Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade única
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil.................................... 11
Capítulo 1
Antecedentes históricos.................................................................................................... 11
Capítulo 2
Organização do Sistema Único de Saúde – Sus.............................................................. 22
Capítulo 3
Financiamento do Sistema Único De Saúde – SUS............................................................. 42
Referências .................................................................................................................................. 48
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A organização dos sistemas de saúde nos diversos países está diretamente relacionada
ao conjunto dos princípios e valores das sociedades que os constituem. Representam,
também, os anseios da população e as diretrizes do sistema político da nação.
Além dos elementos ideológicos e valorativos que sedimentam as bases dos sistemas, os
elementos organizativos e institucionais viabilizam a implementação de um modelo de
proteção social e das políticas públicas adotadas, em cada caso.
Implantado por Bismark, na Alemanha, o Seguro Social tem como característica central
a cobertura de grupos ocupacionais, por meio de uma relação contratual de acordo com
a sua inserção, os indivíduos recebem “compensações” proporcionais, ou seja, cobertura
contratual, de acordo com as suas contribuições ao seguro, já que ele reconhece e legitima
as diferenças entre os grupos ocupacionais - expressando benefícios diferenciados,
considerando as diferentes categorias de trabalhadores e sua força política distinta para
reivindicar melhorias no seu padrão de benefícios (Ibid, 2008).
O esquema financeiro do modelo Seguro Social revela uma associação entre política
social e inserção no mercado de trabalho, já que recebem contribuições obrigatórias de
empregados, empregadores, como porcentagem da folha salarial, às quais vêm se juntar
7
à contribuição estatal. Esse modelo tripartite de financiamento se reproduz também na
gestão, que expressa claramente a natureza corporativa desse mecanismo de organização
social de proteção, já que se dirige às categorias profissionais (Ibid, 2008).
8
Objetivos
»» Conhecer a organização do Sistema Público de Saúde do Brasil e suas
formas de financiamento.
9
FinAnCiAmEnto E
orgAnizAção do unidAdE úniCA
SiStEmA dE SAúdE
PúbliCA no brASil
CAPítulo 1
Antecedentes históricos
nesse período, foram criados centros de formação de médicos, que, até então, eram
quase inexistentes em razão da proibição de ensino superior nas colônias. Assim, por
ordem real, foram fundadas as academias médico-cirúrgicas, no Rio de Janeiro e na
Bahia, na primeira década do século XIX, logo transformadas nas duas primeiras
escolas de medicina do país.
Em 1828, foi extinta a Fisicatura-mor e, em 1829, criada a Junta de Higiene Pública, que
se mostrou pouco eficaz no objetivo de cuidar da saúde da população. no entanto, foi
nesse momento que as instâncias médicas assumiram o controle das medidas de higiene
pública. O interesse primordial consistia no estabelecimento de um controle sanitário
mínimo da capital do Império e as atividades de saúde pública estavam limitadas à
delegação das atribuições sanitárias às juntas municipais e controle de navios e saúde
11
unidAdE úniCA │ FinAnCiAmEnto E orgAnizAção do SiStEmA dE SAúdE PúbliCA no brASil
Em 1903, Oswaldo Cruz foi nomeado Diretor Geral de Saúde Pública, cargo
que corresponde atualmente ao de Ministro da Saúde. Utilizando o Instituto
Soroterápico Federal como base de apoio técnico-científico, deflagrou
memoráveis campanhas de saneamento, especialmente na cidade do Rio de
Janeiro, que na época foi assolada por surtos e epidemias de peste bubônica,
febre amarela e varíola. Em poucos meses, com o extermínio dos ratos, cujas
pulgas transmitiam a doença, a incidência de peste bubônica diminuiu.
12
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Fonte: http://www.fiocruz.br
Também em 1900, em São Paulo, foi criado o Laboratório Butantan, hoje Instituto
Butantan. A criação do Butantan se deveu ao aparecimento da peste bubônica que
assolava a cidade de Santos. O surto da peste levou o governo a adquirir a Fazenda
Butantan para instalar um laboratório de produção de soro antipestoso, vinculado ao
Instituto Bacteriológico. O Laboratório foi reconhecido como instituição autônoma em
fevereiro de 1901, sob a denominação de Instituto Serumtherápico, sendo designado
para primeiro diretor, Vital Brazil.
O primeiro diretor do Instituto Bacteriológico foi o Dr. Adolpho Lutz - marcando o início
da microbiologia no Brasil - e se voltou prioritariamente para a profilaxia, o diagnóstico
e combate às epidemias. Em 1940, o Instituto Bacteriológico se fundiu ao laboratório
Bromatológico e foi denominado Instituto Adolpho Lutz, como homenagem ao médico.
Os trabalhos de Lutz foram a base para a atuação do Serviço Sanitário, dirigido por
Emílio Ribas, no combate à febre amarela, atuando na erradicação do mosquito, vetor
da doença, em diversas regiões do estado de São Paulo, na época. Contribuiu também
para debelar a epidemia de febre bubônica em Santos e combater o cólera e a febre
tifoide que grassavam na Capital.
Em 1904, com Oswaldo Cruz à frente da DGSP, e novos surtos de varíola, foi instituída
a lei da vacinação obrigatória. Embora seu objetivo fosse positivo, a lei foi aplicada de
forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas
e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser
vacinado acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina
e tinham medo de seus efeitos. Essa situação foi o estopim para organização de um
levante, historicamente conhecido como a revolta da vacina: no dia 5 de novembro, a
13
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
Além de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva, Vital Brasil e
Emílio Ribas, entre outros, destacam-se na definição de rumos para a saúde pública e
na criação de instituições.
A assistência médica previdenciária foi instituída com a aprovação da Lei Eloi Chaves,
de 1923, já que essa lei criou a base do sistema previdenciário brasileiro, a partir da
criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs). Até então, muitas categorias
de trabalhadores organizavam associações de auxílio mútuo para lidar com problemas
de invalidez, doença e morte.
14
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
A Lei deveria ser aplicada a todos os trabalhadores. Para que fosse aprovada no
Congresso Nacional, dominado pela oligarquia rural, foi imposta a condição de que
esse benefício não seria estendido aos trabalhadores rurais, fato que, na história da
previdência do Brasil, perdurou até a década de 1960, quando foi criado o Funrural.
Assim foi aprovada, contemplando somente o operariado urbano.
A primeira CAP criada, a partir da Lei Eloi Chaves, foi a dos ferroviários, o que pode ser
explicado pela importância que esse setor desempenhava na economia do país naquela
época e pela capacidade de mobilização que a categoria dos ferroviários possuía. Em
1930, o sistema já abrangia 47 caixas, com 142.464 segurados ativos, 8.006 aposentados,
e 7.013 pensionistas.
Tal dualidade tornou-se uma das marcas do sistema de proteção social de saúde no
Brasil, formalizando no campo da saúde uma separação, uma distinção institucional
entre duas áreas de gestão em políticas públicas de saúde, que marcaria definitivamente
as ações de saúde no Brasil (LIMA, 2005).
15
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
A partir desse período, o INPS passou a ser o grande comprador de serviços privados
de saúde e, dessa forma, estimulou um padrão da organização da prática orientado
pelo lucro. A contratação de serviços privados de saúde, especialmente hospitais e
16
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Outra modalidade de atenção à saúde sustentada pela previdência social, que passou
a ser expressiva nesse período, refere-se aos convênios com empresas, a chamada
“medicina de grupo”. Nesses convênios, a empresa passava a ficar responsável pela
assistência médica aos seus empregados e, dessa forma, deixava de contribuir para o
INPS.
Esse novo enfoque questionava a estrutura e o modelo praticado até então, buscava
discutir o caráter político da saúde e a determinação social do processo saúde-doença
e toda essa mobilização culminou, com o apoio da OPAS e da Fundação Kellog, em
1973, com a criação do primeiro curso de medicina social no Rio de Janeiro, que se
transformaria no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (IMS/UERJ).
17
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
cada vez mais pressionado pela crescente ampliação da cobertura e pelas dificuldades
de reduzir os custos da atenção médica no modelo privatista e curativo vigente.
A década de 1980 inicia-se com um movimento cada vez mais forte de contestação ao
sistema de saúde governamental. As propostas alternativas ao modo oficial de atenção
à saúde caracterizam-se pelo apelo à democratização do sistema, com participação
popular, à universalização dos serviços, à defesa do caráter público do sistema de saúde
e à descentralização. Ao mesmo tempo, o agravamento da crise da Previdência Social,
em 1981, resultou no lançamento do chamado “pacote da previdência”, que previa o
aumento das alíquotas de contribuição, a diminuição dos benefícios dos aposentados e
a intervenção na área da assistência médica da Previdência Social. Foi nesse contexto
que teve origem o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária
(Conasp).
Foi durante o período mais repressivo, da ditadura, no país, no final dos anos 1960 e
início da década de 1970, que se transformou a abordagem aos problemas de saúde
e se constituiu a base teórica e ideológica do pensamento médico-social no Brasil.
Com a criação dos Departamentos de Medicina Preventiva (DMP), nas faculdades de
18
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Em 1985, o regime militar chega ao fim. Com o advento da Nova República, lideranças
do movimento sanitário assumem efetivamente posições em postos-chave nas
instituições responsáveis pela política de saúde no país. Como expressão dessa nova
realidade, destaca-se a convocação, em 1986, da 8ª Conferência Nacional de Saúde,
cujo presidente foi Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Oswaldo Cruz. Esse
evento é considerado o momento mais significativo do processo de construção de uma
plataforma e de estratégias do “movimento pela democratização da saúde em toda sua
história” (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005).
19
unidAdE úniCA │ FinAnCiAmEnto E orgAnizAção do SiStEmA dE SAúdE PúbliCA no brASil
Pode-se dizer que o SUDS foi norteado pelo princípio de que os recursos devessem
efetivamente realizar o real acesso à atenção à saúde, por parte de toda a população. Ao
mesmo tempo, pretendia-se garantir, ao máximo, que os recursos destinados à saúde
não dispersassem nem fossem apropriados para outros fins.
não foi por acaso que se implantava o SUDS ao mesmo tempo em que se instalava
a Comissão nacional de reforma Sanitária (CnrS). O SUDS se constituiu em uma
estratégia-ponte para “a reorientação das políticas de saúde e para a reorganização dos
serviços, enquanto se desenvolvessem os trabalhos da Constituinte e da elaboração da
legislação ordinária para o setor” (COrDEIrO, 2004)
20
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Cabe lembrar que, antes da criação do Sistema Único de Saúde, o Ministério da Saúde
desenvolvia quase que exclusivamente ações de promoção da saúde e prevenção de
doenças, como campanhas de vacinação e controle de endemias. A atuação do setor
público na chamada assistência médico-hospitalar era prestada por intermédio do
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), autarquia do
Ministério da Previdência e da economia formal, segurados do INPS e seus dependentes,
não tendo caráter universal (SOUZA, 2002).
21
CAPítulo 2
organização do Sistema único
de Saúde – SuS
22
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Assim foram estruturadas as bases para o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido
pela Lei no 8.080/90, cujos princípios previstos em seu art 7o, são:
23
unidAdE úniCA │ FinAnCiAmEnto E orgAnizAção do SiStEmA dE SAúdE PúbliCA no brASil
A lei Orgânica da Saúde (lOS), constituída pelas leis nos 8.080/90 e 8.142/90, levou
à criação de uma rede intergovernamental de gestão política sanitária, ao definir os
critérios para transferência de recursos e os pré-requisitos para habilitação ao seu
recebimento, bem como as características gerais do sistema, os atores nele inseridos,
suas instâncias deliberativas e de controle social – as conferências e os conselhos de
saúde –, as funções de cada ente da federação (de uma forma geral), os fundos de
provisão de recursos etc. (FlEUry; OUvErnEy, 2007)
24
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Estados: CONASS
Conselho Ministério de Comissão
Nacional
Nacional Saúde Tripartite Municipios: CONASEMS
Conselho Secretarias
Municipal
Municipal Minucipais
A proposição desse modelo pressupunha uma articulação estreita entre a atuação de:
Para a discussão do papel de cada esfera de governo no SUS, faz-se importante definir
quem são os gestores do Sistema Único de Saúde e o que são as funções gestoras no
SUS.
25
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
A atuação do gestor do SUS efetiva-se por meio do exercício das funções gestoras na
saúde. As funções gestoras podem ser definidas como “um conjunto articulado de
saberes e práticas de gestão, necessários para a implementação de políticas na área da
saúde” (SOUZA, 2002).
a. formulação de políticas/planejamento;
b. financiamento;
O Quadro II, a seguir, apresenta o detalhamento das principais atribuições dos gestores
na área Federal, Estadual e Municipal.
Quadro II. Principais atribuições dos gestores nas três esferas de governo
Formulação
Execução direta de
Gestor de políticas e Financiamento Regulação
serviços
planejamento
»» Identificação de »» Garantia de recursos estáveis »» Regulação de sistemas »» Em caráter de exceção
problemas e definição e suficientes para o setor estaduais
»» Em áreas/ações estratégicas
de prioridades no âmbito saúde
»» Coordenação de redes
nacional
»» Peso importante dos de referência de caráter
»» Papel estratégico e recursos federais interestadual/nacional
normativo
»» Papel redistributivo »» Apoio à articulação interestadual
»» Manutenção da
»» Definição de prioridades »» Regulação da incorporação e
F unicidade, respeitando a
nacionais e critérios de uso de tecnologias em saúde
diversidade
E investimento e alocação
»» Normas de regulação sanitária
»» Busca da equidade entre áreas da política e
D no plano nacional
entre regiões/estados
»» Apoio e incentivo
E »» Regulação de mercados
ao fortalecimento »» Realização de investimentos
em saúde (planos privados,
R institucional e às práticas para redução de
insumos)
inovadoras de gestão desigualdades
A
estadual e municipal »» Regulação de políticas de RH
»» Busca da equidade na
L em saúde
»» Planejamento e alocação de recursos
desenvolvimento de »» Coordenação dos sistemas
políticas estratégicas nos nacionais de informação em
campos de tecnologia, saúde
insumos e recursos
»» Avaliação dos resultados
humanos
das políticas nacionais e do
desempenho dos sistemas
estaduais
26
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Formulação
Execução direta de
Gestor de políticas e Financiamento Regulação
serviços
planejamento
»» Identificação de »» Definição de prioridades »» Regulação de sistemas »» Em áreas estratégicas:
problemas e definição estaduais municipais serviços assistenciais
de prioridades no âmbito de referência estadual/
»» Garantia de alocação de »» Coordenação de redes
estadual regional, ações de maior
recursos próprios de referência de caráter
complexidade de vigilância
»» Promoção da intermunicipal
E »» Definição de critérios claros epidemiológica ou sanitária
regionalização
de alocação de recursos »» Apoio à articulação
»» Em situações de carência
S »» Estímulo à programação federais e estaduais entre intermunicipal
de serviços e de omissão
integrada áreas da política e entre
T »» Coordenação da Programação do gestor municipal
municípios
»» Apoio e incentivo Pactuada Integrada (PPI) no
A
ao fortalecimento »» Realização de investimentos estado
T institucional por para redução de
»» Implantação de mecanismos de
meio das Secretarias desigualdades
D regulação da assistência (ex.:
Municipais de Saúde
»» Busca da equidade na centrais, protocolos)
U (SMS)
alocação de recursos
»» Regulação sanitária (nos casos
A
pertinentes)
L
»» Avaliação dos resultados das
políticas estaduais.
»» Avaliação do desempenho dos
sistemas municipais
27
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
A Lei no 8.142 de 1990 (BRASIL, 1990), ao tratar da participação social no SUS, define
o Conasems como representante dos municípios no Conselho Nacional de Saúde
(CNS), órgão deliberativo do SUS que é, também, membro da Comissão Intergestores
Tripartite (CIT), que reúne a representação dos três entes federados: o Ministério da
Saúde (MS), o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) e o Conasems.
28
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
O CONASS é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que se pauta pelos
princípios que regem o direito público e que congrega os Secretários da Saúde, dos
estados e do Distrito Federal. Constitui um organismo da direção do Sistema Único
de Saúde (SUS) com mandato de representar politicamente os interesses comuns das
Secretarias de Saúde dos estados e do Distrito Federal, perante as demais esferas de
governo e outros parceiros, em torno de estratégias comuns de ação entre os gestores
estaduais de saúde. Entre as representações de que participa, estão a Comissão
Intergestores Tripartite (CIT) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS).
São instâncias que integram a estrutura decisória do SUS. Constituem uma estratégia
de coordenação e negociação do processo de elaboração da política de saúde nas três
esferas de governo, articulando-as entre si.
29
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
Desde que foram instituídas, no início dos anos 1990, como foros privilegiados para
negociação e decisão dos aspectos operacionais relativos à descentralização das ações
e dos serviços de saúde no âmbito da gestão do Sistema Único de Saúde, as Comissões
Intergestores — Tripartite, na direção nacional, e Bipartite, na direção estadual —
vêm constituindo-se em importantes arenas políticas de representação federativa nos
processos de formulação e implementação das políticas de saúde.
30
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
A NOB no 93 foi a Norma que instituiu a CIB e a CIT, já mencionadas, além de prever
os mecanismos para o repasse Fundo a Fundo, com base nos diferentes níveis de gestão
que podiam assumir os estados e os municípios em sua habilitação.
Sob esse aspecto, a NOB no 93 orientou: os papéis de cada esfera de governo e, em especial,
no tocante à direção única; os instrumentos gerenciais para que municípios e estados
superassem o papel exclusivo de prestadores de serviços, assumindo seus respectivos
papéis de gestores do SUS; os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo
progressiva e continuamente a remuneração por produção de serviços e ampliando as
transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em programações ascendentes,
pactuadas e integradas, valorizando os resultados advindos de programações com
31
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
No que tange aos estados e municípios foram definidos os seguintes níveis de habilitação
para eles:
Municípios Estados
Gestão Plena de Atenção Básica Gestão Avançada do Sistema Estadual
Gestão Plena do Sistema Municipal Gestão Plena do Sistema Estadual
32
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Territorialização
Processos-chaves e Planejamento Estratégias
integrado
Universalidade
Equidade
Objetivos Aprofundamento da
Integralidade interdependência
almejados municipal
Eficiência
Resolutividade
O elemento instituído pela NOAS que insere o planejamento como função primordial
no processo locorregional da assistência, integrando-o ao processo de territorialização,
é o Plano Diretor de Regionalização – PDR.
O PDR passa a ser encarado como centro institucional das atenções no processo,
como instrumento voltado para a ampliação da racionalidade sistêmica, configurando
sistemas funcionais, de forma. Assim, a lógica que orienta a estruturação assistencial
de um módulo assistencial/macrorregião de saúde impulsiona a intensificação da
interdependência dentro delas, uma vez que procura garantir o acesso da população ao
maior grau de complexidade necessário, buscando garantir a integralidade da atenção
à saúde.
MACRORREGIÃO
Complexidade
Ascendente REGIÃO
33
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
Em 2006, com o lançamento do Pacto pela Saúde (Brasil, 2006), novas diretrizes são
preconizadas para a regionalização do sistema de saúde, baseadas no fortalecimento
da pactuação política entre os entes federados e na diversidade econômica, cultural e
social para a redefinição das “regiões de saúde”. Com o Pacto se inicia um novo ciclo
de descentralização do SUS ao buscar uma maior coerência e aproximação entre os
conteúdos do território e as lógicas de sistema e descentralização (LIMA; VIANA, 2011).
O Pacto pela Saúde propõe a formalização dos acordos estabelecidos entre as esferas
de governo por meio da assinatura de Termos de Compromisso de Gestão, que
compreendem responsabilidades, objetivos e metas associadas aos indicadores de
desempenho. A adesão aos Termos substitui os antigos processos de habilitação previstos
nas Normas Operacionais, como requisito para a transferência de responsabilidades e
recursos, ampliando a autonomia dos municípios na gestão dos sistemas locais e dos
recursos financeiros (Ibid, 2011).
É verdade que o Pacto, estruturado em três dimensões – Pacto pela Vida, em Defesa do
SUS e de Gestão –, representou uma mudança significativa no processo de gestão do
SUS, pela relevância que a diretriz da regionalização assumiu no contexto do Pacto de
Gestão.
Primeira dimensão do Pacto pela saúde, o Pacto pela Vida estabelece o compromisso
entre os gestores do SUS em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a
situação de saúde da população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).
a. Saúde do idoso.
e. Promoção da saúde.
34
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
A terceira dimensão do Pacto pela Vida, o Pacto de Gestão, estabelece diretrizes para a
gestão em aspectos relacionados a (ao):
35
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
De uma forma geral, o que o Pacto pretendeu com o processo de regionalização foi
melhorar o acesso aos serviços de saúde, respeitando os conceitos de economia de
escala e de qualidade da atenção, para desenvolver sistemas eficientes e efetivos e, ao
construir uma regionalização eficaz, criar as bases territoriais para o desenvolvimento
de redes de atenção à saúde.
Também são definidos como instrumentos básicos de planejamento nas três esferas de
gestão do SUS:
› O Plano de Saúde,
› O relatório de Gestão.
A Programação Anual de Saúde deve conter: i) a definição das ações que, no ano
específico, irão garantir o alcance dos objetivos e o cumprimento das metas do Plano de
Saúde; ii) o estabelecimento das metas anuais relativas a cada uma das ações definidas;
iii) a identificação dos indicadores que serão utilizados para o monitoramento da
Programação, e iv) a definição dos recursos orçamentários necessários ao cumprimento
da Programação.
37
unidAdE úniCA │ FinAnCiAmEnto E orgAnizAção do SiStEmA dE SAúdE PúbliCA no brASil
bases de cálculo que formam cada bloco e os montantes financeiros destinados aos
estados, municípios e Distrito Federal foram compostas por memórias de cálculo, para
fins de histórico e monitoramento.
Dessa forma, estados e municípios passam a ter maior autonomia para alocação dos
recursos de acordo com as metas e prioridades estabelecidas nos planos de saúde.
Inicialmente, quando foi publicada a Portaria/GM no 204, em janeiro de 2007, os
blocos de financiamento federal eram cinco. Em abril de 2009, foi publicada a Portaria/
GM no 837, que alterou e acrescentou dispositivos à Portaria no 204/GM, de 29 de
janeiro de 2007, para inserir o Bloco de Investimentos na rede de Serviços de Saúde na
composição dos blocos de financiamento relativos à transferência de recursos federais
para as ações e os serviços de saúde no âmbito do SUS. Dessa forma, os blocos de
financiamento federal agora são seis:
» Atenção básica.
» vigilância em Saúde.
» Assistência Farmacêutica.
» Gestão do SUS.
38
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Esse decreto foi gestado e construído a partir de diálogo entre estados (Conselho
Nacional de Secretários de Saúde), municípios (Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e vem trazer novos
contornos à gestão do Sistema Único de Saúde ao introduzir o Contrato de Ação
Pública, que definirá as atribuições e responsabilidades, inclusive financeiras, dos
municípios, dos estados e do Governo Federal na prestação de serviços de saúde, o
financiamento e as metas para cada ação.
Considerando o Decreto no 7.508/2011, nos seus aspectos gerais, podemos dizer que
ele:
39
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
Diante dos desafios apresentados para a consolidação do SUS, podemos dizer que o
decreto nos aponta, de certa forma, a necessidade de uma reflexão e respostas aos
seguintes aspectos, tendo em vista os planos: micro, meso e macro de atuação.
MIRO
“SUS real”
Definição dos critérios de Implementação e
MACRO
Fontes de financiamento
40
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
2000 = NOAS
2011 = Decreto no 7.508 Regulamenta a Lei no 8.080 e dispõe sobre a organização do SUS,
o planejmaneto da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa
41
Capítulo 3
Financiamento do Sistema Único
De Saúde – SUS
Numa rápida avaliação entre vários sistemas, pode-se observar que a aplicação de
recursos nas diversas áreas e políticas sociais deve considerar o percentual do PIB
aplicado, o gasto per capita e o percentual do gasto público.
Tabela 1. Países selecionados com sistema de saúde de acesso universal segundo % do PIB do gasto setrorial, per
capita público (em US$PPP) e % do gasto público em relação ao gasto total com saúde, 2007
No que diz respeito ao financiamento, o art. 195 da Constituição Federal afirma que “a
seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios”. Assim, a responsabilidade pelo financiamento do
SUS é das três esferas de governo.
42
FinAnCiAmEnto E orgAnizAção do SiStEmA dE SAúdE PúbliCA no brASil │ unidAdE úniCA
Por determinação Constitucional (C.F., ADCT, Art. 55) e pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias (lDO), uma parcela equivalente a 30% do Orçamento da Seguridade
Social (OSS) deveria ser destinada à saúde. A esses recursos, de origem federal, deveriam
ser acrescidas, segundo a Constituição federal, as receitas provenientes dos tesouros
estaduais e municipais que viabilizassem o financiamento do sistema. Efetivamente,
porém, esse percentual nunca foi cumprido (vIAnnA,1992).
Quadro iii. composição da base vinculável das receitas de estados e municípios para cumprimento da ec no 29.
Receitas de impostos estaduais ICMS – Imposto sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e
prestação de Serviços de transporte interestadual e de comunicação
IPVA – Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores
ITCMD – Imposto sobre a Transmissão causa mortis e Doações de bens
e Direitos
43
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
Receitas de impostos municipais IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
ISS – Imposto sobre Serviços de qualquer natureza
ITBI – Imposto sobre transmissão de bens e imóveis intervivos
Receitas de impostos transferidos pela União aos estados FPE – Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal
IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte
IPI Exportação – Imposto sobre Produtos Industrializados Importados
ICMS Exportação (Lei Kandir) – Lei Complementar no 87/96
Receita de impostos transferidos pela União aos municípios ITR – Imposto Territorial Rural
FPM – Fundo de participações dos Municípios, IRRF, ICMS, IPVA, IPI
exportação, ICMS Exportação (Lei Kandir)
Transferências financeiras constitucionais e legais dos estados ICMS (25%), IPVA (50%), IPI Exportação (25%), ICMS Exportação – Lei
aos municípios Kandir (25%)
Receita da Dívida Ativa Tributária de Impostos
Fonte: Ugá & Santos, 2005
Em que pese a sua urgência, a EC no 29 vem tramitando pelo Congresso desde 2003,
aguardando a regulamentação, sinalizando, claramente, a falta de empenho do
Executivo e Legislativo.
44
financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil │ UNIDADE única
Quadro IV. Composição dos blocos de financiamento da política de saúde. Brasil 2007
Bloco COMPOSIÇÃO
»» Piso de Atenção Básica Fixo - PAB Fixo
Atenção Básica
»» Piso de Atenção Básica Variável – PAB Variável
»» Limite Financeiro da Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar –
Atenção de Média e Alta complexidade ambulatorial e MAC
hospital
»» Fundo de Ações Estratégicas e Compensatórias - FAEC
»» Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde
Vigilância em Saúde
»» Vigilância Sanitária
»» Básico da Assistência Farmacêutica
Assistência Farmacêutica
»» Estratégico da Assistência Farmacêutica
»» Medicamentos de Dispensação Excepcional
Gestão do SUS »» Qualificação da Gestão do SUS
»» Implantação de Serviços de Saúde
Fonte: Ministério da Saúde, Pacto pela Saúde, 2007
Implantado no final dos anos 1990, o modelo de Parceria Público Privada teve no estado
de São Paulo – onde, possivelmente, se encontra o maior número de experiências,
principalmente no âmbito das OSS – seu grande marco. Outro grande marco referiu-
se à experiência da Rede Sarah, que, por meio da Parceria Público Privada (PPP), é
gerenciada pela Associação das Pioneiras Sociais (APS) – entidade de serviço social
45
UNIDADE única │ financiamento e organização do sistema de saúde pública no brasil
autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos – desde 1991, quando foi firmado o
primeiro Contrato de Gestão que explicita os objetivos, as metas e os prazos a serem
cumpridos.
Cada vez mais comum, nos dias de hoje, a colaboração entre setor público e setor privado
na assistência à saúde se dá mediante dos modelos de Organizações Sociais de Saúde
(OSS), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Fundações de
Apoio, Serviço Social Autônomo e outras Entidades do Terceiro Setor.
No âmbito da saúde, no estado de São Paulo, a PPP representou uma alternativa para
colocar em operação hospitais semiconstruídos, nos anos 1980. Mais tarde, já no âmbito
da Secretaria Municipal de Saúde do município de SP, o Programa de Saúde da Família
(PSF) passou a fazer parte desse rol de serviços geridos pela PPP.
Do ponto de vista legal, o modelo prevê que o poder público repasse recursos para
as organizações privadas e que, dentro de determinadas regras, o programa, seus
trabalhadores e seus recursos sejam gerenciados privadamente, porém com finalidade
pública. No entanto, para Vecina e Malik (2007), especialistas no assunto, esses modelos
de relacionamento público-privado não tratam apenas de recursos financeiros. Existe
com frequência a intenção de interferir na realidade e de eliminar o fosso entre os dois
setores.
46
Para (não) Finalizar
no Brasil, existem obstáculos estruturais que precisam ser superados para que haja
êxito em qualquer uma das políticas públicas vigentes, e a saúde não se exclui. Desde as
profundas desigualdades sócioeconômicas e culturais à corrupção que assola a máquina
burocrática.
Falta muita! E é preciso encarar essa reflexão para, então, podermos contribuir para
o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Tensionado, cheio de contradições, é
verdade, mas democrático, oportuno, integral. E esses valores precisam ser praticados
cotidianamente, para que a população possa se beneficiar de uma maneira muito mais
resolutiva e eficiente dessa estrutura.
Então vamos...
47
Referências
48
Referências
IBAÑEZ, N. Política e Gestão Pública em Saúde. São Paulo: Hucitec; Cealag, 2011.
LOBATO, L.V.C., Políticas sociais e saúde. Apostila de apoio para curso de formação
do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde. Cebes, maio de 2011.
UGÁ, Maria Alícia; SANTOS, Isabela Soares. Uma análise da progressividade do Sistema
Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, n. 8, pp. 1597-1609, 2006.
49
Referências
50