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Planejamento e Gerenciamento de

Emergências, Desastres
e Epidemias

Brasília-DF.
Elaboração

Luiz Henrique Horta Hargreaves

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5
Introdução...................................................................................................................................... 7
Unidade i
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR.............................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
Sistemas de emergência e desastres................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
Transporte e evacuação de feridos em APH................................................................... 29

CAPÍTULO 3
Situações especiais em APH................................................................................................ 41

Unidade Ii
DESASTRES......................................................................................................................................... 53

CAPÍTULO 1
Fase pré-impacto................................................................................................................ 53

CAPÍTULO 2
Fase impacto....................................................................................................................... 63

CAPÍTULO 3
Fase pós-impacto (pós-crise)............................................................................................. 69

Unidade IiI
Emergências químicas, biológicas e radioativas....................................................................... 76

CAPÍTULO 1
Definições e contexto de Emergências Químicas, Biológicas e Radioativa............... 76

CAPÍTULO 2
Planejamento..................................................................................................................... 85

CAPÍTULO 3
Terrorismo......................................................................................................................... 95

CAPÍTULO 4
Epidemias........................................................................................................................... 105

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 113
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de to rná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para não finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Desastres ocorrem em qualquer lugar do mundo. Muitos sequer podem ser previstos ou
monitorados. Para esses, a preparação e resposta são essenciais, de tal forma a diminuir os danos e
as fatalidades. Há, no entanto, diversas situações potencialmente críticas que podem ser prevenidas
e monitoradas. São os chamados desastres anunciados. Quando ocorrem em países que possuem
a cultura da prevenção e investem em ações de mitigação, muitas vidas são salvas. No entanto, é
triste assistirmos centenas e milhares de pessoas morrendo, pela falta de treinamento, de planos de
emergência, bem como da ausência ou ineficácia de sistemas de alerta e alarme.

Estudaremos, neste curso, a organização do atendimento pré-hospitalar, bem como situações


chamadas de especiais, pois trataremos de condições que requerem atendimento altamente
especializado, como nas emergências biológicas, químicas e radioativas. Nesse contexto, não
poderíamos deixar de falar, ainda, sobre os desastres propriamente ditos, como: terrorismo e
epidemias.

Um bom estudo para todos!

Objetivos
»» Apresentar os principais conceitos de gerenciamento de crises em situações de
emergência, desastres e epidemias;

»» Contextualizar o papel do gestor de emergência em eventos críticos, com ênfase na


utilização de ferramentas como o Sistema de Comando de Incidentes;

»» Capacitar os pós-graduandos no reconhecimento de eventos críticos, bem como


as fases que antecedem e ocorrem após a crise, apontando as principais ações e
procedimentos a serem desenvolvidos nesses momentos;

»» Realizar estudo de casos que possam trazer lições aprendidas para ações futuras.

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EMERGÊNCIA Unidade i
PRÉ-HOSPITALAR
Quando vemos ambulâncias do SAMU e dos bombeiros realizando socorros de emergência,
facilmente entendemos a importância e a necessidade do atendimento pré-hospitalar. No entanto,
esta é uma área de estudo bastante nova em nosso país e mesmo em sistemas mais antigos, como o
dos paramédicos americanos ou o do SAMU francês. São sistemas diferentes e não devemos cair na
tentação de querer discutir qual é o melhor. Cada um tem suas peculiaridades, críticas e vantagens.
O importante é que o sistema funcione.

Neste capítulo, veremos como tudo começou, as diferenças entre os sistemas, falaremos sobre a
Defesa Civil e sua contextualização na prevenção e resposta aos desastres e eventos críticos.

CAPÍTULO 1
Sistemas de emergência e desastres

O atendimento pré-hospitalar, ou APH, como é conhecido no Brasil, é uma atividade relativamente


recente, que data da década de 1960, nos Estados Unidos.

Provavelmente, poderão ser encontrados muitos autores que datam o atendimento pré-hospitalar
como sendo o correspondente ao das Guerras Napoleônicas, quando o médico militar de Napoleão,
Dominique Jean Larrey, preocupado com a sorte dos soldados feridos abandonados no campo de
batalha, desenvolve um sistema de transporte rápido para o atendimento precoce, o que seria um
protótipo das ambulâncias atuais.

Figura 1. Dr. Dominique Jean Larrey

Fonte: napoleonbonaparte.wordpress.com

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Veículo de transporte (ambulâncias voadoras) de feridos de Dominique Larrey.

Figura 2. Veículo de Transporte

Fonte:< www.newscientist.com>

Esse médico teve, ainda, o mérito de organizar equipes com médicos cirurgiões e ajudantes, que
eram equipados com materiais para prestação de primeiros socorros. Isso no século XVIII, por volta
de 1790.

O trabalho do Dr. Larey foi importantíssimo. Certamente, ele revolucionou o atendimento médico
nos campos de batalha e na chamada “medicina de combate”, mas considerar que o atendimento
pré-hospitalar tem início com o Dr. Larey é discutível.

O trabalho do Dr. Larey era restrito à atuação em guerras, para atender a soldados feridos. Seus
conceitos, naturalmente, foram aproveitados, para o aperfeiçoamento em guerras futuras, como
nos grandes conflitos mundiais e, posteriormente, na Guerra da Coreia e do Vietnã. Entretanto, não
podemos afirmar que, a partir do século XVIII, o APH passou a ser organizado nos grandes centros
e a funcionar com objetivo de atendimento de pacientes de forma precoce até a remoção para o
hospital. Esse conceito só vai surgir na década de 1960, em pleno século XX.

Há muitas ações colocadas em curso, ao longo da história, que inspiraram e contribuíram para
diversas invenções modernas, mas não podemos fazer uma correlação direta dos fatos, pois há
um enorme hiato entre a criação das ambulâncias do Dr. Larey e a organização dos serviços pré-
hospitalares. Há quem considere o Dr. Larey como sendo o fundador do SAMU francês, o que é, no
mínimo, absurdo, pois aquele serviço foi criado, apenas, em 1968, mais de 100 anos depois.

Na verdade, podemos situar o início da organização do atendimento pré-hospitalar na década de


1960, a partir do trabalho do Dr. Frank Pantridge, na Irlanda. Esse cardiologista foi o primeiro a
utilizar um desfibrilador portátil e criou o conceito de Unidade Coronariana Móvel, na cidade de
Belfast. Ex-veterano da Segundo Guerra Mundial, quando, como militar britânico, foi prisioneiro de
guerra dos japoneses. Em 1967, publicou o artigo A Mobile Intensive-Care Unit in the Management
of Myocardial Infarction, na conceituada revista Lancet.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Figura 3. Dr. Frank Pantridge

Fonte: <http://www.heartsine.com/HeartSine%20story%20images/pantridge.jpg>

Figura 4. Unidade Coronariana Móvel do Dr. Pantridge

Fonte: <www.nireland.com/gi4xfr/ambs.htm>

Os americanos, a partir de um artigo publicado na revista Science, em 1966, demonstraram sua


preocupação com as condições em que os pacientes chegavam aos hospitais, ficando claro que havia
necessidade de um atendimento pré-hospitalar.

Os franceses, utilizando um modelo em que o atendimento é realizado, inicialmente, por uma central
de regulação e, a partir da avaliação do médico regulador, despacha o socorro mais adequado, criam
o SAMU, em 1968. No modelo francês, os médicos urgentistas tripulam as ambulâncias e promovem
a estabilização do paciente no local do evento.

Os especialistas em reanimação na França são os anestesiologistas, que também são reanimatologistas.


Na França não há paramédicos.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Figura 5. Samu francês

Fonte: <flickr.com>

Os americanos, por sua vez, tinham uma realidade diferente dos franceses e dos irlandeses em
diversos aspectos. O primeiro deles diz respeito à extensão territorial. Os Estados Unidos são
muito maior do que esses dois países, e isso tinha implicações na formação de equipes médicas. A
população era muito maior e o salário dos médicos nos Estados Unidos estava entre os maiores do
mundo. Como colocar médicos em ambulâncias?

A partir desses e de outros questionamentos, os Estados Unidos abrem o primeiro programa de


residência em Medicina de Emergência, na Universidade de Cincinnati, em 1970, e estabelece
padrões para o atendimento pré-hospitalar.

Surge, então, a figura dos Técnicos de Emergência Médica (EMT), que são classificados em diferentes
níveis: básico, intermediário e paramédico. A forma e amplitude de atendimento dos EMTs variam
de estado para estado americano. Em alguns, eles podem atuar no suporte avançado de vida, com
base em protocolos, em outros, necessitam de supervisão médica on-line. O paramédico, portanto,
é o nível mais avançado do EMT e não existe equivalente em nosso país.

Figura 6. Símbolo dos EMTs americanos

Fonte: <les2secouriste.skyrock.com/>

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Para saber mais sobre a história do APH, acesse:

<http://www.nemsmf.org/ (inglês)>

Atualmente, praticamente todas comunidades americanas possuem um serviço de emergência pré-


hospitalar, seja ele básico ou avançado, rural ou urbano. A atuação dos médicos nesses sistemas é
voltada para o treinamento, a supervisão, o controle de qualidade e o gerenciamento de serviços.
Os serviços existem como estruturas governamentais ou pertencentes a empresas privadas. Os
profissionais possuem diferentes níveis de treinamento; muitos atuam, também, como bombeiros
ou policiais e, em sua maioria, são contratados e recebem salários, mas alguns serviços, sobretudo
os rurais, são conduzidos por voluntários. (ARNOLD, 2006)

A ativação do serviço de emergência nos Estados Unidos é realizada pelo cidadão, a partir da ligação
para um número único de emergência (911). A triagem é, então, realizada pelo operador da central
de emergências, que definirá quais recursos serão despachados para o local (bombeiros, polícia,
ambulâncias). Uma vez que o serviço é acionado, um profissional de emergência mantém contato
permanente com o solicitante, por meio de ligação telefônica, de tal forma a orientá-lo até a chegada
das equipes ao local. Frequentemente, policiais e bombeiros são os primeiros a serem despachados
e os primeiros a chegarem, pois, usualmente, encontram-se mais próximos, dada a distribuição das
unidades de patrulhamento e quartéis de bombeiros.

Figura 7. Cartaz de divulgação do número único de emergências nos EUA.

Fonte: <www.inewscatcher.com>

O atendimento, por sua vez, é realizado de forma a estabilizar o paciente e a removê-lo sem demora
até o centro de referência. Segundo o modelo anglo-saxônico, convencionou-se chamar de “hora de
ouro” o tempo decorrido a partir do momento do trauma até o seu atendimento em uma unidade
especializada e que não deve ser superior a uma hora. Dentro dessa chamada “hora de ouro”,
convencionou-se que o pré-hospitalar não deveria ocupar mais do que 10 minutos, no chamado “10
minutos de platina”. (HARGREAVES, 2000)

No modelo chamado franco-germânico, representado comumente pelo sistema adotado pelo


SAMU francês, o médico faz a regulação das chamadas de emergência e é tripulante das unidades

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

de atendimento. O conceito de estabilização e transporte rápido é substituído pela estabilização


cuidadosa e pelo tratamento no local.

Segundo Dick (2003), as principais diferenças encontradas entre os modelos franco-germânico


(FG) e anglo-saxônico (AA) são as seguintes:

»» No AA, o paciente é trazido até o médico, enquanto que, no FG, o médico é levado
até o paciente.

»» No FG, pacientes em situação de urgência, normalmente, são avaliados e tratados


por clínicos gerais em seus consultórios ou na residência do paciente, com muito
pouca abordagem no serviço de emergência. A maioria dos pacientes tratados na
emergência de hospitais nos Estados Unidos não vai para o hospital, na Alemanha.

»» Pacientes em situações de emergência (risco iminente de morte) são tratados


por médicos de emergência no local do evento e durante o transporte, no FG.
Paramédicos, frequentemente, chegam primeiro ao local do evento e, até a chegada
do médico, ele realiza os procedimentos iniciais de ressuscitação, básico e avançado.

»» Pacientes em situações de emergência podem ter que aguardar até 10 minutos pela
viatura e equipes apropriadas, em 80% das respostas, e até cerca de 15 minutos em
95% dos casos, no FG.

»» No AA, o despacho é feito por um operador de emergência, que pode enviar


suporte básico ou avançado de vida. No segundo caso, a autoridade técnica maior
da tripulação é o paramédico, que deve conduzir a estabilização e o transporte da
vítima o mais rápido possível até o hospital.

»» O tempo total de atendimento pré-hospitalar no modelo FG é superior ao do AA.

»» A Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto que, no FG,


é considerada como um treinamento adicional para especialistas de outras áreas.

»» O atendimento de emergência no FG é conduzido não apenas por anestesistas, mas


também por internistas, cirurgiões, pediatras e outros.

»» O sistema baseado em paramédicos, dos Estados Unidos, foi desenvolvido em 1973,


não porque se acreditava ser superior ao FG, mas por razões econômicas e uma
relativa deficiência de médicos disponíveis para a adoção de modelo similar ao FG.
Em contrapartida, o modelo alemão foi desenvolvido em 1938, pelo cirurgião alemão
Martin Kirchner, tendo sido adaptado, posteriormente, na década de 1950, para o
atendimento dos pacientes em situações de emergência, que deveriam receber o melhor
cuidado disponível, o que incluía o atendimento por médico qualificado. No modelo
AA, o paramédico atua como uma extensão do departamento de emergência (por
razões econômicas), enquanto que, no FG, o médico que atua no local do evento faz
como extensão da unidade de terapia intensiva. O médico é capaz de avaliar e fornecer
atendimento inicial a diversas situações críticas, tendo o paramédico como seu auxiliar.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Ainda de acordo com o mesmo autor, no FG, os médicos recebem um bom treinamento, embora o
conceito e a estrutura utilizados sejam diferentes da padronização americana. No FG, a Medicina
de Emergência é parte da grade curricular dos estudantes de Medicina, que devem, ao longo do
curso, realizar cursos de suporte básico e avançado da vida, bem como treinamento específico
para o atendimento de emergências. Além disso, a Medicina de Emergência é parte do exame final
obrigatório. Após a conclusão do curso (6 anos), cada médico deve atuar em um sistema semelhante
ao internato americano, por 18 meses, em que são exigidas atividades práticas de emergência.

No AA, a Medicina de Emergência é uma especialidade primária nos Estados Unidos (três anos).

Na avaliação do estudo apresentado por Dick (2003), chega-se às seguintes conclusões.

1. No FG, o médico é levado até o paciente, enquanto que, no AA, o paciente é levado
até o médico.

2. No FG, médicos de emergência e paramédicos fornecem atendimento de terapia


intensiva aos pacientes, o que permite alta qualidade no atendimento de emergência.

3. No FG, se os paramédicos possuem treinamento especializado, podem realizar


alguns procedimentos, não apenas de suporte básico de vida, mas também avançado,
sob supervisão médica.

4. No AA, o paramédico tem mais autonomia no atendimento do que no FG.

5. As taxas de morbidade e mortalidade têm decaído no FG e são semelhantes ao do


AA, para as situações de emergência, compreendidas por aquelas conhecidas como
“hora de ouro” do atendimento.

6. O custo per capita ou por atendimento de emergência, no FG, é similar ou até


mesmo menor do que o do AA, com qualidade semelhante ou superior ao do AA.

7. Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto, no FG, é


uma supraespecialidade, ou seja, um treinamento adicional para especialistas de
outras áreas.

O estudo em questão avalia, portanto, a questão da resposta pré-hospitalar, sem tecer maiores
considerações a respeito do atendimento hospitalar que, nos Estados Unidos, é realizado por
especialistas em emergência médica, enquanto, no FG, pelo próprio especialista que a patologia
requer. O que poderia parecer uma vantagem, no caso de o atendimento, no FG, ser realizado pelo
próprio especialista, recebe muitas críticas, pelo tempo e custo demandado, pois um paciente com
traumatismo craniano leve, enquanto é muito bem atendido por um médico de emergência nos
Estados Unidos, no modelo FG, é, frequentemente, avaliado por um especialista em neurologia
ou em neurocirurgia, o que contribui para sobrecarregar o atendimento desses especialistas. Nos
Estados Unidos, apenas casos referenciados pelos médicos de emergência são encaminhados aos
outros especialistas.

A resposta em desastres no modelo francês é feita por intermédio do médico regulador do Serviço de
Assistência Médica de Urgência (SAMU), que despacha equipes médicas para avaliação da situação.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

É, então, acionado o chamado Plano Vermelho, se a situação se configura como acidente com
múltiplas vítimas. O atendimento no local do evento com o sistema de triagem é bem semelhante
ao utilizado nos Estados Unidos, com a ressalva de que, no modelo FG, a avaliação e o atendimento
inicial já são conduzidos por médicos, enquanto que, nos Estados Unidos, quem desempenha essas
funções é o paramédico. O médico, naquele país, apenas em situações muito específicas e/ou graves,
é deslocado para o local do evento, o que é feito em conjunto com o Corpo de Bombeiros. No modelo
FG, uma vez acionado o Plano Vermelho (simultaneamente é acionado o chamado Plano Branco,
destinado a colocar os hospitais em alerta), as equipes médicas passam a atuar em conjunto com os
demais profissionais de socorro (bombeiros, polícia etc.).

PARTE 1 – APH no Brasil


O modelo de resposta em emergências e desastres no Brasil possui algumas peculiaridades.

Não há um modelo nacional de Planos de Desastre, tampouco de resposta coordenada. Algumas


poucas cidades possuem planos específicos, mas não há a cultura nem a doutrina do emprego do
ICS (Incident Command System) no gerenciamento de crise, de um modo geral. A maioria dos
hospitais sequer sabe o que é um Sistema de Comando de Incidentes.

Até pouco tempo, não existia, no Brasil, um sistema ou modelo predominante de atendimento de
emergência pré-hospitalar e cada estado ou município adotava o que julgava ser melhor para sua
região. Assim, enquanto no Rio de Janeiro predominava o modelo franco-germânico, na maioria
das demais regiões existia um modelo misto, com utilização de socorristas, técnicos de enfermagem
e médicos (que só eram deslocados após avaliação do suporte básico ou mediante protocolos) ou,
simplesmente, não existia modelo algum e o atendimento era feito por bombeiros ou pela prefeitura.
(HARGREAVES, 2000)

Em 2003, com a criação do SAMU, no âmbito do SUS, o Brasil passou a adotar o modelo franco-
germânico, com protocolos e estrutura semelhantes ao SAMU francês. Segundo informações do
Ministério da Saúde, disponibilizadas no site do SAMU, atualmente, há 70 Serviços de Atendimento
Móvel de Urgência, implantados e em operação no Brasil. Ao todo, 266 municípios são atendidos
pelo SAMU.

A Portaria no 1.863/GM, de 29 de setembro de 2003, do Ministério da Saúde, que “Institui a Política


Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as
competências das três esferas de gestão”, estabelece, no inciso 4 do art. 2o , o seguinte.

Estabelecer que a Política Nacional de Atenção às Urgências, composta pelos


sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser
organizada de forma que permita:

[...]

4 – fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento


às necessidades coletivas sem saúde, de caráter urgente e transitório,
decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de


risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção, atenção e
mitigação dos eventos.

A Portaria no 2.048/GM do Ministério da Saúde, de 5 de novembro de 2002,


determina que: os Corpos de Bombeiros Militares (incluídas as corporações
de bombeiros independentes e as vinculadas às Polícias Militares), as Polícias
Rodoviárias e outras organizações da Área de Segurança Pública deverão
seguir os critérios e os fluxos definidos pela regulação médica das urgências
do SUS, conforme os termos deste Regulamento.

A Portaria no 2.072/GM, de 30 de outubro de 2003, institui o Comitê Gestor Nacional de Atenção


às Urgências e determina, em seu art. 3o, que seja elaborado o “Plano de Atenção aos Desastres”.

Assim, o Brasil possui diretrizes nacionais para a resposta de emergência, segue o modelo franco-
germânico de resposta a emergências e urgências pré-hospitalares, possui órgãos estaduais, para
conduzir as operações de gerenciamento de crises e resposta estratégica de emergências, mas não
possui um sistema de comando e controle de fato instituído (salvo em poucas cidades), tampouco
um Plano de Atenção aos Desastres, como modelo nacional. Cada corporação e organização segue
suas próprias orientações operacionais e administrativas, em alguns estados, sob a coordenação da
Defesa Civil, mas sem que haja uma padronização de respostas para eventos críticos, como parte de
uma doutrina ou cultura.

Figura 8. Ambulâncias do SAMU no Brasil

Fonte: <saude.al.gov.br>

O Brasil, embora esteja construindo sua história no APH, sobretudo na área pública, ainda precisa
de muito amadurecimento, no que diz respeito às relações institucionais e na construção de uma
doutrina para a área. Infelizmente, ainda são comuns os conflitos entre bombeiros e integrantes do
SAMU, com disputas que não fazem o menor sentido e só prejudicam os pacientes.

Não basta um serviço ter ambulâncias para ser considerado como APH. Sendo público ou privado,
é necessário que haja algumas características presentes.

»» Ter equipe treinada em APH e unidades dedicadas a esse tipo de atendimento.

17
UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

»» Ser apenas de Suporte Básico de Vida, situação de muitos Corpos de Bombeiros no país,
de Suporte Básico e Avançado de Vida ou, ainda, apenas de Suporte Avançado de Vida,
mais comumente encontrado em serviços privados.

»» Contar com a presença de regulação médica.

»» Possuir unidades especialmente equipadas para APH, podendo, no entanto, ser


especializadas para um tipo de atendimento (UTI Pediátrica, Coronária, de Trauma etc.).

»» Ter equipes em condições de atuação em sistema de pronto-emprego.

As unidades de suporte avançado de vida, obrigatoriamente, devem ser tripuladas com médico
e enfermeiro.

Não existe, no Brasil, a atividade de Paramédico, nem de Técnico de Emergência Médica. Existem
Técnicos de Enfermagem com treinamento de emergência, mas que em nada se assemelham, em
termos de formação e função, aos do EMT americano. Os Técnicos de Enfermagem, no Brasil, não
podem atuar sem supervisão de enfermeiro e nenhuma medicação pode ser fornecida sem a devida
prescrição médica. Procedimentos invasivos, como a entubação orotraqueal, são privativos do médico.
A desfibrilação externa automática pode ser realizada por qualquer pessoa que tenha sido treinada, no
entanto, a desfibrilação convencional, apenas por médico. Acesso venoso periférico pode ser realizado
por profissionais de enfermagem, desde que haja prescrição médica e jamais por socorristas.

A atividade de socorrista é entendida como sendo a prestação de suporte básico de vida por pessoas
que tenham sido treinadas em primeiros socorros. Não é profissão regulamentada em nosso país.

Com relação ao pronto-emprego, é importante que tenhamos em mente que, quanto mais rápido o
atendimento inicial, maiores as chances de sobrevivência do paciente, no entanto, isso não autoriza
a ambulância a se deslocar em alta velocidade. Sua localização deve ser devidamente estudada, para
que esteja próxima das ocorrências, quando existirem.

O tempo de resposta ao atendimento corresponde às seguintes fases.

1. Tempo decorrido do evento até a chamada de socorro.

2. Tempo decorrente do recebimento da chamada até o despacho do socorro.

3. Tempo do recebimento do despacho do socorro até o início do deslocamento das


unidades.

4. Tempo do deslocamento das unidades até o local do evento.

Embora o espaço seja produto da velocidade pelo tempo, o que nos incentivaria
a correr, a energia cinética liberada, é igual ao produto da massa pela velocidade
elevada ao quadrado, dividida por dois, ou seja, não é correndo que conseguiremos
resolver a falta de planejamento ou de recursos materiais.

Não é admissível que, pela falha na resposta nos itens de 1 a 3, o item 4 seja utilizado para compensar
o tempo decorrido.

18
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

O item 1 é independente do serviço, mas os itens 2 e 3 são diretamente relacionados à organização


e disponibilidade de recursos materiais e humanos do serviço de APH. O item 3 deve ser o mais
curto possível.

Assim, o serviço de APH é fundamental no atendimento a vítimas, decorrente dos mais variados
agravos à saúde, mas há necessidade de organização, coordenação, treinamento e planejamento.

O SAMU utiliza o termo “urgências” para toda situação crítica, mas, na literatura,
encontramos a diferenciação entre emergência (risco iminente de morte) e a
urgência (necessidade imediata de atendimento, mas sem risco iminente de morte).
Seria a diferença do vermelho para o amarelo, na triagem.

Na ausência de um serviço estruturado, como o SAMU, em muitos locais,


durante anos, os bombeiros assumiram o papel de atendimento de emergência
pré-hospitalar. Com a implementação do SAMU, contudo, esse processo foi
incrementado e novos papéis definidos. O combate a incêndios, o salvamento
e o resgate são atividades típicas de bombeiros, enquanto a assistência pré-
hospitalar é típica do SAMU. Onde há bombeiros em quantidade suficiente e com
treinamento adequado para, além de atender as atividades típicas da Corporação,
também realizar ações de pré-hospitalar, melhor ainda, uma vez que podem
atuar em conjunto com o SAMU. O suporte básico de vida pode ser prestado por
bombeiros e o avançado pelo SAMU, sem nenhuma necessidade de conflito ou
vaidades. A coordenação desses atendimentos deve ser sempre técnica, já que
há vidas em “jogo”. Assim, quem coordena atendimento pré-hospitalar deve ser
o SAMU, independente de haver cooperação de outros órgãos, como bem está
definido pelo Ministério da Saúde. Da mesma forma, quem tem a autoridade para
coordenar ações de salvamento e resgate são os especialistas dos bombeiros.

Para saber mais sobre Regulação Médica nas emergências, acesse:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Manual%20de%20 Regulacao%20
Medica%20das%20Urgencias.pdf>

Quando há ações conjuntas a serem coordenadas, o comando deve ser conjunto, como bem preconiza
o modelo do Sistema de Comando de Incidentes. Não há razão para ser diferente e, enquanto os
conflitos dessa natureza existirem, ainda estaremos longe do amadurecimento necessário para a
existência de um bom sistema de atendimento de emergências.

Nosso país ainda tem muito no que avançar com relação ao APH. Há milhares de locais onde,
simplesmente, inexiste um APH organizado, bem como há outros onde, inexplicavelmente, existe
competição entre serviços públicos, com bombeiros, Samu e até mesmo polícia, atuando de forma
contrária aos interesses da população, como vimos acima. Esses serviços devem atuar de forma
integrada, em que cada um responde por sua área de especialização. Em um incêndio, a autoridade
é o bombeiro, em uma ocorrência policial, é a polícia e, na emergência médica, é o médico. Simples
assim. Há, também, muitos problemas envolvendo serviços públicos e privados e equipes de APH
com profissionais que atuam apenas em hospitais.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Desastre é qualquer evento crítico que excede a capacidade de resposta da sociedade.

(Ciottone)

É uma questão cultural que deve passar por diversas modificações. Começa nos currículos escolares,
com a população, desde cedo, aprendendo primeiros socorros e a acionar os serviços de emergência
apenas quando necessário. Os profissionais de segurança pública e saúde, ao trabalharem de forma
integrada, otimizam o atendimento de APH. É dessa forma que Seattle, nos Estados Unidos, possui
um dos melhores serviços de APH do mundo.

Há necessidade de protocolos organizados, da utilização do Comando de Sistema


de Incidentes (ICS) para eventos que o exijam, bem como da interação com os
serviços hospitalares.

É um caminho que pode ser longo, mas que deve ser percorrido!

PARTE 2 – Segurança pública


Iniciaremos nosso estudo em Segurança Pública, falando da Prevenção e Resposta em Incidentes
Críticos, como um dos elementos de Gestão de Crises em Defesa Civil.

O conceito de Defesa Civil é discutido em diferentes países do mundo, desde a década de 1920,
objetivando preparar a população civil para ataques militares. Essa preparação foi fundamental
ao longo dos anos, sobretudo, durante a Segunda Guerra Mundial. Durante os anos 1950 e 1960,
contudo, houve a organização de serviços de Defesa Civil em diversos países, motivados pela Guerra
Fria e o medo de uma guerra nuclear.

Foi, no entanto, na década de 1970, mais precisamente durante a Conferência Diplomática para
Reafirmação e Desenvolvimento da Lei Humanitária Internacional em Conflitos Armados (1974-
1977), que o papel da Defesa Civil, como instituição de proteção dos civis em situações de conflitos, foi
não apenas reconhecido como importante, como inserido no Protocolo Adicional I das Convenções
de Genebra.

Esse Protocolo define Defesa Civil (Proteção Civil) como “conjunto de ações humanitárias voltadas
para a proteção de populações civis contra perigos oriundos de hostilidades ou desastres, de tal forma
a assisti-las em suas necessidades imediatas e assegurar as condições necessárias à sua sobrevivência”.

O símbolo internacional da Defesa Civil, também chamada de Proteção Civil em alguns locais, é um
triângulo laranja em fundo azul, mas cada país fez suas adaptações a esse símbolo.

O surgimento da Defesa Civil, no Brasil, dá-se a partir de 1942, com a entrada do Brasil na Segunda
Guerra Mundial.

20
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Para conhecer mais sobre a história da Defesa Civil no Brasil, acesse o link abaixo:
<http://www.defesacivil.gov.br/historico/brasil.asp>

Desde então, diversas mudanças foram ocorrendo na estrutura da Defesa Civil, até chegarmos
à configuração atual de Secretaria Nacional de Defesa Civil, órgão do Ministério de Integração
Regional. O Órgão Superior da Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil, no Brasil, é o
Conselho Nacional de Defesa Civil (CONDEC), responsável pela formulação e pela deliberação de
políticas e diretrizes do sistema. O CONDEC é composto por representantes de diversos órgãos
governamentais do Poder Executivo.

A Secretaria Nacional de Defesa Civil é responsável pela articulação, coordenação e supervisão


técnica do sistema, constituindo-se em Órgão Central.

Abaixo do Órgão Central, há os Órgãos Regionais, que, por meio das Coordenadorias Regionais de
Defesa Civil (CORDECs), são responsáveis pela coordenação e pela articulação do sistema em nível
regional e, por essa razão, estão presentes nas 5 macrorregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-
Oeste, Sudeste e Sul).

Em nível estadual, essa coordenação está a cargo das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil e
do Distrito Federal (CEDECs) e, em nível municipal, das Coordenadorias Municipais (COMDEC) e
Núcleos Comunitários (NUDECs) de Defesa Civil.

O instrumento legal que trata e dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil e o Conselho
Nacional de Defesa Civil é o Decreto nº 7.257, de 2010, e a Lei nº 12.340, também, de 2010. Em abril
de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.608, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
– PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho
Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e
monitoramento de desastres; altera as Leis nos 12.340, de 1o de dezembro de 2010, 10.257, de 10 de
julho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de
dezembro de 1996; e dá outras providências.

Legislação sobre Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/legislacao/index.asp>

Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/


sindec/organizacao.asp>

Política Nacional de Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/politica.asp>

Defesa Civil nos Estados <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/estados/index.asp>

Objetivo da Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/index.asp>

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Figura 9. Logo da Defesa Civil do Brasil

Fonte: <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/organizacao.asp>

A Constituição Federal brasileira, em seu art. 144, assim dispõe.

Da Segurança Pública

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos.

I – Polícia Federal.

II – Polícia Rodoviária Federal.

III – Polícia Ferroviária Federal.

IV – Polícias civis.

V – Polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Ao definir as ações dos corpos de bombeiros, diz que: “aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”.

Essa é uma discussão antiga em diversos meios, pois há muitas pessoas que enxergam, nessa
afirmação, que a execução das atividades de defesa civil é prerrogativa exclusiva dos corpos de
bombeiros. Não é. Uma vez que as ações de defesa civil são inerentes a vários órgãos e, também,
à sociedade organizada, os corpos de bombeiros têm o dever constitucional de executarem as
atividades de defesa civil (não podem deixar de fazê-lo), mas não é uma exclusividade. Mesmo
porque, se assim fosse, estaríamos relegando o conceito amplo de defesa civil às atividades
específicas de bombeiro. Naturalmente que, entre as ações de defesa civil, há algumas que são típicas
da atividade de bombeiro, como a de salvamento e de combate a incêndios e, nesse caso, devem
ser realizadas por bombeiros, sempre que possível. Infelizmente, muitos são os municípios que
sequer dispõem de um destacamento de bombeiros, além de termos, em nosso país, uma tradição
forte de bombeiros voluntários, como em outros países, como o Chile. No Brasil, a maior parte dos
bombeiros voluntários está no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Nos Estados Unidos, a Defesa Civil foi transformada em Agência Federal de Manejo de Emergências
(FEMA) e é parte do Departamento de Segurança Interna (Homeland Security Department),
surgido após os atentados de 11 de setembro.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

<http://www.dhs.gov/index.shtm> Departamento de Homeland Security

<http://www.fema.gov> FEMA

Ao colocar a FEMA no mesmo Departamento em que estão órgãos de combate ao terrorismo, os


Estados Unidos centralizaram as ações de prevenção e resposta às mais diferentes situações críticas
em uma única instituição, visando ao trabalho integrado e seguindo uma única política de ações.

Isso já não ocorre no Brasil. Aqui temos diferentes órgãos, sob a responsabilidade de diferentes
ministérios, muitas vezes tratando de temas comuns. Não é à toa que uma pergunta é sempre feita
no Brasil, quando se trata de resposta a desastres. Quem assume a coordenação?

Embora o Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que estudaremos em breve, seja uma excelente
ferramenta, ainda é pouco utilizado no Brasil e não resolve todas as situações de crise, estando mais
indicado para resposta a emergências e desastres. Há, no entanto, outras crises a serem resolvidas
em Segurança Pública.

Ao tratarmos de Prevenção e Resposta a eventos críticos e em particular a desastres e incidentes


com múltiplas vítimas, são fundamentais que primeiro saibamos definir essas situações.

Diante de incidentes com magnitudes diferentes, independente de sua natureza, há necessidade


de resposta articulada e organizada. Sutingco (CIOTTONE, 2006, cap. 30) afirma que “muitos
incidentes, independente de tratar-se de um desastre ou incidentes menores, frequentemente,
requerem resposta coordenada de uma variedade de agências ao longo de um já estabelecido sistema
de comando e controle. O Incident Command System (ICS) foi criado para ser utilizado na cena de
emergências e tem se tornado um instrumento-modelo de comando, controle e coordenação de uma
efetiva resposta de emergência”.

A maioria dos planos de atendimento de múltiplas vítimas é inadequada e, usualmente, inferior


aos procedimentos adotados na resposta diária de emergências. Essa constatação ocorre tanto em
comunidades, com resposta avançada de emergência médica, quanto naquelas em que há apenas o
sistema de resposta básico. (BUTMAN, 1982)

Os acidentes com múltiplas vítimas são aqueles em que, independente da natureza do evento,
causam lesão a diversas pessoas simultaneamente. Nessas circunstâncias, é comum a resposta
desorganizada por parte de equipes de emergência, seja no atendimento inicial, seja na definição
do hospital de destino. Um exemplo de acidente com múltiplas vítimas foi o atentado de 11/09 ao
World Trade Center, em Nova York (EUA). Nos desastres, a situação é diferente. A capacidade de
resposta é inferior à magnitude do evento e, assim, a maioria das decisões estratégicas é tomada com
base na estrutura existente e, frequentemente, o caos é estabelecido. Há em comum, no entanto,
com as duas situações, a necessidade de resposta organizada, gerenciada com base em conceitos
estratégicos, gerenciamento de crise e qualidade no atendimento.

Os chamados eventos críticos de grande porte, como acidentes com múltiplas vítimas e desastres,
além de causarem comoção popular, requerem atendimento básico e especializado, de forma

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

coordenada e baseada em planejamento adequado à realidade local, bem como treinamento


continuado das equipes de emergência e da população.

A resposta de emergência deve ser baseada nessas situações de forma integrada, com comando
unificado pelo conceito internacionalmente conhecido como “Incident Command System”, ou seja,
um sistema de comando para incidentes, em que as diversas faces da resposta, como operações e
logística, são tratadas de forma objetiva e com planejamento focado nas ações em curto, médio e
longo prazo.

Em situações de desastre, como furacões ou em grandes tempestades em que há isolamento e grande


destruição de cidades, sobretudo no interior do país, frequentemente, há um número de vítimas
superior à capacidade de resposta das equipes de atendimento e hospitais da região. O atendimento
é, usualmente, descoordenado e até mesmo improvisado. Poucas são as cidades preparadas para
contingenciamento de emergências e desastres. Não há diferenças entre desastres e catástrofes.
Ambas as palavras possuem o mesmo significado. No entanto, encontramos com maior frequência,
em inglês e em espanhol, o equivalente à desastre (disaster e desastre, respectivamente), enquanto
os franceses preferem o equivalente à catástrofe (catastrophe).

Os nossos problemas começam a partir da definição. Não há um consenso, em nosso país, quanto a
esses termos, apesar de internacionalmente consolidados.

A Defesa Civil brasileira considera desastre “o resultado de eventos adversos, naturais ou


provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais
e ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”. Essa é uma definição ampla demais
e, se a adotássemos, praticamente qualquer evento da natureza que provocasse qualquer tipo de
dano ou prejuízo seria considerado um desastre, o que gera um grande problema, pois, assim,
quando acionar um Plano de Desastres? A Defesa Civil (<http://www.defesacivil.gov.br/desastres/
recomendacoes/declarar/index.asp>) adota, ainda, os termos “Emergência em Desastre” e “Estado
de Calamidade em Desastres”, o que acaba gerando alguma confusão e redundância, pois, por
definição internacional, um desastre já é uma situação de emergência e de calamidade pública. Seria
muito importante que todos seguissem a mesma nomenclatura e doutrina, no caso, a internacional.

Uma situação de desastre requer o esgotamento da resposta local, pela superioridade da magnitude
do evento. Assim, adotaremos a definição internacionalmente aceita de desastre, que é aquela
definida por Ciottone, em seu livro Disaster Medicine (2007), “Desastre é qualquer evento que excede
a capacidade organizada de resposta da sociedade”. Ou seja, não basta um evento ser de grande
magnitude, nem crítico, nem que cause muitos danos ou muitas mortes. Para ser um desastre, a
capacidade de resposta organizada deve ser excedida pelo impacto ocorrido. Do contrário, teremos
acidentes com múltiplas vítimas ou mesmo grandes tragédias, que implicam dor e sofrimento, mas
não se traduzem por planos específicos.

Os incidentes são definidos, pela FEMA, como sendo “uma ocorrência, seja causada pelo homem ou
por um fenômeno da natureza, que requer ações de resposta, para prevenir ou minimizar perdas de
vida ou danos à propriedade e/ou ao meio ambiente”. É com essa definição que iremos trabalhar.

A formação de Gabinete de Crise é comumente negligenciada e muitos são os mitos que envolvem
o atendimento de emergências e desastres. O Gabinete de Crise, no entanto, deve providenciar o

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

gerenciamento de informações e do conhecimento necessário ao gerenciamento completo do evento,


bem como a integração e a coordenação da resposta como um todo.

Os desastres, quanto a sua natureza, podem ser os seguintes.

»» Naturais: tornados, furacões, terremotos etc.

»» Provocados pelo homem: terrorismo, incêndios, acidentes aéreos etc.

»» Mistos: parte causada pelo homem e parte decorrente de fenômeno da natureza.


Ex.: uma pessoa atira um cigarro aceso na mata, que, por estar muito seca e o vento
favorável, produz incêndio florestal.

»» Siderais: causados por elementos espaciais.

»» PARTE 3 – Legislação brasileira aplicada ao APH.

Há diversos aspectos na legislação brasileira a serem aplicados ao APH. O primeiro deles diz respeito
à omissão de socorro. Segundo o Código Penal, é crime:

Art. 135 – Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Assim, com relação ao socorro de pessoas feridas ou em grave e iminente perigo, não se pode
omitir socorro. No entanto, para que o crime esteja configurado, as seguintes condições devem
ser satisfeitas.

»» Exista alguém inválido ou ferido em grave em iminente perigo.

»» Exista criança abandonada ou extraviada.

»» Seja possível prestar assistência sem se expor a risco pessoal.

»» Deixar de pedir socorro da autoridade pública.

Podemos perceber, portanto, que, se alguém passa diante de um carro em chamas, não se espera que
essa pessoa arrisque sua vida, para tentar salvar os passageiros do veículo. Da mesma forma, prestar
assistência significa poder de fato ajudar. Se uma pessoa verifica que outra foi atropelada, mas não
possui conhecimentos de primeiros socorros, o mais adequado é chamar o socorro especializado
(SAMU, Bombeiros) ou ainda um médico ou enfermeiro que presencia o acidente. Os primeiros
socorros podem e devem ser iniciados, se as condições não oferecem risco pessoal a quem socorre,
mas, se as condições da vítima não permitem sua remoção do local, o mais prudente seria chamar e
aguardar o socorro, sem que houvesse qualquer omissão diante da lei.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

A omissão de socorro existe quando um ferido em condição grave, por exemplo, simplesmente é
ignorado por quem causou a sua lesão, ou por qualquer outra pessoa que, ciente dessa condição,
opta por não fazer nada.

Da mesma forma, equipes de socorro que, podendo atuar diante de uma emergência, deixam de
fazê-lo, também podem ser responsabilizadas.

Atuações desastradas no atendimento podem, também, levar a processos por lesão corporal, bem
como por tentativa de homicídio ou mesmo homicídio.

É comum, em filmes de ação, vermos pessoas, diante de alguém com grave dificuldade respiratória,
apelarem para traqueostomias (ou cricotireoidectomias) com canetas esferográficas, como se fosse
um procedimento de fácil execução para salvar vidas. Esse é um ato heroico de difícil execução e
que não deveria ser ensinada e nem praticada por leigos ou pessoas que não estejam habilitadas a
executá-las. Uma interpretação errada dos sinais e sintomas poderia levar alguém com obstrução
parcial de vias aéreas ser submetido a um procedimento que pode até mesmo ser fatal ou trazer
danos irreversíveis às cordas vocais. Mesmo cirurgiões experientes teriam dificuldades em realizar
procedimentos dessa natureza, em ambiente pré-hospitalar e de forma improvisada.

É fundamental, portanto, que os profissionais de saúde conheçam suas limitações técnicas e legais,
antes de realizarem qualquer procedimento na área de saúde.

A autorização legal para a prática profissional vem da realização de cursos técnicos ou de graduação.
A pós-graduação, via de regra, não confere autorização para ninguém atuar como graduado naquela
área. Assim, um engenheiro não pode exercer a advocacia, pelo fato de ter concluído uma pós-
graduação em direito, e nem alguém que não seja médico pode exercer a medicina, independente
do curso de pós-graduação realizado.

Desta forma, temos o chamado Suporte Básico de Vida, que pode ser praticado por qualquer pessoa
treinada e que tem como característica principal a não realização de procedimentos invasivos
(entubação, acesso venoso etc.), nem o uso de medicamentos. O desfibrilador externo automático
pode ser utilizado no suporte básico de vida, por qualquer pessoa que saiba utilizá-lo e é um
importante instrumento para a reanimação, quando bem indicado.

O Suporte Avançado de Vida, por sua vez, só pode ser realizado por médicos e enfermeiros,
cada um dentro de suas respectivas áreas de atuação e implica na utilização de medicamentos e
procedimentos invasivos.

O fato de uma vítima morrer durante um atendimento não significa que tenha havido erro
profissional ou que o socorrista tenha sido culpado e seja processado por homicídio, que pode ser
doloso (houve a intenção de matar) ou culposo (sem a intenção de matar). Existe, ainda, o chamado
dolo eventual, que ocorre quando a pessoa, sem a intenção de matar, assume o risco de provocar a
morte, mesmo podendo evitá-la. Poderia ser o caso, por exemplo, de alguém que dirige bêbado, em
alta velocidade ou na contramão.

Para que o homicídio seja culposo, há necessidade de que o resultado (a morte) não tenha sido
desejado e que tenha ocorrido por negligência, imprudência ou imperícia.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

A negligência ocorre pelo descuido, pela falta de cuidado e atenção. Como exemplo, podemos dar
o do profissional que deixa de perceber que o monitoramento do paciente não está sendo feito por
não ter sido colocado de forma adequada ou ainda uma medicação que foi aplicada sem ter sido
conferida se era de fato para aquele paciente.

A imprudência ocorre quando se age sem precaução, de forma precipitada. É o caso, por exemplo,
do transporte aeromédico realizado com condições de risco desnecessários ao paciente. Não é à toa
que nossas avós já diziam que “canja de galinha e prudência” não fazem mal a ninguém. Quem atua
na área de saúde não pode ser precipitado.

A imperícia, por sua vez, ocorre quando alguém realiza um procedimento sem que possua
conhecimentos técnicos para realizá-lo. É o caso, como citado anteriormente, de alguém que não
sendo médico, resolve fazer uma traqueostomia com uma caneta ou mesmo uma faca e o paciente
morre. Se a morte foi consequência do procedimento mal realizado, o socorrista pode ser processado
por homicídio culposo ou dependendo do caso, até mesmo por dolo eventual.

Não podemos, no entanto, confundir a morte decorrente de acidentes ou patologias, que ocorrem
durante as tentativas de resgate, em que a equipe, infelizmente, não conseguiu evitar, apesar de todos
esforços realizados, dentro de protocolos técnicos amplamente aceitos, com aquelas resultantes de
falhas técnicas (erros) ou provocadas.

Uma questão sempre discutida é com relação à declaração de morte no ambiente pré-hospitalar. Quem
pode declarar a morte? Bom, se os sinais de morte são evidentes (ex.: decapitação, decomposição),
está óbvio que a vítima está morta e nenhuma manobra de reanimação será tentada. Nesse caso, o
local deve ser isolado, até a chegada da autoridade policial.

Nos casos em que não é possível determinar há quanto tempo a vítima encontra-se em parada
cardiorrespiratória ou quando ocorreu há poucos minutos, a equipe de reanimação deve iniciar todos
esforços dentro de seus conhecimentos técnicos e sua habilitação legal, com vistas à recuperação
do paciente. As manobras devem ser continuadas, até a chegada de suporte avançado, chegada
ao hospital ou até que um médico declare que a vítima está morta. Em casos extremos, em que
não haja médicos na região, o óbito pode ser declarado por duas testemunhas idôneas que tiverem
presenciado alguém morto, segundo a legislação vigente.

Com relação ao sigilo profissional, temos que é crime o seguinte.

“Código Penal art.325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e
que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação.

Pena – detenção de 6(seis) meses a 02(dois) anos, ou multa, se o fato não


constitui fato mais grave”

A Constituição Federal também assim se manifesta.

Art.5o inciso X – “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Todos os Códigos de Ética das profissões da saúde também proíbem a divulgação de fatos que
tenham sido conhecidos em virtude do atendimento realizado.

No atendimento pré-hospitalar, isso não é diferente. O fato da vítima estar em local público ou do fato
ter sido divulgado pela mídia não dá direito ao profissional de comentar detalhes nem informações
sobre o paciente, sem a devida autorização do paciente ou nos casos expressos em lei (justa causa
ou dever legal). A justa causa ocorre, por exemplo, quando um paciente morreu em decorrência de
uma enfermidade infectocontagiosa e a população pode ser estar em risco. Ainda assim, todos os
esforços devem ser tomados para que apenas as informações realmente pertinentes e necessárias
sejam reveladas. A morte da vítima não cessa a obrigação da guarda de sigilo profissional. Todo
cuidado, portanto, deve ser tomado, sobretudo em declarações públicas.

A normatização do atendimento pré-hospitalar é feita por meio da Portaria no 2048/GM, do


Ministério da Saúde, de 5 de novembro de 2002.

A Resolução do Conselho Federal de Medicina no 1.672/2003, dispõe sobre o transporte inter-


hospitalar de pacientes e dá outras providências.

Em 2003, como já visto anteriormente, o Ministério da Saúde institui a Política Nacional de Atenção
às Urgências, por meio da Portaria no 1863/2003.

< http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legislacao-sanitaria/estabelecime
ntos-de-saude/urgencia-e-emergencia/portaria_2048_B.pdf>

<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2003/1672_2003.htm>

<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2003/GM/GM-1863.htm>

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CAPÍTULO 2
Transporte e evacuação de feridos
em APH

O transporte de pacientes e evacuação de feridos é de grande importância, uma vez que o atendimento
pré-hospitalar vai até a chegada do paciente ao hospital.

Quais meios de transporte de pacientes podem ser utilizados? Nos filmes, assistimos, com frequência,
a utilização de helicópteros? Será que eles têm indicação para todos os casos?

Neste capítulo, estudaremos os diferentes meios de transporte de pacientes e evacuação de feridos.

PARTE 1 – Transporte terrestre


O transporte de pacientes por meio terrestre é o mais conhecido e convencional e, usualmente, é
feito por ambulâncias. Já estudamos os primeiros modelos de ambulância propostos por Dominique
Larrey, nas guerras Napoleônicas, e sabemos que, desde então, os modelos foram ficando cada vez
mais sofisticados.

Por meio terrestre, podemos entender o transporte feito por ambulâncias, como também o
atendimento de emergência prestado pelas moto-ambulâncias (“motolâncias”) e as bicicleta-
ambulâncias (“bikelâncias”). As motos e as bicicletas, apesar de receberem o nome de ambulâncias,
não são voltadas para o transporte de pacientes propriamente ditos, com exceção de algumas
regiões do Brasil que adaptaram macas para serem colocadas em cima de bicicletas de quatro
rodas. Em geral, o objetivo das motos e bicicletas é poder circular em locais de difícil acesso aos
veículos maiores ou mesmo para chegar mais rápido. A vantagem é que, com frequência, esses
veículos possuem equipamentos, como o desfibrilador externo automático, e são conduzidos por
profissionais de emergência treinados.

Figura 10. Motolâncias do SAMU

Fonte: <http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/tag/motolancia/>

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Figura 11. Bikelância do SAMU-DF

Fonte: <www.samu192.df.com.br>

O atendimento em motos e bicicletas, naturalmente, exige rigoroso treinamento e habilidades


específicas, havendo necessidade de curso de formação, uma vez que possui riscos não apenas para
o condutor, como também para as pessoas que transitam nas ruas. As motos são excelentes meios
de transporte para se chegar a pacientes críticos, quando o local é de difícil acesso, o que inclui
não apenas trânsito complicado, com grandes “engarrafamentos”, como também em locais onde
a estrada não permite a passagem de veículos maiores, como praias e áreas rurais, muitas vezes
castigadas pelas chuvas. O objetivo é chegar rápido, para estabilizar o paciente. As bicicletas, por
sua vez, tem grande utilidade em parques e áreas de lazer.

Há, também, uma viatura muito empregada em socorro, que não é também uma ambulância, mas
tem grande aplicabilidade e importância, que é a viatura de intervenção rápida. Trata-se de um
carro, geralmente, equipado com equipamentos de suporte avançado de vida e tem por objetivo
chegar rápido ao local, também com o objetivo de estabilizar o paciente crítico. As viaturas dessa
natureza têm por característica principal serem de dimensões inferiores às das ambulâncias, o que
garante maior mobilidade no trânsito, permitindo, também, chegar a locais de difícil acesso para as
ambulâncias convencionais.

Figura 12. Veículo de Intervenção Rápida

Fonte: <samujoinville.blogspot.com>

30
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Empregamos muito o conceito da necessidade de chegada rápida ao local. Contudo, é importante


termos em mente que chegar rápido não significa, necessariamente, descumprir regras de trânsito.
Quando bem distribuidos os recursos, eles podem estar rapidamente disponíveis, sem colocar em
risco a vida da equipe e pacientes.

Aprendemos na Física que S=VT, em que S representa espaço, V, a velocidade e T, o tempo. Assim,
quanto maior a velocidade, menor o tempo para se chegar a determinado lugar. O problema dessa
equação, quando aplicamos para o atendimento de emergência, é que devemos nos lembrar da
energia cinética e sua fórmula, que é aquela associada ao movimento. A energia cinética é igual
à massa, multiplicada pela velocidade ao quadrado, dividido por dois. Ou seja, quanto maior a
velocidade maior será a energia liberada e, em caso de acidente, absorvida pelo veículo acidentado
e seus ocupantes. Acidentes com ambulâncias, infelizmente, são frequentes e, por essa razão, todo
cuidado é pouco.

As ambulâncias no Brasil são classificadas conforme o disposto na Portaria no 2048/2002 e que faz
parte da Política Nacional de Atenção às Urgências e Emergências.

Visite o site:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Politica%20Nacional.pdf.>

Aqui são, também, definidas as atribuições de cada membro das equipes de APH, entre outras. A
referida Portaria, dispõe conforme a seguir.

“As dimensões e outras especifi cações do veículo terrestre deverão obedecer às


normas da ABNT – NBR 14561/2000, de julho de 2000.

As ambulâncias são classificadas da seguinte maneira.

TIPO A – Ambulância de Transporte: veículo destinado ao transporte em


decúbito horizontal de pacientes que não apresentam risco de vida, para
remoções simples e de caráter eletivo.

TIPO B – Ambulância de Suporte Básico: veículo destinado ao transporte


inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento
pré-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, não classificado
com potencial de necessitar de intervenção médica no local e/ou durante
transporte até o serviço de destino.

TIPO C – Ambulância de Resgate: veículo de atendimento de urgências pré-


hospitalares de pacientes vítimas de acidentes ou pacientes em locais de difícil
acesso, com equipamentos de salvamento (terrestre, aquático e em alturas).

TIPO D – Ambulância de Suporte Avançado: veículo destinado ao atendimento


e transporte de pacientes de alto risco em emergências pré-hospitalares e/ou
de transporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados médicos intensivos.
Deve contar com os equipamentos médicos necessários para essa função.

31
UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

TIPO E – Aeronave de Transporte Médico: aeronave de asa fixa ou rotativa


utilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa
rotativa para ações de resgate, dotada de equipamentos médicos homologados
pelo Departamento de Aviação Civil – DAC.

TIPO F – Embarcação de Transporte Médico: veículo motorizado aquaviário,


destinado ao transporte por via 100 marítima ou fluvial. Deve possuir os
equipamentos médicos necessários ao atendimento de pacientes conforme
sua gravidade.”

É fundamental que a equipe de APH seja treinada, conheça os equipamentos a serem utilizados e
que os pacientes estejam estabilizados para remoção. O transporte terrestre, ao ser escolhido como
sendo o meio a ser utilizado, deve levar em consideração o seguinte.

»» Condições de saúde do paciente.

»» Estabilização hemodinâmica.

»» Distância a ser percorrida.

»» Condições da estrada a ser utilizada.

»» Equipamentos disponíveis (reserva de oxigênio, por exemplo).

»» Avaliar custo x benefício da remoção.

Ao avaliar o quesito equipamentos, espera-se que haja autonomia de uso de pelo menos o dobro
do tempo previsto para o transporte, sobretudo, naqueles realizados de forma eletiva. Assim, se o
tempo previsto para o transporte de um paciente é de 30 minutos, deve haver oxigênio e bateria
para os equipamentos de monitoramento, para, pelo menos, 60 minutos. Essa é uma das razões
pelas quais transportes terrestres não serem indicados para grandes distâncias.

Figura 13. Interior de ambulância de Suporte Avançado de Vida (Tipo D)

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

PARTE 2 – Transporte aéreo


“Alonga o voo. A imensidão recorta.
Domina, assim, o espaço, o Azul domina,
Já que o seio da terra não comporta,
O grandioso ideal que te fascina.
Sonha! Teu próprio sonho te transporta.
Acima de ti mesmo – Asas empinam!
Es quase um Deus! Ser homem pouco importa.
Se a conquista do céu, faz-se divina.
Ser como as águias. Voa nas alturas.
Transpõem o etéreo, as siderais planuras,
Da Via Láctea a célica mansão.
Sobe ainda mais, num frêmito inaudito.
-Percorre as cordilheiras do infinito.
Heroico bandeirante da amplidão.”

Palmyra Wanderley (1922)

O transporte aeromédico é, muitas vezes, romanceado no imaginário das pessoas. É comum


vermos, em filmes e novelas, helicópteros realizando salvamentos e transporte de pacientes
críticos para os hospitais.

Na vida real, contudo, embora o transporte aeromédico seja de grande utilidade para muitas
situações, trata-se de recurso que precisa ser muito bem indicado e, ao mesmo tempo, equipado e
operado com padrões altos de excelência, dado o risco que envolve a sua utilização.

Há, basicamente, dois tipos de aeronaves. As chamadas de asa fixa (aviões) e as rotativas
(helicópteros). Há, também, dois tipos de operações com aeronaves. Os MEDEVACS e os CASEVACS.
São termos militares, mas que podem ser aplicados ao transporte civil.

Figura 14. Transporte aeromédico

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Fonte: <http://www.pjf.mg.gov.br/noticias/view.php?modo=link2&idnoticia2=33240>

Os MEDEVACS (Medical Evacuations) são operações de transporte de pacientes eletivos. São


aqueles casos em que pacientes internados em uma unidade hospitalar necessitam ser removidos
para outros hospitais, geralmente, com melhores recursos. Pode ser entendido, também, como o
transporte de pacientes que estão no campo de batalha (mas que já foram estabilizados em uma
unidade de campanha) para um hospital.

Os CASEVACS (Casualty Evacuations) são operações que visam a resgatar o ferido no local em
que se encontra até uma unidade que prestará o atendimento mais imediato. Caso, por exemplo,
das aeronaves do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Rodoviária, quando descem nas rodovias para
transportar feridos graves, que, embora tenham recebido os primeiros socorros, requerem um
atendimento hospitalar imediato.

Os termos acima, por vezes, são controversos, mas são úteis para nós, para que possamos, em outras
palavras, diferenciar o transporte inter-hospitalar do pré-hospitalar.

A Política Nacional de Atenção às Urgências diferencia a natureza dessas operações ao chamar de


CASEVAC as aeronaves de Asas Rotativas (Helicópteros) para atendimento pré-hospitalar móvel
primário e prevendo como requerido o seguinte.

Conjunto aeromédico (homologado pelo Departamento de Aviação Civil – DAC):


maca ou incubadora; cilindro de ar comprimido e oxigênio com autonomia
de, pelo menos, 2 horas; régua tripla para transporte; suporte para fixação de
equipamentos médicos. Em seguida, elenca todos materiais e equipamentos
necessários para esse tipo de transporte. Observem que o CASEVAC, por sua
própria natureza e especificidades, diz respeito, basicamente, a operações com
aeronaves de asa rotativa (helicópteros).

O MEDEVAC, por sua vez, diz respeito a “aeronaves de Asas Fixas (Aviões) e Aeronaves de Asas
Rotativas (Helicópteros) para atendimento pré-hospitalar móvel secundário ou transporte inter-
hospitalar”, caracterizado por ser assim definido.

Conjunto aeromédico (homologado pelo Departamento de Aviação Civil


– DAC): maca ou incubadora; cilindro de ar comprimido e oxigênio com
autonomia de, pelo menos, 4 horas; régua tripla para transporte; suporte para
fixação de equipamentos médicos.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Essa mesma Política trata da formação e capacitação das equipes de transporte aeromédico.

Capacitação Específica dos Profissionais de Transporte Aeromédico: os


profissionais devem ter noções de aeronáutica e de fisiologia de voo. Essas
noções devem seguir as determinações da Diretoria de Saúde da Aeronáutica e
da Divisão de Medicina Aeroespacial, abrangendo o seguinte.

Noções de aeronáutica

1. Terminologia aeronáutica.

2. Procedimentos normais e de emergência em voo.

3. Evacuação de emergência.

4. Segurança no interior e em torno de aeronaves.

5. Embarque e desembarque de pacientes.

Noções básicas de fisiologia de voo

1. Atmosfera.

2. Fisiologia respiratória.

3. Estudo clínico da hipóxia.

4. Disbarismos.

5. Forças acelerativas em voo e seus efeitos sobre o organismo humano.

6. Aerocinetose.

7. Ritmo circadiano.

8. Gases, líquidos e vapores tóxicos em aviação.

9. Ruídos e vibrações.

10. Cuidados de saúde com paciente em voo.

É prevista, ainda, capacitação adicional para esses profissionais.

Enquanto no transporte primário (CASEVAC) das vítimas as condições clínicas da vítima, muitas
vezes, apresentam-se como críticas e até mesmo desesperadoras, deve-se ter em mente que a decisão
do transporte e do atendimento não cabe apenas ao médico, mas também ao piloto. Vários são os
casos de acidentes com aeronaves que, na vontade de socorrer as vítimas, ignoraram condições
meteorológicas severas ou condições de terreno adversas.

O SAMU-DF apresenta para o transporte aeromédico as seguintes indicações.

»» Tempo de chegada da ambulância terrestre superior a quinze minutos para casos


graves.

»» Diferença de tempo terrestre aéreo para transporte superior a quinze minutos para
casos graves.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

»» Indisponibilidade de transporte terrestre.

»» Acesso terrestre difícil ou impossível (montanhas, ilhas etc.).

O SAMU-DF, em protocolo assinado pelo Dr. Otávio Melo Junior, apresenta as seguintes diretrizes
a serem utilizadas antes do voo e no interior das aeronaves.

»» ANTES DO EMBARQUE

›› Informar pacientes colaborativos sobre as características do transporte.

›› Avaliar o paciente.

›› Avaliar os exames laboratoriais e de imagem, se presentes.

›› Monitorizar o paciente com cardioscópio, oxímetro de pulso e monitor não


invasivo da tensão arterial.

›› Efetuar as imobilizações que forem necessárias.

›› Suplementar oxigênio em pacientes pneumopatas, cardiopatas, com distúrbios


circulatórios, politraumatizados, queimados e com trauma ocular isolado.

›› Sedar e conter pacientes agitados.

›› Realizar no solo todos os procedimentos invasivos.

›› Obter acesso venoso periférico.

›› Drenar tórax de paciente com suspeita de pneumotórax .

›› Efetuar cateterismo nasogástrico em pacientes com patologia abdominal,


comatosos ou com traumatismo raquimedular.

›› Introduzir cateter vesical em pacientes inconscientes, com traumatismo


raquimedular ou distúrbios hemodinâmicos.

›› Estabilizar politraumatizados com a prancha longa, KED e colar cervical.

›› Imobilizar fraturas de membros, evitando a utilização de dispositivos infláveis.

›› Evitar contato do paciente com superfícies metálicas no caso de eventual


cardiversão

»» NO INTERIOR DA AERONAVE

›› Continuar a suplementação de oxigênio e ventilação mecânica.

›› Manter imobilização cervical e de lesões músculo-esqueléticas.

›› Preparar material para assistência básica à ventilação (bolsa/máscara), aspiração


e oxigenoterapia e medicações de urgência para utilização imediata.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

›› Dispor de aspirador manual portátil, em caso de falha do equipamento.

›› Infundir medicações críticas por meio de bomba infusora.

›› Proteger os ouvidos do paciente e, caso ele esteja lúcido, utilizar fone para
radiocomunicação.

›› Manter o paciente aquecido.

›› Fixar o paciente a maca e todos os equipamentos.

›› Antes da decolagem, verificar se o paciente está confortável e seguro.

›› Durante o voo, qualquer alteração dos parâmetros hemodinâmicos deve ser


anotada.

Sob o ponto de vista deste curso, é importante ao profissional que irá, de alguma forma, auxiliar
nas operações com aeronaves conhecer algumas regras de segurança. É o caso, por exemplo, dos
desastres, quando há o pouso de helicópteros em áreas críticas, tanto para resgate de pessoas
isoladas quanto para transporte de feridos ou entrega de mantimentos.

O Ministério da Aeronáutica elaborou as “Instruções para Operação de Helicópteros para Construção


e Utilização de Helipontos ou Heliportos” que podem ser consultadas em <http://www2.anac.gov.
br/biblioteca/portarias/port018GM5.pdf>

O Corpo de Bombeiros do Paraná elaborou uma cartilha muito interessante, em que apresenta as
regras de segurança a serem adotadas para operações com helicópteros, que podem ser encontradas na
íntegra em <http://pt.scribd.com/doc/62929463/98/Seguranca-nas-operacoes-com-helicopteros>

Os principais pontos apresentados nessa Cartilha são os seguintes.

As operações que envolvam helicópteros devem ser realizadas observando-se todos os preceitos de
segurança, pois a aeronave exige uma criteriosa rotina de segurança que deve ser seguida, para evitar
que acidentes ocorram. As recomendações abaixo são válidas para o emprego em qualquer tipo de
helicóptero e garantem ao combatente e à guarnição da aeronave a segurança mínima, por isso devem
ser sempre observadas. A seguir, fatores de segurança a serem observados pelas equipes de terra.

a. Mantenha-se afastado no mínimo a 20m do helicóptero quando ele estiver próximo


ao solo. Procure ficar agachado para maior proteção.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

b. Aproximar-se somente pela frente do helicóptero, para que o piloto tenha sua
visualização. Jamais se aproxime do rotor de cauda.

c. Em terrenos inclinados, aproxime-se sempre pelo nível mais baixo.

d. Não olhe para o helicóptero quando ele está prestes a levantar voo. Use proteção para
vistas, pois objetos podem ser lançados, devido ao deslocamento de ar ocasionado
pelo movimento do rotor.

e. Ao aproximar-se do helicóptero com equipamentos e ferramentas, mantê-los


próximo ao solo e segurá-los firmemente.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

f. Somente pessoal qualificado deve colocar cargas e pessoas no helicóptero. Seguir as


orientações do Comandante da Aeronave.

g. Procure sempre indicar a direção do vento ao piloto.

h. Mantenha entulhos, material cortado nos incêndios florestais e qualquer tipo de


objeto no mínimo a 30 metros da área de manobra dos helicópteros.

i. Não descarregue, nem lance nenhum material ou equipamento do helicóptero


enquanto o mesmo não estiver estabilizado no solo.

j. Em caso de acidente com a aeronave, após a retirada dos tripulantes e guarnição,


mantenha distância e procure isolar a área.

Conheça os sites:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Politica%20Nacional.pdf>

<http://www.samu192df.com.br/samu/aeromedico/MostradiretrizesAero.
jsp?idnoticia=10>

PARTE 3 – Outros meios de transporte


Outros meios de transporte incluem as chamadas “ambulanchas”, que são embarcações adaptadas
para atuarem como ambulâncias e correspondem ao que foi normatizado pelo Ministério da Saúde,
como a seguir.

TIPO F – Embarcação de Transporte Médico: veículo motorizado aquaviário,


destinado ao transporte por via 100 marítima ou fluvial. Deve possuir os
equipamentos médicos necessários ao atendimento de pacientes conforme sua
gravidade.

Em geral, esse tipo de ambulância tem sua maior aplicabilidade em regiões onde o acesso por rios,
lagos ou mesmo pelo mar, é mais ágil ou necessário, como no socorro às populações ribeirinhas ou
que residem em ilhas e outras regiões com acesso restrito à ambulâncias terrestres.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Figura 15. Ambulancha do SAMU

Fonte: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24348>

De acordo com o SAMU, as ambulanchas estão assim distribuídas em nosso país.

AMBULANCHAS SAMU 192

REGIÃO NORTE

1. Porto Velho - RO

2. Macapá - AP

3. Manaus - AM

4. Belém – PA

REGIÃO SUDESTE

1. Rio de Janeiro//RJ

Percebemos, por esses números, que ainda há necessidade de muitas outras. Para um número
atualizado, consultem sempre o portal do Ministério da Saúde.

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CAPÍTULO 3
Situações especiais em APH

Neste capítulo, estudaremos diferentes situações que envolvem o APH e que diferem do atendimento
rotineiro ou emprego usual de recursos.

PARTE 1 – Eventos de grande público


(Mass Gathering)
Há um termo em inglês que é utilizado quando há um grande número de pessoas envolvidas em
um mesmo evento. O termo é Mass Gathering. Não há uma definição rigorosa quanto ao que
seriam esses tipos de evento, mas admite-se que acima de 1.000 pessoas reunidas ao mesmo tempo
seria um exemplo desse tipo de situação. Esse é um conceito adotado pelo Colégio Americano de
Médicos de Emergência (ACEP) e, também, pela Associação Americana de Médicos de Sistemas
de Emergência Médica (NAEMSP). Como dissemos, esse não é um número exato e há variações
em torno dele, dependendo do local a ser realizado. Um ginásio lotado com 500 pessoas também
poderia ser considerado um evento de grande público. É importante que cada serviço de emergência
tenha sua própria definição e, ao mesmo tempo, as ações a serem desenvolvidas a partir de então.

Figura 16. Estádio de futebol lotado (exemplo de Mass Gathering)

Fonte: Choi,Wuyeong

Esse é um tópico especialmente importante em um país como o nosso, que possui muitas festas
populares que arrastam multidões, como o Carnaval, além de eventos desportivos, como as partidas
de futebol e, sobretudo, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Assim, podemos ter um Mass Gathering quando há o seguinte.

»» Grande público (geralmente > 1.000 pessoas) em espaço limitado.

»» Número de pessoas elevado confinadas em espaço reduzido.

De um modo geral, a previsão de público deve seguir a regra de 01 pessoa sentada ou 02 em pé/m². O
número de ingressos disponibilizados deve ser, portanto, compatível com a área destinada ao público.

Há um termo em inglês que, com frequência, causa confusão com o Mass Gathering. Quando temos
um incidente com número elevado de feridos e, eventualmente, de mortos, dizemos que há um
Incidente com Múltiplas Vítimas ou Acidente de Massa, que, em inglês, recebe o nome de Mass
Casualty, como veremos em breve.

Há basicamente dois tipos de Mass Gathering.

»» Eletivos.

»» Inesperados.

Os eletivos são aqueles que foram planejados com antecedência, como grandes shows de música,
eventos desportivos, entre outros. Os inesperados, por sua vez, são aqueles que se formam sem uma
preparação prévia. Um exemplo seriam passeatas que se formam de um momento para o outro e
vão ganhando a adesão de populares.

Estima-se que haverá problemas médicos de 0,2 a 06 pacientes/1.000 pessoas e de 0,3 a


0,4/1.000.000 em virtude de parada cardíaca, conforme estudos publicados por John Meredith,
em sua obra Mass Gathering Events: Pre-Event Analysis and the Response Annals of Emergency
Medicine, Vol.11. Issue 4, 2002.

É fundamental, no Planejamento de Eventos de Grande Público, que as seguintes variáveis e ações


sejam realizadas e conhecidas.

1. Informações preliminares.

2. Mapa e reconhecimento do local.

3. Levantamento de ameaças, vulnerabilidades e riscos.

4. Mitigação para danos conhecidos.

5. Estimativa Médica de Situação

6. Treinamento.

7. Briefing (reunião destinada a explicar todas as ações e dinâmica do evento, incluindo


o papel de cada um no atendimento a ser realizado).

Como informações preliminares a serem obtidas, temos o seguinte.

»» Natureza do evento.

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

»» Tamanho do público.

»» Local do evento, acesso e distância para hospitais.

»» Relação tamanho de público/espaço.

»» Tipo de público.

»» Infraestrutura, inclusive médica.

»» Instituições participantes.

»» Acesso do público e rotas de fuga e escoamento.

»» Previsão Meteorológica.

»» Duração do evento.

»» Data/horário/dia da semana do evento (Férias?).

»» Características especiais.

A escolha do local do Posto Médico e do Posto de Comando deve levar em conta as seguintes variáveis.

»» Transporte de pacientes.

»» Rotas de saída e fuga.

»» Local de atendimento.

»» Estacionamento de viaturas.

»» Número de Postos.

»» Trajetos alternativos.

»» Situações hipotéticas.

A distância de deslocamento até o local deve ser de até 4 minutos para o suporte básico de vida e de
até 8 minutos para o suporte avançado de vida. As ambulâncias devem atuar em sistema de rodízio
e os postos não podem ficar sem ambulância.

A chamada Estimativa Médica de Situação visa a responder, basicamente, às seguintes perguntas.

»» O evento é viável?

»» Há restrições? Quais? Riscos envolvidos?

»» Considerações técnicas?

A principal responsabilidade e atuação do coordenador de um evento com grande público é evitar


ao máximo que ele se transforme em um incidente com múltiplas vítimas.

Para quem quiser ler mais sobre o tema, indico um trabalho muito interessante (em inglês) que é a
experiência das Olimpíadas de 2004, em Atenas, Grécia, sob o ponto de vista da Saúde Pública. Esse

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

trabalho foi publicado pela Organização Mundial de Saúde e está disponível em <http://www.euro.
who.int/__data/assets/pdf_file/0009/98415/E90712.pdf>

Figura 17. Mass Gatherings and Public Health

PARTE 2 – Socorro Tático de Emergência


A medicina tática é um campo de estudo relativamente novo das Ciências Médicas e é considerado,
por muitos autores, como também pelo Colégio Americano de Médicos de Emergência, uma
subespecialidade da Medicina de Emergência.

O foco de atenção da medicina tática está no suporte de emergência aos envolvidos em situações
policiais complexas, em que há necessidade de treinamento especializado das equipes médico-táticas,
pois são operações de grande risco, como tomada de reféns, ações contra terroristas, entre outras.

A medicina tática não se confunde com a medicina de combate, voltada para procedimentos médicos
em situações de conflitos armados, embora haja diversos elementos em comum.

Uma discussão antiga, mas sempre presente, é com relação à formação do médico-tático. Nos Estados
Unidos, local onde a medicina tática está mais estruturada e é mais estudada, existindo diversas
associações e publicações sobre o tema, há duas situações com relação ao profissional a desempenhar a
função médico-tática. Naquele país, existe a figura do técnico de emergência médica, no nível conhecido
como paramédico, em que o campo de atuação e procedimentos realizados por esse profissional varia

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

de acordo com cada estado americano. Assim, em alguns estados, o paramédico assume esse papel,
enquanto, em outros, sobretudo em agências federais, há a presença do médico.

Por muitos anos, vem se discutindo se seria melhor um policial treinado como paramédico ou
um profissional de saúde com treinamento policial. Há as duas situações em diferentes agências,
mas, de uma forma geral, a segunda opção tem sido preferida por três razões básicas. A primeira
é a de que a formação de um profissional de saúde, mesmo no nível de paramédico, consume
muito tempo e possui custos bastante elevados. A segunda razão é a diversidade de legislações
entre os estados, de tal forma que um paramédico, possivelmente, teria autorização para alguns
procedimentos em um estado, mas proibido de realizá-los em outro. A terceira razão é pelo
fato de que agimos conforme nossa preparação técnica e psicológica. Um policial, mesmo com
treinamento médico, agirá sempre como policial, pois sua formação e atuação diária exigem tal
resposta. Os profissionais de saúde, por sua vez, possuem uma forma diferente de resposta, uma
atitude voltada para o atendimento e não para a resposta à ocorrência. O treinamento policial a
esses profissionais, no entanto, é fundamental, pela necessidade de operações conjuntas, como
para situações em que o profissional tenha que se defender.

No Brasil, não há equivalente ao paramédico americano. Apenas o médico pode realizar


procedimentos invasivos, como entubação, drenagem de tórax, bem como diagnosticar e iniciar o
tratamento medicamentoso, motivo pelo qual, à luz da legislação atual, apenas os médicos poderiam
atuar como profissionais responsáveis pela medicina tática em uma operação policial. Isso não
significa, no entanto, que não possamos ter socorristas ou profissionais de enfermagem treinados
em suporte básico de vida em medicina tática, dada a dificuldade técnica de termos médicos-táticos
em todas operações policias complexas.

O ambiente em que os profissionais de saúde atuam em medicina tática é sempre assumido como
hostil, ou zona quente, até que a situação esteja resolvida.

A medicina tática tem inúmeras aplicações e não está restrita a operações táticas. Possui atuação,
também, na proteção de autoridades e testemunhas, na estimativa médica de situação de eventos de
grande porte, em eventos terroristas ou onde haja suspeita de terrorismo químico e biológico, além
de outras atividades.

Temos, desta forma, em qualquer situação policial complexa, como também em situações de
emergência e desastre, as chamadas zonas quente, morna e fria, como também estudaremos nos
próximos capítulos.

Essa definição é baseada na dinâmica da operação e não segue parâmetros pré-definidos de espaço
físico ou dimensão da ocorrência para sua caracterização.

O atendimento na medicina tática segue princípios diferentes daqueles realizados no pré-hospitalar


rotineiro. O atendimento realizado em uma área urbana, em condições normais, usualmente,
permite que o profissional de saúde avalie de forma segura as condições do paciente, seguindo os
protocolos internacionais de exame primário e secundário e, no caso dos médicos, possa conduzir
os procedimentos de suporte avançado de vida e de trauma.

No atendimento em que há uma situação envolvendo reféns, ou um tiroteio, não é possível à equipe
de pré-hospitalar realizar a retirada de feridos ou mesmo prestar o atendimento de forma segura e

45
UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

adequada. Assim, a prioridade passa a ser, além da segurança do socorrista, a chamada “extricação”
rápida do paciente, se ele está em risco de ser atingido. Até aí, não difere muito do atendimento
de quem está em um carro prestes a cair em um precipício e que necessita de rápida “extricação”.
A grande diferença está no fato de que o médico tático, quando membro de uma força policial, irá
responder com sua arma, se for atacado por força similar, dentro do princípio conhecido como
escalada de força, em que a resposta deve sempre ser proporcional à intensidade do ataque.

A regra geral de atendimento no pré-hospitalar é a mesma.

a. Segurança do local e do socorrista.

b. Chamar socorro.

c. Acesso à vítima.

d. Atendimento.

Há, no entanto, diferentes formas de abordagem dos itens acima, como veremos a seguir.

A zona quente é o local onde a operação se desenvolve. Assim, em uma situação de tomada de
reféns, cabe ao gerente de crise da missão, que é o seu responsável (não o líder da equipe de entrada
dinâmica-SWAT), a definição de qual área é considerada de alto risco. Um grande problema em
missões policiais complexas é deixar a cargo da equipe tática as ações de gerenciamento, negociação
e tomada de reféns. Os focos são diferentes e as especializações também.

Para facilitar o entendimento do artigo, a partir de agora, toda vez que nos referirmos a socorrista,
estamos falando do profissional de saúde que esteja atuando no atendimento de medicina tática,
incluindo o médico.

Assim, o socorrista na zona quente deve iniciar sua abordagem fazendo as seguintes perguntas
diante de um ferido.

1. O que aconteceu com ele pode acontecer comigo? (ou seja, estou seguro em minha
posição?)

2. Tenho segurança na aproximação?

3. A vítima está tentando se defender?

4. A vítima se move?

5. A vítima pode se autoextricar?

Com essas perguntas, o socorrista poderá traçar a melhor estratégia a ser utilizada, visando ao acesso
à vítima. Uma boa ajuda com relação à visualização das vítimas pode ser obtida por intermédio de
binóculos, da própria luneta ou ainda dos atiradores de elite (snipers).

Uma vez que o acesso seja possível, o socorrista deverá aproximar-se do policial ferido, da seguinte
forma (deixando claro, que estamos nos referindo à zona quente, portanto, apenas os socorristas
das forças policiais, com autorização legal para estarem ali).

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

1. Após avaliação de que é possível chegar com segurança até à vitima, chegar sempre
do lado seguro da vítima, ou seja, de tal forma a ser visto pelo paciente, pois, do
contrário, sobretudo se é um policial ferido que está armado, pode assustar-se com
a aproximação do socorrista e o desfecho será trágico.

2. O socorrista deve identificar-se e pegar a arma da vítima.

3. O socorrista deve manter-se deitado.

4. Deve ser iniciado o exame primário, com foco na respiração e em hemorragias.

5. Avaliar a possibilidade de extricação.

No caso do atendimento de outras vítimas que não sejam policiais ou que não haja certeza absoluta
de que o ferido não ofereça riscos ao socorrista, o paciente deve ser primeiro revistado e desarmado,
quando for o caso, por integrantes da força policial e não pelo socorrista.

Uma vez obtido o acesso ao paciente, o atendimento passa a seguir os mesmos protocolos de
atendimento do suporte básico e avançado de vida, com as seguintes diferenças na prioridade e
alguns procedimentos.

Atendimento Pré-hospitalar convencional Medicina Tática


1) Avaliar consciência 1) Cobertura/responder fogo se necessário

2) Ajuda 2) Hemorragia

3) Abrir vias aéreas 3) Respiração

4) Boa ventilação 4) Imobilização com mobilidade

5) Circulação 5) Evacuação para zona morna

6)Desfibrilação precoce/ Imobilizaçaõ

7) Exame secundário

Por que priorizar a hemorragia, ao invés da respiração, no atendimento tático na zona quente?
Porque a hemorragia é, na maioria das vezes, visível e permite rápido controle, enquanto que a
dificuldade respiratória exigirá, no mínimo, dois socorristas ou, no caso de apenas um, ele terá que
perder algum tempo, para realizar ventilações de resgate. Assim, a prioridade passa a ser tirar logo
o paciente, para dar o tratamento adequado em outro local. Uma única luz acesa, por exemplo, do
foco de um laringoscópio, pode ser fatal para o médico e para o policial ferido, em um ambiente
noturno, ao revelar sua posição aos criminosos.

A zona morna é um local definido e designado pelo gerente de crises, onde estará uma equipe de
emergência à espera do paciente oriundo da zona quente. É uma área que ainda apresenta riscos,
mas não de forma iminente como na zona quente. Tal qual a zona quente, pode mudar de local a
qualquer momento. Por exemplo, um tomador de reféns em fuga, leva com ele permanentemente
a zona quente e, em volta, a zona morna. O que há poucos minutos era a zona quente, porque ele
encontrava-se lá, pode transformar-se em minutos em zona fria, onde não há riscos evidentes.

O atendimento na zona morna também deve ser realizado por equipes treinadas em medicina tática,
mas, aqui, os protocolos passam a ser os mesmos que os adotados no pré hospitalar convencional.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

Uma vez que o paciente esteja estabilizado, deve ser conduzido à zona fria, onde será atendido por
equipe de pré-hospitalar convencional, como o SAMU, por exemplo.

Nas situações com reféns, existe uma participação dupla do médico tático. A primeira é como
membro da equipe de negociação, desde que tenha treinamento para isso, uma vez que é comum
que tomadores de reféns sejam portadores de doenças mentais, estando, muitas vezes, em surto
psicótico ou sob uso de drogas e o conhecimento especializado pode ser fundamental.

Em outra situação, o médico tático é membro da equipe tática que invadirá o cativeiro ou da
equipe de back-up, que entra logo após. Nessas situações, poderá auxiliar o líder da equipe ao tecer
considerações quanto a aspectos médicos voltados para a segurança física dos reféns, sobretudo,
quando são conhecidos. Por exemplo, se a equipe tática opta por utilizar gás CS e o médico tático
sabe que um dos reféns é um idoso com insuficiência respiratória, assim que houver a invasão, esse
idoso deve ser evacuado o mais rápido possível para ambiente ventilado.

Outra situação diz respeito à possibilidade dos tomadores de reféns usarem artefatos químicos,
biológicos ou mesmo radioativos, cabendo ao médico tático seu reconhecimento e a adoção de
medidas de pronta-resposta e proteção.

Uma vez que os reféns sejam liberados, apenas após a autorização da equipe tática, o médico tático
irá aproximar-se para sua avaliação.

Todos os pacientes serão atendidos de acordo com a gravidade de seus quadros, independente de
serem policiais, criminosos ou reféns, mas a segurança do socorrista deve ser sempre preservada e,
portanto, apenas após ter certeza de que o paciente não ofereça risco, o que deve ser garantido pela
equipe tática, o socorrista pode aproximar-se, para iniciar o atendimento. Não deve ser esquecida a
possibilidade da chamada Síndrome de Estocolmo, em que as vítimas passam a ter empatia com o
tomador de reféns e, muitas vezes, tentam protegê-lo. Essa Síndrome pode ter início pouco depois da
tomada de reféns e se persistir até seu resgate. É uma situação de risco para os policiais e socorristas.

O médico tático, ao participar de missão de resgate de reféns, deve estar atento a suas necessidades
iniciais, sobretudo quando submetidos a diversos dias de privação de água e comida, devendo iniciar
a reidratação o quanto antes.
Figura 18. Socorro Médico Tático

Fonte: <http://www.medicup.com/>

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EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

Há um filme muito interessante para quem quiser ter uma noção de como a medicina tática é
empregada, sobretudo no que é chamado de Conflitos de Baixa Intensidade. O filme em questão
chama-se “Falcão Negro em Perigo” e foi baseado em fatos.

Figura 19. Falcão Negro em Perigo – 2001, diretor: Ridley Scott.

PARTE 3 – Sistema de Comando de Incidentes – ICS


De acordo com a Federal Management Agency (FEMA), um incidente é:

“uma ocorrência, seja causada pelo homem ou por um fenômeno da natureza,


que requer ações de resposta para prevenir ou minimizar perdas de vida, ou
danos à propriedade e/ou ao meio ambiente.”

O Sistema de Comando de Incidentes (Incident Command System–ICS) é um “conceito de


gerenciamento padronizado para ser utilizado no local de incidentes de todos os tipos”.

Ao utilizar as melhores práticas de gerenciamento, o ICS permite maior segurança dos profissionais
envolvidos e outras pessoas, o estabelecimento de objetivos e ações adequadas, bem como o uso
eficiente e eficaz de recursos (FEMA).

A organização clássica de um ICS possui a seguinte estruturação.

Figura 20. ICS

Incident Commander
Oficial de Oficial de Ligação
Comunicações
Oficial de Segurança
do Evento

Seção de Operações Seção de Planejamento Seção Logística Seção de Admin/Finan


Operações Aéreas Unidades de Unidades de Unidade de Unidade de Unidade de Unidade de
Unidades e Terrestres Recursos Desmobilização Recursos Suporte Tempo Ressarcimento

Divisões Grupos Unidades de Unidades de Unidade de Unidade de Unidade de Unidade de


Situação Documentação Comunic. Materiais Contabilidade Custos
Time de Resposta
Unidade Unidade de
Busca e Salvamento Médica Equipamentos
Unidade de Unidade de
Emergência Médica Alimentos Suporte Terr.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

O ICS surgiu na década de 1970, a partir de incêndios florestais no Sul da Califórnia, em que, em
13 dias, 772 residências e estruturas, de uma forma geral, foram perdidas e 16 pessoas morreram.
Por ocasião desse incidente, foram verificadas diversas falhas em seu gerenciamento, que incluíam
o seguinte.

»» Falta de provisão de recursos.

»» Comunicação que não funcionava.

»» Planejamento inexistente.

»» Hierarquia de comando sobreposta ou inadequada.

»» Ausência de integração das agências envolvidas.

Em muitos incidentes, essas falhas podem ser facilmente identificadas ainda nos dias atuais.

Com o objetivo de mudar essa realidade, foi sugerido à época o modelo do ICS que é empregado
internacionalmente e diversos sistemas de atendimento pré-hospitalar no Brasil já o utilizam.

Os principais benefícios do ICS incluem o atendimento das necessidades de incidentes, não


importando a sua natureza e tamanho, permitir que diferentes agências e serviços possam
rapidamente interagir e ingressar na mesma estrutura, prover rápido e eficiente apoio logístico e
administrativo às equipes operacionais, bem como ser de excelente custo/benefício ao impedir a
sobreposição de ações.

O ICS segue os seguintes princípios.

»» Terminologia Comum.

»» Comunicação Integrada.

»» Organização Modular.

»» Unidade de Comando.

»» Span of Control (limitação do número de subordinados).

»» Plano de Ações de Incidente.

»» Cadeia de Comando.

»» Linha e Staff.

»» Manejo de recursos.

O Centro de Comando ou Gabinete de Crises é onde fica o Comando do ICS propriamente dito e
deve ser acionado por ocasião dos incidentes e localizado em local seguro (zona fria), de onde obterá
informações avançadas e atualizadas dos locais de risco (zonas quente e morna). É onde as decisões
estratégicas são tomadas.

O Centro de Operações de Emergência, por sua vez, é onde estão os representantes de diferentes
organizações e agências, de tal forma a atuarem em conjunto e obterem as melhores informações

50
EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR │ UNIDADE I

e ações a serem conduzidas. É o local onde a coordenação de informações e recursos, é utilizada,


mas não se confunde com o Centro de Comando do ICS, uma vez que lá é que serão tomadas as
decisões maiores.

Um grande problema na gestão de incidentes é que, com frequência, cada agência utiliza sua própria
terminologia e é comum que termos semelhantes possuam significado completamente diferente.
Assim, no ICS, utiliza-se a chamada terminologia comum, de tal forma a padronizar as funções
organizacionais, os recursos disponíveis, a descrição de recursos e as posições hierárquicas.

A terminologia comum segue a seguinte padronização.

Figura 21. Padronização de títulos e posições hierárquicas

Nível organizacional Título


Comando do Incidente Incident Commander
Staff de Comando Oficial
Staff Geral (Seção) Chefe
Avançado (Filial) Diretor
Divisão/Grupo Supervisor
Unidade Líder
Time de resposta/Grupo de Trabalho Líder

A terminologia utilizada, em inglês, para oficial, no ICS, é Officer, que também poderia ser traduzido
como agente ou funcionário.

A linguagem deve ser clara e objetiva. As comunicações devem ser feitas em português simples e
texto claro. Não devem ser usados códigos de rádio ou códigos específicos de agências. É comum
a utilização, em nosso país, do código “Q”, adaptado do radioamadorismo, nas comunicações de
órgãos de segurança. Nos Estados Unidos, utilza-se o código “10”. Contudo, há diferentes códigos
e o seu uso é totalmente desencorajado em situações de incidentes e desastres, dado o risco da
mensagem ser mal compreendida.

A organização deve ser modular. Ou seja, o controle do número de subordinados é mantido por
recursos de organização em Seções, Grupos, Divisões, Unidades ou Times, quando a relação de
supervisão exceder 7 pessoas. Da mesma forma, toda vez que houver uma relação de supervisão
menor que 3 pessoas, a seção ou equipe deve ser desmobilizada e reorganizado em novo grupo.
Assim, cada um terá, no mínimo, três subordinados e, no máximo, sete.

Na quase totalidade dos incidentes, a estrutura do ICS é bem simples, composta por um comando e
recursos únicos, no entanto, deve-se conhecer bem como estabelecer o ICS, na eventualidade de se
necessitar de estruturas maiores.

A estrutura modular, de acordo com a FEMA, é desenvolvida em um sistema modular de cima


para baixo, baseada no tamanho e na complexidade do incidente e no risco ambiental criado pelo
incidente. Os objetivos da resposta ao incidente determinam o tamanho da estrutura organizacional
e apenas funções/posições que realmente sejam necessárias são preenchidas de tal forma que cada
elemento deve ter um supervisor ou coordenador.

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UNIDADE I │ EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR

É importante salientarmos que não há correlação entre a estrutura administrativa com qualquer
agência ou jurisdição. O sistema proposto de organização evita que haja confusão entre diferentes
cargos e funções de outras Instituições. Quando trabalham militares e civis de diferentes organizações,
nem sempre está claro qual o nível hierárquico de cada um. Um diretor em uma agência pode ser
equivalente a um gerente em outra. Alguém que trabalhe diariamente como chefe pode ser que não
tenha a mesma posição em uma estrutura ICS. Assim, a estrutura hierárquica de uma organização
não, necessariamente, é a mesma que no ICS. Vamos supor que o diretor do principal hospital
de um município seja solicitado a integrar uma estrutura de ICS diante de um grave acidente na
região. Não, necessariamente, ele será o incident commander (em posição estratégica de comando)
dessa estrutura. É fundamental, no entanto, que esses papéis sejam previamente estabelecidos e
amplamente discutidos e difundidos entre os participantes.

A adoção de um comando unificado em nível de incident commander permite que todos


responsáveis pelo gerenciamento de organizações e instituições possam coordenar um incidente
em conjunto por meio do estabelecimento de um conjunto de objetivos e estratégias em comum.
Permite que Incident Commanders tomem ações em conjunto. Por exemplo, podemos ter, em um
acidente, comandantes dos bombeiros, da polícia, do SAMU e de outras instituições, no mesmo
nível estratégico (incident commanders), tomando decisões em conjunto e subordinados a uma
autoridade maior, como o Governador. Uma vez tomada a decisão, cada um comandará sua própria
agência para o cumprimento do que foi acordado. Assim, policiais continuarão comandando a
polícia e assim sucessivamente.

No modelo clássico, em nível de comando, junto aos incident commanders, no Posto de Controle
(Gabinete de Crises), deve haver um responsável pelo contato com outras agências (liasion officer),
um responsável pelas comunicações e relações públicas (communication officer) e um responsável
pela segurança das operações. Não é um responsável pela segurança no sentido policial (security),
mas com vistas à prevenção de acidentes (safety).

Antes de um incidente, é fundamental o estabelecimento de sistemas em comum, bem como


protocolos. É fundamental que toda a equipe saiba o que será feito, porque e como saber que a
missão foi cumprida.

As prioridades do ICS são (nesta ordem) as seguintes.

1. Salvar vidas.

2. Estabilizar o incidente.

3. Proteger o patrimônio.

O ICS deve possuir, ainda, uma área de espera, onde ficarão as unidades de emergência estacionadas
e sendo despachadas para a área a ser socorrida conforme a necessidade. Essa área evita que haja
autodespacho de socorro e, ao mesmo tempo, congestionamentos desnecessários.

<http://www.defesacivil.mg.gov.br/conteudo/arquivos/manuais/apostila/Manual.
SCO.UFSC.pdf>

<http://www.usda.gov/documents/ICS300.pdf (inglês)>

<http://www.epa.gov/watersecurity/tools/trainingcd/trainers/ICS.pdf (inglês)>

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DESASTRES Unidade Ii

Nesta Unidade, estudaremos as diferentes fases dos desastres e as ações a serem desenvolvidas em
cada uma delas. Essa divisão dos eventos em fases é tão somente um recurso didático, com vistas a
facilitar a utilização das ações e dos recursos, dentro de momentos específicos. Alguns desastres são
tão súbitos e inesperados que, muitas vezes, pouco poderia ser feito para se evitar a tragédia.

Para fins didáticos, podemos dividir os eventos críticos e, particularmente, os encontrados em


Emergências e Desastres.

»» Pré-Impacto

»» Impacto

»» Pós-Impacto

CAPÍTULO 1
Fase pré-impacto

Fase em que não há situação de desastre declarada. Vai desde a completa ausência de indícios da
iminência de um desastre até a sua ocorrência. É nesta fase que trabalhamos na prevenção.

Precisamos cultivar a cultura de que a ocorrência de um desastre em nossa comunidade não é


uma questão de “se”, mas de “quando”. Não há nenhuma comunidade ou região do mundo imune
a um desastre.

Em emergência, a ocorrência de desastres no passado pode servir de alerta para o futuro, mas a
ausência de desastres no passado serve apenas para estatística, não servindo como fator de predição
para situações futuras.

A fase de pré-impacto é assim constituída.

»» Análise de vulnerabilidades, ameaças e riscos

»» Planejamento

»» Sistemas de Contingenciamento

»» Treinamento

»» Monitoramento de situações de risco potencial

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UNIDADE II │ DESASTRES

»» Alerta

»» Alarme

PARTE 1 – Análise de vulnerabilidades,


ameaças e riscos
Este foi o tema de nossa primeira disciplina do curso, propriamente dito, dado a sua importância
na prevenção de crises.

Não há hipótese de se realizar uma prevenção bem feita se não sabemos quais são nossos pontos
fracos, fortes, nossas vulnerabilidades, quem nos ameaça e o risco a que estamos expostos.

Quem deve ser o responsável por esse levantamento e essa análise? Em um nível micro, representado
pelo ambiente de uma empresa, a própria instituição deve realizá-lo, por meio da Comissão de
Prevenção de Acidentes e da Medicina e Engenharia do Trabalho. Mesmo porque, além de ser
obrigação legal, prevista na normativa do Ministério do Trabalho, é de total interesse da corporação
a prevenção de acidentes e desastres. Infelizmente, na prática, as CIPAs, com frequência, limitam-se
a atender ou verificar os acidentes depois de ocorridos, algumas nem isso fazem. Poucas empresas
possuem brigadas de incêndio e, menos ainda, análise de risco.

Em nível comunitário, municipal ou estadual, essa competência deve ser dos órgãos de Defesa Civil.
Isso não significa que a própria Defesa Civil tenha que executar o trabalho em si, mas coordenar a
sua elaboração e sua análise, visando à construção de mapas de risco, planos de contingenciamento,
treinamentos e demais elementos desta fase. Aliás, um ponto precisa ser deixado claro: a Defesa
Civil não é órgão executor, mas de planejamento e coordenação. Não faz sentido, portanto, como
vemos em alguns locais do país, viaturas da Defesa Civil prestando atendimento de emergência,
remoção de cadáver, entre outras ações que deveriam ser de responsabilidade de órgãos executores,
como o Corpo de Bombeiros, por exemplo.

O fato da Defesa Civil não ser órgão executor, não a exime de estar à frente das ações que precisam
ser coordenadas, pois essa é a sua função e, mais tarde, veremos como isso deve se dar.

A forma mais fácil e prática de realizar mapas de risco nas comunidades é trabalhar em conjunto
com os moradores locais. Os órgãos encarregados de fazer o estudo de risco da região, para,
posteriormente, encaminhar à Defesa civil, ao entrar em contato com os habitantes da região,
além de poder obter apoio e confiança importante, recíprocos, poderão conhecer, mais de perto,
situações que não serão reveladas por mapa ou satélite, como pontos de alagamento. É importante,
também, que a população veja, nesses profissionais, um apoio e não a desconfiança. Podem achar,
por exemplo, que tratasse de fiscais do governo ou de pessoas com outros interesses.

Nesse sentido, há muitas comunidades que possuem um Conselho Local de Segurança Comunitária,
em que são discutidos temas relativos à Segurança Pública, com representantes do governo e
da comunidade.

Uma vez que os dados são obtidos, devem ser analisados e mapas de risco construídos e encaminhados
à Defesa Civil municipal, no caso do Distrito Federal, a estadual. Infelizmente, não é assim que

54
DESASTRES │ UNIDADE II

ocorre de forma rotineira em nosso país, e ainda há muitos municípios que não possuem Defesa civil
organizada. Nessas situações, os mapas de risco devem ser construídos e encaminhados à Prefeitura,
para serem consolidados, posteriormente, em um Plano de Contingências.

PARTE 2 – Planejamento
A fase seguinte ao levantamento das vulnerabilidades e ameaças é a análise dos dados obtidos, para
a quantificação de risco e posterior elaboração dos mapas de risco da região.

Concluída essa operação, dá-se início ao Planejamento. O que será planejado? Serão construídos
Planos de Contingenciamento e Planos de Desastre, que não são sinônimos.

Nos Planos de Desastre, são elencadas as condições para decretação de desastre e como se dá o
desencadeamento das ações necessárias à sua resposta. (Na prática, quem faz o que, por que faz,
quando faz, quem liga para quem e como é feito). De uma forma geral e integrada, sem pormenorizar
os tipos de desastre e nem ações específicas.

É importante, no planejamento, que haja representantes, com formação na área, de diferentes


órgãos executores, mas, obrigatoriamente, da Secretaria de Saúde, do Corpo de Bombeiros, da
Polícia Militar, da Secretaria de Segurança, de Viação e Obras, entre outros que sempre precisam
trabalhar de forma integrada.

O Plano de Desastres deverá ser do conhecimento de todos os órgãos do sistema que, de alguma
forma, participam da prevenção e resposta organizada a desastres.

PARTE 3 – Sistemas de contingenciamento


A partir do Plano de Desastre, são elaborados Planos ou Sistemas de Contingenciamento. O que
isso significa?

Nos Planos ou Sistemas de Contingenciamento, são elencadas hipóteses para cada tipo de situação
prevista e priorizada, conforme o mapa de riscos. Por exemplo, em um plano desses, podemos
ter como hipótese 1 incêndio na refinaria da região e, a partir dessa hipótese, é elaborado todo o
plano de ações a serem empregadas, de forma detalhada. Todos devem conhecer a fundo o Plano de
Contingências? Não. Os responsáveis pelos órgãos, os planejadores e encarregados de coordenação,
sim. Os operadores devem saber o que é de responsabilidade deles, executar, o que não deve ser
confundido com o compartilhamento de informações, que deve ser do conhecimento de todos.

Esse compartilhamento significa que as informações com relação à evolução do incidente devem ser de
conhecimento de todos os envolvidos na operação, mas não dá direito a eles, a repassá-las ao público,
o que é prerrogativa de responsável pela Comunicação da Crise, o que será posteriormente estudado.

Conhecer a fundo um Plano de Contingências significa ter à mão todas as ações a serem
desenvolvidas por cada um dos órgãos do sistema e, portanto, essa é uma função e responsabilidade
dos coordenadores do sistema de comando de incidentes (Incident Comanders), como estudaremos
em outra disciplina.

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UNIDADE II │ DESASTRES

PARTE 4 – Treinamento
O treinamento é uma das atividades mais importantes, mas, frequentemente, negligenciada. Muitos
profissionais entendem que, pelo fato de serem graduados em suas profissões, não precisam receber
mais treinamentos, sobretudo de outras áreas.

A equipe médica, por exemplo, deve ser muito bem treinada não apenas em suporte avançado
de vida, mas também em suporte básico de vida, pois, em uma parada cardíaca, as medicações e
os procedimentos avançados são muito importantes. Se o paciente não recebe o suporte básico
de forma adequada, não estará sendo atendido como deveria e as chances de insucesso são
muito grandes.

O treinamento das equipes, obrigatoriamente, deve seguir dois caminhos. O primeiro é a seleção
de quem será treinado e, em seguida, que tipo de treinamento será oferecido e com que frequência.

No processo de selecionar quem será treinado, deve-se estabelecer uma prioridade. Profissionais da
área de Saúde e de Segurança Pública devem ser os primeiros.

Todo servidor da área de Segurança Pública (incluindo policiais e bombeiros) e profissional de


saúde (incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais,
odontólogos, fonoaudiólogos) devem ser certificados em suporte básico de vida e revalidados
periodicamente. Nenhum profissional dessas áreas poderia trabalhar sem sua certificação em dia,
o que significa não apenas participar de um curso de suporte básico de vida, mas ser aprovado em
questões teóricas e práticas.

Nesse treinamento, deve estar incluído o uso do desfibrilador externo automático e suporte de vida
no trauma, o que inclui atendimento com grande número de vítimas e desastres. Não é aceitável
que um profissional de segurança pública ou de saúde não esteja preparado para atendimento de
primeiros socorros.

A segunda fase do treinamento implica aprofundar os conhecimentos específicos e ampliar o básico.


Assim, o suporte básico de vida deve ser estendido a professores, taxistas, motoristas de coletivos
e, posteriormente, à população como um todo. Não há explicação lógica de o ensino de primeiros
socorros não ser obrigatório no Ensino Fundamental e Médio, ao lado de aulas de cidadania. Como
também o motivo de não se ensinar o suporte básico e o avançado na maioria das faculdades de
Medicina. É absurdo, mas a maioria dos médicos sai da faculdade sem ter recebido treinamento
teórico-prático em suporte avançado de vida.

O treinamento especializado passa a ser direcionado às equipes de socorro propriamente ditas.


O ensinamento deve ser compartilhado. Um curso de Resposta a Desastres deve ser feito por
equipes de bombeiros, policiais, SAMU, equipes de saúde dos hospitais, como também de
serviços privados. É um grave erro acreditar que a rede privada de saúde, o que inclui serviços de
emergência móvel, não contribui ou não é necessária ao sistema de resposta em emergências e
desastres. O que conta não é quem atendeu o paciente, mas se ele foi atendido dentro dos padrões
de tempo-resposta preconizados.

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DESASTRES │ UNIDADE II

Há muitos serviços privados de alto padrão e, com frequência, os mesmos médicos que trabalham no
SAMU também são plantonistas em serviços privados. O que falta, no entanto, é uma coordenação
desses serviços na esfera do atendimento, em situações de múltiplas vítimas. Deve estar bem
estabelecido, não apenas no papel, mas por intermédio de simulações e de treinamentos conjuntos,
como esta coordenação se dará.

Planos só irão funcionar se forem testados. Simulados em que tudo “correu bem” devem ser
vistos com desconfiança. Aliás, uma questão frequentemente levantada é: qual o termo correto,
simulacro ou simulado? O simulacro é algo que é falso, mas é feito para se passar por verdadeiro.
Um simulacro de uma bomba, por exemplo, pode enganar muitos profissionais, que acabam
levando o objeto para um local distante e explodindo-o. Um simulado, por sua vez, é um teste
ou uma imitação de condições reais, para que possam ser avaliados diferentes aspectos. Um
simulador de voo, por exemplo, faz com que as condições encontradas sejam as mais próximas
do real, mas o piloto que está sendo treinado tem consciência de que não se trata de uma
situação real.

Quando vamos fazer um treinamento com equipes de socorro na resposta a desastres ou


emergências, estamos diante de um simulado, pois todos têm a percepção de que é um
treinamento e não uma situação real, pois, do contrário, estaríamos colocando em sério risco
os participantes do simulado. Se um médico acreditasse que está diante de uma situação real,
poderia iniciar um procedimento em um ator, alguém que está ali apenas para representar uma
situação. O fato de ser um simulado, no entanto, drill em inglês, não significa que as equipes
que estão sendo treinadas não devem agir como se a situação fosse real. Pelo contrário, as ações
devem ser as mais próximas da realidade possível, mas sempre com a limitação de tratar-se de
uma simulação. É um erro muito grave realizar um simulacro de incêndio em um prédio, para
se testar a evacuação. Ou seja, fazer com que as pessoas acreditem que de fato o prédio está
pegando fogo, pois pode gerar consequências desastrosas, como pânico. Nada impede que um
serviço de resgate faça um simulacro, desde que sejam adotadas medidas rigorosas de segurança
e dentro de um cenário isolado, para que não haja acionamento real de outros serviços e pânico
na população.

As comunidades que vivem e/ou trabalham em locais de risco também devem ser treinadas, não
apenas em primeiros socorros, mas na prevenção de acidentes e desastres.

Cursos de longa duração são aceitáveis, quando estamos fazendo uma graduação ou especialização,
mas, para treinamento das equipes, o melhor é trabalhar com módulos de ensino.

Equipes de saúde devem receber treinamento de resgate e salvamento? Não o mesmo recebido pelos
bombeiros, que realizarão esses procedimentos, mas devem conhecer o trabalho dos bombeiros,
para que atuem em conjunto.

A responsabilidade dos treinamentos é de cada serviço, mas o órgão coordenador de prevenção e


resposta a desastres, a Defesa Civil, deve garantir que os treinamentos estejam sendo realizados e,
com frequência, patrocinar e promover a integração e a execução de simulados.

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UNIDADE II │ DESASTRES

Figura 22. Simulado de Emergência Aeronáutica

Fonte: <www.ms.gov.br>

PARTE 5 – Monitoramento
O monitoramento de qualquer situação com potencial de crise é que permitirá o conhecimento
antecipado de que algo grave está para acontecer.

Em Defesa Civil, esse monitoramento se dá, sobretudo, com relação aos fenômenos da natureza. O
Brasil não está isento nem imune de ocorrências graves, como tornados e furacões. O maior pecado
a ser cometido no monitoramento é pensar que um fenômeno não pode ocorrer, simplesmente,
porque não há registro de ter ocorrido anteriormente naquela região.

O monitoramento e as consequentes ações de alerta, alarme e resposta ao furacão Catarina


foi imperdoável. Até mesmo após a passagem do furacão, muitos meteorologistas brasileiros
continuavam afirmando que se tratava de um ciclone extratropical, quando seus colegas americanos
já haviam feito o alerta de furacão para região.

Haverá outros furacões que poderão ocorrer em qualquer parte do litoral brasileiro. Isso é fato,
dada a questão do aquecimento global. Houve algum investimento ou ação destinada a promover
a evacuação rápida da população? Podemos, com segurança, afirmar que não. Se há planos, não
foram testados e nem a população informada. Se não foi testado, o plano não existe.

Nas cidades americanas, mais sujeitas a furacões, há placas de sinalização, mostrando as rotas de
evacuação a serem utilizadas em situações que requeiram a saída rápida da população do local
de risco.

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DESASTRES │ UNIDADE II

Figura 23. Meteorologista monitorando furacão

Fonte: Enciclopédia Britannica

A recente situação ocorrida em Santa Catarina mostra bem o que representa um monitoramento
inadequado. Monitorar uma situação não é apenas checar como ela está, mas avaliar quais as
chances de evoluir de forma desfavorável e emitir alertas e alarmes necessários.

Em Segurança Pública, outra forma de monitoramento é realizada por intermédio do emprego de


câmeras de vídeo. Em diversas cidades, como Londres, por exemplo, há câmeras espalhadas por
todas as regiões, o que permite o acompanhamento real e ao vivo de tudo que ocorre nas ruas.
Há diversas cidades brasileiras, como também rodovias, que possuem câmeras. Aqui também é
importante que haja a integração com a resposta rápida e eficiente, do contrário, os policiais apenas
assistirão a ocorrência do crime e, quando muito, poderão, posteriormente, identificar os suspeitos.
Entretanto, o objetivo maior do monitoramento é inibir a ação ou interromper a sua realização.

Outra forma de monitorização está no uso de GPS, para identificação e localização das unidades
móveis mais próximas da ocorrência, de tal forma a diminuir o tempo-resposta.

PARTE 6 – Alerta
Um sistema de alerta eficaz e eficiente é aquele que é iniciado em tempo adequado para as ações de
prevenção tardia e resposta. Estamos, aqui, chamando de prevenção tardia aquela que deveria já
ter sido realizada e não foi, mas ainda é possível de ser feita, não com os mesmos resultados, mas
ainda importante. É o caso, por exemplo, do indivíduo que é avisado do risco de habitar uma região
ribeirinha e não aceita os avisos de abandonar a região e lá permanece. Surge, então, o aviso de que
fortes chuvas na região poderiam provocar um aumento no volume de água do rio próximo a sua
casa e ele acaba saindo antes que possa haver uma enchente devastadora, agindo preventivamente,
ainda que tardiamente. Por que a ação dele não foi uma resposta? Porque a enchente ainda não
havia ocorrido. Estamos, ainda, na fase de pré-impacto, lembram-se?

Um alerta deve produzir um alarme de forma satisfatória. Infelizmente, os sistemas de alerta em


nosso país são muito ruins, quando existem.

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UNIDADE II │ DESASTRES

Vejamos a situação da meteorologia. São emitidos alertas meteorológicos que são enviados para a
Secretaria Nacional de Defesa Civil e, eventualmente, para as regionais ou municipais. Quais ações
resultam a partir daí?

Nenhum hospital, aliás, recebe alertas de fortes ventos, de possibilidade de tornados na região ou
qualquer outro tipo de alarme.

Colocar a informação em sites da Internet e nos noticiários de televisão, ainda mais quando não são
acompanhados de informações relevantes para resposta, é extremamente ineficiente.

Quais medidas de prevenção tardia ou de resposta precoce foram adotadas na recente enchente em
Santa Catarina?

Falta a cultura da prevenção e das ações voltadas para a construção de cenários, sobretudo em
emergências e desastres.

Nos Estados Unidos, são emitidos boletins meteorológicos várias vezes ao dia e, em casos de alerta de
tempestades severas, são veiculadas informações precisas de como a população deve agir. As rádios
recebem interrupção em sua programação, com informações urgentes sobre a tempestade que se
aproxima. Nada disso ocorre no Brasil, apesar de termos tornados, não com a mesma frequência
que nos Estados Unidos, mas nem um sistema de alerta semelhante ocorre por aqui.

Figura 24. Boletim meteorológico do National Weather Center (USA) com alertas

Fonte: <www.spc.noaa.gov>

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DESASTRES │ UNIDADE II

Figura 25. Mapa de acompanhamento de tempestades tropicais e furacões

Fonte: NOAA-USA

PARTE 7 – Alarme
Um sistema de alarme adequado é aquele que é facilmente identificado como sinal de que uma
situação crítica está em curso e que todos devem seguir imediatamente um plano bem estabelecido.

Todos os hotéis devem possuir alarmes de incêndio, com planos de evacuação localizados nas portas
de entrada de quartos, luzes e saídas de emergência, de fácil acesso, além de dispositivos de combate
ao incêndio, como sprinklers, extintores, entre outros.

Infelizmente, há muitos hotéis em nosso país que não possuem alarmes e os dispositivos de combate
e prevenção estão vencidos, assim como também ocorre com prédios públicos e comerciais. Em
outros locais, o acesso às viaturas de incêndio está comprometido pelo alto fluxo de veículos na
região, entre outros problemas. Alarmes em Segurança Pública também são utilizados em bancos e
locais onde haja necessidade de aviso imediato da polícia.

Ao falarmos de Defesa Civil, no entanto, preocupa-nos a falta de alarmes nas cidades, para aviso do
impacto de fenômenos naturais de grave potencial de dano. Não há, de uma forma geral, qualquer
tipo de alarme nas cidades, tampouco planos rápidos de evacuação e abrigos para a população, em
caso de graves tempestades, tornados e furacões, por exemplo.

Antes do furacão Catarina, havia a “desculpa” de que se acreditava que nosso país era imune a furacões.
No entanto, houve o furacão, com sérios danos e nada de concreto mudou em termos de alerta e alarme.

61
UNIDADE II │ DESASTRES

Em breve, teremos mais furacões, tornados e, infelizmente, mais danos. A falta de planejamento e
prevenção, com frequência, são mais devastadores do que muitos fenômenos da natureza.

Quando assistimos, pela televisão, em 11 de setembro de 2001, os atentados às torres gêmeas do


World Trade Center e vimos, horrorizados, o segundo avião se dirigir-se a uma das torres, em
transmissão ao vivo, estávamos presenciando aos momentos finais da fase de pré-impacto, quando
mais nada poderia ser feito para impedir o impacto. Isso significa que as pessoas que morreram
naquele atentado não poderiam ter sido salvas? Bom, isso já é uma outra história, pois há diversos
trabalhos mostrando que foram cometidas falhas inaceitáveis de resposta, apesar do heroísmo de
todos naquele dia.

Figura 26. Atentado no WTC – 11/9/2001

Fonte: <http://www.youdecidepolitics.com>

62
CAPÍTULO 2
Fase impacto

A fase de impacto é o momento em que ocorre o evento crítico propriamente dito. Tanto pode
representar uma situação verdadeira de impacto, como a queda de uma aeronave, quanto pode ser o
momento em que se iniciou um ataque bioterrorista, que será mortal, mas silencioso, em que levará
algum tempo até que todos percebam terem sido vítimas de um atentado.

Se a fase de impacto foi precedida por medidas preventivas adequadas, eficazes e eficientes, há
grandes chances de minimização dos efeitos do impacto. Há situações que poderiam se transformar
em um desastre, mas, graças a medidas preventivas, ocorrem danos na região, possivelmente,
mortos e feridos, o que seria uma tragédia, mas não um desastre. Por outro lado, há desastres que
poderiam ter sido totalmente evitados.

Em 1989, na cidade de São Francisco, ocorreu um terremoto de grau 6,9 na escala Richter. Essa
escala foi construída, em 1935, pelos sismólogos Charles Richter e Beno Gutemberg. Inicialmente,
ela ia de 0 a 9, em que 0 seria o menor terremoto possível e 9 o maior. No entanto, hoje se sabe que
não há um número inferior ou superior que possa ser considerado limite e a escala, muitas vezes,
tem sido chamada de escala aberta de Richter. Em 1960, no Chile, foi registrado o maior terremoto
da História, atingindo 9,5 nessa escala.

Terremotos como o de 1989, em São Francisco, ocorrem, em média, 100 a 120 por ano, em todo o
mundo. Nesse, que ficou conhecido como terremoto de Loma Prieta (montanha negra, em espanhol),
devido ao epicentro ter ocorrido perto desse local, deixou 63 mortos e quase 3.800 feridos.

Leia mais em:

<http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/05/29/ult34u155379.jhtm>

Faça uma análise de por que um terremoto com intensidade inferior ao dos Estados
Unidos foi muito mais devastador.

Figura 27. Loma Prieta – 1989

Fonte: <www.nasa.gov>

63
UNIDADE II │ DESASTRES

Em 2006, um terremoto de grau 6,2 na escala Richter matou mais de 6.000 pessoas na ilha de Java,
na Indonésia, deixando cerca de 20.000 feridos.

Durante a fase de impacto, são colocados em prática todos planos de Desastre e de Contingência,
sendo divida, didaticamente, da seguinte forma.

»» Alarme;

»» Resgate;

»» Socorro;

»» Busca e Salvamento.

Uma vez que o alarme é acionado na fase de pré-impacto, só é desativado após a ocorrência do
impacto e, por essa razão, começamos a fase de impacto com o alarme.

Tão logo o evento crítico tenha sido iniciado, as operações de resgate, de socorro e de busca e
salvamento são disparadas. Tanto o resgate quanto o salvamento são, normalmente, praticados
por bombeiros, mas há muitas regiões do Brasil onde não há bombeiros militares. Em algumas
cidades do sul do país, por exemplo, encontramos unidades de bombeiros voluntários muito bem
organizadas e treinadas.

Em muitos outros municípios, não há nenhum tipo de socorro organizado, o que


complica muito a situação das vítimas, pois as operações de socorro, resgate e
salvamento praticadas por profissionais acaba sendo realizada de forma tardia. É
fundamental que as prefeituras assumam um papel de proatividade na elaboração
de Planos de Desastre e de Contingência para seus municípios, o que inclui a
organização e o treinamento de equipes de pronto-emprego.

Figura 28. Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul

O socorro às vítimas obedece a seguinte sequência.

1. Chegada ao local.

2. Segurança do local e avaliação do cenário.

3. Chamada de socorro adequado (reforço), se necessário.

4. Isolamento.

64
DESASTRES │ UNIDADE II

5. Contenção (evitar propagação do incidente).

6. Posto de Comando.

7. Acesso às vítimas e triagem.

8. Socorro às vítimas.

9. Transporte das vítimas.

10. Chegada ao hospital.

PARTE 1 – Zonas
Em incidentes críticos, utiliza-se o conceito de zonas, da seguinte forma.

Zona Quente – local do incidente, onde há grave risco de lesões e/ou morte.

Zona Morna – local próximo ao incidente, onde há risco moderado para os que ali estão. Nesse
local é realizada a triagem e o atendimento inicial de feridos.

Zona Fria – local seguro, para onde devem ser levadas as pessoas durante uma evacuação e onde
devem permanecer as equipes de socorro que não estejam diretamente envolvidas nas operações de
resgate das vítimas.

Figura 29. Zonas

Zona Quente

Zona Morna

Zona Fria

PARTE 2 – Triagem
Em incidentes com múltiplas vítimas e desastres, há necessidade de avaliação das vítimas, com
vistas a definir as prioridades de atendimento. Esse processo é conhecido por triagem.

Na prática, de acordo com as recomendações internacionais, é estabelecida uma área segura para
a realização da triagem, que deve ser em local próximo o suficiente para que as vítimas possam
ser facilmente transportadas e distante o suficiente para não oferecer riscos aos que ali estão
(zona morna).

65
UNIDADE II │ DESASTRES

As vítimas são classificadas conforme a gravidade.

»» Vermelho – risco iminente de morte.

»» Amarelo – necessidade de atendimento urgente, mas sem risco iminente de morte.

»» Verde – necessita atendimento médico, mas pode aguardar.

»» Preto (mais comum), branco ou preto com branco – vítimas fatais.

Uma vez classificadas, as vítimas são transportadas para áreas identificadas com as respectivas cores
e passam a portar um cartão que define sua prioridade. Como a triagem é dinâmica, as prioridades
podem mudar ao longo do atendimento. As vítimas são transportadas de acordo com as prioridades
estabelecidas. As vítimas “amarelas” só podem ser transportadas após as “vermelhas”.

O método de triagem mais utilizado no pré-hospitalar é conhecido por START e é assim


esquematizado.

Figura 30. Método START

Consegue
N andar S

N Respira S Pode aguardar

Posicionar via
aérea > 30 rpm < 30 rpm

Enchimento
Respira Crítico
capilar

N S > 2 seg < 2 seg

Responde ordem
Irrecuperável Crítico Crítico
simples

N S

Crítico Urgente

A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) oferece uma


excelente simulação on-line de desastres, incluindo exercícios de triagem, que pode ser acessada,
gratuitamente, em <http://www.virtual.epm.br/cursos/desastre/index.php>.

Baseado nas informações sobre triagem, classifique as seguintes vítimas, de acordo


com as prioridades, no sistema de cores.

Vítima 1
Enchimento capilar = 6 segundos.
A vítima encontra-se caída próxima aos escombros do desabamento.
Confusa.

66
DESASTRES │ UNIDADE II

A vítima respira.
FR = 36 rpm.
Não responde ordem verbal.
É necessária imobilização completa da coluna cervical com colar semirrígido, coxins
laterais e prancha longa.
A equipe de segurança já entrou no local. Não há risco.
Vias aéreas pérvias.

Vítima 2
Enchimento capilar = 1,5 segundos.
Achada escondida sob escombros.
Orientada e muito gemente.
A vítima será, certamente, avaliada posteriormente.
Consegue falar.
FR = 28 rpm.
Obedece ordem simples.
A vítima será encaminhada sozinha.
Os bombeiros já retiraram todos os escombros que encobriam a vítima.
Via aérea pérvia.

Vítima 3
Enchimento capilar ausente.
Escondida sob muitos escombros, apresentando intenso sangramento na cabeça.
Inconsciente.
A vítima será avaliada posteriormente.
Após o posicionamento das vias aéreas, a vítima continua em apneia.
Respiração ausente.
Não responde ordem verbal simples.
A vítima está imóvel.
A equipe de segurança já retirou os escombros próximos à vítima.
Não respira.

Há diversos sites com informações sobre suporte básico de vida.

<http://www.bombeiros.go.gov.br/downloads/pdf/Resgate-Protocolo%20Basico.
pdf>

As novas recomendações internacionais para suporte básico e avançado de vida


podem ser encontradas, em português, no site da Associação Americana do Coração
(American Heart Association):

<http://www.americanheart.org/downloadable/heart/1141072864029CurrentsPor
tugueseWinter2005-2006.pdf>

67
UNIDADE II │ DESASTRES

PARTE 3 – Socorro às vítimas


No atendimento às vítimas, não há diferença no Suporte Básico e Avançado de Vida a ser prestado,
quando comparado àquele realizado rotineiramente pelos serviços de emergência. Uma vez definidas
as prioridades, as vítimas devem ser atendidas de acordo com os protocolos internacionais.

Todos os profissionais de segurança pública têm a obrigação de saber prestar o suporte básico de
vida e todos os médicos e os enfermeiros devem estar aptos a prestar o suporte avançado de vida,
dentro de suas competências profissionais.

68
CAPÍTULO 3
Fase pós-impacto (pós-crise)

Didaticamente, podemos afirmar que o pós-crise tem início após a ocorrência do impacto e o fim das
operações de socorro, resgate e busca e salvamento. Divide-se em dois momentos.

»» Recovery

»» Reconstrução

Há, ainda, alguma controvérsia nesse tema, pois muitos colocam o pós-crise em uma única fase de
reconstrução. Não há uma única palavra em português que possa, com exatidão, traduzir recovery,
que significa voltar ao estado original, ou seja, voltar como era antes do impacto.

É importante que essa ação seja lembrada, pois há necessidade da população voltar aos afazeres
normais, como parte de sua recuperação. Se imaginarmos que, apenas depois da reconstrução, isso
irá ocorrer, poderemos estar falando de vários meses ou anos.

No recovery, especial atenção é dada aos aspectos psicológicos, sociais e econômicos e não apenas
à questão material, comum na reconstrução.

PARTE 1 – Recovery
Como vimos, o termo em inglês recovery é de difícil tradução para o português. Não há uma palavra
única capaz de explicar o seu significado. Remete à ideia de uma fase em que é possível o retorno das
condições necessárias à condução das atividades diárias da região atingida por um desastre. Não é,
ainda, a reconstrução, pois a vida tem que continuar antes de uma região ser reconstruída, o que
nem sempre também é possível de ser feito. O recovery tem início tão logo seja encerrada a fase do
impacto, cujo marco é o fim das operações de busca e salvamento.

Na área de informática, significa a manutenção do sistema em funcionamento, mesmo diante de


um desastre.

É importante, para as empresas, que haja um Plano de Recovery bem definido, uma vez que há
corporações de diferentes dimensões e há necessidade de minimização de danos. Imaginem as
consequências de diferentes corporações que funcionavam nos prédios do World Trade Center,
quando atingidos pelos ataques de 2001.

69
UNIDADE II │ DESASTRES

Figura 31. Cidade devastada por tornado no estado do Alabama, USA

Fonte: <framework.latimes.com>

Olhem para a imagem acima e imaginem como é difícil reagir após a ocorrência de um desastre.
A primeira providência na fase de recovery a ser tomada é garantir que todas vítimas já foram
devidamente atendidas e não há mais ninguém a ser resgatado ou socorrido em decorrência do
desastre. A seguir, os serviços essenciais devem ser restaurados.

»» Acesso às principais áreas da cidade.

»» Reestabelecimento de água, luz, gás, telefone, combustível, alimentos.

»» Remoção de escombros e recolhimento de lixo.

»» Funcionamento de hospitais, bombeiros e polícia.

»» Operações de proteção de áreas vulneráveis de tal forma a impedir saques, furtos e


roubos.

»» Funcionamento de escolas e repartições públicas.

»» Proteção do patrimônio contra outros danos, decorrentes, por exemplo, de inundações.

»» Abrigo para quem está não possui condições de moradia.

Um conceito prático para se pensar no que representa um recovery, é o das cópias de segurança
(back-up) que devemos fazer, para garantir que, no caso de uma pane geral ou uma situação crítica
no sistema de informática, nem tudo esteja perdido e possa ser, então, restaurado. Talvez, um nome
mais adequado para recovery, seja justamente este, restauração.

PARTE 2 – Reconstrução
A reconstrução já é uma fase que pressupõe que as necessidades básicas da comunidade já estão
atendidas. Não há como iniciar a reconstrução de uma cidade que não tenha reestabelecido o
sistema de água e luz, por exemplo.

70
DESASTRES │ UNIDADE II

Há necessidade de um plano de reconstrução, com estabelecimento de prioridades, quando estamos


diante da necessidade de atuarmos como gestores públicos.

A Secretaria Nacional de Defesa Civil disponibiliza um Manual para a Decretação de Situação de


Emergência ou de Estado de Calamidade Pública, que é muito útil, para que os municípios saibam
como agir diante de situações críticas, sobretudo com referência à reconstrução e obtenção de ajuda
federal para esse fim.

O Manual pode ser obtido em:

<http://www.defesacivil.gov.br/publicacoes/publicacoes/secp.asp>

A Legislação relacionada aos procedimentos e critérios para a decretação de


situação de emergência ou estado de calamidade pública bem como formulários
necessários para esse fim, podem ser obtidos em: <http://www.integracao.gov.br/
legislacao-sedec>

As imagens abaixo mostram exemplos de reconstrução obtidas após o grave tsunami ocorrido no
Japão em 2011.

Figura 32. Imagem à esquerda por ocasião do desastre e à direita, após a reconstrução

Fonte: <http://www.youinfuture.com/2012/02/japan-after-tsunami.html>

71
UNIDADE II │ DESASTRES

Figura 33. Imagem a esquerda por ocasião do desastre e direita, após a reconstrução.

Fonte: <http://www.youinfuture.com/2012/02/japan-after-tsunami.html>

Figura 34. Imagem acima por ocasião do desastre e abaixo, após a reconstrução.

Fonte: <http://www.youinfuture.com/2012/02/japan-after-tsunami.html>

72
DESASTRES │ UNIDADE II

PARTE 3 – Elaboração de Plano de Desastres


A Lei no 12.608, de 10 de abril de 2012, que institui a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil, dispõe, entre outras coisas, o seguinte.

[...]

Art. 7o Compete aos Estados:

I – executar a PNPDEC em seu âmbito territorial II – coordenar as ações do


SINPDEC em articulação com a União e os Municípios;

III – instituir o Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil;

IV – identificar e mapear as áreas de risco e realizar estudos de identificação


de ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades, em articulação com a União
e os Municípios;

V – realizar o monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico das áreas


de risco, em articulação com a União e os Municípios;

VI – apoiar a União, quando solicitado, no reconhecimento de situação de


emergência e estado de calamidade pública;

VII – declarar, quando for o caso, estado de calamidade pública ou situação de


emergência; e

VIII – apoiar, sempre que necessário, os Municípios no levantamento das áreas


de risco, na elaboração dos Planos de Contingência de Proteção e Defesa Civil
e na divulgação de protocolos de prevenção e alerta e de ações emergenciais.

Parágrafo único. O Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil conterá, no mínimo:

I – a identificação das bacias hidrográficas com risco de ocorrência de desastres;


e

II – as diretrizes de ação governamental de proteção e defesa civil no âmbito


estadual, em especial no que se refere à implantação da rede de monitoramento
meteorológico, hidrológico e geológico das bacias com risco de desastre.

Art. 8o Compete aos Municípios:

I – executar a PNPDEC em âmbito local;

II – coordenar as ações do SINPDEC no âmbito local, em articulação com a


União e os Estados;

III – incorporar as ações de proteção e defesa civil no planejamento municipal;

IV – identificar e mapear as áreas de risco de desastres;

V – promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas


ocupações nessas áreas;

VI – declarar situação de emergência e estado de calamidade pública;

73
UNIDADE II │ DESASTRES

VII – vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso, a


intervenção preventiva e a evacuação da população das áreas de alto risco ou
das edificações vulneráveis;

VIII – organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população


em situação de desastre, em condições adequadas de higiene e segurança;

IX – manter a população informada sobre áreas de risco e ocorrência de


eventos extremos, bem como sobre protocolos de prevenção e alerta e sobre as
ações emergenciais em circunstâncias de desastres;

X – mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na ocorrência de


desastre;

XI – realizar regularmente exercícios simulados, conforme Plano de


Contingência de Proteção e Defesa Civil;

XII – promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em


situações de desastre;

XIII – proceder à avaliação de danos e prejuízos das áreas atingidas por


desastres;

XIV – manter a União e o Estado informados sobre a ocorrência de desastres e


as atividades de proteção civil no Município;

XV – estimular a participação de entidades privadas, associações de voluntários,


clubes de serviços, organizações não governamentais e associações de classe e
comunitárias nas ações do SINPDEC e promover o treinamento de associações
de voluntários para atuação conjunta com as comunidades apoiadas; e

XVI – prover solução de moradia temporária às famílias atingidas por desastres.

Há diversos modelos de Planos de Desastre que podem ser utilizados por municípios.
Abaixo, os links para esses planos.

<http://www.mp.mg.gov.br/portal/public/interno/repositorio/id/5369>

<www.defesacivil.pr.gov.br/arquivos/File/modelo_plano_diretor.doc>
(Modelo básico para Plano Diretor de Defesa Civil)

<http://www.defesacivil.es.gov.br/files/meta/54b3fbaf-11dd-4040-ad1d-
58999d2ff016/42eda5c0-0425-43ca-80b7-4a0b5c67808f/115.pdf>

<http://www.defesacivil.sp.gov.br/v2010/por tal_defesacivil/conteudo/
documentos/roteiro_plano_preventivo.pdf>

(Roteiro para montagem de um Plano Preventivo de Defesa Civil)

<http://www.defesacivil.sp.gov.br/v2010/por tal_defesacivil/conteudo/
documentos/comdec.pdf>

74
DESASTRES │ UNIDADE II

(Como estruturar uma Coordenadoria Municipal de Defesa Civil)

< h t t p : / / w w w. d e fe s a c i v i l. p r. g o v. b r / a rq u i vo s / Fi l e / P L A N O S /
PlanoEstadualdeProdutosPerigososRevisao2008.pdf>

(Plano Estadual de Produtos Perigosos)

<http://www.defesacivil.gov.br/publicacoes/publicacoes/Apostila_comdec.pdf>

(Roteiro de Implantação de Defesa Civil Municipal)

<http://www.integracao.gov.br/atlas-brasileiro-de-desastres-naturais>

(Atlas Brasileiro de Desastres Naturais)

<http://www.defesacivil.gov.br/publicacoes/publicacoes/nudec.asp> (Manual de
Orientação para a Formação de Núcleos Comunitários de Defesa Civil)

75
Emergências
químicas, Unidade IiI
biológicas e
radioativas
Em situações de emergência, podemos nos deparar com eventos bem distintos daqueles que são
encontrados rotineiramente. São as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas.

CAPÍTULO 1
Definições e contexto de Emergências
Químicas, Biológicas e Radioativa

São diversas as possibilidades de ocorrência de emergências químicas, biológicas e/ou radioativas.


Veremos que há situações que podem ser resultantes de acidentes, mas também decorrentes de más
práticas na condução de operações de risco ou ainda em eventos provocados, como o terrorismo.

Parte 1– Emergências Químicas


Há diversas situações que podem ser consideradas como emergências químicas. Podemos defini-las
como todo evento crítico em que haja a presença de substância química exposta, colocando em risco
iminente de morte ou de grave problema de saúde a comunidade.

As situações, a seguir, são exemplos de emergência química.

»» Vazamentos de produtos químicos (Ex.: vazamento de gás de amônia em indústrias).

»» Acidentes (Ex.: derramamento de produtos em laboratórios químicos).

»» AZMAT – (sigla americana para Hazardous Materials ou produtos perigosos).


Uma das ocorrências mais comuns com produtos químicos; envolve acidentes com
veículos que transportam essas substâncias.

»» Terrorismo químico.

Em 1984, na cidade de Bophal, na Índia, houve um grave vazamento de pesticida (isocianato de


metila), produzida pela empresa Union Carbide. A quantidade de substância química vazada foi
próxima a 40 toneladas. O número de mortos chegou a 5.000, com 500.000 pessoas expostas. A

76
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

estimativa foi de que cerca de 20.000 pessoas tenham morrido ao longo dos anos. Mais de 120.000
pessoas podem ter apresentado doenças decorrentes desse vazamento. Esse evento é considerado o
maior desastre industrial.

Figura 35. Capa da Revista Time de 17/12/1984

Maiores informações podem ser encontradas em:

<http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster>

<http://www.bhopal.com/pdfs/browning.pdf>

<http://www.dnsy.se/_upload/lfm/2006/bhopal%20gas%20disaster.pdf>

<http://www.ehjournal.net/content/4/1/6>

<http://webdrive.service.emory.edu/users/vdhara/www.BhopalPublications/

Health%20Effects%20&%20Epidemiology/Health%20Effects%20Review%20

articles/Health%20Effects%20Review%20AEH.pdf>

<http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI433281-EI294,00.html>

Vídeos on-line da BBC:

<http://search.bbc.co.uk/search?scope=all&tab=av&recipe=all&q=bhopal+fac

es+risk+of+’poisoning’&x=0&y=0/>

Os pesticidas são extremamente tóxicos ao ser humano de uma forma geral. Segundo matéria
publicada em diversos jornais estrangeiros, entre os quais o conceituado canal de TV RTP de

77
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Portugal, o Brasil foi o maior consumidor de pesticidas do mundo em 2008 (<http://tv.rtp.pt/


noticias/?t=Brasil-maiorconsumidor-de-pesticidas-do-mundo-em-2008---estudo.rtp&article=214
378&visual=3&layout=10&tm=6>). Com o uso cada vez menor de organoclorados, a maior parte
dos pesticidas é de organofosforados, altamente tóxico para os seres humanos.

Intoxicações com organofosforados são muito comuns, sobretudo entre agricultores. Mas e se houver
uma intoxicação em massa por essas substâncias? Como em um ataque terrorista, por exemplo,
no que os americanos chamariam de agroterrorismo (quando empregado contra a agricultura de
determinado local) ou com uso de armas químicas, como os chamados nerve gas, que nada mais
são que potentes compostos organofosforados, como o soman, Vx, sarin e tabun. Mais à frente
falaremos de agroterrorismo e de terrorismo químico.

Com relação ao uso de armas químicas, não podemos nos esquecer da utilização de nerve gas e gás
mostarda pelo siraquianos contra os curdos, em 1988, na chamada Operação Anfal. Foi, talvez, a
primeira vez na História em que um país utilizou armas químicas contra seu próprio povo. Durante
toda a campanha iraquiana contra os curdos, estima-se que entre 50.000 e 100.000 pessoas daquela
etnia tenham sido mortas. Cerca de 250 cidades e vilarejos foram expostos a armas químicas. Na
cidade de Kalbja, mais de 5.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram vítimas de armas
químicas, sob o comando de Sadam Hussein.

Para saber mais acesse o site a seguir.

<http://www.bma.org.uk/images/DrugsasWeapons_tcm41-144496.pdf>

Um estudo clássico da utilização de armas químicas contra civis, obrigatoriamente, nos leva ao
atentado terrorista de Tókio, em 1995, com uso do gás sarin.

Um novo termo passou a ser conhecido pelos estudiosos em Homeland Security. Trata-se da
Farmacologia Tática.

Esse termo surgiu, em 2002, no Teatro de Moscou. Um grupo de 50 terroristas tchetchenos fez 700
reféns. Durante as operações de resgate de reféns, o governo russo utilizou um produto químico, cuja
composição até hoje desconhecemos, resultando em 168 mortos, dos quais 118 reféns. Por se tratar
de uma situação completamente atípica, em que foi utilizada uma substância química com finalidade
específica de atingir os criminosos (a ideia era realmente matar ou imobilizar?), passou-se a falar em
Farmacologia Tática. Naturalmente que, sob esse aspecto, poderíamos considerar que a utilização dos
gases CS, principalmente, com efeito lacrimogêneo, em distúrbios civis, também se encaixaria nessa
definição; contudo, foi o evento de Moscou que trouxe à tona a discussão desse conceito.

Com relação a acidentes com transporte de produtos perigosos, sabemos que o assunto é vasto e que
muito se pode escrever sobre ele.

Na teoria, apenas veículos especialmente destinados a esse fim, conduzidos por motoristas com curso
específico para transporte de cargas perigosas, podem realizar essa atividade, em nosso país. Na
prática, sabemos que muitas vezes são transportados produtos perigosos em caminhões sem qualquer
tipo de sinalização, em condições precárias e com motoristas sem a menor noção sobre o tema.

78
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Nos sites abaixo, poderão ser encontradas, diversas informações sobre legislação,
sinalização e treinamento na área.

<http://www.produtosperigosos.com.br/>

<http://www.antt.gov.br/faq/produtos_perigosos.asp>

<http://www.abiquim.org.br/>

<http://www.cepis.ops-oms.org/tutorial1/p/clasiden/index.html>

Saiba mais sobre armas químicas e biológicas em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1221_mff_bio/page8.shtml>

<http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/saude/aarmas.htm>

<http://emergency.cdc.gov/>

Saiba mais sobre a Operação Anfal em:

<http://www.hrw.org/legacy/reports/1993/iraqanfal/#Table%20of>

<http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/08/21/

AR2006082100959.html>

PARTE 2 – Emergências biológicas


Há diversas possibilidades de encontrarmos emergências biológicas.

»» Epidemias e pandemias.

»» Intoxicações alimentares.

»» Contaminações acidentais.

»» Bioataque.

»» Bioterrorismo.

As epidemias serão discutidas mais à frente.

As intoxicações por alimento podem ocorrer de diferentes formas e é importante que o gestor de
saúde esteja especialmente atento para eventos de grande público, sobretudo em dias quentes e
ensolarados, com referência aos alimentos expostos e consumidos pela população. É muito comum,
que haja rápida proliferação de bactérias e, em especial, em molhos e maioneses, que devem ser
evitados. Alimentos crus, bem como frutos do mar, também merecem grande atenção dado o risco
de graves intoxicações.

Nas grandes cidades, é frequente a realização de eventos políticos ou mesmo culturais onde as pessoas
ficam em acampamentos, improvisados ou não, e recorrem a “marmitas” para fazer suas alimentações.
É fundamental que a procedência seja conhecida e o manuseio e armazenamentos adequados.

79
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Vejam este artigo sobre intoxicação alimentar, escrito por Maryn McKenna:

“As doenças transmitidas por alimentos são uma gravíssima questão de saúde
pública, mesmo levando-se em conta apenas os episódios agudos iniciais.
Anualmente, nos Estados Unidos, há 48 milhões de casos, 128 mil internações
e 3 mil óbitos relacionados a elas, segundo estimativa feita, em 2011, pelos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, na sigla em inglês). (O
Brasil não dispõe de estatísticas nesta área.) Já na União Europeia, houve
48.964 ocorrências e 46 casos fatais em 2009, o último ano pesquisado. De
acordo com dados do Serviço de Pesquisas Econômicas do Ministério da
Agricultura americano, as bactérias por si sós já acarretam um custo de pelo
menos US$ 6,7 bilhões, considerando a assistência médica, mortes prematuras
e perda de produtividade. Mas os pesquisadores que acompanham os efeitos
crônicos dessas enfermidades afirmam que a conta é, na verdade, bem maior.

“As pessoas não compreendem as consequências como um todo das doenças


transmitidas por alimentos”, lamenta Kirk Smith, da secretaria da Saúde do
estado de Minnesota, que permite a seus profissionais atuar em todo o país.
“Acham que, depois de alguns dias, a diarreia passa e acabou. Não entendem
que há toda uma série de sequelas crônicas. Embora nenhuma seja comum em
separado, o conjunto delas é importante.”

As complicações de longo prazo não se limitam aos doentes submetidos à


internação hospitalar, como no caso de Dana, tendo sido observadas em
pessoas que, aparentemente, haviam tido apenas episódios leves de febre,
vômito e diarreia. Entre elas estão artrite reativa, afecções do trato urinário e
danos oculares após infecções por salmonela e Shigella; síndrome de Guillain-
Barré e colite ulcerativa (um tipo de infl amação intestinal crônica) depois
de contaminação por Campylobacter; e insuficiência renal e diabetes, como
consequência de intoxicações causadas por Escherichia coli O157:H7. Trata-
se de organismos muito comuns: a fiscalização federal já os identificou em
carne, leite, aves, ovos, frutos do mar, frutas, verduras e legumes e até mesmo
alimentos processados.

À medida que estudam os dados sobre surtos de enfermidades transmitidas


por alimentos, os pesquisadores não só confirmam a ocorrência dessas
sequelas, como também aumentam a lista delas. Um levantamento realizado
com 101.855 habitantes da Suécia contaminados entre 1997 e 2004 revelou,
por exemplo, uma incidência acima do normal de aneurisma aórtico, colite
ulcerativa e artrite reativa. Durante a revisão de um amplo banco de dados
de províncias australianas sobre saúde, observou-se que a probabilidade de
desenvolver colite ulcerativa ou doença de Crohn (uma enfermidade crônica
intestinal) é 57% mais alta entre pessoas que tenham contraído infecções
gastrointestinais de causa bacteriana que entre outros nascidos no mesmo
local e na mesma época. Vários anos após um surto ocorrido em 2005, na
Espanha, 65% das 248 vítimas relataram sofrer de dores ou rigidez nas

80
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

articulações ou nos músculos, em comparação a 24% no grupo de controle,


que não havia sido infectado.
Fonte: <http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/o_perigo_dissimulado_da_intoxicacao_
alimentar.html>

Contaminações acidentais são mais comuns em laboratórios e locais que manuseiam agentes
biológicos. Por esta razão há necessidade de que sejam rigorosamente seguidos as recomendações e
protocolos de biossegurança. O chamado “Bioataque” refere-se ao uso de substâncias biológicas
para atingir determinada pessoa ou alvo específico e possui uma tênue linha de separação com o
bioterrorismo que é mais voltado para um número maior de pessoas. Uma pessoa que cometa um
assassinato com emprego de agente biológico estaria praticando um bioataque. Na prática contudo,
esta é apenas uma classificação didática, pois para todos os fins, seria tratado possivelmente como
um ataque bioterrorista, que discutiremos mais a frente.

<http://www.biosseguranca.com/>

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/diretrizes.pdf>

(Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com Material Biológico-Ministério


da Saúde)

<http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BCB2790012BD509161913AB/guia_
tecnico_cs3.pdf>

(Riscos Biológicos Guia Técnico-Ministério do Trabalho)

PARTE 3 – Emergências radioativas


Podem ser decorrentes das seguintes situações.

»» Vazamento radioativo.

»» Contaminação radioativa accidental.

»» Bomba-suja e terrorismo.

»» Explosões atômicas.

Em 1986, o mundo assistiu, atônito, ao pior vazamento radioativo da História, em Chernobyl,


na antiga União Soviética. Foram evacuadas 200.000 pessoas, com 56 mortos na fase inicial e
estimativa de cerca de 4.000 mortes ao longo dos anos.

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil>

<http://ngm.nationalgeographic.com/2006/04/inside-chernobyl/stone-text>

<http://world-nuclear.org/info/chernobyl/inf07.html>

Figura 36. Acidente de Chernobyl

81
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Fonte: <http://www.atomicarchive.com/History/coldwar/p21_image.shtml>

No ano seguinte, nova emergência radioativa ocorre. Dessa vez, no Brasil, na cidade de Goiânia,
e envolveu o Césio 137, presente em um equipamento médico abandonado e que foi aberto por
pessoas não autorizadas. Houve 4 mortes, inicialmente, e uma resposta ao incidente extremamente
ineficiente e que mostrava claramente a ausência de planos de emergência (vocês acham que se
fosse hoje seria diferente? Não precisam responder, apenas reflitam). Segundo estimativas do
Greenpeace, houve, posteriormente, cerca de 60 mortes (ao longo dos anos, em decorrência da
radiação), com 628 vítimas contaminadas. A Associação de Vítimas do Césio estima que 6.000
pessoas foram expostas.

Filme: Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia de Roberto Pires – 1990

Youtube: <http://www.youtube.com/watch?v=kdC70RKqQWk>

Sites:

<http://www.unificado.com.br/calendario/09/cesio.htm>

<http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/Pub815_web.pdf>

Acidente com Césio em Goiânia

Fonte: <www.clicabrasilia.com.br>

82
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Figura 37. Acidente com Césio em Goiânia

Fonte: <www.clicabrasilia.com.br>

Acidentes em usinas nucleares e envolvendo produtos radioativos são extremamente graves.


Infelizmente, muitos serviços de emergência, por não acreditarem na possibilidade de que possam
ocorrer, não elaboram planos de contingência.

Um outro exemplo a ser dado foi o vazamento de radiação ocorrido, em 1979, em Three Miles Island,
no estado americano da Pennsylvania. Houve grande medo na população que, poucos dias antes,
havia assistido ao lançamento de um filme (Síndrome da China), que tratava de um vazamento
em uma usina nuclear. As informações prestadas à população foram muito ruins, o que agravou a
situação. Não houve mortos nem feridos.

<http://www.nrc.gov/reading-rm/doc-collections/fact-sheets/3mileisle.html>

<http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/tmi.html>

Figura 38. Three Miles Island

Fonte:< www.ohiocitizen.org>

83
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Mais recentemente, em 2011, em decorrência de forte terremoto no Japão, seguido de tsunami, que
causou mais de 28.000 mortes, a Central Nuclear de Fukushima foi severamente atingida por fortes
ondas do mar, causando um acidente nuclear de graves proporções. O acidente foi considerado o
mais grave desde Chernobyl.

<http://veja.abril.com.br/tema/crise-nuclear>

<http://super.abril.com.br/blogs/superblog/desastre-nuclear-de-fukushima-no-
japao-foi-duas-vezes-pior-do-que-se-pensava/>

Figura 39. Mapa mostrando o epicentro do terremoto e a posição das centrais nucleares afetadas

Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Fukushima_I>

Figura 40. Central Nuclear de Fukushima

Fonte: <http://super.abril.com.br/ http://emergency.cdc.gov/radiation/japan2011.asp> (em inglês)

84
CAPÍTULO 2
Planejamento

É fundamental, em todas as áreas de Emergência, o planejamento de ações e o inventário de riscos.


Perguntas devem ser feitas e respondidas.

»» Quantas empresas e indústrias ou locais de armazenamento de substâncias


químicas existem na região? Os Planos de Gestão de Crises e Contingenciamento de
Desastres são conhecidos?

»» Qual o fluxo de veículos transportando produtos perigosos na região? De onde vêm?


Para onde vão? Que produtos são esses? É possível o monitoramento?

»» Qual o tempo resposta para acidentes químicos, biológicos e radioativos?

»» Quais são os recursos materiais e humanos disponíveis?

»» Quais são os locais que trabalham com material radioativo na região?

»» Resposta

›› Que tipo de emergência está acontecendo? Primeira pergunta a ser feita.

›› Há presença de gases ou fumaças? Pensar em emergência química.

›› Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas.

›› Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas.

›› Há várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergências


biológicas.

Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes em uma única situação.

PARTE 1 – RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS NBQ


Diante da possibilidade de uma emergência NBQ (Nuclear, Biológica e Química) ou RBQ (Radioativa,
Biológica e Química), há necessidade de que sejam adotadas as seguintes medidas, pela primeira
autoridade presente no local, entendendo-se, por autoridade, todos com poder e treinamento para
assim procederem (polícia, bombeiros, samu etc.).

»» Isolamento e proteção.

»» Contenção.

»» Diagnóstico/identificação dos produtos.

»» Abordagem e descontaminação.

85
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

O Sistema de Comando de Incidentes (ICS) deve ser imediatamente adotado. Aqui podemos ter
uma ideia da estrutura do ICS, criado para, entre outras coisas, facilitar a coordenação de eventos
críticos. O C3I, abaixo citado, é uma abreviação das medidas que devem ser realizadas em todos
os eventos com potencial de crise, e compreende: Comunicação (C), Controle (C), Comando (C) e
Inteligência (I).

Figura 41. Sistema de Comando de Incidentes (ICS)

Incident Commander
Oficial de
Informações Públicas Oficial de Ligação

Oficial de Segurança
do Evento

Seção de Operações Seção de Planejamento Seção Logística Seção de Admin/Finc.


Operações Aéreas Unidades de Unidade de Unidades de Unidade de Unidade de Unidade de
Unidades Recursos Desmobilização Recursos Suporte Tempo Ressarcimento
e Terrestres

Divisões Grupos Unidade de Unidade de Unidade de Unidade de Unidade de Unidade de


Situação Documentação Comunic. Materiais Contabilidade Custos
Time de Resposta
Unidade Unidade de
Busca e Salvamento Médica Equipamentos
Unidade de Unidade de
Emergência Médica Alimentos Suporte Terr.

Luis Henrique Hargraeaves

O Manual para Atendimento de Emergência com produtos perigosos (figura a seguir) possui todas
as informações sobre o atendimento a produtos químicos e foi elaborado pela ABIQUIM (Associação
Brasileira da Indústria Química).

Figura 42. Manual para Atendimento de Emergência com produtos perigosos

A publicação informa o número ONU e a classificação de risco de, aproximadamente, 2 mil produtos
químicos, por ordem alfabética e numérica da ONU, e um guia com informações sobre os principais

86
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

riscos, como combustão espontânea, emissão de gases tóxicos ou contaminação do meio ambiente,
fornecendo orientações sobre as primeiras ações a serem tomadas em situações de emergência
<http://www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=pro&pag=manu>.

O gerente de crises, nessas situações, deve, entre outras atividades, agir conforme a seguir.

1. Acionar as equipes especializadas.

2. Garantir adequado isolamento, contenção, descontaminação e atendimento e


evacuação de feridos.

3. Definir as zonas quente, amarela e vermelha, em conjunto com os especialistas.

4. Montar posto de comando.

5. Atuar como Incident Commander.

O gerente de crises não participa diretamente do atendimento. Lembrem-se dos princípios de


gerenciamento de crise sem situação com reféns.

Nessas situações, em que se sabe exatamente qual produto está causando o problema, as equipes
de resposta podem utilizar os equipamentos mais adequados e o atendimento às vítimas será mais
direcionado. No entanto, quando desconhecemos a natureza do evento, devemos assumir que as
três possibilidades podem estar presentes: química, biológica e radiológica.

Os equipamentos de proteção individual devem ser definidos conforme o risco a que estão expostos.
Na dúvida, o uso do equipamento encapsulado deve ser utilizado.

A primeira autoridade a tomar conhecimento do fato deve (se há explosão, gases, fumaça com
coloração diferente, várias pessoas apresentando sinais e ou sintomas semelhantes, pó desconhecido)
realizar as seguintes ações.

1. Isolar a área (perímetros maiores para risco desconhecido, com o mínimo de 100
metros).

2. Acionar socorro especializado.

3. Em casos de risco evidente, como gases e fumaças, proceder a imediata evacuação


do prédio para área ao ar livre. As pessoas que podem ter sido, de alguma forma,
contaminadas não devem ser mandadas embora, mas devem aguardar em uma
determinada área isolada até a chegada da equipe de descontaminação.

Havendo necessidade de descontaminação rápida (demora na chegada da equipe especializada,


número excessivo de vítimas, certeza de fonte radioativa, gases tóxicos), as vítimas devem receber
jatos de água de mangueira, para a descontaminação inicial. Sempre que possível, as vítimas devem
remover as roupas contaminadas. Cuidados, no entanto, devem ser tomados para não expor as
vítimas à curiosidade alheia, ao frio intenso etc.

87
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

A equipe de resposta, ao chegar ao local, deve portar aparelho para detecção de radiação (Geiger)
e verificar se há radiação presente. Não havendo, determinar a ampliação ou não do isolamento e
iniciar processo de aproximação (manter detector de radiação ligado).

Ao aproximar-se do local, a equipe deve utilizar detector de gases múltiplos e explosímetro.


Infelizmente, esses equipamentos raramente são encontrados nos Corpos de Bombeiros e a presença
de um não substitui a do outro. São equipamentos caros para serem adquiridos de forma individual,
mas fundamentais para a instituição que se propõe a atender esses tipos de emergência.

As pessoas expostas à substância devem ser descontaminadas (zona amarela e, sempre que possível,
de forma padrão, com uso de piscinas portáteis). Quem for proceder a esse tipo de descontaminação
deve estar atento para o fato de que a água que escorre da vítima também está contaminada e deve
ser recolhida para descarte posterior, em local adequado.

Muito cuidado deve ser tomado com o risco de contaminação de rios, córregos, entre outros.

Figura 43. Descontaminação padrão

Fonte: hrdp-idrm.in

Em se tratando de objetos que não podem ser verificados, como malas, o esquadrão antibombas
também deve ser acionado.

Diante da presença de pó ou substância sólida suspeita (não identificada), essa deve ser colocada
em saco plástico duplo, resistente, transparente (após ter sido descartada a possibilidade de ser
radioativa ou explosiva), completamente selado e transportado para laboratório de referência (a
ser designado pela Secretaria de Saúde), para ser submetido à triagem, que inclui coloração para
Gram e análise bacteriológica preliminar. Havendo necessidade de exames complementares, o
material deve ser, imediatamente, transportado para laboratório com nível de proteção maior. Até

88
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

a conclusão dos exames, o que deve ser feito, preferencialmente, nas primeiras 24-48h, sobretudo
para descartar a possibilidade de antrax, as pessoas contaminadas devem ser examinadas e
acompanhadas por equipe médica de referência que, segundo os protocolos internacionais, indicará
medidas quimioprofiláticas.

Apenas após o descarte da presença de micro-organismos patogênicos o material pode ser analisado
pela perícia criminal.

<http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/rad_ion.pdf>

(Radiações ionizantes)

<http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/radio.pdf>

(Radioatividade)

<http://emergency.cdc.gov/radiation/espanol/>

(Emergências causadas pela Radiação – em espanhol)

<http://www.ilea.ufrgs.br/radioisotopos/Aula%2027%20Julho%20Arquivo%203.
pdf>

(Resposta a emergências radioativas)

< h t t p : / / w w w. d i s a s t e r - i n fo. n e t / l i d e re s / p o r t u g u e s / b r a s i l % 2 0 0 6 /
Apresenta%E7%F5es/Andersondesast.pdf>

(Emergências Químicas)

<http://www.bvsde.paho.org/tutorial1/p/acciresp/>

(Curso de Autoinstrução em Prevenção, Preparação e Resposta para Desastres


envolvendo Produtos Químicos)

<http://emergency.cdc.gov/chemical/es/>

(Emergências Químicas em Espanhol)

<http://emergency.cdc.gov/agent/espanol/agentlist.asp>

(Bioterrorismo em espanhol)

PARTE 2 – MANEJO DA CENA E ATENDIMENTO DE


PACIENTES EM EMERGÊNCIAS RADIOLÓGICAS
As recomendações internacionais do CDC (Center of Diseases Control) para o manejo de cena e
descontaminação em acidentes radiológicos é a seguinte.

1. Notificar as autoridades competentes (acionar bombeiros, polícia e CNEN - nos


casos suspeitos e/ou confirmados).

89
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

2. Isolar a área, fazer a conteção e o controle do perímetro.

3. Identificar os tipos de radiação envolvidos e radioisótopos (necessidade de


dosímetro).

4. Medir níveis de radiação de forma contínua.

5. Garantir a segurança da equipe de resposta, o que inclui o uso de equipamento e


vestimenta de proteção.

6. Uso de dosímetros pessoais.

7. Consultar guias de exposição à radiação para trabalhadores.

8. Estabelecer “zonas de resposta”.

9. Estabelecer fluxos de atendimento de pacientes.

<http://www.remm.nlm.gov/onsite.htm#scene>

Com relação ao atendimento de pacientes contaminados e expostos à radiação, deve ser seguido o
seguinte protocolo.

Obs.: pacientes que são expostos à radiação, como, por exemplo, quando somos submetidos a
exames de raio X, sofrem os efeitos e as ações diretos da radiação, mas não provocam qualquer dano
à outra pessoa e nem são capazes de conduzir radiação. Assim, os pacientes expostos não requerem
descontaminação, pois não possuem elementos radioativos em seus corpos.

Por outro lado, pacientes contaminados são aqueles que, por alguma razão, possuem radioisótopos
(líquidos, gases ou sólidos) que foram liberados no meio ambiente e, então, inalados, ingeridos ou
depositados na superfície corporal e podem contaminar outros seres vivos, além de manterem os
seus próprios corpos sendo expostos de forma continuada à radiação.

»» Manuseio de vítimas contaminadas

›› Equipe devidamente protegida realiza o resgate.

›› Pacientes minimamente contaminados não constituem risco para a equipe de


saúde ou de resgate.

›› Os procedimentos de suporte básico e avançado de vida devem ter prioridade


sobre a descontaminação.

›› Não perca tempo com procedimentos de descontaminação ou de proteção em


pacientes com risco iminente de morte, que devem ser imediatamente resgatados
e transportados para hospital.

›› Em casos de manuseio de pacientes com provável contaminação por fragmentos


de alta radioatividade, como cobalto-60 ou iridium-192, a avaliação deve ser
realizada por profissional médico acompanhado de técnico com dosímetro, que

90
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

irá orientar quanto à devida proteção necessária e níveis de radiação presentes,


de tal forma a preservar a segurança do atendimento.

›› Os níveis de radiação para equipes de emergência em atendimentos prolongados


e contato próximo, como cirurgias, devem ser da seguinte forma.

·· Monitorados com uso de dosímetros pessoais ou equipamentos que permitam


a dosagem em tempo real.

·· As equipes devem ser minimamente expostas, o que pode ser conseguido pelo
rodízio dos profissionais.

·· Se for o caso, considerar e seguir protocolos de contaminação de profissionais.

·· A remoção de fragmentos deve ser realizada em abrigo devidamente protegido


e destinado para esse fim.

»» Transporte de Vítimas Contaminadas

›› Coloque dois cobertores ou lençóis na maca antes de colocar o paciente


contaminado.

›› Remova as roupas contaminadas do paciente antes de colocá-lo na maca


(não devem ser descartadas em lixo comum, mas juntamente com o material
contaminado).

›› Enrole o paciente nos lençóis ou cobertores, mantendo liberado o acesso para


procedimentos de suporte de vida que se fizerem necessários.

›› Feche todos os compartimentos dentro do veículo de transporte antes de iniciá-lo.

›› Use equipamentos descartáveis, quando possível.

›› Reduza a contaminação no interior do veículo após o transporte estar concluído.

Fonte: <www.cdc.gov>

»» Manejo de vítimas expostas

›› Atendimento deve ser iniciado com avaliação de cena e medidas gerais de


proteção da equipe.

›› Vítimas que foram expostas, mas não contaminadas, não oferecem riscos de
radiação para a equipe de socorro.

›› Após detonações nucleares, níveis altos de radiação podem estar amplamente


disseminados no meio ambiente.

Fonte: CDC

91
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

PARTE 3 – MANEJO DA CENA E ATENDIMENTO DE


PACIENTES EM EMERGÊNCIAS QUÍMICAS
Os protocolos podem variar, mas, de uma forma geral, diante de emergências envolvendo materiais
perigosos, tóxicos (químicos), os seguintes princípios devem ser seguidos.

I. Solicitar socorro especializado (bombeiros, defesa civil).

II. Realizar a segurança da área e das pessoas, incluindo a equipe.

III. Isolar a área.

IV. Realizar a contenção (não permitir que produtos e materiais sejam removidos
do local).

V. Tentar identificar o produto químico em local seguro (binóculos, por exemplo).

VI. Apenas pessoas devidamente equipadas devem entrar no local contaminado (área
quente).

VII. Vítimas que estejam em local que permita o atendimento seguro por parte da equipe
devem ser atendidas.

Nem sempre está claro para uma equipe de resposta a emergências que se trata, de fato, de um
evento com materiais químicos. Assim, há alguns princípios que podem ser utilizados, de tal forma
a facilitar tal reconhecimento e que são propostos pelo CDC.

I. Localização: as equipes de resposta devem estar atentas e identificar locais com


grande probabilidade de possuírem materiais tóxicos, como laboratórios, lojas de
tintas, empresas que lidam com gases, entre outras. A própria comunidade pode
auxiliar na identificação de locais onde não esteja tão óbvia a atividade profissional
ali exercida.

II. Containers: a existência de containers ou de caminhões com identificação de


produtos perigosos é um bom indicativo do tipo de atividade e de riscos presentes.

III. Identificação em placas: veículos de transporte de produtos perigosos devem


possuir placas de identificação, como vimos anteriormente, em que estão todas as
informações sobre o produto que está sendo transportado.

IV. Papéis de transporte de produtos: os veículos que estão transportando produtos


devem possuir guias e documentação do que está sendo transportado.

V. Odores, vapores, núvens de fumaça, animais e plantas mortos, fogo, irritação de


olhos e mucosas podem ser sinais de presença de produtos tóxicos.

92
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Figura 44. Placas de produtos perigosos

Fonte: Abiquim

Níveis de proteção
Nível A – Proteção com mais alto nível para pele, sistema respiratório, olhos, mucosas. É conhecido
como sistema encapsulado, uma vez que há, literalmente, uma cápsula de proteção envolvendo o
profissional, incluindo equipamento autônomo de respiração (SBCA). É uma vestimenta resistente
a vapores, material químico. Não é, contudo, resistente a chamas.

Nível B – Deve ser usado quando há necessidade do mais alto nível de proteção respiratório, mas
não o mesmo grau de proteção para pele e olhos, embora também fiquem protegidos, mas em menor
nível que o anterior.

Nível C – Neste nível estão os casos em que a substância é conhecida, a concentração foi medida e
os critérios para uso de máscara com purificador de ar foram atendidos. Nestes casos, a exposição
da pele e dos olhos é pouco provável que tenha maiores problemas.

93
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Nível D – Compreende a vestimenta normal de trabalho e oferece proteção mínima para a pele,
mas nenhuma para o aparelho respiratório.

Fonte: <www.cdc.gov>

Todos os serviços de bombeiros, municípios, estados e órgãos de defesa civil, devem


possuir protocolos testados e atualizados para resposta em emergências químicas,
biológicas e radioativas.

94
CAPÍTULO 3
Terrorismo

Não há um consenso sobre a melhor definição de terrorismo. O Brasil, por exemplo, é signatário de
diversos acordos e tratados internacionais contra o terrorismo, mas não possui legislação sobre o
tema e sequer uma definição oficial.

The United States Department of Defense define terrorismo como “uso calculado de violência ilegal e
ilegítima ou ameaça de violência, para provocar medo, com intenção de coagir ou intimidar governos
ou sociedades visando a alcançar resultados, geralmente, no campo político, religioso ou ideológico”.

A seguir, elementos presentes no ato do terrorismo.

»» Intimidação

»» Medo

»» Violência

Objetivo: produzir terror.

O FBI, por sua vez, assim o define: “terrorismo é o uso ilegal e ilegítimo da força e da violência contra
pessoas ou propriedades, para intimidar ou coagir um governo, a população civil, ou qualquer outro
segmento, com objetivos sociais ou políticos”.

As Nações Unidas, em 1992, definiram terrorismo da seguinte forma: “An anxiety-inspiring method
of repeated violentaction, employed by (semi-) clandestine individual, group or state actors, for
idiosyncratic,criminal or political reasons,whereby – in contrast to assassination – the direct
targets of violence are not the main targets.” Um método que inspira ansiedade (medo) com uso
de violência repetida, empregada por atores representados por grupos, estados e pessoas (semi)
clandestinos, para idiossincrasia, razões políticas ou criminais e em contraste com o assassinato, as
vítimas diretas da violência não são o alvo principal.

Podemos encontrar situações que são atos terroristas, mas não se encaixariam nas definições
supracitadas, como o cyberterrorismo (uso do computador para a prática de ações terroristas. Já
imaginaram a parada de funcionamento do sistema de controle de voo? E o agroterrorismo (uso de
toxinas ou elementos biológicos, para provocar terrorismo, por meio da contaminação de pecuária,
plantações e outros meios produtivos da agricultura, podendo causar graves prejuízos econômicos)?

Em seu livro, Guerras justas e injustas, Michael Watzer coloca a aleatoriedade na escolha das
vítimas e o assassinato de pessoas, como condições para a definição de terrorismo, o que é bastante
questionável. A ameaça não é suficiente para causar medo na população e paralisar um sistema?

Em 30 de abril de 1997, por exemplo, ameaças de bomba do Exército Republicano Irlandês


(IRA) paralisaram estradas britânicas e os dois principais aeroportos do país, causando o caos no
tráfico apenas 24 horas antes de um processo eleitoral. Milhares de usuários que se dirigiam para

95
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Londres foram surpreendidos pelos alertas e houve o medo generalizado de atentados. Isso não
é terrorismo?

Com relação à aleatoriedade, vejamos o caso que ficou conhecido como “Resgate em Entebe
(Uganda)”, ocorrido em 1976. Naquela ocasião, um voo da Air France, que ia de Tel Aviv a Paris,
com escala em Atenas, com 246 passageiros, além da tripulação, foi sequestrado por elementos do
grupo terrorista de esquerda alemã Baader-Meinhoff e da Frente de Libertação da Palestina. Dos
passageiros capturados, 101 foram retidos por serem judeus ou israelenses, o que já mostra que a
escolha não foi aleatória.

O ato terrorista foi apoiado pelo ditador de Uganda, Idi Amin Dada, e pode ser visto no cinema em
grandes filmes do cinema.

Resgate em Entebbe

Título no Brasil: Resgate em Entebbe

Título Original: Raid on Entebbe

País de Origem: EUA

Gênero: Ação

Tempo de Duração: 150 minutos

Ano de Lançamento: 1977

Direção: Irvin Kershner

A Operação de Resgate, denominada, inicialmente, de Thunderball, foi rebatizada


como “Operação Yonatan”, em homenagem ao único militar israelense morto, o
coronel e comandante da operação,Yonatan Netanyahu, irmão do ex-primeiro
ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Para saber mais sobre essa operação veja:

<http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Entebbe>.

O Último Rei da Escócia

Título Original: The Last King of Scotland

Tempo de Duração: 121 minutos

Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006

Site Oficial: www2.foxsearchlight.com/thelastkingofscotland

Estúdio: Fox Searchlight Pictures/UK Film Council/Slate Films/Tatfilms/Scottish Screen/


DNA Films/FilmFour/Cowboy Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation

Direção: Kevin Macdonald

96
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Da mesma forma, ainda falando de aleatoriedade, analisemos o atentado de Oklahoma City, em 1995.

O alvo de Timothy Mcveigh eram os escritórios federais da ATF, FBI e DEA, que funcionavam no
Edifício Federal Alfred Murrah. Não os escritórios em si, mas o que representavam. No atentado,
houve 168 mortos, dos quais 19 crianças, e um total de 500 feridos. Esse atentado serviu, também,
para derrubar outros mitos.

»» Não houve envolvimento de grupos terroristas, mas apenas de uma pessoa que
tinha motivação e sabia a forma de levar à frente seu plano.

»» Não houve necessidade de armas sofisticadas para um atentado terrorista. Nesse caso,
o terrorista utilizou-se de grande quantidade de fertilizante e detonador (ANFO).

»» Não houve envolvimento ou motivação fundamentalista religiosa.

»» Não havia um projeto de tomada de poder, nem motivação separatista, mas um


descontentamento do terrorista com o governo, particularmente pela forma com
que os agentes federais conduziram o cerco à fazenda de David Koresh, no episódio
conhecido como “Waco Siege”, em 1993. Tratava-se de uma dissidência dos
Adventistas do Sétimo Dia, localizada na região, que previa que a segunda vinda de
Cristo à Terra era iminente e todos deveriam aguardá-la juntos. Houve denúncias
de cárcere privado, inclusive de menores, de posse ilegal de armas, entre outras. Na
operação em que se pretendia libertar todos que lá estavam e prender o líder, houve
grande reação por parte dos membros da seita e o resultado foi que, em uma primeira
tentativa, morreram 4 agentes e 6 seguidores da seita. Após 51 dias de negociação, mal
sucedida, o desfecho foi de 76 mortos, incluindo mais de 2 crianças e duas gestantes.

<http://en.wikipedia.org/wiki/Waco_Siege>

Figura 45. Atentado de Oklahoma City

Fonte: 911review.com

97
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Desta forma, não houve a morte aleatória de pessoas, mas uma cuidadosa escolha dos alvos a
serem atingidos.

Se não há consenso, podemos e devemos, então, trabalhar em cima das características do


terrorismo, para atuarmos na prevenção e na resposta. Assim, podemos dizer que as ações
terroristas são as seguintes.

»» Não são objeto-fim da ação. O objetivo final da ação é outro.

»» Possuem motivação ideológica (religião, política, mas também convicções pessoais).

»» São, frequentemente, de grande repercussão.

»» Podem envolver violência, ameaça ou graves danos (ciberterrorismo, blecautes,


outros).

»» Não estão relacionados, necessariamente, a grupos terroristas.

»» Não requerem participação de estrangeiros.

»» Podem ter motivação econômica (agroterrorismo, narcoterrorismo).

»» Causam medo generalizado na população, que não se sente protegida pelo Estado
(situação permanente de terror).

Com tantas possibilidades, poderíamos pensar que qualquer ato é terrorista?

Não. Há necessidade da existência de, ao menos, a relação: motivação (o ato não é o objetivo final),
medo generalizado na população (mais até que o medo, a percepção de insegurança diante de um
Estado inoperante).

Entre as situações que podem causar danos psicológicos graves, certamente, o terrorismo é
uma delas.

Nos atentados de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, mais de 400 policiais e bombeiros
foram mortos. No total, houve mais de 3 mil mortos. Um dos problemas encontrados entre os
sobreviventes foi o chamado The Survivor Victim, que poderia ser resumido em uma frase: “Por
que eu sobrevivi?”

Na prestação dos Primeiros Socorros Psicológicos é fundamental que haja uma sequência de
abordagens, assim resumida.

»» Avaliação de necessidades (Quem apresenta maior risco de necessitar de Primeiros


Socorros Psicológicos?).

»» Estabilização (Como diminuir uma escalada de processos em espiral que possa


agravar ou produzir novas necessidades de socorro psicológico?).

»» Reavaliação e Triagem (Distress – o chamado stress ruim –, Fadiga/sono/fome, “O


dia seguinte”).

98
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

»» Comunicação (Estabelecer confiança, presença, comunicação com as vítimas. As


autoridades devem visitar os sobreviventes, participar de cerimônias dedicadas
às vítimas).

»» Integração com Sistema (Acompanhamento e seguimento).

No chamado “Primeiros Socorros Psicológicos no Terrorismo”, temos o seguinte.

»» Conheça você mesmo.

»» Conheça seu inimigo tão bem quanto você se conhece.

»» Tenha um plano bem estruturado para gerenciamento de crises.

»» Estabeleça suporte psicológico com equipes especializadas.

»» Estabeleça grupos de apoio e ajuda, faça debriefing.

»» Realize os primeiros socorros psicológicos e esteja atento ao colega mais próximo.

»» Reestabeleça a rotina o mais rápido possível.

»» Utilize símbolos, cerimônias e ritos como forma de reestabelecer a unidade.

»» Prepare-se para “um novo começo”, para a “reconstrução”.

»» Acredite que “o que não me destrói, me fortalece”.

»» Tenha auxílio religioso, quando adequado.

Atentados terroristas ocorrem no mundo inteiro há séculos. O termo, no entanto, vem sendo
empregado desde o chamado regime de Terror da Revolução Francesa, que durou cerca de 1 ano,
de 1793 a 1794, quando o governo revolucionário passou a perseguir (inicialmente apenas os
girondinos) todos inimigos ou que eram contrários ao governo, a prendê-los e a executá-los.

No período que se segue à Segunda Guerra Mundial, o terrorismo separatista mostra sua face mais
cruel, por meio dos atentados do IRA, no Reino Unido, e do ETA, na Espanha (iniciado na década
de 1960).

<http://www.bbc.co.uk/history/recent/sept_11/changing_faces_01.shtml>

<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/2004/03/17/001.htm>

<http://en.wikipedia.org/wiki/Irish_Republican_Army>

No final da década de 1960 e durante a de 1970, os grupos terroristas, basicamente, eram de


orientação de esquerda, ou seja, com ideologia comunista ou marxista.

Com o fim da Guerra Fria, ainda, persistem grupos terroristas separatistas, mas foi por meio do
fundamentalismo religioso e dos atentados terroristas do Hezbollah, da Al-Qaeda, do Hamas, que
passamos a conhecer o que se denomina Terrorismo Internacional contemporâneo. Não há países
imunes a esse tipo de terrorismo.

99
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

O Japão sofreu um atentado por terrorismo químico, sem precedentes no mundo contemporâneo,
apesar do terrorismo de Estado de Sadam Hussein, ao utilizar, na década de 1980, armas químicas
contra os curdos, no norte do país. O que tornou único esse atentado foi a facilidade com que
foi praticado e, embora o número de mortos tenha sido, relativamente, baixo (7), por tratar-
se de uso de arma de destruição em massa, o pânico e o medo que se instalaram naquele país
foram impressionantes.

<http://www.emergency.com/cntrterr.htm>

<http://www.fas.org/irp/threat/terror.htm>

<http://www.fas.org/irp/threat/nctc2008.pdf>

Desde então, temos nos defrontado com atentados cometidos por fundamentalistas religiosos em
diversas partes do mundo, como: Indonésia, Turquia, Israel, Líbano, Espanha, Inglaterra, Escócia,
entre outros, com destaque para os atentados de 11 de setembro de 2001, considerado o pior atentado
terrorista da História da humanidade.

<http://en.wikipedia.org/wiki/Sarin_gas_attack_on_the_Tokyo_subway>

Ao longo da História, a maior parte dos atentados terroristas teve como causa o uso de bombas
(mais de 65% dos ataques no mundo e mais de 88% dos ataques nos Estados Unidos).

A escolha dos alvos terrorista leva em consideração o seguinte.

»» Valor simbólico.

»» Potencial em causar danos físicos e materiais.

»» Acessibilidade geográfica.

»» Atividades operacionais.

»» Valor econômico.

»» Vulnerabilidade.

As bombas podem ser conforme descrito a seguir.

»» Utilizadas em malas e maletas a serem deixadas em determinado local.

»» Enviadas pelos Correios.

»» Utilizadas em carros por homens-bomba (suicidas).

»» Instalados em carros e outros locais com acionamento remoto ou pela própria vítima.

»» Em larga escala, como arma de destruição em massa.

»» Disparadas por armas como lança-foguetes.

100
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Outras formas de terrorismo incluem o seguinte.

»» Raptos e sequestros.

»» Dispositivos incendiários.

»» Armas e dispositivos químicos, biológicos e radioativos ou nucleares.

»» Ocupação armada com reféns.

»» Ataque cibernético.

»» Agroterrorismo.

É fundamental que as organizações e corporações públicas e privadas, assim como os órgãos de


segurança e de saúde pública, possuam planos para resposta a ameaças com bombas.

Esses planos devem ser baseados nos seguintes elementos.

»» Nível de ameaça.

»» Natureza da estrutura da organização e atividades desenvolvidas.

»» Atividades críticas.

»» Recursos disponíveis.

»» Recursos de comunicação.

»» Segurança das pessoas envolvidas.

»» Legislação vigente.

Não entraremos em detalhes referentes ao planejamento em si, mas na postura que se espera do
gerente de crises nessas situações (ameaças ou suspeitas de atos terroristas iminentes ou em curso).

»» Ao ser informado, comunicar, imediatamente, a autoridade superior da instituição


(no caso, por exemplo, de corporações).

»» Acionar equipes especializadas.

»» Proceder com isolamento e contenção dos locais suspeitos, afastando curiosos.

»» Promover a retirada segura das pessoas ocupantes dos locais suspeitos.

»» Providenciar local para estacionamento das viaturas de polícia, resgate e socorro


médico, conforme protocolo.

»» Instalar Posto de Comando e Gabinete de Crise, conforme o caso (sempre em


área segura).

No caso de atentados.

»» Verificar uma área segura para briefing de segurança inicial.

101
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

»» Verificar se todos utilizam equipamentos de proteção individual.

»» Verificar a segurança das pessoas que lá se encontram e voluntários.

»» Estar atento para dispositivos secundários.

»» Estar atento para a possibilidade de múltiplos agentes envolvidos (radiação,


químico, biológico, bombas sujas).

Com relação à triagem.

»» Pode haver lesões múltiplas, únicas ou ocultas.

»» A morte, geralmente, é consequência do resultado da combinação de múltiplos


fatores.

»» Até 75% das vítimas comumente vão sozinhas para os hospitais.

»» Os pacientes requerem descontaminação.

PARTE 1 – Terrorismo químico


Características

»» Rápida ação.

»» Chamados a polícia, bombeiros, ambulâncias.

»» Área delimitada.

»» Descontaminação.

»» Uso de antídotos químicos, quando disponíveis.

»» Isolamento apenas até a descontaminação.

»» Sem transmissão.

Em 1995, na cidade de Tóquio, no Japão, 05 carros de metrô sofreram um ataque de terrorismo


químico realizado pelo grupo “Verdade Suprema”. O agente utilizado foi o sarin, que causa
hiperestimulação dos receptores colinérgicos e a morte pode ocorrer em poucos minutos. Houve
640 vítimas, das quais 83% sintomas leves, 17% sintomas moderados e menos de 01% sintomas
graves, com 11 mortos. No total, 64 pacientes foram transportados em ambulância e 35 de minivans
da Defesa Civil, havendo a necessidade da evacuação de 5000 pessoas.

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Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

Figura 46. Vítimas do Gás Sarin

Fonte: BBC

<http://discoverybrasil.uol.com.br/horazero/series1/gas_sarin_toquio/index.
shtml?cc=US>

PARTE 2 – Terrorismo biológico


Características

»» Reconhecimento geral é tardio.

»» Alerta dado por médicos, enfermeiros.

»» Necessidade de vacinas, antibióticos e medicações específicas.

»» Isolamentos podem ser necessários, incluindo a quarentena.

»» Risco de transmissão, dependendo do agente utilizado.

»» Existência de casos secundários e com morbidades.

<http://pessoas.hsw.uol.com.br/bioterrorismo.htm>

<http://www.fbi.gov/about-us/history/famous-cases/anthrax-amerithrax/
amerithrax-investigation>

(História completa em inglês)

Acesse:

<www.cdc.gov>(inglês e espanhol)

Em 2001, pouco tempo após os atentados ao World Trade Center, os Estados Unidos foram vítimas
de ataques bioterroristas, quando esporos de antraz foram enviados pelos Correios para diferentes

103
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

locais, incluindo o Senado Federal. Houve 05 mortes e 18 contaminados e o caso ainda hoje é
revestido de mistério.

Sinais de alerta para terrorismo biológico


»» Grupo de indivíduos torna-se doente ao mesmo tempo.

»» Súbito aumento de sintomas em indivíduos previamente saudáveis.

»» Aumento súbito de sintomas e sinais inespecíficos.

»» Ocorrência de rápida transmissão de doença ou sintomas entre pessoas, animais,


incluindo pássaros.

»» Surgimento de sinais e sintomas em pessoas que estiveram juntas em determinado


local, evento ou socorro.

“…é esquecido que a mortal bactéria criada pelo homem, ao flutuar no ar, não irá
reconhecer nacionalidades, diferenciar amigos de inimigos, tampouco irá voltar
para o tubo de ensaio sob as ordens de seu criador.”
Natara jan (1965)

“Nós não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as coisas
perderem subitamente o seu sentido. O vazio que nos rodeia faz-se então sentir...”
(Antoine de Saint-Exupéry)

PARTE 3 – Terrorismo Radiológico e Nuclear


Uma das maiores preocupações atuais é com relação à possibilidade de terroristas utilizarem as
chamadas “bombas sujas” em ataques, que são bombas convencionais (ou até mesmo caseiras) com
material radioativo em seu interior, de tal forma que ao explodir, passe a liberar também radiação.

Essa é uma das razões pelas quais existe a necessidade de protocolos bem definidos de resposta para
eventos críticos e, como padrão, todas ocorrências envolvendo explosão deveriam ser atendidas
com socorristas portando detectores portáteis de radiação.

O uso de armas nucleares por terroristas é bem mais complicado, pois é um dispositivo muito caro,
cujo manuseio não é tão simples, mas que não é, de toda forma, descartada a possibilidade de que
possa ocorrer, sobretudo em um mundo onde o tráfico de armas e de material radioativo é cada vez
mais intenso.

<http://ciencia.hsw.uol.com.br/bombas-sujas.htm>
<http://www.orau.gov/hsc/RadMassCasualties/>
(Resposta em Terrorismo Radiológico-em inglês)
<http://emergency.cdc.gov/radiation/publichealthtoolkit.asp>

(Terrorismo Radiológico para agentes de Saúde Pública – em inglês)

104
CAPÍTULO 4
Epidemias

Em 2006, a pesquisadora Laurie Garret publicou, no México, o artigo “La Próxima Pandemia?”.

A autora, bióloga por formação e aclamada escritora na área de Ciências, nos Estados Unidos, é
vencedora de diversos importantes prêmios do Jornalismo, inclusive o Pullitzer. É, também, autora
de diversos livros sobre epidemias e pandemias, inclusive o best-seller, The Coming Plague: Newly
Emerging Diseases in a World Out of Balance.

Esse artigo foi publicado, em 2006, e aborda a questão do surgimento de pandemias, mas, em
particular, trata da preocupação da autora, com a possibilidade da iminência de uma grande
pandemia, possivelmente, pelo vírus da Influenza H5N1, também conhecida por Gripe Aviária.

O artigo é iniciado com a informação que os cientistas têm previsto o surgimento de uma nova
pandemia de Influenza, que seria capaz de infectar cerca de 40% da população humana, com a
morte de um número inimaginável de pessoas. Complementa, dizendo que o vírus H5N1 mostrava
todos os sinais de que poderia ser esse vírus mortal.

A preocupação da autora é fundamentada na epidemia de Gripe Espanhola, ocorrida entre 1918-


1919, que matou cerca de 50 milhões de pessoas em 18 meses. A gripe aviária, entretanto, seria
muito mais perigosa, na medida em que matou 100% dos frangos domésticos que foram infectados
e apresentou uma taxa de letalidade nos humanos de 49,5% dos 109 pacientes contaminados. A
autora faz a ressalva que essa taxa pode estar comprometida pelo fato da estatística não contemplar
os casos de menor intensidade de sintomas.

Desde a primeira aparição do vírus, na China, em 1997, já foram detectadas mutações, tornando-o
mais agressivo e letal.

A autora faz questão de ressalvar, também, que, embora os sinais sejam de grande preocupação, o
futuro é incerto. Pode ser que resulte em uma grande pandemia, como pode não ocorrer nada, pois
a capacidade de mutação do vírus da Influenza é uma das mais importantes que se conhece.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos é uma das maiores referências mundiais
no assunto. Segundo o artigo, o CDC informa que, em uma temporada de gripe normal (sem
pandemia), que é sazonal e ocorre todos os anos, cerca de 200.000 americanos são contaminados,
havendo, aproximadamente, 38.000 mortes decorrentes da enfermidade, o que daria uma taxa de
mortalidade de 0,008%.

Em termos econômicos, a pandemia teria, também, um efeito devastador, já que o CDC teria predito
que uma epidemia de nível médio poderia chegar, facilmente, a custos de cerca de 166 milhões de
dólares, sem levar em conta os decorrentes de vacinações. O número de mortos em uma situação
como essa foi estimado em cerca de 207.000, mas podendo chegar a quase 800.000.

Com relação à repercussão de uma pandemia de tal monta, as consequências para os demais
países poderiam ser extremamente graves. Quarentenas poderiam ser estabelecidas, fechamento

105
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

de aeroportos e outras tantas medidas restritivas e que poderiam levar a conflitos. A situação dos
países subdesenvolvidos e em desenvolvimento seria ainda mais devastadora. Na avaliação da
autora, o mundo conheceria uma situação similar a de zonas infestadas pelo HIV, onde há milhões
de pessoas comprometidas com seu sistema imunológico. O efeito sobre o comércio e a economia
seria devastador e haveria um forte impacto sobre a grande maioria dos países, já que poucos teriam
a capacidade científica de buscar uma solução real para o problema.

A reflexão seguinte se dá com a pandemia pela chamada Gripe Espanhola de 1918 que, na verdade,
não teria surgido na Espanha e teria origem incerta, mas, quando a segunda cepa atacou os Estados
Unidos, houve grande número de mortes. Essa pandemia matou cerca de 0,6% da população
americana, cerca de 675.000 pessoas. A expectativa de vida que era de 55 anos em 1917, caiu para
37 anos, em 1918.

Houve, em 1957-1958 e em 1968-1969, novas pandemias por Influenza, causando 70.000 e 34.000
mortes respectivamente, naquele país. Assim, quando surgiram, em 1976, os primeiros casos de
gripe suína em Forte Dix, os epidemiologistas acreditaram que seria um novo ciclo de uma pandemia
que seria devastadora. Grande investimento foi realizado e o próprio Presidente da República, em
rede nacional, anunciou sua preocupação com o que estava por vir. Foi solicitada ao Congresso
uma liberação suplementar de verbas, no valor de 135 milhões de dólares, e aprovada uma lei que
transferia a responsabilidade civil de complicações da vacina para o governo, uma reivindicação das
empresas que foram solicitadas a produzir, em tempo hábil, uma vacina que pudesse ser inoculada
em todos americanos, inclusive, crianças.

Como consequência, houve uma série de complicações com a vacina, incluindo o surgimento de
uma doença neurológica grave (síndrome de Guillain Barré) e, ao final, o governo acabou tendo que
desembolsar cerca de 90 milhões de dólares de indenização.

A pandemia por gripe suína, no entanto, acabou não acontecendo àquela época e foi grande a
pressão pela demissão das autoridades sanitárias. O governo e os cientistas saíram desmoralizados.

A autora faz uma pergunta em busca de uma reflexão. Ela afirma que, sem dúvida, as consequências
de uma pandemia pelo H5N1 seriam desastrosas, mas qual seria a probabilidade de ela ocorrer?

O artigo, então, passa a explicar a natureza do vírus H5N1 e faz diversas considerações sobre
microbiologia, cadeias de transmissão, patogenicidade e mostra o quanto agressivo e mortal se
tornou, após sucessivas mutações. Em 2004, teria, ainda, surgido uma mutação que passou a ser
conhecida como Z +. Esse vírus mostrou-se não apenas mortífero, mas com grande dificuldade para
ser neutralizado. Para uma rápida comparação, em 1997, quando surgiu o vírus H5N1, em Hong
Kong, a taxa de letalidade foi de 35%, enquanto que a decorrente do vírus Z+, em torno de 68%.

O tratamento para o H5N1, com um dos principais medicamentos antivirais, o oseltamivir


(comercializado sob o nome de Tamiflu), não se mostrou eficaz para esse vírus, no entanto, não
houve um estudo conclusivo a respeito e, pela falta de melhores opções, foi solicitado, pela OMS,
que todos países que pudessem estocassem essa medicação.

Com relação à produção de uma vacina, o prognóstico não é dos melhores, segundo a autora. O
número de empresas com desejo de produção de vacinas tem diminuído por diversas razões, entre

106
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

elas, pelo risco financeiro desse investimento. A vacina, que é produzida para um ano, visando ao
combate a uma gripe sazonal, já não vale para o ano seguinte. Em 2003, o mercado de vacinas teve um
aumento de apenas 2% do mercado farmacêutico global. Há, ainda, um alto risco de contaminação
das vacinas durante o processo de produção e há muitos opositores à ideia da vacinação, sob a
alegação de que poderiam causar doenças degenerativas graves.

A autora faz um alerta desconcertante ao dizer que ainda que existisse a vacina, milhões de pessoas,
sobretudo as residentes em países subdesenvolvidos, jamais teriam acesso a ela, como também ao
antiviral e, como consequência, morreriam.

Em casos de graves pandemias, é duvidoso, segundo o artigo, confiar que os países ricos sairiam
em socorro aos demais, cedendo parte de suas vacinas, ao invés de proteger a totalidade de seus
nacionais. A crença baseada no estudo das epidemias sazonais de que crianças pequenas e idosos
são os mais atingidos em uma pandemia teria levado as autoridades sanitárias a concentrar seus
esforços, em 1918, ao público-alvo equivocado, já que a maior parte dos mortos encontrava-se
entre os adultos jovens. O mesmo conceito prevalece ainda nos dias de hoje e, assim, os Planos de
Contingenciamento e de Vacinação levam em conta idosos e crianças pequenas como o público-alvo
para receber as vacinas, o que poderia ser trágico diante de uma pandemia por H5N1. Se apenas
essa população é atingida, o esquema de vacinação dos Estados Unidos, voltado para 185 milhões de
pessoas, teria sucesso. No entanto, se toda a população americana está em risco, haveria necessidade
de cerca de 300 milhões de doses, quantidade que é produzida anualmente para todo o mundo.

Surge uma questão ética e social bastante interessante e importante. Com a limitação de doses de
vacinação, quem seriam os escolhidos para serem imunizados? Os Chefes de Estado? Suas famílias?
Uma vez que o movimento de tropas militares foi o grande responsável pela disseminação da Gripe
Espanhola, em 1918, chegando a matar cerca de 22% dos membros índios do exército britânico,
então os soldados americanos no Iraque e no Afeganistão deveriam também receber a vacina
prioritariamente? A questão seria a mesma nos demais países.

Haveria, sem dúvida, de acordo com o texto, uma mudança radical nas relações internacionais,
com fechamento de fronteiras e restrições aos direitos de ir e vir das pessoas, além de graves
consequências econômicas e comerciais.

A autora conclui com a constatação de que a ameaça de uma pandemia surge em um momento em
que há grande decadência dos sistemas de saúde agravada por uma grande sobrecarga de impostos.
Esse seria um fenômeno que atinge países ricos e pobres.

A rede de saúde pública americana foi fortalecida após o bioterrorismo por anthrax, naquele país,
em 2001, e a constatação de que o sistema não estava preparado para uma demanda daquela
natureza. Em 2003, o governo americano aumentou em 242%, os recursos para o CDC, voltados
para o combate à Influenza.

Por fim, a autora reforça a necessidade de se manter vigilância constante para o controle das
epidemias e a detecção precoce de situações que podem levar a uma pandemia, acrescentando que
esse é um esforço que deve ser global e multidisciplinar, dado à gravidade de uma doença que pode
ser responsável por mortandade sem precedentes.

107
UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

A autora escreve o texto com um viés bem atual e realça pontos realmente importantes e preocupantes.

O vírus H5N1, em 2006, ano em que o artigo foi traduzido para o espanhol (o original é em inglês
e foi escrito no ano anterior), apresentava-se como ameaça iminente para uma pandemia, tendo
em vista as informações internacionais. No entanto, felizmente, ainda não houve mutação que
permitisse a transmissão de pessoa a pessoa, o que não significa que estamos seguros ou tranquilos
quanto a essa possibilidade.

Em 2010, o mundo se viu diante da Pandemia pelo vírus AH1N1, conhecido por gripe suína
(mesmo tipo que o da gripe espanhola, mas com mutações, o que o faz diferente daquele). Como
vimos no texto, a gripe suína já havia acontecido em 1976, nos Estados Unidos, mas acabou não
se apresentando como uma pandemia, o que aconteceu em 2010 e causando grande preocupação
entre os profissionais de saúde.

A existência simultânea de pessoas contaminadas pelo AH1N1 pandêmico com outros pela gripe
aviária (H5N1) poderia desencadear mutações que acabariam criando um vírus ainda mais letal.

Com frequência, a autora afirma que o futuro é incerto ou que não é possível prever o curso de uma
epidemia. Ela está completamente certa e é fundamental que tenhamos em mente que a preparação
se faz com base nas informações disponíveis e planejamentos realizados. Se há dados que nos
indiquem a iminência de uma pandemia severa, ainda que não venha a se concretizar, já justifica os
devidos investimentos para sua prevenção, sua detecção precoce e seu tratamento.

Por ocasião da pandemia por gripe suína em 2010, em uma Audiência Pública na Comissão de
Seguridade Social da Câmara dos Deputados, o representante do Ministério da Saúde afirmou
que o Brasil estava em fase de produção de vacinas para a gripe suína, mas que a intenção era a
de vacinar apenas 25% da população. Entramos, aqui, na discussão levantada pela autora. Quem
serão os escolhidos? O critério será transparente? É legítimo ao Estado decidir quem deve ou não
ser protegido por uma vacina paga com os “cofres públicos”? Ou seja, se os recursos da saúde são
oriundos da contribuição dos brasileiros, é lícito que lhes seja negada a oportunidade de serem
imunizados? A única fábrica de vacinas da América Latina é brasileira. É legítimo que, antes de
vacinar toda a população brasileira, sejam vendidas vacinas para outros países?

A autora relata a questão de 1976, com relação à gripe suína nos Estados Unidos, quando o governo
americano investiu pesadamente em medidas de prevenção. Na pandemia de 2010, o governo
brasileiro adotou, como Política de Combate à Pandemia, a centralização de todos antivirais,
determinando à empresa produtora desse medicamento que dirigisse toda sua produção do antiviral
oseltamivir (Tamiflu) para o Ministério da Saúde, de tal forma que nenhum brasileiro poderia
adquirir a medicação sem seguir protocolos daquele órgão, que são extremamente questionáveis
sob o ponto de vista médico. A política utilizada pelo Reino Unido foi totalmente oposta a do Brasil,
com a população tendo livre acesso à medicação nas farmácias, mediante documento de órgão de
saúde pública daquele país, de forma totalmente descentralizada.

Outro ponto relevante que a autora comenta é a da mudança de paradigmas e de visão ocorrida
após os atentados bioterroristas ocorridos em 2001. A mesma mudança de atitude e, também, de
legislação ocorreu por ocasião dos atentados de 11 de setembro. Ao mudar, o Estado americano

108
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

reconheceu sua incapacidade de lidar com a questão e tem se empenhado em não apenas orientar
e capacitar os profissionais de saúde e segurança pública nessa questão, como também de outros
países. Um dos temas mais comuns em palestras nessas áreas, naquele país, invariavelmente
recebe o título de Thinking in unthinkable. Pensando no impensável. Por quê? Porque os atentados
eram impensáveis, mas ocorreram. Como a própria autora afirma, os furacões são precocemente
detectados e monitorados. As epidemias também devem ser. Os americanos souberam extrair lições
do ocorrido. Por que não aproveitamos para aprender com a experiência e as situações que eles
vivenciaram? Precisaremos ter que passar por situações críticas para aprendermos que Planos de
Contingência são fundamentais na preparação e resposta às epidemias?

Nossos sistemas e cultura de prevenção e mitigação são sofríveis. A autora, ao tratar da próxima
pandemia, falou da Influenza pelo H5N1 e sua possibilidade de causar danos imensuráveis. O que
foi dito, no entanto, serve para qualquer pandemia severa, incluindo a pelo H1N1.

A segunda fase será tão mortal como foi a ocorrida em agosto de 1918? Não sabemos. E se for,
estamos preparados? Certamente, não.

Por diferentes momentos no texto, a autora refere-se à subnotificação de casos. Essa é uma situação
que está sendo verificada no momento pela Organização Mundial de Saúde, com relação à pandemia
pelo H1N1. O baixo número de mortes na África, na China e em outros países deve-se a algum
tipo de imunidade ou a uma subnotificação. Tradicionalmente, os países com regime fechado,
como a antiga URSS, Cuba, a Coreia do Norte, China, sempre diante de pandemias e epidemias
resistem até o último momento em reconhecer casos de transmissão e mortes pela doença. Os
motivos são políticos. O governo chinês reconheceu, no entanto, ter mais de 25.000 casos e prevê a
morte de milhões com a chegada do inverno. Os países mais pobres, por sua vez, subnotificam pela
incapacidade técnica de atendimento. Falta assistência. Como bem coloca a autora, independente
da existência de vacinas e medicamentos, milhões de pessoas nunca terão acesso a essas facilidades.

O texto é muito didático, informativo e a autora nos leva à reflexão de diversos pontos fundamentais
a serem levantados e discutidos o quanto antes para essa e para outras pandemias que virão.

As autoridades sanitárias brasileiras, por sua vez, precisam ser mais técnicas na elaboração de
planos de contingência e acreditar, como diz a autora, que as pandemias devem ser resultado de um
esforço global e multidisciplinar. Em um mundo com grandes facilidades de deslocamento pelos
mais variados sistemas de transporte, a capacidade de transmissão de micro-organismos é imensa
e, se nos preocupamos com nossas fronteiras, os vírus não fazem tal distinção.

A prevenção e mitigação são providências urgentes a serem tomadas em qualquer pandemia, para
que, diante de situações críticas, nossas autoridades não precisem recorrer à afirmação de que os
desastres acontecem pela vontade divina. Essa é uma bela desculpa para a ineficiência e ineficácia
do Estado que, ao invés de agir, prefere rezar para que nada de ruim aconteça.

A autora mostra, também, a preocupação com o estado de falência e sucateamento dos sistemas de
saúde nos mais diferentes países, diante de uma situação como a de uma pandemia.

O Brasil, antes da pandemia pelo H1N1 acontecer, já estava com a grande maioria dos hospitais
lotados. Como atender uma nova demanda de pacientes que se multiplica de forma contínua?

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UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

Em Brasília, capital de nosso país, o tempo de espera para atendimento no Hospital de Referência
para a pandemia chegava a 8 horas. Os pacientes contaminados aguardavam sua vez de serem
examinados por médicos, em filas intermináveis e ao lado de doentes por outras patologias, inclusive
de gestantes, reconhecido grupo de risco.

A gripe espanhola, citada pela autora, chegou ao Brasil tardiamente, já no final de 1918, em pleno
verão brasileiro. Ainda assim matou cerca de 300.000 pessoas, inclusive nosso Presidente da
República, Rodrigues Alves, que havia sido eleito para um segundo mandato.

Os Estados Unidos, atualmente, estão instalando barracas, para triagem de pacientes contaminados,
em frente aos grandes hospitais, à espera de um número elevado de pessoas, por ocasião da chegada
do inverno no Hemisfério Norte e da chamada segunda fase.

É hora de, também, nos prepararmos, pois, certamente, não assistiremos uma pandemia agressiva,
sem sermos também atingidos por ela.

Uma das epidemias mais conhecidas na História foi à chamada “Peste Negra”, ocorrida na Idade
Média (1347-1350). A peste bubônica foi a doença responsável por 75 milhões de mortos (1/3 da
população mundial). A transmissão deu-se pelas pulgas dos ratos pretos que, muito provavelmente,
foram levadas para a Europa, levadas pelo exército Mongol de Genghis Kan.

Figura 47. Omne Bonum, James Palmer, 1360

A gravura retrata a situação à época, mostrando membros do clero contaminados pela doença, com
marcas bem visíveis nos rostos, sendo abençoadas por uma autoridade eclesiástica. Na Idade Média,
era muito forte a influência da Igreja e o apelo ao sobrenatural. Com a epidemia alastrando-se e
até os membros do clero sendo acometidos, houve uma inquietação muito grande, com uma culpa

110
Emergências químicas, biológicas e radioativas │ UNIDADE III

coletiva surgindo, em que as pessoas imaginavam estarem sendo castigadas por vontade divina.
Em busca de culpados, os portadores de hanseníase foram expulsos das cidades, como também os
judeus foram perseguidos. A doença encontrava nos locais mais sujos e pouco asseados um ambiente
propício para se alastrar. Na Idade Média, ainda era comum que a Igreja Católica culpasse os judeus
pela crucificação de Jesus e, então, surgiu o boato de que judeus haviam envenenado os poços.
Muitos judeus foram assassinados e, com base nos escritos bíblicos que, com frequência, utilizam
o número 40 para falar de tempo (Jesus passou 40 dias no deserto), as pessoas contaminadas ou
suspeitas de contaminação tinham que ficar 40 dias longe das cidades, no que passou a se chamar
de quarentena. Essa é, portanto, a origem dessa palavra. Bom lembrarmos que o Brasil não possui
legislação para quarentena compulsória.

Os médicos da época, com medo da contaminação, passaram a utilizar os trajes ilustrados na


Figura 48.
Figura 48. Médicos com trajes especiais

Podemos observar na imagem que eram utilizadas roupas com mangas longas e trajes compridos,
bem como proteção para o rosto e a cabeça. Na estranha máscara, havia um bico, em que era
possível inserir panos umedecidos com soluções como cânfora, para diminuir o cheiro dos mortos
em decomposição. A longa vareta mostrada na mão do médico possuía uma lanceta na ponta, com
o objetivo de furar os tumores (bulbos) enegrecidos (daí o nome peste negra) que acometiam os
feridos, sobretudo, na virilha e nas axilas.

A História mostrou por meio dessa e de outras epidemias e pandemias que há necessidade
de planejamento, o que inclui medidas de contingenciamento, como também as comuns ao
gerenciamento de crises.

Assim, ao tratar com epidemias, os seguintes princípios devem ser adotados.

PARTE 1 – Pré-epidemia
»» Manter vigilância epidemiológica ativa e em condições para detecção precoce de
riscos, bem como para avaliar possíveis vulnerabilidades.

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UNIDADE III │ EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS

»» Propor e implementar medidas de imunização e/ou preventivas para a população.

»» Elaborar Planos de Contingência (específicos) e de Emergência (gerais). Ex.: você


deve ter um plano geral, sobre o que fazer no caso de uma epidemia, independente
do agente causal. Já o Plano de Contingência é voltado para uma determinada
epidemia.

»» Monitorar agentes e casos com risco em potencial para epidemias.

»» Treinar e capacitar os profissionais de saúde.

»» Implementar sistemas de alerta e alarme.

PARTE 2 – Durante a epidemia


»» Isolar os casos confirmados e suspeitos.

»» Conter esses casos. Isto é, não basta isolar. Os pacientes não devem ficar sendo
transferidos para outras áreas, exceto em casos muito específicos e, nessas situações,
todas as medidas de contenção devem ser adotadas.

»» Acionar os Planos de Emergência e Contingência.

»» Estabelecer Gabinete de Crise.

»» Manter a população devidamente informada, bem como as autoridades envolvidas.

Alguns endereços interessantes:

Centro de Controle de Doenças (CDC): www.cdc.gov

Vigilância Epidemiológica: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.

cfm?id_area=1498>

PARTE 3 – Pós-epidemia
»» Avaliar criticamente as ações realizadas.

»» Corrigir as falhas para Planos futuros.

»» Atualizar os Planos de Resposta.

»» Atualizar os estoques de antivirais e vacinas.

»» Entrar em fase de Pré-epidemia no sentido de já se preparar para a próxima.

»» Manter monitoramento de epidemias em potencial.

»» Atualizar programas preventivos.

»» Realizar a desmobilização das equipes envolvidas na resposta.

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REFERÊNCIAS
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Oxford University, 2007.

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Revisada e Ampliada, Curitiba, PR, abril de 2010.

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