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Compliance – Direito Internacional

Brasília-DF.
Elaboração

Lúcia Ferreira Lopes

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade I

Comparativo de Leis......................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1

Comparativo de Leis............................................................................................................ 13

Unidade iI

FCPA Foreign Corrupt Practices Act............................................................................................ 20

Capítulo 1

FCPA Foreign Corrupt Practices Act............................................................................ 20

Unidade iII

UKBA – UK Bribery Act........................................................................................................................ 35

Capítulo 1

UKBA – UK Bribery Act........................................................................................................... 35

Unidade iV

Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção....... 41

Capítulo 1

Convenções internacionais para combate à corrupção........................................... 41

Capítulo 2

Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção................................................ 59

Unidade V

Principais Diretrizes Internacionais................................................................................................ 77

Capítulo 1

Princípios para Combater a Corrupção nos Negócios: Transparência


Internacional.................................................................................................................... 77

Capítulo 2

Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos, Ética e Compliance (OCDE).......... 86


Capítulo 3
Guia de recursos para o FCPA – Características de um Programa de Compliance
Efetivo.................................................................................................................................. 89

Capítulo 4
Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático
(UNODC)................................................................................................................................ 98

Capítulo 5
Iniciativas de Organizações Internacionais e Não Governamentais para a
integridade nas empresas................................................................................................ 118

Referências................................................................................................................................. 144
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Tanto no setor institucional como no setor corporativo, chamamos de compliance o
mecanismo pelo qual se faz atender as normas legais e regulamentares, as políticas e as
diretrizes fixadas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, assim
como constatar, precaver, e reparar eventuais desvios ou inconformidades.

O termo compliance deriva do inglês “to comply”, que quer dizer atuar de acordo com
uma regra, uma instrução interna, um comando ou uma solicitação.

Em nosso país, com a chegada da Lei no 12.683, de 9 de julho de 2012, que alterou a Lei
no 9.613, de 1998 que trata do crime de lavagem de dinheiro, pessoas físicas ou jurídicas
que se encaixem na descrição do art. 10 “deverão adotar políticas, procedimentos
e controles internos, compatíveis com seu porte e volume de operações, que lhes
permitam atender ao disposto neste artigo e no artigo 11, na forma disciplinada
pelos órgãos competentes” (artigo 10, inciso III), isto é um Programa de Compliance
(integridade).

Em decorrência do processo de globalização, observa-se o crescimento da quantidade


de negociações comerciais entre países, assim como da centralização de poder
econômico de determinadas organizações. Esse avanço das operações comerciais e,
por conseguinte, das quantias de dinheiro nelas compreendido, foi criado uma esfera
propícia à corrupção.

Em razão dos prejuízos causados pela corrupção, não só à ordem econômica mundial,
mas até mesmo ao sistema democrático, a comunidade internacional veio exigir maior
empenho do Estado no seu combate, isso se deu a partir dos anos 1990. A partir daí
diversos países firmaram acordos de combate a corrupção.

A pressão social a favor da luta contra a corrupção vem crescendo a cada dia, tanto com
relação ao setor público exigindo o esclarecimento de fatos com sua devida apuração
e eventual punição, quanto no setor privado exigindo-se adoção de padrões éticos, o
que deve incentivar as organizações empresariais na implementação de programas
preventivos e de monitoração permanente.

A respeito das principais normas verifica-se o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA)
americano e o UK Bribery Act (UKBA) britânico.

O Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), trata-se de uma lei federal de 1977, que
tem por objetivo o combate à corrupção transnacional praticada por certas pessoas

8
físicas ou jurídicas ligadas ao país. Essa Lei tem dois temas principais, os contábeis e os
antissuborno.

As disposições contábeis tratam das condições de transparência contábil em


conformidade com a Lei de Valores Mobiliários de 1934, e as disposições antissuborno
criminalizam o pagamento de propinas a funcionários públicos estrangeiros objetivando
a obtenção ou mantença de negócios.

Desde 1977, as determinações antissuborno do FCPA aplicam-se as pessoas físicas


ou jurídicas americanas, assim como a estrangeiros que emitam valores mobiliários
nos EUA.

No Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) o UK Bribery Act
(UKBA) é uma lei de combate e prevenção à corrupção apontada uma das legislações
mais rigorosas do mundo no que se refere ao combate à corrupção nas organizações
empresariais. Tem disposição transnacional aplicando-se a pessoas jurídicas, com sede
(ou com representação societária) no Reino Unido, mas igualmente àquelas que façam
negócios com pessoas jurídicas estabelecidas no Reino Unido. O UKBA foi criado em
abril de 2010, e entrou em vigor em julho de 2011.

Entre as inovações criminalizou a omissão de pessoas jurídicas na prevenção da


corrupção, ressaltando os benefícios da prevenção em relação a simples repressão,
levando as organizações à implementação de normas e procedimentos internos
anticorrupção. O Ministério da Justiça britânico publicou em março de 2011, diretrizes
de orientação (não vinculativas), com relação aos procedimentos previstos na Lei.

Já no que diz respeito às Convenções Internacionais, como dissemos, desde os anos 1990
houve uma demanda internacional por meios de combate à corrupção, nesse panorama
foram iniciados processos de acordos de ação conjunta nesse setor. No entanto, as
primeiras convenções firmadas não englobavam diversos países da Ásia e do Oriente
Médio. Outros acordos faziam somente abordagens específicas, como, por exemplo, o
suborno. Dessa forma, a comunidade internacional expressou interesse em traçar um
acordo realmente global e adequado para a prevenção e combate a corrupção. Deste
modo, surgiu a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

Acerca da prevenção à corrupção, a Convenção prevê que os Estados signatários


implementem políticas efetivas no combate a corrupção, que favoreçam a participação
social e ponderem os princípios do Estado de Direito assim como a integridade, a
transparência e a accountability (comprometimento com a ética e com a transparência),
dentre outros.

9
No que se refere às principais diretrizes internacionais temos os Princípios para
Combater a Corrupção nos Negócios da Transparência Internacional (organização não
governamental, fundada em março de 1993, com sede em Berlim, que tem o combate à
corrupção como principal objetivo); o Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos,
Ética e Compliance da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico); O Guia de recursos para o FCPA que traça as Características de um
Programa de Compliance Efetivo do DOJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos)
e SEC (Securities and Exchange Commission - Comissão de Valores Mobiliários); e o
Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: guia prático da
UNODC (Escritório das Nações Unidas – ONU - contra as Drogas e o Crime, criado
em 1997).

Criada em 1993, a Transparência Internacional tem papel de destaque no combate a


corrupção global trata-se de uma organização não governamental (ONG) que objetiva
lutar contra a corrupção, instituindo uma aliança mundial composta pela sociedade
civil, empresas e governos, atuando tanto contra o corrupto, quanto contra o corruptor,
seja em nível institucional ou corporativo.

O Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos, Ética e Compliance da OCDE


foi lançado em 2010, como Anexo à Recomendação do Conselho para o Combate
da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais
Internacionais (Recommendation of the Council for Further Combating Bribery of
Foreign Public Officials in International Business Transactions).

Até a criação de referida Convenção os Estados Unidos eram o único país que vetava
formalmente a corrupção internacional. Esta Convenção da OCDE foi influenciada
pelo FCPA, com previsões análogas às da lei americana. O Guia absorve, igualmente,
diversas orientações emitidas pelo Departamento de Justiça Americano.

A ideia para o Guia de recursos para o FCPA ─ Características de um Programa de


Compliance Efetivo do DOJ e SEC teve início com os governos do G20 (grupo formado
pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 (dezenove) maiores
economias do mundo mais a União Europeia) que buscavam maneiras de implementar
o Plano de Ação contra a Corrupção, tal Plano reconhece o papel fundamental do
setor privado na luta contra a corrupção e pede a uma parceria público-privada nesta
iniciativa.

Desde a adoção do Plano, os governos do G20 e seus parceiros do setor privado


reuniram-se em diversas oportunidades para encontrar maneiras de efetivar esta
parceria.

10
Um dos pontos observados pelas empresas é que diversos princípios anticorrupção
destinados a elas são confusos, sobretudo o que se refere a pequenas e médias empresas
com recursos limitados, que procuram formas concretas de combater a corrupção em
seus negócios em um ambiente operacional cada vez mais complexo e globalizado.

Para enfrentar esse desafio, desenvolveu-se o manual por empresas e para empresas,
com assistência da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE), da Organização Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e do Banco
Mundial.

Objetivos
»» Analisar o FCPA ─ Foreign Corrupt Practices Act.

»» Estudar o UK Bribery Act.

»» Examinar as principais diretrizes internacionais.

»» Analisar os Princípios para combater a corrupção nos negócios da


Transparência Internacional.

»» Estudar o Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos, Ética e


Compliance da OCDE.

»» Examinar o Guia de recursos para o FCPA - Características de um


Programa de Compliance Efetivo do DOJ e SEC .

»» Analisar o Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para


Empresas: guia prático do UNODC.

11
12
Comparativo de Leis Unidade I

CAPÍTULO 1
Comparativo de Leis

A Lei no 12.846, de 1 de agosto de 2013 (Lei Anticorrupção) é a primeira lei brasileira que
versa exclusivamente sobre a prevenção, combate e repressão a corrupção, prevendo
até mesmo a responsabilização da pessoa jurídica. A Lei Anticorrupção foi influenciada
por modelos estrangeiros como o FCPA ─ Foreign Corruption Practice Act, americano,
e o UK Bribery Act, britânico. Todas essas normas sofreram influência de extensas
negociações internacionais acerca do tema.

É fato que cresceu a cooperação internacional visando o combate da corrupção,


sobretudo na década de 1990, resultando na criação de diversos Acordos Internacionais,
assim como:

»» “Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos


Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais” da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Assinada pelo Brasil em 17 de dezembro de 1997, ratificada por meio do Decreto


Legislativo no 125/2000, e promulgada pelo Decreto no 3.678, de 30 de novembro
de 2000, compromete os Estados Parte em um trabalho conjunto, com o intuito de
possibilitar a implementação de medidas de ordem jurídica e administrativa para
atingir os objetivos previstos na Convenção. Entre os objetivos destacam-se a fixação
de responsabilidades a pessoas jurídicas que corrompam funcionários públicos
estrangeiros; ponderação acerca da previsão de sanções cíveis ou administrativas a
pessoas condenadas por corrupção a referidos funcionários; assim como prestação da
assistência jurídica recíproca.

»» “Convenção Interamericana Contra a Corrupção” da Organização dos


Estados Americanos (OEA).

13
UNIDADE I │ Comparativo de Leis

Ratificada pelo Decreto Legislativo no 152/2002 e promulgada pelo Decreto no


4.410, de 7 de outubro de 2002, esta Convenção tem como finalidade a promoção e o
fortalecimento das estruturas necessárias para auxiliar na prevenção, identificação e
punição de atos de corrupção no exercício das funções públicas, assim como aqueles
especificamente ligados ao seu exercício.

»» “Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção” da Organização das


Nações Unidas (ONU).

Ratificada pelo Decreto Legislativo no 348/2005 e promulgada pelo Decreto no 5.687,


de 31 de janeiro de 2006. É considerado o mais amplo instrumento internacional
voltado ao combate à corrupção, comprometendo os Estados signatários na adoção
de várias medidas prevendo diversas vinculações jurídicas, em seus ordenamentos
jurídicos e políticas públicas, voltadas a promoção e desenvolvimento dos mecanismos
necessários para precaução, identificação, punição e eliminação da corrupção, assim
como designados a promoção, facilitação e regulamentação da cooperação entre os
Estados Parte em referidos temas.

Certamente cada um desses instrumentos possui suas peculiaridades, mas todos têm
em comum o objetivo de prevenir e combater a corrupção.

Nos Estados Unidos o Foreign Corruption Practice Act (FCPA) foi promulgado
em 1977 com o objetivo principal de criminalizar a prática por empresas, ou seus
representantes, norte americanos, de suborno de funcionários públicos estrangeiros.
A despeito de diversas emendas que acabaram por enfraquecer essa lei, o FCPA foi e
é uma referência no combate a corrupção.

Em 2010 o UK Bribery Act foi além do Foreign Corruption Practice Act. Vista
hoje como uma das legislações mais austeras do mundo na luta contra a corrupção,
tipificando quatro condutas; (a) corrupção ativa de agentes públicos e privados, (b)
corrupção passiva de agentes públicos ou privados, (c) corrupção de agentes públicos
estrangeiros; e (d) a falha das pessoas jurídicas na prevenção da corrupção.

No Brasil, o Código Penal traz a previsão de sanções pecuniárias e de reclusão para


a prática de corrupção ativa e passiva. Entretanto tal previsão não era suficiente e
buscou-se desenvolver uma legislação especial de combate à corrupção procurando
responsabilizar a pessoa jurídica envolvida em atos de corrupção. As atividades
legislativas tiveram início com o Projeto de Lei no 6.826/2010 resultando na Lei no
12.846/22013 que passou a vigorar em 28 janeiro de 2014.

14
Comparativo de Leis │ UNIDADE I

As principais inovações apresentadas pela Lei Anticorrupção foram:

a. aplicação transnacional, considerando que condena igualmente o


brasileiro que pratica ato de corrupção no exterior;

b. fixação de responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas pela prática de


atos de corrupção por seus funcionários, assim como no caso de sucessão
empresarial;

c. possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, isto é,


responsabilização direta de sócios e administradores;

d. instituição da figura do chamado acordo de leniência;

e. aplicação de sanções que consideram, dentre outros aspectos, a


implementação de programas de compliance;

f. aplicação de multas altas; e

g. criação de um Cadastro Nacional das Empresas Punidas.

Lei no 12.846, de 1 de agosto de 2013 (Lei Anticorrupção)

Aplicabilidade ─ Aplica-se a todo o tipo de empresa, representação, fundação ou


associação.

Alcance ─ Define ato de “corrupção” forma bastante abrangente, englobando atos que
atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra os princípios
da administração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo
Brasil, incluindo atos de corrupção, fraudes em licitação e obstrução de investigações.

Responsabilidade ─ Responsabilidade objetiva (independe de dolo ou culpa) diante


da constatação de dano ao patrimônio público em benefício da organização, não
exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores. Processos
administrativos e criminais são independentes.

Sanções

Administrativas ─ Multas de 0,1% à 20% (zero vírgula um à 20 por cento) do faturamento


bruto do ano do ano fiscal anterior à instauração do processo. Ou de R$ 6.000,00 à R$
60.000.000,00 (seis mil a sessenta milhões de reais) na impossibilidade de uso do
critério do faturamento bruto; e Publicação da decisão condenatória.

15
UNIDADE I │ Comparativo de Leis

»» Judiciais ─ Vedação do recebimento de incentivos e financiamento


público de 1 à 5 (um à cinco) anos; Penhora e confisco de bens e ativos;
Suspensão parcial ou interdição de atividades; e Dissolução compulsória
da empresa.

Programas de Integridade (Compliance) – Previsão da cooperação para redução da pena; Incentivo a

implementação de mecanismos e procedimentos internos de integridade.

FCPA – Foreign Corrupt Practices Act.

Seção Principais aspectos


Proíbe dar ou oferecer qualquer tipo de benefício de valor a um “funcionário público
estrangeiro” com a intenção de obter ou reter negócios relacionados a uma transação
Anticorrupção comercial.
Para violar a FCPA não é necessário que o valor troque de mãos. Uma oferta, um
esquema ou promessa de pagamento pode constituir uma violação.
FCPA – O objetivo é evitar que as empresas encubram subornos e desencorajar práticas
Foreign fraudulentas. O FCPA exige que as companhias executem as seguintes atividades:
Corrupt »» mantenham os livros e os registros de forma que reflitam com exatidão todas as
Practices Act transações;
Controles Contábeis Internos e »» mantenham um sistema de controles contábeis internos.
Manutenção de Registros
O FCPA considera crime uma falha na manutenção de um sistema de controles
internos ou a falsificação dos livros e registros. Estes requerimentos podem ser
extensivos a qualquer pessoa que atue em nome da Companhia, na medida em que
sua ação possa ocasionar que os livros e registros de uma subsidiária não sejam
exatos
Fonte disponível em: <https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/20149310917409.pdf>.

UK Bribery Act.

VIOLAÇÕES

Suborno de outra pessoa Ser Subornado Suborno de Funcionários Públicos Falhar nos procedimentos de Combate a
Estrangeiros Corrupção
Fonte disponível em: <https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/20149310917409.pdf>

Comparativo das Legislações

Lei FCPA UK Bribery Act Lei Anticorrupção


Corrupção de Funcionários Públicos Sim Sim Sim
Estrangeiros
Corrupção de Funcionários Públicos Nacionais Não Sim Sim
Alcance Extraterritorial Sim Sim Sim
Dispositivos contábeis e Controles Internos Sim Não Não
Não Não Sim
Inclui outros atos lesivos contra
Outros Atos Lesivos a administração pública (e.g.
fraude em licitações, frustrar
competitividade em licitação.

16
Comparativo de Leis │ UNIDADE I

Lei FCPA UK Bribery Act Lei Anticorrupção


Exceção para Pagamento de Facilitação Sim Não Não
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica Sim Sim Não
Não Sim Sim
Responsabilidade Objetiva Por “faliture to prevent
bribery”.
Violação Ilimitada. Multa de até 20% do
anticorrupção: multa faturamento bruto da pessoa
de até U$ 2 milhões jurídica ou até R$ 60 milhões (se
por violação. não for possível aplicar o critério
de faturamento bruto).
Violações aos
Multas dispositivos contáveis:
multa de até U$ 25
milhões por violação.
Duas vezes o
benefício obtido ou
almejado.
Declaração de Declaração de Publicação extraordinária da
Outras “Sanções” inidoneidade, inidoneidade decisão condenatória, suspensão
monitores etc. ou interdição das atividades etc.
Sim Sim Sim

Crédito pela Existência de Programas de (U. S. Sentencing (pode ser defesa (montante do crédito não
Compliance Guidelines). absoluta para o crie determinado).
de “faiture to prevent
bribery”).
Sim Sim, mas limitado. Sim

Crédito por reporte Voluntário e Cooperação (redução de até 2/3 do valor


da multa e exclusão das demais
sanções).
Fonte disponível em: <https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/20149310917409.pdf>

Índice de Percepção da Corrupção 2016: Círculo Vicioso de Corrupção e Desigualdade


deve ser Rompido1

Desde 1995, a Organização Não Governamental Transparência Internacional produz e


publica um relatório anual com o Índice de Percepção de Corrupção (IPC) que classifica
os países conforme a medida que a corrupção é percebida no meio público e político.

Em janeiro de 2017, foram divulgados os resultados de 2016 refletindo que a corrupção


sistêmica e a desigualdade social intensificam-se mutuamente, causando o descrédito
da população nas instituições políticas e proporcionando um ambiente propício o
crescimento do populismo.

Dos 176 (cento e setenta e seis) países avaliados 79 (setenta e nove) atingiram menos
de 50 (cinquenta) pontos em uma graduação que vai de 0 (zero), correspondendo a
uma percepção de intensamente corrupto a 100 (cem) representando a percepção
de altamente íntegro, mostrando como a corrupção é massiva e propagada no setor
1 Índice de Percepção da Corrupção 2016: Círculo Vicioso de Corrupção e Desigualdade deve ser Rompido - Disponível em:
<http://www.transparency.org/news/pressrelease/indice_de_percepcaeo_da_corrupcaeo_2016_circulo_vicioso_de_
corrupcaeo> Acesso em: 22 fev. 2017.

17
UNIDADE I │ Comparativo de Leis

público mundialmente global. Segundo a Transparência Internacional, houve mais


países que caíram do os que subiram no índice, comprovando a necessidade de reação
imediata.

Falta de oportunidades igualitárias

A corrupção e a desigualdade social alimentam-se mutuamente, causando um círculo


vicioso onde a corrupção gera a desigualdade social em virtude da falta de investimentos
públicos adequados e a desigualdade social proporciona a corrupção à medida que
aliena a população.

Segundo José Ugaz, presidente da Transparência Internacional2.

Em muitos países, as pessoas são privadas de suas necessidades mais


básicas e vão dormir com fome todas as noites por causa da corrupção,
enquanto os poderosos e corruptos aproveitam estilos de vida luxuosos
de forma impune.

Nós não podemos nos dar ao luxo de perder tempo. A corrupção precisa
ser combatida com urgência para que a vida das pessoas melhore, em
todo o mundo.

No Brasil, casos de corrupção como os da Petrobras e da Odebrecht demostram como


a mancomunação entre empresas (setor privado) e políticos (setor público) desfalcam
das economias quantias exorbitantes beneficiando poucos em detrimento de muitos.
Essa corrupção sistêmica e em grande escala infringe até mesmo os direitos humanos,
obstando o desenvolvimento sustentável e alimentando a exclusão social.

Entretanto, em 2016 demonstrou-se que por meio do trabalho independente de agentes


da lei é plausível a punição daqueles que anteriormente eram tidos como intocáveis.

Populismo

A população está cansada de da falta de comprometimento no combate à corrupção, e


muitas vezes acabam deixando se levar por políticos populistas que prometem modificar
o sistema e quebrar o ciclo da corrupção e do privilégio. Entretanto, eles podem somente
agravar a situação, para Ugaz3:

Em países com líderes populistas ou autocráticos, nós geralmente


vemos democracias em declínio e um padrão perturbador de tentativas

2 Op. Cit.
3 Op. Cit.

18
Comparativo de Leis │ UNIDADE I

de repressão da sociedade civil, limitação da liberdade de imprensa


e da independência do judiciário. Em vez de combater o capitalismo
clientelista, esses líderes geralmente instalam sistemas corruptos ainda
piores. Somente quando há liberdade de expressão, transparência
em todos os processos políticos e instituições democráticas fortes, a
sociedade civil e a mídia podem responsabilizar aqueles que estão no
poder e combater a corrupção com sucesso.

Reação

Legislações anticorrupção por si só não são suficientes para resolver o problema. São
necessárias reformas sistêmicas profundas, que possam corrigir a crescente instabilidade
entre poder e riqueza por meio da emancipação social para pôr fim na impunidade,
possibilitando a responsabilização de poderosos e assegurando que a população seja
ouvida.

Tais reformas devem compreender a divulgação, mediante de registros públicos, de


quem são os reais proprietários de empresas, e punições aos profissionais que atuam
como cúmplices que possibilitam a movimentação do dinheiro ilícito através das
fronteiras.

Resultados Índice de Percepção da Corrupção 2016

Ranque 2016 País Pontuação Pontuação Pontuação Continente


2016 2015 2014
1 Dinamarca 90 91 92 Europa
1 Nova Zelândia 90 88 91 Oceania
3 Finlândia 89 90 89 Europa
79 Brasil 40 38 43 América do Sul
174 Coreia do Norte 12 8 8 Ásia
175 Sudão 11 15 15 África
176 Somália 10 8 8 África
Fonte: Elaborado por Lúcia Ferreira Lopes com base nos dados dos resultados do Índice completo 4

4 Disponível em: <http://www.transparency.org/news/feature/corruption_perceptions_index_2016#table>. Acesso em:


22/2/2017.

19
FCPA Foreign
Corrupt Unidade iI
Practices Act

Capítulo 1
FCPA Foreign Corrupt Practices Act

Foi a partir da década de 1990, com a pressão da comunidade internacional, que países
desenvolvidos e em desenvolvimento começaram processos legislativos com o fim de
introduzir medidas para normatizar o mercado e reprimir a corrupção. Antes desse
período somente os EUA tinham normas nesse sentido, o Foreign Corrupt Practices
Act (FCPA), ato aprovado em 19 de dezembro de 1977, pelo Congresso norte-americano,
com intuito de acabar com a prática e de pagamento de propina funcionários públicos
estrangeiros e de recuperar a confiança do público na integridade das empresas.

Essa Lei Federal foi alterada em 1988, introduzindo, entre outras medidas, a exceção
aos pagamentos de facilitação e pagamentos efetuados por terceiros, e, no ano de 1998,
pela Lei Antissuborno Internacional, para adaptar a norma à Convenção Antissuborno
da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ressalte-se que os EUA inspiraram a legislação mundial no que se refere ao combate à


corrupção, outras duas normas norte-americanas importantes, nesse sentido são: a Lei
Sarbanes-Oxley, de 30 de julho de 2002, que visa prevenir fraudes nas demonstrações
financeiras, e a Lei Dood-Frank de Reforma de Wall Street, de 21 de julho de 2010,
que prevê incentivos financeiros aos delatores de violações ao infração, o país possui,
igualmente, uma doutrina consolidada e ampla jurisprudência sobre a matéria.

O FCPA foi criado com o intuito de responder às censuras da opinião pública à


forma como as empresas americanas geriam seus negócios (e ao sistema capitalista),
mais notadamente por conta do escândalo dos subornos pagos (US$22 milhões) a
funcionários públicos estrangeiros e organizações políticas pela Lockheed Corporation,
empresa do ramo de desenvolvimento e produção de aeronaves.

Até então, o pagamento de subornos não era tido como ilícito, sendo, até mesmo,
uma prática comum nos EUA e no mundo. Em alguns países existia, até mesmo, a

20
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

possibilidade de deduzir, do imposto de renda devido, no entanto, foi comum a


confissão de tais pagamentos à U.S. Securities and Exchange Commission (SEC), que
exigia que a empresa declarasse que não incorreria novamente em tal prática. Além
da Lockheed Corporation, a Gulf Oil, United Brands, Northrop, Ashand Oil, Exxon e
outras empresas foram envolvidas em escândalos.

O que diferencia os casos citados foi que Lockheed Corporation se recusou a informar
os beneficiários e a cessar o pagamento de subornos. Além disso, a empresa declarou
que a prática era normal, necessária e condizente as práticas de diversas empresas
estrangeiras. Isto é, apontou a proibição com prejudicial aos negócios e competitividade
das empresas americanas uma vez que embaraçava a concorrência (considerando que
outras empresas pagavam subornos). Note-se que tal julgamento foi comum nessa
época Outra crítica foi no sentido de que a corrupção teria efeito positivo na economia,
já que reduzia a burocracia em países densamente regulados. Os efeitos da corrupção
sobre a economia continuam sendo debatidos até hoje.

O que ocorre é que o Congresso não possuía meios para punir a Lockheed Corporation,
já que, o pagamento de suborno não era proibido. Haviam leis, aplicadas indiretamente,
relacionadas às matérias tributária e societária, entretanto, não existia norma que
pudesse ser aplicada diretamente ao caso. Dessa forma, o Congresso entendeu necessário
preencher este vácuo legislativo.

Em linhas gerais, o FCPA, que é parte do Securities Act de 1934, proíbe que empresas
americanas ou aquelas que emitem ações nos EUA efetuem pagamento ilícito de qualquer
quantia em dinheiro ou coisa de valor a funcionários públicos estrangeiros, seja para
conseguir novos negócios, quanto para manter contratos já existentes. A norma exige,
ainda, que as empresas mantenham seus livros e registros contábeis precisos, e tenha
sistema de controle interno para assegurar que as transações se concretizem apenas
mediante autorização do management. Tal regra, é importante na medida em que se
aplica não somente as empresas, como aos administradores, diretores, funcionários,
terceiros e agentes (consultores, distribuidores, representantes, entre outros)5.

5 As disposições antissuborno da FCPA aplicam-se às pessoas físicas e jurídicas: (1) “emissores”(Empresas estadunidenses
e estrangeiras listadas na Comissão de Valores dos Estados Unidos e seus funcionários); (2) “preocupações domésticas”
(entidades empresariais constituídas sob as leis dos Estados Unidos ou com o seu principal local de negócios nos Estados
Unidos, bem como qualquer pessoa “que é um cidadão, nacional ou residente dos Estados Unidos”); e (3) “Pessoas que não
sejam emissores ou preocupações domésticas pessoas” cuja conduta proibida ocorre “enquanto (eles estão) no território
dos Estados Unidos.” De um modo geral, portanto, o comportamento de uma filial estrangeira de uma empresa dos Estados
Unidos não está abrangido pelas disposições antissuborno da FCPA, a menos que a subsidiária esteja listada em comissão
de valores dos Estados Unidos ou atue dentro dos Estados Unidos para promover uma transação proibida. No entanto, a
matriz norte-americana poderia estar sujeita à FCPA se “conscientemente” contribuiu para o pagamento indevido feito pela
subsidiária estrangeira.” Bode & Fierberg, L.L.P., The Foreign Corrupt Practices Act. - Disponível em <http://www.bode.com/
CommercialLitigation/TheForeignCorruptPracticesAct.html>. Acesso em: 23 fev. 2017. Tradução livre.
“The FCPA anti-bribery provisions apply to the following legal and natural persons: (1) “issuers” (United States and foreign
companies listed on United States securities exchanges and their employees); (2) “domestic concerns” (business entities
organized under United States laws or with their principal place of business in the United States, as well as any individual
“who is a citizen, national or resident of the United States”); and (3) “persons other than issuers or domestic concerns” whose
prohibited conduct occurs “while [they are] in the territory of the United States.” As a general matter, therefore, the conduct of
a foreign subsidiary of a United States company is not covered by the anti-bribery provisions of the FCPA unless that subsidiary
is listed on a securities exchange in the United States or acts within the United States to further a prohibited transaction.
However, the U.S. parent could be subject to FCPA liability if it “knowingly” contributed to the improper payment made by the
foreign subsidiary.”

21
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

De modo geral essas são as duas principais previsões do FCPA: (a) as anti-bribery
provisions (dispositivos contra suborno), e (b) the books and records and internal
control provisions (disposições relativas aos livros, registros e controles internos).

Destaque-se que os responsáveis pela aplicação do FCPA são a Comissão de Valores


Mobiliários norte-americana, a Securities Exchange Commission (SEC), e o
Departamento de Justiça (Department of Jutice (DOJ)), sendo que este último possui
competência criminal para averiguar e denunciar as violações as previsões criminais do
FCPA (criminal law enforcement), e, o DOJ, competência civil (civil law enforcement).
Em regra atuam em conjunto, proferindo suas decisões no mesmo momento.

Vale dizer ainda que o FCPA não se aplica ao pagamento de suborno a agentes privados
com o intuito de corromper, mas somente a funcionários públicos estrangeiros.
Aplica-se indiretamente o FCPA a agentes privados em certas situações, como, por
exemplo, nas tentativas de ocultação de ilícitos. O FCPA se aplica, igualmente, a caso
de pagamento de suborno diretamente a governo estrangeiro, ao invés de ser efetuado
aos funcionários destes governos.

No que se refere às penalidades, o DOJ impõe sanções cíveis e criminais e a SEC sanções
cíveis e administrativas. As penalidades cíveis representam multas e outros tipos de
sanções governamentais, assim como a suspensão do mercado de valores mobiliários.
As penalidades criminais variam entre multas de até US$2 (dois) milhões para cada
ato ilícito para as pessoas jurídicas, e, para as pessoas físicas, multas de até US$100
(cem) mil e prisão de até 5 (cinco) anos, multas que podem ser aumentadas, conforme
o Alternative Fines Act, em até duas vezes o benefício alcançado pela empresa.

Os chamados US Sentencing Guidelines são usados para determinar o valor das


multas e consideram aspectos como o número de funcionários da empresa, histórico
de violações, presença de executivos seniores, colaboração, prestação de informações
voluntárias, declaração de responsabilidade e existência de programas de Compliance.
Os Guidelines são usados, ainda, para aplicação de penalidade às pessoas físicas, levando
em consideração a quantidade e frequência dos pagamentos, nível de envolvimento e
reincidência.

A crítica referente ao FCPA no sentido de que a proibição de suborno prejudicava


os negócios fez com que outros países não adotassem normas equivalentes. De
fato, organizações de países como Austrália, Áustria, Bélgica, França, Alemanha,
Luxemburgo, Holanda, Portugal, Nova Zelândia e Suíça tiveram vantagens competitivas
em relação às empresas norte-americanas, já que podiam subornar funcionários
públicos estrangeiros, e, como dito, por vezes deduzir o valor pago do imposto devido,
o que levou empresas norte-americanas a perder negócios em consequência do FCPA.

22
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

Existem críticas ao FCPA, seja no que diz respeito a ausência de transparência nas
decisões, mas, sobretudo, em razão da possibilidade de acordo de evadir-se da
aplicação das penas, o que acontece com frequência. Há quem afirme que a justiça
norte-americana trata de forma diversa os cidadãos e as empresas comuns e as grandes
corporações e seus executivos, beneficiando estes últimos em detrimento dos demais
através de negociações, acordos e penas diminuídas.

Os EUA procuraram, ao longo do tempo, pressionar os outros países a adotarem normas


Análogas ao FCPA, entretanto, sem sucesso; a corrupção ainda era vista como benéfica
do ponto de vista econômico. Essa situação só começou a se alterar com estudos que
apontaram que os malefícios da corrupção eram maiores do que benefícios ao comércio
internacional, já que desgastavam a credibilidade das instituições democráticas e o
estado de bem estar social.

Por influência dos Estados Unidos, a partir dos anos 1990, foram adotadas Convenções
Internacionais de combate à corrupção. A primeira delas foi a Convenção Interamericana
contra a Corrupção, em 29 de março de 1996 (Convenção da OEA)6. Seguida pela
Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em
Transações Comerciais Internacionais, em maio de19977. E pela Convenção das Nações
Unidas Contra a Corrupção de 31 de outubro de 20038.

Das três Convenções podemos dizer que a mais relevante é a Convenção da OCDE já que
é a pioneira na cooperação internacional entre países com representatividade mundial
para prevenção e combate á corrupção de funcionários públicos estrangeiros. Todos os
países signatários da Convenção da OCDE se comprometeram a adaptar suas legislações
para criminalizar o oferecimento de qualquer vantagem indevida a funcionário público
estrangeiro.

Com o advento dessa Convenção vários países adotaram leis nesse sentido, com destaque
para a britânica UK Bribery Act de 2010, que tipifica, ainda, a corrupção de agentes
privados. Atos como o pagamento a título de facilitação de negócios (os chamados
grease payments), que não são reprimidos pelo FCPA, são proibidos pelo Bribery Act.

Além do objetivo de prevenir e combater a corrupção, outro intuito da Convenção da


Convenção da OCDE9 é o de estabelecer a responsabilização civil e administrativa das

6 Decreto no 4.410, de 7 de outubro de 2002. Promulga a Convenção Interamericana contra a Corrupção.


7 Decreto no 3.678, de 30 de novembro de 2000. Promulga a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos
Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais.
8 Decreto no 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas.
9 De acordo com a Controladoria Geral da União (CGU), os principais objetivos da Convenção da OCDE são:“- Estimular a
adoção pelos Estados-Parte de mecanismos para prevenir e reprimir a corrupção de funcionários públicos estrangeiros na
esfera das transações comerciais internacionais; - Estabelecer a responsabilização das pessoas jurídicas que pratiquem atos de
corrupção em transações comerciais internacionais; - Impor sanções penais, cíveis e administrativas a pessoas condenadas por
corrupção de funcionários públicos estrangeiros; - Estabelecer a prestação da assistência jurídica recíproca de forma efetiva
e rápida entre os Estados-Parte;- Combater a concorrência desleal gerada pela corrupção.” BRASIL, Controladoria Geral da
União, A Convenção. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-internacional/convencao-da-ocde/a-
convencao>. Acesso em: 23 fev.2017.

23
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

pessoas jurídicas pelos atos de corrupção, assim como a responsabilização penal, caso
seja compatível com a legislação do país.

Principais características

O Foreign Corrupt Practices Act está dividido em duas seções:

Seção Anticorrupção: versa sobre os subornos feitos a funcionários públicos


estrangeiros. Conforme disposição do FCPA, é crime dar ou prometer quaisquer
pagamentos ou ofertas a funcionários públicos estrangeiros com o objetivo de:

»» impelir o agente a praticar ou deixar de praticar qualquer ato contrário a


seus deveres legais ou oficiais;

»» conseguir ou conservar negócios;

»» encaminhar negócios a qualquer pessoa física ou jurídica;

»» obter qualquer tipo de vantagem indevida.

A conduta ilícita vai além do que comumente associamos a ideia de pagamento, vejamos
alguns exemplos:

»» conceder acesso à empresa ou a um funcionário desta quando tal não é


permitido livre de ônus;

»» pagamento a funcionários públicos para obtenção de licenças de


construção ou similares;

»» pagamento a agentes governamentais para alteração de legislação


em vigor ou visando a aceleração de restituições fiscais, ainda que tais
restituições sejam devidas.

Seção de Controles contábeis

Previsões Contábeis do FCPA

Além de previsões anticorrupção, o FCPA inclui previsões contábeis que se aplicam a


todas as empresas com ações cotadas nas bolsas dos EUA (portanto, sujeitas ao SEC10).
Essas disposições independem das que se referem à corrupção e tem o intuito de
10 A Securities and Exchange Commission – SEC (equivalente a CVM - Comissão de Valores Mobiliários), é uma agência federal
dos EUA que tem a responsabilidade primária pela aplicação das leis de títulos federais e a regulação do setor de valores
mobiliários, as ações do país e opções de câmbio, e outros mercados de valores eletrônicos.

24
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

impossibilitar o mascaramento contábil do pagamento de subornos ou outras quantias


indevidas.

A infração das previsões contábeis do FCPA sujeita a o infrator a punições substanciais,


tanto penais quanto cíveis.

Um dos principais objetivos dessas previsões é impedir, ao máximo, a ocultação de


subornos ou outras transações de natureza duvidosa nos relatórios contábeis da
empresa.

O Foreign Corrupt Practices Act exige que as empresas com ações cotadas nas bolsas
norte americanas:

»» Mantenham os livros contábeis, registos e contas que reflitam


rigorosamente suas transações e disposições de ativos. Mantenham
controles contábeis que garantam:

›› que todas as transações estejam conforme o exigido pela direção da


empresa;

›› o registo adequado de todas as transações da empresa;

›› que todo o acesso aos ativos da empresa seja feito de acordo com
conforme exigido pela direção da empresa.

Aspectos gerais

Como vimos o FCPA é uma Lei norte-americana que aplica-se a atos praticados por
empresas fora de seu território. Vimos também que essa Lei tem basicamente duas
seções:

»» disposições anticorrupção: vetam o pagamento de propinas a funcionários


públicos estrangeiros com o objetivo conseguir ou conservar negócios, ou
para auferir uma vantagem comercial;

»» disposições contábeis: exigem que as empresas mantenham livros e


registros precisos e instituam um sistema de controles internos para
resguardar a integridade dos registros da empresa e para evitar atividades
ilegais.

25
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

Quem está sujeito ao FCPA?

»» Issuers (emissores): empresas de capital aberto (americanas ou


estrangeiras) registradas junto à SEC (empresas listadas na NASDAQ
e NYSE – bolsas de valores americanas) ou que sejam obrigadas a
apresentar relatórios periódicos.

»» Domestic concerns (preocupações domésticas): pessoa nascida ou


residente nos EUA; e qualquer sociedade (personificada ou não) que
tenha como principal local de negócios os Estados Unidos ou organizada
de acordo com as leis norte-americanas.

»» Foreign nationals and entities ─ “other persons” (estrangeiros e


entidades – outras pessoas): qualquer pessoa, física ou jurídica, que
cometa, durante estadia nos EUA, ato em favor da violação (reunião e
compensação bancária).

Características

Quem ─ Funcionários, agentes, terceiros sob instrução.

Intenção de corromper ─ A oferta corresponde a violação, não é necessário o resultado.

Pagamento ─ Proíbe pagar, autorizar, oferecer, dinheiro ou “meios” similares.

Destinatário ─ Funcionário público estrangeiro, partido ou candidato, ou parente.

Objetivo comercial ─ Obter, manter ou direcionar negócio.

Novas diretrizes

»» DOJ/SEC Guidelines (A Resource Guide to the U.S. Foreign Corrupt


Practices Act).

»» OECD Guidelines (OECD Guidelines for Multinational Enterprises,


OECD Anti-Bribery Recommendation and the Good Practice Guidance).

»» Transparency International Guidelines (Raising the Bar: Good anti-


corruption Practices in defence companies. Part I – Seven Practices that
Distinguish the Best / Part II – 104 Examples of Good Practice).

»» UK Ministry of Justice (Bribery Act 2010 Guidance).

26
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

Due diligence11 de terceiros

»» Pagamentos indevidos realizados por subsidiárias a terceiros ─ descontos


a distribuidores, revertidos em propina.

»» Empresas não devem esquivar-se de ver situações de corrupção ou mesmo


de potencial corrupção.

»» Evitar situações de risco nas due diligences.

»» Importância da due diligence de terceiros, assim como da colaboração


com autoridades.

»» Consultor de Compliance Independente.

Programa de compliance

»» Benefícios de um Programa de Compliance efetivo.

»» As autoridades americanas destacaram que:

›› entre 2002 e 2008, as Instituições Financeiras empregaram mais de


500 (quinhentos) “compliance officers”;

›› importância de uma linha direta entre o Departamento de Compliance


e o Conselho de Administração;

›› importância de especialistas anticorrupção encarregados de elaborar e


atualizar políticas e procedimentos;

›› relevância do Compliance Hotline (canal de denúncias);

›› importância de Código de Conduta identificando especificamente os


casos de violação ao FCPA;

›› relevância de treinamentos regulares a todos os funcionários;

›› importância da certificação dos funcionários.

Jurisdição alternativa

»» Uso do FCPA’s alternative jurisdiction (jurisdição alternativa) para


investigar empresas norte-americanas.
11 Processo de investigação de uma oportunidade de negócio onde o investidor pode avaliar os riscos da transação. Tal investigação
pode ser feita por obrigação legal, mas normalmente se refere a investigações voluntárias.

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UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

»» Sem relação de territorialidade com os EUA.

»» Nenhuma conduta corrupta aconteceu no país (nem mesmo troca de


e-mails, reuniões, entre outros).

»» Incidência do FCPA ainda que toda a conduta aconteça fora dos EUA.

Consequências e importância da Due Diligence

»» Sucessor pode ser responsabilizado criminalmente e administrativamente.

»» Importância de due diligence antes da aquisição, remediação depois


da aquisição, denúncia voluntária e colaboração com o governo em
investigações. Comprador deve interromper qualquer tipo de prática
ilícita.

»» Deve-se atentar igualmente para os casos de joint ventures (união de duas


ou mais organizações já existentes com o intuito de dar início ou efetuar
uma atividade econômica comum, por um determinado lapso temporal
objetivando, principalmente, o lucro).

»» Período de graça (180 ─ cento e oitenta ─ dias após o fechamento da


operação).

»» A empresa e o grupo investidor devem concordar realizar o chamado


“FCPA Compliance Review” (revisar o programa de compliance).

Consequências no Brasil

»» Crime de Corrupção (arts. 317 e 333 do CP);

Corrupção passiva

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Facilitação de contrabando ou descaminho

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de


contrabando ou descaminho (art. 334):

28
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

Prevaricação

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,


ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal:

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de


cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com
o ambiente externo:

Condescendência criminosa

Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar


subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando
lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:

Advocacia administrativa

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante


a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Violência arbitrária

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de


exercê-la:

Abandono de função

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as


exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso:

Violação de sigilo funcional

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:

29
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

Violação do sigilo de proposta de concorrência

Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou


proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:

Funcionário público

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,


quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.

CAPÍTULO II - DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Usurpação de função pública

Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:

Resistência

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou


ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja
prestando auxílio:

Desobediência

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:

Desacato

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em


razão dela:

Tráfico de Influência

Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem,


vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público no exercício da função:

Corrupção ativa

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário


público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

»» Conceito de Funcionário Público (art. 327 e 337 D CP);

Funcionário público

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,


quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.

30
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

§ 1o - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego


ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.

Funcionário público estrangeiro

Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os


efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em
representações diplomáticas de país estrangeiro.

Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro


quem exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas,
diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro
ou em organizações públicas internacionais.

»» Transações Comerciais Internacionais (arts. 337- B e C do CP);

Corrupção ativa em transação comercial internacional

Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente,


vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira
pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício
relacionado à transação comercial internacional

Tráfico de influência em transação comercial internacional

Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem,


direta ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a
pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro
no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial
internacional:

»» Responsabilidade Criminal.

No que se refere a questões de integridade, além da responsabilização administrativa


por eventuais desvios de conduta os agentes que praticaram a conduta estão sujeitos a
responsabilização na seara criminal.

Daí a relevância de, na implementação do programa de compliance, em um primeiro


momento proceder um levantamento de todas as condutas praticadas pela empresa na
esfera trabalhista, ambiental, tributária, financeira, entre outras. E, posteriormente,
diante do resultado dessa apuração é necessária a identificação de condutas críticas,

31
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

que possam ocasionar o início de uma investigação ou até mesmo de uma ação penal,
procedendo-se, em seguida, a adequação das condutas à legislação aplicável ou cessando
a mesma.

O chamado criminal compliance é geralmente aplicado depois da ocorrência de um fato


típico, isto é, de forma contenciosa, mas vem ganhando nova perspectiva, a preventiva,
mostrando-se forte instrumento para que as organizações atuem em conformidade
com as diversas normas penais vigentes (ilícitos financeiros, tributários, econômicos,
ambientais, trabalhistas, consumeristas, entre outras), assim como para demarcar a
responsabilidade penal de seus colaboradores, impedindo que atos de desvio das normas
de conduta ou ainda criminosos sejam ligados à empresa ou atribuídos erroneamente a
certos indivíduos pelo fato de ocuparem cargos de administração.

Últimas Tendências

»» Enforcement12. A investigação de executivos será uma prioridade.

»» Empresas norte-americanas e estrangeiras prosseguirão sendo investigadas


da mesma forma.

»» Crescimento das investigações multijurisdicionais.

»» Agilidade na Cooperação Internacional.

»» Mais recursos para o DOJ, FBI e SEC.

»» Investigações por setor/indústria.

»» Disclosures voluntários / Whistleblowers (denúncias).

»» Obrigatoriedade de FCPA due diligence.

»» Investigações no Brasil – reflexos do FCPA.

»» Combate a crimes conexos.

Comparação entre a Lei no 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) e o FCPA


Foreign Corrupt Practices Act

Como já dissemos, o FCPA é uma Lei norte-americana promulgada em 1977, depois de


uma série de escândalos a respeito de pagamentos de propinas tanto dentro quanto fora

12 Chama-se de enforcement todos os procedimentos existentes em um país que assegurem a adequada aplicação das normas e
princípios contábeis, entende que compreende-se ainda na definição a averiguação da informação financeira do cumprimento
das normas vigentes e na adoção de medidas apropriadas quando detectadas infrações a essas normas. Uma característica
implícita nesta definição é a possibilidade de exigir a alteração das demonstrações financeiras que não cumprem as normas.

32
FCPA Foreign Corrupt Practices Act │ UNIDADE II

do país, abrangendo aproximadamente 400 (quatrocentas) empresas. Relevante dizer


que uma falha dessa norma é a de não englobar os atos de corrupção que envolvem
agentes públicos norte-americanos.

Essencialmente, o Foreign Corrupt Practices Act veta a oferta e a efetivação de pagamentos


indevidos a funcionário público estrangeiro (foreign oficial), visando negócio ou a
manutenção de vínculo já existente, ainda que não envolva o governo estrangeiro ou suas
entidades. O fato de o agente ser capaz de sugestionar o governo estrangeiro a praticar,
ou deixar de praticar determinado ato enseja a aplicação do FCPA.

A amplitude do conceito de foreign oficial, inclui não somente o que no Brasil


chamaríamos de agentes públicos, mas, igualmente, qualquer pessoa que possa atuar
em benefício de órgãos públicos ou organismos internacionais, como o Banco Mundial
e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Abrange funcionários de organizações
do terceiro setor e de empresas estatais.

O Departamento de Justiça norte-americano (DOJ) e a Securities and Exchange


Commision (SEC) são os órgãos incumbidos da aplicação do FCPA, cabendo a eles a
interpretação da norma.

A primeira diferença em relação a nossa Lei Anticorrupção encontra-se no fato de que


aqui não há distinção entre funcionários públicos estrangeiros ou brasileiros como
destinatários do suborno. Nos EUA os funcionários públicos norte-americanos são
tratados de forma separada, através de regras de corrupção interna.

O FCPA proíbe o pagamento, oferta ou promessa de quantia em dinheiro, presente ou


alguma coisa de valor sendo necessária a comprovação do chamado evil motive (intenção
de influenciar de maneira inadmissível o destinatário da vantagem indevida) com o fim
obter ou manter negócios, também nos casos de corrupção interna. É necessário que
se comprove a consciência do ato ilícito, ainda que não necessariamente o responsável
pelo pagamento ou oferta saiba que o destinatário final seria o funcionário público
estrangeiro. A responsabilidade das empresas perdura se a mesma autorizar, ainda
que implicitamente, ou tiver conhecimento de atos de terceiros, como advogados ou
consultores.

Por sua vez a Lei Anticorrupção estabelece responsabilidade objetiva, não importando
se a organização tinha ou não conhecimento, se havia autorizado ou solicitado à prática
dos atos ilícitos perpetrados por seus colaboradores. Dessa forma, torna-se mais fácil
a responsabilização das empresas, já que não é exigida a comprovação da intenção de
corromper.

33
UNIDADE II │ FCPA Foreign Corrupt Practices Act

Em solo norte-americano considera-se excessiva a responsabilização da empresa sem


a necessidade da comprovação de sua ciência do ato, entretanto, devemos considerar
que métodos de compliance servem justamente para corrigir atitudes impensadas de
funcionários ou terceiros que possa prejudicar a organização.

Outro ponto que chama a atenção por lá é o fato de que a existência de um Programa de
Compliance efetivo, a colaboração por parte das empresas, e a inexistência de histórico,
somente servirão como referências para a aplicação de eventuais penas.

O FCPA admite certos tipos de pagamentos e dois tipos de “imunidades”, o que não
se verifica na norma brasileira. Lá é justificável o pagamento do chamado, facilitating
payments (pagamento de facilitação – tradução livre), vistas dessa forma despesas
destinadas ao baixo escalão do governo (e equivalentes) para amparar ações rotineiras,
denominadas de routine government actions, tais como licenças, e vistos.

Sobre as “imunidades” o FCPA refere-se duas affirmative defenses, não é condenável


o pagamento de dinheiro ou equivalente quando permitido pela legislação do país
estrangeiro, entretanto alguns entendem que ainda que tolerado pela legislação
estrangeira, se existir a intenção de corromper poderá incidir o FCPA, para eles a
transparência do pagamento é um dos fatores a ser considerado pelo DOJ e a SEC.

A segunda “imunidade” se refere ao que no FCPA se denomina reasonable and


bona fide expenditures (despesas razoáveis e de boa-fé – tradução livre), que ocorre
quando a empresa paga despesas razoáveis e revestidas de boa-fé, assim como viagens
de funcionário público estrangeiro para promoção, demonstração ou explicação de
produtos e serviços, onde as penalidades estão afastadas, conforme a denominação
sugere, somente despesas razoáveis são admitidas, em 1999, o DOJ não aceitou o uso
da “imunidade” quando a empresa americana Metcalf e Eddy Inc. efetuou o pagamento
de viagens de primeira classe de agentes egípcios para os EUA com todas as outras
despesas da viagem incluídas, até mesmo valores em dinheiro. Tal instituto não
encontra análogo no direito brasileiro.

34
UKBA – UK Bribery Act Unidade iII

Capítulo 1
UKBA – UK Bribery Act

O UK Bribery Act (UKBA) é uma Lei britânica de abril de 2010, que entrou em
vigor em 2011, trata-se de uma norma que visa prevenir e combater à corrupção. É
encarada como uma das legislações mais rígidas do mundo na luta contra à corrupção
nas empresas, em diversos aspetos, os critérios adotados pelo UKBA vão além do
norte-americano FCPA. Possui vocação transnacional aplicando-se a pessoas jurídicas,
com sede (ou com representação societária) no Reino Unido (Inglaterra, País de Gales,
Escócia e Irlanda do Norte), mas, igualmente, também àquelas que tenham negócios
com pessoas jurídicas estabelecidas no Reino Unido.

Principais características
A principal inovação está na introdução do crime que diz respeito à falha das empresas na
prevenção da corrupção, a previsão ressalta os benefícios da prevenção em contraposição
a uma postura meramente repressiva, levando as empresas a implementar normas e
procedimentos internos anticorrupção.

Princípios gerais

Procedimentos Proporcionais: as empresas devem, adotar procedimentos proporcionais


aos riscos de corrupção levantados, considerando sua natureza, proporção e complexidade
da atividade prosseguida desempenhada. Tais procedimentos compreensíveis,
funcionais, acessíveis, efetivos, implementados e executados pela organização.

Compromisso do Alto Escalão: o alto escalão da empresa deve estar comprometido com
as medidas de combate à corrupção e adotar uma cultura de grupo segundo a qual
a corrupção seja encarada como algo inadmissível. Este compromisso deverá incluir
meios de comunicação e todos devem ser incluídos no processo.
35
UNIDADE III │ UKBA – UK Bribery Act

Avaliação de Risco: a empresa deve proceder a uma avaliação periódica, instruída e


documentada sobre a natureza e extensão de exposição em organização aos potenciais
de riscos, internos e externos, à corrupção. Os riscos externos mais comuns são divididos
em cinco grupos: risco do país, risco do setor, risco da transação, risco da oportunidade
do negócio e risco de parcerias de negócios.

Due Diligence: devem ser realizadas due diligences de terceiros com os quais a empresa
pretenda negociar que sejam proporcionais ao risco.

Comunicação (incluindo instrução): a empresa deve adotar medidas, internas e externas,


de comunicação e instrução, isto é, avaliação das informações obtidas, devendo ser,
igualmente proporcional aos riscos detectados.

Monitoramento e Avaliação: os procedimentos destinados a combater a corrupção


deverão ser monitorados e avaliados e os ajustes que eventualmente sejam necessários
deverão ser implementados.

O UK Bribery Act aborda diretamente a questão de subornos envolvendo servidores


públicos nacionais ou estrangeiros. Além disso inova ao tratar do tema de suborno
entre particulares e instituindo o crime, praticado apenas por pessoa jurídica, de falhar
na prevenção de subornos praticados por pessoas a ela ligadas, a norma ultrapassa
os limites do território britânico atingindo todos aqueles que têm negócios em sua
dependência.

Linhas gerais

O que? Ofertar, prometer, pagar, requerer, concordar em receber ou aceitar vantagem;


subornar oficial estrangeiro; e falhar na prevenção da corrupção.

Como? Dinheiro ou qualquer vantagem, seja ela financeira ou não.

Objetivo? Não é necessária a intenção de corromper .

Quem? Oficial público estrangeiro (non-U.K.) ou setor privado .

Meios? Direto ou indireto. O entendimento é bastante amplo. Fala-se em pessoas


associadas, o que torna o conceito mais abrangente do que somente funcionários,
terceiros, como um intermediário, agente ou subsidiária.

Finalidade? Manter ou obter vantagem na direção do negócio.

36
UKBA – UK Bribery Act │ UNIDADE III

Aplicabilidade e Competência Local e Extraterritorial

»» Empresas britânicas que façam negócios locais e no exterior.

»» Empresas estrangeiras com operações no Reino Unido.

»» Funcionários públicos britânicos e estrangeiros.

»» Engloba o setor público e o privado .

Penalidades

São previstas sanções cíveis e criminais, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas
jurídicas.

Empresas: multas ilimitadas.

Indivíduos: multa ilimitada e/ou até 10 (dez) anos de prisão.

Diretores: destituição do cargo e proibição de atuar como diretor por até 15 (quinze)
anos.

Contratantes Públicos: possibilidade de exclusão de contratos públicos.

Danos Reputacionais: mídia negativa, prejuízo a imagem, dissolução da pessoa jurídica.


Recomenda-se a chamada self-disclosure (auto delação ─ tradução livre) e a colaboração
como maneiras de evitar as punições mais pesadas.

UK Bribery Act e seus efeitos no Brasil

Em abril de 2010, o UK Bribery Act obteve o Royal Assent, isto é, ato conclusivo de
promulgação legislativa depois da fase parlamentar entretanto entrou em vigor no
ano seguinte, como dissemos essa Lei vai além das fronteiras britânicas, considerando
que um crime de corrupção cometido no exterior pode ser processado e julgado no
Reino Unido. Dessa forma, empresas britânicas com operações no Brasil, ou empresas
brasileiras que tenham relações comerciais no Reino Unido deverão harmonizar-se as
exigências da Lei que prevê os seguintes delitos:

»» corrupção ativa de sujeitos públicos ou privados (Seção 1);

»» corrupção passiva de sujeitos públicos ou privados (Seção 2);

»» corrupção de funcionários públicos estrangeiros (Seção 6);

»» falha da organização comercial na prevenção da corrupção (Seção 7).

37
UNIDADE III │ UKBA – UK Bribery Act

Sobretudo no que se refere a seção 7,ha responsabilidade penal da pessoa jurídica,


trata-se de uma strict liability: failure of commercial organizations to prevent bribery
(responsabilidade estrita: falha das organizações comerciais na prevenção do suborno
– tradução livre) onde a pessoa jurídica poderá ser responsabilizada criminalmente
pelas ações das associated persons, isto é, poderá ser responsabilizada por ato de
qualquer representante, agente, distribuidor, entre outros, que resolva dar, prometer
ou oferecer uma vantagem, financeira ou não, com o intuito de induzir um terceiro a
praticar um ato indevido, com o objetivo de conseguir ou manter transações comerciais
ou vantagens, que terão repercussões para a aludida empresa.

A única defesa possível para a pessoa jurídica, neste caso, é demonstrar que foram
adotados todos os procedimentos correspondentes (adequate procedures) para prevenir
atos de suborno. Nesse sentido, essa seção do UK Bribery Act prevê a publicação de
diretrizes (guidelines, não vinculantes) acerca dos procedimentos que poderão ser
adotados para prevenir atos de corrupção.

Principais Diferenças entre a UK Bribery Act e o FCPA Foreign Corrupt


Practices Act

A Lei de Suborno, no entanto, representa parte de uma tendência internacional mais


ampla e tem uma aplicação ainda mais ampla do que a FCPA. Embora as organizações
possam considerar que os seus procedimentos anticorrupção são suficientemente
sólidos para os fins da FCPA, pode não ser esse o caso no caso da Lei de Suborno.
Por conseguinte, é importante que as organizações que operam a nível mundial tomem
consciência das diferenças entre a FCPA e a Lei de Combate e se preparem para as
implicações da entrada em vigor da Lei de Suborno.

As principais diferenças entre a Lei de Suborno e a FCPA são as seguintes:

»» Corrupção de funcionários públicos estrangeiros.

Tanto a UKBA quanto a FCPA criminalizam o suborno funcionários públicos


estrangeiros. Na UKBA a definição de funcionário público estrangeiro é mais restrita
do que para o FCPA, entretanto inclui (a) qualquer pessoa que tenha uma posição
legislativa ou judicial estrangeira; (b) indivíduos que exerçam uma função pública
para um país estrangeiro, território, órgão público ou empresa pública; e (c) qualquer
funcionário ou agente de uma organização pública.

»» Suborno privado a privado.

O FCPA não engloba a corrupção a nível privado, isto é, não abrange o suborno em
âmbito privado, diferente da UKBA.

38
UKBA – UK Bribery Act │ UNIDADE III

»» Suborno ativo e passivo.

O FCPA abrange somente o suborno ativo, ou seja, a oferta de um suborno. Por sua vez a
UKBA veta tanto o suborno ativo quanto passivo, isto é, o recebimento de um suborno.

»» Falha na prevenção de suborno.

A UKBA prevê uma infração corporativa de responsabilidade objetiva por falha na


prevenção do suborno (em oposição à responsabilidade indireta), que avalia se a empresa
adotou “procedimentos adequados”. Apesar disso a luz do FCPA, uma empresa sujeita
à jurisdição norte-americana pode ser responsabilizada por atos de seus funcionários e
agentes. A infração britânica compreende os atos de “pessoas associadas”, que encarrega
qualquer pessoa que preste serviços em nome ou por conta da empresa.

»» Intenção.

De acordo com o FCPA, é necessária a comprovação da intenção do agente na prática


corruptiva, já para a UKBA se faz necessária a intenção “corrupta” ou “imprópria” no que
se refere ao suborno de um funcionário público estrangeiro, entretanto, tal exigência
permanece em relação à infração geral de suborno.

»» Pagamentos de facilitação.

O FCPA faz exceção para pagamentos de facilitação, enquanto que a UKBA não faz tal
exceção. No entanto orienta-se discrição que será guiada pelos seguintes princípios:

a. Se a empresa possui uma política clara e difundida.

b. Se a empresa tem instruções escritas disponíveis para os funcionários


acerca dos procedimentos que devem adotar onde um pagamento de
facilitação é solicitado ou esperado.

c. Se referidos procedimentos estão sendo de fato seguidos (monitoramento).

d. Evidências de que os pagamentos estão sendo registrados.

e. Ação adequada, coletiva ou não, para informar as autoridades competentes


nos países onde eventualmente ocorrer a violação da política.

f. A empresa está adotando medidas práticas para reduzir esses pagamentos.

»» Despesas promocionais

O FCPA prevê uma exceção (defesa) para as despesas promocionais, se puder ser
demonstrado se tratar de despesa razoável e de boa fé. Não há tal exceção no que se
refere a despesas promocionais prevista na UKBA.

39
UNIDADE III │ UKBA – UK Bribery Act

»» Penalidades

Um indivíduo que tenha desobedecido a UKBA pode pegar pena de prisão de até dez
(dez) anos e/ou multa ilimitada. Empresas consideradas culpadas estão sujeitas a multa
ilimitada.

Para as infrações cometidas sob a luz do FCPA um indivíduo pode ser multado em até
US$ 250 (duzentos e cinquenta) mil por violação e, ainda 5 (cinco) anos de prisão. Uma
empresa considerada culpada pelo FCPA pode ser obrigada ao pagamento de multa de
até US$ 2 (dois) milhões por violação.

Principais considerações para organizações compatíveis com o FCPA e o


UKBA

»» Atos de corrupção entre empresas ou comercial devem ser levados tão a


sério quanto o suborno de funcionários públicos.

»» As organizações devem rever normas que versem sore doações,


hospitalidade e despesas promocionais.

»» As empresas devem rever políticas que permitam pagamentos de


facilitação e desenvolver estratégias para reduzir e até abolir esses
pagamentos.

»» As organizações devem formalizar ou revisar os processos de avaliação


de riscos.

»» As empresas devem ampliar o escopo de seus programas anticorrupção


para incluir todas as “pessoas associadas” e rever a due diligence de
terceiros, a proteção contratual e monitoramento.

»» As organizações devem garantir a existência de procedimentos adequados


no local; eles representam uma defesa completa para as empresas sob a
UKBA e representam proteção significativa e/ou mitigação de sentenças
sob outras jurisdições.

40
Convenções
Anticorrupção -
Convenção das Unidade iV
Nações Unidas contra
a Corrupção

Capítulo 1
Convenções internacionais para
combate à corrupção

A corrupção afeta os pobres desproporcionalmente desviando verbas


para o desenvolvimento, comprometendo a habilidade governamental
de prover serviços essenciais, alimentando a desigualdade e injustiça, e
desencorajando investimentos e apoio externos.

Kofi Annan, ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, em seu discurso


sobre a adoção da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

A determinação do ser humano pela acumulação de riquezas, que é corroborada pelo


liberalismo econômico como filosofia majoritária de baixa intervenção estatal na
economia, pode causar inúmeros prejuízos à sociedade. De acordo com alguns dos
pensadores mais celebres da cultura ocidental, o homem é por natureza o lobo do
homem (Thomas Hobbes) e o capital é essencialmente corrupto (Karl Marx).
E, dessa forma, se deu o desenvolvimento econômico humano, através de mortes,
escravidão e colonialismo.

Hoje, um dos efeitos maléficos que ainda pode ser verificado é a corrupção, que causa
danos são incomensuráveis. Além de perturbar a credibilidade e a estabilidade das
instituições públicas, vão, ainda contra preceitos morais e contra o Estado Democrático
de Direito, colaborando para o financiamento do crime organizado. A luta contra
a corrupção é uma inquietação não apenas de âmbito interno, mas, igualmente, das
organizações internacionais, já que as relações políticas internacionais e o comércio
exterior vêm crescendo, cresce também o índice de corrupção transnacional, tanto nas

41
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

negociações entre empresas privadas multinacionais quanto nas licitações públicas


internacionais.

Assim, diante da corrupção transnacional que viola os valores que norteiam a


sociedade, torna-se necessária a criação de normas de caráter internacional para
impedir a propagação das organizações criminosas, assim como para inibir práticas
delituosas por representantes de empresas globais e agentes públicos locais. Esse tipo
de norma vem sendo convencionada apenas a partir do final do século passado, sendo,
que há anos atrás em muitos países desenvolvidos permitia-se a dedução dos valores
pagos a título de suborno a funcionários públicos estrangeiros da base de cálculo do
imposto de renda. Este fato pode ser comprovado pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), que apenas em 1995, adotou a “Recomendação
sobre a Dedução de Impostos de Subornos de Funcionários Públicos Estrangeiros”.

Em nosso ordenamento jurídico temos ratificados três tratados internacionais que


tratam da cooperação entre países contra a corrupção internacional:

»» “Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos


Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais” da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Assinada pelo Brasil em Paris no dia 17 de dezembro de 1997, ratificada através do


Decreto Legislativo no 125, março de 2000, e promulgada pelo Decreto no 3.678, de
30 de novembro de 2000, versa sobre o compromisso dos Estados Parte em atuar
em conjunto, procurando viabilizar a implementação de medidas de ordem jurídica
e administrativa que propiciem o atingir os objetivos previstos na Convenção. Dentre
eles sobrelevam-se os de estabelecer responsabilidades às empresas que paguem
suborno a funcionários públicos estrangeiros; ponderar a imposição de sanções cíveis
ou administrativas a pessoas condenadas por corrupção aos funcionários públicos;
como ainda a prestação da assistência jurídica recíproca.

O Brasil tem cumprido suas obrigações na implementação desta Convenção e alterou


a legislação criminal pátria por meio da Lei 10.467, de 11 de junho de 200213, que
apresenta os tipos penais de corrupção ativa em transação comercial internacional e
tráfico de influência em transação comercial internacional. Tais previsões permitem
a responsabilização de brasileiros, em solo nacional, que cometam os crimes ali
elencados.

13 Acrescenta o Capítulo II-A ao Título XI do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e dispositivo à Lei
no 9.613, de 3 de março de 1998, que “dispõe sobre os crimes de ‘lavagem’ ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção
da utilização do Sistema Financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei, cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(COAF), e dá outras providências

42
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

»» “Convenção Interamericana Contra a Corrupção” da Organização dos


Estados Americanos (OEA)

Aprovada através do Decreto Legislativo 152/2002 e promulgada pelo Decreto no


4.410/2002, esta Convenção tem o objetivo de promover e fortalecer os mecanismos
necessários para ajudar a prevenir, detectar e punir a corrupção no exercício das funções
públicas, bem como os atos de corrupção especificamente vinculados a seu exercício.

»» “Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção” da Organização das


Nações Unidas (ONU).

No Brasil, a Convenção da ONU contra a Corrupção foi ratificada pelo Decreto Legislativo
no 348, de abril de 2005 e promulgada pelo Decreto Presidencial no 5.687 de 31 de
janeiro de 2006. Tendo sido assinada em Mérida, no México, essa Convenção segue a
mesma linha de controle das anteriores, mas, conforme dispõe o site da organização
não governamental Transparência Internacional14,

(...) é o mais amplo acordo na luta contra a corrupção existente em


âmbito internacional. A Convenção da ONU compromete os Estados
Parte a adotarem uma ampla e detalhada série de medidas, de diversas
vinculações jurídicas, em seus ordenamentos jurídicos e políticas
públicas, destinadas, como na Convenção Interamericana Contra a
Corrupção (CICC), a promover o desenvolvimento dos mecanismos
necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção,
como também destinados a promover, facilitar e regular a cooperação
entre os Estados Parte nessas matérias.

A Convenção da ONU tem, ainda, como principais exigências o estabelecimento de


meios de prevenção, criminalização, colaboração internacional e, também, recuperação
de ativos.

No dia 13 de novembro de 2009, aconteceu em Doha, Catar, a Conferência dos Estados


Partes da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, dessa Conferência
aprovou-se a adoção de mecanismos de avaliação dos países signatários no que se
refere à implementação das medidas de prevenção e de combate à corrupção prevista
na Convenção. Assim, os países que tiverem retificado a Convenção da ONU serão
avaliados conforme os critérios fixados, com o objetivo de verificar o cumprimento
da mesma.

14 Disponível em: <http://www.transparency.org/regional_pages/americas/convenciones/convencoes_anticorrupcao_nas_


americas/onu>. Acesso em: 25 fev.2017.

43
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Infelizmente é comum a notícia de novos casos de corrupção seja na esfera federal,


estadual, municipal ou, até mesmo, internacional. Por um lado temos a repulsa da
sociedade por tais comportamentos, entretanto despreza-se a responsabilidade de cada
cidadão e de cada empresa na luta contra a corrupção. Devemos ter em mente que, por
trás da corrupção do poder público existe sempre o interesse de um ente privado, seja
pessoa física ou jurídica, que estimula as inúmeras formas de corrupção, deste modo e
responsabilidade não é exclusiva do Poder Público.

A disseminação de uma cultura de atendimento as normas jurídicas vigentes (de não


corrupção) é o meio para uma organização que pretenda crescer, concorrer e vencer no
mercado global. Fundar o crescimento em táticas que abrangem ilegalidades e crimes
é inaceitável, ainda que esse tipo de conduta tenha sido, em certos tempos, até mesmo,
incentivada internacionalmente.

Nesse fundamento, as empresas, sobretudo as que atuam no comércio internacional,


devem acatar, não somente as normas nacionais, mas, igualmente as dos países onde
atuem, pois além do compromisso ético, a ameaça das sanções que podem recair pela
prática de crimes de corrupção ativa e passiva seja no Brasil, seja nas suas atividades
no exterior.

Recomenda-se que as empresas façam previsões contratuais acerca da observância


aos tratados internacionais contra corrupção, especialmente nos contratos com
fornecedores que se relacionem com entes públicos as representando, de maneira
a impedir a cumplicidade com práticas ilegais e, até mesmo, abrigarem suas
responsabilidades quanto às ações de terceiros e com o objetivo de difundir a cultura
de combate à corrupção. O desenvolvimento seja, social ou político de um país depende
da credibilidade de seus órgãos públicos e da postura das organizações que conservam
transparência em suas negociações e praticam a cultura de compliance com as normas
internas e externas (nacionais e internacionais).

Vemos, portanto, que o mundo globalizado vem se mobilizando na luta contra a


corrupção. Nesse movimento mundial de combate à corrupção, serão analisadas as três
Convenções ratificadas pelo Brasil.

No crime de corrupção, os agentes fazem uso de posições de poder estabelecidas no jogo


político habitual para praticar atos ilegais em detrimento da sociedade. Dessa forma,
o sujeito passivo do delito é a sociedade. Nessa perspectiva, os Estados pretendem
resguardar e evitar a corrupção pelos prejuízos que ela causa a sua própria estrutura.

No ano de 1977, o Congresso norte-americano promulgou a Lei sobre a Prática de


Corrupção no Exterior (FCPA) com o objetivo de evitar o suborno de funcionários públicos

44
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

estrangeiros e resgatar a confiança pública na integridade do sistema empresarial. Esse


documento normativo motivou um esforço internacional para criminalizar a corrupção
transnacional, originando Convenções sobre o tema.

Além da criação pelos países de legislação de combate à corrupção, observa-se um


movimento de internacionalização normativa através da criação de instrumentos como
Convenções e Tratados, uma vez que a prática tem ultrapassado limites territoriais
configurando um fenômeno global.

A primeira tentativa de criação de uma norma de aplicação mundial, feita pelas


Organizações das Nações Unidas (ONU), culminou na Convenção contra o Crime
Organizado Transnacional em Palermo, na Itália, em dezembro de 2000. Essa Convenção
criminalizou a corrupção ativa e passiva, no entanto a ONU iniciou discussões sobre uma
Convenção específica para a corrupção, aprovada pela Assembleia Geral em outubro de
2003, e ratificada pelo Brasil, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

Organizações internacionais de combate à corrupção:

»» Organizações Governamentais:

1. Assembleia Geral das Nações Unidas e Conselho Econômico e Social.

2. Centro das Nações Unidas para a Prevenção da Criminalidade Organizada.

3. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

4. Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional.

5. Banco Mundial.

6. Fundo Monetário Internacional.

7. Organização Mundial do Comércio.

»» Organizações Não-Governamentais.

1. Câmara Internacional do Comércio.

2. Transparência Internacional.

Há similaridades de tratamento de repressão usados nos EUA, Itália, França e Brasil


e a internacionalização do direito com o objetivo de combater a corrupção. De acordo
com Marcelo Dias Varella15:
15 VARELLA, Marcelo Dias. A crescente complexidade do sistema jurídico internacional. Revista de Informação Legislativa.
Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/22/browse?value=Varella%2C+Marcelo+Dias&type=author >.
Acesso em: 25/2/2017.

45
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

A passagem do nacional para o internacional se opera por meio dos atos ou


por abstenções. Entre os atos, podemos situar os instrumentos jurídicos
internacionais, tais como os tratados ou convenções internacionais. Um
exemplo de abstenção será o silêncio de um Estado frente à interferência
da comunidade internacional num assunto tipicamente interno.
Nota-se, também, que a internacionalização no direito brasileiro, no
que se refere ao combate à corrupção, está ocorrendo mais por meio de
atos do que por negativas. Somos signatário de acordos de cooperação
jurídica em matéria penal com EUA, França, Itália, Peru, Alemanha,
Paraguai, Coreia e Portugal; temos acordos bilaterais de extradição com
Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Chile, Colômbia, Coreia do Sul,
Equador, Espanha, EUA, França, Itália, Lituânia, México, Paraguai,
Peru, Portugal, Suíça, Venezuela, Mercosul; e temos, ainda, em âmbito
regional um Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos
Penais com o Mercosul com o intuito de combater a criminalidade
regional.

Analisemos as Convenções ratificadas pelo Brasil.

»» “Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos


Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais” da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A partir da década de 1990, notou-se que a comunidade internacional começou a se


atentar as consequências e impactos da corrupção na gestão dos negócios internacionais.

O suborno de funcionários públicos estrangeiros foi assunto tratado primeiramente pelo


grupo de trabalho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) acerca do suborno em transações comerciais internacionais.

O Brasil ratificou a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos


Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, estabelecida pela OCDE, no
dia 15 de julho de 2000, promulgada pelo Decreto no 3.678, de 30 de novembro de
2000. O intuito da Convenção da OCDE é prevenir e combater a prática de corrupção de
funcionários públicos estrangeiros no âmbito das transações comerciais internacionais.

Conforme a OCDE, depois da entrada em vigor da Convenção, ocorreu um crescimento


no número de investigações e condenações nos Estados signatários, tendo sido
empreendidas mais de 50 (cinquenta) investigações de casos de suborno transnacional
que resultaram em 30 (trinta) condenações. Ocorreram, ainda, casos onde indivíduos

46
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

e empresas responsabilizados por suborno transnacional que foram penalizados


sancionados com multas de até 2 milhões de euros16.

Para a Convenção da OCDE considera-se funcionário público estrangeiro: qualquer


pessoa que ocupe o cargo nos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo de um país
estrangeiro, independente do fato dessa pessoa ser nomeada, eleita ou concursada;
qualquer pessoa que exerça função pública internacional do nível federal, estadual ou
municipal.

A Convenção trata de temas contábeis e tributários impondo regras que vetam o chamado
caixa dois e operações impróprias. Veta, ainda, atos e ocultações dos funcionários
públicos estrangeiros, assim como registro de despesas inexistentes, o lançamento de
obrigações tributárias indevidas e/ou utilização de documentos falsos por empresas
com o fim de corromper os funcionários públicos.

No que se refere à lavagem de dinheiro, a Convenção exige que a prática de


corrupção transnacional seja tipificada no ordenamento interno do país signatário,
independentemente do local do fato. O Brasil adotou uma legislação que reporta aos
crimes antecedentes, a Lei no 10.467, de 11 de junho de 200217, introduziu a criminalização
das práticas de corrupção transnacional na Lei no 9.613, de 3 de março de 199818.

Quanto à responsabilização das pessoas jurídicas, a Convenção prevê, em seu art. 2o,
a responsabilização das pessoas jurídicas que subornarem os funcionários públicos
estrangeiros. No caso brasileiro, onde não se admite a responsabilização criminal das
pessoas jurídicas, a Convenção exige que o Estado garanta que as empresas sejam
punidas com sanções não criminais (civis e administrativas), incluindo sanções de
natureza pecuniária.

Nesse sentido, observa-se a necessidade de que o Brasil adote medidas para


responsabilizar diretamente os casos de suborno a funcionários públicos estrangeiros,
de acordo com as recomendações da OCDE.

Em relatório divulgado em 18 de dezembro de 2007 a OCDE19 avaliou o esforço


brasileiro em cumprir as exigências da Convenção. A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico conclui que o Brasil não adotou as medidas necessárias
e eficazes para responsabilização de pessoas jurídicas nos esquemas de pagamento de

16 BRASIL. Convenção da OCDE. Presidência, Controladoria-Geral da União. Brasília: CGU, 2007. p.7.
17 Acrescenta o Capítulo II-A ao Título XI do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e dispositivo à Lei
no 9.613, de 3 de março de 1998, que “dispõe sobre os crimes de ‘lavagem’ ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção
da utilização do Sistema Financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei, cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(COAF), e dá outras providências.
18 Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro
para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências.
19 Disponível em: <https://www.oecd.org/brazil/48670822.pdf> - Acesso em 25 fev. 2017.

47
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

suborno a funcionários públicos estrangeiros e deveria criar leis que fossem aplicáveis
a esses casos.

Nesse relatório a OCDE conclui que no Brasil as empresas não são punidas por suborno
internacional. Apontou, ainda, que quatro investigações estão em andamento a respeito
do envolvimento de empresas brasileiras em irregularidades perpetradas no programa
Petróleo por Comida, da ONU, pelo qual o antigo governo do Iraque comercializava
petróleo a diversos países em troca de alimentos. Tais irregularidades incluiriam o
pagamento ilícito de sobretaxas ao então governo iraquiano em troca de contratos de
petróleo.

Nosso país deveria atuar de modo mais proativo na detecção, investigação e


processamento de casos de corrupção internacional e deveria intensificar os esforços
no combate ao suborno nos setores público e privado, em consonância com conclusões
da OCDE.

A Convenção da OCDE cuida da corrupção transnacional e possui duas etapas:


implementação legislativa e implementação material. O Brasil nem sequer concluiu a
primeira etapa, tendo em vista a falta de penalização criminal das pessoas jurídicas.

»» “Convenção Interamericana Contra a Corrupção” da Organização dos


Estados Americanos (OEA).

No ano de 1994, os Ministros das Relações Exteriores da América e os Chefes de Delegação


dos Estados Membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) assinaram a
“Declaração de Belém do Pará”, apoiando estudos de meios de combate à corrupção,
de desenvolvimento da eficiência da gestão pública e de promoção da transparência
e probidade da administração pública. Dessa forma, através da Resolução AG/RES
1.294 (XXIVO/1994), a Assembleia-Geral determinou ao Conselho Permanente o
estabelecimento do Grupo de Trabalho sobre Probidade e Ética20.

Citado Grupo de Trabalho desenvolveu o projeto da Convenção Interamericana contra


a Corrupção, que foi efetivada em Caracas, Venezuela, em 29 de março de 1996. No
Brasil, a convenção foi ratificada pelo Decreto Legislativo no 152. De junho de 2002, e
promulgada pelo Decreto no 4.410, de 7 de outubro de 2002.

A Convenção da OEA tem por intuito:

(...) promover e fortalecer o desenvolvimento de mecanismos


necessários para prevenir, detectar, punir, e erradicar a corrupção, além
de promover, facilitar e regular a assistência e a cooperação técnica
entre os Estados Partes.

20 BRASIL. Convenção da OCDE. Presidência, Controladoria-Geral da União. Brasília: CGU, 2007.

48
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

A Convenção Interamericana Contra a Corrupção prevê algumas medidas relevantes no


combate em nível regional, quais sejam:

1 – Criação de normas de conduta para o correto, honrável e adequado


cumprimento das funções públicas;

2 – A adoção de sistemas para a contratação de funcionários públicos


e para a aquisição de bens e serviços pelo Estado que assegurem a
publicidade, equidade e eficiência de tais sistemas;

3 – A criação de órgãos de controle superior, com a finalidade de


desenvolver mecanismos modernos para prevenir, destacar, sancionar
e erradicar práticas corruptas;

4 – O estabelecimento de mecanismos para estimular a participação


da sociedade civil e das organizações não governamentais nos esforços
para combater a corrupção;

5 – A instituição de sistemas de arrecadação fiscal que impeçam a


prática de corrupção;

6 – A criação de sistemas para proteger os funcionários públicos e


cidadãos particulares que denunciarem de boa-fé atos de corrupção;Para
alcançar referidos objetivos, a Convenção da OEA criminaliza certos
atos como crimes de corrupção. Entre eles:

Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:

a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um


funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer
objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas,
favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou para outra pessoa
ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no
exercício de suas funções públicas;

b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público


ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor
pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas
ou vantagens a esse funcionário público ou outra pessoa ou entidade
em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas
funções públicas;

c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que


exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de

49
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou


para um terceiro;

d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de


qualquer dos atos a que se refere este artigo; e

a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice, acobertador


ou mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de
perpetração ou na associação ou confabulação para perpetrar qualquer
dos atos a que se refere este artigo.”

A Convenção da OEA indica dois delitos que devem tipificados pelos países signatários:
o Suborno Transnacional e o Enriquecimento Ilícito. O Suborno Transnacional, já está
previsto na Convenção da OCDE e introduzido pela Lei no 10.467, de 11 de junho de no
ordenamento pátrio, tendo sido definido pela Convenção da OEA como:

Estado Parte proibirá e punirá o oferecimento ou outorga, por parte de


seus cidadãos, pessoas que tenham residência habitual em seu território
e empresas domiciliadas no mesmo, a um funcionário público de outro
Estado, direta ou indiretamente, de qualquer objeto de valor pecuniário
ou outros benefícios, como dádivas, favores, promessas ou vantagens em
troca da realização ou omissão, por esse funcionário, de qualquer ato no
exercício de suas funções públicas relacionado com uma transação de
natureza econômica ou comercial.Por sua vez o enriquecimento ilícito
caracteriza-se pelo:

(...) aumento do patrimônio de um funcionário público que exceda


de modo significativo sua renda legítima durante o exercício de suas
funções e que não possa justificar razoavelmente.

A Convenção OEA prevê vasta cooperação entre os países signatários como meio de
possibilitar a obtenção de provas, assim como a execução de outros atos importantes
para facilitar as investigações.

A Convenção possui o chamado Mecanismo de Acompanhamento da Implementação


da Convenção Interamericana contra a Corrupção (MESICIC) que tem por finalidade
promovê-la e avaliar o comprometimento dos países signatários na luta contra a
corrupção. O primeiro relatório MESICIC21 assinalou que o Brasil precisa se aprimorar,
em vários pontos tanto no ordenamento jurídico quanto nas atitudes de combate.

21 Disponível em: <http://www.oas.org/juridico/spanish/corr_managua_brasil.doc > Acesso em: 26 fev. 2017.

50
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Como forma de atender as exigências da OEA o Brasil criou o Conselho da


Transparência Pública e Combate à Corrupção22 (Decreto no 4.293, de 18 de dezembro
de 2003), que conta com a participação de representantes de órgãos públicos e da
sociedade civil. No ano de 2005 ocorreu em Brasília, o IV Fórum Global de Combate à
Corrupção, que reuniu mais de 100 (cem) países para debater maneiras de combater
a corrupção.

Outra medida adotada foi a criação da Secretaria de Prevenção da Corrupção e


Informações Estratégicas (SPCI)23 em janeiro de 2006, na estrutura administrativa da
Controladoria Geral da União (CGU).

22 O Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, órgão colegiado e consultivo vinculado à Controladoria-Geral da
União, tem a finalidade de sugerir e debater medidas de aperfeiçoamento dos métodos e sistemas de controle e incremento da
transparência na gestão da administração pública.
Além disso, tem o papel de planejar estratégias de combate à corrupção e à impunidade. Nesta seção, consulte as atas e pautas
de reuniões, a legislação específica e saiba mais sobre o trabalho do conselho.
As competências do Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção são:
Contribuir para a formulação das diretrizes da política de transparência da gestão de recursos públicos e de combate à corrupção
e à impunidade, a ser implementada pela Controladoria-Geral da União e pelos demais órgãos e entidades da administração
pública federal.
Sugerir projetos e ações prioritárias da política de transparência da gestão de recursos públicos e de combate à corrupção e à
impunidade.
Sugerir procedimentos que promovam o aperfeiçoamento e a integração das ações de incremento da transparência e de
combate à corrupção e à impunidade, no âmbito da administração pública federal. 
Atuar como instância de articulação e mobilização da sociedade civil organizada para o combate à corrupção e à impunidade.
Realizar estudos e estabelecer estratégias que fundamentem propostas legislativas e administrativas tendentes a maximizar a
transparência da gestão pública e ao combate à corrupção e à impunidade.
Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/transparencia-publica/conselho-da-transparencia/competencias> Acesso
em: 26 fev. 2017
23 Novas coordenações, novas diretorias e até uma nova secretaria. A Controladoria-Geral da União (CGU) conta agora com uma
nova estrutura administrativa, prevista no Decreto no 8.109, de 17 de setembro de 2013, publicado no Diário Oficial da União
do dia seguinte. As mudanças buscam adequar a Casa aos novos desafios que surgiram nos últimos anos, em especial, com as
leis de Acesso à Informação (no 12.527/2011), de Conflito de Interesses (no 12.813/2013), e Anticorrupção (no 12.846/2013).
A Secretaria de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas (SPCI) passa a se chamar Secretaria de Transparência e
Prevenção da Corrupção (STPC), que dispõe de uma estrutura compatível com a dimensão e relevância de suas competências,
na formulação, coordenação e fomento a programas, ações e normas voltados à prevenção da corrupção e à promoção da
transparência, do acesso à informação, da conduta ética, da integridade e do controle social na administração pública e na sua
relação com o setor privado.
A STPC nasce com duas diretorias: a de ‘Transparência e Controle Social’ (à qual estão subordinadas a coordenação-geral
de Cooperação Federativa e Controle Social e a coordenação-geral de Governo Aberto e Transparência) e a de ‘Promoção da
Integridade, Acordos e Cooperação Internacional’ (que abrange a coordenação-geral de Acordos e Cooperação Internacional e
a coordenação-geral de Integridade).
A coleta e o tratamento de informações de natureza estratégica, que cabiam à SPCI, foram incorporadas pela Secretaria-
Executiva, que ganhou uma diretoria específica para tratar do assunto, a Diretoria de Pesquisas e Informações Estratégicas.
Já a Assessoria Especial de Gestão de Projetos (AESP) foi transformada em Diretoria de Planejamento e Desenvolvimento
Institucional, atividades que receberão ainda mais atenção a partir de agora.
A Ouvidoria-Geral da União (OGU), além de passar a contar com o cargo de ouvidor-geral adjunto, ganhou uma área
encarregada de avaliar os recursos apresentados à CGU por conta da Lei de Acesso à Informação - a Coordenação-Geral de
Recursos de Acesso à Informação.
A Corregedoria-Geral da União (CRG) também foi contemplada pelo decreto com a criação de duas coordenações-gerais: a de
Monitoramento de Processos Disciplinares e a de Responsabilização de Entes Privados; essa última ficará responsável pela
responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou
estrangeira, conforme a lei anticorrupção (no 12.846).
Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/noticias/2013/09/cgu-tem-nova-estrutura-administrativa> - Acesso em: 26 fev2017

51
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Nesse sentido, em outubro de 2006 a CGU encaminhou o Projeto de Lei no 7. 528/2006,


convertido na Lei no 12.813, de 16 de maio de 2013, que dispõe sobre o conflito de
interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo federal e impedimentos
posteriores ao exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da Lei no 9.986,
de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provisórias nos 2.216-37, de 31 de agosto de
2001, e 2.225-45, de 4 de setembro de 2001. E o Projeto de Lei no 5.586/2005, que visa
tipificar o crime de enriquecimento ilícito quando o funcionário público possuir bens
ou valores, incompatíveis com sua renda, ou quando deles faça uso de tal modo que
permita atribuir-lhe a propriedade, que no momento encontra-se pronta para pauta
em plenário.

A Convenção da OEA apresenta a definição de atos de corrupção24 e exige que os


signatários tipifiquem o suborno transnacional e o enriquecimento ilícito. Ela será
executada pelo monitoramento e acompanhamento (MESICIC) para tornar efetivo o
combate à corrupção no Brasil.

Assim, a Convenção da OEA é um instrumento importante na luta contra a corrupção,


pois auxilia as autoridades no desenvolvimento de métodos e na tipificação de atos
antes não criminalizados no ordenamento brasileiro e objetiva a cooperação regional
(América). Essa cooperação é muito valiosa, pois, pode possibilitar eventuais extradições
de criminosos corruptos, investigações de membros do crime organizado e práticas de
lavagem de dinheiro.

24 a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de
qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou
para outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer
objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse funcionário público
ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no
exercício de suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;
d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer dos atos a que se refere este artigo; e
e. a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice, acobertador ou mediante qualquer outro modo na perpetração, na
tentativa de perpetração ou na associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este artigo.

52
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

»» Convenção da ONU

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção da ONU)25 foi assinada
no dia 15 de dezembro de 2003, na cidade de Mérida, no México, e promulgada através
do Decreto no 5.687, de 31 de janeiro de 2006, seu intuito é o combate universal pelos
Estados contra a corrupção, ela traça as seguintes diretrizes:

1. O artigo 6 se refere à necessidade da criação órgãos de prevenção contra


práticas de corrupção pelos Estados parte;

Artigo 6

Órgão ou órgãos de prevenção à corrupção

1. Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais


de seu ordenamento jurídico, garantirá a existência de um ou mais
órgãos, segundo procede, encarregados de prevenir a corrupção com
medidas tais como:

a) A aplicação das políticas as quais se faz alusão no Artigo 5 da presente


Convenção e, quando proceder, a supervisão e coordenação da prática
dessas políticas;
25 Artigo 2
Definições
Aos efeitos da presente Convenção:
a) Por “funcionário público” se entenderá: i) toda pessoa que ocupe um cargo legislativo, executivo, administrativo ou judicial
de um Estado Parte, já designado ou empossado, permanente ou temporário, remunerado ou honorário, seja qual for o
tempo dessa pessoa no cargo; ii) toda pessoa que desempenhe uma função pública, inclusive em um organismo público ou
numa empresa pública, ou que preste um serviço público, segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique
na esfera pertinente do ordenamento jurídico desse Estado Parte; iii) toda pessoa definida como “funcionário público” na
legislação interna de um Estado Parte. Não obstante, aos efeitos de algumas medidas específicas incluídas no Capítulo II da
presente Convenção, poderá entender-se por “funcionário público” toda pessoa que desempenhe uma função pública ou preste
um serviço público segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente do ordenamento
jurídico desse Estado Parte;
b) Por “funcionário público estrangeiro” se entenderá toda pessoa que ocupe um cargo legislativo, executivo, administrativo
ou judicial de um país estrangeiro, já designado ou empossado; e toda pessoa que exerça uma função pública para um país
estrangeiro, inclusive em um organismo público ou uma empresa pública;
c) Por “funcionário de uma organização internacional pública” se entenderá um funcionário público internacional ou toda
pessoa que tal organização tenha autorizado a atuar em seu nome;
d)Por “bens” se entenderá os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis e
os documentos ou instrumentos legais que creditem a propriedade ou outros direitos sobre tais ativos;
e) Por “produto de delito” se entenderá os bens de qualquer índole derivados ou obtidos direta ou indiretamente da ocorrência
de um delito;
f) Por “embargo preventivo” ou “apreensão” se entenderá a proibição temporária de transferir, converter ou trasladar bens,
ou de assumir a custódia ou o controle temporário de bens sobre a base de uma ordem de um tribunal ou outra autoridade
competente;
g) Por “confisco” se entenderá a privação em caráter definitivo de bens por ordem de um tribunal ou outra autoridade
competente;
h) Por “delito determinante” se entenderá todo delito do qual se derive um produto que possa passar a constituir matéria de
um delito definido no Artigo 23 da presente Convenção;
i) Por “entrega vigiada” se entenderá a técnica consistente em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de
um ou mais Estados, o atravessem ou entrem nele, com o conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes,
com o fim de investigar um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência.

53
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

b) O aumento e a difusão dos conhecimentos em matéria de prevenção


da corrupção.

2. Cada Estado Parte outorgará ao órgão ou aos órgãos mencionados


no parágrafo 1 do presente Artigo a independência necessária, de
conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, para que possam desempenhar suas funções de maneira
eficaz e sem nenhuma influência indevida. Devem proporcionar-lhes
os recursos materiais e o pessoal especializado que sejam necessários,
assim como a capacitação que tal pessoal possa requerer para o
desempenho de suas funções.

3. Cada Estado Parte comunicará ao Secretário Geral das Nações Unidas


o nome e a direção da(s) autoridade(s) que possa(m) ajudar aos outros
Estados Partes a formular e aplicar medidas concretas de prevenção da
corrupção.

1. O artigo 7 ressalta a importância do princípio da eficiência no setor


público;

Artigo 7

Setor Público

1. Cada Estado Parte, quando for apropriado e de conformidade com


os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, procurará
adotar sistemas de convocação, contratação, retenção, promoção e
aposentadoria de funcionários públicos e, quando proceder, de outros
funcionários públicos não empossados, ou manter e fortalecer tais
sistemas. Estes:

a) Estarão baseados em princípios de eficiência e transparência e em


critérios objetivos como o mérito, a equidade e a aptidão;

b) Incluirão procedimentos adequados de seleção e formação dos


titulares de cargos públicos que se considerem especialmente vulneráveis
à corrupção, assim como, quando proceder, a rotação dessas pessoas
em outros cargos;

c) Fomentarão uma remuneração adequada e escalas de soldo


equitativas, tendo em conta o nível de desenvolvimento econômico do
Estado Parte;

54
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

d) Promoverão programas de formação e capacitação que lhes permitam


cumprir os requisitos de desempenho correto, honroso e devido de suas
funções e lhes proporcionem capacitação especializada e apropriada
para que sejam mais conscientes dos riscos da corrupção inerentes ao
desempenho de suas funções. Tais programas poderão fazer referência
a códigos ou normas de conduta nas esferas pertinentes.

2. Cada Estado Parte considerará também a possibilidade de adotar


medidas legislativas e administrativas apropriadas, em consonância
com os objetivos da presente Convenção e de conformidade com os
princípios fundamentais de sua legislação interna, a fim de estabelecer
critérios para a candidatura e eleição a cargos públicos.

3. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas


legislativas e administrativas apropriadas, em consonância com os
objetivos da presente Convenção e de conformidade com os princípios
fundamentais de sua legislação interna, para aumentar a transparência
relativa ao financiamento de candidaturas a cargos públicos eletivos e,
quando proceder, relativa ao financiamento de partidos políticos.

4. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios de sua


legislação interna, procurará adotar sistemas destinados a promover
a transparência e a prevenir conflitos de interesses, ou a manter e
fortalecer tais sistemas.

2. O artigo 8 prevê a elaboração de códigos de conduta para funcionários


públicos;

Artigo 8

Códigos de conduta para funcionários públicos.

1. Com o objetivo de combater a corrupção, cada Estado Parte, em


conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, promoverá, entre outras coisas, a integridade, a honestidade e
a responsabilidade entre seus funcionários públicos.

2. Em particular, cada Estado Parte procurará aplicar, em seus próprios


ordenamentos institucionais e jurídicos, códigos ou normas de conduta
para o correto, honroso e devido cumprimento das funções públicas.

3. Com vistas a aplicar as disposições do presente Artigo, cada


Estado Parte, quando proceder e em conformidade com os princípios
fundamentais de seu ordenamento jurídico, tomará nota das iniciativas

55
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

pertinentes das organizações regionais, inter-regionais e multilaterais,


tais como o Código Internacional de Conduta para os titulares de cargos
públicos, que figura no anexo da resolução 51/59 da Assembleia Geral
de 12 de dezembro de 1996.

4. Cada Estado Parte também considerará, em conformidade com os


princípios fundamentais de sua legislação interna, a possibilidade
de estabelecer medidas e sistemas para facilitar que os funcionários
públicos denunciem todo ato de corrupção às autoridades competentes
quando tenham conhecimento deles no exercício de suas funções.

5. Cada Estado Parte procurará, quando proceder e em conformidade


com os princípios fundamentais de sua legislação interna, estabelecer
medidas e sistemas para exigir aos funcionários públicos que tenham
declarações às autoridades competentes em relação, entre outras
coisas, com suas atividades externas e com empregos, inversões,
ativos e presentes ou benefícios importantes que possam dar lugar a
um conflito de interesses relativo a suas atribuições como funcionários
públicos.

6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar, em


conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna,
medidas disciplinares ou de outra índole contra todo funcionário público
que transgrida os códigos ou normas estabelecidos em conformidade
com o presente Artigo.

3. E o artigo 13 trata da participação da sociedade civil, das organizações


governamentais e das organizações com base na comunidade na
prevenção e no combate à corrupção.

Artigo 13

Participação da sociedade

1. Cada Estado Parte adotará medidas adequadas, no limite de suas


possibilidades e de conformidade com os princípios fundamentais de
sua legislação interna, para fomentar a participação ativa de pessoas
e grupos que não pertençam ao setor público, como a sociedade civil,
as organizações não governamentais e as organizações com base
na comunidade, na prevenção e na luta contra a corrupção, e para
sensibilizar a opinião pública a respeito à existência, às causas e à
gravidade da corrupção, assim como a ameaça que esta representa.
Essa participação deveria esforçar-se com medidas como as seguintes:

56
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

a) Aumentar a transparência e promover a contribuição da cidadania


aos processos de adoção de decisões;

b) Garantir o acesso eficaz do público à informação;

c) Realizar atividade de informação pública para fomentar a


intransigência à corrupção, assim como programas de educação pública,
incluídos programas escolares e universitários;

d) Respeitar, promover e proteger a liberdade de buscar, receber,


publicar e difundir informação relativa à corrupção. Essa liberdade
poderá estar sujeita a certas restrições, que deverão estar expressamente
qualificadas pela lei e ser necessárias para:

i) Garantir o respeito dos direitos ou da reputação de terceiros;

ii) Salvaguardar a segurança nacional, a ordem pública, ou a saúde ou


a moral públicas.

2. Cada Estado Parte adotará medidas apropriadas para garantir que


o público tenha conhecimento dos órgãos pertinentes de luta contra a
corrupção mencionados na presente Convenção, e facilitará o acesso a
tais órgãos, quando proceder, para a denúncia, inclusive anônima, de
quaisquer incidentes que possam ser considerados constitutivos de um
delito qualificado de acordo com a presente Convenção.

Para isso, a Convenção prevê que os países signatários devem tipificar diversas
atividades corruptas; adotar medidas para prevenir a corrupção; promover a integridade
nos setores públicos e privados; e colaborar com outros países. Ela estabelece, ainda,
mecanismos legais com vistas ao repatriamento de bens e recursos obtidos através de
atos corruptos e remetidos para outros países.

Recordemos que a participação social também é previsão da Convenção da OEA.


Assim como a criminalização do enriquecimento ilícito é previsão da Convenção da
ONU e da OEA.

O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) firmou uma parceria
com a Controladoria Geral da União (CGU), com o intuito de capacitar os funcionários
para aprimorar as auditorias e apurações de fraudes e desvios de recurso. Tal parceria
ocorre desde 2005, e visa fazer da CGU numa agência de referência internacional de
combate à corrupção.

57
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Assim percebe-se que a corrupção é uma preocupação de diversos países e Organizações


Internacionais. Mas em que acepção podemos dizer que a corrupção é um fenômeno
internacional? A questão pode ser colocada três aspectos:

Primeiramente pela possibilidade da prática da corrupção por agentes internacionais.


Em segundo lugar porque, diversas vezes, a corrupção é um fenômeno nacional, que
envolve o concurso de agentes internacionais e, nesse sentido, o crime de lavagem de
dinheiro é o que melhor exemplifica tal hipótese. E, por fim, a corrupção como problema
contemporâneo, que abrange vários países e, por conseguinte, envolve agentes de
diversas nacionalidades, isto é, todos os Estados sofrem do mesmo mal.

Diante desse panorama, cabe analisar, de forma globalizada, como um crime tipificado
em um dado ordenamento jurídico pode ser enfrentado, considerando se tratar de um
problema mundial.

Assim, o aparecimento de crimes que ultrapassam as fronteiras de um Estado, gerado,


sobretudo, em razão do desenvolvimento tecnológico e científico, como a internet e
as operações bancárias, implicou no nascimento de outros interesses que demandam
resguardo.

Outro ponto é que observa-se que as instituições nacionais não dão conta do atendimento
a essas novas demandas, já que crimes globais exigem uma justiça global. O combate à
corrupção é muito complexo havendo grande interação entre os direitos internacional
e os internos.

O estudo das Convenções é essencial para compreender a interação do direito nacional


e o internacional. As convenções abordadas têm o condão de inovar o direito pátrio e
contribuir na cooperação internacional de controle da corrupção.

Atualmente, a luta contra a corrupção é prática não apenas dos Estados e em nível
nacional, mas, igualmente, de organizações nacionais e internacionais como: Nações
Unidas (ONU), Organização dos Estados Americanos (OEA), Câmara Internacional de
Comércio, Transparência Internacional, World Economic Forum, Interpol, Organização
para Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), dentre outras.

Assim, percebemos dois fenômenos diversos: a internacionalização do combate à


corrupção e a inclusão pelo direito nacional de mecanismos de combate à corrupção
usados em outras nações.

A internacionalização do direito não ocorre apenas no plano normativo, mas, igualmente,


na busca de valores comuns. E isso acarreta a perseguição do valor da dignidade para
com a rés pública e o combate à corrupção.

58
Capítulo 2
Convenção das Nações Unidas contra
a Corrupção

O suborno de funcionários públicos estrangeiros é uma preocupação antiga na


esfera internacional, principalmente no que diz respeito a seu reflexo na capacidade
concorrencial. Constatou-se que esse tipo de prática cria desvantagens nas relações
comerciais, em razão disso, a comunidade internacional, em grande parte estimulada
pelos membros fundadores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), concentrou esforços para impulsionar os Estados a adotarem
políticas de combate e prevenção da corrupção.

A partir dos anos 1990, a preocupação com a corrupção se acentuou, em âmbito regional,
foram iniciados processos de acordos de ação conjunta nesse sentido. No entanto, as
primeiras convenções pactuadas não tinham alcance global, deixando a parte diversos
países da Ásia e do Oriente Médio. Alguns acordos se referiam, somente, a abordagens
específicas, como o suborno, por exemplo. Dessa forma, a comunidade internacional
apresentou interesse de desenhar um acordo realmente global e capaz de prevenir e
combater a corrupção em todas as suas configurações. Deste modo, surgiu a Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção.

Setenta e um (71) artigos compõem da Convenção sendo divididos em 8 (oito) capítulos.


Os mais relevantes tratam dos seguintes temas: prevenção; penalização; recuperação
de ativos; e cooperação internacional. São esses capítulos que exigem adaptações legais
e/ou ações simultâneas à aplicação da Convenção a cada Estado.

»» Prevenção à corrupção (Capítulo II – Medidas Preventivas)

Artigo 5 - Políticas e práticas de prevenção da corrupção.

Artigo 6 - Órgão ou órgãos de prevenção à corrupção.

Artigo 7 - Setor Público.

Artigo 8 - Códigos de conduta para funcionários públicos.

Artigo 9 - Contratação pública e gestão da fazenda pública.

Artigo 10 - Informação pública.

Artigo 11 - Medidas relativas ao poder judiciário e ao ministério público.

59
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Artigo 12 - Setor Privado.

Artigo 13 - Participação da sociedade.

Artigo 14 - Medidas para prevenir a lavagem de dinheiro.

No capítulo concernente a prevenção à corrupção, a Convenção determina que os países


signatários implementem políticas de combate à corrupção efetivas que promovam a
participação social e reflitam os princípios do Estado de Direito tais como a integridade,
a transparência e a prestação de contas (accountability), dentre outros.

Estados Partes devem criar sistemas de seleção e recrutamento baseados em critérios de


mérito. Devem, ainda, adotar medidas para ampliar a transparência no financiamento
de campanhas de candidatos e partidos políticos. Precisam desenvolver códigos de
conduta que contenham medidas para incentivar denúncias de corrupção por parte dos
servidores, e para desestimular o recebimento de presentes, ou de quaisquer outras ações
que possam gerar conflito de interesses. Os processos licitatórios devem proporcionar a
ampla participação e contar com critérios pré-fixados, justos e impessoais.

Devem, ainda, adotar medidas para aumentar o acesso às contas públicas para a
sociedade e incentivar a participação social nesse processo, além de medidas de
prevenção ao crime de lavagem de dinheiro.

A Convenção ressalta a importância da independência do Poder Judiciário e do


Ministério Público na luta contra a corrupção.

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção contempla medidas de prevenção à


corrupção não somente no âmbito público, mas, igualmente no âmbito privado, dentre
as quais: desenvolver modelos de auditoria e de contabilidade para as organizações;
equipar-se de sanções civis, administrativas e criminais efetivas e que possuam
caráter inibidor para futuras ações; promover a colaboração entre os responsáveis
pela aplicação da lei e as empresas privadas; prevenir o conflito de interesses; vetar
a existência de “caixa dois” nas empresas; e desincentivar isenção ou diminuição de
impostos a despesas tidas suborno ou outras condutas relacionadas.

»» Penalização e Aplicação da Lei (Capítulo III).

Artigo 15 - Suborno de funcionários públicos nacionais.

Artigo 16 - Suborno de funcionários públicos estrangeiros e de


funcionários de organizações internacionais públicas.

Artigo 17 - Malversação ou peculato, apropriação indébita ou outras


formas de desvio de bens por um funcionário público.

60
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Artigo 18 - Tráfico de influências.

Artigo 19 - Abuso de funções.

Artigo 20 - Enriquecimento ilícito.

Artigo 21 - Suborno no setor privado.

Artigo 22 - Malversação ou peculato de bens no setor privado.

Artigo 23 - Lavagem de produto de delito.

Artigo 24 – Encobrimento.

Artigo 25 - Obstrução da justiça.

Artigo 26 - Responsabilidade das pessoas jurídicas.

Artigo 27 - Participação ou tentativa.

Artigo 28 - Conhecimento, intenção e propósito como elementos de um


delito.

Artigo 29 – Prescrição.

Artigo 30 - Processo, sentença e sanções.

Artigo 31 - Embargo preventivo, apreensão e confisco.

Artigo 32 - Proteção a testemunhas, peritos e vítimas.

Artigo 33 - Proteção aos denunciantes.

Artigo 34 - Consequências dos atos de corrupção.

Artigo 35 - Indenização por danos e prejuízos.

Artigo 36 - Autoridades especializadas.

Artigo 37 - Cooperação com as autoridades encarregadas de fazer


cumprir a lei.

Artigo 38 - Cooperação entre organismos nacionais.

Artigo 39 - Cooperação entre os organismos nacionais e o setor privado.

Artigo 40 - Sigilo bancário.

Artigo 41 - Antecedentes penais.

Artigo 42 – Jurisdição.

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UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

No capítulo que versa acerca da penalização e aplicação da lei, a Convenção convoca


os países signatários a introduzir em seus ordenamentos jurídicos tipos penais que
englobem não somente as formas básicas de corrupção, tais como o suborno e o desvio
de recursos públicos, mas, igualmente, atos que contribuem para a corrupção, assim
como obstrução da justiça, tráfico de influência e lavagem de recursos derivados da
corrupção. A penalização à corrupção depende da existência de mecanismos que
possibilitem a realização de ações de detenção, processo, punição e reparação ao sistema
de justiça criminal do país.

Os países signatários estão compelidos a tipificar: o suborno a funcionários públicos;


a corrupção ativa a oficiais estrangeiros; a fraude e a apropriação indébita; a lavagem
de dinheiro; e a obstrução da justiça. Devem ainda, buscar a tipificação de condutas
de: corrupção passiva de oficiais estrangeiros; tráfico de influências; abuso de poder;
enriquecimento ilícito; suborno no âmbito privado; e desvios de recursos na esfera
privada.

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção orienta os países signatários a


reputar o suborno como crime e o conceitua como a promessa, o oferecimento ou a
entrega, direta ou indireta, a um servidor público ou outra pessoa ou entidade, de uma
vantagem indevida, com o objetivo de atuar ou abster-se de atuar no exercício de suas
funções oficiais. Da mesma maneira, aquele que solicita ou aceita essas vantagens
indevidas, incide no crime de suborno.

Os Estados Partes devem, ainda, tipificar quando cometido com intenção, a fraude, a
apropriação indébita ou qualquer outro desvio de recursos por parte de funcionário
público, em seu benefício, ou em benefício de terceiros, de qualquer propriedade,
fundos públicos ou privados ou qualquer outra coisa de valor a ele confiada em razão de
sua função. O mesmo se aplica aos atos de converter, transferir, ocultar ou dissimular
produtos originários do crime, e ainda aquele que adquire, possui ou usa esses produtos.

Possui um artigo que trata da obstrução da justiça: influenciar testemunhas que possam
fornecer evidências, através do uso da força, de ameaças ou intimidação; e intervir no
exercício da função de oficias ou membros da Justiça através dos mesmos métodos.

»» Cooperação Internacional (Capítulo IV)

Artigo 43 - Cooperação internacional.

Artigo 44 – Extradição.

Artigo 45 - Traslado de pessoas condenadas a cumprir uma pena.

Artigo 46 - Assistência judicial recíproca.

62
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Artigo 47 - Enfraquecimento de ações penais.

Artigo 48 - Cooperação em matéria de cumprimento da lei.

Artigo 49 - Investigações conjuntas.

Artigo 50 - Técnicas especiais de investigação.

O capítulo da Convenção da ONU contra a Corrupção que trata da Cooperação


Internacional destaca que todos os aspectos dos esforços anticorrupção precisam de
cooperação internacional, tais como assistência legal mútua na coleta e transferência
de evidências, nos processos de extradição, e ações conjuntas de investigação,
rastreamento, congelamento de bens, apreensão e confisco de produtos da corrupção.

Esta Convenção inova ao admitir assistência legal mútua mesmo na falta de dupla
incriminação, quando não abranger medidas coercitivas. O princípio da dupla
incriminação prescreve que um país não precisa extraditar pessoas que cometeram atos
que não são tipificados em seu território. Com o advento da Convenção, esses requisitos
se tornam mais flexíveis, uma vez que ela prevê que mesmo crimes que não são
definidos nos mesmos termos ou categoria podem ser considerados como equivalentes,
permitindo a extradição.

A extradição deve ser assegurada nos casos de crimes elencados pela Convenção, e
quando as condições de dupla incriminação são preenchidas. Os países signatários
não devem conceber os crimes de corrupção como crimes políticos. E países que
condicionam a extradição à existência de acordos podem utilizar a Convenção como
base legal. No caso de países que não extraditam nacionais, devem utilizar o pedido do
outro país como base para um processo interno. Ademais, a Convenção prevê que os
países signatários devem procurar adaptar suas leis nacionais aos tratados existentes.

É possível a recusa do pedido de extradição em virtude de perseguição por gênero, raça,


religião, nacionalidade, etnia ou opiniões políticas. Mesmo não sendo uma exigência,
a Convenção recomenda uma consulta ao país solicitante antes de uma recusa, com o
objetivo de permitir a apresentação de informações complementares que possam levar
a um resultado diverso.

A Convenção prevê medidas mais amplas de assistência legal mútua em investigações,


processo e procedimentos legais no que se refere aos crimes ali previstos. Dentre citadas
medidas, evidenciam-se a designação de uma autoridade central para receber, executar
e transmitir pedidos de assistência legal mútua; a proibição à recusa de assistência
legal mútua com fundamento no sigilo bancário; e a possibilidade de a assistência legal
mútua ser oferecida na falta de dupla criminalização, desde que não incidam medidas
coercitivas.
63
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Os países signatários deverão cooperar entre si para ampliar a eficácia da aplicação da


lei e constituir canais de comunicação para garantir o intercâmbio ágil de informações
acerca dos aspectos dos crimes compreendidos pela Convenção. Devem, ainda,
considerar a celebração de acordos bilaterais ou multilaterais que possibilitem a
criação de órgãos mistos de investigação relacionados às matérias que são objeto de
investigações, processos ou ações judiciais em um ou mais países. Ademais, os países
devem permitir o uso de técnicas especiais de investigação, tais como a vigilância
eletrônica e outros modos de operações sigilosas, além de permitir a admissibilidade
das provas obtidas através dessas técnicas nos tribunais.

»» Recuperação de Ativos (Capítulo V)

Artigo 51 - Disposição geral.

Artigo 52 - Prevenção e detecção de transferências de produto de delito.

Artigo 53 - Medidas para a recuperação direta de bens.

Artigo 54 - Mecanismos de recuperação de bens mediante a cooperação


internacional para fins de confisco.

Artigo 55 - Cooperação internacional para fins de confisco.

Artigo 56 - Cooperação especial.

Artigo 57 - Restituição e disposição de ativos.

Artigo 58 - Departamento de inteligência financeira.

Artigo 59 - Acordos e tratados bilaterais e multilaterais.

A recuperação de ativos é uma inovação relevante e um princípio essencial da Convenção.


Os países signatários devem apoiar-se mutuamente com vastas medidas de cooperação
e assistência neste setor, com o intuito de fazer valer os interesses das vítimas e dos
proprietários legítimos desses recursos.

Os Estados Partes devem exigir das instituições financeiras: verificação da identidade


de seus clientes; determinação da identidade de beneficiários de contas volumosas;
aplicação de controle redobrado a contas mantidas por altos funcionários públicos;
comunicação de transações suspeitas às autoridades competentes; e prevenção do
estabelecimento de bancos sem presença física.

O art. 53 que trata da recuperação direta foca na possibilidade de os países signatários


terem um regime que possibilite a outro signatário iniciar um processo civil para a
recuperação de ativos ou para interferir ou atuar no processo doméstico para reforçar

64
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

seu pedido por compensação. Deste modo, os Estados Parte podem dar início a uma
ação civil nas cortes de outro país para estabelecer direito à propriedade de bens
adquiridos através de corrupção. E, por sua vez, os Tribunais podem ordenar culpados
por corrupção a ressarcir outro Estado, e reconhecer, em decisões de confisco, pedido de
outra parte como legítima proprietária dos bens. O processo civil demonstra utilidade
na impossibilidade do processo criminal em decorrência da morte ou ausência do
suspeito permite o estabelecimento de culpa com fundamento nos padrões civis, com
diferentes procedimentos processuais.

Os países signatários devem permitir que suas autoridades cumpram uma ordem de
confisco ou de congelamento por um tribunal de outro signatário solicitante. Devem,
também, considerar medidas que possibilitem o confisco, mesmo sem uma condenação
no âmbito criminal, no caso de o acusado não poder mais processado em razão de morte
ou ausência.

Como princípio geral, os países signatários devem alienar os bens confiscados,


restituindo-os a seus legítimos donos, tanto nos que se referem à fraude e ao desvio
de recursos públicos, quanto à lavagem de recursos obtidos ilegalmente. Para outros
crimes de corrupção, os mesmos procedimentos devem ser adotados, tendo sido
razoavelmente estabelecida a legitimidade do proprietário. Em todos os demais casos,
será dada preferência ao retorno dos bens confiscados à parte solicitante, o retorno dos
bens aos legítimos donos, ou o uso para a compensação das vítimas.

A Convenção da ONU é o mais amplo tratado internacional sobre prevenção e combate


à corrupção. Ela é, atualmente, o instrumento internacional supremo juridicamente
vinculante, isto é, que obriga os países signatários que a ratificaram a cumprir suas
previsões, podendo ser pressionados pela comunidade internacional a fazê-lo. Em
razão de seu caráter global, a Convenção demonstra a preocupação de todos com o
problema da corrupção.

No Brasil, a partir da ratificação da Convenção, ela ingressou no ordenamento jurídico


pátrio como Lei Ordinária, isto é, para integrar o ordenamento interno, com exceção
para as cláusulas de direito penal, e sua observação é obrigatória para todos.

Objetivos da Convenção

»» Promoção e fortalecimento das medidas para prevenção e combate de


maneira mais eficaz e eficiente a corrupção.

»» Promoção, favorecimento e apoio a cooperação internacional e


a assistência técnica na prevenção e na luta contra a corrupção,
incluindo-se a recuperação de ativos.

65
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

»» Promoção a integridade, a obrigação de apresentar contas e a devida


gestão dos assuntos e dos bens públicos.

Auxílio na prevenção e combate a corrupção

A Convenção aborda quatro temas essenciais: a prevenção, a tipificação dos atos de


corrupção, a cooperação internacional e a recuperação de ativos.

No que diz respeito à prevenção, foram previstas medidas como a criação de agências
anticorrupção, maior transparência no setor público, participação da sociedade, criação
de códigos de conduta para funcionários públicos e regras para a contratação pública e
gestão da Fazenda Pública.

No que se refere à criminalização, os países signatários comprometeram-se a tipificar


vários atos considerados atos de corrupção, muitos dos quais já se encontravam
tipificados em nossa pela legislação.

No tocante à cooperação internacional, estão previstas ações conjuntas com o intuito


de prevenir, investigar e assistir juridicamente, além da possibilidade da extradição de
réus.

Por sua vez, a recuperação de ativos é um princípio essencial da Convenção e tem por
finalidade restituir ao país signatário lesado os bens desviados e transferidos a outros
signatários em consequência de delito qualificado como ato de corrupção conforme a
Convenção.

O Brasil e o cumprimento das determinações da


convenção

O Brasil vem fortalecendo as instituições responsáveis pela prevenção e combate


à corrupção e adaptando sua legislação para que esta seja instrumento efetivo na
repressão desse delito. A Controladoria-Geral da União (CGU), desde que foi criada, vem
efetuando constantes ações de auditoria e apuração de fraudes e desvios de recursos,
algumas, inclusive, em parceria com a Polícia Federal (PF), com o Ministério Público
Federal (MPF) e com os Ministérios Públicos dos Estados (MPE).

Além disso, a CGU vem cumprindo as funções típicas de uma agência anticorrupção.
Nesse panorama, também estão sendo desenvolvidas estratégias e políticas de prevenção
e combate à corrupção. Em razão da sua distinta atuação, a CGU está em rota de
tornar-se um órgão de referência da ONU no combate à corrupção para os países do
continente, como já anunciado pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crime (UNODC) no Brasil.

66
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Implementação das medidas preventivas previstas na


Convenção

Para saber mais sobre a implementação das medidas previstas na Convenção, é possível
acessar o Guia de Implementação das Medidas Preventivas previstas na Convenção das
Nações Unidas contra Corrupção26, ele tem por objetivo orientar os governos quanto à
implementação das medidas da Convenção trazendo uma análise geral sobre o tema,
desafios e soluções práticas.

Comentários a Convenção das Nações Unidas contra a


corrupção

Sendo composta de 71 artigos é o mais extenso texto juridicamente vinculante de luta


contra a corrupção.

É o primeiro tratado global contra a corrupção.

Passou a integrar o ordenamento brasileiro com a edição do Decreto no 5.687, de 31 de


janeiro de 2006.

Fortaleceu o combate à corrupção.

O decreto promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, também


conhecida como Convenção de Mérida em razão de a Convenção ter sido realizada em
2003, na cidade de Mérida, no México, tendo resultado no documento assinado por
mais de 100 (cem) países (dentre eles o Brasil) que se comprometeram a combater a
corrupção.

A Convenção proporciona:

»» estrutura legal para tipificar práticas de corrupção;

»» meios para ampliar a cooperação internacional no enfrentamento de


paraísos fiscais; e

»» facilitação da recuperação de ativos desviados para o exterior.

Definições (artigo 2)

Funcionário Público:

a) Por “funcionário público” se entenderá:

i) toda pessoa que ocupe um cargo legislativo, executivo, administrativo


ou judicial de um Estado Parte, já designado ou empossado, permanente

26 Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-internacional/convencao-da-onu/arquivos/guia-das-medidas-


preventivas>. Acesso em: 26 fev.2017.

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UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

ou temporário, remunerado ou honorário, seja qual for o tempo dessa


pessoa no cargo;

ii) toda pessoa que desempenhe uma função pública, inclusive em um


organismo público ou numa empresa pública, ou que preste um serviço
público, segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se
aplique na esfera pertinente do ordenamento jurídico desse Estado
Parte;

iii) toda pessoa definida como “funcionário público” na legislação interna


de um Estado Parte. Não obstante, aos efeitos de algumas medidas
específicas incluídas no Capítulo II da presente Convenção, poderá
entender-se por “funcionário público” toda pessoa que desempenhe
uma função pública ou preste um serviço público segundo definido na
legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente do
ordenamento jurídico desse Estado Parte;

Funcionário Público Estrangeiro

b) Por “funcionário público estrangeiro” se entenderá toda pessoa


que ocupe um cargo legislativo, executivo, administrativo ou judicial
de um país estrangeiro, já designado ou empossado; e toda pessoa que
exerça uma função pública para um país estrangeiro, inclusive em um
organismo público ou uma empresa pública;

Funcionário de uma Organização Internacional Pública.

c) Por “funcionário de uma organização internacional pública” se


entenderá um funcionário público internacional ou toda pessoa que tal
organização tenha autorizado a atuar em seu nome;

Bens

d) Por “bens” se entenderá os ativos de qualquer tipo, corpóreos


ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis e os
documentos ou instrumentos legais que creditem a propriedade ou
outros direitos sobre tais ativos;

Produto de Delito

e) Por “produto de delito” se entenderá os bens de qualquer índole


derivados ou obtidos direta ou indiretamente da ocorrência de um
delito;

68
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Embargo Preventivo ou Apreensão.

f) Por “embargo preventivo” ou “apreensão” se entenderá a proibição


temporária de transferir, converter ou trasladar bens, ou de assumir a
custódia ou o controle temporário de bens sobre a base de uma ordem
de um tribunal ou outra autoridade competente;

Confisco.

g) Por “confisco” se entenderá a privação em caráter definitivo de bens


por ordem de um tribunal ou outra autoridade competente;

Delito Determinante.

h) Por “delito determinante” se entenderá todo delito do qual se derive


um produto que possa passar a constituir matéria de um delito definido
no Artigo 23 da presente Convenção;

Entrega Vigiada.

i) Por “entrega vigiada” se entenderá a técnica consistente em permitir


que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais
Estados, o atravessem ou entrem nele, com o conhecimento e sob a
supervisão de suas autoridades competentes, com o fim de investigar
um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência.

Facilitação da Comunicação ─ Para facilitar a comunicação entre os Estados parte, a


Convenção prevê, igualmente, a cooperação interna, entre os órgãos responsáveis pelo
combate a corrupção.

Instituição Independente ─ A Convenção prevê independência do Ministério Público


para garantir isenção na luta contra à corrupção.

Prevenção à corrupção ─ No que se refere à prevenção à corrupção, a Convenção


prevê que os países signatários implementem políticas contra a corrupção efetivas que
promovam a participação social e promovam os princípios do Estado de Direito assim
como: a integridade; a transparência; e a prestação de contas (accountability), dentre
outros.

Deveres assumidos:

1. adoção de sistemas de seleção e recrutamento com critérios objetivos de


mérito;

2. adoção de medidas para ampliar a transparência no financiamento de


campanhas de candidatos e partidos políticos.

69
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

3. desenvolvimento de códigos de conduta que englobem medidas que


estimulem denúncias de corrupção por parte dos servidores, e de
desestimulem o recebimento de presentes, ou de qualquer ação que possa
gerar conflito de interesses.

4. adoção de medidas para aumentar o acesso às contas públicas para os


cidadãos;

5. estímulo a participação social nesse processo; e

6. adoção de medidas preventivas à lavagem de dinheiro.

Ressalta que a independência do Poder Judiciário e do Ministério Público é essencial


para o combate à corrupção.

Medidas no setor privado ─ A Convenção prevê medidas de prevenção à corrupção não


somente no âmbito público, mas também no âmbito privado. Entre elas:

1. desenvolvimento de padrões de auditoria e de contabilidade para as


empresas;

2. previsão de sanções civis, administrativas e penais efetivas e que possuam


um caráter inibidor para futuras ações;

3. promoção da cooperação entre os aplicadores da lei e as empresas


privadas;

4. prevenção do conflito de interesses;

5. proibição da existência de “caixa dois” nas empresas; e

6. desestímulo de isenção ou redução de impostos a despesas tidas como


suborno ou outras condutas afins.

Penalização e aplicação da lei – A Convenção pede aos países signatários a introdução,


em seus ordenamentos jurídicos, de tipos penais que abranjam não somente as formas
básicas de corrupção, como o suborno e o desvio de recursos públicos, mas, igualmente
atos que contribuam para a corrupção, assim como obstrução da justiça, tráfico de
influência e lavagem de recursos fruto da corrupção.

A penalização da corrupção é condicionada a existência de meios que permitam o


sistema de justiça criminal realizar ações de detenção, processo, punição e reparação
ao país.

70
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Os países signatários têm obrigação de tipificar:

1. o suborno a funcionários públicos;

2. a corrupção ativa a oficiais estrangeiros;

3. a fraude e a apropriação indébita;

4. a lavagem de dinheiro; e

5. a obstrução da justiça.

Recomenda a tipificação das condutas de:

1. corrupção passiva de oficiais estrangeiros;

2. tráfico de influências;

3. abuso de poder;

4. enriquecimento ilícito; e

5. suborno no setor privado e desvios de recursos no setor privado.

Outros Crimes:

De acordo com a Convenção, os países signatários devem tipificar as seguintes condutas


quando cometidas intencionalmente:

a fraude, a apropriação indébita ou qualquer outro desvio de recursos


por parte de funcionário público, em seu benefício, ou em benefício
de terceiros, de qualquer propriedade, fundos públicos ou privados
ou qualquer outra coisa de valor a ele confiada em virtude de sua
função”.“aos atos de converter, transferir, ocultar ou dissimular
produtos oriundos do crime, e também a quem adquire, possui ou se
utiliza desses produtos.

Sobre a obstrução da justiça:

influenciar testemunhas em potencial em posição de prover evidências,


por meio do uso da força, de ameaças ou intimidação; e

interferir no exercício da função de oficias ou membros da Justiça pelos


mesmos meios.

71
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Cooperação internacional

O capítulo que versa a respeito da cooperação internacional destaca que todos os pontos
dos esforços anticorrupção precisam de cooperação internacional, como:

1. assistência legal mútua na coleta e transferência de evidências;

2. nos processos de extradição; e

3. ações conjuntas de investigação, rastreamento, congelamento de bens,


apreensão e confisco de produtos da corrupção.

Inovação:

Uma das inovações trazidas pela Convenção diz respeito a permissão de assistência
legal mútua ainda na falta de dupla incriminação, quando não estiverem envolvidas
medidas coercitivas.

Dupla incriminação:

Segundo o princípio da dupla incriminação um país signatário não precisa extraditar


pessoas que adotaram condutas que não são tipificadas em seu território.

Requisitos maleáveis:

Com a Convenção, esses requisitos (dupla incriminação) se tornam mais maleáveis,


uma vez que possibilita que mesmo crimes que não são definidos nos mesmos termos ou
categoria podem ser considerados como equivalentes, tornando possível a extradição.

Extradição:

No que se refere à extradição ela deve ser garantida, pelos países signatários da
convenção, nos casos de crimes ali mencionados, e quando presentes os requisitos de
dupla incriminação.

Corrupção:

Os Estados signatários da Convenção não devem entender os crimes de corrupção como


crimes políticos.

Convenção como base legal para a extradição:

De acordo com a Convenção, países que condicionam a extradição à existência de


acordos podem utilizar-se da Convenção como base legal. No caso de países que não
extraditam nacionais, deverão utilizar-se do pedido de extradição do outro país como
base para um processo interno.

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Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

Harmonização da Legislação:

A Convenção prevê, ainda, que os países signatários, procurem adequar suas leis
internas aos tratados assinados.

Outras Informações:

Mesmo não sendo obrigatório, a Convenção recomenda uma consulta ao país solicitante
da extradição antes de uma recusa, com o objetivo de obter informações adicionais que
possam levar a um resultado diverso.

Investigações:

A Convenção prevê medidas mais amplas de assistência legal mútua em investigações,


processo e procedimentos legais no que se refere aos crimes ali previstos. Entre essas
medidas, destacam-se:

1. indicação de uma autoridade central para receber, executar e transmitir


pedidos de assistência legal mútua;

2. proibição à recusa de assistência legal mútua baseada em sigilo


bancário; e

3. possibilidade de assistência legal mútua na ausência de dupla


criminalização, desde que não haja medidas coercitivas.

Os países signatários deverão cooperar entre si com o objetivo de ampliar a eficácia


da aplicação da lei e determinar canais de comunicação para garantir a agilidade na
troca de informações a respeito de todos os aspectos dos crimes compreendidos pela
Convenção.

Órgãos Mistos:

Os países signatários devem considerar a celebração de acordos bilaterais ou


multilaterais que permitam a criação de órgãos mistos de investigação em relação às
matérias tratadas na Convenção e envolvam um ou mais Estados.

Técnicas Especiais de Investigação:

Os Estados Partes devem possibilitar o uso de técnicas especiais de investigação, tais


como:

1. vigilância eletrônica e outros meios de operações sigilosas;

2. admissibilidade das provas obtidas através dessas técnicas nos tribunais.

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UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Recuperação de Ativos:

A recuperação de ativos além se configurar uma relevante inovação é um princípio


essencial da Convenção. Assim, os países signatários devem apoiar-se mutuamente
com amplas medidas de cooperação e assistência neste campo, com a finalidade de
fazer valer os interesses das vítimas e dos donos legítimos desses recursos.

Os países signatários devem exigir de suas instituições financeiras:

1. Verificação da identidade de seus clientes;

2. Indicação da identidade de beneficiários de contas volumosas;

3. Aplicação de controle rigoroso sobre contas mantidas por altos


funcionários públicos;

4. Informação de transações suspeitas às autoridades competentes; e

5. Evitar o estabelecimento de bancos sem presença física.

Processo Civil de Recuperação:

A Convenção possui um artigo que trata diretamente da possibilidade de os países


signatários adotarem um regime que possibilite a outro signatário a dar início a um
processo civil para a recuperação de ativos ou para intervir ou atuar no processo
doméstico para acentuar seu pedido por compensação. Assim, os países signatários
podem iniciar uma ação civil nas cortes de outro signatário para estabelecer direito à
propriedade de bens adquiridos através de corrupção.

Condenação de Ressarcir outro Estado Parte:

Segundo a Convenção os tribunais devem poder identificar culpados por corrupção a


ressarcir outro país signatário, e reconhecer, em decisões de confisco, pedido de outra
parte como legítima proprietária dos bens.

O processo civil demonstra sua utilidade na impossibilidade do processo criminal


devido à morte ou ausência do suspeito uma vez que possibilita o estabelecimento de
culpa com fundamento nos padrões civis, com diferentes procedimentos processuais.

Confisco ou Congelamento:

Os países signatários devem permitir que suas autoridades cumpram uma ordem de
confisco ou de congelamento por um tribunal de outro signatário solicitante. Assim
como, devem considerar medidas que possibilitem o confisco, mesmo sem uma

74
Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção │ UNIDADE IV

condenação no âmbito criminal, quando o acusado não puder mais ser processado em
razão de sua morte ou ausência.

Devolução aos Legítimos Donos:

Como princípio geral, os países signatários devem alienar os bens confiscados,


devolvendo-os a seus legítimos proprietários, tanto no que se refere à fraude e ao desvio
de recursos públicos, quanto à lavagem de recursos adquiridos ilegalmente.

Para os demais crimes de corrupção, os mesmos procedimentos devem ser adotados,


quando entender-se razoavelmente estabelecida a legitimidade do dono. Em outros
casos, será dada prioridade ao retorno dos bens confiscados à parte solicitante, o retorno
dos bens aos legítimos donos, ou o uso para a compensação das vítimas.

Conferência dos Estados Partes da Convenção das Nações Unidas contra a


Corrupção

Como guardião da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, o UNODC deve
agir para:

1. promover a ratificação da convenção;

2. oferecer assistência técnica;

3. apoiar a realização de conferências dos países signatários;

4. promover a implementação efetiva e eficiente da Convenção;

5. assistir os países signatários no cumprimento integral da Convenção; e

6. facilitar a ratificação global da Convenção.

Doha/2009 - Mecanismos de Monitoramento:

Por iniciativa do United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), em


novembro de 2009, mais de 1.000 (mil) delegados de 125 (cento e vinte e
cinco) países se reuniram em Doha, no Catar, para avaliar a implementação
da Convenção das Nações Unidas contra Corrupção.

O principal resultado obtido nessa reunião foi a criação de um mecanismo de


monitoramento da implementação da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.
Pelo acordo firmado, todos os países signatários serão monitorados a cada 5 (cinco)
anos, com o objetivo de se avaliar como estão cumprindo as obrigações assumidas.

75
UNIDADE IV │ Convenções Anticorrupção - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Checklist27

Referida avaliação é efetuada através de um software, que inclui um check-list (lista


de verificação) sobre a aplicação da Convenção. Os resultados dessas avaliações,
baseadas em processos de autoavaliação e em visitas de especialistas internacionais,
são compilados em relatórios de revisão por país. Isto é, os países signatários poderão
ser avaliados pelo que estão de fato fazendo contra a corrupção e não somente por suas
promessas.

Além do mais, essa avaliação poderá apontar as lacunas existentes em cada país
signatário e, dessa forma, nortear a atuação do UNODC no que se refere a cooperação
técnica.

27 Resposta do Brasil ao questionário de avaliação referente ao primeiro ciclo de avaliação. Disponível em: <http://www.cgu.
gov.br/assuntos/articulacao-internacional/convencao-da-onu/arquivos/brasil-questionario-avaliativo-1-ciclo>. Acesso em: 1
mar. 2017.

76
Principais
Diretrizes Unidade V
Internacionais

Capítulo 1
Princípios para Combater a Corrupção
nos Negócios: Transparência
Internacional28

Segundo o Guia de Princípios para Combater a corrupção nos Negócios da Transparência


internacional, os princípios empresariais para combater o suborno foram originalmente
desenvolvidos por meio de um abrangente processo com vários stakeholders,
envolvendo empresas, organizações não governamentais (ONGs) e sindicatos, como
um instrumento para auxiliar empresas a desenvolverem abordagens eficazes para
combaterem a corrupção em todos os aspectos das suas atividades.

As empresas devem desenvolver e implementar um programa anticorrupção como


uma expressão dos seus valores éticos mais abrangentes e da sua responsabilidade
corporativa. Um programa anticorrupção deve, ainda, ressaltar o combate ao suborno.
O risco de que subornos ocorram pode variar dependendo da indústria ou da empresa,
entretanto nenhuma organização está totalmente livre de sua ocorrência. Além de
reduzir esse risco, um programa anticorrupção eficaz ajuda, igualmente, a fortalecer
a reputação da organização, a promover o respeito dos seus funcionários, a aumentar
a credibilidade entre os principais stakeholders e a apoiar o seu compromisso com
comportamentos honestos e responsáveis.

Os Princípios concebidos têm o intuito de oferecer uma estrutura que pode auxiliar
as empresas a desenvolverem, compararem ou fortalecerem os seus programas
anticorrupção. Esses Princípios espelham um padrão alto, mas atingível, para a prática
anticorrupção. Eles são aplicáveis tanto ao suborno de agentes públicos quanto a
transações entre entidades privadas.

28 Princípios para Combater a Corrupção nos Negócios: Transparência Internacional - Disponível em: <http://www.transparency.
org/whatwedo/publication/business_principles_for_countering_bribery> - Acesso em 3 jun.2017.

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UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Originalmente, publicados em 2003, foram revistos em 2009, outra revisão ocorreu


em 2013 como parte de um processo regular de revisão realizado com a contribuição
do Comitê Diretor para garantir que os Princípios permaneçam expressivos no que se
refere a eventuais alterações nas leis anticorrupção e práticas empresariais.

Os princípios empresariais

»» As empresas devem proibir subornos de todas as maneiras, sejam diretos


ou indiretos.

»» As empresas devem se comprometer com a implementação de um


programa para combater a corrupção. Esse programa deve representar
os esforços da empresa contra subornos, incluindo valores, códigos
de conduta, políticas e procedimentos detalhados, gestão de riscos,
comunicação interna e externa, treinamento e orientação, controles
internos, supervisão, monitoria e garantia.

Tais Princípios são pautados no compromisso do Comitê Diretor com os valores


essenciais de integridade, transparência e responsabilidade. As empresas devem criar
e manter uma cultura interna de responsabilidade individual que seja inclusiva e
fundamentada em confiança, segundo a qual subornos não serão admitidos.

Desenvolvimento de um Programa para combater


a Corrupção

»» As empresas devem desenvolver um Programa que expresse de forma


clara e razoavelmente detalhada os valores, políticas e procedimentos
a serem utilizados para precaver a ocorrência de subornos em todas as
atividades sob o seu controle efetivo.

»» As empresas devem conceber e aprimorar o seu Programa pautados em


uma avaliação periódica dos riscos.

»» O Programa deve ser fundamentado em todas as legislações relevantes de


combate à corrupção em cada uma das jurisdições nas quais atua.

»» As empresas devem desenvolver o Programa consultando seus


funcionários, sindicatos ou outras entidades de representação de
funcionários, assim como aos stakeholders relevantes.

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Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

»» A organização deve assegurar que está informada em relação a todas as


questões internas e externas que sejam relevantes ao desenvolvimento
e implementação eficazes do Programa e, particularmente, em relação
a melhores práticas emergentes, incluindo o envolvimento com os
stakeholders relevantes.

Avaliação de riscos
»» O Programa deve ser harmonizado de acordo com os riscos do negócio,
circunstâncias e cultura específicos da empresa, considerando os
riscos inerentes, tais como os locais e setores do negócio, e os riscos
organizacionais, assim como o tamanho da empresa e a utilização de
canais intermediários.

»» As empresas devem atribuir responsabilidades para a supervisão e


implementação da avaliação de riscos.

Escopo do programa
»» O Programa deve versar sobre os riscos de corrupção relevantes à
organização e deve, no mínimo, englobar as seguintes áreas:

»» Conflitos de interesse

›› As empresas devem fixar políticas e procedimentos para identificar,


monitorar e gerenciar conflitos de interesse que possam gerar risco
de suborno, sejam estes reais, potenciais ou aparentes. Tais políticas e
procedimentos devem ser aplicados a diretores, oficiais, funcionários e
terceiros, tais como agentes, lobistas e demais intermediários.

»» Propinas

›› As empresas devem vetar todas as formas de suborno, tanto diretamente


quando através de terceiros.

›› As empresas devem proibir, igualmente, que os seus funcionários


peçam, organizem ou aceitem subornos objetivando o seu benefício ou
de seus familiares, amigos, associados ou colegas.

»» Contribuições políticas

›› As empresas, seus funcionários, agentes, lobistas ou outros


intermediários não devem contribuir direta ou indiretamente a
partidos políticos, organizações ou indivíduos envolvidos na política,

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UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

como maneira de auferir uma vantagem injusta em transações de


negócios.

›› As empresas devem fazer divulgação pública de todas as suas


contribuições políticas.

»» Contribuições de caridade e patrocínios

›› As empresas devem garantir que contribuições de caridade e patrocínios


não são usados para encobrir subornos.

›› As empresas devem divulgar publicamente todas as suas contribuições


para caridade e patrocínios.

»» Pagamentos de facilitação29

›› Confirmando que pagamentos de facilitação configuram subornos, as


empresas devem proibi-los totalmente.

»» Presentes, hospitalidade e despesas

›› As empresas devem desenvolver políticas e procedimentos para


garantir que todos os presentes e despesas, incluindo de hospitalidade,
são de boa-fé. As empresas devem vetar que sejam ofertados, dados ou
recebidos presentes, hospitalidade ou quaisquer despesas que possam
influenciar ou serem razoavelmente considerados como passíveis de
influenciar indevidamente o resultado de transações comerciais.

Requisitos para a implementação do programa

»» Organização e responsabilidades.

›› O Conselho Diretor ou a entidade equivalente deve comprovar um


compromisso visível e ativo com a implementação do Programa da
empresa.

›› O Diretor Executivo ou CEO é responsável por garantir que o


Programa seja realizado de maneira consistente e com uma matriz de
responsabilidades clara.
29 Pagamentos de facilitação, também conhecidos como pagamentos facilitadores, expressos ou de via rápida, são pagamentos
não oficiais de pequena quantia feitos para garantir ou agilizar o desempenho de uma ação rotineira ou necessária, em relação
à qual o pagador tenha o direito legal ou de outra natureza.

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Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

»» Relações comerciais.

›› As empresas devem implementar o seu Programa em todas as entidades


empresariais que estejam sob o seu controle efetivo30.

›› Não tendo controle efetivo, deve utilizar a sua influência para incentivar
um programa equivalente nas entidades empresariais nas quais tenha
um investimento significativo ou com as quais tenha relações de
negócios consideráveis.

›› Tendo ou não o controle efetivo sobre uma entidade empresarial,


a organização deve implementar um processo de due diligence
anticorrupção, que seja bem documentado, razoável e proporcional, em
relação às entidades empresariais com as quais pretende estabelecer
relação, incluindo fusões, aquisições e investimentos consideráveis.

›› As empresas devem evitar lidar com entidades empresariais que sejam


conhecidas por pagar ou receber subornos, ou sobre as quais pairem
suspeitas.

›› As empresas devem realizar um monitoramento razoável e proporcional


das suas relações comerciais mais significativas, podendo incluir o
direito de inspeção de contas e registros.

›› As empresas devem documentar aspectos importantes da


implementação do seu Programa ou equivalente em entidades
associadas (empresas com as quais possui relacionamento, sejam
fornecedores, clientes, intermediários, entre outros).

›› Caso as políticas e práticas das entidades associadas estiverem em


conflito com os princípios do seu próprio Programa, as empresas
devem adotar as medidas necessárias, podendo incluir a solicitação da
correção de deficiências na implementação do Programa e a aplicação
de sanções.

›› As empresas devem ter o direito de interromper contratos caso


as entidades associadas se envolvam em suborno ou outros atos
inconsistentes com o seu Programa.

30 Sobre “controle efetivo” entende-se não somente a companhia que detêm o controle acionário de outra como também qualquer
companhia que seja acionista de outra e de alguma maneira exerça controles e defina nesta as decisões, seja por acordo ou por
contrato.

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UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

»» Joint ventures e consórcios

›› Quando a organização não puder assegurar que uma joint venture


ou consórcio tenha um programa consistente com o seu, deve ter um
plano para tomar as medidas necessárias caso ocorra um suborno ou
caso acredite-se razoavelmente que um suborno possa ter ocorrido.
Esse plano pode incluir a solicitação da correção de deficiências na
implementação do programa da joint venture ou do consórcio, a
aplicação de sanções ou o término do contrato.

»» Agentes, lobistas e outros intermediários.

›› A organização não deve realizar pagamentos indevidos através de


agentes, lobistas ou outros intermediários.

›› Antes de nomear agentes, lobistas ou outros intermediários, as


empresas devem realizar um processo de due diligence adequadamente
documentado.

›› Todos os acordos com agentes, lobistas ou outros intermediários


devem obter a aprovação prévia da diretoria.

›› As compensações pagas a agentes, lobistas ou outros intermediários


devem constituir uma remuneração apropriada e justificável pelos
serviços legítimos prestados.

›› Agentes, lobistas e outros intermediários devem concordar


contratualmente em atender ao Programa da empresa e podem receber
conselhos e documentações que expliquem essa obrigação.

›› As empresas devem exigir contratualmente que os seus agentes, lobistas


e outros intermediários mantenham contas e registros disponíveis
para a inspeção da empresa, auditores ou autoridades de investigação.

»» Subcontratados e fornecedores

›› As empresas devem dirigir as suas práticas de aquisições e contratações


de forma justa e transparente.

›› As empresas devem adotar as medidas necessárias para identificar os


seus subcontratados e fornecedores.

›› As empresas devem avaliar o risco de suborno entre os seus


subcontratados e fornecedores, assim como promover monitorias
regulares.

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Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

›› As empresas devem comunicar o seu Programa Anticorrupção aos


seus subcontratados e fornecedores e trabalhar em parceria com os
principais subcontratados e fornecedores para auxiliá-los a desenvolver
as suas próprias práticas anticorrupção.

»» Recursos humanos

›› As práticas de recursos humanos, incluindo recrutamento,


promoção, treinamento, avaliação de desempenho, remuneração e
reconhecimento, devem espelhar o compromisso da empresa com o
Programa.

›› As políticas e práticas de recursos humanos importantes para o


Programa devem ser desenvolvidas e implementadas em consulta
com funcionários, sindicatos ou outras entidades de representação de
funcionários.

›› As empresas devem deixar claro que nenhum funcionário sofrerá


qualquer consequência adversa por se recusar a pagar suborno, mesmo
que essa recusa possa causar perda de negócios para a empresa.

›› As empresas devem tornar o cumprimento do Programa obrigatório


para todos os funcionários e diretores, assim como aplicar as sanções
adequadas em casos de violação.

»» Treinamento.

›› Diretores, gerentes, funcionários e agentes devem receber treinamento


apropriado a respeito do Programa.

›› Quando adequado, os subcontratados e os fornecedores devem receber


treinamento sobre o Programa.

»» Levantando questionamentos e buscando orientações.

›› Para ser eficaz, o Programa deve confiar que os seus funcionários e


terceiros compartilhem suas preocupações e reportem violações assim
que possível. Para tal, a empresa deve proporcionar canais seguros e
acessíveis para que os seus funcionários e terceiros sintam-se capazes
de levantar questionamentos e denunciar violações de maneira
confidencial e sem o risco de retaliação.

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UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

›› Estes e outros canais devem estar acessíveis para que os funcionários


procurem orientações acerca da aplicação do Programa

»» Comunicação e relatório

›› As empresas devem estabelecer uma comunicação interna e externa


eficaz do Programa Anticorrupção.

›› As empresas devem divulgar publicamente informações sobre o seu


Programa, incluindo os sistemas de gestão utilizados para garantir a
sua implementação.

›› As empresas devem estar abertas para receber comunicações dos


stakeholders acerca do Programa e para se envolver com eles.

›› As empresas devem considerar a divulgação adicional ao público


acerca de pagamentos efetuados a governos, de maneira discriminada
para cada país em que ocorram.

›› No espírito de uma maior transparência e responsabilidade diante


dos stakeholders, a empresa deve considerar a divulgação das suas
participações materiais em subsidiárias, afiliadas, joint ventures e
outras entidades relacionadas.

»» Controles internos e manutenção de registros.

›› A empresa deve estabelecer e manter um sistema efetivo de controles


internos para combater o suborno, incluindo verificações e comparações
das suas práticas de contabilidade e manutenção de registros e de
outros processos comerciais relacionados ao Programa.

›› A empresa deve manter contas e registros corretos disponíveis para


inspeção e deve documentar devida e adequadamente todas as suas
transações financeiras. As empresas não devem manter um caixa dois.

›› A empresa deve submeter os sistemas de controle internos,


particularmente as suas práticas de contabilidade e manutenção de
registros, a revisões e auditorias periódicas, para oferecer garantias
sobre a sua concepção, implementação e eficácia.

»» Monitoramento e revisão.

›› A empresa deve estabelecer instrumentos de feedback e outros processos


internos para apoiar a melhoria contínua do Programa. A diretoria
da empresa deve monitorar o Programa e revisar periodicamente a

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Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

sua adequabilidade, relevância e eficácia, assim como implementar


melhorias de acordo com o necessário.

›› A diretoria deve esporadicamente descrever os resultados das revisões


do programa ao Comitê de Auditoria, Conselho Diretor ou entidade
equivalente.

›› O Comitê de Auditoria, o Conselho Diretor ou a entidade equivalente


deve fazer uma avaliação independente da adequabilidade do Programa
e divulgar as suas conclusões no Relatório Anual para acionistas.

»» Cooperação com autoridades.

›› As empresas devem colaborar devidamente com as autoridades no que


se refere a investigações e processos de suborno e corrupção.

»» Verificação independente.

›› Quando adequado, a empresa deve submeter-se voluntariamente a um


processo de revisão independente em relação à forma, implementação
e/ou eficácia do Programa.

›› Quando essa verificação independente for conduzida, a empresa deve


considerar a divulgação pública de que uma revisão externa foi feita,
juntamente com o parecer relatado.

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Capítulo 2
Guia de Boas Práticas sobre Controles
Internos, Ética e Compliance (OCDE)31

O Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos, Ética e Compliance é dirigido


às empresas para estabelecer e garantir a efetividade de controles internos, ética
e programas de cumprimento ou medidas para prevenir e detectar o suborno de
funcionários públicos estrangeiros em suas transações comerciais internacionais. É
dirigida, igualmente, às organizações empresariais e associações profissionais, que
desempenham um papel importante na assistência às empresas nestes esforços.

Para serem eficazes, esses programas ou medidas devem ser interligados com o quadro
global de conformidade de uma empresa. O documento pretende servir como orientação
sem vinculação jurídica para as empresas no estabelecimento de controles internos
eficazes, ética e programas de cumprimento ou medidas para prevenção e detecção de
suborno estrangeiro.

Trata-se de um Guia flexível que pode ser adaptado por empresas de todos os portes
conforme suas características individuais, incluindo a sua dimensão, tipo, estrutura
jurídica e localização geográfica e industrial de funcionamento, assim como os princípios
jurisdicionais e outros princípios legais básicos sob os quais operam.

Devem ser desenvolvidos programas eficazes de controle interno, de ética e de


conformidade ou medidas de prevenção e detecção de suborno estrangeiro baseado
em uma avaliação de risco que atenda às circunstâncias individuais de uma empresa,
principalmente os riscos de suborno estrangeiros que a empresa enfrenta.

Tais circunstâncias e riscos devem ser regularmente monitorados, reavaliados e


adaptados de acordo com o necessário para garantir a continuidade da eficácia dos
controles internos, da ética e do programa ou medidas de conformidade da empresa.

As empresas devem considerar, dentre outras, as seguintes boas práticas para assegurar
controles internos eficazes, ética e programas ou medidas de cumprimento com a
finalidade de prevenir e detectar o suborno estrangeiro:

1. apoio e empenho, explícito da alta gerência da empresa, controles


internos, programas de ética e compliance ou medidas de prevenção e
detecção de suborno estrangeiro;

31 Guia de Boas Práticas sobre Controles Internos, Ética e Compliance Disponível em: <http://www.oecd.org/daf/anti-
bribery/44884389.pdf> - Acesso em: 5 mar.2017.

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Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

2. política empresarial claramente articulada e visível que vete o suborno


estrangeiro;

3. o cumprimento desta proibição e os respectivos controles internos, ética


e programas ou medidas de conformidade é dever de todos os indivíduos
em todos os níveis da empresa;

4. a fiscalização dos programas de ética e de conformidade ou medidas


relacionadas ao suborno estrangeiro, incluindo a autoridade para relatar
assuntos diretamente a órgãos independentes de monitoramento, tais
como comitês de auditoria interna de conselhos de administração ou de
conselho de supervisão, é de um ou mais executivos seniores, com um
nível adequado de autonomia de gestão, recursos e autoridade;

5. programas de ética e compliance ou medidas de prevenção e detecção


de suborno estrangeiro, aplicáveis a todos os conselheiros, diretores e
funcionários, aplicáveis a todas as entidades sobre as quais a empresa
tem controle efetivo, abrangendo subsidiárias, sobre as seguintes áreas:
I) presentes; II) hospitalidade, entretenimento e despesas; III) viagens de
clientes; IV) contribuições políticas; V) doações e patrocínios de caridade;
VI) pagamentos de facilitação; e VII) solicitação e extorsão;

6. programas de ética e conformidade ou medidas voltadas a prevenção


e detecção de suborno estrangeiro aplicáveis, quando apropriado e
sujeito a acordos contratuais, a terceiros, tais como agentes e outros
intermediários, consultores, representantes, distribuidores, contratados
e fornecedores, consórcios e joint venture, incluindo, entre outros,
os seguintes elementos essenciais: I) due diligence devidamente
documentado com base no risco relativo à contratação, bem como a
supervisão adequada e regular de parceiros de negócios; II) informar
os parceiros de negócio do compromisso da empresa em cumprir as leis
no que se refere a proibições contra suborno estrangeiro e do programa
de ética e compliance da empresa ou medidas para prevenir e detectar
tais subornos; e III) procurar um compromisso recíproco de parceiros
comerciais.

7. Um sistema de procedimentos financeiros e contábeis, incluindo um


sistema de controles internos, pensado para garantir a manutenção de
livros, registros e contas justos e precisos, para assegurar que eles não
possam ser utilizados para fins de suborno estrangeiro ou esconder tais
subornos.

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UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

8. Medidas destinadas a garantir a comunicação periódica e a documentação


de todos os níveis da empresa sobre o programa de ética e conformidade
ou medidas relativas ao suborno estrangeiro, bem como, quando
apropriado, para as subsidiárias.

9. Medidas adequadas para encorajar e apoiar positivamente o cumprimento


de programas de ética e cumprimento ou medidas contra o suborno
estrangeiro, em todos os níveis da empresa.

10. Procedimentos disciplinares adequados para violações, em todos os níveis


da empresa, de leis contra suborno estrangeiro, e do programa de ética e
conformidade da empresa ou medidas relativas ao suborno estrangeiro;

11. Medidas eficazes para: I) fornecer orientações e aconselhamento aos


diretores, funcionários e, quando apropriado, parceiros de negócios,
sobre o cumprimento do programa ou medidas de ética e conformidade
da empresa, incluindo quando necessário de aconselhamento urgente
sobre situações difíceis em países estrangeiros; II) informações internas
e, sempre que possível, confidenciais por parte dos diretores, funcionários
e, se for o caso, sócios comerciais que não estejam dispostos a violar os
padrões profissionais ou a ética sob instruções ou pressões dos superiores
hierárquicos; e III) tomar as medidas adequadas em resposta a tais
relatórios.

12. Revisões periódicas dos programas ou medidas de ética e conformidade,


concebidos para avaliar e melhorar a sua eficácia na prevenção e detecção
de suborno estrangeiro, tendo em consideração desenvolvimentos
relevantes no campo e na evolução das normas internacionais e da
indústria, ações de organizações empresariais e associações profissionais.
As organizações empresariais e as associações profissionais podem
desempenhar um papel primordial na prestação de assistência a empresas,
sobretudo as pequenas e médias, no desenvolvimento de programas
ou medidas eficazes de controle interno, de ética e de conformidade
com o intuito de prevenir e detectar o suborno estrangeiro. Este apoio
pode incluir: a divulgação de informações sobre questões de suborno
estrangeiro; disponibilização de formação, meios de prevenção, a devida
diligência e outros mecanismos de conformidade; conselhos gerais sobre
a realização da due diligence; e aconselhamento geral e apoio para que
haja resistência à extorsão e solicitação.

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Capítulo 3
Guia de recursos para o FCPA –
Características de um Programa de
Compliance Efetivo32

Características de um Programa de
Compliance Efetivo
Empresas possuem diferentes tipos de necessidades em relação à conformidade,
dependendo do seu tamanho e dos riscos específicos associados a seus negócios, entre
outros fatores.

No que se refere à conformidade, não existe um programa de compliance


pré-estabelecido. Dessa forma, o Guia tem a função de oferecer uma visão geral sobre os
aspectos dos programas de conformidade que o DOJ e SEC avaliam, reconhecendo que
as empresas podem considerar uma série de fatores ao determinar o que é apropriado
para suas necessidades comerciais específicas.

Pequenas e médias empresas, certamente, terão programas de conformidade diferentes


de grandes corporações multinacionais, fato que o DOJ e a SEC consideram na avaliação
dos programas de conformidade das empresas.

Cada programa de conformidade deve ser adaptado às necessidades, riscos e desafios


específicos de uma empresa, as informações fornecidas pelo Guia não devem
ser consideradas um substituto para a avaliação da empresa. Quando elaborado
cuidadosamente, implementado com seriedade e executado de forma justa, um
programa de conformidade, independentemente de suas características particulares,
permitirá que a empresa evite violações, detecte as que venham a ocorrer e possam
corrigi-las pronta e adequadamente.

Compromisso da Alta Administração e de uma política claramente


articulada contra a corrupção

Dentro de qualquer empresa o Programa de Compliance inicia-se com o conselho de


administração e altos executivos definindo o tom adequado para o restante da empresa.
Gerentes e funcionários tomam suas decisões de acordo com as sugestões desses líderes
corporativos. Dessa forma, o DOJ e a SEC consideram o compromisso dos líderes
32 Guia de recursos para o FCPA - Características de um Programa de Compliance Efetivo – p. 57 - (DOJ e SEC) - Disponível
em:<http://www.justice.gov/sites/default/files/criminal-fraud/legacy/2015/01/16/guide.pdf> – Acesso em: 7 mar.2017.

89
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

corporativos com uma cultura de conformidade e verificam se esse compromisso


também é reforçado e implementado por gerentes médios e funcionários em todos os
níveis de uma empresa.

Um Programa de Conformidade bem concebido que não é aplicado de boa-fé,


como quando a gerência corporativa encoraja explicitamente ou implicitamente os
funcionários a se envolverem em má conduta para alcançar objetivos de negócios, será
ineficaz.

O DOJ e a SEC frequentemente encontraram empresas com programas de conformidade


que são fortes no papel, mas que, entretanto, têm violações significativas da FCPA
porque a administração não conseguiu implementar o programa de forma eficaz,
mesmo diante de sinais óbvios de corrupção.

Isso pode ser o resultado de uma equipe de vendas agressiva que evita que o pessoal
de conformidade faça o seu trabalho de forma eficaz e da alta administração, mais
preocupado em garantir uma oportunidade de negócio valiosa do que impor uma
cultura de conformidade, ao lado da equipe de vendas. Quanto maior a participação
financeira da transação, maior a tentação para a administração de escolher o lucro em
detrimento do cumprimento.

Uma forte cultura ética apoia diretamente um forte programa de conformidade. Ao


aderir aos padrões éticos, gerentes seniores irão inspirar gerentes de nível médio para
reforçar esses padrões. Os gerentes médios em conformidade, por sua vez, incentivarão
os funcionários a se esforçarem para alcançar esses padrões em toda a estrutura
organizacional. Em resumo, o cumprimento da FCPA e as regras éticas devem começar
no topo. O DOJ e a SEC avaliam, assim, se a alta direção articulou claramente os padrões
da empresa, comunicou-os em termos inequívocos, aderiu a eles escrupulosamente e
divulgou-os em toda a organização.

Código de Conduta e Políticas e


Procedimentos de Conformidade
O código de conduta de uma empresa é por diversas vezes a base sobre a qual um
programa de conformidade eficaz é construído. Como o DOJ repetidamente observou
em seus documentos de cobrança, os códigos mais eficazes são claros, concisos e
acessíveis a todos os funcionários e aqueles que conduzem negócios em nome da
empresa. Na verdade, seria difícil implementar um programa de conformidade se
não estivesse disponível na língua local para que os funcionários das subsidiárias
estrangeiras possam acessá-lo e entendê-lo. Ao avaliar um programa de conformidade,

90
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

o DOJ e a SEC irão analisar: se a empresa adotou medidas para assegurar que o código
de conduta permaneça atual e eficaz; se a empresa possui políticas e procedimentos
que descrevem as responsabilidades de conformidade; se detalha os controles internos
adequadamente. Práticas de auditoria e políticas de documentação e procedimentos
disciplinares também serão considerados.

Os tipos de políticas e procedimentos dependerão do tamanho e da natureza do negócio


e dos riscos associados ao negócio. Políticas e procedimentos eficazes exigem uma
compreensão aprofundada do modelo de negócios da empresa, incluindo seus produtos
e serviços, agentes de terceiros, clientes, interações governamentais e riscos industriais
e geográficos.

Entre os riscos que uma empresa pode precisar verificar incluem a natureza e a
extensão dos negócios com governos estrangeiros, incluindo pagamentos a funcionários
estrangeiros; utilização de terceiros; presentes, viagem e despesas de entretenimento;
doações de caridade e políticas; pagamentos e facilitação.

Algumas empresas com operações globais criaram processos de aprovação baseados


na web para rever e aprovar brindes de rotina, viagens e entretenimento envolvendo
funcionários estrangeiros e clientes particulares com limites monetários claros e
limitações anuais. Muitos desses sistemas têm flexibilidade interna para que a gerência
sênior, ou assessoria jurídica interna, possa ser informada e, em determinadas
circunstâncias, aprovar certas solicitações. Estes tipos de sistemas podem ser uma boa
maneira de conservar recursos corporativos e se devidamente implementados, prevenir
e detectar possíveis violações. Independentemente das políticas e procedimentos
específicos implementados, essas normas devem se aplicar em todos os níveis da
empresa.

Supervisão, autonomia e recursos

Ao avaliar um programa de conformidade, o DOJ e a SEC também consideram se uma


empresa atribuiu a responsabilidade pela supervisão e implementação do programa de
conformidade a um ou mais executivos seniores específicos dentro da organização.

Esses indivíduos devem ter autoridade dentro da organização, autonomia e recursos


suficientes para garantir que o programa de conformidade da empresa seja implementado
efetivamente.

Autonomia adequada geralmente inclui o acesso direto à autoridade máxima


da empresa, como o conselho de administração e os comitês do conselho de
administração. Dependendo do tamanho e da estrutura da empresa, pode ser

91
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

apropriado que a responsabilidade operacional seja delegada a outros indivíduos


específicos.

DOJ e SEC reconhecem que a estrutura de relatórios dependerá do tamanho e


complexidade de uma organização. Além disso, a quantidade de recursos dedicados ao
cumprimento dependerá, igualmente, do tamanho, complexidade, alcance geográfico e
riscos da empresa associados ao negócio.

Ao avaliar se uma empresa tem controles internos razoáveis, o DOJ e a SEC normalmente
consideram se esta dedicou pessoal e recursos adequados ao programa de conformidade,
dada a dimensão, estrutura e perfil de risco da empresa.

Os programas de conformidade fechados são geralmente mal vistos e ineficazes porque


os recursos são parcos, com foco no baixo risco, em detrimento das zonas de alto risco.
Dedica quantidade desproporcionada de tempo em determinadas áreas.

Da mesma forma, a realização de diligências idênticas em todos os terceiros,


independentemente dos fatores de risco, é muitas vezes contraproducente, desviando
a atenção e os recursos dos terceiros que representam os riscos mais significativos. O
DOJ e a SEC darão crédito significativo a uma empresa que implemente de boa-fé um
programa abrangente de conformidade com base no risco, mesmo que esse programa
não impeça uma infração em uma área de baixo risco, porque uma maior atenção e
recursos foram dedicados a um risco maior área.

Por outro lado, uma empresa que não consegue evitar uma violação em uma transação
economicamente significativa e de alto risco porque não conseguiu realizar uma due
diligence proporcional à dimensão e ao risco da transação provavelmente receba uma
avaliação baixa com base na qualidade e eficácia do seu programa de conformidade.

À medida que o risco de uma empresa para violações cresce, essa empresa deve
considerar o aumento de seus procedimentos de conformidade, incluindo a due
diligence e auditorias internas periódicas.

O grau apropriado com que a due diligence deve ser aplicada é específico e deve variar
de acordo com o país, tamanho e natureza da transação, assim como o método e o
montante de compensação de terceiros. Os fatores a serem considerados incluem,
por exemplo, os riscos apresentados pelo país e setor industrial, a oportunidade de
negócios, os potenciais parceiros comerciais, o nível de envolvimento com os governos, a
quantidade de regulamentação e supervisão governamentais e a exposição aos costumes
e à imigração na condução de negócios. Ao avaliar o programa de conformidade de

92
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

uma empresa, o DOJ e a SEC levam em consideração se e até que ponto uma empresa
analisa e trata os riscos particulares que enfrenta.

Treinamento e comunicação contínuos

As políticas de conformidade não podem funcionar a menos que sejam efetivamente


comunicadas em toda a empresa. Assim, o DOJ e a SEC avaliarão se uma empresa
tomou medidas para assegurar que as políticas e procedimentos relevantes foram
comunicados em toda a organização, através de treinamento e certificação periódicos
para todos os diretores, funcionários, funcionários relevantes e, quando apropriado,
agentes e parceiros de negócios.

Muitas empresas implementaram um mix de treinamentos na web e presencial


conduzidos em intervalos variados. Esses treinamentos geralmente abrangem as
políticas e procedimentos da empresa, instrução sobre leis aplicáveis, conselhos práticos
para abordar cenários da vida real e estudos de caso.

Independentemente de como uma empresa escolha por conduzir essa formação, o


importante é que a informação deve ser apresentada de uma forma adequada para o
público-alvo, incluindo a oferta de treinamento e materiais na língua local.

Além da existência e do alcance do programa de treinamento, a empresa deve


desenvolver medidas adequadas, dependendo de seu tamanho e sofisticação, para
oferecer orientação e aconselhamento sobre o cumprimento do programa de ética e
conformidade da empresa. Essas medidas ajudarão a assegurar que o programa de
conformidade é compreendido e seguido adequadamente em todos os níveis da empresa.

Medidas disciplinares
Além de avaliar a concepção e implementação de um programa de conformidade em
toda a organização, a execução desse programa é fundamental para a sua eficácia.
Um programa de conformidade deve ser aplicado do mais alto ao mais baixo escalão,
ninguém deve estar fora do seu alcance.

O DOJ e a SEC considerarão, portanto, se, ao aplicar um programa de conformidade, a


empresa tem procedimentos disciplinares apropriados e claros, se esses procedimentos
são aplicados de forma confiável, e se eles são proporcionais à violação. Muitas empresas
descobriram que publicitar ações disciplinares internamente, quando apropriado sob
a lei local, pode ter um efeito importante, demonstrando que ações antiéticas e ilegais
têm consequências rápidas e seguras.

93
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

O DOJ e a SEC reconhecem que os incentivos positivos também podem levar a um


comportamento adequado. Esses incentivos podem se dar de muitas formas, como
avaliações e promoções de pessoal, recompensas para melhorar e desenvolver o
programa de conformidade de uma empresa e recompensas pela ética e liderança de
conformidade.

Algumas empresas tornaram a aderência ao cumprimento uma métrica significativa


para os bônus da administração, assim a conformidade torna-se parte integrante da
preocupação cotidiana da administração.

Além de incentivos financeiros, algumas empresas destacaram o cumprimento dentro de


suas organizações, reconhecendo profissionais de conformidade e pessoal de auditoria
interna, outras reconheceram funcionários com promoções em suas carreiras.

A SEC incentivou as empresas a adotar meios para incentivar comportamentos éticos


e legais: a integridade, ética e conformidade fazem parte dos processos de promoção,
compensação e avaliação. A maneira mais eficaz de mostrar que fazer a coisa certa é
uma prioridade, é recompensá-la.

Por outro lado, se os funcionários são levados a acreditar que, quando se trata de
compensação e progressão na carreira, tudo o que conta é a rentabilidade de curto
prazo, e que cortar os procedimentos éticos é uma maneira aceitável de chegar lá, eles
vão fazer dessa maneira.

Independentemente do regime disciplinar ou dos incentivos potenciais que uma


empresa decida adotar, o DOJ e a SEC irão considerar se eles são aplicados de forma
justa e consistente em toda a organização. Nenhum executivo deve estar acima do
cumprimento, nenhum funcionário abaixo do cumprimento, e nenhuma pessoa dentro
de uma organização deve ser considerada muito valiosa para ser disciplinada.

Due diligence de Terceiros


Terceiros, incluindo agentes, consultores e distribuidores, são comumente utilizados
para ocultar o pagamento de subornos a funcionários estrangeiros em transações
comerciais internacionais. A due diligence baseada em risco é particularmente
importante com terceiros e também será considerada pelo DOJ e pela SEC na avaliação
da eficácia do programa de conformidade de uma empresa. Embora o grau de diligência
apropriada possa variar.

Entretanto, alguns princípios orientadores sempre se aplicam. Primeiramente, como


parte da due diligence baseada em risco, as empresas devem entender as qualificações

94
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

e associações de seus parceiros terceirizados, incluindo sua reputação comercial e,


se houver, relacionamento com funcionários estrangeiros. O grau de avaliação deve
aumentar à medida que as bandeiras vermelhas sobem.

Em segundo lugar, as empresas devem ter uma compreensão da lógica do negócio para
incluir o terceiro na transação. Entre outras coisas, a empresa deve compreender o
papel e necessidade do terceiro e garantir que os termos do contrato especificamente
descrever os serviços a serem executados. Considerações adicionais incluem as
condições de pagamento e como essas condições de pagamento se comparam aos termos
típicos naquela indústria e país, bem como o momento da introdução do terceiro para o
negócio. Além disso, as empresas podem querer confirmar e documentar que o terceiro
está efetivamente executando o trabalho para o qual é pago e que a sua compensação é
proporcional ao trabalho a ser prestado.

Em terceiro lugar, as empresas devem empreender algum tipo de monitoramento


contínuo das relações com terceiros. Se necessário, isso pode incluir a atualização da
due diligence periodicamente, o exercício dos direitos de auditoria, o fornecimento
de treinamento periódico e a solicitação de certificações anuais de conformidade pelo
terceiro.

Além de considerar a due diligence de uma empresa em relação a terceiros, o DOJ e a


SEC também avaliam se a empresa informou a terceiros do programa de cumprimento
da empresa e do compromisso com práticas comerciais éticas e legais e se buscou
garantias de terceiros através de certificações. Tais ações são formas importantes de
mitigar os riscos de terceiros.

Relatórios confidenciais e investigação interna


Para garantir um programa de conformidade eficaz deve-se prever mecanismos para
os funcionários e terceiros possam relatar suspeitas ou conduta fora de padrão ou
violações das políticas da empresa em uma base confidencial e sem receio de retaliação.

Uma vez que tome conhecimento de uma denúncia, as empresas devem implementar
um processo eficiente, confiável e adequadamente financiado para investigar a alegação
e documentar a resposta da empresa, incluindo quaisquer medidas disciplinares ou de
remediações tomadas.

As empresas devem aprender com o erro por quaisquer violações relatadas e com o
resultado de qualquer investigação para atualizar seus controles internos e o próprio
programa de conformidade e concentrar o treinamento futuro sobre tais questões.

95
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Melhoria Contínua – Testes e Revisão Periódica

Um programa de conformidade deve evoluir constantemente. O negócio de uma


empresa se altera com o decurso do tempo, assim como o ambiente em que opera, a
natureza de seus clientes, as leis que regem suas ações e os padrões de sua indústria.
Além do que, programas de conformidade que não existem somente no papel, mas são
seguidos na prática inevitavelmente irão descobrir falhas de conformidade que exigem
melhorias.

Logo, o DOJ e a SEC avaliam se as empresas revisam e aprimoram regularmente seus


programas de conformidade e não permitindo que eles se tornem obsoletos.

Grande parte dos consultores jurídicos cujas empresas estão sujeitas à FCPA afirmam
que existe espaço para melhoria em seus programas de treinamento e conformidade.
Uma empresa deve ter providenciar a revisão e teste de seus controles e deve pensar
criticamente sobre suas potenciais fraquezas e áreas de risco.

Algumas empresas realizaram pesquisas com funcionários para medir sua cultura de
conformidade e força de controles internos, identificar melhores práticas e detectar
novas áreas de risco. Outras testam periodicamente testar seus controles internos com
auditorias específicas para se certificar de que os controles que constam no papel estão
funcionando na prática.

O DOJ e a SEC dão crédito significativo a esforços empreendidos para criar um


programa de conformidade sustentável se um problema for descoberto mais tarde. Do
mesmo modo, a realização de avaliações proativas podem diminuirem reduzir eventuais
penalidades.

A natureza e a frequência das avaliações proativas podem variar em razão do tamanho


e da complexidade das atividades da empresa, entretanto, é sempre necessário que o
programa tenha melhoria contínua e sustentabilidade.

Fusões e aquisições – due diligences de


pré-aquisição e integração pós-aquisição

No contexto da FCPA, fusões e aquisições apresentam riscos e oportunidades. Uma


empresa que não executa adequada due diligence antes de uma fusão ou aquisição pode
enfrentar riscos jurídicos e de negócios. Não fazer ou fazer inadequadamente uma due
diligence pode permitir, por exemplo, que um processo de suborno continue e cause
prejuízos à lucratividade, a reputação, e eventualmente desemboquem em ações civis,
administrativas ou mesmo penais.

96
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Empresas que conduzem adequadamente a due diligence nos casos de fusões e aquisições
são capazes de avaliar com maior precisão os riscos e, inclusive negociar os custos dos
riscos. Além disso, tais ações demonstram ao DOJ e à SEC o comprometimento da
empresa com o cumprimento dos programas de conformidade.

Na impossibilidade de execução de due diligence pré-aquisição, o DOJ descreveu


métodos, no Procedimento de Opinião Release, de acordo com o qual as empresas
podem optar por conduzir a due diligence pós-aquisição.

A due diligence prevista na FCPA, entretanto, é normalmente somente uma parte do


processo de conformidade para fusões e aquisições. O DOJ e a SEC avaliam se a empresa
adquirente incorporou prontamente a empresa adquirida em todos os seus controles
internos, incluindo seu programa de conformidade. As empresas devem considerar a
formação de novos funcionários, a reavaliação de terceiros sob os padrões da empresa
e, quando apropriado, a realização de auditorias em novas unidades de negócios.

97
Capítulo 4
Um Programa de Ética Anticorrupção e
de Compliance para Empresas: Guia
Prático (UNODC)33

Não é possível aos governos nem as empresas sozinhas lutar contra a corrupção.
Os setores público e privado precisam trabalhar juntos neste esforço. Para isso, um
instrumento internacional de suma importância contra a corrupção é a Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção que considera o envolvimento do setor privado
como primordial na luta contra a corrupção.

Nos dias de hoje já se aceito que as empresas têm a responsabilidade de atuar


corretamente. Esta ideia é cada vez mais assimilada pelas as empresas, isto é, de
que a luta contra a corrupção é compatível com os negócios e que um programa de
conformidade efetivo agrega valor ao longo do tempo.

A evolução do panorama jurídico internacional e o rápido desenvolvimento de regras


de governança corporativa em todo o mundo estão levando as empresas a se concentrar
em medidas anticorrupção como um componente essencial de seus mecanismos para
proteger sua reputação e os interesses de seus investidores e acionistas.

Altos custos devido a pagamentos corruptos, dependências desfavoráveis entre o lado


da oferta e da procura de um ato corrupto (ocasionando pedidos de extorsão contínua)
ou oportunidades comerciais perdidas em mercados distorcidos são exemplos das
consequências negativas da corrupção para as empresas.

Sobretudo, a corrupção é ilegal e as empresas enfrentam sérias consequências por violar


a lei. Tais consequências, vão além das sanções legais, e têm um forte impacto sobre as
empresas, incluindo, principalmente, a sua reputação. As empresas que entendem que
combater a corrupção exige mais do que cumprir as leis nacionais e evitar consequências
negativas são cada vez mais encorajadas a se diferenciarem de seus pares.

Os acontecimentos recentes no movimento global anticorrupção realçaram ainda o


importante papel que as empresas têm de desempenhar na luta contra a corrupção,
nomeadamente a adoção, em novembro de 2010, pelos líderes do G20 de um Plano de
Ação contra a Corrupção.

33 Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em: <https://
www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf> Acesso em:7 mar.2017.

98
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

No contexto deste plano, organizou-se uma conferência anticorrupção de alto nível


para o setor privado em abril de 2011, onde as empresas perceberam que a adoção de
padrões de conformidade anticorrupção, na prática, poderia auxiliá-los a enfrentar os
desafios atuais de combate à corrupção.

Em maio de 2011, o Grupo de Trabalho Anticorrupção do G20, encarregado de


supervisionar a implementação do Plano de Ação Anticorrupção do G20, reconheceu o
trabalho da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Banco
Mundial e dos Estados Unidos (UNODC), em consulta a outras organizações relevantes,
“para reunir as diretrizes existentes e material relacionado sobre o cumprimento da
legislação anticorrupção do setor privado em um local de fácil acesso”.

Assim, um Manual de Ética e Conformidade Anticorrupção foi desenvolvido


conjuntamente pela OCDE, Banco Mundial e UNODC. Foram realizadas consultas e
recebeu-se contribuições de organizações com grande experiência nesta área, incluindo
a International Bar Association (IBA), a Câmara de Comércio Internacional (ICC), o
Iniciativa de Parceria com a Corrupção (PACI), a Transparência Internacional (TI), O
Instituto de Basileia sobre Governança e o Comitê Consultivo Empresarial e Industrial
da OCDE (BIAC). O Manual de Ética e Conformidade Anticorrupção da OCDE, do Banco
Mundial e do UNODC compila essas diretrizes e material relacionado sobre a adesão do
setor privado no combate à corrupção em uma publicação de fácil uso. Seguindo uma
estrutura abrangente, o Manual descreve os princípios das principais organizações e os
complementa com casos anônimos do mundo real.

O Guia publicado pelo UNODC baseia-se na estrutura abrangente do Manual conjunto.


Cada capítulo ou seção delineia considerações práticas para desenvolver, implementar e
melhorar continuamente um programa de ética e conformidade de combate à corrupção.
Embora a abordagem de como um programa de ética e conformidade anticorrupção
possa variar de empresa para empresa, existem alguns elementos básicos comuns que
uma empresa deve abordar. Desafios e oportunidades para pequenas e médias empresas
são enfatizados no Guia.

Além disso, são oferecidas informações práticas para empresas de todos os tamanhos
sobre a divulgação pública de seus esforços anticorrupção para demonstrar compromisso
com os valores fundamentais de integridade, transparência e responsabilidade.

Cada capítulo ou seção do Guia é concluído com uma lista de verificação


(check-list) prática para iniciar a implementação ou comparar os programas
anticorrupção existentes. As listas de verificação devem ser vistas como um resumo
das principais considerações descritas nos respectivos capítulos ou secções e devem ser
lidas em conjunto com a informação descritiva de cada capítulo.

99
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Avaliação de risco

Prevenir e combater a corrupção de forma eficiente e proporcional exige uma


compreensão dos riscos que uma empresa pode enfrentar. A base para a implementação
e manutenção de um programa anticorrupção é, deste modo, a avaliação dos riscos de
corrupção. Essa avaliação permite a identificação e priorização de riscos. Os riscos de
corrupção são distintos entre as empresas de acordo com suas características, como
tamanho, estrutura, localização ou modelo de negócios.

Os riscos de corrupção dependem, igualmente, das operações internas das empresas,


como compras, vendas e marketing. Consequentemente, não existe um programa de
combate à corrupção único. Com o intuito de reduzir de forma eficaz e eficiente os
riscos de corrupção, os programas de combate à corrupção devem ser adaptados às
necessidades específicas de cada empresa. Esta abordagem baseada no risco deve ser
um princípio implícito fundamental para cada elemento de um programa de combate
à corrupção.

Lista de Verificação – Avaliação de Riscos.

Avaliação de Risco Sim Não Em progresso

A empresa realiza uma avaliação de risco padrão regularmente (pelo menos


anualmente).

A empresa identifica as funções e responsabilidades operacionais dos


responsáveis pela realização da avaliação de risco.

A empresa define e documenta os processos operacionais para a realização


da avaliação de risco.

A empresa define as responsabilidades de supervisão.

A empresa incorpora a avaliação de riscos nos processos existentes.

A empresa está ciente das consequências negativas de não prevenir a


corrupção (legais comerciais, operacionais, e de reputação).

A avaliação de risco inclui todas as principais áreas de risco (ex.: indústria e


localização geográfica).

A empresa identifica riscos relacionados à corrupção usando fontes internas


e externas.

A empresa define prioridades com base na exposição global ao risco.

A empresa desenvolve uma estratégia de risco para minimizar a exposição


global ao risco e identificar riscos residuais.

A empresa documenta os resultados da avaliação global do risco.

A empresa divulga publicamente a avaliação dos riscos.


Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf> - Tradução Livre.

100
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Desenvolvimento de um programa de
ética anticorrupção e de compliance para
empresas

Apoio e empenho da alta administração para a


prevenção da corrupção

Um programa eficaz de combate à corrupção deve basear-se no apoio e no empenho


sólido e explícito da alta administração da empresa. Mesmo um programa bem
definido não conseguirá reduzir o risco de corrupção se os funcionários e parceiros
de negócios perceberem que a alta administração não está comprometida com a
prevenção da corrupção. Este compromisso deve ter início no topo da empresa. A alta
administração deve articular claramente a tolerância zero à corrupção, apoiada por
políticas e procedimentos que colocarão este compromisso em prática. Tal compromisso
desempenha um papel fundamental no estabelecimento de uma cultura baseada em
valores fundamentais como a integridade, a transparência e a responsabilidade.

The “tone from the top” (tom do topo)

O apoio e o compromisso da alta administração, também chamado de “tone from the


top”, é um determinante da cultura organizacional, influencia as normas e os valores
pelos quais a empresa opera e aos quais todos os funcionários e parceiros de negócios
relevantes devem aderir. O “tone from the top” é estabelecido pela alta administração
da empresa. Isto implica que a alta administração considera a prevenção da corrupção
como sua própria responsabilidade.

O papel da alta administração

A alta administração deve colocar o “tone from the top” em ação, garantindo que a
tolerância zero da corrupção e as políticas e procedimentos detalhados de apoio sejam
compreendidos por todos os funcionários e parceiros de negócios relevantes:

»» garantir o compromisso em toda a empresa;

»» estabelecer responsabilidades;

»» fornecer recursos suficientes;definir o escopo e extensão do programa.

101
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Lista de Verificação – Apoio e Empenho da Alta Administração para a Prevenção da Corrupção.

Apoio e Empenho da Alta Administração para a Prevenção Sim Não Em Progresso


da Corrupção
A alta administração demonstra um apoio e um compromisso forte, explícito e
visível para o programa anticorrupção da empresa.
A alta administração expressa tolerância zero em relação à corrupção,
declarando-a pública e formalmente.
A alta administração estabeleceu um programa de ética e conformidade
anticorrupção para apoiar a declaração de tolerância zero à corrupção.
A alta administração assegura o compromisso em toda a empresa.
A alta administração estabelece responsabilidades operacionais e de
supervisão claras para o programa de ética e conformidade da anticorrupção.
A alta administração fornece recursos humanos suficientes para a
implementação e melhoria contínua do programa.
A alta administração define o escopo e a extensão do programa, como
relatórios públicos ou iniciativas voluntárias de engajamento.
A alta administração demonstra um compromisso ativo com o programa,
ex.: Falando em reuniões de funcionários sobre as razões e importância do
programa.
A empresa anuncia publicamente o apoio e compromisso da Alta
Administração.

Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf> - Tradução Livre.

Desenvolvimento de um programa de compliance

O apoio e o empenho sólido e explícito da alta administração, expressos em uma


declaração pública formal de tolerância zero à corrupção, precisam ser apoiados por
um programa anticorrupção. Esse programa, que consiste em políticas e procedimentos
detalhados, coloca o compromisso em prática. Ao estabelecer e melhorar continuamente
um programa anticorrupção, as empresas são encorajadas a considerar um conjunto
de características implícitas que possibilitam que o programa seja eficaz, eficiente e
sustentável. Estas características devem refletir em todos os elementos do programa de
combate à corrupção

Características de um programa de compliance

Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas consiste em políticas


e procedimentos que abordam o risco de corrupção. O desenvolvimento e a melhoria
contínua das políticas e procedimentos devem refletir as seguintes características:

»» coerência com todas as leis aplicáveis;

»» adaptação a requisitos específicos;

»» participação das partes interessadas;

102
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

»» responsabilidade compartilhada;

»» acessibilidade;

»» clareza;

»» promover uma cultura interna baseada na confiança;

»» aplicabilidade;

»» continuidade;

»» eficiência.

Lista de Verificação – Desenvolvimento de um Programa de Compliance.

Desenvolvimento de um Programa de Compliance Sim Não Em progresso


O programa anticorrupção é consistente com todas as leis aplicáveis.
O programa anticorrupção é adaptado a requisitos específicos da
empresa.
A implementação e melhoria contínua das políticas e procedimentos
anticorrupção baseia-se em uma abordagem participativa, envolvendo
funcionários e detentores externos.
O cumprimento do programa anticorrupção é obrigatório para todos os
níveis, funções e áreas da empresa.
As informações sobre o programa de corrupção e material de apoio
são acessíveis e da fácil compreensão.
As políticas e os procedimentos do programa anticorrupção são fáceis
de entender (ex.: evitando siglas e termos técnicos).
O programa anticorrupção visa promover uma cultura interna baseada
na confiança.
O programa anticorrupção é dirigido aos funcionários, bem como aos
parceiros comerciais relevantes.
O programa anticorrupção é continuamente adaptado aos ambientes de
negócios em mudança e à aprendizagem interna.
A empresa divulga publicamente seu programa de compliance.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf>. Tradução Livre.

Supervisão do Programa de Compliance

O desenvolvimento e a implementação de um programa de compliance requerem


a participação ativa de todos os funcionários e parceiros de negócios relevantes.
Com o intuito de gerir o envolvimento de toda a empresa no programa, diversas
responsabilidades específicas devem ser atribuídas. As responsabilidades devem
assegurar que o programa seja implementado, executado e supervisionado de forma
contínua. A supervisão é importante para garantir que cada funcionário e parceiro de
negócios da organização cumpra e apoie o programa. A supervisão do programa também

103
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

é importante para garantir que os diferentes elementos do programa de compliance


sejam realizados de forma eficaz e eficiente.

Responsabilidades do Programa Compliance

A responsabilidade pela supervisão do programa cabe ao Conselho de Administração


ou órgão equivalente da empresa. O Conselho de Administração poderá nomear um
Comitê de Compliance, Auditoria ou Ética para apoiar os Conselheiros no cumprimento
dessa responsabilidade. A responsabilidade pela implementação e execução do
programa cabe à alta administração da empresa (por exemplo, Diretor Executivo
ou outro executivo sênior). A alta administração precisa monitorar se as políticas e
os procedimentos são aplicados no cotidiano e se o programa é executado de acordo
com níveis de desempenho definidos. Além disso, a alta administração deve fornecer
informações de status ao Conselho de Administração ou órgão equivalente.

Responsabilidades de supervisão

O Conselho de Administração ou órgão equivalente deve assegurar que o programa de


combate à corrupção seja realizado:

»» Adotando o combate à corrupção como uma prioridade para a empresa,


tornando-o um item permanente da agenda da Diretoria ou refletindo
na garantia da Diretoria de um nível adequado de recursos humanos e
financeiros para o programa anticorrupção.

»» Acompanhamento da alta administração em relação à implementação e


execução de políticas e procedimentos anticorrupção em toda a empresa.
Para isso, o Conselho de Administração deve obter relatórios periódicos
de status sobre o programa e ser informado sobre casos de incidentes
graves e ações corretivas.

»» Avaliar a adequação geral do programa através da revisão das informações


de status da alta gerência e avaliações independentes. Quando necessário,
o Conselho de Administração deve determinar ou prescrever ações
corretivas.

»» Reagir a irregularidades imediatas ou desafios sérios em toda a empresa


(por exemplo, um incidente envolvendo a alta administração ou o mau uso

104
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

da linha direta de informações da empresa). Pode-se adotar uma política


formal que defina as responsabilidades dos Conselheiros relacionadas à
supervisão do programa. Isso também pode indicar as expectativas da
empresa em relação ao comportamento de cada Membro da Diretoria e
seu apoio ativo e compromisso com o programa de compliance.

Lista de Verificação – Supervisão do programa de Compliance.

Supervisão do programa de Compliance Sim Não Em Progresso

Vigora uma política clara, visível e acessível, que define as funções e responsabilidades
para a execução e melhoria contínua do programa de combate à corrupção.

O conselho de administração ou órgão equivalente tem a responsabilidade final pela


supervisão do programa de compliance.

O conselho de administração ou órgão equivalente nomeou um comitê de compliance,


auditoria ou ética que apoia o conselho em sua função de supervisão.

A alta administração monitora se as políticas e os procedimentos são aplicados no dia


a dia.

A alta administração designou uma unidade separada para fornecer informações


especializadas sobre a implementação do programa anticorrupção.

O conselho de administração ou órgão equivalente recebe regularmente relatórios de


situação e avalia o desempenho das gerências seniores em relação à implementação,
execução e melhoria contínua do programa anticorrupção.

O conselho de administração ou órgão equivalente avalia a adequação global do


programa anticorrupção através de informações de status e avaliações independentes
e, quando necessário, determina ou prescreve ações corretivas.

O conselho de administração ou órgão equivalente reage imediatamente a


irregularidades e/ou graves desafios relacionados com o programa anticorrupção.

A empresa divulga publicamente a supervisão do programa anticorrupção.

Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em: <https://
www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf>- Tradução Livre.

Política clara, visível e acessível que proíbe a


corrupção

O compromisso da alta administração em prevenir a corrupção, o desenvolvimento


de um programa anticorrupção e sua supervisão precisam ser traduzidos em uma
política de proibição da corrupção. A política clara, visível e acessível que proíbe a
corrupção representa a base operacional de todos os outros elementos práticos do
programa anticorrupção. Prescreve os princípios e as regras que todos os funcionários
e parceiros do negócio precisam seguir. Uma política que proíbe a corrupção formaliza
o compromisso da empresa em combater a corrupção.

105
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Lista de Verificação – Política clara, visível e acessível que proíbe a corrupção.

Política clara, visível e acessível que proíbe a corrupção Sim Não Em Progresso
A política de proibição da corrupção aborda as manifestações relevantes de corrupção
(baseado na avaliação de risco da empresa).
A política de proibição fornece informações adicionais sobre várias formas e desafios da
corrupção (ex.: pedidos de extorsão).
A política de proibição é formalmente documentada e publicamente disponível para
todos os funcionários e parceiros de negócios.
A política de proibição é articulada em uma linguagem clara e fácil de entender e é
traduzida em todas as principais línguas dos locais onde a empresa atua.
A política de proibição é apoiada com exemplos do mundo real ou descrições genéricas
de casos.
A política de proibição é aplicada igualmente em todas as jurisdições em que a empresa
opera (um padrão global).
A política de proibição é regularmente revista e, se necessário, adaptada.
A empresa divulga publicamente sua política de proibição da corrupção.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em: <https://
www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf>- Tradução Livre

Políticas detalhadas para áreas de risco específicas

Como vimos, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção exige que os países
signatários abordem as várias manifestações de corrupção em sua legislação nacional.
Essas manifestações ganham relevância para empresas que operam em países que se
tornaram partes da Convenção, devendo abordar as várias manifestações de corrupção
em suas políticas e procedimentos. Nem todas as atividades são claras, como subornar
um funcionário público para ganhar um contrato.

Entretanto, não é uma tarefa fácil, especialmente nos casos em que o limite entre as
práticas legais e as corruptas é desfocado. Por exemplo, enquanto em alguns ambientes
fornecendo presentes para manter bons relacionamentos de negócios é prática comum
e permitido, presentes que influenciam uma decisão são estritamente proibidos. Dessa
forma, podem haver muitas áreas nebulosas.

Alguns casos podem, de fato, constituir um ato corrupto, mas não ser percebidos
como tal. Além disso, as diferentes práticas aduaneiras e comerciais em diferentes
locais geográficos dificultam a distinção entre práticas legais e ilegais. As empresas
devem abordar estas áreas nebulosas, estabelecendo uma linha clara entre as práticas
empresariais legítimas e não legítimas.

Ao distinguir entre práticas comerciais legítimas e não legítimas, as empresas enfrentam


frequentemente os seguintes desafios:

»» Práticas empresariais que são ilícitas, mas percebidas como normais ou


mesmo necessárias (por exemplo, pagamentos de facilitação).

106
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

»» Práticas de negócios que são legais, mas correm o risco de serem utilizadas
para camuflar a corrupção (por exemplo, uso indevido de contribuições
políticas, presentes ou hospitalidade como suborno para um funcionário
público nacional).

»» Práticas de negócios baseadas em decisões tendenciosas (conflitos de


interesse).

Manifestação pública sobre políticas e procedimentos que proíbem pagamentos de


facilitação.

Empresas de todos os tamanhos devem manifestar publicamente seus esforços


anticorrupção. As normas internacionais de boas práticas, como o Pacto Global das
Nações Unidas34 ─Transparência Internacional ─ “Apresentação de Orientações sobre
34 Os 10 princípios
Publicado em 25 de abril de 2013
O Pacto Global advoga dez Princípios universais, derivados da Declaração Universal  de Direitos Humanos, da Declaração
da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção:
Direitos Humanos
As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente; e
Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.
Trabalho
As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;
A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;
A abolição efetiva do trabalho infantil; e
Eliminar a discriminação no emprego.
Meio Ambiente
As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;
Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e 
Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.
Contra a Corrupção
As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.
O que a empresa pode fazer?
1. Emitir uma clara declaração de apoio ao Pacto Global e seus dez princípios, e publicamente advogar o Pacto Global. Isso
significa:
a) informar os funcionários, acionistas, consumidores e fornecedores da sua adesão ao Pacto Global;
b) acessar a página web do Pacto Global, disponível em: <www.unglobalcompact.org>. para conhecer as formas de Integrar o
Pacto Global e os dez princípios nos programas de desenvolvimento corporativo e treinamento;
c) incorporar os princípios do Pacto Global na declaração da missão da empresa;
d) incluir o compromisso com o Pacto Global no Relatório Anual e em outros documentos publicados pela empresa;
e) emitir comunicados para a imprensa (press-releases) para tornar o compromisso público.
IMPORTANTE:
A carta deve estar assinada pelo principal executivo da empresa;
A carta deve ser feita no papel oficial da empresa;
Preencher o formulário de adesão on-line.
Disponível em: <http://www.pactoglobal.org.br/artigo/56/Os-10-principios> Acesso em: 5 mar.2017.

107
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

o décimo Princípio contra a Corrupção”, podem auxiliar as empresas a apresentarem


relatórios sobre políticas e procedimentos que proíbem pagamentos de facilitação: São
cobertos por políticas detalhadas de combate à corrupção:

»» descrever procedimentos e esforços em relação a essas políticas; e

»» descrever onde essas políticas podem ser encontradas e como elas são
disponibilizadas a todos os funcionários e parceiros de negócios envolvidos.
As empresas podem fornecer informações qualitativas e quantitativas e
destacar ações práticas realizadas ou resultados alcançados.

Lista de Verificação – Facilitação de Pagamento.

Facilitação de pagamento Sim Não Em Progresso


Possui uma política clara, visível e acessível que proíbe pagamentos de facilitação.
A política contém uma definição abrangente de pagamentos de facilitação.
A política reconhece situações em que os pagamentos de facilitação não podem
ser evitados (ex.: quando a saúde, a segurança da segurança está em risco) e
define os procedimentos claros sobre como lidar com tais situações.
Uma avaliação detalhada do risco é realizada para compreender as situações e
práticas nas quais os pagamentos de facilitação podem ocorrer.
Os resultados da avaliação detalhada do risco são refletidos na política e
procedimentos para mitigar o risco de pagamentos de facilitação.
A política e os procedimentos são comunicados aos funcionários e parceiros de
negócios.
A adesão à política e procedimentos da empresa são monitorados.
Os funcionários e parceiros comerciais são treinados e recebem orientação sobre
como lidar com pagamentos de facilitação.
Nos casos em que os pagamentos de facilitação não podem ser evitados (ex.:
ameaça à segurança e segurança pessoal), eles devem ser documentados nos
livros e registros da empresa.
A empresa utiliza sua influência para apoiar a proibição dos pagamentos de
facilitação (quando aplicável).
O órgão de supervisão da empresa revisa regularmente políticas e procedimentos
que proíbem pagamentos de facilitação.
A empresa divulga publicamente suas políticas e procedimentos que proíbem
pagamentos de facilitação.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em: <https://
www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

Tipos especiais de despesas

Ao abordar as diferentes manifestações de corrupção, as empresas vão descobrir que


algumas atividades comerciais legítimas podem ser usadas para camuflar um suborno
ou como tráfico de influência.

»» Presentes, hospitalidade, viagens e entretenimento.

»» Contribuições políticas.

»» Contribuições e patrocínios de caridade.

108
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Aconselha-se que as empresas abordem o potencial uso indevido de tipos especiais


de despesas em suas políticas para reforçar o compromisso geral de tolerância zero à
corrupção. Devido à legitimidade geral de tais despesas, as empresas podem ter que
investir esforços consideráveis para comunicar os riscos relacionados e a necessidade
de cumprir a política e os procedimentos de apoio. Tais procedimentos devem auxiliar
os funcionários a distinguir entre uso legítimo e apropriado e um uso indevido para
gerar vantagens indevidas. Por exemplo, os funcionários devem ser sensibilizados para
que uma contribuição política possa ser utilizada ou percebida como outra forma de
proporcionar uma vantagem indevida a um funcionário público.

Lista de verificação – Tipos especiais de despesas (ex.: presentes, hospitalidade, viagens, entretenimento,

despesas, contribuições políticas, contribuições de caridade e patrocínio.

Tipos especiais de despesas (presentes, hospitalidade, viagens, Sim Não Em progresso


entretenimento, despesas, contribuições políticas, contribuições de
caridade e patrocínio
Políticas claras, visíveis e acessíveis proíbem o uso indevido de tipos especiais de despesas para
obter vantagens em transações comerciais ou como camuflagem para um ato de corrupção.
As políticas contêm definições abrangentes dos vários tipos de despesas.
Uma avaliação detalhada do risco é realizada para compreender as situações e práticas em que
esses tipos especiais de despesas são ilegais ou podem ser usados indevidamente.
Os resultados da avaliação detalhada do risco são refletidos nas políticas e procedimentos.
As políticas e os procedimentos são comunicados aos funcionários e parceiros de negócios.
São estabelecidas práticas para mitigar os riscos associados a tipos especiais de despesas
(procedimentos de aprovação, transparência de responsabilidades e requisitos de
documentação).
Funcionários e parceiros de negócios são treinados e recebem orientação sobre como lidar com
tais tipos especiais de despesas.
A adesão às políticas e procedimentos da empresa é monitorada.
O órgão de supervisão das empresas (conselho de administração) revisa regularmente as
políticas e procedimentos e as principais ocorrências de tipos especiais de despesas.
A empresa divulga publicamente em suas políticas e procedimentos abordando tipos especiais
de despesas.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre

Conflitos de interesse

As empresas também podem enfrentar riscos quando decisões de negócios são baseadas
em interesses conflitantes. Existe um conflito de interesses se um indivíduo em uma
empresa tiver interesses profissionais, pessoais ou privados que divergem dos interesses
que o indivíduo espera ter ao representar a empresa, isto é, o interesse individual conflita
com o interesse da empresa. Por exemplo, um gerente de marketing de um distribuidor
de bebidas que é responsável por patrocínios de eventos esportivos pode enfrentar um
conflito de interesses, mantendo a posição de um membro do conselho em um clube
desportivo que está sendo considerado para patrocínio.

109
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Semelhante aos tipos especiais de despesas, conflitos de interesse não necessariamente


resultaram em consequências negativas para uma empresa. Entretanto, os conflitos
de interesse representam um risco quando um representante da empresa é tentado a
escolher o seu interesse privado sobre o interesse organizacional e tomar decisões que
não são no melhor interesse da empresa.

O conflito de interesses também pode representar um risco quando o representante


de uma empresa realmente toma a melhor decisão empresarial (porque oferece um
melhor valor, uma melhor exposição etc.), mas não é feito de forma transparente,
demonstrando que foram aplicados critérios objetivos. Outros empregados podem
perceber que esta decisão foi feita meramente por interesse privado. As empresas
são, portanto, aconselhadas a resolver os conflitos de interesse em seu programa
anticorrupção.

Lista de verificação – Conflito de Interesses.

Conflito de interesses Sim Não Em Progresso


Possui uma política clara, visível e acessível de resolução de conflitos de interesses.
A política contém uma definição abrangente de conflitos de interesse e esboça as possíveis
fontes (como compromissos externos).
A política trata da divulgação de rendimentos e ativos pela alta administração (ex.:
remuneração, propriedade, investimentos, doações e benefícios substanciais).
A política exige a divulgação de possíveis conflitos de interesses por parte dos funcionários e
parceiros comerciais.
A divulgação de ativos é estendida aos membros da alta administração.
A política reconhece situações em que os conflitos de interesses não podem ser evitados e
define procedimentos claros para abordar tais situações.
Uma avaliação detalhada dos riscos é realizada para compreender as situações e práticas
nas quais podem ocorrer conflitos de interesse.
Os resultados da avaliação detalhada do risco são refletidos na política e procedimentos para
mitigar as consequências negativas decorrentes de conflitos de interesse.
Due diligence para conflitos de interesse é exercido em grandes processos operacionais,
como compras, vendas ou produção.
A adesão às políticas e procedimentos da empresa é monitorada.
O órgão de supervisão da empresa (conselho de administração) revisa regularmente as
políticas e procedimentos e as principais ocorrências de conflito de interesses.
A empresa divulga publicamente suas políticas e procedimentos sobre conflitos de interesse.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

Aplicação do programa anticorrupção aos


parceiros comerciais

As empresas operam em ambientes complexos, envolvendo-se diariamente com uma


variedade de parceiros de negócios, tais como fornecedores, empreiteiros, agentes,
subsidiárias e joint ventures.

110
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

O nível de interação com esses parceiros varia, podendo incluir relações informais,
relações contratuais únicas ou a estreita integração das atividades empresariais. O nível
de influência que uma empresa tem com seus parceiros também varia. Enquanto alguns
parceiros de negócios permanecem totalmente independentes, outros podem agir em
nome da empresa ou estão financeiramente relacionados sob a forma de investimentos
menores ou grandes.

Embora envolver-se com parceiros de negócios seja uma necessidade, também pode
apresentar um risco considerável para as empresas com relação à corrupção. As empresas
que se envolvem com parceiros de negócios com padrões anticorrupção mais baixos
podem enfrentar o risco de investigações de corrupção ou mesmo ser responsabilizadas
pelo comportamento inadequado de seus parceiros.

As empresas não devem fechar os olhos à corrupção de seus parceiros de negócios. As leis
nacionais cada vez mais responsabilizam as empresas pela má conduta de seus parceiros
de negócios. Além disso, a reputação de uma empresa pode sofrer consideravelmente se
estiver associada a um parceiro corrupto.

Lista de Verificação – Aplicação do programa anticorrupção aos parceiros comerciais.

Aplicação do programa anticorrupção aos parceiros comerciais Sim Não Em progresso


Todos os parceiros de negócios são informados sobre as políticas e procedimentos
anticorrupção da empresa.

As subsidiárias sobre as quais a empresa tem controle efetivo são têm um programa
equivalente de combate à corrupção.

Os afiliados são estimulados a implementar um programa anticorrupção equivalente e


opções de mitigação para os riscos restantes são definidos (incluindo cenários de saída).

A empresa aplica a sua própria (ou semelhante) política anticorrupção à joint venture.
São definidas opções de mitigação dos riscos remanescentes (incluindo cenários de
saída).

Agentes e intermediários possuem políticas e procedimentos específicos.

Os contratados e fornecedores possuem políticas e procedimentos específicos.

Due diligence é aplicada quando um novo parceiro de negócios é selecionado.

O escopo e a intensidade da due diligence são determinados pela avaliação geral de


riscos da empresa, bem como por áreas específicas de relacionamento.

Os parceiros de negócios são continuamente monitorados, sendo a extensão, frequência


e abordagem desta monitorização determinada pela avaliação de risco.

Os parceiros de negócios são motivados a aderir aos padrões da empresa por meio de
incentivos e sanções comerciais, legais e de reputação.

A empresa divulga publicamente a aplicação do programa anticorrupção aos parceiros


comerciais.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

111
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Controles internos e manutenção de registros

A conduta empresarial deve basear-se na confiança mútua. A confiança entre a


administração da empresa e seus funcionários é essencial para um ambiente de trabalho
motivador. Da mesma forma, é importante que haja confiança entre uma empresa e
seus parceiros de negócios.

A administração, os funcionários e os parceiros de negócios devem realizar suas


atividades de acordo com os valores éticos da empresa, mesmo em situações que não
estejam claramente definidas pelas políticas e procedimentos.

Uma empresa deve garantir que todas as suas atividades de negócios sejam executadas
corretamente, especialmente em processos de alto risco, como relatórios financeiros,
compras, vendas e marketing. Entretanto, confiar plenamente que os processos e
atividades estão sendo executados corretamente pode expor a empresa ao risco de
consequências negativas significativas, como multas severas devido aos atos corruptos
de um único empregado desonesto.

Consequências negativas também podem ocorrer devido a descuido, falta de consciência


ou simples erro humano. Para mitigar esses riscos, as empresas não devem se esforçar
continuamente para promover um ambiente de trabalho baseado em seus valores
éticos, mas também estabelecer um sistema de controle interno.

O principal objetivo de um sistema de controle interno é fornecer uma garantia razoável.


Quanto à eficácia e eficiência das operações da empresa, à confiabilidade de seus
relatórios financeiros e ao cumprimento das leis, regulamentos e políticas internas.

Como parte do programa geral de combate à corrupção, o sistema de controle interno


ajuda a garantir que as políticas e os procedimentos anticorrupção sejam realizados
como pretendido pela alta administração da empresa. Os controles internos não são
apenas um meio de reduzir o risco de corrupção, mas também uma forma de apoiar
a responsabilidade da gerência de proteger os ativos de uma empresa e proteger seus
funcionários e parceiros de negócios de consequências negativas.

Lista de Verificação – Controles internos e manutenção de registros.

Controles internos e manutenção de registros Sim Não Em Progresso


Um sistema de controle interno é posto em prática.
Os objetivos do sistema de controle interno são comunicados aos funcionários e parceiros de
negócios (resguardando os ativos de uma empresa).
Os objetivos do sistema interno são baseados no perfil de risco individual da empresa e nas
circunstâncias de negócios.
O sistema de controle interno atinge um equilíbrio, evitando controles excessivos ou insuficientes.

112
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Controles internos e manutenção de registros Sim Não Em Progresso


O sistema de controle interno consiste em medidas organizacionais e prevenção, detecção,
controles manuais e automatizados.
O sistema de controle interno inclui medidas organizacionais e controles que são integrados
nos processos de negócios subjacentes e aqueles que são aplicados à empresa em geral e
parceiros de negócios.
O sistema de controle interno é projetado, implementado e mantido pela diretoria da empresa.
O sistema de controle interno avaliado pelos auditores internos e externos em uma base regular.
A eficácia do sistema de controle interno é avaliada pelo conselho de administração ou por um
organismo.
Os elementos do sistema de controle interno, a determinação dos responsáveis pela sua
implementação e as informações obtidas durante a execução do sistema são documentados.
Uma política formal descreve procedimentos para manter livros e registros precisos (proibição
de contas fora dos livros).
A empresa divulga publicamente seu sistema de controles internos e suas práticas na
manutenção de livros e registros.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

Comunicação e treinamento

As empresas que estabelecem um programa anticorrupção não devem somente assegurar


que seus funcionários e parceiros de negócios estejam cientes de suas políticas e
procedimentos, mas também que eles tenham as informações e habilidades necessárias
para identificar e combater os desafios relacionados à corrupção. As atividades regulares
de comunicação e treinamento desempenham um papel fundamental no aumento da
conscientização e na obtenção de comprometimento com programas de compliance.

Lista de Verificação – Comunicação e Treinamento.

Comunicação e Treinamento Sim Não Em Progresso


A comunicação e treinamento destinam-se a todos os colaboradores e parceiros comerciais.
A comunicação e o treinamento são incluídos no processo de recrutamento interno e
contratação externa.
A comunicação e o treinamento são oferecidos em uma base regular.
A comunicação e o treinamento estão alinhados com os resultados da avaliação de riscos
(revisão periódica do conteúdo).
Comunicação e treinamento padronizados fornecem informações sobre o escopo e a relevância
do programa geral para os colaboradores e parceiros de negócios.
Utiliza canais de mídia adequados para comunicação e treinamento padronizados assim como
sites, e-mails, boletins informativos, revistas de empresas e relatórios anuais.
Comunicação e treinamento personalizados são conduzidos em uma abordagem interativa (ex.:
ensino em sala de aula).
Comunicação e treinamento são adaptados aos desafios e necessidades dos funcionários e
parceiros comerciais envolvidos em processos, indústrias ou locais de alto risco.
A comunicação e o treinamento são documentados, monitorados e avaliados quanto à eficácia
e eficiência.
Ocasiões especiais ou grandes eventos (mudanças organizacionais, novas diretrizes internas,
adesão a uma iniciativa voluntária) são usados para enfatizar objetivos e importância do
programa anticorrupção.
A empresa divulga publicamente suas atividades de comunicação e treinamento.

Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

113
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Promover e incentivar a ética e a conformidade

Compromisso dos funcionários e parceiros comerciais relevantes para as políticas e


procedimentos da empresa é um determinante do sucesso do programa. Na prática, as
empresas muitas vezes projetam e implementam um programa de compliance de acordo
com os padrões de boas práticas, mas falham em termos de encorajar os empregados
e parceiros de negócios a cumprir seus valores e normas. Os regimes de incentivo são
uma opção que pode ser utilizada para apoiar a aceitação do programa global de luta
contra a corrupção e sustentar o seu principal objetivo, reduzir a corrupção.

Lista de Verificação – Promover e incentivar a ética e a conformidade.

Promover e incentivar a ética e a conformidade Sim Não Em Progresso


Incentivos para a ética e conformidade são aplicados aos funcionários e parceiros de negócios.
O esquema de incentivos é desenvolvido com a participação de colaboradores e parceiros
comerciais relevantes e reflete a cultura organizacional da empresa.
O regime de incentivos inclui recompensas financeiras e não financeiras.
O regime de incentivos é integrado nas políticas de recursos humanos e processos de
avaliação de desempenho existentes.
A avaliação de desempenho é baseada em critérios objetivos e comparáveis e não leva em
conta valores pessoais, impressões subjetivas ou percepções.
Os gerentes ou supervisores são avaliados de acordo com o grau em que promovem o
programa anticorrupção entre seus subordinados.
Incentivos são oferecidos a indivíduos, bem como a equipes internas, grupos ou
departamentos.
Os incentivos à produtividade financeira não entram em conflito com os regimes de incentivo à
ética e à integridade.
O regime de incentivos é adequadamente controlado para evitar abusos.
Os critérios de avaliação são claramente articulados e transparentes para todos os
colaboradores e parceiros de negócio.
O esquema de incentivos aborda desafios comuns (ex.: subjetividade na avaliação do
desempenho, oportunidades desiguais).
A empresa divulga publicamente suas medidas para promover e incentivar a ética e a
integridade.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf->Tradução Livre

Buscando orientação – detectando e denunciando


violações

Mesmo empresas com programas anticorrupção eficazes podem enfrentar violações de


suas políticas e procedimentos por funcionários ou parceiros de negócios. Nos últimos
anos, verificou-se um aumento dos riscos legais e de reputação para as empresas que
estão associadas a violações por parte de parceiros de negócios.

As empresas devem, portanto, estabelecer formas efetivas e eficientes de detectar


violações, equilibrando riscos e controles. Detectar e investigar profissionalmente e
114
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

sancionar as violações são elementos centrais de um programa de ética e conformidade


eficaz contra a corrupção.

A detecção de violações deve, portanto, ser vista como uma indicação positiva de que o
programa está funcionando e não como uma falha de um sistema perfeito. As empresas
também precisam oferecer oportunidades para que os funcionários e parceiros de
negócios busquem orientação ou denunciem violações cometidas por essa pessoa ou
por outras pessoas. Em muitos casos, fornecer orientação e suporte com políticas e
procedimentos constitui uma parte importante das tarefas diárias do departamento de
compliance e carga de trabalho.

Fontes internas e externas para detectar possíveis violações ou práticas irregulares.

Fontes internas para detectar possíveis violações ou Fontes externas para detectar possíveis violações ou
práticas irregulares práticas irregulares
»» Controles internos. »» Auditores externos.
»» Investigações internas. »» Reclamações e preocupações de outras partes externas.
»» Auditorias internas. »» Relatórios de mídia.
»» Linha interna para orientação e relatórios. »» Ombudsman.
»» Ombudsman.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

Lista de Verificação ─ Buscando orientação: detectando e denunciando violações.

Buscando orientação – detectando e denunciando violações Sim Não Em Progresso


A empresa fornece uma linha de denúncia segura e facilmente acessível ou um departamento
pessoal para apoiar os funcionários e empresas.
Identificam-se todas as possíveis fontes internas e externas que podem ser usadas para
detector violações.
São tomadas precauções para assegurar que controles internos desproporcionais não impeçam
a manutenção de uma cultura baseada na confiança.
A empresa fornece uma linha de denúncia segura e facilmente acessível e / ou ombudsman
para incentivar a comunicação de violações.
É claramente comunicado que os funcionários e parceiros de negócios devem relatar violações
do programa anticorrupção.
É claramente comunicado que os empregados e parceiros de negócios não sofreram qualquer
discriminação ou demissão por denunciar violações de boa-fé e por motivos razoáveis.
As pessoas que reportam, bem como as pessoas que são objetos de alegações ou
preocupações são tratados com confidencialidade e têm acesso a aconselhamento jurídico.
O relato de violações é abordado em treinamentos e comunicação.
A gerência recebe relatórios periódicos de violações detectadas ou práticas irregulares.
A empresa divulgou publicamente suas políticas e procedimentos para buscar orientação,
detectar e relatar violações.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre

115
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Resolvendo as violações

Quando as violações das políticas e procedimentos anticorrupção da empresa


são relatadas ou detectadas, é crucial abordar essas violações para demonstrar o
compromisso da empresa com a tolerância zero à corrupção. Como uma empresa
aborda violações ou práticas irregulares determina a credibilidade do seu programa
anticorrupção entre os funcionários e parceiros de negócios.

Processos eficazes para lidar com violações também ajudam as empresas a evitar
consequências negativas por parte da aplicação da lei e qualquer dano à reputação da
empresa. As empresas devem abordar as violações como possíveis oportunidades de
aprendizagem e melhoria para seu programa anticorrupção.

Quando as violações são descobertas, as empresas também precisam decidir se


cooperam com as autoridades policiais, não apenas no país onde o suposto ato
corrupto foi descoberto, mas também com as autoridades de outras jurisdições em
que a empresa opera.

Lista de Verificação – Resolvendo Violações.

Resolvendo Violações Sim Não Em Progresso


Possui uma política disciplinar visível e acessível, dirigida aos colaboradores e parceiros de
negócios.
A política disciplinar prevê um catálogo de sanções, diretrizes sobre procedimentos e
responsabilidades e oportunidades de recurso.
As sanções são pertinentes, proporcionadas e aplicadas na prática.
As diretrizes sobre procedimentos e responsabilidades oferecem uma resposta justa e
transparente aos incidentes.
Possui um processo para notificar os serviços internos e as partes interessadas externas em
caso de violações.
As violações são analisadas para determinar ações corretivas para fortalecer o programa
anticorrupção.
A empresa divulga informações relevantes e provas de violações reais ou prováveis às
autoridades antes de serem feitas alegações contra a empresa ou um de seus representantes.
A empresa expressa a sua cooperação com as autoridades depois que alegações contra a
empresa ou um de seus representantes foram feitas (por meio do reforço do seu programa
anticorrupção).
As especificidades dos regimes legislativos e processuais nacionais são levadas em conta ao
considerar a cooperação com as autoridades.
A proteção dos inquiridos, das testemunhas, dos peritos e das vítimas é abordada na
cooperação com as autoridades.
A empresa aborda possíveis violações dos regulamentos de privacidade de dados.
A empresa divulga publicamente suas políticas e procedimentos para abordar a cooperação
com as autoridades.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

116
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Revisões periódicas e avaliações do programa


anticorrupção

A implementação de um programa anticorrupção deve ser considerada como um


processo contínuo de aprendizagem e melhoria. Avaliações do programa e revisões
periódicas mantêm políticas e procedimentos atualizados e relevantes para funcionários
e parceiros de negócios. Além disso, as revisões e avaliações ajudam a identificar
deficiências, fraquezas ou oportunidades para otimizar e simplificar o programa global
de combate à corrupção.

Efetividade, Eficiência e Sustentabilidade.

Elementos do Programa Critério


Efetividade Eficiência Sustentabilidade
Políticas
Treinamento e Comunicação
Controles Internos
Esquemas de Incentivo
Lidando com Incidentes
...
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

Lista de Verificação – Revisões periódicas e avaliações do programa anticorrupção.

Revisões periódicas e avaliações do programa anticorrupção Sim Não Em Progresso


A alta administração realiza revisões regulares do programa anticorrupção e avalia o melhor
curso de ação para corrigir eventuais alterações.
Revisões do programa levam em consideração tanto o desenvolvimento no ambiente de
negócios quanto o aprendizado de operações internas.
As revisões são conduzidas com base em uma variedade de fontes de informação, tais como
relatórios de auditorias internas e externas, controles internos, monitoramento, feedback,
avaliação e referências.
A avaliação do programa baseia-se em três grandes critérios de avaliação: eficácia, eficiência e
sustentabilidade.
As oportunidades de melhoria são concebidas e implementadas com base nos resultados da
revisão e avaliação do programa.
Os resultados da revisão e das avaliações (incluindo as oportunidades de melhoria definidas)
são comunicados aos funcionários e, quando relevante, aos parceiros de negócios.
O conselho de administração ou outro órgão equivalente (comitê de auditoria) avalia e aprova o
curso de ação escolhido para modificar o programa anticorrupção e assegura que as revisões e
avaliações sejam realizadas em intervalos predeterminados.
A empresa divulga publicamente suas revisões e avaliações do programa anticorrupção.
Fonte: Um Programa de Ética Anticorrupção e de Compliance para Empresas: Guia Prático (UNODC) – Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/corruption/Publications/2013/13-84498_Ebook.pdf-> Tradução Livre.

117
Capítulo 5
Iniciativas de Organizações
Internacionais e Não Governamentais
para a integridade nas empresas

A corrupção prejudica a competição, aumenta custos, devasta a confiança dos


fornecedores e clientes e afeta a reputação das empresas. Promover a integridade
nas organizações, entretanto, não se resume a combater atos de corrupção que,
eventualmente, venham a ocorrer. É necessário principalmente estabelecer valores de
integridade de forma sustentável, o que implica no desenvolvimento de um conjunto de
regras que determinem padrões éticos e comportamentais.

Dessa forma, os valores éticos devem ser uma das bases da construção de um sistema
de integridade empresarial. E não é suficiente que estejam presentes em todas as
estratégias e atitudes dos funcionários da empresa, devem, igualmente, ser repassados
aos fornecedores e clientes.

Nos últimos tempos a demanda mundial para que as empresas passassem a perceber
a integridade como uma de suas responsabilidades sociais repercutiu no universo
corporativo. Várias empresas passaram a adotar códigos de conduta e a divulgá-los não
apenas internamente, mas para toda a sua rede de relacionamentos (steakeholders),
como fornecedores e clientes. Simultaneamente, organizações não governamentais
e organizações internacionais começaram a desenvolver estratégias e estudos para
promover de padrões de integridade nas empresas.

Vale citar algumas iniciativas para a promoção e divulgação de princípios e valores de


integridade desenvolvidos nacional e internacionalmente:

Pacto global
O Pacto Global (julho de 2000), foi uma iniciativa do então secretário-geral das Nações
Unidas, Kofi Annan, para influenciar as atividades de empresas privadas por meio de um
conjunto de valores e princípios. Conquistou adesões de diversos atores sociais, assim
como empresas privadas, governos e ONGs. O papel da ONU é atuar na convocação e
facilitar as ações do Pacto Global.

Voltado à comunidade empresarial, o Pacto Global procura incorporar valores e


princípios que estimulam a responsabilidade social aos negócios das empresas.

118
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Inicialmente, o documento apresentava nove princípios, relativos à responsabilidade


social das empresas, nos campos de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Em
junho de 2004, foi incorporado ao Pacto Global o 10o (décimo) princípio que versa
especificamente da corrupção:

“As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas,


inclusive extorsão e propina”.

Esse princípio exige dos participantes do Pacto Global não apenas o compromisso com
o combate à corrupção, mas, igualmente, com a prevenção à corrupção. Isto é, requer
a ação das empresas para evitar o suborno, a extorsão e outras formas de corrupção,
e também o desenvolvimento e a implementação de políticas e programas concretos
adoção. Tais medidas envolvem três elementos:

»» internos ─ adotar políticas e programas anticorrupção aos procedimentos


da empresa;

»» externos ─ divulgar o trabalho contra a corrupção na Comunicação de


Progresso anual e dividir experiências e melhores práticas, através de
exemplos e estudos de caso, de forma que o conhecimento no âmbito de
integridade empresarial possa ser difundido para outras empresas;

»» coletivos ─ unir forças com parceiros e outros stakeholders com o intuito


de obter melhores resultados com menos gastos.

Pacto empresarial pela integridade e contra a


corrupção

O chamado Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, também


conhecido como Pacto contra a Corrupção, foi apresentado no dia 22 de junho de 2006,
na Conferência Internacional do Instituto Ethos.

O Pacto foi criado com a colaboração de empresas e organizações da sociedade civil,


por meio de seminários e consultas públicas. Fundamentado na Carta de Princípios
de Responsabilidade Social, na Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção,
no 10o (décimo) Princípio do Pacto Global, nas Diretrizes da OCDE para Empresas
Multinacionais e nos Princípios Empresariais da Transparência Internacional,
apresenta diretrizes e procedimentos que devem ser seguidos pelas empresas e entidades
signatárias nas relações com os poderes públicos.

Ao aderir ao Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, a empresa


assume posição pela integridade e pelo combate à corrupção no país, assumindo o

119
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

compromisso de instituir mecanismos para fortalecer o controle e a transparência


nas relações público/privadas e uma melhor gestão nas relações do setor privado.
Dessa forma, desenvolve relações socialmente responsáveis com os diversos âmbitos
do governo e coopera para a concretização dos princípios éticos e de integridade no
ambiente político e empresarial.

Entre suas conquistas destacam-se:

»» criação do Grupo de Trabalho permanente, formado por signatários e


convidados, que tem por finalidade avaliar e propor medidas efetivas
para o cumprimento dos compromissos do Pacto; expandir a mobilização
e o empenho de empresas e entidades sem fins lucrativos; fornecer
informações e referências que as auxiliem na promoção da integridade e
do combate à corrupção; e agregar redes de combate à corrupção;

»» criação do Grupo de Trabalho de indústrias do setor de tubos e conexões


para saneamento básico, liderado pela Amanco do Brasil e com o apoio
da organização Transparência da Colômbia, para a constituição de um
acordo do setor de prevenção e combate à corrupção;

»» parceria com o Pacto contra a Corrupção do Fórum Econômico Mundial


para mobilizar e ampliar o comprometimento de empresas às iniciativas;

»» participação na criação da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a


Impunidade (ABRACCI), com o apoio da Transparência Internacional,
com o intuito de “contribuir para a construção de uma cultura contra
a corrupção e a impunidade no Brasil, por meio do estímulo e da
articulação de ações de instituições, de cidadãos e iniciativas com vistas
a uma sociedade justa, democrática e solidária35”.

Iniciativa de parceira contra a corrupção

Com o objetivo de combater a corrupção global, a Iniciativa de Parceria contra a


Corrupção do Fórum Econômico Mundial foi lançada formalmente por Chief Executive
Officer (CEOs) das indústrias de engenharia e construção, energia e metais e mineração,
em janeiro de 2004. Mesmo tendo sido iniciativa desses três setores, trata-se de uma
parceria multisetorial e amplamente inclusiva. Isto é, está aberta a todas as empresas, a
despeito de tamanho, país de origem ou filiação ao Fórum Econômico Mundial.

35 Disponível em: <http://www.empresalimpa.ethos.org.br/index.php/noticias/abracci-promete-organizar-o-movimento-


brasileiro-de-combate-a-corrupcao> - Acesso em: 6 mar.2016.

120
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

A Parceria contra a Corrupção se alicerça no comprometimento dos CEOs com a


tolerância zero à corrupção e com a execução de um programa anticorrupção prático e
eficaz dentro das empresas. Dessa forma, coloca o setor privado em uma posição distinta,
já que atuam como guias para as políticas anticorrupção de governos e organizações
internacionais, além de criar relações com importantes atores e instituições do cenário
global que compartilham seus princípios, criando uma linguagem comum, válida para
todas as indústrias empresas e entidades que creem que a corrupção deve ser combatida
com a liderança e o comprometimento das pessoas que ocupam os cargos mais altos.

A Parceria contra a Corrupção é uma iniciativa de vários stakeholders que trabalham


junto a algumas organizações:

»» Instituto de Governança da Basileia;

»» Câmara de Comércio Internacional;

»» Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico;

»» Transparência Internacional;

»» Pacto Global das Nações Unidas;

»» Bancos de desenvolvimento multilaterais e instituições financeiras


internacionais selecionadas.

Extractive Industries Transparency Initiative


(Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extrativas)

A Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extrativas é uma coligação voluntária de


governos, empresas, investidores e organizações da sociedade civil que apoia os esforços
das empresas extrativistas de países ricos em petróleo, gás e minerais para aprimorar
sua governança, através da publicação completa e da verificação dos pagamentos das
empresas e dos rendimentos do governo no setor de petróleo, gás e outros minerais.

Atribuir transparência ao que os governos recebem e ao que as empresas pagam é


uma ação importante para que os administradores dos recursos públicos possam
ser responsabilizados. Os países, ao implementar a Iniciativa de Transparência nas
Indústrias Extrativas, podem ser beneficiados com uma melhor imagem favorecendo
investimentos. Isso ocorre porque o simples fato de um governo se comprometer no
empenho pela transparência e com responsabilidade em relação aos rendimentos
dos recursos naturais sinaliza seriedade aos investidores e às instituições financeiras
internacionais.

121
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Em suma, implementar a Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extrativas como


parte do programa de aperfeiçoamento da administração pode ajudar a garantir que os
rendimentos do petróleo, do gás e de outros minerais colaborem para o desenvolvimento
sustentável e para a diminuição da pobreza.

Banco Mundial – Manual para pequenas empresas

O Manual para Pequenas Empresas do Banco Mundial tem por intuito auxiliar as
empresas a enfrentar os desafios legais, competitivos, econômicos e éticos impostos
pela corrupção em suas operações ao redor do mundo. Apesar de ter sido redigido para
uso das empresas, também é interessante para governos e para outras organizações
preocupadas em combater a corrupção.

O Manual versa sobre as vantagens da chamada “ação coletiva” (collective action), um


processo sustentável e de cooperação entre partes interessadas, e como deve ser usada.
Dessa forma, são ofertados incentivos para que as empresas se tornem ativamente
envolvidas, e, dessa forma, é evidenciado como o setor privado pode ser parte da
solução na prevenção e no combate contra a corrupção. O manual mostra, também,
como a ação coletiva pode amparar as pequenas e médias empresas em sua luta contra
a corrupção, criando uma aliança mais inclusiva para apoiar participantes menores.

O Manual lista as seguintes ideias a respeito da participação de pequenas e médias


empresas na prevenção e no combate à corrupção:

»» as pequenas e médias empresas são afetadas de forma desproporcional


pela corrupção e muitas vezes não possuem recursos financeiros e
humanos para implementar sistemas que previnam sua ocorrência;

»» excetuando-se os fatores normais de risco de negócio, a corrupção


é o principal motivo de falências de pequenas e médias empresas ─
especialmente em mercados em desenvolvimento e emergentes;

»» a ação coletiva pode ser um meio para impulsionar a ação e a oposição à


corrupção de pequenas e médias empresas;

»» associações profissionais e de negócios são frequentemente um meio de


suporte prévio para pequenas e médias empresas e podem apoiá-las na
preparação de melhores sistemas anticorrupção, além de lhes oferecer
uma plataforma para que se empenhem na prevenção e no combate
coletivo contra a corrupção;

122
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

»» determinadas associações profissionais e de negócios que atuam com


pequenas e médias empresas já vêm desenvolvendo instrumentos
anticorrupção simples e eficientes para diversas situações de risco
elevado.

Ação coletiva (colletive action):

»» processo sustentável e de cooperação entre partes interessadas;

»» amplia a repercussão e a credibilidade de ações individuais;

»» transforma pequenas e médias empresas vulneráveis em um grupo de


organizações com objetivos comuns;

»» equipara a situação das empresas beneficiando a competitividade;

»» pode suprir brechas, ou provisoriamente substituir, legislações locais


mais frágeis contra a corrupção.

Elementos Fundamentais de um Programa de


Compliance Anticorrupção Efetivo Baseado nos
Parâmetros Internacionais

Programa de Compliance Anticorrupção

Podemos definir compliance como o cumprimento, a conformidade e execução de


regulamentos internos e externos, impostos as atividades da empresa, com o intuito
de mitigar o risco a reputação e regulatório. Isto é, um conjunto de procedimentos
adotados por uma empresa objetivando o cumprimento de normas legais e
regulamentos, diretrizes e políticas estabelecidas para a organização. Quando falamos
em compliance, estamos nos referindo ao conjunto de instrumentos e medidas que
têm por finalidade prevenir, detectar e combater de crimes de corrupção e outros atos
contra a administração pública, assim como garantir que valores e normas de conduta
sejam seguidos pelos funcionários.

Esses programas têm o poder de, além de incentivar que o ambiente de negócios seja
baseado em princípios éticos, aprimorar a governança corporativa das empresas,
fazendo com que se tornem mais atrativas aos investimentos. A cultura de compliance
fortalece o sistema de gestão de pessoas, melhorando o clima dentro das organizações, e
minimizando eventuais multas por violação das normas, além de resguardar a imagem
e reputação das empresas.

123
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

De acordo com disposição do art. 7o, inciso VIII, da Lei no 12.846, de 1 de agosto de 2013
(Lei anticorrupção).

Art. 7o Serão levados em consideração na aplicação das sanções:

(...)

VIII ─ a existência de mecanismos e procedimentos internos de


integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa
jurídica;

(...)

A implementação de sistemas de integridade, em razão da “sugestão legal”, considerando


não se tratar de uma obrigatoriedade, é uma inovação em termos legislativos, ainda que
as primeiras menções tenham sido introduzidas pela Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei
no 9.613, de 3 de março de 1998), a qual instituiu o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF).

Como vimos, nos Estados Unidos existe a obrigação de haver sistema de controles
internos somente para as sociedades consideradas emissoras sob a SEC. Isto é, a adoção
de mecanismos e procedimentos de prevenção de corrupção não é uma obrigação,
todavia é um fator de redução, ou até exclusão, de sanções pelo Departament of Justice
(DOJ) e pela U.S. Securities and Exchange Comission (SEC). Esses mecanismos não
são desconhecidos a muitas pessoas jurídicas aqui no Brasil, seja porque atuam em
mercado de capitais, ou porque operam no mercado norte-americano.

A Lei Anticorrupção não isenta a empresa infratora das penalidades que posam
recair em razão de infrações a Lei, por conta da adoção do Programa de Compliance
e cumprimento integral dos preceitos desses programas, prevendo somente critérios
legais para fixação das penas previstas no artigo 6o36, adaptando a sanção à gravidade
do fato. Ou seja, serve para auxiliar na dosimetria da pena, vinculando e obrigando o

36 “Art. 6o Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos
nesta Lei as seguintes sanções: I ─ multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto
do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior
à vantagem auferida, quando for possível sua estimação; e II ─ publicação extraordinária da decisão condenatória. § 1o As
sanções serão aplicadas fundamentadamente, isolada ou cumulativamente, de acordo com as peculiaridades do caso concreto
e com a gravidade e natureza das infrações. § 2o A aplicação das sanções previstas neste artigo será precedida da manifestação
jurídica elaborada pela Advocacia Pública ou pelo órgão de assistência jurídica, ou equivalente, do ente público. § 3o A aplicação
das sanções previstas neste artigo não exclui, em qualquer hipótese, a obrigação da reparação integral do dano causado. § 4o
Na hipótese do inciso I do caput, caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto da pessoa jurídica, a
multa será de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais). § 5o A publicação extraordinária
da decisão condenatória ocorrerá na forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de comunicação de
grande circulação na área da prática da infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta, em publicação de circulação
nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, no próprio estabelecimento ou no
local de exercício da atividade, de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de computadores.” BRASIL.
Lei no 1 2.846/2013, de 1o de agosto de 2013. Dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela
prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. Brasília, 1o de agosto de 2013.

124
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

aplicador da Lei a considerar esses mecanismos de compliance como um atenuante da


penalidade eventualmente imposta à empresa infratora.

Nessa perspectiva, a Controladoria Geral da União (CGU) já apontou que a comprovação


de que a organização possui e aplica um programa de integridade estruturado e efetivo,
pode e deve beneficiá-lo, nos termos de regulamento específico no qual foram fixados
parâmetros de avaliação desses mecanismos e procedimentos previstos no inciso VIII
do art. 7o da Lei Anticorrupção.

A Lei Anticorrupção foi regulamentada pelo Decreto no 8.420, de 18 de março de 201537,


que trata do Programa de Integridade em seus artigos 41 e 42. Vale dizer que o estado de
São Paulo (Decreto Estadual no 60.106, de 30 de janeiro de 2014) e sua capital (Decreto
Municipal no 55.107, de 13 de maio de 2014) foram pioneiros na regulamentação da
Lei Anticorrupção, regulamentando os procedimentos de responsabilização cível e
administrativa de pessoas jurídicas por atos de corrupção contra a administração
pública nacional ou estrangeira.

Façamos então uma análise dos parâmetros e elementos do que pode ser considerado
um programa efetivo, partindo das principais referências internacionais e do documento
da CGU e do Decreto 8.420, de 18 de março de 2015 e Portaria Conjunta CGU/SMPE
no 2279 de 09 de setembro de 2015 que trata dos Programas de Integridade para
microempresas e empresas de pequeno porte

Parâmetros Internacionais e Nacionais

Em 1991, a United States Sentencing Commission (USSC) promulgou os Federal


Sentencing Guidelines for Organizations (FSGO)38, estabelecendo os padrões
(standards) para um Programa de Compliance efetivo, e fixando diretrizes para que
os juízes norte-americanos aplicassem as penas. A USSC buscou incentivar a adoção
dos Guidelines, já que a adoção dessas medidas por parte das empresas tem o poder de
reduzir as penas a que estejam sujeitas, no caso de funcionários envolvidos em atos de
corrupção.

37 Regulamenta a Lei no 12.846, de 1o de agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas
pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.
38 SARIS, Patti B. United States Sentencing Commission Guidelines Manual. Disponível em: <http://www.ussc.gov/sites/default/
files/pdf/guidelines-manual/2013/manual- pdf/2013_Guidelines_Manual_Full.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2017.

125
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

O Federal Sentencing Guidelines for Organizations lista, em seu capitulo 8, lista “sete
passos” (““seven-step” standards”)39 para a criação de Programas de Compliance
efetivos:

1. implementação de um Código de Conduta, Políticas e procedimentos de


compliance;
39 HOLBROOK, Marla Davis. A Seven-Step Process to Creating Standards-based IEPs. Jun 2007 Project Forum at NASDSE.
Disponível em <https://education.ohio.gov/getattachment/Topics/Special-Education/Federal-and- State-Requirements/
Federal-Resources/7StepProcesstoCreatingStandards-basedIEPs.pdf.aspx>. Acesso em: 07/03/2017.
Para se ter um programa de Compliance e ética eficaz, para fins do disposto no inciso (f) de §8C2.5 (Pontuação de Culpabilidade)
e alínea (b) (1) de § 8 D1.4 (condições da liberdade condicional recomendados - Organizações), uma organização deverá:
Exercitar a Due Diligence para prevenir e detectar conduta criminosa; e
Promover uma cultura organizacional que estimule a conduta ética e o compromisso com o cumprimento da lei.
Tal programa de Compliance e ética deve ser razoavelmente projetado, implementado e aplicado de modo a que o programa
seja razoavelmente eficaz em prevenir e detectar conduta criminosa. O fracasso em prevenir ou detectar o crime não significa,
necessariamente, que o programa não seja razoavelmente eficaz na prevenção e detecção de conduta criminal.
Due diligence e da promoção de uma cultura organizacional que estimule a conduta ética e compromisso com o cumprimento
da lei, na acepção da alínea (a) exigem pelo menos o seguinte:
A organização deve estabelecer normas e procedimentos para prevenir e detectar a conduta criminosa.
a. Autoridade governamental deve estar bem informada sobre o conteúdo e funcionamento do programa de Compliance e ética
e exercerá uma fiscalização razoável no que diz respeito à implementação e eficácia do programa de Compliance e ética.
b.Pessoal de alto escalão da organização deve assegurar que a organização tenha um programa de Compliance e ética
eficaz, conforme descrito neste guia. Um Indivíduo(s) específico(s) dentro de quadro do alto escalão deve ser atribuído a
responsabilidade global para o programa de Compliance e ética.
c.O(s) indivíduo(s) específico(s) dentro da organização deve ser delegada a responsabilidade operacional do dia-a-dia para
o programa de Compliance e ética. A(s) Pessoa(s) com a responsabilidade operacional deve passar relatórios periódicos ao
pessoal de alto escalão e, conforme o caso, para a autoridade governamental, ou um subgrupo adequado da autoridade de
governamental, sobre a eficácia do programa de Compliance e ética. Para executar tal responsabilidade operacional, esse(s)
indivíduo(s) deve(m) dispor de recursos adequados, autoridade adequada e acesso direto à autoridade governamental ou um
subgrupo adequado da autoridade governamental.
A organização deve fazer o esforço razoável para não incluir dentro do pessoal da autoridade substancial da organização
qualquer indivíduo de quem a organização sabia, ou deveria saber, através do exercício da due diligence, que tenha se envolvido
em atividades ilegais ou outra conduta incompatível com a programa de Compliance e ética eficaz.
A organização deve tomar medidas razoáveis para comunicar periodicamente e de uma maneira prática as suas normas e
procedimentos, e outros aspectos do programa de Compliance e ética, para os indivíduos a que se refere o inciso; através
da realização de programas de treinamento eficazes e divulgar, no entanto, informações adequadas aos respectivos papéis
e responsabilidades desses indivíduos. As pessoas mencionadas no inciso a são os membros da autoridade governamental,
pessoal de alto escalão, o pessoal da autoridade substancial, os funcionários da organização, e, conforme o caso, os agentes da
mesma.
A organização deve tomar medidas razoáveis:
a - para assegurar que o programa de Compliance e ética da organização seja seguido, incluindo o monitoramento e auditoria
para detectar condutas criminosas;
b - para avaliar periodicamente a eficácia do programa de Compliance e ética da organização; e
c - ter e divulgar um sistema, que pode incluir mecanismos que permitam o anonimato ou confidencialidade, em que os
funcionários da organização e seus agentes possam informar ou buscar orientação quanto à conduta criminosa potencial ou
real sem medo de retaliação.
O programa de Compliance e ética da organização deve ser promovido e executado de forma consistente em toda a organização
através de:
d - incentivos adequados para o desempenho de acordo com o programa de Compliance e ética; e
e - medidas disciplinares apropriadas pelo engajamento em conduta criminosa e por não tomar as medidas cabíveis para
prevenir ou detectar conduta criminosa.
Depois de ter sido detectado um comportamento criminoso, a organização deve tomar medidas razoáveis para responder
adequadamente à conduta criminosa e evitar conduta criminosa semelhante, inclusive a realização de modificações necessárias
no programa de Compliance e ética da organização.
Na implementação da alínea b, a organização deve avaliar periodicamente o risco de comportamento criminoso e tomar as
medidas adequadas para projetar, implementar, ou modificar cada requisito previsto neste inciso para reduzir o risco de
conduta criminosa, identificada através deste processo.

126
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

2. especificação das responsabilidades (quem é responsável pelo que);

3. não conferir poderes a funcionários ou terceiros que tenham predisposição


a se envolverem em atividades criminosas;

4. comunicação e treinamento;

5. monitoramento, auditoria e canal de denúncias;

6. atitude apropriada e consistente processo disciplinar;

7. remediação e ações corretivas, abrangendo uma revisão periódica do


Programa de Compliance.

Os Guidelines são utilizados pelas empresas para embasar a construção dos seus
programas. Importante frisar que não há um “guia” que se aplique a todas as empresas,
em virtude das peculiaridades de cada uma; os “sete-passos” são, deste modo, os
elementos mínimos que devem figurar nos programas.

O Resource Guide to The US Foreign Corrupt Practices Act ou Guia FCPA (FCPA
Guidance) foi publicado pela US Department of Justice (DJO) e pela US Securities and
Exchange Comission (SEC) no ano de 2012, com o intuito de oferecer as primeiras
informações para todas as empresas, tanto as estão iniciando as operações no exterior,
quanto as multinacionais que têm filiais em todo o mundo. O FCPA Guidance elenca
dez hallmarks (marcas características) que podem tornar os programas de Compliance
efetivos. São eles:

1. Compromisso do alto escalão da empresa e política claramente estruturada


contra a Corrupção.

2. Código de Conduta e Políticas e procedimentos de Compliance.

3. Supervisão, autonomia e recursos (financeiros e humanos).

4. Avaliação de Risco.

5. Treinamento Constante.

6. Incentivos e Medidas Disciplinares.

7. Due Diligence de Terceiros e Pagamentos.

8. Canal de Denúncia Confidencial e Investigação Interna.

9. Melhoria Contínua: exames periódicos e avaliação.

10. Fusões e Aquisições: Due Diligence de pré-aquisição e da Integração de


pós-aquisição.

127
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Em 9 de dezembro de 2009, no 10o (décimo) aniversário da entrada em vigor da


Convenção da OCDE foi publicada a Recomendação para Combate ao Suborno de
Funcionários Públicos Estrangeiros (Recommendation for Further Combating Bribery
of Foreign Public Officials), o qual compreendia o guia de Boas Práticas em Controles
Internos, Ética e Compliance (Good Practices on Internal Controls, Ethics and
Compliance)40.

Este Guia de Boas Práticas é voltado às empresas, como diretriz, com o objetivo de
assegurar a eficácia do controle interno, da ética e dos Programas de Compliance ou
medidas voltadas para prevenção e detecção de suborno de funcionários públicos
estrangeiros nas transações comerciais internacionais, e para as organizações
empresariais e associações profissionais.

De acordo com o guia, as empresas devem considerar as seguintes boas práticas para
garantir controles internos, Programas de Compliance e Ética com o intuito de prevenir
e detectar o suborno estrangeiro:

1. comprometimento da alta administração, vigoroso, explícito e visível aos


controles internos, Programa de Compliance ou as medidas de prevenção
e detecção de suborno estrangeiro da empresa;

2. política corporativa claramente estruturada e visível que vete o suborno


estrangeiro;

3. cumprimento da proibição de suborno e dos controles internos relativos,


Programas de Compliance e Ética dever ser obrigação dos indivíduos em
todos os níveis da empresa;

4. supervisão dos Programas de Compliance relacionados a suborno


estrangeiro, englobando o poder de comunicar os incidentes diretamente
para organismos de controle independentes, tais como comitês de
auditoria interna dos conselhos de administração ou dos órgãos de
fiscalização são dever de um ou mais funcionários sêniores das empresas,
com um nível apropriado de autonomia de gestão, recursos e autoridade;

5. programas de Compliance voltados a prevenção e detecção de suborno


estrangeiro, aplicável a todos os conselheiros, diretores e funcionários,
e aplicável a todas as entidades sobre as quais a empresa tenha controle
efetivo, incluindo as subsidiárias, relacionado às seguintes áreas: a)
presentes; b) hospitalidade, entretenimento e despesas; c) viagens de

40 Good Practice Guidance on Internal Controls, Ethics, and Compliance. Disponível em: <http://www.oecd.org/investment/
anti-bribery/anti-briberyconvention/44884389.pdf>. Acesso em: 7 mar.2017.

128
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

cliente; d) contribuições políticas; e) doações e patrocínios; f) pagamentos


de facilitação; e g) solicitação e extorsão;

6. programas de Compliance direcionados a prevenção e detecção do


suborno estrangeiro aplicável, onde for necessário e sujeito às disposições
contratuais, a terceiros, como agentes e outros intermediários,
consultores, representantes, distribuidores, prestadores de serviços e
fornecedores, consórcios e sócios de Joint Venture, compreendendo, os
seguintes elementos fundamentais:

a.  due diligence adequadamente documentada baseada no risco ligado à


contratação, bem como a supervisão apropriada e regular dos parceiros
de negócios;

b. informar os parceiros de negócios do comprometimento da empresa em


cumprir com as leis referentes as proibições de suborno estrangeiro, e do
Programa de Compliance da empresa para prevenção e detecção desse
tipo de suborno; e

c. procurar compromisso mútuo de parceiros de negócios.

7. sistema de procedimentos contábeis e financeiros, compreendendo


um sistema de controles internos, razoavelmente desenvolvidos para
assegurar a manutenção justa e precisa dos livros contábeis, registros e
contas, para garantir que eles não sejam usados para objetivos de suborno
estrangeiro ou para que se oculte tal prática;

8. medidas voltadas a assegurar uma comunicação periódica, e documentada


de treinamento para todos os níveis da empresa, sobre o Programa de
Compliance relacionadas a suborno estrangeiro, bem como, onde preciso,
para as subsidiárias;

9. medidas apropriadas para promover e propiciar um apoio positivo para a


observância dos Programas de Compliance contra o suborno estrangeiro,
em todos os níveis da empresa;

10. procedimentos disciplinares adequados para abordar, entre outras coisas,


violações, em todos os níveis da organização, das leis contra o suborno
estrangeiro e do programa de Compliance e ética da mesma relativas ao
suborno estrangeiro;

129
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

11. Medidas eficazes para:

a. oferecer orientações aos conselheiros, diretores, funcionários, e, quando


oportuno, a parceiros de negócios, em conformidade com o Programa de
Compliance da empresa, inclusive quando eles precisarem de orientações
urgentes em situações difíceis em jurisdições estrangeiras;

b. canal de denúncia interna e, se admissível confidencial, e proteção dos,


conselheiros, diretores, funcionários, e, quando for o caso, dos parceiros
comerciais, que não estejam dispostos a violar as normas profissionais
ou éticas por determinação ou pressão de superiores hierárquicos, bem
como para os diretores, funcionários, e, quando for o caso, aos parceiros
de negócios, dispostos a expor violações da lei ou normas ou ética
profissional que aconteçam dentro da organização, fazendo-o de boa fé e
devidamente fundamentada; e

c. executar medidas adequadas em resposta a tais comunicações internas


de improbidade;

12. revisão regular dos Programas de Compliance, voltadas a avaliar e


aprimorar a sua eficácia para prevenir e detectar o suborno estrangeiro,
considerando a evolução relevante na área, e o desenvolvimento das
normas internacionais e da indústria.

No que se refere ao UK Bribery Act, este contém um documento chamado Seis Princípios
para Prevenção do Suborno (Six Principles to Prevent Bribery), trata-se de um guia de
recomendações ou princípios para as empresas com o intuito de combater crimes e/ou
atos de corrupção e ainda para nortear procedimentos de combate ao suborno:

1. procedimentos proporcionais ao risco;

2. compromisso do alto escalão;

3. avaliação de risco;

4. due diligence;

5. comunicação (abrangendo treinamento);

6. monitoramento e avaliação.

A Transparência Internacional, por meio dos Princípios para Prevenção do Suborno


em Negócios (Business Principles for Countering Bribery), oferece (em sua segunda
edição) as seguintes orientações para implementação de um programa de combate de
suborno:

130
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

1. a empresa deverá possuir uma política que proíba o suborno, direta ou


indiretamente;

2. a empresa deve comprometer-se com a implementação de um programa


de combate ao suborno, esse programa deve incluir esforços referentes
aos valores, ao Código de Conduta, às políticas e aos procedimentos, à
gestão de riscos, à comunicação interna e externa, à formação e orientação
de controles internos, à supervisão, ao monitoramento e à garantia.

Esses princípios são fundados no compromisso com valores essenciais de integralidade,


transparência e prestação de contas. As empresas devem ter como finalidade a criação e
mantença de uma cultura interna de base de confiança, com responsabilidade individual,
na qual o suborno é inadmissível.

Recomendações da Transparência Internacional41:

1. adoção de políticas anticorrupção;

2. planejamento da implementação: análise de riscos;

3. elaboração de políticas anticorrupção;

4. implementação: comunicação e treinamento.

5. monitoramento;

6. avaliação e aprimoramento.

41 “Programa Anticorrupção: Implementação em Seis Passos. A Transparência Internacional (TI) elaborou uma estratégia de
implementação de programa anticorrupção para empresas em seis passos, a saber:
Passo 1: Adotar políticas anticorrupção; Obter o comprometimento da alta administração da empresa para o desenvolvimento
e adoção de política anticorrupção; Decidir pela implementação de um Programa Anticorrupção. Optar por uma política de
transparência. Indicar gerentes e funcionários multissetoriais para participar da Equipe do Projeto.
Passo 2: Planejar a implementação(ações a serem realizadas pela Equipe do Projeto); Definir os riscos específicos da empresa
e rever as práticas em curso. Revisar as exigências legais, a fim de checar aquelas que precisam ser alteradas ou reforçadas.
Elaborar políticas e desenvolver Programa Anticorrupção. Conseguir o comprometimento dos gerentes e dos funcionários.
Passo 3: Desenvolver um Programa Anticorrupção detalhado: (ações a serem realizadas pela Equipe do Projeto); Integrar
as políticas anticorrupção à estrutura organizacional da empresa e distribuir as responsabilidades; Rever os procedimentos
em prática na empresa, para verificar se estes se adequam ao novo programa; Desenvolver um plano de implementação
detalhado, que deverá incluir a adaptação das políticas de recursos humanos, os procedimentos de comunicação da empresa
e os programas de treinamento; Estabelecer um procedimento de denúncias/comunicação de problemas; Preparar-se para
minimizar os possíveis incidentes ao longo do programa.
Passo 4: Implementação do Programa: Divulgar o Programa Anticorrupção para os públicos interno e externo; Disponibilizar
treinamento para os funcionários e parceiros. Lidar com incidentes. Rever as atribuições da Equipe do Projeto.
Passo 5: Monitoramento: Revisar regularmente as práticas da empresa e o programa anticorrupção. Aprender com os
incidentes ocorridos. Contratar auditores externos. Revisar os procedimentos adotados para receber denúncias/comunicação
de problemas.
Passo 6: Avaliação e Aperfeiçoamento: Receber o feedback do monitoramento. Avaliar a efetividade do Programa. Aperfeiçoar
o Programa. Reportar as conclusões à Administração. Revisar e aprovar o Programa pela Administração.” BRASIL,
Controladoria Geral da União. Como implementar medidas de integridade. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/
etica-e-integridade/setor-privado/como-implementar-medidas- de-integridade>. Acesso em: 7 mar.2017.

131
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Por sua vez a CGU, em trabalho intitulado “A Responsabilidade Social das Empresas
no Combate à Corrupção”42, dedicou um capítulo a implementação de um Programa de
Integridade: “Instituição de um Programa de Integridade e Combate à Corrupção”.
Esse trabalho foi elaborado em parceria com o Instituo Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, e aconselha que as empresas adotem os seguintes princípios
e políticas:

1. elaboração de um Código de Conduta;

2. implantação de política de comunicação constante;

3. estabelecimento de um Comitê de Ética;

4. processo de recrutamento centrado em ética;

5. determinação de sistemas de controle interno e auditoria.

A Controladoria Geral da União43 sugere que a melhor maneira de implementar as


políticas e princípios de integridade é adotando as observações introduzidas pela
Transparência Internacional e pela OCDE, e destaca que a metodologia da OCDE deve
ser usada pelas empresas multinacionais.

O Decreto no 8.420, de 18 de março de 2015 que regulamenta a Lei Anticorrupção


dedica seu Capítulo IV aos Programas de Integridade:

Art. 41. Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade


consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos
e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à
denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética
e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar
desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a
administração pública, nacional ou estrangeira.

Parágrafo Único. O programa de integridade deve ser estruturado,


aplicado e atualizado de acordo com as características e riscos atuais
das atividades de cada pessoa jurídica, a qual por sua vez deve garantir
o constante aprimoramento e adaptação do referido programa, visando
garantir sua efetividade.

42 BRASIL, Controladoria Geral da União. A Responsabilidade Social das Empresas no Combate à Corrupção. Disponível em
<http://www3.ethos.org.br/cedoc/a-responsabilidade-social-das-empresas-no-combate-a-corrupcao/#.VM-_LjCsiSo>.
Acesso em: 7 mar.2017.
43 BRASIL, Controladoria Geral da União. Como implementar medidas de integridade. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/
assuntos/etica-e-integridade/setor-privado/como-implementar-medidas-de- integridade>. Acesso em: 7 mar.2017.

132
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Art. 42. Para fins do disposto no § 4o do art. 5o, o programa de integridade


será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os
seguintes parâmetros:

I ─ comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os


conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa;

II ─ padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos


de integridade, aplicáveis a todos os empregados e administradores,
independentemente de cargo ou função exercidos;

III ─ padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade


estendidas, quando necessário, a terceiros, tais como, fornecedores,
prestadores de serviço, agentes intermediários e associados;

IV ─ treinamentos periódicos sobre o programa de integridade;

V ─ análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias ao


programa de integridade;

VI ─ registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as


transações da pessoa jurídica;

VII ─ controles internos que assegurem a pronta elaboração e


confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da pessoa
jurídica;

VIII ─ procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito


de processos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou
em qualquer interação com o setor público, ainda que intermediada por
terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou
obtenção de autorizações, licenças, permissões e certidões;

IX ─ independência, estrutura e autoridade da instância interna


responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização de
seu cumprimento;

X ─ canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente


divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à
proteção de denunciantes de boa-fé;

XI ─ medidas disciplinares em caso de violação do programa de


integridade;

133
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

XII ─ procedimentos que assegurem a pronta interrupção de


irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos
danos gerados;

XIII ─ diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso,


supervisão, de terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de
serviço, agentes intermediários e associados;

XIV ─ verificação, durante os processos de fusões, aquisições e


reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou
ilícitos ou da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas
envolvidas;

XV ─ monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu


aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos atos
lesivos previstos no art. 5o da Lei no 12.846, de 2013; e

XVI ─ transparência da pessoa jurídica quanto a doações para


candidatos e partidos políticos.

§ 1o ─ Na avaliação dos parâmetros de que trata este artigo, serão


considerados o porte e especificidades da pessoa jurídica, tais como:

I ─ a quantidade de funcionários, empregados e colaboradores;

II ─ a complexidade da hierarquia interna e a quantidade de


departamentos, diretorias ou setores;

III ─ a utilização de agentes intermediários como consultores ou


representantes comerciais;

IV ─ o setor do mercado em que atua;

V ─ os países em que atua, direta ou indiretamente;

VI ─ o grau de interação com o setor público e a importância de


autorizações, licenças e permissões governamentais em suas operações;

VII ─ a quantidade e a localização das pessoas jurídicas que integram o


grupo econômico; e

VIII ─ o fato de ser qualificada como microempresa ou empresa de


pequeno porte.

§ 2o A efetividade do programa de integridade em relação ao ato lesivo


objeto de apuração será considerada para fins da avaliação de que trata
o caput.

134
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

§ 3o Na avaliação de microempresas e empresas de pequeno porte, serão


reduzidas as formalidades dos parâmetros previstos neste artigo, não se
exigindo, especificamente, os incisos III, V, IX, X, XIII, XIV e XV do caput.

§ 4o Caberá ao Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União


expedir orientações, normas e procedimentos complementares referentes
à avaliação do programa de integridade de que trata este Capítulo.

§ 5o A redução dos parâmetros de avaliação para as microempresas


e empresas de pequeno porte de que trata o § 3o poderá ser objeto
de regulamentação por ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da
Secretaria da Micro e Pequena Empresa e do Ministro de Estado Chefe
da Controladoria-Geral da União.

Já a Portaria Conjunta CGU/SMPE no 2.279 de 9 de setembro de 2015, que dispõe sobre


a avaliação de programas de integridade de microempresa e de empresa de pequeno
porte, trazem seu anexo os parâmetros de integridade da microempresa e empresa de
pequeno porte:

Parâmetros de Integridade Exemplos de medidas de


Esclarecimentos sobre os Parâmetros
integridades que as MPE podem
(Art. 42 do Decreto n 8.420/2015)
o de Integridade para as MPE
adotar (Rol não taxativo)
Disponibilizar cursos, palestras, debates e
exposições sobre a ética e integridade, bem
como fomentar a participação de funcionários
em tais atividades.
A alta direção de uma MPE é representada por
Difundir a cultura de integridade por meio de
seus administradores, sejam eles seus sócios,
e-mails, redes sociais, cartazes, entre outros,
proprietários, donos, chefes ou gerentes.
informando os funcionários sobre a importância
O comprometimento da alta direção será e necessidade das medidas de integridade.
I – comprometimento da alta direção da
verificado mediante a atuação e a postura
pessoa jurídica, incluídos os conselhos, Implementar as condutas definidas no código de
da direção da empresa em relação aos seus
evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ética e incentivar que seus funcionários façam
funcionários.
ao programa; o mesmo.
A direção deve disseminar a cultura de
Difundir posturas éticas e íntegras de
integridade, atuar na execução das medidas
funcionários.
estabelecidas e tornar público o seu
compromisso com o tema. Promover e incentivar debates sobre
comportamentos éticos e íntegros, inclusive
por meio de estudos de casos. Promover a
conscientização de que a corrupção é prejudicial
a todos e deve ser combatida.
Elaborar código de ética com valores,
A MPE deve reconhecer e promover valores, comportamentos e princípios de condutas
comportamentos e princípios de condutas aplicáveis a todos os funcionários e à direção,
necessários à integridade da empresa, tanto para incluindo regras de relacionamento com o setor
funcionários quanto para a direção. público;
II - padrões de conduta, código de ética,
políticas e procedimentos de integridade, Os valores, comportamentos e princípios de Divulgar o código de ética, por meio da afixação
aplicáveis a todos os empregados e condutas devem constar de um código de de cartazes, placas, sinais, mensagens sobre os
administradores, independentemente de ética. O código de ética deve contribuir para a padrões de conduta e os procedimentos que
cargo ou função exercidos; construção da cultura de trabalho e negócios devem ser observados;
dentro da empresa e deve ser fonte de consulta
Atualizar o código de ética; e
para funcionários e para a direção na tomada
de decisão que envolva questões relativas à Atualizar os procedimentos que devem ser
integridade da empresa. adotados de acordo com os novos negócios
celebrados.

135
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Parâmetros de Integridade Exemplos de medidas de


Esclarecimentos sobre os Parâmetros
integridades que as MPE podem
(Art. 42 do Decreto n 8.420/2015)
o de Integridade para as MPE
adotar (Rol não taxativo)
Promover, periodicamente, treinamentos internos
O treinamento é um dos pontos mais importantes
sobre integridade;
para o funcionamento efetivo das medidas de
Promover a participação da direção e funcionários
integridade. A direção e os funcionários devem
em cursos, presenciais ou à distância, oferecidos
IV - treinamentos periódicos sobre o programa participar de treinamentos sobre assuntos
por instituições públicas ou privadas, sobre
de integridade; relacionados às medidas de integridade,
ética e integridade, licitações e contratos com a
principalmente sobre o conteúdo do código de ética,
Administração Pública, políticas anticorrupção,
os valores que orientam a cultura ética e os principais
dentre outros; e Divulgar a cultura de integridade da
riscos relativos às atividades da MPE.
empresa em reuniões, encontros e eventos.
Todas as empresas, com exceção do empresário
individual a que se refere o art. 966 da Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, Implantar sistema eletrônico de registro contábil;
precisam registrar contabilmente suas operações. Registrar as transações nos livros oficiais;
Vendas, compras, empréstimos, rendimentos e Preservar os livros e registros contábeis; Preservar
VI - registros contábeis que reflitam de forma
prejuízos são fatos que afetam o patrimônio de os documentos que comprovem o recolhimento
completa e precisa as transações da pessoa
uma empresa e, por isso, devem ser registrados. de impostos e contribuições devidas enquanto não
jurídica;
As MPEs, optantes pelo Simples Nacional, podem ocorrer à decadência ou a prescrição;
observar a contabilidade prevista no art. 27 da Assegurar-se de que o contador é profissional
Lei Complementar no 123, de 2006, na forma habilitado.
regulamentada pelo Comitê Gestor do Simples
Nacional.
Definir, sempre que possível, as atribuições dos
Controles internos são procedimentos que verificam funcionários;
se as transações, compras, vendas, controle de Confrontar receitas e despesas com os registros
estoque, pagamentos, dentre outros, estão sendo contábeis realizados, confirmando o registro das
VII - controles internos que assegurem a pronta feitos de forma correta e de acordo com as transações;
elaboração e confiabilidade de relatórios e instruções da direção. O controle interno também Estabelecer regras sobre a necessidade de
demonstrações financeiros da pessoa jurídica; tem a função de apontar e corrigir eventuais erros, aprovação e autorização específica sobre
além de atuar de forma preventiva, diminuindo pagamentos de alto valor, alto risco ou relacionados
a possibilidade de ocorrência de fraudes e com o setor público;
irregularidades. Definir regras claras para a aprovação de relatórios e
documentos contábeis; Realizar auditorias.
Orientar os funcionários e a direção sobre as leis
que disciplinam as contratações públicas, como a
Lei no 8.666/1993, a Lei no 10.520/2005 e a
Lei Complementar no 123/2006; os mecanismos
de prevenção e de enfrentamento à corrupção; e a
responsabilização da pessoa jurídica pela prática de
atos ilícitos contra a administração pública (Lei no
12.846/2013).
Rever, antes de participar de qualquer modalidade
de licitação, os procedimentos inerentes à respectiva
Relações comerciais com a administração pública
modalidade licitatória, com foco nas condutas
exigem a observância de princípios e regras
vedadas.
específicos. Caso essas regras e princípios sejam
VIII - procedimentos específicos para prevenir Incluir no Código de Ética regras referentes
violados, a MPE pode sofrer sanções.
fraudes e ilícitos no âmbito de processos à participação em licitação e contratação e
Para evitar que ocorram irregularidades nas relações
licitatórios, na execução de contratos relacionamento com a Administração Pública.
estabelecidas com o setor público, é importante que
administrativos ou em qualquer interação com No caso de contratação de preposto ou de
a MPE estabeleça regras sobre o contato de seus
o setor público, ainda que intermediada por terceirização de elaboração de documentos para
funcionários e diretores com agentes públicos; a
terceiros, tal como pagamento de tributos, participar em procedimento licitatório, a MPE deverá
participação em licitações; o oferecimento de brindes
sujeição a fiscalizações, ou obtenção de fiscalizar suas atuações: como trabalham, se atuam
e presentes a agentes públicos; e, a contratação de
autorizações, licenças, permissões e certidões; de forma íntegra e regular, dentre outros.
atuais e ex-agentes públicos.
Oferecer treinamentos e cursos sobre compras
Essas regras podem ser incluídas no Código de Ética
públicas ou políticas anticorrupção aos funcionários
e devem ser amplamente difundidas na empresa.
que atuarem especificamente nos processos
licitatórios.
Estabelecer que as interações com o setor público e
a atuação em procedimentos licitatórios sejam feitas
por no mínimo dois representantes da empresa.
Envolver pessoas da direção nos procedimentos
licitatórios. A direção da empresa deve atuar como
supervisor ou revisor durante o procedimento
licitatório e durante a execução do contrato.
Cumprir corretamente o disposto no contrato.

136
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Parâmetros de Integridade Exemplos de medidas de


Esclarecimentos sobre os Parâmetros
integridades que as MPE podem
(Art. 42 do Decreto n 8.420/2015)
o de Integridade para as MPE
adotar (Rol não taxativo)
Instituir penalidades e procedimentos
disciplinares apropriados e razoáveis para apurar
e reprimir a prática de diferentes irregularidades.

Estabelecer medidas disciplinares significa prever Inserir as medidas e procedimentos disciplinares


as penalidades e os procedimentos para a no Código de Ética.
punição de funcionários que violarem as regras Alertar os funcionários sobre as penalidades e os
da MPE, independente da posição ou cargo procedimentos disciplinares, e disseminar o tema
ocupado. em treinamentos.
XI - medidas disciplinares em caso de
violação do programa de integridade; As penalidades devem ser definidas de forma Formalizar os procedimentos de apuração de
proporcional à irregularidade cometida, de forma irregularidades e aplicação de penalidades;
a garantir que as medidas de integridade sejam Informar aos funcionários, no momento da
respeitadas e que violações não sejam toleradas. contratação, sobre as condutas éticas da
São exemplos de penalidades que podem ser empresa e quais violações são passíveis de
adotadas: advertência, suspensão e demissão. punições.
Incluir cláusula de ciência das condutas éticas
da empresa nos contratos de trabalho dos
funcionários.
Garantir que mais de um representante da
MPE supervisione as operações ou atividades
relevantes, como aquelas que envolvam grandes
valores ou que estejam relacionadas com o setor
Desenvolver procedimentos que assegurem público.
XII - procedimentos que assegurem a pronta
a interrupção imediata de irregularidades e
interrupção de irregularidades ou infrações Investigar situações ou comportamentos
infrações e que permitam a reparação dos danos
detectadas e a tempestiva remediação dos inadequados.
causados de forma rápida e direta, evitando a
danos gerados;
ocorrência futura de situações análogas. Registrar todas as irregularidades constatadas e
a forma de reparação dos danos.
Interromper as irregularidades logo que elas
forem detectadas.
Definir regras claras sobre as doações eleitorais.
Informar se a MPE realiza ou não doações, o
valor máximo que pode ser doado, e quem pode
Transparência não se limita a apresentar os
aprovar doação.
recibos de doações eleitorais realizadas. A MPE
XVI - transparência da pessoa jurídica deve deixar clara a sua posição quanto à doação Divulgar as regras adotadas pela MPE sobre
quanto a doações para candidatos e partidos eleitoral. As doações a candidatos e partidos doações eleitorais para os funcionários e para o
políticos. políticos devem ser divulgadas. A MPE que não público externo.
realiza doações também deve divulgar essa
Declarar todas as doações a Justiça Eleitoral e
informação.
guardar os recibos de doações efetuadas.
Divulgar doações a candidatos e partidos
políticos.
Fonte: Anexo da Portaria Conjunta CGU/SMPE n o 2.279 de 9 de setembro de 2015.

Elementos Essenciais

Os elementos recorrentes nos parâmetros supracitados são:

1. comprometimento da alta administração;

2. avaliação dos riscos;

3. política corporativa (elaboração de um Código de Ética);

137
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

4. comunicação e treinamento contínuo;

5. canal de denúncias e controles internos;

6. auditoria em terceiros (due diligence);

7. revisão periódica.

Dois elementos que consideramos importantes não são comuns nos documentos,
constando somente individualmente em dois dos modelos expostos. Um deles se refere
à autonomia e recursos, do Resource Guide to the US Foreign Corrupt Practices Act,
e, o outro diz respeito aos pagamentos de facilitação, que constam no Nine Business
Principles for Countering Bribery da Transparência Internacional.

No que diz respeito à autonomia e recursos são fundamentais para que um programa
possa ser tido como um bom Programa de Compliance tem custos elevados e deve
estar inacessível a qualquer tipo de interferência interna. A alta administração é a
responsável, em última instância, pelo compliance da empresa. É igualmente preciso
que as organizações deem a devida atenção e vetem o pagamento de facilitação, mesmo
que este não seja proibido pelas legislações de alguns países.

No Brasil, a doutrina ainda diverge pouco no que se refere a esses elementos, de acordo
com Bruno Carneiro Maeda44:

(...) a partir dos elementos comuns contidos nas principais referências


internacionais, é possível verificar significativa convergência e agrupá-
los em cinco aspectos centrais para que programas de Compliance em
matéria de anticorrupção possam ser considerados efetivos. (...) Cada
um desses elementos essenciais se desdobra em diferentes componentes.
Ele fala dos seguintes componentes:

»» suporte da alta administração e liderança;

»» mapeamento e análise de riscos;

»» políticas, controles e procedimentos;

»» comunicação e treinamento; e

»» monitoria, auditoria e remediação.

44 AYRES, Carlos Henrique da Silva; DEBBIO, Alessandra Del; MAEDA, Bruno Carneiro. Temas de Anticorrupção e Compliance.
2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

138
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Por sua vez Carlos Ayres45 fala em:

1. suporte da alta administração,

2. análise de risco;

3. políticas e procedimentos;

4. comunicação e treinamento;

5. due diligence;

6. canais de denúncia e investigação internas; e

7. revisão periódica.

Assim, é possível depreender que os parâmetros internacionais e os modelos nacionais,


de certa maneira, alinhados, e que, para fins de resguardar-se de penalidades, e,
sobretudo, para que tenham um programa que realmente combata as práticas ilícitas,
as empresas devem se ocupar não apenas da implantação desses elementos mínimos,
mas, especialmente, das suas peculiaridades e necessidades, pois não há um modelo
fechado que se encaixe em toda e qualquer organização. Para que o Programa não exista
somente no papel, para que venha a colaborar com o fortalecimento da governança
corporativa, os valores organizacionais devem ser pautados pela ética.

Crítica à Questão dos Incentivos Concedidos por Normas Jurídicas às


Empresas que Adotam Mecanismos e Procedimentos Internos de Compliance
Anticorrupção Preestabelecidos por Organizações Internacionais46

Christiano Pires Guerra Xavier em Dissertação de Mestrado intitulada “Programas


de Compliance Anticorrupção no Contexto da Lei no 12.846/2013: Elementos
e Estudo de Caso” dedica um capítulo a “Crítica à Questão dos Incentivos
Concedidos por Normas Jurídicas às Empresas que Adotam Mecanismos e
Procedimentos Internos de Compliance Anticorrupção Preestabelecidos por
Organizações Internacionais”.

Segundo o autor o Brasil importou de países como os EUA, Inglaterra e Espanha,


o modelo de benefício da redução das penalidades, como se observa na leitura
do artigo 7o, inciso VIII, da Lei Anticorrupção, segundo o qual serão considerados,
na aplicação de eventuais sanções, a existência de mecanismos e procedimentos
internos de integridade, auditoria e estímulo à denúncia de irregularidades e
45 AYRES, Carlo Henrique da Silva. Programas de Compliance no âmbito da Lei no 12.846/2013: importância e principais
elementos. Revista do advogado, São Paulo, Dezembro 2014. no 125, pp.42-50.
46 Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/13726/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20
-%20Vers%C3%A3o%20Final%204.pdf?sequence=1>– Acesso em: 8 ago.2017.

139
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, por parte da empresa,


sendo que “os parâmetros de avaliação de mecanismos e procedimentos serão
estabelecidos em regulamento do Poder Executivo federal” (parágrafo único).

Para ele o modelo de redução de penalidades baseado na existência mecanismos


e procedimentos pré-estabelecidos pelas autoridades, como o Sentencing
Guidelines americano, funcionaria como um tipo de check-list, onde se a empresa
tem determinados elementos, a pena é reduzida proporcionalmente. E chama a
atenção para a necessidade de um aprofundamento no debate sobre a eficácia
para a sociedade, e até mesmo para as empresas, da redução de pena que se
baseie em um check-list (também chamados de “box-ticking” ou “one size fits all
approach to Compliance”).

O autor ressalta que, ainda de tais legislações ajudem na construção de programas


de prevenção e combate à corrupção, e quanto a isso não existem dúvidas, o
modelo norte-americano US Sentencing Guidelines é alvo de questionamentos.

Christiano diz que Philip A. Wellner, baseado em pesquisas empíricas extraídas


do artigo Managing Ethics and Legal Compliance: What Works and What Hurts,
sustenta que referidos elementos geram benefícios questionáveis, distorções e
desincentivos, em razão de: (I) incentivar a adoção, por parte das empresas, de
programas aquém dos que poderiam adotar na inexistência de tais elementos,
(II) privilegiar altos executivos, e (III) desencorajar pequenas e médias empresas
em consequência do alto custo de implementação.

E prossegue dizendo que segundo Philip A. Wellner, as decisões das cortes


norte-americanas e a doutrina concordam que o Sentencing Guidelines incentiva
a adoção de um programa de Compliance. O intuito do benefício da redução
das penas seria conceder incentivos para as empresas se autorresguardarem e
atuarem no papel do Estado no combate à corrupção.

De acordo com Christiano, Philip ressalta não haverem pesquisas empírica que
garantam a afirmação acima. E também não haveria estudo comprovando a
correlação entre a existência dos programas de Compliance e o comportamento
dos funcionários, no que se refere a abdicar de práticas ilícitas devido à existência
do programa. Diferente disso, a existência do “Compliance program sentence
downgrade strucure” não é suficiente para evitar atividades ilícitas, e da mesma
forma não se traduz na diminuição dos ilícitos.

Ele diz que para Philip, a lei instituiu incentivos destorcidos ao oferecer redução
de penas para empresas que tenham um programa de Compliance, pois as
encorajaria a adotar programas de fachada (window-dressing Compliance

140
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

program). O Sentencing Guidelines não descreve pormenorizadamente todos


os elementtos que um programa de Compliance deva ter, o que possibilita que
muitas empresas tomem decisões oportunistas, adotando elementos apenas
com vistas à diminuição das penas, ao invés de adotarem programa efetivo.

Assim, sem o benefício (sentencing downgrade), as empresas teriam duas


alternativas: ou aprimorar a efetividade dos programas de Compliance, para
barrar de fato os ilícitos, ou extinguir seus programas, tendo em vista os altos
custos para manutenção de suas estruturas.

Portanto, além de ser ineficiente no combate à corrupção, o sistema ofereceria


benefícios questionáveis às empresas, já que há a possibilidade de o programa
de Compliance produzir informações que podem ser usadas contra a empresa
em ações civis e criminais. Destaca-se que quanto mais efetivo for o programa,
maior a probabilidade da empresa ficar exposta em caso de cometimento de
ilícitos.

Dessa forma, embora haja incentivos para a adoção de programas de Compliance,


tais como a repressão da corrupção dentro das empresas, a proteção contra a
responsabilidade criminal por atos perpetrados pelos funcionários e proteção
contra as multas elevadas, os custos envolvidos e a possibilidade de produção
de provas contra elas são fatores que desincentivam a implementação e
manutenção do programa.

No que se refere às empresas de menor porte, os custos para implementar e


manter programas de Compliance faz com que elas desistam de sua adoção,
considerando que seus recursos são voltados às suas operações.

O autor explica que segundo Philip A. Wellner47 estudos atuais apontam a


existência de quatro modelos de programas de Compliance: “Compliance-based”,
“values-based”, “external stakeholder” e o “top management protection”. Em
cinquenta por cento das empresas analisadas, o Compliance-based predominou,
sendo que o fator motivador a apreensão com o Sentencing Guidelines. Entretanto,
pesquisas empíricas apotam que o chamadovalues-based Compliance program
seria o mais efetivo para reprimir a corrupção. Como o Sentencing Guidelines não
encoraja o values-based, as organizações adotam programas ineficientes:

As diretrizes de sentenciamento, portanto, têm uma influência


potencialmente prejudicial sobre a estrutura dos programas
a adotar. Tanto a fraqueza de excesso na execução e a fraqueza
da governança negociada descritos acima indicam que as
corporações têm fortes incentivos para projetar programas de
47 Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/13726/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20
-%20Vers%C3%A3o%20Final%204.pdf?sequence=1> Acesso em: 8 mar. 2017.

141
UNIDADE V │ Principais Diretrizes Internacionais

Compliance que sejam deficientes. Um exame dos incentivos e


desincentivos leva a duas conclusões relacionadas. Em primeiro
lugar, não há provas suficientes mostrando que as diretrizes
de setenciamento afetaram as corporações positivamente em
suas decisões para implementar programas de Compliance. Em
segundo lugar, há incentivos substanciais sob o regime atual para
implementar programas de Compliance que sejam deficientes.
Esses programas não servem ao seu propósito pretendido, e
ainda assim eles continuam a consumir os recursos de empresas
que os adotam. Os objetivos da lei criminal federal seria melhor
servido se eliminasse o incentivo para adotar esses programas de
Compliance deficientes, levando à melhor prevenção do crime ou
a um uso mais eficiente dos recursos corporativos. Essas teorias
devem ser examinadas opondo os dados que existem sobre o
impacto real das diretrizes de sentenciamento nas corporações.
Uma década de experiência com as diretrizes de sentenciamento
inclusão de programas de Compliance devem fornecer dados
empíricos suficientes para reavaliar o seu papel, e os dados em si
levam à conclusão de que, embora os programas de Compliance
podem ser úteis para prevenir o crime, as próprias diretrizes de
sentenciamento não são uma influência positiva sobre a sua
eficácia. (WELLNER, Philip.).

Christiano ressalta que os programas de Compliance têm função relevante na


governança corporativa, sendo muito importante sua existência. No entanto, a
melhor forma de julgar o comportamento e a cultura da empresa é através de
uma avaliação específica das medidas, das políticas, das ações, e não por meio de
um check-list dos programas de Compliance. Isto é, a lei não deveria atentar-se se a
empresa implementou um rígido framework prescrito pela Sentencing Comission,
e, sim, avaliar se suas ações são razoáveis para impedir a corrupção.

O autor cita outro estudo, o In Search of Effective Ethics and Compliance Programs,
onde Maurice E. Stucke explica que, apesar da existência dos programas de
Compliance implementados nas últimas décadas, as condutas ilegais e antiéticas
não se extinguiram e que a crise econômica de 2008 mostrou a ineficácia
desses programas já que não foram capazes de evitar a corrupção por parte das
instituições financeiras.

Assim, até o momento os programas de Compliance viriam sendo encarados


pelas empresas como um seguro de baixo custo (“cheap insurance policy”) para
resguardarem-se de possíveis penas. As empresas simplesmente adotariam o
modelo de Compliance “check the box”, deixando de lado a busca da essência
dos programas.

142
Principais Diretrizes Internacionais │ UNIDADE V

Christiano explica que segundo Maurice, para solucionar o problema seria


necessário trocar de modelo, passando do “extrinsic, incentive-based”, um modelo
de “fora para dentro”, pautado nos incentivos concedidos pela Sentencing
Comission, para outro que estimule o desenvolvimento de uma cultura
organizacional ética. O DOJ e a SEC deveriam estimular o “intrinsic, ethics-based
approach”, “de dentro para fora”, que seria o modelo que mais contribuiria para
impedir e prevenir os comportamentos ilícitos e antiéticos. Seria uma tentativa,
considerando que o modelo atual até o momento teria atingido sua finalidade.

Dessa forma, segundo Maurice E. Stucke48, os programas de Compliance devem


ser estimulados, mas não devem ser impostos modelos que acometam sua
efetividade:

Este estilo de investigação evita as fraquezas inerentes a uma


abordagem mecânica para julgar os programas de Compliance
e permite que as corporações a liberdade de adaptar os seus
programas de forma mais eficaz às suas indústrias e modelos
de negócios. Programas de Compliance não devem ser
desencorajados, mas nunca devem ser prescrito de uma forma que
comprometam a sua eficácia. A melhor maneira de determinar se
uma empresa é culpada, seja sob o regime de responsabilidade
indireta atual ou pela abordagem do ethos corporativo, é examinar
suas políticas e práticas individuais. A lei não deve perguntar se a
empresa adoptou um quadro relativamente rígido prescrito pela
Comissão de Sentenciamento. Deve-se perguntar se as ações da
corporação foram, em geral, de acordo com os esforços razoáveis
para assegurar o cumprimento da lei. (STUCKE, Maurice E.).

Christiano chama a atenção para o fato dos dois autores citados defenderem,
suas opiniões baseados em pesquisas empíricas, concluindo que modelo
de Compliance anticorrupção mais eficiente é o que se fundamenta no
desenvolvimento de uma cultura organizacional pautado em valores éticos.
Casos em que a empresa deseja, de fato, ser ética, e não somente se resguardar
das penalidades.

Segundo ele é necessário se atentar para esta questão no Brasil, que tem
um modelo similar ao que vem sendo questionado nos Estados Unidos,
arriscando-se a não alcançar o objetivo de brecar a corrupção. Assim, a melhor
forma de avaliar a efetividade de um programa de integridade de uma empresa
seria por meio da análise fática das ações políticas, e não por intermédio de um
check-list de elementos preestabelecidos.

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