Você está na página 1de 75

Operações de Inteligência

Brasília-DF.
Elaboração

Marco Aurélio Nunes da Rocha

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA............................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
ENTENDENDO AS ATIVIDADES DE INTELIGÊNCIA......................................................................... 9

CAPÍTULO 2
LEGALIDADE E ÉTICA NAS OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA......................................................... 39

CAPÍTULO 3
CICLO DE INTELIGÊNCIA......................................................................................................... 43

CAPÍTULO 4
INTELIGÊNCIA COMO PRODUTO, COMO PROCESSO E COMO ORGANIZAÇÃO NOS TEMPOS
ATUAIS.................................................................................................................................... 50

CAPÍTULO 5
INTELIGÊNCIA E SUAS INTERFACES COM A TECNOLOGIA ........................................................ 55

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 74
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

5
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

6
Introdução
O material elaborado foi cuidadosamente preparado pela nossa equipe, utilizando fontes
bibliográficas de consulta conceituadas e alguns complementos de textos extraídos da
Internet.

Por sermos conhecedores das dificuldades e correrias do dia a dia, optamos por
preparar um material simples, didático, sintético e de fácil entendimento, mas rico em
teor e conteúdo, com conteúdos e informações atuais que muito servirá de base para
a execução das suas atividades bem como servindo como fonte de consulta durante os
estudos e vida profissional.

De forma clara, concisa e simples, iremos abordar vários conteúdos, conceitos e


diretrizes de inteligência neste caderno de estudos, bem como suas várias formas de
aplicação prática no dia a dia da execução das atividades laborais, quer sejam nos
órgãos de segurança, nas unidades militares, quer seja nas corporações empresariais,
por isso iremos no decorrer da nossa disciplina enfatizar e incentivar o uso de materiais
complementares citados nas referências e durante o desenvolvimento da disciplina de
forma a consolidar os conceitos e fortalecer o aprendizado.

Atualmente temos presenciado cada vez mais as notícias sobre atividades realizadas por
agências de inteligência ao redor do mundo. Mas qual será ou deveria ser o verdadeiro
papel dessas agências? O que são estas “ditas” operações de inteligência? Neste material
buscamos apresentar os conceitos básicos de atividades de inteligência, e como as
mesmas se relacionam com a segurança da informação no ambiente governamental,
corporativo e empresarial.

Nos tempos atuais, as atividades de inteligência e contrainteligência, têm demonstrado


serem os agentes sustentadores das Organizações de Segurança em todos os países do
Mundo. O crescimento acelerado e desordenado tem propiciado o aumento dos índices de
violência e criminalidade, as quais só poderão ser controladas e/ou mitigadas no campo
preventivo ou repressivo através de práticas e políticas de segurança bem elaboradas,
desde o planejamento até a atuação das equipes de inteligência e contrainteligência.

Trataremos também do assunto com uma abordagem sobre a questão do uso das
atividades de inteligência em todos os setores de negócios e também sobre o aumento
indiscriminado da criminalidade empresarial. Ambos os fatores estão condicionando e
comprometendo a eficácia das organizações em um mercado cada vez mais competitivo.
Por isso assim como a Contrainteligência Empresarial a Inteligência Empresarial ou
Corporativa, torna-se cada vez mais importante para a proteção e coleta de dados e
informações corporativas sensíveis e críticas, mediante a implementação de medidas
específicas e que se fazem parte do Ciclo de Produção do conhecimento no que tange

7
à Inteligência Operacional e Empresarial, sendo estas atividades hoje em dia uma
importante ferramenta para a garantia da segurança, da sobrevivência das organizações
bem como da continuidade operacional do negócio.

Bom estudo a todos e um ótimo curso!

Objetivos
»» Proporcionar aos alunos um aprendizado de qualidade, com
desenvolvimento de conteúdos simples, claros, concisos de fácil
entendimento de forma a propiciar uma adequada execução.

»» Incentivar os alunos a investigarem mais a fundo as questões que cercam


a Inteligência Operacional e Empresarial como ciência e área de atuação,
incentivando a busca de mais informações e novos conhecimentos sobre
o tema.

»» Estudar a conhecer os Órgãos de Inteligência bem como os Sistemas de


Informações utilizados pelos Órgãos de Segurança Pública e de Inteligência.
Aprender a utilizar a Atividade de Inteligência na gestão de Segurança
Pública, Segurança Nacional bem como nas atividades empresariais.

Iremos apresentar a Atividade de Inteligência (Operações de Inteligência) visando:

»» Abordar os conceitos principais das Operações de Inteligência, sua


história e cronologia.

»» Expor os fundamentos da Atividade de Inteligência e debater questões


ligadas à Legalidade e Ética nas Operações de Inteligência. Dissertar
sobre o ciclo de inteligência e uso das fontes de coleta de informações:
inteligência humana, por imagens, por fontes abertas e por sinais.

»» Ao final deste curso você será capaz de:

›› Descrever a Atividade de Inteligência.

›› Caracterizar os ramos das Operações de Inteligência.

›› Conhecer as técnicas e ferramentas utilizadas para produção de


conhecimento e de dados bem como as respectivas salvaguardas.

›› Avaliar a importância da Atividade de Inteligência no contexto do


processo decisório de sua instituição e ou empresa

›› Saber fazer uso deste importante seguimento de forma adequada


operacionalmente e dentro da legalidade e da ética, além de saber
avaliar a importância das Atividades de Inteligência no contexto do
processo decisório de sua instituição e/ou empresa.

8
OPERAÇÕES DE UNIDADE ÚNICA
INTELIGÊNCIA

CAPÍTULO 1
Entendendo as Atividades de
Inteligência

Antes de iniciarmos este capítulo, podemos refletir sobre algumas questões importantes.
Você no decorrer da sua vida profissional, já se perguntou o que é Atividade de
Inteligência? De onde vem essa palavra? Onde pode ser utilizada a Inteligência? Como
ela surgiu? Sua História pelo mundo, no Brasil e em nossas Vidas? Quais são os ramos
de atuação da Inteligência? Quem está utilizando a Inteligência no país e no mundo? Por
fim, em que áreas pode na realidade a Atividade de Inteligência ser utilizada, e como nós
poderemos fazer uso desse aprendizado em nosso benefício? Estão ai algumas questões
que iremos debater durante o desenvolvimento desta disciplina, isso nos possibilitará
ter uma visão mais ampla do assunto, mas ao mesmo tempo não perderemos nossa
capacidade crítica de abordagem e visão individual.

Você sabia que desde que o homem existe, ele produz, mas também esconde
conhecimentos?

Sim, o homem escreve, fala, faz sinais para se comunicar, porém muitas vezes necessita
guardar segredo a respeito de diversos assuntos, como, por exemplo, questões políticas,
contatos diplomáticos, comunicações militares, produções científicas, atividades
comerciais, industriais, financeiras, além de seus segredos pessoais.

Por isso apresentaremos a você as Atividades de Inteligência (operações de Inteligência)


e para que servem, veremos também onde elas serão úteis para embasar decisões desde
as mais simples até as mais complexas que envolvam interesses de estado e de grandes
corporações, uma vez que a Inteligência atua por meio da produção de informações,
contendo conhecimentos sobre fatos e situações que influem ou que podem influenciar
nas decisões e nas ações de governos e empresas bem como sobre a proteção e a
segurança da sociedade e do Estado.

9
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Cronologia da atividade de inteligência


Como vocês conhecerão mais a frente, as mensagens consideradas secretas existem
desde a Antiguidade e sempre exerceram grande fascínio. Bastou o homem aprender a
escrever para que começasse a “esconder” seus escritos. Além disso, onde tem segredo
tem quem quer descobrir o segredo. Se desde os primórdios da história existem métodos
de esconder informações, dos mais simples aos mais engenhosos, desde a Antiguidade
também existem os hackers e crackers que bolaram métodos de decifrar e decodificar.

Há relatos que entre os hititas, povo indo-europeu que há mais de 3 mil anos habitava
a região onde hoje é a Turquia, já circulavam dados sobre os inimigos, escritos em
pedaços de argila. O primeiro tratado conhecido sobre Inteligência é do ano 510 a.C.
Chama-se Princípios da Guerra, e foi elaborado pelo general chinês Sun-tzu que queria
sempre ganhar as guerras.

Ainda na Antiguidade, antes de invadir a Pérsia, Alexandre, o Grande, costumava


interrogar todos os viajantes que vinham de terras estrangeiras para saber detalhes
a respeito de outros territórios. As informações que recebeu (por bem ou por mal...)
foram úteis na invasão do Império Persa.

Já no século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas dos países
envolvidos criaram complicados códigos para transmitir suas mensagens, a fim de
que os inimigos não descobrissem seus segredos. Na batalha de Midway, por exemplo,
que foi considerada uma das maiores batalhas navais da história da humanidade, os
militares dos Estados Unidos, apesar de estarem em minoria numérica, conseguiram
derrotar o inimigo japonês. Os norte-americanos monitoraram o tráfego de mensagens
em código enviadas pelo governo japonês e decifraram todas elas, assim, puderam
descobrir o que o inimigo iria fazer, onde ele estava e quais eram suas estratégias de
combate.

Acredita-se que desde os primórdios da civilização a Atividade de Inteligência apoiou e


orientou as tomadas de decisões estratégicas e táticas, buscando sempre uma decisão
precisa e acertada, quer no campo militar, quer no campo econômico ou politico.
Sabemos que a história da humanidade, desde os primórdios da civilização, tem se
assentado na busca pelo conhecimento no sentido de desvendar os fatos e fenômenos
da vida, visando proporcionar a satisfação das necessidades dos povos e das pessoas,
notadamente a segurança e a sobrevivência. A busca inicialmente pela sobrevivência
e posteriormente pelo “poder” tornou a informação e o conhecimento indispensáveis
como instrumentos de acesso à satisfação das necessidades humanas e, num segundo
momento, como meio de manipulação e de controle, sendo certo que a atividade de
inteligência, nesse contexto, foi utilizada para “conquistas”, quer no plano do “Estado”
10
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

– exercício da autoridade e controle social –, da “lógica produtiva” – controle do capital


–, ou ainda da ideologização da maneira de “pensar” o mundo – ou seja, de submissão
às regras postas como “verdades”.

Portanto, a atividade de inteligência, desde a sua origem, apresenta-se como recurso


de que se valiam as autoridades das sociedades antigas não apenas para atender os
interesses da coletividade, mas também resguardarem seus interesses, notadamente a
manutenção e a ampliação de suas relações de poder e controle. Os métodos utilizados
também eram muitas vezes executados através de práticas espúrias, no sentido de que
“os fins” acabavam justificando “os meios”.

Desta forma Perrenould (1996 apud RODRIGUES, 1999, p.2) cita alguns personagens
que, ao longo dos tempos, tornaram-se verdadeiros líderes, tais como Moisés (Êxodo),
Sun Tzé (A Arte da Guerra), Maquiavel (O Príncipe), Mao Tsé Tung (Estratégia da
Guerra de Guerrilha), e Napoleão Bonaparte (ênfase às informações e precursor do
Estado-Maior).

Constata-se que na Idade Média o serviço de espionagem, desde o início confundido


com a atividade de inteligência, foi posto de lado em razão da influência da Igreja e
da Cavalaria, que o julgavam pecado. Porém Maomé o utilizou em 624: seus agentes
infiltrados em Meca (Arábia Saudita) avisaram-no de um ataque de soldados árabes à
Medina, cidade em que estava refugiado. Ele mandou então que fizessem trincheiras e
barreiras ao redor da cidade, que impediram o avanço dos soldados (Revista ABIN, no 1,
p. 89). Ainda na Idade Média, com a queda do regime feudal e com o contexto geopolítico
da Europa em fase de estabilização, as chamadas cortes europeias transformaram-se
em centros de disputas pelo poder, gerando uma série de intrigas. Consta que por essa
época:

[...] muitos ministros e diplomatas foram responsáveis pela coleta de


informações. O Cardeal Richelieu (1585-1642) fundou na França o
Gabinet Noir, que monitorava as atividades da nobreza, e Sir Francis
Walsingham (1537-1590) frustrou os empreendimentos de Mary Stuart
e Felipe II, ambos católicos, contra a coroa inglesa de Elizabeth I,
protestante, por meio do serviço de Inteligência. (Revista ABIN, no 1,
pp. 89-90)

Na transição da Idade Média para a Idade Moderna ocorreu uma série de mudanças
no mundo, notadamente quanto à busca da verdade sobre as coisas e explicações
com fundamento científico dos fenômenos da vida e da maneira de pensar o mundo
e suas múltiplas relações. O movimento iluminista foi um reflexo dessas mudanças
paradigmáticas ocorridas durante essa época, as quais alavancaram uma série de

11
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

transformações que tiveram repercussão na história das sociedades. Grande parte


dessas mudanças implicou em conquistas para a humanidade, obtidas também com
enfrentamentos e disputas, não podendo duvidar da importância das atividades
de inteligência nesse contexto. Aliadas aos novos conhecimentos surgiram novas
tecnologias, que se tornaram grandes aliadas das atividades de inteligência daquela
época, tais como a fotografia, o uso de balões e aeronaves, a comunicação criptografada,
o Código Morse, o rádio, entre outras.

Em nosso tempo, as novas tecnologias disponíveis e as possibilidades de construção


de redes de conhecimento favorecem a atividade de inteligência e permitem uma
maior efetividade nas estratégias e nas ações de segurança pública. Cabe destacar
que a importância das atividades de inteligência recai na necessidade de proteção e
desenvolvimento das sociedades, eis que:

A instituição de sistemas nacionais de inteligência está inter-relacionada


no lento processo de especialização e diferenciação organizacional das
funções informacionais e coercitivas que faziam parte, integralmente,
do fazer a guerra, da diplomacia, da manutenção da ordem interna e,
mais tarde, também do policiamento da ordem interna. A sua formação
é um reflexo de identidade nacional, da própria construção do Estado,
da institucionalização democrática, da utilização de sistemas de
informações e do uso de meios de força. (ANP, 2008, p. 9)

Nesse contexto, e para que se compreenda a dimensão da atividade de inteligência,


acorre-se ao conceito disposto no art. 1o, § 2o, do Decreto no 4.376/2002, que
regulamentou a Lei no 9.883/1999:

Inteligência é a atividade de obtenção e análise de dados e informações


e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território
nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência
sobre o processo decisório, ação governamental, a salvaguarda e a
segurança da sociedade e do Estado.

Depreende-se que a Atividade de Inteligência não está adstrita a questões que dizem
respeito apenas à defesa do Estado, mas também da sociedade, o que inclui a busca
de um conjunto de diagnósticos e prognoses no sentido de projetar cenários de risco e
minimizar situações de conflito em prol da defesa do Estado, da sociedade e do cidadão.

No Brasil, a atividade de inteligência foi conhecida historicamente por “atividade de


informações”, a qual possui uma construção povoada de mistérios e, muitas vezes,
questões nebulosas, isso em razão das relações de poder que a impulsionaram desde o
seu início.
12
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Em suas origens, a atuação da inteligência era orientada para atender à polícia política
e prestar assessoramento aos Governos, o que ocorreu inicialmente com o advento do
Conselho de Defesa Nacional (CDN), mediante o Decreto no 17.999, de 29 de novembro
de 1927, órgão diretamente subordinado ao Presidente da República e constituído
por todos os Ministros de Estado e os Chefes dos Estados-Maiores da Marinha e do
Exército, o qual teve como objetivo inicial o controle dos opositores ao regime então
vigente, ou seja, numa perspectiva que se alinhava com a concepção de inteligência
clássica ou de “Estado”. Antes desse período, a atividade de inteligência era exercida
apenas no âmbito dos dois Ministérios Militares então existentes, que se dedicavam
exclusivamente às questões de Defesa Nacional e atuavam em proveito das respectivas
forças, ou seja, em defesa do Estado. Nesta época ainda não existia o Ministério da
Aeronáutica (MAer) e a Força Aérea Brasileira (FAB), que foram criados em 1941
(REVISTA NOSSA HISTÓRIA, 1996).

A Atividade de Inteligência passou a crescer em importância quando o Decreto no


27583, de 14 de dezembro de 1949, aprovou o Regulamento para a salvaguarda das
Informações de Interesse da Segurança Nacional, e o Decreto no 27930, de 27 de março
de 1950, dispôs sobre a aplicação do Decreto 27583.

O primeiro serviço de inteligência foi oficialmente criado no Brasil em 1956, por


ordem do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, e chamava-se Serviço
Federal de Informações e Contrainformação – SFICI, o qual funcionou até o golpe de
1964. Durante o período ou regime militar, foi substituído pelo Serviço Nacional de
Informações, que participou ativamente da repressão à esquerda e aos movimentos
sociais.

A partir daí, outras estruturas foram criadas:

»» Serviço Federal de Informações e Contrainformação: 1956-1964.


Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais: 1962-1964 (órgão particular que
acumulava funções de inteligência e reunia informações para um grupo
de empresas privadas).

»» Serviço Nacional de Informações – SNI: 1964-1985.

»» Centro de Informações do Exército – CIEx: 1967.

»» Departamento de Inteligência: 1990-1992.

»» Subsecretaria de Inteligência: 1992-1999.

»» Agência Brasileira de Inteligência – ABIN: 1999 até a atualidade.

13
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

A atuação dos Órgãos de Inteligência na Policia Militar teve origem na década de 1950,
com a reformulação da sua Organização Básica, que os colocou como integrantes do
Estado-Maior Geral e das Unidades Policiais. Desde aquela época, a sua atuação sempre
foi mais voltada para o acompanhamento do público interno, deixando a produção do
conhecimento sobre Segurança Pública em segundo plano. Mas com a Promulgação
da Constituição Federal de 1988, houve uma reformulação do trabalho executado pela
maioria dos Órgãos de Inteligência, que tiveram seu foco de atuação alterado com base
numa nova doutrina.

Em 31 de março de 1971, o Decreto no 68.448, criou a Escola Nacional de Informações


(EsNI), diretamente subordinada ao Ministro Chefe do SNI, com a finalidade de
preparar, atualizar e especializar o pessoal para exercer funções no Sistema Nacional
de Informações (SISNI).

A Escola Nacional de Informações passou a funcionar a partir de 1972, quando formou


a primeira turma, prosseguindo com as suas atividades nos anos seguintes, através da
realização de cursos regulares e estágios de curta duração.

Em 12 de abril de 1990, a Lei no 8.028, permitiu a Fusão da Inteligência com o


Planejamento Estratégico, durante o Governo do Presidente Fernando Collor de Mello.
Mas foi durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, que foi vinculada
a Subsecretária de Inteligência (SSI/CMPR) à Secretária-Geral da Presidência da
república (SG/PR) através da Medida Provisória no 813. Ainda nesse Governo, através
da Medida Provisória no 1.384, a Subsecretaria de Inteligência passou a ser subordinada
à Casa Militar e em 7 de dezembro de 1999, através da Lei no 9.883 foi criada a Agência
Brasileira de Inteligência (ABIN).

O Decreto-Lei no 4.376, de 13 de setembro de 2002, que descreveu os órgãos integrantes


do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), também permitiu que as Unidades
da Federação pudessem compor o referido sistema, mediante ajustes específicos e
convênios.

Como se pode perceber, existe um conjunto de órgãos que busca uma atuação de forma
complexa e articulada, visando exatamente ampliar, com essa interagencialidade e
visão plural, o espectro de conhecimentos necessários às decisões estratégicas ou atuais
para a preservação do Estado Democrático de Direito e a proteção da sociedade e dos
cidadãos.

14
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Entendendo o uso da Inteligência na atualidade

Apesar da importância da atividade de Inteligência, a maioria das pessoas, em todo


o mundo, não conhece direito o que fazem e como atuam os órgãos de Inteligência.
Particularmente no século XX, a formação de dois grandes blocos econômicos depois
da Segunda Guerra Mundial, liderados por Estados Unidos e pela antiga União
Soviética, período conhecido como Guerra Fria, também foi um fator importante
para o desenvolvimento de uma comunidade de Inteligência. Cada superpotência
precisava estar sempre por dentro das conquistas tecnológicas do adversário e utilizava
a Inteligência para isso. Foi a época da atuação dos superespiões. Após esse período,
filmes e livros de ficção sobre espionagem contribuíram para a criação, em torno desses
órgãos de Inteligência, de uma atmosfera de mistério.

Atualmente, os mais conhecidos e ditos como principais serviços de inteligência são


o SIS (Secret Intelligence Service), que é o serviço britânico de informações (ou de
inteligência) o qual é encarregado de dirigir as atividades de espionagem britânicas.
As atividades do MI-6 são conduzidas, em princípio, no exterior, ao contrário do
MI-5, cuja ação é principalmente interna. Sendo que MI-6 é a abreviatura de Military
Intelligence, section 6, que é a designação tradicional, mas ainda vulgarmente usada,
do SIS e a CIA (Central Intelligence Agency) que é uma agência de inteligência civil do
governo dos Estados Unidos da América e que é responsável por investigar e fornecer
informações de segurança nacional.

A CIA também se engaja em atividades secretas, a pedido do presidente dos Estados


Unidos. Ela sucedeu a Agência de Serviços Estratégicos (OSS, sigla em inglês),
formada durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945) para coordenar as atividades
de espionagem entre os ramos das Forças Armadas nos Estados Unidos. Sendo que
a principal função da CIA é coletar informações sobre os governos estrangeiros,
corporações e indivíduos, e para aconselhar políticas públicas. A agência realiza
operações clandestinas e ações paramilitares, e exerce influência na política externa
através da sua Divisão de Atividades Especiais.

No Brasil, as atividades de inteligência são de responsabilidade da Agência Brasileira


de Inteligência – ABIN, órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN.
Além de agências governamentais, existem ao redor do mundo empresas privadas
especializadas neste tipo de atividade.

Os principais interessados e protagonistas das notícias relacionadas às atividades de


inteligência são os governos, que buscam obter informações que possam lhe garantir
alguma vantagem frente às demais nações ou a segurança de seus cidadãos. Essas

15
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

informações são obtidas através de agentes das agências citadas anteriormente ou de


empresas terceirizadas.

Mas as atividades de inteligência não se restringem às agências e aos órgãos de governo


para atender necessidades do Estado. As corporações utilizam cada dia mais serviços
privados de inteligência para obter informações e segredos comerciais de concorrentes,
buscando obter vantagens no mercado e se antecipar as ações de concorrentes. Vivem
na dita Era da Informação, era esta que se estabeleceu após a Era Industrial, após a
década de 1980, mas com suas bases sendo estabelecidas desde o começo do século XX,
principalmente na década de 1970.

O renomado consultor Peter Drucker foi a primeira pessoa a chamar a era atual como
Era da Informação, em um de seus livros justifica o começo dessa nova Era com a atitude
de soldados americanos que, ao retornar da II Guerra Mundial, exigiam colocação em
uma universidade. Neste momento o conhecimento estava sendo mais valorizado que o
trabalho simplesmente manual.

Já o sociólogo americano Daniel Bell destaca como o marco principal para a Era da
Informação quando o número de colarinho brancos ultrapassa o número de operários.
Neste momento, o poder direcionava-se para quem possuía algum conhecimento que
pudesse interessar a outros.

Para Álvares (1973, p. 345), “muitos são os modos de compreender e conceituar


“informações”.

Segundo Shermann Kent (apud ÁLVARES, 197, P. 345):

[...] as informações, como atividade, caracterizam-se pela procura de


determinado conhecimento; como fenômeno, consiste no conhecimento
resultante. Segundo ele, o trabalho de informações continua sendo a
atividade simples e natural de obter a espécie de conhecimento sobre o
qual pode repousar uma linha de ação bem sucedida.

A Informação pode ser considerada sobre três aspectos:

»» Informação é Conhecimento, isto é, aquilo que se necessita saber


para poder agir corretamente. Informação é Organização, isto é, uma
estrutura especializada de pessoal que busca uma categoria especial de
conhecimento. Informação é Atividade, isto é, um processo de pesquisa
que se executa para obter o conhecimento ou, ainda, o processo de
trabalho utilizado para produzir conhecimento.

16
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

No campo Militar ou Policial, as organizações destinadas à produção das informações


recebem diversas denominações: Serviço, centro, agência, divisão, seção, unidade
etc. Sendo que o conjunto dessas organizações, estruturadas em um ou mais sistema
independentes, deve ser chamado de Sistema de Informações.

Por isso podemos conceituar:

»» Informações: conjunto de conhecimentos reais e específicos, preparados


para servir de base a uma decisão ou planejamento estratégico.

»» Sistema de informações: conjunto de órgãos estruturados especificamente


para produzir os conhecimentos necessários a qualquer tipo de comando,
supervisão, chefia ou direção.

»» Atividades de informações: conjunto de processos e de atividades que


visam obter e adequar os conhecimentos necessários à chefia interessada,
em qualquer nível.

O desejo e a necessidade pela busca de informações privilegiadas e criticas, é


inerente a natureza humana, pois informação é poder!.

Os serviços de inteligência começaram a ganhar destaque durante as grandes guerras,


período onde algumas das principais agências de inteligência foram estruturadas e
eram utilizadas para obter informações privilegiadas de outras nações. Um dos casos
mais conhecidos durante as grandes guerras é a quebra dos códigos de cifragem dos
Alemães (Enigma) pelos Britânicos.

Com a importância que as informações e o conhecimento começavam a ganhar na nossa


sociedade nessa nova Era, as principais agências de inteligência foram ligadas a órgãos
de assuntos estratégicos do governo, tendo como principal função as atividades de
coleta e análise de informações e produção de conhecimentos, sendo essas informações
secretas/privadas ou públicas, para garantir a segurança e soberania do Estado e o
bem-estar de seus cidadãos.

Um papel fundamental dos serviços de inteligência é a análise de informações.


Através dessa análise, é possível entregar o melhor resultado, levando em conta as
informações obtidas, qualidade e veracidade das mesmas, além de diversos outros
fatores relevantes. Primeiramente, é preciso entender que o desempenho da atividade
de Inteligência sempre estará direcionado para a realidade que reflete uma época,
um momento histórico, ou a conjuntura de um determinado país; e possuir a visão

17
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

de futuro necessária. Por ser primordialmente uma atividade de Estado, a atividade


de inteligência deve focar sua ação na busca dos Objetivos Nacionais Permanentes,
servindo, assim, aos interesses da nação brasileira e não aos governos de turno.

Dessa maneira, precisamos ter muito cuidado ao lermos cada uma das interpretações
que encontramos na literatura disponível sobre o tema, pois muitas delas expressam
a opinião pessoal de um determinado estudioso, ou mesmo aquilo que, na visão dele,
seria a destinação mais apropriada para a atividade de inteligência.

Por exemplo, há pessoas que consideram que a atividade de inteligência se refere somente
a “certos” (sem especificar quais) tipos de “informações” relacionadas à segurança
do Estado, às atividades desempenhadas no sentido de obter essas informações, ou
impedir que outros países a obtenham; e também que a atividade de inteligência
está ligada às organizações. Tudo isso porque a Doutrina de Inteligência é recente no
Brasil (aproximadamente 70 anos), sendo que, assim como nos países Ocidentais, foi
conhecida como Doutrina de Informações e esteve voltada quase que exclusivamente
para assuntos militares. Segundo DeLadurantey (1995 apud DANTAS; SOUZA, 2008,
p. 01), a expressão “Inteligência” pode ser entendida da seguinte maneira:

[...] é o conhecimento das condições passadas, presentes e projetadas


para o futuro de uma comunidade, em relação aos seus problemas
potenciais e atividades criminais. Assim como Inteligência pode não
ser nada mais que uma informação confiável que alerta para um perigo
potencial, também pode ser o produto de um processo complexo
envolvendo um julgamento bem informado, um estado de coisas, ou
um fato singular. O “processo de Inteligência” descreve o tratamento
dado a uma informação para que ela passe a ser útil para a atividade
policial.

O que todos nós devemos entender é que o mundo mudou; e dentro desta realidade
verifica-se que o produto final da atividade de inteligência, o Conhecimento de
Inteligência, torna-se cada vez mais importante provendo governos, organizações
e também pessoas de ferramentas para empreender ações voltadas para a execução
(tempo real e atual), a antecipação e a prevenção (visão de futuro) visando as decisões
que devem ser tomadas.

A atividade de inteligência tornou-se um elemento estratégico e sua gestão e utilização


tornaram-se elementos básicos para que os governos atinjam seus objetivos e as
organizações trilhem o caminho do desenvolvimento estratégico, contribuindo, assim,
para que todos, governos e organizações, tenham condições de, mais rapidamente,
responder às ameaças e aproveitar as oportunidades que se lhes apresentam. Como a

18
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

própria Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) apregoa, a atividade de inteligência


constitui instrumento de Estado de que se valem os sucessivos governos no planejamento,
na execução e no acompanhamento de suas políticas, em prol dos interesses nacionais.
E para atender a esta finalidade, a atividade de inteligência brasileira fundamenta-se
na preservação da soberania nacional, na defesa do Estado Democrático de Direito, na
dignidade da pessoa humana e na fiel observância à Constituição e às leis.

Após apresentação das informações acima descritas sobre Inteligência, vamos


firmar um conceito!

Segundo o Manual Básico da ESG (1986 apud RODRIGUES, p.12), de acordo com a
Doutrina Nacional de Inteligência, a Atividade de Inteligência, “é o esforço organizado
para colher dados, avaliá-los pouco a pouco e reuni-los até que formem configurações
mais amplas e nítidas”.

Constitui-se, portanto, no exercício sistemático de ações especializadas, orientadas para


a produção e salvaguarda de conhecimentos, tendo em vista assessorar as autoridades
governamentais, nos respectivos níveis e áreas de atribuição, para o planejamento,
execução e acompanhamento de suas políticas.

Classificação dos tipos de atividade de Inteligência

Para exemplificar a amplitude do escopo da atividade inteligência, Richelson (1995, p. 7,


apud GONÇALVES, 2008, p. 143) relaciona algumas categorias de inteligência, a saber:
militar, política, econômica, técnica e científica, sociológica, econômica e ambiental.
Contudo, Gonçalves (2008, p. 144) ressalta que existem outras classificações e menciona
que há categorias mais amplas, como, por exemplo, as seguintes: inteligência militar,
inteligência policial (associada à análise criminal), inteligência fiscal, inteligência
econômica e financeira, inteligência competitiva, inteligência estratégica e, no cerne da
atividade, a inteligência governamental ou de Estado, a qual pode ser subdividida em
interna e externa.

A inteligência militar e de defesa é aquela que “reúne atividades, informações e


organizações voltadas a interesses das forças armadas ou da defesa nacional, em
tempos de guerra de paz” (GONÇALVES, 2008, p. 145). A inteligência policial, que
não se confunde com a inteligência interna ou doméstica, tem como foco questões
táticas afetas à investigação e à repressão ao crime e a grupos infratores. Nesse
sentido, o autor observa que, no Brasil, essa atividade está a cargo das polícias
militar, civil e federal, devendo aí permanecer (GONÇALVES, p. 148). Assim,

19
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

segundo ele: “a inteligência policial, portanto, atua na prevenção, obstrução,


identificação e neutralização das ações criminosas, com vistas à investigação policial
e ao fornecimento de subsídios ao Poder Judiciário e ao Ministério Público nos
processos judiciais” (GONÇALVES, 2008, p. 149).

A inteligência fiscal, por sua vez, é a atividade voltada à identificação e à investigação


de delitos contra a ordem tributária e à produção de conhecimentos relacionados ao
assunto. Atua na busca do dado negado pelo contribuinte, ou seja, o que o contribuinte
deixou de declarar (GONÇALVES, 2008, p. 156).

No Brasil, por exemplo, a Secretaria da Receita Federal possui um setor de inteligência


fiscal, como destaca Gonçalves, ao citar o seguinte esclarecimento prestado por Deomar
Vasconcellos Moraes (GONÇALVES, 2008, p. 156):

Nossos objetivos são a obtenção de informações e a produção de


conhecimentos para subsidiar as decisões da Receita Federal ou de
outros entes [...], seja para revelar ou ampliar o conhecimento dos
fatos e situações que possam influenciar ou já estejam influenciando
contrariamente os objetivos e metas propostos pela instituição;
obter informações e dados negados para respaldar ações fiscais mais
abrangentes e eficazes; e produzir provas necessárias às ações fiscais e
persecução penal por crimes contra a ordem tributária. [...]

A inteligência pública, segundo esse autor, é “aquela realizada por intermédio de


servidores públicos, nos moldes constitucionais e legais”, e pode ser subdividida em
inteligência clássica (ou de Estado) e inteligência de segurança pública (ALMEIDA
NETO, 2009, p. 62). A inteligência clássica é voltada ao assessoramento do chefe de
Estado/Governo nos assuntos relativos às questões típicas de Estado, tais como política
externa, defesa nacional, formulação de políticas públicas, entre outros. Pode ser,
ainda, subdividida em dois grupos: inteligência militar de Estado e a inteligência civil
de Estado (ALMEIDA NETO, 2009, p. 62). A inteligência militar, segundo esse autor,
é destinada a assessorar as unidades de comando das forças armadas no cumprimento
de sua missão institucional, enquanto a inteligência civil é aquela realizada por
organizações estatais civis com vistas a assessorar o chefe de Estado/Governo no que
diz respeito a matérias relacionadas à política externa, a questões relativas às atividades
de inteligência estrangeira no território nacional e a políticas públicas. Ressalte-se que
o âmbito de atuação da inteligência civil de Estado pode ser tanto interno (dentro do
país) quanto externo (fora do país) (ALMEIDA NETO, 2009, pp. 62-63).

A inteligência de segurança pública, por sua vez, pode ser assim segmentada: inteligência
policial (exercida pelas polícias judiciárias e polícias ostensivas), inteligência fiscal

20
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

(exercida pelos órgãos fazendários), inteligência financeira (exercida pelas unidades


de inteligência financeira, responsáveis pela obtenção de dados referentes a operações
financeiras suspeitas e à lavagem de ativos ilícitos antes mesmo da deflagração de uma
investigação criminal) e inteligência ministerial de segurança pública (exercida pelo
Ministério Público para assessorar, em níveis táticos e estratégicos, as decisões relativas
ao âmbito criminal) (ALMEIDA NETO, 2009, p. 63).

A concepção da atividade de inteligência, ao longo das transformações históricas de


suas estruturas, também sofreu um processo de evolução, sendo que na atualidade se
aponta para uma perspectiva em que:

A Inteligência não tem poder de polícia, usa-se o cérebro para avaliar a


informação. Esta pode ser classificada de diversas maneiras, tais como:
informação militar, tática, geral, diplomática, política, econômica, social,
biográfica, científica, tecnológica e informação sobre comunicações e
transportes. O seu processo envolve as seguintes fases: necessidade
de conhecimento; coleta de dados na imprensa ou outros similares,
incluindo coleta de dados não disponíveis; processamento dos dados;
disseminação do conhecimento ao usuário, para a tomada de decisão.
A atividade deve ser centralizada e seu quadro de profissionais deve
ser preenchido por pessoas íntegras e com bons propósitos. (REVISTA
BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Brasília: ABIN, v. 1, no 1, dez. 2005.
pp. 85-86)”.

A lei no 9.883 de 7 de dezembro de 1999, que criou o SISBIN, diz o seguinte:

§ 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência


a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de
conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações
de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação
governamental; e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do
Estado. (grifo nosso)

Caracterização da Atividade de Inteligência

A Atividade de Inteligência, em um sentido amplo, caracteriza-se pela identificação de


fatos e situações que, de modo real ou potencial, signifiquem obstáculos (problemas)
ou oportunidades (melhorias) à consecução de interesses nacionais (ou locais, ou
empresariais), bem como o processamento desses insumos, com vistas a subsidiar
decisões governamentais (empresariais etc.).

21
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

OBTER INFORMAÇÃO
EM ESTADO BRUTO

PROCESSAR A
INFORMAÇÃO

DIVULGAR A
INFORMAÇÃO

Hoje em dia, no combate ao terrorismo, por exemplo, saber com antecedência o que o
inimigo planeja é um grande desafio para os profissionais de Inteligência.

Princípios básicos das operações de Inteligência

Apresentaremos alguns princípios básicos que devem ser levados a efeito, pelos órgãos
de inteligência ou serviço de informações, mediante a aplicação de técnicas operacionais,
objetivando a busca de dados negados e a neutralização de ações adversas.

Toda Operação de Inteligência deve ser meticulosamente planejada e preparada e


adequadamente executada, visando:

»» garantir a obtenção do dado não disponível;

»» proteger a identidade do Órgão ou Serviço de Inteligência que a executa;

»» proteger a identidade e a atuação da equipe envolvida na operação.

A nossa vida e rotina profissional, na maioria das vezes está ou deveria estar regida
por um conjunto de princípios básicos, como medida para orientação dos passos e
atividades que deverão ser seguidos, quer seja na execução das nossas atividades
laborais quer seja no relacionamento interpessoal e social. Por isso os profissionais do
ramo da inteligência que participam ou irão participar da produção de informações,
devem ser sabedores que alguns princípios básicos são importantes e vitais para a
perfeita e adequada realização dessa atividade.

Perrenoud (1996 apud RODRIGUES, 1999, p. 14) afirma que:

[...] dentre os princípios que regem a Atividade de Inteligência, os


relacionados a seguir devem ser observados harmonicamente de modo

22
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

que a ênfase na aplicação de um deles não acarrete prejuízo no emprego


dos demais.

»» Objetividade: fundamenta-se em planejar e executar as ações de acordo


com os objetivos a atingir e em perfeita harmonia com as finalidades da
atividade. Em todas as fases, a produção da informação deve se orientar
pela utilidade, finalidade e objetivo específico da informação a ser
produzida, e realizar-se com a maior precisão possível, através de uma
linguagem clara e simples. O motivo da busca, objetivo de uma Operação
de Inteligência, desde o planejamento até a execução, é a obtenção do
conhecimento (informação).

»» Segurança: durante todas as fases da produção, a informação deve


ser protegida por grau de sigilo adequado, de maneira que o acesso
a seus termos seja restrito apenas a pessoas credenciadas aos seus
conhecimentos. Requer a adoção de medidas de salvaguarda pertinente
a cada situação específica. Numa Operação de Inteligência desde o
planeamento, preparação até a execução, deve ser previsto em todos os
detalhes a proteção e o sigilo da missão; a proteção da identidade do Órgão
ou Serviço de Inteligência bem como da equipe operacional; a proteção
física da equipe e do material utilizado, bem como das instalações ou
locais onde se realiza a operação, e até proteção ao alvo da busca, por
isso o provedor de inteligência deve estar preocupado com a atividade
fim que é a produção do conhecimento, devendo sempre que possível a
segurança ficar por conta dos agentes designados para isso, sob pena de
ter que o agentes “discreto” perde a premissa da discrição se necessário
entrar em embate direto, por isso no planejamento das operações deve
estar previsto o time de proteção, o qual deve garantir a segurança das
operações, somente em situações especiais e não usuais o agente de
inteligência deve e pode fazer uso das técnicas de combate tático, bem
diferente dos filmes que vemos sobre o assunto, não podemos esquecer
que o provedor de inteligência ou agente, tem uma missão específica,
produzir conhecimento, e quando mais discreto e imperceptível for,
maior as chances de lograr êxito sem expor sua identidade, da agência
ou serviço envolvido bem como da própria fonte de busca. Isso tempos
atrás gerou muitas discussões e debates, quando a ABIN solicitou para
seus agentes porte de arma, alguns especialistas foram contra e outros
favoráveis, esse será tema de debates mais a frente no decorrer da nossa
disciplina.

23
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

»» Oportunidade: o instante exato para o início de cada uma das ações


de uma Operação de Inteligência forma um dos principais aspectos do
planejamento e execução da mesma. Desencadeá-la antes ou depois do
momento ideal pode ser fatal para o sucesso da missão. No que tange à
informação, podemos dizer que seu valor está diretamente ligado com
o seu uso adequado e oportuno, pois toda informação se deprecia e
desvaloriza com o passar do tempo, tendo um prazo de extinção variável,
mas certo, após o que poderá estar ainda completa e rica em detalhes,
mas de outra forma praticamente inútil ao fim que se destinava. Por
isso, o principio da oportunidade estabelece que a informação depois
de adquirida deva ser produzida dentro de um período de tempo que
pode ser variável, mas que deva obrigatoriamente permitir e garantir sua
utilização de forma adequada e ainda válida.

»» Controle: a produção do conhecimento deve obedecer a um planejamento


que possibilite o adequado controle de cada uma das fases. Esse princípio
busca garantir certa ordem à produção do conhecimento e sua difusão.
É por meio do controle que se consegue a orientação metodológica no
ciclo da inteligência. Em sentido mais amplo, o controle relaciona-se
com a supervisão e o acompanhamento adequado requerido para as
ações de inteligência. Atualmente, nos regimes democráticos, o controle
interno e orgânico continua de grande relevância, mas não se pode mais
desconsiderar outra forma de controle de suma importância: o controle
externo, realizado pelo Poder Legislativo.

»» Imparcialidade: a produção da informação requer equilíbrio. Toda


informação deve ser isenta de ideias preconizadas, subjetivismos,
achismos, interpretação de for pessoal, e outras influências que
causem distorções e falta de racionalidade. Devemos atentar que na
produção da informação, temos que ter fatos verídicos de forma a
traduzir conhecimentos tão próximos da verdade quanto possível, por
isso é obrigatório que os operadores não se deixem levar pela paixão,
entendimentos pessoais ou outros interesses, que possa afetar e modificar
a veracidade da informação produzida.

»» Flexibilidade: quando se planeja uma Operação de Inteligência, não se


deve subestimar a ocorrência de eventualidades antes ou durante a sua
execução. Desta forma, devemos ter linhas de ação e condutas alternativas,
bem como oportunizar as equipes executantes uma razoável margem de
iniciativa.

24
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Simplicidade: as atividades ou ações complexas devem ser na medida do


possível evitadas na produção da informação. Os conhecimentos expressos
nas informações devem ser simples, de forma a conter unicamente os
conhecimentos essenciais, isentos de expressões e conceitos dispensáveis.
Cumpridos os requisitos necessários à segurança e flexibilidade a que
deve obedecer a uma Operação de Inteligência, esta deve ser planejada e
executada da maneira mais simples possível. Com certeza, todas as ações
planejadas com simplicidade são executadas com facilidade, culminando
em maior segurança e economia no uso dos recursos humanos e materiais.

»» Amplitude: o conhecimento sobre o fato, assunto ou situação


compreendida pela informação deve ser o mais completo possível,
contendo conhecimentos amplos e exatos, obtidos de todas as fontes
disponíveis. A amplitude deste princípio deve ser harmonizada com o
da oportunidade, pois é necessário estabelecer um adequado equilíbrio
entre a amplitude dos conhecimentos elaborados e a necessidade de
difusão oportuna.

»» Clareza: os receptores das informações produzidas nas atividades


de inteligência devem compreendê-las imediatamente e de forma
completa. Este princípio prevê que deve ser possibilitado a imediata e
integral compreensão do seu significado, assim como destacar-se pela
evidência dos conhecimentos produzidos. Por isso, a informação deve
ser redigida em linguagem correta e livre de literatura rebuscada e de
floreios supérfluos. Na produção do conhecimento, a clareza se vincula
estritamente à objetividade e simplicidade. No campo da operação,
as ordens dadas para as equipes de busca e aos agentes, devem ser
transmitidas de maneira clara e objetiva, não deixando qualquer dúvida
sobre o desempenho de cada membro do grupo. Devendo ser definido
desta com precisão e riqueza de detalhes, aquilo que se deseja fazer, como
fazer, quando fazer e quem vai fazer.

»» Ética: além desses princípios de caráter metodológico e técnico-


operacional, a atividade de inteligência deve ser pautada em preceitos
éticos e levar em conta os princípios legais e constitucionais aos quais
está subordinada em um regime democrático.

25
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Objetivo de uma Operação de Inteligência

O objetivo de uma Operação de Inteligência é, normalmente, a busca do dado negado ou


escondido, ou seja, aquele que não está disponível pelas fontes normais ou ostensivas.
É o alvo da operação, podendo ser uma pessoa, um documento, objetos, locais etc. Esse
alvo poderá ser alcançado através de ações de busca e técnicas operacionais, podendo
estar relacionadas a fotografias sigilosas e importantes, vigilância a pé e transportada,
reconhecimento operacional, entrevistas, recrutamento operacional, estória-cobertura
e empregos de recursos eletrônicos.

Planejamento de operações

É a elaboração lógica do raciocínio, empregando métodos determinados e protocolizados,


objetivando orientar a execução de uma Operação de Inteligência.

Objetivos:

»» orientação e garantia da execução da missão;

»» proteção da identidade do Órgão ou Serviço de Inteligência;

»» proteção da identidade do agente e da atuação da equipe de serviço.


Elementos essenciais:

»» missão de acordo com as necessidades do Órgão ou Serviço de Inteligência;

»» alvo da missão;

»» ambiente operacional;

»» meios a serem empregados, que podem ser:

›› Pessoais.

›› Materiais.

Os agentes, militares, servidores e demais profissionais de instituições e órgãos


públicos bem como os de empresas privadas, responsáveis pela custódia de
documentos, conhecimentos, materiais, áreas, comunicações, operações e
sistemas de informações de natureza sigilosa, estão sujeitos às regras do sigilo
profissional, em razão de ofício, e ao seu código de ética específico”.

26
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Inteligência na segurança pública

A Atividade de Inteligência não poderia ser de outra forma diferente na Segurança


Pública. A gestão, integração e a difusão de informação ou conhecimento talvez sejam
os aspectos mais importantes a serem discutidos. A Inteligência de Segurança Pública
permite que as organizações policiais alterem os seus objetivos, desenvolvam novos
métodos para atuar na complexidade e nas mudanças do fenômeno criminal do mundo
moderno, ou seja, pode a unidade através da antecipação se preparar para novas correntes
e tendências de atos e eventos criminais, já que o crime é um fenômeno complexo e
em constante mudança, apresentando forma dinâmica e moldável. Estamos na era da
globalização, onde a eficiência, a rapidez dos sistemas de comunicação, transportes e
acesso à informação, eliminaram de vez, divisas e fronteiras que seriam as barreiras,
tradicionalmente consideras para as atividades criminosas. Isso faz com o crime fique
quase que “globalizado”, ou seja, agem juntos e presencia-se de vários tipos de crimes,
sem limites territoriais de atuação, situação que por si só, já indica um quadro de
complexidade, e consequentemente, uma maior dificuldade na sua prevenção bem com
repreensão.

Os níveis de criminalidade e violência no Brasil estão direcionando as ações de governo


em todos os níveis. No que tange à segurança pública, vem cobrando a integração
dos órgãos policiais, realizando investimentos em tecnologias, gestão da informação,
interatividade, inovação de métodos e processos para a consecução eficaz do controle
da violência e criminalidade, principalmente por meio e incremento da Atividade de
Inteligência Policial, sendo esta uma mola que impulsiona as organizações policiais para
uma nova mentalidade, constituindo-se uma atividade essencial e tendo como objetivo
principal desenvolver tarefas analíticas para detectar, identificar, neutralizar, obstruir
atividades criminosas. Contribuindo para permitir à Segurança Pública a capacidade
de antecipação. Uma definição ampla diz que Inteligência é toda informação coletada,
organizada e analisada para atender a demanda de um tomador de decisões e auxilia
neste fim, o emprego de diversos dispositivos tecnológicos e sistemas de informação na
construção do conhecimento. Assim é comum usar o termo Inteligência para designar
um conjunto de atividades altamente especializadas, na função de suporte operacional,
com uso de métodos modernos de produção de conhecimento.

A Inteligência de Segurança Pública ainda caminha para uma definição doutrinária


nos Estados da Federação e na Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP).
Podemos considerar como iniciativa pioneira de formação de doutrina no Rio de
Janeiro e Distrito Federal. No Rio de Janeiro, a Inteligência de Segurança Pública é
definida como “o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a
identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera

27
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

de segurança pública. As ações de Inteligência de Segurança Pública estão orientadas,


basicamente, para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários à decisão,
ao planejamento e à execução de políticas de segurança e de ações para neutralizar,
coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza”.

Os últimos acontecimentos, resultantes das ações de comandos organizados no país


tem revelado que as organizações policiais necessitam da Inteligência de Segurança
Pública como um instrumento capaz de prever acontecimentos ou preparar-se para eles.
Visa o estabelecimento de um processo contínuo para manter um estado de proteção
e garantia da ordem pública. Demonstra sua fundamental importância neste campo,
quando auxilia a administração de sistemas penitenciários, atua no gerenciamento
de crises, polícia comunitária, impulsionando esforços colaborativos entre os Órgãos
Estaduais.

A Inteligência de Segurança Pública favorece um ambiente de gestão de segurança


pública pela criação de mentalidade em direção à conjunção de ações, harmonia, aliança,
e uma melhor unidade entre as organizações policiais pela cooperação e difusão de
informações. Aplica-se a uma grande variedade de áreas temáticas, com elas tendo em
comum o fato de estarem relacionadas ao interesse público. Entre as áreas temáticas
de gestão, situam-se, as investigações criminais, as operações policiais, o policiamento
preventivo e o planejamento estratégico.

A Inteligência de Segurança Pública essencialmente monitora informações oriundas do


ambiente. A importância do monitoramento do ambiente e a produção de informações
significativas nas organizações é uma tarefa universalmente preconizada, constituindo
a atividade mais essencial, cuja gestão e aproveitamento dos recursos estão diretamente
relacionados à estratégia de avanço da organização. A informação também é considerada
em muitas organizações como um fator estruturante e um instrumento de gestão,
portanto, a gestão efetiva da informação numa organização requer a percepção objetiva
do seu valor e precisão dos sistemas de informação.

Sistemas de informação têm sido desenvolvidos para otimizar o fluxo de informação


relevante no âmbito de uma organização, desencadeando um processo de distribuição e
disseminação do conhecimento para a tomada de decisões intervindo nos acontecimentos.
De um modo geral, existe um consenso de que um sistema de Inteligência de Segurança
Pública nacional é necessário para compor um instrumento estratégico fortalecido,
contextual e global. Uma abordagem metodológica do seu desenvolvimento e
implementação deve estar voltada para aplicações específicas e inerentes à Inteligência,
sem amadorismo, em sintonia com as necessidades das organizações policiais em
diagnosticar e prognosticar problemas, na disseminação e propagação da informação,
otimizando uma cadeia de valor do sistema com a propagação do conhecimento.

28
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

A doutrina de Inteligência de Segurança Pública, com certeza se consolidará tendo


como raiz a Inteligência Clássica e pela assimilação e adaptação dos conceitos da
Inteligência de Estado. Nesse contexto é uma área que revela excelente oportunidade
para discussões, pesquisas e estudos.

A Inteligência de Segurança Pública caminha para ser uma atividade especializada de


monitoramento do ambiente social. Ela interpreta os fatos decorrentes da violência,
visando dar proteção à sociedade, cujo ciclo de ação, percorre preliminarmente as fases
da identificação e percepção de problemas (demanda), planejamento de obtenção de
dados e informações, gerenciamento de meios técnicos (especialmente os eletrônicos
e os da tecnologia da informação), processamento, análise e interpretação de dados e
informações, e a disseminação do conhecimento.

A Inteligência de Segurança Pública destina-se também a um incremento significativo


de efetividade dos órgãos policiais no exercício das suas atividades administrativas,
operacionais, investigativas e preventivas. Pela sistemática análise de fatos e
situações que afetam a segurança pública, produz conhecimento instrumental, para
o enfrentamento do crime e a violência, em direção à execução de ações repressivas,
apuração de infrações penais e maior eficácia do policiamento preventivo espacial.

Já a Contrainteligência, como um processo da Inteligência de Segurança Pública é


a atividade responsável pela segurança orgânica das organizações policiais. Atua na
implementação de medidas de proteção e detecção das situações adversas como a
infiltração, corrupção, recrutamento de policiais pelo crime e determinando vínculos de
pessoas e autoridades públicas com organizações ilícitas. Abrange por isso, a realização
de ações de segurança ativa, que visa identificar e impedir ações hostis dirigidas à
infraestrutura, imagem e valores institucionais, bem como bloquear a disseminação
de boatos nocivos à organização policial, atos insidiosos, ameaças e atos de sabotagem
contra as instituições públicas. Preocupa-se acessoriamente com atos ilícitos de qualquer
natureza e atividades de grupos ou subgrupos sociais que tenham potencialidade de
promover desordem pública, violência e crimes.

Para ser efetiva a Inteligência de Segurança Pública deve possuir articulação e


intercâmbio com os demais órgãos congêneres, compartilhando conhecimentos sobre
atividades criminosas no país e também articulada com empresas privadas (Inteligência
Competitiva) na obtenção de informações que contribuam para o mesmo fim. Cabe
afirmar que não existe Inteligência sem integração e difusão de conhecimentos e a
própria conversão do conhecimento em todos os sentidos.

29
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

No emprego de ações especializadas (operações de inteligência) e de técnicas de análise


com uso de tecnologias modernas, a Inteligência de Segurança Pública tem demonstrado
ser o grande diferencial no modelo tradicional de segurança pública, principalmente em
razão do emprego de métodos computadorizados e no processamento e interpretação de
volume dados e informações, cuja complexidade vem exigindo a formação de analistas
com habilidades específicas na busca de significado da informação. Isto promove
a criação de novas competências (conhecimentos, habilidades, técnicas, valores e
atitudes) avançadas, por intermédio inclusive das infraestruturas da Tecnologia
da Informação (TI). Contribui também para a elaboração, implantação de um novo
modelo organizacional, com o papel fundamental do gestor de segurança que posiciona
a instituição com capacidade de atuar num mundo de crescente complexidade,
revelado notoriamente pela atuação de organizações criminosas, terrorismo, corrupção
e narcotráfico.

A associação de Inteligência de Segurança Pública com Tecnologia da Informação


resulta na aplicação de recursos avançados para a gestão da informação e de diversos
outros dispositivos tecnológicos para uma melhor performance e efetividade do
trabalho policial. A TI na segurança pública tem contribuído para o surgimento de
ferramentas poderosas para a análise criminal, geoprocessamento, análise de vínculos,
interceptações telefônicas, ambientais, inteligência de imagens e sinais, e diversos outras
aparatos de captação de comunicações no exercício da investigação. O uso de tecnologias
destina-se especialmente também ao auxílio do processo investigativo e distribuição de
efetivos policiais em áreas de incidência criminal. Além de otimizar recursos, facilita
um processo interativo entre policiais e profissionais de Inteligência produzindo efeitos
cumulativos de conhecimentos, aumentando a qualidade da segurança pública no nível
tático e estratégico.

A atuação da Inteligência de Segurança Pública percorre dois campos: Uma especial,


quando desenvolve atividade de natureza eminentemente executiva (inteligência tática)
na indicação e assessoramento de produção de provas para a materialidade do delito e
autoria de crimes, e outra no campo consultivo, quando por meio dos conhecimentos
contidos em análises de conjuntura criminal ou em estimativas de evolução da
criminalidade, assessora autoridades governamentais na formulação de políticas de
prevenção e combate à criminalidade (inteligência estratégica).

Podemos afirmar que Inteligência de Segurança Pública caminha para ser uma área de
acalorados estudos, discussões, críticas, opiniões e pesquisas. Sua aplicação certamente
promove a criação de novos conceitos na organização pela constante atuação no cerne
de fatores que geram efeitos e consequências para a sociedade.

30
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Atualmente estes fatores apresentam-se como sinais significativos no ambiente que


ensejam uma constante avaliação. O primeiro fator é a velocidade: como ocorrem
as coisas, (cadência ou frequência de situações no ambiente que mudam com muita
rapidez) e isto é muito característico do fenômeno criminal; segundo, a conectividade:
todas as coisas vão se conectando eletronicamente (produtos, pessoas, empresas,
finanças, crimes etc.) muitas entidades interagem entre si, sendo que uma entidade é
qualquer evento e ocorrência que tenha significado e sofre transformações; terceiro, a
intangibilidade (referente à facilidade de obtenção e acesso a informação, inclusive pelos
criminosos; e quarto, a inovação: mudanças estruturais (alterações e modificações no
ambiente impulsionam a organização para a inovação e adaptações de suas estruturas)
por assimilação ou acomodação.

Finalmente, a partir destas considerações, é importante ressaltar que a Inteligência de


Segurança Pública como doutrina e disciplina sugerem a formação e capacitação de
profissionais especializados na linha de coordenação, gestão e liderança. Assim sendo,
é relevante ressaltar a atuação e iniciativa de Universidades, levando este assunto a
nível acadêmico, oferecendo suporte teórico e filosófico, condições fundamentais para
a consolidação e aprofundamento de conhecimento interdisciplinar, proporcionando
a conversão de diversos saberes que interligados produzem efeitos concentrados em
teses e artigos sobre o tema.

Inteligência empresarial

Diferentemente da Inteligência de Segurança Pública a Inteligência Empresarial consiste


no processo de obtenção, análise de dados, produção e disseminação de informações
úteis aos indivíduos e organizações empresariais, entidades e instituições, de acordo
com suas necessidades. Inclui, também, a proteção do conhecimento disponível na
organização, identificar tendências do mercado, desenvolver análises estratégicas,
descobrir oportunidades e mapear riscos através de metodologias científicas.

Neste cenário, a “inteligência empresarial” é o suporte ideal para a produção e


salvaguarda dos dados e informações de interesse das altas administrações.

A inteligência produz os “segredos da empresa” e neste aspecto fornece um grau de


previsão das coisas que possam causar um impacto na organização.

Ela é ativa, pois obriga algum tipo de atitude em resposta ao que foi recebido permitindo
que os gestores possam responder aos desafios com táticas de mercado corretas ou
decisões de longo prazo, neutralizando riscos e ameaças.

31
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Podemos produzir conhecimentos, estimativas e apreciações sobre qualquer segmento


da atividade empresarial, principalmente em casos de:

»» investigações de fraudes, extorsões, desvios de conduta, furtos, subornos,


corrupção e outros ilícitos;

»» avaliação de cenários e criação de estratégias para auxiliar no processo


decisório da alta gestão;

»» levantamento de dados sobre pessoas físicas e jurídicas;

»» realização de coberturas cinefotográficas ostensivas e sigilosas;

»» realização de levantamentos internos ou externos sigilosos como


sindicâncias, auditorias e outras apurações.

A facilidade de acesso à informação possibilita a interação face a face entre pessoas nos
diversos cantos territoriais, permite também afirmar que não existe hoje nada mais
distribuído e disseminado do que a informação. Não existe mais um mundo estável,
baseado somente na troca de experiências individuais, que busca explicar os fenômenos
de forma empírica e responder todas as questões. Daí a necessidade das organizações
desenvolverem estruturas tecnológicas e, pela atividade de Inteligência, aumentar a
capacidade de solucionar problemas, realizar diagnósticos mais precisos em direção à
realidade atual e com a visão do contexto.

Categorias de inteligência estratégica

Informação específica coletada, organizada e analisada para atender as necessidades


de um usuário específico (tomador de decisão) é o que se convencionou chamar de
inteligência (com “i” minúsculo).

Inteligência, neste caso é produto resultante da transformação de dados e informações


em outros insumos informacionais (de maior valor agregado), e serve para:

»» demonstrar fatos e situações do interesse dos tomadores de decisão;

»» apreciar capacidades e intenções de competidores e demais atores que


operam no entorno da organização;

» » reduzir a incerteza que paira nos ambientes interno e externo


(PLATT, 1967).

32
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Em última análise, inteligência (produto) é o resultado da coleta de informações sem o


consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento de quem a detém, o que torna,
afinal, essa atividade um tanto quanto problemática. Quando enfocada como processo,
a Inteligência se caracteriza por um conjunto de atividades cíclicas e sequenciais
destinadas a transformar informação valiosa em um produto utilizável pelos tomadores
de decisão (as inteligências). Observe que ela não deve trabalhar sobre um “vazio de
planejamento”, sob risco de se tornar uma ferramenta inócua, o que redundaria em um
tremendo desperdício financeiro para o seu patrocinador. A Inteligência como processo
legal estruturado anseia sempre por diretrizes claras para atuar com segurança. Na sua
visão mais simples, a Inteligência materializa os retornos sobre a necessidade de saber
estritamente o necessário.

Ainda em termos de processo, aproveitando a visão de Cepik (2003), que analisa


o enquadramento da Função Inteligência segundo uma lógica horizontal de
desdobramento (no Modelo Clássico), podemos dizer que existem, basicamente, quatro
categorias para a Inteligência Estratégica (as abreviaturas decorrem de designações
expressas originalmente no idioma Inglês).

Inteligência organizacional e inteligência


competitiva

No que tange à inteligência privada, Almeida Neto (2009, p. 64) ressalta a resistência
oferecida por alguns autores da área em atribuir o caráter de inteligência a determinadas
atividades desempenhadas pela iniciativa privada. Nesse sentido, o autor expõe o
seguinte (ALMEIDA NETO, 2009, p. 64):

Embora alguns autores recalcitrem em negar o caráter de inteligência a


determinadas atividades desenvolvidas no setor privado, ante o modo
como estas foram organizadas e estruturadas, os métodos de que se valem
para produzir seus conhecimentos, o ambiente conflitivo (competição
e concorrência) em que se desenvolvem, os segredos empresariais
que visam desvendar e proteger (com a ocorrência, inclusive, de
casos milionários de espionagens industriais), o corpo especializado
de profissionais que as empregam para assessorar decisões diversas
(muitas vezes de repercussões coletivas, que desbordam os lindes da
própria empresa), não há como negar a existência desta inteligência
empresarial ou inteligência competitiva.

33
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Ainda sobre o assunto, o autor informa que, no Brasil, inclusive, a atividade já se


encontra organizada em nível associativo, desde o ano de 2000, por meio da criação da
Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), com sede
em Brasília/DF (ALMEIDA NETO, 2009, p. 64).

De acordo com essa associação, a inteligência competitiva é definida da


seguinte maneira: É um processo informacional proativo que conduz
à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um
processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios,
reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente,
bem como proteger o conhecimento gerado. Esse processo
informacional é composto pelas etapas de coleta e busca ética de dados,
informes e informações formais e informais (tanto do macroambiente
quanto do ambiente competitivo e interno da empresa), análise de
forma filtrada e integrada e respectiva disseminação. O processo de
Inteligência Competitiva tem sua origem nos métodos utilizados pelos
órgãos de Inteligência governamentais, que visavam basicamente
identificar e avaliar informações ligadas à Defesa Nacional. Essas
ferramentas foram adaptadas à realidade empresarial e à nova ordem
mundial, sendo incorporadas a esse processo informacional as técnicas
utilizadas: (1) pela Ciência da Informação, principalmente no que diz
respeito ao gerenciamento de informações formais; (2) pela Tecnologia
da Informação, dando ênfase as suas ferramentas de gerenciamento de
redes e informações e às ferramentas de mineração de dados; e (3) pela
Administração, representada por suas áreas de estratégia, marketing e
gestão.

A inteligência competitiva é portanto aquela “voltada para o mundo dos negócios,


ou seja, para o ambiente competitivo. Busca a manutenção ou desenvolvimento de
vantagem competitiva em relação aos concorrentes”. Não deve ser confundida com
inteligência econômica, a qual “é exercida por órgãos do Governo cuja finalidade é
a produção de inteligência para o desenvolvimento de vantagem competitiva de um
país, bem como a proteção das informações científicas e tecnológicas sensíveis voltadas
para a atividade produtiva” (GONÇALVES, 2008, pp. 157-158). Ainda no que tange à
inteligência competitiva, Gonçalves (2008, p. 158) registra que, além das empresas,
organizações não governamentais (ONGs) e partidos políticos também se utilizam da
atividade, ou das técnicas a ela relacionadas, para obter informações importantes e, até
mesmo, para neutralizar adversários políticos.

34
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Muitos pensadores de planejamento estratégico para organizações empresariais


defendem a tese de que o ambiente econômico nada mais é do que um mero campo de
batalhas. Podemos dizer que sim, em parte, pois se não encontramos soldados mortos
no dia a dia da economia, vemos claramente as organizações serem excluídas dessa
competição, tal a incapacidade de seus dirigentes de conduzi-las a uma situação de
estabilidade no mercado. Há quem diga que empresas não morrem; seus empresários
é que erram, erram e erram, e acabam por suicidar a própria organização. Vivenciando
essas organizações empresariais uma competição de mercado que se assemelha à
guerra, cabe aos seus executivos conceber a estratégia, tomando boas decisões sobre os
cursos de ação e alocando recursos para atingir os objetivos predeterminados dentro de
um prazo estimado e cumprir a missão da sua organização.

Para Cardoso Junior (2005), como qualquer comandante em operações militares, um


dirigente empresarial precisa de informações qualificadas a respeito dos competidores e
da arena de combate para que possa tomar as melhores decisões estratégicas.
O esforço de coletar e analisar as informações do ambiente externo caracteriza a essência
da Função Inteligência desde a sua origem nos primórdios da humanidade. O que hoje
chamamos de Inteligência Competitiva tem ligação histórica direta com as práticas
de Inteligência Militar e de Estado, desenvolvidas ao longo de uma sofrida evolução
política, econômica e social da espécie humana. Ressaltamos aqui que a Inteligência
Competitiva não surgiu recentemente de projetos experimentais de administradores,
economistas e cientistas da informação, como algumas pessoas pensam. Ela tem
suas raízes em práticas de conquista territorial que vêm sendo desenvolvidas pelos
grupos sociais desde a Antiguidade, motivados ciclicamente por guerras e conflitos de
interesses humanos, políticos e econômicos. Com efeito, as nações ao longo da história
desenvolveram práticas de Inteligência moralmente compatíveis com as respectivas
épocas e necessidades. Pode-se assim dizer que a evolução dessas práticas caminha
passo a passo com o desenvolvimento ético-moral do homem. Hoje, porém, neste mundo
de crescentes incertezas, cada vez mais os estrategistas da gestão estão empregando a
Inteligência Competitiva para reduzir a incerteza do ambiente externo, diminuindo a
pressão sobre os tomadores de decisão. Com isso, em seus escritórios, os profissionais de
Inteligência Competitiva coletam, analisam e aplicam, legal e eticamente, informações
relativas às capacidades, às deficiências e às intenções dos concorrentes, e monitoram os
acontecimentos do ambiente competitivo geral, como novos concorrentes que surgem
no horizonte, ou novas tecnologias que podem alterar o equilíbrio dos negócios. Eles
têm como objetivo principal obter informações que subsidiem o processo de tomada de
decisões estratégicas e que possam ser utilizadas para colocar a organização empresarial
na fronteira competitiva dos avanços (PRESCOTT; MILLER, 2002).

35
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

As organizações podem ser vistas como sistemas que processam informação. Elas
coletam dados de fontes internas e externas, os processam e os transformam em
informações e conhecimentos úteis à organização. Os negócios não funcionam apenas
com dados brutos. Dependem do conhecimento de indivíduos, que contextualizam
e dão significados a esses dados, transformando-os, por sua vez, em informação e
conhecimento pronto para ser colocado em ação (MORESI, 2006).

Outro aspecto que o pode-se ressaltar é que as organizações comportam-se como


sistemas adaptáveis. Uma organização é um sistema de processamento que converte
diversas entradas de recursos em saídas de produtos e serviços, que ela fornece para
sistemas receptores ou mercados. A organização é guiada por seus próprios critérios e
feedback interno, mas é, em última análise, conduzida pelo feedback de seu ambiente
externo. Nesse sentido, a inteligência organizacional integra um processo de informação
humana e computacional e a capacidade de solucionar problemas por meio de cinco
componentes (KIRN, 1995): comunicação organizacional, memória organizacional,
aprendizagem organizacional, cognição organizacional e raciocínio organizacional.

Em 2013, Edward Snowden um analista de inteligência, até então desconhecido,


trouxe a público uma série de documentos confidenciais relacionados a operações de
inteligência e espionagem realizadas pelo governo americano e demais aliados.
As revelações foram inúmeras e, pessoas que tiveram acesso aos documentos, afirmam
que ainda existe muita coisa para ser revelada. Os documentos revelam principalmente
atividades da NSA, como: interceptação e análise de metadados dos tráfegos de
comunicação, espionagem de autoridades (como caso da presidente Dilma) e acordo
com fornecedores de tecnologias para acesso as informações dos usuários.

Na ocasião, muitos profissionais começaram a comentar e questionar a utilização


da tecnologia, inclusive de modelos como Cloud Computing, alegando que os fatos
expostos foram possíveis pelo uso desses serviços. Vale lembrar que a NSA, e outras
agências de inteligências citadas nos documentos revelados, executam suas tarefas há
décadas e que as atividades de inteligência são realizadas desde antes de Cristo. Será
que o problema está mesmo na utilização de tecnologia e de novos modelos de serviço?

Outro ponto importante, as atividades de inteligência existem desde, pelo menos,


500 a.C., como podemos afirmar que todas essas atividades reveladas foram possíveis
por causa da tecnologia? A tecnologia e os novos modelos de serviços, principalmente
as redes sociais, possuem uma participação importante apenas na divulgação das
notícias envolvendo esses fatos. Graças às redes sociais, atualmente essas notícias
atingem o público em geral e não apenas os profissionais ligados a área de defesa ou
segurança.

36
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Há alguns anos conhecemos Bradley Manning e Julian Assange, ambos também


famosos por divulgar ao grande público documentos confidenciais de atividades do
governo americano.

Assange foi o responsável por divulgar os documentos que Bradley teve acesso
enquanto servia as forças armadas americanas. O que temos em comum entre Bradley
Manning e Edward Snowden? Ambos tiveram acesso a informações classificadas
como confidenciais que, de acordo com as funções e cargos exercidos por eles, não
deveriam ter.

Lições que podemos aprender

Observando os eventos apresentados, podemos tirar algumas lições do que passamos


em 2013:

»» Tecnologia x organizações: a tecnologia está cada dia mais presente


dentro das organizações e o negócio cada vez mais dependente dela.
Todo e qualquer processo dentro de uma organização depende de algum
sistema em algum momento e as organizações, principalmente executivos,
precisam começar a analisar TI e SI como uma ferramenta de suporte ao
negócio, não como um gasto.

»» Certificação segurança da informação: a ISO/IEC 27001 está ganhando


cada dia mais força e reconhecimento no mercado. As mudanças feitas
na nova versão refletem a exigência das organizações por uma norma
com maior foco no negócio e um maior alinhamento entre os Sistemas
de Gestão.

»» Controle de acesso: nos maiores episódios de vazamento de informações


dos últimos anos, as informações vazadas foram obtidas por colaboradores
que não deveriam ter acesso às mesmas. O controle e monitoramento do
acesso das informações são fatores chaves para garantir a confidencialidade
e integridade.

»» Conscientização: a espionagem sempre existiu e continuará existindo, as


atividades de inteligência são peças fundamentais para garantir a segurança
de um Estado. Uma das formas de se proteger contra espionagem, seja
no contexto governamental ou privado, é a conscientização. Entender a
tecnologia que está sendo empregada, os riscos que estamos expostos
e as medidas necessárias é essencial para garantir o nível de segurança

37
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

que esperamos. Outra forma de proteção é investir nas atividades de


contrainteligência, que podem ser utilizadas tanto no ambiente de
Governo quanto em empresas privadas.

Em se tratando de questões de espionagem você deve lembrar sempre que se


pode dizer que a ingenuidade é tola, desnecessária e muito perigosa!.

38
CAPÍTULO 2
Legalidade e ética nas operações de
inteligência

O Estado democrático, liberal e moderno dedica-se à proteção das liberdades


civis, assim, demonstra ineficiência no trato do assunto.

Definições de ética e operações de


inteligência
Necessário para a introdução específica do capítulo, que se tenha uma definição do que
seja ética, bem como, as operações de inteligência, para que possamos expressar vários
tópicos a fim de que vocês consigam tirar suas conclusões acerca do tema.

Como nos ensina Adolfo Sánchez Vasquez (2006, p.25), “A ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade”.

Já com relação às operações de inteligência, já vimos que são ações realizadas com a
finalidade de obter dados não disponíveis em fontes abertas, podem ter alvos pessoas,
locais, objetos ou canais de comunicação e se utilizam de várias técnicas operacionais,
como comunicações sigilosas, disfarce, eletrônica, entrada, entrevista, estória-cobertura,
fotografia, infiltração, reconhecimento, recrutamento operacional e vigilância.

O Brasil é um Estado Democrático de Direito e tal assertiva tem fundamento no artigo 1o


da Constituição Federal de 1988, pertencente ao Titulo I – Dos Princípios Fundamentais.

Os fundamentos da República Federativa do Brasil, que se constitui em Estado


Democrático de Direito são a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.

Não há como desvincular as operações de inteligência da análise constitucional de que


o cidadão brasileiro é o titular dos direitos e garantias fundamentais e que não há razão
de ser do Estado sem que todas as ações (de inteligência!) pautem em estrito respeito à
dignidade da pessoa humana.

As operações de inteligência, quer sejam de Estado, de Segurança Pública ou até


Institucionais (empresarial), almejam o bem comum, a implementação de políticas
governamentais de segurança do país; a segurança pessoal e patrimonial do cidadão;

39
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

a segurança das Instituições, e nesta linha de raciocínio, não pode ter dentre suas táticas,
técnicas ou princípios, condutas antiéticas ou aéticas.

Considerando antiético como qualquer atitude voltada exatamente contra os padrões


éticos estabelecidos, mesmo sem codificação, e aético como sendo a completa ausência
de ética, não há como concordar que as operações de inteligência, dada sua envergadura
necessária para o bem estar da coletividade e segurança do país, se enquadrem em
qualquer destas interpretações.

A aplicação da estrutura de inteligência se não for direcionada dentro de limites legais,


pode representar violação de privacidade individual ou de corporações. Quanto à
estrutura de repressão, se aplicada de forma indiscriminada ou que direcionada para
atender fins políticos escusos, pode sugerir a perda da liberdade de locomoção e de
reunião, por exemplo, inclusive a liberdade de expressão e de imprensa. De qualquer
forma, a ação contra o indivíduo quando levada a efeito pelo Estado democrático
moderno, chama a atenção da população gerando em alguns casos a indignação que,
manipulada, pode incitar a opinião pública contra o governo. Tais fatores permissivos
inexistem em algumas ditaduras, onde a liberdade é controlada assim como a aplicação
das leis. Outro aspecto relevante do método é o cuidado que os analistas de Inteligência
devem ter com a legalidade das fontes de informação. Na mesma linha de raciocínio,
contatos pessoais também não devem ser alavancados com manipulações ou pressões
financeiras e morais. A recusa no fornecimento de informações deve ser sempre
respeitada.

Portanto não é permissível que órgãos ou agências de inteligência admitam “arranhar


direitos de alguns em prol de muitos”, sob uma justificativa de “arbítrio necessário”
com finalidade de supostamente manter a ordem pública, muitas vezes tratando os atos
simplesmente como danos e efeitos colaterais previsíveis e aceitáveis.

Deve ser acrescentado que a Lei no 8.429 de 02 de junho de 1992, disciplina em seu artigo
no 11: “Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

“I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso


daquele previsto, na regra de competência.”

Segundo os ensinamentos do Professor Marino Pazzaglini Filho (2005, p.52)

O princípio do estado de direito cifra-se na legalidade como medida


do exercício do poder, ou seja, o exercício do poder deve processar-se
mediante processos jurídicos. É a autolimitação do Estado perante

40
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

os direitos subjetivos e a vinculação da atividade administrativa à


Constituição. No estado de direito, governam as leis e não os homens.
É a supremacia da lei. Porque assim é, exige-se sua observância
incondicional, o que implica a proibição de que seja violada.

Portanto, qualquer agente de inteligência, seja a nível federal ou estadual que


infringir direitos e garantias constitucionais, poderá sofrer uma ação de improbidade
administrativa, visando à perda do cargo público por desatendimento a normas legais,
já no que tange aos operadores das esferas privadas ou informais, será aplicado no que
couber o rigor da legislação pertinente.

A legalidade é de grande importância, visto que o emprego dos serviços de inteligência


deve estar de acordo com a legalidade das suas ações, conforme o ordenamento jurídico
vigente, composto por diplomas legais e um sistema normativo que regulamente esta
atividade. Isso faz com que a legalidade seja aliada a esta atividade por proporcionar todo
o suporte de legitimidade para a realização de suas ações, garantindo condições para o
sigilo. No Brasil, a Legalidade e a ética estão devidamente legitimados na Constituição
Federal de 1988, pelos princípios da Legalidade e da Moralidade no seu Capítulo VII,
Seção I. O principal diploma legal que regula o exercício da Inteligência de Estado no
país é a Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Com isso é conferido à legitimidade à
atividade de Inteligência, para que esta não se transforme em ameaça fazendo com que
as atividades não se transformem em inimigos do Estado e da sociedade, cujas ações
criminosas são denominadas de Operações Clandestinas.

De acordo com o entendimento dos autores Beatriz Laura Carnielli e João Manoel
Roratto (ABIN, 2005, p. 10). A partir de 11 de setembro de 2001, quando os EUA
decretaram a guerra contra o terrorismo, o sistema global democrático sofreu alterações,
levando a perdas do ponto de vista da aplicação dos direitos individuais e coletivos,
comprometendo avanços democráticos. Adveio desta nova realidade uma flexibilização
na aplicação dos direitos e com isso um retrocesso que enseja o debate tanto no âmbito
interno daquele país quanto no da ordem internacional.

Assim, eles acreditam que “os ganhos democráticos dos últimos 30 anos podem se perder
por causa da crença ingênua de que as agências de Inteligência, ‘libertas’ de exigência
de fiscalização, podem de alguma forma, ser mais eficientes e eficazes”. (GILL, 2003, p.
57). Para o futuro, complementa, o objetivo deve ser evitar uma alternância entre dois
polos: da eficácia e da correção. Ao contrário, a meta dos estados democráticos deverá
ser assegurar serviços de Inteligência que sejam, ao mesmo tempo, eficazes e capazes de
operar dentro dos limites da lei e da ética. Ugarte (2003, p. 99) afirma que a Inteligência
“envolve o uso do segredo de fontes e métodos, a realização de fatos de caráter sigiloso,
e, inclusive a utilização de fundos que, embora não isentos de controle, estão sujeitos a
41
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

um regime especial que limita a demonstração de sua forma de emprego”. Por isso, ele
entende que a atividade de Inteligência.

[...] não é uma atividade habitual do Estado Democrático; ela é uma


atividade excepcional do referido Estado, reservada para atuação
no exterior, nas questões mais importantes das políticas exterior,
econômica e de defesa e, para atuação no interior do país, nos assuntos
estritamente voltados para identificar as ameaças suscetíveis de destruir
o Estado e o sistema democrático.

Como a Inteligência é considerada uma atividade que faz parte da estrutura


administrativa e política do Estado, pergunta- se, com frequência, por que é necessário
controlar a atividade de Inteligência.

A resposta a esta questão está no fato de que nenhuma atividade estatal pode fugir ao
controle público para assegurar que ela seja efetuada com legitimidade, por um lado, e
com economia, eficiência e eficácia, por outro. Portanto a legitimidade da atividade de
Inteligência está vinculada à observância das disposições das normas constitucionais,
legais e regulamentares vigentes no país que a desenvolve, ou seja, com subordinação
plena à Lei e ao Direito e com respeito aos direitos individuais dos seus habitantes. A
eficácia está na adequada relação entre os meios colocados à disposição dos órgãos que
a desempenham – os fundos públicos – e o produto final obtido: a Inteligência.

Cabe destacar que o Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos, conforme
a Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, a “preservação da soberania nacional, a
defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo
ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da
Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais”.

É possível a coexistência das ações de Inteligência com a inviolabilidade dos


direitos e garantias individuais, seguindo os preceitos éticos e morais?

42
CAPÍTULO 3
Ciclo de Inteligência

O exercício da Atividade de Inteligência constitui fator indispensável de assessoria à


tomada de decisão das instituições (públicas ou privadas), seja no nível que vamos chamar
de “tático”, onde esta atividade de inteligência atua para identificar oportunidades
e problemas que estão ocorrendo (no presente), ou que já ocorreram (no passado);
seja no nível “estratégico”, onde a atividade age no sentido de embasar as decisões
que podem maximizar oportunidades; e outras que visam evitar dificuldades para os
governos e as organizações em geral (no futuro). No setor governamental, por ter esta
importante participação no processo decisório, os órgãos de Inteligência oficiais não
podem se esquecer de que devem estar sempre voltados para a aplicação dos princípios
doutrinários de Inteligência em consonância com o Estado Democrático de Direito. Por
isso os órgãos de Inteligência devem ser submetidos a efetivos controles como forma
de garantir que as suas ações não se sobreponham aos interesses da sociedade e do
Estado. E assim acontece no Brasil. Entendidos os rigores da lei e da ética aos quais a
atividade de inteligência está submetida, fica fácil entender a razão da preocupação com
o produto final – o Conhecimento de Inteligência – no sentido de que sua preparação
seja realizada dentro de um rigor metodológico comprometido com a verdade.

A produção do Conhecimento de Inteligência, como já vimos, utiliza uma metodologia


adotada por algumas escolas do pensamento científico, devidamente adaptada para a
atividade de inteligência.

Neste trabalho, não há espaço para intuições, opiniões pessoais desprovidas de qualquer
fundamentação científica e ingerência política.

O uso desta metodologia tem a finalidade de buscar reduzir os erros (não intencionais)
que possam ocorrer durante a execução dos trabalhos.

Para que o Ciclo de Inteligência seja empregado de forma adequada e surta o efeito
desejado, é mister que todas as fases, passos e ciclos sejam desenvolvidos seguindo uma
lógica e técnica adequada, visando fornecer subsídios, informes e mecanismos para a
tomada de decisão e a base para a inteligência competitiva.

Por isso, para qualquer tomador de decisão, é importante gerenciar adequadamente


as questões subjetivas de gestão, relacionando o contexto decisório à perspectiva
estratégica da organização.

43
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Iniciamos um novo século com um vasto conhecimento sobre como usar a tecnologia
para integrar dados e tomar decisões rotineiras. Contudo, computadores ainda não
podem tomar decisões que envolvam valores e preferências quanto ao risco (talvez
nunca o façam). Nesse caso, exige-se o julgamento humano.

Em geral, cada problema tem várias alternativas de solução.

Contudo, existem algumas etapas que se pode seguir, implícita ou explicitamente,


para a aplicação de um processo “racional” de tomada de decisão. Sem a preocupação
de formalizar uma metodologia decisória, as etapas a seguir caracterizam a anatomia
simples de uma decisão:

»» Definir o problema: parte de um entendimento completo do problema


que está em aberto (a ser resolvido). Isso exige julgamento refinado para
não se caminhar na direção errada.

»» Identificar critérios a serem seguidos: a maioria das decisões é direcionada


de forma a que o tomador de decisões conquiste mais de um objetivo, em
paralelo ou em profundidade. Com isso, ele precisará identificar critérios
para distinguir o que é importante do que é acessório em um processo de
tomada de decisão.

»» Ponderar os critérios: neste caso os critérios terão importâncias diferentes


e precisam ser estar submetidos a valores relativos para condicionar
adequadamente uma decisão.

»» Gerar alternativas: consiste na identificação dos possíveis cursos de ação


para a solução do problema. Consiste também no delineamento de outros
caminhos surgidos com o resultado de uma tomada de decisão.

»» Classificar cada alternativa segundo cada critério: requer a capacidade


de avaliar as consequências potencias da escolha de cada uma das
alternativas segundo cada critério identificado.

»» Identificar a solução ótima: teoricamente, após complementar os cálculos


decorrentes das fases anteriores desse processo, esta etapa consiste em
escolher a solução cuja soma das classificações ponderadas seja a mais alta.

Como podemos observar, as melhores decisões decorrem, necessariamente, de uma


análise racional, que parte de uma base de boas informações sobre a questão em tela.
Existe, portanto, nos ambientes organizacionais mais competitivos, uma crescente
demanda por informações que viabilizem a gestão estratégica.

44
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Análise de Inteligência – a produção do


conhecimento
No que tange à produção do conhecimento, avaliaremos e informaremos apenas alguns
tópicos, pois o propósito é fornecer condições para que você tenha um entendimento
sobre o assunto de tal sorte que possa entender os conceitos e formular estratégias bem
como fazer redações de informes dos mais simples aos mais complexos.

O real conhecimento de Inteligência


Podemos afirmar que o produto da atividade de inteligência, é um “Conhecimento”.
O conhecimento humano é uma expressão usada para definir toda a experiência gerada
pelo ser humano adquirida até o presente momento em que vivemos. Podemos dizer,
também, que é a soma de todos os pensamentos, criações e invenções da mente humana.
Ou seja, tudo que nos cerca e que foi produto da mente criativa do ser humano podemos
chamar de Conhecimento Humano.

O Conhecimento de Inteligência é um produto da mente humana. Dessa maneira,


podemos dizer que o Conhecimento de Inteligência é científico, uma vez que também
utiliza uma metodologia muito semelhante à aplicada na produção do Conhecimento
Científico. Por fim, para que todos consigam produzir conhecimentos de qualidade,
é necessário que os sistemas de Inteligência do país atuem de forma responsável,
adotando os mesmos procedimentos, a mesma doutrina e a mesma metodologia.

Formas e situações de produção do conhecimento


O Conhecimento de Inteligência pode ser produzido pelas Agências de Inteligência ou até
mesmo pelos serviços de informações e escritórios de empresas privadas especializadas
nas seguintes situações:

»» No âmbito do poder Executivo

›› De acordo com um Plano de Inteligência.

›› O órgão de Inteligência obedece a especificações de um Plano de


Inteligência, tais como os assuntos a serem trabalhados, observando a
oportunidade em que os Conhecimentos devem ser produzidos.

›› Em atendimento à solicitação de uma agência congênere. O órgão de


Inteligência é acionado por uma agência congênere, de dentro ou de
fora de seu próprio sistema, para produzir um conhecimento sobre
determinado fato ou situação.

45
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

›› Em atendimento à determinação da autoridade competente.

›› O órgão de Inteligência é acionado por uma autoridade ou gestor


(governamental ou empresarial) para analisar determinado fato ou
situação.

›› Por iniciativa própria.

›› A Agência de Inteligência decide, com base nas Diretrizes de


Inteligência, que o usuário ou um órgão congênere deve conhecer
determinado fato ou situação.

»» Fora da esfera do Poder Executivo

›› Em atendimento à determinação da autoridade competente.

·· O Núcleo de Inteligência é acionado por uma autoridade ou gestor


(governamental ou empresarial) para analisar determinado fato ou
situação.

›› Por iniciativa própria.

·· O Núcleo de Inteligência decide, com base nas Diretrizes que possui,


que o usuário (governamental ou empresarial) deve conhecer
determinado fato ou situação.

Produção do conhecimento

O Ciclo de Produção de Conhecimento é um processo intelectual em que a capacidade


humana, auxiliada por metodologia própria, possibilita a elaboração de um
Conhecimento especializado e estruturado a partir de dados, devidamente avaliados
e analisados, para atender as demandas do processo decisório em qualquer dos seus
níveis.

a. Fonte de dados

Os dados que chegam a uma agência ou serviço de inteligência têm origens, que na
linguagem da atividade de inteligência, são conhecidas como “fontes”. As “fontes”
podem ser:

»» Pessoas: aquelas que detêm a autoria do dado, por terem percebido,


memorizado e descrito um fato, ou situação.

46
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Organizações: são aquelas que detêm a responsabilidade do dado, por tê-


lo veiculado, não nos sendo possível identificar o autor.

»» Documentos: são os que contêm os dados, mas não fornecem indicações


que permitam identificar o autor, ou a organização responsável. Nesta
categoria se incluem filmes, gravações de áudio, fotografias, panfletos
apócrifos etc. Este tipo de dado dever ser avaliado com muito critério.

»» Equipamentos: capazes de captar imagens e sinais.

b. A comunicação de dados

O analista deve estar muito atento para saber como o dado chegou a seu conhecimento,
ou seja, em que condições o emissor (a fonte – o elemento que apreendeu o dado
originalmente) o entregou ao receptor (o destinatário). O cuidado que se deve ter,
então, é procurar saber se entre a fonte e o destinatário não existiu outro elemento
intermediário, que também possui a capacidade de perceber, memorizar e transmitir
um dado e o fez, só que obtendo o dado do mesmo emissor que o passou ao destinatário.
Isto pode levar o profissional a conclusões infundadas. Esta pessoa é chamada de “Canal
de transmissão”.

Se o profissional de Inteligência não aplicar, corretamente, a técnica adequada, no


tocante à fonte, corre o risco de confirmar este dado que, em sua origem, teve a mesma
fonte.

c. O ponto de interesse

Antes de submeter um dado ao processo de avaliação, uma das preocupações do analista


deve ser com a definição do chamado “ponto de interesse”.

Definir o “ponto de interesse” significa determinar qual o ponto do conteúdo de um dado


recebido, que interessa efetivamente ao analista para o desempenho de seu trabalho.

A importância da definição prévia do ponto de interesse relativo a um dado decorre, de


como isto auxiliará na identificação da fonte a ser avaliada, bem como, determinará o
enfoque a ser adotado pelo analista, por ocasião de sua utilização para a elaboração de
um Conhecimento de Inteligência.

Relatório de Inteligência

O Relatório de Inteligência (RELINT) é o documento padronizado no qual o analista


transmite Conhecimentos de Inteligência para o usuário, ou para outras agências ou

47
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

serviços, dentro ou fora de seu sistema. O relatório serve para veicular todos os tipos
de conhecimentos – Informes, Informações, Apreciações e Estimativas – crescendo de
importância, pois, a formalização de sua redação de forma que o usuário possa perceber,
sem possibilidade de erro, o tipo de Conhecimento que nele está inserido.

Para isso, o emprego dos tempos verbais adequados é fundamental para esclarecer
qualquer dúvida que possa existir, por parte do usuário, sobre qual tipo de documento
está em suas mãos. É nossa opinião que este documento – o RELINT – idealizado dentro
do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), pela Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN) não cumpre sua finalidade como veículo transmissor dos Conhecimentos de
Inteligência quando direcionado a algum usuário pouco experiente, ou mesmo quando
este gestor nada conhece de Inteligência.

O grande objetivo de um documento de Inteligência, seja de que tipo de Conhecimento


for, é permitir que o usuário receba as informações por ele desejadas sem que paire
qualquer dúvida. Entretanto, como vimos, nem todos os usuários são pessoas que militam
na Atividade de Inteligência tendo, portanto, dificuldade em entender o emprego dos
tempos verbais – indicadores do tipo de conhecimento – a única sinalização mais clara
do relatório sobre qual Conhecimento contém.

A outra demonstração do tipo de Conhecimento é a existência, ou não, de conclusão ao


final do texto. Mas isso, para um leitor inexperiente pouco significa ajudando mais a
confundir do que esclarecer.

Anteriormente à criação do Relatório de Inteligência, dentro do SISBIN veiculavam


Documentos de Inteligência que levavam o nome do respectivo Conhecimento que
portava. Restando dúvidas para o usuário, sobre qual tipo de Conhecimento tinha nas
mãos, agora o Relatório preconizado não faz essa menção explícita em seu corpo, cabendo
ao usuário “descobrir” do que se trata, comprovando que este “relatório”, não foi um
documento pensado para ser utilizado para um usuário de fora do Sistema Brasileiro de
Inteligência (SISBIN), ou mesmo por um cliente não muito acostumado com atividades
de inteligência. Pela falta de clareza deste tipo de documento, alguns órgãos integrantes
do SISBIN não o adotaram, continuando a veicular os Conhecimentos de Inteligência
com o seu próprio nome no cabeçalho do documento (Informe no; Apreciação no etc.).

O ciclo da inteligência, normalmente é ilustrado como um processo repetitivo de cinco


passos básicos, conforme a seguir:

»» planejamento e direção, que abrangem o esforço inteiro de gerenciamento


do processo e envolvem, em particular, determinar as exigências da coleta
baseadas em pedidos dos clientes;

48
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» coleta refere-se ao recolhimento de dados in natura para encontrar o


objeto dos requerimentos dos clientes. Estes dados podem ser derivados
(obtidos) de fontes abertas ou secretas;

»» processamento refere-se ao tratamento dos dados in natura para


convertê-los a um formato que os analistas de informação possam usar;

»» análise e produção descrevem o processo de avaliação dos dados em sua


confiabilidade, validação e relevância, integrando-os e analisando-os, e
convertendo o produto deste esforço em um inteiro significativo, o qual
inclui avaliações de eventos e de informações coletadas;

»» disseminação é a etapa em que o produto da Análise e Produção é


distribuído para a audiência pretendida.

49
CAPÍTULO 4
Inteligência como produto, como
processo e como organização nos
tempos atuais

Inteligência Humana – Humint


HUMINT (Human Intelligence – Inteligência de Redes Humanas): é o termo usado,
principalmente em inglês, para descrever a inteligência, no sentido de informações,
como em serviço de inteligência (ou serviço de informações), obtida através de seres
humanos, como os espiões tradicionais ou simples informantes.

Historicamente, HUMINT é a maior fonte de informação dos serviços secretos e de


agências de inteligência, porém desde o advento das telecomunicações a SIGINT
(Signals Intelligence) foi assumindo um papel principal de fontes e acabou por tornar-
se mais importante que a HUMINT.

Tipos de fontes de informação

As fontes de HUMINT não são necessariamente apenas agentes envolvidos em ações


clandestinas ou secretas. As pessoas fornecendo as informações podem ser neutras,
amigas ou hostis (em relação a um país). Exemplos típicos de HUMINT incluem:

»» forças amigas (patrulhas, polícia militar);

»» prisioneiros de guerra;

»» refugiados;

»» civis;

»» informantes;

»» desertores;

»» organizações não governamentais (ONGs);

»» jornalistas.

50
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

A HUMINT trabalha com a fonte de informações mais antiga e barata; as próprias


pessoas que têm acesso aos temas sobre os quais é necessário se informar. A inteligência
(produto) obtida a partir de fontes humanas está longe de resumir-se aos arquétipos
da espionagem tão largamente difundidos pelas mídias. Tal categoria de Inteligência
consubstancia os esforços decorrentes da profissionalização e do desenvolvimento de
técnicas e habilidades específicas para obter sistematicamente informações das fontes
humanas.

Inteligência por Imagens – Imint

IMINT (Imagery Intelligence – Inteligência de Imagens): utiliza fontes de imagens,


cada vez mais empregadas pela função Inteligência. Como já é possível para os
países mais desenvolvidos, satélites e aeronaves podem obter imagens com resolução
aproximada de até 10 centímetros como as obtidas por meio de satélites e aeronaves
como o Lockheed SR-71 Tipo A, também conhecido por Blackbird, que é um avião de
reconhecimento estratégico (daí o “SR”: Strategic Reconnaissance) de curto alcance
desenvolvido pela lockhedd a partir dos projetos YF 12 e A-12. Por vários motivos, o
SR-71 foi desativado. Entre eles, fatores políticos, custo operacional e o advento dos
satélites. Apenas três são mantidos ativados pela NASA para estudos.

Das fontes de informações mais utilizadas na àrea de intelugência, a IMINT, é a mais


recente.

Embora evidências visuais tenham sido de suma importância para operações militares
desde antes da descoberta da fotografia, o surgimento da àrea de inteligência por
imagens com uma disciplina de coleta de informações é posterior ao uso da aviação
militar para vigilância e reconhecimento, durante e após as duas guerras mundiais do
século XX. Imagens fotográficas, imagens televisionadas e outros tipos de evidências
visuais também são obtidas por operadores de inteligência, patrulhas de vigilância e
reconhecimento e equipes de vigilância em terra e mar. Porém o desenvolvimento desse
meio de coleta especializado só foi possível a partir da associação do uso das câmaras
fotográficas e plataformas aeroespaciais e hoje com emprego dos satélites esse sistema
ficou mais preciso e rico em informações.

A principal limitação do sistema IMINT são os elevados custos de operação, pois


William Burrows (1999, p.17) observou que com um custo de alguns bilhões de dólares
para desenvolver e lançar satélites de coleta de imagens com resolução aproximada de
10 cm, torna-se um investimento que poucos países no cenário mundial atualmente
podem fazer.

51
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Inteligência de Fontes Abertas – Osint

OSINT (Open Sources Intelligence – Inteligência de Fontes Abertas): consiste na


obtenção legal de documentos oficiais sem restrições de segurança, da observação
direta e não clandestina dos aspectos políticos, militares, psicossociais e econômicos
da vida interna de outros países (ou organizações-alvo), do monitoramento das mídias
(internet, jornais, rádio e televisão), da aquisição legal de livros e revistas especializados
de caráter técnico científico, enfim, de um leque mais ou menos amplo de fontes
disponíveis cujo acesso é permitido sem restrições especiais de segurança.

Segundo Lowenthal (2003) os dados obtidos a partir de fontes abertas, apresentam


variedade de classificação, destacando-se aquelas relacionadas a:

»» Mídia: jornais, revistas, rádio, televisão e informações de base de dados


de informática.

»» Dados públicos: relatórios governamentais, dados oficiais como


orçamentos e sensos, audiências públicas, debates legislativos, conferência
de imprensa e discursos.

» » Informações profissionais e acadêmicas: conferências, simpósios,


produção de associações profissionais, periódicos acadêmicos e trabalhos de
especialistas.

Entretanto, a evolução dos meios eletrônicos de comunicação também propiciou o


surgimento de diversos formatos de interação via web, as chamadas “redes sociais”.
Estas redes são criadas e acessadas por pessoas de todos os países, permitindo a troca
de dados, imagens, arquivos e outros formatos de mídia, passiveis de monitoramento
via ferramentas de eletrônicas de identificação de textos e sinais.

A chegada da sociedade eletrônica de informação modificou drasticamente a delimitação


de tempo e espaço da informação. A importância do instrumental da tecnologia da
informação forneceu a infraestrutura para modificações, sem retorno, das relações
da informação com seus usuários. As transformações associadas à interatividade e
à interconectividade no relacionamento dos receptores com a informação, mostram
como tempo e espaço modificam as relações com o receptor (BARRETO, 2010):

»» interatividade ou interatuação multitemporal representa a possibilidade


de acesso em tempo real, o que representa o tempo de acesso no entorno de
zero, pelo usuário à diferentes fontes de informação; possibilita o acesso
em múltiplas formas de interação entre o usuário e a própria estrutura
da informação contida neste espaço. A interatividade modifica o fluxo:

52
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

usuário – tempo – informação. Reposiciona os acervos de informação, o


acesso à informação e a sua distribuição;

»» interconectividade reposiciona a relação usuário – espaço – informação;


opera uma mudança estrutural no fluxo de informação que se torna
multiorientado. O usuário passa a ser o seu próprio mediador na escolha de
informação, o determinador de suas necessidades. Passa a ser o julgador
da relevância da informação que procura e do estoque que o contêm em
tempo real, tempo igual a zero, como se estivesse colocado virtualmente
dentro do sistema de armazenamento e recuperação da informação.

Nesse sentido, a Era da Internet, da globalização e do trabalho centrado em rede, impõe


à atividade humana a tendência de se inserir mais em espaços do que em locais físicos,
onde a informação e o conhecimento se difundem e se dispersam num determinado
espaço, ainda que associado a pessoas, processos e tecnologias. Assim, as mudanças
tecnológicas que tiveram lugar nas últimas décadas deram um lugar de destaque
à utilização da informação no nosso dia a dia, visando alcançar diversos objetivos
organizacionais. A informação passou a ser um elemento fundamental vida das
organizações sendo fundamental refletir sobre a sua importância, quanto aos diversos
aspectos e setores que influencia.

Por isso, utilizando as informações obtidas em fontes abertas, com foco nos meios
eletrônicos, que propagam variados formatos de dados e informações utilizando a
internet, pode-se obter resultados que agreguem valor a outras fontes de informação já
utilizadas como subsídio à atividade de inteligência.

As redes sociais ancoradas na internet possuem um papel de destaque entre as


formas de comunicação existentes. Embora ocorram em múltiplas variedades, todas
possuem o dado, a imagem e a informação como legados. As pessoas que habitam as
redes sociais expressam pensamentos, comunicam fatos, discutem assuntos variados,
expõem opiniões, relatam experiências e atos praticados ou que pretendem praticar.
Todo esse conjunto de ações deixa registro, que depois de tratados, podem oferecer
material informativo relevante para a atividade de inteligência.

A grande vantagem das fontes abertas é o alto grau de oportunidade e o baixo


custo para obtê-las. A OSINT torna-se atraente principalmente em épocas de
contingenciamento orçamentário e para aquelas nações que adotam o princípio
da efetividade em seu arcabouço jurídico. Ampliam, portanto, as possibilidades da
Atividade de Inteligência.

53
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Inteligência por Sinais – SIGINT

SIGINT (Signal Intelligence – Inteligência de Sinais): utilizada historicamente para a


interceptação, decodificação, tradução e análise de mensagens por uma terceira parte
além do emissor e do destinatário pretendido. Esta é a segunda disciplina mais antiga
quando se fala em coleta de informações, sendo conhecida como inteligência de sinais.

Historicamente se originou da interceptação, decodificação, tradução e análise das


mensagens por uma terceira parte além do emissor. Com o uso cada vez mais intenso
de comunicações escritas para fins militares ou diplomáticos no mundo moderno,
desenvolveram-se as disciplinas de criptografia e da criptologia. Atualmente a disciplina
de inteligência por sinais de divide em dois campos complementares, chamados de
comint (communications intelligence) e elint (eletronics intelligence).

A comint é obtida através da interceptação, processamento e pré-análise


das comunicações de governos, organizações e indivíduos, excetuando-se o
monitoramento das transmissões públicas de rádio e TV, as quais caem, na área
da OSINT. Já a inteligência eletrônica (elint) é obtida através da interceptação,
processamento e pré-análise de sinais eletromagnéticos não comunicacionais,
emitidos por equipamentos militares e civis, com exceção das emissões decorrentes
de explosões nucleares. Os primeiros alvos das operações de elint, foram os
radares dos sistemas de defesa antiaérea na II Guerra Mundial. De acordo com o
entendimento de especialistas, a facilidade com que as comunicações e/ou sinais
eletrônicos podem ser interceptados e interpretados depende de três fatores: o
método de transmissão, as frequências empregadas e o uso ou não de medidas
defensivas de segurança, especialmente criptografia.

A forma mais segura de transmitir informações importantes e críticas, é não


transmiti-las.

(CEPIK, 2003)

Temos ainda outra categoria para a Inteligência Estratégica que não é muito difundida,
que é a MASINT (Measurement and Signature Intelligence – Inteligência de Medições
Espectrais), a qual consiste na coleta e processamento técnico de imagens espectrais e
sinais de telemetria. Representa área extremamente tecnológica e de investimentos em
expansão, exclusividade dos países mais desenvolvidos e que dominam as tecnologias
nucleares.

54
CAPÍTULO 5
Inteligência e suas interfaces com a
tecnologia

A função de um Sistema de Inteligência Competitiva é monitorar o ambiente externo em


seus aspectos econômico, político-legal, sociodemográfico e científico-tecnológico, bem
como a dimensão dos negócios, nos quais deverão ser considerados os competidores
e a sua correlação de forças, o poder de barganha dos clientes e dos fornecedores, e a
ameaça de novos entrantes e de produtos substitutos (PORTER, 1986).

Essa análise do ambiente externo deve levar em consideração aspectos internos das
organizações rivais, tais como:

»» a cultura organizacional;

»» o modelo mental dos tomadores de decisão;

»» as competências dos colaboradores;

»» as suas capacidades essenciais, estruturais e tecnológicas.

Um Sistema de Inteligência bem estruturado processa as contribuições oriundas dos


próprios tomadores de decisão, dos coletores, dos analistas e dos integrantes das redes
de colaboradores, o que exige muita coordenação de esforços e a gestão transdisciplinar
das informações reunidas com um propósito a priori definido.

O Sistema de Inteligência tem como elementos básicos as pessoas (participantes), os


dados e informações (conteúdos), softwares/hardwares e procedimentos (processos).

No dizer de Herring (apud, PRESCOTT; MILLER, 2002), esses sistemas devem focalizar
os Tópicos Fundamentais de Inteligência:

»» Descrição dos principais atores do ambiente e do setor.

»» Identificação de estratégicas e táticas que possam subsidiar as suas


decisões empresariais.

»» Alertas antecipados, concebidos a partir de tendências, percepções e


estimativas: ou seja, informações sobre as quais os tomadores de decisão
não podem ser surpreendidos:
55
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

›› Descobertas tecnológicas, situação, atuação e desempenho dos


concorrentes.

›› Possíveis perturbações que possam afetar o processo operacional


(energia, matéria-prima, insumos).

›› Possíveis mudanças político-legais; e mudanças no comportamento


do consumidor.

A postura proativa do Sistema de Inteligência busca antever movimentos dos


concorrentes e antecipar as possíveis mudanças no ambiente externo. Com isso, deve
ficar claro que a Inteligência Competitiva deve ser estruturada para auxiliar na definição
do melhor caminho para alcançar os objetivos desejados no planejamento original,
mediante o processamento de muitas possibilidades informacionais, tais como:

»» o levantamento do perfil institucional dos competidores;

»» o mapeamento sociopolítico das microrregiões econômicas;

»» a visão geopolítica de um setor industrial;

»» um conjunto de implicações estratégicas para a organização resultantes


da vitória deste ou daquele candidato.

No entanto, lembre-se que a prática da Inteligência Competitiva deverá estar sempre


condicionada às seguintes premissas, também conhecidas como Princípios de Emprego:

»» Ética: nortear todo o processo de obtenção de informações por atitudes


morais e legais.

»» Objetividade: planejar e executar toda a ação de Inteligência Competitiva


em estrita consonância com os objetivos a alcançar.

»» Oportunidade: desenvolver as ações e apresentar os resultados em prazos


apropriados à sua utilização.

»» Segurança: adotar medidas de salvaguarda, visando à proteção física,


lógica e das pessoas para evitar vazamentos de informações sensíveis.

»» Simplicidade: executar as ações de modo a evitar custos e riscos


desnecessários.

»» Amplitude: abranger a totalidade do escopo da questão na análise e na


apresentação dos resultados.

56
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Imparcialidade: evitar que os estudos sejam contaminados por vieses


impróprios, de qualquer natureza.

»» Pró-atividade: ter iniciativa e se antecipar às questões, fatos e situações.

No bojo dessa grande evolução tecnológica que se vivencia na dimensão econômica


é fundamental que as organizações disponham de técnicas e ferramentas de
processamento de conteúdos (informações).

Tais ferramentas e técnicas foram criadas para auxiliar não só o trabalho de coletores de
dados e informações, mas também para ajudar nas rotinas dos analistas de Inteligência
e dos tomadores de decisão, favorecendo uma visão integrada do que está ocorrendo,
economizando tempo e compensando a eventual falta de um conhecimento mais
profundo sobre determinadas áreas de atuação.

A utilização de sistemas digitais facilita o trabalho de Inteligência Competitiva na


obtenção de dados muitas vezes escondidos em “montanhas de conteúdos”, pois
é essencial que os coletores e analistas tenham mais tempo e atenção para com os
conteúdos verdadeiramente relevantes.

Tal processo se faz necessário, pois já é grande e continua crescente o volume de


informações a serem processadas pelas organizações consumidoras de conhecimento,
as quais necessitam interpretar e transformar dados e informações gerais em insumos
voltados à eficácia dos negócios.

Para ter credibilidade e ganhar a confiança dos usuários, “um trabalho de Inteligência
Competitiva deve ser emoldurado por uma ferramenta analítica”, pois a combinação de
números concretos com entrevistas e indicadores oferece uma compreensão mais rica
de uma questão de Inteligência (PRESCOTT; MILLER, 2002).

Um benefício importante da aplicação de ferramentas e quadros de referência


analíticos é que eles são considerados objetivos e isso encanta os executivos. Na
maioria dos casos, as referências e os exemplos da aplicação de ferramentas analíticas
a outras situações podem ser apresentados com sucesso àqueles usuários mais céticos.
A credibilidade aumenta quando é possível documentar como uma ferramenta foi
utilizada satisfatoriamente pelos outros competidores e porque razão ela foi considerada
relevante para a questão em pauta.

Abordando o processo de transformação dado – informação – conhecimento, para se


chegar ao produto final, um longo e árduo caminho deve ser percorrido.

57
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Os dados são elementos que mantêm a sua forma bruta (texto, imagens, sons, vídeos
etc.), ou seja, eles sozinhos não ajudam a compreender determinada situação, enquanto
a informação é o dado cuja forma e conteúdo foram adequados para um uso específico.

Assim, passo a passo, a utilização de ferramentas digitais (de análise de informações


estratégicas) é empregada para auxiliar na transformação de dados em informação, e
depois em conhecimento.

O emprego das técnicas e dessas ferramentas digitais converge para a monitoração de


informações existentes no ambiente, mas que não são normalmente visíveis a olho nu.
A utilização de tais ferramentas torna mais consistente a estruturação dos sistemas de
informação para a tomada de decisão.

Esses artifícios tecnológicos (e metodológicos) estão amplamente definidos nas fontes


bibliográficas e permitem a obtenção, o gerenciamento e o compartilhamento interno
do conhecimento (dentro da organização).

Como quaisquer ferramentas e técnicas específicas, elas foram desenhadas para facilitar
o trabalho e permitir a aplicação eficiente das tarefas em uma dinâmica de Inteligência
Competitiva.

Dentre as mais utilizadas no atual ambiente de negócios, estão: o Workflow; o Decision


Support System; o Data Mining; o Text Mining; o Data Warehousing; o Customer
Relationship Management; o Benchmarking; as Forças de Porter; os Fatores Críticos
de Sucesso; o Método SWOT; e o Balanced Scorecard, os quais serão detalhados a
seguir:

»» Workflow: é o processo por meio do qual tarefas individuais convergem


para favorecer as operações negociais dentro de uma organização.
Consiste na automação de procedimentos e do fluxo de serviços, onde
documentos, informações e tarefas são repassados digitalmente de uma
pessoa para outra, cumprindo regras e procedimentos controladores.

»» Decision Support System (DSS): é um sistema desenvolvido para auxiliar


gerentes de nível tático no acesso rápido e seguro das informações
essenciais à realização dos negócios, agilizando o processo de gestão em
instâncias intermediárias da organização.

»» Data Mining: é um processo de descobrir, de forma automática ou


semiautomática, o conhecimento que está “escondido” nas grandes
quantidades de dados armazenados em bancos de dados.

58
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» O Data Mining: encerra várias tarefas, sendo que cada uma pode ser
considerada como um tipo de pesquisa, no qual se busca por determinados
conhecimentos. Essa ferramenta vai muito além de uma simples consulta
a um banco de dados, no sentido de que permite aos seus usuários
explorar e inferir sobre informações úteis a partir dos dados, descobrindo
relacionamentos escondidos.

»» Data Warehousing: é o processo que consiste na coleta, organização e


armazenamento de informações oriundas de bases de dados diferenciadas,
disponibilizando-as adequadamente para outros processos de análise.
Possui um banco de dados (não volátil, porém, atualizável com o tempo)
orientado por assuntos integrados, que utiliza ferramentas destinadas
a automatizar a extração, filtragem e carga de dados. Sua crescente
utilização pelas empresas está relacionada à necessidade do domínio
sobre as informações estratégicas para garantir respostas e ações rápidas,
identificando comportamentos e assegurando a competitividade em um
mercado altamente disputado e mutável.

»» Text Mining: é o processo de extrair automaticamente conhecimentos


de grandes volumes de conteúdo, valendo-se inicialmente de pequenas
quantidades de texto conhecidas. O Text Mining é utilizado para sumarizar
textos muito abrangentes (documentos extensos, artigos em bancos de
dados, obras literárias), permitindo aos seus usuários explorar e inferir
sobre grandes conjuntos de conteúdos, descobrindo relacionamentos
escondidos no universo textual.

»» Customer Relationship Management (CRM): é um produto de software


específico por meio do qual a empresa pode conhecer o perfil de seus
clientes, e a partir daí fazer um trabalho dirigido para a atração, retenção
e fidelização.

›› Divide-se em duas frentes: a operacional e a analítica. O CRM


operacional é feito por intermédio do contato direto da empresa com
o cliente (Call Center, mala direta, Internet etc.). O CRM analítico é
desenvolvido sobre os dados contidos nas bases gerenciais da empresa
(Data Warehouse).

»» Benchmarking: é um processo de gestão de melhoria contínua, que


mede produtos, serviços e práticas tomando como referência os líderes
do segmento de negócio da organização em análise. O emprego do
Benchmarking visa à conquista de um desempenho superior, baseado

59
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

no conhecimento ético do que os “melhores do ramo” fazem, e como o


fazem, adaptando esses conhecimentos à realidade da organização.

»» Forças de Porter: podem ser entendidas como uma técnica que auxilia
a definição do status competitivo da empresa nos ambientes externos e
internos. O desenho das forças apresenta as cinco influências externas
que atuam na empresa, quais sejam: 1) o poder de negociação dos
fornecedores; 2) a ameaça de novos entrantes; 3) o poder de negociação
dos compradores; 4) a ameaça de serviços ou produtos substitutos; e, 5)
a rivalidade entre empresas existentes. O seu estudo permite a percepção
de fatores essenciais para a elaboração do planejamento estratégico
das empresas, considerando o seu contexto de atuação, o processo de
competição, o posicionamento dos concorrentes, as estratégias setoriais
e a movimentação de mercado.

»» Fatores críticos de sucesso: são as características, condições ou


variáveis que, bem gerenciadas, ocasionam um impacto positivo sobre
a “performance” de uma empresa, considerando seu ambiente de
competição. Podem ser vistos como indicadores para o sucesso, pois, se
a empresa os identifica e os incorpora em seu planejamento estratégico,
garante boas chances de conquistar, ao longo do tempo, as vantagens
competitivas de que necessita.

»» Método SWOT: a técnica SWOT insere-se no campo de análise de


ambientes (interno e externo). É comumente empregada em processos
de planejamento estratégico, para avaliação do posicionamento da
organização e de sua capacidade de competição. Tem como resultado a
identificação de pontos fortes (strengths) e pontos fracos (weakness) –
fatores internos; e de oportunidades (opportunities) e ameaças (threats)
– fatores externos. As conclusões que decorrem de uma análise SWOT
contribuem bastante para a formulação de estratégias competitivas nas
organizações.

»» Balanced Scorecard (BSC): consiste em um sistema de gerenciamento


estratégico, complementar ao controle financeiro tradicional, que
monitora as estratégias da organização de longo prazo por meio de
mecanismos de mensuração, transformando a visão e a estratégia em
conjunto de objetivos, agregados em perspectivas, o que permite visualizar
passo a passo a estratégia em andamento. O BSC permite compatibilizar
os planejamentos estratégico e financeiro.

60
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

Embora o emprego de ferramentas tecnológicas e de técnicas de gestão seja sempre


conveniente para agilizar e dar credibilidade a um trabalho de Inteligência Competitiva,
elas não fazem a parte mais importante do serviço. O que oferece real sustentação às
decisões estratégicas é a transformação das informações em inteligências, processo que
exige o trabalho mental dos analistas que trabalham nessa atividade.

As metodologias tradicionais de análise empresarial (previsões financeiras, análise


orçamentária, estudo de custo-benefício etc.) representam medições necessárias
para avaliar o desempenho das empresas, mas não são adequadas para orientá-las
estrategicamente, sobretudo em um mundo onde tudo muda rapidamente, o tempo todo.
Estas metodologias também pouco permitem capitalizar oportunidades imprevistas ou
evitar ameaças súbitas e passar à frente de concorrentes agressivos, bem

como não conseguem captar fatores externos que influem no desempenho empresarial.

A nova dinâmica de análise impulsionada pela função Inteligência potencializa a coleta


prévia e a interpretação de dados não numéricos que medem, entre outros indicadores,
o desempenho de vendas, as fatias de mercado e a motivação dos empregados.

Transcendendo o emprego puro e simples das ferramentas tecnológicas e dos artifícios


da gestão nas dinâmicas de processamento dos conteúdos reunidos, os trabalhos de
análise devem incidir com mais rigor sobre as informações de fontes humanas que
digam respeito ao comportamento de concorrentes

e reguladores de mercado (agentes governamentais). Pode-se dizer que o foco dessa


demanda deverá estar ajustado na capacidade de vislumbrar, em verdadeira grandeza,
a “performance” das tecnologias emergentes, à vontade dos consumidores e outros
fatores de influência externos, de forma que isso tudo permita uma análise mais
profunda, planejada e controlada por parte de profissionais especializados.

O uso da Intranet nas atividades de Inteligência

Os Sistemas de Inteligência Empresarial estão cada vez mais sendo estruturados sobre
redes digitais, Intranet, que otimizam entradas e saídas de insumos informacionais
(inputs e outputs), permitindo uma significativa economia de tempo nas atividades
menos especializadas, além de disponibilizar conteúdos de interesse em um mesmo
ambiente virtual.

A interatividade funcional entre coletores, colaboradores externos e analistas é facilitada


mediante o emprego de uma Intranet de Inteligência. Concebida para permitir acesso
digital aos participantes credenciados no sistema, a qualquer hora e de onde quer que

61
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

estejam, ela agiliza e organiza o intercâmbio seguro de informações, bem como facilita
o seu processamento oportuno.

Figura 1.

Fonte: do autor.

A Intranet também é uma ferramenta de gestão do conhecimento dentro da organização.


Além de possibilitar através do tráfego e compartilhamento de informações uma visão
aprofundada dos concorrentes e da dinâmica do mercado, ela viabiliza a disseminação
controlada de informações estratégicas para os que precisam delas para decidir ou para
realizar outros tipos de trabalho corporativo.

Como a maior parte das informações que transitam por essa Intranet é de uso funcional,
restrito ao ambiente corporativo, e que demanda proteção contra acessos indevidos, à
interatividade de seus usuários deve respeitar listas de participantes e o uso de senhas,
as quais são controladas pelos analistas de Inteligência.

As comunicações via Intranet possibilitam às equipes de Inteligência dispor de mais


tempo para resolver outros problemas funcionais e a dedicar-se a atividades produtoras.
Contudo, não eliminam a necessidade de haver contatos interpessoais presenciais
dentro do sistema.

Segurança nos processos de comunicação e


sistemas tecnológicos

De nada adianta adotar mecanismos de proteção às informações sensíveis se, por falta
de controles, houver a sua divulgação fora do sistema (em ambientes externos).

Tentando evitar a fuga inadvertida de informações sensíveis, a organização deve ter


regras claras para que diretores, gerentes e os seus colaboradores que lidam com

62
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

estas informações possam interagir interna e externamente mantendo reservas sobre


conteúdos profissionais.

Sigilo e privacidade são duas palavras chave quando se trata da proteção de informações
estratégicas.

Não obstante, deve ser estabelecido que o campo de abrangência do sigilo funcional
envolve tanto a organização em si (seus negócios, políticas e estratégias, cuja publicidade
seja indesejada), quanto às pessoas e as outras organizações com as quais ela esteja
comprometida funcionalmente, por força de acordos e contratos comerciais.

Por outro lado, deve-se ter em conta que a privacidade do cidadão é, sem dúvida, um de
seus valores mais caros, de modo que nenhuma organização deve descuidar de qualquer
informação pessoal que lhe seja confiada. É preciso ter cuidado para não ferir o direito
de terceiros, ou violar-lhes a privacidade.

Além dos prejuízos impostos pela reparação moral, haverá o impacto negativo sobre a
imagem institucional da organização.

Uma das consequências mais imediatas da divulgação não autorizada de informações


é a perda de oportunidades estratégicas, ou a simples frustração de negócios, devido à
sua publicidade prematura.

Mas, onde estão realmente as informações sensíveis em uma organização empresarial?

Elas estão nos papéis e relatórios; nas pastas dos executivos; nos arquivos, gavetas e
armários; sobre as mesas dos colaboradores; em notebooks, nas redes de micros e nos
mainframes (sistemas computacionais); nos disquetes, CDs, DVDs, pen-drives, HDs,
fitas e microfilmes; nas conversações por telefone, nas reuniões; na cabeça das pessoas;
e até no lixo.

Hoje em dia toda organização tem a sua política para fumantes, para a segurança do
trabalho, assédio sexual, uso de drogas etc., mas raras são as que têm formalizadas
quaisquer normas voltadas para a diminuição dos riscos de espionagem e para a
prevenção da atuação da Inteligência dos rivais. Tampouco costuma existir alocação de
recursos orçamentários adequados para essas atividades.

Os procedimentos de Contrainteligência Empresarial não podem ser subestimados,


pois reforçam uma atitude de viés positivo dos colaboradores em relação à proteção e
uso funcional da informação.

63
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Políticas eficazes de Contrainteligência Empresarial preconizam a classificação das


informações para definir quais delas devem ser protegidas, bem como condicionam o
seu fluxo dentro da organização.

Para proteger as informações que transitam pela organização ou que lá estão guardadas é
preciso considerar os diversos tipos de mídias armazenadoras. A proteção deve alcançar
os documentos (informação no suporte papel), as telecomunicações (informação em
suporte de voz ou imagens), e as informações digitais (informações processadas por
computadores em rede ou não).

Antes, porém, é necessário elaborar e manter atualizado um inventário de informações


sensíveis.

A seguir, deve ser criado um sistema de confidencialidade para os documentos (ou


arquivos digitais), que implica em:

»» estabelecer um credenciamento de segurança para habilitar oficialmente


os colaboradores certos para terem acesso aos assuntos sigilosos;

»» classificar a informação, definindo o grau de sigilo a ser-lhe atribuído,


com base no valor que representa para os negócios da organização e o
interesse que podem despertar nos rivais. Esse procedimento visa a
estabelecer controles de acesso às informações, independente dos meios
utilizados para o seu armazenamento e transmissão (papel, meios digitais,
microfilme etc);

»» fazer um gerenciamento centralizado do fluxo de informações classificadas


(com responsabilidade atribuída a um gestor de informação);

»» realizar treinamentos e manter atenção contínua sobre a circulação dos


referidos insumos informacionais classificados.

As organizações podem empregar sistemáticas sofisticadas para controlar o acesso às


suas informações sensíveis. Contudo, uma das classificações mais usuais considera os
seguintes status para as informações:

»» Públicas: aquelas que podem ser liberadas para o público.

»» Internas: as de uso funcional.

»» Particulares: informações de natureza pessoal, destinadas aos usos


restritos na organização.

64
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Confidenciais: a serem compartilhadas somente com empregados


credenciados e que têm “necessidade de conhecer”.

A exemplo do que já vem acontecendo em países mais desenvolvidos, particularmente


no que diz respeito às organizações que desenvolvem propriedade intelectual, recomenda-se
que os colaboradores que trabalham em funções sensíveis (que lidam com insumos
informacionais cobiçados pelos rivais), por ocasião do processo de admissão funcional,
venham a firmar um compromisso de manutenção de sigilo, também conhecido por
non-disclosure and noncompetitive agreements (NDA & NCA).

Sendo ainda nos dias atuais os documentos em papel um suporte bastante comum para
a informação sensível, eles continuam alvos privilegiados das ações de espionagem
(furto, acesso por foto, leitura e memorização) e sabotagem (destruição, adulteração,
interrupção do fluxo).

Desta forma, é necessário compreender o ciclo de vida das documentações em uma


organização, que passa pelas fases de criação, difusão, reprodução, transporte,
armazenamento, e destruição. Cada uma destas fases exige procedimentos voltados
para restringir o acesso de pessoas estranhas aos referidos conteúdos.

No entanto, existem outros cuidados não menos importantes em qualquer programa


de proteção de informações sensíveis, como o recolhimento do lixo de segurança
(mediante a utilização de lixeiras exclusivas para informação sensível), a criação de
uma política de “mesa limpa” (informação sensível não deve ficar exposta no ambiente
de trabalho), com auditorias periódicas para verificar o cumprimento das normas
individuais e coletivas de proteção e a adoção de rotinas básicas de segurança ao final
de cada jornada de trabalho (que consistem em desligar equipamentos, fechar cortinas,
trancar portas, janelas e gavetas, recolher todos os documentos aos arquivos etc.).

Quanto às vulnerabilidades das informações digitais, deve estar claro que não há
mais privacidade nas comunicações, tampouco é possível separar comunicações de
computadores. Por isso, as maiores possibilidades de acesso indevido às informações
em uma organização costumam se concentrar no ambiente informatizado. Basicamente,
os sistemas digitais são vulneráveis a dois tipos de crimes: fraudes eletrônicas e quebras
de sistemas (invasões de computadores para acessar o conteúdo da memória e retirar,
adulterar ou destruir informação). Embora os computadores sejam invariavelmente
apontados como inseguros para processar um fluxo informacional crítico e para
proteger informações sensíveis, existem duas formas básicas e eficazes de salvaguardar
as comunicações (informações) digitais, quais sejam: gerenciar eficazmente o
emprego dos meios de transmissão e proteger o conteúdo das mensagens transmitidas
(normalmente com a utilização de sistemas criptológicos).

65
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Para dificultar o entendimento das mensagens, quando interceptadas (e hoje em


dia tudo é facilmente interceptável), torna-se necessário usar os referidos sistemas
criptológicos:

»» Criptofônia (equipamentos destinados a tornar a voz ininteligível fora do


sistema).

»» Criptografia (meios que cifram textos e os deixam incompreensíveis fora


do sistema).

Em passado recente, alguns especialistas achavam que era possível construir sistemas
de informação digital imunes aos problemas de segurança. Hoje, porém, sabendo
mais sobre as muitas fragilidades destes sistemas, podemos admitir que jamais haja a
segurança absoluta. Assim, o procedimento mais inteligente e adequado para os casos
de “invasão” e perda de privacidade é o gerenciamento eficaz dos riscos de segurança,
baseado nas seguintes ações:

»» não investir em produtos de segurança para os sistemas de informação


sem antes saber onde estão realmente os seus pontos vulneráveis;

»» conhecer e acompanhar os riscos de segurança;

»» estudar e compreender a origem das ameaças;

»» levantar as vulnerabilidades do sistema (possibilidade de acesso não


autorizado);

»» conhecer o valor dos dados ou dos serviços que o sistema fornece (empresa
que agrega valor a produtos e serviços com seu sistema de informação
não pode “dormir no ponto” e deixar de aumentar o grau de segurança de
seus software e hardware).

A proteção do meio informatizado deve preconizar a sistematização de medidas que


disciplinam a operação das redes de computadores. Esta segurança pode ser desdobrada
da seguinte forma:

»» Segurança nos terminais de usuário: principalmente motivado pelo mau uso


de senhas e a instalação de programas desconhecidos, serve-se do emprego
de sistemas biométricos e smart cards para identificação de usuários.

»» Segurança na rede interna: parte da adoção de políticas de segurança,


com treinamento e monitoramento de operadores e o uso de criptografia
(para ter privacidade, integridade e autenticidade).

66
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Segurança no servidor: uso de caracteres identificadores baseados em


inteligência artificial e firewalls ativos com regras para reconfiguração
automática das redes.

»» Segurança no meio de transporte externo: emprego de VPNs (virtual


private network) e certificados digitais.

Segurança no uso do correio eletrônico

O correio eletrônico é utilizado para as comunicações do negócio, substituindo


formulários tradicionais de comunicação, como telex e cartas. O correio eletrônico difere
das formas tradicionais de comunicação de negócio pela sua velocidade, estrutura da
mensagem, grau de informação e vulnerabilidade a ações não autorizadas.

As organizações devem definir uma política clara para a utilização do correio eletrônico,
incluindo:

»» ataques a correios eletrônicos (vírus, interceptação indevida);

»» proteção dos anexos da mensagem;

»» orientações de quando não se deve utilizar correios eletrônicos;

»» responsabilidade dos empregados no não comprometimento da


companhia (envio de mensagens difamatórias, uso de correio eletrônico
para atormentar pessoas ou fazer compras não autorizadas);

»» uso de técnicas de criptografia para proteger a confidencialidade e


integridade das mensagens eletrônicas;

»» o armazenamento de mensagens que podem ser descobertas em caso de


litígio;

»» controles adicionais para verificação de mensagens que não podem ser


autenticadas.

Controle e permissões de acesso

Os requisitos do negócio para controle de acesso devem ser definidos e documentados.


As regras de controle de acesso e direitos de cada usuário ou grupo de usuários devem
ser claramente estabelecidas em concordância com a política de acesso.

67
UNIDADE ÚNICA │ OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Aos usuários e aos provedores de serviço é fornecido um documento contendo os


requisitos do negócio a serem satisfeitos pelos controles de acesso.

Pode-se ainda fazer uso e desenvolver outras ferramentas de controle e de gestão tais
como:

»» gerenciamento de acesso de usuários;

»» gerenciamento dos níveis de permissão de acordo com o perfil;

»» gerenciamento de privilégios;

»» gerenciamento das senhas de usuários e sistemática de atualização;

»» responsabilidade dos usuários;

»» controle de acesso às redes internas e externas;

»» autenticação do usuário para conexão externa;

»» controle de acesso ao sistema operacional;

»» procedimentos de segurança para conexão (procedimentos de logon);

»» isolamento de sistemas sensíveis;

»» procedimentos e controle de áreas de riscos e/ou críticas;

»» gerenciamentos do uso dos meios magnéticos removíveis;

»» gerenciamento de segurança da rede.

68
Para (não) Finalizar

Como podemos ver no decorrer dos nossos estudos, a informação privilegiada e


muitas vezes negada, é um produto que gera uma expectativa de poder, sobretudo
quando é possível saber antes dos rivais. A habilidade de controlar os fluxos e os
acervos informacionais é decisiva para a maximização do poder, e as formas de
obtê-las também o é.

Quando as informações estratégicas militares, econômicas e policiais são importantes


para a segurança nacional, torna-se necessário que elas estejam acondicionadas pelo
sigilo governamental, sustentado por arcabouço jurídico-constitucional. Considerando
que a Função Inteligência pode conferir muito “poder” a quem a inspira, é necessário
que haja muito cuidado e transparência na sua operacionalização, pois, “se for verdade
que o poder corrompe e que o poder absoluto corrompe absolutamente, então o
poder secreto corrompe secretamente, e deve por isso ser cuidadosamente limitado e
supervisionado” (CEPIK, 2003).

Juntos, segredo e tecnologia tendem a construir um grande desafio para o controle


público, o chamado “poder invisível”. Por isso, o tema do controle externo das atividades
desenvolvidas pelos que trabalham com ele na Inteligência é inescapável e central em
qualquer democracia moderna.

Considerando finalmente a vertente empresarial da Inteligência como uma das


dimensões do inescapável confronto entre as organizações, vimos o surgimento e o
desenvolvimento da Inteligência Competitiva como uma resposta ao acirramento
generalizado da concorrência no mundo dos negócios, transformando-se rapidamente
em uma das ferramentas mais eficazes na disputa de poder na nova economia.

Qualquer profissional que deseje trabalhar com Inteligência ou Contrainteligência


deverá antes entender bem todos os conceitos tratados nesse material, buscar o
aprimoramento constante e saber fazer bom uso dessa atividade tão em alta nos dias
atuais.

A soberania do Estado bem com a sobrevivência no mundo dos negócios segundo os


novos paradigmas demanda cada vez mais lideranças competentes e aptas a conciliar
interesses muito diversos. Para os tomadores de decisão é cada vez mais importante
saber lidar com questões subjetivas, relacionando o contexto decisório à perspectiva

69
PARA (NÃO) FINALIZAR

estratégica da organização. A prática das Funções de Inteligência e Contrainteligência


nas Unidades de Segurança e organizações empresariais é uma resposta à globalização
dos mercados e ao acirramento da concorrência com abrangência global. Ela caracteriza
a busca por fontes de informações científicas, tecnológicas, econômicas, políticas e
mercadológicas que apoiem a tomada de decisão visando ao melhor desempenho e
posicionamento da organização no contexto em que atua.

O profissional dessa área perante situações de crise e conturbadas, deverá ter sua
atenção redobrada e disciplinada para reconhecer e antecipar possíveis ameaças.

Não obstante tudo isso, o ponto fundamental para garantir a eficácia de qualquer
programa de Contrainteligência ou sucesso na obtenção de informações pelos
provedores de inteligência está na capacitação de seus membros, disposição e interesse
dos colaboradores de todas as áreas da organização em contribuir nesse processo. Esta
disposição só será possível se existir um programa de treinamento e de conscientização
da importância dessa função que seja a um só tempo realista, atualizado e informativo.

Lembre-se:

Proteção não é um produto; é um processo, interminável, geralmente condicionado a


fatores não lineares, onde as vulnerabilidades (causas da insegurança) consideradas
pouco importantes, ou detalhes irrelevantes no processo, podem desdobrar efeitos
negativos desproporcionais. Ou seja: uma pequena inconsistência na proteção pode
redundar em uma grande perda.

Procurando, por fim, enquadrar a Atividade de Inteligência sob o prisma de uma


organização, torna-se adequado lembrar que ela se insere naturalmente na burocracia
do Estado. Organismos ou serviços de Inteligência são estruturas que desenvolveram
nas últimas décadas a capacidade de implementar e operacionalizar subfunções vitais e
subfunções complementares, observe:

Subfunções vitais

»» investigação (coleta e busca de insumos informacionais);

»» análise (processamento intelectual do produto da coleta);

»» proteção (implementação de medidas de segurança para proteção das


informações sensíveis);

70
PARA (NÃO) FINALIZAR

»» neutralização (implementação de um conjunto de medidas voltadas


objetivamente para anular os efeitos das Operações de Inteligência dos
rivais);

»» controle (definição clara de objetivos e a utilização de práticas legais).

Subfunções complementares

memória (estruturação informática que permite agilidade e segurança na utilização de


banco de dados);

»» sistêmica das informações (implementação de arquiteturas que favorecem


o emprego sinérgico de Telecomunicações e Informática – Telemática);

»» treinamento e desenvolvimento humano (implementação continuada de


educação em Inteligência, favorecendo uma especialização permanente
dos quadros);

»» apoio logístico (arcabouço administrativo que permite um suporte


funcional eficaz).

Complementando o acervo das subfunções da Inteligência de Estado está o que se


convencionou chamar de Operações de Inteligência, que consiste no emprego de técnicas
especiais a obtenção de dados e informações protegidas ou negadas pelos oponentes.
Como tem sido visto ao longo da história, a Inteligência do Modelo Clássico atua sob
bases morais próprias e as Operações de Inteligência a caracterizam e a distinguem dos
demais instrumentos de apoio ao processo decisório.

Na consecução de seus objetivos (caracterizadamente a descoberta da verdade sobre


os fatos e situações), a Inteligência emprega uma série de artifícios especializados
preconizados pelas Operações de Inteligência. Contudo, muitas vezes isso consiste
na aplicação de processos controvertidos (alguns até ilegais) para alcançar objetivos
finais tidos como éticos. Por isso, não há países que não tenham tido problemas com os
próprios organismos de Inteligência. Porque podem ser levadas a trabalhar no limbo
da legalidade, as organizações de Inteligência de Estado necessariamente demandam
recursos humanos selecionados, inspirados por valores morais elevados: uma correta
noção de cumprimento do dever; lealdade à organização; e um bom discernimento do
certo e do errado no exercício funcional.

É importante lembrar que os serviços de Inteligência não são meros instrumentos


passivos dos governantes, agentes perfeitos de sua vontade ou mesmo materializações
de um tipo ideal de burocracia racional-legal. Sabidamente eles encarnam organizações
71
PARA (NÃO) FINALIZAR

que têm seus próprios interesses e opiniões acerca de sua missão, da conjuntura, das
realidades circunstanciais, como convém nos ambientes democráticos modernos.

Deixaremos aqui algumas opções para você aprofundar seus conhecimentos, acesse
os sites sugeridos por nós, consulte mais e veja como os problemas e ameaças são
serias e exigem muita preparação, capacitação, dedicação e esforço para o sucesso do
desenvolvimento das medidas de Contrainteligência, visando proteger a organização
de ações de inteligência ou que afetem a segurança, ou ao menos mitigar seus possíveis
impactos e consequências.

Por isso é fundamental que vocês aprofundem seus conhecimentos e busquem novos
desafios, não devendo ficar restrito aos temas e assuntos tratados desse caderno de
Estudos, sendo este sim um Norte e fonte de inspiração para a busca do saber.

Sugestão de filmes sobre espionagem e contra espionagem:

»» Jogo de Espiões (2001): é um filme de ação e suspense que narra a


história da amizade entre um mentor e seu protegido. Tudo acontece
no dia em que o agente da CIA Nathan Muir (Robert Redford) vai se
aposentar. É quando ele fica sabendo que seu antigo pupilo, Tom
Bishop (Brad Pitt), está preso num cárcere chinês sob acusação de
espionagem – e será morto no dia seguinte. A nova direção da CIA
diz que nada pode fazer. Correndo contra o relógio, ele conta aos seus
superiores como treinou Bishop, lembra dos trabalhos que fizeram
juntos e da mulher que os separou.

»» O novato (2003): James Clayton (Colin Farrell) é um dos aspirantes a


agente da CIA mais promissores do momento, se destacando tanto
pelo seu comportamento quanto por sua inteligência. Logo ele passa
a receber o auxílio de Walter Burke (Al Pacino), um veterano instrutor
que passa a acompanhar seu treinamento e lhe dá várias sugestões
para ascender rapidamente em seu novo cargo. Porém logo Clayton
começa a desconfiar que seus novos colegas da CIA podem ser na
verdade agentes duplos, incluindo Burke.

»» Salt (2010): Evelyn Salt (Angelina Jolie) jurou servir e honrar seu
país. Agora trabalhando como agente da CIA, ela é colocada à
prova ao ser acusada por um desertor russo de ser uma espiã russa
infiltrada. Decidida a provar sua inocência, ela foge e passa a usar suas
habilidades para proteger não apenas sua vida, mas também a de
seu marido. Aqui veremos a maior agência de inteligência do mundo

72
PARA (NÃO) FINALIZAR

(CIA) caçando uma agente super treinada, veremos também a atuação


do serviço de contrainteligência da Agência que tenta a todo custo
capturar a Agente.

»» Operação sombra (2014): Jack Ryan (Chris Pine) estudava em Londres


quando o World Trade Center desabou devido a um ataque terrorista
ocorrido em 11 de setembro de 2001. Servindo o exército americano,
ele participa da Guerra do Afeganistão e lá sofre um sério acidente
na coluna. Durante a recuperação no hospital ele conhece a doutora
Cathy (Keira Knightley), por quem se apaixona. É neste período que ele
recebe a visita de Thomas Harper (Kevin Cosnter), que trabalha para a
CIA e recomenda que Ryan retorne ao doutorado em economia. Ele
segue o conselho e, a partir de então, passa a trabalhar às escondidas
para a CIA, sem que nem mesmo Cathy saiba. Em meio às investigações,
Jack descobre um complô orquestrado na Rússia, que pode instalar o
caos financeiro nos Estados Unidos. Com isso, ele viaja a Moscou com
o objetivo de investigar Viktor Cheverin (Kenneth Branagh), o líder da
operação.

Conheça mais sobre o Órgão Central do Sistema Brasileiro de Inteligência


acessando:

<http://www.abin.gov.br>.

73
Referências

AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Revista Brasileira de Inteligência.


Agência Brasileira de Inteligência. no 6. ABIN, 2005.

ALMEIDA NETO, Wilson Rocha de. Inteligência e contrainteligência no


Ministério Público. Belo Horizonte: Dictum, 2009.

BORGES, Celso Gonçalves. Curso de Inteligência Policial: Nível “b”. Goiânia:


Polícia Militar de Goiás, 1997.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília: Senado Federal, 1988.

CARDOSO JÚNIOR, Walter. Inteligência competitiva. 2. ed. Unisul: Palhoça, 2006.

____________ Inteligência empresarial estratégica: método de implantação


de inteligência competitiva em organizações. Unisul: Tubarão, 2005.

CEPIK, M. Espionagem e democracia. FGV: Rio de Janeiro, 2003.

COELHO, G. M. Inteligência competitiva: definindo a ferramenta e seu uso no


Brasil. São Paulo: IBC, 1999.

DOLABELLA, Rodrigo Paulo. Informação e contrainformação: a guerra de


cérebros. Belo Horizonte: Lastro, 2009.

ERRO JÚNIOR, C. M. A Inteligência e a gestão da informação policial:


conceitos, técnicas e tecnologias definidos pela experiência profissional e acadêmica.
Brasília: Fortium, 2008.

MITNICK, K. D.; SIMON, W. L. A arte de enganar. São Paulo: Pearson Education


do Brasil, 2003.

PERRENOUD, Renato. A análise de Inteligência para o trabalho policial. São


Paulo: PMSP/CSP-II, 1996.

PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da


concorrência. Rio de Janeiro: Campus. 1986.

SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. 28. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2006.
74
REFERÊNCIAS

SARTI, Antônio França. Organismo de Inteligência policial no mundo. Revista


Unidade, no 31. Brigada Militar. Porto Alegre, 1997.

SCHAUFFERT, Fred Harry. Atividades de Inteligência. 3. ed. Unisul: Palhoça,


2011.

Sites
<http://abin.gov.br>.

<www.midiasemmascara.com.br>.

<http://aldoibct.bighost.com.br/tempespa.htm>.

<http://www.abin.gov.br/modules/mastop_publish/?tac=Institucional#legislacao>.

<http://www.conteudojuridico.com.br>.

<www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/vieux>.

<http://infoseg.gov.br>

<http://www.inteligênciaopercional.com.>.

75

Você também pode gostar