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UNIVERSIDADE FEDERAL DO DELTA DO PARNAÍBA

Campus Ministro Reis Veloso I Bacharelado em Fisioterapia - UFDPar


Prof. Lorena Almeida de Melo
Discente: Francisco Nélio Sampaio de Souza
Disciplina: Estágio em práticas assistidas

Resumo do artigo: Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e novas


responsabilidades profissionais.

O Sistema Único de Saúde (SUS) busca promover a universalidade,


integralidade e equidade para os todos os indivíduos. Com o passar da sua
evolução, paralelamente, às necessidades no âmbito da atuação profissional
apresentam suas principais necessidades relacionados ao campo de atuação e
perfil epidemiológico. A essência da fisioterapia possui um caráter reabilitador e
curativo. Sua ascensão vem dos fatores históricos de guerras, acidentes de
trabalho e perda funcionais em pessoas com idades produtivos, a partir daí
surgiram os chamados centros de reabilitação com o fito de tratar as
incapacidades físicas dos acometidos. Em 1969, a fisioterapia tornou-se
profissão de nível superior no Brasil. Antes disso, era apenas uma formação a
nível técnico.
A partir da análise de Rebellato e Botomé, foram observadas diversas
limitações tanto nas possíveis atuações como em outros níveis de atenção. Em
destaque, aponta-se uma restrição no que se refere a atuação do profissional
fisioterapeuta da forma geral da vida plena do paciente, alegando que a
atuação se limita apenas a preservação e restauração das capacidades físicas.
Com o passar do tempo esse aspecto limitador foi sendo rompido, de forma
que a fisioterapia vem promovendo saúde em diversos aspectos da saúde. O
artigo busca debater a respeito da atuação do fisioterapeuta e as novas
possibilidades tragas pelo SUS.
Novo perfil epidemiológico e os novos modelos assistenciais
O perfil epidemiológico é um fator imprescindível para identificar as principais
responsabilidades e dificuldades que são do papel do fisioterapeuta brasileiro.
A transição epidemiológica é um processo na qual a maioria dos países têm
passado, onde há alterações nos seus padrões de taxas de mortalidade,
morbidade e invalidez. O que caracteriza a transição demográfica brasileira é o
aumento do crescimento populacional, o aumento da taxa de urbanização e a
expectativa de vida cada vez mais crescente. Ressalta-se a questão nutricional
na qual interfere sobremaneira no perfil epidemiológico de uma sociedade. O
Brasil apresenta mudanças significativas no perfil da população, com a
superação da fome endêmica e epidêmica e o aumento nos casos de
obesidade, fazendo com que o principal alerta saia da fome e desnutrição, e
passe a ser a obesidade. Oriundo desta mudança, gera preocupações em
relação a hipertensão, hipercolesterolemia, diabetes que são problemas que
possuem a obesidade como um dos principais fatores de risco.
Houve uma diminuição nas taxas de mortalidade por doenças infecciosas e
parasitárias na população brasileira no decorrer do século XX, além disso
houve um aumento dos casos de óbitos por doenças do aparelho circulatório
(DAC), por doenças neoplásicas (NEO) e por causas externas (CE).
Diferente do perfil de mortalidade, o de morbidade não se transformou na
mesma cadência. Atualmente, o perfil de morbidade caracteriza-se pela
superposição entre as cargas de DIP e as DAC, NEO e CE. Somado a esses
aspectos epidemiológico, estão outras razões ideológicas, econômicas e
políticas, na qual tem motivado a reestruturação dos modelos de atenção à
saúde e consequente reformulações das responsabilidades e da atuação do
fisioterapeuta. Um dos principais objetivos da análise de Paim é a reforma de
organização dos serviços de saúde no Brasil. Na qual é identificado dois
principais modelos de atenção à saúde, o modelo médico-assistencial privatista
e o modelo sanitarista.
Entretanto, as reais necessidades da população acabam muitas vezes não
sendo atendidas de forma satisfatória, uma vez que essas formas de
organização se apresentam limitadas e incapazes. Com o advento do SUS
perante essas limitações, surgem novas proposições de organização da
atenção à saúde, na qual possui uma fundamentação nos princípios da
universalidade, integralidade e equidade, e objetivando consolidar os
pressupostos do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira. A atenção básica,
não se refere somente a mais ao oferecimento de uma assistência primária,
constitui-se como eixo estruturante do sistema, devendo inclusive os outros
níveis de atenção serem planejados a partir das demandas emanadas desse
primeiro nível.Com o cenário demonstrado, cabe à fisioterapia a realização de
uma leitura de seus fundamentos e análise de sua prática, de forma que seja
visado a sua adaptação a realidade e necessidades da população, contribuindo
assim para que haja uma mudança do quadro social e sanitário do país. Com
base nos princípios propostos pelo modelo de vigilância à saúde, o profissional
fisioterapeuta deve ser inserido em outros níveis de atenção e assim
desenvolver suas ações de acordo as diretrizes da territorialização. A partir de
um estabelecimento do território e com a definição da população, o
fisioterapeuta terá a possibilidade acompanhar mais proximamente e ser
responsável pela saúde da população adscrita.
Fisioterapia coletiva: novo modelo de atuação profissional
- Figura 1.
Na Figura 1 apresenta a limitação que há na limitada área de atuação da
fisioterapia reabilitadora, vista na representação esquemática. A atuação na
fisioterapia reabilitadora é destinada à cura de determinadas enfermidades e/ou
a reabilitação de sequelas e complicações. Seu objeto de intervenção é o
sujeito individualizado, quando não, apenas partes ou órgãos isolados do
corpo. São impostas restrições na prática do profissional fisioterapeuta a partir
desta atuação direcionada apenas para o controle de danos que se limita a
atuação apenas quando a doença já está instalada e, na maioria dos casos, de
forma avançada. Os conhecimentos inerentes à fisioterapia também podem
contribuir para prevenção de doenças e sequelas, quando utilizados em outros
níveis de atenção. Com base no modelo da história natural da doença,
proposto por Leavell e Clark, existe uma hierarquização dos níveis de
prevenção em prevenção primária, secundária e terciária, onde cada uma será
caracterizada ao depender do momento da intervenção. Quando Relacionada a
atuação do fisioterapeuta com esses níveis de prevenção, observa-se uma
atuação destinada ao controle de danos (doenças, sequelas e agravos), ou
seja, restringindo-se ao nível da reabilitação. Com o passar dos anos, a
fisioterapia tem ampliado e aprofundado seus conhecimentos técnicos e
alargado sua área de atuação, a exemplo da acupuntura, estética, Pilates,
RPG, fisioterapia desportiva e fisioterapia respiratória, essa ampliação ocorreu,
majoritariamente, no nível terciário e acabou deixando de sem ênfase o nível
preventivo, o primário. Diversos são os desafios da sociedade brasileira, com
profundas mudanças na organização social, no quadro epidemiológico e na
organização dos sistemas de saúde, surge a necessidade do redirecionamento
do cunho preventivo da fisioterapia, que deve se aproximar cada vez mais do
campo da promoção da saúde e da nova lógica de organização dos modelos
assistenciais, sem abandonar suas competências referentes à reabilitação. A
fisioterapia reabilitadora possui como foco de atuação, quase que
exclusivamente, o controle de danos, seja buscando a cura de determinadas
patologias que restringem a locomoção humana, seja reabilitando sequelados
de doenças diversas ou desenvolvendo a capacidade residual funcional de
indivíduos que tiveram lesões irreparáveis de determinadas funções, vem a
fisioterapia coletiva atuando diretamente no controle de risco, ou seja, no
controle de fatores que potencialmente podem contribuir para o
desenvolvimento da doença. Os conhecimentos relativos à fisioterapia
tradicional ainda não são suficientes para os diagnósticos da situação/condição
de risco. Há necessidade de romper o isolamento e o individua lismo da prática
fisioterapêutica reabilitadora, emergindo uma nova lógica de atuação em
equipe multiprofissional e interdisciplinar. O profissional fisioterapeuta deve
interatuar não só com profissionais da área de saúde, como médicos,
enfermeiros, psicólogos, agentes comunitários de saúde, nutricionistas, como
também com profissionais de outras áreas do saber, como antropólogos,
estatísticos, engenheiros, educadores, dentre outros. Dessa forma, destaca-se
que o modelo da fisioterapia coletiva não se limita as visas ações de cura e
reabilitação na qual são características da fisioterapia reabilitadora, mas sim
sonora a esta habilidade novas possibilidades de atuação do fisioterapeuta
frente referente ao atual quadro sanitário e da nova formatação da organização
do SUS. Há a necessidade da fisioterapia necessita romper com as barreias do
modelo biologicista-curativo em que sempre se apoiou e se aproximar da
saúde coletiva-preventiva. Haverá novas reflexões sobre o papel da fisioterapia
no atual quadro epidemiológico e na nova lógica de organização dos serviços
de saúde a partir da adesão entre a fisioterapia e a saúde coletiva. Assim,
potencializa-se a redefinição epistemológica do campo científico da profissão.
Fisioterapia E atenção básica: novas possibilidades de atuação.
A partir da Definição de eixo central de reestruturação do modelo assistencial
brasileiro para atenção básica, foram impostas alterações na lógica de
organizar os serviços e também nos aspectos da atuação dos profissionais da
área da saúde. Há um rompimento do curativismo do modelo em vigor a partir
do novo modelo de atuação, reestruturando e articulando a assistência com
ações de promoção da saúde, controle de risco e prevenção de doenças.
Ressalta-se os enfoques nas ações intersetoriais, visto da incapacidade do
setor saúde de reverter, isoladamente, os determinantes mais gerais e
estruturais das condições de vida. Entretanto, tais determinantes se
transformarão com a articulação dos diversos setores do governo e da
sociedade, como infraestrutura, economia, educação e habitação, em ações
desenvolvidas na qual haja uma significativa participação da sociedade. A
ampliação da capacidade do sistema, com garantia do acesso à atenção
primária, secundária e terciária, sem perder de vista as ações promocionais e
de controle são necessárias para que possa se atingir a assistência integral.
Entretanto, diversas dificuldades foram apresentadas por municípios em
relação a garantia do da população aos outros níveis de assistência,
especialmente no nível secundário. Os municípios de pequeno e médio porte,
têm conseguido de forma parcial, ampliar a cobertura do Programa de Saúde
da Família, mas, têm encontrado situações difíceis no sistema regionalizado de
referência e contrarreferência que garanta uma assistência integral à
população. De acordo com Alves, com a expansão do PSF houve um
significativo favorecimento da equidade e universalidade principalmente no que
se refere à assistência, uma vez que foram realizadas as implantações de
equipes em comunidades antes restritas quanto ao acesso aos serviços de
saúde. Mesmo com esse benefício, a integralidade das ações continua sendo
um fator na qual necessidade de mais reforços dentro do sistema de saúde.
Vigilância dos distúrbios cinesiofuncionais
A vigilância dos distúrbios cinesiofuncionais é constituído em subárea da
vigilância que trata da epidemiologia, possui em sua responsabilidade o
acompanhamento e monitoramento da integridade físico-funcional e dos
distúrbios referentes à locomoção humana. É na atenção básica e com a
participação e atuação do fisioterapeuta que essas ações de vigilância devem
ocorrer, ou fazendo parte da equipe de saúde da família ou interatuando com
essa. A equipe de vigilância tem a responsabilidade pela saúde cinesiológica e
funcional de determinadas populações em territórios definidos. Com base no
que predomina no cenário epidemiológico, existem condições na qual
apresentam maior potencial para a limitação da capacidade funcional das
populações, como por exemplo as patologias do aparelho cardiocirculatório, às
causas externas e principalmente ao aumento da população idosa. As doenças
que geralmente deixam sequelas que levam à limitação da locomoção humana
ou incapacidade física são as relacionadas as cerebrovasculares. Além disso,
os episódios de violência, especialmente os acidentes de tráfego, além de
produzirem considerável número de óbitos, possuem grande poder
incapacitante. Um fator que necessidade de uma especial atenção é em
relação a saúde das pessoas com idades avançadas, a virtude da longevidade
traz limitações na funcionalidade do aparelho de locomoção, restringindo assim
a deambulação e marcha dos idosos. Essa situação torna-se digna de ser
monitorada, visto que a restrição à mobilização dos idosos pode gerar uma
série de outras doenças. Logo, o objetivo da vigilância e do acompanhamento
dos distúrbios cineticofuncionais é fornecer dados e informações relevantes
para as equipes de saúde. Todavia, essa vigilância não deve se limitar a penas
as restrições da atenção básica.
Orientações posturais
No que se refere a postura, é necessário que seja difundida em âmbito coletivo
não apenas como questão estética, mas como um fator que corrobora para que
o indivíduo tenha uma vida saudável, além de ser fator preventivo para
diversas doenças. Dentro da atenção básica, é interessante que o
fisioterapeuta deve atue preferencialmente com grupos populacionais,
passando orientações sobre as posturas mais adequadas para cada grupo ou
para cada situação do cotidiano. A prática da educação em saúde não deve e
não pode ser entendida como ação vertical e unidirecional, do profissional que
sabe para a população que não sabe. É necessário levar em consideração os
costumes, hábitos e cresças dos pacientes na hora de pôr em prática o
processo de educação e orientação postural. Nessa vertente, quando se trata
das possíveis atuações do fisioterapeuta na orientação postural, na atenção
básica, destaca-se a atuação em grupos de escolares, de gestantes e de
idosos. O adequado é que desenvolvimento de hábitos posturais saudáveis
comecem ainda na fase da infância. Perceber e ter a conscientização da
postura corporal, acompanham o indivíduo durante toda vida, desenvolvendo
nos cidadãos consciência da própria postura. A gestação caracteriza-se como
um período que gera importantes repercussões na postura corporal, na marcha
e no retorno venoso, em sequência pode-se desencadear dores lombares e
desconforto respiratório. Neste caso o fisioterapeuta orienta quanto às posturas
corporais, auxilia e prescreve exercícios de alongamento, relaxamento e auxílio
ao retorno venoso, orientações sobre exercícios respiratórios, além de
incentivo ao aleitamento materno e orientações dos cuidados com o bebê.
Dentro da atuação do fisioterapeuta no tratamento da pessoa idosa na atenção
básica, é possível desenvolver ações relacionadas à melhoria da postura, o
estado físico-funcional, além de estimular o desenvolvimento da autoestima e
bem-estar. Deve ser trabalhado com grupos de idosos, exercícios de
relaxamento, alongamento e auxílio ao retorno venoso, caminhadas e
atividades físicas moderadas, orientação quanto ao posicionamento adequado
do mobiliário do lar, banheiros e etc.
Desenvolvimento da participação comunitária
O envolvimento e a participação da comunidade é um importante instrumento
para o aumento dos níveis de saúde. É de extrema importância que
fisioterapeuta atue no âmbito comunitário, promovendo assim a estimulação da
participação da co- munidade nas questões relacionadas à saúde. A
valorização da saúde individual e coletiva e conscientizar a população é
despertada a partir da participação coletiva nos tratamentos. Em conjunto com,
com os demais componentes da equipe, o fisioterapeuta deve estimular a
criação desses conse- lhos, tendo como referência uma unidade básica de
saúde, com população e território adscritos.
Os conselhos locais de saúde devem ser compostos por representantes dos
usuários do sistema de saúde, dos profissionais de saúde e dos gestores, e
devem ter o fito de debater a respeito dos principais problemas de saúde da
localidade, idealizar estratégias a serem colocadas em prática em nível local.
Desenvolvimento de ambientes saudáveis e incentivos a estilos de vida
saudáveis
Em conjunto com os indivíduos, as famílias e a comunidade, o fisioterapeuta
atua diretamente na construção de ambientes saudáveis na qual objetivam
promover condições dignas de vida e saúde. É necessário que o fisioterapeuta
promova a conscientização e a mobilização da população em defesa de
moradias dignas, como abastecimento de água, esgotamento e tratamento dos
dejetos sanitários, coleta de lixo e pavimentação de ruas, sensibilizar a
comunidade para a preservação do meio ambiente, além de estar atento para
os níveis de educação, lazer e condições de trabalho da população. Além disso
o fisioterapeuta ajudará no desenvolvimento de habilidades e hábitos pessoais
como por exemplo O incentivo à prática da atividade física diária, adoção de
hábitos alimentares saudáveis; combate ao tabagismo, ao álcool e às drogas
ilícitas, educação sexual para jovens e adultos e entre outros.
Considerações finais
Os profissionais encontrarão diversas dificuldades para atuação na atenção
básica e no desenvolvimento de atividades preventivas e promocionais.
Destaca-se a imensa demanda por assistência em reabilitação como fator
limitante para o exercício em outros níveis. A dificuldade de acesso da
população aos níveis secundários de assistência ocorre também nos serviços
de fisioterapia, o que corrobora diretamente no agravamento da saúde motora
e físico-funcional. As limitações de desenvolvimento de outras atividades no
nível primário são causadas principalmente por esse atendimento dessa
demanda que por muitas vezes se torna deprimida. É de responsabilidade do
fisioterapeuta e da equipe de saúde, o planejamento e desenvolvimento de
estratégias que abrangem tanto as ações de reabilitação, que não podem
deixar de ser deixadas de lado, quanto as ações de promoção da saúde e
prevenção de doenças, na qual gera um imensurável impacto positivo na saúde
comunitária. A atuação do fisioterapeuta na atenção básica tem a capacidade
de transformar positivamente a realidade social e epidemiológica. A
integralidade à assistência deve ser garantida pelo profissional da fisioterapia
em consonância com equipe multidisciplinar na qual ele está inserido.
Seguindo assim, as estratégias de territorialização e características da
população. De forma preferencial, a atuação deve acontecer de maneira
coletivo com o envolvimento e a participação da população. As ações devem
ser articuladas com variados setores da sociedade e dos governos devem estar
envolvidos nas ações desenvolvidas. Logo, é destacado a importância da
formação profissional para consolidação do modelo de fisioterapia coletiva. É
de posse do profissional fisioterapeuta a formação curativa, biologicista e na
qual é pautada e baseada em princípios flexnerianos, sendo assim o
condiciona as concepções e as práticas referentes a fisioterapia de cunho
reabilitadora.

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