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Medicina

revista de

DESPORTIVA
Ano 14
informa
Bimestral

Número 05
Setembro 2023
www.revdesportiva.pt

Entrevista: Dr. Jorge Crespo


Recordar com carinho: Dr. Nuno Campos
FMUP: Resumos e comentários
Curiosidades: Nomes que identificam
estudos científicos
Caso clínico: Síndrome de Parsonage
Turner em Nadadora de Elite
Temas:
Biomecânica e Traumatologia do Beisebol
A doença de Parkinson e o Momento da
Fisioterapia
Síndrome do Espaço Sub-glúteo
Resumo das II Jornadas de Medicina do
Exercício e do Desporto
Resumo: 2020 ESC Guidelines on sports
cardiology and exercise in patients with
cardiovascular disease – miocardite e
pericardite
Medicina

revista de
DESPORTIVA
informa
Bimestral Setembro 2023
Ano 14 www.revdesportiva.pt
Número 05 Preço – 5.00€

A lei é para se cumprir. Ninguém a pode ignorar, ninguém pode estar contra uma regra que foi pensada e
pretendia melhorar a assistência médica ao atleta profissional, mas que na altura tinha um objetivo bem
maior que a sua aplicabilidade. A Lei (Lei n.º 119/99 de 11 de Agosto), para além de obrigar à responsabili-
dade de um médico especialista em medicina desportiva (MD), pretendia ser um motor para o desenvolvimento
da especialidade de MD, pois a carência obrigaria à formação de novos especialistas para que a lei fosse
cumprida (artigo 3.º, ponto 3). Não terá tido esse efeito, foi esquecida ou ignorada durante 24 anos (!),
surgiu apenas agora o debate, pertinente porque a lei é para ser cumprida, mas tremendamente injusta
para os que são, para os que querem ser médicos de uma equipa profissional, de futebol ou de outra
modalidade desportiva. Há médicos que trabalham há dezenas de anos em clubes, alguns graciosamente,
sempre foram competentes enquanto clínicos, apenas têm sido incompetentes no cumprimento desta lei;
há jovens médicos que já trabalham em clubes, são ambiciosos, aplicados e bem formados, receiam agora
serem “corridos” da paixão que lhes alimenta a vida. Vejo uma lei que me parece correta no princípio que
a fez nascer, mas, paradoxal e atualmente, não me parece que seja justa para os atuais médicos do fute-
bol: mude-se a lei, adapte-se a lei, crie-se um período de transição. Mas, para já, e porque “A medicina do
desporto, também designada MD, deve ser exercida por especialistas ou, excecionalmente, por médicos
especialmente credenciados” (Artigo 2.º, ponto 1), penso que a pós-graduação é uma boa credenciação e
suficiente para tranquilizar os médicos dos clubes que cumpram este quesito.
Liderar não é apenas velejar ao sabor do vento, é também lutar contra a adversidade normal do mar,
justa porque é a sua intimidade que se manifesta, para que todos os barcos que nele navegam se sintam
protegidos e possam expandir as suas ambições sem a sombra de discursos de circunstância, de colagens
oportunas e de expetativas goradas. Não é só esta lei que deve mudar. Basil Ribeiro, diretor, em Dammam,
Arábia Saudita

Entrevista: Dr. Jorge Crespo 2


Recordar com carinho: Dr. Nuno Campos 3
FMUP: Resumos e comentários 4
Curiosidades: Nomes que identificam estudos científicos 9
Caso clínico: Síndrome de Parsonage Turner em Nadadora de Elite 10
Temas: 14
Biomecânica e Traumatologia do Beisebol 14
A doença de Parkinson e o Momento da Fisioterapia 18
Síndrome do Espaço Sub-glúteo 21
Resumo das II Jornadas de Medicina do Exercício e do Desporto 24
Resumo: 2020 ESC Guidelines on sports cardiology and exercise in patients with
cardiovascular disease – miocardite e pericardite 29
Agenda 32
A Revista de Medicina Desportiva informa é uma publicação de âmbito nacional, de publicação bimestral e de caráter médico-científico. Tem como objetivo divulgar conteúdos médico-des-
portivos através de temas de revisão e de investigação, assim como publicar “Casos Clínicos” relacionados com a prática da Medicina Desportiva. Divulga ainda reuniões científicas reali-
zados em Portugal e no estrangeiro. Esta Revista respeita a Constituição Portuguesa e orienta-se por critérios de isenção e de rigor científico, compromisso ético e respeito deontológico.

CORPO EDITORIAL: CARDIOLOGIA | António Freitas, Dr. – Lisboa – Centro de Medicina Desportiva | Hélder Dores, PhD – Lisboa – Hospital da Luz, Lisboa | João Freitas, PhD – Porto – Clínica Espregueira, FMUP | Lino Gonçalves, PhD – Coimbra –
Centro Universitário de Coimbra | Miguel Mendes, Dr. – Lisboa – Hospital de Santa Cruz | Ovídio Costa, PhD – Porto | CIRURGIA Carlos Magalhães, Dr. – Porto – C H Universitário de Santo António, ICBAS – Universidade do Porto | DERMATOLOGIA
| Osvaldo Correia, PhD – Porto – Epidermis – Centro de Dermatologia | FILOSOFIA DA MEDICINA | Manuel Sérgio, PhD – Lisboa | FISIATRIA | Catarina Branco, Dra. – Stª Maria da Feira – Hospital S. Sebastião | Gonçalo Borges, Dr. – Porto – Hospital
da Prelada | Jorge Laíns, Dr. – Coimbra – Hospital Rovisco Pais | Páscoa Pinheiro, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de Coimbra | Pedro Lemos Pereira, Dr. – Coimbra – Hospital Universitário de Coimbra | Raul Maia e Silva, Dr. – Porto |
FISIATRIA/HIDROLOGIA CLÍNICA | Pedro Cantista, PhD – Porto – Centro Hospitalar do Porto | FISIOLOGIA | Gomes Pereira, PhD – Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana | José Alberto Duarte, PhD – Porto – Faculdade de Desporto do
Porto | GASTROENTEROLOGIA E HEPATOLOGIA | Rui Tato Marinho, PhD – Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa | IMUNOALERGOLOGIA | André Moreira, PhD – Porto – Hospital de S. João | MEDICINA DESPORTIVA | Domingos Gomes,
Dr. – Porto – CESPU | João Beckert, PhD – Lisboa – Centro de Medicina Desportiva de Lisboa | José Pedro Marques, Dr. – Lisboa – Unidade Saúde e Performance da FPF | José Ramos, Dr. – Porto – Clínica de Gondomar | J. L. Themudo Barata, PhD –
Covilhã – Universidade Beira Interior | João Paulo de Almeida, PhD – Lisboa | Luís Horta, PhD – Lisboa – Hospital Curry Cabral | Maria João Cascais, PhD – Lisboa – Nova Faculty of Lisbon | Nelson Puga, Dr. – Porto – Futebol Clube do Porto | Paulo
Beckert, Dr. – Lisboa – Unidade Saúde e Performance da FPF | Pedro Saraiva, Dr. – Coimbra | MEDICINA EMERGÊNCIA | Filipe Serralva, Dr. – Penafiel| MEDICINA GERAL E FAMILIAR | André Dias, Dr. – Matosinhos – USF Bela Saúde, Ermesinde |
Marcos Agostinho II, Dr. – Torres Vedras – Unidade de Saúde Familiar | MEDICINA INTERNA | Jorge Ruivo, PhD – Lisboa – Hospital de Santa Maria | Teixeira Veríssimo, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de
Coimbra | NUTRIÇÃO | Elton Gonçalves Dr. – Porto – Rio Ave F.C. | Vítor Hugo Teixeira, PhD – Porto – Faculdade de Ciências da Nutrição | OFTALMOLOGIA | Miguel Neves, Dr. – Póvoa do Varzim – Clínica Oftalmológica
Dr. Miguel Sousa Neves | ORTOPEDIA | Diogo Moura, Dr. – Coimbra – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra | Fernando Fonseca, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de Coimbra | Hélder Pereira, Dr. – Vila do Conde –
Hospital da Póvoa do Varzim | Henrique Jones, Dr. – Setúbal – Hospital da Luz Setúbal | João Espregueira-Mendes, PhD – Porto – Universidade do Minho, Clínica Espregueira | João Gamelas, PhD – Lisboa – Faculdade de Ciências
Médicas | José Carlos Noronha, PhD – Porto – FPF, Hospital de S. Francisco | José Lourenço, Dr. – Porto | Leandro Massada, PhD – Porto | Manuel Gutierres, PhD – Porto – Faculdade de Medicina do Porto | Paulo Amado, PhD
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Humana | RADIOLOGIA | Joaquim Agostinho, Dr. – Viseu – Hospital São Teotónio | Sérgio Gomes, Dr. – Porto – SMIC | SAÚDE PÚBLICA | Romeu Mendes, Dr. – Vila Real – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

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| Produção EDIÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE E DESPORTO, LDA | Design e Paginação JOSÉ TEIXEIRA | Fotografia da capa: CONNOR COYNE UNSPLASH | Impressão GRÁFICA JORGE FERNANDES;
R. Quinta Conde de Mascarenhas, 9 Vale Fetal – 2825-259 Charneca da Caparica | Sede do editor, sede da redação e propriedade LINHA ÚNICA – EDIÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE E DESPORTO,
LDA Rua Santos Dias, 1121 – M13 (Fil Park), 4465-255 São Mamede de Infesta | Telefone/Fax – 220135613 | E-mail: linhaunica.rmd@gmail.com | www.revdesportiva.pt | NIPC 515669423 | Detentores
com 5% ou mais do capital da empresa: PAZ – Consultoria e Gestão, Lda e Basil Valente Ribeiro | Periodicidade Bimestral | Tiragem 3000 exemplares | Depósito Legal 304182/09 | ISSN 1647-5534
| Publicação Registada no Instituto da Comunicação Social sob o n.º 125758 | A reprodução parcial ou integral de texto ou ilustrações da Revista de Medicina Desportiva Informa é proibida.

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 1


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_2023_set sociedades médicas não conseguem.
Simultaneamente, sei bem das difi-
culdades de manutenção financeira
Entrevista
minha frente tudo quanto se publica de uma revista como esta, o que só
em Portugal. acrescenta valor à sua direção. No
passado esta especialidade contou
Como conhecedor profundo da já com outras revistas entretanto
Dr. Jorge Crespo
Diretor e editor do
atividade editorial médica, como desaparecidas, das quais destaco a
ÍndexRMP, Médico caracteriza a sua evolução? Revista Portuguesa de Medicina Despor-
Internista (AH
Graduado Sénior
tiva, nascida pela mão entusiasta do
CHUC) Desde 1992, data do início desta Dr. Manuel Martins2 em 1982. Temos
coletânea, temos introduzidas mais também indexadas outras de bem
O Dr. Jorge Crespo define-se de 200 revistas. Algumas já desapa- menor duração, como a Investigação
como um médico aposentado, receram, outras mantêm-se, tendo Médico-Desportiva e o Jornal de Reabili-
mas não reformado. Como tem mudado apenas de nome, e muitas tação e Traumatologia do Desporto.
sido a sua atividade médica? mantêm uma meritória continui-
dade editorial, com excelente con- Que conselhos nos dá, não só à
Muito obrigado pelo convite teúdo científico que as faz incluir Revista, como também aos seus
para esta entrevista, que em bases de dados internacionais. leitores e potenciais assinantes?
entendo como uma oportunidade
para divulgar esta minha carolice, já Os médicos ainda gostam de A manutenção de uma revista
com mais 30 anos de existência, que investigar, escrever e publicar? médica é um trabalho de grande
é o Índex das Revistas Médicas Por- dedicação e empenho. Tem de contar
tuguesas (ÍndexRMP). Estou, de facto, Os médicos têm absoluta necessi- com uma equipa editorial motivada
já aposentado das minhas funções dade de o fazer, pois são atividades para que ela se mantenha, capaz de
de assistente hospitalar graduado fundamentais para os seus currículos recrutar artigos originais, de revisão
sénior, no Centro Hospitalar e Uni- concursais e de progressão nas carrei- sistemática ou meta-análises, bem
versitário de Coimbra, onde traba- ras. Muito em particular para os que como casos clínicos, entrevistas e
lhei nos últimos 35 anos da minha seguem carreiras académicas persiste cartas ao diretor, para citar apenas
vida, nas áreas mais diversificadas, o famoso aforismo publish or perish. No os mais importantes. Tudo isto tem
de que destaco a da autoimunidade. entanto, quando procuram referências sido conseguido por esta revista
Na parte final fui também diretor bibliográficas para os concretizar, graças à liderança já citada e apesar
de uma estrutura de carácter depar- vão habitualmente buscá-las a bases das dificuldades referidas.
tamental que incluía os serviços de de dados internacionais onde estão O que eu não compreendo é que a
Medicina Interna, Oncologia, Endo- apenas algumas das nossas melhores importante Sociedade Portuguesa de
crinologia, Hematologia e Reumato- revistas nacionais, mas nunca todas, Medicina Desportiva (SPMD) não dis-
logia. No entanto, não me considero como acontece com as que temos ponha de uma revista própria como é
reformado da minha atividade médica, no ÍndexRMP. Isto faz com que não apanágio das mais diversas socieda-
tanto a nível pessoal, como na dedica- incluam bons trabalhos publicados des médicas nacionais, assumindo-a
ção a esta base de dados da literatura entre nós, só que provenientes de como órgão de divulgação dos temas
médica exclusivamente nacional. especialidades diferentes das suas. em destaque na sua área e do bom
Simultaneamente, a ausência destas trabalho dos seus associados. Simul-
... mas o ÍndexRMP é a sua grande referências em nada ajuda o fator de taneamente, poderia recrutar os tra-
paixão... impacto das revistas ignoradas. balhos mais premiados nos eventos e
congressos que promove, tornando-
Sim, posso considerá-lo como tal. O Desde janeiro de 2010 que -os em artigos de grande interesse,
ÍndexRMP1 é a única base de dados acompanha a publicação desta divulgando inovações na sua área, e
que reúne todas as publicações Revista. Já são quase 14 anos. Qual destacando o seu conteúdo e o dos
médicas ou de áreas relacionadas a sua opinião sobre a Revista? seus autores na comunidade cientí-
com a saúde, editadas em Portugal fica nacional e internacional.
desde 1992. Nenhuma lá falta de A Revista de Medicina Desportiva Deixo aqui este desafio à direção
qualquer especialidade médica ou Informa é a única desta especiali- da SPMD e ao corpo editorial da
área afim. Todas as semanas acres- dade que atualmente se publica em Revista Medicina Desportiva informa no
centamos artigos, quer por via de Portugal. Temo-la incluída desde o sentido de apreciarem a possibili-
importação direta dos seus metada- seu primeiríssimo número de 2010. dade de transformar esta num órgão
dos, quer por transposição dos dados O trabalho desenvolvido pelo seu daquela, como ponto de partida
dos seus PDFs, quer ainda por scan diretor, Dr. Basil Ribeiro, tem sido para voos editoriais de bem maior
das revistas que nos chegam apenas fundamental para que ela mante- dimensão e divulgação, como esta
em papel. Enquanto editor-chefe da nha a presença de artigos de grande especialidade merece.
base, validando tudo quanto é intro- qualidade, com uma periodicidade 1
www.indexrmp.pt
duzido, isto coloca-me numa posição regular e sem atrasos, coisa que 2
Ver Entrevista na edição desta revista
muito agradável de ver passar à algumas revistas de importantes 2023, 14(4).

2 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):3. https://doi.org/10.23911/Nuno_Campos_2023_set

Dr. Nuno Campos


Ex-médico da seleção Nacional de Futebol. Pombal
Recordar com carinho

Aos 75 anos o que anda a Ferreira, Scolari, entre outros) e


fazer? com colegas de profissão de elevada
competência e qualidade profissio-
Medicina é vida. Como tal, com nal, de entre os quais destaco o Dr.
a idade que tenho continuo a Henrique Jones, foram das maiores
exercer uma das minhas pai- alegrias que vivenciei no desporto.
xões: ser médico. Apesar de ter Aproveito a oportunidade para agra-
reduzido a minha atividade por decer o todo o staff clínico (enfermei-
questões de saúde, continuo a ros, fisioterapeutas e cozinheiros),
dar apoio a um lar de 3.ª idade os quais, sob a minha coordenação
como clínico geral, continuo a na FPF, foram de uma dedicação e
realizar consultas em casa e competência extremas, formando
dou consultas na Clifipom, onde uma verdadeira família.
realizo consultas de clínica No entanto, de tudo o que vivi,
geral, traumatologia desportiva realço as viagens da Academia de
e exames médico-desportivos. Alcochete para qualquer estádio no
Depois, no meu tempo livre, Euro 2004. Foram momentos úni-
dedico agora mais tempo à cos, de uma alegria contagiante e
família e a ler artigos relaciona- vibrante que ficarão para sempre na
dos com a medicina desportiva. minha memória.
Como médico, uma etapa também
marcante foi como Diretor do antigo
No desporto, quais os Centro de Medicina Desportiva de
momentos que mais alegria Leiria, entre 1977 e 1985, onde efe-
lhe deram? tuava exames de avaliação médico-
-desportiva, controlo genérico de
Tenho uma vida ligada ao desporto. treino e consulta de traumatologia,
São 53 anos ininterruptos ligados bem como operações de controlo de
à vida desportiva, desde os 13 anos antidopagem em várias modalida-
de idade até hoje, e ainda continuo des (futebol, atletismo, ciclismo e
relacionado com o desporto, pese canoagem).
embora com funções diferentes. Fui Fui ainda palestrante de vários
jogador, jogador-treinador, treinador, cursos de treinadores de futebol e
dirigente desportivo e médico. Com futsal organizados pela AF Leiria, na
tanto tempo ligado ao desporto, são área da medicina desportiva, algo
vários os momentos que se tornam que me enriqueceu também muito.
inesquecíveis. Refiro a minha car-
reira de jogador ao serviço da Aca-
démica de Coimbra, onde conquistei O que ainda pensa fazer?
vários títulos e onde destaco os 332
jogos oficiais sem qualquer castigo Manter-me com atividade relacio-
(conquistei a medalha de compor- nada com a medicina e compen-
tamento exemplar), e os tempos de sar a minha família por todos os
treinador em vários clubes, inclusive momentos de ausência que a vida
o de onde resido. As fases finais dos desportiva me trouxe. Quero conti-
Campeonatos do Mundo em que nuar a acompanhar o futebol, agora
estive presente (sub-17: 1996; equipa de forma mais cómoda e tranquila
A: 2002, 2006, 2010, 2014) e dos Cam- no sofá.
peonatos da Europa (equipa A: 2004,
2008, 2012) foram momentos que me
proporcionaram alegrias e marcos Dê um conselho aos jovens
inesquecíveis. médicos ….
Para além disso, o facto de poder
privar e conviver com as maiores Deverão exercer Medicina com toda
figuras do futebol português (Eusé- a dedicação tendo em mente que
bio, Figo e Cristiano Ronaldo), com o único objetivo é o bem-estar do
selecionadores de prestígio (Jesualdo utente.

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 3


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):4-7. força. Verifica-se que a idade avan-
https://doi.org/10.23911/FMUP_2023_set
çada, o sexo feminino, o baixo nível
escolar/rendimento e o excesso de
investigador do Physically Active peso/obesidade se correlacionam
Lifestyles Research Group da Univer- inversamente com o cumprimento
sidade de Queensland do Sul, das recomendações do exercício de
Austrália, e seus colaboradores, que força. Para além disto, fatores intra
fornece uma visão global da epide- e interpessoais desempenham um
miologia do exercício de força, identi- papel chave na adesão.
fica possíveis causas para a baixa Neste artigo, na sequência do
adesão à sua prática e propõe supracitado, é proposta a realização
estratégias que permitam reverter de campanhas de saúde pública de
esta tendência. larga escala que promovam o exercí-
As recomendações de atividade cio de força a par do exercício aeró-
física sempre tiveram por base o bio. Para tal, propõem a implementa-
exercício aeróbio, no entanto, na ção de programas educacionais que
última década o exercício de força tenham em consideração as parti-
Dra. Carolina Paiva, Dra. Sandra Assunção
Internas de Formação Específica. Centro de Medicina tem vindo a ganhar destaque. Atual- cularidades deste tipo de exercício
de Reabilitação da Região Centro Rovisco Pais. Tocha. mente, as recomendações para adul- que requer um conhecimento básico
tos incluem pelo menos 150 minutos de terminologia específica (séries,
de exercício físico aeróbio de intensi- repetições, grupos musculares, etc.),
Resumo / comentário dade moderada ou vigorosa, ou pelo tipo de equipamento (pesos, bandas
menos 75 minutos de intensidade elásticas, etc.) e acesso ao mesmo
Muscle-strengthening Exercise vigorosa por semana, e exercício de tipo de exercícios (agachamentos,
Epidemiology: a New Frontier in força que envolva grandes grupos flexões, etc.), eficácia pessoal no
Chronic Disease Prevention1 musculares pelo menos duas vezes desempenho e, fundamentalmente,
por semana. Apesar disto, a promo- o esclarecimento de mitos que
Sabe-se atualmente que o exercício ção para a saúde e a prevenção de atribuem uma conotação negativa
de força (exercício que utiliza doença crónica continuam a basear- a este tipo de atividade, nomeada-
máquinas de pesos, bandas elásticas, -se, maioritariamente, em recomen- mente o aparecimento de lesões e de
pesos livres, peso corporal, etc.) está dações de exercício físico aeróbio. ganho excessivo de massa muscular.
associado a inúmeros benefícios para Os autores sugerem que esta baixa Para melhorar a avaliação epi-
a saúde, nomeadamente na massa/ prevalência de prática de exercício demiológica da atividade física, os
força muscular, densidade mineral de força, a par da escassa pesquisa autores propõem uma uniformização
óssea, desempenho nas atividades de nesta área, se deve à recente adição da mesma a fim de validar compara-
vida diária, perfil cardiometabólico e do exercício de força às recomenda- ções de dados populacionais de dife-
sintomas de depressão/ansiedade. ções de exercício e da sua avaliação rentes países, melhor monitorizar os
Várias metanálises demonstraram, precária nos inquéritos de vigilância níveis de exercício e implementar a
inclusivamente, a superioridade de saúde. Neste artigo são também avaliação dos programas de vigilân-
deste tipo de exercício face ao apontados dados de estudos de cia de atividade física. Para tal, suge-
exercício aeróbio na prevenção de saúde pública de vários países, os rem a utilização de equipamentos
sarcopenia, um problema de saúde quais sugerem que apenas 10% a tecnológicos (smartphones, smartwa-
emergente, cuja prevalência tem 30% dos adultos cumprem as reco- tches, etc.) já que a análise através de
aumentado de acordo com a tendên- mendações de exercício de força, em inquéritos é subjetiva e suscetível de
cia demográfica de envelhecimento comparação com 50% que cumpre vieses. Propõem, também, avaliação
populacional. Para além disso, as recomendações de exercício de outros parâmetros para além da
verificou-se, ainda, noutra metaná- aeróbio. Os autores atribuem estes frequência, como duração, intensi-
lise que uma a duas sessões de resultados ao facto de a promoção dade ou tipo de exercício, que podem
exercício de força por semana se do exercício de força ser muitas alterar os outcomes, como a força/
associa a redução na mortalidade. vezes negligenciada nas campanhas volume/resistência muscular e que
Outros estudos prospetivos com de saúde pública. De facto, trans- permitirá uma visão mais esclare-
dados americanos apontam para pondo para a realidade portuguesa, cedora deste tipo de exercício e dos
uma associação entre exercício de podemos verificar que nas últimas seus efeitos. Além disso, os autores
força e redução da incidência de recomendações da DGS de 2018 é destacam a necessidade de apostar
diabetes, doença cardiovascular e dado ênfase ao exercício aeróbio, na investigação para avaliar fatores
neoplasia. Apesar disto, apenas deixando o exercício de força para o socias e ambientais passíveis de
aproximadamente 20% da população final, para acrescentar outros tipos de influenciar o cumprimento das reco-
mundial cumpre as recomendações atividade física.2 mendações e explorar as barreiras e
da prática deste tipo de exercício. Por outro lado, os autores apontam os elementos facilitadores dentro de
Esta é a base para o artigo publicado uma correlação entre determinados subgrupos populacionais em risco de
online em 2020 no Sports Medicine dados sociodemográficos e estilos apresentarem uma baixa adesão ao
– Open, da autoria de Jason Bennie, de vida e a prática de exercício de exercício de força.

4 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Na nossa perspetiva, para além do
referido no artigo, há várias áreas nas
quais importa atuar para fomentar a fmup online
adesão ao exercício de força. Sabe-se Ensino a distância,
que esta se relaciona com determina- um futuro de oportunidades
dos traços de personalidade inerentes
a cada indivíduo, que lhes conferem Dra. Marisa Rodrigues1, Dr. David Moura2
Médicos internos de formação específica de
mais ou menos disciplina/autodeter- 1
Cardiologia Pediátrica no Centro Hospitalar
minação, mas isto é válido para qual- Universitário do São João, Porto e de 2Medicina Física FORMAÇÃO CONTÍNUA
e Reabilitação no Centro Hospitalar Entre Douro e
quer tipo de exercício. Deste modo, Vouga, Santa Maria da Feira.
CURSO BÁSICO DE

parece-nos que serão outros fatores a


contribuir de forma mais substancial
ELETRO-
para a baixa adesão, nomeadamente Resumo / comentário CARDIOGRAFIA
o acesso a equipamentos (ambientes
rurais, custos associados), a baixa Effectiveness of physical activity 1,5 ects e-learning
literacia em educação física e dificul- interventions for improving
dades técnicas, sobretudo na popula- depression, anxiety and distress: an destinatários
ção idosa. Investir na formação, quer overview of systematic reviews1 Médicos, enfermeiros, cardio-
da população infantil e juvenil, quer pneumologistas, estudantes
dos professores de educação física, Introdução de Medicina do ciclo clínico
e incluir o exercício de força nos (4.º, 5.º e 6.º ano)
programas curriculares seria uma A Saúde Mental é um importante candidaturas
forma de desde cedo conscienciali- problema de Saúde Pública, o que é 1.set a 10.nov.2023
zar a população para os benefícios facilmente explicado pela elevada
deste tipo de exercício. Por outro lado, prevalência dos problemas de Saúde
promover espaços públicos de fácil Mental e o burden, quer individual,
acesso e baixo custo, com disponibili- quer social, a eles associado. A
dade de equipamentos e profissionais depressão é a principal causa de
habilitados para a prescrição de exer- burden, enquanto a ansiedade é a
cício físico, bem como de incentivos patologia mais prevalente. O con-
governamentais fiscais, limitaria em texto da pandemia COVID-19 veio
muito as barreiras relacionadas com agravar ainda mais esta situação. FORMAÇÃO CONTÍNUA
o atual gasto económico associado. A atividade física (AF) é uma
O presente artigo levanta questões intervenção com conhecida influên- MEDICINA
pertinentes e sugere medidas práti-
cas no sentido de sensibilizar e edu-
cia na modificação do estado
psicomotor de um indivíduo. O seu
DO FUTEBOL
car a população para a prática das papel na Saúde Mental tem sido
3,5 ects b-learning
recomendações de exercício físico, amplamente estudado. A literatura
e para a criação de instrumentos de sugere que a AF tem efeito similar à destinatários
avaliação abrangentes que permi- psicoterapia e à farmacoterapia no Licenciados ou detentores
tam de forma objetiva esclarecer tratamento da depressão, ansiedade de Mestrado Integrado em
questões do foro clínico e epidemio- e stress, para além das suas inúme- Medicina, com pós-graduação
lógico responsáveis pelas limitações ras vantagens em termos de custos, ou especialidade em Medicina
atualmente encontradas. Do nosso efeitos-secundários e benefícios Desportiva
ponto de vista, esta é uma questão de para a saúde.
saúde pública que merece ser revista Singh et al. (2023) realizaram candidaturas
e debatida pelas entidades regulado- um estudo de síntese de evidência em breve
ras da saúde, bem como pelos profis- (umbrella review) sobre o efeito da AF
sionais de saúde prescritores. na redução dos sintomas de depres-
são, ansiedade e stress na população Em
Bibliografia adulta. parceria
com:

1. Bennie A J, Shakespear-Druery J, De Cocker


K. Muscle-strengthening Exercise Epidemiology: Métodos
a New Frontier in Chronic Disease Prevention. mais informações
Sports Med Open. 2020 Aug 26; 6(1):40. doi:
O protocolo desta revisão sistemática fmuponline.med.up.pt
10.1186/s40798-020-00271-w.
fmuponline@med.up.pt
2. Direção-Geral da Saúde. Aconselhamento (RS) foi prospetivamente regis-
22 042 6922
Breve Para A Promoção da Atividade Física – tado na PROSPERO com o número
Ferramentas de apoio. Programa Nacional CRD42021292710. Na Tabela 1
para a Promoção da Atividade Física. 2018.
encontra-se resumida a questão de
www.dgs.pt.
investigação usando a metodologia
PICOS.

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 5


Tabela 1 – Questão de investigação segundo a metodologia PICOS. Stress
P: População Revisões sistemáticas de ensaios clínicos aleatorizados realizados
em adultos (idade ≥ 18 anos) Uma RS composta por 6 ECA e 508
I: Intervenção Aumento da atividade física (AF) participantes reportou o resultado
C: Comparador Cuidados habituais, lista de espera, nenhuma intervenção, interven- em DMP para o stress, enquanto
ção semelhante ou intervenções com menor impacto na AF outra RS (1 ECA, 39 participantes)
O: Outcome Depressão, ansiedade ou stress relatou a diferença de médias (DM).
S: Tipo de estudo Revisões sistemáticas de ensaios clínicos aleatorizados com Os resultados da primeira evidencia-
meta-análise ram um efeito moderado a favor da
AF na redução do stress comparado
A população estudada foram RS e inclusão de estudos), extração de com o cuidado habitual (DMP de –
com meta-análise de ensaios clíni- dados e avaliação do risco de viés, 0,60 e intervalo de confiança de 95%
cos aleatorizados (ECA) realizados foram realizados simultaneamente de – 0,78 a – 0,42). Relativamente
em adultos. Foram incluídas todas por dois revisores, de modo indepen- à segunda, a DM foi de – 0,30 com
as intervenções que visaram aumen- dente, tendo os conflitos sido resol- intervalo de confiança de 95% entre
tar a AF, independentemente da vidos por consenso após discussão – 5,55 e 4,95, não mostrando efeito
modalidade, supervisão, forma de em equipa. estatisticamente significativo. Grau
interação (online vs. presencial) ou de recomendação B.
dose de exercício (frequência, inten-
sidade e duração). AF foi definida Resultados
como qualquer movimento produzido Análise de subgrupos
pela contração de músculos esqueléticos Dos 1280 artigos identificados na
que resulta num aumento substancial pesquisa, foram incluídas 97 RS, o Relativamente aos resultados da aná-
das necessidades energéticas em relação que corresponde a 1039 ECA e um lise de subgrupos, verificou-se que a
à taxa metabólica em repouso. Excluí- total de mais de 128 119 participan- AF foi eficaz na redução de sintomas
ram-se as RS que incluíssem ECA tes (adultos saudáveis, com patolo- depressivos em todas as condições
de intervenções não relacionadas gia psiquiátrica e diversas doenças clínicas. Os efeitos foram maiores
com AF, que combinassem AF com crónicas). As idades variaram de 29 em indivíduos com doença renal,
outra intervenção (por exemplo, a 86 anos (mediana de 55 anos) com HIV, doença pulmonar obstrutiva
dieta) ou AF pontual. Como compa- a maioria dos estudos incluindo crónica, em indivíduos saudáveis e
rador foram selecionadas as RS em participantes de ambos os sexos participantes diagnosticados com
que 75% ou mais dos ECA incluídos (n=83, 86%). 15 RS foram especifica- depressão. No caso da ansiedade,
considerassem qualquer um dos mente realizadas em indivíduos com também foi evidente, de uma forma
seguintes: cuidados habituais, lista depressão, enquanto 3 incidiram geral, o efeito da AF na redução dos
de espera, nenhuma intervenção, especificamente em indivíduos com sintomas na generalidade das situa-
uma intervenção semelhante ou ansiedade. Relativamente aos tipos ções clínicas.
intervenções com menor impacto na de AF avaliada, na maioria dos estu- Na análise do tipo de exercício,
AF (por exemplo, AF supervisionada dos (n=70) houve uma abordagem os autores concluíram que todos as
vs. impressão de folhetos informati- com diversas tipologias. tipologias foram eficazes na redução
vos sobre AF). Durante o processo de da depressão, com DMP semelhantes
seleção decidiu-se excluir as RS em em todas as variantes (intervenções
que > 25% dos ECA comparavam AF Depressão de força; intervenções mistas; exer-
com intervenções farmacológicas, cícios de alongamento, yoga e outras
ou que comparavam diferentes tipos Os resultados de 72 meta-análises modalidades de exercício mente-
de AF com igual dose (exercício de (n=875 ECA e mais de 62 040 partici- -corpo; e exercício aeróbio). Relativa-
resistência vs. aeróbio) sem compa- pantes) mostraram um efeito mode- mente à ansiedade, verificou-se que
ração com uma intervenção não-AF. rado a favor da AF na redução dos todas as variantes de exercício foram
Os outcomes considerados foram sintomas depressivos com diferença semelhantes na redução de sintomas.
sintomas depressivos, de ansiedade de médias padronizada (DMP) de – A redução de sintomas depressi-
ou de stress, autoavaliados ou como 0,43 e amplitude interquartil (AIQ) vos parece variar proporcionalmente
resultado de avaliações clínicas. de – 0,66 a – 0,27. Grau de recomen- de acordo com a intensidade da AF,
Os investigadores realizaram a dação A. já que exercícios com alta intensi-
pesquisa em 12 bases de dados, pes- dade apresentam maior efeito na
quisando no título, palavras-chave e redução desses sintomas compara-
termos MeSH os seguintes termos: Ansiedade tivamente com exercícios de inten-
“revisão-sistemática”, “meta-aná- sidade ligeira. No que concerne à
lise”, “atividade física”, “exercício”, A análise de 28 meta-análises (n=171 patologia ansiosa, demonstrou-se
“ansiedade”, “depressão” e “stress”. ECA e mais de 10 952 participantes) em duas RS que todas as intensida-
Esta pesquisa foi restrita a artigos revelou um efeito moderado da AF des de exercício foram eficazes na
publicados em revistas com revisão na redução da ansiedade (DMP de – redução dos sintomas, porém a AF
por pares, em inglês e até 1/01/2022. 0,42 e AIQ de – 0,66 a – 0,26). Grau de moderada foi a que mostrou maior
Os processos de seleção (rastreio recomendação A. efeito na sua redução.

6 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Referindo-nos à duração total benéficos da AF resultem da combi- avaliação da qualidade através do
da intervenção, 12 RS (n=166 ECA nação de mecanismos psicológicos, uso da ferramenta AMSTAR-2.
e 15 669 pacientes) demonstraram neuropsicológicos e sociais. Assim,
que apesar de todas as durações diferentes tipos de exercício são
apresentarem eficácia na redução responsáveis pela estimulação de Implicações clínicas
de sintomas depressivos, o efeito foi diferentes mecanismos.
diminuindo à medida que o tempo Por outro lado, a AF de maior inten- A AF é eficaz na gestão de sintomas
de intervenção foi aumentando, sidade está associada a maior efeito depressivos e de ansiedade na popu-
sendo o efeito superior em inter- na melhoria da depressão e da ansie- lação geral, na que apresenta patolo-
venções com curta duração (≤ 12 dade. Uma possível explicação é a de gia psiquiátrica ou outras patologias.
semanas). De forma semelhante, que estes efeitos se devam a vários Apesar do reconhecimento geral do
a intervenção com maior efeito na mecanismos moleculares, nomea- benefício da AF na depressão e na
redução de sintomas de ansiedade damente, aumento da expressão ansiedade, existe, concomitante-
foi a de menor duração. de fatores neurotrópicos, aumento mente, uma subvalorização da sua
A duração semanal de AF com da disponibilidade de serotonina importância no tratamento destas
melhor associação à redução de e norepinefrina, regulação do eixo patologias. Para além disso, uma
sintomas de depressão e ansiedade hipotálamo-pituitário-adrenal e grande percentagem de indivíduos
foi aquela com duração igual ou redução da inflamação sistémica. com ansiedade e depressão apre-
inferior a 150 minutos/semana. A AF de baixa intensidade pode senta outras comorbilidades. Neste
Analisando a frequência semanal ser insuficiente para estimular os contexto, aos benefícios da AF na
de AF para a redução de sintomas mecanismos acima descritos. Estes saúde mental acrescem os relacio-
depressivos, os treinos com frequên- achados estão em consonância com nados com a gestão do processo de
cia moderada (4 a 5 sessões/semana) as recomendações da prática de doença nestas populações.
foram os que obtiveram maior exercício multimodal, de intensidade Todas as tipologias de exercícios
efeito. Em comparação, treinos com moderada a intensa. são eficazes. As modalidades com
frequência elevada (5 a 7 sessões/ A AF de longa duração é menos intensidade moderada e alta são mais
semana) e reduzida (<4 sessões/ efetiva que a prática de exercício eficazes. Foram obtidos benefícios
semana) obtiveram resultados infe- por curtos períodos, o que parece ser terapêuticos com intervenções curtas,
riores. Já relativamente à redução contraintuitivo. A diminuição da ade- o que tem implicações práticas. O
de sintomas ansiosos, treinos com são na prática de AF de longa dura- efeito da AF na redução de sintomas
frequência moderada (4 a 5 sessões/ ção, a ausência de blinding, que pode de depressão e de ansiedade é seme-
semana) mostraram um efeito supe- criar expetativas de melhoria nos lhante ou ligeiramente superior ao
rior face a treinos com frequência participantes, e o facto de interven- observado com a psicoterapia e far-
elevada (6 a 7 sessões/semana) e ções mais longas não serem sinó- macoterapia. Contudo, são necessá-
reduzida (2 a 3 sessões/semana). nimo de aumento da AF são alguns rios estudos adicionais para clarificar
Por último, no que toca à duração dos fatores que podem contribuir a eficácia da AF em comparação e em
individual das sessões, a AF de dura- para explicar este achado. combinação com outros tratamentos.
ção longa (≥ 60 minutos) e média A menor duração semanal mos- Em conclusão, a AF é eficaz na
(30 a 60 minutos) obteve efeitos na trou-se associada a maiores benefí- melhoria de sintomas de depressão e
redução de sintomas depressivos cios na redução da sintomatologia. ansiedade. Todas as tipologias de AF
semelhantes e mais significativos É importante salientar que este são eficazes, sendo as de intensidade
que as sessões curtas (<30 minutos). efeito na saúde mental é o oposto elevada mais benéficas. É essencial
Na redução da ansiedade, não houve da relação dose-benefício observada considerar a AF, inclusivamente inter-
diferenças entre sessões com dura- para os benefícios na saúde física. venções de exercício estruturadas,
ção longa ou curta. É plausível que sessões mais curtas como primeira linha na abordagem
sejam mais fáceis de cumprir e por clínica da depressão e ansiedade.
isso com maior impacto psicológico.
Discussão Do ponto de vista prático, é impor- Bibliografia
tante enfatizar que não são necessá-
Trata-se da primeira meta-revisão rias grandes doses de exercício físico 1. Ben Singh, Timothy Olds, Rachel Curtis et
que sintetiza o efeito da AF na para obter benefícios no tratamento al. Effectiveness of physical activity inter-
ventions for improving depression, anxiety
redução dos sintomas de depressão, da depressão.
and distress: an overview of systematic
ansiedade e stress em adultos. Este São apontadas como limitações reviews. Br J Sports Med. 2023 Feb 16;
tipo de estudo representa o mais deste trabalho o facto de a grande bjsports-2022-106195. doi: 10.1136/bjs-
elevado nível de evidência científica. maioria da evidência disponível dizer ports-2022-106195.Online ahead of print.
Os resultados sugerem que inter- respeito a depressão leve a mode-
venções que aumentam a AF são rada, sendo poucos os estudos sobre Alunos do curso de pós-graduação em
eficazes na melhoria dos sintomas ansiedade e stress, o que tem impli- Medicina Desportiva da Faculdade de
depressivos, ansiosos e de stress nas cações no âmbito das conclusões. Medicina da Universidade do Porto
diferentes populações clínicas. Todos Adicionalmente, a grande maioria (2022/2023).
os tipos de exercício mostraram ser das RS (n=77) são classificadas como
eficazes. É provável que os efeitos criticamente baixa relativamente à

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 7


passada. Naturalmente, aqueles já desenvolvimento de osteoartrose. BR
submetidos a cirurgia de anca ou
* https://aaos-annualmeeting-presskit.
de joelho tiveram o maior risco de org/2023/downloads/research-news/
osteoartrose (OR, 5,85; P<0,0001), AAOS-2023-Annual-Meeting-Press-Release-
Resumos
seguidos dos que tinham história de -Does-Running-Increase-the-Risk-for-Hip-
lesão no joelho ou anca que impedia -and-Knee-Arthritis.pdf

Novo estudo demonstra que a corrida (OR, 5,04; P<0,0001). Os


correr não aumenta o risco de autores identificaram outros fatores
artrite* de risco: história familiar de artrose,
IMC e idade maios avançada.
O estudo apresentado na De acordo com um dos autores do
Reunião Anual da Academia estudo, se não houver lesões ou
Americana de Ortopedia (AAOS), cirurgias que impeça a corrida, a
no dia 9 de março, vem tranqui- pessoa deve continuar a correr,
lizar os corredores a pé de assim como, referem, provavelmente
longas distâncias: o número de não haverá uma relação direta dose
quilómetros, a frequência e a – resposta, onde a maior prática de
passada / velocidade não estiveram corrida está associada a mais Effect of heart rate on the
associados ao aumento de risco de problemas de artrose. Por outro lado, hemodynamics in healthy and
osteoartrose. Tem havido receio de a experiência dos corredores de stenosed carotid arteries*
que a corrida possa aumentar o muitos anos e as observações dos
risco de artrose devido à sobrecarga especialistas de medicina desportiva Este artigo publicado na Physics of
articular, mas este estudo tal não referem que a osteoartrose não está Fluids, em junho de 2023, usou um
confirmou, contrariamente a outro necessariamente associada à corrida modelo computorizado sofisticado
publicado em 2017, uma meta-aná- de longa distância. Contudo, os de simulação do fluxo sanguíneo na
lise, que concluiu pelo de taxas de resultados devem ser analisados artéria carótida interna (ACI) com
artrose superiores nos atletas em com cuidado, pois os participantes 3 graus de estenose: sem bloqueio,
relação aos corredores de recreação. eram maratonistas atuais, sem bloqueio ligeiro (30%) e moderado
Entretanto, outro estudo de 2018, problemas (dores) articulares, com (50%). Os autores compararam o
havia concluído precisamente o articulações saudáveis que lhes efeito da frequência cardíaca ele-
contrário. permitiam participar nas corridas e, vada (140 bpm) induzida pelo exer-
No estudo agora apresentado esti- por outro lado, as pessoas com cício com dois valores de repouso
veram envolvidos 3804 corredores problemas articulares, onde a corrida (67 e 100 bpm). Verificaram-se que o
que participaram na Maratona de poderia ter efeito negativo, não se exercício intenso foi benéfico para
Chicago nas edições de 2019 e 2020. inscreveram nas maratonas. Tal as pessoas sem estenose e para os
Foi averiguada a história atlética, significa que apenas participaram doentes com estenose ligeira, mas
a média de quilómetros corridos nas maratonas aqueles que (ainda) foi potencialmente adverso nos
por semana e a velocidade média, têm articulações saudáveis e que doentes com estenose moderada
assim como os fatores de risco de lhes permite inscreverem-se nas ou mais elevada. O cinzelamento
osteoartrose (IMC, história familiar maratonas. Parece, então, haver um aumentado na parede vascular
de artrose e lesões anteriores do processo de seleção natural, pelo que provocado pela corrente sanguínea
joelho e ancas). A média de idades seria interessante comparar os pode levar à rotura da estenose /
foi de 43,9 anos, que corriam em participantes no estudo com um placa, cujos fragmentos entrarão
média 44,6 kms/semana e tinham a grupo que não faz corrida e analisar diretamente na circulação cerebral,
média de 14,7 anos de experiência o estado das cartilagens articulares. causando a isquemia (stroke). Os
na corrida. 37,3% dos participantes Assim sendo, a longa história da autores referem que “o fluxo per-
haviam corrido entre duas e cinco osteoartrose vai continuar a ser turbado na região pós-estenótica
maratonas, 21% terminaram entre contada e bastante mais investiga- promove ainda mais a disfunção
seis e dez maratonas e 17% correram ção é necessária para melhor se arterial, ativando vários genes pró-
a sua primeira maratona. Na história perceber a relação entre a prática de -ateroscleróticos e pró-inflamatórios
clínica, 1892 referiram lesão prévia atletismo de longa distância e o nas células endoteliais”, assim como
na anca ou no joelho e 413 já tinham tomaram conhecimento de
sido submetidos a cirurgia. No global, “relatos de acidentes vascu-
36,4% tinham tido dor na anca ou no lares súbitos em indivíduos
joelho no último ano e 7,3% tinham que realizavam exercícios de
o diagnóstico de artrose. intensidade elevada”.
Os resultados revelaram não haver *Piru Mohan Khan, Siddharth D.
associação entre o risco de osteoar- Sharma, Suman Chakraborty, Som-
trose e o número de kms percorridos nath Roy. Physics of Fluids 1 June
por semana, número de anos de 2023; 35 (6): 061906. https://doi.
prática de corrida, número de mara- org/10.1063/5.0153323
tonas terminadas ou velocidade da

8 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Nomes que identificam estudos científicos
Desde 1980 que são usados acrónimos para identificar estudos
científicos e têm sido usados nomes de personalidades históricas,
Curiosidades
celebridades atuais e figuras míticas para os referir. *
MESSI – Medial-prefrontal Enhance- CHAPLIN – Multicenter study to
ment during Schizophrenia Systems evaluate the impact of Health moni-
Imaging – é um estudo da Universidade toring on overall survival in patients
da Califórnia, São Francisco, EUA, com with metastatic non-squamous NSCLC
conclusão prevista para 2026, e que or extensive stage SCLC or advan-
estuda os efeitos da estimulação mag- ced TNBC under first-line treatment
nética transcraniana em doentes com withatezolizumab in combination with
esquizofrenia. chemotherapy. Desconhece-se o alinha-
mento das letras deste acrónimo.
MARADONA – Mechanochemical endo- DEBUSSY – Este compositor fran-
venous Ablation to RADiOfrequeNcy cês empresta o seu nome ao estudo
Ablation in the treatment of primary Thalamic Deep Brain Stimulation for
great saphenous vein incompetence – é Spasmodic Dysphonia, o qual avaliou a
um estudo holandês com o obetivo de eficácia do procedimento em doentes
avaliar uma técnica de tratamento da com disfonia espasmódica ou disfonia
insuficiência das veias safenas. laríngea, revelando-se útil na qualidade
de vida dos pacientes.
MOZART – Monitoring Oral Ziprasi- NAPOLEÃO – Optimal Treatment for
done As Rescue Therapy – é um ensaio Recurrent Haemorrhoidal Disease –
clínico realizado em Itália, para avalia- aplica-se com muita propriedade, já
ção de um fármaco no tratamento da que o Imperador sofria desta patologia.
esquizofrenia A investigação relaciona-se com três
métodos de tratamento da doença
hemorroidária recorrente.
VAN GOCH – Vandetanib Gemcitabine BEATLES – Bariatric Embolization of
Or Placebo Plus Gemcitabine Or Vande- Arteries with Imaging Visible Embolics
tanib Monotherapy In Advanced Biliary – é um estudo da Universidde Johjns
Tract Cancer – foi um estudo realizado Hopkins, dos EUA, que pretende deter-
em 19 centros italianos e publicado em minar a eficácia e a segurança de uma
2015 técnica bariátrica endoscópica minima-
mente invasiva, iniciado em 2020 e com
conclusão prevista para este ano.
PICASSO – PreventIon of CArdiovascu- SÓCRATES – Acute Stroke Or transient
lar Events in iSchemic Stroke Patients is Chaemic attack tReated with Aspirin
with High Risk of Cerebral HemOrrhage or TicagrElor and patient outcomES – é
– é um estudo da Coreia sobre um um estudo realizado em 33 países, com
antiplaquetário e sobre um hipolipide- mais de 13 mil participantes, sobre a
miante publicado em 2017 eficácia de dois antiagregantes pla-
quetários na prevenção do AVC e do
enfarte agudo do miocárdio.
EINSTEIN – refere-se a um programa
de desenvolvimento clínico de um
anticoagulante oral para o trata-
mento da embolia pulmonar e da
trombose venosa profunda, levado a
cabo durante 10 anos (EINSTEIN DVT,
EINSTEIN PE, EINSTEIN EXT, EINSTEIN
CHOICE e EINSTEIN JR)

*Matías A. Loewy. Mozart, Chaplin e Messi: quando os nomes dos ensaios clínicos se tornam ‘pessoais’. Medscape. 17 de Maio de
2023. https://portugues.medscape.com/slideshow/65000162?ecd=mkm_ret_230522_mscpmrk-OUS_TreAlert_PT&uac=13038BR&im
pID=5443549&faf=1#5

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 9


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):10-13. https://doi.org/10.23911/Parsonage_Turner_2023_set nervosos.3 Classicamente, manifesta-
-se com uma dor súbita e severa no
ombro, seguindo-se um quadro de
paralisia flácida dos músculos da cin-
Síndrome de Parsonage Turner
Caso clínico
tura escapular e, por vezes, do mem-
bro superior, período este que geral-
em Nadadora de Elite mente é acompanhado de melhoria
da dor. Em alguns casos verifica-se
Dr. Rui Martins da Silva1,2, Dr.ª Adriana Pereira1, Dr.ª Raquel Branco3, Ft. Joana Carvalho4, Dr. Paulo Araújo2 ainda parestesias ou hipostesia na
1
Interno de Formação Especifica de Medicina Física de Reabilitação (MFR) do Centro de Medicina de
Reabilitação de Alcoitão; 2Médico do Departamento de Saúde do Futebol Clube do Porto (FCP); 3Interno de
face externa do membro superior e,
Formação Especifica de MFR do Hospital Divino Espírito Santo, Açores; 4Fisioterapeuta do Departamento tipicamente, não ocorrem sintomas
de Saúde do FCP.
constitucionais.2
Em 90 a 95% dos casos a dor no
RESUMO / ABSTRACT ombro é o sintoma de apresentação,
A Síndrome de Parsonage-Turner (SPT) é uma patologia rara, caracterizada por dor a qual geralmente é pior à noite,
súbita no ombro, seguida de défices neurológicos. A etiologia exata permanece incerta, podendo irradiar para o braço ou
envolvendo uma predisposição genética associada a um trigger. O diagnóstico é clínico,
pescoço, e pode ser exacerbada
suportado por estudos eletrodiagnósticos e de imagem. Não existe tratamento específico
e o prognóstico é geralmente favorável. Este caso clínico refere-se a uma nadadora de alta
por movimentos do ombro e coto-
competição de 18 anos de idade, a qual iniciou omalgia esquerda após síndrome gripal, velo, mas não por movimentos do
com posterior défice de força muscular e sensitivo. Foi diagnosticada SPT e medicada com pescoço. A duração da dor é muito
corticoide e programa de reabilitação individualizado, com resolução do quadro em seis variável, desde horas a meses, no
meses. É fundamental o diagnóstico e tratamento precoces, para evitar sequelas a longo
entanto o mais frequente é durar
prazo e permitir um mais rápido retorno à atividade desportiva
uma a duas semanas. Alguns
Parsonage-Turner syndrome (PTS) is a rare disorder characterized by sudden shoulder pain followed doentes mantêm dor neuropática
by neurologic deficits. The exact etiology remains unclear, although a genetic predisposition is sus- persistente e/ou dor nocicetiva nas
pected in association with a trigger. The diagnosis is made clinically, supported by electrodiagnostic estruturas afetadas, por longos
and imaging studies. There is no specific treatment, and the prognosis is generally favorable. This
períodos.5,6
case-report relates to an 18-year-old competitive swimmer who developed left shoulder pain after
a flu-like illness, resulting in a deficit of muscle strength and sensitivity. She was diagnosed at PTS
O timing de desenvolvimento da
and treated with corticosteroids and an individualized rehabilitation program, resulting in resolution fraqueza muscular é variável: em
of the condition within 6 months. Early diagnosis and treatment are important to prevent long-term 85% dos doentes desenvolve-se em
sequelae and allow a quicker return to sports activities. um mês, em 70% em duas semanas
e em 33% em 24 horas. A atrofia
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS muscular desenvolve-se rapidamente
Síndrome de Parsonage-Turner, dor súbita ombro
e a localização da dor não se correla-
Syndrome of Parsonage-Turner, sudden shoulder pain
ciona necessariamente com a distri-
buição da fraqueza muscular.3,10
O diagnóstico da SPT é clínico,
Introdução autoimune, genético, infecioso, suportado por achados nos estudos
ambiental e biomecânico. Parece eletrodiagnósticos e em exames de
A Síndrome de Parsonage-Turner haver predisposição genética e vul- imagem. Como tal, é essencial uma
(SPT) é uma patologia rara, com nerabilidade mecânica, que torna o história clínica detalhada e com-
numerosos epónimos na literatura, doente suscetível a desenvolver sinto- pleta, com exaustiva descrição das
classicamente caracterizada por mas, e um trigger que vai desencadear queixas e da sua evolução tempo-
aparecimento de dor súbita no uma resposta imunomediada.9 Estes ral. Deve-se, também, pesquisar
membro superior, seguida de défices triggers são identificados em 30 a 80% possíveis triggers, como história de
neurológicos progressivos, como dos casos e podem ocorrer até mais infeções recentes, cirurgias, comor-
fraqueza muscular e, por vezes, de duas semanas antes do início do bilidades, entre outros, para além
alterações da sensibilidade.1-3 Está quadro. Alguns dos mais frequentes de realizar o exame físico completo.
estimada uma incidência anual de são as infeções virais (25 a 55%), as É importante a realização de radio-
1,64 a 3 por cada 100 000 habitantes, imunizações (15%), os períodos peri- grafia do ombro e do tórax para
o que se pensa estar subestimado -operatório e peri-parto (>14%) e o exclusão de outras patologias.11 A
devido à dificuldade diagnóstica, período após exercício extenuante ressonância magnética (RMN) do
com estudos a referir provável inci- (8%).3,10 Foi, ainda, sugerido que os ombro tem-se mostrado sensível na
dência de pelo menos 20 a 30 por movimentos repetitivos do tronco deteção de alterações musculares da
100 000 habitantes por ano.4,5 É mais superior contribuem para o desgaste cintura escapular afetada, havendo
frequente entre a terceira e a sétima e enfraquecimento da barreira hema- uma relação com as alterações
décadas de vida e no sexo masculino, tonervosa, que protege o sistema encontradas no estudo eletrodiag-
com rácios masculino/feminino a nervoso periférico do contacto com nóstico. No entanto, pode não ser
variar entre 1,75:1 e 11,5:1.3,6-8 células ou fatores imunes solúveis.9 suficientemente sensível nas fases
A etiologia da SPT permanece A SPT atinge preferencialmente a precoces (primeiras duas a três
desconhecida, mas diversos meca- porção superior do plexo braquial, semanas).7,12 O estudo eletrodiag-
nismos têm sido implicados: mas pode afetar vários territórios nóstico é anormal e compatível com

10 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


SPT em 96,3% dos casos, mas numa conflito e de instabilidade do ombro e extensão do cotovelo, extensão do
fase inicial pode não ser diagnós- negativas. As amplitudes de movi- punho e flexores dos dedos (figura
tico, pelo que não deve ser realizado mento da coluna cervical estavam 2). Apresentava ainda discinésia
antes das 4 a 6 semanas.5,10,13 preservadas e indolores, os reflexos escapulo-umeral (Vídeo 1 – https://
Não existe tratamento específico osteotendinosos profundos estavam youtube.com/shorts/ql9p4E-
para a SPT. O mais comum é haver presentes bilateral e simetricamente, LJIg?feature=shared) e hipostesia na
naturalmente redução da dor e não havendo fraqueza bulbar ou metade radial do antebraço.
recuperação gradual da força mus- sinais patológicos do neurónio motor Com esta clínica fez-se o diagnós-
cular. O tratamento farmacológico superior. Os testes de Hoffman e tico presuntivo de SPT. Foi solicitada
é dirigido ao controlo álgico, mas Spurling foram negativos. uma Autorização de Utilização Tera-
não mostrou redução das altera- Foi solicitada ecografia e pêutica (AUT) à Autoridade de Anti-
ções neurológicas, nem ou melho- radiografia do ombro esquerdo, dopagem de Portugal (ADoP) e após
rou o prognóstico. Na fase aguda que realizou 72 horas após início a receção da autorização a atleta
recorre-se a anti-inflamatórios não da omalgia, os quais não revelaram iniciou empiricamente prednisolona
esteroides (AINEs), corticoesteroi- alterações, tendo sido prescrito 1mg/kg/dia durante duas semanas
des e opioides. Nos casos de dor etoricoxib 60mg id durante uma e desmame gradual em duas sema-
neuropática persistente pode-se semana. Por manutenção do nas. Foi solicitada RMN do ombro
recorrer a anticonvulsivantes, como quadro álgico, associado a noção esquerdo e cervical e eletromiografia
gabapentina e carbamazepina, e de défice de força muscular (EMG). A RMN do ombro esquerdo e
a antidepressivos tricíclicos, como e aumento da dificuldade em cervical foi realizada quatro semanas
amitriptilina. O tratamento fisiá- cumprir o treino de água, a atleta após início da sintomatologia e não
trico conservador, vulgo fisioterapia, foi reavaliada três semanas após revelou alterações. Realizou EMG
é recomendado, com o objetivo de início dos sintomas. Nesta altura cinco semanas após início da sinto-
manutenção das amplitudes articu- apresentava atrofia discreta da matologia que revelou “redução da
lares, prevenção da perda de função fossa supra e infraespinhosa, amplitude do potencial sensitivo do
e alívio da dor, contudo parece não contratura do músculo trapézio nervo antebraquial cutâneo lateral
acelerar a recuperação. Devem-se superior e força muscular G4 esquerdo e sofrimento moderado
evitar os exercícios agressivos de (escala Medical Research Council) (axonotmesis parcial) do plexo
forma a minimizar a sobrecarga na abdução, flexão e rotação braquial esquerdo, atingindo prefe-
dos músculos enfraquecidos e por externa do ombro esquerdo, flexão rencialmente os troncos primários
forma a respeitar a fase precoce superior e médio
de reinervação. A cirurgia pode ser sugestivo de SPT.
considerada em casos refratários O curto tempo
ou na presença de complicações e decorrido não
engloba neurólise, enxertos nervosos permite quanti-
e transferências nervosas, tendino- ficar, de forma
sas e musculares.3,10,14-17 segura, a intensi-
O prognóstico é variável, com dade do compo-
melhoria da função motora em 66% nente neuroprá-
a um mês e recuperação em 36% dos xico associado.
casos a um ano, 75% aos 2 anos e A ausência de
89% aos 3 anos. No entanto, também atividade de
se verificou dor crónica e défice fun- espontânea de
cional em cerca de 1/3 dos doentes desnervação
num follow-up superior a seis anos.5,6 nos músculos
investigados, a
Relato de caso normalidade da
amplitude das
Jovem de 18 anos, nadadora de alta respostas moto-
competição, sem história médica ras evocadas e
relevante, desenvolveu omalgia a normalidade
esquerda de início súbito, com irra- da amplitude
diação para a região cervical, pon- da maioria dos
tuando 7 em 10 na Escala Numérica potenciais sensi-
da Dor (END), duas semanas após Figura 1 – 1ª avaliação Figura 2 – 3 sema-
tivos determina-
síndrome gripal. Ao exame físico médica após início dos nas após início dos, são fatores de bom prognóstico”.
apresentava limitação de flexão e sintomas (duas sema- dos sintomas – Neste contexto, cinco semanas
abdução ativa do ombro esquerdo nas após síndrome atrofia discreta após início da sintomatologia a
a 160º e rotação externa a 60º por gripal) – limitação de da fossa supra e atleta suspendeu a atividade compe-
flexão ativa do ombro infraespinhosa
dor, sem limitação passiva (figura 1); esquerdo a 160º. e contratura do
titiva e iniciou treino adaptado den-
tinha teste de Jobe e Patte doloro- trapézio superior tro de água associado a programa de
sos, Lift off negativo e manobras de à esquerda. reabilitação individualizado diário

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 11


com ajuste consoante evolução a qual revelou ligeira melhoria, como é o caso da bursite subacro-
clínica. mantendo-se atrofia neurogénea mial, capsulite adesiva, tendinopatia
O programa de reabilitação dese- ligeira em todos os músculos do ou rotura da coifa dos rotadores.
nhado para a atleta incluiu sessões tronco superior e médio do plexo Outros exemplos são a radiculopatia
de fisioterapia de uma hora de dura- braquial esquerdo e assimetria na cervical, a distrofia facioescapulou-
ção, bi-diária, cinco dias por semana. amplitude do potencial sensitivo meral, a síndrome do desfiladeiro
Durante todas as sessões a atleta foi do nervo antebraquial cutâneo torácico e a doença do neurónio
submetida a calor húmido nos mús- lateral. Aos seis meses após o início motor3,8-10, os quais podem dificultar
culos peri-escapulares, seguido de do quadro apresentava-se sem e atrasar o diagnóstico.
massagem manual para reduzir as queixas e com um exame físico Apesar do diagnóstico ser clínico, é
contraturas dos músculos trapézios, perfeitamente normal (vídeo 2: importante recorrer a exames com-
associado a técnicas miorelaxantes https://youtube.com/shorts/ plementares. A RMN e o EMG exe-
e miofasciais. Foi submetida, tam- OpQe5XqsYZI?feature=shared). cutados antes das quatro semanas
bém, a estimulação elétrica nervosa do início da sintomatologia não têm
transcutânea (TENS) a 100 Hz, 200 Discussão acuidade suficiente para identificar
us por pulso e intensidade pares- sinais de desnervação dos músculos
tésica para analgesia. Em seguida, A SPT é uma neuropatia rara do afetados. No entanto, em casos de
a amplitude de movimento da plexo braquial, caracterizada por dor atletas de alta competição, como
articulação do ombro foi abordada, intensa de início súbito seguida de a nossa atleta, estes são frequen-
primeiro pela mobilização articu- fraqueza muscular com recuperação temente realizados dentro desse
lar passiva e, posteriormente, pela lenta, geralmente precedida por um período para descartar outros diag-
mobilização articular ativa assistida. trigger, o qual deve ser pesquisado. nósticos que mimetizam a SPT. Os
A força muscular da coifa dos rota- No caso desta atleta houve infeção estudos de condução nervosa são de
dores foi inicialmente abordada em viral precedente, descrita como o suporte e podem excluir mononeuro-
isometria (ombro aduzido, cotovelo evento desencadeante mais comum, patias mais comuns, enquanto a ele-
flexionado a 90°), evoluindo para para além do exercício físico vigo- tromiografia de agulha é importante
contrações concêntricas com carga roso e dos movimentos repetidos para documentar a desnervação.19
progressiva. A educação da atleta, no tronco superior. Ainda que sem Neste caso concreto, inicialmente
com foco na cinética escapuloumeral certeza quanto á relação de causa- foram pedidas ecografia e radiografia
e no fortalecimento dinâmico dos lidade, a infeção viral, o exercício do ombro que excluíram as patolo-
músculos estabilizadores escapula- físico vigoroso e os movimentos gias locais mais frequentes, fazendo
res, nomeadamente serrado ante- repetidos do tronco superior são pensar na possibilidade da SPT. Esta
rior, romboides e trapézio médio gatilhos bem caracterizados, o que hipótese tornou-se mais provável com
e inferior, também foi realizada. corrobora o aparecimento de alterações neu-
Prosseguiu-se com a reeducação a hipótese rológicas e foi suportada pelo EMG.
da sensibilidade nos dermátomos diagnós- A RMN foi provavelmente realizada
C5-C7. Foi realizada eletroestimu- tica18. numa fase precoce onde ainda não
lação neuromuscular dos músculos A con- eram visíveis alterações patológicas
deltoide, supraespinhoso e infraespi- firmação compatíveis com o SPT, mas permitiu
nhoso para recuperação mais rápida do diag- excluir outras causas mais comuns.
da atrofia. Para além da realização nóstico A abordagem conservadora através
de reeducação postural global, de SPT de programa de reabilitação dirigido,
técnicas de reeducação respiratória constitui no qual se pretende a manutenção e
e de recondicionamento aeróbio e um desa- otimização do padrão de movimento
anaeróbio com enfoque nos mem- fio, uma e a força da extremidade superior, é a
bros inferiores e tronco. vez que primeira linha de tratamento, sendo
Após três meses do início do a apre- a corticoterapia oral numa fase
tratamento de reabilitação, a atleta sentação aguda essencial para reduzir a dura-
apresentava-se com parestesias na não é ção e a gravidade dos sintomas da
topografia do nervo antebraquial específica, SPT.19,20 Isto torna-se especialmente
cutâneo lateral, sem dor e com havendo importante no caso de atletas de
melhoria gradual da força muscular inúmeras alta competição, nos quais é essen-
e funcionalidade do ombro esquerdo causas cial reduzir ao máximo o tempo de
em exercícios dentro e fora de água. para esta interrupção de treinos e competições,
Aos cinco meses apresentava um omalgia, bem como minimizar as alterações
ritmo escapuloumeral praticamente algumas cinesiológicas e de força.
normal, com força muscular man- delas São fatores de bom prognóstico
tida, sem limitação das amplitu- mais fre- o envolvimento predominante do
des articulares passivas (figura 3) quentes, tronco superior do plexo braquial e
reportando apenas uma alteração Figura 3 – Cinco meses após início dos
a duração reduzida da dor, ambos
discreta da sensibilidade na face sintomas – sem limitação de flexão ativa presentes neste caso, bem como
lateral do antebraço. Repetiu EMG, do ombro esquerdo. ser uma afeção primariamente

12 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


sensitiva. Por sua vez, são fatores de eficaz recuperação e retorno à ativi- 9. van Alfen N. Clinical and pathophysiological
pior prognóstico a dor prolongada e dade desportiva. concepts of neuralgic amyotrophy. Nat Rev
Neurol. 2011 May 10; 7(6):315-22.
recorrente, bem como a ausência de Os autores declaram ausência de confli- 10. Smith C.C., Bevelaqua A.C. Challenging
sinais de recuperação motora após tos de interesse, assim como a originali- Pain Syndromes: Parsonage-Turner Syndrome.
três meses, fatores que não se verifi- dade do manuscrito e a sua não publica- Phys Med Rehabil Clin N Am. 2014 May;
ção prévia. Não foi usado o ChatGPT para 25(2):265-77.
caram na nossa atleta.
a produção do texto. 11. Sathasivam S., Lecky B., Manohar R., Selvan
A suspeita clínica precoce, bem A. Neuralgic amyotrophy. J Bone Joint Surg Br.
como a sua confirmação diagnóstica Correspondência 2008 May; 90(5):550-3.
de forma rápida e atempada, permi- Rui Silva – 12. Scalf R.E., Wenger D.E., Frick M.A., Man-

tiram delinear um plano de reabilita- ruimartinsdasilva.med@gmail.com drekar J.N., Adkins M.C. MRI findings of 26
patients with Parsonage-Turner syndrome. AJR
ção, o qual pelo seu timing de inicio, Am J Roentgenol. 2007 Jul; 189(1):W39-44.
permitiu minimizar a atrofia e, por Bibliografia 13. Stutz C.M. Neuralgic amyotrophy: Parsonage-
conseguinte, as alterações cinesiológi- -Turner syndrome. J Hand Surg Am. 2010
1. Dreschfeld J. On some of the rarer forms of Dec; 35(12):2104-6.
cas prováveis, sendo essenciais para a muscular atrophy. Brain. 1887; 9:187-189. 14. van Alfen N., van Engelen B.G.M., Hughes
evolução clinica da atleta e a sua total 2. Parsonage M.J., Turner J.W. Neuralgic amyo- R.A. Treatment for idiopathic and heredi-
trophy: The shoulder-girdle syndrome. Lancet.
recuperação em seis meses. Contudo, tary neuralgic amyotrophy (brachial neuri-
Lancet. 1948 Jun 26; 1(6513):973-8. tis). Cochrane Database Syst Rev. Jul 8;
é importante manter a atleta sob 3. Tjoumakaris F.P., Anakwenze A.O., Kan- 2009(3):CD006976.
vigilância, pois nos casos idiopáticos cherla V., Pulos N. Neuralgic Amyotrophy 15. Feinberg J.H., Radecki J. Parsonage Turner
de SPT está descrita uma taxa de (Parsonage-Turner Syndrome). J Am Acad syndrome. HSS J. 2010 Sep; 6(2):199-205.
Orthop Surg. 2012 Jul; 20(7):443-9. 16. Kretschmer T., Ihle S., Antoniadis G., et al.
recorrência de 26,1%, ocorrendo no 1º
4. Beghi F., Kurland L.T., Mudler D.W., Nicolosi Patient satisfaction and disability after brachial
ano em 12% dos doentes.3,10 A. Brachial plexus neuropathy in the population plexus surgery. Neurosurgery. 2009 Oct; 65(4
of Rochester, Minnesota, 1970–1981. Ann Suppl):A189-96.
Conclusões Neurol. 1985 Sep; 18(3):320-3. 17. Penkert G., Carvalho G.A., Nikkhah G., Tata-
5. van Alfen N., van Engelen B.G.M. The clinical giba M., Matthies C., Samii M. Diagnosis and
spectrum of neuralgic amyotrophy in 246 cases. surgery of brachial plexus injuries. J Reconstr
As lesões nervosas são felizmente Brain. 2006 Feb; 129(Pt 2):438-5. Microsurg. 1999 Jan; 15(1):3-8.
relativamente raras em atletas, 6. Tsairis P., Dyck P.J., MUlder D.W. Natural 18. Van Eijk J.J.J., Groothuis J.T., Van Alfen N.
contudo podem ser subdiagnosti- history of brachial plexus neuropathy: report on Neuralgic amyotrophy: an update on diagnosis,
99 patients. Arch Neurol. 1972; 27(2):109-17. pathophysiology, and treatment. Muscle
cadas por partilharem muitos dos 7. Gaskin C.M., Helms C.A. Parsonage Turner Nerve. 2016; 53:337-50. 10.1002/mus.25008.
sintomas associados a lesões mais syndrome: MR imaging findings and clinical 19. Bromberg M.B. Brachial plexus syndromes.
comuns, como as lesões musculoes- information of 27 patients. Radiology. 2006 UpToDate. Ted W Post (ed): UpToDate, Wal-
queléticas. É fundamental o diagnós- Aug; 240(2):501-7. tham, MA. 2021.
8. Magee K.R., DeJong R.N. Paralytic bra- 20. Gstoettner C., Mayer J.A., Rassam S., et al.
tico e tratamento precoces de forma chial neuritis: discussion of clinical features Neuralgic amyotrophy: a paradigm shift in
a minimizar sequelas a longo prazo, with review of 23 cases. JAMA 1960 Nov 5; diagnosis and treatment. J Neurol Neurosurg
bem como permitir a mais rápida e 174:1258-62. Psychiatry. 2020 Aug; 91(8):879-888.

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Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 13


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):14-17. https://doi.org/10.23911/beisebol_2023_set do que a outra em igual número de
rondas.7
O softbol é jogado por mulheres
e tem menos dois innings. A bola
Biomecânica e Traumatologia
Tema 1
utilizada é maior e o campo tem
dimensões mais reduzidas, quando
do Beisebol comparadas com as do beisebol.6
Destaca-se que em 1992, o beisebol
Dr. João Pires1, Dr. Ricardo Dias1, Dr. Gonçalo Fernandes1, Dr. João Mendes1, Dr. Diogo Lino Moura2 registou pela primeira vez presença
1
Interno de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC); 2Docente de Ortopedia e
Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Assistente Hospitalar de Ortopedia do
nos Jogos Olímpicos, em Barcelona
CHUC. Coimbra e o softbol em Atlanta, em 1996. Em
Portugal, este desporto é gerido pela
RESUMO / ABSTRACT Federação Portuguesa de Beisebol
As primeiras referências relativas a um desporto semelhante ao que viria a ser o beisebol e Softbol, constituída em 1996,
foi em Inglaterra, no sec. XVIII, mas foi nos Estados Unidos da América que se tornou ver- havendo 13 equipas de beisebol e
dadeiramente popular e um desporto de referência. A crescente popularidade desta moda-
duas de softbol. No dia 27 de junho
lidade em todo o mundo, em particular nos Estados Unidos da América, mas também em
Portugal, está também a ser acompanhada de uma crescente taxa de lesões decorrentes
de 1993 foi realizado o primeiro
deste desporto. O lançamento, elemento fulcral no beisebol, engloba uma cadeia ciné- encontro Nacional de Basebol e Soft-
tica extremamente bem coordenada e exigente a nível biomecânico, atingindo o ombro bol. Em 2003, o Ministério da Educa-
rotações mediais e laterais extremas, com velocidades de lançamento bastante elevadas, ção integrou o beisebol no Programa
na ordem dos 160 km/h. A maioria das lesões ocorre nos membros superiores, sendo mais
Nacional de Educação Física.
comuns as roturas do labrum glenoideu e da coifa dos rotadores do ombro e lesões do
ligamento colateral ulnar do cotovelo. O conhecimento da prevalência, tipo e origem bio-
mecânica das lesões associadas ao beisebol permite identificar estratégias preventivas das
mesmas, bem como para uma aprendizagem de uma técnica de lançamento mais correta Biomecânica do beisebol
a nível fisiológico.

No desporto, em geral, o objetivo


The first references to a sport similar to what would become baseball were in England, in the 19th
century. XVIII, but it was in the United States of America that it became truly popular and a refer-
passa por maximizar a eficiência
ence sport. The growing popularity of this sport around the world, particularly in the United States dos movimentos que realmente são
of America, but also in Portugal, is also being accompanied by a growing rate of injuries resulting importantes, eliminando movimen-
from this sport. Throwing, a key element in baseball, encompasses an extremely well-coordinated tos desnecessários de modo a atingir
kinetic chain and It is demanding at a biomechanical level, reaching extreme medial and lateral
maior velocidade e maior precisão.8
rotations on the shoulder, reaching very high launch speeds, in the order of 160 km/h. Most injuries
occur in the upper limbs, the most common being ruptures of the glenoid labrum and shoulder
O lançamento, elemento fulcral
rotator cuff and injuries to the ulnar collateral ligament of the elbow. Knowledge of the prevalence, no beisebol, engloba uma cadeia
type and biomechanical origin of injuries associated with baseball allows identifying preventive cinética extremamente bem coor-
strategies, as well as learning a more correct throwing technique at a biomechanical and physiologi- denada, começando pelos membros
cal level.
inferiores, passando para o tronco
e chegando, por fim, aos membros
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
superiores.8 Os movimentos dos
Beisebol, traumatologia, lançamento, ombro, cotovelo
Baseball, traumatology, throwing, shoulder, elbow
membros inferiores e do tronco são,
inclusive, responsáveis em algumas
séries por cerca de metade das
Origem do beisebol Adicionalmente, a nível da escola lesões de atletas overhead ou que
básica e secundária, bem como a priorizam os membros superiores.9-11
A origem do beisebol remonta ao nível recreativo, registam-se níveis A execução dos movimentos de
século XVIII em Inglaterra, sendo de participação bastante elevados. lançamento implica a ativação dos
que as regras atuais deste desporto Também o softbol no sexo feminino músculos do tronco, dos músculos
foram estabelecidas em 1835 por tem sido um dos desportos mais paravertebrais e pélvicos de modo a
Alexander Cartwright.1 Atualmente populares.5,6 auxiliar na potenciação da força e da
é o desporto mais praticado nos No beisebol duas equipas de nove energia criada a nível dos membros
Estados Unidos da América (EUA) jogadores procuram marcar a maior inferiores aquando da sua passagem
e para isso muito contribui a Little quantidade de runs, golpeando uma para os membros superiores.11
League Baseball, constituída em 1938, bola com um taco e correndo à volta O movimento do lançamento
que tem impulsionado grandemente de uma sequência de bases para efetuado é de exigência biomecâ-
este desporto junto dos jovens.2 alcançar a home plate. As equipas nica extrema. O ombro atinge cerca
Existem cerca de 3 milhões de alternam entre batedores e fielding. de 170° a 185° de rotação lateral,
crianças que praticam este desporto Cada sessão é chamada de inning. A seguida de rotação medial e adução,
por ano só nos EUA.3 Também a equipa com mais runs após nove juntamente com extensão do coto-
nível universitário existe a National rondas alternadas, de batting e fiel- velo rápidas e violentas. A velocidade
Collegiate Athletic Association (NCAA) ding, ganha. Se as equipas estiverem angular aumenta progressivamente,
que tem registado números recorde, empatadas após nove rondas, o jogo culminando na projeção da bola a
quer a nível de equipas, quer a continua em rondas extras, até que velocidades de cerca de 160km/h.
nível de atletas participantes.4 uma equipa tenha marcado mais Também após o lançamento, na fase

14 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Figura 1 – Fases do lançamento e movimentos chave. Adaptado de Fleisig et al12
Figura 2 – Rotação lateral no final da fase
de arm deceleration e follow through, as c) A terceira fase designa-se elevação de elevação do braço, sendo o início para
a fase de aceleração. Adaptado de Nho
forças geradas no ombro e cotovelo do braço e começa com o contacto
et al14
são elevadas, sendo estas fases do pé no solo, que previamente
de lançamento responsáveis por estava elevado, com contração dorsal e serratus anterior. Esta
muitas das lesões que acontecem excêntrica importante do músculo fase termina com o lançamento
neste desporto. Assim, o estudo e quadricípite femoral para a sua da bola.8,13
conhecimento da cinemática e do desaceleração e com a abdução e e) A quinta fase é a de desacelera-
mecanismo de lançamento é da rotação lateral máxima do ombro ção e caracteriza-se pela conti-
maior importância e, genericamente, lançador.8,13 Adicionalmente há nuação do movimento de rotação
engloba seis fases (figura 1): pre- rotação pélvica, hiperextensão da medial do ombro, bem como de
paração (wind up), passada (stride), coluna lombar, seguida de rotação extensão do cotovelo. O braço
elevação do braço (arm cocking), do tronco. É de salientar que esta tem um movimento de adução ao
aceleração (arm acceleration), desace- rotação lateral e abdução extrema longo do tronco, havendo restri-
leração (arm deceleration) e execução do ombro é possível através da ção ativa e contínua deste movi-
(follow through):8 ação dos músculos da coifa dos mento pelos músculos posteriores
a) Na fase de preparação o enfoque rotadores que desempenham um do ombro através da sua contra-
principal encontra-se nos mem- importante papel na restrição às ção excêntrica.8,13
bros inferiores, os quais passam forças de distração e translação f) Na última fase do lançamento,
de um duplo apoio inicial para anterior que atuam na articulação execução, o ombro parte de rota-
um apoio num só membro.13 Para glenoumeral. Sabe-se que neste ção medial máxima, enquanto os
isto acontecer tem de haver uma desígnio o músculo subescapular é músculos posteriores continuam
correta contração concêntrica o primeiro a ser ativado, servindo o trabalho de desaceleração.
dos músculos flexores da anca também para aumentar a tensão Salienta-se o trabalho dos múscu-
para elevação da coxa e contração sobre os ligamentos glenoume- los serratus anterior, romboides e
isométrica dos músculos abduto- rais médio e inferior. Releva-se fibras medias do músculo trapézio
res, flexores e extensores da anca também o papel de outros mús- para que haja restrição do movi-
do lado do membro inferior de culos rotadores mediais do ombro mento anterior da escápula.8,13
suporte para controlo da posição que, ao fazerem uma contração
da bacia.13,14 O descondiciona- excêntrica, controlam a desa-
mento destes músculos poderá celeração da rotação lateral do Traumatologia no beisebol
levar a uma base instável, que ombro.8,13 A escápula tem tam-
condicionará a eficiência de todo bém um papel importante neste As lesões nos membros superiores
o movimento seguinte.8,13,14 movimento, uma vez que a sua são as mais prevalentes no beisebol
b) A fase seguinte, passada, caracte- elevação e rotação coordenada e constituem um problema bas-
riza-se por abdução e rotação da com o movimento do ombro ajuda tante significativo desta modali-
anca e extensão de todo o mem- na manutenção do espaço suba- dade.15 O beisebol é um desporto
bro inferior, que anteriormente cromial, evitando o conflito dos bastante praticado nos EUA e, por
estaria aduzido, fletido e em tendões da coifa dos rotadores conseguinte, a maioria dos estudos
rotação lateral, até haver contacto neste espaço. Esta fase termina reportam-se a populações deste país.
com o solo.8,13,14 Em conjunto com quando o ombro atinge o máximo Ao contrário do que seria de esperar,
este movimento da anca há tam- de rotação lateral.8,13 os estudos mostram que com o pas-
bém movimento para a frente do d) A próxima fase tem o nome de sar dos anos existem cada vez mais
tronco, abdução e rotação lateral aceleração e aqui o ombro passa lesões provocadas pela prática deste
do ombro, por ação dos múscu- de máxima abdução e rotação desporto, apesar da evolução a nível
los deltoide e supraespinhoso, e lateral para rotação medial, dos métodos de treino cada vez mais
flexão excêntrica e isométrica dos iniciando a aceleração (figura 2). adaptados à biomecânica do próprio
músculos flexores do cotovelo Para isso há intensa contração desporto e do condicionamento dos
de modo a controlar a flexão do concêntrica dos músculos tricípite atletas.16,17 Este facto em muito se
desta última articulação.8,13,14 braquial, grande peitoral, grande deve à sua popularidade e prática

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 15


crescente. A percentagem de lesões artrósicas progressivas da mesma. stress mecânico consequente aos
é maior durante a pré-temporada Estas lesões podem ser potenciadas movimentos repetitivos de lança-
quando comparada com a percen- devido a laxidão capsular e/ou insu- mentos deste desporto pode con-
tagem de lesões que decorrem ao ficiência muscular periarticular.21 duzir a lesões ao nível das fises ou
longo da época, o que se pode dever placas de crescimento dos ossos.
a condição física inferior no início da Lesões do cotovelo Desta maneira, Lyman et al estabe-
época.4 Como já foi referido, vários Tal como referido previamente, o leceram uma relação clara entre o
estudos corroboram que a maioria ombro e cotovelo são durante toda número de lançamentos executados
das lesões acontecem nos membros a fase de lançamento expostos a e a prevalência de aparecimento
superiores (40% a 55%), seguindo-se movimentos e posições extremas, destas fraturas-epifisiólises, pelo que
os membros inferiores (27% a 35%), e concretamente na fase de acelera- diminuir o número de lançamentos
o tronco (9% a 15%).4,16,18 ção (figura 2) onde o ombro está em ao diminuir a carga de treino sobre
rotação lateral extrema e o cotovelo as crianças constitui uma estratégia
Lesões do ombro está fletido a 90° e forçado em valgo. válida e simples a nível de preven-
Durante a fase de desaceleração Para resistir a este stress em valgo ção destas lesões.24
os músculos da coifa dos rotadores o ligamento colateral ulnar (LCU) De modo a evitar sobrecarga
resistem à distração, adução hori- e os músculos flexores-pronadores fisiológica pelos lançamentos
zontal e rotação medial do ombro, do antebraço são sujeitos a grandes do beisebol, atualmente existe a
especialmente, os músculos infraes- tensões, estando assim suscetíveis recomendação de abstenção com-
pinhoso e teres minor e a porção a lesões.22 Este facto é exacerbado pleta de lançamentos durante 2 a
posterior do músculo supraespi- sobre o LCU se houver enfraqueci- 3 meses por ano, associando esta
nhoso.19 Uma das lesões mais pre- mento dos músculos flexores-prona- paragem a programa de reabilitação
valentes resultantes deste desporto dores do antebraço e também sobre o muscular, que inclui estabilidade do
é a rotura do labrum da glenoide nervo ulnar, podendo provocar a sua tronco, força muscular dos membros
de anterior para posterior (lesão tipo neuropatia. Além destes complexos inferiores e flexibilidade. Até recen-
SLAP). Pensa-se que poderá estar ligamentares e musculares mediais, temente julgava-se que os jovens
relacionado com a força extrema também lateralmente existem efeitos atletas até atingirem a maturidade
exercida na inserção da longa por- provocados pelo valgo extremo, óssea deveriam evitar certos tipos de
ção do músculo bicípite braquial nomeadamente a compressão entre a lançamento, nomeadamente curve-
(LPB) na região superior do labrum tacícula radial e o capítulo do úmero. balls, uma vez que estão associados
glenoideu aquando da sua contra- Através deste mecanismo de com- a maior supinação do antebraço, o
ção excêntrica.20 Esta acontece para pressão crónica entre estas estrutu- que poderia levar a mais stress bio-
tentar travar a extensão abrupta do ras, várias lesões podem ocorrer, tais mecânico a nível do cotovelo e, con-
cotovelo durante a fase de desace- como desenvolvimento de osteoar- sequentemente, a lesões do mesmo.
leração.21 Além disso, devido aos trose com formação de osteófitos em No entanto, trabalhos recentes
movimentos repetidos e extremos de resultado da adaptação a estas ten- demonstram não haver maior stress
elevação, rotação lateral e abdução sões e movimentos extremos, necrose biomecânico quando comparado
do ombro, em particular na fase de avascular, osteocondrite dissecante com os outros tipos de lançamentos,
elevação do braço, pode-se verificar e mesmo microfraturas.21,22 Também havendo até a crença crescente que
uma situação conhecida por conflito durante a fase final da aceleração as fastballs, pela sua maior veloci-
interior do ombro, isto é, a compres- ou na fase inicial da desaceleração, dade, colocam mais stress tanto a
são repetida contra a face inferior em que o cotovelo está em extensão nível do cotovelo como do ombro.25
do acrómio dos tendões da coifa dos completa, pode haver conflito entre Vários estudos mostram diferen-
rotadores e da LPB, o que favorece a o olecrânio e a fossa olecraniana22, ças entre a biomecânica do lança-
sua inflamação crónica, degeneração podendo conduzir à formação de mento entre atletas de elite e atletas
e rotura. O excesso de movimentos osteófitos, condromalacia e originar de nível competitivo inferior, sendo
em rotação lateral do ombro provoca de corpos livres causadores de con- que nos primeiros está presente
nestes atletas uma contractura cap- flito intra-articular.21.23 menos stress sobre as articulações e
sular posterior e consequente laxi- músculos.3,4,18 Desta forma, entende-
dez da banda anterior do ligamento -se a importância do estudo e apren-
glenoumeral inferior, bem como Estratégia preventiva dizagem da correta técnica de lança-
diminuiçao da amplitude de rotaçao mento na prevenção de lesões, bem
medial do ombro.21 Desta maneira, a A prevenção de lesões é muito como do reforço muscular do tronco,
cabeça do úmero, além de ficar posi- importante no beisebol, pois além da coifa dos rotadores, musculatura
cionada em posição subluxada mais de diminuir o sofrimento dos atle- periescapular e flexores-pronadores
posterior e inferior, sofre movimen- tas, tem como objetivo diminuir os do antebraço, permitindo um lança-
tos de translação excessivos sobre a tempos de afastamento da prática mento equilibrado que não sobre-
cavidade glenoideia, o que acentua o desportiva, o que implica conse- carrega os músculos envolvidos e
desequilíbrio na coifa dos rotadores quências nefastas para os clubes e minimiza o stress sobre as articula-
entre rotadores laterais/rotadores para o desporto. ções do ombro e cotovelo.21
mediais, o que favorece a instala- A prevenção deve ser iniciada
ção de alteraçoes degenerativas nas ligas infantis. Nas crianças, o

16 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Conclusão [Internet]. 2017; 33(1):19–34. Available from: 16. Posner M, Cameron KL, Wolf JM, Jr PJB,
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9. Kibler W Ben, Press J, Sciascia A. The Role Baseball Injuries. 2008; 1676-80.
O beisebol é um desporto extrema-
of Core Stability in Athletic Function. 2006; 17. Conte S, Requa RK, Garrick JG. Disabi-
mente popular nos EUA e cada vez 36(3):189–98. lity Days in Major League Baseball. 2001;
mais praticado também em Portu- 10. Vad VB, Bhat AL, Basrai D, Gebeh A, 29(4):431-6.
gal. O lançamento, neste desporto é Aspergren DD, Andrews JR. Low Back Pain in 18. McFarland EG, Wasik M. Epidemiology
fulcral. Engloba uma cadeia cinética Professional Golfers The Role of Associated Hip of collegiate baseball injuries. Clin J Sport
and Low Back. :494–7. Med [Internet]. 1998; 8(1):10–3. Available
muito bem coordenada e exigente a
11. Young JL, Herring SA, Press JM, Casazzaa from: http://europepmc.org/abstract/
nível biomecânico. O ombro atinge BA. The influence of the spine on the shoulder MED/9448950
rotações mediais e laterais extre- in the throwing athlete. 1996; 8127(96):5-17. 19. Andrews JR, Gidumal RH. Shoulder arthros-
mas, permitindo atingir velocidades 12. Fleisig GS, Barrentine SW, Zheng N, Esca- copy in the throwing athlete: perspectives
de lançamento também bastante milla RF, Andrews JR. Kinematic and kinetic and prognosis. Clin Sports Med. 1987 Jul;
comparison of baseball pitching among various 6(3):565-71.
elevadas. Os membros superiores
levels of development. 1999; 32:0-4. 20. Digiovine NM, Jobe FW, Pink M, Perry J.
são especialmente afetados com 13. Eckenrode BJ, Kelley MJ, Kelly JD. Anato- An electromyographic analysis of the upper
com destaque ombro e cotovelo, mic and Biomechanical Fundamentals of the extremity in pitching. J Shoulder Elb Surg
destacando-se os diagnósticos Thrower Shoulder. 2012; 20(1):2-10. [Internet]. 1(1):15–25. Available from: http://
de roturas do labrum glenoideu 14. Seroyer ST, Nho SJ, Bach BR, Bush-joseph dx.doi.org/10.1016/S1058-2746(09)80011-6
CA, Nicholson GP, Anthony A. Sports Health : 21. Elattrache NS, Jobe FW. Understanding
e dos tendões músculos da coifa
A Multidisciplinary Approach Shoulder Pain in Shoulder and Elbow Injuries in Baseball. 2007;
dos rotadores, roturas do LCU e da the Overhead. 2009; 15(3):139-47.
musculatura flexora-pronadora do 15. Bullock GS, Faherty MS, Ledbetter L,
antebraço , bem como a neuropatia Thigpen CA, Sell TC. nl in e F irs e F. 2018; Restante Bibliografia em:
do nervo ulnar. Desta forma, e como 53(12):24-6. https://revdesportiva.pt/conteudos/

as lesões decorrentes deste desporto


são cada vez mais prevalentes fruto
da prática crescente, desde cedo na
vida desportiva deve ser adotada
uma estratégia eficaz de sensibili-
zação e educação junto dos atletas,
pais e treinadores, por forma a evitar
cargas de treino excessivas, bem
como promover uma aprendizagem
de uma técnica de lançamento cor-
reta e saudável a nível biomecânico
e fisiológico.
Os autores declaram ausência de confli-
tos de interesses, assim como a originali-
dade do manuscrito e a sua não publica-
ção prévia.
Correspondência: Diogo Lino Moura –
dflmoura@gmail.com

Bibliografia

1. Greenberg JR, All L, Can Y, Joy A. Jolly


Fellows. 2010(December); 1862-3.
2. Benjamin G. Rader. Baseball, 3rd Ed.: A His-
tory of America’s Gameitle. 2008.
3. Melugin HP, Leafblad ND, Camp CL, Conte
S. Injury Prevention in Baseball: from Youth to
the Pros. 2018;
4. Dick R, Sauers EL, Agel J, Keuter G, Marshall
SW, Mccarty K, et al. Descriptive Epidemiology
of Collegiate Men’ s Baseball Injuries: National
Collegiate Athletic Association Injury Survei-
llance System, 1988 – 1989 Through 2003 –
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7. Alderson S. 2019 Edition. 2019.
8. Mlynarek RA, Lee S. Shoulder Injuries in
the Overhead Throwing Athlete. Hand Clin

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 17


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):18-20. https://doi.org/10.23911/parkinson_2023_set A prevalência

A DP é uma doença dos (mais) ido-


sos, a prevalência aumenta com a
A doença de Parkinson e o
Tema 2
idade e a maioria das pessoas desen-
volve a doença depois dos 60 anos de
Momento da Fisioterapia idade.1 A prevalência aos 65, 75 e 85
anos é, respetivamente, 14.9%, 29.5%
Dr. Basil Ribeiro e 52.4%.6 Um estudo revelou que
Medicina Desportiva. V N Gaia
a prevalência na Europa é de 1.8%
nas pessoas com mais de 65 anos de
RESUMO / ABSTRACT idade, aumentando 0.6% naqueles
A doença de Parkinson causa problemas motores, originando alterações na marcha, com com 65 a 69 anos e 2.6% para a faixa
consequente perturbação da mobilidade e quedas frequentes. A terapêutica medicamen- etária dos 85 aos 89 anos de idade.2
tosa ajuda a controlar os sintomas, mas é reconhecido à prática de atividade física função
A incidência anual situa-se entre
terapêutica funcional importante. A fisioterapia tem sido muito útil para o benefício
pessoal e social destes doentes. Neste texto apresentam-se os resultados de um estudo
25% e 35% por ano, atingindo até
realizado nestes doentes e no qual se estudou o momento e a frequência da realização 0.3% da população em geral.6
das sessões de fisioterapia. Os resultados revelaram vantagens a longo prazo na realiza- A enorme prevalência da doença
ção contínua da fisioterapia, mesmo que as sessões sejam realizadas de duas em duas em faixas etárias mais avançadas
semanas.
faz com que a DP tenha grandes
Parkinson’s disease causes motor problems, causing changes on gait, with consequent mobility
implicações financeiras, não só de
disturbance and frequent falls. Drug therapy helps to control symptoms, but physical activity has modo direto, mas também de modo
an important functional therapeutic role. Physiotherapy has been very useful for personal and social indireto a que se associa a dimi-
benefit of these patients. This text presents the results of a study carried out with these patients, nuição franca da produtividade e
in which the timing and frequency of physical therapy sessions were studied. The results revealed
o investimento familiar no que se
long-term advantages in continuous physical therapy, even if the sessions are performed every two
weeks.
refere aos cuidados gerais a prestar
a estes doentes.6
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Doença de Parkinson, fisioterapia, exercício físico
Parkinson’s disease, physical therapy, physical exercise O tratamento

A DP não tem cura1, pelo que a


Introdução Os sintomas terapêutica tem como objetivo con-
trolar de modo parcial os sintomas.8
A doença de Parkinson (DP) é uma Os sintomas da DP foram descritos Os medicamentos para ajudar no
alteração cerebral que origina pela primeira vez no início de 1800 controlo dos sintomas pretendem
movimentos descontrolados e não por James Parkinson5, e incluem o aumentar o nível de dopamina no
intencionais, com consequente tremor, a rigidez, a bradicinesia/ cérebro, atuar sobre neurotransmis-
dificuldade na coordenação e no acinesia e o distúrbio da marcha, sores e ajudar noutros sintomas não
equilíbrio.1 É a segunda doença caracterizada pela postura em fle- relacionados com o movimento.9
neurodegenerativa mais comum.2 xão e pelos passos curtos e arrasta- A estimulação cerebral profunda,
Este distúrbio neurodegenerativo dos.3-5 Outros sintomas poderão sur- através de elétrodos cirurgicamente
progressivo deve-se à perda de neu- gir: depressão, problemas urinários, implantados, está reservada para
rónios dopaminérgicos nos gânglios obstipação, cutâneos, dificuldade em alguns doentes e tem como objetivo
basais (figura 1)1,3, com consequente engolir e mastigar.1 A demência tem estimular áreas cerebrais que con-
diminuição da produção de dopa- sido associada à DP, sendo esta con- trolam os movimentos.9
mina.1 A boa resposta aos medica- siderada a segunda causa de demên- Para além da terapêutica medica-
mentos antiparkinsónicos ajuda ao cia logo após a doença de Alzheimer, mentosa existem outras interven-
diagnóstico.3 o que vem agravar ainda mais a ções com utilidade no controlo dos
sobrecarga social e familiar.6 Os sintomas. A fisioterapia, a terapia
sintomas iniciam-se insidiosamente ocupacional e a terapia da fala
e têm agravamento progressivo.1 visam apoiar as pessoas com doença
Cerca de 60% dos parkinsónicos de Parkinson a lidar com as conse-
caem a cada ano, dos quais cerca de quências de sua doença nas ativida-
70% caem com frequência e outros des diárias.5,8,9 Também se indicam:1
caem várias vezes por semana. Os • a dieta saudável para o bem-estar
fatores de risco para as quedas são geral
os seguintes: história de quedas, • os exercícios de reforço muscular
congelamento da marcha e altera- para melhoria do equilíbrio, flexi-
Figura 1 – Localização dos gânglios basais
ções no equilíbrio, força muscular bilidade e coordenação
no cérebro (https://www.nia.nih.gov/ das pernas, mobilidade, cognição e • a massagem para reduzir a tensão
health/parkinsons-disease) medo de cair. 7 muscular

18 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


• o ioga e o tai chi para melhoria da o grupo A (GA) realizou fisioterapia de ter sido realizado com poucos
força e flexibilidade. duas vezes por semana durante seis doentes discute a importância da
semanas e o grupo B (GB) realizou realização da fisioterapia de modo
A prática de exercício físico é uma sessão de fisioterapia por permanente, mesmo que as sessões
importante para o controlo de semana, de duas em duas semanas, sejam espaçadas de duas sema-
sintomas, motores e não motores, durante seis meses.5 Onze pessoas nas, como foi o caso referido no
através da inibição do stress oxi- em cada grupo terminaram o seu estudo. Embora no imediato as
dativo, da reparação mitocondrial estudo. Os dois grupos foram diferenças não tenham sido encon-
e promoção da produção de fato- avaliados no início da fisioterapia e tradas, a longo prazo (6 meses) esta
res de crescimento9,10, assim como seis meses após através do teste estratégia revelou-se mais eficaz na
através redução da acumulação da cronometrado Up and Go (TUG) avaliação da funcionalidade através
proteína alfa-syn, do aumento da (figura 2), tendo o GA sido também do teste TUG.
atividade da BDNF, regeneração dos avaliado após a conclusão das duas O autor revela ausência de conflito de
nervos e da função mitocondrial.10 semanas de fisioterapia. interesses, assim como a originalidade
Por outro lado, a prática de exercício Os resultados revelaram que do manuscrito e a sua não publicação
físico reduz o risco de outras doen- na avaliação através do teste TUG prévia. Não foi usado o ChatGPT para a
ças associadas à idade, como seja sua produção.
nenhum dos grupos obteve benefício
a diabetes, a hipertensão arterial e clinicamente significativo mínimo Correspondência
outras doenças cardiovasculares.9 (3,5 segundos) aos 6 meses. No Basil Ribeiro – basil@sapo.pt
A corrida, a dança, as artes mar- grupo A não houve diferença (p =
ciais tradicionais chinesas, o ioga e 0,594) nos resultados obtidos nos
o treino de força são exemplos de testes realizados no início (7,8 ± Bibliografia
exercício físico para as pessoas com 1,5s) e após seis meses (7,8 ± 2,6s) de
1. Parkinson’s Disease: Causes, Symptoms, and
DP.10 A utilidade do exercício sobre fisioterapia. O mesmo aconteceu no
Treatments. National Institute on Aging.
placas vibratórias em doentes com grupo B, entre o início da fisioterapia Abril, 2022; https://www.nia.nih.gov/
dificuldade em realizar os exercícios (9,8 ± 3,8s) e seis semanas depois health/parkinsons-disease (consultado em
foi estudada, mas os resultados indi- (9,1 ± 3,0s) (p = 0,365). Contudo, setembro de 2022).
caram um pequeno efeito, tendo os neste grupo constatou-se deterio- 2. M. F. Lew. Parkinson’s Disease. Reference
Module in Biomedical Sciences. 2014.
autores concluído que os resultados ração nos resultados entre as seis
https://doi.org/10.1016/B978-0-12-801238-
devem ser considerados inconclu- semanas, momento da conclusão 3.00146-X
sivos.11 A prática de exercício físico da fisioterapia, e os seis meses (12,1 3. Benjamin L. Walter, Jerrold L. Vitek. Current
pode melhorar a marcha na execu- ± 7,6s, p = 0,034).5 Estes resultados Therapy in Neurologic Disease (Seventh
ção das tarefas duplas, ao passo que revelam, por um lado a utilidade da Edition), 2006.
4. K. A. Jellinger. Parkinson’s Disease, in Patho-
a fisioterapia e a marcha em tapete realização da fisioterapia para man-
biology of Human Disease. 2014.
rolante podem melhorar a marcha ter a funcionalidade dos doentes 5. Ramzi G. Salloum, Ka Loong Kel-
em tarefa única.12 com Parkinson e, por outro, a impor- vin Au, Michael S. Okun. Timing of Physical
Em 2022 foi publicada uma revisão tância da sua manutenção, mesmo Therapy Sessions for Individuals with Parkin-
sistemática da literatura sobre a que a mesma seja praticada de son Disease May Unlock Benefits. JAMA Neu-
rol. Published online September 12, 2022.
importância da fisioterapia na DP. A modo espaçado, como neste estudo,
doi:10.1001/jamaneurol.2022.2649
meta-análise revelou um impacto de duas em duas semanas. Contudo, 6. Néstor Gálvez-Jiménez. Parkinson’s Disease.
positivo do treino de resistência algum cuidado deve haver na aná- Neurobiology of Disease. 2007; p. 51-67. eBook
(força) na força muscular, na capa- lise dos resultados, pois a amostra ISBN: 9780080466385.
cidade funcional e na qualidade foi muito pequena, constituía por 11 7. Samuel D. Kim, Natalie E. Allen, Colleen G.
Canning, Victor S. C. Fung. Balance, Gait, and
de vida, ao passo que o treino de pessoas em cada grupo.
Falls. Handbook of Clinical Neurology. 2018;
endurance teve impacto positivo 159:173-193.
na aptidão cardiorrespiratória e na 8. Danique L M Radder, Ingrid H Sturken-
capacidade funcional, esta avaliada Conclusão boom, Marlies van Nimwegen et al.
pelo teste de marcha de 6 minutos Physical therapy and occupational therapy
in Parkinson’s disease. Int J Neurosci. 2017;
e pelo teste cronometrado up and go O doente de Parkinson tem proble-
127(10):930-943.
(figura 2).13 mas de mobilidade e transportam 9. Xiaojiao Xu, Zhenfa Fu, Weidong Le.
A terapêutica pelo exercício tem um risco elevado de quedas. A DP Exercise and Parkinson’s disease. Int Rev Neu-
também como função manter a é tem maior prevalência com o robiol. 2019; 147:45-74.
funcionalidade do utente. Compro- aumento da idade, com crescente 10. Baozhu Fan, Riffat Jabeen, Bing Bo et al.
What and How Can Physical Activity Preven-
vada que está a eficácia da fisiotera- incapacidade e dependência, o
tion Function on Parkinson’s Disease? Oxid
pia neste processo, importava que acarreta custos financeiros e Med Cell Longev. 2020 Feb 13; 2020:4293071.
averiguar de que modo realizar a familiares progressivos. Para além 11. Y Laurisa Arenales Arauz, Gargi Ahuja, Ype
fisioterapia para manter mais da medicação, para controlo dos sin- P T Kamsma et al. Potential of Whole-Body
duradoiros os benefícios alcançados. tomas, o exercício físico minimiza o Vibration in Parkinson’s Disease: A Systematic
Review and Meta-Analysis of Human and
Ramzi G. Salloum e colegas realiza- decréscimo da perda motora, sendo
Animal Studies. Biology (Basel). 2022 Aug 19;
ram um estudo controlado, rando- a fisioterapia um agente terapêutico 11(8):1238.
mizado em doentes com DP (n=30), de enorme importância. O estudo de 12. Heiko Gaßner, Elmar Trutt, Sarah Seifferth
que foram divididos em dois grupos: Ramzi G. Salloum e colegas, apesar et al. Treadmill training and physiotherapy

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 19


similarly improve dual task gait performance:
a randomized-controlled trial in Parkinson’s No teste cronometrado Up and A Associação Portuguesa de
disease. J Neural Transm (Vienna). 2022;
Go o doente levanta-se de uma Doentes de Parkinson tem regime
129(9):1189-1200.
cadeira (cerca de 46cm de altura), legal desce 14 de abril de1984.
13. Mads Gamborg, Lars G Hvid, Ulrik
Dalgas, Martin Langeskov-Christensen. caminha em linha reta a distância Inicialmente apenas os doentes
Parkinson’s disease and intensive exercise de três metros no ritmo autossele- portadores da doença podiam
therapy – An updated systematic review cionado, mas com segurança, vira fazer parte dos corpos sociais,
and meta-analysis. Neurol Scand. 2022;
e caminha de volta até à cadeira mas a partir de 1998 foi possível
145(5):504-528. que pessoas sem doença fizessem
para se sentar. Quanto menor
tempo demorar nesta tarefa, parte da gerência desta Associa-
melhor será a classificação.1 ção. Atualmente conta com cerca
de mil associados, apesar da esti-
Luís B Faíl, Daniel A Marinho, Elisa
mativa de doentes rodar os 20 mil
A Marques, Mário J Costa, Catarina
em Portugal. É uma IPSS desde 7
C Santos, Mário C Marques, Mikel
de julho de 1999 e é membro da
Izquierdo, Henrique P Neiva.
EPDA (European Parkinson’s Disease
Benefits of aquatic exercise in
Association) e da WPDA (World
adults with and without chronic Parkinson’s Disease Association). Tem
disease – a systematic review with sede em Lisboa num imóvel com
meta-analysis. Scand J Med Sci renda suportada pela Câmara de
Sports. 2022 Mar; 32(3):465-486. Lisboa. O dia 11 de abril é o dia
Figura 2 – O teste Timed Up and Go
Mundial da Doença de Parkinson.
Resumo (transcrição quase total) (https://guiadofisio.com.br/testes-
-funcionais-de-marcha-velocidade-
A APDPk tem como objetivo
“O exercício aquático está sendo -da-marcha-timed-up-go-e-teste-de- melhorar a qualidade de vida da
cada vez mais recomendado para -caminhada-de-6-minutos/) pessoa com Parkinson e dos seus
indivíduos saudáveis, bem como cuidadores e adotou o slogan diga
para pessoas com algumas condi- Podsiadlo e Ricardson referem não ao isolamento. Neste sentido,
ções especiais de saúde. Foi reali- que em adultos saudáveis a rea- desenvolve muitas atividades de
zada uma revisão sistemática com lização do teste até 10 segundos proximidade, como sejam a assis-
meta-análise ... sobre os efeitos é o tempo considerado normal, é tência no domicílio aos membros
dos programas de treino aquático expectável que idosos débeis ou mais necessitados, e a promoção
(WT) no estado de saúde e aptidão com deficiências demorem 11-20 de encontros entre associados
física de adultos saudáveis e com segundos e têm independência para a entreajuda e o convívio,
doenças... três bancos de dados parcial e baixo risco de quedas. organização de atividades lúdicas,
(PubMed, Web of Science, Scopus) Demorar mais de 20 segundos onde se incluem visitas de estudo,
sessões de psicoterapia, dança
até junho/2021... Foram incluídos 62 para efetuar o teste indica défice
e outras. O projeto Para Quedas,
estudos: 26 em indivíduos saudáveis importante da mobilidade física
financiado pelo laboratório Bial,
e 36 em adultos com doenças cró- e risco de quedas.1 O resultado
foi iniciado em 2020 e tem como
nicas. No grupo saudável, os efeitos obtido na realização do teste TUG
objetivo contribuir para a redu-
do WT na força, equilíbrio e aptidão tem sido relacionado com o risco
ção do impacto e frequência de
cardiorrespiratória foram benéficos, de quedas. Foi realizado um estudo quedas nestes doentes. A APDPk
indicando a utilidade da realização coorte com 96 pessoas de idade disponibiliza uma morada de
do WT por pelo menos 12 semanas superior a 65 anos, que viviam na e-mail para mais informações
(2-3x/semana, 46-65 min/sessão). comunidade os quais foram dividi- (parkinsonsede2@gmail.com).
Entre os adultos com doenças, foram dos em três grupos de acordo com Existe um conselho científico,
observadas melhoras em pacien- o relato histórico de episódios de constituído por médicos neuro-
tes com fibromialgia (equilíbrio e quedas durante o último ano.2 Os logistas que apoiam os doentes.
aptidão cardiorrespiratória), doenças autores constataram que os idosos Em abril 2021, por exemplo, os
ósseas (dor, equilíbrio, flexibilidade e com história de uma queda ou de médicos neurologistas dra. Maria
força), ... esclerose múltipla (quali- quedas recorrentes demoraram José Rosas e Prof. Doutor Rui Vaz,
dade de vida e equilíbrio) e doença mais tempo (p=0.002) a realizar o do Hospital de S. João, Porto, par-
de Parkinson (dor, marcha, aptidão teste TUG do que os idosos sem ticiparam na conferência Dúvidas
cardiorrespiratória e qualidade de historial de quedas.2 sobre a doença de Parkinson, durante
vida)... Em adultos com doenças cró- a qual responderam às muitas
Bibliografia perguntas dos doentes.
nicas, os benefícios na aptidão física 1. Podsiadlo D, Richardson S. The Timed
e/ou outras medidas relacionadas Ser sócio da Associação é ser
“Up & Go”: a test of basic functional
à saúde foram observados princi- mobility for frail elderly persons. J Am
solidário e contribuir com uma
palmente após 8 a 16 semanas de Geriatr Soc. 1991; 39(2):142-8. pequena ajuda, pois a quota
2. DFF Gonçalves, NA Ricci, AMV Coimbra. anual é de 30€. Outro modo de
treinamento. O WT é uma atividade
Equilíbrio funcional de idosos da comu- ajuda consiste na consignação do
física eficaz quando a intenção é nidade: comparação em relação ao IRS, para o que basta colocar o NIF
melhorar a saúde e a aptidão física histórico de quedas. Rev Bras Fisioter,
n.º 504 058 550 no local respetivo
em adultos saudáveis e adultos com São Carlos. 2009; 13(4):316-23.
da declaração de IRS. BR
doenças crônicas. BR

20 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):21-23. https://doi.org/10.23911/espaco_subgluteo_2023_set

Síndrome do Espaço
Tema 3

Sub-glúteo
Dr. Tiago Pato, Dr. Daniel Saraiva, Dr. André Sá Rodrigues, Dr. Marco Sousa, Dr. José Tulha
Serviço de Ortopedia do Hospital da Prelada, Porto

RESUMO / ABSTRACT
A síndrome do espaço sub-glúteo (SESG) é uma entidade caracterizada por dor a nível
da face posterior da anca e/ou região nadegueira, associada ou não a uma pseudociática,
resultante da compressão extrapélvica do nervo ciático no espaço subglúteo. O conhe-
cimento apropriado da apresentação clínica, exame físico e interpretação de exames
complementares é essencial, não só para diagnosticar, mas para perceber a causa da Figura 1 – A emergência do nervo ciático
compressão e providenciar um tratamento individualizado. Os autores apresentam uma da grande chanfraduraa)
revisão sistemática da literatura mais recente sobre essa síndrome, desde a anatomia,
patofisiologia, avaliação clínica e tratamentos disponíveis.

Em particular, o nervo ciático sai


The deep gluteal syndrome is characterized by pain in the posterior hip and/or groin area, associ-
ated or not with pseudosciatica, resulting from an extrapelvic compression of the sciatic nerve in
da grande chanfradura, anterior ao
the deep gluteal space. An appropriate knowledge of the clinical presentation, physical examination, músculo piriforme e, distalmente,
and interpretation of complementary exams is essential not only to diagnose, but to understand the posterior aos músculos rotadores
cause of the compression and provide an individualized treatment. The authors present a systematic externos, sendo a estrutura central
review of the most recent literature on this syndrome, focusing on its anatomy, pathophysiology,
do espaço sub-glúteo (figuras 1 e 2).
clinical assessment, and available treatments.
Em condições normais, este possui
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS uma capacidade de alongamento
Artroscopia da anca, endoscopia da anca, síndrome do espaço sub-glúteo, nervo ciático,
e deslizamento de cerca de 28mm,
descompressão do ciático acomodando-se ao espaço disponí-
Hip arthroscopy, hip endoscopy, Deep Gluteal Syndrome, sciatic nerve, sciatic nerve decompression. vel durante a mobilidade / posição
relativa da anca e do joelho.1,4,5 Uma
alteração anatómica ou mecânica
Introdução • anteriormente pela coluna poste- que condicione a capacidade de
rior acetabular, cápsula posterior e excursão ou acomodação do nervo
A SESG é uma entidade que se fémur proximal ciático poderá levar a um stress
caracteriza por dor e/ou disestesia • lateralmente pela linha áspera e isquémico dinâmico e ao surgimento
na nádega, anca ou face posterior da tuberosidade glútea do SESG.
coxa devido a compressão não disco- • medialmente pelo ligamento
génica do nervo ciático no espaço sacrotuberoso e fáscia falciforme
sub-glúteo (ESG).1 Embora frequen- • superiormente pela chanfradura
temente conhecido como síndrome ciática
do piriforme, sabe-se agora que • inferiormente pela inserção pro-
esta compressão pode ter múltiplas ximal dos músculos isquiotibiais
origens, sendo o seu diagnóstico (IQT) na tuberosidade isquiática.
difícil e muitas vezes negligenciado.1,2 Neste espaço encontram-se
O avanço da endoscopia, da ana- os músculos piriforme, gemelar
tomia e da imagiologia dedicada superior, obturador interno, geme-
tem permitido um aprofundar dos lar inferior e quadrado femoral. A
mecanismos patofisiológicos que nível neurológico, saem sete nervos
levam à compressão do nervo ciático da grande chanfradura: os nervos
no espaço sub-glúteo, permitindo ciático, glúteo superior e inferior,
uma maior compreensão desta femoral cutâneo posterior, pudendo, Figura 2 – A emergência do nervo ciático
síndrome.1 nervo para o obturador interno, qua- na grande chanfradura (seta) (foto dos
autores)
drado femoral e respetivas estrutu-
ras vasculares acompanhantes.1
Anatomia
Exame físico
O ESG encontra-se entre a aponeu-
rose glútea intermédia e a profunda, A avaliação clínica e diagnóstico do
sendo delimitado:1,3 ESG requer um elevado nível de sus-
• posteriormente pelo músculo glú- peição. Os sintomas são imprecisos, de
teo máximo difícil explicação por parte do doente

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 21


e facilmente se confundem com pato- é fletida a cerca de 90° com o joelho Etiologia
logia da coluna lombosagrada, pato- em extensão, o examinador palpa o
logia intrapélvica, e patologia intra ou ESG e faz adução e rotação interna Dentro do espaço sub-glúteo existem
extra-articular da anca.1,3,6 do membro. Esta manobra irá levar diversas causas que podem estar na
A maioria dos doentes localiza ao alongamento passivo dos rota- origem do SESG, nomeadamente:
as queixas de dor ao nível da face dores e criar tensão sobre o nervo bandas fibrosas, síndrome do
posterior da anca e/ou região nade- ciático.7 piriforme, síndrome do obturador
gueira, associada ou não a uma dor interno / gemelar, patologia do qua-
tipo ciática, com irradiação pelo drado femoral / conflito isquiofemo-
membro afetado. É frequente a ral, patologia dos isquiotibiais, lesões
história de trauma prévio. Um sinal pós-traumáticas, lesões ocupadoras
comum e importante é a dificuldade de espaço / tumorais:1,6,10,12-15
em estar sentado, podendo adotar • Bandas fibrosas: em condições
uma posição antálgica com ligeira normais, o nervo ciático encontra-
elevação do lado afetado. Claudica- -se móvel, capaz de deslizar e
ção, dificuldade a andar e até mesmo alongar, adaptando-se às posições
alterações neurológicas podem estar e movimentações da anca. No
presentes em alguns casos.1,4,6,7 entanto, na presença de bandas
O exame físico deve avaliar as pos- que provoquem aderências e / ou
síveis causas de dor a nível da anca limitação da mobilidade, a sua
e / ou da dor irradiada, em particu- capacidade de acomodação dimi-
lar a coluna lombar (por exemplo, Figura 4 – O teste do alongamento do nui e pode incorrer numa neu-
compromisso radicular por hérnia piriforme sentadoc) ropatia isquémica. Estas bandas
discal), pélvis (por exemplo, patolo- podem ser fibrosas, fibrovascula-
gia ginecológica) e anca (por exem- res ou vasculares, subdividindo-se
plo, conflito extra-articular – isquio- Imagiologia ainda em bandas compressivas,
femoral ou lesão dos isquiotibiais) adesivas ou erráticas1,12;
de forma a excluir outras patologias A radiografia da pélvis e da coluna • Síndrome do piriforme: o músculo
que não a SESG. Especificamente, as fazem parte do estudo radiográfico piriforme encontra-se em íntima
manobras descritas para o com- básico, podendo levar à suspeição proximidade com o trajeto do
promisso do nervo ciático são o da causa base da sintomatologia do nervo ciático no ESG. As patologias
teste Lasègue, sinal de Pace, sinal paciente, embora frequentemente o ou variantes anatómicas deste
de Freiberg, teste de Beatty, teste de resultado do exame seja normal no músculo poderão condicionar a
FAIR, o teste do piriforme ativo e o SESG.6,8 mobilidade ou comprimir o nervo
teste do alongamento do piriforme A ressonância é o método com ciático, originando o SESG. Sub-
sentado.1,6,7 Destes, os últimos dois maior sensibilidade e especificidade divido em primário (variantes
são os que melhor correlacionam a para o diagnóstico. Esta deve ser anatómicas) ou secundário (outro
clínica com os sinais endoscópicos usada inicialmente para exclusão de fator precipitante), a síndrome do
de compromisso do nervo ciático.3,7 outras causas da dor e/ou compres- piriforme inclui:1,3,6,12
No teste do piriforme ativo (figura 3) são neurológica, nomeadamente · Hipertrofia da massa muscular
coloca-se o paciente em decúbito de patologia lombar, intrapélvica, do piriforme
lateral e pede-se para empurrar o intra-articular e extra-articular da · Compressão dinâmica (por exem-
calcanhar contra a mesa, resultando anca.2,6,8-10 Após essa exclusão, a plo, espasmos musculares)
em abdução e rotação externa da neurografia por ressonância magné- · Variantes anatómicas do trajeto
anca. O examinador palpa o ESG e tica permite um estudo detalhado do ciático em relação ao músculo
contraria o movimento de abdução. do nervo ciático ao longo do seu (seis variantes descritas)
A contração dos rotadores externos trajeto. É possível avaliar o trajeto, · Inserções tendinosas anormais,
deverá comprimir o nervo ciático.7 calibre, padrão de fasciculação, pre- quer proximais, quer distais
sença de bandas fibrosas compressi- · Compressão estática por fibrose
vas ou outras lesões ocupadoras de pós-cirurgia
espaço. Alterações do sinal (aumento · Condições pós-traumáticas ou de
intensidade em T2) e desnervação, uso excessivo (avulsões, tendi-
e consequente atrofia muscular, são nose, contraturas, calcificações);
alterações que favorecem o diag- • Síndrome do obturador interno/
nóstico de neuropatia, cronicidade e gemelar: é uma síndrome muito
nível da compressão.6,8 rara, caracterizada pela com-
Os estudos electromiográficos são pressão dinâmica, um efeito tipo
Figura 3 – O teste do piriforme ativob) frequentemente negativos no SESG, tesoura, na passagem do nervo
no entanto podem ser usados para ciático de anterior ao músculo
No teste do alongamento do piri- excluir outras causas de neuropatia, piriforme para posterior ao mús-
forme sentado (figura 4), o paciente tais como a radiculopatia lombosa- culo obturador interno. Mais rara-
senta-se no rebordo da mesa, a anca grada.6,11 mente, poderá haver penetração

22 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


anormal do ciático pelo músculo fisioterapia. A fisioterapia pode diagnóstico. O tratamento deve ser
do obturador interno1,6,12,16; incluir várias modalidades, nomea- dirigido à etiologia subjacente, sendo
• Patologia do músculo quadrado damente alongamento dos músculos na maioria das vezes conservador.
femoral / conflito isquiofemoral: rotadores externos, relaxamento do Na falência deste, a endoscopia do
é pouco comum, é caracterizada músculo piriforme, fortalecimento espaço sub-glúteo constitui-se como
pela diminuição do espaço útil dos músculos abdutores da anca, uma alternativa minimamente
entre a tuberosidade isquiática e restabelecimento do equilíbrio invasiva à cirurgia aberta, com bons
o pequeno trocânter. Esta redução pélvico e marcha adequada, exercí- resultados publicados na literatura.
de espaço pode condicionar bio- cios de mobilização neural, terapia Os autores declaram ausência de conflito
mecânica e contacto anormais na com ultrassons ou estimulação de interesses, assim como a originalidade
mobilidade da anca e consequente elétrica.1,3,17 Adicionalmente, estão do manuscrito e a sua não publicação
lesões no músculo quadrado relatadas infiltrações com anes- prévia. Não foi usado o ChatGPT para a
femoral ou nos músculos isquio- tésico local, corticoides ou toxina produção do manuscrito.
tibiais. Pode ocorrer de forma botulínica. Estas infiltrações poderão Correspondência
aguda, com inflamação e edema ser utilizadas de forma diagnóstica Tiago Pato – eutiagopato@gmail.com
muscular, ou de forma crónica, ou terapêutica.13,17
com rotura, atrofia e fibrose mus- Em casos de insucesso no trata-
cular. Atendendo à proximidade mento conservador, o tratamento Bibliografia
do nervo ciático, estas alterações cirúrgico poderá estar indicado.
podem levar a aderências e/ou à Historicamente, o procedimento 1. Carro LP, Hernando MF, Cerezal L, Navarro
IS, Fernandez AA, Castillo AO. Deep gluteal
inflamação do nervo, originando a consistia numa neurólise aberta.
space problems: piriformis syndrome, ischiofe-
SESG1,6,12,16; Atualmente, com os avanços na moral impingement and sciatic nerve release.
• Patologia dos músculos isquio- capacidade técnica e compreensão Muscles Ligaments Tendons J. 2016 Jul-Sep;
tibiais: a proximidade do trajeto da anatomia do espaço sub-glúteo, a 6(3):384-96.
do nervo ciático com a inserção abordagem endoscópica é o método 2. Kizaki K, Uchida S, Shanmugaraj A, Aquino
CC, Duong A, Simunovic N, et al. Deep
proximal dos IQT leva a que um preferido. Esta tem várias vantagens,
gluteal syndrome is defined as a non-discogenic
conjunto de patologias dos mús- nomeadamente ser uma abordagem sciatic nerve disorder with entrapment in the
culos IQT possam condicionar o menos invasiva, ter menor risco de deep gluteal space: a systematic review. Knee
aparecimento da SESG. A tendi- infeção, de hematoma, de recorrên- Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2020 Oct;
nopatia, a rotura parcial ou total, cia da fibrose e menor risco para os 28(10):3354-64.
3. Martin HD, Reddy M, Gomez-Hoyos J. Deep
as avulsões, a apofisite, a tendi- nervos periféricos.6,11,12,18 Os gestos
gluteal syndrome. J Hip Preserv Surg. 2015
nopatia calcificante são algumas cirúrgicos a efetuar dependem da Jul; 2(2):99-107.
das situações que por edema, causa do SESG, nomeadamente, 4. Martin HD, Shears SA, Johnson JC, Sma-
inflamação e/ou fibrose/adesões de forma isolada ou combinada a thers AM, Palmer IJ. The endoscopic treatment
resultantes poderão condicionar neurólise do ciático com lise de ade- of sciatic nerve entrapment/deep gluteal syn-
drome. Arthroscopy. 2011 Feb; 27(2):172-81.
a mobilidade do nervo ciático e rências; a tenotomia do piriforme;
5. Coppieters MW, Alshami AM, Babri AS,
consequente neuropatia. As ativi- a bursectomia e reparação/teno- Souvlis T, Kippers V, Hodges PW. Strain and
dades desportivas, como corrida, tomia dos músculos IQT; a excisão excursion of the sciatic, tibial, and plantar ner-
salto ou remate, podem levar a parcial do pequeno trocânter, entre ves during a modified straight leg raising test. J
aumento de stress e solicitação outras.1,3,4,6,18,19 Orthop Res. 2006 Sep; 24(9):1883-9.
6. Park JW, Lee YK, Lee YJ, Shin S, Kang Y, Koo
dos músculos IQT e predispõem a
KH. Deep gluteal syndrome as a cause of poste-
esta síndrome1,3,6,12,16; rior hip pain and sciatica-like pain. Bone Joint
• Lesões pós-traumáticas seque- Conclusão J. 2020 May; 102-B(5):556-67.
lares às alterações anatómicas 7. Martin HD, Kivlan BR, Palmer IJ, Martin RL.
decorrentes da lesão ou às abor- A SESG é uma entidade sub-diag- Diagnostic accuracy of clinical tests for sciatic
nerve entrapment in the gluteal region. Knee
dagens para osteossíntese, como nosticada que requer um alto nível
Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2014 Apr;
por exemplo no caso de fraturas de suspeição para o seu diagnóstico. 22(4):882-8.
acetabulares11,12; Consiste na compressão extrapélvica 8. Hu YE, Ho GWK, Tortland PD. Deep Gluteal
• Lesões ocupadoras de espaço/ do nervo ciático no ESG e o reco- Syndrome: A Pain in the Buttock. Curr Sports
tumorais: são situações raras, nhecimento das diferentes causas Med Rep. 2021 Jun 1; 20(6):279-85.
9. Kulcu DG, Naderi S. Differential diagnosis of
desde lesões benignas, infeciosas compressivas e da anatomia do ESG
intraspinal and extraspinal non-discogenic scia-
ou tumorais, como quistos gan- é essencial para a sua compreensão. tica. J Clin Neurosci. 2008 Nov; 15(11):1246-52.
gliónicos, abcesso piogénico, ou A história clínica adequada (dor 10. Ergun T, Lakadamyali H. CT and MRI in the
schwannoma.13-15 face posterior da anca / nádega, evaluation of extraspinal sciatica. Br J Radiol.
sintomas radiculares, dificuldade 2010 Sep; 83(993):791-803.
11. Park MS, Jeong SY, Yoon SJ. Endoscopic
em estar sentado), o exame físico
Sciatic Nerve Decompression After Fracture or
Tratamento dirigido para exclusão de patologia Reconstructive Surgery of the Acetabulum in
lombar e manobras direcionadas Comparison With Endoscopic Treatments in
O tratamento conservador é geral- para o nervo ciático, assim como Idiopathic Deep Gluteal Syndrome. Clin J Sport
mente indicado como primeira exames complementares de diag- Med. 2019 May; 29(3):203-8.

linha, com alteração da atividade, nóstico direcionados (Rx, RMN, Restante Bibliografia em:
AINEs, relaxantes musculares e EMG) são fundamentais para o seu https://revdesportiva.pt/conteudos/

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 23


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):24-27. https://doi.org/10.23911/resumos_jornadas_2023_set O papel da ciência é crucial na
compreensão dos mecanismos bio-
lógicos e fisiológicos que ocorrem no
corpo humano durante o exercício
Resumos de congresso
e que afetam a saúde. As pesqui-
sas científicas têm mostrado que
o exercício regular traz inúmeros
benefícios à saúde, como a redução
Presidente das Jornadas: Prof. Doutor Manuel Gutierres
do risco de doenças cardiovascula-
Comissão Organizadora: Dr.ª Helena Fernandes e Dra.Carla Pinto res, diabetes, osteoporose e cancro.
Comissão Científica: Prof. Doutor Pedro Cantista, Dr. José Ramos, Dr.ª Maria João Sá, Mestre Patrícia
Gomes, Mestre João Begonha, Fisioterapeuta Marco Fonseca
É essencial dotar todos os profissio-
nais que atuam na área da saúde e
exercício físico com conhecimentos
para colocar em prática ações que específicos relacionados com cada
visem a promoção da atividade física patologia, para que a prescrição seja
Dr. Hugo Almeida da população. realizada com melhor qualidade,
Assistente em Medicina Geral
e Familiar UCSP Sul – ACeS Existem várias formas de inter- criando pontes entre as diferentes
Aveiro Norte vir nesta área tão importante da áreas de intervenção, nomeada-
promoção da saúde: atuação a nível mente a medicina, a fisioterapia, a
Cuidados de Saúde legislativo (por exemplo, a possibili- educação física e a nutrição.
Primários e Atividade Física dade de incluir faturas relacionadas A saúde, por sua vez, é um resul-
– a importância de intervir e com a prática de atividade física no tado direto do equilíbrio entre os
caminhos para o fazer IRS); a realização de intervenções três pilares – ciência, exercício e
breves em consulta sobre este tema estilo de vida saudável. Cada um
A atividade física funciona deve ser estimulada e deve ser dada deles deve ser abordado de maneira
como terapêutica (não farma- oportunidade aos profissionais de integrada, com informações basea-
cológica) em muitas doenças saúde para adquirirem ferramentas das em evidências científicas, para
crónicas não transmissíveis: de forma a atuarem nesta área tão que os indivíduos possam tomar
doença psiquiátricas, neuroló- importante, estimulando a criação decisões informadas sobre a sua
gicas, metabólicas, oncológicas, de consultas de atividade física nos saúde. Um dos grandes objetivos da
cardiovasculares e pulmonares. CSP; a incorporação de profissionais Matosinhos sport é criar ligações pró-
É do conhecimento geral que os do exercício no Serviço Nacional ximas com as universidades com o
níveis de atividade física são muito de Saúde; criação de projetos de objetivo de colocar em prática tudo
inferiores aos recomendados. Por intervenção em populações especí- o que é realizado em termos cientí-
exemplo, segundo dados do último ficas como, por exemplo, em grávi- ficos nos programas desenvolvidos
Eurobarómetro, em Portugal apenas das. Estas são apenas algumas das diariamente nas nossas instalações
17% da população afirma fazer ativi- medidas que permitiriam ganhos desportivas.
dade física com alguma regularidade em saúde muito significativos e, Na Matosinhos sport existe uma
e 76% passa pelo menos 2h30 do como refere a Organização Mun- ligação direta com a unidade local
seu dia sentado. As principais razões dial de Saúde nas suas guidelines de de saúde que faz uma avaliação
apontadas para impedir a prática de atividade física, doing some physical inicial do utente e encaminha para
desporto de forma mais regular são activity is better than doing none. o gabinete de avaliação e prescri-
a falta de tempo (44%) e a falta de ção existente em todas as piscinas
motivação/interesse (29%). Em rela- municipais, onde é realizada uma
ção a estes valores, Portugal encon- anamnese e é feito o encaminha-
tra-se pior do que a média da União mento para as atividades desenvol-
Europeia. Esta inatividade física vidas nas nossas instalações. Todo o
acarreta maiores custos de saúde Ricardo Maia
processo é registado e reavaliado a
(pela sobre utilização dos serviços) Mestre em Ensino da Educação cada três meses. Além do gabinete
Física UMAIA
e de produtividade (pelo absentismo de avaliação e prescrição, também
laboral ou pela produtividade limi- oferecemos a possibilidade aos
tada), sendo que os custos anuais Ciência, exercício e saúde: três munícipes de agendar uma consulta
derivados da inatividade física são pilares ao serviço da população. de nutrição.
de cerca de 900 milhões de euros. É importante que sejam imple-
Em Portugal estima-se que 14% das A ciência, o exercício e a saúde são mentadas políticas públicas e
mortes anuais estejam associadas três pilares fundamentais que tra- programas de promoção da ativi-
a este fator. Desta forma, sendo os balham em conjunto para garantir dade física, bem como incentivados
Cuidados de Saúde Primários (CSP) o bem-estar da população. Juntos, comportamentos saudáveis, a fim de
um local de contacto com toda a esses pilares fornecem informações aumentar a adesão à prática regu-
população e onde diariamente se faz essenciais sobre o modo como as lar de atividade física em Portugal.
promoção da saúde e prevenção da pessoas podem melhorar a saúde e A promoção da atividade física
doença, são um local privilegiado prevenir doenças. pode ser realizada em diferentes

24 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


contextos. Nas escolas, locais de tra- de fortalecimento: 1 – educação neu- tornou-se mais rápido, com pontos
balho, comunidades locais e também romuscular; 2 – treino de resistência a durarem entre 6 e 10 segundos
através de intervenções específicas fraca e moderada, alavanca de tra- (descanso de 20 e 60 segundos entre
dirigidas a grupos de risco, como ido- balho curta e 3 – treino de resis- mudanças de campo) e um tempo
sos e pessoas com doenças crónicas tência moderada e forte com braço total de jogo variável entre uma e
Temos de dar o devido valor à de alavanca longo. Para o foco da cinco horas, dependendo do tipo de
investigação científica, promoção de parte muscular anterior é o músculo torneio (à melhor de três ou cinco
estilos de vida saudáveis e acesso serrátil anterior e para os posteriores sets), implicando um tempo real de
a cuidados de saúde de qualidade são os músculos trapézio médio e jogo entre 16 e 26%.
para melhorar a saúde da população inferior. Realizamos também traba- O sucesso desta modalidade
portuguesa. Com um sistema de lho de mobilidade dorsal. desportiva é multifatorial, sendo a
saúde público universal e uma rede Para o punho e cotovelo os grupos técnica um dos fatores mais influen-
de profissionais de saúde qualifica- musculares são os músculos exten- ciadores do rendimento, visto que
dos, Portugal está bem posicionado sores do punho e os músculos flexo- todos os gestos dependem da ligação
para continuar a melhorar a saúde e res e extensores do cotovelo. anatómica entre os segmentos para
o bem-estar de seus cidadãos. Este é Em relação a técnicas de terapia a execução, comprovando assim
um projeto de todos nós. manual, a mobilização com movi- a sua complexidade mecânica. A
mento é muito citada na literatura, repetição do gesto desportivo no
em que se realiza uma mobilização ténis contribui para o aumento da
com movimento sem a presença de produção de força no movimento de
dor. As ortóteses podem ser usadas rotação interna e, devido ao facto
quando não conseguimos eliminar de existir a prevalência do membro
a atividade que agrava a dor, não se superior dominante, pode originar
Ft. Rui Pedro Reis deverá usar em repouso e deve ser alterações corporais assimétricas,
Fisioterapeuta da Oficina do Ombro
posicionar abaixo da zona dolorosa. como, por exemplo, o desequilíbrio
A evidência da massagem trans- dos músculos agonistas e antagonis-
Como encarar a epicondilite? – versa profunda é limitada e poderá tas e as diferenças bilaterais.
perspetiva da reabilitação ou não ser usada. O gelo poderá ter As lesões crónicas são as mais
algum efeito para complementar predominantes no ténis, sendo
A tendinopatia lateral do cotovelo o programa de reabilitação, espe- 28% destas situadas nos membros
(TLC) é a lesão musculoesquelética cialmente após algo que agrave os superiores e 6% no cotovelo. A causa
mais comum do cotovelo. Cerca de sintomas. Em caso de irritação do do aparecimento da lesão é multi-
50% dos atletas de ténis apresentam nervo radial será útil usar técnicas fatorial e isso dificulta as estraté-
algum tipo de dor no cotovelo e 75 a de mobilização neural em conjunto gias a implementar para reduzir o
80% destas queixas são atribuídas à com o tratamento. risco de lesão. No entanto, através
epicondilalgia lateral (EL). A comunicação é fundamental da consulta da literatura é possível
O mecanismo de lesão é variável, com o ortopedista e fisiatra para verificar que as causas das lesões, e
mas tipicamente resulta de sobre- determinar objetivos e necessidade em específico da epicondilite lateral,
carga dos músculos extensores ou não de outras intervenções. A poderão advir de quatro grandes
comum do punho e dedos. A dor é literatura revela suporte insuficiente variáveis: treino, biomecânica, nível
agravada pela palpação, aperto da para refutar ou não a efetividade dos jogadores e material.
mão e resistência do segundo e/ou das intervenções em fisioterapia. O Através da identificação das
terceiro dedo para extensão. Acha- programa de reabilitação deve ser possíveis causas, é possível adotar
dos estruturais estão presentes em baseado na individualidade, flexível estratégias primárias para atenuação
aproximadamente 50% de indiví- e na resposta ao tratamento. do aparecimento futuro da lesão. Em
duos saudáveis assintomáticos na primeiro lugar, a gestão da carga de
mesma idade e género. treino através da análise da rela-
A melhor prática de reabilitação ção treino-descanso (princípio da
suporta várias formas de exercício super-compensação) e carga aguda
terapêutico e terapia manual para e crónica. Tanto a implementação
efeitos imediatos e a curto prazo André Vilela Brito
do treino, como o seu descanso, são
para melhoria da dor e função. A Mestre em treino desportivo de alto importantes para aumentar o pro-
rendimento
educação do paciente é essencial e gresso do jogador, uma vez que a inci-
peça crítica na reabilitação. dência de carga no processo de fadiga
A literatura identificou fraqueza Como prevenir a epicondilite? poderá gerar uma resposta de over-
no complexo escapular do ombro training e assim aumentar o risco de
em pacientes com epicondilalgia. A O ténis é uma modalidade despor- lesão (relação aguda/crónica).
estratégia da programa de reabilita- tiva dinâmica e complexa caracteri- A epicondilopatia é mais frequente
ção deverá incluir especificamente zada pela atividade intermitente de em jogadores inexperientes, uma
um programa de estabilização alta intensidade repetida ao longo vez que carecem de desenvolvi-
escapular e integrar um tratamento do tempo de jogo. Com a evolu- mento biomecânico e técnico, recru-
local. Foram estabelecidas três fases ção ao longo das décadas, o jogo tando de forma errada os músculos

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 25


extensores do punho (fase excên- Apesar das semelhanças nas de dificuldades e problemas psicoló-
trica) com o movimento de flexão competências e caraterísticas gicos em jovens atletas que chegam
do punho. Os jogadores experientes, psicológicas com atletas adultos, mais tarde à alta competição. Assim,
por outro lado, fazem a extensão do é importante ter em conta que as consideramos que a implementa-
punho e recrutam os músculos na necessidades psicológicas dos jovens ção de programas de treino mental
fase concêntrica (diminuição do risco são diferentes dos adultos e o seu dirigido a crianças e jovens deve ser
de lesão). O tipo de material é outro desenvolvimento cognitivo deve ser priorizada em idades precoces, uma
fator importante para reduzir o risco considerado em qualquer planea- vez que os seus efeitos se fazem
de aparecimento da epicondilite late- mento do trabalho mental. sentir na capacidade dos atletas em
ral, sendo que uma raquete equili- Partindo da ideia de que as com- lidar com as exigências da competi-
brada, em termos de peso, tamanho, petências psicológicas podem ser ção desportiva.
balanço e cordas é preponderante aprendidas, adquiridas ou melho-
para se conseguir uma boa dinâmica radas através do ensino, do treino e
entre controlo de bola e potência, da prática, justifica-se a implemen- Bibliografia
sem prejudicar o membro superior. tação de programas de treino de
competências psicológicas devida- 1. Dohme, L.C., Backhouse, S., Piggott,
mente estruturados e orientados por D., & Morgan, G. Psychological skills
and characteristics facilitative of youth
profissionais com formação especi-
athletes´developmente: A systematic review.
fica (psicólogos). The Sport Psychologist. 2019; 33:261-275.
Um programa de treino de com- 2. Cruz, J. F., & Viana, M. O treino de competên-

Dra. Sofia Pinto


petências psicológicas pode ser cias psicológicas e a preparação mental para a
Psicóloga do Desporto no Andebol definido como um programa que competição. In J. F. Cruz (Ed.), Manual de Psi-
Clube de Fafe cologia do Desporto. Braga: SHO-Sistemas
identifica, analisa, ensina e treina
Humanos e Organizacionais. 1996.
competências cognitivas e mentais 3. Gomes, A.R. Competências psicológicas e
O treino de competências mais diretamente relacionadas com preparação mental de atletas de andebol. In M.
psicológicas em jovens atletas o rendimento desportivo, de acordo Arraya & P. Sequeira (Eds.), Andebol: Um
com as especificidades desportivas. caminho para o alto rendimento (pp. 361-
399). Lisboa: Visão e Contextos. 2012.
A investigação na área da psicolo- Este tipo de programa deverá ter
gia do desporto diz-nos que atletas como objetivos:
bem-sucedidos apresentam determi- a) a promoção do crescimento e
nadas competências e caraterísticas desenvolvimento pessoal Dr. Rui Martins da Silva
psicológicas. Num trabalho de revi- b) promoção e otimização do rendi- Serviço de Medicina Física e de
Reabilitação, Centro de Medicina
são sistemática da literatura foram mento desportivo.2 de Reabilitação de Alcoitão;
enumeradas as caraterísticas e as Dependendo da idade dos atletas, Departamento de Saúde das
Modalidades do Futebol Clube do
competências psicológicas facilita- poderá ser aceite que um programa Porto
doras do desenvolvimento e sucesso de treino de competências psico-
desportivo dos jovens atletas.1 Con- lógicas para praticantes seniores Fortalecimento muscular na lesão
cretamente, foram referidas como e de alta competição se preocupe desportiva
caraterísticas psicológicas: mais com a melhoria do rendimento
a) elevada ética de trabalho desportivo, enquanto um programa O fortalecimento muscular inclui
b) controlo emocional para atletas da iniciação e forma- toda a atividade de contração
c) autoconfiança ção desportiva se dirija mais para muscular prescrita com o objetivo
d) competências interpessoais o desenvolvimento pessoal e bem- de ganho de força muscular (resis-
e) motivação -estar dos praticantes. tência, força máxima e potência),
f) foco Um programa de treino de compe- respeitando a frequência, intensi-
g) competitividade tências psicológicas é composto por dade, tempo e tipo de exercício. A
h) positividade a três fases: lesão desportiva define-se como
i) resiliência 1) educação e formação toda a lesão que ocorre na prática de
j) independência 2) treino e automatização desporto ou exercício físico, carac-
l) inteligência desportiva. 3) Integração e transferência de terizada por desconforto, dor, perda
competências. parcial ou total de função, com ou
Em relação às competências psico- Atualmente, as técnicas mais utili- sem lesão estrutural, levando a
lógicas foram destacadas: zadas em programas de intervenção perda de uma ou mais sessões de
a) formulação de objetivos têm sido: o controle da ativação treino/competição e com necessi-
b) procura de suporte social e da ansiedade; a formulação de dade de atenção médica.
c) autoavaliação realista objetivos; a visualização mental e De acordo com a evidência atual,
d) imagética o controle de pensamento e planos reconhece-se a importância e
e) relaxamento mentais.3 necessidade do exercício físico, em
f) manutenção do sentido de equilíbrio É reconhecido que o desenvolvi- especial do fortalecimento muscular,
g) rotinas competitivas e pré-compe- mento de competências mentais no no processo de reabilitação da lesão
titivas contexto de formação desportiva é desportiva, bem como na prevenção
h) discurso interno. muito importante para a prevenção (primária, secundária e terciária) da

26 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


mesma. Este fortalecimento tem de conta a patologia e a história clínica
respeitar os princípios da prescrição do doente.7 Tratando-se de uma
descritos anteriormente, sendo que intervenção relativamente recente
através da manipulação do tipo de Dr. Paulo Araújo com aplicação muito heterogénea
Medicina Física e de Reabilitação
contração muscular conseguimos Departamento de Saúde do F C
e a recomendação para a patologia
efeitos diferentes na estrutura mus- Porto – Modalidades musculoesquelética ainda deve ser
cular e tendinosa, quer no processo feita de modo cauteloso, pelo que
de reabilitação, quer na prevenção Blood Flow Restriction mais estudos deverão ser realizados.
de lesões.
Nos últimos anos têm sido descri- O bood flow restriction (BFR), técnica
tas novas abordagens para a realiza- descrita pela primeira vez em 1960 Bibliografia
ção deste fortalecimento muscular, no Japão por Yoshiat Sato1, con-
como o uso de TRX, pilates, yoga, siste na aplicação de uma pressão 1. Abe T, Kawamoto K, Yasuda T, Kearns CF,
plataformas vibratórias, electroes- externa através de um cuff num Midorikawa T, Sato Y. Eight days KAATSU
resistance training improved sprint but not
timulação (localizada ou corpo dos membros, de forma a diminuir
jump performance in collegiate male track
inteiro), biofeedback, treino isoiner- a circulação sanguínea, obtendo- and field athletes. Int J KAATSU Train Res.
cial e blood flow restrition (BFR), para -se a oclusão da circulação venosa 2005;1(1):19-23.
além do fortalecimento clássico com e parcial da circulação arterial.2,3 2. Cook CJ, Kilduff LP, Beaven CM. Improving
recurso a pesos livres, máquinas O principal objetivo desta técnica strength and power in trained athletes with 3
weeks of occlusion training. Int J Sports Phy-
clássicas de ginásio, bandas elásticas é aumentar a força e a hipertrofia
siol Perform.2014; 9(1):166-172.
e/ou peso corporal. Todas estas abor- muscular recorrendo a cargas e 3. Takarada Y, Nakamura Y, Aruga S, et al.
dagens são descritas como poten- resistência mais baixas do que as Rapid increase in plasma growth hormone after
ciadoras da força muscular, ainda utilizadas no treino normal, redu- low-intensity resistance exercise with vascular
que a eletroestimulação isolada zindo, assim, o stress das articula- occlusion. J Appl Physiol. 2000; 88(1):61-5.
4. American College of Sports Medicine
apenas tenha um efeito demons- ções e dos tecidos circundantes.4
position stand: progression models in
trado a curto prazo, o que mesmo Em termos fisiopatológicos, o BFR resistance training for healthy adults. Med
assim é muito importante em alguns juntamente com o exercício provoca Sci Sports Exerc. 2009; 41(3):687-708.
tipos de lesões. Obviamente existem um stress mecânico e metabólico 5. Stephen D. Paterson et all; Blood Flow
marcadas diferenças a nível do tipo que, associado à hipoxia, é respon- Restriction Exercise: Considerations of Metho-
dology, Application, and Safety. Frontiers
de força mais potenciado, bem como sável pelo aumento da secreção da
in Physiology. 2019; 10(533). doi: 10.3389/
da aquisição de outras componentes hormona de crescimento, aumento fphys.2019.00533
de performance, de acordo com as da síntese proteica, aumento de 6. Brendan R. Scott et all; Exercise with Blood
diferentes abordagens. radicais livres, nomeadamente do Flow Restriction: An Updated Evidence-Based
O blood flow restriction (BFR), tem óxido nítrico, e aumento do recruta- Approach for Enhanced Muscular Development;
Sports Med. 2014; 45(3):313-25. DOI 10.1007/
vindo a ganhar muitos adeptos, mento das fibras musculares tipo II.2
s40279-014-0288-1
pois tem-se demonstrado que com O treino com BFR junta as van- 7. Ohta H, Kurosawa H, Ikeda H, et al. Low-
treinos de baixa intensidade, muitas tagens do treino de baixa intensi- -load resistance muscular training with
vezes os únicos possíveis aquando dade, que é tolerado em fases mais moderate restriction of blood flow after anterior
do processo de reabilitação, são precoces do processo de reabilitação, cruciate ligament reconstruction. Acta Orthop
Scand. 2003; 74(1):62-8.
possíveis ganhos de força muito e o treino de alta intensidade, o que
superiores aos obtidos com treino permite maiores ganhos de força e
convencional, com menor dano de hipertrofia muscular.4 O treino de
muscular e menor tensão para as baixa de intensidade com recurso a
estruturas adjacentes, como as BFR usa cargas de 20-30% de 1 RM
estruturas tendinosas ou articula- e pressões de oclusão de 40-80%.5
res. O BFR tem vindo a assumir-se Existem diversos cuffs que diferem
como uma abordagem essencial na largura, número e tipo de câma-
no presente e futuro do processo ras, tecidos e forma do cuff.5
de reabilitação, que tem por base A técnica está recomentada em
a diminuição/prevenção da atrofia fases precoces de reabilitação, Eleição para o Colégio da
muscular, o ganho de força muscu- com destaque na reabilitação da Especialidade de Medicina Desportiva
lar e de funcionalidade. ligamentoplastia do ligamento e do Exercício
cruzado anterior6, na prevenção da Voto eletrônico entre 4 (09h00) e 7
hipotrofia, na patologia osteoarti- (19h00) de setembro
cular degenerativa e na dor. Não Link de acesso:
existe nenhuma contraindicação https://ordemdosmedicos.pt/
absoluta, contudo, deveremos ter eleicoes2023/colegios
atenção em doente com anteceden-
tes de trombose venosa profunda, Concorrem para Presidente do Colégio:
doentes com hipertensão grave e Lista A – Dr. José Pedro Marques
na gravidez.3 A prescrição de BFR Lista B – Dr. Jaime Milheiro
deve ser individualizada, tendo em

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 27


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):28. of physical activity was associated
with similarly lower risks of inci-
Stephen P. Messier, Daniel interventions as an alternative or dent atrial fibrillation, myocardial
JAMA
P. Beavers, Kate Queen et al. adjunctive approach to alleviate infarction, heart failure, and stroke
Effect of Diet and Exercise on depressive symptoms in children compared with more evenly distrib-
Knee Pain in Patients with and adolescents, substantiating the uted physical activity.
Osteoarthritis and Overweight beneficial influence of physical acti- Meaning: Increased activity, even
or Obesity. A Randomized vity on the mental health of pedia- when concentrated within 1 to 2
Clinical Trial. JAMA. 2022; tric populations. days each week, may be effective
328(22):2242-2251. doi:10.1001/ for improving cardiovascular risk
jama.2022.21893 profiles.
Christopher G. Vaughan, Andrée-
Question: Does a weight loss and Anne Ledoux, Maegan D. Sady
exercise program in community set- et al. Association Between Early Kari Clifford, John C. Woodfield,
tings lead to improvement in knee Return to School Following William Tait et al. Association
pain in patients with osteoarthritis Acute Concussion and of Preoperative High-Intensity
and overweight or obesity? Symptom Burden at 2 Weeks Interval Training with
Findings: This randomized clinical Postinjury. JAMA Netw Open. Cardiorespiratory Fitness and
trial included 823 patients with 2023; 6(1):e2251839. doi:10.1001/ Postoperative Outcomes Among
knee osteoarthritis and overweight jamanetworkopen.2022.51839 Adults Undergoing Major
or obesity treated with diet and Surgery. A Systematic Review and
exercise vs an attention control. Question: Is the timing of return to Meta-Analysis. JAMA Netw Open.
After 18 months, the adjusted mean school after concussion associated 2023;6(6):e2320527. doi:10.1001/
difference in Western Ontario and with symptom burden at 14 days jamanetworkopen.2023.20527
McMaster Universities Osteoarthritis postinjury?
Index (WOMAC) pain score (range, Findings: In this cohort study, Question: What is the evidence for
0-20) was −0.6, a difference that met analysis of data collected from a the efficacy of preoperative high-
statistical significance. multicenter sample of youth aged 5 intensity interval training (HIIT) in
Meaning: In patients with knee to 18 years with concussion showed improving cardiorespiratory fitness
osteoarthritis and overweight or that older youth missed more days and surgical outcomes?
obesity, an 18-month program of of school, on average, than younger Findings: This systematic review and
weight loss and exercise based in youth. An early return to school was meta-analysis of 12 studies including
community settings, compared with associated with a lower symptom 832 patients assessed the association
an attention control group, led to burden at 14 days postinjury in the of preoperative HIIT with either car-
a small difference in knee pain of 8 – to 12-year age group and 13 – to diorespiratory fitness or postopera-
uncertain clinical importance. 18-year age group. tive outcomes. There was evidence
Meaning: These findings suggest that HIIT is significantly associated
that prolonged absence from school with increased preoperative cardiores-
Francesco Recchia, Joshua D. after a concussion is associated with piratory fitness and reduced postop-
K. Bernal, Daniel Y. Fong, et al. a greater symptom burden and may erative complications.
Physical Activity Interventions to be detrimental to recovery. Meaning: These findings suggest
Alleviate Depressive Symptoms that preoperative HIIT may improve
in Children and Adolescents. cardiorespiratory fitness and reduce
A Systematic Review and Meta- Shaan Khurshid, Mostafa A. postoperative complications.
analysis. JAMA Pediatr. Published Al-Alusi, Timothy W. Churchill
online January 3, 2023. doi:10.1001/ et al. Activity and Incident
jamapediatrics.2022.5090 Cardiovascular Disease. JAMA.
2023;330(3):247-252. doi:10.1001/
Question: Can physical activity jama.2023.10875
interventions alleviate depressive
symptoms in children and adoles- Question: Does engagement in
cents? moderate to vigorous physical activ-
Findings: This systematic review ity, with most activity concentrated
and meta-analysis included 21 stu- within 1 to 2 days of the week (ie, a
dies involving 2441 participants. The “weekend warrior” pattern), confer 8th ECOSEP Congress
results indicate that physical activity similar cardiovascular benefits to 25 a 27 abril 2024
interventions were associated with more evenly distributed physical
Riad, Arábia Saudita
significant reductions in depressive activity?
symptoms compared with the con- Findings: In an analysis of 89 573 Organização:
trol condition. individuals providing a week of
Meaning: The available evi- accelerometer-based physical activ-
dence supports physical activity ity data, a weekend warrior pattern

28 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):29-31.
https://doi.org/10.23911/resumo_ESC_miocardite_2023_set diagnóstica. O texto refere alterações
não específicas da onda T e do seg-
mento ST, podendo ocorrer elevação
do segmento ST a simular o EAM.
Resumo
Na presença de derrame pericárdico
poderão surgir arritmias complexas
e frequentes (ventricular e supra-
2020 ESC Guidelines on sports ventricular), bloqueio auriculoven-
cardiology and exercise in patients tricular e baixa voltagem do QRS. No
ecocardiograma poderá surgir um
with cardiovascular disease1 ventrículo esquerdo ligeiramente
dilatado com alterações da motili-
dade regional ou, então, não dila-
Resumo podendo haver previamente quei- tado, mas com aumento da espes-
xas de virose sistémica. As queixas sura da parede se houver edema.
Dr. Basil Ribeiro
Medicina Desportiva, V N Gaia
iniciais poderão ser subtis e os A função sistólica ventricular pode
atletas poderão apresentar sinto- variar entre a quase normalidade e
Miocardite e miopericardite mas inespecíficos, como mal-estar a grande disfunção. A ressonância
geral, fadiga e diarreia. Contudo, as cardíaca é o exame de diagnóstico
A miocardite define-se como uma situações graves podem manifestar- de maior utilidade, tem excelente
doença inflamatória, não-isquémica, -se por arritmia sintomática supra- sensibilidade para detetar as alte-
do músculo cardíaco, a qual poderá ventricular e ventricular, insuficiên- rações inflamatórias no miocárdio.
causar alteração da função e arrit- cia cardíaca, choque cardiogénico Finalmente, a biópsia endomiocár-
mias. A miopericardite é definida e morte súbita de causa cardíaca. dica é o exame de eleição para o
como sendo uma pericardite asso- Poderá também simular o enfarte diagnóstico de miocardite, permite
ciada a inflamação do miocárdio. A agudo do miocárdio. distinguir entre os vários tipos de
etiologia é variável, sendo a infeção Para o diagnóstico contribui a ele- inflamação e pode ser associada ao
vírica a cauda mais comum. A ESC vação da troponina cardíaca, a qual estudo genético.
faz ainda referência ao consumo de é um marcador de lesão da fibra Em relação à evolução clínica, é
cocaína e de suplementos que con- muscular induzida pela inflamação. referido que cerca de 50% dos doen-
tenham derivados das anfetaminas, O eletrocardiograma poderá apre- tes recuperam totalmente a função
especialmente nos sujeitos jovens. O sentar alterações não específicas, ventricular num mês, 25% apresen-
diagnóstico é difícil de se considerar, pelo que tem baixa sensibilidade tam disfunção persistente e entre
12% a 25% evoluem para insuficiên-
cia cardíaca fulminante.
Estratificação do risco: As séries
de doentes publicadas indicam a
miocardite como um fator de risco
para morte súbita (MSC), sendo
responsável por 2% a 20% de MSC
em atletas. O estudo animal indica
a prática de exercício físico como
causa que acelera a resposta infla-
matória no miocárdio.
As recomendações para o exercí-
cio da ESC são claras: o atleta com
diagnóstico provável ou definitivo de
miocardite recente não se deve
envolver em desporto competitivo
ou de lazer enquanto durar a
inflamação, independentemente da
idade, sexo ou dimensão da disfun-
ção ventricular. A duração da
abstinência desportiva é variável,
difícil de calcular inicialmente, mas,
de acordo com a ESC e a American
Heart Association, o período varia
entre 3 e 6 meses para desporto de
intensidade moderada e elevada. A
ressonância cardíaca pode ajudar na
decisão do retorno ao desporto.
Figura 1 – Ilustração com miocárdio normal e com miocardite2 Contudo, o regresso só pode ocorrer

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 29


respirar, tosse e palpitações poderão
fazer parte da apresentação clínica.4
A dor pode ser sensação de incómodo
no peito, sensação dolorida ou tipo
pressão.
Nos exames complementares de
diagnóstico é referido o eletrocardio-
grama, que não é específico e que
poderá revelar a depressão côncava
característica do segmento ST na
A B fase aguda, o ecocardiograma que
pode revelar derrame pericárdico
Figura 2 – Imagens de ressonância na: a) miocardite sem LGE; b) miocardite com LGE e a ressonância cardíaca, a qual
(setas amarelas)3 identificará a inflamação aguda do
pericárdio, o espessamento dos seus
após a avaliação clínica exaustiva súbito, localizada no centro ou no feixes e eventual constrição peri-
que determine o risco de MSC. Neste lado esquerdo do tórax, podendo cárdica. Esta está indicada também
particular, referem-se os estudos de haver dor num ou nos dois ombros. A quando houver elevação dos valores
imagem, a prova de esforço e a posição de sentado ou a inclinação da troponina para identificação de
monitorização com o Holter, os anterior poderá aliviar a dor, ao passo eventual miocardite concomitante.
quais fornecem informação para a que a inspiração profunda e a É uma patologia com bom prognós-
estratificação do risco. A presença de posição de decúbito dorsal agrava a tico, mas os doentes com febre (>38°
realce tardio (Late Gadolinium Enhance- dor. Febre, fraqueza, dificuldade em C), grande derrame e os resistentes
ment – LGE) na ressonância (figura 2),
diminuição da função ventricular e a
existência de arritmias ventricula-
res, na prova de esforço ou no Holter,
são marcadores de risco elevado e de
mau prognóstico.
No seguimento do atleta deve
haver a determinação da troponina e
dos marcadores de inflamação, a
realização de eco e de eletrocardio-
grama e, naqueles sem sinais de
inflamação, a realização da prova de
esforço. Só os atletas assintomáti-
cos, com valores de troponina e
marcadores inflamatórios normais,
função sistólica normal, boa capaci-
dade funcional e ausência de
arritmias complexas no esforço na
monitorização eletrocardiográfica
(Holter durante 48 horas e prova de
esforço) poderão voltar às atividades
desportivas. Os sujeitos com cicatriz
miocárdica extensa (> 20% realce
tardio) e disfunção ventricular
esquerda persistente não devem
participar em desportos de intensi-
dade moderada a elevada.

Pericardite

É definida como uma doença infla-


matória do pericárdio, que poderá
surgir na sequência de infeção respi-
ratória superior ou gastrointestinal,
sendo o vírus o agente etiológico
mais frequente.
A pericardite aguda manifesta-se
por dor intensa, aguda, de início

30 setembro 2023 www.revdesportiva.pt


WHO advises not to use non-
sugar sweeteners for weight
control in newly released
guideline

A Organização Mundial de Saúde


(OMS) publicou em 15 de maio de
2023 uma recomendação sobre a
utilização de adoçantes (não açú-
car), na qual refere que estes não
devem ser utilizados para controlo
Figura 2 – Ilustração do pericárdio normal e com pericardite5
do peso corporal ou para reduzir
o risco de doenças não transmis-
síveis. A recomendação resulta
da análise de uma revisão siste-
mática, a qual revela que não há
benefício a longo prazo na redução
da gordura corporal em adultos e
crianças, havendo, inclusivamente,
alguns potenciais efeitos indese-
jáveis com o consumo de longa
duração dos adoçantes artificiais,
como seja o aumento do risco de
DM tipo II, doenças cardiovascu-
lares e mortalidade nos adultos. É
a opinião do Dr. Francesco Branca,
Diretor da Nutrition and Food
Safety da OMS, que refere que “as
pessoas devem considerar outras
formas de reduzir a ingestão de
açúcares livres, como consumir
alimentos com açúcares naturais,
como frutas, ou alimentos e bebi-
das sem açúcar.” A recomendação
não se aplica aos doentes com
diabetes pré-existente. Os adoçan-
tes habituais são o acessulfame
à terapêutica anti-inflamatória têm Agradecimento
K, o aspartame, o advantame, os
risco superior. Ao Prof Doutor Hélder dores pela revisão
do texto ciclamatos, o neotame, a sacarina,
Nas recomendações refere-se
a sucralose, os extratos de fru-
que o exercício deve ser evitado no O autor declara ausência de conflito de
tos Luo Han Guo, a estévia e os
período de pericardite ativa e só interesses, assim como a originalidade
do manuscrito e a sua não publicação derivados da estévia. Não se aplica
devem voltar ao desporto após a
prévia. Não foi usado o ChhatGpt para a aos produtos de higiene pessoal
resolução por completo da doença. sua produção. que contêm adoçantes. Contudo, a
Nos casos ligeiros tal ocorre em
Correspondência OMS declara que a recomendação
cerca de 30 dias, mas nos casos
Basil Ribeiro – basil@sapo.pt foi considerada como condicional,
graves tal poderá acontecer ape-
seguindo os processos da OMS para
nas após 3 meses. Entretanto, os
Bibliografia o desenvolvimento de diretrizes,
atletas assintomáticos, mesmo
tendo em atenção às característi-
com pequeno derrame pericárdico 1. Antonio Pelliccia, Sanjay Sharma, Sabiha
cas dos participantes e os padrões
detetado no ecocardiograma, podem Gati et al. European Heart Journal. 2021;
42:17-96. doi:10.1093/eurheartj/ehaa605 de consumo. Mais informação
participar no deporto, mas devem
2. Mayo Clinic. https://www.mayoclinic.org/ em https://www.who.int/news/
continuar a ser monitorizados. A diseases-conditions/myocarditis/symp- item/15-05-2023-who-advises-
existência de pericardite constritiva toms-causes/syc-20352539 (consulta em -not-to-use-non-sugar-sweete-
impede a prática de desporto e de março 2023).
ners-for-weight-control-in-newly-
atividades de lazer de intensidade Restante Bibliografia em: -released-guideline. BR
moderada a elevada. https://revdesportiva.pt/conteudos/

Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2023 31


Agenda Setembro 2nd Global Congress on Innovations in ACSM– 2023 Advanced Team Physician
Physiotherapy & Rehabilitation Medicine Course
17th World Congress IC (cartilage) RS 26 e 27 de outubro: Dubai, EAU 6 a 8 de dezembro: Salt Lake City, UT, EUA
2023
9 a 12 de setembro: Melia Sitges, The International Forum on Quality and GLOBAL ORTHOPEDIC SUMMIT 2023
Espanha Safety in Healthcare 11 e 12 de dezembro: Dubai, EAU
30 nov – 1 dez: Melboune, Austrália
Health and Performance Congress Advanced Arthroplasty Surgery
(Sport Lisboa e Benfica)
Novembro
15 a 17 de dezembro: Thessaloniki, Grécia
11 e 12 de setembro: Lisboa

Ortho Summit 2023 Boston European Ressuscitation Council Congress 2024


20 a 23 de setembro: Boston, EUA 2 e 4 de novembro: Barcelona, Espanha

Global Congress on Innovations in 32nd Annual Mayo Clinic Symposium on Fevereiro


Physiotherapy & Rehabilitation Medicine Sports Medicine
(ptc2023) 3 e 4 de novembro: Rochester, MN, EUA Sports & Active Nutrition Summit USA
21 e 22 de setembro: Kisbudmer, Hungria 12 a 14 de fevereiro: San Diego, CA, EUA
IOC 14th edition of the Advanced Team
Orthopedics, Rheumatology and Physician Course 7th IOC World Conference on Prevention of
Musculoskeletal Disorders 7 a 9 de novembro: Medellín, Colômbia Injury and Illness in Sport
25 e 27 de setembro: Praga, República Chéquia 29 fev – 2 mar: Monaco
7th Annual Multidisciplinary Spine Care
XXIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Conference 2023
Medicina Física e de Reabilitação 9 a 11 de novembro: Amelia Island, FL, EUA Março
28 a 30 de Setembro: Porto
106th Congresso Nazionale della Societ 8th Annual Mayo Clinic Sports Medicine for
Italiana di Ortopedia e Traumatologia (SIOT the Clinician 2024
Outubro 2023) 8 a 10 de março: Lake Buena Vista, FL, EUA
9 a 11 de novembro: Roma, Itália
9th International Conference Physical International Conference on Nutrition and
Medicine and Rehabilitation XIX Congresso Internacional de Medicina Functional Foods
4 e 5 de outubro: Roma, Itália Desportiva da Sociedade Espanhola 25 e 26 de março: Londres, Reino Unido
9 a 11 de novembro: Valência, Espanha
Conferência anual da British Association of
Sport and Exercise Medicine 12th IOC Course on Cardiovascular Evaluation Abril
5 e 6 de outubro: Manchester, Reino Unido of Olympic Athletes
2024 AMSSM Annual Meeting – American
10 a 11 de novembro: Medellín, Colômbia
BASEM 2023 Annual Conference Medical Society for Sports Medicine

5 e 6 de outubro: Manchester, Reino Unido Medica Medicine + Sports Conference 12 a 17 abril: Baltimore, EUA

13 a 16 de novembro: Dusseldorf, Alemanha


XXIII Congreso de la Sociedad Chilena de 8th ECOSEP (European College of Sports and
Nutrición Exercise Physicians) Congress
Sportstrade
5 a 8 de outubro de 2023: Valdivia, Chile 25 a 27 abril 2024: Riade, Arábia Saudita
13 a 16 de novembro: Lisboa

Meeting Ibérico de Artroscopia (SPAT) 18th Asian Federation of Sports Medicine


International Congress on Sports Science
Congress
6 e 7 de outubro: Chaves Research and Technology Support (icSPORTS
2023) 26 a 28 de abril: Sabah, Malásia
62nd International Spinal Cord Society Annual 16 e 17 de novembro: Roma, Itália
Scientific Meeting (ISCoS 2023)
8 a 11 de outubro: Edimburgo, Escócia 9th International Conference on
Maio
Physiotherapy, Physical Rehabilitation &
21st ESSKA Congress
2023 Ironman World Championship Medical Sports Medicine November
Symposium 8 a 10 de maio: Milão, Itália
20 e 21 de novembro: Roma, Itália
8 a 12 de outubro: Kailua-Kona, HI, EUA
The Arthroscopy Association of North
ESSKA Speciality Days
America 24th Annual Meeting
Sports & Active Nutrition Summit Europe 24 a 25 de novembro: Varsóvia, Polónia
9 a 11 de maio: Boston, MA, EUA
9 a 11 de outubro: Amesterdão, Países Baixos
3 Annual Conference on Orthopedics,
rd

Football Medicine
15th Congress of the European Hip Society Rheumatology and Musculoskeletal
Disorders 25 a 27 de maio: Madrid, Espanha
12 e 13 de outubro: Berna, Suíça
27 e 28 de novembro: Dubai, Emirados Árabes
ACSM’s 71st Annual Meeting
ISSN Virtual Conference, Rapid Fire Science, Unidos (híbrido)
28 mai – 1 jun: Boston, MA, EUA
14 de outubro: Virtual

12th European Federation of Sports Medicine Dezembro Junho


Associations Congress
Asia-Singapore Conference on Sport Science
19 e 21 de outubro: Varsóvia, Polónia
(ACSS 2023) ISSN 21st Annual Meeting

5 e 6 de dezembro: Singapura 18 a 20 de junho: Bonita Springs, FL, EUA

Mais informação no site da Revista

32 setembro 2023 www.revdesportiva.pt

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