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Medicina esportiva: noções

básicas para o ortopedista


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JOÃO GILBERTO CARAZZATO

RESUMO restaurar a função do segmento comprometido, acabou


O autor, salientando a necessidade de o ortopedis- sendo gerada a obrigatoriedade destes ortopedistas busca-
ta ter conhecimento dos conceitos básicos da Medicina rem conhecimento dentro da área desportiva.
Esportiva, faz um apanhado do campo de ação desta es- Com a inteligente reformulação feita na Revista Bra-
pecialidade. Divide a Medicina Esportiva em três gran- sileira de Ortopedia, órgão oficial da SBOT, abrindo
des áreas: preventiva, terapêutica e educativa. Dentro anualmente um espaço a ser obrigatoriamente preenchi-
da área preventiva, subdivide em três setores: seleção do pelo Comitê de Traumatologia Esportiva da SBOT,
do atleta, controle da evolução do atleta e análise do temos novamente a oportunidade, neste segundo ano,
movimento. Na área da terapêutica, subdivide em: tera- de apresentar informações dentro deste campo.
pia clínica e traumatologia esportiva. Finalmente, salien- Acumulando atualmente os cargos de Presidente
ta que a área educativa deve abranger três campos: o da Comissão de Ensino e Treinamento da SBOT e da
campo da medicina, a população desportiva e a popula- Vice-Presidência do Comitê de Traumatologia Esporti-
ção em geral. va da SBOT e ainda com a Presidência da Sociedade
Brasileira de Medicina do Esporte, somos continuamen-
SUMMARY te procurados por colegas ortopedistas dos mais diversos
níveis, desde chefes de serviços até residentes de 1º ano,
Sportive medicine: basic principles to the orthopaedist questionando sobre a possibilidade de obter maiores co-
The author points out that the orthopaedic surgeon nhecimentos da especialidade.
must known the principles of sportive medicine. He Cremos realmente que, nos dias atuais, todo ortope-
gruped sportive medicine in three categories: preventive, dista, para completar-se, deverá estar atualizado na área
therapeutic and educative. Within the preventive there de MEDICINA ESPORTIVA.
are three points: selection of the athlete, his perfor- Assim sendo, julgamos oportuno apresentar aqui
mance, and movement analyses. Concerning the thera- algumas informações sobre os principais itens que carac-
peutic, there are two points: clinic therapy and sportive terizam o conteúdo básico da MEDICINA ESPORTIVA.
traumatology. At the end he emphasizes that the educati- A MEDICINA ESPORTIVA deve ser conceituada como
ve area should have three fields: the medicine field, the a responsável pela utilização da ciência médica no contro-
sportive population and the general population. le do organismo submetido a esforços físicos e psíquicos.
É dentro das especialidades uma das que tem tido maior
INTRODUÇÃO desenvolvimento nos últimos anos.
Em função do grande desenvolvimento observado Ao lado dos avanços da biologia celular e conseqüen-
aqui no Brasil nos últimos anos na área da atividade físi- te descoberta da gênese de grande parte dos processos
ca, com conseqüente aumento considerável do número patológicos corpóreos, teremos, com o aperfeiçoamento
do conhecimento dos benefícios que a atividade física
de pessoas que passaram a praticar esporte, e o natural
pode proporcionar, uma importante ação conjunta com
acréscimo daincidência de lesões no aparelho locomotor
levando à necessidade da procura do ortopedista para as demais formas terapêuticas e de manutenção do per-
feito estado de saúde do ser humano.
1. Chefe do Grupo de Medicina Esportiva do IOT do HC da FMUSP; Sabemos que com a fecundação artificial e as possi-
Membro da Comissão Médica do Comitê Olímpico Brasileiro. bilidades cada vez maiores de manipulação do DNA celu-
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lar, existirão seres cada vez mais capazes, os quais exigi- dando principalmente no estabelecimento final do pa-
rão uma medicina de eficácia máxima, a “MEDICINA ES- drão físico do indivíduo.
PORTIVA do futuro”. É porém na fase adulta que o médico esportivo tem
maiores dificuldades, quando, através de sua atuação,
MEDICINA ESPORTIVA — SEU CAMPO DE AÇÃO tem que convencer as pessoas e programá-las para a prá-
tica do exercício físico freqüente, proporcional e contí-
A MEDICINA ESPORTIVA pode ser dividida basicamen-
nuo, como forma absolutamente necessária para a manu-
te em três grandes áreas: preventiva, terapêutica e edu-
tenção de seu padrão de saüde.
cativa.
Finalmente, e no idoso que o geriatra especializado
em MEDICINA ESPORTIVA tem a oportunidade de, progra-
I — Preventiva
mando uma atividade física balanceada, possibilitar a
A MEDICINA ESPORTIVA pode ser considerada basica- manutenção de músculos fortes e ossos sem osteoporo-
mente como medicina preventiva; infelizmente, porém, se, ao lado de um coração eficiente e organismo apto e,
aqui no Brasil, a medicina preventiva perde sempre pa- conseqüentemente, prolongar ao máximo o grau de liber-
ra a área terapêutica, o que ocorre também com a práti- dade e a vida com saüde disposição do idoso até seus
ca esportiva. últimos aliás de existência.
Na área preventiva, na qual a atividade física pro-
move uma melhor condição de saúde, evitando a instala- 2. ESPORTE COMPETIVO
ção de processos patológicos, podemos agir basicamen- Em relação a prática de esporte competitivo, em
te em dois campos: atividade física e esporte competi- que a performance máxima é o objetivo constante e fi-
tivo. nal, devemos considerá-la uma atividade de alto risco.
Para a obtenção do “ápice esportivo”, o atleta e subme-
1. ATIVIDADE FíS I C A
tido a esforços físicos e psíquicos muito próximos de seu
Éprovavelmente o setor mais importante da MEDI - limite fisiológico, por vezes entrando dentro da faixa
CINA ESPORTIVA. É com ele que podemos incutir na po- de atividade ‘‘potencialmente patológica”.
pulação brasileira a necessidade imperiosa e essencial Em função da grande dificuldade em estabelecer-
da ,prática da atividade física para o ser humano. mos estes limites a cada momento da carreira do atleta,
A atividade física deve ser programada para cada necessitamos submetê-lo a uma série de princípios que,
indivíduo e para cada grupo etário, os quais podem ser se obedecidos, o levarão a um limite muito próximo do
divididos em quatro períodos: criança, adolescente, adul- seu máximo fisiológico, sem termos o perigo de adentrar-
to e idoso. mos na faixa patológica.
A criança é aquela que maiores benefícios vai adqui- Temos que salientar que estas faixas podem, em de-
rir com a atividade física, não só em seu primeiro ano terminados atletas e em determinada fase de seu treina-
de vida, quando sai da posição de decúbito horizontal e mento, apresentar oscilações de tal modo imprevisíveis,
atinge a posição ortostática, como também na comple- levando a desestabilização temporária dos estudos de
mentação do seu desenvolvimento neuropsiquicomotor suas curvas de treinamento e desenvolvimento, situação
(ao redor dos seis anos de idade), e daí até os 12 anos, que poderá decretar o insucesso definitivo para a obten-
quando já deve apresentar uma constituição física carac- ção do padrão máximo e conseqüente frustração final.
terística sobre a qual se instalarão os fatores finais do Não era rara a ocorrência de atletas, com técnica
seu padrão físico. perfeita, ótimo condicionamento físico, psiquismo equili-
É nessa fase que o pediatra com especialização em brado, com alimentação perfeita e com a distribuição
MEDICINA ESPORTIVA tem condições de analisar a crian- de carga horária diária proporcional, deixando inclusi-
ça e estabelecer seu programa de atividade física, quer ve cerca de oito horas para o sono, que apresentavam
formativa quer mesmo preventiva sobre fatores pré-pato- subitamente um decréscimo em sua produção difícil de
lógicos caracterizados em sua análise inicial. ser detectado e corrigido.
Na fase do adolescente, o médico tem a responsabi- Foi com o crescente progresso alcançado na área
lidade de manter a atividade física como essencial, aju- da imunologia, e sua aplicação na MEDICINA ESPORTIVA
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MEDICINA ESPORTIVA: NOÇÕES BÁSICAS PARA O ORTOPEDISTA

va, que pudemos detectar muitos destes fatores transitó- corridas de velocidade, arremessos e saltos), lutas em ge-
rios e não só corrigi-los, como também evitá-los. ral (halterofilismo, esgrima, por exemplo), mas é a prin-
Assim sendo, para conseguirmos coordenar todas cipal necessidade nos esportes de longa duração (no atle-
estas variáveis, a MEDICINA ESPORTIVA conseguiu desen- tismo: maratona, marcha atlética, 10.000m, 5.000m,
volver, em especial na área preventiva, três grandes divi- 3.000m steeple chase, 1.500m), esportes com bola (volei-
sões de estudo, a saber: seleção do atleta, controle da bol, handebol, bola ao cesto, futebol), natação (longas
evolução do atleta e análise do movimento esportivo. distâncias), remo, ciclismo, triatlon, etc.
Quanto à TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR, caracte-
2.1. Seleção do atleta rizada didaticamente como ‘‘reflexo”, é qualidade funda-
Um dos fatores de maior importância para ‘‘gerar- mental nos esportes ditos de ‘‘velocidade”, em que a ne-
mos” um grande atleta é a perfeita seleção de seu “es- cessidade de imediata contração muscular em resposta
porte ideal”. a qualquer estímulo momentâneo promove o pronto re-
Da mesma maneira que para exercermos as diferen- sultado. O reflexo é qualidade básica nas provas de velo-
tes atividades humanas necessitamos de certas qualida- cidade do atletismo (100, 200 e 400m rasos) e nos espor-
des específicas para atingirmos o sucesso, é no esporte tes com bola (voleibol, baisebol, handebol, futebol, bo-
que essas necessidades se mostram indispensáveis. É as- la ao cesto, tênis, rugby, etc.), além de outros como es-
sim que em uma avaliação inicial, além de detectarmos grima, tênis de mesa, etc.
processos pré-patológicos que iriam agravar-se com a O estudo das características de DISTRIBUIÇÃO DE FI-
prática do esporte competitivo, poderíamos também esta- BRAS MUSCULARES ocupa, atualmente, um lugar de desta-
belecer requisitos mínimos para esta prática em cada que na determinação do esporte ideal. Uma biópsia mus-
modalidade esportiva e assim evitarmos não só que os cular mostra facilmente a distribuição de basicamente
estados pré-patológicos, ou mesmo patológicos ad ini- dois tipos de fibras musculares: tipo I, fibras de contra-
tium, pudessem levar a ocorrências lamentáveis, como ção lenta, de características aeróbicas, próprias para es-
também encaminharmos ao esporte competitivo os real- portes de longa duração, e fibras tipo II (na realidade
mente aptos a exercê-los. IIA, IIB e IIC), de contração rápida, com fadiga preco-
Estariamos assim em condições de estabelecer pro- ce e predominantemente anaeróbicas, próprias para os
gramas de atividades físicas proporcionais a cada um esportes de velocidade. Existem ainda esportes que exi-
destes indivíduos, desde as mais leves e terapêuticas, nos gem os dois tipos de fibras em percentagem proporcio-
estados patológicos e pré-patológicos, até as mais inten- nal a cada músculo de seu corpo. Assim, o voleibol é
sas, como o esporte competitivo de alto nível. um esporte de características anaeróbicas, pela grande
Após selecionarmos o ‘‘atleta”, deveremos determi- velocidade de contração das fibras musculares, mas com
nar seu ‘‘esporte ideal”. Algumas características são jul- necessidades aeróbicas pela longa duração de suas parti-
gadas fundamentais nesta primeira avaliação, tais como: das, principalmente quando ultrapassam os três sets ini-
cardiocirculatórias, transmissão neuromuscular, distri- ciais.
buição de fibras musculares, imunológicas, neuropsiqui- O estudo das características IMUNOLÓGICAS do atle-
cas, biométricas, genéticas (“aptidão nata”). ta teve grande impulso na última década, em função da
Do ponto de vista CARDIOCIRCULATÓRIO , podería- importância dada a este assunto pelos cientistas de todo
mos, de maneira didática, dividir os atletas em três gran- mundo, que buscaram em suas pesquisas respostas a ver-
des grupos: bradicárdico (com freqüências cardíacas ba- dadeiros mistérios da medicina. Hoje sabemos que deter-
sais abaixo de 50 batim/min), taquicárdico (com freqüên- minados atletas, ao serem submetidos a esforços contí-
cias acima de 60 batim/min) e normocárdico (entre esses nuos e constantes durante longos períodos, ao invés de
dois limites). Evidentemente, em função dos altos valo- se tornarem mais aptos, são alvos de alta incidência de
res de trabalho externo alcançados no esporte competiti- processos patológicos determinados por perda de sua ca-
vo, o ideal seria que só tivéssemos ‘‘bradicárdicos”; no pacidade imunológica, que pode ser caracterizada labora-
entanto, existem esportes em que esta característica não torialmente por leucopenia intensa. Como exemplo de
tem tanta importância. Assim, a bradicardia não é fun- tal fato, citamos os trabalhos de Liesen e Riedel na Ale-
damental nos esportes de curta duração (no atletismo: manha, que observaram que maratonistas submetidos a
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carga diária de 20 a 30km de corrida, durante longo pe- mais alto e mais efetivo; o próprio levantador, se longilí-
ríodo, passavam a apresentar alto índice de viroses. Sa- neo, poderá ser mais eficiente para a equipe. No bola
bemos, assim, que o conhecimento da capacidade máxi- ao cesto, é evidente a vantagem que o gigante longilíneo
ma imunológica do atleta é fundamental para nortear- tem ‘‘enterrando” a bola na cesta. A vantagem continua
mos suas curvas de treinamento e suas verdadeiras fun- até mesmo na natação, no momento final da prova, com
ções ideais dentro de cada esporte. a primeira “batida de mão” sendo feita pelo atleta de
Um outro aspecto fundamental a ser abordado é a maior envergadura.
característica NEUROPSÍQUICA do atleta. Podemos divi- No entanto, alguns esportes, como halterofilismo
dir grosseiramente os atletas em dois grupos, a saber: o — em que a baixa posição do centro de gravidade corpó-
‘‘bradipsíquico” e o ‘‘taquipsíquico”. O atleta bradipsí- reo, aliada à menor altura, determina menor esforço ex-
quico é, em geral, introvertido e apático, com pouca vi- terno para que o peso possa ser levantado — proporcio-
bração em seus atos; é ele que nos esportes coletivos, nam para o brevilíneo melhores resultados; o mesmo ocor-
em especial de contato corporal, como o futebol, bola re na ginástica olímpica, em que as alavancas muscula-
ao cesto, handebol, futebol de salão, rugby, etc., é deno- res mais curtas diminuem em muito as necessidades de
minado como “morcego”, aquele que ‘‘chupa o sangue” força para movê-las, tornando o ato esportivo mais sim-
de seus companheiros vibradores e lutadores, conseguin- ples, perfeito e mais bonito. Imaginem a enorme força
do as mesmas conquistas que eles sem despender gran- a ser exercida na cintura escapular por um atleta longilí-
des esforços. Sabemos que o espírito de luta, a vibração, neo fazendo um crucifixo (movimento em que os mem-
o entusiasmo, a extroversão são fundamentais no alto bros superiores ficam na horizontal sustentando o cor-
desempenho esportivo e que atletas com estas caracterís- po perpendicularmente a cordas pendentes, que terminam
ticas devem ter somados aos seus aspectos positivos nú- em argolas, nas quais são fixadas as mãos do atleta).
meros expressivos levando a totais comparáveis somen- De maneira análoga para os judocas, o baixo posiciona-
te aos grandes atletas, “os vencedores”. A dupla vibra- mento do centro de gravidade proporciona melhor fixa-
ção-vitória é a regra nos esportes. Os introvertidos e apá- ção ao solo e, em conseqüência, melhor equilíbrio e
ticos são quase sempre ‘‘perdedores”, levando este estig- maior dificuldade para o adversário conseguir derruba-
ma inclusive para a sua vida extra-esportiva. No entan- lo. Podemos concluir, no entanto, dizendo que a maio-
to, mesmo apresentando as características negativas da ria dos esportes foi idealizada para os longilíneos.
introversão e da apatia, um atleta pode escolher um es- Finalmente, o fator GENÉTICO também deve ser leva-
porte em que este fator tem menor peso, como o haltero- do em consideração. Filhos de pais atletas terão, prova-
filismo, alguns esportes de exibição e algumas provas velmente, uma maior aptidão. Não nos esqueçamos po-
de atletismo (arremessos) e de natação (as provas mais rém que, mesmo tendo todas as demais características
longas), dentre outros. Mas o lema ‘‘lutar para vencer” para a formação de um grande campeão, é a ‘‘aptidão
é ainda lei no esporte. Não escolhemos para os apáticos nata” (o “dom” natural para a prática esportiva) que
esportes como as lutas, por exemplo, pois estes não po- irá caracterizar o verdadeiro atleta.
derão ser vencedores.
Um outro fator de extraordinária importância é o 2.2. Controle da evolução do atleta
BIOMÉTRICO . Podemos aqui também dividir os atletas Não basta estabelecermos o esporte ideal para deter-
genericamente em dois tipos: longilíneos e brevilíneos. minado atleta; e de fundamental importância acompa-
Os longilíneos apresentam-se com o comprimento nhá-lo em toda a sua evolução, através de avaliações cons-
dos membros sobrepujando proporcionalmente o tama- tantes e periódicas.
nho do tronco e os brevilíneos tendo na proporção con- Uma avaliação inicial vai discriminar o “basal”,
trária sua constituição básica. ou seja, aquele estágio em que deveremos começar nos-
A maior parte dos esportes foi feita para os longilí- so trabalho; avaliações sucessivas vão possibilitar acom-
neos; assim, para saltar em altura, um atleta de dois me- panhar o desenvolvimento do atleta.
tros de altura levará nítida vantagem sobre outro de ape- Esta avaliação deverá ser feita tanto genericamente
nas 1,70m. No voleibol, um atleta de grande envergadu- (para qualquer esporte), quanto especificamente (para
ra e altura vai fazer o bloqueio e o ataque em ponto determinado esporte).
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MEDICINA ESPORTIVA: NOÇÕES BÁSICAS PARA O ORTOPEDISTA

Assim, de maneira genérica, devemos determinar Finalmente, devemos lembrar que existem, para ava-
diferentes “basais” dos vários aparelhos corpóreos. liações ditas específicas, diversos tipos de ergômetros si-
2.2.1. Aparelho cardiocirculatório mulando o ato atlético em cada esporte.
2.2.1.1. Freqüência cardíaca basal real — Deve ser Vamos apenas exemplificar dois testes dos mais sim-
medida em absoluto repouso, logo após o acordar pela ples: o de Ruffier e o de Harvard, que podem ser execu-
manhã (deve ser tomada em decúbito dorso-horizontal). tados em qualquer recinto.
2.2.1.2. Freqüência cardíaca após um esforço médio No teste de Ruffier, como citado anteriormente,
— Pode ser medida após 20 flexoextensões de joelhos devemos tomar a freqüência cardíaca em repouso (R),
em 30 segundos, na posição ortostática (freqüência de em exercício (E), após um minuto (1 M), e depois a ca-
esforço do teste de Ruffier, por nós modificado de 30 da 30 segundos, até atingirmos o basal (repouso) nova-
para 20 flexões em 30 segundos). Deve ser medida em mente.
decúbito dorso-horizontal imediatamente após o exercí- Utilizando a fórmula:
cio (número de batimentos nos 15 primeiros segundos
(R + E + 1M) – 200
multiplicado por quatro).
10
2.2.1.3. Freqüência cardíaca após um esforço consi-
derável — Executando 150 subidas e descidas, durante temos o índice de Ruffier, que classifica:
cinco minutos, em um banco de cerca de 50cm de altu-
ra para o sexo masculino e 40 para o sexo feminino ou, Menor que 0 – ótimo
para ser mais exato, no ‘‘banco de Harvard” — com al- De 0 a 5 – bom
tura regulável igual à distância medida desde o polo dis- De 5 a 10 – regular
De 10 a 15 – fraco
tal da rótula até a extremidade distal do calcâneo junto Acima de 15 – péssimo (patológico)
ao solo.
2.2.1.4. Freqüência cardíaca submáxima — A fre- No teste de Harvard (vide 2.2.1.3), após o exercício
qüência obtida pelo coração com o auxílio de uma bici- de cinco minutos (se for completado totalmente), conta-
cleta ergométrica, utilizando-se do teste de Astrand. Equi- mos o número de batimentos cardíacos entre um minu-
valeria ao trabalho cardíaco mais intenso sem que haja to e um minuto e 30 segundos após o término. Este nú-
maiores riscos. mero e o tempo de exercício (o indivíduo pode não con-
2.2.1.5. Freqüência cardíaca máxima — É a maior seguir terminar os cinco minutos e assim existe fator cor-
freqüência que pode ser obtida pelo coração, o qual, retivo) nos darão o índice de Harvard:
em geral, é levado à exaustão. Esta freqüência só pode
ser tentada com controle médico total e sob perfeita mo- Acima de 100 – ótimo
De 80 a 100 – bom
nitorização. Segundo alguns autores, a média consegui-
De 60 a 80 – regular
da em um indivíduo treinado é dada pela fórmula: Abaixo de 60 – fraco

Freqüência cardíaca máxima = 235 – idade em anos


Em função da facilidade e rapidez de execução des-
Na prática diária, podemos nos valer de alguns tes- tes dois testes (no máximo em dez minutos), cremos que
tes para a avaliação global e completa do aparelho car- um médico que adquirir experiência suficiente para po-
diocirculatório. Podemos ir desde testes mais simples, der interpretá-los e compará-los terá, desde que não dis-
como os de Ruffier e de Harvard, até os testes em bici- ponha de métodos mais sofisticados, informações impor-
cletas ergométricas ou esteira, utilizando-se do diagra- tantes para o planejamento da curva de treinamento de
ma de Astrand para determinação do consumo máximo cada atleta.
de O2. A ergoespirometria, com dosagens sanguíneas Devemos lembrar que existe a necessidade de estabe-
de lactato, quer em esteira, quer em bicicleta ergométri- lecermos curvas de treinamento específicas para cada atle-
ca, pode nos oferecer dados importantes sobre os limites ta, para que ele, na época da competição, esteja no ápi-
dos esforços aeróbicos e anaeróbicos, tendo como conse- ce da curva. Devemos, no entanto, esclarecer que existe
qüência uma orientação específica para os ganhos nestas uma variedade muito grande de curvas, as quais pode-
duas áreas. mos agrupar em basicamente quatro tipos, a saber:
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A) O atleta entra rapidamente em forma, tem um A avaliação articular tem parâmetros especiais pa-
platô curto e cai rapidamente. ra cada tipo de esporte. Existem esportes nos quais a es-
B) O atleta demora muito para entrar em forma, tabilidade é fundamental (halterofilismo, por exemplo)
tem um platô curto e cai rapidamente (é a pior curva pa- e outros em que a flexibilidade é o mais importante (gi-
ra controlarmos). nástica olímpica, por exemplo).
C) O atleta demora para entrar em forma, mas tem
A estabilidade e a flexibilidade articular não são fa-
um platô de manutenção prolongado.
tores antagônicos; podemos ter perfeitamente articula-
D) O atleta entra rapidamente em forma e tem um
ções estáveis e grande flexibilidade. No entanto, deve-
platô prolongado (é a melhor curva).
mos ter muito cuidado com os exercícios de flexibilida-
Assim, se tivermos que preparar um atleta para
de sobre articulações instáveis (frouxas, na realidade,
uma competição ao fim de determinado período de trei-
pois para muitos o termo ‘‘instabilidade” é sinal de pato-
namento, teremos que providenciar fases variadas de in-
logia); por outro lado, os exercícios de força devem ser
tensidade para cada tipo de curva, com grandes ou pe-
bem equilibrados para as articulações bem estáveis e com
quenos acréscimos ou mesmo manutenção ou repouso,
amplitude articular diminuída. Em particular, o ombro
para que o ápice da curva coincida exatamente com o
do jogador de voleibol, o joelho do futebolista e o torno-
momento da competição.
zelo do jogador de bola ao cesto são articulares que
Devemos salientar que para um esporte individual
devem estar sempre sob controle. Devemos saber que
é muito mais fácil estabelecermos essas curvas, mas os
grandes aumentos de força muscular são acompanhados
problemas maiores ocorrem nos esportes coletivos, em
de ampliação do volume muscular, ao lado da diminui-
que a performance máxima da equipe só pode ser conse-
ção da amplitude articular, e também que exageros no
guida com a simultaneidade do ápice de cada curva de
trabalho de alongamento podem reduzir muito a resistên-
cada atleta, o que é muito difícil de ser conseguido, em
cia de articulações com frouxidão e elevar a incidência
função de outras variáveis que podem ocorrer (lesões,
de lesões.
deficiências técnicas, problemas psíquicos, etc.).
Devemos finalmente lembrar que qualquer anorma- Na análise dos músculos, além da necessária avalia-
lidade encontrada durante estes testes deve ser rigorosa- ção da percentagem de fibras de características aeróbicas
mente elucidada através de todos os recursos que tiver- e anaeróbicas, devemos também estudar a relação exis-
mos, não nos esquecendo principalmente dos testes car- tente entre força, velocidade e potência, ao lado da variá-
diológicos monitorizados e de dados importantes que po- vel elasticidade. É bastante conhecido que o desenvolvi-
dem ser facilmente fornecidos por exames laboratoriais mento excessivo da força condiciona perda parcial de
de simples execução, como, por exemplo, a diminuição velocidade de contração muscular e de elasticidade. Sa-
do número de glóbulos brancos que pode ser encontra- bendo que a potência é diretamente proporcional à for-
da em quedas da resistência imunológica. ça e ao quadrado da velocidade, é fácil verificar que, se
houver exagero no trabalho de força e conseqüente per-
2.2.2. Aparelho locomotor da de velocidade, poderemos ter uma diminuição na po-
Os dados mais simples podem ser obtidos facilmen- tência final. Em particular, nos esportes de velocidade,
te com o denominado exame biométrico, em que deve- esta relação é bastante crítica, mas em outros, como o
mos determinar: peso, altura, altura sentada, envergadu- halterofilismo, os benefícios continuam ocorrendo. Se
ra, comprimento dos membros inferiores e superiores, quisermos ganhar potência através do aumento da for-
as medidas ósseas (biacromial, transversal do tórax, bicris- ça, deveremos, em particular nos esportes de velocidade,
ta, bitrocantérica, ântero-posterior do tórax, altura do esquematizar uma programação em que isso seja feito
tórax), os perimetros torácico, abdominal e dos braços fora da fase de competições, na qual poderemos, no má-
(com e sem contração muscular) e os testes dinamométri- ximo, promover a manutenção da força até então conse-
cos de força e a capacidade vital. guida. No entanto, não nos esqueçamos que alguns pou-
Basicamente, além do exame biométrico, no qual cos atletas baseiam sua potência final de maneira parado-
podemos caracterizar os parâmetros ósseos, devemos tam- xal; força nos esportes de velocidade e velocidade nos
bém avaliar as articulações e os músculos. esportes de força.
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MEDICINA ESPORTIVA: NOÇÕES BÁSICAS PARA O ORTOPEDISTA

Um outro fato importante na análise muscular diz determinado esporte — análises de controle de evolução
respeito à relação existente entre a musculatura agonis- — estudo da técnica desportiva — planejamento de trei-
ta, antagonista e sinérgica. Em geral, se o trabalho não namento em fases bem definidas. Com isso provavelmen-
for bem balanceado, teremos ao final hipertrofia satisfa- te conseguiremos chegar ao atleta perfeito dentro do ter-
tória de agonistas, ao lado de antagonistas retraídos e ceiro milênio.
hipotônicos e de sinérgicos insuficientes. Em anexo, são mostrados dois modelos de protoco-
Quando formos estudar as lesões musculares, vere- lo que facilitam muito a avaliação inicial e os controles
mos que a maior parte delas ocorre na musculatura anta- de cada atleta.
gonista e que entre as causas predisponentes destas le- A ficha médico-esportiva divide-se basicamente em
sões o trabalho indevido de força em época competitiva seis partes: identificação, antecedentes morbidos, antece-
ocupa lugar de destaque. dentes pessoais (hábitos), antecedentes esportivos familia-
A grande dificuldade encontrada para avaliarmos res, exame físico e exame biométrico.
músculos e articulações diz respeito a má qualidade dos A identificação e clássica e dispensa comentários.
clássicos dinamômetros, os quais se desregulam com fa- Quanto aos antecedentes morbidos, se houverem,
cilidade. seus espaços devem ser numerados e esclarecidos nas li-
Nos dias atuais, isto só pode ser realizado com per- nhas logo abaixo.
feição com um sofisticado aparelho ligado a computado- Nos antecedentes pessoais (hábitos), gostariamos
res, denominado Cybex, o qual nos fornece com gráfi- de chamar a atenção para alguns itens. Sabemos que o
cos minuciosos a capacidade de todos os grupos muscula- fumo e o álcool são incompatíveis não só com o espor-
res nos diferentes graus de amplitude articular, ao lado te mas também com a saúde e a inteligência das pessoas;
de diferentes velocidades utilizadas. Com o Cybex, pode- um cigarro lhes tira 14 minutos da vida e o álcool em
mos obter, além de uma série de dados importantes, a demasia destrói seus organismos e lhes proporciona fal-
capacidade de fadiga de cada grupo muscular. Podemos so ganho de energia. Quando questionamos sobre a ‘‘ati-
ainda, em circunstâncias especiais, dependendo da articu- vidade física diária”, temos condições de determinar com
lação e da patologia, caracterizar seu diagnóstico através grande aproximação a quantidade de calorias perdidas
de curvas típicas. dia a dia e, através de dieta balanceada, compensá-las
Na realidade, o Cybex deveria ser parte importante devidamente. Quanto às alterações que as atletas podem
no arsenal da MEDICINA ESPORTIVA, mas, infelizmente, sofrer em função do ciclo menstrual, podemos assegurar
temos apenas dois destes aparelhos aqui no Brasil, am- que a grande maioria não apresenta problemas.
bos em São Paulo. Quando questionamos sobre os antecedentes esporti-
vos familiares, temos condições de estabelecer importan-
2.3. Análise do movimento tes influências genéticas e poder detectar qualidades con-
Na análise do ato esportivo, valemo-nos de dois ra- gênitas a serem utilizadas. A maneira da prática recreati-
mos importantes da ciência médica, a cinesiologia e a va (R) ou competitiva (C) pelos pais e também bastante
cineantropometria. elucidativa.
É com a decomposição de cada movimento em di- Nos antecedentes esportivos, vamos encontrar subsí-
versas fases e seu estudo cinesiológico perfeito, ao lado dios importantes para caracterizar o grau de aptidão po-
do conjunto harmônico conseguido com a cineantropo- liesportiva do candidato.
metria, que podemos estabelecer a técnica desportiva per- No exame físico, a numeração facilita muito as ex-
feita e, através desta perfeição, obter melhores índices, plicações necessárias a serem assinaladas nas linhas a
batendo recordes, ao lado da quase nula incidência de seguir.
lesões. A técnica perfeita, ao lado de um treinamento No exame biométrico, podemos assinalar: peso, altu-
bem programado, leva às grandes vitórias, sem a presen- ra, altura tronco-encefálica, comprimento dos membros
ça das temíveis lesões atléticas típicas. superiores e inferiores (MSD — MSE — MID — MIE), períme-
Hoje sabemos que os recordes continuarão a ser ba- tros dos braços com e sem flexão do bíceps (PBDE –
tidos se promovermos: seleção ideal do esporte — anali- PBDF — PBEE – PBEF), distância biacromial (BIACR), dis-
se inicial basal do atleta — análise inicial específica em tância bitrocantérica, altura do tórax, distância ântero-
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J.G. CARAZZATO

posterior, capacidade vital e medidas dinamométri-


DEPARTAMENTO DE MEDICINA ESPORTIVA
cas. As medidas devem ser assinaladas em centíme-
tros.
FICHA MÉDICO-ESPORTIVA A capacidade vital deve ser medida se possível
IDENTIFICAÇÃO Registro n°
em aparelhos com impressão automática. As medi-
Nome Data do Nascimento
das dinamométricas, apesar de sujeitas às falhas
Sexo Cor Estado Civil Esporte naturais dos dinamômetros encontrados no país,
Profissão Local Nascimento Procedência
ANTECEDENTES MÓRBIDOS
infelizmente não podem ser substituídas por apare-
DIFTERIA CHAGAS S.NERVOSO OSTEOPATIAS
lhos sofisticados, como o Cybex, o qual proporcio-
ESCARLATINA MALÁRIA A.Cardiocirculatório ARTROPATIAS naria medidas exatas por computador, como temos
REUMATISMO ESQUISTOSOMOSE A.RESPIRATÓRIO MIOPATIAS
verificado em análises de atletas aqui em São
HEPATITE D.VENÉREAS A.DIGESTIVO CIRURGIAS
GLOM.NEFRITE OBESIDADE A.GÊNITO URINÁRIO VACINAÇÕES Paulo.
TBC ÓRGÃOS SENTIDOS A segunda ficha, "quadro evolutivo do atle-
ta", apresenta de maneira muito simples apenas a
pressão arterial, altura, peso, capacidade vital e
dois testes dos mais simples (Ruffier e Harvard) e
pode ser completada por outros testes mais comple-
xos e sensíveis.

ANTECEDENTES PESSOAIS - HÁBITOS


II — Terapêutica
FUMO DOSE Cig. ÁLCOOL DOSE ALIMENTAÇÃO
ATIVIDADES FÍSICAS DIÁRIAS: TABALHO hs. TIPO SONO hs.
Esta segunda grande área da MEDICINA ESPOR-
ESTUDO hs. ATLETICA hs. X Sem. TIVA ocupa, no Brasil, o maior espaço. Nossos prin-
HABILIDADES DANÇA NADA GUIA AUTO OUTROS
SEXO: C M
cipais recursos, como ocorre na MEDICINA em ge-
CICLO MESTRUAL: MENARCA aI D Q P +P ral, são destinados à parte terapêutica.
ALTERAÇÕES COM O ESPORTE MELHOR FASE PIOR FASE
A área terapêutica se divide fundamentalmen-
ANTECENENTES ESPORTIVOS FAMILIARES:
ESPORTES FORMA TÍTULOS te na parte clínica propriamente dita e na parte or-
PAI
topédica.
MÃE
ANTECEDENTES ESPORTIVOS: Na área clínica, temos não só os distúrbios
IDADE INÍCIO: a MODALIDADE de ordem genérica que qualquer indivíduo pode ter
ESPORTE ATUAL COMPLEMENTARES
(indisposição no aparelho gastrintestinal, por exem-
RESULTADOS OBTIDOS:
plo), como também os específicos [problemas de
vias aéreas superiores comuns nos atletas pratican-
tes de esportes aquáticos (natação, pólo, saltos or-
namentais, etc.)].
Toda a terapêutica deve ser voltada para conse-
guirmos restitutio ad integrum em menor tempo
EXAME FÍSICO:
possível.
P.A. PELE CORAÇÃO
É na área da traumatologia esportiva que deve-
VARIZES
PULSO DENTES PULMÕES COLUNA mos determinar as causas que levaram a lesão, bem
POSTURA GÂNGLIOS ABDOMEN JOELHOS como estabelecermos em seqüência: fisiopatologia,
MUSCULATURA OROFARINGE O.GENITAIS PÉS
TIREÓIDE REPLEXOS OUTROS
perfeita semiologia, diagnóstico preciso e claro, te-
ASPECTO GERAL
IDADE CRONOL. rapêutica específica e, com isso, evitarmos as com-
plicações que poderão tirar as chances do atleta
chegar a ser um campeão.
Basicamente, a terapêutica pode ser emprega-
da tanto nas patologias que vão sendo adquiridas
como naquelas preexistentes.
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MEDICINA ESPORTIVA; NOÇÕES BÁSICAS PARA O ORTOPEDISTA

Departamento Médico-Esportivo

Para tanto, nota-se a importância das avaliações ini- É assim também que o pediatra aconselha a práti-
ciais e sucessivas, quando pequenos problemas podem ca da natação as crianças com problemas respiratórios,
ser detectados e eliminados sem grandes dificuldades, como bronquite crônica, por exemplo.
ao contrário de levarem a lesões graves e quase irrever- É ainda assim que o endocrinologista exige o exercí-
síveis. cio físico a ser executado metodicamente pelo obeso,
ou ainda consegue promover uma grande diminuição
Pequenos distúrbios articulares localizados ou hipo-
da administração de insulina exógena nos diabéticos que
trofias regionais podem, se detectados precocemente e
fazem atividade física.
se trabalhados, evitar o aparecimento precoce de lesões.
Sabemos também dos grandes benefícios consegui-
É nesta área que colocamos a MEDICINA ESPORTIVA con-
dos através da prática desportiva nos pacientes com para-
junta, tanto preventiva quanto terapêutica.
lisia cerebral, seqüelas de lesão do sistema nervoso cen-
Em outro artigo, a ser publicado, detalharemos os tral e com paraplegia.
princípios básicos da Traumatologia Esportiva. Também sabemos da grande utilização da prescrição
médica através do exercício físico para os distúrbios psí-
É também nesta área que podemos colocar as diver-
quicos e os viciados em drogas e alcoolismo. A descar-
sas patologias dos diferentes aparelhos corpóreos que
ga psíquica através do ato esportivo e considerada de
podem beneficiar-se muito com a prática da atividade
grande valia.
física.
Foram grandes os benefícios conseguidos na Euro-
É assim que o cardiologista prescreve exercícios físi- pa e EUA com a utilização da bicicleta ergométrica pa-
cos para os enfartados, após passar a fase aguda, ou pa- ra acelerar as hemodiálises dos pacientes com lesão re-
ra os hipertensos em fase compensada. nal crônica.

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J .G. CARAZZATO

Enfim, se formos buscar os diversos aparelhos cor- nizem como importante fator de saúde, trazendo com is-
póreos, vamos verificar que muitas patologias podem so grandes benefícios para seus pacientes.
ser melhor equacionadas através da prescrição de exercí- Junto às pessoas que militam no esporte (dirigentes,
cios pela MEDICINA ESPORTIVA, a qual, ainda, bem di- técnicos e atletas), deve-se demonstrar os grandes benefí-
mensionada, poderá brevemente evitar que estas patolo- cios que os atletas podem usufruir com o auxílio da ME-
gias ocorram pelo simples efeito preventivo adquirido DICINA ESPORTIVA, não só na sua selação inicial, no con-
pela prática da atividade física em toda a existência de trole do seu treinamento e no tratamento especializado
cada indivíduo. de suas lesões, para que tenhamos um esporte competiti-
III — Educativa vo mais saudável, mas também para que os atletas pos-
A terceira grande área de atividade da MEDICINA ES- sam competir durante um período maior com melhores
PORTIVA situa-se na parte educativa. resultados.
A parte educativa pode ser exercida em três campos: Finalmente, dentro da população em geral, mostran-
entre os médicos em geral; entre a população desporti- do a importância da atividade física como componente
va; entre a população em geral. do ‘‘trabalhar ou estudar”, ‘‘alimentar-se”, ‘‘dormir”
Dentro da medicina, cabe ao médico especializado e ‘‘fazer esporte”, definindo a atividade física como es-
difundir, entre seus colegas, a importância de sua espe- sencial, devendo ser praticada por todos desde o nasci-
cialidade e, em particular, mostrar os reais benefícios mento até os últimos dias de vida, desde que bem indica-
obtidos com a atividade física, ampliando cada vez mais da, e de forma competitiva, se possível, desde que seja
o número de profissionais da área de saúde que a preco- no esporte ideal e iniciando-se em idade correta.

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