então duas perguntas: Porque que o fisioterapeuta
Nada de aceitar convites para julgar teses de mestrado ou lê pouco? e, Será que o fisioterapeuta lê muito? A aparente
doutorado, nada de aceitar convites para dar conferências ou contradição entre as perguntas dissipou-se no momento em
para participar em mesas de congressos científicos. Deveria, que expliquei que o fisioterapeuta lia pouco (como todo o
entretanto, ter pensado duas vezes antes de fazer a tal pro- brasileiro) a literatura ficcional e lia muito a literatura cientí-
messa, porque, neste segundo semestre, abri exceções e acabei fica (movido pela constante necessidade de se atualizar). Essas
participando de dois grandes acontecimentos da fisioterapia. escritas cientÍficas, normalmente, demonstram uma tese para
Um deles, promovido pelo Conselho Regional de Fisioterapia, resolver o problema; elas não representam a vida em toda
ocorrido no Rio de Janeiro, e o outro, sob os auspícios da a sua incoerência, como o fazem as escritas criativas. Essas
Associação de Fisioterapia Brasileira, em Porto Alegre (20º escritas criativas, característica da literatura ficcional, pedem
Congresso Brasileiro de Fisioterapia). Diga-se, de passagem, aos seus leitores que experimentem uma solução. Não há nesse
com excelentes organizações. tipo de literatura uma fórmula precisa. E aqui poderia estar a
Em ambos os eventos, abordei, com um viés diferente, a relação entre a literatura ficcional e as atividades educacionais
ambiência relacional entre a literatura ficcional, a educação e e investigativas em fisioterapia; a de levar o leitor a quebrar a
a pesquisa em Fisioterapia. Disse, ao começar a minha con- barreira do mundo em que vive, penetrar no mundo imagi-
ferência, que, ao aceitar o convite que me haviam feito, eu nado pelo autor e, uma vez ali, gerar em si próprio um campo
sabia que estaria diante do maior desafio que jamais enfrentara reflexivo. Esse campo reflexivo o ajudaria a fugir do sistema
na minha vida acadêmica. Desafio maior do que aquele que educacional a que fora submetido durante a sua formação,
enfrentei quando fui convidado para fazer uma leitura de um o qual espera que o aluno repita ipsis litteris em suas provas
dos meus romances, e falar sobre literatura, para duas grandes tudo que é dito em sala de aula pelo professor.
instituições de ensino europeias: a Universidade Paris IV/ Não tenho dúvidas de que muitos problemas observados
Sorbonne (Paris) e a Universidade de Aachen (Alemanha). no campo da pesquisa científica relacionam-se à falta de
Expliquei, à época, que a indulgência que teriam os meus leitura ficcional.
Artigo original
Resumo Abstract
O envelhecimento pode ser entendido como um conjunto de Aging process can be understood as the accumulation of structu-
alterações estruturais e funcionais inadequado ao organismo que ral and functional changes of the body, in consequence of advancing
se acumulam de forma progressiva, especificamente em função do age. Quality of life is a factor directly linked to that context and
avanço da idade. A qualidade de vida é um fator diretamente ligado responsible for increasing or decreasing longevity of the population.
a esse contexto, sendo um dos responsáveis pelo aumento ou pelo In order to improve quality to the therapy group, the use of water
decréscimo na longevidade da população. Como forma de agregar has shown to be an excellent way to achieve safe and effective en-
qualidade ao grupo terapêutico, a utilização da água tem se mos- vironment. Thus, the objective of this research was to analyze the
trado um excelente meio para se alcançar objetivos contando com influence of a program of aquatic physical therapy on quality of
um ambiente seguro e efetivo. Desta forma, o objetivo da presente life in sedentary older adults. The sample consisted of 27 elderly
pesquisa foi analisar a influência de um programa de fisioterapia women, aged between 60 and 80 years, in Santa Maria, RS. They
aquática na qualidade de vida de idosas sedentárias. A amostra foi were asked to answer a questionnaire on quality of life developed by
composta por 27 idosas, com idade entre 60 e 80 anos, residentes na the WHO (WHOQOL-100). According to the questionnaire on
cidade de Santa Maria, RS, as quais foram solicitadas a responder o this study, we observed that 74.7% were satisfied with their quality
questionário sobre qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). of life. The results make evident that aquatic therapy programs have
De acordo com a aplicação do questionário no estudo realizado, ob- many benefits for elder people, highlighting the increase in quality
servou-se que 74,7% das 27 mulheres entrevistadas estão satisfeitas of life, including leisure, health, social life, work, and all activities
com sua qualidade de vida. Com os resultados obtidos, confirmou-se that give them pleasure daily.
que a prática de fisioterapia aquática traz muitos benefícios para a Key-words: aquatic therapy, quality of life, elderly.
população idosa, destacando o aumento na qualidade de vida, seja
no lazer, na saúde, no convívio social, no trabalho, e em todas as
atividades que tragam prazer para seu dia-dia.
Palavras-chave: fisioterapia aquática, qualidade de vida, idosas.
Resultados e discussão nefícios nos componentes da aptidão física [22]. Entre tais
benefícios estão as melhorias no condicionamento cardior-
A qualidade de vida na idade madura excede, entretanto, respiratório, na composição corporal, no aumento dos níveis
os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como de força [23].
um empreendimento de caráter sociocultural. Ou seja, uma A hidroterapia é um recurso fisioterapêutico que utiliza
velhice satisfatória não é um atributo do indivíduo biológico, os efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos advindos da
psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação imersão do corpo em piscina aquecida como recurso auxiliar
entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em da reabilitação ou prevenção de alterações funcionais. As
mudanças. Corresponde, também, ao grau de satisfação propriedades físicas e o aquecimento da água desempenham
encontrado na vida familiar, sentimental, social, ambiental um papel importante na melhoria e na manutenção da am-
e na própria existência. É expressão de muitos significados plitude de movimento das articulações, na redução da tensão
que abrange e reflete conhecimentos, experiências e valores muscular e no relaxamento [24].
na vida do indivíduo [14]. De acordo com a aplicação do questionário (Tabela I) no
A falta de atividade física, aliada ou não com a perma- estudo realizado, observou-se que 74,7% das 27 mulheres
nência prolongada na postura sentada, é uma das causas dos entrevistadas estão satisfeitas com sua qualidade de vida.
encurtamentos musculares que se manifesta com a diminuição Associando ao fato de que 81,48% não se sentem sozinhas,
de ADM, presença de dor, formigamento e desenvolvimento nem incomodadas com sua vida sexual; 70,37% sentem-se
de contraturas [15]. bastante seguras consequentemente não se sentem inibidas
Como recurso da fisioterapia, a hidroterapia não visa pela sua aparência, com isso 62,96% relatam sempre estarem
somente à manutenção do trabalho corporal, mas também contentes.
ajuda as que não possuem hábito de se exercitar, oferecendo Ter qualidade de vida é ter um bom convívio social
conforto e segurança a seu corpo [16]. com todos, particularmente com vizinhos e amigos; um
Dentre as muitas formas de prática de exercícios dis- bom relacionamento familiar, incluindo uma boa criação
poníveis para a corporeidade idosa, a hidroterapia vem se e educação dos filhos e netos; capacidade para estabelecer
destacando e conquistando um número cada vez maior de contato com as pessoas e fazer novas amizades. É dispor de
adeptos. Os efeitos estão relacionados a alívio da dor, dimi- tranquilidade, bom humor e sentir-se satisfeito com a vida,
nuição dos espasmos, relaxamento muscular, aumento da atributos relativos à saúde mental que ajudam as pessoas a se
amplitude de movimento, aumento da circulação sanguínea, manterem fortalecidas no enfrentamento das atividades diárias
fortalecimento muscular, aumento da resistência muscular e e dos desafios impostos pela vivência [25].
melhora na autoestima [17]. Com relação ao convívio social 62,96% contam e conse-
Nos últimos dez anos a popularidade dos exercícios aquá- guem o apoio dos amigos quando necessitam e estão muito
ticos com o propósito, entre outros, de melhorar o sistema felizes com suas relações familiares, o que faz tornarem-se
cardiovascular tem aumentado significativamente e grande mais ativos o que consequentemente possibilita uma melhor
parcela de praticantes desse tipo de atividade é constituída qualidade de vida.
de pessoas idosas [18]. Além de uma boa qualidade de vida e um bom conví-
Os efeitos da hidroterapia baseiam-se no desenvolvimento, vio social, o trabalho na população idosa vem crescendo e
melhora da restauração e manutenção da força, da resistência tornando esta população mais ativa e com mais responsa-
à fadiga, da mobilidade e flexibilidade, do relaxamento e da bilidades [26].
coordenação motora [19]. Trabalho nos ocupa de modo construtivo, estimula nossa
A diminuição do impacto articular, durante atividades criatividade e facilita nossa evolução da sociedade, é fonte
físicas, induzida pela flutuação, causa redução da sensibilidade de prazer, da mesma forma que o lazer, do qual se distingue
à dor, diminuição da compressão nas articulações doloridas, apenas por implicar responsabilidades maiores [27].
maior liberdade de movimento e diminuição do espasmo Na pesquisa realizada foram feitas perguntas sobre a
doloroso. O efeito de flutuação auxilia o movimento das saúde dos idosos como: se estavam satisfeitos com o serviço
articulações rígidas em amplitudes maiores com um aumento social, 74,07% relataram estar satisfeitas, e se tinham acesso
mínimo de dor [20]. facilmente a bons cuidados médicos, 70,37% referiram ter
Os exercícios realizados na água favorecem a reabilitação, bastante cuidado médico. Dessa maneira, vimos que para
pois os efeitos proporcionam melhor facilidade para se mo- esses idosos a saúde e muito evidenciada, pois a maioria se
vimentar. Portanto durante a imersão, a água exerce pressão preocupa e procura manter hábitos saudáveis.
sobre o corpo. Um efeito importante desse aumento de pres- A maioria da população também não vê empecilhos para o
são acontece no sistema de retorno venoso, que é sensível a cuidado com a saúde, pois relatam que sempre procuram aten-
diferenças de pressão externa [21]. dimento quando necessitam mesmo aqueles que dependem
A prática de exercícios aquáticos está sendo cada vez mais de transporte público, 81,48% relataram não ter problemas
indicada, visto que têm sido comprovados seus diversos be- em relação ao transporte.
330 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
No estudo realizado verificou-se que juntamente com a 6. Mejía BEB, Merchán MEP. Calidad de vida relacionada con la
saúde as questões religiosas são importantes para esta população, salud (CVRS) en adultos mayores de 60 años: una aproximación
pois muitos relataram que para ter boa saúde, além de cuidados teórica. Hacia Promoc Salud 2007;12-11-24.
7. Kisner C, Colby L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
médicos, é necessário crenças pessoais e acreditar em Deus.
técnicas. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2005.
Cada vez mais a fé e a religiosidade estão presentes na vida 8. Gomes MCSM, Garcia RR. Comparação entre o tratamento no
desses indivíduos, 51,85% acreditam que suas crenças pessoais solo e na hidroterapia para pacientes com osteoporose: revisão de
lhe dão forças para enfrentar suas dificuldades, levando sua literatura. Revista Brasileira de Ciências da Saúde 2006;7(3):45-55.
vida a ter mais sentido. 9. McNeal R. Reabilitação Aquática de Pacientes com Doença
A religiosidade e crenças na vida adulta são as teorias do Reumática. In: Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação
desenvolvimento, da fé ou do sentimento religioso. Pressupõe- aquática. São Paulo: Manole; 2000.
10. Ide MR, Caromano FA, Dip MAV, Guerino MR. Expansibili-
-se que o desenvolvimento religioso deve levar a maturidade
dade torácica de idosos: Exercícios aquáticos e solo: exercícios
religiosa, e as teorias tendem a situar a aquisição dessa matu- respiratórios. Fisioter Mov 2007;20(2):33-40.
ridade nos anos de vida adulta [28]. 11. Barbosa AD. Avaliação fisioterapêutica aquática. Fisioter Mov
2006;19(2):135-47.
Tabela I - Valores percentuais das repostas do questionário de qua- 12. Gomes WF. Impacto de um programa estruturado de fisioterapia
lidade de vida WHOQOL-100. aquática em idosas com osteoartrite de joelho [Dissertação].
Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Escola
Satisfeitas com a qualidade de vida 74,7%
de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional; 2007.
Não sentem-se sozinhas e nem incomodadas com 81,48% 13. Fleck MPA. O instrumento de avaliação de qualidade de vida
a vida sexual da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100): carac-
Sentem-se seguras 70,37% terísticas e perspectivas. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(1):33-8.
Sentem-se contentes 62,96% 14. Assis MR, Silva LE, Alves AMB, Pessanha AP. A randomized control-
Refere apoio dos amigos 62,96% led trial of deep-water running: clinical effectiveness of aquatic exercise
Sentem-se satisfeitas com a capacidade de trabalho 51,85% to treat fibromyalgia. Arthritis & Rheumatism 2006;55(1):57-65.
15. Ressende SM, Rassi CM, Viana FP. Efeitos da hidroterapia na
Sentem-se capazes para realizar suas tarefas 59,25%
recuperação do equilíbrio e prevenção de quedas em idosas. Rev
Sentem-se satisfeitas com a capacidade de adquirir 66,66% Bras Fisioter 2008;12(1):57-63.
novas informações 16. Santos BRM, Rossinoli C, Costa ACS. Importância da hidrote-
Relatam ter bons acessos a cuidados médicos 74,07% rapia na qualidade de vida da gestante. III Encontro Científico
Relatam ter cuidados médicos 70,37% e Simpósio de Educação Unisalesiano 2011; p. 2-3.
Relatam não ter problemas com o transporte 81,48% 17. Oliveira CFP, Barros DJM, Araújo FAB. A incidência de dores
Relatam acreditar em crenças 51,85% musculoesqueléticas na gestação [Monografia]. Araçatuba:
Unisalesiano; 2010.
18. Soares MP. Hidroterapia no tratamento da osteoporose. Rio de
Conclusão Janeiro: Sprint; 1999.
19. Darby L, Yaekle B. Physiological responses during two types
Confirmou-se, portanto, que a prática de fisioterapia aquá- of exercise performed on land and in water. J Sports Med Phys
tica traz muitos benefícios para a população idosa, destacando Fitness 2000;40(4):303-11.
o aumento na qualidade de vida, seja no lazer, na saúde, no 20. Tovin BJ. Comparison of the effects of exercise in water and on
convívio social, no trabalho, e em todas as atividades que land on the rehabilitation of patients with intra-articular anterior
tragam prazer para seu dia-dia. Essa população encontra-se cruciate ligament reconstructions. Phis Ther 1994;74:710-9.
21. Takeshima N. Water-based exercise improves health-related
cada vez mais ativa e pronta para novas atividades, desafios, aspects of fitness in older women. Med Sci Sports Exerc
informações e responsabilidades, resultando assim em idosos 2002;33:544-51.
confiantes e com maior perspectiva de vida. 22. Ruoti RG, Troup JT, Berger RA. The effects of nonswimming
water exercises on older adults. J Orthop Sports Phys Ther
Referências 1994;19(3):140-5.
23. Poyhonen T. Effects of aquatic resistance training on neuro-
1. A velhice segundo a OMS começa aos 65 anos. [citado 2009 Nov muscular performance in healthy women. Med Sci Sports Exerc
11]. Disponível em: URL: http://estatutodoidoso.blogspot.com.br 2002;34:2103-9.
2. Ribeiro PB, Alves PB, Meira EP. Percepção dos idosos sobre as 24. Caromano FA, Candeloro JM. Fundamentos da hidroterapia
alterações fisiológicas do envelhecimento. Ciência, Cuidado e para idosos. Arq Ciências Saúde Unipar 2001;5(2):187-95.
Saúde 2009;8(2):220-7. 25. Dalla Vecchia R. Qualidade de vida na terceira idade: um con-
3. Trindades RB, Rodrigues GM. Exercício de resistência muscular ceito subjetivo. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):246-52.
e osteoporose em idosos. Revista Mackenzie de Educação Física 26. Gikovate F. Os sentidos da vida. Uma pausa para pensar. São
e Esporte 2007;6(3):79-86. Paulo: Moderna; 2004.
4. Filho WJ, Gorzoni ML. Geriatria e Gerontologia. O que todos 27. Neri AL. Qualidade de vida e idade madura. São Paulo: Papirus;
devem saber. São Paulo: Roca; 2008. 2003.
5. Lima MG. Health related quality of life among the elderly: a 28. Krause N. Longitudinal study of social support and meaning
population-based study using SF-36 survey. Cad Saúde Pública in life. Psychol Aging 2007;22(3):456-69.
2009;25(10):2159-67.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 331
Artigo original
*Universidade do Sagrado Coração – USC, Bauru, **Hospital Estadual de Bauru – HEB,***Professor do Curso de Fisioterapia da
Universidade do Sagrado Coração – USC, Bauru
Resumo Abstract
O termo amputação é a retirada total ou parcial de um membro. The term amputation is the partial or total removal of a limb. The
A amputação transfemoral refere-se a amputações realizadas entre transfemoral amputation refers to amputation performed between
a desarticulação do joelho e a do quadril. O Instituto Nacional do the dislocation of the knee and hip. The National Social Security
Seguro Social (INSS) reabilita profissionalmente os beneficiários Institute (INSS) professionally rehabilitates disabled beneficiaries,
incapacitados para sua atividade profissional, como aqueles com returning to their professional activity, for example, those with
sequelas de amputação. Os joelhos protéticos proporcionam es- sequelae of amputation. The prosthetic knees provide stability in
tabilidade na fase de apoio e controle na fase de balanço durante the stance phase and control in the swing phase during gait. The
a marcha. O objetivo foi analisar comparativamente a marcha em objective was to analyze gait of a patient with left transfemoral
paciente amputado transfemoral esquerdo, utilizando três joelhos amputation using three different prosthetic knees (rotary hidraulic,
protéticos diferentes (hidráulico rotativo, hidráulico monocêntrico hydraulic and monocentric microprocessor). Helen Hayes markers
e microprocessado). Foram afixados marcadores no paciente pelo set were used, after the patient walked a determined path to cap-
posicionamento Helen Hayes, depois o mesmo deambulou um trajeto ture the movements, with the three knees, so the kinematic and
determinado para a captura dos movimentos, com os três joelhos observational analysis could be performed. The evaluation showed
propostos, para análises cinemática e observacional. A avaliação observational gait characteristics with the three knees very similar.
observacional mostrou características da marcha com os três joelhos Was observed in the kinematic analysis parameters of spatiotemporal
muito parecidas. Observou-se, na análise cinemática, parâmetros gait with smaller values than the references in the three knees, in con-
espaços-temporais com valores menores que os referenciais nos três sequence of lack of security of the knee amputation prosthesis. The
joelhos, pela falta de segurança do indivíduo amputado no joelho microprocessor knee showed a larger number of parameters in the
protético. O joelho microprocessado apresentou um número maior two limbs due to ease alignment and adjustment. It was concluded
de parâmetros iguais nos dois membros devido à sua facilidade no that the microprocessor knee is the most suitable for this patient.
alinhamento e regulagem. Concluiu-se que o joelho microprocessado Key-words: amputees, prosthetic knee, prosthesis.
é o mais indicado para este paciente.
Palavras-chave: amputados, joelhos protéticos, prótese.
As próteses atuais contribuem para o aperfeiçoamento da rotativo hidráulico, na sequência com o joelho hidráulico
marcha do amputado e, apesar da contribuição cada vez mais monocêntrico e a análise final com o joelho microprocessado.
positiva dos materiais protéticos, as implicações da força de Após o exame físico e antropométrico, foram afixados os
reação do solo, da aceleração e dos impactos repetidamente marcadores no paciente por meio do sistema de colocação
aplicados no aparelho locomotor refletem em sobrecarga Helen Hayes, e o mesmo realizou um trajeto de marcha em
articular [9]. uma pista de 7 metros de comprimento, na qual através de 8
O objetivo deste trabalho foi analisar comparativamente câmeras digitais Hawk foi realizada a captura dos movimentos
a marcha de um paciente amputado de membro inferior para análise cinemática, que avalia as características espaço-
nível transfemoral utilizando três tipos de joelhos protéticos -temporais da marcha, descrevendo os aspectos quantitativos
diferentes, para observar e compreender se há diferenças sig- do padrão do movimento. Por meio de 2 câmeras de vídeo
nificativas durante a deambulação, levando em consideração a Sony foi realizada a captura das imagens para a análise ob-
tecnologia de cada joelho protético, visto que com o avanço da servacional, que analisa qualitativamente as características
mesma, as próteses estão se tornando cada vez mais próximas de marcha.
ao fisiológico, dependendo, é claro, da evolução e adaptação Na sequência, foi realizada uma edição de vídeo por meio
de cada paciente. do editor de vídeo Magic Edit, possibilitando a análise ob-
servacional dos segmentos tornozelo, joelho e quadril, com o
Material e métodos objetivo de determinar as características da marcha.
Os parâmetros quantitativos relacionados à captura cine-
Este trabalho foi avaliado e aprovado pelo comitê de ética mática avaliados foram: comprimento de passo, comprimento
e pesquisa da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da de passada, velocidade da marcha, cadência, tempo de apoio,
Universidade Sagrado Coração (USC), protocolo número fase de balaço, duplo apoio inicial, apoio simples, largura
211/10. passo, estes sendo obtidos pelo software Motion Analysis,
O sujeito deste trabalho foi um paciente do sexo masculi- no qual o programa Evart 5.0 capta a marcha, para depois o
no, 28 anos, amputado transfemoral esquerdo, terço médio, programa Orthotrak 6.5 Gait Analysis Software processar tais
tendo sido protetizado há 10 anos, reabilitado no setor de informações e gerar os gráficos e planilhas para a obtenção
Reabilitação Profissional – INSS, Bauru. Utiliza prótese dos resultados.
transfemoral modular, com encaixe tipo anatômico flexível Com a avaliação dos resultados foi feita a análise da marcha
com reforço externo em fibra de carbono e pé com resposta com os três joelhos propostos.
dinâmica através de lâmina de carbono.
O sujeito foi selecionado para esta pesquisa, pois apresen- Resultados e discussão
tava a condição ideal de inclusão: que foi ter experiência com
os três tipos de joelhos analisados. Análise observacional
Neste estudo foram avaliadas e comparadas as variáveis
encontradas durante a análise de marcha de um paciente Durante a análise observacional da marcha do paciente,
amputado transfemoral esquerdo utilizando 03 diferentes realizada com os três joelhos protéticos diferentes, foi possível
joelhos protéticos: hidráulico monocêntrico (prótese 1), joe- observar características e padrões de marcha, comuns aos três,
lho hidráulico rotativo (prótese 2) e joelho microprocessado descritos no parágrafo abaixo.
(prótese 3). O paciente apresentava marcha independente, com estabi-
lidade no apoio e largura do passo discretamente aumentada.
Procedimento Isto ocorre em função de uma base de marcha maior, acompa-
nhada pelos inevitáveis desvios, caracterizados pela oscilação
Após a apresentação do projeto e solicitação à gerência do demasiada da pelve para os lados e por uma tendência de
INSS-Bauru para realização deste trabalho, foi apresentado inclinar a coluna lombar lateralmente, de modo a posicionar
ao paciente o termo de consentimento explicando o objetivo o tronco mais diretamente sobre a prótese [10].
e solicitando a sua aprovação. Na fase seguinte foi realizado, O contato inicial ocorre com o toque do calcanhar e na
durante três meses, o treinamento pós-protético com o pa- resposta à carga realiza apoio plantígrado bilateralmente. O
ciente na clínica de Fisioterapia da USC para adaptação à avanço da perna sobre o pé durante a resposta à carga e apoio
prótese com joelho microprocessado. simples é normal bilateralmente. No médio apoio ocorre ele-
A etapa, de avaliação da marcha, foi discutida e planejada vação precoce do calcanhar do solo do membro contralateral
com os profissionais do setor de reabilitação, e também solici- a prótese. O primeiro, segundo e terceiro mecanismo de rola-
tada à permissão para realização deste projeto junto à comissão mento estão adequados bilateralmente. Essas observações são
de Ética e Pesquisa do Hospital Estadual de Bauru (HEB). idênticas na marcha com os três joelhos, sendo relacionadas
No laboratório de marcha do HEB, foi avaliada a marcha do com a ocorrência das forças verticais do membro amputado
paciente utilizando a sua prótese modular habitual com joelho que são aplicadas pelo calcanhar em contato com a fase de
334 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
apoio, que ocorre mais cedo no paciente amputado para poder durante o apoio simples do membro inferior esquerdo, para
transferir o peso e manter a postura ereta natural [5]. que ocorra o bloqueio do joelho protético, procedimento
No joelho hidráulico monocêntrico (prótese 1), a flexão utilizado em todos os tipos de joelhos protéticos.
plantar no pré-balanço é diminuída a direita e não existe à Há reciprocação dos membros superiores normal nas três
esquerda, pois o eixo do tornozelo da prótese é fixo. observações realizadas.
Nos joelhos hidráulico rotativo (prótese 2) e microproces-
sado (prótese 3), a flexão plantar no pré-balanço é diminuída Análise cinemática
bilateralmente com uma acentuação à esquerda. O desprendi-
mento do calcanhar do solo ocorre adequadamente no apoio Os valores quantitativos abaixo dizem respeito à análise
terminal em ambos os lados. cinemática da marcha realizada pelo paciente com três joelhos
Na progressão do pé durante a utilização de qualquer um protéticos diferentes.
dos três joelhos protéticos é observado que o apoio é realizado Na observação da Tabela I, nota-se que os parâmetros da
em rotação externa bilateral. No balanço há manutenção do velocidade nas três próteses são menores tanto do lado direito
ângulo de progressão do pé no membro inferior esquerdo em quanto do esquerdo em relação aos parâmetros referenciais,
função de não existir a articulação com eixo móvel entre o pé porém, o tempo de apoio do membro direito é maior em
protético e a perna. relação ao esquerdo, pois a manutenção de seu apoio é maior
Nas próteses 1 e 2, no contato inicial o joelho apresenta que o joelho protético em função da maior segurança que
flexão adequada à direita e discreta hiperextensão à esquerda, o paciente sente neste lado. Com isso a fase de balanço se
pois o pé está alinhado em flexão plantar dando esta im- apresenta maior no lado esquerdo.
pressão. Há extensão adequada no apoio simples à direita e O duplo apoio é mantido por mais tempo se comparado
mantém hiperextensão no apoio simples à esquerda. com os parâmetros de referência, pois é o momento em que
Na prótese 1, no pré-balanço há flexão de joelho adequa- o indivíduo sente mais segurança no apoio e pode diminuir
da bilateralmente. Na fase de balanço a flexão é adequada suas exigências de atividades.
bilateralmente. No balanço terminal há extensão apropriada O apoio simples ocorre mais rapidamente tanto no lado
em ambos os lados. esquerdo quanto no direito se comparado com os parâmetros
Na prótese 2, no pré-balanço há flexão de joelho ade- de referência também em função da falta de confiança na
quada bilateralmente. Na fase de balanço é observada flexão estabilidade do joelho protético.
discretamente aumentada à direita e diminuída à esquerda. Com relação à largura de passo, assim como já foi men-
No balanço terminal há extensão apropriada bilateralmente. cionado na análise observacional, é possível observar que nas
Na prótese 3, no contato inicial o joelho apresenta fle- três próteses seu valor é maior que o da referência, pois existe
xão adequada à direita e extensão à esquerda. Há extensão uma sensação de desequilíbrio proporcionada pelos joelhos
adequada no apoio simples à direita e mantém a extensão protéticos, e com o aumento desse parâmetro, o equilíbrio
no apoio simples à esquerda. No pré-balanço há flexão ade- é melhor.
quada bilateralmente. Na fase de balanço é observada flexão Na Tabela II valores positivos desse desvio significam que
discretamente aumentada à direita e adequada à esquerda. o valor relativo ao joelho esquerdo é maior que o do joelho
No balanço terminal há extensão apropriada bilateralmente. direito, e valores negativos significam que o valor do joelho
No contato inicial o quadril apresenta flexão adequada esquerdo é menor que o do joelho direito. Este desvio per-
bilateralmente. No apoio terminal há extensão completa em centual serve para uma análise mais direta da diferença dos
ambos os lados. No balanço a flexão é apropriada bilateral- parâmetros de marcha para cada perna, com os três tipos de
mente. A coxa apresenta posição neutra quanto às rotações joelhos protéticos.
durante todo o ciclo em ambos os lados na observação da Analisando a Tabela II, observa-se que o joelho hidráulico
marcha, independente do joelho protético utilizado. rotativo e hidráulico monocêntrico tendem a apresentar maiores
A pelve apresenta anteroversão aumentada discretamente valores de desvios percentuais nas variáveis temporais, como
durante todo o ciclo, o que é explicado pelo encurtamento do tempo de apoio, fase de balanço, apoio simples e duplo apoio
músculo iliopsoas que ocorre com frequência em pacientes inicial. Enquanto que o joelho microprocessado apresenta
amputados transfemoral. Segundo Carvalho [1], amputações desvio zero nessas mesmas variáveis temporais. Por outro lado,
transfemorais geralmente causam contraturas em flexão e o joelho microprocessado apresenta altos valores de desvios nas
abdução de quadril. O posicionamento em flexão de quadril variáveis espaciais, como comprimento da passada, velocida-
deve ser preservado no alinhamento da prótese, a fim de de, e como valor expressivo o comprimento de passo, que no
evitar uma anteroversão pélvica, que resulta em alteração na membro esquerdo tende a ser 9,74% menor que no direito.
marcha e dor lombar. Já a inclinação da pelve é adequada. Em indivíduos normais, os músculos flexores do joelho,
Padrão comum nos três joelhos utilizados. quando próximo do final da fase de balanço, desaceleram
O tronco permanece em posição normal durante todo o o membro inferior em balanço, que antecipa o contato do
ciclo. Ocorre inclinação lateral do tronco para a esquerda, calcâneo, momento no qual a velocidade do pé para frente
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 335
Tabela I
Hidráulico Hidráulico
Parâmetros Microprocessado
monocêntrico rotativo Ref.
espaço-temporais
Esq. Dir. Esq. Dir. Esq. Dir.
Comp. passo (cm) 65,78 64,00 61,10 62,40 59,68 65,79 64,88
Comp. passada (cm) 129,78 129,10 123,49 124,42 126,82 124,12 129,82
Velocidade (cm/s) 113,65 113,73 109,39 109,16 117,60 113,45 118,34
Cadência (passos/min) 105,88 105,88 105,91 105,88 109,09 109,09 109,46
Tempo de apoio (%) 63,97 67,65 65,44 66,18 63,64 63,64 60,56
Fase de balanço (%) 36,03 32,35 34,56 33,82 36,36 36,36 39,44
Duplo apoio inicial (%) 14,71 16,18 14,71 17,65 13,64 13,64 10,53
Apoio simples (%) 32,35 36,03 33,82 34,56 36,36 36,36 39,44
Largura passo (cm) 13,13 - 16,84 - 15,87 11,97
Tabela II
Hidráulico Hidráulico
Parâmetros Microprocessado
monocêntrico rotativo Ref.
espaço-temporais
Med. Des.(%) Med. Des.(%) Med. Des.(%)
Comp. passo (cm) 64,89 2,74 61,75 -2,11 62,73 -9,74 64,88
Comp. passada (cm) 129,44 0,53 123,95 -0,75 125,47 2,15 129,82
Velocidade (cm/s) 113,69 -0,07 109,27 0,21 115,52 3,59 118,34
Cadência (passos/min) 105,88 0,00 105,89 0,03 109,09 0,00 109,46
Tempo de apoio (%) 65,81 -5,59 65,81 -1,12 63,64 0,00 60,56
Fase de balanço (%) 34,19 10,76 34,19 2,16 36,36 0,00 39,44
Duplo apoio inicial (%) 15,44 -9,52 16,18 -18,17 13,64 0,00 10,53
Apoio simples (%) 34,19 -10,76 34,19 -2,16 36,36 0,00 39,44
aproxima-se de zero. Depois do contato do calcâneo e do necessárias. Como também a implantação de características
contato total do pé, sua atividade persistente auxilia a estabi- especiais para atividades como dançar e andar de bicicleta [12].
lização da pelve, e com outros músculos, o início da extensão Por essa razão os parâmetros temporais acabam sendo
do quadril [11]. iguais entre os dois membros (desvio = 0). Para manter um
No caso de uma amputação, há uma secção transversal dos equilíbrio entre os tempos de apoio, tanto bilateral quanto
músculos flexores de joelho, que resulta na perda de sua função simples, no caso do paciente em estudo, existe uma tendência
de desacelerar a extensão terminal do joelho, necessitando de de aumento de velocidade do ciclo de marcha esquerdo e a
substituição por um dispositivo mecânico na prótese [10]. consequente diminuição no comprimento de passo esquerdo,
Isto explica, então, o aumento nos valores da fase de balanço o que explica os desvios percentuais maiores observados nas
esquerda (membro amputado) nos joelhos hidráulicos, visto variáveis espaciais para esta prótese. Isto ocorre para igualar
que esta não possui os músculos íntegros para desacelerar o o tempo de apoio, aumentar o tempo de apoio do membro
movimento, levando, então, a um aumento do tempo de esquerdo que estava diminuído nas próteses hidráulicas,
apoio no membro inferior direito. principalmente no monocêntrico, fazendo com que o pa-
Já no joelho microprocessado, [1,12] a fase de balanço ciente tenha que colocar o pé esquerdo no chão antes do que
possui um controle em tempo real dos movimentos, a fim de estava acostumado, encurtando o comprimento de passo
alcançar um padrão de marcha harmoniosa, ou seja, simétrica deste membro.
em ambos os lados, direito e esquerdo. Tais ajustes, com base Valores obtidos em estudo mostram que a velocidade
em software, são feitos de acordo com a altura, peso e atividade de marcha é maior utilizando o joelho microprocessado em
do paciente, oferecendo vantagens como fase de apoio segura, comparação a joelhos não-microprocessados [13,14]. Em con-
com menos esforço ao iniciar o balanço e uma caminhada mais trapartida, de acordo com Hafner et al. [15], o comprimento
tranquila em terrenos irregulares sem atividade dos membros do passo mostrou uma tendência de aumento ligeiro do lado
adicionais residual, uma flexão na fase de apoio a fim de re- da prótese com o joelho microprocessado em comparação
duzir as forças de choque do calcanhar, segurança em escadas ao joelho não afetado, ocorrendo o contrário no estudo em
e rampas, através do fornecimento das resistências de flexão questão. Isto pode se alterar em função das características fí-
336 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Figura 1
sicas individuais de cada sujeito e a sua adaptação à prótese, o que relatam que amputados transfemorais têm uma fase de
sujeito deste estudo apresenta uma característica mais próxima balanço do membro protético mais prolongada.
da normalidade, pois suas condições físicas e adaptação estão No geral, pode-se observar que a prótese com joelho
acima do padrão normal. microprocessado apresenta um número maior de parâ-
Quanto ao tempo de apoio nos joelhos hidráulico mo- metros com valores iguais entre o membro amputado e o
nocêntrico e hidráulico rotativo, este é maior que o valor de contralateral, cadência, tempo de apoio, fase de balanço,
referência, para garantir maior equilíbrio durante a marcha. duplo apoio inicial, apoio simples, o que é explicado pela
Entretanto, no apoio simples os valores são menores que o maior capacidade, facilidade e opções de alternativas para
da referência, em ambos os lados, com predomínio no lado regular as características do joelho da prótese em relação ao
esquerdo, pois se trata do lado protetizado, no qual o paciente joelho humano normal, facilitando a adaptação do paciente
apresenta certa insegurança, fazendo com que ele passe rapi- à prótese.
damente por esta fase. Consequentemente a fase de balanço Analisando os gráficos da análise cinemática referente
do membro protetizado estará aumentada em relação ao outro aos joelhos hidráulico monocêntrico (prótese 1) e hidráulico
membro, fato comprovado por Boonstra, Schram, Eisma [16] rotativo (prótese 2) foi observado que a pelve se desloca den-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 337
tro do parâmetro normal tanto do lado esquerdo quanto do condicionamento físico com características acima dos padrões
direito indicando um tamanho adequado da altura da prótese. normais, por ter sido atleta, o que facilitou sua adaptação
No plano sagital há um deslocamento aumentado na ver- e determinou parâmetros próximos entre todos os joelhos
são pélvica anterior em função do encurtamento do músculo analisados.
iliopsoas, frequente em pacientes amputados transfemorais,
que resulta na pelve em anteroversão. No plano transversal, a Referências
rotação pélvica está adequada indicando um padrão normal
de dissociação ombro-pélvica. 1. Carvalho JA. Amputações de membros inferiores em busca da
Nos planos frontal e sagital o deslocamento dos membros plena reabilitação. São Paulo: Manole; 2005.
inferiores se apresenta normal, a rotação do quadril no plano 2. Roerdink M, Roeles S, Van der Pas SCH, Bosboomb O, Beek
PJ. Evaluating asymmetry in prosthetic gait with step-length
transverso apresenta uma tendência do membro inferior
asymmetry alone is flawed. Gait & Posture 2012;35:446-51.
esquerdo (amputado) ao desvio para rotação interna, que se
3. Tonon SC, Aluisio OV. Gait analysis in amputees with different
deve em função do bloqueio determinado pelo encaixe e a levels of amputation. Rev Bras Biomec 2003;1(1):27-31.
falta de rotação axial do joelho protético. 4. Junior PCN, Mello MA, Monnerat E. Tratamento fisiotera-
Os padrões do joelho nos três planos estão muito próximos pêutico na fase pré-protetização em pacientes com amputação
do normal, sem alterações no joelho direito e no esquerdo unilateral. Fisioter Bras 2009;10(4):294-99.
(protético), pois estes acompanham sempre o alinhamento 5. Hayashi Y, Tsujiuchi N, Koizumi T, Uno R, I Matsuda Y, Tsu-
do joelho normal. Existe uma diferença mínima entre os chiya Y et al. Gait motion analysis in the unrestrained condition
outros joelhos e o microprocessado, sendo necessário tarefas of trans-femoral amputee with a prosthetic limb. 34th Annual
mais difíceis e com alterações de velocidades para uma análise International Conference of the IEEE EMBS, San Diego, Ca-
lifornia USA, 2012. 28 August - 1 September.
biomecânica mais especifica [17].
6. Jernberger A. The neuropathic foot. Prosthet Orthot Int
A progressão do pé e a rotação no plano transversal não 1993;17:189-95.
apresentam alterações e se mantém constante durante todo 7. Alonso VK, Okaji SS, Pinheiro MT, Ribeiro CM, Souza HP,
o percurso, pois o pé protético não apresenta eixo rotacional Santos SS, et al. Análise cinemática da marcha em pacientes
no plano transverso e o tempo de rolamento em função da hemiparéticos. Fisio Bras 2002;55:16-23.
amputação é sempre menor que o padrão. 8. Saad M, Battistella LR, Masiero D. Técnicas de análise de
Observando os gráficos da Figura 1, da captura cinemática marcha. Acta Fisiátrica 1996;3(2):23-6.
referente ao joelho microprocessado (prótese 3), nota-se 9. Oliveira TP, Luz SCT, Szucs AP, Andrade MC, Ávila AOV,
que as características dos movimentos da pelve, quadril e pé Tonon JJ, Rosa FJB. Análise do impacto mecânico nas próteses
de um sujeito bi-amputado durante a marcha. Fisioter Pesq
apresentam-se iguais as das próteses 1 e 2.
2011;18(1):11-6.
O joelho microprocessado foi o único segmento que
10. Radcliffe CW. Prótese. In: Rose J, Gamble JG. Marcha humana.
apresentou as características dos movimentos, nos três planos, São Paulo: Premier; 1998.
mais próximas do padrão normal do que as observadas nas 11. Rab GT. Músculos. In: Rose J, Gamble JG. Marcha humana.
análises dos joelhos 1 e 2. São Paulo: Premier; 1998.
Vale ressaltar que no desenvolvimento da pesquisa, 12. Dietl H, Kaitan R, Pawlik R, Ferrara P. The C‑Leg - A new sys-
observou-se um número limitado de trabalhos que analisam a tem for fitting of transfemoral amputees. Orthopädie-Technik
marcha comparando diferentes tipos de joelhos e parâmetros 1998;49:197-11.
para a fixação de eletrodos por meio do sistema de colocação 13. Kahle JT, Highsmith MJ, Hubard SL. Comparison of non‑mi-
Helen Hayes. croprocessor knee mechanism versus C‑Leg on prosthesis
evaluation questionnaire, stumbles, falls, walking tests, stair
descent, and knee preference. J Rehabil Res Dev 2008;45:1-14.
Conclusão 14. Nimmervoll R, Kastner J, Kristen H. The C‑Leg Experience -
A gait analysis comparison with conventional prosthetic knee
A avaliação observacional da marcha realizada com os joints. Orthopädie-Technik 2003;54:562-65.
três tipos de joelhos mostrou características muito parecidas. 15. Hafner BJ, Willingham LL, Buell NC, Allyn KJ, Smith DG.
No entanto o joelho microprocessado apresenta um número Evaluation of function, performance and preference as trans-
maior de parâmetros cinemáticos iguais aos da referência, femoral amputees transition from mechanical to micropro-
permitindo uma adaptação mais fácil, sendo, então, o mais cessor control of the prosthetic knee. Arch Phys Med Rehabil
indicado e o que mais se assemelha com a marcha fisiológica 2007;88:207-17.
16. Boonstra AM, Schram JM, Eisma WH. Gait Analysis of trans-
quando comparado com os outros dois joelhos, hidráulico
femoral amputee patients using prostheses with two different
rotativo e hidráulico monocêntrico.
knee joints. Arch Phys Med Rehabil 1996;77(5):515-20.
Vale ressaltar que a aderência aos equipamentos protéticos 17. Ava D, Segal MS, Michael S, Orendurff MS, Glenn K, Martin
está diretamente relacionada às características físicas indivi- L, et al. Kinematic and kinetic comparisons of transfemoral
duais de cada sujeito. O sujeito deste estudo apresenta um amputee gait using C-Leg® and Mauch SNS® prosthetic knees.
J Rehabil Res Dev 2006;43(7):857-70.
338 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Artigo original
Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar os efeitos do exercício físico nas variáveis Objective: To evaluate the effects of exercise on cardiorespiratory
cardiorrespiratórias e índice de glicemia em gestantes diabéticas. variables and glycemic index in diabetic pregnant women. Method:
Método: Nove gestantes diabéticas entre 24 e 32 semanas gestacionais Nine diabetic women between 24 and 32 weeks of gestation,
foram submetidas a um programa de exercício físico que incluiu performed an exercise program that included stretching, aerobic
alongamento, exercícios aeróbicos e relaxamento uma vez por exercise and relaxation once a week for four consecutive weeks.
semana durante quatro semanas consecutivas. Foram verificadas as Cardiorespiratory variables and glycemic index were verified prior
variáveis cardiorrespiratórias e índice glicêmico antes da realização to the exercise program, five and sixty minutes after the total pro-
do programa de exercícios, cinco e sessenta minutos após o término gram. To compare the results we used the paired Student t test and
total do programa. Para a comparação dos resultados foi utilizado ANOVA and considered significant differences when the p value
o teste t-student pareado e teste ANOVA e considerada diferença is less than or equal to 0.05. Results: The glycemic index after 60
significativa quando o valor de p fosse menor ou igual a 0,05. Re- minutes of exercise was significantly lower than that observed before
sultados: O índice glicêmico após 60 minutos do exercício físico foi exercise (p < 0.05). Heart rate and respiratory rate 5 minutes after
significativamente menor do que o observado antes do exercício (p exercise was significantly greater than that observed before and after
< 0,05). A frequência cardíaca e frequência respiratória 5 minutos sixty minutes of exercise. There was a trend towards a difference
após o exercício foi significativamente maior do que a observada between times for the saturation of oxygen. Conclusion: A program
antes e após sessenta minutos do exercício. Houve uma tendência de of exercise, with moderate intensity, helps in glycemic control of
diferença entre os momentos para a variável saturação de oxigênio. pregnant women with diabetes mellitus, and its effect is already
Conclusão: Um programa de exercício físico, de intensidade modera- observed after one exercise session.
da, auxilia no controle glicêmico de gestantes com diabetes mellitus, Key-words: diabetes, pregnancy and physical activity.
sendo que seu efeito já é observado em uma sessão de exercício.
Palavras-chave: diabetes, gestação e atividade física.
cendo em contato com o solo. Logo após foi realizado relaxa- estão apresentados na Tabela I e na Figura 1. O índice glicêmi-
mento ao som de música ambiente, fazendo movimentos leves co após 60 minutos do exercício físico foi significativamente
e suaves de membros superiores e coluna cervical associados menor (p = 0,008) do que aquele observado antes do exercício.
a exercícios respiratórios, durante 10 minutos. Os resultados referentes à pressão arterial, saturação de O2,
As variáveis cardiorrespiratórias foram mensuradas antes, frequência cardíaca, e frequência respiratória dos pacientes,
cinco minutos após (exceto índice de glicemia) e uma hora nos momentos antes e, após 5 e 60 minutos do exercício
após o término do relaxamento. As gestantes receberam físico, estão apresentados na Tabela I. De forma geral, não
acompanhamento fisioterapêutico por 60 minutos após o houve diferença estatística significativa entre os momentos
término total do programa estabelecido. A coleta do índice de avaliação (antes e 5 e 60 minutos após o exercício), em
de glicemia antes e após o programa de exercício físico, foi relação às variáveis pressão arterial sistólica, pressão arterial
realizado respeitando o horário (15:00 e 17:00 horas) já de- diastólica e saturação de O2, todavia, houve uma tendência de
terminado para coleta referente ao Programa de Gestantes de diferença entre os momentos para a variável saturação de O2.
Alto Risco. O exercício físico foi realizado uma vez por semana Na comparação entre os momentos de avaliação, houve
durante quatro semanas. As variáveis cardiorrespiratórias diferença significativa entre eles, em relação à frequência
foram mensuradas pelos aparelhos de pressão arterial (BIC– cardíaca e em relação à frequência respiratória. Em ambas,
Sphygmomanometer, ML0402003) e oxímetro (Nonim após cinco minutos do término do exercício, verificou-se uma
Medica, Inc. Plymouth, MN USA, Model 9500 oximeter). diferença maior do que aquela observada antes do exercício.
O índice de glicemia foi mensurado através do aparelho de Os resultados referentes a estas duas variáveis estão ilustrados
glicemia capilar (ACCU- CHEK advantage – Laboratory na Figura 2.
Use Eletrical Equipament 8C79) realizado pela própria ges- A comparação entre os momentos antes e após 60 minutos
tante. A coleta de dados foi realizada por três pesquisadoras do exercício, em relação ao índice glicêmico foi realizada por
acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade Católica meio do teste t-student pareado, enquanto que a comparação
Dom Bosco – UCDB. entre os momentos antes, 5 e 60 minutos após o exercício, para
A comparação entre os momentos antes e após 60 minutos as demais variáveis, foi realizado pelo teste ANOVA de uma
do exercício físico, em relação ao índice glicêmico, foi reali- via de medidas repetitivas, seguido pelo pós-teste de Duncan.
zada por meio do teste t-student pareado. Já a comparação Cada símbolo representa a média e a barra o desvio padrão
entre os momentos antes e após 5 e 60 minutos do exercício da média. Bpm = batimentos por minuto; ir = incursões res-
físico, em relação às variáveis pressão arterial, saturação de O2, piratórias. * Diferença significativa em relação ao momento
frequência cardíaca e frequência respiratória, foi realizada por antes do exercício; ** Diferença significativa em relação aos
meio do teste ANOVA de uma via de medidas repetitivas, momentos antes e depois de 60 minutos do exercício (teste
seguido pelo pós-teste de Duncan. Os demais resultados das ANOVA de uma via de medidas repetitivas, p < 0,05, seguido
variáveis avaliadas neste estudo foram apresentados na forma pelo pós-teste de Duncan, p < 0,05). Campo Grande/MS,
de estatística descritiva ou na forma de tabela e gráficos. A 2009 (n = 9).
análise estatística foi realizada utilizando-se o “Software”
SigmaStat, versão 2.0, considerando diferenças significativas Discussão
quando o valor de p foi menor que 0,05[14].
É bastante rica a literatura que fala dos benefícios do
Resultados exercício físico e da saúde em geral a que esta prática pro-
porciona. Da mesma forma, os meios de comunicação nos
Os resultados referentes ao índice glicêmico, mensurado últimos anos vêm divulgando o quanto é importante ter uma
nos momentos antes e após 60 minutos do exercício físico, vida saudável e ativa. Ainda assim, o sedentarismo associado
Tabela I - Resultados referentes ao índice glicêmico, pressão arterial, saturação de O2, frequência cardíaca e respiratória, nos momentos antes,
5 e 60 minutos após o exercício. Campo Grande/MS, 2009 (n = 9).
Tempo em relação ao exercício
Variáveis
Antes Após 5 min Após 60 min Valor de p
Índice glicêmico 122,47 ± 43,57 - 109,69 ± 38,98 0,008
PAS (mmHg) 113,06 ± 7,78 117,22 ± 6,78 115,28 ± 7,23 0,128
PAD (mmHg) 75,28 ± 6,05 77,22 ± 5,79 77,78 ± 6,43 0,157
Saturação de O2 (%) 96,75 ± 0,90 97,33 ± 0,70 97,28 ± 0,59 0,051
0,015
Frequência cardíaca (bmp) 85,92 ± 7,47 92,78 ± 8,19 89,58 ± 6,83
5’ após > antes
0,023
Frequência respiratória (ir) 19,72 ± 1,50 20,75 ± 1,23 19,61 ± 0,97
5’ > antes e 60’ após
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 341
aos maus hábitos alimentares é visto atualmente como um pelo efeito agudo do exercício físico, mostrado na glicemia
problema mundial. capilar, a qual foi coletada antes e após uma sessão de exercício.
No entanto, no trabalho realizado por Avery et al. [17],
Figura 1 - Gráfico ilustrando o Índice glicêmico das gestantes, nos os achados relacionados ao índice glicêmico foi contrário aos
dois momentos de avaliação, antes e após 60 minutos do exercício encontrados no nosso estudo, uma vez que eles avaliaram a
físico. Cada coluna representa a média e a barra o desvio padrão da efetividade de um programa de exercício realizado por 29
média. * Diferença significativa em relação ao momento antes (teste gestantes diabéticas e observaram que não houve diferenças
t-student pareado, p = 0,008). Campo Grande/MS, 2009 (n=9). em relação a esta variável e complicações fetais. Contudo,
180 acredita-se que este achado deve-se ao fato de não ter sido
160 feito um acompanhamento contínuo durante a atividade
*
140 física, uma vez que as pacientes realizavam o programa em
suas residências sem acompanhamento especializado.
Índice glicêmico
120
Em 1989, Jovanovic-Peterson et al. [18] estudaram 20
100
mulheres diabéticas, no terceiro trimestre gestacional, distri-
80 buídas aleatoriamente em grupo controle (dieta durante seis
60 semanas) e grupo experimental (dieta e exercícios por igual
40 período de tempo), realizavam exercício físico durante 20 min,
20 3 vezes por semana, durante 6 semanas. Os resultados rela-
0 cionados aos níveis glicêmicos nos dois grupos começaram a
Antes Após divergir a partir da quarta semana de estudo. Na sexta semana
60 minutos as gestantes submetidas ao exercício apresentaram melhora
Tempo em relação ao exercício
significativa dos níveis glicêmicos, quando comparadas às
gestantes do grupo controle.
Figura 2 - Gráfico ilustrando a frequência cardíaca e respiratória Em nossa pesquisa podemos observar que houve redução
dos pacientes, nos três momentos de avaliação, antes e após 5 e 60 na taxa glicêmica com apenas uma sessão semanal de exercício
minutos do exercício físico. físico associado à dieta. Entrando em concordância, Uranic
105 22 e Wasserman [19] notaram que o exercício moderado pro-
Frequência respiratória (Ir)
Frequência cardíaca (bpm)
A FC reflete a quantidade de trabalho que o coração deve significativa em relação à variável saturação de oxigênio,
realizar para atender as demandas aumentadas do organismo contudo houve uma tendência à diferença.
quando em atividade física. Isto se torna bastante claro, Não encontramos em outras literaturas dados referentes à
quando comparamos a FC durante o repouso e durante o saturação de oxigênio antes e após o exercício. Entretanto em
exercício. Quando o exercício é iniciado, a FC aumenta rapi- nossa pesquisa consideramos esta variável por entendermos
damente em função do aumento da intensidade do mesmo, que o consumo de oxigênio aumenta linearmente com o au-
a qual pode ser representada pelo consumo de oxigênio. A mento da frequência cardíaca e respiratória, observada durante
FC aumenta diretamente com o aumento da intensidade do a prática de atividade física. Podemos observar na (Tabela I)
esforço, até que o indivíduo esteja próximo dos limites da que houve uma tendência a aumentar a saturação de oxigênio
exaustão. À medida que estes limites se aproximam, a FC 5 minutos após o exercício. No entanto, sugerimos que esta
tende a estabilizar, indicando que a FC máxima está sendo variável seja novamente alvo de estudos para que possamos
alcançada [25]. ter dados fidedignos a fim de respaldar tais achados.
Quanto à variável frequência respiratória (FR), podemos
observar que houve uma diferença estatisticamente significa- Conclusão
tiva, sendo o valor p < 0,05 após 5 minutos do término do
exercício físico. Durante o exercício físico, a FR e o volume Concluímos que um programa de exercício físico, de
corrente aumentam significativamente, de tal forma que a intensidade moderada, auxilia no controle glicêmico de ges-
ventilação minuto pode alcançar valores superiores a 100 tantes com diabetes mellitus, sendo que seu efeito já é obser-
L.min-1 [26]. vado em uma sessão de exercícios. Observamos também que
O modelo do controle da ventilação durante o exercício há aumento da frequência cardíaca e frequência respiratória
pressupõe a integração de fatores neurogênicos, químicos logo após o exercício. Não ficou comprovado neste trabalho o
e também da temperatura corporal. Segundo este modelo, efeito crônico do exercício físico no índice glicêmico, havendo
estímulos neurogênicos, quer sejam corticais ou periféricos a necessidade de mais pesquisas nesta variável.
(músculos esqueléticos), são responsáveis pelo aumento Sugerimos cautela quanto à prática de exercício físico
abrupto inicial da ventilação no início do exercício. Após realizado por gestantes diabéticas até que resultados mais con-
esta alteração inicial, a ventilação-minuto tende a se elevar tundentes acerca das alterações fisiológicas, após a prática de
gradualmente até um nível estável, suficiente para atender às exercícios, sejam disponibilizadas, haja vista as discordâncias
demandas metabólicas [25]. observadas entre os estudos abordados.
Levando-se em consideração que gestantes apresentam
alterações na mecânica respiratória, conforme o útero cresce Referências
o diafragma modifica sua posição de repouso, elevando-se
até 5 cm e o tórax altera sua configuração, ampliando seu 1. Zugaib M. Zugaib Obstetrícia. Barueri: Manole; 2008.
diâmetro transverso e ântero-posterior. A parede abdominal 2. Menezes MRF, Neves CC, Costa AP, Hartmann C. Benefícios
também distende, diminuindo a força muscular. Outro me- fisiológicos da prática da caminhada com mulheres no período
gestacional do município de Arapiraca-Alagoas. Livro de Me-
canismo que interfere no sistema respiratório da gestante é o
mórias do VI Congresso Científico Norte-nordeste – CONAFF,
aumento do metabolismo e dos níveis de progesterona, que
15 a 18 de novembro de 2012.
provocam aumento da ventilação pulmonar, ou seja, a grávida 3. Filho FM, Dias CC, Meirelles RS, Cunha SP, Nogueira A,
faz respirações mais curtas e em maior quantidade, tentando Duarte G. Diabetes e gravidez: aspectos clínicos e perinatais.
manter níveis de oxigênio e gás carbônico adequados [27]. RBGO 1998;20(4):193-8.
Em nossa amostra não observamos alteração significativa 4. Figueirola D. Diabetes. 3a. ed. Barcelona: Masson; 1997.
quanto à pressão arterial (PA) após o exercício físico, apesar 5. Robergs RA, Roberts SO. Princípios fundamentais de Fisiologia
da ampla literatura que relaciona a diminuição da PA após do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. 1 ed. Brasileira.
a realização do exercício. Grassi et al. [28] estudaram jovens São Paulo: Phorte; 2002.
normotensos e constataram que, após 10 semanas de exer- 6. Silva JC, Taborda W, Becker F, Aquim G, Viese J, Bertini
AM. Resultados preliminares do uso de anti-hiperglicemiantes
cício físico, houve diminuição na pressão arterial sistólica e
orais no diabetes melito gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet
diastólica, fato não observado no grupo controle, que não 2005;27(8):461-6.
realizou exercício físico. 7. Maganha CA, Bernardini MA, Vanni DGBS, Nomura RMY,
No entanto, este achado nos leva a acreditar que o exercício Zugaib M. Repercussões do diabetes no feto e recém-nascido.
físico não tenha interferido na PA devido ao nosso programa Rev Ginecol Obstet 2002;13(3):158-62.
ter sido realizado somente, uma vez por semana, durante 50 8. Meneses JA, Diniz EMA, Simões A, Vaz FAC. Morbidade
min. Forjaz et al. [29] realizaram duas sessões de exercício neonatal em recém-nascidos de mães com diabetes gestacional.
(25 e 45 min) em 10 indivíduos , a pressão arterial foi aferida Pediatria (São Paulo) 1999;21(1):30-6.
antes (20 min) e após (90 min) do exercício e concluíram que 9. Aquino MMA, Pereira BG, Amaral E, Parpinelli MA. Revendo
diabetes e gravidez. Rev Ciênc Méd 2003;12(1):99-106.
o mesmo provocou hipotensão. Não foi observada diferença
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 343
10. Silva L, Santos RC, Parada CMGL. Compreendendo o signifi- 20. Vanessa V, Alexandre Z. O efeito agudo do exercício físico na
cado da gestação para grávidas diabéticas. Rev Latinoam Enferm glicemia do paciente portador de DM do tipo II [Monografia].
2004;12(6):899-904. Faculdade de Fisioterapia, Universidade do Sul de Santa Cata-
11. Souza TM, Ferro NM, Macedo CM, Hartmann C. A impor- rina: Tubarão; 2004.15p.
tância da atividade física e da alimentação para indivíduos com 21. Mc AWD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia,
diabetes. Livro de Memórias do VI Congresso Científico Norte- nutrição e desempenho humano. Traduzido por Giuseppe Ta-
-nordeste – CONAFF; 2012. p.112-7. ranto. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
12. Verderi EBLP. Gestante: elaboração de programa de exercícios. 22. Langer O. Management of gestational diabetes. Clin Obstet
São Paulo: PH; 2006. Gynecol 2000;43:106-15.
13. Ramos AT. Atividade física: diabéticos, gestantes, terceira idade 23. Santaella DF. Efeitos do relaxamento e do exercício físico nas
e obesos. São Paulo: Sprint; 1997. respostas pressóricas e autonômica pós-intervenção em indiví-
14. Shott S. Statistics for health professionals. London: W.B. Saun- duos normotensos e hipertensos [Dissertação]. Faculdade de
ders Company; 1990. Medicina, Universidade de São Paulo: São Paulo; 2003. 215p.
15. Domingues MR, Araújo CLP, Denise GP. Conhecimento e 24. Rondon MUP, Alves MJNN, Braga AMFW, Teixeira OTUN,
percepção sobre exercício físico em uma população adulta ur- Barreto ACP, Krieger EM, et al. Postexercise blood pressure
bana do sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2004;1(20):204-15. reduction in elderly hypertensive patients. J Am College Cardiol
16. Carlos AS, Walter CL. Efeito benéfico do exercício físico no 2002;(30):676-82.
controle metabólico do diabetes mellitus tipo 2 a curto prazo. 25. Mc AWD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do Exercício - Energia,
Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-6. nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Interameri-
17. Avery MD, Leon AS, Kopher RA. Effects of a partially home- cana; 2003.
-based exercise program for women with gestational diabetes. 26. Pollock ML, Wilmore JH. Exercícios na Saúde e na Doença.
Obstet Gynecol 1997;89(1):10-5. Rio de Janeiro: Medsi; 1993.
18. Jovanovic-Peterson L, Durak EP, Peterson CM. Randomized 27. Mulher saudável [internet]. [citado 2012 Mai 10]. Disponível
trial of diet plus cardiovascular conditioning on glucose levels in em URL: http://www.mulhersaudavel.com.br
gestational diabetes. Am J Obstet Gynecol 1989;161(2):415-9. 28. Grassi G, Seravalle G, Calhoun DA, Mancia G. Physical trai-
19. Uranic MW, Bouchard RJ, Shephard T, Stephens JR, Sutton BD. ning and baroreceptor control of sympathetic nerve activity in
Exercise, fitness, and diabetes and health. A consensus of current humans. Hypertension 1994;23:294-301
knowledge. Champaign: Human Kinetics;1988. p. 467 - 490. 29. Forjaz CLM, Santaella DF, Rezende LO, Barreto ACP, Negrão
CE. Duração do exercício determina a magnitude e a duração
da hipotensão pós-exercício. Arq Bras Cardiol 1998;70:99-104.
Fisioterapia Brasil
artigos@atlanticaeditora.com.br
344 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Artigo original
*Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, **Coordenador do Laboratório de Pesquisa do
Movimento Humano – LAPEMH, Líder do Grupo de Pesquisa em Reabilitação Neuro Músculo Esquelética da Unioeste e Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Resumo Abstract
A capacidade de controle postural de indivíduos com quadro The postural control in individuals with hemiparesis is remarka-
motor de hemiparesia está comprovadamente alterada, aumentando bly altered, increasing the risk of falls and exponentially increasing
a propensão a quedas e elevando de forma exponencial a fragilidade the fragility of these individuals. There are many systems of virtual
desses indivíduos. Existem diversos sistemas de realidade virtual reality (VR) developed specifically for the rehabilitation of physical
desenvolvidos especialmente para reabilitação e treinamento de disabilities, in order to prevent possible falls, whose efficacy has been
deficiências motoras, com o intuito de prevenir possíveis quedas, recently studied with motivating results. Therefore, this study aimed
cuja eficácia vem sendo recentemente estudada e resultados moti- to conduct an assessment followed by a training program consisting
vantes têm sido encontrados. Com isso, o objetivo do estudo foi of 10 sessions in 5 weeks of postural control in hemiparetic indi-
realizar uma avaliação seguida de um programa composto por 10 viduals using the Nintendo Wii Fit ® game console, to analyze the
sessões em 5 semanas de treinamento do controle postural de indi- effects of tasks that require the exploration of load support towards
víduos hemiparéticos utilizando o console de jogos de baixo custo, mediolateral and anteroposterior directions. The same was perfor-
Nintendo Wii Fit®, e reavaliar a fim de verificar os efeitos no tempo med with young adults with no neurological disabilities. The results
de uma tarefa que exigia deslocamentos no sentido médio-lateral showed that the training program was effective in both hemiplegics
e ântero-posterior. O mesmo foi feito com adultos jovens sem se- and healthy young adults, reducing the time to perform the proposed
quelas neurológicas para comparar diferenças de comportamento tasks. The comparison between groups showed that the young adults
entre os grupos. Os resultados demonstram que o programa de were faster, however, the hemiparetic group had a more pronounced
treinamento foi eficaz e tanto os indivíduos hemiparéticos quanto diminution of the time required to perform the task.
os adultos jovens reduziram o tempo de execução das tarefas pro- Key-words: learning, hemiparesis, rehabilitation, video games.
postas, demonstrando melhora na performance da tarefa. Quanto à
comparação entre os grupos, os adultos jovens foram mais velozes,
porém o grupo de hemiparéticos reduziu o tempo de execução
proporcionalmente de forma mais pronunciada.
Palavras-chave: aprendizado, hemiparesia, reabilitação, jogos de
vídeo.
o desempenho na execução de tarefas em realidade virtual que com jogos de RV; componente espástico (hipertonia) maior
envolve o deslocamento postural nos sentidos médio-lateral e ou igual a 3 na escala de Ashworth Modificada em qualquer
ântero-posterior em sujeitos com quadro motor hemiplégico. grupo muscular dos membros inferiores [17]; deficiência
visual incompatível com a realização dos testes de avaliação
Material e métodos ou do treinamento em jogos de RV ou não aceitassem as
condições do TCLE.
Amostra
Procedimentos
A amostra foi composta por 20 sujeitos do sexo masculino
que foram convidados a participar do estudo e concordaram Os procedimentos de avaliação desta pesquisa foram
em assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido realizados nas dependências do Laboratório de Pesquisa do
(TCLE) previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Movimento Humano (LAPEMH), Centro de Reabilitação
Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (pa- Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, CRF -
recer no 1046/2011). Unioeste. O treinamento foi realizado em uma sala da clínica
Os sujeitos selecionados foram divididos em dois grupos: de Fisioterapia, especialmente organizada para esta atividade.
• Grupo 1 (G1): Pacientes portadores de hemiparesia (n =
10), com idades de 21 ± 2 anos. Avaliação inicial
• Grupo 2 (G2): Adultos jovens hígidos (n = 10), com idades
de 35 ± 9 anos. A avaliação teve início com o esclarecimento aos pacien-
tes sobre a realização da pesquisa e posterior assinatura do
Critérios de inclusão TCLE em duas vias. Após assinatura ocorreu à aplicação
dos critérios de inclusão e não inclusão, através de uma
Para ser incluído no G1, os sujeitos deveriam: possuir ficha de avaliação, contendo os seguintes dados: nome,
deficiência motora do tipo hemiparesia (tabela I), ainda que idade, sexo, peso, altura, lado predominante da sequela,
com predominância de membros superiores ou inferiores dominância lateral antes da lesão, MEEM, escala de equi-
como sequela de doenças neurológicas prévias ou em curso, líbrio de Berg, teste “Timed up and Go” (TUG) e escala
com tempo de evolução mínimo de 6 meses; Possuir escore de Aswhorth modificada.
no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) igual ou maior Após a aplicação da ficha de avaliação, foi mensurada a
que 19 pontos [15]; Possuir escore na Escala de Equilíbrio de pressão arterial (PA) dos participantes e, assim, foi realizada
Berg maior que 36 pontos [16]; Conseguir desempenhar o a primeira avaliação (AV1), na qual o participante foi po-
Teste “Timed Up and Go” em tempo menor que 20 segundos sicionado sobre o periférico Wii Balance Board® que tem o
[16]; Possuir idade igual ou maior a 18 anos. Esses critérios objetivo de fazer a conexão entre os movimentos dos membros
foram estabelecidos para que fossem inclusos sujeitos capazes inferiores (centro de pressão) do sujeito avaliado e o universo
de realizar a avaliação e o treinamento em RV. de realidade virtual. Em seguida, o indivíduo foi submetido
Para o G2, foram selecionados os participantes que aten- a duas tarefas baseadas em jogos do console Nintendo Wii®:
deram aos seguintes critérios de inclusão: Nunca ter tido a primeira consistiu em realizar deslocamentos ântero-
contato com jogos que utilizem o periférico Wii Balance -posteriores de acordo com o jogo Snowboard Slalom® no qual
Board® e possuir idade entre 18 e 25 anos. o participante permanece virtualmente sob uma prancha de
snowboard e tem a missão de se deslocar na direção indicada
Tabela I - Tabela de caracterização do G1. pelas bandeiras posicionadas no circuito, ora anteriormente
Patologia N° de Pacientes Hemiparesia ora posteriormente. A segunda tarefa consistiu em realizar des-
TCE 6 3D/3E locamentos médio-laterais de acordo com o jogo Ski Slalom®
AVE 4 2D/2E o qual, analogamente ao anterior, o participante permanece
TCE: Traumatismo Cranioencefálico, AVE: Acidente Vascular Encefálico virtualmente sob um ski e tem a missão de se deslocar por
e o lado acometido pela doença; D: Direito e E: Esquerdo. entre as bandeiras posicionadas no circuito. Para ambas as
tarefas (snowboard slalom e ski slalom), foram realizadas 3
tentativas, nomeadas T1, T2 e T3.
Critérios de não inclusão O tempo de execução de cada tentativa foi cronometrado
pelo próprio console ao final de cada tentativa, para cada
Não foram incluídos no estudo indivíduos que possuís- bandeira “esquecida”, aquela que o jogador não era capaz de
sem: altos níveis de atividade física, praticantes de modali- cumprir corretamente, foi acrescido um tempo de penalização
dades esportivas regulares ou de alto rendimento; portadores padrão equivalente a 7 segundos. Sendo assim, foi identificado
de deficiências físicas quaisquer que fossem incompatíveis o tempo que o participante levou para desenvolver a tarefa,
com a realização dos testes de avaliação ou do treinamento de fato, e o tempo final, com acréscimo das penalizações. O
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 347
tempo necessário para cumprir cada tarefa era anotado na ântero-posterior, notou-se redução significativa do tempo de
ficha de avaliação. execução em todas tentativas quando comparamos AV1 com
AV2 em ambos os grupos (Figura 1).
Treinamento
Figura 1 - Média do tempo de execução da tarefa com deslocamento
O treinamento foi composto por 10 sessões, os parti- anteroposterior dos grupos 1 e 2 durante AV1 e AV2.
cipantes treinaram no mínimo 2 e no máximo 3 vezes por 140
semana, totalizando 5 semanas de treinamento. Cada sessão 120 ψ
* § Ϯ ₰
obrigatoriamente teve 15 minutos de treinamento efetivo e 100
Tempo (s)
15 minutos para descanso, antes e após cada treinamento 80 φ
* § ψ
foi realizada a mensuração da PA dos participantes. Duran- 60 Ϯ ₰φ
te o treinamento, o indivíduo teve a oportunidade de jogar 40
outros tipos de jogos, além daqueles utilizados na avaliação. 20
Os jogos utilizados para o treinamento foram selecionados 0
de acordo com seu objetivo, e deveriam possuir algum com- AV1 AV2 AV1 AV2
G1 G2
ponente que estimulasse o treinamento do deslocamento
T1 T2 T3
ântero-posterior ou médio-lateral, assim foram adotados
também os jogos: Bubble Balance® (guiar um avatar por um Os símbolos *; § e Y representam as diferenças estatísticas entre as
caminho a partir do controle do deslocamento do centro tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G1, respec-
de pressão); Table tilt® (jogo de encaixar esferas em orifícios tivamente. Os símbolos Ϯ, ₰ e φ representam as diferenças estatísticas
específicos, as quais são controladas pelo movimento do entre as tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G2,
centro de pressão dos indivíduos); Heading®,(o indivíduo respectivamente.
cabeceia virtualmente bolas de futebol que vem ao seu
encontro). Ao fazer a comparação entre os grupos no teste de des-
locamento anteroposterior, notou-se que na AV1 em T1
Avaliação final e T2 os grupos não foram diferentes, porém, na T3 o G2
foi significativamente mais rápido do que G1 (Figura 2).
A avaliação final ocorreu da mesma forma da avaliação
inicial, com a diferença que não foi aplicada uma nova ficha Figura 2 - Média do tempo de execução do jogo com deslocamento
de avaliação. Os participantes realizaram as mesmas tarefas, ântero-posterior dos grupos G1 e G2 durante AV1 e AV2.
3 tentativas nos jogos Snowboard Slalom® e Ski Slalom®, e os 140
tempos foram devidamente anotados na ficha de avaliação. 120 ψ
100
Análise estatística
Tempo (s)
80 ψ
Ϯ ₰ φ
60 Ϯ ₰φ
Para análise estatística, os dados foram previamente 40
tabulados no programa Microsoft Excel (Microsoft Office 20
v.2007) e em seguida foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk 0
para cada uma das variáveis avaliadas e que confirmou a G1 G2 G1 G2
AV1 AV2
distribuição normal dos dados. Após exploração dos dados
T1 T2 T3
pela média e desvio padrão, para determinação de diferenças
estatísticas com relação aos momentos AV1 e AV2 (análise O símbolo Y representa as diferenças estatísticas entre G1 e G2 durante
intragrupos) foi utilizado o teste t de Student para amostras a tentativa (T3) na avaliação AV1. Os símbolos Ϯ, ₰ e φ representam as
pareadas. Para determinação de diferenças entre G1 e G2 diferenças estatísticas entre G1 e G2 durante as tentativas (T1, T2 e T3)
(análise intergrupos) foi utilizado o teste t de Student para na avaliação AV2, respectivamente.
amostras independentes. Todas as análises foram conduzidas
com auxílio do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Quanto aos resultados sobre o tempo de execução da tarefa
Social Sciences, v. 17), e o nível de significância para todas as no jogo que envolve os deslocamentos no sentido médio-
comparações estatísticas foi mantido em a = 0.05. -lateral, notou-se redução significativa do tempo em todas
tentativas quando comparamos AV1 com AV2 em ambos os
Resultados grupos (Figura 3).
Figura 3 - Média do tempo de execução do jogo com deslocamento o desempenho de sujeitos com quadro motor de hemiparesia
médio-lateral dos grupos 1 e 2 durante AV1 e AV2. nas tarefas que envolviam deslocamentos anteroposteriores e
140 médio-laterais.
120 * A grande vantagem da reabilitação por meio de realidade
100 § ψ virtual é a aceitabilidade deste tipo de tratamento por parte
Tempo (s)
tro de pressão, além da análise cinemática tridimensional do desempenho do tempo de execução dos jogos utilizados, são
movimento, seus resultados mostraram que o jogo utilizado necessários estudos com ferramentas clínicas suficientemente
seria mesmo capaz de melhorar a magnitude do deslocamento sensíveis para mensurar o padrão de movimento e confirmar
do centro de pressão, sugerindo que futuros estudos fossem tais suposições.
realizados em sujeitos com alterações no processamento do Por outro lado, estudos anteriores tendo como objetivo
controle motor. avaliar o equilíbrio de sujeitos hemiparéticos após o treina-
Fung et al. [19] utilizaram a RV com base no sistema mento por meio do pacote de jogos Wii Fit® [1] apresentaram
de formação locomotora para a reabilitação da marcha de resultados satisfatórios com relação a diminuição da oscilação
pacientes pós acidente vascular encefálico, apesar do baixo do centro de pressão (COP), tanto no sentido médio-lateral
número de sujeitos e de uma metodologia diferente, os quanto no anteroposterior. De acordo com os autores, o in-
autores mostraram ser viável reabilitar sujeitos hemiplégicos divíduo hemiparético tratado com RV poderia obter maior
com realidade virtual, expondo a necessidade de mais estudos equilíbrio dinâmico após esse tipo de treinamento.
acerca desse tema. O presente estudo foi capaz de gerar dados que demons-
Os resultados obtidos no presente estudo evidenciam que tram que a reabilitação por meio de jogos em realidade virtual
sujeitos hemiplégicos são capazes de melhorar o desempenho pode ser uma boa estratégia para o tratamento de sujeitos com
em tarefas de realidade virtual após o treinamento, entretanto, quadro motor hemiplégico, pois se mostrou uma intervenção
como próximo passo para melhor elucidação dos resultados eficaz quando se analisou o desempenho em jogos que requi-
descritos são necessários implementos na metodologia capazes sitavam tarefas específicas de deslocamentos anteroposteriores
de captar parâmetros biomecânicos, tais como a cinemática e mediolateral que podem cumprir um papel importante ao
do movimento e a mensuração das forças de reação do solo auxiliarem um programa de reabilitação, entretanto a au-
durante a execução da tarefa, assim, possivelmente, poder- sência de uma ferramenta clínica de avaliação como a escala
-se-ia atribuir quais aquisições motoras foram efetivamente de equilíbrio de Berg, índice de Barthel e escala de Lawton,
responsáveis pela melhora do desempenho aqui obtido. utilizadas por Schiavinato et al. [21] não nos permite afirmar
Na tarefa que possuía como referência os deslocamentos a melhora motora dos sujeitos avaliados na presente pesquisa.
anteroposteriores, temos resultados semelhantes ao do teste Os resultados obtidos são motivantes, porém, é necessá-
médio-lateral, nele o treinamento também se mostrou eficaz rio maior número de estudos, com ferramentas de medida
e houve redução significativa no tempo de execução da tarefa apropriadas, para realmente estruturar controladamente a
em todas tentativas quando se comparou AV1 com AV2 em realidade virtual como forma de tratamento de sequelas de
ambos os grupos (Figura 1). Ou seja, tanto no deslocamento doenças neurológicas. Contudo, a continuidade com esse tipo
no sentido médio-lateral quanto no sentido anteroposterior os de intervenção só tem a beneficiar os indivíduos com sequelas
grupos foram capazes de melhorar o desempenho cumprindo neurológicas, pois é uma alternativa que pode ser associada à
o trajeto de forma correta e veloz. Esse resultado confronta os fisioterapia convencional [22]. É importante ressaltar que o
achados por Silva et al. [20], no qual foi realizado um estudo objetivo dessa intervenção não é o de substituir o tratamento
de caso e o sujeito com quadro de hemiparesia que não obteve fisioterapêutico convencional, mas sim complementá-lo. Fi-
melhora de desempenho no jogo Snowboard Slalom® (deslo- nalmente, como relatado na meta-análise de Sposnik e Levin
camentos anteroposteriores) após 10 sessões de treinamento. [23] há a necessidade de estudos com metodologia estruturada
Algumas hipóteses poderiam ser propostas para explicar a di- e com grande quantidade de sujeitos que comparem a fisio-
ferença encontrada entre os estudos, dentre elas: o número de terapia com realidade virtual e fisioterapia convencional, por
sujeitos da amostra, a quantidade de jogos oferecidos durante meio de escalas e testes clínicos mensuráveis, e que permitam
o treinamento e o tempo efetivo de cada sessão, além de que também boa reprodutibilidade do método.
na projeção do jogo realizada no presente estudo (iluminação
da sala, tamanho da projeção e audio) o sujeito estava em um Conclusão
ambiente de realidade virtual projetado para esse fim, o que
proporcionaria maior interatividade com a tarefa. O estudo demonstrou que um programa de intervenção
Acreditamos que o G1 conseguiu melhorar a coordenação fisioterápico utilizando tarefas que envolvem jogos em reali-
dos movimentos necessária para o melhor desempenho no dade virtual pode melhorar o desempenho de sujeitos com
jogo, uma vez que a execução da tarefa requer um trabalho característica motora de hemiparesia espástica após AVE e
relacionado à percepção corporal, e durante o treinamento TCE em tarefas específicas.
o avatar respondia a qualquer movimento realizado pelo su-
jeito que estava no controle e imerso ao mundo de realidade Agradecimentos
virtual. Entretanto, existem evidentes limitações no estudo,
as quais não nos permite esse tipo de conclusão direta, a prin- A Fundação Araucária pela bolsa de iniciação científica
cipal delas diz respeito à metodologia que impossibilita tal concedida para o desenvolvimento da pesquisa. Ao Centro
afirmação, mesmo com a obtenção de resultados positivos no de Reabilitação Física da Universidade Estadual do Oeste do
350 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Paraná, CRF – Unioeste e ao Fundep pela disponibilização ve the balance of independent senior subjects? A randomized
de alguns dos equipamentos utilizados no estudo. controlled study. Clin Rehabil 2012;26(9):827-35.
12. Laver K, Ratcliffe J, George S, Bergers L, Crotty M. Is the
Referências nintendo Wii fit really acceptable to older people? A discrete
choice experiment. BMC Geriatrics 2011;11(64).
13. Deutsch JE, Borbely M, Filler J, Huhn K, Guarrera-Boulby P.
1. Barcala L, Colella F, Araujo MC, Salgado ASI, Oliveira CS.
Use of a low-cost, commercially available gaming console (wii)
Análise do equilíbrio em pacientes hemiparéticos após o treino
for rehabilitation of an adolescent with cerebral palsy. Phys Ther
com o programa Wii fit. Fisioter Mov 2011;24(2):337-43.
2008;88(10):1196-207.
2. Rosa GMMV, Souza WC, Pinto LDP. Análise da influência do
14. Michaslki A, Glazebrook CM, Martin AJ, Wong WW, Kim
estresse no equilíbrio postural. Fisioter Bras 2004;5(1):50-5.
AJ, Moody KD, et al. Assessment of the postural control stra-
3. Campbell M, Parry A. Balance disorder and traumatic brain
tegies used to play two Wii Fit videogames. Gait & Posture
injury: preliminary findings of a multi-factorial observational
2012;36:449-53.
study. Brain Inj 2005;19(13):1095-104.
15. Douiri A, Rudd AG, Wolfe CD. Prevalence of post stroke cog-
4. Lessman JC, De Conto F, Ramos G, Borenstein MSB, Meirelles
nitive impairment: South London Stroke Register 1995-2010.
BHS. Atuação da enfermagem no autocuidado e reabilitação de
Stroke 2013;44(1):138-45.
pacientes que sofreram acidente vascular encefálico. Rev Bras
16. Shumway-Cook A,Woollacott, MH. Controle Motor: Teoria e
Enferm 2011;64(1):198-202.
Aplicações Práticas. 2a ed. São Paulo: Manole; 2003.
5. Silva ALS, Silva MAG. O equilíbrio, a marcha e a eficácia
17. Luvizutto GJ, Gameiro MO. Efeito da espasticidade sobre os
da fisioterapia em pacientes idosos com disfunção vestibular.
padrões lineares de marcha em hemiparéticos. Fisioter Mov
Fisioter Bras 2007;8(5):347-52.
2011;24(4):705-12.
6. Barilli ECVC, Ebecken NFFE, Cunha GGA. Tecnologia de
18. Monteiro Junior RS, Silva EB. Efetividade da reabilitação virtual
realidade virtual como recurso para formação em saúde pública à
no equilíbrio corporal e habilidades motoras de indivíduos com
distância: uma aplicação para a aprendizagem dos procedimentos
déficit neuromotor: Uma revisão sistemática. Rev Bras Ativ Fis
antropométricos. Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(1):1247-56.
Saúde 2012;17(3):224-30.
7. Ring H. Is neurological rehabilitation ready for ‘immersion’ in
19. Fung J, Richards CL, Malouin F, McFadyen BJ, Lamontagne A.
the world of virtual reality? Disabil Rehabil 1998;20(3):98-101.
A treadmill and motion coupled virtual reality system for gait
8. Duque G, Boersma D, Loza-Diaz G, Hassan S, Suarez H, Gei-
training post-stroke. Cyberpsychol Behav 2006;9(2):157-62.
singer D, et al. Effects of balance training using a virtual-reality
20. Silva CR, Rodrigues SG, Fernani DCGL, Pacagnelli FL, Lima
system in older fallers. Clin Interv Aging 2013;8:257-63.
RAO. Influência da Wiireabilitação no equilíbrio estático de
9. Deutsch JE, Merians AS, Adamovich S, Poizner H, Burdea GC.
adolescente com hemiparesia: estudo de caso. Colloquium Vitae
Development and application of virtual reality technology to
2012;4(1): 62-7.
improve hand use and gait of individuals post-stroke. Restor
21. Schiavinato AM, Baldan C, Melatto L, Lima LS. Influência
Neurol Neurosci 2004;22(3-4):371-86.
do Wii Fit no equilíbrio de paciente com disfunção cerebelar:
10. Crosbie JH, Lennon S, McGoldrick MC, McNeill MDJ, McDo-
estudo de caso. J Health Sci Inst 2010;28(1):50- 2.
nough SM. Virtual reality in the rehabilitation of the arm after
22. Sousa FR Uma revisão bibliográfica sobre a utilização do Nin-
hemiplegic stroke: a randomized controlled pilot study. Clin
tendo® Wii como instrumento terapêutico e seus fatores de risco.
Rehabil 2012;26(9):798-806.
Rev Esp Acad 2011;11(123):155-160.
11. Toulotte C, Toursel C, Olivier N. Wii Fit training vs. adapted
23. Sposnik G, Levin M. Virtual reality in stroke rehabilitation.
physical activities: which one is the most appropriate to impro-
Stroke 2011;42:1380-86.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 351
Artigo original
*Docente do Centro Universitário São Camilo, Departamento de Fisioterapia, **Centro Universitário São Camilo,***Docente da
Universidade Cidade de São Paulo, Pós-Graduação em Fisioterapia Dermatofuncional
Resumo Abstract
Introdução: Por ser uma das áreas mais recentes da fisioterapia, Introduction: As one of the newest areas of physical therapy,
muitos serviços públicos ainda não dispõem da especialidade many public services do not yet have the integumentary specialty,
dermatofuncional, dificultando traçar o seu perfil populacional. making it difficult to trace their population profile. Objective: To
Objetivo: Identificar o perfil dos pacientes atendidos em fisiote- identify the profile of patients treated in integumentary physical
rapia dermatofuncional, no âmbito hospitalar e ambulatorial, em therapy at the Hospital and outpatient units, in Sao Paulo/SP.
São Paulo – SP, Brasil. Métodos: Estudo retrospectivo por análise Methods: Retrospective study through the analysis of 421 medical
de 421 prontuários dos pacientes atendidos no estágio do Centro records of patients treated at São Camilo University Centre. The
Universitário São Camilo. As variáveis foram analisadas pelo teste variables were analyzed using the Test for Equality of Two pro-
de Igualdade de Duas Proporções ou Mann-Whitney. Resultados: portions or Mann-Whitney. Results: Female gender was the most
O gênero feminino prevaleceu (73,1%), com idade de 51,1 ± 16 prevalent (73.1%), mean age 51.1 ± 16 years, BMI 27.5 ± 5.7 kg/
anos, IMC de 27,5 ± 5,7 kg/m2 e escolaridade entre ensino mé- m2 and schooling level between complete high school and incom-
dio completo e fundamental incompleto (p = 0,616). Neoplasia plete elementary school (p = 0.616). Breast cancer (60.8%), time of
da mama (60,8%), tempo de evolução de 2 a 5 anos (20,2%) e disease progression from 2-5 years (20.2%) and surgical treatment
tratamento cirúrgico (80,1%) foram os mais encontrados. Assim (80.1%) were the most prevalent information, as complaint of
como as queixas de dor (44%) e edema nos membros (39,1%) pain (44%), swelling in the limbs (39.1%) and physiotherapeutic
juntamente com diagnóstico fisioterapêutico de alteração vascular diagnosis of vascular dysfunction (75.1%). Conclusion: The study
(75,1%). Conclusão: A população estudada foi caracterizada pela population was characterized by the prevalence of women aged ≥
prevalência de mulheres, por volta dos 50 anos, com sobrepeso, 50, overweighted, with elementary and high school schooling levels,
grau de escolaridade entre médio e fundamental, com diagnóstico de with a diagnosis of breast cancer, time of disease progression 2-5
câncer de mama, tempo de evolução de 2 a 5 anos, com predomínio years, prevalence of surgical treatment, physiotherapeutic diagnosis
de tratamento cirúrgico, diagnóstico fisioterapêutico de alterações associated with vascular dysfunction and complaints of pain and
vasculares e queixas de dor e edema. swelling in the limbs.
Palavras-chave: perfil de saúde, serviço hospitalar de fisioterapia, Key-words: health profile, physical therapy department hospital,
neoplasias da mama, cirurgia plástica, complicações pós- breast neoplasms, plastic surgery, postoperative complications.
operatórias.
Tabela I - Perfil dos pacientes com relação às variáveis número de prontuários, gênero, faixa etária, IMC e nível de escolaridade.
Geral Incluídos Excluídos p-valor
Prontuários
n = 421 91,7% (n = 386) 8,3% (n = 35) < 0,001*
Geral Feminino Masculino
Gênero
n = 386 73,1% (n = 282) 26,9% (n = 104) < 0,001*
Faixa Etária (Anos) 51,1 ± 16 51,6 ± 14,9 49,8 ± 18,8 0,439**
IMC (Kg/m2) 27,5 ± 5,7 28 ± 5,8 25,9 ± 5,4 0,010**
n % p-valor
Não Informado 185 47,9 < 0,0011
Ensino médio completo 61 15,8
0,6162
Ensino fundamental incompleto 56 14,5
Escolaridade
Ensino fundamental completo 33 8,5
(n = 386)
Ensino superior completo 27 7
Ensino médio incompleto 13 3,4
Ensino superior incompleto 7 1,8
Analfabeto 4 1
Valores de p < 0,05 considerados significantes; *Teste de Igualdade de Duas Proporções; **Teste de Mann-Whitney; 1Valor de p na comparação com as
demais variáveis de escolaridade; 2Valor de p na comparação entre Ensino médio completo e Ensino fundamental incompleto.
índice menor comparado a Moraes et al. [7] 11,88% (n Em relação à idade, observou-se média de 51,1 ± 16 anos,
= 34) e Tacani, Machado, Tacani [6] 37,25% (n = 19), os com mínima de 1 ano e máxima de 87 anos, mostrando que
quais obtiveram suas variáveis pela revisão de prontuários tanto doenças infantis quanto geriátricas podem causar dis-
também. A exclusão ocorreu pela falta de informações, funções dermatológicas e/ou vasculares, como queimaduras
demonstrando a relevância de se anotar dados de forma [16], epidermólise bolhosa [17] e úlceras por pressão devido as
adequada para futuro uso desses. doenças neurológicas [18]. Para cirurgia plástica nota-se uma
A prevalência do gênero feminino (73,1%; n = 282), faixa etária de adultos jovens (21 a 35 anos) [8] enquanto que
mostrou que as mulheres tem grande preocupação com a o câncer [7,11] e doenças reumatológicas, como a osteoartrose
saúde, buscando tratamentos devido a insatisfação com a [19] permeiam os 50 anos. Para doenças neurológicas, como
própria imagem e o pudor relacionado ao parceiro, podendo o acidente vascular encefálico [20] e doenças vasculares, a
estar ou não associados ao desconforto físico, visando sempre prevalência aumenta com a idade, atingindo pessoas por volta
o padrão de beleza imposto pela sociedade [8,6,9]. Ademais, dos 60 anos [21,22].
há a predisposição para algumas doenças, como o câncer e a A maioria dos prontuários coletados não continha dados
obesidade. O câncer de mama é o mais frequente no mundo, sobre a escolaridade (47,9%) e dos 52,1% restantes, 15,8%
atingindo 28% das neoplasias malignas femininas no Brasil tinham completado o ensino médio e 14,5% ainda tinham
e é a principal causa de mortalidade feminina [10,11]. O o ensino fundamental incompleto, estando de acordo com
sobrepeso e a obesidade na população brasileira é maior no Tournieux et al. [8], os quais avaliaram 90 pacientes subme-
gênero feminino, atingindo de 53,1% a 61,9%, com idade tidas à cirurgia plástica e a maioria (36%) tinham o ensino
entre 40 e 69 anos [6,12,13]. Esses dados corroboram o médio, mas difere de Machado e Nogueira [15], pois dos 386
presente estudo, pois o câncer de mama foi a neoplasia mais pacientes atendidos em três serviços de fisioterapia (particular,
prevalente (60,5%), o IMC acima do normal (28 ± 5,8 kg/ municipal e estadual) 31,1% eram analfabetos. Os resulta-
m2) e idade de 51,6 ± 14,9 anos. dos mostraram uma heterogeneidade quanto à escolaridade,
Além disso, 96% dos pacientes em cirurgia plástica são do possivelmente pela diferença de idade e apesar dos locais de
gênero feminino [8], sendo o segundo diagnóstico médico mais coleta serem afiliados ao SUS, se aceitam encaminhamentos
frequente encontrado na população avaliada. Estudos brasileiros de redes particulares.
apontam a prevalência de mulheres (84,3% [6], 49% [14] e Os diagnósticos médicos mais encontrados foram o câncer
62,5% [15]) em serviços de fisioterapia, tanto públicos como (41,3%) e pós-operatório de cirurgia plástica (28,4%), possi-
privados, pela carga extra de afazeres, ligada às tarefas domésti- velmente porque nos locais de coleta se recebem encaminha-
cas, trabalho e sustento da família, aumentando a incidência de mentos de serviços oncológicos e de cirurgia plástica, devido
disfunções osteomioarticulares e pela ampliação da fisioterapia ao crescimento dessas áreas e pela demanda de pacientes
atuando em diferentes condições de saúde, atendendo as queixas que necessitam de fisioterapia especializada em oncologia e
femininas de forma mais adequada [14,15]. cirurgia plástica [7,10].
354 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
O aumento dos procedimentos em cirurgia plástica [23,8] e algumas complicações como seroma, equimose,
também se refletiu neste estudo, pois foi o segundo diag- deiscência, comuns a tal procedimento [9,22,23], pode-
nóstico mais encontrado e a abdominoplastia (48,5%) o rem ser minimizados pela fisioterapia dermatofuncional,
mais prevalente, provavelmente pela crescente procura a qual também pode favorecer a viabilidade de retalhos
para correção das deformidades da parede abdominal cutâneos [24].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 355
O diagnóstico fisioterapêutico mais observado foi o re- movimento e parestesias [11,25], também observados neste
lacionado a alterações vasculares e linfáticas (75,1%) como estudo (72,4% e 60,5%, respectivamente).
edemas pós-operatórios, linfedema de membros e face e Dentre as alterações cutâneas (36,3%), as aderências e fi-
edemas por causas diversas nos MMII. Estima-se que existam broses prevaleceram (55,5%), pois os tratamentos cirúrgicos e
450 milhões de pessoas com distúrbios linfáticos, ou seja, 15% por radioterapia levam ao processo de cicatrização e eventuais
da população mundial [21] e o linfedema de MMSS devido complicações cutâneas [11,25].
à mastectomia e linfonodectomia teve destaque (30,3%). A dor é o principal sintoma que leva os indivíduos a procu-
Sabe-se que é alta a incidência dessa complicação [11,25] e rarem serviços de saúde e foi a queixa mais encontrada (44%)
possivelmente esteve alta nesse estudo devido ao câncer de juntamente com edema (39,1%), presentes em um grande
mama ser o mais prevalente. O linfedema é uma complicação número de disfunções, pois o aumento de peso e volume do
severa que evolui progressivamente associado à limitação de membro edemaciado comprime as estruturas nervosas e tra-
356 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
ciona as ligamentares e tendíneas, além do fator psicológico 7. Moraes AB, Zanini RR, Turchiello MS, Riboldi J, Medeiros LR.
desencadeado pela deformidade estética do membro [11,25], Estudo da sobrevida de pacientes com câncer de mama atendidas
associados a disfunções osteomioarticulares crônicas [19] e no hospital da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande
do Sul, Brasil. Cad Saúde Publica 2006;22(10):2219-28.
pós-operatórios, também encontrados na amostra estudada.
8. Tournieux TT, Aguiar LFS, Almeida MWR, Prado LFAM,
O caráter crônico das doenças foi marcante neste estudo, Radwanski HN, Pitanguy I. Estudo prospectivo da avaliação da
pois o tempo de evolução de 2 a 5 anos foi o período mais qualidade de vida e aspectos psicossociais em cirurgia plástica
frequente (20,2%) e mesmo nos casos mais recentes, como estética. Rev Bras Cir Plast 2009;24(3):357-61.
nos pós-operatórios (1 e 3 meses), já tardio para reabilitação, 9. Azevedo de Brito MJ, Nahas FX, Bussolaro RA, Shinmyo LM,
a demora se deva pela espera no tempo de marcação das Barbosa MVJ, Ferreira LM. Effects of abdominoplasty on female
consultas, problema constante no atendimento SUS [14] ou, sexuality: A pilot study. J Sex Med 2012;9:918-26.
10. Gouveia OEX, Melo ECP, Pinheiro RS, Noronha CP, Car-
pelo encaminhamento tardio à fisioterapia [25].
valho MS. Acesso à assistência oncológica: mapeamento dos
fluxos origem-destino das internações e dos atendimentos
Conclusão ambulatoriais. O caso do câncer de mama. Cad Saúde Pública
2011;27(2):317-26.
Apesar de ainda não ser um trabalho completo de perfil 11. Khan F, Amatya B, Pallant JF, Rajapaksa I. Factors associated
clínico-epidemiológico dentro de todas as subáreas da fisio- with long-term functional outcomes and psychological sequelae
terapia dermatofuncional, pôde-se caracterizar os principais in women after breast cancer. Breast J 2012;21(3)314-20.
12. Abrantes MM, Lamounier JA, Colosimo EA. Prevalência de
problemas de saúde apresentados pelos pacientes que buscam sobrepeso e obesidade nas regiões nordeste e sudeste do Brasil.
essa especialidade. Dessa forma, este estudo contribuiu para Rev Assoc Med Bras 2003;49(2):162-6.
nortear os próprios fisioterapeutas e outros profissionais, escla- 13. Olinto MTA, Nacul LC, Dias-da-Costa JS, Gigante DP, Me-
recendo quais pacientes podem ser encaminhados, favorecendo nezes AMB, Macedo S. Níveis de intervenção para obesidade
a qualidade do tratamento especializado para cada indivíduo. abdominal: prevalência e fatores associados. Cad Saúde Pública
Contudo, as possibilidades de pesquisa e informações 2006;22(6):1207-15.
sobre essa área ainda estão distantes de serem esgotadas, por 14. Siqueira FV, Facchini LA, Hallal PC. Epidemiology of physio-
therapy utilization among adults and elderly. Rev Saúde Pública
isso sugerem-se mais estudos sobre o perfil dos pacientes que 2005;39(4):663-8.
buscam a fisioterapia dermatofuncional no contexto particular 15. Machado NP, Nogueira LT. Avaliação da satisfação dos usuários
e em outros estados brasileiros, a fim de favorecer seu cresci- de serviços de fisioterapia. Rev Bras Fisioter 2008;12(5):401-8.
mento e padronizar as ações terapêuticas para os pacientes. 16. Coutinho BBA, Balbuena MB, Anbar RA, Anbar RA, Gomes AK,
Observou-se que a população estudada no âmbito hospitalar Gomes APYN. Perfil epidemiológico de pacientes internados na
e ambulatorial, em São Paulo/SP, foi caracterizada pela prevalên- enfermaria de queimados da Associação Beneficente de Campo
cia de mulheres, por volta dos 50 anos, com sobrepeso, grau de Grande Santa Casa/MS. Rev Bras Cir Plast 2010;25(4):600-3.
17. Horn HM, Priestley GC, Eady RAJ, Tidman MJ. The pre-
escolaridade entre médio e fundamental, diagnóstico de câncer valence of epidermolysis bullosa in Scotland. Br J Dermatol
de mama, tempo de evolução de 2 a 5 anos, predomínio de 1997;136:560-4.
tratamento cirúrgico, diagnóstico fisioterapêutico de alterações 18. Samaniego IA. A sore spot in pediatrics: risk factors for pressure
vasculares (linfedema) e queixas de dor e edema. ulcers. Dermatol Nurs 2004;16(2):153-9.
19. Leite AA, Costa AJG, Matheos de Lima BA, Padilha AVL,
Referências Cavalcanti de Albuquerque E, Marques CDL. Comorbidades
em pacientes com osteoartrite: frequência e impacto na dor e na
função física. Rev Bras Reumatol 2011;51(2):113-23.
1. Tacani RE, Pires de Campos MSM. A fisioterapia, o profissional
20. Jaul E. Assessment and management of pressure ulcers in the
fisioterapeuta e seu papel em estética: Perspectivas históricas e
elderly: current strategies. Drugs Aging 2010;27(4):311-25.
atuais. Rev Bras Cienc Saúde 2004;2(4):46-9.
21. Kafejian-Haddad AP, Sanjar FA, Hiratsuka J, Debs PGK, Fer-
2. Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, nandes MBR, Kafejian O. Análise dos pacientes portadores de
Figueiredo IM. A profissionalização da fisioterapia em Minas linfedema em serviço publico. J Vasc Br 2005;4(1):55-8.
Gerais. Rev Bras Fisioter 2006;2(10):241-7. 22. Pereira GJM, Massari PG, Rosinha MY, Brandão RM, Casas
3. Guirro ECO, Guirro RRJ. Fisioterapia Dermato-Funcional: fun- ALF. Epidemiological data and comorbidities of 428 patients
damentos, recursos e patologias. 3ª ed. São Paulo: Manole; 2002. hospitalized with erysipelas. Angiology 2010;61(5):492-4.
4. Milani GB, João SMA, Farah EA. Fundamentos da fisiote- 23. Cintra Júnior W, Modolin M, Gobbi CIC, Gemperli R, Fer-
rapia dermatofuncional: Revisão de literatura. Fisioter Pesq reira MC. Abdominoplastia circunferencial em pacientes após
2006;13(1):37-43. cirurgia bariátrica: avaliação da qualidade de vida pelo critério
5. Meyer PF, Medeiros JO, Oliveira SSG. O papel psicossocial adaptativo. Rev Bras Cir Plast 2009;24(1):52-6.
do ambulatório de fisioterapia dermatofuncional na saúde da 24. Tacani PM, Liebano RE, Pinfildi CE, Gomes HC, Arias VE, Ferrei-
população de baixa renda. Fisioter Mov 2003;16(4):55-61. ra LM. Mechanical stimulation improves survival en random-pat-
6. Tacani PM, Machado AF, Tacani RE. Perfil clínico dos pacientes tern skin flaps in rats. Ultrasound Med Biol 2010;36(12):2048-56.
atendidos em fisioterapia dermatofuncional na clínica da Uni- 25. Bergmann A, Koifman RJ, Koifman S, Ribeiro MJP, Mattos IE.
versidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Rev Bras Upper limb lymphedema following breast cancer surgery: preva-
Cienc Saúde 2009;6(21):36-43. lence and associated factors. Lymphology 2007;40(Suppl):96-106.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 357
Artigo original
Resumo Abstract
Introdução: Úlceras venosas são conceituadas como a ruptura de Introduction: Venous ulcers are defined as the rupture of anato-
estrutura anatômica do corpo com comprometimento do mecanis- mical structure of the body which affects the physiological tissue-
mo fisiológico do tecido envolvido, sendo o tipo de úlcera de maior -protecting mechanism, and this kind of ulcer is predominant and
predomínio e com grande recidiva. A Estimulação Elétrica de Alta has high risk of recurrence. The High Voltage Electrical Stimulation
Voltagem (EEAV) vem sendo utilizada como recurso de destaque no (HVES) has been used as a prominent feature in the treatment of
tratamento de úlceras venosas. Objetivos: Analisar o efeito da EEAV venous ulcers. Objectives: To analyze the effect of the HVES in
na área, dor e edema provocadas por úlceras venosas. Material e mé- areas of venous ulcers, including pain and edema. Methods: Five
todos: Foram estudados 5 voluntários, entre 60 e 80 anos, de ambos volunteers, both genders, 60 to 80 years old, who had chronic
os gêneros, com úlceras venosas crônicas em membros inferiores, lower limb ulceration and performed regular treatment, cleaning
que realizavam tratamento convencional, limpeza e curativo no and healing in the João de Barros Barreto University Hospital were
Hospital Universitário João de Barros Barreto. A EEAV foi aplicada studied. The HVES was applied three times a week, during thirty
três vezes por semana, por trinta minutos, durante oito semanas. minutes, through eight week. Results: We observed reduction be-
Resultados: Observou-se redução na área das úlceras antes e após o tween the areas of the ulcers, before and after the HVES treatment
tratamento com a EEAV (p = 0,009), assim como redução da dor (p = 0.009), followed by a reduction of pain in the affected area (p
na área ulcerada (p = 0,01). Não houve diferença significativa no = 0.01). There was no significant difference in the treated edema
edema com o tratamento (p = 0,46). Conclusão: A EEAV foi eficaz (p = 0.46). Conclusion: The HVES proved to be effective to treat
no tratamento de úlceras venosas crônicas de membros inferiores, chronic venous ulcers in lower limbs, as we observed a reduction in
havendo redução da área ulcerada e diminuição da dor, não tendo ulcer area and pain relief, but it was ineffective to control the edema.
sido eficaz para o tratamento do edema. Key-words: Venous ulcers, electric stimulation, wound healing.
Palavras-chave: úlcera venosa, estimulação elétrica, cicatrização.
pela Organização Mundial de Saúde (2004); indivíduos que Os pacientes foram avaliados no início do tratamento e ao
estivesse sob acompanhamento médico no HUJBB. final da 8ª semana por meio da escala visual analógica (EVA)
Foram excluídos do estudo indivíduos que estavam fazendo que classificou a dor do paciente em uma escala de zero (sem
outro tratamento além do orientado pelos médicos do HUJBB, dor) a dez (dor máxima).
bem como os que não compareciam aos dias de tratamento. Para o registro fotográfico das úlceras crônicas utilizou-se
Dessa forma, houve a necessidade de excluir um paciente, uma câmara digital Panasonic® Lumix 10 mega pixels, posi-
ficando a amostra com 5 indivíduos. De início foi feita a ana- cionada a 20 cm do centro da úlcera, em ambiente iluminado.
mnese dos pacientes por meio de ficha de avaliação com dados Posteriormente a esse processo, as imagens foram transferidas
de identificação que foram mantidos em sigilo, anamnese, para o computador, para que a área da úlcera fosse analisadas
análise da composição corporal (IMC = peso/altura2, baseado com o programa Autocad®, em cm2.
nos valores padronizados pela Organização Mundial de Saúde)
e avaliação do membro inferior do indivíduo, contemplando Resultados
a presença de dor nos membros inferiores, edema, número de
úlceras presentes, número de episódios de ulceração (caso fosse Os cinco pacientes do estudo (um do gênero masculino
úlcera recidivante) e tempo gasto em tratamentos anteriores. e quatro do gênero feminino) apresentaram média de idade
Previamente a cada atendimento foi realizada limpeza da de 63,2 ± 9,9 anos. Alguns deles apresentavam mais de uma
úlcera, executada pela equipe de enfermagem, a qual atuou na úlcera, as quais tiveram em média 3 ± 2,12 anos de existência.
remoção do curativo anterior e limpeza com soro fisiológico Todas as úlceras estavam localizadas no terço inferior da perna.
(cloreto de sódio a 0,9%) para remover a descamação e exsudato. A tabela I apresenta a caracterização da amostra.
Após essa limpeza, a cavidade da úlcera era preenchida com gazes
estéreis, embebidas com soro fisiológico, que serviu como meio Tabela I - Características da amostra quanto à média de idade,
de condução da estimulação elétrica de alta voltagem (EEAV). índice de massa corpórea (IMC) e tempo de úlcera ativa.
Para o tratamento das úlceras venosas crônicas foi Amos- N Idade (anos) IMC (kg/m²) Tempo de úlce-
utilizado o equipamento de estimulação elétrica de alta tra ra ativa (anos)
voltagem (EEAV), modelo Neurodyn High Volt® - ANVISA 5 63,2 ± 9,9 23,2 ± 2,54 3 ± 2,12
10360310008 (IBRAMED®).
No presente estudo foram utilizados eletrodos ativo e A análise dos dados foi processada utilizando-se o progra-
dispersivo, do tipo silicone-carbono, de polaridades diferentes ma Epi Info® versão 3.5.1. Primeiramente foi analisado o grau
(negativo e positivo), previamente esterilizados com glutaral- de normalidade da amostra por meio do teste de Shapiro Wilk
deído (Glutaron II). Inicialmente o tratamento foi realizado e em seguida utilizou-se o Teste-t para comparação entre as
com o eletrodo negativo (ativo) sobre a úlcera até que a mesma médias das áreas das úlceras antes e após a intervenção, o teste
apresentasse uma aparência serosanguínea e posteriormente de Kruskal Wallis para comparação das médias da dor e peri-
houve a inversão de polaridade, de acordo com o sugerido metria antes e após intervenção com a EEAV, considerando-se
por Unger [23], onde o eletrodo positivo passa a ser ativo. nível de significância de 5% (p-valor < 0,05).
Os eletrodos foram fixados em contato com as gazes por De acordo com o Gráfico 1, observa-se que houve dife-
meio de fita adesiva, sendo o eletrodo ativo posicionado rença significativa na área da úlcera antes (1,03 ± 1,1) e após
sobre a úlcera e o eletrodo dispersivo posicionado a 20 cm (0,9 ± 1,1) o tratamento com a EEAV (p = 0,009).
de distância desta (Figura 1). Os parâmetros adotados para a
EEAV foram: frequência de 100 Hz e intensidade média de Gráfico 1 - Área (cm2) das úlceras venosas de membros inferiores
100 V, três vezes por semana, por trinta minutos, durante oito antes e após o tratamento com a EEAV.
semanas conforme utilizado por Davini et al. [24]. 1,04
1,03
1,02
Área da úlcera (cm2)
Fonte: Autores.
360 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
De acordo com o Gráfico 2, observa-se que houve dife- Foi utilizada a estimulação elétrica de alta voltagem no modo
rença significativa na dor da área ulcerada antes (7,5 ± 1,9) e contínuo; frequência de repetição de pulso de 100Hz; inten-
após (4,5 ± 2,4) o tratamento com a EEAV (p = 0,01) sidade da corrente e duração de pulso de 20ms e tempo de
aplicação de 30 minutos, sendo que a polaridade negativa foi
Gráfico 2 - Dor nas úlceras venosas antes e após o tratamento com utilizada nos quatro primeiros atendimentos e a positiva nos
a EEAV. vinte atendimentos subsequentes, totalizando, assim, vinte e
8 quatro aplicações. A amostra final de tal estudo foi composta
7 por seis pacientes. Houve redução da úlcera em cinco dos seis
6 pacientes e em um, do grupo experimental, aumento da área
* durante o tratamento, porém a utilização da eletroestimulação
Dor (Eva)
5
4 se mostrou ineficaz na amostra utilizada pelos autores já que
3 não houve diferença estatística entre os dois grupos estudados.
2
Já no presente estudo, realizado com apenas um grupo
de cinco pacientes (totalizando oito feridas) portadores de
1
úlceras venosas de membros inferiores, pôde ser observado
0
Antes Depois que após a aplicação da estimulação elétrica de alta voltagem,
durante 24 sessões, houve redução na área das úlceras após
(*) = p < 0,05.
intervenção com a EEAV. Dessa forma, a EEAV se mostrou
De acordo com o Gráfico 3, observou-se que não houve eficaz na amostra utilizada. Semelhante ao estudo anterior,
diferença significativa na redução do edema provocado pelas um dos pacientes teve a área da úlcera aumentada durante o
úlceras venosas crônicas antes (29,9 ± 3,56) e após (29,5 ± tratamento, porém tal aumento se deu devido a um trauma
3,54) o tratamento com a EEAV (p = 0,462). na região ulcerada.
Silva et al. [6] utilizaram 15 voluntários portadores tam-
Gráfico 3 - Perimetria das úlceras venosas de membros inferiores bém de úlceras venosas de membros inferiores que foram
antes e após o tratamento com a EEAV. divididos aleatoriamente em dois grupos: o grupo I recebia
30 tratamento com a EEAV e o grupo II recebia tratamento
29,9
com terapia convencional. Tais autores realizaram 10 sessões
durante 30 minutos cada, adotando os seguintes parâmetros:
Perimetria (cm)
quatro atendimentos e a polaridade positiva adotada nos ser controladas, dessa forma, é possível aplicar a EEAV com
vinte atendimentos subsequentes. Já Pizano [3] e Silva et al. uma frequência elevada e intensidade baixa, buscando o con-
[6] realizaram em seus estudos o equipamento de EEAV em trole da dor pela teoria das comportas, ou também a EEAV
úlceras cutâneas, com frequência de 2 sessões semanais, e pode ser aplicada adotando-se uma frequência baixa e uma
duração de 5 semanas, sendo que no tratamento foi utilizado intensidade alta, atingindo assim o controle da dor através
como eletrodo ativo apenas o polo negativo, sem inversão de da liberação de encefalinas.
polaridade. Também o estudo feito por Silva et al. [6] com Além da dor, também foi realizado no presente estudo a
o uso da EEAV em úlceras cutâneas crônicas de membros análise de edema do membro inferior acometido pela úlcera
inferiores utilizou somente a estimulação catódica (polo por meio da medição da perimetria antes e após o tratamento.
negativo) sobre a úlcera no tratamento com duração de 15 Apesar de outros trabalhos na literatura citarem que a EEAV
semanas (duas sessões semanais). reduz edema [25,29] não foram encontrados resultados
No que diz respeito à função das polaridades no reparo estatísticos significativos no presente estudo.
tecidual, o polo positivo parece promover a migração e a pro- Sugere-se que outros estudos sejam realizados com a
liferação de células epiteliais, efeito bactericida, e atração de EEAV, para determinar novos parâmetros de estimulação, para
macrófagos. Já o polo negativo é responsável pela migração de elucidar a polaridade que melhor se aplica ao tratamento de
fibroblastos, migração de neutrófilos, os quais são responsáveis úlceras venosas e que tenham uma amostra maior, além da
por promover autólise dos tecidos necróticos e fagocitose de comparação do tratamento da EEAV com um grupo controle
bactérias e restrição da infiltração de moléculas proteicas, ou com outros métodos que favorecem a cicatrização tecidual,
limitando assim a formação de edema [12]. justificando assim as incertezas atribuídas, pertinentes a essa
Segundo Davini et al. [4], os mecanismos pelos quais a forma de estimulação, mostrando suas reais ações [30].
EEAV promove a cicatrização de úlceras cutâneas não está to-
talmente esclarecido, porém, uma das hipóteses mais prováveis Conclusão
para explicar tal processo está relacionada ao efeito bactericida
promovida pela corrente, onde as mudanças eletroquímicas Diante do exposto pode-se concluir que Estimulação
na área ulcerada são as principais responsáveis por esse efeito. Elétrica de Alta Voltagem foi eficaz no tratamento de úlceras
A conclusão sobre qual a melhor polaridade a ser inicial- venosas crônicas de membros inferiores, havendo redução
mente utilizada neste tratamento se deu com base em artigos da área ulcerada e diminuição da dor, não tendo sido eficaz
recentes de Davini et al. [4]; Pizzano [3]; Silva et al. [6]. para o tratamento do edema. Sugere-se que estudos futuros
Além de apresentar grande eficácia na aceleração da repa- sejam realizados, apresentando número de amostra adequado
ração dos tecidos dérmicos e subdérmicos, a EEAV pode ser e maior controle de variáveis, a fim de que seja estabelecido
efetiva no controle e absorção de edemas agudos e também no consenso dos parâmetros da EEAV para melhor aproveita-
controle do processo álgico. Muitos experimentos realizados mento desta corrente.
com a EEAV em seres humanos até o momento priorizou a
ação circulatória e regenerativa, porém a analgesia também Referências
pode ser alcançada com o uso dessa corrente, conforme cons-
tatado por alguns autores [15]. 1. Berusa AAS, Lages JS. Integridade da pele prejudicada: identifi-
Silva et al. [27] analisaram em um estudo a área da úlcera e cando e diferenciando uma úlcera arterial e uma venosa. Cienc
a dor antes e após a utilização da EEAV. Para isso selecionaram Cuid Saúde 2004;3(1):81-92.
2. Santos RP, Nascimento CA, Andrade EN. Uso da eletroestimu-
uma amostra contendo três voluntários, portadores de úlceras
lação de alta voltagem na cicatrização de úlceras venosas. Fisioter
cutâneas crônicas de etiologias distintas em membros inferio-
Mov 2009;22(4):615-23.
res. A intervenção terapêutica proposta pelos autores constou 3. Pizano CA. Estimulação elétrica de alta voltagem em úlceras
de 30 minutos de aplicação da corrente EEAV, durante 15 cutâneas crônicas. 15º Congresso de pós-graduação 5º Mostra
semanas (duas sessões semanais), nos seguintes parâmetros: Acadêmica UNIMEP 2007 out. 23-26; Piracicaba.
estimulação catódica, tensão mínima de 100V. Quanto à 4. Davini R, Nunes CV, Guirro ECO, Guirro RRJ, Fascina E,
área ulcerada, os autores constataram por meio das análises Oliveira M, et al. Tratamentos de úlceras cutâneas crônicas por
que houve redução média de 36%. Por meio da avaliação da meio da estimulação elétrica de alta voltagem. Rev Cienc Med
escala visual analógica (EVA), observou-se que os voluntários 2005;14(3):249-58.
tiveram redução do quadro doloroso variando de 55% e 43% 5. Souza FAMR. O “corpo” que não cura vivências das pessoas
com úlceras venosas crônica de perna [Dissertação]. Coimbra:
após tratamento com a EEAV. Corroborando o estudo de
Universidade do Porto; 2009.
Silva et al. [27], também foi observado no presente estudo a 6. Silva EFH. Estimulação elétrica de alta voltagem em úlceras
redução da dor após o tratamento com a EEAV. varicosas. 6º Congresso de pós-graduação 6ª mostra acadêmica
Almeida [28] cita que as características da Estimulação UNIMEP 2008 Set–out; Piracicaba.
Elétrica de Alta Voltagem são apropriadas para o controle da 7. Abbade LPF, Lastoria S. Abordagem de pacientes com úlcera da
dor, visto que a intensidade e a frequência da corrente podem perna de etiologia venosa. An Bras Dermatol 2006;81(6):509-22.
362 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
8. Silva FAA, Freitas CHA, Jorge MSB, Moreira TMM, Alcântara 20. Leoni ASL, Mazer N, Guirro RRJ, Jatte FG, Chereguini,
MCM. Enfermagem em estomaterapia: cuidados clínicos ao por- PAC, Monte-raso VVM. Estimulação elétrica de alta voltagem
tador de úlceras venosas. Rev Bras Enferm 2009;62(6):889-93. em nervo ciático de ratos: estudo pelo ifc. Acta Ortop Bras
9. Conceição CC, Mendes AP. C. O uso da estimulação elétrica 2012;20(2):93-7.
de alta voltagem no tratamento da úlcera venosa crônica. Rev 21. Kantor G, Alon G, Ho HS. The effects of selected stimulus
Fisioter Bras 2008;9(5):347-53. waveform on pulse and phase characteristics at sensory and
10. Maffei FHA, Lastoria S, Yoshida W, Rollo H, Giannini M, motor thresholds. Phys Ther 1994;74(10):951-62.
Moura R. Doenças vasculares periféricas. 4ª ed. Rio de Janeiro: 22. Nelson RM, Hayes KW, Currier DP. Clinical electrotherapy.
Medsi; 2002. p.1582-90. New York: Prentice Hall; 1999.
11. Silva RCL, Figueiredo NMA, Meireles IB, Costa M, Silva C. 23. Unger PC. Randomized clinical trials of the effect of high
Feridas: fundamentos e atualizações em enfermagem. 3ª ed. São voltage pulsed current on wound healing. Phys Ther 1991;71(
Caetano do Sul: Yendis; 2011. Suppl):118.
12. Barros Júnior NB. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. 24. Davini R, Nunes CV, Guirro EOC, Guirro RRJ. Estimulação
Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA, 2003. elétrica de alta voltagem: uma opção de tratamento. Rev Bras
13. Mandelbaum SH, Di Santis EP, Mandelbaum MHS. Cicatri- Fisioter 2005;9(3):249-56.
zação: conceitos atuais e recursos auxiliares – parte I. An Bras 25. Ferrareto SB. Estimulação elétrica de alta voltagem em úlceras
Dermatol 2003;78(4):393-410. cutâneas crônicas. 7ª mostra acadêmica UNIMEP. 17º Con-
14. Yamada EF, Rodrigues PL, Pereira TF. Relato de caso: compa- gresso de Iniciação Científica; 2009.
ração entre laserterapia e estimulação elétrica de alta Voltagem 26. Unger P, Eddy J, Raimastry AS. A controlled study of the effect
em úlcera de superfície. XIII Encontro Latino Americano de of high voltage pulsed current (HVPC) on wound healing. Phys
Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós- Ther 1991;71(Suppl):119.
-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba; 2009. 27. Silva E, Martins C, Guirro E, Guirro R. Estimulação elétri-
15. Stralka SW, Jackson JA, Lewis AR. Treatment of hand and wrist ca de alta voltagem como alternativa para o tratamento de
pain: A randomized clinical trial of high voltage pulsed, direct úlceras crônicas de membros inferiores An Bras Dermatol
current built into a wrist splint. AAOHN J 1998;46(5):233-6. 2010;85(4):567-79.
16. Azevedo GC, Carvalho Júnior JMC, Slutzky LC. A utilização 28. Almeida AFN. Efeito do tratamento com estimulação elétrica
da estimulação elétrica de alta voltagem no tratamento da de alta voltagem sobre a dor e atividade eletromiográfica dos
epicondilalgia lateral do cotovelo (TCC). Joinville: Associação músculos mastigatórios em mulheres com DTM [Dissertação].
Catarinense de Ensino; 2011. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba; 2007.
17. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Clinical electrophysiology: 29. Gomes NCMC, Berni-schwazenbeck KCS, Packer AC, Rodri-
electrotherapy an electrophysiology testing. Baltimore: Williams gues-Bigaton D. Efeito da estimulação elétrica de alta voltagem
e Wilkins; 1995. catódica sobre a dor em mulheres com DTM. Rev Bras Fisioter
18. Santos ASA. Efeito da estimulação elétrica de alta voltagem 2012;16(1):10-5.
com alternância de polaridade na lesão tegumentar. Análise 30. Guidetti EL. Efeito da estimulação elétrica de alta voltagem em
histopatológica em ratos. 18ª Congresso de Iniciação Científica diferentes parâmetros na lesão tegumentar. Análise histopatoló-
8ª Mostra Acadêmica UNIMEP 2010; Piracicaba. gica em ratos. 18º Congresso de Iniciação Científica. 8ª Mostra
19. Garcia LB, Guirro ECO, Montebello MIL. Efeitos da estimu- Acadêmica UNIMEP 2010 out; Piracicaba.
lação elétrica de alta voltagem no linfedema pós-mastectomia
bilateral: estudo de caso. Fisioter Pesq 2007;14(1):67-71.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 363
Artigo original
*Especialista, Fisioterapeuta da Clínica Integrar, Viçosa/AL, **Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCI-
SAL), Maceió/AL, ***Especialista, Faculdade Alagoana de Administração (FAA), Maceió/AL, ****Instituto de Medicina Integral
Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife/PE
Resumo Abstract
Introdução: A asma é a doença crônica mais comum da infância, Introduction: Asthma is the most common childhood chronic di-
caracterizada pela hiper-responsividade das vias aéreas inferiores sease characterized by lower airway hyperresponsiveness and variable
e pela limitação variável ao fluxo aéreo. Objetivo: Determinar os airflow limitation. Objective: To determine factors associated with
fatores associados à qualidade de vida de crianças asmáticas em um asthmatic children’s quality of life in a specialized public outpatient
ambulatório público especializado. Métodos: Foram coletados dados service. Methods: Socioeconomic and biological data of 77 asthmatic
socioeconômicos familiares e biológicos de 77 crianças asmáticas children, from 7 to 12 years, between August and September 2010,
entre 7 e 12 anos, no período de agosto e setembro de 2010, em in a specialized public outpatient service in Maceió, Alagoas were
um ambulatório público especializado em Maceió/AL. A avaliação collected. The quality of life evaluation was performed using the Pa-
da qualidade de vida foi realizada através do Paedriatric Asthma edriatric Asthma Quality of Life Questionnaire - adapted (PAQLQ-
Quality of Life Questionnaire – adaptado (PAQLQ-A). Para análise -A). To statistical analysis the chi-square and Fisher exact tests (p ≤
estatística utilizaram-se os testes do qui-quadrado e exato de Fisher 5%) were used. Results: The average age of children’s was 9.31 years
(p ≤ 5%). Resultados: A idade média das crianças em anos foi de 9,31 (± 1.7). The majority (60.8%) had a total household income of 1 to
(± 1,7). A maioria (60,8%) tinha uma renda familiar total de 1 a 2 2 minimum wages, and 67.5% had mild asthma. The quality of life
salários mínimos, 67,5% possuíam asma do tipo leve. A qualidade was considered poor in 24.7%. The children’s age from 7 to 9 years
de vida foi considerada ruim em 24,7%. A idade das crianças entre and female showed a meaningful association with a better quality
7 e 9 anos e o sexo feminino apresentaram uma associação signifi- of life. Low family income was associated with a poorer quality of
cativa com uma melhor qualidade de vida. A baixa renda familiar life. Conclusion: Asthmatic children of lower socioeconomic status
foi associada a uma pior qualidade de vida. Conclusão: Crianças have more often a poorer quality of life.
asmáticas de níveis socioeconômicos mais baixos apresentam mais Key-words: quality of life, asthma, child.
frequentemente uma pior qualidade de vida.
Palavras-chave: qualidade de vida, asma, criança.
O instrumento utilizado para avaliação da QV foi o Pa- riáveis, apresentando-as por frequência, porcentagem, média,
ediatric Asthma Quality of Life Questionnaire - Adaptado mediana e desvio padrão. Para verificar se havia dependência
(PAQLQ-A), que consiste em 23 questões fragmentadas em entre as variáveis, quando indicado, foram aplicados os testes
três domínios: sintomas, função emocional e limitação nas de associação estatística qui-quadrado (Yates e de tendência)
atividades. Cada questão é pontuada numa escala de 1 a 7 e exato de Fisher. Foi adotado como nível de significância
pontos, onde 1 representa o máximo de prejuízo e 7, nenhum estatística o valor de p < 0,05.
prejuízo [6]. Todas as respostas são somadas, dividindo-se o
valor por 23 para obter a pontuação final em média da QV, Resultados
sendo classificados como “QV ruim” valores inferiores a 4 [16].
A coleta de dados do questionário foi realizada mediante A amostra foi composta por 77 crianças, houve predo-
entrevista aplicada pelo entrevistador. Antes de responder o minância do sexo masculino com 70,1% e a idade média
questionário, foi apresentada uma folha de atividades para o (em anos) foi de 9,31 (± 1,7). Todas as crianças estavam
paciente identificar espontaneamente as três atividades que matriculadas na escola e a maioria estava cursando o ensino
mais o incomodou a executar na última semana. fundamental (92,2%). 57% das crianças tinham uma renda
familiar per capita entre 125,00 e 249,00 reais, o que equivale
Análise estatística a cerca de ¼ a ½ salário mínimo, respectivamente (Tabela
I). Apesar da baixa renda, a maior parte das famílias vivia em
A análise das variáveis foi realizada utilizando o programa casas de alvenaria e possuía bens domésticos como televisão,
Epi-Info, versão 6.04. Foi realizada análise descritiva das va- geladeira, fogão e telefone celular.
Tabela I - Associação entre as características biológicas e socioeconômicas e a qualidade de vida de crianças asmáticas atendidas em um am-
bulatório público especializado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77).
Características Total % (n) Qualidade de ida. P
Boa % (n) Ruim % (n)
Sexo
Feminino 29,9 (23) 78,3 (18) 21,7 (5) 0,01
Masculino 70,1 (54) 74,1 (40) 25,9 (14)
Idade
7 – 9 anos 51,9 (40) 77,5 (31) 22,5 (9) 0,04
10 – 12 anos 48,1 (37) 73,0 (27) 27,0 (10)
Escolaridade
Alfabetização 7,1 (6) 83,3 (5) 16,7 (1) 1,0*
Fundamental incompleto 92,2 (71) 74,6 (53) 25,4 (18)
Escolaridade da mãe
Fundamental incompleto 54,8 (40) 72,5 (29) 27,5 (11) 0,067**
Fundamental completo 12,2 (9) 33,3 (3) 66,7 (6)
Médio incompleto 9,5 (7) 85,7 (6) 14,3 (1)
Médio completo 24,3 (18) 94,4 (17) 5,6 (1)
Escolaridade do pai
Fundamental incompleto 61,3 (38) 71,1 (27) 28,9 (11) 0,397**
Fundamental completo 14,5 (9) 88,9 (8) 11,1 (1)
Médio incompleto - - -
Médio completo 24,2 (15) 80,0 (12) 20,0 (3)
Atividade da mãe
Empregada 26,3 (20) 90,0 (18) 10,0 (2) 0,132
Desempregada 73,7 (56) 69,6 (39) 30,4 (17)
Atividade do pai
Empregado 90,2 (55) 76,4 (42) 23,6 (13) 0,629*
Desempregado 9,8 (6) 66,7 (4) 33,3 (2)
Renda Familiar
< 1 SM 17,6 (13) 46,2 (6) 53,8 (7) 0,013**
1 – 2 SM 60,8 (45) 75,6 (34) 24,4 (11)
3 – 4 SM 21,6 (16) 93,8 (15) 6,3 (1)
*Teste exato de Fisher; ** Qui-quadrado para tendência. SM: Salário Mínimo
366 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
A QV foi considerada ruim em 24,7% das crianças as- Nenhuma outra variável socioeconômica apresentou re-
máticas. Ainda na tabela I, pode-se constatar que as meninas sultado estatisticamente significante quando associada à QV.
asmáticas apresentaram-se em maior percentual na categoria Quanto à gravidade da asma, 67,5% possuíam asma do
QV boa, quando comparadas aos meninos. Além disso, tipo leve, sendo o diagnóstico da asma realizado antes dos 6
pode-se verificar que a menor idade (7 a 9 anos) e a renda anos na maioria dos casos (Tabela II). A prática de alguma ati-
familiar menor que um salário mínimo tiveram um impacto vidade física regular (no mínimo 1 vez/semana) foi observada
negativo na QV. em 63,6%. A presença de rinite alérgica não interferiu na QV.
Tabela II - Associação entre as características clínicas e a qualidade de vida de crianças asmáticas atendidas em um ambulatório público
especializado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77).
Qualidade de vida
Características Total % (n) P
Boa % (n) Ruim % (n)
Classificação da asma
Intermitente 14,3 (11) 81,8 (9) 18,2 (2) 0,460**
Leve 67,5 (52) 71,2 (37) 28,8 (15)
Moderada/Grave 18,2 (14) 85,7 (12) 14,3 (2)
História de asma na família
Sim 71,6 (53) 71,7 (38) 28,3 (15) 0,072*
Não 28,4 (21) 90,5 (19) 9,5 (2)
Fumante dentro de casa
Sim 24,7 (19) 78,9 (15) 21,1 (4) 0,767*
Não 75,3 (58) 74,1 (43) 25,9 (15)
Presença de animal em casa
Sim 46,8 (36) 83,3 (30) 16,7 (6) 0,206
Não 53,2 (41) 68,3 (28) 31,7 (13)
Prática exercício físico
Sim 63,6 (49) 77,6 (38) 22,4 (11) 0,745
Não 36,4 (28) 71,4 (20) 28,6 (8)
Tipo de atividade física
Educação física 65,3 (32) 81,3 (26) 18,8 (6) 0,581
Futebol 24,5 (12) 66,7 (8) 33,3 (4)
Outros 10,2 (5) 80,0 (4) 20,0 (1)
Frequência da atividade física
1 vez/semana 56,2 (27) 74,1 (20) 25,9 (7) 0,733*
> 2 vezes/semana 43,8 (21) 81,0 (17) 19,0 (4)
Tratamento de fisioterapia
Faz\ Já fez 6,5 (5) 80,0 (4) 20,0 (1) 1,000*
Nunca fez 93,5 (72) 75,0 (54) 25,0 (18)
Idade do diagnóstico
≤ 1 ano 44,2 (34) 70,6 (24) 29,4 (10) 0,515**
2 – 6 anos 44,2 (34) 76,5 (26) 23,5 (8)
7 – 10 anos 11,7 (9) 88,9 (8) 11,1 (1)
Uso de Beta 2 de longa duração
Sim 17,1 (13) 84,6 (11) 15,4 (2) 0,721*
Não 82,9 (63) 74,6 (47) 25,4 (16)
Uso de Beta 2 de curta duração
Sim 57,9 (44) 72,7 (32) 27,3 (12) 0,555
Não 42,1 (32) 81,3 (26) 18,8 (6)
Uso de Corticoide
Sim 84,2 (64) 78,1 (50) 21,9 (14) 0,462*
Não 15,8 (12) 66,7 (8) 33,3 (4)
Uso de Anti-histamínico
Sim 22,4 (17) 70,6 (12) 29,4 (5) 0,530*
Não 77,6 (59) 78,0 (46) 22,0 (13)
* Teste exato de Fisher; ** Qui-quadrado para tendência.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 367
Da mesma forma, não foi encontrada nenhuma associação meninas para um dado volume pulmonar [21,23].
significativa entre ter outras doenças alérgicas (conjuntivite O nível de escolaridade tanto da mãe quanto do pai das
alérgica, dermatite e urticária) e a QV. crianças asmáticas mostrou-se muito baixo, a maioria não
Dentre as atividades escolhidas no questionário PAQLQ-A tinha ao menos o estudo fundamental completo. Porém, não
pelas crianças, as mais prevalentes foram correr, jogar bola e foi encontrada nenhuma associação entre baixa escolaridade
subir ladeira. Observa-se que, dentre os domínios limitação materna e pior QV (p= 0,067). Esta associação pode não ter
nas atividades, sintomas e função emocional, o que apresentou sido significante provavelmente pelo número reduzido da
maior percentual de crianças com QV ruim foi o de Limitação amostra. Um estudo transversal realizado num ambulatório no
nas atividades (37,7% das crianças) (Tabela III). estado do Rio de Janeiro com adolescentes asmáticos também
mostrou que o nível de escolaridade materna e paterna não
Tabela III - Domínios limitação nas atividades, sintomas e função influenciou na QV [9]. Já outro estudo realizado em escola-
emocional do questionário PAQLQ-A e a qualidade de vida de res no Recife mostrou uma prevalência maior de asma nos
crianças asmáticas atendidas em um ambulatório público especia- escolares cujas mães possuíam maior nível de instrução [24].
lizado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77). No presente estudo, não foi encontrada associação signi-
Média Ruim % ficante entre o nível de gravidade da asma e a QV. Walker et
Domínios Boa % (n)
(± DP) (n) al. [16] também aplicaram o PAQLQ num grupo de crianças
Limitação nas atividades 4,35 62,3 37,7 asmáticas com média de idade de 8 anos e não encontraram
(± 1,25) (48) (29) associação estatisticamente significante entre a gravidade da
Sintomas 5,02 79,2 20,8 asma e a pontuação total da QV. Entretanto, Nogueira et al.
(± 1,20) (61) (16) [9] observaram um impacto negativo da asma grave na QV,
Função emocional 4,73 79,2 20,8 porém a população estudada foi de adolescentes entre 12 a
(± 1,33) (61) (16) 21 anos de idade e 49% deles tinham asma moderada/grave.
DP: desvio padrão. Os resultados da presente pesquisa podem estar relacionados
ao baixo nível de gravidade clínica e ao fato de que todas as
crianças estavam incluídas no grupo de asma, onde recebiam
Discussão acompanhamento médico e estavam utilizando algum medi-
camento para o controle da asma, o que reduz o número de
Os resultados deste estudo mostram que houve uma exacerbações das crises.
associação entre pior QV e crianças cuja renda familiar foi Embora a presença de outras doenças crônicas alérgicas
abaixo de um salário mínimo. Esse achado está de acordo com não tenha apresentado associação estatisticamente significante
Erickson et al. [17], que também observaram uma relação com a QV na presente pesquisa, houve um elevado índice
consistente e estatisticamente significante entre a renda fami- de rinite alérgica nas crianças avaliadas. De acordo com a
liar e a QV de pacientes pediátricos com asma, constatando literatura, a rinite alérgica atinge no mínimo 10 a 25% da
que quanto maior a renda, melhor a QV. De modo similar, população, sendo considerado um problema global de saúde
Felizola et al. [18] associaram a prevalência de asma e o nível pública [25]. A associação de asma com rinite alérgica pode
socioeconômico de crianças e adolescentes do Distrito Federal, refletir em diminuição na tolerância aos exercícios e no au-
baseados na renda e no nível de escolaridade e observaram mento das faltas escolares, prejudicando a QV [26].
maior prevalência de sintomas de asma nos grupos economi- As atividades escolhidas no questionário PAQLQ-A pelas
camente desfavorecidos. Já Britto et al. [19] não encontraram crianças avaliadas neste estudo coincidem com as atividades
relação entre a presença de asma e pobreza, utilizando como (correr, jogar bola e subir ladeira) também escolhidas pe-
critério baixa renda e muito baixa renda como 50 e 25% do las crianças que participaram do estudo de Rezende [11].
salário mínimo per capita por mês, respectivamente. Porém, Optou-se, na presente investigação, por utilizar a versão do
nenhum desses dois últimos estudos avaliou a QV. PAQLQ-A onde as próprias crianças teriam que indicar as
Nesta pesquisa, com relação às características sociode- atividades que mais incomodavam para serem realizadas no
mográficas, houve uma predominância do sexo masculino seu dia-a-dia. As perguntas individualizadas nos permitem
(70,1%), achado compatível com outros estudos que ava- mensurar as limitações específicas de cada paciente, tornando
liaram crianças com asma [11,14,20,21]. Ainda não há um o resultado mais fidedigno por aproximar-se mais do cotidiano
consenso na literatura sobre a prevalência de asma por gênero, de vida destas crianças.
apesar de ser frequentemente relatada como mais alta no gê- A pontuação da QV subdividida entre os domínios mos-
nero masculino até a pré-adolescência [22]. Provavelmente, trou maior percentual de crianças com QV ruim nos itens
os meninos desenvolvem asma mais precocemente do que de limitação nas atividades (37,7%) e com QV boa nos itens
meninas, devido a algumas diferenças existentes na anatomia relacionados aos sintomas. Resultado semelhante foi encon-
do trato respiratório inferior durante a infância; os meninos trado no estudo de Erickson et al. [21], onde a pontuação da
tendem a possuir menor diâmetro das vias aéreas do que as QV para os pacientes pediátricos variou entre as mais baixas
368 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
no domínio de limitação nas atividades e as mais altas no 3. III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma (CBMA). J Pneu-
domínio da emoção. Isso mostra que a asma teve um pior mol 2002;28(Supl 1):6-51.
impacto na percepção da QV das crianças quando limitava 4. Souza AP, Mancini MC, Resende VDG, Sampaio RF, Ferraz
as atividades que eles gostam de fazer, como esporte, brincar LSBP, Campos TMF, et al. Mobilidade funcional em crianças
asmáticas de 1 a 4 anos. Fisioter Pesq 2006;13:43-7.
com seus amigos e/ou animais de estimação, e ir para as casas
5. Worldwide variations in the prevalence of asthma symptoms:
de seus amigos. the International Study of Asthma and Allergies in Childhood
Apesar do PAQLQ-A ser o instrumento mais indicado (ISAAC). Eur Respir J 1998;12:315-35.
e utilizado em pesquisas científicas para avaliação específica 6. IV Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma. J Bras Pneumol
da QV de crianças com asma [15], observou-se certa dificul- 2006;447:1-474.
dade, principalmente em crianças menores, para escolherem 7. Andrade C, Chatkin JM, Camargos PAM. Avaliação do grau
uma das respostas do cartão. Por se tratar de crianças mais de controle clínico, espirométrico e da intensidade do processo
carentes e com baixo nível cultural, pode ter sido difícil para inflamatório na asma. J Pediatr 2010;93:100.
elas entenderem e diferenciarem o significado, por exemplo, 8. World Health Organization Quality of life Instruments (WHO-
QOL). Measuring Quality of Life. 2009. [citado 2010 Mar
de alguns termos deste instrumento, tais como “muito e bas-
19]. Disponível em URL: http://www.who.int/mental_health/
tante”, “um pouco e quase nada”, “a maior parte do tempo
media/68.pdf
e frequentemente”. 9. Nogueira KT, Silva JRL, Lopes CS. Quality of life of asthmatic
Outra limitação deste estudo diz respeito ao seu desenho, adolescents: assessment of asthma severity, comorbidity, and life
de caráter transversal, pois todos os dados foram coletados style. J Pediatr 2009;85:523-30.
em um único momento e num período curto de tempo, di- 10. Juniper EF. How important is quality of life in pediatric asthma?
ficultando o estabelecimento de uma relação causal entre as Pediatr Pulmonol 1997;15:17-21.
variáveis analisadas e a QV. Por isso, justifica-se a importância 11. Walker J, Winkelstein M, Land C, Lewis-Boyer L, Quartey R,
e a necessidade de novos estudos longitudinais que avaliem Pham L, Butz A. Factors that influence quality of life in rural
a asma e sua influência na QV de crianças em longo prazo. children with asthma and their parents. J Pediatr Health Care
2008;22(6):343-50.
Políticas públicas eficazes centradas em ações preventivas
12. Taketomi EA, Marra SMG, Segundo GRS. Fisioterapia em
e de promoção em saúde são necessárias para oferecer um asma: efeito na função pulmonar e em parâmetros imunológicos.
atendimento integral e centrado no paciente asmático dentro Fitness e Performance Journal 2005;4:97-100.
do seu contexto psicossocial. Investir em programas educa- 13. Rezende IMO, Moura ALD, Costa BC, Faria JM, Almeida
tivos que permitam delinear os grupos de risco e identificar C, Bolina IC, et al. Efeitos da reabilitação pulmonar sobre a
os sintomas, os fatores desencadeantes de exacerbações e as qualidade de vida: uma visão das crianças asmáticas e de seus
formas para evitá-los, garantiria melhor tratamento e quali- pais. Acta Fisiátrica 2008;165:169.
dade de vida para esses pacientes, além de reduzir os custos 14. La Scala CS, Naspitz CK, Solé D. Adaptação e validação do
com internamentos e a morbidade. Pediatric Asthma Quality of Life Questionnaire (PAQLQ-A)
em crianças e adolescentes brasileiros com asma. J Pediatr
2005;81:54-60.
Conclusão 15. Van den Bemt L, Kooijman S, Linssen V, Lucassen P, Muris
J, Slabbers G. How does asthma influence the daily life of
O sexo feminino e a categoria de crianças na faixa etária children? Results of focus group interviews. Health Qual Life
de 7 a 9 anos apresentaram uma associação significativa com Outcomes 2010;8:5.
uma melhor QV quando comparados ao sexo masculino 16. Andrade CR, Chatkin JM, Camargos PA. Assessing clinical
e à crianças entre 10 e 12 anos de idade, respectivamente. and spirometric control and the intensity of the inflammatory
Crianças asmáticas de níveis socioeconômicos mais baixos process in asthma. J Pediatr 2010;86(2):93-100.
apresentam mais frequentemente uma pior qualidade de 17. Erickson SR, Munzenberger PJ, Plante MJ, Kirking DM,
vida. Políticas públicas e programas de intervenção devem ser Hurwitz ME, Vanuya RZ. Influence of sociodemographics on
the health-related quality of life of pediatric patients with asthma
enfatizados nestes subgrupos, dando-lhes uma maior chance
and their caregivers. J Asthma 2002;39(2):107-17.
de se tornar cidadãos produtivos no futuro. 18. Felizola MLBM, Viegas CAA, Almeida M, Ferreira F, Santos
MCA. Prevalence of bronchial asthma and related symptoms
Referências in schoolchildren in the Federal District of Brazil: correlations
with socioeconomic levels. J Bras Pneumol 2005;31(6):486-91.
1. Farias MRC, Rosa AM, Hacon SS, Castro HA, Ignotti E. 19. Britto MCA, Freire EFC, Bezerra PGM, Brito RCCM, Rego
Prevalência de asma em escolares de Alta Floresta - municí- JC. Baixa renda como fator de proteção contra asma em crian-
pio ao sudeste da Amazônia brasileira. Rev Bras Epidemiol ças e adolescentes usuários do Sistema Único de Saúde. J Bras
2010;13(1):49-57. Pneumol 2008;34(5):251-5.
2. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas 20. Williams S, Sehgal M, Falter K, Dennis R, Jones D, Boudreaux
da asma grave. Portaria SAS/MS nº 12. 12 de novembro de J. Effect of asthma on the quality of life among children and
2002. [citado 2010 Mar 19]. Disponível em URL: http://www. their caregivers in the Atlanta empowerment zone. J Urban
opas.org.br/medicamentos/docs/pcdt/do_a06_01.pdf Health 2000;77(2):268-279.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 369
21. Casagrande RRD, Pastorino AC, Souza RGL, Leone C, Solé D, 24. Britto MC, Bezerra PG, Brito RC, Rego JC, Burity EF, Alves
Jacob CMA. Prevalência de asma e fatores de risco em escolares JG. Asthma in schoolchildren from Recife, Brazil. Prevalence
da cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008;42(3):517-23. comparison: 1994-95 and 2002. J Pediatr 2004;80(5):391-400.
22. Kuschnir FC, Cunha AJLA, Braga DAC, Silveira HHN, Barroso 25. Bousquet J, Van Cauwenberg P, Khaltaev N, Aria Workshop
MH, Aires ST. Asthma in 13-14-year-old schoolchildren in the Group, World Health Organization. Allergic rhinitis and its
city of Nova Iguaçu, Rio de Janeiro State, Brazil: prevalence, impact on asthma ARIA workshop report. J Allergy Clin Im-
severity, and gender differences. Cad Saúde Pública 2007; munol 2001;108(5 Suppl):147-334.
23(4):919-26. 26. Campanha SMA, Freire LMS, Fontes MJF. O impacto da asma,
23. Boechat JL, Rios JL, Sant’anna CC, França AT. Prevalência e da rinite alérgica e da respiração oral na qualidade de vida de
gravidade de sintomas relacionados à asma em escolares e ado- crianças e adolescentes. CEFAC 2008;10(4):513-19.
lescentes no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. J
Bras Pneumol 2005;31(2):111-7.
370 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Artigo original
*Aluna do Programa de Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, **Docente do Programa de Pós Graduação Lato
Sensu da Universidade Gama Filho, ***Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, ****Docente na Faculdade Adventista de
Hortolândia e no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu da FACIS - UNIMEP
Resumo Abstract
O método Pilates tem proporcionado inúmeros benefícios para The Pilates method has provided several benefits to the practitio-
seus praticantes melhorando a capacidade para a realização das ners improving the ability to perform activities of daily life. The aim
atividades da vida diária. O objetivo deste estudo foi demonstrar of this study was to describe the profile of quality of life of people
o perfil de qualidade de vida de indivíduos praticantes do método practicing the Pilates method in three Pilates studios of São Paulo/
Pilates de três estúdios de São Paulo/SP. A população correspondeu Brasil. The total of 26 healthy people, both genders, Pilates prac-
a 26 indivíduos, de ambos os gêneros, praticantes do método Pi- titioners were allocated into the study. The inclusion criteria were
lates que foram selecionados por atenderem aos seguintes critérios to attend regular classes of Pilates for more than six months and to
de inclusão: participar regularmente das aulas, praticar Pilates há sign a consent form authorizing. Of these 26 subjects, 23.07% were
mais de seis meses e assinar o termo de consentimento. Destes 26 males and 76.93% were females. Females had a mean age of 39.3
participantes, 23,07% são do sexo masculino e 76,93% do sexo ± 9.74 and males had a mean age 44.3 ± 6.62. For the individual
feminino. A média de idade do sexo feminino foi de 39,3 ± 9,74 life-style was used a questionnaire proposed by Nahas, Francalacci
e do masculino de 44,3 ± 6,62. Para o estilo de vida individual foi and Barros, called Pentacle Welfare. The results showed that the
utilizado um questionário proposto por Nahas, Barros e Francalacci, practice of Pilates can be a positive influence in the quality of life
denominado Pentáculo do Bem Estar. Os resultados demonstraram of its practitioners, and in this study the women had more positive
que a prática do método Pilates influencia positivamente o perfil de attitudes on nutrition, preventive behavior, personal relationships
qualidade de vida dos seus praticantes, e neste estudo as mulheres and stress management.
apresentaram atitudes mais positivas em relação aos aspectos nu- Key-words: Pilates, quality of life, wellness.
tricionais, comportamentos preventivos, relacionamento pessoal e
controle do estresse.
Palavras-chave: Pilates, qualidade de vida, bem-estar.
Você procura cultivar vimento equilibrado de mente e corpo, pois acreditava que
amigos e está satisfeito o objetivo de uma pessoa saudável era ter uma mente forte
2,75 ± 0,44 2,33 ± 0,51 0,06 e com ela obter o controle total do corpo. Para isso criou
com seus relaciona-
mentos? mais de quinhentos exercícios que podem ser feitos no solo,
Seu lazer inclui reuniões sobre o colchonete, utilizando a resistência do próprio corpo,
com amigos, atividades ou realizados em aparelhos com molas e polias para prover
esportivas em grupo 1,95 ± 0,82 1,66 ± 1,21 0,51 resistência [18]. Os exercícios podem ser praticados por
ou participação em qualquer indivíduo, desde atleta até o sedentário, do idoso
associações? ao adolescente, da grávida a pacientes em fase de reabilitação,
Você procura ser ativo podendo ser recomendado como condicionamento para
em sua comunidade, prevenção de lesões [19].
1,7 ± 0,97 1,5 ± 1,04 0,66 Nas últimas décadas, a busca pela prática de atividade física
sentindo-se útil no seu
ambiente social? se intensificou devido à variedade de modalidades disponi-
P < 0.05 = Diferença significativa – Teste “t” de Student para amostras bilizadas ao público das mais diversas idades e escolaridades
independentes (x ± s = media ± desvio-padrão; p= probabilidade [20]. As academias tornaram-se uma opção para a população
de significância) (0 = nunca; 1 = às vezes; 2 = quase sempre; 3 = urbana, que adere ao exercício físico, com o intuito de obter
sempre) melhorias em seu bem-estar geral [21].
No presente estudo predominam pessoas com ensino
Na análise dos escores gerais da qualidade de vida, os superior (Tabela I), similar ao estudo de Rosa e Lima [22]
escores variam de 0 = nunca; 1 = às vezes; 2 = quase sempre; que avaliou a correlação entre qualidade de vida e lombalgia
3 = sempre. O teste não apontou diferenças significativas em 30 praticantes de Pilates e também mostrou escolaridade
entre os sexos, mas observa-se que as mulheres possuem em sua maioria de nível superior. Santos e Venâncio [23] que
atitudes mais positivas na nutrição, comportamento preven- avaliaram o perfil de estilo de vida de 43 formandos do curso
tivo, relacionamento pessoal e controle do estresse. E o sexo de Educação Física da Unileste em Minas Gerais, no ano
masculino predomina na prática de atividade física, observado 2005, demonstraram que prevaleceu a escolaridade ensino
na Tabela IV. superior. Outro estudo também mostrou semelhança em
relação à escolaridade dos praticantes do presente estudo [23].
Tabela IV - Valores gerais da qualidade de vida em cada quadrante, O conceito de qualidade de vida é amplo e complexo,
estratificado por sexo (fem x masc) e no total. abrangendo fatores físicos, psíquicos, relações sociais, inde-
Fem Masc pendência, crenças e meio ambiente. A qualidade de vida
Variáveis p baseia-se na percepção do indivíduo em relação aos seus
x±s x±s
Nutrição 2,05 ± 0,1 1,44 ± 0,09 0,06 objetivos, expectativas, padrões e preocupações [25].
Atividade física 1,86 ± 0,66 1,94 ± 0,09 0,85 É por isso que o estilo de vida e em particular a atividade
Comportamento Pre- física, tem sido, cada vez mais um fator determinante na
2,53 ± 0,43 1,88 ± 0,41 0,13 qualidade de vida, tanto geral quanto relacionado à saúde,
ventivo
Relacionamento Pessoal 2,13 ± 0,66 1,83 ± 0,54 0,50 em todas as idades e condições. A atividade física está relacio-
Controle do estresse 1,71 ± 0,33 1,66 ± 0,16 0,82 nada a maior capacidade de trabalho físico e mental, além de
P < 0,05 = Diferença significativa – Teste “t” de Student para amostras mais disposição para a vida e sensação positiva de bem-estar.
independentes (x ± s = media ± desvio-padrão; p= probabilidade Estilos de vida mais ativos estão associados a menores gastos
de significância) (0 = nunca; 1 = as vezes; 2 = quase sempre; 3 = com a saúde, menor risco de doenças crônico-degenerativas
sempre). e redução da mortalidade precoce [26].
Neste estudo o teste estatístico não apontou diferenças
Discussão entre os sexos, mas na comparação da qualidade de vida, o sexo
feminino apresentou os melhores escores na nutrição e o sexo
O método Pilates, segundo Gallagher e Krizanowska [17], masculino na atividade física e no controle do estresse (Tabela
é um programa de condicionamento físico e mental no qual o II). Em outro estudo realizado por Silva e Nahas [27] o nível
praticante, com o auxílio dos aparelhos e/ou exercícios no solo de atividade física habitual foi associado ao nível de qualidade
“Mat”, trabalham corpo e mente, exercitando força, flexibili- de vida relacionada à saúde, com aproximadamente 8 em cada
dade e resistência. Esses autores consideram que esta técnica 10 mulheres ativas apresentando nível positivo de qualidade
trabalha 100% corpo e 100% mente, por esse motivo recebe de vida relacionada à saúde. Os resultados indicaram 93%
a denominação de “contrologia”, que é o controle consciente menor chance das mulheres insuficientemente ativas, compa-
de todos os movimentos musculares do corpo. radas às ativas, apresentarem um nível positivo de qualidade
Joseph H. Pilates criou um método de atividade física de vida relacionada à saúde. O estudo de Reis, Mascarenha e
que combina arte e ciência, visando promover o desenvol- Lyra [23] mostrou resultados semelhantes na predominância
374 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
de mulheres como praticantes de Pilates e mais preocupadas O teste realizado neste estudo não apontou diferenças signi-
com a saúde. A qualidade de vida tem sido tema constante em ficativas entre os sexos, mas observa-se que as mulheres possuem
pesquisas avaliando praticantes de Pilates, sempre apontando atitudes mais positivas na nutrição, comportamento preventivo,
os resultados positivos dessa prática [28-30]. relacionamento pessoal e controle do estresse. E o sexo masculino
Em pesquisa realizada por Benedetti [31] que teve como predomina na prática de atividade física (Tabela IV).
objetivo verificar a relação entre o nível de atividade física e as Nunomura [34] avaliou o nível de estresse em 16 adultos
condições de vida e saúde dos idosos residentes em Florianó- após 12 meses de prática regular de atividade física e pode
polis, SC, com amostra que totalizou 875 idosos, com média constatar melhoria significativa nos sintomas geradores de
de idade de 71,6 anos (dp=7,9), verificou-se que 59,3% eram estresse, sugerindo a influência positiva da atividade física
os idosos mais ativos, sendo os homens mais ativos no domí- regular na atenuação do desencadeamento do processo de
nio do lazer, enquanto as mulheres, nas tarefas domésticas. estresse entre os praticantes.
Um resultado diferente foi encontrado em estudo que O estudo de Silva et al. [35] reafirma a importância da
visou identificar as relações entre qualidade de vida (QV) e prática de atividade física para a qualidade de vida, através de
atividade física (AF) em adultos educadores físicos, com 85 uma pesquisa transversal que objetivou analisar as associações
adultos (46 do sexo masculino e 39 do sexo feminino) do da prática de atividades esportivas na qualidade de vida de
município de Ponta Grossa (PR). Mensuraram-se o nível 107 professores.
de AF pelo IPAQ (versão curta), e a QV por intermedio do Pode-se observar que, em média, quanto mais ativa a
WHOQOL-Bref. Os resultados mostraram que a maioria dos pessoa é, melhor sua qualidade de vida. Além disso, dentre
participantes foi classificada como muito ativos, e QV de uma as diferenças na qualidade de vida das pessoas que praticam
forma geral, sendo que o domínio ambiental apresentou os atividades físicas comparadas com as que não praticam, não
piores índices em ambos os sexos. Foram encontradas relações estão apenas os aspectos de saúde física, mas também aspectos
de AF e QV apenas para o sexo masculino. psicológicos e cognitivos.
Cheik et al. [32] avaliaram os efeitos do exercício físico
e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos Conclusão
idosos. Para tanto, foram selecionados 54 idosos saudáveis
(66,85 ± 4,42 anos), de ambos os sexos, que foram sub- Os resultados deste estudo demonstraram que a prática do
divididos em 3 grupos: Grupo A – controle (indivíduos método Pilates influencia positivamente o perfil de qualidade
sedentários), n = 18; Grupo B – grupo de desportistas de vida dos seus praticantes, e que as mulheres apresentam ati-
(indivíduos sedentários que passaram a praticar exercícios tudes mais positivas na nutrição, comportamento preventivo,
físicos regularmente), n = 18; Grupo C – grupo de lazer relacionamento pessoal e controle do estresse, enquanto que
(indivíduos que participam de programas de atividade física os homens predominam na prática de atividade física. Porém,
não sistematizada) n = 18. Grupo de desportistas obteve um sugere-se que mais estudos sejam realizados para comprovar a
índice satisfatório significativo de redução dos escores de relação do Pilates com o perfil de qualidade de vida.
depressão (Inventário Beck), passando de leve para normal,
e em relação aos índices indicativos para ansiedade (Idate Referências
Traço e Estado) e os dados se demonstraram baixos em
todos os grupos analisados. Os resultados sugerem que a 1. Pires DC, Couto CKS. Pilates: notas sobre os aspectos históricos,
prática regular de exercício físico orientado com parâmetros princípios, técnicas e aplicações. Revista Digital EFDesportes
fisiológicos, pode contribuir na redução dos escores para 2005;10:1.
2. Marchesoni C, Martins R, Sales R. Método Pilates e aptidão físi-
depressão e ansiedade em indivíduos com mais de 60 anos.
ca relacionada à saúde. Revista Digital EFDesportes 2010;15:1.
Neste estudo o teste apontou diferenças significativas
3. Marques CLS, Abreu MN. Dimensionando a percepção da
entre os sexos, na pergunta do comportamento preventivo, qualidade de vida. Alguns caminhos da intervenção pedagó-
demonstrando que o sexo feminino tem mais cuidado com gica com idosos praticantes de hidroginástica. Revista Digital
sua saúde. E no quadrante relacionamento ambos os sexos EFDesportes 2007;11:1.
classificam-se com controle médio (Tabela III). 4. Sacco ICN, Andrade MS, Souza PS, Nisiyama M, Cantuária
Outra pesquisa com o objetivo de verificar o impacto AL, Maeda FYI, Pikey M. Método Pilates em revista: aspectos
das atividades físicas orientadas por 3 meses na melhoria da biomecânicos de movimentos específicos para restruturação
qualidade de vida e da saúde de sujeitos adultos através do postural - Estudo de caso. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13:65-78.
Programa Mexa-se Unicamp. Quanto à melhora da saúde, 5. Lima PP. Os efeitos do método pilates em mulheres na faixa
etária de 25 a 30 anos com lombalgia crônica [TCC]. Mato
notou-se que as atividades praticadas colaboraram positiva-
Grosso: Faculdade de Educação Física, Universidade Federal
mente, para a melhora do bem estar, do estilo de vida (mu- de Mato Grosso; 2006.
danças de comportamento) e consequentemente da qualidade 6. Kolianiak IEG, Cavalcanti SMB, Aoki MS. Avaliação isocinética
de vida dos sujeitos tanto no ambiente de trabalho como na da musculatura envolvida na flexão e extensão do tronco: efeito
vida cotidiana [33]. do método pilates. Rev Bras Med Esp 2004;10:487-90.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 375
7. Bertolla F, Baroni BM, Leal Junior ECP. Efeito de um programa 22. Rosa HL, Lima JR. Correlação entre flexibilidade e lombalgia
de treinamento utilizando o método Pilates na flexibilidade de em praticantes de Pilates. Rev Min Educ Física 2009;17:64-73.
atletas juvenis de futsal. Rev Bras Med Esp 2007;13:222-6. 23. Reis LA, Mascarenhas CHM, Lyra JE. Avaliação da qualidade de
8. Alves A, Chuqui E, Sousa C, Rossi C. Grau de satisfação com vida em idosos praticantes e não praticantes do método Pilates.
a imagem corporal em praticantes de pilates. Revista Digital C&D-Revista Eletrônica da Fainor 2011;4:38-51.
EFDesportes 2009;13:1. 24. Santos GLA, Venâncio SE. Perfil do estilo de vida de acadêmicos
9. Blum CL. Chiropractic and Pilates therapy for the treatment concluintes em Educação Física do Centro Universitário do
of adult scoliosis. J Manipulative Physical Ther 2002;25(4):3. Leste de Minas Gerais Unileste/MG. Movimentum Rev Dig
10. Miranda LB, Morais PDC. Efeito do método pilates sobre de Educ Fís 2006;1.
a composição corporal e flexibilidade. Rev Bras Presc Exerc 25. Allsen PE, Harisson J, Vance B. Exercício e Qualidade de Vida:
2009;3:16-21. Uma abordagem Personalizada. São Paulo: Manole; 2001.
11. Civita V. Mexa-se com o Método Pilates. São Paulo: Nova 26. Nahas MV. Atividade física, saúde e qualidade de vida: con-
Cultura; 2004. ceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4 ed. Londrina:
12. Barra BS, Araújo WB. O efeito do Método Pilates no ganho Midiograf; 2006.
da flexibilidade [Monografia]; 2007. 37 p. Linhares: Faculdade 27. Silva DK, Nahas MV. Atividade física habitual e qualidade
de Ciências Aplicadas Sagrado Coração (Unilinhares); 2007. de vida relacionada à saúde em mulheres comdoença vascular
13. Dilman E. O pequeno livro de pilates: guia prático que dispensa periférica. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12:63-68.
professores e equipamentos. Rio de Janeiro: Record; 2004. 28. Küçükçakı N, Altan L, Korkmaz N. Effects of Pilates exercises on
14. Liberali R. Metodologia científica prática: um saber-fazer pain, functional status and quality of life in women with post-
competente da saúde à educação. Florianópolis: (s.n.), 2008. menopausal osteoporosis. J Bodyw Mov Ther 2013;17:204-211.
15. Nahas MV, Barros MVG, Francalacci VL. O pentáculo do 29. Leopoldino AAO, Avelar NCP, Passos GB. Effect of Pilates on
bem-estar: base conceitual para avaliação do estilo de vida de sleep quality and quality of life of sedentary population. J Bodyw
indivíduos ou grupos. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2000;5:48-59. Mov Ther 2013;17:5-10.
16. Nahas MV. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: concei- 30. Rodrigues BGS, Cader AS, Torres NVOB. Pilates method in
tos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4a ed. Londrina: personal autonomy, static balance and quality of life of elderly
Midiograf; 2003. females. J Bodyw Mov Ther 2010;14:195-202.
17. Gallargher SP, Krizanowska R. O método Pilates de condicio- 31. Benedetti TRB. Atividade Física: Uma perspectiva de promoção
namento físico. 3a ed. São Paulo: The Pilates Studio do Brasil da saúde do idoso no município de Florianópolis [Tese]. Flo-
Corporation & Inélia Éster G. Garcia Kolyniack; 2000. rianópolis: Faculdade Federal de Santa Catarina; 2004. 220 f.
18. Siler B. O corpo Pilates: um guia para o fortalecimento, alon- 32. Cheik NC, Reis IT, Heredia RAG, Ventura ML, Tufik S, Karen
gamento e tonificação sem o uso de máquinas. São Paulo: Ed. HM, et al. Efeitos do exercício físico e da atividade física na
Summus; 2008. depressão e ansiedade em indivíduos idosos. Rev Bras Ciênc
19. Barret J. Fluidez de movimentos marca aulas de Pilates [online]. Mov 2003;11:45-52.
[citado 2011 Mar 19]. Disponível em URL: http://saude.terra. 33. Zamai CA. Impacto das atividades físicas nos indicadores adul-
com.br tos: programa mexa-se [Tese]. São Paulo: Faculdade de Educação
20. Tahara AK, Schwartz GM, Silva KA. Aderência e manutenção Física da Unicamp; 2009.
da prática de exercícios em academias. Rev Bras Ciênc Mov 34. Nunomura M, Teixeira AC, Fernandes CF. Nível de estresse
2003;11:7-12. em adultos após 12 meses de prática regular de atividade física.
21. Saba F. Aderência: a prática do exercício físico em academias. REMEFE 2004;3:125-134.
São Paulo: Manole; 2001. 35. Silva RSSM, Silva I, Silva RA, Souza A L, Tomasi E. Atividade Fí-
sica e Qualidade de Vida. Rev Ciênc Saúde Col 2010;15:115-20.
376 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Artigo original
*Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), **Graduanda do Curso de Fisioterapia, Universidade de Sorocaba (UNISO),
***Graduanda do Curso de Enfermagem, Universidade de Sorocaba (UNISO)
Resumo Abstract
Objetivo: Investigar o peso da mochila escolar das crianças do Objective: To investigate the weight of the backpack for school
segundo ano do ensino fundamental. Material e métodos: Estu- children in the second year of elementary school. Methods: A des-
do descritivo, prospectivo, de corte seccional, com 97 crianças criptive, prospective, cross-sectional study, with 97 children from the
provenientes do Colégio Dom Aguirre, Sorocaba/SP. Critérios de College Dom Aguirre, Sorocaba/SP. Inclusion criteria: children who-
inclusão: crianças cujos pais assinaram o Termo de Consentimento se parents signed an informed consent, children regularly enrolled
Livre e Esclarecido; crianças regularmente matriculadas no ensino in elementary school (second grade), children of both genders (male
fundamental (segunda série); crianças de ambos os gêneros (feminino and female), aged between six and eight years. Exclusion criteria:
e masculino); com idade entre seis e oito anos. Foram excluídas: children whose parents do not accept the invitation to participate.
crianças cujos pais não aceitaram o convite para participar. Resulta- Results: Inadequate backpacks (overweight) represented (89.7%) of
dos: As mochilas inadequadas (com excesso de peso) representaram the sample. The total weight of the backpack peaked at 9.100 kg,
(89,7%) da amostra. O peso total da mochila atingiu o máximo de the permission for the maximum weight was 6.120 kg. There was
9,100 Kg, o peso máximo permitido foi de 6,120 kg. Não houve no significant difference for pain associated with heavy backpack or
diferença significativa para a dor associada à mochila pesada ou o body mass index inappropriate. The backpack overload was caused
Índice de Massa Corporal inadequado. A sobrecarga da mochila foi due to two situations, carry unnecessary material that will not be
ocasionada devido a duas situações, por conter material em dia que used in class (sketchbook, dictionary) and duplicate materials (two
não seria utilizado (caderno de desenho, dicionário) e por materiais rubbers, lots of pens). Conclusion: There were backpacks weighing
duplicados (duas borrachas, várias canetas). Conclusão: Foram iden- above recommended. Complaints of pain occurred in a minority
tificadas mochilas com peso acima do recomendado. As queixas de of children, we believe this is because of short time of overload
dor ocorreram na minoria das crianças, acreditamos que seja pelo exposure, as it is the beginning of children’s school life.
pouco tempo de exposição a sobrecarga, por tratar-se de crianças Key-words: child health, comprehensive health care, primary and
no começo da vida escolar. secondary education, health education.
Palavras-chave: saúde da criança, assistência integral à saúde,
ensino fundamental e médio, educação em saúde.
Após as avaliações, as devolutivas foram feitas à equipe evidente pela presença de 87 crianças apresentarem mochilas
do colégio e aos pais, em reunião e por intermédio de docu- inadequadas quanto ao peso (89,7%), apenas 10 crianças
mento, sendo enviada uma carta na agenda de cada criança, foram identificadas com mochilas adequadas (10,3%).
com os resultados obtidos e orientações realizadas. Esta carta, Os dados antropométricos podem ser visualizados na
encaminhada a todos os pais, continha orientações para ajudar Tabela II. A idade cronológica variou de seis a oito anos; a
na organização da mochila e deixá-la mais leve (Tabela I). altura entre 1,11 m e 1,50 m; o peso corporal entre 18,300
Foram adotados procedimentos para o controle de qua- kg e 61,200 Kg e o IMC entre 12,61 e 31,62 (Tabela II).
lidade. Após a estruturação do banco de dados, foi realizada Além da sobrecarga das mochilas, o IMC pode nos auxiliar
revisão de todos os dados digitalizados comparando-as as suas a entender o peso corporal excessivo enfrentado pelo sistema
respectivas fichas de avaliação. Em um segundo momento, 10% locomotor e cardiorespiratório. A classificação evidenciou
das fichas de avaliação foram selecionadas aleatoriamente, para que 1,0% da amostra representou a categoria de IMC baixo
nova checagem. A estruturação das tabelas foi realizada a partir (IMC < Percentil 3); 50,5% a categoria IMC Adequado (IMC
de estatística descritiva, sendo as variáveis numéricas resumidas ≥ Percentil 3 e < Percentil 85); 14,4% a categoria Sobrepeso
em tabelas com medidas de tendência central e dispersão. As (IMC ≥ Percentil 85 e < Percentil 97) e 34,0% a categoria
variáveis categóricas foram apresentadas através de tabelas de Obesidade (IMC ≥ Percentil 97).
frequências observas. A comparação entre a queixa de dor e o O peso ao qual o estudante foi exposto para carregar está
peso inadequado da mochila ou IMC inadequado foi investi- ilustrado na Tabela III. A avaliação da mochila vazia demons-
gada com o Teste Exato de Fischer. Os intervalos de confiança trou que houve uma variação de peso em decorrência dos
foram de 95% e o nível de significância adotado foi de 5%. modelos de mochila que ficou entre 0,105 kg e 2,800 kg; a
mochila carregada com o material escolar de rotina represen-
Resultados tou uma extensão de peso mínima de 2,300 kg a máxima de
6,200 Kg (Tabela III).
Inicialmente, tínhamos 108 crianças, a amostra foi consti- O peso da mochila carregada suportado pelo estudante,
tuída por 97 crianças, cujos pais assinaram o TCLE. A amostra ainda recebeu o acréscimo do peso da lancheira e dos brinque-
foi representada pelo sexo feminino em 58% e pelo masculino dos levados de casa para a escola. A lancheira representou uma
41,2%. A sobrecarga a qual as crianças foram expostas ficou variação de 0,200 kg a 1,050 Kg e os brinquedos de 0,100 Kg
a 1,800 Kg. O peso total (peso da mochila somado ao peso ma musculoesquelético e respiratório ampara os resultados
da lancheira e do brinquedo) compreendeu uma variação de aqui encontrados e justifica a importância deste e de futuros
2,600 Kg a 9,100 Kg, sendo que o máximo permitido para investimentos científicos voltados à mochila escolar [9-19].
as crianças avaliadas foi de 6,120 Kg. Como consequência, Embora a presença unânime de mochilas sobrecarregadas
a sobrecarga (excesso de peso carregado pela criança), variou tenha sido observada, a presença da dor foi relatada por uma
de 0,180 Kg a 5,890 Kg (Tabela III). minoria de crianças (5,7%) e não houve associação da dor com
As crianças que carregavam uma mochila com peso abaixo do as mochilas inadequadas ou IMC inadequados (Tabela IV).
limite máximo permitido (10% do peso corporal), ainda tinham Supomos que este início da vida escolar ainda não tenha acusado
um crédito em peso que poderiam ser adicionado à mochila, este os sintomas musculares clássicos citados pela literatura, visto
crédito variou de um mínimo de 0,060 Kg a 1,670 Kg. que o fator tempo de exposição deve ser levado em conta. Frente
A Tabela IV relaciona a presença de dor (coluna/cinturas), a todos os anos que os estudantes carregam material escolar,
expressada pela criança ao ser questionada, o peso da mochila Chansirinukor et al.[10], Whittfield et al. [11], Pires et al. [22]
(adequado ou inadequado) e o IMC adequado ou inadequado. afirmam que o peso excessivo por períodos de tempo longos
Não houve diferença significativa. Das cinco crianças (5,7%) influencia a postura, assim como podem causar e manter os
que relataram dor, todas apresentaram o peso da mochila sintomas musculoesqueléticos (dor, desconforto). Lópes et al.
inadequado e duas tiveram o IMC inadequado (classificadas [23] e Garcia [6], não encontraram associação entre a presença
como obesas). da dor e a sobrecarga do material escolar, contudo enfatizam a
Ao avaliar o material carregado dentro das mochilas, foram presença do sentimento de desconforto em crianças e que esta
identificados alguns itens que contribuíram para a sobrecarga questão deve ser considerada um problema de saúde pública.
da mochila, tais como, materiais que não seriam utilizados Garcia [6] afirma que entre tantos fatores que podem contribuir
no dia que foram levados à escola (Ex: dicionário de inglês, para a queixa de dor (tipo de mochilas, peso transportado,
ábaco, caderno de caligrafia), assim como, várias unidades horas de esporte, horas de televisão, gênero, mobiliário escolar,
do mesmo material (Ex: duas colas; duas borrachas, vários postura sentada), os móveis e postura sentada estão associados
lápis). Todos estes itens podem ser identificados na Tabela com as queixas de dor, e afirma não encontrar a relação entre
V. O objetivo da tabela não é solicitar a retirada de nenhum dor e o peso da mochila.
material ou categorizá-lo como certo e errado, mas apontar Nos Estados Unidos, 23% das crianças e jovens que dão
alguns itens que tentem a contribuir para o excesso de peso entrada em pronto-atendimentos de hospitais queixam-se
das mochilas escolares. de problemas na coluna causados pelo uso inadequado das
mochilas. Para a população brasileira, é cada vez maior o nú-
discussão mero de estudantes que apresentam problemas relacionados
à coluna, sendo que esse percentual se eleva na época da volta
Ao evidenciar que 89,7% das mochilas estavam acima do às aulas [7,14].
peso permitido, não há dúvidas quanto à sobrecarga enfren- No Brasil, esforços têm sido realizados no intuito de
tada pelos escolares. A Tabela III demonstra que o peso total investigar as consequências que a sobrecarga da mochila
carregado (peso da mochila carregada, lancheira e brinquedos) escolar pode trazer. Rebelatto et al. [9] examinaram 197 es-
chegou a tingir 9,100 Kg, sendo que o máximo permitido, tudantes de escolas particulares do Município de São Carlos/
para a amostra, foi de 6,120 Kg. A concordância plena entre SP. Os autores afirmam que os estudantes transportam pesos
autores acerca da influência negativa da sobrecarga ao siste- significativamente superiores à capacidade de seus grupos
380 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Tabela V - Itens que contribuíram para o excesso de peso das mochilas escolares.
Categoria Material para aulas específicas Várias unidades
Material Escolar Ábaco, calculadora, caderno de caligrafia, caderno de Lapiseiras, lápis grafite, caneta esferográfica, caneta
desenho, cadernos do semestre passado, dicionários marca texto, canetinhas, giz de cera, lápis de cor,
(inglês/português); livros (inglês, de colorir, histórias, apontador de lápis bloco de anotações, borracha,
gibis), material para pintura (avental camiseta, pincel, carimbos, cola, cola com brilho, macinha de modelar,
tinta guache, tecido, lantejoula). tesouras, régua estojos, embalagens vazias (Ex: de
cola).
Material pessoal Agendas (do balé, de telefone), pastas de documento Bolsinhas com material de higiene pessoal (pasta de
pessoais, ponteira laser, revistas, troca de roupa (de dente, escova de cabelo), toalha de rosto, acessórios
frio, balé, futebol, natação), chinelo, toalha de banho. (brincos, colar, pulseiras, maquiagem, espelho), ali-
mento (bolachas, biscoitos), porta moedas.
Brinquedos Vídeo game, brinquedos, jogos, álbum de figurinhas e Brinquedos.
adesivos.
Material para aulas específicas = material levado à escola em um dia que não seria utilizado; Várias unidades = várias unidades do mesmo material
encontradas na mochila.
musculares, apresentam altos níveis de compressão intradiscal No presente estudo, os itens do material escolar que
na articulação lombo-sacral (L5-S1), demanda excessiva da contribuíram para o excesso de peso, estão identificados
musculatura lombar e vários tipos de alterações posturais. na Tabela V. Duas principais situações foram identificadas,
Vitta et al. [13] analisaram o peso do material escolar rela- alguns materiais escolares foram levados à escola em dia que
cionado ao peso corporal em escolas particulares de Bauru/ não seriam utilizados (Ex: dicionário de inglês, caderno de
SP. O estudo identificou que das 240 crianças entre 11 e 14 caligrafia, caderno de desenho), assim como, várias unidades
anos, 26,5% transportaram peso do material carregado acima do mesmo material são levadas na mochila (Ex: borrachas,
dos 10% do peso corporal, fato que expõe a um risco maior apontadores, réguas, canetas, lápis). Esta observação eviden-
de lesões da estrutura musculoesquelética da coluna vertebral. cia que uma organização diária da mochila pode auxiliar na
Na cidade de Pelotas/RS, foi dirigido por Giusti et al.[24] redução do peso. A Tabela I traz orientações que auxiliam os
um estudo a respeito do peso da mochila escolar em 237 crian- pais, professores e crianças, no sentido de reduzir o peso das
ças de escola pública e 226 crianças de escolas privadas. 9,3% mochilas. Estas informações foram passadas em devolutiva
das crianças de escola pública e 68,5% das crianças de escolas para todos os pais e à equipe escolar, no intuito de auxiliar as
privadas carregaram peso acima dos 10% do peso corporal. medidas de ação preventiva e promoção de saúde na escola.
No Município de Dois Irmãos/RS, Candotti et al. [25], iden- A orientação é apontada como eficaz na promoção dos
tificaram o peso do material escolar em 58 estudantes do 2º, bons hábitos em saúde. Alguns estudos relatam resultados
5º e 9º anos do ensino fundamental. Os autores identificaram promissores. Na cidade de São Paulo/SP, Fernandes et al.
que o peso transportado foi interior a 10% do peso corporal. [1] realizaram sessões educativas para 99 crianças, entre sete
Pinotti et al. [26], no município de Arapongas/PR, afir- e 11 anos, em escolar particulares e relatam mudanças po-
mam a interferência que a mochila escolar tem no aumento sitivas na utilização da mochila (modelo da mochila, forma
do deslocamento corporal para manter o equilíbrio e interfe- de transportá-la, redução do peso transportado). Os autores
rência no controle postural de 42 estudantes com idade entre enfatizam a adesão satisfatória e a importância da Fisioterapia
11 e 13 anos. Pereira et al. [14], em Jequié/BA, observaram na saúde escolar. Na cidade de Garibaldi/RS, Benini et al. [27],
143 adolescentes de escolar públicas e evidenciaram que a após um programa de educação postural para 48 estudantes,
sobrecarga do material escolar estava presente em 8,4% da entre oito e 10 anos, houve redução significativa do peso das
amostra. Os autores concluíram que a suspeita de escoliose mochilas escolares e posturas mais adequadas. Os autores
encontrada associou-se ao grupo de crianças que carregavam abordam os benefícios do conhecimento adquirido pelos
materiais escolares inadequados quanto ao peso (acima de escolares e a importância da fisioterapia no ambiente escolar.
10% do peso corporal). Martínez-Gonzáles et al. [28] realçam os benefícios positivos
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 381
dos programas educacionais e que as crianças são capazes de 7. Ortopedista desmistifica uso correto da mochila escolar [online]. Rio
lembrar as orientações mesmo após dois anos de intervenção. de Janeiro: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia - INTO.
Este estudo apresenta duas limitações: 1) Tratou-se de um [citado 2011 Abril 6]. Disponível em: URL: www.into.saude.gov.br
8. Dockrell S, Simms C, Blake C. Schoolbag weight limit: can it
estudo transversal, impossibilitando verificar ao longo do tempo be defined?. J Sch Health 2013;83:368-77.
a variação do peso da mochila associada; 2) A amostra é peque- 9. Rebelatto JR, Caldas MAJ, De Vitta. A Influência do transporte
na, desta forma, não possibilita maiores perspectivas estatísticas. do material escolar sobre a ocorrência de desvios posturais em
Apesar destas limitações, acreditamos que o estudo é importante estudantes. Rev Bras Ortop 1991;12:403-10.
por tratar-se de um assunto contemporâneo, por identificar a 10. Chansirinukor W, Wilson D, Grimmer k, Dansie B. Effects of
frequência com que as crianças foram expostas a cargas não backpacks on students: measurement of cervical and shoulder
posture. Aust J Physiother 2001;47(2):110-6.
recomendadas, por conter orientações pertinentes aos pais e à 11. Whittfield J, Legg SJ, Hedderley DI. Schoolbag weight and
equipe escolar e por abordar a prevenção e promoção da saúde. musculoskeletal symptoms in New Zealand secondary schools.
Na literatura atual, ainda permanecem discordâncias entre Appl Ergon 2005;36:193-8.
autores e muitos questionamentos a serem elucidados acerca da 12. Negrini S, Carabalona R. Backpacks on! schoolchildren’s percep-
mochila (modelo mais adequado, peso, forma de carregar, tempo tions of load, associations with back pain and factors determin-
de carregamento durante a marcha, levantamento da mochila do ing the load. Spine 2002;27(2):187-95.
13. Vitta A, Madrigal C, Sales VS. Peso corporal e peso do material
solo seguida da sua transferência) em idades específicas (criança, escolar transportado por crianças em idade escolar. Fisioter Mov
adolescente e adulto). Desta forma, pesquisas futuras necessitam 2003;16(2):55-60.
ser desenvolvidas no sentido de sanar estas questões. 14. Pereira LM, Barros PCC, Oliveira MND, Barbosa AR. Esco-
liose: triagem em escolares de 10 a 15 anos. Rev Saúde Com
conclusão 2005;1(2)134-43.
15. Macias BR, Murthy G, Chambers H, Hargens AR. Asymmetric
Loads and Pain Associated With Backpack Carrying by Chil-
A população investigada apresenta sobrecarga considerá- dren. J Pediatr Orthop 2008;28(5):512-17.
vel do peso carregado na mochila escolar. Acreditamos que 16. Mackie HW, Legg SJ. Postural and subjective responses to
o relato de dor tenha ocorrido na minoria das crianças, em realistic schoolbag carriage. Ergonomics 2008;51(2):217-31.
decorrência do pouco tempo de exposição à sobrecarga, visto 17. Hong Y, Li JX, DTP, Fong. Effect of prolonged walking with
tratar-se de crianças no começo da vida escolar (segunda série backpack loads on trunk muscle activity and fatigue in children.
do ensino fundamental). O uso da mochila escolar é uma J Electromyogr Kinesiol 2008;18:990-6.
18. Chow DHK, Ou ZY, Wang XG, Lai A. Short-term effects of
questão pertinente e merecedora de investigação por gerar backpack load placement on spine deformation and reposition-
evidências novas, aproximar às equipes da saúde e educação ing error in schoolchildren. Ergonomics 2010;53(1):56-64.
e por atuar na atenção primária e promoção da saúde na 19. Shamsoddini AR, Hollisaz MT, Hafezi R. Backpack weight and
familiar, na escola e na comunidade. musculoskeletal symptoms in secondary school students, Tehran,
Iran. Iranian Journal of Public Health 2010;39(4):120-5.
Agredecimentos 20. Wiersema BM, Wall EJ, Foad SL. Acute backpack injuries in
children. Pedriatrics 2003;111(1): 163-6.
21. Brasil - Ministério da Saúde. Programa TelessaúdeBrasil - Cál-
Bolsas de Iniciação Científica oferecidas pela Universidade culo do Índice de Massa Corporal Infantil. [citado 2013 Abr
de Sorocaba (Uniso) às graduandas. 9]. Disponível em: URL: http://www.telessaudebrasil.org.br/
apps/calculadoras/?page=7.
Referências 22. Pires C, Esquivel F, Felipe M, Lemes L, Montero A, Montes de
Oca P. Es el peso de las mochilas escolares lo que ocasiona dolor
1. Organização Pan-Americana de Saúde. Escolas Promotoras de de espalda a los niños de 10-11 años de edad? Acta Pediatr Esp
Saúde: Fortalecimento da Iniciativa Regional Estratégias e linhas 2011;69(7-8):325-31.
de Ação. 2003-2012. Washington: OPAS; 2006. 23. Lópes A, García P, Alonso C, Garcinuño A, André de Llano JM.
2. Fernandes SMS, Casarotto RA, João SMA. Effects of educational Mochilas escolares y dolor de espalda en la población infantil.
sessions on school backpack use among elementary school Pediatr Aten Prim 2010;12(47):385-97.
students. Rev Bras Fisioter 2008;12(6):447-53. 24. Giusti PH, De Almeida HL, Tomasi E. Weight excess of school
3. Rocha J, Barbosa TM. Estudo preliminar da cinemática da materials and its risks factors in South Brazil. A cross sectional
locomoção de crianças em idade escolar transportando mochi- study. Eur J Phys Rehabil Med 2008;44(1):33-8.
las às costas. Abstract do 7º Congresso Nacional de Mecânica 25. Candotti CT, Noll M, Roth E. Avaliação do peso e do modo de
Experimental; 2008 Jan 23-25; Vila Real, Portugal. transporte do material escolar em alunos do ensino fundamental.
4. Aparicio EQ, Nogueras AMM, Sendín NL, Alonso ABR, Pedraz Rev Paul Pediatr 2012;30(1):100-6.
LS, Arenillas JIC. Influencia del tipo de jornada escolar en el 26. Pinetti ACH, Ribeiro DCL. Estudo sobre a influência da mo-
peso de las mochilas escolares. Fisioterapia 2005;27(1):6-15. chila no controle postural em escolares de 11 a 13 anos por meio
5. Jordá M, Castells P. Podemos cuidar la columna del adulto desde da análise de dados estabilométricos. Ter Man 2008;6(23):43-7.
la infancia? An Pediatr Contin 2008;6(4):236-9. 27. Benini J, Karolczak APB. Benefícios de um programa de edu-
6. García PAF. Dolor de espalda en alumnos de primaria y sus cação postural para alunos de escolas do Munício de Garibaldi/
causas. Fisioterapia 2009;31(4):137-42. RS. Fisioter Pesq 2010;17(4):346-51.
28. Martínes-González M, Gómesz-Conesa A, Hidalgo Montesinos
MD. Programas de higiene postural desarrollados con escolares.
Fisioterapia 2008;30(5):223-30.
382 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Artigo original
*Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA, **Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
***Universidade de Cuiabá
Resumo Abstract
Introdução: O envelhecimento trata-se de um complexo conceito Introduction: The aging it is a complex concept involving mo-
que envolve disfunções motoras, bioquímicas e morfológicas, as tor dysfunctions, biochemical and morphological characteristics,
quais favorecem para o aumento do risco de quedas. Objetivo: O which favor to increase the risk of falls. Objective: This study aimed
presente estudo teve como objetivo avaliar o equilíbrio dinâmico to evaluate the dynamic balance of active and sedentary elderly.
de idosos sedentários e ativos. Material e métodos: Para a realização Material and methods: For the research we selected 30 seniors who
da pesquisa foram selecionados 30 idosos, sendo divididos em dois were divided into two groups: active and sedentary. As assessment
grupos: ativos e sedentários. Como instrumento de avaliação foi tool was used the Berg scale and Timed up and Go test and to the
utilizada a escala de Berg e o teste Timed up and Go, e para a análise statistical analysis the Student t test and Fisher’s Exact Test was used,
estatística utilizou-se o teste t de Student e o teste exato de Fisher, with significance level of 5%. Results: In relation to the Timed up
com nível de significância de 5%. Resultados: Em relação ao Teste and Go test, it was found that the active elderly took the test in
Timed up and Go, verificou-se que os idosos ativos realizaram o less time when compared to sedentary individuals, demonstrating a
teste em menor tempo quando comparados aos idosos sedentários, significant difference between groups (p = 0.000057). The score on
demonstrando diferença significativa entre os grupos (p = 0,000057). the Berg Balance Scale of sedentary elderly was significantly higher
A pontuação obtida na Escala de Berg pelos idosos sedentários foi when compared to the results obtained by the active elderly (p =
significativamente maior, quando comparado aos resultados obtidos 0.000004). Conclusion: We found that the active elderly have a lower
pelos idosos ativos (p = 0,000004). Conclusão: Foi observado que os risk of falls compared to sedentary elderly, noting the protective
idosos ativos apresentam menores riscos de quedas em relação aos factor of regular physical activity.
idosos sedentários, constatando o fator protetor da prática regular Key-words: aging, accidental falls, postural balance.
de atividade física.
Palavras-chave: envelhecimento, acidentes por quedas, equilíbrio
postural.
A pesquisa foi realizada de forma inteiramente casualizada Figura 1 - Gráfico referente ao tempo de realização do Teste Timed
e todos os dados obtidos foram testados quanto à distribui- Up and Go em cada grupo, Ji-Paraná/RO, 2012.
ção normal (teste de Shapiro-Wilk) e à homogeneidade das 20
variâncias (testes de Levene e Brown-Forsythe). 18
16
Na constatação de que foram satisfeitas as condições para
14
aplicação dos testes estatísticos paramétricos de comparação de 12
médias realizou-se as comparações entre os idosos sedentários 10 *
e os ativos quanto ao tempo obtido para a execução do TUG 8
e a pontuação alcançada na EB através do teste t de Student 6
4
para amostras independentes. As diferenças de proporções de
2
pacientes classificados nas categorias previstas pelo TUG e 0
pela EB foram realizadas pelo teste Exato de Fisher, pois pelo Grupo Sendentários Grupo Ativos
menos uma das casas das tabelas apresentou valor inferior a 5.
Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se Dados expressos como média ± desvio padrão. / * Dados
o programa Statistica 8.0 e adotando-se nível de significância analisados pelo teste t de Student para amostras indepen-
de 5% (p < 0,05). O presente estudo foi aprovado pelo Co- dentes, adotando-se o nível de significância de 5% (p =
mitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro 0,000057).
Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA, sob Ao realizar a estratificação dos idosos de cada grupo de
o protocolo número 090/2011, e os participantes autorizaram acordo com o tempo de realização do TUG, verificou-se que
sua participação através da assinatura do Termo de Consen- dentre os idosos ativos (86,7%) realizaram o teste em menos
timento Livre e Esclarecido (TCLE). de 10 segundos, enquanto no grupo dos idosos sedentários
a maioria dos idosos realizou o teste entre 10 e 20 segundos
Resultados (66,7%) (Tabela II).
O estudo realizado contou com a participação de 30 ido- Tabela II - Estratificação dos idosos de acordo com o tempo de
sos, sendo eles divididos em dois grupos: Grupo Sedentários realização do Teste Timed up and Go, Ji-Paraná/RO, 2012.
e Grupo Ativos. Teste Timed Up and Go
Entre os participantes do grupo sedentários, verificou-se ≤ 10 10 – 20 > 20
que a idade variou entre 60 e 80 anos com média de 69,8 ± segundos segundos segundos
6,1 anos, com predomínio de idosos do gênero feminino (n = Grupo Ativos 86,7% 13,3% --
12 / 80%), enquanto que nos participantes do grupo ativos, Grupo Seden-
20% 66,7% 13,3%
a idade variou entre 60 e 75 anos e a média de idade foi de tários
68 ± 5,6 anos, e observou-se maior prevalência de indivíduos
do gênero masculino (n = 12 / 80%) (Tabela I). Quando realizada a classificação dos participantes, de
cada grupo, de acordo com o tempo de realização do TUG,
Tabela I - Variáveis demográficas de acordo com cada grupo, Ji- em que o tempo ≤ 10 segundos demonstra baixo risco de
-Paraná/RO, 2012. quedas e tempo superior a 10 segundos evidencia médio e
Grupo Grupo alto risco de quedas, observou-se diferença significativa entre
Sedentários Ativos os grupos, já que o grupo de idosos ativos apresentou 66,7%
Idade a mais de idosos que realizaram o teste em tempo menor ou
Variação 60 – 80 60 – 75 igual a 10 segundos do que em relação ao grupo sedentários
Média 69,8 ± 6,1 68 ± 5,6 (p = 0,007) (Tabela III).
Gênero
Feminino 80% 20% Tabela III - Comparação entre o grupo de idosos sedentários e o
Masculino 20% 80% grupo de idosos fisicamente ativos em relação ao risco de quedas
TOTAL 15 15 através do Teste Timed up and Go, Ji-Paraná/RO, 2012.
Dados expressos como média ± desvio padrão de 15 idosos participan- Teste Timed Up and Go
tes de cada grupo. ≤ 10 segun- > 10 segun-
dos dos
O tempo de realização do TUG pelos idosos participantes Grupo Ativos 86,7% 13,3%
no grupo sedentários foi de 14,5 ± 3,5 segundos, enquanto Grupo Sedentários 20% 80%
que os participantes do grupo ativos a média foi de 9,1 ± *Dados analisados através do teste exato de Fisher, adotando-se o nível
1,5 segundos, demonstrando diferença significativa entre os de significância de 5% (p = 0,007).
grupos (p = 0,000057) (Figura 1).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 385
A pontuação obtida na EB pelos participantes do grupo Um estudo realizado na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais,
sedentários foi 43,8 ± 4,4 pontos, todavia, no grupo dos no qual participaram idosos sedentários e ativos, cujo objetivo do
idosos fisicamente ativos essa pontuação foi de 55 ± 1,5 trabalho foi comparar os resultados do Protocolo de Avaliação da
pontos, evidenciando diferença significativa (p = 0,000004) Autonomia Funcional aplicando quatro testes nos dois diferentes
(Figura 2). grupos de idosos, os autores verificaram que a média de idade
De acordo com os dados obtidos pela EB, que avalia o dos idosos ativos e sedentários foram, respectivamente, 67,21 ±
risco de quedas, em que uma pontuação inferior a 45 pontos 5,19 anos e 66,21 ± 5,36 anos, sendo que estes foram resultados
indica possibilidades de quedas futuras, verificou-se diferença próximos aos encontrados nesta pesquisa [11].
significativa entre os grupos, na qual o grupo de sedentários Em relação ao TUG Cunha e Mazullo [6] realizaram um
apresentou 60% a mais de idosos com escore inferior a 45 estudo cujo objetivo foi comparar o equilíbrio dinâmico de
pontos, quando comparado ao grupo ativos (p = 0,007) idosos sedentários e praticantes de atividade física, em uma
(Tabela IV). amostra composta por 80 idosos na faixa etária entre 65 a 85
anos, tanto de gênero masculino e feminino que foram divi-
Figura 2 - Gráfico referente à pontuação obtida através da Escala didos igualmente em dois grupos, sedentários e ativos, onde
de Berg em cada grupo, Ji-Paraná/RO, 2012. 87,5% dos idosos praticantes de atividade física realizaram o
60 * TUG com menos de dez segundos e 87,5% dos idosos seden-
50
tários realizaram o teste em tempo superior a dez segundos. Os
dados apresentados são semelhantes aos demonstrados neste
40 estudo em que 86,7% dos idosos do grupo ativo realizaram
30 o teste em tempo inferior a dez segundos, enquanto que no
grupo de sedentários, 80% dos participantes realizaram o teste
20
com mais de dez segundos, sendo, assim, possível afirmar que,
10 em ambos os estudos, os idosos sedentários possuíram menor
0 mobilidade funcional e maior tendência a quedas.
Grupo Sendentários Grupo Ativos Guimarães et al. [4] estudaram 40 idosos com a idade
entre 65 e 70 anos, sendo que 20 praticavam atividade física
Dados expressos como média ± desvio padrão; *Dados regular e 20 não praticavam. O grupo que praticava atividade
analisados pelo teste t de Student para amostras indepen- física regular obteve uma média de tempo para o TUG de
dentes, adotando-se o nível de significância de 5% (p = 7,75 segundos, enquanto o grupo que não praticava atividade
0,000004). física regular atingiu 13,56 segundos como média de tempo.
Os resultados da presente pesquisa foram ao encontro dos
Tabela IV - Comparação entre o grupo de idosos sedentários e o resultados encontrados por Guimarães et al. [4] ou seja, o
grupo de idosos fisicamente ativos em relação ao risco de quedas tempo atingido por praticantes de atividades físicas é significa-
através da Escala de Berg, Ji-Paraná/RO, 2012. tivamente menor quando comparados aos idosos sedentários.
Escala de Berg A aplicação do TUG é utilizada para avaliar a mobilidade
≤ 45 pontos > 45 pontos funcional de sujeitos idosos a partir do tempo de realização
Grupo Ativos 0 100% de um determinado percurso, sendo que este recurso tem
Grupo Sedentários 60% 40% sido amplamente relatado na literatura como um importante
*Dados analisados através do teste exato de Fisher, adotando-se o nível instrumento de classificação para o risco de quedas, o qual é
de significância de 5% (p = 0,007). recomendado pela Sociedade Geriátrica Britânica e Sociedade
Geriátrica Americana [16-19].
Discussão Como no presente estudo e em artigos relatados [4,6]
os idosos que realizam atividade física apresentaram um
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, desempenho melhor ao realizar o TUG comparado ao dos
no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, idosos sedentários. O TUG apresenta uma grande relação
com redução na capacidade de adaptação homeostática às com equilíbrio, velocidade de marcha e capacidade funcional,
situações de sobrecarga funcional, alterando progressivamente que estão relacionadas diretamente com a tendência a quedas.
o organismo e tornando-o mais susceptível às agressões intrín- Portanto, o tempo gasto para realização do teste está direta-
secas e extrínsecas. Entre as perdas apresentadas pelo idoso mente associado ao nível de mobilidade funcional, por isso
está a instabilidade postural, que ocorre devido às alterações idosos que realizam o teste em tempo superior a dez segundos
do sistema sensorial e motor, onde o risco de quedas está tendem a ser mais dependentes a desenvolver quedas. [6]
presente em idosos que apresentam baixas velocidades de No estudo de Almeida et al. [20] realizado em Porto
caminhada e quanto mais lenta for a marcha, maior será a Alegre com o objetivo de analisar os fatores intrínsecos e
instabilidade postural [6]. extrínsecos que predispõem ao risco de quedas e fraturas em
386 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
idosos, identificaram um relação negativa entre a idade dos interferem diretamente na probabilidade de quedas nesta
participantes e o tempo de realização do TUG, evidenciando população [24-25]. Os resultados de uma revisão sistemática
que quanto maior a idade maiores são os tempos de realização da literatura [26] realizada em 2010, com base nos artigos
do teste. Neste mesmo estudo os autores identificaram que os publicados nos período de 1999-2009 sobre a influência do
fatores intrínsecos que predispõem a queda e fraturas, além da exercício físico no controle das quedas em idosos, sugerem que
faixa etária elevada, são a autopercepção negativa da visão e a prática regular de exercício físico, de forma isolada, é capaz
da saúde de forma geral, enquanto que os fatores extrínsecos de reduzir o risco de quedas. Neste mesmo estudo os autores
são o tipo moradia (residir em casa) e a renda mensal igual identificaram, também, que os estudos que associaram, du-
ou inferior a um salário mínimo. rante a realização dos exercícios, componentes de força e/ou
Em relação à EB, Pimentel e Scheicher [21] realizaram equilíbrio, realizados no mínimo duas vezes por semana, e
um estudo no qual o objetivo foi comparar o risco de quedas que realizaram acompanhamento dos indivíduos da pesquisa
entre idosos sedentários e ativos, por meio da EB, verificando por mais de 3 meses após a intervenção, mostraram-se mais
como a prática de exercício físico se reflete no desempenho efetivos na redução e prevenção das quedas. O exercício físico
dos sujeitos, e identificaram que os idosos sedentários apre- proporciona aos seus praticantes melhora na postura, no
sentaram pior desempenho da escala de Berg em relação aos equilíbrio corporal, na melhora da capacidade funcional, na
idosos ativos. Os resultados obtidos na presente pesquisa são coordenação, e na agilidade, o que, consequentemente, leva
semelhantes aos apresentados em outros estudos [21-22] de- a redução das quedas [27].
monstrando uma relação positiva entre a prática de exercício No estudo realizado em João Pessoa/PB cujo objetivo foi
físico e o risco de quedas em idosos, identificando que idosos verificar os efeitos de um programa de exercícios físicos na
sedentários apresentam maior risco de quedas e que a prática marcha e na mobilidade funcional de idosos, os autores veri-
regular de atividade física está diretamente relacionada com ficaram que a prática de exercícios físicos direcionados para o
a redução deste risco. treino de força, equilíbrio e propriocepção, realizado ao longo
A EB foi desenvolvida em 1989 com o objetivo de avaliar de seis meses, foi capaz de reduzir o risco de quedas e melhorar
o equilíbrio funcional de indivíduos idosos que apresentam o desempenho físico e funcional dos idosos avaliados [28].
déficit de equilíbrio, risco de quedas entre outros, e por se A prática regular de atividade física vem proporcionando
tratar de um teste de fácil realização e que permite a inter- um envelhecimento saudável e independente, promovendo
pretação mais direta da relevância funcional da alteração, maior resistência muscular e flexibilidade articular e, conse-
pois consiste em 14 tarefas semelhantes às várias atividades quentemente, reduzindo o risco de quedas, e age ainda como
da vida diária que envolve equilíbrio estático e dinâmico. elemento de ativação para o organismo, proporcionando me-
Tornou-se mundialmente conhecido e amplamente utiliza- nor dependência para realização das atividades de vida diária,
do, o que estimulou a sua adaptação ao contexto brasileiro, melhorando a autoestima e elevando de forma significativa a
sendo que este processo foi realizado em 2004 por Miyamoto qualidade de vida dos idosos.
e colaboradores [14].
Em uma pesquisa realizada no município de Amparo/SP Conclusão
com idosos da comunidade com o objetivo de avaliar e com-
parar o equilíbrio funcional destes idosos com o histórico de Os resultados permitem concluir que houve diferença
quedas, ou não, evidenciou-se que o os idosos sem histórico entre os grupos no desempenho dos idosos em relação ao
de quedas realizaram o TUG em menor tempo, bem como testes Timed up and Go e a escala de Berg, constatando que
apresentaram escore na EB superior em relação aos idosos com os idosos sedentários apresentam maiores riscos de quedas em
histórico de quedas recorrentes [9]. Entretanto, o histórico de relação aos idosos fisicamente ativos.
queda não foi investigado no presente estudo. Diante do exposto observa-se que a atividade física
No mesmo sentido, foi identificado nos estudos de Prata configura-se como fator protetor a saúde do idoso e assim
e Scheicher [22] e de Pereira et al. [23] que a EB apresenta torna-se cada vez mais importante a necessidade de que o
correlação negativa com a faixa etária, demonstrando assim idoso apresente uma nova concepção, em termos de estimu-
que o processo de envelhecimento leva a um aumento do lação à prática do exercício físico, visando contribuir para um
risco de quedas, devido a alteração do equilíbrio, redução das envelhecimento saudável.
reações de proteção, redução da independência funcional e,
consequentemente, alteração da estabilização postural. Ainda Referências
no estudo realizado por Prata e Scheicher [23], os autores
não encontraram relação entre a pontuação obtida na EB e o 1. Mazo GZ, Liposcki DB, Ananda C, Prevê D. Condições de
gênero dos participantes do estudo, sugerindo não haver di- saúde, incidência de quedas e nível de atividades física dos idosos.
ferença entre o gênero e a mobilidade funcional destes idosos. Rev Bras Fisioter 2007;11(6):437-42.
2. Pedrinelli A, Garcez-Leme LE, Nobre RSA. O efeito da ativi-
A saúde do idoso está amplamente relacionada a dois
dade física no aparelho locomotor do idoso. Rev Bras Ortop
fatores: hábitos de vida e nível de atividade física, os quais
2009;44(2):96-101.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 387
3. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção 16. Nordin E, Rosendahl E, Lundin-Olsson L. Timed “Up & Go”
da População do Brasil para o período 2000-2050. [citado 2012 Test: Reliability in older people dependent in activities of daily
Mar 07]. Disponível em URL: http://www.ibge.gov.br/home living – focus on cognitive. Phys Ther 2006;86:646-55.
4. Guimarães LHCT, Galdino DA, Martins FM, Vitorino DFM, 17. Whitney JC, Lord SR, Close JCT. Streamlining assessment and
Pereira KL, Carvalho EM. Comparação da propensão de quedas intervention in a falls clinic using the Timed Up and Go Test and
entre idosos que praticam atividade física e idosos sedentários. Physiological Profile Assessments. Age Ageing 2005;34:567-71.
Neurociências 2004;12:120-30. 18. Amador LF, Loera JA. Preventing postoperative falls in the older
5. Padoin PG, Gonçalves MP, Comaru T, Silva AMV. Análise adult. J Am Coll Surg 2007;204(3):447-53.
comparativa entre idosos praticantes de exercício físico e 19. Rockwood K, Awalt E, Carver D, MacKnigth C. Feasibility and
sedentários quanto ao risco de quedas. O Mundo da Saúde measurement properties of the functional reach and the Timed
2010;34:158-164. Up and Go Tests in the Canadian Study of Health. J Gerontol
6. Cunha BC, Mazullo Filho JBR. Análise comparativa do equilí- A Biol Sci Med Sci 2000;55(2):70-3.
brio dinâmico de idosos sedentários e praticantes de atividades 20. Almeida ST, Soldera CLC, Carli GA, Gomes I, Resende TL.
físicas através da aplicação do teste Timed up and Go. Rev Análise de fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem a
Inspirar 2010;08:14-7. quedas em idosos. Rev Assoc Med Bras 2012;58(4):427-33.
7. Abreu SSE, Caldas CP. Velocidade de marcha, equilíbrio e idade: 21. Pimentel RM, Scheicher EM. Comparação do risco de queda
Um estudo correlacional entre idosas praticantes e idosas não em idosos sedentários e ativos por meio da escala de equilíbrio
praticantes de um programa de exercícios terapêuticos. Rev Bras de Berg. Fisioter Pesq 2009;16:6-10.
Fisioter 2008;12:324-30. 22. Prata MG, Scheicher ME. Correlation between balance and
8. Zaitune MPA, Barros MBA, César CLG, Carandina L, Gold- the level of functional independence among elderly people. Sao
baum M. Fatores associados ao sedentarismo no lazer em idosos. Paulo Med J 2012;130(2):97-101.
Cad Saúde Pública 2007;23:1329-38. 23. Pereira VV, Maia RA, Silva SMCA. The functional assessment
9. Gonçalves DFF, Ricci NA, Coimbra AMV. Equilíbrio funcional Berg Balance Scale is better capable of estimating fall risk in the
de idosos da comunidade: comparação em relação ao histórico elderly than the posturographic Balance Stability System. Arq
de quedas. Rev Bras Fisioter 2009;13(4):316-23. Neuropsiquiatr 2013;71(1):5-10.
10. Oliveira DLC, Goretti LC, Pereira SMO. O desempenho de 24. Oliveira RF, Matsudo SM, Andrade DR, Matsudo V. Efeitos
idosos institucionalizados com alterações cognitivas em ativida- do treinamento de Tai Chi Chuan na aptidão física de mulheres
des de vida diária e mobilidade: estudo piloto. Rev Bras Fisioter adultas e sedentárias. Rev Bras Cienc Mov 2001;(3)9:15-22.
2006;10:91-6. 25. Faber MJ, Bosscher RJ, Paw MJCA, van Wieringen PC. Effects
11. César EP, Almeida OV, Pernambuco CS, Vale RGS, Dantas of exercise programs on falls and mobility in frail and pre-frail
EHNM. Aplicação de quatro testes do protocolo GDLAM older adults: a multicenter randomized controlled trial. Arch
- Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para Maturi- Phys Med Rehabil 2006;87:885-96.
dade. Rev Min Educ Fis 2004;12:18-37. 26. Bento PCB, Rodacki ALF, Homann D, Leite N. Exercícios físi-
12. Figueiredo KMOB, Lima KC, Guerra RO. Instrumentos de cos e redução de quedas em idosos: uma revisão sistemática. Rev
avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Rev Bras Cinean- Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010;12(6):471-79.
tropom Desempenho Hum 2007;9(4):408-13. 27. Teixera CS, Lemos LFC, Lopes LFD, Rossi AG, Mota CB.
13. Soares KV, Oliveira KMOB, Caldas VVA, Guerra RO. Ava- Equilíbrio corporal e exercícios físicos: uma investigação com
liação quanto à utilização e confiabilidade de instrumentos de mulheres idosas praticantes de diferentes modalidades. Acta
medida do equilíbrio corporal em idosos. Rev Saúde Publica Fisiatr 2008;15(3):156-9.
2005;1(2):78-85. 28. Fernandes AMBL, Ferreira JJA, Stolt LROG, Brito GEG,
14. Miyamoto ST, Lombardi Junior I, Berg KO, Ramos LR, Natour Clementino ACCR, Sousa NM. Efeitos da prática de exercício
J. Brazilian version of the Berg Balance Scale. Braz J Med Biol físico sobre o desempenho da marcha e da mobilidade funcional
Res 2004;37(9):1411-21. em idosos. Fisioter Mov 2012;25(4):821-30.
15. Podsiadlo D, Richardson S. The timed “Up & Go”: a test of 29. Freitas MC, Maruyama SAT, Ferreira TF, Motta AMA. Pers-
basic functional mobility for frail elderly persons. J Am Geriatr pectiva das pesquisas em gerentologia e geriatria: revisão da
Soc 1991;39(2):142-48. literatura. Rev Latinoam Enfermagem 2002;10:221-8.
388 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Revisão
*Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional pela Universidade Gama Filho – SC, **Mestranda em Ciências do
Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do Curso de Especialização em
Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional pela Universidade Gama Filho (UGF), Professor Adjunto da disciplina de Anatomia
Humana da Universidade Gama Filho, ****Coordenador do Curso de Especialização em Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcio-
nal pela Universidade Gama Filho, Professor Adjunto do Curso de Fisioterapia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor
do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) – RJ
Resumo Abstract
Introdução: O músculo tibial posterior é responsável pelos movi- Introduction: The tibialis posterior muscle is responsible for
mentos de inversão e flexão plantar do pé. Durante a marcha executa dorsiflexing and inverting the foot. During gait, this muscle executes
a função de posicionamento do pé e sua acomodação. Sua disfunção the function of foot position and placement. Its dysfunction causes a
acarreta um desequilíbrio muscular, alteração no comportamento muscle imbalance, and changes occur in medial longitudinal arch of
do arco longitudinal medial do pé. Atualmente, esta patologia é the foot. Currently, this disease is classified into four stages with early
classificada em quatro fases, com início de quadro álgico e edema que pain manifestations and edema that progress stiffness and structural
progride para rigidez e alterações estruturais. Objetivo: Este trabalho changes. Objective: The aim of this study was to analyze therapeutic
visou analisar as estratégias cinesioterapêuticas para o tratamento da exercise strategies to treatment of tibialis posterior muscle dys-
disfunção do músculo tibial posterior (DMTP). Material e métodos: function (TPMD). Methods: This research was a literature review
Esta pesquisa foi uma revisão bibliográfica que utilizou as bases de using the databases Lilacs, Medline, Pubmed and Scielo with the
dados Lilacs, Medline e Scielo com os seguintes descritores: disfun- following descriptors: tibialis posterior dysfunction, physiotherapy,
ção do tibial posterior, fisioterapia, cinesioterapia e tratamento. O therapeutic exercise and treatment. The search period was from 1992
período de busca abordou desde 1992 até 2012. Resultados: Os dados to 2012. Results: Data showed that the use of orthotic intervention
apontaram para uma redução dos sintomas através da utilização de associated with anti-inflammatory reduced symptoms. Discussion:
órteses associada à intervenção de anti-inflamatórios. Discussão: As Among the approaches therapeutic exercises have their foundation
abordagens cinesioterapêuticas apresentam sua fundamentação em in the posterior region stretching and work on strengthening the
alongamentos da região posterior e fortalecimento da musculatura weak muscle. Conclusion: There is no consensus in the literature
acometida. Conclusão: Não há um consenso na literatura sobre o about expressive beneficial results of therapeutic exercise program.
programa de exercícios que apresentem resultados benéficos mais Therefore, further research regarding this topic is needed to make
substanciais. Portanto, há uma necessidade de novos estudos sobre o evident the real contribution of therapeutic exercises approaches in
tema para que possamos elucidar a real contribuição das abordagens treatment of TPMD.
cinesioterapêuticas no tratamento da DMTP. Key-word: tibialis posterior, Physical Therapy, therapeutic exercise.
Palavras-chave: tibial posterior, Fisioterapia, cinesioterapia.
teratura qual maneira de fortalecimento torna-se mais efetivo Na fase III ocorre aumento do quadro álgico; deformi-
no tratamento na disfunção do tibial posterior [10]. dade no retropé; presença de degeneração nas articulações
Nesta fase, órteses semirrígidas, articuladas e curtas de subtalar, talonavicular e calcâneo-cubóide e ausência de
tornozelo-pé são indicadas, pois atuam no controle e restrição flexibilidade. Entretanto um posicionamento em supinação
dos movimentos da articulação subtalar. Seu invólucro auxilia do antepé ocorre para reparar o retropé valgo. A progressão
na contenção das forças de rotação da tíbia sobre a articula- desta disfunção pode determinar artrose nas articulações do
ção subtalar [20]. A Universidade da Califórnia e Berkeley tornozelo [1,7-10,22]. Na fase IV, a progressão da disfunção
Laboratory desenvolveram uma órtese rígida denominada inclui uma deformação em valgo do tálus originando uma
UCBL [20]. Esta é indicada para estabilização do pé em po- degeneração da articulação tibiotalar lateral [7-10,22], sendo
sição neutra, recomendada para a fase II, pois a órtese limita necessária uma reconstrução cirúrgica [22].
a abdução do antepé e controle do posicionamento valgo do O tratamento conservador nas fases III e IV tem como fi-
retropé e médio-pé, direcionando a força para a região lateral nalidade acomodar as deformidades ao invés de corrigi-las. Na
(quinto metatarso), medialmente a face lateral do calcâneo e fase III as órteses tornozelo-pé podem ser articuladas, porém
a porção lateral do tálus [20]. rígidas, sendo esta utilizada para o tratamento em indivíduos
Alvarez et al. [34] analisaram através de um protocolo que apresentam deformidade e quadro álgico [20]; nesses casos
conservador 47 pacientes com diagnóstico de DMTP, com a deformidade já está instalada, sendo a órtese um dispositivo
idade média de 50 anos, de ambos os sexos. Os sujeitos foram moldado conforme as condições individuais dos indivíduos
submetidos a um tratamento não-cirúrgico, apenas no lado para reduzir a progressão da disfunção [25]. Na fase IV os
sintomático, durante três anos. A reabilitação foi constituída indivíduos com DMTP utilizam órtese rígida com a mesma
com uso de órtese e exercícios de fortalecimento dos músculos finalidade de reduzir a progressão da disfunção, porém nesta
tibiais (anterior e posterior), fibulares, tríceps sural. Além fase o indivíduo é passível de cirurgia [25].
desses, também foram inseridos exercícios isocinéticos, com Embora muitos estudos não abordem a eficácia do exer-
auxilio de faixa elástica, salto e posicionamento estático so- cício na cinemática anormal, eles ressaltam a necessidade
bre os dedos dos pés. O resultado mostrou-se satisfatório no de tratamentos eficazes que impeçam a progressão da cine-
tratamento conservador em 39 dos 47 pacientes [34]. mática anormal [32]. É geralmente aceito que o tratamento
Neville & Houck [35] analisaram pacientes com DMTP conservador da DMTP tem uma contribuição limitada. Por
na fase II. Os sujeitos foram submetidos a um programa essa razão, os estudos apontam que esses meios não-invasivos
fisioterapêutico por doze semanas realizando alongamentos devem ser reservados apenas para indivíduos em fase inicial e
e exercícios resistidos com faixa elástica na adução e inversão para sujeitos com grandes deformidades que não são passíveis
de tornozelo. Os resultados demonstraram benefícios na de cirurgia [31].
redução da dor e limitação de movimento [35]. Kulig et al.
[9] realizaram um estudo com trinta e seis indivíduos com Conclusão
DMTP nas fases I e II divididos em três grupos (órtese e
alongamento; órtese, alongamento e exercício concêntrico; Após a revisão podemos concluir que o tratamento conser-
órtese, alongamento e exercício excêntrico) durante três vador na DMTP não apresenta forte evidência para sustentar
meses. Kulig et al. [9] apresentaram uma hipótese de que um possíveis benefícios apontados por alguns estudos. Referente à
programa de exercício excêntrico induziria efeitos benéficos cinesioterapia, não há um consenso na literatura com relação
na função e redução do quadro álgico em correlação a um ao melhor programa de exercício. De maneira geral, há uma
programa de exercício concêntrico e ao uso de órteses. O conformidade quanto à utilização de órteses para imobiliza-
protocolo consistia em alongamento dos músculos gastroc- ção, sustentar o arco longitudinal do pé e a redução da sin-
nêmio e sóleo através de uma cunha portátil duas vezes ao tomatologia dolorosa. Um dos pontos básicos da intervenção
dia permanecendo por 30 segundos. Os exercícios resistidos encontrados nesta revisão é a questão dos alongamentos da
de maneira progressiva foram empregados carga isolada no região posterior da perna e fortalecimento da musculatura do
músculo tibial posterior nos movimentos de adução horizon- tibial posterior. Entretanto, não há evidências na eficácia dessa
tal com flexão plantar, através de uma unidade de exercício proposta. Desta forma, há necessidade de novas investigações
especializada onde o tendão era carregado concêntrica ou acerca do tema para que possamos elucidar quais são as reais
excentricamente, realizando quinze repetições em três séries. contribuições das principais intervenções da Cinesioterapia
Os resultados demonstraram que o grupo que realizou exer- no tratamento da DMTP.
cício com contração excêntrica obteve uma carga de treino
três vezes maior do que o grupo de contração concêntrica. Referências
Nesse estudo, os dados apontaram que nas intervenções
houve um aumento significativo da função, com a diminui- 1. Gluck GS, Heckman DS, Parekh SG. Tendon disorders of the
ção do quadro álgico e o grupo de treinamento excêntrico foot and ankle, part 3: The posterior tibial tendon. Am J Sports
aceitou maior carga após a intervenção [10]. Med 2010;38(10):2133-44.
392 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
2. Bowring B, Chockalingam N. Conservative treatment of tibialis 19. Holmes GB, Mann RA. Possible epidemiological factors asso-
posterior tendon dysfunction-A review. Foot 2010;20(1):18-26. ciated with rupture of the posterior tibial tendon. Foot Ankle
3. Lhoste-Trouilloud A. The tibialis posterior tendon. J Ultrasound 1992;13(2):70-9.
2012;15(1):2-6. 20. Trnka HJ. Dysfunction of the tendon of tibialis posterior. Jour-
4. Ness ME, Long J, Marks R, Harris G. Foot and ankle kinema- nal of Bone and Joint Surgery 2004;86(7):939-46.
tics in patients with posterior tibial tendon dysfunction. Gait 21. Rabbito M, Pohl MB, Humble N, Ferber R. Biomechanical
Posture 2008;27(2):331-9. and clinical factors related to stage I posterior tibial tendon
5. Wapner KL, Chao W. Nonoperative treatment of posterior tibial dysfunction. J Orth Sports Phys Ther 2011;41(10):776-84.
tendon dysfunction. Clin Orthop Relat Res 1999;365:39-45. 22. Hintermann B, Knupp M. Injuries and dysfunction of the
6. Pritsch T, Maman E, Steinberg E, Luger E. Posterior tibial posterior tibial tendon. Verletzungen und Funktionsstörungen
tendon dysfunction. Harefuah 2004;143(2):136-41. der Tibialis-posterior-Sehne 2010;39(12):1148-57.
7. Kohls-Gatzoulis J, Angel JC, Singh D, Haddad F, Livings- 23. Ringleb SI, Kavros SJ, Kotajarvi BR, Hansen DK, Kitaoka
tone J, Berry G. Tibialis posterior dysfunction: A common HB, Kaufman KR. Changes in gait associated with acute
and treatable cause of adult acquired flatfoot. British Med J stage II posterior tibial tendon dysfunction. Gait and Posture
2004;329(7478):1328-33. 2007;25(4):555-64.
8. Myerson MS. Adult acquired flatfoot deformity: treatment of 24. Augustin JF, Lin SS, Berberian WS, Johnson JE. Nonoperative
dysfunction of the posterior tibial tendon. Instr Course Lect treatment of adult acquired flat foot with the Arizona brace.
1997;46:393-405. Foot Ankle Clin 2003;8(3):491-502.
9. Kulig K, Pomrantz AB, Burnfield JM, Reischl SF, Mais-Requejo 25. Chao W, Wapner KL, Lee TH, Adams J, Hecht PJ. Nonopera-
S, Thordarson DB, et al. Non-operative management of pos- tive management of posterior tibial tendon dysfunction. Foot
terior tibialis tendon dysfunction: Design of a randomized Ankle Int 1996;17(12):736-41.
clinical trial [NCT00279630]. BMC Musculoskeletal Disorders 26. Lin JL, Balbas J, Richardson EG. Results of non-surgical tre-
2006;7:49. atment of stage II posterior tibial tendon dysfunction: a 7- to
10. Kulig K, Reischl SF, Pomrantz AB, Burnfield JM, Mais-Requejo 10-year followup. Foot Ankle Int 2008;29(8):781-6.
S, Thordarson DB, et al. Nonsurgical management of posterior 27. Brodsky JW. Preliminary gait analysis results after posterior
tibial tendon dysfunction with orthoses and resistive exercise: tibial tendon reconstruction: a prospective study. Foot Ankle
A randomized controlled trial. Phys Ther 2009;89(1):26-37. Int 2004;25(2):96-100.
11. Nielsen MD, Dodson EE, Shadrick DL, Catanzariti AR, 28. Richie Junior DH. Biomechanics and clinical analysis of the
Mendicino RW, Malay DS. Nonoperative care for the treat- adult acquired flatfoot. Clin Podiatr Med Surg 2007;24(4):617-
ment of adult-acquired flatfoot deformity. J Foot Ankle Surg 44.
2011;50(3):311-4. 29. Frey C, Shereff M, Greenidge N. Vascularity of the posterior
12. Howitt S, Jung S, Hammonds N. Conservative treatment of tibial tendon. J Bone Joint Surg Am 1990;72(6):884-8.
a tibialis posterior strain in a novice triathlete: a case report. J 30. Prado MP, de Carvalho AE, Jr., Rodrigues CJ, Fernandes TD,
Can Chiropr Assoc 2009;53(1):23-31. Mendes AA, Salomao O. Vascular density of the posterior tibial
13. Kong A, Van Der Vliet A. Imaging of tibialis posterior dysfunc- tendon: a cadaver study. Foot Ankle Int 2006;27(8):628-31.
tion. Br J Radiol 2008;81(970):826-36. 31. Popovic N, Lemaire R. Acquired flatfoot deformity secondary to
14. Shibuya N, Ramanujam CL, Garcia GM. Association of dysfunction of the tibialis posterior tendon. Acta Orthopaedica
tibialis posterior tendon pathology with other radiographic Belgica 2003;69(3):211-21.
findings in the foot: a case-control study. J Foot Ankle Surg 32. Geideman WM, Johnson JE. Posterior tibial tendon dysfunc-
2008;47(6):546-53. tion. J Orthop Sports Phys Ther 2000;30(2):68-77.
15. Churchill RS, Sferra JJ. Posterior tibial tendon insufficiency. 33. Kulig K, Burnfield JM, Reischl S, Requejo SM, Blanco CE,
Its diagnosis, management, and treatment. Am J Orthop Thordarson DB. Effect of foot orthoses on tibialis posterior
1998;27(5):339-47. activation in persons with pes planus. Med Sci Sports Exerc
16. Kohls-Gatzoulis J, Angel J, Singh D. Tibialis posterior 2005;37(1):24-9.
dysfunction as a cause of flatfeet in elderly patients. Foot 34. Alvarez RG, Marini A, Schmitt C, Saltzman CL. Stage I and
2004;14(4):207-9. II posterior tibial tendon dysfunction treated by a structured
17. Jahss MH. Spontaneous rupture of the tibialis posterior tendon: nonoperative management protocol: An orthosis and exercise
clinical findings, tenographic studies, and a new technique of program. Foot Ankle Int 2006;27(1):2-8.
repair. Foot Ankle 1982;3(3):158-66. 35. Neville CG, Houck JR. Choosing among 3 ankle-foot orthoses
18. Lee MS, Vanore JV, Thomas JL, Catanzariti AR, Kogler G, for a patient with stage II posterior tibial tendon dysfunction. J
Kravitz SR, et al. Diagnosis and treatment of adult flatfoot. J Orthop Sports Phys Ther 2009;39(11):816-24.
Foot Ankle Surg 2005;44(2):78-113.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 393
Revisão
*Mestrando em Ciências da Reabilitação, UNISUAM, **Mestranda em Atenção Integrada a Saúde da Mulher e da Criança,
UFF,***Docente da UGF, UNIFESO e IBMR, ****Docente da UGF
Resumo Abstract
Introdução: A imagética motora (IM) (visual e cinestésica) pode Introduction: Motor imagery (MI) (visual and kinesthetic) can
ser definida como ato de codificar o ensaio mental de uma ação pre- be defined as an act of codifying mental rehearsal of an intended
tendida, sem executá-la. Partes dos mecanismos neurais envolvidos action, without executing it. Parts of the neural mechanisms invol-
no planejamento de um movimento são também recrutados durante ved in the planning of a movement are also recruited during his
sua simulação mental, podendo levar a diferentes modulações postu- mental simulation, which can lead to different postural modulations.
rais. Objetivo: Investigar, por meio de revisão da literatura, o efeito da Objective: Investigate by means of literature review, the effect of MI
IM sobre o controle postural. Material e métodos: Foram utilizadas on postural control. Method: Thirty-nine references were used in
39 referencias no total, sendo 5 livros e 34 artigos selecionados nas total, with 5 books and 34 articles in selected databases. Results: We
bases de dados. Resultados: Foram selecionados 7 artigos sobre IM selected 7 articles on MI and postural control in healthy subjects on
e controle postural em indivíduos saudáveis sobre a plataforma de the force platform (inclusion criteria). Studies excluded, used scales
força (critério de inclusão). Os estudos excluídos utilizaram escalas to measure the balance or clinical conditions discussed. Evidences
para mensuração do equilíbrio e/ou abordaram condições clínicas. showed that the kinesthetic MI promotes an increase in sway in
Os demais artigos (27) foram utilizados para a fundamentação the anterior-posterior direction and your use as mental practice
teórica e discussão. Evidências têm demonstrado que a IM cines- promotes functional improvement and reduction of the oscillation
tésica promove aumento da oscilação no sentido ântero-posterior in the same direction. It seems that the supplementary motor area
e sua utilização como prática mental promove melhora funcional inhibits the primary motor cortex during MI, preventing of the
e diminuição da oscilação neste mesmo sentido. Parece que a área movement execution (ME). Conclusion: More studies are necessary,
motora suplementar inibe o córtex motor primário durante a IM, because is not understood how MI can simultaneously inhibit ME
prevenindo a execução do movimento (EM). Conclusão: Mais es- and allow body sway.
tudos são necessários, pois não se compreende como a IM pode ao Key-words: motor imagery, postural balance, mental training.
mesmo tempo inibir a EM e permitir a oscilação corporal.
Palavras-chave: imagética motora, equilíbrio postural,
treinamento mental.
A imagética motora (IM) pode ser definida como ato de Esta revisão da literatura utilizou 5 livros das áreas de Pos-
codificar o ensaio mental de uma ação pretendida, sem execu- turologia Clínica (2 livros) [10,23] e Neurociências (3 livros)
tá-la [1-3]. A imaginação e a sensação de um movimento são [3,24,30], tanto pátrio como não pátrio (Inglês), dos períodos de
fenômenos rigorosamente relacionados e possuem um perfil 2000 a 2010. Os livros referenciados são clássicos e de fundamen-
de controle totalmente voluntário [1]. Esta ação consciente tal importância para esta explanação. Especificamente para o tema
pode gerar mudanças neurofisiológicas não conscientes e (imagética motora e controle postural) foram selecionados artigos
influenciar eventos sobre o sistema nervoso autônomo (SNA) indexados nas bases de dados Pubmed/Medline, Scholar Google,
[3], levando a mudanças na atividade cardiorrespiratória [4]. PEDro e SciELO, utilizando as palavras-chave “imagética mo-
Evidentemente, o SNA não pode ser modulado diretamente tora”, “equilíbrio postural” e “treinamento mental” combinadas
pelo movimento voluntário, sugerindo que estas mudanças ou não, tanto em Português quanto em Inglês, compreendendo
seriam causadas pelos processos mentais que integram parte o período de busca de 1985 a 2013. A palavra-chave “imagética
do programa motor evocado durante a IM [3]. motora” ainda não se encontra nos descritores da capes, porém
Por definição, postura é a posição relativa de várias sua similar é bem conhecida nos textos internacionais e por isso
partes do corpo em relação umas as outras e em relação ao foi utilizada. Para a fundamentação teórica e discussão do tema
ambiente, envolvendo o campo gravitacional [5]. O sistema foram utilizados diferentes artigos, compreendendo o mesmo
postural deve satisfazer três quesitos principais: 1) manter uma período de busca, devido à escassez de material bibliográfico com
postura estável na presença da gravidade; 2) gerar respostas tal abordagem. Assim, foram utilizadas 9 referências correspon-
que antecipam movimentos voluntários e 3) deve adaptar-se dentes aos últimos cinco anos e as demais (24 referências) com
as mudanças [6]. O sistema de controle postural depende mais de cinco anos de publicação.
basicamente de três componentes funcionais: 1) biomecâ-
nico, que envolve a estabilidade articular e o comprimento Resultados
muscular, bem como a amplitude de movimento de cada
segmento, principalmente do tornozelo e quadril; 2) a co- Busca nas bases de dados
ordenação motora, que envolve as estratégias de resposta às
oscilações corporais ântero-posterior (estratégia do tornozelo) Nos resultados da busca referente ao tema, 22 estudos
e perturbações externas (estratégia do quadril) [6-7] e 3) o foram encontrados e selecionados 7 sobre IM e controle pos-
sistema sensorial (visual, vestibular e proprioceptivo), que é tural em indivíduos saudáveis. A tabela I resume o resultado
responsável pelo controle do equilíbrio postural [8-9]. das buscas desses artigos nas diferentes bases de dados. Foram
O movimento voluntário é acompanhado e precedido por incluídos no estudo, artigos que avaliaram indivíduos sem
fenômenos posturais antecipatórios (feedforward) [6-7,10], lesões neurológicas e/ou ortopédicas que comprometessem
pois o controle postural está inserido no contexto do movi- o equilíbrio, utilizando uma plataforma de força (estabilo-
mento [11-14]. Além disso, o sistema motor está envolvido metria) para a análise do controle postural. Os critérios para
não somente com a produção do movimento, mas também exclusão foram os estudos que utilizaram somente escalas para
com os seus aspectos representacionais, tais como o reco- a mensuração do equilíbrio e/ou avaliaram indivíduos em con-
nhecimento e o aprendizado de ações através da observação dições clínicas, como o Acidente Vascular Encefálico (AVE)
ou simulação mental [15]. Parte dos mecanismos neurais e/ou Parkinson (15 referências), pois o objetivo é entender
envolvidos no planejamento de um movimento é também como as modalidades da IM (visual e cinestésica) modulam
recrutada durante os estados de simulação mental, denomi- o controle postural em indivíduos saudáveis.
nados “estados-S”. Estes correspondem às situações em que o
sistema motor antecipa a ação, manipulando as redes neurais Tabela I - Resultados das buscas nas diferentes bases de dados.
que codificam a ação pretendida, mas sem realizá-la [3,16]. Bases de Encon- Selecio-
Neste contexto, o movimento voluntário estaria relacio- Estudo
dados trados nados
nado com o controle postural e, dessa forma, poderia ser Imbiriba et al, 2006
esperado que a simulação de um movimento durante uma Pubmed /
11 3 Rodrigues et al, 2010
tarefa de IM pudesse evocar parte deste circuito e promover Medline Grangeon, Guillot & Collet,
um ajuste postural. As investigações envolvendo a IM e o
2011
controle postural são muito recentes e tem sido especulado
que a IM bloqueia (ou suprime) a execução de movimento Hamel & Lajoie, 2005
PEDro 8 2
(EM) no córtex motor primário (M1), mas ainda não se Fansler, Poff & Shepard, 1985
compreende bem este mecanismo. Assim, o objetivo deste SciELO 1 1 Rodrigues et al, 2003
estudo foi investigar, por meio de revisão da literatura, o efeito Scholar
2 1 Choi et al, 2010
da IM sobre o controle postural. Google
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 395
voluntário e o controle postural antecipatório (involuntário). tações motoras primárias dos sujeitos com deficiência visual
Ao estudar o movimento fisiológico, diferentes pesquisadores dependem da informação cinestésica proprioceptiva [35].
observaram que os músculos mais profundos do tronco (trans- Isto, provavelmente, ocorre devido a um menor bloqueio da
verso do abdômen, multífidos e flexores profundos cervicais) eferência motora por ativação de circuitos neurais distintos.
são ativados cerca de 50 milissegundos (ms) antes do agonista Um recente estudo de revisão destacou 3 possibilidades de
do movimento, seja do membro inferior [11-12] ou membro inibição do comando motor durante a IM: 1) córtex parietal
superior [13]. As evidências afirmam que existe uma ordem (inibição motora durante o processo de construção da repre-
de recrutamento motor, em que os músculos mais profundos sentação mental); 2) córtex frontal (influências supressivas
do tronco (antigravitacionais e estabilizadores) trabalham em do córtex em regiões que elaboram o comando motor) e 3)
antecipação (feedforward) ao movimento dos membros, em influências inibitórias do cerebelo e medula espinal. Particu-
resposta as cargas impostas por eles, a fim de manter o ajuste larmente, quando um programa de movimento não é bem
postural e a estabilidade do tronco durante a EM [11-14]. adaptado e requer mudanças em um ou mais parâmetros da
Neste contexto, poderia ser esperado que a estratégia de IM direção ou amplitude de movimento, não é necessária uma ini-
de um movimento fisiológico reproduzisse o mesmo efeito bição completa do movimento, mas somente uma adaptação
sobre o controle do equilíbrio postural. deste programa. Esta flexibilidade no mecanismo de inibição
Estudos sugerem que a IM cinestésica possui uma rede central pode ser resultado da integração entre o giro frontal
sensório-motora específica que facilita a modulação corticoes- inferior com os núcleos da base, responsáveis por reprogramar
pinal com mais alcance que a IM visual. Existem especulações um planejamento motor, que pode ser inibido [15].
de que a IM visual ocorre por uma via distinta, que poderia Dependendo da orientação do movimento, ocorre uma
estar relacionada à rede de neurônios espelho (parieto-frontal), sequência de ativação neuronal sistemática antes do seu início.
que quando ativada pela observação de uma ação, permite que Os registros do eletroencefalograma evidenciam que ocorre
o significado da ação seja compreendido automaticamente, um aumento negativo do potencial (entre 1 e 2 segundos)
já que o indivíduo transforma a imagem armazenada em sua antes da EM, refletindo uma preparação para o processamen-
memória para mentalizar a observação da ação (terceira pes- to motor (potencial pré-motor). Este potencial pré-motor
soa) [3]. Assim, tanto a estratégia de IM visual quanto a IM negativo ocorre rapidamente (500ms) antes do início do
cinestésica possuem uma construção mental distinta [20,31] movimento e reflete a despolarização da rede dendrítica,
e, portanto, poderia ser esperado que suas repercussões sobre indicando a geração preparatória dos estados subjacentes das
o controle do equilíbrio postural se comportassem também camadas sensório-motoras corticais [3]. Estudos utilizando
de forma distinta. Ressonância Magnética Funcional sugerem que este processo
O estudo de Rodrigues et al. [34] analisou o controle pré-motor esteja relacionado com a área motora suplementar
postural na plataforma de força em 49 participantes e os (AMS) e os núcleos da formação reticular no tronco encefálico
dividiu em grupos de acordo com a estratégia de IM uti- [37], provavelmente integrando a via córtico-retículo-espinal
lizada (visual ou cinestésica). Os resultados demonstraram que ativa o motoneurônio alfa dos músculos antigravitacionais
maior modulação postural nos participantes que utilizaram (estabilizadores) [10]. A conectividade entre a AMS e o córtex
a modalidade cinestésica. Entretanto, o estudo não utilizou motor primário (M1) é demonstrada por estudos de simula-
eletromiografia (EMG) e por isso, não poderia precisar se ção do movimento, os quais sugerem que a AMS pode inibir
ocorreu EM durante as tarefas de IM. Posteriormente Ro- (ou suprimir) a atividade de M1 durante a IM, por meio da
drigues et al. [33] realizaram outro estudo com um novo liberação de ácido-amino-gama-butírico (GABA) [10,37-38].
modelo experimental utilizando também a EMG durante as Estes achados indicam um importante circuito de
tarefas de IM. Os resultados demonstraram um aumento na feedback de M1 com a AMS na preparação e EM, bem como
área e amplitude de deslocamento do centro de pressão (CP) na IM [3,37-38]. Entretanto, ainda não se compreende bem
no sentido anteroposterior (AP) na modalidade cinestésica, este mecanismo e diversas hipóteses têm sido lançadas [37],
quando comparado à modalidade visual e a tarefa controle. sugerindo que a inibição de M1 (piramidal) durante a IM
Neste contexto, atualmente tem sido evidenciado que ocorreria ainda nos estágios de planejamento motor [15,38],
a estratégia de IM cinestésica em diferentes tipos de tarefas levando a mudanças no controle postural (extrapiramidal),
promove aumento da oscilação no sentido AP [28,33-35] e sua independente da idade do indivíduo [39].
utilização como prática mental promove melhora funcional
[32] e diminuição da oscilação no mesmo sentido, devido Conclusão
à redução no tempo de reação do controle postural [36]. O
estudo de Imbiriba et al. [35] avaliou indivíduos deficientes De acordo com a literatura analisada, a modalidade de
visuais com diferentes etiologias. O protocolo experimental IM cinestésica tem apresentado maior influência sobre o
foi idêntico ao utilizado por Rodrigues et al. [34] e os resul- controle postural, quando comparado com a modalidade
tados no CP foram similares aos encontrados pelo mesmo visual. Ainda não se compreende bem como a IM pode ao
grupo em 2003 e 2010 [33-34], sugerindo que as represen- mesmo tempo inibir a EM e permitir a oscilação corporal. Por
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 397
isso, mais estudos devem ser realizados para aprimorar este 20. Ruby P, Decety J. Effect of subjective perspective taking during
conhecimento, que poderá ser importante para a reabilitação simulation of action: a PET investigation of agency. Natur
neuro-ortopédica. Neurosci 2001;4:546-50.
21. Xerri C, Barthelemy J, Harlay F, Borel L, Lacour M. Neuronal
coding of linear motion in the vestibular nucleio of the alert
Referências
cat. I. Response characteristics to vertical otolith stimulation.
Exp Brain Res 1987;65:569-81.
1. Jeannerod M. Mental imagery in the motor context. Neuropsych 22. Souza NS, Martins ACG, Machado DCD, Dias KP, Nader
1995;33(11):1419-32. S, Bastos VH. A influência do eixo visuo-podal na regulação
2. Decety J, Jeannerod M. Mentally simulated movements in do equilíbrio morfoestático em idosos. Revista Neurociências
virtual reality: does Fitts’s law hold in motor imagery? Behav 2012;20(2)320-27.
Brain Res 1996;72:127-34. 23. Gagey PM, Weber B. Posturologia: regulação e distúrbios da
3. Guillot A & Collet C. The neurophysiological foundations of posição ortostática. São Paulo: Manole; 2000. 9-12p.
mental and motor imagery. New York: Oxford University Press 24. Kandel ER, Schwartz JH &Jessell TM. Princípios da neuroci-
2010. 123p. ência. 4º ed. São Paulo: Manole; 2003. 816-31p.
4. Decety J, Jeannerod M, Durozard D, &Baverel G. Central 25. Zaehle T, Herrmann C. Neural synchrony and white matter va-
activation of autonomic effectors during mental simulation of riations in the human brain - between evoked gamma frequency
motor actions in man. J Physiol 1993;461:549-63. and corpus callosum morphology. Relat Elselv 2011;79:49-54.
5. Winter DA, Eng P. Kinetics: Our window into the goals and 26. Nashner LM. Adapting reflexes controlling the human posture.
strategies of the central nervous system. Behav Brain Res Exper Brain Res 1976;26:59-72.
1995;67(2):111-20. 27. Jacobs JV, Horak FB. Cortical control of postural responses. J
6. Horak FB. Postural orientation and equilibrium: what do we Neural Transm 2007;114(10):1339-48
need to know about neural control of balance to prevent falls? 28. Grangeon M, Guillot A, Collet C. Postural control during visual
Age Aging 2006;35(2):7-11. and kinesthetic motor imagery. Appl Psychophysiol Biofeedback
7. Massion J. Postural control systems in developmental perspec- 2011;36:47-56.
tive. Neurosci Biobehav Rev1998;22(4):465-72. 29. Guillot A, Collet C. Duration of mentally simulated movement:
8. Fitzpatrick R, McCloskey DI. Proprioceptive, visual and vesti- A review. J Motor Behavior 2005;37:76-84.
bular thresholds for the perception of sway during standing in 30. Shumway-cook A,Woollacott MH. Controle motor: teoria e
humans. J Physiol 1994;478(1):173-86. aplicações práticas. 3a ed. São Paulo: Manole; 2010. 157-186p.
9. Redfern MS, Yardley L, Bronstein AM. Visual influences on 31. Sirigu A, Duhamel JR. Motor and visual imagery as two com-
balance. J Anxdisord 2001;15:81-94. plementary and neurally dissociable mental processes. J Cogn
10. Bricot B. Posturologia Clínica. 1a ed. São Paulo: Cies Brasil; Neurosci 2001:13(7):910-9.
2010. 45-72p. 32. Fansler CL, Poff CL, Shepard KF. Effects of mental practice on
11. Hodges PW, Richardson CA. Contraction of the abdominal balance in elderly woman. Phys Ther 1985;65:1332-38.
muscles associated with movement of the lower limb. Rev 33. Rodrigues EC, Lemos T, Gouvea B, Volchan E, Imbiriba LA,
PhysTher 1997;77(2):132-44. Vargas CD. Kinesthetic motor imagery modulates bodysway.
12. Hodges PW. Changes in motor planning of feedforward postural Neurosc 2010;169:743-50.
responses of the trunk muscles in low back pain. Exp Brain Res 34. Rodrigues EC, Imbiriba LA, Leite GR, Magalhães J, Volchan
2001;141:261-66. E, Vargas CD. Efeito da estratégia de simulação mental sobre o
13. Falla D, Jull G, Hodges PW. Feedforward activity of the cervical controle postural. Rev Bras Psiquiatr 2003;25:33-5.
flexor muscles during voluntary arm movements is delayed in 35. Imbiriba LA, Rodrigues EC, Magalhaes J, Vargas CD. Motor
chronic neck pain. Exp Brain Res 2004;157:43-8. imagery in blind subjects: the influence of the previous visual
14. Tsao H, Hodges PW. Immediate changes in feedforward postural experience. Neurosci Lett 2006;400:181-85.
adjustments following voluntary motor training. Exp Brain Res 36. Hamel MF, Lajoie Y. Mental imagery: effects on static balance
2007;181:537-46. and attentional demands of the elderly. Aging Clin Exp Res
15. Guillot A, Rienzo FD, Maclntyre T, Moran A, Collet C. Imaging 2005;17:223-28.
is not doing but involves specific motor commands: a review of 37. Kasess CH. The suppressive influence of SMA on M1 in mo-
experimental data related to motor inhibition. Front in Hum tor imagery revealed by fMRI and dynamic causal modeling.
Neurosci 2012;6:1-22. Neuroimage 2008;40(2):828-37.
16. Jeannerod M. Neural simulation of action: a unifying mecha- 38. Vigneswaran G, Philipp R, Lemon RN, Kraskov A. M1 Corti-
nism for motor cognition. Neuroim 2001;14:103-9. cospinal mirror neurons and their role in movement suppression
17. Decety J. The neurophysiological basis of motor imagery. Behav during action observation. Report 2013;23(3):1-6.
Brain Res 1996;77:45-52. 39. Gabbard C, Cordova A. Association between imagined and
18. Jeannerod M. The representing brain: neural correlates of motor actual functional reach (FR): A comparison of young and older
intention and imagery. Behav Brain Sci 1994;17:187-202. adults. Arch Gerontol Geriatr 2013;56:487-91.
19. Kosslyn SM, Ganis G & Thompson WL. Neural foundations
of imagery. Natural Rev Neurosci 2001;2:639-42.
398 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Agradecimentos • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
Referências • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na • Telefones de contato do autor correspondente.
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
antes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
e-mail com o envio do artigo). cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor ex- para sua adequada formatação.
ecutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Atlantica Editora - artigos@atlanticaeditora.com.br
400 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013
Agenda
2013 2014
Novembro Fevereiro
14 a 17 de novembro 13 a 15 de fevereiro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato-
Fisioterapia Esportiva - SONAFE funcional
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Belo Horizonte, MG
Informações: www.sonafe.org.br Informações: http://dermatofuncional2014.com.br
14 a 16 de novembro 21 a 23 de fevereiro
45° CBOT - Congresso Brasileiro de Ortopedia e XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Traumatologia Londrina, PR
Universidade Positivo Curitiba, PR Informações: http://posturologiaclinica.com.br/
Informações: http://www.cbot2013.com.br
14 a 16 de novembro Abril
II Congresso Nordestino de Fisioterapia
30 de abril a 3 de maio
Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva
VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
- II CONEFIR
III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
Hotel Praiamar, Natal, RN
João Pessoa, PB
Informações: www.assobrafir.com.br
Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
congresso/
Dezembro
6 a 8 de dezembro Maio
1º Congresso Internacional sobre Saúde da Pessoa com
8 a 10 de maio
Deficiência
XX CBTO - Congresso Brasileiro de Trauma Ortopédico
Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília, DF
Gramado, RS
Informações: www.cispod.com.br/
Informações: http://www.traumaortopedico.med.br
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 6 novembro/dezembro 2013 - 401~480)
EDITORIAL
Obrigado a todos, Jean-Louis Peytavin, Guillermina Arias ......................................................................................................... 405
ARTIGOS ORIGINAIS
Fotoenvelhecimento e fotoproteção na percepção de idosos, Rúbia Karine Diniz Dutra,
Edinete da Silva Pedrosa Candeia, Eva Jeminne de Lucena Araújo Munguba,
Mariana Araújo Pinto, Tatiane Lima de Araújo Silva.................................................................................................................... 408
Efeito de um programa de treinamento de força sobre os níveis sanguíneos de glicose
em ratos diabéticos induzidos, Vinícius P. Coelho Vieira, Giovane Galdino de Souza................................................................ 414
Vínculo materno e objeto transicional no sono de crianças com deficiência visual,
Priscila Pintenho de Melo, Jaiana Gomes Bolsan, Alessandra Gasparello Viviani,
Luis Vicente Franco de Oliveira, Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes,
Silvana Alves Pereira, Cristiane Aparecida Moran......................................................................................................................... 418
Laserterapia associada à drenagem linfática em úlceras de pele: relato
de múltiplos casos, Dayane Nunes Rodrigues, Regiane Medeiros Cordeiro,
Eloá França, Ariane Costa Moura, Maria Cristina Balejo Piedade................................................................................................. 422
Qualidade de vida e estilo de vida de usuários do serviço público de fisioterapia
em Santa Maria/RS, Guilherme Bordin, Zadro Jornada Monteiro, Andriele Gasparetto............................................................. 426
Fisioterapeutas integrantes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família do Estado
de Santa Catarina: competências e desafios, Nathiele Plácido Belettini, Franciani Rodrigues,
Thaise Silvestri Cruz, Kely Cristine Ferreira, Lisiane Tuon, Bárbara Lucia Pinto Coelho............................................................... 433
Comportamento da força muscular respiratória, pico de fluxo expiratório e oxigenação
durante repouso e caminhada na água, Patrícia Dall’Agnol Bianchi, Inaiana Klasener Augusto,
Kalina Durigon Keller, Bruna Durigon Keller, Renan Maximiliano Fernandes Sampedro............................................................. 439
Análise eletromiográfica dos músculos inspiratórios em indivíduos saudáveis submetidos
à carga máxima de resistor linear e alinear, Éric da Silva, Saulo Araújo de Carvalho,
Adeno Gonçalves de Oliveira, Luana Gabrielle de França Ferreira, Joelson da Silva Medeiros,
Cláudia Barbosa Ladeira de Campos, Alderico Rodrigues de Paula Júnior.................................................................................... 446
Análise do nível de concordância interobservadores na avaliação postural estática
em idosos residentes no município de São Paulo, Camila Costa Ibiapina Reis,
Lívia Pimenta Renó Gaparotto, Aline Abreu Lando Kenmochi, Ana Claudia
Vasconcellos Queiroz, Francini Vilela Novais, Edson Lopes Lavado, Luiz Roberto Ramos............................................................ 453
Grau de risco para desenvolvimento de úlceras nos pés de pacientes diabéticos
de meia idade e idosos, Luma Zanatta de Oliveira, Suzane Stella Bavaresco,
Maria Guadalupe Rasero Cumplido, Ana Paula Pillatt,
Ana Carolina Bertoletti de Marchi, Camila Pereira Leguisamo..................................................................................................... 459
RELATO DE CASO
Efeito da adição de peso no tronco sobre o equilíbrio postural de um sujeito com ataxia,
Carla Emilia Rossato, Ana Lucia Cervi Prado, Jones Eduardo Agne, Sergio Antonio Brondani .................................................... 464
REVISÕES
Força e função muscular do assoalho pélvico: como avaliar?
Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos, Aline Moreira Ribeiro.......................................................................................... 469
Aplicação dos recursos fisioterapêuticos na disfunção temporomandibular,
Wiviane Maria Torres de Matos Freitas, Erielson dos Santos Bossini............................................................................................. 474
NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................478
EVENTOS..........................................................................................................................................................................480
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)
Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras
Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
Centro 01037-010 São Paulo SP Cristiana Ribas
Administração e vendas cristiana@atlanticaeditora.com.br
Atendimento Antonio Carlos Mello Diretor de Marketing e Publicidade
(11) 3361 5595 / 3361 9932 mello@atlanticaeditora.com.br Rainner Penteado
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br rainner@atlanticaeditora.com.br
Editor executivo
Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 jeanlouis@atlanticaeditora.com.br release@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Editorial
Obrigado a todos
Jean-Louis Peytavin, Guillermina Arias
Encerramos o ano 2013 com uma grande apresentação de miografia dos músculos inspiratórios (Teresina/PI). Temos
artigos originais, cobrindo várias especialidades da Fisioterapia também dois artigos de fisioterapia neurofuncional, sobre
e mostrando sua importância no tratamento das doenças da a avaliação postural estática (Unifesp/SP) e a ataxia (Santa
atualidade. Maria/RS), e, enfim artigos sobre a saúde da mulher (Ribeirão
O diabetes é bem representado com dois trabalhos; o pri- Preto/SP) e a disfunção temporomandibular (Belém/PA).
meiro, enviado por uma equipe de Alfenas/MG, testou o nível Publicamos assim trabalhos de várias disciplinas, prove-
de esforço físico para baixar a glicemia em ratos diabéticos; o nientes de muitas regiões do Brasil, o que é nosso objetivo
segundo, vindo de Passo Fundo/RS, mostra o elevado risco desde o início da revista, que entra agora no seu décimo
de úlceras nos pés em pacientes diabéticos. quinto ano.
Publicamos um estudo sobre a proteção solar e o foto- Temos ainda muito para fazer, começando por um site
envelhecimento (Patos/PB); o vínculo materno em crianças muito mais funcional, o que é nossa meta para este ano 2014,
com deficiência visual (Nove de Julho/SP); a eficiência da a fim de facilitar o acesso dos fisioterapeutas aos 900 artigos
laserterapia associada a drenagem linfática em casos de úlceras já publicados desde o ano 2000.
de pele (São Judas Tadeu/SP); a avaliação da satisfação dos Queremos enfim agradecer a todos os pareceristas anôni-
usuários de um serviço público de fisioterapia (Santa Maria/ mos que nos ajudam a selecionar, avaliar e corrigir os artigos
RS) e da intervenção dos fisioterapeutas em um Núcleo de que recebemos. Estamos honrados de contar com a partici-
Apoio à Saúde da família (Santa Catarina). pação de 120 deles, representativos de todas as disciplinas da
A fisioterapia cardiorrespiratória está presente em um Fisioterapia e de todas as escolas e faculdades. Esse trabalho
artigo sobre a força muscular respiratória durante repouso e anônimo, sempre simpático e exigente, é a chave do sucesso
caminhada na água (Santa Maria/RS) e outro sobre a eletro- permanente de nossa revista. Obrigado a todos!
408 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Artigo original
Fotoenvelhecimento e fotoproteção
na percepção de idosos
Photoaging and photoprotection in the perception of the elderly
Rúbia Karine Diniz Dutra, M.Sc.*, Edinete da Silva Pedrosa Candeia**, Eva Jeminne de Lucena Araújo Munguba***,
Mariana Araújo Pinto***, Tatiane Lima de Araújo Silva****
*Docente e coordenadora de Pós graduações em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos e da Maurício de Nassau,
**Especialista em Saúde Pública, Faculdades Integradas de Patos, ***Especialista em Fisioterapia Dermato-funcional,
Faculdades Integradas de Patos, ****Faculdades Maurício de Nassau
Resumo Abstract
Introdução: O processo de envelhecimento traz consigo inúmeras Introduction: The aging process brings about many physiological
alterações fisiológicas que, muitas vezes, acarretam incidência de changes that may develop to a higher incidence of certain diseases
determinadas doenças, afetando de maneira adversa a qualidade de and, in consequence, affect quality of life of older people. It is of
vida da população idosa. Por isso, o conhecimento dessas doenças é great importance the knowledge of these diseases in order to prevent
de grande importância, já que permite a prevenção e a diminuição and reduce the deleterious effects on health of elderly people in their
dos efeitos deletérios na saúde do idoso em seus diversos sistemas, various systems, including the integumentary system. Photoaging,
inclusive o sistema tegumentar. No fotoenvelhecimento, que ocorre which occurs in parallel to chronological aging, is the premature
em paralelo ao envelhecimento cronológico, pode-se constatar que aging of the skin due to prolonged exposure to sunlight. Objective:
as áreas expostas geralmente parecem mais envelhecidas em diversos To learn what the elderly know about photoaging and photopro-
aspectos do que a pele que se encontra sempre protegida. Objeti- tection. Method: This is an applied research, descriptive and field
vo: Apreender o que os idosos sabem sobre fotoenvelhecimento e study with qualitative-quantitative approach, developed in a School
fotoproteção. Material e métodos: Trata-se de uma pesquisa do tipo of Physical Therapy Clinic of a HEI, conducted with 30 elderly
aplicada, descritiva e estudo de campo, com abordagem quali- people who were receiving physical therapy. It was used a formulary
-quantitativa, desenvolvida em uma Clínica Escola de Fisioterapia de with a semi-structured interview. The analysis was performed using
uma IES, realizada com 30 idosos que estavam recebendo tratamento descriptive statistics. Results: The older people average age was 69.1
fisioterapêutico. Foi utilizado um formulário para entrevista semies- years old, 80% were female, 57% were married, all unaware of the
truturada. A análise foi realizada por meio de estatísticas descritivas. meaning of the terminology photoaging, 73% protected themsel-
Resultados: A idade média dos idosos era 69,1 anos, 80% eram do ves from the sun, 60% did not use sunscreen every day, 40% used
gênero feminino, 57% eram casados, todos desconheciam o signi- 30 FPS, 67% did not reapply it every 2 hours, 73% applied both
ficado da terminologia fotoenvelhecimento, 73% se protegiam do in the facial region and in the body region, 50% reported having
sol, 60% não faziam uso de protetor solar todos os dias, 40% faziam dry skin, sensitive skin 57%, 64% and 47% slightly pigmented
uso de FPS 30, 67% não reaplicavam a cada 2 horas, 73% aplicavam wrinkled. Conclusion: Sun exposure is a problem which has dama-
tanto na região facial quanto na região corporal, 50% referiram ging consequences for the elderly, and their risk factors are not yet
ter pele seca, 57% tinham pele sensível, 64% pigmentada e 47% understood, hence the photoprotection is needed to prevent serious
pouco enrugada. Conclusão: A exposição solar é um problema que health problems like skin cancer.
traz consequências nefastas aos idosos e seus fatores de risco ainda Key-words: photoaging, photoprotection, elderly.
não são compreendidos, por isto a fotoproteção faz-se necessária
na prevenção de sérios problemas de saúde como o câncer de pele.
Palavras-chave: fotoenvelhecimento, fotoproteção, idoso.
idosos pensavam sobre o fotoenvelhecimento e a fotoproteção, nas cidades que participaram do estudo. Esse inquérito re-
foi utilizado um formulário para entrevista semiestruturada presentou, assim, a primeira tentativa de obter-se, em nível
com 10 questões como instrumento para coleta de dados. nacional, informação com relação aos hábitos de proteção
A análise dos dados foi realizada por meio de estatísticas à exposição solar, contribuindo, portanto, para melhorar o
descritivas. Os resultados foram apresentados em forma de conhecimento do nível de exposição solar cumulativa no
tabelas no programa Microsoft Excel®, assim como através Brasil e fornecer subsídios para programas de prevenção
de porcentagem e posteriormente correlacionados com a no país [11].
literatura especializada. Desta forma, para investigar a percepção dos idosos quanto
Em obediência a ética necessária ao estudo envolvendo ao fotoenvelhecimento e fotoproteção foi utilizado um for-
seres humanos, cumpriu-se às recomendações da Resolução mulário para entrevista semiestruturada com 10 questões,
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/CNS. elaborado pelas pesquisadoras.
Todos desconheciam o significado de fotoenvelhecimento
Resultados e fotoproteção. Com relação à importância de se proteger
contra o sol surgiram as seguintes temáticas nas falas dos
Os resultados foram sistematizados em duas partes, a entrevistados: ficar doente; evitar problemas de saúde; alergia
primeira parte foi composta pelo perfil sociodemográfico dos ao sol; evitar doenças na pele; por que queima; mancha na
idosos entrevistados e a segunda, pela percepção dos idosos pele; evitar envelhecimento; evitar o câncer.
quanto ao fotoenvelhecimento e fotoproteção. Considerando os dados sobre a proteção solar, 73% (n =
Participaram da pesquisa 30 idosos que receberam tra- 22) dos entrevistados se protegem enquanto que 27% (n =
tamento fisioterapêutico na Clínica Escola de Fisioterapia 8) não se protegem do sol. Quando indagados sobre o tipo
de uma Instituição de Ensino superior (IES) na cidade de de fotoproteção mais utilizada, 68% (n = 15) relataram usar
Patos/PB. o protetor solar, 9% (n = 2) óculos e 23% (n = 5) sombrinha.
Para caracterização da amostra foi utilizado um formulário Quanto à utilização de protetor solar diariamente, 40% (n
composto por 06 variáveis, sendo elas: idade, sexo, estado civil, = 12) faziam aplicação diariamente, 60% (n = 18) não faziam
escolaridade, renda familiar mensal e número de indivíduos uso todos os dias. De acordo com a reaplicação a cada duas
dependentes. horas, 33% (n = 05) realizavam e 67% (n=10) não realizavam.
De acordo com a faixa etária, observou-se que dos 30 Com relação ao FPS utilizado, 40% (n = 6) faziam uso de
idosos pesquisados, 20% (n = 6) estavam na faixa etária de FPS 30, 13% (n = 2) FPS 50 e 47% (n = 7) desconhecem o
60-64 anos, 33% (n = 10) 65-69 anos, 27% (n = 8) 70-74 FPS utilizado (Tabela I).
anos, 17% (n = 5) 75-79 anos e 3% (n = 1) 80 anos ou mais.
A média de idade correspondeu a 69,1 anos. Tabela I - Uso do protetor solar e conhecimento do FPS.
A caracterização da amostra de acordo com o gênero SIM NÃO SIM NÃO
identificou 80% (n = 24) gênero feminino e 20% (n = 6) f f % %
masculino. Uso do protetor solar diaria-
12 18 60,0 40,0
Com relação ao estado civil, 57% (n = 17) eram casados, mente
3% (n = 1) solteiro, 10% (n = 3) divorciados e 30% (n = 9) Reaplicação do protetor a cada
5 10 33,0 67,0
outros. 2 horas
De acordo com a escolaridade, 34% (n = 10) possuíam Uso do protetor solar FPS 30 5 10 33,0 67,0
ensino fundamental completo, 34% (n = 10) ensino funda- Uso do protetor solar FPS 50 5 10 33,0 67,0
mental incompleto, 13% (n = 04) ensino médio completo, Desconhecem o FPS do protetor 5 10 33,0 67,0
3% (n = 01) ensino médio incompleto, 3% (n = 1) ensino Dados da Pesquisa, 2010.
superior completo e 13% (n =4) não possuem estudos.
Considerando a renda familiar mensal dos indivíduos, 4% De acordo com a região de aplicação, 27% (n = 4) apli-
(n = 1) ganhava menos de 1 salário mínimo, 93% (n = 28) cavam unicamente no corpo e 73% (n = 11) aplicavam tanto
recebiam de 1 a 3 salários mínimos e 3% (n = 1) 4 salários na região facial quanto na região corporal.
mínimos ou mais. Com relação às alterações da pele facial e corporal na
Com relação ao número de indivíduos dependentes dos percepção dos idosos entrevistados, no quesito Hidratação:
idosos participantes da pesquisa, 64% (n =19) possuíam 1 a 3 50% (n = 15) referiram pele seca, 33% (n = 10) pele oleosa e
pessoas dependentes, 33% (n = 10) 4 a 6 pessoas dependentes 17% (n = 05) normal; Sensibilidade: 33% (n = 10) resistente,
e 3% (n = 1) 7 pessoas dependentes ou mais. 57% (n = 17) sensível e 10% (n = 03) normal; Pigmentação
Nos anos de 2002 e 2003, foi realizado, no Brasil, um da pele: 64% (n = 19) pigmentada, 33% (n = 10) pouco
inquérito domiciliar de base populacional sobre compor- pigmentada e 03% (n = 01) normal; Presença de rugas: 13%
tamentos de risco que, entre outros objetivos, avaliou as (n = 04) enrugada, 47% (n = 14) pouco enrugada e 40% (n
formas de proteção à radiação solar que eram mais utilizadas = 12) normal (Tabela II).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 411
Tabela II - Percepção de alterações na pele facial e corporal dos aquisição do mesmo para todas as regiões, o uso do chapéu
idosos entrevistados. e a procura pela sombra levam, provavelmente, mais em
Presença de alterações da pele facial e corporal consideração os aspectos sócio-culturais.
Hidratação A baixa renda per capita dos idosos, associada a um suporte
Seca (%) Oleosa (%) Normal (%) médico ineficiente, priva-os de uma adequada assistência de
50% (n = 15) 33% (n = 10) 17% (n = 05) saúde, da compra dos medicamentos ou do pagamento da
Sensibilidade mensalidade do plano de saúde, com reflexos diretos na sua
Resistente (%) Sensível (%) Normal (%) qualidade de vida, uma vez que a renda é um dos elementos
33% (n = 10) 57% (n = 17) 10% (n = 03) essenciais para a preservação da autonomia e para a manu-
Pigmentação tenção ou recuperação da saúde [15].
Pigmentada (%) Não pigmentada (%) Normal (%) Quando não empregados, os idosos amparam-se na apo-
64% (n = 19) 33% (n = 10) 03% (n = 01) sentadoria (por tempo de trabalho, por idade, por invalidez
Presença de rugas ou aposentadoria especial), um direito do indivíduo garantido
Enrugada (%) Firme (%) Normal (%) pela Lei nº 8.213/91 da Previdência Social e amparada pelo
13% (n = 4) 47% (n = 14) 40% (n = 12) Estatuto do Idoso [12]. Para Gallahue e Ozmun [16], a apo-
Dados da pesquisa, 2010. sentadoria representa um processo e não um evento único.
Ainda afirmam que é um fenômeno interessante que algumas
Discussão pessoas saboreiam, algumas toleram e outras se ressentem dele.
Mesmo garantido este direito, alguns ainda trabalham
Entende-se por idoso ou pessoa da terceira idade, indiví- pela remuneração e uma minoria aposenta-se. Em vez de
duos com mais de 60 anos de idade, instituído pelo estatuto desfrutarem esse período com tranquilidade, como prêmio
do idoso. O envelhecimento vem aumentando considera- pelos anos de contribuição com a sociedade, sentem-se como
velmente, o que se atribui a um aumento da expectativa de peso, o que pode desencadear um sentimento muito comum
vida, a diminuição da taxa de natalidade, a um melhor con- de inutilidade. Estes dentre outros problemas que levam o
trole de doenças infectocontagiosas (imunização) e crônico- idoso ao estreitamento afetivo e ao isolamento social. Os
-degenerativas [12]. relacionamentos são importantes ainda que a frequência dos
O envelhecimento populacional tem ganhado reconhe- contatos sociais diminua nesta fase, o que não compromete
cimento universal, e o Brasil ocupa hoje a sétima colocação o bem estar, pois um círculo interno de apoio emocional é
mundial em número de idosos; espera-se que, em 2025, ocupe mantido [17,18].
a sexta posição. Diante desse fato, importantes estudos têm O nível socioeconômico dos idosos brasileiros, apesar
sido desenvolvidos a fim de compreender melhor essa popu- das características socioeconômicas diferenciadas das regiões
lação e garantir uma melhor qualidade de vida, reduzindo os brasileiras é, em geral, precário. Segundo o IBGE [19], em
impactos deletérios do envelhecimento [13]. 2001 a proporção de idosos analfabetos era de 39% e que a
Para Maciel e Guerra [14], o processo de feminização da renda familiar per capita de 41,4% deles era menor que 1 sa-
velhice tem aumentado de forma significativa e observa-se a lário mínimo. Campino e Cyrillo [20], com dados do projeto
demanda feminina idosa na busca de uma melhor qualidade Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (SABE) verificaram que
de vida. em 2000-2001, a renda média mensal da população idosa do
Dentre as justificativas para a ocorrência deste fenômeno Município de São Paulo era pouco mais de 2 salários mínimos
denominado feminização, Pereira [1] aborda que a mulher e que grande parte dos idosos compartilha sua renda com
possui maior necessidade de socialização que o homem; as outros familiares, correspondendo a renda do idoso a 44%
atividades oferecidas nas instituições atraem maior interesse da renda mensal familiar total.
do público feminino e os homens são mais preconceituosos O envelhecimento traz consigo várias perdas, como o
que as mulheres. comprometimento da saúde, a morte de familiares, perda
Quanto aos dados referente à fotoproteção, Szklo et al. das relações sociais, do trabalho e do prestígio social [14]. Por
[11] em sua pesquisa observou que em todas as regiões do Bra- outro lado, segundo Papalia, Olds e Feldman [18], as amizades
sil há uma maior proporção de proteção com filtro solar entre têm um efeito mais positivo sobre o bem estar das pessoas
indivíduos de maior escolaridade quando comparados com os mais velhas, mas os relacionamentos familiares ou a ausência
de menor grau de escolaridade, enquanto que a proteção com deles podem ter os efeitos mais negativos, mesmo que estes
o chapéu apresentou uma proporção maior entre os indivíduos sejam dependentes de sua situação financeira.
de menor escolaridade. Em estudos de fotoproteção, o papel A luz solar tem efeitos profundos sobre a pele e está as-
da escolaridade no nível sócio-econômico faz com que esta sociada a uma variedade de doenças, sendo responsável pela
variável possa discriminar diferentes combinações de medidas maioria das reações cutâneas fotobiológicas e doenças [21].
de proteção que variam por região, enquanto o uso do filtro De acordo com Brasileiro Filho [22], os raios ultravio-
solar reflete, com mais intensidade, o custo envolvido com a letas da luz solar são provavelmente o agente cancerígeno
412 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
mais atuante na espécie humana. De fato, um dos principais Deve-se aplicar em todas as áreas corporais expostas assim
fatores responsáveis pelo câncer de pele. Para o autor, esta como orelhas e lábios. Os lábios que geralmente são esque-
doença predomina principalmente nas pessoas expostas à luz cidos, por ser uma pele de maior sensibilidade a radiação
solar por um período prolongado. A faixa ativa da radiação UV tem sido frequente local de câncer, para isto existem
ultravioleta está entre 250 e 300 nm, e afeta principalmente as modalidades de protetor labial em formas variadas e que
o DNA, ocasionando várias alterações, entre elas a formação não são de desagradável sabor [27].
de dímeros de timina. Algumas características extrínsecas, como a redução de
No Brasil, o número de casos de câncer de pele tem massa corpórea magra, cabelos grisalhos e finos, pele mais
aumentado, representando um considerável problema de pálida, manchada e enrugada, pêlos corporais escassos, as
saúde pública [23]. Portanto, diversos produtos têm sido veias varicosas nas pernas, entre outras, são típicas do enve-
desenvolvidos aditivados com filtros solares. lhecimento [18].
Os dados de proteção solar, segundo gênero, coincidem A maneira pela qual o indivíduo percebe seu corpo con-
com os resultados encontrados em outros estudos internacio- tribui para a autoestima ao longo da vida, e este fator se torna
nais realizados, tais como os de Akiba et al. [24], nos quais ainda mais importante durante o processo de envelhecimento.
se verificou que o uso de filtro solar foi mais comum entre As mudanças físicas decorrentes deste processo se tornam
mulheres, enquanto o uso de chapéus predominou entre uma barreira psicológica a ser superada, pois a valorização da
homens. A literatura é farta em trabalhos que revelam que as aparência corporal pela sociedade faz surgir essa insatisfação
mulheres, de uma maneira geral, cuidam de sua saúde numa física nos idosos [28].
frequência maior do que os homens. Um corpo que envelhece passa por um processo de
No caso dos cuidados com a pele, associam-se, provavel- adaptação e a não percepção das mudanças decorrentes pode
mente, questões de ordem estética. Esses fatores poderiam acarretar em transtornos físicos, sociais e emocionais [18].
explicar uma maior frequência de uso do filtro solar e uma
maior procura pela sombra nesse grupo. Já o uso do chapéu, Conclusão
mais frequente entre os homens, pode mostrar que esses
também acabaram, de alguma maneira, protegendo-se da O fotoenvelhecimento acompanhado do envelhecimen-
exposição solar com um método que, provavelmente, estaria to cronológico traz inúmeras consequências na aparência
mais ligado a questões culturais [11]. do idoso levando a necessidade de meios de fotoproteção
De acordo com Spirduso [25], as células da pele se essenciais na prevenção de doenças ocasionadas pela expo-
dispõem em camadas e dependendo da camada afetada, sição solar.
teremos os diferentes tipos de câncer. Os mais comuns são: Os resultados encontrados atingiram os objetivos da pes-
os carcinomas basocelulares, os carcinomas espinocelulares e quisa, tendo em vista que foi identificado que os idosos em sua
o melanoma, sendo este último o mais perigoso, pois tem a maioria não sabem se proteger contra o fotoenvelhecimento,
capacidade de metastatizar para qualquer órgão, incluindo o usam de forma incorreta o protetor solar, desconhecem os
cérebro e o coração. Para os autores, a profilaxia consiste em termos fotoenvelhecimento e fotoproteção, conhecem pouco
educar a população no sentido de evitar a exposição à radiação sobre as consequências do fotoenvelhecimento.
solar por período prolongado e em horários impróprios, das Desta forma, os idosos em questão apesar de não conhece-
10:00 às 16:00 horas, e também o uso de protetores solares rem a terminologia fotoenvelhecimento e fotoproteção, estão
adequados, ou seja, fator de proteção solar mínimo 15 (FPS preocupados com um envelhecimento saudável no que tange
15). as consequências da exposição solar e realizam proteção com
A pesquisa em biópsias realizada por Farias [26] destaca vestuário adequado e uso do protetor solar.
que o câncer de pele em primeiro lugar para ambos os sexos, Portanto, a exposição solar é um problema que traz
sendo a maior frequência na região Nordeste do que na consequências nefastas aos idosos e que seus fatores de risco
Sudeste que abrange São Paulo. Esses dados são alarmantes, ainda não são bem compreendidos pelos idosos, por isto a
pois a população em geral não se preocupa em se proteger. fotoproteção faz-se necessária na prevenção de sérios proble-
Quanto à aplicação do protetor solar como forma de mas de saúde como o câncer de pele.
fotoproteção, não se deve usar como única medida de A temática abordada torna-se relevante e base para o de-
proteção solar, mas em conjunto com outras medidas tais senvolvimento de novas pesquisas acerca da morbidade das
como, uso de roupa adequada e evitar a exposição solar doenças de pele em pessoas idosas.
propriamente. O protetor deve ser aplicado pelo menos Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas que contri-
20 minutos antes da exposição solar para que seus com- buam com a saúde pública, com intervenção para conscienti-
ponentes sejam absorvidos pela pele, quando na realização zar os idosos sobre as consequências do fotoenvelhecimento
de prática de atividades esportivas aquáticas ou outras que e a prevenção de câncer de pele, assim como, contribuição
aumentem a sudorese, deve-se aplicar intensamente e em acadêmica e científica justificando-se pelos poucos estudos
maior quantidade assim como reaplicar a cada 2 horas. publicados sobre essa temática.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 413
Referências 14. Maciel ACC, Guerra RO. Influência dos fatores biopsicossociais
sobre a capacidade funcional de idosos. Rev Bras Epidemiol
1. Pereira S. Dermatoses no idoso. In: Rotta O. Guia de dermato- 2007;10(2):178-89.
logia: clínica, cirúrgica e cosmética. São Paulo: Manole; 2008. 15. Barbosa AR, Souza JM, Lebrão ML, Laurenti R, Marucci
2. Papalleó Netto M. O estudo da velhice no século XX: histó- MFN. Functional limitations of Brazilian elderly by age and
rico, definição do campo e termos básicos. In: Freitas EV, Py gender differences: data from SABE Survey. Cad Saúde Pública
L, Cançado FAX, Doll J, Gorzpni ML. Tratado de geriatria e 2005;21:177-85.
gerontologia. 2a ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 2006. 16. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento
3. Macedo-Soares A, Matioli MNPS, Veiga APR. Aids em idosos. motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3a ed. São Paulo:
In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzpni ML. Tra- Phorte; 2005.
tado de geriatria e gerontologia. 2a ed. São Paulo: Guanabara 17. Geis PP. Atividade física e saúde na terceira idade: teoria e prática.
Koogan; 2006. 5a ed. São Paulo: Artmed; 2003.
4. Kede MPV, Sabatovich O. Dermatologia estética. São Paulo: 18. Papalia DE, Olds SW, Feldman RD. Terceira idade: desenvolvi-
Atheneu; 2004. mento humano. 8a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. p. 658-751.
5. Yaar M, Eller MS, Gilchrest BA. Fifty years of skin aging. J 19. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2003.
Investing Dermatol Symp Proc 2002;7:51-8. [homepage na Internet]. [citado 2010 Fev 3]. Disponível em
6. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia Dermato-Funcional. Barueri: URL: http://www.ibge.gov.br.
Manole; 2004. 20. Campino ACC, Ciryllo DC. Situação de ocupação e renda.
7. Landau M. Exogenous factors in skin aging. Curr Probl Der- In: Lebrão ML, Duarte YAO. SABE – Saúde, Bem-estar e
matol 2007;35:1-13. Envelhecimento – O Projeto Sabe no município de São Paulo:
8. Borges VL, Rangel I, Correia MA. Fotoproteção. Cosmetics e uma abordagem inicial. Brasília: Organização Pan-Americana
Toiletries 2006;14(6). da Saúde; 2003. 255 p.
9. Costa Oliveira DAG, Dutra EA, Santoro MIRM, Kedorhack- 21. Habif TP. Dermatologia clínica: guia colorido para diagnóstico
mann ERM. Protetores solares, radiações e pele. Cosmetics e e tratamento. 4a ed. Porto Alegre: Artmed; 2005.
Toiletries 2003;16(2):68-72. 22. Brasileiro Filho G. Patologia geral. 3a ed. Rio de Janeiro: Gua-
10. Maia M, Maceda SS, Marçon C. Correlação entre fotoproteção nabara; 2004.
e concentrações de 25 hidroxi-vitamina D e paratormônio. An 23. Instituto Nacional de Câncer. Ministério da Saúde. Câncer no
Bras Dermatol 2007;82(3):233-7. Brasil: dados dos registros de base populacional. Rio de Janeiro:
11. Szklo AS, Almeida LM, Figueiredo V, Lozana A, Mendonça Inca; 2003.
GAS, Moura L, Szklo M. Comportamento relativo à exposição 24. Akiba S, Shinkura R, Miyamoto K, Hillebrand G, Yamaguchi
e proteção solar na população de 15 anos ou mais de 15 capitais N, Ichihashi M. Influence of chronic UV exposure and lifestyle
brasileiras e Distrito Federal, 2002-2003. Cad Saúde Pública on facial skin photo-aging-results from a pilot study. J Epidemiol
2007;23(4):823-34. 1999;9:S136-42.
12. Carvalho J, Oliveira J, Magalhães J, Ascensão A, Mota J, Soares 25. Azulay DR, Azulay RD. Dermatologia. 3a ed. Rio de Janeiro:
JMC. Força muscular em idosos II — Efeito de um programa Guanabara Koogan; 2004.
complementar de treino na força muscular de idosos de ambos 26. Farias JL. Patologia geral: fundamentos das doenças, com apli-
os sexos. Rev Port Ciênc Desporto 2004;4(1):58-65. cações clínicas. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
13. Ishizuka MA. Avaliação e comparação dos fatores intrínsecos dos 27. Bustamante E. El uso adecuado de protectores solares en Costa
riscos de quedas em idosos com diferentes estados funcionais Rica. Rev Costarric Cienc Méd 1999;20(1-2).
[Dissertação]. Campinas: Faculdade de Educação, Programa de 28. Spirduso WW. Physical dimensions of aging. Champaign:
Pós-graduação em Gerontologia da Universidade Estadual de Human Kinetics; 1995.
Campinas (UNICAMP); 2003.
414 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Artigo original
Resumo Abstract
Introdução: De acordo com a Organização Mundial da Saúde Introduction: According to World Health Organization diabetes
o diabetes acometerá 333 milhões de pessoas no mundo e será a will affect 333 million people worldwide and will be the second
segunda maior causa de morte na América Latina nos próximos 20 leading cause of death in Latin America over the next 20 years.
anos. Diante disso, a literatura tem demonstrado a importância da Thus, the literature has demonstrated the importance of physical
atividade física no controle dessa doença, tanto no aspecto preven- activity in controlling this disease, both in preventive and curative
tivo quanto curativo. Entretanto, estudos avaliando o envolvimento care. However, studies investigating the involvement of strength
do exercício de força são escassos. Objetivos: Nesse sentido este exercise are limited. Objective: this study investigated the effect of
estudo objetivou investigar o efeito desse tipo de exercício sobre such exercise modality on plasma glucose levels in diabetic rats.
os níveis plasmáticos de glicose em ratos diabéticos. Material e Methods: Male Wistar rats, weighing between 180 and 250 g, were
métodos: Foram utilizados ratos Wistar, pesando entre 180 e 250 submitted to a resistance exercise training (3 sets of 10 repetitions)
g, submetidos a um treinamento de exercício de força (3 séries de in a model adapted to rats, 3 days per week for 12 weeks. Diabetes
10 repetições) em um modelo de agachamento adaptado para rato, was induced pharmacologically by streptozotocin (50 mg/kg) and
3 dias por semana, durante 12 semanas. O diabetes foi induzido glucose plasma levels were assessed using a glucometer. Results: The
farmacologicamente por estreptozotocina (50 mg/kg) e os níveis program of strength exercise used in this study did not change (p
glicêmicos foram avaliados através de um glicosímetro. Resultados: < 0.05) glucose levels of induced diabetic rats when compared to
O programa de exercício de força utilizado no presente estudo não sedentary group. Conclusion: A strength training program of 12
alterou (p < 0,05) os níveis glicêmicos de ratos diabéticos induzidos weeks, 3 days per week at an intensity equivalent to 75% was not
quando comparado aos animais diabéticos sedentários. Conclusão: effective in reducing the glucose plasma levels in rats.
Um programa de treinamento de força referente a 12 semanas, 3 Key-words: strength exercise, diabetes, rats.
dias por semanas com uma intensidade equivalente a 75% não foi
eficaz em reduzir os níveis plasmáticos e glicose em ratos.
Palavras-chave: exercício de força, diabetes, ratos.
comparações múltiplas, sendo considerados estatisticamente subida de escada [11]. De acordo com esse estudo, os resul-
significativos valores de p < 0,05. tados encontrados em nosso trabalho sugerem que o número
de dias semanais e o tempo total de treinamento pode não
Resultados ser o fator principal para a não redução da hiperglicemia nos
animais diabéticos, sendo que em nosso estudo os dias por
De acordo com o Gráfico 1 podemos observar que os ratos semana de treinamento foram menores (3 dias) e o período
que receberam STZ (SD+DB), apresentaram um significativo total foi maior (3 meses).
aumento (p < 0,05) nos níveis glicêmicos, quando compara- Uma explicação para a não redução da hiperglicemia após
dos aos animais sadios (SD). Além disso, esse mesmo gráfico o treinamento de força nesses estudos citados previamente,
demonstra que o treinamento de força não alterou (p > 0,05) seria que o modelo de diabetes experimental induzido pela
os níveis de glicose no sangue, tanto dos animais sadios (EF), streptozotocina produz mudanças em neuronios autonômicos,
quanto dos animais diabéticos (EF+DB). as quais foram observadas após 3 dias e até várias semanas após
a administração em ratos [12]. Essa droga destrói as células β
Gráfico1 - Efeito do treinamento de força sobe os níveis glicêmicos do pâncreas, resultando na síndrome diabética em animais,
de ratos diabéticos. hiperglicemia, hiperinsulinemia, glicosúria e perda de peso
[13]. Assim, os valores inalterados de glicemia nos animais
Níveis de glicose plasmática mg/dl
os níveis glicêmicos de indivíduos diabéticos, esse poderá ser 9. Boulé NG, Haddad E, Kenny GP, Wells GA, Sigal RJ. Effects of
rotineiramente utilizado pelos serviços de reabilitação, pois tal exercise on glycemic control and body mass in type 2 diabetes
modalidade de exercício também é importante por apresentar mellitus: a meta-analysis of controlled clinical trials. JAMA
outros benefícios como ganho de força, controle da pressão 2001;286:1218-27.
10. Williams PT, Thompson PD. Walking versus running for
arterial e controle da osteoporose [20].
hypertension, cholesterol, and diabetes mellitus risk reduction.
Arterioscler Thromb Vasc Biol 2013;33:1085-91.
Conclusão 11. Sanches IC, Conti FF, Sartori M, Irigoyen MC, De Angelis K.
Standardization of resistance exercise training: effects in diabetic
Em resumo, concluímos que um período de treinamento ovariectomized rats. Int J Sports Med 2013; [in press].
de 12 semanas, 3 dias por semanas e a uma intensidade equi- 12. De Angelis K, Schaan BD, Maeda CY, Dall’Ago P, Wichi RB,
valente a 75% não foi eficaz em reduzir os níveis plasmáticos e Irigoyen MC. Cardiovascular control in experimental diabetes.
glicose em ratos. Desse modo, futuros estudos são necessários, Braz J Med Biol Res 2002;35:1091-100.
com o aperfeiçomento desses parâmetros (carga, número de 13. Souza SBC, Flues K, Paulini J, Mostarda C, Rodrigues B, Souza
LE et al. Role of exercise training in cardiovascular autonomic
dias por semana e tempo total de treinamento) para verificar
dysfunction and mortality in diabetic ovariectomized rats.
a eficácia do modelo proposto.
Hypertension 2007;50:786-91.
14. Williams AD, Almond J, Ahuja KD, Beard DC, Robertson IK,
Referências Ball MJ. Cardiovascular and metabolic effects of community
based resistance training in an older population. J Sci Med
1. Global status report on noncommunicable diseases 2010. Ge- Sport 2011;14:331-7.
neva: World Health Organization; 2011. 15. Junod A, Lambert AE, Stauffacher W, Renold AE. Diabetoge-
2. Diabetes: Dados Estatísticos. [citado 2009 Jun 5]. Disponível nic action of streptozotocin: relationship of dose to metabolic
em URL: http://portal.saude.gov.br response. J Clin Invest 1969;48:2129-39.
3. Smith-Marsh D. Pharmacological strategies for preventing type 16. Lerco MM, Spadella CT, Machado JLM, Schellini SA, Padovani
2 diabetes in patients with impaired glucose tolerance. Drugs CA. Experimental alloxan diabetes-induced: a model for clinical
Today 2013;49:499-507. and laboratory studies in rats. Acta Cir Bras 2003;18:132-42.
4. Church TS, Blair SN, Cocreham S, Johannsen N, Johnson 17. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdam EA, Bittner
W, Kramer K et al. Effects of aerobic and resistance training V, Franklin BA, et al. Resistance exercise in individuals with
on hemoglobin A1c levels in patients with type 2 diabetes: a and without cardiovascular disease: 2007 update. Circulation
randomized controlled trial. JAMA 2010;304:2253-62. 2007;116:572-84.
5. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdam EA, Bittner 18. Castaneda C, Layne JE, Munoz-Orians L, Gordon PL, Walsmith
V, Franklin BA et al. Resistance exercise in individuals with J, Foldvari M, et al. A randomized controlled trial of resistance
and without cardiovascular disease: 2007 update. Circulation exercise training to improve glycemic control in older adults
2007;116:572-84. with type 2 diabetes. Diabetes Care 2002;25:2335-41.
6. Montero D, Walther G, Benamo E, Perez-Martin A, Vinet A. 19. Maiorana A, O’Driscoll G, Goodman C, Taylor R, Green D.
Effects of exercise training on arterial function in type 2 diabetes Combined aerobic and resistance exercise improves glycemic
mellitus: a systematic review and meta-analysis. Sports Med control and fitness in type 2 diabetes. Diabetes Res Clin Pract
2013 [in press]. 2002;56:115-23.
7. Zimmermann M. Ethical guidelines for investigations of ex- 20. Benton MJ, White A. Osteoporosis: recommendations for
perimental pain in conscious animals. Pain 1983;16:109-10. resistance exercise and supplementation with calcium and vi-
8. Tamaki T, Uchiyama S, Nakano S. A weight-lifting exercise tamin D to promote bone health. J Community Health Nurs
model for inducing hypertrophy in the hindlimb muscles of 2006;23:201-11.
rats. Med Sci Sports Exerc 1992;24:881-6.
418 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Artigo original
*Universidade Nove de Julho, **Universidade de Mogi das Cruzes e docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho,
***Universidade de Brasília, orientador do programa de pós-graduação mestrado em ciências da reabilitação – Universidade Nove de
Julho, ****Docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho, *****Docente do curso de fisioterapia Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, ******Docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho
Resumo Abstract
Introdução: Os problemas do sono resultam de uma interação Introduction: Sleep problems in children result from a complex
complexa entre fatores fisiológicos e relacionamento com os pais. interaction between physiological factors and relationship with
Os objetivos do estudo foram identificar o vínculo materno e o uso parents. The purpose of this study was to identify the maternal
de objetos transicionais no sono de crianças com deficiência visual. bond and the use of transitional objects in children with visual
Métodos: Estudo transversal realizado na Fundação Dorina Nowill. impairments with sleep disorders. Methods: Cross-sectional study
Os pais e responsáveis pela criança preencherem dois questionários performed at Fundation Dorina Nowill. The parents or the respon-
sobre o comportamento, hábitos e problemas no sono da criança. sible for the child fill out two questionnaires about behavior and
Para análise dos dados, os resultados foram descritos em frequência habits during the child sleep. The results were reported in relative
relativa e teste exato de Fisher. Resultados: Estudo com 14 crianças frequency and Fisher’s exact test. Results: The study included 14
com idade de 4 ± 1,64 anos. As crianças que precisam de um objeto children 4 ± 1.64 years old. Children who need a transitional object
transicional, também precisam dos pais durante o sono (p < 0,05) e also need parents during sleep (p < 0.05) and 64.3% of parents do
64,3% dos pais não realizam rotinas na hora de dormir. Conclusão: As not realize routines at bedtime. Conclusion: Most children with
crianças com deficiência visual apresentam um vínculo materno ou visual impairment have a maternal bond or a transitional object
usam um objeto transicional durante o sono e os pais não realizam during sleep and their parents do not establish bedtime routines
rotinas na hora de dormir. for the children.
Palavras-chave: transtorno do sono, apego ao objeto, relação Key-words: sleep disorders, object attachment, mother-child
mãe e filho, baixa visão, crianças com deficiência. relation, low vision, disabled children.
Figura 1 - Descrição dos hábitos e comportamentos de sono das Em uma pesquisa realizada no Sul do Brasil, notou-se que
crianças. o quarto dos pais era o ambiente utilizado para o sono de
10 97% das crianças nos primeiros três meses de vida e o co-leito
ocorria em 44,3% [13]. Em nosso estudo a prevalência de
Total de crianças
Esses dados corroboram os descitos por Burlingham et 6. Ferreira EA, Vargas IMA, Rocha SMM. Um estudo bibliográfico
al. [15]. Os autores, com o objetivo de acompanhar o de- sobre o apego mãe e filho: bases para a assistência de enfermagem
senvolvimento da personalidade da criança com deficiência pediátrica e neonatal. Rev Latinoam Enferm 1998;6(4):111-6.
visual demonstram que as crianças e suas mães encontram 7. McKenna J. Cultural influences on infant and childhood sleep
biology and the science that studies it: toward a more inclusive
dificuldades de estabelecer seus primeiros contatos [15]. Es-
paradigm. In: Loughlin GM, Carrol JL, Marcus CL, eds. Sleep
sas crianças com deficiência visual normalmente apresentam Breath. New York: Marcel Dekker Inc; 2000. p.99-130.
sonolência excessiva diurna e distúrbio respiratório do sono 8. Melo PP, Medeiros LCP, Viviani AG, Oliveira LVF, Moran CA.
quando avaliadas mais detalhadamente [8]. Distúrbios do sono e tempo total de sono em crianças com
Segundo Madeira [4], as crianças se tornam dependentes deficiência visual. Rev Bras Ciênc Saúde 2011;9(4):30.
no sono devido à ausência de rotinas como horário de dor- 9. Cunha ACB, Enumo SRF. Desenvolvimento da criança com de-
mir, atividades propostas previamente ao sono e associações ficiência visual e interação mãe-criança: algumas considerações.
inadequadas como acalentar a criança ou utilizar chupeta Psicologia Saúde & Doenças 2003;4(1):33-46.
ou mamadeira como formas de adormecimento na hora de 10. Ferreira VR, Carvalho LBC, Ruotolo F, Morais J, Prado GF. Sle-
ep disturbance scale for children: translation, cultural adaptation
dormir [4].
and validation? Sleep Medicine 2009;10:457-63.
Neste aspecto, os resultados demonstram que as crianças
11. Liu X, Liu L, Owens J, Kaplan DL. Sleep patterns and sleep
com deficiência visual que necessitam de um excesso de esti- problems among school children in the United States and China.
mulação para contrabalançar a ausência de estímulos visuais Pediatrics 2005;115(1):241-9.
recebem menos do que a criança sem deficiência, podendo 12. Liu X, Liu L, Wang R. Bed sharing. Sleep habits, and sle-
causar efeitos significativos no desenvolvimento de suas ep problems among Chinese school-aged children. Sleep
funções [15], por isso acreditamos que estudos longitudinais 2003;26(7):839-44.
devem ser estimulados nessa população. 13. Issler RMS, Giugliani ERJ, Marostica PJC, Nieto F, Milani
AR, Wolmeister AS, et al. Coleito no primeiro semestre de
Conclusão vida: prevalência e fatores associados. Cad Saúde Pública
2010;26(5):942-8.
14. Santos IS, Mota DM, Matijasevich A. Epidemiologia do co-leito
As crianças com deficiência visual não recebem estímulos, e do despertar noturno aos 12 meses de idade em uma coorte
como a leitura de histórias, para facilitar seu adormecimento. de nascimentos. J Pediatr (RJ) 2008;84(2):114-22.
Essas crianças buscam o co-leito ou um objeto transicional 15. Burlingham D. Some notes on development of the blind.
no período do sono e quando dormem na própria cama Psychoanal Chil 1961;1(16):121-45.
apresentam distúrbio do despertar e hiperhidrose do sono. 16. Blair PS. Putting co-sleeping into perspective. J Pediatr (RJ)
2008;84(2):99-101.
Referências 17. Anders TF, Halpern LF, Hua J. Sleeping through the night: a
developmental perspective. Pediatrics 1992;90:4:554-60.
1. Mendes LR, Fernandes A, Garcia RT. Hábitos e perturba- 18. Geib LTC. Moduladores dos hábitos de sono na infância. Rev
ções do sono em crianças em idade escolar. Acta Pediatr Port Bras Enferm 2007;60(5):564-8.
2004;35:337-41. 19. Geib LTC, Nunes ML. Hábitos de sono relacionados à síndrome
2. Klein JM, Gonçalves A. Problemas de sono-vigília em crianças: da morte súbita do lactente: estudo populacional. Cad Saúde
um estudo da prevalência. Psico-USF 2008;13(1):51-58. Pública 2006;22(2):415-23.
3. Batista BHB, Nunes ML. Validação para a língua portuguesa 20. Winnicott D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago;
de duas escalas para avaliação de hábitos e qualidade de sono 1975. p.452.
em crianças. J Epilepsy Clin Neurophysiol 2006;12(3):143-48. 21. Hiscock H, Wake M. Infant sleep problems and post-
4. Madeira IR, Aquino LA. Problemas de abordagem difícil: “não natal depression: a community-based study. Pediatrics
come” e “não dorme”. J Pediatr (Rio J) 2003;79(supl.1):S43- 2001;107(6):1317-22.
-S54. 22. Moreno RLR, Diniz RLP, Magalhães EQ, Souza SMPO, Silva
5. Brum EHM, Schermann L. Vínculos iniciais e desenvolvimento MSA. Contar histórias para crianças hospitalizadas: relato de
infantil: abordagem teórica em situação de nascimento de risco. uma estratégia de humanização. Pediatr 2003;25(4):164-9.
Ciênc Saúde Coletiva 2004;9(2):457-67.
422 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Artigo original
*Graduandas do curso de Fisioterapia da Universidade São Judas Tadeu, **Professora da Universidade São Judas Tadeu
Resumo Abstract
Avaliou-se qualitativa e quantitativamente (área em cm² e índice This study evaluated qualitatively and quantitatively (area in cm²
de cicatrização da úlcera - ICU) o uso da terapia a laser de baixa and ulcer healing rate – UHR) the use of low power laser (LPL) and
potência (LBP) associada à drenagem linfática manual (DLM) no manual lymphatic drainage (MLD) in the healing of skin ulcers.
reparo de úlceras de pele. Utilizaram-se dois protocolos de laser, Two laser protocols were used: the PI (0.0035W) was applied in
o PI (0,0035W) aplicado em três pacientes e o PII (0,04W) em three patients and PII (0.04W) in one patient. After asepsis and a
um paciente. Após assepsia da pele e DLM, foi aplicado laser sem MLD, patients received sequential treatment of the target area using
contato, sequencial sobre a úlcera com área do feixe = 0,1cm², 3 x/ a noncontact mode of application with a single probe (beam spot size
semana, durante 16 semanas. O número de pontos foi calculado = 0,1 cm²), 3 x/week, during 16 weeks. The number of points was
individualmente sendo, área/0,5 cm² para o PI e área/0,1 cm² para calculated differently for PI (area/0,5cm²) and PII (area/0,1 cm²).
o PII. Seguem os parâmetros distintos para o PI e PII, respectiva- The following parameters were different for PI and PII, respectively:
mente: energia radiante 0,28J e 0,48 J; irradiância 0,035 W/cm² radiant energy 0.28 J and 0.48 J, irradiance 0.035 W/cm² and 0.4
e 0,4W/cm²; fluência 0,28 J/cm² e 4 J/cm²; tempo de tratamento W/cm², fluence 0.28 J/cm² and 4 J/cm², treatment time per point
por ponto 80 s. e 12 s.; modo pulsado de emissão 2500Hz (ciclo 80 sec and 12 sec, pulsing mode of emission 2500 Hz (duty cycle
útil = 0,0175%) e 9500Hz (ciclo útil = 0,0571%). Observou-se = 0.0175% and 9500 Hz (duty cycle = 0.0571%). It was observed
fechamento das úlceras em todos os pacientes, porém a reepitelização a progressive wound healing in all patients, but the reepithelization
foi quase total (ICU = 0,8) naquele tratado com o PII, enquanto was almost complete (UHR = 0.8) at the patient treated with PII,
que a média do ICU dos pacientes tratados com o PI foi de 0,3. O while the UHR mean of the patients treated with PI was 0.3. The
uso do LBP associado à DLM estimulou o reparo tecidual e o PII use of LPL associated to MLD promotes wound healing and the
mostrou-se mais efetivo. PII showed to be the most effective.
Palavras-chave: fototerapia, terapias manuais, diabetes mellitus, Key-words: phototherapy, manual therapies, diabetes mellitus,
cicatrização. wound healing.
Imagem 1 - Fotos do primeiro dia dos 4 meses de estudo, cada mês está representado de A - D do início ao final do tratamento. De 1 a 3:
pacientes tratados com o PI e, em 4: paciente tratado com o PII. 1 – 4 A, observa-se edema, coloração escura ou amarelada sem sinais de
granulação, com certa profundidade das úlceras. 1 – 4 B, ainda se nota edema e profundida, porém há uma redução da área e uma cor rósea
mais saudável, principalmente em 3 e 4B. O edema reduziu nos últimos dois meses de tratamento (1 – 4 C e D) e é possível observar a redução
na área das feridas em todos os casos, sendo mais evidente no paciente ilustrado em 4D.
424 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
área/0,5 cm² para o PI e área/0,1cm² para o PII. Seguem os Tabela I - Porcentagem de redução da ferida de um mês para outro
parâmetros distintos para o PI e PII, respectivamente: energia (%).
radiante 0,28J e 0,48J; irradiância 0,035 W/cm² e 0,4 W/cm²; Casos-proto-
1-2 meses 2-3 meses 3-4 meses
fluência 0,28 J/cm² e 4 J/cm²; tempo de tratamento por ponto colos
80 seg. e 12 seg.; modo pulsado de emissão 2500 Hz (ciclo útil 1-PI 12 14 20
= 0,0175%) e 9500Hz (ciclo útil = 0,0571%). 2-PI 4 7 17
As úlceras foram fotografadas (câmera digital Casio Exilim 3-PI 9 19 26
8.1 MP) a cada sessão, para se qualificar e quantificar a cica- 4-PII 67 62 50
trização, bem como para se calcular o número de pontos apli-
cados a partir da determinação da área das mesmas utilizando Considerando a média do ICU dos pacientes tratados
o programa Image J (National Institute of Health, USA) [5,6]. com o PI nota-se uma melhora desse índice, mas ainda assim
As variáveis quantitativas analisadas foram: média da área ele ficou abaixo de 0,5, sendo o correspondente a um fecha-
da úlcera e índice de cicatrização das mesmas [ICU = (Área mento completo da úlcera igual a 1,0. A evolução foi mais
inicial – Área final) / Área inicial], sendo as áreas inicial e importante no paciente tratado com o PII, com um ICU ao
final, a primeira e a última mensurações feitas a cada mês, final do tratamento de 0,8 (tabela II).
respectivamente. A saber: ICU = 1 reepitelização total; ICU
= 0 sem sinais de reepitelização; ICU > 0 redução da área da Discussão
úlcera e ICU < 0 aumento da área da úlcera [6].
Os três pacientes primeiramente descritos receberam As úlceras de pele são caracterizadas por uma perda de te-
aplicações de laser com o PI e o último com o PII: 1) Sexo cido mole, cujo tratamento pode se estender por meses e além
masculino, 57 anos de idade, Diabetes Mellitus tipo II, úl- de causar desconforto e comprometer a função motora, elas
cera diabética na planta do pé. 2) Sexo masculino, 20 anos podem debilitar o paciente e torná-lo mais suscetível a infec-
de idade, distrofia muscular de Duchenne, úlcera de pressão ções, prolongando a doença de base e a cura das mesmas [7].
no nariz devido ao uso de máscara para auxílio respiratório. A evolução qualitativa da cicatrização das úlceras foi
3) Sexo masculino, 20 anos de idade, paraparético, úlcera de observada em todos os pacientes, principalmente quanto aos
pressão sacral. 4) Sexo masculino, 47 anos de idade, Diabetes sinais inflamatórios, mas seu fechamento foi mais evidente no
Mellitus tipo I, úlcera diabética no hálux. paciente tratado com o PII, o qual era portador de Diabetes
Na Imagem 1 observa-se em todos os pacientes uma tipo I e apresentava a lesão mais antiga. O software Image J
melhora no aspecto da úlcera bem como na área e na pro- revelou a redução da área das feridas e o ICU normalizando
fundidade, sendo essa melhora mais evidente no paciente as diferentes dimensões das úlceras [6] mostrou uma ação
submetido ao PII. mais eficaz do PII em relação ao PI.
A área das úlceras diminuiu em todos os casos durante os 4 Em média houve uma redução da área da úlcera de um
meses de tratamento, mas de forma mais acentuada no caso 4 mês para o outro de 60% para o caso 4 (PII), enquanto que
(PII). Caso 1: 0,636 cm²; 0,561 cm²; 0,48 cm² e 0,383 cm². essa redução foi em média de 15%, 9% e de 18% para os casos
Caso 2: 0,715 cm²; 0,689 cm²; 0,639 cm² e 0,532 cm². Caso 1, 2 e 3, respectivamente. Para o paciente 4 a porcentagem de
3: 7,745 cm²; 7,043 cm²; 6,311 cm² e 5,747 cm². Caso 4: redução da úlcera caiu ao longo do tempo sugerindo uma ação
0,348 cm²; 0,115 cm²; 0,044 cm² e 0,022 cm² (Gráfico 1). mais eficaz do laser no início do tratamento, enquanto que
A porcentagem de redução das úlceras de um mês para outro para os pacientes tratados com o PI a porcentagem de redução
foi também maior no paciente tratado com o PII (Tabela I). aumentou, talvez por uma somatória de efeitos mínimos da
DLM e do LBP favorecendo lentamente o reparo fisiológico.
Gráfico 1 - Área das úlceras aos 30, 60, 90 e 120 dias após o início Ao final do tratamento, com um ICU = 0,8 o paciente
do tratamento (média, cm²). 4 (PII) apresentou uma reepitelização quase total, enquanto
8 que a média do ICU dos pacientes tratados com o PI foi de
7 0,3, demonstrando uma redução da área da úlcera menos
Área da úlcera (cm2)
6
expressiva. Apesar do número limitado de pacientes e das
diferenças individuais de cada um deles, os achados deste
5
estudo chamam atenção para a importância dos parâmetros de
4 tratamento para o sucesso da terapia, uma vez que se usaram
3 protocolos de laser distintos [8].
2 Trinta por cento dos estudos omitem informações rele-
1 vantes para se determinar a dose ou relatam doses imprecisas
sugerindo a existência de erros relacionados à dosimetria
0
30d 60d 90d 120d entre os usuários de laser. Considerando que essa interfere
Caso 1 (PI) Caso 3 (PI) na inflamação e no reparo e pode ser influenciada por vários
Caso 2 (PI) Caso 4 (PII)
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 425
Tabela II - ICU(s) individuais e a média do ICU dos pacientes tratados com o PI.
30 dias 60 dias 90 dias 120 dias
Caso Localização Protocolo Tratamento
ICU ICU ICU ICU
1 Planta do pé I 0,46 0,28 0,15 0,40
2 Nariz I 0,01 0,06 0,54 0,24
3 Sacro I 0,07 0,11 0,15 0,13
Média ICU PI 0,2 0,2 0,3 0,3
4 Hálux II 0,6 0,8 0,6 0,8
Artigo original
*Formado pelo Curso de Fisioterapia da UNIFRA, **Educador Físico e Fisioterapeuta pela UNIFRA,
***Docente do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC) e membro do Grupo Promoção da Saúde
e Tecnologias Aplicadas à Fisioterapia (UNIFRA)
Resumo Abstract
A evolução da fisioterapia é evidente ao passo que nasceu de um The development of physical therapy is acknowledged; however
certame unicamente reabilitador para um complexo olhar integral, it emerged as a profession within rehabilitation model and now it
visando a promoção da saúde e qualidade de vida (QV) dos usuários. is a complex model, aiming at promoting health and quality of life
Baseado nisso, esta pesquisa buscou analisar a qualidade de vida e (QOL) of users. Based on this, this study sought to examine the
estilo de vida (EV) de usuários do serviço público de fisioterapia quality of life and lifestyle of users of public physical therapy in
na cidade de Santa Maria/RS. O estudo teve caráter quantitativo Santa Maria. The study design was cross-sectional and quantitative
e delineamento transversal e ocorreu nos meses de abril a maio de and occurred during April-May 2010 with 30 individuals. They
2010 com 30 indivíduos. Esses responderam um instrumento de answered a questionnaire for general data of the WHO Quality
dados gerais da OMS de qualidade de vida (Whoqol-brev) e estilo of Life (Whoqol-brev) and lifestyle (Lifestyle Questionnaire). The
de vida (Lifestyle Questionnaire). Os principais resultados destaca- main findings highlighted a female profile (73.3%), sedentary (60%)
ram um perfil feminino (73,3%), sedentários (60%) e acometidos, and mainly affected by rheumatic diseases (54.2%). The scores of
principalmente por doenças reumáticas (54,2%). Os escores dos the instruments were similar in an average of 42 points out of 60-
instrumentos se mostraram semelhantes em uma média de 42 64. Overall QOL and EV are at moderate levels and had proven cor-
pontos de 60-64 possíveis. De forma geral a QV e o EV estão em relation. This kind of research is important for populations analysis
níveis moderados e apresentaram comprovada correlação. Pesquisas in order to formulate prevention strategies and health education for
deste modelo são importantes para análises de populações a fim de patients, making them active agents to their own care. However, it
se formular estratégias preventivas e de educação em saúde para os is necessary to conduct further research into this category.
usuários, tornando-os agentes ativos aos próprios cuidados. Porém, Key-words: quality of life, lifestyle, Physical therapy.
faz-se necessária a realização de novas pesquisas desta categoria para
aprofundamento do tema.
Palavras-chave: qualidade de vida, estilo de vida, Fisioterapia.
Ainda na Tabela I percebe-se que a maior parte dos boa, 1 (3,3%) ruim e nenhum usuário a classificou como
usuários possui ensino médio completo ou incompleto (14- muito ruim.
46,7%), são casados (21-70,0%), consideram sua saúde como As Tabelas II e III demonstraram alguns domínios da Qua-
boa (14-46,7%) mesmo apresentando alguns problemas lidade de Vida dos 30 usuários dos serviços de Fisioterapia,
de saúde associados como Reumatológicos em 26 (54,2%) retiradas do Instrumento Whoqol Brev.
usuários, Hipertensão Arterial Sistêmica em 6 (12,5%), De- Observou-se que a dor física impede de forma acentuada
pressão em 5 (10,4%), Acidente Vascular Encefálico em 3 as atividades diárias em 7(23,3%) participantes e de forma
(6,2%), Diabetes em 2 (4,2%) e outras patologias somaram média para 8(26,7%). O percentual de 43,3% (13 indivíduos)
6 (12,5%). Salienta-se que nessa questão os participantes considera que aproveita bastante a vida, 21 (70,0%) descrevem
poderiam marcar mais de uma alternativa. seu ambiente físico como médio e bastante saudável, a metade
(15-50,0%) considera ter muita energia para o dia-a-dia,
Tabela I - Perfil geral da amostra. 13 (43,3%) possuem quantidade de lazer em nível médio,
n % enquanto que somente 1 usuário (3,3%) apresentou o nível
Sexo máximo do mesmo (Tabela II).
Feminino 22 73,3 Na Tabela III ficou perceptível a insatisfação com a qua-
Masculino 8 26,7 lidade de sono, já que 10 indivíduos (33,3%) a classificaram
Nível educacional assim, contudo a maioria se encontra satisfeito ou muito
Ensino fundamental completo e incompleto 11 36,7% satisfeito com seu desempenho nas atividades diárias (16
Ensino médio completo e incompleto 14 46,7% - 53,3%) e com o trabalho (18 - 60,0%). Os pesquisados
Ensino superior completo e incompleto 5 16,6% também se consideram satisfeitos e muito satisfeitos com o
Estado civil acesso aos serviços de saúde (22 - 73,3%) em contraste com
Solteiro (a) 4 13,3% apenas 3,3% (1) de muito insatisfeitos.
Casado (a) 21 70,0% Quando questionados sobre a frequência de sentimentos
Separado (a) 2 6,6% negativos, tais como mau humor, desespero e ansiedade, 2
Divorciado (a) 3 10,0% (6,6%) sempre sentem, 3 (10,0%) muito frequentemente
Saúde autopercebida sentem, 6 (20,0%) frequentemente sentem, 15 (50,0%)
Muito ruim 3 10,0% algumas vezes são negativos e 4 (13,3%) responderam que
Fraca 2 6,6% nunca tem pensamentos negativos.
Nem boa nem ruim 10 33,3% A seguir, nas Tabelas IV e V, apresentou-se os resultados
Boa 14 46,7% referentes às características do Estilo de Vida dos participantes.
Muito boa 1 3,3% Na Tabela IV nota-se que 28 (93,4%) usuários tem alguém
Motivo do acesso ao serviço de fisioterapia para conversar as coisas que são importantes, 11 (36,7%)
Traumatologia 22 73,35% praticam exercícios físicos no máximo 1 vez por semana para
Neurologia 1 3,3% 5 (16,7%) que frequentam 5 ou mais vezes na semana. Em
Respiratória 1 3,3% relação a atividades mais leves/moderadas do dia-a-dia, 15
Neuropatia 2 6,7% (50%) o fazem em 5 vezes na semana. Quase a metade da
Outros 4 13,35% amostra 14 (46,7%) relatou possuir uma nutrição balanceada
algumas vezes por semana, sendo que 7 (23,3%) relataram
A principal área que fez com que os usuários buscassem tê-la quase sempre.
o serviço da Fisioterapia foi a Traumatologia, totalizando 22 Quando questionados sobre seu peso atual, a maioria (23
usuários (73,3%) (Tabela I). - 76,6%) se considera de 2 a 6 kg acima do peso considera-
Quanto a intensidade de dor, 6 (20,0%) responderam do normal, e afirma consumir mais de 4 copos por dia 23
que ela se encontrava entre 0-1 na Escala Visual Analógica, (76,6%) de água. Ainda, 22 (73,4%) responderam que não
3 (10%) responderam entre 2-3, 8 (26,7%) para intensidade fumam a mais de cinco anos ou nunca fumaram.
entre 4-5, 7(23,3%) para 6-7, 5(16,7%) para 8-9 e 1 (3,3%) Na Tabela V observa-se que a grande parte dos usuários
respondeu intensidade máxima de dor (10). A média de nível do serviço de fisioterapia (23 - 76,7%) bebem em pouca
de dor na escala visual analógica foi 4,8, índice considerado quantidade (1 a 2 vezes por dia) bebidas com cafeína e 28 dos
moderado e os locais mais acometidos pelas dores foram na 30 pesquisados (93,4%) nunca bebem bebidas alcoólicas. A
coluna (9 - 30,0%) e membros superiores (8-26,7%), seguido maioria dos entrevistados lida com frequência e quase sempre
de membros inferiores (5-16,7%), cabeça e dor generalizada bem com seu estresse diário (20 - 66,7%), porém um número
(ambos com 2-6,6%) e outros (4-13,3%). considerável tem lazer somente algumas vezes na semana (11
Quando questionados sobre como avaliaram a sua Qua- - 36,7%). Somando-se a estes dados, a quantidade de sono
lidade de Vida, 3 (10,0%) participantes a classificaram como dos entrevistados mostra-se deficiente onde 14 (46,6%) apre-
muito boa, 21 (70,0%) como boa, 5 (16,7%) nem ruim nem sentam menos de 6 horas por noite e mesmo assim 17 pessoas
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 429
Tabela IV- Itens família e amigos, atividade, nutrição e fumo, retirado do instrumento Lifestyle Questionnaire.
Família e amigos
Quase nunca Raramente Algumas vezes Com frequência Quase sempre
Tem alguém para conversar sobre
2(6,6%) 0(0,0%) 10(33,3%) 10(33,3%) 8(26,7%)
o que é importante para si
Atividade
Menos de 1 1-2 vezes na 3 vezes na se- 5 ou mais vezes
4 vezes na semana
vez na semana semana mana na semana
Sou vigorosamente ativo
11(36,7%) 7(23,3%) 5(16,7%) 2(6,6%) 5(16,7%)
(ao menos 30min./dia)
Sou moderadamente ativo 4(13,3%) 4(13,3%) 3(10,0%) 4(13,3%) 15(50,0%)
Nutrição
Quase nunca Raramente Algumas vezes Com freqüência Quase sempre
Como uma dieta balanceada 1(3,3%) 1(3,3%) 14(46,7%) 7(23,3%) 7(23,3%)
Mais de 8kg 8 kg 6 kg 4 kg 2 kg
Estou no intervalo de__ do meu
4(13,3%) 3(10,0%) 7(23,3%) 7(23,3%) 9(30,0%)
peso normal
Nenhum ou 1
2-3 copos 4-5 copos 5-6 copos 7 ou mais
copo
Meu consumo de copos de água
por dia é: 1 copo (200 ml) 1(3,3%) 6(20,0%) 7(23,3%) 12(40,0%) 4(13,3%)
Cigarros
Nenhum nos
Mais de 10 por Nenhum nos Nenhum no ano
1 a 10 por dia últimos cinco
dia últimos 6 meses passado
anos
Fumo cigarros 2(6,6%) 1(3,3%) 3(10,0%) 2(6,6%) 22(73,4%)
430 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Tabela V - Itens bebidas, Sono, Estresse, Lazer e Motivação, retirados do instrumento Lifestyle Questionnaire.
Bebidas
Mais de 10
7 a 10 vezes 3 a 6 vezes 1 a 2 vezes Nunca
vezes
Ingiro bebidas com cafeína (por dia) 0(0,0%) 0(0,0%) 1(3,3%) 23(76,7%) 6(20%)
Mais de 20 13 a 20 11 a 12 8 a 10 0a7
Ingesta de bebidas alcoólicas
0 (0,0%) 0(0,0%) 0(0,0%) 2(6,6%) 28(93,4%)
por semana (doses)
Sono e estresse
Algumas Com Quase
Quase nunca Raramente
vezes frequência sempre
Dorme bem e se sente descansando 2(6,6%) 2(6,6%) 9(30,0%) 10(33,3%) 7(23,3%)
Consegue lidar com o estresse do dia a dia 1(3,3%) 1(3,3%) 8(26,7%) 12(40,0%) 8(26,7%)
Relaxa e desfruta do tempo de lazer 2(6,6%) 3(10,0%) 11(36,7%) 8(26,7%) 6(20,0%)
5 horas ou
6 horas 7 horas 8 horas 9 horas
menos
Média de horas de sono por noite 7(23,3%) 7(23,3%) 6(20,0%) 7(23,3%) 3(10,0%)
Motivação
Algumas Com Quase
Quase nunca Raramente
vezes frequência sempre
Pensa de forma positiva e otimista 0(0,0%) 3(10,0%) 3(10,0%) 9(30,0%) 15(50,0%)
Sente-se triste e deprimido 7(23,3%) 6(20,0%) 11(36,7%) 2(6,6%) 4(13,3%)
Sente-se com raiva e hostil 9(30,0%) 10(33,3%) 8(26,7%) 0(0,0%) 3(10,0%)
(56,7%) consideram dormir bem e se sentem descansados do sexo feminino que avaliou EV em universitários portu-
com frequência e quase sempre. gueses. Os mesmos ainda ressaltam que a mulher tem um
Quanto à motivação dos estudados, 15 (50,0%) pensam perfil de autocuidado, buscando assim mais frequentemente
de forma otimista quase sempre, 11 (36,7%) sentem-se tris- e sem preconceitos os serviços de saúde em comparação ao
tes e deprimidos algumas vezes e 19 (63,3%) sentem raiva público masculino.
raramente ou quase nunca. Quanto a QV, Baumann et al. [16], que utilizaram o
Os instrumentos de QV e EV possuem uma pontuação mesmo instrumento de pesquisa (WHOQOL-BREF) com
geral cada um. Neste estudo foram selecionadas as questões 16.000 indivíduos franceses, encontraram percepções de
mais pertinentes somando 12 e 16 perguntas, respectiva- saúde boas e muito boas de 78,8% corroborando o presente
mente, com pontuações totais de 60 para QV e 64 para EV. estudo que encontrou 80%. Diante disso, percebe-se que a
A média obtida dos 30 usuários analisados para a QV foi de autopercepção de saúde não está necessariamente relacionada
42,63 pontos enquanto para EV 42,83 pontos, demonstrando com saúde propriamente dita, assim como Alexandre et al.
o equilíbrio e homogeneidade das médias em comparação. [17] destacam em sua pesquisa ao afirmar que a presença de
Os resultados das análises demonstraram que a correla- doença pode fornecer a percepção de saúde e QV em idosos
ção entre QV e EV foi positiva indicando que quando uma e que alguns indivíduos podem ser considerados saudáveis
variável aumenta a outra também aumenta, ou seja, quando mesmo sofrendo com doenças crônico-degenerativas contro-
a QV é baixa, o EV também se mostra baixo e vice versa. As ladas. Na pesquisa de Santos et al. [18] a maior prevalência
correlações de Escala Visual Analógica de Dor x QV e Escala em sua amostra foi de afecções reumáticas (artrite e artrose)
de Dor x Questionário de EV foram negativas, indicando que assim como encontrado na presente pesquisa. Problemas
quando a dor aumenta as outras duas variáveis diminuem, ou crônico-degenerativos são comuns ao avanço dos anos, ao
seja, quanto maior a dor do indivíduo, menor é sua escala de passo que populações mais jovens sofrem, em sua maioria,
QV e EV, dados estes que demonstram significância científica lesões traumáticas decorrentes do desporto e de acidentes.
de p = 0,01. Nessa pesquisa foi observado que os pacientes relataram
uma boa qualidade de sono, porém em quantidade inadequa-
Discussão da, demonstrando que a diminuição nas horas de sono não
afeta sua percepção sobre dormir bem, apesar do ciclo normal
A maioria do público pesquisado foi do gênero feminino do sono ter em média 8 horas [19]. Para Dahlke [20], no sono
indo ao encontro das pesquisas de Brito et al. [14] que ava- profundo o hormônio do crescimento entra em atividade,
liaram QV em hipertensos, totalizando 77% de mulheres colaborando nos processos de regeneração corporal, dados
avaliadas, e estudo realizado por Matos et al. [15] com 76,37% que evidenciam a necessidade de avaliar mais profundamente
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 431
este assunto, bem como enfatizar a ocorrência dos problemas tégias preventivas e de educação em saúde para os usuários,
crônico-degenerativos, já citados anteriormente. tornando-os agentes ativos aos próprios cuidados.
Outro fator avaliado no EV foi o equilíbrio nutricional.
A alimentação saudável, completa, variada e agradável é de Referências
grande importância para a promoção da saúde, prevenção e
controle de doenças [21]. Grande parte dos avaliados afirmou 1. Guiselini M. Aptidão física, saúde e bem estar: fundamentos
ter uma dieta balanceada, com uma boa ingesta diária de teóricos e exercícios práticos. 2ªed. São Paulo: Phorte; 2006.
água, pouco índice de fumantes, baixo consumo de cafeína e 2. WHO - World Health Organization. Constitution of the
WHO. Chronicle of the WHO 1947(3).
bebidas alcoólicas, dados que vão ao encontro com a pesquisa
3. Brasil. Ministério da Saúde - Conselho Nacional de Secretários
de Soares [22] que evidenciou semelhantes valores percentuais
de Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília: CONASS;
(84,7% não fumantes e 86,7% que não ingerem álcool) para 2003.
uma população predominante de mulheres. 4. WHO - World Health Organization. The World Health report
A amostra estudada, em sua maioria (60%), não era pra- 1998 – life in the 21st century: a vision for all. Geneva: World
ticante de atividades físicas intensas (menos de duas vezes/ Health Organization; 1998.
semana). A falta de atividade física intensa a partir dos 40 5. Dutton M. Fisioterapia Ortopédica: exame, avaliação e inter-
anos pode estar relacionada com o avanço de doenças mus- venção. Porto Alegre: Artmed; 2006.
culoesqueléticas devido à diminuição da força contrátil dos 6. Myers T. Trilhos anatômicos: meridianos miofasciais para tera-
músculos, a redução natural da massa magra, a diminuição peutas do movimento. São Paulo: Manole; 2003.
7. Nieman DC. Exercício e saúde. São Paulo: Manole; 1999.
da flexibilidade e consequente desgaste das articulações mais
8. Campos GWS. Saúde Pública e Saúde Coletiva: campo e núcleo
requisitadas como joelhos, quadril e coluna [23-26]. Além de saberes e práticas. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(2):219-30.
disso, alguns estudos sugerem uma alteração na percepção 9. Gallahue DL. Compreendendo o desenvolvimento motor. Be-
de dor relacionada ao exercício físico de baixa intensidade, bês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte; 1989.
média duração e exercícios isométricos [27,28]. Quanto a QV 10. OMS. Organização Mundial da Saúde. Versão em português dos
relacionada ao exercício, Toscano e Oliveira [29] concluem que instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL).
idosas que praticam exercícios físicos regulares possuem uma Porto Alegre: UFRGS; 1998.
melhor QV em comparação a aquelas inativas. 11. Agne J. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Orium; 2009. 400p.
O presente estudo evidenciou uma correlação entre escores 12. WHO. World Health Organization. The World Health Report
1998 – life in the 21st century: a vision for all. Geneva: World
totais de EV e QV, constatando uma relação íntima entre seus
Health Organization; 1998.
fatores assim como Pisinger et al. [30] que acompanharam
13. Añez CR, Reis RS, Petroski EL. Versão brasileira do questionário
durante 5 anos mais de 6000 europeus e constataram que de estilo de vida: tradução e validação para adultos. Arq Bras
quando os indivíduos adotavam um EV mais saudável, os Cardiol 2008;91(2):102-9.
mesmos referiam uma percepção de QV melhor. 14. Brito DMS. Qualidade de vida e hipertensão arterial. Cad Saúde
Pública 2008;24(4):933-40.
Conclusão 15. Matos AP, Souza CM. Estilo de vida, percepção de saúde e estado
de saúde em estudantes universitários portugueses: influencia da
O presente artigo buscou traçar um perfil de QV e EV área de formação. Int J Clin Psychol 2006;6(3):647-63.
em uma população de usuários de fisioterapia, mostrando 16. Baumann C, Erpelding ML, Régat S, Collin JF, Briançon S .
Le questionnaire de qualité de vie WHOQOL-BREF : valeurs
correlação entre os fatores avaliados, ou seja, a qualidade de
de références françaises des dimensions santé physique, santé
vida é influenciada pelo estilo de vida e vice-versa, mesmo que psychologique et relation sociale. Revue d’E´ pidemiologie et
os fatores façam parte de dois questionários distintos. Através de Sante´ Publique 2009;58:33-9.
deste estudo, percebeu-se que o fator “exercício físico intenso” 17. Alexandre TS, Cordeiro RC, Ramos LR. Factors associa-
obteve respostas que evidenciam uma população sedentária, ted to quality of life in active elderly. Rev Saúde Pública
portadoras de patologias reumáticas e que têm poucas horas 2009;43(4):613-21.
de sono. Em contrapartida, os usuários relataram uma boa 18. Santos FS, Neto JSL, Ramos JCL, Soares FO. Perfil epide-
percepção de QV, de saúde geral e de sono. miológico dos atendidos pela fisioterapia no Programa Saúde
De uma forma geral obteve-se escores moderados para QV e Reabilitação na Família em Camaragibe, PE. Fisioter Pesq
2007;14(3):50-4.
e EV, porém, em certas questões, houve discordâncias entre
19. Fernandes RMF. O sono normal. Medicina (Ribeirão Preto)
o que é praticado e o que é sentido pelo indivíduo. Não são
2006;39(2):157-68.
evidentes quais os motivos desta diferença, fazendo-se neces- 20. Rudiger D. Guia do sono saudável: dicas para adormecer, dormir
sárias novas pesquisas na área para elucidar e aprofundar estes e acordar melhor. São Paulo: Cultrix; 2008.
questionamentos além de pesquisas com tempo de coleta de 21. Boog MCF. Educação nutricional: por que e para quê? J Uni-
dados maiores. camp 2004(260).
Salienta-se, ainda, que pesquisas deste modelo são impor- 22. Soares TM. Estilo de vida e postura corporal em idosas [Disser-
tantes para análises de populações a fim de se formular estra- tação]. Florianópolis: UFSM; 2002.
432 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
23. Campos MA. Musculação: diabéticos, osteoporóticos, idosos, 28. Umeda M, Lauren W, Newcomb LD, Ellingson K. Examination
crianças, obesos. Rio de Janeiro: Sprint; 2001. of the dose–response relationship between pain perception and
24. Guedes DP. Treinamento personalizado em musculação. São blood pressure elevations induced by isometric exercise in men
Paulo: Phorte; 2008. and women. Biol Psychol 2010;85(1):90-6.
25. Robergs A, Robert O. Princípios fundamentais da fisiologia 29. Toscano JJ, Oliveira AC. Qualidade de vida em idosos com
do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: distintos níveis de atividade física. Rev Bras Med Esporte
Phorte; 2002. 2009;5(3):169-173.
26. ACSM. Recursos para o personal trainer. Rio de Janeiro: Gua- 30. Pisinger C, Toft U, Aadahl M, Glümer C, Jørgensen T. The
nabara Koogam; 2006. relationship between lifestyle and self-reported health in a
27. Bruehl S, Chung OY. Interactions between the cardiovascular general population. The Inter99 study. Preventive Medicine
and pain regulatory systems: an updated review of mechanisms 2009;49:418-23.
and possible alterations in chronic pain. Neurosci Biobehav Rev
2004;28:395-14.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 433
Artigo original
*Fisioterapeuta do NASF da cidade de Criciúma/SC, **Fisioterapeuta, Pós Graduada em Residência em Atenção Básica/Saúde da
Família e Gestão na Atenção Básica pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma, ***Fisioterapeuta, Tutora
da Fisioterapia no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família da Universidade do Extremo
Sul Catarinense – UNESC e Superintendente de Serviços Especializados e Regulação da Secretária de Saúde de Santa Catarina,
****Fisioterapeuta, Mestre em Ciências de Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, *****Fisioterapeuta, Preceptora do
Programa PET-Saúde do Ministério da Saúde, ****Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade do Extremo
Sul Catarinense
Resumo Abstract
Introdução: Atenção Básica em Saúde é um conjunto de ações de Introduction: Primary Health Care is a set of health actions
saúde que envolve promoção, prevenção, diagnósticos, tratamentos involving promotion, prevention, diagnosis, treatment and rehabili-
e reabilitação nos âmbitos individuais ou coletivos. Objetivando a tation in individual or collective areas. Aiming the improvement of
melhoria da qualidade, eficácia e eficiência da Atenção Básica em quality, efficacy and efficiency in Primary Health Care, the Family
Saúde, foi criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Health Support Centers (NASF) was created, in which physical
no qual o profissional fisioterapeuta tem capacidade de atuar. O therapist is able to actuate. The purpose of this study was to identify
objetivo deste estudo é identificar as competências, os desafios e the skills, challenges and principal demands of physical therapists
as principais demandas dos fisioterapeutas integrantes do NASF members of NASF in the State of Santa Catarina. Methods: Trans-
do Estado de Santa Catarina. Métodos: Estudo transversal, quali- versal study, qualitative and quantitative, data survey, exploratory
-quantitativo, de levantamento de dados, exploratório e descritivo. A and descriptive. The sample consisted of 16 physical therapists of
amostra foi composta por 16 fisioterapeutas integrantes do NASF do NASF in the State of Santa Catarina, based on the site Datasus/
Estado de Santa Catarina, baseados através do site Datasus/CNES/ CNES/Consulta/Equipes 02/2011. The instrument used was a self-
Consulta/Equipes 02/2011. O instrumento utilizado constituiu-se -applied questionnaire with questions related to skills, challenges
em um questionário autoaplicável com interrogantes a respeito das and demands of Physical therapy. It was sent by electronic mail
competências, desafios e demandas da Fisioterapia. Foi enviado por to the participants through Google Docs®. For statistical analysis,
correspondência eletrônica para e-mail dos participantes através do we used the Frequency Analysis of SPSS version 17.0. Results: The
Google Docs®. Para estatística utilizou-se Análise de Frequências demand of Physical therapy in the NASF was 40% neurology, 40%
do SPSS versão 17.0. Resultados: A demanda da Fisioterapia no orthopedics and 20% geriatrics. The community and the staff of
NASF foi 40% neurologia, 40% ortopedia e 20% geriatria. A NASF did not clearly know the capacity of primary actuation done
comunidade e a equipe do NASF não conheciam de forma clara by the Physical therapist. They acted in therapeutic groups 65.2%,
a capacidade de atuação primária pelo fisioterapeuta. Atuavam em but 43.7% spend more time in individual sessions. Conclusion:
grupos terapêuticos 65,2%, porém 43,7% afirmaram passar maior Physical therapists has demonstrated their skills in daily work on
parte do tempo em atendimento individual. Conclusão: O fisiote- the Primary Health Care together with NASF, but challenges still
rapeuta tem demonstrado a cada dia suas competências na atuação remain and are found by this professional.
Básica em Saúde junto ao NASF, mas desafios ainda persistem e são Key-words: Primary Health Care, Health Centers, Physical therapy.
encontrados por este profissional.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Centros de Saúde,
Fisioterapia.
Variável % 60 50 50
Idade 43,7
20 a 25 Anos 18,7 40
25
26 a 30 Anos 43,7 18,7
20 6,3 6,3 12,4
31 a 35 Anos 31,3 6,3 6,3 6,3
0 0 0
Mais de 51 Anos 6,3 0
Gênero N1 N2 N3 N4
Feminino 56,2 Sim completamente Sim muito pouco
Masculino 43,8 Sim razoavelmente Não
Tempo de Graduação
N1: Conhecimento da comunidade acerca do profissional fisioterapeu-
1 a 2 Anos 6,30
ta; N2: Conhecimento da comunidade sobre a atuação da Fisioterapia
3 a 5 Anos 37,5
no nível primário; N3: Conhecimento dos outros profissionais da equipe
6 a 10 Anos 37,5
do NASF acerca da atuação do fisioterapeuta; N4: Conhecimento dos
11 a 15 Anos 18,7
outros profissionais da equipe do NASF acerca da Fisioterapia no nível
Vínculo Empregatício
primário.
Concursado 37,5
Contratado 62,5
436 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Quanto ao conhecimento da comunidade acerca do fatores sociais e culturais agregados e 2,6% relataram não ter
profissional fisioterapeuta, 87,4% responderam sim razoa- nenhuma dificuldade.
velmente; acerca do conhecimento da comunidade sobre a
atuação da Fisioterapia no nível primário 50% responderam Figura 3 - Atendimentos do NASF (N=16).
que não conheciam. Com referência ao conhecimento dos 50
43,7
outros profissionais da equipe do NASF acerca da atuação do 45
40 37,5
fisioterapeuta, 81,3% responderam que sim completamente
35
e acerca da Fisioterapia no nível primário 50% responderam
30
que sim razoavelmente (Figura 2). 25
Quando questionados em relação à participação no NASF 20
estar sendo benéfica no reconhecimento da Fisioterapia, 100% 15 12,5
responderam que sim. 10 6,3
As equipes de NASF no Estado de Santa Catarina que 5
possuem fisioterapeuta apresentam semelhança dos seguintes 0
profissionais: 75% assistente social; 68,8% farmacêutico; Realizando sozinho atendimento individual
56,3% fisioterapeuta; 68,7% nutricionista e 93,8% psicólogo Atuando em conjunto com alguns integrantes
da equipe do NASF
(Tabela II). Atuando em conjunto com a equipe
completa do NASF
Realizando sozinho atendimento em grupos
Tabela II - Profissionais do NASF (N=16).
Possui Não Possui
Profissionais do NASF Quanto ao nível de atenção que os fisioterapeutas entre-
(%) (%)
Médico Acupunturista - - vistados mais atuam: 43,8% responderam no nível primário;
Assistente Social 75,0 25,0 43,8% no nível secundário e 12,4% no nível terciário, sendo
Profissional de Educação Física 37,5 62,5 que todos afirmaram atuar na atenção primária.
Farmacêutico 68,8 31,2 Em relação aos atendimentos em grupo, 62,5% afirmaram
Fisioterapeuta 56,3 43,7 que realizam e 37,5% não realizam, sendo que os grupos
Fonoaudiólogo 43,8 56,2 relatados são: hiperdia, gestantes, escolares, dores crônicas,
Médico Ginecologista 6,30 93,7 mulheres, puericultura, desenvolvimento motor, reeducação
Médico Homeopata - - postural, cuidadores de pessoas acamadas e/ou idosas, obesi-
Nutricionista 68,7 31,3 dade e caminhada orientada. Quanto ao número de grupos
Médico Pediatra 25,0 75,0 por semana: 43,8% realizam de um a dois grupos; 12,4% de
Psicólogo 93,8 6,20 três a quatro grupos e 43,8% de cinco a seis grupos.
Médico Psiquiatra 18,7 81,3
Quando questionados sobre a realização de atendimentos
Terapeuta Ocupacional 6,30 93,7
individuais: 81,3% relataram que realizam e 18,7% que não
realizam.
Quanto aos atendimentos dos fisioterapeutas atuantes Quanto à demanda dos atendimentos, na sua maioria,
no NASF, 43,7% passam maior parte do tempo realizando 40% realizam atendimentos da área de Neurologia, 40% em
atendimento individual sozinho, 37,5% atuando em conjunto Ortopedia seguido da Geriatria com 20% dos atendimentos
com alguns integrantes da equipe do NASF, 12,5% atuando realizados.
em conjunto com a equipe completa do NASF e 6,3% reali-
zando sozinho o atendimento em grupos (Figura 3). Discussão
Quando questionado sobre pontos que dificultam a
atuação do fisioterapeuta no NASF, 26,3% responderam a Na população brasileira, as mulheres formam um conjunto
grande demanda reprimida para Fisioterapia, 23,7% cultura maior do que os homens, isso ocorre devido a maior expectati-
assistencialista, 13,2% a carga horária do fisioterapeuta menor va de vida das mesmas [18], 50,1% são mulheres, e o restante
que a dos demais profissionais do NASF e da ESF, 13,2% 49,9% homens [19], na nossa amostra houve predomínio do
afirmaram ser a integração do NASF com as equipes da ESF, gênero feminino com 56,2%; enquanto o masculino 43,8%.
7,8% dificuldade de identificação de grupos de risco através Quanto à faixa etária predominou de 26 a 30 anos com
de levantamento epidemiológicos, 5,3% trabalhos de grupos 43,7%, o que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
operativos, trocados por atendimentos individuais, 5,3% Estatística [20] não condiz com a realidade brasileira em geral,
relataram a cultura do profissional fisioterapeuta que impede pois a proporção de jovens tem diminuído a cada ano, mas
o desenvolvimento e a flexibilidade, fazendo com que neces- são condizentes com os dados do Estado de Santa Catarina
sitem de mais tecnologia para trabalhar, 2,6% afirmaram ser [20], onde a maior população por faixa etária é de 20 a 39
o desconhecimento de território como ambiente vivo e com anos, representando 17,98% do total.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 437
Em relação ao tempo de graduação houve semelhança Quanto aos profissionais que faziam parte da equipe do
entre 3 e 5 anos e 6 e 10 anos, com 37,5% cada. Tratando NASF, o psicólogo foi o profissional mais encontrado com
do vínculo empregatício, 62,5% eram contratados, o que se 93,8% dos NASF com ele na equipe. Isso mostra que os mu-
pode justificar pelo fato da complexidade de realização de nicípios levaram em consideração o §2 do Art.4º da Portaria
concurso público, visto que o NASF tem sua implantação GM/MS n.154, republicada em 4 de março de 2008 [13],
ainda muito jovem, isto justifica o fato de 62,5% dos fisiote- na qual recomenda-se que cada NASF tenha pelo menos um
rapeutas atuarem no NASF há menos de 1 ano. profissional da área de saúde mental decorrente da epidemio-
Tratando-se da carga horária semanal, no NASF, 37,4% logia dos transtornos metais.
atuam 20 h, o que é encontrado como carga horária mí- Os principais pontos respondidos pelos fisioterapeutas
nima para o profissional fisioterapeuta, segundo a Portaria integrantes do NASF do Estado de Santa Catarina sobre o
GM/MS n.154, republicada em 4 de março de 2008 [13]. que dificultam sua atuação no NASF são condizentes com o
Porém encontrou-se 31,3% atuando 40 h no NASF, sendo que a literatura traz, sendo eles: dificuldades de identificação
que os profissionais fisioterapeutas estão sujeitos à prestação de grupo de risco através de levantamentos epidemiológicos,
máxima de 30 horas semanais de trabalho, de acordo com o desconhecimento de território como ambiente vivo e com
a Lei nº 8.856/94 [21], o que mostra que muitos fisiotera- fatores sociais e culturais agregados, a integração do NASF
peutas estão atuando além da carga horária permitida por com equipes das ESF, a formação assistencialista, que dificulta
lei. Dos fisioterapeutas, 93,85% responderam possuir outro o acolhimento e a organização das ações, os trabalhos de
emprego, 43,7% afirmaram que sua carga horária como grupos trocados por atendimentos individuais, a formação
profissional é de 40 h e a mesma percentagem relatou ser clínica que impede o desenvolvimento e a flexibilidade dos
de 60 h. Segundo o COFFITO [9], o profissional pode profissionais, fazendo com que necessitem de mais tecnologia
acumular cargos, que juntos totalizarão mais de 30 horas para trabalhar [7].
semanais, o que não pode é em um emprego ultrapassar a Todos os entrevistados afirmaram atuar no nível primário,
jornada de trabalho fixada. e quando questionados em que nível mais atuavam 43,8%
Quando questionado sobre o conhecimento da comu- afirmaram ser em nível primário e a mesma percentagem
nidade acerca do profissional fisioterapeuta, 87,4% afirma- em nível secundário. E ainda quando questionados sobre
ram que a comunidade sabia de modo geral a atuação do o que faziam na maior parte do tempo, 43,7% relataram
mesmo, porém quando perguntado sobre o conhecimento realizar sozinhos atendimento individual e 37,5% atuavam
da comunidade na capacidade do fisioterapeuta atuar em em conjunto com alguns integrantes da equipe NASF. O
atenção primária 50% afirmaram que não conheciam e fisioterapeuta vem adquirindo crescente importância nos
43,7% responderam que sabiam, porém muito pouco. O serviços de Atenção Básica em Saúde, pois vem desenvolvendo
fisioterapeuta tem condições e deve atuar na prevenção de suas habilidades na prevenção, promoção e reabilitação nos
doenças e maus hábitos que possam prejudicar a saúde da âmbitos individuais e coletivos [4,7,9,23], sendo assim, a
população, existindo um grande campo de atuação em saúde cada dia vem demonstrando suas competências em todos os
pública para a promoção da saúde e melhora da qualidade níveis de atenção à saúde.
de vida da comunidade. Assim é essencial que o profissional Em relação aos atendimentos em grupo, 62,5% afir-
mostre aos usuários do SUS que a Fisioterapia não possui maram que realizam e 37,5% não realizam, sendo que os
apenas caráter reabilitador, mas também contribui de maneira grupos relatados foram: hiperdia, gestantes, escolas, dores
significativa à saúde funcional de cada indivíduo, através de crônicas, mulheres, desenvolvimento motor, reeducação
um atendimento com caráter preventivo, a fim de diminuir postural, cuidadores de pessoas acamadas ou idosas, obe-
o número de afastamentos do trabalho, número de uso de sidade, caminhada orientada e puericultura, alguns desses
medicamentos, número de internações e consequentemente, grupos acima são citados por Barbosa et al. [7] e Ragasson
reduzindo os custos com saúde para o governo [2,22]. 100% et al. [11]. A portaria que cria o NASF deixa clara a impor-
dos fisioterapeutas afirmaram que a sua participação no NASF tância da formação de grupos terapêuticos na comunidade
tem contribuído para o conhecimento da comunidade acerca [10]; sendo assim os fisioterapeutas que não atuam junto a
da atuação de profissional. grupos deveriam atuar.
Para a maioria dos profissionais da área da saúde, as fun- Quando questionado sobre a principal demanda existente
ções do profissional fisioterapeuta ainda não se encontram para Fisioterapia na atuação, 40% afirmaram ser neurologia,
claras. É comum que a imagem do fisioterapeuta vinculada ao 40% ortopedia e 20% geriatria. Para Ragasson et al. [11] as
processo de reabilitação e funções ordinárias da intervenção principais demandas existentes são: assistência integral em
fisioterapêutica como prevenção e promoção em saúde sejam todas as fases do ciclo da vida (crianças, adolescentes, adulto
desconhecidas pela equipe interdisciplinar da saúde. Isso foi e idoso), pacientes acamados ou impossibilitados, pacientes
verificado com 50% dos fisioterapeutas respondendo que portadores de doenças neurológicas, afecções respiratórias,
seus colegas de NASF sabiam razoavelmente a capacidade de deformidades posturais, obesidade, hipertensão arterial sis-
o fisioterapeuta atuar em atenção primária. têmica, diabetes melitus, tuberculose e hanseníase.
438 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Conclusão 10. Costa JL, Pinho MA, Filgueiras MC, Oliveira JBB. A fisioterapia
no programa de saúde da família: percepções dos usuários. Rev
O fisioterapeuta tem demonstrado a cada dia suas com- Ciênc Saúde 2009;2(1):2-7.
11. Ragasson CAP, Almeida DCS, Comparin K, Mischiati MF,
petências na atuação básica em saúde junto ao NASF, mas
Gomes JN. Atribuições do fisioterapeuta no programa de saúde
desafios ainda persistem e são encontrados por este profissio- da família: reflexões a partir da prática profissional. [citado 2012
nal. Por isso a necessidade de desenvolvimento de programas, Mar 21]. Disponível em URL: http://www.crefito5.com.br/web/
ações e estudos que minimizem as possíveis dificuldades downs/psf_ado_fisio.pdf
encontradas por parte do profissional fisioterapeuta, além 12. Souza WB. Inclusão do Fisioterapeuta no PSF: pela integrali-
de contribuir para a melhora da Atenção Básica em Saúde dade da atenção a saúde e reorientação do modelo assistencial.
e aclarar os fisioterapeutas e demais profissionais da saúde a Fisiobrasil 2007;4:43-49.
respeito da intervenção fisioterapêutica junto à população. 13. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n.154 24 de janeiro de
2008. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
Referências 14. CONNAS. Núcleos de Apoio à Saúde da Família. [Internet].
2007. Disponível em: URL: http://www.conass.org.br/admin/
arquivos/NT20-07.pdf
1. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.843, de 20 de setembro de
15. Bispo Júnior JP. Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e no-
2010. Disponível em URL: http://portal.saude.gov.br
vas responsabilidades profissionais. Ciênc Saúde Coletiva
2. Rizzo EP, Cominote P, Colar V, Vieira HJA, Manhães RB.
2010;15(1):1627-36.
Intervenção da fisioterapia na comunidade de Araçás - Vila
16. Paula RF, Minezes APC, Maia DAS, Fernandes NMG, Alencar
Velha/ES: uma proposta de atuação junto ao Programa Saúde
RG, Bastos SAM, et al. Comparação entre o atendimento fisio-
da Família. Fisioter Bras 2008;9(4):247-52.
terápico particular e público em Montes Claros (MG). Rio de
3. Trelha CS, Silva DW, Lida LM, Fortes MH, Mendes TS. O
Janeiro: Multitextos; 2002. p.23-25.
fisioterapeuta no programa de saúde da família em Londrina
17. DATASUS. Equipes CNES. 2010. Disponível em URL: http://
(PR). Rev Esp Saude 2007;8(2):20-25.
cnes.datasus.gov.br
4. Veiga AC, Neves CAS, Montagna P, Kanda SS, Valença SS. A
18. Fabricio SCC, Wehbe, G, Nassur FB. Assistência domiciliar:
atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde. Fisioter
a experiência de um hospital privado no interior paulista. Rev
Bras 2004;5(3):246-9.
Latinoam Enfermagem 2004;12(5)721-6.
5. Ministério da Saúde. A construção do SUS. [Internet]. 2006.
19. IBGE. Contagem final da População 2007. [online]. [citado
Disponível em URL: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
2012 Mar 22]. Disponível em URL: http://www.ibge.gov.br/
pdf/construcao_do_SUS.pdf
home/estatistica/populacao/contagem2007/ contagemfinal/
6. Arruda AD, Guedes BN, Lima FR, Ribeiro KSQS, Cavalcanti
tabela1_2_22.pdf
RLL. A importância da inclusão da fisioterapia no programa
20. IBGE. Contagem da População 2007. [online]. Disponível em
saúde da família. [citado 2012 Mar 21] Disponível em URL:
URL: http://www.ibge.gov.br/home
http://www.prac.ufpb.br/anais
21. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - CO-
7. Barbosa EG, Ferreira DLS, Furbino SAR. Experiência da fisio-
FFITO. Fisioterapia/definição/honorário. [online]. [citado
terapia no núcleo de apoio à saúde da família em Governador
2012 Out 22]. Disponível em URL: http://www.coffito.org.br
Valadares, MG. Fisioter Mov 2010;23(2):323-30.
22. Aquino CF, Augusto VG, Moreira DS, Ribeiro S. Avaliação
8. Buss PM, Carvalho AI. Desenvolvimento da promoção da saúde
da qualidade de vida de indivíduos que utilizam o serviço
no Brasil nos últimos vinte anos (1988-2008). Ciênc Saúde
de fisioterapia em unidades básicas de saúde. Fisioter Mov
Coletiva 2009;14(6):2305-16.
2009;22(2):271-9.
9. Castro SS, Cipriano Junior G, Martinho A. Fisioterapia no
23. Baraúna MA. A importância da inclusão do fisioterapeuta no
programa de saúde da família: uma revisão e discussões sobre a
Programa de Saúde da Família. Fisioter Bras 2008;9(1):65-9.
inclusão. Fisioter Mov 2006;19(4):55-62.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 439
Artigo original
*Docente da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, **UNICRUZ, ***Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica, espe-
cialista em RPG, Fisioterapeuta do Equilibrium – Centro Terapêutico da Obesidade, Cruz Alta/RS, ****Especialista em Fisioterapia
Traumato-Ortopédica, Fisioterapeuta do Hospital Santa Lúcia, Cruz Alta/RS, *****Professor Titular Aposentado da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS
Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar o comportamento da força muscular respira- Objective: To evaluate the behavior of the respiratory muscle
tória, do pico de fluxo expiratório e oxigenação sanguínea durante strength, expiratory peak flow and blood oxygenation during rest
repouso e caminhada na água. Métodos: Avaliaram-se 20 homens com and walk on water. Method: Twenty men aging 30-50 years old were
idades entre 30 e 50 anos, saudáveis do ponto de vista respiratório, evaluated, all of them healthy from a respiratory point of view, were
submetidos a 4 avaliações distintas sendo uma em repouso imerso na submitted to four different evaluations: one immersion at rest, to
profundidade do processo xifóide, e outras 3, caminhando durante the depth of the xiphoid; three twenty-minute walks, each one of
20 minutos, cada uma delas em uma profundidade diferente: ao nível them at a different depth – cord at the level of the navel process,
do processo umbilical, processo xifóide e ombro. As variáveis foram xiphoid process and shoulder. The variables were always previously
determinadas sempre antes, durante e após imersão. Realizaram-se determined, during and after immersion. Variance analysis was
análise de variância e comparação de média utilizando o teste de performed and averages were compared through the DUNCAN test
Duncan a 5% de significância (p ≤ 0,05). Resultados: No repouso at 5% significance (p ≤ 0.05). Results: During immersion rest there
houve redução significativa do pico de fluxo e da força muscular was a significant reduction in the peak flow and on the respiratory
inspiratória durante a imersão. Durante caminhada aquática, houve muscle strength. During the walk in water, there was a steep drop of
acentuada queda da saturação de oxigênio ao nível do processo xifoi- oxygen saturation at the depth of the xiphoid process. The peak flow
de. O pico de fluxo e a força muscular respiratória sofreram queda and the respiratory muscle strength reduced in all immersion levels.
em todos os níveis de imersão. Conclusão: Concluiu-se que a imersão Conclusion: We concluded that immersion reduce the respiratory
reduz a força muscular respiratória, pico de fluxo e a oxigenação muscle strength, peak flow and blood oxygenation, and thus it must
sanguínea, devendo ser considerado no momento da prescrição de be considered at the moment of physical therapy prescription for
fisioterapia especialmente para pacientes com doenças pulmonares. pulmonary disease patients.
Palavras-chave: força muscular, oximetria, imersão. Key-words: muscle strength, oximetry, immersion.
de oxigênio através de uma técnica espectrofotométrica que fez-se a medida do pico de fluxo, força muscular respiratória
mede a variação pulsátil de transmissão de luz [17]. A medida e saturação de oxigênio. Completado 20 minutos de cami-
foi realizada antes de o indivíduo entrar na água, durante e nhada os indivíduos saiam da água e permaneciam sentados
após a imersão. A medida de saturação foi realizada antes das por 30 minutos, novamente eram aferidas as variáveis a cada
outras avaliações respiratórias, já que estas exigem esforço e 5 minutos durante o tempo de recuperação (T25, T30, T35,
isto poderia interferir nos resultados [18]. O oxímetro era T40, T45, e, T50).
acoplado preferencialmente ao dedo indicador de uma das Imersão no Processo Xifóide (PX): Essa avaliação foi
mãos e esperava-se o tempo necessário para estabilização dos realizada utilizando mesmo procedimento de repouso, inten-
valores e verificação do resultado. Os resultados eram apre- sidade e duração e, mesmo procedimento de recuperação da
sentados em percentual no visor de aparelho. avaliação anterior, porém a profundidade da água na altura
Determinou-se a intensidade da caminhada aquática do processo xifóide (PX).
através da avaliação da frequência cardíaca. Para avaliar a FC Imersão no Ombro (PO): Essa avaliação foi realizada
utilizou-se o sensor de batimentos cardíacos da marca Polar. A utilizando mesmo procedimento de repouso, intensidade e
intensidade da caminhada utilizada no estudo foi de 65% da duração, e mesmo procedimento de recuperação da avaliação
frequência cardíaca de reserva a qual consiste em (FC teórica anterior, porém a profundidade da água na altura do ombro.
máxima - FC de repouso) x % de intensidade + FC de repouso, Cada uma das avaliações ocorreu com um mínimo de 2
na qual, FC teórica máxima = 220 – idade do sujeito [19]. dias de intervalo entre uma e outra para o mesmo sujeito.
Para avaliar a força muscular respiratória, pico de fluxo e Os dados foram analisados pela análise de variância,
oxigenação sanguínea tanto nas condições de repouso quanto seguida da comparação de média utilizando-se o teste
de movimento (caminhada aquática), o estudo foi dividido de DUNCAN a 5% de significância (p ≤ 0,05). Para a
em duas fases de execução a seguir descritas: análise dos dados foi utilizado o programa computacional
SAS [20].
Fase 1 Este projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética
em Pesquisa da UNICRUZ e foi aprovado em seus aspectos
As avaliações durante imersão em repouso foram realizadas éticos e metodológicos de acordo com as Diretrizes estabele-
da seguinte forma: o indivíduo permanecia em repouso duran- cidas na Resolução 196/96 e complementares do Conselho
te 10 minutos sentado em uma cadeira ao lado da piscina para Nacional de Saúde (CAAE:11305212.8.0000.5322). Para
avaliação das variáveis antes da imersão. Imediatamente era participar do estudo, todos os voluntários foram informados
aferido o pico de fluxo, força muscular respiratória e oxigena- dos benefícios, riscos e metodologia que seria aplicada para
ção sanguínea de repouso (T0). Após, o indivíduo era imerso a realização do trabalho. Antes das avaliações, após estarem
na água onde permanecia em repouso na profundidade do cientes do conteúdo, todos assinaram o termo de consenti-
processo xifóide durante 30 minutos. Durante este período, mento livre e esclarecido.
foram registrados o pico de fluxo expiratório, força muscular
respiratória e saturação de oxigênio no 10º (T10), 20º (T20) Resultados e discussão
e 30º (T30) minutos. Completado o tempo de imersão, o
indivíduo saía da água e permanecia sentado em repouso por Os achados obtidos na primeira avaliação, na qual os
10 minutos, situação na qual também eram registradas as indivíduos permaneceram em repouso na água ao nível do
variáveis no 5º (T35) e 10º (T40) minutos da recuperação. processo xifóide (PX) por um período de 30 minutos estão
apresentados na Tabela I.
Fase 2 Pode-se observar que em nenhum dos tempos avaliados
durante o repouso ocorreu alteração significativa para a oxi-
A segunda fase do estudo caracterizou-se pela caminhada metria. Porém, o PFE durante o repouso apresentou redução
aquática em diferentes profundidades de imersão e foi dividida significativa durante a imersão. Esta se manteve até 15 minu-
em três sessões: tos após a saída do indivíduo da água, porém, não se manteve
Imersão na Prega Umbilical (PU): O indivíduo permane- por muito tempo, pois, na avaliação 45 minutos, ou seja, 30
cia em repouso durante 10 minutos sentado em uma cadeira minutos depois de sair da água esses já eram superiores aos
ao lado da piscina. Imediatamente após era aferido o pico de valores observados na pré-imersão. Os dados encontrados
fluxo, força muscular respiratória e saturação de oxigênio de vão ao encontro do estudo de Becker & Cole [1], que diz
repouso (T0). O indivíduo então era imerso na água até a que com a imersão ocorre redução do fluxo aéreo expiratório.
profundidade da prega umbilical e iniciava a caminhada até Referente à FMR, na avaliação repouso, pode-se verificar
atingir a intensidade na margem de 65% da FC de reserva, uma leve queda durante a imersão que se manteve até a última
a mesma era controlada pelos próprios participantes através aferição no tempo de recuperação para PImáx, porém não
do frequencímetro, e permaneciam caminhando, durante 20 significativa, e para PEmáx não ocorreu alteração durante
minutos, nesta intensidade; no 10° (T10) e 20° (T20) minutos toda a fase de avaliação.
442 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
A fase 2 do estudo consistiu em avaliar a SpO2, PFE e FMR 20 minutos da caminhada e uma diminuição ainda maior da
pré, durante e pós-caminhada aquática em diferentes níveis. SpO2 (saturação de oxigênio) após 10 minutos da recuperação,
Salienta-se que durante essa avaliação os sujeitos permaneciam mantendo-se até a última aferição desta sessão, confirmando
caminhando durante 20 minutos na intensidade desejada os achados de Becker & Cole [1], Lazzari & Meyer [21],
sendo que, no 10° e 20° minutos realizava-se a medida do Meyer [22]. O fato de ocorrer maior queda e permanecer por
PFE, FMR e SpO2. Completando 20 minutos de caminha- mais tempo após a imersão, se deve, provavelmente, a ação da
da os indivíduos saiam da água e permaneciam 30 minutos pressão hidrostática atuando sobre quase todo o tórax levando
sentados ao lado da piscina e novamente eram aferidas as ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar aumentando o
variáveis a cada 5 minutos durante o tempo de recuperação. deslocamento do sangue da periferia para os grandes vasos,
Os dados do primeiro nível de imersão avaliado, nível determinando redução da circulação nos pequenos vasos
da prega umbilical (PU) estão apresentados na Tabela II. reduzindo também a oxigenação periférica.
Estes demonstram uma redução significativa e gradual da O PFE com água ao nível PX reduziu, durante a cami-
saturação de oxigênio durante todos os tempos da avaliação. nhada até os 15 minutos da recuperação, retornando aos
Observa-se que mesmo após saírem da água ocorreu queda da valores aferidos no tempo zero apenas nos 30 minutos após
saturação de oxigênio que permaneceu durante todo o tempo sair da água.
da fase de recuperação fora da água, corroborando os achados Quando se avaliou a FMR, PImáx e PEmáx, neste nível de
de Becker & Cole [1] e Lazzari & Meyer [21], Meyer [22] imersão, apenas perdeu força quando os indivíduos estavam
que mostram que o sangue é deslocado para cima através do em caminhada aquática, tanto para a musculatura inspiratória
sistema de mão única. Primeiro para as coxas, então, para a quanto expiratória.
cavidade abdominal e daí para os maiores vasos da região to- O terceiro nível de imersão avaliado foi ao nível do ombro
rácica e coração. Com a força da pressão hidrostática, atuando (PO), dados apresentados na tabela IV. Pode-se observar que
sobre todas as partes do corpo o deslocamento do sangue da a SpO2 reduziu, a partir dos 20 minutos de caminhada, e
periferia até o coração fica aumentado. Isso leva ao aumento permaneceu assim até os 30 minutos da recuperação, ou seja,
do fluxo sanguíneo pulmonar. Provavelmente o aumento do o referido tempo não foi suficiente para normalizar o nível
deslocamento do sangue da periferia para os grandes vasos, de oxigenação do sangue.
leva a redução da circulação nos pequenos vasos, reduzin- Neste nível, não se observou queda PFE durante ativida-
do também a oxigenação periférica, além disso, a ação da de. Talvez isso tenha ocorrido pela dificuldade de alcançar a
musculatura respiratória, em virtude do exercício, aumenta intensidade proposta, pois com água ao nível do ombro os
fluxo sanguíneo e consequentemente ocorre o aumento do indivíduos relataram dificuldades para realizar a caminhada,
retorno venoso. pois alguns princípios da água como densidade e densidade
Ao avaliar PFE destes indivíduos neste nível de imersão, relativa, flutuação, pressão hidrostática, fluxo laminar e fluxo
observou-se que houve queda desta variável nos 10 minutos turbulento, descritos por Skinner & Thomson [25], podem
de caminhada. Pode-se observar que durante o exercício em ter influenciado no deslocamento do corpo dentro da piscina.
água ocorreu diminuição de ar dos pulmões, confirmando os Os dados apresentados mostram que houve redução da
achados de Shupak [23]. Após os indivíduos saírem da água, PImáx, durante a caminhada, permanecendo assim até os 10
os valores do pico de fluxo foram elevando-se gradualmente, minutos da recuperação, e somente após este tempo retornou
a partir dos 10 minutos da recuperação, retornando aos va- aos valores aferidos antes da imersão. Para a PEmáx observou-
lores iniciais na última aferição desta sessão. Analisou-se que -se apenas diminuição durante caminhada.
o que reduz a ventilação pulmonar é o efeito combinado do A compressão exercida pela pressão hidrostática sobre a
exercício com a imersão e que o indivíduo não permanece caixa torácica altera a dinâmica respiratória, fazendo com que a
por muito tempo com a ventilação diminuída após imersão, musculatura trabalhe constantemente contra uma resistência.
discordando com os estudos de Shupak [23] que diz que Além disso, as melhores possibilidades de posicionamento,
depois do exercício ocorre redução da ventilação pulmonar. a diminuição da gravidade e a temperatura da água auxiliam
Para a FMR houve queda da força durante a caminhada e nos alongamentos musculares, inclusive da musculatura aces-
permaneceu assim até os 10 minutos de recuperação, já nos sória da respiração. Esses são aspectos que podem ser melhor
15 minutos de recuperação a força retornou aos valores obser- explorados em próximas investigações [24].
vados antes de entrar na água. Para a musculatura expiratória O estudo mostrou valores semelhantes da saturação de
o que se viu foi um aumento da força muscular no tempo de oxigênio ao nível PU e a nível PX, pode-se observar que a
recuperação, superando os valores de repouso. maior queda da saturação de oxigênio ocorreu quando os
O segundo nível de imersão avaliado foi ao nível do pro- indivíduos submeteram-se a caminhada ao nível PX.
cesso xifóide (PX), no qual os indivíduos foram submetidos Ao determinar os parâmetros do pico de fluxo em todos
à caminhada aquática neste nível. Nos dados apresentados os níveis tanto de repouso quanto na caminhada viu-se que,
na tabela III, observa-se que os valores da SpO2 tiveram leve em todos os níveis, o pico de fluxo reduziu nos 10 minutos
queda nos 10 minutos de caminhada, queda significativa aos de imersão. Pode-se concluir que o que reduz o pico de fluxo
444 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
é a pressão hidrostática da imersão e não o esforço físico. Conclui-se ainda que os dados obtidos com esta pesquisa con-
Os dados encontrados neste estudo estão de acordo com os tribuem de forma significativa para o embasamento científico
estudos de Becker & Cole e Cureton [1,26]. da fisioterapia realizada no meio aquático, pois os achados
Não se observou redução do pico de fluxo durante o exer- aqui apresentados devem ser considerados no momento da
cício neste nível de imersão. Isso pode ter ocorrido em função prescrição de um programa de reabilitação.
da dificuldade de realizar a caminhada e, assim, dificultando
que o indivíduo alcançasse os 65% da FC de reserva. Referências
Avaliando os resultados da última aferição das sessões no
tempo de recuperação, observou-se que em todos os níveis da 1. Becker BE, Cole AJ. Aspectos biofisiológicos da hidroterapia.
fase 2 (caminhadas) os valores do pico de fluxo retornaram aos In: Becker BE. Terapia aquática moderna. São Paulo: Manole;
valores iniciais, apenas na avaliação repouso (fase1) não houve 2000.p.37-39.
2. Bookspan J. Efeitos fisiológicos da imersão em repouso. In:
recuperação, provavelmente porque o tempo de recuperação
Ruoti RG, Morris DM, Cole AWJ. Reabilitação aquática. São
monitorado foi inferior às demais avaliações.
Paulo: Manole; 2000.p.36.
Com 20 minutos de caminhada, em todos os níveis de 3. Costa D. Organização anatomofuncional do sistema respirató-
imersão estudados, observou-se uma redução significativa rio. Fisioterapia Respiratória Básica. São Paulo: Atheneu; 1999.
da saturação de oxigênio. Sendo que esta redução obser- 4. Caromano FA, Themudo Filho MRF, Candeloro JM. Efeitos
vada permanecia assim durante o período de recuperação. fisiológicos da imersão e do exercício na água. Fisioter Bras
Já durante o repouso que foi realizado com a água ao 2003;4(1):60-5.
nível do PX não se observou queda significativa da SpO2. 5. Caromano FA, Candeloro JM. Fundamentos da hidroterapia
Isso pode ocorrer devido ao aumento do retorno venoso para idosos. Arq Ciênc Saúde Unipar 2001;5(2):187-95.
associado à resistência da água para a expansão da caixa 6. Martinez FG. Cinesiologia na água: Exercícios de hidrocinesio-
terapia. Revista Ciência em Movimento 1999;1:1.
torácica, que impediu que as trocas gasosas ocorressem de
7. Agostoni F, Gurtner G, Torri G, Rahn H. Respiratory mechanics
forma adequada. during submersion and negative-pressure breathing. J Appl
O PFE também apresentou queda significativa durante Physiol 1966;21(1):251-258.
a recuperação. Ou seja, após a saída da piscina, o pico de 8. Keller KD, Keller BD, Augusto IK, Bianchi PD, Sampedro
fluxo foi aumentando gradativamente durante o período de RMF. Avaliação da pressão arterial e da frequência cardíaca
recuperação. durante imersão em repouso e caminhada. Fisioter Mov
2011;24(4):729-36.
Conclusão 9. Pereira CAC. Espirometria. J Pneumol 2002;28(3):1-82.
10. Pereira CAC. I Conselho Brasileiro sobre Espirometria. J Pneu-
mol 1996;22:105-163.
Conclui-se que imersão tanto durante o repouso como du-
11. Carregaro RL,Toledo A.M. Efeitos fisiológicos e evidências
rante a caminhada interfere na função pulmonar, e a realização
científicas da eficácia da fisioterapia aquática. Revista Movi-
de exercícios mesmo que em diferentes profundidades apre- menta 2008;1(1).
senta o mesmo padrão de interferência na função pulmonar. 12. Sá NC, Banzato TC, Sasseron AB, Junio LCF, Fregadolli
Portanto, as alterações na FMR, PFE e SpO2 parecem estar P, Figueiredo LC. Análise comparativa da função respirató-
associadas, principalmente, ao aumento do retorno venoso, ao ria de indivíduos hígidos em solo e na água. Fisioter Pesq
invés da atuação da pressão hidrostática sobre a caixa torácica. 2010;17(4):337- 41.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 445
13. Baun G. Propriedades da água e adaptações fisiológicas. Aqua- 21. Lazzari JMA, Meyer F. Freqüência cardíaca e percepção de
eróbica Manual de Treinamento. São Paulo: Manole; 2000. esforço na caminhada aquática e na esteira em mulheres seden-
p.28-9. tárias e com diferentes percentuais de gordura. Rev Bras Ativ
14. Irwin S, Teckin SJ. Fisioterapia Cardiopulmonar. São Paulo: Fís Saúde 1997;2:07-13.
Manole; 1994. 22. Meyer K, Bucking J. Aqua exercises and swimming in heart fai-
15. Nicolini RDA, Braga D, Pires CVG, Oliveira RAF. Efeitos da lure. Deutsche Zeitschrift Fur Sportmedizin 2005;6(12):403-9.
imersão nos parâmetros ventilatórios de indivíduos com distrofia 23. Shupak A, Guralnik L, Keynan Y, Yanir Y, Adir Y. Pulmonary
muscular de Duchenne. Revista Neurociencias 2012;20(1):34- edema following closed-circuit oxygen diving and strenuous
41. swimming. Aviation Space and Environmental Medicine
16. Darhlquist M, Eisen EA, Wegm DH, Kriebal D. Repro- 2003;74(11):1201-4.
ductibility of peak expiratory flow measurements. Occup 24. Ramos FAB, Ordonho MC, Pinto TVR, Lima CA, Vasconcelos
1988;43:693-96. CR, Silva DAL. Avaliação da força muscular respiratória e do
17. Winck JC, Ferreira L. Oximetria: papel no estudo do doente peak flow em pacientes com distrofia muscular do tipo Du-
respiratório. Rev Port Pneumol 1998;3:307-13. chenne submetidos à ventilação não invasiva e à hidroterapia.
18. Costa AJ, Amaral G. Assistência ventilatória mecânica. São Pulmão RJ 2008;14(2-4):81-6.
Paulo: Atheneu; 1995. 25. Skinner RG, Thomson A. Exercícios na água. São Paulo: Ma-
19. Regenga MM. Fisioterapia em Cardiologia: da UTI à reabilita- nole; 1985.
ção. São Paulo: Roca; 2000. 26. Cureton KJ. Respostas fisiológicas ao exercício na água. In:
20. SAS - Institute Statistical Analysis System. User’s guide: version Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação aquática. São
6.4. ed. Cary: SAS Institute; 1989. 846p. Paulo: Manole; 2000.p.52.
446 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Artigo original
*Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Docente do Centro Universitário
UNINOVAFAPI,**Especialista em Pneumologia Funcional (Universidade de Brasília), Docente do Centro Universitário UNINO-
VAFAPI, ***Especialista em Fisiologia do Exercício e Grupos Especiais (UESPI), ****Bacharel em Fisioterapia pelo Centro Universi-
tário UNINOVAFAPI,*****Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia da UNIVAP
Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a ativação do músculo esca- The objective of this study was to evaluate the activation of the
leno (ESC) e esternocleidooccipitomastóideo (ECOM) através do scalene muscle (SCL) and sternocleido-occipito-mastoid (SCOM)
ganho de pico de Root Mean Square (RMS) obtido pela eletromio- through the peak gain of Root Mean Square (RMS) obtained by
grafia (EMG), em indivíduos saudáveis submetidos à aplicação de electromyography (EMG) in healthy subjects submitted to the
cargas máximas de resistor linear e alinear. Trata-se de um estudo application of maximum loads for linear resistor and alinear. This is
prospectivo, transversal, experimental, comparativo realizado com a prospective, cross-sectional, experimental and comparative study
24 indivíduos saudáveis alocados nos grupos linear (Grupo L) e which was performed with 24 healthy subjects allocated to the
alinear (Grupo A). Para análise estatística empregou-se o teste de linear group (Group L) and alinear group (Group A). For statistical
Shapiro-Wilk para avaliação da normalidade dos dados, teste de analysis we used the Shapiro-Wilk test to assess for the normality of
Spearman e Pearson para correlação entre as variáveis (nível de data, Pearson and Spearman test for correlation between variables
significância de 0,05). Os resultados revelaram boa correlação (r (significance level of 0.05). The results showed good correlation (r
= 0,62; p < 0,05) entre o Ganho de Carga Máxima de ECOM e = 0.62, p < 0.05) between gain maximum load of SCOM and SCL
ESC usando o resistor linear (Threshold® IMT), assim como boa using the linear resistor (Threshold ®IMT), as well as good correla-
correlação (r = 0,78; p < 0,01) entre o Ganho de Carga Máxima de tion (r = 0.78, p < 0.01) between gain maximum load of SCOM
ECOM e ESC usando resistor alinear (P-Flex®). Correlacionando and SCL using alinear resistor (P-Flex ®). Correlating Inspiratory
a Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e Picos de RMS de ESC e Pressure (MIP) and RMS peak SCL and SCOM, alone, there was
ECOM, isoladamente, houve apenas correlação do Pico de RMS only the correlation peak RMS SCOM in group L. It is concluded
ECOM do Grupo L. Conclui-se que não existe, necessariamente, that there isn’t necessarily a relationship between RMS peak and
relação entre o Pico de RMS e o nível de ativação motora dos level of motor activation of muscles in healthy young adults. For
músculos em jovens saudáveis. Para treinamento mais específico more specific training of SCOM it is suggested the application of
do ECOM sugere-se a aplicação de carga alinear. load alinear.
Palavras-chave: eletromiografia, força muscular, músculos Key-words: electromyography, muscle strength, respiratory
respiratórios. muscles.
Embora não exista consenso para monitorização da mus- • Ganho de Pico RMS na Carga Máxima Linear: Divisão
culatura respiratória por EMG [11], para localização dos entre valor Pico RMS no ML-II e ML-C;
eletrodos e captura do sinal eletromiográfico do músculo ESC, • Ganho de Pico RMS na Carga Máxima Alinear: Divisão
o indivíduo foi colocado em decúbito dorsal, facilitando a entre valor Pico de RMS no MA-II e MA-C;
localização, uma vez que era eliminada a ação isométrica do • Ganho de Pico RMS na PImáx: Divisão entre valor Pico
músculo ECOM, sendo realizada a palpação da superfície de RMS na PImáx e nos momentos ML-C ou MA-C.
óssea da clavícula direita e traçada uma linha imaginária no
ponto médio desse osso, auxiliado por uma fita métrica [12]. A análise de normalidade foi executada usando o teste
Em seguida, foi colocado o centro do eletrodo a uma distância de Shapiro-Wilk, de modo que as variáveis de distribuição
de 3 cm do ponto médio clavicular e o centro do segundo normal foram analisadas com testes paramétricos (teste t de
eletrodo a 3 cm do centro do primeiro. Já no ECOM, o po- student) e as que não apresentaram distribuição normal foram
sicionamento do eletrodo foi feito no 1/3 inferior do ventre analisadas com testes não paramétricos (Teste de Mann-
da cabeça esternal do músculo. Para localização do eletrodo -Withney-Wilcoxon). Para avaliação de correlação entre as
de EMG, o indivíduo era colocado sentado ereto em cadeira variáveis foram utilizadas as análises de Pearson (distribuição
com apoio. Após o posicionamento era feita uma linha da normal) e a de Spearman (sem distribuição normal).
fúrcula esternal até o processo mastoideo e marcado 1/3 de Para os valores de r, a interpretação foi feita da seguinte
distância da fúrcula esternal. Uma segunda linha era traçada forma [14]: valores abaixo de 0,40 foram considerados como
perpendicularmente, partindo deste ponto, e os eletrodos po- correlação baixa; entre 0,41 e 0,59, correlação moderada; entre
sicionados no local onde essa linha cruzasse a cabeça esternal 0,60 e 0,79, correlação boa; acima de 0,80, correlação alta;
do ECOM, distando 3 cm entre seus centros e seguindo a valor de 1, perfeita correlação.
orientação de suas fibras [13]. Foi utilizado o intervalo de confiança de 95%, com nível
Para avaliação da PImáx foi utilizado manovacuômetro de significância de 0,05. Os programas estatísticos utilizados
analógico (WICA®, 0 a –300 cmH2O) adaptado a uma vál- para análise foram BioEstat 5.0 e Statistical Package for the
vula, bocal com 2 cm de diâmetro interno e 8 cm de com- Social Sciences (SPSS) versão 16.0.
primento. A PImáx foi avaliada com um mínimo de 3 testes
(medidas) e intervalo de 1 minuto entre eles, sendo avaliadas Resultados
a partir do volume residual (VR). A posição alcançada ao fim
do esforço inspiratório máximo deveria ser mantida durante Participaram do estudo vinte e quatro (24) sujeitos, sendo
um breve momento (no mínimo 2 segundos) [1]. 11 (45,8%) do sexo masculino e 13 (54,16%) do sexo femini-
Após verificação da PImáx, os sujeitos foram submetidos no. Os mesmos foram divididos em dois grupos denominados
à carga máxima dos resistores. de Grupo A (Carga Alinear) e Grupo L (Carga Linear). No
A coleta do sinal eletromiográfico, em cada grupo, foi Grupo A havia uma distribuição uniforme entre homens e
realizada em dois momentos: mulheres (50%) enquanto no Grupo L, predominavam as
Grupo L (Threshold® IMT): Momento Controle (ML-C) mulheres (58,3%).
compreende uma inspiração até a capacidade pulmonar total Com relação à idade, a média no Grupo A foi de 22,92
(CPT), sem carga, apenas com bocal e o Momento Carga ± 2,1 anos e no Grupo L 22,08 ± 1,5 anos. As medidas dos
Máxima (ML-II) que compreende inspiração até a CPT, com dados antropométricos e PImáx estão disponibilizadas na
carga máxima de Threshold®, ou seja, -41 cmH2O. Tabela I. Embora sem significância estatística, a média da
Grupo A (P-Flex®): Momento Controle (MA-C) compre- PImáx do Grupo Carga Linear foi maior que o do Grupo
ende uma inspiração até CPT, sem carga, apenas com bocal Carga Alinear (-170 ± 71 e -160,8 ± 43,7, respectivamente).
e o Momento Carga Máxima (MA-II): inspiração até CPT,
com carga máxima de P-Flex (peça vermelha com orifício Tabela I - Características antropométricas e valores da força mus-
de 2 mm). cular inspiratória dos indivíduos dos Grupos A e L.
A atividade elétrica durante os momentos (ML-C, ML- Grupo A Grupo L
-II, MA-C e MA-II) foi captada pelo Eletromiógrafo EMG (Carga Ali- (Carga
System do Brasil LTDA, São Paulo, Brasil obedecendo às reco- Variáveis
near) Linear)
mendações da Surface Electromyography for the Non-invasive (±) (±)
Assessment of Muscle (SENIAM) e da International Society of Massa Corpórea (kg) 66,75 (9,0) 66,63(12,8)
Electrophysiology and Kinesiology (ISEK) [12,13].
Estatura(m) 1,68 (0,7) 1,68 (0,7)
A normalização do sinal EMG foi realizada através da
relação entre os valores de Pico Root Mean Square- RMS, IMC (kg/m )
2
23,5 (2,2) 23,18 (2,7)
valor máximo de RMS, pois RMS deve ser interpretado PImáx (cmH2O) -160,8 (43,7) -170 (71,0)
como valor relativo. Dessa forma, foram obtidos para os IMC: índice de massa corpórea; PImáx: pressão inspirató-
dois músculos: ria máxima.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 449
Para comparar as médias dos valores de Root Mean Figura 2 - Análise de correlação de Spearman entre ganho de pico
Square (RMS) da atividade elétrica entre os dois grupos de RMS na carga máxima alinear de ESC e ECOM.
e entre os dois músculos inspiratórios, os valores de RMS
2
3.5000
no Grupo de Carga Linear
3.0000 1.5
2.5000
1
2.0000
y=1.0922x + 0.0163
1.5000 0.5
rs=0,9335
p<0,0001
1.0000 0
y=0.4894x + 0.8682
rs=0,6294 0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000
0.5000
p=0,0283 Ganho carga máxima de ECOM
0.0000 no grupo alinear
0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000
Ganho carga máxima de escaleno
no grupo de carga linear De acordo com a Figura 3, observa-se uma alta correla-
ção (r = 0,93), por meio da análise de Pearson, e de forma
significativa (p < 0,0001), entre ganho de pico carga máxima
A Figura 2 mostra a análise de correlação de Spearman alinear e ganho de pico PImáx do músculo ECOM no Grupo
entre o ganho de pico RMS na carga máxima alinear A. O coeficiente de determinação (R2) foi de 0,8715, ou seja,
(Grupo A) para ESC e ECOM. Evidencia também uma 87,15% do ganho de PImáx do ECOM é “explicada” pelo
boa correlação, estatisticamente significativa (rs = 0,72; ganho de carga máxima de ECOM usando carga máxima
p < 0,01), entre o ganho de carga máxima de ECOM e de P-Flex.
ganho de carga máxima de ESC usando o resistor alinear
(P-Flex).
450 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Figura 4 - Análise de correlação entre ganho de pico de RMS carga são para estimar os valores preditos da PImáx e PEmáx em
máxima do ESC e ganho de pico RMS PImáx do ESC nos sujeitos adultos são necessárias. Indivíduos com maior idade terão
do grupo carga alinear. valores preditos de PImáx e PEmáx menores. Este fato torna
3 importante a seleção de uma amostra mais homogênea nas
pesquisas com EMG de músculos respiratórios de indivíduos
2.5
Ganho Pimax Escaleno
algumas pesquisas com EMGS. Estas sociedades preconizam, observar que houve uma boa correlação, utilizando um nível
na necessidade de comparações de RMS entre músculos respi- de significância de 5%. Este fato evidencia que os ganhos de
ratórios, a realização da padronização/normalização do sinal ativação muscular em relação ao repouso, nos dois músculos,
para a posterior obtenção de valores controles. No presente estão correlacionados. Dessa forma, quando o ganho de pico
estudo, as recomendações foram atendidas, realizando-se de RMS do ECOM aumenta, o de ESC também aumenta,
para normalização, a execução de manobra com inspiração ou vice-versa, na carga máxima linear. Este fato é importante,
máxima, até CPT, e não apenas, de respiração tranquila em pois corrobora o sinergismo dos grupos respiratórios primários
volume corrente [18]. e secundários durante a inspiração forçada, o que oferece
Cabe enfatizar, que não foi encontrado na literatura grande vantagem mecânica ao sistema respiratório [17]. Tal
estudos que utilizassem para a comparação de ganhos de fato pode justificar a maior ativação do músculo acessório
ativação muscular respiratória ou de outro grupo muscular ECOM durante as manobras com esforço máximo usadas em
esquelético, o pico de RMS. Julgou-se mais plausível seu nosso trabalho, ou seja, o ganho de pico de RMS do ECOM,
uso neste estudo, pois foram utilizados para análise valores tanto na carga máxima como na PImáx, não está relacionado,
máximos alcançados de PImáx e carga máxima dos resistores necessariamente, apenas com a geração de força, mas com
(Threshold® IMT e P-Flex ) e, consequentemente, necessitaria tarefas relacionadas à facilitação da inspiração.
avaliar os valores máximos atingidos de RMS (Pico de RMS) A carga máxima usada no Threshold®IMT se torna relati-
nessas manobras. Essa estratégia foi importante para realizar, vamente baixa em saudáveis, visto que a faixa de aplicação é
dentre outras, a análise de correlação entre pico de RMS e limitada a 41 cmH2O. Indivíduos saudáveis possuem valores
PImáx, possibilitando inferir a existência ou não da relação de pressão inspiratória acima de 60 cmH2O, portanto quando
entre força muscular respiratória gerada e o valor de pico de se pretende usar porcentagens maiores de PImáx esses valores
RMS da EMG. ultrapassam a carga máxima do Threshold®IMT.
Nos últimos anos, o valor terapêutico do treinamento Observando a correlação entre ganho de pico RMS carga
muscular respiratório, tanto em pessoas normais como em máxima e ganho de pico RMS PImáx do músculo ECOM
indivíduos portadores de paresia respiratória, tem sido alvo no Grupo A, percebeu-se uma significativa associação entre
de muito interesse entre os pesquisadores. Diversas são as elas (p < 0,0001). Em contrapartida, não houve associação
técnicas empregadas para o TMI, porém as mais praticadas significativa entre o ganho de pico carga máxima com o
são o treinamento com carga linear e alinear. Ambas possuem ganho de pico PImáx do músculo ESC no mesmo grupo.
limitações na resistência imposta durante a inspiração, sendo Sendo assim, a aplicação de carga máxima de PFlex exerce
a carga máxima do linear de -41cmH2O e do alinear, com uma ativação do músculo ECOM próxima àquela obtida nas
peça de 2mm, essa resistência poderá chegar até 80 cmH2O, manobras de PImáx (manobra de força máxima). Este achado
dependendo do fluxo inspiratório [1]. é importante, pois o P-Flex parece exercer uma sobrecarga
O presente estudo mostrou que os níveis de ativações do maior (mais específica) aos músculos inspiratórios secundários
ECOM e ESC, expressas em ganho de pico RMS de carga ou acessórios, como é o caso do ECOM.
máxima, aumentaram significativamente quando comparada Por dotar de peças que podem oferecer uma sobrecarga
a situação de inspiração profunda sem carga para a respiração variável entre 30 e 80% da PImáx, o P-Flex, principal dis-
com carga máxima inspiratória, sugerindo uma relação dose- positivo para treinamento com carga alinear, pode propiciar
-resposta no que diz respeito à ativação muscular em saudáveis ganhos mais importantes de ativação muscular de acessórios.
usando os resistores disponíveis atualmente. Destaque para o Importante é que mesmo com fluxos mais baixos, pode-se
predomínio do ganho de pico de RMS do ECOM (125%), manter uma sobrecarga elevada à musculatura inspiratória
em relação ao ESC (110%) durante a aplicação de carga em caso de uso da peça com menor orifício (2mm).
máxima linear. Foi identificado no presente estudo a ausência de cor-
Vale salientar, que o ECOM, anatomicamente, tem maior relação significativa entre pico de RMS de ESC e ECOM,
distância entre suas inserções quando comparado ao músculo isoladamente (sem ganhos), na PImáx com a força máxima
escaleno. O primeiro se estende do processo mastoideo e gerada pelos indivíduos, ou seja, com a PImáx. Isto mostra que
occipito até a fúrcula esternal (cabeça esternal), enquanto o o Pico de RMS na PImáx não é um bom indicador de força
segundo tem sua inserção proximal nos processos transversos máxima gerada, ou ainda é possível que a atividade muscular
de C3-C7 e se estende até a primeira e segunda costela. Esse máxima do músculos captada pela EMG aconteça em um
fato pode explicar a maior geração de força do ECOM (ganho momento diferente (antes ou após) daquele onde é alcançado
de pico de RMS), em relação ao ESC, quando se parte de a PImáx. Baseado nos resultados encontrados, conclui-se que
VR, pois o ECOM neste volume está com suas fibras mais a análise dos picos de RMS não é suficiente para inferir sobre
alongadas e com maior capacidade de gerar força [21]. geração de força e trabalho muscular em jovens saudáveis.
Quando analisadas as correlações entre ganho de pico Neste estudo tivemos algumas limitações: no protocolo,
RMS na carga máxima do resistor linear e alinear (Grupo L todos os sinais eletromiográficos foram coletados durante a
e Grupo A, respectivamente), para ESC e ECOM, podemos manobra e estas foram feitas em apenas um dos tipos de resis-
452 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
tor (determinado por sorteio), não sabendo o comportamento 8. Enright S, Unnithan V. Effect of inspiratory muscle training
da ativação muscular após um programa, mais demorado, intensities on pulmonary function and work capacity in
de TMI. Da mesma forma, a determinação do ponto para people who are healthy: a randomized controlled trial. Phys
fixação dos eletrodos seguiu o de trabalhos anteriores e, ainda, Ther 2011;91(6):894-905.
9. Potney LG, Roy SH. Eletromiografia e testes de velocidade de
não há consenso sobre a localização dos pontos de pesquisa
condução nervosa. In: O’Sullivan SB, Schmitz TJ, eds. Fisiote-
eletromiográfica dos músculos respiratórios. Por fim, seria rapia: avaliação e tratamento. 5nd ed. São Paulo: Manole; 2010.
interessante, em estudos futuros, submeter um mesmo indi- 10. Golabbakhsh M, Masoumzadeh M, Sabahi MF. ECG and
víduo a diferentes cargas inspiratórias (linear e alinear), pos- power line noise removal from respiratory EMG signal using
sibilitando uma avaliação seriada do recrutamento muscular. adaptive filters. Majlesi Journal of Electrical Engineering
2011;5(4):28-33.
Conclusão 11. Kallenberg LA, Preece S, Nester C, Hermens HJ. Reproducibi-
lity of MUAP properties in array surface EMG recordings of the
Diante dos resultados do presente estudo e da metodologia upper trapezius and sternocleidomastoid muscle. J Electromyogr
Kinesiol 2009;19(6):536-42.
nele empregada, podemos inferir que não existe, necessaria-
12. Falla D, Dall’alba P, Rainoldi A, Merletti R, Jull G. Location of
mente, relação entre o pico de RMS e o nível de ativação
innervations zones of sternocleidomastoid and scalene muscles:
motora detectável pela eletromiografia do músculo escaleno e a basis for clinical and research eletromiography applications.
esternocleidooccipitomastóideo em jovens saudáveis. Embora Clin Neuro Physiol 2002;113(1):57-63.
possibilite um ganho de pico de RMS significativo, o uso de 13. Hermens HJ, Frekis B, Merletti R, Stegman D, Rau G, Klug
Threshold® IMT com carga máxima se mostrou insuficiente CD, Hägg G. European recommendations for surface elec-
para ativar efetivamente os músculos analisados em relação tromyography – SENIAM. Enschede: Roessingh Research and
ao ganho de pico de RMS na PImáx. O estudo sugere o uso Development 1999. p. 16-17.
da carga alinear (P-Flex) quando se deseja um treinamento 14. Solomonow, MA. Practical guide to electromyography in-
muscular mais específico do esternocleidooccipitomastóideo, ternational society of biomechanics. Proceedings of the 15th
JyVaskyla, International Society of Biomechanics Congress.
pois a ativação muscular com a carga máxima desse resistor
Finland, 5 July, 1995. p. 96.
apresentou relação significativa com a encontrada na manobra 15. Sacco ICN, Alibert S, Queiroz BWC, Pripas D, Kieling I,
de força máxima inspiratória (PImáx). Kimura AA et al. Confiabilidade da fotogrametria em relação
a goniometria para avaliação postural de membros inferiores.
Referências Rev Bras Fisioter 2007;11(5):411-7.
16. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LE. Reference values
1. Machado MGR. Bases da fisioterapia respiratória: terapia inten- for lung function tests: II. Maximal respiratory pressures and
siva e reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res 1999;32(6):719-27.
2. Silva AMO, Cliquet A, Boin IFSF. Profile of respiratory evalu- 17. Costa D, Gonçalves HA, de Lima LP, Ike D, Cancelliero KM,
ation through surface electromyography, manovacuometry, and Montebelo MI. Novos valores de referência para pressões res-
espirometry in candidates on the liver transplant waiting list. piratórias máximas na população brasileira. J Bras Pneumol
Transplan Proc 2012;44(8):2403-5. 2010;36(3):306-12.
3. Montemezzo D, Vieira D, Tierra-Criollo C, Britto R, Velloso 18. Sarmento GJV. O ABC da fisioterapia respiratória. Barueri:
M, Parreira V. Influence of 4 interfaces in the assessment of Manole; 2009.
maximal respiratory pressures. Respir Care 2012;57(3):392-8. 19. American Thoracic Society, European Respiratory Society. ATS/
4. Santos M, Rosa B, Ferreira C, Medeiros A, Batiston A. Maximal ERS. Statement on respiratory muscle testing. Am J Respir Crit
respiratory pressures in healthy boys who practice swimming or Care Med 2002;166(4):518-624.
indoor soccer and in healthy sedentary boys. Physiother Theory 20. Stepp C, Smith A. Surface electromyography for speech and
Pract 2012;28(1):26-31. swallowing systems: measurement, analysis, and interpretation. J
5. Souza E, Terra ELSV, Pereira R, Chicayban L, Silva J, Jorge FS. Speech Lang Hear Res 2012;55(4):1232-46.
Análise eletromiográfica do treinamento muscular inspiratório 21. Martins DM. Ativação muscular inspiratória durante exercícios
sob diferentes cargas do threshold® IMT. Revista Perspectiva com limiar de carga inspiratória em pacientes com insuficiência
Online 2008;2(7):103-12. cardíaca [Dissertação]. Minas Gerais: Universidade Federal de
6. Cader SA, Vale RGS, Castro JC, Bacelar SC. Inspiratory muscle Minas Gerais, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia
training improves maximal inspiratory pressure and may assist Ocupacional; 2009.
weaning in older intubated patients: a randomized trial. J Phy- 22. Souza RB. Pressões respiratórias estáticas máximas. J Pneumol
siother 2010;56 (3):171-7. 2002;28(Supl3l):S155-S165.
7. Sasaki M, Kurosawa H, Kohzuki M. Effects of inspiratory and
expiratory muscle training in normal subjects. J Jpn Phys Ther
Assoc 2005;8(1):29-37.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 453
Artigo original
*Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), **Membro da equipe de
fisioterapia do Centro de Estudos do Envelhecimento da UNIFESP, ***Educadora física, doutoranda em Ciências, pelo programa de
Pós-graduação em Saúde Coletiva da UNIFESP, ****Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), *****Professor Titular
de Medicina Preventiva da UNIFESP
Resumo Abstract
Introdução: Diversos instrumentos de avaliação postural são Introduction: Several postural assessment tools are described in
descritos na literatura, porém não existe um consenso de qual seria the literature, but there is no consensus as to the best method to be
o melhor método utilizado na prática clínica. Sabe-se que exames used in clinical practice. It is known that postural accurate tests can
posturais precisos podem ser realizados com equipamentos simples, be performed with simple equipment, low cost and easy applicability.
de baixo custo e fácil aplicabilidade. Como exemplo desses instru- As an example of these instruments, we highlight the plumb line
mentos, destacam-se o fio de prumo e o simetrógrafo. Entretanto, and squared. However, these methods are characterized as qualitative
estes se caracterizam por serem métodos qualitativos e subjetivos. and subjective. Aim: Our study aimed to analyze the level of inte-
Objetivo: Nosso estudo teve como objetivo analisar o nível de robserver agreement in evaluating postural elderly residents in the
concordância interobservadores na avaliação postural em idosos city of São Paulo. Methods: During evaluation we used the squared
residentes no município de São Paulo. Métodos: Durante a avaliação and plumb line, plus anterior, posterior, right and left side images.
foi utilizado o simetrógrafo e o fio de prumo, além de fotografias This evaluation included the participation of two observers simulta-
nas vistas anterior, posterior, lateral direita e esquerda. Essa avaliação neously and without communication. For analysis of interobserver
contou com a participação de dois observadores, simultaneamente agreement we used the Kappa concordance test, with significance
e sem comunicação. Para análise da concordância interobservadores level of p < 0.001. Results: One hundred and sixty (160) seniors
utilizou-se o teste de concordância de Kappa, com nível de signifi- were evaluated, including 104 women and 56 men, mean age 72,1
cância p < 0,001. Resultados: Cento e sessenta (160) idosos foram ± 7,1 years old. There was a good level of interobserver agreement
avaliados, sendo 104 mulheres e 56 homens, com idade 72,1 ± 7,1 in the assessment of postural elderly, especially good agreement on
anos. Verificou-se um bom nível de concordância interobservadores 16 variables, with a minimum of 0.813 and maximum of 0.949
na avaliação postural dos idosos, destacando-se boa concordância em and only two categories showed poor agreement, with minimum
16 variáveis analisadas, com valor mínimo de 0,813 e valor máximo and maximum of 0.737 and 0.750 respectively. Conclusion: Postural
de 0,949 e apenas duas categorias apresentaram baixa concordân- assessment, conducted by squared and plumb line, got good level
cia, sendo valor mínimo de 0,737 e máximo de 0,750. Conclusão: of agreement between observers. Because they are instruments of
A avaliação postural, realizada através do simetrógrafo e do fio de easy application, low cost and great practicality, we recommend its
prumo, obteve bom nível de concordância entre os observadores. use in postural assessments in the elderly.
Por serem instrumentos de fácil aplicabilidade, baixo custo e grande Key-words: assessment, posture, elderly.
praticidade, recomenda-se seu uso nas avaliações posturais em idosos.
Palavras-chave: avaliação, postura, idosos.
Introdução e 87 anos e com idade de 73,1 ± 7,1 anos. Vale destacar que
87,9% dos idosos encontravam-se na faixa entre 60 e 75
É notório, em todo o mundo, o crescimento acelerado da anos e o índice de massa corporal predominante estava entre
população de idosos. De acordo com dados do Censo [1] o 30 e 34,9 kg/m2. Destes idosos foram excluídos 31 devido
Brasil conta com uma população idosa de mais de 20 milhões. aos seguintes critérios: presença de dor musculoesquelética
Paralelo a esse aumento populacional aparecem as alterações aguda no momento da avaliação postural (a dor aguda foi
posturais decorrentes do próprio processo do envelhecimento considerada aquela dor com duração de algumas horas até,
[2-5]. Essas alterações posturais devem ser identificadas de no máximo, três meses), cadeirantes, com incapacidade para
maneira precisa e rápida, necessitando, portanto de instru- compreender e atender ao comando verbal simples, em uso
mentos viáveis na prática clínica. A literatura aborda diversos de dispositivos auxiliares para a marcha (muleta, andador,
instrumentos de avaliação postural, porém não existe um bengala), presença de próteses em membros superiores e/ou
consenso de qual seria o melhor método utilizado. inferiores, com distúrbios neurológicos (Parkinson, sequela
Kendall et al. [6] destacam que exames posturais precisos de acidente vascular cerebral (AVC), esclerose múltipla),
podem ser realizados com equipamentos simples, de baixo espondilite anquilosante, e idosos com índice de massa cor-
custo e fácil aplicabilidade. Como exemplo desses instru- poral maior que 40 kg/m2. Foram incluídos todos os idosos
mentos destacam-se o fio de prumo e o simetrógrafo (quadro com idade igual ou superior a 60 anos e que apresentavam
de postura). marcha funcional.
Durante a avaliação postural com o fio de prumo e o sime- A avaliação da postura corporal estática foi baseada no
trógrafo, a postura padrão é utilizada como referência, com a método proposto por Kendall et al. [6] sendo utilizado como
finalidade de comparar o alinhamento postural do indivíduo. instrumentos um quadro de postura - simetrógrafo (2 m de
Nela observa-se o alinhamento ideal dos segmentos corporais altura e 98 cm de largura, marca Carci), uma plataforma
com um mínimo de tensão muscular e articular, promovendo de borracha (65 cm de comprimento, 79 cm de largura e
eficiências fisiológicas e biomecânicas máximas. Em relação ao 4 cm de altura), um fio de prumo, uma câmera fotográfica
alinhamento ideal espera-se que a coluna vertebral apresente digital – marca Sony (resolução 6.0 megapixels), um tripé
as curvaturas fisiológicas e os membros inferiores estejam em (suporte da câmera), um computador com Windows e uma
perfeito equilíbrio para a sustentação do corpo. A posição conexão USB para análise das fotos. A câmera foi fixada no
“neutra” da pelve é favorável ao bom alinhamento do tronco tripé na posição vertical e posicionada a uma distância de
e do abdome. O tórax deve estar numa posição que favoreça 2,64m do idoso e a uma altura de 1m do chão, enquanto
a função adequada dos órgãos respiratórios e a cabeça ereta que o fio de prumo foi fixado no teto e logo à frente do
e centralizada, minimizando o estresse sobre a musculatura simetrógrafo. A avaliação foi realizada por dois observado-
cervical [6]. res (fisioterapeutas) simultaneamente e sem comunicação.
Vários estudos destacaram o simetrógrafo e o fio de prumo Ambos os observadores receberam uma ficha de avaliação
como instrumentos de avaliação postural [7-11]. Apesar do postural individual.
fio de prumo e simetrógrafo serem instrumentos bastante Durante a avaliação postural, o idoso foi posicionado,
utilizados na prática clínica, estes se caracterizam por serem ortostaticamente, atrás do simetrógrafo e do fio de prumo. A
métodos qualitativos e subjetivos, além disso, na literatura, primeira fotografia realizada foi na vista anterior, na qual o fio
destacam-se poucos estudos sobre sua confiabilidade. Assim, de prumo foi posicionado equidistante aos maléolos mediais. A
nosso estudo teve como objetivo verificar o nível de concor- foto seguinte foi na vista lateral esquerda, sendo o fio de prumo
dância interobservadores na avaliação postural. colocado, ligeiramente, à frente do maléolo lateral esquerdo.
Posteriormente, o idoso foi posicionado na vista posterior,
Material e métodos tendo o fio de prumo equidistante aos maléolos mediais e para
finalizar foi posicionado na vista lateral direita e o fio de prumo
Trata-se de uma amostra populacional do bairro Vila colocado, ligeiramente, à frente do maléolo lateral direito. Para
Clementino, município de São Paulo, onde foram selecio- facilitar o posicionamento do fio de prumo em relação aos
nados, aleatoriamente, cinco setores censitários na referida maléolos laterais, foi marcada, com lápis dermatográfico, uma
região. Após esta seleção foram visitados todos os domicílios linha vertical logo à frente de cada maléolo.
destes setores e as pessoas presentes. Por ocasião da visita, Todos os idosos utilizaram a mesma base dos pés, sendo
foram questionadas sobre o número de idosos residentes no padronizada para todas as posições, descritas a seguir: os
domicílio, dados demográficos como sexo e idade, disponi- calcanhares separados a uma distância de 7,5cm e os ante-
bilidade de horário para avaliação e telefone de contato. Após pés, em desvio lateral, em um ângulo de 10°, em relação à
essa triagem, os idosos foram convidados, aleatoriamente, por linha média, para cada lado. Foi instruído, ao idoso, manter
meio de telefonemas, a participar da pesquisa. o olhar em linha reta (olhar no horizonte) e os membros
Foram convidados a participar do estudo 191 idosos, superiores soltos ao longo do corpo. Após o posicionamento
sendo 127 mulheres e 64 homens, na faixa etária entre 60 correto, o pesquisador orientou-o a ficar confortável e, em
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 455
seguida, o idoso foi fotografado. A utilização de fotografias segmentos foram avaliados por meio das fotografias, tendo
foi adotada com a finalidade de evitar vieses de aferição, pois como referência a postura padrão proposta por Kendall et
o idoso oscila anteroposterior e, lateralmente, permitindo, al. [6]. Os segmentos analisados, na vista lateral esquerda e
assim, aos avaliadores analisarem no mesmo momento. direita, foram: joelhos, ombros, cabeça, pelve, coluna cervical,
No total, foram registradas quatro fotos de cada idoso, nas torácica e lombar. Com exceção da pelve e da coluna vertebral,
vistas anterior, lateral esquerda, posterior e lateral direita os demais segmentos foram avaliados através de fotografias.
respectivamente. Cada avaliador teve acesso a todas as fotos A avaliação da coluna vertebral foi realizada por meio da
para análise. palpação e da visualização lateral, no momento da avaliação,
Na vista anterior, foram analisados os seguintes segmentos: pois as fotografias podem não avaliar, corretamente, devido
arco longitudinal dos pés, antepés, joelhos, ombros e cabeça. às escápulas e ao tecido adiposo que se sobrepõem à imagem.
O arco longitudinal interno dos pés foi avaliado através da E, na vista posterior, foram analisados os pés, observando o
palpação e da subjetividade de cada avaliador. Os demais posicionamento do tendão de Aquiles.
Quadro 1 - Considerações relacionadas a cada segmento corporal na avaliação da postura corporal estática.
Segmento Corporal Referências
Arco plantar neutro Leve arco na planta do pé
Arco plantar plano Desabamento da curvatura plantar
Arco plantar cavo Excesso de curva do arco plantar
Joelho neutro (VA) Quando a distância entre os côndilos e os maléolos é simétrica em relação ao fio de
prumo
Joelho valgo (VA) Quando os côndilos do fêmur se tocam e os maléolos não
Joelho varo (VA) Quando os maléolos se tocam e os côndilos do fêmur não
Antepé neutro Desabamento do peso simétrico nos bordos medial e lateral
Antepé pronado Desabamento do peso no bordo medial do pé
Antepé supinado Desabamento do peso no bordo lateral do pé
Ombro alinhado (VA) Quando a linha do simetrógrafo cruza ambos os ombros no mesmo nível
Ombros desalinhados (VA) Quando a linha do simetrógrafo cruza ambos os ombros em níveis diferentes
Cabeça centralizada (VA) Quando a linha do fio de prumo divide a face em duas simetricamente
Cabeça lateralizada (VA) Quando a linha do fio de prumo não divide a face, simetricamente, predominado ou para
direita ou para esquerda
Retropé neutro Quando o tendão de Aquiles está vertical em relação à base do solo
Retropé pronado Quando o tendão de Aquiles está desviado, medialmente, em relação à linha média
Retropé supinado Quando o tendão de Aquiles está desviado, lateralmente, em relação à linha média
Joelho neutro (VL) Quando o fio de prumo passa, levemente, anterior à articulação do joelho
Joelho flexo (VL) Leve: quando a articulação do joelho está anterior ao fio de prumo, em flexão, até 5cm;
Moderado: acima de 5cm e abaixo de 10cm de anteriorização em relação ao fio de pru-
mo e acentuado acima de 10cm
Joelho hiperextenso (VL) Quando a articulação do joelho está posterior ao fio de prumo
Lordose fisiológica da lombar e cervical Leve curvatura côncava posterior
Hiperlordose lombar e cervical Acentuação da curvatura fisiológica
Retificação da lombar e cervical Desaparecimento da curvatura côncava posterior
Cifose fisiológica torácica Leve curvatura convexa posterior
Hipercifose torácica Acentuação da curva fisiológica
Retificação torácica Desaparecimento da curvatura convexa posterior
Ombros centralizados (VL) Quando o fio de prumo passa no meio da articulação do ombro
Ombros anteriorizados (VL) Leve: quando a linha média do ombro encontra-se anterior ao fio de prumo até 5 cm; Mo-
derado: acima de 5 cm e abaixo de 10 cm de anteriorização em relação ao fio de prumo e
acentuado acima de 10cm
Ombros posteriorizados (VL) Quanto à linha média do ombro está posterior ao fio de prumo
Cabeça centralizada (VL) Quando o fio de prumo coincide com o lóbulo da orelha
Cabeça anteriorizada (VL) Leve: quando o lóbulo da orelha encontra-se até 5cm anteriorizado em relação do fio de
prumo; Moderado: quando a anteriorização é maior que 5cm e menor que 10cm e acen-
tuada acima de 10cm de anteriorização em relação ao fio de prumo
Cabeça posteriorizada (VL) Quando o lóbulo da orelha está posterior ao fio de prumo
Legenda: VA: vista anterior; VL: vista lateral
456 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
O Quadro 1 mostra as considerações referentes a cada 675/08, em 21/05/2008. Os idosos interessados em parti-
segmento avaliado no plano frontal e sagital, elaboradas cipar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e
durante o nosso estudo. esclarecido, após receberem informações detalhadas sobre a
É importante destacar que as alterações dos joelhos (vista natureza da investigação.
anterior) e da coluna vertebral foram classificadas em leve,
moderada ou acentuada e essa classificação foi baseada na Análise estatística
subjetividade de cada observador.
Na avaliação da pelve, em particular, foi seguido o pro- Descrição da amostra com a distribuição de frequências
tocolo proposto por Santos [12]. Inicialmente, o idoso foi para o sexo e faixa etária, cálculo de tendência central (média
posicionado em ortostatismo, com os pés na posição “de e mediana), dispersão (desvio padrão). Na análise da concor-
passo”, enquanto o observador ajoelhou-se ao lado (a posi- dância interobservadores utilizou-se o teste de Kappa, com
ção “de passo” corresponde ao posicionamento natural dos nível de significância menor que 0,001 para todas as variáveis
pés após a deambulação). Em seguida, foram identificadas analisadas.
a espinha ilíaca anterossuperior (EIAS) e a espinha ilíaca
póstero-inferior (EIPI). Resultados
Para localização da EIPI, foi necessária, primeiramente,
a localização da espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), lo- Verificou-se um bom nível de concordância para as vari-
calizada, na região superior do sacro (região das covinhas) áveis arco plantar direito e esquerdo, pés direito e esquerdo
e para encontrá-la o pesquisador palpou a crista ilíaca, de (vista anterior e posterior), joelhos (vista anterior e lateral
fora para dentro, até formar um ângulo de 90 graus. Após esquerda), ombros (vista anterior), cabeça (vista anterior e
a localização da EIPS, por uma questão de proporção, fo- lateral), pelve direita e esquerda, coluna lombar e torácica,
ram colocados três dedos do idoso, logo abaixo da EIPS, sendo a pelve direita e esquerda com índices de concordância
localizando, assim, a EIPI. Para localização da EIAS, o pes- mais elevados (0,949). Apenas o ombro esquerdo e a coluna
quisador palpou a crista ilíaca, anteriormente, em direção cervical apresentaram valores de concordância mais baixo,
ao membro inferior até cair num “precipício”, localizando-a destacando-se 0,750 e 0,737, respectivamente. Em relação
com o dedo indicador. aos segmentos joelho e ombro (vista lateral direita), não foi
Vale ressaltar que os olhos do observador ficaram no possível aplicar o teste de concordância de Kappa, pois tiveram
mesmo plano dos seus dedos indicadores (identificação da duas alterações posturais (flexo e anteriorização acentuado)
EIAS e da EIPI) para poder julgar mais facilmente se ambos que foi observada por apenas um dos avaliadores, impossi-
os indicadores situavam-se na horizontal ou se havia desequi- bilitando a realização do teste, porém não implica nível de
líbrio, por estarem situados em um plano oblíquo. Assim, o concordância ruim.
avaliador considerou pelve neutra quando os dedos indicado-
res estiveram situados no mesmo plano horizontal. A pelve, Tabela I - Relação da concordância interobservadores na avaliação
em anteversão, foi observada quando os dedos indicadores do postural dos idosos residentes no bairro Vila Clementino, São Paulo,
avaliador encontravam-se mais caudal à frente e mais cefálico atendidos entre setembro de 2008 e junho de 2009.
atrás. E a pelve em retroversão quando o indicador encontrou- Asymp.
Coef. Approx. Approx.
-se mais caudal atrás e mais cefálico à frente. Foi considerada Variável Std.
Kappa T(b) Sig.
pelve, em anteversão ou retroversão leve, quando ocorreram Error(a)
diferenças de até 1 cm de inclinação para frente ou para trás, Arco plantar D 0,859 0,41 13,610 <0,001
respectivamente, pelve moderada quando ocorreram diferen- Arco plantar E 0,889 0,036 15,082 <0,001
ças acima 1cm até 2 cm de inclinação e acentuada quando as Pé D (vista anterior) 0,839 0,040 14,340 <0,001
diferenças de inclinação eram maiores que 2 cm. As medidas Pé E (vista anterior) 0,809 0,043 14,035 <0,001
da pelve foram realizadas de acordo com a subjetividade de Joelhos (vista
cada avaliador. 0,916 0,026 20,818 <0,001
anterior)
Durante a avaliação postural, os idosos utilizaram roupas Ombros (vista
0,886 0,039 11,227 <0,001
íntimas para facilitar a visualização dos pontos anatômicos. As anterior)
avaliações foram realizadas durante a semana, em período in- Cabeça (vista
0,928 0,032 11,746 <0,001
tegral no Centro de Estudos do Envelhecimento, da Unifesp, anterior)
no período de setembro de 2008 a junho de 2009. Os idosos Pé D (vista poste-
0,931 0,025 16,409 <0,001
foram atendidos, individualmente, preservando, sempre, a rior)
privacidade dos mesmos, sendo o tempo de atendimento, Pé E (vista posterior) 0,930 0,026 16,316 <0,001
em média, de 40 minutos. Joelho D (vista
Não foi possível calcular
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa lateral)
(CEP) da Universidade Federal de São Paulo, protocolo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 457
Pelve D (vista foi colocada sobre a foto, sendo impossível a visualização exata
0,949 0,020 21,341 <0,001 dos pontos anatômicos.
lateral)
Coluna Lombar 0,813 0,038 16,783 <0,001 Rodrigues et al. [15] avaliaram a cifose torácica por meio
Coluna Torácica 0,896 0,029 19,338 <0,001 da biofotogrametria computadorizada em 12 mulheres idosas,
Coluna Cervical 0,737 0,046 14,750 <0,001 com idade média de 68,5 anos. Para realização dos registros fo-
Ombro D (vista tográficos utilizaram um sistema de vídeo digital e marcadores
Não foi possível calcular específicos em haste visíveis no plano sagital. Concluíram que
lateral)
Cabeça (vista a utilização da biofotogrametria computadorizada, durante a
0,900 0,032 16,963 <0,001 avaliação da cifose torácica, é uma opção viável e não invasiva.
lateral D)
Joelho E (vista Em nosso estudo, a utilização de fotografias foi de extrema
0,852 0,041 15,712 <0,001 validade, visto que os idosos oscilam anteroposterior e com
lateral)
Pelve E (vista isso produz vieses no momento da avaliação postural. Assim,
0,949 0,020 21,369 <0,001 o uso de fotografias fez com que os avaliadores visualizassem
lateral)
Ombro E (vista as alterações em momentos exatos. Além disso, a presença dos
0,750 0,044 13,634 <0,001 avaliadores no momento da avaliação junto ao idoso favoreceu
lateral)
Cabeça (vista a uma maior percepção dos desvios posturais. Orientamos
0,813 0,044 14,593 <0,001 que as avaliações sejam feitas presencial e com auxílio das
lateral E)
D: direito; E: esquerdo. fotografias, para obter uma avaliação precisa.
Pesquisas recentes estão utilizando vários softwares como
Discussão instrumentos de avaliação. Santos e Fantinati [16] realizaram
uma revisão sistemática com os principais softwares utilizados
Fedorak et al. [13] discordam dos nossos achados. Medi- na biofotogrametria computadorizada na avaliação postural e
ram a confiabilidade inter e intraobservadores na avaliação concluíram que são necessárias novas pesquisas. Citaram os
visual da coluna cervical e lombar de 36 indivíduos. Vinte e softwares SAPOs® e ALCimagem® que foram desenvolvidos
oito profissionais foram selecionados para realizar a avaliação, especificamente para esta finalidade, ao contrário do Corel®
sendo quiropatas, fisioterapeutas, fisiatras, reumatologistas e que é um programa de design vetorial de difícil manipulação
cirurgiões ortopédicos. A análise dos dados foi realizada por que, também, é utilizado na avaliação postural. Em nossa
meio de fotografias (vista posterior e lateral direita), sendo a pesquisa não utilizamos os softwares por entender que exige
coluna classificada em lordose normal, diminuída e acentu- um custo financeiro maior para aplicabilidade na prática clí-
ada. Os autores concluíram que a avaliação visual da lordose nica. Optamos por estudar o simetrógrafo e o fio de prumo
cervical e lombar não é confiável. É importante destacar que por serem instrumentos de baixo custo, fácil manuseio e boa
a forma de avaliação visual foi comprometida por meio do confiabilidade comprovada na presente pesquisa.
uso de fotografias apenas. Cada profissional fez a sua avaliação Uma grande limitação encontrada, em nosso estudo, foi
em momentos diferentes e de forma indireta, ou seja, não devido à carência de pesquisas envolvendo a postura corporal
houve contato físico com os sujeitos avaliados, limitando a estática dos idosos e a falta de um instrumento de avalia-
interpretação real dos dados e predispondo ao erro. Em nosso ção postural padronizado. Assim, as pesquisas apresentam
estudo, foram encontrados valores estatisticamente significan- avaliações com diferentes instrumentos, tornando difícil a
tes de concordância interobservadores na avaliação visual da comparação dos resultados.
postura corporal. Vale ressalvar que nosso estudo contou com
a participação de dois observadores simultaneamente e com Conclusão
contato físico entre os sujeitos e os avaliadores.
Bryan et al. [14] utilizaram fotografias para avaliar a pos- A avaliação postural, realizada através dos instrumentos
tura da coluna lombar em indivíduos com roupa. Os sujeitos simetrógrafo e fio de prumo, obteve bom nível de concor-
foram observados por 48 fisioterapeutas que utilizaram uma dância entre os observadores. Por serem instrumentos de fácil
cobertura de plástico com uma linha, representando um fio aplicabilidade, baixo custo e grande praticidade, recomenda-se
de prumo, sobreposto às fotografias. Os resultados mostraram seu uso nas avaliações clínicas em idosos.
baixa confiabilidade na avaliação subjetiva da coluna lombar.
Esses dados discordam dos nossos achados. Acredita-se que Referências
essa discordância esteja condicionada ao modo de coleta
dos dados. Evidências apontam para variáveis na avaliação 1. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo
que induzem a erros de medidas. Verifica-se que a avaliação Demográfico e Contagem da População, 2010. [citado 2013
Set 8]. Disponível em URL: http: www.sidra.ibge.gov.br
visual e subjetiva por meio de fotografias perde a veracidade
2. Schweitzer PB, Melo SIL. Características clínico-funcionais de
das medidas e o uso de roupas, limitam, consideravelmente,
idosos com osteoartrose de joelhos. Fisioter Bras 2008;9(4):259-
a percepção visual. Além disso, a linha de referência utilizada 63.
458 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
3. Valduga R. Correlação entre o padrão postural e o nível de de mulheres na terceira idade. Revista Brasileira de Educação
atividade física em mulheres idosas [Dissertação]. Brasília: Física e Esporte 2010;24(4):525-34.
Universidade Católica de Brasília; 2009. 11. Silva LRV, Lopez LC, Costa MCG, Gomes ZCM, Matsushigue
4. Silveira MM, Pasqualotti A, Colussi EL, Wibelinger LM. En- KA. Avaliação da flexibilidade e análise postura em atletas de
velhecimento humano e as alterações na postura corporal dos ginástica rítmica desportiva. Revista MacKenzie de Educação
idosos. Revista Brasileira de Ciências e Saúde 2010;8(26):52-8. Física e Esporte 2008;7(1):59-68.
5. Fechine BRA, Trompieri N. O processo de envelhecimento: as 12. Santos A. Diagnóstico clínico postural: um guia prático. 1ª ed.
principais alterações que acontecem com o idoso com o passar São Paulo: Summus; 2001.
dos anos. Revista Inter Science Place 2012;1(20):106-32. 13. Fedorak C, Ashworth N, Marshall J, Paull H. Reliability of the
6. Kendall FP. Músculos: provas e funções. 5ª ed. São Paulo: visual assessment of cervical and lumbar lordosis: How good
Manole; 2007. are we? Spine 2003;28(16):1857-59.
7. Reis CCI, Renó LP, Kenmochi AAL, Queiroz ACV, Novais FV, 14. Bryan JM, Mosner E, Shippee R, Stull MA. Investigation of the
Lavado EL, Ramos LR. Análise da postura corporal estática validity of postural evaluation skills in assessing lumbar lordosis
segundo o nível de atividade física em idosos residentes no using photographs of clothed subjects. J Orthop Sports Phys
município de São Paulo. Ter Man 2012;10(49):148-55. Ther 1990;12(1):24-9.
8. Gasparotto LPR, Reis CCI, Ramos LR, Santos JFQ. Autoa- 15. Rodrigues ACC, Romeiro CAP, Patrizzi LJ. Avaliação da cifose
valiação da postura por idosos com e sem hipercifose torácica. torácica em mulheres idosas portadoras de osteoporose por
Ciênc Saúde Coletiva 2012;17(3):717-22. meio da biofotogrametria computadorizada. Rev Bras Fisioter
9. Porto FE, Espinosa G, Vivian RC, Itaborahy AS, Montenegro 2009;13(3):205-9.
RA, Farinatti PTV, Gurgel JL. O exercício físico influencia a 16. Santos ACA, Fantinati AMM. Os principais softwares utilizados
postura corporal de idosas? Motriz 2012;18(3):487-94. na biofotogrametria computadorizada para avaliação postural:
10. Lima HCO, Aguiar JB, Paredes PFM, Gurgel LA. Avaliação dos uma revisão sistemática. Revista Movimenta 2011;4(2):139-48.
benefícios da ginástica localizada sobre a postura e a flexibilidade
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 459
Artigo original
*Graduanda no 7° semestre de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, Bolsista CNPq, **Graduanda no 7° semestre de
Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, Bolsista Pibic-UPF, ***Podóloga, ****Mestranda em Envelhecimento Humano pela
Universidade de Passo Fundo, Bolsista Capes, *****Docente do curso de Ciência da Computação e do Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano da UPF, ******Docente do curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento
Humano da UPF
Resumo Abstract
Introdução: O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) possui alta Introduction: Diabetes Mellitus type 2 (DM2) has a high pre-
prevalência no mundo e maior entre os idosos. A Neuropatia valence in the world and highest among the elderly. The Peripheral
Diabética Periférica (NDP) é uma das complicações da DM, Diabetic Neuropathy (PDN) is one of the complications of DM,
sendo que seus acometimentos iniciais são a perda ou diminuição and these valves are initial loss or decreased sensitivity to touch,
de sensibilidade ao tato, à dor, à temperatura, à propriocepção e à pain, temperature, vibration and proprioception in the lower limbs.
vibração nos membros inferiores. Objetivo: Verificar o grau de risco Objective: To determine degree risk of developing foot ulcers oin
para desenvolvimento de úlceras nos pés de pacientes diabéticos diabetic middle-aged and elderly patients. Methods: Observational
de meia idade e idoso. Métodos: Estudo observacional realizado study on Disability Assistance Center (DAC) of the University of
no Centro de Assistência à Deficiência (CAD) da Universidade de Passo Fundo/RS. Data were collected through a detailed physical
Passo Fundo/RS. Os dados foram coletados através de um exame examination of the foot in 47 patients diagnosed with DM II. Re-
físico detalhado dos pés em 47 pacientes com diagnóstico de DM2. sults: Patients had a mean age of 61.3 ± 9.6 years, and the majority
Resultados: Os pacientes apresentaram média de idade de 61,3 ± 9,6 were male (51.1%). The degree of risk 2 for ulcer development
anos, sendo que a maioria era do sexo masculino (51,1%). O grau can be observed in 22 (46.8%) patients and among 27 individuals
de risco 2 para desenvolvimento de úlcera pode ser observado em who had calluses on feet, 9 (33.3%) had ulcers. Conclusion: Most
22 (46,8%) pacientes e entre os 27 indivíduos que tinham calos subjects had grade 2 risk for ulceration and there was an association
nos pés, 9 (33,3%) apresentaram úlceras. Conclusão: A maioria dos between the presence of callus and ulceration, since this change is
indivíduos apresentou grau 2 de risco para ulcerações e observou-se a key factor for amputation.
associação entre a presença de calosidade e ulceração, uma vez que Key-words: diabetes mellitus, diabetic neuropathies, foot ulcer,
essa alteração é fator primordial para amputação. risk factors, diabetic foot.
Palavras-chave: diabetes mellitus, neuropatias diabéticas, úlcera
do pé, fatores de risco, pé diabético.
região plantar dos pés, vibratória com a aplicação do diapasão teste, 39 (83,0%) apresentavam ausência de sensibilidade
de 128 Hz, dolorosa com agulha (que será apenas encostada protetora, 39 (83,0%) térmica, 39 (83,0%) dolorosa e 41
na pele), tátil com monofilamento de Semmes-Weinst 10 (87,2%) vibratória.
gramas e protetora que é caracterizada pela alteração de O grau de risco para o desenvolvimento de úlcera nos pés
um dos testes de sensibilidade citados acima, juntamente foi avaliado por meio da neuropatia, pois se trata do fator mais
com alteração no teste de monofilamento. Cabe ressaltar importante para originar úlcera nos membros inferiores [2].
que todos os testes foram realizados nas regiões dos pés na Diante disso, 22 (46,8%) apresentaram neuropatia com de-
primeira, terceira e quinta cabeça dos metatarsos. Antes de formidades e 9 (3,2%) já com ulceração, conforme a Tabela II.
iniciar o teste foi realizada uma simulação no antebraço dos
pacientes para que eles pudessem sentir a sensação na pele. Tabela II - Grau de risco para úlcera (n = 47).
Os pacientes permaneceram com os olhos fechados durante Frequência
a avaliação, solicitando ao paciente para responder “sim” 0 – Neuropatia ausente 2 (4,3%)
ou “não” quando sentissem o toque. A avaliação da doença 1 – Neuropatia sem deformidades 14 (29,8%)
vascular periférica foi realizada através da palpação dos pulsos 2 – Neuropatia com deformidades e/ou DVP 22 (46,8%)
pedioso e tibial posterior. 3 – Úlcera 9 (19,1%)
Quanto à classificação do grau de risco para o desen- Valores expressam frequência absoluta e relativa; DVP: doença vascular
volvimento de úlceras nos pés, utilizamos o recomendado periférica
pelo Ministério da Saúde (2001) [20] classificando o grau de
risco em quatro níveis: nível 0 (Neuropatia ausente), nível 1 Quanto ao tempo da doença e a perda de sensibilidade
(Neuropatia presente, sem deformidades), nível 2 (Neuropatia protetora, foi encontrada uma relação inversa. Dos 26 indi-
presente, com deformidades e/ou doença vascular periférica) víduos com tempo de diagnóstico do DM há menos de 10
e nível 3(Úlcera/amputação prévia). anos, 22 (84,6%) tinham perda sensibilidade protetora, en-
As variáveis categóricas foram expressas como frequência quanto que, entre os 21 pacientes com tempo de diagnóstico
absoluta e relativa e as numéricas como média ± desvio pa- do DM há mais de 10 anos, 15 (71,4%) tinham perda da
drão. As associações entre presença de calos e úlceras e entre sensibilidade protetora.
tempo do diagnóstico do DM e perda de sensibilidade pro- Ainda, entre os 27 indivíduos que tinham calos nos pés,
tetora foram avaliadas utilizando-se o teste exato de Fischer. 9 (33,3%) tinham úlceras, enquanto que, entre os 20 indi-
Considerou-se como estatisticamente significativo valor de víduos que não tinham calos, 2 (10,0%) tinham úlceras (p =
p < 0,05. 0,086), conforme a Figura 1. Assim, os indivíduos que tinham
calosidades, também apresentaram úlcera.
Resultados
Figura 1 - Associação entre presença de calos e úlceras (n=47).
Dentre os 47 indivíduos incluídos no estudo, a média 90,0%
de idade foi de 61,3 ± 9,6 anos, 27 (57,4%) apresentaram p=0,086
calosidades e 11 (23,4%) ulcerações, conforme a Tabela I.
66,7%
Tabela I - Características da população em estudo (n = 47).
Variável Estatística
Sexo masculino 24 (51,1%)
Sexo feminino 23 (48,9%) 33,3%
Profissão
Aposentado 36 (76,6%)
Dona de casa 6 (12,8%) 10,0%
Outros 5 (10,6)
Tempo do diagnóstico do DM Sim Não
< 10 anos 26 (55,3%) Calos
≥ 10 anos 21 (44,7%) Úlceras
Sim Não
Micose 19 (40,4%)
Calos 27 (57,4%)
Úlcera 11 (23,4%) Discussão
Valores expressam frequência absoluta e relativa ou média ± desvio padrão
No estudo pode ser observado um predomínio para o
Quanto aos testes de sensibilidade, observa-se que há sexo masculino, corroborando o estudo [21] realizado em
diminuição importante, mostrando assim que, para este ambulatório de diabetes de São Paulo, onde foram avalia-
462 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
dos 30 pacientes diabéticos com o objetivo de analisar as que o risco de ulceração ou amputação está aumentado em
causas referidas na etiologia das úlceras em pés de pessoas indivíduos do sexo masculino, com DM de longa duração e
com DM, sendo que 53% dos pacientes eram homens e mal controlado [29]. Sendo essa de grande impacto, pois, o
67% eram idosos na faixa etária de 70 anos. Isso se explica desenvolvimento da úlcera é considerado uma classificação
devido a consequências como a diminuição progressiva da prévia de amputação de membro inferior para esses pacientes
capacidade funcional que acabam aparecendo junto com o [2]. Sabe-se que 15% dos indivíduos diabéticos desenvol-
envelhecimento [21]. Quanto ao tempo de diagnóstico e as verão ulceração dos pés em algum momento de suas vidas
alterações de sensibilidade, a maioria dos pacientes apresen- e, portanto, ficarão expostos à possibilidade de amputação
taram alterações com menos de 10 anos de diagnóstico de de membros inferiores [30].
DM, o que não foi condizente com a literatura – tempo médio Dessa maneira, acreditamos que seja de grande valia a
de mais de 10 anos para o aparecimento das complicações avaliação dos testes de sensibilidade protetora e a relação en-
[22]. Nesta situação patológica que se encontra o paciente tre calosidade e ulceração, pois o aumento da prevalência do
diabético, a lesão neurológica é ampla no organismo desses DM, incorporado à complexidade de seu tratamento, como:
pacientes, envolvendo todo o sistema nervoso periférico e suas ressalva dietética, utilização de medicamentos e complicações
vias sensitivas e motoras. Desse modo, as principais manifes- crônicas associadas (neuropatia, pé neuropático), enfatizam a
tações do comprometimento neuropático desses indivíduos necessidade da implementação de programas educativos aos
são as alterações de sensibilidade predominante nos membros serviços públicos de saúde. A mudança de comportamento,
inferiores. Por esse motivo, a avaliação das sensibilidades, com a implementação de uma dieta e prática de atividades
principalmente da sensibilidade protetora é o fator principal físicas são fundamentais para que o controle e o tratamento do
que predispõe ao aparecimento da NDP [2]. DM sejam eficazes [31]. Desse modo, medidas de prevenção
Todavia, essas alterações podem ser atribuídas à evolução devem ser tomadas a fim de reduzir a morbidade e os custos
da doença, podendo a NDP ser o fator responsável pelas financeiros, uma vez que as úlceras são desencadeadas em um
mesmas. A perda da sensibilidade é um dos principais fatores processo crônico da NDP [32-34].
que contribuem para a diminuição das aferências para o A diminuição da sensibilidade plantar altera as informa-
sistema de controle motor, diminuindo, assim, equilíbrio, ções sensoriais, acarretando em alterações no equilíbrio [35-
alterações na marcha e na postura [23]. Dessa maneira, es- 37]. Diante disso, a fisioterapia poderá ser uma aliada a estes
ses pacientes estão mais propensos a desencadear episódios pacientes através da atividade física focada na estimulação
de quedas e dificuldades em realizar atividades rotineiras proprioceptiva, envolvendo treino de marcha, equilíbrio, com
como, por exemplo, subir escadas e deambular por ruas a finalidade de estimular o sistema sensorial desses pacientes.
movimentadas [24].
Em relação à avaliação dos pés, as calosidades, micoses, e Conclusão
infecções, juntamente com a insensibilidade tátil, maximizam
as condições agravantes ou as chances de infecção generalizada O grau de risco 2 para desenvolvimento de úlceras acome-
[25]. Uma vez que, as micoses, e a pressão plantar deixam o teu a maior parte dos indivíduos, o que significa que muitos
paciente propenso à formação de calosidades e essa gera maior dos pacientes apresentaram neuropatia com deformidades
pressão no local, proporcionando assim o aparecimento das e/ou doença vascular periférica. Os fatores envolvidos na
úlceras [26]. Segundo um estudo com pacientes diabéticos, casuística das úlceras correspondem a fatores extrínsecos
os quais foram submetidos ao exame físico, a calosidade apre- (calçados inadequados, trauma, calosidades) que podem ser
sentou-se com maior frequência (56,7%), sendo essa principal prevenidos com cuidados básicos de saúde de baixo custo.
causa para o desenvolvimento de úlceras (23,3%) [21]. Ainda, observou-se associação entre a presença de calosidade
No entanto, a neuropatia motora produz um desarranjo na e ulceração, uma vez que essa alteração é fator primordial
musculatura intrínseca do pé, sua atrofia e perda consequente para amputação.
da mobilidade articular, especialmente da subtalar e metatarso
falangeano [27]. Esta perda motora e de mobilidade aumenta Referências
a rigidez do complexo pé-tornozelo aumentando a susceptibi-
lidade do tecido plantar a hiperqueratinizar em resposta a um 1. Santos LM. Competências dos profissionais de saúde nas prá-
estímulo mecânico o que leva a calosidades e deformidades ticas educativas em diabetes tipo 2 na atenção primária à saúde
articulares que no futuro podem tornar-se lesões [28]. [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Enfermagem; 2011.
Um estudo que avaliou 32 indivíduos diabéticos neu-
2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasi-
ropatas, com o objetivo de testar a associação de doença
leira de Diabetes. 3ª ed. Itapevi: A. Araújo Silva Farmacêutica;
arterial periférica (DAP) à ulceração do pé em pacientes 2009.
com neuropatia sensório-motora simétrica distal, consta- 3. Sartorelli DS, Franco LJ. Tendências do diabetes mellitus no
tou que não há diferença quanto ao tempo de diagnóstico Brasil: o papel da transição nutricional. Cad Saúde Pública
da DM e o aparecimento das úlceras plantares e observou 2003;19(Suppl 1):29-36.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 463
4. Fregonesi CEPT, Camargo MR. Parâmetros da marcha em 22. Ferreira MC, Vieira SAT, Carvalho VF. Estudo comparativo da
portadores de diabetes mellitus. Rev Bras Cineantropom De- sensibilidade nos pés de diabéticos com e sem úlceras utilizando
sempenho Hum 2010;12(2):155-63. o PSSD™. Acta Ortop Bras 2010;18(2):71-4.
5. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. A 23. Menz HB, Lord SR, St George R, Fitzpatrick RC. Walking sta-
Vigilância, o controle e a prevenção de doenças crônicas não bility and sensorio motor function in older people with diabetic
transmissíveis: DCNT no controle do Sistema Único de Saúde peripheral neuropathy. Arch Phys Med Reabil 2004;85(2):245-
Brasileiro. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2005. 52.
6. Masson EA, Hay EM, Stockley I, Veves A, Betts RP, Boulton 24. Sacco ICN, Sartor CD, Gomes AA, João SMA, Cronfli R. Ava-
AJ. Abnormal foot pressures alone may not cause ulceration. liação das perdas sensório-motoras do pé e tornozelo decorrentes
Diabetic Medicine 1989;6(5):426-8. da neuropatia diabética. Rev Bras Fisioter 2007;11(1):27-33.
7. Tozzi Fl. Manual de Cirurgia do Hospital Universitário da 25. Calsolari MR, Castro RF, Maia RM, Maia FC, Castro AV, Reis
Universidade de São Paulo. São Paulo: Atheneu; 2002. R, et al. Análise retrospectiva dos pés de pacientes diabéticos do
8. Dick PJ, Thomas PK, Lambert EH, Bunge R. Peripheral neu- ambulatório de diabetes da santa casa de Belo Horizonte, MG.
ropathy. 2 nd. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 1984. Arq Bras Endocrinol Metabol 2002;46(2):173-6.
9. American Diabetes Association. Peripheral arterial disease in 26. Young MJ, Cavanagh PR, Thomas G, Johnson MM, Murray
people with diabetes. Diabetes Care 2003;26(12):3333-41. H, Boulton AJ. The effect of callus removal on dynamic plantar
10. Bradbury AW, Adam DJ, Bell J, Forbes JF, Fowkes FG, Gil- foot pressures in diabetic patients. Diabet Med 1992;9(1):55-7.
lespie I, et al. Multicentre randomised controlled trial of the 27. Duffin AC, Lam A, Kidd R, Chan AK, Donaghue KC. Ultraso-
clinical and cost effectiveness of a bypass-surgery-first versus nography of plantar soft tissues thickness in young people with
a balloon-angioplasty-first revascularisation strategy for severe diabetes. Diabet Med 2002; 19(12):1009-13.
limb ischaemia due to infrainguinal disease. The Bypass versus 28. Sacco ICN, Noguera GC, Bacarin TA, Casarotto R, Tozzi FL.
Angioplasty in Severe Ischaemia of the Leg (BASIL) trial. Health Alteração do arco longitudinal medial na neuropatia periférica
Technol Assess 2010;14(14):1-210. diabética. Acta Ortop Bras 2009;17(1):13-6.
11. Dellon AL. Treatment of symptoms of diabetic neuropathy 29. Porciúncula MVP, Rolim LCP, Garofolo L, Ferreira SRG.
by peripheral nerve descompression. Plast Reconstr Surg Análise de fatores associados à ulceração de extremidades em
1992;89(4):689-97. indivíduos diabéticos com neuropatia periférica. Arq Bras En-
12. Siitonen OI, Niskanen LK, Laakso M, Sutonen JT, Pyörälä docrinol Metab 2007;51(7):1134-42.
K. Lower extremity amputations in diabetic and non-diabetic 30. Virgini-Magalhães CE, Bouskela E. Pé diabético e doença
patients. Diabetes Care 1993;16(1):16-20. vascular: entre o conhecimento acadêmico e a realidade clínica.
13. Clark CM, Lee A. Prevention and treatment of the complication Arq Bras Endocrinol Metab 2008;52(7):1073-5.
of diabetes mellitus. N Engl J Med 1995;332(18):1210-7. 31. Fernando DJS, Masson EA, VevesA, Boulton AJ. Relationship
14. Holewski JJ, Stess RM, Graf PM, Grunfeld C. A aesthesiome- of limited joint mobility to abnormal foot pressures and diabetic
try: quantification of cutaneous pressure sensation in diabetic foot ulceration. Diabetes Care 1991;14(1):8-11.
peripheral neuropathy. J Rehabil Dev 1988;25(2):1-10. 32. Ochoa-Vigo K, Pace AE. Pé diabético: estratégias para preven-
15. Sosenko JM, Kato M, Soto R, Bild DE. Comparison of ção. Acta Paul Enferm 2005;18(1):100-9.
quantitative sensory threshold measures for their associa- 33. Gamba MA, Gotlieb SL, Bergamaschi DP, Vianna LA. Ampu-
tion with foot ulceration in diabetic patients. Diabetes Care tações de extremidades inferiores por diabetes mellitus: estudo
1990;13(10):1057-61. caso-controle. Rev Saúde Pública 2004;38(3): 399-404.
16. Altman MI, Altman KS. The podiatric assessment of the diabetic 34. Singh N, Armstrong DG, Lipsky BA. Preventing foot ulcers in
lower extremity: special considerations. Wounds 2000;12 (6 patients with Diabetes. JAMA 2005;293(2):217-28.
Suppl B):64B- 71B. 35. Corriveau H, Hébert R, Raîche M, Prince F. Evaluation of
17. Boike AM, Hall JO. A practical guide for examining and treating postural stability in the elderly with stroke. Arch Phys Rehabil
the diabetic foot. Cleve Clin J Med 2002;69(4): 342-8. 2004;85(7):1095-101.
18. Singh N, Armstrong DG, Lipsky BA. Preventing foot ulcers in 36. Hue O, Ledrole D, Seynnes O, Bernard PL. Influence d’une
patients with diabetes. JAMA 2005;293(2):217-28. pratique motrice de type “posture-équilibration-motricité” sur
19. Omer Junior GE. Methods of assessment of injury and recovery les capacities pasturales dusugetâgé. Ann Réadatation Méd Phys
of peripheral nerves. Surg Clin North Am 1981;61(2): 303-19. 2001;44(2):81-8.
20. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica. Hipertensão 37. Cimbiz A, Cakir O. Evaluation of balance and physical fitness
arterial sistêmica e diabetes mellitus: protocolo. Brasília: Minis- in diabetic neuropathic patients. J Diabetes Complications
tério da Saúde; 2001. n. 7. 2004;19(3):160-4.
21. Martin IS, Beraldo AA, Passeri SM, Freitas MCF, Pace AE. Cau-
sas referidas para o desenvolvimento de úlceras em pés de pessoas
com diabetes mellitus. Acta Paul Enferm 2012;25(2):218-24.
464 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Relato de caso
*Especializanda em Atividade Física Desempenho Motor e Saúde, **Professora da Universidade Federal de Santa Maria,
***Professor da Universidade Federal de Santa Maria,***Professor da Universidade Federal de Santa Maria
Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi descrever o efeito da adição de This study aimed to describe the effect of adding body weight
peso sobre o tronco no equilíbrio postural estático e dinâmico de on static and dynamic balance on a patient with ataxia, caused by
um sujeito com ataxia, devido à doença Machado-Joseph. Os ma- Machado-Joseph disease. The materials used to collect the data were
teriais utilizados para coleta de dados foram dois tipos de órteses two types of orthesis. The data collection was carried out in three
para adição de peso. A coleta de dados foi realizada em três etapas, stages, without adding weight and with an orthesis (type A and type
sem a adição de peso e com o uso de órtese (modelo A e modelo B). To obtain the static postural balance it was applied the force
B). Para obtenção dos dados do equilíbrio postural estático foi uti- plate. The data of strength and moment were used to calculate the
lizada a plataforma de força. Os dados de força e momento foram coordinates of center of pressure (COP) for evaluating the static
utilizados no cálculo de coordenadas do centro de força (COP) balance of the patient. To obtain data referring to the dynamic
para avaliação do equilíbrio estático do sujeito. Para a obtenção postural balance we used the VICON kinemetry system. The mean
dos dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico foi utilizado amplitude of mid-lateral mass center displacement was analyzed.
o sistema de cinemetria VICON. Foram analisadas as médias de The use of orthesis with additional body load showed a reduction
amplitude de deslocamento médio-lateral do Centro de Massa (CM) of amplitude of the pressure center displacement, at the antero-
do sujeito. A utilização de órteses com adição de peso mostrou uma -posterior and mid-lateral displacement. Also, the use of adding
diminuição das amplitudes de deslocamento do COP, nos sentidos weight showed a reduction of mid-lateral mass center displacement.
anteroposterior e médio-lateral. Também houve uma diminuição We observed that this procedure improved the static and dynamic
do deslocamento médio-lateral do CM fazendo uso da adição de balance of this patient.
peso. Conclui-se que a adição de peso melhorou o equilíbrio postural Key-words: postural balance, ataxia, self-help devices, orthotic
estático e dinâmico do sujeito avaliado. devices.
Palavras-chave: equilíbrio postural, ataxia, tecnologia assistiva,
órteses.
O outro modelo de órtese, o colete B, aprimorado a partir As variáveis utilizadas para descrever o equilíbrio postu-
dos resultados positivos obtidos com o colete A, foi con- ral foram: amplitude de deslocamento do COP na direção
feccionado sob medida em tecido impermeável, resistente e ântero-posterior (COPap), amplitude de deslocamento do
revestido em velcro. O peso foi adicionado através de placas COP na direção médio-lateral (COPml), velocidade média
metálicas de chumbo, também revestidas com velcro, com de deslocamento do COP (COPvel) e área da elipse 95%.
formato retangular, medindo 12 cm de comprimento e 9 Os dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico
cm de largura e pesando 200 gf. As placas foram fixadas ao foram coletados através do sistema de cinemetria VICON
colete sobre os ombros e tronco (porção anterior e posterior) 624 (Oxford, Reino Unido). Foram utilizadas sete câmeras
totalizando uma carga de 3 kgf, obedecendo ao relato do sensíveis ao infravermelho que reconhecem em tempo real os
sujeito quanto a sua percepção de melhora da estabilidade pontos reflexivos demarcados no sujeito. As câmeras operaram
do tronco. com uma frequência de aquisição de 100 Hz.
Os dois modelos de órtese possibilitam a mudança de O software Vicon Nexus 1.5.2 foi utilizado para observação
carga e também de distribuição destas cargas, conforme a e filmagem dos movimentos, bem como para exportação dos
melhor resposta de estabilidade de tronco. Porém, o colete B dados obtidos. Foi utilizado o modelo Plugin Gait (UPA &
tem a vantagem de poder distribuir as cargas em toda a sua FRM), o qual necessita de 39 pontos de referência colocados
superfície sem deslocamento das mesmas durante a marcha, na cabeça, tórax, pelve, coxas, pernas, pés, braços, antebraços
enquanto que no colete A, os pesos colocados nos bolsos, e mãos do sujeito. Foram utilizados marcadores reflexivos
sofrem oscilações durante a marcha. com 14 milímetros de diâmetro. Os dados de posição dos
marcadores foram filtrados com um filtro digital Butterworth
Fotos ilustrativas dos coletes A e B, respectivamente. passa-baixas de quarta ordem com frequência de corte de 5
Hz. A partir dos dados filtrados foram calculadas as posições
dos centros articulares e do CM.
Foram realizadas três tentativas de caminhada em linha
reta, que consistiram em, ao menos, um ciclo completo da
marcha, com velocidade de deslocamento autoselecionada.
Para a avaliação do equilíbrio dinâmico no decorrer da mar-
cha foi considerado o deslocamento médio-lateral do CM,
definido como o valor máximo menos o valor mínimo das
coordenadas do CM no plano frontal durante uma tentativa
(adaptado de Kelly et al. [14]).
Antes das avaliações foi realizado um pré-teste com o
intuito de tentar minimizar o efeito da aprendizagem nos
Para a coleta dos dados referentes ao equilíbrio postural estático foi uti- resultados dos demais testes. Os dados deste pré-teste não
lizada a plataforma de força AMTI (Advanced Mechanical Technologies, foram utilizados para o estudo.
Inc.) modelo OR6-6-2000. Foram realizadas três avaliações em datas distintas. A
primeira foi realizada com o sujeito sem o uso de órteses. A
O sujeito foi instruído a posicionar-se sobre a plataforma, segunda, duas semanas depois, com o sujeito fazendo uso do
o mais estático possível, mantendo os olhos abertos e fixos colete A. A terceira foi realizada duas semanas após a segunda
em um ponto localizado a 3,8 metros de distância, na altura avaliação, com o sujeito fazendo uso do colete B.
dos olhos do sujeito. A taxa de amostragem da plataforma Para a análise dos dados foi utilizada estatística descritiva.
foi de 100 Hz e o tempo de aquisição foi de 20 segundos. A Tanto para avaliação do equilíbrio postural estático quanto
posição dos pés foi marcada em um papel milimetrado, para do dinâmico foram calculadas as médias de três tentativas
assegurar o mesmo posicionamento do sujeito em todas as válidas em cada situação proposta.
tentativas de obtenção dos dados.
Os dados brutos de força e momento obtidos pela Resultados
plataforma de força foram filtrados utilizando-se um filtro
digital Butterworth passa-baixas de quarta ordem com Os resultados referentes ao equilíbrio postural estático e
frequência de corte de 10 Hz. Os dados filtrados foram dinâmico se mostraram diferentes para as três situações de
utilizados para o cálculo das coordenadas do centro de força coleta de dados. Tanto na avaliação do equilíbrio postural está-
(COP) a cada instante, uma na direção ântero-posterior e tico quanto do dinâmico o uso de órtese mostrou melhora no
outra na direção médio-lateral, de acordo com o sistema equilíbrio postural. Os principais resultados encontrados no
de coordenadas que a própria plataforma fornece. A partir estudo estão ilustrados nas Tabelas I e II. A Tabela I apresenta
desses dados, foram obtidas informações sobre o equilíbrio os valores referentes ao equilíbrio postural estático.
do indivíduo [13].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 467
Tabela I - Principais resultados encontrados referentes ao equilíbrio mais frequentemente encontrado (92%). Esta afeta a marcha
postural estático. devido à instabilidade do sujeito. Estes pacientes com ataxia
Situações podem necessitar de dispositivos de assistência como bengalas,
Sem órteses em membros inferiores ou tronco, com o intuito de
Variáveis Colete A Colete B
Colete uma diminuição da instabilidade [10].
COPml (cm) 11,57 10,66 10,02 Essas informações corroboram as obtidas no presente
COPap (cm) 8,68 5,63 6,39 estudo, as quais mostram que indiferente do tipo do colete, o
COPvel (cm/s) 10,12 7,93 8,42 mesmo proporcionou uma mudança nas funções pesquisadas,
Área da elipse 95% (cm²) 69,06 47,00 52,21 no controle postural do sujeito. Estes dispositivos de assistên-
cia não precisam estar localizados exatamente no tronco do
Os dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico, ou sujeito, como apresentado no estudo de Neves et al. [10], no
seja, ao deslocamento médio-lateral do Centro de Massa estão qual pacientes com sintomas de ataxia e que utilizaram órteses
dispostos na Tabela II. de membros inferiores, também reduziram a necessidade de
sustentação de peso na fase de apoio.
Tabela II - Principais resultados encontrados referentes ao equilíbrio Da mesma forma, estudo realizado por Dias et al. [15]
postural dinâmico. avaliaram o efeito da adição de carga em membros inferiores
Deslocamento ml CM (cm) durante a marcha em sujeitos com ataxia. Participaram do
Sem colete 19,59 estudo 21 sujeitos com ataxia, divididos em dois grupos: com
Colete A 16,81 adição de peso e sem adição de peso. Todos realizaram 20
Colete B 12,07 sessões de fisioterapia, porém o grupo com adição de peso,
ml: médio-lateral. durante o treino de marcha, o fazia com adição de carga no
tornozelo. Foram avaliados através das escalas de Equilíbrio
Os resultados demonstraram que existe uma diminuição de Berg, Dynamic Gait Index, Equiscale, International Co-
da amplitude de deslocamento, (ântero-posterior e médio- operative Ataxia Rating Scale e Medida de Independência
-lateral) durante avaliação do equilíbrio estático assim como Funcional. Os testes demonstraram que o grupo com adi-
uma diminuição do deslocamento médio-lateral do CM na ção de peso tiveram melhores resultados após as sessões de
avaliação do equilíbrio dinâmico, com uso de órteses. Essa fisioterapia, em relação à coordenação da marcha, melhora
diminuição da amplitude de deslocamento evidencia a impor- do equilíbrio estático e dinâmico e independência funcional
tância do uso da órtese para a melhora do equilíbrio postural comparados ao grupo sem peso, de forma estatisticamente
tanto estático como dinâmico desse sujeito. significante, comprovando a efetividade da adição de peso.
A melhora do equilíbrio postural pode ser verificada com Diante disso, acredita-se que o uso de peso em membros
ambos os modelos de órteses, tanto o colete A como o colete inferiores traz benefícios na qualidade da marcha dos portadores
B. Na avaliação do equilíbrio estático houve pequena dife- de ataxia, alterando a programação motora e conexões neurais
rença entre os modelos de colete, sendo que a diferença mais cerebelares, possíveis de alterações na aprendizagem motora.
significativa foi na área da elipse 95%, onde o uso do colete O peso pode aumentar a percepção corporal dos sujeitos, pro-
A mostrou uma menor área. Já na avaliação do equilíbrio movendo um aumento do feedback e uma melhora no tremor
postural dinâmico pode-se perceber um benefício maior com durante o movimento [16]. Com os resultados do presente
o uso do colete B em relação ao colete A, visto que o CM teve estudo, acredita-se que o acréscimo de carga pode acontecer
um deslocamento menor na situação com o uso do colete B. tanto nos membros inferiores quanto no tronco, pois pode
haver uma melhora do equilíbrio postural estático e dinâmico,
Discussão sendo que o acréscimo de peso no tronco pode trazer benefícios
no sentido de diminuir o efeito de pêndulo invertido.
Os resultados revelam que a adição de peso no tronco O uso de peso nos membros inferiores faz com que o
proporcionou uma mudança nas funções pesquisadas e que o Centro de Massa do sujeito fique mais baixo, melhorando a
desenho da órtese teve influência sobre os resultados quando estabilidade, ou seja, melhorando o equilíbrio postural. Em
comparado os modelos A e B, conforme observado para o contrapartida, o uso de peso no tronco faz com que o Centro
equilíbrio postural dinâmico. Talvez isso se deva ao fato de de Massa fique mais alto, mais distante do eixo de rotação
que no modelo B, o peso seja inserido através da fixação das do corpo, o que torna mais difícil iniciar (ou interromper) o
barras junto ao tronco do sujeito, diferentemente do modelo movimento angular. Diversos fatores mecânicos interferem na
A, onde as barras metálicas inseridas nos bolsos do colete estabilidade do corpo, dentre os quais sua massa. De acordo
oscilam conforme o movimento do sujeito. com a segunda lei do movimento de Newton, quanto maior
Em um estudo realizado por Sequeiros e Coutinho [3] for a massa de um corpo maior será a força necessária para
com 143 pacientes portugueses (78 homens e 65 mulheres) produzir uma determinada aceleração, ou seja, mais estável
foi verificado que a ataxia da marcha foi o sintoma clínico será este corpo [17].
468 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Revisão
*Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/SP – HCFMRP-USP, Docente do
Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá, **Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto/SP – HCFMRP-USP, Pós-graduanda do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Resumo Abstract
A avaliação funcional do assoalho pélvico proporciona o re- Assessment of pelvic floor function provides recognition of
conhecimento da capacidade, eficácia, tonicidade e resistência da the capacity, efficiency, tonicity and strength of voluntary muscles
contração voluntária desta musculatura, permitindo a adequação contraction, allowing us to select the therapeutic plan in accordance
do planejamento terapêutico de acordo com a funcionalidade de to each patient and improving treatment outcomes. The objectives
cada paciente, trazendo maiores chances de sucesso terapêutico. Os of this study are to carry out a literature review on the evaluation
objetivos deste estudo foram realizar uma revisão de literatura sobre methods used to measure strength and function of pelvic floor
os métodos de avaliação usados para mensurar força e função dos muscles, and discuss the advantages and limitations of different me-
músculos do assoalho pélvico e discutir as vantagens e limitações thods. Therefore, 42 publications were analyzed from 2008 to 2013,
destes métodos. Para tanto, foram analisadas 42 publicações refe- in English and Portuguese, available in national and international
rentes ao período de 2008 a 2013, nos idiomas inglês e português, databases (Pubmed, Scielo and Lilacs). We found that some methods
disponíveis nas bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs. Verificou-se are considered subjective, because they are dependent evaluator mo-
que alguns métodos de avaliação são considerados subjetivos por deling. However, they do not lose their importance to assess capacity
serem avaliador-dependente. Contudo, não perdem a importância of pelvic floor contraction and also are extensively used in clinical
na determinação da capacidade de contração do assoalho pélvico, practice and limited to the scientific use, such as visual observation,
tendo extenso uso na prática clínica, porém com limitação para o vaginal cones and vaginal palpation. Other methods are objective
uso científico, como a observação visual, cones vaginais e palpação and have satisfactory reliability as perineometry, widely used in
vaginal. Outros métodos são objetivos e de confiabilidade satisfatória clinical practice. The electromyography has advantages, especially in
como a perineometria, amplamente utilizada na prática clínica. A relation to the feedback provided during the evaluation, however its
eletromiografia possui suas vantagens, especialmente em relação results should not be considered as a direct measure of pelvic floor
ao feedback proporcionado durante a avaliação, entretanto seus muscle strength. Devices like dynamometry are needed for further
resultados não devem ser considerados como medida direta de força research to validate and to test intra and inter-examiner reproduci-
muscular do assoalho pélvico. Dispositivos, como a dinamometria, bility. Ultrasound and magnetic resonance imaging assessment are
necessitam de maiores pesquisas para validação e testes de reprodu- used strictly for scientific use due to the difficulty of access, cost and
tibilidade e confiabilidade intra e inter-examinadores. A avaliação need of skilled professional workers. The results showed that more
por imagem através do ultrassom e da ressonância magnética é usada studies are needed, confirming the feasibility of using some devices
restritamente para o uso científico devido à dificuldade de acesso, for evaluating pelvic floor muscles function.
custo e necessidade de mão de obra especializada. Os resultados Key-words: pelvic floor, muscle strength, evaluation, Physical
obtidos apontam a necessidade de mais estudos que comprovem a Therapy.
viabilidade do uso de alguns dispositivos na avaliação funcional dos
músculos do assoalho pélvico.
Palavras-chave: assoalho pélvico, força muscular, avaliação,
fisioterapia.
Kegel foi o precursor no desenvolvimento de um equi- ser considerado um instrumento de medida indireta da força
pamento com esta finalidade. Este era constituído por uma muscular [10,11], que podem ser obtidas com eletrodo de
sonda endovaginal acoplada a um manômetro que detectava superfície ou intramuscular. Na prática clínica, eletrodos de
a elevação da pressão intravaginal durante a contração [7]. superfície (probe vaginal) são mais utilizados devido à elevada
O perineômetro pode ser usado tanto na avaliação como sensibilidade da região perineal e habilidades que o uso de
no ensino da contração correta [2]. Atualmente, vários apa- eletrodos de agulha ou fio requer [10].
relhos estão disponíveis, existindo ampla variação quanto ao Estudos demonstram boa validade e reprodutibilidade
tamanho do dispositivo e parâmetros empregados [8]. interobservador durante as avaliações da atividade elétrica
Rahmani e Mohseni-Bandpei [8] concluíram que a peri- do AP. Embora a EMG registre a atividade elétrica produzida
neometria é um método altamente confiável na avaliação da pelo recrutamento de unidades motoras e não diretamente a
estimativa da força e resistência muscular do assoalho pélvico, própria força muscular, alguns estudos indicam que há boa
interexaminador. correlação entre o número de unidades motoras ativadas e
A perineometria apresenta limitações em sua utilização [8]. força muscular [11], podendo ser considerado como medida
Uma é a variação de tamanho do dispositivo vaginal entre os indireta da força muscular.
equipamentos. Alguns possuem dispositivos menores onde a
colocação na vagina gera um problema quanto à confiabili- Ultrassom
dade e validade, pois o transdutor pode ser colocado fora da
localização anatômica do AP. Outra limitação é a contração O ultrassom (US) está sendo usado, cada vez mais, para
simultânea dos músculos abdominais, pois o aumento da a avaliação morfológica e funcional do AP. Tem sido empre-
pressão intra-abdominal aumentará a pressão medida na gado na avaliação de prolapsos, posição e mobilidade do colo
uretra, vagina e reto. Para evitar a co-contração destes, tem-se vesical, efeito de manobras de esforço sobre o AP, além de
utilizado a eletromiografia de superfície buscando o seu rela- quantificar a contração em qualquer plano [1,12]. Para sua
xamento. Porém, estudos mostram que há co-contração dos realização, o probe pode ser colocado na região suprapúbica,
músculos transverso abdominal e oblíquo interno durante a no períneo, ou inserido na vagina ou reto [12]. O US pode
contração máxima do AP. A contração simultânea dos glúteos, ser utilizado como um biofeedback por fornecer uma visua-
rotadores externos e adutores de quadril deve ser evitada, pois lização direta da contração possibilitando o aprendizado da
também alteram a medida de pressão intravaginal. contração correta [1,12].
Os dinamômetros medem forças produzidas por uma A ressonância magnética (RM) permite evidenciar
contração independentemente do julgamento do avaliador. a localização de uma lesão muscular, possibilitando melhor
Embora estes instrumentos sejam amplamente usados para compreensão da relação entre lesão e suas consequências para
avaliação de outros grupos musculares, dinamômetros para o AP. Com isso, há chance de redução dos índices de insucesso
o AP são relativamente recentes [9]. na reabilitação, selecionando com mais critério a paciente que
Como não há um padrão-ouro reconhecido para a será inserida para tratamento de acordo com a especificidade
avaliação do AP, torna-se impossível avaliar os critérios de da situação [13].
validade dos dinamômetros. Nunes et al. [9] encontraram
confiabilidade de boa à excelente no uso deste equipamento Conclusão
nas medidas da força do AP nos planos sagital ou frontal.
Contudo, ainda são necessários estudos que verifiquem a sua Diversos instrumentos para a avaliação funcional do AP
validade e confiabilidade interexaminador. estão disponíveis no mercado, porém, nem todos acessíveis
devido às restrições orçamentárias de alguns serviços de fisio-
Eletromiografia terapia. A avaliação por imagem através do US e da RM são
usados restritamente para o uso científico devido à dificuldade
A eletromiografia (EMG) registra os potenciais elétricos de acesso, custo e necessidade de mão de obra especializada.
gerados pela despolarização das fibras musculares, podendo A EMG possui suas vantagens, especialmente em relação ao
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 473
feedback proporcionado durante a avaliação, entretanto seus 4. Assis TR, Sá ACAM, Amaral WN, Batista, EM, Formiga
resultados não devem ser considerados como medida direta CKMR, Conde DM. Efeito de um programa de exercícios para o
de força muscular do AP. Além disso, é considerado um fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico de multiparas.
instrumento de custo elevado e dependente da expertise do Rev Bras Ginecol Obstet 2013;35(1):10-5.
5. Slieker-ten Hove MCP, Pool-Goudzwaard AL, Eijemans MJC,
avaliador. Dispositivos como a dinamometria necessitam de
Steegers-Theunissen RPM, Burger CW, Vierhout ME. Face
maiores pesquisas para validação e testes de reprodutibilidade validity and reliability of the first digital assessment scheme
e confiabilidade intra e interexaminadores. Outros métodos of pelvic floor muscle function confirm the new standardized
são considerados objetivos, com confiabilidade satisfatória terminology of the International Continence Society. Neurourol
intra e interexaminador permitindo a reprodutibilidade dos Urodynam 2009;28:295-300.
resultados e objetividade do exame, como a perineometria. Já 6. Laycock J. Pelvic muscle exercise: physiotherapy for the pelvic
outros são subjetivos por serem avaliador-dependente. Con- floor. Urol Nurs 1994;14(3):136-40.
tudo, apesar da subjetividade, eles não perdem a importância 7. Elenskaia K. Thakar R, Sultan AH, Scheer I, Beggs A. The effect
na determinação da capacidade de contração do AP, tendo of pregnancy and childbirth on pelvic floor muscle function.
Int Urogynecol J 2011;22:1421-7.
extenso uso na prática clínica, porém com limitação para o
8. Rahmani R, Mohseni-Bandpei MA. Application of perineome-
uso científico, como a observação visual, cones vaginais e
ter in the assessment of pelvic floor muscle strength and endu-
palpação vaginal. rance: A reliability study. J Body Mov Ther 2011;15:209-14.
Independente de qual método escolhido há pontos que 9. Nunes FR, Martins CC, Guirro ECO, Guirro RRJ. Reliability
devem ser observados durante seu uso, como: posicionamento of bidirectional and variable-opening equipment for the mea-
da paciente, tipo de probe utilizado e uso de musculatura surement of pelvic floor muscle strength. Am Acad Phys Med
acessória. Estes fatores podem interferir nas mensurações e Rehab 2011;3:21-6.
análise dos dados obtidos, levando a vieses. 10. Marques J, Botelho S, Pereira LC, Lanza AH, Amorim CF, Palma
P, Riccetto C. Pelvic floor muscle training program increases
Referências muscular contractility during first pregnancy and postpartum:
Electromyographic study. Neurourol Urodynam 2012;1-5.
11. Resende APM, Petricelli CD, Bernardes BT, Alexandre SM,
1. Brækken IH, Majida M, Engh ME, Bø K. Test–Retest Relia-
Nakamura MU, Zanetti MRD. Electromyographic evaluation
bility of Pelvic Floor Muscle Contraction Measured by 4D
of pelvic floor muscles in pregnant and nonpregnant women.
Ultrasound. Neurourol Urodynam 2009;8:68-73.
Int Urogynecol J 2012;23:1041-5.
2. Nascimento SM. Avaliação fisioterapêutica da força muscular
12. Dietz HP, Shek, KL. Tomographic ultrasound imaging of the
do assoalho pélvico na mulher com incontinência urinária de
pelvic floor: which levels matter most? Ultrasound Obstet Gy-
esforço após cirurgia de Wertheim-Meigs: revisão de literatura.
necol 2009;33:698-703.
Rev Bras Cancer 2009;55(2):157-63.
13. Reiner CS, Weishaupt D. Dynamic pelvic floor imaging: MRI
3. Caroci AS, Riesco MLG, Sousa WS, Cotrim AC, Sena EM,
techniques and imaging parameters. Abdom Imaging 2012
Rocha NL, Fontes CNC. Analysis of pelvic floor musculature
[Epub ahead of print].
function during pregnancy and postpartum: a cohort study.
Clin Nurs 2010;19:2424-33.
474 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Revisão
Resumo Abstract
Introdução: A articulação temporomandibular é comumente Introduction: The temporomandibular joint is commonly requi-
exigida e sofredora de tensão e desgastes. Quando estes desajustes se red and suffers from tension and wear. When these misalignments
tornam prejudiciais ao homem, podem causar transtornos como a become harmful to humans, they may cause disorders such as
disfunção da articulação temporomandibular (DTM). Esta pesquisa temporomandibular joint dysfunction (TMD). This review aimed
teve por objetivo ressaltar a atuação dos recursos fisioterapêuticos to highlight the role of physical therapy techniques enable to mi-
capazes de minimizar as consequências da DTM. Material e métodos: nimize the consequences of TMD. Method: We used Lilacs, Scielo
Para a busca de artigos científicos disponíveis, utilizou-se as bases and Pubmed databases to search for available articles from August to
de dados Lilacs, Scielo e Pubmed, que foram acessadas durante o December 2012, through specific descriptors. Results and discussion:
período de agosto a dezembro de 2012, através de descritores es- Based on 20 articles related to the subject, it was possible to identify
pecíficos. Resultados e discussão: Em base de 20 artigos abrangendo treatment improvement using physical therapy. Among the remarka-
a temática, foi possível identificar o crescimento do tratamento ble features are the therapeutic massage, electro-thermotherapy and
através da fisioterapia. Dentre os recursos de destaque encontram-se kinesiotherapy. All identified as being able of minimizing pain, but
a massagem terapêutica localizada, eletrotermoterapia e cinesiotera- there were no significant differences between the types of resources.
pia. Todos identificados como capazes de minimizar a dor, mas não Authors agree that one of the biggest effects of TMD is the pain and
houve diferenças significativas entre os tipos de recursos. Autores loss of joint mobility, two crucial points for physical therapy, which
concordam que uma das maiores repercussões na DTM é a dor e offers interventions able to restore this functionality. Conclusion: We
perda de mobilidade articular, dois pontos cruciais para a fisioterapia, may arrive at the conclusion that physical therapy has many tools to
que dispõe de recursos suficientemente capazes de restaurar esta treat the TMD, especially when associated with dental treatment,
funcionalidade. Conclusão: É possível concluir que a fisioterapia tem and emphasizing the need for more studies related to this subject
grandes artefatos para a DTM, principalmente quando associado ao on health specialties basis.
tratamento odontológico, retratando a necessidade de ampliar cada Key-words: temporomandibular joint dysfunction syndrome, facial
vez mais o assunto em base das especialidades de saúde. pain, Physical Therapy.
Palavras-chave: síndrome da disfunção temporomandibular, dor
facial, Fisioterapia.
Estudos demonstram que a maioria das terapias é indicada que se não tratada adequadamente pode trazer danos severos
para controle dos sinais e sintomas da patologia. O tratamento ao portador da síndrome de DTM [20].
das DTM visa à diminuição ou eliminação da dor, restaura- Em sumo, os autores levantam que a fisioterapia possui
ção da função articular normal, redução da necessidade de recursos terapêuticos eficientes no tratamento e minimização
tratamentos futuros e devolução das funções normais vitais dos sintomas provenientes da DTM, particularmente, no
[17]. Dentre estas, destaca-se a fisioterapia e dentre os passiveis controle da dor.
recursos a serem utilizados, destacam-se a massagem relaxante, Ressalta-se a importância destes recursos serem mais
técnica de tração articular, liberação miofascial, aparelhos comumente aplicados em indivíduos diagnosticados com a
eletrotermoterapêuticos, exercícios, etc. [3,15]. disfunção, para que a mesma não ocasione tantos transtornos
Franco et al. [13] aplicaram um protocolo em uma pa- na vida do paciente, uma vez que esta situação pode interferir
ciente, baseado em estratégias como alongamento passivo na qualidade do sono, da alimentação, socialização e relacio-
dos músculos trapézio e ECOM, laser, relaxamento facial e namentos pessoais.
orientações domiciliares. Obtendo melhora na dor, cerca de
20% era reduzido a cada sessão de fisioterapia. É interessante Conclusão
ressaltar que a pessoa foi reavaliada após 15, 30 e 60 dias ao
final do tratamento e os sintomas continuaram ausentes. O presente trabalho teve como proposta ressaltar quais os
A fisioterapia é considerada um procedimento simples, tipos de tratamento fisioterapêutico que são empregados para
reversivo e não invasivo, de baixo custo, que favorece a a disfunção temporomandibular assim como suas atuações nos
comunicação e a confiança paciente-profissional [13]. sintomas do distúrbio vêm sendo estudados e aprofundados.
Além disso, é uma área que vem sendo reconhecida em Há evidencias científicas de que a fisioterapia se faz como
seu papel de atuação na ATM, algumas vezes questionada opção no tratamento conservador da DTM. Maiores estudos
por outras especialidades profissionais, todavia, a literatura devem ser incentivados para aprimoramento das técnicas mais
vem retratando sua importância no controle dos sintomas eficazes ao tratamento, bem como para ressaltar o papel da
destes pacientes. fisioterapia nesta patologia e na possibilidade de minimizar
Torres [15] destacou em seu estudo o tratamento da fisio- os sintomas advindos da síndrome.
terapia voltado para vários graus da DTM, incluindo pessoas Os estudos experimentais, particularmente, devem ser
com DTM severa. Fez um estudo comparativo em pessoas incentivados para que respostas clínicas possam demonstrar
com tratamento fisioterapêutico e pessoas com tratamento a real importância do acompanhamento multiprofissional
odontológico. Concordando com o autor supracitado que com estes pacientes portadores da disfunção. Entretanto,
encontrou redução significativa na redução da dor (ambos a literatura já demonstra bastante reconhecimento para a
segundo EVA). atuação do profissional fisioterapeuta no campo da síndrome
Souza [18] ressalta que o sujeito com a disfunção apresenta de disfunção temporomandibular, exemplificados através
alterações cinético-funcionais, e estas perturbações tem como de recursos da eletrotermoterapia (ultrassom, laser), terapia
uma de suas causas o sintoma de dor. Da mesma forma que manual (Massagem), exercícios terapêuticos (alongamento
a dor é vista como um processo passível de controle, sabe-se passivo, mobilização articular), etc.
Tabela I - Síntese dos estudos apresentados, considerando o recurso utilizado e os efeitos alcançados nos sintomas de indivíduos com DTM.
Referências Sintomas Recursos fisioterapêuticos Resultados
Oliveira [4] Dor Laser Foi realizado um estudo em grupo ativo e controle para verifi-
car redução da dor, não houve diferença significativa.
Oliveira [4] Dor Terapia Manual Em estudos realizados, as técnicas de massagem localizada na
ATM, conseguiram proporcionar redução na sensação doloro-
sa.
Maluf [11] Dor e quali- RPG e Alongamento estático As duas técnicas demonstraram efeitos tanto no nível de dor
dade de vida segmentar como na qualidade de vida das portadoras de DTM
Maluf [12] Dor Exercício terapêutico Maior resultado na associação de exercícios terapêuticos com
eletroterapia. Porém isoladamente demonstraram mais resulta-
do do que técnicas de relaxamento.
Franco [13] Alongamentos passivos; Laser; Houve redução gradual na sensação de dor, permanecendo
Relaxamento facial; Orienta- sem sintomatologia após os 60 dias de finalização do trata-
ções domiciliares mento.
Torres [15] Dor Tens pulsado; US pulsado; Apresentaram redução de dor de 20% por sessão com redução
massagem; alongamento e total após o termino das sessões, com a associação dos méto-
relaxamento cervical. dos. Isoladamente não foram analisados.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 477
Destaca-se, também, a necessidade de melhores capaci- 9. Bassi AFB, Morimoto RS, Costa ACS. Disfunção temporo-
tações profissionais, além de associações dos profissionais de mandibular: Uma abordagem fisioterapêutica. III Encontro
saúde, pois uma atenção multiprofissional sempre desenvolve Científico e Simpósio de Educação Unisalesiano. Lins, outubro
maiores benefícios ao indivíduo, em especial nesta temática, de 2011.
10. Biasotto-Gonzalez DA. Abordagem interdisciplinar das disfun-
o tratamento do fisioterapêutico em conjunto ao tratamento
ções temporomandibulares. São Paulo: Manole; 2005.
odontológico. 11. Maluf SA. Efeito da Reeducação Postural Global e do alonga-
mento estático segmentar em portadoras da disfunção tempo-
Referências romandibular: um estudo comparativo. São Paulo: USP; 2006.
12. Maluf AS, Moreno BGD, Alfredo PP, Marques AP, et al. Exer-
1. Donnaruma MDC, Muzilli CA, Ferreira C, Nemr K. Disfunções cícios terapêuticos nas desordens temporomandibulares: uma
temporomandibulares: sinais, sintomas e abordagem multidis- revisão de literatura. Fisioter Pesq 2008;15(4):408-15.
ciplinar. Revista CEFAC 2010;12(5):788-94. 13. Franco AL, Zamperini CA, Salata DC, Silva EC, Albino Júnior
2. Póli MS, Morosini MRM, Martinelli RCPM. Abordagem W, Camparis CM. Fisioterapia no tratamento da dor orofacial
interdisciplinar na disfunção temporomandibular: Relato de de pacientes com disfunção temporomandibular crônica. Revista
caso. Arq Ciênc Saúde Unipar 2003;7(2):171-7. Cubana de Estomatologia 2011:48(1)56-61.
3. Carrara VC, Conti PCR, Barbosa JS. Termo do 1º Consenso 14. Martins RJ, Garcia AR, Garbin CAS, Sundefeld MLMM.
em disfunção temporomandibular e dor orofacial. Dental Press Relação entre classe socioeconômica e fatores demográficos
J Orthod 2010;15(3):114-20. na ocorrência da disfunção temporomandibular. Ciênc Saúde
4. Oliveira KB, Pinheiro ICO, Freitas DG, Gualberto HD, Coletiva 2008;13(Supl2):2089-96.
Carvalho NAA. A abordagem fisioterapêutica na disfunção 15. Torres F, Campos LG, Fillipini HF, Weigert KL, Vecchia GFD.
da articulação temporomandibular: revisão da literatura. Med Efeitos dos tratamentos fisioterapêutico e odontológico em
Reabil 2010;29(3):61-4. pacientes com disfunção temporomandibular. Fisioter Mov
5. Garbelotti Junior AS, Medina MB, Fukuda TY, Lucareli PRG. 2012;25(1):117-25.
Estudo do efeito da corrente inferencial na tensão muscular e 16. Siqueira JTT. Dor Orofacial. São Paulo. 2010. [citado 2012 Nov
na qualidade de vida em indivíduos portadores de disfunção 7]. Disponível em: URL: http://www.dor.org.br/profissionais/
temporomandibular. Fisioter Bras 2011;12(3):212-8. pdf/fasc_dor_orofacial.pdf
6. Pasinato F, Souza JÁ, Corrêa ECR, Silva AMT. Temporo- 17. Pedrotti F, Mahl C, Freitas MPM, Klein G. Diagnóstico e pre-
mandibular disorder and generalized joint hypermobility: valência das disfunções temporomandibulares em graduandos
application of diagnostic criteria. Braz J Otorhinolaryngol do curso de Odontologia da ULBRA Canoas/RS. Revista do
2011;77(4):418-25. Curso- Stomatos- ULBRA 2011;17(32):15-23.
7. Oliveira AS, Bernudez CC, Souza RA, Souza CMF, Dias EM, 18. Souza DP. Avaliação cinético funcional de pacientes submeti-
Castro CES, et al. Impacto da dor na vida de portadores de dis- dos a tratamento com prótese total de ATM [Tese]. São Paulo:
função temporomandibular. J Appl Oral Se 2003;11(2):138-43. USP; 2009.
8. Okeson JP. Etiologia e identificação dos distúrbios funcionais 19. Sydney PBH, Conti PCR. Diretrizes para avaliação somatossen-
no sistema mastigatório. In: Okeson JP. Tratamento das desor- sorial em pacientes portadores de disfunção temporomandibular
dens temporomandibulares e oclusão. 4a ed. São Paulo: Artes e dor orofacial. Revista Dor 2011;12(4):349-53.
Médicas; 2000. p.117-272. 20. Gusman AC, Costa DC, Bastos JC, Magalhães KS, Maia LR,
Pena MGM. A dor e o controle do sofrimento. Revista de Psi-
cofisiologia 1997;1(1).
478 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013
Agenda
2014 Março
Fevereiro 21 e 22 de março
II Jornada de Fisioterapia em Pediatria
8 a 10 de fevereiro III Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
II Meeting de Eletrocosmética e Estética Avançada Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP
Hotel Pestana, São Paulo, SP Informações: iep@hsl.org.br
Informações: www.shopfisio.com.br
Abril
13 a 15 de fevereiro
VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato- 30 de abril a 3 de maio
funcional VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Belo Horizonte, MG III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
Informações: dermatofuncional2014.com.br João Pessoa, PB
Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
14 e 15 de fevereiro congresso/
I Simpósio Internacional de Incontinência Urinária
Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP
Maio
Informações: iep@hsl.org.br
8 a 10 de maio
21 a 23 de fevereiro
XX CBTO - Congresso Brasileiro de Trauma Ortopédico
XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Gramado, RS
Londrina, PR
Informações: http://www.traumaortopedico.med.br
Informações: http://posturologiaclinica.com.br/