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Comentário

    A prática de infrações simultâneas deve gerar, para o infrator, a aplicação das respectivas
multas para o comportamento transgressional flagrado pela fiscalização de trânsito, tantos
quantos forem os artigos do Código de Trânsito descumpridos.
    Todavia, o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, instituído pela Resolução do
Conselho Nacional de Trânsito n. 371/10, inovou no tratamento da questão, fazendo uma
distinção entre duas diferentes formas de simultaneidade na prática de infrações de trânsito,
dividindo-as entre concorrentes e concomitantes.
    Para o MBFT, são concorrentes aquelas em que o cometimento de uma infração, tem
como consequência o cometimento de outra, como, por exemplo: ultrapassar pelo
acostamento (art. 202) e transitar com o veículo pelo acostamento (art. 193), ou seja, para
que a ultrapassagem pelo acostamento tenha ocorrido, logicamente que houve,
simultaneamente, o trânsito do veículo por aquele local; nestes casos, determina o Contran
que deva ser aplicado o princípio da especificidade, por meio do qual deve o agente de
trânsito lavrar um único auto de infração, pela conduta que melhor caracteriza a manobra
observada; no exemplo citado, se o acostamento foi utilizado, única e exclusivamente, pelo
trecho necessário à ultrapassagem, autua-se pela infração do artigo 202; caso contrário,
artigo 193.
    Por outro lado, são concomitantes aquelas em que o cometimento de uma infração não
implica no cometimento de outra, como, por exemplo: deixar de reduzir a velocidade do
veículo de forma compatível com a segurança do trânsito ao ultrapassar ciclista (art. 220,
XIII) e não manter a distância de 1,50m ao ultrapassar bicicleta (art. 201); ou, ainda, um
condutor que, ao mesmo tempo, avança o sinal vermelho do semáforo (artigo 208), deixa de
usar o cinto de segurança (artigo 167) e utiliza o telefone celular enquanto dirige (artigo
252, VI); nestas situações, deve ocorrer exatamente o previsto no artigo 266: aplicação
de todas as multas de trânsito nas quais incorreu o infrator.
 
JULYVER MODESTO DE ARAUJO, Capitão da Polícia Militar de São Paulo, com
atuação no policiamento de trânsito urbano desde 1996; Mestre em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança da PMESP; Mestre
em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP; Especialista em
Direito Público pela Escola Superior do Ministério Público de SP; Coordenador de Cursos,
Professor, Palestrante e Autor de livros e artigos sobre trânsito.

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