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Apresentação
A atividade física já é considerada um dos principais fatores de risco modificáveis para o
desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes melito, além de contribuir para
o seu tratamento. Ela é uma das principais estratégias comportamentais para a promoção da saúde
e da longevidade, influenciando diretamente no processo de envelhecimento. Devido à crescente
prevalência dessas condições, cada vez mais é necessário que os profissionais de saúde se
especializem em suas respectivas áreas, ampliando o seu entendimento sobre populações especiais.
Na área da prescrição de exercício, além do entendimento da fisiopatologia da doença, é
fundamental se aprofundar em fisiologia do exercício, a fim de promover um trabalho mais eficaz e
seguro.
Bons estudos.
a) Elabore um programa de um mês de treinamento para o Sr. J.L. Descreva os critérios utilizados
para justificar cada uma das prescrições, ou seja, tipo(s) de exercício(s), frequência semanal e
intensidade; além disso, indique as principais preocupações e os cuidados que devem ser tomados
durante a prescrição de exercícios para esse indivíduo, levando em consideração sua idade, as
condições que apresentou e o medicamento que utiliza.
O Infográfico a seguir apresenta a obesidade como fator de risco para a saúde e aponta algumas
doenças a ela associadas.
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Conteúdo do livro
O exercício físico influencia no funcionamento do organismo e no modo como ele se adapta às
diferentes demandas que lhe são impostas. No trabalho com grupos especiais, observam-se
características específicas de cada grupo que exigem maior conhecimento sobre essa área, a fim de
promover a prescrição e a orientação correta, com o máximo de segurança e resultado. Dessa
forma, tais conhecimentos são utilizados para desenvolver e implementar programas de prática de
exercícios para aqueles que vão se beneficiar do método.
Boa leitura.
ESTUDO DO
MOVIMENTO III:
FISIOLOGIA DO
EXERCÍCIO
Introdução
Para aqueles que trabalham com a prescrição de exercício físico, o co-
nhecimento em fisiologia do exercício é altamente necessário, pois é
extremante importante conhecer a ampla gama de respostas ao exercício,
incluindo aquelas que ocorrem no âmbito de uma determinada classe
de doenças, bem como entre as diferentes condições especiais.
Neste capítulo, você conhecerá a importância do conhecimento em
fisiologia do exercício na prescrição e aplicação de programas de exercício
físico com ênfase em grupos especiais. Assim, ampliará seu conhecimento
sobre as principais modificações fisiológicas ocorridas nas condições
especiais apresentadas, compreendendo o possível papel do exercício
no seu tratamento. Além disso, conhecerá as principais condutas para
o atendimento às respectivas populações especiais, com destaque para
suas individualidades e aspectos mais importantes.
2 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Crianças e adolescentes
As crianças e adolescentes são fisiologicamente adaptáveis tanto aos treinamen-
tos aeróbicos quanto aos de força muscular (resistência). Para essa população,
o exercício físico contribui na redução dos fatores de risco cardiometabólicos,
4 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Envelhecimento
A partir dos 35–40 anos de idade, a tendência é que nossa capacidade fun-
cional comece a declinar, com a deterioração variando em qualquer idade,
porém sofrendo influências genéticas, sexuais e de estilo de vida de cada um.
Nosso pico de força muscular geralmente é alcançado entre os 20 e 40 anos,
quando, então, a força concêntrica da maioria dos grupos musculares começa
a declinar (MCARDLE; KATCH; KATCH TCH, 2018). A perda de força
sofre influência direta do nível mais baixo de AF em indivíduos idosos; no
entanto, a perda acelerada que ocorre entre os 60 e 80 anos de idade decorre
da própria perda de massa muscular, inerente ao envelhecimento, chamada
de sarcopenia (POWERS; HOWLEY, 2017).
Observa-se ainda que o ritmo de perda de força é maior nos membros
inferiores do que nos membros superiores, o que se torna uma preocupação por
elevar o risco de quedas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). No entanto, o
treinamento de força é capaz de promover alterações positivas, aumentando a
força muscular nos idosos de forma muito similar ao que ocorre em indivíduos
mais jovens (POWERS; HOWLEY, 2017). De fato, cargas equivalentes a 80%
de uma repetição máxima (1–RM) são capazes de promover tanto o aumento
de massa quanto de força muscular (Figura 1), indicando que os idosos apre-
sentam impressionante plasticidade nas características fisiológicas, estruturais
e relacionadas com o desempenho, mesmos que as capacidades de responder
aos sinais de crescimento muscular diminuíam com a idade (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 5
Gestantes
A gestação é marcada por modificações fisiológicas e anatômicas progressi-
vas. O organismo da grávida está constantemente tentando adequar as suas
demandas às necessidades do feto em desenvolvimento. Para isso, vários
mecanismos tentam manter um ambiente fisiologicamente estável. As principais
adaptações cardiovasculares e metabólicas à gestação incluem um aumento
do volume sanguíneo em torno de 40–50%, ligeiro aumento do consumo do
O2, aumento do gasto energético para exercícios com sustentação de peso,
6 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Diabetes melito
Diabetes melito é um termo que abrange um grupo de doenças metabólicas
caracterizadas pela dificuldade de se produzir insulina suficiente ou de utilizá-la
de forma adequada, resultando em hiperglicemia. A insulina é um hormônio
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 7
Normal Pré-diabetes DM
GPJ < 100 mg.dl-1 GPJ = 100 a 125 mg.dl-1 GPJ > 125 mg.dl-1
Obesidade
O sobrepeso e a obesidade são definidos com base na avaliação do índice
de massa corporal (IMC), correspondendo a 25–29,9 kg.m-2 e a 30 kg.m-2 ou
mais, respectivamente. Para todas as idades e etnias, ambas condições estão
associadas a um aumento no risco de diversas condições crônicas como doenças
cardiovasculares, DM, alguns tipos de cânceres e até alterações musculoes-
queléticas (EHRMAN et al., 2017; POWERS; HOWLEY, 2017; ACSM, 2018).
Embora o IMC seja utilizado para avaliar a obesidade, é necessária a rea-
lização de outras avaliações para corroborar o real estado do indivíduo, pois
esse dado isolado não leva em consideração sua proporção de massa gorda e
massa magra (Figura 2) (EHRMAN et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 9
Doenças cardiovasculares
Os principais fatores de risco associados ao desenvolvimento de doenças
cardiovasculares (DCV) são sobrepeso e obesidade, comportamento seden-
tário e componente genético (EHRMAN et al., 2017). As DCVs mais comuns
englobam a insuficiência cardíaca (IC) e hipertensão arterial sistêmica (HAS)
(EHRMAN et al., 2017; POWERS E HOWLEY, 2017; ACSM, 2018; MCAR-
DLE; KATCH; KATCH, 2018).
Pacientes que sofrem de IC apresentam uma incapacidade cardíaca em
acompanhar as demandas metabólica dos órgãos e tecidos. Essa condição
está associada principalmente ao ventrículo esquerdo (VE), podendo ser
causada por falhas na função sistólica ou diastólica (EHRMAN et al., 2017).
Cerca de 60% dos casos de IC estão associados a doença cardíaca isquêmica
(DCI), ou seja, aterosclerose coronariana, gerando infarto do miocárdio (IM),
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 11
Doenças pulmonares
As alterações pulmonares podem ser subdivididas em condições obstrutivas,
em que há dificuldade do fluxo de ar pulmonar, ou restritivas, em que há
redução das dimensões pulmonares (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
12 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Uma atenção especial deve ser dada ao indivíduo com asma, pois os sintomas podem
ser provocados ou piorados pelo exercício, uma condição associada à broncoconstrição
induzida pelo exercício (BIE), chamada de asma induzida pelo exercício (AIE). Uma
forma de minimizar essa condição é evitar a realização de exercícios em ambientes
frios e secos, bem como com alto nível de poluição (ACSM, 2018).
Câncer
O câncer engloba um grupo de doenças caracterizadas por um crescimento
descontrolado de células anormais. Dentre as consequências mais sérias para
o sobrevivente do câncer, podemos destacar a perda de massa corporal e o seu
estado funcional, incluindo dificuldade na deambulação, fadiga séria, perda de
endurance cardiovascular e força muscular, afetando suas atividades diárias.
Dessa forma, a realização de exercícios e atividades físicas para os pacientes
durante e após as diferentes modalidades de tratamento pode auxiliar na
retomada de seu cotidiano, além de parecer prevenir recaídas (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018). De fato, existe uma associação inversa entre a prática
de exercício físico regular após o diagnóstico e a recidiva do câncer, além da
mortalidade específica da doença e geral. Além disso, o exercício parece ter
um papel preventivo ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o
de mama, de próstata e o colorretal (EHRMAN et al., 2017).
Os tratamentos do câncer acabam por desenvolver manifestações clínicas
como sensação de dispneia, com redução da capacidade pulmonar, fraqueza
muscular, incontinência urinária, diarreia, náuseas, vômitos, aterosclerose
prematura, miocardiopatias, disfunção sexual, anorexia, anemia, perda de
massa muscular, osteoporose, cefaleia, alterações da pressão arterial, dentre
14 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Doenças neurodegenerativas
As duas condições neurodegenerativas mais comuns são a doença de Pa-
rkinson (DP) e doença de Alzheimer (DA), que afetam principalmente
indivíduos idosos. A DP configura-se como um transtorno neurológico
crônico e progressivo marcado por sintomas que consistem em tremores em
repouso, bradicinesia (redução da velocidade da amplitude do movimento),
rigidez, instabilidade postural e anormalidade na marcha. A sua causa ainda
é desconhecida; no entanto, parece haver influências genéticas e do meio
ambiente. Além disso, o processo de envelhecimento, respostas autoimunes
e a disfunção mitocondrial dos neurônios também parecem contribuir com
a doença. O exercício físico representa um tratamento complementar no
auxílio ao paciente com DP. De fato, a prática regular de exercícios parece
retardar as sequelas secundárias que podem afetar os sistemas musculoes-
quelético e cardiorrespiratório, além de melhorar a performance da marcha,
a qualidade de vida e a capacidade aeróbica do paciente (ACSM, 2018). Um
estudo conduzido por Zigmond e Smeyne (2014) propôs a hipótese de que
o exercício físico apresenta um papel neuroprotetor em indivíduos com DP,
mas sua comprovação ainda exige mais estudos.
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 15
https://qrgo.page.link/6cpdJ
Crianças e adolescentes
Crianças e adolescentes saudáveis podem iniciar um programa de exercícios
sem a necessidade de realização de teste de esforço; no entanto, se apre-
sentarem condições como asma, diabetes, obesidade ou alguma condição
cardiovascular, o teste de esforço pode ser solicitado. Em geral, podem ainda
ser realizados testes de saúde e aptidão, como, por exemplo, a bateria de testes
do FitnessGram, que avalia os seguintes componentes: composição corporal
(IMC, dobras cutâneas ou impedância bioelétrica) aptidão cardiorrespiratória;
e aptidão muscular e flexibilidade (ACSM, 2018).
Geralmente, as diretrizes de treinamento de força para adultos podem ser
aplicadas a esta população, respeitando-se as características inerentes a cada
idade (ACSM, 2018). A maneira como crianças e adolescentes respondem ao
exercício pode ser diferente de como o adulto responderia, e suas adaptações
ao treinamento estão associadas, até certo ponto, ao crescimento e maturação
(EHRMAN et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 17
Envelhecimento
As recomendações para programas de treinamento físico voltados para idosos
são similares àquelas para pessoas mais jovens, com a necessidade de realização
de um exame clínico e de triagem de fatores de risco, já que idosos apresen-
tam maior probabilidade de terem DCV e outras comorbidades. Devem ser
investigados os padrões de AF habituais, seu nível de capacidade funcional
e os sintomas induzidos pelo exercício (dor no peito, dispneia, palpitações,
tonturas ou claudicações). Caso o idoso apresente histórico desses sintomas
ou infarto do miocárdio, revascularização periférica, presença de DM e/ou
outros distúrbios, ele deverá ser colocado em uma categoria de maior risco.
Devido às possíveis condições que essa população pode apresentar, é importante
identificar os medicamentos utilizados, pois podem influenciar no desempenho
e na segurança do exercício físico. Exemplo disso são os fármacos psicoativos
(como os ansiolíticos), que podem aumentar o risco de quedas (ACSM, 2018;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Deve ser realizado um exame físico focado na PA e na auscultação cardíaca
e pulmonar, além de avaliações físicas que incluem medidas antropométricas
para composição corporal, avaliação postural e avaliação funcional. Um teste
simples de caminhada por um corredor pode revelar alterações na marcha.
Geralmente, idosos que não apresentam alterações da PA e nenhuma outra DCV
podem iniciar um programa de exercício de intensidade baixa ou moderada (de
3 a 6 METs; 40–60% do VO2máx estimado) sem a necessidade de um teste de
esforço (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). No caso de idosos com riscos
maiores ou que desejam realizar exercícios mais intensos, é recomendado a
realização de um teste de esforço, incluindo capacidade cardiorrespiratória,
força e flexibilidade. Se apresentarem histórico de queda, é importante a
avaliação do equilíbrio. Alguns dos testes de desempenhos mais utilizados
são o Senior Fitness Test, Short Physical Performance Battery, Velocidade de
Marcha Usual, Teste de Caminhada de 6 min e Teste de Desempenho Físico
de Escala Contínua (ACSM, 2018).
Gestantes
A avaliação médica da gestante para prática de exercícios físicos pode incluir
a aplicação do PARmed-X para gestação, que é um instrumento que avalia o
seu estado de prontidão para AF (ACSM, 2018). Os testes de esforço máximo
não devem ser realizados, a menos que seja uma necessidade médica e desde
18 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Diabetes melito
O exercício físico regular em indivíduos com DM2 resulta em melhorias na
tolerância à glicose, na sensibilidade à insulina e na diminuição da hemoglo-
bina glicada (HbA1c). Além disso, existem outros benefícios para indivíduos
com DM1, DM2 ou pré-diabéticos, que incluem melhoria nos fatores de risco
associados a doenças cardiovasculares, bem como no bem-estar geral. A prática
de exercícios 150 minutos/semana está associada à diminuição da morbimor-
talidade em todas as populações, incluindo aquelas com DM (EHRMAN et
al., 2017).
A prescrição de exercícios físicos para indivíduos com DM1 deve ter como
preocupação a possibilidade de hiperglicemia e cetose, que podem resultar em
coma diabético (ACSM, 2018). Os sintomas comuns associados à hiperglicemia
são fadiga, poliúria, fraqueza, sede e hálito cetônico. É recomendado avaliar
a concentração de cetonas se a glicemia do paciente estiver superior a 250
mg.dl-1. Indivíduos que apresentem uma glicemia maior que 299 mg.dl-1, se
estiverem se sentindo bem e não apresentarem corpos cetônicos nos testes de
sangue e urina, podem praticar exercícios de intensidade moderada, abstendo-se
de exercícios de intensidade vigorosa. Caso apresentem corpos cetônicos, o
exercício deve ser adiado (Figura 3) (LAMOUNIER et al., 2015; EHRMAN
et al., 2017).
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 19
Obesidade
Embora a obesidade seja, aparentemente, uma condição médica óbvia, é
necessária uma avaliação completa para determinar sua real condição. Para
isso, é preciso realizar uma avaliação da massa corporal, da estatura, das cir-
cunferências de cintura, quadril e pescoço (recentemente sendo demonstrado
como fator de risco para DM e DCV), gordura corporal, problemas musculo-
esqueléticos e/ou ortopédicos, além de outras medidas para identificação de
possíveis comorbidades, como HAS e DM (ACSM, 2018).
Um teste de esforço não é indicado para indivíduos com sobrepeso ou obesos
antes do início de um programa de exercícios de intensidade leve à moderada
(2–6 METs). Porém, caso seja realizado, principalmente para os indivíduos
obesos, é recomendado a utilização de bicicletas ergométricas que permitam
com que o indivíduo possa ficar sentado (ACSM, 2018). Apesar disso, um
estudo conduzido por McCullough et al. (2006) com indivíduos obesos que
possuíam indicação para cirurgia bariátrica (IMC > 45 km.m-2), demonstrou
que apenas um não pode realizar o protocolo de caminhada testado. Além
disso, recomenda-se a realização de teste de força, para orientar na elaboração
de um programa de força, e a avaliação da flexibilidade, para identificar
articulações com amplitude limitada (EHRMAN et al., 2017).
Doenças cardiovasculares
Antes de iniciar um programa de AF, é necessário realizar uma triagem de
saúde que deve incluir anamnese, exame físico, avaliações laboratoriais e
testes fisiológicos pertinentes. O histórico médico deve estar atualizado,
sendo importante seu acompanhamento ao longo do programa de treinamento
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). O ACSM (2018) propõe a utilização
do algoritmo de triagem de pré-participação, um instrumento desenvolvido
para identificar participantes com risco de complicações cardiovasculares
durante ou imediatamente após exercícios.
Para indivíduos com sinais/sintomas ou alguma DCV diagnosticada, é reco-
mendada a avaliação dos níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos, além
da glicemia de jejum. Além disso, deve ser realizado, com base na avaliação
médica, eletrocardiograma de 12 derivações em repouso, angiografia coronária,
ecocardiograma, radiografia de tórax (em caso de suspeita ou presença de IC),
perfil bioquímico e hemograma completo (EHRMAN et al., 2017).
O teste de esforço limitado por sintomas é seguro junto a pacientes com
IC, e, quando associados à medição indireta de gases inspirados, fornece
Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais 21
Doenças pulmonares
Antes de iniciarem um programa de exercício físico, os pacientes que apre-
sentam doenças pulmonares devem ser orientados a realizar testes de esforço,
pois eles fornecem medidas objetivas da capacidade de exercício, mecanismos
de intolerância ao exercício, prognóstico, progressão da doença e resposta
ao tratamento. Em indivíduos cuja doença é leve ou moderada, os sintomas
podem surgir apenas quando o sistema respiratório é demandado, como du-
rante o exercício. Já nas condições graves, a sua capacidade está tão reduzida
que até a atividade simples se torna um desafio para o sistema respiratório
(EHRMAN et al., 2017).
Durante os testes, devem ser realizados a monitorização da PA, a atividade
elétrica cardíaca (eletrocardiograma), a saturação de O2 arterial e a medição
da dispneia. Já existem aparelhos validados para a medição da PA durante
exercícios. Além disso, um oxímetro de pulso, também validado, pode ser
utilizado. Para avaliação da dispneia, podem ser utilizadas escalas subjetivas
(como a escala de Borg CR-10 modificada para dispneia) (EHRMAN et al.,
2017; ACSM, 2018).
Para indivíduos com DPOC, é preciso tomar um cuidado especial com seu
risco de desenvolver hipertensão pulmonar, tanto durante os testes quanto
durante os exercícios. É recomendada cautela ao realizar exercícios de membros
superiores, pois o aumento da pressão adicional nos músculos assessórios da
22 Fundamentos da fisiologia do exercício para populações especiais
Câncer
Ainda são poucas as pesquisas que demonstram a prescrição adequada de
exercícios para indivíduos com câncer, bem como o momento mais adequado
para iniciar o programa em relação às fases do tratamento. Por conta disso, as
recomendações para a reabilitação oncológica, em geral, incluem exercícios
que são limitados por sintomas. Devem ser avaliados o estado nutricional,
possíveis problemas metabólicos, além de sinais agudos ou sintomas que
são específicos de um tipo de câncer e que poderiam impedir a participação
no exercício (uma mulher que realizou mastectomia recente, por exemplo,
pode estar limitada a realizar exercícios de membros superiores). Também
deve ser realizada uma avaliação funcional que permita identificar possíveis
instabilidades na marcha associadas à quimioterapia ou ao envolvimento do
sistema nervoso, alterações na cicatrização, imunossupressão e sangramentos.
Além disso, alguns sintomas agudos podem exigir mudanças no planejamento,
como náusea, vômito, fadiga e fraqueza. Isso requer uma reavaliação constante
durante o programa de treinamento (EHRMAN et al., 2017).
Os procedimentos utilizados para os testes de esforço são os mesmos
adotados para indivíduos sadios, com a ressalva de que tais pacientes devem
receber uma atenção especial em termos de suas sensações de fadiga. Não é
recomendado que se exercitem ao máximo, e algumas informações podem
sugerir uma contraindicação para a realização de exercícios (EHRMAN et
al., 2017):
Doenças neurodegenerativas
Como estas condições afetam principalmente os idosos e apresentam re-
percussões significativas nas suas capacidades funcionais, é recomendada
a realização de testes de aptidão física específicos para idosos, que incluam
avaliações de equilíbrio, marcha, mobilidade geral, amplitude de movimento
articular, flexibilidade e força e resistência musculares (ACSM, 2018).
Como se tratam de condições degenerativas progressivas, pode haver dis-
função do sistema nervoso autônomo, o que talvez acarrete em anormalidades
na pressão arterial. Dessa forma, deve-se ter cuidado na prescrição e deve
ser realizado monitoramento constante das variáveis hemodinâmicas. Além
disso, esses indivíduos podem apresentar com maior frequência hipotensão
ortostática, sendo recomendado, portanto, a realização de exercícios com a
maior segurança possível, evitando-se a mudança de posição rápida e constante
(FORLENZA et al., 2012; ACSM, 2018).
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WEST, J. B. Fisiologia respiratória: princípios básicos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Dica do professor
A síndrome metabólica representa um conjunto de fatores de risco cardiometabólicos inter-
relacionados presentes em um indivíduo. Geralmente acomete pessoas com sobrepeso ou obesas e
que apresentam risco aumentado para o desenvolvimento de doença cardiovascular aterosclerótica
e diabetes do tipo II. Todos os fatores de risco da síndrome metabólica são modificáveis e a
obesidade central geralmente é considerada um dos principais, bem como a resistência à insulina.
Veja na Dica do Professor um pouco mais sobre a síndrome metabólica, como ela é diagnosticada e
qual a prescrição de exercício recomendada para auxiliar em seu tratamento.
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Exercícios
1) A prática regular de exercício físico tem sido demonstrada como importante ferramenta no
auxílio ao tratamento de várias condições patológicas crônicas, além de ser altamente
benéfica para a melhora da aptidão física relacionada à saúde em diversas populações
especiais. No entanto, para a sua prescrição, devem ser tomadas medidas específicas para
cada indivíduo e para suas particularidades. Analise as seguintes afirmativas a respeito de
procedimentos e condutas específicas para populações especiais:
I. O teste de esforço máximo deve ser realizado por todos os indivíduos que desejam
ingressar em um programa de exercícios, pois somente assim é possível determinar as
intensidades-alvo de treinamento.
II. Gestantes iniciantes sedentárias que irão iniciar um programa de exercícios devem
praticar atividades que exijam menos risco, como caminhada ou hidroginástica.
IV. O teste de esforço na condição de insuficiência cardíaca deve ser realizado até a
capacidade máxima em que o indivíduo tolera os sintomas, sendo interrompido apenas
quando ele entrar em fadiga, central ou periférica.
A) Apenas I e III.
B) Apenas II e V.
D) Apenas I, III e V.
E) Apenas II, IV e V.
II. A atividade física é o componente que mais influencia no gasto energético diário do
indivíduo, seguido da taxa metabólica basal e da termogênese dos alimentos.
III. Um dos fatores que pode justificar a correlação entre a obesidade e as doenças crônicas é
o estado inflamatório subclínico associado à secreção de citocinas pró-inflamatórias pelo
tecido adiposo.
IV. Indivíduos obesos devem fazer testes de esforço em esteiras ergométricas para que sua
potência aeróbia seja determinada antes de iniciar o programa de treinamento,
independentemente de seu índice de massa corporal.
A) Apenas I e III.
B) Apenas I e II.
C) Apenas II e IV.
D) Apenas II e III.
E) Apenas I, II e IV.
I. A capacidade aeróbia declina com o avançar da idade, e o treinamento aeróbico não possui
eficácia na modificação desta condição
II. Entre as alterações identificadas nas gestantes, pode-se esperar aumento do volume
sistólico e da frequência cardíaca, com consequente elevação do débito cardíaco.
III. A obesidade tem sido considerada fator de risco para outras doenças, principalmente
devido ao aumento das concentrações séricas de marcadores inflamatórios originados do
tecido adiposo.
IV. Indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica tendem a apresentar redução da sua
capacidade funcional, podendo resultar em fadiga constante, até em pequenos esforços.
B) Apenas I e II.
C) Apenas II e IV.
D) Apenas I e III.
E) Apenas I, II e IV.
4) Diabetes melito é uma condição metabólica que acomete cada vez mais pessoas no mundo,
principalmente do tipo II. A respeito dessa condição, leia as seguintes afirmativas:
I. Portadores de diabetes melito do tipo I devem ter atenção especial para as concentrações
de cetonas, que podem indicar o uso inadequado da insulina.
II. A circunferência abdominal elevada pode ser utilizada como indicador de risco para o
desenvolvimento de diabetes do tipo II.
III. Uma única sessão de exercício físico pode ser capaz de promover melhora na
sensibilidade aguda à insulina, contribuindo para a redução da glicemia.
A) Apenas I e III.
B) Apenas I, II e III.
C) Apenas II e IV.
D) Apenas I, II e IV.
A) A hipertensão arterial sistêmica pode ser diagnosticada apenas quando ambos os valores
pressóricos estão elevados, ou seja, pressão sistólica acima de 139mmHg e pressão diastólica
acima de 89mmHg.
B) Na insuficiência cardíaca sistólica, observa-se redução dos volumes diastólico e sistólico
finais, devido a comprometimento na fase de diástole ventricular.
E) O teste de esforço na condição de insuficiência cardíaca deve ser realizado até a capacidade
máxima em que o indivíduo tolera os sintomas, sendo interrompido apenas quando ele entrar
em fadiga, central ou periférica.
Na prática
Um programa de reabilitação cardíaca abrangente concentra-se no prolongamento da longevidade
e no aprimoramento da qualidade de vida, além da modificação de risco. Antes de iniciar algum
programa de intervenção e reabilitação, é necessário realizar a avaliação do paciente cardíaco
quanto a sua capacidade funcional e subsequente classificação e reabilitação, bem como seu estado
de prontidão para realizar o exercício físico. Além disso, são utilizados testes de esforço para
determinar o nível de aptidão. De posse das informações necessárias, é possível estabelecer os
procedimentos a serem utilizados, embasados em diretrizes internacionais, como as do Colégio
Americano de Medicina do Esporte (ACSM) ou da Sociedade Americana do Coração (AHA).
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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