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Janeiro / Fevereiro de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro de 2013

Brasil
Ano 14 - no 1
ISSN 1518-9740

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


CARDIORRESPIRATORIO
• Resistência do incentivador respiratório
• Função pulmonar antes e após cirurgia
de revascularização do miocárdio

PILATES
• Aderência no Pilates solo

SAÚDE DA MULHER
• Fotobiomodulação no tratamento
de traumas mamilares

TRAUMATO
• Fratura do tornozelo
• Avaliação funcional de acidentados
de trânsito

NEUROFUNCIONAL
• Dança e hemiparesia
MR
• Acidente vascular cerebral e escalas
de funcionalidade 14 anos

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Março / Abril de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - Março/Abril de 2013

Brasil
Ano 14 - no 2
ISSN 1518-9740

14 anos

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


TRAUMATO
• Ângulo quadricipital e dor patelofemoral
• Fortalecimento do músculo supra-espinhal

ESTÉTICA
• Visão feminina sobre o fibro edema gelóide
• Valores buscados na fisioterapia
dermatofuncional

NEUROFUNCIONAL
• Mobilidade em pacientes hemiparéticos por AVC
• Qualidade de vida de sujeitos pós-
-acidente vascular encefálico

MR
SAÚDE DA MULHER
• Disfunção do trato urinário
inferior em gestantes

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Maio / Junho de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - Maio/Junho de 2013

Brasil
Ano 14 - no 3
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation

14 anos

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


NEUROFUNCIONAL
• Traumatismo raquimedular
• Desenvolvimento neuromotor em crianças
nascidas a termo e pré-termo

DERMATO
• Dermotonia e colecistectomia laparotômica

TRABALHO
• Fadiga laboral em trabalhadores de frigorífico

CARDIORRESPIRATÓRIO
• Função pulmonar e paralisia cerebral

TRAUMATO
• Fricção transversa profunda
• Flexibilidade dos músculos posteriores
da coxa em motorciclistas
• Diástase dos músculos retoabdominais
no pós-parto
Representante Exclusivo
MR

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Julho / Agosto de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - Julho/Agosto de 2013

Brasil
Ano 14 - no 4
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation

14 anos

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


CARDIORRESPIRATÓRIO
• Crioterapia e hipertensão
• Ventilação pulmonar mecânica em prematuros

EQUILÍBRIO
• Nintendo e treinamento de idosos

NEUROFUNCIONAL
• Dor em adolescentes
• LED infravermelho e dor neuropática em ratos
• Destreza manual e esclerose múltipla

PROFISSÃO
• Atuação dos fisioterapeutas em Santa Maria/RS
Representante Exclusivo
MR

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Setembro / Outubro de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - Setembro/Outubro de 2013

Brasil
Ano 14 - no 5
ISSN 1518-9740
STOTT PILATES® Photography © Merrithew Corporation

14 anos

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


AQUÁTICA
• Fisioterapia aquática na qualidade de vida de idosas

ORTOPEDIA
• Análise comparativa da marcha com três joelhos
protéticos diferentes
• Disfunção do músculo tibial posterior

NEUROFUNCIONAL
• Equilíbrio dinâmico em idosos ativos e sedentários
• Imagética motora e controle postural

ESCOLA
• Peso da mochila escolar

VASCULAR
• Corrente de alta voltagem em úlceras venosas
Representante Exclusivo
MR

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Novembro / Dezembro de 2013

Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - Novembro/Dezembro de 2013

Brasil
Ano 14 - no 6
ISSN 1518-9740

Fisioterapia Physical Therapy Brazil


RESPIRATÓRIO
• Eletromiografia dos músculos inspiratórios
em indivíduos saudáveis
• Análise da respiração durante repouso
e caminhada na água

DERMATO-FUNCIONAL
• Fotoenvelhecimento e fotoproteção na percepção
de idosos
• Laserterapia e drenagem linfática em úlceras de pele

PSICOLOGIA
• Vínculo materno e objeto transicional no sono
de crianças com deficiência visual

NEUROFUNCIONAL
• Equilíbrio postural e ataxia
• Avaliação postural estática em idosos

DIABETES
• Treinamento de força e glicemia em ratos
• Risco de desenvolvimento de úlceras nos pés 14 anos

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4 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

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Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 5

Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 1 janeiro/fevereiro 2013 - 1~80)

EDITORIAL
Engolindo pedras e outras coisas, Marco Antonio Guimarães da Silva........................................................................................... 6

ARTIGOS ORIGINAIS
Análise da resistência do incentivador respiratório em indivíduos jovens, Maria do Socorro Luna Cruz,
Shirley Gabriélle Galvão de Morais Pinheiro, Thaianna Luíza de Lima Rodrigues, Melissa Pinto Gurgel,
Paula Roquetti Fernandes, José Fernandes Filho, Fernando Policarpo Barbosa.................................................................................. 8
Comparação dos determinantes de risco para o desenvolvimento infantil entre pré-escolares
de escola pública e particular na cidade do Recife/PE, Rebeca de Oliveira Silva,
Cristiana Maria Macedo Brito, Ana Karolina Pontes de Lima, Cláudia Fonseca de Lima................................................................ 14
Fotobiomodulação como uma nova abordagem para o tratamento de traumas mamilares:
um estudo piloto, randomizado e controlado, Angélica Rodrigues de Araújo,
Ana Luiza Valério do Nascimento, Juliana Moreira Camargos, Fernanda Souza da Silva,
Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria....................................................................................................................................... 20
Análise cinemática da passada normalizada e frequência da marcha de idosos com gonartrose
após mobilização pelo conceito Maitland, Alan Lopes de Oliveira, Thiago Rebello da Veiga,
Chang Che Yuan, Fabiano Gaspar da Silva Affonso Pereira, Marcello Paz Soares Felicio, Andre Custodio da Silva......................... 27
Prevalência das principais patologias consideradas doenças osteomusculares relacionadas
ao trabalho no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Araçatuba/SP,
Amanda Cristina Gonçalves, Julye Kellen Carvalho da Silva, Fernando Henrique
Alves Benedito, Simone Galbiati Terçariol...................................................................................................................................... 33
Avaliação funcional dos acidentados de trânsito atendidos em um serviço de fisioterapia,
Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia,
Samila Sousa Vasconcelos, José Gomes Bezerra Filho...................................................................................................................... 38
Comparação da função pulmonar no pré e pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia
cardíaca aberta de revascularização do miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/BA,
Cassio Magalhães da Silva e Silva, André Raimundo França Guimaraes, Ivana Oliveira DeLamonica Freire,
Abner Portugal Tavares, Quétla Damiane Teles de Oliveira, Rebeca Santos Sampaio...................................................................... 44
Aderência de pessoas no Pilates solo, Eliana Cristina Pereira, Rafaela Liberali, Charles Ricardo Lopes,
Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Maria Ines Artaxo Netto, Helena Brandão Viana, Gustavo Ribeiro da Mota........................ 49
Efeito da dança sênior no equilíbrio e no risco de quedas em hemiparéticos pós acidente vascular
encefálico, Lucas Andreo Dias dos Santos, Patrícia Cristina de Carvalho, Soraia Micaela Silva,
Silvia Sper Cavalli, João Carlos Ferrari Corrêa, Fernanda Ishida Corrêa.......................................................................................... 56

REVISÕES
Tratamento fisioterapêutico no pós-operatório de fratura do tornozelo, Diogo Carvalho Felicio,
Valnez de Alcantara Halfeld, George Schayer Sabino, Daniele Sirineu Pereira,
Alexandra Miranda Assumpção, Barbara Zille de Queiroz.............................................................................................................. 61
Acidente vascular cerebral e sua correlação com escalas de funcionalidade,
Fernanda Cechetti, Priscila Stuani, Renata Paniz............................................................................................................................ 72

NORMAS DE PUBLICAÇÃO............................................................................................................................................78

EVENTOS............................................................................................................................................................................80
6 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Editorial

Engolindo pedras e outras coisas

Marco Antonio Guimarães da Silva

Interrompo a revisão que faço do que já escrevi do meu profícuos, milhares de livros.
quinto romance para atender a um telefonema do editor Já que falamos de tempo (me perdoem se volto a fazer
executivo da revista Fisioterapia Brasil. Com seu acento pro- uma digressão), aproveitarei a mitologia para fazer a minha
nunciadamente francês, ele me cobra o editorial. leitura sobre a eleição de um senhor para a presidência do
Já há algum tempo não escrevo para a revista, e, para fazê- Senado, que a minha memória, muito seletiva, recusa-se a
-lo novamente, preciso tomar alguns cuidados; afinal, como lembrar, e que eu, por comodidade, também não me esforço
escritor ficcionista, sou escravo de minhas próprias mentiras, para descobrir, apesar das facilidades oferecidas pelo Google.
mas aqui não me é permitido inventar histórias, contando Conta a história que Cronos, rei dos Titãs, ao saber que
verdades que não são verdadeiras. um de seus filhos o mataria, resolvera engoli-los tão logo
Aqui não poderei ceder à força da ficção e deixar que a nasciam. Zeia, sua mulher, cansada de ver o marido exter-
imaginação voe alto. Tampouco poderei, como faço em meus minar seus filhos, resolve enganá-lo, envolvendo uma pedra
livros, exercitar a minha especulação silenciosa e egoisticamen- na manta do seu sexto filho, Zeus. Ele cresce e resolve vingar
te individual, ferramenta imprescindível a qualquer escritor. os irmãos, combate e vence Cronos, reinando supremo em
Também não terei tempo de escrever através da linha todo o Universo.
do tempo; o prazo que me foi dado não vai permitir, caso Pois bem, analogias à parte e guardadas as devidas pro-
haja algum arrependimento do tipo querer voltar atrás para porções, soube que esse senhor engoliu as milhares de assi-
reescrever alguma coisa, seja para buscar uma sonoridade naturas feitas para evitar a sua posse, sem dar sinais de que
melhor para uma ou outra palavra do texto, seja para mudar lhe pudessem causar qualquer tipo de distúrbio digestivo.
de opinião, ou até mesmo – como dizia Clarice Lispector – Engoliu-as e sorriu, talvez porque soubesse que a lealdade
para impedir que as palavras esmaguem as entrelinhas. Porque de seus pares e subordinados não o trairia. Engolia também,
se fizer isso, volto atrás e conserto as coisas. Esse talvez seja o naquele momento, a democracia, paradoxalmente pensando
maior instrumento que um escritor possui: ser senhor absoluto que os milhares de votos que recebera de seus incautos elei-
do tempo, retornar nesse tempo e ter o poder de desdizer tores o credenciavam a tomar tal atitude. Incautos eleitores
amanhã o que disser hoje. que, por sinal, são em número muito maior do que podemos
Mas aqui, nada de ficção. Já recebi indultos mais do que imaginar, a julgar pela quantidade de congressistas atrelados
suficientes por parte da editoria executiva da revista, que me às barras da lei que elegeram em outras instâncias.
tem permitido escrever crônicas que fogem do objeto da Oxalá apareça uma Zeia da contemporaneidade, que
revista e, ousadamente, à luz de pobres conceitos filosóficos consiga enganá-los e que consiga igualmente fazê-los engolir
e antropológicos, analisar a conduta de nossa sociedade, algo que os faça vomitar toda e qualquer vontade de se dedicar
sociedade essa cujo comportamento nos oferece material à vida pública.
suficiente para escrever uma centena ou talvez, para os mais

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


8 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Artigo original

Análise da resistência do incentivador respiratório


em indivíduos jovens
Resistance analysis of incentive spirometry in young individuals
Maria do Socorro Luna Cruz, M.Sc.*, Shirley Gabrielle Galvao de Morais Pinheiro**, Thaianna Luiza de Lima Rodrigues**,
Melissa Pinto Gurgel, M.Sc.***, Paula Roquetti Fernandes, D.Sc.****, Jose Fernandes Filho, D.Sc.*****,
Fernando Policarpo Barbosa, D.Sc.******

*Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdades de Ciências Médicas - FCM/PB, Mestre em Ciências da Motricidade Humana
pela UCB/RJ e Doutoranda pela Universidad Pedro de Valdivia-UPV/Chile, **Graduada pela Universidade Potiguar/UnP e Fisio-
terapeuta da FISIOAR, **UFRN, ****Doutora do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, *****Professor da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro/URFJ e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ, ******Professor Doutor
da Faculdades Integradas de Patos-FIP/PB, Professor Coordenador do Facisa em Movimento da Faculdade de Ciências Médicas-
-FCM/PB e Pesquisador do Centro de Excelência de Avaliação Física-CEAF/RJ

Resumo Abstract
A inspirometria de incentivo técnico na fisioterapia, que promo- Incentive spirometry is a physical therapy technique that pro-
ve o aumento da resistência nas vias aéreas, é comumente utilizada motes resistance in the air track has been commonly used in the
na recuperação e reabilitação da função pulmonar. O estudo teve recovery and rehabilitation of pulmonary functions. The present
por objetivo investigar a resistência gerada através da pressão inspi- study investigated the resistance generated through maximum
ratória máxima (PImáx) no momento da execução da terapêutica inspiratory pressure during therapy sessions with flow-oriented
do incentivador respiratório a fluxo, nos níveis do equipamento R0, incentive spirometry, the equipment operating on levels R0, R1,
R1, R2, R3 em 71 voluntários de ambos os sexos, idade entre 18 e R2, R3 in 71 volunteers from both genders, aging between 18 and
35 anos. Foram divididos em subgrupos, utilizando índice de massa 35. They were divided into subgroups, utilizing body mass index
corpórea (IMC) como variável determinante, obtendo-se subgrupos (BMI) as the determinant variable, obtaining male subgroups G1
masculinos G1 (IMC = 22,48m/kg2; n = 10) e o G2 (IMC = 26,71 (BMI = 22.48m/kg2; n = 10) and G2 (BMI = 26.71 m/kg2; n =
m/kg2; n = 20) e os subgrupos femininos G3 (IMC = 20,86 m/kg2; 20) and the female subgroups G3 (BMI = 20.86 m/kg2; n = 26)
n = 26) e o G4 (IMC = 25,15 m/kg2; n = 15). Foram realizadas três and G4 (BMI = 25.15 m/kg2; n = 15). Three MIP measurements
mensurações de PImáx, e após cada medida o voluntário identificava were obtained, after which the volunteer identified the effort level
o nível de esforço pela escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) by Borg’s Rating of Perceived Exertion (RPE).Statistics applied
de Borg. A estatística aplicada foi descritiva e inferencial, análise were descriptive and inferential, Cluster analysis, T test, Post Hoc
de Cluster, teste t, Post Hoc de Bonferone e Kolmogorov-Smirnov. Bonferone and Kolmogorov-Smirnov. This study concluded that the
Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro de incentivo intensity generated by incentive spirometry is light to moderate on
é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3, podendo atingir inten- levels 1, 2, and 3, possibly reaching intensity higher than 80% for
sidades superiores a 80% em indivíduos com sobrepeso. over-weight individuals.
Palavras-chave: inspirometria, manuvacuometria, adulto jovem. Key-words: spirometry, manometer, young adult.

Recebido em 22 de novembro de 2011; aceito em 12 de junho de 2012.


Endereço para correspondência: Maria do Socorro Luna Cruz, Rua Prof. Luiza Soares, 199/102B Alto Branco 58401-405 Campina Grande PB,
E-mail: socorrolcruz@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 9

Introdução houvesse uma identificação da causa efeito entre elas. Para


tanto, foi constituída uma amostra intencional com 71
Os procedimentos e equipamentos utilizados na reabili- voluntários, alunos de um curso de fisioterapia, de ambos
tação motora e/ou funcional aplicados na fisioterapia estão os sexos, com idades entre 18 e 35 anos. Todos receberam
fundamentados na confiabilidade e fidedignidade dos mesmos as informações e esclarecimentos sobre os possíveis riscos e
[1]. Hoje, a expectativa de recuperação das capacidades do desconfortos dos testes, com a subsequente assinatura do
sistema respiratório em sua complexidade encontra-se rela- termo de consentimento livre esclarecido. O presente estudo
cionada ao fortalecimento da musculatura respiratória, com foi submetido e aprovado pelo comité de ética em pesquisa,
o objetivo de restabelecer as pressões estáticas, assim como (protocolo nº081/2009).
os volumes e capacidades pulmonares [1-3].
Entre os métodos de intervenção aplicada na recupera- Procedimentos
ção da expansibilidade torácica e fortalecimento muscular
destaca-se a inspirometria de incentivo. O instrumento Os indivíduos responderam a anamnese e em seguida foi
promove uma resistência nas vias aéreas, sendo comumente mensurada a massa corporal e estatura por meio dos respecti-
utilizado na recuperação pós-cirurgias torácicas ou no período vos equipamentos: balança eletrônica digital Toledo [10] com
pré-operatório de indivíduos obesos submetidos à cirurgia capacidade de 150 kg e acuidade de 50 g com o estadiometro
bariátrica [4-6]. A intervenção por meio desta terapêutica é acoplado com escala em centímetros.
considerada satisfatória e confiável [8]. No entanto, há um As pressões inspiratórias e expiratórias máximas (PImáx e
ponto a ser investigado quanto ao procedimento, enquanto PEmáx) foram determinadas por meio do manovacuômetro
método de fortalecimento muscular, dentro dos pressupostos Gerar Ind. Brasil com limite operacional de -300 a +300
do conceito volume/intensidade, a aplicação de cargas deve cmH2O. Os indivíduos foram previamente esclarecidos
promover estímulos superiores aos habituais de maneira a quanto aos procedimentos da manovacuometria, recebendo
promover adaptações positivas. o treinamento com o objetivo de familiarização do protocolo.
Fato esse que não é questionado no caso do inspirômetro Em seguida foram realizadas três mensurações de PImáx e
de incentivo, já que os resultados obtidos têm demonstrado PEmáx, considerando-se a maior medida quando houves-
melhorias significativas para os volumes e capacidade pulmo- se uma diferença menor que 10% entre elas, conforme as
nares, assim como para as pressões estáticas máximas [8-9]. recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e
No entanto, o resultado esperado pode ser comprometido, Tisiologia (SBPT) [10].
uma vez que indivíduos com baixa aptidão respiratória são Para determinação do nível de resistência gerada pelo in-
incapazes de exercer esforço inspiratório suficiente para vencer centivador respiratório a fluxo utilizou-se um manovacuôme-
a resistência gerada pelo inspirômetro de incentivo, o que tro acoplado através de um tubo T e traquéia ao incentivador
dificulta também, as manobras recomendadas no protocolo respiratório (Figura 1 e 2), onde os indivíduos efetuaram a
de alcançar e sustentar volumes inspiratórios máximos. A manobra ventilatória necessária para elevar as respectivas es-
manobra da inspirometria de incentivo é comprometida pela feras: R0, R1, R2 e R3 caracterizando os graus de resistência
falta de habilidade de realizar a técnica, fraqueza muscular e do aparelho. No momento da determinação da resistência
a dor. Pontos que poderiam ser atenuados pelo profissional do inspirometro de incentivo, o voluntário encontrava-se
ao se saber qual o esforço gerado em cada nível de resistência sentado com os pés apoiados e joelhos a 90º graus, com as
do inspirômetro de incentivo [10]. costas recostadas e o tronco ereto formando ângulo de 90º
Sendo assim, passa a ser importante investigar qual seria a graus com a articulação coxofemural. A cabeça posicionada
resistência gerada nas vias aéreas e a força promovida na aplica- seguindo o plano de Frankfurt; de forma que pudesse obter
ção da técnica. O conhecimento dessa resistência possibilitará a visualização das esferas do incentivador respiratório a fluxo.
ajustes na terapêutica dentro de parâmetros correspondentes Foi estabelecido um intervalo de recuperação entre as medidas
à capacidade física avaliada [7-9]. Diante do exposto, surgiu das resistências compatível ao nível de aptidão física de cada
a necessidade de investigar a resistência gerada na pressão indivíduo, porém com o mínimo de trinta segundos e o má-
inspiratória máxima no momento da execução da terapêutica ximo de dois minutos entre cada medida, como recomendado
do incentivador respiratório a fluxo, nos diferentes níveis de pelas diretrizes para provas de função pulmonar [10]. Após
graduação do equipamento R0, R1, R2 e R3 e comparar os cada tentativa o voluntário identificou na escala de percepção
valores obtidos entre indivíduos jovens. subjetiva de esforço (PSE) de Borg o nível de esforço gerado.

Material e métodos Análise estatística

O delineamento deste estudo foi do tipo analítico corre- Para estabelecer as relações entre as variáveis de estudo
lacional exploratório de corte transversal, no qual se buscou foi aplicada estatística descritiva e inferencial, seguida dos
estabelecer a relação entre as variáveis de estudo sem que seguintes tratamentos: para formar os subgrupos aplicou-
10 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

-se a análise de Cluster tendo como variável determinante > 0,05 (Tabela I). O ponto de relevância para as diferenças
o índice de massa corpórea (IMC); seguida da análise da observadas nas variáveis MC e IMC foi permitir e analisar a
curva de normalidade das medidas antropométricas e das possível influência dessas variáveis sobre os valores e padrões
medidas de esforço por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. das pressões inspiratórias máximas para os subgrupos.
A comparação das médias entre os subgrupos, masculino e Na Tabela II são apresentados os valores médios para as
feminino, para as variáveis foi por meio do teste t para medidas variáveis respiratórias. Tanto a PImáx como a PEmáx do G1
independentes. As diferentes resistências geradas pelo inspi- foram significativamente diferentes quando comparadas ao
rômetro de incentivo (R0, R1, R2 e R3) foram analisadas pelo G2 (t = 3,884; p = 0,001 e t = 2,854; p = 0,01) respectiva-
teste de medidas repetidas com Post Hoc de Bonferone [11] mente. Os valores para a PImáx do G3 e G4 não apresentaram
quando observada diferenças significativas entre as médias. O diferença significativa quando comparados (t = -1,337; p
nível de significância adotado foi de p < 0,05 para o aceite das =0,19). Comportamento similar foi observada para a PEmáx
diferenças. Os resultados serão descritos por meio da média quando comparados os G3 e G4 (t = -1,285; p = 0,21).
e de dispersão desvio padrão (média ± DP). A comparação das médias para os níveis de resistência
gerados R0, R1, R2 e R3 pelo incentivador respiratório indicou
Figura 1 e 2 - Descrição da adaptação do manovacuometro para que o nível de esforço gerado pelas esferas do inspirômetro
a determinação dos diferentes níveis resistência no inspirometro de de incentivo apontou padrões significativamente diferentes
incentivo. (Wilks’Λ; F(3; 3,401) = 7,000; p = 0,04) entre o nível R1 com
o R3 no G1, para um poder observado de 51,2%. No G2 a
diferença significativa ocorreu entre as mesmas resistências R1
e R3 (Wilks’Λ; F(3; 21,267) = 17,000; p = 0,001), no entanto,
o poder observado foi superior 98,1% (tabela II). No subgrupo
G3 a análise comparativa apontou que houve diferenças signi-
ficativas (Wilks’Λ; F(3; 26,600) =23,000; p = 0,001); para um
poder de 98,8%; entre todos níveis de resistência, o que indica
aumentos constantes no esforço para esse subgrupo. O G4 se
observou diferenças significativas entre o nível R2 e R3 (Wilks’Λ;
F(3; 12,227)=12,000; p = 0,001), para o poder de 99,5%.
Resultados Os resultados expostos confirmam que tanto no subgrupo
masculino como no feminino o inspirômetro de incentivo pro-
A partir do IMC como variável determinante obteve-se porciona estímulos diferenciados o que podem ser confirmados
pela análise de Cluster os subgrupos, masculinos G1 (n = 10) pelo nível da Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) obtido em
e G2 (n = 20) e femininos G3 (n = 26) e G4 (n = 15) tabela cada resistência. No G1 a média para a R0 = 10,60 ± 1,26 e
I; a curva de normalidade dos dados para todas as variáveis 11,30 ± 1,16; 12,90 ± 1,52 e 13,90 ± 2,38 para R1, R2 e R3 res-
apresentou distribuição normal p < 0,05. Os valores médios pectivamente. Os valores para a PSE no G1 denotam diferença
para o IMC do G2 e G4 caracterizou os subgrupos com significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,301) = 17,000; p = 0,015) entre
sobrepeso sendo observada diferença significativa (t = 6,118; a PSE da R1 com a PSE de R2 e R3. A PSE no G2 apresentou
p = 0,001) para os seus respectivos pares G1 e G3 (Tabela I). diferença significativa (Wilks’Λ; F(3; 7,322)=18,000; p =
A comparação da massa corporal (MC) entre os subgru- 0,001) entre todas as resistências: R0 = 9,25 ± 1,97; R1 = 10,80
pos masculinos apontou diferença significativa para a massa ± 1,85; R2 = 12,25 ± 1,97 e R3 = 13,90 ± 2,29. A percepção é
corporal (t = 4,793; p = 0,001). Comportamento similar foi compatível com o valor do delta percentual (Δ%) tanto no G1
observado para os subgrupos femininos (t = -4,584; p = 0,001 como no G2. No G1 o R0 correspondeu a 65,49% da PImáx
e t = -9,736; p = 0,001) respectivamente. No entanto, a média enquanto no G2 essa correspondeu a 43,13%. O Δ% R1 =
de idade e a estatura tanto nos subgrupos masculinos como 74,15%; R2 = 79,81% e R3 = 89,84%. Os valores respectivos
nos femininos não apresentaram diferenças significativas p do Δ% no G2 foram 53,15%; 61,20% e 68,14%.

Tabela I - Valores médios e o desvio padrão (DP) para as variáveis antropométricas de adultos jovens de ambos os sexos submetidos à análise
das pressões estáticas máximas (PImáx e PEmáx).
Masculino Feminino
G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15)
Idade (anos) 25,50 ± 3,21 24,60 ± 3,76 23,88 ± 3,09 25,13 ± 4,14
Estatura (m) 1,73 ± 0,05 1,73 ± 0,05 1,63 ± 0,08 1,61 ± 0,06
Massa corporal (kg) 67,16 ± 5,73* 80,30 ± 7,64 55,43 ± 7,57* 65,58 ± 5,26
IMC (kg/m2) 22,48 ± 1,88* 26,71 ± 1,74 20,86 ± 1,25* 25,15 ± 1,52
* = p < 0,05 entre os grupos; IMC = índice de massa corporal.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 11

Tabela II - Valores médios e desvio padrão para pressões estáticas máximas (PImáx; PEmáx) e para as resistências observadas pelo incentivador
respiratório em indivíduos jovens.
Masculino Feminino
G1 (n = 10) G2 (n = 20) G3 (n = 26) G4 (n = 15)
PImáx -102,50 ± 22,88* -150,00 ± 34,94 -94,81 ± 24,35 -108,00 ± 39,00
PEmáx 108,00 ± 30,48* 146,00 ± 36,08 84,04 ± 24,62 95,67 ± 33,00
R0 64,00 ± 24,59 64,00 ± 25,83 51,35 ± 15,85 50,33 ± 18,07
R1 74,00 ± 22,46* 78,50 ± 21,47* 57,69 ± 14,78* 54,33 ± 16,99
R2 80,00 ± 23,09 89,75 ± 17,51* 63,85 ± 13,44* 66,67 ± 13,58*
R3 90,00 ± 21,86 99,50 ± 14,59* 67,50 ± 14,02* 67,00 ± 16,88*
* = p < 0,05; PImáx = Pressão Inspiratória Máxima ; PEmáx = Pressão Expiratória Máxima ; R0 = PImáx no grau 0 do IR ; R1 = PImáx no grau 1 do IR;
R2 = PImáx no grau 2 do IR; R3 = PImáx no grau 3 do IR.

A PSE nos subgrupos G3 e G4 apresentaram comporta- Embora não seja o objeto de estudo, os resultados obser-
mento similar aos observados para os subgrupos masculinos, vados passam a ter uma importância para a compreensão das
sendo que no G3 houve diferença (Wilks’Λ; F(3; 25,208) resistências geradas ou a força necessária para utilização do
= 23,000; p = 0,001) para PSE em todos os momentos: R0 incentivador respiratório. Os valores para a PImáx e PEmáx
= 9,92 ± 2,13; R1 = 11,77 ± 1,86; R2 = 13,46 ± 177 e R3 = comportaram-se de forma similar aos apontados por Teixeira
15,00 ± 1,90 e para o G4 respectivamente PSE foram signi- et al. [14] porque obtiveram valores superiores para a PImáx
ficativamente diferentes (Wilks’Λ; F(3; 25,569) = 12,000; p e PEmáx em indivíduos de ambos os sexos, classificados
= 0,001) R0 = 10,87 ± 1,60 com R2 = 13,53 ± 1,68 e R3 = com grau II e III de obesidade com média de idade de 38,1
14,60 ± 19,2; a R1 = 11,93 ± 1,62 foi diferente de R2 e R3 e a ± 9,6 anos, quando comparados, os valores em média foram
R3 apresentou diferença com todos os momentos. Os valores superiores em 6,7% e 39,2% respectivamente aos padrões
médios para a PSE corresponderam ao Δ% no G3 de R0 = normativos para a idade.
55,92%; R1 = 63,32%; R2 = 70,73% e R3 = 74,33%. No O comportamento observado no presente estudo assim
G4 os valores foram 48,84%; 53,05%; 65,58% e 66,74% como os resultados apresentados por Teixeira et al. [14] são
respectivamente. Os valores observados indicam uma pro- divergentes dos descritos no estudo de Rasslan et al. [15] que
gressão na resistência, caracterizando alteração no estímulo relata uma redução nos volumes respiratórios em indivíduos
gerado. No entanto, nota-se que essa progressão não apresenta obesos de ambos os sexos. No entanto, cabe ressaltar que Rass-
uma proporção lógica no incremento da resistência gerada lan et al. [15] não estudaram o comportamento da PImáx e da
pelo equipamento. O que poderá gerar uma falha dentro do PEmáx o que impossibilita uma comparação dessas variáveis
procedimento terapêutico, já que não se pode estabelecer um de forma mais precisa. Embora não sejam apresentados de
ajuste do esforço de forma precisa. forma direta os valores para as pressões respiratórias estáti-
cas máximas nos resultados de Rasslan et al. [15], os dados
Discussão apresentados indicam uma redução na PImáx e na PEmáx
em decorrência do aumento do IMC. Convergindo para o
Os valores médios para o IMC dos subgrupos foram comportamento descrito por Parameswaran, Todd e Soth [6]
caracterizados a partir da amostra como: indivíduos jovens em estudo de revisão, no qual os dados indicam a redução da
18,5 a 24,9 kg/m2 G1 e G3 e com sobrepeso 25 e 29,9 kg/ complacência e na força da musculatura respiratória, indican-
m2 G2 e G4 [12] (Tabela I). Os valores mensurados para as do assim, menores valores para as pressões estáticas máximas
pressões estáticas máximas são divergentes para os indivíduos em indivíduos obesos.
com sobrepeso G2 e G4, nesses subgrupos os valores tanto da Os resultados antropométricos do G2 caracterizam uma
PImáx como da PEmáx foram superiores e significativamente condição de sobrepeso, o que poderia ser interpretado com
diferente entre os homens quando comparados aos valores uma variável morfológica a ser estudada, já que o aumen-
normativos descritos por Neder et al. [13], que descrevem to da massa gorda pode ser um estímulo positivo sobre a
valores para a PImáx em homens de -116,78 ± 14,02 cmH2O. musculatura respiratória [12], enquanto a obesidade grau I,
Enquanto para as mulheres os valores foram superiores mais II e III apresenta maiores restrições à força e complacência
sem apresentar diferença significativa para os valores norma- respiratória [6]. A hipótese levantada quanto ao sobrepeso
tivos -86,53 ± 8,76 cmH2O [13]. ser um estímulo positivo sobre as pressões estáticas, ganha
A diferença observada para PEmáx entre o G1 e o G2 sustentação pelos valores observados para a força gerada pelo
foram similares aos da PImax, porém o G1 encontra-se fora inspirômetro de incentivo no G2 (Tabela II).
dos valores normativos para o sexo masculino 126,30 ± 14,19 O inspirômetro de incentivo utilizado na investigação foi
cmH2O. No grupo das mulheres os valores encontram-se den- do tipo a fluxo, que tem por objetivo melhorar as respostas
tro da normalidade 85,88 ± 10,90 cmH2O para o sexo [13]. ventilatórias do paciente em suas atividades diárias, pro-
12 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

movendo estímulos para o fortalecimento da musculatura são superiores em media (57,42 cmH2O) observados para o
respiratória. Para tanto, a musculatura respiratória deve ser Threshold IMT descritos no estudo de Alves e Brunetto [20]
submetida a estímulos que possibilitem alterar o limiar de 9,6 cmH2O para as cargas iniciais. Os autores procuraram
força da musculatura, o que favorece o aumento na PImáx a a resistência em cmH2O gerada pelo Threshold conforme a
partir da resistência gerada. Os resultados obtidos no presente massa das esferas e o diâmetro, indicando, assim, pressão
estudo demonstram que há aumentos no estímulo (intensi- inicial necessária para abertura da válvula do Threshold.
dade) gerado pelo inspirômetro de incentivo. Observou-se A massa das esferas do inspirometro de incentivo apre-
diferentes níveis de resistência, do menor esforço (grau 0) sentou uma variação irregular, sendo a segunda esfera com
para o maior esforço (grau 3), com diferenças significativas a maior massa (1,1153 g) e a primeira e terceira com as res-
entre as intensidades geradas pelos respectivos níveis R0, R1, pectivas massas (0,8785 g e 0,9178 g). A determinação da
R2 e R3, indicando aumento gradativo na resistência para os resistência gerada pelo diâmetro dos tubos do inspirometro
indivíduos dos subgrupos. Entretanto, a variação observada de incentivo não foi determinada no presente estudo, o que
para a resistência não segue uma linearidade ou proporção caracteriza uma limitação nos resultados obtidos inviabilizan-
entre as diferentes intensidades de esforço. do estabelecer de forma concreta as pressões geradas por cada
Pelos resultados pudemos observar com relação aos ní- esfera como descrito em estudo anterior [20]. O motivo para
veis R1, R2 e R3, no grupo amostral dos homens, que eles não ser levada em consideração a medida do diâmetro dos
necessitam aumentar a força absoluta e relativa em cada grau tubos do inspirometro de incentivo é pelo fato do sistema de
quando comparado às mulheres, o que condiz com as carac- regulagem do fluxo apresentar uma escala de graduação de 0
terísticas fisiológicas entre os sexos, o que provavelmente é a 3, o que inviabilizaria a coleta dos dados.
resultante das características das fibras musculares que apesar O nível de esforço gerado pelo inspirometro de incentivo
de apresentarem certa semelhança em homens e mulheres, o permite explicar os resultados apresentados por estudos com
volume de cada fibra é maior nos homens, conferindo maior Cruz et al. [4] e de Villiot-Danger [19], os quais obtiveram
força muscular [16,17]. melhoras significativas para pressões respiratórias estáticas
Pela a análise do Delta percentual (∆%) correspondente ao máximas, corroborando as recomendações apresentadas no
esforço necessário para movimentar as esferas, nota-se que na R0 American Thoracic Society, European Respiratory Society. ATS/
o G1 foi superior ao do G2 quando analisados os valores relati- ERS [21] para o fortalecimento da musculatura respiratória
vos, seguindo a mesma tendência nas outras resistências. O G1 de indivíduos acometidos de doenças obstrutivas crônicas.
teve o Δ% mais baixo que os demais grupos mostrando que este Os resultados obtidos no estudo de Cruz et al. [4] indicam
utilizou menor porcentagem da sua força inspiratória máxima na ganhos significativos nas capacidades pulmonares e força
manobra com o inspirometro de incentivo, coincidindo com o muscular respiratória de indivíduos obesos, indicando que
fato de que este grupo apresentou a maior média de PImáx e, em- este método terapêutico contribui para a recuperação da
bora não tenham sido observadas alterações significativas no Δ% mecânica respiratória.
entre os níveis de esforço nos subgrupos femininos, observou-se
que com o aumento dos níveis de esforço houve um acréscimo Conclusão
gradativo no Δ%, assim como nos subgrupos masculinos. A
redução observada para o Δ% poderia explicar a capacidade de Conclui-se que a intensidade gerada pelo inspirômetro
mobilização da musculatura acessória por parte do indivíduo no de incentivo é de leve a moderada para os níveis 1, 2 e 3
momento do uso do inspirometro de incentivo, o que explicaria podendo atingir intensidades superiores a 80% no nível 3
a ineficácia da mobilização das esferas [18]. em indivíduos com sobrepeso. As variações observadas para a
Villiot-Danger [19], em estudo comparativo da alteração massa das esferas explicam as diferenças significativas obtidas
das forças inspiratórias e expiratórias entre jovens saudáveis e entre os diferentes níveis de esforço para indivíduos jovens de
idosos sedentários submetidos ao treinamento por 5 semanas ambos os sexos. Recomenda-se investigações em outras faixas
como frequência semanal de 3 vezes, concluiu que houve etárias e em grupos de características morfológicas diferentes.
aumento da força da musculatura respiratória dos idosos, no Ademais há necessidade de implementar estudos de adequação
entanto, não ocorreu melhorias significativa para os jovens, dos protocolos para cada grupo de população específico como,
considerando-se que para estes haveria a necessidade de uma por exemplo, para obesos, visto que treinamento muscular
carga adicional devido a integridade do sistema respiratório. respiratório específico pode contribuir para melhora funcional
O que parece ser intrigante, já que no presente estudo a desses indivíduos.
resistência do nível de esforço R0 pode ser considerada de
leve a moderada, uma vez que, se encontra entre 40 e 60% Referências
da PImáx da amostra e nos níveis R1, R2 e R3 de moderada
para vigorosa, nota-se que na R3 do G2 = -89,84% da PImáx. 1. Overend TJ, Anderson CM, Lucy SD, Bhatia C, Jonsson BI,
Os valores correspondentes aos percentuais da PImáx ou Timmermans C. The effect of incentive spirometry on posto-
intensidade de esforço no uso da inspirometria de incentivo perative pulmonary complications: a systematic review. Chest
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 13

2. Domingos-Benicio NC, Gastaldi AC, Perecin JC, Avena KM, 12. Rucker D, Padwal R, Li SK, Curioni C, Lau DC. Long term
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14 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Artigo original

Comparação dos determinantes de risco para o


desenvolvimento infantil entre pré-escolares de escola
pública e particular na cidade do Recife/PE
Comparison of determinants of risk on child development in preschool
between public and private school at Recife/PE
Rebeca de Oliveira Silva*, Cristiana Maria Macedo Brito, Ft., M.Sc.**, Ana Karolina Pontes de Lima, Ft., M.Sc.***,
Cláudia Fonseca de Lima, Ft. M.Sc.****

*Universidade Católica de Pernambuco, **Professora assistente 1 da Universidade Católica de Pernambuco do Curso de Fisioterapia,
***Professora Auxiliar da Universidade Católica de Pernambuco, ****Professora Assistente da Universidade Católica de Pernambuco

Resumo Abstract
Objetivo: Comparar os determinantes de risco entre pré-escolares Objective: To compare the determinants of risk among pres-
de escola pública e particular na cidade do Recife. Método: Foi utiliza- chool children in public and private schools in the city of Recife.
do um questionário, aplicado aos pais ou responsável legal da criança Method: A questionnaire was used, which was applied to parents or
por meio de entrevista para identificar os fatores socioeconômicos e legal guardian of the child by means of questioning, to identify the
demográficos das crianças que frequentam a escola da rede pública socio-economic and demographic factors of children who attend
municipal e privada. Foram incluídas no estudo todas as crianças, public and private school. The study included all children of both
de ambos os gêneros, na faixa etária de quatro a seis anos, que fre- genders, aged four to six years, attending school regularly, from April
quentavam regularmente a escola, no período de abril a agosto de to August 2010, and excluded children who had some neurological
2010; e excluídas as que apresentavam diagnósticos neurológicos ou injury or osteoarticular deformities, vision or hearing deficiency.
que eram portadoras de deformidades osteoarticulares, deficiência The sample had 40 children, composed by 20 from public schools
visual, auditiva ou cognitiva. Participaram da amostra 40 crianças, and 20 from particular ones. Results: The children in public school
sendo 20 da escola pública municipal e 20, da particular. Resultados: were more exposed to the risk determinants for child development
As crianças da escola pública apresentaram-se mais expostas aos than those in private schools. Conclusion: Therefore, it is stressed the
determinantes de risco para o desenvolvimento infantil que aquelas importance of the presence of health professionals with the school
da escola particular. Conclusão: Sendo assim, salienta-se a impor- staff in order to identify very early these determinants and preventive
tância da presença do profissional de saúde junto à equipe escolar, actions for the normal development of the child.
a fim de identificar de forma precoce esses determinantes para que Key-words: child development, risk factors, school health, child
sejam tomadas medidas preventivas que visem o desenvolvimento preschool, school health services.
neuropsicomotor adequado na infância.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, fatores de risco, saúde
escolar, pré-escolar, serviços de saúde escolar.

Recebido em 28 de setembro de 2011; aceito em 26 de novembro de 2012.


Endereço para correspondência: Rebeca de Oliveira Silva, Rua Abreu e Lima, 65/701, Tamarineira, 52041-040 Recife PE, E-mail: rebec7@hotmail.
com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 15

Introdução Material e métodos

O desenvolvimento infantil pode ser definido como Trata-se de um estudo do tipo corte transversal descritivo,
mudanças de novos comportamentos, provocando transfor- o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
mações no organismo, onde cada etapa é pré-requisito para Humanos do IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor
a seguinte [1]. Porém, a forma como a criança utiliza seu Fernando Figueira) sob CAAE – 0295.0.099.096-09.
potencial pode sofrer influência de fatores biológicos, gene- A pesquisa foi realizada no período de abril a agosto de
ticamente determinados e de circunstâncias ambientais [2]. 2010, em uma escola da rede pública municipal e uma escola
Atualmente, já se considera que os fatores de risco para o da rede privada. Na qual foram incluídas todas as crianças, de
desenvolvimento infantil podem estar presentes na própria ambos os gêneros (feminino e masculino), na faixa etária de
criança (componentes biológicos, temperamento e a própria quatro a seis anos, que frequentavam regularmente as escolas,
sintomatologia), na família (história parental e dinâmica fa- durante o período de realização da pesquisa e cujos pais ou
miliar) ou no ambiente (nível socioeconômico, suporte social, responsável legal assinaram o Termo de Consentimento Livre
escolaridade e contexto cultural) [3]. Contudo, apesar de distin- e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas as crianças que apre-
tos, esses fatores não são excludentes, definindo a característica sentavam alguma lesão neurológica ou que eram portadoras
multifatorial dos atrasos do desenvolvimento infantil [4]. de deformidades osteoarticulares, deficiência visual, auditiva
Na infância, os principais vínculos, cuidados e estímulos ou cognitiva.
necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança O tamanho inicial esperado da amostra era de 100 crian-
são fornecidos pela família. É ela o primeiro universo de ças, sendo 50 de uma escola pública municipal e 50 de uma
relações sociais da criança, sendo talvez, das formas de rela- escola particular. Porém, das crianças solicitadas, apenas 40
cionamento a mais complexa e de ação mais profunda sobre compuseram a amostra, visto que os pais ou responsáveis legais
o desenvolvimento humano, fato esse que é agravado quando pelas demais crianças se recusaram a assinar o TCLE, de forma
essas famílias apresentam baixo nível socioeconômico [5,6]. que a amostra foi constituída de 20 crianças provenientes da
Isso porque as dificuldades associadas à pobreza prejudicam rede pública e 20 da rede privada.
não só o bem-estar psicológico dos pais, como também o Inicialmente, realizou-se um primeiro contato com a
ambiente interpessoal da casa, afetando o desenvolvimento coordenação pedagógica das escolas, no qual foi verificado
dessas crianças, que pode se refletir em sua vida adulta [7]. É o interesse das instituições em participar da pesquisa. Em
nesse ambiente, portanto, que a criança tanto pode receber seguida, foi feito o contato pessoal, nas escolas, com os pais
proteção, quanto conviver com os riscos [5]. ou responsável legal pela criança, no qual foram fornecidas as
Nas últimas décadas, o interesse pelo acompanhamento devidas explicações sobre o projeto e solicitado à assinatura do
do desenvolvimento integral da criança vem aumentando, TCLE, os quais foram informados de que a participação da
devido ao reconhecimento de que a prevenção de problemas criança era de caráter voluntário, podendo haver desistência
durante a infância exerce efeitos duradouros na constituição a qualquer momento.
do ser humano [8]. Contudo, apesar da prática preventiva A identificação dos fatores de risco para o desenvolvimen-
ainda não ser uma realidade totalmente instalada nas culturas to infantil foi feita através da aplicação de um questionário
ocidentais, já existem projetos voltados à prevenção primária, impresso em papel aos pais ou responsável legal pela criança,
destinados aos pré-escolares [1]. cujos itens diziam respeito às condições socioeconômicas
As instituições que se destinam a educar e cuidar das crian- (quantidade de pessoas que trabalham na casa; valor da renda
ças são as creches, que atendem a faixa etária de 0 a 3 anos, e mensal); demográficas (tipo de residência; número de morado-
as pré-escolas, que abordam a faixa etária de 4 a 6 anos [9]. res); e ambientais das famílias (escolaridade do pai/mãe; sabe
No Brasil (2002), apesar dos pré-escolares corresponderem a ler e/ou escrever). Na rede pública municipal, o questionário
13,3% do total de habitantes, esse grupo é carente de procedi- foi aplicado pessoalmente pela pesquisadora nas dependências
mentos adequados que garantam o desenvolvimento integral da da escola, a qual anotava as respostas diretamente na folha
criança, fazendo com que ela entre na estrutura de ensino sem do questionário em virtude de muitos pais ou responsáveis
as mínimas condições intelectuais e motoras necessárias [10]. legais não saberem ler e/ou escrever. Já na escola particular, o
Diante disso, há uma crescente preocupação em se investigar questionário foi enviado, junto à agenda das crianças, aos pais
a dinâmica e o nível socioeconômico das instituições que se que responderam em casa, e posteriormente encaminharam
destinam a matricular crianças pré-escolares [11]. Nesse sentido, para escola. Esse questionário foi elaborado com base no
quanto mais cedo uma dificuldade ou limitação for constatada, estudo de Maciel [15].
maiores serão as chances de um retorno funcional da criança ao A apresentação das variáveis mensuradas foi feita através
seu ambiente escolar, familiar e social [12-14]. Dessa forma, o de tabelas, incluindo também o uso de algumas medidas
presente estudo tem como objetivo comparar os determinantes descritivas, como média e desvio padrão. Para testar a supo-
de risco em pré-escolares de uma escola pública municipal com sição de normalidade das variáveis envolvidas no estudo foi
relação aqueles de uma escola privada da cidade do Recife. aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov. As análises compa-
16 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

rativas das proporções foram realizadas utilizando-se o teste Tabela IV - Escolaridade dos pais da amostra estudada.
exato de Fisher. A comparação entre as médias obtidas nos Escolaridade do Pai Públicas Privadas Valor-p*
dois grupos foi realizada utilizando-se o teste t-student para 1° Grau Incompleto 15 (75,0) 0 (0,0) 0,00
amostras independentes. Todas as conclusões foram tomadas 3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48
ao nível de significância de 5% e os softwares utilizados foram 3° Grau Completo 0 (0,0) 18 (80,0) 0,00
o GraphPad Prism versão 4.0 e Microsoft Office Excel 2007. Não soube informar 5 (25,0) 0 (0,0) 0,05
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
Resultados de Fisher.

A amostra foi composta de crianças de ambos os gêneros, A caracterização da amostra estudada quanto à execução
não sendo observadas diferenças significativas entre os grupos de atividade laboral pelos pais e mães encontra-se na Tabela
(p = 0,68), quanto à idade (4 a 6 anos). V, não sendo observada diferença significativa entre os grupos.
As Tabelas I e II apresentam o estado civil das mães e pais
ou responsável legal das crianças avaliadas, observando-se um Tabela V - Caracterização da amostra estudada quanto à execução
número significativamente maior de mães e pais solteiros no de atividade laboral pelos pais e mães.
grupo de crianças de escolas públicas (p = 0,00) e de mães Genitor Públicas Privadas Valor-p*
e pais casados no grupo de crianças de escolas privadas (p = Mãe 9 (45,0) 19 (95,0) 0,21
0,00 e p = 0,03, respectivamente). Pai 7 (35,0) 20(100,0) 0,07
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
Tabela I - Estado civil das mães da amostra estudada. de Fisher.
Estado civil da mãe Públicas Privadas Valor-p*
Solteira 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 A Tabela VI apresenta a caracterização da amostra quanto
Casada 4 (20,0) 20 (100,0) 0,00 à renda mensal dos responsáveis pelas crianças. É possível ob-
Falecida 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 servar que uma maior proporção de responsáveis pelas crianças
Não soube informar 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 das escolas privadas não informaram sua renda mensal (p =
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato 0,02) ou possuem renda superior a dez salários mínimos (p =
de Fisher. 0,00). Já no grupo de crianças de escolas públicas, uma maior
proporção dos responsáveis recebe menos de um salário ou de
Tabela II - Estado civil dos pais da amostra estudada. um a dois salários mínimos mensais (p = 0,00).
Estado civil do pai Públicas Privadas Valor-p*
Solteiro 10 (50,0) 0 (0,0) 0,00 Tabela VI - Caracterização da amostra quanto à renda mensal dos
Casado 6 (30,0) 20 (100,0) 0,03 responsáveis pelas crianças.
Falecido 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00 Renda mensal (salá- Públicas Privadas Valor-p*
Não soube Informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 rios mínimos)
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato Não informado 0 (0,0) 6 (30,0) 0,02
de Fisher. <1 9 (45,0) 0 (0,0) 0,00
1a2 10(50,0) 0 (0,0) 0,00
As Tabelas III e IV apresentam, respectivamente, o nível de 2a3 1 (5,0) 0 (0,0) 1,00
escolaridade das mães e pais dos grupos analisados. É possível 5 a 10 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48
observar uma maior proporção de mães e pais com 1° grau > 10 0 (0,0) 12(60,0) 0,00
incompleto no grupo de crianças de escola pública, além de Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
uma maior proporção de mães e pais com 3° grau completo de Fisher.
no grupo de crianças de escolas privadas (p = 0,00).
Discussão
Tabela III - Escolaridade das mães da amostra estudada.
Escolaridade da Mãe Públicas Privadas Valor-p* No que se refere aos fatores de risco ambientais para o
1° Grau Incompleto 14 (70,0) 0 (0,0) 0,00 desenvolvimento infantil, Rohenkohl e Castro [5] relatam
1° Grau Completo 2 (10,0) 0 (0,0) 0,48 que os pais constituem o primeiro núcleo social da criança,
2° Grau Completo 1 (5,0) 2 (10,0) 1,00 sendo, portanto, natural que a figura dos pais, bem como as
3° Grau Incompleto 0 (0,0) 2 (10,0) 0,48 práticas parentais adotadas tenha grande influência no pro-
3° Grau Completo 0 (0,0) 16 (80,0) 0,00 cesso de desenvolvimento da criança. Segundo esses autores
Não soube informar 3 (15,0) 0 (0,0) 0,23 a relação entre pais e filhos tem atuado como importante
Os valores estão expressos como números absolutos (%). * Teste exato
fator para a qualidade de vida das famílias, influenciando
de Fisher.
diretamente nos cuidados com os filhos. No entanto, esses
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 17

mesmos laços familiares que protegem podem também di- bem-estar das crianças. Para esses autores crianças cujos pais
ficultar o desenvolvimento da criança e provocar problemas tinham até 8 anos de escolaridade apresentaram risco de 4,63
no seu ajustamento social [5]. vezes maior de apresentarem desempenho suspeito de atraso
Segundo Lucena et al. [2], crianças cujos pais eram se- em habilidades de locomoção. Corroborando esses achados,
parados estavam mais predispostas a apresentarem algum Carneiro [15] verificou que a escolaridade paterna igual ou
tipo de alteração psicomotora. Para ele isso ocorre porque inferior a 8 anos de estudos influenciou o desenvolvimento
o divórcio é considerado um evento estressor, que modifica infantil, visto que 27,91% das crianças avaliadas apresentaram
a estrutura familiar, alterando a dinâmica das relações fa- risco para o desenvolvimento.
miliares e, consequentemente, o ajustamento das crianças. No que diz respeito a esse aspecto, no presente estudo, foi
Sendo assim, em seu estudo todas as crianças cujos pais eram possível observar uma maior proporção de mães e pais com 1°
separados apresentaram algum tipo de alteração psicomotora, grau incompleto nas crianças da escola pública, além de uma
sugerindo ser este um fator implicado no desenvolvimento maior proporção de mães e pais com 3° grau completo nas
motor primário dos escolares. crianças da escola privada. Esse dado sugere que as crianças
Defilipo et al. [13], em estudo com 239 lactentes com da escola pública apresentam mais chance de apresentarem
idade entre três e 18 meses, residentes no município de Juiz atrasos no desenvolvimento, quando comparadas a população
de Fora/MG, em 2010, verificaram que o fato de a maioria da escola particular.
das famílias serem formadas predominantemente por uniões Paiva et al. [17], que avaliaram uma amostra de 136
estáveis apresentaram oportunidades mais favoráveis ao de- crianças entre 9 e 12 meses de vida, verificaram, dentro do
senvolvimento motor. contexto de pobreza, as condições socioeconômicas desfavo-
Corroborando o estudo anterior, o presente trabalho, ráveis​​, expressas através do desemprego materno e paterno,
observou que a maioria dos pais da rede privada apresentou o qual teve um impacto negativo em diferentes aspectos do
união estável, quando comparados aos da rede pública, que desenvolvimento. Segundo esses autores a instabilidade eco-
na maioria eram solteiros, sugerindo que as crianças da escola nômica em casa, resultante de desemprego, e consequente
particular estariam menos expostas aos fatores de risco para redução na renda familiar, constitui um importante fator de
o desenvolvimento. risco para o desenvolvimento. Nessa situação de desempre-
Dentro desse aspecto, a presença paterna também constitui go, os pais tornam-se mais punitivos, menos comunicativos
um fator de proteção para os atrasos do desenvolvimento, o que e sensíveis às necessidades da criança, comprometendo seu
foi evidenciado pelo estudo de Rohenkohl e Castro [5]. Para desenvolvimento [17].
Delfilipo et al. [13] isso ocorre porque a presença do pai no Ainda em relação à atividade laboral dos pais, Maria-
ambiente familiar garante maior segurança no desempenho da -Mengel e Linhares [18] relatam que quanto maior o nível
função materna, contribuindo para o desenvolvimento saudável de escolaridade, melhor poderá ser o emprego dos pais. Ao
de seus filhos. Porém, o estudo de Amorim et al. [8] teve resultado avaliar escolaridade, o nível ocupacional e a renda das famí-
oposto, observando que crianças que tiveram maior tempo com lias das 120 crianças, de 6 a 44 meses, do Núcleo da Saúde
seus pais, apresentaram percentuais mais elevados de atraso na da Família em São Paulo, Maria-Mengel [19] verificou que
persistência motora. Para os autores isso pode estar atrelado ao o nível escolar predominante foi de 1° completo, com a
fato da própria concepção paterna de ser apenas provedor, caben- maioria dos pais exercendo trabalho não-qualificado ou de
do os cuidados corporais da criança exclusivamente as mulheres. níveis semiqualificados, com renda familiar média de 500
Outro fator que pode trazer influência significativa para reais. Para essa autora, os poucos recursos de escolarização e
o desenvolvimento infantil é a escolaridade dos pais. Para a baixa qualificação dos pais são elementos intrínsecos que
Defilipo et al. [13] o maior grau de escolaridade da mãe está acabam por provocar riscos psicossociais importantes no
associado a melhores oportunidade de estímulos ambientais. E ambiente da criança.
isso pode ser explicado pelo fato de as mães com maior grau de Já no que se refere ao presente estudo, apesar de não
instrução apresentarem maior acesso a informações e melhor ter sido verificada diferença significativa importante entre
conhecimento sobre o processo de desenvolvimento dos seus os grupos, sugere-se que as crianças da escola particular,
filhos, contribuindo de forma positiva nas oportunidades de cujos pais apresentaram empregos mais qualificados,
estimulação disponíveis no domicílio [14]. estariam menos expostas aos fatores de risco para o de-
Entretanto, Carneiro [15] detectou em seu estudo que das senvolvimento.
25,58% crianças que apresentaram risco de atraso no desen- Entretanto, ao avaliar o nível socioeconômico das famílias,
volvimento, 16,28% são filhas de mães com menos 8 anos o presente estudo encontrou diferença significante entre as
de estudo. Nesse sentido, Nascimento et al. [16] verificaram duas populações. Segundo Halpern et al. [6] crianças cujas
que a baixa escolaridade materna pode sim ser considerada famílias apresentam menor renda, estão mais predispostas
fator de risco para atraso do DNPM. a terem atrasos no desenvolvimento. Para Mistry et al. [20]
Segundo Santos et al. [7], bem como a escolaridade ma- isso ocorre porque crianças em situação de pobreza enfren-
terna, a paterna também interfere de forma significativa no tam, muitas vezes, múltiplos riscos, como: condições de vida
18 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

inadequadas, poucos recursos materiais, acesso limitado a Entretanto, é importante enfatizar que os resultados das
cuidados de saúde, entre outros problemas. análises realizadas mostram apenas indícios de associação
Veleda et al. [21] ao avaliarem uma amostra de crianças entre as variáveis, não sendo, portanto, conclusivos, e a sua
entre 8 a 12 meses de idade indicadas como de risco ao nascer extrapolação deve ser vista com cautela, explorando ainda
no município do Rio Grande, Rio Grande do Sul. Verificaram mais as relações de causa e efeito.
que crianças pertencentes às famílias com renda menor que
dois salários mínimos apresentaram duas vezes mais riscos de Conclusão
terem suspeita de atraso no desenvolvimento. Ainda segundo
esses autores crianças mais pobres apresentam 50% mais Foi possível observar que as crianças da escola pública,
risco de terem um suspeita de atraso. Para Santos et al. [7], por apresentarem precárias condições socioeconômicas e
isso acontece porque as condições de pobreza amplificam a demográficas apresentaram-se mais expostas aos fatores de
vulnerabilidade biológica da criança, levando a resultados risco para o desenvolvimento.
desfavoráveis no desenvolvimento. Sendo assim, salienta-se a importância da presença do
Paiva et al. [17] constataram numa amostra de 136 crianças profissional de saúde junto à equipe escolar, priorizando as
entre 9 e 12 meses de vida, em quatro Unidades de Saúde da populações mais expostas aos fatores de risco para o desenvol-
Família do Distrito Sanitário IV da cidade do Recife. O efeito vimento infantil, no sentido de identificar de forma precoce
negativo mais importante da pobreza no desenvolvimento os principais problemas. E assim, estabelecer programas de
das crianças estudadas foi na área da comunicação receptiva. intervenção que visem à estimulação do desenvolvimento
Isso porque famílias com um nível socioeconômico maior neuropsicomotor normal da criança. Além disso, é de grande
leem mais para seus filhos, engajando-os num rico discurso, importância a orientação da família e dos educadores nesse
à medida que proveem estratégias verbais mais complexas. processo de desenvolvimento da criança.
Além do impacto direto na saúde e bem-estar da criança,
a renda familiar associa-se também com as condições de vida Agradecimentos
e o acesso aos bens e serviços, estando relacionada a diferentes
condições de risco para saúde materno infantil tais como, Às escolas, pela permissão dada para que a coleta de dados
maior frequência de baixo peso ao nascer e déficit ponderal fosse realizada em suas dependências.
em recém-nascidos [21]. Desta forma percebe-se que a renda Às famílias das crianças que compuseram a amostra do
familiar, à medida que proporciona melhores condições gerais estudo pela confiança e por terem compartilhado um pouco
de vida para a família, está diretamente relacionada com as dos seus contextos de vida.
oportunidades de desenvolvimento e com a qualidade de À Maria Elisa, a qual participou como colaboradora na
vida da criança. pesquisa de campo, auxiliando na coleta de dados em diversas
Por outro lado, diferentemente do presente estudo, fases da pesquisa.
Amorim et al. [8] investigaram a associação de atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor com possíveis fatores de Referências
risco biológicos, ambientais e socioeconômicos, observaram
que a renda per capita não mostrou ser um fator de risco 1. Zilke R, Bonamigo ECB, Winkelmann ER. Desenvol-
para atraso no desenvolvimento, o que pode ser justificado vimento neuropsicomotor de crianças de 2 a 5 anos que
pelo fato de a amostra estudada apresentar-se relativamente frequentam escolas de educação infantil. Fisioter Mov
2009;22(3):439-47.
homogênea em relação aos níveis de renda.
2. Lucena NMG, Aragão POR, Andrade SMMS, Lucena LC, Melo
Uma limitação do presente foi a dificuldade relaciona-
LGB, Rocha TV. Estudo do desenvolvimento motor primário de
das à falta de colaboração de algumas famílias na resposta crianças em idade escolar submetidas à avaliação psicomotora.
do questionário, as quais foram fatores determinantes na Arq Ciênc Saúde 2009;16(3):120-26.
redução da amostra, limitando as aná­lises realizadas e a 3. Braga AKP, Rodovalho JC, Formiga CKMR. Evolução do
interpretação dos resultados. Todavia, as perdas amostrais crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor de crianças
sofridas durante a execução do trabalho não se constituem pré-escolares de zero a dois anos do município de Goiânia (GO).
num fato isolado. Na literatura atual, há relatos de perdas Rev Bras Cresc Desenv Hum 2011;21(2):230-9.
de 40%, por razões bastante semelhantes às vivenciadas por 4. Custódio ZAO, Crepaldi MA, Cruz RM. Desenvolvimento
estes autores [18]. de crianças nascidas pré-termo avaliado pelo teste de Denver-
-II: revisão da produção científica brasileira. Psicol Reflex
Embora considerando as dificuldades vivenciadas durante
Crit 2012;25(2):400-6.
o desenrolar da pesquisa de campo e as limitações do estudo, 5. Rohenkohl MIA, Castro EK. Afetividade, conflito familiar
os resultados das associações sugerem que o ambiente, sobre- e problemas de comportamento em pré-escolares de famílias
tudo, de crianças que vivem em contextos de desigualdades, de baixa renda: visão de mães e professoras. Psicol: Ciênc Prof
acaba por interferir de forma importante no desenvolvimento, 2012;32(2):438-51.
podendo atuar como um fator protetor ou de risco. 6. Halpern R, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS, Victora CG,
Barros FC. Developmental status at age 12 months according to
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 19

birth weight and family income: a comparison of two Brazilian 13. Defilipo EC, Frônio JS, Teixeira MTB, Leite ICG, Bastis ICG,
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Est Econ 2009;39(4):811-50. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 2007.
20 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Artigo original

Fotobiomodulação como uma nova abordagem


para o tratamento de traumas mamilares:
um estudo piloto, randomizado e controlado
Photobiomodulation as a new approach for the treatment
of nipple traumas: a pilot study, randomized and controlled
Angélica Rodrigues de Araújo, D.Sc.*, Ana Luiza Valério do Nascimento, Ft.**, Juliana Moreira Camargos, Ft.**,
Fernanda Souza da Silva, M.Sc.***, Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria, Ft.****

*Professora do curso de Fisioterapia da PUC Minas, **PUC Minas, ***Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais (FCMMG), ****Especialista em Fisioterapia aplicada à Neurologia

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a eficácia de um dispositivo fototerápico Objective: To evaluate the effectiveness of a specifically designed
desenvolvido especificamente para o tratamento dos traumas ma- device for phototherapy treatment of nipple trauma. Methods: Four
milares. Material e métodos: Quatro puérperas foram aleatoriamente women were randomly assigned to two groups: control (n = 4 bre-
alocadas em dois grupos: controle (n = 4 mamas) e experimental asts) and experimental (n = 4 breasts). The control group received
(n = 4 mamas). O grupo controle recebeu somente orientações de only the guidelines of the breast care and appropriate techniques
cuidados com as mamas e sobre técnicas adequadas à amamentação. for breastfeeding. The experimental group (n = 4 breasts) received
O grupo experimental (n = 4 mamas) recebeu, além das orientações, guidelines care and phototherapy applications through luminous
as aplicações fototerápicas por meio do protótipo fotobiomodulador prototype (880-904 nm and fluence of 4 J/cm²) for 6 weeks. The
(varredura de 880-904 nm e fluência de 4 J/cm²) durante 6 sema- area of nipple injury, pain (Visual Numerical Scale) and quality of
nas. Foram avaliados: a área da lesão mamilar, a dor (Escala Visual life (SF-36) were assessed. Results: The participants of nipple injuries
Numérica) e a Qualidade de Vida (SF-36). Resultados: As lesões were classified as small and medium size. In the control group 50%
mamilares das participantes foram inicialmente classificadas como of the lesions healed completely and the others reduced in size. In
fissuras pequenas e médias. No grupo controle, 50% das lesões the experimental group the percentage of healing was 100%. The
cicatrizaram completamente; as demais reduziram de tamanho. percentage reduction in the size of nipple trauma was 54.5% in the
No grupo experimental, o percentual de cicatrização foi de 100%. control group and 74.1% in the experimental group. The difference
O percentual de redução no tamanho das lesões mamilares foi de between groups was statistically significant (p = 0,036). Pain inten-
54,5% no grupo controle e de 74,1% no grupo experimental. A sity satisfactorily reduced in both groups. The average reduction in
diferença observada entre os grupos foi estatisticamente significativa pain intensity in the control group was 73.6% and 81.5% in the
(p = 0,036). A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente em am- experimental (p = 0,116).
bos os grupos. A média da redução da intensidade da dor no grupo Key-words: breast diseases, breast feeding, phototherapy, wound
controle foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (p = 0,116). healing.
Conclusão: Os resultados deste estudo demonstraram que o protótipo
fotobiomodulador foi eficaz no tratamento dos traumas mamilares.
Palavras-chave: doenças mamárias, aleitamento materno,
fototerapia, cicatrização.

Recebido em 20 de dezembro de 2011; aceito em 1 de outubro de 2012.


Endereço de correspondência: Angélica Rodrigues de Araújo, Centro Clínico de Fisioterapia PUC Minas, Av. Trinta e Um de Março, 500, prédio 46,
30535-600 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3319-4425, E-mail: angelica@bios.srv.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 21

Introdução Uma alternativa potencialmente promissora para o tra-


tamento das lesões mamilares é a fototerapia. Esse recurso
Cuidados inadequados no período gestacional e puerpe- utiliza ondas eletromagnéticas na faixa espectral do vermelho
ral são fatores predisponentes ao surgimento de problemas ao infravermelho próximo, que são aplicadas nos tecidos
mamários, dentre os quais tem grande destaque os traumas através de dispositivos luminosos de baixa potência, como o
mamilares (fissuras e rachaduras) [1]. Essas lesões caracteri- LASER (Light Amplification by Stimulated of Radiation) e o
zam-se como uma solução de continuidade da pele na região LED (Light Emitting Diode). Diversos trabalhos demonstram
do mamilo e estão altamente relacionadas à inflamação da a eficácia desse recurso no aprimoramento da cicatrização de
camada superior da derme [2]. Podem ser circulares ou lon- feridas [15-20] e no controle da dor [21,22] Esses efeitos,
gitudinais e de tamanhos variados. A lesão circular localiza-se entretanto, ainda são pouco investigados no tratamento dos
geralmente na junção mamilo-areolar; a lesão longitudinal traumas mamilares.
pode ser encontrada em qualquer local do mamilo, vertical Os resultados positivos dos trabalhos em que a luz é
ou horizontalmente, dividindo-o em dois [3]. utilizada para o tratamento das lesões mamilares [23,24],
Os traumas mamilares são causados pela má posição da juntamente ao fato dessa terapia ser confortável, de custo re-
criança em relação à mama, pelo número e duração inadequa- lativamente baixo e principalmente não levar a interrupção da
dos das mamadas e pelo mecanismo de sucção incorreto [1]. amamentação, tornam a fototerapia uma opção interessante
Normalmente aparecem entre a 2ª e 3ª semanas pós-parto, para o manejo das fissuras e rachaduras do mamilo.
sendo causa frequente de dor mamária e de interrupção O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de um dis-
precoce da amamentação [2-4], situações prejudiciais tanto positivo fototerápico desenvolvido especificamente para o
à saúde materna quanto à do lactante. tratamento dos traumas mamilares.
O desmame precoce traz prejuízos ao bebê, uma vez
que o fornecimento de nutrientes essenciais, de fatores de Material e métodos
crescimento e de componentes imunológicos presentes na
composição do leite materno deixarão de ser ofertados. Para Amostra
a mãe, a interrupção da amamentação dificulta o processo de Quatro mulheres puérperas, residentes na região metro-
involução uterina, aumenta o risco de sangramento após o politana de Belo Horizonte, participaram do estudo. Todas
parto, da incidência de câncer de ovário e de mama, além de as participantes apresentavam diagnóstico médico de lesões
não proporcionar uma boa interação mãe-filho [5]. mamilares bilateral, caracterizadas como fissuras e ou racha-
Atualmente, a abordagem terapêutica dos traumas mami- duras do mamilo. Desta forma, oito mamas (n = 8) foram
lares tem focado no reforço às orientações de cuidados com a incluídas na pesquisa.
mama e às técnicas adequadas para amamentação [6,7]. Essas Para participarem do estudo as mulheres deveriam apre-
medidas, entretanto, tem um caráter muito mais preventivo sentar trauma mamilar não infectado e ter idade entre 18 e 35
do que curativo, não sendo, na maioria das vezes, suficientes anos. Como critérios de exclusão considerou-se: 1) presença
para potencializar o fechamento da lesão mamilar. Nesses de feridas infectadas (mastite) e/ou ingurgitamento mamário;
casos, há a necessidade de técnicas mais efetivas, pois quanto 2) história prévia de câncer; 3) uso de outras modalidades
mais rápido ocorrer a cicatrização, menores serão as chances terapêuticas que pudessem interferir na cicatrização das lesões
do desmame precoce [4]. e/ou no quadro álgico; 4) história de fotossensibilidade; 5)
Riordar e Nichols [8] e Potter [9] relatam que apesar do déficit cognitivo.
melhor tratamento para as lesões mamilares ainda ser a pre- As participantes selecionadas para o estudo foram pre-
venção, estratégias que sejam efetivas em tratá-las também são viamente esclarecidas sobre os procedimentos da pesquisa e
de extrema importância, pois quanto mais rápido ocorrer a assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
cicatrização, maiores serão as chances de retorno à prática da
amamentação e menores serão os riscos de complicações ma- Procedimentos e randomização
ternas secundárias, como por exemplo, a mastite e os abscessos.
Dentre as condutas comumente utilizadas para o manejo Este trabalho trata-se de um estudo piloto, aprovado pelo
das fissuras e das rachaduras mamilares, destaca-se a aplicação Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Ca-
tópica de fármacos [10]. Essa terapia, além de muitas vezes tólica de Minas Gerais (CAAE 0130.0.213.000-05 / CAAE
não apresentar resultados satisfatórios, tem como desvantagem 0239.0.213.000-07).
a necessidade de interrupção do ato de amamentar durante o As mamas foram aleatorizadas por meio de um sorteio
período de tratamento [8,9]. Nesse contexto, a acupuntura, feito pela própria participante, para um dos dois grupos de
as compressas quentes e frias [11] e o ultrassom terapêutico tratamento: controle (n = 4 mamas) e experimental (n = 4
[12] são citados pela literatura como outras opções para o mamas). O grupo controle foi formado pelas mulheres que
tratamento dos traumas mamilares. Os resultados dessas receberam orientações sobre cuidados com as mamas e téc-
terapias, entretanto, são ainda controversos [13,14]. nicas adequadas para a amamentação. O grupo experimental
22 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

foi constituído pelas mulheres que receberam, além das orien- auxílio de uma gaze. Para evitar a exposição direta da luz aos
tações, aplicações fototerápicas por meio de um dispositivo olhos, óculos de proteção foram utilizados pelas participan-
desenvolvido especialmente para o tratamento de traumas tes e pelo terapeuta durante todo o período de aplicação do
mamilares. Ambos os grupos foram acompanhados por seis dispositivo luminoso.
semanas consecutivas.
Todas as participantes foram submetidas a uma avaliação Figura 1 - Dispositivo fotobiomodulador utilizado para o trata-
inicial, realizada por um profissional cego quanto aos grupos mento de traumas mamilares: aplicação em uma das participantes
de tratamento. A avaliação teve como objetivos caracterizar a do estudo.
participante (idade, cor, número de filhos, escolaridade, tipo
de parto, experiência prévia com amamentação, tempo de
puerpério) e, especialmente, o mamilo (cor e tipo – protuso,
semiprotuso, invertido, pseudoinvertido ou hipertrófico).
Após a avaliação, as participantes eram encaminhadas para
dar início às intervenções, conforme seu grupo de tratamento.

Orientações

Todas as participantes do estudo receberam orientações


individuais sobre cuidados com as mamas e técnicas adequa-
das para a amamentação. As participantes foram orientadas
para não usar cremes, sabonetes ou qualquer tipo de pomada
ou substância nos mamilos; utilizar sutiã com alças largas e
firmes para ajudar na sustentação das mamas; permanecer Tamanho e classificação das fissuras mami-
em posição confortável, com o corpo do bebê totalmente lares
voltado para o seu durante a amamentação; segurar a mama
em “C” para auxiliar a pegada do bebê na mama; esperar As fissuras mamilares foram medidas nas 1a, 3a, 6a, 9a, 12a,
que o bebê esvazie a primeira mama oferecida e só então 15 e 18a sessões utilizando-se um paquímetro digital Black
a

passar para a mama contralateral; colocar a ponta do dedo Bull e classificadas, no início e no término do estudo de acordo
mínimo no canto da boca do bebê para auxiliar a retirada com Pereira et al. [25]. Segundo os autores, o mamilo pode
do mesmo da mama. ser considerado quanto a sua integridade como íntegro ou
As informações foram passadas verbalmente e reforçadas fissurado. Nesse último caso, a fissura pode ser classificada
por um folder educativo na avaliação inicial, na 3a e na 6a como pequena (menor ou igual a 3 mm), média (menor ou
semanas do estudo, sempre por um mesmo profissional, cego igual a 6 mm) ou grande (maior que 6 mm).
quanto ao grupo de tratamento da participante. As medidas e a classificação das fissuras foram realizadas
por um pesquisador previamente treinado para a realização
Fototerapia dos procedimentos.

Um dispositivo fotobiomodulador (patente PI0905068- Dor


-0A2) foi desenvolvido utilizando-se diodos emissores de luz,
também conhecidos pela sigla em inglês LED (Light Emitting A intensidade da dor foi avaliada utilizando a Escala
Diode), acoplados a uma peça anatomicamente ajustada ao Visual Numérica (EVN). A EVN foi aplicada nas 1a, 4a, 7a,
formato da mama humana (Figura 1). Os parâmetros uti- 10a, 13a, 16a e 18a sessões, sempre por um mesmo indivíduo,
lizados para as aplicações fototerápicas foram: área total de cego em relação ao grupo de tratamento da participante. No
emissão de 1,44 cm²; modo de emissão contínuo; potência de grupo experimental, a avaliação da intensidade dor antecedia
saída 10 mW; comprimento de onda infravermelho (varredura a aplicação da fototerapia.
de 880 – 904 nm); fluência de 4 J/cm² e tempo de aplicação
de 10 minutos/sessão. Qualidade de vida
O tratamento fototerápico foi realizado três vezes por
semana, em dias alternados, durante seis semanas consecuti- O impacto da presença das fissuras e rachaduras mami-
vas, totalizando 18 sessões. Para as aplicações, o dispositivo lares na qualidade de vida das participantes foi avaliado por
fotobiomodulador foi posicionado sobre a mama, especi- meio do Questionário SF-36 (versão resumida), aplicado na
ficamente na região do mamilo, de forma que a radiação primeira (pré-tratamento), terceira (9a sessão) e última (pós-
emitida incidisse perpendicularmente na ferida. Previamente -tratamento) semanas do estudo.
às aplicações, resíduos de leite no mamilo eram retirados com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 23

Análise estatística Figura 3 - Percentual de redução no tamanho das fissuras ao longo


e no final dos tratamentos, nos grupos controle e experimental.
Os dados obtidos foram analisados descritivamente. A

Redução no tamanho das


mediana das dimensões relativas (%) e absolutas (mm) do

lesões mamilares (%)


100,0
tamanho das lesões e dos níveis de dor foi considerada para 80,0
as análises. O percentual de redução semanal no tamanho 60,0
das lesões foi comparado entre os grupos e as mudanças 40,0
foram analisadas utilizando-se o Wilcoxon Signed Ranks 20,0
Test. O nível de significância estatística foi definido como 0,0
p < 0,05. 1 2 3 4 5 6 Total
Semanas
Resultados Grupo controle Grupo experimental

A idade média das mulheres participantes do estudo foi A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente nos grupos
de 28 anos (mínima de 18 anos; máxima de 35 anos). O controle e experimental. A média da redução no grupo con-
tempo de puerpério variou de 9 a 90 dias. O tipo de mamilo trole foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (Wilcoxon’s
apresentado foi predominantemente protuso e a maioria Test: p = 0,116). Na Figura 4 é possível visualizar os valores
das puérperas (3) relataram ter experiência prévia com a médios da intensidade da dor nos grupos controle e experi-
amamentação. mental, no início e no fim dos tratamentos.
As lesões mamilares das participantes foram inicial-
mente classificadas como fissuras pequenas e médias. A Figura 4 - Intensidade média da dor (EVN) nos grupos controle e
média pré-tratamento do tamanho das fissuras no grupo experimental, pré e pós-tratamentos.
controle foi de 3,6 ± 2,6 mm e de 3,8 ± 1,7 mm no grupo
experimental. No grupo controle, 50% das lesões (2/4) 7,0
evoluíram para cicatrização completa; as demais reduziram 6,0
Intensidade da dor

de tamanho, passando de fissuras médias para pequenas. 5,0


No grupo experimental, o percentual de cura foi de 100% 4,0
(4 mamilos classificados como íntegros pós-tratamento). 3,0
Na Figura 2 estão apresentadas a média do tamanho das 2,0
fissuras nos grupos controle e experimental, no início e no 1,0
fim dos tratamentos. 0,0
Pré-tratamento Pós-tratamento

Figura 2 - Tamanho médio das fissuras mamilares (mm) nos grupos Grupo controle Grupo experimental
controle e experimental, pré e pós-tratamento.
Os domínios avaliados pelo SF-36 estão representados
Tamanho das lesões mamilares (mm)

na Figura 5. Dentre os vários domínios avaliados, os que


4 apresentaram maior impacto no grupo controle foram o
3,5 aspecto físico e a dor, enquanto no grupo experimental foi
3 somente a dor. Em todos os domínios investigados, o grupo
2,5 experimental tendeu a apresentar a média inicial dos scores
2
1,5
mais altas e melhores do que as apresentadas pelo grupo
1 controle. Essa tendência se manteve em relação à média final
0,5 dos scores. A maioria dos domínios apresentou melhora satis-
0 fatória ao longo do estudo, tanto no grupo controle quanto
Pré-tratamento Pós-tratamento
no experimental.
Grupo controle Grupo experimental
O percentual de redução no tamanho das lesões mami- Discussão
lares foi de 54,5% no grupo controle e de 74,1% no grupo
experimental. A diferença observada entre os grupos foi A lesão mamilar é um problema comum durante o período
estatisticamente significativa (Wilcoxon’s Test; p = 0,036). Os puerperal [1]. Essas lesões estão comumente associadas à dor,
percentuais de redução no tamanho das fissuras por semana ao desmame precoce e principalmente ao aumento do risco
e total em cada um dos grupos podem ser visualizados na para o desenvolvimento de mastite [4].
Figura 3. As intervenções realizadas no presente trabalho, orien-
tações e fototerapia, foram ambas capazes de promover a
24 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

redução no tamanho das lesões mamilares. Entretanto os As ações da luz sobre os tecidos humanos são mediadas
resultados encontrados foram significativos apenas para o pela absorção da energia luminosa (fótons) no citocromo
grupo em que o dispositivo luminoso foi aplicado. A melhora mitocondrial. Uma vez absorvida a luz, eventos fotoquímicos
observada no grupo controle pode ser justificada pela adesão e fotofísicos primários irão ocorrer na mitocôndria, promo-
às orientações de cuidado com a mama. Essa intervenção vendo reações bioquímicas e/ou biofísicas. Alguns dos efeitos
possibilita a retirada de fatores que predispõem à ocorrência gerados na mitocôndria em resposta à absorção da luz são
de fissuras mamilares, principalmente o posicionamento e mudanças no estado redox e aceleração na transferência de
a pega inadequados do lactente [1,3,4]. Os melhores re- elétrons, aumento da produção de superóxido e a geração de
sultados observados no grupo experimental em relação ao oxigênio molecular [23,30,33].
processo de cicatrização das lesões mamilares devem-se à Diversos estudos demonstram que a terapia com luz é
aplicação da fototerapia. Segundo a literatura, a luz na faixa eficaz também na promoção de analgesia [21,22,29,33]. O
espectral do vermelho ao infravermelho é capaz de favorecer estímulo à microcirculação local e as alterações induzidas sobre
o reparo tecidual [16-20,26]. Esse benefício é consequente as aferências nociceptivas e sobre o sistema nervoso central são
aos efeitos fisiológicos da luz, dentre os quais se destacam: algumas das principais justificativas fisiológicas para o uso de
o estímulo à síntese de ATP e de fatores de crescimento, o dispositivos luminosos na modulação da dor [34]. Segundo a
aumento da proliferação de fibroblastos e da produção de literatura, a luz é capaz de induzir a aumentos dos níveis de
colágeno [27]. B-endorfina no fluido espinhal e da excreção urinária de gli-
cocorticóides e serotonina [29,33]. A diminuição da liberação
Figura 5 - Domínios avaliados pelo Questionário SF-36 nos grupos de substâncias alogênicas tais como bradicinina, acetilcolina
controle e experimental, pré e pós-tratamentos. e prostaglandina-2, e um complexo mecanismo de bloqueio
100,0 eletrolítico das fibras nervosas são propostos como teorias
Scores SF-36

80,0 para explicar os efeitos induzidos pela terapia luminosa no


60,0 controle da dor [29,33].
40,0 No presente estudo, o grupo tratado com a terapia lumino-
20,0 sa obteve maior percentual de redução na intensidade da dor
0,0 (81,5%) quando comparado com o grupo controle (73,6%).
Pré-tratamento Pós-tratamento Pré-tratamento Pós-tratamento
A diferença observada entre os grupos não atingiu, entretanto,
Grupo controle Grupo experimental
limites de significância estatística (p = 0,116). O fato de a dor
Capacidade Funcional Vitalidade ser uma experiência multidimensional e subjetiva e o instru-
Aspectos físicos Aspectos Sociais mento utilizado para sua avaliação (EVN) discriminar apenas
Dor Aspectos Emocionais
Estado Geral de Saúde Saúde Mental
a intensidade da dor podem ter contribuído para esse achado.
Os efeitos cicatrizantes e analgésicos da luz sobre os tecidos
são dependentes dos parâmetros luminosos de tratamento,
A produção de novos ATP’s ocorre rapidamente após a principalmente do comprimento de onda (nm) e da fluência
radiação tecidual com a luz, favorecendo a atividade meta- (J/cm2) [34]. No presente estudo, os parâmetros luminosos
bólica dos fibroblastos [13,28-30]. Os fibroblastos secretam utilizados (comprimento de onda infravermelho; fluência de
fibronectina, proteoglicanos e fibras colágenas (principalmen- 4 J/ cm²) assemelham-se aos encontrados na literatura. Ortiz
te do tipo III). Franek et al. [31] relatam que a fototerapia é et al. [17] e Simunovic et al. [34] relatam que a aplicação da
capaz de induzir a um aumento significativo dos índices de fototerapia no comprimento de onda infravermelho pro-
produção de colágeno tipo III, 72 horas após o tratamento. moveu incremento na proliferação de fibroblastos, aumento
Posteriormente, ocorre o processo de remodelagem e forta- do tecido epitelial, aumento da rede capilar, redução do
lecimento do tecido neoformado e a proporção de colágeno tamanho das lesões cutâneas e alívio da dor. Alguns autores
tipo I aumenta em relação ao colágeno tipo III. O estímulo citam que quando o objetivo da intervenção luminosa incluir
fototerápico favorece o processo de remodelagem e o desen- a potencialização da ação da bomba de sódio e potássio, o
volvimento da força tênsil [29,31], justificando a melhor estímulo à produção de ATP, o restabelecimento do potencial
cicatrização observada no grupo experimental. de membrana, o aumento do metabolismo e da proliferação
Outros importantes efeitos da fototerapia que também celular, fluências menores que 10 J/cm2 e potência de 50 W
podem justificar sua ação sobre o processo cicatricial são o ou menor devem ser utilizadas [35]. Estudos demonstram que
estímulo à microcirculação e à neovascularização [32]. Esses fluências de 4 J/cm² promovem a dinamização do processo
efeitos contribuem para um melhor aporte de elementos cicatricial de tecidos biológicos [19,28] e efeitos analgésicos
nutricionais à lesão que, associados principalmente ao incre- [21,22,29,33].
mento da produção de ATP, proporcionam um aumento na Os resultados encontrados nos domínios do questionário
velocidade mitótica das células, facilitando a multiplicação de qualidade de vida SF-36 sugerem que as intervenções
celular e a formação de tecido de granulação [31]. realizadas foram eficazes em promover melhoras na quali-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 25

dade de vida em ambos os grupos. Essa melhora pode estar 2. Rezende J. Obstetrícia. 9a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
relacionada à diminuição da intensidade da dor e do tama- Koogan; 2002.
nho das lesões mamilares, visualizados nos grupos controle 3. Freitas F, Martins-Costa SH, Ramos JGL, Magalhães JA. Rotinas
e experimental. No grupo controle, a melhora da qualidade em obstetrícia. 3a. ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
4. Biancuzzo M. Sore nipples: preventions and problems solving.
de vida, entretanto, não reflete a cura das fissuras. Nesse
Herndon: WMC Worldwide Publishing; 2000.
grupo apenas 50% das lesões mamilares evoluíram para uma 5. Linhares E. Mamas, lactação, obstetrícia. 3a. ed. Rio de Janeiro:
cicatrização completa. Potter [9] relata que apesar do melhor Guanabara Koogan; 1974.
tratamento para as lesões mamilares ainda ser a prevenção, 6. Snowden HM, Renfrew MJ, Woolridge MW. Treatments for
estratégias que sejam efetivas em tratá-las também são de breast engorgement during lactation. Cochrane Database Syst
extrema importância, pois quanto mais rápido ocorrer a Rev CD000046, 2001.
cicatrização, maiores serão as chances de retorno à prática 7. Cotterman KJ. Reverse pressure softening: a simple tool to
da amamentação e menores serão os riscos de complicações prepare areola for easier latching during engorgement. J Hum
maternas secundárias a estas lesões, como, por exemplo, o Lact 2004;20(2):227-37.
8. Riordan JM, Nichols FHA. Descriptive study of lactation
desenvolvimento da mastite e dos abscessos. Nesse contex-
mastitis in long-term breastfeeding women. J Hum Lact
to, o tratamento fototerápico utilizado no presente estudo
1990;6(2):53-8.
destaca-se das orientações por ter favorecido o fechamento 9. Potter B. Women’s experiences of managing mastitis. Commu-
completo das fissuras mamilares em todas as participantes nity Pract 2005;76(6):209-12.
do grupo experimental. 10. Lawrence RA, Lawrence RM. Management of the mother-infant
O protótipo desenvolvido para o tratamento das lesões nursing couple. In: Breastfeeding: A guide for the medical
mamilares mostrou-se prático, pois foi confeccionado respei- profession. 5ª ed. St Louis: Mosby; 1999.
tando o formato anatômico para encaixe na mama humana 11. Buchko BL, Pugh LC, Bishop BA, Cochran JF, Smith LR, Lerew
feminina. O conforto oferecido à paciente e ao terapeuta, a DJ. Comfort measures in breastfeeding, primiparous women. J
facilidade de manipulação e a higienização do equipamento, Obstet Gynecol Neonatal Nurs 1994;23(1):46-52.
12. McLachlan Z, Milne EJ, Lumley J, Walker BR. Ultrasound
a acoplagem adequada à área de tratamento e a facilidade de
treatment breast engorgement: a randomized double blind trial.
transporte e acomodação no ambiente terapêutico dinâmico, Aust J Physioter 1991;37:23-8.
juntamente com os resultados positivos encontrados neste 13. Ziemer MM, Cooper DM, Pigeon JG. Evaluation of a dressing
estudo sugerem que esse dispositivo é uma alternativa promis- to reduce nipple pain and improve nipple skin condition in
sora para o tratamento das fissuras e rachaduras do mamilo. breast-feeding women. Nurs Res 1995;44(6):347-51.
Novos estudos são, entretanto, necessários para avaliar a 14. Giugliani ERJ. Falta embasamento científico no tratamento dos
reprodutibilidade dos resultados observados em uma amostra traumas mamilares. J Pediatr (Rio J) 2003;79(3):197-8.
de tamanho maior e validar a eficácia do dispositivo fotobio- 15. Gonçalves RV, Novaes RD, Matta SL, Benevides GP, Faria
modulador para o tratamento das fissuras mamilares. FR, Pinto MV. Comparative study of the effects of gallium-
-aluminum-arsenide laser photobiomodulation and healing
oil on skin wounds in Wistar rats: a histomorphometric study.
Conclusão Photmed Laser Surg 2010;28(5):597-602.
16. Peplow PV, Chung TY, Baxter GD. Laser photobiomodulation
Os resultados do presente trabalho sugerem que o protó- of wound healing: a review of experimental studies in mouse and
tipo emissor de ondas eletromagnéticas na faixa espectral do rat animal models. Photmed Laser Surg 2010;28(3):291-325.
infravermelho próximo, desenvolvido especificamente para o 17. Krynica I, Rutowski R, Staniszewska-Kus J, Fugiel J, Zaleski A.
tratamento de traumas mamilares, foi um instrumento eficaz The role of laser biostimulation in early post-surgery rehabilita-
para o tratamento clínico das lesões mamilares das puérperas tion and its effect on wound healing. Ortop Traumatol Rehabil
participantes deste estudo. A aplicação deste protótipo pro- 2010;12(1):67-79.
porcionou a aceleração do processo de cicatrização nas lesões 18. Hussein AJ, Alfars AA, Falih MA, Hassan AlNA. Effects of a
low level laser on the acceleration of wound healing in rabbits.
das lactentes que foram submetidas a esta aplicação.
N Am J Med Sci 2011;3(4):193-7.
19. Dadpay M, Sharifian Z, Bayat M, Bayat M, Dabbagh A. Effects
Agradecimentos of pulsed infra-red low level-laser irradiation on open skin
wound healing of healthy and streptozotocin-induced diabetic
Agradecemos à equipe do Laboratório de Bioengenharia rats by biomechanical evaluation. J Photochem Photobiol B
da UFMG, em especial Sara Del Vecchio e Maurício Ferrari 2012;111:1-8.
Santos Corrêa, e à Bios Serviços e Comércio pelo auxílio no 20. Fiório FB, Silveira Junior L, Munin E, de Lima CJ, Fernandes
desenvolvimento do protótipo luminoso. KP, Mesquita-Ferrari RA, et al. Effect of incoherent LED radia-
tion on third-degree burning wounds in rats. J Cosmet Laser
Ther 2011;13(6):315-22.
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26 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 27

Artigo original

Análise cinemática da passada normalizada


e frequência da marcha de idosos com gonartrose
após mobilização pelo conceito Maitland
Kinematic analysis of standard step length and gait frequency of elderly
with gonarthrosis after mobilization according to Maitland concept
Alan Lopes de Oliveira*, Thiago Rebello da Veiga**, Chang Che Yuan***, Fabiano Gaspar da Silva Affonso Pereira***,
Marcello Paz Soares Felicio***, André Custódio da Silva, M.Sc.****

*Residente em Fisioterapia Neurofuncional pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Pós-graduado em Terapia Manual e Biomecânica Clínica pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO),
**Pós-graduado em Terapia Manual e Biomecânica Clínica pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Mestrando em
Ciências da Reabilitação pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), ***Discente de Fisioterapia pelo Centro Universi-
tário Serra dos Órgãos (UNIFESO), ****Docente de Fisioterapia pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Labora-
tório de Biomecânica e Comportamento Motor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LaBiCoM/UERJ), Fisioterapeuta da
Clínica Escola de Fisioterapia da UniverCidade Campus Praça XI

Resumo Abstract
Introdução: Disfunções na marcha de idosos são problemas Introduction: Gait disorders in elderly people are problems re-
quanto ao risco de quedas e do ato motriz, modificações estas lated to risk of falling and movement of the act, and these changes
acentuadas por doenças crônico-degenerativas como a gonartrose. increases with chronic degenerative diseases such as gonarthrosis.
A Mobilização Articular (MA) consiste numa prática comum para The Joint Mobilization (JM) is a common practice to restore joint
restauração da função, entretanto, poucos dados comprovam sua function; however, there are few data demonstrating its effective-
eficácia, principalmente acerca da amplitude da passada e frequência ness, especially on the amplitude and frequency of stride gait in
da marcha em idosos com gonartrose. A normalização da marcha elderly patients with gonarthrosis. The normalization of gait aims
tem como intuito minimizar os efeitos das variáveis massa e altura at minimizing the effects of varying mass and height in homoge-
em amostras não homogêneas. Objetivos: O presente estudo teve neous samples. Objectives: The objective of this study was to analyze
por objetivo analisar quantitativamente as alterações do tamanho da quantitatively, with standardized measures of walking, the changes in
passada com medidas normalizadas e frequência da marcha, através stride length and frequency, using the kinematics, in elderly patients
da cinemetria, em indivíduos idosos com gonartrose, submetidos à with gonarthrosis who performed joint mobilization. Methods: The
mobilização articular. Materiais e métodos: A amostra foi composta sample consisted of five elderly aged 60-70 years, diagnosed with
por cinco idosos entre 60-70 anos, com diagnóstico de gonartrose bilateral gonarthrosis, grades I and II. This was an experimental,
bilateral, graus I e II. Tratou-se de um estudo experimental, lon- longitudinal, prospective, blinded study, with individual control.
gitudinal, prospectivo e cego, sendo cada indivíduo controle de si The kinematic data were obtained and digitized using Skillspector®
mesmo. Os dados cinemáticos foram obtidos pela videometria e software video program. Accessory joint mobilization was perfor-
digitalizados pelo software Skillspector®. A mobilização articular aces- med in grade IV, according to Maitland, to the knee joint to the
sória foi realizada no grau IV, segundo Maitland, para a articulação anterior-posterior and posterior-anterior for 45 days, twice weekly.
do joelho nos sentidos ântero-posterior e póstero-anterior durante The results were analyzed using descriptive statistics and Student t
45 dias, duas vezes semanalmente. Os resultados foram submetidos test, considering significant p < 0.05. Results: Data of stride length
à análise descritiva e estatística através do teste t student, considera- measurement was 1.24 m and 1.42 m before and after normalization,
dos significativo p < 0,05. Resultados: Para o tamanho da passada, respectively. The initial frequency was 0.87 Hz and 1.02 Hz after
obteve-se 1,24 m e 1,42 m para os dados pré e pós-normalização, the MA. Conclusion: JM tended to optimize the values ​​for stride
respectivamente. A frequência inicial foi de 0,87 Hz e 1,02 Hz após a length and frequency of gait, however, the small sample size used
MA. Conclusão: A MA tendeu a otimizar os valores para tamanho da in this study may be considered a limitation.
passada e frequência da marcha, todavia, admitimos como limitação Key-words: biomechanics, Maitland concept, gonarthrosis, gait,
do estudo o número pequeno da amostra. aged.
Palavras-chave: biomecânica, conceito Maitland, gonartrose,
marcha, idoso.

Recebido em 14 de fevereiro de 2012; aceito em 9 de janeiro de 2013.


Endereço para correspondência: Alan Lopes de Oliveira, Programa de Residência em Fisioterapia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), Avenida
28 de Setembro, 77, 20551-030 Rio de Janeiro RJ, E-mail: alanloliveira@yahoo.com.br, André Custódio da Silva: acustodiodasilva@yahoo.com.br
28 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Introdução das variáveis relativas ao passo é relacionar, na amostra,


indivíduos que possuem estaturas aproximadas e que sejam
O crescimento da população de idosos no Brasil é evi- saudáveis. Assim, pode ser realizada a normalização dos da-
dente, estima-se que, em 2025, o Brasil será o sexto país do dos da marcha relacionando o tamanho da passada ou passo
mundo com o maior contingente de indivíduos idosos. O pela estatura e pela massa. Em amostras não homogêneas o
envelhecimento leva ao aumento de doenças crônicas que se autor sugere que a normalização da marcha possa ser feita
não tratadas ou monitoradas adequadamente podem deixar pela altura trocantérica, medida essa realizada do trocânter
sequelas permanentes, incapacitando o idoso e levando-o a maior do fêmur ao chão, com o intuito de minimizar os
perder sua autonomia e independência funcional, sendo estes efeitos de variáveis como massa e altura, sendo assim, esta
indicadores importantes da saúde do idoso, comprometendo normalização seria oriunda da relação das variáveis: tamanho
sua qualidade de vida [1-3]. do passo ou passada pela altura trocantérica.
Com o envelhecimento, evidencia-se, durante a marcha, Maitland [14] propôs uma técnica de terapia manual
diminuição da velocidade e tamanho de passo, nas amplitudes baseada na mobilização articular através de um sistema
de movimento e nos momentos de força das articulações do graduado de avaliação e tratamento, no qual se empregam
quadril, joelho e tornozelo [4,5]. As modificações no padrão movimentos passivos oscilatórios, rítmicos, graduados em
da marcha não são decorrentes apenas do processo de senes- quatro níveis que visam à recuperação da artrocinemática,
cência, mas também estão relacionadas com a maior incidên- ou seja, movimentos que acontecem nas superfícies arti-
cia de doenças que limitam à marcha, entre as quais merece culares. Estes movimentos se perfazem em deslocamentos
destaque a gonartrose. Esta é caracterizada por uma doença intra-articulares denominados como acessórios, sendo eles:
crônico-degenerativa da cartilagem articular, de etiologia mul- movimentos de giro, rolamento e deslizamento. Biomeca-
tifatorial, e seu início atribuído fundamentalmente a causas nicamente a falha destes componentes, principalmente em
biomecânicas. O aumento do estresse sobre esta cartilagem estruturas articulares rígidas, propicia a osteoartrose [15,16].
em uma área determinada induz a fragmentação de sua rede O seu restabelecimento promove a congruência articular,
normal de fibras de colágeno, que tem como manifestação diminui o atrito mecânico na articulação, melhora a dor,
inicial a dor, seguida por rigidez articular [6-9]. Estima-se edema e, consequentemente, a função do segmento corporal
que 4% da população brasileira apresentem osteoartrose, comprometido [15-17].
sendo mais comum em mulheres e a articulação do joelho é Os graus I e II da mobilização de Maitland correspondem
a segunda mais acometida pela doença, com 37% dos casos à aplicação dos movimentos oscilatórios, com ritmo lento no
[10]. Comprender as características da marcha de indivíduos início da amplitude do movimento acessório da articulação,
no início do processo da gonartrose fornece um potencial para livre da resistência oferecida pelos tecidos. São indicados
o desenvolvimento de intervenções não-cirúrgicas para reduzir primeiramente para tratar articulações limitadas pela dor. As
a dor e retardar a progressão da doença, no entanto, a maio- oscilações podem ter um efeito inibitório na percepção dos
ria dos estudos que abordam as repercussões da gonartrose estímulos dolorosos estimulando repetitivamente os meca-
sobre a marcha concentram-se nos estágios mais avançados noceptores que bloqueiam as vias nociceptivas no nível da
da doença [11]. medula espinhal ou do tronco encefálico. As manobras em
A Biomecânica, através de diferentes instrumentações, grau III e IV caracterizam-se por movimentos oscilatórios
aborda as diversas formas de padrões de movimento: Cine- realizados no final da amplitude do movimento acessório
metria, Dinamometria, Antropometria e Eletromiografia. ou a partir da resistência dada pelos tecidos periarticulares.
Batista [12] define a cinemetria ou videometria como um A carga imposta durante a manobra grau III e IV promove
sistema de captura da imagem de condutas motoras, através a adaptação viscoelástica dos tecidos conectivos e, portanto,
da qual se registram, por intermédio de equipamentos de é indicada para recuperar os movimentos acessórios quando
vídeo, os deslocamentos de regiões específicas do sujeito existir uma restrição a esse mesmo movimento. São utilizados
em movimento. Para análise da marcha trata-se de um dis- primeiramente como manobras de alongamento e liberação
positivo de suma eficácia, pois permite acompanhamento das restrições teciduais [14,18-20].
dinâmico e utilizado também para analisar possíveis altera- O conhecimento das características biomecânicas da
ções do padrão cinemático da marcha após uma intervenção marcha de indivíduos em estágios iniciais e intermediários
fisioterapêutica. de evolução da gonartrose pode favorecer o atendimento
Hof [13] estudou valores absolutos de variáveis antro- fisioterapêutico precoce, capaz de efetivamente reduzir a dor
pométricas e concluiu que estas influenciam algumas ca- e provavelmente a progressão da doença, portanto o objetivo
racterísticas cinemáticas da marcha, como, pessoas de baixa deste estudo foi analisar quantitativamente as alterações do
estatura tendem a caminhar com passos menores do que tamanho da passada com medidas normalizadas e frequência
as pessoas altas, no entanto compensam essa desvantagem da marcha, através da cinemetria, em indivíduos idosos com
aumentando o módulo de velocidade da marcha. O autor gonartrose, submetidos à mobilização articular pelo conceito
orienta que a forma sensata de examinar o comportamento Maitland.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 29

Material e métodos maior do fêmur, côndilo lateral, maléolo lateral, região lateral
do calcâneo, epífise distal do quinto metatarso, região medial
Amostra do calcâneo e epífise distal do primeiro metatarso, de acordo
com o citado por Batista [12]. Os pontos anatômicos descritos
A amostra foi composta por 5 pacientes atrelados a Clí- são confiáveis e localizados através da anatomia palpatória,
nica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Serra caso contrário a captura de dados estaria propensa a erros
dos Órgãos (UNIFESO), no ambulatório de Geriatria, dos de perspectiva. Em função de perspectivas de investigação
quais, 4 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Os pacientes o modelo foi composto por sete segmentos através da união
incluídos deveriam apresentar idade entre 60-70 anos, aco- das estrutras descritas.
metidos por gonartrose. A coleta de dados foi realizada no Para este estudo foram utilizados marcadores esféricos de
UNIFESO, Teresópolis, Rio de Janeiro. O presente trabalho isopor, com diâmetro de 25 mm fixados em circunferências
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da instituição de PVC preto, com 40 mm de diâmetro. Tais marcadores
segundo o protocolo 413-09. apresentaram bom contraste e, por serem esferas pequenas,
Para o presente estudo adotou-se os seguintes critérios comprometeram o mínimo possível a precisão da digitalização
de inclusão: a) idade compreendida entre 60-70 anos; b) dos pontos no caso de deslocamentos no plano transverso.
gonartrose bilateral confirmada por diagnóstico clínico; c) Utilizou-se para calibragem do sistema de registro de
evidência radiológica de gonartrose graus I e II; d) marcha imagem um cubo ou um quadrado de 0,50cm de lado, o
independente, sem o uso de dispositivos de auxílio; e) con- qual foi colocado no campo de visão de forma que um de
sentimento informado e concordância com a participação seus lados alinhados ficasse ajustado com o plano de captura.
no estudo. O software Skillspector® foi utilizado para processar a imagem
Não puderam fazer parte deste estudo os indivíduos que que tomou um dos vértices do quadrilátero como origem do
apresentavam: a) alterações neurológicas que afetassem o sistema de referência global.
controle motor; b) aumento do grau de valgismo ou varismo Os participantes caminharam sobre uma pista de 10 m
do joelho, determinado através de cálculo angular; c) próteses de comprimento em um piso plano. Aos sujeitos fora per-
de joelho; d) discrepância entre um membro inferior e outro mitido uma familiarização com a pista antes que os dados
superior a 20 mm ou 2,0 cm, pois, segundo Gurney [21] experimentais fossem coletados. O tamanho da mesma pos-
a marcha submetida a partir dessa assimetria compromete sibilitou aceleração suficiente e tempo de desaceleração fora
os momentos articulares; e) déficit cognitivo que impedia a do intervalo onde ocorrera a captura dos dados.
compreensão das tarefas propostas neste estudo. Os pacientes foram submetidos ao conceito Maitland
duas vezes na semana (terças e sextas-feiras), durante 45 dias
Procedimento experimental (12 sessões). As avaliações quanto ao status cinemático da
marcha, através da cinemetria, foram realizadas no primeiro
Os pacientes admitidos foram avaliados e seus exames e no quadragésimo quinto dia. A mobilização articular atra-
complementares analisados a fim de identificar a patologia vés do conceito Maitland fora realizada no grau IV, ou seja,
e, depois de confirmado o diagnóstico de gonartrose, foram oscilações de pequena amplitude até a segunda resistência já
convidados a participar do estudo. Utilizou-se uma fita métri- que os pacientes apresentavam um SIN (Severidade, Irrita-
ca da marca Easy Read Cateb para mensuração dos membros bilidade e Natureza da Lesão) baixo ou não-irritáveis, sendo
inferiores, realizada de duas formas: do trocânter maior até o cinco repetições, com um minuto de mobilização seguida
chão [13], medida esta utilizada para normalização dos dados por trinta segundos de repouso, tanto nos sentidos ântero-
e, da espinha ilíaca ântero-superior até o maléolo medial, -posterior quanto no póstero-anterior. O tempo necessário
medida utilizada com a finalidade de excluir as amostras de mobilização foi marcado por um cronômetro da marca
que apresentaram assimetria igual ou maior a 2,0cm. Uma Herweg®.
filmadora da marca Sony modelo HDR-SR10 HD e o sof- Por se tratar de uma articulação enquadrada na segunda
tware Skillspector® foram utilizados com o intuito de ajudar lei do côncavo-convexo, o deslizamento nas mobilizações da
no processo temporal e espacial da marcha. articulação do joelho foi realizado no mesmo sentido dos
Para análise dos parâmetros cinemáticos da marcha foi movimentos angulares. A mobilização articular pelo conceito
utilizada a técnica de videometria, definida por Batista [12]. Maitland foi realizada pelo mesmo pesquisador, evitando-
As imagens foram capturadas no plano sagital, pois segundo -se, assim, variações de força interexaminadores durante a
Vaughan, Davis & O’Connor [22], este é o plano mais im- execução da mesma.
portante na marcha, porque nele se manifesta a maior parte
do movimento. Tratamento estatístico
Para a conduta motora utilizada neste estudo, no caso
a marcha, foi necessária a utilização de pontos situados em Os resultados do presente estudo foram submetidos à
regiões anatômicas específicas, como: crista ilíaca, trocânter análise descritiva e à análise estatística através do teste t de
30 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

student pareado e bicaudal. Os resultados foram expressos No Gráfico 2 observamos a diferença entre as médias das
em média ± desvio padrão e p < 0,05 foi considerado estati- passadas naturais normalizadas antes e após a mobilização
camente significativo. articular, onde valor de p < 0,05.
Para verificar a homogeneidade da amostra foi utilizado o
software Statdisk© versão 11.1.0, e empregado o Ryan-Joiner Gráfico 2 - Médias para tamanho da passada natural normalizada
Test para averiguação de normalidade das mesmas. Foi consi- antes [TP(N)] e após submissão ao método Maitland [TPN(MA)],
derada rejeitada quando < 0,05. Sendo assim, todas as amos- em metros (m).
tras demonstraram ser homogêneas. Para análise estatística e Médias TP (Natural) x TP (Normalizada) p<0,0001
2.0
construção gráfica foi empregado o programa GraphPad 5.0.
1.5 1,42
1,24
Resultados

m
1.0
Dezoito pacientes com diagnóstico clínico de gonartrose
bilateral que estavam em tratamento fisioterapêutico na 0.5
Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFESO foram pré-
-selecionados, porém somente cinco pacientes preencheram 0.0
TP (N) TP N (MA)
todos os critérios de inclusão e exclusão, constituindo assim
a amostra final. Dos cinco pacientes, quatro foram do sexo
feminino e um do sexo masculino, com idade média de 67 ± Discussão
3 anos. Outros cinco pacientes tiveram seus dados colhidos
e estes analisados por um segundo examinador, sem que este O objetivo do presente estudo foi analisar quantitativa-
soubesse quais pacientes pertenciam ao grupo experimental, mente as alterações do tamanho da passada com medidas
bem como sem saber as quais imagens pertenciam aos mo- normalizadas e frequência da marcha, através da cinemetria,
mentos pré e pós-intervenção, caracterizando assim o estudo em indivíduos idosos com gonartrose, submetidos à mobili-
como cego. zação articular pelo conceito Maitland.
Na Tabela I, observam-se os dados descritivos sobre as O emprego da mobilização articular pelo método Mai-
características da amostra. tland consiste numa prática comum empregada na fisioterapia
para redução da dor e restauração da função, no entanto, exis-
Tabela I - Característica da amostra (N = 5). tem poucos dados experimentais comprovando sua eficácia,
Média Desvio padrão principalmente ao que tange à população idosa acometida
Massa 82,68 ±13,34 por gonartrose.
Estatura 159,40 ±5,32 Quanto ao aspecto da frequência da marcha, foram encon-
IMC 32,50 ±4,93 trados estudos que a utilizaram para controlar o ato motor,
Comprimento CMMII 79,01 ±4,85 tais como Danion et al. [23], que controlaram a marcha
através de diferentes frequências. O estudo referido teve como
Valores médios e desvio padrão (±) para massa em quilo- objetivo constatar a existência da correlação entre as variáveis
gramas (kg), estatura em centímetros (cm), índice de massa tamanho da passada, com o aumento da frequência da marcha,
corporal (IMC) em quilogramas por metro quadrado (kg/m2) e em indivíduos saudáveis de ambos os sexos. A frequência da
comprimento dos membros inferiores (CMMII) em centímetros. marcha foi determinada por um metrônomo e convertida
Na associação das variáveis de interesse, encontra-se no em velocidade, com auxílio de uma esteira ergométrica. As
gráfico 1 a diferença entre as médias oriundas para a frequ- diferentes frequências utilizadas pelos autores foram de: 0,75;
ência da marcha, antes e após a submissão da técnica, sendo 0,90; 1,15; 1,45 Hz. Em nosso estudo, o que diferiu foi a for-
p < 0,05. ma que os autores estimaram a frequência, a qual foi adotada
pelo ritmo do metrônomo e pela esteira ergométrica, bem
Gráfico 1 - Médias para frequência natural [F (N)] e após submissão como diferiu a idade dos sujeitos pertencentes às amostras.
ao método Maitland [F (MTL)], em hertz (Hz). Nosso estudo foi similar, na forma em que a marcha foi de-
1.5 Médias para a frequência (p=0,0199) terminada, ao estudo de marcha de Custódio & Batista [24].
1,02 Os autores utilizaram a mesma metodologia para determinar
1.0
0,87 a frequência da marcha, em duas velocidades (velocidade de
deslocamento autoselecionada e velocidade de deslocamento
Hz

autoselecionada acrescida de 50%) para analisar a correlação


0.5 entre o comprimento da passada e o comprimento do seg-
mento inferior, em indivíduos saudáveis com idade entre 18
0.0 e 30 anos. Já em nosso estudo a faixa etária foi diferente e a
F (N) F (MA)
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 31

presença de indivíduos saudáveis na mesma, pois os sujeitos Os resultados obtidos no presente trabalho proporcionam
apresentavam gonartrose bilateralmente. um maior conhecimento sobre os efeitos da mobilização
Quando analisada a amplitude média da passada, Cristo- articular, segundo o conceito Maitland, no que tange aos
poliski et al. [25] encontraram um valor médio de 0,93 ± 0,12 aspectos cinemáticos da marcha nos sujeitos acometidos por
m para medidas não normalizadas. Outros trabalhos analisam gonartrose. Os resultados da nossa pesquisa podem alicerçar
as médias para o tamanho do passo, como feito por Farinatti a prática clínica do fisioterapeuta acerca da utilização do
& Lopes [26] e Elbaz et al. [27]. No primeiro, a amplitude conceito Maitland como ferramenta importante na reabili-
média do passo em 28 sujeitos, fisicamente independentes tação da marcha em idosos, em especial aqueles acometidos
com idades entre 60 e 86 anos, tendo como valor médio para por gonartrose.
o passo 0,70 ± 0,09 m. No segundo estudo, os valores médios A compreensão destes resultados nos leva à busca de um
de 0,56 ± 6,9 e 0,55 ± 7,3 m para os indivíduos mais e me- novo modelo de análise da marcha, recomendando-se, para
nos afetados pela gonartrose em medidas não normalizadas, uma análise mais criteriosa, a necessidade de normalizá-
respectivamente e, 0,69 ± 0,08 m para ambos, mais e menos -la, tendo como parâmetros o comprimento do membro
comprometidos, após a normalização. Em ambos os trabalhos inferior e a amplitude média da passada. Não há indícios
as medidas foram corrigidas de acordo com o comprimento na literatura sobre a utilização de dados normalizados para
dos membros inferiores. No entanto, Hof [13] postula que tratar a deambulação de indivíduos com comprometimento
preferencialmente sejam analisados os valores médios para o musculoesquelético, sendo assim, os dados oriundos deste
tamanho da passada, já que, segundo o mesmo, o passo tende estudo podem contribuir para o aperfeiçoamento acerca da
a sofrer maior variabilidade. reabilitação da marcha em indivíduos idosos acometidos por
Diante da possibilidade de uma amostra heterogênea, gonartrose bilateralmente.
constatamos a necessidade de normalizar a marcha pela
relação entre o tamanho da passada e a altura trocantérica Referências
(que representa o comprimento do membro inferior), com o
intuito de obter dados mais precisos. Esta estratégia foi ado- 1. Ramos LR. Determinant factors for healthy aging among senior
tada baseando-se nas propostas de normalização da marcha citizens in a large city: the Epidoso Project in Sao Paulo. Cad
descritas por Hof [13], Sutherland [28] e Zijlstra, Prokop & Saúde Pública 2003;19(3):793-8.
2. Rodrigues MAP, Facchini LA, Thumé E, Maia F. Gender and
Berger [29]. Os referidos autores elucidam nos seus estudos
incidence of functional disability in the elderly: a systematic
que analisar a marcha sem normalizá-la é inviável pelo motivo
review. Cad Saúde Pública 2009;25(Sup3):464-76.
da interveniência de variáveis antropométricas, tais como: 3. Kubinski AJ, Higginson JS. Strategies used during a challenging
massa, estatura e comprimento do membro inferior. Hof & weighted walking task in healthy adults and individuals with
Zijlstra [30] discutem ainda que existem diferenças entre a knee osteoarthrits. Gait & Posture 2012;35:6-10.
marcha normalizada pela altura trocantérica e a normalização 4. Maki BE. Gait changes in older adults: predictors of falls or
feita a partir dos valores da estatura e peso como ocorre em indicators of fear? J Am Geriatr Soc 1997;45(3):313-20.
outros estudos. Isso se justifica porque o comprimento da 5. Chamberlin ME, Fulwider BD, Sanders SL, Medeiros JM. Does
perna aumenta proporcionalmente mais do que a relação da fear of falling influence spatial and temporal gait parameters in
altura total do corpo humano. Constatou-se que o compri- elderly persons beyond changes associated with normal aging?
J Gerontol A Biol Sci Med 2005;60(9):1163-7.
mento do passo, preferencialmente quando normalizado pelo
6. Kaufman KR, Hughes C, Morrey BF, Morrey M. Gait cha-
comprimento da perna, é essencialmente constante dos 3,5 racteristics of patients with knee osteoarthritis. J Biomech,
anos de idade até a fase adulta. 2001;34(7):907-15.
7. Amatuzzi MM. Joelho: articulação central dos membros infe-
Conclusão riores. Rio de Janeiro: Roca; 2004.
8. Chang A, Hayes K, Dunlop D, Song J, Hurwitz D, Cahue
Baseado nos fatos comprovados através de tratamento S, et al. Hip abduction moment and protection against me-
estatístico, por meio de uma avaliação quantitativa, conclu- dial tibiofemoral osteoarthritis progression. Arthritis Rheum
ímos que a mobilização articular pelo conceito Maitland 2005;52(11):3515-9.
9. Maly MR, Costigan PA, Olney SJ. Mechanical factors relate to
tendeu a apresentar uma eficácia quanto ao aspecto motriz,
pain in knee osteoarthritis. Clin Biomech 2008;23:796-805.
no caso a marcha. Tal efeito foi comprovado na melhora
10. Senna ER, Barros AL, Silva EO, Costa IF, Pereira LV, Ciconelli
dos aspectos cinemáticos da marcha analisados, sendo estes: RM, et al. Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study
frequência e amplitude da passada. Em virtude do tamanho using the COPCORD approach. J Rheumatol 2004;31(3):594-7.
da amostra, o presente estudo caracterizou-se como piloto, 11. Landry SC, McKean KA, Hubley-Kozey CL, Stanish WD, De-
sendo assim, recomendamos que estudos posteriores possam luzio KJ. Knee biomechanics of moderate OA patients measured
verificar o efeito do processo manipulativo aumentando o during gait at a self-selected and fast walking speed. J Biomech
contingente amostral, e também, utilizá-lo em diferentes 2007;40:1754-61.
faixas etárias. 12. Batista LA. Introdução à Biomecânica Aplicada. Rio de Janeiro:
LaBiCoM/UERJ, 2004.
32 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

13. Hof AL. Scaling gait data to body size. Gait and Posture 23. Danion F, Varraine E, Bonnard M, Pailhous J. Stride variability
1996;4:222-3. in human gait: the effect of stride frequency and stride length.
14. Maitland GD. Princípios das técnicas. In: Maitland GD, ed. Gait Posture 2003;18:69-77.
Maitland’s Vertebral Manipulation. 6. ed. London: Butterworth 24. Custódio AS, Batista LA. Estudo cinemático, com medidas
Heinemann; 2001. p.171-82. normalizadas e não normalizadas, de marchas realizadas em di-
15. Denegar CR, Hertel J, Fonseca J. The effect of lateral ankle ferentes velocidades [Dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade
sprain on dorsiflexion range of motion, posterior talar glide, Castelo Branco; 2010. 88f.
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gait. 2a. ed. Cape Town: Kiboho Publishers; 1999.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 33

Artigo original

Prevalência das principais patologias consideradas


doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho
no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
de Araçatuba/SP
Prevalence of main pathologies considered work related
musculoskeletal disorders in the reference center in worker
health of Araçatuba/SP
Amanda Cristina Goncalves, Ft.*, Julye Kellen Carvalho da Silva, Ft.*, Fernando Henrique Alves Benedito, Ft. **,
Simone Galbiati Tercariol, Ft., M.Sc.***

*Fisioterapeuta, **Orientador de estágio do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba,


***Docente do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba

Resumo Abstract
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteo- Repetitive Cumulative Trauma (RCT) or Work Related Mus-
musculares Relacionados ao Trabalho (DORT) traduzem quadros culoskeletal Disorders (WRMD), correspond to clinical pictures
clínicos de origem ocupacional decorrentes de distúrbios funcionais, of occupational origin resulting from functional disorders, causing
provocando afecções de nervos, músculos, tendões, sinóvias, fáscias affections of nerves, muscles, tendons, synovia, fasciae and ligaments.
e ligamentos. Este trabalho foi realizado com o objetivo de verificar This study has been performed with the objective of verifying the
a prevalência das principais LER/DORT no Centro de Referência main RCT/WRMD prevalent in the Reference Center in Worker’s
em Saúde Trabalhador de Araçatuba/SP no período de dezembro Health of Araçatuba/SP from December 2009 to December 2010,
de 2009 a dezembro de 2010, e destacar dentre todas a patologia and highlighting among all pathologies the most prevalent as well
de maior prevalência como também sexo, idade e profissão. Foram as gender, age and profession. 284 medical records were analized
analisados 284 prontuários, no qual 60 prontuários apresentavam and 60 showed RCT/WRMD diagnosis. The results showed high
diagnóstico de LER/DORT. Os resultados mostraram que a pato- incidence of supraspinatus pathology with 26,6 % cases, the female
logia de maior prevalência foi à tendinite do supraespinhoso com gender was the most affected, in the group 43-55 years old, and
26,6% dos casos, no geral o sexo feminino foi o mais acometido, technical and general services were the categories most affected. We
na faixa etária entre 43 e 55 anos e atingindo principalmente as concluded that the prevalence of RCT/WRMD in the Reference
categorias de serviços técnicos e serviços gerais. Conclui-se que a Center in Worker’s Health of Araçatuba/SP has not been incidencial.
prevalência de LER/DORT no Centro de Referência em Saúde do Key-words: occupational diseases, repetitive strain injury,
Trabalhador não foi incidencial. prevalence.
Palavras-chave: doenças ocupacionais, esforço repetitivo,
patologias, prevalência.

Recebido em 9 de maio de 2012; aceito em 27 de novembro de 2012.


Endereço para correspondência: Simone Galbiati Terçariol, Rua Henrique Cerizza, 122 Santa Maria, 16015620 Araçatuba SP, E-mail: simone.galbiati@
uol.com.br
34 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Introdução para atender aos acidentes de trabalho e agravos contidos


na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho e aos agravos
Após a revolução industrial, as linhas de produção se dão relacionados ao trabalho de notificação compulsória citados
cada vez mais por procedimentos mecânicos e repetitivos. E na Portaria GM/MS nº 104 de 25 de janeiro de 2011 [4].
com isso, uma vez que tais linhas são processadas por pessoas, Deste modo, observando o aumento significativo dos
surge um conjunto de doenças conhecidas como Lesões por casos de LER/DORT, este trabalho teve por objetivo verificar
Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares a prevalência das principais patologias consideradas LER/
Relacionados ao Trabalho (DORT) [1]. DORT no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
Com essa nova forma de trabalho surge a necessidade de (CEREST) de Araçatuba-SP, e dentre elas destacar a patologia
um produto de qualidade que vença a competitividade do de maior prevalência.
mercado, isso aumenta a pressão em relação à produtividade,
ocasionando riscos e agravos à saúde do trabalhador, que está Material e métodos
submetido a jornadas excessivas de trabalho, execução de
grande quantidade de movimentos repetitivos, sobrecarga O trabalho foi submetido à aprovação do comitê de ética
de determinados grupos musculares, ausência de controle (CEP) e foi realizado através de uma pesquisa quantitativa,
sobre modo e ritmo de trabalho, ausência de pausas, uso de estudo transversal, buscando coletar nos prontuários dos
mobiliário e equipamentos desconfortáveis e manutenção pacientes o diagnóstico das patologias de maior prevalência
de posturas inadequadas de trabalho por tempo prolongado, que são consideradas LER/DORT, no Centro de Referência
além da necessidade de concentração e atenção do trabalhador em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Araçatuba/SP, no
para realizar suas atividades e a pressão imposta pela organi- período de dezembro de 2009 a dezembro de 2010.
zação do trabalho, esses fatores interferem significativamente Foram analisados um total de 284 prontuários, no qual
para a ocorrência das LER/DORT [1,2]. 60 prontuários apresentavam diagnóstico de LER/DORT, e
As LER/DORT são termos que traduzem quadros clínicos destes foram coletados os seguintes dados: diagnóstico médico
de origem ocupacional decorrentes de distúrbios funcionais, considerados LER/DORT, sexo, idade e profissão.
provocando afecções de nervos, músculos, tendões, sinóvias, Foram excluídos os prontuários que não foram considera-
fáscias e ligamentos. São lesões decorrentes da utilização exces- dos patologias e LER/DORT segundo a literatura.
siva imposta ao sistema musculoesquelético caracterizado pela
ocorrência de vários sintomas, tais como: dor, parestesia, for- Resultados
migamento, fadiga precoce, sensação de peso, dentre outros.
Esses sintomas geralmente são de início insidioso e surgem Os resultados obtidos através da coleta de dados, segundo o
como resultado da superutilização das estruturas anatômicas objetivo proposto deste trabalho, serão apresentados neste item.
do sistema musculoesquelético e da falta de recuperação, O Gráfico 1 mostra que 16 prontuários apresentaram
levando a sobrecarga desse sistema [2,3]. diagnóstico de tendinite do supraespinhoso (26,6%), sendo a
Qualquer distúrbio que seja decorrente do trabalho é conside- patologia de maior prevalência; 9 apresentaram diagnóstico de
rado LER/DORT, podendo acometer a coluna cervical, cintura cervicalgia (15%); 6 apresentaram diagnóstico de tenossino-
escapular, coluna lombar, cintura pélvica, membros superiores e vite de Quervain (10%); 5 apresentaram diagnóstico de lom-
membros inferiores. Segundo a literatura, as principais patologias balgia (8,3%); 4 apresentaram diagnóstico de lombociatalgia
são síndrome do túnel do carpo e as lombalgias [4-7]. (6,7%); e 3 apresentaram diagnóstico de osteoartrose (5%).
As LER/DORT são características de uma sociedade Outros 17 prontuários indicam 28,40% dos casos, com
industrializada, na qual os trabalhadores são submetidos a apenas 1 ou 2 indivíduos acometidos por essas patologias.
condições e ambientes inadequados de trabalho. Esse con- Entre elas estão: epicondilite lateral e medial, espondilolistese,
junto de fatores tem ocasionado riscos e agravos à saúde do hérnia de disco, síndrome do túnel do carpo, entre outras.
trabalhador, o que leva ao crescimento acentuado nas estatís- No Gráfico 2, observa-se a prevalência das principais LER/
ticas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), já que DORT em relação ao sexo. No geral, o sexo feminino foi o
a cada 7 casos de afastamento do trabalho, 5 são por algum mais acometido, de um total de 60 casos de LER/DORT 36
tipo de LER/DORT [1,3,8]. eram do sexo feminino, ou seja, 60% dos casos. Na tendinite
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CE- do supraespinhoso a prevalência foi maior no sexo masculino
REST) promove ações para melhorar as condições de trabalho com proporção de 10:6, nas cervicalgias quase não houve
e a qualidade de vida do trabalhador por meio da prevenção diferença, apresentando uma proporção de 5:4 para o sexo
e vigilância. Cabe aos CEREST regionais capacitar a rede de feminino, nas patologias tenossinovite de Quervain, lombalgia
serviços de saúde, apoiar as investigações de maior comple- e lombociatalgia a prevalência foi maior no sexo feminino de
xidade, assessorar a realização de convênios de cooperação forma significativa, com proporção de 5:1, 4:1 e 4:0 respec-
técnica, subsidiar a formulação de políticas públicas, apoiar tivamente e na osteoartrose a prevalência foi maior no sexo
a estruturação da assistência de média e alta complexidade masculino com prevalência de 2:1.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 35

Gráfico 1- A prevalência das principais LER/DORT. Gráfico 3 - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas à idade.
16 17 55
49 48 51 50
43
9
6
5 4 3

g ia
ia

rvain e

ose

as
ia
oso

Queinovite d
icalg

atalg
pinhdo

Outr
ar

oartr
Lomb
suprendinite

g ia
Cerv

ia

rvain e

ia

ose
boci

oso

Queinovite d
Oste

icalg

atalg
a-es

pinhdo
ss

ar

oartr
Lom
Teno

Lomb
suprendinite
T

Cerv

boci

Oste
a-es

ss

Lom
Teno
Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em

T
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009
a dezembro de 2010. Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009
Gráfico 2 - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas a dezembro de 2010.
ao sexo.
Masculino Feminino Tabela I - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas à
10
profissão.
6
4 5 5 4 4 2 1 Categorias Profissões
1 1 0
Do Lar, Doméstica, Faxineira, Lavadeira,
Limpeza
a
ia

uerv de

ose

Auxiliar de Limpeza de Cemitério


oso

argi

talgi
icalg
pinhdo

ain
Deqsinovite

oartr

Serviços Auxiliar de Serviços Gerais, Costureira, Jardi-


b
suprendinite

ocia
Lom
Cerv

Gerais neiro, Pedreiro, Alfaiate de Tapeçaria


Oste
a-es

Assistente Contábil, Vendedora, Atendente,


s

Lom
Teno

Escritório
T

Balconista, Comerciante
Técnico Eletrônico, Técnico em Telecomuni-
Fonte: Prontuários dos pacientes atendidos no Centro de Referência em Serviço Téc-
cação, Operador de Som e Luz, Mecânico de
Saúde do Trabalhador de Araçatuba, no período de dezembro de 2009 nico
Manutenção
a dezembro de 2010.
Saúde Auxiliar de Enfermagem, Atendente de Farmácia
Educação Professora, Estudante
No Gráfico 3, observa-se a prevalência em relação à idade,
Transporte Motorista, Guincheiro
onde a média de idade foi de 49 anos para a tendinite do
Estoque Almoxarife
supraespinhoso, 48 anos para a cervicalgia, 43 anos para a
Aposentado Aposentado
tenossinovite de Quervain, 55 anos para a lombalgia, 51 anos
Fonte: Pesquisa dos autores.
para a lombociatalgia e 50 anos para a osteoartrose. No geral
a faixa etária afetada foi dos 43 aos 55 anos.
Na Tabela II se encontram as categorias e as patologias
Nas Tabelas I e II, observam-se as principais LER/DORT
apresentadas em cada uma delas.
relacionadas com as profissões acometidas por elas.
Na Tabela I se encontram todas as profissões que apre-
Tabela II - Prevalência das principais LER/DORT relacionadas
sentaram algum tipo de LER/DORT que se encaixavam
às profissões.
dentre as seis principais patologias apresentadas neste estudo,
Categorias Patologias
separadas por categorias, que são limpeza (do lar, doméstica,
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
faxineira, lavadeira, auxiliar de limpeza de cemitério), servi-
Limpeza Tenossinovite de Quervain, Lombalgia, Lom-
ços gerais (auxiliar de serviços gerais, costureira, jardineiro,
bociatalgia
pedreiro, alfaiate de tapeçaria), escritório (assistente contábil,
Serviços Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
vendedora, atendente, balconista, comerciante), serviço
Gerais Lombociatalgia
técnico (técnico eletrônico, técnico em telecomunicação,
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
operador de som e luz, mecânico de manutenção), saúde Escritório
Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose
(auxiliar de enfermagem, atendente de farmácia), educação
Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia,
(professora, estudante), transporte (motorista, guincheiro), ServiçoTécnico
Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose,
estoque (almoxarife), e aposentado (aposentado).
Saúde Tenossinovite de Quervain, Osteoartrose
Educação Cervicalgia, Lombalgia, Lombociatalgia
36 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Tendinite do supraespinhoso, Cervicalgia, do que foi encontrado no presente estudo, cuja prevalência
Transporte em relação à idade no geral foi dos 43 aos 55 anos, ou seja a
Lombalgia.
Estoque Tendinite do supraespinhoso idade mínima foi 43 anos, contradizendo também Ksam [5]
Aposentado Lombalgia que afirma que as LER/DORT em países industrializados é
Fonte: Pesquisa dos autores. a principal causa de incapacidade dos indivíduos com idade
inferior a 45 anos. Merlo et al. [11] constataram em seu estudo
Discussão que a prevalência de LER/DORT é maior na faixa etária dos
34 aos 51 anos.
A prevalência de LER/DORT vem apresentando um Profissões que submetem os trabalhadores a jornadas
aumento significativo com o passar dos anos. excessivas de trabalho, execução de grande quantidade de
Augusto et al.[3] em seu estudo destaca que a cada 7 casos movimentos repetitivos em grande velocidade, sobrecarga de
de afastamento do trabalho, 5 são por algum tipo de LER/ determinados grupos musculares, ausência de controle sobre
DORT. No presente estudo foram analisados 284 prontuá- modo e ritmo de trabalho e ausência de pausas aumentam a
rios, dos quais apenas 60 apresentavam diagnóstico de LER/ prevalência de LER/DORT [10,13].
DORT, ou seja, 21% dos casos, uma prevalência relativamente Maciel et al. [12] destaca a grande prevalência de LER/
baixa se comparado ao estudo citado, mas sem comprovação DORT atingindo principalmente tronco e membros superio-
de afastamento. res em trabalhadores que desenvolvem trabalhos domésticos e
Ksam [5] afirma que as lombalgias tem sido a principal de serviços gerais como, por exemplo, jardinagem, costureiras,
causa de incapacidade, atingindo cerca de 50 a 90% dos in- tricotar, além dos músicos. Santos [6] também destaca um
divíduos adultos, já em nosso estudo a lombalgia representou comprometimento maior em membros superiores e tronco
apenas 8,30% dos casos. em profissões como: auxiliar de produção industrial, digita-
Merlo et al. [11] realizaram um estudo no Ambulatório de dor, operador de caixa, telefonista, costureiras e empregadas
Doenças do Trabalho do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, domésticas. Assim como no presente estudo, as categorias
onde as LER/DORT foram responsáveis por 70% dos casos, limpeza e serviços gerais apresentaram patologias no tronco
sendo que a síndrome do túnel do carpo representa mais da e nos membros superiores.
metade desses casos. Regis Filho e Michels [1], em estudo Brito et al. [13] analisaram os tipos de trabalho que mais
com cirurgiões dentistas, também destacaram alta prevalência oferecem riscos para o desenvolvimento das lombalgias.
da patologia síndrome do túnel do carpo, contradizendo o Encontraram que os de maior índice foram as atividades em
presente estudo, no qual a patologia não está nem entre as pé com carga e aquelas em que é mantida a posição sentada
de maior prevalência. por um longo período de tempo. As atividades de maior
A prevalência em relação ao sexo apresentou um percentual prevalência foram: donas de casa, estudantes, professores,
com pequena diferença, o sexo feminino representa 60% dos cabeleireiros, motoristas, padeiros e manicures.
casos e o sexo masculino 40%. Oliveira [14] em seu estudo com um grupo de digitadores
Regis Filho e Michels [1] consideram o sexo feminino mostra uma maior prevalência de LER/DORT em extremi-
como sendo o mais facilmente afetado, talvez devido à dades superiores. Assim como Regis Filho e Michels [1] que
acumulação da jornada doméstica, menor número de fibras em seu estudo destacaram o acometimento de punho e mão
musculares, menor capacidade de armazenar e converter o em intérpretes de linguagem de sinais, devido à quantidade de
glicogênio em energia útil, e por serem destinadas a elas na movimentos repetitivos, gerando estresse biomecânico sobre
empresa, as atividades mais repetitivas e que exigem maior as extremidades superiores.
habilidade. Santos [9] em seu estudo também relatou a maior Recomenda-se a realização de mais estudos sobre o tema
prevalência do sexo feminino, já que as mulheres foram res- abordado com o objetivo de aprofundar o conhecimento nas
ponsáveis por 76% dos casos. principais patologias consideradas LER/DORT.
Porém, nos prontuários analisados para a realização do
estudo, embora a prevalência tenha sido maior no sexo femi- Conclusão
nino, quase não houve diferença, o sexo feminino representou
60% dos casos e o sexo masculino 40%. Por outro lado Ksam Conclui-se que a prevalência de LER/DORT no Centro
[5] em seu estudo sobre as LER/DORT relata que a ocorrência de Referência em Saúde do Trabalhador de Araçatuba foi
parece ser igual entre homens e mulheres. Somente após os 60 relativamente baixo no período de dezembro de 2009 a
anos houve uma queixa maior no sexo feminino, acredita-se dezembro de 2010, sendo a tendinite do supraespinhoso
que por conta da menopausa. a patologia de maior prevalência com 26,6% dos casos, no
Santos [9] em seu estudo verificou que dos pacientes geral o sexo feminino foi o mais acometido, na faixa etária
atendidos que apresentavam diagnóstivo de LER/DORT a entre 43 e 55 anos e atingindo principalmente as categorias
média de idade foi dos 20 aos 40 anos de idade, ao contrário de serviços técnicos e serviços gerais.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 37

Referências 8. Hospital Arthur Ramos proporciona palestra sobre LER/


DORT. [citado 2011 Mar 27]. Disponível em URL: http://
1. Regis Filho GI, Michels G, Sell I. Lesões por esforços repe- www.alemtemporeal.com.br.
titivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho 9. Santos HH. Abordagem Clínica e Psicossocial das Lesões por
em cirurgiões-dentistas: aspectos biomecânicos. Produção Esforços Repetitivos LER/DORT. Rev Bras Terap Ocupac
2009;19(03):569-80. 2004:28(01):105-6.
2. Oliveira R. A abordagem das lesões por esforços repetitivos/ 10. Helfenstein JM. Lesões por esforços repetitivos (LER/DORT):
distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – LER/ conceitos básicos. São Paulo: Schering Plough; 1999.
DORT no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do 11. Merlo ARC, Vaz MA, Spode CB, Elbern JLGE, Karlow ARM,
Espírito Santo – CRST/ES. [citado 2011 Mar 27]. Disponível Vieira PRB. O trabalho entre prazer, sofrimento, e adoecimento:
em URL: http://portalteses.icict.fiocruz.br a realidade dos portadores de lesões por esforços repetitivos. Rev
3. Augusto VG, Sampaio RF, Tirado MGA, Mancini MC, Parreira Psicol Soc 2003:15(1):117-136.
VF. Um olhar sobre as LER/DORT no contexto clínico do 12. Maciel ACC, Fernandes MB, Medeiros LS. Prevalência e fato-
fisioterapeuta. Rev Bras Fisioter 2008;12(01):49-56. res associados à sintomatologia dolorosa entre profissionais da
4. Couto H, Lech O, Nicolletti S. Considerações gerais. In: indústria têxtil. Rev Bras Epidemiol 2006:9(1):94-102.
Doenças osteomusculares relacionados ao trabalho. 1ª ed. Belo 13. Brito PM, Cota CKL, Medeiros Neto CF, Guedes DT, Más-
Horizonte: Ergo; 1998. p. 3-12. culo FS, Cardia MCG et al. Análise da relação entre a postura
5. Ksam J. Lombalgias: Quebra de paradigmas. Rev CIPA de trabalho e a incidência de dores na coluna vertebral. XXIII
2003;280:28-36. Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Ouro Preto,
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com portadores de LER/DORT: Relato de experiência. Psicol
Reflex Critic 2001;14(01):253-8.
38 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Artigo original

Avaliação funcional dos acidentados de trânsito


atendidos em um serviço de fisioterapia
Functional evaluation of crashing patients attended at a physical
therapy service
Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, Ft., M.Sc.*, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, Ft., M.Sc.**,
Samila Sousa Vasconcelos, Ft.***, José Gomes Bezerra Filho****

*Especialista em cardiovascular e pneumofuncional – UNIFOR, Especialista em terapia manual e postural – CESUMAR, Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – UFPI, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da
Universidade Federal do Ceará, **Especialista em cardiovascular e pneumofuncional – UNIFOR, Especialista em terapia manual
e postural – CESUMAR, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piaui - UFPI, Coordenador do Projeto de
Extensão em Saúde do Idoso – PROSI, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da Universidade Federal do Ceará,
Doutorando em Cirurgia pela UFC, ***Mestranda em Educação pela Universidade Lusófona, pós-graduanda em Educação pelas
Faculdades INTA, Coordenadora do setor de Fisioterapia do Centro de Reabilitação de Sobral e Preceptora de estágio supervisiona-
do em Fisioterapia das Faculdades INTA, ****Estatístico pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Orientador do Mestrado em
Saúde Pública - UFC e Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência da Universidade Federal do Ceará

Resumo Abstract
As causas externas vêm adquirindo grande magnitude, produzin- External causes are acquiring great magnitude, resulting in many
do inúmeras vítimas, tornando-se um desafio a ser enfrentado pelo victims, and is a challenge for the health sector. Among the causes,
setor saúde. Dentre as causas, destacam-se os acidentes de trânsito the traffic accidents are the major public health problems. Therefore,
como principais agravos à saúde da população. Portanto, objetivou- the objective was to analyze the epidemiological and functional
-se analisar o perfil epidemiológico e funcional dos acidentados profile of car crash victims treated at a physical therapy service in
de trânsito atendidos em um serviço de fisioterapia de Fortaleza. Fortaleza. This was a quantitative and cross-sectional study develo-
Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, desenvolvido ped from May to November 2009, in ABCR-center. The Functional
de maio a novembro de 2009, na ABCR-Centro. Para coleta dos Independence Measure (FIM) and Social Participation Scale (SPS)
dados, utilizou-se a Medida de Independência Funcional (MIF) were used to collect data. We evaluated 53 men and four women,
e a Escala de Participação Social (EPS). Avaliou-se 53 homens e 37 ± 14 years old. The fractures were predominant (73.7%) and the
quatro mulheres, com idade média de 37 ± 14 anos. As fraturas lower limbs were the most affected (60%). Most patients had com-
foram predominantes (73,7%) e os membros inferiores, as regiões plete independence for FIM (54.4%), motor (42.1%) and cognitive
mais acometidas (60%). A maioria dos pacientes apresentou inde- (86%). Locomotion was the subdomain that showed the highest
pendência completa para a MIF total (54,4%), motora (42,1%) e levels of dependence. Regarding social participation, (28.1%) had
cognitiva (86%). A locomoção foi o subdomínio que apresentou severe restriction. The social participation multivariate analysis was
os maiores graus de dependência. Quanto à participação social, a carried out using FIM motor, length of stay and marital status. We
maioria (28,1%) apresentou grave restrição. Na análise multivaria- observed predominance of functional independence, with severe
da da participação social, entraram no modelo explicativo a MIF restriction in social participation; and that FIM motor, length of
motora, o tempo de internação e o estado civil. Concluiu-se que stay and marital status explained social participation.
predominaram os indivíduos que apresentavam independência Key-words: functionality, external cause, Physical therapy.
funcional, com grave restrição da participação social; e que a MIF
motora, o tempo de internação e o estado civil foram explicativos
da participação social.
Palavras-chave: funcionalidade, causa externa, Fisioterapia.

Recebido em 23 de maio de 2012; aceito em 19 de novembro de 2012.


Endereço de correspondência: Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, Rua Coronel Rangel, 561, 62010-030 Sobral CE, E-mail: guilherme_
pertinni@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 39

Introdução de situações de risco, bem como a identificação da necessidade


de utilização dos serviços especializados [8].
As causas externas vêm adquirindo grande magnitude, A funcionalidade de um indivíduo não depende exclusi-
produzindo inúmeras vítimas fatais e não fatais, constituindo- vamente de seu estado físico, sendo influenciada também por
-se como um forte desafio a ser enfrentado pelo setor saúde. fatores sociais, ambientais, econômicos dentre outros. Nesta
A demanda imposta por elas aos serviços de saúde pode ser perspectiva é importante utilizar instrumentos que abordem
percebida ao analisar o perfil de morbimortalidade da po- os aspectos amplos desta funcionalidade.
pulação brasileira, na qual ocupam lugar de destaque, com A Medida de Independência Funcional (MIF) é um instru-
tendência crescente nas últimas décadas [1]. Dentre essas mento multidimensional capaz de verificar o desempenho do
causas, destacam-se as agressões e os acidentes de trânsito indivíduo na realização de um conjunto de 18 tarefas, referen-
como principais agravos à saúde da população. tes aos domínios motor e cognitivo. O indivíduo recebe uma
O Ministério da Saúde [2] situa os acidentes de trânsito pontuação específica para cada domínio de acordo com seu
como componentes dos grupos das causas externas, definindo- grau de independência ou dependência relatado, obtendo, ao
-os como um evento que envolve um ou mais veículos que final da avaliação, um escore que pode variar de 18 a 126 [9].
provoque algum dano físico, psicológico ou material para os A Escala de Participação Social é um instrumento baseado
envolvidos, geralmente apresentando um caráter não inten- na Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacida-
cional, sendo quase sempre evitável. de e Saúde (CIF) e é utilizada para mensurar a participação
Tais eventos influenciam consideravelmente os dados tanto social em pessoas com incapacidades [10]. É indicada para ava-
de mortalidade quanto de morbidade, exercendo um grande liar o impacto das incapacidades na realização das atividades
impacto nas condições de saúde da população [3]. Estimativas sociais e da vida diária, bem como nas relações interpessoais
recentes da Organização Mundial de Saúde apontam para uma e no trabalho, sendo um importante instrumento avaliativo.
tendência crescente da mortalidade mundial por acidentes de Diante do exposto, este trabalho justifica-se pela necessi-
trânsito, estimando que em 2030 esta mortalidade aumente dade da realização de estudos que enfoquem a temática das
para o valor de 2,4 milhões de pessoas, passando a ocupar a consequências dos acidentes de trânsito, vistas sob a ótica
quinta maior causa de morte no mundo [4]. das deficiências e incapacidades e tem como objetivos: 1)
Quando comparado ao cenário mundial, o Brasil apresenta descrever as principais características sociodemográficas e
dados preocupantes. De acordo com o relatório mundial sobre clínicas dos pacientes em reabilitação, vítimas de acidentes de
a prevenção de lesões no trânsito, ocupa posição de destaque transporte; 2) descrever o grau de independência funcional e
entre os países com as mais altas taxas de mortalidade por a limitação da participação social na população de estudo; 3)
acidentes de trânsito [5]. Estima-se que ocorra cerca de um analisar quais variáveis se apresentam como explicativas para
milhão de acidentes (cerca de 62% destes, urbanos), 35 mil a participação social.
mortes, 500 mil feridos e 100 mil vítimas com lesões per-
manentes [6]. Material e métodos
Os dados referentes ao estado do Ceará também são alar-
mantes, de acordo com estatísticas divulgadas pelo Detran- Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico,
-CE, referentes ao ano de 2008, até o mês de setembro, de abordagem quantitativa, realizado durante os meses de
ocorreram 8843 acidentes de trânsito no estado, dos quais maio a novembro de 2009.
11% tiveram vítimas fatais. Tais acidentes acometeram prin- Para definição do local da pesquisa, realizou-se um estudo
cipalmente a população pertencente à faixa etária entre 30-59 prévio dos serviços de fisioterapia na cidade de Fortaleza que
anos, tendo grande predominância no sexo masculino, que prestaram serviço ao SUS no ano de 2007, através de dados
respondeu por 76% dos acidentes [7]. fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Após tal estu-
É válido ressaltar a grande parcela dos acidentes não fatais do, decidiu-se realizar esta pesquisa na Associação Beneficente
que, não menos graves ou importantes que os fatais, escoam para Cearense de Reabilitação (ABCR) - Centro, que respondeu
os serviços de saúde e exigem destes uma série de investimentos por 13% dos procedimentos de fisioterapia autorizados pelo
para um suporte adequado a essas vítimas. A maioria dos estudos SUS no ano de 2007, sendo, portanto, muito representativa
sobre morbidade utiliza informações do Sistema de Internação desse serviço.
Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), sendo Participaram deste estudo todos os pacientes, acidentados
mais difícil um acompanhamento dos pacientes que, após alta de trânsito, que foram atendidos nos setores de fisioterapia
hospitalar, ainda apresentem condições mórbidas. Os dados traumato-ortopédica e neurológica e que satisfizeram os
relativos às deficiências e incapacidades ainda são incompletos, critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 18 anos;
corroborando para a persistência de uma incompreensão quanto dispor de condições cognitivas e verbais de forma a viabilizar
ao impacto destas na saúde da população. o diálogo, essencial para o preenchimento dos instrumentos
Sendo assim, a implementação de avaliações funcionais a de coleta de dados (caso o paciente não tivesse tais condições,
este público se faz necessária, uma vez que viabiliza a detecção seria solicitado ao responsável/acompanhante que respondesse
40 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

às perguntas, se assim o paciente concordasse); concordar em realizado, o mais relatado foi o cirúrgico, tendo sido necessário
participar da pesquisa, através da assinatura do termo de con- em 77,2% dos pacientes. Apenas um paciente necessitou da
sentimento livre e esclarecido. Foram excluídos da pesquisa os utilização de prótese.
pacientes que possuíssem alguma alteração física (congênita ou Neste estudo, o escore médio obtido para MIF total foi
adquirida) antes do evento (acidente de trânsito) mais recente. 104 ± 17,8; para MIF motora, obteve-se o valor de 71,9 ±
Os dados foram coletados através de um roteiro de en- 15,2; e, para MIF cognitiva, o escore 32,5 ± 3,6. Nota-se,
trevista elaborado pelos pesquisadores, contemplando dados portanto, que as maiores restrições relacionavam-se ao do-
relativos à caracterização dos pacientes e do acidente, do mínio motor, destacando-se os subdomínios locomoção e
instrumento MIF e da escala de participação social. Para mobilidade, fato influenciado pelo perfil lesional encontrado
uma maior padronização dos resultados solicitou-se que, afetando predominantemente os membros inferiores.
durante a aplicação da MIF e da escala de participação social, Ao realizar a comparação das médias da MIF total de acor-
os pacientes respondessem os questionamentos tendo como do com a região do corpo atingida pelo acidente, com o teste
referência a condição em que se encontravam no momento de Kruskal-Wallis, foi encontrada diferença estatisticamente
que ingressaram no tratamento fisioterápico. significante entre esses grupos, com p < 0,01 (Tabela I).
As variáveis estudadas foram: idade, sexo, escolaridade,
estado civil, situação trabalhista, tipo de acidente, veículo en- Tabela I - MIF média, desvio padrão e número de pacientes, clas-
volvido, região do corpo acometida, tipo de lesão, MIF total, sificados de acordo com a região do corpo acometida pelo acidente,
MIF motora, MIF cognitiva e escore da Participação Social. referentes aos acidentados de trânsito atendidos na ABCR, de maio
A análise estatística dos dados foi realizada através do a novembro de 2009.
software SPSS, versão 15.0, utilizando-se estatística descritiva Região do corpo MIF Desvio N
e analítica (t’Student para amostras independentes, Exato de acometida média padrão
Fisher, McNemar, Kruskal-Wallis, Mann-Whitney e Regressão MMSS 117,7 5,6 10
Múltipla). Considerou-se significância estatística quando p ≤ MMII 106,8 13,9 34
0,05 (apenas na análise de regressão se aceitou significância CABEÇA 87,4 23,7 7
estatística de p ≤ 0,1). MMSS E MMII 85 17,5 6
A pesquisa foi aprovada previamente pelo Comitê de Ética Fonte: dados da pesquisa
da Universidade Federal do Ceará, através do protocolo de
número 123/ 09. Ao comparar esses grupos dois a dois, para melhor espe-
cificação dessa diferença, através do teste de Mann-Whitney,
Resultados houve diferença estatisticamente significante (p < 0,01) para
os grupos: MMSS / MMII, MMSS / MMSS e MMII, MMSS
Participaram do estudo 57 pacientes, 53 homens e 4 mu- / cabeça, e, MMII / MMSS e MMII.
lheres, com idade mediana de 33 anos, tendo variado de 18 a A participação social foi mensurada inicialmente pelo seu
86 anos. O estado civil predominante foi casado ou em união escore total, e em seguida os pacientes foram classificados
consensual (49,1%), seguido por solteiro (40,4%). Quanto de acordo com seu grau de restrição, conforme o próprio
ao grau de escolaridade, a maioria (42,1%) possuía o ensino instrumento já preconiza. O escore médio obtido foi de
fundamental completo. 26,8, tendo variado de 4 a 59 nos pacientes entrevistados. A
Analisou-se a situação trabalhista anteriormente ao aci- classificação de acordo com os graus de restrição encontra-se
dente e no momento da avaliação. Observou-se que 80,7% na Tabela II.
dos pacientes se encontravam empregados quando sofreram o
acidente; entretanto, na situação atual, sobressaíam-se os que Tabela II - Participação Social categorizada, de acordo com o grau
estavam em licença provisória (52,6%). Ao realizar a compa- de restrição dos acidentados de trânsito atendidos na ABCR, de maio
ração entre esses dois grupos, através do teste de McNemar, a novembro de 2009.
obteve-se significância estatística (p < 0,01). Frequência Frequência
Graus de Restrição
Quanto ao perfil das lesões, predominaram as que envol- Absoluta Relativa (%)
viam os membros, dentre as quais 60% dos avaliados tiveram Nenhuma Restrição 9 15,8
comprometimento dos membros inferiores e 18% dos mem- Leve Restrição 15 26,3
bros superiores; 12% apresentaram comprometimento da Moderada Restrição 13 22,8
região da cabeça. Os tipos de lesões mais relatados foram as Grave Restrição 16 28,1
fraturas (73,7%), apontando para a gravidade desses acidentes. Extrema Restrição 4 7
Em decorrência dessas lesões mais graves, observou-se que Fonte: dados da pesquisa.
a maioria dos pacientes (82,5%) necessitou de internação
hospitalar e que 15,8% desses precisaram de atendimento Os dados referentes à participação social apontam para
em Unidade de Terapia Intensiva. Quanto ao tratamento um grande número de pacientes que apresentaram algum
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 41

tipo de restrição (84,2%), destacando-se os que exibiam grave mulher) e dos 30 aos 39 anos (6,4). Contudo, as mulheres
restrição (28,1%). morrem mais do que os homens nos atropelamentos e no
Para melhor detalhamento da variável Participação meio de transporte como condutora de automóvel [12,13].
Social, resolveu-se considerá-la como variável dependente Neste estudo encontrou-se também uma predominância
e realizou-se o teste de Regressão Múltipla. Inicialmente das lesões de extremidades, fato já evidenciado na literatu-
testou-se a normalidade dessa variável, tendo esta sido con- ra. O Relatório Global de Lesões, através de estimativas da
firmada pela análise gráfica (histograma) e pelos testes de proporção de lesões de extremidades por quedas e acidentes
Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, com hipótese nula de de transporte, encontrou que nos países subdensenvolvidos,
normalidade, obtendo-se os valores de p = 0,2 e de p = 0,11, como é o caso do Brasil, essas lesões acontecem cerca de 2 a
respectivamente. 5 vezes mais frequente do que nos países desenvolvidos [14].
Uma vez confirmada a normalidade dessa variável, Uma pesquisa realizada no Paraná divulgou resultados seme-
partiu-se para a segunda etapa, quando testada a influência lhantes ao do presente estudo, concluindo que os membros
de algumas variáveis sobre a Participação Social, mediante destacam-se como as regiões mais frequentemente lesionadas
teste de regressão linear múltipla. Obteve-se como resultado nos acidentes de trânsito [8].
o modelo descrito na Tabela III, o qual incluiu as variáveis Para determinação do prognóstico dessas lesões, há
MIF motora, tempo de internação e estado civil. que se considerar a influência de uma série de fatores, tais
como: idade, condição de saúde antes do acidente, tempo
Tabela III - Análise de regressão múltipla das variáveis explicativas decorrido entre o evento e a assistência, tipo e gravidade
para a Participação Social dos acidentados de trânsito atendidos na das lesões [15].
ABCR, de maio a novembro de 2009. Um estudo realizado em Fortaleza, enfocando o perfil dos
Erro- pacientes vítimas de trauma, atendidos na rede pública da
Variável B Β P
-padrão cidade, corrobora os achados do presente estudo, ao descrever
Intercepto 36,019 10,726 como lesões mais frequentes as fraturas (48%), as entorses
MIF motora -0,298 0,117 -0,33 0,013 (25%) e as contusões (17%). É válido ressaltar a predomi-
Tempo de Internação 3,025 1,155 0,338 0,011 nância de lesões sérias (fraturas) quanto comparadas às lesões
Estado Civil 3,366 1,097 0,182 0,094 mais leves [16]. Isto pode justificar a situação de deficiência,
R2 = 0,394, desvio-padrão residual = 0,97. Fonte: dados da pesquisa. temporária ou não, gerada nos pacientes que após a alta hos-
pitalar, escoam para os serviços de reabilitação.
O pequeno número de variáveis que compuseram este A aplicabilidade da MIF como preditora da funcionali-
modelo foi influenciado pelo tamanho reduzido da amostra dade em diversas condições patológicas que comprometem
deste estudo, entretanto, o resultado encontrado é muito as funções motoras e cognitivas já foi bastante fundamentada
relevante, uma vez que permite perceber a importante relação em diversos estudos [17-20].
entre essas três variáveis independentes e a Participação Social. Ainda persiste, porém, a dificuldade de serem elaborados
Uma análise de variância realizada após o modelo multi- pontos de corte para classificação dos escores gerais obtidos,
variado confirmou que as variáveis independentes poderiam portanto, atualmente, analisam-se os dados fornecidos por
explicar os escores da Participação Social (p < 0,01). Com essa escalam separando-se igualmente as categorias de clas-
suporte nesses resultados, foi realizada uma análise de multi- sificação.
colinearidade entre as variáveis independentes, pelo Variance O subdomínio da MIF que apresentou graus mais eleva-
Inflation Factor (VIF), tendo-se obtido valores de 1,46 para dos de dependência nesta pesquisa foi a locomoção. É válido
MIF motora, 1,46 para tempo de internação e 1 para estado ressaltar que o aspecto mais comprometedor desse subdo-
civil, indicativos de multicolinearidade aceitável. mínio foi a tarefa “escadas”. Tal achado se faz importante,
uma vez que já foi relatado na literatura que a locomoção é o
Discussão subdomínio que mais se relaciona à qualidade de vida [20].
Há que se destacar ainda, que existem críticas na literatura
Os resultados obtidos neste estudo estão de acordo com sobre a avaliação desse subdomínio pela MIF, uma vez que a
diversas pesquisas realizadas no âmbito internacional e nacio- mesma só considera o deslocamento horizontal em terrenos
nal, no que diz respeito à caracterização geral dos acidentados. planos, desconsiderando as barreiras arquitetônicas, tipo
O perfil da morbimortalidade por acidentes de trânsito no de solo e inclinações [21]. Apesar de esse subdomínio ter
Brasil caracteriza-se por uma maior ocorrência desses eventos se apresentado como o mais comprometido nos pacientes
nas faixas etárias mais jovens, geralmente afetando a população avaliados neste estudo, é possível supor que a real dificuldade
que se encontra em idade economicamente ativa [11]. No de locomoção seja ainda maior do que a mensurada por tal
trânsito brasileiro, os homens são as principais vítimas, sendo instrumento.
de 4,4 a razão de risco da sobremortalidade masculina em Ao comparar os escores da MIF de acordo com a região
2003. Ela é maior nas faixas dos 25 aos 29 anos (6,6 homem/ corporal acometida, foram encontradas diferenças significa-
42 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

tivas, apontando para a constatação de que, a depender da tação ou mesmo como um dos maiores empecilhos nesse
região lesionada, são produzidas limitações distintas de fun- processo [26].
cionalidade. Sob esse aspecto, é válido ressaltar a importância Ramos assegura que o acidente de trânsito, em virtude
de considerar as deficiências em seu aspecto mais amplo, das suas repercussões físicas, psicológicas e econômicas, pode
onde estas superam a perda de função de uma estrutura do desencadear um desajuste nas relações familiares e sociais,
corpo, tendo adquirido um caráter político e sociológico in- portanto, uma família bem consolidada representa o susten-
dependente do resultado do diagnóstico biomédico de uma táculo no enfrentamento desse evento [27].
alteração física [22]. Outro aspecto que interfere no grau de restrição da partici-
A participação social das pessoas com alguma forma de pação social é a própria estrutura ambiental, onde tal estrutura
deficiência, a qual envolve autopercepção, trabalho, lazer, pode ser fator decisivo na evolução de uma deficiência para
educação, habitação e bem-estar geral, está intrinsecamente uma incapacidade [28].
relacionada com as redes sociais com as quais essas pessoas É válido ressaltar que as dificuldades impostas diariamente
podem contar, bem como com as condições de acessibilidade aos indivíduos que convivem com algum tipo de deficiência
e comportamentos e atitudes não discriminatórios [23]. se apresentam constantemente sob os mais variados aspectos.
É importante ressaltar a importância dos resultados Assim, por maior que sejam as redes de suportes desses
obtidos neste estudo com o uso da Escala de Participação pacientes, o profissional da reabilitação se configura como
Social para uma melhor análise do impacto que o acidente e um agente essencial para contribuir com a melhoria do nível
suas sequelas exerceram sobre as vidas desses pacientes. Apesar de saúde e qualidade de vida desses indivíduos.
de se apresentarem de forma geral com um bom grau de Por fim, ressalta-se a relevância dos resultados obtidos nes-
independência, percebe-se um grave comprometimento de sua te estudo, pois fornecem uma descrição do perfil do acidenta-
funcionalidade geral, e é com esse instrumento que se torna do de trânsito que se encontra sob tratamento de reabilitação.
possível mensurar o real comprometimento e as limitações O conhecimento deste perfil, não só sociodemográfico, mas
que ocorreram na vida desses pacientes. também funcional, além da associação deste com algumas
Embora seja possível supor que exista uma relação entre características do acidente, possibilita uma visão mais clara
o estado funcional e a participação social, poucos estudos da situação, tanto por parte do profissional que trabalha com
mensuraram tal associação, implicando uma lacuna acerca a reabilitação quanto dos gestores.
desse aspecto. Martínez-Martín e colaboradores referem-se
à funcionalidade como importante determinante da partici- Conclusão
pação social e da qualidade de vida de um indivíduo, sendo
ambas representativas da real situação de saúde dele [24]. O perfil sociodemográfico aponta uma maior vulnerabi-
Neste estudo, encontrou-se uma correlação significativa lidade para a ocorrência de acidentes de trânsito dos adultos
entre os valores obtidos na MIF e na Escala de Participação jovens, homens, casados, com nível escolar razoável e que se
Social. Fato semelhante foi visto por Ostir et al. que, ao encontravam em sua maioria em fase produtiva.
compararem a MIF com a qualidade de vida, relataram que Os membros inferiores foram as regiões mais acometidas,
cada ponto ganho na escala MIF interfere diretamente sobre havendo predominância das fraturas, o que resultou na neces-
a melhoria da qualidade de vida, entretanto ressalta que essa sidade de internação da maioria dos acidentados entrevistados,
relação ainda recebe influência de uma série de fatores, tais uma vez que precisaram de intervenção cirúrgica.
como as estruturas de apoio social, os recursos ambientais e Ao avaliar a independência funcional dos participantes do
econômicos, dentre outros. É possível realizar a comparação estudo, constatou-se maior comprometimento do domínio
entre esses estudos, uma vez que a avaliação da qualidade de motor, especialmente nos quesitos locomoção e mobilidade, o
vida envolve diversos aspectos semelhantes aos avaliados na que pode ser justificado pelo perfil das lesões mais recorrentes
Escala de Participação Social [20]. na amostra do estudo.
A relação entre maiores tempos de internação e maiores Quanto à participação social, a maioria dos avaliados apre-
restrições na participação social pode decorrer do fato de que sentou algum tipo de restrição, dentre os quais houve destaque
o tempo de internação está diretamente relacionado com a para os que apresentaram grave restrição. Considerando-se
gravidade e a extensão das lesões, e, uma vez que essas sejam ainda a Participação Social como variável dependente, notou-
maiores, provavelmente tenham produzido maior impacto -se que a MIF motora, o tempo de internação e o estado civil
sobre as atividades funcionais e sociais do indivíduo aciden- dos avaliados mostraram-se como seus fatores determinantes.
tado [25].
No ensaio ora relatado, evidenciou-se ainda a relação Agradecimentos
entre a participação social e o estado civil dos pacientes. É
importante considerar essa variável, uma vez que a família À CAPES pelo incentivo através da bolsa de Mestrado;
representa a principal rede social dos indivíduos, podendo aos pacientes pela sua contribuição.
configurar-se como um grande parceiro durante a reabili-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 43

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44 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Artigo original

Comparação da função pulmonar no pré e pós-


operatório de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca
aberta de revascularização do miocárdio de um hospital
filantrópico de Feira de Santana/BA
Comparison of lung function in pre and postoperative in patients after
open heart surgery for myocardial revascularization in a philanthropic
hospital at Feira de Santana/BA
Cassio Magalhães da Silva e Silva, Ft.*, André Raimundo França Guimaraes**, Ivana Oliveira DeLamonica Freire, Ft.***,
Abner Portugal Tavares, Ft.****, Quétla Damiane Teles de Oliveira, Ft.****, Rebeca Santos Sampaio, Ft.*****

*Docente em Fisioterapia da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Fisioterapeuta da UTI do Hospital Português – Salvador/BA,
Mestrando em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social – FVC e Orientador da pesquisa Fisioterapeuta, Graduado
Faculdade Nobre de feira de Santana, **Diretor e Médico Cirurgião Cardíaco do Instituto Cardíaco de Feira de Santana (INCAR-
DIO) – Bahia, ***Vice-diretora e Médica Cirurgiã Cardíaca do Instituto Cardíaco de Feira de Santana (INCARDIO) – Bahia,
****Pós-graduada em Fisioterapia cardio-pneumofuncional pela Faculdade Nobre de Feira de Santana/BA, *****Pós-graduada em
fisioterapia cardio-pneumofuncional pela Faculdade Nobre de Feira de Santana – Bahia e residente em Fisioterapia pediátrica Hos-
pital Estadual da Criança (HEC) – Feira de Santana

Resumo Abstract
Introdução: A cirurgia cardíaca aberta de revascularização do Introduction: Open heart surgery and myocardial revasculariza-
miocárdio (RM) por ser um procedimento muito invasivo e de tion (MR) is a very invasive procedure that predisposes patients to
grande porte, predispõe o paciente a muitas complicações pul- many pulmonary complications and causes impact on lung func-
monares as quais causam impacto na função pulmonar. Objetivo: tion. Objective: To evaluate and compare the pre and postsurgical
Avaliar e comparar a função pulmonar no pré e pós-operatório de pulmonary function in patients undergoing open heart surgery of
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca aberta de revascularização myocardial revascularization in a philanthropic hospital in Feira de
do miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/ Santana/BA. Methods: Was performed a prospective cohort study in
Bahia. Material e métodos: Foi realizado um estudo de caráter coorte the Intensive Care Unit and ambulatory of a philanthropic hospital
prospectivo na Unidade de Terapia Intensiva e no ambulatório de in Feira de Santana. We evaluated 9 patients with mean age 62.44 ±
um hospital filantrópico de Feira de Santana. Foram avaliados 9 10.69 years, weight 12.5 ± 62.55 kg, height 161.4 ± 1.075 cm, BMI
pacientes com média de idade 62,44 ± 10,69 anos, peso 62,55 ± 23.41 ± 3.55 kg/m2 in the preoperative period and the 1st DPO.
12,5 kg, altura 161,4 ± 1,075 cm, IMC 23,41 ± 3,55, no período Clinical and functional evaluation was performed with anamnese
pré-operatório e no 1º DPO. Foi realizada avaliação clínica e fun- and spirometry tests (pulmonary and muscle strength). Results: The
cional com anamnese e testes espirométricos, de ventilometria e de results showed that there was significant loss, with reduced FEV1,
força muscular. Resultados: Os resultados demonstraram que houve FVC and VC (p < 0.0005) when compared to preoperative values​​
perda significativa, com redução do VEF1, da CVF e da CV (p < with the 1st POD, while the other variables of muscle strength, VE
0,0005) quando comparados os valores pré-operatórios com os do and VT showed no statistically significant difference in the study
1º DPO, enquanto que as demais variáveis de força muscular, VE period. Conclusion: MR surgery is associated with decrease in lung
e VT não apresentaram diferença estatística significativa no período function in all patients, showing significant reduction in FEV1,
avaliado. Conclusão: A cirurgia de RM associa-se a um decréscimo FVC and VC.
na função pulmonar em todos os pacientes, apresentando redução Key-words: cardiac surgery, spirometry, myocardial
importante nos valores de VEF1, da CVF e da CV. revascularization.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca, espirometria, revascularização
do miocárdio.

Recebido em 4 de junho de 2012; aceito em 25 de setembro de 2012.


Endereço para correspondência: Cássio Magalhães da Silva e Silva, Rua João Mendes da Costa Filho, 241/303, Cond. Mater Lucis, Edificio Candeias,
41750190 Salvador BA, Tel: E-mail: cassiofisio2@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 45

Introdução mente a função pulmonar, auxiliando a detecção do tipo de


alteração, sua extensão, progressão e tratamento [9].
Dentro do histórico da cirurgia cardíaca têm-se verificado Assim, o objetivo deste estudo foi de avaliar e comparar
graves complicações pulmonares tanto no período pré e pós- a função pulmonar no pré e pós-operatório de pacientes
-operatório resultado de múltiplos fatores decorrentes do ato submetidos à cirurgia cardíaca aberta de revascularização do
cirúrgico. Apesar dos avanços tecnológicos, as alterações na miocárdio de um hospital filantrópico de Feira de Santana/
função pulmonar são comuns, uma vez que se trata de uma Bahia.
cirurgia de grande porte.
As descrições das complicações pulmonares, após cirurgia Material e métodos
cardíaca aberta, vêm sendo constantemente descritas em
literaturas e estudos científicos, principalmente porque a Foi realizado um estudo quantitativo do tipo coorte
frequência dos procedimentos cirúrgicos aumentou progres- prospectivo, realizado em 9 pacientes submetidos à cirurgia
sivamente e as complicações pós-operatórias são uma fonte cardíaca aberta de revascularização do miocárdio no período
significativa de mortalidade e morbidade. A anestesia geral, a de setembro a dezembro de 2010 na Unidade de Terapia In-
incisão cirúrgica, a circulação extracorpórea (CEC), o tempo tensiva e ambulatório do Instituto de Cardiologia do Nordeste
de isquemia e a intensidade da manipulação cirúrgica além da Bahia (ICNB) no Hospital Dom Pedro de Alcântara de
do número de drenos pleurais podem predispor o paciente à Feira de Santana.
alteração da função pulmonar. Assim, a fisioterapia é inserida A coleta foi realizada a partir de questionário estruturado
nesse contexto, através de uma avaliação eficaz do paciente, e testes de prova de função pulmonar, que foram avaliados
ampliando seu campo de atuação e confirmando sua impor- no pré e pós-operatória de cirurgia cardíaca aberta de revas-
tância enquanto terapêutica e prevenção [1]. cularização do miocárdio. Os pacientes incluídos na pesquisa
As complicações respiratórias no pós-operatório cardí- atenderam aos seguintes critérios: ambos os gêneros, sem dis-
aco são ocasionadas por vários fatores, pois as cirurgias são tinção de raça, população adulta sem limite máximo de idade;
realizadas em pacientes mais frágeis, com maior disposição e, de acordo com os princípios da equidade e justiça. Foram
a limitações de reserva funcional e, muitas vezes, associada à excluídos da pesquisa os indivíduos menores de 18 anos, os
idade elevada, tabagismo, obesidade e principalmente doenças pacientes que não foram extubados nas primeiras 24 horas do
pulmonares prévias [1,2]. pós-operatório e/ou não foram reavaliados no momento do
A função pulmonar se encontra alterada em até 70% 1º DPO de cirurgia cardíaca, e aqueles pacientes que, quando
dos casos, e são definidas como uma anormalidade que extubados, não interagiram com o meio ambiente e, portanto,
acontece no período pós-operatório, que produz disfunções não colaboram com a avaliação pós-operatória, além daqueles
significativas, prejudicando a evolução clínica, predispondo pacientes que não foram avaliados no pré-operatório e/ou não
o paciente ao desenvolvimento de complicações respiratórias aceitaram participar da pesquisa.
como atelectasia e pneumonia [3,4]. O trabalho de pesquisa foi submetido e aprovado pelo
Alterações fisiológicas, após a CEC, afetam diretamente Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Estácio da
o pulmão, ocasionando edema pulmonar intersticial e alve- Bahia – Estácio FIB, n°340-468 junto ao CONEP, aprovado
olar, quando utilizada em tempo maior que 150 minutos em concordância com a resolução CNS 196/96 do Conselho
[5]. Entretanto, a desvantagem potencial da cirurgia de RM de Ética em Pesquisas (CONEP CNS-MS). Os pacientes sele-
sem CEC é a revascularização miocárdica incompleta ou o cionados receberam e assinaram o Termo de Consentimento
comprometimento da anastomose distal-coronariana devido Livre e Esclarecido (TCLE), aceitando participar da pesquisa.
ao movimento obrigatório cardíaco [6]. Todos os pacientes no pré-operatório e pós-operatório
Outro fator de destaque é a dor no pós-operatório que passaram por uma avaliação funcional e clínica que revelava
constitui outro fator importante causador das complicações questões sobre: História de doença pulmonar, sinais vitais,
pulmonares no pós-operatório: a maioria dos pacientes ausculta pulmonar e índice de massa corpórea (IMC) hemo-
que são submetidos às cirurgias cardíacas queixa-se de dor gasometria arterial. E avaliação da prova de função pulmonar
intensa no pós-operatório, o que pode acarretar na retenção com a mensuração da capacidade vital forçada (CVF) e o
de secreções, atelectasias e processos infecciosos, advindas volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1);
de uma respiração superficial. Os fatores que influenciam força muscular inspiratória (PImax) e força muscular expira-
na dor podem ser: incisão cirúrgica, retração e dissecção tória (PEmax); capacidade vital (CV), volume corrente (VT)
tecidual durante o procedimento cirúrgico, múltiplas ca- e volume minuto (VE).
nulações intravenosas, drenos torácicos e procedimentos Toda a avaliação da prova de função pulmonar foi rea-
invasivos que esses pacientes são submetidos durante o lizada com o paciente sentado, cabeça neutra, confortável,
regime terapêutico [7,8]. repetido três vezes, para que o aparelho colhesse a melhor
O grau de alteração funcional do pulmão pode ser avaliada curva com o uso de clip nasal quando necessário e pelo
e mensurada por testes que avaliam qualitativa e quantitativa- mesmo avaliador.
46 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

A avaliação CVF e VEF1 foi realizada com o espirômetro calculados através do programa Microsoft Excel For Windows
PLUS MS-01 de bolso, eletrônico. A avaliação do VEF1 foi (2007) e auxílio do programa Statistical Package for Social
realizada com o paciente sentado, cabeça neutra, confortável, Science - SPSS, versão 9.0
sendo solicitada uma inspiração máxima e profunda até a Os resultados obtidos no estudo a partir do teste t de
capacidade pulmonar total seguida de uma expiração forçada Student foram expressos por médias e desvio padrão das mé-
e rápida durante 6 a 8 segundos com o bocal acoplado a boca dias. A avaliação do teste foi realizada através do critério do
sem escape e com clip nasal. Para a avaliação da CVF, foi p-valor, sendo que este critério baseia-se na probabilidade de
solicitado ao paciente na mesma posição que realizasse uma ocorrência de valores iguais ou superiores ao assumido pela
expiração total até o volume residual seguido de acoplação estatística de teste (5%). O nível de significância considerado
do bocal e solicitado uma inspiração também rápida de 6 a 8 foi de p < 0,05.
segundos, continuamente dentro do bocal, que não poderia
estar ocluído com os dentes, nem com a língua, seguindo o Resultados
comando de voz do avaliador. O procedimento foi repetido
três vezes, para que o aparelho colhesse a melhor curva, e A amostra foi composta por 6 pacientes do gênero fe-
utilizou-se um clip nasal para evitar que o paciente tivesse minino e 3 pacientes do gênero masculino com tempo de
escape de ar pelas narinas. CEC menor que 150 min em todos os casos. Com valores
A Força Muscular Respiratória foi mensurada com o apa- antropométricos das médias da idade, peso, altura e IMC
relho manovacuômetro de diâmetro 100 mm (4 polegadas), foram respectivamente idade 62,44 ± 10,69 anos, peso 62,55
mostrador branco com números pretos rosca 1/2 bsp, saída ± 12,5 kg, altura 161,4 ± 1,075 cm, IMC 23,41 ± 3,55 kg/cm2
vertical caixa de aço estampado internos e rosca em latão. (Tabela I) . Destes 33% ex-tabagista e 67% nunca fumaram
Os valores de PImáx e PEmáx foram avaliados por três vezes, conforme gráfico I.
em cada um dos diferentes momentos, sendo considerado
para análise estatística o maior valor obtido em cada um dos Tabela I - Parâmetros antropométricos da população estudada.
parâmetros. A mensuração da PImáx foi realizada a partir Local: Feira de Santana / BA. Set/Dez 2010.
do volume residual, solicitando uma inspiração máxima, e a Parâmetros Média Desvio Padrão
mensuração da PEmáx a partir da capacidade pulmonar total, Idade (anos) 62,44 10,69
solicitando uma expiração máxima, ambas com o paciente Peso (kg) 62,55 12,5
acoplado ao bocal do aparelho e com uso de clip nasal. Altura (cm) 1,614 1,075
Para os testes de ventilometria e medida do VT, VE e CV, IMC (Kg/cm2) 23,41 3,55
foi utilizado o ventilômetro MARK 8 que incorpora dois Resultados expressos em média e desvio padrão
mostradores para mensuração de volumes com mostrador IMC – índice de massa corpórea
pequeno 100 L, 1 L/resolução, Mostrador grande de 100 L,
100 L/resolução, Conexões de entrada/saída de 22 mm, diâ- Gráfico I - Percentual dos pacientes fumantes.
metro Dial: 35 mm e peso de 140 g. Para as mensurações foi 7 67%
acoplado à mascara e adaptado a face do paciente, incluindo 6
nariz e boca. Os testes também foram realizados com o pa- 5
ciente sentado do mesmo modo como descrito para o teste 4
33%
espirométrico. O volume minuto e a frequência respiratória 3
foram coletados durante cinco minutos, e a cada um minuto o 2
ventilômetro era zerado e eram anotados os valores do volume 1
minuto e da frequência respiratória. A frequência respiratória 0%
0
foi contada durante um minuto completo com cronômetro.
Os dois primeiros minutos da coleta foram considerados Ex-Fumante Fumante Nunca fomou
como um período de adaptação do paciente à máscara e os Valores expressos em porcentagem
três últimos, utilizados para obtenção dos dados, fazendo-se a
média do volume minuto (VE) em mL, e da FR em ciclos por A partir dos testes espirométricos, foi possível mensurar
minuto, obtendo-se através da divisão destes respectivamente CVF e o VEF1, e comparar, entre os períodos avaliados, a
o volume corrente. Assim, a CV foi avaliada com o mesmo perda da função pulmonar após a CRM, assim, verificou-se
aparelho solicitando ao paciente que realizasse uma inspiração uma queda significativa da CVF e VEF1 quando comparados
máxima até a capacidade pulmonar total seguida de uma os valores nos dois períodos. A média do CVF inicialmente
expiração sem esforço atéoa volume residual com o paciente foi de 2,3 L enquanto que no pós-operatório a média foi de
acoplado a máscara facial e com uso de válvula unidirecional. 0,9 L. O mesmo ocorreu com o VEF1 que no pré-operatório
Realizou-se uma análise descritiva dos dados, utilizando apresentou média de 1,8 L e no pós-operatório média de 0,8
gráficos e tabelas para apresentação dos dados estatísticos, L, confirmado este declínio através também do cálculo do
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 47

desvio padrão o que instaura uma significância diminuição Discussão


da função pulmonar (p < 0.005).
Segundo Braunwald, é comum a maior incidência de
Tabela II- Avaliação espirométrica. Feira de Santana/BA. Set/ coronariopatias em mulheres. O autor observou nos seus es-
Dez 2010. tudos uma maior prevalência em mulheres após o período da
CVF (L) VEF1 (L) menopausa, indicando que, apesar de as mulheres possuírem
Pré Pós Pré Pós fatores protetores, após o início da menopausa, elas tendem
No Pacientes 9 9 9 9 a se igualar, e muitas vezes ultrapassar as estatísticas masculi-
Média 2,3 0,9 1,8 0,8 nas no que tange o risco de sofrer um evento cardiovascular
Desvio Padrão 0,9 0,2 0,8 0,3 isquêmico agudo [10].
p≤* Os autores Dante, Iasbech e Oliveira [5] e Ambrozin
Resultados expressos em média e desvio padrão; *p < 0,005 (apresen- e Cataneo [11] relatam que a CEC causa grande impacto
ta diferença significativa). na função pulmonar quando realizada com tempo maior
que 150 min. Afirmam que as doenças crônicas do sistema
A mensuração da Força Muscular Respiratória dos pacien- respiratório elevam as complicações pulmonares e, quando
tes foi realizada através do manovacuômetro, que avaliou a associadas à sintomatologia respiratória, elevam o risco para
PImáx e a PEmáx. Observado uma redução nos valores médio complicações pós-operatórias (CPPs). Verificaram também
e de desvio padrão entre o pré e o pós-operatório, porém que o risco maior de CPPs é mais visto em pacientes fumantes
estatisticamente não significativa as diferença dos resultados e ex-fumantes, pois o cigarro tem efeitos nocivos responsáveis
de força muscular com p > 0,005. por complicações pulmonares. Entretanto, segundo os auto-
res, tempo de abstinência maior que 8 semanas caracteriza-se
Tabela III - Avaliação e comparação da Força Muscular Respiratória tempo suficiente para diminuição dos riscos cirúrgicos.
no Pré e Pós – Operatório. Feira de Santana/BA. Set / Dez 2010. Mueller et al. [7] e Lima et al. [8], em seus estudos,
PImáx (cm H2O) PEmáx (cm H2O) também constataram que a maioria dos pacientes que são
Pré Pós Pré Pós submetidos à cirurgias cardíacas queixam-se de dor intensa
N 9 9 9 9 no pós-operatório, constituindo um importante fator causa-
Média 109,4 98,9 77,2 67,8 dor das complicações pulmonares, pois a dor está associada
Desvio Padrão 0,9 0,2 0,8 0,3 à menor expansibilidade torácica e respirações superficiais.
p≤* Resultados semelhantes foram encontrados pelos autores
Resultados expressos em média e desvio padrão; *p< 0,005 (apresenta Carvalho et al. [12] que avaliaram a CVF e o VEF1 em 18
diferença significativa). pacientes submetidos à cirurgia cardíaca de revascularização
do miocárdio, havendo uma diminuição significativa da CVF
As medidas da CV, do VT e do VE, feitas pelo ventilôme- e VEF1 no primeiro e segundo pós-operatório em relação
tro demonstraram diminuição significativamente estatística da às medidas pré operatórias (p < 0.005). Essas alterações na
CV (p< 0,005) quando comparados os dois períodos estuda- função pulmonar são um frequente achado na literatura após
dos. A CV obteve média de 2555,6 mL e, no 1º DPO média cirurgia cardíaca, sendo uma complicação bem conhecida.
de 848,9 mL, apontando a diminuição da função pulmonar. Sabe-se que pode haver diferenças na mecânica respiratória
Porém, em relação ao VT e VE, verificamos uma redução, após revascularização do miocárdio e é devido a isso que a
embora não significativa estatisticamente, com média de VT função pulmonar está alterada.
no pré-operatória de 483,6 mL e no 1º DPO de 448,4 mL, Guiziliniet et al. [13] também constataram que, em relação
assim como verificado com o VE com média no pré-operatório à função pulmonar, a CRM causa diminuição significante nos
5082,2 ml e 4524,4 mL no 1º DPO. valores da CVF e VEF1 em comparação aos volumes basais,
indicando um padrão restritivo. O autor comenta que essa
Tabela IV - Avaliação e comparação da ventilometria no Pré e Pós diminuição da CFV e do VEF1 sugere alterações na função
– Operatório. Feira de Santana / BA. Set/Dez 2010. pulmonar que podem estar associadas a diversos fatores, como
CV (mL) VC (mL) VE (mL) o tipo de incisão cirúrgica, técnicas de anestesia empregada,
Pré Pós Pré Pós Pré Pós dor pós-operatória e posicionamento do dreno pleural, além
N 9 9 9 9 9 9 de a esternotomia mediana alterar a complacência da caixa
Média 2555,6 848,9 483,6 448,4 5082,2 4524,4 torácica, gerando alterações na curva Pressão x Volume do
Desvio sistema respiratório, aumentando a retração elástica e difi-
1135,3 228,3 151,8 131,3 1456,5 1643,6
Padrão cultando a geração de volumes no sistema.
p≤* Nos resultados encontrados nesta pesquisa se observa uma
Resultados expressos em média e desvio padrão. *p< 0,005 (apresenta correlação com a literatura pesquisada no que diz respeito a
diferença significativa). CVF e VEF1 com diminuição significante nos valores em
48 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

comparação aos volumes basais no pré-operatório, indicando Referências


um padrão restritivo o que pode estar associado a diversos
fatores conforme mencionado por Guizilinet et al. [13]. 1. Davidson J, Velloso M. Importância da fisioterapia pneumo-
Um estudo realizado por Riedi et al. [4] avaliou a FM no funcional para a retirada da ventilação pulmonar mecânica dos
pré-operatório e no 5º dia pós operatório de CRM, e, apesar pacientes submetidos a cirurgia de revascularização do miocár-
de constatar diminuição na FM, ao final do estudo observaram dio. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2003;13(5):12-7.
2. Barros GF, Santos CS, Granado FB, Costa PT, Límaco RP, Gar-
que não houve relação entre a FM respiratória e as CPPs [4].
denghi G. Treinamento muscular respiratório na revasculariza-
Em análise aos dados desta pesquisa se observa uma relação ção do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc 2010;25(4):483-90.
proporcional a não alteração estatística na comparação do 3. Morsch KT, Leguisamo CP, Camargo MD, Coronel CC, Mattos
pré-operatório como pós-operatório. Porém, os baixos valores W, Ortiz LDN, et al. Perfil ventilatório dos pacientes subme-
significativos de força muscular respiratório também podem tidos a cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Bras Cir
refletir o medo ou o desinteresse do paciente em colaborar com Cardiovasc 2009;24(2):180-87.
os testes, já que estes dependem da cooperação do paciente, 4. Riedi C, Mora CTR, Driessen T, Coutinho MCG, Mayer M,
uma vez que não existem meios confirmatórios de que ele Moro FL, et al. Relação do comportamento da força muscular
tenha despendido todo o esforço possível, além do mecanismo com as complicações respiratórias na cirurgia cardíaca. Rev Bras
de proteção às dores, que causam limitações quando se trata Cir Cardiovasc 2004;59(11):1200-6.
5. Dante FS, Iasbech JA, Oliveira SA. Pós-operatório em cirurgia
de testes voluntários.
cardíaca de adultos. Rev Soc Cardiol 1998;8(3):446-54.
6. Runger MS, Ohman EM. Cardiologia de Netter. Porto Alegre:
Conclusão Artmed; 2006.
7. Mueller XM, Tinguely F, Tevaearai HT, Revelly J, Chiole’ro
Com base nos dados coletados foi possível concluir que R, Segesser LK. Pain location, distribution, and intensity after
os pacientes submetidos à cirurgia aberta de revascularização cardiac surgery. Chest 2000;118:391-6.
do miocárdio apresentam perda significativamente estatística 8. Lima LR, Stival MM, Barbosa MA, Pereira LV. Controle da dor
da função pulmonar logo no 1º DPO, evidenciada pela di- no pós-operatório de cirurgia cardíaca: uma breve revisão. Rev
minuição dos valores do VEF1, CVF e da CV, independente Eletrônica Enferm 2008;10(2):521-9.
9. Sampaio LMM, Jamami M, Pires VA, Silva AB, Costa D,
dos fatores de riscos pré-operatórios. Achados semelhantes são
Jardim JR, et al. Função pulmonar. In: Tarantino AB. Doenças
encontrados na literatura em estudos que avaliam a função pulmonares. 6 nd ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008.
pulmonar após cirurgia cardíaca, constando-se, portanto, 10. Braunwald E. Tratado de medicina cardiovascular. 5nd ed. São
que a cirurgia cardíaca, por se tratar de um procedimento de Paulo: Roca; 1999.
grande porte, causa alterações na função pulmonar, sendo 11. Ambrozin ARP, Cataneo AJM. Pulmonary function aspects after
um achado comum na prática clínica apesar dos avanços myocardial revascularization related to preoperative risk. Braz J
tecnológicos empregados nos procedimentos. Cir Cardiovasc 2005;20(4):408-15.
Entretanto, a pesquisa não encontrou alterações expressi- 12. Carvalho WA, Yoshinaga EM, Malbouisson LMS, Junior JOCA.
vas entre as variáveis avaliadas de Força muscular, VE e VT, Revascularização miocárdica versus troca valvar: avaliação das
quando comparado os dois períodos estudados, não causando, alterações espirométricas pré e pós- operatórias. Simpósio In-
ternacional de Iniciação Científica – Universidade de São Paulo
portanto, interferência significativa no estudo.
(USP) 2009;11:54-62.
Deve-se ressaltar, ainda, as limitações no presente estudo 13. Guizilini S, Gomes WJ, Faresin SM, Carvalho ACC, Jaramillo
em que a quantidade da amostra foi limitada devido ao nú- JI, Alves FA, et al. Efeitos do local de inserção do dreno pleural
mero de procedimentos realizados na unidade. Sendo assim, na função pulmonar no pós-operatório de cirurgia de revasculari-
este trabalho não encerra as possibilidades de novas pesquisas, zação do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc 2004;19(1):47-54.
mas, pelo contrário, propõe o incentivo de mais estudos para
esse período estabelecido, devido principalmente à escassez de
estudos para o 1º DPO na unidade referenciada e na região
do interior da Bahia, principalmente na cidade de Feira de
Santana.
Contudo, recomenda-se que os pacientes que se subme-
terem a esse tipo de cirurgia realizem Programa de Reabilita-
ção Cardiopulmonar já no período pré-operatório, assim, a
recuperação da função pulmonar se tornará rápida e eficaz,
permitindo que voltem às atividades de vida diária normais
com uma boa qualidade de saúde.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 49

Artigo original

Aderência de pessoas no Pilates solo


Users adherence to ground Pilates
Eliana Cristina Pereira*, Rafaela Liberali**, Charles Ricardo Lopes, D.Sc.***, Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Esp.****,
Maria Ines Artaxo Netto, Esp.****, Helena Brandão Viana, D.Sc.*****, Gustavo Ribeiro da Mota, D.Sc.******

*Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, Graduação em Educação Física pela Faculdade de Educação Física De
Santo André – FEFISA, **Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, ***Docente no Programa de Mestrado em
Educação Física - FACIS/UNIMEP, Piracicaba/SP, Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, Hortolândia/SP, ****Pós-
-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, *****Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, Hortolândia/SP,
******Departamento de Ciências do Esporte, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM, Uberaba/MG

Resumo Abstract
Objetivo: Verificar o perfil de aderência de mulheres com idade Objective: To verify the adherence profile of women between
entre 34 e 70 anos que praticam o método Pilates solo em uma aca- 34-70 years who practice ground Pilates method in a Gym in Santo
demia em Santo André/SP. Material e métodos: Foi caracterizada uma André/SP. Methods: A sample of 10 women was selected, all partici-
amostra de 10 indivíduos, gênero feminino, participantes do método pants of ground Pilates. The instrument was an adapted adherence
Pilates solo. O instrumento utilizado foi um questionário adaptado quiz. Data was analyzed in a descriptive way and to the variables
de aderência. Os dados foram analisados de forma descritiva e para analysis the test qui-adherence square (proportions). The significance
análise das variáveis utilizou-se o teste qui-quadrado de aderência level adopted was p < 0.05. Results: The qui-square test showed
(proporções). O nível de significância adotado foi p < 0,05. Resul- significant differences regarding health improvement in general,
tados: O teste qui-quadrado demonstrou diferenças significativas no quality of life, stress, welfare and pleasure levels were also included
que diz respeito a melhora da saúde em geral, qualidade de vida, nível as one of the motivational factors in adhering to the practice of the
de stress, bem-estar e prazer também incluídos como um dos fatores Sport due to the benefits that Pilates provides to practitioners, leisure
motivacionais, adesão a prática da modalidade pelos benefícios que o activities prevailing usually on weekends. Conclusion: The adherence
método Pilates proporciona ao praticante prevalecendo as atividades to ground Pilates method is attributed not only to the benefits it
de lazer geralmente nos finais de semana. Conclusão: A aderência provides, but as the first pre-requirement as quality of life, welfare
à prática do método Pilates solo não se dá apenas pelos benefícios and health improvement in general.
que proporciona, mas ao primeiro pré-requisito como melhora da Key-words: Pilates, health, quality of life, health promotion.
saúde em geral, qualidade de vida e bem-estar.
Palavras-chave: Pilates, saúde, qualidade de vida, promoção de
saúde.

Introdução concentração, controle de centro, precisão, alinhamento


e fluidez [4].
O método Pilates foi criado pelo alemão Joseph Hu- O método Pilates é baseado em fundamentos anatômicos,
bertus Pilates (1880-1967) [1] trata de uma abordagem fisiológicos e cinesiológicos [5] que quando executados no solo
holística vendo o corpo como um todo [2], pois integra permite uma maior descompressão das vértebras em relação à
corpo e mente aumentando o controle, a força, equilíbrio força da gravidade, pois diminui impactos sobre as articulações
muscular e consciência corporal [3] desenvolvidos através responsáveis pela sustentação do corpo em posição ortostática
dos princípios do próprio método que são: respiração, não comprometendo a integridade da coluna vertebral [6,7].

Recebido em 22 de junho de 2012; aceito em 04 de outubro de 2012.


Endereço para correspondência: Charles Ricardo Lopes, Rua Antonio Nogueira Braga, 236, casa 14, Fazenda Santa Candida, 13087-601 Campinas,
E-mail: charles_ricardo@hotmail.com
50 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Além de promover ganho na flexibilidade, postura, resistência, atual, modificações na saúde quanto à prática na modalidade
força, condicionamento físico, ajuda na prevenção de lesões pesquisada, nível de stress, opção de lazer, motivos que as
e reabilitação [8]. levam a prática desta modalidade e seus benefícios, caracterís-
Muitas modalidades vem buscando, baseadas no método ticas sócio-ambientais e comportamentais, o motivo da adesão
Pilates, uma melhor eficácia e aprimoramento na qualidade a essa modalidade e sua permanência (Anexo I).
de movimentos. O Pilates na Água ou Water Pilates é uma As alunas após serem convidadas a participar da pesquisa
delas, que propõe a integração do método ao meio líquido e estarem cientes de todo o processo de evolução chegaram
realizado por exercícios da hidroginástica executados por à aula, assinaram o formulário e depois preencheram o
meio de acessórios e molas ou apenas pela propriedade física questionário. Este instrumento foi respondido individu-
da água, focando o condicionamento físico baseado nos almente, sem a presença de um interlocutor, para que não
princípios do método [9]. houvesse interferência nas respostas. As alunas responderam
Nos últimos anos o número de pessoas que buscam ati- um questionário com 17 perguntas referente à escolha da
vidades físicas para melhorar a qualidade de vida, a saúde e modalidade e local, profissional e motivos que as levaram a
que satisfaçam suas necessidades tem aumentado cada vez praticar uma atividade física em especial a modalidade por
mais [10-12]. O estilo de vida contemporâneo ocasionado elas escolhida.
pelo crescimento frenético da tecnologia vem acentuando A análise descritiva dos dados serviu para caracterizar a
o sedentarismo, a má alimentação e situações de stress que amostra, com a distribuição de frequência (n,%), cálculo de
interferem no desempenho das atividades de vida diária tendência central (média) e de dispersão (desvio padrão).
[13,14]. Para análise das variáveis categóricas utilizou-se o teste qui-
O objetivo do estudo foi demonstrar o perfil de aderência -quadrado de aderência (proporções). O nível de significância
de mulheres que fazem aula de Pilates solo, com idade entre adotado foi p < 0,05.
34 a 70 anos, praticantes do método Pilates em uma academia
de Santo André. Resultados

Material e métodos Participaram do estudo 10 alunas que fazem aula de Pilates


solo, com idade entre 34 a 70 anos, apresentando média de
A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa descritiva idade de 49,7 ± 9,64 anos. Exames realizados pela amostra
[15]. A instituição pesquisada é uma academia situada em são bem variados, predomina ginecológicos (28,98%), hemo-
Santo André/SP que atende aulas de Pilates solo. A respon- grama (23,68%), cardiológico (13,15%), dentário (13,15%)
sável pelo grupo de Pilates autorizou a pesquisa mediante a taxas (10,52%), cardiovascular (5,26%), densitometria óssea
assinatura de uma declaração. (2,63%) e ortopédicos (2,63%).
A população do estudo corresponde a N = 21 alunas Na análise do perfil sobre saúde e lazer, o teste qui-qua-
matriculadas na academia na modalidade Pilates solo. drado demonstrou diferenças significativas, mas observa-se
Destas foram selecionadas uma amostra de n = 10 mulhe- que a grande maioria aponta que sua saúde atual está boa,
res por atenderem alguns critérios de inclusão: participar devido à prática do Pilates e prevalece como atividade de lazer
regularmente das aulas, serem saudáveis, não fazer uso de o encontro com amigos e assistir filmes, geralmente realizado
medicamentos, estarem aptas a prática de atividade física, no final de semana, demonstrado na Tabela I.
motivos particulares que levaram a ingressar nesta moda- O teste de qui-quadrado demonstrou diferenças estatisti-
lidade e terem assinado o termo de consentimento livre e camente significativas, no nível de estresse, apontando uma
esclarecido autorizando a pesquisa. amostra com nível de estresse alto, demonstrado na figura 1.
No que refere aos aspectos éticos, as avaliações não tinham
nenhum dado que identificasse os indivíduos e que lhe causas- Figura 1 - Nível de estresse atual – Teste do qui-quadrado de
se constrangimento ao responder. Além disso, foram incluídos aderência (proporções).
no estudo os adultos que autorizaram participar voluntaria- Teste qui-quadrado (p=0,00**)
mente da pesquisa, após obtenção de consentimento verbal 50 50%
dos participantes e uma autorização por escrito. Dessa forma, 40%
40
os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki e na
Resolução nº 196 de 10 de Outubro de 1996 do Conselho 30
Nacional de Saúde foram respeitados em todo o processo de 20
realização desta pesquisa. 10 10%
Para a coleta de dados foi aplicado um questionário sobre
0
aderência adequado por Zanette (2003), Fiamoncini (2002) e Quase sempre Às vezes Raramente
Soares (2004). As variáveis a serem medidas pelo questionário estressado, estressado, estressado,
enfrentando vivendo vivendo
são: idade, sexo, estilo de vida objetivando estado de saúde problemas razoavelmente muito bem
com frequência bem
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 51

Tabela I - Valores do perfil da amostra sobre saúde e lazer. (10%) melhor qualidade de vida (saúde) e (10%) indicação
N % P fisioterapeuta.
Saúde atual comparada ao início da Na análise do perfil sobre a prática do Pilates solo, o teste
0,00**
prática (n = 10) qui-quadrado demonstrou diferenças significativas, mas
Regular 01 10% observa-se que a grande maioria permanece fazendo a ativida-
Bom 06 60% de pelo prazer, porque gostam. O maior benefício apontado
Excelente 03 30% foi melhora da saúde no geral e permanecem praticando por
Modificações na saúde atual na parti- causa da melhora da qualidade de vida e da saúde, demons-
ns
cipação do Pilates solo (n = 10) trado na Tabela III.
Concordo 10 100%
Atividades de lazer (n = 31) 0,05** Tabela II - Valores do perfil da amostra sobre o ingresso na prática
Encontro com amigos 06 19,35% do Pilates solo.
Assistir filmes 06 19,35% n % p
Leitura 05 16,12% Fatores que facilitam a participação
0,00**
Praia 05 16,12% no Pilates solo (n = 40)
Restaurantes 04 12,95% Profissionais 08 20%
Trabalhos manuais 02 6,45% Localização 08 20%
Igreja 01 3,22% Horário 07 17,5%
Shows 01 3,22% Orientação 05 12,5%
Teatro 01 3,22% Característica da atividade 05 12,5%
Tempo dedicado as atividades de lazer Preço 04 10%
0,03**
(n = 30) Indicação médica 02 5%
Final de semana 11 36,7% Influência da família 01 2,5%
1 a 2 x semana 06 20% Influência na escolha do local para
0,02**
Verão 05 16,66% a atividade (n = 29)
Diariamente 02 6,66% Profissionais 09 31,06%
Menos de 1 x semana 02 6,66% Localização 08 27,58%
3 x mês 02 6,66% Preço 07 24,13%
1 a 2 x mês 01 3,33% Atividades oferecidas 03 10,34%
3 x semana 01 3,33% Indicação médica 02 6,89%
c2 = P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns = Há quanto tempo frequenta as
não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui-quadrado
0,04**
aulas de Pilates solo (n = 10)
de aderência (proporções) (% x categorias) Menos de 6 meses 02 20%
De 6 meses a 1 ano 02 20%
Na análise do perfil sobre a prática do Pilates solo, o teste De 1 a 2 anos 03 30%
qui-quadrado demonstrou diferenças significativas, mas obser- De 2 a 3 anos 03 30%
va-se que a grande maioria aponta como fator de ingresso no Frequência nas aulas 0,02**
Pilates e escolha da academia, a qualidade dos profissionais e a 1 x semana 06 60%
localização da academia, praticam de 1 a 3 anos, com frequência 2 x semana 04 40%
1 x na semana, conforme demonstrado na Tabela II. c2= P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns =
Na pergunta “o que o fez procurar essa modalidade em não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui-quadrado
especial?” as repostas são bem variadas, prevalecendo: (10%) de aderência (proporções) (% x categorias)
a academia que frequento colocou o Pilates como parte das
atividades, (10%) higiene mental, principalmente postu-
ra, (10%) melhorar postura, resistência física, respiração, Tabela III - Valores do perfil da amostra sobre a prática do Pilates solo.
equilíbrio, (10%) necessidade/vontade, postura corporal, n % p
alongamento, força muscular, conhecimento funcional do Por que permanece fazendo a ativi-
0,05**
corpo, consciência corporal, (10%) identificação com tipo de dade (n = 15)
prática, sem ritmo acelerado, sem música, poucas repetições, Prazer, porque gosta e é bom 06 40,02%
trabalha postura, respiração, harmonia corporal, (10%) não Saúde e faz bem 04 26,66%
procurei, conheci por acaso, por causa do profissional gostei Necessidade 03 20%
e gostaria de praticar com mais frequência, (10%) hérnia de Rotina 01 6,66%
disco na coluna lombar, contribuição para melhoria da saúde, Aconselhamento médico 01 6,66%
estou mais flexível e forte, (10%) aconselhamento médico,
52 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Benefício físico de maior relevância Discussão


com a prática do Pilates solo (n = 0,02**
11) Muitos são os motivos pelos quais as pessoas procuram
Melhora da saúde em geral 10 90,91% a prática de atividade física e a modalidade a qual se iden-
Aumento da autoestima 01 9,09% tificam. Acredita-se que quando o indivíduo é estimulado a
Principal razão que o levou a per- alcançar seu objetivo e se acrescentado a técnicas psicológicas
0,03**
manecer no Pilates solo (n = 10) facilmente ele se mantém fiel à prática de atividade física
Melhora na qualidade de vida e [16-17]. Assim a aderência à atividade física a partir do que
07 70%
saúde o indivíduo ouve, lê ou vê o direciona a essa prática [14] bem
Prazer 01 10% como fatores socioeconômicos, facilidade de acesso, amigos,
Motivação 01 10% família, indicação médica, profissionais, etc. [18].
Manutenção da forma física 01 10% A adesão a programas de atividade física atualmente ocorre
c2= P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns = em todas as faixas etárias, principalmente adultos por serem
não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui-quadrado mais ativos, por utilizarem esse tempo como lazer, para manu-
de aderência (proporções) (% x categorias). tenção e melhora da saúde e ajuda no nível de stress [19-21].
No presente estudo a faixa etária predominante foi de 49
O resultado do questionamento da motivação transita em anos. Diferente das pesquisas de Saba [14], Picarelli [22] e
respostas de (1) não importante, (2) pouco importante, (3) Fiamoncini [23] que verificaram aderência de praticantes de
importante e (4) muito importante. Observa-se na Tabela musculação e viram que a faixa etária de ingresso é mais nova.
IV, que a maior motivação para a prática é voltada a saúde, No presente estudo verificou-se que as pessoas aderem à
prevenção de doenças, melhora da qualidade de vida, da prática do método Pilates visando a melhora da saúde em geral
autoestima e bem-estar. e consideram seu estado de saúde bom devido à prática da mo-
dalidade, portanto a saúde vem como primeiro pré-requisito
Tabela IV - Valores descritivos do perfil da motivação para a prática enquanto os estudos de Silva e Muller [21] mostram que os
do Pilates. motivos pelos quais as pessoas aderem a prática da musculação
x±s é pela estética como principal objetivo e a saúde em segundo
Prevenir doenças 3,6 ± 0,5 plano. Já no estudo de Tahara e Silva [25] em uma academia
Melhorar o condicionamento físico 3,5 ± 0,7 em Rio Claro/SP, os amostrados apontam os principais ob-
Desenvolver mais auto-confiança 2,8 ± 0,8 jetivos a estética e logo depois a qualidade de vida. Segundo
Reduzir o estresse do trabalho 3,4 ± 0,1 pesquisa da OMS [26] o fato dos clientes aderirem à prática
Melhorar aparência física 3,2 ± 0,6 de atividade física pela estética é em consequência da falta de
Aumentar o bem-estar geral 3,5 ± 0,7 informação sobre os benefícios que ela oferece a saúde.
Por aconselhamento médico 2,9 ± 0,5 Fatores como localização, valor, profissionais, horário,
Retardar o envelhecimento 3,0 ± 1,0 proposta de uma atividade com características diferentes que
Manter-se em forma 3,3 ± 0,6 promove melhora na qualidade de vida, saúde e bem-estar, oti-
Sentir prazer pela atividade física que está miza resultados como ganho de força, flexibilidade, melhora da
3,5 ± 0,5
praticando postura, coordenação motora, respiração, diminuição do stress,
Emagrecer 3,0 ± 0,8 entre outros, foram determinantes na aderência da prática do
Melhorar a qualidade de vida 3,5 ± 0,7 método Pilates solo [27-28]. Comparando, o estudo de Martins
Melhorar o estado de saúde 3,6 ± 0,5 [19] aponta em sua pesquisa esses fatores como facilitadores
Compensar o sedentarismo 2,9 ± 0,9 na fase de iniciação e permanência do cliente na musculação,
Melhorar o equilíbrio emocional 3,0 ± 0,8 mas que ao decorrer do tempo há necessidade dos profissionais
Aprender novas atividades 2,5 ± 0,7 aumentarem essas diversidades para que se otimize a adesão.
Interesse pela atividade que está praticando 3,2 ± 0,4 Com base nos resultados obtidos através desta pesquisa,
Reduzir o estresse e a ansiedade 3,2 ± 0,6 pode-se concluir que a aderência pela prática do método
Melhorar a eficiência no trabalho 2,4 ± 0,8 Pilates solo não se dá apenas pelos benefícios que o método
Disponibilidade de tempo 2,7 ± 0,8 proporciona como ganho de força, flexibilidade, coordenação
Oportunidades e facilidades para a prática 2,7 ± 0,6 motora, percepção corporal etc., mas também a fatores como a
Condições favoráveis para a prática 2,6 ± 0,7 melhora da saúde em geral, qualidade de vida, nível de stress,
Reduzir nível de depressão 2,8 ± 1,2 procura pela prática de uma atividade que proporcione prazer
Melhorar o humor 2,9 ± 0,8 e bem-estar vindo como primeiro pré-requisito. Observou-se
Compensação de atividades monótonas 2,5 ± 0,7 que a maioria desconhecia os benefícios do método e que
Relacionamento com outros (amizade) 2,9 ± 0,7 foram descobrindo ao longo da prática o que fortaleceu ain-
da mais sua adesão. A literatura aponta que algumas pessoas
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 53

subestimam os benefícios que ela pode obter de uma prática 15. Liberali R. Metodologia Científica Prática: um saber-fazer
de exercícios regular e especificamente os benefícios que o competente da saúde à educação. Florianópolis: Postmix; 2008.
16. Araújo AS, Pimenta FHR, Baraúna MA, Novo Júnior JM, Silva
Pilates pode proporcionar [29]. ALS, Pinto MVM et al. Fatores motivacionais que levam as
Muitos estudos sobre Pilates têm o foco voltado para os pessoas a procurarem por academias para prática de exercício
benefícios que esta atividade traz aos seus participantes, mas físico. EFDeportes 2007;12:115.
não encontramos pesquisas verificando o que leva o indivíduo 17. Monteiro ZJ, Scalon RM. Treinamento psicológico e téc-
nicas para a melhora da motivação de atletas. EFDeportes
a optar por essa modalidade [30-33]. 2008;12:118.
18. Pitanga FJG. Epidemiologia da atividade física, exercício físico
Conclusão e saúde. São Paulo: Phorte; 2010.
19. Martins MO. Estudo dos fatores determinantes da prática de
atividadefísica de professores universitários [Dissertação]. Flo-
Portanto, fazem-se necessárias novas pesquisas para verifi- rianópolis: UFSC; 2000.
car o motivo da adesão de pessoas, na faixa etária intermediá- 20. Kruchelski S, Rauchbach R. Programa Curibativa – perfil de
ria, à prática do método Pilates, que diferem das que aderem saúde e aptidão física da população curitibana. Ação e Movi-
à musculação por serem mais novas, bem como incluir fatores mento 2004;3:167-74.
21. Abrami MCR, Santos FG, Toledo R. Condicionamento físico
voltados a saúde e bem-estar como primeiro pré-requisito e e mental. [citado 2008 Mar 30]. Disponível em URL: www.
depois a estética. xenicare.com.br
Este estudo teve como limitação o baixo número de parti- 22. Picarelli J. Prevalência de obesidade em ingressantes de acade-
mia de musculação [Monografia]. Florianópolis: Universidade
cipantes, pela dificuldade de ter uma amostra maior de pessoas Estadual de Santa Catarina; 2003.
com as mesmas características, como, por exemplo, tempo de 23. Fiamoncini RE. Aderência de musculação supervisionada. Mo-
adesão e frequência semanal, frequentando a mesma moda- nografia. Pós–graduação em treinamento desportivo e personal
lidade e ainda que concordassem em participar da pesquisa. trainer na universidade do estado de Santa Catarina/UDESC.
Florianópolis: Santa Catarina/UDESC; 2002.
24. Silva GV, Muller TS. A busca pela qualidade de vidados prati-
Referências cantes de musculação da academia do Cefid/Udesc. In: Anais
do 3º. Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde. Flo-
1. Gallagher SP, Kryzanowska R. O método Pilates de condicio- rianópolis; 2001. p.116.
namento físico. São Paulo: The Pilates Studio Brasil; 2000. 25. Tahara KA, Silva KA. A prática de exercícios físicos na promoção
2. Camarão T. Pilates no Brasil: corpo e movimento. São Paulo: de um estilo de vida ativo. EFDeportes 2003;9:61.
Elsevier; 2004. 26. Organização Mundial de Saúde (OMS). Doenças crônico-dege-
3. Lima AP. Os efeitos do método Pilates em mulheres na faixa nerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação ali-
etária de 25 a35 anos com lombalgia crônica [Monografia]. mentação saudável, atividade física e saúde. Brasília: OMS; 2003.
Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso; 2006. 27. Myamoto GC. The efficacy of the addition of the Pilates me-
4. Craig C. Abdominais com bola. São Paulo: Phorte; 2006. thod over a minimal intervention in the treatment of chronic
5. Pires DC, Sá CKC. Pilates: notas sobre aspectos históricos, nonspecific low back pain: a study protocol of a randomized
princípios, técnicas e aplicações. EFDeportes 2005;10:91. controlled trial. J Chiropr Med 2011;10:248-54.
6. Panelli C, Marco A. Método Pilates de condicionamento do 28. Phrompaet S. Effects of Pilates training on lumbo-pelvic stability
corpo. 2ª ed. São Paulo: Phorte; 2009. and flexibility. Asian Journal of Sports Medicine 2011;2 (1):16-22.
7. Pilates JH. Your Health: a corrective system of exercising that 29. Ruby MB, Dunn EW, Perrino A. The invisible benefits of
revolutionizes the entire field of physical education. New York: exercise. Health Psychol 2011;30(1):67-74.
Presentation Dynamics, 1998. 30. Wells C, Kolt GS, Bialocerkowski A. Defining Pilates exercise: A
8. Stone J. The Pilates method. Athl Ther Tod 2000;5(2):56. systematic review. Complement Ther Med 2012;20(4):253-62.
9. Melo A. Método Pilates na água. São Paulo: Phorte; 2010. 31. Cakmakçi O. The effect of 8 week Pilates exercise on body com-
10. Pereira MMF. Academia! Estrutura técnica e administrativa. Rio position in obese women. Coll Antropol 2011;35(4):1045-50.
de Janeiro: Sprint; 1996. 32. Wajswelner H, Metcalf B, Bennell K. Clinical Pilates versus
11. Guiselini M. Total Fitness: força, resistência, e flexibilidade. 2a general exercise for chronic low back pain: randomized trial.
ed. São Paulo: Phorte; 2001. Med Sci Sports Exerc 2012;44(7):1197-205.
12. Kotler P. Marketing. São Paulo: Compacta, 1996. 33. Bird ML, Hill KD, Fell JW. A randomized controlled study
13. Monteiro A. Ginástica aeróbica: estrutura e metodologia. Lon- investigating static and dynamic balance in older adults after
drina: CID; 1996. training with Pilates. Arch Phys Med Rehabil 2012;93(1):43-9.
14. Saba F. Aderência: a prática do exercício físico em academias.
São Paulo: Manole; 2001.

ANEXO I
Dados demográficos e informações pessoais
Nome: _________________________________________________________________________
Idade: ______________________________________________________________
Sexo: [ ] feminino [ ] masculino
Telefone: _______________________________________
E-mail: __________________________________________
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Estilo de vida

1) Como você classifica o seu estado de saúde atual comparando ao início da prática de atividade física?
[ ]1 Excelente [ ]2 Bom [ ]3 Regular [ ]4 Ruim

2) Considerando a sua participação no programa de Pilates no Solo , você acha possível que tenha acontecido modificações no seu
estado de saúde atual ?
[ ]1 Concordo fortemente [ ]2 Concordo [ ]3 Não concordo [ ]4 Não sei responder

3) Considerando os seguintes significados, qual (is) exame (s) você fez?


Ginecológicos- Colposcopia,Mamografia, Ultrasom; Cardiológicos-Teste de Esforço, Eletrocardiograma.
[ ]1 Ginecológicos [ ]2 Hemograma-Taxas [ ]3 Cardiológicos [ ]4 Dentário [ ]5 Cardiovascular [ ]6 Nenhum [ ]7 Ginecológi-
cos + Hemograma [ ]8 Ginecológicos +Cardiológicos [ ]9 Cardiológicos + Hemograma [ ]10 Cardiol + Gineco+ Hemo [ ]11
Ginecológico + Ortopedia [ ]12 Outros: ______________________________

4) De acordo com as opções, cite em ordem de importância (1a, 2a,3a) três atividades de lazer de sua preferência. Sendo 1 a de
maior importância, 2 a de mediana importância e 3 a de menor importância.
[ ]1 Assistir filme [ ]2 Teatro [ ]3 Shows [ ]4 Encontro com amigos [ ]5 Igreja [ ]6 Clubes [ ]7 Praia [ ]8 Trabalhos manuais [
]9 Leitura [ ]10 Restaurantes

1ª________________ 2ª__________________3ª_______________

5) Considerando as atividades de lazer que você citou na questão 4 (1ª, 2ª ,3ª ).Indique o tempo dedicado a estas. Sendo 1ª a de
maior importância, 2ª a de mediana importância e 3ª a de menor importância.
1ª ATIVIDADE 2ª ATIVIDADE 3ª ATIVIDADE
[a]1Menos de uma vez por mês [a]1Menos de uma vez por mês [a]1Menos de uma vez por mês
[b]2 1-2 vezes por mês [b]2 1-2 vezes por mês [b]2 1-2 vezes por mês
[c]3 3 vezes por mês [c]3 3 vezes por mês [c]3 3 vezes por mês
[d]4 Finais de semana [d]4 Finais de semana [d]4 Finais de semana
[e]51-2 vezes por semana [e]51-2 vezes por semana [e]51-2 vezes por semana
[f]6 Verão [f]6 Verão [f]6 Verão
[g]7Diariamente [g]7Diariamente [g]7Diariamente

6) Atualmente como você descreve o nível de estresse em sua vida ?


[ ]1 raramente estressado, vivendo muito bem.
[ ]2 às vezes estressado, vivendo razoalvelmente bem.
[ ]3 quase sempre estressado, enfrentando problemas com frequência
[ ]4 excessivamente estressado,com dificuldade para enfrentar a vida diária

7) Considerando o nível de estresse em sua vida (questão 6). Responda cada afirmação abaixo considerando a influência do Pilates no
Solo e as escalas abaixo:
[1] Concordo fortemente [2] concordo [3] Não concordo [4] Não sei responder
[ ] Permanece igual [ ] Diminui [ ] Aumentou

Características socioambientais e comportamentais

8) ATENÇÃO! Cite em ordem de importância (1ª ,2ª,3ª,4ª,) os fatores que facilitam a sua participação no Pilates no Solo. Sendo 1 a
de maior importância, 2 a de mediana importância, 3 a de relevante importância e 4 a de menor importância.
[ ]1 Horário [ ]2 Localização [ ]3 Profissionais [ ]4 Preço [ ]5 Orientação [ ]6 Característica da atividade [ ]7 Indicação médica
[ ]8 Incentivo da família [ ]9 Amizades

9) O que mais influenciou na escolha do local para atividade ? Numere 3 em ordem de importância (1ª, 2ª,3ª ). Sendo 1ª a de maior
importância,2ª a de mediana importância e 3ª a de menor importância.

[ ]1 Localização [ ]2 Atividades oferecidas [ ]3 Indicação de amigo [ ]4 Indicação médica [ ]5 Preço [ ]6 Profissionais


Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 55

10) Leia com atenção e avalie cada um dos motivos abaixo, analisando o nível de importância destes motivos para a prática regular
de atividade física.

Motivos Não importante Pouco importante Importante Muito importante


Prevenir doenças
Desenvolver mais autoconfiança
Melhorar o condicionamento físico
Reduzir o estresse do trabalho
Melhorar a aparência física
Aumentar o bem estar geral
Por aconselhamento médico
Retardar o envelhecimento
Manter-se em forma
Sentir prazer pela atividade física que esta
praticando
Emagrecer
Melhorar a qualidade de vida
Melhorar o estado de saúde
Compensar o sedentarismo
Melhorar o equilíbrio emocional
Aprender novas atividades
Interesse pela atividade que esta praticando
Reduzir o estresse e a ansiedade
Melhorar a eficiência no trabalho
Disponibilidade de tempo
Oportunidades e facilidades para a prática
Condições favoráveis para a prática
Reduzir o nível de depressão
Melhorar o humor
Compensação de atividades monótonas
Relacionamento com outros (amizade)
Outros fatores

11-Há quanto tempo frequenta as aulas de Pilates no Solo?


[ ]1 Menos de 6 meses [ ]2 De 6 meses a 1 ano [ ]3 De 1 ano a 2 anos [ ]4 De 2 a 3 anos [ ]5 Mais de 3 anos

12- Em que período do ano isso ocorreu?


_________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________

13-Por que permanece fazendo atividade física?


_________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________

14-Frequência das aulas:


[ ]1 1 vez por semana [ ]2 2 vezes por semana [ ]3 2 a 3 vezes por semana [ ]4 4 a 5 vezes por semana

15-Qual o benefício físico de maior relevância que você observou ter adquirido com a prática do Pilates no Solo?
[ ]1Melhora da saúde em geral [ ]2Maior disposição em geral [ ]3Melhora do estresse [ ]4Emagrecimento [ ]5Aumento da auto-
-estima [ ]6 Melhora na qualidade de vida

16-Qual a principal razão que o levou a permanecer frequentando as aulas de Pilates no Solo?
[ ]1Manutenção da forma física [ ]2Prazer [ ]3Motivação [ ]4Melhora na qualidade de vida e saúde [ ]5Aumento da autoestima
[ ]6Melhor disposição

17-O que fez você procurar essa modalidade em especial?


_________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
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Artigo original

Efeito da dança sênior no equilíbrio e no risco de quedas


em hemiparéticos pós acidente vascular encefálico
Effect of senior dance in balance and risk of falls in hemiparetic
subjects after stroke
Lucas Andreo Dias dos Santos*, Patrícia Cristina de Carvalho*, Soraia Micaela Silva**, Silvia Sper Cavalli***,
João Carlos Ferrari Corrêa****, Fernanda Ishida Corrêa*****

*Graduando de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo, SP, **Mestranda em Ciências da Reabilita-
ção, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), ***Docente do Curso de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE),
****Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), *****Docente
do Curso de Fisioterapia, Profa. colaboradora do Mestrado em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE)

Resumo Abstract
Introdução: A dança pode proporcionar melhora no equilíbrio Introduction: The dance can provide improvement in balance and
e diminuir o risco de quedas em idosos, porém, não há relatos do reduce the risk of falls in older adults, however, no reports were found
efeito da dança sênior em pacientes hemiparéticos em decorrência on the effect of senior dance in hemiparetic patients after stroke.
do Acidente Vascular Encefálico (AVE) Objetivo: Avaliar o equilíbrio Objective: To evaluate the static and dynamic balance and fear of
estático e dinâmico e o risco de quedas em indivíduos hemiparéticos, falling in hemiparetic subjects, before and after therapy with senior
antes e após terapia com dança sênior. Material e métodos: Avaliou- dance. Methods: We evaluated the functional balance (Berg Scale)
-se o equilíbrio funcional (escala de Berg) e estático (plataforma de and static (force platform), and fear of falling (FES-I-Brazil), of six
força), além do medo de cair (FES-I-Brasil), de seis hemiparéticos, hemiparetic before and after therapy with dance, which lasted three
antes e após terapia com dança, que teve duração de três meses, duas months, twice / week, one hour, totaling 24 sessions. The statistical
vezes/semana, com uma hora de duração, totalizando 24 sessões. A analysis was performed using the Wilcoxon test. Results: The scores
análise estatística foi realizada pelo teste Wilcoxon. Resultados: Os anterior posterior displacement of the force platform were lower
escores de deslocamento ântero-posterior da plataforma de força after treatment (p = 0.02), however, no statistically significant for
foram menores pós-tratamento (p = 0,02), contudo, não houve mediolateral displacement (p = 0.24), as to balance performance and
diferença estatisticamente significante para o deslocamento médio- fear of falling, we can observe a statistically significant difference in
-lateral (p = 0,24), quanto ao equilíbrio funcional e medo de cair, the scores of both questionnaires before and after therapy with the
pode-se observar diferença estatisticamente significante nos escores senior dance, p = 0, 02 and p = 0.03, respectively. Conclusion: The
de ambos os questionários antes e após terapia com a dança sênior, Senior Dance was effective for reduction of anterior-posterior, to
sendo p = 0,02 e p = 0,03, respectivamente. Conclusão: A dança improve functional balance and decreased fear of falling, thereby
sênior mostrou-se eficaz para diminuição dos deslocamentos ântero- contributing to improving the balance of hemiparesis after stroke.
-posteriores, para melhora do equilíbrio funcional e diminuição do Key-words: physical therapy modalities, balance, stroke.
medo de cair, contribuindo dessa forma, para melhora do equilíbrio
de hemiparéticos após AVE.
Palavras-chave: fisioterapia modalidades, equilíbrio postural,
acidente vascular cerebral.

Recebido em 12 de setembro de 2012; aceito em 10 de janeiro de 2013.


Endereço para correspondência: Lucas Andreo Dias dos Santos, Av. Francisco Matarazzo, 612 Barra Funda 05001-100 São Paulo SP, E-mail: lucas.
andreo@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 57

Introdução recrutados das clínicas de fisioterapia da Universidade Nove


de Julho, local onde o trabalho foi realizado, seis indivíduos
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é classificado como com hemiparesia em decorrência de AVE, que foram triados
doença vascular, caracterizada por déficit neurológico focal, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: ser porta-
repentino e não convulsivo determinado por lesão cerebral dor de hemiparesia incompleta em decorrência de AVE, ter
consequente a um mecanismo vascular não traumático, por cognitivo preservado e ter idade superior ou igual a 60 anos.
embolia arterial ou venosa, cursando com isquemia ou he- Foram excluídos do estudo, indivíduos que necessitavam
morragia cerebral [1]. de dispositivo auxiliar para ortostatismo; apresentassem
As manifestações clínicas subjacentes a esta condição são distúrbios associados que interferissem no equilíbrio, como
variáveis e incluem alterações sensitivas, cognitivas e motoras, distúrbios vestibulares e sensoriais, vertigem paroxística,
como fraqueza muscular, espasticidade, padrões anormais de negligência, hemianopsia e síndrome de Pusher; pacientes
movimento e déficit de equilíbrio [2]. com hipertensão arterial descontrolada e que realizassem
A assimetria corporal e a dificuldade em suportar o peso no outras atividades motoras que alterassem o equilíbrio no
lado afetado interferem na capacidade de manter o controle período de estudo.
postural, impedindo a estabilidade para realizar movimentos Todos participantes assinaram o termo de consentimento
com o tronco e membros [3], podendo causar maiores riscos livre e esclarecido e foram informados da possibilidade de
de quedas [1] e comprometer a independência funcional e se retirarem da pesquisa em qualquer fase, sem penalização.
qualidade de vida de hemiparéticos pós-AVE [4-6]. Essa pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética
Diversas técnicas têm sido propostas para reabilitação do em Pesquisa da Universidade Nove de Julho (328381/2010).
equilíbrio em hemiparéticos, dentre estas, pode-se se destacar
a dança, que de acordo com pesquisas recentes [7-13], é uma Instrumentos
forma de terapia para diversas doenças que comprometem o
equilíbrio, melhorando tanto o desempenho motor e funcio- As medidas funcionais de equilíbrio foram obtidas por
nal, quanto à qualidade de vida. meio da aplicação da versão brasileira da escala de equilíbrio de
A dança sênior é uma atividade lúdica e intrinsecamente Berg [14]. Esta escala permite avaliar de maneira quantitativa,
motivante, previne a inatividade, retarda os processos da o desempenho do indivíduo no que se refere ao equilíbrio.
senilidade e também melhora a qualidade de vida de idosos A escala avalia o equilíbrio baseando-se em 14 itens comuns
por otimizar a socialização, sendo uma atividade em grupo do dia-a-dia. Cada item da escala apresenta uma alternativa
e de baixo impacto, curta duração e não utiliza esforços de resposta em escala ordinal, variando de 0 a 4 pontos. O
intensos, além de auxiliar a melhora da coordenação máximo escore que pode ser alcançado é 56, com um ponto
motora com movimentos leves e contagiantes, reativa a de corte de 45 para risco de quedas.
memória, melhora a concentração e integração psicossocial O equilíbrio estático foi avaliado por meio da plataforma
dos pacientes [8]. de força, onde as oscilações dos pontos de força em relação
Embora haja relatos do efeito benéfico da dança sênior à velocidade e ao deslocamento ântero-posterior (a-p) e
em idosos hígidos [8], e seja reportado que o equilíbrio pode médio-lateral (m-l) foram analisadas, permitindo avaliar o
ser melhorado por meio de outras danças como tango, dança equilíbrio por meio do COF (centro de força), que nada mais
clássica e jazz [7,9,10-13], ainda não há relatos sobre o efeito é que uma resultante dessas duas variáveis. Este sistema de
da dança sênior no equilíbrio de hemiparéticos pós AVE. mensuração contém 2.288 sensores de força, arranjados nas
Sendo assim, e sabendo-se que o equilíbrio interfere na fileiras e colunas da plataforma, conectados a um sistema de
independência e qualidade de vida dos pacientes portadores aquisição dos dados controlado pelo software Research Foot
de hemiparesia decorrente de AVE, e que a dança pode pro- 5.60 da TekScan, para armazenamento e interpretação dos
porcionar uma melhora tanto física, quanto socioemocional mesmos pelo computador.
em idosos, o objetivo deste estudo foi avaliar o equilíbrio Foi solicitado para que cada paciente permanecesse pa-
estático e funcional e o risco de quedas em indivíduos hemi- rado, descalço, sobre a plataforma, mantendo uma distância
paréticos em decorrência de AVE, antes e após terapia com entre os pés similar à distância dos ombros e braços ao longo
dança sênior, com intuito de contribuir para reabilitação do corpo. Após a calibração do sistema de acordo com o peso
desses indivíduos. corporal do paciente, os pacientes permaneceram parados
na posição bípede por 60 segundos, com a cabeça alinhada,
Material e métodos focalizando um ponto específico na parede na altura dos olhos
de cada paciente [15].
Casuística O medo de cair foi avaliado pela Falls Efficacy Scale-
-International - FES-I [16], cuja versão foi adaptada para
Foi realizado um estudo quase-experimental (before and o português-Brasil [17]. A FES-I é um questionário com-
after), composto por uma série de casos, para tanto, foram posto por 16 itens relacionados com atividades físicas ou
58 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

sociais graduadas numa escala de quatro pontos. Os escores Tabela I - Características demográficas dos voluntários do estudo.
variam de16 a 64 pontos, sendo o escore de 64 indicativo Variável Média ± DP
de muita preocupação a respeito da possibilidade de cair Indivíduos (n) 6
quando realizando cada atividade; os itens avaliados abran- Homens 3
gem tarefas relacionadas ao controle postural, exigindo Mulheres 3
maior grau de dificuldade, e outras básicas, instrumentais Idade (anos) 61,1±6,1
e de socialização, que envolvem menor demanda física. A Tempo pós AVE (anos) 4,1±3,5
FES-I apresenta excelente consistência interna e confiabi- Dados expressos como frequência e média e desvio padrão (DP).
lidade teste-reteste e é sensível a diferentes características
demográficas e fatores de risco relacionados a quedas [16]. Os seis pacientes com AVE que participaram da dança
sênior foram avaliados na plataforma de força e apresentaram
Procedimentos escores de deslocamento ântero-posterior, pós-tratamento
(Md = 3,66), menores, quando comparados aos escores pré-
Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, foi -tratamento (Md = 3,83) (W = -2,20; p = 0,02), resultados
iniciada a triagem dos pacientes, de acordo com critérios significantes. Contudo, essa diferença não se mostrou estatis-
inclusão e exclusão e em seguida os pacientes assinaram ticamente significante quando comparamos o deslocamento
o termo de consentimento livre e esclarecido; logo após médio-lateral pré (Md = 3,83) e pós-tratamento (Md = 2,47)
os dados antropométricos, demográficos e clínicos foram (W = -1,15; p = 0,24). A figura 1 ilustra a distribuição dos
submetidos à avaliação do equilíbrio dinâmico por meio escores nos dois deslocamentos, pré e pós-tratamento.
da escala de BERG, equilíbrio estático com a plataforma
de força da marca TekScan e o risco de quedas pela FES-I- Figura 1 - Diagrama (Box-plot) de extremos e quartis dos escores
-Brasil ) realizadas por um examinador cego, denominado de deslocamento ântero-posterior (A) e médio-lateral (B), dados
avaliador 1. em centímetros.
Em seguida, foi iniciada a terapia, que teve duração 6,00
de três meses, duas vezes por semana, com 60 minutos de
Deslocamento Ântero-Posterior

duração, totalizando 24 sessões. Durante as sessões foram


abordadas as seguintes coreografias com ênfase em equilí- 5,00
brio: Blues na roda, Casatschok, Vilma Stomp e Dança do
moinho. 4,00
Após o protocolo de 24 sessões os pacientes foram reava-
liados pelo mesmo examinador inicial (avaliador 1).
3,00
Análise estatística
2,00
Para caracterização da amostra utilizou-se estatística
descritiva. O teste de normalidade Shapiro-wilk foi usado Pré-tratamento Pós-tratamento
para verificar a normalidade da variância. Os dados foram
sumarizados em mediana e intervalo interquartílico (25% e 6,00
75%), devido a não normalidade da distribuição dos dados.
Deslocamento Médio-Lateral

Para comparações antes e após a terapia com dança sênior 5,00


utilizou-se o e Wilcoxon com nível de significância estabe-
lecido de 5%. 4,00

Resultados 3,00

Foram recrutados 10 indivíduos hemiparéticos crôni- 2,00


cos, porém quatro foram excluídos por não comparecem
às sessões de terapia com dança sênior, portanto, o estudo 1,00
foi composto por uma amostra de seis pacientes, cujas
Pré-tratamento Pós-tratamento
características clínico-demográficas estão elucidadas na
Tabela I. Durante o período do estudo, os voluntários Os resultados do equilíbrio funcional e do risco de quedas,
não fizeram nenhum tipo de terapia física concomitante avaliados por meio da escala de BERG e FES-I, respectivamen-
à dança sênior. te, mostram que houve diferença estatisticamente significante
antes e após terapia com dança sênior (Tabela I e II).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 59

Tabela I - Resultados da avaliação de BERG pré e pós-tratamento Após as 24 sessões com a dança sênior observou-se dife-
com dança sênior. rença significante na avaliação do equilíbrio funcional, cor-
BERG BERG p roborando estudos prévios [9,18], que relataram que a dança
Antes da Depois da pode ser um recurso terapêutico para melhora do equilíbrio,
Paciente dança dança pois as coreografias estimulam a ativação neuromuscular,
1 36 43 motricidade, coordenação motora, auxiliando o equilíbrio e
2 42 44 postura corporal. Quanto ao equilíbrio estático foi observada
3 42 44 0,02 melhora no deslocamento ântero-posterior, corroborando
4 48 48 estudo [19] que demonstra que crianças que praticam dança
5 45 47 apresentam o equilíbrio estático melhor em detrimento ao
6 36 42 grupo controle.
BERG: Berg Balance Scale. Análise estatística realizada com o teste No entanto, vale ressaltar que a amostra deste estudo foi
Wilcoxon. composta por indivíduos na fase crônica pós-AVE, o que pode
ter influenciado este resultado, visto que a cronicidade do pro-
Tabela II - Resultados da avaliação do FES-I-Brasil pré e pós- cesso leva a algumas adaptações e estratégias compensatórias
-tratamento com dança sênior. que podem manter o centro de gravidade dentro dos limites
Paciente FES-I Antes FES-I Depois p da base de suporte [20]. De acordo com Belgen et al. [14],
1 35 33 pessoas com AVE crônico podem aprender a adaptar-se a suas
2 45 40 limitações de equilíbrio e evitar situações comprometedoras
3 35 33 0,03 que aumentariam o risco de quedas.
4 29 18 Com relação à FES-I-Brasil, deve-se salientar que ela não
5 21 20 constitui um instrumento preditivo para quedas, porém,
6 42 41 pode ser indicador de sua possível ocorrência, devendo fazer
FES-I: Falls Efficacy Scale-International. Análise estatística realizada com parte de uma avaliação mais ampla e, assim, estabelecer os
o teste Wilcoxon. riscos de queda para cada indivíduo dentro de seu contexto
de vida [17]. Em relação aos resultados obtidos neste estudo,
Discussão observou-se que a maioria dos indivíduos apresentou alta
preocupação com a ocorrência de quedas e após a terapia
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da dança sênior com a Dança Sênior houve diminuição no escore total do
sobre o equilíbrio e risco de quedas em pacientes com sequela questionário, demonstrando diminuição do medo de cair.
de AVE, com intuito de confirmar cientificamente se esta pode Os efeitos benéficos reportados neste estudo podem ser
ser uma alternativa de tratamento para estes indivíduos, já que explicados pelas características da dança sênior, que foi de-
a dança estimula a mobilidade articular, motricidade, coorde- senvolvida para idosos, com intuito de trabalhar os aspectos
nação motora, ativação neuromuscular, postura e equilíbrio físico, psíquico e social, sendo assim, seu principal efeito é a
[8], que são normalmente, comprometidos após AVE. Após geronto-ativação, ou seja, movimentação na velhice, as co-
análise dos resultados pode-se observar que houve diminuição reografias podem ser realizadas em ortostase ou sedestação,
do deslocamento ântero-posterior e aumento do escore total ambas proporcionam a manutenção da amplitude de movi-
da escala de BERG, evidenciando melhora do equilíbrio es- mento, aumentam a flexibilidade, mobilidade e agilidade. As
tático e funcional, e também houve diminuição do risco de coreografias estimulam ainda a memória recente, a atenção e a
quedas, já que foi observada diminuição do escore da FES-I. concentração, podendo evitar o isolamento e proporcionando
Para avaliar o efeito da dança sênior no equilíbrio e medo a socialização, com encontro de novas amizades, alegria, mo-
de cair de hemiparéticos após AVE, optou-se por coreografias tivação, descontração, divertimento e o bem estar.
que estimulassem o equilíbrio, embora outros aspectos tam- No entanto, deve-se considerar a limitação deste estudo,
bém fossem trabalhados ao mesmo tempo, como coordenação, que por tratar-se de uma série de casos, tem um número li-
memória, mobilidade e adequação de tônus. Na coreografia mitado de indivíduos avaliados, além disso, este trabalho tem
Blues na Roda era trabalhado o deslocamento latero-lateral como delineamento um estudo quase-experimental (before
com os movimentos de roda, na Casatschok havia maior and after), e portanto, não há um grupo controle.
trabalho de tronco, pois os pacientes realizavam a marcha Entretanto, salienta-se que apesar da limitação apontada,
com os braços cruzados, portanto, não tinham o auxílio os resultados aqui obtidos são de extrema relevância para a
dos membros para manter o centro de gravidade na base de área da Fisioterapia e da Reabilitação por mostrar um novo
suporte, além de alongamento da musculatura paravertebral, recurso adicional à terapia convencional, que promova melho-
em alguns momentos da Vilma Stomp os pacientes realiza- ra estatisticamente significante do equilíbrio de hemiparéticos
vam apoio unipodal, e na dança do moinho foi trabalhada a em decorrência do AVE.
transferência de peso.
60 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Conclusão 9. Hackney ME, Earhart GM. Effects of dance on balance and


gait in severe Parkinson disease: A case study. Disability &
Face aos resultados obtidos, pode-se inferir que a dança Rehabilitation 2010;32(8):679-84.
10. Mckinley P, Jacobson A, Leroux A, Bednanczyk V, Rossignol
sênior mesmo não sendo um recurso criado propriamente
M, Fung J. Effect of a community-based Argentine tango dance
como método de reabilitação, se mostrou eficaz para a melhora program on functional balance and confidence in older adults.
do equilíbrio de hemiparéticos pós-AVE. J Aging Phys Act 2008;16(4):435-53.
Entretanto, deve-se ressaltar que este estudo tratou-se de 11. Sofianidis G, Hatzitaki V, Douka S, Grouios G. Effect of a 10-
uma série de casos, e, portanto, foi composto por uma amostra week traditional dance program on static and dynamic balance
de conveniência e, diante disso, sugerimos que outros estudos control in elderly adults. J Aging Phys Act 2009;17(2):167-80.
sejam realizados, porém, com uma amostra maior. 12. Earhart GG. Dance as therapy for individuals with Parkinson
disease Eur J Phys Rehabil Med 2009;45:231-8.
Referências 13. Alpert PT, Miller SK, Wallmann H, Hayvey R, Cross C, Che-
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3. Horváth M, Tihanyl T, Tihanyl J. Kinematic and Kinetic 2004;37(9):1411-21.
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aptidão funcional de mulheres idosas. Rev Bras Ciênc Mov 20. Oliveira CB, Medeiros IRT, Frota NAF, Greters ME, Conforto
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8. Oliveira LC, Pivoto BA, Viana PCP. Análise dos resultados de for evaluation. JRRD 2008;45(8):1215-26.
qualidade de vida em idoso praticantes de Dança Sênior através
do SF-36. Acta Fisiatr 2009;16(3):101-4.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 61

Revisão

Tratamento fisioterapêutico no pós-operatório


de fratura do tornozelo
Physical therapy treatment in postoperative of ankle fracture
Diogo Carvalho Felicio, Ft., M.Sc.*, Valnez de Alcantara Halfeld**, George Schayer Sabino, Ft., M.Sc*,
Daniele Sirineu Pereira, Ft. M.Sc.*,Alexandra Miranda Assumpcao, Ft., M.Sc.*, Barbara Zille de Queiroz, Ft., M.Sc.***

*UFMG, **Acadêmico de Fisioterapia Faculdade Pitágoras/Betim, ***Mestrando em Ciências da Reabilitação UFMG

Resumo Abstract
Introdução: As fraturas de tornozelo referem-se à fratura do ma- Introduction: Ankle fractures refer to medial malleolus fracture or
léolo medial ou lateral da tíbia ou da fíbula. O principal propósito lateral tibia or fibula. The primary purpose of physical therapy is to
do tratamento fisioterapêutico é recuperar a funcionalidade para que restore normal function for the return to activities of daily life. Ob-
o paciente possa retornar às suas atividades de vida diária. Objetivo: jective: To perform a systematic review of literature with the objective
Realizar uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de of verifying the characteristics of physical therapy interventions used
verificar as características das intervenções fisioterapêuticas utilizadas for ankle fracture. Methods: This study used databases Medline and
para a fratura de tornozelo. Material e métodos: A pesquisa utilizou as PEDro. We used the following key-words: rehabilitation, physical
bases de dados Medline e PEDro. Foram utilizadas as seguintes pala- therapy, ankle fracture, distal tibial fracture, distal fibula fracture.
vras chaves: rehabilitation, physical therapy, ankle fracture, distal tíbia Were selectioned articles published since 2000 in English. The
fracture, distal fíbula fracture. Foram priorizados artigos atuais sobre selected studies were analyzed based on methodological quality,
o tema publicados a partir de 2000 na língua inglesa. Os estudos according to the PEDro scale score. Results: We found 11 articles
selecionados foram analisados quanto a sua qualidade metodológica, in PEDro database and 108 articles in Medline. Ten articles met
segundo a pontuação na escala PEDro. Resultados: Na base de dados the eligibility criteria and were included for analysis. Conclusion:
PEDro foram encontrados 11 artigos e no Medline 108 artigos. Dez There are several interventions used by physical therapist in posto-
artigos cumpriram os critérios de elegibilidade e foram incluídos perative fracture of the ankle, which are categorized according to
para análise. Conclusão: Diversas são as intervenções utilizadas pelo their objectives: a period of immobilization, fracture healing, joint
fisioterapeuta no pós-operatório de fratura do tornozelo, as quais são mobility and edema control.
categorizadas de acordo com seus objetivos: período de imobilização, Key-words: ankle joint, rehabilitation, Physical Therapy.
consolidação da fratura, mobilidade articular e controle do edema.
Palavras-chave: articulação do tornozelo, reabilitação,
Fisioterapia.

Recebido em 15 de março de 2012; aceito em 26 novembro de 2012.


Endereço para correspondência: Diogo Carvalho Felício, Alameda Maria Turíbia de Jesus, 44/101, 32560-090 Betim MG, E-mail: diogofelicio@
yahoo.com.br
62 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Introdução Medical Literature Analysis and Retrieval System Online


(Medline) e Physiotherapy Evidence Data Base (PEDro).
As fraturas de tornozelo referem-se à fratura do maléolo Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: rehabilitation,
medial ou lateral da tíbia ou da fíbula [1]. Estão entre as fra- physical therapy, ankle fracture, distal tíbia fracture, distal fíbula
turas mais comuns de membros inferiores [2]. Nos jovens a fracture. As palavras-chave foram limitadas ao título do artigo.
incidência é maior entre os homens, mas com idade a partir O idioma selecionado foi o inglês e foram incluídos apenas os
dos 50 anos a razão de sexo se inverte [2]. A incidência global artigos publicados a partir do ano de 2000 e que abordassem
é estimada em 100 fraturas para cada 100.000 pessoas por temas relacionados ao tratamento de fisioterapia após fraturas
ano, e essa taxa tem aumentado constantemente, tanto em de tornozelo. A seguir, foi realizada a leitura dos resumos e
pacientes jovens e ativos como nos idosos ao longo das últi- aqueles que se enquadravam nos critérios de inclusão foram
mas décadas [3]. A fratura de tornozelo é geralmente causada obtidos na íntegra. Os estudos incluídos na revisão foram
por trauma de baixa velocidade, como quedas, lesões por analisados quanto a sua qualidade metodológica, segundo a
torção e lesões esportivas [4]. pontuação na escala PEDro por dois pesquisadores de forma
Alguns autores propuseram classificações distintas para as independente. Foram excluídos artigos com baixa qualidade
fraturas de tornozelo. Lauge-Hansen, em 1949, propôs um metodológica (escore PEDro menor que 3) [10].
sistema de classificação correlacionando os traços das fraturas
do tornozelo com os mecanismos de lesão. As fraturas foram Resultados
classificadas, segundo o mecanismo de trauma, em pronação-
-eversão, pronação-abdução, supinação-adução e supinação- Na base de dados PEDro foram encontrados 11 artigos
-eversão. Nesse sistema, o primeiro termo indica a posição do e no Medline 108 artigos. Na Figura 1 está demonstrado o
pé no momento do trauma e o segundo, a direção da força processo de exclusão dos artigos.
deformante [5]. Danis em 1949 [6] e Weber em 1972 [7]
propuseram outro sistema de classificação baseado no nível Figura 1 - Processo de exclusão dos artigos.
do traço de fratura da fíbula, podendo este ser abaixo (tipo Artigos encontrados:
A), ao nível (tipo B) ou acima da sindesmose tíbio-fibular Medline (n = 108)
distal (tipo C). PEDro (n = 11)
O tratamento ortopédico na fratura de tornozelo pode
ser conservador ou envolver redução, fixação cirúrgica e imo- Excluídos com base no resumo:
bilização de seis a doze semanas, dependendo da gravidade Intervenções médicas (n = 52)
Estudos observacionais (n = 42)
da fratura [8]. O principal objetivo do tratamento fisiote-
Estudos metodológicos (n = 4)
rapêutico é recuperar a funcionalidade para que o paciente Estudos de revisão de literatura (n = 5)
possa retornar às suas atividades de vida diária. Atualmente,
as indicações para o tratamento cirúrgico de uma fratura de Artigos obtidos na
tornozelo são relativamente bem descritas, mas há controvérsia íntegra:
com relação aos aspectos dos cuidados fisioterapêuticos no (n = 16)
pós-operatório dessas fraturas [9]. Excluídos com base nos critérios
A fisioterapia tem contribuído para a reabilitação de fra- de elegibilidade:
turas de tornozelo, e o tratamento normalmente inicia logo Escala PEDro < 3 (n = 6)
após o período de imobilização. O tratamento visa restaurar
Artigos incluídos
as funções articulares e musculoesqueléticas. Diversas são as na revisão:
técnicas fisioterapêuticas utilizadas com o propósito de rea- (n = 10)
bilitar os pacientes para que possam retornar com segurança
a realizar suas atividades de vida diária, lazer e trabalho. No
entanto, a carência de revisões sistemáticas a respeito do tema Dez artigos cumpriram os critérios de inclusão A pon-
dificulta a interpretação dos resultados. tuação dos artigos segundo os critérios da escala PEDro está
Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi realizar expresso na Tabela I e o resumo das informações dos estudos
uma revisão sistemática da literatura com o intuito de veri- incluídos na Tabela II.
ficar as estratégias de intervenção fisioterapêutica na fratura
de tornozelo e avaliar a eficácia do tratamento. Discussão

Material e métodos A prática baseada em evidência é atualmente uma fer-


ramenta imprescindível para o fisioterapeuta. Ela pode ser
Foi realizado um estudo do tipo revisão sistemática de definida como a integração da melhor evidência científica
literatura. Foram pesquisados artigos nas bases de dados com a experiência clínica do fisioterapeuta [21]. O objetivo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 63

Tabela I - Pontuação dos artigos segundo os critérios da escala Pedro.


Especi- Alo- Sigilo Simila- Masca- Masca- Masca- Follow Análi- Com- Relato Pontu-
ficação cação na ridade ramento ramen- ramen- up 85% se da para- de me- ação
dos cri- alea- alo- dos gru- dos to do to do dos inten- ção didas de final na
térios de tória cação pos fase sujeitos tera- avalia- sujeitos ção de entre variabi- escala
Autor inclusão basal peuta dor aloca- tratar grupos lidade e PEDro
(item dos estima-
não tiva dos
pontua- parâme-
do) tros
Siddique et
- 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 3
al. [11]
Honigmann
- 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 6
et al. [12]
Simanski et
- 0 0 1 0 0 1 1 0 1 1 5
al. [13]
Lehtonen et
- 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 6
al. [14]
Leung et al.
- 1 0 0 1 0 1 0 0 1 1 5
[15]
Handolin et
- 1 0 0 1 0 1 1 0 1 1 6
al. [16]
Moseley et
- 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 8
al. [17]

Lin et al. [18] - 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 8

Caschman et
- 1 1 1 0 0 0 0 0 1 1 5
al.[19]
Nilsson et al.
- 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 8
[20]

da presente revisão foi compilar as evidências a respeito das atividades funcionais [23,24]. Dessa forma, alguns autores
abordagens fisioterapêuticas na fratura de tornozelo para que têm implementado conduta diferente intitulada tratamento
possam fundamentar a tomada de decisão na prática clínica. funcional.
Com base nos estudos encontrados, categorizamos as A base teórica que estimula o tratamento funcional na
intervenções em quatro grandes grupos com relação a seus prática ortopédica é o fato de que encorajar a descarga de peso
objetivos, sendo: 1) tratamento durante o período de imobi- precoce e evitar a imobilização completa do membro afetado,
lização; 2) consolidação da fratura; 3) manutenção e ganho pode facilitar a restauração da amplitude de movimento das
da mobilidade articular e 4) edema [1,3]. articulações lesadas, além de reduzir o desenvolvimento de
Primeiramente, em relação ao período de imobilização, atrofias [25,26]. Siddique et al. [11] propuseram mobilização
não foram encontrados artigos que abordassem intervenções ativa precoce sem o uso do gesso, Honigmann et al. [12] o
exclusivamente fisioterapêuticas, pois envolve concomitante- uso de uma órtese dinâmica com sistema a vácuo, Simanski
mente o uso da imobilização prescrita pelo ortopedista, bem et al.[13] órtese removível com descarga de peso precoce
como técnicas de descarga de peso e cinesioterapia realizadas e Lehtonen et al. [14] o uso de uma órtese dinâmica. Os
pelo fisioterapeuta. Quatro artigos da presente revisão tra- resultados são conflituosos. Simanski et al. [13] concluíram
taram do tema [11-14]. Tradicionalmente, após fratura da que os resultados da movimentação ativa precoce são satisfa-
articulação do tornozelo, tem-se utilizado imobilização com tórios para um grupo restrito de pacientes que tenham como
gesso abaixo do joelho de 3 a 6 semanas sem descarga de características tornozelo estável, motivação, compreensão da
peso no membro inferior lesado [22]. Porém, alguns estudos abordagem terapêutica e que não possuam fatores de risco
sugerem que essa conduta predisponha aos efeitos deletérios da adicionais como uso abusivo de álcool e cigarro, osteoporose
imobilização como hipotrofia muscular, rigidez da articulação e fraturas abertas. Lin et al. [27] ressaltam que há necessidade
do tornozelo, trombose venosa profunda, lesão da cartilagem de avaliar cada caso, pois existe a probabilidade de ocorrerem
articular, diminuição da massa óssea e dificuldade para realizar resultados adversos como alterações na sensibilidade, retardo
Tabela II - Características dos estudos. 64
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Siddique et Avaliar se mobilização Pacientes com fratura GE: não foi utilizado o gesso no Amplitude de Movimento *Amplitude de movimento: com 6 semanas de follow up
al. [11] ativa precoce no pós- do tornozelo Weber B pós-operatório e era permitido (goniometria); satisfação o GE apresentou maior ADM para o movimento de fle-
-operatório de fratura isolado ou bimaleolar. movimentação ativa precoce com o tratamento; dor xão dorsal (p = 0,01) e flexão plantar (p < 0,01). Com
Nota PEDro: do tornozelo melhora o com membro fraturado. Descar- (escala visual analógi- 12 semanas de follow up a diferença entre os grupos
3 prognóstico funcional GE: n = 22 ga de peso parcial a partir da ca); avaliação funcional não foi estatisticamente significativa para flexão dorsal (p
em relação à imobili- GC: n = 22 4ª semana e evolução conforme (Questionário Olerud & = 0,07) e para flexão plantar (p = 0,32).
zação tradicional com tolerado. Molander); raio-x. *Satisfação com o tratamento: pacientes no GE ficaram
gesso. Idade pacientes: mais satisfeitos na primeira semana (p = 0,04). Nas demais
Entre 16 e 60 anos. GC: no pós-operatório foi utili- avaliações não houve diferença significativa entre os grupos.
zado gesso abaixo do joelho por Dor: Não houve diferença entre os grupos. No segundo
6 semanas. Descarga de peso dia (p = 0,36), na primeira semana (p = 0,14) e na
parcial a partir da 4ª semana e sexta semana (p = 0,95).
evolução conforme tolerado. Avaliação funcional: não houve diferença estatística
entre os grupos. Na 6ª semana (p = 0,29) e na 12ª
semana (p = 0,76).
Raio-x: não houve diferença entre os grupos.
Honigmann Verificar se o uso de Pacientes com IMC < GE: os voluntários utilizaram Avaliação funcional Avaliação funcional: GE = 42 e GC = 42,5 (p = 0,46)
et al. [12] uma órtese dinâmica 35, com fratura maleolar uma órtese dinâmica com (Questionário Olerud após seis semanas e GE = 69 e GC = 72 (p = 0,55)
associado a descarga tipo Weber A ou B. sistema a vácuo que permite os & Molander); edema após 10 semanas.
Nota PEDro: de peso total precoce movimentos de flexão plantar e de tornozelo; uso de *Edema de tornozelo: a diferença na circunferência
6 obtém melhores resul- GE: n = 23 flexão dorsal por 10 semanas. muletas; amplitude perimaleolar do GE reduziu significantemente de 2cm no
tados funcionais em GC: n = 22 Nas duas primeiras semanas de movimento; atro- baseline para aproximadamente 1cm com 10 semanas
relação ao tratamento realizaram descarga de peso fia (circunferência da de follow up (p < 0,008).
convencional com en- Média idade: parcial e a partir da segunda se- panturrilha); qualidade *Muletas: utilizadas em média, GE = 32 dias e GC =
faixamento e descarga GE: 42,5 anos e GC: mana foi estimulado a descarga de vida (SF-12); segu- 44,5 dias (p = 0,007).
de peso parcial. 38,1 anos. de peso total. Após três semanas rança e satisfação com o *Amplitude de movimento: o GC apresentou uma média
foi permitido deambular sem tratamento (escala visual de 2,5° a mais de flexão plantar (p = 0,05) e 10° a mais
muletas. analógica); tempo para de inversão com seis semanas de follow up.
retornar ao trabalho. Atrofia: não foi observado atrofia com 10 semanas de follow up.
GC: os voluntários utilizaram *Qualidade de vida: uma diferença de seis pontos a
um enfaixamento ao redor do favor do GC foi observado no escore do SF-12 no domí-
tornozelo. Realizaram descarga nio de saúde mental (p = 0,01), após 6 semanas.
de peso parcial com o uso de *Segurança e satisfação com o tratamento: GC com 10
muletas por seis semanas. semanas de follow up apresentou resultados mais satisfa-
tórios (p = 0,02).
Tempo para retornar ao trabalho: Pacientes do GE retorna-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

ram antes ao trabalho (curva Kaplan-Meier), GE = 37 dias


e GC = 53 dias.
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Simanski et Comparar os resulta- Pacientes com fratura GE: após a cirurgia os pacientes Avaliação funcional Avaliação funcional: GE = 87 e GC = 79 (p = 0,25)
al. [13] dos de pacientes com de tornozelo submetidos receberam uma órtese removí- (Questionário Olerud & após 12 meses de pós-operatório.
fratura de tornozelo a intervenção cirúrgica, vel, estavam liberados a realizar Molander); nível de ati- Nível de atividade física: GE = 3,0 e GC = 3,3 (p =
Nota PEDro: tratados com órtese com osteossíntese está- descarga de peso parcial (10 a vidade diária e esportiva 0,19) após 12 meses de pós-operatório.
5 removível e descarga vel, sem contraindicação 15 kg) imediatamente após a (Tegner Score); tempo Retorno ao trabalho: GE = 9,2 semanas e GC = 10,8
de peso precoce com para descarga de peso cirurgia. Após 3 semanas, eram para retornar ao trabalho; semanas (p = 0,63).
pacientes tratados com precoce. estimulados a realizar descarga tempo para descarga *Tempo para descarga peso total: GE = 7,7 semanas e
imobilização em gesso de peso total. Dois dias após a de peso total; tempo de GC = 13,5 semanas (p = 0,011).
por seis semanas. GE: n = 23 cirurgia também eram encora- fisioterapia; dor pós- Tempo de fisioterapia: GE = 22,7 semanas e GC =
GC: n = 23 jados a realizar movimentação -operatório (escala visual 21,2 semanas (p = 0,053).
ativa do tornozelo duas vezes por analógica numérica de 0 Dor pós-operatório: GE = 1,9 e GC = 1,7 (p = 0,12).
Média idade: dia por 30 minutos. a 4); tempo de hospitali- Tempo de hospitalização: pacientes do GC permanece-
GE: 55,1 anos e GC: zação. ram em média 3 dias a mais no hospital (p = 0,12).
55,8 anos. GC: utilizaram órtese rígida por
seis semanas.
Lehtonen et Comparar resultados Pacientes com fratura de GE: Pacientes utilizaram órtese Edema do tornozelo (di- Edema do tornozelo (mm): GE = 18 GC = 22 na 12ª
al. [14] de imobilização com tornozelo, Weber A ou B, dinâmica no pós- operatório por ferença na circunferência semana pós-operatório.
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gesso e o uso de órtese submetidos a interven- seis semanas. Uso de muletas nas do tornozelo fraturado e Hipotrofia panturrilha (mm): GE = -6 GC = -8 na 12ª
Nota PEDro: dinâmica no tratamen- ção cirúrgica. 2 primeiras semanas, descarga não fraturado); hipo- semana pós-operatório.
6 to pós- cirúrgico de de peso parcial até a 4ª semana trofia dos músculos da Amplitude de movimento: Flexão plantar no GE = 54º
fraturas de tornozelo. GE: n = 50 e descarga de peso total a partir panturrilha (diferença e GC = 61º, dorsiflexão no GE = 11º e GC = 11º na
GC: n = 50 da 4ª semana. Os voluntários na circunferência 10 cm 12ª semana pós-operatório.
foram estimulados a realizarem abaixo da tuberosidade Avaliação funcional: Orelud & Molander no GE = 75
Média idade: exercícios diários de ADM passiva anterior da tíbia do tor- e GC = 75, escala de Kaikkonen no GE = 59 e GC =
GE: 41 anos e e ativa de tornozelo sem a órtese. nozelo fraturado e não 57 na 12ª semana de pós-operatório.
GC: 41 anos. fraturado); amplitude Tempo retorno trabalho: GE = 65 dias GC = 63 dias.
GC: Imobilização com ges- de movimento ativo do
so abaixo do joelho por seis tornozelo (goniômetro);
semanas. Uso de muletas nas 2 avaliação funcional
primeiras semanas, descarga de (Questionário Olerud &
peso parcial até a 4ª semana e Molander e escala de
descarga de peso total a partir Kaikkonen); tempo de
da 4ª semana. retorno trabalho.
Após as seis semanas os parti-
cipantes dos dois grupos foram
instruídos a realizar cinesioterapia.
65
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados 66
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Leung et al. Avaliar se o ultrassom Pacientes com fratura GE: ultrassom pulsado, 1.5MHz, Exame clínico; raio-x; *Exame clínico: desaparecimento de ponto doloroso no
[15] pulsado pode melhorar exposta e cominutiva da 200µs, 30mW, aplicado dire- conteúdo mineral ósseo local da fratura no GE = 6,1 e GC = 7,9 semanas (p <
e acelerar a recupera- tíbia. tamente no local da fratura da e fosfatase alcalina. 0,05). Descarga de peso total GE = 9,3 e GC = 15,5
Nota PEDro: ção de fraturas tibiais. superfície ântero-medial da tí- semanas (p < 0,05). Tempo para remover o fixador
5 GE: n = 15 bia, 20 minutos por dia durante externo GE = 9,9 e GC = 17,1 semanas (p < 0,05).
GC: n = 13 90 dias. *Raio-x: aparecimento de calo ósseo no GE ocorreu
antes do GC (p < 0,05).
Média idade: 35,3 anos. GC: ultrassom placebo. *Conteúdo mineral ósseo: maior aquisição conteúdo
mineral ósseo no GE (p < 0,05). *Fosfatase alcalina:
maior atividade da fosfatase alcalina no GE (p < 0,05).
Handolin et Investigar os efeitos Pacientes com fratura de GE: ultrassom pulsado (SAFHS Exame clínico (cicatri- Exame clínico: com 18 meses pós-operatório os torno-
al. [16] do ultrassom pulsa- maléolo lateral Weber B. 2A Exogen, NJ, USA), aplicado zação, amplitude de zelos fraturados estavam cicatrizados e estáveis. Três
do a longo prazo na diretamente sobra a linha da movimento, estabilida- pacientes, 2 do GC e 1 do GE apresentaram restrição
Nota PEDro: morfologia óssea, na GE: n = 8 fratura, 20 minutos por dia, por de); avaliação funcional moderada na flexão dorsal.
6 densidade mineral GC: n = 8 6 semanas, iniciando com 2 (Questionário Olerud Avaliação funcional: pré-operatório GE = 99,4 e GC
óssea e os resultados semanas de pós-operatório. & Molander); exames = 98,8, 18 meses pós-operatório GE = 95,0 e GC =
clínicos em fraturas de Média idade: complementares (raio-x, 96,3. Não houve diferença entre os grupos.
maléolo lateral fixadas GE: 43,3 anos e GC: ultrassom placebo. tomografia computado- Raio-x e Tomografia computadorizada: não houve dife-
com parafusos bioab- GC: 41,8 anos. rizada e absorciometria rença significativa entre os grupos após 18 meses.
sorvíveis. de feixe duplo - DEXA). DEXA: após 18 meses de pós-operatório GE = 0,529 g/
cm² e GC = 0,571 g/cm² (p = 0,322).
Moseley et al. Comparar eficácia Pacientes com fratura de Tratamento durou 4 semanas. Funcionalidade (Ques- Não houve diferença estatisticamente significativa entre
[17] do alongamento tornozelo tratados com As 5 primeiras sessões foram tionário Lower Extremity os grupos ao se avaliar os resultados primários.
passivo de curta e de imobilização em gesso feitas com o fisioterapeuta e as Functional Scale); Flexão
Nota PEDro: longa duração com a com ou sem fixação demais através de orientações dorsal passiva com o
8 cinesioterapia para o cirúrgica que apresenta- domiciliares. joelho fletido e esten-
manejo da contratu- ram pelo menos 5o de dido. Foram utilizados
ra em flexão plantar redução de flexão dorsal 1º GE: Alongamento de curta outros 19 instrumentos
decorrente da imobi- quando comparado com duração (6 minutos por dia) e para avaliar resultados
lização com gesso em o tornozelo contralateral. exercícios do GC. secundários.
pacientes com fratura
de tornozelo. 1º GE: n = 49 2º GE: Alongamento de longa
2º GE: n = 51 duração (30 minutos por dia) e
GC: n = 50 exercícios do GC.

Média idade: GC: Exercícios de mobilidade


1º GE: 43 anos, e fortalecimento do tornozelo,
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

2º GE: 47 anos e treino de equilíbrio e descarga


GC: 49 anos. de peso.
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Lin et al. [18] Determinar a efetivida- Pacientes com fratura GE: deslizamento ântero- Avaliação funcional Avaliação funcional: p = 0,70
de e o custo benefício de tornozelo que foram -posterior do tálus grau 3. Três (Questionário Lower *Qualidade de vida: p = 0,04
Nota PEDro: de adicionar a terapia imobilizados com gesso repetições de 60 segundos e Extremity Functional Sca- Velocidade da marcha: p = 1,00
8 manual a um pro- submetidos ou não a exercícios do GC. le); qualidade de vida Assimetria comprimento do passo: p = 0,25
grama de fisioterapia intervenção cirúrgica. (Questionário Assess- Teste de subir degraus: p = 0,67
padrão após imobili- GC: Exercícios de mobilidade ment of Quality of Life); Amplitude de movimento de flexão dorsal do tornozelo:
zação com gesso para GE: n = 47 e fortalecimento do tornozelo e velocidade da marcha; p = 0,79
pacientes adultos com GC: n = 47 treino de equilíbrio. assimetria no compri- Dor durante descarga de peso: p = 0,87
fratura de tornozelo. mento do passo; teste de Dor ao descer escada: p = 0,97
Média idade: subir degraus; amplitude Retorno ao trabalho: p = 0,96
GE: 42,5 anos e de movimento de flexão Retorno às atividades de lazer: p = 0,27
GC: 40,8 anos. dorsal do tornozelo; dor Percepção global efeito tratamento: p = 0,72
durante descarga de Número de dias sem queixa álgica: p = 0,11
peso e ao descer esca-
das; retorno ao trabalho
e as atividades de lazer;
percepção global do
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

efeito do tratamento; nú-


mero de dias sem queixa
álgica.
Caschman et Avaliar a eficácia de Pacientes com fratura GE: compressão pneumática Circunferência da *Circunferências: Houve redução estatisticamente sig-
al. [19] um compressor pneu- unilateral do tornozelo. intermitente no membro lesado panturrilha, tornozelo nificante entre o edema do tornozelo no pré-operatório
mático intermitente na até a data da cirurgia. e pé; dor (escala visual do GE = 13,1mm com relação ao GC = 24mm (p <
Nota PEDro: redução do edema no GE: n = 27 analógica); duração da 0,003).
5 pré-operatório após GC: n = 27 GC: elevação do membro lesa- hospitalização; tolerân- Dor: a falta de padronização na prescrição de analgési-
fraturas de tornozelo. do até a data da cirurgia. cia do paciente; desen- cos tornou os resultados inconclusivos.
Média idade: volvimento de lesões na *Duração hospitalização: GE permaneceu em média 3,5
GE: 47,1 anos e pele. dias a menos do que o GC (p > 0,005).
GC: 47,7 anos. Tolerância do paciente: 4 pacientes do GE não tole-
raram o uso do compressor pneumático intermitente
durante a noite.
*Lesões na pele: 3 pacientes do GE e 12 pacientes do
GC (p = 0,007) apresentaram lesões na pele.
67
68
Autores, Objetivo estudo Característica da Intervenção Instrumentos de ava- Resultados
Ano, Pon- amostra liação
tuação na
escala PEDro
Nilsson et al. Avaliar os efeitos de di- Pacientes com fratura de GE: Fisioterapia iniciada uma *Avaliação funcional: em indivíduos com menos de 40
[20] ferentes tipos de inter- tornozelo submetidos à semana após a retirada do Avaliação funcional anos GE = 78,1 e GC = 65,5 após 6 meses pós-
venções em pacientes intervenção cirúrgica. gesso duas vezes por semana (Questionário Olerud & -operatório e GE = 86,5 e GC = 72,8 após 12 meses
Nota PEDro: que sofreram fratura durante 12 semanas. Os volun- Molander); qualidade de pós-operatório (p = 0,028).
8 de tornozelo após a GE: n = 50 tários também eram orientados vida (SF36); capacidade Qualidade de vida: no domínio saúde física GE = 45,4
retirada do gesso. GC: n = 55 a realizar exercícios em casa. funcional (velocidade e GC = 43,7 após 6 meses de pós-operatório e GE =
A intervenção era baseada nos da marcha e de subir 46,8 e GC = 46,4 após 12 meses de pós-operatório
Média idade: princípios neuromusculares e degraus); exame físico (p = 0,273). No domínio saúde mental GE = 45,3 e
GE: mulheres 51 anos e a evolução ocorria conforme (número de repetições GC = 49,4 após 6 meses de pós-operatório e GE =
homens 34 anos. desempenho do voluntário. apoiado no calcanhar 48,3 e GC = 51,2 após 12 meses de pós-operatório
e dedos do pé do lado (p=0,753).
GC: mulheres 51 anos e GC: Pacientes receberam lesado, amplitude de Capacidade funcional: não houve diferença estatística
homens 32. orientação do médico a iniciar movimento); raio-x. entre os grupos para velocidade da marcha (p = 0,084)
a marcha e retornar a função e para velocidade de subir degraus (p = 0,072).
o quanto antes. Os pacientes *Exame físico: em indivíduos com menos de 40 anos, a
também estavam livres para média do número de repetições apoiado nos dedos GE
procurar um fisioterapeuta, no = 32 e GC = 21 após 6 meses de pós-operatório e
entanto, não realizaram o mes- GE=34 e GC = 26 após 12 meses pós-operatório (p =
mo programa de intervenção 0,029) e a média do número de repetições apoiado no
proposto no GE. calcanhar GE = 24 e GC = 15 após 6 meses de pós-
-operatório e GE = 26 e GC = 18 após 12 meses pós-
-operatório (p = 0,030). Para amplitude de movimento
os resultados não foram significativos.
Raio-x: não houve diferenças entre os grupos quando
avaliado a congruência articular (p = 0,138), redução
da fratura (p = 0,085) e presença de osteoartrite (p =
0,536).
GE = grupo experimental; GC = grupo controle; * = diferença estatística entre os grupos.
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na consolidação, infecções, bolhas e revisão cirúrgica. Uma fratura, é uma resposta adaptativa à imobilização que dura em
questão instigante é que não foram encontradas evidências média de três a seis semanas. Estudos em animais indicam que
científicas a respeito de mobilização articular adjacente ao quando uma articulação é imobilizada, ocorre encurtamento
foco da fratura e condicionamento global que são estratégias muscular, perda de sarcômeros em série, alterações morfoló-
de intervenção rotineiramente utilizadas na prática clínica gicas no tecido conectivo intramuscular, encurtamento do
do fisioterapeuta. tendão e o tecido conectivo periarticular perde extensibilidade
Com relação à consolidação da fratura, ela deve ser en- [39-41]. Em humanos, evidências apontam que a limitação
fatizada, pois é pré-requisito para a evolução na reabilitação. na amplitude de movimento do tornozelo, após um trauma,
Dois estudos abordaram o assunto [15,16] e utilizaram como pode estar associada a uma subluxação anterior do tálus [42].
proposta de intervenção o ultrassom (US) pulsado. Após a Dois estudos enfatizaram técnicas fisioterapêuticas com
introdução do conceito de piezoeletricidade do osso, por intuito de aumentar a amplitude de movimento (ADM)
Fukada e Yasuda, em 1957 [28], alguns estudos começaram [17,18]. Moseley et al. [17] compararam a eficácia do alon-
a preconizar seu uso para estimular a osteogênese e acelerar gamento passivo de curta e de longa duração com a cinesio-
o processo de consolidação de fraturas [29]. terapia para o tratamento da contratura em flexão plantar
Os mecanismos pelos quais o US pulsado favorece a decorrente da imobilização com gesso em pacientes com
consolidação de fraturas ainda não estão bem elucidados. fratura de tornozelo. Não houve diferença estatisticamente
Postula-se que o US é capaz de promover um aumento na significativa entre os grupos. Os autores especulam que não
proliferação celular, na atividade de fosfatase alcalina e no houve sobrecarga suficiente através do alongamento passivo
conteúdo de cálcio [30,31]. Além disso, favorece a síntese de capaz de promover adaptações a longo prazo na estrutura
genes relacionados à produção de proteínas que participam do tecido.
da diferenciação celular e a mineralização [32]. Mediadores No estudo de Lin et al. [18] foi realizado um ensaio clínico
importantes para indução da formação óssea como o óxido aleatório e utilizado o deslizamento ântero-posterior do tálus
nítrico e as prostaglandinas também parecem estar aumenta- grau 3 para aumentar a ADM. Após o tratamento, apenas a
dos após a estimulação com US [33]. Ademais, Yang et al. em variável qualidade de vida diferiu entre os grupos (p = 0,04).
2005 [34] demonstraram que o US promoveu a reorganização Poucas pesquisas investigaram o efeito da terapia manual após
do citoesqueleto de osteoblastos, além de aumentar a síntese fratura de tornozelo. Em 1991, Wilson et al. [43], em uma
de integrinas, que tem um papel fundamental de sinalização amostra com 10 indivíduos, verificaram que adicionar terapia
na superfície celular e participa da construção da rede de manual a um programa de exercícios não melhorou a função,
matriz de colágeno. mas aumentou a ADM de flexão dorsal (média de 4,2o, 95%
Pesquisas anteriores demonstraram o efeito do US na CI = 0,9-7,5). A literatura atual sugere que adicionar alon-
consolidação de fraturas. Heckman et al. [35], em um estudo gamento ou terapia manual a um programa de exercícios não
randomizado e duplo cego, avaliaram o efeito do US pulsado melhora os resultados, o que direciona a intervenção para um
na consolidação de fraturas tibiais. Ao término do tratamento, programa de cinesioterapia estruturado e progressivo.
encontraram diferenças estatisticamente significativas favo- Em relação ao edema, ele é um dos sinais mais importantes
ráveis ao grupo submetido ao US com relação ao tempo de na presença de processo inflamatório agudo após as lesões
cicatrização (p = 0,01) e a evolução clínica e radiológica dos de tornozelo [44]. O inchaço sugere reação inflamatória
pacientes (p = 0,0001). Dos estudos incluídos nessa revisão, nos tecidos, alteração na dinâmica normal dos capilares e
Leung et al. [15] também encontraram resultados satisfa- comprometimento do funcionamento no mecanismo de
tórios e estatisticamente significativos ao utilizar o US em bombeamento do sistema venoso e linfático [45]. Gabriel et
pacientes com fratura exposta e cominutiva da tíbia. Impor- al. [46] relatam que, caso o edema não seja reparado, poderá
tante destacar que uma das variáveis analisadas foi a fosfatase levar a incapacidade funcional pela limitação da elasticidade
alcalina óssea que tem sido considerada um bom marcador muscular, redução da ADM, encurtamento de aponeuroses,
bioquímico de atividade osteoblástica [36]. No entanto, no e em alguns casos, necrose tecidual.
estudo de Handolin et al. [16] não houve diferenças entre os Um estudo desta revisão aprofundou a respeito do tema.
grupos. Salienta-se que o tamanho da amostra neste estudo Caschman et al. [19] avaliaram a eficácia de um compressor
era pequena (n = 16) aumentando a probabilidade de erro pneumático intermitente na redução do edema no pré-
tipo 2. Mais evidências são necessárias para avaliar o papel -operatório de fratura do tornozelo. Encontraram resultados
do US pulsado na consolidação de fraturas de tornozelo. Não estatisticamente significativos a favor do grupo experimental
foram encontradas outras condutas eletrotermoterapêuticas. nas variáveis circunferência do tornozelo (p < 0,003), duração
Quanto à manutenção e ganho da mobilidade articular, da hospitalização (p < 0,005) e lesões na pele (p = 0,007). A
Chesworth et al. [37] encontraram 77% de contratura em disfunção venosa tem sido reportada como uma sequela da
flexão plantar imediatamente após a remoção do gesso após fratura do tornozelo [47]. Desde que Gardner e Fox [48] des-
fratura de tornozelo e Pun et al. [38] 22% após um ano de creveram o mecanismo fisiológico de bombeamento do sangue
retirada do gesso. A contratura não é causada diretamente pela venoso, dispositivos mecânicos têm sido desenvolvidos para
70 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

estimular diretamente esse bombeamento. Os dispositivos têm 14. Lehtonen H, Järninen TLN, Honkonen S, Nyman M, Vihto-
mostrado estimular o retorno venoso em membros inferiores nen K, Järninen M. Use of a cast compared with a functional
de forma mais eficaz que a caminhada. ankle brace after operative treatment of an ankle fracture.
A prospective, randomized study. J Bone Joint Surg Am
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Conclusão
15. Leung KS, Lee WS, Tsui HF, Liu PPL, Cheung WH. Complex
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As estratégias de intervenção após uma fratura de tornozelo pulsed ultrasound. Ultrasound Med Biol 2004;30:389-95.
podem ser categorizadas com relação a seu período de aplica- 16. Handolin L, Kiljunen V, Arnala I, Kiuru MJ, Pajarinen J, Partio
ção ou a seus objetivos em: tratamento durante o período de EK, Rokkanen P. No long-term effects of ultrasound therapy
imobilização, consolidação da fratura, manutenção e ganho on bioabsorbable screw-fixed lateral malleolar fracture. Scand
de mobilidade articular e controle do edema. Os resultados J Surg 2005;94:239-42.
apontam que em programas fisioterapêuticos para fratura de 17. Moseley AM, Herbert RD, Nightingale EJ, Taylor DA, Evans
tornozelo é importante abordar ultrassom pulsado para acele- TM, Robertson GJ, et al. Passive stretching does not enhance
outcomes in patients with plantarflexion contracture after cast
rar a consolidação da fratura; controle do edema com disposi-
immobilization for ankle fracture: a randomized controlled trial.
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72 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Revisão

Acidente vascular cerebral e sua correlação com escalas


de funcionalidade
Stroke and correlation with functionality scale
Fernanda Cechetti*, Priscila Stuani**, Renata Paniz**

*Docente pela UCS – Universidade de Caxias do Sul, Doutorado pela UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
**Acadêmicas da Faculdade de Fisioterapia da UCS

Resumo Palavras-chave: acidente vascular encefálico, escalas, avaliação,


funcionalidade.
Acidente Vascular Encefálico (AVE) é o aniquilamento do tecido
cerebral resultante da obstrução ou extrusão de vasos sanguíneos que
irrigam o encéfalo, resultando em déficits neurológicos e musculo-
esqueléticos. Uma boa avaliação funcional verifica o agravo clínico
Abstract
Stroke is the destruction of brain tissue that occurs as the result
e forma uma base de tratamento necessário, através de escalas ava-
of an obstruction or extrusion within a blood vessel supplying blood
liativas que mensuram o desempenho do indivíduo em certa tarefa.
to the brain, resulting in neurological and musculoskeletal deficits.
Objetivo: O objetivo principal deste estudo foi caracterizar diversas
A good functional evaluation verifies clinical worsening and esta-
escalas de funcionalidades utilizadas em pacientes pós-AVE, pon-
blishes the basis of treatment, using evaluative scales that measure
derando suas características e aplicabilidade. Material e métodos: As
the patient performance on one task. Aim: The main objective of
buscas foram realizadas nas bases de dados Lilacs, Medline, Pubmed
this study was to characterize different scales of features used for pa-
e Scielo, com os descritores: acidente vascular encefálico ou cerebral,
tients after stroke, considering their characteristics and applicability.
funcionalidade, nos anos de publicação de 2000 a 2012 com escalas
Methods: Searches were performed in Lilacs, Medline, Pubmed and
na íntegra. Resultados: As escalas encontradas foram divididas em
Scielo databases, with the following keywords: stroke, brain, and
cinco categorias: Membro superior: THMMS e WMFT; Atividade
functionality scales, published from 2000 to 2012 with full scale.
de vida diária: MIF, SIP 136, SAQOL-39, CIF e o Índice de Bar-
Results: The scales found were divided into five categories: upper limb
thel; Qualidade de vida: EQVE-AVE, WHOQOL, PSN e NIHSS;
(THMMS and WMFT scales); activity of daily life (MIF, SIP 136,
Postura: EAPA ECT e Equilíbrio: Equilíbrio de Berg e Avaliação
SAQOL-39, CIF and the Barthel Index); quality of life (EQVE-
de Desempenho de Fulg-Meyer. Conclusão: As pesquisas mostraram
-stroke, WHOQOL, PSN and NIHSS scales); posture (EAPA scale)
que existem na literatura diversas escalas avaliativas voltadas para
and balance (Berg Balance Scale and Performance Evaluation of
as principais funções do paciente e que os profissionais da área da
Fulg-Meyer). Conclusion: These studies have shown that there are
saúde possuem a sua disposição um amplo material para avaliar
various evaluative scales aiming to the main functions of patients
funcionalmente um paciente pós-AVE.
and that health professionals have at their disposal ample material
to evaluate patients functional outcome after stroke.
Key-words: stroke, scales, evaluation, functionality.

Recebido em 23 de março de 2012; aceito em 16 de dezembro de 2012.


Endereço para correspondência: Fernanda Cechetti, Rua Jerolomo Minuzzo, 566, 91750-830 Porto Alegre RS, E-mail: nandacechetti@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 73

Introdução função motora e mental, como a qualidade de vida dos


pacientes, permitindo analisar a progressão da doença e a
O acidente vascular encefálico (AVE) induz repercussões eficácia do tratamento [11]. As escalas podem ser consi-
no âmbito público da saúde, pois nos tempos atuais é a maior deradas tentativas de mensurar os níveis que uma pessoa
causa de mortalidade no Brasil e de inaptidão nos adultos desempenha determinada tarefa, em diferentes áreas, fazendo
[1]. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2003) [2] uso de distintas habilidades [10].
o AVE é causado pela cessação no suprimento sanguíneo ao Assim, partindo deste pressuposto, o objetivo principal
encéfalo e ocorre quando uma artéria que abastece o cére- deste estudo foi caracterizar diferentes escalas de funcio-
bro fica bloqueada ou rompe-se. Esta afecção neurológica é nalidades aplicadas aos pacientes pós-AVE, disponíveis na
qualificada em duas categorias: acidente vascular encefálico literatura científica, relatando suas principais características
isquêmico (AVEI) e acidente vascular encefálico hemorrágico e aplicabilidades.
(AVEH) [3].
A hemiplegia, conceituada como uma paralisia de um Material e métodos
lado do corpo, é a principal sequela neurológica instalada
[4], atrapalhando ou impossibilitando o uso funcional do O presente trabalho trata-se de um trabalho observa-
membro superior, o que pode afetar as atividades da vida cional do tipo bibliográfico, cuja metodologia apóia-se na
diária [5]. O membro superior afetado entra em “atitude leitura exploratória e seletiva de material referente a escalas
de flexão”, ao contrário do membro inferior que assume de funcionalidade para pacientes que apresentam AVE. Os
uma “atitude em extensão”, apresentando geralmente descritores para toda a pesquisa bibliográfica foram: acidente
hiperreflexia e clônus [6]. Somado a isto, ocorre perda vascular encefálico, acidente vascular cerebral, isquemia
de mobilidade no tronco e nos membros, movimentação cerebral, funcionalidade e escalas, em português, inglês e
atípica, movimentos compensatórios e gestos involuntários espanhol.
do lado afetado, o que leva a perda de independência nas O levantamento bibliográfico foi realizado na Biblioteca
atividades diárias [4]. Central (BICE) da Universidade de Caxias do Sul, através
Esta afecção é responsável pela diminuição da funciona- do banco de dados, Lilacs, Medline, Pubmed, Scielo. Os
lidade, podendo ocorrer novas recidivas que causam grandes critérios de inclusão utilizados para o desenvolvimento
riscos de mortalidade ou permanente dependência ou inca- deste trabalho foram: artigos que relataram escalas de
pacidade, sendo muito comum entre os pacientes acometidos funcionalidade aplicáveis aos pacientes com AVE, idiomas
[7]. O termo funcionalidade geralmente é usado no aspecto inglês, português e espanhol, anos de publicação de janeiro
positivo, informando as capacidades de realização de ativi- de 2000 a outubro de 2012 e artigos que apresentassem a
dades por um indivíduo, porém muitas vezes é ligado a um escala na íntegra.
aspecto negativo de incapacidade. Essa incapacidade é resul- Após a pesquisa, foram encontrados 52 artigos relacio-
tado da influência entre a disfunção presente no indivíduo, nados com o tema pesquisado, destes 38 foram excluídos da
limitação de atividades e restrições presentes no seu âmbito pesquisa por não se enquadrarem nos critérios de inclusão,
social, podendo o ambiente em que o paciente frequenta restando 15, os quais foram descritos ao longo deste trabalho.
ser um facilitador ou uma barreira para o desempenho de
atividades [8]. Resultados
A capacidade funcional destes indivíduos é avaliada
por instrumentos que medem elementos de assistência ao Das 15 escalas encontradas, estas foram divididas em cinco
indivíduo em aspectos quantitativos, assim ministrando categorias: específicas para membro superior (02), atividades
informações a respeito da qualidade ou a melhora da função da vida diária (05), qualidade de vida (04), postura (02) e por
do mesmo. As dificuldades apresentadas podem variar nas fim, escalas que abordam o equilíbrio (02).
atividades cotidianas, como na alimentação, higiene pessoal, Em relação à categoria membro superior foram encontra-
vestuário, deambulação, no deitar e levantar, necessitando das as seguintes escalas: Teste de Habilidade Motora de Mem-
assim da ajuda de terceiros para a efetivação das atividades bro Superior – THMMS [12] e Escala Wolf Motor Functional
da vida diária [9]. Test – WMFT [13], listadas na tabela abaixo (Tabela I) para
Estes instrumentos fazem parte de uma avaliação fun- melhor compreensão:
cional, buscando conferir em que nível o agravo de saúde No que diz respeito às atividades da vida diária as escalas
dificulta o desempenho autônomo das atividades da vida encontradas descrevem: Medida de Independência fun-
diária. A avaliação é essencial para gerar uma análise clíni- cional – MIF [9]; Escala Sickness Impact Profile – SIP 136
ca adequada para formar a base do tratamento e cuidados [14]; Escala SAQOL-39 [15]; Classificação Internacional de
necessários [10]. Para isto, existem diversas metodologias Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF [16] e o Índice
avaliativas, dentre elas as escalas de funcionalidade aparecem de Barthel [17], listadas na tabela abaixo (Tabela II) para
para analisar desde a condição clínica geral, inabilidades, melhor compreensão:
74 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Tabela I - Escalas referentes à avaliação do individuo com acidente vascular cerebral em relação ao membro superior.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Morlin et al. Teste de Habilidade Habilidade funcio- Resolução de 13 tarefas durante as Pontuada com escores de 0 a 5,
[12] Motora de Membro nal e qualidade do atividades da vida diária, como: cortar onde 5 é considerado normal e
Superior – THMMS movimento carne, comer sanduiche, beber em 0 é igual a movimento ineficaz.
caneca, pentear o cabelo, abrir a jarra,
dar nó em cadarço,...
Pereira et al. Wolf Motor Func- Qualidade do mo- Com 17 tarefas que envolvem o uso das É dado pela medida do tempo e
[13] tional Test – WMFT vimento do membro articulações do membro superior como: pela qualidade do movimento.
superior antebraço na mesa, mão na mesa e na
caixa, força de preensão,...

Tabela II - Escalas sobre as atividades da vida diária relacionadas à avaliação de pacientes acometidos pelo acidente vascular cerebral.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Benvegnu et Medida de Inde- Dependente ou Funções dentro dos cuidados pessoais, Escores de 1 a 7 e divisão de
al. [9] pendência funcio- independente locomoção, comunicação,... maneira aritmética.
nal – MIF
Bénaim et al. Sickness Impact Atividades cotidianas Contêm 136 questões agrupadas em O paciente responde “eu posso”
[14] Profile – SIP 136 12 como: fadiga/ sono, ocupações na ou “eu não posso”.
casa e jardim, andar,...
Hilari et al. SAQOL-39 Pacientes afásicos e São 39 questões como: fazer trabalhos Respostas: “não posso fazer” até
[15] a qualidade de vida domésticos, falar de forma clara no “realizo sem dificuldade”.
telefone,...
Andrade et A Classificação Padronizar a lingua- Promover ações de saúde em diferentes Escores de 0 (nenhuma dificul-
al.[16] Internacional de gem internacional. dimensões; abrangendo itens: aprendi- dade) a 4 (dificuldade completa)
Funcionalidade, zagem e aplicação do conhecimento,...
Incapacidade e
Saúde – CIF
Araujo et al. Índice de Barthel Independência do Abrange dez AVD como: comer, higiene Varia de 0 (dependência) a 100
[17] paciente pessoal, uso dos sanitários, vestir e (independência).
despir,

Tabela III - Escalas referentes à avaliação do acidente vascular encefálico quanto à qualidade de vida.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Lima et al. Escala de Qua- Qualidade de vida Contém 49 itens distribuídos em 12 Os escores podem ser de 5
[18] lidade de Vida do paciente domínios: energia, papel familiar, lin- a 1 e a soma final poderá ter
específica para o guagem, mobilidade, humor, personali- resultados entre 49 que é maior
AVE – EQVE-AVE dade, autocuidado do paciente,... dependência e 245 mostrando
independência
Fleck [19] World Health Or- Qualidade de vida e É formada por 100 perguntas em 6 Respostas através de escala do
ganization Quality sua saúde domínios: físico, psicológico, nível de tipo Likert.
of Life – WHOQOL independência, relações sociais, meio
ambiente e espiritualidade,...
Teixeira- Perfil de Saúde de Qualidade de vida O questionário é constituído por 38 Respostas “sim” ou “não”. Com
-Salmela [20] Nottingham – PSN em portadores de itens que englobam: dor, reações emo- valores de 1 ou 0, totalizando
hemiplegia cionais, sono, interação social,... uma pontuação máxima de 38
pontos.
Karlsson, et Escala National Recuperação motora Contém 15 itens para avaliação da O escore 0 é normal.
al. [21] Institutes of Health e independência consciência, linguagem, negligência
Stroke – NIHSS funcional. ataxia, disartria, perda sensitiva,...
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 75

Na categoria qualidade de vida encontramos a Escala de tingham (PSN)[20] e Escala de Equilíbrio de Berg[24] são
Qualidade de Vida específica para o AVE – EQVE-AVE [18]; utilizadas tanto para avaliação de idosos como para pacientes
Escala World Health Organization Quality of Life – WHO- que apresentam alguma hemiplegia ou disfunção motora. Ao
QOL [19]; Perfil de Saúde de Nottingham – PSN [20] e mesmo tempo, as outras escalas citadas neste estudo são de
Escala National Institutes of Health Stroke – NIHSS [21], lis- uso especificamente para pacientes após AVE: Avaliação de
tadas na tabela abaixo (Tabela III) para melhor compreensão: desempenho de Fulg Meyer [25], Escala de Avaliação Postural
No que se refere à avaliação postural foi encontrada a para pacientes após Acidente Vascular Encefálico (EAPA) [22],
Escala de avaliação Postural para pacientes após acidente National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) [21], Escala
vascular encefálico – EAPA [22], e escala de Comprometi- de Qualidade de Vida Específica para o AVE (EQVE- AVE)
mento de Tronco (ECT) [23] listada na tabela IV para melhor [18], Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapa-
compreensão. cidade e Saúde (CIF) [16] e Teste de Habilidade motora de
No quesito equilíbrio, foram encontradas a Escala de Membro Superior (THMMS) [12].
Equilíbrio de Berg [24] e a Avaliação de Desempenho de No dia a dia as atividades realizadas pelos seres humanos
Fulg-Meyer [25], que estão listadas na tabela V para melhor envolvem movimentos complexos dos membros superiores,
compreensão. seja ao apanhar e soltar objetos, de diferentes formas, texturas,
pesos ou tamanhos, ao levá-lo até determinado local. Após
Discussão o acidente encefálico os pacientes podem apresentar apenas
uma leve dificuldade ao realizarem atividades motoras, po-
Os resultados obtidos no presente estudo demonstram rém esta dificuldade pode ser resolvida ao encontrar de fato
uma ampla variedade de escalas referentes à avaliação da fun- o real comprometimento muscular, sendo pela contração
cionalidade em âmbito geral. Ao ser classificado em diferentes ineficiente [26]. As escalas Teste de Habilidade Motora do
categorias, o estudo foi guiado com o âmbito de caracterizar Membro Superior (THMMS) e a Wolf Motor Functional
todas as escalas encontradas. Dentre as categorias traçadas, Test abrangem a habilidade motora do membro superior,
estão escalas sobre o membro superior, atividades da vida avaliando os movimentos do ombro até os dedos; as mesmas
diária, qualidade de vida, postura e equilíbrio. corroboram que quanto maior o escore encontrado, mais
Após uma primeira análise dos dados, cabe ressaltar que harmônico será o movimento e, o pior escore indica o déficit
algumas das escalas utilizadas não se restringem somente ao motor do membro [12,13]. As escalas foram desenvolvidas
paciente após-AVE. Por exemplo, as escalas Wolf Motor Func- com objetivos diferentes, na escala THMMS há a caracteri-
tion Test (WMFT) [13], Medida de Independência Funcional zação de aspectos quantitativos e qualitativos nas atividades
(MIF) [9], Sickness Impact Profile (SIP 136) [14], SAQOL da vida diária, abrangendo o membro superior de pacientes
139 [15], Índice de Barthel [17], World Heal Organization após AVE, testando habilidade motora do membro superior
Quality of Life (WHOQOL) [19], Perfil de Saúde de Not- deste indivíduo [12]. Já a WMFT inicialmente verificava os

Tabela IV - Escala sobre a relação do acidente vascular encefálico e a avaliação postural.


Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Yoneyama, et Escala de avalia- Posturas fundamen- Apresenta 12 itens divididos em subes- A pontuação mínima é zero (pior
al. [22] ção Postural para tais no paciente pós calas como: posturas deitada, sentada, desempenho), e a máxima é de
pacientes após AVE (decúbito, se- mudança de postura e a ortostase. 36 (melhor função).
acidente vascular destação e ortostase)
encefálico – EAPA
Lima et al. Escala de Com- Avaliação do tronco Apresenta os principais itens: verticaliza- O escore para cada item varia de
[23] prometimento de do paciente pós AVE ção, força, troca de decúbitos, reflexos 0 a 3 e o melhor resultado corres-
Tronco - ECT de forma quantitativa de endireitamento, força abdominal, ponde à pontuação total de 21

Tabela V - Escalas referentes à categoria equilíbrio aplicadas ao paciente pós acidente vascular encefálico.
Autor Nome Objetivo Descrição Avaliação
Silva et al. Escala de equilíbrio Equilíbrio em indi- 14 itens comuns do dia a dia como: po- Pontuação máxima de 56. Cada
[24] de Berg víduos acima de 60 sição sentada para em pé, permanecer item com um escore de 0 a 4
anos. em pé sem apoio, transferências,... pontos, quanto mais pontos
melhor o equilíbrio.
Cacho et al. Avaliação de Forma padronizada Avalia cinco dimensões do comprometi- Com uma pontuação ordinal de
[25] Desempenho de e objetiva da reabi- mento como: controle motor, amplitude de 3 em cada item.
Fulg-Meyer litação do paciente movimento articular, dor, sensibilidade da
hemiplégico. extremidade superior e inferior, e equilíbrio.
76 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

efeitos da terapia de contensão induzida em pacientes que Em relação à avaliação postural que é de suma importân-
apresentavam hemiparesia, sofrendo modificações; atualmen- cia, esta não pode ser esquecida pelos profissionais da área da
te, é considerada uma escala de grande aplicabilidade, testando saúde ao lidarem com um paciente hemiparético. Na literatu-
a realização de tarefas de forma organizada, de proximal para ra, geralmente as avaliações são voltadas para o desempenho
distal, e das habilidades amplas para as finais [13]. dos membros após-AVE; poucos estudos concentram-se no
Em relação à categoria atividades da vida diária, as sequelas comprometimento postural e de tronco [22]. A Escala de
do AVE geram dificuldades para realizá-las, podendo com- Avaliação Postural para pacientes após Acidente Vascular
prometer sua independência funcional como alimentar-se, Encefálico (EAPA) avalia as três posturas fundamentais: decú-
banhar-se, vestir-se, deambular, na higiene pessoal entre outras bito, sedestação e ortostase, mantendo a postura e realizando
[16]. Quanto às escalas descritas, as mesmas avaliam a capa- a mudança da mesma. Se o paciente atingir uma nota alta
cidade funcional do paciente e fornecem informações sobre a significa que o mesmo apresenta uma boa função motora, já
qualidade e a melhora ou não do indivíduo. Das cinco escalas ao contrário o mesmo será classificado como um portador de
encontradas, a Classificação Internacional de Funcionalidade, deficiência no controle postural. Esta escala é considerada uma
Incapacidade e Saúde (CIF) [16] refere-se ao AVE pediátrico derivação do Protocolo de Fulg Meyer, mas se diferencia por
e as demais, Índice de Barthel [17], SAQOL-39 [15], Sickness não ter itens de reação de proteção [22]. Diferente da Escala
Impact Profile (SIP 136) [14] e Medida de Independência de Comprometimento de Tronco que os principais itens de
Funcional (MIF) [9] são aplicadas em adultos. avaliação são as reações de proteção e endireitamento [23].
Dessas escalas, a CIF classifica maior dependência do Lima et al. [23] enfatizam que o controle de tronco é uma
paciente quando este consegue um maior escore, [16] já os habilidade motora básica indispensável a execução de muitas
outros autores desta categoria classificam o paciente como de- tarefas funcionais, função esta que encontra-se deficitária em
pendente quando o resultado do escore for mais aproximado pacientes após lesão cerebral. Os mesmos autores relatam a
ao escore mínimo do teste [9,14,15,17]. A MIF mede a real escassez de informações na literatura nacional e internacional
capacidade do indivíduo na realização das atividades, tendo de escalas que avaliam quantitativamente o comprometimen-
sua aplicabilidade mais voltada à avaliação de três domínios: to de tronco destes pacientes; algo que não condiz com sua
mobilidade, cognição e atividades diárias [9]; já o Índice de importância funcional.
Barthel se destaca por sua fidelidade quando aplicado em Existem também instrumentos que avaliam o equilíbrio
pacientes com AVE, conseguindo avaliar o nível de inde- que é um processo difícil, dependente da união da visão, sen-
pendência deste paciente [17]. A SAQOL-39 é a adaptação sação vestibular, dos comandos centrais e da ação neuromus-
do SS-QOL com aplicação para a inclusão de pessoas com cular. Para melhorar o equilíbrio o paciente deve restabelecer
dificuldade na fala, compreensão, dificuldade com a resolução seu centro de massa corporal dentro dos limites da estabilidade
de decisões, e o impacto de problemas de linguagem sobre a [24]. Sendo assim descrevemos as escalas de equilíbrio de Berg
vida familiar e social [15]. Com o mesmo propósito a SIP-136 e a avaliação de desempenho de Fulg Meyer que avaliam o
é aplicada a pessoas com afasia e testa qualidade de vida em comprometimento do desempenho motor de indivíduos pós
pessoas de 20 a 80 anos com déficits de AVE, capaz de com- AVE [24,25]. A avaliação é baseada em itens comuns do dia
preender as questões para a realização do questionário [14]. a dia que requerem força, equilíbrio dinâmico e flexibilidade,
Ligada diretamente com as atividades da vida diária, a quantificando o desempenho motor do indivíduo. A escala de
mensuração da qualidade de vida relaciona-se com o bem equilíbrio de Berg refere-se à avaliação de indivíduos acima
estar físico e mental do paciente. Nesta categoria, as escalas: de 60 anos com maior propensão a quedas também podendo
EQVE-AVE [18], WHOQOL [19], Perfil de Saúde de Not- ser utilizado como um teste de equilíbrio comum, com sua
tingham (PSN) [20] e National Institutes of Health Stroke aplicação principalmente no equilíbrio estático e dinâmico
Scale (NIHSS) [21] abordam este assunto, cujos questioná- do sujeito; já a escala de Fulg Meyer especificamente tem por
rios possuem aplicabilidade sobre a capacidade de realizar objetivo verificar indivíduos com sequelas de AVE, sendo
o autocuidado, o papel social, o humor, a religiosidade e a descrita como a primeira escala avaliativa da recuperação desta
interação com o meio ambiente, mensurando também a maior patologia, e a mais conhecida e usada na pesquisa e na prática.
qualidade de vida ao atingir escores mais elevados. O PSN
foi desenvolvido com intuito de avaliar a qualidade de vida Conclusão
em pacientes portadores de doenças crônicas, e os itens do
questionário estão baseados na classificação de incapacidade, Através da busca de escalas aplicadas aos pacientes pós-
delineada pela OMS [20]. A WHOQOL enquadra como -AVE, foi encontrado na literatura um vasto acervo de artigos
qualidade de vida a realização de domínios físicos, psicoló- voltados a este assunto, não abrangendo somente um público
gicos, independência, relações sociais, interação com o meio específico, mas também outras populações que manifestam
ambiente e as crenças individuais, avaliando a qualidade de sinais e sintomas semelhantes ao paciente pós-AVE.
vida dentro de uma visão internacional diferenciando os A escolha da utilização de um instrumento deve ser cri-
pacientes nos seus diferentes países e culturas [19]. teriosa, a fim de achar a melhor conduta de avaliação para
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 77

posterior tratamento do indivíduo afetado, já que a literatura 14. Bénaim C, Pélissier J, Petiot S, Bareil M, Ferrat E, Royer E,
nos propicia a isto. O uso de avaliações relacionadas aos indi- Milhau D, Hérisson C. Un outil francophone de mesure de la
víduos com sequelas desta afecção forneceria um perfil integral qualité de vie de l’aphasique : le SIP-65. Annales de Réadaptation
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vida, podendo guiar o processo de reabilitação aos objetivos
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Avila SN. Avaliação da medida de independência funcional de 24. Silva A, Gustavo JM, Cassilhas RC, Cohen M, Peccin MS, et
indivíduos com sequelas de acidente vascular encefálico (AVE). al. Equilíbrio, coordenação e agilidade de idosos submetidos à
Rev Ciênc Saúde 2008;1(2):71-7. prática de exercícios físicos resistidos. Rev Bras Med Esporte
10. Duarte YAO, Andrade CL, Lebrao ML. O Índex de Katz na 2008;14(2)88-93.
avaliação da funcionalidade dos idosos. Rev Esc Enferm USP 25. Cacho EWA, Melo FRLV, Oliveira R. Avaliação da recupe-
2006;41(2):317-25. ração motora de pacientes hemiplégicos através do protocolo
11. Goulart F, Pereira LX. Uso de escalas para avaliação da doença de desempenho físico Fugl-Meyer. Revista Neurociência
de Parkinson em fisioterapia. Fisiot Pesq 2006;11(2):49-56. 2004;12(2):94-102.
12. Morlin ACG, Delattre AM, Cacho EWA, Oberg TD, Oliveira R. 26. Fuzaro AC, Fuzaro AC, Guerreiro CT, Galetti FC, Jucá RB,
Concordância e tradução para o português do teste de habilidade Araújo JE. Modified constraint-induced movement therapy
motora do membro superior - THMMS. Revista Neurociências and modified forced-use therapy for stroke patients are both
2006;14(2):6-9. effective to promote balance and gait improvements. Rev Bras
13. Pereira ND, Michaelsen SM, Menezes IS, Ovando AC, Lima Fisioter 2012;16(2):157-65.
RCM, Teixeira-Salmela LF. Confiabilidade da versão brasileira
do Wolf Motor Function Test em adultos com hemiparesia. Rev
Bras Fisioter 2011;15(3):257-65.
78 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil


Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão,
Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX conclusão e referências.
Abreviação para citação: Fisioter Bras Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes- figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Literatura citada: Máximo de 50 referências.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser pub-
4. Relato de caso
licados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros
São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au-
terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos
torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com
não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas.
estas condições.
Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform re-
caso, Discussão, Conclusões e Referências.
quirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado
Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em in-
Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
glês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em 5. Opinião
inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos au-
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dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos
serão submetidas à revisão por pares anônimos. editores quanto à pertinência do tema abordado.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um
em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Co- resumo destacado.
mitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços.
(observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Literatura citada: Máximo de 20 referências.
Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente regis-
trada no Conselho Nacional de Saúde. 6. Cartas
Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada
1. Editorial aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista.
O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acon- Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de
tecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos impor- artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de
tantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se
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de atualidade. publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência
do tema abordado.
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originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto
estudos com animais ou humanos. (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times
Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, negrito, itálico, sobrescrito, etc.
Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com
Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das algarismos arábicos.
figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilust-
deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New rações e do corpo do texto.
Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como ne- • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com res-
grito, itálico, sobre-escrito, etc. olução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digi-
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel talizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excep-
ou Word. cionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução (histologia, neuroimagem, etc).
de 300 dpi.
Literatura citada: Máximo de 50 referências. Página de apresentação
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3. Revisão • Título do trabalho em português e inglês;
São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento • Nome completo dos autores e titulação principal;
em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem ne- • Local de trabalho dos autores;
cessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já pub- • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail;
licados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáti-
cas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da Resumo e palavras-chave
metodologia empregada. A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá con-
Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem neces- ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode
sariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia,
da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, resultados e conclusão.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 79

Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Agradecimentos • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
Referências • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na • Telefones de contato do autor correspondente.
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
antes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
e-mail com o envio do artigo). cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor ex- para sua adequada formatação.
ecutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Atlantica Editora - artigos@atlanticaeditora.com.br
80 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Agenda
2013
Março 29 e 30 de abril
Fórum Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto-
7 a 9 de março Sensu em Fisioterapia
VII Encontro Internacional Fisioterapia Dermato Rio de Janeiro RJ
Funcional Informações: abrapg-ft.org.br
Hotel Mércure BH Lourdes, Belo Horizonte MG
Informações: www.dermatofuncional2013.com.br/ Maio

Abril 15 a 18 de maio
IV CIRNE - Congresso Internacional de Reabilitação
3 de abril Neuromusculoesquelética e Esportiva
30º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado Rio de Janeiro
do Rio de Janeiro. Informações: www.cirne2013.com.br/
Jornada Socerj de Fisioterapia em Cardiologia
Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro RJ Outubro
Informações: 30congresso.socerj.org.br
13 a 16 de outubro
18 a 21 de abril Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
Reatech – XII Feira Internacional de tecnologias em Florianópolis SC
Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade Informações: http://cbto2013.com.br
Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo SP
Informações: www.reatech.tmp.br 16 a 19 de outubro
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Fortaleza CE
Informações: www.jzkenes.cpm
90 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 2 março/abril 2013 - 81~160)

EDITORIAL
Carioca não gosta de sinal fechado, Marco Antonio Guimarães da Silva...................................................................................... 92

ARTIGOS ORIGINAIS
As novas demandas da atenção à saúde: estamos preparados para mudanças na formação
profissional? Lina Faria, Elirez Silva............................................................................................................................................... 93
Bem estar: a visão feminina sobre o fibro edema gelóide, Josenilda Malveira Cavalcanti,
Denilson de Queiroz Cerdeira, Thaís Teles Veras Nunes, Samile Ferreira Costa............................................................................ 100
Assistência fisioterapêutica em recém-nascidos prematuros internados em UTI neonatal
pública, Flavya Kassia Smider Pedro, Cássia Valeska Torati, Raquel de Matos Lopes Gentilli,
Luciana Carrupt Machado Sogame.............................................................................................................................................. 106
Relação da qualidade de vida com fatores clínicos, sociodemográficos e familiares de sujeitos
pós-acidente vascular encefálico, Nadiesca Taisa Filippin, Larissa Gasparini da Rocha,
Livia Rossato Dias, Caren Schlottfeldt Fleck................................................................................................................................ 113
Sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior em gestantes de um município
do interior do estado de São Paulo, Ana Carolina Sartorato Beleza, Mariana Chaves Aveiro,
Maria Elis Sylvestre Silva.............................................................................................................................................................. 119
Cuidadores de instituições de longa permanência para idosos: dor, ansiedade e depressão,
Renata Antunes Lopes, Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho,
Natália Corradi Drumond Mitre.................................................................................................................................................. 124
Fortalecimento isotônico concêntrico e excêntrico no músculo supra-espinhal: ensaio clínico
randomizado, Marlon Francys Vidmar, Luiz Fernando Bortoluzzi de Oliveira,
César Antônio de Quadros Martins, Marcelo Faria Silva, Gilnei Lopes Pimentel,
Carlos Rafael de Almeida............................................................................................................................................................. 129
Exame quali-quantitativo da marcha de pacientes paralisados cerebrais diplégicos espásticos,
Igor Carvalho, Jomilto Praxedes, Gustavo Leporace, Fabrício Cardoso, Heron Beresford,
Luiz Alberto Batista...................................................................................................................................................................... 135
Ângulo quadricipital e postura do retropé em membros inferiores com síndrome
da dor patelofemoral, Dálleth Quitéria de Moura, Danilo Machado de Matos,
Luiz Antônio Mendes, Katy Andrade Monteiro Zacaron.............................................................................................................. 142
Avaliação da mobilidade funcional em pacientes hemiparéticos por acidente vascular cerebral,
Alessandra Caroline Baumer, Bianca Gorri Pareja Evangelista, Elaine Cristine Budal Arins de Lima,
Carla Heloisa Moro, Noe Gomes Borges Junior, Antonio Vinicius Soares, .................................................................................. 148
Critérios de escolha do consumidor: um estudo dos valores buscados na fisioterapia
dermatofuncional, Ludmila Bonelli Cruz, Luiz Antônio Antunes Teixeira,
Jersone Tasso Moreira Silva........................................................................................................................................................... 154

EVENTOS.................................................................................................................................................................................. 160
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
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92 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Editorial

Carioca não gosta de sinal fechado

Marco Antonio Guimarães da Silva

Há poucos dias encontrei no Jardim Botânico, bairro da totalmente triturado por um ônibus que avançou o sinal, foi
zona sul do Rio de Janeiro,um amigo que não via há quase dado como “perda total pelo seguro”. Até hoje não sei como
quinze anos. Seus negócios, primeiro na Europa e depois nos escapei ileso. Vieram também à tona alguns acidentes mais
Estados Unidos, provocaram um verdadeiro desarranjo nos recentes, um com o ônibus que tombou em um viaduto na
nossos eventuais encontros aqui no Rio e jogaram para o ar avenida Brasil, fazendo 7 vítimas mortais e outras tantas
os bate-papos que tínhamos. feridas, por causa de uma briga entre motorista e passageiro.
Embora ambos estivéssemos com pressa, paramos para nos Pelo que foi noticiado, o passageiro, um jovem estudante de
cumprimentar e marcar um novo dia para conversarmos com engenharia, teria desacordado o motorista com um chute no
mais calma. Pelo menos era essa a nossa intenção. Estávamos rosto. O motorista, por sua vez, com recorde de infrações no
na rua Jardim Botânico, principal artéria daquele bairro, trânsito, recusou-se a parar em um ponto, o que teria gerado
que escoa a maioria dos ônibus e automóveis que vêm e vão toda a confusão. Li também na imprensa que outro ônibus,
para a Barra da Tijuca e outros bairros da zona oeste. Por em alta velocidade, invadiu um posto de gasolina, matando
um momento interrompemos os cumprimentos para notar e provocando amputação bilateral de pernas em uma mulher
a desembalada carreira dos ônibus, que, como verdadeiros de trinta e poucos anos.
bólidos desenfreados, passavam diante de nós. O episódio Inevitavelmente avançamos para as comparações. As re-
despertou a ira do meu amigo, e o que deveria ser uma rápida ferências paradigmáticas de nossa conversa, que nos serviram
conversa tornou-se um longo e verdadeiro atode indignação para essas comparações, foram as cidades na Europa onde cos-
pelo que víamos. A partir daí, passamos a analisar a conduta tumamos passar uma longa temporada todos os anos. Não são
dos cariocas, como condutores e conduzidos, os quais, de um um paraíso, têm lá seus problemas, mas nada que se compare
modo ou de outro, somos todos nós.“É, meu amigo, carioca à violência da nossa urbe, manifestada não só nesses exemplos
não gosta de sinal fechado.” “E não se esqueça que também que acabei de dar, como também demonstradas em outras
são sacanas”, disse-me ele. É pena que a musicalidade e poesia inúmeras situações. Lá no outro continente, diferentemente
da música cantada por Adriana Calcanhoto tenha nos servido daqui, os problemas estão minimamente controlados. Temos
de âncora para uma nada simpática avaliação do caráter que a real percepção de que ao sairmos de casa, salvo raríssimas
começamos a traçar do cidadão que vive nessa cidade, que exceções, voltaremos vivos e sem nenhuma amputação de
um dia já foi maravilhosa. Deixando de lado o lado meta- membro. Aqui, essa percepção transfigura-se em uma ilusão,
fórico da letra da música (se é que ele existe), fixei-me na a ilusão de acharmos que nada nos acontecerá, que estamos
sua literalidade para me lembrar de um acidente do qual fui blindados aos “cariocas que não gostam de sinal fechado”;
vítima em Ipanema, no ano de 1972: meu carro, um fuscão, “aos cariocas que são sacanas.”

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 93

Artigo original

As novas demandas da atenção à saúde: estamos


preparados para mudanças na formação profissional?
The new demands of health care: are we ready to face
the changes in professional education?
Lina Faria, D.Sc.*, Elirez Silva, D.Sc.**

*Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus GV, Minas Gerais, **Coordenador do
Curso de Fisioterapia da Universidade Gama Filho (UGF), Rio de Janeiro RJ

Resumo Abstract
Introdução: Em função de uma trajetória profissional curativa Introduction: Due to a professional training that emphasizes
e reabilitadora, os fisioterapeutas encontram-se frente ao desafio da a curative and rehabilitation model, physical therapists face the
adaptação de sua formação curricular para atender às novas deman- challenge of adopting a different common core curriculum that
das da saúde pública brasileira. Objetivo: Verificar a necessidade de addresses the new demands of Brazilian public health. Objective: To
adequação das grades curriculares dos cursos de fisioterapia aos pro- verify the needs to adapt the cross-curricular teaching in the field
pósitos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) na formação to the national guidelines, in search of training professionals with
de profissionais fisioterapeutas com perfil humanista e generalista. a humanist and generalist profile. Methods: Thirty-three curricular
Material e métodos: Foram analisadas 33 grades curriculares de cur- fields in physical therapy courses, all officially recognized by the
sos de fisioterapia, reconhecidos pelo MEC, nas cidades do Rio de Brazilian Ministry of Education, were examined in the cities of
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, para verificar se os conteúdos Rio de Janeiro, São Paulo and Belo Horizonte, to verify if their
programáticos atendem às mudanças preconizadas. Resultados: programmatic content met the anticipated changes in curriculum
Em treze cursos o modelo de ensino ainda é o tradicional, tendo development. Results: Thirteen courses still followed a traditional
como referência o “saber técnico”. Nove cursos buscam se adaptar pedagogical model, based on, or prioritizing, “technical” knowledge.
às propostas das Diretrizes. Onze integram disciplinas e estágios Nine courses sought to conform to the new proposals and guideli-
supervisionados que atendem às mudanças. Conclusão: Os projetos nes. Eleven other courses fully attended to such proposals through
pedagógicos revelam a necessidade de mudanças na educação, de the integration of courses and supervised training. Conclusion: The
modo que o processo de formação se paute por uma atuação com pedagogical projects indicate the need for educational changes, so
foco na prevenção e promoção da saúde. that the process of education may reach the objectives of health
Palavras-chave: atenção primária à saude, educação em saúde, promotion and health education.
prática profissional, classificação internacional de funcionalidade, Key-words: primary health care, health education, professional
incapacidade e saúde. practice, international classification of functioning, disability and
health.

Recebido em 14 de fevereiro de 2012; aceito em 13 de março de 2013.


Endereço para correspondência: Lina Faria, Av. Dr. Raimundo Monteiros de Rezende, 330 Centro 35010-177 Governador Valadares MG, E-mails:
lina.faria@ufjf.edu.br; coord.fisioterapia.gv@ufjf.edu.br.
94 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Introdução a melhoria das condições de vida do paciente, objetivando


a funcionalidade e, consequentemente, a integração social
Em função de uma trajetória profissional curativa e rea- do indivíduo. O fisioterapeuta é chamado a repensar o seu
bilitadora, os fisioterapeutas encontram-se frente ao desafio papel e a sua atuação prática assistencial segundo novas bases
da adaptação de sua formação prática para atender às novas e critérios e, assim, participar deste modelo assistencial, que
demandas da saúde pública brasileira, que tem como base tem como fundamento a atenção primária à saúde.
a atenção primária. Esta nova perspectiva exige como com- As possibilidades de intervenção do fisioterapeuta, junto
petência dos profissionais uma abordagem de promoção à ao paciente, não se restringem apenas à reabilitação de or-
saúde voltada para as necessidades concretas da população ganismos lesionados. O modelo curativo e reabilitador que
e para a “redução de danos ou de sofrimentos que possam por várias décadas orientou a atuação profissional [8] vem
comprometer suas possibilidades de viver de modo saudá- sendo reavaliado. Atualmente, a prevenção de problemas e
vel” [1]. A Constituição de 1988, que introduziu mudanças a promoção da saúde passaram a fazer parte do campo de
substantivas no modo de operação do sistema de saúde, foi atuação do fisioterapeuta. Esta concepção supera a antiga
um passo importante nesta direção, pois garante a todos os proposição de caráter exclusivamente centrado na doença ou
cidadãos direito e acesso à saúde. Busca-se a partir de então na incapacidade. De acordo com Véras, o fisioterapeuta deve
uma assistência mais humanizada e integral, voltada espe- ser capacitado para atuar tanto na recuperação quanto na
cialmente para a atenção básica e para o trabalho das equipes atenção primária. Assim será visto, segundo a autora, “como
multiprofissionais [1,2]. profissional de saúde de forma mais global” [9].
Ao entender que a fisioterapia é uma ciência que busca Para Maranhão [10], é fundamental inserir na formação
técnicas e intervenções terapêuticas capazes de promover profissional o modelo de promoção da saúde estabelecido para
a recuperação da funcionalidade, a prevenção de sequelas, o país, com base na atenção primária e no trabalho em equi-
a qualidade de vida e a integração social do paciente, o pe. É importante enfatizar o desenvolvimento de qualidades
profissional fisioterapeuta também participa do processo de humanistas, criando condições para o trabalho conjunto entre
transformação por que passa a área da saúde no Brasil. Um os profissionais da área de saúde.
profissional com formação generalista, humanista e crítica, Almeida e Mishima [11] ponderam que a formação dos
que detém visão ampla e global: este é o perfil definido pelas profissionais de saúde, de modo geral, não os capacita para
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em um trabalho em equipe, uma vez que cada profissão utiliza
Fisioterapia (DCN/FISIO) aprovada em 2002 [3]. uma linguagem e termos técnicos específicos de sua área de
A partir da aprovação das Diretrizes, um número ex- atuação, o que dificulta o diálogo entre os profissionais. Em
pressivo de cursos de graduação foi criado em todo o país, função disto, a atuação fragmentada e centrada no modelo
especialmente em instituições privadas. Com as mudanças biomédico tradicional ainda predomina nos serviços de saúde.
na área da saúde, atualizações nos projetos pedagógicos e na Segundo Morin [12], o homem é a combinação de vários
prática profissional do fisioterapeuta fizeram-se necessárias; fatores: físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico.
no entanto, não repercutiram de forma impactante na prática No entanto, se apresenta na educação de forma desintegrada
cotidiana dos serviços prestados e na graduação dos profis- por meio das disciplinas e conteúdos dicotomizados. O que
sionais de saúde [4,5]. Não resultou também em ampliação se busca é uma formação mais contextualizada, que leve em
da assistência ou maior acesso da população aos cuidados da conta as dimensões sociais, econômicas e culturais da popu-
fisioterapia. lação, instrumentalizando o profissional para enfrentar os
Aliado a este aumento no número de cursos, outro fator problemas do processo saúde/doença.
preocupante a ser considerado neste cenário é a valorização A participação do fisioterapeuta em ações básicas em
tecnicista que os projetos pedagógicos ainda impõem aos saúde, seja no nível primário, secundário ou terciário, é con-
alunos de fisioterapia. As mudanças requerem das instituições dição para a concretização de uma assistência fisioterapêutica
de ensino superior, dos coordenadores dos cursos e do corpo voltada para a capacidade funcional e a integração social do
docente a construção coletiva dos projetos pedagógicos, a paciente. O ideal de serviço deve estar centrado na qualida-
coerência dos currículos face às Diretrizes e, em especial, de da assistência prestada. Portanto, cuidar significa olhar o
metodologias de ensino que permitam a interdisciplinaridade. paciente como um todo, considerando o contexto biológico,
Alguns estudos têm chamado a atenção para a baixa aderência psíquico e social, nos moldes da proposta biopsicossocial da
dos projetos pedagógicos aos princípios das Diretrizes [6]. Organização Mundial de Saúde (OMS). O que se impõe é
Um dos fatores indicativos desta dificuldade seria a ausência uma nova lógica de organização dos serviços de saúde e uma
de responsabilidade social de muitas instituições de ensino redefinição da atuação dos profissionais [13,14].
superior [7]. Neste sentido, os projetos pedagógicos devem seguir as
É importante frisar que o fisioterapeuta se depara com recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais que esta-
situações e condições patológicas que o levam a refletir e atuar belecem as competências e habilidades gerais e específicas que
de forma sistematizada, humanista e em equipe, buscando cada curso deve desenvolver durante o processo de formação
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 95

dos acadêmicos. As propostas de mudança na formação dos siderou: o tempo de integralização; a adequação da carga
profissionais de saúde, apoiadas pelo Ministério da Saúde, horária; as grades curriculares; as disciplinas que as integram
sugerem que o profissional leve em conta a realidade social e seu ordenamento.
para prestar atenção humana e de qualidade, transformando Elegemos as seguintes disciplinas que buscam uma forma-
o modelo de assistência, fortalecendo a promoção e a pre- ção e atuação profissional que atendam ao sistema de saúde
venção [3]. vigente no país e que enfatizam, no nível primário de atenção
Dois passos são importantes nesta direção: em primeiro à saúde, processos de ensino-aprendizagem direcionados para
lugar, mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos [1,18]:
fisioterapia para que correspondam adequadamente aos Introdução à Saúde Coletiva; Fisioterapia Preventiva; Fisio-
propósitos das Diretrizes Curriculares Nacionais, que pro- terapia Aplicada à Atenção Básica à Saúde; Fisioterapia na
jetam profissionais aptos a desenvolver ações de prevenção, Saúde da Família; Promoção e Prevenção da Saúde do Idoso;
promoção e recuperação da saúde, tanto em nível individual Prevenção e Promoção da Saúde da Criança, Prevenção e Pro-
quanto coletivo. Um segundo passo diz respeito à aplicação moção na Saúde da Mulher, Fisioterapia em Saúde Pública,
de parâmetros de atuação que possibilite melhor compreensão Educação e Promoção da Saúde; Inclusão Social; Políticas
do processo de reabilitação. Públicas e Inclusão Social, Epidemiologia e Saúde Pública,
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapaci- Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência.
dade e Saúde (CIF), nomenclatura proposta pela Organização O estágio faz parte dos projetos pedagógicos dos cursos
Mundial da Saúde, em 2001 [15,16], embora pouco divulga- de graduação e deve envolver troca de informações entre os
da, discutida e aplicada na prática clínica do fisioterapeuta, profissionais. É um período de prática para efeito de aprendi-
se constitui em ferramenta de mudança para a intervenção zagem e aprimoramento profissional, objetivando o desenvol-
profissional. A adoção deste parâmetro possibilitaria ao fisio- vimento do aluno para a vida cidadã e profissional [19]. Neste
terapeuta, em seus procedimentos, identificar as capacidades sentido, foram selecionados estágios supervisionados em áreas
e as limitações específicas para cada indivíduo e planejar um consideradas estratégicas pelo Ministério da Saúde para atua-
programa de recuperação, prevenção e promoção centrado na ção das equipes multiprofissionais na atenção primária à saúde
capacidade funcional do paciente e não somente na patologia. [1]: Estágio Supervisionado em Atenção Básica; Estágio de
A CIF visa à formulação de uma linguagem uniforme Fisioterapia em Saúde Comunitária e Atenção Básica; Estágio
para as categorias da saúde, para facilitar a comunicação entre Supervisionado Profissionalizante em Fisioterapia Aplicada à
os vários profissionais e superar as dificuldades de diálogo já Saúde da Comunidade e do Trabalhador; além de Vivência
sublinhadas [17]. A utilização deste parâmetro pode ser um Profissional em Saúde Coletiva e Práticas Investigativas em
caminho para suscitar discussões e estudos sobre os temas Saúde da Família.
da funcionalidade, da atuação fragmentada da equipe e da O Estágio Supervisionado em paciente crítico em am-
inclusão e/ou participação social do paciente. biente domiciliar, também é importante para a formação
Neste sentido, o objetivo deste estudo de revisão é verificar generalista que se espera hoje do profissional de saúde. O
a necessidade de adequação das grades curriculares dos cur- atendimento domiciliar multiprofissional compreende uma
sos de fisioterapia aos propósitos das Diretrizes Curriculares das várias atividades da atenção em saúde e deve ser estru-
Nacionais na formação de profissionais fisioterapeutas com turado levando-se em consideração as condições clínicas do
perfil humanista e generalista. paciente, o grau de dependência para as atividades funcionais,
as condições sociais e econômicas. Freitas [5] aponta que o
Material e métodos atendimento domiciliar está relacionado “ao maior apelo para
a justificativa da atuação” do fisioterapeuta. Está em jogo a
Foram selecionados e analisados 33 cursos de fisioterapia, busca de um maior contato com os pacientes e o estabeleci-
reconhecidos pelo MEC, nas cidades do Rio de Janeiro, São mento de vínculos que permitam conhecer suas realidades.
Paulo e Belo Horizonte, via Internet, o que representa 66% De acordo com o Ministério da Saúde, a assistência domiciliar
do total de cursos (50) nestas cidades. deve “responder às necessidades de assistência de pessoas que,
Existem na cidade do Rio de Janeiro 16 instituições reco- de forma temporária ou permanente, estão incapacitadas para
nhecidas pelo MEC que oferecem cursos de fisioterapia. Na deslocarem-se aos serviços de saúde. Em seu desenvolvimento
cidade de São Paulo são 24 instituições e em Belo Horizonte, intervêm de forma diferenciada todos os componentes da
10 instituições. As 17 instituições que não participaram do equipe de saúde, estando a resolutividade relacionada com a
estudo não tinham disponíveis em suas páginas institucionais composição da mesma e as condições proporcionadas à equipe
o projeto pedagógico do curso e/ou a grade curricular. Todos pelo doente, família e domicílio” [20,21].
os coordenadores foram contatados por e-mail, no intuito Foram analisadas as grades curriculares e os projetos
de se evitar a inserção de viés amostral. Como critério para pedagógicos, nos seus conteúdos programáticos. Para fins de
verificação dos cursos que estão se adequando aos princípios análise, adotamos categorias analíticas denominadas: Atende
propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, se con- Totalmente, Atende Parcialmente e Não Atende, para verificar
96 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

em que medida os cursos de fisioterapia estão contemplando SC significa sem conceito (sem CPC) no Exame Nacional
os aspectos destacados nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Desempenho dos Estudantes.
do Curso de Graduação em Fisioterapia. Os dados numéricos Dos 33 cursos acessados via Internet, 30 estavam com a
serão apresentados como porcentagens, médias e desvios- carga horária mínima de 4.000 horas estabelecida pela Reso-
-padrão. lução CNE/CES 4, de 6 de abril de 2009. As três instituições
que não cumpriam a Resolução são privadas. Consideremos
Resultados agora as instituições que cumprem a Resolução CNE/CES:
nestes 30 cursos, a carga horária média foi de 4.352 ± 286
O Conceito Preliminar de Curso (CPC) tem como base: horas. O curso com menor carga horária, acima das 4 mil
o desempenho dos estudantes no Exame Nacional de Desem- regulamentares, foi de 4.021 horas e o com maior foi de 5.180
penho dos Estudantes (Enade), o quanto o curso agrega de horas. Quatro cursos (13%) são oferecidos por instituições
conhecimento ao aluno (IDD) e variáveis de insumo - corpo públicas. Vinte e seis cursos (86%) são oferecidos por institui-
docente, infraestrutura e organização didático-pedagógica. ções privadas. Entre os 30 cursos pesquisados que atendiam

Tabela I - Organização Acadêmica, Carga Horária, Tempo de Integralização e Avaliação Enade dos Cursos de Fisioterapia nas cidades do
Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
Cursos

Organização Carga Tempo de Avaliação da Grade


Avaliação
Acadêmica Horária Integralização Curricular
Enade 2010 CPC
Faixa
A 3 Privada 5.180h 5 anos Atende Totalmente
B 2 Privada 4.846h 5 anos Não Atende
C 4 Privada 4.820h 4 anos Atende Parcialmente
D 3 Privada 4.800h 5 anos Atende Parcialmente
E 3 Privada 4.800h 5 anos Atende Totalmente
F 4 Privada 4.800h 4 anos Atende Parcialmente
G SC Pública 4.698h 5 anos Atende Parcialmente
H 3 Privada 4.620h 5 anos Atende Totalmente
I 4 Pública 4.492h 4 anos Atende Totalmente
J SC Privada 4.490h 5 anos Atende Totalmente
K 4 Privada 4.452h 5 anos Atende Parcialmente
L SC Pública 4.410h 5 anos Atende Totalmente
M 3 Privada 4.400h 4 anos e meio Atende Parcialmente
N SC Privada 4.340h 4 anos Não Atende
O 3 Privada 4.290h 4 anos Atende Totalmente
P 3 Privada 4.275h 5 anos Atende Totalmente
Q SC Privada 4.230h 4 anos Não Atende
R 2 Privada 4.170h 4 anos Não Atende
S 3 Privada 4.125h 4 anos Não Atende
T 3 Privada 4.094h 4 anos Não Atende
U 3 Privada 4.086h 4 anos e meio Atende Parcialmente
V 3 Privada 4.048h 5 anos Não Atende
X 3 Privada 4.030h 4 anos e meio Atende Parcialmente
W 2 Privada 4.026h 4 anos e meio Não Atende
Z 3 Privada 4.021h 5 anos Não Atende
AB 3 Privada 4.021h 5 anos Não Atende
AC 4 Pública 4.000h 5 anos Atende Totalmente
AD 4 Privada 4.000h 4 anos Atende Totalmente
AE 4 Privada 4.000h 4 anos Atende Parcialmente
AF 4 Privada 4.000h 4 anos Atende Totalmente
AG 3 Privada 3.968h 5 anos Não Atende
AH SC Privada 3.924h 4 anos Não Atende
AI 3 Privada 3.358h 4 anos Não Atende
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à Resolução, dezessete cursos (57%) têm carga horária de até é o indicador mais adequado para direcionar a assistência à
4.340 horas e treze cursos (43%) têm carga horária na faixa população. O impacto das consequências das doenças na fun-
mais elevada, entre 4.400 horas horas e 5.180 horas. Dos 30 cionalidade suscitou a elaboração, em 2001, da Classificação
cursos com carga horária mínima de 4.000 horas, 14 cursos Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, pela
(47%) integralizam em 5 anos; 4 cursos (13%) integralizam Organização Mundial da Saúde [24].
em 4 anos e 6 meses; 12 cursos (40%) integralizam em 4 anos. A CIF propõe uma abordagem com enfoque pautado
Considerando agora as Diretrizes Curriculares Nacionais na realidade social e nas condições de saúde da população,
foi possível constatar que, dos 33 cursos, treze (todos ofere- identificando o que uma pessoa pode ou não pode fazer na sua
cidos por instituições privadas) não atendem aos propósitos vida diária [24]. Esta classificação valoriza a funcionalidade
das DCN. O modelo de ensino ainda é o tradicional, tendo como um componente essencial da saúde e considera o meio
como referência o “saber técnico”. Nove cursos (um público ambiente como facilitador ou obstáculo para o desempenho
e oito privados) atendem parcialmente às mudanças e onze de ações e tarefas. A CIF codifica domínios que nos ajudam a
cursos (três públicos e oito privados) integram, em suas grades compreender as modificações que se operam nas funções e na
curriculares, disciplinas e estágios supervisionados que aten- estrutura do corpo, do ponto de vista da execução de tarefas
dem às orientações, estando preparados para uma formação e da participação social do indivíduo [24,25].
generalista, com enfoque pautado na realidade social e nas É uma classificação universal de funcionalidade, inca-
necessidades de saúde da população. Destes onze cursos, 75% pacidade e saúde para ser utilizada nos setores da saúde e
oferecidos por instituições públicas e apenas 31% oferecidos naqueles relacionados ao campo, como, por exemplo, a área
por instituições privadas atendem totalmente às Diretrizes. da educação [24]. A nova classificação busca superar algumas
limitações do modelo tradicional de reabilitação, de conside-
Discussão rar a questão da incapacidade centrada apenas na estrutura
anátomo-fisiológica [26-29]. Isso significa não apreender as
O aparente desgaste do modelo tradicional de formação necessidades mais específicas do paciente.
acadêmica, a tímida inserção do fisioterapeuta nos programas e Na perspectiva da OMS, funcionalidade é a capacidade
políticas de saúde do governo, a proposição de um novo perfil do indivíduo realizar tarefas relevantes da rotina diária e de
profissional, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais e a interagir socialmente no trabalho, na família, na escola e
mudança de abordagem no processo saúde-doença, que passa com os amigos. A CIF busca assegurar ao indivíduo tirar o
a observar a funcionalidade, de acordo com a proposição da máximo proveito de sua capacidade física, com a finalidade de
Classificação Internacional de Funcionalidade vêm estimular se tornar colaborador ativo dentro da sua comunidade [30].
os projetos pedagógicos para o ensino da fisioterapia nos Neste sentido, representa uma mudança de abordagem para
tempos atuais [16,22]. pensar e trabalhar a assistência, constituindo um instrumen-
A complexidade do processo de cuidar demanda uma to importante para avaliação das condições de vida e para a
nova abordagem por parte dos profissionais de saúde. Requer promoção de políticas de inclusão social [15,24,27,28].
a superação do modelo centrado na doença, para construir A funcionalidade é um instrumento para a intervenção
um pensar e um fazer sustentado na funcionalidade, dentro fisioterapêutica. Está diretamente relacionada aos aspectos
de uma nova lógica de trabalho em saúde, com enfoque na positivos do paciente, captados durante a avaliação e a ana-
prevenção, na promoção e na humanização da atenção. Os mnese. Ela nos permite estabelecer metas a serem atingidas
preceitos de intervenção precoce estão impulsionando a ao longo do processo terapêutico. Partindo deste princípio,
mudança de perfil do profissional de saúde. Em relação ao devem-se levar em consideração as possibilidades funcionais
fisioterapeuta, este profissional não está limitado a garantir do paciente, suas representações culturais e atitudes em
sobrevida, mas principalmente a qualidade de vida [23]. A relação à doença, construídas paralelamente à sua trajetória
qualidade de vida está relacionada à capacidade funcional, que de vida, influenciadas, por conseguinte, pelo contexto social
permitirá a realização de tarefas e atividades básicas de vida em que vive.
diária e, consequentemente, a inclusão social do indivíduo. Esta perspectiva, presente na psicologia comunitária, desde
Mas, para que tal processo seja viabilizado, deve haver uma meados dos anos de 1960, enfatiza a pesquisa participante,
modificação profunda nos projetos pedagógicos e grades “na qual o pesquisador [fisioterapeuta] e o sujeito da pesquisa
curriculares dos cursos de graduação na área da saúde, com [paciente] trabalham juntos na busca de explicações para os
atualizações que correspondam às expectativas da nova saúde problemas colocados, e no planejamento e execução de pro-
pública brasileira. gramas de transformação da realidade vivida” [31].
O fisioterapeuta, como profissional que participa do pro- Mas, há obstáculos que se referem à atuação profissional.
cesso de reabilitação, objetiva em sua atuação prática tornar Para muitos fisioterapeutas, cuidar do paciente representa
possível a participação social do indivíduo. Faz-se, portanto, uma rotina, cujo atendimento está direcionado apenas para
fundamental aproximar a área da fisioterapia das demandas a solução das restrições físicas. As percepções sobre o impacto
da população. Diante desta perspectiva, a funcionalidade da doença no seu dia-a-dia e as expectativas diante da limi-
98 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

tação física e do próprio tratamento não são, de modo geral, Agradecimentos


consideradas relevantes pelo profissional para o tratamento.
“Estes profissionais se recusam a conhecer as circunstâncias de Os autores agradecem a Professora Maria Alice Junqueira
vida do paciente, isso talvez pela crença de que sua formação Caldas (Chefe do Departamento de Fundamentos, Métodos
profissional não abarque esses possíveis aspectos da vida hu- e Recursos em Fisioterapia da UFJF) pelas sugestões preciosas
mana, o que é legitimado, em parte, pela estrutura curricular ao trabalho e a Roberta da Costa (aluna do Curso de Fisiote-
dos cursos de formação profissional” [32]. rapia da Universidade Gama Filho) participou de uma etapa
Neste aspecto, a CIF torna-se especialmente interessante, da coleta de dados.
não no campo da reabilitação, mas no campo da prevenção
e da promoção em saúde. A CIF tem sido apontada como Referências
uma espécie de “canivete suíço”, eficiente e abrangente,
porque permite várias abordagens. Sua importância pode ser 1. Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Atenção
aplicada tanto na prática clínica quanto no ensino e/ou na Básica, Portaria nº 648, de 28 de março de 2006. Brasília: Mi-
pesquisa [24]. nistério da Saúde, 2007. [citado 2012 jun 15]. Disponível em
URL: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf.
2. Mattos RA. A integralidade na prática (ou sobre a prática da
Conclusão
integralidade). Cad Saúde Pública 2004;20(5):1411-16.
3. Brasil. Resolução CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002.
Ainda são muitas as fragilidades dos cursos de fisioterapia Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Gradu-
oferecidos nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo ação em Fisioterapia, [citado 2012 fev 15]. Disponível em URL:
Horizonte. Embora haja o interesse em mostrar uma cons- http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES042002.pdf.
trução interdisciplinar da grade curricular, assim como a 4. Rocha VM, Caldas MAJ, Araujo FR, Ragazzon CP, Santos
integração entre teoria e prática, especialmente entre os cursos ML, Batiston AP. As diretrizes curriculares e as mudanças na
que buscam se adaptar às sugestões das DCN, as metodolo- formação de profissionais fisioterapeutas (Abenfisio). Fisioter
gias de ensino não estão condizentes com as propostas das Bras 2010;11(5):4-8.
Diretrizes. A ênfase está no trabalho técnico em detrimento 5. Freitas MS. A atenção básica como campo de atuação da Fi-
sioterapia no Brasil: as diretrizes curriculares re-significando a
do atendimento humanizado. A pouca interação entre as
prática profissional [Tese]. Rio de Janeiro: IMS/UERJ; 2006.
disciplinas não permitirá, entre os futuros profissionais, uma 6. Teixeira RC. Projeto Pedagógico dos cursos de Fisioterapia da
atenção à saúde que supere a segmentação. região norte à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais: (des)
O que se observa é que poucas são as grades curricula- caminhos da aderência, potencialidades e fragilidades [Tese].
res que contemplam ações de atenção primária à saúde. As Rio de Janeiro: PUC; 2010.
grades curriculares direcionam o trabalho de profissionais 7. Bispo Júnior JP. Formação em fisioterapia no Brasil: reflexões
para atividades predominantemente técnicas, curativas e sobre a expansão do ensino e os modelos de formação. Hist
reabilitadoras. Tentativas de transformação deste modelo Cienc Saude-Manguinhos 2009;16(3):655-88.
fragmentado e centrado exclusivamente na doença têm sido 8. Rebelatto JR, Botomé SP: Fisioterapia no Brasil: fundamentos
para uma ação preventiva. 2a ed. São Paulo: Manole; 1999.
propostas. Estas tentativas, embora tímidas, transcendem o
9. Véras MMS. O fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família.
processo de reabilitação e direcionam a prática para uma ação In: Barros FBM, editor. O fisioterapeuta na saúde da população:
voltada para as necessidades sociais da saúde. O que se busca é Atuação transformadora. Rio de Janeiro: Série Fisioterapia e
a valorização da formação focada na funcionalidade humana Sociedade. Fisiobrasil 2002;185-92.
em áreas de prática profissional consideradas estratégicas para 10. Maranhão EA. Construção coletiva das diretrizes curriculares
o Ministério da Saúde. nacionais dos cursos de graduação da saúde: uma contribuição
Cuidados não dizem respeito apenas a procedimentos clí- para o Sistema Único de Saúde. In: Almeida M J, ed. Diretrizes
nicos. O fisioterapeuta terá que rever a sua prática profissional Curriculares Nacionais para os cursos universitários da área da
e adotar parâmetros de atuação que atendam as necessidades saúde. Londrina: Rede Unida; 2003.
da sociedade. No campo da saúde coletiva, acredita-se, cada 11. Almeida MCP, Mishima SM. O desafio do trabalho em equipe
na atenção à saúde da família: construindo ‘novas autonomias’
vez mais, que a melhora na qualidade dos serviços só é possível
no trabalho. Interface - Comun, Saúde, Educ 2001;5(9):150-3.
com a participação efetiva do paciente, que pode ajudar a 12. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São
diagnosticar os problemas e buscar soluções, garantindo, junto Paulo: Cortez; 2000.
ao profissional de saúde, a melhoria do atendimento prestado 13. Portes LH, Caldas MAJ, Paula LT, Freitas MS. Atuação do Fisio-
pelas instituições de saúde. Faze-se, portanto, necessária a terapeuta na Atenção Básica à Saúde: Uma revisão da literatura.
configuração de um novo perfil profissional, com base em Rev APS 2011;14(1):111-9.
projetos pedagógicos e parâmetros de atuação voltados para as 14. Faria L, Castro Santos LA. As profissões de saúde: uma
necessidades sociais da saúde e para uma atuação profissional análise crítica do cuidar. Hist Cienc Saude-Manguinhos
que respeite as individualidades. 2011;18(supl.1):227-40.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 99

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100 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Artigo original

Bem estar: a visão feminina sobre o fibro edema gelóide


Well-being: women concern about fiber edema geloid
Josenilda Malveira Cavalcanti, Ft., MSc.*, Denilson de Queiroz Cerdeira, Ft., M.Sc.**,
Thaís Teles Veras Nunes, Ft., MSc.***, Samile Ferreira Costa, Ft.****

*Orientadora, Docente dos Cursos de Fisioterapia e Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e dos Cursos de
Cosmetologia e Estética e Farmácia da Fametro, Professora da disciplina de Fisioterapia Dermato Funcional da FCRS, **Co-orien-
tador, Docente dos Cursos de Fisioterapia e Psicologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do Curso de Fisioterapia
do Instituto Superior de Teologia Aplicada – INTA, ***Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão –
FCRS,****Graduada do Curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS

Resumo Abstract
Buscou-se conhecer a visão feminina sobre o Fibro Edema This study aimed at knowing female concern about cellulite
Gelóide (FEG), traçando o perfil das mulheres portadoras, desve- and to describe profile of women with FEG and the influence on
lando a influência do mesmo no bem estar feminino. Tratou-se de women well-being. This is an exploratory, descriptive and qualitative
pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa com dez mulheres com research involving ten women with cellulite, carried out at the School
diagnóstico de FEG, realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da of Physical Therapy of Faculdade Católica Rainha do Sertão, from
Faculdade Católica Rainha do Sertão, no período de Agosto/2010 a August 2010 to June 2011, using a physical therapy evaluation and
Junho/2011, através de uma avaliação fisioterapêutica em Dermato- Functional Dermatology semi structured interview with guiding
funcional e entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras. questions. Data were analyzed based on Bardin content analysis
Os dados foram analisados através da Análise de Bardin e agrupados and grouped into categories. We verified that mean age was 24 years
em categorias. Verificou-se que a idade média era de 24 anos, estado old, unmarried (9 participants), eight mulatto woman and income
civil solteiro (9 participantes), sendo oito pardas/mulatas e renda of five minimum wages, level II of cellulite (5 women). Bardin
financeira de cinco salários míninos, grau do FEG predominou o analysis showed four categories: Stay well with me and with my body,
grau II (5 mulheres). Sobre a Análise de Bardin apresentou quatro related to self-esteem and well-being; Self-assurance, it is our own
categorias: Estar bem comigo mesma e com meu corpo, relaciona a self-approval; I’m sad about my body, refers to feel discomfort with
autoestima e o bem-estar; Autoconfiança em si mesmo, desvela a the body; I’m ashamed because it is ugly, showed body dissatisfaction.
aceitação de si; Estou triste com meu corpo, refere-se à sensação de Most participants who have cellulite showed lower self-esteemed. We
desconforto com o corpo; e Eu tenho vergonha porque é feio, expressa concluded that further studies should be done regarding this theme.
a insatisfação corporal. A maioria das participantes expressa uma Key-words: Physical therapy, aesthetics, women, streaks.
baixa autoestima devido à presença do FEG. Diante dessa relação,
viu-se a necessidade de novos estudos a respeito da temática.
Palavras-chave: Fisioterapia, estética, mulher, estrias.

Recebido em 28 de fevereiro de 2012; aceito em 5 de março de 2013


Endereço de correspondência: Josenilda Malveira Cavalcanti, Rua General Tertuliano Potiguara, 555/802, 60135-280 Fortaleza CE, E-mail:
jo_fisio@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 101

Introdução sentimento a relação existente entre o bem estar e a imagem


corporal, através da representação social.
Atualmente existe uma constante e incansável busca pelo Esta pesquisa se revestiu de maior importância ao conhe-
corpo perfeito. Esta nova tendência, das pessoas em relação cer a visão feminina, através da representação social, sobre o
ao padrão estético, ocasiona a não aceitação, pela sociedade, FEG e a sua inter-relação com o bem estar, traçando o perfil
da adiposidade e das irregularidades da pele [1]. clínico sócio demográfico das mulheres participantes do
Nota-se que, nos dias atuais, a preocupação com o aspecto inquérito científico e desvelando a influência do mesmo no
físico e a aparência é uma constante. Quando a autoimagem bem estar feminino.
é vivida como aceitável, constitui uma fonte de autoestima e A partir deste contexto desenvolveu-se este estudo,
segurança. O descontentamento com o próprio aspecto físico buscando compreender de que forma as mulheres pensam,
ocasiona importantes frustrações e inseguranças, que pode representam, dentro de uma sociedade, sobre o bem estar, a
atrapalhar a relação com os demais [2]. imagem corporal e o fibro edema gelóide.
O fibro edema gelóide (FEG) é uma disfunção que ataca
o tecido conjuntivo, externamente, caracteriza-se pelo desen- Material e métodos
volvimento de nódulos e depressões subcutâneas, que gera
pressão nos vasos sanguíneos e linfáticos, proporcionando Tratou-se de um estudo exploratório e descritivo com
uma alteração da nutrição e da eliminação de toxinas, a falta abordagem qualitativa, visando desvelar o conhecimento fe-
de oxigenação, levando as células adiposas ao endurecimento minino sobre o FEG e a sua relação com o bem estar, através
e a união com as demais [3]. da representação social.
De acordo com Sant’Ana, Marquetil e Leite [4], o FEG, O estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da
conhecido popularmente como celulite, afeta cerca 80 a Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS, que é referência
90% das mulheres após a adolescência. Mosquera e Stobaus nos atendimentos em Dermatofuncional para o município
[5] fomentam afirmando que a autoestima é o conjunto de e cidades adjacentes, no período de agosto de 2010 a junho
atitudes que cada pessoa tem sobre si mesma, uma percepção de 2011. O fenômeno do inquérito científico baseou-se na
avaliativa própria, um modo de ser, segundo o qual a própria representação social das mulheres sobre o fibro edema gelóide
pessoa tem opiniões sobre si mesmo, que podem ser positivas e sua relação com o bem estar. Foi nessa Clínica Escola de
ou negativas. Fisioterapia que a pesquisadora deste inquérito observou o
Os cuidados com o corpo e com o aspecto estético que quanto as mulheres referenciam o FEG e a sua relação com
preocupam atualmente uma grande parte da população se a imagem corporal e o bem estar. A seleção da instituição
deve aos reflexos dos valores e padrões culturais, sociais e foi pelo fato de atender os requisitos requeridos pelo estudo
individuais ocasionando uma queda da autoestima, ansiedade científico.
e desestabilização da imagem corporal, proporcionando ao ser A amostragem do inquérito baseou-se em um universo
uma representação social sobre a sua imagem. finito, formado por 10 (dez) mulheres que apresentaram
As representações sociais são teorias sobre os saberes FEG classificado em qualquer grau, com idade superior a 18
populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas cole- anos, não importando o estado civil e que procuravam aten-
tivamente com a finalidade de construir e interpretar o real dimentos na área da Dermatofuncional. A amostra baseou-se
[6]. Moscovici [7] descreve tal teoria como: mitos e sistemas no Critério de Saturação Teórico Empírico, que segundo
de crença das sociedades tradicionais e versão contemporânea Fontanella, Ricas e Turato [10] afirmam que tal critério é
do senso comum. Jodelet [8] a conceitua como uma forma de uma ferramenta conceitual frequentemente empregada nos
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, dentro de relatórios de investigações qualitativas. Sendo utilizada para
uma visão prática e concorrendo para a construção de uma estabelecer ou fechar o tamanho final de uma amostra em
realidade comum. estudo, interrompendo a captação de novos componentes
Estudar as representações sociais é buscar conhecer o para o inquérito científico.
modo como um grupo humano constrói um conjunto de Foram excluídas do estudo, as mulheres que apresenta-
saberes e expressa sua identidade, atribui sentido a uma ram algum transtorno psíquico, depressivo, ou alteração da
diversidade de objetos e, principalmente, constrói códigos percepção da imagem corporal que influenciava direta ou
culturais que definem, em cada momento histórico, as regras indiretamente na autoestima, como, por exemplo, bulimia
de uma comunidade objetiva e subjetiva, colocando-nos e anorexia.
em contato com questões que merecem ser conhecidas e O projeto de pesquisa foi apresentado à direção da insti-
exploradas [9]. tuição, que inicialmente o encaminhou a Clínica Escola de
Tentar entender o sujeito enquanto tal, dotado de proprie- Fisioterapia da instituição para análise dos instrumentos que
dades e especificidades é o que tal inquérito científico mostra seriam utilizados para o inquérito, sendo o mesmo avaliado
sua relevância para o bem estar na visão feminina sobre o por um fisioterapeuta, coordenador da Clínica Escola de
FEG, mostrando através das suas falas e de suas expressões de Fisioterapia, da instituição selecionada para o inquérito e
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observando então a ausência de problemas quanto à aplicação Todas as participantes da pesquisa foram avaliadas por
dos mesmos por um fisioterapeuta (pesquisador), visto que um único pesquisador que seguiu rigorosamente a meto-
o pesquisador tinha conhecimento e treinamento suficiente dologia escolhida, a ficha de avaliação fisioterapêutica em
para aplicação dos mesmos. Dermatofuncional e a entrevista semiestruturada com ques-
A fonte de coleta de dados foi primária, junto às mulheres tões norteadoras, elaboradas para a investigação científica.
que procuravam atendimentos em Dermatofuncional na Após a fase de coleta de dados, foi procedido a organização
instituição escolhida no período estabelecido, seguindo os dos dados da ficha de avaliação fisioterapêutica em Dermato-
critérios de inclusão e exclusão do inquérito. Foi utilizado funcional e das falas das participantes da pesquisa, referente
um termo de consentimento livre esclarecido da participante, à entrevista semi estruturada.
que apresentava as informações sobre a confidencialidade dos Os depoimentos foram analisados segundo a análise de
dados e anonimato das participantes, conforme preconiza a conteúdo de Bardin, a qual se baseia em operações de des-
Resolução 196 / 96 do CONEP [11], que seriam identifi- membramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os
cados apenas pelo nome Mulher e a idade. Este trabalho foi diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação
enviado, juntamente com o termo de consentimento e livre e, posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes
esclarecido e com o termo de solicitação para entrada no ou categorias [13].
campo da pesquisa, ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Na apresentação dos dados, as participantes foram de-
Humanos (COÉTICA) da Faculdade Católica Rainha do nominadas por Mulher 1, Mulher 2... Mulher 10, ou seja,
Sertão – FCRS, com parecer de aprovação número 20100251 seguindo as regras e normas escolhidas para a pesquisa, portan-
para a sua realização. to, os seus nomes reais foram omitidos. Ressaltou-se também
O termo de consentimento livre esclarecido da participan- que, juntamente com a denominação dada as participantes
te esclarecia que as informações coletadas seriam utilizadas da pesquisa, foi inserida a sua idade.
na pesquisa, que a participante teria a liberdade de desistir a Para a organização dos depoimentos, utilizou-se a aborda-
qualquer momento do inquérito, que as informações ficariam gem de Bardin [13], que se refere a análise do conteúdo como
em sigilo e o anonimato das participantes seria preservado, e a um conjunto de técnicas de análises de comunicação. Dessa
mesma não teria ônus financeiro para participar do inquérito. forma, a apreciação do conteúdo do discurso foi útil para se
A autorização do uso do gravador foi solicitada, e, em caso lidar com a conversação que se pretende compreender além
de desconforto provocado pela utilização do gravador, as infor- dos significados imediatos.
mações seriam coletadas a partir de anotações realizadas pela Seguindo a proposta de Bardin [13], foi procedido a
própria pesquisadora, e que sua participação seria de extrema apreciação e agregação das respostas convergentes, utili-
importância para o esclarecimento sobre a relação existente zando o tema como unidade de registro. Em seguida, foi
entre o FEG, a imagem corporal e o bem estar feminino. Tal realizada a classificação e o agrupamento dos elementos
termo foi assinado em duas vias ficando uma com o participante que constituem cada unidade temática, extraída dos de-
do inquérito e outra com o pesquisador responsável. As infor- poimentos das participantes acerca da relação existente
mações coletadas durante o estudo foram arquivadas em fitas entre a imagem corporal, o FEG e o bem estar a partir da
e fichas de anotações sob a tutela do pesquisador responsável. interpretação dos dados colhidos, por analogia, e organi-
Dos itens avaliados na ficha de avaliação fisioterapêutica zando-os por categorias, ou seja, através da parte comum
em Dermatofuncional foi enfatizado o perfil sócio demográfi- dos dados existentes.
co e clínico das participantes, e a partir daí seriam submetidas Os dados coletados nesta pesquisa foram tabulados, orga-
à entrevista semiestruturada. Segundo Spink [12] é por meio nizados e comparados com estudos e bibliografias nacionais e
da utilização de entrevistas que o pesquisador tem a possibi- internacionais referidas sobre o assunto em questão.
lidade de acessar o universo do entrevistado e, consequente- Informações e depoimentos foram arquivados em
mente, obter informações necessárias e precisas para o estudo. fitas e fichas de anotações sob a tutela da pesquisadora
As entrevistas foram realizadas em um local reservado da responsável.
instituição, onde não existia transito de pessoas nem barulho.
Esse encontro foi face a face, que proporcionou uma pro- Resultados e discussão
fundidade maior dos dados coletados, e também favoreceu
o encontro de uma das características do estudo qualitativo, Neste momento, apresentam-se as 10 mulheres aborda-
que é mesmo trabalhar com menos sujeitos, mas com dados das obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão. É sem-
pautados na profundidade das informações. pre difícil apresentar e caracterizar alguém, principalmente
Na entrevista, foi empregado um roteiro que foi orienta- quando se trata de um ser fragmentado pelas circunstâncias
do pela pesquisadora, que deixou a participante expressar-se impostas pela vida e/ou existir no mundo. Foi enfatizada
livremente sobre as questões norteadoras da pesquisa, através a apresentação das participantes, fazendo-se uma relação
das perguntas, tais como: 1) O que você entende por autoestima? com os assuntos referente à visão feminina sobre o FEG e
2) A celulite tem alguma influência na sua autoestima? o bem estar.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 103

Características sociodemográficas O estar bem consigo mesmo é algo que precisa ser avalia-
do e alimentado cotidianamente. A inconstância no humor,
Nesta pesquisa participaram 10 mulheres acadêmicas. De os episódios diários e as modificações ditadas pelo tempo
acordo com o questionário sociodemográfico constatou-se tornam-se responsáveis pelo desequilíbrio do bem-estar [14].
que a faixa etária das participantes variou entre 21 e 29 anos, França [15] fomenta dizendo que a “verdadeira” auto-
com uma idade média de 24 anos. Quanto ao estado civil, 9 estima está ligada intimamente com nossa personalidade
eram solteiras e apenas 1 casada. Com relação à cor da pele 8 funcionando assim, como uma sensação, e não como um
consideravam-se ser pardas/mulatas e 2 da cor branca. Quanto sentimento que possa ser exposto verbalmente ou ensinado,
à renda mensal, 3 apresentavam de 03 a 4 salários mínimos, e 5 é um sinal difícil de distinguir e identificar, porque nunca
de 5 a 6 salários mínimos, e 2 com mais de 6 salários mínimos. deixa de estar presente, pois ela exerce função simplesmente
Acerca do histórico de saúde, todas relatavam o FEG nos como um pano de fundo de todas as outras sensações que
antecedentes familiares. Nove relataram que os antecedentes interpõem o sujeito, funcionando então como um contexto
patológicos familiares predominantes eram hipertensão e pro- básico ou como defesa de todas as reações. De acordo com
blemas circulatórios. Não foi corroborado nenhum distúrbio Teixeira e Giacomani [16] a autoestima diz respeito à avaliação
circulatório e emocional. que o sujeito faz de si mesmo com relação o gostar de si ou
Quando identificado o uso de medicamentos, observou-se sentir-se satisfeito consigo.
que apenas 6 faziam uso de hormônios esteróides. Nenhuma
era tabagista, e 5 praticavam atividade física. “Autoconfiança em si mesmo”
Todas as participantes apresentaram estrias e adiposidade
localizada nos glúteos e coxas, sendo que 8 apresentavam Para algumas das entrevistadas o que se entende por au-
depressões presente à contração muscular e 2 presentes ao re- toestima está relacionado com a aceitação de si mesmo, em
pouso. Nenhuma apresentou edema, apenas 5 visualizavam-se sentir-se confiante. Haydu [17] asseverou que a autoestima
microvarizes, e do total apenas 3 com flacidez muscular. Em 3 depende dos indivíduos e da convivência entre eles, se ela é
participantes evidenciou-se a presença de aderência tecidual. definida como sendo os pensamentos, os sentimentos e as
Todas continham temperatura local normal, sendo que em condutas que temos e que são relacionados a nós mesmos,
3 participantes identificou-se FEG dura e em 7 FEG mista. envolvendo o autoconceito, a autovalorização e a autocon-
Quanto ao grau do FEG, classificou-se da seguinte forma: 03 fiança.
(três) grau I, 5 grau II, 2 grau III. A autoconfiança é assim entendida como a confiança que
é colocada nos próprios atos. De modo que quanto mais a
Categorias constituídas segundo Bardin (2002) pessoa se conhece é que é possivelmente ela se aceitar, e a par-
tir daí começa a amar-se e confiar em si mesma. Freire-Maia
Os resultados apresentados para análise do conteúdo, [18] relata que se percebe o quanto esses sentimentos têm
segundo Bardin [13] constam com o total de 4 temas iden- poder sobre uns aos outros, permitindo o estabelecimento
tificados, categorizados em: “Estar bem comigo mesma e com saudável de uma boa autoestima. Como descreve uma das
meu corpo”, “Autoconfiança em si mesmo”, “Sim, muita. Porque participantes:
estou triste com meu corpo” e “Eu tenho vergonha porque é feio”.
Os temas são compostos por categorias constituídas de acordo “É a autoconfiança em si mesmo, é você fazer uma avaliação de
com o seu significado, que serão mostrados a seguir. você mesmo, é estar de bem com a vida, com meu intelecto e meu
corpo” (Mulher 8 – 23anos).
“Estar bem comigo mesma e com meu corpo”
Mosquera e Stobaus [5] diz que autoestima não é o que
A autoestima sempre foi uma necessidade psicológica de o outro sente e pensa sobre outra pessoa, mas o que se pensa
um enorme valor para o homem, desde que os indivíduos e sente sobre nós mesmos. É a adição da autoconfiança, com
expandiram sua capacidade de autoconhecimento. Ultima- o autorrespeito, é a habilidade de lidar com as surpresas da
mente, a autoestima obtém grande importância comparada vida, e de sentir-se digno da felicidade. O autor referencia-
ao passado, tornando-se uma necessidade pessoal. do anteriormente, no ano de 2003, expressa dizendo que a
Analisando as falas, percebe-se que a maioria das participantes autoconfiança é alimentada ou aniquilada conforme somos
relaciona a autoestima ao sentimento de bem-estar, ou seja, está respeitados, valorizados e encorajados a confiar em nós mes-
ligada diretamente com o estado de espírito do ser humano e com mos [19]. Cunha et al. corroboram dizendo que a segurança e
o sentimento de autoaceitação [14] como podemos ver neste relato: a confiança em si mesmo, são traços do que seria autoestima,
sempre buscando a felicidade, reconhecendo as qualidades
“Autoestima significa você sentir-se bem consigo mesma e com seu sem maiores vaidades [20].
corpo, sentindo-se equilibrada tanto fisicamente como emocional-
mente” (Mulher 3 - 27anos). “Sim, muita. Porque estou triste com meu corpo”
104 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Neste estudo, constatou-se que a maior parte das entrevis- A autoaceitação, que não está vinculada a uma imagem
tadas sentia que alguma parte do corpo estava incomodando, de perfeição, e sim à autoestima, e que concretiza como pré-
trazendo uma sensação de desconforto e, com isso, propor- -condição para a modificação, não estará instigada, colocando
cionando sentimentos de insatisfação. o indivíduo fora da realidade [25].
Ferraz e Serralta [14] declaram que muitas vezes o sen- O corpo é uma decorrência do que cada sociedade gera
timento de pertencimento ao padrão social é tão procurado para os seus membros, possibilitando afirmar que o corpo é
que, quando não obtido, é causa de aflição e tristeza. O ideal um esboço reflexivo, estando esta opinião incluída como uma
e o real tornam-se tão distanciados que o sujeito se perde na das características da sociedade moderna. A reflexibilidade é
sua própria imagem, o que ocasiona detrimentos emocionais, uma forma de agrupar os procedimentos e as condutas que
comportamentais, cognitivos e produtivos. imanam de cada sociedade [26].
A baixa autoestima provoca autorrejeição, autoinsatisfa- Deste modo, a autoimagem é somente um dos componen-
ção, autodesprezo. A pessoa manifesta por ela própria falta de tes integrantes do conceito de autoestima, e não o conceito
respeito. A autoimagem que tem de si é incômoda e faz com em si. Discorrer sobre autoestima significa falar de uma visão
que almeje que a mesma fosse diferente [21]. vasta, abrangente e totalizante do indivíduo.

“Sim muita. Hoje eu não tenho tanta autoestima com antes, estou Conclusão
triste com meu corpo, muito insatisfeita, tenho vergonha e raiva”
(Mulher 2- 25 anos). Através da presente investigação, pode-se concluir que
a maioria das participantes apresenta uma baixa autoestima
Muitas pessoas rejeitam o próprio corpo em virtude devido à presença do FEG. Pode-se afirmar que a presença de
da imagem que fazem deles, produzindo sentimento de FEG influência significativamente no bem estar dessas mu-
autodesvalorização e de baixa autoestima [22]. Os autores lheres, pois a imagem corporal atualmente é de fundamental
referenciados anteriormente fomentam dizendo que a per- importância para se ter uma boa autoestima, visto que está
cepção da aparência resume-se como o indivíduo avalia o relacionada a uma autoconfiança em si mesmo.
seu próprio aspecto, podendo ser do corpo inteiro ou de uma Diante da dificuldade que encontramos a respeito da
parte específica. Pode haver contradição entre a realidade física autoestima e FEG, vimos a necessidade de novos estudos
e a percepção da aparência. O grau de valor que a imagem a respeito da temática, a fim de proporcionar tratamentos
corporal tem em relação à própria autoestima é a importância não só físicos, mas também acompanhamento emocional,
que ele faz da aparência. Algumas pessoas não incluem a sua visto que nesse estudo a autoestima está ligada a confiança
aparência física com autoestima, dando assim pouco valor. em si.
Não há como negar o valor da representação do corpo na
“Eu tenho vergonha porque é feio” mente humana. É fundamentada em tal representação que
acontecem as relações, a produção cognitiva e emocional. Por
Investigando as respostas encontradas, a autoestima está meio das transformações corporais, os sentimentos também
ligada com a satisfação ou a insatisfação com a imagem corpo- vão mudando e alterando comportamentos.
ral, e a sua forma multidimensional é culpada por alterações Em relação ao perfil sociodemográfico das mulheres parti-
positivas ou negativas na imagem corporal. Não se pode esque- cipantes da pesquisa, percebeu-se que tal aspecto tem grande
cer que a imagem corporal tornou-se centro da vida moderna, influência na autoestima, sendo relatado pelas participantes
pelo culto da beleza física, que é uma preocupação coletiva as dificuldades em custear o tratamento estético.
do nosso tempo e não apenas uma aflição individual [23].
Dando evidência ao relato de Cash [24], o corpo compõe Agradecimentos
uma incontestável e inevitável fonte de todos os sentimentos
humanos, estados de medo, ansiedade, vergonha e culpa até Os autores agradecem a colaboração e a disponibilidade
orgulho, estima e harmonia. da professora da disciplina de Fisioterapia em Dermatofun-
O corpo é capaz de comunicar-se através de nossas cional, bem como a direção da Clínica Escola de Fisioterapia,
emoções e traduzir os nossos pensamentos e vontades. O a Coordenação do curso de Fisioterapia pela autorização e a
movimento corporal fala, expressa e desvenda os mais íntimos realização deste estudo científico e as mulheres que concor-
anseios. É por meio dele e com ele que descobrimos o mundo daram em participar da pesquisa.
e as sensações. No entanto, nosso corpo, em certas ocasiões,
revela algo que não desejamos mostrar ou ainda é diferente e Referências
não satisfaz às nossas expectativas [14].
1. Meyer PF, Lisboa FL, Alves MCR, Avelino MB. Desenvol-
“Sim. Eu tenho vergonha porque é feio, não me sinto a vontade em usar vimento e aplicação de um protocolo de avaliação fisiotera-
biquíni, fico me achando inferior às outras pessoas” (Muller 6 – 26 anos). pêutica em pacientes com fibro edema gelóide. Fisioter Mov
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Artigo original

Assistência fisioterapêutica em recém-nascidos


prematuros internados em UTI neonatal pública
Physical therapy assistance in premature newborn
in public neonatal ICU
Flavya Kassia Smider Pedro, Ft.*, Cássia Valeska Torati, M.Sc.**, Raquel de Matos Lopes Gentilli, D.Sc.***,
Luciana Carrupt Machado Sogame, Ft.****

*Fisioterapeuta, **Docente e Supervisora de estágio do Módulo Saúde da Criança e do Adolescente da Escola Superior de Ciências
da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), ***Assistente Social, Docente do Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas e Desenvolvimento Local da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), ****Do-
cente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Escola Superior
de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

Resumo Abstract
Introdução: A prematuridade é considerada um problema de Introduction: Preterm birth is considered a public health pro-
saúde pública, e, nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, a blem, and in the Neonatal Intensive Care Units, physical therapy
fisioterapia atua prevenindo e tratando complicações respiratórias e works by preventing and treating respiratory and neurological
neurológicas. Objetivos: Verificar a atuação da fisioterapia na Unidade complications. Objectives: To investigate the role of physical therapy
de Terapia Intensiva Neonatal, perfil das mães e dos prematuros, in the Neonatal Intensive Care Unit, the profile of mothers and
morbidades respiratórias e neurológicas. Material e métodos: Estudo infants, respiratory illnesses and neurological disorders. Method:
observacional de coorte retrospectivo, realizado no ano de 2008, que Observational retrospective cohort study, conducted in 2008, using
utilizou uma análise estatística descritiva dos dados, com média e a descriptive statistical analysis of data, mean and standard deviation.
desvio padrão. Resultados: Dos 172 prontuários analisados, verificou- Results: Of the 172 records analyzed, it was found that the average
-se que a idade média das mães foi de 24 ± 7 anos, 81% realizou age of mothers was 24 ± 7 years old, 81% held prenatal care, 21%
pré-natal, sendo 21% com 6 ou mais consultas. Com relação aos with six or more visits. With regard to newborns, 58% were female,
recém-nascidos, 58% eram do sexo feminino, 44% apresentaram 44% had respiratory morbidity and 24% neurological. The physical
morbidades respiratórias e 24% neurológicas. O atendimento therapy was performed in 63% of them, the most used techniques
fisioterapêutico foi realizado em 63% dos mesmos, as técnicas were thoracoabdominal rebalancing by 100% and sensorimotor
mais utilizadas foram o reequilíbrio toracoabdominal em 100% e stimulation in 97%. Conclusion: The therapy was performed in
a estimulação sensório-motora em 97%. Conclusão: A fisioterapia most newborn infants, there is a connection between the motor
foi realizada na maioria dos recém-nascidos internados, havendo and breathing techniques, showing that, as a premature birth is
associação entre as técnicas respiratórias e motoras, demonstrando one of the causes of infant morbidity, physical therapy has become
que, como o nascimento prematuro representa uma das causas de increasingly necessary.
morbidades infantis, a atuação fisioterapêutica tem se tornado cada Key-words: premature, physical therapy, intensive care neonatal,
vez mais necessária. public health.
Palavras-chave: prematuro, fisioterapia, terapia intensiva
neonatal, saúde pública.

Recebido em 7 de maio de 2012; aceito em 14 de setembro de 2012.


Endereço para correspondência: Cássia Valeska Torati, Rua Múcio Auto Alencar, 89/304, Edifício 4 Ventos, Bloco A Jardim Camburi 29090-780
Vitória ES, E-mail: cassia.torati@emescam.br, cassiatorati@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 107

Introdução de avaliar criteriosamente o RN, escolhendo e aplicando os


recursos mais adequados, pesando os benefícios e os riscos
A prematuridade é considerada um problema de saúde em potencial, sempre presentes nos pacientes críticos [12].
pública, principalmente nos países em desenvolvimento, pelo Além disso, deve pautar seu atendimento nos princípios da
alto índice de morbimortalidade infantil [1]. O recém-nascido humanização e da integralidade do cuidado, proporcionando
(RN) pré-termo ou prematuro, segundo a Organização Mun- ao bebê e a sua família um ambiente tranquilo e acolhedor,
dial de Saúde (OMS), é todo aquele que nasce com menos de apesar da situação de hospitalização vivenciada [13,14]. A
37 semanas completas de idade gestacional (ou com menos realidade do nascimento e sobrevida de RN prematuros
de 259 dias de gestação) [2]. nos impõe a necessidade de contínuos e crescentes estudos
O nascimento prematuro, por si só, pode interrom- que esclareçam melhor a atuação fisioterapêutica nessa faixa
per o desenvolvimento pulmonar normal, resultando em etária, para que possamos fundamentar nossa atuação na
anormalidades na mecânica respiratória [3] e pode levar prevenção e tratamento das morbidades neonatais. Mediante
a alterações anatômicas e estruturais no cérebro, devido à o exposto, os objetivos deste estudo foram descrever como
interrupção das etapas de desenvolvimento, podendo oca- é realizada a assistência fisioterapêutica em RN prematuros
sionar problemas cognitivos e motores [4]. Associado a isso, internados em UTIN, identificar o perfil das mães e desses
esses bebês frequentemente necessitam de internação por bebês e o desenvolvimento de morbidades respiratórias e
dias ou meses em Unidades de Terapia Intensiva Neonatais neurológicas.
(UTIN), ficando expostos a uma série de eventos que podem
ser considerados de estresse, tais como: alto nível de ruído, Material e métodos
luz forte e constante, manuseio frequente e procedimentos
dolorosos. O estresse eleva o nível de cortisol que, por sua Trata-se de um estudo observacional de coorte retros-
vez, pode afetar o cérebro, deixa-o mais vulnerável a proces- pectivo, realizado através da análise de prontuários de RN
sos que podem destruir os neurônios, bem como reduzir o prematuros que nasceram em 2008 e que necessitaram
número de sinapses, ocasionando atraso no desenvolvimento de internação na UTIN do Hospital Doutor Dório Silva
cognitivo e motor [5]. (HDDS), o qual está localizado no Município de Serra/
Nesse contexto, o fisioterapeuta, através de seus conhe- ES. É um hospital público estadual de referência regional,
cimentos anatômicos, fisiológicos e recursos apropriados, para atendimento a gestantes e RN de alto risco, está in-
torna-se indispensável dentro da equipe multidisciplinar em serido na Política Nacional de Humanização Neonatal e
Terapia Intensiva, uma vez que irá atuar na parte motora e possui um ambulatório de acompanhamento (follow-up)
pulmonar do RN [6]. Reconhecendo a importância desse para esses bebês. Todos os RN transferidos antes da alta
profissional, o Ministério da Saúde instituiu a portaria nº. hospitalar e com impossibilidade de acesso aos prontuários
3.432 em 12/08/1998, a qual ressalta que as UTIN de por questões administrativas foram excluídos. Os dados
hospitais com nível terciário devem contar com assistência foram coletados e registrados em ficha específica que con-
fisioterapêutica em período integral. E, embora os objetivos tinha itens referentes à mãe e ao RN e que foi baseada na
da fisioterapia neonatal sejam semelhantes àqueles traçados Ficha de Seguimento Neonatal, proposta pelo Ministério
para os adultos, a assistência fisioterapêutica na neonato- da Saúde em 2002. De janeiro a dezembro de 2008, nas-
logia apresenta particularidades relacionadas às diferenças ceram e deram entrada na UTIN do HDDS, 489 RN, dos
anatômicas e fisiológicas existentes nesses pacientes [7]. A quais 348 nasceram prematuros. Desses, foram excluídos
fisioterapia pneumofuncional tem como objetivos manter 176 (51 prontuários não encontrados e 125 transferidos
vias aéreas pérvias, melhorar as trocas gasosas e a função antes da alta hospitalar por superlotação), sendo a amostra
respiratória nas doenças que acometem o período neonatal, composta por 172 bebês.
prevenindo complicações pulmonares, reduzindo a necessi- Após análise dos prontuários, foram identificadas as
dade de oxigenioterapia e o tempo de internação hospitalar variáveis maternas (idade, tipo de gravidez, tipo de par-
[8]. A fisioterapia motora potencializa a interação da criança to, número de gestações, cuidado pré-natal e número de
com o ambiente [9], trabalhando com estímulos visuais, consultas, uso de corticoide antenatal e fatores de risco
auditivos e táteis, facilitando o desenvolvimento neuropsico- gestacionais) e neonatais (data de nascimento, data da alta
motor [10]. Dentre as técnicas fisioterapêuticas respiratórias ou óbito hospitalar, sexo, tipo de apresentação - cefálica ou
mais citadas na literatura, encontramos a drenagem postu- pélvica, índice de Apgar no primeiro e quinto minutos de
ral, vibração, aumento do fluxo expiratório, reequilíbrio vida, reanimação na sala de parto e manobras utilizadas, peso
toracoabdominal e aspiração [11]. E, em relação às técnicas de nascimento, peso na alta, idade gestacional, adequação
fisioterapêuticas motoras, as mesmas são baseadas na cine- peso/idade, utilização de surfactante exógeno, morbidades
sioterapia, integração sensorial e posicionamento terapêutico respiratórias e neurológicas adquiridas durante o período
[12]. O fisioterapeuta, mediante a variedade de técnicas que de internação, necessidade de atendimento fisioterapêutico
podem ser utilizadas no período neonatal, deve ser capaz na UTIN e encaminhamento ao follow-up). Em relação à
108 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

assistência fisioterapêutica, foi verificado o número de sessões reanimação utilizadas descritas na Tabela III. Quanto à
e as técnicas utilizadas. Foi realizada uma análise estatística incidência de morbidades, 44% desenvolveram morbidades
descritiva dos dados, com média e desvio padrão. Este estudo respiratórias e 24% neurológicas. Os tipos de morbidades
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do respiratórias e neurológicas estão descritos nas Tabelas IV
Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, sob o parecer e V respectivamente. Quanto à assistência fisioterapêutica
consubstanciado 18/2010. neonatal, 37% dos 172 bebês não realizaram fisioterapia
durante o período de internação e os 63% que realizaram
Resultados foram submetidos a duas sessões diárias. Os recém-nascidos
receberam fisioterapia conforme suas necessidades e rotina
Em relação ao perfil materno, dos 172 prontuários ana- do serviço, o que justificou a não realização deste tratamen-
lisados, verificou-se que a média da idade materna foi de 24 to em 37% dos prematuros. As técnicas fisioterapêuticas
± 7, com variação de 14 a 43 anos, 89% tiveram gravidez utilizadas encontram-se relatadas na Tabela VI. O óbito
única e 17% realizaram aborto. 81% das mães fizeram foi verificado em 9% dos RN. Dos 156 prematuros que
pré-natal, porém, apenas 21% destas realizaram 6 ou mais obtiveram alta hospitalar, 58% foram encaminhados para
consultas. O parto mais frequente foi a cesárea em 59% acompanhamento ambulatorial (follow-up). E, no que tange
dos casos. O corticoide antenatal foi administrado em 15% ao encaminhamento dos RN com morbidades respiratórias,
das puérperas e os fatores de risco gestacionais encontrados foi constatado que, dos 61 bebês que receberam alta, 87%
estão descritos na Tabela I. Em relação ao perfil neonatal, foram encaminhados a esse ambulatório, e desses, somente
58% dos prematuros eram do sexo feminino e 88% tiveram um não foi atendido pela fisioterapia durante o período de
apresentação cefálica. A idade gestacional variou entre 25 a internação hospitalar. Em relação aos 38 RN com morbida-
36,5 semanas e o peso ao nascimento variou de 600 a 4070 des neurológicas que receberam alta, todos (100%) foram
gramas. As frequências observadas das variáveis peso e idade atendidos pela fisioterapia durante o período de internação
gestacional ao nascimento, adequação peso/idade e índice de hospitalar e todos foram encaminhados ao follow-up.
Apgar no primeiro e quinto minutos de vida, encontram-se
descritas na Tabela II. Tabela II - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo
com o peso e a idade gestacional ao nascimento, adequação peso/idade
Tabela I - Distribuição das gestantes de acordo com o fator de risco e índice de Apgar no primeiro e quinto minutos de vida (n=172),
gestacional (n=160), em um Hospital Público, Serra/ES, 2008. em um Hospital Público, Serra/ES, 2008.
Variável Número % Perfil Neonatal Número %
Tipo de fator de risco gestacional Peso ao nascimento
DHEG* 50 31% ≤ 1000 gramas 16 9%
ITU** 31 19% 1001-1500 gramas 27 16%
DPP*** 19 12% 1501-2500 gramas 96 56%
DHEG + DPP 13 8% > 2500 gramas 33 19%
DHEG + ITU 10 6% Idade Gestacional ao nascimento
ITU + DPP 7 4,5% ≤ 30 semanas 15 9%
DHEG + Hipertensão arterial 6 4% 31-34 semanas 83 48%
crônica 35-36,6 semanas 74 43%
Diabetes 6 4% Adequação peso/idade gestacional
Natimorto prévio 6 4% Pequeno para a idade gestacio- 19 11%
Tabagismo 3 2% nal
Drogas ilícitas 3 2% Adequado para a idade gesta- 148 86%
Tabagismo + Alcoolismo + cional
Drogas ilícitas 3 2% Grande para a idade gestacio- 5 3%
Tabagismo + Alcoolismo 2 1% nal
Desnutrição 1 0,5% Índice de Apgar do 1º minuto de vida
*Doença Hipertensiva Específica da Gravidez; **Infecção do Trato Apgar de 0 a 3 17 10%
Urinário; *** Descolamento Prematuro da Placenta Apgar de 4 a 7 128 74%
Apgar > 7 27 16%
Em relação ao diagnóstico inicial dos prematuros, 66% Índice de Apgar do 5º minuto de vida
apresentaram a doença da membrana hialina e, dos 172, Apgar de 0 a 3 1 0,6%
21% receberam surfactante exógeno e 82% necessitaram Apgar de 4 a 7 43 25%
de reanimação na sala de parto, estando às manobras de Apgar > 7 128 74,4%
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 109

Tabela III - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo Tabela VI - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo
com as manobras de reanimação recebidas na sala de parto (n=141), com as técnicas fisioterapêuticas recebidas (n=109), em um Hospital
em um Hospital Público, Serra/ES, 2008. Público, Serra/ES, 2008.
Perfil Neonatal Número % Perfil Neonatal Número %
Manobras de Reanimação na Sala Técnicas Fisioterapêuticas
de Parto RTA*+AFE**+Aspiração+ESM*** 15 14%
Oxigênio Inalatório 47 33% RTA+Aspiração+ESM 16 15%
Oxigênio Inalatório + Máscara 41 29% RTA+AFE+ESM 1 1%
Oxigênio Inalatório + Máscara + RTA+AFE+Aspiração 1 1%
Entubação Orotraqueal 51 36% RTA +Aspiração 2 2%
Oxigênio Inalatório + Máscara + RTA+ESM 74 67%
Entubação Orotraqueal + Massa- *Reequilíbrio toracoabdominal; **Aumento do fluxo expiratório; ***Esti-
gem Cardíaca 2 2% mulação sensório-motora

Tabela IV - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo Discussão


com os tipos de morbidades respiratórias (n=76) adquiridas durante
o período de internação hospitalar, em um Hospital Público, Serra/ No presente estudo, ao se considerar as características
ES, 2008. maternas, foi observado que, a idade como fator de risco
Perfil Neonatal Número % para prematuridade divergiu da literatura consultada, pois,
Tipos de Morbidades Respiratórias somando-se todas as gestantes menores de 20 anos e maiores
Apneia da prematuridade 25 33% de 35, obteve-se índice de 41%, indicando que, a maioria
Pneumonia 18 24% das mães, cujos filhos nasceram prematuros, encontrava-se
Hemorragia pulmonar 9 12% em adequado período reprodutivo. Estudos relatam que a
Pneumotórax 4 5% gravidez antes dos vinte e após os 35 e/ou 40 anos é fator de
Atelectasia 3 4% maior concentração de agravos à saúde materna, bem como
Hipertensão pulmonar 2 2,5% de complicações perinatais, aumentando o risco de prema-
Displasia broncopulmonar + turidade e baixo peso ao nascer [15-17].
Apneia da prematuridade 7 9% Constatou-se que cerca de 60% das puérperas tiveram
Pneumonia + Apneia da prema- parto cesáreo. Realidade que diverge do preconizado pela
turidade 6 8% OMS, em que a taxa de cesariana não deveria ultrapassar
Hemorragia pulmonar + Pneu- 15% [18]. O resultado obtido no presente estudo pode ser
motórax 2 2,5% explicado pelo fato de que o Hospital no qual esta pesquisa
foi realizada é referência em gestações de alto risco.
Tabela V - Distribuição dos recém-nascidos prematuros de acordo A maioria das mães realizou pré-natal, entretanto, gran-
com os tipos de morbidades neurológicas (n=42) adquiridas durante de parte delas não fez o número mínimo de seis consultas
o período de internação hospitalar, em um Hospital Público, Serra/ preconizado pelo Ministério da Saúde em junho de 2000,
ES, 2008. dado esse preocupante, uma vez que se associa a uma maior
Perfil Neonatal Número % probabilidade de riscos à saúde da mãe e do RN [15].
Tipos de Morbidades Neurológicas Em relação à utilização de corticoide antenatal, o mesmo
Hemorragia peri-intraventricular 26 62% tem se configurado como um exemplo raro de tecnologia de
Asfixia perinatal 7 17% baixo custo, com impacto significativo na morbimortalidade
Meningite neonatal 3 7% de RN prematuros. Apesar disso, 85% das gestantes não
Hemorragia peri-intraventricular recebeu corticoide antenatal. Resultado semelhante ao de
+ Meningite neonatal 2 5% Martinez et al. [19], que ao estudar oito Unidades Neona-
Hemorragia peri-intraventricular tais, verificaram que o uso de corticoide ainda é empregado
+ Asfixia perinatal 2 5% com frequência baixa, apesar de estar associado a melhores
Hemorragia peri-intraventricular condições de nascimento.
+ Leucomalácea 1 2% Observou-se que a maioria das gestantes apresentou a Do-
Asfixia Perinatal + Leucomalácea 1 2% ença Hipertensiva Específica da Gravidez como fator de risco
gestacional. Segundo Angonesi e Polato [20], os distúrbios
110 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

hipertensivos que ocorrem após a vigésima semana de gestação, abdome dos prematuros, melhorando a justapo­sição entre
são as complicações médicas de maior relevância durante o o diafragma e as costelas, aumentando o tônus e a força dos
período gravídico-puerperal, predispondo a partos prematuros. músculos respiratórios. Além disso, utiliza a movimentação
Com relação às características neonatais, a média da fina e qualitativa do tórax e a normalização da tonicidade
idade gestacional ao nascimento foi de 33,6 semanas, abdominal, podendo ser utilizada também para desobstrução
aproximando-se dos estudos de Melo et al. [21] e Trotman brônquica [15]. Rangel e Farias [29] realizaram pesquisa em
[22]. Em relação ao peso de nascimento, a maioria dos 60 RN na UTIN do Hospital Santa Casa de Misericórdia de
RN foi classificada como de baixo peso. Cabe ressaltar Vitória, dos quais 47% foram atendidos pela fisioterapia, e
que o baixo peso ao nascer é motivo de preocupação para a técnica fisioterapêutica mais utilizada também foi o RTA.
os profissionais da área de saúde, por se associar à maior A estimulação sensório-motora foi utilizada em 97%
morbimortalidade neonatal e infantil [23]. Em relação ao dos prematuros. Segundo Gama, Ferracioli e Corrêa [30] a
índice de Apgar do 1º minuto de vida, 84% dos prematuros morbidade dos RN de risco pode ser diminuída ou ameni-
obteve índice insatisfatório (menor ou igual a 7), explicando zada consideravelmente pela intervenção precoce, propor-
a maior necessidade de reanimação na sala de parto. Já no cionando a base para o desenvolvimento motor. Mathai
5º minuto de vida, 74,4% apresentaram Apgar entre 8 e 10, [31] ao estudar os efeitos da estimulação tátil-cinestésica
demonstrando que a maioria respondeu de forma satisfatória em prematuros internados em um hospital universitário
às manobras de reanimação neonatal. concluiu que a mesma tem efeito benéfico no crescimento
Quanto às manobras de reanimação, a maioria necessitou e desenvolvimento comportamental. Também há registros
de oxigênio inalatório, ventilação sob máscara e entubação de aumento significante no ganho de peso de prematuros
orotraqueal. Segundo Eusébio e Fernandes [24], a entubação com a intervenção motora [32].
traqueal é um procedimento frequente nas UTIN, onde a Uma vez que a prematuridade e o baixo peso ao nascer são
maioria dos RN abaixo de 1000 gramas, devido a sua limitada preditores de morbidades neonatais, entre elas, a paralisia cere-
expansão pulmonar, acaba sendo entubado na sala de parto. bral, é necessário que se faça um acompanhamento desses RN
Os resultados obtidos em nosso estudo apontam que dos 16 de risco após a alta hospitalar. Esse acompanhamento previne,
RN que apresentaram peso ao nascer menor ou igual a 1000 minimiza ou corrige os desvios no desenvolvimento, evitando
gramas, 88% foram entubados na sala de parto, apontando assim que sequelas mais graves que venham no futuro, limitem
a mesma tendência da literatura. as atividades funcionais [33]. Neste estudo, a maioria dos be-
Dos 172 prematuros, 44% apresentaram morbidades res- bês com morbidades respiratórias e todos os com morbidades
piratórias durante o período de internação hospitalar e 24% neurológicas foram encaminhados ao ambulatório de follow-up.
neurológicas. Segundo Pérez et al. [25], as doenças respira- Segundo Miranda, Resegue e Figueiras [34], os prematuros
tórias predominam no período neonatal, sendo responsáveis podem ter uma vida normal, mas precisam ser acompanhados
por elevada taxa de morbimortalidade. Assim como no estudo em programas de follow-up multiprofissional, nos quais serão
de Zhao; Gonzalez e Mu [26], que relatam a apneia como avaliados e receberão, junto com suas famílias, todo o suporte
sendo o problema mais comum em prematuros, ocorrendo necessário para favorecer seu crescimento e desenvolvimento,
devido à imaturidade do centro respiratório, em nosso estudo, desde a infância até a adolescência.
essa patologia também esteve presente na maioria dos bebês. Baroni e Almeida [35] relatam que as indicações de in-
Quanto às morbidades neurológicas, a mais presente foi a tervenção fisioterapêutica variam de acordo com o Hospital
hemorragia peri-intraventricular. Esse dado também está de e com a necessidade do paciente. Existem locais em que a
acordo com a literatura, que a refere como sendo a afecção indicação da fisioterapia é determinada pelo médico e locais
neurológica mais frequente em prematuros, podendo ocasio- em que todos os pacientes internados na UTIN recebem
nar graves sequelas motoras e intelectuais [27]. atendimento fisioterapêutico. Uma vez que a atuação desse
Em relação à assistência fisioterapêutica, dos RN aten- profissional pode prevenir ou minimizar a incidência de
didos pela fisioterapia, 3% realizaram apenas fisioterapia complicações, o presente estudo propõe que a assistência
respiratória e 97% realizaram fisioterapia respiratória fisioterapêutica seja estendida a todos os RN pré-termo
e motora, o que corrobora a literatura, uma vez que a internados na UTIN (salvo as contraindicações), visto que a
prematuridade pode levar a complicações respiratórias prematuridade por si só já é um indicador para a realização
e neurológicas, indicando a necessidade de atendimento da mesma. Esse fato seria conveniente para o sistema de saúde
fisioterapêutico global. Cavenaghi et al. [28] afirmam que por reduzir despesas hospitalares e garantir rotatividade de
a fisioterapia preventiva realizada em prematuros minimiza leitos para pacientes mais graves [36].
complicações respiratórias e neurológicas, proporcionando Uma das dificuldades do estudo foi a impossibilidade de
um melhor prognóstico. acesso a alguns prontuários por questões administrativas. Vale
Dentre as técnicas fisioterapêuticas, o reequilíbrio tora- a pena questionar a importância do controle dessa documen-
coabdominal (RTA) foi utilizado em 100% dos RN. Essa tação, a qual possibilita o conhecimento de inúmeros casos,
técnica objetiva recuperar o sinergismo entre o tórax e o sendo fonte dos mais diversos dados estatísticos.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 111

Conclusão das membranas hialinas pós-reposição de surfactante exógeno.


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Ao término deste estudo observou-se que 63% dos RN 7. Nicolau CM, Lahóz AL. Fisioterapia respiratória em Terapia
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principais técnicas utilizadas foram o RTA e a estimulação Fernandes GS et al. Atuação da fisioterapia sobre o tempo de
sensório-motora. A maioria das mães encontrava-se em ade- internação de neonatos pré-termo acometidos por distúrbios
quado período reprodutivo, tiveram gravidez única, parto respiratórios na UTI Neonatal do Hospital Universitário São
cesáreo e o fator de risco materno mais comum foi a Doença Francisco de Paula. Rev de Saúde da UCPEL 2007;1(1):54-59.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 113

Artigo original

Relação da qualidade de vida com fatores clínicos,


sociodemográficos e familiares de sujeitos
pós-acidente vascular encefálico
Relationship of quality of life with clinical, sociodemographic
and family aspects of stroke subjects
Nadiesca Taisa Filippin, Ft., D.Sc.*, Larissa Gasparini da Rocha, Ft.**, Livia Rossato Dias, Ft.***,
Caren Schlottfeldt Fleck, Ft., M.Sc.*

*Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, Grupo de Pesquisa: Promoção da
saúde e tecnologias aplicadas à Fisioterapia, **Aluna da Residência Multiprofissional em Saúde, Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre/RS, ***Fisioterapeuta da Clínica Geriátrica Nossa Senhora de Lurdes, Santa Maria/RS

Resumo Abstract
A qualidade de vida (QV) está relacionada às condições de saúde Quality of life (QOL) is related to health condition of the
do sujeito. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a QV subject. Therefore, the purpose of this study was to evaluate the
correlacionando-a com características clínicas, sociodemográficas e QOL and to correlate with clinical, sociodemographical and family
familiares de sujeitos com sequelas de acidente vascular encefálico characteristics of stroke subjects. The sample was composed of 22
(AVE). Participaram voluntariamente do estudo 22 sujeitos, de voluntaries, both gender and aged 49 to 78 years old. An interview
ambos os gêneros, com idades entre 49 e 78 anos. Realizou-se uma about clinical, sociodemographical and family aspects of the subjects
entrevista que englobava aspectos clínicos, sociodemográficos e fa- and an evaluation of the QOL using the Stroke-Specific Quality
miliares dos sujeitos e uma avaliação da QV por meio da aplicação of Life were performed. According to the results, the SSQOL sho-
da Escala de Qualidade de Vida Específica para AVE (EQVE-AVE). wed low score, what indicate a reduced QOL. Familiar and social
De acordo com os resultados, a EQVE-AVE apresentou baixo roles, work, energy and, mobility were the most affected domains.
escore, indicando uma QV reduzida. Papéis familiares e sociais, Significant correlations among QOL and the following evaluated
trabalho/produtividade, energia e mobilidade foram os domínios characteristics were observed: cognitive function, age of the first
mais afetados. Foram observadas, ainda, correlações estatisticamente stroke, age, gender, education level, income, number of people at
significativas entre QV e as seguintes características avaliadas: fun- the residence and, presence of a caregiver. However, to consider
ção cognitiva, idade do primeiro AVE, idade, gênero, escolaridade, more than physical factors in the planning, monitoring and guiding
renda, número de pessoas na residência e presença de um cuidador. of the physical therapy intervention is necessary. Besides caring of
Diante disso, é preciso considerar mais do que fatores físicos quando disease it is also important enhancing the subjects’ quality of life.
se busca realizar o planejamento, acompanhamento e direcionamen- Key-words: quality of life, stroke, health status.
to da intervenção fisioterapêutica, pois além de cuidar da doença é
importante garantir a QV destes sujeitos.
Palavras-chave: qualidade de vida, acidente vascular encefálico,
nível de saúde.

Recebido em 6 de junho de 2012; aceito em 6 de dezembro de 2012.


Endereço de correspondência: Nadiesca Taisa Filippin, Rua Conde de Porto Alegre, 37/209, Bairro Nossa Senhora de Fátima, 97010-100 Santa
Maria RS, Tel: (55) 9625-7441, E-mail: nadifilippin@yahoo.com.br
114 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Introdução os sujeitos encontravam-se na fase subaguda ou crônica. Os


critérios de exclusão do estudo foram presença de outra doença
O acidente vascular encefálico (AVE) representa, no Brasil, neurológica associada, afasia, surdez, distúrbios psiquiátricos
uma das principais causas de morbidade e mortalidade, sendo diagnosticados e alterações das funções cognitivas. Este estudo
a patologia neurológica mais incapacitante [1]. Estima-se que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Hu-
cerca de 18 milhões de pessoas terão um AVE em 2015 e, manos do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa
aproximadamente 1/3 destes resultará em óbitos [2]. Maria (RS) (Parecer no 316.2010.2). O estudo está de acordo
As maiores consequências do AVE incluem diferentes com a Resolução 196/96 do CNS e a Declaração de Helsinki.
aspectos físicos, psicológicos e sociais, tais como a perda Inicialmente, foi realizado contato telefônico com os
de sensibilidade, paralisia, distúrbios da imagem corporal, sujeitos e agendado um horário para que eles comparecessem
depressão e mudanças na função do sujeito [3,4], dentre ao Laboratório de Ensino Prático em Fisioterapia (LEP) da
outras. Isto reflete na capacidade funcional, independência e UNIFRA. Os que compareceram e se enquadraram nos cri-
autonomia do sujeito. Além disso, o impacto de tais perdas térios de inclusão citados anteriormente foram esclarecidos
resulta em diminuição da qualidade de vida (QV) [5,6]. sobre os objetivos e procedimentos do estudo e assinaram
O termo qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) é um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
usado para medir as condições da vida do sujeito, a percepção Em seguida, foram submetidos a uma entrevista contendo 24
subjetiva das dimensões física, funcional, psicológica e social questões abertas e fechadas, para o registro das características
influenciadas pela doença, tratamento ou outros agravos [7,8]. clínicas (tempo de AVE, idade em que ocorreu o primeiro
Assim, a qualidade de vida tem sido amplamente utilizada como AVE, quantidade de AVEs, tipo de AVE, acompanhamento
uma importante medida para avaliar o impacto do AVE [9,10]. fisioterapêutico, tempo de fisioterapia, patologias associadas,
Apesar de o sujeito poder obter um bom resultado funcional medicação atual), características sociodemográficas (nome,
após o AVE, pode permanecer insatisfeito com sua vida. Assim, data de nascimento, idade, gênero, escolaridade, condição
a qualidade de vida e o bem-estar subjetivo devem ser levados profissional atual, estado civil, renda, número de pessoas na
em consideração na avaliação destes sujeitos [10]. Carod-Artal, residência, morador de área rural, etnia) e, características
Egido [11] mostraram uma rede complexa de fatores que po- familiares (apoio familiar, conflito familiar, mudanças na es-
dem influenciar o ajustamento da vida do sujeito, por exemplo, trutura familiar pós-AVE, cuidador, cuidador familiar). Essas
suporte social, prejuízos neurológicos, incapacidades, cognição, questões foram elaboradas pelas pesquisadoras com base nos
humor, entre outros. Sem dúvida, a qualidade de vida é um estudos de Lökk [15] e Martínez-Martín et al. [16].
conceito complexo com muitas dimensões [12]. Por fim, foi avaliada a QV, por meio da Escala de Quali-
Diante do aumento da sobrevida de sujeitos que apresen- dade de Vida Específica para AVE (EQVE-AVE). A EQVE-
tam alguma doença e/ou comprometimento funcional, torna- -AVE é uma versão brasileira da Stroke-Specific Quality of
-se fundamental o desenvolvimento de estudos que busquem Life (SSQOL), composta por 49 itens, subdivididos em 12
identificar os fatores que interferem na QV desses sujeitos, em domínios (energia, papel familiar, linguagem, mobilidade,
especial aqueles que apresentam desordens neurológicas como humor, personalidade, autocuidado, papel social, raciocínio,
o AVE, já que estes sujeitos necessitam de cuidados em longo função de membro superior (MMSS), visão e trabalho/pro-
prazo. Para van Mierlo et al. [13], a identificação de fatores dutividade), sendo que quanto menor o escore, pior a QV.
preditores da qualidade de vida pode ser útil para melhorar a Ambos os instrumentos foram aplicados pelas pesquisa-
reabilitação e desenvolver novas formas de intervenção para doras, em um único dia, no LEP em Fisioterapia, no turno
sujeitos pós-AVE e seus cuidadores. Nesse contexto, seria da tarde e em horário pré-agendado com os sujeitos. As
possível garantir uma sobrevida com qualidade. Portanto, o avaliações foram conduzidas de modo a evitar que os sujeitos
objetivo do presente estudo foi avaliar a QV e correlacioná-la fossem submetidos a qualquer tipo de risco, constrangimento
com as características clínicas, sociodemográficas e familiares ou desconforto, sendo que estes foram esclarecidos sobre a
de sujeitos pós-AVE. possibilidade de desistir da pesquisa ou deixar de responder
a algum questionamento.
Material e métodos A análise dos dados foi feita por meio de estatística des-
critiva (média, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo).
Trata-se de um estudo transversal de abordagem quantita- Para a análise inferencial dos dados, inicialmente, foram
tiva, do tipo descritiva correlacional. Vinte e dois sujeitos com testadas a normalidade dos dados (Teste de Shapiro-Wilk) e
diagnóstico clínico de AVE, de ambos os gêneros, com idade homogeneidade das variâncias (Teste de Levene). De acordo
entre 40 e 80 anos e função cognitiva preservada, avaliada por com os testes previamente descritos, foi utilizado o coeficiente
meio do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), pontuado de correlação de Spearman para verificar a relação entre as
de acordo com o nível de escolaridade [14] foram incluídos no variáveis do estudo. O nível de significância utilizado foi de
estudo. A participação foi voluntária e não foi considerado o p ≤ 0,05. O programa estatístico utilizado foi o GB-STAT
tempo de doença para a inclusão no estudo, no entanto todos (v.5.1, Dynamic Microsystems Inc.).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 115

Resultados Gráfico 1 - Média (±DP) dos domínios da EQVE-AVE


Qualidade de vida
24
A Tabela I mostra as características clínicas, sociodemo- 22
gráficas e familiares dos sujeitos avaliados. 20
18
16

Escores
Tabela I - Características clínicas, sociodemográficas e familiares 14
dos sujeitos entrevistados (n=22). 12
10
Mediana 8
Média (±DP) 6
Variáveis (Mínimo –
ou Frequência 4
Máximo) 2
Características clínicas 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
MEEM (pontos) 23,32 (±3,64) 22,50 (18-30) Domínios
Membro acometido (D/E) 12/10 - (1= energia, 2= papéis familiares; 3= linguagem; 4= mobilidade;
Tempo de AVE (meses) 59,00 (±61,90) 38,50 (3-276) 5= humor; 6= personalidade; 7= auto-cuidado; 8= papéis sociais;
Idade do 1º AVE (anos) 58,09 (±8,80) 58,00 (42-73) 9= memória e concentração; 10= função de MMSS; 11= visão; 12=
Quantidade de AVE 1,23 (±0,43) 1,00 (1-2) trabalho/produtividade).
Tipo AVE (IS/HM) 20/2 -
Faz fisioterapia (S/N) 22/0 - Todos os domínios apresentaram correlação com o escore
Tempo de fisioterapia total da QV, com exceção da visão (r = 0,32; p = 0,16). O
42,27 (±39,48) 36,00 (1-132)
(meses) domínio com maior correlação foi o de mobilidade (r = 0,90;
Características sociodemográficas p = 0,00), seguido respectivamente pelos subitens: trabalho
Idade (anos) 62,91 (±8,07) 63,00 (49-78) e produtividade (r = 0,87; p = 0,00), função de MMSS (r =
Gênero (M/F) 12/10 - 0,83; p = 0,00), autocuidado e energia (r = 0,80; p = 0,00),
Escolaridade (A/FI/FC/ humor (r = 0,77; p = 0,00), linguagem (r = 0,69; p = 0,00),
4/6/3/7/2 - papéis familiares (r = 0,67; p = 0,00), papéis sociais (r = 0,61;
MC/SP)
Estado civil (SOL/C/DIV) 3/17/2 - p = 0,00), memória (r = 0,56; p = 0,00), personalidade (r =
Renda (salários mínimos) 2,55 (±2,44) 1,00 (1-8) 0,53; p = 0,01).
Número de pessoas na As correlações entre a QV e as características clínicas, so-
3,00 (±1,07) 3,00 (1-5) ciodemográficas e familiares dos sujeitos estão representadas
residência
Mora em área rural (S/N) 2/20 - na Tabela II.
Etnia (BR/NE) 20/2 -
Características familiares Tabela II - Correlação entre os escores da QV e as características
Apoio familiar (S/N) 20/2 - clínicas, sociodemográficas e familiares dos sujeitos avaliados (n=22).
Conflito familiar (S/N) 4/18 - Variáveis Valor Valor
Mudanças estrutura de r de p
11/11 -
familiar (S/N) Características clínicas
Cuidador (S/N) 18/4 - QV x MEEM 0,65 0,00*
Cuidador familiar (S/N) 15/7 - QV x Membro acometido - 0,01 0,95
DP= desvio padrão; MEEM= Mini Exame do Estado Mental; MMSS= QV x Tempo de AVE (meses) -0,01 0,96
membros superiores; MMII= membros inferiores; AVE= acidente QV x Idade em que ocorreu o 1º AVE (anos) -0,62 0,00*
vascular encefálico; D= direito; E= esquerdo; IS= isquêmico; HM= QV x Quantidade de AVE -0,21 0,36
hemorrágico; S= sim; N= não; B= boa; R= ruim; M= masculino; F= QV x Tipo AVE 0,09 0,70
feminino; A= analfabeto; FC= fundamental completo; FI= fundamental QV x Tempo de fisioterapia (meses) 0,01 0,96
incompleto; MC= médio completo; SP= superior; SOL= solteiro; C= Características sociodemográficas
casado; DIV= divorciado; BR= branco; NE= negro. QV x Idade -0,48 0,02*
QV x Gênero 0,50 0,02*
A condição profissional atual de todos os sujeitos era de QV x Escolaridade 0,52 0,01*
afastamento, desemprego ou aposentadoria devido ao AVE. QV x Estado civil 0,20 0,36
Foi identificado que a maioria dos sujeitos fazia uso regular QV x Renda 0,48 0,02*
de algum tipo de medicamento. QV x Número de pessoas na residência 0,49 0,02*
O escore total da EQVE-AVE para os sujeitos avaliados QV x Mora em área rural -0,26 0,24
foi de 151,36 (±43,89). O Gráfico 1 representa os valores QV x Etnia 0,12 0,58
de média e desvio-padrão em cada domínio da EQVE-AVE.
116 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Características familiares [25]. Rachpukdee et al. [21] relatam que 48% dos sujeitos do
QV x Apoio familiar -0,11 0,62 seu estudo eram cuidados por seu cônjuge e 52% por filhos,
QV X Conflito familiar -0,01 0,97 parentes ou viviam sozinhos. Haley et al. [18] também des-
QV x Mudanças na estrutura familiar 0,27 0,23 tacam que 27% dos seus avaliados viviam sozinhos.
QV x Cuidador 0,42 0,05* Todos os sujeitos avaliados realizavam fisioterapia, no
QV x Cuidador familiar 0,18 0,43 entanto, somente metade deles iniciou o tratamento na fase
QV= qualidade de vida; MEEM= mini exame do estado mental; aguda da doença. Dos estudos mais recentes encontrados,
MMSS= membros superiores; MMII= membros inferiores; AVE= aci- apenas o de Fróes et al. [20] avaliou a realização de fisioterapia
dente vascular encefálico; * p≤ 0,05. por parte dos sujeitos, relatando apenas não haver associação
entre qualidade de vida e a participação em algum programa
Todas as correlações estatisticamente significativas foram de reabilitação.
diretamente proporcionais, à exceção dos itens idade e idade Em relação à avaliação da QV, observou-se um baixo escore,
do primeiro AVE, que mostraram correlação inversamente o que implica em uma percepção ruim dos sujeitos sobre sua
proporcional com a QV. QV. Papéis familiares e sociais, trabalho/produtividade, energia
e mobilidade foram os domínios mais afetados. Os menos
Discussão afetados foram visão, memória e linguagem. Um estudo de
Cordini, Oda, Furlanetto [25], utilizando a mesma escala do
A maior parte da amostra foi composta por sujeitos acima dos presente estudo, mostrou que os domínios mais prejudicados na
60 anos de idade (média de 62,91 (± 8,07) anos) e, em relação avaliação da QV foram os da energia, do trabalho, da função de
ao gênero, houve distribuição semelhante da amostra. Diferentes MMSS e dos papéis sociais. Os domínios menos afetados foram
estudos sobre qualidade de vida no AVE têm avaliado amostra os da visão, humor, do comportamento e de papéis familiares,
semelhante ao do presente estudo no que diz respeito à idade e o que concorda em parte com os resultados do presente estudo.
gênero [17-21]. Em relação à escolaridade, a presente amostra No estudo de Gunaydin et al.[19], também utilizando a escala
mostrou grau intermediário, com pouco mais da metade da EQVE-AVE, os domínios da QV mais afetados foram mobili-
amostra com ensino fundamental completo, ensino médio ou dade, autocuidado, papel social e trabalho/produtividade para
superior. No estudo de Fróes et al. [20], a maioria da amostra os idosos e, energia, autocuidado, função de MMSS e trabalho/
foi composta por sujeitos com ensino fundamental completo ou produtividade para os não idosos. Segundo este último estudo,
incompleto, assim como no estudo de Rachpukdee et al. [21]. para os idosos avaliados, todos os domínios e, especificamente,
Já, nos estudos de Cerniauskaite et al. [22] e Haley et al. [18], a os domínios relacionados à função física foram negativamente
maioria dos participantes apresentaram ensino médio ou supe- afetados pelo AVE e o principal determinante para a QV foi o
rior. Ainda, a maioria dos sujeitos avaliados no presente estudo estado funcional. Já, para Carod-Artal, Egido [11], o bem-estar
eram casados, o que se assemelha aos estudos de Fróes et al. [20], físico e psicossocial estão fortemente afetados nos sujeitos pós-
Rachpukdee et al. [21], Cerniauskaite et al. [22]. -AVE e seus cuidadores. O estudo de Haley et al. [18], utilizan-
O fato de a maioria dos nossos sujeitos serem aposentados do a escala SF-12, aponta que tanto os domínios relacionados
pode ser justificado pela idade e/ou pelo fato de que as sequelas à saúde física quanto mental são afetados pelo AVE.
do AVE muitas vezes são incapacitantes e prejudicam ou até No presente estudo, todos os domínios apresentaram
mesmo impossibilitam o retorno ao trabalho, ocasionando correlação com o escore total da QV, com exceção da visão.
aposentadorias precoces [23]. A renda dos sujeitos avaliados O domínio com maior correlação foi o de mobilidade e o de
mostrou-se baixa, o que pode estar relacionado com a situação menor correlação o da personalidade. De qualquer maneira,
de aposentadoria. O estudo de Fróes et al. [20], também rea- as correlações apresentaram-se de moderadas a altas. Isso
lizado com brasileiros, mostrou uma renda de até um salário significa que tanto aspetos físicos quanto sociais e cognitivos
mínimo para a maioria dos sujeitos avaliados. influenciaram na baixa percepção sobre a QV dos sujeitos,
Em relação ao tempo do AVE, a média foi de 59 meses, ou demonstrando a importância de se avaliar de forma ampla o
seja, grande parte dos sujeitos encontrava-se na fase crônica impacto da doença cerebrovascular sobre o sujeito, conside-
da doença. Os estudos de Fróes et al. [20] e Cerniauskaite rando o contexto no qual está inserido.
et al. [22] também envolveram sujeitos, em sua maioria, em Quando correlacionadas as características sociodemográfi-
fase crônica. Isso indica longo período de cuidado e atenção cas, clínicas e familiares com a QV pode-se observar correlações
por parte dos cuidadores e/ou familiares. Por isso, a saúde do significativas entre algumas variáveis. Uma melhor função
cuidador atualmente também vem merecendo destaque. No cognitiva, verificada pelo MEEM, está correlacionada com uma
presente estudo, a maioria relatou ter apoio familiar, sendo melhor QV. De acordo com Carod-Artal et al. [26], estados
que a maioria tem cuidador e este é familiar. Apesar disso, cognitivos alterados podem configurar fatores contribuintes
muitos destacam a mudança na estrutura familiar. Estes para a pobre percepção da QV em sujeitos com sequela de AVE.
aspectos podem interferir na qualidade de vida do sujeito No presente estudo, houve correlação entre idade e QV,
acometido pelo AVE como também do cuidador e familiares sendo que quanto menor a idade do sujeito, melhor sua per-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 117

cepção sobre a QV. Segundo Jönsson et al. [27], a idade é um que influenciam negativamente na QV. Laurent et al. [10]
dos mais importantes determinantes da qualidade de vida após descrevem que adequado suporte social pode ser importante
um AVE. Singhpoo et al. [28] também descrevem a relação para a recuperação da independência. Conforme Petrea et al.
entre essas duas variáveis. Por outro lado, Gunaydin et al.[19] [30] e Hinojosa, Rittman, Hinojosa [34], o suporte social é
relatam que a idade não influencia na QV, conforme estudo uma variável promissora em predizer os resultados pós-AVE
comparando idosos e não idosos após AVE. Para esses autores, e explicar a diferença de gêneros. Haley et al. [18] destacam
os estudos que investigaram os efeitos da idade na QV são que a pior percepção das mulheres sobre sua QV pode estar
contraditórios e isso pode estar relacionado com a diferença relacionada com a falta de um cuidador. Ainda, no estudo
entre o desenho dos estudos, características dos sujeitos e o de Fróes et al. [20] houve correlação significativa entre vida
uso de diferentes escalas de avaliação da QV. social ativa e domínios da função física, saúde geral, vitalidade,
Em relação à idade do primeiro AVE também foi observa- saúde emocional e mental da QV. Esses estudos demonstram
do que quanto menor a idade de ocorrência do AVE, melhor a importância da presença de um cuidador, seja ele formal
a QV do sujeito. A idade é um dos fatores que influenciam ou informal, a necessidade de apoio/suporte para o paciente
a recuperação funcional após lesões, portanto, indivíduos e seus familiares e cuidadores, bem como, a relevância da
mais jovens podem apresentar melhor estado geral e melhor participação social dos sujeitos após o AVE para sua QV.
percepção sobre a QV. Já, o tempo de lesão não apresentou A correlação entre QV e tempo de fisioterapia não se mos-
correlação significativa com a QV, ou seja, a QV independe trou estatisticamente significativa. No estudo de Fróes et al.
da fase da doença (aguda ou crônica) em que o sujeito se [20], a QV não esteve associada à participação dos sujeitos em
encontra. Do contrário, no estudo de Fróes et al. [20], os su- algum programa de reabilitação prévio. O tempo após a lesão e
jeitos com maior tempo de lesão, mais jovens e independentes o tempo de fisioterapia dos sujeitos avaliados no presente estudo
apresentaram melhor QV. foi bastante variável, assim como as características individuais
Quanto ao gênero, no presente estudo, a QV apresentou e clínicas, isso, talvez, possa ter influenciado os resultados.
melhores índices em sujeitos do gênero masculino. Diversos Deve-se considerar que, além dos aspectos físicos, normalmente
estudos apontam a relação entre pior percepção da QV e sexo enfatizados no tratamento fisioterapêutico, outros fatores mos-
feminino [8,20,29-31]. Por outro lado, Haley et al. [18] não traram interferência na QV dos sujeitos avaliados. Segundo
encontraram diferenças entre os gêneros. Almborg et al. [8], para pacientes com AVE, a recuperação das
Os sujeitos com maior escolaridade e renda apresentaram atividades e participação social na comunidade, normalmente,
melhor QV neste estudo, concordando com o estudo de Singh- é mais importante que a recuperação das funções físicas.
poo et al. [28]. Já, para Fróes et al. [20], o nível educacional não Para Fraas, Calvert [35] muitos aspectos podem contri-
está associado à QV. Conforme Chagas e Monteiro [32], pessoas buir para a percepção do sucesso da recuperação, estilo de
de classes sociais mais baixas e baixa escolaridade são frequente- vida produtivo e QV positiva, entre eles, o desenvolvimento
mente acometidas por enfermidades crônicas que influenciam efetivo de estratégias de enfrentamento para direcionar os
as AVDs e a QV, já que possuem menor acesso à informação, à resultados físicos e psicológicos. Conforme Algurén et al.
alimentação adequada e atividades físicas. O fato de a maioria [12], fatores relacionados com a QV variam com o tempo e
dos sujeitos avaliados estarem aposentados pode contribuir para refletem mudanças nos padrões internos, valores e expectativas
uma renda mais baixa e uma pior percepção da QV, pois, con- influenciadas pelo processo de recuperação. Diante disso,
forme Cerniauskaite et al. [22] pessoas empregadas apresentam torna-se importante guiar a reabilitação considerando-se o
mais alta QV por estarem engajadas em uma atividade laboral. contexto biopsicossocial de cada sujeito.
Não houve correlação entre QV e estado civil, concordando
com o estudo de Fróes et al. [20]. No entanto, foi observada Conclusão
uma relação direta com o número de pessoas na residência do
sujeito e sua QV, ou seja, quanto maior o número de pessoas, O estudo forneceu uma ideia geral das condições clínicas,
melhor a QV. Ainda, a ação/presença do cuidador mostrou-se sociodemográficas e familiares de sujeitos pós-AVE e de sua
diretamente relacionada com a QV dos sujeitos avaliados. Para percepção sobre a QV. Os resultados indicaram que aspectos
Haley et al. [18], pessoas que vivem sozinhas reportam um grande como papéis familiares e sociais, trabalho/produtividade,
aumento de sintomas depressivos após o AVE quando compara- energia e mobilidade foram os domínios mais afetados, no
dos com aqueles que moram com a família ou amigos, sendo o entanto todos os domínios avaliados mostraram correlações
isolamento social um conhecido fator de risco para a depressão e moderadas a altas com a QV, exceto a visão. Além disso, a
pior percepção da QV. De acordo com o estudo de Rachpukdee QV está relacionada, principalmente como estado cognitivo,
et al. [21], ser solteiro ou viúvo configura um preditor de QV renda, idade do primeiro AVE, idade, gênero, escolaridade,
insatisfatória, possivelmente porque esposa e filhos podem prover número de pessoas na residência e presença de cuidador. Isso
cuidado informal, incluindo suporte mental e material. indica que é preciso considerar mais do que fatores físicos
Para Almborg et al. [8], Carod-Artal, Egido [11] e Muus, quando se busca realizar o planejamento, acompanhamento
Petzold, Ringsberg [33], a falta de suporte emocional e social, e o direcionamento da atuação fisioterapêutica, embora os
principalmente familiar, dentre outros aspectos são fatores resultados do presente estudo não possam ser generalizados.
118 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Diante disso, é preciso cuidar da doença, mas, sobretudo 14. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli R, Bertolucci PHF, Okamoto
garantir a QV destes sujeitos. IH. Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no
Brasil. Arq Neuro-Psiquiatr 2003;61(3-B):777-81.
As principais limitações do estudo foram o tamanho 15. Lökk J. Caregiver strain in Parkinson´s disease and the impact
amostral, a heterogeneidade dos sujeitos e a ausência de um of disease duration. Eur J Phys Med Rehabil 2008;44:39-45.
acompanhamento longitudinal. Além disso, deve-se conside- 16. Martínez-Martín P, Forjaz MJ, Rusinõl AB, Fernández-García
rar que muitos dos estudos que avaliaram a qualidade de vida JM, Benito-León J, Arillo VC, et al. Caregiver burden in
Parkinson´s disease. Mov Disord 2007; 22(7):924-31.
de sujeitos pós-AVE utilizaram escalas genéricas, o que pode 17. Barclay-Goddard R, Lix LM, Tate R, Weinberg L, Mayo NE.
dificultar e interferir na comparação dos resultados. Portanto, Health-related quality of life after stroke: does response shift oc-
torna-se importante a realização de novos estudos para melhor cur in self-perceived physical function? Arch Phys Med Rehabil
compreender a relação das variáveis analisadas, além de rela- 2011;92(11):1762-9.
18. Haley WE, Roth DL, Kissela B, Perkins M, Howard G. Quality
cionar a QV com outros fatores que possam estar prejudicados of life after stroke: a prospective longitudinal study. Qual Life
por manifestações provocadas pelo AVE, contribuindo, assim, Res 2011;20:799-806.
para a melhora da atenção voltada a esses sujeitos. 19. Gunaydin R, Karatepe AG, Kaya T, Ulutas O. Determinants
of quality of life (QoL) in elderly stroke patients: A short-term
follow-up study. Arch Gerontol Geriatr 2011; 53:19-23.
Agradecimentos 20. Fróes KSSO, Valdés MTM, Lopes DPLO, Silva CEP. Factors
associated with health-related quality of life for adults with
Agradecemos os participantes do estudo e seus familiares stroke sequelae. Arq Neuropsiquiatr 2011;69(2-B):371-6.
pela atenção e disponibilidade e a colega Márcia Guedes pela 21. Rachpukdee S, Howteerakul N, Suwannapong N, Tang-Aroon-
sin S. Quality of life of stroke survivors: a 3-month follow-up
colaboração no recrutamento dos sujeitos. study. J Stroke Cerebrovasc Dis 2012. In press.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 119

Artigo original

Sinais e sintomas de disfunção do trato urinário


inferior em gestantes de um município do interior
do estado de São Paulo
Signs and symptoms of lower urinary tract dysfunction among
pregnant women in a city of São Paulo state
Ana Carolina Sartorato Beleza, Ft.*, Mariana Chaves Aveiro, Ft.*, Maria Elis Sylvestre Silva, Ft.**

*Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, Departamento de Ciências do Movimento
Humano, **Faculdades Integradas Fafibe – Bebedouro

Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivo verificar a presença de sinais The aim of this study was to verify the presence of signs and
e sintomas de disfunção do trato urinário inferior em gestantes. symptoms of lower urinary tract dysfunction in a group of pregnant
Trata-se de uma pesquisa de campo, de corte transversal, realizada women. This was a field research and cross-sectional developed at
em Unidades Básicas de Saúde no interior do Estado de São Paulo. Basic Health Units of a town in the State of São Paulo. The sample
A amostra foi composta por primigestas, que realizavam acompa- was composed of primiparous performing prenatal care on Health
nhamento pré-natal em Unidades Básicas de Saúde. Foi aplicado Public System. A questionnaire was used to collect data about the
um questionário com questões sobre o funcionamento do trato functioning of the lower urinary tract. The data was collected du-
urinário inferior. A coleta ocorreu durante junho e julho de 2008. ring the months of June and July 2008. 18 women were evaluated
Foram avaliadas 18 gestantes e 100% apresentava algum sinal ou and 100% of them had signs or symptoms of lower urinary tract
sintoma de disfunção do trato urinário. Nove (50%) relataram dysfunction. Nine (50%) reported losing urine in any situation, and
perder urina em alguma situação, das quais 6 (66,7%) apresenta- 6 (66.7%) had stress urinary incontinence. In 5 (55.5%) women
ram incontinência urinária aos esforços. Em 5 (55,5%) gestantes in the study, urinary incontinence began in the second trimester
do estudo, a incontinência urinária teve início no 2º trimestre de of pregnancy. We concluded that all pregnant women in this study
gestação. Conclui-se que todas as gestantes avaliadas apresentaram showed signs and symptoms of lower urinary tract dysfunction in
sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior a partir do the second trimester of pregnancy, half of them had involuntary
segundo trimestre de gestação, das quais metade apresentava perda loss of urine, mainly on effort.
involuntária de urina, principalmente, aos esforços. Key-words: urinary incontinence, pregnancy, Physical Therapy.
Palavras-chave: incontinência urinária, gravidez, Fisioterapia.

Recebido em 21 de junho de 2012; aceito em 20 de dezembro de 2012.


Endereço para correspondência: Ana Carolina Sartorato Beleza, Avenida Almirante Cochrane, 158/42, 11040-000 Santos SP, E-mail: acbeleza@
gmail.com
120 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

Introdução o acompanhamento pré-natal em Unidades Básicas de Saúde


do município de Bebedouro, localizado no interior do Estado
A incontinência urinária feminina (IU), definida como de São Paulo, no período entre junho e julho de 2008.
perda involuntária da urina, é um importante problema de Para realização deste estudo, foi estabelecida uma parceria
saúde pública, tanto pela sua elevada prevalência, quanto pelo com as Unidades Básicas de Saúde da cidade. O presente
grande impacto físico, psíquico e social na vida da mulher [1]. estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o
A prevalência de incontinência urinária em gestantes é protocolo 90/2008. Todas as participantes foram esclarecidas
duas vezes maior, se comparada com as mulheres que nunca quanto aos objetivos e procedimentos e assinaram o Termo
gestaram [2]. A incontinência urinária de esforço é o tipo de Consentimento Livre e Esclarecido.
mais comum [3]. Foram incluídas mulheres com gravidez confirmada por
Os mecanismos de perda são numerosos e a própria gra- exame de sangue, primigestas, em acompanhamento pré-natal
videz é considerada um fator de risco para o desenvolvimento e maiores de idade.
ou agravamento de uma incontinência pré-existente. O peso Foram excluídas do estudo gestantes que faziam o acom-
adquirido durante a gestação e o tipo de parto também con- panhamento dos exames pré-natal em hospitais particulares,
figuram como fatores agravantes [4]. que já haviam realizado fisioterapia para disfunção de assoalho
Segundo Scarpa et al. [5], as causas da incontinência pélvico, em tratamento para infecção urinária e que estavam
urinária podem estar relacionadas às modificações hormonais em situação de risco como gravidez gemelar, diabetes ou
e mecânicas. Devido à pressão exercida pelo aumento do hipertensão.
útero na bexiga, a frequência urinária aumentada tende a ser Para a coleta de dados, foi elaborado um questionário,
um sinal prévio de gravidez. A partir do segundo trimestre, baseado nos sinais e sintomas relatados na literatura científi-
o útero passa a ocupar a cavidade abdominal, reduzindo ca para pacientes que possuem incontinência urinária. Este
a pressão sobre a bexiga e, consequentemente reduzindo continha dados pessoais, dados ginecológicos pregressos e
a frequência urinária. Geralmente, no terceiro trimestre a dados referentes à incontinência urinária. Foi realizada uma
frequência urinária volta a aumentar, devido à redução da análise descritiva dos dados; as variáveis categóricas foram
capacidade vesical e ao aumento da pressão, causados pelo apresentadas como proporção, e as variáveis quantitativas
crescimento fetal [6]. como média e desvio padrão.
Além da pressão abdominal aumentada, sugere-se que a
presença do hormônio relaxina e o aumento das concentra- Resultados
ções dos demais hormônios, em especial da progesterona,
acarretam modificações teciduais, por exemplo, relaxamento Foram contatadas 46 gestantes nas UBS da cidade. Porém,
da musculatura lisa, levando ao desenvolvimento da inconti- 28 foram excluídas: 25 multíparas e 3 (três) por serem meno-
nência urinária [7]. Wijma et al. [8] afirmam que a diminuição res de idade. A amostra foi composta por 18 mulheres idade
da força do assoalho pélvico também pode ser uma das causas média de 20,9 ± 3,86 anos, variando de 18 a 35 anos. Sobre
da incontinência. a situação conjugal, 12 mulheres eram casadas e 6 solteiras.
De acordo com Santos et al. [1] grande parte das gestantes Possuíam atividade ocupacional remunerada 12 (66,6%)
sentem-se incomodadas com a incontinência urinária, chegam mulheres; 5 (27,9%) apresentavam atividades relativas ao
a sentir-se menos saudáveis. Esses autores também revelam cuidado com o lar e apenas 1 era estudante.
que muitas ficam ansiosas e apresentam-se constrangidas Uma gestante (5,5%) tinha o ensino fundamental in-
durante a relação sexual. completo, 3 (16,6%) concluíram o ensino fundamental, 4
Existem poucos estudos a respeito da prevalência de in- (22,4%) ensino médio incompleto, 9 (50%) ensino médio
continência urinária em gestantes no Brasil, embora já seja completo e uma (5,5%) apresentava nível técnico.
considerado um problema de saúde pública relevante, que A média da idade gestacional das mulheres foi de com 26,5
leva ao constrangimento social e, portanto, promove redução ± 8,5 semanas. A perda involuntária de urina foi relatada por 9
da qualidade de vida das mulheres na fase gestacional. Assim, (50%) gestantes. Entretanto, todas as mulheres apresentaram
este estudo teve como objetivo verificar a presença de sinais e algum sinal ou sintoma de disfunção do trato urinário inferior.
sintomas de disfunção do trato urinário inferior em gestantes Os dados estão descritos na Tabela I.
que realizaram pré-natal em Unidades Básicas de Saúde de Em relação à sensação de esvaziamento da bexiga 11
um município do Estado de São Paulo. (61,1%) gestantes relataram sentir que após a micção há um
esvaziamento completo da bexiga, e 7 (38,9%) relataram que
Material e métodos não sentem o esvaziamento completo.
Das 9 gestantes com perda involuntária de urinária, 8
Este estudo constituiu-se de uma pesquisa de campo, de (88,9%) afirmaram que esse sintoma teve inicio após a ges-
caráter analítico, de corte transversal. A amostra foi composta tação, e, apenas uma (11,1%) já havia perdido urina antes
de 18 gestantes, selecionadas por conveniência, que realizaram de estar grávida.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 121

Tabela I - Sinais e sintomas de disfunção do trato urinário inferior idade em gestantes. Os resultados da sua pesquisa mostraram
entre as gestantes. (Bebedouro/SP, 2008). que apenas no grupo de gestantes mais jovens, com idade
Sinais e Sintomas da IU nº de Gestantes entre 15 e 24 anos, houve um aumento de risco para desen-
(n=18) volvimento de incontinência urinária. Estudos realizados na
n % Austrália e na Noruega sugerem forte associação em mulheres
Esforço 1 5,5 jovens (18 e 23 anos), associação moderada em mulheres de
Esforço+Noctúria+Urgência 2 11,2 45 a 50 anos e ausência de associação nas mais idosas (70 a
Esforço+Urgência 1 5,5 75 anos) [14]. A média de idade das gestantes do presente
Esforço+Noctúria 1 5,5 estudo (20,9 ± 3,86) encontra-se na fase de forte associação.
Urge-Incontinência+Noctúria 2 11,2 Vale destacar que se optou neste estudo pelo critério da pri-
Esforço+Urge- 2 11,2 miparidade para que não existisse interferência de gestações
-Incontinência+Noctúria e partos anteriores para o desenvolvimento de incontinência.
Noctúria 7 38,7 O sintoma de perda involuntária de urina foi relatado
Noctúria+Urgência 2 11,2 por 9 (50%) das gestantes, das quais uma já havia perdido
Total 18 100 urina antes da gestação. Chiarelli e Campbell [11] relatam
que 3% das mulheres com IU na gestação já apresentavam
Seis gestantes (66,7%) relataram perder urina após a esse sintoma antes de estarem grávidas.
realização de algum esforço, uma (11,2%) apresentou perda Hojberg et al. [13] realizaram uma pesquisa referente à
após sentir urgência em urinar, e 2 (22,1%) relataram ter IU com 7795 gestantes. Destas, 4136 eram primigestas, das
perdido urina aos esforços e após urgência. Diante de tais quais 3-9% relataram IU. Já em um estudo realizado com
sinais e sintomas, verificou-se que 6 (66,7%) das gestantes 304 gestantes, Chiarelli e Campbell [11] encontraram 194
possuíam sinais e sintomas de incontinência por esforço, uma (64%) mulheres com IU, Spellacy [12] encontrou 31 (62%)
(11,2%) por instabilidade do detrusor e 2 (22,1%) inconti- gestantes com IU, o total de mulheres estudadas foram 50.
nência urinária mista. Nesses dois últimos estudos não havia diferenciação entre
Dentre as 9 gestantes com queixa de perda urinária, 3 primigestas e multíparas. Martins et al. [15] encontraram
(33,3%) relataram perder urina em jato, enquanto 6 (66,7%) uma prevalência de 63,8% de mulheres com incontinência
em gotas, 5 (55,5%) relataram perda urinária diária, e, 4 urinária entre 500 mulheres gestantes, tanto nulíparas, quanto
(44,5%) como rara. O início da perda urinária ocorreu, segun- multíparas assistidas em clínica pré-natal no interior do Brasil,
do o relato, em sua maioria no 2º trimestre de gestação. Das e a multiparidade apresentou associação significativa com o
gestantes entrevistadas, 5 (55,5%) tiveram o início da perda desenvolvimento de incontinência urinária.
no 2º trimestre, e 4 (44,5%) no terceiro trimestre de gestação. Durante a gestação, modificações anatômicas e funcionais
Ainda, 5 (55,5%) gestantes referiram sentir-se incomodadas, do trato urinário inferior possivelmente alteram os mecanis-
e 4 (44,5%) referiram não se importar com as perdas. mos envolvidos com a continência urinária desencadeando
O tratamento fisioterapêutico para prevenir e atuar na sintomas urinários [3,16,17]. A etiologia precisa da IU
incontinência urinária era conhecido por 2 (11,2%) das ges- na gestação ainda não está totalmente esclarecida, porém,
tantes, enquanto 16 (88,8%) desconheciam qualquer atuação acredita-se que há grande interferência de fatores hormonais
da fisioterapia nessa área. e mecânicos no desenvolvimento da mesma [18]. Acredita-se
que a variação dos níveis hormonais, que ocorre paralelamente
Discussão ao desenvolvimento da gestação, possa influenciar no mecanis-
mo de continência [16,19,20]. Wijma et al. [21] observaram
A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade que altos níveis de progesterona levam à hipotonicidade das
Internacional de Continência (ICS) e pela Associação Inter- estruturas do assoalho pélvico, influenciando o desencadea-
nacional de Uroginecologia (IUGA) como sendo uma perda mento de sintomas urinários no início da gestação. O’Boyle et
involuntária de urina [9,10], sendo considerada uma epide- al. [22] observaram um aumento significativo da mobilidade
mia silenciosa que atinge muito mais às mulheres do que aos uretral em gestantes primigestas, sugerindo que as alterações
homens. A incontinência é um sintoma que leva a situações fisiológicas no assoalho pélvico podem ser objetivamente
embaraçosas e restrição de atividades [11]. demonstradas antes do parto.
Além disso, existem efeitos psicossociais associados com a Do ponto de vista mecânico, a IU decorre da elevação da
perda involuntária de urina, incluindo desconforto, embaraço pressão intra-abdominal, pelo aumento do volume uterino,
e frustração que agravam a disfunção. A incontinência urinária que se transmite à bexiga e pela mudança no posicionamento
reduz a autoestima, leva ao isolamento social e redução da da porção proximal da uretra, que dificulta a transmissão dessa
atividade sexual [12]. pressão intra-abdominal à uretra [23]. O tamanho e o peso
Hojberg et al. [13] não encontraram aumento do risco de do útero e seu conteúdo geram uma pressão crucial sobre a
desenvolvimento de incontinência urinária com o aumento da bexiga, podendo causar redução da capacidade vesical [24].
122 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013

No presente estudo, um maior número de gestantes referiu e Campbell [11] 8% das mulheres iniciam com os sintomas
sinais e sintomas relacionados à incontinência urinária aos de IU no 1º trimestre, aumentando para 18% no segundo
esforços, no entanto apenas uma apresentou sinais e sintomas trimestre e 47% no 3º trimestre. Ainda para esses autores,
relacionados à incontinência por instabilidade do detrusor, 20% das gestantes incontinentes começaram a perder urina
e duas relacionados a incontinência urinária mista. Apenas em uma gestação anterior, 6% após o primeiro parto e 3%
uma gestante referiu enurese noturna, que é definida como sempre tiveram IU.
perda urinária durante o sono [23]. Todos os tipos de incontinência urinária aumentaram com
Hojberg et al. [13] concluíram após a aplicação de um o curso da gestação no estudo de Brown et al. [25], porém a
questionário para verificação da prevalência IU em gestantes incontinência urinária aos esforços foi mais prevalente tanto
que, das 163 primigestas com incontinência urinária, 76 no início da gestação 70,4% (88/125) quanto no final 73,9%
(46,7%) apresentavam IU aos esforços; 26 (16%) apre- (396/536).
sentavam incontinência por instabilidade do detrusor; 38 A incontinência urinária causa grande constrangimento
(23,3%) incontinência mista. Em relação à enurese noturna, e incômodo em gestantes jovens. A IU limita a mobilidade,
em um total de 130 gestantes primigestas, o sintoma foi aumenta o estresse, leva a situações embaraçosas e reduz a
diagnosticado em 4 (3,1%) das gestantes entrevistadas em qualidade de vida [26]. Porém, no presente estudo, apenas 5
um estudo realizado por Scarpa et al.[5]. No estudo de Brown (55,5%) das gestantes se sentiam incomodadas com a perda
et al. [25], também, a incontinência urinária por esforço e urinária.
a incontinência urinária mista foram mais prevalentes que a A noctúria, definida como o ato de levantar uma ou mais
urge-incontinência sozinha. vezes à noite para urinar foi encontrada no presente estudo
Em relação à sensação de esvaziamento, 38,9% gestantes em 16 (88,8%) das mulheres entrevistadas, sendo um sintoma
relataram não sentir que a bexiga se esvaziou completamente comum na gestação. Em um grupo de 130 primigestas, Scarpa
após a micção. A dificuldade miccional ocorre em até 1/3 et al. [27] encontraram 77,7% de gestantes com noctúria, o
das mulheres grávidas, com redução do jato urinário e esva- que corrobora este estudo.
ziamento vesical incompleto, os quais podem se estender do A atuação da fisioterapia na prevenção e tratamento da
início ao final da gestação [14]. IU, além da sua atuação no pré e pós-parto, era conhecida
Quanto à forma de perda urinária, a grande maioria por apenas 2 (11,2%) gestantes, o restante (n = 16, 88,8%)
(66,7%) das gestantes perdia urina em gotas, enquanto que não tinha ideia do que a fisioterapia podia lhes proporcionar.
33,3% em jato. Em um estudo realizado por Chiarelli e Esses dados demonstram que a fisioterapia em uroginecologia
Campbell [11], com 304 gestantes, 64% eram incontinentes. e obstetrícia é uma área ainda pouco divulgada, pois tanto os
Dessas 25% perdiam urina em gotas, 57% perdiam uma pacientes como os médicos não conhecem o grande poten-
quantidade suficiente de urina para molhar sua roupa íntima cial desta especialidade. A Fisioterapia em Saúde da Mulher
ou absorvente, e 18% perdiam uma quantidade severa de reconhecida apenas no ano de 2009.
urina, deixando sua roupa íntima ou absorvente úmidos, o De acordo com Wijma et al. [21], o desenvolvimento de
que não foi encontrado no presente estudo. incontinência urinária na gestação é um fator de risco para
Dentre as gestantes incontinentes no presente estudo, 5 manutenção dessa incontinência no puerpério. Morkved et
(55,5%) perdiam urina diariamente, enquanto 4 (44,5%) al.[28] reportam que exercícios da musculatura do assoalho
disseram ser rara a perda. Os vazamentos diários foram pélvico em gestantes nulíparas podem prevenir o desencade-
relatados no último trimestre da gestação por uma grande amento de sintomas urinários na gestação e após o parto. O
proporção das mulheres com incontinência urinária aos conhecimento de uma alta prevalência de sintomas urinários
esforços e incontinência urinária mista, 7,8% e 17,3%, na gestação pode trazer um argumento favorável para a
respectivamente, comparada com apenas 2,3% das mulhe- implementação de uma intervenção preventiva na gestação,
res com apenas urge-incontinência [25]. Já Hojberg et al. como um programa intensivo de exercícios da musculatura
[13] encontraram entre as 163 primigestas incontinentes, do assoalho pélvico.
10,5% com perda urinária diária, 26% pelo menos uma vez
na semana, 54,5% menos do que uma vez na semana, 9% Conclusão
das gestantes não responderam a questão sobre a frequência
da perda urinária. A partir dos resultados apresentados, conclui-se que as
Em relação ao período de gestação, a literatura científica gestantes assistidas em Unidades Básicas de Saúde de uma
reporta que a prevalência para desenvolvimento de IU no cidade no interior do Estado de São Paulo eram jovens e
1º trimestre é de aproximadamente 15%, aumentando para apresentavam sinais e sintomas de disfunção do trato urinário
35% no 2º trimestre e 40% no 3º trimestre [13]. No presente inferior a partir do segundo trimestre de gestação. Ainda,
estudo foi encontrado que 5 (55,5%) das gestantes desen- metade delas apresentava perda involuntária de urina, prin-
volveram os sintomas de disfunção do trato urinário inferior cipalmente, aos esforços.
no 2º trimestre, e 4 (44,5%) no 3o trimestre. Para Chiarelli
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2013 123

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124 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Artigo original

Cuidadores de instituições de longa permanência


para idosos: dor, ansiedade e depressão
Caregivers of long-term care institutions for elderly:
pain, anxiety and depression
Renata Antunes Lopes, M.Sc.*, Marlete Aparecida Goncalves Melo Coelho, M.Sc.**,
Natalia Corradi Drumond Mitre, M.Sc.***

*Professora do Curso de Fisioterapia, Universidade de Itaúna UFMG, **Coordenadora e Professora do Curso de Fisioterapia, Uni-
versidade de Itaúna, Mestre em Cultura e Organizações Sociais – FUNEDI, Divinópolis/MG,***Preceptora das Clínicas Integradas
de Fisioterapia, Universidade de Itaúna, UFMG

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a frequência de sintomas osteomusculares, Objectives: To assess the frequency of musculoskeletal symptoms,
sintomas depressivos e ansiedade entre os cuidadores das insti- anxiety and depression among caregivers of long-stay institutions for
tuições de longa permanência para idosos (ILPI) de Itaúna/MG. elderly (LSIE) in Itaúna/MG. Methods: All caregivers, who helped
Métodos: Foram incluídos todos os cuidadores que auxiliavam os the elderly in performing basic or instrumental activities of daily
idosos na realização das atividades básicas ou instrumentais de vida living, were included. Assessments: Sociodemographic Questionnaire,
diária. Avaliações: Questionário sociodemográfico, Questionário Nordic Musculoskeletal Questionnaire, Beck Depression Inventory
Nórdico de Sintomas Osteomusculares, Inventário de Depressão and the State-Trait Anxiety Inventory. Results: Were interviewed 25
de Beck e Inventário de Ansiedade Traço-Estado. Resultados: Foram caregivers, mostly female, married and with incomplete primary
entrevistados 25 cuidadores, a maioria do sexo feminino, casados education. The average age of caregivers was 46 years. The average
e com ensino fundamental incompleto. A média de idade dos cui- monthly salary was R$598.04. We observed high frequency of mus-
dadores foi de 46 anos. A média de remuneração mensal foi de R$ culoskeletal symptoms, especially in shoulders and lumbar spine.
598,04. Percebeu-se alta frequência de sintomas osteomusculares, The frequency of depressive symptoms was 48% and anxiety ranged
destacando-se nos ombros e na coluna lombar. 48% dos cuidadores from 64% to 92%. Conclusion: Leaders of LSIE should be attentive
apresentaram sintomas depressivos e os níveis de ansiedade variaram to the health support and social care to caregivers, optimizing elderly
de 64% a 92% entre os cuidadores. Conclusão: É importante que os care, by offering them better quality of life.
dirigentes das ILPI estejam atentos ao suporte de saúde e assistência Key-words: caregivers, homes for the aged, pain, anxiety,
social aos cuidadores, otimizando, assim, a assistência ao idoso, depression.
oferecendo-lhes melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: cuidadores, instituição de longa permanência
para idosos, dor, ansiedade, depressão.

Recebido em 27 de junho de 2012; aceito em 25 de fevereiro de 2013.


Endereço de correspondência: Renata Antunes Lopes, Rua Silva Jardim 190/301, Centro, 35680-062 Itaúna MG, E-mail: renataaa87@hotmail.com,
marletefisio@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 125

Introdução lizados, em sua maioria, com cuidadores informais (familiares


e amigos), refletindo a tendência de se priorizar a manutenção
Os idosos, particularmente os mais velhos, constituem o do idoso na comunidade, junto à família [8,17,18]. Dessa
segmento que mais cresce da população brasileira e mundial forma, a função de cuidador, enquanto prática profissional
[1-3]. O Brasil passou, em pouco tempo, de um cenário de remunerada permanece obscura, especialmente com relação
mortalidade próprio de uma população jovem para um qua- aos que exercem tal função em instituições de longa perma-
dro de enfermidades complexas e onerosas, típica dos países nência [17,19,20].
longevos, caracterizado por doenças crônicas e múltiplas, que Este estudo justifica-se, pelo aumento do número de
podem implicar em déficit no autocuidado, dependência idosos e da demanda por instituições de longa permanência
funcional e institucionalização [2-5]. O Estado e a sociedade e consequente aumento do ônus físicoemocional entre os
precisam responder às necessidades ora surgidas, referentes cuidadores formais [2,5]. Ademais, informações relativas aos
aos cuidados dos longevos que perdem sua autonomia para cuidadores enquanto atividade profissional poderão indicar
o desempenho de atividades de vida diárias. Uma maneira tendências, deficiências e necessidades relativas a esse mercado
encontrada em praticamente todos os países de assegurar de trabalho [20].
aos idosos formas extrafamiliares de abrigamento e cuidados Assim, sabendo-se da sobrecarga imposta pelo cuidado, o
de longa duração, principalmente aos fragilizados, semi ou objetivo deste estudo foi apresentar a frequência de sintomas
totalmente dependentes, foram os asilos, que modernamente osteomusculares, de sintomas depressivos e de ansiedade entre
são denominados Instituições de Longa Permanência para os cuidadores das ILPI do município de Itaúna/MG.
Idosos (ILPI) [4,6].
O cuidador surge, nesse contexto, como figura funda- Material e métodos
mental [5]. Contudo, o cuidado formal, ou seja, oferecido
por profissionais contratados para auxiliar os idosos nas suas Trata-se de um estudo observacional exploratório de corte
atividades básicas e instrumentais de vida diária, pode se transversal com todos os cuidadores formais das Instituições:
transformar em uma tarefa árdua e complexa [3-9]. Além de “Fundação Frederico Ozanan de Itaúna” e “Centro de Recu-
saber lidar com a doença, o cuidador tem que conviver com peração e Assistência Social Integrada” (CRASI). Estas são as
a subjetividade inerente às relações humanas [3,6]. Segundo duas únicas Instituições de Longa Permanência para Idosos
Giacomin et al. [3], alguns fatores podem permear as dificul- do município de Itaúna/MG e ambas apresentam caráter
dades no cuidado cotidiano e colaborar para aumentar o ônus filantrópico. Foram incluídos os profissionais que auxiliavam
físico-emocional de quem cuida. Dentre eles estão a condição os idosos na realização das atividades básicas ou instrumentais
de saúde e características de quem é cuidado, as limitações de de vida diária e que aceitaram participar do estudo, assinando
quem cuida – relacionadas ao envelhecimento e adoecimento o termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto de
do cuidador – e algumas situações de penúria social [3,10-12]. pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da Universi-
Assim, essa sobrecarga tem trazido sérias consequências dade de Itaúna e aprovado pelo parecer 018/10. Todos os
físicas e psicossociais para cuidadores, dentre elas sintomas participantes leram e assinaram o termo de consentimento
osteomusculares, sintomas depressivos e ansiedade [5,13]. livre e esclarecido. Ademais, a pesquisa foi realizada com o
A presença de sintomas osteomusculares, especialmente consentimento dos responsáveis pelas ILPI, após explicação
na coluna, parece estar intimamente relacionada com as cuidadosa dos objetivos e procedimentos. Os dados foram
atividades diárias de cuidados com os idosos, que envolvem coletados por uma única avaliadora previamente treinada,
cargas excessivas e posturas inadequadas [4,14]. As queixas de mediante entrevista nos domicílios dos cuidadores para
dores osteomusculares contribuem para prejuízo na qualidade evitar transtornos no ambiente de trabalho e possíveis vieses
de vida dos cuidadores e do cuidado, levando a solicitação de nos resultados. As entrevistas foram realizadas no período de
licenças médicas e maior ônus para a Saúde Pública [9,14,15]. 24/05/2010 a 07/08/2010.
A sobrecarga física e emocional dos cuidadores também Inicialmente foi realizada uma entrevista estruturada
pode se mostrar através de sintomas depressivos e ansiedade contendo questões sociodemográficas (idade, gênero, nível de
[7,13]. Os sintomas depressivos podem se manifestar de di- escolaridade, remuneração mensal). Posteriormente, foi apli-
versas formas, observando-se alterações de humor, mudanças cado o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
somáticas, sociais e cognitivas [16]. A ansiedade, definida Esse instrumento foi desenvolvido com a proposta de padro-
como um estado de alerta, que amplia a atenção diante de nizar a mensuração de relato de sintomas osteomusculares,
uma situação de perigo real ou imaginário, pode ocasionar facilitando a comparação dos resultados entre os estudos. O
sensação difusa e desagradável de apreensão, mal estar gástrico, instrumento, validado por Pinheiro et al. [21], consiste em
precordialgia, palpitações e cefaleia [16]. escolhas binárias quanto à ocorrência de sintomas nas regiões
Mesmo diante desse panorama, dados relativos à saúde anatômicas mais comuns, considerando os 12 meses e 7 dias
física e emocional dos cuidadores de ILPI dentro e fora do precedentes à entrevista, bem como ocorrência de afastamento
Brasil são escassos [6,13,17]. Os estudos existentes foram rea- das atividades rotineiras no último ano [21].
126 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

A presença de sintomas depressivos foi investigada pelo Tabela II - Frequência e porcentagem de presença de problemas (dor/
Inventário de Depressão de Beck (IDB). Esse instrumento desconforto/ dormência), considerando os últimos sete dias em cada
foi desenvolvido por Beck [22] e validado no Brasil por Go- região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
renstein e Andrade [23]. A escala consiste em 21 itens, cada Presença de Problemas
um contendo quatro afirmativas com graus de intensidade n %
variando de 0 a 3, sendo que quanto maiores os escores finais, Pescoço 10 40
maior a presença de sintomas depressivos [23]. Ombros 14 56
A presença de ansiedade foi pesquisada pelo Inventário Cotovelos 1 4
de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). Traduzido e validado Antebraços 5 20
para o Brasil por Biaggio [24], o IDATE é uma escala de Punhos/mãos/dedos 8 32
autorrelato que depende da reflexão consciente do estado Região dorsal 11 44
de ansiedade. A escala mede dois elementos que compõem Região lombar 17 68
a ansiedade: o estado, que se refere a um estado emocional Quadris ou coxas 5 20
transitório; e o traço, que se refere a diferenças individuais, Joelhos 4 16
relativamente estáveis, na tendência a reagir a situações Tornozelos e/ou pés 11 44
percebidas como ameaçadoras com elevados níveis de an-
siedade [24]. Tabela III - Frequência e porcentagem de presença de problemas
Na análise estatística, foi realizada distribuição de frequ- (dor/desconforto/ dormência), causando impedimento na realização
ência e porcentagem das variáveis sociodemográficas e das das atividades normais considerando os últimos doze meses em cada
variáveis sintomas osteomusculares, sintomas depressivos e região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
ansiedade. O pacote estatístico Statistical Package for Social Presença de Problemas
Sciences (SPSS 13.0, Chicago, IL, USA) foi utilizado para N %
a preparação do banco de dados assim como para a análise Pescoço 6 24
estatística. Ombros 8 32
Cotovelos 1 4
Resultados Antebraços 2 8
Punhos/mãos/dedos 3 12
A amostra foi composta por 25 cuidadores. A média de Região dorsal 6 24
idade dos cuidadores foi de 46,32 ± 8,72 anos e a média de Região lombar 8 32
remuneração mensal foi de R$ 598,04 ± 111,73. A maioria Quadris ou coxas 4 16
era do gênero feminino (88%), casados (52%) e com ensino Joelhos 2 8
fundamental incompleto (52%). A frequência de sintomas Tornozelos e/ou pés 3 12
osteomusculares nos principais segmentos corporais nos
12 meses anteriores à entrevista, nos 7 dias anteriores e Segundo o IDB, 52% dos cuidadores não apresentaram
afastamento das atividades diárias nos 12 meses anteriores sintomas depressivos, 40% apresentaram sintomas depressi-
está exposta nas Tabelas I, II e III, respectivamente. vos leves, 4% sintomas depressivos leves a moderados, 0%
sintomas depressivos moderados a severos e 4% sintomas
Tabela I - Frequência e porcentagem de presença de problemas depressivos severos.
(dor/desconforto/ dormência), considerando os últimos doze me- Segundo o IDATE-traço, 12% dos cuidadores apresenta-
ses em cada região do corpo, Questionário Nórdico de Sintomas ram nível alto de ansiedade, 80% nível médio de ansiedade e
Osteomusculares. 8% nível baixo de ansiedade. Segundo o IDATE-estado, 4%
Presença de Problemas apresentaram nível alto de ansiedade, 60% nível médio de
n % ansiedade e 36% nível baixo de ansiedade.
Pescoço 12 48
Ombros 16 64 Discussão
Cotovelos 2 8
Antebraços 6 24 O perfil dos cuidadores dos idosos das instituições de longa
Punhos/mãos/dedos 10 40 permanência de Itaúna/MG é representado, em sua maioria, por
Região dorsal 14 56 profissionais do sexo feminino (88%), casados (52%), com ensino
Região lombar 18 72 fundamental incompleto (52%), com média de idade de 46,32
Quadris ou coxas 7 28 anos e remuneração mensal média de R$ 598,04. A descrição
Joelhos 8 32 da amostra confirma a feminização do cuidado, que pode ser
Tornozelos e/ou pés 13 52 explicada pelas raízes históricas e culturais do cuidado [5-7,13,25].
Além disso, foi constatado o baixo nível de escolaridade dos cui-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 127

dadores, assim como a média de idade equivalente à idade adulta são entre os cuidadores de idosos pode estar associada ao tempo
e remuneração mensal pouco mais alta que um salário mínimo despendido com os cuidados aos idosos, assim como aumento na
(R$ 510,00 no ano de 2010). Esses fatores podem causar a baixa demanda de cuidados ao longo do tempo. Além disso, o estado
qualidade do cuidado e aumento da sobrecarga física, levando a mental e funcional dos pacientes influencia na saúde do cuidador
prejuízos na qualidade de vida dos cuidadores [5,14,18,19,25-27]. [11,12]. Desordens comportamentais, limitações funcionais,
Quanto à frequência de sintomas osteomusculares, destacam-se déficit cognitivo e sintomas depressivos, comuns entre idosos
as regiões: ombros (64%), região dorsal (56%), região lombar de ILPI, tendem a influenciar negativamente a saúde psíquica
(72%) e tornozelos/pés (52%) nos 12 meses anteriores; ombros dos cuidadores [6,11,12]. Doentes deprimidos frequentemente
(56%) e região lombar (68%) nos sete dias anteriores à entrevista; queixam-se de dor crônica, muitas vezes em vários segmentos
e ombros (32%) e região lombar (32%) causando impedimento do corpo na ausência de lesões e, geralmente consultam vários
na realização das atividades normais considerando os últimos doze profissionais sem, no entanto, obterem melhora satisfatória, o
meses anteriores à entrevista. É importante salientar que todos que gera sobrecarga física e emocional no seu cuidador [30].
os cuidadores avaliados referiram sintomas osteomusculares em Segundo Hung et al. [30], os sintomas depressivos agravam a
pelo menos um segmento corporal. No estudo de Carneiro et funcionalidade social e ocupacional dos indivíduos com dor,
al.[5], em que cuidadores de ILPI foram avaliados com o mesmo além de influenciar a vivência e o controle da sintomatologia
instrumento, foi encontrada menor prevalência de sintomas oste- álgica. Esses achados apontam para a possível coexistência da dor,
omusculares. Entretanto, as regiões mais frequentemente afetadas ansiedade e depressão e que a necessidade dos cuidadores vai além
foram coincidentes. Em estudo de Gucer et al. [15], 79% dos do tratamento físico preventivo/reabilitador através da fisioterapia
cuidadores reportaram sintomas osteomusculares relacionados ao [30]. Recomenda-se que os cuidadores recebam orientações de
trabalho. Em amostra de cuidadores de crianças com limitações fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes
funcionais, Tong et al. [28] encontraram prevalência de dor lom- sociais, além de melhoria de suas condições de trabalho [13]. Sales
bar igual a 71,1%, sendo que a dependência dos pacientes para et al. [9] pontuaram que, além de os cuidadores exercerem uma
transferências estava diretamente associada a maior dor lombar no atividade muito desgastante do ponto de vista físico e emocional,
cuidador. Uma explicação para a geração de tamanha sobrecarga sua ocupação exige dedicação e atenção irrestritas, sem incentivos
é a qualificação inadequada para o exercício profissional [29]. de promoção ou reconhecimento. Esses resultados confirmam
Segundo Ribeiro et al. [6], há uma tendência de pior formação que os sintomas são multifatoriais e devem ser abordados por uma
dos profissionais de instituições filantrópicas. A importância equipe multidisciplinar integrada e consciente dos problemas
da formação de cuidadores de idosos é amplamente discutida enfrentados pelos cuidadores [13,14].
na literatura, pois por mais que o cuidado seja ontológico, ele No presente estudo, foi demonstrado que 92% dos cui-
demanda especificidades que precisam ser consideradas à luz do dadores apresentaram níveis médios a altos de ansiedade pelo
exercício profissional, sob risco de geração de iatrogenias e prejuízo IDATE-traço e 64% pelo IDATE-estado. Rezende et al. [16]
para a qualidade de vida do próprio cuidador [6]. Além disso, a mostraram que ansiedade e depressão apresentam grandes
remuneração por esse serviço nas instituições filantrópicas é baixa, chances de serem concomitantes, assim como relatam Mora
necessitando complementação salarial com outro tipo de serviço. e Vidal [7]. No estudo de Ferrara et al. [25], o grau de ansie-
Esse excesso de atividades contribui para geração de sintomas dade e depressão esteve associado à severidade da doença de
osteomusculares, depressivos e ansiedade [5,9,19]. No estudo de Alzheimer do indivíduo cuidado.
Tomioka et al. [14], a atividade “transferir indivíduos pesados” Tais evidências reforçam a ideia de que o processo de cui-
foi correlacionada positivamente com dor lombar. É importante dar é bastante complexo, influenciando e sendo influenciado
salientar que a sobrecarga do cuidador reflete na qualidade do pelo contexto do adoecer e do morrer. Assim, justifica-se, a
cuidado prestado [25,30]. Em estudo realizado com cuidadores preocupação crescente de estudar o impacto do cuidar na
de indivíduos com sequela de acidente vascular encefálico, Hung saúde do cuidador [7,16].
et al. [30] concluíram que, quando o cuidador apresenta sintomas Analisando os dados obtidos, pode-se supor a existência
osteomusculares e depressivos, tende a avaliar de maneira distor- de um ciclo vicioso: o cuidador, em condições físicas e sociais
cida a dor de seus pacientes e, por conseguinte, não oferecer-lhe desfavoráveis, apresenta sintomas osteomusculares, sintomas
o cuidado adequado. Além disso, os cuidadores que apresentam depressivos e de ansiedade, provavelmente interferindo na sua
dor crônica, como vários do presente estudo, tendem a apresen- qualidade de vida. De forma retrógrada, o cuidador, com a
tar altos níveis de estresse psicológico e efeitos adversos no seu qualidade de vida prejudicada, perpetua uma condição de cui-
bem-estar, constituindo-se um grupo de saúde vulnerável, com dado e trabalho inadequados, prejudicando mais sua qualidade
níveis de ansiedade e sintomas depressivos não condizentes com de vida e dos idosos [30]. Segundo alguns autores [13,30], é
as demandas impostas pelo trabalho prestado [11]. imprescindível a elaboração de um programa de apoio aos
A partir dos dados apresentados, percebe-se alta frequência de cuidadores, visando a melhora da qualidade de vida deles e dos
sintomas depressivos entre os cuidadores (48%). Mora e Vidal [7] idosos. Intervenções psicoterapêuticas, programas de recicla-
encontraram sintomas de depressão em 55% da amostra de seu gem, apoio de fisioterapeutas e assistentes sociais parecem ser
estudo. Segundo Resende e Dias [4], a alta prevalência de depres- eficazes em melhorar a qualidade de vida dos cuidadores [29].
128 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 129

Artigo original

Fortalecimento isotônico concêntrico e excêntrico no


músculo supra-espinhal: ensaio clínico randomizado
Isotonic concentric and eccentric exercises to strengthen the
supraspinatus muscle: randomized clinical trial
Marlon Francys Vidmar, Ft.*, Luiz Fernando Bortoluzzi de Oliveira, Ft.**, César Antônio de Quadros Martins, M.Sc.***,
Marcelo Faria Silva, Ft. D.Sc.****, Gilnei Lopes Pimentel, M.Sc.*****, Carlos Rafael de Almeida, Ft.******

*Mestrando em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS, **Universidade de
Passo Fundo/RS, ***Médico Ortopedista, Instrutor de Residência Médica em Ortopedia e Trauma do Hospital Ortopédico de Passo
Fundo/RS, docente do Curso de Medicina e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS, ****Docente do Programa de Pós-Gra-
duação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS, *****Docente do Curso de
Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS, ******Mestrando em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo/
RS, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS

Resumo Abstract
O músculo supra-espinhal é importante na articulação do The supraspinatus muscle is important to articular shoulder, due
ombro, pela estabilização anterior e inferior da articulação glenou- to anterior and inferior stabilization of the glenohumeral joint. The
meral. O objetivo foi avaliar a resposta do músculo supra-espinhal aim of this study was to evaluate the response of isotonic concentric
ao programa de fortalecimento muscular isotônico concêntrico e and eccentric program exercise to strengthen the supraspinatus
excêntrico em indivíduos saudáveis. A amostra foi composta por muscle in healthy individuals. The sample was composed of female
acadêmicas (n = 20), as quais foram alocadas aleatoriamente em students (n = 20), divided randomly into 2 groups, concentric and
2 grupos, fortalecimento concêntrico e excêntrico. Foi realizada eccentric strengthening. Dynamometric method of evaluation was
avaliação dinamométrica computadorizada na velocidade de 30o/s e performed at 30o/s and 60o/s, before and after muscular strengthe-
60o/s, pré e pós-programa de fortalecimento muscular. O protocolo ning program. The protocol of strengthening was 3 series with 15
do programa de fortalecimento foi de 3 séries com 15 repetições repetitions each, 2 times per week during 6 weeks, the resistance
cada, 2 vezes por semana durante 6 semanas, sendo a resistência imposed was a pulley and the load corresponding to 40% of a peak
imposta por uma polia e a carga correspondendo a 40% do pico de of torque obtained in the previous evaluation. Statistical analysis
torque atingido na avaliação prévia. A analise estatística foi realizada was performed using the paired Test t-student (p ≤ 0.05). When
através do Teste t-student pareado (p ≤ 0,05). Quando comparado compared intra-groups between left shoulder (LS) and right upper
intragrupos o membro superior esquerdo (MSE) com o direito no limb before and after strengthening program regarding proposed
pré e pós-programa de fortalecimento nas velocidades angulares speeds, there was no significant difference. The relation intra-groups
propostas, não houve diferença significativa. Na relação intragrupos before and after strengthening program showed significant increase
pré e pós-programa de fortalecimento somente verificou-se aumento in the peak of torque in the LS at 30o/s (p = 0.02) in the concentric
significativo do pico de torque no MSE a 30o/s (p = 0,02*) no grupo group. The concentric strengthening program of supraspinatus mus-
concêntrico. O programa de fortalecimento concêntrico para o cle is more effective to increase peak torque in healthy individuals.
músculo supra-espinhal mostrou-se mais efetivo no incremento do Key-words: rotator cuff, exercise therapy, muscle strength
pico de torque em indivíduos saudáveis. dynamometer.
Palavras-chave: bainha rotadora, terapia por exercício,
dinamômetro de força muscular.

Recebido em 27 de junho de 2012; aceito em 22 de fevereiro de 2013.


Endereço de correspondência: Marlon Francys Vidmar, Rua José Bianchini, 77, 99930-000 Estação RS, E-mail: marlonfrancys@msn.com.
130 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Introdução Critérios de elegibilidade

As disfunções do ombro são causas importantes de mor- Critérios de inclusão foram: indivíduos do sexo feminino,
bidade e incapacidade. Desses distúrbios, têm-se as desordens com idade entre 18 e 25 anos, sem alterações musculoesque-
do manguito rotador (MR) como as mais comuns, sendo léticas nos ombros ao exame clínico e que assinaram o Termo
responsável por até 70% dos episódios de dor no ombro [1]. de Consentimento Livre e Esclarecido, após informação sobre
Atualmente, estudos têm atribuído grande importância ao todas as etapas do estudo.
treinamento de força na população em geral e para a reabilitação Já os critérios de exclusão eram indivíduos do sexo
de pacientes com lesão de MR, sendo esta responsável por 27% masculino, com idade <18 e >25 anos, que apresentassem
dos afastamentos do trabalho, resultando em custos ao sistema alterações musculoesqueléticas e/ou dor em um dos ombros
previdenciário e, também, problemas sociais, como dificuldade ao exame clínico.
de reinserção no mercado de trabalho [2]. Em seguida os indivíduos elegíveis foram listados e
A estabilidade da articulação glenoumeral está diretamente alocados aleatoriamente em dois grupos por meio de um
relacionada ao manguito rotador e secundariamente aos liga- sorteio (moeda), Grupo I (G-I) – Concêntrico e Grupo II
mentos. O MR contribui para a estabilidade dinâmica desta (G-II) – Excêntrico. Os investigadores e os indivíduos foram
articulação, rodando e comprimindo a cabeça umeral contra cegados durante a alocação dos grupos, tendo em vista que
a cavidade glenóide. Os movimentos repetitivos do membro a alocação foi realizada por um indivíduo que não estava
superior acima da cabeça resultam em aumento do estresse envolvido no estudo.
nas estruturas da articulação e aumento no potencial de lesão,
como a laceração do manguito rotador [3]. Avaliação dinamométrica computadorizada
O músculo supra-espinal (SE) é um dos quatro músculos
que compõem o manguito rotador, sendo o músculo mais Para a avaliação do pico de torque dos músculos abdutores
utilizado no complexo articular do ombro, pois exerce uma dos ombros pré e pós-programa de fortalecimento muscular,
importante função de estabilizador anterior e inferior da foi utilizado um dinamômetro computadorizado da marca
articulação glenoumeral, além de auxiliar no movimento de Biodex™ Multi Joint System 3 Pro. Antes de cada avaliação,
abdução. O déficit de força do SE predispõe a desenvolver realizou-se a calibração do dinamômetro computadorizado
lesões ocupacionais. de acordo com as especificações contidas no manual do fabri-
Sem força adequada do músculo SE, a linha de força quase cante [5]. Com o intuito de reduzir o efeito da desaceleração
vertical do músculo deltóide em contração tende a comprimir do membro na repetição seguinte, o movimento do braço de
ou empurrar a cabeça do úmero superiormente contra o arco re­sistência no final da amplitude foi ajustado para o menor
coracoacromial, impedindo assim a abdução completa. O ten- nível Hard durante o procedimento do teste [6].
dão do músculo SE é especialmente vulnerável à degeneração Em seguida, cada indivíduo foi posicionado através das
se associado com um comprometimento relacionado à idade referências e orientações do fabricante do equipamento [5],
no seu suprimento sanguíneo. Essa condição é frequentemente orientando o dinamômetro a 0° (orientação neutra), com
denominada síndrome do manguito rotador [4]. uma inclinação do mesmo de 10°, com o assento orientado a
Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo 75° e inclinação do encosto entre 70 e 85°. Para uma maior
avaliar a resposta muscular do SE ao programa de fortalecimen- estabilidade e a fim de minimizar movimentos extracorpóreos
to muscular isotônico concêntrico e excêntrico em indivíduos que possam influenciar na avaliação [7], utilizou-se um par de
saudáveis. cintos de ombro, que inicia da parte superior traseira da cadeira,
estendendo-se anteriormente ao tronco até a lateral da base do
Material e métodos assento, já na parte anterior do tronco utilizou-se um cinto
pélvico. O eixo de rotação do dinamômetro foi alinhado com
Tipo de estudo o eixo da articulação do ombro, como demonstra na Figura 1.

O presente estudo caracteriza-se como prospectivo, ran- Foto 1 - Avaliação dinamométrica computadorizada.
domizado, controlado e duplo cego, no qual foi avaliada a
efetividade de um programa de fortalecimento muscular iso-
tônico concêntrico e excêntrico no músculo SE em indivíduos
saudáveis, recrutados por conveniência em uma universidade
do interior do estado do Rio Grande do Sul. Este estudo esteve
de acordo com as normas do Comitê de Ética e Pesquisa –
UPF, sob registro CEP 046/2008. Não foram feitas alterações
ao delineamento metodológico ao longo do estudo.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 131

A correção da gravidade foi obtida medindo-se o torque Já no G-II foi realizado um programa de fortalecimento
exercido pelo braço de resistência e o membro superior do excêntrico de abdução do ombro. O indivíduo iniciou em
avaliado (relaxada) na posi­ção de abdução intermediária. posição ortostática, com o MS posicionado em abdução a 30o
Através deste dado os valores das variáveis isocinéticas são pelo fisioterapeuta, realizando 3 séries com 15 repetições, com
automaticamente ajustados para gravidade pelo pro­grama repouso de 1 minuto a cada série, sendo que a resistência foi
Biodex Advantage Software. imposta por uma polia colocada distalmente ao antebraço,
Posteriormente, cada indivíduo realizou uma familiariza- como mostra a Figura 3.
ção com o aparelho e um aquecimento prévio da musculatura
envolvida com movimentos ativos de abdução e adução do Foto 3 - Posicionamento inicial para o programa de fortalecimento
ombro, em uma única série de 10 repetições no dinamômetro, excêntrico.
na velocidade angular de 240°/s.
Depois, cada participante foi submetido a uma avaliação
dinamométrica computadorizada que utilizou o protocolo de
avaliação concêntrico/concêntrico bilateral para a musculatura
abdutora e adutora dos ombros, nas velocidades angulares de
30 e 60°/s [8], por cinco repetições cada, respectivamente,
com intervalo de repouso de 30 segundos [9] e amplitude
de movimento de 0 a 30o de abdução do ombro [10]. No
momento da avaliação foi solicitado a cada participante força
máxima, através de feedback visual (por meio do monitor do
computador do Biodex) e verbal [11]. O avaliador foi cegado
durante as avaliações.

Programa de fortalecimento muscular


Os indivíduos dos dois grupos foram orientados a não
A carga inicial para o programa de fortalecimento de abdu- realizar exercícios físicos que envolvessem os músculos dos
ção concêntrico e excêntrico em uma amplitude de movimen- membros superiores durante o programa de fortalecimento,
to de 30o [10] correspondeu à 40% do pico de torque atingido o que poderia interferir nos resultados encontrados.
na avaliação dinamométrica computadoriza prévia. O cálculo
para a definição da carga baseou-se na teoria de Halliday et Análise estatística
al. [12]. O programa de fortalecimento foi realizado 2 vezes
por semana durante 6 semanas, totalizando 12 sessões para Os dados obtidos foram transcritos para uma planilha,
cada grupo, e após os indivíduos foram reavaliados através em seguida a normalidade dos dados foi aferida mediante o
da dinamometria computadorizada, descrita anteriormente. uso do teste Shapiro-Wilk. A análise dos dados ocorreu por
No G-I foi realizado um programa de fortalecimento meio dos recursos de estatística descritiva, média e desvio
concêntrico de abdução do ombro. O indivíduo iniciou em padrão, e para a comparação pré e pós-programa de forta-
posição ortostática, com o membro superior (MS) aduzido lecimento intragrupos foi utilizado o teste t-student pareado
0o, realizando 3 séries com 15 repetições, com repouso de 1 através do programa SPSS 16.0 com nível de significância
minuto a cada série, sendo que a resistência foi imposta por de p ≤ 0,05.
uma polia colocada distalmente ao antebraço, ilustrado na
Figura 2. Resultados

Foto 2 - Posicionamento inicial para o programa de fortalecimento No presente estudo 20 indivíduos foram avaliados quan-
concêntrico. to à elegibilidade, no entanto 2 indivíduos foram excluídos
por apresentarem início de quadro álgico no ombro e 18
indivíduos foram randomizados. Desses 9 indivíduos foram
alocados e analisados no G – I e 9 no G – II. Um fluxograma
das inclusões, exclusões e o número final dos participantes
são ilustrados na Figura 4.
132 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Figura 4 - Fluxograma do processo de recrutamento e alocação dos cular de abdução do ombro nas velocidades angulares de
participantes. 30 e 60o/s.
Alocação para A Tabela III apresenta a análise intragrupos do pico de
elegibilidade torque (N/m) referentes à avaliação pré e pós-programa de
(n=20) fortalecimento de abdução do ombro no membro superior
direito e no esquerdo, nas velocidades angulares de 30 e 60o/s.
Excluídos (n=2)
Início de quadro
Discussão
algico no ombro

O fortalecimento do manguito rotador, especialmente do


Randomizados músculo supra-espinhal é parte importante na reabilitação de
(n=18)
atletas com lesões no ombro, principalmente aqueles que rea-
lizam movimentos do membro superior acima da cabeça [13].
Alocação para Alocação para Os exercícios concêntricos e excêntricos são utilizados
o G–I (n=9) o G–II (n=9) com o propósito de ganho de força, prevenção de lesões e
para melhorar o desempenho funcional dos indivíduos. A
escolha desses exercícios dentro de um programa de treina-
Analisados Analisados
(n=9) (n=9)
mento depende de vários fatores [14]. Quando isso envolve
um programa de reabilitação pós-lesão, o objetivo primário
é a recuperação e a possibilidade de incremento na força,
Na Tabela I estão expressos os dados antropométricos devolvendo ao músculo as suas propriedades contráteis [15].
(idade, estatura e massa corporal) dos grupos estudados. Há evidências de que os ganhos de força adaptativos, após
um programa de exercícios concêntrico e excêntrico, pareçam
Tabela I - Perfil antropométrico do grupo concêntrico e excêntrico. similares [16,17]. O estudo realizado por Mont et al. [18],
GE GC com tenistas de elite, verificou incremento no pico de torque
Idade (anos) 20,89 ± 0,78 20,11 ± 0,60 de 11% em ambos os treinamentos para rotadores interno
Estatura (cm) 165,33 ± 3,46 163,22 ± 6,85 e externo do ombro. Porém, no presente estudo verificou-se
Massa corporal (kg) 54,11 ± 4,81 57,22 ± 10,26 apenas diferença significativa no aumento do pico de torque
Valores expressos em média e desvio padrão GE = grupo excêntrico após programa de fortalecimento concêntrico.
GC = grupo concêntrico Estes valores podem estar associados ao fato de que nas
etapas iniciais do treinamento (4-6 semanas), os ganhos de
A Tabela II apresenta a análise do pico de torque (N/m) força são obtidos preferencialmente através de adaptações
intragrupos comparando o membro superior direito com neurais. Após esse período inicial, a contribuição das adap-
o esquerdo no pré e pós-programa de fortalecimento mus- tações morfológicas aumenta, enquanto das neurais tende a

Tabela II - Relação intragrupos do pico de torque (N/m) dos músculos abdutores do ombro no lado direito e esquerdo no pré e pós-programa
de fortalecimento.
Pré Pós
Grupo Direito Esquerdo p Direito Esquerdo P
COM 39,79 ± 11,08 38,36±10,09 0,11 42,08±11,76 42,83±10,98 0,12
30º/s
EXC 36,80±6,20 34,36±8,61 0,57 37,72±5,38 32,81±5,51 0,88
COM 35,76±10,89 33,63± 9,97 0,07 36,42±10,63 39,27±13,19 0,07
60º/s
EXC 32,18±5,63 28,79±5,98 0,26 33,30±4,09 29,42±5,88 0,33
Valores expressos em média e desvio padrão; t-student pareado (p ≤ 0,05); COM = concêntrico e EXC = excêntrico

Tabela III - Relação intragrupos entre o pico de torque (N/m) dos músculos abdutores do ombro ipsilateral no pré e pós-programa de forta-
lecimento.
Concêntrico Excêntrico
Lado Pré Pós p Pré Pós P
D 39,79 ± 11,08 42,08 ± 11,76 0,17 36,80 ± 6,20 37,72 ± 5,38 0,35
30º/s
E 38,36 ± 10,09 42,83 ± 10,98 0,02* 34,36 ± 8,61 32,81 ± 5,51 0,94
D 35,76 ± 10,89 36,42 ± 10,63 0,33 32,18 ± 5,63 33,30 ± 4,09 0,30
60º/s
E 33,63 ± 9,97 39,27 ± 13,19 0,06 28,79 ± 5,98 29,42 ± 5,88 0,20
Valores expressos em media e desvio padrão; t-student pareado (p ≤ 0,05); D = direito E = esquerdo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 133

diminuir. O ganho de força depende, então, da otimização que o estimado para a otimização das adaptações neurais e
dessas adaptações durante o treinamento [19]. morfológicas de um treinamento que visa o ganho de força
Robinson & Mackler [20] reportaram atividade eletro- muscular. Porém, obtivemos resultados satisfatórios. E mes-
miográfica (EMG) mais alta para trabalhos concêntricos de mo com uma amostra pequena demonstramos dados com
uma dada carga em comparação com exercícios excêntricos, um poder de 95%, analisando os efeitos de um programa de
porém foi observado que um número maior de unidades fortalecimento muscular isotônico concêntrico intragrupos.
motoras precisa ser recrutado para controlar a mesma carga
concêntrica do que excentricamente. Conclusão
Já outros estudos relatam que quando um músculo se
contrai excentricamente é capaz de produzir mais força que O programa de fortalecimento concêntrico por seis sema-
um músculo que se contrai concentricamente. [21]. Dados nas para o músculo supra-espinhal mostrou-se mais efetivo
que não observamos em nosso estudo, já que obtivemos no incremento do pico de torque em indivíduos saudáveis,
maior incremento do pico de torque no grupo de realizou o que não conseguimos verificar no programa de fortaleci-
exercício concêntrico. mento excêntrico. Os resultados deste estudo destacam a
Ambos os tipos de ação muscular são geralmente desem- importância de novos estudos para elucidação dos fatores em
penhados com intensidades similares, no entanto uma carga outras populações.
40-50% maior pode ser implementada durante o trabalho ex-
cêntrico máximo quando comparado ao concêntrico [22,23]. Referências
Alguns autores descrevem o dano causado nas miofibrilas
decorrentes do exercício excêntrico, resultando em dor muscu- 1. Almeida JS, Carvalho Filho G, Pastre CM, Lamari NM, Pastre
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 135

Artigo original

Exame quali-quantitativo da marcha de pacientes


paralisados cerebrais diplégicos espásticos
A quali-quantitative gait analysis in spastic diplegia
in cerebral palsy patients
Igor Carvalho, M.Sc.*, Jomilto Praxedes, M.Sc.*, Gustavo Leporace, M.Sc.*, Fabrício Cardoso, M.Sc.**,
Heron Beresford, D.Sc.***, Luiz Alberto Batista, D.Sc.****

*Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor (IEFD / UERJ), **Programa de Neurobiologia, Instituto de Biofísica Carlos
Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), ***Coordenador do Laboratório de Temas Filosóficos em Conhecimento Aplicado, IEFD, UERJ,
****Coordenador do Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor (IEFD/UERJ)

Resumo Abstract
O paralisado cerebral manifesta variabilidade no comportamento Individuals with cerebral palsy (CP) express a gait pattern highly
da marcha, demandando um exame individualizado e instrumenta- variable, demanding an individualized and instrumentalized test.
lizado. O exame biomecânico da marcha em laboratório, embora de Biomechanical gait test in laboratory has its use in clinical practice
comprovada eficiência, tem sua utilização afastada na prática clínica away from small to medium institutions, due to the high operational
das instituições de pequeno e médio porte, em função do alto custo cost of these systems. The aim of this study was to investigate the
operacional destes sistemas. O objetivo deste estudo foi investigar a feasibility of a low cost gait analysis system to test the walking of
exequibilidade de um sistema de análise de marcha de baixo custo, children with cerebral palsy. Three individuals with spastic diplegia
para o exame da marcha de crianças com PC. Foram examinados were tested. For image capture, a commercial video camera was
3 indivíduos com 12 anos de idade, diagnosticados com paralisia used. A lower limb body segment model, composed by 6 points,
cerebral diplégica espástica. Para a coleta das imagens utilizou-se was developed and passive reflexive markers used to estimate the
uma câmera de vídeo comercial. Elaborou-se um modelo corporal sagittal plane center of rotation of lower limbs. The images were
de 6 pontos, sendo utilizados marcadores passivos e reflexivos para processed by the software Skillspector 1.2.4. We found similar results
determinar as extremidades dos segmentos da cadeia biocinemática with those presented in the literature, mainly for spatial-temporal
dos membros inferiores. As imagens foram processadas por meio variables and the use of the instrument showed feasible. The system
do software Skillspector 1.2.4. Obtivemos resultados similares aos showed a good cost-benefit relationship and showed technical qua-
descritos na literatura, principalmente para as variáveis espaço- lity, although it requires more time to acquire and process the data
-temporais, e o uso do instrumento na prática mostrou-se viável. than gold standard motion analysis systems. Despite the weakness
O sistema apresentou boa relação custo-benefício e demonstrou discussed, incorporation of the strategy described above into the
qualidade técnica suficiente, embora demande maior tempo de therapeutic assessment can contribute to a better patient care.
obtenção e processamento dos dados que os sistemas mais robustos Key-words: spastic diplegia, gait analysis, feasibility, low cost.
e de maior custo. Apesar dos pontos fracos a serem melhorados,
a incorporação da estratégia descrita na prática terapêutica pode
contribuir com um melhor atendimento ao paciente.
Palavras-chave: paralisia cerebral, análise da marcha,
exequibilidade, baixo custo.

Recebido em 28 de junho de 2012; aceito em 28 de fevereiro de 2013.


Endereço de correspondência: Igor da Silveira Carvalho, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Educação Física e Desportos,
Laboratório de Biomecânica e Comportamento Motor, Ginásio de Esportes Av. São Francisco Xavier, 524, 20550-900 Rio de Janeiro RJ igorscarvalho0@
gmail.com, igorscravalho@oi.com.br
136 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Introdução Em instituições de pequeno e médio porte, a imple-


mentação de sistemas de análise de movimento é inviável,
A Paralisia Cerebral (PC) é considerada a causa mais devido ao alto custo dos equipamentos necessários. Afasta,
comum de incapacidade física em crianças [1-3], sendo a por conseguinte, o uso de recursos técnico-científicos tanto
diplegia espástica o padrão motor mais comumente encon- da avaliação quanto da intervenção fisioterapêutica cotidiana.
trado [4]. A PC é definida como um grupo de desordens Felizmente esse quadro tende a se modificar, uma vez que
permanentes no desenvolvimento do movimento e da postura recentemente diferentes recursos têm sido disponibilizados a um
corporal, causando importantes limitações motoras. Essas maior número de potenciais usuários. Esse é o caso do software
são atribuídas a um distúrbio não progressivo que acomete o freeware Skillspector 1.2.4, que consiste em uma opção possível
encéfalo ainda durante o desenvolvimento fetal e que pode de ser utilizada na análise cinemática de condutas motoras, o
perdurar até determinado momento da infância [5]. qual já foi validado para alguns casos de exame biomecânico da
No paralisado cerebral, o comprometimento motor é marcha [26,27]. Muito próximo de ser um equivalente dos siste-
derivado de uma série de deficiências, incluindo perda do mas de análise de movimento corporal de alto desempenho, esse
controle motor seletivo, diminuição na capacidade muscular software tem a vantagem de ser de baixo custo. Se incorporado
de geração de força, comprometimento na capacidade de corretamente a um sistema de análise, possibilita o mesmo a ser
manter o equilíbrio corporal, diminuição das reações posturais mais facilmente difundido na prática clínica cotidiana, mesmo
e espasticidade muscular [6-10]. Dentre outras consequências, em contextos nos quais os recursos financeiros destinados ao
as unidades músculo-tendíneas apresentam-se frequentemente cuidado da saúde das pessoas sejam escassos.
tensionadas, contribuindo para um mau alinhamento dos Assim sendo, em termos potenciais, tecnologias desse tipo
membros inferiores, o que tende a ocasionar quadros de podem ser úteis no atendimento da criança com paralisia cerebral,
disfunção na marcha [11,12]. sendo necessário conhecerem suas qualidades como instrumen-
Crianças com diplegia espástica, devido à espasticidade mus- to de medida e de obtenção de dados. O primeiro passo nesse
cular, habitualmente apresentam um comportamento cinemático sentido consiste em verificar se, efetivamente, tal procedimento
de deambulação diferente daquele manifestado por indivíduos pode ser utilizado em indivíduos da referida população.
hígidos. Além de apresentarem uma marcha caracterizada por Neste estudo exploratório, objetivamos investigar a exequi-
uma modificação na etapa de primeiro contato do pé com o solo, bilidade de um sistema de análise de marcha de baixo custo,
pois o calcanhar tende a manter-se elevado por todo o tempo baseado no uso do software Skillspector 1.2.4, para o exame
[6,12,13], as crianças com PC diplégica espástica mostram um da marcha de crianças com PC. Além disso, identificar pontos
comportamento de marcha de considerável variabilidade em ou- fracos a serem melhorados com vistas a alcançar-se um estágio
tros aspectos [14,15], o que demanda um exame individualizado de pleno emprego do mesmo na prática clínica.
e, de preferência, instrumentalizado [16].
Faz-se necessário, portanto, identificar as alterações da Material e métodos
marcha de crianças com paralisia cerebral, assim como suas
prováveis causas, para que seja possível delinear um melhor Casuística
planejamento das estratégias de intervenção terapêutica [17-
19]. Nesse sentido, o uso da análise biomecânica da marcha é Contribuíram com a realização deste estudo três crianças
justificável, uma vez que a mesma possibilita, a partir dos re- de 12 anos de idade, do gênero masculino, com paralisia
sultados, decidir pelo uso de tratamentos mais adequados além cerebral do tipo diplégica espástica, que realizam tratamento
de também viabilizar a monitoração mais precisa da evolução no Centro de Equoterapia e Reabilitação da Vila Militar - Rio
do quadro [20]. De fato, o exame biomecânico da marcha em de Janeiro (CERVIM- RJ). Esta pesquisa foi submetida ao
laboratório, seja ele cinemático ou cinético, tem se mostrado Comitê de Ética em Pesquisa, envolvendo Seres Humanos da
uma eficiente ferramenta tanto para o estabelecimento de Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) e aprovada sob proto-
diagnósticos individuais mais precisos dos pacientes quanto colo nº 0188/2008 UCB/VREPGPE/COMEP/PROCIMH,
para a avaliação do impacto das terapêuticas utilizadas [12]. sendo os dados coletados nas dependências do Laboratório
Embora ainda haja muito a ser investigado sobre o tema, de Biomecânica e Comportamento Motor (LaBiCoM) na
a biomecânica da marcha humana é, atualmente, objeto de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Todos os
estudo de um considerável número de cientistas. No geral, responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e
constituem pesquisas realizadas em instituições de grande Esclarecido, autorizando a participação de seus dependentes
porte, em alguns casos, patrocinadas por agências de fomento e publicação dos resultados obtidos.
particulares ou governamentais [21-24]. Nesses contextos,
são utilizados, nas análises cinemáticas de marcha, softwares Procedimentos da análise da marcha
comerciais robustos e câmeras de alto desempenho, o que de-
manda alto custo operacional e distancia essa instrumentação Na coleta de imagens, foi utilizada uma câmera de vídeo
da prática clínica [25], notadamente, na realidade brasileira. comercial da marca JVC, modelo GR-AX817, operando
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 137

a uma frequência de captura de 25 Hz, o que possibilitou Quanto às imagens, estas foram processadas por meio do
a captura de 50 quadros por segundo no modo de análise software Skillspector versão 1.2.4 que permitiu a digitalização
entrelaçado. Para avaliação do comportamento cinemático manual das coordenadas dos pontos de interesse em cada
das articulações dos membros inferiores no plano sagital, a quadro e posterior processamento das informações.
câmera foi posicionada de forma que seu eixo óptico inci- Na descrição dos componentes temporais, espaciais e espa-
disse perpendicularmente ao plano sagital de deslocamento ço-temporais da marcha, foi adotada a terminologia proposta
dos examinados, a uma distância de 3 metros do mesmo, no por Perry [31], sendo utilizados os seguintes eventos: tempo
centro da distância total de deslocamento. de apoio, tempo de balanço, duração do ciclo da marcha,
Utilizou-se uma representação esquemática de 6 pontos frequência de passada, velocidade da marcha, comprimento do
para reprodução dos membros inferiores, o que, no caso da passo, comprimento da passada e variação angular, no plano
videometria, entende-se como modelo da estrutura a ser ana- sagital, das articulações do quadril, joelho, tornozelo, sendo a
lisada. Para a elaboração desse modelo, foram identificados os descrição da marcha de cada criança apresentada em separado.
componentes da cadeia biocinemática dos membros inferiores A exequibilidade do sistema de análise em questão
por meio de marcadores passivos e reflexivos fixados nas se- foi examinada por meio da comparação dos dados
guintes regiões anatômicas dos testados: eixos de movimento obtidos com aqueles dispostos na literatura.
dos quadris, joelhos, tornozelos, nos calcanhares e também nas
extremidades dos pés. Os referidos marcadores foram posicio- Resultados
nados a saber: quadril, crista ilíaca e 0,3 cm distal da epífise
trocanteriana; joelho, 2,6 cm proximal da linha articular do Os dados cinemáticos das articulações do quadril, joelho e
joelho; tornozelo, 1,3 cm distal do maléolo tibial; calcanhar, tornozelo direito no plano sagital da criança 1 estão expressos
parte posterior do calcâneo; pé, cabeça do 5º metatarso [28]. na Figura 1. No contato inicial, o quadril está flexionado a
De forma a aumentar o contraste entre marcadores e ambien- 34,4°, o joelho flexionado a 40,3° e o tornozelo 15,6° de
te, o fundo do espaço de captura foi recoberto com tecido extensão. O apoio terminal ocorre aos 53,1% do ciclo, coinci-
opaco de cor preta simulando um fundo infinito. dindo com o pico de extensão do quadril, que está flexionado
Do ponto de vista processual, os marcadores devem ser a 15,3°. Ainda no apoio terminal, o joelho está flexionado a
grandes o suficiente para serem vistos na imagem e pequenos 46,9° e o tornozelo estendido a 1,6°. O balanço inicial ocorre
o suficiente para não comprometerem a precisão no ato de aos 68,7% do ciclo. Neste momento, o quadril está flexionado
digitalização manual. Neste estudo, foram utilizados mar- a 26,9°, o joelho flexionado a 73,5° e o tornozelo estendido a
cadores de 25 mm de diâmetro modelo LaBiCoM/mr25®, 15,4°. O fim do balanço terminal ocorre os 96,8% do ciclo
fixados em um círculo negro de PVC de 5 mm de espessura, com o quadril flexionado a 40,6°, o joelho flexionado a 41,8°
desenvolvido no LaBiCoM/UERJ. Esse tipo de marcador e o tornozelo estendido a com 12,1º.
possibilita a redução da quantidade de luz incidente na lente A variação angular do quadril, joelho e tornozelo esquerdo
da câmera, permitindo que as capturas de imagens sejam no plano sagital da criança 1 está representada na Figura 1.
realizadas em ambiente com claridade natural. Durante este ciclo, a criança 1 apresentou, no contato inicial,
A qualidade do processo de calibragem de um sistema de o quadril flexionado a 29,7°, o joelho flexionado a 40,5°, en-
registro de imagem constitui ação de fundamental importân- quanto o tornozelo estendido a 11,6°. O apoio terminal ocorre
cia, uma vez ser determinante que, durante o processamento aos 51,6% do ciclo, o quadril está estendido a 15,3°, o joelho,
das informações, a proporcionalidade das dimensões corporais neste instante, flexionado a 43,6° e o tornozelo estendido a
nas imagens capturadas seja mantida. No presente trabalho, 15,3°. O início do balanço inicial ocorre aos 68,7% e, nesse
para a realização da calibragem, foi utilizada uma estrutura instante, o quadril está flexionado a 22,4°, o joelho flexionado
com quatro pontos não colineares dispostos nas extremidades a 58,7° e coincide com o pico de extensão do tornozelo, que é
de um quadrilátero com lados iguais (50 cm), confeccionado de 42,2°. Ao final do balanço terminal, que ocorre aos 96,8%
com hastes de alumínio, posicionado no espaço de execução, do ciclo, o quadril está flexionado a 38,3, o joelho flexionado
em paralela ao plano de captura. a 42,7° e o tornozelo estendido a 18,6°.
Já os indivíduos, trajando apenas sunga, foram orientados Analisando o membro inferior direito, durante o ciclo da
a realizar a marcha habitual em velocidade confortável, sobre marcha da criança 2 (Figura 2), observou-se que, no contato
uma pista de 10 metros de comprimento e 1,5 m de largura, inicial, o quadril está flexionado a 45,3°, o joelho flexionado
disposta em piso plano, regular e horizontal. No que diz a 41,5° e o tornozelo estendido a 5,9°. O apoio terminal
respeito à familiarização quanto ao exame, os participantes ca- ocorre aos 52,9% do ciclo quando o quadril está posicionado
minharam sobre a pista de teste completando 6 voltas [29,30]. em 21,6° de flexão, o joelho flexionado a 69,2° e o tornozelo
Foi utilizado 1 ciclo da marcha realizado nos 6 metros centrais estendido a 8,2°. O balanço inicial ocorre aos 67,6% do ciclo,
da pista, de forma a evitar o efeito retroativo introduzido por coincidindo com o pico de extensão do tornozelo que é de
possíveis acelerações de valor importante presentes no início 24,2°, o quadril está flexionado a 28,0°, joelho flexionado a
e final do percurso. 74,1°. O final do balanço terminal ocorre aos 97% do ciclo
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com o quadril flexionado a 46,5°, o joelho flexionado a 42,9° No que diz respeito à variação angular do membro
e o tornozelo estendido a 10,3°. inferior esquerdo da criança 2 (Figura 2), o contato inicial
aponta uma angulação de 33,1° de flexão para o quadril,
Figura 1 - Variação angular das articulações da cadeia cinemática 43,6° de flexão para o joelho e 0,9° de extensão para o
dos membros inferiores da criança 1 no decurso da marcha. tornozelo. O apoio terminal acontece aos 48,4% do ciclo
Normal com o quadril flexionado a 11,8°, o joelho flexionado a
Suj 1 - Direita 50,3° e o tornozelo estendido a 2,1°. O balanço inicial
Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+)

Quadril Suj 2 - Esquerda


60 ocorre aos 66,6% com o quadril flexionado a 19° e coincide
50 com o pico máximo de flexão de joelho que é 61,5%. O
40
30 fim do balanço terminal aparece aos 96,9% do ciclo com
20
10 o quadril em 31,7° de flexão, o joelho flexionado a 33,8°
0
-10 e o tornozelo estendido a 4,1°.
-20 O contato inicial do membro inferior direito da criança
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
3 (Figura 3) dá-se com o quadril flexionado a 41°, o joelho
Joelho flexionado a 12,6° e o tornozelo estendido a 14,2°. O apoio
80 terminal acontece aos 51,3% do ciclo com o quadril flexio-
70
60 nado a 18°, o joelho flexionado a 5,7° e o tornozelo estendido
50
40 a 10,9°. O balanço inicial ocorre aos 75,6% do ciclo com o
30
20
10 quadril flexionado a 34,6°, o joelho flexionado a 49,6° e o
0
-10 tornozelo estendido a 26,1°. O final do balanço terminal
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
ocorre aos 97,2% com o quadril flexionado a 43,8°, o joelho
Tornozelo flexionado a 15,1° e o tornozelo estendido a 16,7°.
20
10
0 Figura 3 - Variação angular das articulações da cadeia cinemática
-10 dos membros inferiores da criança 3 no decurso da marcha.
-20
-30 Normal
-40 Suj 1 - Direita
-50
Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Quadril Suj 2 - Esquerda


60
50
40
Figura 2 - Variação angular das articulações da cadeia cinemática 30
20
dos membros inferiores da criança 2 no decurso da marcha. 10
0
Normal -10
Suj 1 - Direita -20
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+) Extensão (-)/Flexão (+)

Quadril Suj 2 - Esquerda


60
50 Joelho
40 80
30 70
20 60
10 50
0 40
-10 30
-20 20
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 10
0
-10
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Joelho
80
70 Tornozelo
60 20
50
40 10
30 0
20 -10
10
0 -20
-10 -30
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 -40
-50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tornozelo
20
10
0 O contato inicial do membro inferior esquerdo da criança
-10 3 (Figura 3) dá-se com o quadril flexionado a 44°, o joelho
-20
-30 flexionado a 27,2° e o tornozelo estendido a 6,4°. O apoio
-40 terminal ocorre aos 51,5% com o quadril flexionado a 16,8°,
-50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 o joelho flexionado a 23,4°, coincidindo com o pico de ex-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 139

tensão do tornozelo com 7,2°. O balanço inicial ocorre aos No que diz respeito aos valores máximos de deslocamento,
69,6% do ciclo quando o quadril está flexionado a 26,1°, o Toro et al. [32] encontraram pico de 35,68º ± 6,41 para a
joelho flexionado a 49° e o tornozelo estendido a 29,8°. Ao flexão do quadril. A criança 2 do presente estudo apresentou
final do balanço terminal, que ocorre aos 96,9% do ciclo, o 35,1º no quadril esquerdo. Para a flexão do joelho, Toro et
quadril está flexionado a 44,6°, o joelho flexionado a 30° e o al. [32] identificaram pico de 64,32° ± 5,31º, Carriero et al.
tornozelo estendido a 16°. [24] 59,77° ± 8,66º. Na presente pesquisa, as crianças 1 e 2
apresentaram resultados semelhantes para o joelho esquerdo
Discussão e a criança 3 em ambos os membros analisados. Em relação
ao pico de extensão do tornozelo, Toro et al. [32] observaram
Este estudo piloto teve como propósito verificar a exequi- média de 9,58° ± 5,9º e, em nosso estudo, os valores obtidos
bilidade de aplicação de uma análise de marcha instrumentada pelas crianças 2 e 3 são correspondentes à literatura.
em crianças diplégicas espásticas na prática clínica, estimando Observando o balanço terminal, Cooney et al. [21]
a validade e a praticabilidade administrativa de sua utilização. identificaram o joelho em 25° ± 5,7º de flexão e em nosso
Para que a validade do sistema fosse comprovada, compa- estudo somente a criança 3 apresentou resultados de acordo
ramos os resultados obtidos neste estudo com os apresentados com os autores.
em estudos da mesma natureza que utilizam outros sistemas No que diz respeito aos valores espaço-temporais, Mackey
de análise videogramétrica em três dimensões, no qual o custo et al. [34] observaram uma média de 49 ± 12 cm, Carriero
é elevado e a validade já demonstrada. et al. [24] 48 ± 12 cm e Prosser et al. [35] 55 ± 12 cm para
Acerca da variação angular das articulações da cadeia o comprimento do passo. Em nosso estudo, os resultados de
cinemática dos membros inferiores analisados, no contato todos os membros analisados estão de acordo com os autores,
inicial, Toro et al. [32] identificaram, em estudo, uma média como mostra a Tabela 2.
de 29,8°± 4,84° para flexão do quadril e Redekop et al. [33] Em relação ao comprimento da passada, Steinwender et al.
média de 30,5º ± 9,1º. Estes achados estão em acordo com [36] encontraram média de 94,6 ± 11 cm, Cooney [21] 90,8
os resultados apresentados pelas crianças 1 e 2 com o quadril ± 14 cm, Mackey et al. [34] 98 ± 13 cm e Carriero et al. [24]
esquerdo. 96 ± 24 cm. Nesta pesquisa, os dados coletados referentes a
Em relação ao joelho, ainda no contato inicial, Toro et esta variável estão de acordo com a literatura.
al. [32] observaram uma média de 48,49° ± 7,44º de flexão Referente à cadência do passo, Carriero et al. [24] obser-
do joelho. Em nosso estudo, as crianças 1 e 2 apresentaram varam 133,3 ± 17,7 passos por minuto, contudo apenas a
resultados similares ao estudo citado, ao passo que, na criança criança 1 obteve resultados de acordo com a literatura.
3, observaram-se valores menores, os quais estão de acordo Em relação à velocidade da marcha, Cooney [21] encon-
com os apresentados por Carriero et al. [24], que identificaram trou 9,59 ± 1,9 m/s, Carriero et al. [24] 1,07 ± 0,3 m/s. No
média de 20,90º ± 17,82º para a flexão do joelho. presente estudo, a maioria dos dados referente aos membros
Observando a variação angular do tornozelo, nenhuma analisados corrobora os achados dos autores citados, exceto
das crianças analisadas apresentou resultados similares aos para o membro inferior direito das crianças 2 e 3.
das pesquisas que serviram de orientação para este estudo. A No que diz respeito à variação angular das articulações
diferença observada pode ser oriunda do tipo de tecnologia analisadas, para alguns eventos, os valores encontrados não
utilizada por nós ou das características morfológicas dos são exatamente iguais àqueles dispostos na literatura. Cons-
paralisados cerebrais que fizeram parte deste estudo. Devido tatamos, entretanto, que estudos nos quais foram utilizados
ao desenho de investigação e aos propósitos perspectivados sistemas mais robustos também produziram valores discre-
para esta pesquisa, não nos foi possível estimar qual das duas pantes entre si. Em relação às variáveis temporais, tempo de
causas aludidas é, provavelmente, a mais importante. apoio, porcentagem de apoio em relação ao tempo total de

Tabela I - Parâmetros espaço-temporais da marcha dos três indivíduos.


Criança 1 Criança 2 Criança 3
Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo
Fase de apoio (segundos) 0,71 0,67 0,78 0,77 0,91 0,84
Fase de balanço (segundos) 0,30 0,34 0,37 0,37 0,30 0,34
% Fase de apoio 70,30 66,34 67,83 67,54 75,21 71,19
% Fase de balanço 29,70 33,66 32,17 32,46 24,79 28,81
Duração do ciclo (segundos) 1,01 1,01 1,15 1,14 1,21 1,18
Comprimento da passada (cm) 98 110 87 88 85 103
Comprimento do passo (cm) 53 45 49 50 40 45
Frequência do passo (passos p/ minuto) 118,81 118,81 104,35 105,26 99,17 101,69
Velocidade da Marcha (m/s) 0,97 1,08 0,75 0,77 0,70 0,87
140 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

ciclo, tempo de balanço e porcentagem de balanço em relação 2. Bax MC, Flodmark O, Tydeman C. Definition and classification
ao tempo total de ciclo, não constatamos dados compatíveis of cerebral palsy. From syndrome toward disease. Dev Med Child
com os poucos valores dispostos na literatura. Por não serem Neurol Suppl 2007;109:39-41.
variáveis usualmente investigadas, não foi possível, por com- 3. Ubhi T, Bhakta BB, Ives HL, Allgar V, Roussounis SH. Ran-
domized double blind placebo controlled trial of the effect of
paração, verificar se a discrepância de valores originou-se dos
botulinum toxin on walking in cerebral palsy. Arch Dis Child
diferentes tipos de instrumentos utilizados. No que tange as 2000;83(6):481-87.
variáveis espaciais, comprimento do passo e comprimento 4. Blair E, Stanley F. Issues In the classification and epidemio-
da passada, assim como as espaço-temporais, velocidade da logy of cerebral palsy. Mental Retard Devel Disab Res Rev
marcha, cadência do passo, os resultados obtidos mostraram- 1997;3:184-93.
-se em acordo com os recorrentes na literatura. Assim sendo, 5. Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Bax M, Damiano D, Dan
neste estudo, de caráter piloto, pôde-se observar que, de uma B, Jacobsson B. A report: The definition and classification of ce-
forma geral, o procedimento utilizado permitiu obter resul- rebral palsy. Dev Med and Child Neurol Suppl 2007;109:8-14.
tados semelhantes aos, atualmente, relatados na literatura. 6. Gage JR. Gait analysis in cerebral palsy. New York: Mac Keith; 1991.
7. van der Krogt MM, Doorenbosch CA. Becher JG, Harlaar J.
O instrumento de análise de marcha utilizado neste estudo
Walking speed modifies spasticity effects in gastrocnemius and
mostrou-se acessível e de relativo baixo custo, uma vez que
soleus in cerebral palsy gait. Clin Biomech 2009;24:422-28.
foi utilizada uma câmera de vídeo comercial para a captura 8. Massaad F, Dierick F, van den Hecke A. Influence of gait
das imagens e um software de captura e processamento que pattern on the body’s centre of mass displacement in children
é obtido gratuitamente na internet, diferente dos sistemas with cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 2004;46:674-80.
usualmente utilizados em pesquisas, geralmente de alto custo. 9. Bell KJ, Õunpuu S, DeLuca PA, Romness MJ. Natural pro-
gression of gait in children with cerebral palsy. J Pediatr Orthop
Conclusão 2002;22:677-82.
10. Rose J, McGill KC. The motor-unit in cerebral palsy. Dev Med
O sistema de análise da marcha examinado neste estudo Child Neurol 1998; 40:270-7.
11. Baddar A, Giwnata K, Damiano DL, Carmines DV, Blanco
apresentou uma boa relação custo-benefício e demonstrou
JS, Abel MF. Ankle and knee in patients with spastic diplegia:
qualidade técnica suficientemente adequada à mensuração effects of gastrocnemius soleus lengthening. J Bone Joint Surg
de variáveis cinemáticas da marcha de crianças paralisadas 2002;84:736-44.
cerebrais diplégicas. Assim sendo, sua utilização na prática 12. Novacheck TF, Gage, JR. Orthopedic management of spasticity
clínica pode contribuir positivamente com o cumprimento in cerebral palsy. Childs Nerv Syst 2007;23:1015-31.
das etapas de avaliação, planejamento e execução de inter- 13. Sutherland DH, Davids JR. Common gait abnormalities of the
venção terapêutica de forma mais precisa e científica, além de knee in cerebral palsy. Clin Orthop Rel Res 1993;288:139-47.
viabilizar o registro documental dos estados da marcha dos 14. Boyd RN, Graham HK. Objective measurement of clinical fin-
pacientes nos diferentes momentos do processo terapêutico. dings in the use of Botulinum toxin type A for the management
of children with cerebral palsy. Eur J Neurol 1999;6(4):23-35.
Infelizmente ele demanda maior tempo de obtenção e
15. Dobson F, Morris ME, Baker R, Graham HK. Gait classification
processamento dos dados que outros sistemas, mais robustos e
in children with cerebral palsy: A systematic review. Gait &
mais caros, utilizados na análise de marcha, decorrente de seu Posture 2007;25:140-52.
baixo grau de automação. No entanto, tal deficiência pode ser 16. DeLuca PA. Gait analysis in the treatment of the child with
atenuada por meio de rigoroso treinamento dos técnicos que cerebral palsy. Clin Orthop 1991;264:65-75.
irão operar o sistema, notadamente na etapa de digitalização 17. Bower E, McLellan DL. Assessing motor skill acquisition in
dos marcadores. No que diz respeito ao n amostral reduzido, four centers for the treatment of children with cerebral palsy.
este configura como uma limitação deste estudo. Dev Med Child Neurol 1994;36:902-9.
Apesar dos pontos fracos apontados, a incorporação da 18. Haley D, Tomie J. An assessment of gait analysis in the rehabi-
estratégia descrita na prática terapêutica tem, a nosso ver, o litation of children with walking difficulties. Disability Rehabil
2000;22(6):275-80.
mérito de permitir um melhor atendimento ao paciente, além
19. Maathuis KGB, van der Schans CP, van Iperen A, Rietman
de possibilitar o treinamento de fisioterapeutas no uso opera- HS, Geertzen JHB. Gait in children with cerebral palsy:
cional da análise de marcha como procedimento corrente na observer reliability of physician rating scale and Edinburgh
prática clínica. Perspectivamos também que o uso constante Visual Gait Analysis Interval Testing scale. J Pediatr Orthop
da mesma na prática clínica desencadeará a necessidade da 2005;25(3):268-72.
melhora operacional de todo o sistema. 20. Baker R. Gait analysis methods in rehabilitation. Journal of
NeuroEngineering and Rehabilitation 2006;3:13-24.
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spastic children. Clin Biomech 2000;15:134-39.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 141

23. Westwell M, Õunpuu S, DeLuca P. Effects of orthopedic in- 29. Chester V, Tingley M, Biden E. A comparison of kinetic gait pa-
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142 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Artigo original

Ângulo quadricipital e postura do retropé em membros


inferiores com síndrome da dor patelofemoral
Quadriceps angle and rearfoot posture in lower extremity
with patellofemoral pain syndrome
Dálleth Quitéria de Moura*, Danilo Machado de Matos*, Luiz Antônio Mendes*,
Katy Andrade Monteiro Zacaron, Ft., M.Sc.**

*Discente do curso de Fisioterapia, Faculdade Estácio de Juiz de Fora (FESJF), **Docente do curso de Fisioterapia, Faculdade Está-
cio de Sá de Juiz de Fora (FESJF) e Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (FCMSJF)

Resumo Abstract
Introdução: Síndrome da dor patelofemoral (SDPF) é a patologia Background: Patellofemoral pain syndrome (PFPS) is the most
mais comum do joelho, porém sua etiologia permanece obscura. common knee pathology, however its etiology remains obscure.
Objetivos: Comparar as medidas do ângulo Q e do retropé em joelhos Objectives: To compare the Q angle and the rearfoot measures in
com e sem SDPF. Analisar a associação entre o ângulo Q e do retropé knees with PFPS and to analyze the association between Q angle
com SDPF. Métodos: A amostra constitui-se de 24 participantes com and the rearfoot with the PFPS. Methods: The sample includes 24
SDPF unilateral (12-30 anos). Os mesmos foram separados em subjects with unilateral PFPS (12-30 years). They were separated
grupos de joelhos com dor patelofemoral (DPF+) e sem dor pate- into groups of knees with patellofemoral pain (PFP+) and without
lofemoral (DPF-). O alinhamento do retropé e do ângulo Q foram patellofemoral pain (PFP-). The rearfoot alignment and Q angle
avaliados através da goniometria. A escala visual análoga numérica were evaluated by goniometry. The visual analog numerical scale
de dor (EVN) foi utilizada para o registro da dor usual no joelho. (VAS) was used to register the usual knee pain. We applied the t-
Foram empregados teste t-Student para comparar as variáveis ângulo -Student’s test to compare the variables Q angle and rearfoot angle
Q e ângulo do retropé entre os grupos DPF+ e DPF- e coeficientes between the groups PFP and WPFP and Person’s correlation’s
de correlação de Pearson para verificar a associação entre ângulo Q coefficients in order to verify the association between the variables
e ângulo do retropé com SDPF. Resultados: Tanto o valgismo do of the two angles. Results: Both the rearfoot valgus as the Q angle
retropé quanto o ângulo Q apresentaram-se significantemente maior have presented significantly higher (p ≤ 0,02) in the PFP+ group.
(p ≤ 0,02) no grupo DPF+. Não houve associação entre a SDPF e as No association was observed between the SPFP and the variables
variáveis ângulo do retropé e do ângulo Q. Conclusão: As medidas rearfoot angle and the Q angle. Conclusion: The measures of the Q
do ângulo Q e do valgismo do retropé, embora superiores no grupo angle and the rearfoot, although higher in the PFP+ group, did not
DPF+, não demonstraram associação com a SDPF. show association with the PFPS.
Palavras-chave: síndrome da dor patelofemoral, condromalácia Key-word: Patellofemoral pain syndrome, chondromalacia patellae,
da patela, deformidade do pé, alinhamento patelar e ângulo Q. foot deformities, patellar alignment and Q angle.

Recebido em 12 de julho de 2012; aceito em 5 de março de 2013.


Endereço para correspondência: Katy Andrade Monteiro Zacaron, Rua Dr. Pedro de Aquino Ramos, 86/402, 36010-440 Juiz de Fora MG, E-mail:
katy.andrade.3@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 143

Introdução sente na região anterior do joelho sintomático no último mês


e ausente no joelho assintomático em pelo menos três das se-
A terminologia síndrome da dor patelofemoral (SDPF) se guintes atividades funcionais: agachar por tempo prolongado,
aplica à presença de dor anterior do joelho, retro ou peripa- subir ou descer escadas, ajoelhar, correr, permanecer muito
telar, com o teste de compressão patelofemoral positivo, não tempo sentado [14] e 2) teste de compressão patelar positivo
explicado por um diagnóstico mais focal [1]. A dor é mais no joelho sintomático e negativo no joelho assintomático
intensa ao subir ou descer escadas, ao agachar ou ao perma- [1,14]. Estes foram recrutados por conveniência, no local da
necer sentado por longo período com o joelho flexionado pesquisa (Faculdade Estácio de Juiz de Fora) através de cartazes
[1,2]. A SDPF é o fenômeno mais comum na articulação do explicativos, e atenderam aos seguintes critérios de exclusão:
joelho [3], estimadamente presente em 25% da população história de deformidade congênita, lesão, fratura ou cirurgia
[4,5]. Apesar desta alta prevalência, a etiologia da SDPF ainda em qualquer região de um dos membros inferiores (MMII),
não é totalmente compreendida [3,6], havendo indícios de bem como presença de doenças neurológicas, cardiovasculares
ser multifatorial, sendo a pronação excessiva da articulação e reumatológicas [14].
subtalar e o aumento do ângulo quadriciptal (ângulo Q) O estudo foi conduzido de acordo com a resolução 196/96
fatores considerados dentre os principais [2,5,7]. do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Co-
O ângulo Q, que normalmente, com o joelho estendido, mitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas
possui valores de aproximadamente 13º nos homens e 18º e da Saúde de Juiz de Fora, parecer número 0016/12, e os
nas mulheres, indica a direção e magnitude das forças late- participantes assinaram o termo de consentimento livre e
rais aplicadas na articulação patelofemoral sob contração do esclarecido assegurando seus direitos.
músculo quadríceps [8], forças estas que podem aumentar a
pressão entre a patela e a tróclea lateral do fêmur, bem como Instrumentação
aumentar o risco de subluxação patelar. Estas alterações
podem culminar na degeneração da cartilagem, conhecida Para avaliação do alinhamento do retropé e do ângulo
como condromalácia [9]. quadricipital (ângulo Q) foram utilizados o goniômetro uni-
Outro fator contribuinte da SDPF é a excessiva pronação versal transparente e flexível da marca Carci® (São Paulo, São
da articulação subtalar ou valgismo do retropé na descarga Paulo, Brasil) e o paquímetro WCS, Cardiomed® (Curitiba,
de peso [10-12]. Isto se deve, provavelmente, ao fato de, Paraná, Brasil).
durante a fase de apoio da marcha, a pronação prolongada A mensuração da massa corporal e estatura foram rea-
da articulação subtalar levar a uma rotação interna excessiva lizadas utilizando a balança R-110, Welmy® (Santa Bárbara
e abdução da tíbia em relação ao fêmur, com consequente d’Oeste, São Paulo, Brasil).
aumento das forças laterais que agem sobre a patela fazendo Para registro da dor usual no joelho, utilizou-se escala
com que ocorra uma lateralização da mesma. Isto altera sua visual análoga numérica de dor (EVN) numérica [15]. Este
biomecânica e nível de pressão intra-articular, gerando dor instrumento constitui-se de uma linha reta horizontal, com
[5,7,10,12,13]. 10cm de comprimento, numerada de 0 a 10 a cada cm, na
Dentro desta perspectiva, torna-se relevante o esclareci- qual suas terminações são definidas como os limites extremos
mento sobre a associação do ângulo Q e da postura do retropé da sensação dolorosa [14,16].
com SDPF para discussão da possível inserção destas medidas
na rotina clínica de fisioterapeutas e ortopedistas. Assim, os Procedimento
objetivos do presente estudo foram: a) comparar as medidas
do ângulo Q em joelhos com e sem SDPF; b) comparar a Os dados foram coletados de ambos os MMII, os quais
postura do retropé em joelhos com e sem SDPF; c) analisar a eram alocados em grupos distintos: grupo de joelhos com
associação entre a postura do retropé e a SDPF e d) verificar dor patelofemoral (grupo DPF+) e grupo de joelhos sem dor
a associação entre o ângulo Q e a SDPF. patelofemoral (grupo DPF-).
Inicialmente, os participantes foram submetidos à avalia-
Material e métodos ção, realizada pelo primeiro examinador, que constava de da-
dos como idade, sexo, peso, estatura, índice de massa corporal
Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, transversal (IMC), intensidade de dor e nível de atividade física (NAF).
e quantitativa. O índice de massa corporal foi calculado dividindo o peso
(em quilogramas) pelo quadrado da altura (em metros) [15].
Amostra O NAF dos participantes foi classificado de acordo com
o preconizado pelo American College of Sports Medicine
Participaram deste estudo 24 voluntários com idade entre (ACSM), que considera ativo aquele que pratica atividade
12 e 30 anos, com diagnóstico clínico de dor patelofemoral física moderada, por no mínimo 30 minutos na maioria dos
unilateral de joelho, baseado nos seguintes itens: 1) dor pre- dias da semana.
144 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

As medidas do ângulo Q e do retropé foram realizadas Figura 2 - Medida do ângulo do retropé.


por um segundo examinador que permaneceu cego em rela-
ção ao joelho sintomático, o qual coletou apenas os ângulos
supracitados.
Coletou-se o ângulo Q, em decúbito dorsal, com joelhos
estendidos e quadríceps relaxados [8]. O centro da patela
foi marcado como sendo o ponto médio de uma linha que
une a região mais medial e a mais lateral da patela, determi-
nado através da palpação das bordas da patela. Também se
marcou, por meio de palpação, a região mais proeminente
da tuberosidade da tíbia e a espinha ilíaca ântero-superior
(EIAS). Em seguida, traçou-se a linha de bissecção do fê-
mur através do alinhamento do centro da patela até a EIAS
[17]. O ângulo Q é aquele formado pelo braço fixo do Para garantir confiabilidade adequada das medidas re-
goniômetro, alinhado com a linha de bissecção do fêmur, alizadas, o avaliador escolhido para coleta dos ângulos Q
e pelo braço móvel, alinhado com a marcação realizada na e do retropé foi treinado para tal, e apresentou valores no
tuberosidade tibial, estando o eixo posicionado no centro estudo da confiabilidade intraexaminador de 0,91 e 0,88
da patela [17] (figura 1). respectivamente.

Figura 1 - Medida do Ângulo Q Análise estatística

Realizou-se análise descritiva das variáveis idade,


massa corporal, estatura e IMC. Também fora realizada
análise de frequência das variáveis sexo, NAF e pontuação
da EVN.
Inicialmente analisou-se o tipo de distribuição das
variáveis através do teste Shapiro-Wilks. Teste t-Student
para amostras independentes foi utilizado a fim de obter as
diferenças entre os grupos quanto às médias das variáveis
ângulo Q e ângulo do retropé. Coeficientes de correlação
de Pearson foram calculados para verificar a associação
entre dor patelofemoral e as variáveis ângulo Q e ângulo
Posteriormente, coletou-se o ângulo do retropé em apoio do retropé.
unipodal [18]. Para tanto, o voluntário realizou marcha Todos os testes foram analisados com nível de significância
de 10 m passando por um aclive de 1,60 m chegando a de 5%, usando o software Primer versão 4.0 para Windows®
uma plataforma plana de 40 cm de altura, onde parou de
forma natural em apoio bipodal. Em seguida, sem mudar Resultados
o posicionamento dos pés, o voluntário posicionou-se em
apoio unipodal relaxado. Suporte com a ponta dos dedos Foram avaliados ambos os MMII de 24 sujeitos com dor
foi fornecido por um dos examinadores para assegurar que patelofemoral unilateral, o que totalizou 48 MMII. A análise
o voluntário permanecesse em posição estática unipodal demonstrou predomínio do sexo feminino, que constou de
equilibrada descarregando o peso corporal apenas no MI 17 voluntárias (70,8%). A média de idade das participantes
de apoio [18]. O calcâneo e a perna foram bisseccionados foi de 22,9 ± 5,0 anos (12 - 30). O IMC teve média de 22,7
utilizando o paquímetro para localização dos respectivos ± 4,0 kg/m2 (18,5 - 35,1). Quanto ao NAF, predominou o
pontos médios, ignorando assimetrias de massa muscular e ativo, com 15 participantes (62,5%).
direção do tendão calcanear. O braço fixo do goniômetro No grupo DPF+ a pontuação da dor usual na EVN foi
foi posicionado sobre a linha de bissecção da perna, o mó- de 4,54 ± 1,8 (3 - 6), sendo 6 a pontuação predominante,
vel sobre a linha de bissecção do calcâneo e o eixo, entre relatada por 7 participantes. No grupo DPF- a dor inexistia
os maléolos, onde se projeta a articulação subtalar (figura em 100% dos joelhos.
2). O ângulo formado entre essas linhas indica os valores Os valores médios obtidos para o ângulo Q e do retropé
de valgismo ou varismo do retropé. Considera-se posição encontram-se dispostos na Tabela I. As medidas obtidas reve-
neutra aquela que apresenta um alinhamento vertical entre laram ângulo Q e do retropé maiores no grupo DPF+, sendo
a linha de bissecção da perna e do calcâneo [8,17]. todos os retropés, de ambos os grupos, valgos.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 145

Tabela I - Valores médios, desvio padrão, máximo e mínimo do Segundo o teste de correlação de Pearson, o presente
ângulo Q e do ângulo do retropé expresso em graus obtidos da estudo demonstrou não haver associação entre presença de
goniometria (n = 24). dor patelofemoral e as variáveis ângulo do retropé e ângulo
Ângulo Q Ângulo do Retropé Q (r ≤ 0,2; p ≥ 0,4).
Média (± Mín - Média (± Mín -
Grupo
DP)* Máx DP)* Máx Discussão
17,5 6,0 – 10,3 6,0 –
DPF+
(± 5,1) 26,0 (± 3,2) 18,0 O principal intuito desta pesquisa foi investigar a associa-
15,6 6,0 – 7,9 2,0 – ção do ângulo Q e do alinhamento do retropé com a SDPF.
DPF-
(± 4,1) 22,0 (± 3,8) 16,0 Considerando indispensável a confiabilidade dos dados de
DPF+: com dor patelofemoral, DPF-: sem dor patelofemoral, * Desvio uma pesquisa, as mensurações das variáveis foram efetuadas
padrão por um único examinador que estabeleceu previamente
teste-retestes de confiabilidade considerados bom a excelente
Houve diferença estatisticamente significante nas medidas para todas as medidas [19]. A amostra do presente estudo
de ângulo Q (teste t-Student), entre os grupos DPF+ e DPF- foi composta 70,8% pelo sexo feminino. A prevalência deste
(p = 0,01) (figura 3). sexo também pode ser encontrada em outros estudos com a
temática na SDPF o que, provavelmente, deve-se a uma taxa
Figura 3 - Análise dos valores do ângulo Q entre os joelhos com dor de incidência maior desta síndrome no sexo feminino. Isto
patelofemoral e os sem dor patelofemoral. tem sido atribuído a vários fatores como o aumento no ângulo
20 Q, no ângulo de rotação interna do quadril e no momento
* adutor do quadril, além do déficit na força dos músculos
dos membros inferiores apresentado no sexo feminino em
15
Ângulo Q (graus)

comparação com o masculino [20-25].


Em relação à prática de atividade física, predominaram
10 os indivíduos ativos, que representaram 62,5% do total da
amostra, com base na classificação de NAF preconizado pelo
ACSM. Em consonância com este resultado, a alta prevalência
5 de SDPF tem sido reportada em praticantes de alguns esportes
[20-22,24,26].
0 A dor é uma variável de amplo interesse na área da saúde,
Com dor Sem dor sendo que diversas abordagens terapêuticas tem como foco
P*=0,01 principal o controle da mesma. No presente estudo a pon-
tuação atribuída à dor usual no joelho com SDPF através da
Similarmente, houve diferença estatisticamente signi- EVN apresentou resultado de 4,54 ± 1,8. Valor semelhante
ficante nos ângulos do retropé entre os DPF+ e DPF- (p foi encontrado no estudo de Crossley et al. cujo objetivo foi
= 0,02), sendo o valor médio de valgismo maior no grupo examinar a confiabilidade e a validade de vários instrumentos,
DPF+ (figura 4). incluindo a EVN, utilizados na avaliação do tratamento da dor
patelofemoral. O referido estudo apresentou pontuação média
Figura 4 - Análise dos valores do ângulo do retropé dos membros para dor usual de 4,3 ± 1,0 pré-teste e 4,2 ± 0,9 pós-teste
com dor patelofemoral e os sem dor patelofemoral. [16]. De forma semelhante, estudo de Song et al., composto
* por três grupo com SDPF uni e bilateral, obteve pontuação
11
média da dor na EVN próxima a dos estudos supra citados
10
(4,85 ± 2,49) [27]. Uma vez que a EVN é uma escala que vai
Ângulo Retropé (graus)

9
de zero a dez, estes dados mostram a existência de um nível
8
7
de dor “moderado” nos portadores de SDPF, reafirmando a
6 importância de abordagens terapêuticas que aliviem o des-
5 conforto de quem a possui.
4 Em relação à variável ângulo Q, os valores médios obtidos
3 foram de 17,5º e 15,6º para grupo DPF+ e DPF- respectiva-
2 mente, o que demonstrou diferença estatística significante (p
1 = 0,01). Corroborando este achado, Herrington, Lankhorst et
0 al. e Massada et al. também encontraram aumento significante
Com dor Sem dor entre o ângulo Q, tanto em homens quanto mulheres com
SDPF, em comparação com os que não possuíam esta afecção
P*=0,02
146 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

[6,24,25]. Teoricamente, um ângulo Q aumentado exacerba similares, revelando aumento na pronação e consequente
o deslocamento lateral da patela e seu contato contra o côn- postura valga do retropé dos portadores de SDPF, também
dilo femoral lateral, contribuindo para SDPF [5,24,25]. Não foram verificados em tarefas como descer escadas [11] e
obstante, Song et al., com o intuito de identificar mecanismos agachamento unipodal [12]. Em contrapartida, Pohl et al.
potenciais para SDPF, realizaram uma revisão de artigos rela- não encontraram diferença estatística no ângulo do retropé
tivos às diferenças entre patelas sintomáticas e assintomáticas, entre corredoras durante o trote em esteira [34]. Refutando
e concluíram que as evidências dos mesmos sugerem que as os achados do presente estudo, resultados de Powers et al.
patelas sintomáticas não demonstram diferenças consistentes sugerem que o varismo aumentado no retropé pode ser um
no mau alinhamento ou trajetória lateral [28]. fator contribuinte na SDPF [4].
A despeito da diferença, com significância estatística, obti- Apesar de a maioria dos dados indicarem a coexistência de
das nas medidas do ângulo Q entre os joelhos com e sem SDPF, aumento do valgismo do retropé e SDPF, o presente estudo
o presente estudo não verificou associação entre estas variáveis. não verificou correlação entre ângulo de retropé e SDPF,
Uma possível explicação para esta ausência de associação, talvez mesmo tendo verificado uma diferença estatística significante
seja o fato de, embora superior no DPF+, o valor médio do entre os joelhos com e sem SDPF. Corroborando este achado,
ângulo Q neste grupo (17,5º) não alcançou magnitude sufi- a metanálise da revisão sistemática de Lankhorst et al. também
cientemente grande para gerar esta associação. Este pressuposto não detestou associação entre a postura do retropé e SDPF [6].
se apóia no estudo de Rauh et al. que analisou dez medidas Não foi encontrado registro de valores limítrofes, a partir
anatômicas em 748 mulheres, afirmaram haver uma associação do qual o valgismo associa-se à SDPF, portanto especula-se
positiva entre ângulo Q igual ou maior que 20º e a SDPF [22]. a possibilidade dos valores médios de valgismo do retropé
Outros autores, porém, consideraram que a magnitude do ân- alcançados nesta pesquisa não serem altos o suficiente para
gulo Q para tornar-se excessiva e predisponente a um quadro estabelecer esta associação. Ademais, uma vez que os testes de
patológico permanece incerta [24,25,29]. Analisando os dados correlação são sensíveis ao tamanho da amostra [35], talvez
do presente estudo, verifica-se que a amostra apresentou algu- uma amostragem maior pudesse demonstrar esta correlação.
mas medidas de ângulo Q igual ou superior a 20 graus, porém
sua média foi inferior a este valor. Outra provável explicação Conclusão
para esta falta de correlação, quiçá se deva ao fato da medida
do ângulo Q no presente estudo ter sido realizada em condição De acordo com os resultados deste estudo conclui-se
estática. Esta suposição baseia-se no estudo de Massada et al. que as medidas do ângulo Q e do valgismo do retropé dos
que verificou uma maior correlação entre o ângulo Q dinâmico indivíduos analisados são significantemente superiores nos
do que o estático com a SDPF [24]. Além disto, a ausência de joelhos DPF+, porém não foi demonstrada associação entre
descarga de peso também pode ter interferido neste resultado, as medidas supracitadas e a SDPF.
uma vez que recente revisão sistemática constatou associação Diante destas conclusões, este estudo sugere a inserção
entre ângulo Q com descarga de peso e a SDPF, através da destas medidas na rotina clínica de fisioterapeutas e ortope-
metanálise com nove estudos [6]. distas e futuras pesquisas para esclarecer a associação entre as
Park et al., por sua vez, concluíram que o ângulo Q au- variáveis ângulo Q e ângulo do retropé com a SDPF constando
mentado pode não ser um fator de risco para SDPF, uma vez de ampliação da amostra, bem como almejando o estabeleci-
que obtiveram uma correlação negativa entre esta variável e mento de valores limítrofes para estas variáveis e investigando
a magnitude do pico de torque abdutor no joelho [30]. Ade- a relação de causa e efeito entre as mesmas e a SDPF.
mais, embora o ângulo Q seja considerado como indicativo
de subluxação lateral da patela, o estudo de Sheehan et al. Referências
suportam uma correlação entre ângulo Q e deslocamento
medial da patela [31]. 1. Pagenstert GI, Bachmann M. Clinical examination for patello-
No presente estudo o grupo de joelhos DPF+ apresentou femoral problems. Orthopade 2008;37(9):890-903.
2. Nguyen AD, Boling MC, Levine B, Shultz SJl., Relationships
um valgismo com descarga de peso unipodal significantemen-
between lower extremity alignment and the quadriceps angle.
te maior que o DPF-. Este fenômeno promove uma redução Clin J Sport Med 2009;19(3):201-6.
do arco plantar em função da pronação subtalar agregada, 3. Davis IS, Powers CM. Patellofemoral pain syndrome: proximal,
e permite maior mobilidade ao pé [8]. De forma análoga, distal, and local factors, an international retreat. J Orthop Sports
McPoil et al. verificaram que indivíduos com SDPF estão Phys Ther 2010;40(3):11-6.
quatro vezes mais sujeitos a ter uma redução significante na 4. Powers CM, Maffucci R, Hampton S. Rearfoot posture in
altura do arco plantar entre as condições com ausência e pre- subjects with patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther
sença de descarga de peso, quando comparado com o grupo 1995;22(4):155-60.
controle [13]. Em consonância com este achado, Barton et 5. Waryasz GR, McDermott AY. Patellofemoral pain syndrome
(PFPS): a systematic review of anatomy and potential risk
al. e Aliberti et al. concluíram que indivíduos com SDPF
factors. Dyn Med 2008;7:9.
possuem pés hipermóveis e mais pronados [10,32,33]. Dados
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 147

6. Lankhorst NE, Bierma-Zeinstra SM, van Middelkoop M. Fac- in an adolescent female: a case report. J Strength Cond Res
tors associated with patellofemoral pain syndrome: a systematic 2011;25(10):2828-34.
review. Br J Sports Med 2013;47(4):193-206. 22. Rauh MJ, Macera CA, Trone DW, Reis JP, Shaffer RA. Selected
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injury: a biomechanical perspective. J Orthop Sports Phys Ther recruits. Mil Med 2010;175(5):329-35.
2010;40(2):42-51. 23. Boling MC, Padua DA, Marshall SW, Guskiewicz K, Pyne S,
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2010. factors for patellofemoral pain syndrome: the joint undertaking
9. Salsich GB, Perman WH, Patellofemoral joint contact area is to monitor and prevent ACL injury (JUMP-ACL) cohort. Am
influenced by tibiofemoral rotation alignment in individuals J Sports Med 2009;37(11):2108-16.
who have patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther 24. Massada, M, R Aido, C Magalhães, N Puga. Dynamic quadri-
2007;37(9):521-8. ceps angle: a comparison of female elite volleyball players with
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rearfoot during a one-leg squat in individuals with patellofemo- 27. Song CY, Lin YF, Wei TC, Lin DH, Yen TY, Jan MH. Surplus
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factors for patellofemoral pain syndrome: a systematic review. J son entre caracteres de Crambe abyssinica. Rev Ciênc Agron
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atment using neuromuscular retraining of the hip musculature
148 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Artigo original

Avaliação da mobilidade funcional em pacientes


hemiparéticos por acidente vascular cerebral
Evaluation of functional mobility in hemiparetic stroke patients
Alessandra Caroline Baumer*, Bianca Gorri Pareja Evangelista*, Elaine Cristine Budal Arins de Lima**,
Carla Heloisa Moro***, Noe Gomes Borges Junior, D.Sc.*****, Antonio Vinicius Soares, Ft., M.Sc.****

*Acadêmica do Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade Guilherme Guimbala - FGG da Associação Catarinense de Ensi-
no – ACE, **Supervisora e Professora do Curso de Terapia Ocupacional da FGG/ACE, Joinville/SC, Especialista em Reabilitação
do Membro Superior, ***Médica Neurologista, Coordenadora da Unidade de AVC do Hospital Municipal São José, Joinville/SC,
****Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano do Centro de Ciências da Saúde e do Es-
porte – CEFID da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, *****Especialista em Reabilitação Neurológica, Professor
do NUPEN – Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação da FGG/ACE, Joinville/SC

Resumo Abstract
Objetivo: Verificar a possível correlação entre o teste de mo- Objective: To verify possible correlation between test functio-
bilidade funcional – Timed Up & Go Test (TUGT) e a Medida nal mobility – Timed Up & Go Test (TUGT) and The Canadian
Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM). Métodos: Occupational Performance Measure (COPM). Methods: This was a
Estudo descritivo do tipo exploratório. Participaram do estudo 40 descriptive exploratory study. Forty stroke patients, both gender, 28
indivíduos com diagnóstico de acidente vascular cerebral, de ambos to 85 years old, participated in the study. Functional mobility using
os sexos, com idade entre 28 a 85 anos. Foi avaliada a mobilidade TUGT and COPM were evaluated. Results: This study did not find
funcional utilizando o TUGT e o desempenho ocupacional através significant correlation between TUGT and COPM. In relation to
da COPM. Resultados: Neste estudo, não foi encontrado correlação the risk of falling, we noticed that during hospitalization is (50%)
significativa entre o TUGT e a COPM. O risco de quedas na fase higher than im outpatients (18.2%). Conclusion: The study showed
hospitalar é maior (50%) do que nos pacientes que se encontram na that risk of falling in hospitalized patients is higher than those in
fase ambulatorial (18,2%). Conclusão: O estudo mostra que o risco outpatients services, which is moderate. We suggest that new studies
de quedas em pacientes na fase hospitalar é alto, e em pacientes na should be carried out using the professional evaluation and not only
fase ambulatorial é moderado. Sugere-se que sejam realizados novos self-evaluation as COPM.
estudos utilizando avaliações feitas pelo próprio profissional e não Key-words: stroke, accidental falls, Canadian Occupational
somente autoavaliativa como a COPM. Performance Measurement.
Palavras-chave: acidente vascular cerebral, acidentes por queda,
medida canadense de desempenho ocupacional.

Recebido em 10 de outubro de 2012; aceito em 4 de março de 2013.


Endereço para correspondência: Antonio Vinicius Soares, NUPEN – Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação FGG/ACE, São José, 490,89202-010
Joinville SC, E-mail: vinicius-soares@ace.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 149

Introdução Como as consequências do AVC podem ser fatais e quando


não, levam o paciente à imobilidade e dependência dos fami-
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa liares devido aos déficits no seu desempenho ocupacional, o
de deficiência entre as desordens do Sistema Nervoso Central estudo em questão teve como objetivo avaliar a mobilidade
(SNC) [1]. No Brasil, é responsável por altas taxas de mor- funcional e o risco de quedas em pacientes acometidos por
talidade, invalidez e elevado custo social e econômico [2]. É AVC, através do Timed Up & Go Test (TUGT), verificando a
definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como possível correlação com a Medida Canadense de Desempenho
“um sinal clínico de desenvolvimento rápido, de distúrbio Ocupacional (COPM).
focal da função cerebral, com duração superior a 24 horas
ou levando à morte sem outra causa aparente senão a origem Material e métodos
vascular” [3,4]. A hemiparesia é a sequela mais comum cau-
sada pelo AVC, afetando 70 a 85% dos pacientes [5]. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva do tipo ex-
A maior recuperação funcional após um AVC acontece no ploratória, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
decorrer dos seis primeiros meses de lesão, após esse período, do Hospital Municipal São José, sob o no 293811. Participa-
os ganhos funcionais são menores, pois quanto mais precoce ram do estudo 40 indivíduos com diagnóstico de AVC, destes,
for iniciado o tratamento, melhores serão os resultados e me- 18 pacientes se encontravam na fase hospitalar e 22 pacientes
nores serão as complicações [6]. Após a ocorrência do AVC, na fase ambulatorial, de ambos os sexos, com idade entre 28
são observados vários problemas relacionados à motricidade, e 85 anos. Na fase hospitalar obteve-se a média de 63,3 ± 9,6
sensibilidade e funções corticais superiores. Esses fatores anos e na fase ambulatorial obteve-se a média 60,3 ± 10,4 anos.
interferem no desempenho do indivíduo nas atividades de Foram incluídos no estudo, somente pacientes com diagnóstico
vida diária e prática. Dessa forma, a Terapia Ocupacional de AVC com aspecto cognitivo preservado, ausência de déficit
atua com o intuito de recondicionar o sistema motor, para a visual e auditivo que impedissem a realização dos testes e de-
realização de tarefas que devolvam ao paciente sua capacidade ambulação funcional. Após esclarecer aos indivíduos o objetivo
de ação real [6]. O AVC é um dos principais diagnósticos da pesquisa e estes concordarem em participar do estudo, os
para o risco de queda. Segundo dados dos Estados Unidos, pacientes assinaram um termo de consentimento livre e escla-
500.000 hospitalizações são resultantes de quedas, sendo des- recido. Em seguida, foi iniciada a aplicação das avaliações no
tes, 16.000 mortes. Um estudo revelou que 34% das pessoas período de outubro de 2009 a setembro de 2010. As avaliações
com uma história de AVC, em fase de acompanhamento, foram aplicadas na fase hospitalar nos pacientes internados no
sofreram quedas [7]. Já outro, revelou que pessoas que já Hospital Municipal São José e na fase ambulatorial nos pacien-
tiveram um AVC correm um risco ainda maior de sofrerem tes que frequentavam a Associação dos Deficientes Físicos de
quedas novamente [8]. Joinville (ADEJ), Clínica de Terapia Ocupacional da Faculdade
Queda é definida como um evento não intencional do Guilherme Guimbala – ACE e Ambulatório da Universidade
corpo para um nível inferior à posição inicial com incapaci- da Região de Joinville (Univille).
dade de correção em tempo hábil, ocasionado por circuns- Os instrumentos utilizados foram os seguintes: entrevista
tâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade do semiestruturada por meio da qual foram obtidos dados quanto
indivíduo [9]. às informações pessoais do paciente (data de nascimento,
Nos pacientes com diagnóstico de AVC hospitalizados, idade, número da carteira de identidade e cadastro de pessoa
as quedas compreendem a causa mais comum de lesão. Os física), informações sobre a patologia, estas obtidas através do
fatores que aumentam o risco de quedas são os seguintes, a prontuário de cada paciente e presença de histórico de quedas;
idade avançada, confusão, comportamento impulsivo, defi- a seguir foram aplicadas a Medida Canadense de Desempenho
ciências de mobilidade, equilíbrio ou coordenação precária, Ocupacional e Teste funcional de mobilidade - Time Up and
deficiências visuais e comunicação prejudicada interferindo Go Test (TUGT).
na capacidade do paciente de solicitar assistência no momento A Medida Canadense de Desempenho Ocupacional
adequado. Para prevenir as quedas é necessário a detecção e (COPM) é uma avaliação padronizada, individualizada,
remoção de riscos ambientais, otimização do controle motor, aplicada internacionalmente por Terapeutas Ocupacionais
recomendação de aparelhos adaptados apropriados e ensino com o propósito de fazer com que o cliente tenha a percepção
de medidas de segurança ao paciente e a família [10]. dos problemas encontrados no seu desempenho ocupacional,
Em uma pesquisa realizada com pacientes que tiveram e assim detectar as metas para o seu tratamento. O Terapeuta
AVC, todos (100%) eram dependentes nas Atividades da Ocupacional ao aplicar a COPM estimula o cliente a pensar
Vida Diária (AVD), destes 82,6% apresentaram grau de nas atividades que executa, precisa ou que pretende executar
interferência em sete ou mais AVD; nas Atividades Instru- durante o seu dia-a-dia, em seguida o terapeuta questiona
mentais da Vida Diária (AIVD), dos idosos que sofreram se ele é capaz de executar estas atividades e se está satisfeito
AVC, 83,4% eram dependentes e comprometidos em três com o seu desempenho. Após a identificação dos proble-
ou mais AIVD [9]. mas, o cliente é orientado a pontuar a atividade em uma
150 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

escala de 1 a 10 em relação à importância desta atividade Resultados


em sua vida. Em seguida, o cliente é orientado a escolher
no máximo cinco problemas, os quais consideram mais Dos 40 pacientes avaliados, 90% apresentam diagnóstico
importantes. Após escolher os cinco problemas o cliente é de AVC do tipo isquêmico e 10% AVC Hemorrágico. Entre os
questionado sobre a maneira como realiza atualmente esta pacientes incluídos no estudo, 45% estavam na Fase Hospita-
atividade, pontuando o seu desempenho de 1 a 10. Outro lar, destes 33,3% eram mulheres e 66,7% homens. Os outros,
ponto a ser avaliado é a satisfação do cliente com a atual 55% se encontravam na fase ambulatorial da doença, destes
forma em que realiza cada atividade com déficit, nota de 1 54,5% eram do sexo masculino e 45,5% do sexo feminino.
a 10. Após o paciente selecionar os problemas que considera Na Figura 1 é possível verificar a distribuição dos indi-
mais importante, pontuando-os, são realizadas as somas das víduos em fase ambulatorial e hospitalar, quanto ao risco
pontuações do desempenho e depois dividido pelo número de quedas pelo Timed Up and Go Test. Foi constatado que
de problemas, gerando o escore total de desempenho. Da pacientes que se encontram na fase hospitalar possuem
mesma forma, as pontuações de satisfação são somadas e maior risco de quedas do que aqueles que se encontram na
dividas pelo número de problemas, assim gerando o escore fase ambulatorial.
de satisfação. Estes escores podem variar de 1 a 10 [11].
O Teste Funcional de Mobilidade “Timed Up and Go Figura 1 - Risco de quedas em pacientes com AVC na fase Hospitalar
Test (TUGT)” avalia o nível de mobilidade do indivíduo, e Ambulatorial, conforme o Timed Up and Go Test.
mensurando em segundos o tempo gasto pelo sujeito para 60%
levantar-se de uma cadeira, sem ajuda dos braços, andar a 50,0% 50,0%
50% 44,4%
uma distância de três metros, dar a volta e retornar a posi-
ção sentada. No início do teste, o sujeito permanece com 40%
o dorso apoiado no encosto da cadeira e, ao final, encosta 31,8%
novamente. O sujeito recebia a instrução “vá” para realizar 30%
o teste e o tempo era cronometrado a partir da voz de co- 20% 18,2%
mando até o momento em que ele apoiasse novamente o
dorso no encosto da cadeira. Após é analisado o tempo em 10% 5,6%
segundos, classificando-os em três grupos: baixo, moderado 0%
e alto risco de quedas [12]. Alto risco Risco moderado Baixo risco
O objetivo deste teste é avaliar o equilíbrio sentado,
transferências de sentado para a posição de pé, estabilidade Fase Hospitalar Fase Ambulatorial
na deambulação e mudança do curso da marcha sem utilizar
estratégias compensatórias para executar a tarefa [13]. Na Tabela I é possível observar a correlação entre o TUGT
Os dados foram analisados através de estatística descritiva e a nota de desempenho e satisfação obtida através da COPM,
(Média e DP) e a correlação entre o TUGT e Medida Cana- em pacientes que se encontravam na fase hospitalar. Também
dense de Desempenho Ocupacional foi realizada por meio de é verificado a média, desvio padrão, mínimo e máximo da
Correlação Momento de Pearson utilizando o software Gra- idade, tempo da lesão, TUGT e Medida Canadense. O mesmo
phpad Prism 4 ®, sendo considerado o nível de significância pode ser observado com pacientes que se encontravam na fase
de 95% (p < 0,05). ambulatorial, Tabela II.

Tabela I - Grupo Hemiparético – Fase Hospitalar.


18 sujeitos Idade (anos) Tempo lesão (dias) TUGT (segundos) MC Desempenho MC Satisfação
Média 63,3 17 35,31 4,77 5,70
DP 9,6 8,5 22,70 2,11 1,87
Mínimo 46,0 2,0 11,41 1,70 2,00
Máximo 85,0 32,0 95,00 8,00 8,00
TUGT: Timed Up and Go Test, MC: Medida Canadense em grupo hemiparéticos por AVC.

Tabela II - Grupo Hemiparético por AVC – Fase Ambulatorial.


22 sujeitos Idade (anos) Tempo lesão (meses) TUGT (segundos) MC Desempenho MC Satisfação
Média 60,3 29,4 23,74 4,64 4,64
DP 10,4 45,0 18,88 2,08 2,36
Mínimo 28,0 2,0 8,00 1,00 1,00
Máximo 78,0 210,0 90,00 8,00 10,00
TUGT: “Timed Up and Go Test”; MC: Medida Canadense em grupo hemiparéticos por AVC.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 151

Dos pacientes encontrados na fase hospitalar do AVC, ereta instável com comprometimento da base de apoio e com
nenhum deles sofreu algum tipo de queda, porém, dos pa- tendência a cair para frente, do lado enfraquecido. O apare-
cientes encontrados na fase ambulatorial, 59,1% já sofreram cimento de déficit visual e lesão viso-espacial decorrentes do
algum tipo de quedas. AVC são bastante comuns e podem influenciar o equilíbrio
Na figura 2 é possível verificar os resultados obtidos do idoso e a mobilidade segura [14]. Observamos esse fato
através da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional em nosso estudo, no qual 59,1% dos pacientes em fase am-
em pacientes na fase ambulatorial e fase hospitalar. Pode-se bulatorial já sofreram algum tipo de queda depois do AVC.
destacar que na fase hospitalar não foram relatados déficits nas Os pacientes idosos são de risco para queda, sendo que
tarefas domésticas como limpeza, lavagem de roupas e louça, 53% delas ocorrem em pacientes com idade superior a 65
preparação de refeições; na recreação ativa, esportes e passeios anos. Nas unidades de neuroclínica/neurocirurgia a idade
e na independência fora de casa, compras, finanças. Nenhum não interfere no risco de quedas. O risco de queda é maior
dos pacientes, tanto em fase hospitalar como na fase ambu- nas unidades de psiquiatria, neuroclínica e/ou neurocirurgia.
latorial relataram problemas relacionados ao brincar/escola. Nessas unidades, os pacientes possuem vários fatores de risco,
tais como alterações no nível de consciência, mobilidade
Figura 2 - Distribuição conforme resultados da Medida Canadense prejudicada, hipotensão ortostática, distúrbios vesicais ou
de Desempenho Ocupacional em fase ambulatorial e hospitalar. intestinais, déficits sensoriais e história prévia de quedas. As
50% 47%
44,3% quedas entre pacientes da neurologia ocorrem duas vezes mais
45%
40% do que em outras unidades [16].
35% 33% Os resultados do TUGT são classificados em três grupos:
30%
25% a) menos de 20 segundos para realização, correspondendo a
20% 18,6% baixo risco para quedas; b) de 20 a 29 segundos, a moderado
15% 14,3%
10% 11% risco para quedas; c) 30 segundos ou mais, a alto risco para
10% 7%
4,3% 4,3% 2,8% 1,4%
5% 0% 0% 0%0% 2% 0% quedas [12]. Uma característica marcante da marcha após um
0%
AVC é a diminuição da velocidade [17].
Mobilidade Funcional

Recreação Tranqüila
Tarefas Domésticas
Cuidados Pessoais

Recreação Ativa
Independência
fora de casa

Brincar/Escola
Trabalho(remunerado
/não-remunerado)

Socialização

Como previsto, por meio deste estudo, pode ser confir-


mada que na fase hospitalar o risco de quedas em pacientes
com diagnóstico de AVC é maior (50%) do que nos pacien-
tes que se encontram na fase ambulatorial (18,2%). Apesar
do alto risco de quedas, nenhum dos pacientes internados
no hospital revelou ter histórico de quedas, este fator, pode
Fase Hospitalar Fase Ambulatorial ser explicado devido aos cuidados que são fornecidos ao
paciente pelo seu acompanhante e estrutura da equipe da
Discussão Unidade de AVC (equipe de Enfermagem, Terapia Ocupa-
cional, Fisioterapia, dentre outros).
A morbidade relacionada às quedas tem várias implicações Um dos objetivos iniciais da pesquisa era analisar se
além das fraturas, podendo desencadear prejuízos físicos e existia correlação significativa entre o teste de mobilida-
psicológicos. O medo de cair pode ser a complicação mais de funcional (TUGT) com o desempenho funcional dos
incapacitante de uma queda, causando uma diminuição pacientes nas atividades de vida diária, avaliado através
da mobilidade e aumentando o desuso. Uma queda pode da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional. Na
ter várias consequências, dentre elas, perda da capacidade COPM, por ser autoavaliativa, o cliente relata os problemas
funcional, aumentando a suscetibilidade a um novo evento encontrados no seu desempenho ocupacional, o qual quer
no futuro [14]. melhora, pontuando as metas para o tratamento. A pontua-
A terceira idade prevaleceu neste estudo, sendo a média de ção de desempenho e satisfação é dada através da percepção
idade em pacientes na fase ambulatorial de 60,3 ±10,4 anos que o indivíduo possui acerca dos problemas que enfrenta ao
e na fase hospitalar 63,3 ± 9,6 anos. executar as atividades da vida diária. No teste de mobilidade
O medo de voltar a cair passou a fazer parte da vida do funcional, o terapeuta avalia o paciente, cronometrando o
idoso, dos 26 idosos, 88,5% afirmaram que as quedas geraram tempo despendido para levantar de uma cadeira, deambu-
algum tipo de consequência. Dentre essas, se destacaram o lar 3 m, retornar e sentar novamente, comparando com os
abandono de certas atividades (26,9%), a modificação de dados já existentes, fornecidos pelo teste. Neste estudo, não
hábitos (23,1%) e a imobilização (19%) [15]. foi encontrado correlação significativa entre o TUGT e a
Alguns estudos na literatura apontam a história pregressa COPM, estima-se que este dado seja de extrema importância
de AVC como fator associado a quedas. Possivelmente pelas para que os Terapeutas Ocupacionais não utilizem somente
sequelas causadas por este evento, a hemiplegia ou hemiparesia o protocolo da COPM para avaliar os pacientes, pois muitas
afeta a deambulação do indivíduo, que assume uma posição vezes, o paciente não percebe os reais problemas que enfrenta
152 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

no seu cotidiano, sendo necessária a aplicação de protocolos Conclusão


como a Medida de Independência Funcional [18], Índice de
Independência nas Atividades de Vida Diária de Katz [19], Foi utilizado o TUGT em nosso estudo, por ser um teste
em que a avaliação é realizada pelo terapeuta, ao contrário clínico fácil, rápido, sem custo, validado e amplamente uti-
da COPM em que ocorre a autoavaliação. lizado em pesquisas e no meio clínico. Neste estudo não foi
Foi verificado neste estudo que muitas das atividades possível atingir o objetivo inicial de correlacionar o teste de
ficaram comprometidas após o AVC. Na fase hospitalar os pro- mobilidade funcional – TUGT e a Medida de Canadense de
blemas na realização das atividades de cuidado pessoal foram Desempenho Ocupacional.
47%, mobilidade funcional 33%, socialização 11%, trabalho A COPM é um importante instrumento de avaliação para
7% e recreação tranquila 2%. O ambiente hospitalar restringe verificar a percepção que o paciente apresenta em relação aos
as atividades diárias do paciente em decorrência do espaço déficits enfrentados para executar as atividades da vida diária,
limitado. A socialização é prejudicada, pois possuem horário entretanto, por ser autoavaliativa, não pode ser utilizado de
para receber visitas. Os pacientes não relataram problemas forma única, pois muitas vezes, o paciente não percebe os
nas atividades domésticas, pois o hospital fornece todos os reais problemas que enfrenta no seu cotidiano, sendo impres-
cuidados necessários em relação à preparação das refeições, cindível a avaliação do terapeuta em relação ao desempenho
lavagem das roupas e louças. Na independência fora de casa, do paciente.
os pacientes recebem assistência de familiares para cuidar das Em decorrência da presença de alto risco de quedas na fase
finanças, desta forma, o paciente não relata problemas neste hospitalar e moderado risco de quedas na fase ambulatorial,
aspecto. No trabalho, os pacientes apresentam-se preocupados sugere-se a orientação dos pacientes de ambos os grupos
em virtude de estarem afastados das suas atividades produtivas, quanto ao risco de quedas, visto que a ocorrência de quedas
ansiosos e receosos com o afastamento do emprego e incapa- pode prejudicar ainda mais o desempenho ocupacional do
cidade de realizar as atividades que executava anteriormente paciente com AVC. Sugere-se também que sejam realizados
no seu posto de trabalho. outros estudos a partir deste, utilizando uma amostra maior
Na fase ambulatorial os problemas citados estão relacio- de indivíduos com diagnóstico de AVC.
nados com o desempenho nas atividades de cuidado pes-
soal 44,3%, tarefas domésticas 18,6%, mobilidade 14,3%, Referências
trabalho 10%, independência fora de casa 4,3%, recreação
tranquila 4,3%, recreação ativa 2,8% e socialização 1,4%. Os 1. Keren O, Ring H, Solzi P, Pratt H, Groswasser Z. Upper limb
pacientes revelam problemas nas tarefas domésticas, pois no somatosensory evoked potentials as a predictor of rehabilita-
ambiente domiciliar precisam executar estas tarefas diaria- tion progress in dominant hemisphere stroke patients. Stroke
mente, ao contrário dos pacientes que estão na fase hospitalar, 1993;24:1789-93.
2. Caneda MAG, Fernandes JG, Almeida AG, Mugnol FE. Con-
que contam com a ajuda da equipe médica e cuidador. O
fiabilidade de escalas de comprometimento neurológico em
problema na mobilidade foi citado em razão do ambiente não pacientes com acidente vascular cerebral. Arq Neuropsiquiatr
possuir adaptações necessárias que venham ao encontro das 2006;64(3-A):690-7.
limitações de cada indivíduo. O trabalho e a independência 3. Bonita R. Epidemiology of stroke. The Lancet 1992;339:334-4.
fora de casa também foram citados como sendo problemas, 4. Jorgensen HS, Nakayama H, Raaschou HO, Olsen TS. Recovery
pois alguns pacientes não conseguem exercer sua função of walking function in stroke patients: the Copenhagen stroke
como anteriormente. Retornar as atividades de vida diária study. Arch Phys Med Rehabil 1995;76:27-32.
com limitações em diversas atividades torna-se um desafio 5. Armagan O, Tascioglu F, Oner C. Electromyographic biofe-
para esses indivíduos, que relatam ainda sentir dificuldade edback in the treatment of the hemiplegic hand – a placebo
na socialização, como visitar amigos e parentes, recreação controlled study. Arm J Phys Med Rehabil 2003;82:856-61.
6. Gillen G. Acidente Vascular Cerebral. Pedretti LW, Early MB.
tranquila como ler livros, bordar, costurar, assistir televisão
Terapia ocupacional capacidades práticas para as disfunções
e recreação ativa como frequentar grupos religiosos, eventos físicas. 5ª. ed. São Paulo: Roca; 2005:675-703.
esportivos, realizar cursos, viajar, dentre outros. Em ambos 7. Thurman DJ, Stevens JA, Rao JK. Practice parameter: assessing
os resultados não foram encontradas referências na literatura patients in a neurology practice for risk of falls. Neurology
para confrontar estes dados. 2008;70;473-9.
O indivíduo acometido por AVC sofre mudanças no es- 8. Ashburn A, Hyndman D, Pickering R, Yardley L, Harris S.
tilo e qualidade de vida, que se estendem também para a sua Predicting people with stroke at risk of falls. Age and Ageing
família e cuidadores. As sequelas ocasionadas em decorrência 2008;37:270-6.
do AVC alteram o desempenho da pessoa acometida, inter- 9. Fabrício SCC, Rodrigues RAP, Junior MLC. Causas e conse-
qüências de quedas de idosos atendidos em hospital público.
ferindo na sua autonomia e independência para a realização
Rev Saúde Pública 2004;38:93-9.
das atividades de vida diária, sendo a mobilidade e a funcio- 10. Woodson AM. Acidente Vascular Cerebral. Trombly CA, Ra-
nalidade do paciente objetivos importantes da prescrição de domski MV. Terapia ocupacional para disfunções físicas. 5ª ed.
Terapia Ocupacional [20]. São Paulo: Santos; 2008. p.817-53.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 153

11. Law M, Baptiste S, Carswell A, McColl MA, Polatajko H, 16. Diccini S, Pinho PG, Silva FO. Assessment of risk and inci-
Pollock N. Medida Canadense de Desempenho Ocupacional dence of falls in neurosurgical inpatients. Rev Latinoam Enferm
(COPM). Belo Horizonte: UFMG; 2009. p.9-63. 2008;16:752-7.
12. Alfieri FM, Teodori RM, Montebelo MIL. Mobilidade funcional 17. Giriko CH, Pereira JDAS, Oliveira TLR, França AC, Carvalho
de idosos submetidos a intervenção fisioterapêutica. Saúde em AC. Avaliação da marcha e do risco de queda de hemiplégicos
Revista 2004;6:45-50. [online]. [citado 2010 Set 16]. Disponível em URL: http://
13. Lopes KT, Costa DF, Santos LF, Castro DP, Bastone AC. Preva- www.inicepg.univap.br.
lência do medo de cair em uma população de idosos da comu- 18. Ribeiro M, Miyazaki MH, Jucá SSH, et al. Validação da Versão
nidade e sua correlação com mobilidade, equilíbrio dinâmico, Brasileira da Medida de Independência Funcional. Acta Fisiatr
risco e histórico de quedas. Rev Bras Fisioter 2009;13:223-9. 2004;11:72-6.
14. Menezes RL, Bachion MM. Estudo da presença de fatores de 19. Oliveira DLC, Goretti LC, Pereira LSM. O desempenho de
risco intrínsecos para quedas, em idosos institucionalizados. idosos institucionalizados com alterações cognitivas em ati-
Ciênc Saúde Coletiva 2008;13:1209-18. vidades de vida diária e mobilidade: estudo piloto. Rev Bras
15. Ribeiro PR, Souza ER, Atie S, Souza AC, Schilithz AO. A Fisioter 2006;16:91-6.
influência das quedas na qualidade de vida de idosos. Ciênc 20. Almeida MS, Araújo RCT. Resultados da intervenção de tera-
Saúde Coletiva 2008;13:1265-73. pia ocupacional no cuidado ao paciente após acidente vascular
encefálico. [citado 2010 Out 5]. Disponível em URL:http://
prope.unesp.br
154 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Artigo original

Critérios de escolha do consumidor: um estudo dos


valores buscados na fisioterapia dermatofuncional
Consumer choice criteria: a study of values sought in dermato-
functional physical therapy
Ludmila Bonelli Cruz, Ft., M.Sc.*, Luiz Antônio Antunes Teixeira, D.Sc.**, Jersone Tasso Moreira Silva, D.Sc.**

*Universidade Salgado de Oliveira, Belo Horizonte, **Universidade FUMEC

Resumo Abstract
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de iden- The aim of this study was to identify what values are sought by
tificar os valores que o cliente busca ao escolher um tratamento clients when choosing an aesthetic treatment specifically in dermato-
estético, especificamente na fisioterapia dermatofuncional. Optou- -functional physical therapy. The basis of the study was the consumer
-se, como base para este estudo, pelas tipologias que enfocam o value types proposed by Holbrook (1982). Factorial analysis was
valor para os consumidores, nos processos de aquisição de bens e the statistical method used in this study. Former physical therapy
serviços, apoiando-se com mais ênfase nos valores propostos por dermato-functional patients were surveyed and a quantitative analy-
Holbrook (1982). A metodologia adotada é de natureza quantita- sis was performed. The questionnaire was available on a website and
tiva com aplicação do modelo de análise fatorial. Foi desenvolvido 142 subjects responded. The data collected allowed us to analyze
e aplicado um questionário com clientes que já fizeram tratamento the acceptance of a new service, preference and intent of purchase
com fisioterapia dermatofuncional. O questionário utilizado para as well as choice and value criteria. The results also indicate for each
a pesquisa foi disponibilizado por meio de um site, tendo sido of the Holbrook a strong presence when selecting a treatment with
obtido retorno de 142 respondentes. Os dados recolhidos per- dermato-functional physical therapy. The most significant values
mitiram analisar a aceitação de um novo serviço pelo cliente, sua were efficiency, fun and esteem. Status and spirituality were not
preferência, sua intenção de consumo, seus critérios de escolha e evaluated in this study.
seus valores. Os resultados encontrados indicaram uma presença Key-words: Dermato-functional physiotherapy, choice Criteria,
mais forte dos valores Eficiência, Diversão e Estima e menor presença consumer behavior, Holbrook values.
para Excelência e Estética no processo de escolha do tratamento da
fisioterapia dermato-funcional. Os valores Status e Espiritualidade
foram construtos não validados neste estudo.
Palavras-chave: Fisioterapia dermato-funcional, critérios de
escolha, comportamento do consumidor, tipologia dos valores de
Holbrook.

Recebido em 24 de janeiro de 2013; aceito em 22 de março de 2013.


Endereço para correspondência: Ludmila Bonelli Cruz, Av. do Contorno, 4747/402, 30110-090 Belo Horizonte MG, E-mail: bellebonelli@
bellebonelli.com.br, lantonio@fumec.br, tasso@fumec.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 155

Introdução se preocupar com distúrbios estéticos associados a patologias


circulatórias como a celulite e com a obesidade.
A crescente necessidade das pessoas de buscar algo di- Em virtude do desenvolvimento do conhecimento
ferenciado do que é oferecido pela maioria dos setores que técnico-científico e das mudanças contextuais, a fisioterapia
tratam da beleza tem contribuído para o interesse quanto aos requer atualização permanente na sua área e, neste contexto
estudos comportamentais. Tais pesquisas, no entanto, estão, em transformação, a fisioterapia dermatofuncional surge
cada vez mais, voltadas para colocar em prática novas soluções enfocando novas possibilidades de aplicação das tecnologias
tecnológicas. Nesse contexto, acredita-se que até mesmo a fisioterápicas nas correções estéticas.
fisioterapia, que é conhecida como a profissão da reabilitação, Cada vez mais, os estudiosos buscam não só entender o
esteja sendo estimulada a desenvolver uma visão mais ampla processo natural e tradicional inerente a qualquer decisão de
da sua atuação no mercado de trabalho. consumo, no qual se avaliam os aspectos funcionais e o desem-
O corpo se transformou em ponto central de um merca- penho de produtos e serviços, mas, principalmente, decifrar
do que cresce desde a segunda metade do século XX, tendo como os consumidores estruturam e norteiam suas escolhas,
grande importância para a área de marketing [1]. Quando quando estas envolvem o consumo de uma experiência [6].
adotada a perspectiva de Goldenberg e Ramos [2], o tema Os estudos do comportamento do consumidor inten-
citado se transforma em capital e, por isso, passa a ser alvo sificaram-se a partir de 1950, na perspectiva do marketing
de investimentos. acadêmico, atraindo inúmeros autores de tendências diver-
Nos anos de 1990, houve uma inversão do significado do sas [7-15]. Todos eles buscaram compreender as ações de
corpo “natural”. O avanço da medicina e o desenvolvimento compra em abordagens e dimensões diversas. As análises do
tecnológico possibilitaram modificá-lo por meio de inter- comportamento do consumidor apoiam-se, de forma intensa,
venções cirúrgicas com finalidade estética, alternando, dessa nos conhecimentos da sociologia, da antropologia, da psico-
maneira, o status corporal. Desde então, é possível observar logia e de modelos matemáticos, transformando-os em um
a impossibilidade de aceitação do corpo natural. A partir da conhecimento multidisciplinar em contínua evolução. No
ideia de um corpo modelo – perfeito – ampliaram-se as várias início dos anos 2000, segundo Zaltman [16], a neurologia
intervenções plásticas a que ele pode ser submetido, como tornou-se mais uma ciência a contribuir para o entendimento
próteses de silicone, lipoaspiração, cirurgias de abdômen, do comportamento do consumidor. Os avanços na ciência
dentre outras. Passou a não haver mais parte do corpo que do cérebro vêm permitindo desenvolvimentos tecnológicos
fosse imune às possibilidades de modificação [3]. inovadores voltados para o conhecimento de experiências
A fisioterapia estética, recentemente renomeada como fi- inconscientes dos consumidores.
sioterapia dermatofuncional, está cada vez mais em evidência. Conforme Engel, Blackwell e Miniard [8], o processo de
Sendo assim, compreender os valores do consumidor é de fun- compra é complexo porque os critérios utilizados na seleção e
damental importância para os fisioterapeutas que atuam nessa a efetiva compra são distintos e, muitas vezes, não obedecem
área, bem como para os demais profissionais da área de saúde a critérios elaborados racionalmente. O comportamento do
que atendem pacientes nesse segmento. Segundo Fongaro e consumidor é o estudo dos processos envolvidos quando indi-
Sebatini [4], os distúrbios estéticos levam a sentimentos de víduos ou grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de
insegurança, impotência, não completude e vazio. O déficit de produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas
autoestima manifestado por diversas pessoas que apresentam necessidades ou desejos [12]. Pode também ser caracterizado
algum distúrbio dessa natureza se revela por sentimentos de como o estudo de unidades compradoras (consumidores), dos
frustração, fracasso e insatisfação pessoal. Um dado relevante, processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo e na
apresentado por Fongaro e Sebatini [4], é que o número de disposição de mercadorias, além dos serviços, experiências e
pacientes preocupados com a aparência física é superior ao ideias [14].
de qualquer outra patologia. Segundo Holbrook [17], é na comparação das situações
De acordo com Sgreccia [5], a partir do surgimento do vividas que o cliente molda a natureza de suas vivências. O
conceito de saúde como o completo bem físico, psiquico e valor para o consumidor é uma experiência de preferências
social e não apenas a ausência de doença, é possível com- relativistas e interativas. Hirschman e Holbrook [6] dis-
preender que a patologia estética representa uma ameaça a correram sobre a necessidade de valorização das facetas do
integridade emocional do indivíduo, resultante da alteração comportamento da clientela, as quais estão relacionadas aos
do esquema e da imagem corporal e, consequentemente, da aspectos multissensoriais, fantasiosos e emotivos derivados da
autoestima. experiência de uso de um produto, para entender como valores
O desenvolvimento da Fisioterapia Dermatofuncional mais subjetivos e pessoais são revelados. Valores segundo os
veio ao encontro do novo conceito de beleza do século XX, quais o sujeito, em suas ações de consumo, visa benefícios
em que principalmente as mulheres começaram a analisar suas hedonistas (prazer, entretenimento), estéticos (beleza), emo-
imagens corporais e a lutar contra aqueles excessos gordurosos cionais (felicidade, surpresa, pujança) e também simbólicos
que resistiam às dietas, ginásticas, assim como começaram a (autoidentidade, autoexploração, autoexpressão) [6].
156 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Quadro I - Tipologia de valor para o consumidor. quanto à questão do status agregado ao tratamento estético.
Extrínseco Intrínseco Acredita-se que esse tipo de tratamento pode ser comparado
(conveniência) (Prazer)
a outras formas de consumo de bens simbólicos, coerentes
REATIVO ATIVO REATIVO ATIVO

REATIVO ATIVO REATIVO ATIVO


Eficiência Diversão [play]
ORIENTADO

Econômico
Excelência Hedônico com os valores de troca simbólica, orientada pela dinâmica do
(qualidade) Estética
(beleza) consumidor. As questões orientadoras deste trabalho podem
AUTO-

ser assim explicitadas: seria o consumidor movido apenas pela


(sucesso) (virtude, justiça, moralidade)
Status Ética motivação estética? O prazer, a felicidade, a autoidentidade
seriam, também, valores que poderiam influenciar nesta
ORIENTADO

Social
Estima Altruísta
Espiritualidade escolha? Seria apenas um ato de mudança de estilo de vida?
ALTER-

(reputação, materialismo, (fé, êxtase, sacralidade,


posses) fantasia) Poderia ser, então, apenas um investimento ligado ao status?
Buscou-se, a partir disso, descobrir o que leva o consumidor
Fonte: Tipologia combinada a partir dos trabalhos de Holbrook, 1994;
a procurar uma especialidade tão recente para se tratar por
Holbrook, 2006.
meio dela.

A partir desse contexto da busca e da exigência do corpo Material e métodos


perfeito, é significativo pesquisar que valores são escolhidos
para que o cliente procure uma especialidade tão nova para Este estudo teve caráter descritivo e buscou verificar quais
realizar esse desejo. Vários aspectos do consumo estético critérios de escolha são relevantes para que o cliente procure
poderiam ser estudados, no entanto, aplicando modelos e um tratamento estético por meio da fisioterapia dermato-
quantificando as razões de tal consumo, obtendo-se uma funcional.
melhor compreensão acerca do que o consumidor valoriza Para a coleta de dados, utilizou-se uma amostra de 142
quando escolhe um tratamento da fisioterapia dermatofun- respondentes, em um universo de cerca de 3500 pessoas,
cional, sobretudo como produto para mudança da significação sendo todos eles clientes de clínicas de estética e de fisio-
do corpo e de seu uso. terapia dermatofuncional da região metropolitana de Belo
O valor é um conceito abstrato, frequentemente confun- Horizonte. Os clientes foram informados da publicação de
dido com os conceitos de qualidade, benefícios e preço, e, por resultados assegurando o sigilo das respostas e obtendo-se
isso, é perceptível que ainda existam dificuldades operacionais o consentimento de todos eles. Obedeceu-se ao critério de
e metodológicas referentes ao tema [18]. acessibilidade, que, segundo Vergara [20], diferencia-se de
Com o objetivo de compreender quais valores o cliente qualquer procedimento estatístico por selecionar elementos
procura nos tratamentos da fisioterapia dermatofuncional, com base na facilidade de acesso a ele.
optou-se pela tipologia de valor para o consumidor proposta Os 142 respondentes selecionados como válidos, foram
por Holbrook [6]. Para esse autor, o valor derivado dos bens cadastrados por meio de e-mails e o questionário disponi-
de consumo emerge das ações nas quais o consumidor se bilizado em um site que deu acesso ao cliente contatado,
envolve diretamente com o bem consumido, na interação para o registro de suas respostas. Foram recusados 14
com os demais consumidores e em distintos propósitos de questionários por estarem incompletos. O questionário
consumo. Para o autor citado, consumir nunca é, por si só, um foi estruturado em 29 perguntas relacionadas a questões
ato desinteressado. Ele defende que o valor proveniente dos da escolha de um tratamento estético. Antecedeu-se a sua
significados esperados pelo consumidor não reside na compra estruturação uma etapa qualitativa em que foram entre-
do produto, na marca escolhida ou no objeto possuído, mas vistados cinco consumidores de serviços de fisioterapia, o
sim na experiência de consumo. Todavia é na comparação que possibilitou maior clareza e consistência das questões
das situações vividas que o consumidor molda a natureza de elaboradas. Foi utilizada a escala Likert de 1 a 7 na qual o
suas experiências [17]. respondente assinalou o grau de concordância ou discor-
Assim, o autor citado organizou uma tipologia de valor dância das afirmações. O método específico de medição
para o consumidor a partir das dimensões selecionadas, sendo de atitude conhecido como Likert Scales [21], determina
que oito tipos de valor podem ser revelados a partir das ações com eficácia o valor da investigação de atitudes, opiniões e
de consumo: eficiência, excelência, status, estima, diversão experiências dos entrevistados, foi desenvolvido por Rensis
(prazer), estética, ética e espiritualidade [19]. Essa abordagem Likert em 1932.
é capaz de realçar a essência das experiências de consumo, O levantamento dos dados se deu por meio do método
permitindo identificar quais tipos de valor o consumidor survey, que é definido por Malhotra [22:138] como “entre-
manifesta para as suas ações de escolha. vistas com um grande número de pessoas por meio de um
Este estudo buscou identificar as preferências dos con- questionário predeterminado”.
sumidores que procuram a fisioterapia dermatofuncional O questionário do presente estudo foi dividido em oito
como tratamento preventivo relevante para a reconstituição construtos, conforme indicado no Quadro 2.
corporal. Para tanto, foram guardadas as devidas proporções
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 157

Quadro 2 - Verificação dos construtos.


Construto Item
Procuro/ procurei um tratamento dermatofuncional porque é melhor do que outros tratamentos de estética.
Não me arrependi de ter feito um tratamento estético dermatofuncional.
Eficiência A qualidade de um tratamento dermatofuncional é superior a outros tratamentos.
Tratar com o profissional especializado em fisioterapia dermatofuncional é mais confiável do que com outra especialida-
de.
Meu estado emocional é/foi melhor no tratamento dermatofuncional do que quando vou a um salão de beleza.
Tenho fácil acesso à fisioterapia dermatofuncional.
Excelência Os produtos e equipamentos usados para realizar o tratamento com a fisioterapia dermatofuncional são mais eficientes.
Prefiro o tratamento da fisioterapia dermatofuncional a outro tipo de tratamento similar.
Não arrisco fazer outro tipo de tratamento estético que não seja o da dermatofuncional.
O fato de ser um tratamento que está na moda me influenciou de alguma forma na escolha pelo tratamento demarto-
funcional.
Status
O preço é o que me atrai ao escolher um tratamento dermatofuncional.
O tratamento dermatofuncional é realizado em geral por pessoas com maior poder aquisitivo.
Me sinto especial ao realizar um tratamento que poucas pessoas conseguem realizar.
Estima Me sinto uma pessoa mais bonita depois do tratamento dermatofuncional.
Minha aparência física melhorou com a dermatofuncional do que com os outros tratamentos que fiz.
Melhorei minha autoestima com o tratamento dermatofuncional.
Diversão Faço dermatofuncional porque é o tratamento estético que me dá mais prazer.
A fisioterapia dermatofuncional é um tratamento que relaxa.
É possível encontrar tratamentos na fisioterapia dermatofuncional para a maioria dos incômodos estéticos
Vejo diferença entre os outros tratamentos estéticos e a fisioterapia dermatofuncional.
Estética
A fisioterapia dermatofuncional é um tratamento que modifica positivamente o meu corpo.
A fisioterapia dermatofuncional proporciona mais bem estar do que as outras áreas da estética.
Espirituali- A fisioterapia dermatofuncional é uma experiência nova em relação a outros tratamentos estéticos.
dade Escolhi tratar a minha estética com a dermatofuncional para não realizar tratamentos invasivos.
Vejo grandes diferenças entre um tratamento estético em um salão de beleza e em clínicas especializadas.
Ética
A utilização da fisioterapia dermatofuncional não fere nenhum princípio ético em relação a outros profissionais
Fonte: Dados da pesquisa.

A técnica de análise escolhida para o tratamento dos dados Para avaliar a consistência interna de cada um dos cons-
foi à análise fatorial. A escolha da análise fatorial se faz im- trutos, verificou-se a confiabilidade deles, bem como a uni-
portante por permitir que variáveis envolvidas em construtos dimensionalidade a eles inerente. A primeira grandeza foi
como preço, qualidade, fidelidade, influências externas, con- avaliada segundo o Alfa de Cronbach, cuja medida varia de 0
fiabilidade, experiências pregressas possam ser condensadas de a 1. Quanto mais próximo de 1 é o Alfa de Cronbach, maior
forma a encontrar aquelas que mais representem a dimensão é a indicação de confiabilidade do construto. A indicação de
da imagem que o consumidor estudado possui da fisioterapia Malhotra [22] é de que esses valores devem ser superiores a 0,60.
dermatofuncional.
Realizou-se dois testes estatísticos para indicar a adequação Resultados
dos dados para a realização da análise fatorial, são eles: Teste
KMO e o Teste de Esfericidade Bartlett. O teste Kaiser-Meyer- Os testes estatísticos KMO e Bartlett indicam que em
-Olkin (KMO) é uma estatística que indica a proporção todos os casos reportados abaixo as amostras foram adequadas
da variância dos dados que pode ser considerada comum a para a aplicação de análise fatorial com KMO maior do que
todas as variáveis, ou seja, que pode ser atribuída a um fator 0,6 e Bartlett com rejeição de hipótese nula. Contudo, os
comum, então: quanto mais próximo de 1 (unidade) melhor testes indicaram que os construtos Status e Espiritualidade não
o resultado, ou seja, mais adequada é a amostra à aplicação atingiram os níveis de aceitação conforme patamar indicado
da análise fatorial. pela literatura.
O Teste de Esfericidade de Bartlett testa se a matriz de Como podem ser observadas na Tabela I, as dimensões
correlação é uma matriz identidade, o que indicaria que não Status e Espiritualidade foram as únicas que não atingiram o
há correlação entre os dados. Dessa forma, procura-se para patamar proposto por Malhotra [22], cujo valor de Alfa de
um nível de significância assumido em 5% rejeitar a hipótese Cronbach é inferior a 0,60. No caso dos construtos Eficiência,
nula de matriz de correlação identidade. Estética, Excelência, Diversão, Estima e Ética mostraram-se
158 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

confiáveis e consistentes, sendo o primeiro o mais relevante As Tabelas III e IV indicam a caracterização da amostra
com valor de Alfa de Cronbach de 0,770. estudada quanto a sexo e faixa etária.
Diante dos resultados de adequação da amostra para Quanto à caracterização da amostra, a maior parte dos
utilização da análise fatorial, esta foi avaliada com os itens respondentes são mulheres com 96,5% de participação, contra
de cada construto. O objetivo era que os itens dentro de apenas 3,5% de homens (Tabela III).
cada construto originassem apenas um fator. Segundo Hair
et al.[23], a variância extraída do fator resultante deve ser a Tabela III - Sexo.
maior possível, preferencialmente acima de 50%. Frequência Percentual
No que tange à variância extraída, todos os construtos Masculino 5 3,5%
(com exceção do construto Status) apresentaram valores acima Feminino 137 96,5%
do proposto por Hair et al. [23]. Total 142 100,0%
Como a escala do valor Status já havia mostrado baixo valor Fonte: Dados da Pesquisa.
de Alfa de Cronbach, ou seja, inadequado para a análise fatorial
com baixo valor de variância extraída, tal construto não foi A maior concentração, no que tange à faixa etária, está
validado e sugere-se sua reconstrução em estudos posteriores. entre 30 e 39 anos com 39,4% de participação (Tabela IV).

Tabela I - Valores de Holbrook – Eficiência. Tabela IV - Faixa etária.


Alfa de Cronbach Variância Extraída Frequência Percentual
Eficiência 0,770 59,6% De16 a 24 anos 8 5,6%
Excelência 0,737 51,3% De 25 a 29 anos 16 11,3%
Status 0,266 41,1% De 30 a 39 anos 56 39,4%
Estima 0,722 65,5% De 40 a 49 anos 31 21,8%
Diversão 0,734 65,4% De 50 a 59 anos 30 21,1%
Estética 0,763 59,1% De 60 a 65 anos 1 0,7%
Espiritualidade 0,536 68,6% Total 142 100,0%
Ética 0,634 73,2% Fonte: Dados da Pesquisa.
Fonte: Dados da Pesquisa.
Discussão
Estatísticas descritivas são apresentadas para cada um dos
valores de Holbrook. Para tanto, é apresentado um intervalo de Considerando os resultados apresentados para cada um
confiança de 95% para a média e o desvio padrão. O efeito do des- dos valores de Holbrook, existe a indicação de uma presença
vio padrão já é avaliado quando se analisa o intervalo de confiança forte dos referidos valores no processo de escolha do trata-
de 95%, que, em termos práticos, é uma estimativa intervalar (que mento por meio da fisioterapia dermatofuncional. O único
leva em consideração a margem de erro). O limite inferior indica construto não validado nesta pesquisa foi o Status, o que,
a menor estimativa para a média, ao se considerarem a margem conforme o autor, implica que esse valor está relacionado
de erro e o limite superior que, por sua vez, é a maior estimativa. com a observação de outros. Como a boa aparência física e o
Em se tratando de uma escala que varia de 1 a 5, e tendo corpo perfeito são considerados como o padrão socialmente
os limites inferiores e superiores iguais a 3, existe a indicação mais valorizado, pensou-se que, neste estudo, aquele seria o
de uma presença forte dos referidos valores no processo de valor mais evidenciado.
escolha do tratamento (Tabela II). O valor Eficiência teve indicação de uma presença forte
no processo de escolha do tratamento dermatofuncional. Na
Tabela II - Valores de Holbrook. perspectiva de Holbrook [6], eficiência significa a utilização
Intervalo de Confiança de ativa de um produto para alcançar um objetivo próprio.
95% para a média Desvio Os valores Diversão e Estima também atingiram patamares
n
Limite Limite Padrão importantes. Segundo Holbrook [24], o valor Estima consiste
Média
Inferior Superior na posse de bens que possam criar a reputação do indivíduo
Eficiência 3,71 3,83 3,96 0,72 134 com outros, e Diversão refere-se ao prazer ativamente buscado
Excelência 3,25 3,39 3,52 0,79 136 pelo indivíduo para o seu próprio bem.
Estima 3,12 3,27 3,43 0,91 137 É importante salientar o valor Estética que, conforme esse
Diversão 3,29 3,42 3,56 0,75 124 autor, refere-se a uma apreciação auto-orientada de um objeto
Estética 3,54 3,66 3,77 0,64 123 no qual a experiência possui, em si, valor e fim. Apesar de
Espirituali- 3,53 3,68 3,83 0,86 127 ele não ter sido um construto de maior representatividade no
dade processo de escolha do tratamento, é um termo muito ligado
Ética 3,85 3,98 4,11 0,77 134 à especialidade dermatofuncional.
Fonte: Dados da Pesquisa.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013 159

Considerando a abordagem metodológica adotada neste 3. Hoff TMC. Imaginado na publicidade. Caderno de Pesquisa
trabalho, torna-se importante apontar algumas limitações ESPM 2005;1(1):23-39.
como a necessidade de um aumento da amostra e de uma 4. Fongaro ML, Sebatiani RW. Roteiro de avaliação psicológica
pesquisa com um corte longitudinal maior, bem como com aplicada ao Hospital Geral. In: Fongaro ML, et al. E a psicologia
entrou no hospital... São Paulo: Cortez; 1995. p.5-64.
um maior tempo de resposta para o questionário. Também é
5. Sgreccia E. Manual de bioetica: fundamentos e ética biomedica.
possível que os resultados pudessem ser mais bem compreen- São Paulo: Loyola; 1996.
didos, caso o âmbito geográfico da pesquisa não se limitasse 6. Holbrook MB, Hirschman EC. The experiential aspects of
apenas ao município de Belo Horizonte. consumption: consumer fantasies, feelings and fun. Journal of
O presente estudo tem caráter inédito uma vez que não Consumer Research 1982;9(2):132-40.
foram encontradas tais análises tanto na área de Fisioterapia, 7. Sheth JN, Gardner DM, Garrett DE. Marketing Theory: evo-
quanto na literatura sobre comportamento do consumidor, lution and evaluation. New York: John Wiley & Sons; 1988.
abordando a prestação desse tipo de serviço. Ressalta-se, assim, 8. Blackwell RD, Miniard PW, Engel JF. Comportamento do
a importância de novos estudos sobre serviços de fisioterapia consumidor. 8a ed. São Paulo: Thompson; 2000.
9. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre
e comportamento do cliente.
as origens da mudança cultural. 6 ed. São Paulo: Loyola, 1996.
Sugerem-se estudos com outras escalas e valores, buscando
10. Cova B. The postmodern explained to managers: implications
criar instrumentos que melhor avaliem as dimensões dos va- for marketing. Business Horizons 1996;39(6):15-23.
lores propostos neste estudo. Sugere-se, ainda, a realização de 11. Karsaklian E. Comportamento do consumidor. 2a ed. São
outras pesquisas sobre o tema, inclusive de caráter qualitativo, Paulo: Atlas; 2004.
para que o problema em questão seja abordado da maneira 12. Solomon MR. O comportamento do consumidor: comprando,
mais abrangente. possuindo e sendo. 5a ed. Porto Alegre: Bookman; 2002.
13. Kotler P. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar
Conclusão e dominar mercados. 11a ed. São Paulo: Futura; 2002.
14. Mowen JC, Minor MS. Comportamento do consumidor. São
Paulo: Prentice Hall; 2003.
Pretendeu-se, nesta pesquisa, identificar as preferências dos
15. Lipovestsy G. Os tempos hipermodernos. Traduzido por: Mário
consumidores que procuram a fisioterapia dermatofuncional Vilela. São Paulo: Barcarolla; 2004.
como tratamento estético relevante para a reconstituição 16. Zaltman G. Afinal, o que os clientes querem. Rio de Janeiro:
corporal, buscando compreender que valores influenciam a Campus; 2003.
escolha do consumidor ao procurar essa especialidade como 17. Holbrook MB, Hirschman CH. Consumption experience,
tratamento. customer value, and subjetive personalintrospection: An
Os dados recolhidos permitiram analisar a aceitação de illustrative photographic essay. Journal of Business Research
um novo serviço, a preferência do consumidor, sua intenção 2006;59:714-25.
de consumo, seus critérios de escolha e seus valores. Neste 18. Zeithaml VA. Consumer perceptions price, quality and value:
a means-end model and synthesis of evidence. Journal of Ma-
estudo, os resultados encontrados para cada um dos valores
rketing 1998;52:2-22.
de Holbrook apresentados indicaram uma presença forte
19. Holbrook MB. The nature of customer value: an axiology of
desses valores no processo de escolha do tratamento por meio services in the consumption experience. In: Rust RT, Oliver
da Dermatofuncional, sendo os valores mais significativos a RL, ed. Service quality. Thousand Oaks: Sage; 1994. p. 21-71.
Eficiência, a Diversão e a Estima. Os valores Status e Espiri- 20. Vergara SC. Projeto e relatório de pesquisa em Administração.
tualidade foram construtos não validados neste estudo. 3a ed. São Paulo: Atlas; 2000.
21. Likert R. A technique for the measurement of attitudes. Archives
Referências of Psychology 1932;22(140):1-55.
22. Malhotra NK. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada.
1. Castro AL. Culto ao corpo: identidades e estilos de vida. In: VIII Porto Alegre: Bookman; 2001.
Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 8., 2004, 23. Hair JF, Anderson RE, Tatham RL, Black WC. Análise multi-
Coimbra. Anais. Coimbra: Universidade de Coimbra; 2004. variada de dados. 5a ed. Porto Alegre: Bookman; 2005.
2. Goldenberg M, Ramos MS. A civilização das formas: o corpo 24. Holbrook MB. Customer value – a framework for analysis
como valor. In: Goldenberg M, ed. Nu & vestido: dez antropó- and research. Advances in Consumer Research, Minnesota
logos revelam a cultura do corpo carioca. 2a. ed. Rio de Janeiro: 1996;23:138-42.
Record; 2007.
160 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 2 - março/abril de 2013

Agenda
2013
Maio 21 e 22 de junho
II Jornada de Fisioterapia em Oncologia
1 a 5 de maio Hotel Deville, Porto Alegre, RS
III Congresso Brasileiro de Fisioterapia Aquática Informações: http://www.icmd2013.com.br/php/index.php
Centro de Convenções de Curitiba, PR
Informações: http://www.congressofisioterapiaaquatica.com/ Agosto
4 a 6 de maio 8 a 11 de agosto
7º Congresso Científico Brasileiro de Estética 21º Congresso Científico Internacional de Estética
Centro de Convenções Sul América, Rio de Janeiro, RJ Parque Anhembi, São Paulo, SP
Informações: http://www.esteticainrio.com.br/2013/default. Informações: http://www.congressoestetica.com.br/estetika/
asp feira
15 a 18 de maio
IV CIRNE - Congresso Internacional de Reabilitação Outubro
Neuromusculoesquelética e Esportiva
13 a 16 de outubro
Rio de Janeiro, RJ
Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
Informações: www.cirne2013.com.br/
Florianópolis, SC
16 a 19 de maio Informações: http://cbto2013.com.br
CONEFISIO - Congresso Nordestino de Fisioterapia
16 a 19 de outubro
Hotel Oásis Atlântico, Fortaleza, CE
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Informações: http://www.conefisio.com.br/
Fortaleza, CE
16 a 19 de maio Informações: www.jzkenes.cpm
2º Congresso de Fisioterapia do Centro-Oeste
Universidade Salgado de Oliveira, Goiânia, GO Novembro
Informações: http://conexaobrasilsaude.com.br/
14 a 17 de novembro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de
Junho
Fisioterapia Esportiva - SONAFE
18 a 20 de junho Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP
Trabalho, Stress e Saúde: promovendo a saúde total do Informações: www.sonafe.org.br
trabalhador – da teoria à ação
Centro de Eventos Plaza São Rafael, Porto Alegre, RS
Informações: stress@ismabrasil.com.br
168 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 3 maio/junho 2013 - 161~240)

EDITORIAL
Sua excelência, Marco Antonio Guimarães da Silva..................................................................................................................... 170

ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos da dermotonia na dor e no edema de pacientes submetidas à colecistectomia laparotômica,
Andréa Vasconcelos Machado, Valdinaldo Aragão de Melo, Indira Paula Teixeira Lopes, Kelen Gomes Leite............................... 171
Nível de conhecimento sobre a incontinência urinária e tratamento fisioterapêutico no município
de Cidade Ocidental/GO, Aline Teixeira Alves, Fernanda Gadia, Christiane Rocha,
Raquel Henriques Jacomo, Ruth Losada Menezes, Margô de Oliveira Karnikowiski.................................................................... 177
Diástase dos músculos retoabdominais no pós-parto vaginal imediato, Mariana Tirolli Rett,
Lívia Gabriela Fonseca Melo, Lícia Dultra Linhares, Eliana Pereira de Melo,
Thaiane Aragão de Oliveira.......................................................................................................................................................... 183
Avaliação do desenvolvimento neuromotor de crianças nascidas a termo e pré-termo
nos primeiros seis meses de vida, Maria do Carmo Pinto Lima, Aline Silva Santos Sena,
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Câmara, Rodrigo Marinho Falcão Pinto,
Elanne Dantas Melo, José Eulálio Cabral Filho............................................................................................................................ 188
Função pulmonar, força muscular respiratória e capacidade funcional em crianças
com paralisia cerebral – um estudo piloto, Luciana Carnevalli Pereira,
Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Carla Malaguti, Danila Vieira Baldini,
Alessandra Gasparello Viviani....................................................................................................................................................... 193
Influência da música e do relaxamento na ansiedade de mães de recém-nascidos internados
na unidade intermediária neonatal, Cassia Fernandes Marques, Emily Cristiani Zanella,
Camila Ribeiro Leal, Leila Foerster Merey.................................................................................................................................... 198
Avaliação da flexibilidade dos músculos posteriores da coxa em policiais militares motociclistas
da cidade de São Paulo, Patrícia Rodrigues Vieira, Artur Herbst de Oliveira,
Carlos Bandeira de Mello Monteiro, Mauricio Correa Lima......................................................................................................... 204
Efeito do laser em baixa intensidade sobre a proliferação de osteoblastos cultivados em modelo
de simulação de infecção, Tabata Santos de Oliveira,Victor Perez Teixeira, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari,
José Antonio Silva Jr., Sandra Kalil Bussadori, Kristianne Porta Santos Fernandes, Marcelo Betti Mascaro................................... 211
Perfil clínico e epidemiológico de pacientes com traumatismo raquimedular,
Roseane Araújo dos Santos, Mônica Lajana Oliveira de Almeida, Mario Ferreira da Silva............................................................. 215
Percepção da fadiga laboral em trabalhadores de frigorífico, Luis Ferreira Monteiro Neto,
Airton Camacho Moscardini, Olavo Egídio Alioto, Allison Gustavo Braz..................................................................................... 221

REVISÕES
Fricção transversa profunda nas disfunções musculoesqueléticas: uma síntese da literatura,
Aline Buffon Lopes, Sergio Guida, Julio Guilherme Silva............................................................................................................. 226
Fisioterapia no Brasil: aspectos sociohistóricos da sua identidade, Adriana de Lima Pimenta,
Andréia Catine Cosme, Maria de Lourdes de Souza..................................................................................................................... 231

EVENTOS..........................................................................................................................................................................236

NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................237
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
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170 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Editorial

Sua excelência

Marco Antonio Guimarães da Silva

Egídio Romano nasceu no ano de 1246, morreu em 1346 defendido por Egídio Romano. Em contrapartida, os pode-
e deixou, em especial, uma obra cuja releitura, guardadas as res antes concentrados em poucas pessoas se multiplicaram,
devidas proporções, pode ser aplicada aos nossos dias. Em exatamente como no milagre dos pães, criando mais algumas
seus tratados metafísicos, se mostra como um teólogo inde- castas. E, ao que parece, aí vem mais uma. Se já me causava
pendente e profundo conhecedor da filosofia islâmica. Mas a estranheza ter que me referir aos juízes como “Sua Excelência”,
obra que nos convém, no momento, foi a que dedicou a seu qual não foi o meu espanto quando soube que a câmara de
discípulo, Felipe o belo, futuro rei da França. O terceiro dos deputados (grifo e letras minúsculas propositais) nos obriga,
três livros que compõem esse seus escritos trata da teoria dos a partir desse momento, a dispensar aos delegados de policia
poderes. Ainda que esteja claro a influencia de Aristóteles e o mesmo tratamento dado aos juízes. Diante de tal decisão,
Santo Tomás (de quem foi aluno), nesse livro, a teoria central o que fica é a impressão de que estamos sendo, mais uma vez,
deriva, em sua essência, de Santo Agostinho. colonizados, não por um país estrangeiro, mas, o que é pior,
Segundo o que escreveu à época, havia somente dois pode- por um exército de algumas centenas de cidadãos, eleitos
res: o poder do Papa e o poder do rei, mas ambos os poderes para justamente defender os direitos dos que os puseram
não atuavam em condições de igualdade: o poder temporal naquela casa.
(do rei) estava submetido ao poder espiritual ( do Papa). “Se o Quando Egídio mediou o conflito entre o rei e o Papa
poder terrenal se equivoca deve ser julgado pelo poder espiritual, (citado acima), ele tomou partido do Papa, afirmando que,
seu superior, mas se o poder espiritual, especialmente o poder do da mesma maneira que o corpo está submetido ao poder da
Sumo Pontífice age equivocadamente somente pode ser julgado alma, o poder temporal deve estar submetido ao poder espi-
por Deus”. Essa tese de supremacia papal sobre o imperador ritual. Continua ele: “non ad usum, sed ad nutum” ( não para
teve marcada influência no conflito histórico entre Felipe IV brandi-la, senão para mandar). O que ele queria dizer é que
da França e o Papa Bonifácio VIII. apesar de a igreja ter a espada material, ela não deveria usá-la.
Mas, história à parte, passemos ao tema central dessa Resta-nos saber se a tal lei não legitimará mais uma espada
crônica que nos interessa no momento. De lá para cá muita para os que já detém o poder e que, com isso, podem utilizá-lo
coisa mudou, sabemos todos. Alguns reinados (dentre os prepotentemente. Se assim o for, só nos resta rezar para que
poucos que ainda restam) têm nos oferecido péssimos exem- uma outra espada, a de Dâmocles, tal qual a lenda, paire sobre
plos de conduta, e o nosso recém eleito Papa Francisco, que as suas cabeças e os faça agir com imparcialidade e justiça.
tenta agora pôr ordem na própria casa, já não tem o poder

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 171

Artigo original

Efeitos da dermotonia na dor e no edema de pacientes


submetidas à colecistectomia laparotômica
Effect of dermotony on pain and edema in patients submitted
to laparascopic cholecystectomy
Andréa Vasconcelos Machado, M.Sc.*, Valdinaldo Aragão de Melo, D.Sc.**, Indira Paula Teixeira Lopes, Ft.***,
Kelen Gomes Leite****

*Docente da UNIT, **Professor do Curso de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, ***Fisioterapeuta,


****Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional

Resumo Abstract
A formação de cálculos na vesícula biliar é uma das doenças mais The formation of gallstones is one of the most common digestive
frequentes do aparelho digestivo. Através desse estudo procurou-se tract diseases. Through this study, the effects of dermotonia in the
obter respostas sobre os efeitos da dermotonia no pós-operatório da postoperative of cholecystectomy were investigated. Dermotonia
colecistectomia. Dermotonia é uma técnica indolor e não invasiva is a painless and noninvasive technique applied in a continuous
aplicada de forma contínua ou pulsada para descongestionar os or pulsed way, in order to decongest tissues and stimulate areas of
tecidos estimulando as zonas dermálgicas. Trata-se de um ensaio pain. This is a not randomized trial with 10 patients that performed
clínico, não randomizado, com 10 pacientes que foram submetidos this surgery at the University Hospital in Aracaju in the period of
a esta cirurgia no Hospital Universitário de Aracaju no período de July to October, 2010. They were divided into two groups: group
julho a outubro de 2010. Foram divididos em dois grupos: grupo A (treatment) and group B (control). Pain was measured through
A (tratamento) e grupo B (controle). A dor foi mensurada através the Analogue Pain Scale, applied before each intervention, and the
da Escala Analógica da Dor, aplicada antes de cada intervenção, e a abdominal circumference was tested before the first and after the
cirtometria abdominal foi verificada antes da primeira e após a última last session. We observed a significant difference in the circumfe-
sessão. Obteve-se diferença significativa da cirtometria na análise in- rence when the groups were analyzed, with a significant increase in
tragrupos, havendo um relevante aumento desta no grupo controle. the control group. In contrast, there was a significant reduction of
Em contrapartida, no grupo tratamento houve significante redução edema in the treatment group. Regarding the pain, there was no
do edema. Quanto à dor, não houve resultado significativo devido significant result because of the subjectivity of the evaluation method
à subjetividade do método avaliativo utilizado. Conclui-se que a which was used. We concluded that the dermotonia technique, in
técnica de dermotonia, no presente estudo, mostrou-se eficiente na this study, proved to be effective in reducing post-traumatic edema,
redução do edema pós-traumático, porém sem resultados para a dor. but with no results for pain.
Palavras-chave: dermotonia, edema, colecistectomia. Key-words: pain, edema, cholecystectomy.

Recebido em 12 de fevereiro de 2012; aceito em 11 de abril de 2013.


Endereço para correspondência: Andréa Vasconcelos Machado, Travessa Martinho Garcez, 56 Centro, Aracaju SE, Tel: (79) 32117606, E-mail:
andrea@coccsp.com.br
172 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução pulsada para descongestionar os tecidos estimulando as zonas


dermálgicas [9].
Um dos grandes desafios dos cirurgiões ao longo dos Unindo todos esses conceitos, o Dr. Serge Karagozian
séculos tem sido a melhora dos resultados cicatriciais após o idealizou sua técnica, que utiliza a ventosagem. A partir
trauma, especialmente o trauma cirúrgico. Como exemplo dela aparelhos de vácuo foram desenvolvidos, através de um
desta situação, temos as cirurgias de colecistectomia laparo- cabeçote munido de seis esferas forma-se uma prega cutâ-
tômica, que são realizadas para a retirada da vesícula biliar, nea por aspiração e rola-se essa prega de forma hemisférica,
onde é realizada uma incisão abdominal [1]. Sua incidência deslocando-se em todos os sentidos, sem formar ângulos. Esses
vem aumentando devido aos maus hábitos alimentares e ao aparelhos geradores de pressão negativa permitem a realização
aumento geral da expectativa de vida da população, fazendo de uma depressão localizada, através da sucção não invasiva,
com que haja crescimento tanto da incidência da doença que pode ser contínua ou pulsada, produzindo a depresso-
quanto do número de cirurgias realizadas [2]. massagem e a depressodrenagem linfática [10].
Atualmente a colecistectomia é uma das cirurgias abdomi- Neste caso, utiliza-se a técnica milenar das ventosas aliada
nais mais frequentemente realizadas. Geralmente é indicada à técnica de massagem de drenagem linfática, procedimentos
pela presença de cálculos dentro da vesícula biliar, causando com finalidade de prevenção e tratamento de intercorrências
colecistite aguda ou crônica, porém pode ser indicada tam- patológicas específicas, objetivando plena capacidade funcio-
bém por colecistite alitiásica, por pólipos da vesícula biliar, nal dos tecidos e melhor qualidade de vida. A Dermotonia
por neoplasias, dismotilidade vesicular sintomática, como empregada sob a forma da drenagem linfática é indolor e
parte de outros procedimentos cirúrgicos. Realiza-se por não-invasiva, podendo prevenir a fibrose e acelerar o proces-
uma incisão ampla da parede do quadrante superior direito so de cicatrização, ativando a microcirculação, diminuindo
do abdômen, havendo dor pós-operatória significativa, além os edemas, favorecendo então o retorno ao estado tecidual
de complicações próprias da ferida cirúrgica [3,4]. normal [11].
Todo o processo de reparação cutânea pode ser classifi- Esta técnica causa uma melhora da troficidade unida à
cado em diferentes fases, sendo que estas ocorrem de forma flexibilização tissular, o que provoca um melhor deslizamento
interdependente: no meio intersticial, permitindo que os líquidos intersticiais,
sangue e linfa veiculem melhor os aportes nutritivos e elimi-
• Fase inflamatória: ocorre imediatamente após a lesão. nem as toxinas [12].
Verifica-se uma rápida vasoconstricção, seguida pela libe- Toda a aplicação da dermotonia tem por objetivo suprir a
ração de substâncias vasoativas [5]. ação do sistema nervoso simpático, abrindo uma anastomose
• Fase proliferativa: é responsável pelo “fechamento” da arteriovenosa, eliminando assim a dermalgia reflexa e a der-
lesão propriamente dita. Caracteriza-se por uma intensa modistonia, melhorando não só a parte funcional e estética do
proliferação vascular [6,7]. paciente, mas também a qualidade de vida e sua autoestima.
• Fase de contração: é o movimento centrípeto das bordas da Isto irá interferir não só na saúde física, como também agindo
ferida, mas esta força é exercida pela matriz colagenosa. sobre a esfera social do paciente, já que o mesmo pode retornar
Diferentemente da contração, na contratura da cicatriz, o às suas atividades de vida diária de forma mais rápida [13].
processo se dá após o fechamento da lesão [6,7]. Em decorrência do crescente número de cirurgias, a der-
motonia empregada sob a forma da drenagem linfática pode
Na última década a Fisioterapia tem apresentado técnicas prevenir a formação de fibrose e acelerar o processo de cica-
eficazes e importantes na manipulação de feridas e sua cica- trização, ativando a microcirculação e diminuindo os edemas,
trização. Surgiram várias especializações como a Fisioterapia favorecendo, então, o retorno ao estado tecidual normal [14].
Dermato-Funcional, atuando na área estética e reparadora A pesquisa desenvolvida teve como objetivo geral verifi-
que permite melhorar ou atenuar os aspectos ocasionados car os efeitos da técnica de dermotonia no pós-cirúrgico de
na área clínica abordada. Dentre os tratamentos utilizados, a pacientes submetidos à colecistectomia laparotômica e como
dermotonia tem sido considerada uma terapia eficiente pelas objetivo especifico avaliar a redução da dor e do edema após
respostas teciduais apresentadas, auxiliando e acelerando os a aplicação da técnica de dermotonia.
tradicionais tratamentos clínicos, cirúrgicos e/ou farmaco-
lógicos [8]. Material e métodos
A dermotonia é um método global de cuidados, essencial-
mente reflexo, partindo do princípio das ventosas utilizadas Trata-se de um ensaio clínico, não randomizado, no qual
pelos chineses há três mil anos, aliado ao Palper-Rouler foram selecionados 10 pacientes submetidos à cirurgia de
Analítico, técnica de avaliação criada pelo Dr. René Bagot colecistectomia laparotômica no Hospital Universitário da
em 1953, e à teoria da Dermalgia Reflexa, tese defendida em Universidade Federal de Sergipe no período de julho a outu-
1933 pelo Dr. Henri Jarricot, técnica indolor e não invasiva. bro de 2010. Teve como critérios de inclusão pacientes que
Trata-se de uma ventosagem aplicada de forma contínua ou tivessem sido submetidos à colecistectomia laparotômica, do
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 173

sexo feminino e na faixa etária de 20 a 60 anos, a partir de 6 Figura 1


horas do pós-operatório e após avaliação clínica e laboratorial.
Foram considerados critérios de exclusão: pacientes desnutridos,
com infecção, neoplasias, fumantes, diabéticos, com trombose
arterial venosa, em período gestacional de risco, que estivessem
sob tratamento com esteroides, com hipo ou hipertireoidismo,
hipertensão ou hipotensão arterial sem controle médico.
Primeiramente o projeto de pesquisa foi submetido à
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
Tiradentes, sob protocolo de número 170910. Em seguida,
após admissão no Hospital Universitário para submeter-se à
cirurgia de colecistectomia laparotômica, as pacientes foram
informadas a respeito da pesquisa. As que aceitaram participar
da mesma, foram apresentadas a um termo de consentimen- Figura 2
to livre esclarecido que foi assinado pelos responsáveis pela
pesquisa e pelas pacientes. Após a assinatura do mesmo, as
pacientes foram encaminhadas ao centro cirúrgico.
As 10 pacientes foram alocadas aleatoriamente em dois
grupos de 5 pacientes. No grupo 1 (G1), pacientes receberam
o tratamento com aparelho de vácuo pelo método de Dermo-
tonia na área em que foi submetido à cirurgia, utilizando-se
uma pressão de aspiração de 60 mmHg. O grupo 2 (G2),
grupo controle, não recebeu tratamento com aparelho de
vácuo pelo método de dermotonia na área em que foi sub-
metido à cirurgia.
Para a análise das variáveis estudadas, foi elaborada pelas
pesquisadoras uma ficha de avaliação contendo os tópicos:
identificação, local da dor, região do edema, palpação, cir-
tometria, escala da dor. A dor foi avaliada através da escala A dermotonia foi utilizada no pós-operatório através da
analógica visual, essa medida consiste de uma linha de 10 massagem de drenagem linfática mecânica. Iniciava e fina-
cm, com âncoras em ambas as extremidades. Numa delas é lizava com o modo pulsátil, por meio do qual se realizava o
marcada “nenhuma dor” e na outra extremidade é indica- esvaziamento
da “a pior dor possível”. A magnitude da dor foi indicada Dos linfonodos supraclaviculares, axilares e inguinais,
marcando a linha e uma régua foi utilizada para quantificar denominado de manobra de evacuação. Esta aplicação,
a mensuração numa escala de 0-10. Esta escala foi aplicada devido ao seu efeito reflexo, auxilia na vasomotricidade,
antes de cada intervenção da dermotonia. É importante reduzindo o edema e a sensação de desconforto e repu-
ressaltar que o padrão de droga utilizado para o alívio da dor xamento, automaticamente diminuindo a dor. Por ser
foi dipirona e cetoprofeno. O edema foi medido através da uma aplicação pontuada, a pressão para esta manobra é
cirtometria em que foi feita a mensuração da circunferência de 600 mmHg. Em seguida, realizava-se a depressodre-
da região abdominal nas alturas da cicatriz umbilical (CU), nagem linfática, manobra de captação, realizada na área
5 cm abaixo, 5 e 10 cm acima desta, sendo verificada antes edematosa, em que, desliza-se a ventosa e respeita-se o
da primeira e após a última aplicação da técnica. trajeto do sistema linfático com sucção de 60 mmHg,
As pacientes foram distribuídas aleatoriamente em um drenando excessos de fluidos e toxinas provocados pelo
dos grupos. O tratamento foi realizado na enfermaria e processo inflamatório.
iniciado nas primeiras 6 horas, e finalizado no terceiro dia Os resultados obtidos foram avaliados através da aná-
pós-operatório. No primeiro dia foi realizada uma aplicação, lise comparativa dos dados em forma de gráficos e tabelas
no segundo dia, três aplicações, nos seguintes horários: 7, 13 comparativas da cirtometria e da escala analógica da dor.
e 19 horas. No terceiro dia foi realizada uma aplicação às 7 Como procedimento de análise de dados, utilizou-se os
horas, reavaliação da paciente e alta fisioterapêutica. O método elementos da estatística descritiva na forma de média e
de aplicação da dermotonia foi feito através do aparelho de desvio padrão, teste t pareado para a verificação das possí-
vácuo da marca nacional da empresa Bioset (Figura 1), no qual veis diferenças intragrupos (antes – depois das aplicações)
se utilizou ventosas de vidro e nylon (Figura 2), que podem e teste t para amostras independentes para a verificação
ser esterilizadas. O equipamento utilizado foi fornecido pelas das possíveis similaridades intergrupos. Em virtude de a
pesquisadoras sem ônus para a instituição. EVA ser uma escala ordinal, para a sua verificação foram
174 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

utilizados os testes não paramétricos U de Mann-Whitney feminino, afirmaram que a drenagem linfática aplicada a partir
para a verificação das possíveis similaridades intergrupos do segundo pós-operatório causa uma grande redução tanto
e o teste de Friedman de maneira a observar as diferenças do edema como da dor.
intragrupos. Em todas as análises utilizou-se nível de sig- Ceolin e Rosas [18] estão de acordo com o estudo
nificância de 5% (p < 0,05). anterior, quando afirmam, em seu trabalho, que na ava-
liação do edema e da dor após a drenagem linfática no
Resultados e discussão pós-operatório imediato, os sintomas do pós-operatório
podem ser reduzidos através da fisioterapia, utilizando-se a
Para este estudo foram selecionadas 10 pacientes subme- drenagem linfática. Ressaltam ainda que pode ser observada
tidas à cirurgia de colecistectomia laparotômica. A idade das uma rápida diminuição do edema e do hematoma, bem
mulheres variou de 20 a 60, com média de 51,8 anos. Todas como a redução da dor, com favorecimento da neofor-
as pacientes foram do sexo feminino, pois, de acordo com mação vascular e nervosa, além de prevenir e minimizar
Costa et. al. [15], este é o gênero mais acometido, sendo, a formação de cicatrizes hipertróficas ou hipotróficas,
portanto um dos fatores de risco para o desenvolvimento de retrações e queloides.
cálculos biliares. Para Ferreira [19], com a realização das manobras
padronizadas de drenagem linfática no pós-operatório
Tabela I - Comparação cirtométrica intragrupos da média de consegue-se um bom resultado para redução do edema e da
aumento e redução do edema. dor comparando-se com pacientes que fazem tratamento de
Variáveis Controle Tratamento rotina hospitalar.
t (p) t (p) Tanto Soriano [20] como Borges [13] justificam o
10 cm acima da CU -4,00 (0,016) 3,16 (0,034) resultado encontrado em reduzir o edema, pelo fato de o
5 cm acima da CU -6,33 (0,003) 6,00 (0,004) uso das ventosas fortalecerem os vasos sanguíneos, pois os
Cicatriz umbilical -2,14 (0,099) 4,81 (0,009) capilares e linfáticos reagem à pressão negativa das ven-
5 cm abaixo da cicatriz 0,000 (1,00) 1,64 (0,18) tosas, expandindo-se e contraindo-se frente à aplicação
umbilical antes de massagem de vácuo rolamento. Esta vasoconstricção
Fonte: Dados da pesquisa, 2010. momentânea, ao colocarmos a ventosa e posterior nor-
malização do calibre do vaso ao retirá-las, faz uma espécie
Na Tabela I podemos observar um aumento significativo de “ginástica circulatória”. Sua aplicação na pele baseia-se
do edema nos primeiros dias de pós-operatório nas pacien- na lei de trocas gasosas, eliminando os gases estagnados
tes que compõem o grupo controle, corroborando Guirro e no corpo e promovendo a limpeza do sangue, pelo uso
Guirro [5] quando afirmam que a fase aguda da inflamação da pressão negativa produzida pelo vácuo. Devido a esta
dura cerca de 72 horas após a lesão inicial, apresentando os modificação de permeabilidade capilar, a ventosa ativa o
seguintes sinais flogísticos: calor, rubor, edema, dor e perda de intercâmbio gasoso entre tecidos capilares e a drenagem
função. O edema ocorre pela exsudação de líquido decorrente do líquido extracelular.
do processo inflamatório, favorecendo uma dilatação e ingur- Na Tabela II foram apresentados os valores médios e
gitamento dos capilares e arteríolas na região lesionada, com desvio padrão para a idade das pacientes de cada grupo, as
os vasos distendidos e o acúmulo de hemácias nos tecidos do cirtometrias antes e após o tratamento de dermotonia em
foco inflamatório, estes vão ficando afastados e acumulando cada uma das medidas pré-estabelecida e os valores do teste de
cada vez mais líquido. comparação intergrupos, no qual se verificou que não houve
A inflamação é um complexo de alterações sequenciais no diferença significativa. Isso se deu devido à amostra da pesqui-
tecido, em resposta à lesão. Quando acontece a lesão tecidu- sa ter sido muito pequena, gerando um desvio padrão muito
al, como no caso do trauma cirúrgico, ocorre a liberação de alto para mínimas diferenças entre as pacientes pesquisadas,
grandes quantidades de histamina, serotonina, bradicinina e provocando um t(p) maior que 0,05. Porém contrastando
outras substâncias pelos tecidos lesados nos líquidos circun- com este resultado, na Tabela I, podemos observar que houve
dantes [16]. eficácia no tratamento desenvolvido com as pacientes, obteve-
Em contrapartida, ainda na Tabela I, verifica-se que as -se um t(p) menor que 0,05.
pacientes do grupo de tratamento que se encontravam no Embora a redução do edema seja fator certo na redução
mesmo período pós-operatório das pacientes do grupo con- álgica, conforme foi mostrado em vários estudos citados an-
trole, ou seja, 72 horas e que, portanto, também deveriam ter teriormente, durante a pesquisa não foi obtido um resultado
apresentado um aumento no edema, tiveram uma relevante satisfatório para este dado, conforme o observado na Figura
redução deste. Concordando com este princípio, Schwuchow 3. Ressaltando ainda que as pacientes faziam uso de dipirona
et al. [17] em um trabalho que teve como objetivo verificar e cetoprofeno, que são drogas analgésicas, o que poderia ter
o efeito da drenagem linfática na redução da dor e do edema influenciado na redução da dor.
no pós-operatório de lipoaspiração em pacientes do gênero
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 175

Tabela II - Valores descritivos e diferença intergrupos da cirtometria.


Variáveis Controle Tratamento t (p)
Idade 51,80 ±13,10 38,00 ± 13,55 -
10 cm acima da CU 97,20 ± 17,64 87,20 ± 6,76 - 1,18 (0,29)
Antes
10 cm acima da CU depois 98,80 ± 17,84 86,20 ± 6,72 -1,48 (0,20)
5 cm acima da CU antes 99,20 ± 18,50 88,20 ± 7,95 -1,22 (0,27)
5 cm acima da CU depois 101,20 ± 18,39 87,00 ± 7,97 -1,58 (0,17)
Cicatriz umbilical antes 101,80 ± 17,61 91,00 ± 8,54 -1,23 (0,27)
Cicatriz umbilical depois 102,60 ± 17,39 89,20 ± 8,59 -1,55 (0,18)
5 cm abaixo da cicatriz umbilical antes 102,80 ± 15,66 95,80 ± 4,09 -0,97 (0,38)
5 cm abaixo da cicatriz umbilical depois 102,80 ± 15.79 92,00 ± 7,94 -1,37 (0,22)
Fonte: Dados das pesquisa, 2010.

Figura 3 - Valores médios observados a partir da EVA para avaliação que a interpretação da dor por parte de cada indivíduo
da dor após cada intervenção. dependerá de informações prévias, podendo ser descritas
8 respostas diferentes em um mesmo indivíduo em momen-
7 tos distintos. Além disso, a escala de 0 a 10 analisa apenas
quantitativamente a dor do indivíduo, negligenciando-a
6
qualitativamente e afetivamente.
5
4 Conclusão
3
Conclui-se que a dermotonia, no grupo pesquisado,
2 obteve resultado satisfatório no tratamento pós-traumático,
1 proporcionando significante redução do edema em todas as
pacientes e apresentando nível de acerto de 95% para todas
0
as medidas, exceto a 5 cm abaixo da cicatriz umbilical, por se
1aval 2aval 3aval 4aval 5aval
tratar de uma região distante da incisão cirúrgica. Com relação
Controle Experimental
à redução do quadro álgico, não houve resultado significativo
tanto para o grupo controle quanto para o tratamento, embora
Para Rossetti [12], o tratamento das zonas dermálgicas re- várias literaturas tenham mostrado que a redução do edema
flexas alivia o quadro álgico, pois é função do sistema nervoso acarreta na redução da dor.
central a vasoconstricção permanente. Isso devido às fibras É importante ressaltar a escassez de literatura sobre o
simpáticas transmitirem a unidade neuro microcirculatória assunto, o que dificulta a pesquisa sobre este tema. É de
este estado. Mediante o trauma, existirá o extravasamento de grande importância a realização de mais estudos para que haja
líquido, e consequentemente de proteína no meio intersticial, a confirmação dos efeitos da Dermotonia no tratamento dos
ocorrendo uma elevação do sinal nos mecanorreceptores, pro- mais diversos tipos de pós-operatório.
duzindo dor local. Com a aplicação da técnica de dermotonia,
consegue-se desfazer este estado de vasoconstricção. Referências
Também discordando com o resultado encontrado neste
estudo, Lucena [21] afirma que a dermalgia pode ser de- 1. Mélaga JM, Zanini AS, Psillakir JM. Cirurgia plástica reparadora
sencadeada por diversos fatores associados, sendo uma das e estética. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1992.
causas a compressão pelo edema. Quando esta ocorre sobre 2. Ramos CA, Sallett JÁ, Lombardi MM, Tanikawa DYS, Martino
as terminações livres, causará grande desconforto para a pa- RB, Zilberstein B. Colecistectomia laparoscópica em regime
ambulatorial. Rev Col Bras Cir 1998;25(1):5-8.
ciente. Além disso, o edema acabará comprimindo também
3. Coelho JCU. Aparelho digestivo: clínica e cirurgia. 2ª ed. Rio
pequenas arteríolas de tecidos circunvizinhos, gerando um
de Janeiro: Medsi; 1996.
micro processo de isquemia, aumentando a lesão e gerando 4. Rego REC, Campos T, Moricz A, Altenfelder et al. Tratamento
mais dor. Assim, a redução do processo edematoso irá aliviar cirúrgico da litíase vesicular no idoso: análise dos resultados ime-
as compressões teciduais diminuindo o quadro álgico. diatos da colecistectomia por via aberta e vídeo laparoscópica.
A falta de resultados relevantes para a investigação da Rev Assoc Med Bras 2003;3(49):293-9.
dor pode ser explicada por se tratar de um fenômeno in- 5. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamen-
dividual e subjetivo, sendo o indivíduo autoridade sobre tos, recursos e fundamentos. 3ª ed. São Paulo: Manole; 2002.
sua dor, explicam Pimenta e Teixeira [22]. Afirmam ainda 6. Mendonça MTP. Cicatrização: Uma revisão dos quelóides
(Monografia). Aracaju; Universidade Federal de Sergipe; 2003.
176 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

7. Mandelbaum SH, Di Santis E, Mandelbaum MHS. Publicação 15. Costa SRP. Avaliação dos efeitos da circulação extracorpórea na
oficial da Sociedade Brasileira de dermatologia. Cicatrização: formação de cálculos biliares. Rev Bras Cir Card 2006;2(1):50-
conceitos atuais e recursos auxiliares. Anais Brasileiros de Der- 54.
matologia 2003;78(4). 16. Guyton ACMD. Fisiologia Humana 6ª ed. Rio de Janeiro:
8. Rossetti R. In: Borges FS. Dermato-funcional: modalidades Guanabara Koogan; 1988.
terapêuticas nas disfunções estéticas. Dermotonia. São Paulo: 17. Schwuchow LS. Estudo do uso da drenagem linfática manual
Phorte; 2006. no pós operatório da lipoaspiração de tronco em mulheres. Re-
9. Bernadin D, Karagozian S, Guasti M. Les effets de la dermotonie vista eletrônica da PUCRS. Tubarão, RS. [citado 2010 Nov11].
dans le traitement des cicatrices et des oedèmes postoperatoi- Disponível em URL: http:www. revistaseletronicas.pucrs.br
res. La Revue de Chirurgie Esthétique de Langue Française 18. Ceolin MM, Rosas RF. Efeitos da drenagem linfática manual no
1998;23(91):19-27. pós-operatório imediato de lipoaspiração no abdome. Tubarão:
10. Rossetti RA. Dermotonia: uma nova técnica em fisioterapia. UNISUL; 2006.
Revista Fisio e Terapia 1998;2(10):21. 19. Ferreira TRR. Drenagem linfática manual no pós-operatório de
11. Karagosian S. La Dermotinie. Volence: École Internacionale de enxerto ósseo alveolar: uma nova abordagem para a redução do
Dermotonie et Palper-Rouler Analytique; 1995. p.36. edema facial. Bauru: USP; 2010.
12. Rossetti RA. Avaliação da aplicabilidade do aparelho à vácuo 20. Soriano MCD, Pérez SC, Baqués MIC. Electroestética profis-
pelo método de Dermotonia em mulheres durante o climatério. sional aplicada: teoria e prática. 1ª ed. Barcelona: Sorisa; 2000.
Revista Kinesia 2009;1(2). 21. Lucena ACT. Hiper e hipo termoterapia. 1ª ed. Curitiba:
13. Borges FS. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas Lovize; 1991.
disfunções estéticas. 1ª ed. São Paulo: Phorte; 2006. 22. Pimenta CAM, Teixeira MG. Questionário de dor Mc Gill:
14. Rossetti RA. Dermotonia: aplicabilidade nos protocolos de proposta de adaptação para língua portuguesa. Rev Esc Enf
quelóides e cicatrizes hipertróficas. Revista Up to date Magazine USP 1996;30(3):473-83.
2002;46:56-8.

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 177

Artigo original

Nível de conhecimento sobre a incontinência


urinária e tratamento fisioterapêutico
no município de Cidade Ocidental/GO
Level of knowledge about urinary incontinence
and physical therapy at Cidade Ocidental/GO
Aline Teixeira Alves, Ft.*, Fernanda Gadia, Ft.**, Christiane Rocha**, Raquel Henriques Jacomo, Ft.***,
Ruth Losada Menezes, Ft. D.Sc.****, Margô de Oliveira Karnikowiski, D.Sc.*****

*Doutoranda em Ciências da Saúde – UnB, Professora Assistente do Curso de Fisioterapia – UnB (FCE), **Especialista em Fisioterapia
na Saúde da Mulher pelo CETREX, ***Mestranda em Ciências Médicas - UnB, Fisioterapeuta do Serviço de Urologia do Hospital
HOME, ****Professora Adjunta do Curso de Fisioterapia – UnB (FCE), *****Farmacêutica, Professora Adjunto – UnB (FCE)

Resumo Abstract
Objetivos: Verificar o nível de conhecimento sobre a incontinên- Purpose: To evaluate the level of knowledge about urinary in-
cia urinária (IU) e sobre o tratamento fisioterapêutico na população continence and physical therapy on the population of the Cidade
do município de Cidade Ocidental/GO. Material e métodos: Estudo Ocidental/GO. Material and methods: This was a cross-sectional-
transversal, descritivo, de base populacional, que incluiu 120 ho- -population-based study that included 120 men and women over
mens e mulheres acima de 50 anos. Foi utilizado um questionário 50 years. We used a questionnaire previously validated for the
específico, previamente validado, para o conhecimento sobre a IU. knowledge about the UI. The authors added three statements
Três afirmativas acerca do conhecimento sobre fisioterapia urológica about the knowledge on urologic physical therapy. Results: Most of
foram adicionadas pelos autores ao questionário original. Resulta- the claims showed high rates of error. Only four probes hit scored
dos: Maior parte das afirmativas evidenciou altos índices de erro. higher than 70%. Individuals with more advanced age and lower
Somente 4 assertivas obtiveram escores de acerto maior que 70%. education level showed a lower level of knowledge. Conclusion: The
Indivíduos com idade mais avançada e grau de escolaridade mais results show high population of misinformation about the UI and
baixo apresentaram menor nível de conhecimento. Conclusão: Os physical therapy, showing the need of education to the population.
resultados do estudo comprovam elevada desinformação da popu- Key-words: urinary incontinence, knowledge, physical therapy,
lação estudada sobre a IU e sobre o tratamento fisioterapêutico, pelvic floor.
mostrando a necessidade de intervenções educativas à população.
Palavras-chave: incontinência urinária, conhecimento,
fisioterapia, assoalho pélvico.

Recebido em 11 de abril de 2012; aceito em 19 de abril de 2013.


Endereço de correspondência: Raquel Henriques Jacomo, CSA 3 lote 8 apto 302 Ed. Márcia Muniz, 72015-035 Brasília DF, E-mail: raquel.
jacomo@gmail.com
178 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução objetivo obter as características da amostra. Portanto, os en-


trevistados responderam perguntas como idade, escolaridade,
A Incontinência Urinária (IU) é definida pela Sociedade estado civil, dados relacionados à saúde e se apresentavam
Internacional de Continência como qualquer queixa de perda sintomas de perda urinária. A segunda parte da entrevista
involuntária de urina. É um quadro frequente entre os indiví- consistiu na aplicação do Questionário de Incontinência,
duos maiores de 40 anos de idade. Muito deles permanecem o qual avalia os conhecimentos e atitudes acerca da incon-
sem tratamento devido a uma deficiência de conhecimento tinência urinária na população em geral [9]. As entrevistas,
sobre o assunto e/ou uma percepção negativa sobre o proble- tanto na primeira como na segunda fase, foram lidas pelo
ma, afetando a qualidade de vida [1-3]. avaliador e o paciente deveria, então, responder oralmente
Crenças e conhecimento afetam o comportamento na o que lhes foi perguntado. Assim, habitantes de classe eco-
procura por tratamento. As razões citadas para a negligência nômica menos favorecida e analfabetos puderam participar
do problema incluem: inibição para conversar sobre o assunto, do estudo. Habitantes com idade inferior a 50 anos, que
crença de que a perda de urina é normal, falta de conscienti- apresentavam o cognitivo não preservado e que responderam
zação sobre as terapêuticas disponíveis, baixa expectativa de as questões de forma inadequada como: data de nascimento,
benefícios advindos dos tratamentos e percepção da incon- nome completo, endereço, cidade e país onde residiam, foram
tinência como uma situação sem importância. As mulheres excluídos do estudo.
também vivenciam a perda urinária como tabu, tentam O Questionário de Incontinência consiste de 14 assertivas
manipulá-la para controlar suas funções corporais e demons- sobre a IU e os indivíduos participantes da pesquisa tiveram
trar continência para viver com certa “normalidade” [4,5]. a possibilidade de responder para cada afirmativa: concordo,
Dentre os determinantes para a procura por tratamento se discordo ou não sei. Seis afirmativas são corretas e devem ser
encontram a duração dos sintomas (> que 3 anos), impacto respondidas com a alternativa concordo. Oito alternativas são
negativo da incontinência na qualidade de vida e desinibição incorretas e devem ser respondidas com a opção discordo. As
para conversar com o médico sobre os sintomas [5,6]. afirmativas foram distribuídas aleatoriamente no questionário
A qualidade de vida incorpora aspectos sociais, físicos e englobam quatro categorias relacionadas à incontinência
e mentais do indivíduo, estando dessa forma, relacionada urinária: tratamento e efeitos da IU, causas, relação entre
com uma percepção subjetiva sobre a doença e tratamento envelhecimento e IU e discussão paciente-médico [9]. Ao
subsequente. Embora a incontinência urinária não coloque questionário original foram adicionadas três afirmativas pelas
diretamente a vida das pessoas em risco, é uma condição que autoras, com o objetivo de verificar o nível de conhecimento
pode trazer importantes implicações médicas, sociais, psico- da população a respeito do tratamento fisioterapêutico para
lógicas, e econômicas, afetando negativamente a qualidade incontinência urinária. As três afirmativas adicionadas são
de vida, principalmente quando a incontinência é severa [7]. corretas e devem ser respondidas com a opção concordo pelos
Dessa forma, a educação da comunidade sobre o assunto pode participantes, com o indicativo de reconhecerem a afirmativa
ser necessária para aumentar o número de pacientes que se como verdadeira.
beneficiam com o tratamento e procuram por assistência A pesquisa foi realizada nas salas de espera para consulta
médica e de outros profissionais da saúde. em diversas especialidades médicas no Hospital Municipal
O presente estudo teve como objetivo verificar o nível de da Cidade Ocidental, Centro de Reabilitação da Cidade
conhecimento sobre a incontinência urinária e o tratamento Ocidental e em um espaço público da cidade onde idosos se
fisioterapêutico para esta condição na população do município reúnem para a prática de atividade física.
de Cidade Ocidental-GO, a fim de identificar a necessidade O estudo foi elaborado e executado segundo as diretrizes
de intervenção educativa à população. e normas que regem as pesquisas envolvendo seres humanos
(Resolução no. 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde)
Material e métodos e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário de Brasília (104/2007).
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, realizado na
zona urbana do município da Cidade Ocidental, no estado de Resultados
Goiás. A Cidade Ocidental está localizada a 18km de Brasília
e possui 43613 habitantes [8]. Foram abordados 127 indivíduos na zona urbana da Cida-
Estudo realizado pela Companhia do Desenvolvimento de Ocidental. Dois habitantes foram excluídos por dificuldade
do Planalto Central (CODEPLAN) revelou que a população de compreensão das perguntas e cinco indivíduos foram ex-
urbana acima de 50 anos é de 12% da população total [8]. cluídos por apresentarem idade inferior a 50 anos. Com isso,
Com isso, a amostra calculada para um índice de confiabili- 120 habitantes responderam as perguntas em nosso estudo.
dade de 95% foi de 114 indivíduos. As características da amostra podem ser observadas na
O estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira etapa Tabela I. Entre os indivíduos entrevistados percebeu-se o
foi realizada uma entrevista estruturada, na qual teve como predomínio de mulheres. Aproximadamente 50% da amostra
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 179

estavam no grupo etário entre 50-59 anos e apenas 5,8% Os índices de acerto para as causas da IU variaram de
possuíam ensino superior (completo ou incompleto). 77,5% e 29,2% para a afirmativa de que as mulheres têm
Quanto às características clínicas da população, observa- maior probabilidade de desenvolver a incontinência urinária
-se que apenas 4 (4,5%) das mulheres não referiram partos. e que muitos medicamentos de uso comum podem causar a
Cirurgias ginecológicas e próstata foram citadas por 73% das IU, respectivamente.
mulheres e 16,1% dos homens, respectivamente. A presença Quando perguntada sobre a relação entre envelhecimen-
de incontinência urinária foi referida por 31 (34,8%) das to e IU, foi observado baixo índice de acerto para as duas
mulheres e 12 (38,7%) dos homens. (Tabela I) assertivas.
A resposta “não sei” obteve frequência mais elevada do que
Tabela I - Características demográficas e clínicas da população. as respostas erradas nas assertivas relacionadas aos tratamen-
Características tos para incontinência urinária. Quando avaliado apenas a
demográficas e N (%) fisioterapia como tratamento, 30,83% responderam “não sei”.
clínicas A letra que aparece após as afirmativas se refere à catego-
Sexo F 89 74,2 ria em que as mesmas foram agrupadas. T = Tratamentos e
M 31 25,8 feitos da IU; C = causas; R = Relação entre idade e IU; D =
Idade 50-59 59 49,2 Discussão paciente-médico sobre a IU.
60-69 38 31,7
70-79 20 16,7 Discussão
80 ou + 3 2,5
Escolaridade Analfabeto 6 5,0 Existe uma grande variação no número de pacientes que
Fundamental 73 60,8 procuram tratamento para os sintomas do trato urinário
Médio 34 28,3 inferior em homens e mulheres. A gravidade dos sintomas,
Superior 7 5,8 incômodo, idade e impacto na qualidade de vida têm sido
Estado Civil Com parceiro 68 56,7 consistentemente identificados como determinantes potentes
Sem parceiro 52 43,3 dos que procuram tratamento. Conselhos de outras pessoas e
Nº Partos 0 4 4,5 da mídia, vergonha, crenças e atitudes em relação à utilização
1a3 42 47,2 de fraldas, saúde e bem-estar são apenas alguns dos determi-
4a6 32 36,0 nantes psicossociais que podem influenciar a decisão de um
7a9 7 7,9 paciente a procurar o médico [5].
10 ou + 4 4,5 Porém, quando falamos no número de mulheres que
Cirurgia procuram ajuda para fazer suas queixas, a proporção se ele-
Ginecológica Prévia Sim 65 73,0 va. As mulheres demoram a procurar atendimento médico
Não 24 27,0 precoce e os motivos estão relacionados à desvalorização do
Tipo de Cirurgia Perineoplastia 31 47,7 sintoma, como se a perda urinária fosse uma ocorrência na-
Histerectomia 14 21,5 tural do avançar da idade e fizesse parte dos problemas que
Outras 40 61,5 as mulheres têm que aceitar ao aproximar-se da velhice [6].
Cirurgia de Próstata Sim 5 16,1 Confirmando esse senso comum, os resultados demonstram
Não 26 83,9 que praticamente metade das pessoas entrevistadas (48,3%)
Perda Urinária Sim 31 34,8 concordou com a afirmativa 13 que dizia que a incontinência
Feminina Não 58 65,2 urinária é um resultado normal do envelhecimento, e mais
Perda Urinária Sim 12 38,7 da metade (54,2%) concordaram com a afirmativa de que a
Masculina Não 19 61,3 maioria das pessoas irá perder o controle de urina quando
atingirem 85 anos.
Como pode ser visualizado na Tabela II, um total de Apesar disso, 72,5% das pessoas apresentaram discor-
81,7% dos entrevistados responderam corretamente a per- dância da assertiva 1, no que diz respeito às pessoas que têm
gunta número dois e 33,3% dos entrevistados acertaram a incontinência urinária viverem vidas normais. Apresentando
discordância da afirmativa número sete. assim, uma distorção dos resultados, já que para a maioria dos
A respeito do conhecimento dos entrevistados sobre o entrevistados, a perda de urina na velhice é normal, porém os
tratamento para a incontinência urinária, 60,8% dos entre- pacientes incontinentes não podem viver uma vida normal.
vistados consideraram a cirurgia o melhor tratamento para o O impacto que a incontinência causa na vida social pro-
problema; 38,3% responderam “não sei” a afirmativa de que voca restrições que estão intimamente ligadas à percepção
a fisioterapia pode ser um tratamento eficaz para tratar a IU; individual que estas pessoas têm frente à severidade, tipo,
18,3% discordaram e 28,3% não sabiam dizer se existem quantidade da perda urinária e contexto cultural de cada
exercícios capazes de ajudar no controle de urina. indivíduo, prejudicando a qualidade de vida e fazendo com
180 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Tabela II - Resultado do questionário sobre incontinência urinária.


Concordo Discordo Não Sei
Afirmativas corretas N N N
(%) (%) (%)
1) A maioria das pessoas que atualmente têm incontinência urinária vive vidas
25 20,8 87 72,5 8 6,7
normais. (T)
2) Muitas pessoas com incontinência urinária podem ser curadas e quase todas
98 81,7 13 10,8 9 7,5
podem melhorar significativamente. (T)
3) Existem exercícios que podem ajudar no controle de urina quando uma pessoa
64 53,3 22 18,3 34 28,3
perde urina quando tosse, ri ou espirra. (T)
4) Perda involuntária de urina (incontinência urinária) pode ser causada por muitas
91 75,8 15 12,5 14 11,7
condições médicas facilmente tratáveis. (C)
5) Mulheres têm maior probabilidade de desenvolver a incontinência urinária do que
93 77,5 17 14,2 10 8,3
homens. (C)
6) Muitos medicamentos comuns podem causar a
35 29,2 34 28,3 31 25,8
incontinência urinária. (C)
Concordo Discordo Não Sei
Afirmativas incorretas N N N
(%) (%) (%)
7) Quando uma pessoa começa a perder o controle de urina frequentemente, quase
70 58,3 40 33,3 10 8,3
nunca recupera o controle completo. (T)
8)Geralmente o melhor tratamento para incontinência urinária é a cirurgia. (T) 73 60,8 25 20,8 22 18,3
9) Além de fraldas e sondas, pouco pode ser feito para tratar ou curar a incontinên-
34 28,3 69 57,5 17 14,2
cia urinária. (T)
10)A maioria dos médicos pergunta para seus pacientes mais velhos se eles têm
58 48,3 56 46,7 6 5,0
problemas com o controle de urina. (D)
11) A maioria das pessoas irá involuntariamente ou acidentalmente perder o contro-
65 54,2 47 39,2 8 6,7
le de sua urina quando atingirem 85 anos. (R)
12) Perda involuntária de urina é causada por somente um ou dois fatores. (C) 45 37,5 46 38,3 29 24,2
13) Perda involuntária de urina, geralmente chamada de bexiga furada ou inconti-
58 48,3 55 45,8 7 5,8
nência urinária, é um dos resultados normais do envelhecimento. (R)
14) A maioria das pessoas que têm incontinência urinária fala com seus médicos
82 68,3 36 30,0 2 1,7
sobre isso. (D)
Concordo Discordo Não sei
Afirmativas adicionadas pelas autoras N N N
(%) (%) (%)
15) Para evitar a cirurgia, a fisioterapia pode ser um tratamento eficaz para a incon-
56 46,7 18 15,0 46 38,3
tinência urinária. (T)
16) Homens e mulheres podem realizar fisioterapia para tratar a incontinência
71 59,2 11 9,2 38 31,7
urinária. (T)
17) Alguns exercícios podem ajudar no controle de urina quando uma pessoa come-
75 62,5 18 15,0 27 22,5
ça a perder urina frequentemente. (T)

que os mesmos não tenham vidas normais [6,9]. Por este nos referimos a idosos acima de 80 anos, estudo mostra que
motivo, não concordamos com o questionário original, que não há diferença na qualidade de vida de pacientes inconti-
considera a assertiva 1 como correta, e consideramos uma nentes quando comparamos homens e mulheres [11]. Porém,
falha na resposta do instrumento utilizado. no nosso estudo não podemos concluir que entre os pacientes
Ainda a respeito da assertiva 1, quando comparamos os entrevistados, os que apresentam perda de urina, apresentam
grupos: homens que relataram perda de urina e o grupo das pior qualidade de vida, pois não foi aplicado um questionário
mulheres que relataram a IU, observamos concordância com específico para esta avaliação.
a afirmativa de que a maioria das pessoas que atualmente têm Os resultados do estudo mostram que a população estu-
incontinência urinária vivem vidas normais de 8,3% e 28,1% dada necessita agregar mais conhecimento acerca da IU, suas
respectivamente, demonstrando que os homens apresentam causas e possíveis tratamentos. A maior parte das assertivas
atitude mais negativa em relação à IU quando comparados obteve altos índices de erro, corroborando estudos previa-
com as mulheres. Esse dado foi ao contrário de outros estudos mente publicados [12].
que mostram que as mulheres apresentam pior impacto na Dentre as assertivas que obtiveram altos índices de
qualidade e vida em pacientes acima de 65 anos [10]. Quando acerto, podemos destacar a afirmativa 5, em que 77,5%
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 181

das pessoas entrevistadas concordaram com a maior proba- da incontinência urinária. Este tipo de proteção foi reconhe-
bilidade feminina de desenvolver a IU, demonstrando um cido por 28,3 % das pessoas entrevistadas em nosso estudo,
possível conhecimento de alguns fatores de risco, dentre eles demonstrando mais uma vez o profundo desconhecimento
o hipoestrogenismo e a multiparidade. Dessa forma, a alta acerca dos possíveis tratamentos para o problema. Em geral,
prevalência de IU observada nas mulheres participantes do 40% das mulheres com sintomas de perda urinária fazem o uso
estudo (65,2%) pode ser explicada por fatores de risco como deste tipo de proteção [18]. Frente a um paciente com relato
o estado menopausal relacionado com a idade avançada, de perda urinária, o emprego de fraldas e medicação era quase
cirurgias ginecológicas prévias, número e tipo de partos [13]. sempre a primeira opção escolhida, demonstrando a nítida
O tratamento da IUE pode ser cirúrgico ou conservador, necessidade de se melhorar o conhecimento por parte dos
embora no Brasil a abordagem cirúrgica prevaleça. A percep- profissionais de saúde sobre as opções terapêuticas disponíveis
ção de que a cirurgia é a melhor opção terapêutica foi demons- e sua efetividade. Esses profissionais somente estarão aptos
trada por 60,8% das pessoas entrevistadas, o que pode ser um a motivar os pacientes a seguir um tratamento conservador
fator causal para não procura precoce por tratamento [5]. se conhecerem e acreditarem nos benefícios advindos de tais
Quando questionadas quanto aos medicamentos como tratamentos [19].
fator causal da IU, apenas 29,2% acertaram a afirmativa 6, Em relação à escolaridade e ao esclarecimento da po-
tendo porcentagem semelhante de erro ou escolha da opção pulação sobre o assunto, pode-se afirmar que as pessoas
“não sei”, demonstrando o desconhecimento de que alguns com menores níveis de escolaridade (analfabeto e nível
medicamentos de uso comum, como relaxantes do músculo fundamental) obtiveram escores mais baixos em pratica-
liso e depressores do sistema nervoso central podem causar a mente todas as assertivas quando comparadas às pessoas
incontinência urinária. Ressalta-se ainda que muitos desses que possuem nível médio e superior de ensino. Outros
medicamentos, ao dispensarem prescrição médica podem estudos realizados no Brasil também vão ao encontro de
ser usados indiscriminadamente, em uma sociedade onde a nossos achados [20].
automedicação é uma prática corriqueira [14]. Quando analisamos a idade dos participantes e o conhe-
Entretanto, o tratamento cirúrgico envolve procedimen- cimento sobre o problema, observou-se que os indivíduos
tos invasivos que podem ocasionar complicações, além do entre 50 e 59 anos mostraram mais esclarecimento sobre o
alto custo. A ICS recomenda que o tratamento conservador assunto quando comparados com os de idade mais avançada.
seja considerado como primeira opção de intervenção nas Comparando os participantes do gênero masculino que rela-
mulheres incontinentes [1]. Os exercícios fisioterapêuticos, taram perda de urina e aqueles que não relataram, o grupo dos
visando fortalecimento do assoalho pélvico, têm apresentado que apresentaram a incontinência urinária mostrou menor
resultados expressivos para a melhora dos sintomas de IU em conhecimento no tocante à existência de tratamentos para
até 85% dos casos, inclusive na população mais velha. Um dos IU, demonstrando o pouco acesso à variedade de opções
principais objetivos do tratamento é a melhora da força e da terapêuticas disponíveis. Entre as mulheres participantes do
função desta musculatura, a fim de evitar as perdas urinárias estudo, que relataram perda urinária e aquelas que não rela-
através de uma contração consciente e efetiva nos momentos taram o problema, não houve diferença quanto ao nível de
de aumento da pressão intra-abdominal. Também colaboram esclarecimento sobre a existência de tratamentos disponíveis.
positivamente na melhora do tônus e das transmissões de A literatura, no entanto, é escassa no que diz respeito ao
pressões uretrais [15,16]. conhecimento frente à incontinência urinária. Não encontra-
Embora a fisioterapia se mostre como uma opção tera- mos nenhum artigo recente que tivesse utilizado o mesmo
pêutica eficaz para o tratamento da incontinência urinária questionário, o que nos impossibilitou de uma comparação
[7], a população estudada demonstra desinformação sobre mais aprofundada.
o assunto, quando na assertiva 15, 38,3% das pessoas não Hoje, sabemos que a incontinência urinária é uma con-
sabiam informar se a fisioterapia poderia ser um tratamento dição que afeta muito a qualidade de vida dos pacientes,
efetivo para tratar a IU. Além disso, diante da alternativa 3, inclusive na produtividade deste pacientes, podendo ter
que dizia que existem exercícios capazes de ajudar no controle consequências tão ruins quanto um paciente com asma ou
urinário, 18,3% das pessoas discordaram e 28,3 % responde- artrite reumatóide [21]. Por isso, a importância de se saber
ram “não sei”, resultado semelhante ao encontrado em estudos mais sobre o assunto e sobre o tratamento desses pacientes.
anteriores, em que a população estudada expressou profundo A falta de esclarecimento sobre o assunto pode ser um fator
desconhecimento sobre alternativas terapêuticas disponíveis decisivo para a não procura por tratamento.
para o tratamento da IU [12]. O número de pacientes que são
encaminhados para a fisioterapia é pequeno, apenas 2,76% Conclusão
das pacientes com incontinência urinária são encaminhadas
para esse tipo de serviço [17]. A população deste estudo mostrou ter um baixo nível de
O emprego de fraldas, absorventes e cateteres ainda são conhecimento sobre a incontinência urinária, assim como o
vistos como uma única opção disponível para o tratamento seu tratamento através da fisioterapia.
182 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 183

Artigo original

Diástase dos músculos retoabdominais


no pós-parto vaginal imediato
Diastasis of the rectus abdominis muscles immediately
vaginal postpartum
Mariana Tirolli Rett, Ft., D. Sc.*, Lívia Gabriela Fonseca Melo, Ft.**, Lícia Dultra Linhares, Ft.***,
Eliana Pereira de Melo, Ft.****, Thaiane Aragão de Oliveira, Ft.****

*Professora Adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), **Especialista em Uroginecologia – Gama
Filho/RJ, ***Especialista em Uroginecologia e Obstetrícia – Faculdade Redentor/RJ, ****Especialista em Reabilitação e Pilates –
HIB

Resumo Abstract
Introdução: A diástase dos músculos retoabdominais (DMRA) é Introduction: The diastasis of the rectus abdominis muscles
definida como o afastamento entre as bordas mediais destes músculos (DRAM) is defined as separation between rectus abdominis and can
e pode estar presente na gestação e puerpério. Objetivos: Comparar be present in pregnancy and postpartum. Objectives: To compare
a DMRA na região supra e infraumbilical no pós-parto imediato the DRAM in the region above and below the umbilicus at the
em primíparas e multíparas, e correlacionar com variáveis materno- immediate postpartum period in primiparous and multiparous,
-fetais. Métodos: Foi realizado um estudo transversal envolvendo and to correlate with maternal and fetal variables. Methods: A cross-
puérperas submetidas ao parto vaginal. A DMRA foi avaliada por -sectional study involving postpartum women submitted only to
um paquímetro na região supraumbilical e infraumbilical (4,5 cm vaginal delivery. The DRAM was evaluated by a caliper at 4.5 cm
acima e abaixo da cicatriz umbilical). Resultados: Das 183 puérperas, above and below umbilicus. Results: Out of 183 mothers, 81 were
81 eram primíparas e 102 multíparas. A DMRA na região supraum- primiparous and 102 multiparous. The DRAM above umbilicus
bilical foi 1,93 (± 0,89) cm nas primíparas e 2,09 (± 0,75) cm nas were 1.93 cm (± 0.89) in primiparous and 2.09 cm (± ​​ 0.75) in
multíparas (p = 0,186). Na região infraumbilical foi 1,11 (± 0,75) multiparous women (p=0.186). Below the umbilicus, was found
cm nas primíparas e 1,09 (± 0,50) cm nas multíparas, também sem 1.11 cm (± 0.75) in primiparous, whereas in multiparous 1.09 cm​​
diferença (p = 0,847). Na região supraumbilical foi significativamen- (± 0.50), showing no difference between groups (p = 0.847). In both,
te maior em ambos os grupos (p < 0,001). Foi encontrada correlação the DRAM above umbilicus was significant higher than below (p
significativa entre a DMRA supra e infraumbilical e o peso do RN < 0,001). A significant correlation was found between the DRAM
em ambos os grupos. Não foram observadas correlações com as and newborn weight. Regarding the other variables, there were no
outras variáveis. Conclusão: Não foram observadas diferenças entre significant correlations with DRAM. Conclusion: There were no
DMRA supra e infraumbilical nas primíparas e multíparas, mas na statistical difference between the DRAM above and below umbilicus
região supraumbilical foi significativamente maior em ambos os between primiparous and multiparous, but above umbilicus, the
grupos. Somente o peso do RN apresentou correlação significativa DRAM was higher in both groups. Only newborn weight showed
com a DMRA em ambos os grupos. significant correlation with DRAM.
Palavras-chave: período pós-parto, diástase, reto do abdome, Key-words: postpartum, diastasis, rectus abdominis,
fisioterapia, parto. physiotherapy, childbirth.

Recebido em 13 de junho de 2012; aceito em 25 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Mariana Tirolli Rett, Núcleo de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Rua Claudio Batista s/n,
Bairro Santo Antônio, 49060-100 Aracaju SE, E-mail: mariana@ufs.br, maritrett@yahoo.com.br
184 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução Material e métodos

O período pós-parto, também chamado de puerpério, Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal,
inicia-se após a saída da placenta, prolonga-se por 6 a 8 sema- na Maternidade Santa Isabel na cidade de Aracaju/SE, no
nas e termina quando os órgãos da reprodução retornam ao período de abril a outubro de 2010. Foram incluídos dados
estado não-gravídico. Didaticamente, admitem-se 3 etapas: de puérperas primíparas (somente um parto) e multíparas
puerpério imediato (até o 10º dia), puerpério tardio (entre o (no mínimo 2 partos) submetidas exclusivamente ao parto
11º e o 45º dia) e o puerpério remoto (além do 45º dia) [1,2]. vaginal. As mesmas foram abordadas dentro de um período
Durante a gestação as alterações hormonais acompanhadas de 24 horas, mas respeitando-se um mínimo de 6 horas após
do crescimento uterino levam ao estiramento dos músculos o parto. Foram excluídos os dados daquelas que tivessem sido
abdominais e anteversão pélvica seguida de uma hiperlordose submetidas a cirurgias abdominais anteriores (cesárea), parto
lombar. Essas alterações podem contribuir para a diminuição prematuro (antes de 37 semanas) e que a ficha estivesse incom-
na força de tensão destes músculos e facilitar o aparecimento pleta. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
da diástase dos músculos retoabdominais (DMRA), que é o em Pesquisa da Universidade Tiradentes (CAAE: 200410) e as
afastamento entre as bordas medias destes músculos [1,3,4]. puérperas foram esclarecidas quanto aos objetivos da pesquisa
No decorrer da gravidez, a DMRA pode causar uma e em seguida, orientadas quanto à assinatura do Termo de
diminuição na capacidade da musculatura abdominal de Consentimento Livre e Esclarecidas (TCLE).
controlar a pelve e a coluna lombar podendo produzir quei- Foram coletadas nos prontuários informacões como:
xas musculoesqueléticas como dor lombar e/ou sacral. Além idade, estado civil, profissão, tabagismo, etilismo, idade gesta-
disso, em casos de separações mais graves podem influenciar cional (IG), tempo de trabalho de parto (TTP), antecedentes
nas alterações posturais, dificuldades respiratórias, progressões obstétricos e o peso do recem-nascido (RN).
de hérnias viscerais abdominais e diminuição do suporte A DMRA foi mensurada com a puérpera em decúbito
abdominal [4,5]. dorsal, com o quadril fletido e joelhos flexionados a 90º, pés
O aparecimento da DMRA é comumente observado apoiados no leito e membros superiores estendidos paralelos
no terceiro trimestre gestacional e nos pós-parto imediato, ao corpo. Nesta posição, foi solicitada a flexão anterior do
apresentando diminuição no pós-parto tardio. Tal situação tronco em direção aos joelhos até que as espinhas das es-
pode regredir espontaneamente, mas em alguns casos pode cápulas saíssem do leito. Dois pontos foram utilizados como
ser permanente, o que pode levar a incapacidades temporá- referência para medir a DMRA: 4,5 cm acima e 4,5 abaixo da
rias nas gestações subsequentes, além de aumentar o risco de cicatriz umbilical. Os dedos do avaliador foram introduzidos
desenvolver lombalgias crônicas [5,6]. de maneira perpendicular às bordas mediais dos músculos
Embora não haja consenso sobre a sua prevalência, du- retoabdominais e o mesmo foi repetido com o paquímetro
ração e possíveis complicações a curto/longo prazo, alguns em centímetros (cm). Utilizou-se paquímetro analógico da
fatores podem estar relacionados à sua ocorrência, como: marca Vonder® de material plástico com medida: 150 mm- 6”
obesidade, multiparidade, gestações múltiplas, macrossomia e Escala 0,05 mm – 1/128” (em cm). A DMRA foi conside-
fetal, poliidrâmnio, flacidez da musculatura abdominal pré- rada presente e relevante quando houvesse um afastamento
-gravídica [3,4]. Clinicamente, observa-se que a DMRA na >2 cm entre as bordas mediais dos retoabdominais na região
região supraumbilical é maior do que na infraumbilical [7]. supra umbilical e > 1 cm na região infraumbilical [7].
A atuação do fisioterapeuta na área de obstetrícia demanda Os dados foram coletados por dois pesquisadores princi-
cada vez mais informações sobre a avaliação e identificação pais e os mesmos foram devidamente treinados pelo docente
da DMRA, pois isso contribui para o desenvolvimento de responsável. Para o cálculo amostral, foi utilizado o software
estratégias de prevenção e tratamento no período gravídico- EPIINFO 6.0, e foi calculada uma amostra aleatória simples
-puerperal. Um dos objetivos da fisioterapia aplicada no para estudos de prevalência. Considerando os critérios de
pós-parto imediato é promover uma estimulação da mus- inclusão e um universo de 350 mulheres, precisão desejada
culatura, em particular abdominal e pélvica, para melhorar de 3%, prevalência estimada de 66% [9] e nível de confiança
a sua tonicidade [7,8]. Como na literatura nacional são de 95%, a amostra estimada foi de 180 mulheres. Para análise
escassas investigações que correlacionam a DMRA com descritiva dos dados, foram realizadas medidas de tendência
variáveis maternas e obstétricas, especialmente de puérperas central (média), dispersão (desvio-padrão), frequência e por-
submetidas exclusivamente ao parto vaginal, o objetivo deste centagem. Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para
estudo foi comparar a DMRA na região supraumbilical e verificar a normalidade dos dados. Para comparar a média de
infraumbilical no pós-parto vaginal imediato de primíparas DMRA entre as primíparas e multíparas, adotou-se o teste t de
e multíparas, além de correlacionar a DMRA com a idade Student para as variá­veis independentes e para correlação das
materna, tempo de trabalho de parto, idade gestacional e peso variáveis utilizou-se o teste de correlação de Pearson [10]. Para
do recém-nascido. comparação de proporções, adotou-se o teste Qui-quadrado.
Os dados foram analisados com o programa SPSS 13.0 e
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 185

considerou-se o nível de significância de p < 0,05 em todas que nas multíparas 1,09cm (± 0,50), (p = 0,847). Contudo,
as análises. em ambos os grupos, a DMRA na região supraumbilical foi
significativamente maior do que na região infraumbilical (p
Resultados < 0,001), (Figura 2).

Foram avaliadas 185 puérperas, porém duas foram ex- Figura 1 - Comparação da DMRA supra e infraumbilical nos grupos
cluídas (informações incompletas da ficha de avaliação). Ao de primíparas (n = 81) e multíparas (n =102).
final foram selecionadas 183 puérperas, sendo 81 primíparas 2,5
2,09
e 102 multíparas. Na Tabela I, pode ser observado que a idade 1,93
2
materna foi significativamente maior nas multíparas, a a IG
foi semelhante entre os grupos e o TTP foi significativamente 1,5
maior nas primíparas. A maioria das puérperas (65,6%) era 1,11 1,09
1
solteira e proveniente da região metropolitana de Aracaju
(74,3%), incluindo os municípios de Barra dos Coqueiros, 0,5
Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. Quanto à ocupação, 0
68,8% eram do lar, 10,4% eram estudantes e 20,8% tinham
Supraumbilical
outras atividades. Em relação aos hábitos sociais somente 18,1%
Infraumbilical
relataram etilismo e 7,65% tabagismo.
Primíparas Multíparas

Tabela I - Características gerais das primíparas (n = 81) e multí-


paras (n = 102). Figura 2 - Comparação da DMRA supraumbilical com a DMRA
Primíparas Multíparas Valor p infraumbilical entre primíparas (n = 81) e multíparas (n =102).
Idade (anos) 20,77 (±4,19) 25,71 (±5,54) 0,007* 8
IG (semanas) 39,27 (±2,06) 39,40 (±2,93) 0,730
7
TTP (minutos) 315,7(±23,60) 222,91 (±24,13) 0,007*
Valores apresentados em média (± DP), * teste t de Student, nível de 6
significância p < 0,05
5
Na Tabela II pode ser observada que a ocorrência da 4
DMRA supraumbilical > 2 cm foi de 34,5% nas primíparas
e 52,0% nas multíparas. Na região infraumbilical, a DMRA > 3
1 cm nas primíparas foi de 51,8% e nas multíparas de 55,0%.
2
Nas multíparas, a DMRA foi mais frequente na região supra
e infraumbilical, mas não foi observada diferença estatística 1
(p = 0,190 e 0,681).
0 Foram observadas correlações significativas do peso do
Tabela II - Distribuição da prevalência da DMRA supra e infraum- RN com 1aval
a DMRA 2aval 3aval (p = 4aval
supraumbilical 0,0419; r =5aval
0,2265)
bilical das primíparas (n = 81) e multíparas (n =102). e com a DMRA infraumbilical (p = 0,0412; r = 0,1949)
DMRA (cm) Primíparas Multíparas Valor Controle
das primíparas Experimental
e a DMRA supraumbilical (p = 0,0353; r =
p* 0,2086) e infraumbilical (p = 0,0196; r = 0,2307) das mul-
n % n % típaras. Quanto as demais variáveis, como idade materna,
Supraumbilical TTP e IG não foram observadas correlações significativas
> 2 cm 28 34,5 53 52,0 0,190 com a DMRA.
≤ 2 cm 53 65,5 49 48,0
Infraumbilical Discussão
> 1 cm 42 51,8 56 55,0 0,681
≤ 1 cm 39 48,2 46 45,0 A ocorrência da diástase dos músculos retoabdominais
*teste qui-quadrado (DMRA) no pós-parto imediato é variável, pois há discor-
dância na literatura quanto ao valor de DMRA considerado
Quando comparadas as médias da DMRA não se encon- clinicamente relevante. Pode ser encontrada na literatura
trou diferença entre os grupos (Figura 1). Na região supraum- variando de 35% a 100% [6-14], contudo os critérios e local
bilical observou-se 1,93cm (± 0,89) nas primíparas e 2,09cm de avaliação são divergentes. No presente estudo, a DMRA
(± 0,75) nas multíparas (p = 0,186). Na região infraumbilical, supraumbilical nas primíparas e multíparas foi de 34,5% e
encontrou-se 1,11cm (± 0,75) nas primíparas, enquanto 52%”, respectivamente. Tais valores estão próximos ao rela-
186 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

tado por autores que adotaram critérios semelhantes [7,8]. tidas à redução cirúrgica da DMRA que obtiveram um alívio
Também considerando apenas mulheres submetidas ao parto significativo da lombalgia [16].
vaginal, Rett et al.[7] encontraram prevalência similares. Além Dessa forma, os resultados deste estudo chamam a atenção
disso, é comumente observado na prática clínica um maior não só para a avaliação e a ocorrência da DMRA no pós-parto,
afastamento e maior prevalência de DMRA em multíparas e mas também para a necessidade de orientar essas mulheres,
na região supraumbilical. A literatura aponta que a paridade já que a prevalência da DMRA foi considerável. Enfatizar a
pode interferir na DMRA, sendo as multigestas mais pro- realização de exer­cícios abdominais (especialmente transverso
pensas a apresentarem um maior afastamento dos retoabdo- abdominal), tanto de maneira preventiva quanto terapêutica
minais [6,7]. Isso se deve à estrutura da parede anterolateral é uma ação do fisioterapeuta. Mesquita et al. [8] observaram
do abdômen ser sucessivamente distendida pelas gestações diminuição significativa da DMRA, após um programa de
apresentando uma tendência à flacidez que é maior a cada exercícios no puerpério imediato. Já Chiarello et al. [12]
novo parto, visto que o aumento da elasticidade do tecido demonstraram que gestantes submetidas a um protocolo
conjuntivo é maior nestas mulheres [12]. de exercícios abdominais exibiu uma DMRA significativa-
Contudo, não foi observada diferença significativa entre os mente menor que as gestantes sedentárias. Como nem todos
grupos quando comparadas as médias e prevalências de DMRA. os casos de DMRA são resolvidos espontaneamente após o
Entretanto, na região supraumbilical os valores foram significa- parto [17], isto justifica e reforça a importância da avaliação
tivamente superiores quando comparados com a infraumbilical, criteriosa da DMRA, para o planejamento adequado da
assim como em outro estudo nacional [7]. Este achado pode conduta terapêutica.
ser justificado pela própria característica morfológica da região. Fica exposta a necessidade de a DMRA ser devidamente
A faixa tendinosa do reto, conhecida como linha alba, é mais avaliada para que, na sua presença, sejam recomendados
forte abaixo da cicatriz umbilical por causa da aponeurose de exercícios específicos na tentativa de evitar problemas futuros,
todos os quatros músculos da parede abdominal anterior que como, por exemplo, piora da DMRA em uma próxima gesta­
cruzam na frente do músculo retoabdominal. Os dois lados do ção ou até comprometimento de funções uroginecológicas [9].
reto lembram um “v” quando se aproximam de sua inserção Acredita-se que os resultados do presente estudo contribui-
no púbis juntamente com os outros músculos, reforçando essa rão na elaboração de estratégias de prevenção e tratamento
área e amenizando sua distensão [11,15]. da DMRA e suas repercussões, porém delineamentos mais
Adicionalmente, foi observada correlação significativa rigorosos serão importantes para a comunidade envolvida,
e positiva da DMRA tanto supra quanto infraumbilical profissionais engajados na assistência obstétrica e para a hu-
com o peso do RN, ou seja, quando aumenta o peso do manização do atendimento nas maternidades.
RN, aumenta a DMRA. Sousa et al. [6] observaram que
o peso do RN teve influência de 11,47% sobre a diástase, Conclusão
também apresentando correlação significativa, positiva e
fraca entre DMRA e o peso do RN (p = 0,067). Isso reforça Não foram observadas diferenças estatísticas entre a
a hipótese que as mulheres com bebês mais pesados têm DMRA supra e infraumbilical das primíparas e multíparas.
probabilidade de apresentar uma DMRA maior. Acredita-se Contudo, a DMRA supraumbilical foi significativamente
que esta relação deve-se a um maior estiramento da parede maior do que na região infraumbilical em ambos os grupos. O
anterolateral do abdômen e da linha alba pressionadas pelo peso do RN apresentou correlação significativa com a DMRA
útero e seu conteúdo. em ambos os grupos e, idade materna, tempo de trabalho de
Com relação às outras variáveis estudadas, como a idade parto e idade gestacional não apresentaram correlações.
materna, TTP e IG, não foram observadas correlações sig-
nificativas, assim como em estudo anterior [7]. São escassos Referências
na literatura estudos com este delineamento, o que limita
nossas inferências. 1. Rezende J, Montenegro CAB. O ciclo gestatório normal. In:
No decorrer da gravidez, a DMRA pode causar uma Rezende J, Montenegro CAB, eds. Obstetrícia fundamental.
diminuição na capacidade da musculatura abdominal de 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 206-21.
2. Corrêa MCM, Corrêa MD. Puerpério. In: Corrêa MD, Melo
controlar a pelve e a coluna lombar podendo produzir
VH, Aguiar RAP. Noções práticas de obstetrícia. Belo Horizonte:
queixas musculoesqueléticas [5,11]. Embora controverso
Coopmed; 2004. p.95-104.
na literatura, acredita-se que afastamentos maiores do que 2 3. Machado AV. Puerpério. In: Baracho E, ed. Fisioterapia aplicada
cm são considerados relevantes [5] e maior do que 3 cm está à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4ª ed. Rio
acima do padrões de normalidade, podendo trazer maiores de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. p.224-40.
complicações como lombalgia, limitações funcionais e her- 4. Polden M, Mantle J. O período pós-natal. In: Fisioterapia em
niações das vísceras lombares [4]. O prejuízo da estabilização Ginecologia e Obstetrícia. 2ª ed. São Paulo: Santos; 2002.
lombar pode predispor ao desenvolvimento de dor lombar, 5. Konkler CJ, Kisner C. Princípios de exercícios para a paciente
conforme demonstrado em um estudo com mulheres subme­ obstétrica. In: Kisner C, Coldy LA, eds. Exercícios terapêuti-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 187

cos: fundamentos e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998. 12. Chiarello CM, Falzone LA, McCaslin KE, Patel MN, Ulery KR.
p.581-613. The effects of as exercise program on diastasis recti abdominis
6. Souza CAAR, Oliveira RA, Lima ACG. Diástase dos músculos in pregnant women. Journal of Women’s Health Phys Ther
reto abdominais em puérperas na fase hospitalar. Fisioter Bras 2005;29(1):11-6.
2009;10(5):333-38. 13. Turan V, Colluoglu C, Turkyilmaz E, Korucuoglu U. Preva-
7. Rett MT, Braga MD, Bernardes NO, Andrade SC. Prevalência lence of diastasis recti abdominis in the population of young
de diástase dos músculos reto-abdominais no puerpério imedia- multiparous adults in Turkey. Ginekol Pol 2011;82(11):817-21.
to: comparação entre primíparas e multíparas. Rev Bras Fisioter 14. Boissonnault JS, Blaschak MJ. Incidence of diastasis recti ab-
2009;13(4):275-280. dominis during the childbearing year. Phys Ther 1988;68:1082-
8. Mesquita LA, Machado AV, Andrade AV. Fisioterapia para re- 6.
dução da diástase dos músculos retos abdominais no pós-parto. 15. Moore KL. O abdome. In: Moore KL, editor. Anatomia orien-
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Ther 2008;13:112-21.

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188 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Artigo original

Avaliação do desenvolvimento neuromotor


de crianças nascidas a termo e pré-termo
nos primeiros seis meses de vida
Assessment of neuromotor development in children born
at term and pre-term during the first six months of life
Maria do Carmo Pinto Lima*, Aline Silva Santos Sena*, Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Câmara**,
Rodrigo Marinho Falcão Pinto***, Elanne Dantas Melo***, José Eulálio Cabral Filho****

*Docente do Departamento de fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas, Campina Grande/PB, **Docente do Departamento
de fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife/PE, ***Discente do Departamento de fisioterapia da Faculdade Integrada do Recife/
PE, ****Docente Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Recife/PE

Resumo Abstract
Introdução: Os avanços nos cuidados intensivos neonatais Background: The increase in survival of infants born at preterm
têm proporcionado elevação da sobrevivência de recém-nascidos has raised the risk of developmental delay in the first year of life.
pré-termos, aumentando o risco de atraso no desenvolvimento Thus, studies that follow these children are needed in an attempt
no primeiro ano de vida. Sendo assim, estudos que acompanhem to enable special intervention in this crucial period for brain deve-
estas crianças são necessários para que intervenções especializadas lopment. Objectives: To compare infant neuromotor development
sejam realizadas neste período em que as experiências vividas são (IND) of children born at term and preterm during the first six
decisivas para o desenvolvimento cerebral e para aquisições evolu- months. Methods: A prospective cohort, consisting of two groups of
tivas posteriores. Objetivos: O objetivo deste estudo foi comparar o 19 children each, of both sexes, born in the Institute of Integrated
desenvolvimento neuromotor infantil (DNI) de crianças nascidas Medicine Prof. Fernando Figueira in Recife/Brazil. The preterm
a termo e pré-termo nos seis primeiros meses de vida. Métodos: O group had, at birth, gestational age (GA) between 29-36 weeks and
estudo foi uma coorte prospectiva de crianças avaliadas do primeiro weighted between 1000-2500 grams. The full-term group had GA
ao sexto mês, constituído por dois grupos, de 19 crianças cada, between 37-40 weeks and weighted more than 2,500 grams. To
de ambos os sexos, nascidas no Instituto de Medicina Integral evaluate the IND was used the second version of the Bayley Scale
Prof. Fernando Figueira em Recife/PE. O grupo pré-termo tinha of Infant Development, according to its Index Score (IS) and its
ao nascimento idade gestacional entre 29-36 semanas e peso ao corresponding classification of the IND in the following categories:
nascer entre 1000-2500 gramas. O grupo a termo tinha IG entre accelerated, within normal limits, slightly late and very late. Results:
37-40 semanas e peso ao nascimento superior a 2500 gramas. Para We found a decrease in the IS in the preterm group in all months (p
avaliação do DNI foi utilizada a segunda versão da Escala Bayley < 0.05) except for the third month. The difference between groups
de Desenvolvimento Infantil, conforme seu Index Score (IS) e sua in the last three months was much higher than in the first three.
classificação de desenvolvimento em: acelerado dentro dos limites The IND has tended to be accelerated in the term group and late
de normalidade, levemente atrasado e muito atrasado. Resultados: in the preterm infants. Conclusion: The neuromotor vulnerability
Encontrou-se uma diminuição estatisticamente significante (p < of children born at preterm is aggravated until the sixth month of
0,05) do DNI no grupo pré-termo em todos os meses, exceto no life, suggesting a reduced operational functionality of the nervous
terceiro mês. Conclusão: A vulnerabilidade neuromotora de crianças system in this age group.
pré-termo é intensificada até os seis meses, sugerindo uma reduzida Key-words: psychomotor performance, infant, premature,
funcionalidade do seu sistema nervoso nesta faixa etária. neuropsychological tests.
Palavras-chave: desempenho psicomotor, prematuro, testes
neuropsicológicos.

Recebido em 11 de junho de 2012; aceito em 10 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Maria do Carmo Pinto Lima, Rua Estelita Cruz, 537, Edf. Santa Cecília, Alto Branco, 58401-470 Campina
Grande PB, E-mail: carminhafisio@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 189

Introdução peso adequado e de crianças pré-termo com baixo peso nos


seis primeiros meses de vida, determinando a adequação do
Os avanços na tecnologia médica e a melhoria nos cuida- desenvolvimento através da BSDI-II.
dos intensivos neonatais têm proporcionado elevação na taxa
de sobrevivência de recém-nascidos pré-termo (RNPT) e de Material e métodos
baixo peso, mas por outro lado tem aumentando a probabi-
lidade de ocorrência de problemas no seu desenvolvimento Foi realizada uma coorte prospectiva de crianças avaliadas
neuromotor quando comparados a recém-nascidos a termo do primeiro ao sexto mês de vida quanto à adequação do seu
(RNT) [1]. desenvolvimento neuromotor. As avaliações foram realizadas,
O desenvolvimento neuromotor infantil (DNI) é re- a partir do primeiro mês e nos cinco meses seguintes, na data
sultante da interação entre a composição biológica e as cir- correspondente ao dia do nascimento da criança (conside-
cunstâncias ambientais, que se influenciam e se modificam rando uma variação de ± 5 dias). A amostra foi constituída
mutuamente. Estudos sobre os fatores de risco e seus efeitos por dois grupos, um de 19 crianças pré-termo e outro de 19
na infância incluem condições socioeconômicas desfavorá- crianças a termo, de ambos os sexos, nascidas no Instituto de
veis, baixo nível intelectual dos pais, prematuridade e baixo Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), Recife/PE/
peso ao nascer como os principais fatores relacionados ao Brasil, centro de referência nacional e estadual para assistên-
desenvolvimento sadio e adaptado da criança no primeiro cia materno infantil. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
ano de vida [2-5]. Ética em Pesquisa desta instituição, sendo a coleta de dados
Crianças de nascimento prematuro e de baixo peso quando realizada entre março/2007 e dezembro/2008.
comparadas com crianças a termo e com peso superior a 2500 A amostra foi sequencial e não probabilística. Foram
gramas são mais propensas a apresentar deficiências cognitivas incluídas crianças com Apgar igual ou superior a sete no
e motoras, problemas de desempenho escolar e dificuldades quinto minuto de vida, sendo que o grupo pré-termo tinha,
comportamentais [6]. ao nascimento, uma idade gestacional (IG) de 29 a 36 sema-
Nos RNPT o tônus muscular flexor se eleva, porém não nas e peso ao nascer entre 1000-2500 gramas. E o grupo a
consegue atingir o tônus do RNT, o que influencia o equilíbrio termo IG de 37 a 40 semanas e peso ao nascimento superior
entre flexores e extensores. Havendo desequilíbrio existirão a 2500 gramas.
interferências nas habilidades de manutenção da postura, Foram excluídas crianças com complicações neonatais e
suporte de peso e controle dos músculos antigravitacionais, pós-natais, tais como parada cardiorrespiratória, hemorragia
resultando em dificuldades nas aquisições motoras para intracraniana, encefalopatias, crises convulsivas, doenças ge-
controle cervical, de tronco, de equilíbrio sentado, de pé e néticas, endócrinas e neurológicas; malformações congênitas,
de locomoção [7-9]. que pudessem comprometer o DNI. Problemas psiquiátricos
Sendo assim, estudos de seguimento longitudinal que da mãe ou acompanhante também foram fatores de exclusão.
acompanhem o desenvolvimento dos RNPT são necessários Inicialmente, o responsável pela criança era contatado no
para a identificação de crianças elegíveis para intervenções ambulatório do IMIP, assinava o Termo de Consentimento
especializadas, principalmente no primeiro ano de vida, uma Livre e Esclarecido e respondia ao formulário da pesquisa,
vez que as experiências vividas neste período são decisivas cujos itens estavam relacionados à identificação da criança e às
para o desenvolvimento cerebral e para aquisições evolutivas suas características clínico-biológicas, e da genitora, bem como
posteriores [10,11]. aos fatores sociodemográficos familiares. Em seguida, eram
Na prática clínica têm surgido novas abordagens para agendadas as avaliações do DNI da criança para o primeiro,
acompanhar o DNI, na tentativa de avaliar o atraso das segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto meses de idade.
aquisições motoras finas e amplas. Existem atualmente vários Para avaliação do DNI foi empregada a BSDI-II, segundo
instrumentos que atuam facilitando e auxiliando tanto a tria- sua subescala motora, utilizando-se material padronizado,
gem e o diagnóstico quanto o planejamento e a progressão conforme indicações do seu manual de instruções. Durante
do tratamento [11,12]. a avaliação, os bebês eram colocados sobre colchonetes com
Diante da escassez destes instrumentos no Brasil, torna- o mínimo possível de roupas.
-se necessária a utilização de testes e escalas internacionais, A classificação nesta subescala de acordo com o Index
entre estes a segunda versão da Escala Bayley de Desenvol- Score (IS) obedeceu à seguinte pontuação: IS igual ou maior
vimento Infantil (BSDI-II). Embora esta escala ainda não que 115 – desenvolvimento motor acelerado, IS de 85 a 114 -
seja validada para nossa população e cultura, é fidedigna, de dentro dos limites da normalidade, IS de 70 a 84 - levemente
fácil aplicação, tem alta sensibilidade e especificidade, sendo atrasado e IS igual ou menor que 69 - muito atrasado.
capaz de diferenciar o desenvolvimento neuromotor normal A digitação no banco de dados específico era feita sepa-
do anormal [13,14]. radamente por pesquisadores e colaboradores previamente
O presente estudo tem por objetivo comparar o desen- treinados, sem haver cruzamento das informações contidas
volvimento neuromotor de crianças nascidas a termo com na avaliação prática com as do formulário da pesquisa.
190 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Os dados registrados eram transcritos e armazenados nos Ao se comparar o DNI, através das médias dos IS, entre
moldes de arquivo para o banco de dados do programa os dois grupos encontrou-se uma diminuição estatística do
computacional SPSS (Statistical Package for Social Sciences) grupo pré-termo em todos os meses (p < 0,05) exceto no
versão 10.0. Ao término da coleta de dados, as crianças terceiro mês (Tabela I).
eram enquadradas no grupo específico segundo suas IG e Embora todas as crianças pré-termo tenham apresentado
peso ao nascer. desenvolvimento classificado como normal (85 ≤ IS ≤ 114)
para esta faixa etária, as crianças a termo tiveram valores
Análise estatística médios de IS mais altos nos dois primeiros meses, o que
pode ser confirmado pela parcela de crianças (quatro) deste
Preliminarmente foi feita a verificação das características grupo com desenvolvimento classificado como acelerado no
amostrais das distribuições dos dados. Estas se mostraram primeiro mês (IS ≥ 115) (Tabela II).
normais para todos os meses (teste de Kolmogorov-Smirnoff) No terceiro mês, todas as crianças a termo apontaram DNI
e com variâncias homogêneas em ambos os grupos (teste dentro da normalidade, enquanto 15,8% (3/19) das crianças pré-
de Levene). Assim foi utilizado o teste “t” de Student para -termo mostraram um leve atraso (70 ≤ IS ≤ 84) (Tabelas II e III).
amostras independentes, na comparação em cada mês entre Quatro crianças no quarto mês e cinco no quinto mês
as crianças a termo e as pré-termo. O erro a para rejeição da mostraram atraso no DNI. Já entre as crianças a termo,
hipótese nula foi p<0.05 quatro apresentaram desenvolvimento acelerado no quinto
mês (Tabelas II e III).
Resultados Quanto à classificação do desenvolvimento do grupo
pré-termo no sexto mês, verificou-se recuperação de quatro
As crianças pré-termo apresentaram IG média de 34,08 crianças cujo desenvolvimento estava atrasado no quinto mês
semanas e peso médio ao nascer de 1035,3 gramas, enquanto e melhora no desempenho de uma das que anteriormente
que as crianças a termo apresentaram 38,67 semanas e peso tiveram DNI classificado como normal. Em quatro crianças
de 3027,6 gramas. Entre estas médias foi observada diferença a termo houve manutenção do desenvolvimento acelerado já
estatística (para IG, p < 0,05; para peso, p < 0,001). observado no mês anterior (Tabelas II e III).

Tabela I - Valores das médias do Index Score (IS) do 1º ao 6º mês em crianças pré-termo e a termo de acordo com a subescala motora da BSDI-II.
Valores médios IS 1 IS 2 IS 3 IS 4 IS 5 IS 6
Pré-termo 101,79b 95,68b 91,47ª 91,21b 94,00b 99,16b
A termo 107,74a 103,16a 95,00a 100,95a 106,37ª 109.16ª
Diferença entre médias 5,95 7,48 3,53 9,74 12,37 10,00
Valor p* 0,003 0,001 0,10 0,001 0,02 0,006
Fonte: dados da pesquisa, 2008; * Teste “t” Student

Tabela II - Classificação do DNI de acordo com IS da subescala motora da BSDI-II em crianças pré-termo.
Desenvolvimento Meses
(IS) 1 2 3 4 5 6
n % n % n % n % n % n %
Acelerado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,0
Dentro dos limites normais 19 100,0 19 100,0 16 84,2 15 78,9 14 73,7 17 89,5
Levemente atrasado 0 0,0 0 0,0 3 15,8 4 21,1 5 26,3 1 5,3
Muito atrasado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: dados da pesquisa, 2008.

Tabela III - Classificação do DNI de acordo com IS da subescala motora da BSDI-II em crianças a termo.
Desenvolvimento Meses
(IS) 1 2 3 4 5 6
n % n % n % n % n % n %
Acelerado 4 21,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 4 21,0 4 21,0
Dentro dos limites normais 13 68,4 19 100,0 19 100,0 18 94,7 14 73,7 15 79,0
Levemente atrasado 2 10,5 0 0,0 0 0,0 1 5,3 1 5,3 0 0,0
Muito atrasado 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: dados da pesquisa, 2008.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 191

Ademais, pode-se verificar que, comparado ao grupo pré- de risco ambientais ou estimulação adequada podem levar a
-termo, o grupo a termo demonstrou diferenças de médias um melhor ou pior DNI [20-23]. Portanto, mesmo crianças
de IS muito superiores nos últimos três meses (variando de biologicamente normais, poderão apresentar pequenos atrasos
9,74 a 12,37) do que nos primeiros três meses (variação de motores pela falta de estimulação ambiental adequada e diária
3,53 a 7,48) (Tabela I). [24,25], o que poderia explicar o atraso de algumas crianças
a termo desta amostra.
Discussão Diante do exposto, constata-se que a prematuridade
determina fatores intrínsecos menos favoráveis às mudanças
O desempenho mais fraco do grupo pré-termo quanto e exigências motoras de cada idade cronológica. Embora os
aos IS, nos primeiros seis meses de vida, poderia ser explicado estudos comparando o DNI entre grupos a termo e pré-termo
pelo fato destas crianças ainda não possuírem uma maturidade não sejam unânimes, a maioria deles mostra, igualmente,
do sistema nervoso central e dos demais sistemas orgânicos superioridade do desenvolvimento das crianças a termo com
capaz de influenciar as reações posturais, de equilíbrio e de relação às pré-termo [26,27].
proteção, as mudanças no tônus muscular e a substituição dos Há evidências de que os fatores extrínsecos são muito
movimentos primitivos, não favorecendo assim a aquisição de importantes para o desenvolvimento da criança e que a sua
habilidades motoras nestas faixas etárias [10,11,15]. influência não pode ser negligenciada [26]. Tais fatores não
Além disto, várias crianças a termo mostraram desenvol- foram objeto deste estudo, mas poderiam esclarecer o fato de
vimento acelerado no primeiro, quinto e sexto mês, ou seja, algumas crianças, mesmo prematuras, conseguirem no fim
acima do esperado para crianças biologicamente normais do sexto mês superar o desenvolvimento considerado normal
nestas idades cronológicas, fato que indica melhores condições para esta fase. Contudo, se faz necessário o desenvolvimento
funcionais e estruturais de adequação motora. de outros estudos que permitam aprofundar a compreensão
Todas as crianças pré-termo apresentaram DNI dentro da dos resultados aqui encontrados.
normalidade nos dois primeiros meses de vida, o que poderia
ser explicado pelas IG (média 34,8 semanas) muito próxima Conclusão
da IG a termo (37 semanas). Conforme Ayache e Mariani
Neto [8] a IG ao nascimento só determina desenvolvimento Este estudo apresentou várias limitações que precisam
atrasado quando extremamente reduzidas. ser consideradas. Da amostra inicial, várias crianças não
Algumas crianças pré-termo, contudo, apresentaram atraso realizaram as seis avaliações propostas, havendo perdas de
no DNI a partir desta idade, o que poderia ser justificado pelo seguimento na coorte e assim a quantidade de prematuros
baixo tônus encontrado, característica diferente das crianças estudada, 19 pré-termo e 19 a termo, foi menor do que
a termo nesta idade [16,17]. O déficit de controle de cabeça a esperada. O tamanho da amostra pode, portanto, ter
e tronco superior e a ausência de sinergia dos músculos da influenciado os resultados, pelo menos em parte, devendo
cintura escapular e pélvica dificultam o deslocamento de peso, uma amostra maior ser considerada em estudos futuros.
de membros superiores e os movimentos no plano sagital. Além disto, as Escalas Bayley ainda não foram padroniza-
No quarto, quinto e sexto meses advêm normalmente das para a população brasileira nem para crian­ças nascidas
mudanças intensas após uma fase de reorganização postural prematuras.
e motora no desenvolvimento infantil [18,19]. Assim, dois Por fim outro aspecto limitante do estudo foi o não
aspectos observados neste período merecem destaque. Um acompanhamento do estado nutricional das crianças ao
aspecto é a grande diferença aqui mostrada entre pré-termos longo dos seis meses de avaliação, não sendo possível assim
e a termos, aqueles mostrando um aumento de casos na classe excluir a influência de outros fatores além da prematuridade
de levemente atrasados enquanto estes, um aumento de casos no desenvolvimento motor das crianças.
de desenvolvimento acelerado. O outro aspecto é o fato de as
diferenças nos IS entre os grupos tornarem-se muito superiores Referências
nos três últimos meses.
O sexto mês é considerado como um período de variabili- 1. Fleuren KM, Smit LS, Stijnen T, Hartman A. New reference
dade e transição, no qual a obtenção de habilidades somente values for the Alberta infant Motor scale to be established. Acta
é possível quando os ganhos anteriores forem aprendidos Paediatr 2007;96:424-7.
2. Souza CT, Santos DCC, Tolocka RE, Baltieri L, Gibim NC,
[18,19]. Sendo assim, as crianças a termo deste estudo podem
Habechian FA. Avaliação do desempenho motor global e em
ter aprimorado o controle postural e fortalecido as reações
habilidades motoras axiais e apendiculares de lactentes freqüen-
de retificação corporal e de equilíbrio, que permitiram a tadores de creche. Rev Bras Fisioter 2010;14(4):309-15.
realização de movimentos de rotações, mudanças de postura 3. Bouwstra H, Dijk-Stigter GR, Grooten HM, Janssen-Plas FE,
e arrasto. Koopmans AJ, Mulder CD, et al. Prevalence of abnormal ge-
Durante o desenvolvimento da criança, aspectos biológi- neral movements in three-month-old infants. Early Hum Dev
cos e sociais se influenciam mutuamente de modo que fatores 2009;85:399-403.
192 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 193

Artigo original

Função pulmonar, força muscular respiratória


e capacidade funcional em crianças com paralisia
cerebral – um estudo piloto
Pulmonary function, respiratory muscle strength and functional
capacity in children with cerebral palsy – a pilot study
Luciana Carnevalli Pereira, M.Sc.*, Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes**, Carla Malaguti***, Danila Vieira Baldini,
M.Sc.****, Alessandra Gasparello Viviani, M.Sc.*****

*Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho, São Paulo, **Doutoranda em Ciências da Reabilitação pela Uni-
versidade Nove de Julho e Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho, São Paulo,***Doutora em Ciências pela
Universidade Federal de São Paulo, SP, 2ª secretária da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, ****Professora de Ensino
Superior da Universidade Nove de Julho, *****Professora de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho

Resumo Abstract
Introdução: As alterações da capacidade funcional dos encefalo- Introduction: Changes on the functional capacity of children
patas são conhecidas e pouco valorizadas. A desordem neuromotora with cerebral palsy are known and little valued. Neuromotor disor-
proveniente da lesão cerebral pode promover alterações no sistema der resulting from brain injury can promote changes at the level of
respiratório, motor e cardiovascular. Objetivo: Avaliar a função pul- the respiratory system, cardiovascular and motor skills. Objective:
monar a força muscular respiratória e a capacidade de exercício em To evaluate the pulmonary function, respiratory muscle strength
crianças com paralisia cerebral. Métodos: Foram avaliadas 6 crianças, and exercise capacity in children with cerebral palsy. Methods: We
sendo 5 do sexo masculino com idade de 7 a 12 anos. Todas foram evaluated 6 children, 5 males aged from 7 to 12 years. All were
submetidas ao teste de caminhada de seis minutos (TC6), espiro- submitted to six minutes walk test (6mwt), spirometry, manova-
metria e manovacuometria e avaliação GMFCS. Resultados: Todas as cuometry and GMFCS evaluation. Results: All children walked
crianças percorreram menor distância no TC6 do que o valor predito less distance in TC6 than the predicted value (256.63 ± 100.25
(256,63 ± 100,25 x 605,24 ± 109,05, p = 0,006), apresentaram me- x 605.24 ± 109.05, p = 0.006), had smaller respiratory pressure
nores pressões respiratórias do que os valores preditos (Pimáx-36,66 than the predicted values (Pimáx -36.66 ± 24.18 x -62.91 ± 0.028
± 24,18 x-62,91 ± 8,65 p = 0,028 e Pemáx 40,66 ± 27,87 x 84,36 and Pemáx 40,66 ± 27,87 x 84,36 ± 13,22 p = 0,020), restrictive
± 13,22 p = 0,020), distúrbio restritivo com menor CVF e VEF1/ disorder with less FVC and normal VEF1/CVF and strong negative
CVF normal e correlação forte Pimáx x GMFCS (r =-0,90 e p = correlation Pimáx x GMFCS (r-0.90 and p 0.01) Conclusion: The
0,01) Conclusão: A força muscular respiratória e o teste de cami- respiratory muscle strength and the walk test are significantly below
nhada encontram-se significativamente abaixo dos valores preditos the values predicted by the literature and disturbance in restrictive
pela literatura e distúrbio restritivo na prova de função pulmonar. pulmonary function.
Palavras-chave: paralisia cerebral, Fisioterapia, teste de Key-words: cerebral palsy, Physical Therapy, walking test.
caminhada.

Recebido em 1 de agosto de 2012; aceito em 26 de abril de 2013.


Endereço de correspondência: Evelim LFD Gomes, Av Francisco Matarazzo, 612, Laboratório de Avaliação Funcional Respiratória 1o andar Barra
Funda 05001-100 São Paulo SP, E-mail:evelimgomes@uninove.br
194 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução Antes do início do estudo a pesquisadora responsável re-


alizou a familiarização da técnica de espirometria, com o uso
A paralisia cerebral (PC) designa um grupo de distúrbios do espirômetro portátil da marca Pony (Cosmed®), da medida
cerebrais de caráter não progressivo que ocorre durante o de pressões respiratórias máximas e do TC6´, com o uso do
processo de maturação cerebral. Apresenta etiologias mul- oxímetro de pulso da marca Nonin® e de um cronômetro
tifatoriais e diversidade quanto ao quadro clínico, além de da marca Oregon em dois pacientes, para a padronização de
cursar com sintomatologia predominantemente motora técnica e a formação da sequência de todos os procedimentos.
associada a diferentes sinais e sintomas incluindo o sistema A coleta de dados ocorreu no período da manhã. No
cardiorrespiratório [1]. momento da coleta as crianças estavam há, pelo menos, 12
Os problemas respiratórios resultantes da ventilação inade- horas sem realizar fisioterapia. Os pacientes foram classificados
quada dos encefalopatas são conhecidos e poucos valorizados. quanto a sua função motora por meio da Gross Motor Function
A desordem neuromotora proveniente da lesão cerebral pode Classification System (GMFCS).
promover alterações no trato respiratório que são decorrentes Após a classificação da função motora, as crianças foram
de alterações posturais, diminuição da mobilidade, defor- submetidas ao TC6’que forneceu o nível de capacidade fun-
midades torácicas, carências nutricionais, acentuado uso de cional dos pacientes traduzidos pela distância percorrida e a
medicações, e repetição de infecções respiratórias levando a espirometria. Este foi realizado de acordo com as recomen-
um quadro restritivo [2,3]. dações da ATS [7], foram realizados dois testes com intervalo
Na PC, a espasticidade, quando presente poderá impedir de 30 minutos entre eles e com estímulo verbal padronizado.
o uso funcional dos membros, que levará a uma postura fixa A distância predita foi calculada conforme a equação de
das cinturas escapular e pélvica. Quando a fixação ocorre em Priesnitz et al. [5]:
cintura escapular há um favorecimento do encurtamento da
musculatura inspiratória. A musculatura abdominal apresen- Distância (m) = 145.343+[11.78 x idade(anos)] + [292.22 x
ta-se tensa, porém enfraquecida e sem atuação para abaixar a altura (m)] + [ 0.611x dif FC(bpm)] – [ 2.684 x peso (kg)]
caixa torácica prejudicando a geração de força muscular [4].
A disfunção motora comum em pacientes com PC é sem O aparelho utilizado para o teste espirométrico foi o Pony
dúvida um grande risco para a inatividade e está associada (Cosmed®). A manobra para a realização da espirometria
a um impacto negativo na saúde inclusive de disfunção consistiu em uma inspiração profunda, seguida de manobra
cardiovascular. Conhecer o grau de incapacidade física que expiratória forçada, mantida até que o paciente não a tolerasse
este grupo de pacientes apresenta é o primeiro passo para a mais, ou até ter atingido os critérios de aceitação propostos
prescrição adequada de exercício. Para quantificar e avaliar a pelas Diretrizes para Testes de Função Pulmonar da Sociedade
capacidade física, o teste de caminhada de 6 minutos tem sido Brasileira de Pneumologia e Tisiologia [8].
frequentemente aplicado, na última década, em indivíduos Nas manobras espirométricas forçadas, foram obtidos os
saudáveis ou portadores de patologias, para avaliar o esforço gráficos fluxo – volume e volume – tempo, além do valor
submáximo individual que é o grau de esforço semelhante ao numérico das seguintes variáveis: Capacidade Vital Forçada
utilizado nas atividades de vida diária e representa a capacidade (CVF), Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo
geral ao exercício [5,6]. (VEF1) e relação VEF1/CVF. No presente estudo, foram uti-
Desta forma, este estudo teve como objetivo avaliar a lizados os índices previstos da população brasileira, sugeridos
função pulmonar, força muscular respiratória e a capacidade por Pereira et al. [9].
de exercício por meio do teste de caminhada dos seis minutos As medidas de Pressões Respiratórias Máximas (PImáx e
(TC6) em crianças e adolescentes portadores de PC. PEmáx) foram realizadas por meio de um manovacuômetro
com intervalo operacional de ± 300 cmH2O (GeRarÒ, São
Material e métodos Paulo, Brasil). Primeiramente, foram realizadas duas manobras
para aprendizado. A avaliação foi considerada completa quan-
Esta pesquisa foi realizada em conformidade com as do o indivíduo foi capaz de realizar cinco medidas aceitáveis
normas do Comitê de Ética em Pesquisa-Uninove/parecer e dentre essas, um número mínimo de duas reprodutíveis.
de nº 255233/09. Todas as crianças tiveram o termo de con- Foram consideradas aceitáveis manobras sem vazamentos de
sentimento de um dos pais ou representante legal assinado ar e com sustentação da pressão por pelo menos um segundo,
por escrito. Trata-se de um estudo transversal e prospectivo. e reprodutíveis as medidas com variação igual ou inferior a
As seis crianças avaliadas encontravam-se em tratamento na 10% do maior valor. Houve um intervalo de um minuto entre
clínica escola de fisioterapia da Universidade Nove de Julho. as medidas e o maior valor entre as manobras reprodutíveis
Foram elegíveis para o estudo as crianças que apresentaram foi selecionado para análise.
os seguintes fatores de inclusão: PC de ambos os sexos; com Para a medida de PImáx os indivíduos expiraram no bocal
faixa etária entre 7 e 14 anos; PC hemiparético, diparético e até o volume residual e, posteriormente, geraram um esfor-
PC sem comprometimento intelectual. ço inspiratório máximo contra uma via aérea ocluída. Para
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 195

PEmáx os indivíduos inspiraram no bocal até a capacidade como GMFCS III apenas diferia das demais por necessitar
pulmonar total e em seguida, um esforço máximo expiratório de órtese MMII anti-equino.
contra uma via aérea ocluída foi gerado. Durante essa última As crianças apresentaram VEF1 normal com CVF dimi-
medida, os indivíduos seguraram com as mãos a musculatura nuído, Tiffeneau normal e PEF normal, caracterizando um
perioral da face para evitar vazamento e acúmulo de ar na distúrbio de natureza restritiva. A distância percorrida no
região lateral da cavidade oral. TC6 e as pressões respiratórias máximas foram muito abaixo
Nesse estudo, os valores de PImáx e PEmáx encontrados dos valores preditos.
serão comparados com os valores preditos pelas equações
descritas por Wilson et al. [10]. Figura 1 - Distância predita do TC6 e a distância desenvolvida
pelos pacientes com PC.
Análise estatística Distância caminhada prevista TC6 x Obtida Depois
900
Para a análise dos dados foi utilizado o teste de aderência 800
à curva de Gauss Kolmogorov-Smirnov, as variáveis para-

Distância do TC6
700
métricas estão expressas em média e desvio padrão, para a
comparação dos valores obtidos com o previsto foi utilizado 600
o teste t de student pareado e para as correlações foi utilizado 500
Pearson e considerado significante o valor de (p < 0,05) o 400
software utilizado foi o Minitab 14.
300

Resultados 200
100
A média de idade das crianças e adolescentes avaliados 1 2 3 4 5 6
Pacientes
foi de 9,66 anos e o GMFCS foi de II, ou seja, as crianças
Variable TC6 TC6PC
eram capazes de andar nos espaços internos e externos e
subir escadas segurando-se no corrimão, mas apresentavam O gráfico mostra que todas as crianças avaliadas andaram
limitações ao andar em superfícies irregulares e inclinadas e menor distância do que os valores preditos.
em espaços lotados ou restritos. A única criança classificada

Tabela I - Características da amostra.


Pacientes 1 2 3 4 5 6 Média/DP
Idade 10 12 8 12 7 9 9,66 ± 2,06
Gênero M M M M M F -
Peso (kg) 53 43 22 27 18 31 32,33 ± 13,29
Altura (m) 1,43 1,47 1,20 1,24 1,17 1,26 1,29 ± 0,12
IMC 25,92 19,09 15,28 17,56 13,15 19,53 18,42 ± 4,38
GMFCS 1 2 2 2 2 3 2 (1-3)
GMFCS = Gross Motor Function Classification System (descrito em mediana); IMC = índice de massa corpórea.

Tabela II - Dados de função pulmonar, força muscular respiratória e do TC6.


Dados Previsto Obtido p
VEF1(l) 1,58 ± 0,71 1,46 ± 0,38 0,724
VEF1 (%) - 67,4 ± 24,46 -
CVF 1,95 ± 0,44 1,31 ± 0,57 0,015*
PEF 3,38 ± 0,98 2,68 ± 1,09 0,102
VEF1/CVF 71,92 ± 39,32 76,03 ± 42,42 0,114
TC6 (m) 605,24 ± 109,05 256,63 ± 100,25 0,006*
PiMax -62,91 ± 8,65 -36,66 ± 24,18 0,028*
PeMax 84,36 ± 13,22 40,66 ± 27,87 0,020*
VEF1 = volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF = capacidade vital forçada; PEF = Pico de fluxo expiratório; VEF1/CVF = índice de Tiffe-
neau, TC6 = teste de caminhada de 6 minutos; PiMax = pressão inspiratória máxima; PeMax = pressão expiratória máxima.
196 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Figura 2 - Correlação entre o GMFCS e a pressão inspiratória foram significativamente abaixo dos valores preditos por
máxima. Wilson et al. [10].
Depois Comumente o portador de PC realiza a inspiração
PiMax vs GMFCS
pela boca, o que conduz uma respiração torácica supe-
75 P=0,014 R=-0,90 rior. Geralmente essas crianças não sabem realizar uma
70 respiração profunda ou usar tipos de respiração diferentes,
de acordo com as necessidades fonatórias. Casanova [16]
65
PiMax

afirma que a musculatura abdominal e diafragmática


60 pode estar bloqueada ou ter sua funcionalidade muito
reduzida justificando a redução importante da pressão
55 expiratória máxima.
50 A respiração bucal nestas crianças também pode ser de-
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
corrente das alterações como hopotonia dos lábios, que se
GMFCS
mantém entreabertos, constantemente, sem vedamento labial,
e presença de atresia de arcos ou arcadas além da hipertrofia
Foi encontrada uma correlação negativa forte entre a de adenóide e/ou hipertrofia de tonsilas palatinas [16]. De
classificação do GMFCS e a Pimáx, ou seja, quanto maior o acordo com o estudos de Pires et al.[17], a obstrução de
GMFCS menor será a Pimáx. vias aéreas superiores por aumento de volume das tonsilas
caracteriza uma limitação ao fluxo aéreo. Essa limitação é
Discussão decorrente de uma barreira mecânica que impede a passagem
do ar, resultando em uma respiração oral em busca de uma
Os distúrbios crônicos não-progressivos do movimento via de menor resistência ao fluxo aéreo. No entanto, ao longo
e da postura iniciam-se precocemente no portador de PC e do tempo ela realizará um esforço menor para respirar que
caracterizam-se pela falta de controle sobre os movimentos. irá refletir em um menor esforço da musculatura respiratória
Encurtamentos musculares, limitação na amplitude de mo- e enfraquecimento muscular, explicando assim a redução da
vimento, desalinhamento biomecânico, alteração de tônus, pressão muscular respiratória gerada.
incoordenação, fraqueza muscular com perda seletiva do con- Dos resultados encontrados no TC6 todos os indivíduos
trole motor constituem os principais problemas neuromotores apresentaram valores abaixo do previsto. De acordo com
e musculoesqueléticos [11]. Marinho [18], os diparéticos apresentam maiores limitações
O seu sistema respiratório também sofre influência direta e no desempenho das atividades de mobilidade, devido ao seu
indireta dos distúrbios do tônus, da postura e do movimento grau de comprometimento ser maior nos MMII [19]. O
[2]. De acordo com os resultados encontrados na espirome- TC6 é um teste simples e bem aplicado para esta população
tria dos indivíduos avaliados estes apresentaram alterações de pacientes, Maher et al. [6] realizaram um estudo no qual
na prova de função pulmonar com distúrbios ventilatórios foi verificado pouca diferença de distância percorrida entre
restritivos. Rodrigues [12] classifica o distúrbio restritivo à o teste e o reteste e um bom entendimento por parte deste
presença de uma CVF reduzida e uma razão VEF1/CVF grupo de pacientes quanto aos objetivos e execução do teste.
normal ou elevada como foi encontrado nas crianças avalia- Já Leunkeu et al. [20] verificaram uma boa resposta cardio-
das. Barbosa [13] refere que na diplegia, por haver um leve vascular do TC6 comparado ao cicloergômetro mostrando
comprometimento na musculatura cervical e de membros que este teste é capaz de avaliar esta resposta em crianças
superiores, há susceptibilidade dos mesmos desenvolverem com PC.
comprometimentos respiratórios [14]. Essa baixa distância percorrida também pode estar ligada
Nossos resultados mostram uma correlação negativa ao atraso na aquisição da marcha quando comparado a crian-
muito forte entre o grau do GMFCS e a pressão inspiratória ças normais. A alteração tônica muitas vezes por desuso, ou
máxima, mostrando que quanto o maior comprometimento por má utilização do corpo e membros devido à gravidade do
motor desta criança, menor será a Pimáx gerada, confirmando comprometimento, ao mau posicionamento, pode apresentar
que pacientes mesmo com comprometimento maior de mmii hipotrofia muscular localizada ou generalizada, sendo real o
pode apresentar distúrbios respiratórios, pois uma vez que ele impacto da fraqueza muscular nas habilidades funcionais [18],
gera menos pressão inspiratória, menor será o volume corrente além do baixo condicionamento cardiovascular decorrente de
e menor será sua tolerância ao esforço. todas estas alterações [21].
Para Tabith [15] o aumento do tono da musculatura to- Estudos já incluem o treinamento aeróbio como parte do
rácica e abdominal, tanto na inspiração quanto na expiração, tratamento do paciente com paralisia cerebral, e conhecer
além da falta de controle de movimentação desta muscu- as limitações cardiorrespiratórias é o primeiro passo para a
latura, são fatores que irão interferir na função pulmonar. implementação de um tratamento completo que atenda as
Os valores de Pimáx e Pemáx respectivamente encontrados necessidades destes pacientes [22].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 197

Conclusão 11. Scanlan CL, Wilkins RL, Stoller JK. Fundamentos da Teoria
Respiratória de Egan. São Paulo: Revinter; 1999.
Pode-se concluir que crianças e adolescentes portadores 12. Rodrigues JC, Cardieri JMA, Bussamra MHCF, Nakaie CMA,
Almeida MB, Silva Fº LVF, et al. Provas de função pulmonar em
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198 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Artigo original

Influência da música e do relaxamento na ansiedade


de mães de recém-nascidos internados na unidade
intermediária neonatal
Influence of music and relaxation therapy on anxiety of newborn
mothers admitted at an intermediate neonatal unit
Cassia Fernandes Marques, Ft.*, Emily Cristiani Zanella, Ft.*, Camila Ribeiro Leal, Ft.*, Leila Foerster Merey, M.Sc.**

*Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), **Docente pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

Resumo Abstract
Introdução: A utilização de música dentro das unidades de terapia Introduction: The use of music therapy within units is becoming
vem sendo cada vez mais frequente como forma de humanizar a more common as a way of humanizing the care of premature in-
assistência de recém-nascidos prematuros Objetivo: Avaliar a influ- fants. Objective: To evaluate the influence of music and relaxation
ência da música e do relaxamento nos fatores emocionais em mães on emotional factors in mothers with premature infants in the
com prematuros internados na Unidade Intermediária Neonatal. Neonatal Intermediate Unit. Methods: It was conducted a clinical
Métodos: Foi realizado um ensaio clínico quantitativo, formando um trial quantitative, forming a single group of ten mothers, being
único grupo de dez mães, sendo acompanhadas durante oito dias followed for eight consecutive days, were the variables examined
consecutivos. As variáveis observadas foram: frequência cardíaca, were: heart rate, respiratory rate, blood pressure and saturation of
frequência respiratória, pressão arterial e saturação das mães antes mothers before and after the music session. Anxiety was assessed
e depois da sessão de música. A ansiedade foi avaliada antes da before the intervention in the first and eighth day, using the Hamil-
intervenção no primeiro e oitavo dia, pela escala de ansiedade de ton anxiety scale. Results: When comparing the values of ​​ variables
Hamilton. Resultados: Na comparação entre os valores das variáveis before and after the song, we observed a decrease in heart rate and
antes e depois da música, observamos redução significativa nas va- respiratory variables, diastolic blood pressure on the seventh day,
riáveis frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial diastólica and oxygen saturation with p <0.05. Conclusion: Music therapy
no sétimo dia e saturação de oxigênio com p < 0,05. Conclusão: A contributed to reduce mothers anxiety and stress during preterm
musicoterapia contribuiu para a diminuição da ansiedade e estresse infants hospitalization.
nas mães de recém-nascidos prematuros internados. Key-words: maternal health services, music, anxiety.
Palavras-chave: serviços de saúde materno, música, ansiedade.

Recebido em 6 de agosto de 2012; aceito em 29 de abril de 2013.


Endereço para correspondência: Cassia Fernandes Marques, Rua Dr. Arthur Jorge, 2456, 79010-210 Campo Grande MS, E-mail:cassia.fmt@
hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 199

Introdução do ou não para a idade, independente da idade cronológica,


nascidos na maternidade do Hospital Universitário (HU) da
No ciclo familiar não existe estágio algum que provoque Faculdade de Medicina Dr. Hélio Mandetta, da Universidade
mudança mais profunda que a chegada de uma criança [1]. A Federal de Mato Grosso do SUL (UFMS) de Campo-Grande/
mãe vive este bebê psiquicamente, como parte do seu corpo, MS, os quais ficaram internados na Unidade e na Unidade
e cria uma relação imaginária integrando gradualmente o feto Intermediária Neonatal.
a sua imagem corporal. Segundo Fraga et al. [2], as mudanças Foram incluídas na pesquisa mães, entre 18 e 31 anos,
físicas também podem provocar instabilidade emocional na que receberam acompanhamento gestacional na rede Sistema
mulher, pois a gravidez e o parto representam períodos sen- Único de Saúde (SUS), realizaram o parto no centro obstétri-
síveis em seu ciclo vital, envolvendo grandes transformações, co do HU, e que tiveram seus filhos internados na Unidade
não só fisiológicas, mas também psíquicos e no papel sócio- Intermediária Neonatal de 0 a 20 dias de permanência, em
-familiar feminino [2]. respiração espontânea, independente da patologia ou sexo.
Em se tratando de recém-nascidos pré-termo (RNPT) este Foram excluídas da pesquisa as mães de bebês que
processo de adaptação torna-se mais difícil, pois o impacto apresentaram descompensações hemodinâmica, as que não
do nascimento antes do previsto leva a uma experiência compareceram durante todo o período de acompanhamento,
emocionalmente estressante para a maioria das mães, as quais assim como aquelas que abandonaram a pesquisa.
ficam expostas a situações adversas que predispõe a sintomas Não foram incluídas na pesquisa as mães que tiveram o
como ansiedade, medo e frustrações, mesmo quando o bebê diagnóstico de HIV, mães analfabetas, assim como aquelas
encontra-se clinicamente estável [3]. Durante o período de que deram a luz a seus filhos em outro serviço.
internação os RNPT ficam expostos a uma série de estímulos Foi realizado um estudo quantitativo, no qual as mães
sonoros, dolorosos e sensoriais necessários para o monitora- foram acompanhadas durante oito dias consecutivos, no
mento e tratamento deste bebê, mas que representam prejuízos período vespertino. As informações das mães pertinentes à
para o desenvolvimento neuropsicomotor devido às alterações pesquisa foram coletadas do prontuário do paciente dispo-
fisiológicas e hemodinâmicas que o ambiente esterno predis- níveis durante a coleta.
põe favorecendo a desorganização dos sistemas em desenvol- Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pes-
vimento. Segundo Tavares [4], a mãe tem um desgaste físico quisa da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
e emocional e, diante disto, fica pouca disposição para outros de Campo-Grande/MS com o protocolo nº 033/10. Foi
interesses, a competência dos pais pode ficar abalada, podendo disponibilizado a todas as participantes o Termo de Con-
interferir na condição de ser realmente mãe. sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) informando sobre
A utilização da música nos ambientes hospitalares pode os procedimentos do estudo, para que elas pudessem optar
ser vista como uma alternativa inovadora de cuidado que em participar ou não.
vem sendo resinificada com enfoque terapêutico a fim de A amostra foi constituía de um único grupo composto por
contribuir para que as situações de fragilidade possam ser mães que receberam a sessão de música e relaxamento. Na
vivenciadas de forma menos traumática. sequência as pacientes foram submetidas à aplicação da Escala
A música é considerada um instrumento para a auto- de Hamilton Ansiedade, para avaliar a ansiedade e estresse
-expressão emocional e uma forma de liberação, através materno. A escala foi aplicada por uma única pesquisadora e
do não-verbal, de conteúdos do inconsciente. Reduzindo analisada de acordo com o escore da mesma.
repercussões negativas da hospitalização e inserção em um am- As variáveis analisadas foram frequência cardíaca (FC)
biente desconhecido que se torna frequentemente ameaçador frequência respiratória (FR) pressão arterial (PA) e saturação
podendo, assim, ser uma alternativa para auxiliar esta mãe, já de oxigênio (SatO2), antes da intervenção. Na sequência,
que tudo é novo e incerto. Melhorando a comunicação inter- foram conduzidas a uma sessão de música clássica – Mozart
pessoal e com a possibilidade de focalizar aspectos saudáveis, e relaxamento, que foi realizada em dupla, sendo conduzida
amparando a mãe e servindo como base de sustentação, para pelas pesquisadoras, com duração de 30 minutos em um
controlar a ansiedade e tentar diminuir o estresse materno [5]. espaço reservado para tal atividade.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a influên- A ideia do Efeito Mozart surgiu em 1993 na Universi-
cia da música e do relaxamento nos fatores emocionais em dade da Califórnia, em Irvine, com o físico Gordon Shaw
mães com prematuros internados na Unidade Intermediaria e Frances Rauscher, pesquisadores em desenvolvimento
Neonatal. cognitivo. Eles estudaram os efeitos sobre alguns estudantes
universitários produzidos quando escutavam os primeiros
Material e métodos 10 minutos da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de
Mozart. Eles encontraram um melhora temporária do
A amostra do presente estudo foi composta por 10 mães raciocínio espaço-temporal, conforme medido pelo teste
de recém-nascidos pré-termo (com idade gestacional ≤ 36 Stanford-Binet de QI (Rauscher e Shaw, 1995). Entretanto,
semanas), avaliada pelo método Ballard [6] com peso adequa- nenhum outro pesquisador foi capaz de reproduzir esses
200 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

resultados, mas o chamado efeito Mozart continuou a ser dows, na versão 3.06. Em todos os testes utilizados foram
bastante divulgado na mídia, apesar de ser alvo de inúmeras consideradas estatisticamente significantes as diferenças
controvérsias na literatura [7]. em que o valor de p foi menor que 0,05.
A intervenção foi realizada no período vespertino, con-
forme a rotina do serviço. Imediatamente após o término da Resultados
sessão as mães tiveram novamente as variáveis FC, FR, PA,
SatO2 mensuradas e foram acompanhadas pela pesquisadora A idade das mães variou entre 18 e 31 anos, sendo a média
até a entrada da unidade. de 24,80 anos e o desvio padrão da média de 2,83 anos. A
A Escala de Ansiedade de Hamilton [8], compreende 14 média de idade gestacional das crianças foi de 32,30 ± 2,12
itens distribuídos em dois grupos, sendo o primeiro grupo, meses (media ± desvio padrão da média). Foi significativa a
com 7 itens, relacionado a sintomas de humor ansioso e o diferença entre os valores referentes aos sinais vitais aferidos
segundo grupo, também com 7 itens, relacionado a sintomas no momento inicial (anterior a terapia com música) e entre o
físicos de ansiedade – o que possibilita obter escores parciais, momento final (após a terapia com música), exceto quanto à
ou seja, separadamente para cada grupo de itens. pressão arterial diastólica mensurada no 1º dia de terapia (p =
O escore total é obtido pela soma dos valores em graus 0,06; teste t student pareado), conforme descrito na tabela I.
atribuídos em todos os 14 itens da escala, cujo resultado Não foi observada diferença significativa em relação à
varia de 0 a 56. São utilizados valores de 0 a 4 que quan- comparação da média das diferenças entre nenhum dos sinais
tificam a intensidade de cada um dos sintomas, onde: 0 = vitais coletados no momento inicial e entre o momento final
ausência de qualquer sintoma; 1 = intensidade ligeira; 2 = da terapia com música, no 1º e no 7 º dia de tratamento
intensidade média; 3 = intensidade forte; 4 = intensidade (Tabela II).
máxima/incapacitante. A somatória destes valores é utili- No 1º dia anteriormente ao da terapia com música, 20%
zada para quantificar o estado de ansiedade do paciente. das mães do GT apresentavam classificação normal quanto
As faixas de pontuação para esta escala obedecem aos aos escores obtidos na Escala de Ansiedade de Hamilton,
seguintes critérios: 0 a 17 - ansiedade normal; 18 a 24 - 50% delas demonstraram nível leve e 30% um moderado
ansiedade leve; 25 a 29 - ansiedade moderada; acima de nível de ansiedade. O nível de ansiedade avaliado no dia
30 - ansiedade severa. seguinte a última sessão de terapia (8º dia) demonstrou
A Escala foi aplicada no primeiro dia de estudo antes uma mudança para 60% das mães com níveis normais de
da sessão de música e relaxamento e aplicado novamente ansiedade, 40% nível leve e nenhuma delas apresentou
no oitavo dia. A mãe não recebeu a música no oitavo dia, moderado nível de ansiedade. Foi significativa a diferença
somente respondeu à escala. Esta mensuração foi necessária entre estes dois momentos de coleta indicando queda nos
para que pudéssemos verificar se a música e o relaxamento níveis de ansiedade das mães após intervenção terapêutica
realizado interferiram na ansiedade destas mães. Os dados (p = 0,015; Teste de Wilcoxon) conforme demonstrado na
coletados foram anotados pelas pesquisadoras em um Ins- Figura 1.
trumento de Coleta de Dados, pré-elaborada para o estudo As mães pertencentes ao GC responderam à Escala de
e calculados em média ± desvio padrão da média. Para a Ansiedade de Hamilton no dia anterior ao início do controle
comparação entre os dias avaliados foi realizado o teste t e após 7 dias em que seu filho permaneceu internado na UTI
student pareado. A comparação entre os escores da escala neonatal ou unidade intermediária e seus valores não mos-
de Hamilton nos diferentes dias de avaliação foi feita pelo traram diferença significativa (p = 0,37; Teste de Wilcoxon),
teste não paramétrico Wilcoxon. Os resultados analisados caracterizando uma manutenção dos níveis de ansiedade neste
estatisticamente pelo software Graphpad InStat para Win- grupo sem intervenção terapêutica.

Tabela I - Relação entre momentos antes e após sessão de terapia com música, relacionadas às variáveis frequência cardíaca, frequência respi-
ratória, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e saturação de oxigênio. Campo Grande – 2010 (n=10).
Momento da coleta
Variáveis 1º dia (n = 10) 7º dia (n = 10)
Antes Após Valor de p(1) Antes Após Valor de p(1)
Frequência cardíaca 89,3±17,3 80,1±12,4 0,005 Sig.(3) 87,1±11,5 78,0 ± 8,1 0,001 Sig.(3)
Frequência respiratória 15,6 ± 1,9 12,0 ± 1,3 0,0004 Sig.(3) 16,2 ± 2,7 12,8 ± 2,3 0,003 Sig.(3)
Pressão arterial sistólica 119 ± 8,8 114 ± 5,2 0,01 Sig. (3)
117 ± 4,8 109 ± 5,7 0,01 Sig.(3)
Pressão arterial diastólica 74,0 ± 14,3 67,0 ± 13,4 0,06 NS(2) 74,0 ± 5,2 67 ± 6,7 0,02 Sig.(3)
Saturação de oxigênio 97,2 ± 1,5 98,5 ± 1,1 0,01 Sig.(3) 96,3 ± 1,1 98,1 ± 1,0 0,01 Sig.(3)
(1)
Teste t de student pareado; (2)NS = Diferença não significativa; (3)Sig.= Diferença significativa, α = 5%. Valores expressos em Média ± Desvio padrão
da média.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 201

Tabela II - Comparação entre a média das diferenças entre as variáveis frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial sistólica,
pressão arterial diastólica e saturação de oxigênio coletados no momento inicial e no momento final da terapia com música, no 1º e no 7 º
dia. Campo Grande – 2010 (n=10)
Médias das diferenças entre momento Inicial e Final de coleta
Variavéis
1º dia (n = 10) 7º dia (n = 10) Valor de p(1)
Frequência cardíaca 9,2 ± 7,9 9,1 ± 6,5 0,78 NS(2)
Frequência respiratória 3,6 ± 2,1 3,4 ± 2,7 1,0 NS(2)
Pressão arterial sistólica 5,0 ± 5,3 8,0 ± 7,9 0,34 NS(2)
Pressão arterial diastólica 7,0 ± 10,6 -7,0 ± 8,2 0,24 NS(2)
Saturação de oxigênio -1,3 ± 1,4 -1,8 ± 10 0,94 NS(2)
(1)
Teste t de student pareado; (2) NS = Diferença não significativa, α = 5%; Valores expressos em Média ± desvio padrão da média.

Figura 1 - Gráfico ilustrando o percentual de mães de crian- Em um adulto normal em repouso a FC varia de 60 a 100
ças prematuras internadas em berçário patológico, classificados de bpm, é regulada pelo sistema nervoso autônomo, constituído
acordo com a Escala de Hamilton, coletados antes da primeira pelo sistema nervoso simpático (aumenta a FC) e pelo sistema
terapia com música e um dia após a última terapia. Campo nervoso parassimpático (diminui a FC). O sistema nervoso
Grande – 2010 (n=10). simpático supre o coração com uma rede de nervos, o plexo
70 simpático. Já o sistema parassimpático supre o coração através
60%
p = 0,015* de um único nervo, o nervo vago. A FC também é influen-
60
ciada por hormônios circulantes do sistema simpático – a
50%
Percentual de Mães (%)

50 epinefrina (adrenalina) e a norepinefrina (noradrenalina) –,


40% os quais são responsáveis pela sua aceleração [13].
40
Conforme a literatura disponível, acredita-se que a ansie-
30%
30 dade aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, uma
20% vez que o estresse estimula a liberação da epinefrina e nore-
20 pinefrina conforme já citados, são os hormônios circulantes
10 do sistema simpático, resultando em aumento da FC [13].
0% Outra variável abordada em nosso estudo foi a FR, na
0 qual foi possível observar que houve diferença estatística
Normal Leve Moderada
significativa, corroborando a literatura atualmente descrita,
Nívem de ansiedade na escal de Hamilton
na qual autores relatam significativa redução desta variável
Antes da terapia Após da terapia
após a utilização de música clássica [9,11]. A FR em repouso
*significativa diferença entre o nível de ansiedade materna antes e varia de 16 a 20 rpm em um paciente adulto normal, e pode
depois da terapia (Teste de Wilcoxon). sofrer influência de diversos fatores, como o estado emocional,
idade e exercício físico [13].
Discussão A respiração é controlada automaticamente por um
centro nervoso localizado no bulbo. Impulsos iniciados pela
Em nosso estudo foi possível observar que a variável FC estimulação psíquica ou sensorial do córtex cerebral podem
apresentou diferença estatística significativa no primeiro dia de afetar a respiração. A ansiedade e os estados ansiosos pro-
intervenção após a sessão de música e relaxamento, assim como no movem liberação de adrenalina que frequentemente levam a
sétimo dia após a sessão relacionada à ansiedade. Este achado vai ao hiperventilação, algumas vezes de tal intensidade que o indi-
encontro do resultado observado na literatura pesquisada [9-11]. víduo torna-se seus líquidos orgânicos alcalóticos (básicos),
White [9] percebeu uma diminuição da FC quando ava- eliminando grande quantidade de Ca, precipitando, assim,
liou a influência da música em pacientes pós-infarto agudo contrações dos músculos de todo o corpo [13].
do miocárdio, e Franco et al. [11] também puderam observar Clellan [14] descreve que estudos sobre o efeito da música
a diminuição da FC em todos os pacientes oncológicos es- na respiração concluíram que o ritmo da música interfere na
tudados, quando pesquisaram a influência da música na dor velocidade da respiração. Desse modo, quando o ritmo da
destes pacientes. Junior [12], ao estudar a música com objetivo música aumenta a FR aumenta, e o inverso também é valido,
terapêutico, concluiu que a alteração na FC está relacionada sugerindo que o ritmo da música pode diminuir a velocidade
com a altura tonal e com a complexidade dos elementos da respiração. Esta alteração foi expressiva em nossa pesquisa,
musicais na composição. A FC diminui, quando o som em uma vez que as mães submetidas à música clássica tiveram a
ambiente é lento, com cadência fina e movimento harmônico. diminuição desta variável.
Ocorre, assim, uma alteração causada pelo estímulo musical, Em relação a PA, sendo estudada separadamente a
despertando uma emoção no ouvinte. pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica
202 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

(PAD), pode-se observar que a PAS teve uma ligeira queda, nossa pesquisa que observou a redução da FC, FR e aumento
apresentando-se estatisticamente significativa no primeiro e da SatO2 [13].
no sétimo dia, após a sessão de música e relaxamento, já a Uma FC menor pode levar a um menor consumo de oxi-
PAD foi expressiva somente no sétimo dia após a intervenção, gênio pelo miocárdio, como foi descrito no estudo de Volpe
em que podemos observar uma diminuição. [18], o qual sugere que o consumo de oxigênio aumenta
No estudo realizado por Zanini [15], no qual o efeito da linearmente com o aumento da frequência cardíaca.
música foi avaliado, levando em consideração a qualidade Em relação à ansiedade materna, observamos uma dimi-
de vida dos participantes assim como um fator de risco pré- nuição. Karst [5], em seu estudo, coletou através de gravações
-existente (pressão arterial) dos pacientes selecionados, pode-se de áudio depoimentos de mães de RN internados na UTI ne-
observar uma queda significativa da PAS, PAD e pressão arte- onatal que relataram que após as sessões de música sentiam-se
rial média (PAM). Estes achados estão em concordância com menos ansiosas no momento da visita ao seu filho no setor.
os resultados obtidos em nosso estudo, apesar da existência Fracalossi [19] observou através de depoimentos a impor-
de algumas particularidades da amostra. tância da música nas mães de prematuros, percebendo que
Em um estudo realizado por Lima [10], os dados en- houve uma melhora da qualidade de vida na visita das mães
contrados evidenciaram uma diminuição em dois graus de que interagiram melhor com os RN e sentiram-se acolhidas.
mercúrio na PA, sugerindo que a música exerce influência Há diversas escalas para avaliar a ansiedade entre elas está
significativa, por promover um relaxamento corporal. White a de Hamilton que, ao longo do tempo, passou a ser empre-
[9] também estudou o efeito da música em algumas variáveis gada também em pacientes não internados. Assim como para
como a PAS e pôde observar uma tendência a diminuição, avaliação da ansiedade de mães de RNPT, adotando os pontos
porém não foram significativas. de corte classificatórios. Ainda há alguns questionamentos
A PA normal varia de 120mmhg por 80 mmhg. A ansieda- relativos à falta de padronização na aplicação [20]. Por isso,
de altera a PA uma vez que ativa o sistema nervoso simpático em nosso estudo apenas uma pesquisadora aplicou as escalas.
que por sua vez aumenta a FC e provoca uma vasoconstrição A padronização da pontuação da escala de Hamilton é
periférica levando a um aumento da PA [13]. bastante utilizada por pesquisadores do mundo, para fins
Cook [16] demonstrou que a música afeta o lado direito do clínicos e acadêmicos. Apesar de diversas escalas para ava-
cérebro e pode causar a liberação de endorfina pela glândula liação da ansiedade, muitas delas foram construídas como
pituitária levando ao alívio da dor. O nível de catecolaminas modificações da de Hamilton [20].
diminui, causando redução da pressão sanguínea. A importância da musicoterapia na medicina tem seu pon-
Acreditamos que a alteração na PA observada em nosso to máximo na redução do stress, da ansiedade e da sensação de
trabalho pode ter ocorrido em função do descanso da mãe, isolamento. Este objetivo é atingido, porque a música é uma
em posição confortável, uma vez que o ambiente foi repro- atividade de lazer, que ajuda o paciente a focar sua atenção,
duzido, lembrando um quarto de bebê, com a utilização de que antes estava voltada para dor e ansiedade, em alguma
lençóis, travesseiros, cortina, além dos ursinhos de pelúcia, coisa mais prazerosa [17].
tornando um ambiente agradável, com objetivo de promover No ambiente hospitalar deve-se pensar na produção de
o relaxamento, fugindo do ambiente hospitalar. cuidados e práticas humanizadoras, levando-se em conta as
Zanini [15] pesquisou a influência da música em pacien- especificidades desse labor que envolve a utilização intensiva
tes hipertensos e os resultados sinalizaram que a música e a de capacidades físicas e psíquicas, intelectual e emocional,
diminuição do estresse contribuem para o controle da pressão incluindo troca de afetos e de saberes [21]. A música atua de
arterial e para a melhoria da qualidade de vida do paciente. forma benéfica diminuindo a ansiedade materna, podendo
Hatem [17] cita que a música através de um efeito psicosso- melhorar até mesmo a relação interpessoal entre a mãe e
mático pode inibir estímulos que resultam em aumento da equipe responsável pelo RNPT.
pressão arterial.
A música envolve a transformação dos estímulos sonoros Conclusão
em fenômenos elétricos e químicos, os únicos que podem
circular no interior do cérebro. O ouvido capta o som, que Concluímos que a música clássica e o relaxamento influen-
faz vibrar os tímpanos. Iniciam-se fenômenos fisiológicos ciaram na ansiedade materna das mães de RNPT internados
que passam pelas vias nervosas acústicas, as quais modificam na Unidade Intermediária Neonatal, diminuindo os escores
suas qualidades físicas e químicas, devido a intervenção de de ansiedade. Esta atividade representa um reforço na abor-
vários agentes intercerebrais até chegar às estruturas centrais, dagem terapêutica em programas de atendimento às mães e
que percebem consciente ou inconscientemente os sons sugerimos que ambas as práticas possam fazer parte das ações
musicais [10]. e estratégias da Política Nacional de humanização. Foram ob-
Os dados disponíveis relacionados a esta variável ainda servadas repercussões fisiológicas de forma imediata nos sinais
são discretos, mas sabemos que a FR, o débito cardíaco e a vitais, não apresentando efeito acumulativo. Sugerimos que
FC influenciam nas trocas gasosas justificando o resultado de novas pesquisas científicas sejam realizadas, a fim de garantir
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 203

uma terapêutica segura até que dados contundentes sejam 9. White JM. Effects of relaxing music on cardiac autonomic ba-
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204 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Artigo original

Avaliação da flexibilidade dos músculos posteriores


da coxa em policiais militares motociclistas
da cidade de São Paulo
Evaluation of hamstrings muscles flexibility in military policemen
motorcyclists from the city of São Paulo
Patrícia Rodrigues Vieira, Ft.*, Artur Herbst de Oliveira**, Carlos Bandeira de Mello Monteiro, D.Sc.***,
Mauricio Correa Lima, Ft.****

*Fisioterapeuta, São Paulo/SP, **Graduando do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP, São Paulo/SP, ***Professor
do Curso de Ciências da Atividade Física da EACH – Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo –
USP, ****Professor Especialista do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP, São Paulo/SP

Resumo Abstract
Os músculos posteriores da coxa são responsáveis pelos movi- The hamstrings muscles are responsible for knee flexion and
mentos de flexão de joelho e extensão do quadril. Sua elasticidade hip extension. Their elasticity is important in postural balance, for
é importante no equilíbrio postural, na manutenção completa de maintenance of knee and hip range of motion, as well as injury pre-
amplitude de movimento do joelho e do quadril, além da prevenção vention and optimization of musculoskeletal function. The objective
de lesões e otimização da função musculoesquelética. O objetivo of this study was to evaluate the elasticity of the hamstring muscles
deste estudo foi avaliar a flexibilidade dos músculos posteriores da in the military police motorcyclists in the city of São Paulo. Twenty-
coxa em policiais militares motociclistas da cidade de São Paulo. -five policemen without previous disease diagnosis, who used any
Foram avaliados 25 policiais sem doença prévia diagnosticada, que medication or were practitioners of sports activity as a professional,
fizessem uso de qualquer medicação ou que fossem praticantes were evaluated. With respect to flexibility, we applied the bank of
de atividade desportiva em caráter profissional. Para avaliação da Wells of sit-and-reach test and universal goniometer. Descriptive
flexibilidade foram utilizados o banco padrão (de Wells) do teste statistics were used for data description of the subjects and to analyze
sentar-e-alcançar e o goniômetro universal. Estatística descritiva foi the differences between the averages was applied the Student t test.
utilizada para descrição dos dados dos sujeitos, e para análise das The Pearson correlation test was used for correlation of the results
diferenças entre as médias obtidas foi aplicado o teste t de Student. of the test sit-and-reach and verification of the popliteal angle. The
O teste de Correlação de Pearson foi utilizado para correlação dos police motorcyclists evaluated in this study showed a decrease in
resultados obtidos do teste sentar-e-alcançar e verificação do ângulo flexibility of the hamstrings, with moderate to strong correlation
poplíteo. Os policiais motociclistas avaliados neste estudo apresenta- of values ​​obtained in tests.
ram diminuição da flexibilidade dos músculos posteriores da coxa, Key-words: motorcycles, evaluation, police.
com correlação de moderada a forte dos valores obtidos nos testes.
Palavras-chave: motocicletas, avaliação, polícia.

Recebido 8 de agosto de 2012; aceito em 2 de abril de 2013.


Endereço para correspondência: Mauricio Correa Lima, Rua Antonio de Macedo, 505, Pq. São Jorge, 033087-040 São Paulo SP, E-mail:
mamau54@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 205

Introdução a coxofemoral em flexão de 90 graus, a perna contralateral


em extensão máxima possível, medindo o ângulo formado na
A flexibilidade é um importante componente da aptidão face lateral do joelho [17].
física, referenciada à saúde e ao desempenho [1]. O compri- O teste sentar-e-alcançar (SA), proposto inicialmente por
mento do músculo juntamente com a integridade articular e Wells e Dillon [18], na década de 50, é um meio comum de
extensibilidade dos tecidos moles periarticulares determinam avaliar a flexibilidade do grupo muscular dos posteriores da
a flexibilidade [2,3]. A caracterização da flexibilidade de um coxa, pois é um método confiável, simples e uma ferramenta
indivíduo é multifatorial, pois há evidências claras de que clínica útil para detecção rápida da mobilidade [19-21]. O
alguns fatores como sexo, faixa etária, etnia, determinadas teste sentar-e-alcançar também foi utilizado em estudo de
atividades físicas e sua intensidade e a presença de algumas verificação do ganho de flexibilidade deste grupo muscular
condições patológicas estão associadas com a mobilidade após aplicação de técnicas manipulativas manuais. Os autores
articular [4,5]. A diminuição da flexibilidade causa encurta- descreveram que fatores antropométricos podem influenciar
mentos, resultando em limitação na mobilidade articular [6]. nos resultados deste teste [22].
A posição sentada mantém os quadris, joelhos e geral- A flexibilidade dos isquiosurais pode aumentar com a
mente a coluna em flexão, resultando em várias alterações nas aplicação de exercícios de alongamento, reduzindo assim
estruturas musculoesqueléticas da coluna lombar, pois quando o risco de lesão, além da diminuição da incidência de dor
mantida por longos períodos leva a prolongada sustentação lombar relatada [23].
da flexão lombar, redução da lordose nessa região e sobrecarga O objetivo deste estudo foi avaliar a flexibilidade dos mús-
estática nos tecidos osteomioarticulares da coluna. Esses fato- culos posteriores da coxa em policiais militares motociclistas
res estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da dor da cidade de São Paulo através da utilização do teste sentar-
lombar, inclusive em casos de manutenção desta posição por -e-alcançar e da verificação do ângulo poplíteo.
mais de quatro horas [7-9]. A lombalgia constitui a principal
causa de absenteísmo ao trabalho, ultrapassando até mesmo Material e métodos
o câncer e o acidente vascular encefálico [10].
Os posteriores da coxa ou isquiosurais incluem o bíceps A amostra foi composta de 25 indivíduos do sexo masculi-
femoral, semimembranáceo e semitendíneo. Tais músculos são no, com idades variando entre 26 e 50 anos, que eram policiais
biarticulares e realizam os movimentos de flexão e rotações de militares motociclistas em atividade atuantes na cidade de
joelho e extensão de quadril; encontram-se ativos durante a São Paulo. Foram excluídos do estudo sujeitos com doença
posição ereta, a marcha e a corrida [11,12]. Particularmente na prévia musculoesquelética ou neuromuscular diagnosticada
área da reabilitação, a flexibilidade deste grupo é importante em coluna vertebral ou membros superiores e inferiores, que
no equilíbrio postural, na manutenção completa de ampli- fizessem uso regular de medicamentos analgésicos, relaxantes
tude de movimento do joelho e do quadril, na prevenção de musculares ou anti-inflamatórios esteroides ou não esteroides
lesões e na otimização da função musculoesquelética [13,14]. ou que fossem praticantes de atividade desportiva em caráter
Estes músculos são comumente associados com disfunção de profissional.
movimento na coluna lombar, pelve e membros inferiores e a Antes da execução do estudo este projeto foi submetido
limitação da flexibilidade frequentemente está associada com ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos em
sintomas neuromusculoesqueléticos [15]. 09/12/2010, através do protocolo n° 677/10. Após apro-
A avaliação da flexibilidade e do comprimento dos vação os participantes receberam esclarecimento sobre os
posteriores da coxa é de grande importância no estudo das objetivos da pesquisa e respectivos procedimentos adotados
limitações da ADM das articulações, acompanhando a prática e, após o aceite, assinaram o Termo de Consentimento Livre
da Fisioterapia em todos os seus aspectos e proporcionando e Esclarecido.
critérios para a investigação dos encurtamentos musculares A avaliação dos voluntários foi realizada no Batalhão Re-
e das contraturas [6]. Para avaliar a flexibilidade muscular é gional da Policia Militar do Estado de São Paulo localizado
necessário realizar movimentos que aumentem a distância à Rua Visconde de Parnaíba, 2.334 – bairro Bresser, São
entre a origem e a inserção muscular, alongando-os numa Paulo, SP. Foi aplicado um Questionário de Identificação,
direção oposta à sua ação [16]. contendo elementos como nome, idade, sexo, peso, altura,
A efetividade de ação dos isquiosurais como extensores de profissão, tempo de serviço e tempo de permanência diária
quadril está relacionada ao posicionamento da articulação do sentado sobre a motocicleta, carga horária de trabalho etc.
joelho. Assim, dentre os testes utilizados para verificação da Em seguida foi aplicado o Questionário Internacional de
medida da tensão desta musculatura incluem o teste sentar- Atividade Física – IPAQ (Versão Curta), para avaliar o nível
-e-alcançar (SA) e a medida do ângulo poplíteo (AP) [6]. de atividade física [24] para posterior aplicação dos testes.
Em estudo realizado com 590 crianças o ângulo poplíteo Os testes foram realizados por um único examinador, sem
é definido como sendo o ângulo formado pelo eixo do fêmur protocolo de exercícios de aquecimento ou alongamento
e da tíbia, estando o paciente em decúbito dorsal horizontal, prévio à avaliação.
206 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Foi utilizado o banco do teste sentar-e-alcançar (banco Tabela I - Dados antropométricos dos voluntários (média ± desvio
de Wells), que consistiu em uma caixa de madeira medindo padrão).
30,5 cm x 30,5 cm x 30,5 cm, com um prolongamento de Idade
Massa (kg) Altura (m) IMC
23 cm para o apoio dos membros superiores dos sujeitos (anos)
avaliados. No local do apoio plantar, na caixa, foi construída 84,64 ± 1,78 ± 27,28 ±
N= 25 36,6 ± 5,8
uma abertura (porta) de 27 cm de altura x 27 cm de largura, 11,65 0,05 3,44
que possibilita eliminar a influência dos músculos gastroc-
nêmios durante o teste [20]. Os sujeitos foram posicionados Em relação ao tempo diário de permanência sentado
sentados sobre a região isquiática, de frente para o banco, sobre a motocicleta, 24% dos sujeitos avaliados relataram
joelhos em extensão com a face plantar dos pés apoiadas trabalhar 8h/dia na posição sentada, 20% 9h/dia, 16%
na face perpendicular do banco; os membros superiores 6h/dia, 12% 10h/dia, 8% 7h/dia, 8% 4h/dia, 4% 5h/dia,
alinhados com a fita métrica do banco, com as palmas das 4% 2h/dia e 4% 25 minutos sobre a motocicleta por dia
mãos voltadas para baixo e uma mão sobreposta à outra. Foi (Figura 1).
solicitado aos voluntários que realizassem flexão do tronco
com a intenção de alcançar a máxima distância possível em Figura 1 - Percentual de sujeitos por tempo de permanência sentado
direção aos pés [4,25-29], de forma lenta e rítmica; o alcance sobre a motocicleta por dia de trabalho.
máximo dos dedos médios determina a pontuação do teste
de sentar e alcançar.
0,24
Após um intervalo de repouso de cinco minutos, os 0,16 0,2
0,12
sujeitos foram posicionados em decúbito dorsal horizontal 0,04 0 0,04 0
0,08
0,04
0,08
com o quadril e joelho do membro inferior a ser testado em

1h a

2h a
3h ia
4h ia
5h ia
6h ia
7h a
8h ia
9h ia
10 dia

a
flexão de 90°, mantendo o membro inferior contralateral em
i
i

di
/d
/d

/d
/d
/d
/d
/d
/d
/d
/
h/
in
extensão completa sobre a mesa de exame. Em seguida o joe-
m
25

policiais
lho testado foi estendido e o quadril fletido passivamente até
o ponto de resistência média dos músculos ao alongamento, No que diz respeito à carga horária semanal de trabalho
com o pé em flexão plantar; neste ponto foi feita a medição (Figura2), os seguintes dados foram obtidos: 68% dos indi-
do ângulo de flexão do joelho com um goniômetro plástico víduos relataram trabalhar 48 h/semana, 8% 60 h/semana,
universal da marca CARCI, sendo calculado em seguida 8% 44 h/semana, 8% 40 h/semana, 4% 42 h/semana, 4%
o ângulo complementar que somado ao primeiro obtido, 36 h/semana.
alcançaria os 180 graus. O goniômetro foi posicionado no
eixo de perna e no prolongamento do eixo da coxa ao fazer Figura 2 - Percentual de sujeitos por carga horária semanal de
a extensão passiva da perna, com o paciente em decúbito trabalho sentado sobre a motocicleta.
dorsal horizontal, quadril a 90 graus de flexão e membro 0,68
contralateral em extensão, conforme descrição da técnica
de Bleck [17].
Utilizou-se a estatística descritiva para caracterização dos 0,04 0,08 0,04 0,08 0,08
resultados em média, porcentagem e desvio-padrão, e para
verificação da diferença dos parâmetros mensurados, o Teste t
a

a
an

an

an

an

an

an

de Student. O teste de Correlação de Pearson foi utilizado para


em

em

em

em

em

em
/s

/s

/s

/s

/s

/s

correlação dos resultados obtidos do teste sentar-e-alcançar


hs

hs

hs

hs

hs

hs
36

40

42

44

48

60

e verificação do ângulo poplíteo. Os dados foram analisados policiais


através do software BioEstat 5.0® .
A Tabela II exibe os dados referentes ao ângulo poplí-
Resultados teo de ambos os joelhos dos voluntários, sendo que não
se evidenciou diferença estatística entre aos ângulos (p >
Os dados antropométricos da amostra (n = 25) demons- 0,05), bem como a distância resultante do teste de sentar-
traram idade média dos sujeitos (x = 36,6 ± 5,8 anos), média -e-alcançar com a porta aberta e fechada, onde notou-se
de massa (x = 86,4 ± 11,65 kg); altura média (x = 1,78 ± 0,05 diferença extremamente significante (p = 0,0001) para a
m) e média do IMC (27,28 ± 3,37), indicando sobrepeso distância com a porta aberta em relação a fechada, esta
conforme Tabela I. Destes, 24% eram negros e 76% brancos, última se mostrando menor.
quanto ao lado de dominância, 8% canhotos e 92% destros;
68% dos sujeitos avaliados relataram dores ocasionais em
episódios anteriores à execução dos testes, havendo prevalência
de dor na região lombar.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 207

Tabela II - Distribuição das médias e desvios-padrão das avaliações A relação entre o ângulo poplíteo do membro esquerdo
do ângulo poplíteo (AP) direito e esquerdo e do teste sentar-e-alcançar com o SA porta aberta se mostrou forte (r = 0,83) e estatisti-
(SA) com a porta aberta e porta fechada. camente significativa (p < 0,0001) (Figura 5).
AP direito AP esquer- SA porta SA porta
(ângulo/ do (ângu- aberta fechada Figura 5 - Correlação dos dados obtidos nos testes de verificação do
graus) lo/graus) (cm) (cm) ângulo poplíteo esquerdo e sentar-e-alcançar com a porta aberta.
P 40
N = 25 60,4 ± 62,8 ± 14 16,28 ± 12,28 ±
14,57 8,95 8,43
30
A relação entre o ângulo poplíteo do membro direito com
o SA porta aberta se mostrou moderada (r = 0,56) e estatis-
ticamente significativa (p = 0,0032) (Figura 3). 20

Figura 3 - Correlação dos dados obtidos nos testes de verificação


10
do ângulo poplíteo direito e sentar-e-alcançar com a porta aberta.
40

0
30 50 60 70 80 90 100
30 AP esquerdo x SA porta aberta (p<0,0001)

A relação entre o ângulo poplíteo do membro esquerdo


20 com o SA porta fechada se mostrou forte (r = 0,79) e estatis-
ticamente significativa (p < 0,0001) (Figura 6).
10
Figura 6 - Correlação dos dados obtidos nos testes de verificação do
ângulo poplíteo esquerdo e sentar-e-alcançar com a porta fechada.
30
0
30 50 70 90 110
AP direito x SA porta aberta (p=0,0032) 25

A relação entre o ângulo poplíteo do membro direito 20


com o SA porta fechada se mostrou moderada (r = 0.61) e
15
estatisticamente significativa (p = 0,0010) (Figura 4).
10
Figura 4 - Correlação dos dados obtidos nos testes de verificação
do ângulo poplíteo direito e sentar-e-alcançar com a porta fechada.
5
30
0
25 30 50 60 70 80 90 110
AP esquerdo x SA porta fechada (p<0,0010)
20
Através da avaliação do Índice de Atividade Física (IPAQ),
15 56% dos voluntários (14 sujeitos) foram considerados seden-
tários, pois relataram praticar atividade física em período de
10 tempo inferior a 150 minutos semanais [24].
5
Discussão
0
30 50 70 90 110 Segundo descrito por Cardoso et.al. [25], alguns fatores
AP direito x SA porta fechada (p=0,0010) que podem alterar o resultado do teste sentar-e-alcançar
(SA) são as diferenças de proporções entre comprimento dos
MMSS e MMII, mobilidade da coluna vertebral e abdução
escapular [25,26]. Cornbleet & Woolseyp [32], após com-
208 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

paração da avaliação do ângulo formado pela articulação do Neste grupo de voluntários avaliados 52% dos sujeitos
quadril, mensurado pelo ângulo de inclinação do sacro e da apresentaram a mesma medida em graus do ângulo poplíteo
pelve em relação ao solo, e o SA, descreveram que a inter- bilateralmente, os restantes não demonstraram relação com
ferência determinada pela abdução escapular, mobilidade o lado dominante, diferindo de outros estudos [36,6], nos
da coluna e fatores antropométricos no resultado do SA quais o membro dominante apresentou melhor desempenho.
mostrou valores de 3 a 5 cm de diferença no resultado final. Na avaliação do SA, a amostra apresentou menor amplitude
Na literatura é encontrada uma classificação desse teste, em de movimento alcançada ao final do teste, quando o proce-
que até 11 cm a flexibilidade do sujeito é considerada fraca, dimento foi realizado com flexão dorsal dos pés a 90° (pés
de 12 a 13 regular, de 14 a 18 média, de 19 a 21 boa e acima fixos contra a porta fechada do banco) devido ao estiramento
de 22 cm excelente [32]. Em estudo de Cardoso et al. [25], a dos músculos gastrocnêmios, sendo um fator limitante para
média do resultado do SA foi 28,2 cm com a porta fechada e a continuidade deste teste, conforme descrição de alguns es-
32,5 cm com a porta aberta, e os resultados encontrados no tudos [16,21,29]. A correlação dos valores obtidos nos testes
estudo de Kawano et al. [29] demonstraram uma média de demonstrou-se moderada para o membro inferior direito, e
29,0 cm com a porta fechada e 33,4 cm com a porta aberta, forte para o membro esquerdo, havendo significância entre
portanto, ambos os resultados foram bem maiores do que todas as correlações, indicando que quanto maior a medida
os obtidos no presente estudo (12,28 com a porta fechada e do ângulo poplíteo, menores as medidas obtidas dos poste-
16,28 com a porta aberta), caracterizando menor flexibilidade riores da coxa, havendo concordância nas respostas dos testes,
dos posteriores da coxa no grupo de policiais avaliados. conforme descrito no estudo de Chertman et al [37].
A dor lombar foi observada e relacionada com a pos- A alta incidência de dor lombar presente neste estudo está
tura de dirigir pelos autores em estudo realizado com 400 citada e correlacionada em estudo realizado com motoristas
profissionais que trabalham com motocicletas e automóveis de ônibus no qual os autores [7] verificaram que na posição
através da aplicação de um questionário. Observou-se que sentada, além da dor lombar também ocorrem dores no pes-
a prevalência de dor lombar ocorreu em 60% do total dos coço, costas, joelhos e coxas entre os motoristas com jornada
motociclistas estudados, com ênfase na postura como origem de trabalho de 9 a 10 h/dia durante cinco dias da semana. O
das queixas [30]. Em estudo realizado na Inglaterra com tempo de condução é um agravante, pois os profissionais que
policiais, os resultados demonstraram que em profissionais trabalham por mais horas na posição sentada evidenciaram um
que trabalham sentados e dirigindo a dor lombar está mais fator desencadeante de lombalgia conforme descrito [7], não
presente do que em policiais que trabalham na posição havendo nenhum estudo publicado que comprove estas alte-
sentada mas não dirigem, ou do que aqueles que trabalham rações em motociclistas. Em um levantamento de estudos de
em pé. Em policiais motociclistas há uma alta prevalência Souza et al.[38], os autores concluíram que a postura lombar
significativa de queixas nos ombros em relação aos policiais em flexão adotada pela maioria das pessoas para a realização
motoristas de automóveis [31]. das atividades de vida diária mostra-se um considerável fator
Em relação ao ângulo poplíteo não foram encontrados na para o desenvolvimento de lombalgias, e que os músculos
literatura valores ideais e absolutos para compararmos nossa estabilizadores profundos da coluna vertebral têm uma grande
amostra, porque a medida do ângulo poplíteo apresenta gran- importância na prevenção da ocorrência destas queixas.
de variabilidade, não nos permitindo estabelecer um valor de Vários testes confiáveis estão
​​ disponíveis para se avaliar
normalidade [34]. A média dos valores obtidos em relação ao comprimento dos músculos posteriores da coxa, no entanto
ângulo poplíteo foi maior no membro inferior esquerdo (62,8 a validade dos testes como uma medida de comprimento
graus) em relação ao direito (60,4 graus), sugerindo menos destes músculos tem sido questionada. O teste de sentar-e-
flexibilidade dos isquiosurais à esquerda, sugerindo relação -alcançar é amplamente utilizado também em sua relação
com a localização do pedal do câmbio, que nas motocicletas com outras variáveis, como, por exemplo, no estudo de An-
se localiza à esquerda. loague et al. [39] em que os autores avaliaram a flexibilidade
Os valores médios do ângulo poplíteo encontrados neste dos posteriores da coxa com o uso teste de sentar-e-alcançar,
estudo foram similares aos de Filho e Navarro [35], que ob- em função da relação da flexibilidade dos membros inferiores
tiveram valores para o ângulo poplíteo que variaram de 120 e tronco com a extensibilidade dos tecidos moles na rotação
graus a 180 graus, pela técnica de Vernieri [17], cuja medida lateral do ombro de atletas lançadores de beisebol. Verifi-
é tomada pela extensão máxima partindo do joelho em flexão, caram uma forte relação entre a ADM rotacional do braço
diferentemente da técnica utilizada neste estudo, em que a dominante e o teste de sentar-e-alcançar. Outro exemplo é
medida foi verificada pela distância complementar que faltava observado no estudo de Chen et al. [40], no qual o teste de
para atingir os 180º esperados. Achados de Polachini et al. sentar-e-alcançar foi aplicado como uma dentre outra vari-
[6] apresentaram médias de 156 ± 11 graus no lado direito e áveis de capacidade física que poderiam indicar resistência
151 ± 12 graus no lado esquerdo, já os de Lucareli et al. [36] à insulina em indivíduos com pelo menos um fator de risco
obtiveram médio AP no lado direito (146,3 ± 9,3 graus) e no de diabetes juntamente com um questionário. Phrompaet et
esquerdo (143 ± 7,63 graus). al.[41] avaliaram o efeito do treinamento pelo método Pila-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 209

tes na melhora da estabilidade e flexibilidade lombo-pélvica, como alternativa para a medida de flexibilidade de crianças e
utilizando o teste de sentar-e-alcançar e concluíram que o adolescentes. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2009;14:190-6.
Pilates pode ser utilizado como método auxiliar para ganho 3. Alexandre NMC, Moraes MAA. Modelo de avaliação
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Em estudo realizado por Davis et al.[44] os autores exa-
7. Marques NR, Hallal CZ, Gonçalves M. Características biome-
minaram 4 testes clínicos usados para medir o comprimento cânicas, ergonômicas e clínicas da postura sentada: uma revisão.
dos músculos posteriores da coxa, o teste do ângulo de exten- Fisioter Pesq 2010;17(3)270-6.
são do joelho (KEA), o ângulo sacral, o teste de elevação da 8. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl D. Cinesiologia Clínica de
perna reta e o teste de sentar-e-alcançar (SA). Com base nos Brunnstrom. 5a ed. Barueri: Manole; 1997.
resultados desta pesquisa, estes testes não devem ser utilizados 9. Zapater AR, Silveira DM, Vitta A, Padovani CR, Silva JCP.
de forma comparativa ao avaliar comprimento dos músculos Postura sentada: a eficácia de um programa de educação para
isquiosurais. Apesar de não ter sido estabelecido um teste escolares. Ciênc Saúde Col 2004;9(1):191-9.
padrão ouro para verificação do comprimento dos posteriores 10. Almeida ICGB, Sá KN, Silva M, Baptista A, Matos MA, Lessa
I. Prevalência de dor lombar crônica na população da cidade de
da coxa, os autores recomendam a adoção do KEA (verificação
Salvador. Rev Bras Ortop 2008;3(43):96-102.
do ângulo poplíteo) como o mais confiável. 11. Hall SJ, Biomecânica básica. 5° ed. Barueri: Manole; 2009.
Na medida da flexibilidade dos músculos posteriores da 12. Kapandji AI. Fisiologia articular. 5ª ed. São Paulo: Panameri-
coxa algumas outras variáveis não analisadas neste estudo cana; 2000.
devem ser também levadas em consideração, como as diferen- 13. Boldrini CM, Tomé F, Moesch J, Mallmann JS, Oliveira LU,
ças de proporção entre os membros superiores e inferiores, a Roberti NF. Avaliação da confiabilidade intra e interavaliadores
mobilidade da coluna vertebral, abdução escapular, além da e intertécnicas para três instrumentos que mensuram a exten-
mobilidade do tecido conjuntivo neural. Estas variáveis não sibilidade dos músculos isquiostibiais. Fitness & Performance
estudadas podem interferir nos resultados obtidos. 2009;8(5):342-8.
14. Brasileiro JS, Faria AF, Queiroz LL. Influência do resfriamento
Sabe-se da influência da coluna lombar na rotação da
e do aquecimento local na flexibilidade dos músculos isquios-
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culos posteriores da coxa durante a flexão do quadril [45]. A 15. Marr M, Baker J, Lambon N, Perry J. The effects of the Bowen
postura e a mobilidade da coluna lombar não são levadas em technique on hamstring flexibility over time: a randomised
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obtidos nos testes. Futuros estudos com observação e controle 19. Sacco ICN, Aliberti S, Tessuti V, Costa MSX, Gomes DR,
de variáveis que não foram abordadas nesta pesquisa devem Hamamoto AN. Influência de uma única intervenção ins-
ser realizados, colaborando para obtenção de resultados mais trutiva fisioterapêutica na flexibilidade global e amplitude
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 211

Artigo original

Efeito do laser em baixa intensidade sobre


a proliferação de osteoblastos cultivados
em modelo de simulação de infecção
Effect of low level laser therapy on the proliferation of osteoblasts
cultured in an infection simulation model
Tabata Santos de Oliveira*,Victor Perez Teixeira*, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari, D.Sc.**, José Antonio Silva Jr., D.Sc.**,
Sandra Kalil Bussadori, D.Sc.**, Kristianne Porta Santos Fernandes, D.Sc.**, Marcelo Betti Mascaro, D.Sc.***

*Aluno do curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE, São Paulo/SP, **Professor
do curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo/SP, ***Professor do curso
de Odontologia da UNINOVE, São Paulo/SP

Resumo Abstract
A destruição tecidual associada aos quadros de osteomielite está The tissue destruction associated with bone infection is related
relacionada aos constituintes e aos produtos dos microorganismos to the constituents of infectious microorganisms, their products and
infectantes e à ativação de células do próprio tecido e do sistema the activation of secretory cells of the tissue itself and the immune
imunológico. O lipopolissacarídeo (LPS), componente da parede system. The lipopolysaccharide (LPS), wall component of gram-
de bactérias gram-negativas, é um potente indutor de reabsorção -negative bacteria, is a potent inducer of bone resorption. On the
óssea. Por outro lado, o laser em baixa intensidade (LBI) tem sido other hand, the low level laser therapy (LLLT) has been used in bone
utilizado em tecidos ósseos com o intuito de acelerar o processo de tissue in order to accelerate the repair process. The present study
reparo. Este estudo avaliou os efeitos do LBI sobre a proliferação de evaluated the effects of LLLT (AsGaAl 780 nm, 3 J/cm2, 10 mW,
osteoblastos cultivados em situação de simulação de infecção. Para beam spot of 0.04 cm2, total energy 0.12 J) on the proliferation of
tanto, osteoblastos da linhagem OSTEO-1 (derivados de calvária osteoblasts cultured in the presence of LPS. The MTT method was
de ratos), cultivados na presença LPS (E.coli), foram irradiados com employed to evaluate cell proliferation after 1, 3 and 5 days. The
LBI (Ga-Al-As, 780 nm, 10 mW, 12s, 0,12 J, 3 J/cm2) e submetidos results showed no statistically differences in relation to cell prolife-
a ensaios de proliferação em períodos de 1, 3 e 5 dias (MTT). Os ration between the groups. In these parameters, neither LLLT nor
resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes LPS were able to change the proliferation of osteoblasts cultured
entre os grupos em relação à proliferação celular. Nos parâmetros in a infection simulation model, suggesting that other cells types
e períodos avaliados, o LPS e o LBI não foram capazes de alterar a maybe involved in the processes of bone resorption and of bone
proliferação de osteoblastos cultivados em situação de simulação de repair linked to infection and the to LLLT.
infecção, sugerindo que outros tipos celulares devem estar envolvidos Key-words: osteomyelitis, low level laser therapy, osteoblasts.
nos processos de reabsorção e de reparo ósseo ligados a infecções e
a utilização do LBI.
Palavras-chave: osteomielite, terapia a laser de baixa
intensidade, osteoblastos.

Recebido em 30 de agosto de 2012; aceito em 28 de março de 2013.


Endereço de correspondência: Kristianne Porta Santos Fernandes, Universidade Nove de Julho, Curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação, Av.
Francisco Matarazzo, 612 Barra Funda 05001-100 São Paulo SP, E-mail: kristianneporta@gmail.com
212 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução segundos, 0,12 J [15]. A potência de saída dos lasers foi


checada por meio de um medidor de potência LaserCheck
Os quadros de osteomielite são em geral dominados por (Coherent, Santa Clara, CA, EUA). A irradiação deu-se
uma flora bacteriana mista, composta em sua maioria por num tubo de centrifugação contendo o precipitado celular,
bactérias Gram-negativas [1,2]. Dentre os componentes sendo aplicada de baixo para cima, para que a irradiação
bacterianos, o lipopolissacarídeo (LPS) da parede de bactérias atingisse diretamente o precipitado celular com o mínimo
Gram-negativas tem sido descrito como capaz de alterar o me- de interferência do meio de cultivo, em um único ponto
tabolismo ósseo, diminuindo a sua formação e aumentando do lado de fora do tubo. O ambiente foi mantido com
a sua reabsorção [3-5], porém seu mecanismo de ação ainda obscuridade parcial para não haver interferência da luz
não está totalmente estabelecido. externa [16-18].
Por um lado, os efeitos do laser em baixa intensidade
(LBI) no tecido ósseo são bastante controversos, sendo que Ensaios de proliferação celular (método
as pesquisas mostram resultados diferentes e conflitantes MTT)
[6,7].
Uma das hipóteses para explicar o efeito do LBI sobre o Após o tratamento com LPS (nas concentrações de 0,1;
tecido ósseo seria que a energia laser excita os citocromos, 1 e 10 µg/ml) e a irradiação laser, os osteoblastos (5x103)
resultando em aumento da atividade celular, maior concen- foram incubados em placas de cultura de fundo chato de
tração de ATP, fosfatase alcalina e liberação de cálcio, podendo 96 poços (TPP, St. Louis, MO, EUA) e mantidos em estufa
afetar positivamente este processo [8-11]. Porém, mantêm-se em atmosfera úmida a 37°C e 5% CO2 por períodos de
incerto se os efeitos bioestimulantes do LBI sobre o tecido 1, 3 e 5 dias. Após os diferentes períodos de cultivo, foi
ósseo se devem a um efeito generalizado ou a estimulação dos realizada a retirada do meio de cultura por inversão da placa
osteoblastos isoladamente [6,12]. e lavagem com 100 µl de PBS 1x. Então foi adicionado
Deste modo, o objetivo deste estudo foi investigar o efeito 50 µl de MTT (0,5 mg/ml em tampão) (Thiazolyl blue –
do LBI na proliferação de osteoblastos (linhagem OSTEO-1) Sigma, St. Louis, MO, EUA) e realizada uma incubação de
cultivados na presença de LPS (E.coli) em um modelo de 3 h a 37ºC. Após a incubação, 100 µl de isopropanol foi
simulação de infecção óssea. adicionado em cada poço e a absorbância foi medida a 620
nm usando um leitor de microplacas (Anthos2020, Anthos
Material e métodos Labtec Instruments, Wals, Austria). Os experimentos foram
repetidos três vezes, de forma independente, e os dados
As células OSTEO I [13] foram cultivadas no meio de de densidade óptica (DO) medidos como absorbância
cultura Eagle modificado por Dulbecco (DMEM, Vitrocell, (correspondente à proliferação celular) foram obtidos em
Campinas, SP, Brasil), contendo 10% de soro fetal bovino quadruplicata e estão representados como médias ± valores
(Vitrocell, Campinas, Brasil) e 1% de solução antibiótica-an- de desvio padrão (DV).
timicótica (Vitrocell, Campinas, SP, Brasil). Os osteoblastos
foram mantidos em estufa a 37ºC, numa atmosfera úmida Análise dos resultados
contendo 5% de CO2 (Thermo Fisher Scientific, Waltham,
MA, EUA). As comparações entre os grupos foram feitas utilizando
análise de variância (ANOVA). O teste de Tukey foi utiliza-
Tratamento com LPS bacteriano (modelo de do para determinar diferenças significativas entre os grupos.
simulação de infecção) Valores de p<0,05 foram considerados estatisticamente signi-
ficativos. Os dados foram analisados por meio do programa
O LPS de Escherichia coli O26:B6 (Sigma, St. Louis, GraphPad Prism 4.0 (GraphPad Software, San Diego, CA,
MO, EUA) foi adicionado ao meio de cultura dos grupos EUA).
experimentais, a fim de obter-se as concentrações finais de
0,1, 1 e 10 µg/ml [14]. Os grupos controle não receberam o Resultados
tratamento com LPS.
Não houve diferença entre a proliferação celular dos dife-
Irradiação laser em baixa intensidade (LBI) rentes grupos avaliados, ou seja, controle, irradiados com LBI,
tratados com LPS e tratados com LPS associado à irradiação
A irradiação laser foi realizada com o aparelho Ga-Al- com LBI, nos diferentes períodos avaliados (Figura 1).
-As Twin-laser (MM Optics, São Carlos, SP, Brasil), que Além disso, foi possível verificar que houve um aumento
tem área do cabeçote de 0,04 cm2, no comprimento de da proliferação celular em função do período de incubação,
onda de 780 nm. A aplicação foi única, tendo os seguintes conforme o esperado (Figura 1).
parâmetros: 3 J/cm2, 10 mW, tempo de aplicação de 12
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 213

Figura 1 - Proliferação celular mensurada pelo método MTT como Assim, buscamos comparar nossos resultados aos obtidos
densidade óptica (DO), das culturas de células OSTEO-1 do grupo por autores que utilizaram o mesmo diodo emissor, a mesma
controle e dos grupos experimentais tratadas com diferentes concen- intensidade e o mesmo comprimento de onda utilizados em
trações de LPS, após 1, 3 e 5 dias de cultivo. Não houve diferença nosso estudo, encontramos os artigos de Fujihara et al. [31]
estatisticamente significante entre os grupos (p ≥ 0,05). e de Petri et al. [32]
0,25 Fujihara et al. [31] cultivaram osteoblastos da linhagem
OSTEO-1 em situação de carência nutricional (5% SFB) e
0,2
observaram que, nesta situação experimental, a irradiação
laser nos mesmos parâmetros utilizados por nós acarretou
um aumento na proliferação celular após 3, 5 e 7 dias de
D.O. (nm)

0,15 cultivo, utilizando o método exclusão do corante vital azul


de Trypan. Os resultados destes autores não podem ser dire-
0,1 tamente comparados aos nossos pela diferença na condição
nutricional de cultivo das células e também pela diferença na
metodologia de avaliação.
0,05
Já Petri et al. [32] utilizaram o laser de GaAlAs sobre
culturas primárias de osteoblastos humanos cultivados sobre
0 titânio. As células foram expostas a doses de 3 J/cm2 (780 nm,
1 3 5 70 mW, 9 minutos, aplicação realizada a 12,63 cm da fonte)
dias
e após 3 e 7 dias de cultivo, os grupos irradiados também
Controle LPS 1
LASER LPS 1 + LASER não demonstraram crescimento celular diferente do grupo
LPS 0.1 LPS 10 controle (sendo o crescimento celular aferido pelo método
LPS 0.1 + LASER LPS 10 + LASER de imunofluorescência). Embora os resultados deste artigo
sejam os mesmos aos quais apresentamos, também existe uma
Discussão diferença metodológica importante no modo de aplicação da
irradiação laser e também na aferição dos resultados.
O efeito do LBI sobre os quadros de osteomielite ainda Um artigo recente avaliou o efeito do LBI sobre a adesão
não foi descrito, deste modo, é importante que possamos e a proliferação (MTT) de linhagem osteoblastos (MG63)
obter dados referentes ao mecanismo de ação deste recurso derivada de osteosarcoma humano após 1, 2, 8 e 12 horas.
terapêutico neste modelo analisando primeiramente os seus A linhagem foi cultivada com LPS de E.coli. (dose não in-
efeitos sobre os diferentes tipos celulares que o compõem. formada) e irradiada com laser pulsado (920 nm, 5 e 10 J/
Neste sentido, o presente estudo buscou avaliar o efeito do cm2, 500 mW, área de 0.25 cm2, tempo de aplicação de 2,5
LBI em osteoblastos de linhagem, cultivados com LPS, já que e 5 s). Os autores observaram que após 12 horas havia um
este composto bacteriano é um potente indutor de reabsorção número significativamente maior de células aderidas nas placas
óssea, fato este característico da osteomielite. irradiadas, porém este número foi menor que o número de
Os resultados deste artigo demonstram que o LBI não alte- células aderidas após 8 horas de cultivo. Novamente é difícil
rou a proliferação de osteoblastos cultivados com LPS advindo comparar os resultados obtidos por estes autores com os nossos
de E.coli (0,1, 1 e 10 µg/ml) após 1, 3 e 5 dias de cultivo. porque a dose de LPS usada não foi informada e os parâmetros
Em alguns artigos que descreveram isoladamente o papel da laserterapia são muito diferentes, além disso, estes autores
do LPS de E.coli sobre a proliferação de osteoblastos, este usaram uma linhagem de células tumorais o que diferem
também não altera a proliferação celular, independente da da linhagem utilizada no presente estudo (não tumoral). As
concentração e dos períodos avaliados [1,2,5,14,19], já no linhagens de osteoblastos derivadas de culturas primárias
trabalho de Wang et al. [20], o LPS de E.coli usado em baixa de osteoblastos (MC3T3) e as derivadas de osteosarcoma
concentração (500 ng/mL) foi capaz de estimular a prolifera- (MG63) respondem de maneira diferente à laserterapia [28].
ção de osteoblastos MC3T3-E1 após 6 e 12 horas de cultivo.
Os nossos resultados com a linhagem OSTEO-1, mostraram Conclusão
que o LPS derivado de E.coli não altera a proliferação celular
(quando comparado ao grupo controle não tratado) em perío- Concluindo, os resultados deste estudo sugerem que nas
dos de cultivo de até 5 dias quando usados nas concentrações condições experimentais descritas, o LPS advindo de E. coli,
de 0,1, 1 e 10 µg/ml. nas concentrações de 0,1, 1 e 10 μg/ml, não altera a prolifera-
Já com relação ao LBI, os estudos conduzidos em culturas de ção celular de osteoblastos da linhagem OSTEO-1 (em 1, 3 e
osteoblastos utilizando diferentes parâmetros dosimétricos mos- 5 dias de cultivo) e que o LBI (780 nm, 3 J/cm2, 10 mW), por
tram efeito positivo [21-27], inibitório [28,29] ou ainda ausência sua vez, também não altera a resposta dos osteoblastos ao LPS
de efeito [30] em relação à estimulação da proliferação celular. no que se refere à proliferação. Assim existe a necessidade de
214 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

novos estudos que possam estabelecer se recurso terapêutico laser therapy on proliferation, differentiation, and adhesion of
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 215

Artigo original

Perfil clínico e epidemiológico de pacientes


com traumatismo raquimedular
Clinical and epidemiological profile of patients with spinal cord injury
Roseane Araujo dos Santos, Ft.*, Monica Lajana Oliveira de Almeida, Ft., M.Sc.**, Mario Ferreira da Silva, M.Sc.***

*Fisioterapeuta residente com ênfase em terapia intensiva, **Especialista em Fisioterapia Respiratória, Supervisora do Serviço de Fi-
sioterapia da Unidade de Terapia Intensiva do HospitalGeral do Estado da Bahia, Docente da Faculdade Social da Bahia e Coorde-
nadora da Pos Graduacao do curso de Fisioterapia, ***Mestre em medicina e saúde humana pela EBMSP

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi identificar o perfil clínico e epide- The aim of this study was to identify the clinical and epide-
miológico dos pacientes adultos com traumatismo raquimedular miological profile of adult patients with spinal cord injury (SCI)
(TRM) em um centro de referência em traumas na Bahia. Trata-se de in a reference center for trauma in Bahia. This was a cross sectional
um estudo transversal dos prontuários de pacientes com diagnóstico study of medical records of patients diagnosed with SCI, conducted
de TRM, realizado no período de outubro a dezembro de 2011. from October to December 2011. Were analyzed 30 medical records
Foram analisados 30 prontuários, nos quais encontramos uma média and found an average age of 37.1 years, and observed that 83.3%
de idade de 37,1 anos, sendo 83,3% deles do gênero masculino. of them were male. When we analyzed patients origin, we found
Quando analisada a procedência dos pacientes, observou-se que that most were not from Salvador city (73.3%). Regarding marital
a maioria não era proveniente da capital, perfazendo um total de status most were single (63.3%) and those who commonly have
73,3%. Quanto ao estado civil, 63,3% eram solteiros e os que mais SCI had low level of education (86.7%). Motor vehicle accident was
comumente apresentaram TRM possuíam baixo grau de escolari- the most common cause of injury (33.4%) when associated car and
dade totalizando 86,7%. O mecanismo de trauma mais frequente motorcycle accident, followed by fall from high altitude (33.3%).
foi o acidente automobilístico (33,4%) quando associava acidente The distribution of SCI is as follows: thoracic (43%), cervical (30%
de moto e carro, seguidos por queda de altura com 33,3%. A dis- and lumbar (26.7%). Regarding the complications that occurred at
tribuição do TRM, quanto à localização, foi: torácico, com 43%; the moment of trauma, spinal cord was present in 60% of the cases.
cervical 30 % e lombar 26,7%. A respeito das complicações ocorridas In relation to complications occurring after SCI, the most common
no momento do trauma, a fratura de vértebras esteve presente em was pressure ulcers and paraparesis, both occurred in 20% of cases.
60% dos casos. Em relação às complicações ocorridas após TRM, as Was concluded that the SCI in this center was usually caused by car
mais encontradas foram as úlceras de pressão e a paraparesia, ambas accidents and falls, affecting mainly male young adults in economi-
estiveram presentes em 20% dos casos. Conclui-se que o TRM neste cally active age, showing the seriousness and importance to know
centro foi geralmente ocasionado por acidente automobilístico e the complexity of this association. It is suggested the creation of
queda de altura, atingindo principalmente pacientes adultos jovens rationalized interventions of high impact-prevention and to provide
do gênero masculino, em idade economicamente ativa, evidenciando resources for treatment of these patients.
a gravidade e importância do conhecimento da complexidade desta Key-words: spinal cord, spine, epidemiology profile, wounds and
associação. Sugere-se a criação de intervenções racionalizadas de injuries.
caráter preventivo com maior impacto e disponibilização de recursos
para o tratamento das ocorrências.
Palavras-chave: medula espinhal, coluna vertebral, perfil
epidemiológico, ferimentos e lesões.

Recebido em 25 de setembro de 2012; aceito em 18 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Roseane Araújo dos Santos, Jardim Pouso Alegre, Qd. 37 Lt.32, Itinga, 42700-000 Lauro de Freitas BA, E-mail:
Roseane_araujjo@hotmail.com
216 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução e insuficiência respiratória, contribuindo para um maior


tempo de internação e custos.
O traumatismo raquimedular (TRM) constitui-se de Pelo fato da incidência anual de TRM ser bastante elevada
uma doença heterogênea, variando desde uma simples fratura mundialmente, sem uma etiologia bem definida, torna-se um
sem déficits ou instabilidade até casos dramáticos de lesão problema de saúde pública de difícil resolução. Por isso, a
neurológica completa associada a lesões sistêmicas graves [1]. necessidade de novas pesquisas de cunho epidemiológico para
Estima-se que a incidência anual de TRM é de 40 casos identificação dos fatores de risco modificáveis, que permitam
por milhão na população norte-americana, sendo 54% de criar intervenções racionalizadas de caráter preventivo com
indivíduos tetraplégicos e 46% de paraplégicos [2]. Os dados o maior impacto possível, permitindo a elaboração e imple-
nacionais referentes à incidência de lesão medular são escassos, mentação de medidas preventivas e a avaliação da efetividade
no entanto supera os dados internacionais, estima-se que o destas. A melhor conduta, portanto, é a prevenção na ação
índice médio esteja por volta de 71 novos casos por milhão primária que pode ser efetiva quando o foco é na etiologia
de habitantes [3]. Mundialmente, o TRM ocorre preferencial- do TRM, daí o grande valor aos estudos epidemiológicos.
mente no gênero masculino, na faixa etária de 30 a 40 anos Diante disto, o objetivo deste estudo foi identificar o perfil
[1,4-8]. Em relação aos dados referentes aos custos com a clínico e epidemiológico dos pacientes adultos com TRM em
saúde desses indivíduos, segundo De Vivo et al. [9] os custos um centro de referência público em traumas da cidade de
dos cuidados com o TRM, nos Estados Unidos da América do Salvador/Bahia e estimar as complicações associadas.
Norte, são responsáveis por um gasto anual de 7,736 bilhões
de dólares. O modo de vida desses pacientes é totalmente Material e métodos
alterado, pois o TRM em geral resulta em mudanças da in-
dependência. A situação financeira também é afetada, já que O desenho do estudo foi baseado na metodologia de pes-
estes indivíduos necessitam de cuidados imediatos e a longo quisa de referência descritivo com delineamento transversal. A
prazo, além do fato de estarem no auge de sua produtividade, amostra foi composta por 30 pacientes com idade > 18 anos
que em um determinado momento tem total controle sobre internados na enfermaria de TRM de um hospital público,
sua vida e no momento seguinte estão totalmente dependentes referência em traumas situados na cidade de Salvador/BA. Em
para suas necessidades mais básicas. relação aos critérios de elegibilidade foram excluídos pacientes
No que se relaciona à etiologia, em um estudo realizado com TRM não diagnosticada.
por Chiu et al. [8], comparando a epidemiologia da lesão Após a leitura do termo de consentimento livre e esclare-
medular em países desenvolvidos e em desenvolvimento, cido e concordância dos voluntários em participar do estudo,
constatou-se que os acidentes de trânsito são a principal foi realizada a análise dos prontuários, segundo os preceitos da
causa de lesões nos países desenvolvidos, enquanto as quedas Declaração de Helsinque. Os dados foram coletados através
são as principais causas nos países em desenvolvimento. Esta da aplicação de uma ficha clínica, elaborada pela pesquisa-
informação foi certificada por dois grandes estudos realizados dora, composta pelo perfil clínico e perguntas relacionadas
em países desenvolvidos [9,10], onde o acidente de trânsito ao momento e após o trauma; quando não disponível, era
teve maior prevalência, quando relacionado às outras causas. questionado ao paciente ou acompanhante. Os dados foram
A maioria dos estudos nacionais tem como principal causa coletados no período de outubro a dezembro de 2011, após
as quedas de várias naturezas, como queda da própria altura, aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de
quedas de lajes, andaimes, entre outras [1,7,11], no entanto Tecnologia e Ciência com nº do parecer 3493.
alguns estudos mostram alta incidência em perfuração por As variáveis foram agrupadas em dois blocos. As variáveis
arma de fogo [12]. sociodemográficas estudadas foram nome completo; idade;
Em relação à associação entre TRM e outros traumas, peso predito; altura; gênero; procedência categorizada em
a associação do TRM com o traumatismo crânio encefá- capital e interior; cor da pele categorizada em branco e outras;
lico estiveram mais relacionados quando esses indivíduos estado civil; nível de escolaridade, categorizado como baixo,
apresentavam idade acima de 50 anos, presença de lesões médio e alto; Profissão e endereço. As variáveis referentes
sistêmicas e escala de coma de Glasgow menor que nove, ao acidente foram: tempo entre o primeiro atendimento
ou seja, TCE (Traumatismo crânio encefálico) grave [1]. De hospitalar e a data do acidente; nível medular acometido;
forma geral, as internações prolongadas contribuem para mecanismo de lesão. Foram identificadas as variáveis referentes
complicações clínicas, levando a morbidade como infecção às complicações no momento do trauma e as complicações
respiratória, Úlceras de Pressão (UP), infecção urinária, após o TRM.
trombose venosa profunda (TVP) [14], hipotensão ortostá- Os questionários foram digitados em um banco de dados
tica, bexiga neurogênica reflexa e não-reflexa, diminuição de no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences)
força muscular [15]. Segundo Berlly et al. [16], as principais Statistics, versão 17,0 para Windows. As variáveis categóricas
causas de mobimortalidade são as complicações respiratórias, foram descritas em proporções e as quantitativas em média,
sendo as mais comuns atelectasia seguida de pneumonia considerando o desvio padrão para mais ou para menos.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 217

Resultados Figura 3 - Distribuição de casos de traumatismo raquimedular,


segundo o mecanismo de trauma, em pacientes internados no Hos-
Durante o período do estudo, foram analisados 30 pital Geral do Estado da Bahia (HGE), no período de outubro a
prontuários no serviço de TRM, houve uma predominância dezembro de 2011.
do gênero masculino (83,3%), e 30% eram da raça branca. 33,30%
Quanto ao estado civil, 63,3% eram solteiros; em relação aos 26,70%
hábitos de vida, 53,3% eram etilistas; e 63,3% tabagistas. A 16,70% 16,70%
idade dos pacientes na época da lesão medular variou de 18
a 86 anos, sendo a média de 37,1 anos (DP = 15 anos) e a 3,30%
faixa etária mais acometida foi de 31 a 40 anos perfazendo
Queda *PAF Motocicleta Carro Queda da
43% dos casos, conforme observa-se na Figura 1. de altura própria altura
*Perfuração por arma de fogo.
Figura 1 - Distribuição de casos de traumatismo raquimedular,
segundo a idade, em pacientes internados no Hospital Geral do Es-
tado da Bahia (HGE), no período de outubro a dezembro de 2011. Em relação às complicações ocorridas no momento do
Idade trauma, a fratura de vértebras esteve presente em 60% dos
43% casos. 36,7% dos indivíduos tiveram mais de uma complica-
30% ção no momento do trauma, no entanto, em relação às com-
17% plicações do TRM, observou-se que 33,3% tinham alguma
10%
complicação e 66,7% não tinham complicações ou não foi
discriminada esta informação no prontuário. As complicações
18-30 31-40 41-50 >50 mais encontradas neste estudo foram UP e paraparesia, ambas
com 20% (Tabela I).
Quando analisada a procedência dos pacientes, observou-
-se que a maioria era proveniente do interior (73,3%). De Tabela I - Distribuição de casos de traumatismo raquimedular,
acordo com as estatísticas do estudo em questão, os pacientes segundo as complicações após o internamento, em pacientes inter-
que mais frequentemente apresentaram TRM possuíam baixo nados no Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE), no período
grau de escolaridade totalizando 86,7% (Figura 2). de outubro a dezembro de 2011.
Complicações do TRM N (%)
Figura 2 - Distribuição de casos de traumatismo raquimedular, Úlcera de Pressão 06 20
segundo o nível de escolaridade, em pacientes internados no Hos- Paraparesia 06 20
pital Geral do Estado da Bahia (HGE), no período de outubro a Paraplegia 05 17
dezembro de 2011. Pneumonia 03 10
3% Tetraplegia 02 07
10%
Tetraparesia 02 07
Espasticidade 02 07
Infecção Urinária 01 03
Insuficiência Respiratória 01 03
87%
Trombose Venosa Profunda 01 03

Discussão

A faixa etária dos pacientes com lesão medular mais


Baixo Médio Alto
acometida neste estudo foi de 31 a 40 anos perfazendo 43%
dos casos. Um recente estudo [17] encontrou uma inci-
*Baixo (analfabeto até 1º grau incompleto ou completo); Médio (2º grau dência alta de indivíduos casados 86,2%, em contrapartida
incompleto ou completo) e Alto (superior incompleto ou superior completo) o presente estudo obteve uma incidência mais elevada de
indivíduos solteiros com 63,3%. Estas discrepâncias podem
Dentre os tipos de trauma predominaram os decorrentes ser justificadas, devido à idade média no primeiro estudo ser
de queda de várias naturezas (36,6%), seguido por acidentes de 45,4%, já neste estudo foi de 37,1, bem como o estudo
automobilísticos 33,4%, sendo discriminados na Figura 3. de Blanes et al. [18], no qual a média de idade foi de 32,9,
A casuística desse estudo revelou que o nível neurológico de sendo 61,7% solteiros.
lesão mais acometido foi à região torácica (43,3%), seguido Houve o predomínio do gênero masculino com 83,3%,
pela cervical (30%) e lombar (26,7%). dado este compatível com a literatura, na qual, em relação ao
218 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

gênero e a faixa etária, não há dúvida que o gênero masculino por quedas de laje em uma amostra de 100 casos na cidade
e a idade entre 30 a 40 anos sejam o grupo de risco predo- Santo André, SP. No estudo de Cunha et al. [11], o meca-
minante, a incidência referente ao gênero masculino varia de nismo de lesão mais frequente foi a queda de altura, com
81% a 94% [1,4-8,19]. Estes índices podem ser justificados 57,4% dos casos, seguida do acidente automobilístico, com
pela maior exposição destes indivíduos a acidentes, seja no 23,4%. Estes dados condizem com um estudo [7] realizado
trabalho, nos esportes ou pela violência. Em relação à etnia no Departamento de Neurocirurgia do Hospital Heliópolis,
pela dificuldade na definição, os indivíduos foram categoriza- São Paulo com 100 indivíduos, concordante com o estudo
dos em brancos e outras etnias, perfazendo um percentual de de Souza [5], na Região Norte do Brasil, as casuísticas mais
30% e 70% respectivamente, divergindo do estudo realizado comuns foram quedas em 40% e 41,25% respectivamente,
em São Paulo [20], em que 68,1% eram brancos, esta oposição seguidas de acidentes automobilísticos em 25% e 23,75%
ocorreu devido à miscigenação presente no estado da Bahia. respectivamente, e exclusivamente no primeiro estudo citado
Em relação à procedência dos indivíduos neste estudo [7] a queda de laje teve incidência de 23%, o PAF foi de 7%,
73,3% eram do interior, Cunha [11] em Belo Horizonte mergulho em águas rasas e agressões 3%.
observou uma incidência de 61,7% de pacientes da região Diferente da maioria dos estudos nacionais, um estudo
metropolitana e interior, outro estudo [5] realizado em Belém realizado por Graells et al.[12] apontou como as causas mais
constatou também uma maior incidência de indivíduos do frequentes com 45,45% o PAF e 33,33% sofreram algum tipo
interior com 53,75%, estando de acordo com um estudo de colisão automobilística. Estes fatos podem ser justificados
recente realizado no mesmo estado por Magalhães [19] totali- pela disparidade cultural e social no Brasil, onde a etiologia do
zando 64,3 %. Esses resultados podem ser justificados devido traumatismo, geralmente, varia em função das características
aos hospitais atenderem pela rede pública, a precariedade de cada região e tipo de atividade da população estudada.
dos serviços de saúde no interior, além disso, este estudo foi Quanto ao nível neurológico, obtivemos uma maior
realizado em um centro de referência em traumas da Bahia. incidência de lesão na região torácica 43,3%, seguido pela
De acordo com as estatísticas do estudo, os pacientes que cervical com 30% e lombar 26,7%, divergindo da maioria
mais frequentemente apresentaram TRM possuem baixo dos estudos publicados, mas ratificado pelo estudo de Anderle
grau de escolaridade (86,7%), sendo similar a outros dois et al.[1], pois a região que expressou uma maior incidência
estudos, que demonstraram uma incidência de 53,7% [5] e foi a toracolombar 40,5, seguido por cervical com 36%. Em
63,3% [17], refletindo assim o pouco acesso à educação que outro estudo [20], a lesão do segmento cervical da medula
a população destas regiões em geral possui, representando um foi observada em 50% dos casos.
obstáculo para campanhas na busca de um comportamento A literatura [22] justifica esta maior incidência de lesão na
que evite exposição a situações de risco. No entanto esses transição da região toracolombar, cervical e lombar, devido
autores não descreveram como foi categorizada a graduação, a grande mobilidade desta região, instabilidade, propiciando
fato este que pode causar viés em relação aos valores, quando fraturas com consequente lesão medular. Os resultados do
confrontados com outros estudos. presente estudo poderiam ser justificados, se entre os obje-
Os mecanismos mais frequentes foram as quedas de várias tivos do estudo estivesse incluída a correlação da etiologia
naturezas com 36,6%, seguido por acidente automobilístico do trauma associada ao nível medular acometido, sendo
33,4% e PAF com 26,7%, corroborando o estudo de Chiu possível a correlação de PAF com lesão torácica. No entanto
et al [8], que comparou a epidemiologia da lesão medular em esta se constitui como uma limitação do estudo, pois estudos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Concluiu-se que [13] mostram que quando o principal fator etiológico é o
os acidentes de trânsito é a principal causa de lesões nos países ferimento por arma de fogo o principal nível acometido é o
desenvolvidos, enquanto as quedas são as principais causas nos torácico, podendo ser justificado por possuir maior número
países em desenvolvimento, como foi exposto neste estudo. de vértebras, aumentando a probabilidade de acometimento
Diante do exposto acima, De Vivo et al [9], em 1997, por projétil de arma de fogo.
afirmaram que as principais causas de lesão medular nos Es- De forma geral as internações prolongadas contribuem
tados Unidos da América (EUA) são acidentes com veículos para complicações clínicas, levando a morbidade como in-
35,9%, violência 29%, 20,3% quedas e 7,3% causados por fecção respiratória, UP, infecção urinária e trombose venosa
esportes. Estudo [10] realizado com 588 pacientes com lesão [13]. As complicações mais comumente encontradas neste
medular traumática em 37 centros hospitalares na Itália e a estudo foram as UP e paraparesia, ambas com 20%, seguido
etiologia mais comum foi acidente automobilístico 35,2%, por paraplegia (17%), corroborando os estudos de Paz et al. e
motocicletas 15%, bicicletas 3,6%, esportes 8,2%, outras Nogueira et al. [4,20], que têm como principal intercorrência
causas 33%. clínica as UP, variando segundo o estudo de Greve [23], em
Em contrapartida, em diferentes cidades do Brasil, o 1997, de 2,7% a 29,5%, divergindo de dois estudos poste-
principal fator etiológico é a queda de forma geral. Gonçal- riores [24,25], os quais afirmam que as UP incidem em 30%
ves [21], no período de 2007, apresentou como o principal a 56%, que pode ser justificada pela falta de uniformização
fator etiológico as quedas de várias naturezas, sendo 25% nas descrições dos prontuários.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 219

Em um estudo multidisciplinar realizado por Cardenas ponibilização de recursos para o tratamento das ocorrências.
et al. [26], no qual avaliaram as principais causas de reinter- Portanto, a melhor conduta é a prevenção na ação primária
nação nos portadores de TRM, observou-se que as principais que pode ser efetiva quando o foco é na etiologia do TRM,
causas são as infecções urinárias recorrentes e doenças do trato daí o grande valor da realização de estudos epidemiológicos.
respiratório, quando com lesões altas; já nos pacientes com
lesões baixas, como neste estudo, as complicações por UP Referências
foram mais frequentes.
As UP advêm quando os pacientes são mantidos em uma 1. Anderle DV, Joaquim AF, Soares MS, Miura FK, Silva FL, Veiga
posição estática por um longo período de tempo, sendo agra- JCE et al. Avaliação epidemiológica dos pacientes com trauma-
vadas se a cabeceira da cama for elevada para um ângulo maior tismo raquimedular operados no Hospital Estadual “Professor
Carlos da Silva Lacaz”. Coluna/Columna 2010;9(1):58-61.
do que 30 graus, pois se sabe que a pressão de fechamento
2. Meyer F, Vialle LR, Vialle EM, Bleggi-Torres LF, Rasera E,
capilar é de 32 mm / Hg, e que quando o grau de compressão
Leonel I. Alterações vesicais na lesão medular experimental em
é superior a esta pressão ocorre isquemia, causando danos ratos. Acta Cir Bras 2003;18(3):203-8.
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desfavorável, culminando para o aumento de complicações 4. Paz AC, Beraldo PS, Almeida MC, Neves EG, Alves CM, Khan
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A incidência de TVP encontrada foi baixa (3,0%), corro- hospitals. Paraplegia 1992;30(9):636-40.
borando o estudo de Gaspar [27], que obteve uma incidência 5. Souza Junior MF, Bastos BPR, Jallageas DN, Medeiros AAA.
de 1,6%, apesar de esta ser considerada a maior complicação Perfil epidemiológico de 80 pacientes com traumatismo raqui-
medular, internados no hospital do Pronto-Socorro Municipal
na lesão medular aguda. Sendo esta informação justificada,
de Belém, PA, no período de janeiro a setembro de 2002. J Bras
devido ao elevado número de informações que não puderam Neurocirurg 2002;13:92-8.
ser incluídas pela falta de dados nos prontuários. Diante disto 6. Zaninelli EM, Graells XS, Orli JN, Dau L. Avaliação epide-
é preciso uniformizar as anotações médicas e normatizar o miológica das fraturas da coluna torácica e lombar de pacientes
preenchimento dos prontuários. atendidos no Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador da
Em contraposição ao presente estudo, a pesquisa de Feng UFPR de Curitiba – Paraná. Coluna/Columna 2005;4:11-15.
et al [17] trouxe como principal acometimento após TRM 7. Campos MF, Ribeiro AT, Listik S, Pereira CAB, Sobrinho JA,
a tetraparesia (59,4%), seguido por tetraplegia com 22,6%, Rapoport A. Epidemiologia do traumatismo da coluna vertebral.
devido à alta incidência de lesão em nível cervical (82,0%), Rev Col Bras Cir 2008;35(2):88-93.
8. Chiu WT, Lin HC, Lam C, Chu SF, Chiang YH, Tsai SH.
divergindo deste estudo que apresentou como principal nível
Review paper: epidemiology of spinal cord injury: comparisons
acometido o torácico, justificando a incidência elevada de
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paraplegia e paraparesia. Em relação às complicações ocor- 2010;22(1):9-18.
ridas no momento do trauma, a fratura de vértebras esteve 9. De Vivo MJ. Causes and costs of spinal injury in the United
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A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o TRM
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neste centro foi geralmente originado por acidente automobi- 13. Lourenço LJO, Alves EM, Andrade AF. Lesões raquimedulares
lístico e queda de altura, atingindo principalmente pacientes associadas ao traumatismo crânio-encefálico grave ou moderado.
adultos jovens do gênero masculino, em idade economica- Coluna/Columna 2008;7(2):143-5.
mente ativa, acometendo principalmente a região torácica. 14. DeVivo MJ, Fine PR, Maetz HM, Stover SL. Prevalence of spi-
As internações prolongadas culminaram com aumento de nal cord injury: A reestimation employing life table techniques.
morbidades, sendo as complicações mais comumente encon- Arch Neurol 1980;37(11):707-8.
tradas neste estudo as UP e paraparesia. 15. Sartori NR, Melo MRAC. Necessidades no cuidado hospitalar
Após expressão desses resultados, surge a necessidade de do lesado medular. Medicina (Ribeirão Preto) 2002;35(2):151-
9.
novos estudos associando a etiologia do TRM com o gênero
16. Berlly M, Shem K. Respiratory management during the first five
e idade, bem como a associação do nível medular acometido
days after spinal cord injury. J Spinal Cord Med 2007;30(4):309-
com o gênero, idade e complicações associadas no momento 18.
do trauma, para melhor identificação do perfil epidemiológico 17. Feng HY, Ning GZ, Feng SQ, Yu TQ, Zhou HX. Epidemiologi-
desses pacientes, o qual permite a criação de intervenções cal profile of 239 traumatic spinal cord injury cases over a period
racionalizadas de caráter preventivo com maior impacto e dis- of 12 years in Tianjin. J Spinal Cord Med 2011;34(4):388-94.
220 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

18. Blanes L, Lourenço L, Carmagnani MIS, Ferreira LM. Clinical 23. Greve JM. Traumatismos raquimedulares nos acidentes de
and socio-demographic characteristics of persons with trauma- trânsito e uso de equipamentos de segurança: Diagnóstico e
tic paraplegia living in São Paulo, Brazil. Arq Neuropsiquiatr Tratamento 1997;2(1):10-13.
2009;67(2B):388-90. 24. Umphred DA. Reabilitação Neurológica. Barueri: Manole;
19. Magalhães MO, Sousa ANB, Costa LOP, Pinto DS. Avaliação 2004. p.507-56.
em pacientes com traumatismo raquimedular: um estudo 25. Rowland, LP. Merrit: Tratado de neurologia. 11a ed. Rio de
descritivo e transversal. ConScientiae Saúde 2011;10:69-76. Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
20. Nogueira PC, Caliri MHL, Haas VJ. Profile of patients with spi- 26. Cardenas DD, Hoffman JM, Kirshblum S, McKinley W. Etio-
nal cord injuries and occurrence of pressure ulcer at a university logy and incidence of rehospitalization after traumatic spinal
hospital. Rev Latinoam Enferm 2006;14(3):372-7. cord injury: a multicenter analysis. Arch Phys Med Rehabil
21. Gonçalves AMT, Rosa LN, D`Angelo CT, Savordelli CL, Bonin 2004;85:1757-63.
GL, Squarcino IM, et al. Aspectos epidemiológicos da lesão 27. Gaspar, AP, Ingham SJM, Vianna PCP, Santos FPE, Chamlian
medular traumática na área de referência do Hospital Estadual TR, Puerta EB. Avaliação epidemiológica dos pacientes com
Mário Covas. Arq Med ABC 2007;32(2):64-6. lesão medular atendidos no Lar Escola São Francisco. Acta
22. Garcia SB. Primeiros Socorros: Fundamentos e prática na Fisiátr 2003;10(2):73-77.
comunidade, no esporte e ecoturismo. São Paulo: Atheneu;
2005. p.137-9.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 221

Artigo original

Percepção da fadiga laboral em trabalhadores


de frigorífico
Perception of work-related fatigue in meatpacking workers
Luis Ferreira Monteiro Neto*, Airton Camacho Moscardini*, Olavo Egídio Alioto**, Allison Gustavo Braz***

*Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, **Departamento de Pós-Graduação,
Faculdade Método de São Paulo, ***Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Goiás

Resumo Abstract
A demanda de maior produtividade vem exigindo cada vez mais The demand for higher productivity is increasingly demanding
fisicamente e psicologicamente dos trabalhadores, sem necessaria- physically and psychologically on the workers, without necessarily
mente considerar sua saúde. O objetivo deste trabalho foi analisar considering their health. The objective of this study was to analyze
a percepção de trabalhadores de uma indústria frigorífica pelo the perception of boning sector workers, using a bipolar question-
questionário bipolar e comparar com sua concentração de lactato naire, and compare with their blood lactate concentration. Eighteen
sanguíneo. Foram avaliados 18 trabalhadores de uma indústria frigo- workers responsible for boning operations of a meatpacking industry
rífica no setor de desossa durante sua jornada de trabalho de 8 horas were evaluated during their 8-hour work day in 3 distinct stages:
em 3 momentos distintos: A1 = amostragem ao início do trabalho; A1 = sampling when work day start; A2 = sampling after 3 hours of
A2 = amostragem após 3 horas de trabalho e A3 = amostragem work and A3 = sampling after 90-minute break. The blood lactate
após uma macro-pausa de 90 minutos. A concentração de lactato concentration increased progressively in the three samples, and
sanguíneo aumentou progressivamente nas 3 coletas e as respostas bipolar questionnaire answers got worse during workday, especially
do questionário bipolar foram piorando no decorrer da jornada the indicators relating to the upper limbs. The boning sector workers
de trabalho, principalmente os indicadores relativos aos membros of the meatpacking industry reported an increased fatigue during
superiores. Trabalhadores do setor de desossa da indústria frigorífica work, even with 90-minute lunch break.
relatam aumento da fadiga no decorrer do trabalho, mesmo com a Key-words: workers, fatigue, rest.
opção de macro-pausa para o almoço.
Palavras-chave: trabalhadores, fadiga, descanso.

Recebido em 11 de outubro de 2012; aceito em 14 de março de 2013.


Endereço de correspondência: Allison Gustavo Braz, Universidade Federal de Goiás / Campus Jataí, Coordenação de Fisioterapia, Rod BR 364 km
192 - Setor Parque Industrial, 3800, 75801-615 Jataí GO, E-mail: allisonbraz@gmail.com
222 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução tam fadiga, tensão, estresse e esgotamento são os que mais


apresentam queixas dolorosas [6].
A preocupação com aumento de produtividade é intrinse- O ácido lático é encontrado primeiramente nas células
camente atrelada à alta produção e ao baixo custo operacional. musculares e células vermelhas no sangue. A concentração de
Esta redução operacional inclui a diminuição dos índices de lactato no sangue depende do grau de energia produzida e do
afastamentos em um ambiente laboral, já que os afastamentos metabolismo. Os níveis de lactato são aumentados significati-
oneram as empresas pelo prejuízo à saúde de seus funcionários vamente durante o exercício, já a percepção individual pode
e uma dessas variáveis é a fadiga muscular que ocorre durante ou não estar relacionada com cansaço e reposta imediata ao
a jornada de trabalho. exercício, sendo que a resposta sanguínea de pico de lactato
O próprio aumento da demanda de trabalho, preocupa- ocorre por volta de 8 minutos após a atividade.
ções no trabalho e aumento das responsabilidades podem Os investimentos científicos voltados ao incentivo de
causar distúrbios nos padrões de sono do trabalhador [1], que metodologias para a avaliação laboral são escassos e também
repercutem negativamente durante todo o dia de trabalho controversos, o que torna ainda mais desafiador esse tipo de
devido a noites mal dormidas, causando prejuízos na concen- pesquisa, uma vez que a maioria das atividades no esporte
tração e atenção, aumento do risco de acidentes, aumento no ocorre dinamicamente.
estresse e podendo causar dificuldades nos relacionamentos O objetivo investigativo se deu pela observação da fadiga
inter e extra-ambiente laboral. muscular fisiológica e sua percepção através do questionário
Além dos prejuízos relacionados às empresas, também bipolar de trabalhadores do setor de desossa de um frigorí-
existem os problemas sociais e pessoais sofridos por problemas fico durante um dia de jornada de trabalho, observando se
de ordem musculoesquelética levando ônus aos cofres públicos uma macro-pausa é suficiente para evitar a fadiga durante o
e sofrimentos e constrangimentos do cidadão que pode ficar trabalho.
incapacitado de continuar em sua função ou até em outra
profissão, levando-o à incapacidade física e mental, que por Materiais e métodos
sua vez podem trazer problemas familiares.
Como citado anteriormente, a fadiga é uma incapacidade Participaram deste estudo dezoito (n = 18) voluntários
funcional, causada pelo aumento do esforço para exercer a do sexo masculino, com idade média de 27,5 ± 2,3 anos e
força desejada [2], levando o indivíduo a tomar outras pos- sem antecedentes de doenças musculoesqueléticas. Todos
turas que podem desencadear as lesões musculoesqueléticas exerciam atividades laborais na empresa do ramo frigorífico
ou até mesmo aos acidentes de trabalho. há mais de 3 anos. Antecipadamente ao experimento, os
De acordo com Filus [3], o ácido lático é um fator con- mesmos foram informados dos procedimentos durante a
tributivo para as cãibras musculares e o aumento de sua con- realização dos registros do lactato sanguíneo e avaliação por
centração devido a esforços, causam uma sensação de cansaço questionário bipolar, assinando termo de consentimento
que pode ser percebida e mensurada por meio de questionário. livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
Normalmente, o ácido lático é removido do sangue por ser quisa da FAMERP.
metabolizado no fígado e quando há um excesso em algum As coletas de lactato sanguíneo e questionário bipolar
tecido, por ter sido acumulado por qualquer razão, o resultado foram realizados durante a execução da atividade laboral
é uma condição chamada de acidose lática. Ainda segundo o de cada voluntário em três diferentes períodos, a primeira
autor, este aumento da concentração de ácido lático favorece coleta foi realizada no início da jornada de trabalho (A1), a
a percepção à fadiga. segunda após 3 horas de trabalho (A2) e a terceira após 30
Existem diversas maneiras de determinar a fadiga laboral minutos a uma macro-pausa de 90 minutos para o almoço
utilizando-se métodos subjetivos e quantitativos. Foi lançado (A3). A coleta A3 foi realizada 30 minutos após a macro-
mão de 2 metodologias para observar a fadiga, o questionário -pausa, pois a linha de produção demora 30 minutos para
bipolar de fadiga e lactato sanguíneo. ser reabastecida integralmente. O fluxograma da Figura 1
O questionário bipolar é método simples para avaliação mostra como foi o procedimento de amostragem durante
da fadiga no trabalho [3], utilizando os mesmos critérios a rotina de trabalho.
dos testes qualitativos descritos como escalas de Likert [4,5]. Os questionários foram preenchidos pelos trabalhadores
Esta ferramenta determina avaliar a percepção subjetiva das na presença do pesquisador. A ordem das questões foi alterada
pessoas sobre a fadiga utilizando um questionário bipolar. em cada questionário para evitar que o trabalhador soubesse
Neste tipo de ferramenta o trabalhador responde questões qual critério estava sendo avaliado. A interpretação do ques-
sobre a sensação de fadiga no instante avaliado do trabalho. tionário foi baseada no critério quantitativo, verificando a
Ele é constituído de 14 perguntas com dois extremos em diferença numérica entre o início, meio e final da jornada de
cada questão, sendo que a variação para cada extremo pode trabalho para cada item avaliado.
significar a presença da fadiga, esta variação é classificada de As coletas sanguíneas foram realizadas lancetando o
forma numérica variando entre 1 e 7. Pacientes que apresen- lóbulo de uma das orelhas de cada voluntário. Foram cole-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 223

tados 25 µl de sangue arterial em cada coleta em capilares da fadiga ao longo da jornada. Para o comportamento do
de vidro heparinizados e calibrados. O sangue foi imedia- grupo avaliado foi utilizada a análise de variância pelo teste
tamente transferido para microtúbulos tipo Eppendorff de de ANOVA. Os dados foram tabulados e tratados com o
1,5 ml contendo 50 µl de fluoreto de sódio (NaF a 1%) e programa Stat 6.0.
então armazenado em gelo para posterior determinação da Na Tabela I encontram-se os dados da média, desvio
concentração de lactato sanguíneo no lactímetro eletroquí- padrão e diferença percentual do teste bipolar de fadiga e
mico da Yellow Spring Instruments (YSI), modelo 1500 Sport indicadores (A1 e A2) do grupo de trabalhadores. Pode-se
(OH, EUA). Os valores das concentrações de lactato foram observar aumento significativo em praticamente todas as
expressos em mM. variáveis avaliadas pelo questionário entre os períodos de
A1 e A2, apenas as variáveis nervosismo, dor nas coxas,
Figura 1 - Esquema da coleta do lactato sanguíneo e questionário dor nas pernas e dor nos pés não apresentaram diferenças
bipolar durante a jornada de trabalho dos indivíduos. significativas. As duas variáveis que apresentaram maior
diferença foram cansaço (154,54%) e dor nos braços
(178,57%).
Na Tabela II encontram-se descrita e comparada a média,
desvio padrão e diferença percentual do teste bipolar de fadiga
e indicadores (A1 e A3) do grupo de trabalhadores. Pode-se
observar aumento significativo em praticamente todas as
variáveis avaliadas pelo questionário entre os períodos de A1
(A1 = primeira amostragem; A2 = segunda amostragem; A3 = terceira
e A3, apenas as variáveis dor nas coxas, dor nas pernas e dor
amostragem).
nos pés não apresentaram diferenças significativas. As duas
variáveis que apresentaram maior diferença foram cansaço
Antes da coleta o lóbulo da orelha foi esterilizado com (254,54%) e dor nos braços (357,13%).
álcool 70%, bem como para tirar o coágulo formado entre O mesmo indicativo, a partir do lactato coletado pode ser
uma coleta e outra. Para estancar o sangue e proteger o local, observado, no qual os funcionários apresentaram aumento da
era colocado um pequeno pedaço de algodão hipoalergênico média de lactato, de acordo com o aumento do trabalho, como
sobre o local lancetado. Todo o procedimento do lactato foi pode ser observado no gráfico da Figura 2. O lactato aumenta
realizado na sala de treinamento, a fim de evitar contamina- sua concentração de acordo com o maior esforço exercido pelo
ção com a carne, sendo a distância padronizada para todas indivíduo, indicando então aumento da atividade muscular
as coletas de lactato. durante o trabalho.
Os grupos de coleta de lactado apresentaram os seguin-
Resultados tes resultados: grupo A1 0,7 ± 0,24 mM; grupo A2 0,93 ±
0,16 mM e grupo A3 1,20 ± 0,31 mM. Todos os grupos
Para o questionário bipolar de fadiga as variáveis quan- apresentaram diferenças estatisticamente significantes, como
titativas foram apresentadas nas formas de média aritmética observado na Tabela III.
e desvio-padrão, podendo verificar o aumento da percepção

Tabela I - Tabela comparativa do questionário bipolar entre os períodos da jornada de trabalho inicial (A1) e após 3 horas de trabalho (A2).
Variáveis de Fadiga A1 A2 ANOVA
X ± SD X ± SD *p ∆%
Cansaço 1,1 ± 0,3 2,8 ± 0,5 <0,001 154,54
Concentração 1,0 ± 0,0 1,8 ± 0,4 <0,001 80
Nervosismo 1,3 ± 0,5 1,3 ± 0,5 ns 0
Produtividade 1,0 ± 0,0 1,6 ± 0,5 < 0.001 60
Cansaço visual 1,0 ± 0,0 2,0 ± 0,3 < 0.001 100
Dor no pescoço e ombros 1,7 ± 0,5 2,9 ± 0,3 < 0.001 70,6
Dor nas costas 1,2 ± 0,4 2,4 ± 0,7 < 0.001 100
Dor na lombar 1,3 ± 0,5 2,4 ± 0,5 < 0.001 84,61
Dor nas coxas 1,1 ± 0,3 1,5 ± 0,6 0,06 36,36
Dor nas pernas 1,1 ± 0,3 1,4 ± 0,5 0,05 27,27
Dor nos pés 1,1 ± 0,3 1,3 ± 0,5 0,14 18,18
Dor de cabeça 1,2 ± 0,4 2,0 ± 0,0 < 0.001 66,66
Dor nos braços 1,4 ± 0,5 3,9 ± 1,0 < 0.001 178,57
224 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Tabela II - Tabela comparativa do questionário bipolar entre os períodos da jornada de trabalho inicial (A1) e após a macro-pausa (A3).
Variáveis de Fadiga A1 A3 ANOVA
X ± SD X ± SD *p ∆%
Cansaço 1,1 ± 0,3 3,9 ± 0,7 <0,001 254,54
Concentração 1,0 ± 0,0 3,9 ± 0,9 <0,001 290
Nervosismo 1,3 ± 0,5 2,6 ± 0,5 <0,001 100
Produtividade 1,0 ± 0,0 3,1 ± 0,5 < 0.001 210
Cansaço visual 1,0 ± 0,0 2,6 ± 0,7 < 0.001 160
Dor no pescoço e ombros 1,7 ± 0,5 3,9 ± 0,9 < 0.001 129,41
Dor nas costas 1,2 ± 0,4 3,4 ± 1,1 < 0.001 183,33
Dor na lombar 1,3 ± 0,5 3,6 ± 0,9 < 0.001 176,92
Dor nas coxas 1,1 ± 0,3 1,3 ± 0,5 0,06 18,18
Dor nas pernas 1,1 ± 0,3 1,1 ± 0,3 0,05 0
Dor nos pés 1,1 ± 0,3 1,1 ± 0,3 0,14 0
Dor de cabeça 1,2 ± 0,4 2,8 ± 0,4 < 0.001 133,33
Dor nos braços 1,4 ± 0,5 6,4 ± 0,6 < 0.001 357,13

Figura 2 - Média do lactato sanguíneo (mM) dos voluntários nos tas alterações negativas, como, por exemplo, dificuldades no
diferentes períodos de coleta. despertar do indivíduo, favorecem o aumento da fadiga física
2.0 e mental, e dificuldades de concentração, podendo favorecer
acidentes e lesões. Existem alguns trabalhos que relacionam
alguns fatores, tal como a excessiva carga de trabalho, com a
1.5
fibromialgia e também com distúrbios do sono [9].
Lactate mM

O questionário bipolar de fadiga é um instrumento qua-


1.0 litativo que indica quais áreas o colaborador apresenta maior
desconforto durante a jornada de trabalho, possibilitando
uma resposta quantificável para os indicadores de fadiga sobre
0.5
cada região corporal. Em nosso trabalho, pode-se notar um
aumento progressivo da fadiga em praticamente todos os
0.0 aspectos avaliados, embora os resultados apontem claramente
A1 A2 A3 um aumento mais acentuado nos membros superiores.
Period of Analisys Este estudo realizado com trabalhadores do setor de desos-
Note que o lactato aumente de acordo com o decorrer da sa em um frigorífico mostrou também aumento da quantidade
jornada de trabalho. de lactato sanguíneo nos trabalhadores, indicando haver
fadiga muscular, fato observado também no questionário de
Tabela III - Comparação entre os grupos analisados pelo lactato fadiga bipolar. A maior ação muscular no trabalho que causa
coletado e sua relevância estatística. fadiga, mostrando o aparecimento desta fadiga muscular, gera
Comparação entre os grupos Valor de p correlações com queixas dolorosas [6].
A1 vs A2 ** p<0,01 De maneira geral em nosso estudo, houve aumento das
A1 vs A3 *** p<0,001 queixas principalmente de membros superiores mostradas
A2 vs A3 *** p<0,001 pelo questionário bipolar, juntamente ao aumento do lac-
Vs (versus) tato, indicando exacerbação do uso das demandas físicas na
atividade executada [3].
Discussão Em um estudo de Østensvik et al. [10] foi observado
que atividades laborais que exigem contrações musculares
Todas as amostragens foram realizadas sempre no início da sustentadas por mais tempo podem levar o trabalhador a se
semana laboral (segundas-feiras), pois as respostas poderiam queixar de dores, mais que trabalhadores com atividade menos
apresentar níveis de fadiga mais elevados caso realizados nos intensa, levando ao aumento de distúrbios musculoesque-
dias subsequentes, já que o trabalho acumulativo em am- léticos. Tais distúrbios podem ser percebidos pelas queixas
bientes como frigoríficos é alta e a carga horária da jornada encontradas em nosso estudo pelo questionário aplicado,
de trabalho é de 8 horas diárias. verificando sua piora no decorrer da jornada de trabalho.
Trabalhos avaliando a qualidade do sono em relação ao tipo Uma alternativa para reduzir a fadiga seria o emprego de
de trabalho desenvolvido por Åkerstedta et al. [7,8] mostram pausas durante o trabalho, mas observamos que mesmo após a
que altas demandas no trabalho, principalmente relacionadas macro-pausa não foi possível verificar melhora nos sinais de fadiga
às demandas físicas, causam alterações negativas no sono. Es- (SME e lactato) e nem em sua percepção (questionário bipolar).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 225

Essas pausas são necessárias e importantes para a recupera- extensora do antebraço. Mesmo após uma macro-pausa de
ção física e mental dos trabalhadores, mas é importante observar trabalho, essa fadiga continua a aumentar nos trabalhadores,
que não é possível estabelecer pausas específicas com emprego por isso são necessários novos estudos para observar a eficácia
global para os diversos tipos de trabalho e postos dentro de de outras maneiras de pausa.
um mesmo trabalho, já que essas pausas são dependentes das
especificidades demandadas por cada posto de trabalho, pela Referências
carga em cada posto, sem esquecer-se da individualidade fisio-
lógica e antropométrica de cada um. Todos esses fatores atre- 1. Åkerstedt T, Nordin M, Alfredsson L, Westerholm P, Kecklund
lados causam efeitos em curto prazo, indicando a necessidade G. Predicting changes in sleep complaints from baseline values
de recuperação e repouso [11]. Esses fatores de curto prazo, and changes in work demands, work control, and work preoc-
cupation. The WOLF-project Sleep Medicine 2012;13:73-80.
somados ao longo da vida do indivíduo podem repercutir de
2. Enoka RM, Stuart DG. Neurobiology of Muscle Fatigue. J Appl
maneira positiva ou negativa na saúde e bem estar do próprio.
Physiol 1992;72(5):1631-48.
A evidência da importância das pausas entre as atividades 3. Filus R, Okimorto ML. The effect of job rotation intervals on
demandas por esforço físico fica ampliada na utilização do muscle fatigue – lactic acid. Work 2012;41:1572-81.
esporte como linha base. Como observado no trabalho desen- 4. Pereira CCDA, López RFA, Lima VA. Efeitos de um programa
volvido por Silva et al. [12], relacionando repetições máximas de ginástica laboral sobre os níveis de fadiga em trabalhadores
com a pausa, observou-se que quanto menor a pausa, maior a de confecção. Revista Digital - Buenos Aires. 2009; 14(133).
percepção do esforço e fadiga. Mas é importante salientar que o 5. Gell N, Werner RA, Hartigan A, Wiggermann N, Keyserling
trabalho é realizado sob um escopo produtivista e economicista, WM. Risk Factors for lower extremity fatigue among assembly
e não como lazer, como acontece no esporte. Essa produtivi- plant workers. Am J Ind Med 2011;54:216-23.
6. Rissén D, Melin B, L Sandsjö, Dohns I, Lundberg U. Surface
dade pode gerar demandas emocionais que colaboram com a
EMG and psychophysiological stress reactions in women during
exacerbação da fadiga e todos os outros problemas já discutidos. repetitive work. U Eur J Appl Physiol 2000:83(2-3):215-22.
As micro-pausas ativas podem ser mais interessantes de se 7. Åkerstedt T, Knutsson A, Westerholm P, Theorell T, Alfreds-
realizar comparadas às ativas, já que pela própria contração son L, Kecklund G. Sleep disturbances, work stress and work
muscular, pode ocorrer o aumento da circulação local e assim hours - A cross-sectional study. J Psychosomatic Research
acelerar a remoção de metabólitos da atividade muscular 2002;53:741-8.
realizada [13]. Portanto, ao invés de serem realizadas pausas 8. Åkerstedt T, Knutsson A, Westerholm P, Theorell T, Alfredsson
prolongadas durante o trabalho, talvez atividades recreacionais L, Kecklund G. Mental fatigue, work and sleep. J Psychosomatic
lúdicas, as quais mantenham os trabalhadores ativos, podem Research 2004;57:427-33.
9. Zurowski M, Shapiro C. Stress, fibromyalgia, and sleep. J
ser mais interessantes que as pausas passivas, tal como obser-
Psychosomatic Research 2004; 57:415-16.
vado em nosso estudo, no qual, mesmo após a pausa A3, o
10. Østensvik T, Veiersted KB, Nilsen P. A method to quantify
nível de lactato continuou a aumentar e o SME a diminuir. frequency and duration of sustained low-level muscle activity
Taylor e Bronks [14] analisaram as mudanças na atividade as a risk factor for musculoskeletal discomfort. J Electromyogr
EMG dos membros inferiores de atletas durante a corrida em Kinesiol 2009;19:283-94.
esteira rolante e as mudanças na EMG foram relacionadas ao 11. Sluiter JK, de Croon EM, Meijman TF, Frings-Dresen MHW.
limiar do lactato. Quando um músculo exibe fadiga localizada Need for recovery from work related fatigue and its role in the
após contrações repetidas, as unidades motoras disparam em development and prediction of subjective health complaints.
velocidades crescentes para compensar a queda da força de Occup Environ Med 2003;60(Suppl I):62-70.
contração das fibras fadigadas na tentativa de manter o nível 12. Silva MS, Silva TS, Mota MR, Damasceno VO, Martins da Silva
F. Analysis of the effect of different intensities and rest interval on
de tensão ativa, sendo evidentes em contrações submáximas
the perceived exertion of athletes. Motricidade 2011; 7(1):3-12.
[15,16]. Esse decréscimo de força pode causar lesões osteo- 13. Samani A, Holtremann A, Søgaard K, Madeleine P. Active pauses
musculares nos trabalhadores, pois os mesmos acabam levando induce more variable electromyographic pattern of the trapezius
seu corpo a grande desgaste e muitas vezes sem interrupção muscle activity during computer work. J Electromyogr Kinesiol
para compensar a fadiga instalada. 2009;19(6):430-7.
14. Taylor AD, Bronks R. Correlações eletromiográficas da transição
Conclusão do metabolismo aeróbio para o anaeróbio na corrida em esteira.
Eur J Appl Physiol 1994;69:508-15.
Foi possível relacionar o lactato e o questionário bipolar 15. Bigland-Ritchie B, Lippold OCJ. The relation between force,
velocity and integrated electrical activity in human muscles. J
como metodologia de análise de fadiga para avaliar traba-
Phys 1954;123:214-24.
lhadores do setor de desossa de uma indústria frigorífica,
16. Devries HA. Method for evaluation of muscle fatigue and
sendo que há o aparecimento e aumento da fadiga muscular endurance from electromyographic fatigue curves. American J
geral percebida e fisiológica, principalmente da musculatura Phys Med 1968;47(3):125-35.
226 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Revisão

Fricção transversa profunda nas disfunções


musculoesqueléticas: uma síntese da literatura
Use of deep transverse friction in musculoskeletal disorders:
a synthesis of the literature
Aline Buffon Lopes*, Sergio Guida**, Julio Guilherme Silva***

*Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopédica pela Universidade Gama Filho (UGF)-SC, **Coordenador do Curso de Especia-
lização Lato-sensu em Fisioterapia Traumato-ortopédica UGF, Professor Assistente do Depto. Anatomia Humana – UGF, ***Pro-
fessor do Mestrado em Ciências da Reabilitação Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM-RJ), Prof. Adjunto do Curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenador do Curso de Especialização Lato-sensu em Fisioterapia
Traumato-ortopédica e Fisioterapia Neurofuncional da UGF

Resumo Abstract
A Fricção Transversa Profunda (FTP) é uma técnica usada no The Deep Transverse Friction (DTF) is a technique used in
tratamento de disfunções musculoesqueléticas. Essa intervenção musculoskeletal disorders treatment. This intervention promotes a
promove um movimento terapêutico transverso das fibras do tecido cross-fiber friction of the injured tissue that results in restoration of
lesionado que resulta na restauração da mobilidade de forma indo- mobility painlessly. Furthermore, the DTF prevents the formation
lor. Além disso, a FTP previne a formação de aderências na cicatriz of scar adherences making it flexible and functional. Although wide
tornando-a flexível e funcional. Mesmo com a grande utilização da use of DTF clinically, there are few studies that discuss their effec-
FTP no âmbito clínico, existem poucos estudos na literatura que tiveness and elucidate their mechanisms of action. The aim of this
discutem sua efetividade e elucidam os seus mecanismos de ação. study was to discuss the latest evidence of deep transverse friction
O objetivo deste estudo foi discutir as últimas evidências da fricção in musculoskeletal disorders, through an update study. The research
transversa profunda nas disfunções musculoesqueléticas, através de was carried out from February 2012 to June 2012 in Science Direct,
um estudo de atualização. A investigação foi realizada no período EBSCO Full Text, Ovid, PEDro, CINAHL and Cochrane Library
de fevereiro de 2012 até junho de 2012 nas bases de dados Science databases. We selected articles that had only the use of the technique
Direct, EBSCO Full Text, Ovid, PEDro, CINAHL e Cochrane in musculoskeletal disorders. Studies found the DTF was applied in
Library. Foram selecionados os artigos que apresentavam apenas a disorders such as adhesive capsulitis, patellar tendinopathy, trigger
utilização da técnica em disfunções musculoesqueléticas. Nos estu- point and lateral epicondylitis. However, only in one study the
dos encontrados a FTP foi aplicada em disfunções como capsulite DTF was used alone. This fact makes it difficult to compare the
adesiva, tendinopatia patelar, trigger point e epicondilite lateral. Po- results of research and analysis of its effects, especially the scarcity
rém apenas em um estudo a FTP foi utilizada isoladamente. Tal fato of research with clinical trials. Despite the wide applicability and
dificulta a comparação dos resultados de pesquisas e análise de seus use in physical therapy practice, studies did not show that DTF is
efeitos, especialmente pela escassez de pesquisa com ensaios clínicos. an effective therapy. So there is a need for further research on this
Apesar da ampla aplicabilidade e da grande utilização na prática issue, particularly clinical trials to elucidate the actual mechanisms
fisioterápica, os trabalhos apresentam baixo poder para comprovar of action and prove the effectiveness of DTF used alone.
substancialmente sua efetividade. Portanto, há uma necessidade de Key-words: deep transverse friction, cyriax, Physical Therapy.
maiores investigações sobre o tema, principalmente ensaios clínicos
para elucidar os reais mecanismos de ação e comprovar a eficácia da
FTP utilizada sozinha.
Palavras-chave: fricção transversa profunda, cyriax, fisioterapia.

Recebido em 5 de março de 2013; aceito em 19 de março de 2013.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Julio Guilherme Silva, Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências da Reabilitação - UNISUAM,
Laboratório de Análise do Movimento Humano, Praça das Nações nº 34, 3˚ andar – Bonsucesso 21041-02 Rio de Janeiro RJ, E-mail: jglsilva@yahoo.com.br
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Introdução Cyriax, massagem de fricção transversa, fricção transversa


profunda, massagem de fricção transversa profunda, fric-
A terapia manual, que engloba diversas técnicas utili- ção profunda, massagem profunda, fisioterapia Cyriax e
zadas na prática fisioterapêutica, tem despertado interesse terapia manual.
de pesquisadores nas últimas três décadas. As evidências no Os artigos incluídos nesta revisão não são recentes (realiza-
tratamento das disfunções musculoesqueléticas estão cada dos nos últimos 5 anos), pois existem poucas pesquisas sobre
vez mais solidificadas nos mais diversos modelos de estudo. a Fricção Transversa Profunda especificamente.
Porém, mesmo com as inúmeras investigações apontando
para uma efetividade, muitos mecanismos fisiológicos das Resultados
Terapias Manuais não estão claros. Isto pode comprometer,
por exemplo, a aceitabilidade dessas técnicas, uma vez que Foram inicialmente encontradas 32 referências, porém
os estudos realizados para elucidar este tipo de questão são considerando os critérios de inclusão e exclusão, 28 referências
ineficientes [1-4]. bibliográficas foram utilizadas no presente artigo. Destas,
A massagem, técnica inserida na Terapia Manual, é uma apenas 7 eram pesquisas utilizando a FTP no tratamento de
das modalidades terapêuticas mais antigas e possui diversas disfunções musculoesqueléticas. Entretanto com metodologia
formas, dentre elas, podemos destacar a Fricção Transversal discutível e apenas um estudo utilizou a técnica isoladamente
Profunda (FTP) defendida e desenvolvida por Cyriax [1-4], [20], o que dificulta a comparação entre a técnica e outras
também chamada de Massagem Transversa Profunda – tem modalidades terapêuticas.
sido frequentemente utilizada na reabilitação de lesões Há uma escassez substancial sobre as investigações sobre
agudas, subagudas ou crônicas, causadas por trauma ou FTP, especialmente estudos dos últimos 5 anos com os cri-
esforço repetitivo em estruturas como tendões, músculos térios estabelecidos nesta pesquisa. Os demais são artigos de
ou ligamentos [5-9]. A técnica promove um movimento revisão ou livros. Também houve a dificuldade de encontrar
terapêutico sobre a lesão, restaurando a mobilidade in- referências recentes.
dolor do tecido danificado e também previne a formação
de aderências na cicatriz, tornando-a flexível e funcional. Discussão
Além da prevenção, a quebra de aderências cicatriciais,
a hiperemia traumática local e o alívio imediato da dor A FTP é um tipo de massagem, cujo movimento rea-
também são considerados como os principais efeitos da lizado sobre o tecido danificado mimetiza o seu compor-
FTP [2-4,6-8,10-17]. tamento normal, impondo carga cíclica e stress rítmico
Apesar da grande utilização da FTP na prática clínica, sobre as estruturas. Desta forma, estimula a reorganização
existem poucas discussões que comprovem e elucidem sua do colágeno em uma forma longitudinal que limita a for-
efetividade, aplicabilidade e os mecanismos de ação [2,10,14- mação de aderência [6,8,10,13]. O processo inflamatório
19]. Baseados nessa premissa, o presente estudo teve como causa irritação no tecido de forma contínua e, assim, a FTP
objetivo geral discutir os efeitos promovidos pela FTP, através possibilita um aumento da mobilidade e a extensibilidade
de revisão da literatura. Além disso, analisar os mecanismos dos tecidos musculoesqueléticos específicos, como tendões,
de ação e aplicabilidade da técnica nas disfunções musculo- fáscias, músculos e ligamentos. Podemos considerar que o
esqueléticas. somatório dos efeitos fisiológicos nos tecidos moles pro-
movem a redução do quadro álgico devido ao seu poder
Material e métodos analgésico imediato [8-11,13,1].
Cabe ressaltar que muito profissionais e pesquisadores
Este estudo de atualização foi realizado com a investigação tratam erroneamente a FTP comparando-a com a massa-
dos artigos do período de fevereiro de 2012 até a presente gem convencional, pois o principal fator é a sua aplicação
data, incluindo artigos publicados nas línguas Portuguesa, de forma transversal às fibras do tecido envolvido e não
Inglesa e Espanhola que abordassem a Fricção Transversa longitudinalmente [3,7-13,18]. Segundo Ombregt et al. [8],
Profunda como tratamento de qualquer disfunção musculo- devido às lesões nos tendões, músculos e ligamentos serem
esquelética. Também foram aceitos livros, artigos de revisão, normalmente causados por uma força longitudinal, a massa-
revisões sistemáticas. gem convencional poderia separar as extremidades rompidas.
Foram excluídos os estudos que apenas citassem a técni- A Fricção Transversa Profunda é realizada com a ponta dos
ca, sem elucidar como foi feita sua utilização, pois poderia dedos – médio sobre o indicador – ou polegar, de forma que
comprometer os resultados da presente revisão. abranja o local exato da lesão (Figura1). A pele do paciente e
As bases de dados utilizadas foram Science Direct, os dedos do fisioterapeuta devem se movimentar como uma
EBSCO Full Text, Ovid, PEDro, CINAHL e Cochrane unidade para que a fricção atue em toda a estrutura acometida
Library. As palavras-chave para a realização da busca foram: [3,6, 8-10,18].
228 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Figura 1 - Forma de aplicação da Fricção Transversa Profunda – traumática [3-4, 6,10,12,13,16]. O melhor alinhamento das
(a) realizada com o polegar; (b) realizada com o dedo médio sobre fibras do tecido conjuntivo e quebra de aderências cicatriciais
o indicador. representam efeitos já mais solidificados na literatura, em
especial as propriedades biomecânicas dos tecidos e o efeito
piezoelétrico nos tecidos moles (fáscias, ligamentos, tendões)
[2-4,6,8,10,12,15-17].
Na prática clínica é comum que a aplicação da FTP desen-
cadeie uma redução imediata da dor. Autores como Dutton
[6], Clayton [13] e Goats [18] atribuem a grande parte do
efeito analgésico a “teoria das comportas”, que ocorre através
Esta técnica é indicada para lesões agudas, subagudas, da modulação de impulsos nociceptivos a nível da medula
crônicas e aderências sendo que sua intensidade depende do espinal. A condução destes impulsos é inibida e ultrapassada
estágio [8,6]. Em comprometimentos mais recentes, a fricção pela estimulação dos mecanorreceptores presentes no mesmo
tem função preventiva, já que as fortes pontes cruzadas e tecido [2,6,8-9,11-13,18]. Apesar da neurofisiologia da dor
aderências teciduais ainda não se formaram, além de manter respeitar muito o conceito do portal da dor, novos conceitos
a mobilidade do tecido. Neste caso, a digitopressão deve ser como memória nociceptiva, neurotransmissores e mecanis-
mais suave devido a possível dor e sensibilidade excessiva. mos inibitórios e excitatórios da dor tem sido discutidos
Nas lesões crônicas, a pressão deve ser mais forte, sempre no fortemente na literatura, ampliando as discussões sobre os
ponto de tolerância do paciente para que ocorra a quebra das efeitos da FTP [2].
aderências. Autores defendem que a pressão deve ser mais leve A FTP também causa hiperemia traumática local, prova-
nas primeiras sessões e ao decorrer do tratamento, aumentar velmente por existir uma perfusão local isquêmica, levando
a intensidade da pressão [6,8,9,13]. De acordo com os nos- a uma vasodilatação e melhora de suprimentos sanguíneo e
sos resultados, somente o estudo de Lee et al. [5] citou que nutrientes no local da lesão [3,4,6,10,12,16]. Autores sugerem
utilizou um sensor de pressão para mensurar a intensidade da que este efeito pode resultar em remoção de irritantes quími-
pressão durante a aplicação da Fricção Transversa Profunda. cos, liberação de opiáceos endógenos e aumento da velocidade
Quanto ao tempo da realização da técnica, a literatura da destruição da substância P – que, em grande quantidade,
é bastante controversa. Enquanto Cyriax e Cyriax [11] causa isquemia e dor, sendo assim um recurso interessante
descrevem que a duração é de 20 minutos pelo menos, nas disfunções musculoesqueléticas [3,4,6,8,10-12,16,17].
outros autores apenas citam que a sessão deve durar de 3 a Outro efeito descrito frequentemente na literatura é a
20 minutos, dependendo da sensibilidade e dor do paciente prevenção na formação de aderências num estágio inicial de
[3,5-6,8,10,12,18,22]. Chamberlain [3] e Ombregt et al. reparo da lesão, e quebra das aderências formadas em uma
[8] ainda indicam que, em uma lesão aguda, a fricção pode lesão crônica, através do movimento terapêutico da FTP,
ser de curta duração como 1 a 2 minutos. A técnica obteve a estimulando o realinhamento e o alongamento das fibras
reputação de ser dolorosa, porém a dor durante a FTP sugere cicatriciais, devolvendo, então, a mobilidade normal e indo-
uma indicação inadequada para um determinado paciente, lor da estrutura [3,4,6,8,11,13,16]. Entretanto, o estudo de
digitopressão exacerbada e aplicação incorreta. Caso aplicada Walker [7] contradiz manuscritos mais recentes sobre a FTP.
corretamente, os estudos apontam para um efeito analgésico Este estudo teve como objetivo observar histologicamente
na área tratada mesmo que alguns sujeitos relatem um certo o efeito da técnica na cicatrização do ligamento colateral
desconforto logo após a aplicação da técnica[8,9]. medial distendido em coelhos. Os resultados deste estudo
De acordo com os nossos dados, os estudos não discri- não apoiam a hipótese de que a FTP promove o reparo de
minam o desconforto e essa sensação subjetiva poder ser ligamentos distendidos nem que previne o depósito aleatório
distinguida entre sensibilidade e dor. Por isso, tanto nos de novas fibras colágenas.
processos de incomodo ou sensibilidade e dor após a FTP Quanto à aplicação da técnica no tratamento de disfunções
podem persistir por algum tempo em alguns indivíduos [3,8]. musculoesqueléticas, a maioria dos estudos selecionados para
Assim, é indicado que a FTP seja utilizada dia sim, dia não ou esta revisão bibliográfica abordou a capsulite adesiva, tendi-
com um intervalo de 48 horas [8,10,22]. Se a sensibilidade nopatia patelar, trigger points e epicondilite lateral. Destes,
continuar, o intervalo de aplicação da técnica deve ser maior, apenas um estudo utilizou a Fricção Transversa Profunda
porém a quantidade da digitopressão não deve diminuir [8]. sozinha [21]. As demais pesquisas associaram o uso da técnica
Até o momento, nenhum estudo científico que esclareça os a outras modalidades terapêuticas, dificultando a comparação
mecanismos de ação da FTP foi publicado. Porém, embora o entre elas e a análise da sua verdadeira eficácia.
exato modo de ação não seja conhecido, autores como Cham- Uma das indicações da FTP é na Capsulite Adesiva. Nosso
berlain [3] e Stasinopoulos e Johnson [9] apresentam algumas levantamento apenas constatou uma pesquisa que teve como
explicações teóricas. Então, sem uma forte evidência científica, objetivo comparar os efeitos iniciais entre 2 abordagens de
é hipotetizado que a técnica promove alívio da dor, hiperemia tratamento fisioterapêutico para tal disfunção. A amostra foi
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 229

constituída de 40 pacientes divididos em dois grupos: (A) rece- et al. [21] comparou o efeito imediato após o tratamento do
beu a FTP e manipulação no ombro, em uma sessão de 1 hora, trigger point com a compressão isquêmica com a Fricção
3 vezes por semana; (B) calor superficial por 20 minutos – com Transversa Profunda. Com apenas uma aplicação das técnicas,
bolsas quentes – e calor profundo por 20 minutos – com ondas foi encontrada uma redução significante na intensidade da
curtas, todos os dias. Os participantes de ambos os grupos dor para ambos os grupos, mas não houve diferença estatis-
realizaram alongamento ativo e exercício pendular após cada ticamente significativa entre os grupos [21]. Este foi o único
sessão e foram instruídos a realizar um programa de exercício encontrado no qual realizou a Fricção Transversa Profunda
em casa que consistia em amplitude de movimento passivo sozinha.
e exercícios pendulares todos os dias. Os tratamentos foram Pela heterogeneidade das pesquisas não é possível confron-
realizados durante 2 semanas e foram mensuradas, através da tar resultados e afirmar a eficácia da FTP na intervenção nos
Escala Análoga Visual, a dor espontânea, dor noturna e dor ao trigger points, embora os estudos tenham mostrado resultados
movimento, e a amplitude de movimento passiva de flexão, positivos. Estudos de revisão (sistemática e não-sistemática)
abdução, rotação interna e externa utilizando um goniôme- – nos quais analisam os tratamentos disponíveis dos triggers
tro. Este estudo mostrou que, ao final da segunda semana, point, também apontam para a falta de evidências quanto à
95% dos que realizaram o tratamento com a abordagem de efetividade da Fricção Transversa Profunda e Terapia Manual
Fricção Transversa Profunda e manipulação alcançaram 80% [27,28].
da amplitude de movimento considerada normal para o om- Nas epicondilites, Cyriax & Cyriax [9] recomendam o
bro, assim como tiveram diminuição da dor ao movimento, uso da FTP por 10 minutos e imediatamente após realizar
mostrando uma diferença significativamente maior para este a Manipulação de Mill. Apesar da forma de intervenção
grupo quando comparado ao grupo que realizou apenas calor supracitada, não há qualquer razão para a utilização das
superficial e profundo [23]. Não foi encontrada nenhuma duas manobras combinadas e não há qualquer evidência na
outra pesquisa que mencionou o uso da Fricção Transversa literatura. Não se sabe qual a razão para esta recomendação,
Profunda no tratamento da capsulite adesiva. já que para outras disfunções indica-se apenas o uso da FTP
Outro ponto interessante para aplicação consiste nas ten- [2,10,15,22]. Nagrale et al. [2] realizaram uma pesquisa, a
dinopatias. Stasinopoulos & Stasinopoulos [24] fizeram um qual comparou a dor, força de preensão livre de dor e o esta-
estudo na tendinopatia patelar crônica com uma amostra de do funcional de pacientes com epicondilite lateral através de
30 pacientes, divididos em 3 grupos: no primeiro grupo foi dois grupos: no primeiro grupo foi realizado fonoforese e um
realizado um programa de exercício excêntrico e alongamento programa de exercícios supervisionados; e no segundo grupo
e repouso; no segundo grupo foi realizado ultrassom pulsado foi realizada a Fisioterapia Cyriax. Os resultados mostraram
e repouso; e, por fim, no terceiro grupo foi realizado a Fricção que a fisioterapia de Cyriax foi superior após 4 e 8 semanas
Transversa Profunda e repouso. Os tratamentos foram reali- do tratamento comparado ao outro grupo.
zados 3 vezes por semana durante 4 semanas. A avaliação da Stasinopoulos & Stasinopoulos [24] pesquisaram o efeito
dor foi feita ao final das 4 semanas de tratamento, após 1 mês da Fisioterapia Cyriax, um programa de exercícios supervisio-
(8 semanas) e após 3 meses (16 semanas). O resultado obtido nados e laser na epicondilite lateral. Esse estudo apontou que
foi de que o grupo que realizou o programa de exercícios ex- as três abordagens foram eficazes na redução da dor. Porém,
cêntricos e alongamento teve uma melhora significativamente o grupo que realizou programa de exercícios supervisionados
maior que os outros dois tratamentos ao final das 4 semanas, produziu um efeito maior em curto, médio e longo prazo
após 1 e 3 meses [19]. Esses dados estão de encontro com [24]. Este resultado está em consonância com a pesquisa de
os resultados encontrados por Cook et al. [25] e Pfefer et Viswas et al. [15] que compararam a eficácia da técnica de
al.[17] que relataram em seus estudos que, apesar da FTP ser Cyriax com exercícios supervisionados na redução da dor e
utilizada amplamente na prática clínica e, teoricamente, se na melhora da função de pacientes com epicondilite lateral.
beneficiar dos estímulos mecânicos das fricções, as evidências Tanto o programa de exercícios supervisionados como o
são limitadas para apoiar o uso da técnica na tendinopatia. Cyriax apresentou melhora significativa na dor e na função
Outra indicação da FTP no campo musculoesquelético é após 4 semanas de tratamento. Na comparação entre as duas
o trigger point. Gam et al. [26] realizaram um estudo no qual abordagens, o grupo que realizou exercícios supervisionados
dividiu a população em 2 grupos sendo (1) Ultrassom, FTP e obteve melhores resultados e estatisticamente significativos
exercício; (2) Ultrassom placebo, FTP e exercício e comparou para todas as variáveis em comparação ao grupo que foi
com o grupo controle que não recebeu nenhuma interven- submetido ao Cyriax [9].
ção, durante 4 semanas, 2 sessões por semana. Nenhuma
diferença significativa na intensidade da dor entre os grupos Conclusão
foi encontrada, porém foi notada uma redução significante
nas características do trigger point em ambos os grupos que Embora a FTP seja utilizada amplamente na prática clí-
realizaram exercícios e Fricção Transversa Profunda [26]. nica e a maioria dos estudos aponte resultados favoráveis na
Um estudo piloto realizado por Fernández-de-las-Peñas aplicação em determinadas disfunções musculoesqueléticas,
230 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

não foi possível comprovar sua efetividade, especialmente 15. Viswas R, Ramachandran R., Anantkumar PK. Comparison of
pela escassez de estudos do tipo ensaio clínico. Por se tratar effectiveness of supervised exercise program and Cyriax physio-
de uma técnica de terapia manual de fácil e rápida aplicação therapy in patients with tennis elbow (lateral epicondylitis): a
e com possibilidade de reverter processos de dor nas estru- randomized clinical trial. The Scientific World Journal 2012:1-8.
16. Stratford PW, Levy DR, Gauldie S, Miseferi D, Levy K. The
turas musculoesqueléticas, novos estudos acerca do FTP
evaluation of phonophoresis and friction massage as treatments
tornam-se necessários, principalmente para elucidar os reais for extensor carpi radialis tendinitis: a randomized controlled
mecanismos, indicações e contraindicações mais precisas e a trial. Physiotherapy Canada 1989;41(2):93-9.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 231

Revisão

Fisioterapia no Brasil: aspectos sociohistóricos


da sua identidade
Sociohistorical aspects of Brazilian physical therapy identity
Adriana de Lima Pimenta, Ft.*, Andréia Catine Cosme, M.Sc.**, Maria de Lourdes de Souza, D.Sc.***

*Aluna do Curso de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Enfermagem e membro do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confor-
tando da Universidade Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC e C&C/UFSC), Bolsista CAPES, **Professora da Universidade do
Sul de Santa Catarina, ***Enfermeira, Coordenadora Geral da Rede de Promoção ao Desenvolvimento da Enfermagem (Repensul),
Colaboradora do Programa de Pós Graduação em Enfermagem e do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confortando da Universidade
Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC e C&C/UFSC)

Resumo Abstract
Introdução: A fisioterapia no Brasil tem como marco para o seu Introduction: The professional recognition of physical therapy
reconhecimento profissional o Decreto-Lei 938 do ano 1969. A in Brazil is marked by the law 938/1969. The legal definition of the
definição legal da profissão e seu reconhecimento social refletem um profession and its social recognition reflects a historical process in
processo histórico em movimento. Objetivo: O texto foi composto motion. Objective: This text was composed in order to reflect on the
visando refletir sobre a identidade profissional do fisioterapeuta no professional identity of physiotherapist in Brazil. Methods: The the-
Brasil. Método: Foi realizado um ensaio adotando como referencial oretical support is the sociology of professions, in Freidson. Results:
teórico a Sociologia das Profissões, em Freidson. Resultados: A The current professional identity of the physiotherapist keeps the
identidade profissional do fisioterapeuta da atualidade guarda carac- characteristics of its origin, and seeks to overcome the deficiency of
terísticas de sua origem e busca superar a deficiência de autonomia technical and socioeconomic autonomy. Conclusion: Among other
técnica e socioeconômica. Conclusão: Dentre outras estratégias é strategies, there is a need to rescue, systematize and disseminate the
preciso resgatar, sistematizar e difundir o conhecimento científico scientific knowledge produced by the physiotherapist, to face pro-
produzido pelo fisioterapeuta, enfrentar os monopólios profissionais fessional monopolies and achieve the affirmation of their social role.
e conquistar a afirmação do seu papel social. Key-words: Physical Therapy specialty, professional practice,
Palavras-chave: Fisioterapia, prática profissional, história, history, sociology.
sociologia.

Recebido em 17 de outubro de 2012; aceito em 9 de maio de 2013.


Endereço para correspondência: Adriana de Lima Pimenta, Rua Liberato Carioni, 460, 88062-205 Florianópolis SC, E-mail: adricorpoanalise@
hotmail.com, andreiacosme@unisul.br, lourdesr@repensul.ufsc.br
232 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

Introdução O ensaio exalta as reflexões do seu autor, mas estas não


são livres de qualquer rigor. A força de seus argumentos re-
A Fisioterapia no Brasil é uma profissão que surgiu no side em interpretações calcadas em ‘reconstruções empíricas
fazer dos massagistas e leigos no começo do século XX, foi hipotéticas’. Afinal o que caracteriza o objeto da ciência não
regulamentada pouco depois da metade daquele século e hoje é a ‘evidência empírica’: o objeto da ciência é também uma
é ensinada no Brasil em mais de 400 cursos em instituições construção [4]. A partir deste entendimento, o ensaio tem
de ensino superior [1]. A regulamentação profissional da o seu rigor na elaboração bem fundamentada de seus argu-
Fisioterapia foi instituída pelo Decreto-Lei 938 de 1969. No mentos, “a ponto de merecer a atenção dos outros e mesmo
ano de 2011, após mais de quatro décadas, o perfil dimensio- seu convencimento” [4:16].
nado pelas Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação (...) no ensaio o autor tem maior liberdade para defender
define o fisioterapeuta como um profissional generalista, com determinada posição, sem que tenha que se apoiar num
formação humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar rigoroso aparato de documentação empírica e bibliográfica.
em todos os níveis de atenção à saúde, em equipe ou isola- Mesmo assim, não dispensa o rigor lógico e a argumentação
damente, abrangendo a prevenção, promoção e recuperação coerente (...) [5:2]; e por isto mesmo, elegemos a perspectiva
da saúde [2]. sócio histórica fundamentada na Sociologia das Profissões [6],
O movimento humano constitui seu objeto de estudo para a operacionalização dos conceitos como profissionaliza-
e este profissional está apto a elaborar o diagnóstico físico e ção e identidade profissional.
funcional, eleger e executar procedimentos fisioterapêuticos
para preservar, restaurar e desenvolver a integridade de órgãos, A Fisioterapia e as décadas de 50 e 60 no
sistemas e funções corporais [3]. Identifica-se, todavia, uma Brasil
lacuna entre a identidade profissional delineada nessa defi-
nição e o seu reconhecimento social, que se manifesta pelas No âmbito da saúde no Brasil, na década de 50 a polio-
dificuldades de absorção do fisioterapeuta pelo mercado de mielite fazia vítimas e havia uma alta prevalência de porta-
trabalho e presença inconsistente nos setores primários de dores de sequelas que necessitavam de atendimento. Além
atenção à saúde. disso, o Brasil encabeçava uma lista entre os primeiros países
Examinaremos elementos históricos do período de 1959 a da América Latina em números de acidentes de trabalho,
1969 que influenciaram o desenvolvimento e a regulamenta- fazendo com que houvesse uma grande demanda de indi-
ção da Fisioterapia no Brasil e a constituição de sua identidade víduos necessitados de reabilitação. A criação de serviços de
profissional. A identificação dos aspectos da formação e do Fisioterapia veio ao encontro da necessidade de atender essa
mercado de trabalho na atualidade é conduzida para refletir demanda social. Os primeiros deles surgiram antes mesmo
sobre a identidade profissional do fisioterapeuta do século que os cursos fossem inaugurados, sendo compostos por leigos
XXI, fazendo um paralelo entre a sua identidade de origem treinados por médicos e enfermeiros. Até 1969, quando foi
e a contemporânea, apontando elementos constitutivos de decretada a regulamentação da profissão, não havia exigência
entraves para a consolidação da autonomia profissional. legal de escolaridade para os indivíduos que trabalhavam nos
serviços de fisioterapia espalhados pelo país [7].
Metodologia Em 1951, instalado no Hospital das Clínicas de São Pau-
lo, o primeiro curso de técnicos em Fisioterapia do Brasil é
O artigo foi elaborado em forma de ensaio, pois se de- inaugurado: o curso Raphael de Barros. Em 1956, é criado
senvolveu como reflexão sobre a identidade profissional da na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR)
Fisioterapia, o ser fisioterapeuta. Os questionamentos surgidos o primeiro curso para formação de Técnicos em Reabilitação,
da própria prática do fisioterapeuta desencadearam a busca com a duração de dois anos: é a Escola de Reabilitação do
documental e de bibliografias que fundamentassem o pensar Rio de Janeiro [8].
sobre a construção da história e da identidade da Fisioterapia Surge em 1959 o Instituto Nacional de Reabilitação
no Brasil. No entanto, esta busca não observou uma siste- (INAR), com suas atividades voltadas para o atendimento de
matização de rigor metodológico, tendo como parâmetro a pacientes. O INAR, no Brasil, representado pela Faculdade de
utilização de material bibliográfico produzido por pesqui- Medicina da USP, foi “o primeiro centro piloto de reabilitação
sadores da fisioterapia que em seus estudos propuseram-se da América Latina”, resultante de um esforço internacional
a analisar o mesmo tema, no período de 2002 até 2011. O que reuniu Organização das Nações Unidas (ONU), Organi-
formato de ensaio foi escolhido a partir da leitura do texto o zação Panamericana de Saúde (OPAS)/ Organização Mundial
qual destaca: “Argumento bem elaborado é aberto, discutível, de Saúde (OMS) [7:80].
dinâmico, flexível, para não virar autoridade e, aí, fechar-se Em 1963, o Conselho Federal de Educação aprovava o
tola ou matreiramente. Busca-se superar o estilo tradicional Parecer nº 388/63 que estabeleceu o primeiro currículo mí-
de autoria soberana e autoritária, perante a qual caberia a nimo para graduação em Fisioterapia. Apesar de significar um
subserviência” [4:16]. avanço para a profissionalização da Fisioterapia, a aprovação
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 233

desse Parecer carregava uma derrota em suas linhas: a definição “(...) uma forma de ajudar as pessoas (...)”, denotando que o
do fisioterapeuta como auxiliar médico, denominado Técnico desempenho da profissão é “(...) quase um sacerdócio (...)” e
em Fisioterapia [9]. não uma atividade profissional qualificada [14:94-95].
Os serviços de Fisioterapia, desde os anos 50, não pararam No perfil do fisioterapeuta, ainda segundo aquela pesquisa,
de se multiplicar. Na década de 60 as associações profissionais há um número muito maior de profissionais do sexo feminino
tiveram seu período de florescimento [10]. do que do sexo masculino (72,4% de mulheres e 27,6% de
O surgimento de uma nova profissão no campo da saúde homens), concordando com o resultado de outros estudos
não interessava para alguns setores da classe médica. Tanto o que corrobora a ideia corrente de que a Fisioterapia seria uma
Conselho Federal de Educação quanto a Comissão de Saúde profissão de mulher [14:54-55].
do Congresso Nacional tinham cargos estratégicos ocupados A identidade profissional do fisioterapeuta pode ser
por médicos representantes desses setores. A regulamentação visualizada no reconhecimento do Estado e da sociedade
da Fisioterapia não lhes interessava e manobras políticas e o materializado nas configurações do mercado de trabalho para
poder dos cargos foram utilizados para estabelecer limites à este profissional, conforme pode ser observado nos dados
autonomia do fisioterapeuta em relação ao médico. A pri- do I Censo dos Fisioterapeutas do Estado de São Paulo ano
meira batalha travada estabeleceu-se no âmbito da reserva 2008, que concentra o maior número desses profissionais
de conhecimento, com a comissão mutilando o currículo do país: 31,7%, ou 25.147. Dos 13.712 fisioterapeutas que
mínimo da graduação reduzindo o número de matérias pela responderam aos questionários, 70,5% destes trabalham no
metade, “resumidas ao indispensável” [11:204]. Em 1964, o setor privado, 15,2% no serviço público, 4,3% em instituições
MEC aprova o Parecer 388/63; e a Fisioterapia conquista sua mistas e 10% em instituições filantrópicas [1].
inclusão no contexto universitário. Apesar desta conquista os Além disso, os dados do Instituto Nacional de Estudos e
profissionais continuaram a ser denominados de Técnicos [9]. Pesquisas Educacionais (INEP) demonstram a expansão dos
Em 1964, o Brasil mergulha num período turbulento: cursos de Fisioterapia no Brasil: em 1969 havia 6 cursos de
o presidente João Goulart é deposto por um golpe militar, graduação e em 2005 esse número havia subido para 462.
com o apoio político e estratégico do governo americano Com o crescimento do número de cursos houve um au-
[7]. Enquanto isso, a Fisioterapia floresce: a regulamentação mento no contingente de formandos prontos a se lançarem
da profissão foi decretada pela Junta Militar que, em 1969, no mercado de trabalho a cada ano. Em 1991, os 48 cursos
presidia o Brasil. Um ano antes havia sido decretada a refor- formaram 1.951 fisioterapeutas. Em 2004, os 339 cursos
ma do ensino superior, que visava essencialmente garantir a formaram 13.631 novos profissionais [1].
submissão da sociedade a um poder político autoritário [12]. Por outro lado, temos uma nova proposta curricular re-
O governo militar brasileiro faz uma parceria com os EUA gulamentada em 2002: são as Novas Diretrizes Curriculares
operacionalizada entre o Ministério da Educação e Cultura Nacionais do Curso de Graduação de Fisioterapia. Segundo
(MEC) e a United States Agency of Internatinonal Development elas, os cursos de Fisioterapia devem contemplar em seus
(USAID) para desenvolver no Brasil a reforma educacional currículos conteúdos relacionados ao processo saúde-doença
baseada nos moldes americanos. A meta era estruturar uma do indivíduo, da família e da comunidade. Os objetivos são
política educacional como estratégia de hegemonia, funda- ampliados nessa nova proposta e há uma orientação para a
mentada no enfraquecimento da capacidade reflexiva e crítica, integralidade das ações de cuidar do fisioterapeuta, devendo
voltada para uma formação escolar pouco consistente baseada este estar integrado à realidade epidemiológica e profissional
no treinamento para inserção nos processos produtivos [13]. [3]. As Novas Diretrizes trazem o desafio de reformular a
Os primeiros cursos superiores de Fisioterapia no país foram identidade da Fisioterapia, pautada na função reabilitadora,
concebidos nos padrões exigidos pela ditadura militar. O que atua apenas nos níveis secundários e terciários da atenção,
sistema educacional brasileiro foi modificado adequando-se inserindo-a também no campo da prevenção e promoção da
aos interesses desenvolvimentistas dos militares e a educação saúde que caracteriza o nível primário da atenção [2].
tornou-se utilitarista e acrítica. No entanto, esses elementos Outro estudo contendo análise de periódicos nacionais
convergiram para a concretização do projeto de regulamen- publicados entre 1996 e 2009 revela que a produção científica
tação do currículo mínimo do curso de Fisioterapia e regula- em Fisioterapia tem crescido: nos anos de 1995/96 identi-
mentação da profissão [10]. ficaram 12 publicações e nos anos de 2008/09 esse número
foi de 264. O número de doutoramentos também aumentou,
A identidade do fisioterapeuta no Século passando de 57 para 573 fisioterapeutas com esta titulação
XXI no período de 1998 a 2008 [15].

Num estudo realizado em 2010 em Goiânia sobre o Os desafios


perfil do fisioterapeuta foi feita a pergunta: “(...) para você
como é ser fisioterapeuta (...)?” para 109 fisioterapeutas. As O processo de profissionalização na sociedade moderna
declarações dos profissionais ressaltam a profissão como sendo emerge como resultado da consolidação do capitalismo,
234 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

surgido após a Revolução Industrial, acarretando formas de Contextualizada histórica e sociologicamente, analisamos
divisão do trabalho que se expressam nas diferentes profissões a identidade profissional do fisioterapeuta brasileiro à épo-
existentes nos dias de hoje. Essa nova organização do trabalho ca da regulamentação da profissão constituindo-se pelas
tomou tal importância que mereceu a atenção dos estudiosos seguintes características: a reabilitação como objeto de
da Sociologia [16]. trabalho, o tecnicismo, a prática acrítica e a subalternidade,
Os primeiros teóricos das Profissões, seguindo a tradição haja vista que a profissão surgiu em resposta à demanda de
funcionalista da Sociologia americana, caracterizam profissão reabilitação para uma nova ordem social que exigia que
com os seguintes critérios: a formação de nível superior, o trabalhadores retomassem mais rapidamente às linhas de
ideal de serviço (ideal de serviço seria a disponibilidade dos produção. Além disso, os surtos de poliomielite no Brasil
profissionais como vocação para ‘servir’, isto é, os profissio- também contribuíram para que a profissão definisse a sua
nais teriam, acima de suas próprias necessidades materiais, o vocação de reabilitação [8].
compromisso de atender a demanda das necessidades sociais Os primeiros currículos mínimos dos cursos de
[17]) e controle por normas coletivas impostas por associações graduação foram definidos a partir de uma disputa de
de classe [15]. monopólio de conhecimento que garantiram a definição
Na Sociologia americana há uma vertente que defende do fisioterapeuta como auxiliar médico e atendiam aos
uma análise crítica e sistemática dos pressupostos sobre as padrões exigidos pela política educacional do regime
profissões, definindo-as como ocupações organizadas, de- militar vigente no Brasil, isto é, profissionais tecnicistas
tentoras de um saber específico e complexo obtido através sem fundamentação para o pensamento crítico e reflexivo,
de uma formação de nível superior, que obtém o monopólio legados à subalternidade [12].
sobre a realização do seu trabalho, o direito de controlar o Quanto à identidade do fisioterapeuta na atualidade, bus-
treinamento e o acesso a ele e de avaliar como o trabalho é camos refletir sobre elementos extraídos da produção científica
realizado. Essa vertente desmistifica a crença de que uma de pesquisadores da Fisioterapia para contextualizá-la. A fala
formação altamente especializada e o ideal de serviço seriam dos fisioterapeutas entrevistados denota a dualidade do termo
as principais características da profissão e aponta para a au- “vocação sacerdotal” utilizado por eles próprios para designar
tonomia como seu elemento essencial [6,17]. a profissão: identifica o fazer da Fisioterapia como prática de
Na construção da legitimidade profissional não basta o altruísmo, o que de certa forma garante-lhes algum prestí-
saber, a habilidade, a competência. A autoridade da expertise gio, mas não reforça suas conquistas como conhecimento e
se estabelece através do reconhecimento social, que se constitui práticas dentro dos rigores dos métodos científicos, nublando
mediante a identidade profissional. A identidade é atribuída o reconhecimento do seu caráter profissional. O número de
ao indivíduo, é sustentada e é transformada através de atos mulheres muito superior ao de homens exercendo a profissão
de reconhecimento social [18]. Para consolidar a identidade suscita a reflexão sobre as relações de gênero e trabalho. As
profissional é fundamental o reconhecimento por parte da diferenças salariais por gênero são ainda uma questão que
sociedade sobre a legitimidade dos profissionais. A autoridade marca profundamente os mercados de trabalho na atualidade
da expertise se estabelece pela conquista do reconhecimento e não podemos deixar de apontar para este elemento como
social [6]. constituinte da identidade profissional e sua valoração econô-
Essa crítica sociológica sustenta a reflexão sobre as re- mica no mercado [20]. Além disso, a predominância feminina
lações entre o surgimento do profissionalismo brasileiro e carreia à profissão as características histórica e ideologicamente
a consolidação do projeto de nação. No Brasil existiu uma instituídas como “qualidades femininas”: doação, afetividade
relação de mútua influência entre a constituição do Estado e submissão, reforçando seu caráter original [14].
e o surgimento das profissões: a autoridade da expertise dos Nas propostas contidas nas Diretrizes Curriculares do
grupos profissionais legitimou as ações do Estado e este por Curso de Graduação em Fisioterapia de 2002 identificamos o
sua vez estabeleceu uma legislação, garantindo assim um reconhecimento da ampliação do conhecimento e da prática
monopólio de mercados de serviços. Os grupos profissionais, do fisioterapeuta como profissional apto a lidar com a saúde
no processo de construção de sua identidade e do seu lugar em todos os níveis da atenção [2].
social, foram elementos essenciais na configuração do padrão No entanto parece haver um desencontro entre o pro-
de relações sociais dominantes no Brasil. As primeiras profis- jeto político que fundamentou as escolhas das Diretrizes
sões a buscarem reconhecimento do Estado brasileiro foram Curriculares de 2002 e as políticas atuais de Saúde Pública
a Medicina, a Engenharia e a Advocacia. A forma como elas que definem a abertura de vagas para profissionais da saúde
se constituíram como profissões estabeleceu parâmetros para que compõem as equipes multidisciplinares em hospitais e
a regulamentação de tantas outras [19]. postos de saúde, nos âmbitos municipal, estadual e federal.
A Fisioterapia no contexto brasileiro profissionalizou-se Aqui visualizamos um descompasso entre o reconhecimento
alicerçada por projetos nascidos da parceria Brasil/Esta- social da identidade profissional do fisioterapeuta, ampliada
dos Unidos, acompanhando o projeto político de nação e valorizada nas linhas das Diretrizes Curriculares de 2002 e
instaurado no período em que vigorou o regime militar. ausência de reconhecimento social dessa mesma identidade
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 235

refletida na presença irrisória desses profissionais no serviço têm respondido com avanços na sua produção científica, na
público. Além disso, o fato da profissão ainda ter pouca par- aplicação do conhecimento e melhora dos resultados na clíni-
ticipação no Sistema Único de Saúde contribuiria para não ca. No entanto o mercado de trabalho de um profissional da
oportunizar a sua visibilidade social [21]. saúde é diretamente mediado pelo Estado para que seja aces-
Esses elementos podem revelar a intencionalidade em sível à totalidade da população, pois dependente de espaços
preservar espaços públicos conquistados por outras pro- públicos para a efetivação de seu trabalho. O Estado brasileiro
fissões e a conivência do Estado com uma possível reserva em suas políticas públicas atuais disponibiliza número restrito
de mercado, haja vista o relacionamento dessas profissões de vagas para fisioterapeutas no setor público, negligenciando
com o poder em sua luta pela manutenção dos monopólios a acessibilidade a este serviço. Esse posicionamento do Estado
profissionais [17]. pode se dever, entre outros determinantes, à influência de seto-
A autonomia técnica, isto é, a possibilidade do controle res profissionais na luta pela manutenção de seus monopólios,
sobre a prática profissional, só se efetiva na organização mas é preciso superar os interesses de classe quando estes não
social e econômica do trabalho. O baixo percentual de fi- caminham junto aos interesses e demandas da sociedade. Por
sioterapeutas trabalhando no setor público denota que esta fim, reflexões acerca da identidade profissional da Fisioterapia
categoria profissional ainda não estabeleceu uma parceria da atualidade apontam para problemas na autonomia técnica
com o Estado para o diálogo sobre as decisões políticas na e socioeconômica, apesar das conquistas da profissão. A Fi-
gestão de questões fundamentais para a garantia da autono- sioterapia no contexto brasileiro deve resgatar, sistematizar e
mia da profissão [6]. Um quadro mais amplo se configura: difundir o seu conhecimento científico de modo a conquistar
a formação profissional alicerçada no tecnicismo e carente legitimidade da identidade profissional e expansão da sua
de aprofundamento em disciplinas que propõem o exercício autonomia. Além disso, é fundamental que os fisioterapeutas
do pensamento crítico desprepara o fisioterapeuta para o participem da discussão, implementação e controle da quali-
enfretamento de situações que não sejam estritas à ordem dade dos cursos de graduação e pós-graduação em Fisioterapia.
técnica. No processo histórico da profissão, a construção da
autonomia, a subalternidade e o tecnicismo se mantiveram Referências
constantemente presentes. Mesmo com os avanços, tanto na
produção de conhecimento, quanto na implementação desse 1. Almeida ALJ. O lugar social do fisioterapeuta [Tese]. Presidente
conhecimento na clínica, a Fisioterapia continuou vinculada Prudente: Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências
ao saber técnico, alheia às questões filosóficas, sociológicas e e Tecnologia; 2008.
2. Teixeira CB. Diretrizes curriculares nacionais do curso de gra-
políticas. A formação do profissional deve instrumentalizá-
duação em fisioterapia: o perfil do fisioterapeuta [Dissertação].
-lo a pensar criticamente ou este não será capaz de gerir
Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná; 2004.
questões que estejam além das demandas técnicas, nem de 3. Conselho Nacional de Educação (BR). Resolução CNE/CES 4,
empreender novos rumos para a profissão [2]. de 19 de fevereiro de 2002. Institui diretrizes curriculares nacio-
Por outro lado, a busca da qualificação científica identifica- nais do Curso de Graduação em Fisioterapia. DOU; 2002 Mar
da no cenário de publicações de fisioterapeutas em periódicos 4 [acesso em 2011 Abr 20];1:11. Disponível em URL: http://
nacionais e a ampliação do número de doutoramentos, mostra portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES042002.pdf
um caminho que já vem sendo trilhado pelos profissionais da 4. Demo P. A força sem força do melhor argumento: ensaio sobre
Fisioterapia. A comunicação e disseminação dos resultados “novas epistemologias Virtuais”. Brasília: Ibict; 2010.
científicos direcionam a profissão para melhores resultados 5. Toledo LA, Loures CA. Organizações Virtuais. Cadernos EBA-
PE 2006;4(2):1-17.
em sua prática e a conquista da legitimidade.
6. Freidson E. Renascimento do profissionalismo: teoria, profecia
A redefinição do enfoque da Fisioterapia voltada para a e política. São Paulo: Edusp; 1998.
atenção primária da Saúde, como quer os termos das Novas 7. Oliveira VRC. A história dos currículos de fisioterapia: a cons-
Diretrizes Curriculares de 2002, também desafia a profissão trução de uma identidade profissional [Dissertação]. Goiânia:
a reestruturar seus paradigmas. Esta ainda é uma tendência a Universidade Católica de Goiás; 2002.
ser estabelecida, pois muitos conflitos precisam ser superados 8. Barros FBM. Poliomielite, filantropia e fisioterapia: o nasci-
para se levar a cabo esta redefinição. Porém a materialização mento da profissão de fisioterapeuta no Rio de Janeiro dos anos
textual e a regulamentação das Diretrizes despontam como 1950. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(3):941-54.
resultado da organização e das conquistas da categoria, num 9. Caldas MAJ. O processo de profissionalização do fisioterapeuta:
o olhar em Juiz de Fora [Tese]. Rio de Janeiro: Universidade do
insurgir estratégico para a reformulação dos monopólios
Estado do Rio de Janeiro; 2006.
profissionais e para afirmação de seu papel social.
10. Barros FBM. A formação do fisioterapeuta na UFRJ e a pro-
fissionalização da fisioterapia [Dissertação]. Rio de Janeiro:
Conclusão Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2002.
11. Barros FBM. Fisioterapia, poliomelite e filantropia: a ABBR e
A redefinição do papel do fisioterapeuta é resultante das a formação do fisioterapeuta no Rio de Janeiro (1954-1965)
demandas da própria sociedade, para a qual estes profissionais [Tese]. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz; 2009.
236 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

12. Assis LAO. Rupturas e permanências na história da educação 17. Barbosa MLO. Renascimento do profissionalismo: teoria, pro-
brasileira: do regime militar à LDB/96. Praxis 2006;3(4). fecia e política. Rev Bras Ci Soc 1999;14(39):186-90.
13. Correia WF. A educação, moral e cívica do regime militar 18. Berger PL. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística.
brasileiro, 1964-1985: a filosofia do controle e o controle da Rio de Janeiro: Vozes; 1983.
filosofia. Eccos Rev Cien 2007;9(2):489-500. 19. Coelho EC. As profissões imperiais: medicina, engenharia e
14. Batista DA. O ser fisioterapeuta: desenvolvimento profissional advocacia no Rio de Janeiro 1822-1930. Rio de Janeiro: Re-
e qualidade de vida no trabalho [Dissertação]. Goiânia: Facul- cord; 1999.
dades ALFA; 2010. 20. Madalozzo R, Martins SR, Shiratori L. Participação no mercado
15. Virtuoso JF, Haupenthal A, Pereira ND, Martins CP, Knabben de trabalho e no trabalho doméstico: homens e mulheres têm
RJ, Andrade A. A produção de conhecimento em fisioterapia: condições iguais? Estud Fem 2010;18(2):547-66.
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2003;46(3):593-607.

Agenda
2013
Junho Outubro

18 a 20 de junho 13 a 16 de outubro
Trabalho, Stress e Saúde: promovendo a saúde total do Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO)
trabalhador – da teoria à ação Florianópolis, SC
Centro de Eventos Plaza São Rafael, Porto Alegre, RS Informações: http://cbto2013.com.br
Informações: stress@ismabrasil.com.br
16 a 19 de outubro
21 e 22 de junho XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
II Jornada de Fisioterapia em Oncologia Fortaleza, CE
Hotel Deville, Porto Alegre, RS Informações: www.jzkenes.cpm
Informações: http://www.icmd2013.com.br/php/index.php
Novembro
Agosto
14 a 17 de novembro
8 a 11 de agosto VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de
21º Congresso Científico Internacional de Estética Fisioterapia Esportiva - SONAFE
Parque Anhembi, São Paulo, SP Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP
Informações: http://www.congressoestetica.com.br/estetika/ Informações: www.sonafe.org.br
feira
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Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil

Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em 3. Revisão


Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em
Abreviação para citação: Fisioter Bras alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessaria-
mente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes- revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando
tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia em-
várias áreas relacionadas à Fisioterapia. pregada.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publi- Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessa-
cados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros riamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au- área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, me-
torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com todologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão,
estas condições. conclusão e referências.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform re- Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
quirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em in- Literatura citada: Máximo de 50 referências.
glês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada 4. Relato de caso
de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou
inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos
Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo (ar- não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas.
tigos@atlanticaeditora.com.br). A publicação dos artigos é uma decisão Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do
dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial caso, Discussão, Conclusões e Referências.
serão submetidas à revisão por pares anônimos. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estu- figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
dos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo ado- Literatura citada: Máximo de 20 referências.
tado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir
o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em 5. Opinião
Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registra- Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos auto-
da no Conselho Nacional de Saúde. res: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses,
críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações
1. Editorial alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos
O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acon- editores quanto à pertinência do tema abordado.
tecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos impor- Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um
tantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, resumo destacado.
que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços.
de atualidade. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
2. Artigos originais
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ginais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estu- Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada
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Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se
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figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência
deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New do tema abordado.
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grito, itálico, sobre-escrito, etc.
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Literatura citada: Máximo de 50 referências.
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outros meios além de anais de congresso;
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• Telefones de contato do autor correspondente.
Resumo e palavras-chave • A área de conhecimento:
A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá con- ( ) Cardiovascular / pulmonar
ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ( ) Saúde funcional do idoso
ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, ( ) Diagnóstico cinético-funcional
resultados e conclusão. ( ) Terapia manual
Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em ( ) Eletrotermofototerapia
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar ( ) Orteses, próteses e equipamento
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da ( ) Músculo-esquelético
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. ( ) Neuromuscular
( ) Saúde funcional do trabalhador
Agradecimentos ( ) Controle da dor
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser ( ) Pesquisa experimental /básica
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. ( ) Saúde funcional da criança
( ) Metodologia da pesquisa
Referências ( ) Saúde funcional do homem
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências ( ) Prática política, legislativa e educacional
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas ( ) Saúde funcional da mulher
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ( ) Saúde pública
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. ( ) Outros
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In-
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoame- Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
ricanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme. cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, para sua adequada formatação.
colocar a abreviação latina et al.
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Exemplos: artigos@atlanticaeditora.com.br
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper-
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York:
Raven Press; 1995.p.465-78.

Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of


urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
Res 1994;54:5016-20.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013 239

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should include the agreement register from the Ethics and Research Com-
mittee of the Hospital or University. This Committee must be registered 4. Case Report
by the Health National Council of Brazil. Descriptive data of one or more clinical or treatment cases with similar
characteristics. Only will be accepted reports of cases unusual, or rare dis-
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240 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 3 - maio/junho de 2013

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Conclusion. ( ) Manual therapy
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( ) Child’s Health
Text ( ) Research Methodology
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( ) Public health
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Exemples:
Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyperten-
sion: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York:
Raven Press; 1995.p.465-78.
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
Res 1994;54:5016-20.
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Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

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Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 4 julho/agosto 2013 - 241~320)

EDITORIAL
De sopas e imóveis, Marco Antonio Guimarães da Silva.............................................................................................................. 246

ARTIGOS ORIGINAIS
Efeito do tempo de aplicação da pressão positiva expiratória sobre a depuração pulmonar
do 99mTc-DTPA, Gabriela Feltez, Dulciane Nunes Paiva, Janice Luisa Lukrafka Tartari,
Dannuey Machado Cardoso, Isabella Martins de Albuquerque..................................................................................................... 247
A influência da Kinesio® Taping na correção da protrusão de ombro avaliado por meio
da biofotogrametria computadorizada, Renner Silva de Oliveira Filho,
Thiago Vilela Lemos, Franassis Barbosa de Oliveira...................................................................................................................... 252
A representação social e os significados dos docentes sobre a síndrome de Burnout
na dimensão da exaustão emocional, Catarina Costa Fernandes,
Denilson de Queiroz Cerdeira, Thais Teles Veras Nunes, Francilena Ribeiro Bessa,
Alexandre Carvalho de Lima, Francisca Darliana Almeida Torres................................................................................................. 257
A utilização do Nintendo Wii® no treinamento de equilíbrio de idosos institucionalizados:
estudo piloto, Enaile Cristina Soares Andrade, Wanderly dos Melo,
Patrícia de Deus Dini, Hudson Azevedo Pinheiro........................................................................................................................ 264
Prevalência de dor em adolescentes escolares, Angelica Castilho Alonso,
Joseane Lima da Anunciação, Rosana de Oliveira......................................................................................................................... 268
Estudo da emissão de luz por diodo infravermelho na dor neuropática em ratos,
Glauce Regina Pigatto, Jones Eduardo Agne, Liliane de Freitas Bauermann,
Juliano Ferreira, Gabriela Trevisan dos Santos, Robson Borba de Freitas, Fernanda Rosa.............................................................. 274
Força de pinça trípode e destreza manual em pacientes portadores de esclerose múltipla
forma remitente-recorrente, Marcos Moço Nascimento, Sônia Beatriz Félix Ribeiro,
Sabrina Martins Barroso, Cátia Silva, João Batista Ribeiro, Fabrizio Antonio Gomide Cardoso.................................................... 283
Avaliação do ultrassom sobre a hiperalgesia e o edema em joelhos de rato Wistar e interferências
de um inibidor de opioides endógenos, Cintia Cristina Santi Martignano, Lígia Inez da Silva,
Anamaria Meireles, Bruno Pogorzeski Rocha, Camila Thieimi Rosa, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................... 289
A inserção e a atuação dos fisioterapeutas concursados da rede municipal
de Santa Maria/RS, Sinara Porolnik, Andriele Gasparetto........................................................................................................... 294
Intervenção fisioterapêutica orientada aos idosos baseada no nível de conhecimento
e atitudes sobre diabetes mellitus, Viviane Rech, Maria Manuela Martins, Hugo Tourinho Filho.............................................. 301

REVISÕES
Repercussões pressóricas do frio local: a crioterapia deve ser administrada
com precaução em pacientes hipertensos? Isaac Brunno de Meneses Mamede Silva,
Allan Cavalcante Oliveira, Rômulo da Silva Brito, Marcelo Coertjens.......................................................................................... 306
Prematuridade e lesão pulmonar induzida pela ventilação pulmonar mecânica,
Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Adriane Pires Batiston, Arthur de Almeida Medeiros,
Leila Simone Foerster Merey, Elis Regina da Silva Ferreira, Durval Batista Palhares...................................................................... 312

NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................318
EVENTOS..........................................................................................................................................................................320
246 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Editorial

De sopas e imóveis

Marco Antonio Guimarães da Silva

Zé da pipa já havia assumido o seu posto quando cheguei Não se sabe se ele daria ou não um jeitinho para acabar com
ao bar do Joaquim, nosso ponto de encontro dominical. a LBV e faria valer o novo estatuto, abocanhando tudo que
Eram 10 da manhã; ambos estávamos fora dos nossos habi- construíra em nome da caridade, porque ele morreria três anos
tuais horários. Eu, muito atrasado, e o Zé, excessivamente depois. Bem, como não houve abocanhamento algum, melhor
adiantado. Depois fiquei sabendo que viera direto da noite; invocar o beneficio da dúvida e pensar que o finado filantropo
aportara por lá às 5 da manhã e dormira até às 8. A julgar não arranjaria o fim involuntário da Legião da Boa Vontade,
pelo número de cartelas espalhadas sobre a mesa, ele já havia mesmo que conseguisse esticar a sua permanência por aqui.
entornado cinco chopes e, se o conhecia bem, deveria estar O Zarur que aparece hoje nos noticiários do jornal é
em estado etílico pré-beligerante, pronto a desafiar o primeiro outro, se chama Dahas Zarur. É um pouquinho mais novo,
que ousasse discordar de suas opiniões —Você já viu isso? mas começou a elucubrar as sacanagens que aprontaria em
perguntou-me ele, brandindo no ar a primeira página do sua vida no mesmo ano em que o seu xará fundava a LBV.
jornal. Com receio de que ele iniciasse ali um longo discurso, Pelas informações que você e eu tivemos pelos jornais, parece
o qual acabaria com palavrório e gestos inapropriados para o que esse Zarur também andou fazendo uma caridade, a de
horário, assumi a palavra e lhe disse: tal e qual você, também distribuir gratuitamente aos parentes (porque ele não é bobo,
estou indignado. Um absurdo, Zé da Pipa, um verdadeiro ab- nem nada, de colocar algo em seu nome) vários imóveis que
surdo. Funcionou. A faísca que alimentaria o seu verborrágico pertenciam à Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
espírito incendiário se apagou; dele ouvi apenas: — pois é, Você viu a foto dele no jornal? É a cara do Mr. Magoo, aquele
um absurdo. Esse sujeito não era o tal que dava sopa para os velhinho do desenho animado criado em 1949. Um pouco
pobres? continuou ele, agora em tom mais calmo. — Não, mais alto e mais magro, mas se parece com ele, se parece, sim
Zé, não senhor; possuem o mesmo sobrenome, mas não são senhor. E acho até que ele tem, como o velhinho do desenho,
a mesma pessoa, respondi. Você fez uma baita confusão. O uma baita deficiência visual. Talvez seja por isso que não
da sopa se chamava Alziro Zarur, e distribuía, gratuitamente, enxergou o que estava escrito nos papeis que assinou e que
pratos de comida para os pobres da periferia do Rio de Janeiro. transferia para os pobres parentes as dezenas de imóveis, todos
Criou no inicio da segunda metade do século 20 a famosa situados no Leblon, com um dos metros quadrados mais caros
Legião Brasileira da Boa Vontade (LBV). O fato de alimentar do mundo. E o pior, sabe o que é o pior, Zé da Pipa, estou
milhares de bocas famintas deu-lhe grande popularidade, e aqui a imaginar o que o cara irá dizer quando for chamado
o tornou uma espécie de celebridade dos desassistidos. O para prestar contas disso tudo. Fará uma maquiagem do mal
cara já morreu, Zé da Pipa. Se fosse vivo, estaria hoje com que cometeu, um tipo de terapia estética das suas tramoias.
98 anos. E digo mais. Quando completou 61 anos, um de Isso mesmo; ele vai metamorfosear as suas sacanagens e criar
seus principais assessores o sequestrou e baixou-lhe o cacete. uma justificativa descafeinada para as mesmas, digamos assim;
O sequestro e a surra foram justificados pelo agressor. Este mais permissiva com as doações que fez e que até agora ainda
alegou que Zarur havia alterado o estatuto da instituição que são proibidas. E você o que acha disso tudo? — Zé da Pipa,
criara, o qual passava, a partir de então, a lhe dar posse dos Zé da Pipa, você tá dormindo? Acorda, seu fdp, acorda Zé da
bens da organização, no caso de que a mesma fosse extinta. Pipa. E pensar que gastei todo esse meu latim à toa.

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 247

Artigo original

Efeito do tempo de aplicação da pressão positiva


expiratória sobre a depuração pulmonar do 99mTc-DTPA
Effect of application time of positive expiratory pressure on lung
clearance of 99mTc-DTPA
Gabriela Feltez, Ft.*, Dulciane Nunes Paiva**, Janice Luisa Lukrafka Tartari***, Dannuey Machado Cardoso, Ft., M.Sc.****,
Isabella Martins de Albuquerque*****

*Mestranda, Ciências da Reabilitação, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre/RS,
**Professora Adjunta, Curso de Fisioterapia, Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul/RS, *** Professora
Assistente, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre/RS,
****Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS, ****Professora Adjunta do Departa-
mento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Resumo Abstract
Introdução: A taxa de depuração pulmonar do 99mTcDTPA Introduction: The pulmonary clearance rate of 99mTc-DTPA is
constitui um índice da permeabilidade pulmonar. A aplicação da index of lung permeability. The application of expiratory positive
pressão positiva expiratória (EPAP), um recurso fisioterapêutico, airway pressure (EPAP), a physical therapy tool, promotes increase
promove aumento da expansão pulmonar, entretanto são escassos in pulmonary volume, however there are few studies addressing
os estudos abordando a associação entre o tempo de aplicação deste the association between the application time of this resource and
recurso e a permeabilidade pulmonar. Objetivo: Comparar o tempo lung permeability. Objective: To compare the time of 99mTc-DTPA
de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA no 15º e 30º minuto de lung clearance in the 15º and 30º minute of EPAP at pressures 10
aplicação da EPAP nas pressões de 10 e 15 cmH2O. Hipotetiza-se cmH2O and 15 cmH2O. It is hypothesized that the application
que a aplicação de apenas 15 minutos da técnica já poderia influen- of 15 minutes of EPAP could positively influence the increase in
ciar positivamente o aumento do volume pulmonar. Material e mé- pulmonary volume. Methods: We measured the pulmonary clearance
todos: Mensurou-se a taxa de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA rate of 99mTc-DTPA in a sitting position in healthy individuals (n
na posição sentada em indivíduos hígidos (n = 20) respirando sob o = 20) breathing under the effect of 10 and 15 cmH2O of EPAP,
efeito de 10 e 15 cmH2O de EPAP, após avaliou-se o comportamento after that we evaluate the behavior of T1/2 at 15º and 30º minute.
do T1/2 no 15º e 30º minuto. Resultados: Observou-se o aumento Results: We observed an increase in clearance rate with 15 cmH2O
da taxa de depuração quando 15 cmH2O de EPAP foi aplicada (p EPAP (p = 0,012), but there was no change with 10 cmH2O (p
= 0,012), porém não houve alteração com 10 cmH2O (p = 0,064). = 0,064). There was no statistically significant difference in T1/2 of
Não houve diferença estatisticamente significativa no T1/2 do 99mTc- 99m
Tc-DTPA in the 15º minute (p = 0,182) to the 30º minute (p =
-DTPA do 15º minuto (p = 0,182) para o 30º (p = 0,489). Conclusão: 0,489). Conclusion: The results demonstrated the effect of 15 cmH2O
Os resultados demonstraram o efeito de 15 cmH2O da EPAP no EPAP in the increase of the pulmonary clearance of 99mTc-DTPA
aumento da depuração pulmonar do 99mTc-DTPA sugerindo não suggesting no difference between 15º and 30º minutes.
haver diferença entre o 15º e 30º minuto. Key-words: blood air-barrier, technetium Tc 99m pentetate,
Palavras-chave: barreira alveolocapilar, pentetato de tecnécio Tc positive-pressure respiration.
99m, respiração com pressão positiva.

Recebido em 24 de agosto de 2012; aceito em 20 de junho de 2013.


Endereço de correspondência: Gabriela Feltez, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rua Sarmento Leite, 245, 90050-170
Porto Alegre RS, E- mail: gfeltez@hotmail.com
248 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Introdução Material e métodos

A barreira alvéolo-capilar, também chamada de barreira Trata-se de um estudo transversal retrospectivo realizado a
gás-sangue (BGS), por sua espessura extremamente fina e partir de um banco de dados pré-existente do estudo intitula-
delgada, é um excelente meio de separação entre o ar alveolar do: “Efeito da EPAP na depuração pulmonar do 99mTcDTPA
e o sangue dos capilares pulmonares, permitindo de forma em indivíduos hígidos” [15].
rápida e eficiente a troca dos gases respiratórios e dificultando Foram incluídos no estudo 20 indivíduos hígidos, adultos
a difusão de partículas hidrossolúveis em suspensão no ar jovens com idade superior ou igual a 18 anos, não-tabagistas
alveolar. Trata-se de uma grande área de superfície susceptível ou que tivessem abandonado a prática tabágica nos 30 ou
a lesões por agentes químicos, físicos ou biológicos [1,2]. mais dias precedentes ao estudo. Foram excluídas gestantes
A integridade dessa barreira é de fundamental importância ou mulheres com atraso menstrual, mulheres em lactação,
na manutenção da homeostase pulmonar. A BGS, além de indivíduos com pneumopatias crônicas ou sintomas respira-
prover uma grande área de superfície (50-100 m2), é uma tórios agudos. O protocolo deste estudo foi aprovado pelas
estrutura extremamente fina, devendo ainda prover grande Comissões Científicas e de Radioproteção do Hospital de
resistência às tensões aplicadas à sua superfície, como durante Clínicas de Porto Alegre (HCPA) com o no. 04-418, tendo
o exercício intenso, que produz elevadas pressões de capilar sido obtido consentimento pós-informado de todos os indi-
pulmonar e também em situações de hiperinsuflação pulmo- víduos incluídos no estudo.
nar quando a parede alveolar sofre tensão longitudinal [3].
A permeabilidade epitelial pulmonar pode ser avaliada pela Protocolo do estudo
taxa de depuração pulmonar do radioaerossol de dietilenotria-
minopentacético marcado com Tecnécio-99m (99mTc-DTPA) Todos os voluntários foram submetidos à cintigrafia pul-
expresso por seu tempo de meia vida (T1/2) [4]. Tal técnica é monar com radioaerossol 99mTc-DTPA em respiração espon-
não-invasiva, relativamente de baixo-custo, baixa radiação e tânea e sob EPAP (RHDSON Vital Signs®, New Jersey, EUA).
de fácil execução [5]. O sistema EPAP utilizado foi composto por máscara facial
Nos últimos anos, a pressão positiva expiratória nas vias siliconizada, contendo válvula unidirecional adaptada a um
aéreas (EPAP) tem sido amplamente utilizada em diversas gerador de PEP (positive expiratory pressure) ajustável a 10 e
situações clínicas, como em pacientes com fibrose cística, com 15 cmH2O. O vedamento máscara/face foi realizado através
o propósito de auxiliar na eliminação de muco, incrementar de presilhas flexíveis o que impediu o escape do fluxo de gás.
volumes pulmonares e aumentar a saturação periférica de
oxigênio [6,7], assim como em pacientes submetidos à cirurgia Avaliação da função pulmonar
de revascularização miocárdica com o objetivo de reduzir as
perdas da função pulmonar e a incidência de complicações A avaliação da função pulmonar através do teste espiromé-
pulmonares no pós-operatório [8]. trico serviu para atestar a normalidade da função ventilatória
Estudos em ovelhas [9] e cães [10,11] que avaliaram o pulmonar. O teste foi realizado utilizando o espirômetro
efeito da pressão positiva expiratória final (PEEP) sobre o T1/2 Jaeger, v 4.31a (Jaeger®, Wuerzburg, Germany). Os parâmetros
do 99mTc-DTPA sugeriram que somente níveis elevados de estudados foram: o volume expiratório forçado no primeiro
PEEP levariam à clearance pulmonar do composto. segundo (VEF1) e a capacidade vital forçada (CVF) e a rela-
Em humanos hígidos, onde não há alteração na permea- ção VEF1/CVF. Todas as medidas foram realizadas por um
bilidade da BGS, também há aumento na remoção pulmonar técnico credenciado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia
do 99mTc-DTPA [12,13], e muito embora esses mecanismos e Tisiologia, cegado para o estudo. Os valores obtidos foram
não estejam bem esclarecidos, parece ser necessária acentuada expressos de acordo com as normas da American Thoracic
hiperdistensão pulmonar para ocorrer aceleração na remoção Society [16].
de solutos intra-alveolares [14].
Diversos estudos evidenciam os efeitos da pressão posi- Cintigrafia pulmonar
tiva expiratória final (PEEP) sobre o T1/2 do 99mTc-DTPA,
demonstrando aumento na taxa de depuração deste soluto O 99mTc-DTPA foi preparado através da adição do 99mTc-
com a aplicação concomitante de PEEP [12-14]. Entretanto, -pentecnetato (99mTc-O4- IPEN-TEC, São Paulo, Brasil) ao
estudos que avaliam o efeito do tempo de aplicação da EPAP DTPA (DTPATEC-S, Sorin Biomedica S.p.A., Saluggia,
sobre o T1/2 do 99mTc-DTPA são escassos. Italy) em 5 mL de soro fisiológico. A qualidade cromatográfica
Devido a importância clínica do uso da EPAP, o objetivo do complexo foi controlada testando-se cada lote de solução
do estudo foi comparar o tempo de depuração pulmonar do do DTPA a ser nebulizada. A cromatografia em camada fina
99m
Tc-DTPA no 15º e 30º minuto de EPAP nas pressões de foi realizada com cromatofolhas de alumínio sílica gel 60
10 e 15 cmH2O. (Merck®, Darmstadt, German), usando-se acetona como sol-
vente. A contagem foi realizada através de um espectrômetro
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 249

(Contador Gamma de Poço para RIA/IRMA, modelo MN mé­dia e desvio padrão. Inicialmente a normalidade da amostra
2000 EIP-Injetron Electronica, Buenos Aires, Argentina). foi teste através do teste de Shapiro-Wilk. Foi utilizado o Teste
A ligação do 99mTc-O4- ao DTPA, na preparação resultante, t de Student para amostras independentes para comparar
deveria ser superior a 98%. as variáveis antropométricas e função pulmonar e, para o sexo,
O radio aerossol foi administrado por aparelho portátil o teste de qui-quadrado. A análise de covariância (ANCOVA)
específico para inalação pulmonar de aerossóis radioativos foi utilizada para comparar os grupos em relação ao T1/2 final
(Aerogama®, Medical, Porto Alegre, RS, Brasil). Utilizou-se ajustado pelo T1/2 basal e, a influência do tempo de aplicação
um fluxo contínuo de 9 L/min de oxigênio. O material ne- da EPAP (15 e 30 min) sobre o T1/2 entre os grupos, através da
bulizado foi constituído de 20mCi de 99mTc-DTPA diluído Análise de Variância (ANOVA Two-way), com comparações
em 5mL de solução fisiológica. A nebulização teve duração múltiplas de Bonferroni. Considerou-se o nível de significân-
de três minutos e foi realizada com o indivíduo em posição cia estatística de 5% (p < 0,05).
sentada, respirando em volume de ar corrente. Durante a
realização das nebulizações, os indivíduos permaneceram Resultados
sob supervisão, possibilitando a constatação do desempenho
correto das manobras inalatórias e a correção de eventuais A Tabela I mostra que do total da amostra, 8 indivíduos
erros de técnicas na inalação do radiofármaco. eram do sexo masculino. O Grupo 1 utilizou EPAP 10
Após o término da nebulização, cada indivíduo foi en- cmH2O (n = 10) e o Grupo 2 EPAP 15 cmH2O (n = 10).
caminhado imediatamente à sala de exames para aquisição
das imagens sequenciais do tórax através de gama-câmara Tabela I - Características antropométricas e da função pulmonar
tipo Anger (Starcam 4000i®, GE, EUA), a cada 20 segundos, dos indivíduos avaliados.
durante período total de exame de 30 minutos. Todos os vo- Grupo 1 Grupo 2
Valor
luntários foram examinados na posição sentada. A aquisição Variáveis EPAP 10 EPAP 15
de p
foi acoplada a um sistema de processamento de dados (Star- cmH2O cmH2O
cam 4000i®, GE, EUA). As regiões de interesse (ROI) foram Sexo (M/F) 6/4 2/8 0,069
definidas criando-se um retângulo o mais próximo possível Idade (anos) 27,70 ± 5,14 30,40 ± 5,97 0,294
dos limites da atividade radioativa em cada pulmão. A altura Peso (kg) 70,70 ± 13,69 60,45 ± 5,26 0,078
dos retângulos foi determinada pelos pontos mais laterais e Altura (cm) 173 ± 7,72 165,50 ± 5,50 0,182
mais mediais de cada pulmão. Assim, foi possível visibilizar IMC (kg/m2) 23,45 ± 2,86 22,07 ± 1,59 0,527
a distribuição do radioaerossol em ambos os campos pulmo- CVF (%predito) 99,5 ± 15,97 97,04 ± 17,88 0,360
nares. A taxa de depuração pulmonar foi então, calculada a VEF1 (%predito) 97,82 ± 12,35 99,38 ± 12,61 0,625
partir do ajuste monoexponencial da curva tempo-atividade IMC: Índice de massa corporal; CVF: Capacidade vital forçada; VEF1:
de cada uma das regiões previamente definidas. Os valores Volume expiratório no primeiro segundo. Valores descritos em média
obtidos foram expressos através da meia-vida de transferência e desvio padrão e comparados pelo Teste t de Student para amostras
(T1/2), em minutos, para cada pulmão e para a média dos independentes, exceto sexo (Qui-quadrado). Valores significativos com
dois pulmões. p < 0,05.

Taxa de depuração pulmonar do radioae- Os indivíduos submetidos à cintigrafia com EPAP de


rossol de 99mTc-DTPA com Pressão Positiva 10 cmH2O (Grupo 1) não apresentaram redução estatística
Expiratória nas Vias Aéreas (EPAP) significante do T1/2 (de 90,38 ± 15,40 para 73,30 ± 19,64
minutos) (p = 0,064) (Figura 1). Aqueles submetidos à pres-
Os indivíduos foram alocados, através de um esquema de são positiva de 15 cmH2O (Grupo 2) apresentaram redução
randomização gerado por computador (site: http://www. ran- significante do T1/2 (de 89,84 ± 18,95 para 63,17 ± 12,17
domization.com/). O Grupo 1 foi composto por indivíduos minutos) (p= 0,012) (Figura 1). No que diz respeito à variação
submetidos à cintigrafia pulmonar sob respiração espontânea do T1/2 do 99mTc-DTPA entre os grupos, é importante ressaltar
e após o intervalo de uma semana, submetidos à cintigrafia que não houve variação significativa (p = 0,504).
pulmonar sob EPAP de 10 cmH O. O Grupo 2 abrangeu
2
indivíduos submetidos à cintigrafia pulmonar em respiração Valores descritos em média e desvio padrão e comparados
espontânea e após intervalo de uma semana, submetidos à pela Análise de Covariância (ANCOVA). Valores significativos
cintigrafia pulmonar sob EPAP de 15 cmH O. para p < 0,05.
2

Análise estatística Em relação ao efeito do tempo de aplicação da EPAP


sobre o T1/2 do DTPA, não houve diferença estatisticamente
Os resultados foram analisados no programa SPSS (Sta- significativa do 15º minuto (p = 0,182) para o 30º minuto
tistical Package for Social Sciences, versão 14.0) e expressos em (p = 0,489) (Figura 2).
250 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Figura 1 - Comportamento do T1/2 do 99mTc-DTPA em EPAP de o tempo que o paciente necessita de ventilação não-invasiva
10 cmH2O e 15 cmH2O. com pressão positiva [19]. Outro estudo recente demostrou a
120 p = 0,012 eficácia da utilização da EPAP nasal como opção terapêutica
no tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
100
(SAOS) [20].
80 Apesar de sua larga utilização, discute-se, ainda, qual
nível pressórico é o mais adequado para promover suficiente
T1/2(min)

60 variação do volume pulmonar. Alguns autores sugerem que


as pressões oferecidas entre 5 e 20 cmH2O são suficientes
40
para promover tal variação [21], porém as recomendações
20 da American Association for Respiratory Care são que a EPAP
deve ser aplicada entre 10 e 20 cmH2O [22].
0 Nosso estudo demonstrou que somente a EPAP de 15
10 cmH2O 15 cmH2O
cmH2O foi capaz de promover um aumento da depuração
Basal Final
pulmonar do 99mTc-DTPA. A causa desse aumento na depu-
ração do composto ainda é discutida e estudos têm sugerido
Figura 2 - Comparação do T1/2 do 99mTc-DTPA no 15º e 30º minuto que o aumento no clearance do DTPA pode estar relacionado
em EPAP de 10 cmH2O e 15 cmH2O. com a variação no volume pulmonar [23-25]. Outros estudos
30 sugerem que o aumento da remoção do DTPA parece ocorrer
concomitante ao aumento da permeabilidade do epitélio
25 alveolar, devido à distensão das junções interepiteliais nos
alvéolos; sendo assim, a oferta de níveis pressóricos adequa-
dos, que promova uma distensão alveolar satisfatória levaria
T1/2(min)

20
a efeitos expressivos na complacência pulmonar, aumentando
15 a capacidade residual funcional e assim facilitando o processo
de difusão de solutos [26,27].
10 No que diz respeito ao efeito do tempo de aplicação da
EPAP sobre a depuração pulmonar, não houve diferença
5
significativa do 15º minuto para o 30º minuto. De acordo
com esse achado, hipotetiza-se que a aplicação de 15 minutos
10 cmH2O 15 cmH2O
da técnica associada a níveis pressóricos de 15 cmH2O pode
15 min 30 min influenciar positivamente o aumento do volume pulmonar. A
Valores descritos em média e desvio padrão e comparados pela Análise literatura atual não traz dados consistentes a respeito do tempo
de Variância (ANOVA Two-way). Valores significativos para p < 0,05. ideal de aplicação da EPAP. Em recente estudo, Cardoso et
al. constataram que 25 minutos são necessários para reduzir
Discussão a atividade elétrica dos músculos acessórios da respiração em
pacientes com DPOC [28]. O emprego do tempo adequado
O presente estudo descreveu pela primeira vez a compara- desta técnica merece atenção especial, pois pode determinar
ção entre o tempo de depuração pulmonar do 99mTc-DTPA no a redução de sintomas ou a otimização de tratamentos nas
15º e 30º minuto de EPAP nas pressões de 10 e 15 cmH2O. mais diversas situações clínicas.
Os resultados demonstraram o efeito de 15 cmH2O da É importante mencionar uma importante limitação do
EPAP no aumento da depuração pulmonar do 99mTc-DTPA, estudo na qual requer discussão, como o reduzido número
sugerindo não haver diferença entre os tempos de 15º e 30º amostral. Outra questão importante foi a não avaliação, por
minuto. Não se observou alteração significativa na taxa de meio da técnica de pletismografia, do comportamento do
depuração quando 10 cmH2O de EPAP foi aplicada. volume pulmonar, pois dessa forma teríamos um método
O uso da EPAP sob respiração espontânea foi descrita mais fidedigno de avaliação desse volume perante a aplicação
inicialmente em 1981, quando a mesma foi empregada na dos níveis pressóricos.
asma induzida pelo exercício [17]. A difusão desta modalidade Os achados do presente estudo reforçam os efeitos da pres-
terapêutica ocorreu em 1984, sendo utilizada para o tratamen- são positiva no aumento da depuração pulmonar do 99mTc-
to de portadores de mucoviscidose [18]. Os mesmos autores -DTPA, bem como sugerem que a aplicação de 15 minutos
denominaram esta modalidade de tratamento de PEP-mask, de EPAP já é suficiente para promover o aumento do volume
também conhecida como EPAP. pulmonar. As implicações clínicas dos mesmos são evidentes,
Um estudo mostrou que a EPAP aplicada em portadores principalmente, em virtude de o recurso terapêutico EPAP
de DPOC, além de auxiliar na remoção de muco, diminui ser considerado um método de simples utilização e de baixo
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 251

custo, além de poder ser realizado sem supervisão direta; 12. Cooper JA, Van Der Zee H, Line BR, Malik AB. Relationship
estudos nos quais respaldem a sua utilização são importantes. of end-expiratory pressure, lung volume and 99mTc-DTPA
clearance. J Appl Physiol 1987;63: 1586-90.
Conclusão 13. Rinderknecht J, Shapiro L, Krauthammer M, Taplin G, Wasser-
man K, Uszler JM, et al. Accelerated clearance of small solutes
from the lungs in interstitial lung disease. Am Rev Respir Dis
Os resultados do estudo sugerem que a pressão ofertada 1980;121:105-17.
e o tempo de aplicação da EPAP podem ter influência direta 14. Paiva DN, Spiro BL, Masiero PR, Albuquerque, IM, Menna-
nos resultados terapêuticos no que tange o tratamento de -Barreto SS. Estudo da permeabilidade do epitélio pulmonar
diversas enfermidades respiratórias. através do radioaerossol dietilenotriaminopentacético (DTPA)
A grande variedade encontrada na literatura para determi- com o uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
nar a oferta de pressão e o tempo adequados para a utilização [tese]. Porto Alegre: UFRGS; 2005.
da EPAP pode levar à subutilização da técnica. 15. Albuquerque IM. Efeitos da pressão positiva expiratória sobre a
Assim, mais investigações devem ser realizadas com o permeabilidade pulmonar [recurso eletrônico]. Santa Cruz do
Sul: EDUNISC; 2012.
propósito de definir os limites de pressão e tempo de aplicação
16. American Thoracic Society. ATS/ERS Standardization of Spi-
visto que a EPAP de um modo geral é um recurso fisiotera-
rometry. Eur Respir J 2005;26:319-38.
pêutico cada vez mais utilizado na prática clínica. 17. Wilson BA, Jackson PJ, Evans J. Effects of positive end-
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252 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Artigo original

A influência da Kinesio® Taping na correção


da protrusão de ombro avaliado por meio da
biofotogrametria computadorizada
The influence of Kinesio®Taping in shoulders protraction evaluated
using computerized photogrammetry
Renner Silva de Oliveira Filho, Ft.*, Thiago Vilela Lemos**, Franassis Barbosa de Oliveira***

*Universidade Estadual de Goiás (UEG), **Docente do curso de Fisioterapia na UEG e Universo (Goiânia),
Instrutor Internacional do Método Kinesio Taping® e Doutorando em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Uni-
versidade de Brasília (UnB-FCE), ***Docente do curso de Fisioterapiana Universidade Estadual de Goiás – UEG,
Doutorando em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília (UnB-FCE)

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar o efeito da aplicação da bandagem KinesioTa- Objective: To evaluate the effect of Kinesio Taping® in scapular
ping® na postura da cintura escapular em pacientes com protrusão waist posture in patients with protruding shoulders. Methods: The
de ombros. Material e métodos: A amostra foi constituída por 30 sample consisted of 30 female volunteers, aged 18 to 23, who had
voluntárias do gênero feminino, idade entre 18 e 23 anos, que apre- protruding shoulders, students attending Physical Therapy course
sentavam protrusão de ombros, acadêmicas do curso de fisioterapia of State University of Goiás, ESEFFEGO, in Goiânia/GO. Four
da Universidade Estadual de Goiás, pólo ESEFFEGO, em Goiânia/ evaluations were done by photogrammetry, analyzed by Postural As-
GO. Foram realizadas quatro avaliações por meio da Biofotograme- sessment Software (SAPo), the first was carried out before applying
tria, analisadas pelo Software de Avaliação Postural (SAPo), sendo a the bandage, after five days was held reassessment and reapply the
primeira antes da aplicação da bandagem, depois de cinco dias foi bandage, staying for five days, and then another reassessment. The
realizada nova avaliação e reaplicação da bandagem, ficando por mais last evaluation was performed ten days after the withdrawal of the
cinco dias, seguido de nova avaliação. A última avaliação foi realizada second application to check the chronic effect. Results: There was a
após dez dias da retirada da segunda aplicação para verificar o seu significant improvement in posture protrusion shoulders after first
efeito crônico. Resultados: Houve melhora significativa na postura bandage, after the second only in relation to inferior distances, and
de protrusão de ombros após a primeira aplicação, após a segunda after ten days without the bandage, also showed significant improve-
somente em relação às distâncias inferiores e, após dez dias sem a ments in postural correction. Conclusion: Kinesio Taping® bandage
bandagem, também houve melhoras significantes na correção pos- showed positive influence on mechanical correction of protruding
tural. Conclusão: A bandagem KinesioTaping® apresentou influência shoulder posture immediately, also maintaining that improvement
positiva na correção mecânica da postura de protrusão de ombro de after ten days.
forma imediata, também mantendo essa melhora após os dez dias. Key-words: shoulder protrusion, kinesio taping, fotogrametry,
Palavras-chave: protrusão de ombro, kinesiotaping, posture.
biofotogrametria, posture.

Recebido em 26 de junho de 2012; aceito em 15 de maio de 2013.


Endereço de correspondência: Renner Silva de Oliveira Filho, Av. Nero Macedo Qd. 50 Condomínio Morada Nova, Apt. 103 E, Cidade Jardim,
Goiânia, Goiás, E-mail: rennerfilho@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 253

Introdução de Goiás) na cidade de Goiânia, estado de Goiás, Brasil. O


protocolo de pesquisa foi submetido à apreciação e aprovado
A postura corporal é uma característica individual e depen- pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal
de da imagem que o próprio indivíduo faz do seu corpo, sendo do Hospital de Urgência de Goiânia (HUGO).
um arranjo relativo das partes do corpo na busca do equilíbrio A amostra de conveniência foi composta de 30 indivíduos,
[1,2]. Grande parte dos distúrbios da coluna vertebral na vida do gênero feminino, estudantes do curso de Fisioterapia da
adulta, principalmente os causados por alterações posturais, Universidade Estadual de Goiás – UEG, com faixa etária entre
quase sempre surgem ainda na infância ou na adolescência [3]. 18 e 23 anos de idade (média 20,4 ± 1,3), que apresentaram
Nos últimos anos, o uso do método Kinesio Taping®, de- protrusão de ombro. Foram selecionadas as participantes que
senvolvida no Japão por Kenzo Kase, tornou-se cada vez mais apresentavam anteriorização do acrômio em relação ao lóbulo
popular. Diferente de outras bandagens por apresentar qua- da orelha, sem queixas álgicas, sem patologias associadas de
lidades únicas: 100% adesiva, hipoalérgica, sensível ao calor, ombro e que apresentavam cognitivo preservado e interesse em
não contém quaisquer substâncias químicas ou medicinais. participar da pesquisa. Foram excluídos do estudo indivíduos
Foi projetada para imitar as qualidades da pele humana, tem fora da faixa etária limítrofe, com patologias osteomusculares
aproximadamente a mesma espessura da epiderme e contém ou nervosas que se relacionassem com a porção a ser tratada
veios e marcas na sua face adesiva que simulam as impressões ou alguma patologia associada de ombro já diagnosticada por
digitais e os veios da pele humana, o que tornam o seu uso exames patognômonicos.
mais tolerável [4,5]. A aplicabilidade da KinesioTaping®, na A aplicação da bandagem Kinesio®Tex Gold foi precedida
tentativa de melhorar o alinhamento postural, como ins- de higienização da área com álcool 70%. Em seguida foi
trumento fisioterapêutico traz uma visão de saúde holística, realizada a mensuração do tamanho da faixa a ser utilizada e
otimizando a consciência postural, consequentemente o con- o arredondamento das bordas da bandagem, para evitar que
vívio social, além de melhorar o desempenho nas atividades a fita adesiva enrolasse [10].
da vida diária (AVD). A técnica de aplicação proposta foi realizada bilateralmen-
Os mecanismos propostos para o uso da KinesioTaping® te, com uma ancoragem de 0% de tensão no ângulo inferior
incluem corrigir a função muscular, fortalecendo os múscu- da escápula, seguindo a zona terapêutica sobre a escápula e
los debilitados; melhorar a circulação sanguínea e linfática; ombro, com ancoragem, de 0% de tensão, anteriormente
diminuir a dor por supressão neurológica e reposicionamento logo acima do acrômio. A segunda faixa foi aplicada com
de articulações subluxadas, aliviando a tensão dos músculos ancoragem de 0% de tensão no ângulo superior das escápu-
anormais, ajudando a devolver a função muscular e da fáscia. las, seguindo a zona terapêutica atrás da escápula, cruzando
Outro mecanismo é que a sua aplicação causa um aumento com a primeira faixa e contornando o úmero e afixando
da propriocepção por aumentar a excitação dos mecanorre- com ancoragem, de 0% de tensão, anteriormente ao úmero
ceptores cutâneos, desta forma a bandagem KinesioTaping® no terço médio. A tensão nas zonas terapêuticas, região da
foi utilizada, a fim de melhorar o alinhamento corporal de bandagem onde se coloca a tensão de acordo com objetivo pré-
indivíduos que apresentam protrusão de ombros [6,7]. -determinado, foram de 50 – 60% para ambas as bandagens.
Para uma avaliação fidedigna e parametrizada, pode- As participantes se encontravam com roupa confortável
-se utilizar a Biofotogrametria Computadorizada que se e adequada. A avaliação postural foi realizada por meio de
desenvolve pela aplicação dos princípios fotogramétricos às fotografias digitais e análise da relação entre acrômio e o lóbulo
imagens fotográficas obtidas em movimentos corporais. Nas da orelha em relação ao simetrógrafo. A seguir aplicou-se a
imagens são aplicadas bases de fotointerpretação, gerando técnica proposta. Após cinco dias da primeira aplicação, foram
uma nova ferramenta de estudo da cinemática. Sendo assim, retiradas as bandagens e novamente submetidos à avaliação,
é um recurso que pode ser utilizado na avaliação, diagnóstico seguido da reaplicação da bandagem, deixando assim por mais
físico funcional pelos fisioterapeutas em diferentes áreas [8]. cinco dias e então foram retiradas as bandagens da segunda
Este estudo justifica-se pelo reduzido número de trabalhos aplicação e, submetidos a uma nova avaliação [9]. Para fina-
científicos publicados, referente a esse assunto [9], que visa lizar o estudo uma última avaliação foi realizada depois de
dar início nesse segmento e despertar o interesse por mais pes- dez dias da retirada da segunda aplicação. Foram realizados
quisas, e, tem por objetivo avaliar a influência sobre a postura quatro encontros com aplicação e avaliação biofotogramétrica,
da cintura escapular em pacientes que tenham protrusão de com intervalo de cinco dias entre os três primeiros, e o último
ombro após o uso da técnica KinesioTaping®. após dez dias.
As avaliações foram todas realizadas pelo mesmo pesqui-
Material e métodos sador, e a participante ficava em postura ortostática com os
membros superiores relaxados ao longo do corpo e descalços,
O estudo, do tipo transversal, foi realizado na Clínica a uma distância fixa de 15 cm entre calcâneo e parede, 2,7
Escola da Universidade Estadual de Goiás – Unidade ESE- m entre participante e câmera digital, e a câmera digital em
FFEGO (Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia tripé de 1 m de altura. A mensuração dos dados obtidos foi
254 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

realizada por meio do cálculo das distâncias entre a intersec- Gráfico I - Evolução das médias ao longo da pesquisa.
ção da margem medial e a espinha da escápula até o mesmo 108 107,044
ponto na escápula esquerda, sendo a distância superior, e a 106 105,4

distância entre os ângulos inferiores das escápulas, sendo a 104 102,308 102,5832
distância inferior. Este cálculo foi adquirido pela função de 102 100,644
100 99,496
mensuração de distâncias disponibilizada pelo Software de 97,25
98
Avaliação Postural (SAPo). 96
96,18
O programa estatístico utilizado foi o SPSS – Statisti- 94
cal Package for the Social Science Statistics for Windows 92
versão 15.0 para a análise de variância ANOVA – One Way 90
com o objetivo de avaliar a significância da diferença das 1ª 2ª 3ª Após
Avaliação Avaliação Avaliação 10 dias
médias, considerando-se um nível de significância de 1% e Distância Superior Distância Inferior
5%. O teste pos hoc utilizado foi o Teste Bonferroni.
Fonte: Pesquisa do autor, 2011.
Resultados
Discussão
Inicialmente, foram selecionadas 30 voluntárias para
participar da amostra, porém 5 foram excluídas desta por Estudos sobre o uso do KinesioTaping® são escassos e
perda da bandagem. Não foi observado nenhum caso de recentes na literatura internacional. Trata-se de uma técnica
alergia à bandagem. inovadora que foi criada especialmente para tratar de lesões
Quando comparadas as médias da distância superior das ortopédicas decorrentes do esporte, que vem sendo utilizada
diferentes avaliações realizadas durante a pesquisa, como mos- para fins terapêuticos na reabilitação de diferentes tipos de
tra a Tabela I, podemos observar que ao nível de significância pacientes. Vale ressaltar que este é um dos primeiros estudos
de 1% a segunda e a quarta avaliação em relação à primeira a utilizar a KinesioTaping® na correção postural de ombro
apresentaram melhora na postura de ombro, enquanto que a [4,6,11-16].
terceira em comparação a primeira não apresentou melhora Neste estudo observou-se que houve uma melhora es-
ao mesmo nível de significância. tatisticamente significativa com confiabilidade de 99% na
A mesma análise quando feita em relação à distância entre abdução das escápulas, e consequentemente uma melhora
os ângulos inferiores da escápula, dita distância inferior, como da protrusão do ombro [10], que relacionaram a protrusão
pode ser observada na Tabela II, a comparação das médias de ombro com a abdução escapular.
realizadas durante a pesquisa, confere que as suas diferenças Os motivos que levaram a exclusão de 5 participantes
foram significativas ao nível de 1% de significância. foram devidos a não fixação da bandagem pelo período de 5
O Gráfico I nos revela a melhora da postura de ombro no dias estipulado pelo protocolo proposto. Não se sabe ao certo
período em que os indivíduos permaneciam com a bandagem, o que realmente interferiu para que não tivesse boa aderência
e perda, mesmo que pequena, da melhora apresentada após os da bandagem com a pele. Possivelmente a sudorese elevada e a
dez dias que não se fez o uso da bandagem, além de mostrar oleosidade da pele são fatores que poderiam diminuir a eficácia
com maior evidência que após a segunda aplicação apresentou da cola, facilitando, assim, o descolamento da bandagem e
melhora significante em relação à primeira aplicação. consequentemente a sua perda terapêutica.

Tabela I – Comparação de médias da distância superior das diferentes avaliações.


Primeira avalia- Segunda avalia- Terceira avalia- Quarta
P-Valor P-Valor P-Valor
ção ção ção avaliação
100,644 99,4960 0,004* 96,1800 0,604 97,2500 0.008*
Fonte: Pesquisa do autor, 2011.
*Nível de significância de 1%

Tabela II – Comparação de médias da distância inferior das diferentes avaliações.


Primeira avalia- Segunda avalia- Terceira avalia-
P-Valor P-Valor Quarta avaliação P-Valor
ção ção ção
107,044 105,400 0,011* 102,3080 0,001* 102,583 0,001*
Fonte: Pesquisa do autor, 2011.
*Nível de significância de 1%
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 255

Acredita-se que a KinesioTaping® aumente a proprio- Levando em consideração o que foi apresentado e a técnica
cepção normalizando o tônus muscular, reduzindo a dor, proposta pelo estudo, pode-se associar os resultados positivos
corrigindo os posicionamentos inapropriados e estimulando aos estímulos somatossensoriais (proprioceptivo, cutâneo e
a ação de receptores cutâneos [17]. O aumento da entrada receptores articulares) aferentes, junto com os estímulos me-
proprioceptiva pela estimulação sensorial, resultante da aplica- cânicos promovidos pela percepção da nova postura adotada,
ção da KinesioTaping®, pode reforçar o controle postural [6]. após a aplicação da bandagem, que são percebidos em nível
A KinesioTaping® ajuda a desenvolver a função muscular cortical, produzindo assim uma resposta motora para manter
e da fáscia [7]. esse alinhamento postural, justificando assim a melhora da
O controle postural se baseia no monitoramento da protrusão do ombro. Corroborando estudo realizado sobre a
representação interna da postura, o esquema corporal, que aplicação da bandagem no músculo vasto medial em vinte e
é uma representação geométrica do corpo, permitindo a sete indivíduos saudáveis, obteve-se um aumento estatistica-
comparação da atual postura com a postura esperada e mente significativo de recrutamento das unidades motoras e
quando ocorre discrepância entre essas posturas surgem os atividade bioelétrica muscular, após 24 horas da aplicação, e
ajustes posturais [18]. a manutenção do seu efeito por 48 horas após a sua remoção
A propriocepção é a capacidade de sabermos nossa posição e efeito menor por até 72 horas [14].
exata e de perceber os movimentos dos membros e do corpo A KinesioTaping® na propriocepção de tornozelo aumenta
em geral, mesmo de olhos fechados. As informações geradas as habilidades proprioceptivas nas entorses laterais em posições
nos receptores musculares e articulares são conduzidas até o sem descarga de peso, na amplitude média de movimento, na
córtex cerebral, onde se transformam em percepções cons- qual os mecanorreceptores ligamentares estão inativos [15].
cientes, e também são utilizadas para gerar respostas e ajustes Os efeitos da bandagem funcional aplicada a coluna
motores [11]. lombar em 8 indivíduos do sexo masculino, com idade de
Acredita-se que a KinesioTaping® estimule mecanorrecep- 19 ± 1,2 anos, 68 ± 10,3 kg, 1,74 ± 0,07 m, concluiu que
tores cutâneos, melhorando a propriocepção. Embora a fun- a bandagem interfere no alinhamento postural e se mantém
ção desses receptores ainda seja bastante estudada, acredita-se após 48 horas da retirada da bandagem. Os autores con-
que sua ativação contribua para a detecção do movimento e da sideraram que a sensibilidade à bandagem pode ser uma
posição articular, resultado da tensão sobre a pele nos extremos contraindicação relativa, que é consequência da permanência
de amplitude. Atribui-se à aferência cutânea a habilidade de da bandagem em contato com a pele [15]. O que difere da
transmitir as movimentações articulares através do padrão de KinesioTaping®, que apresenta propriedades específicas, a fim
tensão da pele [6,12]. de inibir os efeitos adversos de sensibilidade das bandagens
A KinesioTaping® pode facilitar ou inibir a função muscular, comuns, características estas que tornam o uso imperceptível
manter o posicionamento articular, reduzir a dor e fornecer e mais tolerável [16,21].
feedback proprioceptivo para obter e manter alinhamento cor- A análise da rotação de tronco após a aplicação da técnica
poral [19]. A bandagem sendo colada na pele permite estímulos de bandagem circular em 8 indivíduos do sexo masculino,
somatossensoriais aferentes, estímulos mecânicos constantes e com idade de 19 ± 1,2 anos, 68 ± 10,3 kg, 1,74 ± 0,07 m,
duradouros que são percebidos em nível cortical que produzem concluiu que a bandagem interfere no alinhamento postural
resposta motora. Estes estímulos no sistema tegumentar podem de rotação de tronco e se mantém após 48 horas [22]. E que
auxiliar na neuroplasticidade do sistema nervoso [17]. devido à bandagem manter contato com a pele, esta esti-
O Sistema Nervoso Central (SNC) deve organizar as mula os receptores de tato e pressão, aumentando a relação
informações vindas dos receptores sensoriais de todo o entre estes sistemas e a eficácia a partir da integração destes
corpo antes de determinar a posição do corpo no espaço. mecanismos. A bandagem KinesioTaping®, ao contrário do
Essas informações vindas do sistema visual, somatossensorial esparadrapo, é capaz de promover uma força constante de
(proprioceptivo, cutâneo e receptores articulares) e vestibular tração sobre a pele na qual é aplicada [6,23].
detectam o movimento e a posição do corpo no espaço, em Quando considerados os resultados positivos da melhora
relação à gravidade e ao ambiente. Cada um deles fornece uma postural de ombros deste estudo, pode-se levar em conside-
diferente estrutura de referência para o controle postural, pois ração que estejam relacionados à propriocepção do estímulo
cada um fornece informações específicas sobre a posição e o contínuo da bandagem e ao próprio reposicionamento arti-
movimento do corpo [13]. cular, não se podendo desvincular as duas hipóteses.
A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SN
possui em alterar algumas de suas propriedades morfológi- Conclusão
cas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. A
aprendizagem pode ocorrer a qualquer momento na vida do Verificou-se que o método KinesioTaping® foi eficaz na
indivíduo, seja criança ou idoso, pois a qualquer momento se melhora do alinhamento e da postura do complexo do ombro
pode aprender alguma coisa nova e alterar o comportamento em indivíduos com protrusão de ombro. Por ser uma terapêu-
de acordo com o que foi aprendido [20]. tica relativamente recente, é necessária a realização de mais
256 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

pesquisas, com maior número de indivíduos, investigando 10. Subotnick SI. Sports medicine of the lower extremity. 2nd ed.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 257

Artigo original

A representação social e os significados


dos docentes sobre a síndrome de Burnout
na dimensão da exaustão emocional
The representation and social meanings of teachers with burnout
syndrome through the dimension of emotional exhaustion
Catarina Costa Fernandes, D.Sc.*, Denilson de Queiroz Cerdeira, Ft., M.Sc.**, Thaís Teles Veras Nunes, Ft.,M.Sc.***,
Francilena Ribeiro Bessa, Ft., M.Sc.****, Alexandre Carvalho de Lima, Ft.*****, Francisca Darliana Almeida Torres******

*Orientadora, Docente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana-UNILA, **Co-Orientador, Docente dos Cursos
de Fisioterapia, Odontologia e Psicologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do Curso de Fisioterapia do Instituto
Superior de Teologia Aplicada (INTA), ***Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS e do
INTA, ****Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS), *****Coordenador do Núcleo de
Apoio a Saúde da Família do município de Tamboril/CE, ******Graduanda do Curso de Psicologia da FCRS

Resumo Abstract
A Síndrome de Burnout (SB) é um processo de cronificação The Burnout Syndrome (SB) is the process of becoming chronic
emocional do estresse laboral. A Representação Social (RS) é a forma emotional stressed in work settings. The Social Representation
como a sociedade expressa a sua realidade. Buscou-se conhecer o (RS) is the way in which society expresses its reality. We sought
perfil sociodemográfico e a representação social dos docentes com to understand the socio-demographic and social representation of
SB, na dimensão da Exaustão Emocional (EE). Tratou-se de estudo teachers with SB, through the dimension of Emotional Exhaus-
exploratório e qualitativo com 06 docentes com diagnóstico de SB na tion (EE). It was an exploratory and qualitative research with 06
dimensão da EE. Utilizou-se o questionário de Maslach (MBI–Ed) teachers diagnosed with SB inside the scope of EE. We used the
e entrevista semiestruturada com questões norteadoras, no período questionnaire Maslach (MBI-Ed) and semi-structured interviews
de outubro a dezembro de 2010 com aprovação 276/2009 do Co- with leading questions, from October to December 2010 with
mitê de Ética da UNIFOR. Constam os resultados: 05 docentes do approval 276/2009 of the Ethics Committee at UNIFOR. The
sexo masculino e 01 sexo feminino; sendo 03 casados, 02 solteiros results consist of: 05 male teachers and 01 female, being married
e 01 divorciado; a idade média de 37,8 anos; o tempo de docência 03, 02 single and 01 divorced, the average age 37.8 years-old; time
9,1 anos e a escolaridade foi mestre (04 docentes). A análise dos teaching and schooling was about 9.1 years, Masters degree (04
significados identificou 04 categorias: Relacionamento, expressa as teachers). The analysis identified 04 categories for the results: Re-
relações interpessoais; Tempo, relata a dificuldade de administração; lationship expresses interpersonal relationships; Time, describes the
Atividade Profissional, expressa o ato de ser professor; e Estresse, difficulties of administration; Professional Activity expresses the act
expressa os efeitos da docência. Observou-se uma relação direta of being a teacher, and stress, the effects of explicit teaching. There
com os professores e o reconhecimento de uma realidade desco- was a direct relationship with the teachers and the recognition of
nhecida, sujeitando-os a dificuldades no diagnóstico e tratamento an unknown reality, subjecting them to adversities for the diagnosis
da síndrome, requerendo ações e medidas de prevenção e educação and treatment of the syndrome, requiring actions and measures for
junto aos docentes e a IES. prevention and education among teachers and IES.
Palavras-chave: docentes, esgotamento profissional, Fisioterapia. Key-words: teachers, burnout, Physical therapy.

Recebido em 26 de junho de 2012; aceito em 4 de março de 2013.


Endereço de correspondência: Denilson de Queiroz Cerdeira, Rua Francisco Leandro, 1759 Casa 101- D, Curió, 60844-150 Fortaleza CE, E-mail:
denilsonqueiroz@hotmail.com
258 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Introdução Brasil. A seleção da instituição se deu pelo fato da mesma


ser referência no município e cidades adjacentes do Sertão
O trabalho humano possui um duplo caráter: por um Central, que oferta cursos de graduação e pós-graduação.
lado é fonte de realização, satisfação e prazer, estruturando A amostragem foi composta por seis professores de ensino
e conformando o processo de identidade dos sujeitos; por superior de todos os cursos de graduação da FCRS, escolhidos
outro, pode também se transformar em elemento patogênico, de forma aleatória, que concordaram em participar da pes-
tornando-se nocivo à saúde do trabalhador [1]. As condições quisa, com base em um universo finito, segundo o Critério
de trabalho que enfrentam os professores atualmente não são de Saturação Teórico Empírico [9].
as mais desejáveis. Além dos salários nada atrativos, perdeu- Foram incluídos na pesquisa os docentes do ensino supe-
-se também o “status” social que acompanhava a função há rior, mediante comprovação através da carteira de trabalho
poucas décadas [2]. no período designado ao estudo, com tempo de docência
A escassa literatura científica sobre as condições de traba- superior a quatro anos, não importando idade, sexo e estado
lho e saúde dos professores aumentou a partir da década de civil. Foram excluídos aqueles que estavam de férias, licença
90, explorando especialmente os efeitos do trabalho sobre a maternidade, atestado médico e demissões ocorridas no pe-
saúde do docente, como a Síndrome de “Burnout” (SB), que ríodo elegido para o estudo científico.
afeta especialmente trabalhadores com muito contato social, A fonte de coleta de dados foi primária, junto aos docentes
como nos setores de Educação e Saúde [3]. selecionados que lecionavam na instituição, sendo utilizada
Atualmente, a definição mais aceita da SB é a fundamen- a entrevista semiestruturada individual. Como fontes básicas
tada na perspectiva social-psicológica de Maslach e Jackson de geração de dados, foram coletados depoimentos a partir de
[4], que é constituída de três dimensões: exaustão emocional, entrevistas, gravadas com autorização prévia dos participantes.
despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho, que As entrevistas foram realizadas em um local reservado
associada às doenças ocupacionais compromete a saúde do da instituição, onde não existia trânsito de pessoas nem
docente e faz com que o mesmo crie representações frente a barulho. Esse encontro foi face a face e proporcionou maior
tal problemática e sintomatologia. profundidade acerca dos dados coletados. Cada participante
Jovchelovitch [5] relata que as representações sociais vêm para expressou-se livremente sobre as seguintes questões norteado-
articular a vida coletiva e simbólica, onde as pessoas lutam para ras: 1) Como você descreve o seu ambiente de trabalho? 2) O
dar sentido ao mundo e entendê-lo através da identidade social. que você pensa ou faz em situações de exaustão emocional? 3)
Teoricamente as representações sociais concebem uma justapo- Exaustão Emocional e Atividade Profissional. Fale sobre isso.
sição entre a pesquisa sob influência de uma minoria. Essa teoria Na apresentação dos dados, os participantes foram
abrange o quanto alguém é produto da sociedade, mantendo a denominados por: Professor 1, Professor 2... Professor 6,
preservação dos costumes tradicionais de um povo [6]. ressaltando-se também o tempo de docência do participante.
Estudar as representações sociais é buscar conhecer o modo Os depoimentos foram organizados através da abordagem
como um grupo humano constrói um conjunto de saberes e de Bardin [10], que se refere a análise do conteúdo com um
expressa sua identidade, atribuindo sentido a uma diversidade conjunto de técnicas de análise de comunicação.
de objetos e, principalmente, construindo códigos culturais Este trabalho esteve em conformidade com a Resolução
que definem, em cada momento histórico, as regras de uma 196/96, que rege pesquisas envolvendo seres humanos [11].
comunidade objetiva e subjetiva, colocando-nos em contato Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
com questões que merecem ser conhecidas e exploradas [7]. Humanos (COÉTICA) da Universidade de Fortaleza - UNI-
Este estudo avaliou o entendimento sobre a representação FOR, sob protocolo 276/2009.
social (RS) do profissional de educação, como um fator impor-
tante no contexto institucional e no modo como este vivencia Resultados e discussão
a SB na dimensão da exaustão emocional (EE). Como aponta
Esteve [8], o ausentismo aparece como uma das reações mais Os docentes participantes eram de ambos os sexos, sendo:
frequentes para acabar com a tensão derivada da atividade 05 do sexo masculino e 01 feminino. Dentre os cursos de
docente. Além do conhecimento do perfil sociodemográfico graduação da FCRS: 02 docentes pertenciam ao curso de
e do significado da representação social em docentes com SB Fisioterapia, 01 de Farmácia, 01 de Sistema de Informação,
na dimensão da EE. 01 de Direito e 01 de Psicologia. A idade média foi de 37,8
anos, variando entre 29 e 51 anos; 03 casados, 02 solteiros e
Material e métodos 01 divorciado. O tempo de trabalho na atividade de docência
ficou numa média de 9,1 anos variando entre 05 e 16 anos
Quanto aos fins, caracterizou-se como estudo explorató- de ensino superior, que pode proporcionar uma rica troca de
rio com abordagem qualitativa. Foi realizado no período de experiências e vivências entre os profissionais da instituição
outubro a dezembro de 2010, na Faculdade Católica Rainha de ensino superior. Com relação ao nível de escolaridade: 01
do Sertão (FCRS), localizada na cidade de Quixadá – CE/ doutor, 03 doutorandos, 01 mestre e 01 especialista.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 259

Categorias, segundo Bardin • Recompensa (06%)


Expressa a relação existente entre os docentes e diretoria
Foram identificados quatro temas, categorizados conforme institucional, onde tal relacionamento é de cobrança:
sua significância [10].
“Estressante (silêncio), de cobrança, sem retorno de um trabalho
Categoria 01 – Relacionamento bem feito. Com relação aos professores, né?... com relação aos gestores
não, que é mais cobrança sem recompensa.” (Professor 06 – 06
Obteve como fatores principais: Alunos (44%), Tranquilo anos de docência)
(38%), Paciência (12%) e Recompensa (6%). Os participantes
relataram sobre o relacionamento existente no ambiente de Nos discursos, o relacionamento foi expresso por um dos
ensino, entre docentes e alunos. participantes como problemático. Para esse sujeito, a institui-
ção não apresenta uma boa relação entre os docentes. Apesar
• Alunos (44%) de o controle e autocontrole, o indivíduo acaba expressando
Esse núcleo de significação está ligado à relação aluno- o cansaço, a impaciência e o estresse, que são sintomas da SB.
-professor, que se apresenta instável no decorrer do semestre. Esta é uma situação vivida por quem já chegou ao limite e vê
a saúde mental ser seriamente ameaçada. A relação problema/
“Ah! Relacionamento com o aluno é instável, dependendo da época estresse está inserida na área da diversidade sobre as relações
do semestre os alunos são mais acessíveis...” (Professor 06 – 06 partilhadas no ambiente escolar, pois reflete o aspecto subje-
anos de docência) tivo da vivência laboral.
Tardif e Lessard [12] relatam que o trabalho do professor
“...aqui não tenho do que reclamar, o ambiente é bom, a relação é repartido e apresenta rotinas organizacionais que se esta-
alunos e professores, a convivência é boa...” (Professor 03 – 15 belecem no decorrer do ano letivo. No espaço institucional,
anos de docência) as pessoas realizam diversos tipos de relações mais ou menos
formalizadas.
Quando se fala na relação existente entre os docentes A faculdade é, portanto, um espaço onde se expressam
e alunos, observa-se um clima harmonioso, sem cobrança. as tensões, negociações, colaborações, conflitos, cobranças e
Na relação existente entre docentes e instituição, tal fato se onde os objetivos são vastamente simbólicos. Há toda uma
comporta contrariamente: codificação que deve ser compreendida e uma burocratização
que ritualiza a atividade laboral dos que nela trabalham [12].
“Com aluno é mais fácil, que a gente tá numa posição diferente,
quando é com gestor, com gerente aí é um pouco complicado, né?...” Categoria 02 – Tempo
(Professor 01 – 08 anos de docência)
Foram observadas as seguintes subcategorias: o Lazer
• Tranquilo (38%) (75%), a Família (17%) e a Falta de Tempo (08%).
Alguns professores revelaram existir dentro do ambiente
institucional uma relação de tranquilidade, apesar de existir • Lazer (75%)
períodos mais estressantes, tais como: realização de provas, Essa unidade foi representada como medida preventiva
lançamento de frequências e planos de aulas. e curativa para as dificuldades e moléstias que o trabalho
semanal pode proporcionar. Nesta perspectiva, nos poucos
“...isso às vezes acaba deixando a gente um pouco cansado, prin- momentos de descanso, o professor destina seu tempo ao
cipalmente em época de prova, final de semestre, mas no geral é trabalho.
tranquilo. (Professor 01 – 08 anos de docência)
“Eu tento procurar atividades de lazer que me façam esquecer um
“Tranquilo (calou-se por um tempo), as relações interpessoais são pouco esse momento, espairecer para a partir daí eu voltar com
tranquilas...” (Professor 04 – 05 anos de docência) mais tranquilidade para tentar resolver o problema que possa ter
acontecido nesse momento de exaustão”. (Professor 02 – 16 anos
• Paciência (12%) de docência)
Transmite a ideia de falta de paciência ao lidar com pessoas
durante a sua atividade de trabalho, visto que o docente tem que “...mas como é um trabalho que exige um esforço emocional
desenvolver atividades e cumprir metas dentro da instituição: muito grande devido a ampla atividade que você executa então
eu preciso de alguns momentos de lazer...” (Professor 02 – 16
“... então não é fácil você lidar com pessoas, com muita gente, com anos de docência)
muitas exigências, em relação ao que você tá fazendo, como você
tá fazendo”. (Professor 04 – 05 anos de docência)
260 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

• Família (17%) contando as horas para o dia de trabalho terminar, pensem


Muitos dos professores entrevistados relataram que o frequentemente nas próximas férias e se utilizam de inúme-
trabalho tomava o tempo para a família. Esse núcleo de ros atestados médicos para aliviar o estresse e a tensão do
significação também foi expresso como medida preventiva trabalho [15].
e curativa, pois um dos entrevistados relatou que junto da
família ele consegue energia afetiva e emocional necessária Categoria 03 – Atividade Profissional
ao desenvolvimento do seu trabalho:
Nesta categoria observaram-se os itens: Trabalho (28%),
“...e eu procuro uma saída a praia com a família para que eu Aula (11%), Motivador (08%), Semestre e Dedicação ambos
possa me recuperar emocionalmente e ficar mais tranquilo para com (07%), Prova, Docência, Pesquisa, Vida e Administração
fazer minhas atividades...” (Professor 02 – 16 anos de docência) todos com (05%) cada, Produtividade e Planejamento com
(04%) cada e Experiência (02%), que os participantes relatam
“... a minha tendência é procurar um grupo, conversar outros sobre o ato de ser professor, da participação do processo de
assuntos que não sejam profissionais com o objetivo de tirar mais ensinar e a sua relação com o feedback do alunado, referen-
esse tipo de sensação de abafamento, de esgotamento...” (Professor ciado nas subcategorias Prazer (04%), Vida (05%), Dedicação
05 – 05 anos de docência) (07%) e Motivador (08%):

• Falta de Tempo (08%) “A meu ver a atividade profissional ela é sempre uma fonte de
Muitos dos docentes realizam outras atividades além da prazer ... e a sensação inicial de prazer é muito motivadora ...”
docência, como forma de complemento à renda mensal: (Professor 05 – 05 anos de docência)

“... não tem muitas queixas não, só aquelas coisas normais mesmo, “Eu particularmente gosto do trabalho com os últimos semestres,
falta de tempo, a gente não é só professor, né?” (Professor 01 – 08 né? Porque é quando você vê que uma parte significativa dos
anos de docência) alunos conseguiu captar o que você passa, o que os colegas passam
e começam a demonstrar que aprenderam e que provavelmente
“... como eu faço um trabalho administrativo nesse período (manhã serão bons profissionais ...” (Professor 01 – 08 anos de docência)
e tarde) e leciono no outro período, isso vem a ficar um tempo
muito apertado para que eu possa elaborar as minhas aulas, para • Trabalho (28%)
que eu possa acompanhar os alunos ...” (Professor 02 – 16 anos A docência é expressa como atividade laboral, fonte de
de docência) prazer, de energia afetiva, emocional e motivadora, mesmo
àqueles que realizam outras atividades:
Muitos professores fazem a associação da atividade pro-
fissional, tempo e produção: “... quando no magistério, na minha atividade profissional eu penso
sempre no prazer na sala de aula, de discutir novas ideias, de dar
“... eu sinto possuir muito por um espaço de tempo reduzido, essa elementos novos aos alunos e conviver com a interação daquilo...”
relação volume de atividade pouco tempo me traz essa sensação de (Professor 05 – 05 anos de docência)
exaustão ...” (Professor 05 – 05 anos de docência)
Administração (05%), Planejamento (04%), Produtivida-
Vários autores têm tentado explicar a SB em professores de (04%), Experiência (02%) e Docência (05%), são ideias
a partir de diversas perspectivas. Woods [13] parte de um significativas do trabalho laboral docente, e estão baseadas em
modelo sociológico e aponta fatores desencadeantes da sinto- metas e produtividade para o ano letivo. Prova (05%), Aula
matologia clínica. À medida que a economia capitalista avan- (11%), Pesquisa (05%) e Semestre (07%), transmitem a ideia
ça, há uma preocupação em manter e promover a eficiência. significativa das atividades docentes, que são programadas no
Nesta concepção há uma redução da amplitude de atuação início de cada semestre letivo.
do trabalho, as tarefas de alto nível são transformadas em
rotinas, existindo uma maior subserviência a um conjunto “Nos momentos das provas é o estresse dos alunos com professor, e
de burocracias. Também há menos tempo para executar o final de semestre é sempre estressante para ambos ...” (Professor
trabalho, para atualização profissional, lazer e convívio social 06 – 06 anos de docência)
e poucas oportunidades de trabalho criativo.
Embora muitas pessoas possam deixar o trabalho em “... como eu faço um trabalho administrativo nesse período (ma-
consequência da SB, outras podem ficar. Entretanto, a pro- nhã e tarde) e leciono no outro período... [...] ... por conta dessa
dutividade fica abaixo do real potencial, subaproveitando a atividade complementar que eu faço, porém a gente tem que se
qualidade do trabalho e o compromisso profissional [14]. desdobrar, utilizar outros horários como final de semana...” (Pro-
Altos níveis da SB fazem com que os profissionais fiquem fessor 02 – 16 anos de docência)
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 261

A atividade profissional em excesso leva ao estresse, à EE, professores utilizavam a sala dos professores como “momento
correspondendo a uma diminuição da produção diária do de descontração”. Um espaço onde eles poderiam respirar
trabalho docente: um pouco e “jogar conversa fora”. Contar algumas histórias,
piadas, rir um pouco, relaxar e se preparar para o segundo
“... atividade profissional? Infelizmente a atividade profissional tempo de sua jornada de trabalho.
leva ao estresse né? Então isso aí vai causar um déficit muito grande Codo [2] ressalta que por mais que os professores acredi-
no seu trabalho...” (Professor 06 – 06 anos de docência) tem que os resultados possam ser diferentes, pouco ou nada
lhes é reconhecido:
Considerando a análise de conteúdo dos discursos so-
bre a atividade profissional, ficou evidente que os sujeitos “Estressante (silêncio), de cobrança, sem retorno de um trabalho
constroem representações sociais de motivação, prazer e bem feito.” (Professor 06 – 06 anos de docência)
produção para atuar na atividade docente. A motivação está
relacionada ao gosto pela docência, que se manifesta através Codo [2] afirma que não é desprezível considerar o fato
da representação de uma profissão que busca resgatar algo de que essa representação de público, ancorada de vários
perdido no passado: a imagem do educador valorizado no elementos do que falta ter, do que falta fazer, funciona como
imaginário social. negação sempre presente, do não reconhecimento de ações
Segundo Codo [2], no passado, a cognominação “eu sou importantes para a melhoria das condições de ensino. Não é
professora (a)” trazia à tona uma identidade carregada de por acaso que, ao se exaurirem, os professores desenvolvam
orgulho profissional. A valorização da profissão conduzia ao um sentimento de decepção, desânimo e solidão, como se
importante papel atribuído à educação na integração social nada pudesse ser diferente, gerando uma atmosfera pouco
e nos esforços destinados à produção de uma identidade receptiva a inovações.
nacional.
Ter que cumprir uma tarefa supõe um compromisso de Categoria 04 – Estresse
caráter moral para quem a realiza. Contreras [16] ressalta que
este compromisso ou obrigação moral confere à atividade do Foram encontradas as subcategorias: Cansaço (29%),
professor um caráter que se situa acima de qualquer obrigação Saúde (18%), Problema (13%), Ajuda Profissional, Irrita-
contratual que possa ser estabelecida na definição de emprego. ção, Sono todos com (08%) cada, Emocional e Tolerância
Por isso, as unidades Vida (05%), Dedicação (07%), Prazer ambos com (06%) cada um e Inquietação (04%). Esta
(04%) e Motivador (08%) foram importantes nos discursos categoria expressa os efeitos que a atividade profissional
dos entrevistados, pois o professor está comprometido e pode proporcionar ao docente, visto que a SB, em especial a
abraçado com sua profissão, dando sentido ao seu trabalho e EE, acomete principalmente os profissionais que trabalham
se sentindo responsável por seus alunos, mesmo sabendo que com o público.
isso costuma causar tensões, dilemas e decepções. Irritação (08%), Emocional (06%), Cansaço (29%),
Este aspecto moral do ensino está muito ligado à dimensão Inquietação (04%), Tolerância (06%) e Sono (08%). Nestas
emocional presente em toda relação educativa. Contreras subcategorias os participantes relataram o que sentem durante
[16] complementa que sentir-se compromissado ou obrigado o trabalho desenvolvido, fazendo referência e relação ao que
moralmente reflete este aspecto emocional na vivência das é produzido durante a sua atividade profissional.
vinculações com o que considera valioso.
O gosto pela profissão consiste numa unidade de signifi- “... a minha produção, quando estou cansada, não tem produção,
cação estruturante na construção da representação social. O então ou eu descanso ou não tenho produção, não adianta, eu
núcleo de significação determina a natureza dos elos, fazendo não vou pra frente, acho que isso é básico ...” (Professor 03 – 05
conexão entre os outros elementos de representação, ou seja, anos de docência)
por gostar da profissão, o indivíduo sente uma obrigação
moral de apegar-se e realizar-se. “... fico sem paciência, cansaço mental, sono, estresse mesmo,
Há uma dicotomia entre o trabalho idealizado e o trabalho sintomas do estresse, cansaço muscular, cansaço cognitivo, sem
realizado pelo professor, gerando uma expectativa negativa pensamento...” (Professor 06 – 06 anos de docência)
com relação à situação vivida. Para o professor, sentimentos
contrários já ocupam espaços relevantes em sua concepção “Sintomas: irritabilidade, paciência muito reduzida para
e trabalho. O docente passa a conviver com a satisfação e o enfrentamento, os níveis de tolerância com as dificuldades
com a decepção e, ao mesmo tempo, com a ideia de que ser do dia a dia começam a se tornar baixo, e a sensação de ter
professor não compensa mais. muita coisa a ser resolvida em pouco tempo dá uma certa apre-
O trabalho do docente é solitário, individualizado, frag- ensão, uma certa inquietação para resolução dos problemas
mentado. Cada qual em sua sala de aula com seus dilemas cotidianos, a irritabilidade seria o mais notório.” (Professor
e dificuldades. Observou-se durante as entrevistas que os 05 – 05 anos de docência)
262 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

As subcategorias Saúde (18%), Ajuda Profissional (08%) tura, conforto e a possibilidade de crescimento profissional
e Problema (13%) mostram que os professores conseguem entre outros que podem ser considerados como etiológicos
identificar e diagnosticar a SB, em especial a EE, frente as da sintomatologia de EE.
dificuldades percebidas em seu ambiente de trabalho com Esta relação do estresse com o trabalho docente observado
relação a produtividade. nesta categoria pode ser encontrado no trabalho de Codo [2],
que comenta que o dinheiro pode não determinar saúde ou
“Essa pesquisa me pegou saindo de um problema emocional muito doença mental, mas está presente na rede de determinações
grande né? Por questões pessoais, então em alguns momentos a vida que acompanha qualquer vida saudável, doença e sofrimento.
da gente prega algumas peças ... essa sua pesquisa me pegou saindo A apresentação da pesquisa provocou uma surpresa para
de um estresse emocional que estava afetando as minhas ativida- a grande maioria dos profissionais entrevistados, pois os mes-
des profissionais, inclusive aqui na docência ... mas eu cheguei a mos não sabiam sobre a existência da Síndrome de Burnout
precisar de ajuda profissional, mas não foi por conta do trabalho e do que tratava tal síndrome patológica, fato que também
não, foi mais por questão de vida, problema de saúde ou doença me surpreendeu, pois não imaginava tal desconhecimento
na família né? Falecimento de uma pessoa muito próxima, depois, na classe docente.
um ano depois o falecimento de uma outra né?...” (Professor 01 O desconhecimento revelou-se uma constante. O profes-
– 08 anos de docência) sor 03 ao saber o tema da pesquisa, disse para o professor 06
que não conhecia tal síndrome e que iria ler sobre o assunto
Codo [2] reitera que o desgaste mental do professor é antes de fazer parte da pesquisa, mesmo quando o pesqui-
um ponto amplamente abordado na literatura. É claramente sador reforçou que explicaria tudo sobre o assunto e sobre a
relatado como sintomatologia clínica da SB, em especial a pesquisa e seus objetivos. Após a explicação dos objetivos da
EE. Ressalva-se que a pesquisa foi realizada num período de pesquisa, tal professor 06 se comprometeu a participar da
final de ano letivo, época de maior desgaste, onde os docentes pesquisa no dia seguinte (fato que não aconteceu até o final
elaboram e corrigem provas finais, fazem lançamento de notas, da pesquisa científica).
frequências e outras atividades institucionais [8]. No início da pesquisa, na apresentação do trabalho,
Travers e Cooper [17] também citam vários trabalhos so- questionando se todos conheciam a Síndrome de Burnout, a
bre a dinâmica do estresse em professores durante o transcorrer resposta que tivemos foi o silêncio. No final, todos assumem o
do ano letivo. Um estudo canadense sobre a SB registrou, desconhecimento sobre a síndrome selecionada para o estudo.
efetivamente, uma maior incidência de estresse ao final de cada O professor 02 fez o seguinte comentário: “Eu também não
semestre e ao final do ano escolar. Tal fato vem ao encontro conhecia, mas acho que não tenho isso não...”.
dos achados da pesquisa, pois os professores apresentam ou Este questionamento foi checado com os docentes a
conhecem a sintomatologia da EE. quem tivemos acesso na apresentação individual da pesquisa.
Tais docentes estão predispostos a desencadear os sintomas Compreendemos como significativa essa informação para
da SB pelo fato de trabalharem com o público e apresentarem o entendimento do quanto esse tema ainda é novo para a
outras atividades fora da docência. Cifuentes [18], em estudos classe docente e para a instituição de ensino superior, o que
realizados sobre o estresse em mulheres chilenas, observou nos faz refletir sobre certo descaso ao cuidado com a saúde
maior prevalência da sintomatologia da SB, pelo fato de dessa categoria.
muitas delas desenvolverem atividades na instituição escolar
e no seu lar. Em outras categorias profissionais, as mulheres Conclusão
também apresentaram maiores prevalências de sintomas psi-
cológicos, sugerindo que outros aspectos além do trabalho se Perceberam-se, a partir de suas falas, como eles constru-
associam com a saúde psíquica da mulher, como as questões íram as formas de EE, fazendo relação à organização do seu
hormonais. trabalho e a jornada de trabalho. O professor, de fato, dá
A dupla jornada de trabalho que muitos professores fazem significado ao seu trabalho à medida que se apropria dele.
com o objetivo de melhorar a renda salarial, tem-se colocado Refletindo sobre a condição humana e as três dimensões que
como possível explicação desta sintomatologia referida. A envolvem o trabalho docente: labor, poesis e práxis, afirma-se
saúde física e mental aparece com duas dimensões interligadas que é mais que sobrevivência biológica (labor), tal trabalho.
e são classificadas dentro do grupo de “problemas psicossomá- Observou-se que o professor, envolvido com a sua tarefa,
ticos ou relacionados à saúde mental”. O trabalho repetitivo, não deixou de denunciar as exigências impostas pela organiza-
o indicador de controle, o ritmo acelerado de trabalho, e o ção do trabalho na instituição de ensino superior, verificou-se
indicador de demanda psicológica também estavam associados que apesar de todo esforço desenvolvido por cada um deles,
ao estresse em professores. muito precisa ser recompensado e realizado.
Codo [2] afirma que não é só de salário que vive o trabalho Compreendeu-se que o professor se submete a um traba-
e o trabalhador. Existem outros aspectos importantes como lho que é composto por demais e marcado pelas interações
o reconhecimento social, condições de trabalho, a infraestru- cotidianas entre professores e alunos, exigindo do professor
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 263

uma sobrecarga de energia afetiva para realizá-lo. Tal trabalho Referências


requer que se obedeça a algumas regras, que são rígidas quer
pela técnica, quer pelo cronograma preestabelecido, quer pelas 1. Dejours C. A loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia
normas e determinação da instituição de ensino superior, do Trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré; 1987.
quer por gestões administrativas, enfim, há princípios a serem 2. Codo W. Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes/
obedecidos quando se fala do educar. Brasília; 1999.
3. Codo W. Trabalho docente e sofrimento: Burnout em pro-
O mesmo dedica-se quase todo o seu dia ao seu trabalho,
fessores. In: Azevedo J; Gentili P, Krug A, Simon C. Utopia e
cumprindo até três expedientes diários na tentativa de garantir Democracia na educação cidadã. Porto Alegre: Universidade
um salário decente. Exige-se do professor eficácia, responsabi- Porto Alegre; 2000.
lidade sobre o sucesso e o fracasso dos alunos, muito controle 4. Maslach C, Jackson SE. The measurement of experience Bur-
além de um excessiva burocratização sobre seu trabalho. nout. Journal of Occupational Behavior 1981;2:99-113.
Os significados atribuídos à organização do trabalho 5. Jovchelovitch S. Representação sociais e esfera pública: a cons-
mostraram que os professores gostam da profissão, assumem trução simbólica dos espaços públicos no Brasil. Petrópolis:
as obrigações, que para eles fazem parte do trabalho, sentem- Vozes; 2000.
-se apegados afetivamente e percebem a docência como uma 6. Moscovici S. Representações sociais: investigação em psicologia
forma de realização enquanto ser humano. Mas ao mesmo social. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2004.
7. Minayo MC. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa
tempo expressam sentimentos relacionados ao desânimo, por
em saúde; 8º ed. São Paulo: Hucitec; 2004.
conta das dificuldades, cobranças e contradições presentes no 8. Esteve JM. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos
trabalho docente. professores. 2ª ed. São Paulo: EDUSC; 1999.
Os resultados obtidos nesta pesquisa viabilizaram uma 9. Fontanella BJB; Ricas J; Turato ER. Amostragem por saturação
maior compreensão sobre a Síndrome de Burnout, em especial em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad
a EE. Esses dados demonstraram que existe um processo em Saúde Pública 2008;24(1):17-27.
curso, com alto risco para a manifestação da síndrome em 10. Bardin L. Análise de conteúdo: Lisboa: Edições 70; 2009.
estudo. Um aspecto descoberto na pesquisa foi o desconheci- 11. Brasil, Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 196 / 96.
mento de muitos professores sobre a existência desta síndro- Decreto Nº 93.933 de Janeiro de 1987. Estabelece critérios
sobre Pesquisa envolvendo Seres Humanos, Bioética 1996; 4
me, o que mostrou um desconhecimento sobre os cuidados
(2 Suplemento):15–25b.
com a sua saúde. Observou-se também um investimento 12. Tardif M, Lessard C. O trabalho docente: elementos para uma
maior para os aspectos físicos e estruturais da instituição, já teoria da docência como profissão de interações humanas.
que o aspecto organizacional também é um fator de influência Petrópolis: Vozes; 2005.
para a manifestação do Burnout, em especial a EE. 13. Woods P. Intensification and stress in teaching; 1999. In: Van-
derbergue R; Huberman M A. Understanding and preventing
Agradecimentos teacher burnout: a source book of international practice and
research. Cambridge: Cambridge University Press; 1999.
Os autores agradecem a colaboração e a disponibilidade do 14. Maslach C, Goldberg J. Prevention of burnout: news perspecti-
supervisor do setor de Traumato-ortopedia e Reumatologia, ves. Applied & Preventive Psychology 1998;7:63-74.
15. Wisniewski L, Gargiulo RM. Occupational stress and burnout
a direção da Faculdade Católica Rainha do Sertão - FCRS e
among special educators: a review of the literature. The Journal
a Coordenação do curso de Fisioterapia - FCRS pela autori- of Special Education 1997;31(3):325-49.
zação e realização desta pesquisa e também os docentes que 16. Contreras J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez;
concordaram em participar deste estudo científico. 2002.
17. Travers CJ, Cooper CL. El estrés de los profesores. La presión
en la actividad docente: Temas de educación. Barcelona: Paidos;
1997.
18. Cifuentes M. Sintomatología psiquiátrica según SRQ-20 y
factores asociados en profesores municipalizados de la comuna
de Talcahuano [Tese]. Concepción: Universidad de Concep-
ción; 2000.
264 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Artigo original

A utilização do Nintendo Wii® no treinamento


de equilíbrio de idosos institucionalizados:
estudo piloto
Using Nintendo ® Wii to balance training in institutionalized
older people: pilot study
Enaile Cristina Soares Andrade*, Wanderly dos Melo*, Patricia de Deus Dini, Ft., M.Sc.**,
Hudson Azevedo Pinheiro, Ft., M.Sc.***

*Graduada do curso de fisioterapia pelo Centro Universitário EuroAmericano de Brasília, **Fisioterapeuta da Secretaria de Saúde do
Distrito Federal, ***Fisioterapeuta da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e docente do curso de fisioterapia do Centro Universi-
tário EuroAmericano de Brasília

Resumo Abstract
Introdução: A realidade virtual a partir do lúdico torna a fi- Introduction: Virtual reality, because of its playful approach,
sioterapia agradável, proporcionando uma reabilitação a partir de makes physical therapy pleasant, providing rehabilitation with
movimentos que ajudam a reconquistar equilíbrio, resistência, coor- movements that help to regain balance, resistance, coordination,
denação, força muscular e, além desses fatores, é um modo atrativo muscle strength and beyond these factors is an attractive way of
do paciente aderir ao tratamento. Objetivo: O objetivo é avaliar e patient adherence to treatment. Objective: The objective was to
verificar a utilização do Nintendo Wii no treino de equilíbrio em evaluate and verify the use of Nintendo Wii in training balance for
idosos. Métodos: A amostra foi composta por 10 indivíduos dividida the elderly. Methods: The sample was composed by 10 individuals
em dois grupos aleatoriamente cada um com cinco idosos. Um gru- randomly divided into two groups, each one with five elderly people.
po recebeu tratamento com fisioterapia convencional e outro com One group has received conventional physical therapy treatment and
Nintendo Wii num período de 10 semanas. A Escala de Equilíbrio the other with Nintendo Wii, during 10 weeks. The Berg Balance
de Berg (EEB) foi realizada antes e após intervenção. Resultados: Scale (BBS) was performed before and after the intervention. Results:
Ao avaliar o escore obtido no EEB antes e depois do tratamento After analysis of BBS score, we observed a significant difference (p
com Wii, foi encontrada uma diferença significativa (p = 0,03). = 0.03). Conclusion: The results showed that the intervention of
Conclusão: Os resultados demostraram que a intervenção do treino balance training in elderly using Nintendo Wii improved balance
de equilíbrio em idosos com o Nintendo Wii melhorou o equilíbrio of elderly who participated in this study.
de idosos que participaram do presente estudo. Key-words: balance, elderly, falls, videogames.
Palavras-chave: equilíbrio, idosos, quedas, jogos de vídeo.

Recebido em 1 de outubro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Hudson Azevedo Pinheiro, Rua 12 norte, lote 01 apto 1402, Águas Claras, 71900-100 Brasília DF, Tel: E-mail:
hudsonap@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 265

Introdução e esclarecido, para a participação da pesquisa demonstrando


entendimento dos riscos e benefícios da mesma.
O envelhecimento consiste no acúmulo e interação Os critérios de exclusão eram apresentar alterações cog-
de processos biopsicossociais e culturais durante o curso nitivas, intelectuais ou restrições de mobilidade física que
da vida que trazem repercussões, muitas vezes silenciosas, impossibilitassem a realização do tratamento.
sendo a queda da própria altura um dos principais agra- Os indivíduos que preencheram os critérios de inclusão
vos à saúde do idoso gerando mudanças radicais à vida passaram por uma avaliação de equilíbrio utilizando a Escala
cotidiana, não só por diminuir ainda mais sua capacidade de Equilíbrio de Berg (EEB), que consiste em 14 tarefas, cada
funcional levando à dependência para as atividades de vida uma categorizada em uma escala ordinal de cinco pontos, que
diária (AVD), mas também pelo temor da ocorrência de varia de zero (incapaz de realizar a tarefa) a cinco (realiza a
nova queda [1,2]. tarefa independente), sendo a maior pontuação relacionada
Com o avanço da idade, observam-se alterações estruturais a um melhor desempenho [9,10]. A EEB foi realizada antes
e funcionais nos sistemas sensoriais e motor que levam ao au- das intervenções e imediatamente após o seu término para
mento das oscilações corporais, além de déficits na integração avaliar a eficácia dos tratamentos.
das informações sensoriais, que acabam ocasionando quedas, Após a avaliação inicial, os indivíduos foram divididos em
medo de cair e com isso incapacidade funcional [3-5]. dois grupos (FC e Wii) compostos por cinco pacientes cada.
O Nintendo Wii é o console da Nintendo que inovou Um grupo com pacientes iniciou o FC realizando exercícios
o mercado com um paradigma de interação diferenciado, terapêuticos para otimizar equilíbrio estático e dinâmico
trazendo uma nova forma de jogar, com acessórios como o como: equilibrar-se sobre um pé só, apoio bípede com redu-
Balance Board e o jogo Wii Fit Plus, com o objetivo de tornar ção progressiva de base de suporte, sentar e levantar de uma
a vida do jogador mais saudável, oferecendo jogos que estimu- cadeira. O outro grupo, o Wii, utilizou o jogo Wii Fit Plus
lam a realização de exercícios aeróbicos, de condicionamento por meio do Wii Balance Board – plataforma (Figura 1). Foi
muscular, de equilíbrio e força [6]. criado no jogo para cada um dos participantes um “avatar”
A Wii Balance Board é como uma balança com sensores (seu personagem virtual), onde era registrada a idade, altura,
de pressão que permitem que o jogador faça várias ativida- peso. Com este “avatar” o idoso se identificava nos exercícios.
des físicas, como cabecear bolas virtuais, fazer yoga, praticar No grupo Wii, os jogos utilizados foram exclusivamente
esportes e ski, que percebe quando muda o equilíbrio por exercícios para o equilíbrio. Foram selecionados os jogos da
causa da sensibilidade de pressão que tem, e faz com uma modalidade de equilíbrio: Soccer Heading, Penguin Slide
precisão exata [7]. (Figura 2), sendo que todos têm como objetivo o movi-
Acredita-se que o tratamento utilizando o Nintendo mento látero-lateral, Tightrope tension, tendo objetivo o
Wii possa gerar impacto positivo no equilíbrio do idoso movimento látero-lateral e treino de marcha, e o jogo Sky
favorecendo-o, pois utiliza estímulos visuais para que se Slalom, onde o movimento a ser realizado é de látero-lateral
adquira um bom equilíbrio realizando exercícios aeróbicos, e anteroposterior.
melhorando o condicionamento e força muscular importante
para o equilíbrio [8]. Figura 1 - Uso da plataforma Wii Balance Board.
O objetivo é verificar o treino de equilíbrio em idosos
comparando a prática da fisioterapia convencional com a
prática do Nintendo Wii.

Material e métodos

O presente estudo, de caráter analítico longitudinal, foi


aprovado juntamente com o projeto da pesquisa pelo Comitê
de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UniEuro sob
protocolo 13/2011.
A pesquisa foi realizada em uma instituição de longa
permanência para idosos (ILPI) em Brasília- DF, no período
de abril a junho de 2011.
A amostra foi composta por dois grupos com idade acima
de 60 anos selecionados de forma aleatória. Um grupo rea-
lizou fisioterapia convencional (FC) e o segundo grupo do
Nintendo Wii (Wii). Os jogos descritos visam o treino dos ajustes posturais
Os critérios de inclusão consistiram em ter idade acima anteroposteriores e látero-laterais, assim como o controle do
de 60 anos; ter assinado declaração de consentimento livre equilíbrio, através da interação entre paciente e jogo.
266 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Figura 2 - Exemplo de exercício realizado no protocolo de interven- antes e depois do tratamento com Wii, foi encontrada uma
ção: o avatar pinguim deve permanecer estável sobre o bloco de gelo. diferença de 1,2 ± 0,84 pontos, estatisticamente significativa
O paciente sobre a plataforma deve oscilar seu centro de pressão nos (p = 0,03). A diferença encontrada no grupo FC, de 0,8 ±
sentidos AP ou ML para esse fim. 0,84 pontos, não foi estatisticamente significativa (p = 0,1).
Os escores estão apresentados na Tabela II.

Tabela I - Características dos participantes do estudo.


Variável Grupo FC Grupo Wii
Idade (em anos) 76,8 ± 9,26 76,4 ± 8,76
Gênero (n)
Masculino 3 (60%) 2 (40%)
Feminino 2 (40%) 3 (60%)
Histórico de quedas (n)
Sim 3 (60%) 3 (60%)
Não 2 (40%) 2 (40%)

Em ambos os grupos os atendimentos foram realizados Discussão


durante 10 semanas no período entre abril e junho de 2011
com frequência de três vezes por semana. O presente estudo teve como objetivo avaliar a utilização
Na análise estatística, o teste de Shapiro-Wilk foi realizado do Nintendo Wii no treino de equilíbrio em idosos. Os
para testar a distribuição de frequência das variáveis continuas. achados mostram que em ambos os grupos não apresentaram
A idade e o escore do teste aplicado assumiram distribuição diferença estatisticamente significativa com relação à idade (p
simétrica, sendo expressos como média ± desvio padrão. Gê- = 0,93), gênero (p = 0,36) ou histórico de quedas (p = 1,0).
nero e histórico de quedas, por serem variáveis categóricas, Isso evidencia que se trata de uma amostra homogênea.
foram expressos por porcentagem. O instrumento utilizado Para comparações intergrupos (FC e Wii), foi encontrada
para comparação das variáveis categóricas foi o teste exato diferença estatisticamente significativa com relação ao escore
de Fisher, em função do pequeno tamanho da amostra. Para obtido no EEB antes da intervenção (p = 0,02). Como a
a análise comparativa dos grupos FC e Wii foi utilizado o distribuição foi realizada aleatoriamente, não se esperava essa
teste t de student. Já a análise comparativa do escore obtido diferença. No entanto essa diferença pode ser justificada pelo
no EEB antes e depois da intervenção foi realizada pelo teste fato de que no grupo Wii ter a presença de dois indivíduos
t pareado. O nível de significância estabelecido (risco alfa) foi da comunidade. Outra possível justificativa é que o grupo
de 5% (p < 0,05). O software utilizado para análise estatística Wii obteve um escore da EEB maior que 45. Williams et al.
foi o SPSS version 16.0 for Mac. anteriormente determinou que EEB de 45 ou mais indica
que um indivíduo é susceptível de ser seguro e independente
Resultados deambulação [8].
Fatores como limitações físicas, dependência funcional
A amostra populacional deste estudo foi composta por in- verificados nos idosos residentes em ILPI associam-se ao
divíduos idosos, institucionalizados e da comunidade. Foram isolamento e à negação da percepção de um ambiente que
estudados 10 idosos, sendo cinco alocados aleatoriamente no pode não lhes ser agradável, afetando profundamente seus sen-
grupo FC e cinco no grupo Wii. timentos, contribuindo para o desenvolvimento de doenças
Os grupos não apresentaram diferença estatisticamente não apenas físicas como também psicológicas, reforçando a
significativa com relação à idade (p = 0,93), gênero (p = 0,36) mentalidade de que o idoso é simbolo de fraqueza e empecilho
ou histórico de quedas (p = 1,0) descritas na Tabela I. para todos [10-12].
Os grupos FC e Wii apresentaram diferença estatistica- Menezes e Bachion [13] afirmam que os idosos institucio-
mente significativa com relação ao escore obtido no EEB antes nalizados, em geral, dispõem de poucas atividades físicas para
da intervenção (p = 0,02). Ao avaliar o escore obtido no EEB participarem, o que pode agravar o ciclo do envelhecimento,

Tabela II - Escores obtidos no EEB nos grupos FC e Wii, antes e depois do tratamento.
Antes do tratamento Depois do tratamento Diferença Significância
BBS
Grupo FC 42,2 ± 6,38 43 ± 6,44 0,8 ± 0,84 P = 0,1
Grupo WII 50,8 ± 2,77 52 ± 2.92 1,2 ± 0,84 P = 0,03*
Dados expressos como média ± desvio padrão; EEB = Escala de Equilíbrio de Berg; FC = fisioterapia convencional; *estatisticamente significativo (p <
0,05).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 267

menor capacidade funcional e sedentarismo, que contribuem Referencias


de forma significativa para o risco aumentado de quedas nesta
população. 1. Pinheiro HA, Loureiro AML. Análise dos aspectos geronto-
Ao avaliar o escore obtido no EEB depois do tratamento lógicos na canção “Filho Adotivo”. Rev Bras Geriat Gerontol
com Wii, o resultado foi estatisticamente significativo (p = 2011;5(2):99-105.
0,03). A diferença encontrada no grupo FC, não foi estatis- 2. Rezende AAB, Silva IL, Cardoso FB, Beresford H. Medo
do idoso em sofrer quedas recorrentes: a marcha como fa-
ticamente significativa (p = 0,1).
tor determinante da independência funcional. Acta Fisiatr
Lange et al. [14] apresentaram um estudo de caso utili- 2010;17(3):117-21.
zando o Nintendo Wii Fit como um adicional de intervenção 3. Gai J, Gomes L, Cárdenas CJ. Ptofobia: o medo de cair em
do treinamento de equilíbrio e marcha em indivíduos com pessoas idosas. Acta Med Port 2009;22:83-8.
hemiparesia e perceberam que o jogo que é divertido e lú- 4. Freitas Junior P, Barela JA. Alterações no funcionamento do
dico proporciona um nível adequado de desafio e adequado sistema de controle postural de idosos. Uso da informação visual.
feedback para uma série de habilidades, podendo ser uma Rev Port Cien Desp 2010;6(1):94-105.
ferramenta eficaz no processo de reabilitação. 5. Gazzola JM, Perracini MR, Ganança MM, Ganança FF. Fatores
No estudo de Miller et al. [15] foi realizado dois estudos associados ao equilíbrio funcional em idosos com disfunção ves-
de casos com idosos residentes na comunidade, todavia com tibular crônica. Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(5):683-90.
6. Dias RS, Sampaio ILA, Taddeo LS. Faculdade Integrada do
sequelas de amputações em MMII, e foi observado que o
Ceará – FIC, Jogos Digitais, Brasil. Fisioterapia X Wii: A in-
uso do protocolo de treinamento com o Nintendo Wii foi trodução do lúdico no processo de reabilitação de pacientes em
eficaz para gerar melhor funcionalidade nestes indivíduos na tratamento fisioterápico; VIII Brazilian Symposium on Games
reeducação da marcha, diminuindo risco de queda e medo de and Digital Entertainment Rio de Janeiro, RJ – Brazil, October,
cair e redução do gasto energético nesses indivíduos. 8th-10th 2009.
Clark e Kraemer [16] realizaram um estudo de caso com 7. Nintendo Wii [Internet]. WiiFit. [citado 2011 Mar 4]. Dispo-
um idoso de 89 anos utilizando o Nintendo wii para diminuir nível em URL: http://wiiportal.nintendo-europe.com/27606.
risco de quedas e, para avaliar os desfechos, também utilizou a html.
EEB e o teste timed get up and go (TUG), e obteve melhora 8. Williams AM, Soiza RL, Jenkinson AM, Stewart A. Exercising
with computers in later life (EXCELL) – pilot and feasibility
de 48 para 53 pontos na EBB e uma redução 15” para 10,5”
study of the acceptability of the Nintendo WiiFit in community
na TUG, demonstrando redução na probabilidade de queda. – dwelling faller. BMC Research Notes 2010;3:238.
O presente estudo demonstrou que diferentemente do que 9. Miyamoto ST, Lombardi Junior I, Berg KO, Ramos LR, Natour
se esperava, os idosos institucionalizados se beneficiaram de J. Brazilian version of the Berg Balance Scale. Braz J Med Biol
tecnologias para o seu processo de reabilitação e, sobretudo, Res 2004;37:1411-21.
com impacto em suas estratégias de equilíbrio e mobilidade. 10. Tier CG, Lunardi VL, Santos SSC. Cuidado ao idoso deprimi-
O estudo possui algumas limitações como o fato de não do e institucionalizado à luz da complexidade. Rev Eletronica
ter se controlado aspectos cognitivos e psicológicos como Enferm 2008;10(2): 530-6.
escolaridade, mensuração do medo de cair por escala especí- 11. Correia PSS. Velhos são uns trapos: mito ou realidade? [citado
fica, verificando se a Wii terapia também teria tal benefício 2010 Out 19]. Disponível em: URL: http://www.psicologia.
com.pt/artigos/textos/A0340.pdf .
nesses domínios e, melhor controle ou mesmo especificação
12. Torres MM, Sá MAAS. Inclusão social de idosos: um longo
do protocolo de fisioterapia convencional realizado no grupo caminho a percorrer. Rev Ciênc Hum– Universidade de Taubaté
controle, além da amostra pequena e curto período de in- (UNITAU) 2008:1(2).
tervenção, nesse caso, 10 semanas, sugerindo novos estudos 13. Menezes RL, Bachion MM. Estudo da presença de fatores de
sobre essa temática. riscos intrínsecos para quedas, em idosos institucionalizados.
Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(4):1209-18.
Conclusão 14. Lange B, Flynn S, Proffitt R, Chang CY, Rizzo AS. Development
of an interactive game-based rehabilitation tool for dynamic
Os resultados demostraram que a intervenção do treino balance training. Top Stroke Rehabil 2010;17(5):345-52.
15. Miller CA, Hayes DM, Dye K, Johnson C, Meyers J. Using the
de equilíbrio em idosos com o Nintendo Wii tem o potencial
NintendoWii fit and bodyweight support to improve aerobic
de melhorar o equilíbrio. Faz-se necessários futuros trabalhos capacity, balance, gait ability, and fear of falling: two case reports.
com maior amostra, a ser realizados para determinar um J Geriatr Phys Ther 2012;35:95-104.
programa de exercícios aceitável com o maior potencial para 16. Clark R, Kraemer T. Clinical use of Nintendo Wii bowling
melhorar o equilíbrio. simulation to decrease fall risk in an elderly resident of a nursing
home: a case report. J Geriatr Phys Ther 2009; 32(4):174-80.
268 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Artigo original

Prevalência de dor em adolescentes escolares


Prevalence of pain among adolescent students
Angelica Castilho Alonso, Ft., D.Sc.*, Joseane Lima da Anunciação, Ft.**, Rosana de Oliveira, Ft.***

*Profissional de Educação Física, pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento (LEM.IOT.HC.FMUSP), docente


Unisant’Anna, **Unisant’Anna, ***Professora de Educação Física da rede Estadual e Municipal de Ensino do Estado de São Paulo

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dores mus- The objective of this study was to determine the prevalence of
culoesqueléticas em adolescentes escolares. Participaram da pesquisa musculoskeletal pain among adolescent students. The participants
487 adolescentes de ambos os gêneros, (288 gênero feminino e 199 were 487 adolescents of both genders (288 females and 199 males),
gênero masculino), com idade entre 14 e 18 anos de uma escola da aged 14-18 years, who attended a school from the East zone of São
zona leste da cidade de São Paulo. A pesquisa baseou-se no Ques- Paulo city. The research was based on the Nordic Musculoskeletal
tionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares e composta por 12 Questionnaire and consisted of 12 questions. The prevalence of pain
perguntas. A prevalência de dor em adolescentes foi grande (71,7% in adolescents was higher (71.7% of total) and the most common
do total), sendo a região cervical mais afetada. O grupo feminino area affected was the cervical region. Females referred more pain
referiu mais dor (80%), prevalecendo a região cervical (11,2%), (80%), prevailing the cervical region (11.2%), dorsal region (8.5%)
região dorsal (8,5%) e ombro direito (7,6%). Afirmam que a dor and right shoulder (7.6%). They reported that pain does not interfere
não interfere em suas atividades cotidianas e não são deflagradas por in their daily activities and are not triggered by any situation or ac-
nenhuma situação ou atividade em especial. A maioria delas sente tivity in particular. Most of them feel pain during activities of daily
dor durante a realização das atividades do dia a dia (30,7%), quando life (30.7%), when they were standing (41.3%) and believed that
estão em pé (41,3%) e acreditam que a postura inadequada seja a improper posture is the leading cause (33.8%). Only 59 (25.7%)
principal causa (33,8%). Apenas 59 (25,7%) procuram assistência girls seeking medical care and only 8.7% were referred to physical
médica e somente 8,7% foi encaminhada a fisioterapia. No grupo therapy. Regarding the male group, 60% reported feeling pain, and
masculino, 60% referem sentir dor, a área mais acometida são os the most affected area were the knees (left and right 11.6% 11.1%),
joelhos (direito 11,6% e esquerdo 11,1%), a região dorsal (9,7%) the dorsal region (9.7%) and hip and/or thigh right (8.3 %). Most
e quadril e/ou coxa direito (8,3%). A maioria costuma sentir dor often feel pain during physical activity (33.5%) when they were
durante a prática de atividade física (33,5%); quando estão em standing (46.5%) and believed that poor posture is a major cause
pé (46,5%) e acreditam que a postura inadequada seja a principal of pain (30.4%). Only 24.4% of boys sought medical assistance
causa de dor (30,4%). Apenas (24,4%) deles procuraram assistência and only 5% were referred for physical therapy.
médica e somente 5% foram encaminhadas para a fisioterapia. Key-words: prevalence, pain, adolescents.
Palavras-chave: prevalência, dor, adolescentes.

Recebido em 16 de outubro de 2012; aceito em 24 de junho de 2013.


Endereço para correspondência: Angelica Castilho, Rua Aquiráz, 156 Vila Granada 03654-040 São Paulo SP, E-mail:angelicacastilho@msn.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 269

Introdução 18 anos. Foram excluídos os adolescentes que responderam


a pesquisa de forma inadequada.
Atualmente um dos maiores problemas enfrentados por Este estudo foi realizado por meio de uma pesquisa com-
todos é a dor. Este transtorno afeta pessoas de todo o mundo e posta por 12 perguntas, elaboradas com base no Questionário
de todas as idades, tendo aumentado muito nos últimos anos Nórdico de Sintomas Osteomusculares, que teve sua versão
devido a mudanças no estilo de vida e no ambiente, dentre na língua portuguesa validada no ano de 2002 [4]. Deste
outras razões [1]. questionário foi utilizada uma imagem, com o objetivo de
Vários fatores podem levar um indivíduo a um quadro padronizar as áreas acometidas pela dor (pescoço, ombros,
álgico, dentre eles podem ser citados: traumas, processos região dorsal, cotovelos, antebraço, região lombar, punhos/
infecciosos, lesões por esforço excessivo ou traumáticas não mão/ dedos, quadris e coxas, joelhos e tornozelos/ pés), faci-
tratadas de forma adequada, vícios posturais, sobrecarga litando a interpretação dos dados e mais duas questões que
mecânica, câncer, entre outros [1]. foram adaptadas.
Estas dores estão presentes também durante a adoles-
cência, período no qual ocorre o desenvolvimento físico, Procedimentos
psicológico e cultural deste indivíduo. De modo geral,
pode-se dizer que dores recorrentes são muito frequentes Após a elaboração do questionário, estabelecemos contato
nesta faixa etária, podendo ser de evolução aguda ou crô- com a direção da escola quando se solicitou autorização para
nica, gerando uma grande procura aos serviços de saúde e a realização da pesquisa. A coleta de dados ocorreu em dois
na maioria das vezes afastamento das atividades físicas e/ dias, em períodos distintos (manhã e tarde).
ou esportes [2,3]. Foi explicado em cada sala o objetivo do estudo, sua
É de extrema importância entender e diagnosticar estas relevância, forma de preenchimento e a não obrigatorie-
dores, pois sua presença pode ser um indicativo de sofrimento. dade na participação. Após esse processo, foram entregues
Uma vez identificada a causa torna-se mais fácil atuar na pre- os questionários e solicitado seu preenchimento e o termo
venção e orientação quanto ao que pode ser feito em relação de consentimento livre e esclarecido para que seus pais
a este quadro desenvolvido pelo adolescente [2,3]. assinassem.
Embora a dor seja muito presente na adolescência, e um
dos principais motivos da procura pelo serviço de saúde, Análise estatística
existem poucos estudos voltados exclusivamente a este pú-
blico [2]. A análise descritiva se deu por meio de média, desvio pa-
É relevante desenvolver um estudo nesta linha, a fim de drão, mínimo e máximo e os demais itens por porcentagens,
contribuir com a melhoria na qualidade de vida e de iden- representados por tabelas.
tificar onde a fisioterapia pode ser inserida com o intuito
de prevenir ou diminuir os transtornos provocados por um Resultados
quadro álgico, uma vez que nem todos os danos sofridos nesta
fase podem ser reparados e a busca pelo serviço de saúde nesta Responderam os questionários 520 adolescentes, 288 do
idade ser significativo [2,3]. gênero feminino com idade média de 15,5 (0,8) anos, massa
O objetivo geral do estudo é averiguar a frequência de corpórea de 55,3 (8,9) kg e estatura de 1,64 (0,1) m; 199 do
dores musculoesqueléticas em adolescentes escolares. Espe- gênero masculino com idade média de 15,7 (0,9) anos, com
cificamente verificar qual gênero tem maior acometimento; massa corpórea de 66,6 (14,3) kg e estatura de 1,73 (0,1) m.
quais áreas mais afetadas; se a dor interfere nas atividades Foram excluídos 33 adolescentes devido à falta de informa-
cotidianas e são deflagradas em alguma situação especifica; ções (omissão do gênero, idade, massa corporal ou estatura) ou
em que postura sente mais dor, se conseguem saber os moti- preenchimento inadequado da pesquisa (não deixou claro se
vos que causam a dor, se procuram assistência, em especial o sentia dor, não marcou os locais, intensidade e/ou frequência),
tratamento fisioterapêutico. permanecendo no estudo 487 jovens.
Em relação à dor, 349 (71,7%) adolescentes referiram
Material e métodos senti-las, 119 (60%) do gênero masculino e 230 (80%) do
gênero feminino. A maioria dos adolescentes referiu queixas
Este estudo consiste em um estudo epidemiológico desen- em mais de um local, sendo um total 1233 de queixas, 859
volvido em uma escola estadual de ensino médio, localizada no grupo feminino e 374 no grupo masculino. Os locais
na região leste do município de São Paulo. Participaram da acometidos pela dor estão descritos na tabela 1.
pesquisa 520 adolescentes de ambos os gêneros, com idade As dores aparecem frequentemente na região cervical
entre 14 e 18 anos. (14,8%) e dorsal (12,9%) e sempre nos ombros e punhos/
Os critérios de inclusão foram: os participantes deviam mãos/ dedos (14,7%) e região dorsal, joelhos e pés e tornozelos
estar matriculados na escola estadual e ter idade entre 14 e (11,8%) no gênero feminino. No gênero masculino as dores
270 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

aparecem frequentemente nos joelhos (22,2%) e região dorsal Tabela III - Momento em que sente dor.
(16,3%) e sempre em quadris e/ou coxas e joelhos (22,2%) e Momento Total Feminino Masculino
pés e tornozelos (16,7%) (Tabela II). F % F %
Na escola, período de
98 73 21,5 25 15,8
Tabela I - Localização da dor. aula.
Região Total Feminino Masculino Depois da aula 83 65 19,2 18 11,4
F % F % Durante atividades do
144 104 30,7 40 25,3
Cervical 127 96 11,2 31 8,6 dia a dia
Ombro direito 87 65 7,6 22 6,1 Durante realização de
114 61 17 53 33,5
Ombro esquerdo 79 62 7,2 17 4,7 atividade física
Cotovelo direito 9 4 0,5 5 1,4 Indiferente 26 16 4,7 10 6,3
Cotovelo esquerdo 9 5 0,6 4 1,1 Outros 32 20 5,9 12 7,6
Antebraço direito 30 24 2,8 6 1,7 Total 497 339 100 158 100
Antebraço esquerdo 21 17 2 4 1,1 Legenda: F- frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem
Punho/ mão/ dedos 78 63 7,3 15 4,2 dor, não fazem parte da avaliação estatística desta tabela.
direito
Punho/ mão/ dedos 70 53 6,2 17 1,1 Em relação à postura em que mais sentem dor, normal-
esquerdo mente meninas e meninos sentem dor quando estão em pé
Região dorsal 108 73 8,5 35 9,7 41,3% e 46,5%, respectivamente (Tabela IV).
Região lombar 83 63 7,3 20 5,5
Quadril e/ou coxa 90 60 7 30 8,3 Tabela IV - Posição em que sente dor.
direito Feminino Masculino
Posição Total
Quadril e/ou coxa 90 61 7,1 29 8 F % F %
esquerdo Sentado 160 112 34,8 48 31
Joelho direito 106 64 7,5 42 11,6 Deitado 62 44 13,7 18 11,6
Joelho esquerdo 92 52 6,1 40 11,1 Em pé 205 133 41,3 721 46,6
Pé e tornozelo direito 70 41 4,8 29 8 Outras 1 0 0 1 0,6
Pé e tornozelo esquerdo 64 38 4,9 26 7,2 Nenhuma 49 33 10,2 16 10,3
Outros 20 18 2,1 2 0,6 Total 477 322 100 155 100
Total 1233 859 100 374 100 F = frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem dor, não
F = frequência.
fazem parte da avaliação estatística desta tabela.

Em relação ao momento que sentem dor, 30,7% das me- As causas da dor segundo as meninas são: postura ina-
ninas sentem dor durante as atividades do dia a dia, enquanto dequada 33,9% e material pesado (mochila) 20,9%; e os
33,5% dos meninos durante a realização de atividade física meninos postura inadequada 30,4% e prática de atividade
(Tabela III). física 23,2% (Tabela V).

Tabela II - Frequência da dor.


Feminino Masculino
Região Frequentemente Sempre Frequentemente Sempre
F % F % F % F %
Cervical 53 14,8 6 8,8 15 9,8 1 5,5
Ombro 40 11,2 10 14,7 9 10,5 1 5,5
Cotovelo 3 0,8 1 1,8 3 1,3 0 0
Antebraço 15 4,2 4 5,9 5 0,7 0 0
Punhos/ mãos/dedos 36 10,1 10 14,7 7 8,5 2 11,1
Região dorsal 46 12,9 8 11,8 8 16,3 2 11,1
Região lombar 37 10,4 6 8,8 10 5,9 1 5,5
Quadril e/ou coxa 40 11,2 5 7,4 14 13,7 4 22,2
Joelho 49 13,7 8 11,8 8 22,2 4 22,2
Pé e tornozelo 28 7,8 8 11,8 15 10,5 3 16,7
Outra 10 2,8 2 2,9 1 0,7 0 0
Total 357 100 68 100 95 100 18 100
F = frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem dor, não fazem parte da avaliação estatística desta tabela.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 271

Tabela V - Causas da dor na opinião dos adolescentes. rem tenham que fazer uma flexão maior da região cervical e
Causas Total Feminino Masculino torácica, causando muitos incômodos.
F % F % As dores aparecem frequentemente na região cervical
Postura inadequada 202 147 33,8 55 30,4 (14,8%) e sempre nos ombros e punhos/ mãos/ dedos
Material escolar pesado (14,7%) no gênero feminino; frequentemente nos joelhos
117 91 20,9 26 14,4
(mochila) (22,2%) e sempre em quadris e/ou coxas e joelhos (22,2%)
Prática de atividades no grupo masculino. Não foram encontrados estudos que
81 39 9 42 23,2
físicas averiguassem a frequência das dores, no entanto, esta
Atividades diárias 68 52 12 16 8,8 prevalência de membros inferiores no grupo masculino
Uso de computador 82 64 14,7 18 9,9 pode estar relacionada às atividades físicas, em especial ao
Uso de videogame 23 13 3 10 5,5 futebol, e ao estirão de crescimento que ocorre nesta fase
Indiferente 13 9 2,1 4 2,2 e é muito ascendente nos meninos. Meinhart et al. [7]
Outros 30 20 4,6 10 5,5 observaram que as dores musculoesqueléticas são muito
Total 616 435 100 181 100 frequentes, em 73,5% dos casos foi relatada sua presença
F = frequência; *Os 28,3% dos adolescentes que não sentem dor, não entre 1 e 7 dias.
fazem parte da avaliação estatística desta tabela. A maioria dos adolescentes, 182 meninas (63%) e 103
meninos (52%), afirmou que as dores não interferem na rea-
Os adolescentes atribuíram uma nota para a intensidade lização de suas atividades cotidianas, no entanto esta situação
de sua dor, em uma escala de 0 a 10 (0 – ausência de dor e pode causar transtornos futuros, como demonstram Rebolho
10 – dor extrema). A média obtida por meio da resposta das et al.[8] em estudo que observou que o aumento de dor nas
meninas foi 5,3(2,1) e 4,4(2,0) dentre os meninos. costas evoluiu com a idade, Kjaer et al. [9] compartilham
Procuraram assistência médica, 59 (27,5%) meninas e 29 desta opinião e Meinhart et al. [7] apuraram que a média de
(24,4%) meninos. Tiveram indicação para a fisioterapia 8,7% interferência nas atividades diárias foi de 3,8 em uma escala
das meninas e 5% dos meninos. de 0 a 10 e que as meninas são mais afetadas.
Quanto à prática e atividade física fora das aulas de educa- O grupo masculino acredita que atividades esportivas,
ção física da escola, 101 (44%) das meninas afirmam praticar carregarem peso, permanência em uma posição por muito
e a maioria dos meninos 93 (78%). tempo e estresse deflagram um quadro doloroso; acreditam
que a dor aparece não só após a prática esportiva e sim durante
Discussão a prática da mesma (33,5%). Sugere-se que isto ocorra pelo
fato de os meninos realizarem mais atividades físicas que as
Dentre os adolescentes que responderam a pesquisa meninas. De Vitta et al.[6] apontam em seus estudos que
adequadamente, 349 (71,7%) afirmaram sentir dor, reve- escolares que permaneciam muito tempo em uma posição ou
lando índice maior no gênero feminino 230 (80%). Estes a prática de esportes são fatores predisponentes ao apareci-
números nos remete a importância de dar atenção a este mento de um quadro álgico, o que pode justificar um índice
quadro observando a possibilidade de prevenir ou evitar tão elevado de dor.
o seu agravamento [5,6], sejam por meio de informações, O grupo feminino relata que o quadro álgico não costu-
atividades preventivas, adequação do mobiliário escolar ma iniciar após a realização de alguma atividade ou situação
entre outras. Um dos fatores que pode estar associado ao especificas, mas referem sentir durante a realização das ativi-
número de dores maior em meninas é o fato de realizaram dades do dia a dia (30,7%). Isto ocorre por que muitas delas
menos atividade física 56% das meninas contra 22% dos realizam serviços domésticos. Graup et al. [5] dizem que a dor
meninos. Hoje as aulas de educação física têm um aspecto (lombar) pode ser provocada por fatores relacionados situações
muito mais educativo e informativo do que promotor de como o gênero (feminino), obesidade, sedentarismo, níveis
atividade física. baixos ou elevados de atividade física, flexibilidade reduzida
No geral a região cervical foi a mais afetada (127 ado- e hábitos posturais.
lescentes), o grupo feminino refere dor nas regiões cervical A maioria dos adolescentes questionados sente dor quando
(11,2%) e dorsal (8,5%); e o grupo masculino, nos joelhos estão em pé (41,3% das meninas e 46,5% dos meninos) e
direito e esquerdo (11,6% e 11,1%) e na região dorsal sentados (34,8% das meninas e 31% dos meninos). De Vitta
(9,7%), diferente de outros estudos em que a dor lombar et al. [6] e Graup et al. [5] constataram em seus respectivos
prevaleceu [5,6]. Esta diferença em relação aos outros estudos estudos que os adolescentes costumam sentir dor quando
provavelmente se explica por estudarmos um grupo mais passam muitas horas sentados. Sentir dor quando sentado
velho (adolescente do ensino médio) e, portanto, mais alto, por muito tempo justifica-se pelo fato deste jovem passar
que utilizam carteiras com a mesma altura das crianças do seis horas nesta posição, tendo apenas um intervalo de 20
ensino fundamental e a mesma altura para todos, não importa minutos neste período, o que não é suficiente para compensar
a estatura do adolescente, este fato faz com que para escreve- o período passado em sedestação.
272 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Segundo o grupo pesquisado, as causas da dor por eles que deve se iniciar investimentos nesta parcela da população,
apresentada no geral são: postura inadequada (202 no geral; com medidas de prevenção e educação objetivando a chegada
33,8% das meninas e 30,4% dos meninos), material escolar à idade adulta com saúde.
pesado (mochila) para 20,9% das meninas e prática de ativi- Não é possível saber se os adolescentes que apontaram
dades físicas para 23,2%. Martelli e Traebert [10] e Detsch a postura inadequada como motivo do quadro álgico por
et al. [11] constataram uma alta incidência de adolescentes eles apresentado, sabiam de fato se esta era a causa, mas a
com alterações posturais (hiperlordose e hipercifose), uma das opinião deles de certa forma combina com o diagnóstico
possíveis causas seria o fato de sentarem-se incorretamente. emitido pelos médicos, demonstrando que alguns deles têm
Rebolho et al. [10] observaram em crianças com até 11 a consciência de que seu corpo está posicionado de forma
anos, que uma das causas de dor nas costas foi o transporte inadequada, o que já seria um passo para inserção de um
de mochila escolar pesada. Como não foi feita uma análise profissional que pudesse orientá-los quanto as possíveis
postural, não é possível saber se os participantes deste estudo correções posturais.
apresentam algumas destas alterações. Fernandes et al. [16] defendem que o fisioterapeuta pode
No grupo feminino a dor é mais intensa com escore auxiliar com medidas preventivas e educacionais junto aos
médio de 5,3. Jannini et al. [12] relatam que na literatura adolescentes e a família, pode promover hábitos posturais
médica consta que a percepção feminina em relação a saudáveis e mudança nos hábitos referentes à utilização
dor e a forma em lidar com ela é diferente, apresentando adequada de mochilas e até mesmo na diminuição da carga
ainda limiar e tolerância menores, além de apresentar uma transportada por eles.
prevalência maior em todas as faixas etárias. De Vitta et al. Gomes e Horta [17] abordam a necessidade da ampliação
[6] apresentam algumas suposições sobre estas diferenças do programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF), com
de dor entre os gêneros, uma das hipóteses é relacionada a ações e intervenções voltadas aos jovens e lembram ainda do
força física que é menor no gênero feminino, levando a um período quando os médicos visitavam a escola.
maior gasto energético, aumentando o risco de sobrecarga; Torna-se necessária a realização de novos trabalhos
a outra está relacionada ao fator psicossocial, acredita-se abordando esta temática, não apenas em forma de pesquisa
que a mulher se queixe mais e relate com frequência a com um questionário, mas com uma avaliação física deste
presença de dor, talvez por socialmente ser mais aceita a adolescente que refere um quadro álgico e também verificar a
queixa feminina. eficácia de um plano de tratamento ou de prevenção voltado
O mais preocupante foi o baixo índice de procura por um exclusivamente a este público.
médico em busca da causa real das dores, dentre os adoles-
centes que sentem dor, 59 (25,7%) meninas e 29 (24,4%) Conclusão
meninos procuraram o serviço de saúde. Ferrari et al. [13]
relataram que segundo a percepção de médicos e enfermeiros A prevalência de dor em adolescentes é grande (71,7% do
das equipes de Saúde da Família sobre a atenção a saúde do total), sendo a região cervical mais afetada.
adolescente, o atendimento a este público pode, em alguns O gênero feminino refere mais dor (80%), as regiões mais
casos, depender da demanda. No entanto isto varia de unidade afetadas foram: a cervical (11,2%) seguida pela região dorsal
para unidade, enquanto em algumas unidades existem poucos (8,5%) e ombro direito (7,6%). Este grupo afirma que a dor
atendimentos, em outras a procura é maior devido ao grande não interfere em suas atividades cotidianas e não são deflagra-
número de adolescentes grávidas. das por nenhuma situação ou atividade em especial; a maioria
Dentre os adolescentes que buscaram um serviço clínico, delas sente dor durante a realização das atividades do dia a
os principais diagnósticos médicos encontrados foram: dor dia (30,7%), quando estão em pé (41,3%) e acreditam que a
do crescimento, postura inadequada, tendinite (tornozelo, postura inadequada seja a principal causa (33,8%). Apenas 59
joelho, punho e ombro), escoliose, excesso de atividade (25,7%) das meninas procuram assistência médica e somente
física, desgaste ósseo e sobrepeso, semelhantes a outros 8,7% foi encaminhada a fisioterapia.
estudos [5,10-12,14]. Dentre os participantes do grupo masculino 60% refere
Foram encaminhados para a fisioterapia apenas 8,7% das sentir dor, a área mais acometida foram os joelhos direito
participantes do gênero feminino e 5% dos participantes do (direito 11,6% e esquerdo 11,1%), região dorsal (9,7%) e
gênero masculino. Esta baixa procura/ indicação não ocorre quadril e/ou coxa direito (8,3%). Acreditam que algumas
só em São Paulo, em estudo epidemiológico realizado em situações ou atividades podem proporcionar um quadro
Pernambuco (Camaragibe) ficou claro que a procura também álgico; costumam sentir dor durante a prática de atividade
é pequena em crianças e adolescentes, sendo maior a busca física (33,5%); quando estão em pé (46,5%) e acreditam que
pelo gênero masculino [15]. a postura inadequada seja a principal causa de dor (30,4%).
Os estudos pesquisados para a realização deste estudo e os Apenas 29 (24,4%) meninos procuraram assistência médica
resultados obtidos com a aplicação do questionário evidencia- e somente 5% foram encaminhadas para o tratamento fisio-
ram que a maioria dos adolescentes sente dor, demonstrando terapêutico.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 273

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274 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Artigo original

Estudo da emissão de luz por diodo


infravermelho na dor neuropática em ratos
Study of infrared light emitting diodes infrared
on neuropathic pain in rats
Glauce Regina Pigatto*, Jones Eduardo Agne, D.Sc.**, Liliane de Freitas Bauermann, D.Sc.**, Juliano Ferreira**,
Gabriela Trevisan dos Santos***, Robson Borba de Freitas****, Fernanda Rosa*****

*Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, **Professor da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ***Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Toxicológica,
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ****Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Far-
macêuticas, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, *****Acadêmica do curso de Farmácia da Universi-
dade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS

Resumo Abstract
Introdução: A lesão nervosa periférica pode causar alterações Introduction: The peripheral nerve injury can cause sensory and
funcionais tanto sensitivas quanto motoras, podendo promover motor functional changes, promoting important damages, especially
importantes comprometimentos, especialmente a dor neuropática. neuropathic pain. The use of monochromatic light of low intensity,
Dentre os vários tratamentos propostos está o emprego da luz mo- such as light-emitting diode (LED) is among different treatments
nocromática de baixa intensidade, como o diodo de emissão de luz options. Objective: This study proposes an evaluation of analgesic
(LED). Objetivo: Avaliar o efeito analgésico do LED no espectro effect of LED in the infrared spectrum in experimental model of
infravermelho em modelo experimental de dor neuropática por neuropathic pain induced by constriction of the sciatic nerve in rats.
constrição do nervo ciático em ratos. Material e métodos: Foram Methods: We used 24 male Wistar rats randomized into 4 groups (n
utilizados 24 ratos machos Wistar, randomizados em 4 grupos (n = = 6). Group I: neuropathic animals, treated with LED; group II:
6). Grupo I: animais neuropáticos e tratados com LED; grupo II: neuropathic animals, treated with LED (placebo); group III: Sham
animais neuropáticos e tratados com o LED desligado (placebo); animals treated with LED, group IV: Sham animals treated with
grupo III: animais Sham e tratados com LED; grupo IV: animais LED turned off (placebo). We used nociception parameters such
Sham e tratados com LED desligado (placebo). Para avaliar a eficácia as static mechanical allodynia, thermal (cold) dynamics, thermal
do tratamento, foram empregados parâmetros de nocicepção como (heat) hyperalgesia and spontaneous nociceptive in order to evalu-
alodínia mecânica estática, dinâmica e térmica ao frio; hiperalgesia ate treatment efficacy. Results: All animals developed neuropathic
térmica ao calor e nocicepção espontânea. Resultados: Os animais allodynia and hyperalgesia to mechanical stimulation, thermal and
neuropáticos desenvolveram alodínia e hiperalgesia ao estímulo spontaneous nociception in 7 days (time 0), starting on induction
mecânico, térmico e nocicepção espontânea em 7 dias (Tempo 0) of neuropathy, maintaining these conditions until the 14th day.
contados a partir da indução da neuropatia, mantendo essas manifes- Conclusion: Continuous LED treatment with infrared spectrum
tações até o 14º dia. Conclusão: O tratamento contínuo com LED no promotes analgesic effect in experimental model of neuropathic pain
espectro infravermelho promoveu efeito analgésico em um modelo in rats. The results of this study suggest that this treatment may be
experimental de dor neuropática em ratos. Os resultados obtidos used to treat patients with neuropathic pain.
neste estudo sugerem que esse recurso físico pode ser utilizado no Key-words: Pain, neuropathy, light-emitting diode.
tratamento de pacientes com dor neuropática.
Palavras-chave: dor, neuropatia, diodo de emissão de luz.

Recebido em 17 de outubro de 2012; aceito em 24 de abril de 2013.


Endereço para correspondência: Glauce Regina Pigatto, Av.Roraima, 1000, Prédio 21 sala 5229 Bairro Camobi 97105-900 Santa Maria RS
glaucepigatto.fisio@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 275

Introdução experimental para a diminuição da inflamação, diminuição


da atividade das fibras C, aumento da circulação sanguínea e
A dor é um fenômeno que ocorre em todos os tecidos redução da excitabilidade do sistema nervoso [9-11].
onde existem nociceptores ou estruturas neurais para a O modelo de neuropatia por constrição do nervo ciático
sua condução, interpretação e reação emocional para esse em ratos simula a condição clínica de compressão crônica
fenômeno. Dentro desse contexto, destaca-se a dor origina- nervosa, ficando estabelecido que o objetivo deste estudo foi
da por lesão neural, denominada dor neuropática que, do avaliar o efeito analgésico do LED no espectro infravermelho
ponto de vista epidemiológico, faz parte de várias síndromes aplicado localmente neste modelo de neuropatia.
neurológicas e que representa aproximadamente 25% dos
pacientes atendidos em grandes clínicas de dor. Estima-se Material e métodos
que a prevalência de dor neuropática na população esteja
entre 7% e 8% [1,2]. Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso
Recentemente um novo conceito tem sido proposto, como de Animais sob o protocolo 0802011(2) da Universidade
“dor neuropática sendo consequência direta de lesão ou doen- Federal de Santa Maria (UFSM), estando de acordo com
ça afetando o sistema somatossensitivo periférico ou central”. a Resolução 196/96. Trata-se de um estudo experimental
O dano ao tecido nervoso resulta em aumento da sensibilidade laboratorial randomizado.
aos estímulos dolorosos sendo assim, os estímulos inócuos Foram utilizados 24 ratos machos da raça Wistar, pesando
passam a serem percebidos como dolorosos. Esta hiperalgesia entre 200 e 300g. A amostra foi separada em quatro grupos
neuropática pode ser devida, em parte, às alterações centrais de seis animais, acondicionados em caixas de propileno nas
ou espinhais, porém um componente relevante provavelmente dimensões de 41 x 34 x 16 cm. Permaneceram no biotério
seja a sensibilização dos aferentes primários periféricos [3]. setorial do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da
As queixas principais dos pacientes são a dor em quei- Universidade Federal de Santa Maria, sob ciclo claro/escuro
mação (68,3%), pruriginosa (65,9%), dormente (65,9%) de 12 horas e receberam água e alimento ad libitum. Vinte
e em fisgada (64,6%). As outras evidências de que se trata e quatro horas após a última aplicação de LED os animais
de dor neuropática vêm dos achados do exame neurológico, foram eutanasiados através de anestesia profunda com Tio-
notadamente dos sintomas e sinais negativos e positivos, tais pental e Pentobarbital sódico, injetado via intravenosa na
como hipoestesia e hipoalgesia (sinais negativos) e parestesia/ dose de 100 mg/Kg.
disestesia, hiperestesia, hiperalgesia, alodínia e hiperpatia Os animais foram divididos em quatro grupos, sendo:
(sinais positivos). A maior dificuldade que o profissional en- I – animais neuropáticos e tratados com LED; II – animais
contra ao se deparar com um paciente com dor neuropática neuropáticos e tratados com LED desligado (placebo); III
é o desafiador tratamento [4]. – animais Sham e tratados com LED; IV – animais Sham e
A óptica que rege o tratamento poderia basear-se na tratados com LED desligado (placebo). Após o procedimento
etiologia, nos sintomas ou nos mecanismos. Os mecanismos cirúrgico todos os animais foram tratados por 20 minutos
relacionados à dor neuropática não são completamente diariamente, durante 21 dias pelo período da manhã. Como
esclarecidos, mas experimentos em animais de laboratório controle, animais falso-operados (Sham) tiveram o nervo ci-
indicam o envolvimento da sensibilização de neurônios afe- ático exposto, porém não foi realizada nenhuma compressão
rentes periféricos e centrais. Para tentar compreender esses ou lesão.
mecanismos, muitos modelos animais foram desenvolvidos
e se dividem em nociceptivos e neuropáticos. Nos modelos Indução da neuropatia
animais de dor crônica, detectam-se seus sinais através das
mudanças de vários comportamentos [5]. O processo cirúrgico da neuropatia por constrição do ner-
A Fisioterapia utiliza recursos que promovem a analgesia vo ciático ocorreu no centro cirúrgico do Hospital Veterinário
de maneira não farmacológica e não invasiva tais como a Luz da UFSM. Os animais foram anestesiados com cetamina na
Amplificada por emissão Estimulada de Radiação (LASER) dose de 90 mg/Kg de peso corporal (PC) e xilasina na dose
e Luz Emitida por Diodo (LED) [6]. A aplicação do LASER de 3 mg/Kg (PC), administradas intraperitonealmente (IP).
e LED em nervos tem sido muito utilizada na prática clínica Após este procedimento, foi realizada uma incisão na região
e descrita na literatura, sendo reconhecidas como adjuvantes mediana da coxa esquerda para a exposição do nervo ciático. A
efetivos de diferentes resultados cicatriciais e neurofisiológicos neuropatia foi realizada através da constrição do nervo ciático
[7,8]. Como a dor e a nocicepção são pouco compreendidas, (ICC) na região próxima à sua trifurcação [12]. Para isto, o
parece estar estabelecido que a terapia do LASER e do LED nervo ficou pressionado, durante 30 segundos, utilizando-se
influencie na síntese, na liberação e no metabolismo de inúme- uma pinça hemostática traumática de Halsted adaptada [13].
ras substâncias envolvidas na analgesia como endorfinas, óxido Após, a incisão foi suturada e realizou-se a assepsia da região
nítrico de prostaglandinas, bradicinina, acetilcolina e seroto- com álcool iodado.
nina. Além desses efeitos neurofarmacológicos, há evidência
276 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Irradiação do LED Avaliação de alodínia térmica ao frio

Para as aplicações de LED, foi utilizado o aparelho Ano- A alodinia térmica ao frio foi mensurada usando uma
dyne®, diodo de luz infravermelha calibrado a 890 nm de modificação do método da gota de acetona descrito por Choi
acordo a escala de ROHS, GaAIAs de Hetero Duplo”, com et al. [18]. Depois de os animais serem ambientados, uma
potência de 780 mW. Os animais receberam uma potência de gota de acetona (50 µL) foi colocada na superfície da pele da
390 mW equivalendo a densidade de energia de 124,8 J/cm2. pata esquerda. As respostas comportamentais para a gota de
acetona foram ranqueadas de acordo com a seguinte escala
Testes comportamentais de escores: 0 = nenhuma resposta; 1= retirada rápida, batida
ou tremor da pata (menor que 1 segundo); 2= repetição da
Durante os processos nociceptivos prolongados, a batida, tremor ou elevação da pata (menor que 3 segundos);
sensibilização central e periférica pode levar o organismo 3= comportamentos de suspensão ou de lambedura de pata
a perceber de forma exagerada estímulos nocivos, caracte- (por mais que 3 segundos); 4= comportamentos de suspensão
rizando um estado de hiperalgesia a estímulos térmicos e e por lambedura de pata (por mais de 3 segundos). Um ponto
mecânicos [14]. Para avaliar esse evento foram realizados adicional foi acrescentado se ocorresse alguma vocalização.
os testes para observar o desenvolvimento de alodínia
mecânica estática, alodínia mecânica dinâmica, alodínia Avaliação de hiperalgesia térmica ao
térmica ao frio, hiperalgesia térmica ao calor e nocicepção calor
espontânea. Para isso, primeiramente os animais foram
testados para avaliar o limiar basal aos diversos estímulos. Os animais foram submetidos ao teste plantar (Ugo
E após o tratamento com LED o potencial analgésico deste Basile, modelo 7371), descrito por Hargreaves et al. [19].
foi observado nos períodos de setes dias pós-operatório Brevemente, os animais foram habituados no local de ob-
(PO, tempo 0), vinte quatro horas pós-tratamento (tempo servação. Em seguida, cronometrou-se o tempo necessário
1) e 7º, 14º e 21º dia PO. para o animal retirar a pata esquerda do estímulo com feixe
de luz infravermelha emitido por uma lâmpada de 60 W e
Avaliação de alodínia mecânica estática considerou-se como índice de nocicepção (latência de retirada,
em segundos). Uma diminuição significativa dessa latência sig-
A alodínia ao estímulo mecânico foi avaliada segundo nificou um aumento da sensibilidade a um estímulo aversivo
Chaplan et al. [15], utilizando o método de “Up-and-Down” térmico, caracterizando um quadro de hiperalgesia térmica.
descrito por Dixon [23], utilizando filamentos de Von Frey. Em diferentes tempos, novas medidas foram realizadas.
Os animais foram brevemente aclimatados em caixas de vidros
elevadas, com fundo formado por uma tela de metal, permi- Avaliação de nocicepção espontânea
tindo ao experimentador livre acesso às patas do animal. Em
cada pata traseira esquerda foram utilizados filamentos com Para verificação da presença de nocicepção espontânea, em
intensidade de 6, 8, 10, 15, 26, 60 e 100g. Primeiramente, todos os tempos observados, os animais foram classificados
foi utilizado o filamento de 15 g. Caso o animal apresentasse conforme seu comportamento de apoiar a pata esquerda em
um comportamento de retirada de pata, era feita uma nova uma escala de nocicepção espontânea (sem a necessidade de
estimulação com o próximo filamento de intensidade menor. estímulo) que varia de 0 a 4, conforme Butler et al. [20], com
Caso não retirasse, era realizada uma nova estimulação com o algumas modificações. Nesta escala considera-se 0 para peso
próximo filamento, agora, de maior intensidade, completando do corpo distribuído normalmente sobre as quatro patas, 1
um total de seis estimulações ou quatro estimulações para para peso do corpo ligeiramente depositado sobre a ponta
menos ou para mais consecutivamente. O limiar de retirada da pata, 2 para peso do corpo levemente depositado sobre a
de pata é expresso em gramas e calculado como descrito pata posicionada de lado e, 3 para pata totalmente recolhida.
previamente por Dixon [16].
Análise estatística
Avaliação de alodínia mecânica dinâmica
Após a determinação de todos os parâmetros experi-
Os ratos foram colocados em caixas de vidro para uma mentais citados anteriormente, calculou-se as médias e erros
ambientação prévia (20 minutos). A avaliação foi realizada padrões das médias de cada grupo. Na análise estatística foi
com o auxílio de um pincel chato número 4 sendo utilizado utilizado o software GraphPad Prisma, versão 5.0 (GraphPad
como indicativo de alodínia dinâmica. O contato do pincel Software, San Diego, Califórnia, EUA). Foi realizada a aná-
foi realizado em toda a superfície plantar da pata esquerda lise de variância de duas vias (two-way ANOVA) com o teste
no tempo máximo de 15 segundos [17]. complementar de Bonferroni. Diferenças estatísticas foram
consideradas para um p < 0,05.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 277

Resultados obervadas diferenças significativas entre os grupos III e IV


(Sham). Com referência as respostas terapêuticas com LED,
Alodínia mecânica estática observou-se o aumento do limiar para níveis de pré-operatório
(Basal) após 14 e 21 dias de tratamento, relativos à décima
Os animais neuropáticos (grupos I e II) apresentaram uma quarta e vigésima primeira aplicação (Figura 2).
redução no limiar mecânico caracterizando o desenvolvimento
de alodínia mecânica através de filamentos de Von Frey, no Figura 2 - Alodínia mecânica dinâmica.
tempo 0 e no tempo 1, 7º e 14º dia, não sendo obervadas A 20 Sham/placebo Sham/LED
diferenças significativas entre os grupos III e IV (Sham). Com
referência às respostas terapêuticas com LED observamos o 15

Limiar 50% (g)


aumento do limiar para níveis de pré-operatório (Basal) após
14 dias de tratamento, relativos à décima quarta aplicação
10
(Figura 1).

Figura 1 - Alodínia mecânica estática 5


A 100
Sham/placebo Sham/LED 0
Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias)
Limiar 50% (g)

B 20 Neuropatia/placebo Neuropatia/LED
10

15 *
* #
Limiar (s)

10
1 # # # # #
Basal 0 1 7 14 21 #
5 #
Tempo após tratamento (dias)
B 100
Neuropatia/placebo Neuropatia/LED 0
Basal 0 1 7 14 21
***
Tempo após tratamento (dias)
Limiar 50% (g)

# A – Não foram obervadas diferenças significativas entre os grupos B - #


#
10 # # # # #
Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo e Neuropa-
tia/LED no tempo 1, 7º e 14º e 21º dia em comparação ao basal para
p < 0,05. *Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo
e Neuropatia/LED no 14º e 21º dia para p < 0.05. Os dados foram
expressos em média ± DV.
1
Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias) Alodínia térmica ao frio
A – Não foram obervadas diferenças significativas entre os grupos B- #
Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo e Neuro-
Observou-se que os animais neuropáticos apre-
patia/LED no tempo 0 e no 1º, 7º e 14º dia em comparação ao basal sentaram um limiar de resposta térmica ao frio
para p < 0,05. ***Diferença significativa entre o grupo Neuropatia/ (acetona) caracterizando a presença da alodínia
placebo e Neuropatia/LED no 14º dia para um p < 0,001. Os dados térmica ao frio no tempo 0, tempo 1, 7º e 14º dia,
foram expressos em média ± desvio padrão da média (DV). não sendo obervadas diferenças significativas entre os
grupos III e IV (Sham). Com referência as respostas
Alodínia mecânica dinâmica terapêuticas com LED, observou-se uma diminuíção
do limiar para níveis de pré-operatório (basal) após
Os animais neuropáticos (grupos I e II) apresentaram 14 dias de tratamento, relativos à décima quarta
uma redução no tempo de retirada da pata com este estímulo aplicação. (Figura 3).
inócuo (pincel) caracterizando a presença de alodinia dinâmi-
ca, no tempo 0 e no tempo 1, 7º, 14º e 21º dia, não sendo
278 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Figura 3 - Alodínia térmica ao frio. Figura 4 - Hiperalgesiatérmica calor.


A 3 Sham/placebo Sham/LED A 25 Sham/placebo Sham/LED
**
20
Limiar (escore)

Limiar (s)
15

10
1
5

0 0
Basal 0 1 7 14 21 Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias) Tempo após tratamento (dias)

B 3 Neuropatia/placebo Neuropatia/LED A 25 Neuropatia/placebo Neuropatia/LED


***
20 ***
Limiar (escore)

# #
2 # 15 #

Limiar (s)
## # # #
# # # # 10
1
***
5

0 0
Basal 0 1 7 14 21 Basal 0 1 7 14 21
Tempo após tratamento (dias) Tempo após tratamento (dias)
A – Não foram obervadas difenças significativas entre os grupos A - **Diferença significativa entre Sham/placebo e Sham/LED no
B - # Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo 14º dia para p < 0,01. B- # Diferença significativa entre os grupos
e Neuropatia/LED no tempo 0 e no 1, 7º e 14º dia p < 0,05. Neuropatia/placebo e Neuropatia/LED no tempo 0, 1º, 7º e 14º dia em
***Diferença significativa entre o grupo Neuropatia/placebo e o comparação ao basal para p < 0,05. ***Diferença significativa entre os
Neuropatia/LED no 14º p < 0,001. Os dados foram expressos em grupos Neuropatia/placebo e Neuropatia/LED no 7º e 14º dia para p
média ± DV. < 0,001. Os dados foram expressos em média ± DV.

Hiperalgesia térmica ao calor Nocicepção espontânea

Observou-se que os animais neuropáticos apresentaram Os animais neuropáticos apresentaram o escore de no-
uma redução no limiar caracterizando o desenvolvimento de cicepção espontânea em relação ao comportamento da pata
hiperalgesia ao calor com feixe de luz infravermelha emitido no tempo 0, tempo 1, 7º e 14º dia. Quanto as respostas
por uma lâmpada de 60 W no tempo 0, tempo 1, 7º e 14º dia, terapêuticas com LED, observou-se uma diminuíção do
não sendo obervadas diferenças significativas entre os grupos limiar para níveis de pré-operatório (Basal) após 7 e 14 dias
III e IV (Sham). Com referência as respostas terapêuticas de tratamento, relativos à sétima e décima quarta aplicação
com LED observamos um aumento do limiar para níveis de (Figura 5). Os animais sham não apresentaram nocicepção
pré-operatório (Basal) no 14º dia para o grupo Sham tratado espontânea em nenhum dos tempos observados (dado não
com LED e após 7 e 14 dias de tratamento para os animais mostrado).
neuropáticos, relativos à sétima e à décima quarta aplicação
(Figura 4).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 279

Figura 5 - Nocicepção espontânea. medidas quantitativas confiáveis de hipersensibilidade à dor


3.0
Neuropatia/placebo Neuropatia/LED
em pequenos animais. A sua utilização, em combinação com
modelos de dor neuropática, são difundidas e permite compa-
2.5
rações diretas de sensibilidade da pata a estímulos mecânicos
2.0 e térmicos entre as diferentes estirpes de ratos [24].
Escore

A sensibilização ocorre após a ocorrência da inflamação


1.5
# periférica com redução no limiar e do aumento na excitabi-
# # # # * #
1.0 lidade dos terminais periféricos de nociceptores em resposta
a mediadores inflamatórios sensibilizantes [25,26].
0.5
A alodínia mecânica responde a vários mecanismos como:
0.0 *** sensibilização central de fibras Aβ; reorganização central e
Basal 0 1 7 14 21 perda das vias inibitórias descendentes. A hiperalgesia (me-
Tempo após tratamento (dias) cânica e térmica) possivelmente é medida por fenômenos de
#Diferença significativa entre o grupo Neuropatia/placebo no tempo sensibilização periférica e central, com interferência das fibras
0 e no 1º, 7º, 14º dia e para o grupo Neuropatia/LED no tempo 0 e Aδ e C e de wind-up [27].
1 em comparação ao basal para o p < 0,05 *Diferença significativa Os animais do presente estudo com neuropatia ciática
entre os grupos Neuropatia/placebo e o Neuropatia/LED no 7º dia. p constritiva desenvolveram alodínia e hiperalgesia o que
< 0,05 *** Diferença significativa entre os grupos Neuropatia/placebo corrobora a literatura, a qual cita que a dor neuropática é
e o Neuropatia/LED no 14º dia p < 0,001. Os dados foram expressos circundada por um número variado de síndromes de dor, com
em média ± DV. etiologias variadas. Entretanto, tem em comum a presença de
hiperalgesia e alodínia, dor espontânea e parestesia, sugerindo
que existem mecanismos fundamentais que são comuns nas
Discussão diferentes síndromes. Existem relatos que a presença de alo-
dínia é um sintoma de dor neuropática crônica [28].
A inervação ciática pode ser acometida por várias afecções O uso da terapia luminosa através de LED no espectro
especialmente o esmagamento, transecção e congelação, o que infravermelho demonstrou, neste estudo, sua aplicabilidade
acarreta dificuldade nutricional e consequente hipoatividade favorável na reabilitação neural, confirmada através dos testes
neural [21]. Posteriormente, desencadeia quadros álgicos previamente demonstrados. No caso da alodínia mecânica
(hiperalgesia, alodínia, hipoestesia), bem como parestesia estática, ficou evidenciada nos animais neuropáticos (grupos
e paresia [22]. Dessa forma, modelos experimentais para a I e II), quando apresentaram uma redução no limiar mecâni-
compressão do nervo ciático de ratos têm sido usados para co, o que não ocorreu nos animais Sham. Com referência as
avaliar a funcionalidade nervosa e a dor crônica. respostas terapêuticas com LED, foi observado um aumento
Neste estudo, utilizou-se um modelo de compressão do do limiar quando comparado com o nível Basal (Figura 1).
nervo ciático de ratos que reproduz a sintomatologia descrita Hsieh et al. [29] investigaram os efeitos de LASER de baixa
[19] para avaliar a evolução da dor após terapia de LED com intensidade no limiar de retirada mecânica da pata e no con-
comprimento de onda de 890 nm (espectro infravermelho) trole da dor neuropática após constrição do nervo ciático em
com uma potência de 390 mW e densidade de energia de ratos. Observaram assim que o limiar de retirada mecânica
124,8 J/cm². Os testes empregados foram: análise de alodínia da pata em animais com ICC reduziu significativamente no
mecânica estática, alodínia mecânica dinâmica, alodínia pós-operatório imediato e no 7º dia de tratamento houve
térmica ao frio, hiperalgesia térmica ao calor e nocicepção es- um aumento significativo neste limiar, em comparação com
pontânea. A utilização do equipamento desligado, simulando a condição basal (ambos p < 0,001). Volkert et al. [30] ava-
assim a aplicação do LED, é importante, pois a presença de liaram em 272 pacientes o efeito da energia monocromática
um grupo placebo é essencial para comprovar os reais efeitos infravermelha (MIRE), combinada com a terapia manual
gerados por esse tipo de energia. na dor neuropática, diminuição da sensibilidade e déficit de
A introdução no estudo dos grupos Sham corrobora a equilíbrio, que no início do estudo estavam presentes em 93%
ideia de que para o desenvolvimento da síndrome neuropática dos pacientes. Foi utilizada a escala analógica visual (VAS)
é necessário que ocorra lesão do nervo [23]. Nesses grupos e os monofilamentos de Semmes Weinstein antes e após o
houve somente o corte da pele com a exposição do nervo sem tratamento em tempos de 30 a 40 minutos por dia. Os resul-
afetá-lo. O estudo em questão confirma essa prática, pois esses tados preliminares sugerem que a MIRE e a terapia manual
grupos não apresentaram diferenças significativas em relação produziu melhoria da dor, do equilíbrio e da sensibilidade
às alterações analisadas. em pacientes com neuropatia periférica.
Testes de hipersensibilidade a dor, usando filamentos de Na alodínia mecânica dinâmica, o estudo evidenciou
Von Frey para limiar de retirada mecânica e para latência de que os animais neuropáticos (grupos I e II) apresentaram
retirada térmica (Hargreaves), estão bem estabelecidos e são uma redução no tempo de retirada da pata, já nos grupos II
280 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

e IV (Sham) não foi observado. Com referência as respostas dos nervos e também é importante para o crescimento de
terapêuticas com LED, foi observado um aumento do limiar novos vasos sanguíneos e células da pele necessária para a
quando comparado ao nível Basal (Figura 2). Souza [31] cicatrização de feridas [36].
avaliou a ação do LASER de baixa potência em 16 pacientes Os grupos de animais neuropáticos apresentaram o escore
na recuperação dos tecidos neurossensoriais após cirurgias de de nocicepção espontânea em relação ao comportamento da
lateralização do nervo alveolar inferior. Foram realizados dois pata esquerda. Com referência as respostas terapêuticas com
tipos de avaliações mecânicas, sendo a primeira por toque/ LED, observamos uma diminuição do limiar para níveis relati-
pressão através de monofilamentos de nylon com diâmetro de vos ao período Basal (Figura 5). O sistema nociceptivo é capaz
2,5 mm descrita para alodínia mecânica estática e a segunda de sofrer alterações nos mecanismos de percepção e condução
avaliação descrita alodínia mecânica dinâmica realizada com dos impulsos, denominados neuroplasticidade a qual pode
pincel nº 6. Essas avaliações foram executadas nas regiões aumentar a magnitude da percepção da dor e pode contribuir
posteriores, médias e anteriores da mucosa gengival, lingual para o desenvolvimento de síndromes dolorosas crônicas
e vestibular, lábio e região externa do mento. Os resultados [37]. A hipersensibilidade é a principal característica da dor
mostraram melhoria do retorno neurossensorial e redução patológica e resulta de alterações denominadas plasticidade
parestesia. do sistema nervoso, é um fenômeno que acontece periferi-
A presença da alodínia térmica ao frio foi constatada nos camente por redução do limiar de ativação dos nociceptores,
animais neuropáticos, não sendo observada entre os grupos bem como centralmente, pela responsividade aumentada
III e IV (Sham). Com referência as respostas terapêuticas com da medula espinhal aos estímulos sensoriais [38,39]. Reis et
LED, notou-se uma diminuição do limiar entre o nível Basal al. [40] verificaram o efeito do LASER em ratos com ICC
(Figura 3). Kayser e Christensen [32] verificaram que ratos quanto à hiperalgesia e nocicepção espontânea, durante 12
com lesão por constrição unilateral do nervo ciático exibiram semanas. Os animais tratados com LASER apresentaram uma
claramente sensibilidade anormal para a dor, com diminuição diminuição nas alterações quanto ao limiar térmico ao calor
do limiar para a vocalização para estímulo mecânico e redu- e o comportamento de apoiar a pata já na primeira semana
ção da latência em resposta ao estímulo térmico pelo frio (a de tratamento, já que, na 12ª semana, houve recuperação
uma temperatura de 10ºC). Frost et al. [33] citaram em seus total dos movimentos. Um dos mecanismos propostos para
estudos que alodínia ao frio é um sintoma característico de a melhora do quadro de ICC é que luz de baixa intensida-
dor neuropática, sendo particularmente resistente às inter- de aplicada sob o nervo parece normalizar a velocidade de
venções farmacológicas. As respostas terapêuticas com LED transmissão do impulso nervoso que é alterada pelo edema
evidenciaram resultados satisfatórios no estudo em questão e inflamação. Estudos como de Nicolau [41] expressam a
o que remete para novas investigações que possam elucidar eficácia da radiação LASER em diferentes tecidos biológicos
a sua ação. e comprova a existência do seu efeito sobre a transmissão
Observou-se que os animais neuropáticos apresentaram neuromuscular, e que este efeito é fortemente dependente do
uma redução no limiar de resposta térmica caracterizando o comprimento de onda e da dose. O efeito do LASER de baixa
desenvolvimento de hiperalgesia ao calor produzido por uma potência na regeneração neurovascular pode acontecer pela
lâmpada de 60 W, não sendo observadas entre os grupos III ação direta em diferentes componentes intra e extracelulares,
e IV (Sham). Porém com referência as respostas terapêu- assim como em ação indireta nos tecidos inervados pelas
ticas com LED, observamos aumento do limiar quando fibras neurovasculares que estão em reparação [42]. Outros
comparados ao nível Basal tanto no grupo Sham como nos estudos também relataram efeitos positivos do LASER de
animais neuropáticos (Figura 4). A aplicação do LASER de baixa intensidade, especialmente na promoção dos processos
baixa potência tem efeito de bioestimulação sobre as fibras de reparação do nervo periférico, aumentando o fator de cres-
neurovasculares e de analgesia nos pontos de hiperalgesia, cimento vascular endotelial (VEGF) e fator de crescimento
devendo ser utilizada no trajeto dos feixes com transtornos (NGF) [43,44]. A analgesia pode também ser creditada a
neurossensoriais [34]. Outro estudo demonstrou o efeito do diminuição na sensibilização nociceptiva dentro do processo
LASER com 780nm sobre a inibição da hiperalgesia induzida inflamatório, ou mesmo a uma redução dos mediadores
na pata de ratos por injeção de carragenina, quando usaram inflamatórios, tais como PGE233 [45,46]. Estudos clínicos
duas irradiações sobre a região inflamada imediatamente sobre a síndrome do túnel do carpo também apresentou me-
antes e depois da injeção [35]. Um possível mecanismo lhora significativa da dor e condução nervosa em pacientes
sobre o aumento do limiar de resposta térmica dos grupos submetidos ao LASER de baixa intensidade sobre a área do
Sham e neuropático poderá ser através da luz monocromática túnel do carpo [47]. Nobel et al. [48] realizaram um estudo
infravermelha, a qual tem como finalidade a liberação do da condução do nervo mediano em humanos para avaliar os
Óxido Nítrico (ON). Este promove o relaxamento dos vasos efeitos neurofisiológicos da irradiação na pele que recobre o
sanguíneo e consequentemente aumenta a circulação local, nervo usando irradiação infravermelha monocromática de
o suprimento de nutrientes, a oxigenação e a diminuição da diodos (890 nm). Os resultados sugerem que o LED emitido
dor. A versão localizada de óxido nítrico melhora a função pelo sistema anodyne pode produzir efeitos neurofisiológicos
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 281

como o aumento da velocidade de condução do nervo me- 9. Agne JE. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti; 2009.
diano. Harkless et al. [49] avaliaram 2239 pacientes com o 10. Chow RT, Johson MI, Lopes-Martins RA, Bjodal JM. Efficacy of
diagnóstico de neuropatia periférica após o tratamento com o low-level laser therapy in the management of neck pin: a syste-
MIRE, sendo que 93% apresentaram perda de sensibilidade matic review and meta-analysis of randomized placebo or active-
-treatment controlled trials. Lancet 2009;374(9705):1897-908.
e 70% de dor neuropática. Os resultados pós-tratamento
11. Hagiwara S, Iwasaka H, Hasegawa A, Noguchi T. Pre-Irradiation
mostraram que 66% dos pacientes não apresentavam mais of blood by gallium aluminum arsenide (830 nm) low-level laser
perda de sensibilidade. enhances peripheral endogenous opioid analgesia in rats. Anesth
De acordo com Hagiwara et al. [18], a redução da dor cau- Analg 2008;107:1058-63.
sada pelo LASER de 830 nm pode resultar de efeitos sobre a 12. Bennett GJ, Xie YK. A peripheral mononeuropathy in rat that
liberação de opioides endógenos. Tanto no grupo neuropático produces disorders of pain sensation like those seen in man.
placebo como no neuropático tratado houve uma diferença Pain 1988;33:87-107.
significativa da sintomatologia dolorosa antes de iniciar o 13. Fernandes KCBG, Polacow MLO, Guirro RRJ, Campos GER,
tratamento, e a diferença persistiu pelo menos até a sétima Somazz, MC, Pinto VF, et al. Análise morfométrica dos tecidos
muscular e conjuntivo após desnervação e estimulação elétrica
aplicação do LED. Alterações estas que são fundamentais
de baixa freqüência. Rev Bras Fisioter 2005;9(2):235-41.
para a compreensão dos mecanismos da dor neuropática e
14. Loeser JD, Treede RD. The Kyoto protocol of IASP Basic Pain
identificação de novos alvos analgésicos. Quando comparados Terminology. Pain 2008;31:473-77.
os grupos placebos e experimental, encontrou-se um aumento 15. Chaplan SR, Chaplan SR, Bach FW, Pogrel JW, Chung JM,
do limiar de dor, o que corrobora alguns estudos na obtenção Yaksh TL. Quantitative assessment of tactile allodynia in the
dos efeitos analgésicos [17,50]. rat paw. J Neurosci Meth 1994;53:55-63.
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17. Weissman-Fogel I, Dashkovsky A, Rogowski Z, Yarnitsky D.
O LED no espectro infravermelho promoveu efeito anal- An animal model of chemotherapy-induced vagal neuropathy.
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gésico em modelos experimentais submetidos à constrição
18. Choi Y, Yoon YW, Na HS, Kom SH. Behavioral signs of ongoing
do nervo ciático, observado através dos testes de alodínia pain and cold allodynia in a rat model of neuropathic pain. Pain
mecânica e térmica ao frio, hiperalgesia térmica ao calor e 1994;59:369-76.
nocicepção espontânea. Os resultados obtidos com nosso 19. Hargreaves KM, Troullos ES, Dionne RA, Schmidt EA, Schafer
estudo sugerem que esse recurso físico pode ser utilizado no SC, Joris JL. Bradykinin is increased during acute and chronic
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 283

Artigo original

Força de pinça trípode e destreza manual


em pacientes portadores de esclerose múltipla
forma remitente-recorrente
Tripod pinch strength and manual dexterity of patients
with multiple sclerosis form relapsing-remitting
Marcos Moço Nascimento, Ft.*, Sônia Beatriz Félix Ribeiro, D.Sc.**, Sabrina Martins Barroso, M.Sc.***,
Cátia Silva, M.Sc.****, João Batista Ribeiro, M.Sc.*****, Fabrizio Antonio Gomide Cardoso, D.Sc.******

*Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba/MG, **Docente Associado da Disciplina de Neurologia da UFTM,
Uberaba/MG, ***Docente assistente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba/MG, ****Assistente Social na UFTM
– Uberaba/MG, *****Docente assistente do curso de Psicologia da UFTM, Uberaba/MG, ******Docente adjunto do Curso de
Fisioterapia da UFTM, Uberaba/MG

Resumo Abstract
Esclerose múltipla é uma doença desmielinizante do sistema Multiple Sclerosis is a demyelinating disease of the central
nervoso central, podendo provocar alterações de força e destreza nervous system and may cause changes in strength and manual
manual. A força do movimento de pinça trípode pode ser quanti- dexterity. The strength of movement of the tripod pinch can be
ficada por dinamômetro. A destreza manual pode ser quantificada measured by dynamometer. Manual dexterity can be quantified
através do teste de Caixa e Blocos que consiste em uma caixa de through the Box and Blocks test that consists of a wooden box
madeira com 150 blocos. Este estudo objetivou descrever e analisar with 150 blocks. This study aimed to describe and analyze muscu-
a força muscular e destreza manual e verificar se há correlação entre lar strength and manual dexterity and verifying correlation among
elas, Expanded Disability Status Scale (EDSS) e idade. Realizamos them, Expanded Disability Status Scale (EDSS) and age. We carried
o teste de caixa e blocos e a análise de força de pinça trípode em 18 out the box and block test and analysis of tripod pinch strength in
indivíduos da forma remitente-recorrente. Para o teste de caixa e 18 patients. The Box and Blocks test showed for the right hand an
blocos os resultados foram 35,38 blocos/min para a mão direita e average of 35.38 packs / min and for the left hand 36.66 packs/
36,66 blocos/min para a mão esquerda. A força de pinça foi de 6,86 min. The pinch strength was 6.86 kgf for the right hand and 6.54
kgf para a mão direita e 6,54 kgf para a mão esquerda. Média de kgf for the left hand. EDSS average 2.86 and 46.39 years old. The
EDSS de 2,86 e idade 46,39 anos. Os pacientes analisados apresen- patients studied showed changes in manual dexterity, but showed no
taram alterações na destreza manual, mas não apresentaram alteração change in pinch strength. The age is not correlated with the study
da força de pinça. A idade não se correlaciona com as variáveis do variables, and EDSS only with manual dexterity.
estudo, e o EDSS somente com a destreza manual. Key-words: multiple sclerosis, motor skills, pinch strength.
Palavras-chave: esclerose múltipla, destreza motora, força de
pinça.

Recebido em 22 de outubro de 2012; aceito em 27 de junho de 2013.


Endereço para correspondência: Fabrizio Antonio Gomide Cardoso, Pça. Manoel Terra, nº 330, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, 38015-
050 Uberaba MG, E-mail: fabriziouftm@gmail.com
284 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Introdução os movimentos considerados de pinça: pinça polpa-a-polpa,


pinça lateral e a pinça trípode, que é a mais realizada durante
A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória o dia (nela se posiciona o objeto apoiado entre a polpa do
desmielinizante e neurodegenerativa crônica, frequente do polegar em oposição às polpas do segundo e terceiro dedos
Sistema Nervoso Central (SNC) [1]. Acomete preferencial- da mesma mão) um exemplo é a posição de segurar um lápis,
mente o nervo óptico, medula espinhal, cerebelo, tronco este movimento tem um grau de força intermediária [26-29].
cerebral, substância branca (SB) periventricular [2]. Ocorre Para a mensuração das forças das pinças é utilizado,
principalmente em adultos jovens de populações brancas, dentre muitos recursos, o dinamômetro hidráulico Preston
tendo maior prevalência em mulheres 2:1 a 3:1 casos nos Pinch Gauge® (B&L Engineering Co). Este aparelho é reco-
EUA [1]. Negros têm menor chance de desenvolver EM [3]. mendado pela Sociedade Americana de Terapeutas da Mão e
Os critérios de classificação da doença, quanto a forma referendado pela Federação Internacional das Sociedades de
evolutiva, foram descritos por Lublin et al. [4] e indicam a Terapia da Mão [26].
forma remitente-recorrente, secundariamente progressiva, Objetiva-se por este estudo descrever e analisar a força
primariamente progressiva e progressiva com surto. muscular de pinça trípode e a destreza manual dos pacientes
A forma remitente-recorrente (RR) da EM afeta 85% dos portadores de esclerose múltipla da forma remitente-recorren-
pacientes, e é caracterizada por períodos evidentes de surtos te atendidos no Ambulatório Central da Universidade Federal
(processo de desmielinização) e remissão [1,5], com recupe- do Triângulo Mineiro (UFTM). Verificar se há correlação
ração completa ou parcial, neste caso levando a acúmulo de entre a força de pinça trípode e a destreza manual, EDSS e
incapacidades [3,6]. idade. Este se justificou pela necessidade de mais subsídios
O surto é a presença de sintomas de comprometimento para o diagnóstico cinético funcional e atuação fisioterapêu-
neurológico por mais de 24 horas de duração, incluindo dados tica em relação aos distúrbios de pinça dos portadores de
de suporte subjetivo. Devem afetar diferentes áreas do SNC esclerose múltipla.
e estar intercalados num período mínimo de um mês [6].
Tremlett et al. [7] mostram que na maioria das vezes os surtos Material e métodos
apresentam-se como sintomas iniciais: distúrbios sensitivos
(44,5%), neuropatia óptica (20,3%), distúrbios cerebelares Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
ou do tronco encefálico (15,7%) e motores (13,22%). A alta (CEP) da UFTM protocolo nº 884. Trata-se de um estudo
frequência de surtos no início da doença pode sugerir um descritivo, prospectivo e transversal realizado com os pacientes
efeito deletério intenso em longo prazo, ou indicar um curso portadores de Esclerose Múltipla atendidos no Ambulatório cen-
acelerado da doença [8]. tral da UFTM, de ambos os sexos, independente de raça e idade.
Os prejuízos causados pela lesão do SNC são variados e Os critérios de inclusão foram: ser portador da doença
manifestam-se de acordo com o local de destruição, podendo com forma evolutiva remitente-recorrente, estar em acom-
levar a alterações da marcha [9], do trato urinário inferior panhamento no ambulatório de EM da UFTM, aceitar
[10,11], do transito intestinal [12], distúrbios de ereção pe- participar da pesquisa e assinar o termo de consentimento
niana nos homens [13], alterações psiquiátricas [14], tremor livre e esclarecido.
de intenção [15,16], alterações sensitivas e força muscular Os critérios de exclusão foram: paciente não querer parti-
[17]. Ocorre em 30% a 70% dos casos distúrbio cognitivo cipar da pesquisa, ou apresentar doenças osteomusculares de
[18] e a fadiga, que é um dos sintomas mais comuns, está membros superiores, ou não apresentar a forma remitente-
presente em 75% a 90% dos pacientes com EMRR. Os fatores -recorrente, ou ter tido surto nos últimos três meses.
desencadeantes ainda não estão claros [19-22]. O estudo fez parte do atendimento fisioterapêutico que
Existem varias escalas que podem ser utilizadas para consiste em anamnese, teste de força muscular da pinça trí-
quantificar o grau de incapacidade na esclerose múltipla e a pode, teste de Caixa e Blocos, avaliação cinético-funcional e
mais utilizada é a EDSS (Expanded Disability Status Scale) orientações.
[23]. O enfoque desta escala está na capacidade do paciente O material utilizado para o teste de força muscular da
deambular [24,25]. pinça trípode foi o dinamômetro Preston Pinch Gauge® (B&L
A destreza manual é a capacidade que a pessoa tem de Engineering Co). Para o teste de Caixa e Blocos foi usado uma
utilizar as mãos para realizar movimentos específicos de girar, caixa de madeira quadrada com lado de 23 cm e 10,5 cm de
transladar, pegar, usar as duas mãos e passar de uma mão para altura, a caixa continha uma divisória com altura de 21 cm
outra. Pode ser avaliada através de testes funcionais chamados dividindo-a em duas partes iguais: 150 cubos de madeira cada
de sistemas de Mensuração do Tempo de Movimento (MTM) um com lado de 2,5cm. A escala de incapacidade EDSS foi
[26]. Dentre os testes de MTM mais usados está o de Caixa verificada no prontuário do paciente.
e Blocos [27,28]. A escala EDSS contém 20 itens, cada item tem um valor
A mão utiliza movimentos de pinça e preensão para de 0,5 pontos somando um escore que varia de 0,0 (nenhuma
cumprir seu objetivo principal de manusear objetos. São três incapacidade) a no máximo de 10,0 (morte por EM) [28,30].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 285

A aplicação dos testes seguiu-se na ordem: 1) orientação do lado contra lateral ao membro que foi analisado, porém
de todo o procedimento; 2) orientação do teste de força; 3) estes deveriam ser transportados para o lado oposto da caixa
teste de força de pinça trípode na mão dominante; 4) intervalo que se iniciou vazia. O mesmo avaliador contou o número
de três minutos no qual o paciente foi orientado de como de blocos e valores acima de 60 blocos/minuto garantem a
realizar o teste de Caixa e Blocos e realizou por 15 segundos integralidade funcional dos membros superiores.
o aprendizado do movimento com a mão dominante; 5) O avaliador que realizou o teste de força de pinça trípode
realização do teste de Caixa e Blocos com a mão dominante; foi o mesmo que aplicou o teste de Caixa e Blocos.
6) orientação do teste de força muscular; 7) realização do teste As análises estatísticas foram realizadas através do pro-
de força na mão não dominante; 8) intervalo de três minutos grama Statistical Package for the Social Sciences versão 17.0
com orientação de como realizar o teste de caixa e blocos e (SPSS) para Windows. Inicialmente foi realizada análise
15 segundos de treino com a mão não dominante; 9) teste descritiva para caracterização da amostra, em termo de por-
de Caixa e Blocos com a mão não dominante. centagem e médias. O teste de Correlação de Spearman e o
Para realizar o teste de força de pinça trípode, o paciente Teste t de Wilcoxon foram utilizados para analisar as variáveis
sentou-se em uma cadeira que possuía descanso de braço do estudo.
bilateral, permaneceu na posição sentada com as pernas
paralelas e com uma angulação de 90º nas articulações do Resultados
tornozelo, joelho e quadril. As costas mantiveram-se apoiadas
no encosto da cadeira, braços na lateral do corpo em posição Os dados foram coletados no período de maio de 2008 a
neutra, cotovelo fletido a 90º e antebraço em posição neutra junho de 2010. Analisaram-se vinte e um pacientes e, foram
e apoiado no descanso lateral da cadeira. O punho pôde ficar excluídos do estudo três portadores por apresentarem esclerose
de 0º a 30º de extensão e os dedos em semiflexão. O paciente múltipla secundariamente progressiva ou tendinite bilateral
recebeu orientação de como realizar o movimento dos dedos de ombro ou parestesia em membro superior direito.
com uma breve demonstração do aplicador do teste. Após o Dos dezoito participantes, cinco (27,8%) eram homens
posicionamento do paciente, este recebeu estimulo verbal do e treze (72,2%) mulheres. Em relação ao lado dominante,
terapeuta para iniciar a máxima contração possível. Foram dezesseis (88,9%) eram destros e dois (11,1%) sinistros. A
coletadas três tomadas de força com intervalo de 15 segundos média de idade foi de 46,39 anos. A média no EDSS foi de
entre elas. A leitura do dinamômetro foi realizada sempre pelo 2,86 pontos. A força de pinça trípode da mão direita apresen-
mesmo examinador e os valores anotados por um segundo tou média de 6,48 kgf e a mão esquerda 6,54 kgf. A média
avaliador. O valor considerado foi a média aritmética simples de blocos transportados pela mão direita foi de 36,83 blocos/
dos três valores. A unidade utilizada é a quilogramas-força min e a mão esquerda 36,67 blocos/min. Estes dados estão
(kgf ) [26,29]. demonstrados nas Tabelas I e II.
O teste de Caixa e Blocos realizou-se com o paciente O teste de correlação de Spearman mostrou que o resultado
sentado com as pernas paralelas e com uma angulação de do teste de Caixa e Blocos da mão esquerda e direita apresentam
90º nas articulações do tornozelo, joelho e quadril. A caixa uma correlação de -0,677 e -0,782 (respectivamente) com a
é posicionada à frente do paciente de modo que este perma- EDSS dos pacientes e p = 0,002 e p = 0,000 (respectivamente).
neça com o braço em leve flexão e manteve a articulação do Quando comparados os resultados do teste de Caixa e Blocos
cotovelo próximo de 90º durante a realização do exercício. da mão direita com a mão esquerda, se obtém os resultados
Os 150 blocos de madeira permaneceram dentro da caixa r = 0,875 e p = 0,000. O teste de força de pinça com a mão

Tabela I - Descrição da idade, média das forças de pinça trípode.


Média da força de pinça esquerda Média da força de pinça direita
Sexo n Idade
(kgf) (kgf)
Min. Máx. Média Min. Máx. Média Min. Máx. Média
Masculino 5 31 76 47 3,2 9,5 7,24 5,5 13,5 7,85
Feminino 13 27 67 46,15 3,2 8,4 6,26 4 8,85 6,48
Total 18 27 76 46,39 3,2 9,5 6,54 4 13,5 6,86

Tabela II - Descrição da EDSS, e teste de caixa e blocos .


Sexo n EDSS Blocos mão direita Blocos mão esquerda
Min. Máx. Média Min. Máx. Média Min. Máx. Média
Masculino 5 2 13,5 2,5 28 56 36,6 20 46 33,2
Feminino 13 1 8,85 3 15 49 36,92 19 49 38
Total 18 1 13,5 2,86 15 56 35,38 19 49 36,66
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esquerda e a direita apresentam r = 0,643 e p = 0,004. O teste Discussão


força de pinça trípode comparado com o teste de Caixa e Blocos
resultam nos valores r =0,666 e p = 0,003 para a mão direita, r A proporção entre mulheres e homens deste estudo foi
= 0,525 e p = 0,025 para a mão esquerda. Nenhum dos testes de 2,6 mulheres para cada homem, visto que estes dados
realizados teve correlação significante com a idade dos pacientes. estão de acordo com a literatura de estudos internacionais
Estes dados estão descritos nas Tabelas III e IV. que apontam relação de 2:1 a 3:1 entre mulheres e homens
[1,11]. Em trabalhos realizados no Brasil a proporção foi de
Tabela III - Teste de correlação de Sperman na EDSS e idade. 4,93:1 para Mendes et al. [21], 4:1 para Mendes, Tilbery e
EDSS Idade Felipe [22] e 3:1 para Moreira et al. [6].
r p r p A idade variou de vinte e sete a setenta e seis anos, com
Teste CB mão direita -0,782 0,000 -0,350 0,155 média de 46,39 anos, estando de acordo com valores obtidos
Teste CB Mão esquerda -0,677 0,002 -0,341 0,167 em estudos de outros pesquisadores como o de Paltama et al.
Média da força de pinça [32] que realizaram uma análise de 120 pacientes de esclerose
-0,484 0,042 -0,281 0,386 múltipla com idade de vinte a setenta e um anos com uma
direita
Média da força de pinça média de quarenta e cinco anos. Os portadores da forma
-0,087 0,731 -0,172 0,496 remitente-recorrente correspondiam a 88% dos casos. No
esquerda
Idade 0,316 0,201 - - estudo de Mendes et al. [25] com cento e dezessete pacientes
com EMRR a idade variou de dezoito a cinquenta e sete anos.
O Teste t de Wilcoxon foi utilizado para analisar a força Lebre et al. [20] estudaram cinquenta pacientes com idade
de pinça trípode da mão direita relacionando-a com a força de vinte e um a cinquenta e cinco anos, todos com a forma
de pinça trípode da mão esquerda. O Tcalc em todas as análises remitente recorrente da doença. As maiores idades estudadas
foram maiores que o T0,05:18= 40. A descrição dos valores estão por estes dois grupos se apresentaram um pouco abaixo da
localizados na Tabela V. encontrada em nosso estudo.

Tabela IV - Teste de correlação de Sperman no teste de caixa e blocos e força de pinça trípode.
Média da força de pinça
Teste CB mão direita Teste CB Mão esquerda
direita
r P r P r p
Teste CB mão direita - - 0,875 0,000 0,666 0,003
Teste CB Mão esquerda 0,875 0,000 - - - -
Média da força de pinça direita 0,666 0,003 - - - -
Média da força de pinça esquerda - - 0,525 0,025 0,643 0,004

Tabela V - Postos descritivos do Teste t de Wilcoxon.


Media- Soma dos
N na do Postos
Posto (T)
Posto Negativo 10 10,5 105
Resultado no teste de pinça 1 com a mão esquerda - Resultado no teste de pinça 1 Posto Positivo 8 8,25 66
com a mão direita Empates 0
Total 18
Posto Negativo 11 7,86 86,5
Resultado no teste de pinça 2 com a mão esquerda - Resultado no teste de pinça 2 Posto Positivo 5 9,9 49,5
com a mão direita Empates 2
Total 18
Posto Negativo 11 8,55 94
Resultado no teste de pinça 3 com a mão esquerda - Resultado no teste de pinça 3 Posto Positivo 7 11 77
com a mão direita Empates 0
Total 18
Posto Negativo 12 8,88 106,5
Média dos resultados no teste de pinça com a mão esquerda - Média dos resulta- Posto Positivo 6 10,75 64,5
dos no teste de pinça com a mão direita Empates 0
Total 18
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A força de pinça de trípode, a destreza manual e a EDSS às outras pesquisas com resultado de 62,7 blocos/min e desvio
foram correlacionadas com a idade dos participantes no dia padrão de 12,7.
de cada coleta e, percebeu-se então, que ela não se correlacio- Paltamaa et al. [34] analisaram o teste de caixa e blocos
nou significativamente com nenhum dos parâmetros, indi- mais de uma vez em um mesmo grupo e o menor valor encon-
cando que o tempo de vida dos pacientes pertencentes a este trado por eles foi uma média de 56,7blocos/min para a mão
grupo não interfere diretamente no grau de incapacidade. direita e 57,8 blocos/min para a mão esquerda. Goodkin et
A variação do EDSS destes pacientes foi de 1,0 a 6,5 al. [35] aplicaram o mesmo teste em 301 pacientes com escle-
com média de 2,8 e mediana de 2,25. Estes resultados são rose múltipla, entretanto, metade usava imunomoduladores
semelhantes aos de Paltamaa et al. [32] que houve variação (interferon-β1a) e os resultados encontrado por eles também
de 0 a 6,5 com mediana de 2,0 e 2/3 do grupo apresentaram foram valores maiores que os nossos, mesmo avaliando em
um escore abaixo de 4,0. Mendes et al.[21] estudaram 95 lado dominante e não dominante, com média aproximada
pacientes com EMRR e encontraram uma média de EDSS de 62 blocos/min para o lado dominante e 59,2 blocos/min
de 2,2, dos quais 78,1% dos indivíduos apresentaram um para o lado não dominante.
valor menor que 3,5. No presente estudo observou-se que A força de pinça trípode da mão direita foi correlacionada
77,78% dos pacientes tinham um escore de EDSS menor com a força de pinça trípode da mão esquerda através do
que 3,5. Arruda et al. [33] em um estudo retrospectivo, em teste de correlação de Spearman e, para analisar as amostras,
Curitiba, com 200 portadores de esclerose múltipla, relataram o Teste t de Wilcoxon foi utilizado. O primeiro teste mostra
que 61% apresentavam escore menor que 3,5 pontos, 22,5% haver correlação entre as duas forças e que os achados fo-
tinham escore entre 3,5 e 5,5 e 16,5% escore maior ou igual ram significativos. Com o Teste t de Wilcoxon foi possível
a 6,0. Neste trabalho encontrou-se que 16,67% obtinham determinar que a força de pinça trípode do lado direito não
um escore do EDSS maior ou igual a 6,0. apresenta diferença significativa quando comparada com o
Os resultados apresentados pelos indivíduos do presente lado esquerdo, tornando a hipótese nula verdadeira. Nossos
grupo para a correlação entre o teste de caixa e blocos e o achados assemelham-se aos valores encontrados no estudo
EDSS para a mão direita apresentou valores de r= 0,782 e p= de Araújo et al. [29] que realizaram um estudo populacional
0,000 e o para a mão esquerda r= 0,677 e p= 0,002. Os testes na cidade São Paulo para quantificar a força de pinça trípode
de destreza manual não apresentaram correlação significativa em indivíduos saudáveis. Participaram da pesquisa trezentas
dos dados comparados com a idade dos pacientes. Embora e quinze pessoas com variação de idade entre 15 e 74 anos,
os valores do EDSS tenham sido relativamente baixos no sendo vinte destes, canhotos. O valor médio encontrado para
grupo, indicando pequeno grau de incapacidade, os valores a pinça trípode dos homens foi de 8,47 kgf, já em nosso grupo
de 35,38blocos/min para mão direita e 36,66 blocos/min para variou de 7,24 kgf a 7,85 kgf e para as mulheres a média de
a mão esquerda no teste de Caixa e Blocos indicaram existir força foi de 6,0 kgf e para nós a média variou de 6,26 kgf a
incapacidade de membros superiores, pois segundo Lopes 6,48 kgf. No estudo observaram também, através da análise de
et al. [31] valores maiores que 60 blocos/min garantem a variância, que não houve diferença significativa entre as forças
integridade física dos membros estudados. de pinça das varias faixas etárias, fator que confirma nosso
De acordo com o estudo de Mendes et al. [25], os resultados achado que a idade não foi relacionada com a força de pinça.
obtidos pelos nossos pacientes estão abaixo dos valores obtidos Conforme já foi visto, o teste de caixa e blocos em nosso
de pessoas sem patologias, pois eles apresentaram uma amostra grupo indicou existir incapacidade nos membros superiores
de 239 mulheres normais e um valor médio de 65,9 blocos/min e, consequentemente, déficit na destreza manual, porém os
para a mão direita e 64,1 blocos/min para a mão esquerda. Os dados do teste de força de pinça trípode não indicaram redu-
207 homens normais apresentaram resultados de 66,2 blocos/ ção da força destes pacientes mesmo existindo correlação entre
min para a mão direita e 64,7 blocos/min para a mão esquerda. as análises. Um fato relevante desta pesquisa foi a correlação
Nesta mesma pesquisa eles incluíram a avaliação de 91 mulheres realizada entre a força de pinça que está próximo a valores de
e 26 homens todos portadores da forma Remitente Recorrente pessoas saudáveis com o EDSS dos pacientes que indicam
da EM e os resultados encontrados foram superiores aos nossos. baixa incapacidade física. Era esperado encontrar correlação
Nas mulheres a média de blocos transportados foram 56,1 entre a força de pinça trípode e o EDSS, contudo os dados en-
blocos/min para mão direita e 54,3 blocos/min para a mão contrados para a força da mão direita e EDSS demonstraram
esquerda, nós encontramos 36,92 blocos/min para a mão direita correlação de r =0,484, e valor estatisticamente significante
e 38 blocos/min para a mão esquerda, para os homens os valores (p = 0,042), e correlação de r = 0,087 e significância de p =
de 51,9 blocos/min para a mão direita e 51,3 blocos/min para a 0,731 para a força da mão esquerda e o EDSS.
mão esquerda. Já o grupo de homens de nosso estudo, mesmo
tendo uma amostragem pequena, apresentou valores de 36,6 Conclusão
blocos/min para a mão direita e 33,2 blocos/min para a mão
esquerda. Paltamaa et al. [32] realizaram o teste somente com Os pacientes do grupo estudado apresentaram alteração na
a mão dominante e obtiveram os maiores valores comparados destreza manual, mas com padrões de força muscular de pinça
288 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

trípode semelhantes as encontradas na literatura, assim como o the treatment of tremor in multiple sclerosis: review and case
EDSS. Há correlação entre a destreza manual e o EDSS, entre o reports. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003;74(10):1392-7.
17. Thoumie P, Mevellec E. Relation between walking speed and
teste de Caixa e Blocos e a força de pinça trípode, porém, a força
muscle strength is affected by somatosensory loss in multiple
muscular não possui correlação com a escala de incapacidade. sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;73(3):313-5.
A idade destes pacientes não mostrou correlação com as outras 18. Piras MR, Magnano I, Canu EDG, Paulus KS, Satta WM, Soddu
variáveis deste estudo. Mesmo apresentando incapacidade de A, et al. Longitudinal study of cognitive dysfunction in multiple
membros superiores, os pacientes apresentaram EDSS de baixo sclerosis: neuropsychological, neuroradiological, and neurophysio-
logical findings. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2003;74(7):878-85.
valor devido a esta escala enfocar a análise da marcha e membros
19. Rammohan KW, Rosemberg JH, Lynn DJ, Blumenfeldet AM,
inferiores. Com base nos valores descritos anteriormente é possí- Pollak CP, Nagaraja HN. Efficacy and safety of modafinil (Provi-
vel dizer que os pacientes deste estudo apresentam incapacidade gil®) for the treatment of fatigue in multiple sclerosis: a two centre
funcional de membros superiores havendo, portanto, a necessi- phase 2 study. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;72(2):179-83.
dade de orientá-los a realizarem treino das habilidades manuais. 20. Lebre AT, Mendes MF, Tilbery CP,Almeida AL, Neto AS. Rela-
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 289

Artigo original

Avaliação do ultrassom sobre a hiperalgesia


e o edema em joelhos de rato Wistar e interferências
de um inibidor de opioides endógenos
Ultrasound evaluation on hyperalgesia and edema in knees of Wistar
rats and interference of an endogenous opioid inhibitor
Cintia Cristina Santi Martignano*, Lígia Inez da Silva**, Anamaria Meireles**, Bruno Pogorzeski Rocha**,
Camila Thieimi Rosa**, Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.

*Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica, **Acadêmicos de Fisioterapia, Universidade Estadual do Oeste do Para-
ná (UNIOESTE), ***Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE)

Resumo Abstract
Dentre os tratamentos para a osteoartrite o ultrassom terapêu- Among the osteoarthritis treatments the therapeutic ultrasound
tico é utilizado, apesar de resultados controversos. O objetivo desta it’s been used, although conflicting results. The aim of this study
pesquisa foi avaliar os efeitos da utilização do ultrassom em joelhos, was to evaluate the ultrasound effects in knees of rats, irritated
de ratos Wistar, irritados quimicamente, analisando a nocicepção chemically, analyzing the nociception and swelling, and if these
e edema, e se esses efeitos sofrem interferências pela aplicação de effects suffer interference from the naloxone application. Twenty
naloxone. Foram analisados 21 ratos Wistar, divididos em: GC one Wistar rats were analyzed, split into: GC – hyperalgesia but
– hiperalgesia e não tratados; GU – hiperalgesia e tratados com not treated; GU – hyperalgesia and treated with ultrasound;
ultrassom; e GUN – hiperalgesia, com prévia injeção de naloxone and GUN – hyperalgesia, with prior injection of naloxone and
e posterior ultrassom. A hiperalgesia foi induzida com 100μl de subsequent ultrasound. The hyperalgesia was induced with 100
formalina 5%, no espaço tibiofemoral direito. Nos animais do GUN μL of 5% formalin in the right tibiofemoral space. In the GUN
foi injetado 1μg de cloridrato de naloxone no espaço tibiofemoral animals naloxone 1 μg was injected in the right tibiofemoral space,
direito 15 minutos antes da hiperalgesia. O tratamento consistiu em 15 minutes prior to the hyperalgesia. The treatment consisted of
2 aplicações de ultrassom. Para avaliação da hiperalgesia foi utilizado two ultrasound applications. For hyperalgesia assessment Von Frey
o filamento de Von Frey Digital, e para o edema um paquímetro Digital filament was used and metallic caliper for the edema. The
metálico. As avaliações foram realizadas: pré-lesão (AV1); após 15 evaluations were performed: pre-injury (EV1), after 15 (EV2), 30
(AV2), 30 (AV3), 60 (AV4) e 120 (AV5) minutos da hiperalgesia. Os (EV3), 60 (EV4) and 120 (EV5) minutes of hyperalgesia. The results
resultados mostraram aumento no diâmetro do joelho e diminuição showed an increasing in knee diameter and threshold decreasing
do limiar aos estímulos nociceptivos em todos os grupos, sendo que to nociceptive stimuli in all groups, and only for GU nociception
apenas para a nocicepção GU apresentou aumento do limiar em showed a threshold increase in the EV5. It is concluded that ultra-
AV5. Conclui-se que a analgesia do ultrassom sofreu interferência sound analgesia suffered interference with naloxone.
com a naloxone. Key-words: pain measurement, edema, physical therapy
Palavras-chave: medição da dor, edema, modalidades de modalities.
fisioterapia.

Recebido em 6 de novembro de 2012; aceito em 14 de junho de 2013.


Endereço de correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069. Jardim Universitário, 85819-110 Cascavel PR, E-mail:
gladson_ricardo@yahoo.com.br
290 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Introdução Material e métodos

A dor é conceituada pela Associação Internacional para o Amostra e grupos experimentais


Estudo da Dor como “uma experiência sensorial e emocional
desagradável associada com uma lesão tecidual presente ou Foram analisados 21 ratos, da linhagem Wistar, machos,
potencial, ou descrita em relação a essa lesão” [1]. Em certas com massa corporal de 433,60 ± 33,19g, obtidos do Biotério
ocasiões, a excitação das fibras da dor torna-se progressiva- Central da Unioeste e mantidos em gaiolas de polipropile-
mente maior. À medida que o estímulo doloroso continua, no, com livre acesso a água e ração ad libitum, com ciclo
esse aumento da sensibilidade dos nociceptores é chamado claro/escuro controlado de 12 horas e temperatura ambiente
de hiperalgesia ou hipernocicepção [2]. controlada (24 ± 1ºC). O estudo foi conduzido segundo as
O edema é definido como um aumento de volume ou normas internacionais de ética em experimentação animal,
tumefação, formado pelo extravasamento de elementos para o sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Uso Animal, sob
exterior dos vasos e a intensidade deste extravasamento estará número 00912.
correlacionado com o tipo e o grau da agressão tecidual [3]. Os animais foram divididos aleatoriamente em três grupos:
Dentre as doenças articulares que apresentam como sin- • Grupo Controle (GC, n = 7) – composto por animais
tomas a dor e edema, encontra-se a Osteoartrite (OA), ela é submetidos à hiperalgesia no joelho direito e não tratados;
considerada uma das doenças mais comuns do sistema esque- • Grupo Ultrassom (GU, n = 7) – submetidos à hiperalgesia
lético e pode ser definida como uma condição degenerativa no joelho direito e tratados com ultrassom;
que afeta as articulações sinoviais [4]. A osteoartrite em joelho • Grupo Ultrassom + Naloxone (GUN, n = 7) – submetidos
é a causa mais comum de incapacidade para deambulação, à hiperalgesia no joelho direito, com prévia injeção de
com níveis crescentes de incidência e prevalência [5,6]. naloxone e posterior ultrassom.
A dor da OA pode ser tratada com anti-inflamatórios (es-
teroides e não), opioides, acupuntura, laser de baixa potência, Modelo experimental de indução de hiperal-
estimulação elétrica transcutânea, capsaicina e ultrassom (US) gesia
terapêutico [7,8], e em casos mais graves com a substituição
da articulação por artroplastia [9]. Os animais foram contidos manualmente e injetado no
O ultrassom é provavelmente o agente eletrofísico mais espaço articular tibiofemoral 100μl de solução de formalina
usado na prática fisioterapêutica. Enquanto no passado, seu 5%, para a indução de hiperalgesia, com seringa para aplicação
principal uso foi térmico, atualmente, os chamados efeitos de insulina (30G).
não-térmicos são os que merecem mais atenção e destaque. Seu
uso predominante tem sido em relação ao reparo tecidual, em Aplicação de naloxone
que há evidencias suportando sua aplicação em fases inflama-
tórias, proliferativas e remodelamento [10]. O efeito analgésico Nos animais do GUN foi injetado 1μg de cloridrato
do ultrassom é creditado à regeneração tecidual e a elevação de Naloxone (Narcan 0,4mg/ml, Cristalia®), no espaço ar-
do limiar de despolarização das terminações nervosas livres, ticular tibiofemoral direito, 15 minutos antes da indução
ocorrida por alteração na concentração de Na2+ intracelular [11]. da hiperalgesia. Para GC e GU foi injetada solução de soro
Várias estruturas anatômicas envolvendo, principalmente fisiológico 9%.
o sistema nervoso central, são responsáveis pela percepção
dolorosa. Os opioides endógenos atuam em receptores Avaliação da nocicepção
próprios, inibindo a sensação dolorosa [12]. Os receptores
de opioides endógenos são macromoléculas específicas no Para avaliação da hiperalgesia foi utilizado o equipa-
tecido alvo, que se ligam às drogas, resultando desta ligação mento filamento de Von Frey Digital (Insight®), o qual
sua atividade biológica. Quando uma droga desencadeia esta é usado para avaliar a nocicepção ao estímulo mecânico
reação é chamada de agonista; se a interação não desencadeia em animais. O teste foi realizado com o animal contido
nenhum efeito, mas impede o acesso de qualquer agonista, a manualmente e o filamento aplicado na face medial da
substância é chamada de antagonista [13]. Dentre os recep- articulação tibiofemoral do membro posterior direito. A
tores endógenos a naloxone é um antagonista do receptor ponta de polipropileno do filamento foi aplicada perpendi-
opioide comumente utilizado em pesquisas [14]. cularmente à área, com gradual aumento de pressão, e, logo
Visto que ainda existem incertezas com relação aos me- que o animal retirou o membro, o teste foi interrompido
canismos de modulação da dor pelo ultrassom terapêutico, para o registro do limiar de retirada. Foram coletados os
o objetivo desta pesquisa foi avaliar os efeitos do ultrassom valores de pressão (em gramas) no momento pré-lesão
sobre a hiperalgesia e o edema em joelhos de rato Wistar, e (AV1), após 15 (AV2), 30 (AV3), 60 (AV4) e 120 (AV5)
se esses efeitos sofreriam interferências pela aplicação de um minutos da indução da hiperalgesia.
inibidor de opioide endógenos, como a naloxone.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 291

Avaliação do edema Resultados

Para quantificar o edema (em centímetros) na região da Avaliação nociceptiva


lesão experimental, foi utilizado paquímetro metálico, que
foi precisamente posicionado na região da interlinha articular Na comparação entre os grupos, foi possível observar
do joelho, utilizada como ponto de referência, realizando as que nenhum grupo apresentou valores retornando ao basal,
medidas em sentido látero-medial. As coletas de dados foram porém, o grupo que recebeu apenas ultrassom apresentou au-
realizadas sempre pelo mesmo avaliador, para esta avaliação mento significativo do limiar de retirada em AV5 ao comparar
utilizou-se o lado esquerdo como referência, visto que no com AV2 (Tabela I). Quando realizada a comparação entre os
mesmo não foi realizada nenhuma intervenção. grupos, houve aumento significativo dos valores encontrados
para GU, comparado com os outros dois grupos, tanto em
Protocolo de tratamento com ultrassom AV4 quanto em AV5.

Após a AV2, iniciou-se o tratamento, utilizando o equi- Avaliação do edema


pamento de ultrassom marca Ibramed, com 1 cm² de área de
radiação efetiva (ERA) e frequência de 1 MHz, dose de 0,4 A Tabela II nos mostra que na avaliação da presença de
W/cm2, com calibração prévia do aparelho. A aplicação do edema observou-se que após a injeção com formalina (entre
ultrassom se deu precisamente sobre o local da lesão. Utilizou- AV1 e AV2) ocorreu um aumento estatisticamente significa-
-se gel hidrossolúvel como meio acoplador, mantendo-se mo- tivo no diâmetro da pata direita nos três grupos, confirmando
vimentos circulatórios lentos e rítmicos do cabeçote durante a lesão. Nos GC e GU a formação do edema deu-se apenas
o tempo de aplicação de três minutos. entre as AV1 e AV2, já no GUN, esse aumento foi significativo
O tratamento consistiu em duas aplicações: após o AV2 e também entre AV2 e AV3.
AV4, sendo que os animais do GC receberam a aplicação do Ao realizar a comparação entre os grupos, a variável ede-
equipamento desligado. Após a última avaliação (duas horas ma, mostrou um aumento significativo do diâmetro da pata
após a lesão), todos os animais foram eutanasiados. do GU quando comparado com GUN na AV2 (Tabela II).

Análise estatística Discussão

Foi realizada a análise intragrupos com o teste de ANOVA O ultrassom contínuo vem sendo usado como intuito de
com medidas repetidas e unidirecional para comparação entre aquecer os tecidos, diminuir a dor, a inflamação, a rigidez
os grupos, com pós-teste de Tukey. Em todos os casos o nível articular, o espasmo muscular, facilitar o estiramento das fibras
de significância foi de 5%. de colágeno e aumentar o fluxo sanguíneo [11].

Tabela I - Valores observados para o teste de retirada do membro, para os diferentes grupos (GC – grupo controle; GU – grupo ultrassom;
GUN – grupo ultrassom + naloxone), nos diferentes momentos de avaliação (AV). Dados apresentados em média e desvio-padrão.
AV1 AV2 AV3 AV4 AV5
GC 193,4 ± 18,93 86,84 ± 15,94* 81,73 ± 18,45* 93,13 ± 17,27*Ф 108,8 ± 19,09*Ф
GU 212,3 ± 38,98 90,41 ± 26,34* 79,60 ± 26,28* 131,9 ± 11,62* 143,3 ± 27,66*●
GUN 180,1 ± 30,26 93,54 ± 19,77* 74,17 ± 16,37* 95,87 ± 17,68*Ф 109,5 ± 21,33*Ф
*diferença significativa ao comparar com o valor de AV1; ● diferença significativa ao comparar com o valor de AV2. Ф diferença significativa na compa-
ração com GU, no mesmo momento de avaliação.

Tabela II - Valores observados para a medida do diâmetro dos joelhos, para os diferentes grupos (GC – grupo controle; GU – grupo ultrassom;
GUN – grupo ultrassom + naloxone), nos diferentes momentos de avaliação (AV).
GC GU GUN
Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo
AV1 1,32 ± 0,23Ф 1,23 ± 0,06Ф 1,07 ± 0,05Ф 1,13 ± 0,04Ф 1,20 ± 0,06 1,17 ± 0,05
AV2 1,60 ± 0,24* 1,21 ± 0,08● 1,64 ± 0,11*Ф 1,16 ± 0,04● 1,39 ± 0,09*Ф 1,10 ± 0,04●
AV3 1,69 ± 0,13* 1,14 ± 0,07●Ф 1,67 ± 0,07* 1,12 ± 0,04● 1,61 ± 0,16* 1,17 ± 0,06●Ф
AV4 1,66 ± 0,14* 1,17 ± 0,05● 1,60 ± 0,13* 1,13 ± 0,05● 1,69 ± 0,13* 1,16 ± 0,06●
AV5 1,76 ± 0,12* 1,16 ± 0,05● 1,68 ± 0,10* 1,15 ± 0,05● 1,62 ± 0,14* 1,15 ± 0,08●
*Diferença significativa ao comparar com o valor obtido em AV1 (ipsilateral); ● diferença significativa ao comparar com o contra-
lateral. Ф diferença significativa entre grupos no mesmo lado.
292 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

O presente estudo avaliou os efeitos da utilização do Ressaltam-se como limitações deste estudo, a não realiza-
ultrassom nas alterações sobre a dor e o edema em joelhos de ção de análises bioquímicas e histológicas que poderiam de
rato Wistar, e se esses efeitos poderiam sofrer interferências forma mais fidedigna apontar os mecanismos envolvidos na
pela aplicação de um inibidor de opioides endógenos, como analgesia e formação de edema, sendo assim sugestões para
a naloxone. Para este intento foi utilizado um modelo de ir- futuros estudos.
ritação articular, por injeção de formalina, que apresenta uma
fase de latência, por volta do 5º ao 10º minuto [15], assim, Conclusão
preferiu-se realizar a segunda avaliação após 15 minutos da
irritação química, evitando-se tal fase. O tratamento com ultrassom terapêutico apresentou di-
Com os parâmetros utilizados foi possível vislumbrar minuição na nocicepção, mas, antagonizado com aplicação
efeitos analgésicos após 2 aplicações, visto que houve um au- de naloxone. Para a formação do edema não houve efeitos
mento do limiar após 120 minutos, quando comparado com pronunciados da terapia.
a avaliação ocorrida 15 minutos após injeção de formalina,
fato que não ocorreu para nenhum dos outros grupos. Além Referências
disso, também se encontrou diferenças significativas entre GU
com GC e GUN para as avaliações ocorridas após 60 e 120 1. International Association for the Study of Pain. IASP taxonomy.
minutos, sendo que em todos os casos os valores apontados [citado 2012 Mai 10]. Disponível em URL: http://www.iasp-
para GU apresentaram maiores limiares à pressão. -pain.org
2. Lana CA, Paulino CA, Gonçalvez ID. Influência dos exercícios
O efeito analgésico do ultrassom é relatado em experi-
físicos de baixa e alta intensidade sobre o limiar de hipernoci-
mentos com animais [16-18] e em humanos [19]. Contudo,
cepção e outros parâmetros em ratos. Rev Bras Med Esporte
não há total consenso, tanto de seu efeito analgésico [20-26], 2006;12(5):248-54.
quanto da forma que o mesmo produz seus efeitos. Uma das 3. Resende MA, Pereira LSM, Castro MSA. Proposta de um mo-
possíveis ações é a hipertermia, mas, segundo Watson [10] delo teórico de intervenção fisioterapêutica no controle da dor
a temperatura deve ser elevada a cerca de 40-45º C por ao e inflamação. Fisioter Bras 2005;6(5):268-71.
menos 5 minutos, desta forma no presente estudo descarta- 4. Silva ALP, Imodo DM, Croci AT. Estudo comparativo en-
-se tal possibilidade. Ainda, efeitos terapêuticos do ultrassom tre a aplicação de crioterapia, cinesioterapia e ondas curtas
podem ocorrer devido aos chamados efeitos não térmicos, no tratamento da osteoartrite de joelho. Acta Ortop Bras
principalmente por ativação celular com alterações na perme- 2007;15(4):204-9.
5. Suri P, Morgenroth DC, Hunter DJ. Epidemiology of os-
abilidade de membrana [10]. No presente estudo observou-se
teoarthritis and associated comorbidities. PM R 2012;4(5
que a ação de um antagonista opioide, naloxone, eliminou a Suppl):S10-9.
ação analgésica que o mesmo havia apresentado. Hagiwara 6. Douglas RJ. Corticosteroid injection into the osteoarthritic
et al. [27] mostram que o laser produz liberação por parte de knee: drug selection, dose, and injection frequency. Int J Clin
leucócitos de seus conteúdos de opioides endógenos, assim, Pract 2012;66(7):699-704.
acredita-se que o ultrassom, com seus efeitos não térmicos, 7. De Luigi AJ. Complementary and alternative medicine in
pode produzir resultados semelhantes, por sua ativação de osteoarthritis. PM R. 2012;4(5 Suppl):S122-33.
leucócitos circulantes no local da lesão, visto que a dose e via 8. Gazi MCB, Issy AM, Sakata RK. Estudo comparativo da anal-
de administração de naloxone utilizadas apresentam caracte- gesia entre bupivacaína e morfina intra-articular em osteoartrite
de joelho. Rev Bras Anestesiol 2005;55(5):491-9.
rísticas de ação periféricas [28]. Tal fato corrobora os estudos
9. Grayson CW, Decker RC. Total joint arthroplasty for persons
de Meireles et al. [14] e Serra et al. [28], realizados com o uso
with osteoarthritis. PM R 2012;4(5 Suppl):S97-103.
associado de naloxane e laser de baixa potência. 10. Watson T. Ultrasound in contemporary physiotherapy practice.
Na avaliação para a variável edema no membro posterior Ultrasonics 2008;48(4):321-9.
direito do animal foi observada a presença significativa do 11. Bishop S, Draper DO, Knight KL, Feland JB, Eggett D. Human
mesmo em todos os grupos logo após a indução da lesão. tissue-temperature rise during ultrasound treatments with the
De forma semelhante Franco et al. [29] avaliaram o efeito aquaflex gel pad. J Athl Train 2004;39(2):126-31.
do ultrassom terapêutico em edema e não conseguiram con- 12. Daudt AW, Hadlich E, Facin MA, Aprato RMS, Pereira RP.
firmar a eficácia do mesmo na resolução de edema induzido Opióides no manejo da dor — uso correto ou subestima-
por carragenina em pata de ratos, mesmo utilizando técnicas do? Dados de um hospital universitário. Rev Ass Med Bras
1998;44(2):106-10.
(subaquático e contato) e doses diferentes (0,3 W/cm2). Deve-
13. Gozzani JL. Opioides e antagonistas. Rev Bras Anestesiol
-se levar em consideração que os efeitos clínicos parecem ser 1994;44(1):65-73.
dose-dependente da intensidade [10] e, assim, a intensidade 14. Meireles A, Rocha BP, Rosa CT, Silva LI, Bonfleu ML, Bertolini
usada pode ter sido incapaz de promover os efeitos, já que pelo GRF. Avaliação do papel de opioides endógenos na analgesia
momento agudo de aplicação da terapia, poder-se-ia imaginar do laser de baixa potência, 820 nm, em joelho de ratos Wistar.
um aumento do mesmo após a aplicação terapêutica, visto as Rev Dor 2012;13(2):152-5.
ações pró-inflamatórias deste recurso.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 293

15. Martins MA, de Castro Bastos L, Tonussi CR. Formalin injec- 23. Loyola-Sánchez A, Richardson J, MacIntyre NJ. Efficacy of
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294 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Artigo original

A inserção e a atuação dos fisioterapeutas concursados


da rede municipal de Santa Maria/RS
Insertion and practice of municipal physiotherapists
at Santa Maria/RS
Sinara Porolnik, Ft.*, Andriele Gasparetto, Ft., M.Sc.**

*Especializanda em Reabilitação Físico Motora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, **Docente do Instituto
Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC-Porto) e membro do grupo Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas à
Fisioterapia (UNIFRA)

Resumo Abstract
No decorrer da história, ocorreram evoluções do conceito de Health conception has evolved throughout history leading to
saúde, levando a revisão das estratégias dos sistemas de saúde e revising strategies of health care system and professional practice.
atuação dos profissionais, entre eles o fisioterapeuta. O objetivo It includes the physiotherapist. The aim of this survey was to study
desta pesquisa foi investigar a inserção e a atuação dos fisiotera- insertion and practice of municipal physiotherapists at Santa Maria
peutas concursados que atuam no SUS em Santa Maria (RS). De – RS. This is a cross-sectional and quantitative study and included
caráter quantitativo e delineamento transversal, ocorreu com 16 sixteen municipal physiotherapists. Nine of them (56,25%) works
fisioterapeutas do município, sendo excluídos os prestadores de for the municipality and seven (43,75%) for hospitals. Outsourced
serviços terceirizados. Destes, 9 (56,25%) trabalham pela Prefeitura service providers were excluded. When asked about the type of work
Municipal e 7 (43,75%) na área hospitalar. Questionados sobre o performed, thirteen (81,25%) answered rehabilitation or cure of
tipo de atuação realizado no local de trabalho, 13 (81,25%) citaram diseases or injuries. The positive points of National Health System
reabilitação/cura de patologias ou agravos. Os pontos positivos do were the network of health centers, the diversity of professionals
SUS mais descritos foram a rede de UBS, a diversidade de profis- and gratuity of service. The negative points most reported were
sionais atuantes e gratuidade dos serviços. Em relação aos pontos small number of professionals, lack of organization of municipal
frágeis as respostas mais reproduzidas foram o pouco número de health, lack of infrastructure and incentives for training, and few
profissionais atuantes no Sistema, a falta de organização da rede de health units / beds. We observed that municipal physiotherapists
saúde municipal, falta de infraestrutura e de incentivo para capa- from Santa Maria working practices were developed at several places
citações, além de poucas unidades de saúde/leitos. Percebeu-se que but mainly in hospitals. We also noted that interest of working at
os fisioterapeutas concursados de Santa Maria atuam em diversos public health services is small. This fact can be changed by graduating
locais de abrangência do município, mas com forte predominância professionals under the current Brazilian Curriculum Guidelines.
hospitalar. Ainda, o interesse em trabalhar no SUS mostrou-se pe- Allied to strong management and satisfactory organization of health
queno, o que pode ser mudado com a formação dos novos egressos care, they may motivate incoming of novel professionals at public
da profissão sob respaldo das Diretrizes Curriculares Brasileiras que, health care.
aliado a uma gestão forte e organização de rede de saúde satisfatória Key-words: health service, physical therapy, national health
motivará o ingresso de novos profissionais na área de Saúde Pública. system, professional practice location.
Palavras-chave: serviços de saúde, fisioterapia, sistema único de
saúde, área de atuação profissional.

Recebido em 14 de novembro de 2012; aceito em 20 de maio de 2013.


Endereço para correspondência: Sinara Porolnik, Av. Evandro Behr Prefeito, 4800, 97110-620 Santa Maria RS, E-mail: porolnik@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 295

Introdução A partir disto surgiu o interesse em investigar a inserção


e a atuação específica dos fisioterapeutas que atuam no SUS
No transcorrer da história, houve uma grande evolução em Santa Maria (RS), para assim conhecer o perfil destes
do conceito de saúde, que foi inicialmente conhecido como a profissionais e o tipo de trabalho que exercem na rede para
ausência de doença e posteriormente como “o estado do mais contribuir com a organização da gestão e divulgar os dados
completo bem-estar físico, mental e social” [1,2]. Porém, a para os fisioterapeutas, bem como para entender as diversas
partir da 8ª Conferência Nacional, a saúde foi definida por um repercussões dentro do serviço e do sistema que atuam para
conceito mais amplo que envolve as condições de alimentação, um atendimento de qualidade aos usuários. Conforme
habitação, educação e renda [3]. Weigelt [4], é de fundamental importância identificar as
Essas mudanças conceituais trouxeram a necessidade de características dos profissionais que atuam no SUS para que
rever as estratégias e ações do sistema de saúde que vigoravam se possa conhecer melhor as suas representações sobre e no
na época, bem como a atuação dos profissionais dentro deste sistema, e o trabalho que executam.
sistema. E é neste contexto que surge o Sistema Único de Assim o objetivo desta pesquisa foi investigar a inserção
Saúde (SUS), um sistema complexo que atua em diferentes e a atuação dos fisioterapeutas que atuam no SUS através de
ambientes onde há interesses e representações [4], o qual concurso público, em Santa Maria, RS.
pode ser definido como uma rede de serviços regionalizada,
descentralizada e hierarquizada, baseada nas realidades locais e Material e métodos
capaz de proporcionar ao usuário uma melhora da qualidade
de vida [5] nos três níveis de atenção. A pesquisa realizada apresentou caráter quantitativo e
Na atenção básica são traçadas ações diretas na integrali- delineamento transversal. Nesta, a população constitui-se
dade através da promoção, prevenção, recuperação e educação de todos os dezessete profissionais fisioterapeutas que atuam
em saúde. A atenção secundária pode ser caracterizada como no município de Santa Maria (RS) pelo SUS. Segundo in-
preventiva, pois o organismo já se encontra com alterações na formações coletadas na Secretaria Municipal de Saúde, são
forma e na função. Já o nível terciário se refere ao indivíduo nove profissionais concursados pela Prefeitura Municipal de
portador da enfermidade, permanecendo com uma sequela Santa Maria, e oito concursados na área hospitalar. Segundo a
e/ou uma incapacidade que necessitam ser minimizados para Situação da base de dados nacional - DATASUS [13], existem
se evitar a invalidez total [6]. Em todos os níveis é possível 74 fisioterapeutas que atendem ao SUS em Santa Maria, os
realizar ações promotoras, preventivas e de cura, cabendo ao demais cinquenta e sete foram excluídos por serem prestadores
profissional adaptar as estratégias coerentes a cada um deles. de serviços terceirizados pelo SUS, característica que foi o
Devido à abrangência e aos diferentes serviços do siste- único critério de exclusão da pesquisa já que o objetivo foi
ma de saúde, percebeu-se a necessidade de uma assistência estudar os concursados.
interdisciplinar para se orientar e auxiliar nas transformações Como instrumento de pesquisa foi utilizado um ques-
dos serviços e do próprio sistema de saúde, requerendo cada tionário adaptado de Weigelt [4] e Gasparetto [14], aplicado
vez mais a inserção de novos profissionais capacitados [7]. A em local sugerido pelo fisioterapeuta, podendo ser em seu
Fisioterapia, que teve seu surgimento associado ao processo de setor de trabalho. Foi realizado contato prévio com todos
reabilitação, tem hoje que se inserir em outras áreas, incluin- os profissionais, para que se agendasse o horário e local de
do a Saúde Pública. Hoje, ela se desenvolve dentro do SUS preferência. Neste instrumento de pesquisa foram estudadas
com ações na promoção e prevenção, mas ainda com forte variáveis como: gênero, tempo de formação e de atuação no
influência da histórica reabilitação, refletindo novos desafios SUS, setor que trabalha, motivo de escolher o sistema vigente
e responsabilidades a estes profissionais [8] que necessitam para atuar e pontos positivos e frágeis do SUS. O instrumento
desenvolver intervenções voltadas para saúde de forma com- se caracteriza pela maioria das questões fechadas e algumas
plexa e integral [9]. abertas para complementar algumas respostas. Sendo assim,
Na Saúde Pública, o fisioterapeuta participa e realiza ações podemos classificar este instrumento de pesquisa como
no planejamento em todos os níveis de atenção a saúde, sendo quantitativo, pois questionários previamente padronizados
considerado de fundamental importância em programas e podem conter a existência de simples citações para falas de
ações de cuidados primários [10], porém possui uma parti- sujeitos, não configurando legitimamente uma pesquisa
cipação ainda baixa neste nível [11]. qualitativa [15].
Diante deste cenário, cabe ao fisioterapeuta uma análise Inicialmente foi realizado o contato com a Secretaria
de sua prática e de seus fundamentos, para assim adaptar-se Municipal de Saúde do Município para que fosse possível
a essa realidade, contribuindo de forma significativa para convidar os profissionais, explicando os objetivos da pesqui-
mudança social que a população está se inserindo, e com isso sa e solicitando autorização da Secretaria para a realização
buscar a aproximação do campo da promoção da saúde [8], da mesma. Já a solicitação de adesão por parte dos sujeitos
estabelecendo vínculos, acompanhando e proporcionando da pesquisa foi pela assinatura, em duas vias, do Termo de
ações eficazes para a comunidade [12]. Consentimento Livre e Esclarecido.
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Com esta etapa cumprida, o instrumento de coleta de relação a cursos de especialização 15 (93,75%) realizaram e 1
dados foi entregue aos trabalhadores que aceitaram participar (6,25%) não possui, e destes 15, 4 (26,66%) estão relaciona-
do estudo, ficando a pesquisadora à disposição para esclareci- dos à Saúde Pública/Coletiva. Em relação à formação Strictu
mentos, mas sem influenciar as respostas. As atividades desta Senso, 8 (50%) responderam que não possuem mestrado, 5
pesquisa foram desenvolvidas nos meses de março, abril e (31,25%) disseram que fizeram e 3 (18,75%) não responde-
maio de 2011. ram a questão. Já com doutorado, 11 (68,75%) responderam
Os dados foram analisados e apresentados mediante esta- que não possuem, 4 (25%) não responderam a questão e 1
tística descritiva simples, sendo utilizados gráficos e tabelas. (6,25%) respondeu que possui. Nenhum mestrado ou dou-
A pesquisa respeitou os preceitos éticos das atividades em torado está ligado à área acima especificada.
pesquisa envolvendo seres humanos preconizados pela Reso-
lução nº196/1996 [16]. Teve a aprovação do Comitê de Ética Figura I - Local de trabalho dos fisioterapeutas dentro do município.
em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário 8

Número de fisioterapeutas
Franciscano (UNIFRA) sob parecer número 369.2010.2. 7
6
5
Resultados 4
3
2
Do total de 17 fisioterapeutas concursados no Municí- 1
0
pio, foram entrevistados 16, sendo que 1 (5,88%) estava em Área Centro de Serviço Escola de Secretaria Unidade
hospitalar apoio municipal educação municipal básica
licença saúde e não pôde participar da pesquisa. psicossocial de especial de saúde de saúde
fisioterapia
Quanto ao perfil profissional dos sujeitos, 12 (75%) são
do sexo feminino, 14 (87,5%) possuem 10 ou mais anos de
formação e 15 (93,75%) se graduaram em Instituição Pública. Em relação à aproximação com a Saúde Pública na
Quanto ao tempo de trabalho, 9 (56,25%) têm 10 ou mais formação acadêmica, 11 (68,75%) relataram que ocorreu
anos no setor (Tabela I). Ainda, a média de idade foi de 44,4 nas atividades práticas desenvolvidas e 1 (6,25%) não teve
anos (mínima de 33 e máxima de 53 anos). nenhuma aproximação, salienta-se que esta alternativa dava
a opção de marcação de mais de uma alternativa (Tabela II).
Tabela I – Perfil dos profissionais fisioterapeutas de Santa Maria
(RS). Tabela II - Aproximação com a Saúde Pública durante a sua
n % formação acadêmica.
Sexo n %
Feminino 12 75 Aproximação com a Saúde Pública
Masculino 4 25 No contato teórico desenvolvido 9 56,25
Tempo de formação Nas atividades práticas desenvolvidas 11 68,75
1 a 5 anos 1 6,25 Na relação com profissionais de equipe de
4 25
6 a 10 anos 1 6,25 saúde do local onde estagiou
11 ou mais anos 14 87,5 Na integração com acadêmicos/profissio-
3 18,75
Local de graduação nais de outras áreas do conhecimento
Pública 15 93,75 Nas atividades práticas desenvolvidas dire-
6 37,5
Privada 1 6,25 tamente com a comunidade
Tempo de trabalho neste setor público Não teve nenhuma aproximação 1 6,25
1 a 5 anos 4 25
6 a 10 anos 3 18,75 Quando questionados sobre o interesse em trabalhar no
11 ou mais anos 9 56,25 SUS após a formação, 9 (56,25%) responderam que não,
6 (37,5%) disseram que sim, e 1 (6,25%) não respondeu a
Quanto ao local de trabalho, 9 (56,25%) atuam pela Pre- questão. Dos 9 que responderam negativamente, 4 relataram
feitura Municipal alocados em diferentes setores e 7 (43,75%) o interesse em trabalhar em clínica e hospital após a formação,
na área hospitalar como demonstrado na Figura I. Esses como pode ser comprovado na fala abaixo:
profissionais desempenham cargas horárias diferentes, pois
10 (62,5%) participantes atuam 30 horas, 4 (25%) 40 horas, “Na época de final de minha formação, o pensamento de todos
1 (6,25%) 10horas e 1 (6,25%) não respondeu a questão. nós formandos era o de atuar em nível ambulatorial particular”
Quanto aos cursos de aperfeiçoamentos (com mais de 180 (Profissional 1).
horas), 11 (68,75%) responderam ter realizado, 4 (25%) não
e 1 (6,25%) não respondeu a questão. Destes 11 somente 4 Indagados sobre a atuação dentro do SUS, 10 (62,5%)
(36,36%) estão relacionados a Saúde Pública/Coletiva. Em relataram que não se sentiram preparados para atuar no
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sistema vigente e 6 (37,5%) sim. Destes 6, 4 (66,66%) cita- Em relação ao SUS na forma como está implantado no
ram experiências na formação e dos 10 que não se sentiram município, 14 (87,5%) responderam que precisa de algumas
preparados todos afirmaram falta de experiência ou conhe- melhorias, 1 (6,25%) relatou estar bem e 1 (6,25%) afirmou
cimento na área. Quanto a inserção no SUS, 11 (68,75%) que necessita ser totalmente reestruturado. Nessa questão,
responderam que não tiveram dificuldades em se inserir, 4 vários profissionais fizeram referência quanto ao funciona-
(25%) relataram que sentiram dificuldade e 1 (6,25%) não mento da rede de saúde desta cidade, enfrentando dificuldades
respondeu. Um desses 4 afirmou: na atenção primária e sobrecarga na terciária. Além disso, a
melhora de capacitação dos profissionais e valorização de
“Por não compreender o contexto onde estava inserida. Não havia trabalho também foram pontuadas.
propriedade sobre o sistema e o modelo de formação não contemplou
esta necessidade” (Profissional 9). “O SUS precisa ser mais específico na saúde básica com pessoal
treinado para atividades afins e condutas nas especialidades em
Na sequência foi perguntado por que procurou o SUS que a demanda é grande e o número de consultas não é suficiente”
para atuar, 10 (62,5%) disseram que foi por ser um emprego (Profissional 11).
que traz segurança profissional, 10 (62,5%) por oportunida-
de, 1 (6,25%) por acreditar na Saúde Púbica Brasileira, e 3 Quanto aos pontos positivos do SUS, diversas foram as
(18,75%) citaram outros. Além disso, 13 (81,25%) afirmaram respostas, porém as mais destacadas foram a rede de UBS por
que o SUS abre perspectivas para a carreira profissional e 3 3 fisioterapeutas, diversidade de profissionais atuantes por 4 e
(18,75%) não. gratuidade dos serviços, campanhas de vacinação e a presença
Foi questionado também sobre o tipo de atuação que os de hospital de alta complexidade por 2 profissionais.
fisioterapeutas realizam no local de trabalho e 13 (81,25%) Sobre os pontos frágeis do SUS, os sujeitos da pesquisa
responderam reabilitação/cura de patologias ou agravos, sendo pontuaram pelo menos 45 respostas, as mais reproduzidas
demonstrado na Figura II, (esta alternativa proporcionava foram o pouco número de profissionais atuantes no Sistema
mais de uma marcação de resposta). por 7 participantes, a falta de organização da rede de saúde
municipal por 5, falta de infraestrutura, incentivo à capa-
Figura II – Tipo de atuação que os fisioterapeutas possuem em seu citações e poucas unidades de saúde/leitos por 3, além da
trabalho. grande demanda de serviços por 2, dificuldade de acesso a
90% 81,25% especialidades por 2, e desestruturação do Programa Saúde
80%
70% da Família (PSF) por 2.
60% 50,00%
50% 50,00%
40% Discussão
30% 31,25%
20% 18,75%
10% Nesta pesquisa, a maioria dos participantes (12 - 75%)
0% é do gênero feminino, corroborando um estudo de Trelha,
Reabilitação Educação Prevenção Promoção Gestão
cura de em de doenças da Gutierrez e Cunha [17] sobre perfil demográfico dos fisiote-
patologias ou saúde ou agravos saúde
agravos rapeutas da cidade de Londrina/PR onde as fisioterapeutas
representaram 80%. Chevan e Chevan [18] constataram que
Quanto às atividades desenvolvidas, 12 (75%) realizam as mulheres apresentavam papel predominante nesta profissão
consultas/atendimento a clientela (questão com opção de nos Estados Unidos de 1980 e 1990.
mais de uma marcação) (Figura III). Dentro dos 25% de Pode-se também perceber que todos os fisioterapeutas
outros, surgem atividades como escolas, grupos, segurança apresentaram idade superior aos 30 anos, discordando com
do trabalhador e internação hospitalar. o estudo de Badaró e Guilhem [19] sobre perfil sociode-
mográfico e profissional de fisioterapeutas e origem de suas
Figura III – Atividades desenvolvidas pelos fisioterapeutas em seus inserções, no qual os autores acharam 40,7 % tendo idade de
locais de trabalho. até 30 anos. Já na pesquisa de Delai e Wisniewski [20] sobre a
80% 75,00% inserção do fisioterapeuta no PSF realizado em Erechim/RS,
70% os autores acharam 83,34% entre 23 e 30 anos.
60%
50% 50,00% Sobre o tempo de formação, 14 (87,5%) profissionais
40% 31,25%
30% 31,25% 25,00% já estão formados há mais de 10 anos. Altamiranda [21]
20% no estudo sobre perfil do fisioterapeuta no estado de Santa
10%
0% Catarina, encontrou uma média dos anos de formação da
Consultas Palestras Coordenação Visitas Outras classe de 6 anos, sendo que 43,3% dos fisioterapeutas têm
atendimentos e e domiciliares
a clientela grupos supervisão até 3 anos de formação. Badaró e Guilhem [19] perceberam
que a partir dos anos 2000 houve um expressivo aumento de
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fisioterapeutas formados, ocorrendo superação de formação rem na indicação, já os que não tinham indicação tiveram
nesta área em relação aos anos 90. dificuldade de inserção, e muitas vezes necessitaram em um
Ainda sobre a formação, a maioria dos profissionais primeiro momento realizar trabalhos voluntários para adqui-
cursou-a em instituição pública (93,75%), mesmo existindo rirem experiências.
um número elevado de particulares no Brasil e especificamente O tempo de trabalho da maioria dos profissionais é acima
em Santa Maria. Isso pode estar relacionado ao tempo de de 10 anos (9 - 56,25%), corroborando Weigelt [4], que em
formação dos pesquisados (10 anos ou mais) e o tempo das seu estudo envolvendo profissionais de diversas áreas viu que o
escolas privadas que são mais recentes. Em pesquisa de Santa tempo de serviço destes é o mesmo (44,1%). Em pesquisa de
Catarina, Altamiranda [21] identificou que o percentual de Londrina/PR [17] observou-se que 58,9% dos fisioterapeutas
graduados em instituições privadas foi de 70,8% , dado ex- possuíam tempo de atuação menor que 9 anos.
plicado pela existência de um único curso público em todo O local de trabalho ainda tem maior representatividade
o Estado. dentro da área hospitalar, pois dos 16 profissionais, 7 (43,7%)
Em relação aos cursos de aperfeiçoamentos, 11 (68,75%) atuam nesta área, e 9 (56,3%) nas demais. Segundo dados do
responderam ter participado em cursos com mais de 180 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) [26], a
horas, mas somente 4 (36,36%) estão relacionados a Saúde população residente no município é de 261.031 habitantes,
Pública/Coletiva. Acerca dos cursos de especialização, esses e para este dado populacional se tem praticamente 17 profis-
demonstram um número elevado de profissionais (15 - sionais concursados, o que significa um número exacerbante
93,75%), e destes apenas 4 (26,66%) estão relacionados à para cada fisioterapeuta, 15.354. Destes, apenas 1 trabalha
Saúde Pública/Coletiva. Para Machado et al. [22], os profis- em UBS, e no mínimo 6 na atenção secundária. Delai e Wis-
sionais tendem a ser mais especialistas e em muitas situações niewski [20] acharam 58,33% dos fisioterapeutas atuando na
se deparam com questões cujo conhecimento técnico não atenção primária e 87,5% na secundária daquele município.
dá suporte a solução do paciente. Na pesquisa de Silva e Da No estudo sobre o perfil social do fisioterapeuta [27] percebeu-
Ros [23], o uso exacerbado de especialização e de tecnologia -se um distanciamento nos serviços de Saúde Pública, sendo
não apresenta um perfil adequado para o SUS. Ainda na assim há uma menor quantidade destes profissionais atuando
formação acadêmica, a aproximação com a Saúde Pública no SUS, pois isso requer uma confirmação do papel social,
ocorreu para 11 (68,75%) fisioterapeutas no contato com bem como o fisioterapeuta deve ter nítida a sua ação no papel
as atividades práticas desenvolvidas e 1 (6,25%) não teve da Atenção Básica. Para Schwingel [28], os profissionais que
nenhuma aproximação durante a graduação. No estudo sobre trabalham na Saúde Coletiva/Pública ainda são reduzidos,
a inserção de profissionais de fisioterapia [23], em Tubarão, e menor ainda o número destes que influenciam na gestão
alguns alunos relataram que o contato é insuficiente durante através de atividades organizacionais do Sistema de Saúde.
a graduação. Na Carta de Vitória [24] explicita-se que o Além disso, nesta pesquisa, os pesquisados desempenham
fisioterapeuta deve atuar nos três níveis de atenção de forma cargas horárias diferentes, sendo que 10 (62,5%) atuam 30
equilibrada, e as experiências práticas dos acadêmicos devem horas. A carga horária dos profissionais é conforme o con-
iniciar precocemente para que estes possam se preparar para curso público, por isso é variável de 30 a 40 horas, mas hoje
os estágios e para sua formação. o fisioterapeuta deve atuar no máximo 30 horas semanais
Sobre o interesse em trabalhar no SUS após a formação, conforme Lei 8.856/94 [29].
9 (56,25%) responderam que não possuíam, fato que pode Referente ao local de trabalho, foi questionado o tipo de
ser relacionado com o motivo da procura deste serviço, que atuação que os profissionais realizam e 13 (81,25%) respon-
foi em busca de segurança profissional (62,5%). Além disso, deram reabilitação/cura de patologias ou agravos, sendo con-
10 (62,5%) relataram não se sentirem preparados para atuar firmado o perfil de formação baseado na reabilitação e cura.
no SUS. Para Silva e Da Ros [23], a formação acadêmica Ainda, 12 (75%) realizam consultas/atendimento a clientela
não deve contemplar somente as atividades curativas e re- quando questionados sobre suas atividades. O Ministério da
abilitadoras, mas sim englobar a atuação do fisioterapeuta Educação [30] destaca, nas Diretrizes Curriculares Nacionais
no Sistema, e assim desenvolver ações no modelo integral do Curso de Graduação em Fisioterapia, que o profissional
proposto pelo SUS, participando ativamente de sua cons- deve ter formação geral, ser crítico, reflexivo e humano, bem
trução, e com isso despertando os alunos ao interesse em como estar capacitado a atuar em todos os níveis de atenção
atuar na Saúde Pública. a saúde, e respeitar o indivíduo tanto em seus princípios
Quanto à inserção no SUS, 11 (68,75%) responderam culturais quanto éticos. Conforme o estudo da atuação do
que não tiveram dificuldades, ou seja, mesmo não estando fisioterapeuta [31], as Diretrizes Curriculares da Fisioterapia
preparados para atuarem, os profissionais não sentiram difi- de 2002, incentivaram o desempenho no campo da atenção
culdade em se inserir no Sistema. Estudo de Juiz de Fora [25], básica. Em Sobral/Ceará [6], somente 24% das atividades
sobre o processo de profissionalização do fisioterapeuta, estão relacionadas ao modelo individual e curativo e 67%
mostrou que os primeiros não sentiram dificuldade em se estão relacionadas à promoção da saúde, prevenção de doenças
inserir no mercado de trabalho devido aos médicos intervi- ou estão sendo realizadas de maneira coletiva. Isso mostra um
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 299

percentual significativo de ações coletivas e promotoras de O interesse em trabalhar no SUS mostrou-se pequeno pro-
saúde, as quais são prioridades no sistema atual. vando que através da formação dos novos egressos sob respaldo
Ao longo dos anos a fisioterapia atuou no nível terciário, das Diretrizes Curriculares Nacionais pode-se mudar esse
no qual a reabilitação e a cura de enfermidades eram destaque, conceito que, aliado a uma gestão forte e organização de rede
e o fisioterapeuta dirigia seu trabalho individualmente após de saúde satisfatória motivará o ingresso de novos profissionais
já estar instalada a doença. Com as devidas alterações nas na área de Saúde Pública. Acredita-se que a profissão está em
Diretrizes Curriculares e as demandas da população mudando, processo crescente de desenvolvimento, conquistando cada vez
outros níveis de atenção precisaram receber atenção e ocorre- mais espaço na área da saúde. No setor público, a Fisioterapia
ram mudanças na área da fisioterapia, e esta não poderia mais apresenta ainda desafios que podem ser vencidos pela atuação
ser fundamentada nas práticas exclusivamente reabilitadoras. desses profissionais e formação dirigida a esse setor.
Precisaram-se buscar atuações que transformassem as neces- Salienta-se, ainda, que não existe um número expressivo
sidades coletivas redimensionando o objeto de intervenção de pesquisas na área de atuações da Fisioterapia, o que acaba
aproximando a promoção da saúde e consequentemente o por não caracterizar o processo de trabalho desses profissionais
movimento de saúde coletiva sem abandonar as competências a nível municipal, estadual e nacional. Precisa-se conhecer
ligadas à reabilitação [32]. onde atuam e como estão inseridos os profissionais para aí
Na condição em que o SUS está implantado no município, sim se ter uma configuração concisa do profissional. Neste
14 (87,5%) responderam que precisa de algumas melhorias, estudo conclui-se que dos 74 fisioterapeutas que atuam no
concordando com estudo de Santa Cruz do Sul/RS [4] , o Município, apenas 17 são concursados.
qual verificou que 60,5% dos pesquisados acreditam que
o SUS local necessita de melhorias e que estas devem estar Referências
relacionadas ao planejamento e integração dos serviços, nos
recursos físicos e materiais, e na política pessoal e de salários. 1. Scliar M. História do conceito de saúde. Physis: Rev Saúde
Referindo se ao Sistema, os fisioterapeutas discordaram Coletiva 2007;17(1):29-41.
de outras pesquisas afirmando que o SUS abre perspectivas 2. Buss PM, Pellegrini Filho A. A saúde e seus determinantes
sociais. Physis: Rev Saúde Coletiva 2007;17(1):77-93.
para uma carreira profissional (13 - 81,25%). Para Weigelt
3. Brasil. Relatório Final da 8º Conferência Nacional de Saúde.
[4], 79% dos profissionais acreditam que o sistema atual não
Brasília: SUS; 1986.
apresenta perspectiva na carreira profissional, e Caldas [25], 4. Weigelt LD. O SUS e os profissionais da saúde de nível universi-
informa no seu estudo, que não são oferecidos pelos serviços tário da rede pública de Santa Cruz do Sul, RS: um estudo sobre
públicos municipais e estaduais um mercado de trabalho recursos humanos no SUS, através das representações sociais.
prometedor. Série Conhecimento 6. Santa Cruz do Sul: Edunisc; 2001.
Em relação aos pontos positivos e frágeis analisados pelos 5. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde: o desafio
sujeitos, presume-se que apesar da diversidade de profissionais, de construir e implementar políticas de saúde - relatório de
o número destes ainda é inferior ao que a demanda do mu- gestão 2000-2002. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
nicípio necessita. Além disso, a rede municipal foi apontada 6. Brasil ACO, Brandão JAM, Silva MON, Gondim Filho VC.
O papel do fisioterapeuta do programa saúde da família do
com necessidade de ajustes para que o serviço da saúde possa
município de Sobral-Ceará. Revista Brasileira Promoção Saúde
ser mais bem organizado. 2005;18(1):3-6.
7. Lima NT, Gerscheman S, Edler FC, ed. Saúde e democracia:
Conclusão história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2005.
8. Bispo Junior JP. Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e no-
Os fisioterapeutas concursados da cidade de Santa Maria vas responsabilidades profissionais. Ciênc Saúde Coletiva
constituem-se predominantemente pelo gênero feminino, 2010;15(Supl 1):1627-36.
com idade acima de 30 anos, atuando em diversos locais de 9. Rocha VM, Caldas MAJ, Araújo FRO, Ragasson CAP, Santos
abrangência do município, mas ainda com forte predomi- MLM, Batiston AP. As diretrizes curriculares e as mudanças
na formação de profissionais fisioterapeutas. Fisioter Bras
nância hospitalar. Na atenção básica, apenas um profissional
2010;11(5):4-8.
está inserido.
10. Barros FBM. O fisioterapeuta na saúde da população: atuação
Apesar de a maioria dos fisioterapeutas terem contato transformadora. Série fisioterapia e sociedade. Rio de Janeiro:
com a Saúde Pública nas práticas durante a formação acadê- Fisiobrasil; 2002.
mica, pode-se perceber que na atuação profissional as ativi- 11. Neuwald MF, Alvarenga, LF. Fisioterapia e educação em saú-
dades exercidas ainda são baseadas na reabilitação e cura de de: investigando um serviço ambulatorial do SUS. Bol Saúde
patologias e agravos, apresentando um perfil reabilitador ao 2005;19(12):73-82.
qual está associado ao surgimento da Fisioterapia. Evidenciou- 12. Teixeira CF, Paim JS, Vilasbôas AL. SUS modelos assistenciais e
-se que a percepção dos fisioterapeutas quanto ao SUS pode vigilância da saúde. Inf. Epidemiol. SUS (IESUS) 1998;7(2):07-
ser considerada positiva, porém apresentam fragilidades 27.
13. Brasil. Ministério da Saúde. Situação da base de dados nacional
consideráveis em seu funcionamento.
- DATASUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
300 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

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fisioterapeutas docentes dos cursos de fisioterapia do estado do Fisioterapeuta; 2004.
Rio Grande do Sul, Brasil [Dissertação]. Rio Grande: Univer- 25. Caldas MAJ. O processo de profissionalização do fisioterapeuta:
sidade Federal do Rio Grande; 2008. 132p. o olhar em Juiz de Fora [Tese]. Rio de Janeiro: Universidade
15. Turato ER. Métodos qualitativos e quantitativos na área da do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social;
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 301

Artigo original

Intervenção fisioterapêutica orientada aos idosos


baseada no nível de conhecimento e atitudes sobre
diabetes mellitus
Physical therapy intervention in elderly based
on the level of knowledge and attitudes about diabetes mellitus
Viviane Rech, Ft., M.Sc.*, Maria Manuela Martins, D.Sc.**, Hugo Tourinho Filho, D.Sc.***

*Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida (Universidade de Passo Fundo – UPF, Rio Grande do Sul), Doutoranda em
Ciências do Desporto (Universidade de Trás-os-Montes e Alto D’Ouro – UTAD, Vila Real, Portugal), Programa de Pós Graduação
Stricto sensu em Ciências do Desporto, Exercício e Saúde – Doutorado, ** Escola Superior de Enfermagem do Porto, *** Escola de
Educação Física e Esporte - Campus Ribeirão Preto – EEFERP, Universidade de São Paulo – USP

Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários com The objective of this study was to characterize patients with
diabetes mellitus tipo 2, segundo variáveis sociodemográficas e type 2 diabetes mellitus, according to sociodemographic and cli-
clínicas, e analisar os escores de conhecimento e atitude em relação nical variables, and to analyze scores of knowledge and attitudes
à doença. Participaram 1919 idosos atendidos em um serviço de regarding the disease. The participants were 1919 users attended at
atenção básica à saúde de dezembro de 2009 a dezembro de 2011. a primary health care service, from December 2009 to December
Para a obtenção dos dados, foram utilizados os Questionários de 2011. The Diabetes Mellitus Knowledge (DKN-A) and Attitude
Conhecimento (DKN-A), e de Atitudes Psicológicas do Diabetes (ATT-19) questionnaires were used for data collection. The majority
(ATT-19). A maioria da população caracterizou-se por idosos com of the population was ≥ 65 years old. Most were literate (62%);
idade a partir de 65 anos; predominantemente do sexo feminino female (1705) and overweighted. About knowledge on the disease,
(1705), alfabetizados (62%) e com sobrepeso. Quanto ao conheci- the patients obtained scores > 8, indicating satisfactory results on
mento da doença, obtiveram-se escores superiores a oito, indicando self-care. Scores obtained regarding attitudes showed difficulties to
resultado satisfatório quanto ao autocuidado. Os escores obtidos em cope with the disease. Results evidence the need to adopt a Diabetes
relação às atitudes mostram dificuldades para o enfrentamento da Education Program at the studied units.
doença, apontando os resultados para a necessidade de implantação Kew-words: diabetes mellitus, aged, physiotherapy, attitude to
de Programa de Educação em Diabetes às Unidades de Estudo. health.
Palavras-chave: diabetes mellitus, idoso, fisioterapia, atenção
primária à saúde.

Introdução Diante dessa situação, a população idosa com diabetes


mellitus, a priori, necessita de acompanhamento sistemático e
A doença crônica para muitas pessoas pode alterar de globalizado por equipe multiprofissional qualificada de saúde
forma profunda à essência de sua vida. As modificações es- para o manejo da doença com fins ao autocuidado. Esses
tão combinadas às atividades da vida rotineira, pois, desde o subsídios estão relacionados às informações que possibilitem
estabelecimento do diagnóstico clínico, ocorrem sentimentos aos idosos lidar com os acontecimentos diários, advindos da
de ansiedade, angústia e desespero perante a percepção do diabetes, tais como a aceitação, a tomada de decisões frente
pouco controle acerca de sua vida, diminuindo e por vezes aos episódios de hipo e hiperglicemia, o valor calórico dos
alterando a forma de agir e pensar do idoso. alimentos, a utilização correta dos remédios prescritos, o

Recebido em 3 de junho de 2013; aceito em 5 de julho de 2013.


Endereço para correspondência: Viviane Rech, Rua Cel. Krammer 54/701, 990520-010, Passo Fundo RS, Tel: (54) 81062227, E-mail: respvi@
gmail.com, tourinho@usp.br, mmartins@esenf.pt
302 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

controle da glicemia capilar no domicílio, e as comorbidades, Desse modo, avaliar o conhecimento e a atitude, relacio-
como a hipertensão arterial sistêmica [1,2]. nadas à saúde de idosos acometidos por diabetes, fornecerá
A educação para o autocuidado é um aspecto funda- subsídios para compreender as dificuldades próprias a lidar
mental do tratamento ao idoso com diabetes mellitus e sua com a doença e, consequentemente, melhorar o controle
importância é reconhecida em diversos estudos realizados em metabólico. Aos profissionais de saúde, particularmente
comunidades com diferentes características socioeconômicas fisioterapeutas, cabe desenvolver habilidades e ferramentas
e culturais [1]. Para efetivar a educação em diabetes mellitus que direcionem as intervenções de fisioterapia aos idosos com
é necessário habilidades e competências pedagógicas, conhe- DMII em nível de atenção à saúde primária, diminuindo a
cimento específico, capacidade de comunicação e de escuta necessidade de atenções de saúde secundária e terciária.
ao público referido, compreensão e o desenvolvimento de As dificuldades encontradas diariamente pelos idosos
negociações pela equipe de saúde [1,2]. Ao considerar a com diabetes mellitus fomentaram a investigação de qual
complexidade do tratamento e as comorbidades associadas, é o conhecimento que eles têm em relação à doença e a sua
os administradores têm procurado fomentar a educação presteza para enfrentar os desafios para o seu controle, o que
estruturada e programas de intervenção para que o idoso constituiu o objeto da presente investigação.
com diabetes mellitus alcance e mantenha sua qualidade de Diante do exposto, o objetivo da presente pesquisa é ca-
vida, pois educação em diabetes tem se constituído uma das racterizar os idosos com DMII, praticantes de atividade física
principais bases para o manejo e o controle da doença [3]. de um Centro de Atenção Integral à Saúde, segundo variáveis
Desenvolver atividades educativas de saúde e, conse- sociodemográficas e clínicas, além de analisar os escores de
quentemente, a promoção de práticas de exercícios físicos, conhecimento e atitude em relação à doença.
direcionadas ao idoso com diabetes mellitus e à sua família,
centradas na condição do conhecimento e atitude frente à Material e métodos
doença, está combinada à prevenção de complicações da
doença, o que possibilita o idoso a conviver melhor com sua O delineamento da pesquisa foi do tipo descritivo,
condição [4]. A educação para o automanejo é uma maneira analítico e de coorte. A amostra compreendeu 1919 idosos
de ensinar o idoso e sua família a administrar a doença. As com diagnósticos de diabetes mellitus II (DMII), conforme
metas da educação em diabetes consistem em melhorar o critérios médicos e utilizavam os serviços dos CAIS (Centros
controle metabólico, prevenir as doenças associativas agudas de Atenção Integral da Saúde do Município) no período de
e crônicas, e melhorar a qualidade de vida. No entanto, há dezembro de 2009 a dezembro de 2011.
um déficit significativo de conhecimento e de habilidade em Foram incluídos no estudo os idosos de idade igual ou
50 a 80% dos indivíduos acometidos por esta doença [5]. superior a 60 anos, ambos os sexos, nível cognitivo, auditivo
Durante o processo educativo, o idoso deve, junto à equipe e visual preservados. Todos possuíam condições de efetuar as
multiprofissional de saúde, buscar estratégias efetivas para o atividades propostas e não poderiam apresentar fatores que in-
manejo da doença. Esse é dos mais significativos investimentos terferissem nas coletas dos dados, a saber: não-colaboração e os
que a sociedade pode oferecer, já que os custos da saúde dos que não haviam disponibilidade para realização das orientações.
idosos, associados ao desencadeamento de complicações pela O termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido
doença, são muito altos [6]. de cada indivíduo, e a pesquisa foi aprovada pela Secretaria
Os programas de saúde, de forma geral, são propostos a Municipal de Saúde e pelo Comitê de Ética e Pesquisa locais
reduzir o número de doenças, suas complicações, evitando (parecer nº 257/2009).
o óbito precoce. As intervenções educativas visam oferecer Os participantes selecionados foram submetidos à
orientações e capacitar o idoso diabético para alcançar um aplicação dos questionários “Diabetes Knowledge Scale
bom controle metabólico a partir da compreensão da doença Questionnaire”(DKN-A) e “Attitudes Questionnarie”(ATT-19)
e do autocontrole do tratamento, buscando a mudança de de DMII. Os dados referentes às características da amostra
comportamento e o que, consequentemente, fará diferença foram registrados em uma ficha de avaliação específica, e as
no cuidado com a doença [7]. mensurações foram sempre realizadas pelos mesmos avaliadores,
Os profissionais de saúde devem envolver o idoso com os quais receberam equivalente treinamento.
diabetes mellitus em todas as fases do processo orientativo, O programa de intervenção fisioterapêutica educativo-
pois, para assumir a responsabilidade do papel terapêutico, -assistencial compreendeu orientações, segundo a Sociedade
o idoso precisa ter clareza acerca daquilo que necessita, Brasileira de Diabetes Mellitus. Criou-se um ambiente
valoriza e almeja em sua vida [8]. Para tanto, cabe à equipe qualificado à aprendizagem dos idosos para as questões de
multiprofissional, além de disponibilizar ao idoso todas as formação de hábitos saudáveis e conhecimento a respeito
informações necessárias referentes a sua doença, acompanhá- de suas doenças; fomentando maiores autocuidados nas
-lo por determinado período de tempo com o fim de ajudá-lo atividades de vida diária. Os indivíduos que se ausentaram
na tomada de decisões, frente às inúmeras situações que a do programa por qualquer motivo foram automaticamente
doença impõe. excluídos da amostra.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 303

Neste estudo, os idosos selecionados foram submetidos a cunferência abdominal que apresentou uma média de 101,51 ±
uma avaliação clínica para ingresso no programa de atividades 20,12 cm pré-intervenção e 98,10 ± 19.47cm pós-intervenção.
físicas (AF) e orientações. Previamente às AF, os voluntários Com relação aos valores da pressão arterial sistólica foi
foram adaptados aos exercícios com duração de duas semanas, detectada uma redução significativa (p < 0,0001) de 131,44
para aprendizado e correta execução dos movimentos. ± 20,54mmHg pré e 127,23 ± 15,52 mmHg pós. Já para a
As AF e as orientações foram realizadas num período de média da pressão arterial diastólica não foi possível identificar
dois anos, com uma frequência semanal de duas vezes em diferenças significativas entre o pré e pós-teste com valores
dias alternados, sempre no período vespertino. Desenvolveu- médios de 79,54 ± 12,20 mmHg e pós 79,10 ± 17,65 mmHg
-se alongamentos corporais globais, atividades aeróbicas (p = 0,235). Neste estudo os idosos tinham desde 6 meses de
(caminhadas, danças, jogos e atividades em circuitos) e de evolução da doença até 26 anos de evolução.
fortalecimento (membros superiores e inferiores), fomentando
maiores autocuidados nas atividades de vida diária e nível de Tabela I - Características clínicas e antropométricas da amostra
independência físico-funcional (cada sessão compreendia o estudada.
tempo de 1 hora e 30 minutos). Caracterís- Pré Pós P
Durante a execução dos movimentos, os pacientes foram ticas (n = 1919) (n = 1919)
orientados a respirarem de forma adequada e continuamen- IMC 28,7 ± 5,2 27,7 ± 4,8 0,0001
te durante cada exercício, expirando durante a contração CA 101,5 ± 20,1 98,1 ± 19,4 0,0001
concêntrica e inspirando durante a contração excêntrica, e, PAS 131,4 ± 20,5 127,2 ± 15,5 0,0001
dessa forma, reduzindo a chance de realizarem a manobra de PAD 79,5 ± 12,2 79,1 ± 17,6 0,235
Valsalva. Antes das AF os participantes realizavam cinco minu- As variáveis estão descritas em média e desvio-padrão, respectivamen-
tos de aquecimento, por meio de caminhada leve, seguida de te. IMC = Índice de Massa Corporal; CA = Circunferência Abdominal;
autoalongamento dos principais músculos solicitados, o qual PAS = Pressão Arterial Sistólica; PAD = Pressão Arterial Diastólica; Inter
foi previamente orientado. Após cada sessão de AF, repetia-se Pré = grupo intervenção pré DMII; Inter Pós= grupo intervenção pós
os exercícios de autoalongamento. DMII; p = Teste t de Student.
Para verificar a normalidade da amostra, foi realizado
o Teste de Kolmogorov-Smirnov. Para testar diferença das Para a Tabela II, verificam-se através de média e desvio-
médias do grupo verificadas nos pré e pós-intervenção foi -padrão uma redução significativa no grupo intervenção pré
utilizado o teste “t” de Student. A Correlação de Pearson foi 53 ± 5,9 e pós 52,1 ± 5,9 no que se refere à atitude frente ao
utilizada para correlacionar o grupo pré e pós-intervenção. DMII (ATT-19) (p = 0,004). Quanto à escala de conhecimen-
Para a consistência interna dos mesmos testes, foi utilizado to de DMII (DKN-A) houve p = 0,008, intervenção pré 6 ±
o Teste Alpha de Crombach. Os dados foram analisados 3,9 e pós 8,5 ± 2,5; constatando que o nível de entendimento
no programa estatístico SPSS, versão 20.0. O intervalo de sobre a DMII aumentou após as atividades educativas, no
confiança adotado foi de 95%, sendo considerado signifi- período de 2 anos, para ambos os grupos.
cativo p < 0,05.
Tabela II - Tabela de correlação do nível de conhecimento e atitude
Resultados dos idosos frente a diabetes mellitus tipo 2 no pré e pós intervenção
fisioterapêutica.
Dos 1919 (100%) idosos investigados, a idade apresentou Características Pré Pós r
um valor médio de 68,73 ± 6,99. A maioria tinha 65 anos (n = 1919) (n = 1919)
ou mais; houve predomínio do sexo feminino 1705 para 214 ATT-19 53 ± 5,9 52,1 ± 5,9 0,004
do sexo masculino. DKN-A 6 ± 3,9 8,5 ± 2,5 0,004
Sobre o nível de instrução, 1184 (62%) eram alfabetizados As variáveis estão descritas em média e desvio-padrão, respectivamente.
e 735 (38%) analfabetos, sendo que 826 (43%) estudaram ATT-19 = atitudes do idoso frente ao diabetes mellitus; DKN-A = escala
até 8 anos de escola regular. de conhecimento sobre a diabetes mellitus; Pré = grupo intervenção pré
A renda familiar mensal dos idosos (70%) era em média DMII; Pós = grupo intervenção pós DMII; r = Correlação de Pearson.
até 3 salários mínimos.
Na Tabela I, relação ao índice de massa corporal a média Na Figura 1, verifica-se a dispersão dos escores obtidos em
pré-intervenção fisioterapêutica foi 28,79 ± 5,27, e 27,74 ± relação às atitudes de enfrentamento apresentadas pelos idosos
4,89 pós-intervenção, indicando na média o sobrepeso dos com diabetes mellitus, quando da aplicação do questionário
participantes, entretanto para o grupo intervenção foi possível ATT-19, pré e pós-intervenção. O escore mínimo é de 19
verificar uma redução significativa (p < 0,0001) para esses pontos e o máximo de 95 pontos. Escores maiores que 70
valores ao final do estudo. indicam atitude positiva frente à doença [9]. Quanto aos es-
Também para o grupo intervenção foi possível observar cores de atitude, obteve-se que 1151 (60%) dos participantes
uma redução significativa (p < 0,0001) para os valores de cir- apresentaram escores entre 35 a 78 pontos. No entanto, ainda
304 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

indicando baixa prontidão para o aprendizado da doença. investigou os fatores de risco cardiovasculares, relacionados
Cabe destacar que apenas 95 (5%) dos idosos obtiveram à atividade física e/ou nutrição de pacientes com hipertensão
escores maiores que 70 pontos. arterial, mostrou que mudanças no estilo de vida, combi-
nadas a hábitos alimentares saudáveis e regular prática de
Figura 1 - Escores obtidos pelos idosos com diabetes mellitus tipo 2, exercícios físicos constituem aspectos importantes a serem
no questionário ATT- 19 em relação às atitudes de enfrentamento considerados nas intervenções voltadas ao controle desta
da doença pré e pós orientações fisioterapêuticas. doença [16]. Portanto, a hipertensão arterial está geralmente
80 associada a outros fatores de risco, ora tardios, cardiovasculares
70
e metabolicamente associada à dislipidemia, à intolerância
à glicose, à obesidade central e ao índice de massa corporal
60 elevado. Estudos têm demonstrado que, na maioria dos
ATT pós

50 casos, o diagnóstico de DMII é realizado de forma tardia


e que existe um subdiagnóstico dessa doença. Na maioria
40 dos casos, quando é diagnosticado, o paciente já apresenta
30 algum tipo de complicação [10,17,18]. No presente estudo,
uma das dificuldades encontradas para alcançar as metas do
20
30 40 50 60 70 80 bom controle pressórico, IMC, circunferencia abdominal
ATT pré refere-se a dificuldade para adesão ao tratamento que é o
maior desafio no atendimento ao idoso com DMII. A adesão
Discussão ao tratamento tem implicação no cumprimento do plano
alimentar, a realização de atividade física, das medicações
Dos 1919 sujeitos investigados, a maioria tinha mais de prescritas, nos horários indicados e nas doses corretas, além do
65 anos, o que corrobora um estudo multicêntrico sobre a comparecimento às consultas médicas, realização de exames
prevalência de diabetes mellitus, no Brasil, mostrando que laboratoriais e a participação do Sistema de Cadastramento e
sua frequência aumentada gradativamente após os 50 anos Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos – Hiperdia.
de vida. Este estudo destacou também a importância desta Para mudar esse cenário, é necessário que a equipe mul-
doença como problema de Saúde Pública, relacionando a tiprofissional, adote estratégias direcionadas à identificação
tendência progressiva de envelhecimento da população [10]. do risco individual como o reconhecimento das variáveis que
Em relação ao gênero, neste estudo, houve predominância possam interferir na adesão terapêutica instituída aos idosos.
do sexo feminino. As características dos idosos em relação ao Em relação ao conhecimento dos usuários com DMII,
sexo e idade mantiveram características semelhantes àquelas quando da aplicação do questionário DKN-A, mostrou que
descritas em estudos não randomizados que mostraram a os idosos obtiveram escores maiores, com média de 8,3, in-
predominância no sexo feminino [11,12]. dicando resultado satisfatório para a compreensão acerca do
Ao considerar que a maioria dos investigados apresenta autocuidado da doença, comparado com os valores no início
idade superior a 65 anos, necessário se faz reforçar a importân- da intervenção fisioterapêutica. Esse achado vai ao encontro do
cia da elaboração de um programa educativo com estratégia estudo realizado em uma cidade do interior paulista, com 54
de aprendizagem de adulto. pacientes com diabetes mellitus, em seguimento por 12 meses
Em relação à escolaridade, os sujeitos apresentaram baixo em programa de educação em diabetes mostrou que houve
grau de instrução, 43%, com até 8 anos de estudo, em con- aumento significativo do conhecimento com destaque para os
cordância com outros estudos em São Paulo [8,13]. No que tópicos gerais da doença relacionados ao conceito, fisiopatologia
tange a renda familiar, a maioria recebe até 3 salários mínimos, e tratamento da doença [19]. Desse modo, percebe-se o quanto
semelhante encontrada em outros estudos [8,13]. é importante para a aquisição de conhecimento o oferecimento
Quanto ao índice de massa corporal, constatou-se que os de estratégias educativas nos serviços de saúde.
idosos participantes têm sobrepeso, corroborando pesquisado- Diante do achado, reconhece-se que o conhecimento
res que estimam 80% dos acometidos com DMII apresentam científico acerca do diabetes mellitus é um recurso relevante
obesidade ou excesso de peso [14]. para direcionar a equipe multiprofissional para a tomada de
A circunferência abdominal dos indivíduos tende a di- decisões clínicas para o tratamento da doença, como também
minuir durante o período de intervenção fisioterapêutica, para prepará-la para educar os diabéticos, especialmente os
porém ainda está acima dos parâmetros estabelecidos pela idosos, para o conhecimento e adesão ao autocuidado [20].
OMS, que recomenda valores de circunferência abdominal Em relação aos escores obtidos pela aplicação do Questioná-
para os homens de 90 cm e para as mulheres de 85 cm [15]. rio de Atitudes Psicológicas do Diabetes o ATT-19, constatou-se
Também os valores pressóricos hemodinâmicos dos idosos que a maioria dos participantes apresentou escores inferiores
apresentam uma diminuição, comparando o início e final da a 70 pontos, o que indica que ainda não alcançaram a atitude
intervenção fisioterapêutica. Estudo realizado no Brasil, que positiva necessária frente às modificações esperadas no estilo de
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 305

vida para obtenção de um bom controle metabólico. Por outro 2. Rotter DL, Hall JA, Merisca R, Nordstrom B, Cretin D, Svarstad
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Revisão

Repercussões pressóricas do frio local:


a crioterapia deve ser administrada
com precaução em pacientes hipertensos?
Pressure repercussions for local cold: should cryotherapy
be used with precaution on hypertensive patients?
Isaac Brunno de Meneses Mamede Silva, Ft.*, Allan Cavalcante Oliveira, Ft.*, Rômulo da Silva Brito, Ft.*,
Marcelo Coertjens, Ft.**

*Universidade Federal do Piauí,Campus Parnaíba/PI, **Professor Assistente, Curso de Fisioterapia, Universidade Federal do Piauí,
Campus Parnaíba/PI

Resumo Abstract
Introdução: A crioterapia é um recurso que diminui a tempera- Introduction: Cryotherapy is a procedure that decreases the local
tura corporal local com finalidades terapêuticas. Uma importante body temperature for therapeutic purposes. A major consequence is
repercussão é a vasoconstrição local, que seria o desencadeador de um local vessel constriction, which is the trigger of a possible increase in
possível aumento na pressão arterial (PA). Entretanto, não existem the blood pressure (BP). However, there are no studies that testify
trabalhos que comprovem essa suposição. Nossa hipótese é que os this assumption. Our hypothesis is that the results of the Cold
resultados das pesquisas de Cold Pressor Test (CPT) avaliando PA Pressor Test (CPT) researches analyzing BP have eventually laid
acabaram historicamente fundamentando as precauções da criotera- the foundation of cryotherapy precautions regarding hypertensive
pia em relação a pacientes hipertensos. Objetivo: Realizar uma revisão patients. Objective: Literature review about cryotherapy precaution
de literatura a respeito das pesquisas que sustentam a precaução da on hypertensive patients and its relation with studies that used
crioterapia em indivíduos hipertensos e verificar sua relação com CPT. Methods: This was a literature review with online database
estudos que utilizaram o CPT. Material e métodos: Trata-se de uma research on Medline, Scielo, Lilacs and Google Scholar. Results:
revisão de literatura que utilizou as bases de dados online Medline, Although not unanimous, different researches, using CPT found
Scielo, Lilacs e Google Acadêmico para a realização da pesquisa. a significant increase of the muscular sympathetic nervous activity
Resultado: Apesar de não serem unânimes, diversas pesquisas que and the BP in normotensive and hypertensive individuals. We did
utilizaram o CPT encontraram significativos aumentos da atividade not find, however, studies that have proved significant BP responses
nervosa simpática muscular e da PA em normotensos e hipertensos, with cryotherapy use, especially in hypertensive patients. Conclu-
entretanto não encontramos estudos que tenham comprovado res- sion: There is no scientific evidence that supports the cryotherapy
postas significativas de PA com o uso da crioterapia, principalmente, precaution in hypertensive patients. Moreover, CPT studies are
em hipertensos. Conclusão: Não existem evidências científicas que not unanimous regarding pressure increase in normotensive and
comprovem a precaução da crioterapia em indivíduos hipertensos. hypertensive individuals.
Além disso, os estudos com CPT não são unânimes em relação aos Key-words: cryotherapy, hemodynamics, hypertension, blood
aumentos pressóricos em indivíduos normotensos e hipertensos. pressure.
Palavras-chave: crioterapia, hemodinâmica, hipertensão, pressão
arterial.

Recebido em 5 de dezembro de 2012; aceito em 24 de junho de 2013.


Endereço para correspondência: Marcelo Coertjens, Universidade Federal do Piauí Campus de Parnaíba, Avenida São Sebastião, 2819, Reis Velloso,
64202-020 Parnaíba PI, E-mail: coertjens@hotmail.com
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Introdução susceptibilidade dos indivíduos em desenvolverem HA [18].


Apesar de utilizar a aplicação de frio local geralmente com a
O uso terapêutico do frio local na medicina remonta desde imersão de um segmento corporal, seus protocolos são bastan-
a Idade Antiga, onde segundo dados históricos, em 2.500 anos te diferentes daqueles utilizados pela crioterapia. Além de não
a.C., os egípcios já o utilizavam no tratamento de feridas e apresentar objetivos terapêuticos, a temperatura e a duração
fraturas de crânio [1]. Atualmente, a utilização do frio local das sessões são bem menores, variando entre 1 a 5°C durante 1
para fins reabilitativos denomina-se crioterapia, sendo uma a 6 min, respectivamente [19-21]. Estudos utilizando o CPT
das técnicas bastante utilizada no tratamento agudo de lesões têm verificado significativo aumento da atividade nervosa
musculoesqueléticas [2-7] e para a geração de analgesia [8-10]. simpática muscular (ANSM) e da PA [19], tanto em indiví-
A técnica de crioterapia pode ser entendida como um duos normais como em hipertensos [21,22]. Nossa hipótese
recurso que diminui a temperatura corporal com finalidades é que a quantidade e a robustez dos estudos que utilizaram o
terapêuticas, seja de maneira sistêmica ou local, podendo ser CPT acabaram influenciando a normatização da terapêutica
empregada sob diferentes modalidades nas formas sólida, crioterápica no que se refere aos indivíduos hipertensos. Neste
líquida ou gasosa. Dentre estas, podemos citar a imersão em sentido, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de
água com gelo, compressas frias comerciais, massagem com literatura a respeito das pesquisas que sustentam a precaução
gelo, bolsa de gel, água com álcool, turbilhões frios, sprays, da crioterapia em indivíduos hipertensos e verificar sua relação
entre outras [6,7,11]. A eficácia deste recurso terapêutico sofre com estudos que utilizaram o CPT.
influência de fatores como duração da aplicação, temperatura
inicial do material que irá resfriar o tecido, a região anatômica Material e métodos
e as modalidades que serão utilizadas. Não existem, no entan-
to, evidências para determinar qual a modalidade, duração Este estudo trata de uma revisão de literatura que foi
ou frequência ideais para resultados reabilitativos [6,8], como realizada nos bancos de dados online Medline (Medical
também, pouco embasamento teórico por parte da maioria Literature, Analysis and Retrieval System Online), Scielo
dos fisioterapeutas [12] em relação aos seus procedimentos. (Scientific Electronic Library Online), Lilacs (Literatura
De modo geral as principais repercussões fisiológicas ob- Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências
servadas durante sua aplicação são as reduções do metabolismo da Saúde) e Google Acadêmico. Foram encontrados 82 arti-
tecidual, das reações do processo inflamatório [6,8,10], da gos, 5 livros, 1 diretriz, 1 tese de doutorado e 1 dissertação
condutibilidade nervosa e do fluxo sanguíneo local [4] que de mestrado que abordavam itens da temática desta revisão.
proporcionarão os efeitos terapêuticos esperados. Outro efeito Dessa forma, foram selecionados 27 artigos, 5 livros, 1 dire-
decorrente de sua utilização é a diminuição no diâmetro do triz, 1 tese de doutorado e 1 dissertação de mestrado datados
lúmen vascular, ocasionando vasoconstrição local [12]. Em de 1984 a 2011. Os termos utilizados foram: blood pressure,
função disso, existem algumas contraindicações para o uso cold pressor test, cryotherapy, hypertension, water immersion
desta técnica em indivíduos com feridas abertas, alergia, individualmente e em cruzamento. Como critério de inclu-
hipersensibildade ao frio, pele anestesiada, dentre outras são a literatura deveria abordar a crioterapia de modo geral,
[3,13], além de precauções ligadas a fatores psicológicos e a bem como suas influências e correlações ao metabolismo, em
hipertensão arterial (HA) [14]. Esta última tem sido atribuída especial as respostas pressóricas. Foram excluídos os artigos
a um possível aumento da pressão arterial (PA) gerada pelo que, apesar de abordarem o tema, não especificavam de forma
aumento da resistência vascular periférica provocada pela clara e objetiva a abordagem metodológica e os resultados da
vasoconstrição local [15]. pesquisa. O período de realização da pesquisa bibliográfica
Apesar da coerência fisiológica desse argumento, não foi de setembro de 2011 a outubro de 2012. Os artigos foram
existem informações precisas que comprovem cientificamente analisados individualmente tanto no seu conteúdo quanto
alguma repercussão negativa da crioterapia em indivíduos no seu referencial teórico com a finalidade de abranger o
hipertensos. Em um estudo realizado por Rosa et al. [16], universo da temática abordada e facilitar o acesso a artigos
foi verificado que a literatura se apresenta conflitante em potencialmente utilizáveis. Nesta pesquisa não houve restrição
relação aos efeitos relacionados à circulação e que poucos quanto à língua, sendo incluídos artigos na língua portuguesa,
estudos tem analisado variáveis hemodinâmicas em situações inglesa e francesa.
semelhantes à crioterapia. Outros autores afirmam apenas ser
necessária cautela na aplicação desta técnica neste grupo de Resultados e discussão
pacientes [7,14], sendo que Cluzeau [17] cita que a mesma
é contraindicada apenas em hipertensos graves. A crioterapia vem sendo definida como uma técnica
Apesar dessa escassa comprovação, existem trabalhos que terapêutica de qualquer substância sobre o corpo que re-
utilizam outras técnicas de aplicação do frio local. O CPT mova o calor do mesmo, resultando em uma diminuição da
é um método historicamente utilizado para avaliar as reper- temperatura tecidual [23]. Embora não tenha seus efeitos
cussões cardiovasculares do frio local, bem como predizer a totalmente elucidados [9], comumente ela tem sido utilizada
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no tratamento e reabilitação de lesões musculoesqueléticas atingir a temperatura recomendada para analgesia. Podemos
agudas [2-7], atenuando os sinais e sintomas inflamatórios considerar que o resultado obtido por Leventhal et al. [7], de
característicos (dor, edema, calor e rubor) [16]. Consiste numa que a bolsa de gel foi mais eficaz para o resfriamento superficial
técnica que utiliza a aplicação de modalidades de frio, promo- cutâneo, possa ser explicado pela mesma hipótese levantada
vendo uma redução na temperatura cutânea para valores entre por Dykstra et al. [26], sobre a capacidade da modalidade em
18,3°C e 0°C [3], levando a respostas locais e sistêmicas, que se moldar ao corpo.
podem estar relacionadas com a temperatura da modalidade, Kanlayanaphotporn e Janwantanakul [4] compararam
a duração e a superfície expostas ao tratamento [6]. a redução da temperatura da pele, frente às aplicações de
Para Swenson et al. [8], no entanto, os efeitos da crio- bloco de gelo, bolsa com mistura de água e álcool, bolsa de
terapia seriam induzidos apenas localmente sem interferir gel e ervilhas congeladas em 50 mulheres submetidas a 20
nos tecidos circundantes. Neste sentido, uma das principais min de aplicação. Neste estudo, o arrefecimento cutâneo foi
repercussões do frio no sistema circulatório seria a diminui- superior com o bloco de gelo e a mistura de água e álcool,
ção do fluxo sanguíneo local, contribuindo no controle da bem como somente estas duas modalidades produziram
hemorragia intratecidual inicial e limitando a extensão da efeito analgésico (temperatura média da superfície da pele
lesão através da vasoconstrição local [12]. Além disso, pro- foi inferior a 13,6ºC), quando comparadas com as demais.
porciona a redução do metabolismo tecidual e da resposta Este estudo contraria Leventhal et al. [7], pois a aplicação da
inflamatória [4,23], contribuindo de forma direta ou indireta bolsa de gel não produziu efeito terapêutico analgésico, uma
no mecanismo de analgesia. vez que a temperatura média atingida pela superfície da pele
Quando corretamente indicada e utilizada, a crioterapia foi superior a 13,6°C durante a aplicação dessa modalidade,
pode inibir o processo álgico [24]. Entretanto esta analgesia sendo observada a necessidade de uma maior duração da
está dentro de uma abordagem complexa, já que a temperatura aplicação para produzir analgesia. Analisando assim os
ideal para obtenção das respostas terapêuticas ainda estão trabalhos anteriores fica claro que quanto maior for a queda
rodeadas de algumas contradições dentro da literatura. Para da temperatura cutânea, maior será a eficácia terapêutica.
Starkey [3] estes benefícios terapêuticos com a aplicação do Em uma revisão realizada por Auley [25], foi afirmado
frio ocorrem quando a temperatura cutânea atinge 13,8°C, existir poucas evidências do efeito da gordura subcutânea
diminuindo assim o fluxo sanguíneo local e a 14,4°C ocor- sobre a temperatura intramuscular, mas que a mesma deve
reria à analgesia. Enquanto Bugaj apud Kanlayanaphotporn ser considerada durante a aplicação da crioterapia. Myrer
e Janwantanakul [4] afirma que a analgesia começa quando a et al. [27] avaliaram o efeito da gordura subcutânea sobre
temperatura diminui para 13,6°C, Leventhal et al. [7] e Auley o resfriamento da temperatura local, aplicando pacotes de
[25] defendem que o objetivo da crioterapia está em reduzir gelo triturado em indivíduos sadios, divididos em grupos de
a temperatura do local aplicado para 10 a 15°C. acordo com a espessura da gordura subcutânea: menor ou
Dykstra et al. [26] analisando a temperatura intramuscular igual a 8 mm, 10 a 18 mm e 20 mm. Os autores monitoraram
e cutânea de 12 indivíduos utilizaram três modalidades de a temperatura intramuscular a 1 e 3 cm abaixo da gordura
crioterapia: cubos de gelo, gelo moído e gelo úmido, este subcutânea da perna esquerda dos pesquisados. Os valores
último sendo constituído por cubos de gelo adicionados a 300 de diminuição da temperatura para 1 cm de profundidade
ml de água. Diante dos resultados encontrados na pesquisa, foram de 14,4°C para espessuras menores ou iguais a 8 mm,
os autores verificaram que o gelo úmido gerou maior dimi- de 9°C para espessura de 10 a 18 mm e de 5°C para 20 mm,
nuição na temperatura intramuscular (6°C) e na superfície enquanto que para a profundidade de 3 cm as reduções na
(17°C), quando comparada às outras modalidades que tiveram temperatura foram de 6,2°C, 3,8°C e 2,4°C, respectivamente.
decréscimo, respectivamente, de 4,3°C e 15°C para o gelo Com isso, verificaram que a quantidade de tecido adiposo no
moído e de 4,8°C e 14,1°C para os cubos de gelo. Os autores local da terapia foi um fator importante na mudança dessa
levantaram a hipótese de que a maior eficácia do gelo úmido temperatura, tanto durante como após a aplicação da técni-
possa ser devido ao maior contato entre a modalidade e a pele, ca, pois valores de temperatura significativamente diferentes
bem como da sua capacidade de se moldar as superfícies da foram observados entre os grupos. De uma forma geral, na
área de tratamento. prática a maioria das pesquisas com crioterapia relatam seus
Leventhal et al. [7], comparando a eficiência do resfria- resultados sem levar em conta a heterogeneidade das carac-
mento cutâneo durante 20 min por três modalidades - bolsa terísticas antropométricas e das propriedades físicas de suas
de gelo, bolsa de gel e bolsa com mistura de água e álcool - modalidades [4], o que faz com que seus efeitos fisiológicos
para obtenção de analgesia de 32 puérperas, verificaram que sejam tema de discussões quanto às dificuldades para explicar
nos três grupos, a partir do 5o até o 20o min, as médias das os mecanismos envolvidos sobre os diferentes tecidos e suas
temperaturas superficiais do local aplicado ficaram entre 3,5°C respostas celulares [8].
e 8°C. Neste estudo a bolsa de gel obteve o menor valor e, por- Do ponto de vista científico, a crioterapia é uma técnica
tanto, maior eficiência para redução da temperatura cutânea, com pouco embasamento teórico por parte da maioria dos
embora as demais modalidades também tenham conseguido fisioterapeutas [12]. Por exemplo, existem relatos que afirmam
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 309

que não existem evidências para apontar qual modalidade, decorrentes da aplicação do frio. No entanto, embora na prática
duração ou frequência são considerados ideais para o trata- clínica não haja relatos do uso do CPT para fins terapêuticos e
mento das lesões [6] levando a maioria dos profissionais de sim como preditor de HA [18], Swenson et al. [8] consideram-
saúde a se basearem, principalmente, em evidências clínicas -no, também, como uma modalidade de crioterapia, que utiliza
e empíricas [8] e em poucas pesquisas científicas. a imersão de um segmento corporal em água, com temperaturas
Um dos aspectos que ainda não foram totalmente escla- entre 1 a 5°C, durante 1 a 6 minutos [19-21].
recidos são as repercussões hemodinâmicas. Na literatura é Garg et al. [30] avaliaram as respostas da pressão arterial
perceptível a carência de pesquisas apropriadas e específicas diastólica (PAS) e da pressão arterial diastólica (PAD) com o
ao assunto, gerando evidências insuficientes para elucidar os uso do CPT em 200 indivíduos, sendo 100 cujos pais eram
mecanismos fisiológicos intrínsecos às adaptações provocadas hipertensos e 100 de pais normotensos com faixa etária
com o uso dessa técnica. Além disso, não existe um consenso entre 16 a 24 anos. Os indivíduos foram classificados em
em relação aos resultados dos estudos que avaliaram variáveis hiperreatores (PAS e PAD elevando-se mais de 22 mmHg
hemodinâmicas sistêmicas, bem como um número reduzido e 18 mmHg, respectivamente) e em normorreatores (PAS e
de trabalhos que analisaram essas variáveis a partir de aplica- PAD elevando-se abaixo desses valores). Antes da aplicação
ções de modalidades crioterápicas. do teste as médias da PAS e PAD dos filhos de normotensos
Dentro dessa abordagem e atualmente considerado um eram de 112 ± 9 mmHg e 75 ± 8 mmHg, respectivamente.
significante problema de saúde pública [28], a hipertensão Após a imersão passaram para 133 ± 11,5 mmHg e 88 ± 10
arterial sistêmica (HAS) aparece como uma das afecções mmHg. Já no grupo de filhos de hipertensos as médias da
correlatas às implicações provocadas pela crioterapia, visto PAS e PAD pré-teste estavam em 113 ± 11 mmHg e 75 ± 9
que a técnica exerce influência sobre a fisiologia vascular mmHg e atingiram no pós teste os valores de 139 ± 14 mmHg
[23]. Relatos de problemas decorrentes ao uso da crioterapia e 92 ± 12 mmHg. A PAS e PAD após a imersão mostrou
são raros, entretanto alguns autores afirmam ser necessária aumento estatisticamente significativo em ambos os grupos,
cautela na aplicação desta técnica em pacientes hipertensos entretanto os filhos de pais hipertensos apresentaram valores
[7,14] enquanto outros a consideram contraindicada apenas significativamente maiores em comparação aos filhos de pais
para hipertensos graves [17]. normotensos. No grupo dos filhos de hipertensos, 64% fo-
Existem estudos que verificaram aumentos pressóricos ram hiperreatores e no de normotensos somente 31%. Desta
significativos e por curto prazo, induzido pela crioestimulação forma, o CPT desencadeou respostas pressóricas maiores nos
de corpo inteiro (-100 º C a -160 ° C) em indivíduos normo- indivíduos com histórico de hipertensão na família.
tensos [29], porém não existem informações científicas rele- Neste sentido, é possível propor que o CPT seja, realmen-
vantes que corroborem que a crioterapia local possa ser vista te, um relevante preditor de HA, podendo estes achados serem
como uma técnica de precaução para indivíduos hipertensos reforçados pelo trabalho de Wood et al. [18], que realizaram
diante das alterações circulatórias verificadas. Um dos poucos um estudo longitudinal com duração de 45 anos. Nesta pes-
trabalhos que avaliaram as respostas circulatórias induzidas quisa composta por 142 indivíduos inicialmente investigados
pela crioterapia foi o de Waylonis apud Swenson et al. [8] o com o CPT, 48 mostraram-se hiperreatores, sendo desses 34
qual não encontrou mudanças na frequência cardíaca (FC), (71%) desencadearam hipertensão a longo prazo e dos 94
na pressão arterial (PA) e no eletrocardiograma utilizando normorreatores, somente 18 (19%) se tornaram hiperten-
massagem com gelo sobre a região da panturrilha durante sos. Foi encontrada, dessa forma, uma correlação entre as
5-10 min em seus pacientes. Esses resultados poderiam estar respostas geradas pelo CPT e o desenvolvimento de HA nos
supostamente relacionados à forma como foi realizada a apli- anos subsequentes.
cação da modalidade, o que por influência do emprego de Em um estudo formado por 25 indivíduos normotensos,
movimentos circulares e longitudinais, feitos geralmente em com idades de 18 a 30 anos e utilizando o CPT durante 2
pequenas áreas, não proporcionasse uma queda da tempera- min, foram avaliadas a FC, a PA e a ANSM [22]. O valor
tura cutânea e no fluxo sanguíneo significativo. médio da pressão arterial média (PAM) no fim do período
Outros autores realizaram pesquisas para avaliar repercus- de controle foi de 93 ± 2 mmHg elevando-se para 113 ± 2
sões hemodinâmicas em condições semelhantes à crioterapia. mmHg ao final do CPT, a FC que estava em torno de 63 ±
Neste sentido, o CPT aparece como um teste padrão utilizado 2 bpm no período de controle passou para 70 ± 3 bpm no 1o
para avaliar a atividade nervosa simpática sistêmica e medir a min do CPT e decaiu no 2o min do teste para 66 ± 3 bpm e
resposta da PA e da FC ao estímulo do frio. Além disso, por a atividade total da ANSM ao final do período de controle foi
conta da sua capacidade de provocar vasoconstrição arteriolar de 230 ± 27 impulsos/min para 574 ± 73 impulsos/min no
o mesmo tem sido utilizado para prever o risco subsequente de 2o min do teste [22]. Em suma, nesta pesquisa o CPT gerou
hipertensão em normotensos [20]. Frente à carência de estudos um aumento da PA e da ANSM de forma significativa, sem,
avaliando adaptações hemodinâmicas durante a utilização contudo provocar relevantes alterações na FC.
da crioterapia, os estudos com CPT acabam servindo como Cavalcante et al. [31] estudaram a diferença do compor-
associação para compreender os fenômenos hemodinâmicos tamento da PA em 32 adolescentes divididos em grupos de
310 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

filhos de normotensos e hipertensos (13 a 18 anos), frente isquêmico por meio da redução adicional do fluxo sanguíneo
a estímulos de um teste de exercício aritmético mental, de e desencadear fenômenos vasoespásticos [32]. Para esses casos,
um CPT e de um teste de exercício isométrico. Verificaram sem dúvida, algumas precauções ou contraindicações devem
que com o uso do CPT nos filhos de normotensos, a PAS e ser tomadas, como em indivíduos crioglobulinêmicos, que
a PAD basais que eram de 99 e 54 mmHg elevaram-se para podem sofrer isquemia ou gangrena em baixas temperaturas
116 e 70 mmHg, respectivamente. Nos filhos de hipertensos em função de níveis proteicos anormais no sangue [33], ou
também ocorreram acréscimos nas PAS e PAD basais de 103 em indivíduos com vasculopatias ateroscleróticas e disfunções
e 56 mmHg para 123 e 74,5 mmHg, respectivamente. Com vasoespásticas (Fenômeno de Raynaud) [34,35].
relação aos valores basais não houve diferença significativa
entre os grupos. Ambas as aferições finais foram feitas ime- Conclusão
diatamente após a aplicação do estímulo de modo que a PA
repercutiu aumentando em ambos os grupos, sendo maior Diante dos resultados das repercussões do CPT e da
em filhos de hipertensos. No entanto, o estímulo do CPT não crioterapia nas variáveis hemodinâmicas, desejamos levantar
gerou respostas pressóricas significativas em ambos os grupos. discussão a respeito dessas técnicas na prática clínica diária.
Alterações significativas foram encontradas apenas na PAD Em primeiro lugar, não existem, atualmente, evidências
após o teste do exercício aritmético mental. científicas robustas comprovando alterações hemodinâmi-
Mourot et al. [21] estudaram 39 indivíduos, utilizando o cas significativas durante procedimentos crioterápicos. Em
CPT com imersão da mão esquerda na água com temperatura segundo, apesar de existirem algumas comprovações que o
de 0 a 1ºC durante 3 min. Os grupos foram divididos em CPT possa alterar valores hemodinâmicos basais, seus resul-
CPTi (grupo cujos participantes sofreram aumento susten- tados não são unânimes e nem todos constataram diferenças
tado da FC durante o teste, 20 indivíduos) e CPTd (grupo no comportamento pressórico entre indivíduos normoten-
cuja FC reduziu mais de 5 bpm após um aumento inicial, 19 sos e hipertensos. Além disso, as pesquisas analisadas que
indivíduos). As principais variáveis hemodinâmicas analisadas verificaram aumento estatisticamente significativo da PA
foram FC, PAS, PAD e resistência periférica total (RPT). As não se preocuparam em discutir se estas alterações podem
variáveis pressóricas e a RPT apresentaram aumento significa- gerar repercussões significativas durante um tratamento, a
tivo ao longo do teste em ambos os grupos sem apresentarem ponto de tornar as terapias que promovam arrefecimento
diferenças significativas. cutâneo local um fator de risco a pacientes com alterações
Lafleche et al. [19] realizaram um trabalho composto por hemodinâmicas.
10 pacientes hipertensos limítrofes com idades entre 21-58 Vale ressaltar ainda, que os procedimentos que caracteri-
anos e 10 normotensos com idades entre 28-45 anos. Os zam o CPT, objetivam por meio de uma desordem fisiológica
autores analisaram o comportamento da PAS, PAD, PAM, fazer uma avaliação de variáveis hemodinâmicas e não o
pressão de pulso (PP) e da FC com a utilização do CPT du- tratamento, tal como verificado na crioterapia. Deste modo,
rante 5 min. Por decorrência do uso do CPT aumentaram-se por não existir um embasamento científico que comprove um
todas as variáveis pressóricas em ambos os grupos, sem alterar prejuízo hemodinâmico significativo durante a aplicação de
a FC durante o teste. A PAS aumentou desde o 1o min até modalidades crioterápicas, fica claro a necessidade de uma
o final do teste em ambos os grupos, a PP apenas em indiví- discussão entre a comunidade científica e os profissionais da
duos normais e na PAD, o aumento foi observado somente área a respeito da relação dos riscos e benefícios dessas técnicas
até o 2o min em pacientes hipertensos e no 3o min no grupo em protocolos de tratamento de pacientes hipertensos ou com
controle. Na pesquisa os valores basais da PAS em indivídu- comprometimento cardiovascular.
os normotensos e hipertensos eram de 113 ± 10 e 144 ± 8
mmHg, respectivamente, passando para 126 ± 13 e 154 ± 9 Referências
mmHg com o CPT. Na PAD os valores basais desses grupos
foram de 68 ± 6 e 83 ± 7 mmHg para 72 ± 7 e 88 ± 9 mmHg 1. Antunes PA, Antunes AP, Silva PV. Papel da criocirurgia no
após a imersão. O aumento da PA em função do CPT foi tratamento das neoplasias cutâneas do segmento cabeça e pes-
significativo em ambos os grupos, sendo que esse aumento foi coço: análise de 1900 casos. Rev Col Bras Cir 2006;33:112-5.
2. Myrer JW, Measom G, Fellingham GW. Temperature changes
significativamente maior nos hipertensos limítrofes.
in the human leg during and after two methods of cryotherapy.
Com base nos assuntos supracitados fica clara a complexi-
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dade do tema, cercada pela necessidade de pesquisas que escla- 3. Starkey C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. 2ª ed. São
reçam de forma direta as respostas do frio local nas variáveis Paulo: Manole; 2001.
hemodinâmicas, em especial a PA. Essa discussão não objetiva 4. Kanlayanaphotporn R, Janwantanakul P. Comparison of skin
levantar dúvidas quanto ao uso criterioso da crioterapia. Pelo surface temperature during the application of various cryo-
contrário, é indispensável que o terapeuta deva estar atento therapy modalities. Arch Phys Med Rehabil 2005;86:1411-5.
para afecções que comprometam parâmetros hemodinâmicos, 5. Sandoval RA, Mazzari AS, Oliveira GD. Crioterapia nas lesões
pois a crioterapia pode, por exemplo, agravar um quadro ortopédicas: revisão. Rev Digital Buenos Aires 2005;10(81).
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6. Bleakley CM, Mcdonough SM, Macauley DC. Cryotherapy 22. Victor RG, Leimbach WN, Seals DR, Wallin BG, Mark AL.
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312 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Revisão

Prematuridade e lesão pulmonar induzida pela


ventilação pulmonar mecânica
Prematurity and lung injury induced by mechanical ventilation
Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Ft., D.Sc.*, Adriane Pires Batiston, Ft., D.Sc.*, Arthur de Almeida Medeiros, Ft.,
M.Sc.**, Leila Simone Foerster Merey, Ft, M.Sc.*, Elis Regina da Silva Ferreira, Ft.***, Durval Batista Palhares, D.Sc.****

*Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, **Universidade de Cuiabá, ***Universidade Católica Dom Bosco, ****Médico neo-
natalogista, pós-doutorado, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo Abstract
Introdução: Há fortes evidências de que a exposição do pulmão Introduction: There is strong evidence that exposure of the lung
do recém-nascido, principalmente do prematuro, à ventilação of the preterm infant to mechanical ventilation and oxygen can
pulmonar mecânica e ao oxigênio podem prejudicar o processo de disrupt the process of developing pulmonary and non-pulmonary
desenvolvimento pulmonar e não-pulmonar do prematuro. Objetivo: premature. Objective: To review the literature and present the main
Revisar a literatura e apresentar os principais mecanismos de lesão mechanisms of lung injury induced by mechanical ventilation
pulmonar induzida pela ventilação pulmonar mecânica em recém- in preterm infants. Methods: This systematic review included the
-nascidos prematuros. Metodologia: Realizou-se uma pesquisa siste- literature on MedLine, Lilacs and SciElo database published in the
mática dos artigos incluídos na MedLine, Lilacs e SciElo dos últimos last 13 years, using the subject descriptors: “Prematurity”, “Acute
13 anos, utilizando-se os descritores de assunto: “Prematuridade”, Lung Injury”, “Mechanical Ventilation” and “Bronchopulmonary
Lesão Pulmonar Aguda”, “Ventilação Mecânica” e “Broncodisplasia Dysplasia”. Results: Mechanical ventilation and oxygen produce
Pulmonar”. Resultados: A ventilação mecânica e o oxigênio, embora various biochemical and mechanical stimuli that induce lung in-
fundamentais para a sobrevida dos prematuros, produzem estímulos jury. The main mechanisms of ventilator-induced lung injury are:
mecânicos e bioquímicos diversos que induzem à lesão pulmonar. Os barotrauma, aletectrauma, rheotrauma and biotrauma. Conclusion:
principais mecanismos de lesão pulmonar induzida pela ventilação The mechanisms responsible for ventilator-induced lung injury
são: volutrauma, aletectrauma, rheotrauma e biotrauma. Conclusão: should be well understood to avoid or minimize the adverse effects
Os mecanismos responsáveis pela lesão pulmonar induzida pelo of mechanical ventilation and supplemental oxygen.
ventilador devem ser bem entendidos para evitar ou atenuar os Key-words: prematurity, mechanical ventilation, acute lung injury,
efeitos adversos da ventilação pulmonar mecânica e do oxigênio bronchopulmonary dysplasia.
suplementar.
Palavras-chave: prematuridade, ventilação mecânica, lesão
pulmonar aguda, broncodisplasia pulmonar.

Recebido 15 de julho de 2013; aceito 15 de agosto de 2013


Endereço para correspondência: Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Curso de Fisioterapia. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Cidade
Universitária, Bairro Universitário. 79070-900 Campo Grande MS, E-mail: maralisi@globo.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 313

Introdução 4 anos proporcionarão menores impactos a longo-prazo,


quando comparadas aos impactos de agressões pulmonares
A despeito dos importantes avanços assistenciais nos similares, ocorridas em um recém-nascido prematuro [11].
cuidados intensivos neonatais, um expressivo percentual de Prematuros extremos nascem durante o final do estágio
recém-nascidos, especialmente os prematuros, ainda necessi- canalicular do desenvolvimento pulmonar fetal (24-26 sema-
tam do suporte ventilatório por meio da ventilação pulmonar nas). Durante esse estágio ocorre o desenvolvimento das vias
mecânica (VPM) e oxigênio suplementar [1]. Entretanto, a aéreas distais e dos primeiros ácinos (bronquíolos respirató-
utilização da VPM está frequentemente associada a compli- rios, ductos alveolares e alvéolos rudimentares). Nesse estágio
cações como a Lesão Pulmonar Induzida pelo Ventilador há pequena diferenciação das células epiteliais das vias aéreas,
(LPIV) e a Displasia Broncopulmonar (DBP). tanto do tipo I (superfície através da qual ocorre a troca gaso-
Desde o primeiro relato da DBP suas características mu- sa), quanto as do tipo II (células produtoras do surfactante); e
daram, e possivelmente essa doença não possa ser totalmente a vascularização do denso mesenquima está apenas iniciando,
evitável no prematuro extremo. Entre todos os fatores que uma vez que as artérias pré-acinares acompanham a formação
contribuem para o desenvolvimento da DBP, a LPIV está entre das vias aéreas, e as intra-acinares acompanham a formação
os principais componentes que favorecem a ocorrência da do- dos alvéolos [8,10,11].
ença [2], bem para perdas significativas de função pulmonar, Os neonatos muito prematuros nascem no início do
as quais também podem ocorrer em prematuros submetidos estágio sacular do desenvolvimento (26-32 semanas). Nesse
à VPM e sem diagnóstico de DBP. O reconhecimento dos fa- estágio há maior diferenciação das vias aéreas periféricas e
tores de risco e a adoção de estratégias ventilatórias adequadas estruturas acinares, as células epiteliais do tipo I estão mais
têm grande influência no desenvolvimento e/ou e evolução formadas, e as do tipo II estão imaturas. A vasculogênese
da lesão pulmonar [3], e podem ajudar a minimizá-la [4-8], ainda está incompleta, porém, mais desenvolvida, e a bar-
uma vez que a LPIV continua a ocorrer, e em proporções reira ar-sangue (superfície alvéolo-capilar) está começando a
inaceitáveis [9]. se formar, com consequente aumento da superfície de troca
Uma grande dificuldade está na identificação, em curto gasosa [8,10,11].
prazo, da ação dos diversos mecanismos de injúria, pois a lesão Nenhum desses estágios de desenvolvimento é compatível
ocorre inicialmente em nível molecular e microscópico, sem com a respiração independente, e as crianças cujos nascimen-
sinais clínicos evidentes. tos ocorrem durante essas idades gestacionais necessitam de
Assim, é fundamental que os profissionais da saúde se algum tipo de suporte ventilatório e de oxigênio suplemen-
apropriem das particularidades que tornam o pulmão do tar. A exposição precoce do pulmão prematuro ao ambiente
prematuro extremamente vulnerável ao desenvolvimento extra-uterino, à VPM e ao oxigênio pode alterar o processo
da LPIV, assim como dos diferentes mecanismos de lesão de desenvolvimento pulmonar [8].
decorrentes da VPM e oxigênio suplementar nas distintas Isso acontece porque a VPM e o oxigênio, embora funda-
fases do desenvolvimento pulmonar do recém-nascido pre- mentais para a sobrevida dessas crianças, produzem estímulos
maturo, para que medidas preventivas e protetoras possam ser mecânicos e bioquímicos diversos, podendo repercutir em
implementadas durante a atenção à saúde dessa população. lesões, cujas consequências são, conforme citado acima, o
O objetivo desse artigo é apresentar os principais mecanis- desenvolvimento anormal do pulmão prematuro [11,12].
mos de LPIV em recém-nascidos prematuros, contribuindo, A microscopia eletrônica evidencia, em modelos experimen-
desta forma, para a adoção de estratégias protetoras de venti- tais e humanos com LPIV, rompimento das células epiteliais
lação pulmonar mecânica para a prevenção da DBP. do tipo I, alterações difusas endoteliais e epiteliais na barreira
alvéolo-capilar, e ocasionalmente, rompimento, inundação e
Vulnerabilidade dos pulmões prematuros e a dano alveolar difuso [13]. As repercussões de tais alterações
LPIV são: insuficiente alveolização; redução da superfície de troca
gasosa; aumento da distância entre os alvéolos e capilares
A maturação estrutural e bioquímica do pulmão fetal - adjacentes, prejudicando a difusão de oxigênio; aumento da
como a formação e maturação alveolar, a diferenciação capi- permeabilidade capilar, ocasionando depósito de fibrina no
lar, o aumento do número e tamanho de células endoteliais espaço aéreo e impedindo a difusão dos gases; e, em alguns
alveolares e, consequentemente, o aumento da área de troca casos, muscularização excessiva das arteríolas, resultando em hi-
gasosa – estão em processamento até o final da gestação, e pertensão pulmonar e redução do fluxo sanguíneo. Além disso,
continuam a acontecer após o nascimento [10]. os recém-nascidos prematuros têm aumento da complacência
As mudanças na estrutura pulmonar e na formação dos da caixa torácica, proporcionando complicações adicionais na
alvéolos no início da vida têm importantes implicações para mecânica respiratória [14]. A ocorrência e severidade dessas
o entendimento do impacto das lesões na fisiologia e função alterações são desigualmente distribuídas nos pulmões [13].
pulmonar. Com esses conhecimentos, fica simples entender A LPIV também tem sido denominada como “trauma”
porque as agressões em um pulmão de uma criança de 2 a [15]. Durante muitos anos foi sinônimo de barotrauma, uma
314 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

vez que se observavam, macroscopicamente, os escapes de ar animais ventilados com elevados picos de pressão inspiratória,
para fora das vias aéreas, mais frequentemente o pneumotó- mas com a distensão pulmonar limitada pela restrição do
rax e o enfisema intersticial. Somente recentemente outros movimento inspiratório tóraco-abdominal [3].
mecanismos desencadeadores de alterações fisiológicas e No volutrauma pode ocorrer tanto o rompimento físico
morfológicas durante a VPM têm sido descritos [8,13], como das células, clinicamente identificado pelos escapes de ar e
o volutrauma, atelectrauma, rheotrauma e biotrauma [15]. aumento da permeabilidade alveolocapilar, quanto alterações
As forças mecânicas aplicadas durante a VPM podem mais sutis [16]. Em nível molecular e microscópico, implica
danificar o pulmão em duas maneiras: pelo rompimento em danos em células alveolares epiteliais, proliferação de pro-
físico de tecidos e células, com aumento da permeabilidade teínas para os alvéolos, alteração do fluxo linfático, formação
endotelial e epitelial, e também pela ativação de respostas de membrana hialina, e proliferação de células inflamatórias,
citotóxicas ou pró-inflamatórias [16]. O rompimento físico além de reduzir a complacência pulmonar e alterar a estrutura
é mais facilmente identificado, uma vez que as manifestações e função do surfactante [2,7].
clínicas são prontamente detectadas, como os escapes de ar. Na VPM com elevados volumes observa-se expressão de
As alterações mais sutis são evidenciadas por meio da micros- genes que estimulam a proliferação de células inflamatórias
copia eletrônica, e as consequências constatadas clinicamente [17]. Há evidências de que, após o nascimento, somente
[13,16]. poucas respirações com elevados volumes podem reduzir a
Tais alterações e suas repercussões são determinadas por complacência pulmonar e diminuir a resposta ao surfactante
diferentes mecanismos de lesão, os quais são descritos indi- exógeno em cordeiros com deficiência de surfactante [18].
vidualmente, porém, atuam sinergicamente [13]. Esses dados sugerem que as alterações em nível molecular
e microscópico decorrentes da agressão pela ventilação mecâ-
Barotrauma nica podem afetar a estrutura e a função pulmonar, e bastam
poucos movimentos respiratórios para que a lesão ocorra
O Barotrauma é definido como a lesão devido a altos picos [6,7]. Esse mecanismo de lesão tem sido considerado uma
de pressão inspiratória. O desenvolvimento de um gradiente importante causa da LPIV, pois está fortemente associado
de pressão entre os alvéolos e a bainha broncovascular adjacen- à lesão bioquímica e liberação de mediadores inflamatórios
te pode permitir que o gás extravase para o interstício, tecido durante a VPM [2,17].
subcutâneo, espaços pleural, pericárdico e peritoneal [16]. No caso específico dos prematuros, inúmeros fatores au-
Até pouco tempo se acreditava que a pressão excessiva mentam a suscetibilidade do pulmão ao volutrauma, como a
em vias aéreas provocava o Barotrauma, entretanto, hoje há disfunção do surfactante, alta complacência da caixa torácica,
evidências contundentes de que para ocorrer o “Barotrauma” é sistema antioxidante imaturo e ineficiente, nutrição inade-
necessário que a pressão transpulmonar (pressão alveolar me- quada, entre outros. Paralelamente, essa população apresenta
nos a pressão pleural) eleve-se, com consequente mobilização condições limitadas de recuperação da lesão. Outro aspecto
de altos volumes e hiperdistensão alveolar [3]. a ser ressaltado é o pequeno volume pulmonar dos prema-
Assim, a pressão absoluta nas vias aéreas, por si só, não turos, que é ainda mais reduzido na vigência da Síndrome
acarreta lesão. Tal afirmação já foi documentada por Bouhuys, do Desconforto Respiratório (SDR), com as atelectasias e
em 1969, ao estudar a fisiologia respiratória de músicos trom- edema[2]. Por se tratar de uma doença que compromete os
petistas. As pressões em vias aéreas dos músicos, ao tocarem pulmões de maneira heterogênea, em muitos casos apenas
o instrumento, atingem aproximadamente 150 cmH2O, um terço do pulmão está recrutado, e uma ventilação com
centenas de vezes ao dia, sem evidências de lesão pulmonar volume corrente de 10ml/kg é equivalente a 20 ou 30ml/
[3]. Slutsky [17] explicou que a contração abdominal durante kg, o que certamente repercutirá na hiperdistensão alveolar
a execução do instrumento eleva a pressão pleural, impedindo das áreas preservadas e, consequentemente, na LPIV [2,13].
que a pressão transpulmonar se eleve e, consequentemente,
evita o barotrauma. Atelectrauma
Sendo assim, constata-se que é a distensão em vias aéreas
causada pelo aumento excessivo das pressões transpulmonares Assim como o excessivo volume corrente é deflagrador
a responsável pelo desencadeamento da LPIV. É nesse con- da LPIV, a abertura e fechamento alveolar cíclicos, ou recru-
texto que o mecanismo de lesão volutrauma foi descrito [17]. tamento e colapso de vias aéreas distais, ductos e unidades
alveolares a cada ciclo respiratório, também é considerado
Volutrauma um potencial mecanismo de desenvolvimento da LPIV, de-
nominado atelectrauma [2,9,11,13,17]. Mediante movimento
O volutrauma é a lesão decorrente da hiperdistensão alveo- cíclico de colapso e reabertura de unidades alveolares pode
lar devido ao volume corrente exagerado. Animais submetidos haver no local um estressee de cisalhamento aumentado,
a elevados picos de pressão inspiratória e elevados volumes afetando a membrana alveolar e levando a ruptura epitelial.
corrente evidenciaram lesão pulmonar, fato não observado em Grandes forças são necessárias para reexpandir uma via aérea
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 315

colapsada, e o estresse do atrito tecidual, gerado por forças Os mecanismos exatos de como os sinais bioquímicos se
mecânicas de estiramento e colapso pode repercutir em dano iniciam mediante os estímulos mecânicos permanecem
cumulativo, especialmente se tal fato ocorrer repetidamente desconhecidos [16,20].
a cada ciclo respiratório [16]. Os mecanismos de lesão podem acontecer isoladamente,
Desse modo, tanto a VPM com parâmetros que levem à porém, o volutrauma, o atelectrauma e o rheotrauma podem
hiperdistensão alveolar por excessivo volume corrente, quanto levar ao biotrauma, que atualmente tem sido apontado como
com PEEP (pressão positiva expiratória final) insuficiente o mais importante mecanismo de desenvolvimento da LPIV
para manter os alvéolos abertos ao final da expiração são [13].
mecanismos deflagradores da LPIV. Estudos experimentais
mostraram que a magnitude do volume corrente - o volu- Toxicidade do oxigênio
trauma - está mais intimamente associada à LPIV do que a
PEEP [3]. Porém, em pulmões imaturos o atelectrauma ainda A toxicidade do oxigênio e o estresse oxidativo são ou-
é pouco estudado [7]. tros importantes fatores no mecanismo de lesão pulmonar
Sendo assim, a VPM deve ser empregada de modo a evitar e evolução para a DBP [8,21]. O recém-nascido prematuro
tanto a hiperdistensão, quanto o colapso/reabertura cíclicos é muito susceptível ao estresse oxidativo por mais de uma
das vias aéreas distais [2,7,9,13]. razão. Primeiro, eles são frequentemente expostos a elevadas
frações inspiradas de oxigênio devido à imaturidade pulmonar
Rheotrauma e deficiência de surfactante. Segundo, processo inflamatório
é comum no pulmão prematuro, e o estresse oxidativo está
O Rheotrauma é uma complicação da VPM que se refere aumentado pela ativação dos neutrófilos respiratórios na
às lesões causadas pelo inapropriado fluxo aéreo [2,9,15]. vigência da inflamação. Terceiro, no prematuro o sistema
Embora relatado com menos frequência na literatura, é de antioxidante está imaturo e é ineficiente, com habilidade
extrema importância, especialmente em se tratando da VPM reduzida para ativação das enzimas antioxidantes durante
em neonatologia e pediatria. O fluxo aéreo, se insuficiente, o período da toxicidade do oxigênio [21]. Em relação ao
pode levar à “fome de ar”, aumento de trabalho respiratório e último aspecto abordado, os prematuros extremos são ainda
hipoxemia. Entretanto, se excessivo, leva à turbulência, com mais vulneráveis, já que o sistema antioxidante desenvolve-se
PEEP inadvertida, hiperinsuflação pulmonar e inadequada durante o último trimestre da gestação [13].
troca gasosa [9]. O fluxo inspiratório elevado proporciona A toxicidade do oxigênio ocorre pela produção de radicais
transmissão de energia cinética para as estruturas subjacentes, tóxicos, como superóxido, peróxido de hidrogênio e radicais
distorcendo o parênquima, deformando a superfície endotelial livres de oxigênio [21,22]. Trata-se de moléculas altamente re-
e levando à LPIV [19]. ativas que, em contato com tecidos vivos, podem causar danos
oxidativos em muitos deles, alterando a estrutura e função de
Biotrauma proteínas, lipídeos e DNA [21]. Tais radicais são dismutados
pelos sistemas antioxidantes, que aumentam progressivamen-
A teoria do biotrauma propõe que forças biofísicas alte- te desde a gestação. Conforme já apontado anteriormente,
ram a fisiologia normal das células pulmonares, levando ao em prematuros há um desequilíbrio entre a produção de
aumento local dos níveis de mediadores inflamatórios [9,16]. oxirradicais e os sistemas antioxidantes, estando este último
O processo inflamatório é desencadeado pela liberação de em desvantagem. A consequência dessa inefetividade dos
mediadores pró-inflamatórios, em nível local e sistêmico, sistemas antioxidantes é a alteração da estrutura molecular
mediante a aplicação de forças mecânicas nos pulmões pela do tecido pulmonar e recrutamento de polimorfonucleares
ventilação mecânica, sem a ocorrência de lesão celular estru- pulmonares, desencadeando um processo inflamatório. As
tural prévia aparente [16,20]. citocinas decorrentes do processo inflamatório desencadeado
A liberação de tais mediadores está associada à conver- favorecem a formação de radicais livres e acentuam o estresse
são de um estímulo mecânico em alterações bioquímicas oxidativo [8,23,24].
e moleculares em nível celular e tecidual. A VPM produz Os pulmões estão muito expostos à toxicidade do oxigênio
um estímulo mecânico, o qual ocorre pela hiperdistensão devido a sua interface com a atmosfera[21]. Sendo assim, a
e colabamento cíclicos alveolar e endotelial, gerando forças exposição a elevadas concentrações de oxigênio, e consequente
de tensão, deformação, estiramento e fricção. Essas forças produção de radicais tóxicos, podem saturar o sistema antio-
são convertidas em alterações bioquímicas e moleculares xidante, inibir a síntese de proteínas e de DNA, diminuir a
em nível celular e tecidual. A conversão é denominada síntese de surfactante, induzir ao processo inflamatório e à
Mecanotransdução, e pode ocorrer por meio de três me- lesão alveolar difusa [25], assim como interromper a septação
canismos: canais sensíveis ao estiramento, mudanças na alveolar de pulmões que estão na fase sacular de desenvolvi-
integridade da membrana plasmática e uma troca direta da mento e diminuir o crescimento pulmonar, conforme tem
conformação entre as moléculas associadas à membrana. sido demonstrado em modelos animais [21].
316 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Atualmente, o processo inflamatório deflagrado por to- exposição também são determinantes para a intensidade da
dos esses mecanismos de trauma é considerado o principal agressão e, consequentemente, da LPIV.
fator responsável pela LPIV e pelo desenvolvimento da DBP É difícil determinar quais complicações são inerentes às
[7,13,21]. Os estímulos mecânicos e a toxicidade do oxigê- intervenções em um pulmão extremamente vulnerável, sem
nio induzem à liberação de mediadores inflamatórios para o confundi-las com iatrogenia ou erros de julgamento nas esco-
interstício pulmonar e vias aéreas. Esta reação inflamatória é lhas das práticas pelos profissionais. Há algum tempo fortes
caracterizada por acúmulo de neutrófilos e macrófagos, au- evidências demonstram que as complicações da VPM podem
mento das citocinas e outros mediadores, pela lesão oxidativa e prejudicar a evolução do quadro pulmonar e não-pulmonar
pelo aumento da permeabilidade alveolocapilar. Esse processo de neonatos e lactentes. Os mecanismos mais recentemente
repercute diretamente nas estruturas pulmonares, afetando a identificados e apontados neste artigo são frutos de investiga-
integridade celular [23,26,27]. ções científicas relativamente recentes, porém, contundentes.
Mesmo a mínima exposição ao oxigênio e à ventilação Considerando a complexidade do tema, é extremamente
mecânica pode ser suficiente para contribuir para lesão pul- importante que os profissionais da saúde se apropriem dos
monar [6], que pode se iniciar ainda na sala de parto [28]. conhecimentos referentes à VPM, aos mecanismos de LPIV,
Segundo Monte et al. [22], a resolução do processo infla- aos conhecimentos das especificidades morfofisiológicas e
matório desencadeado pela ventilação mecânica pode seguir funcionais dos recém-nascidos e lactentes e das estratégias
dois caminhos: reparação das estruturas pulmonares com terapêuticas para evitar e/ou minimizar os efeitos deletérios
restauração da função pulmonar normal, ou fibrose, com da VM.
prejuízos na função respiratória. Vários fatores interferem na Finalmente, vale ressaltar que é improvável que interven-
tendência de seguir um ou outro caminho, como a nutrição, ções específicas e individuais tenham impacto positivo no
fatores genéticos, processo inflamatório, sistema antioxidante, desfecho clínico de tais crianças, sendo necessário o cuidado
entre outros. Sweet; Halliday e Warner [21] e Schibler [11], atento e integral de toda a equipe, com a adoção de práticas
entretanto, destacaram que no processo de reparação e re- que, enquanto tratam, protejam o recém-nascido em toda
modelamento observados nos prematuros extremos, a fibrose a sua complexidade. Espera-se que esta discussão estimule
não é tão evidente, mas observa-se um pulmão atípico, com maior reflexão por parte dos profissionais de saúde quanto à
interrupção do desenvolvimento alveolar, deposição anormal importância da mínima exposição dos pulmões prematuros
de elastina e desenvolvimento anormal vascular: a “nova” à VPM, com a implementação de protocolos de estratégias
Displasia Broncopulmonar. Há indicações, portanto, de que a protetoras visando evitar ou minimizar os danos causados pela
LPIV interfere no desenvolvimento anatômico pulmonar nor- ventilação mecânica. Em neonatologia, a ventilação “gentil”,
mal, impedindo o crescimento e desenvolvimento pulmonar. com parâmetros reduzidos e baixas concentrações de oxigê-
nio, é atualmente preconizada [8,12,25,28-30], objetivando
Conclusão promover o suporte ventilatório, minimizar e/ou prevenir
a LPIV e, consequentemente, um melhor desenvolvimento
Atualmente, o processo inflamatório deflagrado por todos pulmonar no neonato prematuro [8,9,31,32].
esses mecanismos de trauma é considerado o principal fator
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chronic lung disease of prematurity. Paediatr Respir Rev 2002;
3:140-6.
318 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil


Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão,
Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX conclusão e referências.
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A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes- figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Literatura citada: Máximo de 50 referências.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser pub-
4. Relato de caso
licados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros
São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au-
terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos
torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com
não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas.
estas condições.
Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform re-
caso, Discussão, Conclusões e Referências.
quirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado
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pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em in-
Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
glês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
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de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em 5. Opinião
inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos au-
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(observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
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Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como ne- • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com res-
grito, itálico, sobre-escrito, etc. olução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digi-
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel talizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excep-
ou Word. cionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados
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de 300 dpi.
Literatura citada: Máximo de 50 referências. Página de apresentação
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cessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já pub- • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail;
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Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem neces- ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode
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da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, resultados e conclusão.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013 319

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português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
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outros meios além de anais de congresso;
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Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
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bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
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ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
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320 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 4 - julho/agosto de 2013

Agenda
2013 Dezembro

Outubro 6 a 8 de dezembro
1º Congresso Internacional sobre Saúde da Pessoa com
13 a 16 de outubro Deficiência
Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional (CBTO) Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília, DF
Florianópolis, SC Informações: www.cispod.com.br/
Informações: http://cbto2013.com.br

16 a 19 de outubro 2014
XX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Fortaleza, CE 13 a 15 de fevereiro
Informações: www.jzkenes.cpm VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato-
funcional
Belo Horizonte, MG
Novembro
Informações: http://dermatofuncional2014.com.br
14 a 17 de novembro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de 21 a 23 de fevereiro
Fisioterapia Esportiva - SONAFE XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Londrina, PR
Informações: www.sonafe.org.br Informações: http://posturologiaclinica.com.br
14 a 16 de novembro
45° CBOT - Congresso Brasileiro de Ortopedia e Abril
Traumatologia 30 de abril a 3 de maio
Universidade Positivo Curitiba, PR VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Informações: http://www.cbot2013.com.br III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
14 a 16 de novembro João Pessoa, PB
II Congresso Nordestino de Fisioterapia Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva congresso/
- II CONEFIR
Hotel Praiamar, Natal, RN
Informações: www.assobrafir.com.br
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
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Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 5 setembro/outubro 2013 - 321~400)

EDITORIAL
Sobre leituras, Marco Antonio Guimarães da Silva...................................................................................................................... 326

ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos da fisioterapia aquática na qualidade de vida de idosas, Alecsandra Pinheiro Vendrusculo,
Géssica Bordin Viera, Carla Simone Pessota Ribeiro, Anyelle Fabres Alvares da Cunha,
Luana de Barros Munhoz, Cadi Caroline da Rocha Tassinari, Eliane Leão Witte.......................................................................... 327

Análise comparativa da marcha com três joelhos protéticos diferentes, em amputado transfemoral
esquerdo, Jaqueline Stançani, Lara Ponce da Silva, Ana Beatriz de Lima Poloni Teixeira,
Ana Paula do Prado Marques Ferreira, Cleber Ricardo Cavalheiro, Luis Henrique Simionato,
Geraldo Marco Rosa Junior, Carlos Henrique Fachin Bortoluci................................................................................................... 331

Aplicação de um programa de exercício físico em gestantes diabéticas, Leila Simone Foerster Merey,
Cassia Fernandes Marques, Danielle Chadid Warpechowski, Hérica Maiara de Matos, Taisa Guimarães...................................... 338

Treinamento de sujeitos hemiparéticos em tarefas virtuais utilizando o Nintendo Wii,


Danilo de Oliveira Silva, Ronaldo Valdir Briani, Carolina Silva Flóride, Fernando Amâncio Aragão............................................. 344

Perfil dos pacientes atendidos em fisioterapia dermatofuncional, Pascale Mutti Tacani,


Camila dos Santos Arcas, Fernanda Ferreira Duarte da Silva, Marina Carasco,
Aline Fernanda Perez Machado, Rogerio Eduardo Tacani............................................................................................................. 351

Efeito da corrente de alta voltagem em úlceras venosas, Bruno Russo Porchera,


Giovanni Luiz Alves Listo, Clívia Cristhine Amaral Bandeira....................................................................................................... 357

Fatores associados à qualidade de vida de crianças asmáticas atendidas em ambulatório público


especializado da cidade de Maceió/AL, Vanessa de Albuquerque Vilaça, Cínthia Maria X. Costa,
Raphaela Farias Teixeira, Giselle Souza de Paiva............................................................................................................................ 363

Perfil de qualidade de vida em praticantes de Pilates, Rosana Elizabete de Jesus,


Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Rafaela Liberali, Maria Ines Artaxo Netto,
Helena Brandão Viana, Charles Ricardo Lopes............................................................................................................................. 370

Mochila escolar: investigação quanto ao peso carregado pelas crianças, Amabile Vessoni Arias,
Andréia Cristina de Oliveira Silva, Mayara Costa de Camargo..................................................................................................... 376

Avaliação do equilíbrio dinâmico em idosos ativos e sedentários, Renata Falete Ribeiro,


Suellen Silva Oliveira, Adriane Pires Batiston, Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Arthur de Almeida Medeiros......................... 382

REVISÕES
Abordagem cinesioterapêutica na disfunção do músculo tibial posterior,
Patricia Parizotto, Daniela Parizotto, Sergio Guida, Julio Guilherme Silva.................................................................................... 388

Efeito da imagética motora sobre o controle postural, Nélio Silva de Souza,


Ana Carolina Gomes Martins, Glória M. M. Vianna da Rosa, Wilma Costa Souza...................................................................... 393

NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................398

EVENTOS..........................................................................................................................................................................400
326 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Editorial

Sobre leituras

Marco Antonio Guimarães da Silva

“Quando lemos uma boa obra de ficção, descobrimos reflexões ouvintes da França e da Alemanha não seria a mesma que a
nossas que havíamos desprezado; verdades e mentiras que havíamos do meu público daqui do Brasil. Isto, porque lá fora sabiam
omitido e um mundo de sentimentos que havíamos desdenhados, e que eu era alguém egresso da área da saúde, que começava a
que agora descobrimos com a leitura que fazemos”. invadir a área literária. Diante deles, fisioterapeutas brasileiros,
M. Proust não haveria espaços para equívocos, já que dediquei 35 anos
de minha carreira à investigação dentro dessa área. Desafio
Depois que me aposentei da UFRRJ, deixei de lado a vida aceito, lembrei-me, para resolver a situação, de um conselho
acadêmica e passei a escrever romances. Tinha prometido a que dava aos meus orientandos de doutorado: se querem
mim mesmo, e espalhado aos quatro cantos, que o divorcio fazer uma boa pesquisa, aprendam a fazer uma boa pergunta.
que acabara de decretar com a academia seria definitivo. Elaborei então duas perguntas: Porque que o fisioterapeuta
Nada de aceitar convites para julgar teses de mestrado ou lê pouco? e, Será que o fisioterapeuta lê muito? A aparente
doutorado, nada de aceitar convites para dar conferências ou contradição entre as perguntas dissipou-se no momento em
para participar em mesas de congressos científicos. Deveria, que expliquei que o fisioterapeuta lia pouco (como todo o
entretanto, ter pensado duas vezes antes de fazer a tal pro- brasileiro) a literatura ficcional e lia muito a literatura cientí-
messa, porque, neste segundo semestre, abri exceções e acabei fica (movido pela constante necessidade de se atualizar). Essas
participando de dois grandes acontecimentos da fisioterapia. escritas cientÍficas, normalmente, demonstram uma tese para
Um deles, promovido pelo Conselho Regional de Fisioterapia, resolver o problema; elas não representam a vida em toda
ocorrido no Rio de Janeiro, e o outro, sob os auspícios da a sua incoerência, como o fazem as escritas criativas. Essas
Associação de Fisioterapia Brasileira, em Porto Alegre (20º escritas criativas, característica da literatura ficcional, pedem
Congresso Brasileiro de Fisioterapia). Diga-se, de passagem, aos seus leitores que experimentem uma solução. Não há nesse
com excelentes organizações. tipo de literatura uma fórmula precisa. E aqui poderia estar a
Em ambos os eventos, abordei, com um viés diferente, a relação entre a literatura ficcional e as atividades educacionais
ambiência relacional entre a literatura ficcional, a educação e e investigativas em fisioterapia; a de levar o leitor a quebrar a
a pesquisa em Fisioterapia. Disse, ao começar a minha con- barreira do mundo em que vive, penetrar no mundo imagi-
ferência, que, ao aceitar o convite que me haviam feito, eu nado pelo autor e, uma vez ali, gerar em si próprio um campo
sabia que estaria diante do maior desafio que jamais enfrentara reflexivo. Esse campo reflexivo o ajudaria a fugir do sistema
na minha vida acadêmica. Desafio maior do que aquele que educacional a que fora submetido durante a sua formação,
enfrentei quando fui convidado para fazer uma leitura de um o qual espera que o aluno repita ipsis litteris em suas provas
dos meus romances, e falar sobre literatura, para duas grandes tudo que é dito em sala de aula pelo professor.
instituições de ensino europeias: a Universidade Paris IV/ Não tenho dúvidas de que muitos problemas observados
Sorbonne (Paris) e a Universidade de Aachen (Alemanha). no campo da pesquisa científica relacionam-se à falta de
Expliquei, à época, que a indulgência que teriam os meus leitura ficcional.

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 327

Artigo original

Efeitos da fisioterapia aquática na qualidade


de vida de idosas
Effects of aquatic therapy on quality of life of elderly
Alecsandra Pinheiro Vendrusculo, M.Sc.*, Géssica Bordin Viera**, Carla Simone Pessota Ribeiro**,
Anyelle Fabres Alvares da Cunha**, Luana de Barros Munhoz**, Cadi Caroline da Rocha Tassinari**, Eliane Leão Witte**

*Professora Orientadora, **Acadêmicas do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA

Resumo Abstract
O envelhecimento pode ser entendido como um conjunto de Aging process can be understood as the accumulation of structu-
alterações estruturais e funcionais inadequado ao organismo que ral and functional changes of the body, in consequence of advancing
se acumulam de forma progressiva, especificamente em função do age. Quality of life is a factor directly linked to that context and
avanço da idade. A qualidade de vida é um fator diretamente ligado responsible for increasing or decreasing longevity of the population.
a esse contexto, sendo um dos responsáveis pelo aumento ou pelo In order to improve quality to the therapy group, the use of water
decréscimo na longevidade da população. Como forma de agregar has shown to be an excellent way to achieve safe and effective en-
qualidade ao grupo terapêutico, a utilização da água tem se mos- vironment. Thus, the objective of this research was to analyze the
trado um excelente meio para se alcançar objetivos contando com influence of a program of aquatic physical therapy on quality of
um ambiente seguro e efetivo. Desta forma, o objetivo da presente life in sedentary older adults. The sample consisted of 27 elderly
pesquisa foi analisar a influência de um programa de fisioterapia women, aged between 60 and 80 years, in Santa Maria, RS. They
aquática na qualidade de vida de idosas sedentárias. A amostra foi were asked to answer a questionnaire on quality of life developed by
composta por 27 idosas, com idade entre 60 e 80 anos, residentes na the WHO (WHOQOL-100). According to the questionnaire on
cidade de Santa Maria, RS, as quais foram solicitadas a responder o this study, we observed that 74.7% were satisfied with their quality
questionário sobre qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). of life. The results make evident that aquatic therapy programs have
De acordo com a aplicação do questionário no estudo realizado, ob- many benefits for elder people, highlighting the increase in quality
servou-se que 74,7% das 27 mulheres entrevistadas estão satisfeitas of life, including leisure, health, social life, work, and all activities
com sua qualidade de vida. Com os resultados obtidos, confirmou-se that give them pleasure daily.
que a prática de fisioterapia aquática traz muitos benefícios para a Key-words: aquatic therapy, quality of life, elderly.
população idosa, destacando o aumento na qualidade de vida, seja
no lazer, na saúde, no convívio social, no trabalho, e em todas as
atividades que tragam prazer para seu dia-dia.
Palavras-chave: fisioterapia aquática, qualidade de vida, idosas.

Recebido em 23 de maio de 2012; aceito em 23 de julho de 2013.


Endereço para correspondência: Alecsandra Pinheiro Vendrusculo, Rua General Daltro Filho, 397, 97015-280 Santa Maria RS, E-mail: alec@unifra.
br
328 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Introdução Com base no exposto acima, percebe-se a importância


da exploração deste tema na atuação fisioterapêutica como
Os dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde alternativa para a melhora da qualidade de vida abrangendo
(OMS) apontam que até o ano de 2025 o Brasil deverá possuir o estado físico, psicológico e social. Desta forma, o objetivo
a sexta maior população de idosos do mundo, significando da presente pesquisa foi analisar a influência de um progra-
quase 13% da população brasileira [1]. ma de fisioterapia aquática na qualidade de vida de idosas
No processo de envelhecimento, o organismo passa por sedentárias.
várias alterações, entre elas, a altura, a massa muscular e
consequentemente a força muscular, a massa óssea e a capaci- Material e métodos
dade de consumo máximo de oxigênio começam a diminuir.
Além disso, há um aumento da massa cardíaca e da pressão A pesquisa caracterizou-se por ser de abordagem quanti-
arterial sistólica, que compreende um conjunto de alterações -qualitativa. A amostra foi composta por 27 idosas, com idade
estruturais e funcionais inadequado do organismo que se entre 60 e 80 anos, residentes na cidade de Santa Maria – RS,
acumulam de forma progressiva, especificamente em função que participavam de um grupo de atividades hidrocinesiotera-
do avanço da idade [2]. pêuticas, realizado uma vez por semana, no período de março
Com o passar do tempo, observam-se no corpo alterações a dezembro de 2010, totalizando 10 meses. O grupo realizava
morfológicas que mudam gradualmente a aparência do indi- hidroterapia, todas com encaminhamento médico, sendo que
víduo. Essas alterações fazem parte do processo natural do en- contemplavam patologias como osteoporose, osteoartrose,
velhecimento. Assim o indivíduo idoso apresenta uma série de tendo a terapia como uma forma de tratamento que contava
peculiaridades decorrentes do processo de envelhecimento [3]. com os benefícios da imersão em piscina aquecida.
A qualidade de vida engloba a satisfação e o bem estar, Num primeiro momento, entrou-se em contato com as
contendo características subjetivas e multidimensionais. A participantes, convidando-as para participar da pesquisa,
qualidade de vida pode ser abordada como qualidade geral quando já foi agendado um encontro para janeiro de 2011,
de vida relacionada à saúde, incluindo sensação de bem estar no Centro Universitário Franciscano. No encontro com as
e felicidade [4]. Amplo e complexo é o conceito de qualida- participantes, elas primeiramente leram e assinaram o termo
de de vida, englobando processos físicos, psicológicos, nível de consentimento livre e esclarecido, para posteriormente
de independência, relações sociais, crenças, relacionamento preencherem o questionário sobre qualidade de vida da
pessoal e valores ambientais [5]. OMS [13]. O questionário é composto por perguntas que
Como forma de agregar qualidade ao grupo terapêutico, abrange temas como saúde, trabalho, religião, autoestima,
a utilização da água tem se mostrado um excelente meio para socialização, meios de transporte, entre outros. A escala
se alcançar objetivos contando com um ambiente seguro foi aplicada pré e pós-atividades, sendo avaliadas, então, as
e efetivo, possibilitando ao usuário um meio adequado à percepções das mesmas acerca do impacto da participação
prática física com menor risco de lesão em uma atmosfera nas atividades do grupo durante o ano na qualidade de vida
descontraída [6]. das mesmas.
A hidroterapia é um dos recursos mais antigos da fisiote- O critério de inclusão para o estudo era a participação
rapia, contribui para prevenir, manter, retardar, melhorar ou regular das idosas nas atividades do grupo, sendo excluídas
tratar disfunções físicas que aparecem no envelhecimento [7]. as que tinham frequência inferior a 75% de participação no
A hidroterapia tem sido utilizada como recurso terapêutico grupo. As sessões de fisioterapia aquática compreendiam alon-
para tratar doenças reumáticas e ortopédicas desde tempos gamentos iniciais, 10 minutos de aquecimento, 25 minutos
remotos, sendo o meio aquático considerado eficaz e seguro de exercícios de fortalecimento para os principais grupos
para tratamento de idosos [8]. musculares de membros superiores e inferiores e relaxamento
Por meio da evolução histórica do ambiente aquático de 10 minutos.
como prática curativa, é possível determinar inúmeros des- Já os critérios de exclusão para o estudo era a não parti-
critores que definem o conceito, como, por exemplo, terapia cipação regular das idosas nas atividades que eram realizadas
pela água, exercícios aquáticos, hidroginástica, reabilitação uma vez por semana, de março a dezembro de 2010. Ainda
aquática, dentre outros [9,10]. Sendo assim a hidroterapia as idosas não poderiam ter mais de quatro faltas consecutivas.
é um recurso fisioterapêutico importante, e utiliza piscinas Para a análise dos dados, foram selecionadas as questões
aquecidas para o tratamento de variadas disfunções. Entre- que apresentaram os maiores valores percentuais, ou seja, as
tanto, o conjunto de técnicas e métodos que compõem a respostas que mais coincidiram entre as participantes. Poste-
hidroterapia, quando aplicada por fisioterapeutas, passou a riormente, foi realizada uma análise descritiva destas repostas,
ser chamada de fisioterapia aquática [11,12]. interligando umas as outras.
Os efeitos fisiológicos proporcionados pela água são O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro
amplos e envolvem respostas cardíacas, respiratórias e mus- Universitário Franciscano (UNIFRA), sob parecer número
culoesqueléticas. 300.2010.2
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 329

Resultados e discussão nefícios nos componentes da aptidão física [22]. Entre tais
benefícios estão as melhorias no condicionamento cardior-
A qualidade de vida na idade madura excede, entretanto, respiratório, na composição corporal, no aumento dos níveis
os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como de força [23].
um empreendimento de caráter sociocultural. Ou seja, uma A hidroterapia é um recurso fisioterapêutico que utiliza
velhice satisfatória não é um atributo do indivíduo biológico, os efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos advindos da
psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação imersão do corpo em piscina aquecida como recurso auxiliar
entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em da reabilitação ou prevenção de alterações funcionais. As
mudanças. Corresponde, também, ao grau de satisfação propriedades físicas e o aquecimento da água desempenham
encontrado na vida familiar, sentimental, social, ambiental um papel importante na melhoria e na manutenção da am-
e na própria existência. É expressão de muitos significados plitude de movimento das articulações, na redução da tensão
que abrange e reflete conhecimentos, experiências e valores muscular e no relaxamento [24].
na vida do indivíduo [14]. De acordo com a aplicação do questionário (Tabela I) no
A falta de atividade física, aliada ou não com a perma- estudo realizado, observou-se que 74,7% das 27 mulheres
nência prolongada na postura sentada, é uma das causas dos entrevistadas estão satisfeitas com sua qualidade de vida.
encurtamentos musculares que se manifesta com a diminuição Associando ao fato de que 81,48% não se sentem sozinhas,
de ADM, presença de dor, formigamento e desenvolvimento nem incomodadas com sua vida sexual; 70,37% sentem-se
de contraturas [15]. bastante seguras consequentemente não se sentem inibidas
Como recurso da fisioterapia, a hidroterapia não visa pela sua aparência, com isso 62,96% relatam sempre estarem
somente à manutenção do trabalho corporal, mas também contentes.
ajuda as que não possuem hábito de se exercitar, oferecendo Ter qualidade de vida é ter um bom convívio social
conforto e segurança a seu corpo [16]. com todos, particularmente com vizinhos e amigos; um
Dentre as muitas formas de prática de exercícios dis- bom relacionamento familiar, incluindo uma boa criação
poníveis para a corporeidade idosa, a hidroterapia vem se e educação dos filhos e netos; capacidade para estabelecer
destacando e conquistando um número cada vez maior de contato com as pessoas e fazer novas amizades. É dispor de
adeptos. Os efeitos estão relacionados a alívio da dor, dimi- tranquilidade, bom humor e sentir-se satisfeito com a vida,
nuição dos espasmos, relaxamento muscular, aumento da atributos relativos à saúde mental que ajudam as pessoas a se
amplitude de movimento, aumento da circulação sanguínea, manterem fortalecidas no enfrentamento das atividades diárias
fortalecimento muscular, aumento da resistência muscular e e dos desafios impostos pela vivência [25].
melhora na autoestima [17]. Com relação ao convívio social 62,96% contam e conse-
Nos últimos dez anos a popularidade dos exercícios aquá- guem o apoio dos amigos quando necessitam e estão muito
ticos com o propósito, entre outros, de melhorar o sistema felizes com suas relações familiares, o que faz tornarem-se
cardiovascular tem aumentado significativamente e grande mais ativos o que consequentemente possibilita uma melhor
parcela de praticantes desse tipo de atividade é constituída qualidade de vida.
de pessoas idosas [18]. Além de uma boa qualidade de vida e um bom conví-
Os efeitos da hidroterapia baseiam-se no desenvolvimento, vio social, o trabalho na população idosa vem crescendo e
melhora da restauração e manutenção da força, da resistência tornando esta população mais ativa e com mais responsa-
à fadiga, da mobilidade e flexibilidade, do relaxamento e da bilidades [26].
coordenação motora [19]. Trabalho nos ocupa de modo construtivo, estimula nossa
A diminuição do impacto articular, durante atividades criatividade e facilita nossa evolução da sociedade, é fonte
físicas, induzida pela flutuação, causa redução da sensibilidade de prazer, da mesma forma que o lazer, do qual se distingue
à dor, diminuição da compressão nas articulações doloridas, apenas por implicar responsabilidades maiores [27].
maior liberdade de movimento e diminuição do espasmo Na pesquisa realizada foram feitas perguntas sobre a
doloroso. O efeito de flutuação auxilia o movimento das saúde dos idosos como: se estavam satisfeitos com o serviço
articulações rígidas em amplitudes maiores com um aumento social, 74,07% relataram estar satisfeitas, e se tinham acesso
mínimo de dor [20]. facilmente a bons cuidados médicos, 70,37% referiram ter
Os exercícios realizados na água favorecem a reabilitação, bastante cuidado médico. Dessa maneira, vimos que para
pois os efeitos proporcionam melhor facilidade para se mo- esses idosos a saúde e muito evidenciada, pois a maioria se
vimentar. Portanto durante a imersão, a água exerce pressão preocupa e procura manter hábitos saudáveis.
sobre o corpo. Um efeito importante desse aumento de pres- A maioria da população também não vê empecilhos para o
são acontece no sistema de retorno venoso, que é sensível a cuidado com a saúde, pois relatam que sempre procuram aten-
diferenças de pressão externa [21]. dimento quando necessitam mesmo aqueles que dependem
A prática de exercícios aquáticos está sendo cada vez mais de transporte público, 81,48% relataram não ter problemas
indicada, visto que têm sido comprovados seus diversos be- em relação ao transporte.
330 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

No estudo realizado verificou-se que juntamente com a 6. Mejía BEB, Merchán MEP. Calidad de vida relacionada con la
saúde as questões religiosas são importantes para esta população, salud (CVRS) en adultos mayores de 60 años: una aproximación
pois muitos relataram que para ter boa saúde, além de cuidados teórica. Hacia Promoc Salud 2007;12-11-24.
7. Kisner C, Colby L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
médicos, é necessário crenças pessoais e acreditar em Deus.
técnicas. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2005.
Cada vez mais a fé e a religiosidade estão presentes na vida 8. Gomes MCSM, Garcia RR. Comparação entre o tratamento no
desses indivíduos, 51,85% acreditam que suas crenças pessoais solo e na hidroterapia para pacientes com osteoporose: revisão de
lhe dão forças para enfrentar suas dificuldades, levando sua literatura. Revista Brasileira de Ciências da Saúde 2006;7(3):45-55.
vida a ter mais sentido. 9. McNeal R. Reabilitação Aquática de Pacientes com Doença
A religiosidade e crenças na vida adulta são as teorias do Reumática. In: Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação
desenvolvimento, da fé ou do sentimento religioso. Pressupõe- aquática. São Paulo: Manole; 2000.
10. Ide MR, Caromano FA, Dip MAV, Guerino MR. Expansibili-
-se que o desenvolvimento religioso deve levar a maturidade
dade torácica de idosos: Exercícios aquáticos e solo: exercícios
religiosa, e as teorias tendem a situar a aquisição dessa matu- respiratórios. Fisioter Mov 2007;20(2):33-40.
ridade nos anos de vida adulta [28]. 11. Barbosa AD. Avaliação fisioterapêutica aquática. Fisioter Mov
2006;19(2):135-47.
Tabela I - Valores percentuais das repostas do questionário de qua- 12. Gomes WF. Impacto de um programa estruturado de fisioterapia
lidade de vida WHOQOL-100. aquática em idosas com osteoartrite de joelho [Dissertação].
Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Escola
Satisfeitas com a qualidade de vida 74,7%
de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional; 2007.
Não sentem-se sozinhas e nem incomodadas com 81,48% 13. Fleck MPA. O instrumento de avaliação de qualidade de vida
a vida sexual da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100): carac-
Sentem-se seguras 70,37% terísticas e perspectivas. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(1):33-8.
Sentem-se contentes 62,96% 14. Assis MR, Silva LE, Alves AMB, Pessanha AP. A randomized control-
Refere apoio dos amigos 62,96% led trial of deep-water running: clinical effectiveness of aquatic exercise
Sentem-se satisfeitas com a capacidade de trabalho 51,85% to treat fibromyalgia. Arthritis & Rheumatism 2006;55(1):57-65.
15. Ressende SM, Rassi CM, Viana FP. Efeitos da hidroterapia na
Sentem-se capazes para realizar suas tarefas 59,25%
recuperação do equilíbrio e prevenção de quedas em idosas. Rev
Sentem-se satisfeitas com a capacidade de adquirir 66,66% Bras Fisioter 2008;12(1):57-63.
novas informações 16. Santos BRM, Rossinoli C, Costa ACS. Importância da hidrote-
Relatam ter bons acessos a cuidados médicos 74,07% rapia na qualidade de vida da gestante. III Encontro Científico
Relatam ter cuidados médicos 70,37% e Simpósio de Educação Unisalesiano 2011; p. 2-3.
Relatam não ter problemas com o transporte 81,48% 17. Oliveira CFP, Barros DJM, Araújo FAB. A incidência de dores
Relatam acreditar em crenças 51,85% musculoesqueléticas na gestação [Monografia]. Araçatuba:
Unisalesiano; 2010.
18. Soares MP. Hidroterapia no tratamento da osteoporose. Rio de
Conclusão Janeiro: Sprint; 1999.
19. Darby L, Yaekle B. Physiological responses during two types
Confirmou-se, portanto, que a prática de fisioterapia aquá- of exercise performed on land and in water. J Sports Med Phys
tica traz muitos benefícios para a população idosa, destacando Fitness 2000;40(4):303-11.
o aumento na qualidade de vida, seja no lazer, na saúde, no 20. Tovin BJ. Comparison of the effects of exercise in water and on
convívio social, no trabalho, e em todas as atividades que land on the rehabilitation of patients with intra-articular anterior
tragam prazer para seu dia-dia. Essa população encontra-se cruciate ligament reconstructions. Phis Ther 1994;74:710-9.
21. Takeshima N. Water-based exercise improves health-related
cada vez mais ativa e pronta para novas atividades, desafios, aspects of fitness in older women. Med Sci Sports Exerc
informações e responsabilidades, resultando assim em idosos 2002;33:544-51.
confiantes e com maior perspectiva de vida. 22. Ruoti RG, Troup JT, Berger RA. The effects of nonswimming
water exercises on older adults. J Orthop Sports Phys Ther
Referências 1994;19(3):140-5.
23. Poyhonen T. Effects of aquatic resistance training on neuro-
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2. Ribeiro PB, Alves PB, Meira EP. Percepção dos idosos sobre as 24. Caromano FA, Candeloro JM. Fundamentos da hidroterapia
alterações fisiológicas do envelhecimento. Ciência, Cuidado e para idosos. Arq Ciências Saúde Unipar 2001;5(2):187-95.
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2009;25(10):2159-67.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 331

Artigo original

Análise comparativa da marcha com três joelhos


protéticos diferentes, em amputado
transfemoral esquerdo
Comparative analysis of gait with three different prosthetic
knees, in patient with left transfemoral amputation
Jaqueline Stançani, Ft.*, Lara Ponce da Silva, Ft.*, Ana Beatriz de Lima Poloni Teixeira**,
Ana Paula do Prado Marques Ferreira**, Cleber Ricardo Cavalheiro**, Luis Henrique Simionato***,
Geraldo Marco Rosa Junior***, Carlos Henrique Fachin Bortoluci***

*Universidade do Sagrado Coração – USC, Bauru, **Hospital Estadual de Bauru – HEB,***Professor do Curso de Fisioterapia da
Universidade do Sagrado Coração – USC, Bauru

Resumo Abstract
O termo amputação é a retirada total ou parcial de um membro. The term amputation is the partial or total removal of a limb. The
A amputação transfemoral refere-se a amputações realizadas entre transfemoral amputation refers to amputation performed between
a desarticulação do joelho e a do quadril. O Instituto Nacional do the dislocation of the knee and hip. The National Social Security
Seguro Social (INSS) reabilita profissionalmente os beneficiários Institute (INSS) professionally rehabilitates disabled beneficiaries,
incapacitados para sua atividade profissional, como aqueles com returning to their professional activity, for example, those with
sequelas de amputação. Os joelhos protéticos proporcionam es- sequelae of amputation. The prosthetic knees provide stability in
tabilidade na fase de apoio e controle na fase de balanço durante the stance phase and control in the swing phase during gait. The
a marcha. O objetivo foi analisar comparativamente a marcha em objective was to analyze gait of a patient with left transfemoral
paciente amputado transfemoral esquerdo, utilizando três joelhos amputation using three different prosthetic knees (rotary hidraulic,
protéticos diferentes (hidráulico rotativo, hidráulico monocêntrico hydraulic and monocentric microprocessor). Helen Hayes markers
e microprocessado). Foram afixados marcadores no paciente pelo set were used, after the patient walked a determined path to cap-
posicionamento Helen Hayes, depois o mesmo deambulou um trajeto ture the movements, with the three knees, so the kinematic and
determinado para a captura dos movimentos, com os três joelhos observational analysis could be performed. The evaluation showed
propostos, para análises cinemática e observacional. A avaliação observational gait characteristics with the three knees very similar.
observacional mostrou características da marcha com os três joelhos Was observed in the kinematic analysis parameters of spatiotemporal
muito parecidas. Observou-se, na análise cinemática, parâmetros gait with smaller values than the references in the three knees, in con-
espaços-temporais com valores menores que os referenciais nos três sequence of lack of security of the knee amputation prosthesis. The
joelhos, pela falta de segurança do indivíduo amputado no joelho microprocessor knee showed a larger number of parameters in the
protético. O joelho microprocessado apresentou um número maior two limbs due to ease alignment and adjustment. It was concluded
de parâmetros iguais nos dois membros devido à sua facilidade no that the microprocessor knee is the most suitable for this patient.
alinhamento e regulagem. Concluiu-se que o joelho microprocessado Key-words: amputees, prosthetic knee, prosthesis.
é o mais indicado para este paciente.
Palavras-chave: amputados, joelhos protéticos, prótese.

Recebido em 17 de junho de 2012; aceito em 19 de junho de 2013.


Endereço para correspondência: Luis Henrique Simionato, Rua Gutemberg de Campos, 1-39, 17030-620 Bauru SP, E-mail: luis.simionato@usc.br
332 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Introdução Diversos estudos tem investigado a marcha de amputados


transfemoral, e o joelho protético no controle das fases de
Amputação é uma palavra derivada do latim tendo o sig- apoio e balanço. Todos relatam a importância da análise quan-
nificado de ambi = ao redor de/em torno de e putatio = podar/ titativa e cinemática para melhorar o programa de reabilitação
retirar, sendo definida como a retirada, geralmente cirúrgica, durante a realização do treino de marcha [5].
total ou parcial de um membro do corpo. Os níveis de ampu- Atualmente as próteses contribuem para a reabilitação
tação são diversos e geralmente ocorrem por indicação eletiva, da marcha do amputado e, apesar da evolução dos materiais
ou seja, para portadores de sequelas ou processos mórbidos protéticos, as implicações da força de reação do solo, da ace-
que visam melhorar as condições de vida do paciente, ou por leração e dos impactos repetidamente aplicados no aparelho
indicação de urgência, como nos casos graves, por exemplo, locomotor refletem em sobrecarga articular [6].
os grandes traumas, neoplasias em estágio avançado ou sepses, Os joelhos protéticos têm como função proporcionar
os quais trazem riscos à vida para o paciente [1]. estabilidade na fase de apoio e controle na fase de balanço
A marcha após amputação unilateral do membro inferior durante a marcha. No mecanismo hidráulico do joelho pro-
é muitas vezes assimétrica, evidenciado fases de balanço e tético, o controle sobre a fase de balanço é realizado através
assimetrias no duplo apoio, acompanhada por uma propulsão de ajustes das válvulas de extensão e de flexão do joelho. É
reduzida em razão da diminuída força de reação do solo gerada importante verificar se a resistência para a extensão não está
pelo pé protético. Normalmente, existe também uma variação muito forte, pois isso impediria a extensão total do joelho na
entre o comprimento do passo entre o membro protetizado fase final do balanço e poderia causar uma flexão brusca da
e o contralateral [2]. articulação no toque do calcâneo, levando provavelmente à
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em caráter queda do paciente [1].
obrigatório, independentemente de carência, reabilita profis- O Computer Leg (C-Leg) trata-se do primeiro sistema de
sionalmente os beneficiários que estão parcial ou totalmente articulação de joelho hidráulico totalmente controlado por
incapacitados para a sua atividade profissional em decorrência um microprocessador. Os sinais necessários para a segurança
de doença ou acidente de qualquer natureza ou causa. Dentre durante a fase de apoio e o controle da fase de balanço são
estes beneficiários estão incluídos os segurados com sequelas fornecidos por meio de sensores eletrônicos, os quais são
de amputação, que passam por um processo de protetização, responsáveis pela medição do ângulo de flexão do joelho e da
o qual envolve o atendimento fisioterapêutico na fase de pré velocidade angular da perna, dependendo do comprimento
e pós protetização. A Gerência Executiva Bauru – RP (Re- e da frequência de cada passo. Tais sensores também são
abilitação Profissional) realiza este processo de protetização capazes de medir a carga durante o choque de calcanhar e
através de uma parceria com a Universidade do Sagrado no antepé [1].
Coração, desde 1998. O deslocamento em posição bípede rítmica, aparente-
Após o processo cirúrgico (amputação), os segurados são mente sem esforço, é um evento contínuo que se constitui
encaminhados pela perícia médica do INSS para avaliação em transferir peso de um membro inferior para o outro, com
por uma equipe multidisciplinar e esta determina se ele está o objetivo de avançar o corpo para frente, como se fossem
elegível ou inelegível para volta ao trabalho. Se for avaliado sucessivos desequilíbrios, que é uma das características deter-
como elegível para voltar ao trabalho ele é direcionado para minantes da marcha do ser humano [7].
o programa de protetização e posteriormente é recolocado no A marcha em um amputado protetizado deve ser segura,
mercado de trabalho. eficiente e simétrica. Quando os desvios ocorrem, as causas
A reabilitação do paciente amputado inicia-se logo após a podem estar relacionadas a deficiências do próprio amputado,
cirurgia, procedendo com gesso e enfaixamento do coto, com como, por exemplo, fraqueza muscular, contratura articular
o objetivo de prevenir o edema pós-operatório, adequando ou presença de hipersensibilidade por neuromas. No entanto,
o coto e melhorando o processo de cicatrização. Também é problemas protéticos como alinhamento, encaixe mal adap-
importante evitar processos de retrações, por meio do bom tado ou escolha de componentes também podem alterar a
posicionamento do paciente no leito (pós-operatório) man- marcha. Estes desvios podem ser observados em todas as fases
tendo a sua amplitude de movimento (ADM) e adequando da marcha, tornando-se difícil de ser avaliado e quantificado
as condições vasomotoras e neurológicas, através da postura a partir da observação clínica [1].
ortostática. Passando a fase aguda, o objetivo é tornar o pa- A análise de marcha tem fundamental importância no
ciente mais funcional e independente possível, na utilização de estudo e tratamento de patologias que envolvem o aparelho
sua prótese [3]. A fase pré-protetização é essencial para que o locomotor. De maneira geral, esta análise de marcha nos for-
paciente consiga se adaptar à prótese com fortalecimento mus- nece dados que contribuem para compreensão do mecanismo
cular, prevenção e diminuição de deformidades, alongamento, fisiopatológico, direcionamento do tratamento, planejamento
redução do edema e aumento do equilíbrio, indispensáveis para cirúrgico, prescrição e adequação de órteses, próteses e au-
a melhor função do membro protetizado e, consequentemente, xiliares de marcha, comparação no pré e pós-tratamento e
melhor independência e qualidade de vida [4]. orientação de desempenho para atletas de elite [8].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 333

As próteses atuais contribuem para o aperfeiçoamento da rotativo hidráulico, na sequência com o joelho hidráulico
marcha do amputado e, apesar da contribuição cada vez mais monocêntrico e a análise final com o joelho microprocessado.
positiva dos materiais protéticos, as implicações da força de Após o exame físico e antropométrico, foram afixados os
reação do solo, da aceleração e dos impactos repetidamente marcadores no paciente por meio do sistema de colocação
aplicados no aparelho locomotor refletem em sobrecarga Helen Hayes, e o mesmo realizou um trajeto de marcha em
articular [9]. uma pista de 7 metros de comprimento, na qual através de 8
O objetivo deste trabalho foi analisar comparativamente câmeras digitais Hawk foi realizada a captura dos movimentos
a marcha de um paciente amputado de membro inferior para análise cinemática, que avalia as características espaço-
nível transfemoral utilizando três tipos de joelhos protéticos -temporais da marcha, descrevendo os aspectos quantitativos
diferentes, para observar e compreender se há diferenças sig- do padrão do movimento. Por meio de 2 câmeras de vídeo
nificativas durante a deambulação, levando em consideração a Sony foi realizada a captura das imagens para a análise ob-
tecnologia de cada joelho protético, visto que com o avanço da servacional, que analisa qualitativamente as características
mesma, as próteses estão se tornando cada vez mais próximas de marcha.
ao fisiológico, dependendo, é claro, da evolução e adaptação Na sequência, foi realizada uma edição de vídeo por meio
de cada paciente. do editor de vídeo Magic Edit, possibilitando a análise ob-
servacional dos segmentos tornozelo, joelho e quadril, com o
Material e métodos objetivo de determinar as características da marcha.
Os parâmetros quantitativos relacionados à captura cine-
Este trabalho foi avaliado e aprovado pelo comitê de ética mática avaliados foram: comprimento de passo, comprimento
e pesquisa da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da de passada, velocidade da marcha, cadência, tempo de apoio,
Universidade Sagrado Coração (USC), protocolo número fase de balaço, duplo apoio inicial, apoio simples, largura
211/10. passo, estes sendo obtidos pelo software Motion Analysis,
O sujeito deste trabalho foi um paciente do sexo masculi- no qual o programa Evart 5.0 capta a marcha, para depois o
no, 28 anos, amputado transfemoral esquerdo, terço médio, programa Orthotrak 6.5 Gait Analysis Software processar tais
tendo sido protetizado há 10 anos, reabilitado no setor de informações e gerar os gráficos e planilhas para a obtenção
Reabilitação Profissional – INSS, Bauru. Utiliza prótese dos resultados.
transfemoral modular, com encaixe tipo anatômico flexível Com a avaliação dos resultados foi feita a análise da marcha
com reforço externo em fibra de carbono e pé com resposta com os três joelhos propostos.
dinâmica através de lâmina de carbono.
O sujeito foi selecionado para esta pesquisa, pois apresen- Resultados e discussão
tava a condição ideal de inclusão: que foi ter experiência com
os três tipos de joelhos analisados. Análise observacional
Neste estudo foram avaliadas e comparadas as variáveis
encontradas durante a análise de marcha de um paciente Durante a análise observacional da marcha do paciente,
amputado transfemoral esquerdo utilizando 03 diferentes realizada com os três joelhos protéticos diferentes, foi possível
joelhos protéticos: hidráulico monocêntrico (prótese 1), joe- observar características e padrões de marcha, comuns aos três,
lho hidráulico rotativo (prótese 2) e joelho microprocessado descritos no parágrafo abaixo.
(prótese 3). O paciente apresentava marcha independente, com estabi-
lidade no apoio e largura do passo discretamente aumentada.
Procedimento Isto ocorre em função de uma base de marcha maior, acompa-
nhada pelos inevitáveis desvios, caracterizados pela oscilação
Após a apresentação do projeto e solicitação à gerência do demasiada da pelve para os lados e por uma tendência de
INSS-Bauru para realização deste trabalho, foi apresentado inclinar a coluna lombar lateralmente, de modo a posicionar
ao paciente o termo de consentimento explicando o objetivo o tronco mais diretamente sobre a prótese [10].
e solicitando a sua aprovação. Na fase seguinte foi realizado, O contato inicial ocorre com o toque do calcanhar e na
durante três meses, o treinamento pós-protético com o pa- resposta à carga realiza apoio plantígrado bilateralmente. O
ciente na clínica de Fisioterapia da USC para adaptação à avanço da perna sobre o pé durante a resposta à carga e apoio
prótese com joelho microprocessado. simples é normal bilateralmente. No médio apoio ocorre ele-
A etapa, de avaliação da marcha, foi discutida e planejada vação precoce do calcanhar do solo do membro contralateral
com os profissionais do setor de reabilitação, e também solici- a prótese. O primeiro, segundo e terceiro mecanismo de rola-
tada à permissão para realização deste projeto junto à comissão mento estão adequados bilateralmente. Essas observações são
de Ética e Pesquisa do Hospital Estadual de Bauru (HEB). idênticas na marcha com os três joelhos, sendo relacionadas
No laboratório de marcha do HEB, foi avaliada a marcha do com a ocorrência das forças verticais do membro amputado
paciente utilizando a sua prótese modular habitual com joelho que são aplicadas pelo calcanhar em contato com a fase de
334 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

apoio, que ocorre mais cedo no paciente amputado para poder durante o apoio simples do membro inferior esquerdo, para
transferir o peso e manter a postura ereta natural [5]. que ocorra o bloqueio do joelho protético, procedimento
No joelho hidráulico monocêntrico (prótese 1), a flexão utilizado em todos os tipos de joelhos protéticos.
plantar no pré-balanço é diminuída a direita e não existe à Há reciprocação dos membros superiores normal nas três
esquerda, pois o eixo do tornozelo da prótese é fixo. observações realizadas.
Nos joelhos hidráulico rotativo (prótese 2) e microproces-
sado (prótese 3), a flexão plantar no pré-balanço é diminuída Análise cinemática
bilateralmente com uma acentuação à esquerda. O desprendi-
mento do calcanhar do solo ocorre adequadamente no apoio Os valores quantitativos abaixo dizem respeito à análise
terminal em ambos os lados. cinemática da marcha realizada pelo paciente com três joelhos
Na progressão do pé durante a utilização de qualquer um protéticos diferentes.
dos três joelhos protéticos é observado que o apoio é realizado Na observação da Tabela I, nota-se que os parâmetros da
em rotação externa bilateral. No balanço há manutenção do velocidade nas três próteses são menores tanto do lado direito
ângulo de progressão do pé no membro inferior esquerdo em quanto do esquerdo em relação aos parâmetros referenciais,
função de não existir a articulação com eixo móvel entre o pé porém, o tempo de apoio do membro direito é maior em
protético e a perna. relação ao esquerdo, pois a manutenção de seu apoio é maior
Nas próteses 1 e 2, no contato inicial o joelho apresenta que o joelho protético em função da maior segurança que
flexão adequada à direita e discreta hiperextensão à esquerda, o paciente sente neste lado. Com isso a fase de balanço se
pois o pé está alinhado em flexão plantar dando esta im- apresenta maior no lado esquerdo.
pressão. Há extensão adequada no apoio simples à direita e O duplo apoio é mantido por mais tempo se comparado
mantém hiperextensão no apoio simples à esquerda. com os parâmetros de referência, pois é o momento em que
Na prótese 1, no pré-balanço há flexão de joelho adequa- o indivíduo sente mais segurança no apoio e pode diminuir
da bilateralmente. Na fase de balanço a flexão é adequada suas exigências de atividades.
bilateralmente. No balanço terminal há extensão apropriada O apoio simples ocorre mais rapidamente tanto no lado
em ambos os lados. esquerdo quanto no direito se comparado com os parâmetros
Na prótese 2, no pré-balanço há flexão de joelho ade- de referência também em função da falta de confiança na
quada bilateralmente. Na fase de balanço é observada flexão estabilidade do joelho protético.
discretamente aumentada à direita e diminuída à esquerda. Com relação à largura de passo, assim como já foi men-
No balanço terminal há extensão apropriada bilateralmente. cionado na análise observacional, é possível observar que nas
Na prótese 3, no contato inicial o joelho apresenta fle- três próteses seu valor é maior que o da referência, pois existe
xão adequada à direita e extensão à esquerda. Há extensão uma sensação de desequilíbrio proporcionada pelos joelhos
adequada no apoio simples à direita e mantém a extensão protéticos, e com o aumento desse parâmetro, o equilíbrio
no apoio simples à esquerda. No pré-balanço há flexão ade- é melhor.
quada bilateralmente. Na fase de balanço é observada flexão Na Tabela II valores positivos desse desvio significam que
discretamente aumentada à direita e adequada à esquerda. o valor relativo ao joelho esquerdo é maior que o do joelho
No balanço terminal há extensão apropriada bilateralmente. direito, e valores negativos significam que o valor do joelho
No contato inicial o quadril apresenta flexão adequada esquerdo é menor que o do joelho direito. Este desvio per-
bilateralmente. No apoio terminal há extensão completa em centual serve para uma análise mais direta da diferença dos
ambos os lados. No balanço a flexão é apropriada bilateral- parâmetros de marcha para cada perna, com os três tipos de
mente. A coxa apresenta posição neutra quanto às rotações joelhos protéticos.
durante todo o ciclo em ambos os lados na observação da Analisando a Tabela II, observa-se que o joelho hidráulico
marcha, independente do joelho protético utilizado. rotativo e hidráulico monocêntrico tendem a apresentar maiores
A pelve apresenta anteroversão aumentada discretamente valores de desvios percentuais nas variáveis temporais, como
durante todo o ciclo, o que é explicado pelo encurtamento do tempo de apoio, fase de balanço, apoio simples e duplo apoio
músculo iliopsoas que ocorre com frequência em pacientes inicial. Enquanto que o joelho microprocessado apresenta
amputados transfemoral. Segundo Carvalho [1], amputações desvio zero nessas mesmas variáveis temporais. Por outro lado,
transfemorais geralmente causam contraturas em flexão e o joelho microprocessado apresenta altos valores de desvios nas
abdução de quadril. O posicionamento em flexão de quadril variáveis espaciais, como comprimento da passada, velocida-
deve ser preservado no alinhamento da prótese, a fim de de, e como valor expressivo o comprimento de passo, que no
evitar uma anteroversão pélvica, que resulta em alteração na membro esquerdo tende a ser 9,74% menor que no direito.
marcha e dor lombar. Já a inclinação da pelve é adequada. Em indivíduos normais, os músculos flexores do joelho,
Padrão comum nos três joelhos utilizados. quando próximo do final da fase de balanço, desaceleram
O tronco permanece em posição normal durante todo o o membro inferior em balanço, que antecipa o contato do
ciclo. Ocorre inclinação lateral do tronco para a esquerda, calcâneo, momento no qual a velocidade do pé para frente
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 335

Tabela I
Hidráulico Hidráulico
Parâmetros Microprocessado
monocêntrico rotativo Ref.
espaço-temporais
Esq. Dir. Esq. Dir. Esq. Dir.
Comp. passo (cm) 65,78 64,00 61,10 62,40 59,68 65,79 64,88
Comp. passada (cm) 129,78 129,10 123,49 124,42 126,82 124,12 129,82
Velocidade (cm/s) 113,65 113,73 109,39 109,16 117,60 113,45 118,34
Cadência (passos/min) 105,88 105,88 105,91 105,88 109,09 109,09 109,46
Tempo de apoio (%) 63,97 67,65 65,44 66,18 63,64 63,64 60,56
Fase de balanço (%) 36,03 32,35 34,56 33,82 36,36 36,36 39,44
Duplo apoio inicial (%) 14,71 16,18 14,71 17,65 13,64 13,64 10,53
Apoio simples (%) 32,35 36,03 33,82 34,56 36,36 36,36 39,44
Largura passo (cm) 13,13 - 16,84 - 15,87 11,97

Tabela II
Hidráulico Hidráulico
Parâmetros Microprocessado
monocêntrico rotativo Ref.
espaço-temporais
Med. Des.(%) Med. Des.(%) Med. Des.(%)
Comp. passo (cm) 64,89 2,74 61,75 -2,11 62,73 -9,74 64,88
Comp. passada (cm) 129,44 0,53 123,95 -0,75 125,47 2,15 129,82
Velocidade (cm/s) 113,69 -0,07 109,27 0,21 115,52 3,59 118,34
Cadência (passos/min) 105,88 0,00 105,89 0,03 109,09 0,00 109,46
Tempo de apoio (%) 65,81 -5,59 65,81 -1,12 63,64 0,00 60,56
Fase de balanço (%) 34,19 10,76 34,19 2,16 36,36 0,00 39,44
Duplo apoio inicial (%) 15,44 -9,52 16,18 -18,17 13,64 0,00 10,53
Apoio simples (%) 34,19 -10,76 34,19 -2,16 36,36 0,00 39,44

aproxima-se de zero. Depois do contato do calcâneo e do necessárias. Como também a implantação de características
contato total do pé, sua atividade persistente auxilia a estabi- especiais para atividades como dançar e andar de bicicleta [12].
lização da pelve, e com outros músculos, o início da extensão Por essa razão os parâmetros temporais acabam sendo
do quadril [11]. iguais entre os dois membros (desvio = 0). Para manter um
No caso de uma amputação, há uma secção transversal dos equilíbrio entre os tempos de apoio, tanto bilateral quanto
músculos flexores de joelho, que resulta na perda de sua função simples, no caso do paciente em estudo, existe uma tendência
de desacelerar a extensão terminal do joelho, necessitando de de aumento de velocidade do ciclo de marcha esquerdo e a
substituição por um dispositivo mecânico na prótese [10]. consequente diminuição no comprimento de passo esquerdo,
Isto explica, então, o aumento nos valores da fase de balanço o que explica os desvios percentuais maiores observados nas
esquerda (membro amputado) nos joelhos hidráulicos, visto variáveis espaciais para esta prótese. Isto ocorre para igualar
que esta não possui os músculos íntegros para desacelerar o o tempo de apoio, aumentar o tempo de apoio do membro
movimento, levando, então, a um aumento do tempo de esquerdo que estava diminuído nas próteses hidráulicas,
apoio no membro inferior direito. principalmente no monocêntrico, fazendo com que o pa-
Já no joelho microprocessado, [1,12] a fase de balanço ciente tenha que colocar o pé esquerdo no chão antes do que
possui um controle em tempo real dos movimentos, a fim de estava acostumado, encurtando o comprimento de passo
alcançar um padrão de marcha harmoniosa, ou seja, simétrica deste membro.
em ambos os lados, direito e esquerdo. Tais ajustes, com base Valores obtidos em estudo mostram que a velocidade
em software, são feitos de acordo com a altura, peso e atividade de marcha é maior utilizando o joelho microprocessado em
do paciente, oferecendo vantagens como fase de apoio segura, comparação a joelhos não-microprocessados [13,14]. Em con-
com menos esforço ao iniciar o balanço e uma caminhada mais trapartida, de acordo com Hafner et al. [15], o comprimento
tranquila em terrenos irregulares sem atividade dos membros do passo mostrou uma tendência de aumento ligeiro do lado
adicionais residual, uma flexão na fase de apoio a fim de re- da prótese com o joelho microprocessado em comparação
duzir as forças de choque do calcanhar, segurança em escadas ao joelho não afetado, ocorrendo o contrário no estudo em
e rampas, através do fornecimento das resistências de flexão questão. Isto pode se alterar em função das características fí-
336 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Figura 1

sicas individuais de cada sujeito e a sua adaptação à prótese, o que relatam que amputados transfemorais têm uma fase de
sujeito deste estudo apresenta uma característica mais próxima balanço do membro protético mais prolongada.
da normalidade, pois suas condições físicas e adaptação estão No geral, pode-se observar que a prótese com joelho
acima do padrão normal. microprocessado apresenta um número maior de parâ-
Quanto ao tempo de apoio nos joelhos hidráulico mo- metros com valores iguais entre o membro amputado e o
nocêntrico e hidráulico rotativo, este é maior que o valor de contralateral, cadência, tempo de apoio, fase de balanço,
referência, para garantir maior equilíbrio durante a marcha. duplo apoio inicial, apoio simples, o que é explicado pela
Entretanto, no apoio simples os valores são menores que o maior capacidade, facilidade e opções de alternativas para
da referência, em ambos os lados, com predomínio no lado regular as características do joelho da prótese em relação ao
esquerdo, pois se trata do lado protetizado, no qual o paciente joelho humano normal, facilitando a adaptação do paciente
apresenta certa insegurança, fazendo com que ele passe rapi- à prótese.
damente por esta fase. Consequentemente a fase de balanço Analisando os gráficos da análise cinemática referente
do membro protetizado estará aumentada em relação ao outro aos joelhos hidráulico monocêntrico (prótese 1) e hidráulico
membro, fato comprovado por Boonstra, Schram, Eisma [16] rotativo (prótese 2) foi observado que a pelve se desloca den-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 337

tro do parâmetro normal tanto do lado esquerdo quanto do condicionamento físico com características acima dos padrões
direito indicando um tamanho adequado da altura da prótese. normais, por ter sido atleta, o que facilitou sua adaptação
No plano sagital há um deslocamento aumentado na ver- e determinou parâmetros próximos entre todos os joelhos
são pélvica anterior em função do encurtamento do músculo analisados.
iliopsoas, frequente em pacientes amputados transfemorais,
que resulta na pelve em anteroversão. No plano transversal, a Referências
rotação pélvica está adequada indicando um padrão normal
de dissociação ombro-pélvica. 1. Carvalho JA. Amputações de membros inferiores em busca da
Nos planos frontal e sagital o deslocamento dos membros plena reabilitação. São Paulo: Manole; 2005.
inferiores se apresenta normal, a rotação do quadril no plano 2. Roerdink M, Roeles S, Van der Pas SCH, Bosboomb O, Beek
PJ. Evaluating asymmetry in prosthetic gait with step-length
transverso apresenta uma tendência do membro inferior
asymmetry alone is flawed. Gait & Posture 2012;35:446-51.
esquerdo (amputado) ao desvio para rotação interna, que se
3. Tonon SC, Aluisio OV. Gait analysis in amputees with different
deve em função do bloqueio determinado pelo encaixe e a levels of amputation. Rev Bras Biomec 2003;1(1):27-31.
falta de rotação axial do joelho protético. 4. Junior PCN, Mello MA, Monnerat E. Tratamento fisiotera-
Os padrões do joelho nos três planos estão muito próximos pêutico na fase pré-protetização em pacientes com amputação
do normal, sem alterações no joelho direito e no esquerdo unilateral. Fisioter Bras 2009;10(4):294-99.
(protético), pois estes acompanham sempre o alinhamento 5. Hayashi Y, Tsujiuchi N, Koizumi T, Uno R, I Matsuda Y, Tsu-
do joelho normal. Existe uma diferença mínima entre os chiya Y et al. Gait motion analysis in the unrestrained condition
outros joelhos e o microprocessado, sendo necessário tarefas of trans-femoral amputee with a prosthetic limb. 34th Annual
mais difíceis e com alterações de velocidades para uma análise International Conference of the IEEE EMBS, San Diego, Ca-
lifornia USA, 2012. 28 August - 1 September.
biomecânica mais especifica [17].
6. Jernberger A. The neuropathic foot. Prosthet Orthot Int
A progressão do pé e a rotação no plano transversal não 1993;17:189-95.
apresentam alterações e se mantém constante durante todo 7. Alonso VK, Okaji SS, Pinheiro MT, Ribeiro CM, Souza HP,
o percurso, pois o pé protético não apresenta eixo rotacional Santos SS, et al. Análise cinemática da marcha em pacientes
no plano transverso e o tempo de rolamento em função da hemiparéticos. Fisio Bras 2002;55:16-23.
amputação é sempre menor que o padrão. 8. Saad M, Battistella LR, Masiero D. Técnicas de análise de
Observando os gráficos da Figura 1, da captura cinemática marcha. Acta Fisiátrica 1996;3(2):23-6.
referente ao joelho microprocessado (prótese 3), nota-se 9. Oliveira TP, Luz SCT, Szucs AP, Andrade MC, Ávila AOV,
que as características dos movimentos da pelve, quadril e pé Tonon JJ, Rosa FJB. Análise do impacto mecânico nas próteses
de um sujeito bi-amputado durante a marcha. Fisioter Pesq
apresentam-se iguais as das próteses 1 e 2.
2011;18(1):11-6.
O joelho microprocessado foi o único segmento que
10. Radcliffe CW. Prótese. In: Rose J, Gamble JG. Marcha humana.
apresentou as características dos movimentos, nos três planos, São Paulo: Premier; 1998.
mais próximas do padrão normal do que as observadas nas 11. Rab GT. Músculos. In: Rose J, Gamble JG. Marcha humana.
análises dos joelhos 1 e 2. São Paulo: Premier; 1998.
Vale ressaltar que no desenvolvimento da pesquisa, 12. Dietl H, Kaitan R, Pawlik R, Ferrara P. The C‑Leg - A new sys-
observou-se um número limitado de trabalhos que analisam a tem for fitting of transfemoral amputees. Orthopädie-Technik
marcha comparando diferentes tipos de joelhos e parâmetros 1998;49:197-11.
para a fixação de eletrodos por meio do sistema de colocação 13. Kahle JT, Highsmith MJ, Hubard SL. Comparison of non‑mi-
Helen Hayes. croprocessor knee mechanism versus C‑Leg on prosthesis
evaluation questionnaire, stumbles, falls, walking tests, stair
descent, and knee preference. J Rehabil Res Dev 2008;45:1-14.
Conclusão 14. Nimmervoll R, Kastner J, Kristen H. The C‑Leg Experience -
A gait analysis comparison with conventional prosthetic knee
A avaliação observacional da marcha realizada com os joints. Orthopädie-Technik 2003;54:562-65.
três tipos de joelhos mostrou características muito parecidas. 15. Hafner BJ, Willingham LL, Buell NC, Allyn KJ, Smith DG.
No entanto o joelho microprocessado apresenta um número Evaluation of function, performance and preference as trans-
maior de parâmetros cinemáticos iguais aos da referência, femoral amputees transition from mechanical to micropro-
permitindo uma adaptação mais fácil, sendo, então, o mais cessor control of the prosthetic knee. Arch Phys Med Rehabil
indicado e o que mais se assemelha com a marcha fisiológica 2007;88:207-17.
16. Boonstra AM, Schram JM, Eisma WH. Gait Analysis of trans-
quando comparado com os outros dois joelhos, hidráulico
femoral amputee patients using prostheses with two different
rotativo e hidráulico monocêntrico.
knee joints. Arch Phys Med Rehabil 1996;77(5):515-20.
Vale ressaltar que a aderência aos equipamentos protéticos 17. Ava D, Segal MS, Michael S, Orendurff MS, Glenn K, Martin
está diretamente relacionada às características físicas indivi- L, et al. Kinematic and kinetic comparisons of transfemoral
duais de cada sujeito. O sujeito deste estudo apresenta um amputee gait using C-Leg® and Mauch SNS® prosthetic knees.
J Rehabil Res Dev 2006;43(7):857-70.
338 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Artigo original

Aplicação de um programa de exercício físico


em gestantes diabéticas
Application of a physical activity in pregnant women with diabetes
Leila Simone Foerster Merey, Ft. M.Sc.*, Cassia Fernandes Marques, Ft.**, Danielle Chadid Warpechowski, Ft.,
Hérica Maiara de Matos, Ft.*, Taisa Guimarães, Ft.*

*Docente da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande/MS,


**Graduados pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande/MS

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar os efeitos do exercício físico nas variáveis Objective: To evaluate the effects of exercise on cardiorespiratory
cardiorrespiratórias e índice de glicemia em gestantes diabéticas. variables and glycemic index in diabetic pregnant women. Method:
Método: Nove gestantes diabéticas entre 24 e 32 semanas gestacionais Nine diabetic women between 24 and 32 weeks of gestation,
foram submetidas a um programa de exercício físico que incluiu performed an exercise program that included stretching, aerobic
alongamento, exercícios aeróbicos e relaxamento uma vez por exercise and relaxation once a week for four consecutive weeks.
semana durante quatro semanas consecutivas. Foram verificadas as Cardiorespiratory variables and glycemic index were verified prior
variáveis cardiorrespiratórias e índice glicêmico antes da realização to the exercise program, five and sixty minutes after the total pro-
do programa de exercícios, cinco e sessenta minutos após o término gram. To compare the results we used the paired Student t test and
total do programa. Para a comparação dos resultados foi utilizado ANOVA and considered significant differences when the p value
o teste t-student pareado e teste ANOVA e considerada diferença is less than or equal to 0.05. Results: The glycemic index after 60
significativa quando o valor de p fosse menor ou igual a 0,05. Re- minutes of exercise was significantly lower than that observed before
sultados: O índice glicêmico após 60 minutos do exercício físico foi exercise (p < 0.05). Heart rate and respiratory rate 5 minutes after
significativamente menor do que o observado antes do exercício (p exercise was significantly greater than that observed before and after
< 0,05). A frequência cardíaca e frequência respiratória 5 minutos sixty minutes of exercise. There was a trend towards a difference
após o exercício foi significativamente maior do que a observada between times for the saturation of oxygen. Conclusion: A program
antes e após sessenta minutos do exercício. Houve uma tendência de of exercise, with moderate intensity, helps in glycemic control of
diferença entre os momentos para a variável saturação de oxigênio. pregnant women with diabetes mellitus, and its effect is already
Conclusão: Um programa de exercício físico, de intensidade modera- observed after one exercise session.
da, auxilia no controle glicêmico de gestantes com diabetes mellitus, Key-words: diabetes, pregnancy and physical activity.
sendo que seu efeito já é observado em uma sessão de exercício.
Palavras-chave: diabetes, gestação e atividade física.

Recebido em 26 de setembro de 2012; aceito em 18 de dezembro de 2012.


Endereço para correspondência: Leila Simone Foerster Merey, Rua Antonio Maria Coelho, 6681, Casa 31, Bairro Vivendas do Bosque, 79021-170 Campo
Grande MS, E-mail: leilocaf@hotmail.com, cassia.fmt@hotmail.com, marques.fisio@live.com, herica_maiara@hotmail.com, taizinha_88@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 339

Introdução melhor capacidade cardiorrespiratória, o que facilita a reali-


zação das atividades domésticas, proporcionando melhores
O organismo da mulher sofre mudanças anatômicas, fun- condições musculares e esqueléticas que ajudam na adaptação
cionais e psicológicas durante a gravidez com a finalidade de das mudanças posturais e no trabalho de parto. Além disso, a
reorganizar a função de todos os órgãos e aparelhos de forma prática de atividades regulares pode contribuir com o aumento
harmônica e atender tanto as necessidades maternas quanto da autoestima, muitas vezes abalada neste período. [12,13]. A
às necessidades fetais [1,2]. Se as adaptações do organismo indicação e realização de atividades físicas em gestantes de alto
das gestantes não se ajustarem corretamente, podem acarre- risco, como aquelas que cursam com a diabetes gestacional,
tar prejuízos ao prognóstico materno e perinatal. Dentre as deve ser feita de forma responsável e criteriosa, com moni-
adaptações, incluem-se as que exigem desempenho diferen- torização contínua realizada por profissionais habilitados.
ciado do pâncreas endócrino que, quando não ativado, pode O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos do exercício
acarretar diabetes [3]. físico nas variáveis cardiorrespiratórias e índice de glicemia
O diabetes é uma doença crônica, em que o organismo é em gestantes diabéticas.
incapaz de conservar o nível de glicose no sangue de acordo
com os limites normais. A insulina é um hormônio que é Material e métodos
produzido pelo pâncreas, e o corpo necessita da insulina para
poder converter açúcares, amidos, e outros alimentos em O presente estudo foi realizado no Hospital Universitá-
energia, para um melhor funcionamento. Quando o indiví- rio - HU, com gestantes diabéticas inclusas no Programa de
duo possui diabetes, o corpo não produz insulina ou o pouco Gestantes de Alto Risco coordenado pelo Dr. Wilson Ayach
de insulina produzida não funciona adequadamente [4]. As e Dr. Ernesto Figueiró Filho.
causas do diabetes ainda não estão bem definidas, mas sabe-se Foram incluídas na pesquisa 9 gestantes com diabetes
que fatores genéticos podem ter muita influência na doença, e gestacional e/ou preexistente, que estivessem entre 24 e 32
até mesmo o ambiente pode ter algum efeito. Existem quatro semanas de idade gestacional, independente da idade materna
principais tipos de diabetes, são eles: insulina dependente, para iniciar o programa. Para estas o programa de exercício foi
não dependente de insulina, gestacional e diminuição da realizado até a 38º semana. Não foram incluídas gestantes com
tolerância à glicose [5]. idade gestacional maior que 32 semanas ou que apresentassem
A gravidez pode ser complicada pelo diabetes mellitus sangramentos e instabilidade hemodinâmica. Foram excluídas
preexistente, ou pelo diabetes mellitus gestacional (DMG), as que apresentaram desconfortos, fadiga, contrações contí-
sendo esta uma condição hiperglicêmica diagnosticada pela nuas, sangramento vaginal e descompensação hemodinâmica.
primeira vez durante a gravidez, podendo ou não persistir As gestantes que foram selecionadas para o estudo receberam
após o parto [6]. um termo de consentimento livre e esclarecido para que elas
Entre as consequências do diabetes para o bebê estão a pudessem optar em aderir ou não ao programa proposto.
macrossomia (excesso de peso), policitemia (aumento dos Foi realizado um estudo longitudinal e quantitativo através
glóbulos vermelhos), hipocalcemia (redução do cálcio no da seleção das pacientes quanto aos critérios de inclusão. A
sangue), icterícia (aumento da bilirrubina e cor amarelada da coleta de dados foi realizada através de um instrumento pré-
pele e das mucosas), e síndrome da dificuldade respiratória, -elaborado pelas pesquisadoras. Foi realizada a monitorização
porque o excesso de insulina retarda a maturação pulmonar das variáveis (FR, FC, SatO2, PA e índice de glicemia).
[7,8]. Para a gestante, além de aumento do risco de cesariana, o O programa de exercício físico foi realizado as quartas-
diabetes gestacional pode estar associado à toxemia, uma con- -feiras no período vespertino. Foi iniciado com alongamento
dição da gravidez que provoca pressão alta e geralmente pode ativo de membros superiores, tronco e membros inferiores por
ser detectado pelo aparecimento de um inocente inchaço das 10 minutos. Em seguida foram aplicados durante 30 minu-
pernas, mas que pode evoluir para a eclâmpsia, com elevado tos exercícios aeróbicos em pé com o auxílio de bastão para
risco de mortalidade materno-fetal e parto prematuro [9,10]. realizar extensão de quadril, agachamento, ficar na ponta dos
A prática de exercícios físicos em gestantes diabéticas tem pés (fazendo plantiflexão), rotação de quadril – rebolar, um
o intuito de diminuir a intolerância à glicose, reduzindo assim membro inferior à frente e outro atrás, fletir o joelho de trás
a dosagem diária de insulina. Exercitar-se durante a gravidez (usar o bastão como apoio lateral), fazer ante e retroversão de
não é apenas saudável, como também importante, aumenta pelve. Para os exercícios de membros superiores como flexão
o bem-estar e reduz o estresse, além de proteger contra dores com rotação e inclinação de tronco foram utilizados bastões, a
nas costas e manter o tônus e a força da musculatura [11]. fim de otimizar os exercícios e melhorar o equilíbrio corporal.
Um programa de exercícios bem planejado e bem estru- Em decúbito lateral, fazendo abdução de quadril, as gestantes
turado, realizado repetitivamente e diariamente é importante tinham que contrair o glúteo, segurar por alguns segundos e
para uma gestação saudável. É necessário que seja reavaliado relaxar. Em decúbito dorsal as pacientes foram orientadas a
a cada trimestre da gestação, para facilitar a adequação às realizarem o exercício de ponte em que a cintura pélvica era
alterações que ocorrem nesse período. Isto irá provocar uma elevada e os membros inferiores fletidos com os pés permane-
340 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

cendo em contato com o solo. Logo após foi realizado relaxa- estão apresentados na Tabela I e na Figura 1. O índice glicêmi-
mento ao som de música ambiente, fazendo movimentos leves co após 60 minutos do exercício físico foi significativamente
e suaves de membros superiores e coluna cervical associados menor (p = 0,008) do que aquele observado antes do exercício.
a exercícios respiratórios, durante 10 minutos. Os resultados referentes à pressão arterial, saturação de O2,
As variáveis cardiorrespiratórias foram mensuradas antes, frequência cardíaca, e frequência respiratória dos pacientes,
cinco minutos após (exceto índice de glicemia) e uma hora nos momentos antes e, após 5 e 60 minutos do exercício
após o término do relaxamento. As gestantes receberam físico, estão apresentados na Tabela I. De forma geral, não
acompanhamento fisioterapêutico por 60 minutos após o houve diferença estatística significativa entre os momentos
término total do programa estabelecido. A coleta do índice de avaliação (antes e 5 e 60 minutos após o exercício), em
de glicemia antes e após o programa de exercício físico, foi relação às variáveis pressão arterial sistólica, pressão arterial
realizado respeitando o horário (15:00 e 17:00 horas) já de- diastólica e saturação de O2, todavia, houve uma tendência de
terminado para coleta referente ao Programa de Gestantes de diferença entre os momentos para a variável saturação de O2.
Alto Risco. O exercício físico foi realizado uma vez por semana Na comparação entre os momentos de avaliação, houve
durante quatro semanas. As variáveis cardiorrespiratórias diferença significativa entre eles, em relação à frequência
foram mensuradas pelos aparelhos de pressão arterial (BIC– cardíaca e em relação à frequência respiratória. Em ambas,
Sphygmomanometer, ML0402003) e oxímetro (Nonim após cinco minutos do término do exercício, verificou-se uma
Medica, Inc. Plymouth, MN USA, Model 9500 oximeter). diferença maior do que aquela observada antes do exercício.
O índice de glicemia foi mensurado através do aparelho de Os resultados referentes a estas duas variáveis estão ilustrados
glicemia capilar (ACCU- CHEK advantage – Laboratory na Figura 2.
Use Eletrical Equipament 8C79) realizado pela própria ges- A comparação entre os momentos antes e após 60 minutos
tante. A coleta de dados foi realizada por três pesquisadoras do exercício, em relação ao índice glicêmico foi realizada por
acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade Católica meio do teste t-student pareado, enquanto que a comparação
Dom Bosco – UCDB. entre os momentos antes, 5 e 60 minutos após o exercício, para
A comparação entre os momentos antes e após 60 minutos as demais variáveis, foi realizado pelo teste ANOVA de uma
do exercício físico, em relação ao índice glicêmico, foi reali- via de medidas repetitivas, seguido pelo pós-teste de Duncan.
zada por meio do teste t-student pareado. Já a comparação Cada símbolo representa a média e a barra o desvio padrão
entre os momentos antes e após 5 e 60 minutos do exercício da média. Bpm = batimentos por minuto; ir = incursões res-
físico, em relação às variáveis pressão arterial, saturação de O2, piratórias. * Diferença significativa em relação ao momento
frequência cardíaca e frequência respiratória, foi realizada por antes do exercício; ** Diferença significativa em relação aos
meio do teste ANOVA de uma via de medidas repetitivas, momentos antes e depois de 60 minutos do exercício (teste
seguido pelo pós-teste de Duncan. Os demais resultados das ANOVA de uma via de medidas repetitivas, p < 0,05, seguido
variáveis avaliadas neste estudo foram apresentados na forma pelo pós-teste de Duncan, p < 0,05). Campo Grande/MS,
de estatística descritiva ou na forma de tabela e gráficos. A 2009 (n = 9).
análise estatística foi realizada utilizando-se o “Software”
SigmaStat, versão 2.0, considerando diferenças significativas Discussão
quando o valor de p foi menor que 0,05[14].
É bastante rica a literatura que fala dos benefícios do
Resultados exercício físico e da saúde em geral a que esta prática pro-
porciona. Da mesma forma, os meios de comunicação nos
Os resultados referentes ao índice glicêmico, mensurado últimos anos vêm divulgando o quanto é importante ter uma
nos momentos antes e após 60 minutos do exercício físico, vida saudável e ativa. Ainda assim, o sedentarismo associado

Tabela I - Resultados referentes ao índice glicêmico, pressão arterial, saturação de O2, frequência cardíaca e respiratória, nos momentos antes,
5 e 60 minutos após o exercício. Campo Grande/MS, 2009 (n = 9).
Tempo em relação ao exercício
Variáveis
Antes Após 5 min Após 60 min Valor de p
Índice glicêmico 122,47 ± 43,57 - 109,69 ± 38,98 0,008
PAS (mmHg) 113,06 ± 7,78 117,22 ± 6,78 115,28 ± 7,23 0,128
PAD (mmHg) 75,28 ± 6,05 77,22 ± 5,79 77,78 ± 6,43 0,157
Saturação de O2 (%) 96,75 ± 0,90 97,33 ± 0,70 97,28 ± 0,59 0,051
0,015
Frequência cardíaca (bmp) 85,92 ± 7,47 92,78 ± 8,19 89,58 ± 6,83
5’ após > antes
0,023
Frequência respiratória (ir) 19,72 ± 1,50 20,75 ± 1,23 19,61 ± 0,97
5’ > antes e 60’ após
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 341

aos maus hábitos alimentares é visto atualmente como um pelo efeito agudo do exercício físico, mostrado na glicemia
problema mundial. capilar, a qual foi coletada antes e após uma sessão de exercício.
No entanto, no trabalho realizado por Avery et al. [17],
Figura 1 - Gráfico ilustrando o Índice glicêmico das gestantes, nos os achados relacionados ao índice glicêmico foi contrário aos
dois momentos de avaliação, antes e após 60 minutos do exercício encontrados no nosso estudo, uma vez que eles avaliaram a
físico. Cada coluna representa a média e a barra o desvio padrão da efetividade de um programa de exercício realizado por 29
média. * Diferença significativa em relação ao momento antes (teste gestantes diabéticas e observaram que não houve diferenças
t-student pareado, p = 0,008). Campo Grande/MS, 2009 (n=9). em relação a esta variável e complicações fetais. Contudo,
180 acredita-se que este achado deve-se ao fato de não ter sido
160 feito um acompanhamento contínuo durante a atividade
*
140 física, uma vez que as pacientes realizavam o programa em
suas residências sem acompanhamento especializado.
Índice glicêmico

120
Em 1989, Jovanovic-Peterson et al. [18] estudaram 20
100
mulheres diabéticas, no terceiro trimestre gestacional, distri-
80 buídas aleatoriamente em grupo controle (dieta durante seis
60 semanas) e grupo experimental (dieta e exercícios por igual
40 período de tempo), realizavam exercício físico durante 20 min,
20 3 vezes por semana, durante 6 semanas. Os resultados rela-
0 cionados aos níveis glicêmicos nos dois grupos começaram a
Antes Após divergir a partir da quarta semana de estudo. Na sexta semana
60 minutos as gestantes submetidas ao exercício apresentaram melhora
Tempo em relação ao exercício
significativa dos níveis glicêmicos, quando comparadas às
gestantes do grupo controle.
Figura 2 - Gráfico ilustrando a frequência cardíaca e respiratória Em nossa pesquisa podemos observar que houve redução
dos pacientes, nos três momentos de avaliação, antes e após 5 e 60 na taxa glicêmica com apenas uma sessão semanal de exercício
minutos do exercício físico. físico associado à dieta. Entrando em concordância, Uranic
105 22 e Wasserman [19] notaram que o exercício moderado pro-
Frequência respiratória (Ir)
Frequência cardíaca (bpm)

vocou aumento da sensibilidade à insulina após cada sessão


100 de exercício.
21
Na literatura corrente encontramos dados referentes à
95
20 diminuição dos índices glicêmicos após a prática de exercícios
90 físicos em pacientes diabéticos [20]. McArdle, Katch e Katch
19 [21] observaram diminuição dos níveis plasmáticos de glicose
85 podendo persistir por vários dias devido a uma maior sensi-
18 bilidade de insulina por parte dos músculos ativos.
80
Antes 5 minutos 60 minutos Para entender melhor esta resposta na diminuição da taxa
Após glicêmica observada em nosso trabalho, é preciso compreender
Tempo em relação ao exercício os efeitos da atividade física no diabetes mellitus, uma vez
Frequência cardíaca Frequência respirstória
que o exercício no diabetes mellitus diminui a intolerância à
glicose através do condicionamento cardiovascular, que gera
Segundo Domingues et al.[15], entre as razões que levam aumento da ligação e afinidade da insulina ao seu receptor
à inatividade, um dos possíveis fatores é o desconhecimento através da diminuição da gordura intra-abdominal, aumento
sobre como se exercitar, as finalidades de cada exercício, limi- dos transportadores de glicose sensíveis a insulina no músculo,
tações de alguns grupos populacionais e percepções distorcidas aumento do fluxo sanguíneo em tecidos sensíveis a insulina e
em relação aos benefícios do movimento. redução dos níveis de ácidos graxos livres [22].
Em nosso estudo, uma das variáveis que abordamos foi Outra variável abordada em nosso estudo foi a frequência
o índice glicêmico de gestantes diabéticas, colhido antes do cardíaca (FC), em que ocorreu uma elevação significativa após
programa de exercício físico e após 60 minutos do término. 5 minutos do término da atividade física sendo valor de p
Observamos que esta variável apresentou diferença significa- < 0,05. Nos estudos realizados por Santaella [23] e Rondon
tiva (p = 0,008) observada após 60 minutos (Tabela I). et al. [24], a FC permaneceu elevada após o exercício, suge-
A redução da glicemia pós-exercício, observada em nosso rindo um aumento da atividade nervosa simpática cardíaca
estudo, está de acordo com os resultados encontrados por Silva e demonstrando que a regulação simpática para o coração e
e Lima [16], os quais realizaram um estudo com indivíduos a circulação periférica pode sofrer adaptações diferentes após
diabéticos e verificaram que estes têm sua glicemia diminuída o exercício (Tabela I).
342 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

A FC reflete a quantidade de trabalho que o coração deve significativa em relação à variável saturação de oxigênio,
realizar para atender as demandas aumentadas do organismo contudo houve uma tendência à diferença.
quando em atividade física. Isto se torna bastante claro, Não encontramos em outras literaturas dados referentes à
quando comparamos a FC durante o repouso e durante o saturação de oxigênio antes e após o exercício. Entretanto em
exercício. Quando o exercício é iniciado, a FC aumenta rapi- nossa pesquisa consideramos esta variável por entendermos
damente em função do aumento da intensidade do mesmo, que o consumo de oxigênio aumenta linearmente com o au-
a qual pode ser representada pelo consumo de oxigênio. A mento da frequência cardíaca e respiratória, observada durante
FC aumenta diretamente com o aumento da intensidade do a prática de atividade física. Podemos observar na (Tabela I)
esforço, até que o indivíduo esteja próximo dos limites da que houve uma tendência a aumentar a saturação de oxigênio
exaustão. À medida que estes limites se aproximam, a FC 5 minutos após o exercício. No entanto, sugerimos que esta
tende a estabilizar, indicando que a FC máxima está sendo variável seja novamente alvo de estudos para que possamos
alcançada [25]. ter dados fidedignos a fim de respaldar tais achados.
Quanto à variável frequência respiratória (FR), podemos
observar que houve uma diferença estatisticamente significa- Conclusão
tiva, sendo o valor p < 0,05 após 5 minutos do término do
exercício físico. Durante o exercício físico, a FR e o volume Concluímos que um programa de exercício físico, de
corrente aumentam significativamente, de tal forma que a intensidade moderada, auxilia no controle glicêmico de ges-
ventilação minuto pode alcançar valores superiores a 100 tantes com diabetes mellitus, sendo que seu efeito já é obser-
L.min-1 [26]. vado em uma sessão de exercícios. Observamos também que
O modelo do controle da ventilação durante o exercício há aumento da frequência cardíaca e frequência respiratória
pressupõe a integração de fatores neurogênicos, químicos logo após o exercício. Não ficou comprovado neste trabalho o
e também da temperatura corporal. Segundo este modelo, efeito crônico do exercício físico no índice glicêmico, havendo
estímulos neurogênicos, quer sejam corticais ou periféricos a necessidade de mais pesquisas nesta variável.
(músculos esqueléticos), são responsáveis pelo aumento Sugerimos cautela quanto à prática de exercício físico
abrupto inicial da ventilação no início do exercício. Após realizado por gestantes diabéticas até que resultados mais con-
esta alteração inicial, a ventilação-minuto tende a se elevar tundentes acerca das alterações fisiológicas, após a prática de
gradualmente até um nível estável, suficiente para atender às exercícios, sejam disponibilizadas, haja vista as discordâncias
demandas metabólicas [25]. observadas entre os estudos abordados.
Levando-se em consideração que gestantes apresentam
alterações na mecânica respiratória, conforme o útero cresce Referências
o diafragma modifica sua posição de repouso, elevando-se
até 5 cm e o tórax altera sua configuração, ampliando seu 1. Zugaib M. Zugaib Obstetrícia. Barueri: Manole; 2008.
diâmetro transverso e ântero-posterior. A parede abdominal 2. Menezes MRF, Neves CC, Costa AP, Hartmann C. Benefícios
também distende, diminuindo a força muscular. Outro me- fisiológicos da prática da caminhada com mulheres no período
gestacional do município de Arapiraca-Alagoas. Livro de Me-
canismo que interfere no sistema respiratório da gestante é o
mórias do VI Congresso Científico Norte-nordeste – CONAFF,
aumento do metabolismo e dos níveis de progesterona, que
15 a 18 de novembro de 2012.
provocam aumento da ventilação pulmonar, ou seja, a grávida 3. Filho FM, Dias CC, Meirelles RS, Cunha SP, Nogueira A,
faz respirações mais curtas e em maior quantidade, tentando Duarte G. Diabetes e gravidez: aspectos clínicos e perinatais.
manter níveis de oxigênio e gás carbônico adequados [27]. RBGO 1998;20(4):193-8.
Em nossa amostra não observamos alteração significativa 4. Figueirola D. Diabetes. 3a. ed. Barcelona: Masson; 1997.
quanto à pressão arterial (PA) após o exercício físico, apesar 5. Robergs RA, Roberts SO. Princípios fundamentais de Fisiologia
da ampla literatura que relaciona a diminuição da PA após do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. 1 ed. Brasileira.
a realização do exercício. Grassi et al. [28] estudaram jovens São Paulo: Phorte; 2002.
normotensos e constataram que, após 10 semanas de exer- 6. Silva JC, Taborda W, Becker F, Aquim G, Viese J, Bertini
AM. Resultados preliminares do uso de anti-hiperglicemiantes
cício físico, houve diminuição na pressão arterial sistólica e
orais no diabetes melito gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet
diastólica, fato não observado no grupo controle, que não 2005;27(8):461-6.
realizou exercício físico. 7. Maganha CA, Bernardini MA, Vanni DGBS, Nomura RMY,
No entanto, este achado nos leva a acreditar que o exercício Zugaib M. Repercussões do diabetes no feto e recém-nascido.
físico não tenha interferido na PA devido ao nosso programa Rev Ginecol Obstet 2002;13(3):158-62.
ter sido realizado somente, uma vez por semana, durante 50 8. Meneses JA, Diniz EMA, Simões A, Vaz FAC. Morbidade
min. Forjaz et al. [29] realizaram duas sessões de exercício neonatal em recém-nascidos de mães com diabetes gestacional.
(25 e 45 min) em 10 indivíduos , a pressão arterial foi aferida Pediatria (São Paulo) 1999;21(1):30-6.
antes (20 min) e após (90 min) do exercício e concluíram que 9. Aquino MMA, Pereira BG, Amaral E, Parpinelli MA. Revendo
diabetes e gravidez. Rev Ciênc Méd 2003;12(1):99-106.
o mesmo provocou hipotensão. Não foi observada diferença
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 343

10. Silva L, Santos RC, Parada CMGL. Compreendendo o signifi- 20. Vanessa V, Alexandre Z. O efeito agudo do exercício físico na
cado da gestação para grávidas diabéticas. Rev Latinoam Enferm glicemia do paciente portador de DM do tipo II [Monografia].
2004;12(6):899-904. Faculdade de Fisioterapia, Universidade do Sul de Santa Cata-
11. Souza TM, Ferro NM, Macedo CM, Hartmann C. A impor- rina: Tubarão; 2004.15p.
tância da atividade física e da alimentação para indivíduos com 21. Mc AWD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia,
diabetes. Livro de Memórias do VI Congresso Científico Norte- nutrição e desempenho humano. Traduzido por Giuseppe Ta-
-nordeste – CONAFF; 2012. p.112-7. ranto. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
12. Verderi EBLP. Gestante: elaboração de programa de exercícios. 22. Langer O. Management of gestational diabetes. Clin Obstet
São Paulo: PH; 2006. Gynecol 2000;43:106-15.
13. Ramos AT. Atividade física: diabéticos, gestantes, terceira idade 23. Santaella DF. Efeitos do relaxamento e do exercício físico nas
e obesos. São Paulo: Sprint; 1997. respostas pressóricas e autonômica pós-intervenção em indiví-
14. Shott S. Statistics for health professionals. London: W.B. Saun- duos normotensos e hipertensos [Dissertação]. Faculdade de
ders Company; 1990. Medicina, Universidade de São Paulo: São Paulo; 2003. 215p.
15. Domingues MR, Araújo CLP, Denise GP. Conhecimento e 24. Rondon MUP, Alves MJNN, Braga AMFW, Teixeira OTUN,
percepção sobre exercício físico em uma população adulta ur- Barreto ACP, Krieger EM, et al. Postexercise blood pressure
bana do sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2004;1(20):204-15. reduction in elderly hypertensive patients. J Am College Cardiol
16. Carlos AS, Walter CL. Efeito benéfico do exercício físico no 2002;(30):676-82.
controle metabólico do diabetes mellitus tipo 2 a curto prazo. 25. Mc AWD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do Exercício - Energia,
Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-6. nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Interameri-
17. Avery MD, Leon AS, Kopher RA. Effects of a partially home- cana; 2003.
-based exercise program for women with gestational diabetes. 26. Pollock ML, Wilmore JH. Exercícios na Saúde e na Doença.
Obstet Gynecol 1997;89(1):10-5. Rio de Janeiro: Medsi; 1993.
18. Jovanovic-Peterson L, Durak EP, Peterson CM. Randomized 27. Mulher saudável [internet]. [citado 2012 Mai 10]. Disponível
trial of diet plus cardiovascular conditioning on glucose levels in em URL: http://www.mulhersaudavel.com.br
gestational diabetes. Am J Obstet Gynecol 1989;161(2):415-9. 28. Grassi G, Seravalle G, Calhoun DA, Mancia G. Physical trai-
19. Uranic MW, Bouchard RJ, Shephard T, Stephens JR, Sutton BD. ning and baroreceptor control of sympathetic nerve activity in
Exercise, fitness, and diabetes and health. A consensus of current humans. Hypertension 1994;23:294-301
knowledge. Champaign: Human Kinetics;1988. p. 467 - 490. 29. Forjaz CLM, Santaella DF, Rezende LO, Barreto ACP, Negrão
CE. Duração do exercício determina a magnitude e a duração
da hipotensão pós-exercício. Arq Bras Cardiol 1998;70:99-104.

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344 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Artigo original

Treinamento de sujeitos hemiparéticos em tarefas


virtuais utilizando o Nintendo Wii
Training of hemiparetic subjects with virtual tasks using
the Nintendo Wii
Danilo de Oliveira Silva*, Ronaldo Valdir Briani*, Carolina Silva Flóride*, Fernando Amâncio Aragão, D.Sc.**

*Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, **Coordenador do Laboratório de Pesquisa do
Movimento Humano – LAPEMH, Líder do Grupo de Pesquisa em Reabilitação Neuro Músculo Esquelética da Unioeste e Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Resumo Abstract
A capacidade de controle postural de indivíduos com quadro The postural control in individuals with hemiparesis is remarka-
motor de hemiparesia está comprovadamente alterada, aumentando bly altered, increasing the risk of falls and exponentially increasing
a propensão a quedas e elevando de forma exponencial a fragilidade the fragility of these individuals. There are many systems of virtual
desses indivíduos. Existem diversos sistemas de realidade virtual reality (VR) developed specifically for the rehabilitation of physical
desenvolvidos especialmente para reabilitação e treinamento de disabilities, in order to prevent possible falls, whose efficacy has been
deficiências motoras, com o intuito de prevenir possíveis quedas, recently studied with motivating results. Therefore, this study aimed
cuja eficácia vem sendo recentemente estudada e resultados moti- to conduct an assessment followed by a training program consisting
vantes têm sido encontrados. Com isso, o objetivo do estudo foi of 10 sessions in 5 weeks of postural control in hemiparetic indi-
realizar uma avaliação seguida de um programa composto por 10 viduals using the Nintendo Wii Fit ® game console, to analyze the
sessões em 5 semanas de treinamento do controle postural de indi- effects of tasks that require the exploration of load support towards
víduos hemiparéticos utilizando o console de jogos de baixo custo, mediolateral and anteroposterior directions. The same was perfor-
Nintendo Wii Fit®, e reavaliar a fim de verificar os efeitos no tempo med with young adults with no neurological disabilities. The results
de uma tarefa que exigia deslocamentos no sentido médio-lateral showed that the training program was effective in both hemiplegics
e ântero-posterior. O mesmo foi feito com adultos jovens sem se- and healthy young adults, reducing the time to perform the proposed
quelas neurológicas para comparar diferenças de comportamento tasks. The comparison between groups showed that the young adults
entre os grupos. Os resultados demonstram que o programa de were faster, however, the hemiparetic group had a more pronounced
treinamento foi eficaz e tanto os indivíduos hemiparéticos quanto diminution of the time required to perform the task.
os adultos jovens reduziram o tempo de execução das tarefas pro- Key-words: learning, hemiparesis, rehabilitation, video games.
postas, demonstrando melhora na performance da tarefa. Quanto à
comparação entre os grupos, os adultos jovens foram mais velozes,
porém o grupo de hemiparéticos reduziu o tempo de execução
proporcionalmente de forma mais pronunciada.
Palavras-chave: aprendizado, hemiparesia, reabilitação, jogos de
vídeo.

Recebido em 27 de novembro de 2012; aceito em 16 de julho de 2013.


Endereço para correspondência: Fernando Amâncio Aragão, Rua Universitária 1619, Jd Universitário, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-
7234, E-mail: feraaragao@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 345

Introdução oferecem a possibilidade de controlar a duração, tipo, intensi-


dade, especificidade e os ambientes de realização do exercício
A hemiplegia e hemiparesia são, frequentemente, as prin- mesmo dentro de um espaço clínico, o que seria impossível
cipais sequelas físicas verificadas em pacientes que sofreram de ser realizado com segurança em situações reais [7].
acidente vascular encefálico (AVE) e traumatismo crânio A eficácia da utilização de sistemas de realidade virtual
encefálico (TCE); a lesão de neurônios motores superiores para a reabilitação física de pacientes com deficiência motora
faz com que ocorra a paralisia motora total ou parcial do vem sendo recentemente estudada e resultados motivantes
hemicorpo afetado. Esse comprometimento causa assimetria têm sido encontrados, como no estudo de Duque et al. [8],
postural, que leva indivíduos hemiplégicos e hemiparéticos que apresentou resultados que o permitiram concluir que
a distribuir o peso de forma menos eficaz no lado afetado, um protocolo para treino de equilíbrio em idosos, baseado
alterando acentuadamente o controle postural [1]. em exercícios de realidade virtual, tem eficácia semelhante
A manutenção do equilíbrio postural é um complexo a um protocolo já consagrado na literatura. Deutsch et al.
mecanismo de controle, alimentado por um fluxo de impulsos [9] também obtiveram sucesso ao desenvolverem um pro-
neurológicos provenientes dos sistemas proprioceptivo, vesti- grama de computador baseado em realidade virtual levando
bular e visual cujas informações são processadas pelo sistema em consideração os princípios do desenvolvimento motor,
nervoso central (SNC) e retornam pelas vias eferentes para utilizando-o para a reabilitação de membros superiores e
manter o controle do equilíbrio corporal pela contração dos marcha de pacientes com sequelas decorrentes de acidente
músculos antigravitacionários [2]. A capacidade de controle vascular encefálico.
postural de indivíduos com sequelas motoras em função Apesar de não existirem ainda dados convincentes de-
de doenças neurológicas está comprovadamente alterada, monstrando que se trata de uma intervenção mais eficaz
aumentando sua propensão a quedas e elevando de forma do que o tratamento convencional, a reabilitação por meio
exponencial a fragilidade desses indivíduos [3,4]. da RV mostrou algumas vantagens em relação à fixação de
O aumento da propensão a quedas está, provavelmente, exercícios de repetição, em exercícios com grandes amplitudes
relacionado ao fato de que as doenças neurológicas, frequen- de movimento e no desempenho de tarefas comportamentais
temente, geram sequelas crônicas evidentes nos componentes de alcance funcional, possivelmente, devido ao componente
biomecânicos relacionados ao controle postural (capacidade motivacional envolvido nos ambientes de RV [10,11].
neuromuscular), entre elas podem ser destacadas a assimetria Serviços de saúde estão cada vez mais procurando novas
bilateral, a deficiência de coordenação de movimentos entre alternativas para o atendimento de reabilitação. Consoles de
musculatura agonista, antagonista e sinergista (coordenação baixo custo como o Nintendo Wii® apresentam-se como uma
interarticular), o estado de hipertonia, além de alterações alternativa economicamente viável, entretanto se faz necessá-
de percepção corporal, vestibulares, visuais e cognitivas [3]. rio verificar e comprovar a efetividade e a aceitabilidade deste
A reabilitação de sequelas provenientes de lesões do sistema tipo de terapia [12].
nervoso central é uma das grandes áreas de atuação da fisiote- O console Nintendo Wii®, plataforma comercial de jogos
rapia. A aplicação da fisioterapia para controle das disfunções da Nintendo®, foi lançado em novembro de 2006, nele é
vestibulares associada a um programa de exercícios ativos e necessário movimentar o controle para realizar diversas ações
de marcha, com extensão domiciliar, representou um recurso virtuais durante os jogos, como rebater uma bola de tênis,
valioso de caráter funcional em pacientes vertiginosos [5]. arremessar no basquete ou jogar uma bola de boliche, de forma
Entretanto, técnicas e métodos de tratamento diversos que toda a movimentação é transmitida entre o controle e
são criados e difundidos, sem que, necessariamente, existam o console de jogos. O console também possui um periférico
discussões técnicas e científicas suficientes acerca dos princí- denominado Wii Balance Board® que age como interface entre
pios que fomentam a aplicação desses métodos de tratamento. o indivíduo e o ambiente de RV em atividades que envolvem,
Dentre as técnicas que vem ganhando cada vez mais espaço principalmente, a interação por meio dos membros inferiores.
em clínicas de fisioterapia, está a Gameterapia, isto é, terapia As características deste periférico proporcionam grande intera-
baseada na utilização de jogos de vídeo game, especialmente, ção com diversos tipos de tarefas em RV, fazendo desse sistema
aqueles capazes de fornecer algum componente de realidade um ambiente atraente e barato para o desenvolvimento de
virtual durante o jogo. propostas de reabilitação motora com RV.
Pode-se dizer que realidade virtual é uma técnica avançada Existem muitos relatos da utilização do console Nintendo
de interface, capaz de prover, para o usuário, a sensação de Wii® para utilização clínica, entretanto, até o momento, apenas
imersão (sensação de estar dentro do ambiente), navegação poucos estudos efetivamente demonstraram cientificamente a
e interação em um ambiente sintético tridimensional gerado aplicabilidade dessa nova e promissora modalidade tanto para
por computador, utilizando canais multissensoriais [6]. o treino neuromotor global, quanto especificamente para o
Sistemas de RV são criados a partir de componentes eletrô- controle postural [13,14].
nicos que envolvem “hardwares”, “softwares” e equipamentos O presente estudo teve por objetivo verificar se um treina-
periféricos de interação com o ambiente virtual. Esses sistemas mento utilizando o console Nintendo Wii® é capaz de melhorar
346 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

o desempenho na execução de tarefas em realidade virtual que com jogos de RV; componente espástico (hipertonia) maior
envolve o deslocamento postural nos sentidos médio-lateral e ou igual a 3 na escala de Ashworth Modificada em qualquer
ântero-posterior em sujeitos com quadro motor hemiplégico. grupo muscular dos membros inferiores [17]; deficiência
visual incompatível com a realização dos testes de avaliação
Material e métodos ou do treinamento em jogos de RV ou não aceitassem as
condições do TCLE.
Amostra
Procedimentos
A amostra foi composta por 20 sujeitos do sexo masculino
que foram convidados a participar do estudo e concordaram Os procedimentos de avaliação desta pesquisa foram
em assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido realizados nas dependências do Laboratório de Pesquisa do
(TCLE) previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Movimento Humano (LAPEMH), Centro de Reabilitação
Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (pa- Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, CRF -
recer no 1046/2011). Unioeste. O treinamento foi realizado em uma sala da clínica
Os sujeitos selecionados foram divididos em dois grupos: de Fisioterapia, especialmente organizada para esta atividade.
• Grupo 1 (G1): Pacientes portadores de hemiparesia (n =
10), com idades de 21 ± 2 anos. Avaliação inicial
• Grupo 2 (G2): Adultos jovens hígidos (n = 10), com idades
de 35 ± 9 anos. A avaliação teve início com o esclarecimento aos pacien-
tes sobre a realização da pesquisa e posterior assinatura do
Critérios de inclusão TCLE em duas vias. Após assinatura ocorreu à aplicação
dos critérios de inclusão e não inclusão, através de uma
Para ser incluído no G1, os sujeitos deveriam: possuir ficha de avaliação, contendo os seguintes dados: nome,
deficiência motora do tipo hemiparesia (tabela I), ainda que idade, sexo, peso, altura, lado predominante da sequela,
com predominância de membros superiores ou inferiores dominância lateral antes da lesão, MEEM, escala de equi-
como sequela de doenças neurológicas prévias ou em curso, líbrio de Berg, teste “Timed up and Go” (TUG) e escala
com tempo de evolução mínimo de 6 meses; Possuir escore de Aswhorth modificada.
no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) igual ou maior Após a aplicação da ficha de avaliação, foi mensurada a
que 19 pontos [15]; Possuir escore na Escala de Equilíbrio de pressão arterial (PA) dos participantes e, assim, foi realizada
Berg maior que 36 pontos [16]; Conseguir desempenhar o a primeira avaliação (AV1), na qual o participante foi po-
Teste “Timed Up and Go” em tempo menor que 20 segundos sicionado sobre o periférico Wii Balance Board® que tem o
[16]; Possuir idade igual ou maior a 18 anos. Esses critérios objetivo de fazer a conexão entre os movimentos dos membros
foram estabelecidos para que fossem inclusos sujeitos capazes inferiores (centro de pressão) do sujeito avaliado e o universo
de realizar a avaliação e o treinamento em RV. de realidade virtual. Em seguida, o indivíduo foi submetido
Para o G2, foram selecionados os participantes que aten- a duas tarefas baseadas em jogos do console Nintendo Wii®:
deram aos seguintes critérios de inclusão: Nunca ter tido a primeira consistiu em realizar deslocamentos ântero-
contato com jogos que utilizem o periférico Wii Balance -posteriores de acordo com o jogo Snowboard Slalom® no qual
Board® e possuir idade entre 18 e 25 anos. o participante permanece virtualmente sob uma prancha de
snowboard e tem a missão de se deslocar na direção indicada
Tabela I - Tabela de caracterização do G1. pelas bandeiras posicionadas no circuito, ora anteriormente
Patologia N° de Pacientes Hemiparesia ora posteriormente. A segunda tarefa consistiu em realizar des-
TCE 6 3D/3E locamentos médio-laterais de acordo com o jogo Ski Slalom®
AVE 4 2D/2E o qual, analogamente ao anterior, o participante permanece
TCE: Traumatismo Cranioencefálico, AVE: Acidente Vascular Encefálico virtualmente sob um ski e tem a missão de se deslocar por
e o lado acometido pela doença; D: Direito e E: Esquerdo. entre as bandeiras posicionadas no circuito. Para ambas as
tarefas (snowboard slalom e ski slalom), foram realizadas 3
tentativas, nomeadas T1, T2 e T3.
Critérios de não inclusão O tempo de execução de cada tentativa foi cronometrado
pelo próprio console ao final de cada tentativa, para cada
Não foram incluídos no estudo indivíduos que possuís- bandeira “esquecida”, aquela que o jogador não era capaz de
sem: altos níveis de atividade física, praticantes de modali- cumprir corretamente, foi acrescido um tempo de penalização
dades esportivas regulares ou de alto rendimento; portadores padrão equivalente a 7 segundos. Sendo assim, foi identificado
de deficiências físicas quaisquer que fossem incompatíveis o tempo que o participante levou para desenvolver a tarefa,
com a realização dos testes de avaliação ou do treinamento de fato, e o tempo final, com acréscimo das penalizações. O
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 347

tempo necessário para cumprir cada tarefa era anotado na ântero-posterior, notou-se redução significativa do tempo de
ficha de avaliação. execução em todas tentativas quando comparamos AV1 com
AV2 em ambos os grupos (Figura 1).
Treinamento
Figura 1 - Média do tempo de execução da tarefa com deslocamento
O treinamento foi composto por 10 sessões, os parti- anteroposterior dos grupos 1 e 2 durante AV1 e AV2.
cipantes treinaram no mínimo 2 e no máximo 3 vezes por 140
semana, totalizando 5 semanas de treinamento. Cada sessão 120 ψ
* § Ϯ ₰
obrigatoriamente teve 15 minutos de treinamento efetivo e 100

Tempo (s)
15 minutos para descanso, antes e após cada treinamento 80 φ
* § ψ
foi realizada a mensuração da PA dos participantes. Duran- 60 Ϯ ₰φ
te o treinamento, o indivíduo teve a oportunidade de jogar 40
outros tipos de jogos, além daqueles utilizados na avaliação. 20
Os jogos utilizados para o treinamento foram selecionados 0
de acordo com seu objetivo, e deveriam possuir algum com- AV1 AV2 AV1 AV2
G1 G2
ponente que estimulasse o treinamento do deslocamento
T1 T2 T3
ântero-posterior ou médio-lateral, assim foram adotados
também os jogos: Bubble Balance® (guiar um avatar por um Os símbolos *; § e Y representam as diferenças estatísticas entre as
caminho a partir do controle do deslocamento do centro tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G1, respec-
de pressão); Table tilt® (jogo de encaixar esferas em orifícios tivamente. Os símbolos Ϯ, ₰ e φ representam as diferenças estatísticas
específicos, as quais são controladas pelo movimento do entre as tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G2,
centro de pressão dos indivíduos); Heading®,(o indivíduo respectivamente.
cabeceia virtualmente bolas de futebol que vem ao seu
encontro). Ao fazer a comparação entre os grupos no teste de des-
locamento anteroposterior, notou-se que na AV1 em T1
Avaliação final e T2 os grupos não foram diferentes, porém, na T3 o G2
foi significativamente mais rápido do que G1 (Figura 2).
A avaliação final ocorreu da mesma forma da avaliação
inicial, com a diferença que não foi aplicada uma nova ficha Figura 2 - Média do tempo de execução do jogo com deslocamento
de avaliação. Os participantes realizaram as mesmas tarefas, ântero-posterior dos grupos G1 e G2 durante AV1 e AV2.
3 tentativas nos jogos Snowboard Slalom® e Ski Slalom®, e os 140
tempos foram devidamente anotados na ficha de avaliação. 120 ψ
100
Análise estatística
Tempo (s)

80 ψ
Ϯ ₰ φ
60 Ϯ ₰φ
Para análise estatística, os dados foram previamente 40
tabulados no programa Microsoft Excel (Microsoft Office 20
v.2007) e em seguida foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk 0
para cada uma das variáveis avaliadas e que confirmou a G1 G2 G1 G2
AV1 AV2
distribuição normal dos dados. Após exploração dos dados
T1 T2 T3
pela média e desvio padrão, para determinação de diferenças
estatísticas com relação aos momentos AV1 e AV2 (análise O símbolo Y representa as diferenças estatísticas entre G1 e G2 durante
intragrupos) foi utilizado o teste t de Student para amostras a tentativa (T3) na avaliação AV1. Os símbolos Ϯ, ₰ e φ representam as
pareadas. Para determinação de diferenças entre G1 e G2 diferenças estatísticas entre G1 e G2 durante as tentativas (T1, T2 e T3)
(análise intergrupos) foi utilizado o teste t de Student para na avaliação AV2, respectivamente.
amostras independentes. Todas as análises foram conduzidas
com auxílio do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Quanto aos resultados sobre o tempo de execução da tarefa
Social Sciences, v. 17), e o nível de significância para todas as no jogo que envolve os deslocamentos no sentido médio-
comparações estatísticas foi mantido em a = 0.05. -lateral, notou-se redução significativa do tempo em todas
tentativas quando comparamos AV1 com AV2 em ambos os
Resultados grupos (Figura 3).

Quanto aos resultados sobre o tempo de execução da


tarefa no jogo que envolve os deslocamentos no sentido
348 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Figura 3 - Média do tempo de execução do jogo com deslocamento o desempenho de sujeitos com quadro motor de hemiparesia
médio-lateral dos grupos 1 e 2 durante AV1 e AV2. nas tarefas que envolviam deslocamentos anteroposteriores e
140 médio-laterais.
120 * A grande vantagem da reabilitação por meio de realidade
100 § ψ virtual é a aceitabilidade deste tipo de tratamento por parte
Tempo (s)

80 Ϯ dos pacientes, o que a torna uma ferramenta interessante, por


* ψ
60 § ser uma maneira de variar o desgastante processo de reabilita-
₰φ Ϯ ₰φ
40 ção de sujeitos hemiplégicos. Junior e Silva [18] realizaram um
20 estudo, no qual mostram que 80% dos participantes de sua
0 amostra preferiam tratamento por meio de realidade virtual
AV1 AV2 AV1 AV2 em detrimento da terapêutica convencional.
G1 G2
Por outro lado, Deutsch et al. [13] já argumentavam sobre
T1 T2 T3
a inviabilidade financeira de se produzir softwares e hardwares
Os símbolos *; § e Y representam as diferenças estatísticas entre as específicos, com o único intuito de utilização em reabilitação
tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G1, respec- física ou de uma determinada patologia, com isso, a terapia em
tivamente. Os símbolos Ϯ, ₰ e φ representam as diferenças estatísticas realidade virtual utilizando consoles de jogos de baixo custo
entre as tentativas (T1, T2 e T3) nas avaliações AV1 e AV2 para o G2, se mostra cada vez mais viável. Deutsch et al. [13] foram os
respectivamente. primeiros autores a desenvolverem um estudo com o console
de jogos Nintendo Wii®, e, apesar de terem realizado apenas
Ao fazer a comparação entre os grupos no jogo de deslo- um estudo de caso, a metodologia utilizada foi semelhante
camento médio-lateral, na avaliação inicial, o G2 foi signi- à empregada no presente estudo, em que voluntários com
ficativamente mais rápido que G1. Na AV2, após o período paralisia cerebral evoluíram significativamente nos escores
de treinamentos, ambos reduziram o tempo, porém o G2 de todos os jogos propostos após 11 sessões de treinamento.
permaneceu significativamente mais rápido (Figura 4). Esses dados corroboram os achados do estudo aqui apresen-
tado, uma vez que houve evolução significativa nos escores
Figura 4 - Média do tempo de execução do jogo com deslocamento dos jogos propostos tanto no grupo controle, quanto no
médio-lateral dos grupos 1 e 2 durante AV1 e AV2. grupo composto por sujeitos hemiplégicos após 10 sessões
140 de treinamentos (Figuras 1 e 3).
120 * Considerando a tarefa com deslocamentos no sentido
100 § ψ médio-lateral (Figura 4), pode-se observar que no momento
Tempo (s)

80 Ϯ AV1 o G2 foi significativamente mais rápido que o G1 e


* φ
60 ₰ ambos não possuíam experiência na tarefa, porém como o G2
§ ψ Ϯ ₰φ
40 era composto por adultos jovens e o G1 por portadores de
20 hemiparesia, a diferença foi grande, mas justificável, levando
0
em consideração o déficit motor presente no grupo com lesão
AV1 AV2 AV1 AV2 neurológica.
G1 G2
Já na AV2 após o período de treinamentos G2 continuou
T1 T2 T3
significativamente mais rápido (Figura 4), porém, em dados
Os símbolos *; § e Y representam as diferenças estatísticas entre G1 e porcentuais verifica-se que na AV1 a diferença entre G1 e G2
G2 durante as tentativas (T1, T2 e T3) na avaliação AV1. Os símbolos foi de 82% e na AV2 essa diferença foi reduzida ao patamar de
Ϯ, ₰ e φ representam as diferenças estatísticas entre G1 e G2 durante 67%. A análise descritiva desses dados demonstra que ambos
as tentativas (T1, T2 e T3) na avaliação AV2, respectivamente. os grupos reduziram o tempo de execução, mas o G1 reduziu
o tempo de execução da tarefa, proporcionalmente, de forma
Discussão mais pronunciada quando comparado ao G2.
O treinamento em realidade virtual foi capaz de reduzir
Um número cada vez maior de técnicas de tratamento a diferença no tempo de execução de uma tarefa composta
são criadas e adotadas na fisioterapia sem que exista qualquer de deslocamentos no sentido médio-lateral entre o grupo de
evidência científica acerca de sua eficácia. O tratamento de sujeitos hemiplégicos e o grupo de indivíduos jovens. Dados
pacientes baseado em console de jogos também possui essa semelhantes foram demonstrados no estudo de Michalski
carência, uma vez que poucos estudos controlados foram et al. [14] que utilizaram o jogo Ski Slalom® para identificar
conduzidos até o momento para determinar sua eficácia como a eficácia dessa atividade enquanto tratamento do controle
tratamento. Neste estudo, de forma geral, os dados indicam postural em sujeitos sem alterações neurológicas, para isso, os
que o treinamento em ambiente de realidade virtual por meio autores utilizaram uma plataforma de força sob a Wii Balance
de jogos no console Nintendo Wii foi benéfico para melhorar Board® para coletar dados referentes ao deslocamento do cen-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 349

tro de pressão, além da análise cinemática tridimensional do desempenho do tempo de execução dos jogos utilizados, são
movimento, seus resultados mostraram que o jogo utilizado necessários estudos com ferramentas clínicas suficientemente
seria mesmo capaz de melhorar a magnitude do deslocamento sensíveis para mensurar o padrão de movimento e confirmar
do centro de pressão, sugerindo que futuros estudos fossem tais suposições.
realizados em sujeitos com alterações no processamento do Por outro lado, estudos anteriores tendo como objetivo
controle motor. avaliar o equilíbrio de sujeitos hemiparéticos após o treina-
Fung et al. [19] utilizaram a RV com base no sistema mento por meio do pacote de jogos Wii Fit® [1] apresentaram
de formação locomotora para a reabilitação da marcha de resultados satisfatórios com relação a diminuição da oscilação
pacientes pós acidente vascular encefálico, apesar do baixo do centro de pressão (COP), tanto no sentido médio-lateral
número de sujeitos e de uma metodologia diferente, os quanto no anteroposterior. De acordo com os autores, o in-
autores mostraram ser viável reabilitar sujeitos hemiplégicos divíduo hemiparético tratado com RV poderia obter maior
com realidade virtual, expondo a necessidade de mais estudos equilíbrio dinâmico após esse tipo de treinamento.
acerca desse tema. O presente estudo foi capaz de gerar dados que demons-
Os resultados obtidos no presente estudo evidenciam que tram que a reabilitação por meio de jogos em realidade virtual
sujeitos hemiplégicos são capazes de melhorar o desempenho pode ser uma boa estratégia para o tratamento de sujeitos com
em tarefas de realidade virtual após o treinamento, entretanto, quadro motor hemiplégico, pois se mostrou uma intervenção
como próximo passo para melhor elucidação dos resultados eficaz quando se analisou o desempenho em jogos que requi-
descritos são necessários implementos na metodologia capazes sitavam tarefas específicas de deslocamentos anteroposteriores
de captar parâmetros biomecânicos, tais como a cinemática e mediolateral que podem cumprir um papel importante ao
do movimento e a mensuração das forças de reação do solo auxiliarem um programa de reabilitação, entretanto a au-
durante a execução da tarefa, assim, possivelmente, poder- sência de uma ferramenta clínica de avaliação como a escala
-se-ia atribuir quais aquisições motoras foram efetivamente de equilíbrio de Berg, índice de Barthel e escala de Lawton,
responsáveis pela melhora do desempenho aqui obtido. utilizadas por Schiavinato et al. [21] não nos permite afirmar
Na tarefa que possuía como referência os deslocamentos a melhora motora dos sujeitos avaliados na presente pesquisa.
anteroposteriores, temos resultados semelhantes ao do teste Os resultados obtidos são motivantes, porém, é necessá-
médio-lateral, nele o treinamento também se mostrou eficaz rio maior número de estudos, com ferramentas de medida
e houve redução significativa no tempo de execução da tarefa apropriadas, para realmente estruturar controladamente a
em todas tentativas quando se comparou AV1 com AV2 em realidade virtual como forma de tratamento de sequelas de
ambos os grupos (Figura 1). Ou seja, tanto no deslocamento doenças neurológicas. Contudo, a continuidade com esse tipo
no sentido médio-lateral quanto no sentido anteroposterior os de intervenção só tem a beneficiar os indivíduos com sequelas
grupos foram capazes de melhorar o desempenho cumprindo neurológicas, pois é uma alternativa que pode ser associada à
o trajeto de forma correta e veloz. Esse resultado confronta os fisioterapia convencional [22]. É importante ressaltar que o
achados por Silva et al. [20], no qual foi realizado um estudo objetivo dessa intervenção não é o de substituir o tratamento
de caso e o sujeito com quadro de hemiparesia que não obteve fisioterapêutico convencional, mas sim complementá-lo. Fi-
melhora de desempenho no jogo Snowboard Slalom® (deslo- nalmente, como relatado na meta-análise de Sposnik e Levin
camentos anteroposteriores) após 10 sessões de treinamento. [23] há a necessidade de estudos com metodologia estruturada
Algumas hipóteses poderiam ser propostas para explicar a di- e com grande quantidade de sujeitos que comparem a fisio-
ferença encontrada entre os estudos, dentre elas: o número de terapia com realidade virtual e fisioterapia convencional, por
sujeitos da amostra, a quantidade de jogos oferecidos durante meio de escalas e testes clínicos mensuráveis, e que permitam
o treinamento e o tempo efetivo de cada sessão, além de que também boa reprodutibilidade do método.
na projeção do jogo realizada no presente estudo (iluminação
da sala, tamanho da projeção e audio) o sujeito estava em um Conclusão
ambiente de realidade virtual projetado para esse fim, o que
proporcionaria maior interatividade com a tarefa. O estudo demonstrou que um programa de intervenção
Acreditamos que o G1 conseguiu melhorar a coordenação fisioterápico utilizando tarefas que envolvem jogos em reali-
dos movimentos necessária para o melhor desempenho no dade virtual pode melhorar o desempenho de sujeitos com
jogo, uma vez que a execução da tarefa requer um trabalho característica motora de hemiparesia espástica após AVE e
relacionado à percepção corporal, e durante o treinamento TCE em tarefas específicas.
o avatar respondia a qualquer movimento realizado pelo su-
jeito que estava no controle e imerso ao mundo de realidade Agradecimentos
virtual. Entretanto, existem evidentes limitações no estudo,
as quais não nos permite esse tipo de conclusão direta, a prin- A Fundação Araucária pela bolsa de iniciação científica
cipal delas diz respeito à metodologia que impossibilita tal concedida para o desenvolvimento da pesquisa. Ao Centro
afirmação, mesmo com a obtenção de resultados positivos no de Reabilitação Física da Universidade Estadual do Oeste do
350 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 351

Artigo original

Perfil dos pacientes atendidos em fisioterapia


dermatofuncional
Profile of patients treated in integumentary physical therapy
Pascale Mutti Tacani, Ft., M.Sc.*, Camila dos Santos Arcas, Ft.**, Fernanda Ferreira Duarte da Silva, Ft.**,
Marina Carasco, Ft.**, Aline Fernanda Perez Machado, Ft., M.Sc.**, Rogerio Eduardo Tacani, Ft., M.Sc.***

*Docente do Centro Universitário São Camilo, Departamento de Fisioterapia, **Centro Universitário São Camilo,***Docente da
Universidade Cidade de São Paulo, Pós-Graduação em Fisioterapia Dermatofuncional

Resumo Abstract
Introdução: Por ser uma das áreas mais recentes da fisioterapia, Introduction: As one of the newest areas of physical therapy,
muitos serviços públicos ainda não dispõem da especialidade many public services do not yet have the integumentary specialty,
dermatofuncional, dificultando traçar o seu perfil populacional. making it difficult to trace their population profile. Objective: To
Objetivo: Identificar o perfil dos pacientes atendidos em fisiote- identify the profile of patients treated in integumentary physical
rapia dermatofuncional, no âmbito hospitalar e ambulatorial, em therapy at the Hospital and outpatient units, in Sao Paulo/SP.
São Paulo – SP, Brasil. Métodos: Estudo retrospectivo por análise Methods: Retrospective study through the analysis of 421 medical
de 421 prontuários dos pacientes atendidos no estágio do Centro records of patients treated at São Camilo University Centre. The
Universitário São Camilo. As variáveis foram analisadas pelo teste variables were analyzed using the Test for Equality of Two pro-
de Igualdade de Duas Proporções ou Mann-Whitney. Resultados: portions or Mann-Whitney. Results: Female gender was the most
O gênero feminino prevaleceu (73,1%), com idade de 51,1 ± 16 prevalent (73.1%), mean age 51.1 ± 16 years, BMI 27.5 ± 5.7 kg/
anos, IMC de 27,5 ± 5,7 kg/m2 e escolaridade entre ensino mé- m2 and schooling level between complete high school and incom-
dio completo e fundamental incompleto (p = 0,616). Neoplasia plete elementary school (p = 0.616). Breast cancer (60.8%), time of
da mama (60,8%), tempo de evolução de 2 a 5 anos (20,2%) e disease progression from 2-5 years (20.2%) and surgical treatment
tratamento cirúrgico (80,1%) foram os mais encontrados. Assim (80.1%) were the most prevalent information, as complaint of
como as queixas de dor (44%) e edema nos membros (39,1%) pain (44%), swelling in the limbs (39.1%) and physiotherapeutic
juntamente com diagnóstico fisioterapêutico de alteração vascular diagnosis of vascular dysfunction (75.1%). Conclusion: The study
(75,1%). Conclusão: A população estudada foi caracterizada pela population was characterized by the prevalence of women aged ≥
prevalência de mulheres, por volta dos 50 anos, com sobrepeso, 50, overweighted, with elementary and high school schooling levels,
grau de escolaridade entre médio e fundamental, com diagnóstico de with a diagnosis of breast cancer, time of disease progression 2-5
câncer de mama, tempo de evolução de 2 a 5 anos, com predomínio years, prevalence of surgical treatment, physiotherapeutic diagnosis
de tratamento cirúrgico, diagnóstico fisioterapêutico de alterações associated with vascular dysfunction and complaints of pain and
vasculares e queixas de dor e edema. swelling in the limbs.
Palavras-chave: perfil de saúde, serviço hospitalar de fisioterapia, Key-words: health profile, physical therapy department hospital,
neoplasias da mama, cirurgia plástica, complicações pós- breast neoplasms, plastic surgery, postoperative complications.
operatórias.

Recebido em 28 de novembro de 2012; aceito em 15 de abril de 2013.


Endereço de correspondência: Pascale Mutti Tacani, Av. Nazaré, 1501, Ipiranga, 04263-100 São Paulo SP, E-mail: pascale.tacani@hotmail.com
352 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Introdução coletadas no Centro de Promoção e Reabilitação em Saúde


e Integração Social (PROMOVE), no Instituto Brasileiro de
Atualmente, a fisioterapia enquanto ciência mantém o Controle do Câncer (IBCC) e no Hospital Ipiranga (HI),
movimento humano em todas as suas formas de expressão e ambos em São Paulo/SP.
potencialidades como seu objeto de estudo, porém vem am- Selecionaram-se 421 prontuários dos pacientes atendi-
pliando seus objetivos, perspectivas e áreas de atuação. Inseriu-se dos no estágio de fisioterapia dermatofuncional do Centro
na promoção de saúde, na prevenção de doenças e manteve seu Universitário São Camilo, no período de agosto de 2007 a
caráter reabilitativo. Dentro desse contexto, cresceram diversas julho de 2010, sendo 208 no PROMOVE, 105 no IBCC e
subáreas, as quais primam pela isenção de doença e qualida- 108 no HI, coletando-se identificação do paciente, data de
de de vida condizente com o bem-estar psico-físico-social, nascimento, gênero, escolaridade, Índice de Massa Corporal
acrescentando-se autoimagem, beleza e harmonia das formas (IMC), diagnóstico médico, tempo de evolução da doença,
como umas das mais recentes necessidades do homem [1,2]. tratamento médico, diagnóstico fisioterapêutico e queixas.
Dentre as especialidades reconhecidas recentemente pelo Foram excluídos os prontuários cujas informações estivessem
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Co- incompletas em três ou mais itens.
ffito), destaca-se a fisioterapia dermatofuncional (Resolução A análise estatística foi descrita em porcentagem, média
Coffito nº. 362/2009) a qual objetiva prevenir, promover e desvio padrão (DP) e utilizou-se o teste de Igualdade de
e/ou restaurar o sistema tegumentar (e correlatos) perante Duas Proporções para as variáveis: número de prontuários,
distúrbios endócrino, metabólico, dermatológico, linfático, gênero, escolaridade, diagnóstico médico, tempo de evolução
circulatório, osteomioarticular e/ou neurológico (Resolução da doença, tratamento médico, diagnóstico fisioterapêutico e
Coffito nº. 394/2011), atuando na capacidade funcional e queixa e Mann-Whitney para comparação entre gênero e faixa
na qualidade de vida do indivíduo. etária e gênero e IMC. O nível de significância foi estipulado
Os pacientes com tais distúrbios podem apresentar em 5% (p ≤ 0,05).
dores, parestesias, limitações funcionais, pruridos, edemas
importantes, feridas abertas que favorecem infecções, além Resultados
de alterações psicoemocionais. O fisioterapeuta pode utilizar
uma série de recursos próprios, objetivando a reabilitação e Dos 421 prontuários analisados, permaneceram 386
retorno às atividades de vida diária o mais precoce possível, (91,7%), dos quais a descrição de gênero, faixa etária, IMC
mesmo quando se trata de alterações estéticas [1-4]. e nível de escolaridade encontram-se na Tabela I.
Porém, por ser uma das áreas mais recentes da fisioterapia, Os diagnósticos médicos gerais e respectivos subtipos de
muitos serviços públicos ainda não dispõem desta especiali- diagnósticos estão representados na Tabela II. Observaram-se
dade, dificultando o acesso da população mais carente aos 426 diagnósticos gerais e 447 subtipos de diagnósticos, pois
tratamentos oferecidos, observando-se na prática clínica que em alguns casos, o mesmo paciente apresentou mais de um
a maioria dos pacientes os buscam em clínicas particulares, diagnóstico ou subtipo deste.
dificultando ao profissional traçar o perfil populacional da- O tempo de evolução da doença referiu-se ao período
queles que também necessitam, mas não podem se utilizar transcorrido entre o diagnóstico até o início da fisioterapia,
de serviços privados [5]. A fim de ampliar esse panorama, e foi prevalente entre 2 e 5 anos (n = 78; 20,2%) seguido por
surgiu a necessidade de se investigar o perfil desses pacientes, 1 a 2 anos (n = 68; 17,6%; p = 0,358) e 1 a 3 meses (n = 56;
correlacionando com suas doenças e disfunções para se iden- 14,5%), sem diferença significante (p = 0,240) em relação a
tificar como a fisioterapia dermatofuncional pode atuar com 1 e 2 anos. O tratamento médico cirúrgico (n = 309; 80,1%;
os usuários do SUS. Pouco se tem evidenciado na literatura p < 0,001) prevaleceu em relação ao medicamentoso (n =
[4-6] a respeito do perfil populacional e da atuação dessa 150; 38,9%).
área, denotando carência de informações à própria classe de Os diagnósticos fisioterapêuticos (n = 521) e seus res-
fisioterapeutas e aos demais profissionais da saúde para que pectivos subtipos (n = 567) foram categorizados conforme
possam encaminhar os pacientes para serviços especializados Tabela III.
[1,4,5]. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi identificar o As queixas principais foram categorizadas de acordo com
perfil dos pacientes atendidos em fisioterapia dermatofuncio- a Tabela IV.
nal, no âmbito hospitalar e ambulatorial, em São Paulo/SP.
Discussão
Material e métodos
O estudo foi retrospectivo por meio da análise de
Estudo retrospectivo por análise de prontuários, aprovado prontuários, verificando-se o maior número de dados
pelo Comitê de Ética do Centro Universitário São Camilo (n° possíveis, a fim de compreender e analisar os fatores de ex-
31/10) em conformidade com a resolução nº 196/96 sobre posição prévios importantes para delimitar futuros estudos
pesquisa envolvendo seres humanos. As informações foram prospectivos. Excluíram-se 8,3% (n = 35), representando
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 353

Tabela I - Perfil dos pacientes com relação às variáveis número de prontuários, gênero, faixa etária, IMC e nível de escolaridade.
Geral Incluídos Excluídos p-valor
Prontuários
n = 421 91,7% (n = 386) 8,3% (n = 35) < 0,001*
Geral Feminino Masculino
Gênero
n = 386 73,1% (n = 282) 26,9% (n = 104) < 0,001*
Faixa Etária (Anos) 51,1 ± 16 51,6 ± 14,9 49,8 ± 18,8 0,439**
IMC (Kg/m2) 27,5 ± 5,7 28 ± 5,8 25,9 ± 5,4 0,010**
n % p-valor
Não Informado 185 47,9 < 0,0011
Ensino médio completo 61 15,8
0,6162
Ensino fundamental incompleto 56 14,5
Escolaridade
Ensino fundamental completo 33 8,5
(n = 386)
Ensino superior completo 27 7
Ensino médio incompleto 13 3,4
Ensino superior incompleto 7 1,8
Analfabeto 4 1
Valores de p < 0,05 considerados significantes; *Teste de Igualdade de Duas Proporções; **Teste de Mann-Whitney; 1Valor de p na comparação com as
demais variáveis de escolaridade; 2Valor de p na comparação entre Ensino médio completo e Ensino fundamental incompleto.

índice menor comparado a Moraes et al. [7] 11,88% (n Em relação à idade, observou-se média de 51,1 ± 16 anos,
= 34) e Tacani, Machado, Tacani [6] 37,25% (n = 19), os com mínima de 1 ano e máxima de 87 anos, mostrando que
quais obtiveram suas variáveis pela revisão de prontuários tanto doenças infantis quanto geriátricas podem causar dis-
também. A exclusão ocorreu pela falta de informações, funções dermatológicas e/ou vasculares, como queimaduras
demonstrando a relevância de se anotar dados de forma [16], epidermólise bolhosa [17] e úlceras por pressão devido as
adequada para futuro uso desses. doenças neurológicas [18]. Para cirurgia plástica nota-se uma
A prevalência do gênero feminino (73,1%; n = 282), faixa etária de adultos jovens (21 a 35 anos) [8] enquanto que
mostrou que as mulheres tem grande preocupação com a o câncer [7,11] e doenças reumatológicas, como a osteoartrose
saúde, buscando tratamentos devido a insatisfação com a [19] permeiam os 50 anos. Para doenças neurológicas, como
própria imagem e o pudor relacionado ao parceiro, podendo o acidente vascular encefálico [20] e doenças vasculares, a
estar ou não associados ao desconforto físico, visando sempre prevalência aumenta com a idade, atingindo pessoas por volta
o padrão de beleza imposto pela sociedade [8,6,9]. Ademais, dos 60 anos [21,22].
há a predisposição para algumas doenças, como o câncer e a A maioria dos prontuários coletados não continha dados
obesidade. O câncer de mama é o mais frequente no mundo, sobre a escolaridade (47,9%) e dos 52,1% restantes, 15,8%
atingindo 28% das neoplasias malignas femininas no Brasil tinham completado o ensino médio e 14,5% ainda tinham
e é a principal causa de mortalidade feminina [10,11]. O o ensino fundamental incompleto, estando de acordo com
sobrepeso e a obesidade na população brasileira é maior no Tournieux et al. [8], os quais avaliaram 90 pacientes subme-
gênero feminino, atingindo de 53,1% a 61,9%, com idade tidas à cirurgia plástica e a maioria (36%) tinham o ensino
entre 40 e 69 anos [6,12,13]. Esses dados corroboram o médio, mas difere de Machado e Nogueira [15], pois dos 386
presente estudo, pois o câncer de mama foi a neoplasia mais pacientes atendidos em três serviços de fisioterapia (particular,
prevalente (60,5%), o IMC acima do normal (28 ± 5,8 kg/ municipal e estadual) 31,1% eram analfabetos. Os resulta-
m2) e idade de 51,6 ± 14,9 anos. dos mostraram uma heterogeneidade quanto à escolaridade,
Além disso, 96% dos pacientes em cirurgia plástica são do possivelmente pela diferença de idade e apesar dos locais de
gênero feminino [8], sendo o segundo diagnóstico médico mais coleta serem afiliados ao SUS, se aceitam encaminhamentos
frequente encontrado na população avaliada. Estudos brasileiros de redes particulares.
apontam a prevalência de mulheres (84,3% [6], 49% [14] e Os diagnósticos médicos mais encontrados foram o câncer
62,5% [15]) em serviços de fisioterapia, tanto públicos como (41,3%) e pós-operatório de cirurgia plástica (28,4%), possi-
privados, pela carga extra de afazeres, ligada às tarefas domésti- velmente porque nos locais de coleta se recebem encaminha-
cas, trabalho e sustento da família, aumentando a incidência de mentos de serviços oncológicos e de cirurgia plástica, devido
disfunções osteomioarticulares e pela ampliação da fisioterapia ao crescimento dessas áreas e pela demanda de pacientes
atuando em diferentes condições de saúde, atendendo as queixas que necessitam de fisioterapia especializada em oncologia e
femininas de forma mais adequada [14,15]. cirurgia plástica [7,10].
354 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Tabela II - Distribuição do diagnóstico médico e respectivos subtipos.


Diagnóstico médico geral Subtipos do diagnóstico médico geral
(n = 426) n % p-valor (n = 447) n % p-valor
Mama 107 60,8 <0,0012
Cabeça e pescoço 30 17
Útero 21 11,9
Câncer 176 41,3 < 0,0011 n = 177
Tecidos moles 7 4
Melanoma 6 3,4
Outros 6 3,4
Abdominoplastia 64 52,9 <0,0012
Blefaroplastia 21 17,3
Pós-operatório Cirur- Mamoplastia 16 13,2
121 28,4 < 0,0011 n = 131
gia Plástica Lipoaspiração 7 5,8
Enxerto 6 4,9
Outros 17 14
Úlcera por pressão 11 42,3 NS
Úlcera Venosa 6 23,1
Doença Cutânea 26 6,1 n = 30 Queimadura 4 15,4
Hanseníase 3 11,5
Outros 6 23,1
Linfedema secundário 9 37,5 NS
Doença Vascular e Insuficiência Venosa 7 29,2
24 5,6 n = 24
Linfática Tromboflebite 5 20,8
Linfedema primário 3 12,5
Acidente Vascular 7 30,4 NS
Lesão Medular 4 17,4
Doença Neurológica 23 5,4 n = 23 ECNP 4 17,4
Neuropatia 3 13,0
Outros 5 21,7
Osteoartrose 15 68,2 <0,052
Fratura 7 31,8
Doença Ortopédica 22 5,2 n = 28 Fibromialgia 2 9,1
Hérnia de disco 2 9,1
Tendinite 2 9,1
PO fratura MMII 12 66,7 <0,052
Pós-operatório PO fratura MMSS 3 16,7
18 4,2 n = 18
Cirurgia Ortopédica Artrodese coluna 2 11,1
PO LCA 1 5,6
Doença Respiratória 4 25,0 NS
Doença Cardíaca 3 18,8
Outros 16 3,8 n = 16 Doença Reumatológica 3 18,8
Doença Endócrina 3 18,8
PO de Cirurgia Geral 3 18,8
Valores de p < 0,05 considerados significantes; Teste de Igualdade de Duas Proporções; 1Valor de p na comparação com os demais diagnósticos;
2
Valor de p na comparação com os demais subtipos de diagnóstico;
Legenda: PO = Pós-operatório; ECNP = Encefalopatia Crônica Não Progressiva; MMII = Membros Inferiores; MMSS = Membros Superiores; LCA =
Ligamento Cruzado Anterior;
Nota: Linfedema secundário não incluiu os casos de linfonodectomia.

O aumento dos procedimentos em cirurgia plástica [23,8] e algumas complicações como seroma, equimose,
também se refletiu neste estudo, pois foi o segundo diag- deiscência, comuns a tal procedimento [9,22,23], pode-
nóstico mais encontrado e a abdominoplastia (48,5%) o rem ser minimizados pela fisioterapia dermatofuncional,
mais prevalente, provavelmente pela crescente procura a qual também pode favorecer a viabilidade de retalhos
para correção das deformidades da parede abdominal cutâneos [24].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 355

Tabela III - Distribuição do diagnóstico fisioterapêutico e respectivos subtipos.


Diagnóstico Fisioterapêutico Geral Subtipos do Diagnóstico Fisioterapêutico Geral
n % p-valor n % p-valor
Linfedema MMSS 90 31 <0,0012
0,0513
Edema PO Corporal 69 23,8
Linfedema MMII 46 15,9
Alterações Vasculares e
290 75,1 <0,0011 n = 297 Edema MMII 37 12,8
Linfáticas
Edema PO Facial 30 10,3
Linfedema Facial 18 6,2
Outros 7 2,4
Aderência/Fibrose 85 60,7 <0,0012
Deiscência 18 12,9
Fibroproliferativas 16 11,4
Alterações
140 36,3 n = 153 Úlcera por Pressão 11 7,9
Cutâneas
Feridas/Lesões 11 7,9
Úlcera Venosa 6 4,3
Hematomas 6 4,3
Alterações Músculo- Limitação de ADM 42 80,8 <0,0012
52 13,5 n = 58
-esqueléticas Fraqueza 16 30,8
Plegia/Paresia 17 73,9 NS
Alterações Neurológicas 23 6,0 n = 43 Sensibilidade 17 73,9
Parestesia 9 39,1
Não Informado 16 4,1
Valores de p < 0,05 considerados significantes; Teste de Igualdade de Duas Proporções; 1Valor de p na comparação com os demais diagnósticos;
2Valor de p na comparação com os demais subtipos de diagnóstico; 3Valor de p na comparação entre Linfedema MMSS e Edema PO corporal.
Legenda: PO = Pós-operatório; ADM = Amplitude de Movimento; MMII = Membros Inferiores; MMSS = Membros Superiores;
Nota: Linfedema Facial envolve a região facial e cervical; Edema de MMII inclui fleboedemas, lipedemas e edemas pós-traumáticos; Outros: edemas
reumatológicos, idiopáticos e síndrome da retenção hídrica; Fibroproliferativas: se refere às cicatrizes hipertróficas e quelóides; Feridas/Lesões se refere
a diversos tipos de feridas, queimaduras e úlcera de Marjolin; Sensibilidade se refere à hipoestesia e anestesia devido à alteração neurológica.

Tabela IV - Queixas dos pacientes categorizadas em 5 aspectos.


Queixa relacionada (n=447) n % p-valor
Dor 170 44% < 0,0011
0,1652
Edema 151 39,1% < 0,0011
Disfunção Articular 47 12,2%
0,8243
Disfunção Muscular 45 11,7% NS
Disfunção Cicatricial ou Cutânea 34 8,8%
Valores de p < 0,05 considerados significantes; Teste de Igualdade de Duas Proporções; 1Valor de p na comparação com as demais queixas; 2Valor
de p na comparação entre Dor e Edema; 3Valor de p na comparação entre Disfunção Articular e Muscular;
NS: Diferença NS entre Disfunção Cicatricial ou Cutânea e Disfunção Articular e/ou Muscular.

O diagnóstico fisioterapêutico mais observado foi o re- movimento e parestesias [11,25], também observados neste
lacionado a alterações vasculares e linfáticas (75,1%) como estudo (72,4% e 60,5%, respectivamente).
edemas pós-operatórios, linfedema de membros e face e Dentre as alterações cutâneas (36,3%), as aderências e fi-
edemas por causas diversas nos MMII. Estima-se que existam broses prevaleceram (55,5%), pois os tratamentos cirúrgicos e
450 milhões de pessoas com distúrbios linfáticos, ou seja, 15% por radioterapia levam ao processo de cicatrização e eventuais
da população mundial [21] e o linfedema de MMSS devido complicações cutâneas [11,25].
à mastectomia e linfonodectomia teve destaque (30,3%). A dor é o principal sintoma que leva os indivíduos a procu-
Sabe-se que é alta a incidência dessa complicação [11,25] e rarem serviços de saúde e foi a queixa mais encontrada (44%)
possivelmente esteve alta nesse estudo devido ao câncer de juntamente com edema (39,1%), presentes em um grande
mama ser o mais prevalente. O linfedema é uma complicação número de disfunções, pois o aumento de peso e volume do
severa que evolui progressivamente associado à limitação de membro edemaciado comprime as estruturas nervosas e tra-
356 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

ciona as ligamentares e tendíneas, além do fator psicológico 7. Moraes AB, Zanini RR, Turchiello MS, Riboldi J, Medeiros LR.
desencadeado pela deformidade estética do membro [11,25], Estudo da sobrevida de pacientes com câncer de mama atendidas
associados a disfunções osteomioarticulares crônicas [19] e no hospital da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande
do Sul, Brasil. Cad Saúde Publica 2006;22(10):2219-28.
pós-operatórios, também encontrados na amostra estudada.
8. Tournieux TT, Aguiar LFS, Almeida MWR, Prado LFAM,
O caráter crônico das doenças foi marcante neste estudo, Radwanski HN, Pitanguy I. Estudo prospectivo da avaliação da
pois o tempo de evolução de 2 a 5 anos foi o período mais qualidade de vida e aspectos psicossociais em cirurgia plástica
frequente (20,2%) e mesmo nos casos mais recentes, como estética. Rev Bras Cir Plast 2009;24(3):357-61.
nos pós-operatórios (1 e 3 meses), já tardio para reabilitação, 9. Azevedo de Brito MJ, Nahas FX, Bussolaro RA, Shinmyo LM,
a demora se deva pela espera no tempo de marcação das Barbosa MVJ, Ferreira LM. Effects of abdominoplasty on female
consultas, problema constante no atendimento SUS [14] ou, sexuality: A pilot study. J Sex Med 2012;9:918-26.
10. Gouveia OEX, Melo ECP, Pinheiro RS, Noronha CP, Car-
pelo encaminhamento tardio à fisioterapia [25].
valho MS. Acesso à assistência oncológica: mapeamento dos
fluxos origem-destino das internações e dos atendimentos
Conclusão ambulatoriais. O caso do câncer de mama. Cad Saúde Pública
2011;27(2):317-26.
Apesar de ainda não ser um trabalho completo de perfil 11. Khan F, Amatya B, Pallant JF, Rajapaksa I. Factors associated
clínico-epidemiológico dentro de todas as subáreas da fisio- with long-term functional outcomes and psychological sequelae
terapia dermatofuncional, pôde-se caracterizar os principais in women after breast cancer. Breast J 2012;21(3)314-20.
12. Abrantes MM, Lamounier JA, Colosimo EA. Prevalência de
problemas de saúde apresentados pelos pacientes que buscam sobrepeso e obesidade nas regiões nordeste e sudeste do Brasil.
essa especialidade. Dessa forma, este estudo contribuiu para Rev Assoc Med Bras 2003;49(2):162-6.
nortear os próprios fisioterapeutas e outros profissionais, escla- 13. Olinto MTA, Nacul LC, Dias-da-Costa JS, Gigante DP, Me-
recendo quais pacientes podem ser encaminhados, favorecendo nezes AMB, Macedo S. Níveis de intervenção para obesidade
a qualidade do tratamento especializado para cada indivíduo. abdominal: prevalência e fatores associados. Cad Saúde Pública
Contudo, as possibilidades de pesquisa e informações 2006;22(6):1207-15.
sobre essa área ainda estão distantes de serem esgotadas, por 14. Siqueira FV, Facchini LA, Hallal PC. Epidemiology of physio-
therapy utilization among adults and elderly. Rev Saúde Pública
isso sugerem-se mais estudos sobre o perfil dos pacientes que 2005;39(4):663-8.
buscam a fisioterapia dermatofuncional no contexto particular 15. Machado NP, Nogueira LT. Avaliação da satisfação dos usuários
e em outros estados brasileiros, a fim de favorecer seu cresci- de serviços de fisioterapia. Rev Bras Fisioter 2008;12(5):401-8.
mento e padronizar as ações terapêuticas para os pacientes. 16. Coutinho BBA, Balbuena MB, Anbar RA, Anbar RA, Gomes AK,
Observou-se que a população estudada no âmbito hospitalar Gomes APYN. Perfil epidemiológico de pacientes internados na
e ambulatorial, em São Paulo/SP, foi caracterizada pela prevalên- enfermaria de queimados da Associação Beneficente de Campo
cia de mulheres, por volta dos 50 anos, com sobrepeso, grau de Grande Santa Casa/MS. Rev Bras Cir Plast 2010;25(4):600-3.
17. Horn HM, Priestley GC, Eady RAJ, Tidman MJ. The pre-
escolaridade entre médio e fundamental, diagnóstico de câncer valence of epidermolysis bullosa in Scotland. Br J Dermatol
de mama, tempo de evolução de 2 a 5 anos, predomínio de 1997;136:560-4.
tratamento cirúrgico, diagnóstico fisioterapêutico de alterações 18. Samaniego IA. A sore spot in pediatrics: risk factors for pressure
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 357

Artigo original

Efeito da corrente de alta voltagem em úlceras venosas


Effect of high voltage current in venous ulcers
Bruno Russo Porchera*, Giovanni Luiz Alves Listo*, Clívia Cristhine Amaral Bandeira, M.Sc.**

*Graduandos em Fisioterapia da Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ),


**Docente da Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ)

Resumo Abstract
Introdução: Úlceras venosas são conceituadas como a ruptura de Introduction: Venous ulcers are defined as the rupture of anato-
estrutura anatômica do corpo com comprometimento do mecanis- mical structure of the body which affects the physiological tissue-
mo fisiológico do tecido envolvido, sendo o tipo de úlcera de maior -protecting mechanism, and this kind of ulcer is predominant and
predomínio e com grande recidiva. A Estimulação Elétrica de Alta has high risk of recurrence. The High Voltage Electrical Stimulation
Voltagem (EEAV) vem sendo utilizada como recurso de destaque no (HVES) has been used as a prominent feature in the treatment of
tratamento de úlceras venosas. Objetivos: Analisar o efeito da EEAV venous ulcers. Objectives: To analyze the effect of the HVES in
na área, dor e edema provocadas por úlceras venosas. Material e mé- areas of venous ulcers, including pain and edema. Methods: Five
todos: Foram estudados 5 voluntários, entre 60 e 80 anos, de ambos volunteers, both genders, 60 to 80 years old, who had chronic
os gêneros, com úlceras venosas crônicas em membros inferiores, lower limb ulceration and performed regular treatment, cleaning
que realizavam tratamento convencional, limpeza e curativo no and healing in the João de Barros Barreto University Hospital were
Hospital Universitário João de Barros Barreto. A EEAV foi aplicada studied. The HVES was applied three times a week, during thirty
três vezes por semana, por trinta minutos, durante oito semanas. minutes, through eight week. Results: We observed reduction be-
Resultados: Observou-se redução na área das úlceras antes e após o tween the areas of the ulcers, before and after the HVES treatment
tratamento com a EEAV (p = 0,009), assim como redução da dor (p = 0.009), followed by a reduction of pain in the affected area (p
na área ulcerada (p = 0,01). Não houve diferença significativa no = 0.01). There was no significant difference in the treated edema
edema com o tratamento (p = 0,46). Conclusão: A EEAV foi eficaz (p = 0.46). Conclusion: The HVES proved to be effective to treat
no tratamento de úlceras venosas crônicas de membros inferiores, chronic venous ulcers in lower limbs, as we observed a reduction in
havendo redução da área ulcerada e diminuição da dor, não tendo ulcer area and pain relief, but it was ineffective to control the edema.
sido eficaz para o tratamento do edema. Key-words: Venous ulcers, electric stimulation, wound healing.
Palavras-chave: úlcera venosa, estimulação elétrica, cicatrização.

Recebido em 28 de novembro de 2012; aceito em 30 de agosto de 2013.


Endereço para correspondência: Clívia Cristhine Amaral Bandeira, Av. Presidente Vargas, 197/807, 66010-902 Belém PA, E-mail: cliviabandeira@
gmail.com
358 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Introdução deve ocorrer um processo de cicatrização com uma perfeita


e coordenada sequência de eventos celulares e moleculares,
As feridas ou úlceras são conceituadas como sendo qual- realizados de forma conjunta, proporcionando repavimenta-
quer ruptura de estrutura anatômica do corpo que ocasiona ção e a reconstituição do tecido [13].
um comprometimento do mecanismo fisiológico do tecido Segundo Silva et al. [6] as frequentes recidivas das úlceras
envolvido. São frequentemente associadas ao suprimento demonstram que os tratamentos convencionais utilizados,
sanguíneo inadequado ou doenças sistêmicas e implicam em além de serem pouco eficazes, apresentam alto custo. Os prin-
uma solução de continuidade, aguda ou crônica, que pode cipais métodos utilizados para a cicatrização de úlceras venosas
afetar a superfície dérmica ou mucosa, sendo acompanhada são a terapia compressiva (elástica ou inelástica); repouso e
de processo inflamatório [1,2]. elevação do membro; tratamento local (limpeza, curativos,
Segundo Pizano e Davini et al. [3,4], as úlceras cutâneas desbridamento, autoenxerto cutâneo); antibioticoterapia e
podem ser classificadas de uma forma geral de acordo com sua exercícios articulares [14].
etiologia como: as úlceras causadas por pressão, também de- Outras modalidades terapêuticas têm sido utilizadas como
nominadas úlceras de decúbito, as úlceras do tipo neuropática coadjuvantes no tratamento de úlceras venosas, como a esti-
ocasionado devido a déficits neurológicos e as úlceras venosas. mulação elétrica, ultrassom e laserterapia de baixa intensidade
Além desta classificação, as feridas podem ser classificadas de [6]. Dentre os tratamentos propostos, a estimulação elétrica
acordo com a duração de seu curso em agudas ou crônicas [2]. de alta voltagem (EEAV) vem sendo utilizada como recurso
O termo “agudo” refere-se a um processo de cicatrização atual e de maior destaque no tratamento de úlceras venosas
não complicado, ordeiro, organizado e habitualmente rápido, [9]. Existem evidências que a EEAV possui efeito analgésico,
no qual tende a uma restauração da integridade anatômica e diminuindo assim a dor, apresentando também a capacidade
funcional do tecido. De maneira geral, as feridas cirúrgicas e de facilitar o reparo tecidual e ainda minimizar a severidades
traumáticas representam este tipo de classificação [5]. das lesões ocasionadas por estresse repetitivo [15,16].
Já o termo “crônico” é utilizado para designar as feridas onde A Estimulação Elétrica de Alta Voltagem consiste em
se consegue antever um processo cicatricial comprometido, na uma corrente elétrica caracterizada por uma corrente pulsada
maioria das vezes devido à presença de patologias complexas monofásica, apresentando pico duplo [17], com duração de
subjacentes, como é o caso do diabetes, doença vascular ou pre- pulso que varia de 5 a 100 microssegundos, e uma tensão
sença de malignidade [5]. O termo “crônico” refere-se às feridas acima de 100V [18-20], possibilitando assim uma estimulação
que não cicatrizam em período menor que seis semanas [6,7]. relativamente agradável, capaz de atingir as fibras sensoriais,
Dentre o universo das feridas crônicas as úlceras de motoras, além de atingir as fibras responsáveis pela condução
pressão, as úlceras venosas e as úlceras diabéticas são as mais de impulsos nociceptivos [21,22].
frequentes [5]. A úlcera venosa, também denominada úlcera Assim, o objetivo desse trabalho foi analisar o efeito da
de estase ou varicosa é a de maior predomínio, representando estimulação elétrica de alta voltagem (EEAV) no tratamento
em torno de 70% a 90% de todas as úlceras que acomete os de úlceras venosas.
membros inferiores [8]. É considerada a manifestação mais
grave e o estágio final da insuficiência venosa crônica (IVC) Material e métodos
acometendo 1,5% da população adulta [9,10], ocorrendo em
consequência às anormalidades primárias da parede venosa e A pesquisa foi realizada de acordo com a resolução 196/96,
às alterações nas valvas, que podem ocasionar refluxo sanguí- do Conselho Nacional de Saúde, aprovada no Comitê de Ética
neo, obstrução ou ambas [11]. Apresenta morbidade acentua- em Pesquisa do Hospital Universitário João de Barros Barreto
da associada à diminuição da qualidade de vida dos pacientes, (HUJBB), sob protocolo nº 003/12.
devido à nova condição física e psicológica proporcionada A amostra inicial do estudo foi composta por seis voluntá-
pela doença, determinando um impacto socioeconômico e rios, com idade entre 60 e 80 anos, de ambos os gêneros, que
de saúde pública de grande relevância no Brasil [9]. apresentassem índice de massa corporal (IMC) com valores
A úlcera venosa pode ocorrer de maneira espontânea ou entre 22 e 27 kg/m2, que indicam idosos com peso adequado
por trauma, no qual se inicia com o aumento da pressão nos pela Organização Mundial de Saúde (2004). Os pacientes
vasos de maior calibre, que ocasionará modificação das trocas realizavam tratamento convencional, limpeza e curativo a
metabólicas tisso-capilares, gerando o acúmulo de catabólitos partir do encaminhamento médico, no setor de curativos da
ácidos e consequentemente a liberação de mediadores quí- Unidade de Atendimento a Cirurgia do Hospital Universitário
micos e permeabilidade capilar aumentada. Desta maneira, João de Barros Barreto (HUJBB).
irá ocorrer o extravasamento de macromoléculas proteicas e Esta pesquisa teve como critérios de inclusão: indivíduos de
elementos figurados do sangue infiltrando-se nas paredes dos ambos os gêneros, entre 60 e 80 anos, com uma ou mais úlceras
capilares e tecido subcutâneo, fibrosando o local e gerando crônicas decorrentes de doença varicosa em membro inferior,
um agregamento leucocitário, o que ocasiona o processo que apresentassem índice de massa corporal (IMC) com valores
de ulceração [9,12]. Para que a ulceração seja minimizada entre 22 e 27 kg/m2, que indicam idosos com peso adequado
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 359

pela Organização Mundial de Saúde (2004); indivíduos que Os pacientes foram avaliados no início do tratamento e ao
estivesse sob acompanhamento médico no HUJBB. final da 8ª semana por meio da escala visual analógica (EVA)
Foram excluídos do estudo indivíduos que estavam fazendo que classificou a dor do paciente em uma escala de zero (sem
outro tratamento além do orientado pelos médicos do HUJBB, dor) a dez (dor máxima).
bem como os que não compareciam aos dias de tratamento. Para o registro fotográfico das úlceras crônicas utilizou-se
Dessa forma, houve a necessidade de excluir um paciente, uma câmara digital Panasonic® Lumix 10 mega pixels, posi-
ficando a amostra com 5 indivíduos. De início foi feita a ana- cionada a 20 cm do centro da úlcera, em ambiente iluminado.
mnese dos pacientes por meio de ficha de avaliação com dados Posteriormente a esse processo, as imagens foram transferidas
de identificação que foram mantidos em sigilo, anamnese, para o computador, para que a área da úlcera fosse analisadas
análise da composição corporal (IMC = peso/altura2, baseado com o programa Autocad®, em cm2.
nos valores padronizados pela Organização Mundial de Saúde)
e avaliação do membro inferior do indivíduo, contemplando Resultados
a presença de dor nos membros inferiores, edema, número de
úlceras presentes, número de episódios de ulceração (caso fosse Os cinco pacientes do estudo (um do gênero masculino
úlcera recidivante) e tempo gasto em tratamentos anteriores. e quatro do gênero feminino) apresentaram média de idade
Previamente a cada atendimento foi realizada limpeza da de 63,2 ± 9,9 anos. Alguns deles apresentavam mais de uma
úlcera, executada pela equipe de enfermagem, a qual atuou na úlcera, as quais tiveram em média 3 ± 2,12 anos de existência.
remoção do curativo anterior e limpeza com soro fisiológico Todas as úlceras estavam localizadas no terço inferior da perna.
(cloreto de sódio a 0,9%) para remover a descamação e exsudato. A tabela I apresenta a caracterização da amostra.
Após essa limpeza, a cavidade da úlcera era preenchida com gazes
estéreis, embebidas com soro fisiológico, que serviu como meio Tabela I - Características da amostra quanto à média de idade,
de condução da estimulação elétrica de alta voltagem (EEAV). índice de massa corpórea (IMC) e tempo de úlcera ativa.
Para o tratamento das úlceras venosas crônicas foi Amos- N Idade (anos) IMC (kg/m²) Tempo de úlce-
utilizado o equipamento de estimulação elétrica de alta tra ra ativa (anos)
voltagem (EEAV), modelo Neurodyn High Volt® - ANVISA 5 63,2 ± 9,9 23,2 ± 2,54 3 ± 2,12
10360310008 (IBRAMED®).
No presente estudo foram utilizados eletrodos ativo e A análise dos dados foi processada utilizando-se o progra-
dispersivo, do tipo silicone-carbono, de polaridades diferentes ma Epi Info® versão 3.5.1. Primeiramente foi analisado o grau
(negativo e positivo), previamente esterilizados com glutaral- de normalidade da amostra por meio do teste de Shapiro Wilk
deído (Glutaron II). Inicialmente o tratamento foi realizado e em seguida utilizou-se o Teste-t para comparação entre as
com o eletrodo negativo (ativo) sobre a úlcera até que a mesma médias das áreas das úlceras antes e após a intervenção, o teste
apresentasse uma aparência serosanguínea e posteriormente de Kruskal Wallis para comparação das médias da dor e peri-
houve a inversão de polaridade, de acordo com o sugerido metria antes e após intervenção com a EEAV, considerando-se
por Unger [23], onde o eletrodo positivo passa a ser ativo. nível de significância de 5% (p-valor < 0,05).
Os eletrodos foram fixados em contato com as gazes por De acordo com o Gráfico 1, observa-se que houve dife-
meio de fita adesiva, sendo o eletrodo ativo posicionado rença significativa na área da úlcera antes (1,03 ± 1,1) e após
sobre a úlcera e o eletrodo dispersivo posicionado a 20 cm (0,9 ± 1,1) o tratamento com a EEAV (p = 0,009).
de distância desta (Figura 1). Os parâmetros adotados para a
EEAV foram: frequência de 100 Hz e intensidade média de Gráfico 1 - Área (cm2) das úlceras venosas de membros inferiores
100 V, três vezes por semana, por trinta minutos, durante oito antes e após o tratamento com a EEAV.
semanas conforme utilizado por Davini et al. [24]. 1,04
1,03
1,02
Área da úlcera (cm2)

Figura 1 - Posicionamento dos eletrodos para tratamento de úlcera


1,01
venosa em membro inferior.
1
0,99
0,98 *
0,97
0,96
0,95
0,94 (*) = pAntes
< 0,05. Depois
(*) = p < 0,05.

Fonte: Autores.
360 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

De acordo com o Gráfico 2, observa-se que houve dife- Foi utilizada a estimulação elétrica de alta voltagem no modo
rença significativa na dor da área ulcerada antes (7,5 ± 1,9) e contínuo; frequência de repetição de pulso de 100Hz; inten-
após (4,5 ± 2,4) o tratamento com a EEAV (p = 0,01) sidade da corrente e duração de pulso de 20ms e tempo de
aplicação de 30 minutos, sendo que a polaridade negativa foi
Gráfico 2 - Dor nas úlceras venosas antes e após o tratamento com utilizada nos quatro primeiros atendimentos e a positiva nos
a EEAV. vinte atendimentos subsequentes, totalizando, assim, vinte e
8 quatro aplicações. A amostra final de tal estudo foi composta
7 por seis pacientes. Houve redução da úlcera em cinco dos seis
6 pacientes e em um, do grupo experimental, aumento da área
* durante o tratamento, porém a utilização da eletroestimulação
Dor (Eva)

5
4 se mostrou ineficaz na amostra utilizada pelos autores já que
3 não houve diferença estatística entre os dois grupos estudados.
2
Já no presente estudo, realizado com apenas um grupo
de cinco pacientes (totalizando oito feridas) portadores de
1
úlceras venosas de membros inferiores, pôde ser observado
0
Antes Depois que após a aplicação da estimulação elétrica de alta voltagem,
durante 24 sessões, houve redução na área das úlceras após
(*) = p < 0,05.
intervenção com a EEAV. Dessa forma, a EEAV se mostrou
De acordo com o Gráfico 3, observou-se que não houve eficaz na amostra utilizada. Semelhante ao estudo anterior,
diferença significativa na redução do edema provocado pelas um dos pacientes teve a área da úlcera aumentada durante o
úlceras venosas crônicas antes (29,9 ± 3,56) e após (29,5 ± tratamento, porém tal aumento se deu devido a um trauma
3,54) o tratamento com a EEAV (p = 0,462). na região ulcerada.
Silva et al. [6] utilizaram 15 voluntários portadores tam-
Gráfico 3 - Perimetria das úlceras venosas de membros inferiores bém de úlceras venosas de membros inferiores que foram
antes e após o tratamento com a EEAV. divididos aleatoriamente em dois grupos: o grupo I recebia
30 tratamento com a EEAV e o grupo II recebia tratamento
29,9
com terapia convencional. Tais autores realizaram 10 sessões
durante 30 minutos cada, adotando os seguintes parâmetros:
Perimetria (cm)

29,8 tensão mínima de 100 V e frequência de 100 Hz, utilizando


29,7 como eletrodo ativo o polo negativo. Os autores observaram
uma redução média da área das úlceras de 41,1% no grupo
29,6 estimulado enquanto que o tratamento convencional obteve
29,5 redução média de apenas 4,67%.
No presente estudo foram utilizados eletrodos ativos e
29,4 dispersivos, do tipo silicone-carbono, com polaridades dife-
Antes Depois
rentes (negativa e positiva), onde o eletrodo negativo (ativo)
(*) = p < 0,05
foi inicialmente utilizado sobre a área ulcerada, havendo in-
versão de polaridades no momento em que a úlcera apresentou
Discussão aparência serosanguínea, conforme utilizado por Unger et al. e
Unger [25,26]. O eletrodo ativo foi posicionado diretamente
A estimulação elétrica vem sendo utilizada como moda- sobre a ferida e o eletrodo dispersivo posicionado a 20 cm de
lidade para o tratamento de úlceras cutâneas, sendo que nos distância da mesma. Os parâmetros adotados neste estudo
últimos anos a Estimulação Elétrica de Alta Voltagem (EEAV) para a EEAV foram selecionados com base em publicações
tem sido um dos tratamentos de maior eficácia indicada para recentes, sendo eles: frequência de 100 Hz e intensidade
acelerar os processos cicatriciais, que podem ou não estar média de 100V durante trinta minutos e um total de vinte
associados a patologias secundárias [3]. Tal corrente tem e quatro sessões.
apresentado resultados relevantes, por reiniciar ou acelerar Ferrareto [25] cita que existe certa discussão quanto à
o processo cicatricial de feridas e reestabelecer a corrente polaridade do eletrodo a ser utilizada durante as eletroesti-
elétrica fisiológica cutânea, a qual é alterada quando a pele mulações, sendo este fator, de acordo com vários estudos,
é lesionada [11]. importante e influente nos resultados da cicatrização.
Santos, Nascimento e Andrade [2] realizaram um estudo Assim como no presente estudo, Santos, Nascimento
clínico utilizando uma amostra composta inicialmente por e Andrade [2] realizaram a aplicação da EEAV em úlceras
doze indivíduos portadores de úlceras venosas em membros venosas em vinte e quatro sessões de tratamento, no qual
inferiores, divididos em grupo controle e grupo experimental. adotaram a polaridade negativa do eletrodo nos primeiros
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 361

quatro atendimentos e a polaridade positiva adotada nos ser controladas, dessa forma, é possível aplicar a EEAV com
vinte atendimentos subsequentes. Já Pizano [3] e Silva et al. uma frequência elevada e intensidade baixa, buscando o con-
[6] realizaram em seus estudos o equipamento de EEAV em trole da dor pela teoria das comportas, ou também a EEAV
úlceras cutâneas, com frequência de 2 sessões semanais, e pode ser aplicada adotando-se uma frequência baixa e uma
duração de 5 semanas, sendo que no tratamento foi utilizado intensidade alta, atingindo assim o controle da dor através
como eletrodo ativo apenas o polo negativo, sem inversão de da liberação de encefalinas.
polaridade. Também o estudo feito por Silva et al. [6] com Além da dor, também foi realizado no presente estudo a
o uso da EEAV em úlceras cutâneas crônicas de membros análise de edema do membro inferior acometido pela úlcera
inferiores utilizou somente a estimulação catódica (polo por meio da medição da perimetria antes e após o tratamento.
negativo) sobre a úlcera no tratamento com duração de 15 Apesar de outros trabalhos na literatura citarem que a EEAV
semanas (duas sessões semanais). reduz edema [25,29] não foram encontrados resultados
No que diz respeito à função das polaridades no reparo estatísticos significativos no presente estudo.
tecidual, o polo positivo parece promover a migração e a pro- Sugere-se que outros estudos sejam realizados com a
liferação de células epiteliais, efeito bactericida, e atração de EEAV, para determinar novos parâmetros de estimulação, para
macrófagos. Já o polo negativo é responsável pela migração de elucidar a polaridade que melhor se aplica ao tratamento de
fibroblastos, migração de neutrófilos, os quais são responsáveis úlceras venosas e que tenham uma amostra maior, além da
por promover autólise dos tecidos necróticos e fagocitose de comparação do tratamento da EEAV com um grupo controle
bactérias e restrição da infiltração de moléculas proteicas, ou com outros métodos que favorecem a cicatrização tecidual,
limitando assim a formação de edema [12]. justificando assim as incertezas atribuídas, pertinentes a essa
Segundo Davini et al. [4], os mecanismos pelos quais a forma de estimulação, mostrando suas reais ações [30].
EEAV promove a cicatrização de úlceras cutâneas não está to-
talmente esclarecido, porém, uma das hipóteses mais prováveis Conclusão
para explicar tal processo está relacionada ao efeito bactericida
promovida pela corrente, onde as mudanças eletroquímicas Diante do exposto pode-se concluir que Estimulação
na área ulcerada são as principais responsáveis por esse efeito. Elétrica de Alta Voltagem foi eficaz no tratamento de úlceras
A conclusão sobre qual a melhor polaridade a ser inicial- venosas crônicas de membros inferiores, havendo redução
mente utilizada neste tratamento se deu com base em artigos da área ulcerada e diminuição da dor, não tendo sido eficaz
recentes de Davini et al. [4]; Pizzano [3]; Silva et al. [6]. para o tratamento do edema. Sugere-se que estudos futuros
Além de apresentar grande eficácia na aceleração da repa- sejam realizados, apresentando número de amostra adequado
ração dos tecidos dérmicos e subdérmicos, a EEAV pode ser e maior controle de variáveis, a fim de que seja estabelecido
efetiva no controle e absorção de edemas agudos e também no consenso dos parâmetros da EEAV para melhor aproveita-
controle do processo álgico. Muitos experimentos realizados mento desta corrente.
com a EEAV em seres humanos até o momento priorizou a
ação circulatória e regenerativa, porém a analgesia também Referências
pode ser alcançada com o uso dessa corrente, conforme cons-
tatado por alguns autores [15]. 1. Berusa AAS, Lages JS. Integridade da pele prejudicada: identifi-
Silva et al. [27] analisaram em um estudo a área da úlcera e cando e diferenciando uma úlcera arterial e uma venosa. Cienc
a dor antes e após a utilização da EEAV. Para isso selecionaram Cuid Saúde 2004;3(1):81-92.
2. Santos RP, Nascimento CA, Andrade EN. Uso da eletroestimu-
uma amostra contendo três voluntários, portadores de úlceras
lação de alta voltagem na cicatrização de úlceras venosas. Fisioter
cutâneas crônicas de etiologias distintas em membros inferio-
Mov 2009;22(4):615-23.
res. A intervenção terapêutica proposta pelos autores constou 3. Pizano CA. Estimulação elétrica de alta voltagem em úlceras
de 30 minutos de aplicação da corrente EEAV, durante 15 cutâneas crônicas. 15º Congresso de pós-graduação 5º Mostra
semanas (duas sessões semanais), nos seguintes parâmetros: Acadêmica UNIMEP 2007 out. 23-26; Piracicaba.
estimulação catódica, tensão mínima de 100V. Quanto à 4. Davini R, Nunes CV, Guirro ECO, Guirro RRJ, Fascina E,
área ulcerada, os autores constataram por meio das análises Oliveira M, et al. Tratamentos de úlceras cutâneas crônicas por
que houve redução média de 36%. Por meio da avaliação da meio da estimulação elétrica de alta voltagem. Rev Cienc Med
escala visual analógica (EVA), observou-se que os voluntários 2005;14(3):249-58.
tiveram redução do quadro doloroso variando de 55% e 43% 5. Souza FAMR. O “corpo” que não cura vivências das pessoas
com úlceras venosas crônica de perna [Dissertação]. Coimbra:
após tratamento com a EEAV. Corroborando o estudo de
Universidade do Porto; 2009.
Silva et al. [27], também foi observado no presente estudo a 6. Silva EFH. Estimulação elétrica de alta voltagem em úlceras
redução da dor após o tratamento com a EEAV. varicosas. 6º Congresso de pós-graduação 6ª mostra acadêmica
Almeida [28] cita que as características da Estimulação UNIMEP 2008 Set–out; Piracicaba.
Elétrica de Alta Voltagem são apropriadas para o controle da 7. Abbade LPF, Lastoria S. Abordagem de pacientes com úlcera da
dor, visto que a intensidade e a frequência da corrente podem perna de etiologia venosa. An Bras Dermatol 2006;81(6):509-22.
362 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 363

Artigo original

Fatores associados à qualidade de vida de crianças


asmáticas atendidas em ambulatório público
especializado da cidade de Maceió/AL
Factors associated with quality of life of asthmatic children treated
in a specialized public outpatient service at Maceió/AL
Vanessa de Albuquerque Vilaca, Ft.*, Cinthia Maria X. Costa, Ft., M.Sc.**, Raphaela Farias Teixeira, Ft.***,
Giselle Souza de Paiva, Ft., M.Sc.****

*Especialista, Fisioterapeuta da Clínica Integrar, Viçosa/AL, **Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCI-
SAL), Maceió/AL, ***Especialista, Faculdade Alagoana de Administração (FAA), Maceió/AL, ****Instituto de Medicina Integral
Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife/PE

Resumo Abstract
Introdução: A asma é a doença crônica mais comum da infância, Introduction: Asthma is the most common childhood chronic di-
caracterizada pela hiper-responsividade das vias aéreas inferiores sease characterized by lower airway hyperresponsiveness and variable
e pela limitação variável ao fluxo aéreo. Objetivo: Determinar os airflow limitation. Objective: To determine factors associated with
fatores associados à qualidade de vida de crianças asmáticas em um asthmatic children’s quality of life in a specialized public outpatient
ambulatório público especializado. Métodos: Foram coletados dados service. Methods: Socioeconomic and biological data of 77 asthmatic
socioeconômicos familiares e biológicos de 77 crianças asmáticas children, from 7 to 12 years, between August and September 2010,
entre 7 e 12 anos, no período de agosto e setembro de 2010, em in a specialized public outpatient service in Maceió, Alagoas were
um ambulatório público especializado em Maceió/AL. A avaliação collected. The quality of life evaluation was performed using the Pa-
da qualidade de vida foi realizada através do Paedriatric Asthma edriatric Asthma Quality of Life Questionnaire - adapted (PAQLQ-
Quality of Life Questionnaire – adaptado (PAQLQ-A). Para análise -A). To statistical analysis the chi-square and Fisher exact tests (p ≤
estatística utilizaram-se os testes do qui-quadrado e exato de Fisher 5%) were used. Results: The average age of children’s was 9.31 years
(p ≤ 5%). Resultados: A idade média das crianças em anos foi de 9,31 (± 1.7). The majority (60.8%) had a total household income of 1 to
(± 1,7). A maioria (60,8%) tinha uma renda familiar total de 1 a 2 2 minimum wages, and 67.5% had mild asthma. The quality of life
salários mínimos, 67,5% possuíam asma do tipo leve. A qualidade was considered poor in 24.7%. The children’s age from 7 to 9 years
de vida foi considerada ruim em 24,7%. A idade das crianças entre and female showed a meaningful association with a better quality
7 e 9 anos e o sexo feminino apresentaram uma associação signifi- of life. Low family income was associated with a poorer quality of
cativa com uma melhor qualidade de vida. A baixa renda familiar life. Conclusion: Asthmatic children of lower socioeconomic status
foi associada a uma pior qualidade de vida. Conclusão: Crianças have more often a poorer quality of life.
asmáticas de níveis socioeconômicos mais baixos apresentam mais Key-words: quality of life, asthma, child.
frequentemente uma pior qualidade de vida.
Palavras-chave: qualidade de vida, asma, criança.

Recebido em 26 de dezembro de 2012; aceito em 28 de junho de 2013.


Endereço de correspondência: Vanessa de Albuquerque Vilaça, Rua Hígia de Vasconcelos, 193/703, 57035-140 Maceió AL, E-mail: vanessa.vilaca@
hotmail.com
364 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Introdução rio específico para avaliação e acompanhamento de crianças e


adolescentes asmáticos com idades entre 7 e 17 anos [9].
A asma é uma doença crônica inflamatória pulmonar, Determinar a QV de crianças asmáticas é de fundamental
caracterizada pela hiper-responsividade das vias aéreas in- importância na inserção do indivíduo num contexto biopsi-
feriores e pela limitação variável ao fluxo aéreo, reversível cossocial. Desta forma, além do investimento em tratamento
espontaneamente ou com tratamento [1,2]. Clinicamente, medicamentoso e de medidas preventivas, justifica-se a pre-
manifesta-se por episódios recorrentes de dispneia, sibilância, ocupação com o impacto da asma na vida dos pacientes e a
tosse seca e sensação de aperto no peito [1,3]. realização de pesquisas com este enfoque. O objetivo deste
A asma é responsável por até 30% das limitações de estudo foi determinar os fatores associados à qualidade de vida
atividades em crianças, sendo considerada a doença crônica de crianças asmáticas em um ambulatório público especiali-
mais comum da infância. Tais limitações funcionais podem zado numa unidade ambulatorial em Maceió/AL.
acarretar alterações no ritmo de aquisição dos marcos do
desenvolvimento motor da criança, por exigir uma maior Métodos
dependência entre a criança e seu cuidador, na realização de
atividades típicas do cotidiano infantil [4]. Desenho do estudo
Segundo dados do International Study for Asthma and
Allergies in Childhood - ISAAC, a prevalência de asma ativa Trata-se de um estudo observacional de corte transversal,
no Brasil varia de 1,6 a 36,8% [5]. Apesar de ser uma doença com componente analítico, realizado na Clínica Infantil
de alta prevalência, a mortalidade por asma ainda é baixa [6]. Doutora Dayse Lins Brêda – Maceió/AL. Essa clínica é de
Quando não controlada, aumenta a procura por serviços de gestão estadual, especializada no atendimento pediátrico de
saúde e de hospitalizações, correlacionando-se com a piora usuários do SUS e referência para tratamento e acompanha-
da qualidade de vida (QV) [7]. mento médico de crianças e adolescentes asmáticos no estado.
O World Health Organization-Qualtity of Life Group
[8] define QV como a percepção subjetiva da posição do Amostra
indivíduo na vida, no contexto de sua cultura e sistemas de
valores onde se vive, e na relação dos seus ideais, expectativas, Critérios de inclusão: todas as crianças de ambos os sexos,
padrões e preocupações. Essa percepção, por ser individual, na faixa etária de 7 a 12 anos e que foram atendidas na referida
pode sofrer interferência pela saúde física, estado psicológico, unidade de saúde, nos meses de agosto e setembro de 2010. O
nível de independência e pelas relações sociais e ambientais, diagnóstico de asma brônquica foi baseado nas IV Diretrizes
as quais o indivíduo está inserido [9]. Para uma criança com para o manejo da asma [6].
asma, a QV é definida como a medida de emoções, a gravi- Critérios de exclusão: crianças portadoras de alterações
dade dos sintomas da asma, as faltas na escola, as limitações neurológicas e cardiológicas ou que possuíam outras pneu-
nas atividades e as visitas ao serviço de emergência [10,11]. mopatias associadas.
O aparecimento da sintomatologia característica da asma
limita as atividades físicas, o que pode levar a um ciclo vicioso: Aspectos éticos
sedentarismo - deterioração do condicionamento físico geral
– intolerância ao exercício físico [12,13]. Além de restringir O protocolo para realização do estudo, de número
a participação em atividades esportivas, a asma grave ou mal 1383/2010, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
controlada prejudica o sono e o rendimento escolar, tornando da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
a QV muito ruim [13]. (UNCISAL), conforme resolução 196/96.
A partir dos anos 80, a mensuração da QV tornou-se um Todos os pais e/ou responsáveis pelas crianças foram escla-
importante parâmetro no acompanhamento e no tratamento recidos sobre a natureza e os objetivos do estudo e aqueles que
dos pacientes com asma [14]. Recentemente, foi evidenciado concordaram em participar deram seu consentimento formal
que os parâmetros clínicos têm pouca correlação com o que e escrito através da assinatura do Termo de Consentimento
a criança sente e como se encontram suas funções diárias Livre e Esclarecido.
[10]. Além disso, pesquisas têm mostrado que os pais podem
não perceber com precisão a QV da sua criança com asma Procedimentos
[10,11,14]. Por isso, tornou-se necessária a criação de um
instrumento específico capaz de avaliar adequadamente esses Inicialmente foram coletados dados biológicos, socioeconô-
pacientes [14]. micos e clínicos com o responsável pela criança, incluindo idade,
Dentre os instrumentos que avaliam a qualidade de vida na sexo, renda familiar per capita, escolaridade das crianças e dos
asma, o PAQLQ é o mais utilizado em pesquisas científicas [15]. pais, gravidade clínica da asma, idade que foi diagnosticada a
Criado por Juniper et al. e posteriormente validado e adaptado asma, prática de atividade física, presença de animais domésticos,
para o português por La Scala et al., o PAQLQ é um questioná- presença de outras doenças crônicas associadas e tabagismo passivo.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 365

O instrumento utilizado para avaliação da QV foi o Pa- riáveis, apresentando-as por frequência, porcentagem, média,
ediatric Asthma Quality of Life Questionnaire - Adaptado mediana e desvio padrão. Para verificar se havia dependência
(PAQLQ-A), que consiste em 23 questões fragmentadas em entre as variáveis, quando indicado, foram aplicados os testes
três domínios: sintomas, função emocional e limitação nas de associação estatística qui-quadrado (Yates e de tendência)
atividades. Cada questão é pontuada numa escala de 1 a 7 e exato de Fisher. Foi adotado como nível de significância
pontos, onde 1 representa o máximo de prejuízo e 7, nenhum estatística o valor de p < 0,05.
prejuízo [6]. Todas as respostas são somadas, dividindo-se o
valor por 23 para obter a pontuação final em média da QV, Resultados
sendo classificados como “QV ruim” valores inferiores a 4 [16].
A coleta de dados do questionário foi realizada mediante A amostra foi composta por 77 crianças, houve predo-
entrevista aplicada pelo entrevistador. Antes de responder o minância do sexo masculino com 70,1% e a idade média
questionário, foi apresentada uma folha de atividades para o (em anos) foi de 9,31 (± 1,7). Todas as crianças estavam
paciente identificar espontaneamente as três atividades que matriculadas na escola e a maioria estava cursando o ensino
mais o incomodou a executar na última semana. fundamental (92,2%). 57% das crianças tinham uma renda
familiar per capita entre 125,00 e 249,00 reais, o que equivale
Análise estatística a cerca de ¼ a ½ salário mínimo, respectivamente (Tabela
I). Apesar da baixa renda, a maior parte das famílias vivia em
A análise das variáveis foi realizada utilizando o programa casas de alvenaria e possuía bens domésticos como televisão,
Epi-Info, versão 6.04. Foi realizada análise descritiva das va- geladeira, fogão e telefone celular.

Tabela I - Associação entre as características biológicas e socioeconômicas e a qualidade de vida de crianças asmáticas atendidas em um am-
bulatório público especializado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77).
Características Total % (n) Qualidade de ida. P
Boa % (n) Ruim % (n)
Sexo
Feminino 29,9 (23) 78,3 (18) 21,7 (5) 0,01
Masculino 70,1 (54) 74,1 (40) 25,9 (14)
Idade
7 – 9 anos 51,9 (40) 77,5 (31) 22,5 (9) 0,04
10 – 12 anos 48,1 (37) 73,0 (27) 27,0 (10)
Escolaridade
Alfabetização 7,1 (6) 83,3 (5) 16,7 (1) 1,0*
Fundamental incompleto 92,2 (71) 74,6 (53) 25,4 (18)
Escolaridade da mãe
Fundamental incompleto 54,8 (40) 72,5 (29) 27,5 (11) 0,067**
Fundamental completo 12,2 (9) 33,3 (3) 66,7 (6)
Médio incompleto 9,5 (7) 85,7 (6) 14,3 (1)
Médio completo 24,3 (18) 94,4 (17) 5,6 (1)
Escolaridade do pai
Fundamental incompleto 61,3 (38) 71,1 (27) 28,9 (11) 0,397**
Fundamental completo 14,5 (9) 88,9 (8) 11,1 (1)
Médio incompleto - - -
Médio completo 24,2 (15) 80,0 (12) 20,0 (3)
Atividade da mãe
Empregada 26,3 (20) 90,0 (18) 10,0 (2) 0,132
Desempregada 73,7 (56) 69,6 (39) 30,4 (17)
Atividade do pai
Empregado 90,2 (55) 76,4 (42) 23,6 (13) 0,629*
Desempregado 9,8 (6) 66,7 (4) 33,3 (2)
Renda Familiar
< 1 SM 17,6 (13) 46,2 (6) 53,8 (7) 0,013**
1 – 2 SM 60,8 (45) 75,6 (34) 24,4 (11)
3 – 4 SM 21,6 (16) 93,8 (15) 6,3 (1)
*Teste exato de Fisher; ** Qui-quadrado para tendência. SM: Salário Mínimo
366 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

A QV foi considerada ruim em 24,7% das crianças as- Nenhuma outra variável socioeconômica apresentou re-
máticas. Ainda na tabela I, pode-se constatar que as meninas sultado estatisticamente significante quando associada à QV.
asmáticas apresentaram-se em maior percentual na categoria Quanto à gravidade da asma, 67,5% possuíam asma do
QV boa, quando comparadas aos meninos. Além disso, tipo leve, sendo o diagnóstico da asma realizado antes dos 6
pode-se verificar que a menor idade (7 a 9 anos) e a renda anos na maioria dos casos (Tabela II). A prática de alguma ati-
familiar menor que um salário mínimo tiveram um impacto vidade física regular (no mínimo 1 vez/semana) foi observada
negativo na QV. em 63,6%. A presença de rinite alérgica não interferiu na QV.

Tabela II - Associação entre as características clínicas e a qualidade de vida de crianças asmáticas atendidas em um ambulatório público
especializado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77).
Qualidade de vida
Características Total % (n) P
Boa % (n) Ruim % (n)
Classificação da asma
Intermitente 14,3 (11) 81,8 (9) 18,2 (2) 0,460**
Leve 67,5 (52) 71,2 (37) 28,8 (15)
Moderada/Grave 18,2 (14) 85,7 (12) 14,3 (2)
História de asma na família
Sim 71,6 (53) 71,7 (38) 28,3 (15) 0,072*
Não 28,4 (21) 90,5 (19) 9,5 (2)
Fumante dentro de casa
Sim 24,7 (19) 78,9 (15) 21,1 (4) 0,767*
Não 75,3 (58) 74,1 (43) 25,9 (15)
Presença de animal em casa
Sim 46,8 (36) 83,3 (30) 16,7 (6) 0,206
Não 53,2 (41) 68,3 (28) 31,7 (13)
Prática exercício físico
Sim 63,6 (49) 77,6 (38) 22,4 (11) 0,745
Não 36,4 (28) 71,4 (20) 28,6 (8)
Tipo de atividade física
Educação física 65,3 (32) 81,3 (26) 18,8 (6) 0,581
Futebol 24,5 (12) 66,7 (8) 33,3 (4)
Outros 10,2 (5) 80,0 (4) 20,0 (1)
Frequência da atividade física
1 vez/semana 56,2 (27) 74,1 (20) 25,9 (7) 0,733*
> 2 vezes/semana 43,8 (21) 81,0 (17) 19,0 (4)
Tratamento de fisioterapia
Faz\ Já fez 6,5 (5) 80,0 (4) 20,0 (1) 1,000*
Nunca fez 93,5 (72) 75,0 (54) 25,0 (18)
Idade do diagnóstico
≤ 1 ano 44,2 (34) 70,6 (24) 29,4 (10) 0,515**
2 – 6 anos 44,2 (34) 76,5 (26) 23,5 (8)
7 – 10 anos 11,7 (9) 88,9 (8) 11,1 (1)
Uso de Beta 2 de longa duração
Sim 17,1 (13) 84,6 (11) 15,4 (2) 0,721*
Não 82,9 (63) 74,6 (47) 25,4 (16)
Uso de Beta 2 de curta duração
Sim 57,9 (44) 72,7 (32) 27,3 (12) 0,555
Não 42,1 (32) 81,3 (26) 18,8 (6)
Uso de Corticoide
Sim 84,2 (64) 78,1 (50) 21,9 (14) 0,462*
Não 15,8 (12) 66,7 (8) 33,3 (4)
Uso de Anti-histamínico
Sim 22,4 (17) 70,6 (12) 29,4 (5) 0,530*
Não 77,6 (59) 78,0 (46) 22,0 (13)
* Teste exato de Fisher; ** Qui-quadrado para tendência.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 367

Da mesma forma, não foi encontrada nenhuma associação meninas para um dado volume pulmonar [21,23].
significativa entre ter outras doenças alérgicas (conjuntivite O nível de escolaridade tanto da mãe quanto do pai das
alérgica, dermatite e urticária) e a QV. crianças asmáticas mostrou-se muito baixo, a maioria não
Dentre as atividades escolhidas no questionário PAQLQ-A tinha ao menos o estudo fundamental completo. Porém, não
pelas crianças, as mais prevalentes foram correr, jogar bola e foi encontrada nenhuma associação entre baixa escolaridade
subir ladeira. Observa-se que, dentre os domínios limitação materna e pior QV (p= 0,067). Esta associação pode não ter
nas atividades, sintomas e função emocional, o que apresentou sido significante provavelmente pelo número reduzido da
maior percentual de crianças com QV ruim foi o de Limitação amostra. Um estudo transversal realizado num ambulatório no
nas atividades (37,7% das crianças) (Tabela III). estado do Rio de Janeiro com adolescentes asmáticos também
mostrou que o nível de escolaridade materna e paterna não
Tabela III - Domínios limitação nas atividades, sintomas e função influenciou na QV [9]. Já outro estudo realizado em escola-
emocional do questionário PAQLQ-A e a qualidade de vida de res no Recife mostrou uma prevalência maior de asma nos
crianças asmáticas atendidas em um ambulatório público especia- escolares cujas mães possuíam maior nível de instrução [24].
lizado da cidade de Maceió, Alagoas (n = 77). No presente estudo, não foi encontrada associação signi-
Média Ruim % ficante entre o nível de gravidade da asma e a QV. Walker et
Domínios Boa % (n)
(± DP) (n) al. [16] também aplicaram o PAQLQ num grupo de crianças
Limitação nas atividades 4,35 62,3 37,7 asmáticas com média de idade de 8 anos e não encontraram
(± 1,25) (48) (29) associação estatisticamente significante entre a gravidade da
Sintomas 5,02 79,2 20,8 asma e a pontuação total da QV. Entretanto, Nogueira et al.
(± 1,20) (61) (16) [9] observaram um impacto negativo da asma grave na QV,
Função emocional 4,73 79,2 20,8 porém a população estudada foi de adolescentes entre 12 a
(± 1,33) (61) (16) 21 anos de idade e 49% deles tinham asma moderada/grave.
DP: desvio padrão. Os resultados da presente pesquisa podem estar relacionados
ao baixo nível de gravidade clínica e ao fato de que todas as
crianças estavam incluídas no grupo de asma, onde recebiam
Discussão acompanhamento médico e estavam utilizando algum medi-
camento para o controle da asma, o que reduz o número de
Os resultados deste estudo mostram que houve uma exacerbações das crises.
associação entre pior QV e crianças cuja renda familiar foi Embora a presença de outras doenças crônicas alérgicas
abaixo de um salário mínimo. Esse achado está de acordo com não tenha apresentado associação estatisticamente significante
Erickson et al. [17], que também observaram uma relação com a QV na presente pesquisa, houve um elevado índice
consistente e estatisticamente significante entre a renda fami- de rinite alérgica nas crianças avaliadas. De acordo com a
liar e a QV de pacientes pediátricos com asma, constatando literatura, a rinite alérgica atinge no mínimo 10 a 25% da
que quanto maior a renda, melhor a QV. De modo similar, população, sendo considerado um problema global de saúde
Felizola et al. [18] associaram a prevalência de asma e o nível pública [25]. A associação de asma com rinite alérgica pode
socioeconômico de crianças e adolescentes do Distrito Federal, refletir em diminuição na tolerância aos exercícios e no au-
baseados na renda e no nível de escolaridade e observaram mento das faltas escolares, prejudicando a QV [26].
maior prevalência de sintomas de asma nos grupos economi- As atividades escolhidas no questionário PAQLQ-A pelas
camente desfavorecidos. Já Britto et al. [19] não encontraram crianças avaliadas neste estudo coincidem com as atividades
relação entre a presença de asma e pobreza, utilizando como (correr, jogar bola e subir ladeira) também escolhidas pe-
critério baixa renda e muito baixa renda como 50 e 25% do las crianças que participaram do estudo de Rezende [11].
salário mínimo per capita por mês, respectivamente. Porém, Optou-se, na presente investigação, por utilizar a versão do
nenhum desses dois últimos estudos avaliou a QV. PAQLQ-A onde as próprias crianças teriam que indicar as
Nesta pesquisa, com relação às características sociode- atividades que mais incomodavam para serem realizadas no
mográficas, houve uma predominância do sexo masculino seu dia-a-dia. As perguntas individualizadas nos permitem
(70,1%), achado compatível com outros estudos que ava- mensurar as limitações específicas de cada paciente, tornando
liaram crianças com asma [11,14,20,21]. Ainda não há um o resultado mais fidedigno por aproximar-se mais do cotidiano
consenso na literatura sobre a prevalência de asma por gênero, de vida destas crianças.
apesar de ser frequentemente relatada como mais alta no gê- A pontuação da QV subdividida entre os domínios mos-
nero masculino até a pré-adolescência [22]. Provavelmente, trou maior percentual de crianças com QV ruim nos itens
os meninos desenvolvem asma mais precocemente do que de limitação nas atividades (37,7%) e com QV boa nos itens
meninas, devido a algumas diferenças existentes na anatomia relacionados aos sintomas. Resultado semelhante foi encon-
do trato respiratório inferior durante a infância; os meninos trado no estudo de Erickson et al. [21], onde a pontuação da
tendem a possuir menor diâmetro das vias aéreas do que as QV para os pacientes pediátricos variou entre as mais baixas
368 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

no domínio de limitação nas atividades e as mais altas no 3. III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma (CBMA). J Pneu-
domínio da emoção. Isso mostra que a asma teve um pior mol 2002;28(Supl 1):6-51.
impacto na percepção da QV das crianças quando limitava 4. Souza AP, Mancini MC, Resende VDG, Sampaio RF, Ferraz
as atividades que eles gostam de fazer, como esporte, brincar LSBP, Campos TMF, et al. Mobilidade funcional em crianças
asmáticas de 1 a 4 anos. Fisioter Pesq 2006;13:43-7.
com seus amigos e/ou animais de estimação, e ir para as casas
5. Worldwide variations in the prevalence of asthma symptoms:
de seus amigos. the International Study of Asthma and Allergies in Childhood
Apesar do PAQLQ-A ser o instrumento mais indicado (ISAAC). Eur Respir J 1998;12:315-35.
e utilizado em pesquisas científicas para avaliação específica 6. IV Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma. J Bras Pneumol
da QV de crianças com asma [15], observou-se certa dificul- 2006;447:1-474.
dade, principalmente em crianças menores, para escolherem 7. Andrade C, Chatkin JM, Camargos PAM. Avaliação do grau
uma das respostas do cartão. Por se tratar de crianças mais de controle clínico, espirométrico e da intensidade do processo
carentes e com baixo nível cultural, pode ter sido difícil para inflamatório na asma. J Pediatr 2010;93:100.
elas entenderem e diferenciarem o significado, por exemplo, 8. World Health Organization Quality of life Instruments (WHO-
QOL). Measuring Quality of Life. 2009. [citado 2010 Mar
de alguns termos deste instrumento, tais como “muito e bas-
19]. Disponível em URL: http://www.who.int/mental_health/
tante”, “um pouco e quase nada”, “a maior parte do tempo
media/68.pdf
e frequentemente”. 9. Nogueira KT, Silva JRL, Lopes CS. Quality of life of asthmatic
Outra limitação deste estudo diz respeito ao seu desenho, adolescents: assessment of asthma severity, comorbidity, and life
de caráter transversal, pois todos os dados foram coletados style. J Pediatr 2009;85:523-30.
em um único momento e num período curto de tempo, di- 10. Juniper EF. How important is quality of life in pediatric asthma?
ficultando o estabelecimento de uma relação causal entre as Pediatr Pulmonol 1997;15:17-21.
variáveis analisadas e a QV. Por isso, justifica-se a importância 11. Walker J, Winkelstein M, Land C, Lewis-Boyer L, Quartey R,
e a necessidade de novos estudos longitudinais que avaliem Pham L, Butz A. Factors that influence quality of life in rural
a asma e sua influência na QV de crianças em longo prazo. children with asthma and their parents. J Pediatr Health Care
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Políticas públicas eficazes centradas em ações preventivas
12. Taketomi EA, Marra SMG, Segundo GRS. Fisioterapia em
e de promoção em saúde são necessárias para oferecer um asma: efeito na função pulmonar e em parâmetros imunológicos.
atendimento integral e centrado no paciente asmático dentro Fitness e Performance Journal 2005;4:97-100.
do seu contexto psicossocial. Investir em programas educa- 13. Rezende IMO, Moura ALD, Costa BC, Faria JM, Almeida
tivos que permitam delinear os grupos de risco e identificar C, Bolina IC, et al. Efeitos da reabilitação pulmonar sobre a
os sintomas, os fatores desencadeantes de exacerbações e as qualidade de vida: uma visão das crianças asmáticas e de seus
formas para evitá-los, garantiria melhor tratamento e quali- pais. Acta Fisiátrica 2008;165:169.
dade de vida para esses pacientes, além de reduzir os custos 14. La Scala CS, Naspitz CK, Solé D. Adaptação e validação do
com internamentos e a morbidade. Pediatric Asthma Quality of Life Questionnaire (PAQLQ-A)
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Crianças asmáticas de níveis socioeconômicos mais baixos process in asthma. J Pediatr 2010;86(2):93-100.
apresentam mais frequentemente uma pior qualidade de 17. Erickson SR, Munzenberger PJ, Plante MJ, Kirking DM,
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enfatizados nestes subgrupos, dando-lhes uma maior chance
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 369

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370 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Artigo original

Perfil de qualidade de vida em praticantes de Pilates


Profile of quality of life in practicing Pilates
Rosana Elizabete de Jesus, Esp.*, Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz, Esp.*, Rafaela Liberali, M.Sc.**,
Maria Ines Artaxo Netto, M.Sc.**, Helena Brandão Viana, D.Sc.***, Charles Ricardo Lopes, D.Sc.****

*Aluna do Programa de Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, **Docente do Programa de Pós Graduação Lato
Sensu da Universidade Gama Filho, ***Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia, ****Docente na Faculdade Adventista de
Hortolândia e no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu da FACIS - UNIMEP

Resumo Abstract
O método Pilates tem proporcionado inúmeros benefícios para The Pilates method has provided several benefits to the practitio-
seus praticantes melhorando a capacidade para a realização das ners improving the ability to perform activities of daily life. The aim
atividades da vida diária. O objetivo deste estudo foi demonstrar of this study was to describe the profile of quality of life of people
o perfil de qualidade de vida de indivíduos praticantes do método practicing the Pilates method in three Pilates studios of São Paulo/
Pilates de três estúdios de São Paulo/SP. A população correspondeu Brasil. The total of 26 healthy people, both genders, Pilates prac-
a 26 indivíduos, de ambos os gêneros, praticantes do método Pi- titioners were allocated into the study. The inclusion criteria were
lates que foram selecionados por atenderem aos seguintes critérios to attend regular classes of Pilates for more than six months and to
de inclusão: participar regularmente das aulas, praticar Pilates há sign a consent form authorizing. Of these 26 subjects, 23.07% were
mais de seis meses e assinar o termo de consentimento. Destes 26 males and 76.93% were females. Females had a mean age of 39.3
participantes, 23,07% são do sexo masculino e 76,93% do sexo ± 9.74 and males had a mean age 44.3 ± 6.62. For the individual
feminino. A média de idade do sexo feminino foi de 39,3 ± 9,74 life-style was used a questionnaire proposed by Nahas, Francalacci
e do masculino de 44,3 ± 6,62. Para o estilo de vida individual foi and Barros, called Pentacle Welfare. The results showed that the
utilizado um questionário proposto por Nahas, Barros e Francalacci, practice of Pilates can be a positive influence in the quality of life
denominado Pentáculo do Bem Estar. Os resultados demonstraram of its practitioners, and in this study the women had more positive
que a prática do método Pilates influencia positivamente o perfil de attitudes on nutrition, preventive behavior, personal relationships
qualidade de vida dos seus praticantes, e neste estudo as mulheres and stress management.
apresentaram atitudes mais positivas em relação aos aspectos nu- Key-words: Pilates, quality of life, wellness.
tricionais, comportamentos preventivos, relacionamento pessoal e
controle do estresse.
Palavras-chave: Pilates, qualidade de vida, bem-estar.

Recebido em 15 de janeiro de 2013; aceito em 20 de maio de 2013.


Endereço para correspondência: Charles Ricardo Lopes, Rua Antônio Nogueira Braga, 236, casa 14, Fazenda Santa Cândida, 13087-601 Campinas
SP, E-mail: charles_ricardo@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 371

Introdução meses e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido


autorizando sua participação na pesquisa.
Considerando o acúmulo de evidências em torno da No que refere aos aspectos éticos, as avaliações não tinham
atividade física, é indiscutível a importância de um estilo nenhum dado que identificasse os indivíduos e que lhe causas-
de vida ativo para a promoção da saúde e melhor qualidade se constrangimento ao responder. Além disso, foram incluídos
de vida para ambos os gêneros e todas as idades [1]. Com o no estudo os adultos que aceitaram participar voluntariamen-
estresse do dia-a-dia a população vem buscando melhorar a te, após obtenção de consentimento verbal dos participantes e
sua qualidade de vida através da prática de atividades físicas uma autorização por escrito. Dessa forma, os princípios éticos
que trabalhem o corpo de forma global [2]. Há um grande contidos na Declaração de Helsinki e na Resolução nº 196
aumento no número de técnicas disponíveis para esses obje- de 10 de Outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde
tivos e entre elas encontra-se o Pilates [3,4]. foram respeitados em todo o processo de realização desta
O Pilates é um método de condicionamento físico que pesquisa. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
integra o corpo e a mente [5]. A técnica recebe esse nome por Pesquisa do Centro Universitário Adventista campus 1, sob
fazer referência a seu criador, Joseph H Pilates (1880-1967) número 886/2010, CAAE - 0687.0.146.000-10.
[6]. O método foi desenvolvido no início da década de 1920 e Para o estilo de vida individual foi utilizado um questio-
tem como base um conceito denominado de contrologia, que é nário proposto por Nahas, Barros e Francalacci [15], com
caracterizado pelo controle consciente de todos os movimentos perguntas fechadas sobre: Nutrição, Atividade física, Compor-
[7]. Os exercícios podem ser realizados no solo, com acessórios ou tamento preventivo, Relacionamento social e Controle do estresse.
em aparelhos dotados de um mecanismo de molas que colocam Esses cinco componentes formam o Pentáculo do Bem Estar
uma maior resistência ou facilitam a execução de movimentos e (PBE) e medem o impacto dos hábitos diários no perfil de
apresentam ainda diferentes graus de dificuldade [8]. qualidade de vida do indivíduo. O PBE é uma demonstração
Dentre as formas de treinamento contra resistência, o gráfica dos resultados obtidos através do questionário do perfil
método Pilates surge como forma de condicionamento físico do estilo de vida individual, que tem 15 itens de perguntas
particularmente focado em proporcionar força, flexibilidade, fechadas, havendo uma autoavaliação numa escala que corres-
boa postura, controle, consciência e percepção do movimento ponde de 0 (zero) absolutamente não faz parte do seu estilo
[9]. Trabalha o corpo como um todo, corrige a postura e re- de vida, 1 (um) às vezes corresponde ao comportamento, 2
alinha a musculatura, desenvolvendo a estabilidade corporal (dois) quase sempre verdadeiro, 3 (três) que é a completa
necessária para uma vida mais saudável [10]. realização do comportamento considerado. A referência do
Independentemente da idade, qualquer pessoa pode ser bem-estar é indicada pelos índices. O índice menor de 1 é
beneficiada com este método que melhora a qualidade de vida considerado negativo, entre 1 e 1,99 corresponde a regular e
[11]. Os exercícios corrigem os desequilíbrios musculares, entre 2 e 3 positivo [16] .
melhoram a postura, a flexibilidade, a consciência corporal Assim que os indivíduos chegavam aos estúdios, o propósi-
e o condicionamento físico [12]. Praticado regularmente e to da pesquisa era explicado e depois solicitado que assinassem
da forma correta, o Pilates pode ajudar a alcançar muitos o formulário de Consentimento Livre e Esclarecido e depois
benefícios físicos e emocionais e estes elementos contribuem preenchessem o questionário. Este instrumento foi respondido
para melhorar a percepção da qualidade de vida dos seus individualmente, sem a presença de um interlocutor, para
praticantes [13]. que não houvesse interferência nas respostas. Os indivíduos
O objetivo deste estudo, portanto foi demonstrar o perfil responderam 10 minutos antes das aulas.
da qualidade de vida de alunos praticantes de Pilates, de ambos A análise descritiva dos dados serviu para caracterizar a
os sexos, com idade entre 18 a 60 anos, de três estúdios de amostra, com a distribuição de frequência (n,%), cálculo de
Pilates da cidade de São Paulo. tendência central (média) e de dispersão (desvio padrão). Foi
utilizado o teste “t” de Student para amostras independentes
Material e métodos para verificar a diferença entre as variáveis quantitativas.
Para análise das variáveis categóricas utilizou-se o teste c2 =
A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa descritiva qui-quadrado de independência: partição: l x c. O nível de
[14]. As instituições pesquisadas foram três estúdios de significância adotado foi p < 0,05.
Pilates, de pequeno porte que oferecem aulas de Pilates em
aparelhos, atendendo em aulas individuais ou em grupos de Resultados
até três pessoas. As responsáveis pelos grupos autorizaram a
pesquisa mediante a assinatura de uma declaração. Os 26 alunos de Pilates participantes da pesquisa, foram
Foram convidados para este estudo 73 alunos matriculados divididos em dois grupos, de acordo com o gênero, sendo
em três estúdios. Deste total foi selecionada uma amostra de 23,07% (seis) do sexo masculino e 76,93% (20) do sexo
26 alunos, por atenderem alguns critérios de inclusão: parti- feminino. A faixa etária correspondente é de 18 a 60 anos,
cipar regularmente das aulas, praticar Pilates há mais de seis sendo que o teste “t” de Student para amostras independentes
372 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

não demonstrou diferenças estatisticamente significativas (p = Ao menos duas vezes


0,26) entre o sexo feminino que apresentou média de idade de por semana você realiza
39,3 ± 9,74 e masculino com média de idade de 44,3 ± 6,62. exercícios que envolvam 2,6 ± 0,68 2 ± 0,63 0,06
Na análise da escolaridade, o teste qui-quadrado demons- força e alongamento
trou associações significativas entre o sexo e escolaridade, mas muscular?
a grande maioria tanto do sexo feminino como do masculino, No seu dia a dia, você
predomina superior completo, demonstrado na Tabela I. caminha ou pedala
como meio de transporte
Tabela I - Valores descritivos do perfil da escolaridade da amostra, 1,3 ± 1,03 2 ± 0,14 0,14
e, preferencialmente, usa
estratificado por sexo (fem x masc) e no total. as escadas em vez do
Fem Mas Total elevador?
p
(n) % (n) % (n) % Controle do estresse
Ensino médio Você reserva tempo (ao
(05) 25% (01) 16,66% (06) 23,07% 0,00**
completo menos 5 minutos) todos 2,29 ± 0,49 2,57 ± 0,53 0,15
Superior os dias para relaxar?
(10) 50% (04) 66,68% (14) 53,86%
completo Você mantém uma
Pós gradua- discussão sem alterar-se,
2,29 ± 0,76 2,71 ± 0,49 0,13
ção conclu- (05) 25% (01) 16,66% (06) 23,07% mesmo quando contra-
ído riado?
c2 = P ≤ 0,05 (p = ** resultados estatisticamente significativos; ns = Você procura equilibrar
não significativo; n = número; % = porcentagem) - Teste qui quadrado o tempo dedicado ao
1,57 ± 0,98 2,14 ± 0,69 0,06
de independência: partição l x c; fem x masc x categorias. trabalho com o dedicado
ao laser?
Na análise da qualidade de vida nos quadrantes nutrição, p< 0.05 = Diferença significativa – Teste “t” de Student para amostras
atividade física e estresse, os escores variam de 0 = nunca; 1 independentes (x ± s = media ± desvio-padrão; p= probabilidade de
= as vezes; 2 = quase sempre; 3 = sempre. O teste estatístico significância) (0 = nunca; 1 = as vezes; 2 = quase sempre; 3 = sempre)
não apontou diferenças entre os sexos, mas na comparação da
qualidade de vida, o sexo feminino apresentou os melhores Na análise da qualidade de vida, nos quadrantes com-
escores na nutrição e o sexo masculino na atividade física e portamento preventivo e relacionamento pessoal, os escores
no controle do estresse, demonstrado na Tabela II. variam de 0 = nunca; 1 = às vezes; 2 = quase sempre; 3 = sem-
pre. O teste apontou diferenças significativas entre os sexos,
Tabela II - Valores da qualidade de vida nos quadrantes nutrição, na pergunta do comportamento preventivo, demonstrando
atividade física e controle do estresse, estratificado por sexo (fem x que o sexo feminino tem mais cuidado com sua saúde. E no
masc) e total. quadrante relacionamento ambos os sexos classificam-se com
Fem Masc controle médio, observado na Tabela III.
Variáveis p
x±s x±s
Nutrição Tabela III - Valores da qualidade de vida, estratificado por sexo
Sua alimentação diária (fem x masc) e no total.
inclui ao menos 5 por- 1,95 ± 0,94 1,33 ± 1,21 0,20 Fem Masc
Variáveis p
ções de frutas e verduras? x±s x±s
Você evita ingerir alimen- Comportamento Preventivo
tos gordurosos (carnes 2,05 ± 0,82 1,5 ± 0,83 0,16 Você conhece sua pres-
gordas, frituras) e doces? são arterial, seus níveis
2,62 ± 0,58 1,83 ± 0,75 0,00**
Você faz 4 a 5 refeições de colesterol e procura
variadas ao dia, in- controlá-los?
2,15 ± 0,93 1,5 ± 0,12 0,12
cluindo café da manhã Você não fuma e ingere
completo? álcool com modera-
2,05 ± 1,39 1,5 ± 1,37 0,40
Atividade Física ção* (menos de duas
Você realiza ao menos doses ao dia)?
30 minutos de atividades Você sempre usa cinto de
físicas moderadas ou segurança e, se dirige, o
1,7 ± 1,30 1,83 ± 0,98 0,81
intensas, de forma contí- faz respeitando a norma 2,9 ± 0,46 2,33 ± 1,03 0,06
nua ou acumulada, 5 ou de trânsito, nunca ingerin-
mais dias da semana? do álcool, se vai dirigir?
Relacionamento Pessoal
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 373

Você procura cultivar vimento equilibrado de mente e corpo, pois acreditava que
amigos e está satisfeito o objetivo de uma pessoa saudável era ter uma mente forte
2,75 ± 0,44 2,33 ± 0,51 0,06 e com ela obter o controle total do corpo. Para isso criou
com seus relaciona-
mentos? mais de quinhentos exercícios que podem ser feitos no solo,
Seu lazer inclui reuniões sobre o colchonete, utilizando a resistência do próprio corpo,
com amigos, atividades ou realizados em aparelhos com molas e polias para prover
esportivas em grupo 1,95 ± 0,82 1,66 ± 1,21 0,51 resistência [18]. Os exercícios podem ser praticados por
ou participação em qualquer indivíduo, desde atleta até o sedentário, do idoso
associações? ao adolescente, da grávida a pacientes em fase de reabilitação,
Você procura ser ativo podendo ser recomendado como condicionamento para
em sua comunidade, prevenção de lesões [19].
1,7 ± 0,97 1,5 ± 1,04 0,66 Nas últimas décadas, a busca pela prática de atividade física
sentindo-se útil no seu
ambiente social? se intensificou devido à variedade de modalidades disponi-
P < 0.05 = Diferença significativa – Teste “t” de Student para amostras bilizadas ao público das mais diversas idades e escolaridades
independentes (x ± s = media ± desvio-padrão; p= probabilidade [20]. As academias tornaram-se uma opção para a população
de significância) (0 = nunca; 1 = às vezes; 2 = quase sempre; 3 = urbana, que adere ao exercício físico, com o intuito de obter
sempre) melhorias em seu bem-estar geral [21].
No presente estudo predominam pessoas com ensino
Na análise dos escores gerais da qualidade de vida, os superior (Tabela I), similar ao estudo de Rosa e Lima [22]
escores variam de 0 = nunca; 1 = às vezes; 2 = quase sempre; que avaliou a correlação entre qualidade de vida e lombalgia
3 = sempre. O teste não apontou diferenças significativas em 30 praticantes de Pilates e também mostrou escolaridade
entre os sexos, mas observa-se que as mulheres possuem em sua maioria de nível superior. Santos e Venâncio [23] que
atitudes mais positivas na nutrição, comportamento preven- avaliaram o perfil de estilo de vida de 43 formandos do curso
tivo, relacionamento pessoal e controle do estresse. E o sexo de Educação Física da Unileste em Minas Gerais, no ano
masculino predomina na prática de atividade física, observado 2005, demonstraram que prevaleceu a escolaridade ensino
na Tabela IV. superior. Outro estudo também mostrou semelhança em
relação à escolaridade dos praticantes do presente estudo [23].
Tabela IV - Valores gerais da qualidade de vida em cada quadrante, O conceito de qualidade de vida é amplo e complexo,
estratificado por sexo (fem x masc) e no total. abrangendo fatores físicos, psíquicos, relações sociais, inde-
Fem Masc pendência, crenças e meio ambiente. A qualidade de vida
Variáveis p baseia-se na percepção do indivíduo em relação aos seus
x±s x±s
Nutrição 2,05 ± 0,1 1,44 ± 0,09 0,06 objetivos, expectativas, padrões e preocupações [25].
Atividade física 1,86 ± 0,66 1,94 ± 0,09 0,85 É por isso que o estilo de vida e em particular a atividade
Comportamento Pre- física, tem sido, cada vez mais um fator determinante na
2,53 ± 0,43 1,88 ± 0,41 0,13 qualidade de vida, tanto geral quanto relacionado à saúde,
ventivo
Relacionamento Pessoal 2,13 ± 0,66 1,83 ± 0,54 0,50 em todas as idades e condições. A atividade física está relacio-
Controle do estresse 1,71 ± 0,33 1,66 ± 0,16 0,82 nada a maior capacidade de trabalho físico e mental, além de
P < 0,05 = Diferença significativa – Teste “t” de Student para amostras mais disposição para a vida e sensação positiva de bem-estar.
independentes (x ± s = media ± desvio-padrão; p= probabilidade Estilos de vida mais ativos estão associados a menores gastos
de significância) (0 = nunca; 1 = as vezes; 2 = quase sempre; 3 = com a saúde, menor risco de doenças crônico-degenerativas
sempre). e redução da mortalidade precoce [26].
Neste estudo o teste estatístico não apontou diferenças
Discussão entre os sexos, mas na comparação da qualidade de vida, o sexo
feminino apresentou os melhores escores na nutrição e o sexo
O método Pilates, segundo Gallagher e Krizanowska [17], masculino na atividade física e no controle do estresse (Tabela
é um programa de condicionamento físico e mental no qual o II). Em outro estudo realizado por Silva e Nahas [27] o nível
praticante, com o auxílio dos aparelhos e/ou exercícios no solo de atividade física habitual foi associado ao nível de qualidade
“Mat”, trabalham corpo e mente, exercitando força, flexibili- de vida relacionada à saúde, com aproximadamente 8 em cada
dade e resistência. Esses autores consideram que esta técnica 10 mulheres ativas apresentando nível positivo de qualidade
trabalha 100% corpo e 100% mente, por esse motivo recebe de vida relacionada à saúde. Os resultados indicaram 93%
a denominação de “contrologia”, que é o controle consciente menor chance das mulheres insuficientemente ativas, compa-
de todos os movimentos musculares do corpo. radas às ativas, apresentarem um nível positivo de qualidade
Joseph H. Pilates criou um método de atividade física de vida relacionada à saúde. O estudo de Reis, Mascarenha e
que combina arte e ciência, visando promover o desenvol- Lyra [23] mostrou resultados semelhantes na predominância
374 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

de mulheres como praticantes de Pilates e mais preocupadas O teste realizado neste estudo não apontou diferenças signi-
com a saúde. A qualidade de vida tem sido tema constante em ficativas entre os sexos, mas observa-se que as mulheres possuem
pesquisas avaliando praticantes de Pilates, sempre apontando atitudes mais positivas na nutrição, comportamento preventivo,
os resultados positivos dessa prática [28-30]. relacionamento pessoal e controle do estresse. E o sexo masculino
Em pesquisa realizada por Benedetti [31] que teve como predomina na prática de atividade física (Tabela IV).
objetivo verificar a relação entre o nível de atividade física e as Nunomura [34] avaliou o nível de estresse em 16 adultos
condições de vida e saúde dos idosos residentes em Florianó- após 12 meses de prática regular de atividade física e pode
polis, SC, com amostra que totalizou 875 idosos, com média constatar melhoria significativa nos sintomas geradores de
de idade de 71,6 anos (dp=7,9), verificou-se que 59,3% eram estresse, sugerindo a influência positiva da atividade física
os idosos mais ativos, sendo os homens mais ativos no domí- regular na atenuação do desencadeamento do processo de
nio do lazer, enquanto as mulheres, nas tarefas domésticas. estresse entre os praticantes.
Um resultado diferente foi encontrado em estudo que O estudo de Silva et al. [35] reafirma a importância da
visou identificar as relações entre qualidade de vida (QV) e prática de atividade física para a qualidade de vida, através de
atividade física (AF) em adultos educadores físicos, com 85 uma pesquisa transversal que objetivou analisar as associações
adultos (46 do sexo masculino e 39 do sexo feminino) do da prática de atividades esportivas na qualidade de vida de
município de Ponta Grossa (PR). Mensuraram-se o nível 107 professores.
de AF pelo IPAQ (versão curta), e a QV por intermedio do Pode-se observar que, em média, quanto mais ativa a
WHOQOL-Bref. Os resultados mostraram que a maioria dos pessoa é, melhor sua qualidade de vida. Além disso, dentre
participantes foi classificada como muito ativos, e QV de uma as diferenças na qualidade de vida das pessoas que praticam
forma geral, sendo que o domínio ambiental apresentou os atividades físicas comparadas com as que não praticam, não
piores índices em ambos os sexos. Foram encontradas relações estão apenas os aspectos de saúde física, mas também aspectos
de AF e QV apenas para o sexo masculino. psicológicos e cognitivos.
Cheik et al. [32] avaliaram os efeitos do exercício físico
e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos Conclusão
idosos. Para tanto, foram selecionados 54 idosos saudáveis
(66,85 ± 4,42 anos), de ambos os sexos, que foram sub- Os resultados deste estudo demonstraram que a prática do
divididos em 3 grupos: Grupo A – controle (indivíduos método Pilates influencia positivamente o perfil de qualidade
sedentários), n = 18; Grupo B – grupo de desportistas de vida dos seus praticantes, e que as mulheres apresentam ati-
(indivíduos sedentários que passaram a praticar exercícios tudes mais positivas na nutrição, comportamento preventivo,
físicos regularmente), n = 18; Grupo C – grupo de lazer relacionamento pessoal e controle do estresse, enquanto que
(indivíduos que participam de programas de atividade física os homens predominam na prática de atividade física. Porém,
não sistematizada) n = 18. Grupo de desportistas obteve um sugere-se que mais estudos sejam realizados para comprovar a
índice satisfatório significativo de redução dos escores de relação do Pilates com o perfil de qualidade de vida.
depressão (Inventário Beck), passando de leve para normal,
e em relação aos índices indicativos para ansiedade (Idate Referências
Traço e Estado) e os dados se demonstraram baixos em
todos os grupos analisados. Os resultados sugerem que a 1. Pires DC, Couto CKS. Pilates: notas sobre os aspectos históricos,
prática regular de exercício físico orientado com parâmetros princípios, técnicas e aplicações. Revista Digital EFDesportes
fisiológicos, pode contribuir na redução dos escores para 2005;10:1.
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depressão e ansiedade em indivíduos com mais de 60 anos.
ca relacionada à saúde. Revista Digital EFDesportes 2010;15:1.
Neste estudo o teste apontou diferenças significativas
3. Marques CLS, Abreu MN. Dimensionando a percepção da
entre os sexos, na pergunta do comportamento preventivo, qualidade de vida. Alguns caminhos da intervenção pedagó-
demonstrando que o sexo feminino tem mais cuidado com gica com idosos praticantes de hidroginástica. Revista Digital
sua saúde. E no quadrante relacionamento ambos os sexos EFDesportes 2007;11:1.
classificam-se com controle médio (Tabela III). 4. Sacco ICN, Andrade MS, Souza PS, Nisiyama M, Cantuária
Outra pesquisa com o objetivo de verificar o impacto AL, Maeda FYI, Pikey M. Método Pilates em revista: aspectos
das atividades físicas orientadas por 3 meses na melhoria da biomecânicos de movimentos específicos para restruturação
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Artigo original

Mochila escolar: investigação quanto ao peso


carregado pelas crianças
Backpack school: research on weight children carry to school
Amabile Vessoni Arias, D.Sc.*, Andréia Cristina de Oliveira Silva**, Mayara Costa de Camargo***

*Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), **Graduanda do Curso de Fisioterapia, Universidade de Sorocaba (UNISO),
***Graduanda do Curso de Enfermagem, Universidade de Sorocaba (UNISO)

Resumo Abstract
Objetivo: Investigar o peso da mochila escolar das crianças do Objective: To investigate the weight of the backpack for school
segundo ano do ensino fundamental. Material e métodos: Estu- children in the second year of elementary school. Methods: A des-
do descritivo, prospectivo, de corte seccional, com 97 crianças criptive, prospective, cross-sectional study, with 97 children from the
provenientes do Colégio Dom Aguirre, Sorocaba/SP. Critérios de College Dom Aguirre, Sorocaba/SP. Inclusion criteria: children who-
inclusão: crianças cujos pais assinaram o Termo de Consentimento se parents signed an informed consent, children regularly enrolled
Livre e Esclarecido; crianças regularmente matriculadas no ensino in elementary school (second grade), children of both genders (male
fundamental (segunda série); crianças de ambos os gêneros (feminino and female), aged between six and eight years. Exclusion criteria:
e masculino); com idade entre seis e oito anos. Foram excluídas: children whose parents do not accept the invitation to participate.
crianças cujos pais não aceitaram o convite para participar. Resulta- Results: Inadequate backpacks (overweight) represented (89.7%) of
dos: As mochilas inadequadas (com excesso de peso) representaram the sample. The total weight of the backpack peaked at 9.100 kg,
(89,7%) da amostra. O peso total da mochila atingiu o máximo de the permission for the maximum weight was 6.120 kg. There was
9,100 Kg, o peso máximo permitido foi de 6,120 kg. Não houve no significant difference for pain associated with heavy backpack or
diferença significativa para a dor associada à mochila pesada ou o body mass index inappropriate. The backpack overload was caused
Índice de Massa Corporal inadequado. A sobrecarga da mochila foi due to two situations, carry unnecessary material that will not be
ocasionada devido a duas situações, por conter material em dia que used in class (sketchbook, dictionary) and duplicate materials (two
não seria utilizado (caderno de desenho, dicionário) e por materiais rubbers, lots of pens). Conclusion: There were backpacks weighing
duplicados (duas borrachas, várias canetas). Conclusão: Foram iden- above recommended. Complaints of pain occurred in a minority
tificadas mochilas com peso acima do recomendado. As queixas de of children, we believe this is because of short time of overload
dor ocorreram na minoria das crianças, acreditamos que seja pelo exposure, as it is the beginning of children’s school life.
pouco tempo de exposição a sobrecarga, por tratar-se de crianças Key-words: child health, comprehensive health care, primary and
no começo da vida escolar. secondary education, health education.
Palavras-chave: saúde da criança, assistência integral à saúde,
ensino fundamental e médio, educação em saúde.

Recebido 4 de julho de 2013; aceito em 3 de setembro de 2013.


Endereço para correspondência: Amabile Vessoni Arias, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rua Reinaldo Bolliger, 795, Jardim Santa
Mônica, 13082-090 Campinas SP, E-mail: amabilevessoni@gmail.com
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introdução ano do ensino fundamental. A contribuição científica da


pesquisa encerra-se na oportunidade de identificar o peso
Nos últimos anos, a saúde escolar tem sido foco de atenção exagerado das mochilas escolares, produzir conhecimento
da comunidade científica, especialmente as alterações postu- quanto ao uso da mochila escolar referente ao peso, atuar
rais e dores nas costas entre crianças e adolescentes. Uma das preventivamente, orientar os estudantes, as famílias, a equipe
principais questões relaciona-se à aplicação de sobrecargas escolar e a comunidade.
às costas e as possíveis repercussões em um período de cres-
cimento e maturação do sistema locomotor. Em virtude do Material e métodos
grande número de adultos acometidos de doenças da coluna,
os pesquisadores atentam para o fato de que as possíveis causas Trata-se de um estudo descritivo, prospectivo, de corte
apresentem relação com a infância e adolescência [1,2]. seccional, com 97 crianças da segunda série do ensino funda-
Levar uma mochila é uma atividade diária para a maioria mental, dos períodos matutino e vespertino, provenientes do
das crianças. Este fato desencadeou um esforço em pesquisas Colégio Dom Aguirre, localizado no município de Sorocaba/
nacionais e internacional que buscam identificar o limite de SP. O Colégio é uma escola de Educação Básica que oferece
carga segura para as mochilas. Ainda não há consenso quanto o curso de Educação Infantil (entre outros) e que é mantido
ao peso e outros fatores associados ao carregar as mochilas, sen- pela Fundação Dom Aguirre, entidade educacional com sede
do os resultados conflitantes. A maioria dos autores concorda em Sorocaba. O projeto foi desenvolvido no segundo semestre
que o peso a ser carregado pelas crianças e adolescentes não letivo de 2011. Não foi realizado o cálculo amostral, pois
deve ultrapassar 10% do peso corporal, contudo, é possível o intuito foi coletar dados de crianças que se encontravam
encontrar citações que variam entre 5% a 20% [3-8]. No matriculadas na Instituição referida, e que preenchessem os
Brasil, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia critérios de inclusão para participar da pesquisa.
(INTO) aponta que o ideal é que o peso da mochila tenha, O projeto de pesquisa foi previamente aprovado pelo
no máximo, 10% do peso da criança [7]. Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Soroca-
O uso inadequado da mochila quanto ao peso irrevoga- ba (Uniso) (nº 016/2011), pela Direção e Coordenação
velmente é apontado como prejudicial ao sistema musculoes- Pedagógica do Colégio, bem como, atendeu aos princípios
quelético em crescimento/desenvolvimento. Episódios de dor Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O Termo
(cervical, torácica, lombar), alteração postural (hiperlordose/ de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi obtido do
hipercifose), sintomas musculares (tensão, fadiga, descon- responsável legal dos participantes, após aceitarem volunta-
forto), altos níveis de compressão intervertebral, sintomas riamente participar do estudo.
sensoriais (dormência), alteração da marcha e equilíbrio, Como critérios de inclusão, foram selecionadas todas as
bem como alteração da função pulmonar exemplificam a crianças cujos pais assinaram o TCLE; crianças regularmente
concordância entre muitos autores [5,9-19]. matriculadas na segunda série do ensino fundamental no Co-
Alguns autores não contemplam as hipóteses de que as légio Dom Aguirre; crianças de ambos os gêneros (feminino e
patologias da coluna vertebral (desvios da curvatura) tenham masculino); com idade entre seis e oito anos. Foram excluídas
origem pelo excesso de peso da mochila escolar [6,20]. Se- as crianças cujos pais não aceitaram participar da pesquisa.
gundo o INTO, o uso da mochila pesada, por si só, não pode O principal fator de exposição foi a ocorrência do
desenvolver desvios de coluna. O peso exagerado acarreta peso inadequado da mochila escolar, seguindo os critérios
transtornos de dor, desconforto, queixas pelo esforço físico apresentados pelo INTO, no qual o peso carregado não
exagerado, e problemas de postura, que não são progressivos deve ultrapassar 10% do peso corporal da criança [7]. Para
e podem ser corrigidos com reeducação postural. As defor- o cálculo Índice de Massa Corporal, foi utilizado como
midades da coluna, como as escolioses, são doenças que referência o Programa de Telessaúde Brasil, do Ministério
ocorrem por predisposição genética ou associação a outras da Saúde, cujos percentis classificam em IMC Baixo, IMC
enfermidades, que vão ocorrer com ou sem o uso inadequado Adequado, Sobrepeso e Obesidade [21]. As avaliações foram
da mochila [7]. realizadas dentro da dependência física do Colégio, em sala
Embora os sintomas musculoesqueléticos devam ser determinada pela Coordenação Pedagógica. Foi utilizada
considerados de forma multifatorial, ou seja, devemos levar uma Balança Mecânica com régua 150 kg, Welmy. As crian-
em consideração o peso corporal (sobrepeso, obesidade), se- ças retiravam somente os sapatos e meias para verificação do
dentarismo, atividade física realizadas de forma inadequada, peso corporal e a altura.
maus hábitos de vida (posturas inadequadas) e o mobiliário Os dados foram obtidos através dos documentos escolares
doméstico ou escolar inadequado, o transporte de mochilas e das avaliações realizadas. Os registros foram realizados ini-
pesadas é um fator sabidamente contribuinte, sendo mere- cialmente em ficha individual (papel), em seguida, os dados
cedor de investigação. foram digitados no software Statistical Package for the Social
O presente trabalho tem por objetivo investigar o excesso Sciences for Windows (SPSS), versão 16.0, sendo as fichas de
de peso carregado na mochila escolar por crianças do segundo avaliação arquivadas apropriadamente.
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Após as avaliações, as devolutivas foram feitas à equipe evidente pela presença de 87 crianças apresentarem mochilas
do colégio e aos pais, em reunião e por intermédio de docu- inadequadas quanto ao peso (89,7%), apenas 10 crianças
mento, sendo enviada uma carta na agenda de cada criança, foram identificadas com mochilas adequadas (10,3%).
com os resultados obtidos e orientações realizadas. Esta carta, Os dados antropométricos podem ser visualizados na
encaminhada a todos os pais, continha orientações para ajudar Tabela II. A idade cronológica variou de seis a oito anos; a
na organização da mochila e deixá-la mais leve (Tabela I). altura entre 1,11 m e 1,50 m; o peso corporal entre 18,300
Foram adotados procedimentos para o controle de qua- kg e 61,200 Kg e o IMC entre 12,61 e 31,62 (Tabela II).
lidade. Após a estruturação do banco de dados, foi realizada Além da sobrecarga das mochilas, o IMC pode nos auxiliar
revisão de todos os dados digitalizados comparando-as as suas a entender o peso corporal excessivo enfrentado pelo sistema
respectivas fichas de avaliação. Em um segundo momento, 10% locomotor e cardiorespiratório. A classificação evidenciou
das fichas de avaliação foram selecionadas aleatoriamente, para que 1,0% da amostra representou a categoria de IMC baixo
nova checagem. A estruturação das tabelas foi realizada a partir (IMC < Percentil 3); 50,5% a categoria IMC Adequado (IMC
de estatística descritiva, sendo as variáveis numéricas resumidas ≥ Percentil 3 e < Percentil 85); 14,4% a categoria Sobrepeso
em tabelas com medidas de tendência central e dispersão. As (IMC ≥ Percentil 85 e < Percentil 97) e 34,0% a categoria
variáveis categóricas foram apresentadas através de tabelas de Obesidade (IMC ≥ Percentil 97).
frequências observas. A comparação entre a queixa de dor e o O peso ao qual o estudante foi exposto para carregar está
peso inadequado da mochila ou IMC inadequado foi investi- ilustrado na Tabela III. A avaliação da mochila vazia demons-
gada com o Teste Exato de Fischer. Os intervalos de confiança trou que houve uma variação de peso em decorrência dos
foram de 95% e o nível de significância adotado foi de 5%. modelos de mochila que ficou entre 0,105 kg e 2,800 kg; a
mochila carregada com o material escolar de rotina represen-
Resultados tou uma extensão de peso mínima de 2,300 kg a máxima de
6,200 Kg (Tabela III).
Inicialmente, tínhamos 108 crianças, a amostra foi consti- O peso da mochila carregada suportado pelo estudante,
tuída por 97 crianças, cujos pais assinaram o TCLE. A amostra ainda recebeu o acréscimo do peso da lancheira e dos brinque-
foi representada pelo sexo feminino em 58% e pelo masculino dos levados de casa para a escola. A lancheira representou uma
41,2%. A sobrecarga a qual as crianças foram expostas ficou variação de 0,200 kg a 1,050 Kg e os brinquedos de 0,100 Kg

Tabela I - Orientações que auxiliam na organização da mochila escolar.


Nº Itens Exemplos
1 Organização diária da mo- O hábito de organizar diariamente a mochila deve ser orientado aos pais e estimado às crian-
chila ças. Esta atividade permite reduzir o peso carregado significantemente.
2 Evitar os materiais que não Aula de matemática (Ábaco, calculadora), aula de português (caderno de caligrafia; dicionário),
serão utilizados no dia aula de inglês (caderno, dicionário), aula de artes (caderno de desenho, pincel, tintas, avental),
aula de natação (toalha, toca, roupa de banho), balé (roupa e sapatilha), futebol (roupa e chu-
teira), dia do brinquedo (jogos e brinquedos individuais), etc.
3 Evitar várias unidades do Vários lápis de escrever, canetas esferográficas, estojos, caixas de canetinha, caixas de giz de
mesmo material cera, caixas de lápis de cor, réguas, borrachas, tesouras, colas, etc.
4 Evitar materiais pesados e Cadernos com muitas folhas, modelos de mochilas pesadas, embalagens de cola, produtos de
embalagens grandes higiene pessoal (pasta de dente, xampu, condicionador, escova de cabelo grande, filtro solar),
garrafinha de água, etc.
5 Evitar embalagens vazias e Réguas quebradas, canetas sem tinta, cola vazia, pasta de dente vazia, cadernos já utilizados,
material quebrado sem folhas limpas, etc.
OBS: Os exemplos e orientações acima são referentes aos materiais encontrados nas mochilas de todas as crianças de segunda série do ensino funda-
mental. Os pais devem avaliar a rotina e os hábitos dos seus filhos de forma específica e individual. As citações acima apenas auxiliam na identificação
das irregularidades que podem levar ao excesso de peso da mochila escolar.

Tabela II – Características antropométricas da amostra.


Item n Média DP Mínimo Mediana Máximo
Idade 97 7,21 0,410 6,01 7,07 8,11
Altura 97 1,27 0,064 1,11 1,27 1,50
Peso corporal 97 30,205 8,544 18,300 27,700 61,200
IMC 97 18,39 3,844 12,61 17,18 31,62
N = número de sujeitos; DP = Desvio Padrão; IMC = Índice de Massa Corporal
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Tabela III – Análise do peso exposto para carregamento.


Média DP Mínimo Mediana Máximo
Item n
Kg Kg Kg Kg Kg
MO_Vazia 97 0,962 0,450 0,105 1,000 2,800
MO_Carregada 97 4,052 0,710 2,300 4,000 6,200
Lancheira 97 0,582 0,199 0,200 0,550 1,050
Brinquedo 97 0,404 0,352 0,100 0,300 1,800
Peso total 97 5,502 1,150 2,600 5,500 9,100
Peso permitido 97 3,020 0,854 1,830 2,770 6,120
Sobrecarga 97 2,525 1,403 0,180 2,840 5,890
Crédito 97 0,034 0,185 0,060 0,000 1,670
DP = desvio padrão; n = número de sujeitos; Kg = quilograma, Unidade de Medida para o peso; MO_Vazia = peso da mochila vazia; MO_Carregada
= peso da mochila carregada; Peso total = peso da mochila carregada somado ao peso da lancheira e do brinquedo; Peso permitido = peso permitido
para carregamento segundo o INTO que equivale à 10% do peso corporal da criança; Sobrecarga = excesso de peso carregado pela criança; Crédito
= peso que a criança ainda poderia carregar até atingir os 10% do seu peso corporal.

a 1,800 Kg. O peso total (peso da mochila somado ao peso ma musculoesquelético e respiratório ampara os resultados
da lancheira e do brinquedo) compreendeu uma variação de aqui encontrados e justifica a importância deste e de futuros
2,600 Kg a 9,100 Kg, sendo que o máximo permitido para investimentos científicos voltados à mochila escolar [9-19].
as crianças avaliadas foi de 6,120 Kg. Como consequência, Embora a presença unânime de mochilas sobrecarregadas
a sobrecarga (excesso de peso carregado pela criança), variou tenha sido observada, a presença da dor foi relatada por uma
de 0,180 Kg a 5,890 Kg (Tabela III). minoria de crianças (5,7%) e não houve associação da dor com
As crianças que carregavam uma mochila com peso abaixo do as mochilas inadequadas ou IMC inadequados (Tabela IV).
limite máximo permitido (10% do peso corporal), ainda tinham Supomos que este início da vida escolar ainda não tenha acusado
um crédito em peso que poderiam ser adicionado à mochila, este os sintomas musculares clássicos citados pela literatura, visto
crédito variou de um mínimo de 0,060 Kg a 1,670 Kg. que o fator tempo de exposição deve ser levado em conta. Frente
A Tabela IV relaciona a presença de dor (coluna/cinturas), a todos os anos que os estudantes carregam material escolar,
expressada pela criança ao ser questionada, o peso da mochila Chansirinukor et al.[10], Whittfield et al. [11], Pires et al. [22]
(adequado ou inadequado) e o IMC adequado ou inadequado. afirmam que o peso excessivo por períodos de tempo longos
Não houve diferença significativa. Das cinco crianças (5,7%) influencia a postura, assim como podem causar e manter os
que relataram dor, todas apresentaram o peso da mochila sintomas musculoesqueléticos (dor, desconforto). Lópes et al.
inadequado e duas tiveram o IMC inadequado (classificadas [23] e Garcia [6], não encontraram associação entre a presença
como obesas). da dor e a sobrecarga do material escolar, contudo enfatizam a
Ao avaliar o material carregado dentro das mochilas, foram presença do sentimento de desconforto em crianças e que esta
identificados alguns itens que contribuíram para a sobrecarga questão deve ser considerada um problema de saúde pública.
da mochila, tais como, materiais que não seriam utilizados Garcia [6] afirma que entre tantos fatores que podem contribuir
no dia que foram levados à escola (Ex: dicionário de inglês, para a queixa de dor (tipo de mochilas, peso transportado,
ábaco, caderno de caligrafia), assim como, várias unidades horas de esporte, horas de televisão, gênero, mobiliário escolar,
do mesmo material (Ex: duas colas; duas borrachas, vários postura sentada), os móveis e postura sentada estão associados
lápis). Todos estes itens podem ser identificados na Tabela com as queixas de dor, e afirma não encontrar a relação entre
V. O objetivo da tabela não é solicitar a retirada de nenhum dor e o peso da mochila.
material ou categorizá-lo como certo e errado, mas apontar Nos Estados Unidos, 23% das crianças e jovens que dão
alguns itens que tentem a contribuir para o excesso de peso entrada em pronto-atendimentos de hospitais queixam-se
das mochilas escolares. de problemas na coluna causados pelo uso inadequado das
mochilas. Para a população brasileira, é cada vez maior o nú-
discussão mero de estudantes que apresentam problemas relacionados
à coluna, sendo que esse percentual se eleva na época da volta
Ao evidenciar que 89,7% das mochilas estavam acima do às aulas [7,14].
peso permitido, não há dúvidas quanto à sobrecarga enfren- No Brasil, esforços têm sido realizados no intuito de
tada pelos escolares. A Tabela III demonstra que o peso total investigar as consequências que a sobrecarga da mochila
carregado (peso da mochila carregada, lancheira e brinquedos) escolar pode trazer. Rebelatto et al. [9] examinaram 197 es-
chegou a tingir 9,100 Kg, sendo que o máximo permitido, tudantes de escolas particulares do Município de São Carlos/
para a amostra, foi de 6,120 Kg. A concordância plena entre SP. Os autores afirmam que os estudantes transportam pesos
autores acerca da influência negativa da sobrecarga ao siste- significativamente superiores à capacidade de seus grupos
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Tabela IV - Presença da dor, sobrecarga da mochila e IMC (n = 97).


Dor Mochila_I Mochila_A n P-valor IMC_I IMC_A n P-valor
Com 5 (100,0) 0 (0,0) 5 (100,0) 1,000+ 2 (40,0) 3 (60,0) 5 (100,0) 1,000+
Sem 82 (89,1) 10 (10,9) 92 (100,0) 46 (50,0) 46 (50,0) 92 (100,0)
Total 97 (100,0) 97 (100,0)
Mochila_I = mochila inadequada quanto ao peso; Mochila_A = mochila adequada quanto ao peso; IMC_I = índice de massa corporal inadequado;
IMC_A = índice de massa corporal adequado; Teste + Exato de Fisher.

Tabela V - Itens que contribuíram para o excesso de peso das mochilas escolares.
Categoria Material para aulas específicas Várias unidades
Material Escolar Ábaco, calculadora, caderno de caligrafia, caderno de Lapiseiras, lápis grafite, caneta esferográfica, caneta
desenho, cadernos do semestre passado, dicionários marca texto, canetinhas, giz de cera, lápis de cor,
(inglês/português); livros (inglês, de colorir, histórias, apontador de lápis bloco de anotações, borracha,
gibis), material para pintura (avental camiseta, pincel, carimbos, cola, cola com brilho, macinha de modelar,
tinta guache, tecido, lantejoula). tesouras, régua estojos, embalagens vazias (Ex: de
cola).
Material pessoal Agendas (do balé, de telefone), pastas de documento Bolsinhas com material de higiene pessoal (pasta de
pessoais, ponteira laser, revistas, troca de roupa (de dente, escova de cabelo), toalha de rosto, acessórios
frio, balé, futebol, natação), chinelo, toalha de banho. (brincos, colar, pulseiras, maquiagem, espelho), ali-
mento (bolachas, biscoitos), porta moedas.
Brinquedos Vídeo game, brinquedos, jogos, álbum de figurinhas e Brinquedos.
adesivos.
Material para aulas específicas = material levado à escola em um dia que não seria utilizado; Várias unidades = várias unidades do mesmo material
encontradas na mochila.

musculares, apresentam altos níveis de compressão intradiscal No presente estudo, os itens do material escolar que
na articulação lombo-sacral (L5-S1), demanda excessiva da contribuíram para o excesso de peso, estão identificados
musculatura lombar e vários tipos de alterações posturais. na Tabela V. Duas principais situações foram identificadas,
Vitta et al. [13] analisaram o peso do material escolar rela- alguns materiais escolares foram levados à escola em dia que
cionado ao peso corporal em escolas particulares de Bauru/ não seriam utilizados (Ex: dicionário de inglês, caderno de
SP. O estudo identificou que das 240 crianças entre 11 e 14 caligrafia, caderno de desenho), assim como, várias unidades
anos, 26,5% transportaram peso do material carregado acima do mesmo material são levadas na mochila (Ex: borrachas,
dos 10% do peso corporal, fato que expõe a um risco maior apontadores, réguas, canetas, lápis). Esta observação eviden-
de lesões da estrutura musculoesquelética da coluna vertebral. cia que uma organização diária da mochila pode auxiliar na
Na cidade de Pelotas/RS, foi dirigido por Giusti et al.[24] redução do peso. A Tabela I traz orientações que auxiliam os
um estudo a respeito do peso da mochila escolar em 237 crian- pais, professores e crianças, no sentido de reduzir o peso das
ças de escola pública e 226 crianças de escolas privadas. 9,3% mochilas. Estas informações foram passadas em devolutiva
das crianças de escola pública e 68,5% das crianças de escolas para todos os pais e à equipe escolar, no intuito de auxiliar as
privadas carregaram peso acima dos 10% do peso corporal. medidas de ação preventiva e promoção de saúde na escola.
No Município de Dois Irmãos/RS, Candotti et al. [25], iden- A orientação é apontada como eficaz na promoção dos
tificaram o peso do material escolar em 58 estudantes do 2º, bons hábitos em saúde. Alguns estudos relatam resultados
5º e 9º anos do ensino fundamental. Os autores identificaram promissores. Na cidade de São Paulo/SP, Fernandes et al.
que o peso transportado foi interior a 10% do peso corporal. [1] realizaram sessões educativas para 99 crianças, entre sete
Pinotti et al. [26], no município de Arapongas/PR, afir- e 11 anos, em escolar particulares e relatam mudanças po-
mam a interferência que a mochila escolar tem no aumento sitivas na utilização da mochila (modelo da mochila, forma
do deslocamento corporal para manter o equilíbrio e interfe- de transportá-la, redução do peso transportado). Os autores
rência no controle postural de 42 estudantes com idade entre enfatizam a adesão satisfatória e a importância da Fisioterapia
11 e 13 anos. Pereira et al. [14], em Jequié/BA, observaram na saúde escolar. Na cidade de Garibaldi/RS, Benini et al. [27],
143 adolescentes de escolar públicas e evidenciaram que a após um programa de educação postural para 48 estudantes,
sobrecarga do material escolar estava presente em 8,4% da entre oito e 10 anos, houve redução significativa do peso das
amostra. Os autores concluíram que a suspeita de escoliose mochilas escolares e posturas mais adequadas. Os autores
encontrada associou-se ao grupo de crianças que carregavam abordam os benefícios do conhecimento adquirido pelos
materiais escolares inadequados quanto ao peso (acima de escolares e a importância da fisioterapia no ambiente escolar.
10% do peso corporal). Martínez-Gonzáles et al. [28] realçam os benefícios positivos
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 381

dos programas educacionais e que as crianças são capazes de 7. Ortopedista desmistifica uso correto da mochila escolar [online]. Rio
lembrar as orientações mesmo após dois anos de intervenção. de Janeiro: Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia - INTO.
Este estudo apresenta duas limitações: 1) Tratou-se de um [citado 2011 Abril 6]. Disponível em: URL: www.into.saude.gov.br
8. Dockrell S, Simms C, Blake C. Schoolbag weight limit: can it
estudo transversal, impossibilitando verificar ao longo do tempo be defined?. J Sch Health 2013;83:368-77.
a variação do peso da mochila associada; 2) A amostra é peque- 9. Rebelatto JR, Caldas MAJ, De Vitta. A Influência do transporte
na, desta forma, não possibilita maiores perspectivas estatísticas. do material escolar sobre a ocorrência de desvios posturais em
Apesar destas limitações, acreditamos que o estudo é importante estudantes. Rev Bras Ortop 1991;12:403-10.
por tratar-se de um assunto contemporâneo, por identificar a 10. Chansirinukor W, Wilson D, Grimmer k, Dansie B. Effects of
frequência com que as crianças foram expostas a cargas não backpacks on students: measurement of cervical and shoulder
posture. Aust J Physiother 2001;47(2):110-6.
recomendadas, por conter orientações pertinentes aos pais e à 11. Whittfield J, Legg SJ, Hedderley DI. Schoolbag weight and
equipe escolar e por abordar a prevenção e promoção da saúde. musculoskeletal symptoms in New Zealand secondary schools.
Na literatura atual, ainda permanecem discordâncias entre Appl Ergon 2005;36:193-8.
autores e muitos questionamentos a serem elucidados acerca da 12. Negrini S, Carabalona R. Backpacks on! schoolchildren’s percep-
mochila (modelo mais adequado, peso, forma de carregar, tempo tions of load, associations with back pain and factors determin-
de carregamento durante a marcha, levantamento da mochila do ing the load. Spine 2002;27(2):187-95.
13. Vitta A, Madrigal C, Sales VS. Peso corporal e peso do material
solo seguida da sua transferência) em idades específicas (criança, escolar transportado por crianças em idade escolar. Fisioter Mov
adolescente e adulto). Desta forma, pesquisas futuras necessitam 2003;16(2):55-60.
ser desenvolvidas no sentido de sanar estas questões. 14. Pereira LM, Barros PCC, Oliveira MND, Barbosa AR. Esco-
liose: triagem em escolares de 10 a 15 anos. Rev Saúde Com
conclusão 2005;1(2)134-43.
15. Macias BR, Murthy G, Chambers H, Hargens AR. Asymmetric
Loads and Pain Associated With Backpack Carrying by Chil-
A população investigada apresenta sobrecarga considerá- dren. J Pediatr Orthop 2008;28(5):512-17.
vel do peso carregado na mochila escolar. Acreditamos que 16. Mackie HW, Legg SJ. Postural and subjective responses to
o relato de dor tenha ocorrido na minoria das crianças, em realistic schoolbag carriage. Ergonomics 2008;51(2):217-31.
decorrência do pouco tempo de exposição à sobrecarga, visto 17. Hong Y, Li JX, DTP, Fong. Effect of prolonged walking with
tratar-se de crianças no começo da vida escolar (segunda série backpack loads on trunk muscle activity and fatigue in children.
do ensino fundamental). O uso da mochila escolar é uma J Electromyogr Kinesiol 2008;18:990-6.
18. Chow DHK, Ou ZY, Wang XG, Lai A. Short-term effects of
questão pertinente e merecedora de investigação por gerar backpack load placement on spine deformation and reposition-
evidências novas, aproximar às equipes da saúde e educação ing error in schoolchildren. Ergonomics 2010;53(1):56-64.
e por atuar na atenção primária e promoção da saúde na 19. Shamsoddini AR, Hollisaz MT, Hafezi R. Backpack weight and
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382 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Artigo original

Avaliação do equilíbrio dinâmico em idosos


ativos e sedentários
Evaluation of dynamic balance in active and sedentary elderly
Renata Falete Ribeiro*, Suellen Silva Oliveira*, Adriane Pires Batiston, D.Sc.**, Mara Lisiane de Moraes dos Santos, D.Sc.**,
Arthur de Almeida Medeiros, M.Sc.***

*Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA, **Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
***Universidade de Cuiabá

Resumo Abstract
Introdução: O envelhecimento trata-se de um complexo conceito Introduction: The aging it is a complex concept involving mo-
que envolve disfunções motoras, bioquímicas e morfológicas, as tor dysfunctions, biochemical and morphological characteristics,
quais favorecem para o aumento do risco de quedas. Objetivo: O which favor to increase the risk of falls. Objective: This study aimed
presente estudo teve como objetivo avaliar o equilíbrio dinâmico to evaluate the dynamic balance of active and sedentary elderly.
de idosos sedentários e ativos. Material e métodos: Para a realização Material and methods: For the research we selected 30 seniors who
da pesquisa foram selecionados 30 idosos, sendo divididos em dois were divided into two groups: active and sedentary. As assessment
grupos: ativos e sedentários. Como instrumento de avaliação foi tool was used the Berg scale and Timed up and Go test and to the
utilizada a escala de Berg e o teste Timed up and Go, e para a análise statistical analysis the Student t test and Fisher’s Exact Test was used,
estatística utilizou-se o teste t de Student e o teste exato de Fisher, with significance level of 5%. Results: In relation to the Timed up
com nível de significância de 5%. Resultados: Em relação ao Teste and Go test, it was found that the active elderly took the test in
Timed up and Go, verificou-se que os idosos ativos realizaram o less time when compared to sedentary individuals, demonstrating a
teste em menor tempo quando comparados aos idosos sedentários, significant difference between groups (p = 0.000057). The score on
demonstrando diferença significativa entre os grupos (p = 0,000057). the Berg Balance Scale of sedentary elderly was significantly higher
A pontuação obtida na Escala de Berg pelos idosos sedentários foi when compared to the results obtained by the active elderly (p =
significativamente maior, quando comparado aos resultados obtidos 0.000004). Conclusion: We found that the active elderly have a lower
pelos idosos ativos (p = 0,000004). Conclusão: Foi observado que os risk of falls compared to sedentary elderly, noting the protective
idosos ativos apresentam menores riscos de quedas em relação aos factor of regular physical activity.
idosos sedentários, constatando o fator protetor da prática regular Key-words: aging, accidental falls, postural balance.
de atividade física.
Palavras-chave: envelhecimento, acidentes por quedas, equilíbrio
postural.

Recebido 4 de julho de 2013; aceito em 3 de setembro de 2013.


Endereço para correspondência: Amabile Vessoni Arias, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rua Reinaldo Bolliger, 795, Jardim Santa
Mônica, 13082-090 Campinas SP, E-mail: amabilevessoni@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 383

Introdução boa correlação com medidas laboratoriais e clínicas relativas


às quedas e instabilidade [9,12,13].
De acordo com Mazo et al. [1] o envelhecimento é um Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi ava-
processo biológico e progressivo inerente de qualquer ser liar o equilíbrio dinâmico de idosos sedentários e praticantes
humano. Trata-se de um complexo conceito que envolve de atividade física através do teste Timed up and Go e pela
disfunções motoras, bioquímicas e morfológicas, que com- Escala de Berg.
prometem a qualidade de vida da pessoa que envelhece [2].
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geo- Material e métodos
grafia e Estatística (IBGE), acontecerá no Brasil, um aumento
considerável na população idosa até o ano de 2050, passando Trata-se de um estudo descritivo do tipo transversal, rea-
de 5,4% no ano 2000 para 18,4% no ano de 2050 [3]. lizado entre os meses de fevereiro a abril de 2012 com idosos
O sedentarismo é a falta ou a grande diminuição da ativi- sedentários e praticantes de atividade física no município de
dade física, o mesmo acontece quando a pessoa gasta poucas Ji-Paraná/RO.
calorias diárias com atividades físicas, sendo que a vida seden- A amostra do presente estudo foi constituída de forma ale-
tária provoca o desuso dos sistemas funcionais. O aparelho atória por indivíduos independentes, de ambos os sexos e com
locomotor e os demais órgãos e sistemas solicitados durante as idade entre 60 e 85 anos. Foram selecionados 30 indivíduos,
diferentes formas de atividade física entram em um processo divididos em dois grupos, sendo 15 praticantes de atividade
de regressão funcional, causando atrofia das fibras musculares, física e 15 idosos sedentários. Para a composição do grupo dos
perda da flexibilidade articular, além do comprometimento indivíduos fisicamente ativos foram convidados a participar do
funcional de vários órgãos. O sedentarismo combinado com estudo os idosos frequentadores do Centro de Convivência do
outros fatores de risco pode causar doenças crônicas, como: Idoso, e para o grupo dos indivíduos sedentários foram inclu-
diabetes mellitus, osteoporose, câncer de cólon, de pulmão ídos idosos que frequentavam o Clube de Mães de Ji-Paraná.
e de próstata e, sobretudo, doenças cardiovasculares [4]. A Considerou-se como idosos ativos aqueles que realizavam
ocorrência de quedas são alguns dos fatores mais comuns na alguma atividade física pelo menos duas vezes por semana,
maioria dos idosos, principalmente os sedentários, isto devido com duração mínima de 50 minutos cada sessão, por no
a uma limitação funcional decorrente de um processo normal mínimo seis meses, e idosos sedentários aqueles que não
do envelhecimento [5-6]. realizavam nenhuma atividade física.
As alterações de equilíbrio ocorrem em idosos com dimi- Foram incluídos na amostra idosos independentes, que
nuição da força muscular, redução da mobilidade articular e deambulavam sem auxilio e que não apresentavam disfun-
diminuição da elasticidade dos músculos, causando assim a ções motoras. Foram considerados critérios de exclusão os
diminuição da capacidade compensatória do idoso e aumen- indivíduos que apresentassem condição cognitiva alterada
tando sua instabilidade [7-8]. que impossibilitasse a compreensão das atividades aplicadas.
Atualmente, as quedas encontram-se dentre as principais Para o desenvolvimento desta pesquisa adotaram-se os
causas de morbidadade e mortalidade na população idosa, seguintes procedimentos: No encontro o grupo participou
sendo as mesmas consideradas multicausais, envolvendo de uma avaliação de alteração de equilíbrio realizada através
fatores intrínsecos, comportamentais e ambientais, contudo, de uma escala e um teste específico. Para essa avaliação foi
o risco de quedas aumenta à medida que há o somatório de utilizada a escala de Berg (EB) que tem como finalidade avaliar
fatores de risco [9]. o desempenho do equilíbrio funcional em 14 itens comuns
O risco de quedas pode ser minimizado com realização de à vida diária. Cada item possui uma escala ordinal de cinco
atividade física, tornando o idoso mais independente, já que alternativas que variam de 0 a 4 pontos. Portanto, a pontuação
a atividade física estimula várias áreas vitais do organismo, máxima pode chegar a 56, no qual uma pontuação inferior ou
apresenta melhora da capacidade funcional, equilíbrio, força igual a 45 resumiria a possibilidade para quedas futuras [14].
muscular, coordenação motora e velocidade dos movimentos, O teste Timed up and Go (TUG) quantifica o desempe-
sendo o seu incentivo uma importante medida de prevenção nho da mobilidade através da velocidade, do idoso, ao realizar
das quedas, oferecendo aos idosos maior segurança na reali- a tarefa. A propensão a quedas foi avaliada através do tempo
zação de suas atividades diárias [10-11]. gasto para realizar o teste, e a estratificação foi realizada de
Os testes de mobilidade funcional são recursos utilizados acordo com o proposto por Podsiadlo e Richardson [15]. A
para avaliar a mobilidade, equilíbrio e a capacidade funcional realização do teste em até 10 segundos é o tempo normal
dos idosos através do tempo e velocidade que levam para esperado para adultos saudáveis independentes e com baixo
desempenhar uma função específica. O teste Timed up and risco de quedas; realização do teste entre 11 e 20 segundos,
Go (TUG) e a Escala de Berg (EB) são escalas funcionais tempo esperado para idosos frágeis ou com deficiências, com
amplamente utilizadas para este fim, visto que buscam de- independência parcial e com médio risco de quedas; e tempo
terminar os fatores de risco para perda da independência e acima de 20 segundos indica déficit importante da mobilidade
para queda em idosos, sejam eles ativos ou não, apresentando física e alto risco de quedas.
384 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

A pesquisa foi realizada de forma inteiramente casualizada Figura 1 - Gráfico referente ao tempo de realização do Teste Timed
e todos os dados obtidos foram testados quanto à distribui- Up and Go em cada grupo, Ji-Paraná/RO, 2012.
ção normal (teste de Shapiro-Wilk) e à homogeneidade das 20
variâncias (testes de Levene e Brown-Forsythe). 18
16
Na constatação de que foram satisfeitas as condições para
14
aplicação dos testes estatísticos paramétricos de comparação de 12
médias realizou-se as comparações entre os idosos sedentários 10 *
e os ativos quanto ao tempo obtido para a execução do TUG 8
e a pontuação alcançada na EB através do teste t de Student 6
4
para amostras independentes. As diferenças de proporções de
2
pacientes classificados nas categorias previstas pelo TUG e 0
pela EB foram realizadas pelo teste Exato de Fisher, pois pelo Grupo Sendentários Grupo Ativos
menos uma das casas das tabelas apresentou valor inferior a 5.
Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se Dados expressos como média ± desvio padrão. / * Dados
o programa Statistica 8.0 e adotando-se nível de significância analisados pelo teste t de Student para amostras indepen-
de 5% (p < 0,05). O presente estudo foi aprovado pelo Co- dentes, adotando-se o nível de significância de 5% (p =
mitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro 0,000057).
Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA, sob Ao realizar a estratificação dos idosos de cada grupo de
o protocolo número 090/2011, e os participantes autorizaram acordo com o tempo de realização do TUG, verificou-se que
sua participação através da assinatura do Termo de Consen- dentre os idosos ativos (86,7%) realizaram o teste em menos
timento Livre e Esclarecido (TCLE). de 10 segundos, enquanto no grupo dos idosos sedentários
a maioria dos idosos realizou o teste entre 10 e 20 segundos
Resultados (66,7%) (Tabela II).

O estudo realizado contou com a participação de 30 ido- Tabela II - Estratificação dos idosos de acordo com o tempo de
sos, sendo eles divididos em dois grupos: Grupo Sedentários realização do Teste Timed up and Go, Ji-Paraná/RO, 2012.
e Grupo Ativos. Teste Timed Up and Go
Entre os participantes do grupo sedentários, verificou-se ≤ 10 10 – 20 > 20
que a idade variou entre 60 e 80 anos com média de 69,8 ± segundos segundos segundos
6,1 anos, com predomínio de idosos do gênero feminino (n = Grupo Ativos 86,7% 13,3% --
12 / 80%), enquanto que nos participantes do grupo ativos, Grupo Seden-
20% 66,7% 13,3%
a idade variou entre 60 e 75 anos e a média de idade foi de tários
68 ± 5,6 anos, e observou-se maior prevalência de indivíduos
do gênero masculino (n = 12 / 80%) (Tabela I). Quando realizada a classificação dos participantes, de
cada grupo, de acordo com o tempo de realização do TUG,
Tabela I - Variáveis demográficas de acordo com cada grupo, Ji- em que o tempo ≤ 10 segundos demonstra baixo risco de
-Paraná/RO, 2012. quedas e tempo superior a 10 segundos evidencia médio e
Grupo Grupo alto risco de quedas, observou-se diferença significativa entre
Sedentários Ativos os grupos, já que o grupo de idosos ativos apresentou 66,7%
Idade a mais de idosos que realizaram o teste em tempo menor ou
Variação 60 – 80 60 – 75 igual a 10 segundos do que em relação ao grupo sedentários
Média 69,8 ± 6,1 68 ± 5,6 (p = 0,007) (Tabela III).
Gênero
Feminino 80% 20% Tabela III - Comparação entre o grupo de idosos sedentários e o
Masculino 20% 80% grupo de idosos fisicamente ativos em relação ao risco de quedas
TOTAL 15 15 através do Teste Timed up and Go, Ji-Paraná/RO, 2012.
Dados expressos como média ± desvio padrão de 15 idosos participan- Teste Timed Up and Go
tes de cada grupo. ≤ 10 segun- > 10 segun-
dos dos
O tempo de realização do TUG pelos idosos participantes Grupo Ativos 86,7% 13,3%
no grupo sedentários foi de 14,5 ± 3,5 segundos, enquanto Grupo Sedentários 20% 80%
que os participantes do grupo ativos a média foi de 9,1 ± *Dados analisados através do teste exato de Fisher, adotando-se o nível
1,5 segundos, demonstrando diferença significativa entre os de significância de 5% (p = 0,007).
grupos (p = 0,000057) (Figura 1).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 385

A pontuação obtida na EB pelos participantes do grupo Um estudo realizado na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais,
sedentários foi 43,8 ± 4,4 pontos, todavia, no grupo dos no qual participaram idosos sedentários e ativos, cujo objetivo do
idosos fisicamente ativos essa pontuação foi de 55 ± 1,5 trabalho foi comparar os resultados do Protocolo de Avaliação da
pontos, evidenciando diferença significativa (p = 0,000004) Autonomia Funcional aplicando quatro testes nos dois diferentes
(Figura 2). grupos de idosos, os autores verificaram que a média de idade
De acordo com os dados obtidos pela EB, que avalia o dos idosos ativos e sedentários foram, respectivamente, 67,21 ±
risco de quedas, em que uma pontuação inferior a 45 pontos 5,19 anos e 66,21 ± 5,36 anos, sendo que estes foram resultados
indica possibilidades de quedas futuras, verificou-se diferença próximos aos encontrados nesta pesquisa [11].
significativa entre os grupos, na qual o grupo de sedentários Em relação ao TUG Cunha e Mazullo [6] realizaram um
apresentou 60% a mais de idosos com escore inferior a 45 estudo cujo objetivo foi comparar o equilíbrio dinâmico de
pontos, quando comparado ao grupo ativos (p = 0,007) idosos sedentários e praticantes de atividade física, em uma
(Tabela IV). amostra composta por 80 idosos na faixa etária entre 65 a 85
anos, tanto de gênero masculino e feminino que foram divi-
Figura 2 - Gráfico referente à pontuação obtida através da Escala didos igualmente em dois grupos, sedentários e ativos, onde
de Berg em cada grupo, Ji-Paraná/RO, 2012. 87,5% dos idosos praticantes de atividade física realizaram o
60 * TUG com menos de dez segundos e 87,5% dos idosos seden-
50
tários realizaram o teste em tempo superior a dez segundos. Os
dados apresentados são semelhantes aos demonstrados neste
40 estudo em que 86,7% dos idosos do grupo ativo realizaram
30 o teste em tempo inferior a dez segundos, enquanto que no
grupo de sedentários, 80% dos participantes realizaram o teste
20
com mais de dez segundos, sendo, assim, possível afirmar que,
10 em ambos os estudos, os idosos sedentários possuíram menor
0 mobilidade funcional e maior tendência a quedas.
Grupo Sendentários Grupo Ativos Guimarães et al. [4] estudaram 40 idosos com a idade
entre 65 e 70 anos, sendo que 20 praticavam atividade física
Dados expressos como média ± desvio padrão; *Dados regular e 20 não praticavam. O grupo que praticava atividade
analisados pelo teste t de Student para amostras indepen- física regular obteve uma média de tempo para o TUG de
dentes, adotando-se o nível de significância de 5% (p = 7,75 segundos, enquanto o grupo que não praticava atividade
0,000004). física regular atingiu 13,56 segundos como média de tempo.
Os resultados da presente pesquisa foram ao encontro dos
Tabela IV - Comparação entre o grupo de idosos sedentários e o resultados encontrados por Guimarães et al. [4] ou seja, o
grupo de idosos fisicamente ativos em relação ao risco de quedas tempo atingido por praticantes de atividades físicas é significa-
através da Escala de Berg, Ji-Paraná/RO, 2012. tivamente menor quando comparados aos idosos sedentários.
Escala de Berg A aplicação do TUG é utilizada para avaliar a mobilidade
≤ 45 pontos > 45 pontos funcional de sujeitos idosos a partir do tempo de realização
Grupo Ativos 0 100% de um determinado percurso, sendo que este recurso tem
Grupo Sedentários 60% 40% sido amplamente relatado na literatura como um importante
*Dados analisados através do teste exato de Fisher, adotando-se o nível instrumento de classificação para o risco de quedas, o qual é
de significância de 5% (p = 0,007). recomendado pela Sociedade Geriátrica Britânica e Sociedade
Geriátrica Americana [16-19].
Discussão Como no presente estudo e em artigos relatados [4,6]
os idosos que realizam atividade física apresentaram um
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, desempenho melhor ao realizar o TUG comparado ao dos
no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, idosos sedentários. O TUG apresenta uma grande relação
com redução na capacidade de adaptação homeostática às com equilíbrio, velocidade de marcha e capacidade funcional,
situações de sobrecarga funcional, alterando progressivamente que estão relacionadas diretamente com a tendência a quedas.
o organismo e tornando-o mais susceptível às agressões intrín- Portanto, o tempo gasto para realização do teste está direta-
secas e extrínsecas. Entre as perdas apresentadas pelo idoso mente associado ao nível de mobilidade funcional, por isso
está a instabilidade postural, que ocorre devido às alterações idosos que realizam o teste em tempo superior a dez segundos
do sistema sensorial e motor, onde o risco de quedas está tendem a ser mais dependentes a desenvolver quedas. [6]
presente em idosos que apresentam baixas velocidades de No estudo de Almeida et al. [20] realizado em Porto
caminhada e quanto mais lenta for a marcha, maior será a Alegre com o objetivo de analisar os fatores intrínsecos e
instabilidade postural [6]. extrínsecos que predispõem ao risco de quedas e fraturas em
386 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

idosos, identificaram um relação negativa entre a idade dos interferem diretamente na probabilidade de quedas nesta
participantes e o tempo de realização do TUG, evidenciando população [24-25]. Os resultados de uma revisão sistemática
que quanto maior a idade maiores são os tempos de realização da literatura [26] realizada em 2010, com base nos artigos
do teste. Neste mesmo estudo os autores identificaram que os publicados nos período de 1999-2009 sobre a influência do
fatores intrínsecos que predispõem a queda e fraturas, além da exercício físico no controle das quedas em idosos, sugerem que
faixa etária elevada, são a autopercepção negativa da visão e a prática regular de exercício físico, de forma isolada, é capaz
da saúde de forma geral, enquanto que os fatores extrínsecos de reduzir o risco de quedas. Neste mesmo estudo os autores
são o tipo moradia (residir em casa) e a renda mensal igual identificaram, também, que os estudos que associaram, du-
ou inferior a um salário mínimo. rante a realização dos exercícios, componentes de força e/ou
Em relação à EB, Pimentel e Scheicher [21] realizaram equilíbrio, realizados no mínimo duas vezes por semana, e
um estudo no qual o objetivo foi comparar o risco de quedas que realizaram acompanhamento dos indivíduos da pesquisa
entre idosos sedentários e ativos, por meio da EB, verificando por mais de 3 meses após a intervenção, mostraram-se mais
como a prática de exercício físico se reflete no desempenho efetivos na redução e prevenção das quedas. O exercício físico
dos sujeitos, e identificaram que os idosos sedentários apre- proporciona aos seus praticantes melhora na postura, no
sentaram pior desempenho da escala de Berg em relação aos equilíbrio corporal, na melhora da capacidade funcional, na
idosos ativos. Os resultados obtidos na presente pesquisa são coordenação, e na agilidade, o que, consequentemente, leva
semelhantes aos apresentados em outros estudos [21-22] de- a redução das quedas [27].
monstrando uma relação positiva entre a prática de exercício No estudo realizado em João Pessoa/PB cujo objetivo foi
físico e o risco de quedas em idosos, identificando que idosos verificar os efeitos de um programa de exercícios físicos na
sedentários apresentam maior risco de quedas e que a prática marcha e na mobilidade funcional de idosos, os autores veri-
regular de atividade física está diretamente relacionada com ficaram que a prática de exercícios físicos direcionados para o
a redução deste risco. treino de força, equilíbrio e propriocepção, realizado ao longo
A EB foi desenvolvida em 1989 com o objetivo de avaliar de seis meses, foi capaz de reduzir o risco de quedas e melhorar
o equilíbrio funcional de indivíduos idosos que apresentam o desempenho físico e funcional dos idosos avaliados [28].
déficit de equilíbrio, risco de quedas entre outros, e por se A prática regular de atividade física vem proporcionando
tratar de um teste de fácil realização e que permite a inter- um envelhecimento saudável e independente, promovendo
pretação mais direta da relevância funcional da alteração, maior resistência muscular e flexibilidade articular e, conse-
pois consiste em 14 tarefas semelhantes às várias atividades quentemente, reduzindo o risco de quedas, e age ainda como
da vida diária que envolve equilíbrio estático e dinâmico. elemento de ativação para o organismo, proporcionando me-
Tornou-se mundialmente conhecido e amplamente utiliza- nor dependência para realização das atividades de vida diária,
do, o que estimulou a sua adaptação ao contexto brasileiro, melhorando a autoestima e elevando de forma significativa a
sendo que este processo foi realizado em 2004 por Miyamoto qualidade de vida dos idosos.
e colaboradores [14].
Em uma pesquisa realizada no município de Amparo/SP Conclusão
com idosos da comunidade com o objetivo de avaliar e com-
parar o equilíbrio funcional destes idosos com o histórico de Os resultados permitem concluir que houve diferença
quedas, ou não, evidenciou-se que o os idosos sem histórico entre os grupos no desempenho dos idosos em relação ao
de quedas realizaram o TUG em menor tempo, bem como testes Timed up and Go e a escala de Berg, constatando que
apresentaram escore na EB superior em relação aos idosos com os idosos sedentários apresentam maiores riscos de quedas em
histórico de quedas recorrentes [9]. Entretanto, o histórico de relação aos idosos fisicamente ativos.
queda não foi investigado no presente estudo. Diante do exposto observa-se que a atividade física
No mesmo sentido, foi identificado nos estudos de Prata configura-se como fator protetor a saúde do idoso e assim
e Scheicher [22] e de Pereira et al. [23] que a EB apresenta torna-se cada vez mais importante a necessidade de que o
correlação negativa com a faixa etária, demonstrando assim idoso apresente uma nova concepção, em termos de estimu-
que o processo de envelhecimento leva a um aumento do lação à prática do exercício físico, visando contribuir para um
risco de quedas, devido a alteração do equilíbrio, redução das envelhecimento saudável.
reações de proteção, redução da independência funcional e,
consequentemente, alteração da estabilização postural. Ainda Referências
no estudo realizado por Prata e Scheicher [23], os autores
não encontraram relação entre a pontuação obtida na EB e o 1. Mazo GZ, Liposcki DB, Ananda C, Prevê D. Condições de
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388 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Revisão

Abordagem cinesioterapêutica na disfunção


do músculo tibial posterior
Therapeutic exercises approach in tibialis posterior muscle dysfunction
Patricia Parizotto*, Daniela Parizotto**, Sergio Guida***, Julio Guilherme Silva****

*Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional pela Universidade Gama Filho – SC, **Mestranda em Ciências do
Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do Curso de Especialização em
Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional pela Universidade Gama Filho (UGF), Professor Adjunto da disciplina de Anatomia
Humana da Universidade Gama Filho, ****Coordenador do Curso de Especialização em Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcio-
nal pela Universidade Gama Filho, Professor Adjunto do Curso de Fisioterapia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor
do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) – RJ

Resumo Abstract
Introdução: O músculo tibial posterior é responsável pelos movi- Introduction: The tibialis posterior muscle is responsible for
mentos de inversão e flexão plantar do pé. Durante a marcha executa dorsiflexing and inverting the foot. During gait, this muscle executes
a função de posicionamento do pé e sua acomodação. Sua disfunção the function of foot position and placement. Its dysfunction causes a
acarreta um desequilíbrio muscular, alteração no comportamento muscle imbalance, and changes occur in medial longitudinal arch of
do arco longitudinal medial do pé. Atualmente, esta patologia é the foot. Currently, this disease is classified into four stages with early
classificada em quatro fases, com início de quadro álgico e edema que pain manifestations and edema that progress stiffness and structural
progride para rigidez e alterações estruturais. Objetivo: Este trabalho changes. Objective: The aim of this study was to analyze therapeutic
visou analisar as estratégias cinesioterapêuticas para o tratamento da exercise strategies to treatment of tibialis posterior muscle dys-
disfunção do músculo tibial posterior (DMTP). Material e métodos: function (TPMD). Methods: This research was a literature review
Esta pesquisa foi uma revisão bibliográfica que utilizou as bases de using the databases Lilacs, Medline, Pubmed and Scielo with the
dados Lilacs, Medline e Scielo com os seguintes descritores: disfun- following descriptors: tibialis posterior dysfunction, physiotherapy,
ção do tibial posterior, fisioterapia, cinesioterapia e tratamento. O therapeutic exercise and treatment. The search period was from 1992
período de busca abordou desde 1992 até 2012. Resultados: Os dados to 2012. Results: Data showed that the use of orthotic intervention
apontaram para uma redução dos sintomas através da utilização de associated with anti-inflammatory reduced symptoms. Discussion:
órteses associada à intervenção de anti-inflamatórios. Discussão: As Among the approaches therapeutic exercises have their foundation
abordagens cinesioterapêuticas apresentam sua fundamentação em in the posterior region stretching and work on strengthening the
alongamentos da região posterior e fortalecimento da musculatura weak muscle. Conclusion: There is no consensus in the literature
acometida. Conclusão: Não há um consenso na literatura sobre o about expressive beneficial results of therapeutic exercise program.
programa de exercícios que apresentem resultados benéficos mais Therefore, further research regarding this topic is needed to make
substanciais. Portanto, há uma necessidade de novos estudos sobre o evident the real contribution of therapeutic exercises approaches in
tema para que possamos elucidar a real contribuição das abordagens treatment of TPMD.
cinesioterapêuticas no tratamento da DMTP. Key-word: tibialis posterior, Physical Therapy, therapeutic exercise.
Palavras-chave: tibial posterior, Fisioterapia, cinesioterapia.

Recebido em 18 de abril de 2013; aceito em 25 de junho de 2013.


Endereço para correspondência: Julio Guilherme Silva, Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação - UNISUAM, Laboratório de Análise do
Movimento Humano, Praça das Nações 34, 3˚ andar, 21041-02 Rio de Janeiro RJ, E-mail: jglsilva@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 389

Introdução depende exclusivamente da etiologia. Porém, a literatura


coloca de forma imperiosa uma abordagem que compreende
O músculo tibial posterior apresenta como função alongamento do tibial posterior, fortalecimento, órteses,
principal o movimento de inversão do pé e atua de forma imobilização e gelo [2]. Os estudos no campo das abordagens
secundária no movimento de flexão plantar juntamente com não-cirúrgicas para tratamento do DMTP têm demonstrados
a supinação do mesmo. Para a elevação sobre os dedos do pé resultados positivos. De modo geral, há um consenso na li-
esta musculatura age de forma cinética, além de promover a teratura quanto à utilização de intervenção através de órteses
estabilização dinâmica das articulações do tornozelo e pé [1-8]. no tratamento da DMTP [2], pois esta tem apresentado
A disfunção que acomete o tibial posterior, a qual procede em benefícios relacionados à redução de sintomas e da progressão
sua função dinâmica durante a marcha, atua em sobrecarga da disfunção, principalmente na sua utilização por períodos
no arco longitudinal medial do pé resultando em falência longos [11]. De acordo com estudos a utilização da órtese
dos elementos estáticos, produzindo declive deste arco. A tornozelo-pé na redução dos sintomas foi eficaz em 90% dos
disfunção do músculo tibial posterior (DMTP) apresenta casos após 12 meses de tratamento [24]. Em outro estudo,
causas multifatoriais, porém o pé plano adquirido em adultos indivíduos relataram uma melhora do quadro álgico, função,
surge em decorrência desta disfunção [6-15]. distância de deambulação e satisfação em 67% após o uso de
Relatos atuais estimam que esta disfunção afeta em torno órtese [25]. O uso de órtese para o tratamento de DMTP
de cinco milhões de pessoas nos Estados Unidos. Dados epi- demonstrou que quase 70% de indivíduos que usaram órtese
demiológicos apontam que a incidência DMTP é superior em como tratamento, durante 8,6 anos, descartaram a possibilida-
mulheres, aumenta em função da idade e pode estar associado de de intervenção cirúrgica [26]. A escolha da órtese deve ser
ao sobrepeso [7,8,16-20]. Estudos descrevem a característica baseada considerando o estágio da disfunção e na capacidade
de pessoas acometidas pelo DMTP como indivíduos do sexo deste dispositivo de controlar a eversão de retropé e abdução
feminino, atingindo em uma proporção três vezes maior em do antepé [27].
relação ao sexo masculino [17,20], na cor branca, e na meia Em consequência da disfunção do músculo tibial pos-
idade entre 45 e 65 anos [8,18]. Segundo pesquisa, a pre- terior, das alterações estruturais do arco longitudinal do pé,
valência da disfunção acomete cerca de 10% em indivíduos que influenciam no ciclo da marcha, há na literatura um
idosos [16]. questionamento sobre quais abordagens cinesioterapêuticas
A DMTP apresenta causas multifatoriais, modificando de são adequadas para o tratamento dessa disfunção. Em decor-
maneira progressiva na estrutura do arco, na força muscular e rência da deficiência na descrição relacionada ao tratamento
na biomecânica da marcha [21]. Dentre os fatores que predis- conservador, este trabalho justifica-se pelo interesse em dis-
põem a disfunção, temos obesidade, presença de deformidade cutir os principais aspectos cinesioterapêuticos que poderá
em pé plano, osso navicular acessório, valgismo de calcâneo ser empregado no tratamento da DMTP, descrevendo suas
e tálus, abdução do antepé, artrite reumatóide ou artropatias características e analisando as principais estratégias cinesiotera-
inflamatórias e ingestão de corticoides. Além desses, a adap- pêuticas para tratamento desta disfunção. Portanto, o objetivo
tação do encurtamento do complexo gastrocnêmio-sóleo e a deste trabalho foi analisar as estratégias cinesioterapêuticas
diminuição da força muscular na musculatura tibial posterior para o tratamento da disfunção do músculo tibial posterior
também contribuem para a disfunção [6-15]. através de uma revisão da literatura.
A sintomatologia inicial compreende edema e dor em
região medial do tornozelo e arco longitudinal [1,4,7,13]. Material e métodos
Através da realização do exame físico o indivíduo portador
desta disfunção relata dor na flexão plantar e inversão do pé A pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográ-
com resistência. Na palpação apresenta sensibilidade ao esti- fica utilizando as bases de dados Lilacs, Medline, Pubmed e
ramento do tendão posterior até o maléolo medial e também Scielo empregando os seguintes descritores: disfunção do tibial
na inserção deste distalmente ao osso navicular [1,7]. Esta posterior, fisioterapia, cinesioterapia e tratamento conserva-
disfunção é usualmente classificada em quatro fases, em que dor juntamente com seus correspondentes na língua inglesa:
inicialmente o retropé ainda apresenta-se flexível, porém com dysfunction of the posterior tibial, physiotherapy; therapeutic
a evolução dos sintomas instala-se a rigidez. Ainda na fase I exercise; conservative treatment. O período de busca abordou
o paciente relata dor sobre o tendão e na região posterior e de 1992 até 2012.
medial do maléolo medial. Na fase seguinte inicia-se uma
deformidade unilateral conhecida como pé plano. Na fase III Resultados
já estão estabelecidas a rigidez e a degeneração, em conjunto
pode ocorrer alterações de posturas envolvendo antepé varo. Neste estudo foram identificados 35 artigos relacionados à
Em sua fase mais crítica, fase IV, rigidez do retropé e valgismo DMTP, sendo 17 deles referentes ao tratamento da disfunção
do osso tálus [1,7, 9-10,22-23]. que incluem a cinesioterapia e cinco destes artigos abordando
A intervenção clínica no tratamento desta disfunção a utilização de órteses.
390 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Discussão da redução da altura do arco longitudinal [1,7,8,12] e que


se divide em quatro fases. A fase I da DMTP apresenta ede-
A definição inicial, com relação à tendinite e a insuficiência ma, dor, diminuição da função do tibial posterior, retropé
do tibial posterior, foi publicada por Kulowski em 1936. Em em inversão, porém nenhuma deformidade [1,7-10,22]. O
consequência, Fowler e Williams debateram a sintomatologia tratamento é baseado pela sintomatologia do paciente, de
em conjunto com sua intervenção cirúrgica. Com o passar maneira geral, terapia medicamentosa e a imobilização são
dos anos, mais especificadamente em 1974 por Goldner recomendadas, com descarga de peso corporal consentida.
e em 1980 por Jahss e Mann e Thompson difundiu-se o Após quatro a seis semanas de imobilização sugere-se o uso de
tratamento deformação progressiva em pé plano [1,4]. Este órtese para suporte do arco. Caso os resultados do tratamento
distúrbio, quando adquirido em adultos tem como origem conservador não sejam satisfatórios entre três a seis meses, a
mais habitual a disfunção do músculo tibial posterior [3,6-11, indicação cirúrgica é aceita [1].
14,15,22,23,25]. O músculo tibial posterior é responsável por O objetivo de uma intervenção consiste no remode-
dar início ao movimento de inversão do retropé e durante lamento do tecido e suas adaptações a cargas adequadas
a marcha retorná-lo a um posicionamento neutro, ou seja, (repouso, órtese e exercícios específicos) em conjunto com
esta musculatura responde ao posicionamento do pé e sua o tempo, que deverá ser no mínimo três meses, solicitan-
flexibilidade. Quando ocorre uma lesão neste tendão acarreta do uma compreensão total do indivíduo, deixando claro
uma diminuição de força, limitando sua função, gerando que a redução do quadro álgico não significa ausência da
uma capacidade limitada ou até mesmo incapacidade de degeneração [9]. O fortalecimento desta musculatura de-
permanecer apoiado sobre os dedos do pé quando ficamos verá ser iniciado após a diminuição da sensibilidade, dor e
em flexão plantar [7-8,12]. edema. Ocorrendo restrição ao movimento de dorsiflexão
Outro fator que pode estar relacionado ao posicionamento da articulação do tornozelo o alongamento dos músculos
do pé em pronação é a obesidade. Segundo Chao et al. [25] gastrocnêmio e sóleo são recomendados [2]. Portadores da
apontam que o excesso de peso modifica a distribuição de disfunção em estágio inicial realizam tratamento fisiote-
descarga de peso, mais medialmente, acarretando uma DMTP. rápico com objetivo principal de ganhar flexibilidade da
O local de inserção do tendão do tibial posterior no tubérculo articulação do tornozelo e força muscular de tibial posterior.
do osso navicular apresenta uma hipovascularização propor- Na fase seguinte a abordagem é equivalente ao da fase an-
cionando maior incidência no aparecimento da disfunção, terior, porém com a ressalva para o aumento da rigidez na
correlacionada com o estresse mecânico devido ao contorno órtese e aproximação lateral no antepé [1]. Para a abordagem
que este tendão realiza posteriormente ao maléolo medial cinesioterapêutica, inicialmente deve-se analisar a condição
[1,8,28,29]. No entanto estudos mais recentes, utilizando do tendão, pois pode ocorrer em uma intervenção indevida,
cadáveres para verificar a vascularização deste tendão, demons- intensificação da sintomatologia. De maneira geral esta
traram que nenhuma área de hipovascularização foi detectada abordagem compreende no alongamento da musculatura
no local onde são apontadas as lesões degenerativas causadas posterior e fortalecimento da musculatura afetada a partir de
por este fator. A partir deste fato, esse estudo concluiu que a uma posição neutra, pois quando este procedimento inicia-se
lesão degenerativa pode ser decorrente de estresse mecânico em posição de eversão constatou-se um agravo na lesão [11].
ao invés de isquemia [30]. Durante a fase I e II, há indicações para o uso de órtese
O tratamento inicial dos pacientes que se apresentam em semirrígida com a finalidade de proporcionar suporte ao arco
qualquer fase de DMTP é não-operatório, a menos que já longitudinal do pé e correção do componente flexível da de-
exista uma significativa deformidade fixa [31]. Em revisão formidade [5,25]. Na fase I a intervenção com órtese deve-se
elaborada com o intuito de avaliar os modelos de tratamen- a prevenção de desenvolvimento de cinemáticos anormais
to conservador na disfunção do tibial posterior evidenciou do pé [24]. Órteses semirrígidas que apoiam o arco do pé
restritas propriedades no qual se fundamenta este tipo de in- diminuem o estresse no tendão tibial posterior, realinham o
tervenção não cirúrgica. Segundo Bowring & Chockalingam retropé quando a deformidade é flexível [5,25] e aumentam
[2] o tratamento consiste: crioterapia, repouso, ação medica- a ativação do músculo [33]. Na fase II inclui deformidade de
mentosa anti-inflamatória, órteses, adaptações em calçados, calcâneo valgo e pé plano, instabilidade de tornozelo, incapa-
programa de exercícios, redução do peso, terapia utilizando cidade de deambular em solos irregulares, edema e aumento
ultrassom e técnicas de terapia manual, entretanto não houve da fraqueza muscular [1,7-10, 22].
consentimento sobre qual seria a melhor abordagem para o A escolha dos exercícios para a região do tornozelo deverá
tratamento conservador e sobre qual seria o estágio da doença ser baseado com a atividade normal do mesmo, ou seja, altas
para deliberar uma intervenção cirúrgica [10,32]. repetições (exercícios aeróbio) com objetivo de resistência
Atualmente, o método aceito para classificação foi criado em longo prazo [34]. Os exercícios de fortalecimento do
por Johnson & Strom e modificado Myerson [8], onde a complexo musculotendíneo do tibial posterior são indicados
intervenção terapêutica apresenta-se baseada na progressão para tratamento nos estágios iniciais e para a prevenção da
dos sintomas da disfunção e adequações do pé em resultado degeneração do mesmo [5,10]. Porém ainda é escassa na li-
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 391

teratura qual maneira de fortalecimento torna-se mais efetivo Na fase III ocorre aumento do quadro álgico; deformi-
no tratamento na disfunção do tibial posterior [10]. dade no retropé; presença de degeneração nas articulações
Nesta fase, órteses semirrígidas, articuladas e curtas de subtalar, talonavicular e calcâneo-cubóide e ausência de
tornozelo-pé são indicadas, pois atuam no controle e restrição flexibilidade. Entretanto um posicionamento em supinação
dos movimentos da articulação subtalar. Seu invólucro auxilia do antepé ocorre para reparar o retropé valgo. A progressão
na contenção das forças de rotação da tíbia sobre a articula- desta disfunção pode determinar artrose nas articulações do
ção subtalar [20]. A Universidade da Califórnia e Berkeley tornozelo [1,7-10,22]. Na fase IV, a progressão da disfunção
Laboratory desenvolveram uma órtese rígida denominada inclui uma deformação em valgo do tálus originando uma
UCBL [20]. Esta é indicada para estabilização do pé em po- degeneração da articulação tibiotalar lateral [7-10,22], sendo
sição neutra, recomendada para a fase II, pois a órtese limita necessária uma reconstrução cirúrgica [22].
a abdução do antepé e controle do posicionamento valgo do O tratamento conservador nas fases III e IV tem como fi-
retropé e médio-pé, direcionando a força para a região lateral nalidade acomodar as deformidades ao invés de corrigi-las. Na
(quinto metatarso), medialmente a face lateral do calcâneo e fase III as órteses tornozelo-pé podem ser articuladas, porém
a porção lateral do tálus [20]. rígidas, sendo esta utilizada para o tratamento em indivíduos
Alvarez et al. [34] analisaram através de um protocolo que apresentam deformidade e quadro álgico [20]; nesses casos
conservador 47 pacientes com diagnóstico de DMTP, com a deformidade já está instalada, sendo a órtese um dispositivo
idade média de 50 anos, de ambos os sexos. Os sujeitos foram moldado conforme as condições individuais dos indivíduos
submetidos a um tratamento não-cirúrgico, apenas no lado para reduzir a progressão da disfunção [25]. Na fase IV os
sintomático, durante três anos. A reabilitação foi constituída indivíduos com DMTP utilizam órtese rígida com a mesma
com uso de órtese e exercícios de fortalecimento dos músculos finalidade de reduzir a progressão da disfunção, porém nesta
tibiais (anterior e posterior), fibulares, tríceps sural. Além fase o indivíduo é passível de cirurgia [25].
desses, também foram inseridos exercícios isocinéticos, com Embora muitos estudos não abordem a eficácia do exer-
auxilio de faixa elástica, salto e posicionamento estático so- cício na cinemática anormal, eles ressaltam a necessidade
bre os dedos dos pés. O resultado mostrou-se satisfatório no de tratamentos eficazes que impeçam a progressão da cine-
tratamento conservador em 39 dos 47 pacientes [34]. mática anormal [32]. É geralmente aceito que o tratamento
Neville & Houck [35] analisaram pacientes com DMTP conservador da DMTP tem uma contribuição limitada. Por
na fase II. Os sujeitos foram submetidos a um programa essa razão, os estudos apontam que esses meios não-invasivos
fisioterapêutico por doze semanas realizando alongamentos devem ser reservados apenas para indivíduos em fase inicial e
e exercícios resistidos com faixa elástica na adução e inversão para sujeitos com grandes deformidades que não são passíveis
de tornozelo. Os resultados demonstraram benefícios na de cirurgia [31].
redução da dor e limitação de movimento [35]. Kulig et al.
[9] realizaram um estudo com trinta e seis indivíduos com Conclusão
DMTP nas fases I e II divididos em três grupos (órtese e
alongamento; órtese, alongamento e exercício concêntrico; Após a revisão podemos concluir que o tratamento conser-
órtese, alongamento e exercício excêntrico) durante três vador na DMTP não apresenta forte evidência para sustentar
meses. Kulig et al. [9] apresentaram uma hipótese de que um possíveis benefícios apontados por alguns estudos. Referente à
programa de exercício excêntrico induziria efeitos benéficos cinesioterapia, não há um consenso na literatura com relação
na função e redução do quadro álgico em correlação a um ao melhor programa de exercício. De maneira geral, há uma
programa de exercício concêntrico e ao uso de órteses. O conformidade quanto à utilização de órteses para imobiliza-
protocolo consistia em alongamento dos músculos gastroc- ção, sustentar o arco longitudinal do pé e a redução da sin-
nêmio e sóleo através de uma cunha portátil duas vezes ao tomatologia dolorosa. Um dos pontos básicos da intervenção
dia permanecendo por 30 segundos. Os exercícios resistidos encontrados nesta revisão é a questão dos alongamentos da
de maneira progressiva foram empregados carga isolada no região posterior da perna e fortalecimento da musculatura do
músculo tibial posterior nos movimentos de adução horizon- tibial posterior. Entretanto, não há evidências na eficácia dessa
tal com flexão plantar, através de uma unidade de exercício proposta. Desta forma, há necessidade de novas investigações
especializada onde o tendão era carregado concêntrica ou acerca do tema para que possamos elucidar quais são as reais
excentricamente, realizando quinze repetições em três séries. contribuições das principais intervenções da Cinesioterapia
Os resultados demonstraram que o grupo que realizou exer- no tratamento da DMTP.
cício com contração excêntrica obteve uma carga de treino
três vezes maior do que o grupo de contração concêntrica. Referências
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 393

Revisão

Efeito da imagética motora sobre o controle postural


Effect of motor imagery on postural control
Nélio Silva de Souza, Ft.*, Ana Carolina Gomes Martins, Ft.**, Glória M. M. Vianna da Rosa, Ft., M.Sc.***,
Wilma Costa Souza, Ft. D.Sc.****

*Mestrando em Ciências da Reabilitação, UNISUAM, **Mestranda em Atenção Integrada a Saúde da Mulher e da Criança,
UFF,***Docente da UGF, UNIFESO e IBMR, ****Docente da UGF

Resumo Abstract
Introdução: A imagética motora (IM) (visual e cinestésica) pode Introduction: Motor imagery (MI) (visual and kinesthetic) can
ser definida como ato de codificar o ensaio mental de uma ação pre- be defined as an act of codifying mental rehearsal of an intended
tendida, sem executá-la. Partes dos mecanismos neurais envolvidos action, without executing it. Parts of the neural mechanisms invol-
no planejamento de um movimento são também recrutados durante ved in the planning of a movement are also recruited during his
sua simulação mental, podendo levar a diferentes modulações postu- mental simulation, which can lead to different postural modulations.
rais. Objetivo: Investigar, por meio de revisão da literatura, o efeito da Objective: Investigate by means of literature review, the effect of MI
IM sobre o controle postural. Material e métodos: Foram utilizadas on postural control. Method: Thirty-nine references were used in
39 referencias no total, sendo 5 livros e 34 artigos selecionados nas total, with 5 books and 34 articles in selected databases. Results: We
bases de dados. Resultados: Foram selecionados 7 artigos sobre IM selected 7 articles on MI and postural control in healthy subjects on
e controle postural em indivíduos saudáveis sobre a plataforma de the force platform (inclusion criteria). Studies excluded, used scales
força (critério de inclusão). Os estudos excluídos utilizaram escalas to measure the balance or clinical conditions discussed. Evidences
para mensuração do equilíbrio e/ou abordaram condições clínicas. showed that the kinesthetic MI promotes an increase in sway in
Os demais artigos (27) foram utilizados para a fundamentação the anterior-posterior direction and your use as mental practice
teórica e discussão. Evidências têm demonstrado que a IM cines- promotes functional improvement and reduction of the oscillation
tésica promove aumento da oscilação no sentido ântero-posterior in the same direction. It seems that the supplementary motor area
e sua utilização como prática mental promove melhora funcional inhibits the primary motor cortex during MI, preventing of the
e diminuição da oscilação neste mesmo sentido. Parece que a área movement execution (ME). Conclusion: More studies are necessary,
motora suplementar inibe o córtex motor primário durante a IM, because is not understood how MI can simultaneously inhibit ME
prevenindo a execução do movimento (EM). Conclusão: Mais es- and allow body sway.
tudos são necessários, pois não se compreende como a IM pode ao Key-words: motor imagery, postural balance, mental training.
mesmo tempo inibir a EM e permitir a oscilação corporal.
Palavras-chave: imagética motora, equilíbrio postural,
treinamento mental.

Recebido em 19 de junho de 2013; aceito em 29 de agosto de 2013.


Endereço para correspondência: Nélio Silva de Souza, Rua Papa Pio XII, 170 Jardim Cascata 25964-330 Teresópolis RJ, E-mail: neliosds@bol.com.br
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Introdução Material e métodos

A imagética motora (IM) pode ser definida como ato de Esta revisão da literatura utilizou 5 livros das áreas de Pos-
codificar o ensaio mental de uma ação pretendida, sem execu- turologia Clínica (2 livros) [10,23] e Neurociências (3 livros)
tá-la [1-3]. A imaginação e a sensação de um movimento são [3,24,30], tanto pátrio como não pátrio (Inglês), dos períodos de
fenômenos rigorosamente relacionados e possuem um perfil 2000 a 2010. Os livros referenciados são clássicos e de fundamen-
de controle totalmente voluntário [1]. Esta ação consciente tal importância para esta explanação. Especificamente para o tema
pode gerar mudanças neurofisiológicas não conscientes e (imagética motora e controle postural) foram selecionados artigos
influenciar eventos sobre o sistema nervoso autônomo (SNA) indexados nas bases de dados Pubmed/Medline, Scholar Google,
[3], levando a mudanças na atividade cardiorrespiratória [4]. PEDro e SciELO, utilizando as palavras-chave “imagética mo-
Evidentemente, o SNA não pode ser modulado diretamente tora”, “equilíbrio postural” e “treinamento mental” combinadas
pelo movimento voluntário, sugerindo que estas mudanças ou não, tanto em Português quanto em Inglês, compreendendo
seriam causadas pelos processos mentais que integram parte o período de busca de 1985 a 2013. A palavra-chave “imagética
do programa motor evocado durante a IM [3]. motora” ainda não se encontra nos descritores da capes, porém
Por definição, postura é a posição relativa de várias sua similar é bem conhecida nos textos internacionais e por isso
partes do corpo em relação umas as outras e em relação ao foi utilizada. Para a fundamentação teórica e discussão do tema
ambiente, envolvendo o campo gravitacional [5]. O sistema foram utilizados diferentes artigos, compreendendo o mesmo
postural deve satisfazer três quesitos principais: 1) manter uma período de busca, devido à escassez de material bibliográfico com
postura estável na presença da gravidade; 2) gerar respostas tal abordagem. Assim, foram utilizadas 9 referências correspon-
que antecipam movimentos voluntários e 3) deve adaptar-se dentes aos últimos cinco anos e as demais (24 referências) com
as mudanças [6]. O sistema de controle postural depende mais de cinco anos de publicação.
basicamente de três componentes funcionais: 1) biomecâ-
nico, que envolve a estabilidade articular e o comprimento Resultados
muscular, bem como a amplitude de movimento de cada
segmento, principalmente do tornozelo e quadril; 2) a co- Busca nas bases de dados
ordenação motora, que envolve as estratégias de resposta às
oscilações corporais ântero-posterior (estratégia do tornozelo) Nos resultados da busca referente ao tema, 22 estudos
e perturbações externas (estratégia do quadril) [6-7] e 3) o foram encontrados e selecionados 7 sobre IM e controle pos-
sistema sensorial (visual, vestibular e proprioceptivo), que é tural em indivíduos saudáveis. A tabela I resume o resultado
responsável pelo controle do equilíbrio postural [8-9]. das buscas desses artigos nas diferentes bases de dados. Foram
O movimento voluntário é acompanhado e precedido por incluídos no estudo, artigos que avaliaram indivíduos sem
fenômenos posturais antecipatórios (feedforward) [6-7,10], lesões neurológicas e/ou ortopédicas que comprometessem
pois o controle postural está inserido no contexto do movi- o equilíbrio, utilizando uma plataforma de força (estabilo-
mento [11-14]. Além disso, o sistema motor está envolvido metria) para a análise do controle postural. Os critérios para
não somente com a produção do movimento, mas também exclusão foram os estudos que utilizaram somente escalas para
com os seus aspectos representacionais, tais como o reco- a mensuração do equilíbrio e/ou avaliaram indivíduos em con-
nhecimento e o aprendizado de ações através da observação dições clínicas, como o Acidente Vascular Encefálico (AVE)
ou simulação mental [15]. Parte dos mecanismos neurais e/ou Parkinson (15 referências), pois o objetivo é entender
envolvidos no planejamento de um movimento é também como as modalidades da IM (visual e cinestésica) modulam
recrutada durante os estados de simulação mental, denomi- o controle postural em indivíduos saudáveis.
nados “estados-S”. Estes correspondem às situações em que o
sistema motor antecipa a ação, manipulando as redes neurais Tabela I - Resultados das buscas nas diferentes bases de dados.
que codificam a ação pretendida, mas sem realizá-la [3,16]. Bases de Encon- Selecio-
Neste contexto, o movimento voluntário estaria relacio- Estudo
dados trados nados
nado com o controle postural e, dessa forma, poderia ser Imbiriba et al, 2006
esperado que a simulação de um movimento durante uma Pubmed /
11 3 Rodrigues et al, 2010
tarefa de IM pudesse evocar parte deste circuito e promover Medline Grangeon, Guillot & Collet,
um ajuste postural. As investigações envolvendo a IM e o
2011
controle postural são muito recentes e tem sido especulado
que a IM bloqueia (ou suprime) a execução de movimento Hamel & Lajoie, 2005
PEDro 8 2
(EM) no córtex motor primário (M1), mas ainda não se Fansler, Poff & Shepard, 1985
compreende bem este mecanismo. Assim, o objetivo deste SciELO 1 1 Rodrigues et al, 2003
estudo foi investigar, por meio de revisão da literatura, o efeito Scholar
2 1 Choi et al, 2010
da IM sobre o controle postural. Google
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 395

Imagética motora (IM) do controle do equilíbrio postural [10,22,24].

Os primeiros estudos em IM utilizaram os métodos clás- Córtex cerebral na imagética motora e no


sicos de introspecção e cronometria mental, revelando que controle postural
a IM retém algumas propriedades em termos de regulação e
programação biomecânica, que são observadas durante a EM Tradicionalmente, afirmava-se que somente os núcleos da
[2]. Estas constatações levaram alguns neurofisiologistas, a base, cerebelo e medula espinal participavam na regulação do
propor que existe uma similaridade nos estados mentais du- equilíbrio tônico postural [10] e historicamente, acreditava-se
rante a execução e imaginação de uma mesma tarefa [2,17-18]. que este controle fosse uma tarefa sensório-motora altamen-
Com o avanço das técnicas de neuroimagem, esta proposta foi te automatizada [27]. Entretanto, foi observado que tanto
confirmada, tornando visível grande parte do circuito neural animais quanto humanos que sofreram lesões corticais com
empregado durante os processos de simulação mental [3,19- preservação do cerebelo e tronco cerebral, apresentavam um
20]. Atualmente, evidências têm demonstrado que o tempo controle postural anormal [28], sustentando a hipótese de
que um indivíduo leva para imaginar uma tarefa é o mesmo que o córtex cerebral poderia interferir no ajuste do equilíbrio
que ele levaria para executá-la [3]. Existem duas estratégias postural em respostas voluntárias [28-29].
de IM: 1) cinestésica ou somestésica (primeira pessoa), onde O sistema nervoso central (SNC) precisa organizar as
o indivíduo deve “se sentir” realizando o movimento e 2) informações disponíveis vindas dos receptores sensoriais
visual (terceira pessoa), onde o indivíduo deve “visualizar” (visual, vestibular e proprioceptivo), antes de determinar a
o movimento sendo realizado por outra pessoa. A primeira posição e movimentação do corpo no espaço em relação à
simulação ocorre a partir de informações sensório-motoras gravidade e ao ambiente, considerando os aspectos cognitivos
e a segunda é baseada na percepção visual do movimento (hipocampo e giro parahipocampal), que são a base para os
imaginado [17]. aspectos adaptativos (feedback) e antecipatórios (feedforward)
do controle postural durante a EM [30]. Entretanto, estes
Controle postural automatizado (reflexos de reflexos posturais não conseguem explicar completamente
feedback e feedforward) o controle postural durante movimentos voluntários e de
habilidade [12,24], pois este controle adaptativo envolve mo-
Os sistemas relacionados com o controle do equilíbrio dificações do sistema sensorial e motor em resposta a mudança
postural são: visual; vestibular e proprioceptivo [8-10]. As da tarefa e às exigências posturais baseadas em experiência e
informações vestibulares na condição estática parecem estar aprendizagem prévia [14,30], sendo necessário um sistema
sob a dependência da informação visual, pois os núcleos vesti- para gerar estas respostas antecipatórias reflexas [24].
bulares não são apenas reservados ao ouvido interno, mas são A ativação do sistema motor durante a tarefa de IM não
verdadeiros centros de integração do sistema tônico postural é totalmente idêntica à EM, embora exista uma sobreposição
[10]. Isto foi demonstrado por estudos realizados tanto em em zonas específicas (cortical e cerebelar); sendo “mais fraca”
animais [21] quanto em humanos [8]. Nesse contexto, os e “grosseira” no córtex durante a tarefa de IM quando com-
estímulos sensoriais prioritários no ajuste do controle pos- parado a EM. Estudos de neuroimagem têm demonstrado
tural estático parecem ser basicamente visual e podal, sendo que a IM ativa o lóbulo parietal superior e inferior, córtex
o vestíbulo considerado um identificador de deslocamentos motor primário (M1), área motora suplementar (AMS),
rápidos (aceleração e desaceleração – angular e linear) [10,22]. pré-cuneo, putamem e cerebelo. O sulco intraparietal e as
O controle do equilíbrio é gerenciado pelo sistema tônico estruturas motoras associadas são mais ativas durante a IM
postural, que pode ser comparado a um “tripé”, em que as cinestésica, enquanto a parte mais posterior do lóbulointra-
hastes são: 1) os captores; 2) o centro de processamento cen- -parietal, pré-cuneo e occiptal estão mais envolvidas com a
tral e 3) os efetores. Os captores são os receptores sensitivos IM visual [3,20]. Diversas evidências sugerem que as duas
localizados nos órgãos sensoriais (principalmente, os olhos estratégias básicas de IM (cinestésica e visual), podem apre-
e os pés), que associam endo e exterocepção. O centro de sentar mecanismos distintos de ativação [20, 31]. Assim, têm
processamento central é composto por diversas áreas cerebrais sido sugerido e evidenciado que estas diferentes estratégias
(medula espinhal, formação reticular, colículos, núcleos da mentais também podem resultar em diferentes respostas no
base, cerebelo, tálamo, corpo caloso, comissuras, diencéfalo controle do equilíbrio postural [28,32-35], motivando a
e córtex sensorial e motor), que regulam a tonicidade das discussão deste tema.
fibras tipo I (estabilizadoras) dos músculos antigravitacionais,
que são os efetores deste sistema [10,22-25]. As diferentes Discussão
informações sensoriais vindas dos captores serão integradas
no centro de processamento central e devolvidas aos efetores O objetivo deste estudo foi investigar, por meio de revisão
musculares de modo automatizado, por meio dos arcos refle- da literatura, o efeito da IM sobre o controle postural. Diver-
xos de feedback e feedforward, essenciais para a manutenção sos estudos têm demonstrando a relação entre o movimento
396 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

voluntário e o controle postural antecipatório (involuntário). tações motoras primárias dos sujeitos com deficiência visual
Ao estudar o movimento fisiológico, diferentes pesquisadores dependem da informação cinestésica proprioceptiva [35].
observaram que os músculos mais profundos do tronco (trans- Isto, provavelmente, ocorre devido a um menor bloqueio da
verso do abdômen, multífidos e flexores profundos cervicais) eferência motora por ativação de circuitos neurais distintos.
são ativados cerca de 50 milissegundos (ms) antes do agonista Um recente estudo de revisão destacou 3 possibilidades de
do movimento, seja do membro inferior [11-12] ou membro inibição do comando motor durante a IM: 1) córtex parietal
superior [13]. As evidências afirmam que existe uma ordem (inibição motora durante o processo de construção da repre-
de recrutamento motor, em que os músculos mais profundos sentação mental); 2) córtex frontal (influências supressivas
do tronco (antigravitacionais e estabilizadores) trabalham em do córtex em regiões que elaboram o comando motor) e 3)
antecipação (feedforward) ao movimento dos membros, em influências inibitórias do cerebelo e medula espinal. Particu-
resposta as cargas impostas por eles, a fim de manter o ajuste larmente, quando um programa de movimento não é bem
postural e a estabilidade do tronco durante a EM [11-14]. adaptado e requer mudanças em um ou mais parâmetros da
Neste contexto, poderia ser esperado que a estratégia de IM direção ou amplitude de movimento, não é necessária uma ini-
de um movimento fisiológico reproduzisse o mesmo efeito bição completa do movimento, mas somente uma adaptação
sobre o controle do equilíbrio postural. deste programa. Esta flexibilidade no mecanismo de inibição
Estudos sugerem que a IM cinestésica possui uma rede central pode ser resultado da integração entre o giro frontal
sensório-motora específica que facilita a modulação corticoes- inferior com os núcleos da base, responsáveis por reprogramar
pinal com mais alcance que a IM visual. Existem especulações um planejamento motor, que pode ser inibido [15].
de que a IM visual ocorre por uma via distinta, que poderia Dependendo da orientação do movimento, ocorre uma
estar relacionada à rede de neurônios espelho (parieto-frontal), sequência de ativação neuronal sistemática antes do seu início.
que quando ativada pela observação de uma ação, permite que Os registros do eletroencefalograma evidenciam que ocorre
o significado da ação seja compreendido automaticamente, um aumento negativo do potencial (entre 1 e 2 segundos)
já que o indivíduo transforma a imagem armazenada em sua antes da EM, refletindo uma preparação para o processamen-
memória para mentalizar a observação da ação (terceira pes- to motor (potencial pré-motor). Este potencial pré-motor
soa) [3]. Assim, tanto a estratégia de IM visual quanto a IM negativo ocorre rapidamente (500ms) antes do início do
cinestésica possuem uma construção mental distinta [20,31] movimento e reflete a despolarização da rede dendrítica,
e, portanto, poderia ser esperado que suas repercussões sobre indicando a geração preparatória dos estados subjacentes das
o controle do equilíbrio postural se comportassem também camadas sensório-motoras corticais [3]. Estudos utilizando
de forma distinta. Ressonância Magnética Funcional sugerem que este processo
O estudo de Rodrigues et al. [34] analisou o controle pré-motor esteja relacionado com a área motora suplementar
postural na plataforma de força em 49 participantes e os (AMS) e os núcleos da formação reticular no tronco encefálico
dividiu em grupos de acordo com a estratégia de IM uti- [37], provavelmente integrando a via córtico-retículo-espinal
lizada (visual ou cinestésica). Os resultados demonstraram que ativa o motoneurônio alfa dos músculos antigravitacionais
maior modulação postural nos participantes que utilizaram (estabilizadores) [10]. A conectividade entre a AMS e o córtex
a modalidade cinestésica. Entretanto, o estudo não utilizou motor primário (M1) é demonstrada por estudos de simula-
eletromiografia (EMG) e por isso, não poderia precisar se ção do movimento, os quais sugerem que a AMS pode inibir
ocorreu EM durante as tarefas de IM. Posteriormente Ro- (ou suprimir) a atividade de M1 durante a IM, por meio da
drigues et al. [33] realizaram outro estudo com um novo liberação de ácido-amino-gama-butírico (GABA) [10,37-38].
modelo experimental utilizando também a EMG durante as Estes achados indicam um importante circuito de
tarefas de IM. Os resultados demonstraram um aumento na feedback de M1 com a AMS na preparação e EM, bem como
área e amplitude de deslocamento do centro de pressão (CP) na IM [3,37-38]. Entretanto, ainda não se compreende bem
no sentido anteroposterior (AP) na modalidade cinestésica, este mecanismo e diversas hipóteses têm sido lançadas [37],
quando comparado à modalidade visual e a tarefa controle. sugerindo que a inibição de M1 (piramidal) durante a IM
Neste contexto, atualmente tem sido evidenciado que ocorreria ainda nos estágios de planejamento motor [15,38],
a estratégia de IM cinestésica em diferentes tipos de tarefas levando a mudanças no controle postural (extrapiramidal),
promove aumento da oscilação no sentido AP [28,33-35] e sua independente da idade do indivíduo [39].
utilização como prática mental promove melhora funcional
[32] e diminuição da oscilação no mesmo sentido, devido Conclusão
à redução no tempo de reação do controle postural [36]. O
estudo de Imbiriba et al. [35] avaliou indivíduos deficientes De acordo com a literatura analisada, a modalidade de
visuais com diferentes etiologias. O protocolo experimental IM cinestésica tem apresentado maior influência sobre o
foi idêntico ao utilizado por Rodrigues et al. [34] e os resul- controle postural, quando comparado com a modalidade
tados no CP foram similares aos encontrados pelo mesmo visual. Ainda não se compreende bem como a IM pode ao
grupo em 2003 e 2010 [33-34], sugerindo que as represen- mesmo tempo inibir a EM e permitir a oscilação corporal. Por
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 397

isso, mais estudos devem ser realizados para aprimorar este 20. Ruby P, Decety J. Effect of subjective perspective taking during
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398 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil


Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão,
Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX conclusão e referências.
Abreviação para citação: Fisioter Bras Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes- figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Literatura citada: Máximo de 50 referências.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser pub-
4. Relato de caso
licados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros
São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au-
terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos
torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com
não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas.
estas condições.
Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform re-
caso, Discussão, Conclusões e Referências.
quirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado
Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em in-
Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
glês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em 5. Opinião
inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos au-
Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo (ar- tores: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses,
tigos@atlanticaeditora.com.br). A publicação dos artigos é uma decisão críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações
dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos
serão submetidas à revisão por pares anônimos. editores quanto à pertinência do tema abordado.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um
em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Co- resumo destacado.
mitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços.
(observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Literatura citada: Máximo de 20 referências.
Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente regis-
trada no Conselho Nacional de Saúde. 6. Cartas
Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada
1. Editorial aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista.
O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acon- Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de
tecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos impor- artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de
tantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se
que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A
de atualidade. publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência
do tema abordado.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados Preparação do original
originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto
estudos com animais ou humanos. (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times
Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, negrito, itálico, sobrescrito, etc.
Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com
Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das algarismos arábicos.
figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilust-
deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New rações e do corpo do texto.
Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como ne- • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com res-
grito, itálico, sobre-escrito, etc. olução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digi-
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel talizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excep-
ou Word. cionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução (histologia, neuroimagem, etc).
de 300 dpi.
Literatura citada: Máximo de 50 referências. Página de apresentação
A primeira página do artigo traz as seguintes informações:
3. Revisão • Título do trabalho em português e inglês;
São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento • Nome completo dos autores e titulação principal;
em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem ne- • Local de trabalho dos autores;
cessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já pub- • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail;
licados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáti-
cas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da Resumo e palavras-chave
metodologia empregada. A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá con-
Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem neces- ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode
sariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia,
da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, resultados e conclusão.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013 399

Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar Editora, e deve conter:
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Agradecimentos • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. cientes e de acordo com o envio do trabalho;
Referências • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na • Telefones de contato do autor correspondente.
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. • A área de conhecimento:
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In- ( ) Cardiovascular / pulmonar
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoameri- ( ) Saúde funcional do idoso
canas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). ( ) Diagnóstico cinético-funcional
Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colo- ( ) Terapia manual
car a abreviação latina et al. ( ) Eletrotermofototerapia
( ) Orteses, próteses e equipamento
Exemplos: ( ) Músculo-esquelético
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper- ( ) Neuromuscular
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: ( ) Saúde funcional do trabalhador
Raven Press; 1995.p.465-78. ( ) Controle da dor
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of ( ) Pesquisa experimental /básica
urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer ( ) Saúde funcional da criança
Res 1994;54:5016-20. ( ) Metodologia da pesquisa
Envio dos trabalhos ( ) Saúde funcional do homem
A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas ( ) Prática política, legislativa e educacional
de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf ( ) Saúde funcional da mulher
do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser ( ) Saúde pública
depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, ( ) Outros
titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assin-
antes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
e-mail com o envio do artigo). cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor ex- para sua adequada formatação.
ecutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Atlantica Editora - artigos@atlanticaeditora.com.br
400 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 5 - setembro/outubro de 2013

Agenda
2013 2014
Novembro Fevereiro
14 a 17 de novembro 13 a 15 de fevereiro
VI Congresso Brasileiro da Sociedade Nacional de VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato-
Fisioterapia Esportiva - SONAFE funcional
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Belo Horizonte, MG
Informações: www.sonafe.org.br Informações: http://dermatofuncional2014.com.br
14 a 16 de novembro 21 a 23 de fevereiro
45° CBOT - Congresso Brasileiro de Ortopedia e XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Traumatologia Londrina, PR
Universidade Positivo Curitiba, PR Informações: http://posturologiaclinica.com.br/
Informações: http://www.cbot2013.com.br

14 a 16 de novembro Abril
II Congresso Nordestino de Fisioterapia
30 de abril a 3 de maio
Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva
VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
- II CONEFIR
III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
Hotel Praiamar, Natal, RN
João Pessoa, PB
Informações: www.assobrafir.com.br
Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
congresso/
Dezembro

6 a 8 de dezembro Maio
1º Congresso Internacional sobre Saúde da Pessoa com
8 a 10 de maio
Deficiência
XX CBTO - Congresso Brasileiro de Trauma Ortopédico
Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília, DF
Gramado, RS
Informações: www.cispod.com.br/
Informações: http://www.traumaortopedico.med.br
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 14, nº 6 novembro/dezembro 2013 - 401~480)

EDITORIAL
Obrigado a todos, Jean-Louis Peytavin, Guillermina Arias ......................................................................................................... 405
ARTIGOS ORIGINAIS
Fotoenvelhecimento e fotoproteção na percepção de idosos, Rúbia Karine Diniz Dutra,
Edinete da Silva Pedrosa Candeia, Eva Jeminne de Lucena Araújo Munguba,
Mariana Araújo Pinto, Tatiane Lima de Araújo Silva.................................................................................................................... 408
Efeito de um programa de treinamento de força sobre os níveis sanguíneos de glicose
em ratos diabéticos induzidos, Vinícius P. Coelho Vieira, Giovane Galdino de Souza................................................................ 414
Vínculo materno e objeto transicional no sono de crianças com deficiência visual,
Priscila Pintenho de Melo, Jaiana Gomes Bolsan, Alessandra Gasparello Viviani,
Luis Vicente Franco de Oliveira, Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes,
Silvana Alves Pereira, Cristiane Aparecida Moran......................................................................................................................... 418
Laserterapia associada à drenagem linfática em úlceras de pele: relato
de múltiplos casos, Dayane Nunes Rodrigues, Regiane Medeiros Cordeiro,
Eloá França, Ariane Costa Moura, Maria Cristina Balejo Piedade................................................................................................. 422
Qualidade de vida e estilo de vida de usuários do serviço público de fisioterapia
em Santa Maria/RS, Guilherme Bordin, Zadro Jornada Monteiro, Andriele Gasparetto............................................................. 426
Fisioterapeutas integrantes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família do Estado
de Santa Catarina: competências e desafios, Nathiele Plácido Belettini, Franciani Rodrigues,
Thaise Silvestri Cruz, Kely Cristine Ferreira, Lisiane Tuon, Bárbara Lucia Pinto Coelho............................................................... 433
Comportamento da força muscular respiratória, pico de fluxo expiratório e oxigenação
durante repouso e caminhada na água, Patrícia Dall’Agnol Bianchi, Inaiana Klasener Augusto,
Kalina Durigon Keller, Bruna Durigon Keller, Renan Maximiliano Fernandes Sampedro............................................................. 439
Análise eletromiográfica dos músculos inspiratórios em indivíduos saudáveis submetidos
à carga máxima de resistor linear e alinear, Éric da Silva, Saulo Araújo de Carvalho,
Adeno Gonçalves de Oliveira, Luana Gabrielle de França Ferreira, Joelson da Silva Medeiros,
Cláudia Barbosa Ladeira de Campos, Alderico Rodrigues de Paula Júnior.................................................................................... 446
Análise do nível de concordância interobservadores na avaliação postural estática
em idosos residentes no município de São Paulo, Camila Costa Ibiapina Reis,
Lívia Pimenta Renó Gaparotto, Aline Abreu Lando Kenmochi, Ana Claudia
Vasconcellos Queiroz, Francini Vilela Novais, Edson Lopes Lavado, Luiz Roberto Ramos............................................................ 453
Grau de risco para desenvolvimento de úlceras nos pés de pacientes diabéticos
de meia idade e idosos, Luma Zanatta de Oliveira, Suzane Stella Bavaresco,
Maria Guadalupe Rasero Cumplido, Ana Paula Pillatt,
Ana Carolina Bertoletti de Marchi, Camila Pereira Leguisamo..................................................................................................... 459
RELATO DE CASO
Efeito da adição de peso no tronco sobre o equilíbrio postural de um sujeito com ataxia,
Carla Emilia Rossato, Ana Lucia Cervi Prado, Jones Eduardo Agne, Sergio Antonio Brondani .................................................... 464
REVISÕES
Força e função muscular do assoalho pélvico: como avaliar?
Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos, Aline Moreira Ribeiro.......................................................................................... 469
Aplicação dos recursos fisioterapêuticos na disfunção temporomandibular,
Wiviane Maria Torres de Matos Freitas, Erielson dos Santos Bossini............................................................................................. 474
NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................478
EVENTOS..........................................................................................................................................................................480
Fisioterapia Brasil
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

Editor assistente
Guillermina Arias
Atlântica Editora
guillermina@atlanticaeditora.com.br
e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br Direção de arte
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Assinatura Dr. Jean-Louis Peytavin Imprensa
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Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 407

Editorial

Obrigado a todos
Jean-Louis Peytavin, Guillermina Arias

Encerramos o ano 2013 com uma grande apresentação de miografia dos músculos inspiratórios (Teresina/PI). Temos
artigos originais, cobrindo várias especialidades da Fisioterapia também dois artigos de fisioterapia neurofuncional, sobre
e mostrando sua importância no tratamento das doenças da a avaliação postural estática (Unifesp/SP) e a ataxia (Santa
atualidade. Maria/RS), e, enfim artigos sobre a saúde da mulher (Ribeirão
O diabetes é bem representado com dois trabalhos; o pri- Preto/SP) e a disfunção temporomandibular (Belém/PA).
meiro, enviado por uma equipe de Alfenas/MG, testou o nível Publicamos assim trabalhos de várias disciplinas, prove-
de esforço físico para baixar a glicemia em ratos diabéticos; o nientes de muitas regiões do Brasil, o que é nosso objetivo
segundo, vindo de Passo Fundo/RS, mostra o elevado risco desde o início da revista, que entra agora no seu décimo
de úlceras nos pés em pacientes diabéticos. quinto ano.
Publicamos um estudo sobre a proteção solar e o foto- Temos ainda muito para fazer, começando por um site
envelhecimento (Patos/PB); o vínculo materno em crianças muito mais funcional, o que é nossa meta para este ano 2014,
com deficiência visual (Nove de Julho/SP); a eficiência da a fim de facilitar o acesso dos fisioterapeutas aos 900 artigos
laserterapia associada a drenagem linfática em casos de úlceras já publicados desde o ano 2000.
de pele (São Judas Tadeu/SP); a avaliação da satisfação dos Queremos enfim agradecer a todos os pareceristas anôni-
usuários de um serviço público de fisioterapia (Santa Maria/ mos que nos ajudam a selecionar, avaliar e corrigir os artigos
RS) e da intervenção dos fisioterapeutas em um Núcleo de que recebemos. Estamos honrados de contar com a partici-
Apoio à Saúde da família (Santa Catarina). pação de 120 deles, representativos de todas as disciplinas da
A fisioterapia cardiorrespiratória está presente em um Fisioterapia e de todas as escolas e faculdades. Esse trabalho
artigo sobre a força muscular respiratória durante repouso e anônimo, sempre simpático e exigente, é a chave do sucesso
caminhada na água (Santa Maria/RS) e outro sobre a eletro- permanente de nossa revista. Obrigado a todos!
408 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Fotoenvelhecimento e fotoproteção
na percepção de idosos
Photoaging and photoprotection in the perception of the elderly
Rúbia Karine Diniz Dutra, M.Sc.*, Edinete da Silva Pedrosa Candeia**, Eva Jeminne de Lucena Araújo Munguba***,
Mariana Araújo Pinto***, Tatiane Lima de Araújo Silva****

*Docente e coordenadora de Pós graduações em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos e da Maurício de Nassau,
**Especialista em Saúde Pública, Faculdades Integradas de Patos, ***Especialista em Fisioterapia Dermato-funcional,
Faculdades Integradas de Patos, ****Faculdades Maurício de Nassau

Resumo Abstract
Introdução: O processo de envelhecimento traz consigo inúmeras Introduction: The aging process brings about many physiological
alterações fisiológicas que, muitas vezes, acarretam incidência de changes that may develop to a higher incidence of certain diseases
determinadas doenças, afetando de maneira adversa a qualidade de and, in consequence, affect quality of life of older people. It is of
vida da população idosa. Por isso, o conhecimento dessas doenças é great importance the knowledge of these diseases in order to prevent
de grande importância, já que permite a prevenção e a diminuição and reduce the deleterious effects on health of elderly people in their
dos efeitos deletérios na saúde do idoso em seus diversos sistemas, various systems, including the integumentary system. Photoaging,
inclusive o sistema tegumentar. No fotoenvelhecimento, que ocorre which occurs in parallel to chronological aging, is the premature
em paralelo ao envelhecimento cronológico, pode-se constatar que aging of the skin due to prolonged exposure to sunlight. Objective:
as áreas expostas geralmente parecem mais envelhecidas em diversos To learn what the elderly know about photoaging and photopro-
aspectos do que a pele que se encontra sempre protegida. Objeti- tection. Method: This is an applied research, descriptive and field
vo: Apreender o que os idosos sabem sobre fotoenvelhecimento e study with qualitative-quantitative approach, developed in a School
fotoproteção. Material e métodos: Trata-se de uma pesquisa do tipo of Physical Therapy Clinic of a HEI, conducted with 30 elderly
aplicada, descritiva e estudo de campo, com abordagem quali- people who were receiving physical therapy. It was used a formulary
-quantitativa, desenvolvida em uma Clínica Escola de Fisioterapia de with a semi-structured interview. The analysis was performed using
uma IES, realizada com 30 idosos que estavam recebendo tratamento descriptive statistics. Results: The older people average age was 69.1
fisioterapêutico. Foi utilizado um formulário para entrevista semies- years old, 80% were female, 57% were married, all unaware of the
truturada. A análise foi realizada por meio de estatísticas descritivas. meaning of the terminology photoaging, 73% protected themsel-
Resultados: A idade média dos idosos era 69,1 anos, 80% eram do ves from the sun, 60% did not use sunscreen every day, 40% used
gênero feminino, 57% eram casados, todos desconheciam o signi- 30 FPS, 67% did not reapply it every 2 hours, 73% applied both
ficado da terminologia fotoenvelhecimento, 73% se protegiam do in the facial region and in the body region, 50% reported having
sol, 60% não faziam uso de protetor solar todos os dias, 40% faziam dry skin, sensitive skin 57%, 64% and 47% slightly pigmented
uso de FPS 30, 67% não reaplicavam a cada 2 horas, 73% aplicavam wrinkled. Conclusion: Sun exposure is a problem which has dama-
tanto na região facial quanto na região corporal, 50% referiram ging consequences for the elderly, and their risk factors are not yet
ter pele seca, 57% tinham pele sensível, 64% pigmentada e 47% understood, hence the photoprotection is needed to prevent serious
pouco enrugada. Conclusão: A exposição solar é um problema que health problems like skin cancer.
traz consequências nefastas aos idosos e seus fatores de risco ainda Key-words: photoaging, photoprotection, elderly.
não são compreendidos, por isto a fotoproteção faz-se necessária
na prevenção de sérios problemas de saúde como o câncer de pele.
Palavras-chave: fotoenvelhecimento, fotoproteção, idoso.

Recebido em 12 de fevereiro de 2012; aceito em 22 de agosto de 2013.


Endereço para correspondência: Rubia Karine Diniz Dutra, Rua Antenor Navarro, 1309, Palmeira, 58101-321 Campina Grande PB, E-mail:
rubiadutra@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 409

Introdução que sofreram algum tipo de câncer da pele no sentido de


evitar nova lesão; segundo e de forma mais generalizada,
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 1950 como prevenção primária, ou seja, aplicada às pessoas de
e 2025, a população brasileira acima de 60 anos crescerá 16 risco para câncer da pele [10].
vezes, enquanto a população geral sofrerá aumento de cinco Diante do contexto de que a população idosa vem cres-
vezes [1]. De acordo com Papaléo Netto [2], no Brasil existem cendo a cada dia, e a prevenção é o método mais promissor
aproximadamente 13 milhões de pessoas com mais de 60 anos, contra o envelhecimento extrínseco faz-se necessário apre-
que difere indivíduos adultos de idosos. Já Macedo-Soares, ender o que os idosos sabem sobre o fotoenvelhecimento
Matioli e Veiga [3] acrescentam que os idosos representam e fotoproteção.
12% da população, e estima-se que aumente para mais de O presente estudo teve como objetivos, analisar a per-
32 milhões (14,5%) em 2025, quando este país será a sexta cepção dos idosos sobre fotoenvelhecimento e fotoproteção;
nação mais populosa em idosos do mundo. identificar se os idosos sabem se proteger contra o fotoen-
Segundo Kede e Sabatovich [4], o envelhecimento é um velhecimento; conhecer a utilização do protetor solar e sua
processo lento, progressivo e irreversível, influenciado por aplicação pelos idosos; conhecer as consequências do fotoen-
diversos fatores intrínsecos e extrínsecos. O envelhecimento velhecimento que mais incomodam os idosos e observar se os
intrínseco pode também ser chamado de verdadeiro ou cro- idosos relacionam o fotoenvelhecimento com a fotoproteção.
nológico, a pele expressa de forma visível a ação do tempo e O que se pretendeu com esta pesquisa foi saber a realidade
por ele é transformada, sendo aquele já esperado e inevitável. da população idosa sobre a importância da proteção contra o
Por outro lado, pode ser denominado também de fotoenve- fotoenvelhecimento, as consequências que mais incomodam
lhecimento, no qual as alterações surgem em longo prazo e os idosos e se eles relacionam o fotoenvelhecimento com a
se sobrepõe ao envelhecimento intrínseco. fotoproteção.
De acordo com Yaar, Eller e Gilchrest [5], o envelheci- Além disso, o presente estudo veio contribuir com a
mento implica alterações em nível celular, com diminuição conscientização dos idosos sobre as consequências do foto-
da capacidade dos órgãos de executar suas funções normais, envelhecimento e a prevenção de câncer de pele, assim como,
resultando provavelmente em doença e morte. Papaléo Netto sua contribuição acadêmica e científica justificando-se pelos
[2] acrescenta ainda que o envelhecimento seja um processo poucos estudos publicados acerca da temática associada à
pessoal, natural, indiscutível e inevitável, para qualquer ser percepção da população idosa.
humano na evolução de sua vida. Nessa fase sempre ocorrem
mudanças biológicas, psicossociais, econômicas e políticas Material e métodos
que compõem o cotidiano das pessoas. Contudo, Guirro
e Guirro [6] afirmam que todo esse processo, apesar dos A pesquisa caracteriza-se como do tipo aplicada, descritiva,
diversos estudos, não tem uma causa definida que explique a com abordagem quali-quantitativa. Foi desenvolvida em uma
natureza das alterações anatômicas, mas várias teorias tentam Clínica Escola de Fisioterapia de uma Instituição de Ensino
explicá-la. As principais são: Teoria do Relógio Biológico, Superior, que emitiu o Termo de Autorização Institucional
Teoria da Multiplicação Celular, Teoria das Reações Cruzadas para a mesma. A coleta de dados foi realizada no período de
de Macromoléculas, Teorias dos Radicais Livres, Teoria do abril de 2010.
Desgaste e a Teoria autoimune. A população-alvo para o desenvolvimento da pesquisa foi
De acordo com Landau [7], fotoenvelhecimento trata-se composta por idosos que estavam em processo de tratamento
de processo cumulativo que depende do grau de exposição na Clínica Escola de Fisioterapia no período da pesquisa. A
solar e da pigmentação irregular, enrugada, atrófica, com te- amostragem foi não probabilística levando-se em consideração
langiectasias e lesões pré-malignas. Borges, Rangel e Correia a acessibilidade, e foi composta por 30 pacientes.
[8] enfatizam que o fotoenvelhecimento é responsável pela Os critérios de inclusão para a pesquisa foram idade de 60
maior parte das alterações macro e microscópicas na pele, anos ou superior, ambos os gêneros e que concordassem em
principalmente a formação de rugas finas e profundas. participar do estudo. Os critérios de exclusão foram idosos
Em meio a tratamento de envelhecimento a preven- que possuíssem limitação intelectual.
ção é o mais promissor, através da proteção. Sendo que Inicialmente o projeto foi submetido e aprovado pelo
o envelhecimento intrínseco não pode ser evitado, mas Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas
o extrínseco pode ser retardado, principalmente através de Patos. Em seguida, todos os pacientes selecionados
do uso contínuo de fotoprotetores. Os filtros solares são foram esclarecidos e orientados quanto à natureza e ao
substâncias químicas de uso tópico que têm a capacidade de significado do estudo proposto e assinaram um Termo
refletir ou absorver as radiações ultravioletas que atingem a de Consentimento Livre e Esclarecido para inclusão dos
pele, minimizando desta forma os efeitos deletérios dessas mesmos na amostra.
radiações [9]. Desta forma, a proteção solar tornou-se práti- Para caracterizar a amostra foi utilizado um questionário
ca muito utilizada nos dias atuais, primeiro pelos pacientes sociodemográfico com 06 questões e, para conhecer o que os
410 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

idosos pensavam sobre o fotoenvelhecimento e a fotoproteção, nas cidades que participaram do estudo. Esse inquérito re-
foi utilizado um formulário para entrevista semiestruturada presentou, assim, a primeira tentativa de obter-se, em nível
com 10 questões como instrumento para coleta de dados. nacional, informação com relação aos hábitos de proteção
A análise dos dados foi realizada por meio de estatísticas à exposição solar, contribuindo, portanto, para melhorar o
descritivas. Os resultados foram apresentados em forma de conhecimento do nível de exposição solar cumulativa no
tabelas no programa Microsoft Excel®, assim como através Brasil e fornecer subsídios para programas de prevenção
de porcentagem e posteriormente correlacionados com a no país [11].
literatura especializada. Desta forma, para investigar a percepção dos idosos quanto
Em obediência a ética necessária ao estudo envolvendo ao fotoenvelhecimento e fotoproteção foi utilizado um for-
seres humanos, cumpriu-se às recomendações da Resolução mulário para entrevista semiestruturada com 10 questões,
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/CNS. elaborado pelas pesquisadoras.
Todos desconheciam o significado de fotoenvelhecimento
Resultados e fotoproteção. Com relação à importância de se proteger
contra o sol surgiram as seguintes temáticas nas falas dos
Os resultados foram sistematizados em duas partes, a entrevistados: ficar doente; evitar problemas de saúde; alergia
primeira parte foi composta pelo perfil sociodemográfico dos ao sol; evitar doenças na pele; por que queima; mancha na
idosos entrevistados e a segunda, pela percepção dos idosos pele; evitar envelhecimento; evitar o câncer.
quanto ao fotoenvelhecimento e fotoproteção. Considerando os dados sobre a proteção solar, 73% (n =
Participaram da pesquisa 30 idosos que receberam tra- 22) dos entrevistados se protegem enquanto que 27% (n =
tamento fisioterapêutico na Clínica Escola de Fisioterapia 8) não se protegem do sol. Quando indagados sobre o tipo
de uma Instituição de Ensino superior (IES) na cidade de de fotoproteção mais utilizada, 68% (n = 15) relataram usar
Patos/PB. o protetor solar, 9% (n = 2) óculos e 23% (n = 5) sombrinha.
Para caracterização da amostra foi utilizado um formulário Quanto à utilização de protetor solar diariamente, 40% (n
composto por 06 variáveis, sendo elas: idade, sexo, estado civil, = 12) faziam aplicação diariamente, 60% (n = 18) não faziam
escolaridade, renda familiar mensal e número de indivíduos uso todos os dias. De acordo com a reaplicação a cada duas
dependentes. horas, 33% (n = 05) realizavam e 67% (n=10) não realizavam.
De acordo com a faixa etária, observou-se que dos 30 Com relação ao FPS utilizado, 40% (n = 6) faziam uso de
idosos pesquisados, 20% (n = 6) estavam na faixa etária de FPS 30, 13% (n = 2) FPS 50 e 47% (n = 7) desconhecem o
60-64 anos, 33% (n = 10) 65-69 anos, 27% (n = 8) 70-74 FPS utilizado (Tabela I).
anos, 17% (n = 5) 75-79 anos e 3% (n = 1) 80 anos ou mais.
A média de idade correspondeu a 69,1 anos. Tabela I - Uso do protetor solar e conhecimento do FPS.
A caracterização da amostra de acordo com o gênero SIM NÃO SIM NÃO
identificou 80% (n = 24) gênero feminino e 20% (n = 6) f f % %
masculino. Uso do protetor solar diaria-
12 18 60,0 40,0
Com relação ao estado civil, 57% (n = 17) eram casados, mente
3% (n = 1) solteiro, 10% (n = 3) divorciados e 30% (n = 9) Reaplicação do protetor a cada
5 10 33,0 67,0
outros. 2 horas
De acordo com a escolaridade, 34% (n = 10) possuíam Uso do protetor solar FPS 30 5 10 33,0 67,0
ensino fundamental completo, 34% (n = 10) ensino funda- Uso do protetor solar FPS 50 5 10 33,0 67,0
mental incompleto, 13% (n = 04) ensino médio completo, Desconhecem o FPS do protetor 5 10 33,0 67,0
3% (n = 01) ensino médio incompleto, 3% (n = 1) ensino Dados da Pesquisa, 2010.
superior completo e 13% (n =4) não possuem estudos.
Considerando a renda familiar mensal dos indivíduos, 4% De acordo com a região de aplicação, 27% (n = 4) apli-
(n = 1) ganhava menos de 1 salário mínimo, 93% (n = 28) cavam unicamente no corpo e 73% (n = 11) aplicavam tanto
recebiam de 1 a 3 salários mínimos e 3% (n = 1) 4 salários na região facial quanto na região corporal.
mínimos ou mais. Com relação às alterações da pele facial e corporal na
Com relação ao número de indivíduos dependentes dos percepção dos idosos entrevistados, no quesito Hidratação:
idosos participantes da pesquisa, 64% (n =19) possuíam 1 a 3 50% (n = 15) referiram pele seca, 33% (n = 10) pele oleosa e
pessoas dependentes, 33% (n = 10) 4 a 6 pessoas dependentes 17% (n = 05) normal; Sensibilidade: 33% (n = 10) resistente,
e 3% (n = 1) 7 pessoas dependentes ou mais. 57% (n = 17) sensível e 10% (n = 03) normal; Pigmentação
Nos anos de 2002 e 2003, foi realizado, no Brasil, um da pele: 64% (n = 19) pigmentada, 33% (n = 10) pouco
inquérito domiciliar de base populacional sobre compor- pigmentada e 03% (n = 01) normal; Presença de rugas: 13%
tamentos de risco que, entre outros objetivos, avaliou as (n = 04) enrugada, 47% (n = 14) pouco enrugada e 40% (n
formas de proteção à radiação solar que eram mais utilizadas = 12) normal (Tabela II).
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 411

Tabela II - Percepção de alterações na pele facial e corporal dos aquisição do mesmo para todas as regiões, o uso do chapéu
idosos entrevistados. e a procura pela sombra levam, provavelmente, mais em
Presença de alterações da pele facial e corporal consideração os aspectos sócio-culturais.
Hidratação A baixa renda per capita dos idosos, associada a um suporte
Seca (%) Oleosa (%) Normal (%) médico ineficiente, priva-os de uma adequada assistência de
50% (n = 15) 33% (n = 10) 17% (n = 05) saúde, da compra dos medicamentos ou do pagamento da
Sensibilidade mensalidade do plano de saúde, com reflexos diretos na sua
Resistente (%) Sensível (%) Normal (%) qualidade de vida, uma vez que a renda é um dos elementos
33% (n = 10) 57% (n = 17) 10% (n = 03) essenciais para a preservação da autonomia e para a manu-
Pigmentação tenção ou recuperação da saúde [15].
Pigmentada (%) Não pigmentada (%) Normal (%) Quando não empregados, os idosos amparam-se na apo-
64% (n = 19) 33% (n = 10) 03% (n = 01) sentadoria (por tempo de trabalho, por idade, por invalidez
Presença de rugas ou aposentadoria especial), um direito do indivíduo garantido
Enrugada (%) Firme (%) Normal (%) pela Lei nº 8.213/91 da Previdência Social e amparada pelo
13% (n = 4) 47% (n = 14) 40% (n = 12) Estatuto do Idoso [12]. Para Gallahue e Ozmun [16], a apo-
Dados da pesquisa, 2010. sentadoria representa um processo e não um evento único.
Ainda afirmam que é um fenômeno interessante que algumas
Discussão pessoas saboreiam, algumas toleram e outras se ressentem dele.
Mesmo garantido este direito, alguns ainda trabalham
Entende-se por idoso ou pessoa da terceira idade, indiví- pela remuneração e uma minoria aposenta-se. Em vez de
duos com mais de 60 anos de idade, instituído pelo estatuto desfrutarem esse período com tranquilidade, como prêmio
do idoso. O envelhecimento vem aumentando considera- pelos anos de contribuição com a sociedade, sentem-se como
velmente, o que se atribui a um aumento da expectativa de peso, o que pode desencadear um sentimento muito comum
vida, a diminuição da taxa de natalidade, a um melhor con- de inutilidade. Estes dentre outros problemas que levam o
trole de doenças infectocontagiosas (imunização) e crônico- idoso ao estreitamento afetivo e ao isolamento social. Os
-degenerativas [12]. relacionamentos são importantes ainda que a frequência dos
O envelhecimento populacional tem ganhado reconhe- contatos sociais diminua nesta fase, o que não compromete
cimento universal, e o Brasil ocupa hoje a sétima colocação o bem estar, pois um círculo interno de apoio emocional é
mundial em número de idosos; espera-se que, em 2025, ocupe mantido [17,18].
a sexta posição. Diante desse fato, importantes estudos têm O nível socioeconômico dos idosos brasileiros, apesar
sido desenvolvidos a fim de compreender melhor essa popu- das características socioeconômicas diferenciadas das regiões
lação e garantir uma melhor qualidade de vida, reduzindo os brasileiras é, em geral, precário. Segundo o IBGE [19], em
impactos deletérios do envelhecimento [13]. 2001 a proporção de idosos analfabetos era de 39% e que a
Para Maciel e Guerra [14], o processo de feminização da renda familiar per capita de 41,4% deles era menor que 1 sa-
velhice tem aumentado de forma significativa e observa-se a lário mínimo. Campino e Cyrillo [20], com dados do projeto
demanda feminina idosa na busca de uma melhor qualidade Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (SABE) verificaram que
de vida. em 2000-2001, a renda média mensal da população idosa do
Dentre as justificativas para a ocorrência deste fenômeno Município de São Paulo era pouco mais de 2 salários mínimos
denominado feminização, Pereira [1] aborda que a mulher e que grande parte dos idosos compartilha sua renda com
possui maior necessidade de socialização que o homem; as outros familiares, correspondendo a renda do idoso a 44%
atividades oferecidas nas instituições atraem maior interesse da renda mensal familiar total.
do público feminino e os homens são mais preconceituosos O envelhecimento traz consigo várias perdas, como o
que as mulheres. comprometimento da saúde, a morte de familiares, perda
Quanto aos dados referente à fotoproteção, Szklo et al. das relações sociais, do trabalho e do prestígio social [14]. Por
[11] em sua pesquisa observou que em todas as regiões do Bra- outro lado, segundo Papalia, Olds e Feldman [18], as amizades
sil há uma maior proporção de proteção com filtro solar entre têm um efeito mais positivo sobre o bem estar das pessoas
indivíduos de maior escolaridade quando comparados com os mais velhas, mas os relacionamentos familiares ou a ausência
de menor grau de escolaridade, enquanto que a proteção com deles podem ter os efeitos mais negativos, mesmo que estes
o chapéu apresentou uma proporção maior entre os indivíduos sejam dependentes de sua situação financeira.
de menor escolaridade. Em estudos de fotoproteção, o papel A luz solar tem efeitos profundos sobre a pele e está as-
da escolaridade no nível sócio-econômico faz com que esta sociada a uma variedade de doenças, sendo responsável pela
variável possa discriminar diferentes combinações de medidas maioria das reações cutâneas fotobiológicas e doenças [21].
de proteção que variam por região, enquanto o uso do filtro De acordo com Brasileiro Filho [22], os raios ultravio-
solar reflete, com mais intensidade, o custo envolvido com a letas da luz solar são provavelmente o agente cancerígeno
412 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

mais atuante na espécie humana. De fato, um dos principais Deve-se aplicar em todas as áreas corporais expostas assim
fatores responsáveis pelo câncer de pele. Para o autor, esta como orelhas e lábios. Os lábios que geralmente são esque-
doença predomina principalmente nas pessoas expostas à luz cidos, por ser uma pele de maior sensibilidade a radiação
solar por um período prolongado. A faixa ativa da radiação UV tem sido frequente local de câncer, para isto existem
ultravioleta está entre 250 e 300 nm, e afeta principalmente as modalidades de protetor labial em formas variadas e que
o DNA, ocasionando várias alterações, entre elas a formação não são de desagradável sabor [27].
de dímeros de timina. Algumas características extrínsecas, como a redução de
No Brasil, o número de casos de câncer de pele tem massa corpórea magra, cabelos grisalhos e finos, pele mais
aumentado, representando um considerável problema de pálida, manchada e enrugada, pêlos corporais escassos, as
saúde pública [23]. Portanto, diversos produtos têm sido veias varicosas nas pernas, entre outras, são típicas do enve-
desenvolvidos aditivados com filtros solares. lhecimento [18].
Os dados de proteção solar, segundo gênero, coincidem A maneira pela qual o indivíduo percebe seu corpo con-
com os resultados encontrados em outros estudos internacio- tribui para a autoestima ao longo da vida, e este fator se torna
nais realizados, tais como os de Akiba et al. [24], nos quais ainda mais importante durante o processo de envelhecimento.
se verificou que o uso de filtro solar foi mais comum entre As mudanças físicas decorrentes deste processo se tornam
mulheres, enquanto o uso de chapéus predominou entre uma barreira psicológica a ser superada, pois a valorização da
homens. A literatura é farta em trabalhos que revelam que as aparência corporal pela sociedade faz surgir essa insatisfação
mulheres, de uma maneira geral, cuidam de sua saúde numa física nos idosos [28].
frequência maior do que os homens. Um corpo que envelhece passa por um processo de
No caso dos cuidados com a pele, associam-se, provavel- adaptação e a não percepção das mudanças decorrentes pode
mente, questões de ordem estética. Esses fatores poderiam acarretar em transtornos físicos, sociais e emocionais [18].
explicar uma maior frequência de uso do filtro solar e uma
maior procura pela sombra nesse grupo. Já o uso do chapéu, Conclusão
mais frequente entre os homens, pode mostrar que esses
também acabaram, de alguma maneira, protegendo-se da O fotoenvelhecimento acompanhado do envelhecimen-
exposição solar com um método que, provavelmente, estaria to cronológico traz inúmeras consequências na aparência
mais ligado a questões culturais [11]. do idoso levando a necessidade de meios de fotoproteção
De acordo com Spirduso [25], as células da pele se essenciais na prevenção de doenças ocasionadas pela expo-
dispõem em camadas e dependendo da camada afetada, sição solar.
teremos os diferentes tipos de câncer. Os mais comuns são: Os resultados encontrados atingiram os objetivos da pes-
os carcinomas basocelulares, os carcinomas espinocelulares e quisa, tendo em vista que foi identificado que os idosos em sua
o melanoma, sendo este último o mais perigoso, pois tem a maioria não sabem se proteger contra o fotoenvelhecimento,
capacidade de metastatizar para qualquer órgão, incluindo o usam de forma incorreta o protetor solar, desconhecem os
cérebro e o coração. Para os autores, a profilaxia consiste em termos fotoenvelhecimento e fotoproteção, conhecem pouco
educar a população no sentido de evitar a exposição à radiação sobre as consequências do fotoenvelhecimento.
solar por período prolongado e em horários impróprios, das Desta forma, os idosos em questão apesar de não conhece-
10:00 às 16:00 horas, e também o uso de protetores solares rem a terminologia fotoenvelhecimento e fotoproteção, estão
adequados, ou seja, fator de proteção solar mínimo 15 (FPS preocupados com um envelhecimento saudável no que tange
15). as consequências da exposição solar e realizam proteção com
A pesquisa em biópsias realizada por Farias [26] destaca vestuário adequado e uso do protetor solar.
que o câncer de pele em primeiro lugar para ambos os sexos, Portanto, a exposição solar é um problema que traz
sendo a maior frequência na região Nordeste do que na consequências nefastas aos idosos e que seus fatores de risco
Sudeste que abrange São Paulo. Esses dados são alarmantes, ainda não são bem compreendidos pelos idosos, por isto a
pois a população em geral não se preocupa em se proteger. fotoproteção faz-se necessária na prevenção de sérios proble-
Quanto à aplicação do protetor solar como forma de mas de saúde como o câncer de pele.
fotoproteção, não se deve usar como única medida de A temática abordada torna-se relevante e base para o de-
proteção solar, mas em conjunto com outras medidas tais senvolvimento de novas pesquisas acerca da morbidade das
como, uso de roupa adequada e evitar a exposição solar doenças de pele em pessoas idosas.
propriamente. O protetor deve ser aplicado pelo menos Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas que contri-
20 minutos antes da exposição solar para que seus com- buam com a saúde pública, com intervenção para conscienti-
ponentes sejam absorvidos pela pele, quando na realização zar os idosos sobre as consequências do fotoenvelhecimento
de prática de atividades esportivas aquáticas ou outras que e a prevenção de câncer de pele, assim como, contribuição
aumentem a sudorese, deve-se aplicar intensamente e em acadêmica e científica justificando-se pelos poucos estudos
maior quantidade assim como reaplicar a cada 2 horas. publicados sobre essa temática.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 413

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414 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Efeito de um programa de treinamento de força


sobre os níveis sanguíneos de glicose em ratos
diabéticos induzidos
Effect of strength training program on blood glucose levels
of induced diabetic rats
Vinícius P. Coelho Vieira*, Giovane Galdino de Souza, D.Sc.**

*Graduando em Fisioterapia na Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira,


**Professor da Universidade Federal de Alfenas

Resumo Abstract
Introdução: De acordo com a Organização Mundial da Saúde Introduction: According to World Health Organization diabetes
o diabetes acometerá 333 milhões de pessoas no mundo e será a will affect 333 million people worldwide and will be the second
segunda maior causa de morte na América Latina nos próximos 20 leading cause of death in Latin America over the next 20 years.
anos. Diante disso, a literatura tem demonstrado a importância da Thus, the literature has demonstrated the importance of physical
atividade física no controle dessa doença, tanto no aspecto preven- activity in controlling this disease, both in preventive and curative
tivo quanto curativo. Entretanto, estudos avaliando o envolvimento care. However, studies investigating the involvement of strength
do exercício de força são escassos. Objetivos: Nesse sentido este exercise are limited. Objective: this study investigated the effect of
estudo objetivou investigar o efeito desse tipo de exercício sobre such exercise modality on plasma glucose levels in diabetic rats.
os níveis plasmáticos de glicose em ratos diabéticos. Material e Methods: Male Wistar rats, weighing between 180 and 250 g, were
métodos: Foram utilizados ratos Wistar, pesando entre 180 e 250 submitted to a resistance exercise training (3 sets of 10 repetitions)
g, submetidos a um treinamento de exercício de força (3 séries de in a model adapted to rats, 3 days per week for 12 weeks. Diabetes
10 repetições) em um modelo de agachamento adaptado para rato, was induced pharmacologically by streptozotocin (50 mg/kg) and
3 dias por semana, durante 12 semanas. O diabetes foi induzido glucose plasma levels were assessed using a glucometer. Results: The
farmacologicamente por estreptozotocina (50 mg/kg) e os níveis program of strength exercise used in this study did not change (p
glicêmicos foram avaliados através de um glicosímetro. Resultados: < 0.05) glucose levels of induced diabetic rats when compared to
O programa de exercício de força utilizado no presente estudo não sedentary group. Conclusion: A strength training program of 12
alterou (p < 0,05) os níveis glicêmicos de ratos diabéticos induzidos weeks, 3 days per week at an intensity equivalent to 75% was not
quando comparado aos animais diabéticos sedentários. Conclusão: effective in reducing the glucose plasma levels in rats.
Um programa de treinamento de força referente a 12 semanas, 3 Key-words: strength exercise, diabetes, rats.
dias por semanas com uma intensidade equivalente a 75% não foi
eficaz em reduzir os níveis plasmáticos e glicose em ratos.
Palavras-chave: exercício de força, diabetes, ratos.

Recebido em 23 de agosto de 2012; aceito em 15 de outubro de 2013.


Endereço para correspondência: Giovane Galdino de Souza, Rua Frei Leopoldo 93/201, Bairro Ouro Preto, Belo Horizonte MG, E-mail:
giovanegsouza@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 415

Introdução kg). Os níveis de glicemia no sangue foram medidos através


de um aparelho digital (Trackease®). As amostras sanguíneas
De acordo com a organização mundial da saúde o diabe- foram coletadas pela cauda dos ratos, previamente anestesia-
tes será a segunda maior causa de morte na América Latina dos, com uma solução contendo quetamina (80 mg/kg) e
nos próximos 20 anos, acometendo 333 milhões pessoas no xilazina (10 mg/kg), injetada intraperitonealmente (i.p.). A
mundo [1]. No Brasil, a ocorrência média de diabetes na definição operacional utilizada para o estado diabético foi a
população adulta (acima de 18 anos) é de 5,2%, o que repre- glicemia acima de 400 mg/dL, 10 dias após a injeção da STZ.
senta 6.399.187 de pessoas que confirmaram ser portadoras
da doença. A prevalência aumenta ainda com o avanço da Protocolo de exercício de força
idade, quando o diabetes atinge 18,6% da população com
idade superior a 65 anos [2]. O exercício de força foi realizado no aparato de exercício de
Nesse contexto, o tratamento para o diabetes baseia-se agachamento adaptado para ratos [8]. O aparato é constituído
principalmente em terapia medicamentosa com insulina de madeira e possui uma superfície de 50 x 60 cm, na qual
e hipoglicemiantes orais [3]. Além disso, mesmo com o se encontra fixado um eixo na posição vertical articulado a
avanço dos tratamentos farmacológicos, a incidência do dia- uma alavanca horizontal móvel de 35 cm de comprimento
betes continua aumentando [3]. Desse modo, a terapia não que tem em sua outra extremidade um colete de couro
medicamentosa tem sido uma estratégia útil para o controle através do qual o animal é contido em posição ortostática
dessa patologia. A literatura tem demonstrado que o exercício com os membros inferiores flexionados. Na parte superior
produz melhoras nessa doença, tanto no aspecto preventivo dessa alavanca encontra-se uma haste onde são colocados os
quanto curativo [4]. Recentes estudos têm encontrado um respectivos pesos (anilhas), os quais correspondem à carga do
efeito benéfico do exercício de força em indivíduos diabéticos, aparelho imposta ao animal. Após a realização do movimento,
visto que o treinamento durante 9 meses reduziu significan- a alavanca é apoiada a um amortecedor de segurança que
temente os níveis glicêmicos desses indivíduos. Geralmente previne impacto nas articulações do animal, hiperflexão dos
esses estudos utilizaram exercício com intensidade moderada membros inferiores e mantém as pernas relaxadas durante
(40-75% da carga máxima), de acordo com o recomendado o período de repouso. A altura da alavanca é regulada de
para pacientes diabéticos ou com alguma outra patologia [5]. acordo com o tamanho do animal e o limite do movimento
Na prática clínica, a fisioterapia tem obtido sucesso de flexão-extensão de membros inferiores. Para a realização
tanto em controlar quanto em reduzir os níveis plasmáticos do movimento (extensão dos membros inferiores com o
glicêmicos de pacientes com diabetes do tipo 1 ou 2, prin- levantamento da alavanca do aparelho) um estímulo elétrico
cipalmente utilizando programas baseados em exercício de com intensidade de 3,0 V, 0,3 s de duração e 2 s de intervalo
caráter aeróbico [6]. é aplicado à cauda do animal. Para a prática do exercício de
Entretanto, são escassos os estudos investigando o efeito força, os animais foram exercitados com 3 séries de 15 repe-
desse tipo de exercício tanto em humanos quanto em animais tições separadas por intervalos de 2 s entre as repetições e 2
diabéticos, o qual dificulta a padronização de um protocolo e min entre as séries, durante 3 meses.
a avaliação de mecanismos de ação envolvidos. Desse modo, Antes da realização do exercício de força, os animais foram
esse estudo objetivou investigar o efeito de um programa de submetidos ao teste de repetição máxima (RM), com obje-
treinamento de força sobre os níveis plasmáticos de glicose tivo de avaliar a carga máxima imposta ao animal, e a partir
em ratos diabéticos. dessa foi utilizada uma carga equivalente a 75% da RM para
dar início ao respectivo protocolo. Essa carga foi redefinida
Material e métodos quinzenalmente após a aplicação de um novo teste de 1 RM.
Para investigar o efeito do treinamento de força sobre
Animais os níveis glicêmicos de ratos diabéticos, os animais foram
divididos nos seguintes grupos (n = 4 por grupo): SD: grupo
Para a realização dos experimentos foram utilizados ratos composto por animais não diabéticos não exercitados (seden-
Wistar machos, pesando entre 180 e 230 g, provenientes do tarios); SD+DB: grupo composto por animais não exercitados
Centro de Bioterismo da UFMG. Todos os procedimentos diabéticos; EF: grupo composto por animais submetidos ao
realizados nesse estudo foram conduzidos de acordo com as treinamento de força; EF+DB: grupo composto por animais
diretrizes éticas para manejo e investigação de dor experimen- diabéticos submetidos ao treinamento de força.
tal em animais de laboratório [7].
Análise estatística
Indução do diabetes
Os resultados foram apresentados como a média ± EPM.
O diabetes tipo 1 foi induzido farmacologicamente por Para o tratamento estatístico dos dados, foi utilizada a análise
estreptozotocina administrada por via subcutânea (50 mg/ de variância (ANOVA), seguida pelo teste de Bonferroni para
416 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

comparações múltiplas, sendo considerados estatisticamente subida de escada [11]. De acordo com esse estudo, os resul-
significativos valores de p < 0,05. tados encontrados em nosso trabalho sugerem que o número
de dias semanais e o tempo total de treinamento pode não
Resultados ser o fator principal para a não redução da hiperglicemia nos
animais diabéticos, sendo que em nosso estudo os dias por
De acordo com o Gráfico 1 podemos observar que os ratos semana de treinamento foram menores (3 dias) e o período
que receberam STZ (SD+DB), apresentaram um significativo total foi maior (3 meses).
aumento (p < 0,05) nos níveis glicêmicos, quando compara- Uma explicação para a não redução da hiperglicemia após
dos aos animais sadios (SD). Além disso, esse mesmo gráfico o treinamento de força nesses estudos citados previamente,
demonstra que o treinamento de força não alterou (p > 0,05) seria que o modelo de diabetes experimental induzido pela
os níveis de glicose no sangue, tanto dos animais sadios (EF), streptozotocina produz mudanças em neuronios autonômicos,
quanto dos animais diabéticos (EF+DB). as quais foram observadas após 3 dias e até várias semanas após
a administração em ratos [12]. Essa droga destrói as células β
Gráfico1 - Efeito do treinamento de força sobe os níveis glicêmicos do pâncreas, resultando na síndrome diabética em animais,
de ratos diabéticos. hiperglicemia, hiperinsulinemia, glicosúria e perda de peso
[13]. Assim, os valores inalterados de glicemia nos animais
Níveis de glicose plasmática mg/dl

600 diabéticos após o treinamento de força pode ser devido a esse


500
modelo ser mais próximo do diabetes tipo I, no qual mudanças
* * não tem sido observadas após treinamento tanto em estudos
*
400 experimentais ou clínicos [13].
300
* Uma alternativa interessante seria a indução de diabetes
experimental por aloxana, uma droga cuja atividade diabeto-
200 gênica foi iniciada por volta dos anos 40, em estudos sobre os
100 efeitos do ácido úrico e seus derivados na produção de lesão
renal em coelhos [14]. Porém, estudos demonstraram que ape-
0 sar da maior especificidade da estreptozotocina sobre as células
Antes treinamento Após treinamento
do pâncreas, com sua ação vinculada à dose de administração
SD EF
SD+DB EF+DB e com menor toxicidade geral que a aloxana, a qual exibe
estreita margem de segurança entre as doses diabetogênicas
Cada barra representa a média + E.P.M. SD: animais sedentários,
e letais [15]. Além disso, um estudo comparando a aloxana
SD+DB: animais sedentários diabéticos, EF: animais submetidos ao
com a streptozotocina demonstrou que a aloxana produz,
treinamento de força, EF+DB: animais diabéticos submetidos ao trei-
no rato, alterações clínicas e laboratoriais características de
namento de força; *indica significância estatística (P < 0,05) dos níveis
diabetes grave, as quais possibilitam melhor estudos em longo
glicêmicos em relação aos grupos SD x SD+DB e EF x EF+DB. One
prazo do diabetes [16].
way ANOVA seguido do teste de comparações múltiplas de Bonferroni,
Em adição, ao contrário do exercício aeróbico, a prescrição
n = 4 por grupo.
do exercício de força exige a requisição de vários parâme-
tros como o número de repetições, o número de séries, a
Discussão intensidade de carga e o tempo do intervalo entre as séries.
As combinações dessas variáveis podem alterar os efeitos
O presente estudo demonstrou que o treinamento de força fisiológicos e crônicos do exercício de força, dificultando o
não foi eficaz em reduzir os níveis glicêmicos de ratos sadios uso de um protocolo adequado para esse tipo de exercício,
e diabéticos. Entretanto, estudos têm encontrado um efeito principalmente em estudos ou tratamento de indivíduos com
hipoglicemiante dessa modalidade de exercício em humanos doenças endócrinas e cardiovasculares [14,17].
diabéticos [9]. Além disso, essa modalidade de exercício me- Provavelmente um programa de exercício de força com
lhora a taxa de eliminação de glicose e aumenta a capacidade um maior volume de dias (> 5), ultrapassando 12 semanas
de estoque de glicogênio, além de aumentar tanto a expressão poderá ser uma estratégia a ser avaliada no controle dos níveis
de receptores GLUT 4 no músculo quanto a sensibilidade à glicêmicos de ratos diabéticos. Reforçando essa hipótese, Cas-
insulina e normalizar a tolerância à glicose [10]. Porém em taneda et al. encontraram uma redução nos níveis sanguíneos
nosso estudo, o protocolo utilizado não promoveu mudanças de glicose em idosos após um treinamento que durou 14
nos níveis glicêmicos dos animais diabéticos. Corroborando, semanas [18]. Já um outro estudo, demonstrou um efeito hi-
outro estudo também não encontrou alterações no níveis poglicemiante do treinamento de força após 8 semanas, porém
glicêmicos em ratos submetidos a um treinamento de força 5 esse estudo combinou o exercício de força com o exercício
dias por semana durante 2 meses [11]. Apesar de o resultado aeróbico [19]. Assim, uma vez definido e padronizado um
ser similar, esse estudo utilizou o modelo de exercício de força melhor protocolo de exercício de força que melhor controla
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 417

os níveis glicêmicos de indivíduos diabéticos, esse poderá ser 9. Boulé NG, Haddad E, Kenny GP, Wells GA, Sigal RJ. Effects of
rotineiramente utilizado pelos serviços de reabilitação, pois tal exercise on glycemic control and body mass in type 2 diabetes
modalidade de exercício também é importante por apresentar mellitus: a meta-analysis of controlled clinical trials. JAMA
outros benefícios como ganho de força, controle da pressão 2001;286:1218-27.
10. Williams PT, Thompson PD. Walking versus running for
arterial e controle da osteoporose [20].
hypertension, cholesterol, and diabetes mellitus risk reduction.
Arterioscler Thromb Vasc Biol 2013;33:1085-91.
Conclusão 11. Sanches IC, Conti FF, Sartori M, Irigoyen MC, De Angelis K.
Standardization of resistance exercise training: effects in diabetic
Em resumo, concluímos que um período de treinamento ovariectomized rats. Int J Sports Med 2013; [in press].
de 12 semanas, 3 dias por semanas e a uma intensidade equi- 12. De Angelis K, Schaan BD, Maeda CY, Dall’Ago P, Wichi RB,
valente a 75% não foi eficaz em reduzir os níveis plasmáticos e Irigoyen MC. Cardiovascular control in experimental diabetes.
glicose em ratos. Desse modo, futuros estudos são necessários, Braz J Med Biol Res 2002;35:1091-100.
com o aperfeiçomento desses parâmetros (carga, número de 13. Souza SBC, Flues K, Paulini J, Mostarda C, Rodrigues B, Souza
LE et al. Role of exercise training in cardiovascular autonomic
dias por semana e tempo total de treinamento) para verificar
dysfunction and mortality in diabetic ovariectomized rats.
a eficácia do modelo proposto.
Hypertension 2007;50:786-91.
14. Williams AD, Almond J, Ahuja KD, Beard DC, Robertson IK,
Referências Ball MJ. Cardiovascular and metabolic effects of community
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rats. Med Sci Sports Exerc 1992;24:881-6.
418 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Vínculo materno e objeto transicional no sono


de crianças com deficiência visual
Maternal bond and transitional object in sleep of children
with visual impairments
Priscila Pintenho de Melo, Ft.*, Jaiana Gomes Bolsan, Ft.*, Alessandra Gasparello Viviani, Ft. M.Sc.**,
Luis Vicente Franco de Oliveira, D.Sc.***, Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Ft., D.Sc.****,
Silvana Alves Pereira, D.Sc.*****, Cristiane Aparecida Moran, D.Sc.******

*Universidade Nove de Julho, **Universidade de Mogi das Cruzes e docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho,
***Universidade de Brasília, orientador do programa de pós-graduação mestrado em ciências da reabilitação – Universidade Nove de
Julho, ****Docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho, *****Docente do curso de fisioterapia Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, ******Docente do curso de fisioterapia Universidade Nove de Julho

Resumo Abstract
Introdução: Os problemas do sono resultam de uma interação Introduction: Sleep problems in children result from a complex
complexa entre fatores fisiológicos e relacionamento com os pais. interaction between physiological factors and relationship with
Os objetivos do estudo foram identificar o vínculo materno e o uso parents. The purpose of this study was to identify the maternal
de objetos transicionais no sono de crianças com deficiência visual. bond and the use of transitional objects in children with visual
Métodos: Estudo transversal realizado na Fundação Dorina Nowill. impairments with sleep disorders. Methods: Cross-sectional study
Os pais e responsáveis pela criança preencherem dois questionários performed at Fundation Dorina Nowill. The parents or the respon-
sobre o comportamento, hábitos e problemas no sono da criança. sible for the child fill out two questionnaires about behavior and
Para análise dos dados, os resultados foram descritos em frequência habits during the child sleep. The results were reported in relative
relativa e teste exato de Fisher. Resultados: Estudo com 14 crianças frequency and Fisher’s exact test. Results: The study included 14
com idade de 4 ± 1,64 anos. As crianças que precisam de um objeto children 4 ± 1.64 years old. Children who need a transitional object
transicional, também precisam dos pais durante o sono (p < 0,05) e also need parents during sleep (p < 0.05) and 64.3% of parents do
64,3% dos pais não realizam rotinas na hora de dormir. Conclusão: As not realize routines at bedtime. Conclusion: Most children with
crianças com deficiência visual apresentam um vínculo materno ou visual impairment have a maternal bond or a transitional object
usam um objeto transicional durante o sono e os pais não realizam during sleep and their parents do not establish bedtime routines
rotinas na hora de dormir. for the children.
Palavras-chave: transtorno do sono, apego ao objeto, relação Key-words: sleep disorders, object attachment, mother-child
mãe e filho, baixa visão, crianças com deficiência. relation, low vision, disabled children.

Recebido em 6 de novembro de 2012; aceito em 6 de novembro de 2013.


Endereço de correspondência: Evelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Av. Francisco Matarazzo, 612, Laboratório de Avaliação Funcional Respiratória,
1º andar, Barra Funda 05001-100 São Paulo SP, E-mail: evelimgomes@uninove.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 419

Introdução anos que apresentavam o diagnóstico de deficiência visual


(cegueira ou baixa visão/visão subnormal) e previamente
Os problemas do sono na criança resultam de uma inte- cadastradas na FDNC, cujos pais assinaram o termo de
ração complexa entre fatores fisiológicos e relacionamento consentimento livre e esclarecido (TCLE). Foram excluídas
com os pais. As perturbações do sono encontram-se entre as crianças com doenças neurológicas e/ou respiratórias asso-
alterações comportamentais mais frequentes em pediatria, ciadas e que utilizavam medicamentos que comprometessem
no entanto poucos estudos têm sido desenvolvidos com o a qualidade do sono.
intuito de conhecer os hábitos e problemas do sono em Foi realizada uma análise retrospectiva dos prontuários
crianças [1]. das crianças atendidas na FDNC entre junho e julho de 2009
A prevalência dos distúrbios do sono na infância é mais para seleção dos critérios de inclusão. Nesta fase, foram anali-
frequente de acordo com a faixa etária em que a criança se sados 17 prontuários, dos quais 14 foram selecionados, e três
encontra [2]. Observa-se também que muitas doenças são crianças foram excluídas devido à utilização de medicamentos
subdiagnósticadas e ignoradas pelos pais das crianças [3]. anticonvulsivantes.
Os distúrbios do sono podem ser classificados em dis- Posterior à análise de prontuário, foi realizado um convite
sonias, parassonias e alterações do sono por outros fatores. para os responsáveis das crianças previamente selecionadas
A dissonia é o termo utilizado para o distúrbio de início e para orientações quanto à sua participação na pesquisa e
manutenção do sono e a parassonia são os despertares con- agendamento de uma palestra sobre os distúrbios do sono. A
fusionais, terrores noturnos e os pesadelos [4]. palestra foi realizada nas mesmas datas de outras atividades
Na infância podemos considerar os hábitos de sono como das crianças na instituição FNDC.
as rotinas na hora de ir para a cama, a ritmicidade (frequência Ao término da palestra foram aplicados dois questionários:
das rotinas) e como a criança se comporta com o problema um com 26 questões objetivas de fácil compreensão sobre
de separação dos pais ou de um objeto transicional na hora o comportamento e hábitos do sono da criança, local de
de dormir [3]. dormir e uso de objeto transicional durante o sono; e outro
Historicamente a mãe é considerada a fonte de satisfação formado por 25 questões direcionadas para a classificação dos
das crianças, indicando o início do vínculo afetivo com a distúrbios do sono, como: duração e manutenção do sono e
figura humana [5,6]. traços de comportamento das crianças [10]. Os dois questio-
Em muitas culturas os lactentes utilizam para adormecer nários usaram como base o sono dos últimos sete dias, e duas
ou acordar uma peça de roupa, uma fralda, um cobertor, examinadoras capacitadas para aplicação dos questionários
um urso de pelúcia, uma mamadeira ou chupeta ou um aplicaram todos os questionários.
brinquedo como objeto transicional, destinado a fornecer- Os dados coletados foram arquivados no Statistical
-lhes segurança e conforto na ausência da mãe. O uso desses Package for Social Sciencies for Personal Computer (SPSS-
objetos não é universal, mas determinado pelo contexto -PC) versão 13 e agrupados de acordo com as variáveis
social dentro do qual a experiência de sono noturno da estudadas. A análise dos dados em relação à descrição da
criança inicia e termina [7]. amostra, gênero, hábitos e comportamentos no sono foram
Estudos têm demonstrado que os distúrbios do sono estão expressos em frequência relativa. O teste exato de Fisher
presentes em crianças com deficiência visual [8,9]. A sono- foi realizado para a análise de associação do sono com as
lência excessiva diurna e o distúrbio respiratório do sono são variáveis de vínculo materno ou com objeto transicional.
os distúrbios mais prevalentes nestas crianças [8]. Adotamos um nível de significância p ≤ 0,05 e conside-
Identificar se as crianças com deficiência visual necessitam ramos como hipótese nula que a criança com deficiência
do vínculo com a mãe ou com objetos transicionais no sono, visual não precisa de um objeto transicional e também não
possibilita que os profissionais da saúde atuem diretamente precisa dos pais durante o sono.
na prevenção e promoção da saúde, orientando os pais sobre
os hábitos e comportamentos do sono da criança. Resultados
Os objetivos do presente estudo foram identificar o vín-
culo materno no sono (necessidade da presença da mãe) de Do total de 14 (quatorze) crianças estudadas, 42,86%
crianças com deficiência visual e demonstrar o uso de objetos pertenciam ao gênero feminino, com idade entre 2 e 6 anos
transicionais no processo de adormecimento das crianças. (4 ± 1,64). Ao analisar os dados referentes aos hábitos e com-
portamento do sono, observamos que 64,29% dos pais de
Material e métodos crianças com deficiência visual não realizam rotinas na hora
de dormir, como leitura de livros infantis, para estimular o
Estudo transversal realizado com crianças da Fundação sono das crianças. Em relação ao co-leito observamos que
Dorina Nowill para Cegos (FDNC), instituição filantrópica 57,14% das crianças adormecem na própria cama, porém,
de crianças com deficiência visual conforme protocolo do se dirigem para a cama dos pais durante a noite e dependem
COEP 257/2009. Foram estudadas crianças, entre 2 e 6 do objeto transicional na cama.
420 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Figura 1 - Descrição dos hábitos e comportamentos de sono das Em uma pesquisa realizada no Sul do Brasil, notou-se que
crianças. o quarto dos pais era o ambiente utilizado para o sono de
10 97% das crianças nos primeiros três meses de vida e o co-leito
ocorria em 44,3% [13]. Em nosso estudo a prevalência de
Total de crianças

9 co-leito foi de 53,8% entre as crianças com deficiência visual.


Esse dado confirma a prática utilizada no Reino Unido e nos
8 EUA onde o co-leito é comum a 50% ou mais das famílias
[14]. Nos Estados Unidos, observou-se um aumento de 5,5%
7 para 12,8% nos últimos anos [15].
Estudos que avaliam o ciclo sono-vigília têm demons-
6 trado que lactentes sem deficiência visual, no primeiro ano
Pais que não realizam rotinas durante o de vida, ao acordar durante a noite, retomavam o sono sem
adormecimento de seus filhos
necessidade de intervenção materna, ao passo que outros,
Crianças que vão para a cama dos pais
durante a noite ao acordar, choram até serem removidas do berço por seus
Crianças que fazem o uso de objetos pais [16,17] não corroborando os resultados encontrados na
transicionais presente pesquisa.
A prática de co-leito entre pais e seus filhos é controversa.
Em relação ao vínculo materno, observamos que das Os aspectos favoráveis dessa prática são maior frequência
oito crianças que precisam de um objeto transicional, quatro de amamentação, maior interação física entre mãe e filho,
também dependem da presença dos pais durante o sono (p fortalecendo o vínculo entre eles e despertar mais frequente
< 0,05). de mães e crianças, com possível proteção de lactentes em
Ao contrastarmos a utilização de um objeto transicional risco de morte súbita [13].
e o comportamento no sono, observamos que as crianças Outro dado relevante da nossa pesquisa foi à dependência
que dormem na própria cama apresentaram o distúrbio do do objeto transicional para voltar a dormir em crianças com
despertar e hiperhidrose do sono (p < 0,05). deficiência visual. Estudos demonstram que o uso de objetos
transicionais varia de 4,9% nas comunidades rurais italianas
Discussão a 64% nos Estados Unidos. No Japão e Coréia, o sono com-
partilhado é rotineiramente indicado, os objetos transicionais,
O vínculo materno ou o uso de objetos transicionais de modo geral, não são usados. O mesmo acontece com as
durante o sono podem ser variáveis relevantes para a boa qua- crianças maias contemporâneas, que adormecem nos braços
lidade do sono [8]. De acordo com os resultados, observamos das mães ou durante a amamentação. Essas diferenças na
que grande parte das crianças com deficiência visual apresenta adoção de objetos transicionais verificadas entre as várias
um vínculo materno ou usam um objeto transicional durante culturas são atribuídas aos hábitos de sono e ao aleitamento
o sono e os pais não realizam rotinas, como a leitura de livros materno [18]. Todos esses estudos têm acompanhado crianças
na hora de dormir. Além disso, as crianças que dormem na sem deficiência visual, pois não encontramos pesquisas na
própria cama apresentam distúrbio do despertar e hiperhi- literatura que avaliassem crianças com a deficiência.
drose do sono. Segundo Geib e Nunes [19], 76% das crianças normal-
Corroborando os nossos dados, estudos que avaliam mente utilizam brinquedos na cama, considerados estes
o vínculo materno entre crianças americanas e chinesas como objetos transicionais para induzir o sono. Winnicott
demonstram que estas crianças demoram a adormecer por e Hiscock [20,21] afirmam que crianças que brincam
medo da escuridão e da solidão, além de apresentarem certa com objetos transicionais permitem a separação da mãe e
agitação e por isso só adormecem com a presença da mãe aprendem a conviver com a solidão ou com o sentimento
[11]. Mendes et al. [1] com o objetivo de avaliar os hábitos de estar só, buscando consolo no objeto, aspecto emocional
e perturbações do sono em crianças em idade escolar de- que pode justificar o uso do objeto transicional nas crianças
monstram que 17% das crianças na faixa etária entre 5 e 10 com deficiência visual.
anos de idade dormem na cama dos pais e 25% dormem Crianças pré-escolares na hora de dormir podem apre-
com um objeto de transição. sentar uma dificuldade comportamental no adormecimento
Em nosso estudo verificamos que apenas as crianças que e solicitar aos pais que contem mais uma vez histórias [4]. A
dormem sozinhas apresentam distúrbio do despertar e hi- história infantil é considerada dinâmica, pode ser compar-
perhidrose do sono. Esse dado não difere dos descritos por Liu tilhada, e constitui um veículo para o crescimento humano
et al. [12]. Embora tenham estudado crianças sem deficiência [22]. Em nosso estudo verificamos que a maioria dos pais das
visual, os autores afirmam que as crianças que partilham a crianças com deficiência visual não realiza rotinas, como a
cama com seus pais têm maior frequência de sonolência diurna leitura de livros na hora de dormir e demonstram dificuldades
que as crianças que dormem sozinhas. de estabelecer seus primeiros contatos.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 421

Esses dados corroboram os descitos por Burlingham et 6. Ferreira EA, Vargas IMA, Rocha SMM. Um estudo bibliográfico
al. [15]. Os autores, com o objetivo de acompanhar o de- sobre o apego mãe e filho: bases para a assistência de enfermagem
senvolvimento da personalidade da criança com deficiência pediátrica e neonatal. Rev Latinoam Enferm 1998;6(4):111-6.
visual demonstram que as crianças e suas mães encontram 7. McKenna J. Cultural influences on infant and childhood sleep
biology and the science that studies it: toward a more inclusive
dificuldades de estabelecer seus primeiros contatos [15]. Es-
paradigm. In: Loughlin GM, Carrol JL, Marcus CL, eds. Sleep
sas crianças com deficiência visual normalmente apresentam Breath. New York: Marcel Dekker Inc; 2000. p.99-130.
sonolência excessiva diurna e distúrbio respiratório do sono 8. Melo PP, Medeiros LCP, Viviani AG, Oliveira LVF, Moran CA.
quando avaliadas mais detalhadamente [8]. Distúrbios do sono e tempo total de sono em crianças com
Segundo Madeira [4], as crianças se tornam dependentes deficiência visual. Rev Bras Ciênc Saúde 2011;9(4):30.
no sono devido à ausência de rotinas como horário de dor- 9. Cunha ACB, Enumo SRF. Desenvolvimento da criança com de-
mir, atividades propostas previamente ao sono e associações ficiência visual e interação mãe-criança: algumas considerações.
inadequadas como acalentar a criança ou utilizar chupeta Psicologia Saúde & Doenças 2003;4(1):33-46.
ou mamadeira como formas de adormecimento na hora de 10. Ferreira VR, Carvalho LBC, Ruotolo F, Morais J, Prado GF. Sle-
ep disturbance scale for children: translation, cultural adaptation
dormir [4].
and validation? Sleep Medicine 2009;10:457-63.
Neste aspecto, os resultados demonstram que as crianças
11. Liu X, Liu L, Owens J, Kaplan DL. Sleep patterns and sleep
com deficiência visual que necessitam de um excesso de esti- problems among school children in the United States and China.
mulação para contrabalançar a ausência de estímulos visuais Pediatrics 2005;115(1):241-9.
recebem menos do que a criança sem deficiência, podendo 12. Liu X, Liu L, Wang R. Bed sharing. Sleep habits, and sle-
causar efeitos significativos no desenvolvimento de suas ep problems among Chinese school-aged children. Sleep
funções [15], por isso acreditamos que estudos longitudinais 2003;26(7):839-44.
devem ser estimulados nessa população. 13. Issler RMS, Giugliani ERJ, Marostica PJC, Nieto F, Milani
AR, Wolmeister AS, et al. Coleito no primeiro semestre de
Conclusão vida: prevalência e fatores associados. Cad Saúde Pública
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14. Santos IS, Mota DM, Matijasevich A. Epidemiologia do co-leito
As crianças com deficiência visual não recebem estímulos, e do despertar noturno aos 12 meses de idade em uma coorte
como a leitura de histórias, para facilitar seu adormecimento. de nascimentos. J Pediatr (RJ) 2008;84(2):114-22.
Essas crianças buscam o co-leito ou um objeto transicional 15. Burlingham D. Some notes on development of the blind.
no período do sono e quando dormem na própria cama Psychoanal Chil 1961;1(16):121-45.
apresentam distúrbio do despertar e hiperhidrose do sono. 16. Blair PS. Putting co-sleeping into perspective. J Pediatr (RJ)
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5. Brum EHM, Schermann L. Vínculos iniciais e desenvolvimento MSA. Contar histórias para crianças hospitalizadas: relato de
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Ciênc Saúde Coletiva 2004;9(2):457-67.
422 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Laserterapia associada à drenagem linfática em úlceras


de pele: relato de múltiplos casos
Laser therapy and manual lymphatic drainage in the treatment
of skin ulcers: a multiple cases study
Dayane Nunes Rodrigues*, Regiane Medeiros Cordeiro*, Eloá França*, Ariane Costa Moura*,
Maria Cristina Balejo Piedade, D.Sc.**

*Graduandas do curso de Fisioterapia da Universidade São Judas Tadeu, **Professora da Universidade São Judas Tadeu

Resumo Abstract
Avaliou-se qualitativa e quantitativamente (área em cm² e índice This study evaluated qualitatively and quantitatively (area in cm²
de cicatrização da úlcera - ICU) o uso da terapia a laser de baixa and ulcer healing rate – UHR) the use of low power laser (LPL) and
potência (LBP) associada à drenagem linfática manual (DLM) no manual lymphatic drainage (MLD) in the healing of skin ulcers.
reparo de úlceras de pele. Utilizaram-se dois protocolos de laser, Two laser protocols were used: the PI (0.0035W) was applied in
o PI (0,0035W) aplicado em três pacientes e o PII (0,04W) em three patients and PII (0.04W) in one patient. After asepsis and a
um paciente. Após assepsia da pele e DLM, foi aplicado laser sem MLD, patients received sequential treatment of the target area using
contato, sequencial sobre a úlcera com área do feixe = 0,1cm², 3 x/ a noncontact mode of application with a single probe (beam spot size
semana, durante 16 semanas. O número de pontos foi calculado = 0,1 cm²), 3 x/week, during 16 weeks. The number of points was
individualmente sendo, área/0,5 cm² para o PI e área/0,1 cm² para calculated differently for PI (area/0,5cm²) and PII (area/0,1 cm²).
o PII. Seguem os parâmetros distintos para o PI e PII, respectiva- The following parameters were different for PI and PII, respectively:
mente: energia radiante 0,28J e 0,48 J; irradiância 0,035 W/cm² radiant energy 0.28 J and 0.48 J, irradiance 0.035 W/cm² and 0.4
e 0,4W/cm²; fluência 0,28 J/cm² e 4 J/cm²; tempo de tratamento W/cm², fluence 0.28 J/cm² and 4 J/cm², treatment time per point
por ponto 80 s. e 12 s.; modo pulsado de emissão 2500Hz (ciclo 80 sec and 12 sec, pulsing mode of emission 2500 Hz (duty cycle
útil = 0,0175%) e 9500Hz (ciclo útil = 0,0571%). Observou-se = 0.0175% and 9500 Hz (duty cycle = 0.0571%). It was observed
fechamento das úlceras em todos os pacientes, porém a reepitelização a progressive wound healing in all patients, but the reepithelization
foi quase total (ICU = 0,8) naquele tratado com o PII, enquanto was almost complete (UHR = 0.8) at the patient treated with PII,
que a média do ICU dos pacientes tratados com o PI foi de 0,3. O while the UHR mean of the patients treated with PI was 0.3. The
uso do LBP associado à DLM estimulou o reparo tecidual e o PII use of LPL associated to MLD promotes wound healing and the
mostrou-se mais efetivo. PII showed to be the most effective.
Palavras-chave: fototerapia, terapias manuais, diabetes mellitus, Key-words: phototherapy, manual therapies, diabetes mellitus,
cicatrização. wound healing.

Recebido em 4 de dezembro de 2012; aceito em 4 de julho de 2013.


Endereço para correspondência: Maria Cristina Balejo Piedade, Rua Barata Ribeiro 380, cj. 64, 01308-000 São Paulo SP, E-mail: crispiedade@usp.
br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 423

Introdução Material e métodos

O aporte sanguíneo fornecido à pele é suficiente para Apresentação dos casos


suprir sua demanda de oxigênio, mas se a irrigação for com-
prometida, o tecido pode sofrer hipóxia e desenvolver úlceras, Após aprovação do projeto (081/11) pelo Comitê de Ética
que em algumas situações são persistentes comprometendo a em Pesquisa, Universidade São Judas Tadeu (USJT), quatro
qualidade de vida [1]. pacientes foram tratados na Clínica de Fisioterapia da USJT
São diversos os tratamentos de úlceras de pele, desde medi- 3x/semana por 4 meses.
camentoso até câmaras hiperbáricas [2]. A drenagem linfática A úlcera era lavada com soro fisiológico 0,9% para retirada
manual (DLM), reduzindo o edema, e a hipóxia tecidual e de tecido necrótico e era feita DLM, abertura dos linfonodos
o laser de baixa potência (LBP), estimulando a resolução da seguida por 5 repetições de cada manobra de captação indi-
inflamação e o reparo tecidual, podem auxiliar o fechamento cada a cada região tratada [4], seguida por aplicação de LBP.
dessas úlceras [3]. Ao término era feito curativo com gaze.
Assim, pretende-se demonstrar o uso associado do LBP à Com equipamentos Laserpulse L42 ASGA 904 nm IBRA-
DLM como ferramentas terapêuticas para o reparo de úlceras MED – Brasil aplicou-se 2 protocolos de laser, o PI (0,0035
crônicas de pele tratadas convencionalmente sem melhora por W) em três pacientes e o PII (0,04 W) em um. Fez-se aplicação
um período mínimo de seis meses. sem contato, sequencial sobre a úlcera com área do feixe = 0,1
cm². O número de pontos foi calculado individualmente, sendo

Imagem 1 - Fotos do primeiro dia dos 4 meses de estudo, cada mês está representado de A - D do início ao final do tratamento. De 1 a 3:
pacientes tratados com o PI e, em 4: paciente tratado com o PII. 1 – 4 A, observa-se edema, coloração escura ou amarelada sem sinais de
granulação, com certa profundidade das úlceras. 1 – 4 B, ainda se nota edema e profundida, porém há uma redução da área e uma cor rósea
mais saudável, principalmente em 3 e 4B. O edema reduziu nos últimos dois meses de tratamento (1 – 4 C e D) e é possível observar a redução
na área das feridas em todos os casos, sendo mais evidente no paciente ilustrado em 4D.
424 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

área/0,5 cm² para o PI e área/0,1cm² para o PII. Seguem os Tabela I - Porcentagem de redução da ferida de um mês para outro
parâmetros distintos para o PI e PII, respectivamente: energia (%).
radiante 0,28J e 0,48J; irradiância 0,035 W/cm² e 0,4 W/cm²; Casos-proto-
1-2 meses 2-3 meses 3-4 meses
fluência 0,28 J/cm² e 4 J/cm²; tempo de tratamento por ponto colos
80 seg. e 12 seg.; modo pulsado de emissão 2500 Hz (ciclo útil 1-PI 12 14 20
= 0,0175%) e 9500Hz (ciclo útil = 0,0571%). 2-PI 4 7 17
As úlceras foram fotografadas (câmera digital Casio Exilim 3-PI 9 19 26
8.1 MP) a cada sessão, para se qualificar e quantificar a cica- 4-PII 67 62 50
trização, bem como para se calcular o número de pontos apli-
cados a partir da determinação da área das mesmas utilizando Considerando a média do ICU dos pacientes tratados
o programa Image J (National Institute of Health, USA) [5,6]. com o PI nota-se uma melhora desse índice, mas ainda assim
As variáveis quantitativas analisadas foram: média da área ele ficou abaixo de 0,5, sendo o correspondente a um fecha-
da úlcera e índice de cicatrização das mesmas [ICU = (Área mento completo da úlcera igual a 1,0. A evolução foi mais
inicial – Área final) / Área inicial], sendo as áreas inicial e importante no paciente tratado com o PII, com um ICU ao
final, a primeira e a última mensurações feitas a cada mês, final do tratamento de 0,8 (tabela II).
respectivamente. A saber: ICU = 1 reepitelização total; ICU
= 0 sem sinais de reepitelização; ICU > 0 redução da área da Discussão
úlcera e ICU < 0 aumento da área da úlcera [6].
Os três pacientes primeiramente descritos receberam As úlceras de pele são caracterizadas por uma perda de te-
aplicações de laser com o PI e o último com o PII: 1) Sexo cido mole, cujo tratamento pode se estender por meses e além
masculino, 57 anos de idade, Diabetes Mellitus tipo II, úl- de causar desconforto e comprometer a função motora, elas
cera diabética na planta do pé. 2) Sexo masculino, 20 anos podem debilitar o paciente e torná-lo mais suscetível a infec-
de idade, distrofia muscular de Duchenne, úlcera de pressão ções, prolongando a doença de base e a cura das mesmas [7].
no nariz devido ao uso de máscara para auxílio respiratório. A evolução qualitativa da cicatrização das úlceras foi
3) Sexo masculino, 20 anos de idade, paraparético, úlcera de observada em todos os pacientes, principalmente quanto aos
pressão sacral. 4) Sexo masculino, 47 anos de idade, Diabetes sinais inflamatórios, mas seu fechamento foi mais evidente no
Mellitus tipo I, úlcera diabética no hálux. paciente tratado com o PII, o qual era portador de Diabetes
Na Imagem 1 observa-se em todos os pacientes uma tipo I e apresentava a lesão mais antiga. O software Image J
melhora no aspecto da úlcera bem como na área e na pro- revelou a redução da área das feridas e o ICU normalizando
fundidade, sendo essa melhora mais evidente no paciente as diferentes dimensões das úlceras [6] mostrou uma ação
submetido ao PII. mais eficaz do PII em relação ao PI.
A área das úlceras diminuiu em todos os casos durante os 4 Em média houve uma redução da área da úlcera de um
meses de tratamento, mas de forma mais acentuada no caso 4 mês para o outro de 60% para o caso 4 (PII), enquanto que
(PII). Caso 1: 0,636 cm²; 0,561 cm²; 0,48 cm² e 0,383 cm². essa redução foi em média de 15%, 9% e de 18% para os casos
Caso 2: 0,715 cm²; 0,689 cm²; 0,639 cm² e 0,532 cm². Caso 1, 2 e 3, respectivamente. Para o paciente 4 a porcentagem de
3: 7,745 cm²; 7,043 cm²; 6,311 cm² e 5,747 cm². Caso 4: redução da úlcera caiu ao longo do tempo sugerindo uma ação
0,348 cm²; 0,115 cm²; 0,044 cm² e 0,022 cm² (Gráfico 1). mais eficaz do laser no início do tratamento, enquanto que
A porcentagem de redução das úlceras de um mês para outro para os pacientes tratados com o PI a porcentagem de redução
foi também maior no paciente tratado com o PII (Tabela I). aumentou, talvez por uma somatória de efeitos mínimos da
DLM e do LBP favorecendo lentamente o reparo fisiológico.
Gráfico 1 - Área das úlceras aos 30, 60, 90 e 120 dias após o início Ao final do tratamento, com um ICU = 0,8 o paciente
do tratamento (média, cm²). 4 (PII) apresentou uma reepitelização quase total, enquanto
8 que a média do ICU dos pacientes tratados com o PI foi de
7 0,3, demonstrando uma redução da área da úlcera menos
Área da úlcera (cm2)

6
expressiva. Apesar do número limitado de pacientes e das
diferenças individuais de cada um deles, os achados deste
5
estudo chamam atenção para a importância dos parâmetros de
4 tratamento para o sucesso da terapia, uma vez que se usaram
3 protocolos de laser distintos [8].
2 Trinta por cento dos estudos omitem informações rele-
1 vantes para se determinar a dose ou relatam doses imprecisas
sugerindo a existência de erros relacionados à dosimetria
0
30d 60d 90d 120d entre os usuários de laser. Considerando que essa interfere
Caso 1 (PI) Caso 3 (PI) na inflamação e no reparo e pode ser influenciada por vários
Caso 2 (PI) Caso 4 (PII)
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 425

Tabela II - ICU(s) individuais e a média do ICU dos pacientes tratados com o PI.
30 dias 60 dias 90 dias 120 dias
Caso Localização Protocolo Tratamento
ICU ICU ICU ICU
1 Planta do pé I 0,46 0,28 0,15 0,40
2 Nariz I 0,01 0,06 0,54 0,24
3 Sacro I 0,07 0,11 0,15 0,13
Média ICU PI 0,2 0,2 0,3 0,3
4 Hálux II 0,6 0,8 0,6 0,8

fatores [9], é importante salientar que a potência do apare- Referências


lho usado no PII era maior que a usada no PI, resultando
em parâmetros, tais como, número de pontos/área; energia 1. Saha S, Totten A, Hickam DH, Fu R, Wasson N, Rahman
radiante; irradiância e fluência diferentes, o que pode ter sido B, Motu’apuaka M, et al. Pressure ulcer treatment strategies:
responsável pela diferença entre a evolução na cicatrização das comparative effectiveness. AHRQ 2013;90:1-8.
úlceras tratadas com os protocolos distintos. 2. Smith MEB, Totten A, Hickam DH, Fu R, Wasson N, Rahman
B, Motu’apuaka M, Saha S. Pressure ulcer treatment strategies.
Apesar de controvérsias sobre os parâmetros adequados aos
Ann Int Med 2013;159(1):39-50.
diferentes tecidos e fases da lesão, estudos experimentais [10] 3. Carvalho KC, Nicolau RA, Maia ALM, Barja PR, Sá HP, San-
e clínicos [11] relatam a ação do laser atenuando o processo tos LAE, Rocha GM. Estudo da resistência cicatricial cutânea
inflamatório e acelerando o reparo tecidual. de ratos tratados com fototerapia a laser. Conscientiae Saúde
Assim, além de ser fundamental a exposição completa das 2010;9(2):179-86.
informações técnicas referentes ao equipamento de laser nos 4. Leduc A, Leduc O. Drenagem linfática – teoria e prática. 3a ed.
estudos publicados, faz-se necessário desenvolver protocolos São Paulo: Manole; 2008.
para estudos clínicos randomizados fundamentados na litera- 5. Minatel DG, Frade MAC, Franc SC, Enwemeka CS. Photothe-
tura para os diferentes tecidos, fases da lesão e características rapy promotes healing of chronic diabetic leg ulcers that failed
individuais dos pacientes. to respond to other therapies. Laser Surg Med 2009;41:433-41.
6. Minatel DG, Enwemeka CS, Franca SC, Frade MAC. Photothe-
rapy (LEDs 660/890nm) in the treatment of leg ulcers in diabe-
Conclusão tic patients: case study. An Bras Dermatol 2009;84(3):279-83.
7. Rolim JA, Vasconcelos JMB, Caliri MHL, Santos IBC. Pre-
Os resultados deste estudo apontam a importância de venção e tratamento de úlceras por pressão no cotidiano de
se detalhar as informações técnicas do aparelho de laser e enfermeiros intensivistas. Rev Rene 2013;14(1):148-57.
sugerem que o sucesso da laserterapia é dependente dos 8. Sant’Anna ALGG, Giaretta VMA, Posso MBS. Protocolo para
parâmetros de aplicação, uma vez que a associação do PII de avaliação e tratamento em feridas utilizando o laser de baixa in-
laser à DLM mostrou maior eficácia na cicatrização quando tensidade: uma proposta. Revista Univap 2011;17(29):133-44.
comparado ao PI. 9. Enwemeka CS. Intricacies of dose in laser phototherapy for tissue
repair and pain relief. Photomed Laser Surg 2009;27(3):387-93.
10. Fiório FB, Albertini R, Leal-Junior EC, de Carvalho PD. Effect
Agradecimentos of low-level laser therapy on types I and III collagen and in-
flammatory cells in rats with induced third-degree burns. Lasers
Agradecemos ao departamento técnico da empresa Med Sci 2013 May 16. [prelo].
IBRAMED, em especial ao engenheiro eletricista Maicon 11. Chandrasekaran B, Chettri R, Agrawal1 N, Sathyamoorthy C.
Stringhetta por nos ter fornecido as informações técnicas Short-term multimodal phototherapy approach in a diabetic
necessárias dos equipamentos Laserpulse para a descrição ulcer patient. Singapore Med J 2012;53(6):122-4.
exata dos protocolos utilizados neste estudo.
426 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Qualidade de vida e estilo de vida de usuários do serviço


público de fisioterapia em Santa Maria/RS
Quality of life and lifestyle of users of physical therapy public health
services in Santa Maria/RS
Guilherme Bordin, Ft.*, Zadro Jornada Monteiro, Ft.**, Andriele Gasparetto, Ft., M.Sc.***

*Formado pelo Curso de Fisioterapia da UNIFRA, **Educador Físico e Fisioterapeuta pela UNIFRA,
***Docente do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC) e membro do Grupo Promoção da Saúde
e Tecnologias Aplicadas à Fisioterapia (UNIFRA)

Resumo Abstract
A evolução da fisioterapia é evidente ao passo que nasceu de um The development of physical therapy is acknowledged; however
certame unicamente reabilitador para um complexo olhar integral, it emerged as a profession within rehabilitation model and now it
visando a promoção da saúde e qualidade de vida (QV) dos usuários. is a complex model, aiming at promoting health and quality of life
Baseado nisso, esta pesquisa buscou analisar a qualidade de vida e (QOL) of users. Based on this, this study sought to examine the
estilo de vida (EV) de usuários do serviço público de fisioterapia quality of life and lifestyle of users of public physical therapy in
na cidade de Santa Maria/RS. O estudo teve caráter quantitativo Santa Maria. The study design was cross-sectional and quantitative
e delineamento transversal e ocorreu nos meses de abril a maio de and occurred during April-May 2010 with 30 individuals. They
2010 com 30 indivíduos. Esses responderam um instrumento de answered a questionnaire for general data of the WHO Quality
dados gerais da OMS de qualidade de vida (Whoqol-brev) e estilo of Life (Whoqol-brev) and lifestyle (Lifestyle Questionnaire). The
de vida (Lifestyle Questionnaire). Os principais resultados destaca- main findings highlighted a female profile (73.3%), sedentary (60%)
ram um perfil feminino (73,3%), sedentários (60%) e acometidos, and mainly affected by rheumatic diseases (54.2%). The scores of
principalmente por doenças reumáticas (54,2%). Os escores dos the instruments were similar in an average of 42 points out of 60-
instrumentos se mostraram semelhantes em uma média de 42 64. Overall QOL and EV are at moderate levels and had proven cor-
pontos de 60-64 possíveis. De forma geral a QV e o EV estão em relation. This kind of research is important for populations analysis
níveis moderados e apresentaram comprovada correlação. Pesquisas in order to formulate prevention strategies and health education for
deste modelo são importantes para análises de populações a fim de patients, making them active agents to their own care. However, it
se formular estratégias preventivas e de educação em saúde para os is necessary to conduct further research into this category.
usuários, tornando-os agentes ativos aos próprios cuidados. Porém, Key-words: quality of life, lifestyle, Physical therapy.
faz-se necessária a realização de novas pesquisas desta categoria para
aprofundamento do tema.
Palavras-chave: qualidade de vida, estilo de vida, Fisioterapia.

Recebido em 11 de dezembro de 2012; aceito em 16 de julho de 2013.


Endereço para correspondência: Andriele Gasparetto, Rua dos Andradas, 1614, 97010-032 Santa Maria RS, E-mail: andrieleg@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 427

Introdução os serviços de fisioterapia nas Clínicas Fisioterapêuticas


cadastradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade
Existe, na literatura científica e na prática profissional da de Santa Maria/RS. São, no total, três clínicas conveniadas
área da saúde, uma profunda proximidade entre os conceitos na cidade, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.
de saúde, qualidade de vida (QV) e estilo de vida (EV), for- Foram incluídos na amostra usuários adultos de 40 a 60 anos
mando um certame complexo [1] de relevância promissora [9]. Os critérios de exclusão foram: portadores de patologias
na prática dos profissionais de saúde e mais especificamente ou condições que impedissem os usuários de responderem
dos fisioterapeutas. aos instrumentos de coleta de dados de forma independente
Hoje se entende que a saúde não representa apenas a e lúcida, recusa dos pacientes em responder os questionários
ausência de doenças ou o completo bem estar físico, mental e instrumentos não respondidos em sua totalidade.
e social [2], pois envolve noções amplas que vão muito além Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados
do setor saúde, uma vez que “para se ter saúde é preciso ter validados e 1(um) instrumento de avaliação geral modifi-
acesso a um conjunto de fatores, como alimentação, moradia, cado da Organização Mundial de Saúde (OMS) que en-
emprego, lazer, educação, etc.” [3]. Já a QV pode ser con- foca variáveis como idade, sexo, escolaridade, estado civil,
ceituada como a percepção do indivíduo de sua posição na problema de saúde atual, intensidade e localização da dor
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele [10]. Dentro desse último instrumento incluiu-se a Escala
vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e Visual Analógica proposta por Agne [11]. Na avaliação da
preocupações. Por fim, o EV é caracterizado como um padrão qualidade de vida foi utilizado o questionário Whoqol Brev
de comportamento que pode ter profundo efeito na saúde dos [12] e para a realização da análise do estilo de vida foi utili-
seres humanos e está relacionado aos aspectos que refletem zado o Lifestyle Questionnaire, que auxilia os profissionais
atitudes, valores e oportunidades na vida das pessoas [4]. de saúde que trabalham com prevenção a conhecer e medir
Neste contexto, as profissões da área da saúde, incluindo- o estilo de vida dos seus pacientes [13] e possui variáveis
-se a Fisioterapia, estão se distanciando do modelo biomédico como: Família e amigos; Atividade Física; Nutrição; Cigarro
tradicional de cura e tratamento, onde a atenção era dada e Drogas; Álcool e Sono.
simplesmente à patologia sem investigação de outros fatores. A coleta dos dados ocorreu nos meses de abril e maio do
Nesta nova visão se admite o modelo biopsicossocial, onde ano de 2010, na frequência de 3 vezes por semana após o
os problemas dos indivíduos podem envolver o corpo, a alma convite, leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre
e o ambiente social [5]. Esta visão integral é compartilhada e Esclarecido. O convite e posterior coleta de dados ocorriam
por outros autores como Myers [6], que afirma: “Minha lista na sala de espera das clínicas e o próprio pesquisado respondia,
pessoal de experiências reveladoras incluem: o corpo cura a de forma livre e individual, cada pergunta.
si mesmo”. O mesmo autor ainda revela que o terapeuta tem Para os instrumentos Whoqol e Lifestyle Questionnaire,
como principal função remover os obstáculos para que a cura os dados foram analisados por tabela de frequência. Os ques-
ocorra. Nieman [7] também revela que um corpo dotado de tionários de Qualidade de Vida e Estilo de Vida somam 51
saúde flui de uma forma melhor, já que o desenvolvimento questões, das quais, 28 foram selecionadas para serem analisa-
pessoal, profissional e relacionamentos afetivos acontecem de das. Calculou-se, também, a associação entre o estilo de vida,
uma maneira natural. Acredita-se que o monitoramento da qualidade de vida e Escala de Dor por meio do coeficiente
saúde pelo EV e QV, através de avaliações e de educação ao de correlação de Pearson. Foram calculadas as médias e os
usuário, quando necessário, em conjunto com o planejamento desvios padrão das três variáveis. Para verificar a normalida-
fisioterápico, pode ser um importante parceiro na aceleração de dos dados foi aplicado o teste de Kolmogoroff-Smirnoff.
dos processos reabilitadores. Como o teste mostrou que os dados poderiam ser estudados
A Fisioterapia é uma profissão da Área da Saúde e deve como pertencentes à distribuição normal, foi aplicado o co-
possuir, além do conhecimento de seu Núcleo Profissional, eficiente de correlação de Pearson para estudar a associação
conhecimento de Campo Profissional, que são saberes e res- entre variáveis. O presente estudo foi submetido e aprovado
ponsabilidades comuns a várias profissões [8] onde se inclui pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
informações ao paciente quanto adequações necessárias ao EV Franciscano (UNIFRA), sob parecer nº 027.2010.2 e só teve
e QV. O presente estudo teve como objetivo geral analisar seu início após esta aprovação.
a qualidade de vida e estilo de vida de usuários do serviço
público de fisioterapia na cidade de Santa Maria, Rio Grande Resultados
do Sul (RS).
Participaram deste estudo 30 usuários de fisioterapia pelo
Material e métodos SUS, na cidade de Santa Maria, sendo que 22 desses (73,3%)
eram do sexo feminino (Tabela I). Dos usuários questionados,
O estudo teve caráter quantitativo e delineamento trans- 3 (10%) possuíam de 40 a 44 anos, 9 (30%) de 45 a 49 anos,
versal. Foram sujeitos da pesquisa 30 pacientes que utilizam 7 (23,3 %) de 50 a 54 e 11 (36,7%) de 55 a 60 anos.
428 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Ainda na Tabela I percebe-se que a maior parte dos boa, 1 (3,3%) ruim e nenhum usuário a classificou como
usuários possui ensino médio completo ou incompleto (14- muito ruim.
46,7%), são casados (21-70,0%), consideram sua saúde como As Tabelas II e III demonstraram alguns domínios da Qua-
boa (14-46,7%) mesmo apresentando alguns problemas lidade de Vida dos 30 usuários dos serviços de Fisioterapia,
de saúde associados como Reumatológicos em 26 (54,2%) retiradas do Instrumento Whoqol Brev.
usuários, Hipertensão Arterial Sistêmica em 6 (12,5%), De- Observou-se que a dor física impede de forma acentuada
pressão em 5 (10,4%), Acidente Vascular Encefálico em 3 as atividades diárias em 7(23,3%) participantes e de forma
(6,2%), Diabetes em 2 (4,2%) e outras patologias somaram média para 8(26,7%). O percentual de 43,3% (13 indivíduos)
6 (12,5%). Salienta-se que nessa questão os participantes considera que aproveita bastante a vida, 21 (70,0%) descrevem
poderiam marcar mais de uma alternativa. seu ambiente físico como médio e bastante saudável, a metade
(15-50,0%) considera ter muita energia para o dia-a-dia,
Tabela I - Perfil geral da amostra. 13 (43,3%) possuem quantidade de lazer em nível médio,
n % enquanto que somente 1 usuário (3,3%) apresentou o nível
Sexo máximo do mesmo (Tabela II).
Feminino 22 73,3 Na Tabela III ficou perceptível a insatisfação com a qua-
Masculino 8 26,7 lidade de sono, já que 10 indivíduos (33,3%) a classificaram
Nível educacional assim, contudo a maioria se encontra satisfeito ou muito
Ensino fundamental completo e incompleto 11 36,7% satisfeito com seu desempenho nas atividades diárias (16
Ensino médio completo e incompleto 14 46,7% - 53,3%) e com o trabalho (18 - 60,0%). Os pesquisados
Ensino superior completo e incompleto 5 16,6% também se consideram satisfeitos e muito satisfeitos com o
Estado civil acesso aos serviços de saúde (22 - 73,3%) em contraste com
Solteiro (a) 4 13,3% apenas 3,3% (1) de muito insatisfeitos.
Casado (a) 21 70,0% Quando questionados sobre a frequência de sentimentos
Separado (a) 2 6,6% negativos, tais como mau humor, desespero e ansiedade, 2
Divorciado (a) 3 10,0% (6,6%) sempre sentem, 3 (10,0%) muito frequentemente
Saúde autopercebida sentem, 6 (20,0%) frequentemente sentem, 15 (50,0%)
Muito ruim 3 10,0% algumas vezes são negativos e 4 (13,3%) responderam que
Fraca 2 6,6% nunca tem pensamentos negativos.
Nem boa nem ruim 10 33,3% A seguir, nas Tabelas IV e V, apresentou-se os resultados
Boa 14 46,7% referentes às características do Estilo de Vida dos participantes.
Muito boa 1 3,3% Na Tabela IV nota-se que 28 (93,4%) usuários tem alguém
Motivo do acesso ao serviço de fisioterapia para conversar as coisas que são importantes, 11 (36,7%)
Traumatologia 22 73,35% praticam exercícios físicos no máximo 1 vez por semana para
Neurologia 1 3,3% 5 (16,7%) que frequentam 5 ou mais vezes na semana. Em
Respiratória 1 3,3% relação a atividades mais leves/moderadas do dia-a-dia, 15
Neuropatia 2 6,7% (50%) o fazem em 5 vezes na semana. Quase a metade da
Outros 4 13,35% amostra 14 (46,7%) relatou possuir uma nutrição balanceada
algumas vezes por semana, sendo que 7 (23,3%) relataram
A principal área que fez com que os usuários buscassem tê-la quase sempre.
o serviço da Fisioterapia foi a Traumatologia, totalizando 22 Quando questionados sobre seu peso atual, a maioria (23
usuários (73,3%) (Tabela I). - 76,6%) se considera de 2 a 6 kg acima do peso considera-
Quanto a intensidade de dor, 6 (20,0%) responderam do normal, e afirma consumir mais de 4 copos por dia 23
que ela se encontrava entre 0-1 na Escala Visual Analógica, (76,6%) de água. Ainda, 22 (73,4%) responderam que não
3 (10%) responderam entre 2-3, 8 (26,7%) para intensidade fumam a mais de cinco anos ou nunca fumaram.
entre 4-5, 7(23,3%) para 6-7, 5(16,7%) para 8-9 e 1 (3,3%) Na Tabela V observa-se que a grande parte dos usuários
respondeu intensidade máxima de dor (10). A média de nível do serviço de fisioterapia (23 - 76,7%) bebem em pouca
de dor na escala visual analógica foi 4,8, índice considerado quantidade (1 a 2 vezes por dia) bebidas com cafeína e 28 dos
moderado e os locais mais acometidos pelas dores foram na 30 pesquisados (93,4%) nunca bebem bebidas alcoólicas. A
coluna (9 - 30,0%) e membros superiores (8-26,7%), seguido maioria dos entrevistados lida com frequência e quase sempre
de membros inferiores (5-16,7%), cabeça e dor generalizada bem com seu estresse diário (20 - 66,7%), porém um número
(ambos com 2-6,6%) e outros (4-13,3%). considerável tem lazer somente algumas vezes na semana (11
Quando questionados sobre como avaliaram a sua Qua- - 36,7%). Somando-se a estes dados, a quantidade de sono
lidade de Vida, 3 (10,0%) participantes a classificaram como dos entrevistados mostra-se deficiente onde 14 (46,6%) apre-
muito boa, 21 (70,0%) como boa, 5 (16,7%) nem ruim nem sentam menos de 6 horas por noite e mesmo assim 17 pessoas
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 429

Tabela II - Domínios sentimentos e capacidades do Instrumento Whoqol Brev de qualidade de vida.


Médio/ Muito/ Extremamente/
Nada Muito Pouco
mais ou menos Bastante Completamente
Em que medida sua dor lhe impe-
6(20,0%) 6(20,0%) 8(26,7%) 7(23,3%) 3(10,0%)
de de fazer o que precisa?
O quanto você aproveita a vida? 2(6,6%) 3(10,0%) 10(33,3%) 13(43,3%) 2(6,7%)
Quão saudável é seu ambiente
físico? (clima,barulho e poluição) 0(0,0%) 4(13,3%) 9(30,0%) 12(40,0%) 5(16,7%)
Você tem energia suficiente para o
1(3,3%) 1(3,3%) 10(33,3%) 15(50,0%) 3(10,0%)
seu dia a dia?
Em que medida você tem oportu-
nidades de lazer? 3(10,0%) 6(20,0%) 13(43,3%) 7(23,3%) 1(3,3%)

Tabela III - Domínio satisfação do Instrumento Whoqol Brev de qualidade de vida.


Muito Nem satisfeito
Insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito
insatisfeito nem insatisfeito
Satisfação com o sono 0(0,0%) 10(33,3%) 4(13,3%) 9(30,0%) 7(23,3%)
Satisfação com o desempenho de
1(3,3%) 1(3,3%) 7(23,3%) 16(53,3%) 5(16,7%)
atividades diárias
Satisfação com a capacidade para o
1(3,3%) 5(16,7%) 6(20,0%) 12(40,0%) 6(20,0%)
trabalho
Satisfação com acessos aos serviços
1(3,3%) 2(6,6%) 5(16,7%) 15(50,0%) 7(23,3%)
de saúde

Tabela IV- Itens família e amigos, atividade, nutrição e fumo, retirado do instrumento Lifestyle Questionnaire.
Família e amigos
Quase nunca Raramente Algumas vezes Com frequência Quase sempre
Tem alguém para conversar sobre
2(6,6%) 0(0,0%) 10(33,3%) 10(33,3%) 8(26,7%)
o que é importante para si
Atividade
Menos de 1 1-2 vezes na 3 vezes na se- 5 ou mais vezes
4 vezes na semana
vez na semana semana mana na semana
Sou vigorosamente ativo
11(36,7%) 7(23,3%) 5(16,7%) 2(6,6%) 5(16,7%)
(ao menos 30min./dia)
Sou moderadamente ativo 4(13,3%) 4(13,3%) 3(10,0%) 4(13,3%) 15(50,0%)
Nutrição
Quase nunca Raramente Algumas vezes Com freqüência Quase sempre
Como uma dieta balanceada 1(3,3%) 1(3,3%) 14(46,7%) 7(23,3%) 7(23,3%)
Mais de 8kg 8 kg 6 kg 4 kg 2 kg
Estou no intervalo de__ do meu
4(13,3%) 3(10,0%) 7(23,3%) 7(23,3%) 9(30,0%)
peso normal
Nenhum ou 1
2-3 copos 4-5 copos 5-6 copos 7 ou mais
copo
Meu consumo de copos de água
por dia é: 1 copo (200 ml) 1(3,3%) 6(20,0%) 7(23,3%) 12(40,0%) 4(13,3%)
Cigarros
Nenhum nos
Mais de 10 por Nenhum nos Nenhum no ano
1 a 10 por dia últimos cinco
dia últimos 6 meses passado
anos
Fumo cigarros 2(6,6%) 1(3,3%) 3(10,0%) 2(6,6%) 22(73,4%)
430 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Tabela V - Itens bebidas, Sono, Estresse, Lazer e Motivação, retirados do instrumento Lifestyle Questionnaire.
Bebidas
Mais de 10
7 a 10 vezes 3 a 6 vezes 1 a 2 vezes Nunca
vezes
Ingiro bebidas com cafeína (por dia) 0(0,0%) 0(0,0%) 1(3,3%) 23(76,7%) 6(20%)
Mais de 20 13 a 20 11 a 12 8 a 10 0a7
Ingesta de bebidas alcoólicas
0 (0,0%) 0(0,0%) 0(0,0%) 2(6,6%) 28(93,4%)
por semana (doses)
Sono e estresse
Algumas Com Quase
Quase nunca Raramente
vezes frequência sempre
Dorme bem e se sente descansando 2(6,6%) 2(6,6%) 9(30,0%) 10(33,3%) 7(23,3%)
Consegue lidar com o estresse do dia a dia 1(3,3%) 1(3,3%) 8(26,7%) 12(40,0%) 8(26,7%)
Relaxa e desfruta do tempo de lazer 2(6,6%) 3(10,0%) 11(36,7%) 8(26,7%) 6(20,0%)
5 horas ou
6 horas 7 horas 8 horas 9 horas
menos
Média de horas de sono por noite 7(23,3%) 7(23,3%) 6(20,0%) 7(23,3%) 3(10,0%)
Motivação
Algumas Com Quase
Quase nunca Raramente
vezes frequência sempre
Pensa de forma positiva e otimista 0(0,0%) 3(10,0%) 3(10,0%) 9(30,0%) 15(50,0%)
Sente-se triste e deprimido 7(23,3%) 6(20,0%) 11(36,7%) 2(6,6%) 4(13,3%)
Sente-se com raiva e hostil 9(30,0%) 10(33,3%) 8(26,7%) 0(0,0%) 3(10,0%)

(56,7%) consideram dormir bem e se sentem descansados do sexo feminino que avaliou EV em universitários portu-
com frequência e quase sempre. gueses. Os mesmos ainda ressaltam que a mulher tem um
Quanto à motivação dos estudados, 15 (50,0%) pensam perfil de autocuidado, buscando assim mais frequentemente
de forma otimista quase sempre, 11 (36,7%) sentem-se tris- e sem preconceitos os serviços de saúde em comparação ao
tes e deprimidos algumas vezes e 19 (63,3%) sentem raiva público masculino.
raramente ou quase nunca. Quanto a QV, Baumann et al. [16], que utilizaram o
Os instrumentos de QV e EV possuem uma pontuação mesmo instrumento de pesquisa (WHOQOL-BREF) com
geral cada um. Neste estudo foram selecionadas as questões 16.000 indivíduos franceses, encontraram percepções de
mais pertinentes somando 12 e 16 perguntas, respectiva- saúde boas e muito boas de 78,8% corroborando o presente
mente, com pontuações totais de 60 para QV e 64 para EV. estudo que encontrou 80%. Diante disso, percebe-se que a
A média obtida dos 30 usuários analisados para a QV foi de autopercepção de saúde não está necessariamente relacionada
42,63 pontos enquanto para EV 42,83 pontos, demonstrando com saúde propriamente dita, assim como Alexandre et al.
o equilíbrio e homogeneidade das médias em comparação. [17] destacam em sua pesquisa ao afirmar que a presença de
Os resultados das análises demonstraram que a correla- doença pode fornecer a percepção de saúde e QV em idosos
ção entre QV e EV foi positiva indicando que quando uma e que alguns indivíduos podem ser considerados saudáveis
variável aumenta a outra também aumenta, ou seja, quando mesmo sofrendo com doenças crônico-degenerativas contro-
a QV é baixa, o EV também se mostra baixo e vice versa. As ladas. Na pesquisa de Santos et al. [18] a maior prevalência
correlações de Escala Visual Analógica de Dor x QV e Escala em sua amostra foi de afecções reumáticas (artrite e artrose)
de Dor x Questionário de EV foram negativas, indicando que assim como encontrado na presente pesquisa. Problemas
quando a dor aumenta as outras duas variáveis diminuem, ou crônico-degenerativos são comuns ao avanço dos anos, ao
seja, quanto maior a dor do indivíduo, menor é sua escala de passo que populações mais jovens sofrem, em sua maioria,
QV e EV, dados estes que demonstram significância científica lesões traumáticas decorrentes do desporto e de acidentes.
de p = 0,01. Nessa pesquisa foi observado que os pacientes relataram
uma boa qualidade de sono, porém em quantidade inadequa-
Discussão da, demonstrando que a diminuição nas horas de sono não
afeta sua percepção sobre dormir bem, apesar do ciclo normal
A maioria do público pesquisado foi do gênero feminino do sono ter em média 8 horas [19]. Para Dahlke [20], no sono
indo ao encontro das pesquisas de Brito et al. [14] que ava- profundo o hormônio do crescimento entra em atividade,
liaram QV em hipertensos, totalizando 77% de mulheres colaborando nos processos de regeneração corporal, dados
avaliadas, e estudo realizado por Matos et al. [15] com 76,37% que evidenciam a necessidade de avaliar mais profundamente
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 431

este assunto, bem como enfatizar a ocorrência dos problemas tégias preventivas e de educação em saúde para os usuários,
crônico-degenerativos, já citados anteriormente. tornando-os agentes ativos aos próprios cuidados.
Outro fator avaliado no EV foi o equilíbrio nutricional.
A alimentação saudável, completa, variada e agradável é de Referências
grande importância para a promoção da saúde, prevenção e
controle de doenças [21]. Grande parte dos avaliados afirmou 1. Guiselini M. Aptidão física, saúde e bem estar: fundamentos
ter uma dieta balanceada, com uma boa ingesta diária de teóricos e exercícios práticos. 2ªed. São Paulo: Phorte; 2006.
água, pouco índice de fumantes, baixo consumo de cafeína e 2. WHO - World Health Organization. Constitution of the
WHO. Chronicle of the WHO 1947(3).
bebidas alcoólicas, dados que vão ao encontro com a pesquisa
3. Brasil. Ministério da Saúde - Conselho Nacional de Secretários
de Soares [22] que evidenciou semelhantes valores percentuais
de Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília: CONASS;
(84,7% não fumantes e 86,7% que não ingerem álcool) para 2003.
uma população predominante de mulheres. 4. WHO - World Health Organization. The World Health report
A amostra estudada, em sua maioria (60%), não era pra- 1998 – life in the 21st century: a vision for all. Geneva: World
ticante de atividades físicas intensas (menos de duas vezes/ Health Organization; 1998.
semana). A falta de atividade física intensa a partir dos 40 5. Dutton M. Fisioterapia Ortopédica: exame, avaliação e inter-
anos pode estar relacionada com o avanço de doenças mus- venção. Porto Alegre: Artmed; 2006.
culoesqueléticas devido à diminuição da força contrátil dos 6. Myers T. Trilhos anatômicos: meridianos miofasciais para tera-
músculos, a redução natural da massa magra, a diminuição peutas do movimento. São Paulo: Manole; 2003.
7. Nieman DC. Exercício e saúde. São Paulo: Manole; 1999.
da flexibilidade e consequente desgaste das articulações mais
8. Campos GWS. Saúde Pública e Saúde Coletiva: campo e núcleo
requisitadas como joelhos, quadril e coluna [23-26]. Além de saberes e práticas. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(2):219-30.
disso, alguns estudos sugerem uma alteração na percepção 9. Gallahue DL. Compreendendo o desenvolvimento motor. Be-
de dor relacionada ao exercício físico de baixa intensidade, bês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte; 1989.
média duração e exercícios isométricos [27,28]. Quanto a QV 10. OMS. Organização Mundial da Saúde. Versão em português dos
relacionada ao exercício, Toscano e Oliveira [29] concluem que instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL).
idosas que praticam exercícios físicos regulares possuem uma Porto Alegre: UFRGS; 1998.
melhor QV em comparação a aquelas inativas. 11. Agne J. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Orium; 2009. 400p.
O presente estudo evidenciou uma correlação entre escores 12. WHO. World Health Organization. The World Health Report
1998 – life in the 21st century: a vision for all. Geneva: World
totais de EV e QV, constatando uma relação íntima entre seus
Health Organization; 1998.
fatores assim como Pisinger et al. [30] que acompanharam
13. Añez CR, Reis RS, Petroski EL. Versão brasileira do questionário
durante 5 anos mais de 6000 europeus e constataram que de estilo de vida: tradução e validação para adultos. Arq Bras
quando os indivíduos adotavam um EV mais saudável, os Cardiol 2008;91(2):102-9.
mesmos referiam uma percepção de QV melhor. 14. Brito DMS. Qualidade de vida e hipertensão arterial. Cad Saúde
Pública 2008;24(4):933-40.
Conclusão 15. Matos AP, Souza CM. Estilo de vida, percepção de saúde e estado
de saúde em estudantes universitários portugueses: influencia da
O presente artigo buscou traçar um perfil de QV e EV área de formação. Int J Clin Psychol 2006;6(3):647-63.
em uma população de usuários de fisioterapia, mostrando 16. Baumann C, Erpelding ML, Régat S, Collin JF, Briançon S .
Le questionnaire de qualité de vie WHOQOL-BREF : valeurs
correlação entre os fatores avaliados, ou seja, a qualidade de
de références françaises des dimensions santé physique, santé
vida é influenciada pelo estilo de vida e vice-versa, mesmo que psychologique et relation sociale. Revue d’E´ pidemiologie et
os fatores façam parte de dois questionários distintos. Através de Sante´ Publique 2009;58:33-9.
deste estudo, percebeu-se que o fator “exercício físico intenso” 17. Alexandre TS, Cordeiro RC, Ramos LR. Factors associa-
obteve respostas que evidenciam uma população sedentária, ted to quality of life in active elderly. Rev Saúde Pública
portadoras de patologias reumáticas e que têm poucas horas 2009;43(4):613-21.
de sono. Em contrapartida, os usuários relataram uma boa 18. Santos FS, Neto JSL, Ramos JCL, Soares FO. Perfil epide-
percepção de QV, de saúde geral e de sono. miológico dos atendidos pela fisioterapia no Programa Saúde
De uma forma geral obteve-se escores moderados para QV e Reabilitação na Família em Camaragibe, PE. Fisioter Pesq
2007;14(3):50-4.
e EV, porém, em certas questões, houve discordâncias entre
19. Fernandes RMF. O sono normal. Medicina (Ribeirão Preto)
o que é praticado e o que é sentido pelo indivíduo. Não são
2006;39(2):157-68.
evidentes quais os motivos desta diferença, fazendo-se neces- 20. Rudiger D. Guia do sono saudável: dicas para adormecer, dormir
sárias novas pesquisas na área para elucidar e aprofundar estes e acordar melhor. São Paulo: Cultrix; 2008.
questionamentos além de pesquisas com tempo de coleta de 21. Boog MCF. Educação nutricional: por que e para quê? J Uni-
dados maiores. camp 2004(260).
Salienta-se, ainda, que pesquisas deste modelo são impor- 22. Soares TM. Estilo de vida e postura corporal em idosas [Disser-
tantes para análises de populações a fim de se formular estra- tação]. Florianópolis: UFSM; 2002.
432 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

23. Campos MA. Musculação: diabéticos, osteoporóticos, idosos, 28. Umeda M, Lauren W, Newcomb LD, Ellingson K. Examination
crianças, obesos. Rio de Janeiro: Sprint; 2001. of the dose–response relationship between pain perception and
24. Guedes DP. Treinamento personalizado em musculação. São blood pressure elevations induced by isometric exercise in men
Paulo: Phorte; 2008. and women. Biol Psychol 2010;85(1):90-6.
25. Robergs A, Robert O. Princípios fundamentais da fisiologia 29. Toscano JJ, Oliveira AC. Qualidade de vida em idosos com
do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: distintos níveis de atividade física. Rev Bras Med Esporte
Phorte; 2002. 2009;5(3):169-173.
26. ACSM. Recursos para o personal trainer. Rio de Janeiro: Gua- 30. Pisinger C, Toft U, Aadahl M, Glümer C, Jørgensen T. The
nabara Koogam; 2006. relationship between lifestyle and self-reported health in a
27. Bruehl S, Chung OY. Interactions between the cardiovascular general population. The Inter99 study. Preventive Medicine
and pain regulatory systems: an updated review of mechanisms 2009;49:418-23.
and possible alterations in chronic pain. Neurosci Biobehav Rev
2004;28:395-14.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 433

Artigo original

Fisioterapeutas integrantes do Núcleo de Apoio à Saúde


da Família do Estado de Santa Catarina:
competências e desafios
Physical therapists members of Family Health Support Center
in the State of Santa Catarina: skills and challenges
Nathiele Plácido Belettini, Ft.*, Franciani Rodrigues, Ft.**, Thaise Silvestri Cruz, Ft. D.Sc.***, Kely Cristine Ferreira, Ft.****,
Lisiane Tuon, Ft., D.Sc.*****, Bárbara Lucia Pinto Coelho, Ft., M.Sc******

*Fisioterapeuta do NASF da cidade de Criciúma/SC, **Fisioterapeuta, Pós Graduada em Residência em Atenção Básica/Saúde da
Família e Gestão na Atenção Básica pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma, ***Fisioterapeuta, Tutora
da Fisioterapia no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família da Universidade do Extremo
Sul Catarinense – UNESC e Superintendente de Serviços Especializados e Regulação da Secretária de Saúde de Santa Catarina,
****Fisioterapeuta, Mestre em Ciências de Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, *****Fisioterapeuta, Preceptora do
Programa PET-Saúde do Ministério da Saúde, ****Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade do Extremo
Sul Catarinense

Resumo Abstract
Introdução: Atenção Básica em Saúde é um conjunto de ações de Introduction: Primary Health Care is a set of health actions
saúde que envolve promoção, prevenção, diagnósticos, tratamentos involving promotion, prevention, diagnosis, treatment and rehabili-
e reabilitação nos âmbitos individuais ou coletivos. Objetivando a tation in individual or collective areas. Aiming the improvement of
melhoria da qualidade, eficácia e eficiência da Atenção Básica em quality, efficacy and efficiency in Primary Health Care, the Family
Saúde, foi criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Health Support Centers (NASF) was created, in which physical
no qual o profissional fisioterapeuta tem capacidade de atuar. O therapist is able to actuate. The purpose of this study was to identify
objetivo deste estudo é identificar as competências, os desafios e the skills, challenges and principal demands of physical therapists
as principais demandas dos fisioterapeutas integrantes do NASF members of NASF in the State of Santa Catarina. Methods: Trans-
do Estado de Santa Catarina. Métodos: Estudo transversal, quali- versal study, qualitative and quantitative, data survey, exploratory
-quantitativo, de levantamento de dados, exploratório e descritivo. A and descriptive. The sample consisted of 16 physical therapists of
amostra foi composta por 16 fisioterapeutas integrantes do NASF do NASF in the State of Santa Catarina, based on the site Datasus/
Estado de Santa Catarina, baseados através do site Datasus/CNES/ CNES/Consulta/Equipes 02/2011. The instrument used was a self-
Consulta/Equipes 02/2011. O instrumento utilizado constituiu-se -applied questionnaire with questions related to skills, challenges
em um questionário autoaplicável com interrogantes a respeito das and demands of Physical therapy. It was sent by electronic mail
competências, desafios e demandas da Fisioterapia. Foi enviado por to the participants through Google Docs®. For statistical analysis,
correspondência eletrônica para e-mail dos participantes através do we used the Frequency Analysis of SPSS version 17.0. Results: The
Google Docs®. Para estatística utilizou-se Análise de Frequências demand of Physical therapy in the NASF was 40% neurology, 40%
do SPSS versão 17.0. Resultados: A demanda da Fisioterapia no orthopedics and 20% geriatrics. The community and the staff of
NASF foi 40% neurologia, 40% ortopedia e 20% geriatria. A NASF did not clearly know the capacity of primary actuation done
comunidade e a equipe do NASF não conheciam de forma clara by the Physical therapist. They acted in therapeutic groups 65.2%,
a capacidade de atuação primária pelo fisioterapeuta. Atuavam em but 43.7% spend more time in individual sessions. Conclusion:
grupos terapêuticos 65,2%, porém 43,7% afirmaram passar maior Physical therapists has demonstrated their skills in daily work on
parte do tempo em atendimento individual. Conclusão: O fisiote- the Primary Health Care together with NASF, but challenges still
rapeuta tem demonstrado a cada dia suas competências na atuação remain and are found by this professional.
Básica em Saúde junto ao NASF, mas desafios ainda persistem e são Key-words: Primary Health Care, Health Centers, Physical therapy.
encontrados por este profissional.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Centros de Saúde,
Fisioterapia.

Recebido em 17 de dezembro de 2012; aceito em 12 de novembro de 2013.


Endereço para correspondência: Nathiele Plácido Belettini, Expedicionário Iracy Luchina, 1320, Coloninha, Araranguá SC, E-mail: nathiele_pb@
hotmail.com, ltb@unesc.net
434 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Introdução 7 ESF e ter no mínimo 3 profissionais de nível superior de


ocupações não coincidentes com as categorias profissionais
Com a finalidade de mudar a situação de desigualdade descritas na Portaria GM/MS n.154 de 2008 [13]
na assistência à saúde da população, foi criado o Sistema A Fisioterapia é uma ciência da Saúde que estuda, previne
Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988 e trata os distúrbios cinéticos funcionais, intercorrentes em
que foi regulamentado pelas Leis nº 8080/90 e nº 8142/90 órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações
[1-4]. Essas mudanças deram origem a Atenção Básica em genéticas, por traumas e por doenças adquiridas [7,9,15,16].
Saúde, a qual é um conjunto de ações de saúde que envolve: Diante disso, o profissional fisioterapeuta tem total capacidade
promoção, prevenção, diagnósticos, tratamentos e reabilitação para atuar em todos os âmbitos da Atenção Básica em Saúde
nos âmbitos individuais ou coletivos [4,5] Com intuito de contribuindo para a eficiência da mesma [7].
fortalecê-la foi criado em 1994 a Estratégia Saúde da Família Apesar de já terem sido realizadas revisões bibliográficas
(ESF), a qual tem o objetivo de reorganizar a prática assisten- e alguns estudos referentes às capacidades e dificuldades do
cial, entendendo a família como objeto principal e a interação fisioterapeuta na Estratégia Saúde da Família, esta é diferente
da mesma com o ambiente onde vive [3,4,6-12]. do Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Nesta Atenção Bá-
Com a necessidade de gerenciar e atender as demandas en- sica em Saúde existe uma carência de estudos que mostram
contradas no espaço vivo da ESF, considerando o fortalecimento a atuação do fisioterapeuta e que ainda possam levantar as
da mesma, garantindo às pessoas e à coletividade condições de competências e os desafios encontrados por estes profissionais.
bem-estar físico, mental e social, e ainda objetivando a melhoria Evidenciou-se ser necessária a realização desta pesquisa para
da qualidade, eficácia e eficiência da Atenção Básica em Saúde, que, através dela, possam ser delimitadas as competências e
foi criado em 24 Janeiro de 2008, através da Portaria GM/ os desafios do profissional fisioterapeuta integrante do NASF.
MS n.154, republicada em 4 de março de 2008, o Núcleo de Tornando-se possível o desenvolvimento de programas e ações
Apoio à Saúde da Família (NASF). Este é uma equipe formada que minimizem as possíveis dificuldades encontradas por parte
por diferentes profissionais de diferentes áreas que atuam em do profissional fisioterapeuta, contribuir para a melhora da
parceria com a ESF [16] compartilhando práticas em saúde Atenção Básica em Saúde e aclarar os fisioterapeutas e demais
nos territórios sob responsabilidade deles, agindo diretamente profissionais da saúde a respeito da intervenção fisioterapêu-
no apoio as equipes e na assistência integral a comunidade das tica junto à população.
respectivas unidades onde o NASF está cadastrado [7]. O objetivo deste estudo é identificar as competências, os
A partir dessa portaria criaram-se dois tipos de NASF: desafios e as principais demandas dos fisioterapeutas integran-
NASF 1: deve ser composto por no mínimo cinco categorias tes do NASF do Estado de Santa Catarina.
profissionais de nível superior: Médico Acupunturista, Assis-
tente Social, Profissional de Educação Física, Farmacêutico, Material e métodos
Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Médico Ginecologista, Mé-
dico Homeopata, Nutricionista, Médico Pediatra, Psicólogo, Esta pesquisa foi um estudo transversal, quali-quantita-
Médico Psiquiatra e Terapeuta Ocupacional. Este NASF deve tivo, de levantamento de dados, exploratório e descritivo.
realizar suas atividades em no mínimo oito ESF e no máximo Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
em vinte ESF. NASF 2: pode ser composta por no mínimo três Humanos da Universidade do Extremo Sul Catarinense -
categorias profissionais: Assistente Social, Profissional da Edu- UNESC/SC com número 329/2010.
cação Física, Farmacêutico, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Para o cálculo amostral foi realizada uma consulta no site
Nutricionista, Psicólogo e Terapeuta Ocupacional, sendo esta DATASUS/CNES/CONSULTAS/EQUIPES 02/2011 [17]
modalidade permitida apenas para municípios com menos de para verificar o número de municípios do Estado de Santa
100 mil habitantes ou que tenham densidade populacional Catarina que possuíam NASF e dentre estes quais tinham o
abaixo de dez habitantes por quilômetro quadrado [13,14]. profissional fisioterapeuta como integrante da equipe.
Segundo o Ministério da Saúde [13], os NASF devem fun- Após o término da pesquisa foi constatada a participação
cionar em horário de trabalho igual ao das ESF, e que a carga de 22 cidades com NASF 1, totalizando 36 equipes, 1 ci-
horária dos profissionais integrantes do NASF seja de 40 horas dade com NASF 2, nenhuma cidade com NASF 3. Dentre
semanais. Para os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, essas existiam o profissional fisioterapeuta apenas no NASF
devem ser registrados 2 profissionais que cumpram no mínimo 1, sendo em 16 cidades e totalizando 19 fisioterapeutas. A
20 horas semanais cada um. partir desses dados foram contactadas através de telefonema
Em 2010, a Portaria Nº 2.843, de 20 setembro, cria no as Secretarias Municipais do Sistema de Saúde objetivando
âmbito do SUS, o NASF 3, com prioridade a promover a contato com os coordenadores do NASF de cada município
atenção integral em saúde e saúde mental aos usuários de para informar sobre a pesquisa, solicitar autorização e obter o
crack, álcool e outras drogas na Atenção Básica para municí- contato dos fisioterapeutas. Após o contato foi verificado que
pios com porte populacional menor que 20.000 habitantes, existiam 23 profissionais fisioterapeutas atuando no NASF
realizando suas atividades em no mínimo 4 e no máximo em Santa Catarina.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 435

O instrumento utilizado constituiu-se em um questionário Atuação no NASF


autoaplicável, com dados sobre o profissional fisioterapeuta, Menos de 1 Ano 62,5
sua formação profissional, tempo e experiência profissional, 1 Ano 25,0
assim como a atuação perante o NASF e a equipe do mesmo, 2 Anos 12,5
sua visão da comunidade, os desafios encontrados e as prin-
cipais demandas existentes. Foi enviado por correspondência Quanto à carga horária no NASF, 37,4% atuam 20 horas,
eletrônica para e-mail dos participantes através do Google 31,3%, 30h e 31,3%, 40h. Em relação à carga horária como
Docs®. Fisioterapeuta 6,3% 20 horas, 6,3%, 30h, 43,7%, 40h e
O período de coleta de dados foi de maio a agosto de 43,7%, 60h (Figura 1). Dos Fisioterapeutas, 93,8% responde-
2011, sendo enviados 23 instrumentos de pesquisa, destes ram possuir outro emprego e 6,3% responderam não possuir.
16 responderam o questionário.
Critérios de inclusão: fisioterapeutas integrantes do NASF Figura 1 - Carga horária dos profissionais fisioterapeutas do NASF
do Estado de Santa Catarina que aceitassem participar da do Estado de Santa Catarina (n=16).
pesquisa e respondessem ao questionário enviado. Como 50
45 43,7 43,7
critérios de exclusão: o fisioterapeuta que não fosse obtido
40 37,4
contato e que se negasse a participar da pesquisa. 35 31,331,3
Os dados obtidos dos questionários foram organiza- 30
dos, tabulados através do programa SPSS (versão 17.0), 25
20
utilizando-se da Análise de Frequências. Após os resultados 15
foram transferidos para o Microsoft Excel para a construção 10 6,3 6,3
de gráficos e tabelas. 5 0
0
Carga Horária Carga Horária
Resultados no NASF como Fisioterapeuta
20h 30h 40h 60h
Foram enviados 23 questionários, destes obteve-se resposta
de 16 fisioterapeutas. Em relação à atuação como fisioterapeuta no NASF res-
Quanto à idade, a maioria se encontrava entre 26 e 30 ponderam: 11,2% realizam atendimento individual na UBS;
anos com 43,7%; em relação ao gênero, houve predomínio 3,7% atendimento individual na sede do NASF; 33,3%, aten-
do feminino com 56,2%. Em relação ao tempo de graduação dimento domiciliar; 40,7% atendimento coletivo por grupos
houve predomínio entre três e dez anos, sendo: 37,5% entre específicos; 3,7% diagnóstico da UBS; 3,7% capacitação da
três e cinco anos e 37,5% entre seis e dez anos. O vínculo ESF e 3,7% avaliação interdisciplinar.
empregatício dos questionados foi na maioria contratado,
62,5%. A maioria estava há menos de um ano atuando no Figura 2 - Conhecimento da comunidade e equipe NASF sobre
NASF, sendo 62,5% (Tabela I). atuação fisioterapêutica (n=16).
100 87,4
Tabela I - Características da Amostra - Fisioterapeutas do NASF 81,3
(n = 16). 80

Variável % 60 50 50
Idade 43,7
20 a 25 Anos 18,7 40
25
26 a 30 Anos 43,7 18,7
20 6,3 6,3 12,4
31 a 35 Anos 31,3 6,3 6,3 6,3
0 0 0
Mais de 51 Anos 6,3 0
Gênero N1 N2 N3 N4
Feminino 56,2 Sim completamente Sim muito pouco
Masculino 43,8 Sim razoavelmente Não
Tempo de Graduação
N1: Conhecimento da comunidade acerca do profissional fisioterapeu-
1 a 2 Anos 6,30
ta; N2: Conhecimento da comunidade sobre a atuação da Fisioterapia
3 a 5 Anos 37,5
no nível primário; N3: Conhecimento dos outros profissionais da equipe
6 a 10 Anos 37,5
do NASF acerca da atuação do fisioterapeuta; N4: Conhecimento dos
11 a 15 Anos 18,7
outros profissionais da equipe do NASF acerca da Fisioterapia no nível
Vínculo Empregatício
primário.
Concursado 37,5
Contratado 62,5
436 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Quanto ao conhecimento da comunidade acerca do fatores sociais e culturais agregados e 2,6% relataram não ter
profissional fisioterapeuta, 87,4% responderam sim razoa- nenhuma dificuldade.
velmente; acerca do conhecimento da comunidade sobre a
atuação da Fisioterapia no nível primário 50% responderam Figura 3 - Atendimentos do NASF (N=16).
que não conheciam. Com referência ao conhecimento dos 50
43,7
outros profissionais da equipe do NASF acerca da atuação do 45
40 37,5
fisioterapeuta, 81,3% responderam que sim completamente
35
e acerca da Fisioterapia no nível primário 50% responderam
30
que sim razoavelmente (Figura 2). 25
Quando questionados em relação à participação no NASF 20
estar sendo benéfica no reconhecimento da Fisioterapia, 100% 15 12,5
responderam que sim. 10 6,3
As equipes de NASF no Estado de Santa Catarina que 5
possuem fisioterapeuta apresentam semelhança dos seguintes 0
profissionais: 75% assistente social; 68,8% farmacêutico; Realizando sozinho atendimento individual
56,3% fisioterapeuta; 68,7% nutricionista e 93,8% psicólogo Atuando em conjunto com alguns integrantes
da equipe do NASF
(Tabela II). Atuando em conjunto com a equipe
completa do NASF
Realizando sozinho atendimento em grupos
Tabela II - Profissionais do NASF (N=16).
Possui Não Possui
Profissionais do NASF Quanto ao nível de atenção que os fisioterapeutas entre-
(%) (%)
Médico Acupunturista - - vistados mais atuam: 43,8% responderam no nível primário;
Assistente Social 75,0 25,0 43,8% no nível secundário e 12,4% no nível terciário, sendo
Profissional de Educação Física 37,5 62,5 que todos afirmaram atuar na atenção primária.
Farmacêutico 68,8 31,2 Em relação aos atendimentos em grupo, 62,5% afirmaram
Fisioterapeuta 56,3 43,7 que realizam e 37,5% não realizam, sendo que os grupos
Fonoaudiólogo 43,8 56,2 relatados são: hiperdia, gestantes, escolares, dores crônicas,
Médico Ginecologista 6,30 93,7 mulheres, puericultura, desenvolvimento motor, reeducação
Médico Homeopata - - postural, cuidadores de pessoas acamadas e/ou idosas, obesi-
Nutricionista 68,7 31,3 dade e caminhada orientada. Quanto ao número de grupos
Médico Pediatra 25,0 75,0 por semana: 43,8% realizam de um a dois grupos; 12,4% de
Psicólogo 93,8 6,20 três a quatro grupos e 43,8% de cinco a seis grupos.
Médico Psiquiatra 18,7 81,3
Quando questionados sobre a realização de atendimentos
Terapeuta Ocupacional 6,30 93,7
individuais: 81,3% relataram que realizam e 18,7% que não
realizam.
Quanto aos atendimentos dos fisioterapeutas atuantes Quanto à demanda dos atendimentos, na sua maioria,
no NASF, 43,7% passam maior parte do tempo realizando 40% realizam atendimentos da área de Neurologia, 40% em
atendimento individual sozinho, 37,5% atuando em conjunto Ortopedia seguido da Geriatria com 20% dos atendimentos
com alguns integrantes da equipe do NASF, 12,5% atuando realizados.
em conjunto com a equipe completa do NASF e 6,3% reali-
zando sozinho o atendimento em grupos (Figura 3). Discussão
Quando questionado sobre pontos que dificultam a
atuação do fisioterapeuta no NASF, 26,3% responderam a Na população brasileira, as mulheres formam um conjunto
grande demanda reprimida para Fisioterapia, 23,7% cultura maior do que os homens, isso ocorre devido a maior expectati-
assistencialista, 13,2% a carga horária do fisioterapeuta menor va de vida das mesmas [18], 50,1% são mulheres, e o restante
que a dos demais profissionais do NASF e da ESF, 13,2% 49,9% homens [19], na nossa amostra houve predomínio do
afirmaram ser a integração do NASF com as equipes da ESF, gênero feminino com 56,2%; enquanto o masculino 43,8%.
7,8% dificuldade de identificação de grupos de risco através Quanto à faixa etária predominou de 26 a 30 anos com
de levantamento epidemiológicos, 5,3% trabalhos de grupos 43,7%, o que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
operativos, trocados por atendimentos individuais, 5,3% Estatística [20] não condiz com a realidade brasileira em geral,
relataram a cultura do profissional fisioterapeuta que impede pois a proporção de jovens tem diminuído a cada ano, mas
o desenvolvimento e a flexibilidade, fazendo com que neces- são condizentes com os dados do Estado de Santa Catarina
sitem de mais tecnologia para trabalhar, 2,6% afirmaram ser [20], onde a maior população por faixa etária é de 20 a 39
o desconhecimento de território como ambiente vivo e com anos, representando 17,98% do total.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 437

Em relação ao tempo de graduação houve semelhança Quanto aos profissionais que faziam parte da equipe do
entre 3 e 5 anos e 6 e 10 anos, com 37,5% cada. Tratando NASF, o psicólogo foi o profissional mais encontrado com
do vínculo empregatício, 62,5% eram contratados, o que se 93,8% dos NASF com ele na equipe. Isso mostra que os mu-
pode justificar pelo fato da complexidade de realização de nicípios levaram em consideração o §2 do Art.4º da Portaria
concurso público, visto que o NASF tem sua implantação GM/MS n.154, republicada em 4 de março de 2008 [13],
ainda muito jovem, isto justifica o fato de 62,5% dos fisiote- na qual recomenda-se que cada NASF tenha pelo menos um
rapeutas atuarem no NASF há menos de 1 ano. profissional da área de saúde mental decorrente da epidemio-
Tratando-se da carga horária semanal, no NASF, 37,4% logia dos transtornos metais.
atuam 20 h, o que é encontrado como carga horária mí- Os principais pontos respondidos pelos fisioterapeutas
nima para o profissional fisioterapeuta, segundo a Portaria integrantes do NASF do Estado de Santa Catarina sobre o
GM/MS n.154, republicada em 4 de março de 2008 [13]. que dificultam sua atuação no NASF são condizentes com o
Porém encontrou-se 31,3% atuando 40 h no NASF, sendo que a literatura traz, sendo eles: dificuldades de identificação
que os profissionais fisioterapeutas estão sujeitos à prestação de grupo de risco através de levantamentos epidemiológicos,
máxima de 30 horas semanais de trabalho, de acordo com o desconhecimento de território como ambiente vivo e com
a Lei nº 8.856/94 [21], o que mostra que muitos fisiotera- fatores sociais e culturais agregados, a integração do NASF
peutas estão atuando além da carga horária permitida por com equipes das ESF, a formação assistencialista, que dificulta
lei. Dos fisioterapeutas, 93,85% responderam possuir outro o acolhimento e a organização das ações, os trabalhos de
emprego, 43,7% afirmaram que sua carga horária como grupos trocados por atendimentos individuais, a formação
profissional é de 40 h e a mesma percentagem relatou ser clínica que impede o desenvolvimento e a flexibilidade dos
de 60 h. Segundo o COFFITO [9], o profissional pode profissionais, fazendo com que necessitem de mais tecnologia
acumular cargos, que juntos totalizarão mais de 30 horas para trabalhar [7].
semanais, o que não pode é em um emprego ultrapassar a Todos os entrevistados afirmaram atuar no nível primário,
jornada de trabalho fixada. e quando questionados em que nível mais atuavam 43,8%
Quando questionado sobre o conhecimento da comu- afirmaram ser em nível primário e a mesma percentagem
nidade acerca do profissional fisioterapeuta, 87,4% afirma- em nível secundário. E ainda quando questionados sobre
ram que a comunidade sabia de modo geral a atuação do o que faziam na maior parte do tempo, 43,7% relataram
mesmo, porém quando perguntado sobre o conhecimento realizar sozinhos atendimento individual e 37,5% atuavam
da comunidade na capacidade do fisioterapeuta atuar em em conjunto com alguns integrantes da equipe NASF. O
atenção primária 50% afirmaram que não conheciam e fisioterapeuta vem adquirindo crescente importância nos
43,7% responderam que sabiam, porém muito pouco. O serviços de Atenção Básica em Saúde, pois vem desenvolvendo
fisioterapeuta tem condições e deve atuar na prevenção de suas habilidades na prevenção, promoção e reabilitação nos
doenças e maus hábitos que possam prejudicar a saúde da âmbitos individuais e coletivos [4,7,9,23], sendo assim, a
população, existindo um grande campo de atuação em saúde cada dia vem demonstrando suas competências em todos os
pública para a promoção da saúde e melhora da qualidade níveis de atenção à saúde.
de vida da comunidade. Assim é essencial que o profissional Em relação aos atendimentos em grupo, 62,5% afir-
mostre aos usuários do SUS que a Fisioterapia não possui maram que realizam e 37,5% não realizam, sendo que os
apenas caráter reabilitador, mas também contribui de maneira grupos relatados foram: hiperdia, gestantes, escolas, dores
significativa à saúde funcional de cada indivíduo, através de crônicas, mulheres, desenvolvimento motor, reeducação
um atendimento com caráter preventivo, a fim de diminuir postural, cuidadores de pessoas acamadas ou idosas, obe-
o número de afastamentos do trabalho, número de uso de sidade, caminhada orientada e puericultura, alguns desses
medicamentos, número de internações e consequentemente, grupos acima são citados por Barbosa et al. [7] e Ragasson
reduzindo os custos com saúde para o governo [2,22]. 100% et al. [11]. A portaria que cria o NASF deixa clara a impor-
dos fisioterapeutas afirmaram que a sua participação no NASF tância da formação de grupos terapêuticos na comunidade
tem contribuído para o conhecimento da comunidade acerca [10]; sendo assim os fisioterapeutas que não atuam junto a
da atuação de profissional. grupos deveriam atuar.
Para a maioria dos profissionais da área da saúde, as fun- Quando questionado sobre a principal demanda existente
ções do profissional fisioterapeuta ainda não se encontram para Fisioterapia na atuação, 40% afirmaram ser neurologia,
claras. É comum que a imagem do fisioterapeuta vinculada ao 40% ortopedia e 20% geriatria. Para Ragasson et al. [11] as
processo de reabilitação e funções ordinárias da intervenção principais demandas existentes são: assistência integral em
fisioterapêutica como prevenção e promoção em saúde sejam todas as fases do ciclo da vida (crianças, adolescentes, adulto
desconhecidas pela equipe interdisciplinar da saúde. Isso foi e idoso), pacientes acamados ou impossibilitados, pacientes
verificado com 50% dos fisioterapeutas respondendo que portadores de doenças neurológicas, afecções respiratórias,
seus colegas de NASF sabiam razoavelmente a capacidade de deformidades posturais, obesidade, hipertensão arterial sis-
o fisioterapeuta atuar em atenção primária. têmica, diabetes melitus, tuberculose e hanseníase.
438 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Conclusão 10. Costa JL, Pinho MA, Filgueiras MC, Oliveira JBB. A fisioterapia
no programa de saúde da família: percepções dos usuários. Rev
O fisioterapeuta tem demonstrado a cada dia suas com- Ciênc Saúde 2009;2(1):2-7.
11. Ragasson CAP, Almeida DCS, Comparin K, Mischiati MF,
petências na atuação básica em saúde junto ao NASF, mas
Gomes JN. Atribuições do fisioterapeuta no programa de saúde
desafios ainda persistem e são encontrados por este profissio- da família: reflexões a partir da prática profissional. [citado 2012
nal. Por isso a necessidade de desenvolvimento de programas, Mar 21]. Disponível em URL: http://www.crefito5.com.br/web/
ações e estudos que minimizem as possíveis dificuldades downs/psf_ado_fisio.pdf
encontradas por parte do profissional fisioterapeuta, além 12. Souza WB. Inclusão do Fisioterapeuta no PSF: pela integrali-
de contribuir para a melhora da Atenção Básica em Saúde dade da atenção a saúde e reorientação do modelo assistencial.
e aclarar os fisioterapeutas e demais profissionais da saúde a Fisiobrasil 2007;4:43-49.
respeito da intervenção fisioterapêutica junto à população. 13. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n.154 24 de janeiro de
2008. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
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Velha/ES: uma proposta de atuação junto ao Programa Saúde
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da Família. Fisioter Bras 2008;9(4):247-52.
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atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde. Fisioter
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2012 Mar 22]. Disponível em URL: http://www.ibge.gov.br/
pdf/construcao_do_SUS.pdf
home/estatistica/populacao/contagem2007/ contagemfinal/
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tabela1_2_22.pdf
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URL: http://www.ibge.gov.br/home
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no Brasil nos últimos vinte anos (1988-2008). Ciênc Saúde
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Coletiva 2009;14(6):2305-16.
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programa de saúde da família: uma revisão e discussões sobre a
Programa de Saúde da Família. Fisioter Bras 2008;9(1):65-9.
inclusão. Fisioter Mov 2006;19(4):55-62.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 439

Artigo original

Comportamento da força muscular respiratória,


pico de fluxo expiratório e oxigenação durante
repouso e caminhada na água
Behavior of the respiratory muscle strength, expiratory peak flow
and oxygenation during rest and walk on water
Patrícia Dall’Agnol Bianchi, D.Sc.,Ft.*, Inaiana Klasener Augusto, Ft.**, Kalina Durigon Keller, Ft.***,
Bruna Durigon Keller, Ft.****, Renan Maximiliano Fernandes Sampedro, D.Sc.*****

*Docente da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, **UNICRUZ, ***Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica, espe-
cialista em RPG, Fisioterapeuta do Equilibrium – Centro Terapêutico da Obesidade, Cruz Alta/RS, ****Especialista em Fisioterapia
Traumato-Ortopédica, Fisioterapeuta do Hospital Santa Lúcia, Cruz Alta/RS, *****Professor Titular Aposentado da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar o comportamento da força muscular respira- Objective: To evaluate the behavior of the respiratory muscle
tória, do pico de fluxo expiratório e oxigenação sanguínea durante strength, expiratory peak flow and blood oxygenation during rest
repouso e caminhada na água. Métodos: Avaliaram-se 20 homens com and walk on water. Method: Twenty men aging 30-50 years old were
idades entre 30 e 50 anos, saudáveis do ponto de vista respiratório, evaluated, all of them healthy from a respiratory point of view, were
submetidos a 4 avaliações distintas sendo uma em repouso imerso na submitted to four different evaluations: one immersion at rest, to
profundidade do processo xifóide, e outras 3, caminhando durante the depth of the xiphoid; three twenty-minute walks, each one of
20 minutos, cada uma delas em uma profundidade diferente: ao nível them at a different depth – cord at the level of the navel process,
do processo umbilical, processo xifóide e ombro. As variáveis foram xiphoid process and shoulder. The variables were always previously
determinadas sempre antes, durante e após imersão. Realizaram-se determined, during and after immersion. Variance analysis was
análise de variância e comparação de média utilizando o teste de performed and averages were compared through the DUNCAN test
Duncan a 5% de significância (p ≤ 0,05). Resultados: No repouso at 5% significance (p ≤ 0.05). Results: During immersion rest there
houve redução significativa do pico de fluxo e da força muscular was a significant reduction in the peak flow and on the respiratory
inspiratória durante a imersão. Durante caminhada aquática, houve muscle strength. During the walk in water, there was a steep drop of
acentuada queda da saturação de oxigênio ao nível do processo xifoi- oxygen saturation at the depth of the xiphoid process. The peak flow
de. O pico de fluxo e a força muscular respiratória sofreram queda and the respiratory muscle strength reduced in all immersion levels.
em todos os níveis de imersão. Conclusão: Concluiu-se que a imersão Conclusion: We concluded that immersion reduce the respiratory
reduz a força muscular respiratória, pico de fluxo e a oxigenação muscle strength, peak flow and blood oxygenation, and thus it must
sanguínea, devendo ser considerado no momento da prescrição de be considered at the moment of physical therapy prescription for
fisioterapia especialmente para pacientes com doenças pulmonares. pulmonary disease patients.
Palavras-chave: força muscular, oximetria, imersão. Key-words: muscle strength, oximetry, immersion.

Recebido em 29 de janeiro de 2013; aceito em 6 de setembro de 2013.


Endereço para correspondência: Patrícia Dall’Agnol Bianchi, Rua Venâncio Aires, 1769/901, 98010-760 Cruz Alta RS, E-mail: pbianchi@unicruz.
edu.br, patibianchi@yahoo.com.br
440 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Introdução Neste sentido, o objetivo deste estudo foi analisar o com-


portamento da força muscular respiratória (FMR), pico de
O ambiente aquático apresenta inúmeras vantagens fluxo expiratório (PFE) e oxigenação sanguínea, aspectos ain-
quando comparado ao solo. Grande parte delas é mediada da não totalmente elucidados, durante repouso e caminhada
pelos efeitos fisiológicos decorrentes das propriedades físicas em indivíduos imersos na água em diferentes profundidades.
da água. O conhecimento das propriedades físicas e os conse-
quentes efeitos fisiológicos da imersão, associados aos efeitos Material e métodos
da temperatura da água e do movimento sobre o corpo hu-
mano, são de extrema importância para a segurança e sucesso Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa expe-
dos programas de reabilitação no ambiente aquático [1,2]. rimental descritiva. Para a realização deste estudo, foram
Desta forma, a prática do fisioterapeuta deve estar baseada avaliados 20 indivíduos do gênero masculino, com idades
em evidências científicas, tanto no momento da avaliação entre 30 e 50 anos, todos saudáveis do ponto de vista res-
como na elaboração do programa de reabilitação, levando à piratório, e residentes na cidade de Cruz Alta, RS. Foram
potencialização dos resultados obtidos. utilizados como critérios de exclusão: doença pulmonar
O organismo, quando inserido na água é submetido a obstrutiva crônica (DPOC); doenças respiratórias nos três
diferentes forças físicas e como consequência realiza uma série meses que antecederam a coleta; e, no dia das avaliações,
de adaptações fisiológicas. O sistema pulmonar é afetado pela a presença de qualquer sintoma respiratório. A amostra foi
imersão em água. Isso leva a alterações na função pulmonar, composta por indivíduos do gênero masculino para evitar
aumento do trabalho respiratório e alterações da dinâmica possíveis alterações decorrentes de alterações hormonais
respiratória [1]. O sistema respiratório juntamente com o comuns às mulheres.
coração ocupa a maior parte interna do tórax e, como todos A coleta de dados foi realizada em piscina aquecida com
os demais sistemas do corpo humano, não tem um funcio- temperatura média da água de 31°C.
namento independente e isolado, trabalha em interação com As variáveis avaliadas neste estudo foram: força muscular
outros órgãos e sistemas [2,3]. respiratória (PFE), saturação periférica de oxigênio (SpO2) e
Quando submetido à hidrocinesioterapia, o paciente so- frequência cardíaca (FC).
fre efeitos combinados do exercício aos efeitos da água e sua Para avaliar a FMR foi utilizado o manovacuômetro (FA-
temperatura [1,4,5-7]. As principais alterações observadas no MABRAS) calibrado em cm/H2O com limite operacional de
sistema cardiorrespiratório são: aumento do fluxo sanguíneo –300 cm/H2O a +300 cm/H2O e bocais modelo 001 (RO-
para o pulmão, aumento da compressão da caixa torácica e WAN) com orifício de 1,5 mm de diâmetro. A mensuração
redução da pressão arterial. Isso leva a alterações da função das pressões inspiratória máxima (PImáx) e expiratória máxi-
pulmonar, aumento do trabalho respiratório e alteração da ma (PEmáx) foi realizada antes de entrar na água, durante a
dinâmica respiratória [8-11]. imersão e após a imersão. A PImáx foi medida durante esforço
Com imersão na altura do processo xifóide do esterno, a iniciado a partir do volume residual (VR), a PEmáx foi medida
capacidade residual funcional (CRF) é reduzida em 54% do durante esforço iniciado a partir da capacidade pulmonar
normal [1,12]. A redução da CRF se deve principalmente a total (CPT). Solicitou-se aos sujeitos que as pressões fossem
redução do volume de reserva expiratório (VRE) que diminui mantidas por pelo menos três segundos [14,15].
aproximadamente 75% nesse nível de imersão. Após expira- O pico de fluxo expiratório foi avaliado pelo Peak Flow
ção, o VRE está reduzido a 11% da capacidade vital (CV). A Meter (Fuil Ronge 60-880L/min) com bocais descartáveis
CV reduz 6 a 9% com a água no pescoço quando comparada da (Xenon) com 3,5 cm de diâmetro. A mensuração do pico
com aqueles com água até o processo xifóide, 40 a 50% dessa de fluxo expiratório foi realizada antes de entrar na água,
redução da CV se dá pela ação da pressão hidrostática agindo durante a imersão e pós-imersão. A avaliação do PFE foi
em oposição à musculatura inspiratória e 50 a 60% dessa redu- realizada com o indivíduo mantendo a cabeça em posição
ção se deve ao aumento do volume de sangue para a cavidade neutra. Solicitou-se ao paciente uma inspiração máxima
torácica. A imersão reduz a circunferência da caixa torácica em até a CPT e, em seguida, um sopro o mais rápido e forte
aproximadamente 10%. Além disso, a capacidade de difusão é possível. Enfatizou-se a importância em se adaptar os lá-
reduzida, ocorre redução do fluxo aéreo expiratório, aumento bios ao bocal evitando, assim, vazamento de ar, chamou-se
do tempo expiratório e redução da complacência pulmonar. também a atenção para que evitassem o fechamento do
Todos esses aspectos levam a um aumento do trabalho respi- bocal com a língua. Observou-se que os indivíduos não
ratório com imersão até o pescoço [1,12]. realizassem pausa após a inspiração maior que 2 segundos.
Ocorrem alterações na função respiratória, tanto como Em cada avaliação do PFE, os indivíduos realizaram três
resultado direto da pressão hidrostática na parede torácica, manobras, uma vez que a diferença entre as mesmas não
quanto em razão da redistribuição central dos 700 ml de fosse maior que 10% [16].
sangue. Em linhas gerais essas alterações hidrostáticas e hemo- A análise da SpO2 foi realizada por meio do oxímetro
dinâmicas aumentam o trabalho da respiração em 65% [4,13]. (9500 Anyx Ringer Puls e Oximeter). Mensurou-se a saturação
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 441

de oxigênio através de uma técnica espectrofotométrica que fez-se a medida do pico de fluxo, força muscular respiratória
mede a variação pulsátil de transmissão de luz [17]. A medida e saturação de oxigênio. Completado 20 minutos de cami-
foi realizada antes de o indivíduo entrar na água, durante e nhada os indivíduos saiam da água e permaneciam sentados
após a imersão. A medida de saturação foi realizada antes das por 30 minutos, novamente eram aferidas as variáveis a cada
outras avaliações respiratórias, já que estas exigem esforço e 5 minutos durante o tempo de recuperação (T25, T30, T35,
isto poderia interferir nos resultados [18]. O oxímetro era T40, T45, e, T50).
acoplado preferencialmente ao dedo indicador de uma das Imersão no Processo Xifóide (PX): Essa avaliação foi
mãos e esperava-se o tempo necessário para estabilização dos realizada utilizando mesmo procedimento de repouso, inten-
valores e verificação do resultado. Os resultados eram apre- sidade e duração e, mesmo procedimento de recuperação da
sentados em percentual no visor de aparelho. avaliação anterior, porém a profundidade da água na altura
Determinou-se a intensidade da caminhada aquática do processo xifóide (PX).
através da avaliação da frequência cardíaca. Para avaliar a FC Imersão no Ombro (PO): Essa avaliação foi realizada
utilizou-se o sensor de batimentos cardíacos da marca Polar. A utilizando mesmo procedimento de repouso, intensidade e
intensidade da caminhada utilizada no estudo foi de 65% da duração, e mesmo procedimento de recuperação da avaliação
frequência cardíaca de reserva a qual consiste em (FC teórica anterior, porém a profundidade da água na altura do ombro.
máxima - FC de repouso) x % de intensidade + FC de repouso, Cada uma das avaliações ocorreu com um mínimo de 2
na qual, FC teórica máxima = 220 – idade do sujeito [19]. dias de intervalo entre uma e outra para o mesmo sujeito.
Para avaliar a força muscular respiratória, pico de fluxo e Os dados foram analisados pela análise de variância,
oxigenação sanguínea tanto nas condições de repouso quanto seguida da comparação de média utilizando-se o teste
de movimento (caminhada aquática), o estudo foi dividido de DUNCAN a 5% de significância (p ≤ 0,05). Para a
em duas fases de execução a seguir descritas: análise dos dados foi utilizado o programa computacional
SAS [20].
Fase 1 Este projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética
em Pesquisa da UNICRUZ e foi aprovado em seus aspectos
As avaliações durante imersão em repouso foram realizadas éticos e metodológicos de acordo com as Diretrizes estabele-
da seguinte forma: o indivíduo permanecia em repouso duran- cidas na Resolução 196/96 e complementares do Conselho
te 10 minutos sentado em uma cadeira ao lado da piscina para Nacional de Saúde (CAAE:11305212.8.0000.5322). Para
avaliação das variáveis antes da imersão. Imediatamente era participar do estudo, todos os voluntários foram informados
aferido o pico de fluxo, força muscular respiratória e oxigena- dos benefícios, riscos e metodologia que seria aplicada para
ção sanguínea de repouso (T0). Após, o indivíduo era imerso a realização do trabalho. Antes das avaliações, após estarem
na água onde permanecia em repouso na profundidade do cientes do conteúdo, todos assinaram o termo de consenti-
processo xifóide durante 30 minutos. Durante este período, mento livre e esclarecido.
foram registrados o pico de fluxo expiratório, força muscular
respiratória e saturação de oxigênio no 10º (T10), 20º (T20) Resultados e discussão
e 30º (T30) minutos. Completado o tempo de imersão, o
indivíduo saía da água e permanecia sentado em repouso por Os achados obtidos na primeira avaliação, na qual os
10 minutos, situação na qual também eram registradas as indivíduos permaneceram em repouso na água ao nível do
variáveis no 5º (T35) e 10º (T40) minutos da recuperação. processo xifóide (PX) por um período de 30 minutos estão
apresentados na Tabela I.
Fase 2 Pode-se observar que em nenhum dos tempos avaliados
durante o repouso ocorreu alteração significativa para a oxi-
A segunda fase do estudo caracterizou-se pela caminhada metria. Porém, o PFE durante o repouso apresentou redução
aquática em diferentes profundidades de imersão e foi dividida significativa durante a imersão. Esta se manteve até 15 minu-
em três sessões: tos após a saída do indivíduo da água, porém, não se manteve
Imersão na Prega Umbilical (PU): O indivíduo permane- por muito tempo, pois, na avaliação 45 minutos, ou seja, 30
cia em repouso durante 10 minutos sentado em uma cadeira minutos depois de sair da água esses já eram superiores aos
ao lado da piscina. Imediatamente após era aferido o pico de valores observados na pré-imersão. Os dados encontrados
fluxo, força muscular respiratória e saturação de oxigênio de vão ao encontro do estudo de Becker & Cole [1], que diz
repouso (T0). O indivíduo então era imerso na água até a que com a imersão ocorre redução do fluxo aéreo expiratório.
profundidade da prega umbilical e iniciava a caminhada até Referente à FMR, na avaliação repouso, pode-se verificar
atingir a intensidade na margem de 65% da FC de reserva, uma leve queda durante a imersão que se manteve até a última
a mesma era controlada pelos próprios participantes através aferição no tempo de recuperação para PImáx, porém não
do frequencímetro, e permaneciam caminhando, durante 20 significativa, e para PEmáx não ocorreu alteração durante
minutos, nesta intensidade; no 10° (T10) e 20° (T20) minutos toda a fase de avaliação.
442 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Tabela I - Imersão em repouso imerso ao nível do Processo Xifóide (PX).


Oximetria Peak Flow PEmáx PImáx
Momento(min)
SaO2(%-1) (I/min-1) (cm/H2O-1) (cm/H2O-1)
T0 98,45 ns 602,50 A 135,95 ns 185,00 A
T10 98,40 471,50 C 142,95 177,00 AB
T20 98,05 462,50 C 137,85 175,90 AB
T30 97,95 440,50 C 140,30 170,50 AB
T35 98,00 467,50 C 138,90 157,00 B
T40 98,20 513,00 B 142,00 172,70 AB
ProbF Trat. 0,1289 0,0001 0,95 0,25
Coef. var. % 0,72 9,28 18,39 19,67
1
Médias seguidas pela mesma letra, comparadas nas colunas, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade do erro; ns Valores de
F da análise de variância, não significativos ao nível de 5% de probabilidade do erro.

Tabela II- Caminhada em imersão ao nível da Prega Umbilical (PU).


Oximetria Peak Flow PEmáx PImáx
Momento(min)
SaO2(%-1) (I/min-1) (cm/H2O-1) (cm/H2O-1)
T0 97,50 A 602,50 A 135,50 BCD 195,00 AB
T10 96,85 AB 538,00 BC 125,25 D 174,80 BC
T20 96,40 BC 532,00 C 127,75 CD 165,90 C
T25 96,30 BC 532,00 C 145,00 ABC 175,00 BC
T30 95,65 C 535,00 BC 150,00 AB 175,00 BC
T35 95,75 C 562,00 BC 152,00 AB 198,00 AB
T40 95,80 C 562,00 BC 147,45 AB 194,45 AB
T45 95,65 C 566,50 BC 155,15 A 197,45 AB
T50 95,90 C 571,50 BA 157,50 A 201,50 A
ProbF Trat 0,0001 0,0002 0,0005 0,0035
Coef. var. % 1,27 9,67 18,88 18,45
1
Médias seguidas pela mesma letra, comparadas nas colunas, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade do erro; ns Valores de
F da análise de variância, não significativos ao nível de 5% de probabilidade do erro.

Tabela III - Caminhada em imersão ao nível do Processo Xifóide (PX).


Oximetria Peak Flow PEmáx PImáx
Momento(min)
SaO2(%-1) (I/min-1) (cm/H2O-1) (cm/H2O-1)
T0 98,50 A 594,00 AB 148,90 A 189,00 A
T10 97,40 AB 547,50 C 126,40 B 163,40 B
T20 96,90 BC 531,00 C 128,05 B 161,80 B
T25 96,35 CD 547,00 C 139,95 AB 188,00 A
T30 95,80 D 571,00 B 147,05 A 188,00 A
T35 96,30 CD 543,50 C 152,45 A 186,50 A
T40 96,40 CD 582,50 AB 149,95 A 192,35 A
T45 96,30 CD 589,50 AB 153,95 A 192,50 A
T50 96,30 CD 600,00 A 152,95 A 192,50 A
ProbF Trat 0,0001 0,0001 0,00016 0,0001
Coef. var. % 1,09 6,24 18,04 11,55
1
Médias seguidas pela mesma letra, comparadas nas colunas, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade do erro; ns Valores de
F da análise de variância, não significativos ao nível de 5% de probabilidade do erro.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 443

A fase 2 do estudo consistiu em avaliar a SpO2, PFE e FMR 20 minutos da caminhada e uma diminuição ainda maior da
pré, durante e pós-caminhada aquática em diferentes níveis. SpO2 (saturação de oxigênio) após 10 minutos da recuperação,
Salienta-se que durante essa avaliação os sujeitos permaneciam mantendo-se até a última aferição desta sessão, confirmando
caminhando durante 20 minutos na intensidade desejada os achados de Becker & Cole [1], Lazzari & Meyer [21],
sendo que, no 10° e 20° minutos realizava-se a medida do Meyer [22]. O fato de ocorrer maior queda e permanecer por
PFE, FMR e SpO2. Completando 20 minutos de caminha- mais tempo após a imersão, se deve, provavelmente, a ação da
da os indivíduos saiam da água e permaneciam 30 minutos pressão hidrostática atuando sobre quase todo o tórax levando
sentados ao lado da piscina e novamente eram aferidas as ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar aumentando o
variáveis a cada 5 minutos durante o tempo de recuperação. deslocamento do sangue da periferia para os grandes vasos,
Os dados do primeiro nível de imersão avaliado, nível determinando redução da circulação nos pequenos vasos
da prega umbilical (PU) estão apresentados na Tabela II. reduzindo também a oxigenação periférica.
Estes demonstram uma redução significativa e gradual da O PFE com água ao nível PX reduziu, durante a cami-
saturação de oxigênio durante todos os tempos da avaliação. nhada até os 15 minutos da recuperação, retornando aos
Observa-se que mesmo após saírem da água ocorreu queda da valores aferidos no tempo zero apenas nos 30 minutos após
saturação de oxigênio que permaneceu durante todo o tempo sair da água.
da fase de recuperação fora da água, corroborando os achados Quando se avaliou a FMR, PImáx e PEmáx, neste nível de
de Becker & Cole [1] e Lazzari & Meyer [21], Meyer [22] imersão, apenas perdeu força quando os indivíduos estavam
que mostram que o sangue é deslocado para cima através do em caminhada aquática, tanto para a musculatura inspiratória
sistema de mão única. Primeiro para as coxas, então, para a quanto expiratória.
cavidade abdominal e daí para os maiores vasos da região to- O terceiro nível de imersão avaliado foi ao nível do ombro
rácica e coração. Com a força da pressão hidrostática, atuando (PO), dados apresentados na tabela IV. Pode-se observar que
sobre todas as partes do corpo o deslocamento do sangue da a SpO2 reduziu, a partir dos 20 minutos de caminhada, e
periferia até o coração fica aumentado. Isso leva ao aumento permaneceu assim até os 30 minutos da recuperação, ou seja,
do fluxo sanguíneo pulmonar. Provavelmente o aumento do o referido tempo não foi suficiente para normalizar o nível
deslocamento do sangue da periferia para os grandes vasos, de oxigenação do sangue.
leva a redução da circulação nos pequenos vasos, reduzin- Neste nível, não se observou queda PFE durante ativida-
do também a oxigenação periférica, além disso, a ação da de. Talvez isso tenha ocorrido pela dificuldade de alcançar a
musculatura respiratória, em virtude do exercício, aumenta intensidade proposta, pois com água ao nível do ombro os
fluxo sanguíneo e consequentemente ocorre o aumento do indivíduos relataram dificuldades para realizar a caminhada,
retorno venoso. pois alguns princípios da água como densidade e densidade
Ao avaliar PFE destes indivíduos neste nível de imersão, relativa, flutuação, pressão hidrostática, fluxo laminar e fluxo
observou-se que houve queda desta variável nos 10 minutos turbulento, descritos por Skinner & Thomson [25], podem
de caminhada. Pode-se observar que durante o exercício em ter influenciado no deslocamento do corpo dentro da piscina.
água ocorreu diminuição de ar dos pulmões, confirmando os Os dados apresentados mostram que houve redução da
achados de Shupak [23]. Após os indivíduos saírem da água, PImáx, durante a caminhada, permanecendo assim até os 10
os valores do pico de fluxo foram elevando-se gradualmente, minutos da recuperação, e somente após este tempo retornou
a partir dos 10 minutos da recuperação, retornando aos va- aos valores aferidos antes da imersão. Para a PEmáx observou-
lores iniciais na última aferição desta sessão. Analisou-se que -se apenas diminuição durante caminhada.
o que reduz a ventilação pulmonar é o efeito combinado do A compressão exercida pela pressão hidrostática sobre a
exercício com a imersão e que o indivíduo não permanece caixa torácica altera a dinâmica respiratória, fazendo com que a
por muito tempo com a ventilação diminuída após imersão, musculatura trabalhe constantemente contra uma resistência.
discordando com os estudos de Shupak [23] que diz que Além disso, as melhores possibilidades de posicionamento,
depois do exercício ocorre redução da ventilação pulmonar. a diminuição da gravidade e a temperatura da água auxiliam
Para a FMR houve queda da força durante a caminhada e nos alongamentos musculares, inclusive da musculatura aces-
permaneceu assim até os 10 minutos de recuperação, já nos sória da respiração. Esses são aspectos que podem ser melhor
15 minutos de recuperação a força retornou aos valores obser- explorados em próximas investigações [24].
vados antes de entrar na água. Para a musculatura expiratória O estudo mostrou valores semelhantes da saturação de
o que se viu foi um aumento da força muscular no tempo de oxigênio ao nível PU e a nível PX, pode-se observar que a
recuperação, superando os valores de repouso. maior queda da saturação de oxigênio ocorreu quando os
O segundo nível de imersão avaliado foi ao nível do pro- indivíduos submeteram-se a caminhada ao nível PX.
cesso xifóide (PX), no qual os indivíduos foram submetidos Ao determinar os parâmetros do pico de fluxo em todos
à caminhada aquática neste nível. Nos dados apresentados os níveis tanto de repouso quanto na caminhada viu-se que,
na tabela III, observa-se que os valores da SpO2 tiveram leve em todos os níveis, o pico de fluxo reduziu nos 10 minutos
queda nos 10 minutos de caminhada, queda significativa aos de imersão. Pode-se concluir que o que reduz o pico de fluxo
444 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Tabela IV- Caminhada em imersão ao nível do Ombro (PO).


Oximetria Peak Flow PEmáx PImáx
Momento(min)
SaO2(%-1) (I/min-1) (cm/H2O-1) (cm/H2O-1)
T0 97,45 A 597,50 A
165,50 A
194,00 AB
T10 97,25 A 543,50 DE 129,90 B 173,50 B
T20 96,500 B 532,50 E 124,95 B 169,00 B
T25 96,55 B 557,50 CD 160,00 A 180,50 B
T30 96,50 B 559,50 CD 162,50 A 183,30 B
T35 96,20 B 566,50 C 161,50 A 187,50 AB
T40 96,40 B 575,00 BC 157,50 A 234,95 A
T45 96,45 B 588,50 AB 163,50 A 191,00 AB
T50 96,00 B 603,50 A 161,00 A 191,00 AB
ProbF Trat 0,0004 0,0001 0,0001 0,15
Coef. var. % 1,11 5,52 13,66 36,33
1
Médias seguidas pela mesma letra, comparadas nas colunas, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade do erro; ns Valores de
F da análise de variância, não significativos ao nível de 5% de probabilidade do erro.

é a pressão hidrostática da imersão e não o esforço físico. Conclui-se ainda que os dados obtidos com esta pesquisa con-
Os dados encontrados neste estudo estão de acordo com os tribuem de forma significativa para o embasamento científico
estudos de Becker & Cole e Cureton [1,26]. da fisioterapia realizada no meio aquático, pois os achados
Não se observou redução do pico de fluxo durante o exer- aqui apresentados devem ser considerados no momento da
cício neste nível de imersão. Isso pode ter ocorrido em função prescrição de um programa de reabilitação.
da dificuldade de realizar a caminhada e, assim, dificultando
que o indivíduo alcançasse os 65% da FC de reserva. Referências
Avaliando os resultados da última aferição das sessões no
tempo de recuperação, observou-se que em todos os níveis da 1. Becker BE, Cole AJ. Aspectos biofisiológicos da hidroterapia.
fase 2 (caminhadas) os valores do pico de fluxo retornaram aos In: Becker BE. Terapia aquática moderna. São Paulo: Manole;
valores iniciais, apenas na avaliação repouso (fase1) não houve 2000.p.37-39.
2. Bookspan J. Efeitos fisiológicos da imersão em repouso. In:
recuperação, provavelmente porque o tempo de recuperação
Ruoti RG, Morris DM, Cole AWJ. Reabilitação aquática. São
monitorado foi inferior às demais avaliações.
Paulo: Manole; 2000.p.36.
Com 20 minutos de caminhada, em todos os níveis de 3. Costa D. Organização anatomofuncional do sistema respirató-
imersão estudados, observou-se uma redução significativa rio. Fisioterapia Respiratória Básica. São Paulo: Atheneu; 1999.
da saturação de oxigênio. Sendo que esta redução obser- 4. Caromano FA, Themudo Filho MRF, Candeloro JM. Efeitos
vada permanecia assim durante o período de recuperação. fisiológicos da imersão e do exercício na água. Fisioter Bras
Já durante o repouso que foi realizado com a água ao 2003;4(1):60-5.
nível do PX não se observou queda significativa da SpO2. 5. Caromano FA, Candeloro JM. Fundamentos da hidroterapia
Isso pode ocorrer devido ao aumento do retorno venoso para idosos. Arq Ciênc Saúde Unipar 2001;5(2):187-95.
associado à resistência da água para a expansão da caixa 6. Martinez FG. Cinesiologia na água: Exercícios de hidrocinesio-
terapia. Revista Ciência em Movimento 1999;1:1.
torácica, que impediu que as trocas gasosas ocorressem de
7. Agostoni F, Gurtner G, Torri G, Rahn H. Respiratory mechanics
forma adequada. during submersion and negative-pressure breathing. J Appl
O PFE também apresentou queda significativa durante Physiol 1966;21(1):251-258.
a recuperação. Ou seja, após a saída da piscina, o pico de 8. Keller KD, Keller BD, Augusto IK, Bianchi PD, Sampedro
fluxo foi aumentando gradativamente durante o período de RMF. Avaliação da pressão arterial e da frequência cardíaca
recuperação. durante imersão em repouso e caminhada. Fisioter Mov
2011;24(4):729-36.
Conclusão 9. Pereira CAC. Espirometria. J Pneumol 2002;28(3):1-82.
10. Pereira CAC. I Conselho Brasileiro sobre Espirometria. J Pneu-
mol 1996;22:105-163.
Conclui-se que imersão tanto durante o repouso como du-
11. Carregaro RL,Toledo A.M. Efeitos fisiológicos e evidências
rante a caminhada interfere na função pulmonar, e a realização
científicas da eficácia da fisioterapia aquática. Revista Movi-
de exercícios mesmo que em diferentes profundidades apre- menta 2008;1(1).
senta o mesmo padrão de interferência na função pulmonar. 12. Sá NC, Banzato TC, Sasseron AB, Junio LCF, Fregadolli
Portanto, as alterações na FMR, PFE e SpO2 parecem estar P, Figueiredo LC. Análise comparativa da função respirató-
associadas, principalmente, ao aumento do retorno venoso, ao ria de indivíduos hígidos em solo e na água. Fisioter Pesq
invés da atuação da pressão hidrostática sobre a caixa torácica. 2010;17(4):337- 41.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 445

13. Baun G. Propriedades da água e adaptações fisiológicas. Aqua- 21. Lazzari JMA, Meyer F. Freqüência cardíaca e percepção de
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14. Irwin S, Teckin SJ. Fisioterapia Cardiopulmonar. São Paulo: Fís Saúde 1997;2:07-13.
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446 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Artigo original

Análise eletromiográfica dos músculos inspiratórios


em indivíduos saudáveis submetidos à carga máxima
de resistor linear e alinear
Electromyographic analysis of the inspiratory muscles in healthy
subjects submitted to maximum load of linear and alinear resistor
Éric da Silva, Ft. M.Sc.*, Saulo Araújo de Carvalho, Ft., M.Sc.**, Adeno Gonçalves de Oliveira, Ft.***,
Luana Gabrielle de França Ferreira, Ft.****, Joelson da Silva Medeiros****, Cláudia Barbosa Ladeira de Campos*****,
Alderico Rodrigues de Paula Júnior*****

*Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Docente do Centro Universitário
UNINOVAFAPI,**Especialista em Pneumologia Funcional (Universidade de Brasília), Docente do Centro Universitário UNINO-
VAFAPI, ***Especialista em Fisiologia do Exercício e Grupos Especiais (UESPI), ****Bacharel em Fisioterapia pelo Centro Universi-
tário UNINOVAFAPI,*****Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia da UNIVAP

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a ativação do músculo esca- The objective of this study was to evaluate the activation of the
leno (ESC) e esternocleidooccipitomastóideo (ECOM) através do scalene muscle (SCL) and sternocleido-occipito-mastoid (SCOM)
ganho de pico de Root Mean Square (RMS) obtido pela eletromio- through the peak gain of Root Mean Square (RMS) obtained by
grafia (EMG), em indivíduos saudáveis submetidos à aplicação de electromyography (EMG) in healthy subjects submitted to the
cargas máximas de resistor linear e alinear. Trata-se de um estudo application of maximum loads for linear resistor and alinear. This is
prospectivo, transversal, experimental, comparativo realizado com a prospective, cross-sectional, experimental and comparative study
24 indivíduos saudáveis alocados nos grupos linear (Grupo L) e which was performed with 24 healthy subjects allocated to the
alinear (Grupo A). Para análise estatística empregou-se o teste de linear group (Group L) and alinear group (Group A). For statistical
Shapiro-Wilk para avaliação da normalidade dos dados, teste de analysis we used the Shapiro-Wilk test to assess for the normality of
Spearman e Pearson para correlação entre as variáveis (nível de data, Pearson and Spearman test for correlation between variables
significância de 0,05). Os resultados revelaram boa correlação (r (significance level of 0.05). The results showed good correlation (r
= 0,62; p < 0,05) entre o Ganho de Carga Máxima de ECOM e = 0.62, p < 0.05) between gain maximum load of SCOM and SCL
ESC usando o resistor linear (Threshold® IMT), assim como boa using the linear resistor (Threshold ®IMT), as well as good correla-
correlação (r = 0,78; p < 0,01) entre o Ganho de Carga Máxima de tion (r = 0.78, p < 0.01) between gain maximum load of SCOM
ECOM e ESC usando resistor alinear (P-Flex®). Correlacionando and SCL using alinear resistor (P-Flex ®). Correlating Inspiratory
a Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e Picos de RMS de ESC e Pressure (MIP) and RMS peak SCL and SCOM, alone, there was
ECOM, isoladamente, houve apenas correlação do Pico de RMS only the correlation peak RMS SCOM in group L. It is concluded
ECOM do Grupo L. Conclui-se que não existe, necessariamente, that there isn’t necessarily a relationship between RMS peak and
relação entre o Pico de RMS e o nível de ativação motora dos level of motor activation of muscles in healthy young adults. For
músculos em jovens saudáveis. Para treinamento mais específico more specific training of SCOM it is suggested the application of
do ECOM sugere-se a aplicação de carga alinear. load alinear.
Palavras-chave: eletromiografia, força muscular, músculos Key-words: electromyography, muscle strength, respiratory
respiratórios. muscles.

Recebido em 3 de abril de 2013; aceito em 23 de agosto de 2013.


Endereço para correspondência: Éric da Silva, Av. Raul Lopes, 1905/906, Ed. Corinto, 64048-065 Teresina PI, E-mail: ericfisio@ibest.com.br,
esilva@uninovafapi.edu.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 447

Introdução Material e métodos

A monitorização da força muscular respiratória é um Trata-se de um estudo prospectivo com delineamento


instrumento importante de avaliação dentro da prática transversal, experimental, comparativo realizado no período de
clínica fisioterapêutica [1], pois evidenciam as alterações abril a maio de 2011 na Clínica Escola de Fisioterapia da Fa-
funcionais e o progresso de diversas doenças pulmonares culdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí,
e neuromusculares [2], sendo a mensuração das Pressões Faculdade NOVAFAPI, localizada na cidade de Teresina/PI.
Respiratórias Máximas (PRmáx), a forma mais praticada A população foi composta por indivíduos saudáveis estu-
atualmente [3]. dantes de graduação em Fisioterapia da Faculdade NOVAFA-
As medidas das duas PRmáx – Pressão Inspiratória Má- PI que estavam cursando entre o quarto e décimo semestre.
xima (PImáx) e Pressão Expiratória Máxima (PEmáx) – são Para a realização do estudo foi selecionada de forma aleatória
realizadas através do Manovacuômetro. A PImáx avalia, de simples (Sistema de Sorteio Microsoft Office Excel 2010) uma
forma conjunta, a força dos músculos inspiratórios – diafrag- amostra de 24 voluntários, distribuídos em dois grupos: 12
ma, escalenos, esternocleidooccipitomastóideo, intercostais indivíduos no grupo linear (Threshold® IMT) e12 no grupo
externos – enquanto a PEmáx avalia a força dos músculos alinear (P-Flex®).
expiratórios, abdominais e intercostais internos [4]. Os critérios de inclusão foram: adultos jovens, entre
O treinamento da musculatura inspiratória (TMI), uti- 20 e 30 anos, sem distinção de gênero e raça, sem doença sis-
lizando percentuais de PImáx, tem como função habilitar têmica, cardiopatia ou pneumopatia, IMC entre 18,5 e 29,9
músculos específicos a realizarem com maior facilidade a kg/m2, sem doenças metabólicas, neurológicas, ortopédicas,
função para a qual são destinados, objetivando tanto força praticantes ou não de exercícios físicos e que não tivessem
muscular quanto endurance [5-7]. realizado atividade extenuante num período de 12 horas antes
A realização do fortalecimento muscular inspiratório em dos procedimentos do estudo.
indivíduos saudáveis ou em portadores de limitação funcio- Foram excluídos da pesquisa indivíduos que apresentassem
nal ventilatória pode ser executada por meio de inspiração estado febril (temperatura axilar > 37,5ºC), tabagistas ou
contrarresistida com dispositivos de carga alinear ou linear. indivíduos em uso de substâncias estimulantes, esteróides
No primeiro, a carga resistiva aplicada é fluxo-dependente e, ou hormônios de crescimento ou anabolizantes, tosse ou
no segundo, a resistência independe do fluxo inspiratório. O expectoração e incapacidade de compreender ou executar os
método mais empregado e pesquisado é a aplicação de carga exercícios com o limiar de carga inspiratória, obstrução de
linear através do Threshold® IMT, embora o P-Flex® seja o vias aéreas superiores e processos inflamatórios (rinossinusite
resistor de carga alinear mais utilizado [8]. ou desvio de septo), contraindicações para as manobras de
A eletromiografia (EMG) tem como base a captação de mensuração das PRmáx.
sinal a partir da contração muscular. É um recurso diagnóstico Os sujeitos da amostra participaram voluntariamente da
e terapêutico desprovido de efeitos colaterais, não invasivo, pesquisa e receberam orientações a respeito do experimento,
indolor, extremamente seguro e o paciente tem a possibilidade incluindo seus objetivos, além de assinarem o termo de
de acompanhar a evolução da terapia [9]. consentimento livre e esclarecido, de acordo com os critérios
Sendo os músculos inspiratórios os alvos das técnicas de estabelecidos pela resolução nº.196/96 do Conselho Nacio-
treinamento muscular, é imperativo observar as possíveis nal de Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
variações de recrutamento muscular inspiratório durante em Pesquisa da Faculdade NOVAFAPI em Teresina/PI, com
a aplicação de carga máxima linear e alinear no momento número do processo CAAE nº 0510.0.043.000-10.
da execução do exercício respiratório, através das leituras
eletromiográficas dos músculos escalenos e esternocleidooc- Protocolo de pesquisa
cipitomastóideos de indivíduos saudáveis, com a justificativa
de que o conhecimento do padrão de ativação muscular, Inicialmente foram coletados dados demográficos e an-
durante a aplicação de cargas distintas, possibilita estabele- tropométricos como idade, gênero, massa corpórea, altura e
cer protocolos de treinamento respiratório específico para cálculo do índice de massa corpórea (IMC).
aplicações clínicas. A colocação dos eletrodos foi feita após preparação da
Com base no exposto, o objetivo deste estudo é avaliar pele com tricotomia, quando necessário, e com fricção usan-
e comparar o comportamento elétrico, através da eletromio- do papel lixa abrasivo com a posterior limpeza com álcool
grafia de superfície, dos músculos escalenos (ESC) e ester- 70%. As atividades foram registradas colocando-se um par
nocleidooccipitomastóideos (ECOM) em indivíduos jovens de eletrodos posicionados sobre os ventres dos músculos
saudáveis durante aplicação de cargas máximas de Threshold® ESC e ECOM à direita, visando evitar interferência do ciclo
IMT (-41 cmH2O) e P-Flex ® (peça vermelha com 2mm de cardíaco, seguindo a orientação das fibras musculares [10].
diâmetro). O eletrodo neutro era posicionado sobre a superfície óssea
do epicôndilo lateral direito.
448 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Embora não exista consenso para monitorização da mus- • Ganho de Pico RMS na Carga Máxima Linear: Divisão
culatura respiratória por EMG [11], para localização dos entre valor Pico RMS no ML-II e ML-C;
eletrodos e captura do sinal eletromiográfico do músculo ESC, • Ganho de Pico RMS na Carga Máxima Alinear: Divisão
o indivíduo foi colocado em decúbito dorsal, facilitando a entre valor Pico de RMS no MA-II e MA-C;
localização, uma vez que era eliminada a ação isométrica do • Ganho de Pico RMS na PImáx: Divisão entre valor Pico
músculo ECOM, sendo realizada a palpação da superfície de RMS na PImáx e nos momentos ML-C ou MA-C.
óssea da clavícula direita e traçada uma linha imaginária no
ponto médio desse osso, auxiliado por uma fita métrica [12]. A análise de normalidade foi executada usando o teste
Em seguida, foi colocado o centro do eletrodo a uma distância de Shapiro-Wilk, de modo que as variáveis de distribuição
de 3 cm do ponto médio clavicular e o centro do segundo normal foram analisadas com testes paramétricos (teste t de
eletrodo a 3 cm do centro do primeiro. Já no ECOM, o po- student) e as que não apresentaram distribuição normal foram
sicionamento do eletrodo foi feito no 1/3 inferior do ventre analisadas com testes não paramétricos (Teste de Mann-
da cabeça esternal do músculo. Para localização do eletrodo -Withney-Wilcoxon). Para avaliação de correlação entre as
de EMG, o indivíduo era colocado sentado ereto em cadeira variáveis foram utilizadas as análises de Pearson (distribuição
com apoio. Após o posicionamento era feita uma linha da normal) e a de Spearman (sem distribuição normal).
fúrcula esternal até o processo mastoideo e marcado 1/3 de Para os valores de r, a interpretação foi feita da seguinte
distância da fúrcula esternal. Uma segunda linha era traçada forma [14]: valores abaixo de 0,40 foram considerados como
perpendicularmente, partindo deste ponto, e os eletrodos po- correlação baixa; entre 0,41 e 0,59, correlação moderada; entre
sicionados no local onde essa linha cruzasse a cabeça esternal 0,60 e 0,79, correlação boa; acima de 0,80, correlação alta;
do ECOM, distando 3 cm entre seus centros e seguindo a valor de 1, perfeita correlação.
orientação de suas fibras [13]. Foi utilizado o intervalo de confiança de 95%, com nível
Para avaliação da PImáx foi utilizado manovacuômetro de significância de 0,05. Os programas estatísticos utilizados
analógico (WICA®, 0 a –300 cmH2O) adaptado a uma vál- para análise foram BioEstat 5.0 e Statistical Package for the
vula, bocal com 2 cm de diâmetro interno e 8 cm de com- Social Sciences (SPSS) versão 16.0.
primento. A PImáx foi avaliada com um mínimo de 3 testes
(medidas) e intervalo de 1 minuto entre eles, sendo avaliadas Resultados
a partir do volume residual (VR). A posição alcançada ao fim
do esforço inspiratório máximo deveria ser mantida durante Participaram do estudo vinte e quatro (24) sujeitos, sendo
um breve momento (no mínimo 2 segundos) [1]. 11 (45,8%) do sexo masculino e 13 (54,16%) do sexo femini-
Após verificação da PImáx, os sujeitos foram submetidos no. Os mesmos foram divididos em dois grupos denominados
à carga máxima dos resistores. de Grupo A (Carga Alinear) e Grupo L (Carga Linear). No
A coleta do sinal eletromiográfico, em cada grupo, foi Grupo A havia uma distribuição uniforme entre homens e
realizada em dois momentos: mulheres (50%) enquanto no Grupo L, predominavam as
Grupo L (Threshold® IMT): Momento Controle (ML-C) mulheres (58,3%).
compreende uma inspiração até a capacidade pulmonar total Com relação à idade, a média no Grupo A foi de 22,92
(CPT), sem carga, apenas com bocal e o Momento Carga ± 2,1 anos e no Grupo L 22,08 ± 1,5 anos. As medidas dos
Máxima (ML-II) que compreende inspiração até a CPT, com dados antropométricos e PImáx estão disponibilizadas na
carga máxima de Threshold®, ou seja, -41 cmH2O. Tabela I. Embora sem significância estatística, a média da
Grupo A (P-Flex®): Momento Controle (MA-C) compre- PImáx do Grupo Carga Linear foi maior que o do Grupo
ende uma inspiração até CPT, sem carga, apenas com bocal Carga Alinear (-170 ± 71 e -160,8 ± 43,7, respectivamente).
e o Momento Carga Máxima (MA-II): inspiração até CPT,
com carga máxima de P-Flex (peça vermelha com orifício Tabela I - Características antropométricas e valores da força mus-
de 2 mm). cular inspiratória dos indivíduos dos Grupos A e L.
A atividade elétrica durante os momentos (ML-C, ML- Grupo A Grupo L
-II, MA-C e MA-II) foi captada pelo Eletromiógrafo EMG (Carga Ali- (Carga
System do Brasil LTDA, São Paulo, Brasil obedecendo às reco- Variáveis
near) Linear)
mendações da Surface Electromyography for the Non-invasive (±) (±)
Assessment of Muscle (SENIAM) e da International Society of Massa Corpórea (kg) 66,75 (9,0) 66,63(12,8)
Electrophysiology and Kinesiology (ISEK) [12,13].
Estatura(m) 1,68 (0,7) 1,68 (0,7)
A normalização do sinal EMG foi realizada através da
relação entre os valores de Pico Root Mean Square- RMS, IMC (kg/m )
2
23,5 (2,2) 23,18 (2,7)
valor máximo de RMS, pois RMS deve ser interpretado PImáx (cmH2O) -160,8 (43,7) -170 (71,0)
como valor relativo. Dessa forma, foram obtidos para os IMC: índice de massa corpórea; PImáx: pressão inspirató-
dois músculos: ria máxima.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 449

Para comparar as médias dos valores de Root Mean Figura 2 - Análise de correlação de Spearman entre ganho de pico
Square (RMS) da atividade elétrica entre os dois grupos de RMS na carga máxima alinear de ESC e ECOM.
e entre os dois músculos inspiratórios, os valores de RMS

Ganho de carga máxima de ECOM


foram normalizados dividindo o valor de Pico de RMS 2.5000

no Grupo de Carga alinear


de carga máxima pelo valor de Pico de RMS do controle.
Os valores dos ganhos de pico de RMS obtidos para os 2.0000
músculos ESC e ECOM na Carga Máxima estão represen-
tados na Tabela II. 1.5000

Tabela II - Valores das médias em percentual (%) dos ganhos de 1.0000


pico de RMS na carga máxima dos músculos inspiratórios usando y=0.8502x + 0.1899
0.5000 rs=0,7832
resistor Linear (L) e Alinear (A).
p<0,01
Grupo L Grupo A 0.0000
Músculo p (entre grupos) 0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000
(%) (%) Ganho carga máxima de escaleno
Escaleno 117% 99% 0,0735 no grupo de carga alinear
ECOM 144% 103% 0,0735
p (entre músculos) 0,0712 0,5303
Significância estatística p valor <0,05. As análises de correlações entre ganho de pico RMS na
carga máxima alinear e o ganho de pico RMS na PImáx do
A Figura 1 mostra a análise de correlação de Spe- ESC e do ECOM estão representadas nas Figuras 3 e 4. Esta
arman entre o ganho de pico RMS na carga máxima análise tem o intuito de identificar se o ganho de ativação
linear (Grupo L) para ESC e ECOM. Ela mostra uma muscular, durante carga máxima de P-Flex, se relaciona àquele
boa correlação, estatisticamente significativa (rs = 0,62; obtido na manobra de obtenção de força máxima gerada pelos
p < 0,05), entre o ganho de carga máxima de ECOM e sujeitos, ou seja, na PImáx.
Ganho de Carga Máxima de ESC usando o resistor linear
(Threshold® IMT). Figura 3 - Análise de correlação entre ganho de pico de RMS carga
máxima do ECOM e ganho de pico RMS PImáx ECOM nos sujeitos
Figura 1 - Análise de correlação de Spearman entre ganho de pico do grupo carga alinear.
de RMS na carga máxima linear de ESC e ECOM. 2.5
no Grupo de Carga alinear
Ganho de Pimax de ECOM
Ganho de carga máxima de ECOM

2
3.5000
no Grupo de Carga Linear

3.0000 1.5
2.5000
1
2.0000
y=1.0922x + 0.0163
1.5000 0.5
rs=0,9335
p<0,0001
1.0000 0
y=0.4894x + 0.8682
rs=0,6294 0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000
0.5000
p=0,0283 Ganho carga máxima de ECOM
0.0000 no grupo alinear
0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000
Ganho carga máxima de escaleno
no grupo de carga linear De acordo com a Figura 3, observa-se uma alta correla-
ção (r = 0,93), por meio da análise de Pearson, e de forma
significativa (p < 0,0001), entre ganho de pico carga máxima
A Figura 2 mostra a análise de correlação de Spearman alinear e ganho de pico PImáx do músculo ECOM no Grupo
entre o ganho de pico RMS na carga máxima alinear A. O coeficiente de determinação (R2) foi de 0,8715, ou seja,
(Grupo A) para ESC e ECOM. Evidencia também uma 87,15% do ganho de PImáx do ECOM é “explicada” pelo
boa correlação, estatisticamente significativa (rs = 0,72; ganho de carga máxima de ECOM usando carga máxima
p < 0,01), entre o ganho de carga máxima de ECOM e de P-Flex.
ganho de carga máxima de ESC usando o resistor alinear
(P-Flex).
450 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Figura 4 - Análise de correlação entre ganho de pico de RMS carga são para estimar os valores preditos da PImáx e PEmáx em
máxima do ESC e ganho de pico RMS PImáx do ESC nos sujeitos adultos são necessárias. Indivíduos com maior idade terão
do grupo carga alinear. valores preditos de PImáx e PEmáx menores. Este fato torna
3 importante a seleção de uma amostra mais homogênea nas
pesquisas com EMG de músculos respiratórios de indivíduos
2.5
Ganho Pimax Escaleno

saudáveis, pois pode ser fator importante de viés nesse tipo


no Grupo alinear

2 de pesquisa [15,16]. Segundo a Tabela I, percebe-se que a


amostra da pesquisa era bem uniforme em suas características
1.5
demográficas, antropométricas e valores de PImáx.
1 A força muscular inspiratória (PImáx) é resultante do
y=0.9746x + 0.0412 sincronismo toracoabdominal respiratório, fruto da ação
0.5
rs=0,5455 sinérgica entre os músculos motores primários e os acessórios
0 p<0,0665 inspiratórios. No padrão normal de respiração, os comparti-
0.0000 0.5000 1.0000 1.5000 2.0000 2.5000 mentos torácico e abdominal devem se deslocar em conjunto
Ganho carga máxima de Escaleno
no grupo de carga alinear (em fase), para cima e para fora durante a inspiração. Este
deslocamento é relacionado ao volume de ar de entrada e saída
A Figura 4 mostra que não houve associação significativa dos pulmões. Para que tal ação aconteça de forma coorde-
entre o ganho de pico carga máxima com o ganho de pico nada, os músculos motores primários (diafragma, escalenos
PImáx do músculo ESC no Grupo Alinear, ou seja, o treina- e intercostais externos) atuam de forma fásica e os músculos
mento muscular inspiratório com carga máxima de P-Flex acessórios da inspiração de forma tônica [17].
não propicia uma ativação muscular próxima àquela obtida Dessa forma, o presente estudo procurou selecionar um
na PImáx (manobra de força máxima) do músculo ESC. músculo primário (fásico) e um músculo secundário (tônico)
A Tabela III analisa a correlação entre PImáx e picos de inspiratório. Para tal, foram escolhidos o escaleno (primário)
RMS de Escaleno e ECOM isoladamente nos sujeitos do gru- e o esternocleidooccipitomastóideo (secundário). Embora o
po linear e alinear. Observa-se que, quando correlacionados, diafragma seja o principal músculo primário inspiratório,
os picos de RMS no momento da PImáx de forma isolada optou-se pelo músculo escaleno. Variações interindividuais
(ou seja, sem análise de ganhos) dos músculos ESC e ECOM na quantidade de gordura subcutânea podem dificultar as
com a PImáx (força máxima gerada), não houve associação comparações de ativação muscular durante a EMG [18]. Por
significativa (p > 0,05) na maioria dos sujeitos estudados. ser o abdômen um local comum de acúmulo gorduroso e,
Apenas o grupo carga linear apresentou relação significativa pelo fato da captação de sinal de atividade elétrica durante
(p < 0,01) da PImáx com Pico de RMS do músculo ECOM estudo piloto ter se tornado difícil, não foi utilizado o mús-
durante a manobra. culo diafragma. Somado a isto, na posição sentada, a prega
subcutânea é aumentada e isso poderia aumentar a distância
Tabela III - Análise de correlação de Spearman entre força muscular entre os eletrodos.
respiratória (PImáx) e picos de RMS obtidos durante manobra de A eletromiografia de superfície (EMGS) tem sido utilizado
PImáx nos indivíduos dos grupos linear e alinear. em pesquisas e aplicações clínicas para a análise não-invasiva
Coefi- p – va- dos músculos do pescoço para fornecer informações importan-
Correlações Grupo
ciente lor tes a respeito das condições musculoesqueléticas, da avaliação
PImáx e Pico RMS Esca- Carga ergonômica e da função respiratória [13,19].
-0.3304 0.2941
leno na PImáx alinear A localização dos pontos de EMG do nosso estudo, tanto
PImáx e Pico RMS Carga na cabeça esternal do músculo ECOM como no ESC foi
-0.1265 0.6951 feita na porção inferior do ventre muscular, com base em
ECOM na PImáx alinear
estudos mais recentes que procuraram desenvolver, por meio
PImáx e Pico RMS Esca-
Carga linear -0.2636 0.4077 da descrição da posição da zona de inervação, a forma mais
leno na PImáx
adequada para aplicações clínicas e de pesquisa da EMG [11].
PImáx e Pico RMS O ganho na ativação muscular durante a aplicação de carga
Carga linear -0.7698 0.0034*
ECOM na PImáx máxima relacionada ao controle pode ser expresso em porcen-
Significância estatística p valor <0,05.
tagem, como foi feito, para facilitação da interpretação dos
resultados. Da mesma forma, o grupo ou momento controle
nos trabalhos pesquisados [5,20] que avaliaram diferenças en-
Discussão tre as ativações musculares pré e pós-carga, tiveram suas coletas
de RMS controle durante a respiração tranquila, o que vai
As pressões respiratórias máximas sofrem interferências de encontro às recomendações da American Thoracic Society/
do sexo e da idade e, por este motivo, as equações de regres- European Respiratory Society, tornando-se uma limitação em
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 451

algumas pesquisas com EMGS. Estas sociedades preconizam, observar que houve uma boa correlação, utilizando um nível
na necessidade de comparações de RMS entre músculos respi- de significância de 5%. Este fato evidencia que os ganhos de
ratórios, a realização da padronização/normalização do sinal ativação muscular em relação ao repouso, nos dois músculos,
para a posterior obtenção de valores controles. No presente estão correlacionados. Dessa forma, quando o ganho de pico
estudo, as recomendações foram atendidas, realizando-se de RMS do ECOM aumenta, o de ESC também aumenta,
para normalização, a execução de manobra com inspiração ou vice-versa, na carga máxima linear. Este fato é importante,
máxima, até CPT, e não apenas, de respiração tranquila em pois corrobora o sinergismo dos grupos respiratórios primários
volume corrente [18]. e secundários durante a inspiração forçada, o que oferece
Cabe enfatizar, que não foi encontrado na literatura grande vantagem mecânica ao sistema respiratório [17]. Tal
estudos que utilizassem para a comparação de ganhos de fato pode justificar a maior ativação do músculo acessório
ativação muscular respiratória ou de outro grupo muscular ECOM durante as manobras com esforço máximo usadas em
esquelético, o pico de RMS. Julgou-se mais plausível seu nosso trabalho, ou seja, o ganho de pico de RMS do ECOM,
uso neste estudo, pois foram utilizados para análise valores tanto na carga máxima como na PImáx, não está relacionado,
máximos alcançados de PImáx e carga máxima dos resistores necessariamente, apenas com a geração de força, mas com
(Threshold® IMT e P-Flex ) e, consequentemente, necessitaria tarefas relacionadas à facilitação da inspiração.
avaliar os valores máximos atingidos de RMS (Pico de RMS) A carga máxima usada no Threshold®IMT se torna relati-
nessas manobras. Essa estratégia foi importante para realizar, vamente baixa em saudáveis, visto que a faixa de aplicação é
dentre outras, a análise de correlação entre pico de RMS e limitada a 41 cmH2O. Indivíduos saudáveis possuem valores
PImáx, possibilitando inferir a existência ou não da relação de pressão inspiratória acima de 60 cmH2O, portanto quando
entre força muscular respiratória gerada e o valor de pico de se pretende usar porcentagens maiores de PImáx esses valores
RMS da EMG. ultrapassam a carga máxima do Threshold®IMT.
Nos últimos anos, o valor terapêutico do treinamento Observando a correlação entre ganho de pico RMS carga
muscular respiratório, tanto em pessoas normais como em máxima e ganho de pico RMS PImáx do músculo ECOM
indivíduos portadores de paresia respiratória, tem sido alvo no Grupo A, percebeu-se uma significativa associação entre
de muito interesse entre os pesquisadores. Diversas são as elas (p < 0,0001). Em contrapartida, não houve associação
técnicas empregadas para o TMI, porém as mais praticadas significativa entre o ganho de pico carga máxima com o
são o treinamento com carga linear e alinear. Ambas possuem ganho de pico PImáx do músculo ESC no mesmo grupo.
limitações na resistência imposta durante a inspiração, sendo Sendo assim, a aplicação de carga máxima de PFlex exerce
a carga máxima do linear de -41cmH2O e do alinear, com uma ativação do músculo ECOM próxima àquela obtida nas
peça de 2mm, essa resistência poderá chegar até 80 cmH2O, manobras de PImáx (manobra de força máxima). Este achado
dependendo do fluxo inspiratório [1]. é importante, pois o P-Flex parece exercer uma sobrecarga
O presente estudo mostrou que os níveis de ativações do maior (mais específica) aos músculos inspiratórios secundários
ECOM e ESC, expressas em ganho de pico RMS de carga ou acessórios, como é o caso do ECOM.
máxima, aumentaram significativamente quando comparada Por dotar de peças que podem oferecer uma sobrecarga
a situação de inspiração profunda sem carga para a respiração variável entre 30 e 80% da PImáx, o P-Flex, principal dis-
com carga máxima inspiratória, sugerindo uma relação dose- positivo para treinamento com carga alinear, pode propiciar
-resposta no que diz respeito à ativação muscular em saudáveis ganhos mais importantes de ativação muscular de acessórios.
usando os resistores disponíveis atualmente. Destaque para o Importante é que mesmo com fluxos mais baixos, pode-se
predomínio do ganho de pico de RMS do ECOM (125%), manter uma sobrecarga elevada à musculatura inspiratória
em relação ao ESC (110%) durante a aplicação de carga em caso de uso da peça com menor orifício (2mm).
máxima linear. Foi identificado no presente estudo a ausência de cor-
Vale salientar, que o ECOM, anatomicamente, tem maior relação significativa entre pico de RMS de ESC e ECOM,
distância entre suas inserções quando comparado ao músculo isoladamente (sem ganhos), na PImáx com a força máxima
escaleno. O primeiro se estende do processo mastoideo e gerada pelos indivíduos, ou seja, com a PImáx. Isto mostra que
occipito até a fúrcula esternal (cabeça esternal), enquanto o o Pico de RMS na PImáx não é um bom indicador de força
segundo tem sua inserção proximal nos processos transversos máxima gerada, ou ainda é possível que a atividade muscular
de C3-C7 e se estende até a primeira e segunda costela. Esse máxima do músculos captada pela EMG aconteça em um
fato pode explicar a maior geração de força do ECOM (ganho momento diferente (antes ou após) daquele onde é alcançado
de pico de RMS), em relação ao ESC, quando se parte de a PImáx. Baseado nos resultados encontrados, conclui-se que
VR, pois o ECOM neste volume está com suas fibras mais a análise dos picos de RMS não é suficiente para inferir sobre
alongadas e com maior capacidade de gerar força [21]. geração de força e trabalho muscular em jovens saudáveis.
Quando analisadas as correlações entre ganho de pico Neste estudo tivemos algumas limitações: no protocolo,
RMS na carga máxima do resistor linear e alinear (Grupo L todos os sinais eletromiográficos foram coletados durante a
e Grupo A, respectivamente), para ESC e ECOM, podemos manobra e estas foram feitas em apenas um dos tipos de resis-
452 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

tor (determinado por sorteio), não sabendo o comportamento 8. Enright S, Unnithan V. Effect of inspiratory muscle training
da ativação muscular após um programa, mais demorado, intensities on pulmonary function and work capacity in
de TMI. Da mesma forma, a determinação do ponto para people who are healthy: a randomized controlled trial. Phys
fixação dos eletrodos seguiu o de trabalhos anteriores e, ainda, Ther 2011;91(6):894-905.
9. Potney LG, Roy SH. Eletromiografia e testes de velocidade de
não há consenso sobre a localização dos pontos de pesquisa
condução nervosa. In: O’Sullivan SB, Schmitz TJ, eds. Fisiote-
eletromiográfica dos músculos respiratórios. Por fim, seria rapia: avaliação e tratamento. 5nd ed. São Paulo: Manole; 2010.
interessante, em estudos futuros, submeter um mesmo indi- 10. Golabbakhsh M, Masoumzadeh M, Sabahi MF. ECG and
víduo a diferentes cargas inspiratórias (linear e alinear), pos- power line noise removal from respiratory EMG signal using
sibilitando uma avaliação seriada do recrutamento muscular. adaptive filters. Majlesi Journal of Electrical Engineering
2011;5(4):28-33.
Conclusão 11. Kallenberg LA, Preece S, Nester C, Hermens HJ. Reproducibi-
lity of MUAP properties in array surface EMG recordings of the
Diante dos resultados do presente estudo e da metodologia upper trapezius and sternocleidomastoid muscle. J Electromyogr
Kinesiol 2009;19(6):536-42.
nele empregada, podemos inferir que não existe, necessaria-
12. Falla D, Dall’alba P, Rainoldi A, Merletti R, Jull G. Location of
mente, relação entre o pico de RMS e o nível de ativação
innervations zones of sternocleidomastoid and scalene muscles:
motora detectável pela eletromiografia do músculo escaleno e a basis for clinical and research eletromiography applications.
esternocleidooccipitomastóideo em jovens saudáveis. Embora Clin Neuro Physiol 2002;113(1):57-63.
possibilite um ganho de pico de RMS significativo, o uso de 13. Hermens HJ, Frekis B, Merletti R, Stegman D, Rau G, Klug
Threshold® IMT com carga máxima se mostrou insuficiente CD, Hägg G. European recommendations for surface elec-
para ativar efetivamente os músculos analisados em relação tromyography – SENIAM. Enschede: Roessingh Research and
ao ganho de pico de RMS na PImáx. O estudo sugere o uso Development 1999. p. 16-17.
da carga alinear (P-Flex) quando se deseja um treinamento 14. Solomonow, MA. Practical guide to electromyography in-
muscular mais específico do esternocleidooccipitomastóideo, ternational society of biomechanics. Proceedings of the 15th
JyVaskyla, International Society of Biomechanics Congress.
pois a ativação muscular com a carga máxima desse resistor
Finland, 5 July, 1995. p. 96.
apresentou relação significativa com a encontrada na manobra 15. Sacco ICN, Alibert S, Queiroz BWC, Pripas D, Kieling I,
de força máxima inspiratória (PImáx). Kimura AA et al. Confiabilidade da fotogrametria em relação
a goniometria para avaliação postural de membros inferiores.
Referências Rev Bras Fisioter 2007;11(5):411-7.
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 453

Artigo original

Análise do nível de concordância interobservadores


na avaliação postural estática em idosos residentes
no município de São Paulo
Analysis of the level of interobserver agreement in static postural
assessment in elderly people living in São Paulo
Camila Costa Ibiapina Reis, Ft., M.Sc. *, Livia Pimenta Reno Gaparotto, Ft., M.Sc.*, Aline Abreu Lando Kenmochi, Ft.**,
Ana Claudia Vasconcellos Queiroz**, Francini Vilela Novais***, Edson Lopes Lavado****, Luiz Roberto Ramos*****

*Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), **Membro da equipe de
fisioterapia do Centro de Estudos do Envelhecimento da UNIFESP, ***Educadora física, doutoranda em Ciências, pelo programa de
Pós-graduação em Saúde Coletiva da UNIFESP, ****Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), *****Professor Titular
de Medicina Preventiva da UNIFESP

Resumo Abstract
Introdução: Diversos instrumentos de avaliação postural são Introduction: Several postural assessment tools are described in
descritos na literatura, porém não existe um consenso de qual seria the literature, but there is no consensus as to the best method to be
o melhor método utilizado na prática clínica. Sabe-se que exames used in clinical practice. It is known that postural accurate tests can
posturais precisos podem ser realizados com equipamentos simples, be performed with simple equipment, low cost and easy applicability.
de baixo custo e fácil aplicabilidade. Como exemplo desses instru- As an example of these instruments, we highlight the plumb line
mentos, destacam-se o fio de prumo e o simetrógrafo. Entretanto, and squared. However, these methods are characterized as qualitative
estes se caracterizam por serem métodos qualitativos e subjetivos. and subjective. Aim: Our study aimed to analyze the level of inte-
Objetivo: Nosso estudo teve como objetivo analisar o nível de robserver agreement in evaluating postural elderly residents in the
concordância interobservadores na avaliação postural em idosos city of São Paulo. Methods: During evaluation we used the squared
residentes no município de São Paulo. Métodos: Durante a avaliação and plumb line, plus anterior, posterior, right and left side images.
foi utilizado o simetrógrafo e o fio de prumo, além de fotografias This evaluation included the participation of two observers simulta-
nas vistas anterior, posterior, lateral direita e esquerda. Essa avaliação neously and without communication. For analysis of interobserver
contou com a participação de dois observadores, simultaneamente agreement we used the Kappa concordance test, with significance
e sem comunicação. Para análise da concordância interobservadores level of p < 0.001. Results: One hundred and sixty (160) seniors
utilizou-se o teste de concordância de Kappa, com nível de signifi- were evaluated, including 104 women and 56 men, mean age 72,1
cância p < 0,001. Resultados: Cento e sessenta (160) idosos foram ± 7,1 years old. There was a good level of interobserver agreement
avaliados, sendo 104 mulheres e 56 homens, com idade 72,1 ± 7,1 in the assessment of postural elderly, especially good agreement on
anos. Verificou-se um bom nível de concordância interobservadores 16 variables, with a minimum of 0.813 and maximum of 0.949
na avaliação postural dos idosos, destacando-se boa concordância em and only two categories showed poor agreement, with minimum
16 variáveis analisadas, com valor mínimo de 0,813 e valor máximo and maximum of 0.737 and 0.750 respectively. Conclusion: Postural
de 0,949 e apenas duas categorias apresentaram baixa concordân- assessment, conducted by squared and plumb line, got good level
cia, sendo valor mínimo de 0,737 e máximo de 0,750. Conclusão: of agreement between observers. Because they are instruments of
A avaliação postural, realizada através do simetrógrafo e do fio de easy application, low cost and great practicality, we recommend its
prumo, obteve bom nível de concordância entre os observadores. use in postural assessments in the elderly.
Por serem instrumentos de fácil aplicabilidade, baixo custo e grande Key-words: assessment, posture, elderly.
praticidade, recomenda-se seu uso nas avaliações posturais em idosos.
Palavras-chave: avaliação, postura, idosos.

Recebido em 3 de abril de 2013; aceito em 26 de setembro de 2013.


Endereço para correspondência: Camila Costa Ibiapina Reis, Rua Capitão Tomaz de Aquino, 2300, casa 18, 64056-520 Teresina PI, E-mail:
camilacibiapina@yahoo.com.br
454 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Introdução e 87 anos e com idade de 73,1 ± 7,1 anos. Vale destacar que
87,9% dos idosos encontravam-se na faixa entre 60 e 75
É notório, em todo o mundo, o crescimento acelerado da anos e o índice de massa corporal predominante estava entre
população de idosos. De acordo com dados do Censo [1] o 30 e 34,9 kg/m2. Destes idosos foram excluídos 31 devido
Brasil conta com uma população idosa de mais de 20 milhões. aos seguintes critérios: presença de dor musculoesquelética
Paralelo a esse aumento populacional aparecem as alterações aguda no momento da avaliação postural (a dor aguda foi
posturais decorrentes do próprio processo do envelhecimento considerada aquela dor com duração de algumas horas até,
[2-5]. Essas alterações posturais devem ser identificadas de no máximo, três meses), cadeirantes, com incapacidade para
maneira precisa e rápida, necessitando, portanto de instru- compreender e atender ao comando verbal simples, em uso
mentos viáveis na prática clínica. A literatura aborda diversos de dispositivos auxiliares para a marcha (muleta, andador,
instrumentos de avaliação postural, porém não existe um bengala), presença de próteses em membros superiores e/ou
consenso de qual seria o melhor método utilizado. inferiores, com distúrbios neurológicos (Parkinson, sequela
Kendall et al. [6] destacam que exames posturais precisos de acidente vascular cerebral (AVC), esclerose múltipla),
podem ser realizados com equipamentos simples, de baixo espondilite anquilosante, e idosos com índice de massa cor-
custo e fácil aplicabilidade. Como exemplo desses instru- poral maior que 40 kg/m2. Foram incluídos todos os idosos
mentos destacam-se o fio de prumo e o simetrógrafo (quadro com idade igual ou superior a 60 anos e que apresentavam
de postura). marcha funcional.
Durante a avaliação postural com o fio de prumo e o sime- A avaliação da postura corporal estática foi baseada no
trógrafo, a postura padrão é utilizada como referência, com a método proposto por Kendall et al. [6] sendo utilizado como
finalidade de comparar o alinhamento postural do indivíduo. instrumentos um quadro de postura - simetrógrafo (2 m de
Nela observa-se o alinhamento ideal dos segmentos corporais altura e 98 cm de largura, marca Carci), uma plataforma
com um mínimo de tensão muscular e articular, promovendo de borracha (65 cm de comprimento, 79 cm de largura e
eficiências fisiológicas e biomecânicas máximas. Em relação ao 4 cm de altura), um fio de prumo, uma câmera fotográfica
alinhamento ideal espera-se que a coluna vertebral apresente digital – marca Sony (resolução 6.0 megapixels), um tripé
as curvaturas fisiológicas e os membros inferiores estejam em (suporte da câmera), um computador com Windows e uma
perfeito equilíbrio para a sustentação do corpo. A posição conexão USB para análise das fotos. A câmera foi fixada no
“neutra” da pelve é favorável ao bom alinhamento do tronco tripé na posição vertical e posicionada a uma distância de
e do abdome. O tórax deve estar numa posição que favoreça 2,64m do idoso e a uma altura de 1m do chão, enquanto
a função adequada dos órgãos respiratórios e a cabeça ereta que o fio de prumo foi fixado no teto e logo à frente do
e centralizada, minimizando o estresse sobre a musculatura simetrógrafo. A avaliação foi realizada por dois observado-
cervical [6]. res (fisioterapeutas) simultaneamente e sem comunicação.
Vários estudos destacaram o simetrógrafo e o fio de prumo Ambos os observadores receberam uma ficha de avaliação
como instrumentos de avaliação postural [7-11]. Apesar do postural individual.
fio de prumo e simetrógrafo serem instrumentos bastante Durante a avaliação postural, o idoso foi posicionado,
utilizados na prática clínica, estes se caracterizam por serem ortostaticamente, atrás do simetrógrafo e do fio de prumo. A
métodos qualitativos e subjetivos, além disso, na literatura, primeira fotografia realizada foi na vista anterior, na qual o fio
destacam-se poucos estudos sobre sua confiabilidade. Assim, de prumo foi posicionado equidistante aos maléolos mediais. A
nosso estudo teve como objetivo verificar o nível de concor- foto seguinte foi na vista lateral esquerda, sendo o fio de prumo
dância interobservadores na avaliação postural. colocado, ligeiramente, à frente do maléolo lateral esquerdo.
Posteriormente, o idoso foi posicionado na vista posterior,
Material e métodos tendo o fio de prumo equidistante aos maléolos mediais e para
finalizar foi posicionado na vista lateral direita e o fio de prumo
Trata-se de uma amostra populacional do bairro Vila colocado, ligeiramente, à frente do maléolo lateral direito. Para
Clementino, município de São Paulo, onde foram selecio- facilitar o posicionamento do fio de prumo em relação aos
nados, aleatoriamente, cinco setores censitários na referida maléolos laterais, foi marcada, com lápis dermatográfico, uma
região. Após esta seleção foram visitados todos os domicílios linha vertical logo à frente de cada maléolo.
destes setores e as pessoas presentes. Por ocasião da visita, Todos os idosos utilizaram a mesma base dos pés, sendo
foram questionadas sobre o número de idosos residentes no padronizada para todas as posições, descritas a seguir: os
domicílio, dados demográficos como sexo e idade, disponi- calcanhares separados a uma distância de 7,5cm e os ante-
bilidade de horário para avaliação e telefone de contato. Após pés, em desvio lateral, em um ângulo de 10°, em relação à
essa triagem, os idosos foram convidados, aleatoriamente, por linha média, para cada lado. Foi instruído, ao idoso, manter
meio de telefonemas, a participar da pesquisa. o olhar em linha reta (olhar no horizonte) e os membros
Foram convidados a participar do estudo 191 idosos, superiores soltos ao longo do corpo. Após o posicionamento
sendo 127 mulheres e 64 homens, na faixa etária entre 60 correto, o pesquisador orientou-o a ficar confortável e, em
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 455

seguida, o idoso foi fotografado. A utilização de fotografias segmentos foram avaliados por meio das fotografias, tendo
foi adotada com a finalidade de evitar vieses de aferição, pois como referência a postura padrão proposta por Kendall et
o idoso oscila anteroposterior e, lateralmente, permitindo, al. [6]. Os segmentos analisados, na vista lateral esquerda e
assim, aos avaliadores analisarem no mesmo momento. direita, foram: joelhos, ombros, cabeça, pelve, coluna cervical,
No total, foram registradas quatro fotos de cada idoso, nas torácica e lombar. Com exceção da pelve e da coluna vertebral,
vistas anterior, lateral esquerda, posterior e lateral direita os demais segmentos foram avaliados através de fotografias.
respectivamente. Cada avaliador teve acesso a todas as fotos A avaliação da coluna vertebral foi realizada por meio da
para análise. palpação e da visualização lateral, no momento da avaliação,
Na vista anterior, foram analisados os seguintes segmentos: pois as fotografias podem não avaliar, corretamente, devido
arco longitudinal dos pés, antepés, joelhos, ombros e cabeça. às escápulas e ao tecido adiposo que se sobrepõem à imagem.
O arco longitudinal interno dos pés foi avaliado através da E, na vista posterior, foram analisados os pés, observando o
palpação e da subjetividade de cada avaliador. Os demais posicionamento do tendão de Aquiles.

Quadro 1 - Considerações relacionadas a cada segmento corporal na avaliação da postura corporal estática.
Segmento Corporal Referências
Arco plantar neutro Leve arco na planta do pé
Arco plantar plano Desabamento da curvatura plantar
Arco plantar cavo Excesso de curva do arco plantar
Joelho neutro (VA) Quando a distância entre os côndilos e os maléolos é simétrica em relação ao fio de
prumo
Joelho valgo (VA) Quando os côndilos do fêmur se tocam e os maléolos não
Joelho varo (VA) Quando os maléolos se tocam e os côndilos do fêmur não
Antepé neutro Desabamento do peso simétrico nos bordos medial e lateral
Antepé pronado Desabamento do peso no bordo medial do pé
Antepé supinado Desabamento do peso no bordo lateral do pé
Ombro alinhado (VA) Quando a linha do simetrógrafo cruza ambos os ombros no mesmo nível
Ombros desalinhados (VA) Quando a linha do simetrógrafo cruza ambos os ombros em níveis diferentes
Cabeça centralizada (VA) Quando a linha do fio de prumo divide a face em duas simetricamente
Cabeça lateralizada (VA) Quando a linha do fio de prumo não divide a face, simetricamente, predominado ou para
direita ou para esquerda
Retropé neutro Quando o tendão de Aquiles está vertical em relação à base do solo
Retropé pronado Quando o tendão de Aquiles está desviado, medialmente, em relação à linha média
Retropé supinado Quando o tendão de Aquiles está desviado, lateralmente, em relação à linha média
Joelho neutro (VL) Quando o fio de prumo passa, levemente, anterior à articulação do joelho
Joelho flexo (VL) Leve: quando a articulação do joelho está anterior ao fio de prumo, em flexão, até 5cm;
Moderado: acima de 5cm e abaixo de 10cm de anteriorização em relação ao fio de pru-
mo e acentuado acima de 10cm
Joelho hiperextenso (VL) Quando a articulação do joelho está posterior ao fio de prumo
Lordose fisiológica da lombar e cervical Leve curvatura côncava posterior
Hiperlordose lombar e cervical Acentuação da curvatura fisiológica
Retificação da lombar e cervical Desaparecimento da curvatura côncava posterior
Cifose fisiológica torácica Leve curvatura convexa posterior
Hipercifose torácica Acentuação da curva fisiológica
Retificação torácica Desaparecimento da curvatura convexa posterior
Ombros centralizados (VL) Quando o fio de prumo passa no meio da articulação do ombro
Ombros anteriorizados (VL) Leve: quando a linha média do ombro encontra-se anterior ao fio de prumo até 5 cm; Mo-
derado: acima de 5 cm e abaixo de 10 cm de anteriorização em relação ao fio de prumo e
acentuado acima de 10cm
Ombros posteriorizados (VL) Quanto à linha média do ombro está posterior ao fio de prumo
Cabeça centralizada (VL) Quando o fio de prumo coincide com o lóbulo da orelha
Cabeça anteriorizada (VL) Leve: quando o lóbulo da orelha encontra-se até 5cm anteriorizado em relação do fio de
prumo; Moderado: quando a anteriorização é maior que 5cm e menor que 10cm e acen-
tuada acima de 10cm de anteriorização em relação ao fio de prumo
Cabeça posteriorizada (VL) Quando o lóbulo da orelha está posterior ao fio de prumo
Legenda: VA: vista anterior; VL: vista lateral
456 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

O Quadro 1 mostra as considerações referentes a cada 675/08, em 21/05/2008. Os idosos interessados em parti-
segmento avaliado no plano frontal e sagital, elaboradas cipar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e
durante o nosso estudo. esclarecido, após receberem informações detalhadas sobre a
É importante destacar que as alterações dos joelhos (vista natureza da investigação.
anterior) e da coluna vertebral foram classificadas em leve,
moderada ou acentuada e essa classificação foi baseada na Análise estatística
subjetividade de cada observador.
Na avaliação da pelve, em particular, foi seguido o pro- Descrição da amostra com a distribuição de frequências
tocolo proposto por Santos [12]. Inicialmente, o idoso foi para o sexo e faixa etária, cálculo de tendência central (média
posicionado em ortostatismo, com os pés na posição “de e mediana), dispersão (desvio padrão). Na análise da concor-
passo”, enquanto o observador ajoelhou-se ao lado (a posi- dância interobservadores utilizou-se o teste de Kappa, com
ção “de passo” corresponde ao posicionamento natural dos nível de significância menor que 0,001 para todas as variáveis
pés após a deambulação). Em seguida, foram identificadas analisadas.
a espinha ilíaca anterossuperior (EIAS) e a espinha ilíaca
póstero-inferior (EIPI). Resultados
Para localização da EIPI, foi necessária, primeiramente,
a localização da espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), lo- Verificou-se um bom nível de concordância para as vari-
calizada, na região superior do sacro (região das covinhas) áveis arco plantar direito e esquerdo, pés direito e esquerdo
e para encontrá-la o pesquisador palpou a crista ilíaca, de (vista anterior e posterior), joelhos (vista anterior e lateral
fora para dentro, até formar um ângulo de 90 graus. Após esquerda), ombros (vista anterior), cabeça (vista anterior e
a localização da EIPS, por uma questão de proporção, fo- lateral), pelve direita e esquerda, coluna lombar e torácica,
ram colocados três dedos do idoso, logo abaixo da EIPS, sendo a pelve direita e esquerda com índices de concordância
localizando, assim, a EIPI. Para localização da EIAS, o pes- mais elevados (0,949). Apenas o ombro esquerdo e a coluna
quisador palpou a crista ilíaca, anteriormente, em direção cervical apresentaram valores de concordância mais baixo,
ao membro inferior até cair num “precipício”, localizando-a destacando-se 0,750 e 0,737, respectivamente. Em relação
com o dedo indicador. aos segmentos joelho e ombro (vista lateral direita), não foi
Vale ressaltar que os olhos do observador ficaram no possível aplicar o teste de concordância de Kappa, pois tiveram
mesmo plano dos seus dedos indicadores (identificação da duas alterações posturais (flexo e anteriorização acentuado)
EIAS e da EIPI) para poder julgar mais facilmente se ambos que foi observada por apenas um dos avaliadores, impossi-
os indicadores situavam-se na horizontal ou se havia desequi- bilitando a realização do teste, porém não implica nível de
líbrio, por estarem situados em um plano oblíquo. Assim, o concordância ruim.
avaliador considerou pelve neutra quando os dedos indicado-
res estiveram situados no mesmo plano horizontal. A pelve, Tabela I - Relação da concordância interobservadores na avaliação
em anteversão, foi observada quando os dedos indicadores do postural dos idosos residentes no bairro Vila Clementino, São Paulo,
avaliador encontravam-se mais caudal à frente e mais cefálico atendidos entre setembro de 2008 e junho de 2009.
atrás. E a pelve em retroversão quando o indicador encontrou- Asymp.
Coef. Approx. Approx.
-se mais caudal atrás e mais cefálico à frente. Foi considerada Variável Std.
Kappa T(b) Sig.
pelve, em anteversão ou retroversão leve, quando ocorreram Error(a)
diferenças de até 1 cm de inclinação para frente ou para trás, Arco plantar D 0,859 0,41 13,610 <0,001
respectivamente, pelve moderada quando ocorreram diferen- Arco plantar E 0,889 0,036 15,082 <0,001
ças acima 1cm até 2 cm de inclinação e acentuada quando as Pé D (vista anterior) 0,839 0,040 14,340 <0,001
diferenças de inclinação eram maiores que 2 cm. As medidas Pé E (vista anterior) 0,809 0,043 14,035 <0,001
da pelve foram realizadas de acordo com a subjetividade de Joelhos (vista
cada avaliador. 0,916 0,026 20,818 <0,001
anterior)
Durante a avaliação postural, os idosos utilizaram roupas Ombros (vista
0,886 0,039 11,227 <0,001
íntimas para facilitar a visualização dos pontos anatômicos. As anterior)
avaliações foram realizadas durante a semana, em período in- Cabeça (vista
0,928 0,032 11,746 <0,001
tegral no Centro de Estudos do Envelhecimento, da Unifesp, anterior)
no período de setembro de 2008 a junho de 2009. Os idosos Pé D (vista poste-
0,931 0,025 16,409 <0,001
foram atendidos, individualmente, preservando, sempre, a rior)
privacidade dos mesmos, sendo o tempo de atendimento, Pé E (vista posterior) 0,930 0,026 16,316 <0,001
em média, de 40 minutos. Joelho D (vista
Não foi possível calcular
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa lateral)
(CEP) da Universidade Federal de São Paulo, protocolo
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Pelve D (vista foi colocada sobre a foto, sendo impossível a visualização exata
0,949 0,020 21,341 <0,001 dos pontos anatômicos.
lateral)
Coluna Lombar 0,813 0,038 16,783 <0,001 Rodrigues et al. [15] avaliaram a cifose torácica por meio
Coluna Torácica 0,896 0,029 19,338 <0,001 da biofotogrametria computadorizada em 12 mulheres idosas,
Coluna Cervical 0,737 0,046 14,750 <0,001 com idade média de 68,5 anos. Para realização dos registros fo-
Ombro D (vista tográficos utilizaram um sistema de vídeo digital e marcadores
Não foi possível calcular específicos em haste visíveis no plano sagital. Concluíram que
lateral)
Cabeça (vista a utilização da biofotogrametria computadorizada, durante a
0,900 0,032 16,963 <0,001 avaliação da cifose torácica, é uma opção viável e não invasiva.
lateral D)
Joelho E (vista Em nosso estudo, a utilização de fotografias foi de extrema
0,852 0,041 15,712 <0,001 validade, visto que os idosos oscilam anteroposterior e com
lateral)
Pelve E (vista isso produz vieses no momento da avaliação postural. Assim,
0,949 0,020 21,369 <0,001 o uso de fotografias fez com que os avaliadores visualizassem
lateral)
Ombro E (vista as alterações em momentos exatos. Além disso, a presença dos
0,750 0,044 13,634 <0,001 avaliadores no momento da avaliação junto ao idoso favoreceu
lateral)
Cabeça (vista a uma maior percepção dos desvios posturais. Orientamos
0,813 0,044 14,593 <0,001 que as avaliações sejam feitas presencial e com auxílio das
lateral E)
D: direito; E: esquerdo. fotografias, para obter uma avaliação precisa.
Pesquisas recentes estão utilizando vários softwares como
Discussão instrumentos de avaliação. Santos e Fantinati [16] realizaram
uma revisão sistemática com os principais softwares utilizados
Fedorak et al. [13] discordam dos nossos achados. Medi- na biofotogrametria computadorizada na avaliação postural e
ram a confiabilidade inter e intraobservadores na avaliação concluíram que são necessárias novas pesquisas. Citaram os
visual da coluna cervical e lombar de 36 indivíduos. Vinte e softwares SAPOs® e ALCimagem® que foram desenvolvidos
oito profissionais foram selecionados para realizar a avaliação, especificamente para esta finalidade, ao contrário do Corel®
sendo quiropatas, fisioterapeutas, fisiatras, reumatologistas e que é um programa de design vetorial de difícil manipulação
cirurgiões ortopédicos. A análise dos dados foi realizada por que, também, é utilizado na avaliação postural. Em nossa
meio de fotografias (vista posterior e lateral direita), sendo a pesquisa não utilizamos os softwares por entender que exige
coluna classificada em lordose normal, diminuída e acentu- um custo financeiro maior para aplicabilidade na prática clí-
ada. Os autores concluíram que a avaliação visual da lordose nica. Optamos por estudar o simetrógrafo e o fio de prumo
cervical e lombar não é confiável. É importante destacar que por serem instrumentos de baixo custo, fácil manuseio e boa
a forma de avaliação visual foi comprometida por meio do confiabilidade comprovada na presente pesquisa.
uso de fotografias apenas. Cada profissional fez a sua avaliação Uma grande limitação encontrada, em nosso estudo, foi
em momentos diferentes e de forma indireta, ou seja, não devido à carência de pesquisas envolvendo a postura corporal
houve contato físico com os sujeitos avaliados, limitando a estática dos idosos e a falta de um instrumento de avalia-
interpretação real dos dados e predispondo ao erro. Em nosso ção postural padronizado. Assim, as pesquisas apresentam
estudo, foram encontrados valores estatisticamente significan- avaliações com diferentes instrumentos, tornando difícil a
tes de concordância interobservadores na avaliação visual da comparação dos resultados.
postura corporal. Vale ressalvar que nosso estudo contou com
a participação de dois observadores simultaneamente e com Conclusão
contato físico entre os sujeitos e os avaliadores.
Bryan et al. [14] utilizaram fotografias para avaliar a pos- A avaliação postural, realizada através dos instrumentos
tura da coluna lombar em indivíduos com roupa. Os sujeitos simetrógrafo e fio de prumo, obteve bom nível de concor-
foram observados por 48 fisioterapeutas que utilizaram uma dância entre os observadores. Por serem instrumentos de fácil
cobertura de plástico com uma linha, representando um fio aplicabilidade, baixo custo e grande praticidade, recomenda-se
de prumo, sobreposto às fotografias. Os resultados mostraram seu uso nas avaliações clínicas em idosos.
baixa confiabilidade na avaliação subjetiva da coluna lombar.
Esses dados discordam dos nossos achados. Acredita-se que Referências
essa discordância esteja condicionada ao modo de coleta
dos dados. Evidências apontam para variáveis na avaliação 1. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo
que induzem a erros de medidas. Verifica-se que a avaliação Demográfico e Contagem da População, 2010. [citado 2013
Set 8]. Disponível em URL: http: www.sidra.ibge.gov.br
visual e subjetiva por meio de fotografias perde a veracidade
2. Schweitzer PB, Melo SIL. Características clínico-funcionais de
das medidas e o uso de roupas, limitam, consideravelmente,
idosos com osteoartrose de joelhos. Fisioter Bras 2008;9(4):259-
a percepção visual. Além disso, a linha de referência utilizada 63.
458 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 459

Artigo original

Grau de risco para desenvolvimento de úlceras nos pés


de pacientes diabéticos de meia idade e idosos
Degree of risk for developing foot ulcers of diabetic
middle-aged and elderly
Luma Zanatta de Oliveira*, Suzane Stella Bavaresco**, Maria Guadalupe Rasero Cumplido***, Ana Paula Pillatt, Ft.****,
Ana Carolina Bertoletti de Marchi, D.Sc.*****, Camila Pereira Leguisamo, D.Sc.******

*Graduanda no 7° semestre de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, Bolsista CNPq, **Graduanda no 7° semestre de
Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, Bolsista Pibic-UPF, ***Podóloga, ****Mestranda em Envelhecimento Humano pela
Universidade de Passo Fundo, Bolsista Capes, *****Docente do curso de Ciência da Computação e do Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano da UPF, ******Docente do curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento
Humano da UPF

Resumo Abstract
Introdução: O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) possui alta Introduction: Diabetes Mellitus type 2 (DM2) has a high pre-
prevalência no mundo e maior entre os idosos. A Neuropatia valence in the world and highest among the elderly. The Peripheral
Diabética Periférica (NDP) é uma das complicações da DM, Diabetic Neuropathy (PDN) is one of the complications of DM,
sendo que seus acometimentos iniciais são a perda ou diminuição and these valves are initial loss or decreased sensitivity to touch,
de sensibilidade ao tato, à dor, à temperatura, à propriocepção e à pain, temperature, vibration and proprioception in the lower limbs.
vibração nos membros inferiores. Objetivo: Verificar o grau de risco Objective: To determine degree risk of developing foot ulcers oin
para desenvolvimento de úlceras nos pés de pacientes diabéticos diabetic middle-aged and elderly patients. Methods: Observational
de meia idade e idoso. Métodos: Estudo observacional realizado study on Disability Assistance Center (DAC) of the University of
no Centro de Assistência à Deficiência (CAD) da Universidade de Passo Fundo/RS. Data were collected through a detailed physical
Passo Fundo/RS. Os dados foram coletados através de um exame examination of the foot in 47 patients diagnosed with DM II. Re-
físico detalhado dos pés em 47 pacientes com diagnóstico de DM2. sults: Patients had a mean age of 61.3 ± 9.6 years, and the majority
Resultados: Os pacientes apresentaram média de idade de 61,3 ± 9,6 were male (51.1%). The degree of risk 2 for ulcer development
anos, sendo que a maioria era do sexo masculino (51,1%). O grau can be observed in 22 (46.8%) patients and among 27 individuals
de risco 2 para desenvolvimento de úlcera pode ser observado em who had calluses on feet, 9 (33.3%) had ulcers. Conclusion: Most
22 (46,8%) pacientes e entre os 27 indivíduos que tinham calos subjects had grade 2 risk for ulceration and there was an association
nos pés, 9 (33,3%) apresentaram úlceras. Conclusão: A maioria dos between the presence of callus and ulceration, since this change is
indivíduos apresentou grau 2 de risco para ulcerações e observou-se a key factor for amputation.
associação entre a presença de calosidade e ulceração, uma vez que Key-words: diabetes mellitus, diabetic neuropathies, foot ulcer,
essa alteração é fator primordial para amputação. risk factors, diabetic foot.
Palavras-chave: diabetes mellitus, neuropatias diabéticas, úlcera
do pé, fatores de risco, pé diabético.

Recebido em 4 de abril de 2013; aceito em 22 de novembro de 2013.


Endereço para correspondência: Luma Zanatta de Oliveira, Rua São Judas Tadeu, 445, Parque Farroupilha, Passo Fundo RS, E-mail: lumazanatta@
hotmail.com, suzanesbavaresco@hotmail.com
460 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Introdução consequentemente do déficit neurológico. Esta deve ser feita


por uma avaliação da sensibilidade cutânea dos membros in-
O Diabetes Mellitus (DM) é considerado um problema feriores, através dos testes que avaliam a perda de sensibilidade
crônico com maior frequência no mundo, sendo um dos cutânea, como: sensação tátil, que se referem as respostas à
principais problemas de Saúde Pública no Brasil [1]. O DM é pressão e vibração. Contudo, essa via sensitiva é representada
um grupo de distúrbios metabólicos no qual, a hiperglicemia pelos axônios mielinizados, que são as fibras de adaptação
está presente, pois é o resultado de defeitos na ação da insulina. lenta e rápida, conforme o seu receptor periférico [19].
O DM2 é a forma presente em 90% a 95% dos casos e Diante deste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar
caracteriza-se por defeitos na ação e secreção da insulina [2]. o grau de risco para desenvolvimento de úlceras nos pés de
Essa está entre as doenças crônicas de alta prevalência no pacientes diabéticos de meia idade e idosos. A avaliação de
mundo e maior entre os idosos [3]. Os números relacionados risco de desenvolvimento de úlceras nos pés desses indivíduos
ao DM crescem cada vez mais devido ao aumento da expec- é de suma importância, uma vez que, se identificado os pa-
tativa de vida e aos hábitos pouco saudáveis. No ano de 2002 cientes com risco aumentado de desenvolvimento de úlcera,
eram 173 milhões de adultos diabéticos, com a proeminência poderemos traçar estratégias, intervenções fisioterapêuticas
de 300 milhões em 2030 [2,5]. Dentre os principais fatores ou recomendações do uso de uma Tecnologia Assistiva,
que explicam essa projeção do DM2 estão o sedentarismo, como sapatos ortopédicos e palmilhas, que possam reduzir a
dieta inadequada e obesidade. Essa implica em uma série incidência de ulceração e consequentemente os números de
de incapacidades aos seus portadores, como a Neuropatia complicações destas, tais como as amputações. Desta forma,
Diabética Periférica (NDP), sendo que seus acometimentos acredita-se que com os resultados deste trabalho possamos
iniciais são a perda ou diminuição de sensibilidade ao tato, à proporcionar um melhor bem estar e qualidade de vida para
dor, à temperatura, à propriocepção e à vibração nos membros o futuro destes pacientes.
inferiores, levando a déficits motores [6,7]. Em idosos, a NDP
é especialmente um problema, já que devido à senilidade Material e métodos
esses pacientes têm uma perda gradual da estabilidade, com
alterações do centro de pressão e função sensoriomotora [4]. Estudo observacional analítico, composto por pacientes
O diagnóstico da NDP se dá através da sensibilidade com diagnóstico médico de DM encaminhados pelas secreta-
protetora, caracterizada pela perda da sensibilidade sensitivo- rias de saúde de dois municípios pertencentes a região norte do
-motora, na qual ocorrem alterações de fibras finas (sensitivas) estado do Rio Grande do Sul. Os critérios de exclusão foram
e fibras grossas (sensitivas e motoras). Cabe ressaltar que o pacientes que não concordaram em participar da pesquisa
teste do monofilamento mais um dos testes de sensibilidade e pacientes com alterações cognitivas que impossibilitasse
(dolorosa, vibratória e reflexos Aquileu e Plantar), indicam realizar as avaliações de sensibilidade, porém, seguindo es-
Perda da Sensibilidade Protetora (PSP) [2]. ses critérios, todos os pacientes foram incluídos no estudo,
A perda de sensibilidade protetora, causada pela NDP, totalizando 47 pacientes portadores de DM tipo II de meia
é um processo irreversível, diferente de outras doenças que idade e idosos. Após a aprovação do projeto de pesquisa e
causam lesões aos nervos periféricos [8]. Em decorrência desses esclarecimento sobre o estudo, os voluntários forneceram
fatores, os pacientes ficarão mais vulneráveis ao trauma e infec- seu consentimento para participação, tendo sido aprovado
ções, ocasionando, assim, inúmeras lesões, denomimando “Pé sob o protocolo número 2422011 pelo comitê de ética da
Diabético” [9]. Por conseguinte poderá causar deformidades Universidade de Passo Fundo (UPF). Posteriormente, foi
como as calosidades, podendo acarretar no surgimento de dado início à coleta de dados que foi realizada no Centro
úlceras plantares, sendo esse considerado um fator que precede de Assistência à Deficiência (CAD), junto a Faculdade de
amputações dos pés ou até mesmo do membro inferior, ao Educação Física e Fisioterapia na UPF. As avaliações foram
longo da vida em pacientes com NDP. realizadas individualmente, sempre pelas mesmas avaliadoras.
Em decorrência do pé diabético, em Portugal, no ano Inicialmente foi preenchida uma ficha com os dados
2008, houve aproximadamente 1600 amputações do mem- sociodemográficos (nome, sexo, idade, data de nascimento,
bro inferior sendo que dessas 900 foram amputações major profissão, origem, telefone, data, data da avaliação) e com
(amputações que representaram a perda total da capacidade dados sobre a doença (diagnóstico médico, tempo de diag-
funcional do membro inferior gerando, assim, uma grande nóstico, história da doença pregressa, medicações, presença
perda na qualidade de vida) [10]. Não há consenso sobre qual de úlceras, história prévia de úlcera, presença de calosidade,
é o melhor tratamento para a NDP, porém existem técnicas deformidade nos pés, tipo de calçado, presença de micoses,
cirúrgicas e procedimentos clínicos descritos para evitar a rachaduras, fissuras e pele seca), além da avaliação dos re-
progressão dos danos causados pela NDP [11-13]. flexos Patelar e Aquileu com martelo nas regiões do tendão
A prevenção ainda é a melhor maneira para conter as patelar e Aquileu, da sensibilidade térmica com a aplicação
consequências causadas pela NDP [14-18], podendo ser de tubos de ensaio, sendo um contendo água gelada e outro
minimizada através da identificação do grau de neuropatia e com água fervente e que são encostados alternadamente na
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 461

região plantar dos pés, vibratória com a aplicação do diapasão teste, 39 (83,0%) apresentavam ausência de sensibilidade
de 128 Hz, dolorosa com agulha (que será apenas encostada protetora, 39 (83,0%) térmica, 39 (83,0%) dolorosa e 41
na pele), tátil com monofilamento de Semmes-Weinst 10 (87,2%) vibratória.
gramas e protetora que é caracterizada pela alteração de O grau de risco para o desenvolvimento de úlcera nos pés
um dos testes de sensibilidade citados acima, juntamente foi avaliado por meio da neuropatia, pois se trata do fator mais
com alteração no teste de monofilamento. Cabe ressaltar importante para originar úlcera nos membros inferiores [2].
que todos os testes foram realizados nas regiões dos pés na Diante disso, 22 (46,8%) apresentaram neuropatia com de-
primeira, terceira e quinta cabeça dos metatarsos. Antes de formidades e 9 (3,2%) já com ulceração, conforme a Tabela II.
iniciar o teste foi realizada uma simulação no antebraço dos
pacientes para que eles pudessem sentir a sensação na pele. Tabela II - Grau de risco para úlcera (n = 47).
Os pacientes permaneceram com os olhos fechados durante Frequência
a avaliação, solicitando ao paciente para responder “sim” 0 – Neuropatia ausente 2 (4,3%)
ou “não” quando sentissem o toque. A avaliação da doença 1 – Neuropatia sem deformidades 14 (29,8%)
vascular periférica foi realizada através da palpação dos pulsos 2 – Neuropatia com deformidades e/ou DVP 22 (46,8%)
pedioso e tibial posterior. 3 – Úlcera 9 (19,1%)
Quanto à classificação do grau de risco para o desen- Valores expressam frequência absoluta e relativa; DVP: doença vascular
volvimento de úlceras nos pés, utilizamos o recomendado periférica
pelo Ministério da Saúde (2001) [20] classificando o grau de
risco em quatro níveis: nível 0 (Neuropatia ausente), nível 1 Quanto ao tempo da doença e a perda de sensibilidade
(Neuropatia presente, sem deformidades), nível 2 (Neuropatia protetora, foi encontrada uma relação inversa. Dos 26 indi-
presente, com deformidades e/ou doença vascular periférica) víduos com tempo de diagnóstico do DM há menos de 10
e nível 3(Úlcera/amputação prévia). anos, 22 (84,6%) tinham perda sensibilidade protetora, en-
As variáveis categóricas foram expressas como frequência quanto que, entre os 21 pacientes com tempo de diagnóstico
absoluta e relativa e as numéricas como média ± desvio pa- do DM há mais de 10 anos, 15 (71,4%) tinham perda da
drão. As associações entre presença de calos e úlceras e entre sensibilidade protetora.
tempo do diagnóstico do DM e perda de sensibilidade pro- Ainda, entre os 27 indivíduos que tinham calos nos pés,
tetora foram avaliadas utilizando-se o teste exato de Fischer. 9 (33,3%) tinham úlceras, enquanto que, entre os 20 indi-
Considerou-se como estatisticamente significativo valor de víduos que não tinham calos, 2 (10,0%) tinham úlceras (p =
p < 0,05. 0,086), conforme a Figura 1. Assim, os indivíduos que tinham
calosidades, também apresentaram úlcera.
Resultados
Figura 1 - Associação entre presença de calos e úlceras (n=47).
Dentre os 47 indivíduos incluídos no estudo, a média 90,0%
de idade foi de 61,3 ± 9,6 anos, 27 (57,4%) apresentaram p=0,086
calosidades e 11 (23,4%) ulcerações, conforme a Tabela I.
66,7%
Tabela I - Características da população em estudo (n = 47).
Variável Estatística
Sexo masculino 24 (51,1%)
Sexo feminino 23 (48,9%) 33,3%
Profissão
Aposentado 36 (76,6%)
Dona de casa 6 (12,8%) 10,0%
Outros 5 (10,6)
Tempo do diagnóstico do DM Sim Não
< 10 anos 26 (55,3%) Calos
≥ 10 anos 21 (44,7%) Úlceras
Sim Não
Micose 19 (40,4%)
Calos 27 (57,4%)
Úlcera 11 (23,4%) Discussão
Valores expressam frequência absoluta e relativa ou média ± desvio padrão
No estudo pode ser observado um predomínio para o
Quanto aos testes de sensibilidade, observa-se que há sexo masculino, corroborando o estudo [21] realizado em
diminuição importante, mostrando assim que, para este ambulatório de diabetes de São Paulo, onde foram avalia-
462 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

dos 30 pacientes diabéticos com o objetivo de analisar as que o risco de ulceração ou amputação está aumentado em
causas referidas na etiologia das úlceras em pés de pessoas indivíduos do sexo masculino, com DM de longa duração e
com DM, sendo que 53% dos pacientes eram homens e mal controlado [29]. Sendo essa de grande impacto, pois, o
67% eram idosos na faixa etária de 70 anos. Isso se explica desenvolvimento da úlcera é considerado uma classificação
devido a consequências como a diminuição progressiva da prévia de amputação de membro inferior para esses pacientes
capacidade funcional que acabam aparecendo junto com o [2]. Sabe-se que 15% dos indivíduos diabéticos desenvol-
envelhecimento [21]. Quanto ao tempo de diagnóstico e as verão ulceração dos pés em algum momento de suas vidas
alterações de sensibilidade, a maioria dos pacientes apresen- e, portanto, ficarão expostos à possibilidade de amputação
taram alterações com menos de 10 anos de diagnóstico de de membros inferiores [30].
DM, o que não foi condizente com a literatura – tempo médio Dessa maneira, acreditamos que seja de grande valia a
de mais de 10 anos para o aparecimento das complicações avaliação dos testes de sensibilidade protetora e a relação en-
[22]. Nesta situação patológica que se encontra o paciente tre calosidade e ulceração, pois o aumento da prevalência do
diabético, a lesão neurológica é ampla no organismo desses DM, incorporado à complexidade de seu tratamento, como:
pacientes, envolvendo todo o sistema nervoso periférico e suas ressalva dietética, utilização de medicamentos e complicações
vias sensitivas e motoras. Desse modo, as principais manifes- crônicas associadas (neuropatia, pé neuropático), enfatizam a
tações do comprometimento neuropático desses indivíduos necessidade da implementação de programas educativos aos
são as alterações de sensibilidade predominante nos membros serviços públicos de saúde. A mudança de comportamento,
inferiores. Por esse motivo, a avaliação das sensibilidades, com a implementação de uma dieta e prática de atividades
principalmente da sensibilidade protetora é o fator principal físicas são fundamentais para que o controle e o tratamento do
que predispõe ao aparecimento da NDP [2]. DM sejam eficazes [31]. Desse modo, medidas de prevenção
Todavia, essas alterações podem ser atribuídas à evolução devem ser tomadas a fim de reduzir a morbidade e os custos
da doença, podendo a NDP ser o fator responsável pelas financeiros, uma vez que as úlceras são desencadeadas em um
mesmas. A perda da sensibilidade é um dos principais fatores processo crônico da NDP [32-34].
que contribuem para a diminuição das aferências para o A diminuição da sensibilidade plantar altera as informa-
sistema de controle motor, diminuindo, assim, equilíbrio, ções sensoriais, acarretando em alterações no equilíbrio [35-
alterações na marcha e na postura [23]. Dessa maneira, es- 37]. Diante disso, a fisioterapia poderá ser uma aliada a estes
ses pacientes estão mais propensos a desencadear episódios pacientes através da atividade física focada na estimulação
de quedas e dificuldades em realizar atividades rotineiras proprioceptiva, envolvendo treino de marcha, equilíbrio, com
como, por exemplo, subir escadas e deambular por ruas a finalidade de estimular o sistema sensorial desses pacientes.
movimentadas [24].
Em relação à avaliação dos pés, as calosidades, micoses, e Conclusão
infecções, juntamente com a insensibilidade tátil, maximizam
as condições agravantes ou as chances de infecção generalizada O grau de risco 2 para desenvolvimento de úlceras acome-
[25]. Uma vez que, as micoses, e a pressão plantar deixam o teu a maior parte dos indivíduos, o que significa que muitos
paciente propenso à formação de calosidades e essa gera maior dos pacientes apresentaram neuropatia com deformidades
pressão no local, proporcionando assim o aparecimento das e/ou doença vascular periférica. Os fatores envolvidos na
úlceras [26]. Segundo um estudo com pacientes diabéticos, casuística das úlceras correspondem a fatores extrínsecos
os quais foram submetidos ao exame físico, a calosidade apre- (calçados inadequados, trauma, calosidades) que podem ser
sentou-se com maior frequência (56,7%), sendo essa principal prevenidos com cuidados básicos de saúde de baixo custo.
causa para o desenvolvimento de úlceras (23,3%) [21]. Ainda, observou-se associação entre a presença de calosidade
No entanto, a neuropatia motora produz um desarranjo na e ulceração, uma vez que essa alteração é fator primordial
musculatura intrínseca do pé, sua atrofia e perda consequente para amputação.
da mobilidade articular, especialmente da subtalar e metatarso
falangeano [27]. Esta perda motora e de mobilidade aumenta Referências
a rigidez do complexo pé-tornozelo aumentando a susceptibi-
lidade do tecido plantar a hiperqueratinizar em resposta a um 1. Santos LM. Competências dos profissionais de saúde nas prá-
estímulo mecânico o que leva a calosidades e deformidades ticas educativas em diabetes tipo 2 na atenção primária à saúde
articulares que no futuro podem tornar-se lesões [28]. [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Enfermagem; 2011.
Um estudo que avaliou 32 indivíduos diabéticos neu-
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Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 463

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464 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Relato de caso

Efeito da adição de peso no tronco sobre


o equilíbrio postural de um sujeito com ataxia
Effect of adding body weight on postural balance
of a patient with ataxia
Carla Emilia Rossato, Ft.*, Ana Lucia Cervi Prado, D. Sc.**, Jones Eduardo Agne, D.Sc.***,
Sergio Antonio Brondani, D.Sc.****

*Especializanda em Atividade Física Desempenho Motor e Saúde, **Professora da Universidade Federal de Santa Maria,
***Professor da Universidade Federal de Santa Maria,***Professor da Universidade Federal de Santa Maria

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi descrever o efeito da adição de This study aimed to describe the effect of adding body weight
peso sobre o tronco no equilíbrio postural estático e dinâmico de on static and dynamic balance on a patient with ataxia, caused by
um sujeito com ataxia, devido à doença Machado-Joseph. Os ma- Machado-Joseph disease. The materials used to collect the data were
teriais utilizados para coleta de dados foram dois tipos de órteses two types of orthesis. The data collection was carried out in three
para adição de peso. A coleta de dados foi realizada em três etapas, stages, without adding weight and with an orthesis (type A and type
sem a adição de peso e com o uso de órtese (modelo A e modelo B). To obtain the static postural balance it was applied the force
B). Para obtenção dos dados do equilíbrio postural estático foi uti- plate. The data of strength and moment were used to calculate the
lizada a plataforma de força. Os dados de força e momento foram coordinates of center of pressure (COP) for evaluating the static
utilizados no cálculo de coordenadas do centro de força (COP) balance of the patient. To obtain data referring to the dynamic
para avaliação do equilíbrio estático do sujeito. Para a obtenção postural balance we used the VICON kinemetry system. The mean
dos dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico foi utilizado amplitude of mid-lateral mass center displacement was analyzed.
o sistema de cinemetria VICON. Foram analisadas as médias de The use of orthesis with additional body load showed a reduction
amplitude de deslocamento médio-lateral do Centro de Massa (CM) of amplitude of the pressure center displacement, at the antero-
do sujeito. A utilização de órteses com adição de peso mostrou uma -posterior and mid-lateral displacement. Also, the use of adding
diminuição das amplitudes de deslocamento do COP, nos sentidos weight showed a reduction of mid-lateral mass center displacement.
anteroposterior e médio-lateral. Também houve uma diminuição We observed that this procedure improved the static and dynamic
do deslocamento médio-lateral do CM fazendo uso da adição de balance of this patient.
peso. Conclui-se que a adição de peso melhorou o equilíbrio postural Key-words: postural balance, ataxia, self-help devices, orthotic
estático e dinâmico do sujeito avaliado. devices.
Palavras-chave: equilíbrio postural, ataxia, tecnologia assistiva,
órteses.

Recebido em 26 de março de 2013; aceito em 27 de maio de 2013.


Endereço para correspondência: Carla Emilia Rossato, Laboratório de Biomecânica - Centro de Educação Física e Desportos – UFSM, Av. Roraima,
1000, Bairro Camobi, 97105-900, Santa Maria RS, E-mail: carlinharossato@gmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 465

Introdução Estudo de Filippin et al. [11] mostrou que o uso de carga


adicional no tronco de sujeitos com Doença de Parkinson,
A ataxia é caracterizada por uma incoordenação ao cami- para treino de marcha em esteira, melhora aspectos motores
nhar e é um dos principais sintomas da Doença de Machado- e não-motores relacionados a qualidade de vida e função mo-
-Joseph (DMJ). Um sujeito com ataxia apresenta distúrbios tora. Os sujeitos com Doença de Parkinson, assim como os
progressivos que ocorrem devido à degeneração dos feixes sujeitos ataxicos, têm como sintoma da doença o desequilíbrio
espinocerebelares, dos feixes piramidais e dos feixes da coluna postural. Em virtude dessas melhoras nos aspectos motores e
posterior [1]. não-motores dos sujeitos com Doença de Parkinson, acredita-
A Doença de Machado-Joseph (DMJ), de origem aço- -se que o acréscimo de carga no tronco também pode melhorar
riana, com uma prevalência nas ilhas de Flores e São Miguel o equilíbrio postural de sujeitos com ataxia.
de 8,2:100.000 e 27,1:100.000 respectivamente, é uma O desequilíbrio postural ocasionado pela ataxia, seja em
desordem neurodegenerativa de início tardio e de herança postura quase estática ou durante a marcha, deixa seus porta-
autossômica dominante que se caracteriza principalmente por dores constantemente em risco de sofrer quedas. Estas quedas
ataxia, espasticidade e movimento ocular anormal [2]. Esta podem acarretar complicações de saúde para esses sujeitos,
afeta estruturas neurológicas responsáveis principalmente pela comprometendo sua qualidade de vida.
coordenação dos movimentos e pelo equilíbrio [3]. Existe uma carência em relação às formas de tratamento
No Rio Grande do Sul, devido à imigração vinda dos oferecido para sujeitos com sintomas de ataxia, bem como,
Açores, encontramos uma alta prevalência da DMJ de apro- formas de beneficiar os mesmos em relação à melhora da
ximadamente 3,5:100.000 com uma maior incidência da qualidade de vida. Assim, o desenvolvimento de pesquisas
doença em relação ao restante do Brasil, o que torna os estudos que busquem novas técnicas de tratamento e, consequen-
clínicos acerca da DMJ no Estado de grande importância [2]. temente, melhorar a qualidade de vida desses sujeitos é de
Os sintomas da DMJ iniciam na vida adulta, progre- suma importância.
dindo gradualmente e afetando principalmente o caminhar, Diante disso, o objetivo deste trabalho é descrever o efeito
produzindo oscilações laterais e, com o passar do tempo, da adição de peso sobre o tronco no comportamento do equi-
provocando quedas [4]. líbrio postural estático e dinâmico de um sujeito com ataxia.
Muitas dessas quedas que ocorrem em sujeitos portadores
de ataxia são ocasionadas pelo desequilíbrio postural. O equi- Apresentação do caso
líbrio postural é base para todo o movimento e é influenciado
pelos estímulos sensoriais e motores [5]. Frequentemente é Este estudo caracteriza-se como um estudo de caso
dividido em equilíbrio estático e dinâmico. Equilíbrio estático descritivo-exploratório [12], no qual foi realizado um levan-
é a habilidade do corpo se manter em posição estacionária [6], tamento de informações ainda pouco investigadas em uma
enquanto que neste estudo a definição de equilíbrio dinâmico determinada população. O trabalho foi aprovado pelo Comitê
é a habilidade do indivíduo se locomover, controlando seu de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria
corpo sem que exista perigo de queda, por um período de (CAAE-04949212.5.0000.5346), estando de acordo com a
tempo mais prolongado. resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
O equilíbrio postural é garantido pelas informações sen- Para a realização do estudo um sujeito com sintomas de
soriais proprioceptivas, vestibulares ou visuais [7]. Em virtude ataxia, devido à doença de Machado-Joseph, foi convidado a
disto, em situações de privação de uma destas informações, participar voluntariamente da pesquisa. Este sujeito, com 53
o equilíbrio tanto dinâmico quanto estático pode sofrer efei- anos de idade, 1,75 m de altura e massa corporal de 80 kg é
tos potenciais, pois essa privação pode afetar não somente o paciente da Clínica de Fisioterapia da Universidade Federal
equilíbrio postural, mas também a interpretação dos sinais de Santa Maria, não possui nenhuma doença associada e
aferentes gerados pelos próprios movimentos [8]. ainda é independente para realizar atividades de vida diária.
A inexistência, até o momento, de um tratamento far- Como implementos para coleta de dados foram utilizados
macológico eficaz para os sintomas clínicos da DMJ faz com dois modelos de órteses (coletes de tronco com peso). Um
que haja uma busca por novas formas de tratamentos não modelo, o colete A, foi um colete usado durante as sessões de
curativos, ou seja, tratamentos para amenizar os sintomas da fisioterapia com o objetivo de melhorar a estabilidade durante
doença. Estes tratamentos melhoram a qualidade de vida e o a marcha, confeccionado em tecido gabardinado, contendo
bem-estar destes pacientes [9]. quatro bolsos, dois na região anterior e dois na região poste-
As tecnologias assistidas, através da criação ou adaptação rior, distribuídos simetricamente, onde foram inseridas barras
de órteses, têm fornecido suporte para corrigir ou reduzir a ne- metálicas. A distribuição das mesmas obedeceu ao critério de
cessidade de sustentação de peso na fase de apoio, auxiliando a melhor resposta da postura e oscilações de tronco do sujeito
mobilidade do indivíduo, contribuindo para proporcionar ou em relação à adição do peso. Foram colocados 1 kgf (duas
ampliar habilidades funcionais e consequentemente promover barras de 0,5 kgf cada) na região anterior do tronco e 2 kgf
uma vida mais independente [10]. (duas barras de 1 kgf cada) na região posterior do tronco.
466 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

O outro modelo de órtese, o colete B, aprimorado a partir As variáveis utilizadas para descrever o equilíbrio postu-
dos resultados positivos obtidos com o colete A, foi con- ral foram: amplitude de deslocamento do COP na direção
feccionado sob medida em tecido impermeável, resistente e ântero-posterior (COPap), amplitude de deslocamento do
revestido em velcro. O peso foi adicionado através de placas COP na direção médio-lateral (COPml), velocidade média
metálicas de chumbo, também revestidas com velcro, com de deslocamento do COP (COPvel) e área da elipse 95%.
formato retangular, medindo 12 cm de comprimento e 9 Os dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico
cm de largura e pesando 200 gf. As placas foram fixadas ao foram coletados através do sistema de cinemetria VICON
colete sobre os ombros e tronco (porção anterior e posterior) 624 (Oxford, Reino Unido). Foram utilizadas sete câmeras
totalizando uma carga de 3 kgf, obedecendo ao relato do sensíveis ao infravermelho que reconhecem em tempo real os
sujeito quanto a sua percepção de melhora da estabilidade pontos reflexivos demarcados no sujeito. As câmeras operaram
do tronco. com uma frequência de aquisição de 100 Hz.
Os dois modelos de órtese possibilitam a mudança de O software Vicon Nexus 1.5.2 foi utilizado para observação
carga e também de distribuição destas cargas, conforme a e filmagem dos movimentos, bem como para exportação dos
melhor resposta de estabilidade de tronco. Porém, o colete B dados obtidos. Foi utilizado o modelo Plugin Gait (UPA &
tem a vantagem de poder distribuir as cargas em toda a sua FRM), o qual necessita de 39 pontos de referência colocados
superfície sem deslocamento das mesmas durante a marcha, na cabeça, tórax, pelve, coxas, pernas, pés, braços, antebraços
enquanto que no colete A, os pesos colocados nos bolsos, e mãos do sujeito. Foram utilizados marcadores reflexivos
sofrem oscilações durante a marcha. com 14 milímetros de diâmetro. Os dados de posição dos
marcadores foram filtrados com um filtro digital Butterworth
Fotos ilustrativas dos coletes A e B, respectivamente. passa-baixas de quarta ordem com frequência de corte de 5
Hz. A partir dos dados filtrados foram calculadas as posições
dos centros articulares e do CM.
Foram realizadas três tentativas de caminhada em linha
reta, que consistiram em, ao menos, um ciclo completo da
marcha, com velocidade de deslocamento autoselecionada.
Para a avaliação do equilíbrio dinâmico no decorrer da mar-
cha foi considerado o deslocamento médio-lateral do CM,
definido como o valor máximo menos o valor mínimo das
coordenadas do CM no plano frontal durante uma tentativa
(adaptado de Kelly et al. [14]).
Antes das avaliações foi realizado um pré-teste com o
intuito de tentar minimizar o efeito da aprendizagem nos
Para a coleta dos dados referentes ao equilíbrio postural estático foi uti- resultados dos demais testes. Os dados deste pré-teste não
lizada a plataforma de força AMTI (Advanced Mechanical Technologies, foram utilizados para o estudo.
Inc.) modelo OR6-6-2000. Foram realizadas três avaliações em datas distintas. A
primeira foi realizada com o sujeito sem o uso de órteses. A
O sujeito foi instruído a posicionar-se sobre a plataforma, segunda, duas semanas depois, com o sujeito fazendo uso do
o mais estático possível, mantendo os olhos abertos e fixos colete A. A terceira foi realizada duas semanas após a segunda
em um ponto localizado a 3,8 metros de distância, na altura avaliação, com o sujeito fazendo uso do colete B.
dos olhos do sujeito. A taxa de amostragem da plataforma Para a análise dos dados foi utilizada estatística descritiva.
foi de 100 Hz e o tempo de aquisição foi de 20 segundos. A Tanto para avaliação do equilíbrio postural estático quanto
posição dos pés foi marcada em um papel milimetrado, para do dinâmico foram calculadas as médias de três tentativas
assegurar o mesmo posicionamento do sujeito em todas as válidas em cada situação proposta.
tentativas de obtenção dos dados.
Os dados brutos de força e momento obtidos pela Resultados
plataforma de força foram filtrados utilizando-se um filtro
digital Butterworth passa-baixas de quarta ordem com Os resultados referentes ao equilíbrio postural estático e
frequência de corte de 10 Hz. Os dados filtrados foram dinâmico se mostraram diferentes para as três situações de
utilizados para o cálculo das coordenadas do centro de força coleta de dados. Tanto na avaliação do equilíbrio postural está-
(COP) a cada instante, uma na direção ântero-posterior e tico quanto do dinâmico o uso de órtese mostrou melhora no
outra na direção médio-lateral, de acordo com o sistema equilíbrio postural. Os principais resultados encontrados no
de coordenadas que a própria plataforma fornece. A partir estudo estão ilustrados nas Tabelas I e II. A Tabela I apresenta
desses dados, foram obtidas informações sobre o equilíbrio os valores referentes ao equilíbrio postural estático.
do indivíduo [13].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 467

Tabela I - Principais resultados encontrados referentes ao equilíbrio mais frequentemente encontrado (92%). Esta afeta a marcha
postural estático. devido à instabilidade do sujeito. Estes pacientes com ataxia
Situações podem necessitar de dispositivos de assistência como bengalas,
Sem órteses em membros inferiores ou tronco, com o intuito de
Variáveis Colete A Colete B
Colete uma diminuição da instabilidade [10].
COPml (cm) 11,57 10,66 10,02 Essas informações corroboram as obtidas no presente
COPap (cm) 8,68 5,63 6,39 estudo, as quais mostram que indiferente do tipo do colete, o
COPvel (cm/s) 10,12 7,93 8,42 mesmo proporcionou uma mudança nas funções pesquisadas,
Área da elipse 95% (cm²) 69,06 47,00 52,21 no controle postural do sujeito. Estes dispositivos de assistên-
cia não precisam estar localizados exatamente no tronco do
Os dados referentes ao equilíbrio postural dinâmico, ou sujeito, como apresentado no estudo de Neves et al. [10], no
seja, ao deslocamento médio-lateral do Centro de Massa estão qual pacientes com sintomas de ataxia e que utilizaram órteses
dispostos na Tabela II. de membros inferiores, também reduziram a necessidade de
sustentação de peso na fase de apoio.
Tabela II - Principais resultados encontrados referentes ao equilíbrio Da mesma forma, estudo realizado por Dias et al. [15]
postural dinâmico. avaliaram o efeito da adição de carga em membros inferiores
Deslocamento ml CM (cm) durante a marcha em sujeitos com ataxia. Participaram do
Sem colete 19,59 estudo 21 sujeitos com ataxia, divididos em dois grupos: com
Colete A 16,81 adição de peso e sem adição de peso. Todos realizaram 20
Colete B 12,07 sessões de fisioterapia, porém o grupo com adição de peso,
ml: médio-lateral. durante o treino de marcha, o fazia com adição de carga no
tornozelo. Foram avaliados através das escalas de Equilíbrio
Os resultados demonstraram que existe uma diminuição de Berg, Dynamic Gait Index, Equiscale, International Co-
da amplitude de deslocamento, (ântero-posterior e médio- operative Ataxia Rating Scale e Medida de Independência
-lateral) durante avaliação do equilíbrio estático assim como Funcional. Os testes demonstraram que o grupo com adi-
uma diminuição do deslocamento médio-lateral do CM na ção de peso tiveram melhores resultados após as sessões de
avaliação do equilíbrio dinâmico, com uso de órteses. Essa fisioterapia, em relação à coordenação da marcha, melhora
diminuição da amplitude de deslocamento evidencia a impor- do equilíbrio estático e dinâmico e independência funcional
tância do uso da órtese para a melhora do equilíbrio postural comparados ao grupo sem peso, de forma estatisticamente
tanto estático como dinâmico desse sujeito. significante, comprovando a efetividade da adição de peso.
A melhora do equilíbrio postural pode ser verificada com Diante disso, acredita-se que o uso de peso em membros
ambos os modelos de órteses, tanto o colete A como o colete inferiores traz benefícios na qualidade da marcha dos portadores
B. Na avaliação do equilíbrio estático houve pequena dife- de ataxia, alterando a programação motora e conexões neurais
rença entre os modelos de colete, sendo que a diferença mais cerebelares, possíveis de alterações na aprendizagem motora.
significativa foi na área da elipse 95%, onde o uso do colete O peso pode aumentar a percepção corporal dos sujeitos, pro-
A mostrou uma menor área. Já na avaliação do equilíbrio movendo um aumento do feedback e uma melhora no tremor
postural dinâmico pode-se perceber um benefício maior com durante o movimento [16]. Com os resultados do presente
o uso do colete B em relação ao colete A, visto que o CM teve estudo, acredita-se que o acréscimo de carga pode acontecer
um deslocamento menor na situação com o uso do colete B. tanto nos membros inferiores quanto no tronco, pois pode
haver uma melhora do equilíbrio postural estático e dinâmico,
Discussão sendo que o acréscimo de peso no tronco pode trazer benefícios
no sentido de diminuir o efeito de pêndulo invertido.
Os resultados revelam que a adição de peso no tronco O uso de peso nos membros inferiores faz com que o
proporcionou uma mudança nas funções pesquisadas e que o Centro de Massa do sujeito fique mais baixo, melhorando a
desenho da órtese teve influência sobre os resultados quando estabilidade, ou seja, melhorando o equilíbrio postural. Em
comparado os modelos A e B, conforme observado para o contrapartida, o uso de peso no tronco faz com que o Centro
equilíbrio postural dinâmico. Talvez isso se deva ao fato de de Massa fique mais alto, mais distante do eixo de rotação
que no modelo B, o peso seja inserido através da fixação das do corpo, o que torna mais difícil iniciar (ou interromper) o
barras junto ao tronco do sujeito, diferentemente do modelo movimento angular. Diversos fatores mecânicos interferem na
A, onde as barras metálicas inseridas nos bolsos do colete estabilidade do corpo, dentre os quais sua massa. De acordo
oscilam conforme o movimento do sujeito. com a segunda lei do movimento de Newton, quanto maior
Em um estudo realizado por Sequeiros e Coutinho [3] for a massa de um corpo maior será a força necessária para
com 143 pacientes portugueses (78 homens e 65 mulheres) produzir uma determinada aceleração, ou seja, mais estável
foi verificado que a ataxia da marcha foi o sintoma clínico será este corpo [17].
468 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

No estudo de Costello et al. [18] foram observadas as Referências


alterações que ocorreram no equilíbrio postural de dezesseis
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ou de inércia. O estudo mostrou que a adição de inércia, não 2. Camargo G, Rodrigues CSM, Godoy BA, Jardim LB, Schüler-
-Faccini L. Análise da prevalência da doença de Machado-Joseph
influenciou o equilíbrio. Em contrapartida, com a adição de
no Estado do Rio Grande do Sul- Brasil. In: Resumos do 55º
peso, houve um efeito negativo sobre o equilíbrio e quando Congresso Brasileiro de Genética, Águas de Lindóia. São Paulo.
foi realizada a adição de inércia e peso ao mesmo tempo, a 2009. p. 192.
inércia adicionada pareceu diminuir (mas não eliminou) o 3. Sequeiros J, Coutinho P. Epidemiology and clinical aspects of
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Por mais que alterações de inércia e peso não tenham sido lain S (eds) Advances in neurology. New York: Raven Press;
mensuradas no presente estudo, é possível inferir que a utilização 1993:139-53.
do colete com peso alterou tanto a inércia quanto o peso, ocasio- 4. Machado A. Neuroanotomia Funcional. 2 ª ed. São Paulo:
nando uma melhora do equilíbrio postural tanto estático como Atheneu; 2006.
dinâmico, indo contra os resultados encontrados por Costello et 5. Isableu B, Vuillerme N. Differential integration of kinaesthetic
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Pode-se atribuir a melhora do equilíbrio postural ao fato de in the maintenance of posture. Phys Ther 1997;77(6):619-28.
que quando o peso foi acrescentado ao tronco do sujeito, ocor- 7. Popov KE, Kozhina GV, Smetanin BN, Shlikov VY. Postural
reu um aumento da inércia do mesmo. Este aumento da inércia responses to combined vestibular and hip proprioceptive stimu-
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gera uma dificuldade para iniciar os movimentos de oscilação
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Assim como no estudo de Filippin et al. [11], acredita- siology: a critical, comprehensive presentation of physiological
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Porém deve-se ressaltar que mesmo havendo diminuição das 9. Carvalho TS. Análise molecular de indivíduos com doença de
variáveis relacionadas ao equilíbrio postural com o uso de Machado-Joseph [Dissertação]. Porto Alegre: UFRGS; 2004.
carga adicional, através do uso dos coletes, essa melhora pode 10. Neves MAO, Mello MP, Dumard CH, Antonioli RS, Botelho
não se refletir no desempenho das atividades de vida diária JP, Nascimento OJM, Freitas, MRG. Abordagem Fisioterapêu-
do sujeito, ou seja, em sua qualidade de vida. tica na minimização dos efeitos da ataxia em indivíduos com
esclerose múltipla. Rev Neurocienc 2007;15(2):160-5.
Com relação às limitações do estudo, pode se citar o fato
11. Filippin NT, Costa PHL, Mattioli R. Effects of treadmill-
de ter avaliado apenas um sujeito, assim como ter sido avaliado -walking training with additional body load on quality of
somente o efeito momentâneo do uso dos coletes. Também life in subjects with Parkinson’s disease. Rev Bras Fisioter
podemos destacar que as alterações de inércia não foram 2010;14(4):344-50.
mensuradas. Sugere-se a realização de pesquisas utilizando 12. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de pesquisa em atividade física.
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o efeito proprioceptivo do colete, bem como a realização de 13. Barela JA. Perspectiva dos sistemas dinâmicos: teoria e aplicação
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speed and stability during narrow-base walking. J Gerontol:
Visto que o uso de órtese de tronco se mostrou efetivo Med Sci 2008;63(12):1329-34.
para melhora do equilíbrio estático e dinâmico do sujeito 15. Dias ML, Toti F, Almeida SRM, Oberg TD. Efeito do peso
avaliado, o presente estudo sugere que o peso pode ser um para membros inferiores no equilíbrio estático e dinâmico nos
incremento que possa oferecer maior estabilidade postural, portadores de ataxia. Acta Fisiátrica 2009;16(3):116-20.
podendo assim permitir a função da marcha com mais se- 16. Morgan MH. Ataxia and weights. Physiotherapy
gurança e, consequentemente, propiciando mais qualidade 1975;61(11):332-4.
de vida para os sujeitos com sintomas de ataxia. Embora os 17. Hall SJ. Biomecânica básica. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2009.
18. Costello KE, Matrangola SL, Madigan ML. Independent effects
resultados sejam limitados apenas ao sujeito avaliado, deve-se
of adding weight and inertia on balance during quiet standing.
ressaltar que esses resultados poderiam ser diferentes em uma BioMedical Engineering OnLine 2012;11(1):1-20.
amostra maior. Portanto, pesquisas com um maior número
de sujeitos devem ser realizadas.
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 469

Revisão

Força e função muscular do assoalho pélvico:


como avaliar?
Pelvic floor muscle strength and function: how to assess?
Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos, Ft.*, Aline Moreira Ribeiro, Ft.**

*Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/SP – HCFMRP-USP, Docente do
Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá, **Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto/SP – HCFMRP-USP, Pós-graduanda do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Resumo Abstract
A avaliação funcional do assoalho pélvico proporciona o re- Assessment of pelvic floor function provides recognition of
conhecimento da capacidade, eficácia, tonicidade e resistência da the capacity, efficiency, tonicity and strength of voluntary muscles
contração voluntária desta musculatura, permitindo a adequação contraction, allowing us to select the therapeutic plan in accordance
do planejamento terapêutico de acordo com a funcionalidade de to each patient and improving treatment outcomes. The objectives
cada paciente, trazendo maiores chances de sucesso terapêutico. Os of this study are to carry out a literature review on the evaluation
objetivos deste estudo foram realizar uma revisão de literatura sobre methods used to measure strength and function of pelvic floor
os métodos de avaliação usados para mensurar força e função dos muscles, and discuss the advantages and limitations of different me-
músculos do assoalho pélvico e discutir as vantagens e limitações thods. Therefore, 42 publications were analyzed from 2008 to 2013,
destes métodos. Para tanto, foram analisadas 42 publicações refe- in English and Portuguese, available in national and international
rentes ao período de 2008 a 2013, nos idiomas inglês e português, databases (Pubmed, Scielo and Lilacs). We found that some methods
disponíveis nas bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs. Verificou-se are considered subjective, because they are dependent evaluator mo-
que alguns métodos de avaliação são considerados subjetivos por deling. However, they do not lose their importance to assess capacity
serem avaliador-dependente. Contudo, não perdem a importância of pelvic floor contraction and also are extensively used in clinical
na determinação da capacidade de contração do assoalho pélvico, practice and limited to the scientific use, such as visual observation,
tendo extenso uso na prática clínica, porém com limitação para o vaginal cones and vaginal palpation. Other methods are objective
uso científico, como a observação visual, cones vaginais e palpação and have satisfactory reliability as perineometry, widely used in
vaginal. Outros métodos são objetivos e de confiabilidade satisfatória clinical practice. The electromyography has advantages, especially in
como a perineometria, amplamente utilizada na prática clínica. A relation to the feedback provided during the evaluation, however its
eletromiografia possui suas vantagens, especialmente em relação results should not be considered as a direct measure of pelvic floor
ao feedback proporcionado durante a avaliação, entretanto seus muscle strength. Devices like dynamometry are needed for further
resultados não devem ser considerados como medida direta de força research to validate and to test intra and inter-examiner reproduci-
muscular do assoalho pélvico. Dispositivos, como a dinamometria, bility. Ultrasound and magnetic resonance imaging assessment are
necessitam de maiores pesquisas para validação e testes de reprodu- used strictly for scientific use due to the difficulty of access, cost and
tibilidade e confiabilidade intra e inter-examinadores. A avaliação need of skilled professional workers. The results showed that more
por imagem através do ultrassom e da ressonância magnética é usada studies are needed, confirming the feasibility of using some devices
restritamente para o uso científico devido à dificuldade de acesso, for evaluating pelvic floor muscles function.
custo e necessidade de mão de obra especializada. Os resultados Key-words: pelvic floor, muscle strength, evaluation, Physical
obtidos apontam a necessidade de mais estudos que comprovem a Therapy.
viabilidade do uso de alguns dispositivos na avaliação funcional dos
músculos do assoalho pélvico.
Palavras-chave: assoalho pélvico, força muscular, avaliação,
fisioterapia.

Recebido em 25 de setembro de 2012; aceito em 5 de setembro de 2013.


Endereço para correspondência: Elaine Cristine Lemes Matheus Vasconcelos, Centro de Reabilitação do HCFMRP-USP, Campus Universitário, s/n
Monte Alegre 14048-900 Ribeirão Preto SP, E-mail: elainelemes@baraodemaua.br
470 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Introdução ocorrer sem o movimento visível do períneo, especialmente


em mulheres obesas [1,5].
A avaliação da função muscular do assoalho pélvico
(AP) é essencial para verificar e fornecer um feedback sobre a Palpação vaginal
habilidade em contrair estes músculos. É útil, também, para
documentar mudanças na condição muscular no decorrer de Kegel foi o primeiro a descrever um método de avaliação através
uma intervenção [1]. da palpação vaginal, não sendo usado para mensuração da força,
Este estudo consiste em uma revisão de literatura com o mas sim para classificá-la como correta ou incorreta [3]. Desde
propósito de verificar os métodos e recursos que podem ser então, cerca de 30 métodos de palpação foram desenvolvidos [4,5].
utilizados na avaliação da força/função muscular do AP, bem Laycock [6] desenvolveu o sistema de graduação mo-
como suas vantagens e limitações. dificado de Oxford para mensurar a função do AP, sendo
hoje o mais usado [5]. Uma das dificuldades desta escala é a
Material e métodos produção de apenas um valor para dois elementos (oclusão
e elevação). Na palpação, os dedos podem não ser sensíveis
A pesquisa da literatura envolveu artigos científicos pu- para diferenciar as proporções de oclusão versus elevação.
blicados nos últimos cinco anos, bem como dissertações e Para separar estes elementos, manômetros ou dinamômetros
teses. As bases de dados consultadas foram Pubmed, Scielo e podem avaliar a oclusão, e o ultrassom, o componente de
Lilacs. A pesquisa foi limitada à língua inglesa utilizando as elevação [5,7-9,12,13].
palavras-chave: “assessment of pelvic floor”, “pelvic floor strength”, A palpação vaginal constitui a técnica mais usada na
“pelvic floor muscle activity”, “pelvic floor function”, e na língua prática clínica, contudo, no nível de pesquisa científica,
portuguesa, as palavras-chave “avaliação do assoalho pélvico”, questiona-se sua utilização como técnica isolada para men-
“força muscular do assoalho pélvico”, “atividade muscular do suração da força [5,7].
assoalho pélvico” e “função dos músculos do assoalho pélvico”.
Para a seleção dos manuscritos incluídos no presente estudo, Cones vaginais
foi adotado como critério a utilização de um determinado
instrumento de avaliação, bem como a citação de suas van- Os cones vaginais são usados tanto na avaliação quanto no
tagens e limitações. tratamento das disfunções do AP. Quando introduzidos na
vagina, proporcionam feedback tátil e cinestésico, facilitando
Resultados o AP a se contrair de forma reflexa na tentativa de mantê-lo.
São dispositivos de tamanhos iguais e pesos diferentes que
Após pesquisa nas bases de dados, foi realizada a análise devem ser introduzidos e mantidos na vagina. Conforme o
de títulos e resumos para obtenção de artigos potencial- cone mantido, a força muscular é graduada [2] (Tabela I). A
mente relevantes para a revisão. Do total de 42 publicações avaliação inicia-se com a introdução do dispositivo mais leve
encontradas, 11 foram selecionadas e seus dados discutidos e a paciente submetida a uma sequência crescente de esfor-
no Quadro 1. ços. Caso o cone mantenha-se, ele é removido, colocando-se
De um modo geral, os instrumentos de avaliação incluem: o próximo de maior peso e, assim, sucessivamente, até que
observação visual, palpação vaginal, cones vaginais, perine- algum se exteriorize aos esforços. As fibras do tipo I foram
ometria, eletromiografia, ultrassom e ressonância nuclear mais bem avaliadas pelos cones vaginais [2].
magnética. Alguns desses métodos são considerados objetivos,
e outros, subjetivos, por serem avaliador-dependente. Con- Tabela I - Classificação da força do AP através dos cones vaginais.
tudo, apesar da subjetividade, eles não perdem a importância Índice Observação Clínica
na determinação da capacidade de contração do AP [1,3,8]. 0 O peso nº 1 (25 g) cai
1 O peso nº 1 é mantido e o peso nº 2 (35 g) cai
Observação visual 2 O peso nº 2 é mantido e o peso nº 3 (45 g) cai
3 O peso nº 3 é mantido e o peso nº 4 (55 g) cai
A contração do AP é descrita como uma compressão ao 4 O peso nº 4 é mantido e o peso nº 5 (65 g) cai
redor da uretra, vagina e ânus, associada à elevação dessas 5 O peso nº 5 é mantido
estruturas para o interior da pelve, visível na região do períneo
[1,4,5]. Na prática, muitos utilizam a observação como ponto Medidas de pressão vaginal – Perineometria
de partida da avaliação [5]. Porém, é importante salientar que
o avaliador visualiza apenas a contração dos músculos super- A perineometria constitui o método mais usado para ava-
ficiais, estimando que o músculo levantador do ânus esteja liar função muscular do AP e endurance. Solicita-se a contração
respondendo similarmente. Para confirmar essa hipótese, mais máxima do AP (força máxima), com sustentação (endurance)
do que observação deve ser realizada, já que a contração pode e número de repetições máximas possíveis (endurance) [1,2,7].
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 471

Quadro 1 - Resumo dos estudos.


Autor/Ano Método Vantagens do método Desvantagens do método Pesquisa X
Avaliação prática
Brækken et Observa- - Ponto de partida para avaliação da - Visualiza-se contrações de músculos super- - Prática. Sem
al. [1] ção visual capacidade de contração; ficiais sem comprovação de associação de bons níveis de
Slieker-ten - Simples, não invasivo, sem custo, fácil músculos profundos. evidência para
Hove et al. acesso. - Difícil visualização em obesas. uso científico.
[5]
Slieker-ten Palpação - Simples, baixo custo, fácil aplicação, - Método subjetivo, baixa confiabilidade inter- - Prática. Sem
Hove et al. vaginal não requer instrumentos especializados na -examinador. bons níveis de
[5] execução. - Os dedos podem não ser sensíveis o suficien- evidência para
Elenskaia et - Usada tanto na avaliação quanto no te para diferenciar as proporções de oclusão uso científico.
al. [7] aprendizado. versus elevação.
Caroci et - Moderada a alta confiabilidade intra- - Presença de intróito vaginal estreito, dor,
al. [3] -examinador. desconforto no canal vaginal dificultam ou
- Avalia: (1) capacidade em contrair/rela- impedem sua execução.
xar corretamente; (2) função muscular por
meio de uma oclusão máxima e elevação;
(3) endurance; (4) tônus de repouso, co-
ordenação com os músculos abdominais
inferiores, simetria da contração, presença
de cicatriz, aderências e dor.
Nascimen- Cones - Método simples, baixo custo, fácil apli- - Avalia grau de força muscular limitado pela - Prática. Sem
to [2] Vaginais cação. disponibilidade de cones vaginais com pesos bons níveis de
- Usado na avaliação e reabilitação do AP. superiores aos encontrados no mercado. evidência para
- Mulheres com intróito vaginal muito largo uso científico.
encontram dificuldades para reter até mesmo
cones mais leves.
Elenskaia et Perineo- - Confiabilidade satisfatória intra e inter- - Prática e
- Requer experiência do profissional no uso do
al. [7] metria -examinador. instrumento. pesquisa clí-
Rahmani e - Permite a reprodutibilidade dos resulta- nica. Método
- O tamanho variável dos dispositivos altera a
Mohseni- dos e objetividade do exame. confiabilidade e validade das medições. mais usado
-Bandpei - Aumentos da pressão intra-abdominal e nas pesquisas
[8] contrações de músculos acessórios aumentam científicas com
a pressão alterando valores. bons níveis de
evidência.
Nunes et Dinamo- - Medem forças produzidas pela contra- - Não disponíveis no mercado, usados somen- - Pesquisa
al. [9] metria ção independentemente do julgamento do te para pesquisa. clínica.
avaliador. - Alto custo.
- Medem a força isométrica A-P do AP, - Necessita de maiores estudos para validação
como também, na direção transversa ao do instrumento e sua confiabilidade.
hiato urogenital.
Marques et Eletromio- - Permite a conscientização de um múscu- - Nem sempre acessível, custo elevado, requer - Prática e pes-
al. [10] grafia lo pouco utilizado, levando ao aprendiza- experiência do profissional no manuseio. quisa clínica.
Resende et do pela auto-correção. - O canal vaginal largo pode alterar aferições
al. [11] - É uma medida indireta de força muscu- devido ao não preenchimento total do mesmo.
lar. - As informações não devem ser usadas como
medida absoluta da força.
Brækken et Ultrassom - Avalia prolapso, posição e mobilidade - Difícil acesso, custo elevado, requer experiên- - Pesquisa
al. [1] Dietz do colo vesical, quantifica a atividade do cia do profissional no manuseio. clínica.
e Shek [12] AP.
- Possibilita o aprendizado da contração
correta através da visualização.
472 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Autor/Ano Método Vantagens do método Desvantagens do método Pesquisa X


Avaliação prática
Reiner e Resso- - Reduz índices de insucesso com o treina- - Difícil acesso, custo elevado, requer experiên- - Pesquisa
Weishaupt nância mento muscular, selecionando casos que cia do profissional no manuseio. clínica.
[13] Magnética serão inseridos para tratamento de acordo
com a especificidade da situação.

Kegel foi o precursor no desenvolvimento de um equi- ser considerado um instrumento de medida indireta da força
pamento com esta finalidade. Este era constituído por uma muscular [10,11], que podem ser obtidas com eletrodo de
sonda endovaginal acoplada a um manômetro que detectava superfície ou intramuscular. Na prática clínica, eletrodos de
a elevação da pressão intravaginal durante a contração [7]. superfície (probe vaginal) são mais utilizados devido à elevada
O perineômetro pode ser usado tanto na avaliação como sensibilidade da região perineal e habilidades que o uso de
no ensino da contração correta [2]. Atualmente, vários apa- eletrodos de agulha ou fio requer [10].
relhos estão disponíveis, existindo ampla variação quanto ao Estudos demonstram boa validade e reprodutibilidade
tamanho do dispositivo e parâmetros empregados [8]. interobservador durante as avaliações da atividade elétrica
Rahmani e Mohseni-Bandpei [8] concluíram que a peri- do AP. Embora a EMG registre a atividade elétrica produzida
neometria é um método altamente confiável na avaliação da pelo recrutamento de unidades motoras e não diretamente a
estimativa da força e resistência muscular do assoalho pélvico, própria força muscular, alguns estudos indicam que há boa
interexaminador. correlação entre o número de unidades motoras ativadas e
A perineometria apresenta limitações em sua utilização [8]. força muscular [11], podendo ser considerado como medida
Uma é a variação de tamanho do dispositivo vaginal entre os indireta da força muscular.
equipamentos. Alguns possuem dispositivos menores onde a
colocação na vagina gera um problema quanto à confiabili- Ultrassom
dade e validade, pois o transdutor pode ser colocado fora da
localização anatômica do AP. Outra limitação é a contração O ultrassom (US) está sendo usado, cada vez mais, para
simultânea dos músculos abdominais, pois o aumento da a avaliação morfológica e funcional do AP. Tem sido empre-
pressão intra-abdominal aumentará a pressão medida na gado na avaliação de prolapsos, posição e mobilidade do colo
uretra, vagina e reto. Para evitar a co-contração destes, tem-se vesical, efeito de manobras de esforço sobre o AP, além de
utilizado a eletromiografia de superfície buscando o seu rela- quantificar a contração em qualquer plano [1,12]. Para sua
xamento. Porém, estudos mostram que há co-contração dos realização, o probe pode ser colocado na região suprapúbica,
músculos transverso abdominal e oblíquo interno durante a no períneo, ou inserido na vagina ou reto [12]. O US pode
contração máxima do AP. A contração simultânea dos glúteos, ser utilizado como um biofeedback por fornecer uma visua-
rotadores externos e adutores de quadril deve ser evitada, pois lização direta da contração possibilitando o aprendizado da
também alteram a medida de pressão intravaginal. contração correta [1,12].

Dinamometria Ressonância magnética

Os dinamômetros medem forças produzidas por uma A ressonância magnética (RM) permite evidenciar
contração independentemente do julgamento do avaliador. a localização de uma lesão muscular, possibilitando melhor
Embora estes instrumentos sejam amplamente usados para compreensão da relação entre lesão e suas consequências para
avaliação de outros grupos musculares, dinamômetros para o AP. Com isso, há chance de redução dos índices de insucesso
o AP são relativamente recentes [9]. na reabilitação, selecionando com mais critério a paciente que
Como não há um padrão-ouro reconhecido para a será inserida para tratamento de acordo com a especificidade
avaliação do AP, torna-se impossível avaliar os critérios de da situação [13].
validade dos dinamômetros. Nunes et al. [9] encontraram
confiabilidade de boa à excelente no uso deste equipamento Conclusão
nas medidas da força do AP nos planos sagital ou frontal.
Contudo, ainda são necessários estudos que verifiquem a sua Diversos instrumentos para a avaliação funcional do AP
validade e confiabilidade interexaminador. estão disponíveis no mercado, porém, nem todos acessíveis
devido às restrições orçamentárias de alguns serviços de fisio-
Eletromiografia terapia. A avaliação por imagem através do US e da RM são
usados restritamente para o uso científico devido à dificuldade
A eletromiografia (EMG) registra os potenciais elétricos de acesso, custo e necessidade de mão de obra especializada.
gerados pela despolarização das fibras musculares, podendo A EMG possui suas vantagens, especialmente em relação ao
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 473

feedback proporcionado durante a avaliação, entretanto seus 4. Assis TR, Sá ACAM, Amaral WN, Batista, EM, Formiga
resultados não devem ser considerados como medida direta CKMR, Conde DM. Efeito de um programa de exercícios para o
de força muscular do AP. Além disso, é considerado um fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico de multiparas.
instrumento de custo elevado e dependente da expertise do Rev Bras Ginecol Obstet 2013;35(1):10-5.
5. Slieker-ten Hove MCP, Pool-Goudzwaard AL, Eijemans MJC,
avaliador. Dispositivos como a dinamometria necessitam de
Steegers-Theunissen RPM, Burger CW, Vierhout ME. Face
maiores pesquisas para validação e testes de reprodutibilidade validity and reliability of the first digital assessment scheme
e confiabilidade intra e interexaminadores. Outros métodos of pelvic floor muscle function confirm the new standardized
são considerados objetivos, com confiabilidade satisfatória terminology of the International Continence Society. Neurourol
intra e interexaminador permitindo a reprodutibilidade dos Urodynam 2009;28:295-300.
resultados e objetividade do exame, como a perineometria. Já 6. Laycock J. Pelvic muscle exercise: physiotherapy for the pelvic
outros são subjetivos por serem avaliador-dependente. Con- floor. Urol Nurs 1994;14(3):136-40.
tudo, apesar da subjetividade, eles não perdem a importância 7. Elenskaia K. Thakar R, Sultan AH, Scheer I, Beggs A. The effect
na determinação da capacidade de contração do AP, tendo of pregnancy and childbirth on pelvic floor muscle function.
Int Urogynecol J 2011;22:1421-7.
extenso uso na prática clínica, porém com limitação para o
8. Rahmani R, Mohseni-Bandpei MA. Application of perineome-
uso científico, como a observação visual, cones vaginais e
ter in the assessment of pelvic floor muscle strength and endu-
palpação vaginal. rance: A reliability study. J Body Mov Ther 2011;15:209-14.
Independente de qual método escolhido há pontos que 9. Nunes FR, Martins CC, Guirro ECO, Guirro RRJ. Reliability
devem ser observados durante seu uso, como: posicionamento of bidirectional and variable-opening equipment for the mea-
da paciente, tipo de probe utilizado e uso de musculatura surement of pelvic floor muscle strength. Am Acad Phys Med
acessória. Estes fatores podem interferir nas mensurações e Rehab 2011;3:21-6.
análise dos dados obtidos, levando a vieses. 10. Marques J, Botelho S, Pereira LC, Lanza AH, Amorim CF, Palma
P, Riccetto C. Pelvic floor muscle training program increases
Referências muscular contractility during first pregnancy and postpartum:
Electromyographic study. Neurourol Urodynam 2012;1-5.
11. Resende APM, Petricelli CD, Bernardes BT, Alexandre SM,
1. Brækken IH, Majida M, Engh ME, Bø K. Test–Retest Relia-
Nakamura MU, Zanetti MRD. Electromyographic evaluation
bility of Pelvic Floor Muscle Contraction Measured by 4D
of pelvic floor muscles in pregnant and nonpregnant women.
Ultrasound. Neurourol Urodynam 2009;8:68-73.
Int Urogynecol J 2012;23:1041-5.
2. Nascimento SM. Avaliação fisioterapêutica da força muscular
12. Dietz HP, Shek, KL. Tomographic ultrasound imaging of the
do assoalho pélvico na mulher com incontinência urinária de
pelvic floor: which levels matter most? Ultrasound Obstet Gy-
esforço após cirurgia de Wertheim-Meigs: revisão de literatura.
necol 2009;33:698-703.
Rev Bras Cancer 2009;55(2):157-63.
13. Reiner CS, Weishaupt D. Dynamic pelvic floor imaging: MRI
3. Caroci AS, Riesco MLG, Sousa WS, Cotrim AC, Sena EM,
techniques and imaging parameters. Abdom Imaging 2012
Rocha NL, Fontes CNC. Analysis of pelvic floor musculature
[Epub ahead of print].
function during pregnancy and postpartum: a cohort study.
Clin Nurs 2010;19:2424-33.
474 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Revisão

Aplicação dos recursos fisioterapêuticos na disfunção


temporomandibular
Using physical therapy techniques for temporomandibular disorder
Wiviane Maria Torres de Matos Freitas*, Erielson dos Santos Bossini**

*Pós-graduada no curso de Especialização em Fisioterapia Traumato-ortopedia pela Universidade da Amazônia,


**Professor titular e orientador no curso de Pós-graduação de Fisioterapia em Traumato-ortopedia pela Universidade da Amazônia

Resumo Abstract
Introdução: A articulação temporomandibular é comumente Introduction: The temporomandibular joint is commonly requi-
exigida e sofredora de tensão e desgastes. Quando estes desajustes se red and suffers from tension and wear. When these misalignments
tornam prejudiciais ao homem, podem causar transtornos como a become harmful to humans, they may cause disorders such as
disfunção da articulação temporomandibular (DTM). Esta pesquisa temporomandibular joint dysfunction (TMD). This review aimed
teve por objetivo ressaltar a atuação dos recursos fisioterapêuticos to highlight the role of physical therapy techniques enable to mi-
capazes de minimizar as consequências da DTM. Material e métodos: nimize the consequences of TMD. Method: We used Lilacs, Scielo
Para a busca de artigos científicos disponíveis, utilizou-se as bases and Pubmed databases to search for available articles from August to
de dados Lilacs, Scielo e Pubmed, que foram acessadas durante o December 2012, through specific descriptors. Results and discussion:
período de agosto a dezembro de 2012, através de descritores es- Based on 20 articles related to the subject, it was possible to identify
pecíficos. Resultados e discussão: Em base de 20 artigos abrangendo treatment improvement using physical therapy. Among the remarka-
a temática, foi possível identificar o crescimento do tratamento ble features are the therapeutic massage, electro-thermotherapy and
através da fisioterapia. Dentre os recursos de destaque encontram-se kinesiotherapy. All identified as being able of minimizing pain, but
a massagem terapêutica localizada, eletrotermoterapia e cinesiotera- there were no significant differences between the types of resources.
pia. Todos identificados como capazes de minimizar a dor, mas não Authors agree that one of the biggest effects of TMD is the pain and
houve diferenças significativas entre os tipos de recursos. Autores loss of joint mobility, two crucial points for physical therapy, which
concordam que uma das maiores repercussões na DTM é a dor e offers interventions able to restore this functionality. Conclusion: We
perda de mobilidade articular, dois pontos cruciais para a fisioterapia, may arrive at the conclusion that physical therapy has many tools to
que dispõe de recursos suficientemente capazes de restaurar esta treat the TMD, especially when associated with dental treatment,
funcionalidade. Conclusão: É possível concluir que a fisioterapia tem and emphasizing the need for more studies related to this subject
grandes artefatos para a DTM, principalmente quando associado ao on health specialties basis.
tratamento odontológico, retratando a necessidade de ampliar cada Key-words: temporomandibular joint dysfunction syndrome, facial
vez mais o assunto em base das especialidades de saúde. pain, Physical Therapy.
Palavras-chave: síndrome da disfunção temporomandibular, dor
facial, Fisioterapia.

Recebido em 27 de março de 2013; aceito em 18 de novembro de 2013.


Endereço de correspondência: Wiviane Maria Torres de Matos Freitas, Tv. Humaitá, 2292/102, 66093-110 Belém PA, E-mail: wivianematos@
yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013 475

Introdução terapia no tratamento das disfunções temporomandibulares,


assim como ressaltar seus resultados perante os sintomas mais
A articulação temporomandibular (ATM) é a única articu- frequentes da mesma.
lação móvel do crânio e ainda permite movimentos rotacionais
e translacionais, devido à dupla articulação do côndilo [1]. Metodologia
Por sua mobilidade, a articulação está suscetível a comprome-
timentos funcionais. Dentre os mais recorrentes, destaca-se a Esta revisão foi realizada por meio de estudo documental,
Disfunção Temporomandibular (DTM), ou referida também através de levantamento de dados descritos na literatura.
como disfunção craniotemporomandibular (DCTM), por Utilizou-se consulta em base de dados Scielo, Lilacs e Pubmed,
sua relação estreita com os movimentos articulares de cabeça no período de agosto a novembro de 2012. Buscou-se varia-
e pescoço [2]. das combinações de unitermos como: Fisioterapia, disfunção
Segundo a Academia Americana de Dor Orofacial, a temporomandibular, dor orofacial, recursos fisioterapêuticos. Os
DTM pode ser classificada como um conjunto de distúr- mesmos unitermos foram pesquisados em língua inglesa e es-
bios que envolvem os músculos mastigatórios, articulação panhola, sendo incluídos no estudo os achados científicos que
temporomandibular (ATM) e estruturas associadas [3]. Este estivessem retratando os recursos fisioterapêuticos empregados
comprometimento articular é um termo genérico que engloba no tratamento da disfunção temporomandibular. Ademais,
várias condições, que ajudam a levar a articulação tempo- foram utilizados livros, artigos, monografias, dissertações e
romandibular a desordens, causando alterações articulares, teses de acervo particular. Houve como critérios de exclusão,
miofaciais e sensoriais decorrentes de desequilíbrios anatô- publicações fora do período compreendido entre 2000 e
micos oclusais, neuromusculares, psicológicos e posturais 2012, assim como trabalhos voltados para outras formas de
[4,5]. Trata-se de um distúrbio com manifestações clínicas tratamento na disfunção temporomandibular. Ao final da
envolvendo disfunções musculoesqueléticas, dor à palpação, pesquisa obteve-se uma amostra de 34 artigos variando entre
dor orofacial, estresse e hipermobilidade articular. Todos estes revisões, estudos de caso, ensaios clínicos e transversais. Foram
fatores demonstram correlação com o sexo do indivíduo e selecionados para realização do trabalho, 20 artigos que se
faixa etária [4,6,7]. encaixavam nos critérios pré-estabelecidos.
Estudos sugerem que cerca de 40% a 60% da população
em geral apresenta algum tipo de DTM [3,5,8,9]. Ocorre Resultados e discussão
prevalentemente no sexo feminino, acometendo indivíduos
de 20 a 45 anos, principalmente, pois, segundo autores, essa A DTM está presente em aproximadamente 40 a 60% da
ocorrência pode se originar devido a motivos emocionais. população e autores [8,14] demonstram a sua relação com a
Favorecidas também pelo deslocamento anterior do disco classe socioeconômica, na qual está mais frequente em pessoas
por alterações anatômicas [9,10]. Classificada como a prin- da chamada “Classe C” que teve uma ocorrência de 50,4%
cipal causa de dor não-dental, mesmo na atualidade, ainda dos casos de disfunção na ATM. Este fator ocorre segundo o
possui poucas estratégias avaliativas e diagnósticas definidas autor [14] pelo fato do estresse continuo de responsabilidade
claramente pela literatura. Da mesma forma, encontram-se pelo sustento da família.
limitações e desconhecimento sobre recursos da fisioterapia Vários autores concordam que a maior prevalência do
eficazes no tratamento da DTM [5,9]. distúrbio se dá no sexo feminino [3,5,14-16]. Esta ocorrência
Os sinais e sintomas são dor, diminuição da mobilidade pode ser justificada pela predisposição do sexo feminino ao
articular e força muscular. Assim como estalidos, crepitações surgimento de sintomas, alterações hormonais, situações de
na abertura e fechamento da boca, zumbidos, vertigem, ce- estresse e perturbações psicológicas como depressão.
faleia, limitações e sensibilidade à palpação [9]. Os distúrbios da ATM são frequentes na população, porém
A fisioterapia é citada como uma das áreas para o tra- com difícil rastreio, pois ainda não existe método confiável
tamento conservador da DTM. Destacando-se os recursos de diagnóstico e mensuração da presença ou severidade das
de eletrotermofototerapia, terapia manual, e cinesioterapia. DTM [3]. Da mesma forma, a etiologia da disfunção não tem
Essas alternativas são utilizadas como tentativa de reduzir a como ser precisamente determinada, nem suas repercussões.
dor muscular (acomete principalmente os músculos masseter, Dentre os sintomas, estudos [14,16,19] demonstram que
pterigoideo lateral e temporal) [4]. a dor aparece em até 90% dos casos de pessoas acometidas
Os objetivos fisioterapêuticos são elencados como: redução com a síndrome. Outros que também podem surgir são relatos
de dor, aumentar mobilidade articular (ATM + cervical), como estalidos, ruídos ou perda de movimento.
relaxamento muscular com redução dos espasmos, redução No que tange o tratamento da disfunção, caso seja prescrita
do estresse, etc[11,12]. um tipo de terapia inadequada, esta pode resultar em croni-
Em decorrência de o distúrbio acometer grande parte da ficação da dor, gerar iatrogenias ou mesmo fazer o paciente
população, o trabalho teve como objetivo identificar quais são acreditar que nem todos os profissionais possam tratá-lo
os recursos mais comumente empregados, o papel da fisio- adequadamente [3,11].
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Estudos demonstram que a maioria das terapias é indicada que se não tratada adequadamente pode trazer danos severos
para controle dos sinais e sintomas da patologia. O tratamento ao portador da síndrome de DTM [20].
das DTM visa à diminuição ou eliminação da dor, restaura- Em sumo, os autores levantam que a fisioterapia possui
ção da função articular normal, redução da necessidade de recursos terapêuticos eficientes no tratamento e minimização
tratamentos futuros e devolução das funções normais vitais dos sintomas provenientes da DTM, particularmente, no
[17]. Dentre estas, destaca-se a fisioterapia e dentre os passiveis controle da dor.
recursos a serem utilizados, destacam-se a massagem relaxante, Ressalta-se a importância destes recursos serem mais
técnica de tração articular, liberação miofascial, aparelhos comumente aplicados em indivíduos diagnosticados com a
eletrotermoterapêuticos, exercícios, etc. [3,15]. disfunção, para que a mesma não ocasione tantos transtornos
Franco et al. [13] aplicaram um protocolo em uma pa- na vida do paciente, uma vez que esta situação pode interferir
ciente, baseado em estratégias como alongamento passivo na qualidade do sono, da alimentação, socialização e relacio-
dos músculos trapézio e ECOM, laser, relaxamento facial e namentos pessoais.
orientações domiciliares. Obtendo melhora na dor, cerca de
20% era reduzido a cada sessão de fisioterapia. É interessante Conclusão
ressaltar que a pessoa foi reavaliada após 15, 30 e 60 dias ao
final do tratamento e os sintomas continuaram ausentes. O presente trabalho teve como proposta ressaltar quais os
A fisioterapia é considerada um procedimento simples, tipos de tratamento fisioterapêutico que são empregados para
reversivo e não invasivo, de baixo custo, que favorece a a disfunção temporomandibular assim como suas atuações nos
comunicação e a confiança paciente-profissional [13]. sintomas do distúrbio vêm sendo estudados e aprofundados.
Além disso, é uma área que vem sendo reconhecida em Há evidencias científicas de que a fisioterapia se faz como
seu papel de atuação na ATM, algumas vezes questionada opção no tratamento conservador da DTM. Maiores estudos
por outras especialidades profissionais, todavia, a literatura devem ser incentivados para aprimoramento das técnicas mais
vem retratando sua importância no controle dos sintomas eficazes ao tratamento, bem como para ressaltar o papel da
destes pacientes. fisioterapia nesta patologia e na possibilidade de minimizar
Torres [15] destacou em seu estudo o tratamento da fisio- os sintomas advindos da síndrome.
terapia voltado para vários graus da DTM, incluindo pessoas Os estudos experimentais, particularmente, devem ser
com DTM severa. Fez um estudo comparativo em pessoas incentivados para que respostas clínicas possam demonstrar
com tratamento fisioterapêutico e pessoas com tratamento a real importância do acompanhamento multiprofissional
odontológico. Concordando com o autor supracitado que com estes pacientes portadores da disfunção. Entretanto,
encontrou redução significativa na redução da dor (ambos a literatura já demonstra bastante reconhecimento para a
segundo EVA). atuação do profissional fisioterapeuta no campo da síndrome
Souza [18] ressalta que o sujeito com a disfunção apresenta de disfunção temporomandibular, exemplificados através
alterações cinético-funcionais, e estas perturbações tem como de recursos da eletrotermoterapia (ultrassom, laser), terapia
uma de suas causas o sintoma de dor. Da mesma forma que manual (Massagem), exercícios terapêuticos (alongamento
a dor é vista como um processo passível de controle, sabe-se passivo, mobilização articular), etc.

Tabela I - Síntese dos estudos apresentados, considerando o recurso utilizado e os efeitos alcançados nos sintomas de indivíduos com DTM.
Referências Sintomas Recursos fisioterapêuticos Resultados
Oliveira [4] Dor Laser Foi realizado um estudo em grupo ativo e controle para verifi-
car redução da dor, não houve diferença significativa.
Oliveira [4] Dor Terapia Manual Em estudos realizados, as técnicas de massagem localizada na
ATM, conseguiram proporcionar redução na sensação doloro-
sa.
Maluf [11] Dor e quali- RPG e Alongamento estático As duas técnicas demonstraram efeitos tanto no nível de dor
dade de vida segmentar como na qualidade de vida das portadoras de DTM
Maluf [12] Dor Exercício terapêutico Maior resultado na associação de exercícios terapêuticos com
eletroterapia. Porém isoladamente demonstraram mais resulta-
do do que técnicas de relaxamento.
Franco [13] Alongamentos passivos; Laser; Houve redução gradual na sensação de dor, permanecendo
Relaxamento facial; Orienta- sem sintomatologia após os 60 dias de finalização do trata-
ções domiciliares mento.
Torres [15] Dor Tens pulsado; US pulsado; Apresentaram redução de dor de 20% por sessão com redução
massagem; alongamento e total após o termino das sessões, com a associação dos méto-
relaxamento cervical. dos. Isoladamente não foram analisados.
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Destaca-se, também, a necessidade de melhores capaci- 9. Bassi AFB, Morimoto RS, Costa ACS. Disfunção temporo-
tações profissionais, além de associações dos profissionais de mandibular: Uma abordagem fisioterapêutica. III Encontro
saúde, pois uma atenção multiprofissional sempre desenvolve Científico e Simpósio de Educação Unisalesiano. Lins, outubro
maiores benefícios ao indivíduo, em especial nesta temática, de 2011.
10. Biasotto-Gonzalez DA. Abordagem interdisciplinar das disfun-
o tratamento do fisioterapêutico em conjunto ao tratamento
ções temporomandibulares. São Paulo: Manole; 2005.
odontológico. 11. Maluf SA. Efeito da Reeducação Postural Global e do alonga-
mento estático segmentar em portadoras da disfunção tempo-
Referências romandibular: um estudo comparativo. São Paulo: USP; 2006.
12. Maluf AS, Moreno BGD, Alfredo PP, Marques AP, et al. Exer-
1. Donnaruma MDC, Muzilli CA, Ferreira C, Nemr K. Disfunções cícios terapêuticos nas desordens temporomandibulares: uma
temporomandibulares: sinais, sintomas e abordagem multidis- revisão de literatura. Fisioter Pesq 2008;15(4):408-15.
ciplinar. Revista CEFAC 2010;12(5):788-94. 13. Franco AL, Zamperini CA, Salata DC, Silva EC, Albino Júnior
2. Póli MS, Morosini MRM, Martinelli RCPM. Abordagem W, Camparis CM. Fisioterapia no tratamento da dor orofacial
interdisciplinar na disfunção temporomandibular: Relato de de pacientes com disfunção temporomandibular crônica. Revista
caso. Arq Ciênc Saúde Unipar 2003;7(2):171-7. Cubana de Estomatologia 2011:48(1)56-61.
3. Carrara VC, Conti PCR, Barbosa JS. Termo do 1º Consenso 14. Martins RJ, Garcia AR, Garbin CAS, Sundefeld MLMM.
em disfunção temporomandibular e dor orofacial. Dental Press Relação entre classe socioeconômica e fatores demográficos
J Orthod 2010;15(3):114-20. na ocorrência da disfunção temporomandibular. Ciênc Saúde
4. Oliveira KB, Pinheiro ICO, Freitas DG, Gualberto HD, Coletiva 2008;13(Supl2):2089-96.
Carvalho NAA. A abordagem fisioterapêutica na disfunção 15. Torres F, Campos LG, Fillipini HF, Weigert KL, Vecchia GFD.
da articulação temporomandibular: revisão da literatura. Med Efeitos dos tratamentos fisioterapêutico e odontológico em
Reabil 2010;29(3):61-4. pacientes com disfunção temporomandibular. Fisioter Mov
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2011;77(4):418-25. Curso- Stomatos- ULBRA 2011;17(32):15-23.
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8. Okeson JP. Etiologia e identificação dos distúrbios funcionais 19. Sydney PBH, Conti PCR. Diretrizes para avaliação somatossen-
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Pena MGM. A dor e o controle do sofrimento. Revista de Psi-
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Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil

Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em 3. Revisão


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ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ( ) Saúde funcional do idoso
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resultados e conclusão. ( ) Terapia manual
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português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar ( ) Orteses, próteses e equipamento
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da ( ) Músculo-esquelético
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. ( ) Neuromuscular
( ) Saúde funcional do trabalhador
Agradecimentos ( ) Controle da dor
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser ( ) Pesquisa experimental /básica
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. ( ) Saúde funcional da criança
( ) Metodologia da pesquisa
Referências ( ) Saúde funcional do homem
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências ( ) Prática política, legislativa e educacional
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas ( ) Saúde funcional da mulher
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ( ) Saúde pública
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. ( ) Outros
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In-
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoame- Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
ricanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme. cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, para sua adequada formatação.
colocar a abreviação latina et al.
Atlantica Editora
Exemplos: artigos@atlanticaeditora.com.br
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper-
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York:
Raven Press; 1995.p.465-78.

Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of


urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
Res 1994;54:5016-20.
480 Fisioterapia Brasil - Volume 14 - Número 6 - novembro/dezembro de 2013

Agenda
2014 Março

Fevereiro 21 e 22 de março
II Jornada de Fisioterapia em Pediatria
8 a 10 de fevereiro III Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
II Meeting de Eletrocosmética e Estética Avançada Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP
Hotel Pestana, São Paulo, SP Informações: iep@hsl.org.br
Informações: www.shopfisio.com.br
Abril
13 a 15 de fevereiro
VIII Encontro Internacional de Fisioterapia Dermato- 30 de abril a 3 de maio
funcional VI Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Belo Horizonte, MG III Simpósio de Fisioterapia Esportiva
Informações: dermatofuncional2014.com.br João Pessoa, PB
Informações: http://fisioterapiamanual.com.br/evento-
14 e 15 de fevereiro congresso/
I Simpósio Internacional de Incontinência Urinária
Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP
Maio
Informações: iep@hsl.org.br
8 a 10 de maio
21 a 23 de fevereiro
XX CBTO - Congresso Brasileiro de Trauma Ortopédico
XXI Jornada Internacional de Posturologia Clínica
Gramado, RS
Londrina, PR
Informações: http://www.traumaortopedico.med.br
Informações: http://posturologiaclinica.com.br/

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