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Cultura Documentos
e Cultura de Paz
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA............................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1
EPISTEMOLOGIA E CRIMINOLOGIA: A DIMENSÃO EMPÍRICA DE UM SABER
INTERDISCIPLINAR.................................................................................................. 13
CAPÍTULO 2
CRIMINOLOGIA E SUBJETIVIDADE: APROXIMAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS PUNITIVAS................. 20
CAPÍTULO 3
VITIMOLOGIA E VITIMIZAÇÃO: ASPECTOS SOCIOPOLÍTICOS E DOGMÁTICOS............................ 45
UNIDADE II
POLÍTICAS E CULTURA........................................................................................................................... 62
CAPÍTULO 1
POLÍTICA CRIMINAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS........................................................................ 62
CAPÍTULO 2
EXPANSIONISMO PENAL NA SOCIEDADE PUNITIVA.................................................................... 68
CAPÍTULO 3
CULTURA DE CONTROLE E ENCARCERAMENTO EM MASSA...................................................... 72
UNIDADE III
DIREITOS HUMANOS............................................................................................................................. 79
CAPÍTULO 1
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS.................................................................. 81
CAPÍTULO 2
DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO................................................................................... 86
CAPÍTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS............................................................................ 92
UNIDADE IV
CULTURA E PAZ................................................................................................................................... 126
CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA DE PAZ: ASPECTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS........................................................ 129
CAPÍTULO 2
A DIMENSÃO SÓCIO-MORAL DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NA FORMAÇÃO DOS VALORES E
A FORMAÇÃO DE VALORES SOCIAIS..................................................................................... 133
CAPÍTULO 3
A CULTURA DE PAZ................................................................................................................ 136
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 141
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Seja bem-vindo à disciplina de Vitimologia, Direitos Humanos e Cultura e Paz!
Não podemos esquecer que toda vítima merece e tem o direito de ser tratada
com toda dignidade e respeito, adotando-se, sempre, medidas de proteção que
sejam eficazes tanto para ela como para sua família; cabe ao Estado velar pelo
cumprimento de todas as disposições que tutelem seus direitos fundamentais.
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Também é importante que destaquemos aqui que, junto à questão da participação
da vítima no processo penal, existem também diversos outros temas que são
parte do estudo de vitimologia, entre os quais podemos citar:
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Objetivos
» Melhor compreensão sobre vitimologia e criminologia.
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VITIMOLOGIA E UNIDADE I
CRIMINOLOGIA
Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra americano Frederick
Wertham, porém ganhou espaço notório no ano de 1948, com o trabalho de
Hans von Hentig, chamado The Criminal na his Victim. Hentig foi quem propôs
uma abordagem interacionista, dinâmica, que desafiou a concepção de vítima
como ator passivo, salientando que poderia existir algumas características das
vítimas que poderiam precipitar as condutas ou fatos delituosos. Inclusive, ele
realçou a necessidade de uma análise sobre as relações existentes entre agressor
e vítima.
VITIMOLOGIA
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Mesmo que a criminologia não faça mais parte do Direito Penal, é de grande
importância que a compreendamos como uma ciência empírica, sendo essencial
para a correta e justa aplicação das normas penais, visto que conhece de forma
íntima as raízes do comportamento criminoso. Esta co-dependência impulsiona
o entrelaçamento entre Criminologia e Direito Penal, em que a 1 a representa o
alicerce para que o 2 o possa funcionar melhor.
Delinquente Vítima
Objeto da
criminologia
Fonte: https://iago010.jusbrasil.com.br/artigos/636189106/falando-sobre-a-criminologia.
12
Nos capítulos a seguir, compreenderemos melhor a Vitimologia e a Criminologia!
Boa leitura!
CAPÍTULO 1
Epistemologia e criminologia: a
dimensão empírica de um saber
interdisciplinar
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Interdisciplinaridade
A criminologia não deve ser relacionada com outras disciplinas que fazem parte
do saber empírico sobre o crime, como a biologia, a psicologia e a sociologia
criminal. Devido à sua estrutura interdisciplinar, a criminologia cuida de uma
instancia superior.
Não podemos deixar de dizer que a criminologia não deve ser vista como uma
ciência auxiliar de outras disciplinas, mesmo porque, como já vimos, ela não
é! A criminologia é uma ciência autônoma, que não está composta de normas,
o que significa dizer que não tem como base o estabelecimento de padrões de
comportamento, afinal, este é o objeto do Direito; mas, como já mencionamos
tantas vezes, não é objeto da criminologia.
Delito
O delito é parte contemplada pela criminologia, não apenas como um
comportamento individual mas também como um problema comunitário e
social.
O crime, ou, como vamos chamar aqui, o delito, é o 1 o objeto de análise do estudo
da criminologia. É o Direito Penal que define o que é ou não delito/crime. De
acordo com a criminologia, delito/crime é a ação descrita na lei penal, a qual
prevê uma determinada sanção.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Diversos autores da criminologia moderna apontam que o crime deve ser visto
como um fenômeno social natural que pode ser inerente a qualquer sociedade;
assim, o que o Estado pode fazer é, simplesmente, mantê-lo em níveis que
sejam considerados variáveis, um vez que parece impossível extingui-lo. Outros
autores apontam que o crime seria uma forma de aprimoramento da sociedade
a partir do momento que o identificamos como não estando de acordo com o
comportamento esperado.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
» quebra de leis;
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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CAPÍTULO 2
Criminologia e subjetividade:
aproximação entre as estruturas
punitivas
Falando especificamente do Brasil, esta arma vem sendo adotada com o objetivo
de trabalhar um processo de normalização, criando, assim, uma tecnologia penal
que seja normalizadora, direcionada às ambições como a cura, reeducação e a
ressocialização.
Podemos observar que Rauter (2003) tem razão, pois aquilo que é ensinado
e divulgado, em boa parte dos casos, é, também, aquilo que foi permitido por
quem detém certo poder. É importante salientarmos que podemos observar
isto em qualquer relação. Em uma universidade, por exemplo, os professores
ditam aquilo que ministrarão nas classes, uma vez que que eles têm o poder de
escolha, o qual é um reflexo das perspectivas conjunturais da universidade; isso
estabelece mais uma relação de poder.
Atualmente, podemos observar tudo isso por meio dos estudos sobre
ressocialização do delinquente, os quais podemos classificar como uma
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
verdadeira utopia, porém que servem, de alguma forma, para acalmar os ânimos
daqueles que entendem a prisão como uma afronta à dignidade do sujeito.
Rauter (2003) também nos diz quão é notável o processo de diminuição do uso
de formas de poder que são explicitamente violentas e que estas vêm sendo
substituídas por meio da suavização das penas a partir de novas tecnologias
de poder que são capazes de conseguir, por outros meios, o que ela chamou
de docialidade dos sujeitos. As Leis, no Brasil, vêm sendo humanizando
de forma progressiva, por meio da adoção de legislações mais liberais, importadas,
principalmente, do modelo liberado vigente na Europa.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Segundo Rauter (2003), Beccaria deixou um importante legado com sua ideia
de aplicação das penas de forma proporcional, em conjunto com a certeza e
com a rapidez na aplicação delas. Beccaria afirmou que as leis precisam ser
proporcionais a cada tipo de delito e, ao afirmar isso, apresentou-se como
crítico em relação às penas de morte e às degradantes ou torturantes.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
precisam ser substituídas pelo controle, dado que o crime é resultado de uma
canalização errônea dos impulsos sexuais. Em vista disso, o Estado deveria ter
a tarefa de ser, essencialmente, educativa.
Seguindo esta linha, não podemos deixar de citar Loiq Wacquant (Rauter,
2003), o qual afirma, em sua obra Punir os pobres, que a substituição de
forma progressiva para um Estado policial e penal, no lugar de um semiestado-
providência, em que a criminalização da marginalização, além da contenção
punitiva das categorias que foram deserdadas, entra no lugar da política
social. Isso se torna ainda mais visível nos dias correntes, em que o Estado,
que é notavelmente estigmatizador, no lugar de realizar uma gestão social que
propicie as condições necessárias para o desenvolvimento dos sujeitos de seu
território, segue com a gestão de sujeitos a partir do cárcere e da punitividade.
Essa deficiência mostra como é ineficaz a atuação do Estado.
A criminologia tinha como proposta gerir e tutelar a miséria, sendo esta uma
consequência da ociosidade e da indisciplina, que precisaria ser combatida com
o trabalho. Ainda nesta perspectiva, foram analisadas as multidões criminosas
que eram compostas pelas massas populares que representavam uma ameaça ao
Estado, contra as quais, segundo Rauter (2003), apenas cabia a força punitiva
do Estado. O Judiciário aproveita este estudo, o qual tem como pauta o saber que
propicia estratégias de controle em relação às formas de organização popular.
Rauter (2003) afirma que os institutos que são mais característicos dessa
inter-relação foram a inserção, ainda no Código Penal de 1940, da medida
de segurança e do critério de periculosidade. Assim, podemos observar a
transformação de uma mentalidade punitiva para uma outra que é tratativa, em
relação à readaptação ou à reforma do delinquente. Então, podemos concluir
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Rauter (2003) também faz uma análise em relação aos pressupostos de avaliação,
de exames e de procedimentos diagnósticos de sujeitos em situação de cárcere,
que são considerados criminosos. Sua análise tem como base o famoso exame
de verificação de cessação de periculosidade, utilizado até os dias de hoje, para
que os delinquentes possam ser submetidos ao regime fechado.
Rauter (2003) ainda nos diz que, com a chegada do Código de 1940, o estudo da
personalidade começa a ficar mais acentuado, objetivando a previsão, não só das
técnicas de tratamento penal que sejam adequadas, assim como quais seriam os
possíveis comportamentos criminosos no processo de aferição da culpabilidade
do agente. Isso seria consequência do princípio da individualização das penas.
O laudo psicológico passa a ser visto como uma fonte segura de estudos ou,
apenas, como um acaso arbitrário. Sendo inegável a supremacia desta 2 a
perspectiva pelo fato de não existir um caráter considerado científico nos laudos
apresentados.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Os exames que são realizados pela área jurídica estão marcados pela coleta de
dados da história do sujeito, da mesma forma que as avaliações psiquiátricas e
psicológicas. Isso é bem visível nos procedimentos policiais e judiciais, em que
se objetiva a reconstrução da história do suspeito ou réu.
Segundo a autora, o fenômeno do crime pode ser revelado pela análise familiar
do sujeito; neste caso, levando em consideração a sua estrutura familiar,
ele poderá ou não receber um determinado tratamento. Esta questão ganha
ainda mais força quando falamos de delinquentes com baixa renda, os quais
são estigmatizados por conta de sua pobreza, além dos valores familiares que
possam diferir dos valores que são dominantes na sociedade, o que reflete
diretamente na forma como o laudo é realizado.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Novamente, para que exista um laudo, são necessários sujeitos que o façam,
certo? A questão é que estes laudos são realizados em uma situação de
desequilíbrio, como já dissemos, de poder.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Rauter (2003) também afirma que esta relação entre psiquiatria e justiça penal
vem se aperfeiçoando desde o início do século XIX. O que ocorre em função
da substituição de uma forma de controle penal para a psiquiátrica, em que se
pretende prever o delito e agir de forma preventiva.
Por fim, a criminologia, ao analisar quem seria este delinquente, nos mostra
que o sistema é arbitrário e estigmatizante e que, em face a esta realidade
devemos buscar novas formas para melhorar o sistema, para que, então, este
possa, realmente, exercer seu papel de ressocializador, combatendo, assim, os
instrumentos de controle que são estigmatizantes, arbitrários e segregatórios.
Este avanço ganhou certo impulso após os estudos que foram realizados sobre
a reincidência percebida dos sujeitos egressos das instituições carcerárias clássicas,
revelando que, em diversos casos, essas vinham se mostrando prejudiciais, não
sendo, desta forma, consideradas como meio de reinserção ou de reeducação
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Em virtude dos trabalhos destes teóricos que adotaram uma visão em que os
sujeitos seriam determinados por fatores biológicos ou pelo meio para que
cometessem delitos, gerou-se uma teoria de defesa social. Desta forma, o delito
seria considerado uma conduta anormal que pode ser cometida por um grupo
de sujeitos contra os quais se deveriam fazer uso dos meios necessários para a
proteção de grande parte da população.
Fazendo uso do arcabouço teórico produzido por meio das construções das
escolas clássica e positivista e a criminologia tradicional, foram elaborados
os princípios de defesa social, os quais passaram a nortear, a partir então, a
política penal.
» legitimidade do Estado;
» igualdade;
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
» culpabilidade;
» maniqueísmo;
» finalidade da intervenção;
» interesse social.
Com base nisso, o Estado se tornaria legítimo, tendo o direito e o dever de fazer
intervenções das mais distintas formas, penalizando e evitando o cometimento
de delitos por meio da instituição da justiça penal.
Mesmo que tenha sido o pensamento dominante por muitas décadas, estas
construções criminológicas que impulsionaram a formação dos princípios
e concepções desta ideologia de defesa social têm um problema sério,
independentemente de quais sejam os delitos e o delinquente, por conta do seu
limitado campo de análise, que é o formador do paradigma etiológico.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Logo que estas constatações foram elaboradas, muitas das bases de sustentação
teórica da ideologia da defesa social acabaram muito abaladas, o que levou,
de certa forma, à sua aparente superação no âmbito científico, criando, desta
forma, um espaço que poderia ser preenchido por novas concepções. Como
exemplo de desconstrução dos pontos básicos desta teoria, podemos citar
que não era mais possível sustentar o princípio da finalidade da intervenção,
já que a penalização não servia para reprimir a prática de delitos que eram
constatados pela cifra negra, tampouco conduziriam estes criminosos ao
processo de reinserção social, uma vez que a constatação de reincidência na
prática de crimes, mesmo após uma efetiva intervenção penal.
população que estaria cometendo delitos, sendo, portanto, uma pequena parcela
criminalizada. O delito não seria então uma realidade natural ou ontológica,
senão resultado do etiquetamento de determinadas condutas sociais. Assim é
que simplesmente não seriam mais buscados os fatores causadores do crime
ou o que fazia com que um sujeito entrasse neste mundo, mas os motivos da
especificação penal e da seleção para a penalização.
» relacionado a condutas;
» relacionado a sujeitos.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Desta forma, o que se sustenta é que, após o primeiro etiquetamento, deveria ser
iniciado um processo de discriminação social, influenciando o aprofundamento
do desvio e da realização de novas condutas socialmente criminalizadas, tendo
como resultado um círculo vicioso de criminalização do sujeito. Também se
afirma que esse processo de marginalização seria garantido e produzido por
diversas instituições, como:
» o reformatório;
» a escola;
» a família;
» o hospício;
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Um bom exemplo disso seria quando se verifica a explicação que foi dada à
mudança no tratamento do desvio e daqueles que o cometeram durante as
mudanças econômicas que ocorreram durante o século XIX na sociedade europeia
ocidental, época em que a punição de deslocava para o espetáculo punitivo do
suplício para crimes, principalmente os de “sangue” dos Estados Absolutistas,
para penas em que a liberdade era privada e sua aplicação crescia como resposta
contra crimes relacionados à propriedade privada, correspondendo à nova
forma de organização social e produtiva com base na liberdade de mercado.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
tange à criação de uma política penal que pudesse resguardar de uma forma mais
ampla a propriedade privada, visto que não era viável a aplicação dos martírios
a todo pequeno furto e que, ao mesmo tempo, se pudesse dar disciplina para
o trabalho, de forma que os primeiros cárceres fossem verdadeiras instituições de
trabalho forçado.
Por meio destas obras e das construções teóricas, em conjunto com a utilização
contínua do materialismo histórico, deu-se início à formação de apontamentos
sobre a função estrutural da definição do desvio, cumprindo papel importante
em cada sistema de produção, não sendo isso um resultado neutro das relações
sociais. Desta forma, foram multiplicando-se e fortalecendo-se as construções
teóricas sobre a função exercida pelo poder da classificação social do crime e
do delinquente, propondo-se a investigar os mecanismos e funções estruturais
de escolha dos tipos penais, rotulação e penalização, para além dos objetivos
declarados, tidos como ideológicos ou de ocultação da realidade material, dando
início à base de investigação e à elaboração sistêmica da criminologia crítica
materialista.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Pelo fato de a teoria crítica apresentar-se como uma teoria marxista, alguns
autores acabaram por criticar a criminalidade a partir do modelo econômico
trazido pelo capitalismo. É importante lembrar que, em países que apresentam
um sistema comunista, a criminalidade não deixou de existir. A China, por
exemplo, que tem seu governo com base comunista, faz uso da pena de morte
ao extremo objetivando a contenção da criminalidade.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Algumas teses chegam ao extremo de defender que não é o delinquente que pode
ou deve ser ressocializado, e sim a sociedade que, por meio de uma revolução,
deveria ser transformada.
É importante também que salientemos que o êxito da ciência não pode ser usado
como argumento para tratar de forma padronizada os problemas que ainda não
foram resolvidos.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
A orientação das leis para as classes menos privilegias feita pelas classes
dominantes constituem a criminalização primária, sendo a estrutura responsável
por sua aplicação, que envolve também a execução das medidas e das penas
de segurança, considerada como uma criminalização secundária, e ambas são
confrontadas pela criminologia crítica.
Um ponto importante e que devemos levar em conta é que não é algo recente
essa divisão social. A desigualdade social e a discriminação racial no Brasil estão
presentes desde a colonização e, de forma inacreditável, ainda estão fortemente
presentes na atualidade, ao passo que a falência do sistema penal faz com que
tais reflexos continuem e se tornem cada vez mais severos. O controle social é o
responsável por munir a separação de classe.
Desta forma, como já dissemos tantas vezes, são selecionados como delinquente
aqueles sujeitos marginalizados, principalmente porque o direito penal está
normatizado de forma a resguardar os interesses das classes dominantes. O
crime é definido no âmbito do controle social, pesando de forma desigual sobre
as classes sociais que são menos favorecidas.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Ainda segundo estes dados, boa parte dos sujeitos encarcerados são solteiros, o
que gira em torno de mais o menos 60%, enquanto 28% mantêm união estável
e apenas 9% são casados. Entre os sujeitos do sexo masculino, as principais
causas da prisão seriam:
» roubo (26%);
» tráfico (26%);
» turto (12%).
» tráfico (62%);
» roubo (11%);
» furto (9%).
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Ainda segundo o site Conteúdo Jurídico (2019), durante o ano de 1997, uma
comissão composta por juristas e outros renomados nomes do Direito Brasileiro
ficou encarregada de elaborar um anteprojeto de Código Penal, o qual seria de
conhecimento público com a finalidade de receber sugestões. Este anteprojeto foi
publicado e recebeu críticas e sugestões as quais, inclusive, foram encaminhadas
pela ordem dos Advogados do Brasil - OAB. Uma comissão revisora fez a análise
das sugestões e, com isso, este anteprojeto foi encaminhado ao Congresso
Nacional. O objetivo era de modernização da parte especial do Código Penal e
as suas propostas tratavam de um direito penal de intervenção mínima e mais
democrático. Porém, infelizmente, não foi examinado pelo poder Legislativo.
Até aqui, pudemos compreender que a criminologia crítica é uma ciência que
faz a análise dos pontos negativos do sistema penal e pudemos verificar que o
processamento criminal atual viabiliza a criminalização permanente das classes
sociais que são desfavorecidas além da intensa proteção das classes dominantes
e detentores de capital. Essa realidade influencia diretamente no processo de
criminalização em suas etapas, que são:
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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CAPÍTULO 3
Vitimologia e vitimização: aspectos
sociopolíticos e dogmáticos
No campo das ciências que estão relacionadas com o Direito Penal, pensando de
forma mais específica no quadro da Criminologia, surgem muitas investigações
em relação à Vitimologia, a qual analisa a contribuição do ofendido como causa
ou condição do evento delituoso. Como exemplos rotineiros, temos os crimes
contra o sujeito (homicídio, lesões corporais, ameaça), os crimes contra o
patrimônio (furto, estelionato, roubo), os crimes contra os costumes (estupro),
além de muitas outras situações que também são comuns. Nessa legislação
especial, também surgem diversos casos nos quais o comportamento da vítima
pode acabar provocando ou estimulando uma ação criminosa, ainda que ela não
tenha tal propósito. Assim ocorre nos ilícitos contra o consumidor e no trânsito
de veículos automotores. Grande parte desses crimes de circulação acontece de
forma culposa.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
» vítima como única culpada: aquela que atenta contra si (p.ex., suicídio).
Existem ainda outras hipóteses do cotidiano forense que também podem ser
lembradas (MAZZUTTI, 2011). Vejamos:
» sujeito que ostenta joias e roupas caras em lugar que é frequentado por
sujeitos desempregados e com uma má formação moral;
» o sujeito jovem que desfila com trajes curtos à noite em lugar deserto
(este ponto é bem polêmico).
Outros autores também merecem destaque, como é o caso de Hans Von Hentig,
com a sua obra The criminal and his victim, publicada no ano de 1948, na
qual ele tratou das atitudes do sujeito passivo para colaborar com a ação do
delinquente (MAZZUTTI, 2011).
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Desta forma, podemos afirmar que essa nova disciplina científica se encarrega
não apenas dos diagnósticos e prognósticos do fato delituoso mas também de
buscar de proteção para as vítimas potenciais, por meio da orientação, ajuda e
advertência.
Mazzutti (2011) também nos traz um conceito de Eduardo Mayr, conceito esse
que auxilia na compreensão deste campo do conhecimento, afirmando que a
vitimologia seria o estudo da vítima naquilo que se refere à sua personalidade,
quer do ponto de vista biológico, social e psicológico, quer no de sua proteção
jurídica e social, assim como dos meios de vitimização, sua inter-relação com o
vitimizador e aspectos comparativos e interdisciplinares.
Daí que surge o uso da expressão Iter Victimae, que significa que seria o caminho,
externo e interno, que faz com que um sujeito se converta em vítima, ou seja,
o conjunto de etapas que se operam de forma cronológica, no desenvolvimento
de Vitimização.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Mazzutti (2011) afirma que o maior destaque para essa nova disciplina está
contido no art. 59 do Código Penal, o qual exige do juiz, quando individualiza
a pena, o exame da conduta da vítima como causa ou condição do evento. A
propósito, declara o item 50 da Exposição de Motivos do mesmo diploma,
fazendo referência expressa ao comportamento da vítima, edificada, muitas
vezes, em fator criminógeno, por estar constituída em provocação ou em estímulo
à conduta criminosa, como, entre outras modalidades, o pouco decoro da vítima
nos crimes contra os costumes. Além destes, também existe uma presença
marcante nos crimes sexuais, em que o sujeito do sexo feminino ocupa uma
posição majoritária de proteção. Fala-se ainda no assunto quando da existência
do consentimento do ofendido.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Levando em conta o que diz respeito, de forma específica, às mulheres que estão
envolvidas em situações de violência, tanto na qualidade de autoras como na
de vítimas de delitos, a criminologia ortodoxa acabou não procedendo de forma
distinta, uma vez que o conhecimento produzido sempre se mostrou limitado
à interpretação dos conflitos como resultado de uma dinâmica estritamente
privada, ou seja, microcriminológica. Desta forma, no marco do positivismo
criminológico, as violências que envolvem as mulheres foram sendo inseridas
em um horizonte de investigação em que a base interpretativa era e que, em
grande medida, continua sendo, fundamentalmente causalista.
» o homem-abusador;
» a mulher-delinquente;
» a mulher-vítima.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
» os agressores domésticos.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Também segundo Weigert e Carvalho (2019), os estudos trazidos por Von Hentig
(autor já mencionado), na década de 1950, fazem surgir uma nova perspectiva
no processo de identificação do papel dos sujeitos do crime e, por consequência,
acabam alterando a imagem tradicional da vítima como um ator passivo do
fenômeno delitivo. Von Hentig concentra suas investigações primeiramente
nas características que a vítima tem e que apressam o seu próprio sofrimento
e, em segundo lugar, no que tange ao relacionamento que se estabelece entre
agressor e a vítima. O processo de exploração da dinâmica criminal objetivou
a apresentação de um modelo em que a vítima fosse compreendida como peça
fundamental na situação de violência em razão de cooperar, consentir, conspirar
ou, até mesmo, provocar o delito.
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Portanto, podemos observar que, mesmo que a criminologia crítica tenha sido
responsável pela superação da criminologia etiológica por meio da desconstrução
dos fundamentos e das justificativas que foram apresentadas pelo positivismo,
existe uma evidente continuidade da tradição ortodoxa que segue invadindo
os estudos contemporâneos relacionados com o envolvimento das mulheres
nas dinâmicas delitivas. Em sentido análogo, apesar de a criminologia feminista
mais radical ter se mostrado capaz de, primeiramente, sofisticar as hipóteses
críticas e, logo em seguida, de aprofundar os questionamentos epistemológicos
e macrocriminológicos, permanece, ainda, consistente a tradição científica que
busca a redução destas formas de violência à interindividualidade.
Por fim, o esforço teórico para mapear os diversos impactos do feminismo liberal
e do radical na criminologia surge exatamente deste problema e também da
hipótese central que inspira o estudo, ou seja, por meio da convergência prático
e teórica das tendências crítica e feminista, demonstrar como o feminismo
criminológico pode sofisticar e aprofundar a crítica ao positivismo trazida pela
criminologia crítica.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Weigert e Carvalho (2019) afirmam, com base em Jock Young, que os processos
de correlação servem normalmente para garantizar privilégios e justificar as
desigualdades, ou seja, permitem a manutenção e aceitação de posições tanto
de superioridade como de inferioridade. Exatamente por conta de sua dimensão
totalizadora, os essencialismos culturais e biológicos fixam e naturalizam
imagens ou status, isto é, as representações sociais, e, como resultado, legitimam
diversas formas de exclusão por meio de ações políticas, uma vez que:
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Podemos afirmar que este processo rotulador é o modelo que consolida a crítica
à correlação dado que importantes antecedentes teóricos já teriam feito o
apontamento de problemas metodológico e epistemológicos na fundamentação
do estudo do crime pela ideia de criminalidade, ou seja, na compreensão do
crime como um atributo natural ou uma qualidade inerente de determinados
sujeito. Por exemplo, Freud, citado por Weigert e Carvalho (2019), na parte final
do trabalho Vários tipos de caráter descobertos no trabalho analítico,
publicado no ano de 1916, no estudo que ele chamou de O Criminoso por
Sentimento de Culpa, mesmo que ainda operando desde um modelo
etiológico, nega a possibilidade de universalização de uma causa única que
explicasse as diversas formas de agir delitivo; Sutherland, também citado por
Weigert e Carvalho (2019) no clássico Criminalidade de Colarinho Branco,
publicado no ano de 1940, ao propor o modelo da associação diferencial como
hipótese para compreensão da totalidade dos comportamentos delitivos, acaba
por desvincular o delito das condições psicopáticas ou sociopáticas vinculadas
à pobreza e situa a conduta criminal no campo da aprendizagem.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
Conforme alguns teóricos afirmam, é possível dizer que o crime como tal
não existe; existem somente sistemas de criminalização concretos e práticas
criminalizadoras específicas. No dicionário da criminologia crítica, a lei penal
cria o criminoso, o delito e a pena, mas não o contrário. Não existem atos
ou sujeitos criminosos em si e a sanção não é uma consequência orgânica do
delito; existindo, na realidade, processos de criminalização e formas concretas
de punição. O efeito imediato da tese é o da desconstrução da base científica
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
» o feminismo liberal;
» o feminismo radical.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
Observe que estas questões, que são encaminhadas e projetadas desde uma
perspectiva liberal-garantista de tutela dos direitos, não são laterais ou
secundárias. Pelo contrário, refletem condições de possibilidade de melhorar a
dignidade da mulher no sistema penal e devem ser respeitadas, assim como as
demais pautas da primeira onda do movimento feminista.
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UNIDADE I │ VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA
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VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA │ UNIDADE I
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POLÍTICAS E UNIDADE II
CULTURA
CAPÍTULO 1
Política criminal e direitos fundamentais
Mesmo com suas diferenças, as teses sobre contrato social não renunciam ao
principal, que seria a construção de uma ordem que possa prescrever os valores
e as condutas para o bem viver, enumerando uma série de proteções que devem
ser garantizadas por ela. Não é à toa que figuras como o Leviatã e a Vontade
Geral acabam sendo fundamentadas tanto no aspecto de sua superioridade ética
como naquilo que eliminam ou evitam.
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
De acordo com o que dissemos até aqui, podemos dizer que fica claro que,
independentemente do discurso que se pretenda adotar para fazer a análise da
realidade do sistema penal com vistas a fundamentar uma política criminal, esta
mesma está intimamente ligada aos direitos fundamentais. Tanto existe para,
no que tange à sua especificidade, persegui-los, como também está limitada
pelo respeito à garantia de que eles não sejam violados. Ou seja, uma política
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
Legalidade
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
Desta forma, este raciocínio que deposita na lei sua garantia para delimitar
no que o contrato não afetaria a sua liberdade e, mais ainda, como o faz, é
reconhecido como o princípio da legalidade.
Desta forma, a lei não apenas exclui as penas ilegais como também constitui a
pena legal, ou seja, existe um padrão mínimo que é mensurado pela produção
legislativa constitucional.
Por fim, para Nicolitt e Neves (2017), o que temos disposto na Constituição
sobre a Individualização da Pena (Art. 5 o, XLVI) opera como a única exceção ao
princípio da legalidade, significando que esta garantia não se opera em prejuízo
do condenado e que todo o corpo legal que disciplina aplicação de penas, da
proscrição das penas cruéis a prescrição das penas legais, tem na forma jurídica
destas as sanções que são aplicadas pelo Estado que não interferem nos outros
direitos e garantias dos presos, raciocínio disposto pelo Código Penal e pela Lei
de Execuções Penais.
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
Estado de Direito, seu respeito, ou seja, a aplicação de penas legais são medidas
pela execução penal operada a partir de todos os seus desígnios positivados,
entendendo estes como mínimos, sendo qualquer violação entendida como
desvio de execução, suspendendo, desta forma, sua legalidade e servindo como
fundamento de sua revogação, tendo em vista a ilegalidade da pena. Uma
política criminal no gênero penitenciário que respeite os direitos fundamentais
e que está pautada pelo estrito cumprimento das normas.
Letalidade
Para Nicolitt e Neves (2017), fosse a anterioridade pública e explícita do exercício
estatal condição sine qua non para que ele se desenvolvesse, como os teóricos
da racionalidade contratualista, moderna ou contemporânea, defenderam, em
matéria de execução penal, isto seria impossível.
Ainda assim, a frutífera atividade legislativa na questão não foi em vão, o que
significa dizer que, se o tempo existencial é incomensurável, ou seja, não gerou
efeitos para a vedação do encarceramento pelo legislador, a anterioridade do
exercício do Leviatã no delineamento penal se dá no corpo legal que delimita
o castigo, o que significa dizer que, fora deste design positivo, a pena é ilegal.
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
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CAPÍTULO 2
Expansionismo penal na sociedade
punitiva
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
Sabe-se que a criminologia tenta, por meio de suas vertentes teóricas, explicar
os vários tipos de criminalidade, à medida que busca resolver a origem dos
desvios que importem na prática de infrações penais. O que não se pode permitir,
contudo, é a propagação do falso argumento de que o homem criminoso é
incorrigível por ter um defeito de caráter, que o impede de agir conforme os
demais cidadãos.
Como se viu, o Direito Penal Máximo pretende que ele mesmo seja protetor de,
basicamente, todos os bens existentes na sociedade. Nesse raciocínio, procura-
se educar a sociedade sob a ótica penal, de modo a criar-se um Direito puramente
simbólico e impossível de ser aplicado.
70
POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
Vale frisar que não se trata de deixar impune um comportamento que mereça
a reprovação do Estado. Contudo, existe um rol de sanções de naturezas
diversas (civil, administrativa etc.) que podem cumprir esse papel de reprimir
comportamentos que não são tolerados socialmente, mas que, por outro lado,
também não podem sofrer os rigores da lei penal, visto que, se assim o fosse,
vislumbrar-se-ia a banalização do direito de liberdade do cidadão.
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CAPÍTULO 3
Cultura de controle e encarceramento
em massa
Nesse sentido, é importante ressaltar que o resultado das últimas eleições reflete
fortemente a cultura do punitivismo, como resposta à violência e à desigualdade
social que assolam a sociedade brasileira. Há evidente sede de justiça e de
justiceiros. Contudo, pouco se refletiu sobre os reais efeitos da punição e do
encarceramento no Brasil. Mas será que essa cultura do punitivismo vale a pena?
Será que esta cultura do positivismo não aumenta, ainda mais, a violência?
O país tem cerca de 700 mil sujeitos em situação de cárcere, ou seja, não existe
uma precisão certa sobre o número de sujeitos que estão encarceradas em cerca
de 1.430 estabelecimentos prisionais brasileiros (este dado foi divulgado pelo
DEPEN no ano de 2014).
No ano de 2001, a taxa de presos por 100 mil habitantes era de 135. Porém, após
pouco mais de uma década, essa cifra subiu para 306, ou seja, mais que o dobro.
Portanto, podemos concluir que existe um movimento de encarceramento em
massa que visa a erradicar a violência, punir e livrar a sociedade de bem dos
criminosos.
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
Também vemos faltar uma articulação efetiva entre os 3 Poderes para que sejam
implementadas políticas de segurança e de justiça, que não vislumbrem apenas
o encarceramento como uma medida punitiva, mas sim como uma forma de
reinserção e de recuperação do sujeito delinquente, objetivando trazer ao povo
brasileiro tudo aquilo que ele clamou nas urnas, sem, contudo, dar-se conta que as
velhas medidas simplórias não serão capazes de resolver os velhos problemas
complexos.
Nesse contexto, os valores ou bens jurídicos tutelados pela norma penal passam
a ter estreita ligação com os valores fundamentais do homem e da sociedade
garantidos pela Constituição. Esta se apresenta como a origem e diretriz para o
Direito Penal, determinando seus fundamentos e fixando os seus limites. O jus
puniendi do Estado, assim, é limitado pelo próprio texto constitucional.
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
Abolicionismo
O nascimento do abolicionismo remonta ao final da Segunda Guerra Mundial,
como uma reação humanitária gerando uma fase tecnicista. Mas foi nas décadas
de 1960 e 1970 que o movimento abolicionista ganhou força, devido às teorias
sociológicas que se afirmavam na época e se dividiam em tendências diversas.
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
Observa-se, desta forma, que não existiu uma dita essência para o abolicionismo
ou mesmo uma teoria única que abarcasse os aspectos de todas as variantes do
movimento. O ponto coincidente que se pode distinguir em toda essa diversidade
é exatamente a busca, comum a todas as variantes, de caminhos e objeto da
abolição, isto é, a extensão, os métodos, as táticas e os consequentes impactos
sociais.
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
O sistema penal ainda é criticado por ser arbitrariamente seletivo, pois, assentado
sobre uma estrutura social profundamente desigual, angaria sua “clientela” entre
os mais miseráveis, reproduzindo, assim, a injustiça e desigualdade sociais.
Também são criticados o fato de que o sistema penal estereotipe tanto a vítima
quanto o delinquente, tratando todos da mesma forma, como se todas as
vítimas tivessem as mesmas reações e necessidades, ignorando por completo
as singularidades dos sujeitos. A respeito da vítima, podemos dizer que ela é,
no processo penal, duplamente perdedora, primeiramente em face do infrator
e, em seguida, do Estado, que a exclui de qualquer participação de seu próprio
conflito, uma vez que este é levado a cabo por profissionais.
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POLÍTICAS E CULTURA │ UNIDADE II
Minimalismo
A adoção da ideia da mínima intervenção penal como guia para uma política
penal, afirma Alessandro Baratta, pretende ser uma resposta à questão acerca
dos requisitos mínimos a respeito dos direitos humanos na lei penal. O conceito
de direitos humanos assume, nesse caso, uma dupla função.
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UNIDADE II │ POLÍTICAS E CULTURA
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DIREITOS UNIDADE III
HUMANOS
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
A expressão formal dos direitos humanos inerentes dá-se por meio das normas
internacionais de direitos humanos. Uma série de tratados internacionais
dos direitos humanos e outros instrumentos surgiram a partir do ano de 1945,
conferindo uma forma legal aos direitos humanos inerentes.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
A maioria dos países acabou adotando constituições e outras leis que protegem
formalmente os direitos humanos básicos. É comum que a linguagem utilizada
pelos Estados seja resultado dos instrumentos internacionais de direitos
humanos.
CAPÍTULO 1
Direito internacional dos direitos
humanos
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Sobre a citada fase legislativa do DIDH, sua implementação se inicia por meio
da harmonização entre as jurisdições interna e internacional na intenção de
conferir à temática Direitos Humanos um caráter de Regime Internacional,
seja por normas reconhecidamente verificáveis, seja pela conscientização da
inerência desse rol de direitos pela comunidade internacional.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Por fim, é importantíssimo que levemos em conta que, à medida que caminhamos
a passos largos no sentido da construção de uma ordem mundial mais justa
e irreversivelmente mais cosmopolita e globalizada e, principalmente, mais
humana, os tratados e os demais mecanismos internacionais de proteção global
aos direitos humanos adquirem peculiar importância, por se tratar de tema
transcendente revestido de um fundamento ético universal.
http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/alciborges/alci_breve_intro_
direito_intern_dh.pdf.
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CAPÍTULO 2
Direito internacional humanitário
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
existia nenhuma preocupação com uma possível limitação ao uso da guerra nas
relações internacionais, a partir do crescimento da sociedade humana, nasce
uma inquietação para legitimar o uso da força pelos Estados.
Mas é em meados do século XIX que surge, de fato, o DIH, a partir de Francis
Lieber e Henry Dunant, os quais, em face das suas experiências traumáticas
em conflitos armados, puderam observar a necessidade e a eficácia do DIH
moderno. Francis Lieber, foi um jurista germano-americano e filósofo político,
criador do Código Lieber, no ano de 1863, o qual foi destinado à Guerra Civil
Americana. Este código continha a condução de toda a guerra terrestre, com o
objetivo de evitar o sofrimento e limitar o número de vítimas do conflito.
Desta forma, Dunant funda, em conjunto com outros cinco sujeitos, o Comitê
Internacional de Ajuda aos Feridos, o qual, no ano de 1880 foi transformado no
atual Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Princípio da humanidade
Mesmo levando em consideração que os conflitos armados sejam inevitáveis,
é compromisso do Estado resguardara vida de seus cidadãos e cumprir o
compromisso de apaziguar as tropas em um combate. O princípio da humanidade
é considerado, entre diversos doutrinadores, o pilar central do DIH, sendo o
mais importante entre eles, porque ensina que se deve zelar pela dignidade da
pessoa humana.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Por fim, o princípio da necessidade militar não deve ser solicitado se as perdas
para a população civil e os danos de caráter civil forem excessivos em relação à
vantagem militar concreta e esperada.
Princípios da proporcionalidade
A palavra proporcionalidade, neste caso, indica a relação proporcional entre o
uso da violência e da força como uma forma de alcançar o objetivo militar, mas
o direito das partes de escolher os seus métodos de combate é limitado. Logo,
de acordo com o princípio da proporcionalidade, nenhum guerreiro deverá ser
atacado se os seus prejuízos civis e o número de vítimas forem maiores que os
ganhos militares, que se espera desta ação.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Princípio da limitação
Este princípio se refere aos meios e métodos que são utilizados nos conflitos
armados não são ilimitados. Desta forma, previne-nos de danos supérfluos, do
sofrimento desnecessário e da depredação do meio ambiente.
» ratione loci;
» ratione personae;
» ratione conditionis.
O 1 o se restringe aos ataques aos alvos lícitos, ou seja, aos objetivos militares,
buscando a proteção das construções e patrimônios culturais de todas as
civilizações. Este princípio é consagrado pela Convenção de Haia, para proteção
de bens culturais em caso de conflito armado, realizada no ano de 1954.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Princípio da distinção
Este princípio é a caracterização do Direito Internacional Humanitário como
um corpo normativo, destinado à defesa do homem e dos bens. Este princípio
também estipula que os combatentes devem distinguir-se dos civis, com a
obrigação de utilizar uniformes e distintivos, ou manusear abertamente seu
armamento.
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CAPÍTULO 3
Direito internacional dos refugiados
A realização deste artigo justifica-se pelo fato de o problema dos refugiados ter
se tornado de caráter permanente e requerer constantes mediações por parte da
comunidade internacional.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
O asilo e o refúgio político são os meios pelo qual o sujeito tem o direito de
permanecer no território brasileiro. O asilo está consagrado na Declaração
Universal dos Direitos do Humanos, ao afirmar que todo ser humano vítima de
perseguição tem o direito de procurar e de gozar de asilo em outros países, e
que este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.
Desta forma, podemos perceber que os institutos são distintos, porém com o
mesmo objetivo e base de atuação, podendo ser vistos como espécies de um
mesmo gênero, pois livram sujeitos de perseguições, por meio de sua proteção
e acolhida em outro Estado, poderão ser protegidos e, também poderão usufruir
de seus direitos fundamentais mantendo, desta forma, sua dignidade.
Podemos observar, desta forma, que os institutos são distintos, porém com o
mesmo objetivo e base de atuação, podendo ser vistos como espécies de um
mesmo gênero, pois livram sujeitos de perseguições a partir de sua proteção e
acolhida em outro Estado.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Nesse sentido, ainda que não tenha sido concedido à Organização das Nações
Unidas plenos poderes por intermédio da Carta das Nações, tais poderes eram
fornecidos à medida que as necessidades surgiam, bem como o de estabelecer
tratados ao órgão que cria, como no caso do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados. Nesse sentido, compreende-se que o Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados pode vir a celebrar acordos com organizações
não governamentais, ainda que eles não sejam classificados como sujeitos de
direito internacional.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
No Brasil, sim, existe um percentual de criminalidade juvenil que pode ter sua
origem na questão social, visto que, ao passo que as grandes desigualdades
sociais avançam, gerando o fator de exclusão social, a criminalidade também
acaba avançando. Porém, a questão social não pode ser vista como um fator
isolado para a criminalidade na adolescência.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Como resultado, ocorre uma soma de fatores, dos quais temos a rebeldia e as
atitudes indisciplinadas que são próprias da idade; as violências domésticas
sofridas entre a 1 a e a 2 a infâncias podendo ser prolongada até a adolescência;
sentimentos de não pertencimento à família de origem ou a família substituta;
situação socioeconômica desfavorável ao atendimento das suas necessidades
básicas; baixa autoestima; envolvimento com entorpecentes; abandono,
além de outros fatores que possam impedir que um sujeito de crescer de
forma harmoniosa e sadia enquanto ser em desenvolvimento, propiciando e
promovendo a produção de crianças/adolescentes que transgridam as leis.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
O crime não deve ser visto como um tumor nem como uma epidemia que possa
assolar a sociedade, mas, sim, deve ser percebido como um problema doloroso
de caráter comunitário e interpessoal, uma realidade que está próxima ao
cotidiano, quase doméstica, que nasce na comunidade e precisa ser resolvido
pela sociedade; em suma, é um problema social, que implica diretamente no seu
diagnóstico e tratamento.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Por fim, uma interpretação que faz a atualização do pedagogismo penal, o qual
toma como base os dois elementos que caracterizam os modelos tutelares em
sede processual, que são: o amplo arbítrio judicial e a ausência de garantias.
A redução da maioridade penal se mostra ineficaz e, ao mesmo tempo,
inconstitucional, não sendo vislumbrada possibilidade sociojurídica para sua
implementação. Levando tudo isso em consideração, não nos resta dúvida de
que reduzir a maioridade penal nada mais é que um mito, provocado por uma
fetichização do significado de Justiça.
Uma Teoria de Justiça objetiva o estudo dos valores que são fundamentadores e
geradores do Direito e dos fins que estes desejam e pretendem alcançar. Tanto a
reflexão filosófica como a análise crítica em torno da ideia de justiça não apenas
são possíveis como também são necessárias.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Podemos destacar aqui que as práticas restaurativas não são feitas para
substituir o sistema da justiça tradicional, mas sim para complementar as
instituições legais que existem, além de melhorar o resultado do processo
de justiça. Ao descentralizar a administração de certas demandas da justiça,
que são tradicionalmente determinadas levando em consideração a gravidade
moral e legal da ofensa, e ao transferir o poder de tomada de decisão ao nível
local para o sistema de justiça estatal, pode-se beneficiar os cidadãos. A micro
justiça pode ter um efeito particular para o processo, levando-o a resultados
positivos, como a redução do volume de casos para os tribunais; a melhoria da
imagem do sistema formal; dotar os cidadãos e as comunidades de poder por
meio da participação ativa no processo de justiça; favorecendo a reparação e a
reabilitação no lugar da retribuição; ter como base os consensos e não a coerção.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
As punições que são produzidas pela Justiça Criminal permitem que ambos,
tanto o infrator como a vítima, acabem ficando piores. Esta retribuição tende a
legitimar a paixão pela vingança e, por tanto, seu olhar acaba voltado, de forma
conceitual, para o passado. Importando apenas a culpa individual e não o que
deve ser feito para enfrentar a situação conflitante e a prevenção da repetição.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
I. advertência;
O que significa dizer que, de acordo com os incisos do artigo 112 do ECA, o
Adolescente tem de ser cada vez mais participativo no reparo do dano cometido
à vítima, tendo, de modo taxativo, a obrigação de reparar o dano, além de
prestar serviços à comunidade, a qual também, em alguns casos, mostra algum
tipo de dano após a infração. A lei n o 8.069/1990 consumou-se na criação do
ECA, responsável por uma inovação importante no que tocante aos direitos
fundamentais, uma vez que reafirma o ideal de justiça humanizada, ao prescrever
um tratamento sensível em relação à criança e ao adolescente, pois, além de se
tratar de sujeitos que são horizontalmente portadores de direitos fundamentais,
eles compactuam a condição de sujeito em desenvolvimento, existindo, então,
um tratamento específico da lei infraconstitucional, da mesma forma como da
própria CF de 1988, no que tange a uma prioridade absoluta, que é reafirmada
no ECA.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Bom, segundo o site Jus (2018), o entendimento dos povos sobre a punição
daqueles que transgridam as regras da boa e respeitosa convivência passa
constantemente por transformações, segundo a realidade política e econômica
em vigor num determinado momento histórico, o qual aponta, por meio de
um ordenamento jurídico, os movimentos deste sistema, ou seja, o cotidiano
dos sujeitos que vivem neste espaço territorial definido, bem como a própria
evolução, aperfeiçoamento do sistema penitenciário durante o transcorrer do
tempo.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Mas o marco principal da pena está nas antigas civilizações, sendo a mais
aplicada a de morte, com predominância de pena-castigo; assim, na China, no
Egito, entre os fenícios, na Grécia, onde se encarcerava os devedores até que
saldassem suas dívidas, a custódia servia para obstar fuga e garantir a presença
nos tribunais. Na Roma antiga e entre o povo hebreu, a prisão não era sinônima
de castigo e o rol de sanções se restringia quase unicamente às corporais e à
capital.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Já nos séculos XVIII e XIX, com a chegada da escola clássica, a pena era
então nitidamente retributiva e o crime era o mal, o pecado e a punição
sobrevinham para castigar o infrator. Não havia preocupação com a pessoa do
delinquente. A pena se destinava a restabelecer a ordem pública violentada
pelo crime e era adequada ao mal causado. A Escola Positiva, que aqueles dois
séculos também viram nascer, passou a considerar a pessoa do delinquente.
O homem passava a centrar o Direito Penal, como objeto principal das suas
conceituações doutrinárias. A pena, para os positivistas, deixou de ser castigo,
mas oportunidade para ressocializar o delinquente, e a prisão era para proteger
a coletividade.
Sistemas penitenciários
Os sistemas penitenciários são divididos em três categorias, que, numa sequência
evolutiva, são:
» o Pensilvânico;
» o Auburniano;
» o Progressivo.
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Como podemos observar, este não foi um sistema que produziu bons resultados,
por ser completamente inadaptado à vida social e de vontade débil, em que,
no lugar de preparar o sujeito para que pudesse ser reintroduzido à sociedade,
fazia exatamente o contrário.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Por fim, a progressão de regime está prevista no Código Penal (art. 33, §2 o) e na
Lei de Execução Penal, Lei n o 7.210, de 11 de julho de 1984 (art. 112).
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Desta forma, é importante buscar uma definição de mídia e qual a sua função como
um veículo de transmissão do serviço ideológico do poder político e econômico
sobre a sociedade brasileira. E, a partir disso, buscar orientações e abordagens
teóricas que nos permitem caracterizar e compreender a dinâmica e a relação
do poder midiático com os movimentos sociais e qual seria a importância de
ambos para a vida social, principalmente após a década de 1980 no Brasil,
quando despertou, em boa parte da população, a capacidade de questionar e
reflexionar sobre a veracidade do que se vê, do que se ouve e do que se fala, o que
significa dizer que necessitamos exercer a crítica daquilo que nos é transmitido.
E, por fim, reconhecer nos meios de comunicação alternativos como formas
de divulgação e propagação da importância das organizações populares para a
transformação de superação das injustiças e das desigualdades sociais.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Então, mesmo que a sociedade esteja dividida em classes em que cada qual
deve ter suas próprias ideias, o processo de dominação de uma classe sobre as
outras faz com que apenas sejam consideradas verdadeiras, válidas e racionais
as ideias advindas da classe dominante.
Assim, a ideologia seria uma forma de dar aos membros de uma sociedade, a qual
está dividida em classes, uma explicação racional para as diferenças econômicas,
sociais, políticas, culturais entre outras, sem atribuir jamais estas diferenças à
divisão da sociedade em classes. Para que isso aconteça, os conflitos sociais
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
seu repertório cultural, buscando sentidos que sejam convergentes com as suas
experiências de vida.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
Uma mídia que não discute, mas apenas informa, implicitamente, está
entregando-se à segregação social, à violência moral e à falta de dignidade.
É explícita a total influência que os meios de comunicação exercem sobre os
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Por outro lado, sua criminalização torna-se uma arma manipulada por agentes
poderosos da sociedade e do estado, principalmente por meio do uso da mídia.
A democratização dos meios de comunicação parece ser a via mais rápida para
pôr um fim a conflituosa relação entre mídia e movimentos sociais que se
arrasta por todo o Brasil, principalmente nas últimas décadas. Ainda assim, no
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
A mídia alternativa, ou seja, aquela que não se mostra tradicional, talvez possa
ser a definição mais simples, pois existem dificuldades na definição devido
ao fato de esta ser ampla e generalizada. Deve ter por princípio selecionar
e divulgar os fatos pelas perspectivas, pelos interesses e pelos ideais dos
movimentos sociais, levando a uma tomada de posição da sociedade. Porém, é o
melhor meio comunicativo dos movimentos sociais, pois os privilegia sobre as
instituições. Deve se originar e se perpetuar por meio do esforço coletivo e da
consciência política dos sujeitos e do grupo. A mídia alternativa, por sua vez,
tem como objetivo a conscientização e a transformação política e social, a luta
pela cidadania, o apontamento das causas de problemas políticos e sociais, além
da indicação das possíveis ações, soluções e decisões que deverão ser tomadas.
122
DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
Por fim, podemos concluir que a mídia somente cumpre seu papel social à medida
que informa a sociedade e não deforma a realidade, exercendo a influência na
leitura que fazemos da realidade.
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UNIDADE III │ DIREITOS HUMANOS
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DIREITOS HUMANOS │ UNIDADE III
125
CULTURA E PAZ UNIDADE IV
Segundo Pelizzoli (2015), podemos dizer que uma Cultura de Paz Restaurativa,
ou seja, que tem nas práticas restaurativas o seu ápice, resgata e reproduz o
mundo gregário. Quando estamos neste cenário, podemos observar os valores
fundamentais da nossa vida, como, por exemplo, aquilo que mais desejamos
socialmente ou o que é mais importante para um sujeito ou como nos conectamos
com a humanidade. Desta forma, passamos a reproduzir os fundamentos do
mundo interpessoal.
É normal que todos queiram paz. A questão é por que essa paz é rompida
frequentemente? Por que o equilíbrio também é rompido? Nem sempre teremos
as respostas devido à grande complexidade da vida. Alguém, por exemplo,
126
CULTURA E PAZ │ UNIDADE IV
matou uma pessoa que não queria entregar seu tênis num assalto. Podemos
dizer o quão é grave esta situação e o quão mesquinho também parece. Não
obstante, isto não deve nos eximir de compreender o que se passava na mente
e no contexto daquele que cometeu o assassinato, e refletir em que tipo de
fracasso social nos metemos como sociedade. Quando analisamos por mais de
um ângulo, observamos que o tênis é um passaporte social, algo quase sagrado
em um modelo de sociedade capitalista objetificada.
Ainda que pareça difícil ponderar sobre o outro que comete danos, por conta
da raiva e de uma gama de sentimentos que são dolorosos, é necessário a
percepção das dimensões humanas criadas, buscando despertar dimensões de
responsabilidade e de peso pela gravidade do fato cometido. Quando vamos
mais a fundo, podemos encontrar um sujeito que foi arruinado socialmente. É
certo que os processos restaurativos exigem que tenhamos um grau razoável
de socialização ainda presente, já que esse sujeito/agressor precisa acessar
a vergonha, o arrependimento, a culpa, a conexão, o querer resgatar/pagar.
Caso isso aconteça, existe um grau de solidariedade a surgir e um resgate de
humanidade. A presença ou o apoio de sujeitos da comunidade são chaves
para abrir o resgate. E quando se percebe o reino de loucura, de dor e de
vulnerabilidades humanas criados para além de nossos maiores e melhores
desejos, surge também a necessidade de superar a impotência, que vem como
sentimento de não poder mudar as coisas ruins, ou de não poder evitá-las de
modo amplo.
127
UNIDADE IV │ CULTURA E PAZ
Para que possamos atuar com Direitos Humanos precisamos ter motivações que
vão muito além da lógica da normose ou da racionalidade burguesa excludente,
e além do bem e do mal, ou seja, verdadeiras armadilhas reducionistas. A
solidariedade entre os sujeitos não é, primeiramente, uma escolha racional,
mas nasce do potencial e do desenvolvimento de valores humanos, como a
compaixão e a empatia. O convite da Cultura de Paz como a compreendemos, em
especial da Justiça Restaurativa para os Direitos Humanos, é, então, o resgate
da socialidade, empatia, do diálogo, encontro, da subjetividade, e afetividade,
entre outros. Os Círculos Restaurativos buscam formar um sistema inter-
humano não dicotômico, porém inclusivo e equilibrado; neste sistema, podem
circular e serem acolhidas as sombras e as emoções como a raiva, o medo e
a culpa, os erros, os ferimentos, os rompimentos. Circula, acima de tudo, o
que denominamos de força de agregação, a força de conexão, que tem diversos
nomes, por exemplo:
» compaixão;
» empatia;
» compreensão;
» acolhimento.
Da mesma forma como existem tendências humanas que são orientadas pela
vontade de matar, muito presente no modo ataque-defesa, quase como um
conatus essendi, também existe na mesma ordem de potência ontológica,
como já dissemos, a capacidade gregária. Em uma compreensão mais sistêmica,
o sujeito não é um indivíduo primeiramente, ele é natureza, ele é família, ele é
o sistema. Desta forma, as tecnologias psicossociais resgatam características da
sociabilidade ontológica.
Nos capítulos a seguir, iremos mais a fundo com temas sobre violência e paz!
Desfrute da leitura!
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CAPÍTULO 1
Violência de paz: aspectos
teóricos-conceituais
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É possível examinar situações que são ou não familiares e que dão origem à
violência, apontando determinados acontecimentos ou reações ou, ainda, falta
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Por fim, para Freud, a violência seria algo inerente ao ser humano, sendo ela
necessária à medida que o instinto de agressividade, de morte, está em equilíbrio
com o instinto de vida para assegurar a preservação do sujeito e da espécie.
Para saber mais sobre o tema, leia o livro Conceitos e formas de violência,
disponível pelo link https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ebook-conceitos-
formas_2.pdf.
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CAPÍTULO 2
A dimensão sócio-moral do
desenvolvimento humano na formação
dos valores e a formação de valores
sociais
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UNIDADE IV │ CULTURA E PAZ
Nesse sentido, podemos afirmar que, desde que nascemos nos é ensinado o que
é certo e errado e é a partir disso que reproduzimos os valores que são impostos
pela sociedade. Antes de qualquer coisa, valor moral pode ser definido como
respeito à vida, mas não apenas a vida individual, e sim à vida coletiva, dado
que vivemos no coletivo e que dependendo uns dos outros (LARISSA, 2017).
Porém, em que momento ficou definido o que seria correto e o que seria
considerado errado do ponto de vista social? Tanto religião quanto o livre
arbítrio do homem se relacionam a partir da construção dos ideais de ética e
de moral, sendo estes passados de geração em geração, em uma linha perpétua
de integração em nossa sociedade. A religião oferece ao homem os pilares que
podem necessários para a interpretação sobre a distinção entre o certo e o
errado, e ao homem cabe, então, o livre-arbítrio e o bom senso para que possa
estes pilares de acordo com as necessidades coletivas.
Bom, então vem a pergunta: por que os valores morais são tão importantes em
uma sociedade? Ora, eles são os responsáveis pela manutenção da ordem entre
os sujeitos, que são, inclusive, ensinados desde o berço. É fácil imaginar em
que situação o mundo se encontraria atualmente caso o homem ignorasse as
leis que são formuladas por meio dos conceitos de ética e moralidade. É certo
que o homem tem o direito de ter sua liberdade de expressão e escolha, porém
tudo é passivo de limites. Caso contrário, diante de quaisquer adversidades
que pudessem surgir em nosso caminho, acabaríamos retornando ao nosso
estado mais primitivo e resolveríamos todos os problemas de forma antiquada,
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CULTURA E PAZ │ UNIDADE IV
Por fim, lembremos que a formação de valores morais é algo subjetivo, não
dependendo apenas da formação de uma sociedade ou de algum processo
religioso, ou seja, também é algo individual, sendo formado pela junção de todos
os fatores que envolvem o processo de construção humana de cada sujeito.
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CAPÍTULO 3
A cultura de paz
» a pobreza;
» a desigualdade;
» a injustiça social.
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UNIDADE IV │ CULTURA E PAZ
Diálogo intercultural
Mesmo existindo muita informação, tecnologia e conhecimento, fazendo,
inclusive, com que o mundo esteja cada vez mais interconectado, não significa
que sujeitos e a sociedades estejam vivendo juntos, com paz e justiça para todos.
Ainda é necessário um conhecimento adequado para que possamos prevenir
conflitos, erradicar a pobreza e/ou possibilitar que todos aprendam para viver
em harmonia em um mundo seguro.
Nas sociedades cada vez mais diversificadas que existem atualmente, a UNESCO
continua a realizar, dia a dia, sua missão humanitária fundamental que é apoiar
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Para (não) Finalizar
Para não finalizarmos, deixo aqui uma figura que representa bem tudo o que
abordamos nesta apostila, instigando-nos a refletir ainda mais sobre o tema.
Figura 3. Paz.
Fonte: http://hoje.unisul.br/projeto-leva-cultura-de-paz-as-escolas-a-partir-das-praticas-restaurativas/.
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Referências
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
Sites
BORGES, C. O Direito Internacional dos refugiados: a legislação brasileira no que
tange o âmbito da legislação internacional. JUS, 2018. Disponível em: https://
jus.com.br/artigos/65334/o-direito-internacional-dos-refugiados-a-legislacao-
brasileira-no-que-tange-o-ambito-da-legislacao-internacional. Acesso em: 4 jun.
2020.
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REFERÊNCIAS
UNISUL. Projeto leva cultura de paz às escolas a partir das práticas restaurativas.
Unisul, 2018. Disponível em: http://hoje.unisul.br/projeto-leva-cultura-de-paz-as-
escolas-a-partir-das-praticas-restaurativas/.
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