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Fundamentos da fisiologia do exercício

para populações especiais

Apresentação
A atividade física já é considerada um dos principais fatores de risco modificáveis para o
desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes melito, além de contribuir para
o seu tratamento. Ela é uma das principais estratégias comportamentais para a promoção da saúde
e da longevidade, influenciando diretamente no processo de envelhecimento. Devido à crescente
prevalência dessas condições, cada vez mais é necessário que os profissionais de saúde se
especializem em suas respectivas áreas, ampliando o seu entendimento sobre populações especiais.
Na área da prescrição de exercício, além do entendimento da fisiopatologia da doença, é
fundamental se aprofundar em fisiologia do exercício, a fim de promover um trabalho mais eficaz e
seguro.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a importância do conhecimento em fisiologia


do exercício para trabalhar com grupos especiais, além de conhecer quais indivíduos se enquadram
nessa classificação. Você também vai compreender as principais alterações existentes em cada uma
dessas condições que justificam o papel do exercício físico no seu tratamento. Além disso, vai
conhecer as condutas realizadas no atendimento e na prescrição para esses indivíduos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer a fisiologia do exercício como ferramenta de auxílio na prescrição e na montagem


do programa de exercícios.
• Apresentar os efeitos fisiológicos de base para interpretação das necessidades do exercício
físico.
• Discutir as condutas iniciais para o atendimento e a prescrição do exercício.
Desafio
Atualmente, devido ao aumento da prevalência e da incidência de doenças crônicas, cada vez mais
os profissionais de educação física estão recebendo no seu dia a dia indivíduos que necessitam de
cuidados especiais durante a prescrição de exercícios.

Você é um profissional especializado em fisiologia do exercício e atua em uma academia


especializada em grupos de risco. Nesta semana, você recebeu o Sr. J.L., de 63 anos, que deseja
iniciar um programa de exercícios.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Diante do quadro e com base nos dados apresentados:

a) Elabore um programa de um mês de treinamento para o Sr. J.L. Descreva os critérios utilizados
para justificar cada uma das prescrições, ou seja, tipo(s) de exercício(s), frequência semanal e
intensidade; além disso, indique as principais preocupações e os cuidados que devem ser tomados
durante a prescrição de exercícios para esse indivíduo, levando em consideração sua idade, as
condições que apresentou e o medicamento que utiliza.

b) Descreva a importância do conhecimento específico da fisiologia no atendimento desse caso


para o profissional de educação física.
Infográfico
A obesidade está associada com muitas doenças e deficiências. As intervenções médicas que
produzem mais efeitos positivos estão relacionadas a auxiliar os indivíduos obesos a conseguir e
manter uma perda de peso que seja significativa do ponto de vista médico. Dessa forma, a
obesidade não pode ser vista apenas como questão social ou moral, ou até mesmo relacionada a
padrões estéticos: é preciso ter em mente que ela se torna ponto central na gênese de várias
condições patológicas, sendo, portanto, uma urgência em saúde pública.

O Infográfico a seguir apresenta a obesidade como fator de risco para a saúde e aponta algumas
doenças a ela associadas.
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Conteúdo do livro
O exercício físico influencia no funcionamento do organismo e no modo como ele se adapta às
diferentes demandas que lhe são impostas. No trabalho com grupos especiais, observam-se
características específicas de cada grupo que exigem maior conhecimento sobre essa área, a fim de
promover a prescrição e a orientação correta, com o máximo de segurança e resultado. Dessa
forma, tais conhecimentos são utilizados para desenvolver e implementar programas de prática de
exercícios para aqueles que vão se beneficiar do método.

No capítulo Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais, da obra Estudo do


movimento III: fisiologia do exercício, você vai conhecer a importância da fisiologia para o trabalho
com grupos especiais, além de reconhecer as principais alterações fisiopatológicas que ocorrem nos
diferentes grupos especiais. Por fim, vai identificar os procedimentos básicos utilizados no
atendimento e na prescrição para esses indivíduos.

Boa leitura.
ESTUDO DO
MOVIMENTO III:
FISIOLOGIA DO
EXERCÍCIO

Gustavo Leite Camargos


Fundamentos da fisiologia
do exercício para
populações especiais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a fisiologia do exercício como ferramenta de auxílio na


prescrição e montagem do programa de exercícios.
 Apresentar os efeitos fisiológicos de base para interpretação das ne-
cessidades do exercício físico.
 Discutir as condutas iniciais para o atendimento e prescrição do
exercício.

Introdução
Para aqueles que trabalham com a prescrição de exercício físico, o co-
nhecimento em fisiologia do exercício é altamente necessário, pois é
extremante importante conhecer a ampla gama de respostas ao exercício,
incluindo aquelas que ocorrem no âmbito de uma determinada classe
de doenças, bem como entre as diferentes condições especiais.
Neste capítulo, você conhecerá a importância do conhecimento em
fisiologia do exercício na prescrição e aplicação de programas de exercício
físico com ênfase em grupos especiais. Assim, ampliará seu conhecimento
sobre as principais modificações fisiológicas ocorridas nas condições
especiais apresentadas, compreendendo o possível papel do exercício
no seu tratamento. Além disso, conhecerá as principais condutas para
o atendimento às respectivas populações especiais, com destaque para
suas individualidades e aspectos mais importantes.
2 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

A fisiologia na prescrição e montagem


de programas de exercícios
O conhecimento em fisiologia do exercício é essencial para compreender quais
são as demandas impostas ao organismo, dependendo dos tipos e métodos de
treinamento utilizados, e quais poderão ser as respostas e adaptações provo-
cadas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). A aptidão física é um estado
de funcionamento corporal caracterizado pela capacidade do indivíduo em
tolerar o estresse do exercício. Como diferentes tipos de exercícios envolvem
diferentes capacidades para serem realizados, a aptidão física abrange um
conjunto de componentes, como força, potência e resistência musculares,
a resistência cardiorrespiratória, a flexibilidade, a composição corporal e a
agilidade. E para promover melhorias nesses componentes da aptidão física, é
importante conhecer antes de mais nada quais são as variáveis relevantes e as
relações de estímulos necessários para promover as modificações (POWERS;
HOWLEY, 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Apenas assim é
possível estabelecer um diagnóstico correto das necessidades do indivíduo
(EHRMAN et al., 2017).
Quando trabalhamos com grupos especiais, esses conhecimentos se tornam
ainda mais urgentes, pois estamos lidando com indivíduos que apresentam
algum problema de saúde ou alguma condição de caráter irreversível que
pode interferir diretamente na prática esportiva, ou que exigem cuidados
específicos para participarem de algum programa de exercício físico. Nesse
contexto, podem ser incluídos idosos e indivíduos com alguma condição
cardiovascular ou alteração metabólica como diabetes, obesidade e câncer
(ROBERGS; ROBERTS, 2002; ACSM, 2018).
Para cada uma das condições citadas, se torna importante compreender
as principais modificações fisiológicas associadas e como o exercício físico
deve ser prescrito, ou seja, quais são as principais diretrizes de prescrição e as
principais variáveis fisiológicas de controle e avaliação. Assim, é necessário
compreender, por exemplo, as principais modificações vasculares e neuromus-
culares no indivíduo idoso, a fim de promover uma prescrição adequada, que
permita adaptações específicas e melhora nas variáveis necessárias (POWERS;
HOWLEY, 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Além disso, o conhecimento das variáveis fisiológicas e de como elas se
comportam nas condições especiais permite o controle adequado da intensi-
dade do exercício. Em cardiopatas e hipertensos que usam betabloqueadores,
por exemplo, o exercício irá promover competição pela ligação de adrenalina
e noradrenalina nos receptores beta-adrenérgicos cardíacos, o que reduz a
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 3

frequência cardíaca (FC) e o vigor da contração miocárdica durante o esforço


físico. Assim, ter esse conhecimento é importante ao prescrever exercícios e
interpretar os resultados dos testes de esforço de indivíduos que tomam esse
tipo de medicamento, dentre outros (EHRMAN et al., 2017; ACSM, 2018).
Um fisiologista do exercício capacitado deve possuir ampla gama de co-
nhecimentos nas seguintes áreas: anatomia, fisiologia, química, biologia e
psicologia, além, é claro, do conhecimento sobre prescrição de exercício físico.
Os fisiologistas do exercício avaliam, planejam ou implementam programas
de condicionamento que incluem exercícios físicos destinados a melhorar
a função cardiorrespiratória, a composição corporal, a força e a resistência
muscular e a flexibilidade (EHRMAN et al., 2017).
Sendo assim, é possível afirmar que conhecimentos em fisiologia do exer-
cício para prescrição de programas permitem promover melhores resultados,
com base em análises de dados e levantamentos da condição de cada indivíduo.
Conhecer todas as respostas fisiológicas durante a realização de diferentes
modalidades e intensidades de exercícios permitirá ao profissional ser mais
assertivo na sua prescrição e, principalmente, prestar um trabalho de maior
qualidade, segurança e eficiência para seu aluno, cliente ou paciente, com
atenção especial aos indivíduos que possuem alguma condição especial ou
alguma doença diagnosticada (EHRMAN et al., 2017; POWERS; HOWLEY,
2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Efeitos fisiológicos para interpretação


das necessidades de exercício físico
Como já destacado, os grupos especiais englobam um conjunto de indivíduos
que apresentam alguma condição especial. A fim de promover uma melhor
organização e entendimento dessas condições, serão apresentadas as principais
alterações fisiológicas para as seguintes condições, nessa ordem: crianças e
adolescentes; envelhecimento; gestantes; diabetes melito; obesidade; doenças
cardiovasculares; doenças pulmonares; câncer; doenças neurodegenerativas;
transtornos mentais comuns.

Crianças e adolescentes
As crianças e adolescentes são fisiologicamente adaptáveis tanto aos treinamen-
tos aeróbicos quanto aos de força muscular (resistência). Para essa população,
o exercício físico contribui na redução dos fatores de risco cardiometabólicos,
4 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

auxiliando no controle do peso corporal, no aumento da força óssea e no


bem-estar psicossocial. Além disso, a atividade física (AF) e a aptidão física
parecem estar associadas positivamente ao melhor desempenho escolar e
cognitivo (ACSM, 2018).
Crianças apresentam menor eficiência ventilatória quando comparadas aos
adultos, além de possuírem menor amplitude e maior frequência de passadas.
Além disso, apresentam menores valores de capacidade aeróbica absoluta (l/
min) e menor capacidade de gerar potência muscular. As crianças pré-púberes,
quando comparadas às crianças púberes e aos adultos, possuem capacidade
limitada para aumentar a massa muscular, principalmente devido aos níveis
mais baixos de andrógenos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Envelhecimento
A partir dos 35–40 anos de idade, a tendência é que nossa capacidade fun-
cional comece a declinar, com a deterioração variando em qualquer idade,
porém sofrendo influências genéticas, sexuais e de estilo de vida de cada um.
Nosso pico de força muscular geralmente é alcançado entre os 20 e 40 anos,
quando, então, a força concêntrica da maioria dos grupos musculares começa
a declinar (MCARDLE; KATCH; KATCH TCH, 2018). A perda de força
sofre influência direta do nível mais baixo de AF em indivíduos idosos; no
entanto, a perda acelerada que ocorre entre os 60 e 80 anos de idade decorre
da própria perda de massa muscular, inerente ao envelhecimento, chamada
de sarcopenia (POWERS; HOWLEY, 2017).
Observa-se ainda que o ritmo de perda de força é maior nos membros
inferiores do que nos membros superiores, o que se torna uma preocupação por
elevar o risco de quedas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). No entanto, o
treinamento de força é capaz de promover alterações positivas, aumentando a
força muscular nos idosos de forma muito similar ao que ocorre em indivíduos
mais jovens (POWERS; HOWLEY, 2017). De fato, cargas equivalentes a 80%
de uma repetição máxima (1–RM) são capazes de promover tanto o aumento
de massa quanto de força muscular (Figura 1), indicando que os idosos apre-
sentam impressionante plasticidade nas características fisiológicas, estruturais
e relacionadas com o desempenho, mesmos que as capacidades de responder
aos sinais de crescimento muscular diminuíam com a idade (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).
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Figura 1. Plasticidade na resposta fisiológica de resistência em dutos mais


velhos: (a) corte transversal da coxa de idoso de 92 anos antes e (b) depois
de 112 semanas de treinamento de força. Houve aumento de 44% na área
magra de corte transversal.
Fonte: Adaptada de McArdle, Katch e Katch (2018).

A potência aeróbica máxima (VO2máx) declina com o passar dos anos, em


aproximadamente 1% ao ano (0,4–0,5 ml/kg) sendo influenciada por reduções
no nível de AF e aumento no percentual de gordura corporal. A manutenção
de programas de treinamento é útil para promover menores perdas no VO2máx
e maior cinética do consumo de O2 de forma semelhante para indivíduos
jovens, sendo necessário um tempo maior para ocorrer o efeito do treinamento
(POWERS; HOWLEY, 2017). Durante o envelhecimento, ainda se observam
outras alterações cardiovasculares, como o declínio da FC e do volume sistólico,
devido à diminuição do efluxo simpático ao coração, menor débito cardíaco
e redução na complacência das grandes artérias, com consequente elevação
da pressão arterial (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Gestantes
A gestação é marcada por modificações fisiológicas e anatômicas progressi-
vas. O organismo da grávida está constantemente tentando adequar as suas
demandas às necessidades do feto em desenvolvimento. Para isso, vários
mecanismos tentam manter um ambiente fisiologicamente estável. As principais
adaptações cardiovasculares e metabólicas à gestação incluem um aumento
do volume sanguíneo em torno de 40–50%, ligeiro aumento do consumo do
O2, aumento do gasto energético para exercícios com sustentação de peso,
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maiores valores para frequência cardíaca e aumento do débito cardíaco durante


os dois primeiros trimestres, com sua redução no terceiro trimestre, gerando
maior risco de hipotensão. Dessa forma, a implementação de um programa de
exercício físico deve levar em consideração essas modificações (POWERS;
HOWLEY, 2017).
De fato, gestantes sem contraindicações são orientadas a se exercitar ao
longo da gravidez, pois, além dos benefícios do exercício para essa população,
existe uma preocupação com os riscos a curto e a longo prazos associados ao
comportamento sedentário. Alguns dos benefícios incluem (ACSM, 2018):

 prevenção no ganho excessivo de peso durante a gestação;


 prevenção de desenvolvimento de diabetes melito gestacional;
 redução do risco de desenvolvimento de pré-eclâmpsia;
 redução dos sintomas de lombalgia;
 risco reduzido de incontinência urinária;
 prevenção e/ou melhora de sintomas da depressão;
 manutenção da aptidão física;
 prevenção de retenção de peso no pós-parto.

Atualmente, diversas evidências apontam para o benefício da prática de exercício físico


durante a gestação; no entanto, ainda existem barreiras que precisam ser quebradas,
tal como o temor de profissionais da saúde com o risco de complicações na gestação
devido ao exercício físico. Isso é lamentável, pois já é comprovado que a AF praticada
de forma regular está associada positivamente com a prevenção de várias condições
e melhora da qualidade de vida da gestante. Portanto, deve-se enfatizar a divulgação
dessas informações para o grupo de profissionais que atuam junto a essa população,
para que tenham real conhecimento sobre os riscos e benefícios da AF durante a
gestação (POWERS; HOWLEY, 2017).

Diabetes melito
Diabetes melito é um termo que abrange um grupo de doenças metabólicas
caracterizadas pela dificuldade de se produzir insulina suficiente ou de utilizá-la
de forma adequada, resultando em hiperglicemia. A insulina é um hormônio
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 7

produzido pelas células beta do pâncreas, e é extremamente necessária para


que os músculos, tecido adiposo e o fígado, consigam utilizar glicose. Os
tipos que mais acometem os indivíduos são o diabetes melito tipo 1 (DM1)
(5 a 15% dos casos) e o diabetes metilo tipo 2 (DM2) (90 a 95% dos casos)
(EHRMAN et al., 2017).
O DM1 é uma condição ocasionada principalmente pela destruição
autoimune das células beta do pâncreas, embora, em alguns casos, seja
idiopático. Pela ausência quase absoluta de insulina, o portador de DM1
tem grande tendência a desenvolver cetoacidose diabética por acúmulo de
cetonas (corpos cetônicos) devido a maior metabolismo de ácidos graxos.
Dessa forma, é prescrito insulina via injeções regulares (insulinodepen-
dentes). A cetoacidose diabética pode ocorrer principalmente se estiverem
descompensados e/ou quando a insulina encontra-se muito baixa ou o seu
uso não está correto. Os sintomas associados a essa condição incluem
dor abdominal, náusea, vômito, hálito com odor adocicado ou de fruta e
respiração acelerada ou profunda (taquipneico) (EHRMAN et al., 2017;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
O DM2 acomete principalmente indivíduos acima de 40 anos; no entanto,
atualmente observa-se um aumento da sua incidência em adolescentes. Essa
condição é complexa e multifatorial, manifestando-se geralmente com resis-
tência à insulina (RI) nos tecidos periféricos e/ou secreção diminuída de tal
hormônio (EHRMAN et al., 2017). Dessa forma, o organismo é incapaz de
utilizar a insulina de modo adequado, sobretudo nos músculos esqueléticos,
gerando uma sobrecarga do pâncreas, que aumenta a produção desse hormô-
nio. Uma vez que o pâncreas não consegue mais elevar essa produção para
compensar a RI, haverá a elevação da glicemia sanguínea (hiperglicemia)
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Os fatores que influenciam o risco de desenvolver o DM2 são genéticos,
a obesidade, principalmente central (circunferência de cintura maior que 102
cm nos homens e 89 cm nas mulheres), a idade, o sedentarismo e a presença
de hipertensão; além disso, a dislipidemia parece contribuir com a sua fisio-
patologia. De fato, 80% dos indivíduos com DM2 tem excesso de peso ou são
obesos (EHRMAN et al., 2017).
Indivíduos que apresentam obesidade central e RI frequentemente evoluem
para uma condição de pré-diabetes, marcada por hiperglicemia em resposta
a dietas carboidratadas (intolerância à glicose) e/ou glicemia plasmática em
jejum elevada (intolerância à glicose em jejum) (Quadro 1). Esses indivíduos
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apresentam risco elevado de desenvolver DM, uma vez que a capacidade de


secreção das células beta tende a diminuir com o tempo (ACSM, 2018). O
exercício físico é capaz de promover o aumento da sensibilidade à insulina e
melhora no transporte de glicose para as células musculares, por sinalização
celular via AMPK (POWERS; HOWLEY, 2017).

Quadro 1. Critérios diagnósticos para pré-diabetes e DM

Normal Pré-diabetes DM

HbA1c < 5,7% HbA1c = 5,7 a 6,4% HbA1c > 6,4%

GPJ < 100 mg.dl-1 GPJ = 100 a 125 mg.dl-1 GPJ > 125 mg.dl-1

GP de 2h < 140 mg.dl-1 GP de 2h = 140 GP de 2h > 199 mg.dl-1


a 199 mg.dl-1

HbA1c: hemoglobina glicada; GPJ: glicose plasmática de jejum; GP: glicose


plasmática.

Fonte: Adaptado de ACSM, (2018).

Obesidade
O sobrepeso e a obesidade são definidos com base na avaliação do índice
de massa corporal (IMC), correspondendo a 25–29,9 kg.m-2 e a 30 kg.m-2 ou
mais, respectivamente. Para todas as idades e etnias, ambas condições estão
associadas a um aumento no risco de diversas condições crônicas como doenças
cardiovasculares, DM, alguns tipos de cânceres e até alterações musculoes-
queléticas (EHRMAN et al., 2017; POWERS; HOWLEY, 2017; ACSM, 2018).
Embora o IMC seja utilizado para avaliar a obesidade, é necessária a rea-
lização de outras avaliações para corroborar o real estado do indivíduo, pois
esse dado isolado não leva em consideração sua proporção de massa gorda e
massa magra (Figura 2) (EHRMAN et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 9

Figura 2. Comparação entre dois homens com


mesma estatura e mesmo peso corporal, mas com
diferenças nas outras variáveis antropométricas.
Fonte: Adaptada de Ehrman et al. (2017).

O sobrepeso e a obesidade resultam de um balanço calórico positivo a longo


prazo, associado ao consumo e ao gasto energético (CE e GE, respectivamente);
portanto, entende-se que a redução do peso exige uma elevação do GE e uma
diminuição do CE a médio e longo prazos (ACSM, 2018). O GE envolve a taxa
metabólica basal (TMB), a termogênese dos alimentos e a prática de exercício/
AF. A primeira corresponde à velocidade do gasto energético mensurado em
condições padronizadas, e representa um gasto entre 60 a 75% do total de um
indivíduo sedentário, sendo maior em indivíduos mais jovens e, após os 20 anos,
diminui cerca de 2 a 3% por década em mulheres e homens, respectivamente.
Além disso, o aumento do percentual de gordura corporal e dietas restritivas
prolongadas contribuem para redução da TMB. A termogênese dos alimentos
corresponde a cerca de 10 a 15% do GE total, não sendo, portanto, um preditor
de obesidade quando se avalia o GE. Por fim, a AF e o exercício representam
um gasto de até 40% do GE diário. De fato, estudos mostram uma associação
inversa entre AF e o peso corporal, havendo melhor distribuição de peso em
pessoas fisicamente ativas (POWERS; HOWLEY, 2017).
10 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

Atualmente, admite-se que uma inflamação sistêmica crônica subclínica


está associada a uma gama de doenças crônicas como a hipertensão, car-
diopatias e acidente vascular encefálico, alguns tipos de câncer, condições
respiratórias, DM2 e síndrome metabólica. Essa inflamação é caracterizada por
aumento na concentração de citocinas inflamatórias como o TNFα, interleucina
6 (IL–6), interleucina 1β (IL–1β) e proteína C reativa (PCR). A quantidade
excessiva de tecido adiposo parece promover o aumento na concentração de
alguma dessas citocinas, o que poderia justificar o elo entre a obesidade e as
variadas doenças crônicas (POWERS; HOWLEY, 2017).

Em condições normais, células chamadas adipócitos sintetizam e armazenam lipídeos,


além de liberar hormônios anti-inflamatórios como a adiponectina. No entanto, essas
mesmas células possuem a capacidade de secretar citocinas inflamatórias. De fato, o
aumento dos adipócitos, principalmente viscerais, promove maior secreção de IL–6,
concomitantemente à redução de adiponectina. Além disso, macrófagos começam
a se infiltrar no tecido adiposo aumentado, contribuindo para uma inflamação local,
onde passam a secretar TNFα. O tecido adiposo passa então a liberar ácidos graxos
livres (AGL), juntamente com a IL–6 e o TNFα no fígado, que, em seguida, cairão na
circulação geral. Esses fatores inflamatórios estimulam o fígado a secretar a PCR, e esta
é usada como marcador inflamatório (POWERS; HOWLEY, 2017).

Doenças cardiovasculares
Os principais fatores de risco associados ao desenvolvimento de doenças
cardiovasculares (DCV) são sobrepeso e obesidade, comportamento seden-
tário e componente genético (EHRMAN et al., 2017). As DCVs mais comuns
englobam a insuficiência cardíaca (IC) e hipertensão arterial sistêmica (HAS)
(EHRMAN et al., 2017; POWERS E HOWLEY, 2017; ACSM, 2018; MCAR-
DLE; KATCH; KATCH, 2018).
Pacientes que sofrem de IC apresentam uma incapacidade cardíaca em
acompanhar as demandas metabólica dos órgãos e tecidos. Essa condição
está associada principalmente ao ventrículo esquerdo (VE), podendo ser
causada por falhas na função sistólica ou diastólica (EHRMAN et al., 2017).
Cerca de 60% dos casos de IC estão associados a doença cardíaca isquêmica
(DCI), ou seja, aterosclerose coronariana, gerando infarto do miocárdio (IM),
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 11

além de consumo crônico de álcool, hipertensão a longo prazo, disfunções


das válvulas cardíacas, infecções virais e/ou outros fatores desconhecidos
(EHRMAN et al., 2017).
Essa condição gera várias adaptações fisiológicas e mudanças compen-
satórias associadas à disfunção do VE. De forma resumida, podem ocorrer
reduções da fração de ejeção, aumento da massa do VE, com volume diastólicos
e sistólicos finais elevados (insuficiência sistólica) ou diminuídos (insuficiência
diastólica), edemas ou retenção de líquido tanto pelo aumento da pressão dias-
tólica quanto pela ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAA)
e ainda um desequilíbrio do sistema nervoso autônomo, podendo promover
inibição da atividade parassimpática e aumento da atividade simpática, que
promove maior resistência periférica, além da diminuição da secreção de óxido
nítrico (NO) e aumento de endoteliana–1 (EHRMAN et al., 2017). O treina-
mento físico é amplamente reconhecido como um complemento extremamente
importante na terapêutica para o atendimento de indivíduos com IC crônica e
estável, promovendo melhoras no VO2pico, na função hemodinâmica central,
na regulação do sistema nervoso autônomo, na função vascular periférica e
no aumento da capacidade oxidativa do músculo esquelético dos membros e
da musculatura respiratória (ACSM, 2018).
A HAS é considerada, atualmente, a doença cardiovascular mais comum,
afetando milhões de pessoas pelo mundo. Segundo as diretrizes internacionais,
a HAS é diagnosticada quando o indivíduo apresenta pressão arterial sistólica
(PAS) em repouso maior que 139mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD)
superior a 89mmHg, confirmadas por no mínimo duas medições em pelo menos
dois dias separados, ou pela ingestão de algum medicamento anti-hipertensivo
(EHRMAN et al., 2017; ACSM, 2018).
Os fatores patogênicos que contribuem para a HAS estão associados a
aumento do débito cardíaco, da resistência periférica total (RPT) ou de ambos,
sendo mais comumente associada ao aumento da RPT (EHRMAN et al.,
2017). A manutenção de valores pressóricos elevados causa lesão no endotélio
vascular, contribuindo para o processo de aterosclerose, elevando a RPT. Dessa
forma, ocorre aumento da pós-carga cardíaca, o que contribui para remodelação
hipertrófica do VE, que, como já descrito, é uma das principais causas de IC.

Doenças pulmonares
As alterações pulmonares podem ser subdivididas em condições obstrutivas,
em que há dificuldade do fluxo de ar pulmonar, ou restritivas, em que há
redução das dimensões pulmonares (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
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A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) envolve um conjunto de


doenças do trato respiratório que geram obstrução ao fluxo de ar, sendo as mais
comuns o enfisema e a bronquite crônica, que se manifestam mais frequen-
temente em indivíduos tabagistas crônicos; seus sintomas incluem dispneia,
hipercapnia, tosse persistente e cianose. Atualmente a asma não é considerada
uma DPOC; no entanto, suas condições ventilatórias se assemelham a uma,
e, por isso, será discutida juntamente com as DPOCs (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018).
O enfisema é caracterizado por um aumento permanente e anormal dos
bronquíolos e alvéolos, devido à destruição do parênquima pulmonar sem a
presença de fibrose. Os indivíduos enfisematosos costumam apresentar uma
baixa capacidade física e sensação de dispneia extrema mediante esforços físi-
cos. Já a bronquite se manifesta como uma inflamação que, quando prolongada,
pode levar a bronquite crônica. Essa inflamação pode ser desencadeada por
agentes irritantes como a fumaça do cigarro. As membranas mucosas tendem a
se dilatar, o que eleva a produção de muco, obstruindo as veias respiratórias e
gerando a tosse crônica típica desses pacientes. Assim como no enfisema, esses
indivíduos apresentam capacidade funcional reduzida, podendo apresentar
fadiga mesmo em esforços mais leves (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Estudos tem demonstrado que, além das alterações pulmonares, a DPOC
contribui para a disfunção da musculatura esquelética, o que poderia, por sua
vez, contribuir para a intolerância aos exercícios nesses indivíduos. Biopsias
de músculos de pacientes com DPOC demonstraram uma menor proporção
de fibras do tipo 1 (oxidativas), o que poderia ser justificado pela hipoxemia
crônica (baixa concentração de O2 no sangue) (MCARDLE; KATCH; KA-
TCH, 2018).
Por sua vez, a asma é uma condição que acomete vários indivíduos ao
redor do mundo, caracterizada por uma inflamação e hipersensibilidade das
vias aéreas inferiores, gerando broncoconstrição. É uma condição crônica que
gera episódios recorrentes de falta de ar, sibilo, dor no peito e tosse, estando
associada a uma ampla variação de obstruções, frequentemente reversíveis.
Assim, observa-se sintomas característicos da DPOC (EHRMAN et al., 2017;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Algumas metanálises sugerem que o
exercício pode ser benéfico, demonstrando melhora na quantidade de dias
sem sintomas de asma, na capacidade aeróbica, na taxa de trabalho máxima,
na tolerância ao exercício e na ventilação-minuto pulmonar (POWERS; HO-
WLEY, 2017; ACSM, 2018).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 13

Uma atenção especial deve ser dada ao indivíduo com asma, pois os sintomas podem
ser provocados ou piorados pelo exercício, uma condição associada à broncoconstrição
induzida pelo exercício (BIE), chamada de asma induzida pelo exercício (AIE). Uma
forma de minimizar essa condição é evitar a realização de exercícios em ambientes
frios e secos, bem como com alto nível de poluição (ACSM, 2018).

Por fim, as doenças pulmonares restritivas (DPR) se caracterizam por uma


redução na mobilidade do tórax, pois os tecidos pulmonares ficam enrijeci-
dos, opondo-se à expansão torácica. Essa resistência aumentada exige maior
realização de força da musculatura inspiratória para manter uma ventilação
adequada. Dessa forma, o custo energético da ventilação se eleva, podendo
corresponder a até cerca de 50% da demanda total de O2 durante a AF. Das
condições de DPR, a que mais parece se beneficiar pela prática de exercício
físico é a doença pulmonar intersticial (fibrose pulmonar) (MCARDLE; KA-
TCH; KATCH, 2018).

Câncer
O câncer engloba um grupo de doenças caracterizadas por um crescimento
descontrolado de células anormais. Dentre as consequências mais sérias para
o sobrevivente do câncer, podemos destacar a perda de massa corporal e o seu
estado funcional, incluindo dificuldade na deambulação, fadiga séria, perda de
endurance cardiovascular e força muscular, afetando suas atividades diárias.
Dessa forma, a realização de exercícios e atividades físicas para os pacientes
durante e após as diferentes modalidades de tratamento pode auxiliar na
retomada de seu cotidiano, além de parecer prevenir recaídas (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018). De fato, existe uma associação inversa entre a prática
de exercício físico regular após o diagnóstico e a recidiva do câncer, além da
mortalidade específica da doença e geral. Além disso, o exercício parece ter
um papel preventivo ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o
de mama, de próstata e o colorretal (EHRMAN et al., 2017).
Os tratamentos do câncer acabam por desenvolver manifestações clínicas
como sensação de dispneia, com redução da capacidade pulmonar, fraqueza
muscular, incontinência urinária, diarreia, náuseas, vômitos, aterosclerose
prematura, miocardiopatias, disfunção sexual, anorexia, anemia, perda de
massa muscular, osteoporose, cefaleia, alterações da pressão arterial, dentre
14 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

outras (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). A reabilitação para câncer


com AF auxilia na recuperação e na retomada do estilo de vida normal, com
maior independência e capacidade funcional, mitigando a sensação de fadiga
e aumentando a força muscular e o endurance cardiovascular (ACSM, 2018;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Evidências atuais demonstram que a AF está fortemente associada a um menor risco


de desenvolvimento de câncer de cólon, com uma associação um pouco mais fraca
para o câncer de mama e de endométrio e ainda limitada para cânceres de próstata,
estômago, pâncreas, ovários e pulmão. Estima-se uma média de redução nos riscos
entre 20 a 30%, e acredita-se que esses efeitos protetivos estejam associados a múltiplos
fatores, como a redução da adiposidade central, mudanças nos biomarcadores e na
resistência a insulina, aprimoramento da função imune e menores níveis de inflamação
(KRUK; CZERNIAK, 2013).

Doenças neurodegenerativas
As duas condições neurodegenerativas mais comuns são a doença de Pa-
rkinson (DP) e doença de Alzheimer (DA), que afetam principalmente
indivíduos idosos. A DP configura-se como um transtorno neurológico
crônico e progressivo marcado por sintomas que consistem em tremores em
repouso, bradicinesia (redução da velocidade da amplitude do movimento),
rigidez, instabilidade postural e anormalidade na marcha. A sua causa ainda
é desconhecida; no entanto, parece haver influências genéticas e do meio
ambiente. Além disso, o processo de envelhecimento, respostas autoimunes
e a disfunção mitocondrial dos neurônios também parecem contribuir com
a doença. O exercício físico representa um tratamento complementar no
auxílio ao paciente com DP. De fato, a prática regular de exercícios parece
retardar as sequelas secundárias que podem afetar os sistemas musculoes-
quelético e cardiorrespiratório, além de melhorar a performance da marcha,
a qualidade de vida e a capacidade aeróbica do paciente (ACSM, 2018). Um
estudo conduzido por Zigmond e Smeyne (2014) propôs a hipótese de que
o exercício físico apresenta um papel neuroprotetor em indivíduos com DP,
mas sua comprovação ainda exige mais estudos.
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 15

A DA também é uma doença crônica que apresenta um declínio progressivo


na capacidade funcional, gerando perda gradual da autonomia do indivíduo.
É considerada a principal causa de demência nos idosos. Geralmente, co-
meça com sintomas leves, marcados pela piora da memória, principalmente
para eventos recentes, além de dificuldades de raciocínio e de julgamento e
problemas de orientação no tempo e no espaço. Na sua evolução, o indivíduo
passa a ter dificuldade de aprender coisas novas e lembrar de informações
pouco utilizadas, passando a esquecer de coisas importantes e a apresentar
comprometimento da linguagem. Estudos tem demonstrado que o nível de
AF é um fator modificável de risco que pode atenuar o declínio cognitivo
nas fases progressivas da DA. Além disso, a prática de exercícios revela-se
uma estratégia importante para melhorar as capacidades neuromotoras e as
funções cognitivas, contribuindo para a melhora da capacidade funcional e
outras complicações da DA (FORLENZA et al., 2012).

Transtornos mentais comuns


São considerados transtornos mentais comuns (TMC) as alterações do hu-
mor que, em questões epidemiológicas, atingem grande parte da população.
Abrangem a depressão, a ansiedade e os transtornos somáticos, condições
que têm sido incluídas entre os maiores problemas do século XXI, estando
relacionadas com a correria do dia a dia, pressões cotidianas, questões finan-
ceiras e familiares, bem como o trabalho (VIEIRA, 2015).
Estudos demonstram que o nível de AF está positivamente associado com
a boa saúde mental quando esta é avaliada pelo bom humor, bem-estar geral
e sintomas relativamente esporádicos de ansiedade e depressão. Entre outros
aspectos, o exercício físico regular parece modular a liberação de alguns neu-
rotransmissores como a serotonina, demonstrando ser positivo para pacientes
com depressão. A manutenção de um programa de exercícios para indivíduos
propensos a distúrbios psicológicos parece promover alegria, motivação e
sociabilização (VIEIRA, 2015).
Distúrbios do sono são uma característica marcante das condições de
TMC, e muitos medicamentos utilizados no tratamento de TMC parecem
influenciar no sono (EHRMAN et al., 2017). Um estudo realizado por Singh
et al. (2005) demonstrou que 8 semanas de treinamento de força promoveram
melhora em sintomas depressivos e na qualidade do sono em relação ao grupo
de controle, além de revelar que o treinamento de força de alta intensidade foi
mais significativo que o treinamento de baixa intensidade.
16 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

Condutas iniciais para prescrição de exercícios


O Colégio Americano de Medicina do Esporte propõe que todos os indivíduos
antes de iniciarem um programa de exercícios físicos devem passar por uma
triagem pré-participação (ACSM, 2018). Nessa etapa, deve ser avaliado seu
histórico médico de forma minuciosa, incluindo informações anteriores e
atuais a respeito de sua condição. Além disso, devem ser avaliadas as variá-
veis associadas à aptidão física relacionada à saúde (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018). Devido às peculiaridades das condições aqui discutidas,
apresentaremos a seguir as principais orientações e condutas para cada uma
no que tange a prescrição de exercícios.

No link a seguir, você poderá acompanhar um vídeo de apresentação do instrumento


proposto pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) para a realização
da triagem pré-participação em exercícios.

https://qrgo.page.link/6cpdJ

Crianças e adolescentes
Crianças e adolescentes saudáveis podem iniciar um programa de exercícios
sem a necessidade de realização de teste de esforço; no entanto, se apre-
sentarem condições como asma, diabetes, obesidade ou alguma condição
cardiovascular, o teste de esforço pode ser solicitado. Em geral, podem ainda
ser realizados testes de saúde e aptidão, como, por exemplo, a bateria de testes
do FitnessGram, que avalia os seguintes componentes: composição corporal
(IMC, dobras cutâneas ou impedância bioelétrica) aptidão cardiorrespiratória;
e aptidão muscular e flexibilidade (ACSM, 2018).
Geralmente, as diretrizes de treinamento de força para adultos podem ser
aplicadas a esta população, respeitando-se as características inerentes a cada
idade (ACSM, 2018). A maneira como crianças e adolescentes respondem ao
exercício pode ser diferente de como o adulto responderia, e suas adaptações
ao treinamento estão associadas, até certo ponto, ao crescimento e maturação
(EHRMAN et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 17

Envelhecimento
As recomendações para programas de treinamento físico voltados para idosos
são similares àquelas para pessoas mais jovens, com a necessidade de realização
de um exame clínico e de triagem de fatores de risco, já que idosos apresen-
tam maior probabilidade de terem DCV e outras comorbidades. Devem ser
investigados os padrões de AF habituais, seu nível de capacidade funcional
e os sintomas induzidos pelo exercício (dor no peito, dispneia, palpitações,
tonturas ou claudicações). Caso o idoso apresente histórico desses sintomas
ou infarto do miocárdio, revascularização periférica, presença de DM e/ou
outros distúrbios, ele deverá ser colocado em uma categoria de maior risco.
Devido às possíveis condições que essa população pode apresentar, é importante
identificar os medicamentos utilizados, pois podem influenciar no desempenho
e na segurança do exercício físico. Exemplo disso são os fármacos psicoativos
(como os ansiolíticos), que podem aumentar o risco de quedas (ACSM, 2018;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Deve ser realizado um exame físico focado na PA e na auscultação cardíaca
e pulmonar, além de avaliações físicas que incluem medidas antropométricas
para composição corporal, avaliação postural e avaliação funcional. Um teste
simples de caminhada por um corredor pode revelar alterações na marcha.
Geralmente, idosos que não apresentam alterações da PA e nenhuma outra DCV
podem iniciar um programa de exercício de intensidade baixa ou moderada (de
3 a 6 METs; 40–60% do VO2máx estimado) sem a necessidade de um teste de
esforço (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). No caso de idosos com riscos
maiores ou que desejam realizar exercícios mais intensos, é recomendado a
realização de um teste de esforço, incluindo capacidade cardiorrespiratória,
força e flexibilidade. Se apresentarem histórico de queda, é importante a
avaliação do equilíbrio. Alguns dos testes de desempenhos mais utilizados
são o Senior Fitness Test, Short Physical Performance Battery, Velocidade de
Marcha Usual, Teste de Caminhada de 6 min e Teste de Desempenho Físico
de Escala Contínua (ACSM, 2018).

Gestantes
A avaliação médica da gestante para prática de exercícios físicos pode incluir
a aplicação do PARmed-X para gestação, que é um instrumento que avalia o
seu estado de prontidão para AF (ACSM, 2018). Os testes de esforço máximo
não devem ser realizados, a menos que seja uma necessidade médica e desde
18 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

que a grávida não apresente qualquer contraindicação para a realização de


exercícios físicos (POWERS; HOWLEY, 2017; ACSM, 2018).
De maneira geral, as seguintes recomendações devem ser observadas junto
a gestantes (POWERS; HOWLEY, 2017):

 se forem previamente sedentárias e desejam iniciar a prática de exercício


físico, devem preferir atividades de baixo risco, como caminhada,
natação, hidroginástica, etc.;
 se já praticam atividade física e desejam continuar, é recomendado
atividades de médio risco, como ginástica aeróbica, musculação e
esportes com raquetes;
 atividades que apresentam grandes possibilidades de trauma, como
esportes coletivos e ginástica de alto impacto, devem ser evitados.

Diabetes melito
O exercício físico regular em indivíduos com DM2 resulta em melhorias na
tolerância à glicose, na sensibilidade à insulina e na diminuição da hemoglo-
bina glicada (HbA1c). Além disso, existem outros benefícios para indivíduos
com DM1, DM2 ou pré-diabéticos, que incluem melhoria nos fatores de risco
associados a doenças cardiovasculares, bem como no bem-estar geral. A prática
de exercícios 150 minutos/semana está associada à diminuição da morbimor-
talidade em todas as populações, incluindo aquelas com DM (EHRMAN et
al., 2017).
A prescrição de exercícios físicos para indivíduos com DM1 deve ter como
preocupação a possibilidade de hiperglicemia e cetose, que podem resultar em
coma diabético (ACSM, 2018). Os sintomas comuns associados à hiperglicemia
são fadiga, poliúria, fraqueza, sede e hálito cetônico. É recomendado avaliar
a concentração de cetonas se a glicemia do paciente estiver superior a 250
mg.dl-1. Indivíduos que apresentem uma glicemia maior que 299 mg.dl-1, se
estiverem se sentindo bem e não apresentarem corpos cetônicos nos testes de
sangue e urina, podem praticar exercícios de intensidade moderada, abstendo-se
de exercícios de intensidade vigorosa. Caso apresentem corpos cetônicos, o
exercício deve ser adiado (Figura 3) (LAMOUNIER et al., 2015; EHRMAN
et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 19

Figura 3. Exercício físico e hiperglicemia.


Fonte: Adaptada de Lamounier et al. (2015).

Porém, outra preocupação é a possibilidade de ocorrência de hipoglicemia


(glicose sanguínea inferior a 60–70 mg.dl-1) ocasionada pelo excesso de insulina
ou agente hipoglicemiante oral, ingestão inadequada de carboidratos, jejuns
prolongados e prática de exercícios excessivos ou mal planejados, sendo os
principais sintomas tremores, fraqueza, sudorese anormal, ansiedade, formi-
gamento na boca e nos dedos e fome, podendo evoluir para dor de cabeça,
distúrbios visuais, confusão mental e até coma. A hipoglicemia pode ocorrer
tanto durante o exercício quanto várias horas após o término da sessão. Em
indivíduos com DM1, uma glicemia inferior a 70 mg.dl-1 é uma contraindica-
ção relativa para início de exercícios aeróbicos agudos. Dessa forma, quem
faz uso de insulina deve monitorar a sua glicemia antes, durante e após o
exercício. A maioria desses indivíduos pode precisar consumir entre 15 e 45
g de carboidratos (incluindo glicose, sacarose ou lactose) antes da prática
de exercícios se sua glicemia estiver abaixo de 100 mg.dl-1, dependendo da
intensidade e da duração do exercício (EHRMAN et al., 2017; MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).
Já os indivíduos com DM2 tendem a não apresentar as mesmas flutuações
na glicemia durante os exercícios. Nesse caso, se sua glicemia estiver elevada
por duas ou três horas após uma refeição (pós-prandial), eles provavelmente
sofrerão queda no nível de glicose sanguínea durante o exercício aeróbico, uma
vez que os níveis endógenos de insulina estarão altos (ACSM, 2018). Nessa
situação, é preciso ter cuidado, pois pode haver um aumento na micção de
forma exagerada, o que poderia levar a uma desidratação e uma diminuição
da atividade mental, podendo resultar em coma. Essa condição é chamada de
síndrome hiperosmolar não cetótica, e ocorre quando a glicemia é intensa e
prolongada. Nesse caso, o exercício é contraindicado (EHRMAN et al., 2017).
20 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

Obesidade
Embora a obesidade seja, aparentemente, uma condição médica óbvia, é
necessária uma avaliação completa para determinar sua real condição. Para
isso, é preciso realizar uma avaliação da massa corporal, da estatura, das cir-
cunferências de cintura, quadril e pescoço (recentemente sendo demonstrado
como fator de risco para DM e DCV), gordura corporal, problemas musculo-
esqueléticos e/ou ortopédicos, além de outras medidas para identificação de
possíveis comorbidades, como HAS e DM (ACSM, 2018).
Um teste de esforço não é indicado para indivíduos com sobrepeso ou obesos
antes do início de um programa de exercícios de intensidade leve à moderada
(2–6 METs). Porém, caso seja realizado, principalmente para os indivíduos
obesos, é recomendado a utilização de bicicletas ergométricas que permitam
com que o indivíduo possa ficar sentado (ACSM, 2018). Apesar disso, um
estudo conduzido por McCullough et al. (2006) com indivíduos obesos que
possuíam indicação para cirurgia bariátrica (IMC > 45 km.m-2), demonstrou
que apenas um não pode realizar o protocolo de caminhada testado. Além
disso, recomenda-se a realização de teste de força, para orientar na elaboração
de um programa de força, e a avaliação da flexibilidade, para identificar
articulações com amplitude limitada (EHRMAN et al., 2017).

Doenças cardiovasculares
Antes de iniciar um programa de AF, é necessário realizar uma triagem de
saúde que deve incluir anamnese, exame físico, avaliações laboratoriais e
testes fisiológicos pertinentes. O histórico médico deve estar atualizado,
sendo importante seu acompanhamento ao longo do programa de treinamento
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). O ACSM (2018) propõe a utilização
do algoritmo de triagem de pré-participação, um instrumento desenvolvido
para identificar participantes com risco de complicações cardiovasculares
durante ou imediatamente após exercícios.
Para indivíduos com sinais/sintomas ou alguma DCV diagnosticada, é reco-
mendada a avaliação dos níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos, além
da glicemia de jejum. Além disso, deve ser realizado, com base na avaliação
médica, eletrocardiograma de 12 derivações em repouso, angiografia coronária,
ecocardiograma, radiografia de tórax (em caso de suspeita ou presença de IC),
perfil bioquímico e hemograma completo (EHRMAN et al., 2017).
O teste de esforço limitado por sintomas é seguro junto a pacientes com
IC, e, quando associados à medição indireta de gases inspirados, fornece
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 21

informações úteis sobre respostas eletrocardiográficas e hemodinâmicas ao


exercício (ACSM, 2018).
Já para indivíduos hipertensos, controlados e assintomáticos, o teste de
esforço não é uma indicação; porém, pode ser útil para avaliar a resposta
da PA ao exercício. Indivíduos com HAS podem apresentar respostas exa-
geradas da PA durante a AF, mesmo se ela estiver controlada em repouso
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). A utilização de medicamentos pelos
praticantes sempre deve ser levada em consideração, como é o caso dos be-
tabloqueadores, que podem reduzir a capacidade submáxima e máxima do
exercício. Medicamentos anti-hipertensivos e vasodilatadores podem levar
a reduções excessivas e súbitas da PA pós-exercício, justificando uma volta
à calma de forma gradual e prolongada, com monitorização da PA e da FC
até que retornem aos níveis de repouso. Independentemente dessa resposta,
indivíduos que sofrem de HAS tendem a apresentar hipotensão pós-exercício,
principalmente aeróbico, e devem ser conscientizados sobre isso (EHRMAN
et al., 2017; ACSM, 2018).

Doenças pulmonares
Antes de iniciarem um programa de exercício físico, os pacientes que apre-
sentam doenças pulmonares devem ser orientados a realizar testes de esforço,
pois eles fornecem medidas objetivas da capacidade de exercício, mecanismos
de intolerância ao exercício, prognóstico, progressão da doença e resposta
ao tratamento. Em indivíduos cuja doença é leve ou moderada, os sintomas
podem surgir apenas quando o sistema respiratório é demandado, como du-
rante o exercício. Já nas condições graves, a sua capacidade está tão reduzida
que até a atividade simples se torna um desafio para o sistema respiratório
(EHRMAN et al., 2017).
Durante os testes, devem ser realizados a monitorização da PA, a atividade
elétrica cardíaca (eletrocardiograma), a saturação de O2 arterial e a medição
da dispneia. Já existem aparelhos validados para a medição da PA durante
exercícios. Além disso, um oxímetro de pulso, também validado, pode ser
utilizado. Para avaliação da dispneia, podem ser utilizadas escalas subjetivas
(como a escala de Borg CR-10 modificada para dispneia) (EHRMAN et al.,
2017; ACSM, 2018).
Para indivíduos com DPOC, é preciso tomar um cuidado especial com seu
risco de desenvolver hipertensão pulmonar, tanto durante os testes quanto
durante os exercícios. É recomendada cautela ao realizar exercícios de membros
superiores, pois o aumento da pressão adicional nos músculos assessórios da
22 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

respiração pode dificultar ainda mais a ventilação nesses indivíduos, aumen-


tando sua dispneia. Para os pacientes que sofrem de asma, deve-se acompanhar
a utilização do medicamento broncodilatador inalatório de curta duração
(como albuterol, bitolterol e pirbuterol), que pode ser indicado para evitar BIE
(ACSM, 2018). Além disso, uma dessaturação de oxi-hemoglobina inferior
a 80% pode ser utilizada como forma de término tanto do teste quanto do
exercício. Se houver exacerbações da asma, o paciente não deve se exercitar
até que os sintomas e a função respiratória tenham melhorado. Também deve
ser evitada a realização de exercícios em ambientes frios ou com poluentes,
sob risco de desenvolvimento de broncoconstrição (EHRMAN et al., 2017).

Câncer
Ainda são poucas as pesquisas que demonstram a prescrição adequada de
exercícios para indivíduos com câncer, bem como o momento mais adequado
para iniciar o programa em relação às fases do tratamento. Por conta disso, as
recomendações para a reabilitação oncológica, em geral, incluem exercícios
que são limitados por sintomas. Devem ser avaliados o estado nutricional,
possíveis problemas metabólicos, além de sinais agudos ou sintomas que
são específicos de um tipo de câncer e que poderiam impedir a participação
no exercício (uma mulher que realizou mastectomia recente, por exemplo,
pode estar limitada a realizar exercícios de membros superiores). Também
deve ser realizada uma avaliação funcional que permita identificar possíveis
instabilidades na marcha associadas à quimioterapia ou ao envolvimento do
sistema nervoso, alterações na cicatrização, imunossupressão e sangramentos.
Além disso, alguns sintomas agudos podem exigir mudanças no planejamento,
como náusea, vômito, fadiga e fraqueza. Isso requer uma reavaliação constante
durante o programa de treinamento (EHRMAN et al., 2017).
Os procedimentos utilizados para os testes de esforço são os mesmos
adotados para indivíduos sadios, com a ressalva de que tais pacientes devem
receber uma atenção especial em termos de suas sensações de fadiga. Não é
recomendado que se exercitem ao máximo, e algumas informações podem
sugerir uma contraindicação para a realização de exercícios (EHRMAN et
al., 2017):

 Hemoglobina < 10 g.dl-1


 Células brancas (leucócitos) < 3.000/ml
 Neutrófilos < 0,5.109.ml-1
 Plaquetas < 50.109.ml-1
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 23

 Febre > 38°C (100,4° F)


 Marcha instável (ataxia)
 Caquexia ou perda de > 35% do peso pré-comorbidade
 Dispneia limitante com esforços físicos
 Dor óssea
 Náusea severa
 Metástase esquelética extensa

Doenças neurodegenerativas
Como estas condições afetam principalmente os idosos e apresentam re-
percussões significativas nas suas capacidades funcionais, é recomendada
a realização de testes de aptidão física específicos para idosos, que incluam
avaliações de equilíbrio, marcha, mobilidade geral, amplitude de movimento
articular, flexibilidade e força e resistência musculares (ACSM, 2018).
Como se tratam de condições degenerativas progressivas, pode haver dis-
função do sistema nervoso autônomo, o que talvez acarrete em anormalidades
na pressão arterial. Dessa forma, deve-se ter cuidado na prescrição e deve
ser realizado monitoramento constante das variáveis hemodinâmicas. Além
disso, esses indivíduos podem apresentar com maior frequência hipotensão
ortostática, sendo recomendado, portanto, a realização de exercícios com a
maior segurança possível, evitando-se a mudança de posição rápida e constante
(FORLENZA et al., 2012; ACSM, 2018).

Transtornos mentais comuns


As orientações para indivíduos com TMC são as mesmas, respeitando-se sua
idade, sexo e/ou alguma comorbidade que apresentem. No entanto, deve-se
dar uma atenção especial ao seu estado motivacional e à sua percepção de
esforço, pois eles tendem apresentar menor tolerância à fadiga. Portanto,
o profissional deve criar estratégias que promovam a maior adesão destes
indivíduos ao programa de treinamento, preferencialmente promovendo a
prática de exercícios mais prazerosos para cada um. É importante também que
os profissionais conheçam os sintomas específicos da condição apresentada.
Sendo assim, todo um processo de pré-participação deve ser realizado junto
a estes indivíduos (VIEIRA, 2015; EHRMAN et al., 2017).
Com base no que foi exposto, podemos perceber a importância dos co-
nhecimentos em fisiologia aplicada à prescrição de exercícios, principalmente
associados às populações especiais. Foi possível identificar os principais
24 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais

cuidados, necessidades e restrições que devem ser levados em conta durante


a prescrição e orientação do treinamento. São procedimentos a serem segui-
dos para a análise das principais condições associadas aos indivíduos, que
permitem nortear com segurança a atuação do profissional de educação física
e outros profissionais que atuem na área do exercício físico. A fisiologia do
exercício é uma área em constante crescimento, e hoje existe um ramo dessa
disciplina, chamado fisiologia do exercício clínico, que amplia o entendimento
das principais doenças crônicas e o papel do exercício físico no seu tratamento.

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WEST, J. B. Fisiologia respiratória: princípios básicos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Dica do professor
A síndrome metabólica representa um conjunto de fatores de risco cardiometabólicos inter-
relacionados presentes em um indivíduo. Geralmente acomete pessoas com sobrepeso ou obesas e
que apresentam risco aumentado para o desenvolvimento de doença cardiovascular aterosclerótica
e diabetes do tipo II. Todos os fatores de risco da síndrome metabólica são modificáveis e a
obesidade central geralmente é considerada um dos principais, bem como a resistência à insulina.

Veja na Dica do Professor um pouco mais sobre a síndrome metabólica, como ela é diagnosticada e
qual a prescrição de exercício recomendada para auxiliar em seu tratamento.

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Exercícios

1) A prática regular de exercício físico tem sido demonstrada como importante ferramenta no
auxílio ao tratamento de várias condições patológicas crônicas, além de ser altamente
benéfica para a melhora da aptidão física relacionada à saúde em diversas populações
especiais. No entanto, para a sua prescrição, devem ser tomadas medidas específicas para
cada indivíduo e para suas particularidades. Analise as seguintes afirmativas a respeito de
procedimentos e condutas específicas para populações especiais:

I. O teste de esforço máximo deve ser realizado por todos os indivíduos que desejam
ingressar em um programa de exercícios, pois somente assim é possível determinar as
intensidades-alvo de treinamento.

II. Gestantes iniciantes sedentárias que irão iniciar um programa de exercícios devem
praticar atividades que exijam menos risco, como caminhada ou hidroginástica.

III. Independentemente da situação, a sessão de treinamento é contraindicada para


indivíduos diabéticos que apresentem glicemia pré-exercício acima de 250mg.dl-1.

IV. O teste de esforço na condição de insuficiência cardíaca deve ser realizado até a
capacidade máxima em que o indivíduo tolera os sintomas, sendo interrompido apenas
quando ele entrar em fadiga, central ou periférica.

V. A atividade física é contraindicada para indivíduos em tratamento de câncer caso


apresentem metástase óssea.

Quais afirmativas são verdadeiras?

A) Apenas I e III.

B) Apenas II e V.

C) Apenas II, III e IV.

D) Apenas I, III e V.

E) Apenas II, IV e V.

2) A obesidade é considerada uma epidemia e, somente no Brasil, no intervalo de 10 anos


(entre 2006 e 2016), houve aumento de mais de 60% na prevalência de obesidade. Analise
as seguintes afirmativas sobre essa condição:
I. A obesidade pode ser entendida como um grande problema de saúde, pois está envolvida
na patogênese de várias doenças, como diabetes melito, hipertensão arterial, vários tipos de
câncer e até alterações musculoesqueléticas.

II. A atividade física é o componente que mais influencia no gasto energético diário do
indivíduo, seguido da taxa metabólica basal e da termogênese dos alimentos.

III. Um dos fatores que pode justificar a correlação entre a obesidade e as doenças crônicas é
o estado inflamatório subclínico associado à secreção de citocinas pró-inflamatórias pelo
tecido adiposo.

IV. Indivíduos obesos devem fazer testes de esforço em esteiras ergométricas para que sua
potência aeróbia seja determinada antes de iniciar o programa de treinamento,
independentemente de seu índice de massa corporal.

Quais afirmativas são verdadeiras?

A) Apenas I e III.

B) Apenas I e II.

C) Apenas II e IV.

D) Apenas II e III.

E) Apenas I, II e IV.

3) A prescrição de exercícios para populações especiais exige conhecimento sobre as principais


condições fisiológicas e as capacidades funcionais que podem estar prejudicadas em cada
uma delas. A respeito disso, leia as afirmativas a seguir:

I. A capacidade aeróbia declina com o avançar da idade, e o treinamento aeróbico não possui
eficácia na modificação desta condição

II. Entre as alterações identificadas nas gestantes, pode-se esperar aumento do volume
sistólico e da frequência cardíaca, com consequente elevação do débito cardíaco.

III. A obesidade tem sido considerada fator de risco para outras doenças, principalmente
devido ao aumento das concentrações séricas de marcadores inflamatórios originados do
tecido adiposo.

IV. Indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica tendem a apresentar redução da sua
capacidade funcional, podendo resultar em fadiga constante, até em pequenos esforços.

Quais afirmativas são verdadeiras?


A) Apenas II, III e IV.

B) Apenas I e II.

C) Apenas II e IV.

D) Apenas I e III.

E) Apenas I, II e IV.

4) Diabetes melito é uma condição metabólica que acomete cada vez mais pessoas no mundo,
principalmente do tipo II. A respeito dessa condição, leia as seguintes afirmativas:

I. Portadores de diabetes melito do tipo I devem ter atenção especial para as concentrações
de cetonas, que podem indicar o uso inadequado da insulina.

II. A circunferência abdominal elevada pode ser utilizada como indicador de risco para o
desenvolvimento de diabetes do tipo II.

III. Uma única sessão de exercício físico pode ser capaz de promover melhora na
sensibilidade aguda à insulina, contribuindo para a redução da glicemia.

IV. A probabilidade de desenvolvimento de cetoacidose diabética é maior nos pacientes com


diabetes melito do tipo II.

Quais afirmativas são verdadeiras?

A) Apenas I e III.

B) Apenas I, II e III.

C) Apenas II e IV.

D) Apenas I, II e IV.

E) Apenas I, III e IV.

5) Atualmente, as doenças cardiovasculares ainda são consideradas a principal causa de


mortalidade na maioria dos países. A respeito dessas condições, é correto afirmar:

A) A hipertensão arterial sistêmica pode ser diagnosticada apenas quando ambos os valores
pressóricos estão elevados, ou seja, pressão sistólica acima de 139mmHg e pressão diastólica
acima de 89mmHg.
B) Na insuficiência cardíaca sistólica, observa-se redução dos volumes diastólico e sistólico
finais, devido a comprometimento na fase de diástole ventricular.

C) A hipertensão arterial está associada ao aumento da pós-carga do ventrículo esquerdo,


contribuindo para o processo de hipertrofia ventricular, o que poderia contribuir para uma
insuficiência cardíaca.

D) A insuficiência cardíaca acomete principalmente o ventrículo direito, podendo ser causada


pelo consumo exagerado de álcool, por aterosclerose das artérias coronarianas, entre outros
fatores.

E) O teste de esforço na condição de insuficiência cardíaca deve ser realizado até a capacidade
máxima em que o indivíduo tolera os sintomas, sendo interrompido apenas quando ele entrar
em fadiga, central ou periférica.
Na prática
Um programa de reabilitação cardíaca abrangente concentra-se no prolongamento da longevidade
e no aprimoramento da qualidade de vida, além da modificação de risco. Antes de iniciar algum
programa de intervenção e reabilitação, é necessário realizar a avaliação do paciente cardíaco
quanto a sua capacidade funcional e subsequente classificação e reabilitação, bem como seu estado
de prontidão para realizar o exercício físico. Além disso, são utilizados testes de esforço para
determinar o nível de aptidão. De posse das informações necessárias, é possível estabelecer os
procedimentos a serem utilizados, embasados em diretrizes internacionais, como as do Colégio
Americano de Medicina do Esporte (ACSM) ou da Sociedade Americana do Coração (AHA).

Neste Na Prática, acompanhe um programa de exercícios físicos para reabilitação cardíaca.


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No momento de se prescreverem exercícios, é importante estar atento às características, objetivos
e necessidades do indivíduo, primando sempre pela segurança durante a prática. Nesse sentido,
existem grupos que requerem mais atenção: as populações especiais.

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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Diabetes tipo I e o exercício físico


Neste artigo de 2018, os autores fazem uma revisão da literatura sobre os efeitos do exercício
físico em pacientes com diabetes do tipo I.

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Atividade física para grupos especiais


Este vídeo, apresentado pela professora Sandra Aires, demonstra as principais variáveis a serem
levadas em conta no momento de prescrever exercícios para grupos especiais.

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Necessidade de exame médico pré-participação


Acompanhe neste vídeo as recomendações do cardiologista Henrique Mussi sobre a necessidade
da avaliação médica pré-participação de atividade física para indivíduos saudáveis e para aqueles
que apresentam alguma condição especial.

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